Colonização Inglesa da América do Norte

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Colonização Inglesa da América do Norte
A COLONIZAÇÃO INGLESA NA AMÉRICA DO NORTE
Ao contrário do que ocorreu na parte da América colonizada por espanhóis e portugueses, a colonização inglesa no norte do continente
não foi feita pelo Estado, mas por empresas privadas. O processo de ocupação também foi bem diferente: as colônias inglesas na América
do Norte receberam, desde o começo do século XVII, enorme fluxo de europeus em busca de oportunidades nas novas terras.
Calcula-se que, durante quase três séculos — de 1509 a 1790 —, cerca de 150 mil pessoas deixaram a Espanha em direção à América. Já
da Inglaterra, somente no século XVII saíram aproximadamente 500 mil. As razões para que tantos ingleses deixassem suas terras e
decidissem viver no novo continente não foram poucas.
A partir do século XV, a Inglaterra passou por um lento processo de mudanças na organização do trabalho e na estrutura da propriedade
rural, com consequências desastrosas para a população camponesa. A valorização da lã como matéria prima na fabricação de tecidos nos
Países Baixos levou muitos senhores de terras a cercar as terras comunais, antes utilizadas pelos camponeses, para criar ovelhas.
Esse processo de cercamentos, como ficou conhecido, estendeu-se também a vastas áreas anteriormente ocupadas pelos camponeses,
provocando desemprego e migrações de trabalhadores do campo para a cidade, onde nem sempre encontravam ocupação. Isso fez com
que, no decorrer do século XVII, muitos deles, ou seus descendentes, emigrassem para a América do Norte.
Outra razão importante que explica a transferência em massa de ingleses para o novo continente foram as guerras e perseguições religiosas dos séculos XVI e XVII. Na Inglaterra, as principais vítimas dessas perseguições eram os puritanos, que em grande número acabaram se refugiando na América.
AS TREZE COLÔNIAS
O primeiro navegador a serviço da Inglaterra a explorar o continente americano foi o genovês Giovanni Caboto (John Cabot), que esteve
na região duas vezes, em 1497 e 1498. Caboto percorreu a Terra Nova, no Canadá atual, mas não deu início à colonização do território.
As primeiras tentativas de povoamento só seriam feitas bem mais tarde. Entre 1584 e 1585, sir Walter Raleigh fundou na ilha de Roanoke
o primeiro núcleo de colonização inglesa na América do Norte. A povoação, entretanto, desapareceu, possivelmente destruída pelos
índios. Frustrado o primeiro ensaio, a Inglaterra só se lançaria à colonização efetiva da América do Norte em 1607, quando um grupo de
colonos ingleses, agenciados pela London Company, fundou a Virgínia, assim chamada em homenagem à "rainha virgem", Elizabeth I.
Com grande afluxo de colonos, a Virgínia logo se transformou em exportadora de fumo, produto que tinha boa aceitação na Europa. Ao
sul da colônia, surgiram depois a Carolina do Norte, a Carolina do Sul e a Geórgia. Em sua fronteira norte, os ingleses fundaram Maryland.
Por sua localização geográfica e pelo seu clima, essas colônias se voltariam para o plantio de produtos tropicais de exportação, como o
fumo, o arroz e, mais tarde, o algodão. O cultivo era feito em grandes propriedades sob regime de trabalho escravo. Esse sistema, conhecido como plantation, era muito semelhante ao da cana-de-açúcar na colônia portuguesa.
Ao norte da Virgínia, surgiu outro conjunto diferente de colônias. Em 1620, um grupo de puritanos vindos da Inglaterra desembarcou do
navio Mayflower e fundou a colônia de Massachusetts. Antes do desembarque, eles firmaram um pacto de governabilidade, pelo qual
assumiram o compromisso de "se congregar num corpo político civil" e de se autogovernar "para o bem geral da colônia". Algum tempo
depois, grupos de perseguidos religiosos estabeleceram, nas proximidades de Massachusetts, as colônias de New Hampshire, Rhode
Island e Connecticut. O conjunto dessas quatro colônias formava a Nova Inglaterra. Por sua localização, não era possível cultivar ali produtos tropicais de exportação. Além disso, a grande maioria dos colonos era pobre e não tinha meios para administrar propriedades
extensas como as do sistema de plantation, característico das colônias do sul.
Por essa razão, acabou surgindo na Nova Inglaterra um sistema econômico baseado na pequena propriedade familiar da terra, no trabalho livre e na produção de subsistência. Os colonos da Nova Inglaterra também tiravam seu sustento do mar. A atividade pesqueira, aliada
à existência de madeira em profusão nas florestas vizinhas, estimulou a construção de navios, ocupação que logo se tornaria uma das
fontes de renda das cidades da região.
