EPIDEMIA URBANA DE Tityus serrulatus NO MUNICIPIO DE

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EPIDEMIA URBANA DE Tityus serrulatus NO MUNICIPIO DE
EPIDEMIA URBANA DE Tityus serrulatus NO MUNICIPIO DE TRINDADE-GO
Hélio Pinheiro de Andrade1
Antônio Pasqualetto2
RESUMO
Ao estudar espécies sinantrópicas de importância médico-sanitária no município de
Trindade-GO, encontrou-se epidemia da espécie de escorpião Tityus serrulatus.
Destacaram-se dois setores com maior ocorrência e possíveis focos disseminadores: o
cemitério e a ETA-Saneago. Sugerem-se urgentes medidas preventivas e de controle.
Palavras-chave: Tityus serrulatus, epidemia
ABSTRACT
When stud ying species important sinantrópicas doctor-sanitary in the city Trinity- GO,
observated scorpion species epidemic Tityus serrulatus. Highlighted two sectors with
larger occurrence and possible focuses circulators: the cemetery and ETA-saneago.
Suggest urge nt preventive measures and of control.
Key-Words: Tityus serrulatus, epidemic
____________________
1 Biólogo, Especialista em Educação Ambiental pela Universidade Católica de Goiás.
2 Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor da Universidade Católica de Goiás. [email protected]
1
1 INTRODUÇÃO
O município de Trindade, localizado a 18 Km da capital do Estado de Goiás –
Goiânia, recebeu sua maioridade no ano de 1920, através da lei 662 do dia 16 de julho,
passando de distrito para Município.
Entre setores, vilas, bairros, chácaras, jardins e conjuntos, somam se 44 ao total. É
uma cidade que possui grande extensão, em relação ao seu tamanho.
Trindade possui a tradição religiosa, conhecida como a Festa do Divino Pai Eterno
ou Festa de Trindade, que começou no ano de 1840, no qual Trindade era conhecida como
Arraial Barro Preto, festa essa, que atrai atualmente para cidade, no mês de junho, um
número elevadíssimo de romeiros, uma das hipóteses de transporte do animal conhecido
como “exótico regionalmente”.
Entre os romeiros encontra-se um grupo especial, conhecido como “Carreiros”,
onde os quais chegam de diferentes e distantes locais, Santa Bárbara de Goiás, Morrinhos,
Anicuns, Damolândia, Itaberai, Palmeiras de Goiás, Goiás Velho, Avelinópolis, Inhumas e
outras cidades. Que contribuíram para o transporte de animais dentre os quais os
escorpiões.
Há muito tempo, Trindade apresenta surto de infestação por escorpiões.
Em 2001, registrou-se no município um acidente causado pelo animal, onde a
vítima era uma criança, levada a óbito. Em abril de 2002, notou-se que em menos de cinco
meses, outras duas crianças tiveram óbito, vitimadas pela picada do animal.
A morte por envenenamento escorpiônico ocorre como resultante de falência
cardio-respiratória algumas horas após o acidente (este período é variável podendo ocorrer
entre 1 a 6 horas em média - mortes tardias também podem ocorrer).
A situação é tão grave que tem obrigado o poder público a definir estratégias de
controle da epidemia para proteger seus habitantes, inc lusive as crianças. Mostrando a
situação da cidade, tanto no tamanho físico como o número de habitantes, percebe-se as
dimensões do problema, além de registrar a provável chegada do escorpião na região os
riscos a multidão durante a festa religiosa, a qua l também gera desequilíbrio ambiental,
piorando a higiene urbana, propiciando acúmulos de lixos e presença de alimento
favoráveis a sua disseminação.
Tais fatos nos levam a preocupar, pois de acordo com estudos realizados no
município de Aparecida no Estado de São Paulo, por Elieth Floret Spirandeli Cruz,
Clóvis R. Winther Yassuda, Jorge Jim e Benedito Barraviera – Programa de controle
de surto de escorpião Tityus serrulatus, Lutz e Mello 1922, no município de
Aparecida, (SP), (Scorpiones, Buthidae) em 1991, os órgãos de Saúde Pública do Vale
do Paraíba registraram no município cerca de 15 casos de acidentes. Como a população do
município era cerca de 35.000 habitantes, este número equivale a um índice de incidência
de 43 casos por 100.000 habitantes. Este índice foi o maior registrado para a microrregião
administrativa do Vale do Paraíba, perdendo apenas para o de Belo Horizonte (MG), o
maior do país.
No Censo de 1996, Trindade possuía 69.838 habitantes, em 2000 aumentou para
82.131 (Tabela 1).
2
Tabela 1: Número de habitantes no município de Trindade:
Número de habitantes
Homens
Zona urbana
32.048
Zona rural
2.538
Número total de habitantes
Fonte: IBGE, 2000.
Mulheres
33.095
2.157
Total
65.143
4.695
82.131
Em junho de 2000, realizou-se uma pesquisa no município de Santa Bárbara de
Goiás, onde a população passava pelo mesmo problema que Trindade passa hoje, tal
pesquisa mostrou que os hábitos da população influenciaram muito na presença do animal
na cidade, alem de notar, que os escorpiões se dispersaram passivamente, ou seja
transportados em toras de madeira, dentro de caixas e caixotes, caminhões ou outro meio
de transporte. Forma pela qual o animal chegou naquela região e da mesma forma chegou
no município de Trindade.
A pesquisa trouxe benefícios para ambas partes, o município da diminuição do foco
do animal e a equipe pela nova experiência em epidemiologia de escorpiões.
Segundo William Henrique Stutz, Médico Veterinário Sanitarista, são raros os
profissionais aracnólogos ou não no Brasil envolvidos com nossa linha de trabalho. O que
se nota, é uma preocupação em simplesmente exterminar escorpiões através do uso de
qualquer veneno que surja no mercado e que, mesmo sem terem sido testados dentro de
uma metodologia realmente científica, traga a enganosa sensação de estar "contribuindo
para a Saúde Coletiva" (STUTZ, 2000).
Justifica-se a atuação no monitoramento a espécie, apresentando alternativas
viáveis que possibilitem a tomada de decisões pela população e poder público.
Neste sentido, o realizou-se o pesquisa de espécies sinantrópicas de importância
médico-sanitária no município de Trindade-GO, destacando-se: a)localização e
identificação do escorpião na cidade; b)estudo estatístico da freqüência do animal na
região; c) avaliação das condições propícias à infestação na região; d) avaliação das
condições sócio-econômicas e educacionais da população sujeita ao escorpionismo e e)
Identificação e divulgação de medidas de controle epidemiológico do escorpião no
município.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 DESCRIÇÃO
Os escorpionídeos, conhecidos popularmente como escorpiões, pertencem à classe
dos aracnídeos. Segundo William Henrique Stutz, não são insetos, basta observar que este
animal tem 4 (quatro) pares de patas ao invés de 3 (três), como pensam erradamente
algumas pessoas. Juntamente com as aranhas, os carrapatos e os ácaros, que são seus
companheiros de classe, os escorpiões pertencem ao filo dos artrópodes, que inclui, além
dos aracnídeos, a classe dos insetos, dos crustáceos e outras (STUTZ, 1990).
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Os escorpiões, internamente possuem sistema nervoso, circulatório, respiratório,
reprodutivo e digestivo. Como todos os artrópodes os escorpiões tem o corpo revestido por
fino e resistente exoesqueleto de quintina que carrega e protege as estruturas internas.
É a base de sustentação também de vários receptores sensitivos, espiráculos (ou
opérculos respiratórios) e outras estruturas de comunicação com o meio exterior de grande
importância biológica.
A obra Biology of Scorpions - Gary A.Polis, uma das primeiras dedicada ou estudo
dos escorpiões, ainda é utilizada. Para nível de entendimento de suas estruturas orgânicas
externas, esse trabalho utilizará esquemas contidos no livro acima referido. (Figura 1)
Figura 1. Desenho original de Biology of Scorpions - Gary A.Polis
4.1.1 Prosoma
O corpo é dividido em duas partes principais o prosoma (cefalotórax) e o
opistosoma (abdome). Dorsalmente, o prosoma é coberto por uma carapaça. As quelíceras
são parcialmente cobertas pela carapaça e projetadas para frente.
