07 Re-pensar.

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07 Re-pensar.
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rep
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AGOSTO/SETEMBRO 2013
CONCEITUAL
#07
Lilian Pacce. Referência em estilo.
A estampa.
por Lilian Pacce.
Consultora de moda e estilo.
Sim, moda e decoração sempre conversaram.
Afinal, as tendências de cores e estampas podem ser aplicadas
nas duas. Por exemplo, uma camisa tão estruturada que inspira
o desenho de uma cadeira. Estilos e tendências podem decorar
tanto seu guarda-roupa como sua sala.
Eu adoro quando a moda troca ideias com o ambiente.
Assim, minha casa fica sempre bem-vestida.
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CONCEITUAL
#07
AGOSTO/SETEMBRO 2013
Publishers André Poli e Roberta Queiroz
Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza
Conselho Editorial Renata Amaral, Carolina Szabó, Jéthero Cardoso,
Roberto Negrete e Alex Lipszyc
Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia
Redação e Reportagem Marcella Aquila
Colaboradores Edson D’Aguano, Jéthero Cardoso, Mônica Barbosa, Ronald Kapaz
Diretor de Arte Marcos Guinoza
Editor de Fotografia Renato Elkis
Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683
Revisão Luciana Sanches
*
Publicidade
Diretor Comercial Marcelo Damado
[email protected]
VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275
www.velveteditora.com.br
ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores
www.abd.org.br
TRIÊNIO 2013/2015
CAPA Pensando Fora da Caixa,
tema do Conad 2013, inspira esta
sétima edição da ABD Conceitual.
Arte da capa: André Poli
Presidência: Renata Duarte Amaral
Vice-presidência: Marcia Regina de Souza Kalil, Ricardo Caminada,
Bianka Mugnatto, Jéthero Cardoso Miranda e Renata Duarte
Conselho Deliberativo - Membros Efetivos: Carolina Szabó (SP), Carlos Alexandre
Dumont (MG), Paula Neder de Lima (RJ), Francesca Alzati (SP),
Silvana Carminati (SP), Mauricio Peres Queiroz dos Santos (SP), Luiz Saldanha
Marinho Filho (RJ), Alexander Jonathan Lipszyc (SP), Renata Maria Florenzano (SP),
Jaqueline Miranda Frauches (MG), Rosangela Larcipretti (SP), Jocelen Aparecida
Bergamo (SP), Flavia Nogueira da Gama Chueire (RJ), Lucy Amicón (SP) e
Elisa Gontijo (SP). Conselho Deliberativo - Suplentes: Nicolau da Silva
Nasser (SP) e Paula Almeida (SP). Conselho Fiscal - Membros Efetivos:
Fabianne Nodari Brandalise (PR), Catia Maria Bacellar (BA), Maria Fernanda Pitti (SP),
Delma Morais Macedo (BA) e Maria Luiza Junqueira da Cunha (SP).
Conselho Fiscal - Suplente: Daniela Marim (SP). Consultor: William Bennett
Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade
dos autores e não refletem a opinião da revista.
6 abd conceitual AGO/SET 2013
Selo
*
EDITORIAL
foto DOUGLAS GARCIA
Transgredir
Amigos,
A oitava edição do Conad (Congresso Nacional de
Design de Interiores) foi um tremendo sucesso! O evento
aconteceu entre os dias 3 e 5 de julho, e o tema escolhido
para nortear palestras e debates foi uma expressão que,
nos últimos anos, tornou-se bastante comum – principalmente no mundo dos negócios: Pensando Fora da Caixa.
Falam que essa expressão surgiu nos Estados Unidos – think outside the box – lá na década de 1970. Mas
ninguém sabe ao certo quem a criou. O que importa, no
entanto, é seu significado.
“Pensar fora da caixa” é incitar o pensamento criativo, fugir do óbvio e da mesmice, ir além dos padrões estabelecidos. Em uma palavra: transgredir.
A tal “caixa”, nesse sentido, simboliza a rigidez, a
restrição, o pensamento “quadrado” e sem imaginação
que não combinam em nada com profissionais que trabalham com a criatividade – como, por exemplo, nós, os
designers de interiores.
E foi baseado no tema do Conad que pensamos
Obra da série Matuto ao Cubo, de Rodrigo Bueno
esta ABD Conceitual. Nesta sétima edição, falamos sobre
a simbologia das cores e os tons que colorem o Brasil e o
mundo em 2013. Entrevistamos o designer e arquiteto italiano Simone Micheli e o consultor americano Ken Nisch
– ambos palestrantes no congresso.
A cozinha, avisou Andrea Bisker, do WGSN, no
Conad, é hoje a “protagonista da casa”, e a sala de jantar
deve desaparecer. A importância da cozinha na convivência
entre as pessoas está na matéria que fala sobre esse
ambiente que retoma seu espaço de rainha do lar.
Em outra reportagem, conversamos com José Roberto Muratori sobre automação residencial e a casa do
futuro. E, para finalizar, explicamos por que os ambientes
de trabalho se transformam cada vez mais em espaços
abertos e fluidos, sem estações individuais.
Para ler, é só abrir a “caixa” e virar a página.
Renata Amaral, presidente da ABD
*
SUMÁRIO
10 A CASA. O ACASO
16COR-RESPONDÊNCIA
A morada molda o comportamento? A morada A sua cor preferida e os tons que colorem o
muda o ocasional? Traduz o pensamento?
mundo: verde-esmeralda e verde-limão
[+]
14 E AÍ, BELEZA?
O que é legítimo é o que representa
essencialmente o belo
20 MUDAR É POSSÍVEL
O timing da mesmice já era. Chegou a vez
da mudança. Por Edson D’Aguano
32 DO ARQUITETO AO
CONSTRUTOR DE IMAGENS
22 MÚLTIPLO
26 HOTSPOT
Em entrevista, o designer e arquiteto italiano
Simone Micheli fala sobre vida, arte e obra
Comer, prazer, viver: a cozinha retoma seu
espaço de rainha do lar
A personalidade da marca e sua expressão
pelo desenho do espaço. Por Ronald Kapaz
34 CASA ONLINE
José Roberto Muratori fala sobre
automação residencial e a casa do futuro
38 SER FEIO ESTÁ POR FORA
Considerações sobre o novo conceito de
beleza. Por Mônica Barbosa
46 O EFÊMERO E O ETERNO
As diferenças entre design de interiores e
arquitetura. Por Jéthero Cardoso
54 CADEIRA VIVA
Peças de mobiliário se transformam em
vasos na arte engajada de Rodrigo Bueno
40 TUDO JUNTO & MISTURADO
48 DESENHANDO ESTRATÉGIAS
A transformação dos ambientes de trabalho em O consultor americano Ken Nisch explica a
espaços de estímulo e convivência coletiva
relação do design com o varejo
8 abd conceitual AGO/SET 2013
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INSIDE
A CASA | O ACASO
Acessos aos
significados do morar
arte andré poli
por EDUARDO LOGULLO
A morada molda o comportamento?
A morada muda o ocasional?
A casa traduz o pensamento?
A casa une o acaso e a necessidade?
A toca diz do entocado?
Como se tocar de que se precisa pensar fora da toca, fora
da tocha, fora da porta?
Abra a porta e a janela. E vem ver o sol nascer.
O quarto é o início da expansão da ideia de se guardar.
decisões que fazemos na internet: interferir, aceitar, envolver-se,
Foi: o abrigo deu start ao interior.
rejeitar, salvar, disponibilizar, surpreender-se, atirar longe, evitar,
Será: do interior veio o externo.
bloquear, imaginar, alegrar-se, desligar-se.
Sim. Sim. Sim. Cada vez mais se torna claro que a mo-
Cada morada/casa/toca fala/toca/ouve de modo
rada participa papéis cruciais para expressar/moldar uma socie-
simultâneo. Talvez por isso os projetos comecem em
dade, de modo global ou local. Sim. Sim. Sim.
situações concretas: ali desponta algo. O que virá
O comportamento humano em relação ao espaço in-
depois cabe a nós moldar. Ou, como dizia
terior será sempre o principal ponto de partida para qualquer
Lygia Clark, “somos o molde; a você cabe
conceito de ambientes internos, conforto, sonho, proteção,
o sopro”.
abrigo, inovação.
O termo “inovação”, por exemplo, em alguns momentos
Cabe a cada um varrer o
inútil, varrer o melancólico, var-
pode ser uma palavra vazia. Mas sabemos que ela estala/resvala
rer o supérfluo, varrer o fake, varrer
na noção de originalidade, visão, desejo e conquista – as épocas
o passadismo, varrer as referências do
costumam trazer suas inovações (ou suas destruições traves-
erro. Re-mover. Sim. Sim. Caber onde que-
tidas de inovação, como acontece nos países em que sistema
remos caber. Caber onde desejamos caber. In-
financeiro e mercado regem os fluxos sociais. Precisamos dar
ventar cabimentos. Sair. Pular fora. Mirar onde poucos
nomes aos bois? No. No. No.).
miram. Mirar na miragem.
Imagem e espaço. Uma construção terá sempre essa
O tom de morar. O bem-bom de morar. O zoom
dualidade. Imagem e espaço. E para ter sentido, a imagem tem
de morar. O morar ali, morar aqui, morar lá. Morar: sinalizar
que ser gerada por meio do uso do espaço, através daquilo que
conhecimentos. Morar: (re)produzir conhecimentos. Morar:
nós, um bando de corpos pensantes, nos movemos por dentro,
(re)processar-se. Morar: não se processar demais. Morar:
através, em volta e por dentro.
transparecer. Morar: quase para desaparecer. Morar: receber-
Dentro do dentro é que o discurso pessoal/impessoal
se. Morar: distribuir divisões. Morar: descobrir ideais de estética.
se revela – ou se torna – definitivo, brilhante, dissonante, bobo,
Morar: introduzir estéticas inesperadas. Morar: assimilar
ralo, grandioso, marcante, cristalino, límpido, pesado, errôneo,
contribuições. Morar: associar conhecimentos. Morar: (des)
simplista, exagerado, equivocado, abandonado, tosco, torto,
concentrar ideias. Morar: lembrar que uma boa ideia nem
troncho, descampado, destampado, camp.
sempre leva a outra boa ideia. Mora na filosofia: pra que rimar
A barafunda dessa barra pode ser funda. Como o local
que habitamos afeta o nosso comportamento? O afeto se encerra no acaso da casa?
amor e dor? Morar é rimar gostar com estar. Morar. Sair. Morar.
