BRANCO, Gisabelle de Oliveira. Minha escola tem uma banda

Transcrição

BRANCO, Gisabelle de Oliveira. Minha escola tem uma banda
1
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
GISABELLE DE OLIVEIRA BRANCO
MINHA ESCOLA TEM UMA BANDA:
O discurso sobre os benefícios obtidos pelos pais, professores e alunos
através da educação musical.
São José
2011
2
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
GISABELLE DE OLIVEIRA BRANCO
MINHA ESCOLA TEM UMA BANDA:
O discurso sobre os benefícios obtidos pelos pais, professores e alunos
através da educação musical.
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC do
Curso de Pedagogia do Centro Universitário
Municipal de São José – USJ.
Orientador: Prof. MSc. Evandro Oliveira Brito
São José
2011
3
GISABELLE DE OLIVEIRA BRANCO
MINHA ESCOLA TEM UMA BANDA:
O discurso sobre os benefícios obtidos pelos pais, professores e alunos
através da educação musical.
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito para a aprovação no
Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ
avaliado pela seguinte banda examinadora:
_________________________________________________________
Prof. MSc. Evandro Oliveira Brito
Orientador
__________________________________________________________
Prof. MSc. Marluci Guthiá Ferreira
Membro Examinador
______________________________________________________________
Prof. MSc. Silvanira Lisbôa Scheffler
Membro Examinador
São José, 22 de junho de 2011.
4
Dedico
este
componentes,
trabalho
a
todos
professores
os
e
colaboradores da Banda Musical Anjos do
Amanhecer que são bênçãos na minha
vida.
5
AGRADECIMENTOS
Na realização desta etapa, agradeço primeiramente a Deus por me presentear
com inteligência e saúde, iluminando meus passos, fazendo com que eu trilhe o
caminho do bom e do certo.
Agradeço a meus pais Antonio e Isabel, peças importantíssimas no meu
progresso. São meus exemplos de vida, caráter e princípios, tudo o que sou devo a
eles.
Agradeço também ao meu esposo Zeriky de Souza, mais que um companheiro,
meu amigo, meu apoio e que me deu forças em todos os momentos. Obrigada pelas
vezes em que você me ouviu chorar, mesmo tendo coisas importantes para fazer. E
também pelas vezes que me levou até o USJ quando eu perdia o ônibus. O sucesso
deste trabalho com certeza tem um pedaço da sua dedicação ao meu dispor.
Agradeço a minha irmã Isabel Cristina por ter me dado aquela força com os
gráficos e ao Walter Gryllo pelos momentos de revisão.
Agradeço ao meu orientador, professor Evandro Oliveira Brito, por me
encaminhar.
Agradeço as professoras Marluci Guthiá Ferreira; exemplo de serenidade e
competência, e Silvanira Lisboa Scheffler; exemplo de força e carisma, por
aceitarem o convite para serem membros examinadores da minha banca, momento
de grande valia.
Agradeço aos amigos de classe, pois conseguimos depois de muito tempo, abrir
espaços para momentos de cumplicidade, alegrias, apoios e satisfação que sempre
serão lembrados com carinho e aos professores que passaram pela minha vida
durante o tempo que fiquei no USJ. Levo em mim frases de cada um e lições de
vida.
E por fim, mas não menos importante dedico minha gratidão as minhas amigas
Rosana, Aline e Sara, por dividirem todos os momentos comigo, sou orgulhosa por
ter amigas como vocês que serão minhas eternas “JOCOCAS”!
6
Se fosse ensinar a uma criança a beleza
da música não começaria com partituras,
notas e pautas. Ouviríamos juntos as
melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a
música. Aí, encantada com a beleza da
música, ela mesma me pediria que lhe
ensinasse o mistério daquelas bolinhas
pretas escritas sobre cinco linhas. Porque
as bolinhas pretas e as cinco linhas são
apenas ferramentas para a produção da
beleza musical. A experiência da beleza
tem de vir antes.
(Rubem Alves)
7
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso aborda o tema educação musical e mostra a
possível transformação do ser humano diante deste assunto que ganhou ênfase nos
últimos anos devido à inclusão obrigatória da música no currículo escolar. Através
dos estudos realizados, percebeu-se que a musicalização não é apenas um meio de
preencher o tempo ocioso das crianças ou ensinada por obrigatoriedade, é também
um meio de educar o ser através de sons, ritmos e tudo o que lembra música. Nesta
pesquisa desenvolveu-se um estudo sobre a educação musical na Banda Musical
Anjos do Amanhecer que desenvolve seu projeto em uma escola da rede estadual
no município de São José, identificando dessa forma a mudança de comportamento
dos educandos que estão envolvidos com a música seja no ambiente escolar,
familiar, cultural e na sociedade em geral. Aplicou-se a pesquisa em um grupo de
setenta pais, responsáveis pela observação do comportamento das crianças e
adolescentes, e os três professores responsáveis pelo andamento do projeto
musical. Os resultados obtidos mostram que crianças e adolescentes entre 10 e 15
anos de idade tiveram o seu comportamento alterado depois de um contato mais
profundo com a música. Sendo que dos setenta pais entrevistados, 100% relatam
uma melhora no desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural entre outros. Quanto
aos professores, foi constatado que os mesmos conhecem esses resultados e
desenvolvem o projeto em busca de melhoras.
Palavras-chave: Música. Musicalização infantil. Banda musical. Criança. Escola.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .....................................................................................................10
CAPÍTULO I
1 O QUE É MÚSICA?.........................................................................................13
1.1 MÚSICA: UM FENÔMENO SOCIAL...............................................................14
1.2 EDUCAÇÃO MUSICAL...................................................................................15
1.2.1 Educação musical no Brasil.....................................................................16
1.3 O QUE É MUSICALIZAÇÃO?.........................................................................18
1.3.1 Métodos de musicalização........................................................................19
CAPÍTULO II
2 A MÚSICA PROVOCA MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO.....................21
2.1 A MÚSICA AUXILIA NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AFETIVO...........23
2.2 A MÚSICA É PONTE PARA O CONHECIMENTO DE CULTURAS..............25
2.2.1 A Música no Continente Africano............................................................26
2.2.2 A Música no Oriente Médio......................................................................26
2.2.3 A Música na Índia......................................................................................27
2.2.4 A Música no Extremo Oriente..................................................................27
2.2.5 A Música na Oceania e ilhas do Pacífico................................................27
2.2.6 A Música no Continente Americano........................................................27
2.3 A MÚSICA E A DANÇA...................................................................................28
CAPÍTULO III
3 A GRAVIDADE DA BANALIZAÇÃO MUSICAL.............................................30
3.1 INTELIGÊNCIA MUSICAL...............................................................................31
3.2 BANDAS DE MÚSICA.....................................................................................33
3.3 BANDAS NAS ESCOLAS...............................................................................35
3.4 MÚSICA E NECESSIDADES ESPECIAIS......................................................36
9
4 RECURSOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.........................................40
4.1 COLETA DE DADOS......................................................................................41
5 ANÁLISE DE REGISTROS.............................................................................42
5.1 A PERSPECTIVA DOCENTE.......................................................................42
5.2 A PERSPECTIVA FAMILIAR.......................................................................48
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................55
APÊNDICES........................................................................................................59
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como finalidade a exposição de alguns benefícios que a
musicalização traz na educação. Pretende apresentar um melhor entendimento
dos projetos musicais que ocorrem dentro das instituições escolares e estimular
uma reflexão sobre as práticas musicais nas escolas.
A musicoterapeuta Sandra de Moura Campos Oliveira, da Faculdade Paulista
de Artes diz que; “A música desenvolve novas habilidades cognitivas e ajuda a
lidar melhor com as emoções, a diminuir comportamentos agressivos”.
Segundo Moraes (2008), a música bem feita contribui para a formação do ser
sensível, do equilíbrio interior, da concentração, da organização das idéias, do
raciocínio lógico, do falar e escrever, do agir e reagir, permitindo que futuramente
se observe os benefícios que a vivência com a linguagem musical traz de bom.
Além de ser usada como terapia psíquica para o desenvolvimento cognitivo, a
música desenvolve também a comunicação social, e alcança de forma inevitável
todos que rodeiam aqueles que participam de projetos musicais e afins. Melhor
ainda quando agregado ao meio escolar.
De acordo com Florrance Bauer Assessora de Comunicação do UNICEF
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) em Brasília; a música seduz a
criança, serve de motivação, deixa-a mais cautelosa e é um instrumento de
cidadania, contribuindo para o aumento de sua auto-estima. A isso se deve o
imenso número de projetos de educação através da música no Brasil e suas
conquistas.
Por isso, a proposta é investigar de que forma a educação musical tem
contribuído para o desenvolvimento do indivíduo no convívio para com o meio
social, familiar e escolar?
O tema foi desenvolvido com base na pesquisa de campo feita em uma
escola de ensino fundamental da rede estadual de ensino, pesquisas
bibliográficas, experiências profissionais, além do constante envolvimento com a
música e com o seu uso no campo educacional. A pesquisa possibilitou a
percepção de que a educação musical é algo que está sendo desenvolvida
lentamente sendo que algumas escolas só tomaram iniciativa por influência da lei
11.769/2008 que torna a musicalização obrigatória.
11
A pesquisa acerca do projeto de música nesta escola da rede estadual é
justificada pela percepção de que; os jovens e as crianças da rede de ensino
precisam ocupar-se com atividades que ultrapassem a linha do currículo e os
muros da escola, independente de sua classe socioeconômica.
Hoje a visão de educação não pode estar reduzida apenas no exercício de
ler, escrever ou ainda que a escola cumpra tão somente o papel de intermediária
para a vida profissional. Esse modelo de escola tem sido deixado para trás por
profissionais que atualizam seus conhecimentos e pelos próprios educandos.
A escola de hoje pensa na cidadania, no dever de formar não somente
educandos, mas seres humanos que pensam que tenham capacidade crítica e
capacidade de mudança. Através disso surge a atitude para tomar decisões e
escolher os próprios caminhos, o que certamente dará maior chance de
oportunidades na vida profissional, pessoal e assim por diante.
Dessa forma desenvolvem-se trabalhos que coloquem na ativa a capacidade
de criar, trocar experiências, a oportunidade de conhecer pessoas novas e
lugares novos. O resultado esperado em médio prazo é a mudança de
pensamento, de comportamento, formando assim, adolescentes e crianças com
maior facilidade de comunicação social.
Chiarelli e Barreto (2005, p. 04), diz que a música mexe com emoções,
sensibilidade, percepções e convívio social. Além disso, ela proporciona o
conhecimento de outras culturas e é claro possibilita a autoestima, a descoberta
de dons. A música contribui expansivamente na disciplina, no trabalho em grupo,
na concentração, no aumento de responsabilidade, não só nas aulas de música,
mas também em casa, no convívio com os pais e na própria escola em horário
curricular.
Sendo assim, observou-se que, depois que começam a participar do projeto,
cada educando leva essa novidade para dentro de casa, da escola e da própria
comunidade. Como consequência, tem o tempo ocioso reduzido, colaborando na
diminuição da marginalização, envolvimento com ocupações negativas ou
qualquer outra atividade que contribua para a sua má formação.
O objetivo geral desta pesquisa é a análise da percepção dos resultados
obtidos
através
da
criança/adolescente.
música
no
meio
escolar,
familiar
e
social
da
12
Os objetivos específicos são: Compreender a proposta oferecida pelo projeto
musical; Analisar o modo como os pais e professores descrevem a diferença de
comportamento da criança/adolescente antes e depois do contato com a música;
Descrever os aspectos de desenvolvimento humano despertados através da
ação musical; Apresentar o perfil do profissional que desenvolve o trabalho
musical nos projetos escolares; e, Conhecer as possíveis transformações
geradas na criança/adolescente através do projeto.
São discorridos no primeiro capítulo deste trabalho: o conceito de música sob
a perspectiva de Moraes e Mársico; a educação musical de modo geral e no
Brasil; e os métodos utilizados para o aprendizado da música. O segundo
capítulo discorre sobre as áreas que a música afeta de modo positivo e de que
forma essas áreas podem ser desenvolvidas no indivíduo. E o terceiro capítulo
refere-se à banalização musical, à inteligência musical, às bandas de música nas
escolas e o trabalho com a música no indivíduo com necessidades especiais
Atualmente, algumas escolas que incluem música em seu currículo, aplicam a
atividade de forma incorreta, descartando a realidade do educando e deixando o
real prazer da educação musical cada vez mais longe.
Portanto, esse trabalho apresenta uma educação mais humanista, onde o
educando é envolvido pelo meio e tem a chance de se desenvolver através dele.
O conteúdo musical apresentado como proposta, leva em conta a vivência e a
experiência da criança/adolescente.
É necessário valorizar as habilidades, a criatividade e integrar o conteúdo
musical a outras disciplinas do currículo, permitindo assim, o crescimento pessoal
do educando de forma completa e também do espaço educacional no qual está
inserido.
