Fisiologia do Exercicio_2011

Transcrição

Fisiologia do Exercicio_2011
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FI SI OLOGI A
ESTE
2011
90 DOS MAIORES PALESTRANTES DO BRASIL EM 88 CURSOS: MUSCULAÇÃO E PERSONAL TRAINING, TREINAMENTO
FUNCIONAL, BEM-ESTAR, FITNESS, ESPORTES E MUITO MAIS  12 PALESTRANTES INTERNACIONAIS TRAZEM AS
NOVIDADES E TENDÊNCIAS MUNDIAIS  WORKOUT FITNESS SHOW: O GRANDE ESPETÁCULO DO FITNESS RESGATA
A AERÓBICA E OUTRAS MODALIDADES  ATUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR COM IDOSOS, FÓRUM INTERNACIONAL DE
TREINAMENTO FUNCIONAL E BELEZA SAUDÁVEL: CURSOS ESPECIAIS COM A CHANCELA DO INSTITUTO FITNESS BRASIL
FACEBOOK.COM/FITNESSBRASIL
MARCAS OFICIAIS
Equipamento
@FITNESSBRASIL
REALIZAÇÃO
Pilates
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
• Lesões em atletas de seleção amadora de futebol
• Riscos e benefícios do treinamento resistido para
adolescentes
• Manipulação da ordem dos exercícios no treinamento resistido
volu m e 1 0 - nú m ero 0 1 • J an /M ar 2 0 1 1
CONTEÚDO
Marca Esportiva
ISSN 16778510
ESPORTE
SANTOS|SP
(11) 5095 2699 | (13) 3231 3164 | WWW.FITNESSBRASIL.COM.BR
d e
E X E R C Í C I O
21-24
ABRIL
B r a s i l e i r a
D O
PRATIQUE
R e v i s t a
NUTRIÇÃO
• Consumo de cálcio por mulheres
FISIOLOGIA
• Cinesioalongamento e propriocepção de joelho
• Diferentes repetições no alongamento dos músculos
isquiotibiais
CARDIOLOGIA
• Exercícios físicos para hipertensos
ELETROMIOGRAFIA
• Atividade eletromiográfica da musculatura abdominal
SÍNDROME METABÓLICA
• Síndrome metabólica: aspectos clínicos e tratamento
Bebida Esportiva
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 0 1 • Jan/Mar 2011
R e v i s t a
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
ISSN 16778510
B r a s i l e i r a
FISIOLOGIA
d e
DO
EXERCÍCIO
FI SI OLOGI A
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
D O
E X E R C Í C I O
13 anos
ESPORTE
• Agilidade no futsal
• Autonomia funcional de idosos
NUTRIÇÃO
vol u me 1 0 - nú me ro 0 2 • Ab r/ Jun 2 0 1 1
• Imagem corporal de atletas
• Estado de hidratação de idosos
• Antioxidantes na prevenção da lesão muscular
FISIOLOGIA
• Movimento repetitivo e fadiga muscular
• Treinamento aeróbio em hemiparéticos
HIPERTENSÃO ARTERIAL
• Benefícios do treinamento resistido e aeróbio
DIABETES
• Exercícios de alta intensidade para indivíduos
com resistência à insulina
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 02 • Abr/Jun 2011
Re v i s t a
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
ISSN 16778510
Br as i l e i r a
Fisiologia
do
de
exercício
F i s i o l o g i a
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
d o
e x e rc í c i o
13 anos
ESPORTE
•
•
•
•
Percentual de carga máxima dinâmica e treinamento de força
Flexibilidade no desenvolvimento da força muscular
Exercício físico e alterações hormonais
Cortisol e exercício
v o lu m e 1 0 - n ú me r o 03 • Ju l/Se t 2 011
NUTRIÇÃO
• Nutrição e suplementação no futebol
• Taxa de sudorese e antropometria de nadadoras
FISIOLOGIA
• Centro de pressão corporal após estabilização central
• Maturação esquelética versus idade cronológica no futebol
• Idade cronológica e idade motora de alunos do ensino
fundamental
CARDIOLOGIA
• Exercício resistido em indivíduos com cardiomiopatia
chagásica
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 03 • Jul/Set 2011
Re v i st a
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
ISSN 16778510
Br asi l e i r a
Fisiologia
do
de
exercício
F i s i o l o g i a
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
d o
e x e rc í c i o
13 anos
ESPORTE
v o l u m e 1 0 - n ú me r o 0 4 • Ou tu b ro /D e ze mb r o 2 0 11
•
•
•
•
•
Efeitos do método Pilates nos valores glicêmicos
Utilização do strap na puxada fechada
Lesões em atletas de elite da prova de salto em altura
Treinamento aeróbio em portadores de diabetes tipo 2
Vibração mecânica e treinamento de força
NUTRIÇÃO
• Atividade física e suplementos dietéticos
• Efeitos da suplementação com carboidrato gel
FISIOLOGIA
• Alterações fisiológicas em praticantes de ciclismo indoor
HIV/AIDS
• Disfunção anatômica em HIV/AIDS
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 0 4 • Out/ Dez 2011
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 10 número 1 - janeiro/março 2011
EDITORIAL
No mundo do conhecimento, Pedro Paulo da Silva Soares ...................................................................................................3
ARTIGOS ORIGINAIS
Recomendação de exercícios físicos para hipertensos por cardiologistas de Londrina/PR,
Alexandre Antunes Imazu, Marcos Doederlein Polito .............................................................................................................4
Efeitos do cinesioalongamento na propriocepção de joelho: ensaio clínico controlado,
Marina Bernardi, Alberito Rodrigo de Carvalho .....................................................................................................................8
Consumo de cálcio por mulheres praticantes de atividade física de um parque
do município de São Paulo, Alessandra Hellbrugge, Andrea Vargas G. Soares,
Caroline Raele, Cássia R. Rolim Cauchioli, Edinéia Menezes, Giovanna Mauro, Marcia Nacif ............................................15
Levantamento das lesões ocorridas em atletas da seleção amadora de futebol
de Primavera do Leste/MT em 2010, Joaquim Ribeiro de Souza Junior, Milton Alcover Neto ...........................................19
Atividade eletromiográfica da musculatura abdominal associada à expiração forçada,
Nilton Souza Carvalho Júnior, Gabriel Ribeiro, Mauricio Malthes Ribeiro .........................................................................23
Máxima oxidação de gorduras em bombeiros da polícia militar do Paraná:
análise da correlação entre o consumo máximo de oxigênio e o quociente
respiratório não-protéico, Denis Bruno Ranzani, Francisco Navarro ..................................................................................31
Comparação de diferentes números de repetições no alongamento dos músculos
isquiotibiais em atletas do sexo feminino, Alisson Guimbala dos Santos Araújo,
