Seu Elias - canal srl

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Seu Elias - canal srl
ANO 1 - Nº 10 • Edição Mensal - Fevereiro/2014 • O Jornal de Santa Rosa de Lima
•
Distribuição gratuita. Venda Proibida.
Seu Elias,
o homem do abacaxi
das Encostas da
Serra Geral
“Essa boniteza da propriedade não veio
caída do céu. Tem que caprichar.”
Tempestade e prejuízos
Granizo e vendaval causam danos em várias
comunidades de Santa Rosa de Lima
Pág. 12
Pág. 20
Volta às aulas e a educação
no município
Pág. 2
Eleições na Ceral
Pág. 11
Confira! Criança SRL
está de volta
A PEDIDO
Nós da Chapa 2, agradecemos as pessoas que
acreditaram nas nossas propostas e depositaram seu voto
de confiança em nossa candidatura. Mesmo não sendo
eleitos, sentimo-nos vitoriosos pela conquista destes votos
espontâneos, fruto de um trabalho com seriedade e ética.
Um agradecimento especial a todos os amigos
e a equipe que esteve ao nosso lado nesta honrosa
caminhada.
Um forte abraço,
Joacy Eller, Siuzete Vandresen Baumann, Wilmar
Stupp, Valmir Rodrigues, Plínio Eller, Ivo Bonetti, Joelso
Heidemann e Wilson Heidemann.
2
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Reportagem ESPECIAL
Mariza Vandresen
Mais um ano para
encorajar o voo
Na segunda semana de fevereiro, começa o ano escolar 2014 (ver boxes Serviços e Planejamento). Esse é sempre um
período pleno de sensações. Para algumas crianças (ou “pássaros”), será o começo de uma longa “viagem”. Para outros
estudantes, a mudança de nível, de turno
ou de turma. Entre mães e pais, renova-se
aquele misto de orgulho e preocupação.
Para os professores, depois de recarregar
as energias, mais um recomeço.
Em nosso município, todas as escolas
são públicas. Todas as crianças estudam
nos mesmos estabelecimentos. Não há
aquela segmentação presente nos centros urbanos e determinada pelas situações socioeconômicas e culturais dife-
rentes das famílias. Nas cidades grandes,
normalmente, os filhos “dos que podem”
estudam em boas escolas privadas e os
filhos “dos que não podem” frequentam
escolas públicas precárias. Aqui no município há, assim, um fator positivo: todos,
sem distinção, devem lutar por (e ajudar
a construir) uma escola pública de qualidade. Isso inclui currículos e materiais didáticos adequados, o reconhecimento e a
remuneração adequada dos professores,
a adoção do período integral associado
com atividades que contribuem para uma
formação integral (artes, línguas, esportes,
ética, ecologia, humanismo, protagonismo, organização), a infraestrutura, uma
alimentação com produtos locais e orgâni-
Espaço físico
Segundo a diretora, a deficiência no
espaço físico, compromete a realização
de um trabalho diversificado, principalmente com as crianças que ficam o dia
todo na escola: “Esse sempre tem sido
um dos problemas na educação infantil. Tivemos melhorias e ampliações
em 2013, mas, devido ao aumento de
matriculas, o número de salas é insuficiente. Já conversamos com a direção
do Centro Educacional sobre a possibilidade de remanejar o Pré-escolar II
para aquela escola. Também estamos
com projeto de ampliação para o ano
de 2014”.
Conquistas em 2013
Nilsa Lemkuhl indica vitórias que o
Centro de Educação Infantil alcançou
no ano passado: “Com a campanha
de matriculas, realizada em 2013, conseguimos ampliar em torno de 35% o
número de matrículas. Com isso, aproximadamente 90% das crianças da
Educação Infantil estão sendo atendidas. Nós também realizamos uma reforma e ampliação na escola, cobrimos
cos e um transporte seguro e com cuidado. Afinal, um município rural como o nosso tem a população “espalhada” e, além
disso, somos a Capital da Agroecologia.
Francos com a educação. Francos e
com educação.
Sempre na perspectiva de informar
bem e prestar serviços ao seu leitor – todos os cidadãos e cidadãs santarosalimenses – o Canal SRL procurou os dirigentes e gestores da educação no município
para tratar da “volta às aulas”. Por opção
do Secretário municipal de educação e
dos diretores das escolas, as entrevistas
foram todas realizadas na forma escrita e
no formato de questões e respostas. Não
O “Núcleo”
O “Jardim”
Nilsa Schueroff Lemkuhl, diretora
do Centro de Educação Infantil Recanto Alegre diz que para se ter um atendimento de qualidade para as crianças
na idade da educação infantil alguns
desafios precisam ser alcançados: “É
preciso fortalecer a participação dos
pais nas atividades escolares, realizar
uma reestruturação pedagógica e administrativa, assegurar o atendimento
em período integral para as crianças
até cinco anos e implantar efetivamente a horta escolar”. Questionada sobre
a insatisfação de alguns pais, em 2013,
em relação à atuação de professores
não habilitados, a diretora foi clara e
sucinta: “em 2014, todos os professores titulares terão habilitação em Educação Infantil”.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte
do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu
dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um
dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam
são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. As
escolas não podem ensinar o voo. Porque o voo já nasce dentro dos pássaros.
O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. (Rubem Alves)
C.E.I. Recanto Alegre.
a área do parque e adquirimos novos
equipamentos para as salas de aula e
a cozinha. Outra grande conquista foi
oferecer atendimento em período integral, o curso de aperfeiçoamento, em
parceria com o IFSC [Instituto Federal
de Santa Catarina], que continua agora
em 2014. Também realizamos curso
de primeiros socorros com os professores. E melhoramos a qualidade da
alimentação escolar”.
Família na Escola
No quesito aproximação/participação da família na escola, a diretora
informa que o Centro de Educação Infantil pretende realizar algumas ações:
“Vamos reorganizar e alterar os horários dos encontros com os pais; promover reuniões e palestras com profissionais especializados sobre temas
escolhidos em conjunto com os pais
e professores; e tentar engajar os pais
nos movimentos realizados pela escola, como projetos, festas e outros”.
Recado especial
“Pai e mãe, participem da vida escolar do seu filho. Sei que há uma preocupação com a questão econômica
e com o bem estar, sem problema algum, mas que nosso bem maior seja
o processo de educação de nossos filhos”.
Loreni Philippi é o diretor do Centro
Educacional Santa Rosa de Lima (que continua sendo chamado de “Núcleo”). Ele relata que durante o período de férias as atividades de gestão não foram paralisadas. O
espaço escolar passou por reformas e ampliação “para melhor receber alunos e professores no ano letivo 2014”. Para Loreni,
é preciso enfrentar o desafio de preparar
a escola de forma a torná-la atrativa para
as crianças: “A nossa sociedade passa por
grandes transformações. Principalmente o
avanço tecnológico que reflete, em muito,
no comportamento dos nossos alunos. E
nós, educadores, temos o grande desafio
de planejar e desenvolver nossa prática
docente dentro desse contexto que é tão
atrativo as nossas crianças”.
houve, portanto, condições de aprofundar
certos pontos. O secretário de educação,
de forma inusitada, fez questão inclusive
de que a reportagem do jornal autenticasse uma cópia da versão dele recebida.
Como é regra na imprensa escrita, esses materiais recebidos foram editados
pela equipe da redação do jornal. O leitor
terá acesso à íntegra das entrevistas, exatamente na forma como foram entregues
pelos entrevistados, em arquivos digitais
que estarão disponíveis no site www.canalsrl.com.br, quando esta décima edição
estiver disponível on line e poderá ele próprio avaliar a fidedignidade do conteúdo
abaixo.
Proposta para aproximar
Para tentar aproximar mais a comunidade escolar, principalmente aumentar a
participação dos pais na escola, o diretor
fala que existe uma proposta a ser discutida com os demais profissionais. A sugestão é que os professores tenham um
período semanal à disposição da família na
escola.
Poucos alunos, poucos recursos
O diretor do Centro Educacional julga
que os principais problemas para um atendimento de melhor qualidade aos estudantes estão relacionados à questão financeira. “Os recursos que recebemos para
investir na educação não são suficientes
e por esse motivo muitas vezes o atendimento fica prejudicado. Como se sabe, os
recursos que recebemos do governo federal para investir na educação são relacionados com o número de alunos. Por isso,
municípios de baixa população ficam prejudicados com essa forma de distribuição”.
Recado especial
“Aos pais, gostaria de dizer que todos
vocês são parte necessária e extremamente importante no cotidiano da vida escolar
de seus filhos. No ano passado, a escola
esteve à inteira disposição de vocês para
que obtivessem informações sobre seus
filhos. Neste ano que se inicia, não será diferente. A escola só consegue desenvolver
um bom trabalho e alcançar seus objetivos
se houver uma parceria muito forte com as
famílias. Por isso, pais, o Centro Educacional se coloca sempre à disposição de vocês
para sanar dúvidas ou angústias sobre o
processo educativo do seu filho.
Aos alunos que neste ano frequentarão nossa escola, queremos desejar boas
vindas e dizer que a equipe administrativa
e pedagógica esta se preparando para recebê-los e fazer com que avancem no processo de aprendizagem.
Aos professores, sempre responsáveis
e dedicados, dizer que contamos mais uma
vez com todos vocês para trilharmos o caminho por uma educação de qualidade
para nossas crianças”.
Conquistas em 2013
Mesmo nesse contexto de dificuldades
financeiras, o diretor aponta que foram
possíveis conquistas no ano passado. Ele
cita a melhoria no transporte escolar, a
reforma da cobertura da escola que apresentava goteiras, a construção de uma
nova sala de aulas e a reforma do piso das
demais. Lembra, ainda, a implantação de
aulas de música e dança, para fazer cumprir a hora atividade dos professores. E,
finalmente, destaca o curso de capacitação
e aperfeiçoamento destinado aos profissionais das séries de alfabetização, oferecido pelo Pacto nacional pela alfabetização
na idade certa.
C.E. Santa Rosa de Lima
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
O “Colégio”
Para a diretora da E.B.E. Aldo Câmara, Eliete May da Rosa, os principais desafios para a educação em Santa Rosa
de Lima são “ampliar o engajamento de
todos os pais, para tê-los participando
das reuniões e dos eventos, visitando a
escola, contribuindo com opinião e com
crítica”. Além disso, “reduzir a rotatividade de profissionais, garantindo professores qualificados que possam realizar
um trabalho coletivo; e garantir uma
educação integral, que articule o local e
o universal e que garanta a formação de
um cidadão crítico e participativo, capaz
de promover mudanças na sociedade”.
Questionada sobre os problemas
para que se chegue a uma educação
de qualidade e a um atendimento adequado aos estudantes, ela aponta como
principal “o contexto histórico-social
atual, no qual a educação não é vista
como o legado mais importante do ser
humano”. Ela indica, ainda, “a falta de
motivação – primeiro dos profissionais
e, consequentemente, do aluno”; “a carga horária excessiva dos profissionais
da educação, que dificulta a preparação
das aulas”; e “quando as decisões das
autoridades não são a favor da melhoria
da qualidade da educação”.
O estudante de hoje, seus ambientes e suas atitudes
A diretora considera que é possível
perceber, nos últimos anos, mudanças
no comportamento dos estudantes.
Segundo ela, “o livre acesso às tecnologias e à internet gerou transformações, porque possibilitou ao indivíduo
acesso a todo tipo de informação”. Com
esse fenômeno recente, a atenção dos
estudantes se deslocou dos livros e do
professor para as mídias. Ela afirma se
deparar, também, com alguns pais que
querem dar aos filhos tudo o que não tiveram na própria infância; “às vezes até
para compensá-los pela distância gerada com a saída de ambos (pai e mãe)
para o trabalho”. Tal postura é facilitada
porque hoje o acesso aos bens de consumo está muito mais fácil. O problema
é que “esse comportamento tem gerado filhos que não sabem ouvir um não e
que acham que podem tudo”.
Eliete May da Rosa acredita que, por
outro lado, por vivermos em uma cidade
pequena e rural, “a maioria das crianças,
mesmo sendo muito mais ativa e participativa do que em outros tempos, ainda conserva o respeito aos pais e aos
professores”. E conclui sobre o perfil
dos estudantes: “No mais, sabemos que
adolescentes, na sua maioria, são altamente influenciáveis. As atitudes deles
(positivas ou negativas) vão depender
do poder de persuasão de seus amigos
e ou das pessoas que os cativarem”.
Trabalho ou estudo
A diretora tem percebido que, hoje,
“muito mais adolescentes têm buscado
ingressar mais cedo no mercado de trabalho, “por conta do grande estímulo ao
consumismo da vida moderna”. “Alguns,
inclusive, priorizando o trabalho ao invés do estudo”. Mas destaca que, “ainda
assim, há muito mais jovens do município conseguindo entrar na universidade. Não só porque as universidades se
tornaram mais acessíveis, mas também
porque nós temos [aqui] mais professores qualificados do que há algum tempo
atrás”.
Inovador
Em 2014, o Aldo Câmara terá sua primeira turma do Ensino Médio Inovador.
Trata-se de um programa do Governo
Federal para fortalecer e melhorar a
qualidade do ensino médio no país. “O
trabalho a ser desenvolvido com essa
turma é por meio de projetos, o que
exige trabalho coletivo. Os professores
terão quatro aulas toda segunda-feira à
tarde para planejar em conjunto o trabalho com essa turma. Esperamos que
E.E.B. Professor Aldo Câmara.
esse trabalho não só melhore a qualidade da educação como também reaproxime os professores em torno de um
projeto comum”.
A família na escola
Em 2013, o Aldo Câmara realizou algumas ações que, segundo a diretora,
foram essenciais para uma maior aproximação e participação das famílias na
escola. Por isso, devem ser repetidas
neste ano letivo. Destaca o “Café Pedagógico”, que foi uma palestra com a
psicopedagoga combinada com um café
colonial servido aos pais e professores.
Recorda, também, a entrega de boletins a cada bimestre, “um dia em que os
professores ficam à disposição dos pais
para conversar sobre o desempenho e
o comportamento de cada o aluno”. Por
último, avalia que a Feira de Ciências estimulou a visita dos pais à escola. “Os
pais não querem só ouvir reclamações
e a Feira de Ciências é o momento em
que o pai vem à escola para prestigiar o
trabalho do filho”. Eliete diz que outras
iniciativas podem ser construídas para
esse ano, como por exemplo, a promoção de atividades esportivas envolvendo pais e filhos, mas pondera que o que
será feito em 2014 precisa ser planejado em conjunto com os professores,
o que ocorrerá nas atividades entre os
dias seis e doze de fevereiro.
3
Escolas estaduais e municipais foram orientadas pela Secretaria do Estado de Educação
(SED) a iniciarem as atividades do
calendário escolar da Rede Pública de Ensino no dia 13 de fevereiro
de 2014. O recesso escolar deverá ser entre os dias 20 de julho e 3
de agosto e o término do ano em
19 de dezembro. A determinação
foi acordada entre a Secretaria de
Estado da Educação (SED) juntamente com a presidência da União
dos Dirigentes Municipais de Educação de Santa Catarina (Undime/
SC). Conforme as orientações da
SED, em função da Copa do Mundo ser sediada no Brasil, o calendário não sofrerá grandes alterações, principalmente na primeira
fase do Mundial. A responsabilidade da escola é a obrigação do
cumprimento dos 200 dias letivos
e as 800 horas atividades.
A Escola de Educação Básica
Professor Aldo Câmara mantém
o retorno às aulas na data estabelecida pela SED. As escolas
municipais, Centro de Educação
Infantil Recanto Alegre e Centro
Educacional Santa Rosa de Lima
antecipam a data do calendário
em três dias, 10 de fevereiro. As
aulas Licenciatura em Educação
do Campo ofertado no município
pela Universidade Federal de Santa Catarina, seguindo o calendário
unificado da instituição, reiniciam
no dia 17 de março.
Imagina na Copa
Centro de Educação Infantil Recanto Alegre
Pretende seguir o calendário oficial
da Copa com seus jogos e feriados. Com
a possibilidade de alguns empregadores
do município não liberarem seus trabalhadores nos horários dos jogos do Brasil, a diretora Nilsa Schueroff Lemkuhl
afirma que haverá um planejamento específico. “Será feito uma escala, e alguns
profissionais ficarão na escola neste horário. A escola está preocupada em aten-
der melhor as famílias, por isso faremos
uma programação diferenciada nos dias
de jogos da copa, principalmente para
atender esta demanda”.
Centro Educacional
O Diretor Loreni Philippi informa que
será seguido o mesmo calendário da
rede estadual, “pois existe uma parceria
entre as duas esferas e não tem como
ser diferente”.
E.E.B. Aldo Câmara
O que é certo é que não deve haver
aula durante os jogos do Brasil. A diretora, Eliete May da Rosa, diz que na primeira fase do mundial de futebol, como
os jogos do Brasil serão todos à tarde, as
aulas no período matutino serão normais. Por determinação da Secretaria
de Estado da Educação (SED), nesses
dias não haverá aulas à tarde e à noite.
Se o Brasil para passar para a segunda
fase e SED dará novas orientações.
segue
Diretor: Sebastião Vanderlinde
Diretora: Mariza Vandresen
Estrada Geral Águas Mornas, s/n.
CEP 88763-000
Santa Rosa de Lima - SC.
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E-mail: [email protected]
Fundado em 10 de maio de 2013,
dia do 51º aniversário de Santa Rosa de Lima
Jornalista Responsável: Mariza Vandresen
Diretor-executivo (Circulação, Comercial, Financeiro, Publicidade e
Planejamento): Sebastião Vanderlinde
Publisher (voluntário): Wilson (Feijão) Schmidt.
O Canal SRL é uma publicação mensal da Editora O ronco do
bugio. Só têm autorização para falar em nome do Canal SRL
os responsáveis pela Editora que constam deste expediente.
Diagramação e Arte: Qi NetCom - Anselmo Dandolini
Distribuição: Editora O ronco do bugio
Tiragem desta edição: 1000 exemplares
Circulação: Santa Rosa de Lima (entrega gratuita em domicílio).
Dirigida, também, a prefeituras, câmaras e veículos de comunicação do Território das Encostas da Serra Geral e a órgãos do
Executivo e Legislativo estadual e federal.
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Educação e ambiente
de trabalho
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
segue
Reportagem ESPECIAL
Ano letivo 2014 – Serviços
Início das atividades
Centro de Educação Infantil
Recanto Alegre
Plantão a partir do dia 3 de
fevereiro
Retorno às atividades, com
transporte escolar, 10 de fevereiro.
Centro Educacional
Retorno às aulas, com transporte escolar, 10 de fevereiro.
E.B.E. Aldo Câmara
Retorno às aulas, com transporte escolar, 13 de fevereiro,
inclusive para as turmas do município.
Licenciatura em Educação
do Campo (LECampo-UFSC/
SRL)
Seguindo o Calendário Acadêmico unificado da Universidade Federal de Santa Catarina,
as aulas reiniciam no dia 17 de
março.
Matrículas
Às famílias que têm filhos
com idade entre zero e dezessete anos e que ainda não estejam
matriculados, a Secretaria Municipal de Educação orienta que
se dirijam ao Centro Educacional
Santa Rosa de Lima (“Núcleo”)
para efetuar a matrícula. É indispensável estar com a certidão
de nascimento de quem se quer
matricular. Qualquer dúvida, entrar em contato via o telefone
3654-3009.
Carteirinha para utilizar o
transporte universitário em
2014
A Secretaria Municipal de
Educação informa que como
condição para saber o número
de estudantes que irá utilizar o
transporte universitário e definir
a logística, está fazendo “carteirinhas”. Para fazê-la, é preciso
apresentar cópias da carteira de
identidade (RG), do CPF e de um
comprovante de residência. É
necessário, ainda, informar a instituição, o local de destino e o dia
da semana que precisará utilizar
o transporte.
Planejando
para o ano
letivo 2014
A Secretaria Municipal de Educação informa que, a partir do dia
5 de fevereiro, a equipe de professores e gestores da rede municipal
estará, em conjunto, discutindo o
planejamento para o ano. Inclusive, no que se refere às metas a
serem alcançadas em 2014. No dia
seis, o secretário e seu estafe apresentarão a sua proposta de trabalho para a educação municipal.
A diretora do Centro de Educação Infantil informa que os professores retornarão às atividades no
dia 5 de fevereiro e serão realizadas reuniões, atividades de planejamento e “palestras com a promotora”. O planejamento escolar será
realizado primeiramente com a
equipe administrativa e, logo após,
com os professores e os funcionários.
Já o diretor do Centro Educacional disse que o planejamento
daquela escola é feito com a participação de todo o corpo docente,
que define quais os conteúdos serão trabalhados com maior ênfase,
a partir de tópicos relevantes ao
momento social. Cita, como exemplo, o fato do ano ser atípico com
a realização da Copa do Mundo de
Futebol no Brasil. Assim, poderão
ser discutidos com os estudantes
os benefícios e problemas que
esse evento poderá trazer ao país.
Finalmente, a diretora do Aldo
Câmara declarou que a partir do
dia seis de fevereiro e até o dia
doze haverá naquela escola ações
de planejamento e formação, dentro da chamada “semana pedagógica”, que já está definida desde
o final do ano passado. Nos cinco
dias úteis desse período, das 8:30
às 17:30 horas, será fixada, também, a programação da escola
para o ano, como reunião de pais,
festa julina, feira de ciências etc.
Da mesma forma, serão discutidas
as mudanças necessárias nas regras da escola.
Depoimento (entrevista gravada, a fonte pediu que
seu nome fosse preservado)
“O que eu percebo hoje – e este problema já vem
de anos – é o clima no ambiente de trabalho. A sala de
professores deveria ser um local de planejamento, mas
o que a gente percebe é que virou um local de lamentações. Muitos trazem seus problemas pessoais ou fofocas de rua. É muito individualismo. Se alguém quer fazer
alguma coisa diferente, já tem outro alguém que puxa
pra trás. É bem difícil trabalhar. No início do ano, deveria
ser feito um planejamento em conjunto, de uma semana.