13
CAPÍTULO I
Se um dia Deus me perguntar o que eu fiz
com o dom que Ele me deu, vou dizer que
aproveitei nota por nota.
(Mauro Cerdeira)
1 O QUE É MÚSICA?
Definir a música é uma tarefa difícil, pois mesmo sendo conhecida de forma
intuitiva pelo ser humano, não é fácil encontrar um conceito que abranje todos os
significados dessa prática. A música é a manifestação humana que contém e
manipula o som e o organiza no tempo, ultrapassando todas as outras
manifestações humanas. Talvez por esse motivo nunca se encontra uma
definição específica, pois quando se encontra uma, a música já se modificou, já
evoluiu. Como "arte do efêmero", a música tem várias personalidades e por isso
não tem como conhece-la por completo ou encaixa-la em um conceito simples.
Vista de vários ângulos a música tem seus significados em diversas
expressões, mas falando de sua especificidade Moraes (1993, p. 30) diz que “a
música pode ser considerada uma linguagem sem referente imediato. Nessa
medida ela refere-se a ela mesma, à sua própria maneira de ser, de erigir-se em
um sistema autônomo”.
Do ponto de vista mais humano e simplificado de se entender:
A música é uma disciplina que torna as pessoas mais pacientes e doces,
mais modestas e razoáveis. [...] Ela é um dom de Deus e não dos homens.
[...] Com ela se esquecem a cólera e todos os vícios. Por isso, não temo
afirmar que depois da teologia nenhuma arte pode ser equiparada à música.
(LUTERO, 1483-1546 apud MORAES, 1993, p. 43)
Trazendo o significado da música minuciosamente, deriva do grego, musiké
téchne, que siginifica a arte das musas. Uma forma de arte que combina sons e
silêncio tendo ou não uma pré organização. Pode ser considerada uma prática
cultural e humana, já que desde sempre nunca houve nenhuma civilização que
não possuam manifestações musicais.
14
Como é criada, o que significa a composição e toda a sua performance, varia
de acordo com a cultura e contexto social. Pode ser fortemente complexa com
uma organização impecável ou um simples improviso, pode ser classificada
como uma arte de representação, uma arte sublime ou uma arte de espetáculo.
Além da arte, a música também tem sua utilidade militar, educacional ou
terapêutica (musicoterapia). Marca presença central em diversas atividades de
comunidade, como os rituais religiosos, festas e funerais.
Com tantas maneiras de interpretações e as inúmeras funções para o uso da
música conclui-se que a música não pode ter uma só definição precisa. Porém,
existe a possibilidade de apresentar algumas definições e conceitos que
fundamentam uma "história da música" em constante crescimento, seja no
domínio do popular, do tradicional, do folclórico ou do erudito.
1.1 MÚSICA: UM FENÔMEMO SOCIAL
As práticas musicais não podem ser estudadas separadas do contexto
cultural. Cada cultura possui sua identidade musical diferente em seu estilo,
abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na
sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao
sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção
teatral do concerto contra a participação festiva da música folclórica e muitas
outras.
No início do século XX, alguns musicólogos estabeleceram uma "antropologia
musical", que incita a provar que, por mais que alguém tenha o gosto de ouvir
determinada música, não pode senti-la da mesma forma que os membros das
etnias aos quais elas se destinam. Academicamente, o termo usado para estudos
da música genérica foi "musicologia comparativa", que foi renomeada em
meados do século XX para "etnomusicologia", que apresentou-se, ainda assim,
como uma definição insatisfatória.
Moraes, em seu livro O que é música? (p. 41 e 42), cita qual seria a missão
da música para Thomas Mann, um romancista alemão, 1875 – 1955.
15
O mundo não é unicamente um belo acorde, nem a harmonia das esferas;
ele tem aspectos irracionais, demoníacos, que o helenismo jamais
negligenciou, mas que procurou incluir e absorver em sua religiosidade [...].
Se o mundo é música, inversamente a música é a imagem do mundo, do
cosmo, trespassado de demonismo. Ela é a obra dos números, o culto dos
números, um cálculo sagrado, uma álgebra sonora. Mas na essência
mesma dos números não entra um elemento mágico, um pouco de
feitiçaria? A música – uma teologia dos números, uma rigorosa ciência
divina, mas na qual estão interessados todos os demônios, e que entre
todas as artes, possui o máximo de íntimas possibilidades de se tornar uma
arte demoníaca. Pois ela é, ao mesmo tempo, moral e tentação, sobriedade
e irracionalidade – enfim, um mistério compreendendo todos os ritos
iniciatórios e educadores que desde a época de Eleusis e de Pitágoras
foram inerentes ao mistério: a unidade total divina e demoníaca do mundo,
da vida, do homem, da civilização. [...] Em terríveis sofrimentos ela procura,
sempre e novamente, recobrar essa noção religiosa; uma esperança
apaixonada em um mundo melhor e mais justo, mais justo em todas as
acepções, e também no sentido de um equilíbrio humano mais feliz.
Falar da música de grupos sociais diferentes, de uma região ou de uma
época, é referir-se a um tipo específico de música agrupando elementos
totalmente diferentes (música tradicional, erudita, popular ou experimental). Estes
vários estilos criam laços entre o músico (compositor ou intérprete) e o público
onde adapta sua escuta a uma cultura ao mesmo tempo que percebe a obra
musical.
1.2 EDUCAÇÃO MUSICAL
A função da educação musical é oportunizar ao indivíduo o acesso à música
enquanto arte, linguagem e conhecimento.
Essa educação pode acontecer de duas formas: nas instituições de ensino
regidas por um sistema, ou por meio da indústria cultural e do folclore de forma
assistemática.
Os conhecimentos da área da educação musical é de grande importância
para a formação do músico profissional, mas nem sempre essa educação busca
esse tipo de interesse. A educação musical dentro de uma escola regular, por
exemplo, tem como objetivo musicalizar o indivíduo, fazer com que ele entenda o
que acontece com a expressão e o significado quando ouve ou executa música.
Musicalizar é dar ao indivíduo as possibilidades para a compreensão e utilização
da linguagem musical.
16
Conforme Mársico (1982, p.148) uma das: [...] tarefas primordiais da
escola é assegurar a igualdade de chances, para que toda criança possa ter
acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o ambiente
sócio-cultural de que provenha.
A educação musical em diferentes partes do mundo revela diversas
experiências, principalmente no século XX, onde a preocupação com a educação
musical juntamente com o nacionalismo, marcou uma forte tendência mundial.
Os educadores musicais internacionais amparam-se nas resoluções e
discussões da ISME - International Society for Musical Education. No Brasil, a
Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM, cumpre a função de ser um
foro aglutinador de experiências e debates. Em Portugal, a Associação
Portuguesa de Educação Musical – APEM, realiza este papel.
1.2.1 Educação Musical no Brasil
A educação musical no Brasil tem registros desde a chegada dos jesuítas aos
país. Nesse período a música era lecionada na catequese, assim como as outras
artes e só sofreu uma modificação na segunda metade do século XVIII, onde o
Marquês de Pombal fez algumas reformas na legislação educacional.
O interesse era a adequação do estado português ao pensamento iluminista,
e a desestrutura do ensino religioso sem a implementação do sistema
educacional laico, público e gratuito.
Nesse tempo, alguns músicos se reuniam nas chamadas irmandades. E
foram essas irmandades que contribuíram para a difusão da música em meados
do século XVIII, já que os padres-músicos eram poucos.
Durante o Vice-Reinado e o Brasil Império, a política educacional era voltada
para a formação de nível superior com o objetivo de suprir uma demanda do
Estado referente à carreiras liberais e militares. Nessa época, as escolas normais
guardavam os registros de educação musical, pois a música sempre foi
considerada parte importante na formação de novos docentes.
Segundo Freire (1996, p.187-201), a educação musical do século XIX
apresenta duas vertentes principais: a do ensino formal, praticado dentro do
17
contexto escolar e a do ensino informal, em oposição ao primeiro, praticado fora
dele.
O ensino de música no Imperial Conservatório de Música e no Instituto
Nacional de Música baseava-se no paradigma técnico-linear, onde a preferência
era preparar com competência indivíduos para o desempenho de funções
específicas, como atuar na igreja e no teatro.
[...]seu currículo original constava das seguintes disciplinas: rudimentos
preparatórios e solfejos; canto para o sexo masculino; rudimentos e canto
para o sexo feminino; instrumentos de corda; instrumentos de sopro;
harmonia e composição. Este elenco de disciplinas remetia, clara e
objetivamente, aos objetivos propostos – à capacitação técnica de artistas
para suprirem as exigências do Culto e do Teatro. (FREIRE, 1994, p.150)
Considerado o maior movimento de educação musical de massa ocorrido no
Brasil, pode-se observar o Canto Orfeônico presente nas escolas brasileiras até o
final da década de 1960. Estava ligado ao ideal da escola nova e sua imagem
profundamente ligada a Getúlio Vargas. Se constitui como movimento durante o
estado novo e tinha à sua frente o maestro Heitor Villa-Lobos.
Segundo Oliveira (1996, p.66) apud Loureiro (2007, p.56).
Villa-Lobos, ao introduzir o Canto Orfeônico, de certa forma abriu a
concepção de ensino de música tanto para crianças como para as grandes
massas. Através de sua prática, pode-se perceber que a sua intenção, além
de ser cívica e disciplinadora, era também de formar público e divulgar
música brasileira. O processo de ensino neste período pretendia musicalizar
tanto pela prática como pela teoria da música, atendendo a toda a
população estudantil. Pode-se observar nesta postura, que existe uma
semente de abertura do conceito de educação musical, embora silenciosa.
No entanto, a promulgação da Lei 5.692/1971, tornava obrigatório o ensino de
artes instituindo a polivalência na disciplina de Educação Artística, isso fez com
que o movimento desaparecesse da educação depois de 1960.
A polivalência nada mais era do que no ensino de artes um mesmo
profissional poderia dar conta de ensinar Artes Visuais, Teatro, Música e Dança.
Aliado a isto estava o fato de que muitos deles possuiam uma formação superior
precária provindo dos cursos de "Licenciatura Curta", muito comuns na década
de 1970. Mediante o caráter tecnicista da educação no período da Ditadura
Militar, o resultado desta política é basicamente as arte coletivas (Teatro, Dança
18
e a Música) sendo engolidas pela predominância do ensino das Artes Visuais e
sendo jogadas para fora do currículo.
Com a Lei 5.692/1971, diversos cursos superiores foram criados para a
formação de professores de artes e com o passar dos anos, as universidades
brasileiras foram aperfeiçoando estes cursos. A partir da década de 80, os
profissionais da área de artes começaram a reclamar sobre a polivalência e um
outro quadro foi se configurando. A ideia de especialização em uma determinada
área artística foi ganhando terreno.
A partir da Lei 9.394/1996, foi possível perceber o retorno das artes coletivas
ao currículo das escolas brasileiras. Uma das interpretações desta Lei apontava
para a presença diferenciada das diversas manifestações artísticas. Nesta época
foram públicados os PCN´s e no Ensino de Artes citam quatro modalidades:
Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. Estas modalidades deveriam estar
presentes no currículo.
A partir disso, universidades entre outros sistemas escolares, percebem a
importância da especialização destas áreas e assim, lançam cursos de
Licenciatura específicos. Para a música, surge os cursos de Licenciatura Plena,
suplantando os antigos cursos de Licenciatura Plena em Educação Artística.
1.3 O QUE É MUSICALIZAÇÃO?
A musicalização é o processo de construção do conhecimento musical.
O termo musicalização é conhecido há pouco tempo, antigamente estava
associado ao processo de iniciação musical de crianças. Hoje, o conceito tornouse mais amplo, em relação aos seus objetivos e ao mesmo tempo
descontextualizado do meio em que esta prática encontra-se inserida.
O principal objetivo da musicalização é despertar e desenvolver o gosto pela
música, estimulando e contribuindo com a formação do ser humano.
Existem pessoas que acreditam que aprender música é um privilégio dos que
possuem alguma “aptidão” ou dos que possuem condições financeiras. Dessa
forma é necessário desmistificar e democratizar o acesso à educação musical. O
professor e as escolas de música possuem um papel importante nesse processo.
19
É necessário saber quais as necessidades e assim traçar uma nova metodologia
de prática educativa musical da escola e dos professores.
Swanwick (2003, p. 97) diz que “um dos objetivos do professor de música é
trazer a consciência musical do último para o primeiro plano”, ou seja, fazer com
que percebam a música quando ela é tocada, e entende-la na intenção de quem
compõe. Assim, afirma que: “o método específico de ensino não é tão importante
quanto nossa percepção do que a música é ou do que ela faz”.