Karina da Costa Casagrande, Kátia da Maia .........................................................................................................................36
REVISÕES
Manipulação da ordem dos exercícios na prescrição do treinamento resistido,
Ramires Alsamir Tibana, Sandor Balsamo.............................................................................................................................41
Riscos e benefícios do treinamento resistido para adolescentes,
Ana Carolina de Campos, Luis Fernando da Silva, Jean Flávio Alves,
Paulo Ferreira de Araújo, Rita de Fátima da Silva..................................................................................................................46
Síndrome metabólica: aspectos clínicos e tratamento, Izulpério Cardoso Olevate,
Marcus Vinicius de Mello Pinto, Lamara Laguardia Valente Rocha, Mário Antônio Baraúna ...............................................53
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 61
EVENTOS ................................................................................................................................................................. 62
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
2
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro
Conselho Editorial
Luiz Fernando Kruel (RS)
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Robert Robergs (EUA)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Rosane Rosendo (SC)
Douglas S. Brooks (EUA)
Sebastião Gobbi (SP)
Emerson Silami Garcia (MG)
Steven Fleck (EUA)
Francisco Martins (PB)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Navarro (SP)
Vilmar Baldissera (SP)
Luiz Carnevali (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
E-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Editor assistente
Guillermina Arias
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 / 3361 9932
E-mail: [email protected]
Assinatura
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
[email protected]
Direção de arte
Cristiana Ribas
[email protected]
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
3
Editorial
No mundo do conhecimento
Pedro Paulo da Silva Soares, Editor Associado
O Corpo Editorial da Revista Brasileira de Fisiologia
do Exercício (RBFEx) saúda a todos os leitores, autores
e colaboradores de nossa revista nesse ano de 2011 que,
para nós, se inicia efetivamente com a publicação de mais
um número da RBFEx. Sabemos que os manuscritos que
se encontram neste número são frutos de intenso trabalho
desenvolvido bem antes do início do ano corrente e traduzem
um investimento de longo prazo na investigação da fisiologia
do exercício nas suas diversas vertentes. Identificamos com
satisfação que, hoje, a RBFEx tem se tornado a primeira
opção de diversos autores como o veículo de divulgação
científica de seus trabalhos.
Observamos uma evolução positiva tanto no número de
submissões, quanto na qualidade dos manuscritos, no que se
refere a desenhos experimentais bem elaborados e métodos
que mostram progressiva sofisticação. Nossa revista se apresenta como uma atraente opção para a publicação de estudos nas
áreas básica, experimental e aplicada da fisiologia do exercício,
uma vez que nosso público alvo é bastante amplo e tem nos
apresentado, para além do interesse constante, avaliações
positivas da RBFEx tanto para o formato e apresentação,
quanto para seu conteúdo.
Gostaríamos de enfatizar que estamos num momento
bastante promissor em nosso país, com financiamento para
pesquisa como nunca antes visto e com a proximidade de
dois eventos de dimensões globais, a Copa do Mundo de
Futebol e os Jogos Olímpicos. Esse conjunto de fatores favorece um ambiente favorável para a produção e divulgação
científica em nossa área, cabendo a nós o dever de atender
a uma crescente demanda que se apresenta na procura de
profissionais interessados na pós-graduação ou na aplicação
direta do conhecimento científico para promoção da saúde e
desempenho esportivo.
Nestes últimos anos no Brasil, observamos um crescimento
extraordinário do número de pesquisadores e de nossa produção científica, o que simboliza nossa inserção no “mundo
do conhecimento”. De fato, nosso crescimento foi superior
a diversos países considerados desenvolvidos e grandes produtores de conhecimento científico. Entretanto, muito ainda
precisa ser feito. Embora publicações internacionais tenham
maior impacto e visibilidade externa, o fortalecimento das
publicações nacionais também consiste em fator determinante
do nosso desenvolvimento. Devemos, portanto, valorizar
nossas revistas em língua portuguesa e acolher trabalhos de
qualidade comprovada em nossas publicações, abrindo espaço
para a consolidação de grupos de pesquisa em todo o país e
oferecendo aos profissionais da área uma leitura atualizada e
de qualidade. Ainda mais, um passo determinante a ser dado
é o da incorporação efetiva dos achados científicos com toda
sua interdisciplinaridade na comunidade dos profissionais
envolvidos com o exercício físico.
A RBFEx está em consonância com esta demanda, o que
pode ser observado nas suas páginas. Estamos certos de que
os autores encontrarão na RBFEx um periódico de qualidade
crescente e leitores críticos e ávidos por material original e
revisões bem redigidas e atualizadas.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
4
Artigo original
Recomendação de exercícios físicos para hipertensos
por cardiologistas de Londrina/PR
Physical exercise recommendation to hypertensive patients suggested
by cardiologists from Londrina/PR
Alexandre Antunes Imazu*, Marcos Doederlein Polito, D.Sc.**
*Unidade de Medicina Preventiva - Unimed Londrina,** Departamento de Educação Física, Universidade Estadual de Londrina
Resumo
Abstract
Introdução: O médico cardiologista deve possuir um conhecimento suficiente sobre exercício físico para poder realizar recomendações básicas aos pacientes hipertensos. Objetivo: Verificar
as recomendações de exercícios físicos para pacientes hipertensos
realizadas pelos médicos cardiologistas da cidade de Londrina - PR.