As quelíceras são órgãos pré-bucais e são usadas para rasgar e triturar alimento,
todos os aracnídeos as possuem.
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Um par de olhos medianos e outros laterais, menores (ao todo cinco pares) estão
localizados na carapaça. Os olhos medianos são órgãos muito primitivos, com capacidade
de percepção de profundidade e espacial produzindo assim imagens visuais distorcidas.
São muito sensíveis a luz. Seu propósito parece ser permitir orientação e para diferenciar
luz e escuridão.
Os olhos laterais são até três vezes menores do que os olhos medianos e parecem
reagir a estímulos mais rapidamente no escuro.
Aparentemente são os responsáveis pelo ciclo luz-escuridão e parecem serem
reguladores do relógio biológico dos escorpiões.
Uma área foto sensível no metasoma foi descoberta recentemente em diferentes
escorpiões. Sua função não foi ainda esclarecida (POLIS, 1990).
4.1.2 Opistosoma
O opistosoma é composto pelo mesosoma (pré abdome) e metasoma, erroneamente
chamado de cauda, (pós abdome). Sete tergítos se combinam para formar a parte dorsal do
mesosoma. Os tecido flexíveis que unem as partes rígidas do exoesqueleto são
denominadas membranas (pleura) intersegmental.
O Metasoma é formado por cinco segmentos arredondados que terminam com um
bulbo chamado telson.
O telson não é considerado parte do metasoma. O aguilhão ou a parte inoculadora
de veneno é chamada de acúleo (ferrão) e em sua porção arrendada estão as glândulas
produtoras de veneno. (figura 2)
Figura 2. Desenho do Telson do escorpião.
Neste desenho pode-se observar o “ferrão” do escorpião assim como onde se
alojam as glândulas que produzem veneno, e a abertura anal do Animal.
Os escorpiões usam o ferrão para diversos fins. O mais óbvio é para dominar suas
presas, que antes são agarradas firmemente pelas pinças dos palpos. Os escorpiõ es fazem
uso do ferrão quando não conseguem matar a presa por esmagamento com as pinças.
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Devido ao veneno que inoculam, pequenos escorpiões com pinças fracas conseguem
dominar presas até do seu próprio tamanho.
Um segundo uso do ferrão é na defesa. Através de um ferrão bem posicionado, os
escorpiões podem manter afastados potenciais predadores. Apesar disso, eles são presas
fácil para muitos animais, para os quais seu ferrão parece ser inócuo.
Um terceiro uso do ferrão é durante o acasalamento. Observam-se freqüentemente
machos aguilhoando as fêmeas ou golpeando-as com o telson. Parece provável que alguns
escorpiões possuam ferormônios que possam aumentar a receptividade da fêmea ou
permitam reconhecimento de espécies durante o ritual de acasalamento (MELLO, 1922).
Na ferroada o musculoso metasoma é suspenso e o telson posicionado, para a
introdução rápida e certeira do aguilhão no exoesqueleto ou pele do seu alvo. O escorpião
deve perceber que foi certeiro, pois se o aguilhão não penetrar adequadamente o animal
fará novas tentativas repetidamente até obter sucesso na inoculação do veneno. O
metasoma é um órgão musculoso e além de ser usado para ferroar também é usado para
cavar, higienização, equilíbrio e sustentação do animal (POLIS, 1945).
As cerdas próximas ao ferrão são importantes sensores durante o ataque. Presas
relutantes, que se debatem, serão ferroadas seguidamente enquanto estiverem seguras pelas
pinças.
A quantidade de veneno injetada é controlada pelo escorpião; doses maiores para
grandes animais e menos para as presas menores.
Algumas vezes o veneno não é injetado apesar da ferroada, este fenômeno é
conhecido como "ferroada seca".
O ferrão pode se manter introduzido na presa por alguns segundos ou simplesmente
ser espetado e retirado imediatamente, retornado a sua posição de ataque.
Independentemente da forma como é utilizado o veneno faz do escorpião um predador
extraordinário e eficiente, capaz de capturar presas maiores e mais perigosas do que o
próprio.
Uma pequena protuberância esta presente em algumas espécies e são usadas por
taxonomistas como uma característica quando da classificação de espécies.
O metasoma não é uma cauda no sentido da palavra, mas uma continuação do
abdome. Contém partes do intestino, nervos, artérias, veias e músculos além de sustentar o
telson.
A abertura anal esta localizada no tecido mole do quinto segmento, onde este se
conecta com o telson.
4.1.3 Apêndices
Quatro pares de patas articuladas (todas inseridas no cefalotórax) permitem
locomoção e também são usadas para escavar o solo. A porção que de cada pata que se
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conecta com o corpo é denominada coxa, e segue nesta ordem o trocanter, fêmur, patela,
tíbia, basitarso, tarso e apotele.
Garras laterais e medianas estão ligadas à apotele.
Segundo o livro “Biology of scorpions”, os pedipalpos são análogos ao braço e
mãos humanas. Cada pedipalpo possui seis segmentos. Começando a partir do corpo
temos: O trocanter, o fêmur, a patela, a tíbia, e o tarso. Os dois últimos segmentos
apresentam o formato de pinças (mãos) a tíbia modificada representa a palma e um dedo
fixo, e o tarso é o dedo móvel da pinça (POLIS, 1945).
Apesar das estruturas anatômicas dos pedipalpos possuírem a mesma nomenclatura
daquelas das pernas, os pedipalpos não são pernas. Estes são usados para capturar, conter e
esmagar presas, para proteção como uma poderosa arma e escudo e para escavar.
Também possuem órgãos sensitivos excepcionais. A superfície interna das pinças
possui uma série de granulações dentadas e pontiagudas, que possibilita segurar
firmemente e esmagar suas presas.
Algumas estruturas dos pedipalpos são presentes apenas nos machos, fornecendo
base segura quanto ao dimorfismo sexual (a abertura ou vão encontrado no Tityus
bahiensis utilizado para segurar a fêmea quando acasalamento é um bom exemplo)
(BÜCHERL, 1979).
Escorpiões com pinças maiores e robustas são capazes de esmagar o exoesqueleto
de qualquer invertebrado por mais rígido que este seja.
4.1.4 A porção ventral
As formas das estruturas da porção ventral entre as pernas (coxoesterno) dos
escorpiões são as mais utilizadas para diferenciar famílias.
Os dois opéculos genitais (fundidos cobrindo a abertura genital) podem ser
observados no centro do dorso imediatamente atrás e posteriormente ao externo.
Oito pequenas aberturas (espiráculos) localizadas na parte ventral do mesosoma,
transportam ar para os pulmões (orgânulos respiratórios).
Uma vez que podem ser "fechados" em momentos de stress, estes espiráculos são
extremamente eficientes e minimizam a entrada de partículas de pó no organismo.
4.1.5 Órgãos sensitivos
Apesar dos escorpiões possuírem pouca visão eles são dotados de um arsenal de
potentes receptores sensitivos. Captando movimentos de ar, vibrações, e tato são capazes
de perceber a presença de predadores, presa, água, temperatura e luz, assim como uma
gama de outros estímulos.
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4.1.5.1 Pectíneas
As pectíneas são um par de apêndices com aparência de pentes localizados na
porção ventral imediatamente após o último par de patas. Apenas os escorpiões as
possuem. Estes órgãos sensitivos estão permanentemente em contato com o solo e são
capazes de captar vibrações mínimas no mesmo e são ainda utilizados pelos machos para
perceber a presença de ferormônios durante o período reprodutivo.
4.1.5.2 Cerdas
As cerdas são estruturas com aparência de pelos distribuídas por quase todo o corpo
dos escorpiões, nas patas, e nos pedipalpos, dando a algumas espécies a aparência
"peluda". Algumas destas cerdas não são visíveis a olho nu.
Pelo menos três tipos diferentes de cerdas já foram descritas. As Cerdas captam
sensações radiculares, térmicas, químicas e variações de umidade.
As mais importantes são as longas e finas tricobótrias encontradas apenas nos
pedipalpos. Estas são incrivelmente sensíveis e a movimentos de ar e a vibrações e pode
perceber o menor movimento de suas presas, de outros escorpiões e situações de perigo.