As escolas de música ou até mesmo as escolas regulares que possuem
projetos musicais, precisam adotar o modelo de gestão democrática. Essa visão
vem através da percepção que as aulas de musicalização infantil e as aulas em
grupo, exigem um modelo mais participativo de educação, para que a qualidade
de ensino musical seja satisfatória, considerando o fazer musical como
desenvolvimento de uma competência excepcionalmente humana e que exige
condições para a sua completa realização.
Gainza (1988, p. 101) reafirma a importância de saber o que se pretende com
a educação musical, dizendo que “o objetivo específico da educação musical é
musicalizar, ou seja, tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno
sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical”.
Os professores de música antes de qualquer coisa precisam saber a
necessidades de seus educandos, as dificuldades, e principalmente, sobre que
tipo de ser humano quer formar, afinal, educar musicalmente é educar o ser
humano como um todo. E somente depois disso traçar as metas e objetivos das
suas aulas.
1.3.1 Métodos de Musicalização
O desenvolvimento da musicalização pode ser feito com crianças a partir de 2
anos de idade. Faz parte da arte-educação ou de atividades recreativas a partir
da pré-escola. Existe a possibilidade de ser ministrada em conservatórios na
iniciação de cursos de instrumentos ou canto. Existem vários métodos
consagrados de musicalização, cada um utilizando técnicas e recursos
diferentes.
20
Alguns métodos, levam o educando a construir sua própria noção de música
com uma série de instrumental desenvolvido para crianças e exercícios musicais.
Outros métodos tem por base o desenvolvimento da percepção rítimica e
melódica através de exercícios com o canto e atividades corporais.
Candida Tobin desenvolveu um método que utiliza estímulos visuais para criar
associações com estímulos sonoros. Então, as cores e formas por exemplo,
podem ser usadas para que as crianças percebam as relações de altura e
duração.
Esse método pode ser utilizado pelos professores sem proficiência para
instrumentos musicais. Neste caso os instrumentos são trocados por animações
e programas de computador.
Um dos mais importantes métodos foi criado por Edgard Willems que
descobriu uma interligação entre a música e o ser humano, relacionando o triplo
aspecto
do
homem [fisiológico,
afetivo e
mental]
com os elementos
característicos da música [o ritmo, a melodia e a harmonia].
Essa metodologia traz a educação musical de uma forma ativa e criadora,
respeitando o desenvolvimento psicológico da criança. Atualmente esse método
é conhecido e o mais utilizado no mundo todo.
No Brasil o Método Williems foi um trabalho desenvolvido pela educadora e
musicista Carmen Mettig Rocha, na capital baiana que hoje, é o principal centro
de divulgação desse método.
Enquanto o Método Williems educa de acordo com o desenvolvimento da
criança, no Japão o método Suzuki utilizado nas aulas de violino está baseado na
rigidez e disciplina independente do ser que será submetido ao método.
21
CAPÍTULO II
2 A MÚSICA PROVOCA MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO
Estar em contato com a música antes do aprendizado propriamente dito, é de
grande valia. Pedagogicamente, a música é vista como um processo de
construção que envolve o perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir.
Com a utilização da música, o ensino fica mais leve e descontraído e cria um
ambiente perfeito para o bom aproveitamento no aprendizado.
Freire (1991 p. 37), destaca o valor de um ambiente adequado para o ensino
dizendo que, sonhamos com uma escola que mesmo séria não vive fechada. Ser
sério não é carregar um peso. Quando a seriedade é leve, torna-se eficaz e
convincente. O sonho de uma escola séria é pela competência e dedicação ao
ensino, que gere alegria. A alegria, o gosto de ensinar e aprender deve andar
com educadores e educandos em suas buscas incessantes. Existe a
necessidade de remover obstáculos que dificultam essa alegria de chegar até
nós, e não concordar com o fato de que ensinar e aprender são práticas
cansativas e tristes.
Freire (1991, p. 37) fala que o reparo das escolas que precisa ser feito com
urgência, já será uma das formas de mudar um pouco a cara da escola do ponto
de vista de sua alma.
Seja na fase infantil, adolescente ou adulta, a música é um instrumento para o
desenvolvimento e construção de conhecimento. É um intermédio para a análise
de conflitos, apropriação do mundo em que vivem, desenvolvimento de
criatividade, socialização e sensibilização auditiva. Querendo ou não, está
presente em todos os ambientes e afeta os seres humanos sem que pensem ou
percebam.
“A música não é um luxo,é uma necessidade natural do homem. [...] A música
é um forte vínculo entre os componentes de uma coletividade, seja esta a família,
a pátria ou a humanidade.” (Jornal Perfil Mulher apud Paz, p. 71)
Sendo um veículo de comunicação, atinge diretamente o emocional das
pessoas e permite as expressões das classes sociais. O ser humano necessita
verbalizar seus sonhos, suas certezas, suas angústias e através da música
22
encontra esse prazer. Além disso, pode ser usada no tratamento espiritual, na
cura da alma, enchendo de alegria e bem-estar, permitindo a alteração e
liberação das partes adormecidas do corpo.
Bréscia (2003, p. 31) apud Chiarelli e Barreto (2005, p. 01) diz que “Pitágoras,
filósofo grego da antiguidade, ensinava como determinados acordes musicais e
certas melodias criavam reações definidas no organismo humano”. O sentimento
de bem estar com o uso da música já possuiam suas considerações naquela
época. Pitágoras mostrou que uma sequência correta de sons, quando tocada
musicalmente num instrumento, pode mudar padrões de comportamento e
acelerar o processo de cura.
Não só nos ouvidos, ou na necessidade de expressão, mas a música também
altera o estado de espírito, faz com que o corpo reaja a vibrações e desperta
emoções que interferem no funcionamento do organismo.
A mitologia grega apresenta o deus Pan, que através de sua flauta, eliminava
os maus sentimentos das pessoas ao seu redor. Um poeta famoso chamado
Homero, já afirmava que a música poderia alegrar a alma e acalmar as
perturbações da mente e do corpo, por isso era considerada uma dádiva divina
para o homem.
Em 1880 foi encontrado no Egito, um papiro, datado de 4500 a.C, que
mostrava um sistema de sons e músicas, instrumentais e vocais, revelando uma
organizada estrutura. Esse sistema era utilizado no tratamento de problemas
emocionais e espirituais.
A própria Bíblia fala do tratamento da alma com a música:
E sucedia que, quando o espírito mau, da parte de Deus vinha sobre Saul,
Davi tomava a harpa e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio e
se achava melhor, e o espírito mau se retirava dele.
(I SAMUEL, cap. 16 v. 23)
A música auxilia no desenvolvimento das capacidades psicomotoras, estimula
a memória e ajuda a desenvolver a autoconfiança. Além disso, a música ainda dá
a oportunidade de vivenciar um processo criativo por meio da arte musical.
Para Puchta, (1993) apud Bacellar (2008, p. 2) a música tem potência para
mudar o comportamento do ser humano, pois exerce uma influência significativa
23
na produção de neurotransmissores, fazendo com que o ser humano tenha
reações orgânicas. Quando essas reações são utilizadas de modo adequado,
podem se tornar positivas dando um bom resultado.
Entre tantos benefícios que a música proporciona, também é um recurso de
inclusão social. Fortalece a cultura e abre portas para o acesso a arte. Nos
países de primeiro mundo a música é o ases para preservar as raízes culturais,
exemplo que precisa ser seguido por aqueles que querem pontuar positivamente
seu crescimento.
2.1 A MÚSICA AUXILIA NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AFETIVO
As crianças de 0 a 6 anos estão em idade inicial de desenvolvimento cerebral,
e já nesta idade, é importante iniciar uma educação musical através da audição
de músicas eruditas e de músicas clássicas. Essa classificação musical é de
grande valia para crianças desta idade, pois adicionam força ao desenvolvimento
da acuidade cerebral auditiva, caracterizada por ser de grande importância para
aprendizagem de idiomas.
Além de ser utilizada como terapia para o desenvolvimento cognitivo, a
música também é uma forma de transmitir idéias e informações despertando na
criança o desejo de comunicação social, e por mais esse benefício, pode ser um
excelente instrumento de trabalho escolar .
Em vez de ensinar teoria musical, abstrata e árida, decorada sem interesse
e depressa esquecida, muito mais proveitoso seria, e de real valor para o
resto da vida, iniciar as crianças na apreciação da música, apreciação livre,
espontânea, realizada debaixo de real interesse. (PEREIRA, 1937, p. 28).
Quando ensinada mediante o interesse e apreciação do educando, mesmo
que ele tenha registros de rebeldia ou delinquência, a música pode ajudá-lo a
estruturar-se no tempo, no espaço, na vida, desenvolvendo a noção de ordem e
organização, além de contribuir com o equilíbrio da autoestima e autoaceitação.
Segundo os PCN’S,
[...] As oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola,
mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do
estudante como cidadão, principalmente por intensificar as relações dos
24
indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior. (PCN, Arte,
Introdução, 1998, p.19).
Preocupando-se com uma aprendizagem significativa e de acordo com a
imposição pela sociedade atual, é necessário cada vez mais o desenvolvimento
do lúdico nas escolas, pois é através disto que se possibilita um aprendizado
prazeroso e estimulante.
Quando a criança chega à escola, ela já traz consigo uma porcentagem de
ludicidade, já que tudo que se aprende na infância é através das brincadeiras e
convívio social. Por isso é importante entender o lúdico como um instrumento de
superação e inclusão e que os professores compreendam essa cultura de
ludicidade nas crianças e também nos adolescentes e nos adultos que ainda
carregam vestígios do lúdico consigo.
Quando a música é trabalhada no contexto escolar usando essa forma lúdica
e prazerosa, auxilia o aprendizado e o trabalho em equipe, pois as crianças
aprendem a ser mais sociáveis.
A metodologia de agregar a música ao lúdico no cotidiano escolar pode ajudar
com crianças que tenham problemas de relacionamento ou inibição.
Os resultados surgem com maior sucesso quando música e movimento estão
vinculados, então, atividades com a dança podem perfeitamente contribuir para a
adaptação dessas crianças em seu meio escolar.
Por isso é necessário que os educadores estejam sensíveis para despertar às
possibilidades que a música favorece como, por exemplo, o bem-estar e o
crescimento do saber dos educandos, pois ela fala diretamente ao corpo, à
mente e às emoções.
Pereira (1937, p. 153) diz: “Já que música é movimento, a criança a sentirá e
a compreenderá melhor se tomar parte ativa nesse movimento.”
Isso significa que é necessário usufruir da oportunidade de participar
ativamente das propostas, seja ouvindo, interpretando, compondo, improvisando,
na sala de aula ou fora dela. O envolvimento de pessoas da parte externa
contribui para o enriquecimento do ensino, promove a interação de grupos e
assim “a escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis,
amadores talentosos ou músicos profissionais.” (Brasil, 1998, p. 77).
25
Por isso, a aprendizagem da música é fundamental na formação de cidadãos,
pois tem o poder de estimular o perfeito convívio coletivo, o que é considerado de
suma importância para a formação social do ser humano.
Através da música, é implantado o gosto pelo canto em coro ou conjunto,
levando a criança/adolescente a compreender o que é trabalhar em equipe e a
importância disso na sociedade.
A música também encoraja a confraternização entre escola e comunidade,
apresenta à criança repertórios diferente, dando a ela o direito de escolher
aquele que mais se identifica. Desperta o nacionalismo e desenvolve a cultura
nacional com o aprendizado dos hinos pátrios.
Segundo Reis (1993, p. 58) apud Loureiro (2001, p. 38).
A música poderia exercer sobre o homem poder maléfico ou benéfico, por
imitar a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Com seu
encanto sedutor, poderia conduzir perniciosamente o homem, através de
um complexo de emoções não recomendável, como também teria
condições de realizar o inverso, contribuindo, de modo eficaz, para a
educação da juventude. Daí, a necessidade de se colocar a música sob a
administração do Estado, sempre a serviço da edificação espiritual humana,
voltada para o bem da polis, almejada como cidade justa.
O filósofo encara o efeito sedutor da música com receio, porém ela desperta
na criança o desejo de se envolver com os projetos, o que faz com que ela esteja
sempre ou quase sempre ocupada com aquilo que lhe interessa, evitando dessa
forma problemas e melhorando seu aspecto disciplinar, desde notas até
comportamento, tanto na escola, como no meio familiar.
2.2 A MÚSICA É PONTE PARA O CONHECIMENTO DE CULTURAS
A música surgiu muito antes das primeiras orquestras do período barroco
europeu. Os povos criaram suas primeiras músicas para cerimônias religiosas ou
festivas, e essas músicas de diferentes culturas nos influenciam até hoje.
Alguns mitos contam como os deuses criaram os instrumentos musicais e
para alguns povos, os instrumentos têm poderes e permitem que os homens se
comuniquem com seus antepassados ou com os deuses.
26
A educação musical, também permite o enriquecimento do processo de
formação cultural do educando.