Mas realmente [para] trabalhar e não só [para] cumprir
horário, como às vezes aconteceu. Vejo também que
‘santo de casa não faz milagres’. Deveria ter alguém que
pudesse conduzir e que se trabalhasse realmente com o
objetivo de melhorar a qualidade de ensino”.
Comentários (a partir de questionamento da reportagem)
Rudinei Pacheco: Acredito que o relato acima mencionado não traduz a realidade, ou que seja algum fato
isolado. Mas sou da seguinte opinião: o ambiente de
trabalho é construído pelos profissionais que, neste ambiente, convivem. No entanto, primeiro cada um, principalmente os que mais têm dificuldades de convivência,
deve rever sua postura como profissional. E eleger como
prioridade absoluta o aprendizado de nossos alunos.
Loreni Philippi: [Essa é uma] resposta do secretário
[municipal de educação].
Eliete May da Rosa: Sei que a maioria dos professores se sente desconfortável quando alguém fica só se
lamentando ou fazendo fofoca. Por isso, a postura de alguns deles é se afastar de quem fica só se lamentando.
“Através da educação de qualidade, construiremos um futuro melhor”
Entrevista com o Secretário Municipal
de Educação, Rudinei Pacheco
De acordo com a Undime, um secretário municipal de educação “deve compreender, acima de tudo, que a Educação é
um direito humano fundamental”. Por isso,
ainda segundo a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, na rede
ou no sistema de ensino que o secretário
gerencia, ele “deve colocar como prioridade do ato de governar a garantia do direito que tem a população matriculada a ter
acesso, permanência e aprendizagem com
qualidade”. Ademais, tem o desafio de incluir a população que se encontra fora da
escola.
Tendo isso em conta, no momento que
antecede o início do ano letivo 2014, o Canal SRL buscou entrevistar aquele que
tem a missão, em Santa Rosa de Lima, de
“elaborar, implementar e gerir políticas públicas educativas que garantam o desenvolvimento físico, social, econômico, político e cultural de crianças, adolescentes,
jovens e adultos como seres ao mesmo
tempo únicos e plenos”.
Rudinei Pacheco preferiu que a entrevista fosse feita por escrito, no formato
questões e respostas. Para aproveitar a
rara oportunidade, a reportagem preparou um longo roteiro de perguntas, cujas
respostas, em função do espaço, não poderão, todas, ser apresentadas aqui no formato que os jornalistas chamam de “ping
pong”. Contudo, a íntegra do material estará disponível no site www.canalsrl.com.
br , quando esta edição estiver disponível
também na versão on line.
Profissionais da educação
Pacheco considerou, por exemplo, que
a valorização dos profissionais de educação, através de cursos de aperfeiçoamento
e qualificação, está contemplada através
de convênio firmado com o IFSC (Instituto
Federal de Santa Catarina) “temos assegurado curso de 60 horas, para o ano de
2014, com perspectiva de mais etapas,
dando continuidade à parceria firmada”.
Com relação ao atendimento da reivindicação dos profissionais da educação do
cumprimento da Lei Federal 11.328 (piso
salarial dos profissionais da educação), primeiro, o secretário lembrou que essa lei
“não trata somente da questão financeira
(hora atividade na escola, por exemplo)”. E
previu que, no momento em que leem este
texto, os profissionais do magistério já têm
“contabilizado em seus vencimentos do
mês de janeiro um aumento de 8,32%, de
acordo com os índices constitucionais de
2014”. Com isso, para o secretário, a atual
administração “cumpre com os compromissos assumidos com a categoria”.
Plano de carreira e progressão
O secretário municipal de educação
declarou, em relação à participação dos
professores no debate sobre o plano de
carreira do magistério municipal, que “no
dia seis de fevereiro será apresentada uma
proposta de metodologia e calendário para
a sua construção ou reformulação”. No
que se refere aos pedidos de progressão
segue
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
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Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
segue
Reportagem ESPECIAL
de carreira, afirmou que aqueles que foram devidamente protocolados no setor
pessoal e tiveram parecer jurídico favorável já estão contemplados “na folha de
pagamento do mês de janeiro de 2014”.
Garantiu, ainda, que nesse ano serão habilitados todos os professores titulares
das turmas de educação infantil.
Infraestrutura
Com relação à infraestrutura, informou que um projeto cadastrado para
a construção de uma nova escola, com
recursos do FNDE, está aguardando parecer técnico daquele Fundo. E que, da
mesma forma, toda documentação foi
enviada de um projeto, através do PAC
2 [Plano de Aceleração do Crescimento,
do Governo Dilma], para a construção de
uma quadra coberta no Centro de Educação (“Núcleo”). Também nesse caso, se
está na dependência de um parecer técnico.
Aspectos mais estratégicos da educação no nosso município são abordados a seguir.
Canal SRL: Em sua opinião, quais são
as principais dificuldades encontradas na
gestão da pasta da secretaria de educação e desporto?
SME: Infraestrutura física em péssimas condições (escolas e ginásio de esporte e campo de futebol). Folha de pagamento atingindo os limites da legislação,
fato que se reflete diretamente na valorização dos profissionais da educação.
O plano de carreira do magistério e dos
servidores públicos está desatualizado.
Há muita burocracia no setor público.
Canal SRL: Quais são as principais
conquistas recentes no que se refere à
educação municipal?
SME: Repasse do piso para o magistério (2014) e, também, valorização dos
demais colaboradores da secretaria. Na
educação, período integral na creche;
melhorias na infraestrutura das escolas;
renovação da frota de transporte escolar;
melhor qualidade na merenda escolar;
o convênio com o IFSC (Instituto Federal
de Santa Catarina), viabilizando formação
continuada para os professores. No desporto, os quatrocentos e cinquenta mil
reais assegurados para reforma e ampliação do ginásio de esportes.
Canal SRL: Como avalia, de um modo
geral, a educação em Santa Rosa de Lima?
SME: Sem dúvida, se observarmos os
índices educacionais do Brasil, nosso município se encontra com condição muito
favorável. Somos sabedores, contudo, de
que temos muitos desafios para superar.
Na condição de gestor da área, tenho reafirmado que as dificuldades diárias não
podem de maneira alguma ocultar o nosso foco principal, que é a “busca incansável por uma real melhoria na qualidade
do aprendizado de nossas crianças”. Sou
consciente de que o caminho é árduo
para alcançar o objetivo ora mencionado,
mas [acredito] que com o comprometimento de cada um dos atores envolvidos,
certamente, a cada dia, estamos edificando um futuro melhor para os nossos filhos.
Canal SRL: Quais são hoje os maiores desafios para uma educação de qualidade em Santa Rosa de Lima?
SME: Implantação do período integral
para toda rede municipal, reestruturação
pedagógica e administrativa, infraestrutura (escola nova), a participação das famílias, a efetivação da lei do piso (valorização financeira, hora atividade...).
Canal SRL: Como está a participação
dos conselheiros da educação na gestão
da educação?
SME: Eu, como gestor dos programas
federais no município, gostaria de uma
participação mais efetiva dos conselhos.
Mas também tenho a consciência de que
é um trabalho voluntário e sei da dificuldade de cada um em disponibilizar tempo para se dedicar a entender os trâmites legais de aplicação destes recursos.
Canal SRL: E quanto à implantação
de novas creches municipais? Que ações
estão sendo realizadas para atingir este
objetivo?
SME: A atual administração tem como
objetivo melhorar cada vez mais os espa-
“A gente é capaz de mudar
o mundo, basta querer”
Ketrin Michels Schmidt tem
onze anos e viveu uma experiência marcante: participou da
IV Conferência Nacional Infantojuvenil sobre o Meio Ambiente.
A jovem da sexta série do Aldo
Câmara fez parte da delegação
catarinense nesse evento, que
ocorreu em Brasília entre os dias
23 e 28 de novembro de 2013.
A Conferência infanto-juvenil é uma iniciativa do Ministério
da Educação e do Ministério do
Meio Ambiente. As reflexões e
diálogos deste ano foram sobre
o tema “Vamos cuidar do Brasil
com escolas sustentáveis”. O
evento parte do princípio que
“jovem educa jovem”, “jovem
escolhe jovem” e “uma geração
aprende com a outra”.
ços físicos para atender nossas crianças
e colaboradores. Sabemos, também, que
os programas federais estão avançando –
e muito – no sentido de viabilizar a construção novas creches. Entretanto, como o
número de matriculas é baixo em nosso
município e como existem altas demandas, principalmente nos grandes centros
urbanos, são pequenas as chances de
nosso município ser contemplado.
Canal SRL: Os espaços das bibliotecas escolares parecem não ser mais compatíveis com a demanda, especialmente
se for considerado que é indispensável
ampliar a informatização delas. O que
está sendo feito neste sentido?
SME: Sobre a biblioteca municipal,
utilizada pelas escolas, estamos cadastrando projeto para melhoria do acervo
e para aquisição de mobiliário e equipamentos.
Canal SRL: De forma geral, um dos
objetivos desta gestão é equipar melhor
as escolas na área de informática. Que
tipo de trabalho está sendo realizado
neste caso?
SME: Sem dúvidas, é um objetivo
avançar. Até porque é uma necessidade
fazer uso destas tecnologias para atender às demandas do século vinte e um.
Defendo, todavia, que além dos equipamentos precisamos da capacitação para
uso dos mesmos. E tal capacitação já está
sendo viabilizada.
Canal SRL: Como está a frota atual
da secretaria? Com a chegada de três
novos ônibus, já é possível contabilizar a
economia na manutenção dos veículos
do transporte escolar?
SME: Temos melhorado muito a qualidade da frota do transporte escolar. Em
2013, foram adquiridos três ônibus novos. Agora, temos mais um micro ônibus
praticamente assegurado, mais um utilitário (van de vinte lugares), que vamos
adquirir em 2014. Fico muito feliz, pois
minhas expectativas são de que até o final deste ano estejamos com a frota praticamente toda atualizada. Tal conquista
trará, certamente, uma economia significativa com a manutenção dos veículos de
No momento em que se prepara a volta às aulas na Capital
da Agroecologia, o Canal SRL
buscou recuperar com Ketrin
suas principais observações a
respeito dessa experiência e do
que ela aprendeu sobre sustentabilidade na escola. Mais
do que isso, nossa reportagem
pode registrar, na conversa bastante madura dessa menina,
boas provocações para que
nossos leitores (inclusive educadores) pensem a educação em
Santa Rosa de Lima. É uma boa
lição!
Rudinei Pacheco Secretário de Educação.
transporte escolar, além de proporcionar
segurança e qualidade às nossas crianças.
Canal SRL: Somos a Capital da Agroecologia. A Secretaria Municipal de Educação tem priorizando alimentos orgânicos na merenda escolar? Como?
SME: Sim. No ano de 2013 fizemos licitação para aquisição de alimentos orgânicos. Em muitos itens, entretanto, não tivemos interessados. E nos itens licitados
tivemos dificuldades de logística. Acredito
que seja devido ao baixo volume dos pedidos, principalmente quando se trata de
produtos mais perecíveis.
Canal SRL: Como está o projeto de
Hortas Escolares? Que tipo de verduras
são plantadas e como são coordenados
os trabalhos?
SME: Vamos implantá-lo em 2014. O
projeto “Eu amo minha escola” envolve
todos os atores da escola: colaboradores,
alunos, pais e sociedade em geral. Além
de proporcionar um alimento fresco, ele
terá uma função pedagógica importante e uma mensagem de conscientização
ambiental.
Canal SRL: Para finalizar, o que pais,
alunos, mestres e familiares podem esperar do Secretário Municipal de Educação
em 2014?
SME: A sociedade santarosalimense
pode esperar de mim muito esforço e
comprometimento, pois acredito muito
que, através da educação de qualidade,
construiremos um futuro melhor para todos. Por isso, não medirei esforços para
alcançar os objetivos do povo do nosso
município.
Ketrin Michels Schmidt
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Registros de uma aprendizagem inesquecível
Depoimento de Ketrin Michels Schmidt
Um dia de agosto
O que parecia ser um dia normal de
aula no Aldo Câmara se transformou
numa grande experiência. Nossa diretora,
Eliete, e a professora Luciane motivaram a
escola para realizar a etapa municipal da
Conferência. Era preciso que todos os alunos do quinto ao nono ano participassem.
A coordenação ficou com os professores
Volnei [do Aldo Câmara] e professora Juliana [do Centro Educacional]. Fomos orientados a nos dividirmos em quatro grupos,
seguindo os elementos Terra, Fogo, Água
e Ar. Eu fiquei com o Terra. Depois disso, a
nossa missão foi escolher um projeto que
trabalhasse o tema. Nossa ideia foi: “SOS
Planeta; melhorando o entorno do Centro
Educacional Santa Rosa de Lima”.
27 de agosto
Este dia foi muito legal. Depois de
apresentarmos nosso projeto para todos
os alunos e professores do Aldo Câmara,
lá no “múltiplo uso”... Iuhuull! Ele foi o escolhido para representar a escola na etapa regional. Era preciso, então, apresentálo em Braço do Norte. Todo mundo ficou
acanhado para assumir essa tarefa. Aí, a
Karla [Martins] aceitou ir como delegada e
eu, como suplente. E lá fomos nós...
Cada vez mais longe
Na apresentação em Braço do Norte,
vencemos mais uma vez. Oba!! E agora?
Chegava a parte mais difícil. Era preciso ir
a Florianópolis e apresentar para os estudantes de todo o estado. Caramba, a Karla
não pode ir e sobrou pra mim... Meu Deus!
Não iria ninguém daqui de Santa Rosa comigo. Nenhum outro estudante. Nenhum
professor... Eu e mais três meninas da região seríamos acompanhadas pelo pessoal da Gerência Regional de Educação de
Braço do Norte. Criei coragem e fui...
4 de novembro
Na capital, eu estava ainda mais nervosa. Eu tentei não ficar, mas pensava: e se
eu fizer qualquer coisinha errada? Fui uma
das últimas a apresentar e quando cheguei lá na frente, tinha mais de duzentas
pessoas me olhando. Quem julgava era o
público. Ou seja, éramos os delegados e
nós mesmos escolhíamos os projetos que
iam representar Santa Catarina na etapa
nacional. Foi muito difícil. Saí da apresentação tremendo. Minha sorte foi ter usado
o datashow, senão nem sei...
Infelizmente, o nosso projeto não foi
escolhido. Mas, aí, veio uma grande surpresa. Na seleção dos delegados para ir
pra Brasília não tivemos a interferência
de nenhum adulto. Os professores saíram
todos da sala e o que valeu foi a nossa opinião. Então, os outros estudantes do estado me indicaram como delegada.
21 e 22 de novembro de 2013
Nesses dias, eu e mais vinte e três
delegados estaduais à Conferência Nacional fomos hospedados em um hotel
em Florianópolis. Primeiro, o pessoal da
Secretaria Estadual de Educação nos passou todas as regras e informações sobre
a viagem, sobre o evento, sobre como
nos comportar... Depois, mais um monte
de instruções. Também ensaiamos uma
apresentação cultural para a “Noite dos
Brasis”. Eu tinha conhecido as outras meninas no hotel, mas era engraçado porque
parecia que nós éramos amigas de muito
tempo.
23 de novembro
Voar
Eu estava com muito medo. Também,
todo mundo falou um monte... E se o
avião caísse? Eu nunca tinha voado... As
meninas que estavam comigo, também. O
avião era enorme e quando ele levantou
voo fiquei com mais medo ainda. Depois,
ele foi pairando no ar, tão calmo, tão leve...
Eu me acostumei e adorei. É bem melhor
que andar de carro.
Chegar
Depois de desembarcar pegamos um
ônibus. A conferência foi em Luziânia, a
45 minutos da Capital Federal. Fiquei entediada do tanto que demorou. Quando
chegamos lá, recebemos uma mochila e
um documento guia. Em seguida, fomos
almoçar. Depois, para os quartos e aproveitei para descansar um pouco.
Abertura
No final da tarde, me arrumei para participar da solenidade de abertura. No ato,
além de nos dar boas vindas, eles falaram
de como seria a conferência e nos explicaram como usar o “guia”. O primeiro dia
terminou maravilhosamente bem com as
apresentações culturais na Noite dos Brasis. Eram nove apresentações por noite e
eu pude conhecer um pouco da cultura e
das tradições de cada estado.
24 de novembro
Muito legal! Eu participei da oficina “Ver
de Perto”. Nela, se falou de biodiversidade,
que é toda a vida, todos os seres vivos que
estão a nossa volta. A gente fez cartazes,
discutiu, debateu...
Eu fiz questão de dizer que morava
num lugar muito lindo. Foi muito bom interagir com estudantes do Brasil todo.
25 de novembro
Participei da melhor palestra da minha vida. Foi com Edgard Gouveia. Nossa!
Esse cara é muito legal. Ele reúne gente
do Brasil todo e até do mundo, principalmente as crianças e os jovens. Ele contou
que quando era pequeno brincava muito
de gincana para ganhar dinheiro. Por isso,
pensou como poderia usar isso para ajudar o meio ambiente. Explicou pra gente o
trabalho que ele faz. Todo mundo achou
que ele era como um herói. Afinal, ele já
ajudou muita gente no mundo, até em
uma enchente aqui em Santa Catarina.
Edgard Gouveia me mostrou que a gente
é capaz de mudar o mundo, basta querer.
Quero me inspirar nele! Sempre! Recomento uma pesquisa sobre o cara. Ele já
está “add” no meu “face”!
26 de novembro
Esse, com certeza, será um dia inesquecível em minha vida.
Pela capital federal
Fizemos um roteiro para conhecer um
pouco de Brasília. Foi muito bacana. Fiquei
muito impressionada. Mas foi um pouco
estranho, porque tudo na cidade está em
reforma. Disseram que é para a Copa do
Mundo. Eu vi as “bacias” e as duas torres
[do Congresso Nacional], foi muito legal.
E, nossa, o Palácio do Planalto é lindo, é
enorme, é gigante!
Conheci a presidente do Brasil
Mas o que mais me marcou estava
por vir: a presença da presidente Dilma
Rousseff. A primeira coisa que eu pensei
quando a vi falando foi: ela não está na televisão, está aqui na minha frente, ao vivo.
Pena que era muita gente e não dava para
chegar mais perto. Mas foi muito emocionante. Nunca esquecerei.
27 de novembro
“Com Vida”
O último dia do congresso foi muito
proveitoso. A gente teve uma conversa
sobro o projeto “Com Vida”. Eles nos explicaram como esse projeto pode ajudar a
vida dos estudantes no dia a dia da escola.
É tipo um grêmio estudantil, mas para cuidar do meio ambiente e, principalmente,
para criar projetos para ajudar a nossa escola. Eu gostei muito dessa ideia. Do pessoal que estava lá, poucos sabiam se suas
escolas tinham ou não esse projeto.
Despedida
Logo depois do encerramento, que foi
à noite, o pessoal do Acre e do Maranhão
foi embora. Como todo mundo ficou muito amigo, já começou o choro. Sorte que
tem as redes sociais para conversarmos.
Eu fiz uma boa amizade com uma menina
de Pernambuco. Ela era uma das poucas
participantes da conferência que tinha a
minha idade. Na verdade, com onze anos
como eu, só conheci ela. A maioria dos
participantes tinha 13 ou 14 anos. Poucos
tinham doze. Na verdade, naquele momento de despedidas, a gente nem queria
mais vir embora. E quando foi a hora de
dizer adeus foi uma choradeira só!! Agora,
é ruim porque eu e esta amiga estamos
bem longe. Mas a gente combinou de
sempre se falar pelo “face”.
Ketrin (esquerda) e as amigas que conquistou na Conferência.
7
De volta a minha escola
Voltei de Brasília muito empolgada
com tudo. Procurei, então, a professora
Eliete, diretora do Aldo Câmara. Eu queria
saber como estava a nossa escola, se aqui
tinha o “Com Vida”. Ela me falou que sim,
só que estava desativado.
Eu aprendi que para ativar um projeto
desse tipo é preciso ter estudantes que
queiram. E, é claro, apoio dos diretores
e professores. Por isso, fiquei um pouco
preocupada. Lembrei-me de quando fizemos o projeto lá em agosto. Naquele
momento, percebi que os estudantes daqui não têm interesse. Todo mundo fica
quietinho. A gente teria que dizer: Eu vou!
Eu faço! Para ir para Braço do Norte, ninguém quis ir. A Karla e eu fomos as únicas.
Depois, eu vi que em outras escolas houve
uma grande concorrência, teve competição entre os muitos que queriam ir. Aqui
na nossa escola não tem isso.
Minha missão
Eu penso em reativar o projeto “Com
Vida” na nossa escola. Eu acredito que é
possível mobilizar um grupo de alunos. Os
estudantes que têm mais interesse vão
gostar. Ruim vai ser encontrar esta turma.
São poucos. Mas é com poucos que se começa. Depois, outro vai lá e vê que tem
gente fazendo e gostando de fazer e fica
querendo fazer também. O “Com Vida” é
um grupo de alunos, não precisa ser todos. Se conseguirmos esse grupo de alunos interessados, a gente pode reativar o
“Com Vida” e transformar a nossa escola
em uma escola sustentável.
Eu sei que vai ser difícil. Vai depender
muito dos alunos e da direção da escola.
Quando começarem as aulas de novo, eu
quero voltar a falar com a diretora. Uma
das coisas que eu vi lá em Brasília é que é
possível fazer alguma coisa para ajudar o
nosso município. Agora, eu me sinto como
uma porta voz da Conferência Nacional
Infanto-juvenil sobre o Meio Ambiente. Minha missão é multiplicar o que eu aprendi
lá. E eu aprendi muita coisa, tanto sobre
cultura como sobre o meio ambiente. Meu
desafio é consegui fazer palestras. É falar
pros alunos. É fazer com que a escola se
conscientize. Que todo mundo fique interessado!
Depoimento
O nosso orgulho
Em entrevista ao Canal SRL, a diretora
do Aldo Câmara, Eliete May da Rosa, afirmou sobre Ketrin Michels: “Ela e sua ida a
Brasília foram o nosso orgulho em 2013.