A quantidade, localização e disposição das tricobótrias são importantes na
identificação de espécies.
As cerdas do tarso captam vibrações do substrato e muitas ainda percebem
variações e presença de água e umidade além de mudanças químicas no ambiente.
Tufos de cerdas localizados no tarso e basitarso aumentam a área de contato com o
solo facilitando a locomoção de terrenos arenosos e macios.
Apesar de muito importantes para se determinar o habitat de espécies de escorpiões,
estes tufos de cerdas não são facilmente observados sem a utilização de instrumentos
ópticos (lupa entomológica).
4.1.5.3 Outros receptores
Outros sensores microscópios chamados de “filetes” sens itivos são encontrados nos
pés e no metasoma. Quando algum tipo de pressão é feito sobre o exoesqueleto estes
"filetes" se abrem rapidamente. Dependendo da duração e da intensidade desta pressão os
escorpiões fazem ajustes nos movimentos e na postura de seu corpo.
Outros "filetes" sensitivos localizados no basitarso em todas as oito patas parecem
perceber vibrações no terreno, como aqueles produzidos por movimentos de insetos.
Os escorpiões se utilizam das sensações recebidas por patas opostas para se
aproximar de suas presas e determinar a localização e distância da mesma (STUTZ, 1990).
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4.1.6 Produção de sons
Aproximadamente 150 espécies de escorpiões são capazes de produzir sons ou
esfregando partes do corpo uma contra a outra ou vibrando estruturas anatômicas.
Alguns Opistotamus esfregam suas quelíceras e o cefalotorax e produzem um som
sibilante. Algumas espécies friccionam o telson no metasoma, pectíneas ao externo, e os
pedipalpos ao primeiro par de patas.
Em laboratório temos a rara oportunidade de observar um Tityus brazilae que a
qualquer toque em seu terráreo, o mesmo vibra suas pectíneas produzindo um som que em
muito lembrava o de uma cascavel. Outros escorpiões literalmente batem o telson no solo.
Estes sons produzidos parecem ter a função de intimidar agressores (STUTZ, 1990).
4.2 REPRODUÇÃO
Os escorpiões se destacam entre os aracnídeos por terem uma duração de vida que
vai além de uma estação. Chegam à maturidade em 1-3 anos, e atingem normalmente um
período de vida de 2-6 anos. O maior tempo de vida registrado para um escorpião chega
até 8 anos.
Aparentemente as espécies menores têm um período de vida mais curto, entre 3 ou
4 anos.
Existem relatos de grandes escorpiões cujo período de vida poderia ser de 20 anos
ou mais.
Os escorpiões não põem ovos. São vivíparos e seus filhotes nascem por meio de
parto, após uma gestação longa. Em Tityus bahiensis e Tityus serrulatus a gestação dura de
2 meses e meio a 3 meses. Algumas espécies, inclusive Tityus Bahiensis, podem gerar mais
de uma ninhada a partir do mesmo acasalamento, decorrendo vários meses entre dois
partos consecutivos. Entre estes escorpiões, cada ninhada pode ter mais de 20 filhotes, mas
outras espécies podem produzir até 90 ou mais filhotes (MATTHIESEN, 1962).
Tityus serrulatus se reproduz de maneira peculiar através de um complexo processo
denominado partenogênese, isto é, os óvulos desenvolvem-se no organismo materno sem a
fertilização pelo macho, o qual inexiste na natureza. As fêmeas sozinhas gestam e parem
durante todo o ano, ninhadas de até 24 filhotes. (Figuras 3 e 4)
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Figura 3. Tityus serrulatus com filhotes 2 dias após nascimento
Figura 4. Tityus serrulatus com filhotes 13 dias após nascimento
Fotos: Thogo Lemos dos Santos
Enquanto se verifica o crescimento e até atingir a maturidade sexual, os escorpiões
sofrem ecdises, ou seja, trocam periodicamente de cutícula. Ao chegar a ocasião da ecdise,
a cutícula antiga parte-se horizontalmente acima das quelíceras. Pela fenda aberta, sai o
corpo do escorpião, revestido pela nova e ainda tenra cutícula. A cutícula velha costuma
sair inteira, conservando a forma do escorpião. Segundo observação de Matthiesen,
espécimens de Tityus serrulatus em cativeiro atingiram a maturidade sexual após um ano
de idade, tendo passado por 5 ecdises (MATTHIESEN, 1962).
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Figura 5. Tityus serrulatus efetuando muda.
Foto: Thogo Lemos dos Santos
4.3 EVOLUÇÃO
Como linhagem, os escorpiões provêm de eras remotas. Seus mais antigos fósseis
ocorrem em rochas formadas no Período Siluriano, cerca de 420 milhões de anos atrás. Ou
seja, cerca de 200 milhões de anos antes que os dinossauros aparecessem. A linhagem à
qual os escorpiões modernos pertencem surgiu no Período Carbonífero mais recente, há
cerca de 300 milhões de anos. De lá para cá, os escorpiões pouco mudaram. sobrevivendo
a todos os grandes cataclismos que destruíram milhares de espécies vivas. Portanto o
escorpião foi um observador privilegiado tanto do fim dos dinossauros assim como do
surgimento do homem na face da terra.
Apesar da existência de poucos exemplares, evidências fósseis indicam que os
primeiros escorpiões eram de vida aquática possuindo guelras e patas, e se pareciam em
muito com os escorpiões atuais.
Além do mais os escorpiões são considerados os aracnídeos mais antigos
encontrados até o momento (KJELLESVIG, 1986).
4.4 HABITAT E ADAPTAÇÃO
Sua notória capacidade evolutiva e de adaptação permitiu que sobrevivessem na
superfície da terra por aproximadamente 300 a 350 milhões de anos após saíram do
ambiente aquático.
Alguns dos primeiros escorpiões a viverem a maior parte do tempo em terra firme
eram muitos pequenos, mas pelo menos uma espécie - Praearcturus Gigas - assumia
maiores proporções chegando a medir 1 metro de comprimento sendo pois um notório
predador (SCHULTZ, 1990).
Os escorpiões modernos se adaptaram aos mais variados tipos de habitat, dos
desertos às florestas tropicais e do nível do mar a grandes altitudes em montanhas. Uma
espécie foi encontrada vivendo a 4.200 metros de altitude nos Andes.
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São encontrados nos mais variados habitats tais como florestas tropicais, cerrados,
campos, e em áreas intermediarias às descritas.
A grande maioria destes aracnídeos tem preferência por climas tropicais e
subtropicais. Todavia algumas espécies de adaptaram a regiões pouco comuns, algumas
surpreendentes (STUTZ, 1990).
Em várias regiões do planeta algumas espécies de pequenos escorpiões (menos de 1
mm), vivem em zonas intermediárias. Conhecidos como escorpiões do litoral, se
alimentam de minúsculos invertebrados marinhos trazidos pelas marés.
Algumas espécies vivem em altitudes acima de 4.200 metros no Himalaia asiático,
uma em particular - Orobothriurus altola - vive a 4.400 metros de altitude na cordilheira
dos Andes aqui na América do sul.
Estes muito pequenos, passam meses sob pedras e em abrigos cobertos por neve e
gelo.
Experimentos já demonstraram que muitos escorpiões podem resistir a
temperaturas abaixo do ponto de congelamento.
A influência de microclimas específicos, assim como composição de solo, tipos de
rochas, sazonalidade de temperaturas extremas e disponibilidade alimento são fatores
limitantes na distribuição destes animais (SPIRANDELI, 1994).
Atualmente as pesquisas nos mostram o sucesso nos criadouros para estudos do
Tityus serrulatus. (figura 6)
Figura 6. Criadouro coletivo de Tityus serrulatus.
Os escorpiões das areias (psammophiles) possuem numerosas cerdas, que
aumentam a área de superfície de contato com o solo, as patas são adaptadas para melhor
locomoção na areia fofa. Os escorpiões de regiões rochosas (lithophiles) são mais
achatados e alongados com cerdas mais espessas e pontudas mas patas o que facilita se
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mover livremente sobre o terreno e em seus abrigos. Seus metasomas são longos e finos e
mais elevados em relação à maioria das espécies (SPIRANDELI, 1994).