Penna (2006) afirma que:
Essa multiplicidade traz diferentes contribuições, pois o diálogo entre esta
diversidade – de perfis, de enfoques, de contribuições, de experiências… –
enriquece a nossa área. E isso é uma coisa que as experiências de
educação musical nos projetos extra-escolares de caráter social nos
trouxeram para pensar: a necessidade de lidar com a diversidade humana,
cultural, artística e musical lá fora, dos grupos envolvidos nesses projetos,
e também lidar com a diversidade interna de nossa área – diversidade esta
que, na verdade, nos constitui –, e ainda com a diversidade potencial que a
interdisciplinaridade pode trazer para enriquecer nossas discussões, nossa
formação e nossas pesquisas. (PENNA, 2006, p. 42)
A chance de conhecer a música de outros povos, ou a origem musical do seu
povo, desperta o senso rítmico, o desenvolvimento da sensibilidade musical com
base no ritmo, som e palavra.
2.2.1 A Música no Continente Africano
A África, por exemplo, trouxe seus elementos de musicalidade para o Brasil
através dos escravos. Um dos elementos principais da música africana é o
instrumento de percussão.
Os elementos mais comuns usados nas tradições musicais são os tambores,
de vários tipos e tamanhos. As crianças aprendem a tocar e a cantar desde cedo,
pois a música faz parte do cotidiano, além de ser usada em casamentos,
nascimentos e cura de doenças.
Além dos tambores, os escravos influenciaram a cultura brasileira com a
umbigada e o maxixe, que deram origem ao samba.
2.2.2 A Música no Oriente Médio
O Oriente Médio, além de ser o centro das religiões cristã, judaica e islâmica,
é também a região onde surgiram as primeiras civilizações. Alguns instrumentos
27
utilizados nas bandas marciais têm seus antecedentes no Oriente Médio como é
o caso do violino, do oboé e do trompete.
2.2.3 A Música na Índia
Aqui no Brasil, produzimos música e escalas através das sete notas musicais
(dó, ré, mi, fá, sol, lá e si). Mas a música indiana usa um conjunto de escalas
chamadas ragas. Cada uma específica para uma situação, uma hora do dia ou
uma estação do ano.
São mais de 200 ragas, e para entender a complexidade de notas e ritmos, o
músico necessita de muitos anos de estudo.
2.2.4 A Música no Extremo Oriente
O Extremo Oriente possui tradições musicais de milênios. A maioria das
músicas era composta para danças da corte ou para o teatro. As músicas
religiosas eram feitas com instrumentos de percussão como tambores, gongos e
sinos. Acreditava-se que esses instrumentos acalmavam os deuses e expeliam
os demônios.
2.2.5 Música na Oceania e ilhas do Pacífico
As ilhas do Oceano Pacífico têm a sua tradição musical ligada ao mar. As
músicas
servem
para
pedir
auxílio
nas
navegações.
Antigamente os povos dessa região viajavam de ilha para ilha levando seus
instrumentos, incluindo tambores, flautas e apitos. Assim, povoaram outras ilhas,
como Papua - Nova Guiné e Havaí.
2.2.6 Música no Continente Americano
No continente americano a música começou com os índios antes da
colonização. A música cantada por esses povos expressavam a crença aos
deuses, que na maioria das vezes estavam relacionados à natureza.
28
Alguns mitos no Brasil, contam que a música foi um presente dos deuses,
pois estes não suportavam a tristeza ao ver o silêncio no mundo dos homens.
Além da voz (canto), temos instrumentos como: chocalhos, guizos, bastões,
tambores (percussão), apitos e flautas (sopro) - e zunidores.
As diferentes culturas mostram que o educando é capaz de elaborar seus
próprios ritmos, suas músicas, suas composições.
Snyders (1992, p.136) apud Loureiro (2001, p. 115), afirma que:
[...] é sem dúvida em música que os gostos dos jovens são mais intensos;
primeiro em extensão: [...] a música é a forma de cultura que toca a maioria
dos jovens, na qual a maioria dos jovens investe mais tempo e mais
dinheiro; em seguida em profundidade: os alunos possuem uma cultura
musical mais rica, mais estruturada, têm preferências e escolhas mais
firmes em música do que nas outras áreas culturais; enfim em ligação: creio
que, em seu conjunto, eles gostem ainda mais da música do que dos filmes
que apreciam.
A música permite a integração de comunidades, também é a grande
responsável pela sustentação da cultura de um povo, é uma demonstração de
respeito à cidadania.
2.3 A MÚSICA E A DANÇA
O desenvolvimento da musicalização agregada à dança fortalece o
desenvolvimento da expressão corporal, fazendo com que a criança reconheça o
seu corpo, suas possibilidades e limitações espaciais, temporais e laterais.
Cunha (1992, p.13) fala da importância da dança na fase escolar dizendo:
“Acreditamos que somente a escola, através do emprego de trabalho consciente
de dança, terá condições de fazer emergir e formar um indivíduo com
conhecimentos de suas verdadeiras possibilidades corporais-expressivas”.
A idéia que as crianças têm da música, é que ela foi feita para dançar e
expressar diferentes emoções, isso se dá porque ela vivencia diferentes
situações em que os adultos sem perceber, passam essa visão. Por isso é
comum ver uma criança que, ao ouvir uma música não acabe dançando. Mas na
educação a música vai muito além desse simples embalo.
Estevão (2002, p. 33 apud Ongaro (2006) diz que as crianças sabem que a
música é pra ser dançada e sentem prazer em dançar. Os professores levando
29
isso em conta, considerando como ponto de partida o repertório atual da classe e
possibilitando a expansão desse repertório comum com o repertório de seu grupo
cultural e outros grupos, estarão contribuindo para a formação das crianças,
principalmente se criarem situações em que as crianças possam dançar.
Então, o envolvimento da música e da dança, facilita a socialização e ajuda
para o relaxamento muscular e psicológico das crianças. Fator muito importante
nessa prática.
Oliveira, Bernardes e Rodriguez afirmam que:
Quando a criança escuta uma música, ela se concentra e tende a
acompanhá-la, cantando e fazendo movimentos com o corpo. Isso
desenvolve o senso do ritmo nos pequeninos. Aprendendo a ouvir, a criança
pode repetir uma música, recriando-a. É importante que nós, educadores,
valorizemos o ato de criação da criança, para que ele seja significativo no
seu contexto de desenvolvimento. (OLIVEIRA, BERNARDES E
RODRIGUEZ, 1998 apud OLIVEIRA, 2009 p. 4669).
Portanto a dança combina movimento e ritmo de acordo com a estrutura
rítmica musical, e favorece o desenvolvimento corporal da criança e também
verbal.
30
CAPÍTULO III
3 A GRAVIDADE DA BANALIZAÇÃO MUSICAL
Os profissionais da educação que não são qualificados para o ensino da
música ignoram sua riqueza cultural e social utilizando-a apenas como fonte de
recreação dos educandos e desta forma banalizam a musicalização do meio
escolar.
Lima diz que:
A música tem que ser entendida como uma linguagem e não como uma
forma de estratégia para banalizá-la. Tem que mostrar um amplo universo
de sons para o aluno. Isso vai ajudá-lo a ampliar seus sentidos, como a
visão, o tato e, principalmente, a audição. Nosso propósito com essas aulas
não é o de formar músicos profissionais, mas como música é cultura, ela vai
despertar nessa pessoa também o senso crítico, fazendo com que esse
indivíduo não aceite passivamente todo esse material cultural descartável.
(LIMA apud LAGINSKI, 2008).
As atividades musicais devem ser utilizadas para ampliar as linguagens e as
visões dos educandos, despertando neles a socialização e a consciência do
direito de todos, sem discriminação ou divisões de gostos, gêneros e assim por
diante.
Nos últimos anos essa visão musical tem sido repensada seriamente, mesmo
não querendo ou não sendo levado a sério nas escolas, pois perante a lei
11.796, sancionada em 2008, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é
obrigatório o ensino musical nas escolas brasileiras. A lei basicamente diz que as
escolas devem ensinar música dentro de um contexto abrangente e formativo.
É claro que, o mínimo que se espera diante da obrigatoriedade é a decência
de contratar profissionais qualificados para o cargo, caso contrário de nada
31
valeria, pois a música continuaria sendo banalizada, os alunos perdendo tempo e
os problemas aumentariam.
Jeandot apresenta a idealização do professor nas aulas de música:
Além da competência técnica, o professor deve ser criativo. A necessidade
de criar é comum a todas as crianças, que, ao interagirem com o mundo,
constroem seu conhecimento. O educador não deve perder a oportunidade
de aproveitar essa disposição. (JEANDOT, 1993. p. 133).
Então, quando a música for transformada em disciplina dentro do currículo
escolar, ou for trabalhada de forma interdisciplinar, haverá a possibilidade de
perceber um crescimento favorável de aprendizado. É preciso levar em conta
todos os aspectos já aqui citados, começando no cérebro, passando pelo corpo e
sendo exposto através das ações. Dessa forma, aprendem a musicar o
raciocínio, os atos, as notas, a vida, a família, os amigos, os acontecimentos, a
escola e a si mesmo.
Encarar os alunos como seres humanos e não como números, dar-lhes o
ensejo de receberem a música como se recebe um presente valioso, um
brinquedo libertador, que se transforma aos poucos em amigo, em
companheiro inseparável.
Em sua citação, Liddy Chiaffarelli Mignone faz o resumo perfeito da relação
do ser humano com a música em seu Guia para o professor de recreação
musical, na página 57.
3.1 INTELIGÊNCIA MUSICAL
A inteligência musical é conhecida e valorizada desde os primórdios da
humanidade – faltava apenas que lhe dessem um nome. Quem a desenvolve
consegue criar, comunicar e distinguir significado nos sons e em suas
combinações.
A maioria das pessoas aprecia música, e esse apreço pode ser cultivado com
a prática. Outros têm uma habilidade inata. Desde criança podem decifrar
melodias e ritmos mais rápido do que palavras, números ou imagens.
32
Mozart teve sua habilidade musical desenvolvida desde bebê. Sendo filho de
um professor de música, aprendeu acerca desta maravilhosa descoberta desde
cedo em casa e compôs seus primeiros trabalhos aos 5 anos. Na adolescência,
era altamente requisitado pela nobreza de toda a Europa, pois nessa idade já era
concertista. A riqueza de sua produção artística e inovações que levou para
gerações futuras provaram o tamanho de sua genialidade. Mozart morreu com
apenas 35 anos, mas então, já tinha deixado sua marca na história da música.
Gardner (1995, p. 21) apud Chiarelli e Barreto (2005 p. 05) define inteligência
como a capacidade para resolver problemas e criar produtos valorizados num
contexto cultural específico.
Em sua teoria sobre inteligências múltiplas afirma que: existem diferentes
tipos de inteligência, que estas podem ser ensinadas, treinadas e desenvolvidas.
Além disso, o seu desenvolvimento depende de oportunidades, experiências,
influências e escola, assim como também expectativas e motivação daqueles que
podem aprender e desenvolver as suas inteligências.
Olhando por esse ponto de vista, a responsabilidade sobre o desenvolvimento
do ser está sobre os educadores, que desempenham um papel muito importante
no desenvolvimento da inteligência das crianças e dos jovens, criando
oportunidades e experiências de aprendizagem diversificadas.
Entre tantas outras inteligências, Gardner (2005) apud Zenhas (2005 p. 02)
identificou e definiu a inteligência musical, com as seguintes características:
As pessoas que possuem inteligência musical são fáceis de serem
percebidas. Estão sempre rodeados de som, gostam de estudar com música,
ouvem muita música e aprendem facilmente canções e ritmos.
Em inúmeras vezes surgem no pensamento ritmos e melodias, cantam com
frequência e/ou tocam/querem aprender a tocar um instrumento. Estão em
grande parte do tempo assobiando e cantarolando, gostam mais de contar
histórias do que de lê-las e costumam marcar ritmos com o corpo, por exemplo,
com o pé, ou batendo com um lápis ou uma caneta.
Os educadores podem ajudar no desenvolvimento dessa inteligência criando
um ambiente musical, dando a oportunidade de aprenderem a tocar um
instrumento e utilizando canções adequadas na apresentação de matéria nova
em diferentes disciplinas. Ainda há a possibilidade de criar canções, raps,
33
poemas ou mnemônicas para a aprendizagem dos conteúdos e ensinar aos
educandos a criação desses textos para o seu estudo autônomo.
Essas atividades permitirão a verbalização em voz alta de diferentes tarefas
que realizam, por exemplo: leitura, pensamento durante a resolução de um
problema, raciocínio sobre uma nova informação, sugerindo e proporcionando a
audição de música como forma de relaxamento, permitindo que ouçam música
enquanto estudam.
Dessa forma, a teoria sobre inteligência é descrita por GAMA (2008, p. 04)
“como uma habilidade de apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical.
Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais,
sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou
reproduzir música.”
Então, é possível perceber que, através da música e da inteligência musical,
há a possibilidade de analisar o mundo que nos cerca, as realidades vividas e o
próprio ser humano. Pela música e a inteligência musical, pode-se conduzir
mensagens positivas ou não. A música e a inteligência musical não necessitam
se restringir a gostar de música, ser capaz de apreciar ou fazer música, mas
podem apresentar propostas políticas. Algo que os artistas sabem fazer muito
bem, analisando e propondo alternativas para o nosso cotidiano.
3.2 BANDAS DE MÚSICA
Espalhadas pela Europa e de origem francesa, as bandas de música já
estavam presentes no Brasil na metade do século XVIII em Pernambuco.
Tornaram-se populares com a chegada de D. João VI em 1808. O rei trouxe uma
banda de música portuguesa e durante o tempo que ficou no Rio de Janeiro com
a família real, fez vários concertos com as bandas existentes da época.
As bandas foram criadas por todo o Brasil e até hoje trazem uma pitada de
disciplina e organização que herdaram das bandas militares. Virou uma febre,
dominou tudo que podia, e existiam nas cidades, nas vilas, povoados e até
mesmo em sítios e fazendas.
Conforme alguns autores, antes de 1808 não existiam bandas de música
“modernas” no Brasil. Um dos registros é de José Ramos Tinhorão que destaca a
34
precariedade das bandas antes da chegada de D. João VI. Tinhorão (1976)
descreve a recepção dada a D. João sem a banda:
[...] a existência de uma banda naquele dia festivo, alias não escaparia a um
comentário do minucioso padre Perereca, pois, dez anos depois, em 1818,
quando D. João foi aclamado Rei, [...] ele não se esqueceu de anotar a
presença de “uma numerosa banda de música dos regimentos de guarnição
da Corte” (TINHORÃO 1976, p. 89-90 apud BINDER, 2006, p. 25).
No interior, as cidades organizavam suas bandas civis para a participação de
movimentos
políticos,
acontecimentos
cívicos,
religiosos
e
sociais,
transformando-se em um veículo de entretenimento.
O ponto de partida no dia da apresentação era a sede das bandas. Saíam em
formação militar, desfilando nas ruas em direção ao coreto da praça principal
com uniformes limpos, engomados, quepes na cabeça e sapatos engraxados.
Chegando ao local do evento, executavam o melhor do seu repertório, que
incluíam xotes, quadrilhas, valsas, choros, maxixes, frevo, aberturas de óperas.
Em São Paulo, o viajante francês Auguste Saint-Hilaire presenciou a
apresentação de uma banda de música, talvez de um dos regimentos
paulistas, no jantar oferecido pelo governador da capitânia, conde João
Carlos Augusto de Oeynhausen Gravenburg, em 1819. A ocasião celebrava
o dia do nome da rainha Carlota Joaquina, 4 de novembro era o dia de São
Carlos. Estavam presentes as principais autoridades da cidade, oficiais da
tropa de linha e da milícia e ordenança. Após a sopa, o governador brindou
à saúde do rei e “a banda do regimento, postada à entrada da sala,
executou uma marcha militar” (BINDER, 2006 p. 62)
As apresentações mais constantes eram as feitas em praça pública
chamadas de retretas. As retretas da Praça do Derby no Recife eram honradas
com a presença de autoridades e personalidades famosas, da mesma forma, as
da Praça da República, em frente ao Palácio do Governo e as da Praça Maciel
Pinheiro.
Além das maravilhosas apresentações, as bandas desempenharam uma
importante função formando novos músicos e revelando grandes talentos. Dois
exemplos são o famoso compositor Carlos Gomes, que foi um músico de banda
em Campinas, SP, sua terra natal e autor de O Guarany e o maestro da
Orquestra
Sinfônica
Brasileira,
Eleazar
de
Carvalho,
conhecido, tocava baixo-tuba na banda dos Fuzileiros Navais.
internacionalmente
35
3.3 BANDAS NAS ESCOLAS
As bandas nas escolas surgiram a partir da idéia de manter viva a cultura das
bandas de música no Brasil.
Formadas por educandos das escolas, tinham inicialmente como principal
objetivo acompanhar as escolas nos desfiles cívicos.
Depois de algum tempo, a atividade das bandas nas escolas sofreu um
deslocamento. As bandas passaram a participar de campeonatos nacionais e
internacionais.
Dentro das instituições as corporações continuavam cumprindo com seu
papel no momento cívico, mas também eram convidadas para apresentações em
outros eventos administrados pela escola.
Passou-se então a observar que as bandas das escolas faziam mais do que
inserir o educando em uma atividade extracurricular, ela além de ensinar cultura,
auxiliava na formação do caráter e equilíbrio do ser.
Para os gregos, a educação era concebida como a relação harmoniosa
entre corpo e mente e seu objetivo era preparar cidadãos para participar e
usufruir dos benefícios da sociedade. Na visão dos gregos, a educação
possuía uma função mais espiritual do que material. Seu principal objetivo
era a formação do caráter do sujeito e não apenas a aquisição de
conhecimentos. Por isso, buscavam uma educação plena, vinda de dentro
do aluno e baseada não apenas nos livros, mas na experiência de vida de
cada pessoa. Nessa perspectiva, a educação se constituía no estudo da
ginástica e da música. Pela música e pela ginástica, buscava-se o equilíbrio
entre a mente e o corpo, buscava-se um universo equilibrado – “ginástica
para o corpo, música para a alma”. Proporcionando, uma e outra, a
purificação da alma (mente) e do corpo, estas disciplinas assumem, nesse
quadro, o caráter fundamental na formação daqueles que seriam os
“guardiões” do conhecimento. Acompanhando o desenvolvimento do
pensamento grego, a disciplina música se expandiu e passou a incorporar a
poesia e as letras. Poeta e musicista constituíam-se numa mesma pessoa.
(LOUREIRO, 2001 p. 37)
Atualmente os projetos que tem como finalidade montar bandas em escolas,
citam como principal objetivo a redução de ociosidade dos educandos e uma
ajuda paralela no aprendizado, beneficiando não só o educando, mas o
educador, a família e a comunidade na qual o educando está inserido.
36
Mas aí temos como agravante a situação de que estas escolas
que praticam a música organizando corais e bandas estão de certa forma,
adotando uma prática ainda elitista e excludente, visto que para a sua
organização, é preciso selecionar uma pequena parte dos alunos
considerados musicais e talentosos. Não que a formação e a prática de
grupos musicais deixem de representar um estímulo e que os
conhecimentos técnicos adquiridos não sejam importantes. Contudo, a
democratização do ensino de música nas escolas de ensino básico está
intrinsecamente relacionada ao principal desafio do nosso sistema
educacional, ou seja, tornar possível a todos os alunos o aceso ao saber, à
cultura e à arte, principalmente a clientelas mais carentes e marginalizadas,
seja do ponto de vista econômico, cultural ou social. (LOUREIRO, 2001 p.
165)
Quando a criança/adolescente não desenvolve a aprendizagem musical, o
problema é direcionado para esse indivíduo. Então, a incapacidade do educando
aprender música de forma plena é considerada como algo “sério”.
Portanto, é muito mais fácil considerar o aluno faltoso de musicalidade ou
desprovido de talento do que considerar que o contato com a linguagem musical
é desigual e seletivo.
Já se sabe que, a música, infelizmente, não abrange a todos e nem é
democrática quanto a sua aprendizagem, por isso não aborda a gama de
educandos frequentadores das instituições educacionais. Sendo assim, o
educando é, com certeza, o menos culpado.
3.4 MÚSICA E NECESSIDADES ESPECIAIS
A Convenção da Guatemala (1999), internalizada à Constituição Brasileira
pelo Decreto 3956/2001, no seu artigo 1º define deficiência como [...] “uma
restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que
limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária,
causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”.
Inserir as pessoas com deficiência na sociedade tem sido motivo de debate
em vários setores. Na educação, as práticas e as pesquisas sobre esse assunto
têm discorrido um enorme currículo com foco na inclusão no contexto da escola
regular.
37
Musicalmente essa discussão precisa ser ampliada, visto que pessoas com
deficiência que têm interesse no estudo dessa arte encontram sérias dificuldades
de acesso e, geralmente, não encontram profissionais capacitados para ensinarlhes música de maneira adequada.
Em primeiro lugar é necessário estar ciente de que a música deve ser
acessível a todos, procurando desfazer a crença de que é preciso ter "dom" ou
"talento" para estudar música.
É importante considerar a música em toda sua amplitude, e não somente
focada no desempenho instrumental, assim, todas as pessoas podem e devem
ser incluídas em tal processo de aprendizagem.
A importância do professor capacitado nessa área é extremamente relevante,
por isso, o profissional deve estar em constante pesquisa e investigação a
respeito das alternativas metodológicas para o ensino de música para todos.
Deve valorizar as vivências corporais no processo de aprendizagem e de
formalização de símbolos e conceitos, dar ênfase aos jogos musicais, pois são
considerados muito importantes, para a aquisição do conhecimento e para a
aprendizagem musical de todas as pessoas, independentemente da idade. Além
disso, os jogos favorecem a participação em aula quanto à melhora da
autoestima e do desempenho na família e na sociedade.
Um dos métodos utilizados para a melhora do desenvolvimento de pessoas
com deficiência é a musicoterapia “onde a música é utilizada em um processo
destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado,
mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a
fim de atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas”.
(FEDERAÇÃO MUNDIAL DE MUSICOTERAPIA, 1996).
A Musicoterapia objetiva o alcance de uma melhor organização intra ou
interpessoal, desenvolvendo potenciais ou restaurando funções do indivíduo, e
como conseqüência, uma melhor qualidade de vida através da prevenção,
reabilitação ou tratamento.
Há vários registros no decorrer da história sobre a música utilizada como
terapia para doenças ou outros males. Em 1500, Hugo Van der Goes, o pintor,
dizia estar consumido e execrado ao inferno, e queria suicidar-se, foi levado
então a Bruxelas, e o padre superior depois de examiná-lo, constatou que Hugo
38
sofria do mesmo mal que Saul. Ordenaram então, que tocassem instrumentos
perante ele com o intuito de promover sua melhora.
Esse tipo de tratamento é desenvolvido de formas diferentes, e possuem
resultados diferentes, de acordo com a necessidade da pessoa.
Santos (2006) nos dá um parecer geral sobre esse assunto.
Com o deficiente mental, é importante o uso do corpo como um instrumento
de movimento e percussão: voz, palmas, marchar etc.
Para a autora é necessário encontrar um meio para que a criança se
expresse: num ritmo, ruído, som ou melodia. Os deficientes mentais aprendem à
duração do ritmo, podendo passar para as aulas de música após a terapia, pois
têm facilidade para viver a intensidade.
Com os deficientes motores é imprescindível a relação da música com a
emoção do movimento, porque se move no tempo e no espaço, e a meta da
musicoterapia é provocar a sensação da possibilidade de realizar o movimento.
O musicoterapeuta deve buscar a forma de expressão do paciente. Deve-se
ainda buscar a relação com outras áreas como a psicoterapia.
As pessoas com deficiência auditiva exigem uma atividade distinta para cada
tipo de surdez, seja ela prévia, parcial ou de nascimento. Mas independente do
grau o que interessa neste tipo de tratamento é o ritmo desenvolvido pela
percepção interna, tátil ou visual.
Santos (2006) diz que é importante o piso de madeira na sala de
musicoterapia para sentir as vibrações, os audiofonos, os grandes instrumentos,
e as vibrações no ar. Sentir as vibrações do musicoterapeuta quando este canta
e compará-las com as de seus companheiros é uma das experiências mais ricas
de comunicação que existe.
No autismo o paciente é colocado em contato com o som inicialmente sem
instruções de comunicação ou integração. Para a terapia, é necessário produzir
efeitos diversos com sons que a criança convive diariamente, como por exemplo,
a água, batimentos cardíacos, inspiração e respiração.
A Musicoterapia pode ser aplicada às famílias de crianças autistas, psicóticas,
ou mesmo em qualquer grupo familiar enfermo, quando realizada paralelamente
à terapia da criança.
39
O objetivo é evitar a criação de um sistema de comunicação incorreto:
hiperestimulação ou comunicação estereotipada, como expressões verbais
repetitivas e rígidas ("isto é feio!", "caca!"). Visa também fazer com que a família
compreenda o tempo de seu filho na comunicação, rompa o uso incorreto da
comunicação e reconstrua a comunicação com a criança.
Os musicoterapeutas brasileiros executam um trabalho de grande importância
com crianças que possuem síndrome de Down. Apesar disso, existem poucas
bibliografias sobre esse trabalho.