Sair. Morar. Sair. Depois ficar. Bem.
Habitar. Viver. Morar. Entrar. Desentranhar. Habitar por-
A morada, o abrigo, o epicentro de seu/meu mundo
que se vive e porque não se quer morrer. Habitar porque se
deve levar a novas plataformas de pensar, para descobrir aspec-
sabe que um dia se morre e porque o abrigo nos protege da
tos novos de nós próprios. O próprio, no sentido de revelação
morte. O hábito habita o abrigo. O abrigo mora no hábito. Habi-
pessoal, traz a propriedade. E o que faz as pessoas escolherem
to, logo vivo. Penso, logo habito. Vivo, logo me abrigo.
novas plataformas de vida, de morada, de habitação?
Habite-se. Habite-me. Sem habituar-se. Sem maus
Seres humanos se comunicam o tempo todo com tudo
hábitos. Com bons jogos da fantasia. Com olhos de outsider.
aquilo que está próximo de tudo e de todos que buscam tudo
Sem os dramas modernos da alienação, mas com os insights
aquilo o tempo todo. Constantemente deciframos, avaliamos
sobre a natureza da liberdade. Liberdade que seja a intensi-
e fazemos escolhas baseadas na comunicação e no feedback
dade de querer e que surge em qualquer circunstância que
advindo de pessoas e acontecimentos e saberes e lugares e
tentem nos limitar e nos estimular a querer (viver) mais. O ca-
olhares e gostares e falares e citares e andares e passares.
racol sabe a concha que tem. A concha leva o caracol aonde
Escolher processos de vida pela vida afora são como as
o caracol quer chegar.
E AÍ,
BELEZA?
14 abd conceitual AGO/SET 2013
branding de Edson D’Aguano + pesquisas de cores da Suvinil +
etc........................................................... + uma grande preocupação com a
beleza: o grande objetivo do desejo contemporâneo.
Na medida em que o design se alastra – tendo como
meta conquistar as ruas, empresas e marcas – estabelece parâmetros para que se possa desejar sempre o mais belo. Em
um tempo de mais independência e maiores individualidades,
quando as expressões interiores passam a ser mais respeitadas
e valorizadas e o termo “customizado” passa a ser quase obrigatório, seria possível fixar um consenso para a beleza? Essa foi a
pergunta que mais ecoou na minha mente durante o Conad. E
as respostas que ouvi de pessoas experientes no assunto, apesar
de coerentes, pareceram-me ainda como uma ressonância vinda
de dentro da caixa: “A beleza está nos olhos de quem vê”. Será?
Para apreender a beleza é preciso ter repertório. Acredito que o conhecimento pode contribuir para um refinamento no olhar. Não se trata de diploma, necessariamente, mas de
curiosidade, de vontade de conhecer. Penso que, nessa direção,
o próprio Conad foi o maior exemplo de busca pela beleza. E
aproveito o mote, levantado e investigado durante o evento,
para chamar a atenção para a questão da legitimidade da be-
fotos do músico japonês cornelius
Durante os três dias do Conad 2013, mais de 700
profissionais do design de interiores se deixaram contaminar
pela atmosfera efervescente de ideias e discussões em torno
do tema Pensando Fora da Caixa. Acredito que a palavra que
melhor sintetiza esse tema é legitimidade. Afinal, “sair da caixa”
não é brincadeira. É preciso, antes de tudo, muita coragem, e,
depois, uma boa dose de embasamento e bagagem repertorial
para se aventurar na abertura de novos horizontes. Certamente,
a meta da ABD, ao trazer para o debate um tema tão ousado,
não seria “brincar de ser diferente”.
A escolha teve como guia a busca por uma nova maneira de pensar o design de interiores. Em tempos de mudanças permanentes, os ambientes devem acompanhar com a
mesma rapidez as transformações no modo de vida, sem que,
em nome da estética, percam-se a funcionalidade e o conforto.
Ao mesmo tempo, uma nova estética – do conforto e da funcionalidade – pode e deve ser criada. E foram exatamente essas
questões que vi sendo geradas e debatidas durante o congresso: medidas do viver + menores e novos m² + espaços do
desconhecido + o método criativo de Simone Micheli + revoluções no design de interiores corporativo com Ken Nisch + brain
Aquilo que é verdadeiro, íntegro e,
portanto, legítimo, é o que representa
essencialmente o belo
por andré poli
leza. Sob o meu ponto de vista, aquilo que é verdadeiro, íntegro
e, portanto, legítimo, é o que representa essencialmente o belo.
A mulher elegante, cuidadosa nas suas escolhas, que cultiva a
sua existência interior tanto quanto a exterior, é bela ou se torna
bela. Aquelas entretidas apenas com as formas aparentes e que
desconsideram o cultivo de sua essência são fakes e vazias.
Por mais estranhamento que cause a cultura do funk
e da laje, é possível enxergar beleza quando o modo de vestir,
dançar, falar compõe um todo, um modo de ser, legítimo, de
uma parcela da sociedade que transparece, em seus atos, sua
experiência de vida, a herança da sua educação, de suas desgraças e glórias. Essas experiências lapidam sua existência. Mas,
quando isso vem embrulhado para presente com modismos
vazios, perde-se o brilho e a legitimidade se esvai. Quando digo
“modismo”, quero dizer “copismo” e todos os “ismos”, ou mesmo
as ataduras de “bom gosto”.
A beleza está na legitimidade de cada um – e assumir
essa máxima foi a grande contribuição trazida pelo Conad.
Quando as disputas se acirram e as batalhas são travadas por
uma maior coerência na política, nunca uma palavra teve tanta
força, em todos os campos, quanto legitimidade.
COR-
RESPONDÊNCIA
A sua cor preferida e os tons que colorem o mundo
por Marcos guinoza
Tempotest Floral, 100% acrílico, na
Donatelli Tecidos. Ao lado, cabide de parede
Arrow e regador Alessi Diva, na Benedixt
Cor é luz. Ou comprimentos de onda que o olho humano assimila e o cérebro interpreta e transforma em cor et cetera e tal.
Mas cor não é apenas luz. Cor também é informação, código, linguagem, meio de expressar uma ideia.
Quer um exemplo? Vamos lá:
Para representar o passado, geralmente, usamos tons
pastel amarelados e sujos, como palha, ocre e sépia, remetendo
ao papel ou tecido envelhecido. Já o futuro surge em cores limpas
e frias: branco (em razão da luz intensa), prata (dos objetos tecnológicos), verde (da informática) e azul (do infinito).
Basta observar por aí: o passado é pesado como pirâmide; o futuro, leve como fibra de carbono.
É preciso também se ligar no aspecto cultural das cores.
No Ocidente, de modo geral, a cor rosa simboliza o feminino; na
Coreia, significa confiança; na África do Sul, está relacionada com
a pobreza. E se, para os alemães, amarelo é inveja, para egípcios e
etíopes, amarelo é luto.
Ainda tem a questão biofísica das cores, de como somos afetados inconscientemente por elas. Dizem – e a ciência
comprova – que cada cor provoca uma sensação diferente nas
pessoas. Vermelho estimula, verde relaxa, azul acolhe e assim por
diante. Até a cor preferida de cada um muda com o passar dos
anos, podendo representar o que mais existe na pessoa ou o que
mais lhe falta.
Cor, como se vê, é bem mais do que simples questão de
gosto. Por trás de uma escolha, há razões – conscientes ou não.
MUNDO-ALDEIA
Hoje, no entanto, ninguém precisa escolher cor nenhuma. Pode, se assim desejar, apenas seguir as tendências apontadas pelo mercado para ficar atualizado. No mundo-aldeia, tudo
influencia tudo e, de repente, tudo vira quase uma coisa só.
Em relação à cor, a Pantone elegeu o verde-esmeralda,
código 17-5641, como a cor de 2013, e é só fazer uma rápida
pesquisa no Google para comprovar que o verde-esmeralda, de
fato, coloriu o planeta. A questão é: foi a Pantone que influenciou
as decisões do mercado por essa cor ou o mundo já se “esverdeava” e a empresa apenas captou essa tendência?
As duas coisas.
Para chegar à definição da Cor do Ano, a Pantone
explica que “varre o mundo à procura de influências”.
Esse trabalho inclui pesquisas em diferentes áreas: indústria
do entretenimento, filmes que ainda estão em produção,
coleções de arte que estão viajando o planeta, obras de
novos artistas influentes, melhores destinos de viagens, novas
texturas e efeitos que terão impacto sobre a cor, tecnologias e
até grandes eventos esportivos.
Finalizada essa “varredura”, a Pantone desvenda e
anuncia a Cor do Ano e, ao divulgá-la para o mundo, acaba potencializando seu uso.
Claro, isso só acontece porque a Pantone não é uma
marca qualquer, mas uma autoridade no assunto. Aliás, este
ano a empresa comemora 50 anos de invenções cromáticas.
A história da Pantone teve início em 1962, quando
Lawrence Herbert assumiu o controle de uma pequena empresa
em que trabalhava. Localizada na cidade de Manoochie, no
estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, a companhia
fabricava cartões de cores para a indústria de cosméticos.
A grande virada ocorreu um ano depois, em setembro
de 1963, quando Herbert desenvolveu o primeiro Pantone Matching System – o hoje famoso Guia Pantone, um catálogo de
cores que permite visualizar e reproduzir com exatidão as tonalidades que serão aplicadas em produtos de vários segmentos:
moda, design, arquitetura, design de interiores, embalagens.
Outra boa sacada de Herbert foi utilizar um sistema
numérico para identificar as cores Pantone, uniformizando seu
uso. Afinal, números são números aqui, no Sri Lanka, em qualquer lugar.
Referência mundial, as cores Pantone são citadas até
na legislação de alguns países. O parlamento da Escócia, por
exemplo, estabeleceu que sua bandeira deve ser confeccionada
com Pantone 300. Canadá e Coreia do Sul também indicam as
cores da empresa para uso em seus símbolos nacionais.
uma paleta com 31 cores divididas em três temas: Óptico, Etéreo, Biológico – tendo o verde-limão como cor central.