Um corpo desenvolvido, robusto com patas curtas e pedipalpos grandes e
poderosos, caracteriza os escorpiões que constroem abrigos (fossorial). Alguns escorpiões
(troglobites) vivem em cavernas profundas. Como não há nenhuma necessidade enxergar
na escuridão, a maioria deles são cegos e em alguns a ausência total de olhos é observada.
Geralmente seus corpos, patas, e pedipalpos são extremamente delgados, incolores - todas
estas adaptações foram desenvolvidas para viver em fendas, sob a rocha, e nas profundezas
das cavernas. Escorpiões adaptados às proximidades das entradas das cavernas são
conhecidos como troglophiles, não perderam os olhos e não adquiriram outras
características dos troglobites.
Os escorpiões arbóreos são pequenos, leves, ágeis em escaladas. Alguns sobem em
árvores, vivendo dentro dos buracos e das rachaduras dos troncos, outros preferem as parte
basal de bromélias.
Uma vez que as pesquisas para explorar as copas das árvores das florestas tropicais
estão em estágio inicial, acredita-se que muitas espécies novas de escorpiões ainda serão
descobertas e descritas (STUTZ, 1990).
Cada uma destas variações físicas, são acompanhadas de inconvenientes, algumas
espécies são tão especificas de certo ecossistema que encontram sérias dificultadas em se
adaptar a outros com características diferentes, mesmo que estas variações sejam mínimas.
Esta é uma consideração importante quando avaliamos a necessidade de se manter
estes animais em cativeiro, seja para fins médicos-sanitários seja para estudo de
comportamento. Algumas espécies simplesmente não são passíveis de se manter em
laboratório (BÜCHERL, 1953).
Além da sustentação, o exoesqueleto rígido do escorpião age como um
revestimento rígido, protetor cuja coloração geralmente condiz com o seu habitat. Isto
fornece ao escorpião a capacidade de se camuflar.
A forma achatada dos escorpiões os permite esgueirar por entre locais muito
pequenos e apertados.
Sua capacidade de inocular veneno e seus fortes pedipalpos combinados com sua
velocidade de reação a estímulos fazem do escorpião um predador formidável e perigoso.
Os escorpiões do deserto são os artrópodes mais especializados em conservação de
água. O revestimento de seu exoesqueleto os torna impermeáveis evitando perda de líquido
corpóreo. A necessidade de água da maioria dos escorpiões do deserto é adquirida através
de suas presas ou seja, através de seu alimento.
Seus dejetos são extremamente secos devido ao elevado teor de nitrogênio e uma
porção mínima de água.
Respirar através de espiráculos minimiza substancialmente a perda de água através
da respiração. Algumas espécies possuem membranas que cobrem as entradas dos
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espiráculos podendo fecha- las voluntariamente diminuindo ainda mais quaisquer perda de
líquido (POLIS, 1990).
Ao se refugiarem dentro de tocas, sob as pedras ou se enterrando no solo os
escorpiões do deserto evitam os períodos mais quentes do dia este procedimento também
minimiza a perda de umidade.
Todos os escorpiões captam calor de fontes externas e são incapazes de gerar seu
próprio calor. Em ambientes muito quentes eles possuem hábitos noturnos.
Alguma espécie de regiões temperada e de florestas tropical, tem atividade durante
parte do dia, uma vez que a vegetação densa impede que o calor excessivo do sol atinja o
solo.
A espécie de escorpião encontrada em Trindade é o Tityus serrulatus, Lutz e Mello,
1922. Esta espécie embora primitivamente habitante de cerrado e campos abertos, tornouse bem adaptada à vida domiciliar urbana, possivelmente em decorrência da rápida e
desenfreada colonização pelo homem das regiões sul e sudeste, originalmente ocupadas
pelo artrópode. Além disso, esses animais adaptaram-se facilmente às condições oferecidas
pelas moradias humanas, tais como grande número de abrigos (lixo, entulho, pilhas de
tijolos e telhas, etc.), e alimentação farta (baratas).
Na década de 40 não havia registros da presença do animal em demais regiões alem
das citadas acima, hoje encontramos registros de focos do Tityus serrulatus em todo
território brasileiro. Sucesso tal, devido ser um grande predador e possuir uma grande
capacidade de se adaptar em diferentes regiões.
4.5 PECULIARIDADES
Uma das peculiaridades do escorpião e a capacidade de ser fluorescente no escuro à
luz dos raios ultravioleta e refletir o azul. (Figura 7)
Figura 7. Fluorescência do escorpião
Fonte: Globo Ciência/Abril 1992.
Fotos de Gamma/Sigla
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4.6 SISTEMÁTICA
Infelizmente são pouquíssimos os pesquisadores trabalhando com escorpiões no
mundo, no Brasil não seria possível enumerar uma dezena mesmo sabendo que no passado
contávamos com os maiores expoentes da arcnologia mundial tais como Lutz, Wolfgang
Burchel, Campos Mello, além do "pai" da terapia anti-escorpiônica Vital Brasil. O
resultado deste desinteresse é a lentidão do processo evolutivo da sistemática atual
(STUTZ, 1990).
Muitas delas são divididas em sub- famílias, que por sua vez se dividem em gênero,
espécies, e em alguns casos subespécies.
Existe muita discordância entre os pesquisadores sobre a validade ou não das
subespécies; alguns afirmam que a classificação atual de muitas subespécies esta pouco
definida e muito subjetiva. Uma vez que as características físicas utilizadas para tal
definição são muito pequenas e só podem ser observadas através de dissecação
microscópica.
A separação de gênero em espécie deve ser motivo de investigações cuidadosas que
requerem muita paciência e determinação. É sabido que a coloração e o tamanho de
indivíduos de uma mesma espécie podem variar de acordo com os seus respectivos micro
habitats e estas peculiaridades deve ser cuidadosamente avaliadas quando da classificação
das espécies.
Uma diferença única e isolada não é suficiente para elevar um certo tipo de
escorpião à condição de espécie.
Se houver aumento de interesse por parte de pesquisadores e principalmente fontes
de financiamento para pesquisa, seguramente novas espécies de escorpiões serão descritas.
A biologia molecular através do uso de PCR, ou análise de DNA tornou-se uma ferramenta
de suma importância nesta tarefa.
4.7 ALIMENTAÇÃO
Apesar de pequenos em tamanho, escorpiões exercem papel fundamental na cadeia
alimentar.
Não é incomum encontrarmos três ou quatro espécies diferentes convivendo no
mesmo habitat, ou em grupos numerosos. Eles são animais carnívoros, predando grande
quantidade de invertebrados e ocasionalmente pequenos vertebrados cont ribuindo sobre
maneira para o equilíbrio ecológico (STUTZ, 1990).
O Tityus serrulatus como os de mais escorpiões se alimentam principalmente de
insetos , portanto um ambiente livre destes dificulta a sua presença.
Os escorpiões fazem parte de uma parte significativa da cadeia alimentar. Além do
canibalismo interespecies, seus predadores incluem centipedes, aranhas, formigas, lagartos,
serpentes, rãs e sapos, pássaros e alguns mamíferos de grande porte.
15
Os escorpiões possuem uma das taxas metabólicas mais baixas do reino animal.
Podem permanecer longos períodos sem se alimentar, pois ao final de uma única refeição
(na qual ingeriu grande quantidade de alimento), conservam ao máximo, energia evitando
ao extremo se locomoverem, poupando assim energia para sua anutenção (SPIRANDELI,
1994).
Ingerindo o alimento lentamente, trituram fragmentos de alimento, umedecendo-os
na boca (o que propicia já a digestão), sugando-os depois e eliminando os restos, como
pequenas bolas de detritos. "Um escorpião da espécie Tityus bahiensis, mantido em
cativeiro, demorou 20 horas para comer uma barata comum (MATTHIESEN, 1962).
4.8 TOXICOLOGIA
Todas as espécies de escorpião são venenosas. Para os insetos, que são alimento
potencial de escorpiões, todos os escorpiões são mortalmente venenosos. Entretanto, entre
as cerca de 1500 espécies conhecidas, apenas um pequeno número é perigoso para os seres
humanos. A maioria produz uma reação semelhante à da ferroada da abelha, que é muito
dolorosa, embora geralmente não ofereça perigo de morte (STUTZ, 1990).