Santos (2006) destaca dois trabalhos: “Lopez (1998), em seu artigo As
influências das Músicas Infantis no Desenvolvimento Psicomotor da Criança,
enfoca a importância da linguagem musical e de seus elementos no
desenvolvimento psicomotor infantil de uma maneira geral; Uricoechea (1997)
investiga
a
possibilidade
de
criação
de
uma
ampliação
do
"setting"
musicoterapêutico através da construção de objetos sonoros e da exploração de
seus sons.”
Segundo Santos (2005) na epilepsia musicogênica, a música serve como
estímulo para desencadear os ataques dessa rara doença, portanto a
músicoterapia está contra-indicada para esses pacientes.
Santos (2006) considera a música eletrônica como uma contraindicação, pois
apresenta sons com características alucinógenas muito parecidas com as
drogas, além de ainda se encontrar numa etapa de experimentação. O som
eletrônico tem especificidades próprias que provocam fenômenos distintos,
incluindo o poder de provocar manifestações muito regressivas.
Observando todo esse desenvolvimento da musicoterapia, ou da música
dentro das escolas sendo trabalhada com as pessoas que possuem
necessidades especiais, nota-se que é possível a inclusão, respeitando
necessidades específicas, mas considerando importante a participação de cada
indivíduo no conjunto, entendendo que todos possuem limitações que devem ser
respeitadas e que, a partir delas, podem crescer, se desenvolver e constituir-se
como indivíduos que recebem influências culturais, mas que também constroem
cultura.
É necessário saber que, para favorecer uma aprendizagem significativa dos
alunos, é preciso descer do tablado de educadores poderosos com função única
40
de transmitir conhecimento. Existe a necessidade de compreender que, a
receptividade de pessoas especiais na comunidade escolar, permite e muito a
troca e a aprendizagem com ela.
4 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
A pesquisa desenvolvida se caracteriza como aplicada, exploratória e sua
análise de dados é qualitativa, já que as respostas e informações obtidas através
do estudo de caso poderão ser interpretadas individualmente e coletivamente. A
pesquisa considerada um estudo de caso foi “desenvolvida a partir da interação
entre pesquisadores e membros das situações investigadas.” (Gil, 1991 apud
Silva & Menezes 2001, p. 22)
Primeiro foram analisados os perfis dos profissionais do Ensino Fundamental
de uma instituição específica que trabalham com música tanto em projetos
educacionais, quanto àqueles que lecionam pela grade curricular.
Foi de grande importância conhecer a opinião dos educadores, suas
perspectivas e interesses relacionados à música e a educação e em seguida a
opinião dos familiares relacionada ao comportamento de seus filhos ou qualquer
gênero de parentela após o contato com a música.
Assim,
todos
responderam
um
questionário,
sendo
as
respostas
posteriormente contrapostas e comparadas umas com as outras e com materiais
científicos. A entrevista aplicada aos professores (APÊNDICE B) buscou
investigar suas formações e que tipos de contato tiveram com a música durante
suas graduações, ou antes, mesmo, traçando uma comparação qualitativa de
formação de professores e condições de trabalho referente ao material didático e
recursos tecnológicos.
A autorização para a pesquisa (APÊNDICE A) foi entregue pela acadêmica
que desenvolveu a pesquisa, Gisabelle de Oliveira Branco à diretora da
instituição, que acolheu a proposta da pesquisa imediatamente e assinou a
autorização, deixando livre o dia para pesquisa, observação e demais contatos,
já que a banda funciona uma vez por semana no período matutino.
Além de identificar a acadêmica e a instituição da qual a mesma faz parte,
esta carta é uma forma de documentar o tema pesquisado e possivelmente ficará
41
arquivada nos registros da escola a participação da acadêmica juntamente com o
Centro Universitário Municipal de São José – USJ.
4.1 COLETA DE DADOS
Silva & Menezes, (2001 p. 20) diz que “Pesquisa é um conjunto de ações,
propostas para encontrar a solução para um problema, que têm por base
procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem
um problema e não se tem informações para solucioná-lo.”
A pesquisa foi aplicada em uma única escola estadual sendo que o foco foi
uma banda musical que desenvolve um projeto com crianças e adolescentes das
comunidades próximas, não sendo obrigatório ser aluno da escola em que o
projeto está inserido.
O questionário foi elaborado com uma série de perguntas permitindo múltiplas
escolhas como resposta, de forma objetiva, com um limite de extensão razoável,
fácil preenchimento e com instruções esclarecendo o objetivo de sua aplicação
ressaltando a importância da colaboração dos familiares dos componentes da
banda (APÊNDICE D). Foram entregues em mãos, já que depois do contato com
a Diretora, esses foram avisados da proposta e se prontificaram em estar em um
dos ensaios da banda para responder o questionário.
A entrevista com os professores teve um roteiro previamente estabelecido e
foi gravada durante o intervalo dos ensaios.
As observações foram feitas de forma assistemática no período de quatro
sábados durante os ensaios da banda.
Como referencial foi utilizado o método descritivo, hermenêutico, ainda que
utilizados dados teóricos e empíricos.
42
5 ANÁLISE DE DADOS
5.1 A PERSPECTIVA DOCENTE
O questionário foi aplicado com os três professores da corporação
pesquisada: todos do período matutino e com mais de 10 anos de experiência na
área da música. Os dados obtidos são apresentados a seguir.
Quando questionados sobre a realidade da comunidade em que trabalham,
a resposta dada de formas diferentes, mas com o mesmo contexto, mostrou que
é uma comunidade heterogênea, com várias classes sociais e que até o
momento em que o projeto foi inserido quase ninguém tinha uma noção de
música além daquelas ouvidas no rádio ou cantadas pelos colegas. O primeiro
professor diz que: “Era uma comunidade que não estava acostumada com
música.”
Brandão e Feijó (1984) dão um exemplo de pessoas diferentes que possuem
algo em comum partindo de alguns pressupostos e com finalidades concretas.
Pode-se, portanto dizer que, para além do facto de normalmente os
historiadores pensarem a mudança no tempo e os sociólogos e
antropólogos se terem habituado a pensá-la fora do tempo, todos eles
partilham um objectivo comum: construir a comunidade como um todo,
baseados sobre um certo conjunto de pressupostos e virados para certas
finalidades. (BRANDÃO e FEIJÓ 1984, p. 492)
Por ser uma comunidade heterogênea, o primeiro desafio a ser vencido foi a
diferença de classes e, para isso, era necessário que entre os indivíduos
houvesse algo em comum para que a partir daquele ponto pudessem estabelecer
uma relação.
Ao responder sobre a experiência como professor na escola em que atua,
o primeiro professor respondeu que, começou com o projeto em setembro de
2007 com um instrumento musical para oito alunos, que foi uma tarefa difícil, pois
é um projeto sem fins lucrativos, sem apoio financeiro e a maioria do material foi
adquirido através de doações. Hoje o projeto é constituído por cerca de 70
educandos, mas ainda existe uma luta para manter sustentado. “É uma
experiência difícil, mas muito gratificante pelos resultados que conseguimos.” O
43
segundo professor diz que, quando começou com o trabalho neste projeto, foi
pela paixão, mas não acreditava que realmente iria se desenvolver pela forma
que estava sendo proposto: “As aulas são dadas de graça por professores
voluntários e o material viria com o tempo, de que forma não sei, mas viria. E
veio!” Os instrumentos são caros, é um material que exige manutenção,
substituição depois de um tempo. Mas logo percebeu-se que todos que estavam
ali tinham um mesmo objetivo e tinham garra, então tinha que funcionar e a partir
daí as coisas começaram a acontecer com a ajuda da própria escola, dos pais e
hoje já é mais fácil movimentar a equipe para adquirir algo que seja necessário.
E o terceiro professor respondeu que, trabalhava em outra corporação e quando
conheceu esse projeto musical, ficou muito interessado em saber como as coisas
funcionavam se não havia verba disponível, e por isso resolveu entrar para
somar. Não importava se era voluntário, o desejo de fazer parte da equipe era
maior e agora já faz dois anos que está trabalhando com esse grupo e, diz ele,
“eu percebo o quanto cresci tanto no profissional como pessoa presenciando o
desafio que temos todos os dias para fazer o projeto dar certo. Tudo acaba tendo
um valor maior quando as coisas não são fáceis.”
Em Verdades da Profissão de Professor, Freire (2002), faz entender um
pouco dessa resistência à profissão de educador que é tão importante, mas em
contrapartida tão desvalorizada. Freire diz que o indivíduo não nega o valor da
educação e nem o valor do professor, mas que mesmo desejando bons
professores para seus filhos, não querem que seus filhos sejam professores.
Então fica claro que o trabalho de educar é árduo, tarefa difícil, mas necessária e
mesmo assim continuamos a permitir a desvalorização desses profissionais.
Mesmo mal remunerados, prestígio social despencando e sendo apontados pelo
fracasso da educação, a maioria deles insiste na função e continuam amando
seu trabalho. O nosso papel dentro da sociedade, é repensar as atitudes, pois é
através delas que demonstramos o compromisso com a educação que
almejamos. Freire (2002), ainda deixa um convite aos professores dizendo: “que
não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios,
nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”.
Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a
sociedade muda.”
44
Ao observar o trabalho desses professores em prol do bom funcionamento
desse projeto por seus educandos, nota-se a falta de apoio de alguns pontos.
Sabe-se que a escola onde a banda está inserida dá um suporte razoável
apenas por saber que quando precisar, a corporação estará disponível para
suprir suas necessidades.
Os pais valorizam, apóiam e ajudam da forma que podem, no entanto, é algo
temporário. O projeto é válido para preencher o tempo ocioso de seus filhos,
porém, a maioria não deseja que as crianças/adolescentes sigam a profissão
nem de músico ou de professor.
Questionou-se também o tipo de contribuição que cada um pode
proporcionar com o ensino da música para o desenvolvimento educacional.
O primeiro professor, um dos responsáveis pela implantação do projeto,
respondeu que, em toda criança que tem um contato mais profundo com a
música, é notável o desenvolvimento de coordenação motora, desempenho de
raciocínio, comportamento mais amigável e maior sensibilidade para outras
vivências. O segundo professor diz que, o controle da concentração, das
emoções e as próprias decisões tomadas diante de alguma situações são
explícitas no educando que estuda música. E o terceiro diz que, o ensino da
música faz com que o educando perceba e viva não só a música, mas qualquer
disciplina, “ele aprende a ouvir, viver e compreender o que a música quer dizer”.
Wuytack & Palheiros (1995), citam que, a principal finalidade da Educação
Musical é tornar possível viver e compreender a música. Segundo eles, a
atividade mais importante diretamente relacionada ao fazer musical é a
apreciação, pois a “audição é a própria razão da existência da música”.
Compreende-se então, que, esse projeto musical não tem só por objetivo
ensinar as crianças/adolescentes a tocar um instrumento ou ler partitura, mas
também existe uma preocupação com a leitura de mundo que cada um tem e,
além disso, existe o detalhe da compreensão da música, o profundo dela, a
hipótese de outras leituras, outros pontos de vista.
Quando questionados sobre a influência da música no desenvolvimento
das atividades dos alunos no ambiente escolar O primeiro professor diz que,
a metodologia usada para o estudo de partituras auxilia na fixação dos demais
conteúdos, além disso, o aluno participante do projeto ganha uma posição de
45
destaque e isso acaba determinando um comportamento mais adequado. Surge
na fala de um dos componentes o pensamento de que “dedicando um pouco do
seu tempo para aprender um instrumento tão difícil gera um resultado
satisfatório, o que diria então se dedicasse outra parte do tempo à matemática,
ao português que é mais fácil do que a música?” O segundo professor, lembra
que, para participar da banda tem que ser bom exemplo na escola em todos os
sentidos, e agregado a essa regra, está o esforço para alcançar notas melhores.
Algumas atividades dentro de uma disciplina específica são desenvolvidas por
eles com facilidade quando existe a possibilidade de associarem ao aprendizado
da música e “podemos até perceber a cobrança deles à outros amigos com
relação ao comportamento, notas e atitudes.” O terceiro professor responde que,
um dos objetivos do projeto, é crescer sempre mais e com esse destaque todo,
“um dos deveres do aluno, é despertar a curiosidade de seus amigos para
participarem da banda também, somando cada vez mais, desenvolvendo,
agregando outras pessoas que estejam interessadas em ajudar esse projeto
musical.”
Souza (1995) realizou uma pesquisa sobre a música no processo educacional
e uma das professoras relata a importância dessa terapia para os educandos.
É importantíssima, para a sensibilidade. Até para o aluno aprender,
aprimorar a sensibilidade, porque eles vêm de uma vivência muito violenta e
acho que eles precisam desse refinamento interior. Na música, ele
extravasa as emoções, ele se lapida interiormente, porque é um momento
de interiorização. Eu entendo a música como sendo um momento em que,
ao mesmo tempo que tu incorporas aquele sentimento, tu também
extravasas um sentimento [...] Acho que a pessoa fica muito brutalizada se
não tem essas coisas” (PROFª. EL apud SOUZA, 1995, p.59).