Essa conquista dela gerou mais confiança
e estímulo para todos os alunos”. Com relação ao “Com Vida”, a diretora afirma que
este é um dos objetivos para o ano escolar
2014. Ela lembra que durante a Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente, no
ano passado, cada grupo de alunos indicou seus representantes e pensa que eles
poderão compor a comissão. “Falta definir
o papel de cada um e envolver mais representantes da comunidade escolar e
das entidades comunitárias. Não é difícil
ativar. A direção deve estimular e apoiar
as ações do ‘ComVida’, oportunizando
momentos para que os membros da comissão possam se reunir para planejar e,
naturalmente, auxiliar na execução dos
projetos defendidos pela comissão”.
8
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
INOVAÇÃO
Óleos essenciais orgânicos;
mais um passo à frente
Na segunda quinzena de janeiro, tiveram início a distribuição de mudas e o
plantio de ervas aromáticas, dentro do projeto de pesquisa e desenvolvimento de
uma cadeia de óleos essenciais orgânicos. Nesta primeira fase, estão mobilizados
quarenta e três dos sessenta produtores que atuarão como pesquisadores.
Apoio da Agência Brasileira da Inovação
A experiência do Centro de Formação em Agroecologia
(CFAE) foi apresentada, por João Augusto de Oliveira
(Joca), ao Prêmio Finep de Inovação 2011. Por ter sido
o vencedor na categoria Tecnologia Social na Região
Sul, o CFAE obteve o direito de apresentar um projeto
de pesquisa e desenvolvimento à própria Finep, que
é a Agência Brasileira da Inovação. Em acordo com as
Entrevista
Sebastião Vanderlinde, diretor
da Editora O ronco do bugio, é
também o responsável pelas atividades de campo do projeto. Ele
falou ao Canal SRL sobre o andamento desta ação de desenvolvimento para a constituição de uma
cadeia de óleos essenciais orgânicos nas Encostas da Serra Geral.
Canal SRL: O projeto e as ações nele
previstas fazem referência às Encostas da
Serra Geral. Quais são os municípios envolvidos?
Sebastião Vanderlinde: Nós iniciamos com os municípios de Anitápolis,
Grão Pará, Gravatal, Rio Fortuna e Santa
Rosa de Lima. Previmos atuar também em
São Bonifácio, mas falta ajustar alguns detalhes para formar um grupo lá.
Canal SRL: E os produtores mobilizados?
Sebastião Vanderlinde: Basicamente, são agricultores familiares que aceitam
o desafio de ser experimentadores; ou
seja, que têm disposição para ser pioneiros. O ponto de partida foram os associados da CooperAgreco e da Acolhida na
Colônia. Afinal, eles já têm uma vivência
de pioneirismo na produção orgânica. A
proposta é de produção orgânica. Não vai
se trabalhar com a convencional. Em Grão
Pará e Anitápolis, temos agricultores convencionais, mas que toparam participar da
pesquisa e fazer a produção de ervas aromáticas dentro do sistema orgânico.
Canal SRL: Então, é um projeto de
pesquisa? Os agricultores vão ser pesquisadores?
Sebastião Vanderlinde: Justamente! Neste primeiro momento, a produção
ainda não terá caráter comercial. É uma
pesquisa para testar o cultivo e desenvolver uma cadeia produtiva. Por isso, as áreas de plantio estão espalhadas em diver-
principais lideranças que realizam um esforço para
consolidar a produção orgânica nas Encostas da Serra Geral, propôs e negociou, ao longo de quase dois
anos, essa iniciativa de estruturação de uma cadeia
produtiva de óleos essenciais orgânicos. Tal proposta
é vista como inovadora na região e já gerou ótimas
expectativas positivas em organizações nacionais e internacionais.
Cerca de 50 mil mudas já foram entregues aos produtores.
sos municípios, solos e climas diferentes.
Desde Anitápolis, com uma região mais
alta e mais fria, até Gravatal, com uma região mais baixa e mais quente. É importante pegar toda a região das Encostas da
Serra Geral, para testar quais são as espécies de ervas aromáticas que melhor se
adaptam por aqui. Nós testaremos seis e
esperamos ter um bom resultado. Como
não se tinha nenhum trabalho de pesquisa já efetivado aqui sobre essas plantas
e a extração de óleos essenciais a partir
delas, temos que fazer primeiro essa pesquisa. Assim, poderemos balizar melhor a
montagem da cadeia produtiva e dos empreendimentos dentro dela.
do que, este verão se anunciava muito
quente. Então, cada produtor vai receber
cem mudas a mais para buscarmos garantir que teremos mil plantas em cada experimento. Assim, distribuiremos sessenta e
seis mil mudas.
Canal SRL: São mais de sessenta mil
mudas fornecidas aos agricultores pelo
projeto. Como foi a produção delas?
Sebastião Vanderlinde: A ideia original do projeto era implementar aqui
em Santa Rosa de Lima um viveiro para
produzir as mudas. Em função da época
que o recurso foi liberado, não tivemos
tempo hábil para isso. Precisaríamos de
pelo menos um ano para instalar o viveiro.
Esse período comprometeria o resultado
da pesquisa porque não iria dar tempo
para fazer o ciclo completo. Avaliamos,
então, que seria mais prático buscar um
viveiro aqui na região, que já estivesse credenciado e licenciado. Em Rio Fortuna, o
viveiro Florestal Rio Verde cumpria todas
as condições exigidas no projeto. Solicitamos esta alteração à Finep. Os analistas
do projeto consideraram a modificação
adequada e a autorização foi tranquila. O
viveiro iniciou a produção das mudas em
outubro e pudemos, agora, iniciar as entregas.
Canal SRL: Quais as razões pela escolha destas espécies?
Sebastião Vanderlinde: A principal
é o valor de mercado, ou seja, quanto se
paga pelo litro do óleo essencial. São produzidos, a partir das espécies escolhidas,
óleos muito valorizados. E que o mercado
compra. Outra razão é que, a princípio,
elas apresentam maior facilidade para a
produção. Buscando em literatura, são
plantas com uma boa condição de adaptação à região. Sabemos que não há produção delas aqui na região. Alguma coisa
que tem é de fundo de quintal. Por isso,
não se tem dados mais claros. A gente só
vai saber efetivamente depois dos agricultores experimentadores testarem conosco. Depois de plantar e colher, de ver
como é o desenvolvimento das plantas, o
rendimento e a qualidade do óleo.
Canal SRL: Quantas mudas foram distribuídas?
Sebastião Vanderlinde: O total previsto no projeto era de sessenta mil mudas para sessenta unidades. Então, cada
unidade, cada experimento, receberia mil
mudas. Achamos conveniente produzir e
fornecer dez por cento a mais de mudas,
por causa de possíveis perdas. Isso porque, mais uma vez em função da época de
liberação final dos recursos pela Finep, o
plantio se dará em uma época limite. Além
Canal SRL: Quais foram as espécies
escolhidas?
Sebastião Vanderlinde: Tomilho,
orégano, sálvia, camomila, alecrim e capim
vetiver. Para este último, as mudas serão
buscadas em Itajaí. Elas já estão prontas e
só estamos acertando a logística. Os experimentos com o vetiver vão ser instalados
logo em seguida.
Canal SRL: Pode ser que alguma espécie não se adapte?
Sebastião Vanderlinde: Como disse, é um projeto de pesquisa. Pode ser,
sim, que alguma espécie se mostre não
adaptada. Eu, particularmente, acredito
muito que as chances de dar certo são
muito grandes. O alecrim, o tomilho e o
orégano, as pessoas têm nos quintais por
aí. A camomila, nossas mães e avós já tinham para chás. Todas elas mostram que
se adaptam bem por aqui. O próprio capim vetiver é usado na contenção de barrancos. E são todas plantas de cultivo fácil.
A chance de não dar certo existe. Por isso
a necessidade de fazer essa produção e
pesquisa com os agricultores, nas condições das propriedades deles e não em um
centro de pesquisa.
Canal SRL: E para as que não se adaptarem, os resultados vão ser divulgados?
O que vai se fazer?
Sebastião Vanderlinde: Se alguma
espécie não der certo, vamos informar a
todos. E procurar introduzir outras. Aliás,
já temos outras espécies que gostaríamos
de experimentar. É o caso da Palma Rosa.
Talvez seja um dos óleos mais valorizados
no mercado. Mas não conseguimos nenhum fornecedor de mudas ou de sementes no Brasil. É preciso importar. Quem
sabe ainda consigamos sementes durante
o projeto e possamos testar também. É
uma espécie de capim e, aparentemente,
de uma produção simples.
Canal SRL: E agora que as mudas já
estão na terra?
Sebastião Vanderlinde: Agora, começa o acompanhamento, com visitas
mensais aos agricultores experimentadores. Primeiro, vamos conversar bastante
Tomilho é uma das espécies experimentadas.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
com eles sobre o projeto e conhecer bem
a propriedade deles. Cada produtor também receberá uma ficha para fazer anotações do experimento. Todas as intervenções que ele fizer na lavoura, ele precisará
anotar. Seja uma simples capina, ou a colocação de composto ou esterco. Ele vai
anotar também se surgir uma doença ou
uma praga. Por essas atividades, além de
estarem na frente no conhecimento dessa
produção, os agricultores receberão um
subsídio, na forma de um apoio financeiro.
to?
Canal SRL: Qual a duração do proje-
Sebastião Vanderlinde: O tempo
dos experimentos é de dois anos. Ou seja,
os recursos, a princípio, são para dois
anos. Neste período, estima-se que o tomilho e orégano possam dar três cortes.
Alecrim, camomila e sálvia, dois cortes. O
capim vetiver é uma colheita apenas, pois
dele se usa a raiz.
Canal SRL: E quando chegar a fase de
colheita e de extração do óleo?
Sebastião Vanderlinde: Nós vamos
acompanhar permanentemente o desenvolvimento das plantas e quando elas estiverem no ponto ideal de maturação, serão
colhidas e transportadas para uma usina
de extração situada na Grande Florianópolis.
Paralelo à pesquisa, já se trabalha em
um projeto que visa captar recursos para a
construção de uma usina de extração em
Anitápolis. Já temos projetos encaminhados, procurando viabilizar esses recursos
a fundo perdido. A prefeitura de Anitápolis já colocou o terreno à disposição. Essa
unidade será gerenciada diretamente pela
CooperAgreco. Esta é uma definição estratégica. Nós queremos que essa cadeia
produtiva seja a mais inclusiva possível
e não uma iniciativa particular. A própria
cooperativa pode financiar a construção
da agroindústria e já temos financiadores interessados. Eles também veem que
os óleos essenciais têm um grande valor
comercial, principalmente produzidos a
partir de técnicas orgânicas, e podem ser
uma ótima alternativa na diversificação da
agricultura familiar.
Canal SRL: E o valor comercial desses
óleos? Como eles são comercializados?
Sebastião Vanderlinde: Para o projeto, elaboramos uma planilha com os
dados apurados sobre o valor de mercado dos óleos das espécies escolhida.
Os valores referenciados são em dólares
e cotados em vasilhames de um litro de
óleo bruto. Um litro de óleo bruto pode
valer: U$ 90,00 (R$ 216) para o de alecrim;
U$ 140,00 (R$ 476) para o de tomilho; U$
200,00 (R$ 480) para o de sálvia; U$ 250,00
(R$ 600) para o de capim vetiver; e até U$
1.000,00 (R$ 2.400) para o de camomila.
Fracionado em quantidades menores, em
frascos de mililitros, esses óleos podem
ter ainda maior valor agregado.
Canal SRL: E quais as perspectivas
desse mercado de óleos essências?
Sebastião Vanderlinde: O Brasil
não é um grande produtor desses óleos.
Na verdade, só existem iniciativas pequenas. Hoje, grande parte do que é usado no
mercado brasileiro vem de fora. O Brasil
importa óleos essenciais. Por isso, o mercado interno apresenta grande potencial.
A procura por óleos essenciais também
é grande nos mercado internacional. E aí
está mais uma oportunidade.
Canal SRL: É possível ter uma ideia da
quantidade de óleo essencial que se pode
extrair de mil plantas?
Sebastião Vanderlinde: A proporção de óleo que será extraída destes mil
pés que cada agricultor vai cultivar, só poderá ser medida no final da experiência. O
que nós temos de informação é via literatura, de pesquisas realizadas geralmente
em outros países. O João Augusto (Joca)
trabalhou planilhas para o projeto e elas
indicam algo em torno de 1% a 1,5% do
peso. Mas, aqui em Santa Catarina, nós
não temos dados mais concretos. Por isso,
pretendemos, também, visitar e conhecer
mais de perto produções e pesquisas realizadas em outros estados. Por exemplo,
na região de Curitiba, há um plantio comercial de camomila. No Rio Grande do
Sul, tem um experimento com algumas
das plantas que nós escolhemos. Para trabalharmos no projeto, nós temos que ter
o máximo de elementos possíveis. Nós
encaramos esse projeto como a construção de uma oportunidade para a região.
Não tem nada disso aqui nas Encostas,
ninguém trabalha com essa atividade. Então, em dois anos, com este projeto e com
os agricultores experimentadores, queremos gerar um conhecimento muito grande. Para maturarmos o grande potencial
da produção de óleos essenciais em uma
região de Mata Atlântica e que é reconhecida pela agricultura familiar, pela agroecologia e pelo agroturismo.
9
Canal SRL: A propósito, para finalizar,
você poderia falar sobre a coerência de
um projeto desses com o futuro do nosso
município?
Sebastião Vanderlinde: A questão
do trabalho e da renda vinculados a empreendimentos sustentáveis e com valor
agregado é o ponto chave. No projeto,
nosso foco é a produção de óleos essenciais, mas, para as espécies escolhidas,
há ainda a possibilidade de produção de
sachês para chás. Com o agroturismo,
também é possível pensar em tapetes
floridos e aromáticos. Na França, existem
ótimas iniciativas com plantas aromáticas
junto com o turismo. Outra questão que
a gente possivelmente vai fazer durante
o experimento é testar as plantas nativas
da Mata Atlântica. Vamos colher, fazendo
a extração racional. Tem várias espécies
aqui da nossa mata que, com um plano
de manejo sustentável, é possível coletar. São plantas bem valorizadas. A espinheira santa, que é valorizadíssima é um
bom exemplo. Desta maneira, as possibilidades de ganhar dinheiro respeitando
a natureza são inúmeras. Assim, nosso
projeto tem tudo a ver com a Capital da
Agroecologia!
Cada propriedade recebeu 1.100 mudas para o plantio.
10
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Meine Meinung Minha Opinião
COMUNIDADE
RIO SANTO ANTÔNIO
Mariléia Torquato | Carol Rodrigues
O calor é geral
O forte calor das últimas semanas tem prejudicado o desenvolvimento das plantações aqui em nossa
comunidade. Sofreram principalmente os cultivos de
milho, batata e as diversas variedades de verduras e
legumes produzidos a partir do sistema orgânico. As
altas temperaturas, o sol escaldante e falta de chuva
são elementos que podem prejudicar não só a qualidade, como também a quantidade da produção.
Colher a safra e não tempestades
Estamos numa época boa para quem vive da roça.
É tempo de produção, de colheitas. Mas também é
uma época de muitos riscos naturais. Está aberta a
temporada das grandes tempestades de verão. Fenômenos que podem pôr em risco toda a produção de
uma safra. Em minutos roças inteiras podem ser devastadas pelo granizo, como aconteceu recentemente
na comunidade de Rio Bravo Alto. Mas é assim, contra
a força da natureza ninguém consegue lutar. Por sorte
desta vez nossa comunidade não foi atingida.
A lida é árdua
A vida no campo tem as suas dificuldades em relação à natureza. No inverno, enfrentamos as baixas
temperaturas e as geadas e, no verão, altas temperaturas, ventos fortes, granizos e chuvas torrenciais,
que podem levar produções inteiras literalmente “por
água a baixo”, como se diz por aqui. É sim uma vida
muito dura. Sem contar a falta de valorização da agricultura familiar e, por consequência, de políticas públicas e de assistência técnica.
O agricultor é quem mata a fome de quem vive na
cidade. E, mesmo assim, sofre preconceitos. Ninguém
se coloca no lugar dele. É interessante ver quem vive
no conforto de um ar condicionado reclamando do
calor. Enquanto isso, o agricultor está aqui, dia a dia,
sob o sol, capinando suas lavouras. E ainda “cuidando” do céu, pois uma tempestade pode colocar tudo
a perder.
Dificuldades e oportunidades
Podemos dizer que quem mora aqui é guerreiro.
Nossa comunidade está se esvaziando cada vez mais
por falta de oportunidades e incentivos para os jovens
e suas famílias. Trabalhar na agricultura não é fácil,
por isso as pessoas saem em busca de oportunidades melhores e não tão sofridas. Mas por aqui existem
também boas oportunidades. O que está em alta é
a produção orgânica, uma maneira de se manter no
campo que tem atraído as famílias.
Wilson Feijão Schmidt
Com o tempo
Um fato recente nos faz lembrar
duas “Leis de Murphy”.
A primeira lei: “Nada é tão ruim
que não possa piorar”.
A segunda: “Inteligência tem limite. Burrice não”.
Senão vejamos, nestas últimas
semanas, um político antigo e mentiroso local criou mais uma afirmação contrária à verdade. Ele disse,
a um velho professor local ainda
na ativa, que o responsável por
esta impotente coluna faria parte
de uma das chapas que concorria
às eleições de uma cooperativa de
eletrificação. A fábula só comprova
a imaginação fértil e a capacidade
do político antigo e mentiroso para
fazer intrigas, já que isso nunca foi
cogitado por qualquer pessoa e
não fazia o menor sentido.
Mas o que se esperaria de um
professor com tantos anos de profissão ao receber tal “informação”
do político antigo e mentiroso? O
velho professor local ainda na ativa sabe – ou deveria saber – que
os estudantes e seus colegas têm
a esperança de ver num educador
em final de carreira um exemplo de
autonomia intelectual e a demonstração diária da importância de ter
senso crítico, de questionar informações, de mostrar capacidade de
fazer o seu próprio exame dos fatos. Desta forma, se esperaria que
o velho professor local ainda na ativa fizesse a coisa mais simples do
mundo: procurar as listas das duas
chapas, facilmente disponíveis, e
confirmar ou negar a informação
recebida da parte do político antigo e mentiroso. Mas o que ele fez?
Não apenas engoliu a mentira com
casca e tudo, como a passou à frente. Parecendo mais uma lavadeira
mexeriqueira do que um professor.
Ou seja, ficam confirmadas as
duas leis de Murphy citadas. Com o
tempo, um mentiroso pode se tornar ainda mais mentiroso. O caso
torna evidente ainda que a burrice
não tem limites. Ou não seria burrice?
Esperança
No que se refere à sorte futura
desse político antigo mentiroso local, a expectativa dessa coluna sem
poder e sem ambições de poder é
que Abraham Lincoln tenha alguma
razão. Sobre a relação entre mentira e a política, aquele presidente
dos Estados Unidos entre 1861 e
1865 afirmou: “Nenhum mentiroso
tem uma memória suficientemente
boa para ser um mentiroso de êxito”.
Postura republicana
Informações prestadas pelo
próprio poder executivo santarosalimense à “imprensa oficial” dão
conta que o Governo Dilma investirá, em 2014, neste pequeno município de dois mil e cem habitantes,
por volta de dois milhões e cem mil
reais. São mil reais por habitante.
Isso sem contar que a quase totalidade dos R$ 1,9 milhão que serão
repassados ao município pelo Governo Colombo, também virão de
programas e políticas do Governo
Dilma.
Os administradores destacaram
ao “diário oficial do município”, com
direito a foto posada demais, a participação de vereadores de todos
os partidos para solicitar a liberação das emendas para Santa Rosa
de Lima.
O estranho é que, se mantida,
em 2014, a mesma postura exibida
ostensivamente no ano passado de
pouca transparência do executivo e
da mesa do legislativo municipais,
esses mesmo vereadores “de todos
os partidos” não poderão acompanhar e fiscalizar a aplicação dos
recursos federais que ajudaram a
conseguir. Afinal os auxílios financeiros são para servir aos santarosalimenses e não à prefeitura ou
aos seus ocupantes.
Em suma, o Governo Dilma
mostra uma postura republicana
no trato da coisa pública. O municipal passará a fazer o mesmo? Ou se
manterá na vanguarda do atraso?
Palavras do Papa
Mesmo na condição de
ateu e agnóstico, creio que
cabe citar nesta coluna a primeira Exortação Apostólica
do Papa Francisco, batizada
de “O Gáudio do Evangelho”, de novembro de 2013.
No texto, Francisco diz que,
hoje, “tudo entra no jogo
da lei do mais forte, onde
o poderoso engole o mais
fraco”, deixando muita gente “sem perspectivas, num
beco sem saída”. Nas palavras do Papa, “assim como
o bem tende a difundir-se,
também o mal consentido,
que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e
a minar, silenciosamente, as
bases de qualquer sistema
político e social, por mais
sólido que pareça”.
Lembremos que “exortação” quer dizer advertência ou palavras com que se
procura reformar ou melhorar os atos, costumes ou
opiniões de alguém. E que
gáudio quer dizer alegria.
Cabe, assim, a reflexão para
quem é ou se diz religioso.
E, sobretudo, cabe muita
ação.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
11
COOPERATIVISMO
Situação se conserva
frente à Ceral
Cerca de dois mil associados compareceram às urnas para
a eleição da diretoria e do conselho fiscal da Cooperativa de
Eletrificação Rural de Anitápolis e Santa Rosa de Lima (Ceral).
Laudi e Dico asseguram o terceiro mandato frente à distribuidora de energia.
O máximo possível dentro da
legislação e dos bons costumes
A assembleia geral ordinária da
Ceral aconteceu no último dia 25 de
janeiro, no município de Anitápolis.
Depois da apreciação das contas
relativas ao exercício de 2013 e demais trâmites legais, a eleição iniciou
às onze horas. A realização do pleito eleitoral, de responsabilidade do
conselho administrativo da Ceral, foi
supervisionada pela Federação das
Cooperativas de Eletrificação Rural
de Santa Catarina (Fecoerusc). O
assessor da diretoria daquela entidade, Valdemar Venturi, explica que.