Método: Foi elaborado um questionário contendo seis questões que
abordaram conceitos e condutas nas recomendações de exercícios.
O documento foi entregue e recolhido pessoalmente no local de
atendimento dos médicos. Dos 64 profissionais cadastrados no
Conselho Regional de Medicina do Paraná, 40 foram localizados
e 25 participaram do estudo. Resultado: O teste do qui-quadrado
não identificou diferenças entre as recomendações dos médicos
e as recomendação atuais de exercícios físicos para hipertensos.
Conclusão: Embora no contexto geral os cardiologistas recomendem adequadamente o exercício físico para hipertensos, ainda foi
identificado que uma pequena quantidade de profissionais possui
superficialidade em relação ao tema em questão.
Introduction: The cardiologist physician should have sufficient
knowledge about physical exercise in order to recommend it for
hypertensive subjects. Aim: To verify which are the recommendations concerning physical exercise for hypertensive subjects suggested
by cardiologists from Londrina/PR. Methods: A questionnaire with
six questions which consisted of concepts and conducts in exercise
recommendations was elaborated. The questionnaire was handed
and collected in person at the work place the cardiologists provided
consultation. Sixty-four cardiologists were registered at the Regional Medical Council of Paraná, but 40 were found and only 25
participated in this study. Results: The chi-square test did not find
differences between cardiologists and current exercise recommendations to hypertensive subjects. Conclusion: Although cardiologists,
in general, recommend adequate exercise to hypertensive patients,
a small group of professionals have still little information about
exercise and hypertension.
Key-words: blood pressure, exercise, hypertension.
Palavras-chave: pressão arterial, exercício físico, hipertensão
arterial sistêmica.
Recebido em 8 de outubro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Marcos Doederlein Polito, Departamento de Educação Física, Universidade Estadual de
Londrina, Rodovia Celso Garcia Cid km 380, 86051-980 Londrina PR, Tel: (43) 3371-4238, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
Dentre as diversas estratégias para auxiliar na prevenção
e no tratamento da hipertensão arterial sistêmica, o exercício
físico regular é uma das menos onerosas [1]. Além disso, possibilita modificações fisiológicas nos tecidos cardíaco, vascular
e musculoesquelético que, independentemente da alteração na
pressão arterial de repouso, pode representar menor chance
de morte por doença do coração [2].
Contudo, para que ocorram os benefícios induzidos pelo
exercício físico, a sua prescrição deve respeitar determinadas
variáveis, tais como intensidade, duração e frequência semanal do esforço [3]. Após os exames clínicos necessários,
o profissional da área da educação física, na maioria dos
casos, é o responsável pela prescrição e acompanhamento do
exercício físico tanto no indivíduo hipertenso quanto no não
hipertenso [4]. Entretanto, devido ao médico estabelecer o
primeiro contato com o paciente, frequentemente é sugerido
por este profissional algum tipo de atividade física. Porém, a
formação universitária do médico pode não contemplar todo
o conhecimento científico necessário para o entendimento da
fisiologia do exercício [5], o que poderia se relacionar com
recomendações não adequadas de exercício para determinado
grupo de indivíduos.
Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi comparar
as recomendações de exercício físico para pessoas hipertensas
realizadas pelos cardiologistas da cidade de Londrina (PR)
com as recomendações do Colégio Americano de Medicina
do Esporte - ACSM [6].
Material e métodos
Através de consulta à página eletrônica do Conselho
Regional de Medicina do Paraná em julho de 2009, foram
identificados 64 médicos cardiologistas que atuavam na cidade
de Londrina/PR. O endereço profissional de cada médico
foi obtido pela página eletrônica da Associação Médica de
Londrina ou pela listagem impressa de planos de saúde. Do
total dos 64 médicos, 24 não receberam o questionário para
participação. Destes, cinco atuavam somente em um hospital da cidade, o que dificultou o acesso aos profissionais por
não possuir um responsável pela entrega do documento; 12
médicos não foram localizados devido aos endereços estarem
incompletos ou desatualizados; seis não foram encontrados
por incompatibilidade de horários entre o médico e o pesquisador; um médico estava viajando no período da pesquisa.
Deste modo, 40 questionários foram entregues pessoalmente nos endereços profissionais. Para assegurar imparcialidade nas respostas, os questionários foram confiados à
secretária ou recepcionista no local de atuação após breve
explanação da pesquisa. Após uma semana, o pesquisador
recolhia os questionários, os quais se encontravam inseridos
em envelope lacrado e sem qualquer identificação pessoal dos
médicos. Dos 40 questionários, 12 não foram devolvidos,
5
apesar de contato telefônico e duas passagens do pesquisador
para recolhimento. De forma explícita, dois cardiologistas se
negaram a participar da pesquisa e um justificou a devolução
do questionário em branco por não atuar clinicamente. Assim,
foram devolvidos 25 questionários devidamente preenchidos,
correspondendo a 62,5% do total entregue.
O questionário foi elaborado contendo seis questões
fechadas com o intuito de se conhecer as recomendações dos
médicos cardiologistas sobre exercício físico/atividade física
para a população hipertensa na prevenção e tratamento da
doença. Por escrito, foi incluída a orientação de respostas das
questões. O conteúdo das questões e as opções de respostas
podem ser visualizados na Figura 1.