Estudos mais recentes procuram descobrir se os escorpiões seriam sensíveis às suas
próprias toxinas.
4.8.1 Veneno e envenenamento
O veneno é uma mistura química complexa (peptídeos de baixo peso molecular)
que destroem as células quando as penetram.
Mais 100 destes peptídeos já foram isolados em veneno de escorpiões. A função
básica do veneno é de capturar e imobilizar presas: sua função defensiva é secundária.
O veneno dos escorpiões tem sido largamente estudado, particularmente em como é
sua ação no corpo humano. A toxicidade dos venenos varia de gênero para gênero e de
espécie para espécie, e muitas vezes dentro de uma mesma espécie a ação do veneno pode
variar.
Também, por razões ainda desconhecidas, parece ter variações de acordo com
regiões. Talvez em função da variação dos componentes químicos de cada tipo de veneno,
aliados a variações genéticas, condições ambientais, tipo de alimentação disponível, ou
simplesmente variações fisiológicas entre espécies podem ser a causa destas diferenças
(BÜCHERL, 1979).
Os escorpiões do gênero Tityus são os causadores de acidentes de interesse médico.
As principais espécies são o Tytius bahiensis (escorpião marrom) e Tytius serrulatus
(escorpião amarelo). Este último é atualmente o causador do maior número de mortes,
principalmente quando acomete crianças abaixo de 7 anos de idade. O quadro 1 resume a
classificação e o tratamento do escorpionismo.
16
Tabela 2. Classificação e tratamento do acidente com escorpiões.
Classificação
do
escorpionismo
Manifestações clínicas
Leve
Somente presentes as
manifestações locais, dor em
100% dos casos.
Ocasionalmente vômitos,
taquicardia e agitação de
pequena intensidade.
Moderado
Grave
Tratamento
Geral
Específico
Combate à dor: analgésicos
e/ou anestésicos locais
(Lidocaína à 2%).
Observação em ambiente
hospitalar durante pelo
menos 6 a 12 horas,
especialmente crianças
abaixo de 7 anos.
_____
Manifestações locais e alguma
Combate à dor com
Em crianças abaixo de 7
sintomalogia sistêmica como Lidocaína a 2%. Observação anos está indicado o soro
agitação, sonolência, sudorese,
clínica em ambiente
antiescorpiônico 2 a 4
náuseas, alguns vômitos,
hospitalar durante pelo
ampolas pela via
menos 24 horas.
intravenosa.
hipertensão arterial, taquicardia
e taquipnéia
Manifestações sistêmicas:
vômitos, náuseas, sudorese,
agitação, taquicardia,
hipertensão arterial, alterações
do ECG, tremores, espasmos,
edema agudo de pulmão,
choque, coma e morte.
Combate à dor com
Utilizar soro
Lidocaína a 2%. Internação antiescorpiônico na dose
hospitalar. Cuidados
de 5 a 10 ampolas pela
intensivos, monitorização via intravenosa tanto para
das funções vitais. Cuidados adultos quanto crianças
em Unidade de Terapia
Intensiva.
Fonte: Instituto Butantan, 1997.
4.8.2 Sintomatologia
•
Dor (especialidade do veneno dos escorpiões)
•
A maior parte dos sintomas que surgem na pessoa picada por um escorpião, é
decorrente da liberação de mediadores químicos na corrente circulatória da
vítima,como:
4.8.2.1 Acetilcolina
Causa aumento das secreções lacrimal, nasal, salivar, brônquica, sudorípara e
gástrica, tremores, espasmos musculares, mioses e diminuição de rítmo cardíaco.
4.8.2.2 Adrenalina e noradrenalina
Aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas, vasoconstrição periférica e
eventualmente insuficiência cardíaca, edema agudo do pulmão e choque.
17
A toxidade do veneno do escorpião está relacionada com a espécie envolvida no
acidente, sendo os casos mais graves no Brasil, ocasionados pelo escorpião amarelo Tityus
serrulatus.
Há casos onde o escorpião pode picar pessoas e não incolar veneno, gerando os
acidentes assintomáticos (INSTITUTO BUTANTAN, 1997).
4.8.2.3 O veneno
Segundo relatos clínicos, parece existirem diversos fatores que modulam a
toxicidade do veneno do escorpião para humanos. Os principais fatores são: 1) a toxidez do
veneno do tipo de escorpião envolvido; 2) a quantidade de veneno injetada pelo escorpião;
3) o tamanho do corpo da vítima; 4) a condição médica geral da vítima.
Devido a seu pequeno tamanho, as crianças sofrem maior risco de envenenamento
grave do que os adultos. A maior parte das mortes resultantes de picadas de escorpião
ocorre em crianças pequenas. Tal fato revela os casos ocorridos no município em questão.
Algumas pessoas são alérgicas ao veneno dos escorpiões, da mesma forma que
outras podem ser ao veneno das abelhas. Nestes casos, conseqüências muito graves,
inclusive a morte, podem ocorrer rapidamente, mas não têm relação à toxicidade do
veneno. Mortes ocorridas por envenenamento causado por espécies de escorpião sem
importância médica resultam de choque anafilático induzido por alergia.
O veneno do escorpião compreende uma variedade de substâncias, nem todas
completamente investigadas. O veneno de um único escorpião pode incluir diversas
neurotoxinas, histimina, seratonina, enzimas, inibidores de enzimas, e outros compostos
não identificados. O veneno pode conter, ainda, sais diversos, muco, peptídeos,
nucleotídeos e aminoácidos.
Foram as neurotoxinas que receberam a maior atenção dos pesquisadores. As
numerosas toxinas do veneno do escorpião são geralmente consideradas como sendo
específicas. Cada uma visa atingir a célula nervosa de uma determinada espécie animal.
Algumas neurotoxinas podem ter sua maior atividade contra insetos, outras pode ser mais
letal para moluscos, e outras, ainda, podem ser dirigidas contra células nervosas de
mamíferos. Além disso, toxinas diferentes podem visar locais diferentes na célula nervosa.
Segundo a divisão de venenos e antivenenos do instituto Vital Brazil, o veneno de
escorpiões, tipo o Tityus serrulatus, age sobre o sistema nervoso periférico. Causa dor
muito intensa, com pontadas intermitentes, provoca abaixamento de temperatura do corpo
e acelera a pulsação. Comumente a vítima fica prostada.
O sinal da picada às vezes não se percebe, porém a dor forte e imediata que ela
provoca faz com que a vítima possa ver o animal causador. É importante saber se a picada
foi produzida por escorpião ou aranha, uma vez que os sintomas das picadas de escorpião
são semelhantes aos das picadas de aranhas com veneno neurotóxico.
O escorpião Tityus serrulatus é mais importante sob o ponto de vista médico que o
Tityus bahiensis, por provocar mais ocorrências graves. O veneno do Tityus serrulatus
18
pode não ser mais tóxico, mas este escorpião injeta, em cada picada, praticamente o dobro
de peçonha injetada pelo Tityus bahiensis.
O tratamento na maioria dos casos consiste na infiltração local de 2 a 4 ml de
anestésico do tipo lidocaína a 2% sem vasoconstritor. Repetir este procedimento mais duas
vezes se necessário, com intervalo de uma hora.
Caso a dor persista, está indicada a soroterapia específica com soro antiescorpiônico
ou antiaracnídico, na doses de 2 a 4 ampolas para os casos moderados e 5 a 10 ampolas
para os casos graves. A soroterapia está sempre indicada em crianças menores de sete anos
e em adultos com dor persistente (INSTITUTO VITAL BRAZIL, 1995).
Nos períodos de 1988 a 1998 no Estado de São Paulo, houve um grande aumento
dos casos de acidentes com picadas de escorpiões, onde vários desses casos tiveram como
resultados óbitos. (Tabela 3)
Tabela 3. Incidência por 100.000 habitantes de acidentes por escorpiões nos períodos de
1988 a 1998 no Estado de São Paulo.
Ano
Nº de casos
Coeficiente
incidência
de óbitos
Letalidade %
1988
738
2,50
5
0,68
1989
790
2,62
1
0,13
1990
806
2,62
1
0,12
1991
1078
3,43
3
0,28
1992
1417
4,43
5
0,35
1993
1608
4,94
2
0,12
1994
1569
4,75
2
0,13
1995
1954
5,82
3
0,15
1996
1688
4,95
3
0,18
1997
1630
4,71
5
0,31
1998
1979
5,63
1
0,05
TOTAL
15257
___
31
0,20
Fonte: São Paulo, 1998.