Verde-limão é cor camaleônica. Adquire tonalidades
diferentes ao longo do dia em virtude das variações de iluminação provocadas pela luz do sol. É a cor-síntese da proposta da
Suvinil: refletir sobre a transitoriedade. Na vida, tudo é transitório, inclusive a decoração da casa, que muda à medida que seus
moradores mudam.
Segundo Ana Kreutzer, designer de cores da Suvinil, o
verde-limão já coloriu as passarelas da moda, mas, no design
de interiores, seu uso é inédito. É a reinvenção da cor, que, de
tempos em tempos, ganha novos significados e aplicações.
POR QUE NÃO?
Aderir ou não à cor da moda é decisão de cada um.
Ser livre é poder ser, vestir, comer, ir, pensar, viver do jeito que
se quer. Mas, excetuando-se o lado perverso de provocar mais
desejos do que as pessoas necessitam, essas indicações de tendências, do que é ou será moda, servem também para chacoalhar certezas, desafiar gostos e hábitos estabelecidos, propor
novas possibilidades de mundo.
Por que não? Por que não verde-esmeralda ou verde-limão? Por que não pensar fora da caixa, em que nos sentimos
seguros e confortáveis, e transgredir, experimentando novos
sabores, texturas, caminhos, indagações, cores?
“Viver no escuro”, dentro da sua cor de costume, é
moleza. Complicado é ir contra as próprias convicções e se
reinventar. “No escuro, todas as cores concordam”, escreveu o
filósofo e ensaísta inglês Francis Bacon.
# pantonebr.com.br / suvinil.com.br
TENDÊNCIAS CROMÁTICAS
18 abd conceitual AGO/SET 2013
fotos divulgação
Desde 2000, o Pantone Color Institute elege a Cor do
Ano. Na primeira edição, a tonalidade escolhida foi o Pantone
15-4020, intitulada cerúleo – ou, como ensina o Houaiss, “cor
azul como o mar ou o céu em dias claros”. No ano passado, sob
o código 17-1463, surgiu o tangerine tango: “Um laranja com
muita profundidade”. E, em 2013, o verde-esmeralda.
Explica Leatrice Eiseman, diretora executiva do Pantone
Color Institute: “O verde é a cor mais abundante na natureza.
O olho humano vê mais verde do que qualquer outra cor no
espectro. Simbolicamente, o verde-esmeralda traz em si uma
sensação de renovação, clareza e rejuvenescimento, que é tão
importante no mundo complexo de hoje”.
Outra empresa, a Suvinil, também realiza um estudo
mundial de tendências cromáticas e adapta suas descobertas
para a realidade brasileira, especificamente para as áreas de
arquitetura e design de interiores. Para 2013, a empresa criou
Por que não pensar fora
da caixa, em que nos sentimos
seguros e confortáveis, e transgredir,
experimentando novos
sabores, texturas, caminhos,
indagações, cores ?
Papel de parede com elementos naturais,
lavável, da coleção Silence, na Wallcovering.
Ao lado, cubo de apoio lateral com
acabamento em Laca Brilho, na Estar Móveis
mudar É possível
O timing da mesmice já era. Entram em campo a hora e a vez da mudança
por EDSON D’AGUANO
Reza a lenda que o futuro irá atropelar, sem remorsos, as empresas e os profissionais que resistirem em viver e atuar com
base na mesmice do passado – ainda que, teimosa e erroneamente, acobertados pelo presente traiçoeiro que é “até o talo”.
Paradoxalmente, num mundo cada vez mais não linear,
apenas as ideias não lineares serão capazes de criar resultados
de valor para esses profissionais (arquitetos, designers e decoradores), desde que naveguem estrategicamente pensando “fora
da caixa”, em novos mares ou no “oceano azul”. O livro Blue Ocean sinaliza cases fantásticos dentro do contexto pró-mudanças.
O Cirque du Soleil que o diga. “Pró-change” total.
Para prosperar, portanto, na “Era da Mudança”, já cantada em prosa e verso também como a “Era do Design Criativo”,
será necessário adotar uma agenda inédita de ações radicais,
estratégicas e diferenciadas, recheadas de audácia e inovação,
revolucionárias emocionalmente como tal, para atender os anseios do consumidor cada vez mais exigente, carente e especulativo. Mais que um desafio fundamental com que hoje se deparam as empresas e os profissionais, penso que é, e será, uma sina
(ad eternum) reinventar a si próprio e suas marcas (produtos e
insights), não apenas em tempos de turbulências (como as quais
estamos vivendo internacionalmente), mas contínua e sistematicamente, sabe-se lá até quando, em nosso país.
Imagino que, a rigor, e sob a ótica do mercado mundial
no segmento da decoração de interiores, durante muitas décadas não houve progresso na gestão do design criativo e menos
ainda no lifestyle das pessoas, apenas ciclos comportamentais.
Os anos se sucediam, o mix de produtos chegava e partia. O
mercado pró-consumo estético e decorativo não melhorava,
repetia-se sucessivamente num padrão rotineiro frustrante e
infindável. Não havia uma previsibilidade de futuro, pois o futuro
não se distinguia do passado, gerando um caos psicológico na
gestão corporativa das empresas e/ou das marcas e produtos
do nosso “mundinho home decor”. A vedete, claro, era o produto, o produto, o produto e o produto. Tudo sempre igual. Todos
fazendo, fabricando e “decorando” tudo igual. Mesmice total e
absoluta. “Porre à parte”, alguma coisa precisava acontecer para
quebrar a gestalt do status quo, que já exibia um ar sepulcral de
“sinal dos tempos”.
Fato é que, hoje, felizmente, a “Era da Mesmice” acabou.
“
Sob a ótica do mercado mundial no
segmento da decoração de interiores,
durante muitas décadas não houve
progresso na gestão do design criativo e
menos ainda no lifestyle das pessoas
Há quem diga que ela nasceu nos anos 1970, chegou à exuberante adolescência durante os 1980, alcançou a maturidade nos 1990 e morreu de velhice precoce na alvorada do ano
2000. Ulalá!
Então, eis que emergiu nos anos 2000, especialmente
no Brasil, uma fé inabalável, em que o design (inimigo mortal
do óbvio) não só seria possível como também inevitável. A expectativa e a crença na duração dos resultados positivos de
valor aumentariam numa melhoria contínua de desempenho
por meio do crescimento sustentado dos indicadores de alta
performance. Os índices de propensão de ganho e consumo
da população aumentariam. As classes B e C ganhariam destaque social.
O lifestyle dessas pessoas ganharia uma nova dimensão pró-qualidade de vida sob a ótica do conforto material e
da estética visual. Nasce assim um novo nicho de mercado.
Entra em campo o novo luxo, ou o luxo aspiracional, também
conhecido mundialmente como um novo segmento de mercado, batizado de “masstígio” (produtos e serviços de prestígio
massificáveis para classe média/média alta, a preços altos, mas
não proibitivos).
Mudar é possível. Mais do que isso. Na “Era PósMesmice”, com direito a mudanças revolucionárias (by audácia
e inovação), a informação custaria zero. O conhecimento
se tornaria muito maior, e a sabedoria, maior ainda. Nada
haveria que não pudesse ser melhorado, inovado, alterado,
renovado e reinventado (a criatividade agradece), em especial
no mercado homewear. O produto de hegemonia partidária
e individualizada deixaria de reinar sozinho ditando regras
e conceitos utilitários. Uma mudança mórbida aparece
como por encanto. Entra em campo a fusão do lifestyle com
o fashionstyle. Corpo e casa passam a ser almas gêmeas
univitelinas. Beleza de um, estética do outro.
Edson D’Aguano é diretor-presidente da Consultive Branding, professor e consultor em Gestão de Marcas do
Luxo. Apresentou a palestra Design, Criatividade e o Novo Luxo, no Conad
simone micheli
Arquiteto, designer de interiores, mobiliário, paisagista, designer gráfico, artista
multimídia, imaginador de cidades. Quando o assunto é espaço, ele não se prende a
rótulos nem se limita a campos específicos de atuação – arrisca sonhar e realizar os
riscos que coloca no papel. Autor de trabalhos que, em alguns casos, podem parecer mais
instalações – como o Atomic
Spa ou o restaurante Mi-Sha
– e de outros que se encaixam
mais no que se espera de um
trabalho de “arquitetura”
– a sua própria casa, na Toscana, por exemplo – Micheli jamais abre mão de um dado
incomum, que foge às expectativas e surpreende. Autointitulado “herói da arquitetura”,
ele esteve em São Paulo para participar do último Conad e conversou com a ABD
Conceitual sobre vida, arte, obra e perspectivas para o futuro, no presente.
múltiplo
por MarCELLA AQUILA
22 abd conceitual AGO/SET 2013
B4 Hotel, em Milão
>>> pensando fora da caixa
O meu trabalho se pauta pela criação de histórias e, nessa direção, pensar fora da caixa é, para mim, tentar realizar uma obra de
arte – e é o que tento fazer toda vez que realizo um trabalho, seja de design, interior ou gráfico. Pensar fora da caixa para mim é
criar uma nova história para o nosso tempo. Uma história que olhe para o passado e que, ao mesmo tempo, seja mais sustentável,
mais ecocompetitiva, mais diferente não apenas no papel, mas também para o contexto em que se estabelece. Hoje o projeto
deve ser mais ético – menos e não mais – e, assim, acredito que pensar fora da caixa significa fazer uma revolução sobre o modo
de se perceber e sentir o espaço. Significa retirar elementos, estabelecer novos, pensar a disposição desses elementos no espaço,
mas não apenas em termos de múltiplas linguagens. Quer dizer, cada arquiteto tem a sua linguagem particular, algo a mais, algo a
menos, mas a questão não é essa. Pensar fora da caixa significa criar uma nova história para um novo futuro.
>>> motivações
Mudar o presente. Realizar um espaço para pessoas, para uma nova vida para as pessoas. Você desenha, você trabalha, mas penso
que na vida é importante transformar a situação que nos rodeia. Eu gosto muito de compor o espaço usando a luz. Minha arquitetura é como escultura. Sou mais escultor e menos arquiteto. Essa foi a razão pela qual comecei a estudar arquitetura, pois, na minha
opinião, o arquiteto é um artista. Para mim a arquitetura estabelece um link com o mundo da escultura e do design de luz.