O modelo de comparação entre as respostas dos médicos e
as respostas esperadas foi o Posicionamento Oficial do Colégio
Americano de Medicina do Esporte [6], por se tratar de uma
entidade de pesquisa internacionalmente reconhecida que
associa o aspecto clínico à prescrição do exercício. Além disso,
no referido documento, há uma indicação qualitativa sobre
as evidências científicas nos temas abordados.
A análise dos dados foi realizada de forma descritiva e, de
forma inferencial, pelo teste do qui-quadrado e pela correlação
de Spearman, considerando como nível de significância estatístico o valor de p menor que 0,05. Os dados foram analisados
no programa Statistica (7.0, Statsoft, Tulsa, OK, EUA).
Figura 1 - Modelo do questionário aplicado aos cardiologistas de
Londrina/PR.
Em sua opinião, a atividade física regular pode auxiliar no
tratamento de hipertensão arterial?
( ) concordo totalmente
( ) concordo parcialmente
( ) discordo totalmente
( ) discordo parcialmente
( ) não tenho opinião
Em sua opinião, a atividade física regular pode auxiliar na
prevenção da hipertensão arterial?
( ) concordo totalmente
( ) concordo parcialmente
( ) discordo totalmente
( ) discordo parcialmente
( ) não tenho opinião
Você recomenda exercício de musculação ou outra atividade
com pesos para pacientes hipertenso?
( ) sempre
( ) na maioria dos casos, dependendo do paciente
( ) na minoria dos casos, dependendo do paciente
( ) não
Você recomenda exercício aeróbico (caminhada, bicicleta,
hidroginástica, etc.) para pacientes hipertensos?
( ) sempre
( ) na maioria dos casos, dependendo do paciente
( ) na minoria dos casos, dependendo do paciente
( ) não
6
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Em geral, qual a duração aproximada que você indica a prática da atividade física para a maioria dos pacientes hipertensos?
( ) até 20 min
( ) até 30 min
( ) acima de 30 min
( ) não recomendo duração fixa
( ) não recomendo atividade física
Em geral, qual a intensidade de esforço aproximada que você
indica a prática da atividade física para a maioria dos pacientes hipertensos:
( ) leve
( ) moderada
( ) forte
( ) não recomendo intensidade fixa
( ) não recomendo atividade física
Resultados
Em relação à primeira questão: “Em sua opinião, a atividade física regular pode auxiliar no tratamento da hipertensão
arterial?”, todos os médicos assinalaram a opção “concordo
totalmente”. Na segunda questão: “Em sua opinião, a atividade física regular pode auxiliar na prevenção da hipertensão
arterial?”, 23 médicos (92%) assinalaram a opção “concordo
totalmente” e os demais assinalaram a opção “concordo
parcialmente”.
Houve maior divergência de opiniões na terceira questão:
“Você recomenda exercício de musculação ou outra atividade
com pesos para pacientes hipertensos”. Nesse caso, a maior parte
dos médicos (60%) assinalou a opção “na maioria dos casos,
dependendo do paciente”, enquanto 28% assinalaram a opção
“na minoria dos casos, dependendo do paciente”. Ainda houve
médicos (8%) que alegaram nunca recomendar tal atividade,
enquanto 4% sempre recomendariam. Em relação à quarta
questão: “Você recomenda exercício aeróbio – caminhada,
bicicleta, hidorginástica etc. – para pacientes hipertensos?”,
80% dos médicos sempre recomendam o exercício aeróbio para
pacientes hipertensos, enquanto 16% assinalaram a opção “na
maioria dos casos, dependendo do paciente” e 4% marcaram
“na minoria dos casos, dependendo do paciente”.
Na quinta questão: “Em geral, qual a duração aproximada
que você indica a prática da atividade física para a maioria dos
pacientes hipertensos?”, 21 médicos (84%) recomendam duração acima de 30 min, dois (8%) não recomendam duração
fixa e outros dois (8%) recomendam duração de até 30 min.
Finalmente, na última questão: “Em geral, qual a intensidade de esforço aproximada que você indica a prática da
atividade física para a maioria dos pacientes hipertensos?”,
22 médicos (88%) indicaram a intensidade moderada; um
(4%) recomendou intensidade leve, um (4%) recomendou
intensidade forte e um (4%) não recomenda intensidade fixa.
De acordo com as recomendações do ACSM [6], as respostas esperadas seriam: “concordo totalmente” para as questões
1 e 2; “na maioria dos casos, dependendo do paciente” para a
questão 3; “sempre” para a questão 4; “acima de 30 min” para
a questão 5; “moderada” para a questão 6. Nesse sentido, o
teste do qui-quadrado não identificou diferenças significativas
entre as respostas dos médicos e as respostas esperadas. A correlação de Spearman não identificou médicos que atribuíssem
as mesmas opções em diferentes respostas.
Discussão
De forma geral, os cardiologistas de Londrina (PR)
orientam seus pacientes hipertensos de acordo com as atuais
recomendações de exercício físico [6]. Independentemente
de possíveis lacunas existem nos currículos das faculdades de
medicina sobre o conteúdo de medicina do esporte (ou do
exercício) [5], os eventos periódicos de atualização profissional
tendem a contemplar temas relacionados com o exercício. Isso
pode contribuir para que as recentes evidências científicas em
relação ao exercício e à doença sejam apresentadas e discutidas.
Contudo, a análise minuciosa das respostas possibilita
verificar algumas discrepâncias. Por exemplo, na segunda
questão, 92% concordaram totalmente que o exercício físico
pode auxiliar na prevenção da hipertensão arterial. Os demais
concordaram parcialmente. De fato, o ACSM [6] não afirma
que o exercício físico previna o aparecimento da hipertensão
arterial. No entanto, existe a possibilidade de pessoas com
melhor condicionamento físico possuírem menores valores de
pressão arterial em repouso [7]. Nessa ótica, como a questão
sugere uma possibilidade, alguns médicos parecem não estar
totalmente atualizados em relação ao assunto exposto.