“as cooperativas se valem da Fecoerusc para garantir que a coisa seja
feita o máximo possível dentro da
legislação e dos bons costumes. E
[para que seja] bem orientada. Então, [a Federação] orienta e acompanha as eleições dos conselhos”.
Sessenta por cento de comparecimento
A grande surpresa foi o número
de associados que compareceu às
urnas. Dos 3.199 associados da Ceral, 1.920 deles compareceram às
urnas, ou seja apenas 40% de abstenção. Os 1.187 eleitores de Anitápolis e os 733 de Santa Rosa de Lima
precisaram enfrentar grandes filas
durante todo o dia. Às dezessete horas, horário previsto para o término
da eleição, foram distribuídas cerca
de 150 senhas para os que ainda
aguardavam para votar. Nos bastidores, pouco depois do fechamento
das urnas Valdemar Venturi avaliou
que mais de setenta por cento dos
associados de Santa Rosa de Lima
haviam votado e que “isso não é comum nas cooperativas”.
Atraso
O atraso de pouco mais de uma
hora na votação, também foi explicado pelos pleitos de três associados,
que exigiam uma análise jurídica do
direito deles ao voto, já que consideravam suas situações regulares
e não encontraram seus nomes nas
listas de votação.
Valdemar Venturi afirmou que
houve, de fato, muitas falhas administrativas no pleito. Segundo ele,
foram mais de cinquenta pedidos
de análise ao apoio jurídico. “São
COMUNIDADE
NOVA FÁTIMA
problemas administrativos que não
podem acontecer”.
Resultados
Com 1078 votos, ou 56%, foi vencedora a chapa 1, Laudi e Nivaldo. A
chapa 2, Saulo e Joacy, somou 798
votos, ou 41,5%. Foram 13 votos
nulos e 31 cooperados votaram em
branco.
Depoimentos
Assim que soube do resultado
das urnas Laudi Coelho falou ao
Canal SRL: “Estou contente, muito
contente. Eu mais ou menos imaginava que eu ganhava. Não por ser
candidato melhor, mais sou o mais
conhecido do povo, tanto de Santa
Rosa de Lima que nem daqui. É isso
aí”. Nivaldo Vandresen também falou ao jornal de Santa Rosa de lima:
“Primeiramente, eu quero agradecer
a cada associado da Ceral, especialmente do nosso município, que
compareceu e soube fazer uma eleição tranquila. A minha satisfação e
alegria é do comparecimento destas pessoas, que escolheram livre
e democraticamente. A nossa responsabilidade aumenta ainda mais.
A gente está indo para um terceiro
mandato. De coração, quero dizer
que a família Ceral vai estar aberta
para todo associado”.
Naquele momento, não foi possível ouvir os candidatos da chapa
2. Nos dias seguintes, nossa reportagem tentou contato com Saulo
Weiss, mas os telefonemas não foram atendidos. Joacy Eller, também
por telefone, declarou que para ele
foi muito importante participar das
eleições, “primeiro porque a chapa
2 veio como uma oportunidade para
que os associados pudessem escolher, para que pudessem manifestar
sua vontade de mudança. Segundo,
porque ser candidato foi uma grande experiência”. Sobre o resultado,
o candidato a vice ponderou: “Continuo acreditando que uma mudança
no modo de gestão da cooperativa
é necessária, mas a maioria optou
pela chapa 1. Eu espero e desejo
que esta diretoria faça um bom trabalho pelos associados da Ceral, que
continua sendo nossa”.
Alexandre Oenning Bittencourt | Valesca Weber
Antigos seminaristas, amigos eternos
Nos dias 11 e 12 de janeiro, o Cantinho da Família, aqui em nossa comunidade, foi palco de mais um
encontro de um grupo de ex-seminaristas do Seminário Nossa Senhora de Fátima, de Tubarão. Esse evento anual foi realizado mais uma vez em Santa Rosa de
Lima. De nosso município, os “quase padres” são Celso
Heidemann e Ivo Schmidt, que estudaram no Seminário de 1985 a 1987. Coube a eles organizar a festa deste ano.
O Ponto...
A escolha da Pousada Cantinho da Família foi considerada apropriada e, mais do que isso, muito bem
avaliada por todos os participantes. Segundo eles, além
do excelente atendimento por parte dos proprietários,
a estrutura favorece a integração e a boa convivência
de todos. Registram o sucesso da “tirolesa”: Foi uma
novidade em relação aos encontros anteriores e foi
elogiadíssima por todos. Principalmente pelos mais corajosos.
... do Encontro
O primeiro encontro foi em 2001, na Praia do Mar
Grosso, em Laguna. Depois dele, a cada ano, um ou
dois destes quadros que a igreja perdeu como padres
são os responsáveis por organizar a reunião. Já foram
realizados encontros em Laguna, Palhoça, Santa Rosa
de Lima, Urussanga, São Martinho, Tubarão e São Bonifácio. Depois de tantos anos, a data passou a ser
esperada com muita expectativa. O segundo final de
semana de janeiro já está consagrado e devidamente
registrado e bloqueado na agenda dos participantes.
Convivência, velhas histórias e novas risadas
Para Mauri Luiz Heerdt, os encontros iniciaram sem
muitas pretensões, mas se tornaram um evento “sagrado”: “Solidificou-se porque todos nós valorizamos
as coisas simples e a boa convivência”. Ele destaca que
os encontros são marcados por muita alegria, saudosismo, confraternização, brincadeiras, futebol, música
e convivência. E arremata: “Evidentemente, as histórias
do tempo do seminário são sempre a atração principal.
Todo ano elas se repetem, mas sempre arrancam as
maiores risadas”.
Confraria expandida
Com o tempo, os familiares dos ex-seminaristas
também começaram a participar. Mauri conta que os
encontros se transformaram em uma verdadeira integração de famílias. “É interessante que a cada ano
alguém que nunca participou de um encontro se integra ao grupo. E ele se transforma no protagonista da
reunião, porque todos querem saber sobre a trajetória
de vida dele. Neste ano, conquistamos mais um antigo
colega, Vilmar do Nascimento, que agora é um novo e
bem-vindo membro desta confraria”.
Marcado
Em 2015 – nem seria preciso dizer, no segundo final
de semana de janeiro, o encontro será em Araranguá,
com a organização de Adair Jordão.
Turma de ex-seminaristas.
12
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE
O “home du pacaxi”
Se ao abacaxi, por sua coroa, deu-se o apelido de “rei das frutas”, o cultivo dessa planta em Santa Rosa de Lima tem o seu soberano: Elias Herdt. Afinal, são mais de quarenta anos de cultivo
pioneiro e, segundo ele, praticamente todas as mudas plantadas
no município vieram daquela mesma propriedade onde ele vive
até hoje. E quase todo mundo por aqui já comprou pelo menos
um abacaxi dele. Como consequência, como diz Seu Elias: “Na
Santa Rosa, em Santa Maria, São Bonifácio, Rio Fortuna, pela Vargem do Cedro, e até em Braço do Norte, eu sou conhecido pelo
home du pacaxi”.
Seu Elias na fazenda de abacaxi. Note-se o cuidado com as “barbas de velho” coGeograficamente, a propriedade do Seu Elias fica fora de Santa locadas sobre os frutos para evitar que o sol os queime.
Rosa de Lima. Mas, numa espécie de área de fronteira, entre o Rio
Bravo e o Rio Claro, entre Santa Rosa de Lima e Rio Fortuna. E, como ficará evidente a seguir, a vida desse agricultor “diferente”
está muito mais relacionada ao nosso município.
De qualquer forma, da casa do Seu Elias se tem uma visão maravilhosa do “paredão da serra”. Como essa é a referência de
todos aqui na região e como ele produz em sistema orgânico, talvez seja melhor simplificar e considerá-lo o “homem do abacaxi
das Encostas da Serra Geral”.
“Eu sou uma pessoa
diferente, que nem
qualquer um”
Elias Herdt, nasceu em 1942. Os pais
trabalhavam na roça, numa baixada no Rio
Bravo. A família mudou em 1953 para a
propriedade onde Seu Elias vive até hoje.
Ali, trabalhavam na roça, roçavam capoeira, faziam plantação, criavam porcos,
plantavam um hectare de batata e três
hectares de milho. Tudo com enxada e
foice. “Não tinha trator, era só pegar um
cavalo no pasto e preparar o trato. Cada
ano, no mês de maio botava uns 25 porcos no chiqueiro. Era serviço de colono!”
Na juventude, gostava muito de jogar
futebol. “Eu joguei muita bola, meu Deus!
Jogava torneios pelo time do Rio Bravo em
toda a região. Nós tínhamos um time bom
e eu jogava de ponta”. Também tocava gaita e percorria a região atrás de festas e de
moças.
Numa dessas festas, em São Bonifácio,
conheceu Melita Schmoeler. “Ela morava
do Rio Canudo pra cima, no Rio Pau, encima do Campo”. E lá ia ele até lá, de bicicleta, para namorar. “Foi indo, foi indo” e
casou-se em 1969. Teve quatro filhos; três
rapazes e uma moça. Hoje, sente muita
saudade da companheira, sempre “muito
doente”, mas que era “cem por cento” ou
“chique nos úrtimo” e que o fez muito feliz.
Depois de um derrame, Dona Melita viveu
ainda dez anos e “se virava com tudo na
casa”. A partir dessa perda, Seu Elias ficou
“toda vida sozinho”. Atualmente, ele e o filho mais novo vivem na propriedade. Dos
demais, um mora no Rio Areia, outro, em
Braço do Norte e a filha, no Rio do Sul.
Cortador novo
Foi na escola até a quarta série. Quando parou de estudar, com doze anos, o
primeiro trabalho, “fora o de ser filho de
colono”, foi cortar cabelos.
“Cortava cabelos da Santa Rosa até o
Rio Bravo Baixo. Dia de semana, quando
saia de bicicleta, eu levava os aparelhos de
cortar cabelo. Parava nas casas para cortar e o pessoal pagava. E vinham aqui em
casa também. Fim de semana, sábado...
ô!” E corta até hoje. São sessenta anos
cortando cabelo. “Hoje, acho que eu posso cortar cabelo até de olho fechado”.
Perguntado sobre como aprendeu
o ofício ele diz aos risos: “Eu mesmo fui
aprendendo. Cortando. Eu ia lá em Rio
Fortuna, onde tinha uns cortadores mais
artistas, e ficava de olho neles cortando.
Caprichava! O Fata [avô] cortava um pouco. O irmão do Fata, Rudolf Herdt, tinha
uma loja no Rio Bravo e já era cortador
velho. O Augusto Eller era cortador. Quando eu entrei cortando o Augusto Eller me
deu duas máquinas de presente. O Rudolf
Herdt me deu todos os aparelhos de cortar cabelo que ele tinha. Me deu tudo de
presente. Mas aprendi por mim mesmo.
O primeiro no Rio Bravo que começou a
cortar com navalha fui eu”.
Solteiro
“Depois foi indo. Eu ainda era solteiro
e morava com os pais. Comprei uma gaita,
comprei um violão. Fui lá no Vaqueirinho
e fiquei uma semana aprendendo gaita,
aprendendo a tocar gaita, pra passar tempo. E cortando cabelo. Depois, comecei
fazer roça à terça. Aí foi indo: cortando cabelo, tocando gaita e fazendo roça à terça.
Eu ainda tinha uns vinte carneiros no terreno do Fata. Eu comecei a matar carneiro
a cada semana, nas quartas-feiras. Eu matava, tirava a buchada e fazia os quartos.
Na quinta-feira o ‘rápido de Florianópolis’
passava em Santa Maria. Naquele tempo
a gente chamava de rápido um caminhão
fechado. Eu enchia o cargueiro, colocava
o cavalo no cabresto e levava cedo. Nove,
nove e meia, o ‘rápido’ passava lá em Santa Maria e levava a carne toda. O ‘rápido’
me comprava os carneiros. E assim foi
indo todos os projetos pra frente. Mas eu
estava mexendo com muita coisa”.
Casado...
“Com 27 anos [em 1969], eu casei. Primeiro, morei um ano na fita (serraria) do
Germano. Eu trabalhava com eles e eu e
a esposa morávamos lá. Depois, eu vim
morar aqui no terreno que era do pai.
Aí, fui queimando carvão, fazendo roça...
Mas sabia que tinha que trabalhar coisas
diferentes. E eu já era, desde pequeno, da
fruta. Eu plantei muitos pés daquele pera
dura de antigamente. Eu já tinha 150 pés,
o que ninguém daqui tinha essa ideia diferente de trabalhar com frutas”.
O começo com o abacaxi
“Há cinquenta e cinco anos, tinha cinco pés de abacaxi, pelo lado da estrada,
ali. Eu nem conhecia o que era abacaxi. O
meu irmão plantou dessas mudas. Era daquela qualidade branca. No primeiro ano
em que eu vim morar aqui (1970), eu peguei uma junta de bois e fui lá no Alto Rio
Fortuna e peguei uma carrada de mudas.
Eram uns “alemão” que moravam lá. Eu
cortei o cabelo deles lá no Rio Claro e nós
estávamos falando de abacaxi. Aí, eles me
falaram que tinham abacaxi. Eu não sabia
que eram diferentes dos que tinha lá em
casa. O deles era amarelo e diferentes dos
que nós tínhamos. Eu sabia onde o alemão morava, no Alto Rio Fortuna, e fui lá
buscar mudas. Fui com carro de boi. Levei
três horas de ida e três horas de volta. Peguei duzentas e cinquenta mudas de abacaxi. Eram mudas grandes, porque o homem estava se incomodando. O pessoal
de Rio Fortuna que ia caçar para aqueles
lados comia todos os abacaxis dele. Ele resolveu dar tudo pra mim. Eu trouxe pra cá
e plantei. E dali, fui plantando, caprichando e plantando, caprichando e plantando.
E ia vendendo”.
“O abacaxi era a maior força que eu
tinha. Criei os filhos com [a renda do]
abacaxi”
“Eu cheguei a ter sete hectares só de
abacaxi. Tinha uns cem mil pés de abacaxi.
Teve dia de eu vender mil cabeças de abacaxi. Isso faz trinta anos. Eu estou plantando abacaxi há uns quarenta e quatro
anos. Foi a minha maior força. Eu comprei
terra, fiz a casa, comprei dois ‘fuques’, despesas de casa, tudo, a maior parte, veio
Iasmin, neta de seu Elias, apoiando a reportagem.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
segue
do abacaxi. Se naquele tempo eu conseguisse o preço que consigo agora no
orgânico, eu tinha comprado até helicóptero (risos). Naquele tempo, com a venda
de uma caixa de vinte quilos de abacaxi,
eu comprava só um quilo de chimarrão.
Hoje, com uma caixa de abacaxi, da média para baixo [tamanho] dá trinta reais.
Naquele tempo no sábado de manhã,
pegava três carradas de carro de boi até
em cima e vendia tudo aqui em casa. Se
fosse com o preço de hoje, eu teria feito muito dinheiro, eu teria feito besteira. Verdade! Tu imaginas... Cada ano, eu
tinha mais ou menos uns quatrocentos
compradores, controlado... De tudo que
era lado. Tu não imaginas o que aparecia
de gente aqui. Não era só da Santa Rosa,
era São Bonifácio, Vargem do Cedro, Braço do Norte, por tudo... Aqui já chegou
padre, já chegou freira... O Padre Afonso
gostava de vir aqui, atrás de abacaxi e de
conversa”.
As mudas
“Daqui já saiu muda de abacaxi pra
todo lado. Pro Paraná, pro Rio Grande
do Sul, por tudo. Ao longo desse tempo
todo, eu já vendi por volta de cento e vinte mil mudas de abacaxi. Por aqui, foi pra
Fátima, pra Santa Rosa, pras Águas Mornas... Todo o abacaxi que tem em Santa
Rosa de Lima veio tudo daqui. As pessoas vinham aqui, compravam mudas e
levavam para plantar nas propriedades
deles. Todo mundo achava que era ‘facinho’. Mas não é fácil cuidar de uma chácara de abacaxi. Ah, e quantas mudas
ainda saíram pra fora...”
Agreco no início
“Faz uns dezessete anos, quando começou a Agreco, o Wilson Schmidt e o
pai dele já falecido, o Tino, quantas vezes
eles vieram aqui de Gol pegar abacaxi?
Era sete oito caixas de abacaxi bonito,
cada semana. Eu entreguei bastante
para eles. Mas aí não deu mais. O que
eu ia fazer? Fui obrigado a parar de entregar para a eles. Naquele tempo era
bom. Mas eu só fiquei uns dois anos. E
aí o povo entrou tudo de novo. E sabe
como é trabalhar com o povo. É barato,
é diferente. Fui vendendo pro povo de
novo, pra tudo que é lado, espalhado e
espalhado”.
Se não fosse a Sibele...
“Há uns oito anos, nós tínhamos botado uma fitinha (serraria) e serrávamos
toletes. Eu e o meu rapaz serramos três
anos e não estava dando certo. E o povo
dizia: tu volta de novo com fruta. Mas eu
não gostava mais de vender pro povo. Aí,
chegou a Sibele. Ela perguntou: ‘Por que
o senhor não volta [a produzir], mas sem
veneno?’
Por uma parte, sem veneno o preço
era melhor. Por outra parte, eu não ia
precisar mais mexer com o povo, porque
a Agreco pegava a produção toda. Você
sabe né, quando a gente vende pro povo,
tem que atender bem e não tempo nem
de comer. E eu ficava sem comida, não
conseguia ir pra roça e não podia sair da
propriedade. Eu andava louco!
E a Sibele era uma pessoa que ajudava a explicar e atendia bem. Ela era muito caprichosa, passava a roça todinha. E
me apoiava pelo que ela enxergava. Ela
via que eu caprichava, que não usava veneno. Aí eu disse: vou recomeçar. Eu só
13
Iasmin
O ambiente é de trabalho, mas também de alegria.
“Abacaxi e veneno
não dá! Se quer plantar
abacaxi, não mexa
com veneno. Com
round up, essas coisas,
tu não podes mexer.
Não vai funcionar!
Tu tens que capinar
caprichadinho.”
digo a verdade: se não fosse a Sibele, eu
nem tinha voltado a plantar frutas.
Ai, eu fui juntando as mudas, das minhas mesmo, e plantando tudo o que
tinha ali. Aí, fui caprichando. E a Sibele
cada semana passava aqui, explicando
as coisas. Ela controlava todos os remédios – não é veneno! – pro pêssego não
bichar, pra folha não ficar preta... Aí eu
disse pra ela: tudo bem, se vocês acham
que têm condições de pegar tudo... E a
Sibele respondeu: “Isso vai dar certo. Nós
não vamos te deixar na mão”. Aí eu fui
pensando... Se isso é verdade mesmo, eu
vou tentar”.
Ressaca
“Quando eu vendia frutas, com esse
tanto de gente, eu andava louco, de vez
em quando. Não tinha como atender.
Depois que a Sibele entrou, eu trabalhei
um ano sem botar um pingo de adubo,
veneno nada, cercar e fazer barreira para
tirar chance. Ela disse que pra entrar pro
lado dos orgânicos tinha que matar um
ano [sem poder vender como orgânico].
Depois que entrou a venda pra Agreco e
acalmou o povo, de vez em quando eu
andava até meio esquisito. Antes, me-
A velha placa – “Não se vende frutas” –
hoje é decoração.
xendo direto com o povo e, então, eu tinha botado uma placa lá na estrada: ‘Não
se vende uma fruta!’ A maior parte das
pessoas de fora passava direto. Aí era só
eu e o rapaz aqui e tinha dias que eu andava meio esquisito”.
Quando a reportagem
agendou a entrevista, Seu
Elias fez questão da presença da netinha, Iasmin Herdt
Petry, que vai fazer dez anos,
mora no Rio do Sul e está
indo para a quarta série em
Anitápolis. Ela diz que é difícil
falar do vô, mas meio encabulada, conta ao gravador:
“O vô é trabalhador e sempre
quer fazer as coisas bonitas.
Eu gosto de vir aqui na casa
dele e conversar com ele,
sobre um monte de coisas”.
Tudo certinho
“E agora a Agreco pega aqui e eu sei
o dia que tem que arrumar, a hora que
eles pegam... Aí eu posso sair e posso
trabalhar. É feita uma ficha, a gente entrega e recebe tudo certinho. E eles são
muito contentes comigo. Eu trabalho
tudo certo e eles também.
Agora tá bom de novo. Eu não posso
me queixar. Se for para eu sair da Agreco, aí eu fecho, eu vou parar. Pode falar
do que tu quiseres porque hoje eu entrego abacaxi, pêssego, cebola, pimentão, batatinha, limão, chuchu, laranjas,
abóbora, morango... Tem muita coisa
que eu estou entregando. Eu faço de
tudo... Teria que ir lá fora olhar. Eu não
precisava trabalhar tanto. Mas gosto de
trabalhar, eu tenho esses projetos tudo
e agora tá vendendo tudo”.
Estratégia
“Se eu ficar com saúde, a propriedade
vai estar ainda mais bonita. No abacaxi,
eu vou cuidar bem só de dez mil pés de
abacaxi. Aí eu posso caprichar mais e só
fazer fruta bonita. Tudo pra Agreco. Aí,
eu posso ficar de cabeça fria. Não adianta fazer loucuras, querer abraçar o mundo e, no fim, não dar conta. Eu acho que
é uma boa ideia e é o que eu vou fazer”.
A semana
“Eu trabalho a semana inteira, até nos
sábados. Todo dia, às seis horas, eu já estou indo com a enxada pra roça. A enxada em primeiro lugar. Isso eu não posso
perdoar. Porque é tudo capinado, né?
Essa terra de manhã dá pra trabalhar.
Até umas onze horas. Mas, à tarde a coisa muda. O sol pega mesmo. Fica quente
demais. Dá pra voltar pra roça às três e
meia. Aí, dia de semana, eu tenho que ir
muito pra Santa Rosa. Tem compromissos, tem que ir no banco, tem que ir na
Agreco... Domingo de manhã cedo, até
às oito e meia eu estou na roça, capinando. Nove e meia tem o terço ou a missa.