4.9 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
Quando usa-se neste trabalho o termo epidemia, estamos nos referindo a um animal
que é endêmico na região sudeste, ou seja, a presença do Tityus serrulatus na região
Centro-Oeste, em grande escala, classifica-o como um animal invasor.
19
São acidentes menos notificados que os ofídicos. Sua gravidade está relacionada à
proporção entre quantidade de veneno injetado e massa corporal do indivíduo picado.
Entre os agentes causais estão as espécies do gênero Tityus responsáveis por
acidentes. (Tabela 4)
O Tityus serrulatus, espécie partenogenética, em expansão nas regiões CentroOeste, Sudeste e Sul. Responsável pelos acidentes de maior gravidade registrados no país,
incluindo óbitos.
Segundo o Ministério de Saúde, são notificados anualmente, cerca de 8.000
acidentes, com uma letalidade variando em torno de 0,51%. Os acidentes por escorpiões
são mais freqüentes no período de setembro a dezembro. Ocorre uma discreta
predominância no sexo masculino e a faixa etária de 25 a 49 anos é a mais acometida. A
maioria das picadas atinge os membros, havendo predominância do membro superior
(mãos e dedos) (CENEPI, 1990).
Tabela 4. Agentes causadores de acidentes e distribuição geográfica.
Nome científico
Nomes populares
Distribuição geográfica
T. bahiensis
escorpião marrom
MG, SP, PR, SC, RS, GO, MS
T. cambridgei
escorpião preto
AP, PA
T. costatus
Escorpião
MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS
T. fasciolatus
Escorpião
GO, DF
T. metuendus
Escorpião
AC, AM, PA, RO
T. serrulatus
escorpião amarelo
BA, MG, ES, RJ, SP, DF, GO, PR
T. silvestris
Escorpião
AC, AM, AP, PA
T. stigmurus
Escorpião
BA, SE, AL, PE, PB, RN, CE, PI
Fonte: CENEPI - Ministério da Saúde
4.10 CRENDICES
Ao contrário do que as pessoas acreditam o escorpião não suicida quando preso
entre o fogo, ele desidrata e na agonia da morte dá a imprensão que se ferroa ( Matthiesen,
1971).
20
4.11 CONTROLE
Em alguns locais do planeta os escorpiões assumem grande importância na dieta de
aranhas, lagartos, louva-a-deus, corujas, seriemas, macacos, pássaros, ratos e gafanhotos.
A serpente da areia, Chionactis sp. , não somente é imune ao veneno do escorpião, como
parece alimentar-se quase exclusivamente deles. Alguns outros predadores são resistentes
ao veneno do escorpião. Na África e na Ásia os babuínos escavam sistematicamente a
superfície da terra para encontrar escorpiões, removem o telson ou o metasoma inteiro para
evitar ferroadas, antes de comê-los.
Galinhas, formigas e sapos também comem escorpiões. Sendo os sapos e os
escorpiões ambos de hábitos noturnos, as probabilidades de encontro são grandes e cada
sapo pode comer vários escorpiões em seguida. As galinhas, porém, por serem diurnas,
encontram os escorpiões eventualmente, quando ciscam os terrenos. (figura 8)
Figura 8. Formigas se alimentando de Tityus serrulatus em um terrário do laboratório de
animais peçonhentos em Uberlândia.
A adaptação da espécie às condições urbanas, aliada ao seu modo de reprodução e
às precárias condições de higiene e saneamento básico encontradas principalmente em
bairros de periferia, facilitou a disseminação destes artrópodes em grandes aglomerados
urbanos.
3 METODOLOGIA
Visitou-se a área urbana do município para um estabelecimento dos locais onde
seriam feitas coletas de espécimes para identificação e estudos estatísticos da epidemia.
Tomou-se por base para essa pré visita, notificações e reclamações feitas pelos próprios
moradores.
Foram analisados os focos de escorpiões no perímetro urbano, em diversos bairros,
inclusive àqueles com registros de acidentes, em locais como entulhos, residências,
21
cupinzeiros. Os setores municipais são: Cemitério, SANEAGO-ETE, Conjunto Marize,
Jardim Imperial, Setor Santo Onofre, Vila Padre Renato, Setor Cristina, Setor Ana Rosa,
Bairro Santuário, Setor Sol Dourado, Vila dos Sonhos e Conjunto Arco Íris.
A visita para coleta de espécimes nos locais pré-estabelecidos, teve início no dia 01
de outubro de 2001 e término no dia 28 de fevereiro de 2002. Para cada setor e região,
realizou-se o mesmo número de visitas (tabela 5).
Tabela 5. Nº de visitas feitas nas seguintes regiões em 2001/2002.
Região
Conjunto Marize
Jardim Imperial
Santo Onofre
Vila Padre Renato
Cristina
Ana Rosa
Bairro Santuário
Sol Dourado
Vila dos Sonhos
Conjunto Arco Íris
Cemitério
SANEAGO-ETE
2001
2002
Out
Nov
Dez
jan
Fev
3
3
3
3
3
3
3
2
2
3
7
2
3
3
3
3
3
3
3
2
2
3
7
2
3
3
3
3
3
3
3
2
2
3
___
___
3
3
3
3
3
3
3
2
2
3
7
2
3
3
3
3
3
3
3
2
2
3
7
2
22
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em cada local fora feitas identificações e coletas de espécimes totalizandoas por mês. (Tabela 6)
Tabela 6. Número de espécimes coletados por regiões nos meses de outubro de 2001 a
fevereiro de 2002.
variação
REGIÃO
Cemitério
SANEAGO – ETA
Conjunto Marize
Jardim Imperial
Setor Santo Onofre
Vila Padre Renato
Setor Cristina
Setor Ana Rosa
Bairro Santuário
Setor Sol Dourado
Vila dos Sonhos
Conjunto Arco Íris
TOTAL
diária
7 a11
7a9
2a3
2a3
1a4
1a4
1a3
1a3
0a3
0a1
1a2
1a2
----
OUT
56
16
5
7
7
3
4
2
3
1
3
3
110
NOV
63
18
9
12
8
4
5
6
4
2
2
5
138
DEZ
8
9
6
8
4
6
5
2
3
4
55
JAN
59
17
8
7
6
5
4
6
5
2
2
3
124
FEV
55
16
5
6
5
4
4
4
4
2
3
3
111
Obs.: por motivos técnicos não foram realizados levantamentos em dezembro na região do cemitério e
saneago-ETA
No município de Trindade, localizado na Região Centro-Oeste do país, o clima tem
como característica, uma estação fria seca e uma quente úmida. Os períodos mais chuvosos
compreendem os meses de novembro, dezembro e janeiro (podendo normalmente
anteceder e ultrapassar dois meses), onde ambos os citados, são marcados por temperatura
e umidade elevada. Os demais meses tem como característica, temperatura e umidade
baixa (sendo os meses de maio e junho picos dessas características).
Foram registrados 3 acidentes escorpiônicos com conseqüência o óbito, no período
compreendido entre 2001 e 2002 . Quanto ao sexo e idade dos pacientes: meninas entre 7 e
11 anos. Quanto ao local da agressão houve predominância das mãos e nos pés. Quanto a
sazonalidade dos acidentes notou-se que, como no observado em Uberlândia por Stutz 1990, onde os acidentes ocorreram predominantes nos meses de maior precipitações
pluviométricas (dezembro a maio), em Trindade também foram mais freqüentes nos meses
considerados úmidos quentes (STUTZ, 1990).
Quanto aos bairros próximos ao cemitério e Estação de Tratamento de Água da
SANEAGO, contribuíram com o maior número de acidentes. Lembrando que os acidentes
aqui citados são somente os seguidos de morte, onde os que não resultaram no mesmo, são
de maior número e não serão citados.
Observando os dados da Tabela 5, notamos que no cemitério e na Estação de
Tratamento de Água da SANEAGO, o índice da presença do Tityus serrulatus é grande.