>>> materiais
O material de que mais gosto é o espelho, porque reflete tudo. O espelho reflete todas as cores. O espelho, para mim, é fantástico,
e penso sempre nesse elemento quando quero criar uma emoção diferente para o espaço. Também gosto muito da forma curva,
da forma contínua e das cores vibrantes e branca. Não sei por quê. Acho que nos nossos dias contemporâneos tão atribulados
precisamos sorrir para criar novas histórias para um futuro novo. Prefiro os materiais naturais, mas para as formas curvas uso um
pouco de material sintético.
>>> passado - presente
24 abd conceitual AGO/SET 2013
fotos divulgação
Meus projetos estabelecem esse link do passado com o presente, mas esse link é evidenciado sempre pelo
contraste. Nunca penso “no passado” quando trabalho com o passado. Quando trabalho com o ancestral,
coloco no projeto elementos que nascem na minha cabeça, e esses elementos são frutos do nosso tempo.
Atomic Spa Suisse,
Nunca uso elementos que se parecem com o antigo. Para mim é importante o passado em relação com o
centro de bem-estar no
superpresente. Por exemplo, em Lucca, na Toscana, tem um muro de proteção que cerca toda a cidade anhotel Exedra Milano
tiga. O muro é construído com tijolos vermelhos, e muitos dos habitantes que se estabeleceram em frente
ao muro criaram um tipo de arquitetura com tijolos vermelhos. Acho que esse não é o melhor caminho.
Eles construíram com o mesmo material, com a mesma cor, quando deveriam ter feito algo diferente e não
similar para tentar se parecer com o antigo. Há um arquiteto que construiu um edifício em Viena, na frente
da catedral da cidade, com espelhos, e a catedral é refletida nesse novo edifício. Essa sim é a maneira mais
interessante de se construir um mix entre o passado e o presente.
Os novos materiais, os materiais tecnológicos, têm essa capacidade de, por contraste,
conectar com o passado – a sensação do novo e a sensação do antigo por contraste. Quando
>>> conad
penso sobre a cidade, eu a considero como um pedaço de papel em que podemos desenhar a
Para mim foi uma ótima experiência, interescada dia uma cena e depois outra e compor com o espectador, passo a passo, uma porção de
sante porque são muitas pessoas refletindo
sobre o presente e o futuro do design de novas histórias – diferentes histórias e não histórias iguais. Projetei há dois anos um restaurante,
interiores. E existe uma ampla rede para se o Mi-Sha, em um espaço secular e que tinha como proposta a convivência entre duas culturas
– a chinesa e a italiana. Mas não fundi as duas. Organizei o espaço de uma maneira que se possa
discutir as possibilidades para o futuro. Na
perceber tanto uma quanto a outra de modos distintos. Usei, por exemplo, projeções nas parenossa época o importante é a rede, e o Codes em que aparecem imagens de situações urbanas chinesas e, três minutos depois, italianas.
nad é uma grande rede.
Você pode comer tanto um rolinho primavera quanto um prato típico italiano; tomar uma xícara
de chá ou tomar uma taça de Brunello di Montalcino. Não misturados, fundidos, mas separados.
Você experimenta histórias diferentes em um mesmo espaço, percebe que duas experiências podem ser
simultâneas sem que seja necessário serem fundidas. Penso que é fundamental colocar as diferenças relacionadas, mas não apagá-las, fundindo-as.
“
Quando um arquiteto tenta realizar uma
obra, muitas vezes os administradores impõem
barreiras difíceis de ultrapassar e o arquiteto
ou designer precisa lutar pelo seu projeto
>>> futuro
A tecnologia transforma a vida a cada dia. Penso que o futuro do design será o não design. Por exemplo, hoje nos preocupamos
em desenhar diferentes formas para o telefone, os vidros, as cadeiras. No futuro viveremos em bolhas de tela, quer dizer, na minha
imaginação, em vez de você pegar um telefone para falar com alguém, bastará estender a mão e levá-la aos ouvidos. Acho que no
futuro não sentaremos em cadeiras, será outra história, porque penso que o importante não será o mundo material, mas o próprio
aspecto corporal das pessoas que contará.
>>> inspirações
>>> herói da arquitetura
Para mim inspiração não é olhar as formas das obrasprimas de arquitetos ou designers. É olhar para a história
do passado, por exemplo. Gosto muito dos artistas
do período de 1400, como Masaccio e Brunelleschi.
É evidente que conheço o trabalho de meus colegas,
conheço os trabalhos históricos de arquitetos e
designers do mundo todo e acho que na minha arte
há um pedacinho de cada um, mas não pretendo que
o meu trabalho seja similar a essa ou aquela obra ou
período. Gosto muito dos anos 1960 também. Você
pode ver que nos meus trabalhos há uma relação com
esse período, mas com diferenças, porque, quando
crio um espaço, tento me livrar do estilo para criar uma
história nova. A inspiração nasce quando olho para o
céu, o mar, as nuvens ou quando falo com meus filhos,
com minha mulher ou quando faço amor com minha
mulher. São muitas situações diferentes e não algo que
está ligado à moda do momento.
Herói da arquitetura porque sou um gladiador. Quando falo
com o prefeito da cidade, um político, o representante de
uma comunidade, tenho que ser um gladiador porque preciso defender os meus sonhos, quero lutar pelos meus sonhos.
Quando um arquiteto tenta realizar uma obra, muitas vezes
os administradores impõem barreiras difíceis de ultrapassar e
o arquiteto ou designer precisa lutar pelo seu projeto. Quero
realizar meus sonhos e, por isso, brigo por eles.
>>> quem gostaria de encontrar
Escolheria Deus para uma xícara de café. Sou um grande fiel
e, por esse motivo, escolheria Deus. Às vezes você pensa: “Por
que essa terra? Por que estou aqui?”. Talvez um café com Deus
pudesse responder.
# simonemicheli.com
26 abd conceitual AGO/SET 2013
HOT
SPOT
FOTOS AMÉLIE LOMBARD
POR eduardo logullo
Comer, prazer, viver: a cozinha retoma seu espaço de rainha do lar
Desde que Rabelais publicou, em 1546, aquele que é considerado seu escrito mais importante, O Terceiro Livro dos Fatos
e Ditos Heróicos do Bom Pantagruel, comer e prazer se associaram de modo definitivo. Nesse trabalho de gênio, a sátira do
autor francês escandalizou os conservadores da época renascentista. Os padres queriam até levá-lo aos tribunais da Inquisição, só porque Rabelais inventara o imenso Pantagruel – herói
que simbolizava o espírito livre, “o viver, o comer, o beber”, em
relatos que unem humanismos, fatos curiosos, comilanças e
nenhum preconceito.
Os tempos pantagruélicos ficaram distantes. Comilanças
e orgias gastronômicas saíram de vez das práticas sociais, para
28 abd conceitual AGO/SET 2013
ceder lugar a outros excessos: fast-food, mastigação ansiosa, alimentos industrializados e refeições aceleradas, quase dementes.
Comer “bem” virou quase luxo, culto, ostentação, veneração.
Para pessoas ligadas em tendências e que consideram chefs de cozinha como sacerdotes do paladar (as mesmas que se alimentam mal no dia a dia), o setor imobiliário
lançou imóveis com um “espaço gourmet”. Ai, ai. Ali, brincam
de se lambuzar com patês e a cheirar rolhas de vinhos (por se
acharem connaisseurs). “Espaços gourmet” são (e serão) territórios vazios, desprovidos de verdade, revestidos por modismos. Quase a parábola da busca do estilo perdido que jamais
será encontrado.
Cozinha Saciedade Anônima
Vamos falar de cozinhas, o tema da matéria. Cozinhas reais, cozinhas que são o epicentro da casa, cozinhas
pensadas para reunir amigos e fugir da atmosfera living room.
Cozinhas para se manter muitos pés na cozinha, para quem
gosta de panelas, de clima de boteco doméstico, de pileques
bem-vindos. Cozinhas para incentivar risadas, histórias quentes, túneis do tempo, para discutir projetos que mudarão o
mundo, promover encontros, ouvir música, debater cheiros.
Tudo isso mais barulhos de talheres, aromas, cores, “bateção”
de louça, “abrição” de geladeira, fila de celulares recarregan-
do, luz inteligente e até a tela de um monitor.
Triste é a casa em que a cozinha vive em ponto
morto. Triste é a casa em que a cozinha existe apenas para
abrigar um micro-ondas, um fogão tampado e uma geladeira desanimada.
Feliz é a casa em que a cozinha é o hotspot. Feliz é
a casa em que a cozinha fala sozinha, atraindo quem chega
de modo hipnótico. “Ah, vou ficar aqui mesmo”. “Ah, sempre
acho a cozinha o melhor lugar da casa para se ficar”. Ao ouvir frases assim, sabe-se que brotou o feitiço daquela área
de onde emana fogo, água, gelo, comida, bebida. A cozinha
forma uma espécie de saciedade anônima. Cozinha S.A.
Manual de uso
E cuidado: uma inocente reunião na cozinha pode varar a noite sem que ninguém perceba. E acabar em carnaval.
Por manter os convivas aproximados e grupos misturados, por
isolar formalidades e provocar intimidades, aquele que consultar o relógio será olhado de modo feio.
O.K., transforme o jantar em almoço. Mas quem garante
que os convidados vão sair em pouco tempo? Entrou na cozinha? Adeus, insensato mundo.
Olá, amigos do mundo. Uma cozinha-líder proporciona
tons festivos, mais um jeito cozzy e convidativo (recuse-se a
chamar a cozinha de “aconchegante”. Aliás, recuse-se a usar
30 abd conceitual AGO/SET 2013
esse termo em qualquer possibilidade). A cozinha pode ser
clean, mas nada clean demais. Ou ficará parecendo cozinha
de flat. Trate-a bem, permita que ela, a Santa Cozinha do Lar,
receba em sua dimensão o que for de melhor para seu bolso
e sua vida doméstica. Produza focos de luz indireta, convoque
plantas, canteiros de temperos, livros, parangolés, detalhes
tão pequenos de nós dois, pau, pedra, aço, madeira, fórmica,
azulejo ou absurdos inesperados.