Eu pego a Biz e vou lá rezar. Tem muita
gente que diz que dia de domingo não
pode trabalhar. Mas não vão pro terço...
Eu trabalho, mas quando chega a hora
do terço ou da missa, vamos adorar... Eu
respeito!”
Iasmin exibe a produção do vô.
Sobre o local da entrevista ela
comenta: “Aqui era a casa que a minha
mãe tinha quando eu nasci. Quando ela
se mudou, o vô começou com o trabalho dele aqui e resolveu pintar e enfeitar
tudo. Eu ajudei em algumas coisas. E ficou legal”.
Perguntada se poderíamos dizer que o vô era o homem do abacaxi, ela pondera: “No jornal, todo
mundo vai ter que reconhecer e se
colocar Elias, a metade não vai conhecer. Então, é melhor botar ‘o homem do
abacaxi’. Ou o ‘homem do bacaxi’, sem o
‘a’ na frente mesmo”.
[Iasmin, nós preferimos “pacaxi”,
com “p”, para respeitar o sotaque alemão do teu vô].
E faz questão de registrar: “Também gosto muito do tio Delanio. A gente
brinca nas conversas e nós nos damos
muito bem”. Enquanto Iasmin falava,
Delanio chega com um carrinho de
mão onde estão três belas melancias
colhidas pouco antes para a sobrinha.
Sorrindo com os olhos azuis, bastante
expressivos, comenta: “ela é muito esperta”.
segue
14
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
segue
PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE
Contando “Causos”
Um fuque de abacaxi na Gabiroba
Naquele tempo que eu tinha
bastante abacaxi, o pessoal de Gabiroba vinha aqui comprar. E um
deles disse: ‘Mas um sábado de
tarde tu enche o fuque de abacaxi
e vá lá na Gabiroba que não sobra
nada’. Passou um sábado, passou
outro e não dava tempo. Aí, um
domingo de manhã, eu disse pro
meu rapaz: nós vamos encher o
fuque de abacaxi e nós vamos lá
na Gabiroba vender, todo mundo
tá gritando. Chegamos lá bem na
hora do terço. A pessoa me disse
pra encostar e esperar até acabar.
Quando acabou, parecia um ninho
de abelhas em cima de nós. O rapaz ficou envaretado e eu não ti-
nha mais como controlar tudo. Foi
todo o abacaxi embora! Todo mundo pegava e eu dizia para eles mesmos fazerem a conta e me pagar.
Eu estava tonto, não tinha como
fazer nada. Foi tudo num jato. Eu fiquei bobo. Se eu ganhei tudo pago,
eu nem sei. Depois, eu disse pra
rapaz: Tchau! Numa dessa eu não
me pego mais. Isso é uma coisa de
louco!
A dança na igreja
No nosso tempo de jovem, a
gente se divertia. Nós íamos a muita festa e jogávamos muita bola.
Hoje, os jovens só querem se encher de cachaça e de cerveja. Para
nós, o dinheiro era pouco, nós éramos pobres em casa. Nós só íamos
para brincar com as moças e se divertir. Aí era um domingo de tarde
e tinha tanta moça bonita, que nós
tínhamos que dançar. Arrumamos
um gaiteiro que eu não lembro
quem era, mas lembro que não
era muito bom, e precisávamos de
um local. Só tinha a igreja velha. A
igreja nova de Santa Rosa já estava
pronta, mas aquela velhinha ainda
estava de pé, perto da casa do Helmut Eller, ao lado de um pinheiro.
Ali mesmo, o gaiteiro tocou e nós
fizemos a maior festa. Até chegarem uns velhos gritando: “Oh, pra
rua bicharada! Isso não é da lei”.
Acabaram com a nossa festa! Mas
até hoje eu acho que era uma igreja passada e podíamos dançar até
tango... E os santos nem falaram
nada... Ficaram ali quietinhos... É
verdade!”
Depoimento
A virada
Isso até que teve início a primeira colheita das frutas com manejo
orgânico. Primeiro, ele conseguiu
vender tudo o que produziu, independente do fruto ser grande ou pequeno. Foi uma alegria. E ele ainda
descobriu o valor de outras produções que tinha na propriedade. Conseguiu vender tudo o que produzia.
Por exemplo, limão e laranjas de um
pomar que ele já havia desistido de
cuidar. Vendeu também chuchu. Segundo, porque quando foi completada a conversão para a produção
orgânica, ele viu que a qualidade
era tão boa, ou até melhor, do que
antes. Isso fortaleceu muito a nossa
parceria.
“Diferente”
Abraçar a agricultura orgânica
fez com que Seu Elias melhorasse
o aspecto da propriedade. E ao ver
as mudanças, ele ficou estimulado
a, como ele diz, “caprichar” ainda
mais. De um jeito “diferente”, também como ele mesmo diz, que só
ele tem.
Eu percebia, a cada visita técnica, uma melhora na autoestima do
Seu Elias. E, cada vez que chegava
lá, notava novas flores plantadas,
a casinha cada vez mais enfeitada,
as pedras decoradas e um sorrisão
Rodinei Beckauser
Peço licença
Caros amigos e leitores do Canal SRL, a
partir desta edição esta coluna tem um novo
correspondente. Assumo a responsabilidade
de propagar a querida Santa Bárbara a todos
os recantos em que o nosso jornal chega.
Quero manifestar meu agradecimento aos
amigos Igor Bonetti, que até janeiro deste
ano, representou muito bem nossa comunidade neste espaço, e a Edinei Boeger que
também já foi um de nossos correspondentes
nos primeiros meses após o lançamento do
jornal. Obrigado por levarem as notícias daqui
a todos os leitores do Canal SRL. Espero poder contar com a ajuda e experiência de vocês
nessa minha mais nova empreitada.
Uma honra
Fiquei muito feliz quando recebi o convite para escrever neste espaço. Agradeço aos
diretores Mariza Vandresen e Sebastião Vanderlinde por acreditar em mim, confiandome o papel de “porta-voz” de Santa Bárbara.
Pretendo me esforçar ao máximo para ser
autêntico com meus vizinhos e com os meus
leitores.
Essa coluna será feita pela comunidade
Pretendo trazer notícias, histórias, entrevistas, imagens... Tudo o que for possível para
bem informar nossos leitores. Para isso, pretendo e preciso contar com o apoio de todos.
São muito bem vindas sugestões, opiniões,
criticas e informações. Lembrem-se, o nosso
jornal é comunitário e deve ser feito pelas
comunidades. Peço gentilmente que me procurem para isso. Assim faremos o melhor por
Santa Bárbara e para todos os que apreciam
este jornal e o município.
Sibele Maia Lunardi
Engenheira agrônoma, trabalhou junto à
Agreco e CooperAgreco do início de 2009
ao final de 2012. Atualmente, atua em Gravatal, junto à família, na produção de alimentos orgânicos. O trabalho de assessoria técnica na propriedade do Seu Elias
começou na primavera de 2009.
O início
No trabalho com a Agreco, por
indicação do Gauchinho (Márcio
Fontoura da Rosa), cheguei até o
Seu Elias. Na época, ele produzia
pêssegos e abacaxis sob um manejo
convencional.
Seu Elias sempre foi um produtor
muito dedicado, que seguia corretamente as recomendações de manejo que eu passava para ele. Mas,
vivia incomodado com opiniões de
outras pessoas que chegavam até
ele e diziam: “Isso não vai dar certo!”; “Sem veneno, vais perder todo
o pêssego”; “Eles só vão te enrolar”.
Então, a cada semana, ele chegava
desconfiado no escritório da Agreco.
E eu precisava reforçar o que já havíamos conversado antes.
COMUNIDADE
SANTA BÁRBARA
ainda maior no rosto. Ele adorava receber visitas, dos técnicos, de
pesquisadores e, até, dos inspetores da certificadora, o que muitos
produtores ainda temem. Em pouco
tempo o Seu Elias começou a produzir, também, cebola e batatinha. E
seguiu ampliando a produção. Hoje,
ele cultiva também amoras. A produção dele é quase toda destinada à
fabricação de geleias da Agroindústria das Águas.
Dedicação, sucesso e gratificação
Para finalizar, a partir do meu
trabalho e da convivência com o Seu
Elias, posso afirmar que ele é um
produtor que tem amor pelo que
faz. E afirmar que foi a dedicação do
Seu Elias, a cada dia, a cada detalhe,
que fez dar certo o “projeto” (como
ele adora dizer).
Sucessos como esse são a maior
gratificação que um técnico pode
receber.
Despedida com festa
No dia 18 de janeiro, Padre Marcelo Buss
celebrou o que foi provavelmente sua última
missa aqui em nossa igreja. Ele se despede de
nós para ser o novo reitor do Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Tubarão. A missa
foi muito bonita. Após a celebração, o “nono”
Remi Bonetti, em nome de todas as famílias
da comunidade, entregou um presentinho ao
sacerdote. Segundo o “nono”, um pequeno
gesto de agradecimento pelos esforços realizados aqui pelo Padre Marcelo.
Ao contrário de muitas despedidas, esta
aconteceu em um clima de festa. Toda a comunidade se reuniu para celebrar. Padre
Marcelo veio acompanhado do pai, Pedro,
do irmão, Marino, e de alguns amigos dele
de Braço do Norte. Foi servido um delicioso
almoço a todos os visitantes e membros de
nossa igreja.
Não cansaremos de agradecer
Mais uma vez, obrigado Padre Marcelo.
E que Deus o guie e ilumine nessa sua nova
missão. Em Tubarão, não se esqueça desta
comunidade ao pé do paredão da Serra Geral. Ela estará sempre de portas abertas para
o senhor e para os seus.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
ANO 1 - Nº 8 • Edição Mensal - Fevereiro/2014 • Jornal da Criança de Santa Rosa de Lima
A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
•
Distribuição gratuita. Venda Proibida.
QUERIDA LEITORA, QUERIDO LEITOR,
JÁ ESTAVA COM SAUDADES, NÃO É?
AFINAL, DUAS EDIÇÕES SEM O CRIANÇA SRL...
EM DEZEMBRO, FOI O ESPECIAL DE NATAL.
EM JANEIRO, NOSSA PRINCIPAL COLABORADORA, A FLORA BAZZO, TROUXE AO MUNDO UM FUTURO
COLEGA DE LEITURA PARA VOCÊ. NASCEU O RODRIGO. E, É CLARO, A MÃEZINHA FEZ QUESTÃO DE SE
DEDICAR TOTALMENTE À CRIANÇA DELA. E, ASSIM, O NOSSO CRIANÇA SRL NÃO PODE SAIR.
PUBLICAÇÃO, AUTORIZAÇÕES
E AGRADECIMENTOS
15
NOVIDADE ER,
AI V
COMO VOCÊ V
MOS
NESTE MÊS TE
E NO
UMA NOVIDAD
SE
FORMATO DES
SUPLEMENTO
INFANTIL.
EZA DE
E TEMOS CERT
GOSTAR.
QUE VOCÊ VAI
CAPITÃO ANA MACCARI, QUE ADOROU A IDEIA DE VER AS CARTILHAS DA “AMBIENTAL” NO CRIANÇA SRL
COM A ACOLHIDA CALOROSA E O APOIO DA CAPITÃO PM ANA LUIZA MACCARI, O CANAL SRL
CONSEGUIU A AUTORIZAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL DE SANTA CATARINA PARA PUBLICAR AS
CARTILHAS DA SÉRIE “NOSSO AMBIENTE”.
AGRADECEMOS, TAMBÉM, AO AUTOR DO TEXTO E DOS DESENHOS, ALEXANDRE BECK, QUE, GENTIL E
GRATUITAMENTE, CEDEU OS DIREITOS DE PUBLICAÇÃO.
VEJA COMO ELE É MUITO LEGAL.
O CRIADOR DO ARMANDINHO
ALEXANDRE BECK, TEM POUCO MAIS DE 40 ANOS E NASCEU EM FLORIANÓPOLIS.
DEPOIS DE CONCLUIR O ENSINO MÉDIO, FEZ TRÊS FACULDADES: AGRONOMIA, PORQUE
GOSTAVA MUITO DE MEIO AMBIENTE E BICHOS; PUBLICIDADE, PORQUE GOSTAVA MUITO
DE DESENHAR; E JORNALISMO, PORQUE GOSTAVA DE ESCREVER E DE SE COMUNICAR.
QUASE POR ACASO, TRABALHANDO COMO ILUSTRADOR, ALEXANDRE VIROU UM
CRIADOR DE “TIRINHAS”, QUE SÃO AQUELES DESENHOS EM QUADRINHOS PUBLICADOS
EM JORNAIS.
AS MAIS FAMOSAS DELE SÃO AS DO MENINO ARMANDINHO, QUE CONVERSA MUITO E
TEM UM SAPO DE ESTIMAÇÃO.
ALÉM DE PUBLICADAS NO DIÁRIO CATARINENSE, ELAS SÃO DIVULGADAS NO FACEBOOK.
SE VOCÊ QUISER DAR UMA ESPIADA, DIGITE WWW.FACEBOOK.COM/TIRASARMANDINHO.
ESSA “FANPAGE” TEM MAIS DE 200 MIL CURTIDORES.
PARA PENSAR
ALEXANDRE DISSE PARA O CRIANÇA SRL
QUE A PRINCIPAL INTENÇÃO DELE NÃO
É FAZER RIR, MAS FAZER AS PESSOAS
PENSAREM SOBRE A PRESERVAÇÃO DA
NATUREZA E SOBRE OS PRECONCEITOS E
DISCRIMINAÇÕES QUE EXISTEM ENTRE AS
PESSOAS. POR ISSO, OS PERSONAGENS
DELE MOSTRAM QUE NÓS TODOS
PODEMOS MELHORAR E QUE EXISTEM
OUTROS CAMINHOS.
PARECE QUE O QUE O ALEXANDRE BECK
PROCURA NOS MOSTRAR, COM SEUS
TEXTOS E DESENHOS, É QUE VOCÊ,
CRIANÇA, PODE SER “A LUZ NO FIM DO
TÚNEL”.
ALEXANDRE BECK COM SEUS FILHOS AUGUSTO –
O GUTO NAS TIRINHAS – E FERNANDA – A FÊ NAS
TIRINHAS
COMEÇAMOS PELO PUMA
PARA COMEÇAR A SÉRIE “NOSSO AMBIENTE”, ESCOLHEMOS A CARTILHA
NÚMERO 9. ELA TRATA DO PUMA. VOCÂ JÁ DEVE TER ESCUTADO
SEUS AVÓS, PAIS OU TIOS CONTANDO ALGUMA HISTÓRIA SOBRE
PUMA, LEÃO-BAIO OU ONÇA. NÃO? ENTÃO PERGUNTE A ELES.
PRINCIPALMENTE PARA OS QUE MORAM MAIS PERTO DO PAREDÃO
DA SERRA.
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Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
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Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
SRL: Eu conheço e Valorizo!
COMUNIDADE
NOVA ESPERANÇA
Álvaro Dalmagro – Jornalista
Na memória e na vida
Santa Rosa de Lima
entrou na minha vida de
tal forma que, mesmo
que eu decidisse me mudar definitivamente para
o outro lado do mundo,
jamais apagaria de minha
memória uma série de fatos que me atraíram para
o município e que não
me deixam esquecê-lo. É
uma questão de atração
mesmo.
Como repórter
Cheguei a Santa Catarina em
setembro de 1997 para trabalhar
como repórter da RBS TV Criciúma,
na sucursal da empresa em Tubarão. Pela influência do curso técnico em agropecuária que fiz, e por
ser filho de agricultores, questões
ligadas ao meio rural sempre me
atraíram. Essa predileção pela roça
me levou a ir ao interior mais vezes
do que meu chefe gostaria. Quan-
do digo “interior”, me refiro aos municípios fora do eixo Tubarão-Laguna-Imbituba, que são os três mais
populosos da região.
E foi como repórter que conheci Santa Rosa de Lima. As matérias
eram sobre tratamento fitoterápico
em animais e sobre diferentes aspectos da produção de alimentos
orgânicos. Elas envolviam entidades como Epagri, Agreco, prefeitura, Cidasc, Ufsc, além de um bocado
de técnicos, professores, agricultores e agricultoras. Foram muitas
idas ao município e confesso que,
enquanto não havia o asfalto depois de Rio Fortuna, as viagens nem
sempre eram agradáveis. Com o
passar do tempo, minhas idas a
Santa Rosa tornaram-se mais frequentes. Não mais só a trabalho,
mas como turista pra desfrutar as
belezas e gostosuras de Santa Rosa
de Lima.
Uma pequena contribuição à
memória do município
Em 2010, atuando pela Amurel (Associação de Municípios da
Região de Laguna) tive o prazer
de conhecer o então prefeito, Celso Heidemann, que na época era
presidente da entidade. Celso, que
15
Jaqueline Tonn
Aqui na Nova Esperança, o ano de 2014 começou
muito bem. Nossos encontros de sexta feira são um
costume e são famosos, por isso de conhecimento dos
leitores desta coluna. Sempre contam com pessoas incríveis, fantásticas, acolhedoras e dispostas a buscar
sempre novas oportunidades de vida. E todos sabem:
onde tem gente boa reunida, o que não pode faltar é
uma boa comida.
considero um homem público diferenciado, me convidou a colaborar
na produção de um livro que contasse a história do município. O lançamento desta publicação seria um
dos eventos da festa do cinqüentenário do município, em 10 de maio
de 2012.
Foram seis meses indo a Santa
Rosa nas terças e voltando a Tubarão nas sextas. Para encontrar as
pessoas sugeridas para as entrevistas, trilhei por estradas no interior
do município que certamente boa
parte da própria população sequer
conhece. Foi um trabalho inédito,
desgastante, suado, mas extremamente gratificante. Conheci muitas
pessoas e aprendi muito com elas.
Com o livro “Santa Rosa de Lima História e memória: da colonização
à emancipação” o município entrou
definitivamente na minha vida e eu,
com esta pequena contribuição,
acredito ter passado a fazer parte
da vida de Santa Rosa de Lima.
A aventura de um grupo de imigrantes germânicos liderado pelo
Padre Clemente Roer desde Teresópolis até o Verde Vale do Rio
Braço do Norte já foi objeto de pesquisa e registro pelo Padre João
Leonir Dall´Alba, o homem que revelou ao público as mais variadas
correntes migratórias no Sul Catarinense. Padre João classificou de
“epopeia” esta arrojada aventura concretizada por 52 famílias imigrantes que num primeiro estágio haviam iniciado uma tentativa de
colonização de Teresópolis, no município de Palhoça próximo à capital do estado. O autor utilizou fartamente do material constante do
livro do Padre João sobre “O Vale do Rio Braço do Norte.” Tem como
fonte os seus registros e entrevistas, além da farta documentação
que ele citou em seus livros lançados anteriormente a 1972. O livro
está agregado à metodologia da historia de toda a região uma boa
participação de dados e estatísticos de um levantamento a nível municipal numa série de até quatro anos, o que permite ao pesquisador
estudioso estabelecer comparativos entre uma série histórica e fazer
avaliações sobre a situação cultural, política e econômica
entre os municípios que compõe o grande Vale: Anitápolis, Braço do Norte, Grão Pará, Rio Fortuna,
Santa Rosa de Lima e São Ludgero. O mérito pelo
resultado que por certo alcançará este livro será creditado, mesmo que em memória, ao trabalho inteligente e capaz desenvolvido pelo Pe. João Dall´Álba.
Dentre outros textos que constam do mesmo o
Combate da Serra da Garganta no município de
Anitápolis. Além de dados históricos de cada
município algumas fotos históricas foram também agregadas. O autor Historiador Jucely
Lottin apresenta um excelente trabalho
composto de informações destinadas à
consultas, principalmente de estudantes
de todos os níveis das Escolas da Região.
Do mar para Nova Esperança
No primeiro encontro do ano, no dia 4 de janeiro,
a janta foi especial. O cardápio foi um tanto diferente
do que costumamos comer por aqui. E muito saboroso! No revezamento de a cada quinzena uma família
se responsabilizar pelo jantar, foi a vez do casal Ney
e Adriana. Eles não são “nativos” da Nova Esperança
mas, há anos, possuem um sitio aqui. E já são considerados – e, felizmente, se consideram – moradores da
comunidade.
Ney e Adriana prepararam uma “paeja” com frutos
do mar. Esse é um prato à base de arroz, típico da gastronomia espanhola.
Destaque
A novidade foi que Ney e Adriana resolveram participar conosco da brincadeira que marca o início dos
nossos encontros. Para nós, isso foi muito gratificante
e importante. Trata-se de um incentivo para a união da
comunidade e de uma demonstração que podemos
nos divertir todos em um só grande grupo.
Comida e lazer
Após a comida deliciosa e maravilhosa, a noitada
foi completada com bocha em casal e um carteado.
Por essas e por outras é que estes encontros ajudam
a comunidade a fortalecer sua união e sua alegria. A
cada dia que passa há muito mais para desfrutarmos
por aqui.
Entrada em 2014 com força total
Tivemos, também, uma ótima virada de ano. Todos
em uma grande família para comemorar. O céu se enfeitou com fogos de artificio e foi servido um delicioso
churrasco.
Janeiro movimentado
No primeiro mês do ano, ninguém parou um só instante por aqui. Nos finais de semana, tem acontecido
as trilhas. Elas servem para arejar as cabeças e exercitar os corpos, além de favorecer a integração com
comunidades vizinhas.
E as famílias tiveram, também, que manter o pique
total no trabalho. Porque aqui todos sabem de suas
obrigações. E que o lazer tem seus momentos certos.
Registro fotográfrico
16
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Espaço d’Acolhida
Tabita Wenz
Sítio Águas
Mornas – Dona Tabita
A casa é em estilo enxaimel. Feita de tijolos rústicos,
daqueles feitos de barro e amassados com os pés, já
completou seus 60 anos. Um córrego, ao fundo, fascina pelo burburinho e pela limpidez. Jabuticabeiras completam um jardim florido e bem cuidado. Uma piscina
grande e nova [não perca a inauguração, veja ao lado]
integrou-se muito bem ao ambiente acolhedor do Sítio
de Dona Tabita.