Na terceira questão, sobre o treinamento com pesos
ou musculação, o ACSM [6] não considera tal atividade
como significativamente eficiente para auxiliar na redução
da pressão arterial de repouso, mas pode ser indicada para
compor a rotina de treinamento físico por aumentar os
níveis de força e resistência muscular. No entanto, durante
o exercício de musculação, a pressão arterial possui grande
potencial de aumento e em curto tempo [8], o que limita a
indicação desta modalidade de exercício a algumas pessoas [9].
Por outro lado, pessoas com maior força muscular possuem
menor incremento da pressão arterial durante o exercício, o
que pode resultar em considerável segurança cardiovascular
nas atividades diárias que exigirem contração muscular com
elevado componente estático [10]. Dessa forma, entende-se
que a musculação é uma atividade que pode ser indicada aos
hipertensos, dependendo do caso. No presente estudo, 36%
dos médicos são resistentes a tal atividade física (somando os
que não recomendam com os que recomendam na minoria
dos casos) e 4% recomendam sempre. Assim, 40% da amostra
não segue as recomendações adequadas, o que sugere necessidade de maior investimento sobre o conhecimento dos efeitos
do exercício de musculação no hipertenso.
Em contrapartida, quanto ao exercício aeróbio, 80% dos
médicos afirmaram recomendar sempre tal atividade física,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
enquanto os demais recomendam com algum tipo de restrição. Segundo o ACSM [6], as evidências científicas permitem
concluir que o exercício aeróbio é o mais eficiente para reduzir
a presão arterial. Devido ao fácil controle de intensidade e
duração, são raras as situações em que uma pessoa hipertensa
seria clinicamente impedida de se exercitar aerobiamente.
Apenas em casos de a doença estar sem controle ou existir
problemas associados, como a doença cardíaca, poderia limitar
o esforço físico [11].
As demais questões abordaram a duração e a intensidade
do exercício. Sobre a duração do esforço, pode-se concluir
que todos os médicos a recomendaram de forma adequada,
não se afastando das sugestões do ACSM [6]. Ou seja, em
torno de 30 min ou de acordo com as condições físicas do
praticante. Já em relação à intensidade, a mais indicada seria
a moderada [7]. Contudo, houve também a indicação de intensidade forte, o que pode representar esforço desnecessário.
A redução da pressão arterial pelo exercício aeróbio é mais
eficiente em níveis de esforço moderado ou baixo; e durante
o exercício com pesos, a intensidade forte pode representar
aumentos exagerados na pressão arterial. Embora seja possível uma pessoa hipertensa realizar um treinamento físico
em nível de grande intensidade [12], ainda são necessárias
maiores investigações.
Conclusão
Os resultados do presente estudo permitiram mostrar
que os médicos da cidade de Londrina (PR) recomendam
adequadamente exercícios para hipertensos. Não obstante,
em alguns casos, houve respostas diferentes daquelas que
seriam esperadas (mesmo que não significativas). Como a
análise estatística não acusou que o mesmo médico “errasse”
em diferentes questões, significa que alguns médicos são mais
atualizados que outros em certos conceitos.
7
Referências
1. Hamer M. The anti-hypertensive effects of exercise: integrating
acute and chronic mechanisms. Sports Med 2006;36:109-16.
2. Church TS, Earnest CP, Skinner JS, Blair S. Effects of different
doses of physical activity on cardiorespiratory fitness among
sedentary, overweight or obese postmenopausal women with
elevated blood pressure: a randomized controlled trial. JAMA
2007;297:2081-2091.
3. Pescatello LS. Exercise and hypertension: recent advances in
exercise prescription. Curr Hypertens Rep 2005;7:281-286.
4. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2007;89(3):24-79.
5. Nóbrega ACL, Araújo CGS. Medicina do exercício: o que é
ensinado nos cursos de graduação médica brasileiros. Rev Bras
Educ Médica 1988;12:69-72.
6. American College of Sports Medicine. American college of
sports medicine position stand. Exercise and hypertension.
Med Sci Sports Exerc 2004;36:533-53.
7. Whelton SP, Chin A, Xin X, He J. Effect of aerobic exercise
on blood pressure: a meta-analysis of randomized, controlled
trials. Ann Intern Med 2002;136:493-503.
8. MacDougall JD, Tuxen D, Sale DG, Moroz JR, Sutton JR.
Arterial blood pressure response to heavy resistance exercise. J
Appl Physiol 1985;58:785-90.
9. Haykowsky MJ, Eves ND, Warburton DER, Findlay MJ.
Resistance exercise, the valsalva maneuver, and cerebrovascular
transmural pressure. Med Sci Sports Exerc 2003;35:65-8.
10. Sale DG, Moroz DE, McKelvie RS, MacDougall JD, McCartney N. Effect of training on the blood pressure response to
weight lifting. Can J Appl Physiol 1994;19:60-74.
11. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green
LA, Izzo Junior JL, et al. The seventh report of the joint national committee on prevention, detection, evaluation, and
treatment of high blood pressure: The JNC 7 Report. JAMA
2003;289:2560-71.
12. Tjønna AE, Lee SJ, Rognmo Ø, Stølen TO, Bye A, Haram
PM, et al. Aerobic interval training versus continuous moderate
exercise as a treatment for the metabolic syndrome: a pilot study.
Circulation 2008;118:346-54.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
8
Artigo original
Efeitos do cinesioalongamento na propriocepção
de joelho: ensaio clínico controlado
The effects of multiple stretching stimuli (kinesio-stretching)
in knee proprioception: controlled clinical trial
Marina Bernardi, Ft.*, Alberito Rodrigo de Carvalho**
*Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Campus Cascavel, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus Cascavel, Especialista em Fisioterapia Traumato Ortopédica, Mestrando no
programa de Ciências do Movimento Humano UFRGS
Os dados deste trabalho foram apresentados no I Congresso Internacional de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e
Tecnologia – UNESP – Presidente Prudente/SP em agosto de 2010 e constam nos anais do evento.