Cozinha, doce cozinha. Ela é a rainha do lar. O último a
chegar lá é mulher do padre. Cozinha já! Coloque uma cozinha
em sua vida. Cozinha: ame-a ou deixe-a. Cozinha: deixe-a se
for capaz. Quem tem boca vai à cozinha. Quem tem coração
também vai.
AMÉLIE LOMBARD
Fotógrafa especializada em gastronomia e comportamento, Amélie Lombard nasceu e mora em Paris,
onde atua nas áreas de publicidade e jornalismo, além
de produzir trabalhos autorais, como Pas-a-Pas, série
de imagens que ilustram estas páginas.
# amelielombard.com
conad
ronald kapaz
do arquiteto ao
construtor de imagens
A personalidade da marca e sua expressão pelo desenho de seu espaço
Este título resume minha trajetória profissional e também
um tema relevante que surgiu na mesa de debates que mediei,
aceitando o convite dos organizadores do Conad.
Após ouvir os integrantes da mesa, cada um trazendo
seu olhar e experiência para o debate, surgiu a pergunta, vinda
da plateia, sobre se hoje uma marca de produtos de consumo
que tem por desafio desenhar seu ambiente de varejo procura
um arquiteto/designer de interiores ou um escritório de estratégia de marcas e design para responder a esse desafio.
O tema aponta para uma questão importante: como
são formados arquitetos e designers de interiores nas escolas
hoje? Será que existe no currículo disciplinas que abordam a
questão da identidade, não a do autor, mas a do cliente, como
um tema a ser praticado e enfrentado em sua complexidade?
Tenho a sensação de que ainda hoje, como quando
estudei, o foco das escolas está concentrado no desenvolvimento técnico e na instrumentação do futuro profissional, que
não é pouca coisa, mas sinto que seria fundamental que fosse
introduzido nas salas de aula o tema da personalidade da marca e sua expressão pelo desenho de seu espaço. Mais do que
ensinar a desenhar bons espaços, desafiar o aluno a exercitar
a capacidade de introjetar diferentes personalidades e saber
como traduzir este “outro” em forma, em arquitetura.
Vale lembrar que existem pelo menos dois caminhos
claramente definidos para quem trabalha como designer de
interiores: criar uma marca forte, uma personalidade pessoal
e um estilo próprio, que será oferecido e procurado, pela sua
identidade, quando ela atender aos desejos e personalidade de
uma determinada marca (a grande maioria?); ou desenvolver a
“Eu não sou uma coisa,
um sujeito. Eu pareço ser
um verbo, um processo
evolucionário.”
R. Buckminster Fuller, arquiteto (mas não só…)
capacidade de não ser um “eu” determinado e poder ser diversos
“outros”, enfrentando o desafio de encontrar a melhor solução
para cada problema e para cada marca.
É assim que trabalha a maioria das consultorias de construção de marcas e design e, talvez, a crescente procura por
essas empresas para atender às necessidades de expressão de
valores de marca e identidade pelos espaços seja um indicador
a ser levado em conta por profissionais do setor e pelas escolas.
Assim como um ator que, ao estudar um novo personagem, tem o desafio de estabelecer uma empatia e uma espécie
de transferência para o universo desse “outro” que lhe permitirá
saber como falar, agir, sentar, vestir-se e atuar, um designer de
interiores deve ser esse ator que tem a sensibilidade e o vocabulário estético e arquitetônico para ser um “outro” e desenhar
o espaço dessa outra perspectiva, singular e diferente da sua, e
atendendo à qualidade técnica e simbólica que deve ter todo
bom espaço desenhado pelo homem para o homem.
Concluo lembrando que tudo o que construímos, para
nós e para o outro, é carregado de sentidos e significados que devemos entender para atender, porque somos seres simbólicos e
nosso espaço é a expressão de valores profundos e antigos, a materialização sempre sutil, mas presente de uma vontade de harmonia do homem com o meio. A realização de uma ideia de paraíso.
Ronald Kapaz é arquiteto e designer, diretor de estratégia da Oz Design. Foi mediador da mesa Branding,
Story Telling e Experiência, no Conad
32 abd conceitual AGO/SET 2013
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-line
casa
Totalmente conectada, a casa do futuro
será sensível aos hábitos do dono e poderá
até monitorar a sua saúde. É isso o que
afirma, na entrevista a seguir, José
Roberto Muratori, diretor executivo
da Associação Brasileira de Automação
Residencial (Aureside)
POR marcos guinoza
34 abd conceitual AGO/SET 2013
“
ABD Conceitual – O que é automação residencial?
José Roberto Muratori – Caracteriza-se pela integração de
diferentes sistemas da casa, de modo a oferecer ao usuário
mais facilidade e comodidade para controlar essas funcionalidades, seja do interior da casa ou, literalmente, a partir de qualquer localização no mundo, pela internet. É importante ressaltar que não existe um padrão único de sistema de automação,
pois cada usuário e cada família tem expectativas diferentes e
também utiliza sua casa de forma muito particular.
ABD Conceitual – Em que estágio está a automação residencial no Brasil?
JRM – Em termos de número de projetos, temos crescido
anualmente pelo menos 30% nos últimos três anos, e a expectativa é manter esse crescimento por mais alguns anos, pois
o mercado ainda é muito pouco desenvolvido e tem grande
potencial de evolução. Em relação às tecnologias, estamos inseridos globalmente e nada deixamos a desejar em variedade
de produtos e soluções.
ABD Conceitual – Quais países estão mais avançados na área
de automação residencial?
JRM – A automação residencial ainda é um mercado em desenvolvimento na maioria dos países, mas realmente é mais
difundido em regiões como os Estados Unidos e a Europa Ocidental, com diferentes ênfases. Enquanto nos Estados Unidos
a visão é mais dirigida ao conforto e ao entretenimento, na Europa a preocupação maior é com a segurança e a eficiência.
ABD Conceitual – Qual o perfil das pessoas que investem na
automação da casa?
JRM – Normalmente são pessoas mais jovens, que têm mais
afinidade com a tecnologia e utilizam esses recursos no dia
a dia, que é muito agitado (trabalho, viagens, cuidados com a
casa, a família etc.). Assim, a tecnologia já participa de forma
natural de sua vida, com os smartphones, tablets etc., e acrescentar as facilidades da automação residencial a esses equipamentos já disponíveis passa a ser mais simples e desejável.
ABD Conceitual – Cite três tecnologias incríveis que uma
pessoa já pode ter em casa hoje.
JRM – 1) A garantia de mobilidade, liberdade e, ao mesmo
tempo, controle é uma experiência nova e com evidente apelo
para todos, garantindo a cada um poder atender suas necessidades específicas, sejam elas ligadas à segurança da casa, ao
conforto e à proteção dos residentes (que podem ser pessoas
idosas, doentes ou deficientes) ou ainda ter na casa um ambiente de trabalho mais produtivo e conectado. Assim, eu citaria o monitoramento a distância e a interatividade com a casa
como a experiência mais recente e ainda a ser explorada em
diversos formatos.
2) Trabalhar, estudar e se divertir em casa, sem sair do mesmo
Não existe um padrão
único de sistema de
automação, pois cada
usuário e cada família
tem expectativas
diferentes e também
utiliza sua casa
de forma
muito particular
“
Um sistema de
automação pode ser
programado para
“aprender” a rotina de
uma casa e deixar várias
situações do dia a
dia acontecerem de
forma automática
ambiente, apenas se conectando a diferentes redes ou aparelhos, baixando conteúdos dos mais diversos, seja uma aula
de pós-graduação em Harvard, um programa de TV ou uma
playlist de músicas, armazenados em algum servidor na nuvem,
além de incontáveis outras facilidades já disponíveis, como redes sociais, aplicativos de imagens, filmes e games.
3) Comandos de voz e gestos para acionar seus equipamentos,
sejam eles quais forem.
ABD Conceitual – Cite três tecnologias incríveis que, com
certeza, teremos no futuro.
JRM – 1) Health care, ou monitoramento e cuidados com a
saúde por meio de cuidadores virtuais, similares aos atuais
“centros de monitoramento”, só que, em vez de se dedicar apenas à segurança da edificação, serão utilizados para monitorar
a saúde de seus ocupantes em tempo real.
2) Internet das coisas: qualquer equipamento será plugável a
uma rede e, assim, poderá ser controlado e utilizado quando
necessário, pois também terá uma capacidade de processamento (inteligência) e de se comunicar com outros equipamentos também conectados.
3) Automação na nuvem: crescente substituição dos hardwares que temos em casa pelo tratamento da informação executado numa nuvem computacional, muito longe de nossa casa,
eliminando a maioria dos problemas físicos de manutenção e
tornando possível reconfigurar ou corrigir o sistema com aplicativos e softwares.
ABD Conceitual – O senhor já disse que a casa do futuro será
sensível aos hábitos do dono. Como será isso?
JRM – Um sistema de automação pode ser programado para
“aprender” a rotina de uma casa e deixar várias situações do
dia a dia acontecerem de forma automática. Isso pode acontecer com relação a algumas utilidades, como aquecimento
de água, climatização, irrigação e até outros sistemas de uso
mais diversificado, como iluminação, movimentação de cortinas e som ambiente, por exemplo. A entrada de um usuário
em determinado ambiente e a certa hora do dia pode ser indicador para o início de uma atividade que será automaticamente desencadeada pelo sistema, que pode, por exemplo,
“aprender” a rotina diária de luzes acesas e apagadas e, no
caso de uma viagem prolongada, simular essa rotina mesmo
na ausência dos seus ocupantes.
ABD Conceitual – De que maneira uma casa é automatizada? Com uso de botões e controles ou por sensores?
JRM – Tanto comandos operados pelo usuário, botões e telas
de toque, como sensores são utilizados. Isso depende do tipo
de atuação desejada. Você pode, por exemplo, deixar sempre
atuante um sensor de luminosidade externa e, se a iluminação
natural for suficiente, mesmo que o usuário aperte um botão
para acender as luzes de um ambiente, o sistema não permite,
36 abd conceitual AGO/SET 2013
“
pois entende que não é necessário. No entanto, esse mesmo
botão, se apertado à noite ou em um momento de escuridão,
vai executar a função e acender as luzes do ambiente.
ABD Conceitual – Numa casa automatizada, com um único
comando é possível gerenciar diversos equipamentos. E se der
uma pane? O que acontece?