É bom encher a casa
Eu vivo nesta propriedade há 68 anos.
Ou seja, desde que nasci. A casa era dos
meus pais. Hoje, dos filhos, apenas o Nilson mora comigo, mas os outros vêm
sempre em casa.
Eu gosto de receber os visitantes aqui
na propriedade. É como se eu recebesse um vizinho, um parente. Os turistas
sempre elogiam o meu jeito simples e a
minha conversa. E dizem que a minha comida é deliciosa.
O fumo era muito ruim
Nós plantamos fumo por muitos anos.
Mas era uma lida muito difícil. Era muito
ruim. Além do fumo sempre tínhamos várias plantações. A gente produzia arroz,
milho, aipim, batata, praticamente tudo o
que a gente comia.
Acolhendo na Acolhida e produzindo no orgânico
O convite para fazer parte da Acolhida na Colônia surgiu como uma oportunidade. Resolvemos fazer algo diferente,
trocar experiências e conhecimento com
outras pessoas, ver se mudava a vida pra
melhor, com mais vida e mais saúde. A
mudança da agricultura convencional
para a orgânica nos fez ter muitas dú-
vidas. No começo foi um pouco difícil,
porque nós achávamos que não iríamos
conseguir manter a propriedade limpa e
a lavoura livre de insetos. Mas com todos
os cuidados que temos, hoje vemos que
é mais fácil do que pensávamos.
As jabuticabeiras
Produzimos quase tudo o que a agricultura oferece. Os turistas gostam muito
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Visitantes deliciam-se com as jabuticabas.
das frutas. Na época das jabuticabas,
eles se deliciam debaixo dos pés. Os
galhos ficam negros da deliciosa fruta. E as verduras, temperos e legumes
que eu sirvo à mesa não têm agrotóxicos. É tudo orgânico e tenho orgulho
disso.
Serviço
O Sítio é um lugar com tranquilidade, especial para reunir a família,
grupos de amigos. Quem visitar a propriedade será bem acolhido e poderá conhecer de perto o manejo com
abelhas nativas, tomar uma bebida
refrescante e, agora, dar um mergulho
na piscina. Tudo isso, contando com a
mesa de delícias preparadas por Dona
Tabita.
Servem alimentação:
almoço, janta e cafés para
grupos, mediante reservas.
Contato: (48) 3052-9019
21
18
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
ESTUDANTINA
COMUNIDADE
RIO DOS ÍNDIOS
Suziani Baumann
Estudar pode fazer
bem para a saúde
Kelin Dutra | Ivonete Walter Dutra | Milena Dutra
Tempestades de verão
Nesta edição, nossa coluna não traz notícias muito
boas. O motivo: os fortes temporais que atingiram o município e a região nas últimas semanas. Nossa comunidade foi bastante castigada por estes fenômenos naturais.
Primeiro, foi a tempestade do dia 15. Ela foi um pouco
mais amena aqui no Rio dos Índios, se comparada aos
grandes estragos na região do Rio Bravo Alto. Por aqui,
ela atingiu com mais força as áreas mais próximas da
“praça”, pelas redondezas do local onde vive a família do
senhor Teodoro Heidemann. Raios, fortes rajadas de vento, chuva e granizo provocaram inúmeros prejuízo aos
agricultores e suas lavouras.
Passada uma semana daquele grande temporal, outra tempestade. Desta vez mais isolada e concentrada
em nossa comunidade. Muitas famílias foram afetadas.
Contabilizaram maiores prejuízos as propriedades dos
senhores Silvestre Heidemann, Wilmar May, Frederico e
Daniel Schlickmann. Os estragos aconteceram nas plantações de eucalipto e milho, assim como nas lavouras de
subsistência.
Rendimento perdido
Wilmar May contou à coluna que perdeu grande parte
de seu reflorestamento. “Eu tinha feito o raleio e agora
esperava por um bom rendimento no futuro. Pelo que
vejo, vou ter que tirar tudo e plantar de novo”. Wilmar lamenta pois com a retirada precoce o ganho financeiro é
baixo. “Se esperasse o tempo certo, eu iria ter um lucro
muito maior.
Sair ou ficar
Na propriedade do senhor Daniel Schlickmann, o prejuízo maior foi na roça de milho. Seu Daniel diz que está
muito desanimado: “Foi tudo perdido. Dá vontade de ir
embora do campo e viver na cidade”. Mas agradece também a Deus: “Pelo menos, a vida continua”.
Caos total
Os estragos não foram só nas plantações. O desânimo não é só pelos prejuízos financeiros. Como as chuvas
também danificaram demais as nossas estradas, ir e vir
de Rio dos índios ficou bastante difícil. Como dizem por
aqui: “as estradas estão um caos total”. Será preciso um
grande empenho da prefeitura e da secretaria de obras
para reparar, o mais breve possível, nossos caminhos.
Prevenção
Alertamos também ao poder público que será necessário um imediato acompanhamento técnico e um trabalho de “animação” junto aos agricultores. Como vemos
por aqui, o abatimento é muito grande. Percebemos nas
conversas com os agricultores uma vontade de desistir,
de ir pra cidade. Nossos produtores precisam, mais do
que nunca, de apoio efetivo.
Para escrever sobre a
minha vida de estudante foi
preciso parar e relembrar.
Quando percebi, me vi remetida aos tempos de “jardim de infância”.
Com as “tias”, como filha
Na minha época, ele funcionava onde hoje está o Cras. De um
jeito explicável, duas pessoas foram essenciais na minha vida escolar: a “Tia” Marlene e a “Tia” Iza.
Elas não saem da minha memória
e até hoje guardo um enorme carinho por estas “tias”. Foi uma época
maravilhosa. Elas faziam tudo com
amor e dedicação: a contação de
historinhas, as brincadeiras, as primeiras letrinhas... E até o lanchinho
na hora do recreio. Impossível não
lembrar do balanço, da roda gigante, dos desenhos pintados, das musiquinhas e dos bolinhos de arroz.
Meus favoritos até hoje. Éramos
cuidados como se fôssemos filhos.
Conto isso com orgulho porque o
meu “jardim” foi bom demais.
A caçulinha
Entrei na primeira série aos seis
anos. Um ano antes do normal.
Não sei se foi sorte ou se foi azar.
Por uma lado, tive que me despedir das “tias” do jardim. Por outro,
passei a estudar na escola em que
minha mãe era professora. Naquele ano, faltou um número mínimo
de alunos para completar a turma
da primeira série. Foi aí que um
teste com a “Tia” Nair me tornou
apta para ser “promovida”. Eu era a
caçulinha da turma. E foi nesta escola que eu permaneci até concluir
a primeira série do Ensino Médio.
Olhar mais longe
A minha escola era boa, eu tinha
bons professores, mas os índices
de aprovação dos alunos do Aldo
Câmara no vestibular não eram
muito animadores. Eu queria me
preparar para prestar o vestibular e entrar em uma boa universidade. Resolvi, então, com o apoio
de meus pais, que iria estudar em
Tubarão. Primeiro, pensamos em
uma escola particular. Mas os preços eram assustadores. Por sorte,
meu tio que mora em Tubarão conseguiu pra mim uma vaga na Escola
Técnica de Tubarão. Era uma escola
pública, mas que possibilitava uma
boa formação.
Com os tios, ainda como filha
Só eu sei como foi difícil estudar
em Tubarão. Tive que deixar meus
amigos e a “minha escola”, aquela na qual eu tinha vivido desde a
infância. Fui para um colégio onde
não conhecia ninguém. Ainda bem
que morei na casa do tio Lucio e da
tia Adriana. Assim, os tinha como
minha segunda família.
Aprendi muito. Estudei bastante, pois paralelo ao ensino médio,
fiz cursinho pré-vestibular no colégio Energia. Eu continuava certa
que queria ingressar em uma Universidade, mas não sabia que curso
ou profissão eu queria. A princípio,
pensava em ser professora, como
minha mãe.
O acaso me reservava outros
planos
Certa vez, o Vô Roberto e a Vó
Valda precisaram fazer uma viagem
ao Paraná e pediram para que eu
cuidasse do posto de medicamentos que eles tinham. Gostei da ideia
e pelo jeito fiz tudo certinho. Porque depois, sempre que o Vô precisava, “recrutava meus serviços”.
E foi num destes “expedientes” no
Posto de Medicamentos que eu
pensei: porque não estudar para
ser uma farmacêutica? Parecia
uma boa aposta, afinal não existia
nem farmácia nem farmacêuticos
em Santa Rosa de Lima. A decisão
foi tomada: eu cursaria Farmácia.
Mas, entrar na faculdade não foi fácil. Apesar de ter me preparado, a
concorrência pelas vagas era muito
grande. Na primeira tentativa, veio
a reprovação. Na segunda, a aprovação. Foi muito emocionante.
Faculdade
Voltei a morar em Tubarão, desta vez sozinha. Ou melhor, dividindo
apartamento com colegas. Conheci
muita gente e aprendi que é preciso batalhar muito por aquilo que
projetamos. Foi preciso muito esforço, dedicação e coragem. Afinal,
além do curso ser bastante difícil,
era também bastante caro. Meus
pais pagaram meus estudos e eu
fazia de tudo para economizar. Às
vezes, minhas amigas almoçavam
na lanchonete e eu, com receio de
gastar, ia comer em casa. Só para
poupar uns troquinhos, porque tinha que comprar livros, pagar os
xerox... e lá se iam todos os extras.
Nunca parar de estudar
Minha formatura foi em 2006.
Depois dela, transformei o posto
de medicamentos de meus avós na
Farmácia Santa Rosa. E, de lá pra cá,
nunca deixei de estudar. Sempre
que há cursos de formação continuada, aproveito para me atualizar.
Além disso, este ano irei concluir
uma pós-graduação em Farmacologia. E pretendo fazer novas especializações. Minha meta é colocar em
prática aqui no nosso município, da
forma mais consistente possível, o
que é preconizado pelo Conselho
Federal da minha profissão: que
as farmácias, vistas no país como
simples atividades de comércio, se
transformem em verdadeiros estabelecimentos de saúde.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Família SRL
Adolfo Wiemes
COMUNIDADE
Educação e escola
Já que esta edição do Canal SRL está bastante voltada
para a volta às aulas, resolvi escrever sobre educação e sobre
escola. A minha e a dos santarosalimenses.
Velhos tempos
Em 1939, o governo decidiu
abrir escolas no interior, e meus
pais mandaram a mim e a minha
irmã para a escola mais próxima,
para nós aprendermos a ler e a escrever em português. Antes, eu já
lia e escrevia em alemão, graças ao
esforço dos meus pais, principalmente da minha mãe.
A escola ficava a mais de quatro
quilômetros, havia dois passos de
rio com pontes pênsis, e eu e Adelina íamos a pé. Eu aprendi muito
bem, graças a muito esforço. E
terminei o ensino primário em três
anos. Minha irmã foi mais lenta e
precisou de mais um ano. Meus
pais não quiseram que ela fosse e
voltasse sozinha e me mandaram
acompanhá-la. Recebi a ordem
com muita alegria, pois poderia
continuar indo à escola.
Em 1943, nossa mãe faleceu.
Meu pai, já muito adoentado com
um câncer na boca, me pediu para
que eu ensinasse o irmão mais
novo, Fridolino, que nunca tinha
ido à escola, a ler e escrever em
casa. Fiquei muito feliz e cumpri
bem essa tarefa. Pelo menos, ele
aprendeu bem e sempre me agradeceu muito pelo que já foi e pelo
que já fez.
A família no processo de educar
Quando se fala em boa formação escolar, o papel da família
é determinante no desempenho
do aluno. É ela a responsável por
ensinar os valores essenciais que
vão contribuir para a boa formação do aluno. Cabe à família incutir nas crianças e adolescentes as
ideias de respeito não só aos professores, mas também ao próprio
processo de aprendizagem. A professora Margarete Hulsendeger,
que é mestre pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, afirma que “muitas famílias desejam apenas a aprovação,
sem se preocupar se o seu filho
realmente aprendeu o que lhe foi
ensinado”. Para ela, a escola, de
certa maneira, vem assumindo a
responsabilidade de educar e disciplinar os alunos. “Há alguns anos,
cabia à família o estabelecimento
dos limites, ensinando as crianças o que era certo e errado. No
entanto, isso agora foi quase que
completamente transferido para a
escola e, consequentemente, para
os professores”.
Responsabilidade e ética não
se compra
Muitos pais se enganam ao
imaginar que estão contribuindo
com a felicidade dos seus filhos
quando fazem tudo o que as “crias”
querem, dão tudo o que elas pedem. Pai e Mãe, não façam pelos
filhos a tarefa que é deles. Deem
apenas algumas pistas. Não adianta seu filho ter um desempenho
escolar “aparente”. Ele precisa ter
responsabilidade naquilo que cabe
a ele. E desde os primeiros anos de
vida.
Os pais não podem colocar conhecimento dentro da cabeça das
crianças. E se eles podem comprar muitos presentes para os filhos, não podem comprar, para as
crianças, responsabilidade e ética.
19
Lembrem-se que a felicidade não
depende dos que nos falta, mas
do bom uso que fazemos do que
temos.
Como educar?
É certo o que diziam os antigos:
“as palavras comovem; os exemplos é que movem”. Não é raro
ouvir jovens dizendo a seus pais:
“seus modos de ser e de agir são
tão diferentes de tudo quanto me
ensinam!”.
Antes de me mandarem para
a escola, meus pais já haviam me
ensinado, pelo exemplo, a ser
bom e a amar. Por isso, afirmo: os
pais são os primeiros educadores
de seus filhos. Digo também que
hoje, mais do que nos meus tempos, diálogo é importante para a
educação. Ou melhor: é indispensável! Quem não sabe dialogar dificilmente será bem sucedido na
educação. Crianças e adolescentes
já não aceitam mais passivamente
tudo o que lhes transmitem em
casa ou nas escolas. E isso não é
um mal. O mal consiste em não dar
a eles as explicações que precisam
ter. Consiste em não motivá-los
mostrando todo o bem que esperamos deles.
RIO BRAVO
Karla Folster | Júnior Alberton | Ana Paula Vanderlinde
Temporal atinge comunidade
Chuva, vento forte e granizo foram os componentes
da tempestade que passou pela comunidade, no dia
15 de janeiro, deixando um rastro de destruição. Apenas alguns minutos foram suficientes para que grande
quantidade de gelo cobrisse o chão, destruindo lavouras
de hortaliças e de fumo. Algumas plantações ficaram tão
comprometidas que nada pode ser salvo. Muitos moradores tiveram perda total em suas safras de fumo. Houve, também, grandes estragos em chácaras de eucalipto.
As safras de milho foram fortemente atingidas, comprometendo o rendimento e a qualidade da produção. Plantações de verduras orgânicas, que garantiam o sustento
das famílias e contribuem para a sustentabilidade em
nosso município, foram totalmente destruídas. Houve
ainda danos materiais em casas e galpões.
Granizo e prejuízo
Meses de trabalho foram perdidos em apenas alguns
minutos, causando tristeza aos atingidos. Marceli S. Marcolino teve sua plantação de fumo destruída. Estima-se
que o prejuízo dela chegue aos trinta mil reais. “Ficaram
sem colher, em média, 14 folhas por pé”, ela conta abatida.
Moradores relatam que há anos não se via tamanha
quantidade de granizo. O curioso é que, minutos após a
tempestade, o céu “limpou-se”, abrindo um forte sol. Em
alguns pontos, onde os raios solares não chegavam, a
camada de gelo permaneceu por várias horas.
No Campo do Rio Bravo, os moradores ficaram mais
de 24 horas sem energia elétrica, ocasionando perdas
de alimentos estocados em freezers e congeladores,
como carnes e outros frios. Houve também um grande
prejuízo para os produtores de leite, que foram obrigados a descartar importantes quantidades de leite mantido em resfriadores. A longa falta de energia fez com
que ele azedasse. No bairro Pitinga, a situação não foi
muito diferente. Alem dos produtores perderem as suas
safras, uma família ainda teve que lidar com a morte de
um animal, ocasionada pelo granizo.
Granizo arrasou plantações na propriedade dos Alberton.
Alerta
Depois do temporal, foi a solidariedade quem falou
mais alto. Várias famílias prestaram ajuda para aqueles
vizinhos e conhecidos que tiveram as maiores perdas
em suas propriedades.
Por isso, se a defesa civil faz seus alertas para tempestades, nós também fazemos o nosso para esses tempos de crise: ainda é possível refletir e é cada vez mais
necessário optar por ser solidário. Jamais deixemos de
ajudar ao próximo. Façamos isso, a cada dia, em nossa
comunidade, em nosso município.
20
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
TEMPORAIS
Tempestade arrasa plantações
e causa outros prejuízos
Granizo acompanhado de rajadas de vento durou
alguns minutos, destruiu lavouras e prejudicou dezenas de agricultores.
Tarde do dia 15 de janeiro,
por volta das três horas. Na roça,
olhando o céu, os agricultores já
se preparavam para mais uma
daquelas trovoadas típicas das
tardes de verão. A ideia era voltar para casa rápido, para evitar
uma “molha”. Mas o que chegou
repentinamente os deixou assustados: uma chuva de pedras
(granizo), acompanhada de fortes ventos e raios. A tempestade
durou apenas alguns minutos.
Destruiu, contudo, plantações
inteiras, destelhou casas, granjas e paióis, derrubou dezenas
de árvores que caíram sobre
estradas e a rede elétrica. Em
algumas comunidades, a energia elétrica só foi restabelecida
24 horas depois. Com isso, produtores de leite, além de ter as
ordenhas comprometidas, perderam todo o leite que estava
em resfriadores.
Os prejuízos monetários ain-
da não foram calculados. Relatório elaborado pela Defesa Civil
municipal aponta que os danos
maiores ocorreram nas localidades do Rio Bravo (leia a Coluna
da comunidade).
Laudo Técnico
A Defesa Civil de Santa Rosa
de Lima, sob responsabilidade
do secretário municipal de finanças, Edson Jose Vandresen,
emitiu um laudo técnico assina-
Eucalipto foi uma das espécies mais atingidas.
do pela engenheira agrônoma
Leoníria Assing. O laudo aponta
prejuízos econômicos na agricultura e na pecuária nas comunidades de Rio dos Índios,
Rio do Meio, Rio Bravo Alto,
Campo do Rio Bravo, Pitinga,
Dois Irmãos, Mata Verde, Nova
Fátima, Rio Santo Antônio e
Nova Esperança. As perdas somam R$ 586.600,00 em valores
brutos, assim discriminadas: 8
toneladas de frutas e verduras,
R$ 14.600,00; 20.000 litros de
leite, R$ 24.000,00; 23.000Kg
de fumo, R$ 138.000,00; 15 estufas com perda na qualidade
do fumo, R$ 37.500,00; 130 Sacas de sementes de milho, R$
32.500,00; 10 hectares de reflorestamento, R$ 300.000,00;
e danos causados em edificações, R$ 40.000,00.
Praticamente arruinado
Talete e sua filha Josiane na roça de morangas e abóboras totalmente destruída, “pra vender não presta mais”.
No Rio Bravo, em meio às plantações de verduras e legumes conduzidos no sistema de produção
orgânica, Talete Folster Werner e
sua filha Josiane (a Josi) mostram
como a produção foi destruída.
Tudo foi praticamente arruinado
pelo granizo: salsa, cebolinha, alho
porró, feijão de vagem, abobrinha,
abóbora, moranga, morango, repolho, couve, pepino...
Frente à plantação de feijão de
vagem, as duas param. Talete diz
para si mesma: “Não sei se adianta a gente começar plantar vagem
de novo, vai depender do tempo”.
Na roça de abóboras e morangas a
agricultora lamenta: “Perda é essa
aqui... Dava dinheiro... Ontem mesmo, eu mandei a lista para Agreco
do que eu tinha. Eu passei que poderia entregar 40 quilos de couve
manteiga, 60 quilos de abobrinha,
mais pimentão e... Agora, está tudo
estragado! Tem que começar tudo
de novo. Outro jeito não tem”.
A agricultora conta que ela e sua
filha iniciaram a produção orgânica
de hortaliças em fevereiro do ano
passado (2013). “A gente pode dizer que agora que era o começo.
Porque no ano passado a gente
nem sabia como fazer bem certo”.
Nunca tinha visto tanta “pedra”
Talete lembra que ela e Josiane estavam sozinhas em casa na hora da tem-
pestade. Nilso, o marido, havia saído.
“Veio assim de repente. Eu fiquei preocupada. Nós tínhamos o gado num piquete
atrás do morro e eu fui lá tirar as vacas.
Quando cheguei em casa, começou a
chover. E já veio a pedra! Tinha algumas
bem grossas assim [fazendo o tamanho
das pedras com os dedos indicador e
polegar]. Foi muito rápido. Se fosse mais
tempo eu não sei... Assim, já tirou muitas
telhas aqui em casa, no rancho das vacas.
Nos vizinhos, também arrancou muitas
telhas. Lá, no que mora atrás da curva,
já não deu tanto granizo. Foi mais neste
pedaço aqui.
Tanto trabalho...
Segundo a agricultora, a filha Josiane
é seu braço direito na roça. “Depois da
chuva, eu e a Josi fomos ver [as lavouras]”,
relata Talete. “E estava tudo estragado...
A Josi chorou ontem, a tarde toda e até
de noite. Não conseguimos acalmá-la.
Até hoje ela está meio fraca. Eu disse: –
Isso não adianta. E ela me respondeu: –
Ô mãe, hoje, tu não briga se eu não fizer
nada. Não sei dizer como eu me sinto,
estou meio fraca”.
Josiane, que acompanhava a conversa bem calada, aparentando uma grande
tristeza, desabafa: “Dá uma pena disso
tudo. Esse prejuízo. Perder isso aqui tudo.
Tanto trabalho e agora perder tudo”.