Resumo
Abstract
Objetivo: Avaliar o efeito do cinesioalongamento para membros
inferiores em jovens sedentárias, com encurtamento de cadeia
posterior, sobre a acurácia proprioceptiva do joelho representada
pelo senso de posição articular (T2) e o limiar de percepção de
movimentos passivos lentos (T1). Métodos: 17 mulheres divididas
aleatoriamente em dois grupos: GC (n = 7/20,7 ± 1,7anos) e GCA
(n = 10/21,2 ± 1,8anos). Mensurou-se a acurácia proprioceptiva
pelos testes (T1) e (T2). Nos dois testes as participantes sinalizaram ao atingir o ângulo alvo, registrando-se os valores angulares
realizados efetivamente. O “valor de erro”, que refletiu a acuidade
proprioceptiva, foi determinado pela diferença entre o ângulo alvo
e aquele realizado. As medidas foram feitas antes (ΔINI) e após
(ΔFIN) a intervenção. O grupo GCA foi submetido a oito padrões
do cinesioalongamento. Resultados: Nas comparações intragrupos
o GCA melhorou no T1 (ΔINI = 7,11/ΔFIN = 2,56/p < 0,05) e
no T2 (ΔINI = 5,01/ΔFIN = 2,75/p < 0,05). Já o GC piorou no
T2 (ΔINI = 3,34/ΔFIN = 4,38/p < 0,05) e não houve diferença no
T1. Nas comparações intergrupos, não houve diferença, para ambos
os testes, na acuidade proprioceptiva no ΔINI; já no ΔFIN o GCA
apresentou valores de erro significativamente menores (p < 0,05) que
o GC (ΔFIN: T1/GC = 5,64 GCA = 2,56; T2/GC = 4,38 GCA =
2,75). Conclusão: O cinesioalongamento foi eficaz para aprimorar
a acuidade proprioceptiva de joelho.
Objective: To evaluate the effect of multiple stretching stimuli
for lower limbs in young sedentary, with shortening of the posterior
chain, on proprioceptive accuracy represented by the knee joint
position sense (T2) and threshold of perception of passive movements slow (T1). Methods: 17 women were divided randomly into
two groups: GC (n = 7/20.7±1.7 years) and GCA (n = 10/21.2 ±
1.8 years). The accuracy was measured by tests (T1) and (T2. In
both trials participants signaled when it reaches the target angle,
registering the angles be performed effectively. The “value error”,
which reflected the proprioceptive acuity was determined by the
difference between the angle target and that done. Measurements
were made before (ΔINI) and after (ΔFIN) intervention. The GCA
group underwent eight standards multiple stretching stimuli. Results:
The intra-group comparisons at T1 improved the GCA (ΔINI =
7.11/ΔFIN = 2.56/p < 0.05) and T2 (ΔINI = 5.01/ ΔFIN = 2.75/p
< 0.05). But the GC has worsened in T2 (ΔINI = 3.34/ΔFIN =
4.38/p < 0.05) and no difference in T1. Comparisons between
groups showed no difference, for both tests, the proprioceptive
acuity in ΔINI, already presented in the GCA ΔFIN error values
significantly lower (p < 0.05) than the GC (ΔFIN: T1/GC = 5.64
GCA = 2.56; T2/GC=4.38 GCA=2.75). Conclusion: The multiple
stretching stimuli were effective to improve proprioceptive acuity
in knee.
Palavras-chave: propriocepção, artrometria articular, cinestesia,
joelho, exercícios de alongamento muscular.
Key-words: proprioception, articular arthrometry, kinesthesis, knee,
muscle stretching exercises.
Recebido em 12 de janeiro de 2011; aceito em 9 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Prof. Alberito Rodrigo de Carvalho, Clínica Escola de Fisioterapia da UNIOESTE, Rua Universitária,
1619, Jardim Universitário, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3000, E-mail: [email protected], [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
Materiais e métodos
A maioria dos portadores de distúrbios musculoesqueléticos podem se beneficiar dos recursos fisioterapêuticos, pois
entre os principais objetivos da fisioterapia encontram-se
a restauração e/ou manutenção da capacidade funcional
através de várias técnicas, dentre elas, os exercícios terapêuticos. Muito embora vários desses recursos já tenham sido
investigados quanto a sua eficácia [1,2], outras técnicas
vêm ganhando mercado sem que haja, ainda, evidências
científicas a seu favor.
Profissionais do Centro Brasileiro de Fisioterapia
(CEBRAF) preconizam a utilização de uma modalidade
terapêutica alternativa para ganho de flexibilidade denominada cinesioalongamento [3]. Trata-se de um conjunto de
movimentos de flexibilidade que combina três momentos de
alongamento: alongamento estático ativo, passivo e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), respectivamente,
sendo que este último momento é, por si só, um método de
flexibilização que combina alongamento estático, contração
e relaxamento isométricos, seguidos de outro alongamento
estático [4]. Desta forma o cinesioalongamento tem o objetivo de desenvolver a valência física da flexibilidade por
meio de mecanismos neurológicos e biomecânicos pautados
na melhora do recrutamento neuromotor, que pode ser justificado pela potencialização das aferências proprioceptivas,
alcançada com os movimentos realizados dentro de padrões
funcionais [3].
A argumentação para o uso clínico do cinesioalongamento
se apoia em conceitos, previamente estabelecidos por outros
estudos, relacionados à influência da força muscular e da flexibilidade sobre a propriocepção e o equilíbrio. Isto porque
os mecanorreceptores, fusos musculares e órgãos tendinosos
de golgi (OTGs) convertem as cargas impostas aos tecidos em
impulsos aferentes, os quais são integrados na programação
motora, após terem sido processados pelo sistema nervoso
central (SNC), que controla o tônus e a ativação/desativação
da dinâmica agonista/antagonista do controle neuromuscular
[5-7]. Durante estímulos funcionais, há uma adaptação dos
reflexos proprioceptivos com consequente alteração do estado
mecânico dos músculos e tecidos adjacentes [8].