JRM – Os projetos de automação sempre mantêm certa redundância. Entendemos que alguns usuários da residência podem
ser hóspedes ou prestadores de serviços temporários e precisam também fazer funcionar a casa, mesmo que o proprietário
tenha todo o controle em um smartphone, por exemplo. Além
disso, algumas funções ou equipamentos críticos podem também ser redundantes para evitar falhas muito abrangentes.
ABD Conceitual – Automatizar uma casa acaba interferindo
na decoração?
JRM – Não deveria! Nossa sugestão é que sempre exista a
compatibilização prévia dos projetos de interiores, layout, gesso e iluminação com o projeto de automação. Assim, eventuais interferências são previstas ainda no projeto e podem normalmente ser bem resolvidas na obra, antes de se tornar um
problema estético ou funcional. Muitos produtos de automação já passaram pela necessária estilização para se tornar um
elemento integrado na decoração, muitos deles inclusive são
compatíveis com linhas mais comuns de acabamentos.
ABD Conceitual – O senhor acredita que, um dia, viveremos
numa casa como a do desenho animado Os Jetsons?
JRM – Algumas características serão até parecidas, mas teremos algumas diferenças notáveis, no meu modo de pensar.
Como já disse, muito da parte mecânica e física (robôs, por
exemplo) será substituído por softwares e pelas funcionalidades que existirão na “nuvem”.
# aureside.org.br
COMPUTAÇÃO EM NUVEM
É um modelo de acesso remoto a dados e informações em
que nada mais precisa ser instalado no computador. Tudo fica
disponível na internet – programas, arquivos (documentos, músicas, jogos, fotos, vídeos) e serviços – e pode ser acessado a
qualquer momento e de qualquer lugar do mundo, independentemente da plataforma. O conceito básico da computação
em nuvem é ter um ambiente com grande capacidade de armazenamento, processamento e compartilhamento no qual o
próprio cliente estabelece sua necessidade de uso.
Muitos produtos de
automação já passaram
pela necessária
estilização para se
tornar um
elemento integrado
na decoração
conad
mônica barbosa
ser feio está por fora
Considerações sobre o novo conceito de beleza
Fiz parte da comissão que definiu o conteúdo das palestras
da última edição do Conad, e a presidente da ABD, a designer
de interiores Renata Amaral, queria que o último dia do evento
extrapolasse o tema de 2013, Pensando Fora da Caixa, trazendo propostas criativas, inspiradoras e inovadoras.
Como iria mediar a mesa, senti a responsabilidade
que tinha nas mãos de fechar o dia de forma triunfante. Era
necessário trazer um tema atual, que estivesse na pauta de discussões de filósofos, acadêmicos e caçadores de tendências,
e foi por isso que propus a discussão da beleza no século 21.
Antes a beleza estava ligada a parâmetros clássicos
como harmonia e simetria, e era coisa de mulheres, dos mais
sensíveis, dos poetas, dos profanos e até dos pervertidos. Para
os pensadores da nossa época, a beleza se propõe ser a palavra
do milênio. O diretor do curso de beleza da Faap, o professor
Silvio Passarelli, em sua apresentação no evento, falou que “as
pessoas, recuperadas as perspectivas individuais, tenderão a
assumir estilos de vida marcados pela busca de experiências e
de prazer”. Nessa trajetória, disse Passarelli, “o fenômeno estético ganhará importância crescente”.
Sempre acreditei que a beleza produzia uma vantagem competitiva em diversos níveis, seja nos negócios, nas
relações pessoais e profissionais, nas cidades, para uma marca, um país, em nossa casa e na nossa vida. O.k., sou do signo
de Libra, com Vênus me dominando, e a beleza, claro, é fonte
de minha existência. Mas hoje afirmo que essa característica
pessoal é um ponto forte e vantajoso na hora de administrar
meus negócios e entender de que maneira a beleza das artes,
da arquitetura, da decoração e do design influenciam a quali-
A beleza contemporânea
é bem mais sensorial.
Ela vem da experiência
e do prazer que objetos,
ambientes e pessoas
nos proporcionam
dade de vida das pessoas, traz desenvolvimento para as cidades
e aumenta as divisas de um país.
Dostoiévski (1821-1881), o escritor russo, fala, de maneira resumida, “que só a beleza pode salvar o mundo”. Tenho feito
essa pergunta a diversas personalidades que entrevisto. Domenico De Masi, Gaetano Pesce, Pierre Cardin, entre outros, foram
alguns a quem já indaguei sobre isso e, de maneira bem parcial,
as respostas têm sido: “Sim, a beleza pode salvar o mundo” ou
“salvar não, mas com certeza vai influenciar”.
Mas o que é belo hoje?
A beleza contemporânea é bem mais sensorial. Ela vem
da experiência e do prazer que objetos, ambientes e pessoas nos
proporcionam. O que é realmente belo, atualmente, tem doses
elevadas de elegância, sensibilidade, verdade e felicidade. E como
bem colocou o professor Passarelli, “a antítese da beleza, visto ser
esta subjetiva, não é a feiura e, sim, o desleixo”.
Ser feio é coisa do passado!
Mônica Barbosa é apresentadora e diretora do programa Living Design, uma rede de comunicação em
arquitetura e design. Foi mediadora da mesa Beleza: A Palavra do Futuro, no Conad
38 abd conceitual AGO/SET 2013
preview, © Cyril Lagel. Organização SAFI, filial dos Ateliers d’Art de France e de Reed Expositions France.
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Tudo
junto
& misturado
A transformação dos ambientes de trabalho em
espaços de estímulo e convivência coletiva
por MarCELLA AQUILA
Pense em um espaço de trabalho. Talvez a primeira imagem que venha a sua cabeça seja aquela de um pavimento em
um edifício comercial, repleto de estações individuais, algumas
salas isoladas por divisórias e uma ou duas salas de reunião.
Uma copa talvez? E, provavelmente, cada função no seu devido
lugar – bem separadas. Eis a imagem clássica de um ambiente
de trabalho do século 20. Mas, embora essa forma de organização espacial ainda seja a mais conhecida e, talvez, a mais praticada, seu império parece estar com os dias contados. Assim
como o Dilbert e o Wally, os famosos “cubículos” certamente
ficarão para a história como crônicas de um tempo passado.
Na medida em que avançamos no século 21 e que
novos dispositivos e tecnologias surgem, dinamizando e ampliando as possibilidades no campo das relações humanas, um
impacto estrutural também se faz sentir sobre as relações de
trabalho. Não apenas na rapidez com que se pode trocar infor-
40 abd conceitual AGO/SET 2013
mações, fazer conferências e, até mesmo, operar e coordenar
ações remotamente, mas, começa a se verificar mudanças significativas no modo como se dá a convivência entre as pessoas no ambiente profissional. Valores até então aparentemente
imutáveis, como hierarquia, começam a ceder espaço à colaboração e a uma maior horizontalidade e, em lugar da antiga
fragmentação em setores que operavam isoladamente, passa a
se buscar cada vez mais a interdisciplinaridade, ou seja, a troca
de ideias e experiências.
Segundo Jeremy Myerson, diretor do Centro Helen
Hamlyn, da Royal College of Art, de Londres, “em vez de indivíduos sentados, enfileirados e prontos a seguir instruções explícitas de supervisores em uma hierarquia, novas práticas de
trabalho estão emergindo baseadas na colaboração, iniciativa e
exploração de novas possibilidades”. Muito mais do que executar tarefas, o que se espera hoje é a capacidade de se processar
informações e responder, com base no arcabouço de conhecimentos adquiridos, com criatividade às demandas e aos desafios que surgem.
Se as relações no trabalho mudam e as exigências sobre
seus produtos passam a ser mais sofisticadas, mudam também
as exigências sobre os espaços em que se dão essas relações
e produção. À quantidade sucede a qualidade, pois, se antes a
pressão era o método dominante na busca por resultados, no
caso da expectativa por respostas criativas e inteligentes, o estímulo e o cuidado com o bem-estar passam a ser essenciais
na direção de um aumento da produtividade. Para a senhora
Choe, chefe administrativa da Fundação Bill & Melinda Gates,
que recentemente se mudou para um novo escritório, desenhado pela americana NBBJ, “existe um reconhecimento de
que se trabalha de modos diferentes, então nós desenhamos
espaços que acomodassem esses diversos modos (...) acho que
uma das lições é compreender o seu negócio e entender do
que as pessoas precisam para realizar o melhor em seu trabalho”. Na nova sede da Fundação Gates, que fica em Seattle, no
noroeste dos Estados Unidos, foram priorizados aspectos como
transparência e iluminação natural, as chances de encontros e
a mobilidade, resultando em espaços amplos e compartilhados
e com vistas para o exterior.
Não à toa, à medida que os espaços abertos e de uso
compartilhado ganham cada vez mais relevância, termos como
“hub”, “interação” e “plataforma”, bastante comuns na arquitetura da informação, passam a ser relacionados também como
características desejáveis aos espaços físicos. A relação entre a
tecnologia e a arquitetura já não se dá de uma maneira super-
“
ficial, ou seja, já não se trata de agregar aparatos e recursos aos
espaços simplesmente, mas perceber que existe a demanda de
que os próprios espaços físicos passem a operar sob a mesma
lógica em que opera a esfera virtual: a simultaneidade.
Segundo uma pesquisa realizada pela NBBJ Arquitetura,
cerca de dois terços dos ambientes de escritórios americanos estão hoje configurados de um modo mais “aberto”. Essa tendência de redesenho tem a ver também com o fato de que espaços
abertos e compartilhados permitem uma redução em áreas totais e, portanto, economias significativas para as empresas.
Contudo, se a meta é construir ambientes que sejam
inspiradores e funcionem como “incubadoras de ideias”, não
só ambientes de uso coletivo são importantes como também
seu contraponto é fundamental – espaços de retiro, com maior
quietude e propícios para a reflexão. Conferências e reuniões
também não saíram da pauta e mantêm seus espaços reservados. Ainda no caso da Fundação Gates, o modelo de uso do
espaço adotado foi de 60% coletivo e 40% de ambientes fechados. Mesmo porque não se trata da substituição absoluta de
um modelo por outro, mas exatamente de saber tirar partido do
melhor que cada um deles tem a oferecer.