Perguntadas, elas dizem não saber
precisamente quanto perderam em dinheiro. Estimam que possa chegar perto dos dez mil reais. Novamente, Talete
parece falar mais para si mesma do que
para a reportagem: “Mas eu disse, a gente pode ficar contente, porque estamos
vivos. Deus ainda botou a mão em cima
da gente. Só foi a roça, mas a gente ficou.
E o gado, pelo menos, também ficou. Podemos produzir mais leite. E isso aqui [indicando a roça], a gente precisa começar
de novo. Tem coisa que nessa época nem
podemos plantar de novo, como pepino
abóbora. [Recomeçar] nesta época é
mais difícil”.
Ao fim, Talete confessa que tem medo
de uma nova tempestade. Acredita, entretanto, que “como aquela, não pode
dar outra”.
Talete olha o canteiro de cebolinha verde. “Não sobrou nada”.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
21
O que vem da natureza, a
gente não pode fazer nada
Seu Baldoíno Doerner tem 71 anos. A esposa dele, Dona Varlinda, tem
69. Juntos, plantaram fumo por mais de quatro décadas. Há três anos, os
orientadores da fumageira afirmaram para ele: “Baldoíno, tu não podes
mais ser visto com bomba de veneno nas costas”. Por isso, passou a
plantação e a responsabilidade da produção para o filho Loreni.
Em uma conversa na varanda, o casal de agricultores, sob o olhar
do neto Jânio, lamenta as perdas e prejuízos. Desde que começaram a
plantar tabaco, esta foi a primeira vez que tiveram a lavoura inteiramente
destruída pelo granizo. “Olha, estava feio, ontem. Nós já plantamos fumo
há quarenta anos, mas desse tipo nunca deu. Foi de repente”. Dona
Varlinda completa: “E não foi só o fumo. Nós tínhamos plantado umas
coisinhas lá atrás daquele mato, uma rocinha, mas foi tudo. Lá também
não sobrou nada. Estragou tudo, as melancias, o baraço [batata doce]...
Tudo machucado. Do aipim, sobraram só os toquinhos”.
Na casa
Dona Varlinda lembra que estava sozinha em casa.
“Eles estavam tudo na roça. Daí, eu ouvi uma coisa esquisita, não era avião, mas não era vento. Eu não sabia
o que era. Mas, depois, era vento. O gado já estava com
os rabos pra cima correndo, com medo, pra se defender
debaixo da estufa.
Eu gritei pra eles virem pra casa, mas ninguém me
escutou. As primeiras [pedras] que caíram foram meio
grandes. Depois, no fim, já não eram mais tão grandes.
Dava cada uma batida nas paredes. Molhou tudo dentro
de casa com esse vento. Eu fui botar uns plásticos por
cima das camas para defender as camas... Em cima do
sofá... Porque a chuva veio, assim, pra dentro”.
Assim seja
Seu Baldoíno recorda que estava na roça. “Meu filho
perguntou: Quem sabe avisar a hora de ir embora da
Seu Baldoíno, Dona Varlinda e o neto Jânio tristes com a destruição.
roça pra não se molhar? Eu falei: O velho já vai, porque
velho não pode correr ligeiro. Então, fomos todos. E mal
a tobata chegou embaixo do paiol da estufa e lá veio a
chuva... Nós não podíamos mais vir pra dentro de casa.
E lá na estufa a pedra entrava de um lado e saia do outro. Sorte que não voou telha na casa, só no paiol da estufa. Sorte também que só durou uns minutinhos. Mas
como eu sempre digo, o que vem da natureza a gente
não pode fazer nada, não é? Se Deus quer assim, que
seja assim”.
completar um pouco mais [o que já tinha sido colhido],
porque o gasto de lenha é igual se tem 100, 200 ou 300
tacos...”
Foi interrompido por Dona Varlinda: “Isso é tudo
pessoal que não trabalha nas lavouras. Porque eu ainda
falei hoje para a [nora] Marlete que foi comigo lá: O que
vocês vão ajuntar [colher]? Hoje de manhã está tudo
molhado, apodrece. Hoje à tarde estará queimado do
sol. O que que eles querem ajuntar ali? Não tem folha. É
só farelo o que tem”.
No seguro
“Nossa sorte, agora, é o seguro. Tem gente que diz:
‘pra que pagar seguro? É muito caro!’ Mas imagina se
nós não tivéssemos seguro”, afirma Seu Baldoíno. Ele
conta que orientador esteve na plantação na manhã seguinte aos estragos. “Eu não sei. O orientador teve aqui
e disse que a gente podia ajuntar [colher] um pouco pra
Sem sorriso
No momento do “retrato”, Dona Varlinda faz questão de arrumar o chapéu, de ajeitar as pessoas, pedindo que o neto esteja junto. Na hora do click, a fotógrafa
sugere: a senhora está muito triste, dê um sorriso. A
resposta vem pronta: “Mas não é pra ficar triste, se não
sobra nada?”
A roça se tornou zero
Loreni na plantação de fumo. “Veja, nenhuma folha”.
Loreni, o filho de seu Baldoíno que há
três anos passou a responder pela produção de tabaco na propriedade conta
que está na atividade desde a adolescência e que, em outras épocas, o granizo já
havia causado perdas parciais e tomado
parte do ganho da família. Mas esta é a
primeira vez que ele julga que a seguradora deva considerar perda total.
Ele relembra com certo pesar: “No
começo, parecia ser uma trovoada normal. Aos poucos, o rumo foi se tornando
fora do normal. Nós estávamos na roça
de fumo e veio a trovoada. Eu falei: vamos embora que se não a gente molha.
Parecia nem dar tanto, mas mal deu pra
chegar na estufa. Parece que, assim do
Sul, já veio chuva, pedra e vento, tudo ao
mesmo tempo. E em menos de dez minutos a roça se tornou zero. A lavoura
está destruída. Foi perda total! Não sobrou uma folha nos trinta e cinco mil pés.
Eram umas três estufadas boas, de 600
varas, na certa. Eu calculo que se perdeu
de dois e meio a três mil quilos de fumo.
Não sei exato o peso, mas é mais ou me-
nos isso”.
Na roça, os sinais são mesmo de uma
devastação. As plantas ficaram exatamente como Dona Varlinda relatou: tudo
“em farelo”. Loreni mostra uma folha:
“Olha, dá pra ver quantas pedras pegaram nesta folha antes dela ser derrubada”. A folha parece esmigalhada. Ele volta o olhar para plantação e se lamenta:
“Veja, nenhuma folha... Justo este ano
que ia mais ou menos”.
Com relação à propriedade, o agricultor reflete: “Ainda bem que destelhou
pouco. Ainda bem que ficamos com o
teto sobre a cabeça. Isso é o principal.
Na roça, são só danos materiais. Agora,
não tem mais o que fazer. O único jeito
é plantar um milho, um feijão, para aproveitar um pouco [a terra]. O fumo só na
próxima safra”.
Mas, se não tivesse?
Ainda em relação às perdas e avarias,
Loreni comenta: “O ruim seria se não tivéssemos seguro nenhum. Se tivéssemos
que perder tudo. Daí seria difícil. Muitas
vezes a gente diz que o seguro é caro.
Nós pagamos em torno de 1.600 reais.
Mas, se não tivesse? Aí, sim, seria ruim”.
O agricultor pondera, entretanto, que
o seguro não cobre o que a safra renderia: “Na verdade, se eu pudesse colher, ali
na roça tinha mais de vinte mil reais. Não
é muito, mas pra mim é bastante. E o seguro não cobre esse valor. O seguro nunca chega naquilo que realmente daria. E
eu perdi e melhor parte, do meio pé pra
cima. É dali que sai o peso”.
Folhas viraram “farelo”.
22
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
TEMPORAIS
Avaliação
Hilário Boing, inspetor de
campo da Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra),
diz que o temporal atingiu
uma quantia considerável de
plantações de tabaco. “Alguns
produtores perderam todo o
fumo que ainda tinha na lavoura. A região mais atingida foi a
do Rio Bravo (leia a Coluna da
comunidade). Foram dez produtores que acionaram o seguro: Rudimar Schuroff, Adelso Figueredo, Helmut Dero,
Dulce Wenz Westpal, Rosa
Wiemes da Silva, Luciandro
Schmidt, Jaime Oenning, Loreni Doerner, Inivaldo Francisco
Oenning e Dorvalina Monteiro Eller. Alguns deles tiveram
perda total e outros, perdas
parciais. Mas todos foram prejudicados pelo granizo”.
Com relação aos valores de
cobertura do seguro, o avaliador ainda não pode precisar
exatamente em quanto cada
produtor será ressarcido e
qual o montante do prejuízo. “Nosso papel é realizar as
avaliações e encaminhá-las à
matriz, em Santa Cruz do Sul.
Lá, o cálculo é realizado pelo
departamento de operações”.
Hilário Boing diz que o seguro é opcional e que alguns
agricultores não asseguram
suas lavouras por achar que
se trata de mais uma despesa.
E avalia: “Quando o produtor
perde toda sua lavoura e não
tem seguro, em muitos casos,
ele perdeu toda sua fonte de
renda na propriedade. Na
maioria das vezes, tem que
recorrer a empréstimos para
quitar as despesas já feitas. O
fumicultor que opta por fazer
o seguro de sua lavoura terá,
com certeza, maior segurança
e tranquilidade”.
Fique alerta nas tempestades
O Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e
de Hidrometeorologia de Santa
Catarina) havia emitido, no dia
anterior (14), um relatório de
previsão que apontava “áreas
de alta pressão com formação
de núcleos de instabilidade
durante à tarde, principalmente, devido ao jato subtropical
(ventos fortes em altos níveis da
atmosfera) sobre o estado”. A
Defesa Civil também emitiu aviso alertando sobre o risco de
pancadas de chuvas isoladas
e descargas elétricas. Segundo a Secretaria de Estado da
Defesa Civil, quando um aviso
é emitido, significa que as condições do tempo configuram
uma ameaça à vida ou à propriedade. Por isso, as pessoas
“no caminho de tempestades”
precisam tomar ações de preparação e/ou proteção.
Conheça alguns cuidados
que a população deve tomar
com fenômenos naturais.
Tempestades com descargas
elétricas e vento: permanecer em
local seguro e não transitar em locais
abertos, próximo a árvores, placas publicitárias ou objetos que possam ser
arremessados. Se houver granizo é
aconselhável que as pessoas se protejam em lugares com boas coberturas,
ao exemplo dos banheiros das residências, fechar janelas e portas, e não
manusear nenhum equipamento elé-
Atenção às estradas. Na SC-108 vários pontos ficaram obstruídos.
trico ou telefone devido aos raios e relâmpagos. As pessoas que moram em
áreas rurais devem evitar se proteger
embaixo de árvores isoladas e não se
aproximar de cercas de arame.
Alagamentos: evitar o contato
com as águas e não dirigir em lugares alagados. Evitar transitar em pontilhões e pontes submersas. Cuidado
com crianças próximas de rios e ribeirões.
Raios (descargas elétricas):
Evite lugares que ofereçam pouca ou
nenhuma proteção contra raios tais
como: pequenas construções não protegidas como celeiros, tendas ou barracos ou veículos sem capota como
tratores, motocicletas ou bicicletas.
Evite estacionar próximo a árvores ou
linhas de energia elétrica. Evite estruturas altas tais como torres de linhas
telefônicas e de energia elétrica.
Alguns lugares são extremamente
perigosos durante uma tempestade.
Por isso: NÃO permaneça em áreas
abertas como campos de futebol, quadras de tênis e estacionamentos. NÃO
fique no alto de morros ou no topo de
OBITUÁRIO
Silvestre Warmling
Nasceu em 31 de Dezembro de 1941. Natural da comunidade de
Rio dos Índios, morava e trabalhava com seus pais aqui em Santa
Rosa de Lima. Aos 18 anos de idade foi servir o exército. Ficou por
lá um ano e regressou para a lida da roça junto com a família.
Casou-se com Maria Loch Warmling aos 22 anos, no dia 22 de
junho de 1963. A celebração foi na igreja de Rio Fortuna. Com o
casamento veio a mudança para o Paraná, foram morar na cidade
de Maripá. Com Maria constituiu uma sólida família com oito filhos.
Silvestre parte desta vida deixando esposa, filhos, noras, genros,
dezesseis netos e dois bisnetos.
A família e os amigos se despedem com a certeza de que Deus
levou para junto dele um homem muito trabalhador, íntegro,
religioso e esforçado.
¶ 31/12/1941 V
06/01/2014
prédios. NÃO se aproxime de cercas
de arame, varais metálicos, linhas aéreas e trilhos. NUNCA se abrigue debaixo
de árvores isoladas. NÃO use telefone
(o sem fio pode ser usado). NÃO fique
próximo a tomadas, canos, janelas e
portas metálicas. NÃO toque em equipamentos elétricos que estejam ligados à rede elétrica.
Granizo: Abrigar-se da chuva torrencial que poderá acompanhar ao
granizo e causar inundações. Tenha
cuidado com construções mal construídas ou mal acabadas, procure se
abrigar em locais seguros, resistentes
a fortes ventos, onde não há riscos
de destelhamentos. NÃO se abrigar
debaixo de árvores, pois há riscos de
quedas. NÃO se abrigar em coberturas
metálicas frágeis. NÃO estacionar veículos próximos a torres de transmissão e placas de propaganda, pois estarão sob a influência de ventos fortes.
De carro, evitar estradas que foram
afetadas pela chuva de granizo.
Fonte: http://www.defesacivil.sc.gov.br
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Rede AGRECO
Volnei Luiz Heidemann | Adilson Maia Lunardi
Quem ensina de
repente aprende
Quem passa frente ao “Casarão”, nas
Águas Mornas, às vezes estranha um movimento importante de carros e pessoas “de
fora”. É porque não sabem que funciona ali
uma organização que é muito relevante para
Santa Rosa de Lima: O Centro de Formação
em Agroecologia.
Preparo do solo
Tudo começou em 2003, com
a cedência do espaço físico e com
uma parceria formada por iniciativa da Acolhida na Colônia, Santur,
Agreco, Prefeitura Municipal de
Santa Rosa de Lima e Balneário
Paraíso das Águas. Primeiro, com
o apoio financeiro da Santur, foi
feita a restauração do Casarão,
que estava em um estado precário.
Em 2004, O Centro de Formação em Agroecologia (CFAE)
foi formalmente constituído pela
Agreco, pela Acolhida e pela Aliar.
Quem as representa na diretoria
do CFAE são os dirigentes dessas organizações. Essa criação foi
fruto de um diagnóstico dessas
entidades. Os agricultores familiares orgânicos de Santa Rosa
de Lima tinham acumulado conhecimento significativo sobre
produção orgânica, organização,
agroindustrialização de pequeno
porte, agroturismo, comercialização e poderiam atuar como “professores” em cursos destinados a
outros agricultores e a técnicos.
Além disso, avaliaram que esses
mesmos agricultores precisavam
receber pessoas diferentes e de
outros lugares para continuar a
aprender e a crescer.
Semeadura
A primeira gestão foi de dois
professores: Volnei Luiz Heidemann, apoiado por Odair Baumann. Ela durou da fundação
até 2008 e foi a mais importante
porque viabilizou e consolidou o
CFAE. No primeiro ano (2004), já
foram realizados várias reuniões
e encontros de agricultores da região, de outros estados e até de
outros países, o que permitiu trocas de conhecimentos e de experiências. Nos três primeiros anos,
o CFAE realizou mais de quarenta
cursos sobre diversos assuntos e
cadeias produtivas orgânicas. Em
2006, a partir de uma mediação
do Professor Wilson Schmidt, o
filho do Seu Tino e da Dona Ida,
houve a instalação da “escola de
fábrica”. Com a coordenação de
Volnei Luiz Heidemann e com
bolsas, vinte estudantes de ensi-
no médio tiveram uma formação
complementar. Em 2007 e 2008,
em uma ponte com o poder público e com uma Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (o Cedejor, agora bastante reconhecido no município), o CFAE
procurou dar ênfase ao trabalho
com jovens.
Colheita
Foi essa trajetória que permitiu que, em 2011, o colaborador
do CFAE, João Augusto de Oliveira
(Joca), inscrevesse a experiência
da organização no Prêmio Finep
de Inovação 2011, na categoria
Tecnologia Social. A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos)
entende por tecnologias sociais
“produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas
em interação com a comunidade
e que representem efetivas soluções de transformação social”. E
para surpresa e alegria de todos,
concorrendo com organizações
de Santa Catarina, do Paraná e
do Rio Grande do Sul, o CFAE foi
o grande vencedor para a Região
Sul.
Pós-colheita
Foi esse prêmio por sua vez
que permitiu a elaboração de um
projeto de quinhentos mil reais
para a criação de uma cadeia produtiva inovadora (veja entrevista
com Sebastião Vanderlinde nesta
edição), que vai fazer com que em
2014, quando completa dez anos,
nosso Centro de Formação esteja “a pleno vapor”. Por isso, para
finalizar, vale a pena lembrar o
que dizia Dom Helder Câmara: “É
graça divina começar bem. Graça
maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”.
23
COMUNIDADE
MATA VERDE
Kátia Vandresen | Ronaldo Michels
Medo e prejuízos
Não gostamos de trazer notícias ruins neste espaço.
Mas a forte tempestade que atingiu o nosso município e,
principalmente, a nossa Mata Verde, fez com que ficássemos tristes. Várias famílias contabilizaram prejuízos. O
temporal que ocorreu na tarde do dia 15 de janeiro foi
avassalador. Além do medo e da preocupação que gerou, causou danos materiais em granjas, galpões, casas
e plantações. Ao mesmo tempo em que nós, os colunistas, também contabilizamos prejuízos, queremos nos
solidarizar com todos os atingidos. O mais importante é
que ninguém sofreu qualquer tipo de lesão física. Bens
materiais, a gente recupera. Então, bola para frente, pois
a vida segue.
Tempestade derrubou diversas árvores.
Para registrar celebração a São Sebastião
Nessa edição, expandimos um pouco a área de cobertura de nossa coluna. Fomos até a localidade vizinha
de Dois Irmãos. Afinal, é preciso registrar a tradicional e
belíssima confraternização do grupo de famílias que tem
como padroeiro São Sebastião. A festa foi no dia 20 de
janeiro. Como todos os anos, o encontro acontece na
casa de uma família pertencente à confraria. Desta vez,
foi na residência de Chico e Salete.
O dia iniciou com uma santa missa rezada pelo padre
Pedrinho. Logo depois foi servido um delicioso almoço.
A tarde foi divertida, com jogos, piadas e aquelas fofoquinhas básicas contadas pelos que lá marcaram presença.
Registramos a bela organização e a receptividade da
Família Leeser, que proporcionou um ótimo dia. Assinalamos, também, que surgiu a ideia de se construir uma
sede própria para que as famílias pertencentes a este
grupo possam ter um lugar para encontros, festas e reuniões.
Grupo de famílias da comunidade Dois Irmãos.
Casarão da década de 1930 abriga o Centro de Formação em Agroecologia das Encostas da Serra Geral.
Que venha o tetra!
A Sociedade Esportiva e Recreativa Mata Verde, presidida atualmente por Ronaldo Vandresen, (Budú) é quem
organiza e administra as competições esportivas na comunidade e o time aqui da Mata Verde. Já começamos
os ajustes para participar das competições esportivas
de nosso município nesta temporada. No ano da Copa,
uma forte equipe está sendo escalada para disputar os
mais diversos campeonatos que serão realizados. Mas
nossa meta principal, depois da conquista do tricampeonato em 2013, é a busca do tetracampeonato de futebol
de campo. Nossos treinos e encontros são nas quartas
feiras, com o futebol de salão no ginásio municipal, e nas
sextas feiras com o futebol suíço em nossa sede aqui na
Mata.
24
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Maratcha
Edésio Willemann
A gravidíssima Ana Paula Baumann e a
futura vovó Dida recepcionaram as amigas
para um chá de bebê mais que especial.
Maria Vitória, seja bem vinda! A mulherada
deseja a você Paulinha, uma boa hora!!!
A gatinha Kamilli esteve em festa neste
mês que passou. Completou oito aninhos
do dia 23. Esta princesa é orgulho para a
mamãe Ivete, para a Tia Karla e para os vovôs xeretas. Felicidades Kamilli!
M&M
Luiz Floriano e Valdete completam
24 anos de casamento e celebram Bodas de Opala. A filha Denise manda uma
mensagem: “Pai e Mãe, juntos vocês já
enfrentaram muitas dificuldades e venceram muitas batalhas. É a demonstração de perseverança, amor, carinho
e do verdadeiro sentimento que vocês
têm um pelo outro. Que este casamento dure uma eternidade. Parabéns pela
data mais que especial e obrigada pelo
exemplo de vida”.
Parabéns a Vanusa Weber que em 27
de janeiro soprou velinhas. Felicidades
e muito sucesso é o que desejam seus
familiares!
Gabriela Schueroff trocou de idade
em janeiro e dá o ar de sua graça em
nossa coluna. Felicidades!
Ildo Bonetti comemora a passagem de mais um ano de vida no dia
30 de janeiro. Os amigos e familiares
desejam muitos anos de vida, saúde
e paz!
M&M, acompanhados de ótimos amigos, prestigiaram o evento mais alemão e tradicional
de Santa Catarina: a Festa Pomerana de Pomerode. A turma teve uma recepção maravilhosa na casa do Deputado João Pizzolatti e no pavilhão principal da festa provou e aprovou a
comida típica e o chope. A propaganda de Santa Rosa de Lima e da nossa Gemüsefest ficou
garantida. Que maio venha logo. Ein Prosit!
Mentira
Edson Baumann
Hilda Becker Dutra completa seus 80
anos no dia 15 de fevereiro. Ela recebe
os cumprimentos de toda a sua família e
amigos. Eles lhe desejam um Feliz Aniversário e muitas felicidades!
A garotinha Ana Clara completou cinco
anos no dia dezesseis de janeiro. Muita
saúde e felicidades é o que desejam seus
pais João Batista e Rosilete, sua irmã Ana
Carolina e todos os seus familiares.