Entretanto, em virtude da recente comercialização do
método, visto que ainda poucos profissionais são habilitados
a empregá-la, há uma carência de trabalhos científicos que
sustentem sua aplicação. Portanto este estudo testa a hipótese
que há melhora da acuidade proprioceptiva do joelho em
sujeitos submetidos à intervenção baseada no cinesioalongamento para membros inferiores.
Esta investigação teve por objetivo avaliar o efeito do
cinesioalongamento para membros inferiores em jovens
sedentárias, com encurtamento de cadeia posterior, sobre a
acurácia proprioceptiva do joelho representada pelo senso
de posição articular e o limiar de percepção de movimentos
passivos lentos.
Caracterização do estudo e ética da pesquisa
9
Este estudo, cujo delineamento classificou-se como um
ensaio clínico controlado, foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná (UNIOESTE) sob o registro CAAE
0269.0.276.000-08.
Caracterização da amostra e divisão dos grupos
A amostra foi composta de forma intencional e não
probabilística. Inicialmente, após convite aberto, 20 mulheres, sedentárias, acadêmicas do curso de Fisioterapia da
UNIOESTE-Cascavel/PR, com idade entre 18 e 35 anos,
demonstraram interesse em se voluntariar para a pesquisa.
Os objetivos e procedimentos metodológicos foram explicados logo no primeiro contato, e as participantes assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido em duas vias.
Em seguida foram submetidas a uma avaliação clínica de
triagem para verificação de possíveis fatores de não inclusão
e confirmação da elegibilidade.
Como critério de inclusão a voluntária deveria apresentar
retração da cadeia posterior e ser sedentária.
Os critérios de não inclusão adotados foram: indivíduos
diabéticos, hipertensos descompensados, com história de
cardiopatia ou pneumopatias diagnosticadas; indivíduos com
história de lesões osteomusculares dos membros inferiores
nos últimos quatro meses; portadores de disfunções temporomandibulares; portadores de disfunções vestibulares; uso de
drogas que afetam o sistema nervoso central ou o equilíbrio
tais como os sedativos ou ansiolíticos; etilistas crônicos ou uso
de álcool nas 24 horas que antecederam os testes; indivíduos
com comprometimento importante da acuidade visual (caracterizado pela necessidade de ajuda de outras pessoas ou de
dispositivos de auxílio para a realização das atividades diárias
em condições de privação do uso de óculos ou lentes). Foram
excluídas aquelas que faltaram em mais de 40% da intervenção, e que não participaram de qualquer uma das avaliações.
Para aquelas aptas a participar do estudo, avaliou-se a
retração muscular da cadeia posterior, cujo objetivo foi apenas de confirmar ou refugar o encurtamento muscular para
inclusão na pesquisa. Descalças, as voluntárias permaneceram
em posição ortostática com os pés levemente separados (cerca
de 10 cm) e os joelhos estendidos; na sequência inclinaram
a cabeça lentamente para baixo, seguida do tronco; e, posteriormente, levaram as mãos em direção ao chão, como se
quisessem tocá-lo, porém, sem forçar. Ao menor sinal de dor
ou tensão incômoda o movimento foi cessado. A cadeia posterior foi considerada encurtada se, no momento de interrupção
do teste, o avaliador observasse ao menos dois dos seguintes
itens: a) ângulo tíbio-társico maior que 90º (mensurado por
goniômetro); b) hiperextensão de joelho evidente; c) ângulo
10
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
coxofemoral maior que 90º (medido por goniômetro); d)
retificações vertebrais, reconhecidas como regiões de aplanamento da coluna vertebral; e) posição cervical retraída (cabeça
fixa em póstero-flexão).
Das 20 voluntárias que demonstraram interesse todas
foram incluídas, fizeram as avaliações iniciais (ΔINI), e foram
distribuídas de maneira aleatória, por sorteio, em dois grupos
com 10 voluntárias cada. Porém, durante a intervenção houve
exclusão de três participantes. Assim, as composições finais
dos grupos amostrais foram: grupo controle (GC / n = 7; 20,7
± 1,7 anos) que não recebeu nenhum tipo de intervenção; e
grupo experimental que foi submetido ao cinesioalongamento
(GCA / n = 10; 21,2 ± 1,8 anos).
com intervalos de cinco segundos entre elas, de forma passiva e lenta em direção ao mesmo ângulo, e a voluntária foi
previamente instruída a comunicar ao examinador para que
parasse o movimento quando sentisse que sua perna atingiu
a posição alvo desejada. A posição alcançada foi observada no
aparelho e registrada pelo examinador. Posteriormente, o teste
foi repetido para o ângulo estabelecido na flexão do joelho.
Figura 1 - Goniômetro fixo (GF) utilizado para a mensuração
tanto do senso de posição articular quanto do limiar de percepção
dos movimentos passivos lentos.
Procedimentos de avaliação
A mensuração proprioceptiva foi dada pela avaliação
do senso de posição articular e do limiar de percepção de
movimentos passivos lentos. Nos dois testes, os valores obtidos foram registrados em graus e avaliados sempre por um
único examinador, previamente treinado para tal, conforme
metodologia descrita nos trabalhos de Carvalho et al. [9], em
2007, e Carvalho et al. [10].