Fato é que, se antes a organização espacial atuava
muito mais como veículo de um programa preestabelecido, ou,
ainda, apenas como uma operação de contingência espacial
(como caber mais em menos espaço), hoje a lógica foi invertida. O desenho é chamado a exercer o seu potencial máximo,
enquanto linguagem, que é o de estímulo aos cinco sentidos
e também a novas formas de relação entre seus usuários – o
desenho ou, o projeto, passa a ser protagonista nesse processo.
Em vez de indivíduos sentados, enfileirados
e prontos a seguir instruções explícitas de
supervisores em uma hierarquia, novas práticas de
trabalho estão emergindo baseadas na colaboração,
iniciativa e exploração de novas possibilidades
Jeremy Myerson
fluidez
espacial
As imagens que ilustram estas
páginas são da empresa
One Workplace, com projeto
arquitetônico e de interiores do
escritório de design Blitz
44 abd conceitual AGO/SET 2013
fotos divulgação
# oneworkplace.com | designblitzsf.com
Se os “cubículos” marcaram época no século 20,
um tipo de espaço que começa a despontar e que
talvez venha a ser emblemático do século 21 seja
aquele à la campus universitário. O espaço desenhado pelo escritório de arquitetura Blitz para a empresa
One Workplace vai nessa direção. Ocupando um terreno de aproximadamente 23.225 m², em Santa Clara, Califórnia, o espaço da empresa de mobiliário e soluções corporativas é um mix de showroom, fábrica,
escritório e depósito. Afinada com as tendências da
época e já que a One Workplace trabalha exatamente
na elaboração de ambientes corporativos, a parceria
com a Blitz foi uma oportunidade de explorar e demonstrar o máximo das possibilidades de configurações de espaços de trabalho.
Inspirados pela diversidade de meios de
transporte adjacentes ao terreno onde o prédio está
implantado – o aeroporto de San José, rodovias arteriais e uma antiga estação de trem – bem como por
se tratar de uma área industrial, os aspectos fabris
dos edifícios ali existentes foram aproveitados, como
o caráter da mobilidade levou a uma maior fluidez
espacial, configurando um ambiente próprio de laboratório de design (design lab). Como resultado, surgiram ambientes multifuncionais, em várias camadas
(layers) e que convivem, ao mesmo tempo, com outros mais reservados e destinados à concentração. A
sala de reuniões elevada, por exemplo, consiste também em um observatório onde os clientes podem
ter uma visão total das várias formas de organização
possíveis ali presentes.
Dois outros fatores foram, ainda, fundamentais na definição dos programas. A empresa familiar,
já na terceira geração à frente de sua gestão, tem
origem italiana. Sendo um traço cultural marcante
a relação da família italiana com a cozinha – basicamente o ambiente da casa onde as conversas e decisões mais importantes são tomadas – foi concebida
uma grande cozinha como espaço de descontração
e reuniões informais. Também a relação com a natureza do entorno foi um aspecto que procurou se explorar com aberturas e grandes áreas envidraçadas.
O One Workplace é ainda citado como exemplo de eficiência espacial pelos arquitetos da Blitz,
já que migrou de um espaço ocupado de 4.200 m²
com 101 funcionários, para um espaço ocupado de
3.250 m² com um time de 165 funcionários. Em tempos de informação, acasos e combinações, espaços
cada vez mais abertos e totalizantes voltam a roubar
a cena. E em meio a tudo junto e misturado, o compositor avisa: “Salve-se quem souber”.
artigo
jÉthero cardoso
O EFÊMERO E O ETERNO
Diferenças entre design de interiores e arquitetura
Está em curso uma grande discussão sobre a polêmica resolução 51 do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), que
definiu algumas atribuições que são privativas da arquitetura
e não podem ser realizadas por outros profissionais, e sobre o
Projeto de Lei 4296/2012, que regulamenta a profissão de designer de interiores, em tramitação na Câmara dos Deputados.
Design de interiores e arquitetura são duas atividades
distintas. Quando um arquiteto projeta um edifício, não pode
prever como será a tipologia da ocupação dos seus espaços
interiores, imediata ou ao longo do tempo. Esse tipo de ocupação depende da cultura, da geografia, do contexto urbano,
do número de pessoas da família, da maneira como preferem
e usam os espaços, de sua idade. Se forem jovens, terão um
tipo de necessidade; se forem idosos, outras. Soma-se a esses
fatores o permanente e interminável avanço tecnológico que
vai colocando à disposição das pessoas uma série de equipamentos que modificam a maneira como acontece a ocupação
e o uso dos interiores.
A arquitetura permanece por muitos anos, tem a pretensão de eternidade, já os interiores são mutantes, efêmeros,
acompanham os distintos períodos da vida, por isso esta profissão traz uma ampla dose de humanismo e detalhamento em
seus projetos, atendendo as pessoas de qualquer idade, em
qualquer condição física, no desempenho de todas as suas atividades: no banho, em um restaurante indiano, em uma sala de
cirurgia ou no interior de um automóvel.
Da primeira hora de vida até sua despedida, o ser humano precisa utilizar espaços específicos, sonhados, desenhados e projetados para satisfazer suas necessidades e rituais.
Quem atende a esse tipo de produção do espaço é o
designer de interiores, não só no Brasil, mas em qualquer lugar
do mundo, em todas as eras. Com seus estilos e significados, o
designer de interiores pontua a história e o comportamento da
humanidade com o resultado do seu trabalho.
Antes de o homem saber
escrever, construir sua
morada, ele se decorava
e, quando o fazia,
impregnava-se de novos
significados
Ideo Bava, professor do curso de decoração da Faap e
primeiro presidente da ABD, costumava dizer que “a decoração
era a primeira de todas as artes”. Antes de o homem saber escrever, construir sua morada, ele se decorava e, quando o fazia,
impregnava-se de novos significados. Em seu próprio corpo e
depois em seus objetos, transformando-se em algo além do que
era para atingir seus sonhos e suas pretensões existenciais.
O design de interiores é isso: sensibilidade e humanismo,
arte e técnica, sonhos e significados, bem-estar e tecnologia, saúde e felicidade.
Somos uma categoria profissional, temos um processo
de formação profissional em nível técnico, tecnológico e no bacharelado, com mais de 60 anos de atividades, formando profissionais pelo Brasil. Participamos de mostras e eventos há mais de
30 anos. Simplesmente existimos agora e sempre, não podemos
ser extintos por uma resolução desprovida de bom senso, que
fere a Constituição Brasileira, no inciso XVIII do artigo 5º.
Temos direito ao nosso trabalho, estudamos, realizamos
congressos, trabalhamos e construímos nosso mercado com
dignidade. Somos responsáveis por nossas atividades, não queremos ter atribuições específicas da engenharia ou da arquitetura,
porque nos entendemos no mercado de forma distinta. Somos
designers de interiores, produzimos nos espaços ocos das edificações os interiores adequados à vida e ao trabalho humano.
Jéthero Cardoso é vice-presidente da ABD e coordenador do curso de design de interiores da Belas Artes
46 abd conceitual AGO/SET 2013
preview, Exsud © Janek Domanski. © Decor Walther. Christophe Fey Concept © Tardy Jean-Michel. © Jacques Gavard. © Filioux & Filioux. Organização SAFI, filial dos Ateliers d’Art de France e de Reed Expositions France
Espaços para sublimar
6-10 Setembro de 2013
Paris Nord Villepinte, hall 7
www.maison-objet-projets.com
O salão das soluções para arquitetura de interiores
Salão reservado aos profissionais
Visitantes: UBIFRANCE Mi ssion Économique de São Paulo
Ambassade de France au Brésil
Tel. +55 (11) 30 87 31 19. [email protected]
Ken
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Desenhando estratégias
Por MarCELLA AQUILA
Já pensou no design como “desenho de varejo”? Em inglês o termo é retail design, o que significa – entre múltiplos desdobramentos possíveis – o design como elemento estratégico de
vendas. trata-se da criação de ambientes que demonstrem ao público, da maneira mais estimulante possível, todo o potencial de um produto. E, nessa direção, não só podem jogar todos os
campos do desenho que se desejar como também mobilizar todos os dispositivos que a criatividade demandar. Na medida em que as vendas avançam na esfera virtual, os espaços físicos, em
vez de diminuir de importância, assumem um novo significado para as vendas. Sobre a relação
do design com o varejo, os panoramas mundial e brasileiro, conversamos com Ken Nisch, que
esteve em terras tropicais para participar do Conad 2013.
[ global x local ]
O design se tornou uma linguagem global. E isso
é positivo e negativo. O lado negativo é que grande parte do design hoje se tornou derivativo, ou seja, eu posso
ir a Dubai ou Mumbai ou São Paulo ou Nova York e perco
a noção de onde estou. O design, assim, é o mesmo em
qualquer lugar. Muito por conta de que tudo o que diz
respeito ao design ser tão acessível. Você vai à internet,
ao Google e, se é um arquiteto e trabalha no Brasil, e antes tinha visibilidade apenas no país, agora ganhou visibilidade em todas as partes do mundo, e vice-versa. O que
acontece é que o design como linguagem está ficando
grande e pequeno por conta das influências. Estabelecendo um paralelo com o cinema, que pode estar se
tornando mais inovador e, ao mesmo tempo, mais previsível por conta de tendências globais. Com o design é
mais ou menos a mesma coisa. Se olhar para certos elementos do design, é indiferente o lugar onde você está,
e isso não é tão bom. Por outro lado, por conta da comunicação, algumas vezes um designer pequeno, mas
muito inovador e interessante, pode emergir por meio
da mídia digital e, em alguns casos, tornar-se um herói;
quer dizer, um designer brasileiro pode ser um herói em
Dubai e não ser nada popular no Brasil. Pense na música,
no cinema, nos chefs que, por ter desenvolvido uma linguagem bastante peculiar e interessante, podem emergir. Então, penso que a inovação vem da possibilidade de
visibilidade e acesso ao mercado. Ao mesmo tempo, os
mercados têm se tornado muito internacionais. É como
a minha presença aqui no Brasil – há dez anos isso não
seria possível. As companhias de varejo brasileiras que
atuam no Brasil, por exemplo, estão pensando em si
mesmas de uma maneira mais internacional, a partir
de padrões e ideias internacionais. Estão buscando cada vez mais no mercado exterior novas
maneiras de pensar.