Percebe-se então, que os métodos utilizados no ensino da música também
são importantes para a vida escolar dos educandos, pois além de desenvolver
uma sensibilidade, passam a controlar seus impulsos, sabendo assim que podem
extravasar um sentimento qualquer tocando seu instrumento ou descobrindo
outro sentimento através do mesmo, e se necessário, tocando uma música de
acordo com aquele momento.
Foi questionado também a visão dos professores sobre a educação musical
no Brasil e de forma unânime foi respondido que é precária, que o investimento
46
é mínimo se comparado ao que realmente é necessário para uma dedicação
decente na educação musical. Os professores ainda concordaram entre si,
falando da educação musical nos países de primeiro mundo onde a música está
inserida desde quando as crianças começam ir às escolas e que aqui no Brasil,
mesmo com a lei implantada, vai demorar muito tempo para que os projetos
musicais funcionem adequadamente, já que grande parte dos professores que
“lecionam” música, não são habilitados.
Oliveira (2005) fala sobre o ensino da música no Brasil, que é difícil cumprir
os propósitos das diretrizes, porque a rede pública precisa contratar educadores
específicos para cada área de conhecimento artístico, obtendo assim, a presença
da arte em todos os níveis de ensino. É de caráter urgente a necessidade de
capacitar docentes para a proposta das abordagens interdisciplinares, que
estejam compatíveis com essas mudanças que acontecem num piscar de olhos,
e que nunca foi vista antes na história e na cultura, mas “que vem ocorrendo na
contemporaneidade e interferindo na relação entre arte, cultura, ensino e
sociedade.”
De forma geral, nota-se que, esses professores exercem suas funções na
esperança de que algum dia a situação melhore, mas já estão ciente que não
será breve e enquanto isso não acontece, cada um faz a sua parte da forma que
pode.
Sobre a questão de valores que podem ser intercambiados através da
educação musical todos relataram que as crianças chegam à banda com suas
várias características, cada uma com sua maneira de ser; mas que muitos trazem
muitas manias perigosas de fora ou de casa, valores que se agregados a música
causariam um transtorno imenso, pois a música não combina com palavrão, nem
comportamentos agressivos e outras coisas que poderiam ser listadas. A música
não obriga ninguém a ser de outra maneira, mas o rigor que a música exige e a
dedicação pelo seu instrumento faz com que as crianças por si só substituam
valores. Elas passam pela peneira o que é importante e o que é fútil e, assim,
acabam trocando horas de televisão por uma leitura. Do mesmo modo, elas
trocam horas desperdiçadas no MSN por sites de músicas, como também trocam
o uso de palavrões pela prática do respeito. O segundo professor relata que:
47
“Muitos chegavam aqui atropelando as palavras de tão rápido que falavam e com
o tempo, com o estudo da música aprenderam se comunicar mansamente.”
Observando os ensaios antes, durante e depois, nota-se que muitas
crianças/adolescentes tinham manias. Por exemplo: chamavam o companheiro
de “derrame”, escondiam a bicicleta de outro colega; e uma infinidade de coisas.
Os
professores,
sempre
atentos
a
esses
comportamentos,
corrigiam
incessantemente. Considera-se fato saber que manias não se perdem da noite
para o dia. Observou-se ao final de um mês que, os próprios alunos faziam as
cobranças e correções.
A ação, seja ela qual for, necessita de instrumentos fornecidos pela
inteligência para alcançar um objetivo, uma meta, mas é necessário o
desejo, ou seja, algo que mobiliza o sujeito em direção a este objetivo e isso
corresponde à afetividade.” (DELL’AGLI & BRENELLI, 2006, p.32).
O mais interessante é que através desses comportamentos e das próprias
correções, as crianças/adolescentes criam laços de afetividade tão importantes e
tão fortes, que já não fazem as brincadeiras de mau gosto com medo de magoar
o amigo ou prejudicar seu desenvolvimento musical na corporação. Pois todos
eles estão cientes que para a banda crescer, precisa de mais pessoas e que
estas, só permanecem se são bem acolhidas.
Por último responderam sobre que tipo de resultados futuros o ensino da
música nas escolas pode trazer para aqueles que se dedicam o primeiro
professor disse que, os resultados já podem ser vistos agora, pois nesse caso a
música não deve ser vista como um tratamento em longo prazo e sim com
resultados imediatos. Assim, tudo que os educandos desenvolveram dentro do
projeto com a educação musical já é propriedade deles e isso já pode ser
considerado um benefício futuro. Depende da vontade dos educandos de cultivar
e manter esses ensinamentos, “pois o que é ensinado no projeto não é para o
projeto, é para eles, para a vida deles.” O segundo professor, fala que, a música
trabalha mente e sentidos e desenvolve algumas capacidades, e que se os
educandos continuarem se dedicando, “futuramente isso vai ajudar na busca de
caminhos mais excelentes para suas vidas.” E o terceiro professor, disse que se
um educando tem a capacidade de escolher um repertório, ou de saber controlar
48
a dinâmica na música, também é capaz de escolher o repertório que vai tocar na
sua vida e a forma que a dinâmica vai acontecer. “O sucesso do show vai
depender do repertório dele e da forma que ele irá tocar.”
Nota-se que, o projeto musical prepara de forma sutil o educando para um
futuro de boas escolhas. Acredita-se que quando o educando tem a consciência
do controle de suas decisões, passa a observar os caminhos para depois decidir
qual seguir. A partir daí, ele aprende a planejar sua vida e não viver de acordo
com o acaso.
Segundo Gandin (2005, p. 17) “a primeira coisa que nos vem à mente quando
perguntamos sobre a finalidade do planejamento é a eficiência”, ele diz que é “a
execução perfeita de uma tarefa que se realiza”
Nesse contexto, foi possível evidenciar a importância da educação musical
seja através de projetos ou na grade curricular, pois se percebe claramente a
grande influência no comportamento das crianças e adolescentes que estão
nesse meio inseridos. Além disso, proporciona aos docentes a oportunidade de
permutar experiências, bem como, a atualização de informações a respeito, até
mesmo por se tratar de um fator que ainda está em desenvolvimento e constante
busca do aperfeiçoamento.
5.2 A PERSPECTIVA FAMILIAR
A descrição da percepção familiar será apresentada com o apoio de gráficos
elaborados a partir das respostas obtidas no questionário feito aos familiares das
crianças/adolescentes, que participam do projeto musical.
Os resultados obtidos através da análise estabelecerão relações entre os
dados, o problema e o embasamento teórico.
49
GRÁFICO 1
O Gráfico 1, mostra o resultado da questão 1do Questionário (APÊNDICE C).
Através do Gráfico, conclui-se que, a maioria dos pais tem observado uma
mudança significativa no controle das emoções de seus filhos, bem como a
concentração e que o interesse pelos estudos aumentou em 10% nos filhos do
pais pesquisados.
Os resultados negativos encontrados nos itens “tornar-se desatento” e “não
ter melhorado em nada depois do contato com a música”, mostra que dessa
forma o projeto musical, mesmo sendo desenvolvido com certa dificuldade, vem
alcançando seus objetivos pouco a pouco. Isto sugere que, quando esse projeto
apoiado de forma correta, se desenvolverá muito mais, pois a intenção não é
estacionar e sim crescer e agregar material humano.
Loureiro (2001), cita em sua epígrafe Georges Snyders que diz assim:
[...] o ensino da música – e também, em muitos casos, sua ausência – tem
um papel exemplar, por revelar que, onde a escola desiste, abandona o
terreno, as disparidades de desempenho são terrivelmente mais violentas; é
então que se sente necessidade de justificá-las com base num substrato
natural. [...] Um ensino renovado da música em toda a duração e em todos
os tipos de escola tornar-se-ia, ao contrário, exemplar, estabelecendo que
todos são capazes de sentir uma emoção artística e ter uma prática
artística, mesmo se, como nas outras matérias, diferentes indivíduos
progridam por caminhos diferentes.
50
Entende-se por sua vez que, quando a escola desiste de seu educando e
esse ingressa em uma aula de música ou sai dela, é possível notar as
barbaridades escondidas nele. Por isso, a inserção da música de forma inovada
em todas as escolas seria a estratégia perfeita para mostrar a capacidade que
todos têm de viver um momento artístico, fugindo das loucuras da violência,
trocando suas vivências e progredindo por caminhos diferentes.
GRÁFICO 2
O Gráfico 2 mostra de que forma a música contribui para o desenvolvimento
das crianças/adolescentes. (APÊNDICE C))
Observando o Gráfico 2, é possível perceber o quão rico tem sido a educação
musical para esses alunos. Pois, de acordo com o questionário respondido pelos
pais, grande parte deles tem aprendido a conviver em sociedade e o valor de
trabalhar em grupo. Isto significa que os educandos estão deixando o
individualismo de lado. É necessário ressaltar o aumento da concentração e da
disciplina. Mas, e mais importante ainda, dentre os 70 pesquisados, 50 registram
o afastamento da marginalidade, supondo que os outros 20 não corriam esse tipo
de risco.
Quanto aos efeitos negativos da música, novamente estes itens apresentaram
índices nulos.
51
Pode-se dizer então, que mais uma vez, o projeto musical anda a passos
largos para a melhoria de seus educandos como pessoa, como músico, como ser
participante de uma sociedade, onde a visão educacional em algumas
instituições
fere
os
olhos
com
relação
ao
investimento
de
suas
crianças/adolescentes.
Nesta linha de argumentação, Moraes (2008, p. 9) diz que:
“Hoje, em um universo visto não mais como algo fechado ou imóvel, mas
revitalizado e em expansão, como o proposto pela física moderna, não existe
razão para não aceitar a própria música como um processo.”
Entende-se então, que se a escola em si não consegue desenvolver no
educando o senso de respeito, comunhão, partilha entre tantos outros, a música
pode entrar sendo considerado agregador fundamental para tal finalidade.
Na pergunta descritiva que pede quais as contribuições que a música pode
oferecer na comunidade a qual está inserida, os pais responderam que, a
música vem sendo transmitida para os alunos como um agregador de valores. As
crianças/adolescentes aprendem, por exemplo, a importância de cuidar do
próximo assim como cuidam de seu instrumento e respeitar sua comunidade da
mesma forma que respeitam a corporação. Através dessa iniciativa já é possível
perceber o desenvolvimento do bairro ou comunidade como um todo.
O projeto musical conscientiza os educandos de que o bom funcionamento e
desenvolvimento da comunidade depende também deles. Esta ação, coloca as
crianças/adolescentes na posição de ser participativo, fazendo com que cada um
se sinta responsável por uma parte da comunidade.
A história da banda que saía na rua transformando a vida das pessoas só de
ouvi-la tocar, sai da partitura de Chico Buarque e vai direto para a convivência.
Quando a banda passa, as pessoas esquecem a dor, param para ver, ouvir ou
até mesmo dar passagem ou quem sabe talvez, acreditar que a banda toca para
elas e resume a importância da música ao dizer que, quando a banda pára, tudo
volta ao normal. Uma frase famosa diz que depois que a banda passa “o que era
doce, acabou!”:
A BANDA
Estava à toa na vida, o meu amor me chamou
52
pra ver a banda passar cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida despediu-se da dor
pra ver a banda passar cantando coisas de amor.
O homem sério que contava dinheiro parou,
o faroleiro que contava vantagem parou,
a namorada que contava as estrelas parou
para ver, ouvir e dar passagem.
A moça triste que vivia calada sorriu,
a rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
pra ver a banda passar cantando coisas de amor.
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
que ainda era moço pra sair no terraço e dançou.
A moça feia debruçou na janela
pensando que a banda tocava pra ela.
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu,
a lua cheia que vivia escondida surgiu.
Minha cidade toda se enfeitou
pra ver a banda passar cantando coisas de amor.
Mas para meu desencanto o que era doce acabou.
Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou
E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor
Depois da banda passar cantando coisas de amor.
(BUARQUE, 1966 apud ROCHA, 1982)
Concluindo então, a música é a grande transformadora dos seres. Não só
daqueles que estão em contato direto com ela, mas também dos que estão em
volta. Como se fosse algo que contagia, um perfume que não se pode colocar em
nós sem respingar algumas gotas em quem está próximo.
53
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As constatações acerca do estudo realizado, acrescentaram um estudo de
caso às pesquisas em educação musical e, deste modo, contribui com os leitores
que terão a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas. A educação musical,
por sua vez, tem ocupado um espaço considerável na sociedade atual. Por esse
motivo, se faz necessário o conhecimento específico do assunto dentro das
instituições, pois como já foi visto, é um meio de desenvolvimento pessoal muito
importante para a criança e o adolescente.