23
Em relação a saneamento básico a cidade possui vias com pavimentação asfáltica,
observando que parte da periferia, ainda carente. Inclusive setores pólos da presença do
escorpião. Parte da malha urbana possui esgoto instalado e água tratada, onde parte da
perife ria também carente desses direitos, propiciando o uso de fossas sanitárias e cisternas.
Nota-se que os meses de índice pluviométrico e calor elevado, foram os de maior
coleta do escorpião, onde segundo Stutz,1990, é hábito do animal se adaptar e reproduzir
em ambiente de temperatura e umidade alta. (STUTZ, 1990)
É bom ressaltar que nos meses de estação seca fria, o animal em questão, não
desaparece por completo, apenas diminui suas atividades.
Analisando o mapa do município (figura 9), percebe-se que os setores afetados são
“vizinhos” do cemitério e da SANEAGO-ETE, ensejando a migração a partir destes focos
de maior ocorrência.
24
Goiânia
GO 060
B. SANTUÁRIO
VL Pa. RENATO
S. ANA ROSA
ST.S.ONOFRE
S. CRISTINA
CEMITÉRIO
C. ARCO ÍRIS
SOL DOURADO
VL. SONHOS
CJ.MARIZE
J. IMPERIAL
SANEAGO-ETE
Figura 9. Esquema do município de Trindade mostrando a migração do escorpião,
partindo dos principais focos – SANEAGO-ETE e CEMITÉRIO.
25
Daí, percebe-se que as duas regiões de maior freqüência, disseminam o animal
para os setores que colaboram com a presença do mesmo, onde as casas visitadas têm
como características errôneas, o acondicionamento do lixo doméstico, o seu destino e o
estado em que se encontram os terrenos baldios em relação à presença de muros e calçadas,
além da presença de entulhos e lixo doméstico.
Verificou-se que a maioria da população não tem o hábito de colocar o lixo em
sacos plásticos entregando-o à Prefeitura em latões abertos e permitindo assim o acesso ao
lixo de animais que dele se alimentam, principalmente as baratas. Os terrenos urbanos,
principalmente àqueles sem qualquer construção, encontram-se sujos, cheios de entulho e
lixo e raramente são murados, facilitando o refúgio e a procriação de escorpiões e outros
animais. Outro fato observado é o tipo das habitações, onde as paredes são de tijolos a
vista, ou seja, sem reboco.
O acúmulo de xaxins e plantas em geral, também se mostrou eficaz para o
escorpião, onde a umidade propicia a presença de alimento e do animal em questão, uma
vez que é característica da sua propagação, a presença de alimento, temperatura e umidade
alta. Já nas residências mais higiênicas dos setores acima referidos, notou-se a presença do
animal. Tal fato deve-se a antiga rede sanitária das casas, muitas das quais, feitas com
manilhas, que podem estar rompidas.
No cemitério municipal, o aparecimento do animal associa-se à presença da grama
(ambiente propicio para proliferação de grilos e demais insetos) e a alta temperatura e
umidade do interior dos túmulos, onde também se encontram baratas. Segundo o diretor
atual (2002) do cemitério, após o cultivo da grama no local ho uve um grande aumento na
reprodução do escorpião.
Da mesma forma, na SANEAGO – Estação de Tratamento de Esgoto, a quantidade
de alimento e ambientes propícios para seu esconderijo, como entulho de cerâmicas,
foram favoráveis.
O desmatamento da região pode ter causado a diminuição dos inimigos naturais ou
até o desaparecimento destes que ocupariam o mesmo nível ou superior do escorpião na
cadeia alimentar. No perímetro urbano a formação de novos loteamentos é fator de
destruição do habitat natural dos escorpiões, como é o caso de cupinzeiros, barrancos,
pedras e touceiras de capim, acarretando, em última análise, o deslocamento desses
artrópodes à procura de novos abrigos.
Durante as visitas de casa a casa, avaliou-se através de entrevista, a real importância
que a população dá ao escorpionismo. Constatou-se que a mesma convive com o problema
sem no entanto conhecer sua verdadeira gravidade.
26
5 PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLE
5.1 ESTRUTURAR E CAPACITAR EQUIPE DE PREVENÇÃO
Recrutar uma equipe capacitada para o conjunto de medidas a serem tomadas no
decorrer da prevenção a presença do escorpião Tityus serrulatus.
A equipe precisa estar ciente da atual situação da epidemia, dos pólos e a radiação
do animal em questão, os níveis sóciocultural das populações visitadas nos vários setores
afetados, conhecer o escorpião no sentido de seu nicho, habitat, perigo de interesse médico
e manuseio.
Os cursos para capacitação serão ministrados por profissionais especialistas em
epidemia urbana com aracnídeos, CIT, NUROG-UCG, IQUEGO, BUTANTAN E
INSTITUTO VITAL BRAZIL.
5.2 ELABORAÇÃO DE FOLDERS INFORMATIVOS PARA A POPULAÇÃO
As informações devem mostrar ao individuo como identificar o animal, seus
perigos, porque de sua presença nas áreas urbanas e quais as medidas a serem tomadas
pelos moradores dos bairros afetados.
As informações deveram ser claras e objetivas com uma linguagem popular de fácil
entendimento e esquemas com gravuras para compreensão dos indivíduos ainda não
alfabetizados, reforçar o esclarecimento de todos e chamar a atenção das crianças e ate
mesmo dos adultos.
O folheto deve conter explicações sobre a espécie do escorpião registrada na região
e os seus hábitos, os cuidados com as crianças acidentadas e a urgência no atendimento
médico, os primeiros socorros a serem tomados, as medidas preventivas básicas e por fim a
captura dos animais e o seu encaminhamento aos órgãos competentes. Distribuir parte dos
folhetos à população, junto com a conta de luz, parte entre professores e alunos das escolas
e o restante deles na operação "casa a casa".
5.3 MEDIDAS EDUCATIVAS
Estas possivelmente sejam as mais importantes e mais difíceis de serem
implantadas na população. Assim a campanha educativa envolve a confecção e a
distribuição dos folhetos citados, visitas domiciliares, mutirões de limpeza, cursos,
palestras, entrevistas nos principais meios de comunicação da cidade, exposições didáticas
e a participação das escolas na elaboração de material educativo.
Sugere-se também, palestras aos seguintes órgãos:
• Conselho de Saúde
• Presidentes de Bairros
• Nos Bairros
• Profissionais da área de saúde
• Escolas Municipais, Estaduais e Particulares. (professores e alunos)
• E demais instituições que se interessarem.
27
5.4 CRIAÇÃO DO DISQUE INFORMAÇÃO: “DISK ESCORPIÃO”
Um telefone para atender e registrar denuncias, dar informações gerais, agendar
palestras e visitas.
Diminuindo o intervalo que separa a população do esclarecimento de duvidas e
mostrar o interesse do Governo Municipal com sua população.
Os moradores informarão sobre os acúmulos de lixo e entulhos nos quintais de
vizinhos ou terrenos baldios, onde o departamento de limpeza pública e/ou vigilância
sanitária serão notificado para realização de trabalho em equipe.
5.5 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS
O tema Educação Ambiental é de grande importância na grade curricular dos cursos
de ensino fundamental e médio, pois forma o indivíduo com uma consciência critica sobre
o ambiente onde vive, suas transformações, os pontos favoráveis dessas mudanças, a
importância de cuidar de seu habitat e a socialização no sentido de se unir para discutir e
resolver problemas ambientais.
5.6 PARCERIAS
Buscar apoio do Núcleo Regional de Ofiologia de Goiânia – Ministério da
Saúde/Universidade Católica de Goiás, para apoio nas palestras, andamento da pesquisa e
fornecimento de materiais e estagiários voluntários do curso de Biologia, durante o
trabalho de prevenção.
Procurar também apoio na Universidade Federal de Goiás no fornecimento de
estagiários voluntários do curso de Biologia.
Solicitar ao Instituto Butantan e Instituto Vital Brazil, cursos para os profissionais
do departamento em formação.
5.7 EQUIPE DE PESQUISA
Um constante trabalho voltado para dados estatísticos nos objetivos alcançados pelo
projeto, proporcionando a todos, informações do desenvolvimento do trabalho, tendo
sempre argumentos e respostas para a comunidade e mídia.