# retaildesigninstitute.org
Pense no
design
mais como
propaganda
do negócio
do que
como um
negócio de
arquitetura,
e CERTAMENTE
se abrirá
um campo
novo PARA O
design no
Brasil
[ ambientes físicos & ambientes virtuais ]
Quando se fala em inovação é importante notar o
quanto a tecnologia transforma também os ambientes. A maioria das pessoas inicia sua jornada com um dispositivo. Pode ser
um tablet, um computador ou um telefone. Elas dizem: “Vamos
sair pra jantar fora hoje à noite”, e procuram o restaurante na
internet, leem o que as pessoas estão falando sobre aquele restaurante nas mídias sociais, veem fotos e, antes de ir de fato, já
têm uma ideia bastante clara de como será essa experiência.
As pessoas não vão mais aos lugares e se deixam surpreender.
Então, a integração entre os ambientes físicos e essa visibilidade
na rede está se tornando cada vez mais importante.
[ design no Brasil ]
Partindo da ideia de que existem coisas que são estéticas e outras que são intrigantes, penso que a cena de design
brasileira é mais forte no caso das coisas estéticas, porque são
muitos os lugares maravilhosos, as matérias-primas belíssimas,
uma incrível atenção ao detalhe. Se você vai a um shopping
center ou a uma rua comercial ou a um hotel, é sempre um estímulo visual. O país oferece recursos incríveis para se produzir
belos produtos e ambientes, seja em termos de madeiras, pedras e artesanatos que em outras partes do mundo são difíceis
de encontrar. Nos Estados Unidos, por exemplo, é complicado
encontrar tudo isso de uma só vez. Penso que, no Brasil, onde
se deve trabalhar mais é no campo do varejo, das vendas, e o
desafio não é em termos da beleza dos lugares, mas, talvez,
o fato desses lugares serem muito similares. Encarar uma loja
como uma propaganda mais do que como arquitetura aumenta a disposição de desenhar algo que não seja propriamente
belo, mas estratégico, e seria uma oportunidade para os designers brasileiros. Penso que, em relação à beleza, existe uma
série de lugares bonitos no mundo, mas, em relação à estratégia, o desafio está exatamente em pensar para além da beleza,
pensar em algo que seja estrategicamente correto, mas não
esteticamente perfeito. Pense no design mais como uma propaganda do negócio do que como um negócio de arquitetura,
e certamente se abrirá um campo novo para o design no Brasil.
[ Brasil x Estados Unidos ]
A comunidade do design no Brasil tende a ser bastante conectada, bem diferente do que acontece nos Estados
Unidos, onde fornecedores e pessoas que produzem design
não têm contato. Lá, não é um negócio muito pessoal. Minha
sensação é que, no Brasil, as pessoas são profissionais, mas
também amigas, e o lado positivo é que isso constrói uma indústria melhor. Nos Estados Unidos, é tudo tão competitivo
que as pessoas ergueram paredes em torno dos profissionais. No Brasil, sinto que o foco é muito mais em moldar
essa indústria e a consciência das pessoas sobre o
design do que conformar o negócio estrita-
mente segundo os interesses individuais ou a concorrência.
Você vê muito mais camaradagem entre as pessoas, elas se
animam com design e desenvolvem conversas sérias sobre
o tema. Nos Estados Unidos, na medida em que o design se
torna cada vez mais um negócio, talvez muito da emoção tenha se perdido. Aqui, o design também é um negócio, mas
as pessoas ainda estão bastante focadas na ideia de manter
conversas precisas sobre o assunto. Acho que é por isso que
as conferências no Brasil são mais interessantes do que as
dos Estados Unidos. Lá, há muito poucas conferências, e elas
são mais discursivas, de como fazer um negócio, do que uma
troca de experiências, para estabelecer contatos. São abordagens muito diferentes de mercado.
[ o negócio do design ]
Não penso nos Estados Unidos como propriamente
líderes quando se trata de design, porque os objetos de design
americanos são muito seguros. Os Estados Unidos são líderes
em varejo, em vendas, porque lá se pensa muito o processo, a
estratégia. O foco é no retorno do investimento, e quase nada
é construído sem uma racionalidade de negócio por trás. Penso que isso, do ponto de vista do design, resulta em menos
criatividade. Vejo no Brasil lojas, shopping centers e restaurantes que são desenhados puramente pela beleza e o negócio
está em segundo plano. Nos Estados Unidos, o negócio está
sempre em primeiro lugar.
[ Apple – design como estratégia ]
O slogan da Apple é “pense diferente”. Há 20 ou 15
anos, a empresa quase acabou. Os produtos eram vendidos
em lojas de terceiros e em espaços bem pequenos. Apenas os
designers gostavam dos produtos, e o público achava a Apple
elitizada ou desconectada dele. Foi aí que a empresa fez uma
escolha de negócio. Decidiu ser “diferente”. Mas essa decisão
não foi tomada com base na beleza ou na estética, apenas na
diferenciação. A única maneira de ser bem-sucedida era construir seu próprio ambiente para vender seus produtos, porque
as pessoas precisavam ver que o processo de vendas, a política
de preços, os produtos e a tecnologia da Apple eram diferentes.
Assim, poderiam escolher entre comprar o que todo mundo
vende e comprar o que a Apple vende. Mas é tudo baseado em
uma estratégia de negócio, e foi a única maneira que a empresa
encontrou para sobreviver: abrindo um novo caminho. Nunca,
porém, pautada pela beleza – a beleza era apenas parte da estratégia. A Apple precisava parecer diferente para que as pessoas acreditassem nisso. Assim, mudou a concepção das pessoas,
estabelecendo que a Apple não seria reconhecida como mainstream, mas como única, uma marca na qual todos se inspirariam. É muito diferente, por exemplo, da Dell. Talvez a Samsung
seja uma companhia que também vai por esse caminho. É a
ideia da estética como diferenciação, como estratégia.
publi
Wallpaper
era uma
vez na
inglaterra
A excelência e
a tradição dos
papéis de parede
da marca inglesa
SANDERSON
Quando falamos em papel de parede é quase inevitável não
pensarmos na Inglaterra. Assim como o chá, o papel de parede
é um daqueles elementos que se tornaram mundialmente reconhecidos como patrimônio cultural inglês.
Desde a instalação da primeira fábrica inglesa de papéis
de parede, em 1634, muitos investiram na produção desse artigo expressivo do décor inglês. A mais antiga e que permanece
ainda ativa é a Sanderson. Com 153 anos de existência, a trajetória da marca se funde com a história da arte e com as transformações que ocorreram no mundo empresarial.
Fundada em 1860 por Arthur Sanderson, a empresa
começou importando papéis de parede de luxo da França. Seu
showroom na rua Bernes, aberto em 1865, permaneceu no
mesmo endereço até 1992, sendo ampliado e reformulado em
diversas ocasiões até virar referência no setor.
Foi em 1879 que a Sanderson montou a sua primeira
fábrica de papéis de parede na Inglaterra. Ao longo do tempo,
as inúmeras parcerias estabelecidas pela marca colaboraram
para que a Sanderson produzisse padrões que, a cada época,
sintetizavam as principais tendências. Desde o período Vitoriano, passando pelo movimento Arts & Crafts, o impressionismo
e o simbolismo no século 19, até as primeiras manifestações de
ruptura da arte no começo do século 20, os papéis de parede
da marca ajudam a contar a história da relação entre o design
de interiores e os movimentos artísticos.
Pioneira sob vários aspectos, a Sanderson introduziu as
primeiras estampas pós-impressionistas no mercado no início
do século 20. É uma empresa premiada com o Royal Warrant,
selo conferido pela Rainha da Inglaterra às empresas que fornecem bens e serviços à família Real Britânica. A marca também
foi a primeira na área da decoração a fechar parceria com a Walt
Disney, na década de 1930, para fabricar revestimentos de parede com motivos do estúdio.
Ainda no começo do século 20, a Sanderson se associou à Wall Paper Manufactures Ltda., com o intuito de expandir
seu domínio sobre a produção de papéis de parede. A empresa
também adquiriu inúmeras marcas concorrentes, como a Morris
& Co. e a Charles Knowles, além de fábricas de estamparia, como
a Messrs Casson, e de produção de tecidos, como a Turnbull
& Stockdale. Outras aquisições se seguiram, mas a Sanderson
sempre manteve sua excelência, e ampliou sua atuação para
outros segmentos de mercado.
Em 2010, os 150 anos da marca foram comemorados com uma exposição de três meses no Fashion
& Textile Museum, em Londres, e com lançamento de um
livro, publicado pela Thames & Hudson, que conta a história da marca, reunindo exemplos dos padrões desenvolvidos pela empresa ao longo das décadas.
Atualmente, a marca lança coleções que coordenam papéis de parede e tecidos baseados em seu extenso arquivo de estampas. Além das coleções, a Sanderson
tem linhas complementares de produtos para cama,
mesa e banho, fragrâncias para casa, itens de papelaria,
almofadas, carpetes, entre outros.
A Sanderson opera em mais de 50 países.No
Brasil, a marca é representada exclusivamente pela Wallpaper que, além do showroom na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1282, em São Paulo, tem pontos de revenda em todo o território nacional, atendendo arquitetos,
decoradores e clientes finais.
Na Wallpaper é possível encontrar não apenas
um pedacinho da Inglaterra e da história do design de
interiores com os produtos da Sanderson, mas também
uma ampla gama de desenhos e texturas em revestimentos de parede produzidos com a mais alta tecnologia e tradição.
Vale a pena conhecer.
*
galeria
cadeira
v
i
v
a
foto douglas garcia
É na rua, em esquinas e caçambas, que o artista plástico Rodrigo Bueno encontra a matéria-prima que serve de suporte para muitas de suas
criações. Na arte ecologicamente engajada de Bueno, uma cadeira velha e abandonada pode virar um vaso, uma mesa pode virar um quadro,
e vice-versa. A imagem desta página fez parte da exposição Matuto ao Cubo, série de trabalhos em que Bueno planta mudas e sementes em
peças de mobiliário, como cadeiras e poltronas, para criar obras de arte vivas, que necessitam ser regadas todo dia para não definhar: “Quanto
mais a pessoa cuida, mais a obra fica interessante”, avisa o artista. Saiba mais sobre Rodrigo Bueno: # mataadentro.com.br
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