Entre os dias 4 e 12 janeiro um dos “M” desta coluna, o Edson, participou da
primeira etapa do curso de dança alemã na Casa da Juventude de Gramado. A
parceria foi através da Secretaria da Juventude, Cultura e Turismo do município.
“Foi uma semana de aulas intensas durante todo o dia e de muita troca de experiência com os vários professores de outros grupos que estavam lá. É a segunda
vez que faço o curso e cada vez tem mais novidades. Já são anos de dedicação e
tudo o que faço é para cada vez mais resgatar e manter a tradição germânica do
município. É isso que me impulsiona a continuar no Gemüse Fest Tanz Grupp”.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Leda Assing (esquerda) fez aniversário no dia 22 de janeiro. A
filha Lucilene exclama: “Mais um ano se passando e, como dizem
quando estamos juntas, você continua parecendo ser minha irmã.
É um grande orgulho ser sua filha e muito bom poder sempre contar com você. Se a trajetória até aqui não foi fácil, ela é muito bem
sucedida. Para o futuro, desejo muita saúde e menos aflições e
preocupações geradas por nós, seus filhos. Tudo de bom!”
Os priminhos Letícia e Luiz Eduardo sopram velinhas juntos. Felicidades é o que deseja a famílias e todos
os amiguinhos. Parabéns!
O senhor Lindolfo Fulks troca de
idade no dia 25 de fevereiro. Amigos e familiares desejam muitos
anos de vida, com muita saúde, paz
e alegrias. Feliz Aniversário!
Laura Heidemann Herdt troca
de idade em fevereiro. Seus amigos e familiares, em especial sua
neta Kelin, lhe desejam muita saúde, paz e dias repletos de alegrias.
Osni Folster completou mais
um ano de vida. Homenagem
especial dos amigos “pescadores” e de toda sua família!
Leandro, o famoso Schmitão
soprará velas em fevereiro.
Toda a família e, em especial, a
esposa e o filho desejam muitas felicidades. E a galera espera pela festa no dia 21!
Kauan Bonetti Soares, o
orgulho da família, completará seu segundo aninho no
dia 14 de fevereiro. Felicidades Kauan!
O mês de janeiro foi de comemoração na família Vandresen e Wilke. Seu Roberto e Dona Valda celebraram 57 anos de vida conjugal e sempre foram foram exemplo de cumplicidade, respeito e amor aos filhos. Na mesma data, os filhos e noras Rubens e Irene
e Leonir e Rosane celebraram 32 anos de matrimônio e provam que a passagem dos anos só torna o amor mais sólido!
25
Muitas felicidades para nosso amigo Gilmar Vandresen,
que no dia 20/01 trocou de
idade.
O garotinho Diogo da Silva
Marques comemorou seu
terceiro aninho de vida no
dia 22 de janeiro. A mamãe
Irene e o papai Diego desejam toda a felicidade do
mundo!
Quem comemora mais um ano de
vida no mês de fevereiro é Ângela
da Silva Feldhaus. A homenagem
especial é de seu marido Ney, de
seus filhos Patrick e Paloma e de
seu genro Douglas.
26
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
Promoção da SAÚDE
COMUNIDADE
Murilo Leandro Marcos
RIO DO MEIO
Ana Beatriz Kulkamp | Diana Kulkamp | Karine Neckel
Projeto inovador
Mais uma vez, nossa coluna é dirigida aos agricultores
do Rio do Meio. Porque nossa região tem mais novidades
na produção sustentável. Famílias começam a plantar várias espécies de ervas aromáticas para a extração de óleos
essenciais.
Para conhecermos um pouco mais desta produção e
sabermos o que as pessoas estão achando desta nova iniciativa, realizamos uma entrevista com um casal que vive
em nossa comunidade.
Casal de “experimentadores”
Adenei da Silva e Ivonete Boeing da Silva constituem
uma das famílias que farão parte deste projeto. O casal
já trabalha com a produção de galinhas orgânicas e com
a venda de leite. Agora, aposta nessa nova atividade que
também é orgânica.
Ivonete conta que a experiência começou neste mês de
janeiro, com o recebimento das mudas: “São mil e cem, todas fornecidas pelo projeto”. Adenei e Ivonete, ao mesmo
tempo em que plantam e cuidam das mudinhas, aguardam
a reunião dos produtores com os coordenadores do projeto para conhecer melhor como funcionará o “experimento”.
Essa palavra complicada quer dizer apenas que eles,
juntamente com a equipe do projeto, observarão as plantas e anotarão tudo o que acontecer (crescimento, insetos,
doenças). Com isso e com os resultados da produção e da
quantidade e qualidade dos óleos extraídos, vai ser possível escolher as ervas aromáticas que se adaptam melhor às
Encostas da Serra Geral. (Veja pág. 8)
Remédio e cheiro bom
A erva que a família ira plantar se chama sálvia. Ivonete conhece muito pouco da planta, mas sabe que depois
de colhida será transformada em óleo essencial. Imagina
que é para as indústrias de cosméticos para a fabricação
de shampoo, sabonetes entre outros produtos, pois é uma
erva de aroma. Sabe também que a sálvia serve para fins
medicinais, como chá e como tempero.
Ivonete diz estar vivendo uma experiência nova e afirma:
“Tenho fé que dê certo”. Ela comenta que os filhos Mickael
e Samara estão contentes com a iniciativa, já pensando no
futuro, porque acham que pode ser uma boa alternativa de
renda para eles, sendo um cultivo aparentemente fácil para
jovens e mulheres.
Ivonete e seus filhos exibem as mudas de sálvia.
Uma ajudinha da net
Como a gente também não sabia de muita coisa, pesquisamos na internet sobre a tal sálvia. E olha o que achamos no site www.tuasaude.com: “a sálvia é uma planta
medicinal que pode ser utilizada no tratamento de várias
doenças, seu óleo essencial contem pineno. Tem atuação
anti-inflamatória, antirreumática, balsâmica, cicatrizante, digestiva, sudorífica e tônica”.
Nosso Rio do Meio mais cheiroso
Na comunidade, outros produtores aderiram ao cultivo
das espécies aromáticas. O Júnior Tiago Mendes está cultivando orégano. O Dauri Floriano, cultivando tomilho. E até
nossa jornalista responsável, que tem um sítio por estas
bandas, entrou nesta produção.
Desejamos que todos tenham sucesso e que Santa
Rosa de Lima se consolide cada vez mais como referência
em projetos inovadores e que não agridem a natureza, fazendo jus ao seu título de Capital da Agroecologia. E, além
disso, perfumando mais nossos ares e nossas vidas.
Para mudar o mundo, primeiro é
preciso mudar a forma de nascer*
“A civilização começará no dia em que o bem estar dos recém-nascidos
prevalecer acima de qualquer outra consideração.” (Wilhelm Reich)
A coluna deste mês tem um caráter intimista. Gostaria de compartilhar alguns
pensamentos sobre essa experiência revolucionária que é o nascimento de um
filho. Aproveito para agradecer aos colegas de jornal, especialmente ao Maratcha e ao Mentira, pela homenagem na última edição. Gratidão!
Gestação
Acompanhar uma mulher durante a gestação não é tarefa para
qualquer homem: o corpo dela se
transforma, a cabeça voa, o humor
varia, o desejo urge, o medo assombra, a família palpita, a vizinha
assusta, a dor dá pânico... E ainda
tem o enjôo, o xixi, o inchaço, o
peso e... tem o bebê! Um mundo
de metamorfoses que, após serem
digeridas pela mãe, tem de ser assimiladas e respeitadas pelo pai.
Afinal de contas, é isso que nos
cabe: observar, acolher, entender e
respeitar todas essas modificações
que nunca vamos, nós homens,
sentir na carne.
Opção
Pois bem, passados nove meses, o bebê tem de sair – e a mãe
tem que se desfazer da barriga. A
opção pelo parto em casa – antigo
e natural, como muitas de nossas
avós pariram, tem hoje em dia um
quê de absurdo, insano e irresponsável. Conosco, tal opção gerou
muita discussão: foi uma escolha
bastante desafiadora, de descobertas e coragem, de vencer os medos
sociais e culturais e ao mesmo tempo se permitir conectar com a sagrada natureza.
Depois de muita leitura, grupos
de gestantes, exercícios, yoga e de
manter em segredo para não alarmar a família, ter o parto em casa
foi se configurando uma decisão
segura.
E chegou o dia!
A regra era manter a naturalidade. Entre as contrações e a expectativa, tinha piada, caminhada,
comida e os preparativos finais. A
banheira de parto estava montada. As fraldas para manter o bebê
aquecido depois do nascimento
estavam passadas. A mim, que optei ser pai e não médico durante
a gestação e o parto, cabia apoiar
minha mulher e oferecer uma água
ou uma massagem. O homem não
pode fazer muita coisa. Talvez a
principal coisa a fazer seja justamente não fazer, mas estar ali,
ajudando e respirando. Final de
tarde, porém, a normalidade dei-
Murilo e Flora, ainda na banheira de parto, logo após o nascimento de
Rodrigo.
xou de ser “normal”. As contrações
vieram fortes e frequentes, e a parteira (que é enfermeira obstétrica,
natural de Gravatal) foi chamada.
Dali pra frente, a dor aumentou, a
ansiedade apareceu e o medo surgiu...
A mãe-mulher-animal
O parto pode ser uma experiência profundamente terapêutica,
uma cura pra toda vida, mas para
isso é necessário enfrentá-lo. Enfrentar a dor, os medos e as sombras da nossa história. E foi o que
aconteceu: durante as horas mais
intensas do trabalho de parto, eu,
a parteira e sua ajudante simplesmente esperamos. Não a espera
vã, mas a espera com fé, crente de
que iria dar certo. Enquanto isso,
a mãe do meu filho estava em sua
“caverna”, provavelmente fazendo
reviver seu lado animal-ancestral,
desligando-se do racional e se conectando profundamente com as
necessidades do seu corpo – e do
bebê! O parto é também uma longa
e enraizada conversa da mãe com
seu filho.
O nascimento
Hora de voltar pra banheira de
parto e fazer força. Eu permanecia
em silêncio, numa tranqüila ansiedade, respirando e dando suporte.
Poucas contrações depois, a mágica
da vida: meu filho deixando o útero
e mergulhando neste mundo, dentro da banheira de fundo azul, com
os cabelos balançando de leve, trazendo um olhar firme e sereno de
quem vivenciou uma das experiências mais difíceis e reveladoras que
se pode ter. Ele havia efetivamente
chegado em nossa vida. Nosso filho
chegou bem, saudável, de maneira
respeitosa e natural.
A vida e o mundo
Hoje, com um mês, ele parece
estar adorando a vida. Se para melhorarmos este mundo, deixando-o
fértil pra quem vem, precisamos
mudar o jeito como as crianças
nascem, acredito que cumprimos
nosso papel.
* A frase do título é de Michel Odent, médico obstetra francês que revolucionou o jeito
de entender e atender partos.
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
27
Esporte Total
Ana Maria Vandresen
Futebol das antigas
Colaboração de Ronaldo Michels
Essa coluna, em época de calor total e calmaria no esporte,
aproveitou para iniciar um trabalho de recuperação da memória em torno dos nossos atletas e competições. Já vínhamos
fazendo isso com fotos na “Máquina do tempo”, mas consideramos importante ter depoimentos. Começaremos pelo futebol e com um “craque”. A entrevista é com Isaltino Bonetti,
58 anos, que hoje mora na comunidade do Rio do Meio, mas
que, na época de futebol dele, morava na comunidade da
Santa Bárbara.
chegávamos a jogar até as duas ou três
horas da tarde. Um pouco depois começaram os torneios na comunidade.
Como eram formados os times?
Na nossa comunidade, os dois melhores jogadores ou os dois goleiros escolhiam os times. E para jogar nos torneios
eram feitos dois quadros, como se dizia
naquela época. Tinha o time dos melhores e o time dos mais ruinzinhos. Quem
era bom de perna jogava nos dois times.
Mas quem competia contra quem?
No início, era só entre nós mesmos,
na Santa Bárbara. Depois, quando eu
estava com uns dezessete anos é que
começamos a jogar torneios em outras
comunidades. Jogávamos no Rio dos Bugres, no Santo Antônio.
Quem organizava essas competições?
Meu pai era o presidente e o representante do nosso time. Ele é quem ia às
comunidades marcar os jogos. Ia de cavalo ou a pé. Marcava uma semana antes.
Se no dia desse uma chuvarada, o jogo
saía de qualquer jeito. Não dava para
desmarcar, porque era longe pra avisar.
Onde elas aconteciam? Como era a
premiação?
Os jogos aconteciam aonde tinha uma
baixada, no meio do pasto mesmo, com
muito mato. Às vezes, chutava mais mato
do que bola. Levantava mato no meio
dos dedos, que chegava até a arrancar
(risos). A premiação era um cabrito, um
porco ou um boi.
Tino Bonetti fez questão de usar a camisa do seu time durante a entrevista.
Paixão
Quando perguntei ao “Tino” se poderíamos entrevistá-lo sobre sua vida esportiva e sobre como era o esporte na época
de “gurizão” dele, respondeu que teria
que ser com a camiseta do Palmeiras.
Contou que era santista quando criança.
Por causa de uma rixa com vascaínos e
para defender o amigo Gabriel, afirmou
que era palmeirense. Fez, então, uma
aposta pesada em um jogo do Palmeiras
contra o Vasco e acabou virando palmeirense. A boa fase do “Verdão” à época
só ajudou. Sobre a fase atual da equipe
do coração ele comenta: “Fiquei com dó
quando ele foi pra segundona. Mas, hoje,
está na primeira de novo”.
Como era a vida esportiva no seu
tempo?
Na minha época, esporte era só o futebol. Quem trouxe o futebol para nós, lá
na Santa Bárbara, foi o Egídio Loch. Primeiro, a “bola” era de pano e inbira. Depois de um ano, o Egídio voltou lá e levou
uma bola de verdade.
Em que ano vocês começaram a jogar futebol? Como era?
Eu comecei a jogar com seis anos, em
1962. Era sempre nos domingos. Íamos
para a igreja e depois jogávamos aquela bolinha. Nossas mães iam mais cedo
embora para preparar o almoço, mas nos
Como o time se deslocava?
No início, íamos todos a pé. Saíamos
bem cedo, porque tinha a missa pela manhã e o jogo era à tarde. Cada um levava
uma trouxinha de comida para o almoço.
Algum tempo depois, começamos todos
a ir de caminhão.
Quem eram os bons de bola?
O meu pai jogava muito. E o Valenti e
o Leandro, já falecidos, também.
E o melhor goleiro?
Era o Adelino Lock. Ele tinha uns dois
metros de altura. [risos] Ele nem precisava pular para pegar a bola nos cantos. E
as mãos eram tão grandes que encaixava
a bola dentro uma só.
Tinha uniforme, chuteiras?
Os uniformes, as mães costuravam
para cada filho. Era aquele cuecão, feito
de saco de trigo. No início, era tudo descalço. Depois, chegaram os Kichutes [um
misto de tênis e chuteira fabricado a partir da década de 1970, pela Alpargatas].
Kichute, a chuteira dos anos 70.
E jogos na “praça”?
Quando eu tinha uns vinte anos, então começou a ter mais times nas comunidades e jogávamos muito na Santa
Rosa [“praça”].
Existia apoio para as equipes?
No início, não tinha apoio nenhum. O
primeiro auxílio que recebemos foi uma
bola doada por um vereador.
Conte uma história especial daqueles tempos
Um dia o time da Santa Barbara desafiou as outras comunidades para um
jogo. Então Rio dos Bugres, Rio dos Índios
e o Azedo se juntaram e fizeram um time.
E foram lá jogar.
Os desafiantes tinham um guri muito veloz e bom de bola, chamado Veloni
Carvalho. Fizemos uma provocação: ele
não passaria, de jeito nenhum, por nós,
na zaga. De repente, veio uma bola e o
Veloni subiu tão alto pra cabeceá-la que
o Lindolfo Beckauser chutou debaixo do
nariz do tal bom de bola. Isso era tanto
sangue... Tinha um rio perto e ele saiu
correndo para lá. Enfiou a cabeça na água
e o sangue era tanto que o rio chegou a
envermelhar. Depois, com o nariz inchado, voltou a jogar. O que estava valendo
era o desafio.
Nos minutos finais da partida, a bola
sobrou lá no meio do campo e o Jorge
Blasio, que não era dos melhores, chutou. Antes de chegar ao gol, a bola pegou
em uns montinhos de merda. É, durante a semana, os bois pastavam no nosso
campo e sempre tinha umas merdinhas
de gado... O desvio enganou o goleiro e a
bola acabou entrando. Assim, eles ganharam o desafio por 1 X 0. E ganharam, também, muitas caneladas. No dia seguinte,
disseram que era tanta, mas tanta, dor
nas pernas... (risos)
28
Santa Rosa de Lima, Fevereiro/2014, Canal SRL
li-secretário responsável pela pasta da
agricultura disse que se 2013 foi o ano
dos transportes e obras, 2014 será o
ano da agricultura. Este pobre e barrigudo Macau torce para que dessa vez
seja verdade. E para que se tenha, de
fato, políticas e ações públicas municipais voltadas para o fortalecimento da
agricultura familiar santarosalimense.
O ano da agricultura familiar 1
Por decisão da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU),
em 2014 será celebrado o “Ano Internacional da Agricultura Familiar”. Essa
ação visa chamar a atenção do mundo à
importância da agricultura familiar e dos
pequenos agricultores para acabar com
a fome e a pobreza, para assegurar a
segurança alimentar e nutricional, para
a proteção do meio ambiente e para o
desenvolvimento sustentável, particularmente nas áreas rurais.
O ano da agricultura familiar 2
O objetivo é colocar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas,
ambientais e sociais dos governos, inclusive os municipais. O que se quer é
que os poderes públicos entendam os
desafios que os pequenos agricultores
enfrentam e que achem maneiras eficientes de apoiar os agricultores familiares.
O ano da agricultura familiar 3
Parece que em Santa Rosa de Lima
não será diferente. Recentemente, em
entrevista a uma rádio da região, o po-
O ano da agricultura familiar 4
Muito otimista com a decisão da
ONU, este ingênuo colunista gostaria
de ver o governo municipal de SRL reativando o CONPLAMA, fortalecendo o
programa de produção leiteira, apoiando decididamente a produção orgânica,
com um técnico especifico para fomentar esse tipo de manejo, assim como desenvolvendo uma campanha sólida pela
redução do uso de agrotóxicos e de
respeito ao meio ambiente. Pelo menos
no fortalecimento do agroturismo há
alguma expectativa, porque a avaliação
negativa sobre o imobilismo da prefeitura nessa área é ampla, geral e irrestrita.
O inadiável sempre adiado
Há muito, mas muito tempo, a elaboração do Plano Diretor municipal vem
sendo comentada e apontada como
uma necessidade urgente. Vive-se, em
2014, um bom momento para encarar
esse desafio. Basta que o executivo municipal e a câmara de vereadores comecem a tratar deste tema já no início do
ano e que ele receba a prioridade que
merece. Santa Rosa de Lima precisa,
urgentemente, de um plano diretor que
ordene o seu crescimento. E tal Plano
precisa ser construído de uma forma
em que a população seja realmente ouvida, para que as necessidades das co-
munidades sejam consideradas e para
que, depois de promulgado, seja possível colocá-lo em prática.
Mostrar e ocultar
Certas atitudes chamaram a atenção
de santarosalimenses atentos. Algumas
delas relacionados ao recebimento de
bens e recursos públicos. Logo no início
de 2013, uma retro escavadeira vinda
do Governo Dilma, através do PAC, ficou
exposta por muito pouco tempo, com
uma singela frase de agradecimento.
Em seguida, vieram três ônibus, também com recursos do Governo Dilma
e sequer foram apresentados à população. O carro do Pacto por Santa Catarina também foi colocado rapidamente
“a rodar”.
Recentemente, contudo, chegou um
veículo para a Saúde, comprado com recursos de emenda federal. Neste caso,
o carro foi colocado em exposição, frente à unidade de saúde, sobre a calçada,
com uma enorme faixa que destacava
nomes de pessoas. É importante que
a população saiba que bens e que recursos públicos chegam ao município. A
pergunta que não quer calar é: por que
se “escondeu” três ônibus e se “pôs na
vitrine” um simples Fiat uno?
Agora sob nova direção
As atividades ordinárias da câmara de vereadores de SRL reiniciam em
quatro de fevereiro, com o comando,
espera-se, do vereador Ivo Vandresen.
A coluna torce por um ano bem mais
produtivo do que o passado. Que haja
condições e o preparo para realização
de verdadeiros debates. Que os projetos sejam realmente debatidos pelos nobres vereadores. E que parem
os “atropelamentos” característicos da
presidência anterior. Todo mundo sabe
que porco é preguiçoso. Por isso, o nosso torce para que as ações da Câmara
estejam lá nas reportagens do Canal
SRL. E que não precise gastar tanta
energia com a inação ou com as arapucas regimentais da Câmara. Por favor,
senhor presidente e senhores vereadores, quem quer ficar arriado é este
Macau.
Maus tratos
O Conselho Tutelar está sem internet. Antes, já ficou “quase” a pé. O quase é só porque, parece, não se pode
dizer que ficou a pé, porque, à época,
os conselheiros podiam “pegar carona”
ou usar um “riscomóvel”. Que zelo está
tendo o poder público municipal com
ao órgão que tem a responsabilidade
de zelar pelos direitos das crianças e
adolescentes do município? A quem se
comunica esses maus tratos ou esse
comportamento vicioso típico de assédio moral?
Uns batem, muitos me assopram
Este Macau tem sido elogiado por
muitos e criticado por alguns. É este
realmente o objetivo. Um porco tipo
banha, com este corpinho, não pode
esperar o elogio de todos. Não pode
esperar só fiu fiu. E um humano já disse que a unanimidade é burra. Aqui se
busca apontar questões para a reflexão
e o debate. Não se quer criticar pessoas, mas examinar atitudes e condutas
consideradas prejudiciais à democracia
e à cidadania. Aliás, como porco não
consegue ficar ruminando, está louco é
para elogiar!

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