A partir do estudo de caso apresentado na pesquisa, pode-se considerar a
música como um fenômeno que, por si só, tem uma potência extrema de
significação universal e, mesmo diferindo dentro das culturas, este fenômeno
pode desencadear milhares de significados, ou seja, um significado para cada
indivíduo.
A música está ligada de forma significativa à pedagogia e ao ambiente
pedagógico. Assim, os educadores têm a obrigação de abrir os olhos para além
dos conteúdos. É necessário ver o mais profundo de cada um quando em contato
com a música. Mesmo que cada educando possua sua especificidade, à música
gera um agregado de valores, descobertas e mudanças, que é sempre uma
notável soma positiva em cada um. Principalmente pelo fato de produzir
mensagens tornando-se assim, um meio de comunicação e assumindo o papel
de método de linguagem, ao permitir uma nova relação de comunicação entre os
sujeitos.
Com base na análise dos dados obtidos nesta pesquisa, pode-se afirmar que
se a teoria for colocada em prática de forma adequada, o resultado pode surgir
instantaneamente. Mesmo para aqueles que não continuam no caminho musical,
por escolha própria ou questões externas, é perceptível a diferença daquilo que
levam consigo como uma lição aprendida em uma escola de música, em um
projeto musical ou até mesmo quando a música faz parte do currículo escolar.
A análise mostrou, ainda, que nesse período é de extrema importância o
apoio familiar, pois quando a base é bem formada, a estrutura não cede.
54
Assim, cabe à escola e à família o incentivo ao contato com a música de
forma mais íntima, tão importante para o desenvolvimento cognitivo, emocional,
cultural e moral quanto ao aprendizado formal.
Mesmo tratando-se de teoria musical, quando trabalhada de forma lúdica, as
crianças desenvolvem suas atividades de maneira prazerosa e alegre, sentem-se
motivadas nos exercícios que realizam e aprendem com maior facilidade.
Além disso, a música contribui com a iniciativa de exteriorizar sentimentos,
vontades
ou
idéias.
O
que
se
torna
muito
importante
para
as
crianças/adolescentes tímidos e que fazem da música uma válvula de escape
deixando fluir por ela tudo que sente.
É importante ressaltar que este registro não menospreza as atividades
trabalhadas de outras formas, mas sim, incentiva para que as mesmas estejam
aliadas ao contexto.
É certo que, cada indivíduo possui diferentes olhares sobre a música, sobre o
aumento de percepção ou qualquer processo de mudança, ou relações ligadas
ao tema e exatamente por isso, cada expansão de nossas formas de
entendimento é também uma expansão e um aprofundamento de nossos
questionamentos a seu respeito.
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, Valéria Peixoto de. Todo povo tem a sua música. Música e
Cultura. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/artes/musica-ecultura.jhtm>. Acessado em: 26 de maio de 2011.
BACELLAR, Fernanda. A Inteligência Musical como Ferramenta DidáticoPedagógica. 6° Simpósio de Ensino de Graduação, 2008.
BÍBLIA. A Bíblia da Mulher que Ora / Stormie Omartian; tradução dos artigos
e das meditações Neyd Siqueira. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
BINDER, Fernando Pereira. Bandas Militares no Brasil: difusão e
organização entre 1808-1889.Vol. 01. São Paulo, 2006.
BRANDÃO, Fátima M. FEIJÓ, Rui Graça. Entre textos e contextos: os
estudos de comunidades e as suas fontes históricas. Análise Social, vol. XX
(83), 1984.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares
nacionais: arte. Ensino de quinta à oitava séries. 1998.
CHIARELLI, Lígia K.M. , BARRETO, Sidirley J., A importância da
musicalização na educação infantil e no ensino fundamental. A música
como meio de desenvolver a inteligência e a integração do ser. Blumenau –
Instituto Catarinense de Pós-Graduação, 2005.
CUNHA, M. Aprenda dançando, dance aprendendo. 2 ed. Porto Alegre:
Luzatto,1992.
DELL’AGLI, B.; BRENELLI, R. A afetividade no jogo de regras. 1.ed. São
Paulo: Vetor, 2006.
56
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
________, Verdades da Profissão de Professor. Disponível em:
www.ead.uems.br/file.php/1/Verdades_da_profissao_de_professor.pps.
Acessado em: 28 de maio de 2011.
FREIRE, Vanda Lima Bellard. O ensino de música no Brasil oitocentista.In:
ENCONTRO ANUAL DA ABEM e SIMPÓSIO PARANAENSE DE
EDUCAÇÃO MUSICAL, 5., 1996, Londrina. Anais... Londrina: 1996. p.187201.
GAINZA, Violeta H. de. Estudos de psicopedagogia musical. São Paulo:
Summus, 1988.
GAMA, Maria Clara S. Salgado. A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas
implicações para Educação. Disponível em:
http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html Acessado em: 12
de outubro de 2010.
GANDIN, D. Planejamento como prática educativa. 10. ed. São Paulo:
Loyola, 1999.
JEANDOT, N. Explorando o universo da música. 2. ed. São Paulo:
Scipione, 1993.
LAGINSKI, F. A importância da música na educação. Disponível em:
<http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/320514/.>
Acessado em: 01 de novembro de 2010.
57
LOUREIRO, Alicia Maria Almeida. O ensino de música na escola
fundamental: Um estudo exploratório. Belo Horizonte: Papirus, 2001.
MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a música: um estudo de como se
processa o desenvolvimento musical da criança. Rio de Janeiro: Globo, 1982.
MORAES, J. Jota de. O que é música? São Paulo: Brasiliense, 2008.
OLIVEIRA, G. A. O ensino de música no Brasil: fatos e desafios. Revista da
UFG, Vol. 7, No. 2, dezembro, 2005, on line (www.proec.ufg.br)
OLIVEIRA, Rosimary Lima Guilherme. A inserção da música na educação
infantil e o papel do professor. Disponível em:
<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3412_1722.pdf
>. Acessado em: 12 de outubro de 2010.
ONGARO, C. F.; SILVA, C. S.; RICCI, Sandra Mara. A importância da
música na aprendizagem. Disponível em:
http://www.alexandracaracol.com/ficheiros/music.pdf. Acessado em: 10 de
outubro de 2010.
PAZ, Ermelinda A. Pedagogia Musical Brasileira no Século XX.
Metodologias e Tendências. Brasília: Editora MusiMed, 2000.
PENNA, Maura. Desafios para a Educação Musical: ultrapassar oposições
e promover o diálogo. Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), 2006.
PEREIRA, Antonio de Sá. Psicotécnica do ensino elementar da Música.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1937.
58
ROCHA, Ruth. Sapo Vira Rei, Vira Sapo. 33 1/3 RPM. Abril Cultural S.A.
1982.
SANTOS, Adriana S. Melhorando à qualidade de vida das pessoas com
necessidades especiais através de terapias complementares. Rio do Sul, 2006.
Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos2/terapiascomplementares/terapias-complementares2.shtml. Acessado em 01 de novembro
de 2010.
SILVA, Edna Lúcia da. Metodologia da pesquisa e elaboração de
dissertação/Edna Lúcia da Silva, Estera Muszkat Menezes. – 3. ed. rev.
atual. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001.
SOUZA, J.; HENTSCHKE, L.; OLIVEIRA, A.; DEL BEM, L. & MATEIRO,T. O
Que Faz A Música Na Escola? Porto Alegre: UFRGS, 1995.
SWANWICK, K.eith Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna,
2003.
WUYTACK, Jos; PALHEIROS, Graça Boal. Audição Musical Activa. Porto:
Associação Wuytak de Pedagogia Musical, 1995. p.11.
ZENHAS, Armanda. Inteligência Musical. Publicado em 27/07/2005.
Disponível em:
<http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=103762311BC
83A1FE0440003BA2C8E70&channelid=0&schemaid=&opsel=2.> Acessado
em: 15 de outubro de 2010.
59
APÊNDICES
60
APÊNDICE A
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO NO CAMPO
Pesquisa do TCC
São José, 18 de Abril de 2011.
À Direção da Instituição
Escola de Educação Básica Juscelino Kubitschek
Ilustríssimo (a) Senhor (a) diretor (a)
O Curso de Pedagogia da USJ realiza visitas de campo, intervenções, observações participantes
nas Escolas do Ensino Fundamental, Centros de Educação Infantil das redes municipal, estadual e
particular da Grande Florianópolis/SC, inclusive nas 6ª, 7ª, e 8ª fases.
Nesse sentido, vimos apresentar a acadêmica Gisabelle de Oliveira Branco, regularmente
matriculada no curso de Pedagogia da USJ para que possa realizar a pesquisa do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) em uma Instituição onde tenha música na escola, cuja temática de estudo
é:
MINHA ESCOLA TEM UMA BANDA: O discurso sobre os benefícios obtidos pelos pais, professores
e alunos através da educação musical.
Como proposta de ação, a acadêmica precisa realizar sua pesquisa com pais e professores de
alunos que participam das aulas de música, conforme agenda: no período de abril e Maio de 2011.
A referida pesquisa é requisito obrigatório para a formação profissional, conforme Art. 65 da lei
9.394/96.
Sendo o que tínhamos para o momento, agradecemos.
EVANDRO DE OLIVEIRA BRITO
IZABEL CRISTINA FEIJÓ DE ANDRADE
Orientadora do TCC
Coordenadora do Curso de Pedagogia
____________________________
Diretora da instituição
61
APÊNDICE B
Questionário aplicado aos professores da banda pesquisada.
São José, 21 de abril de 2011.
Olá! Sou acadêmica da 8ª fase do Curso de Pedagogia do Centro
Universitário Municipal de São José – USJ.
Venho através deste questionário, pedir sua colaboração na participação da
pesquisa que estou desenvolvendo para o meu Trabalho de Conclusão de Curso,
orientado pelo professor Evandro Oliveira Brito.
São sete questões descritivas, relacionadas ao tema educação musical e
seus resultados obtidos por pais, professores e alunos. Sua participação é muito
importante para o resultado desta pesquisa.
Grata,
Gisabelle de Oliveira Branco
1 – Qual a realidade da comunidade em que você trabalha?
2 – Fale de sua experiência como professor na escola em que atua.
3 – Que tipo de contribuição você pode proporcionar com o ensino da música
para o desenvolvimento educacional?
4 – Como a música influencia no desenvolvimento das atividades dos alunos
no ambiente escolar?
5 – Qual a sua visão sobre a educação musical no Brasil?
6 – Que tipo de valores podem ser intercambiados através da educação
musical?
7- Que tipo de resultados futuros o ensino da música nas escola pode trazer
para aqueles que se dedicam?
62
APÊNDICE C
Questionário aplicado aos pais dos alunos da banda pesquisada.
São José, 30 de abril de 2011.
Olá! Sou acadêmica da 8ª fase do Curso de Pedagogia do Centro
Universitário Municipal de São José – USJ.
Venho através deste questionário, pedir sua colaboração na participação da
pesquisa que estou desenvolvendo para o meu Trabalho de Conclusão de Curso,
orientado pelo professor Evandro Oliveira Brito.
São duas questões de múltipla escolha e uma questão descritiva,
relacionadas ao tema educação musical e seus resultados obtidos por pais,
professores e alunos. Sua participação é muito importante para o resultado desta
pesquisa.
Grata,
Gisabelle de Oliveira Branco
1 - De acordo com suas observações sobre o comportamento do seu filho a
partir da inserção do mesmo na música, o que modificou?
( ) Melhoramento de notas e comportamento no ambiente escolar
( ) Maior consciência de suas responsabilidades
( ) Facilidade para desenvolver atividades em grupo
( ) Tornou-se mais disciplinado e atento ao cumprimento de regras
( ) Tem sido exemplo no comportamento com familiares
( ) Tornou-se mais respeitoso com funcionários no ambiente escolar
( ) Tem mostrado interesse pelos estudos
( ) Controla melhor suas emoções e sua concentração
( ) Tornou-se desatento
( ) Não melhorou em nada
( )Outros:___________________________________________
63
2 - Quais as contribuições da música para o desenvolvimento de seu filho de
acordo com a experiência vivida por ele?
( ) A educação musical trouxe as primeiras noções de música para meu filho.
( ) Além de preencher os momentos ociosos, a música proporcionou ao meu
filho uma melhor convivência em sociedade.
( ) Meu filho participa por obrigação, pois não gosta de música.
( ) O contato com uma atividade construtiva, elevou a condição cultural de
meu filho, afastando da marginalidade.
( )A música fez com que meu filho aprendesse o valor de trabalhar em grupo,
o respeito pelo próximo e ouvir opiniões diferentes.
( ) A educação musical desenvolveu em meu filho maior concentração,
disciplina e outros aspectos cognitivos, sociais e culturais.
( ) Meu filho não recebeu nenhum tipo de contribuição válida com o ensino da
música.
( )Outros:___________________________________________
3 – Em sua opinião quais as contribuições que a música pode oferecer na
comunidade a qual está inserida?

Documentos relacionados