A pesquisa no decorrer do trabalho gera disciplina em conseqüência gera sucesso
na meta em questão – Combater a presença do Tityus serrulatus no município de Trindade
– alem de tornar Trindade, referencia nacional pela comunidade cientifica, por ter
alcançado o objetivo de eliminação da presença urbana do escorpião amarelo causador de
óbitos, por valorizar sua população e seus profissionais.
5.8 ACONDICIONAMENTO ADEQUADO DO LIXO DOMÉSTICO
O acondicionamento adequado do lixo em sacos plásticos, que devem ser mantidos
fechados, pode evitar que este se torne foco de atração de artrópodes, entre eles, as baratas.
28
Entretanto, como a coleta em saco plástico não é hábito da população e tendo em vista o
seu grau de importância, sugerimos à Prefeitura Municipal que tome a iniciativa de
normatizar o assunto.
5.9 REGULAMENTAÇÃO SOBRE TERRENOS BALDIOS
Sugere-se à Prefeitura a legislação e a fiscalização da limpeza dos terrenos baldios,
seus calçamentos e a colocação de muros quando necessário.
5.10 USO DE PREDADORES NATURAIS
O uso de inimigos naturais no combate ao escorpião (sapos, corujas, macacos, etc.)
é pouco divulgado pela literatura científica. Por outro lado, as galinhas, predadoras em
potencial destes aracnídeos poderiam em determinadas condições ser utilizadas como
método de controle. Apesar dos escorpiões serem de hábitos noturnos e as galinhas
diurnas, estas últimas no ato de ciscar podem remover e devorar os animais escondidos em
frestas, debaixo de folhas e entulhos. Dessa forma, nas residências com quintais grandes, a
criação de galinhas poderia ajudar no combate a estes artrópodes, obedecidas as normas
sanitárias para a criação de animais domésticos nas cidades.
No ano de 1991, no município de Aparecida em São Paulo, diante do grave
problema do escorpionismo, a Prefeitura, por iniciativa própria, distribuiu à população de
alguns bairros aproximadamente 800 galinhas caipiras. O fato, na época revestido de
grande sensacionalismo jornalístico, não pode ter sua eficácia avaliada. Os pesquisadores
do CEVAP avaliaram a distribuição das galinhas como sendo mais uma medida educativa,
quando reforçou à população o conceito de "cadeia alimentar", conscientizando-a da
importância dos inimigos naturais no equilíbrio da população de artrópodes.
5.11 OPERAÇÃO “CASA A CASA”
Aproveitando a campanha contra a dengue, equipes da Prefeitura e parcerias,
previamente treinadas, trabalharam os estabelecimentos. Esta operação individualizada,
adaptara a linguagem, motivara a população, apresentara sugestões de melhoria ao folheto,
reforçara o comportamento e orientara àqueles que desconheciam o problema.
5.12 MULTIRÃO DE LIMPEZA
Prefeitura em conjunto com age ntes sanitaristas e equipe aqui proposta, auxiliara os
moradores na identificação de criadouros de escorpiões, que serão eliminados pela própria
população. A Prefeitura colocara à disposição da população caminhões basculantes,
caminhão tanque, retroescavadeira e auxilio na utilização destes, quando necessário. Com
o desenvolvimento do trabalho em alguns pontos da cidade, diversos bairros tomarão a
iniciativa de realizar seus próprios mutirões de limpeza, que serão imediatamente apoiados
pela comissão executora do projeto.
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5.13 ENCONTRO EDUCACIONAL
Este encontro será intitulado de "1° Encontro Educacional sobre Escorpionismo
de Trindade (GO)" e duraram três dias. O objetivo será de movimentar toda rede
municipal e estadual de ensino, com todos alunos, promovendo atividades extra-classe,
levando principalmente às crianças informações gerais sobre o assunto, com o intuito final
destas influenciarem os familiares adultos em casa. O programa do encontro constara das
seguintes atividades: No primeiro dia, treiname nto dos professores em anfiteatro
ministrando-se as seguintes aulas: "Epidemiologia do escorpionismo no Brasil"; "Biologia
e ecologia dos escorpiões"; "Métodos de prevenção e controle do escorpionismo".
Ao final do encontro educacional e de comum acordo com os professores, sera
sugerido a introdução do tema "Escorpionismo" como matéria obrigatória para todos os
alunos de primeiro e segundo graus do município, inclusive com cobrança do aprendizado
em avaliações. Além disso, será fornecido à Secretaria Munic ipal de Educação e Cultura
de Trindade, material didático, slides e filmes, sobre o tema em questão, para uso das
escolas interessadas.
Alem dos planos de ações sugeridos acima é também viável citar as seguintes
medidas eficazes para o controle e prevenção de acidentes:
•
manter limpos quintais, jardins e terrenos baldios, não acumulando entulho
e lixo doméstico;
•
aparar a grama dos jardins e recolher as folhas caídas;
•
vedar soleiras de portas com saquinhos de areia ou friso de borracha,
colocar telas nas janelas, vedar ralos de pia, tanque e de chão com tela ou
válvula apropriada; colocar o lixo em sacos plásticos, que devem ser
mantidos fechados para evitar o aparecimento de baratas, moscas e outros
insetos, que são o alimento predileto de aranhas e escorpiões;
•
examinar roupas, calçados, toalhas e roupas de cama antes de usá-las;
•
andar sempre calçado e usar luvas de raspa de couro ao trabalhar com
material de construção, lenha, etc.
5.14 PESQUISA DE PRODUTOS QUÍMICOS EFICIENTES
Para evitar aranhas e escorpiões, o uso periódico de inseticidas não é a melhor
solução. Além do alto custo, a aplicação desses produtos tem efeito apenas temporário e
pode provocar intoxicações em seres humanos e animais domésticos. O ideal é coletar
aranhas e escorpiões e remover o material acumulado onde estavam alojados, o que evitará
a reinfestação
Não existe nenhum veneno comprovadamente eficaz contra este animal. O CCZ já
testou e continua testando vários sem resultados satisfatórios. O uso de venenos tem
provocado até aumento de aparecimento de escorpiões, pois estes os irritam e os
desalojam.
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6 CONCLUSÕES
Após o levantamento epidemiológico, foi constatada a presença dos escorpiões
Tityus serrulatus na zona urbana do município. Deve-se salientar que esta foi a única
espécie de escorpião encontrada na região.
Sugere-se de maneira integrada, medidas preventivas, medidas corretivas do
ambiente e medidas educacionais com o objetivo de controlar o problema do
escorpionismo, proporcionando níveis de infestação aceitáveis do ponto de vista
epidemiológico.
É necessário lembrar que não existem medidas de controle específicas para o
escorpionismo, pois elas se constituem nos mesmos princípios básicos de Saúde Pública, a
serem respeitados em sociedades modernas.
O controle preconizado para o escorpionismo na região, deve ser monitorado ao
longo do ano todo, devendo ser mais intenso nos períodos que antecedem, ou mesmo
durante as épocas em que se têm demonstrado um maior risco para a população, em geral
na estação chuvosa do ano. O autor entende que o problema é basicamente sócio-cultural e
os programas de controle deverão ser aplicados continuadamente ano após ano e só
apresentarão resultados positivos quando a população apresentar mudanças
comportamentais que se refletirão na diminuição dos índices de acidentes e de infestação.
Deve ser salientado que as ações propostas de controle devem ser integradas e
continuadas de forma ininterrupta por vários anos, até que possam ser verificados índices
aceitáveis de infestação. É possível, no município, a integração entre as campanhas de
combate ao escorpionismo com os de controle à dengue. As situações epidemiológicas
destas duas endemias se sobrepõem em diversas oportunidades e pode-se utilizar a mesma
equipe treinada para ambas as funções. No município onde o problema ocorre, poder-se
instituir a semana do escorpião, objetivando relembrar a população, ano após ano, da
necessidade de manter-se vigilante para o problema. Esta semana deve anteceder os meses
de maior ocorrência dos escorpiões. Além disso, o trabalho dos professores de primeiro e
segundo graus, mantendo e cobrando o tema em apreço anualmente dos alunos,
contribuiria sobremaneira para a prevenção dos acidentes e o combate aos artrópodes.
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