Como a Coroa inglesa estava mais interessada em explorar os produtos tropicais na parte sul da colônia, não impôs na Nova Inglaterra,
de modo rígido, a política de monopólios, característica do mercantilismo. Por isso, os moradores dessas colônias se viram livres para
comerciar e desenvolver certas atividades industriais, como a própria construção naval. Ao sul e a oeste da Nova Inglaterra, as regiões de
Nova York, New Jersey, Pensilvânia e Delaware formavam outro bloco de colônias. Como se situavam entre as colônias do norte e as do
sul, em geral são conhecidas como colônias centrais. Nessa faixa de terra desenvolveu-se uma agricultura voltada, num primeiro momento, ao mercado interno. Mais tarde, o trigo se transformou no principal produto agrícola e seus excedentes passaram a ser exportados para as colônias inglesas das Antilhas. Assim como nas colônias do norte, as atividades comerciais e manufatureiras das colônias
centrais assumiram grande importância econômica.
Uma brecha na política mercantilista
As medidas restritivas com respeito à produção manufatureira que a Inglaterra impunha às suas colônias, na época mercantilista, tiveram
de ser aplicadas de forma muito especial na América do Norte, pelo simples fato de que o sistema de agricultura de exportação não dera
resultado nas colônias do norte. As linhas gerais da política inglesa passaram a ser as seguintes: fomentar nas colônias do norte as indústrias que não competissem com as da metrópole, permitindo a esta reduzir suas importações de outros países. As medidas coercitivas
começam a surgir quando as colônias do norte chegam a concorrer com a metrópole nas exportações de manufaturas.
A gênese da cidadania americana
Durante boa parte do século XVII, a Inglaterra esteve envolvida em guerras civis, em disputas entre o Parlamento e o rei e em conflitos
na Europa. Isso de certa forma impediu que o país exercesse um controle mercantilista mais rígido sobre suas colônias. Só que, mesmo
ocupada em resolver tantos problemas, a Coroa inglesa não deixou de arregimentar colonos para o empreendimento de povoar e explorar as novas terras na América. E, com o firme objetivo de atraí-los, chegou a conceder-lhes o direito de se reunir em assembleias e de
votar suas próprias leis e impostos. A essas circunstâncias favoráveis acabaram se somando as características peculiares dos colonos
interessados em deixar a Inglaterra. Muitos deles eram adeptos de seitas religiosas — como os puritanos e os quakers —, que viviam em
"rota de colisão" com a religião oficial da metrópole, o anglicanismo. Por isso, quase sempre suas decisões divergiam das determinações
do governo inglês.
Ao chegar à nova terra, essas pessoas estabeleceram formas de poder político coerentes com suas concepções e experiências. Dessa
iniciativa, surgiu a prática do autogoverno (self-government). O governador de cada colônia geralmente era nomeado pelo rei, mas havia
também, como órgão de poder, uma assembleia de representantes eleitos pelos próprios colonos. As assembleias desempenhavam
funções legislativas e deliberativas. Embora o governador detivesse o poder de veto, com o tempo os colonos impuseram uma tradição
de respeito às decisões da assembleia. Conseguiram essa vitória usando como meio de pressão a recusa em aprovar novos impostos ou
em votar iniciativas do governador. Durante certo tempo, os colonos de algumas colônias da Nova Inglaterra chegaram a eleger seus
governadores, além dos delegados que integravam as assembleias. Essa experiência, totalmente nova num mundo regido por monarcas
e poderes absolutistas, seria decisiva para a formação da concepção moderna de cidadania.
Intenso ciclo comercial
Em meados do século XVII, os holandeses introduziram a produção de açúcar em ilhas de colonização francesa e inglesa na região das
Antilhas. Essas ilhas, até então ocupadas por pequenos proprietários, logo se converteram à monocultura da cana, e o trabalho livre deu
lugar à mão-de-obra escrava. Extinta a economia de subsistência, a região passou a ser abastecida por gêneros alimentícios importados
da Nova Inglaterra, que encontrou, desse modo, uma possibilidade de escoar seus excedentes. Com o tempo, essa atividade deu origem
a um intenso comércio entre a Nova Inglaterra, as Antilhas e a África. Da Nova Inglaterra, os comerciantes saíam com carregamentos de
trigo, peixe seco, madeira e outros artigos para vender nas Antilhas. Na volta, além de açúcar, transportavam melaço, utilizado como
matéria prima na produção de rum. A bebida, levada em barris para a África, era trocada por escravos que, por sua vez, seriam transportados para as Antilhas e vendidos aos senhores de engenho.

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