Para a mensuração dos valores angulares, utilizou-se um
goniômetro cujo eixo permaneceu paralelo ao eixo articular
do joelho com os dois braços do goniômetro fixados por talas
de madeira presas a duas faixas de tecido de algodão inelástico e antialérgico com velcros nas duas extremidades para a
adaptação às distintas circunferências do membro inferior de
cada avaliada. Uma extremidade foi fixada na parte distal da
coxa e a outra na parte proximal da perna. Denominou-se
este dispositivo de goniômetro fixo (GF).
O membro inferior escolhido para os testes foi o dominante. As voluntárias se sentaram confortavelmente sobre
uma maca com altura de 1,20 cm, com as pernas balançando
livremente e o GF ajustado à articulação na sua face lateral. O
centro deste se posicionou paralelamente ao eixo articular do
joelho, localizado sobre a linha articular do joelho. Os olhos
das voluntárias foram vendados para remover as informações
visuais. Para ambos os testes realizaram-se testes piloto, sem
valor para registro, de forma que o indivíduo se familiarizasse
com o procedimento e erros relacionados à aprendizagem
fossem evitados.
Para a mensuração do limiar de percepção de movimentos
passivos lentos (T1) foram estabelecidos dois ângulos, de
forma aleatória e por sorteio em um universo de seis ângulos
entre 10 a 60° graus com intervalos fixos de 10º entre eles,
sendo um ângulo para extensão e o outro para flexão de joelho.
Em sequência, partindo de uma angulação de 90° de flexão, a
perna da voluntária foi movida passivamente em movimento
de extensão até chegar à angulação pré-determinada pelo
sorteio e, nesta, o membro foi mantido durante dez segundos
e depois levado para a posição neutra. Após cinco segundos,
a perna foi movida novamente, e por três vezes consecutivas
Para realizar o teste de senso de posição articular (T2), o
posicionamento anterior foi mantido e os olhos da voluntária
permaneceram vendados. Porém, neste teste, três ângulos
foram sorteados de forma idêntica ao do T1 e estes foram
distribuídos, também por sorteio, entre os movimentos de
flexão, um ângulo, e extensão, dois ângulos, da articulação
do joelho.
Em seqüência, uma dessas posições angulares foi reproduzida em movimento passivo. Ao se alcançar o ângulo prédeterminado pelo sorteio, o membro foi mantido por dez
segundos e posteriormente devolvido à posição neutra. Após
cinco segundos a voluntária foi instruída a realizar ativamente
o movimento e pará-lo ao atingir a posição alvo desejada por
três vezes consecutivas com intervalos de cinco segundos entre
cada repetição. O ângulo alcançado foi observado no aparelho
e registrado pelo examinador. O teste foi realizado também
para os dois outros ângulos pré-estabelecidos.
Durante os testes, as examinadas receberam estímulos
verbais para se concentrarem na posição da articulação do
joelho e, assim, evitar que o tempo gasto no movimento
servisse de estratégia para o reposicionamento. O avaliador
manteve, subjetivamente, velocidade média de dois segundos
para cada dez graus.
Para os dois testes, foi realizada uma avaliação final (ΔFIN)
após o término da intervenção, ou o tempo correspondente
a este no grupo controle.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Procedimentos de intervenção
Previamente ao início da intervenção, as voluntárias alocadas no grupo intervenção foram reunidas e todos os detalhes
da intervenção foram explicados. Neste mesmo encontro foi
realizada uma sessão piloto com a demonstração prática das
técnicas, para facilitar o aprendizado, que não foi contabilizada como efetiva.
A intervenção durou cerca de 40 minutos e foi realizada
na Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE. Seis acadêmicas
voluntárias do curso de Fisioterapia, com formação no método
e previamente treinadas, aplicaram as intervenções, que foram
realizadas com frequência de duas vezes por semana, por cinco
semanas, totalizando dez sessões.
O grupo GCA participou da intervenção com oito padrões
do cinesioalongamento [3] conforme ilustração na figura 2.
Após a verificação da frequência cardíaca de repouso, com o
frequencímetro da marca Polar®, fez-se um aquecimento na
11
esteira de cinco minutos e em seguida realizou-se os padrões
de cinesioalongamento.
Tratamento estatístico
Para os dois testes proprioceptivos, as diferenças, em valores absolutos, entre o ângulo sorteado e o ângulo realizado
pela examinada foram definidas como valor de erro. Quanto
mais próximo de zero fosse essa medida, melhor a acuidade
proprioceptiva.
Para o tratamento estatístico foi utilizado o software GraphPad Prism 3.0. Para o teste de normalidade foi utilizado
o Kolmogorov-Smirnov. Além da estatística descritiva na
forma de média, as comparações foram feitas por testes não
paramétricos de Wilcoxon, nas comparações intragrupos, e
Mann Whitney, nas comparações intergrupos, já que os dados
não respeitaram distribuição normal. A significância estatística
adotada foi  = 0,05.
Figura 2 - Ilustração e descrição dos padrões de cinesioalongamento utilizados.
Dissociação do quadril: movimento passivo, em que se alternou o
padrão de tríplice flexão (flexão do tornozelo junto coma flexão do
joelho e flexão do quadril) por tríplice extensão (extensão do tornozelo junto com extensão do joelho e extensão do quadril) no plano
sagital, associado a movimentos circulares do quadril, por 8 vezes.
Cinesioalongamento ísquiotibial: movimento ativo-assistido, com
estabilização do membro inferior no máximo de amplitude possível
de extensão de joelho, do posicionamento do quadril (que variou
com o exercício) e dorsiflexão. A cada exercício foi dado o comando contrai/relaxa (CR) no qual a voluntária fez uma força contra a
resistência do terapeuta durante 8 segundos, relaxando em seguida
e, nesse momento, buscou-se uma nova amplitude articular. A) intermédio: quadril em flexão e o membro estimulado a 90° em relação à
linha do solo. Solicitou-se o comando CR. B) lateral: quadril em adução, com o membro estimulado a 45° em relação à linha do solo.
Solicitou-se o comando CR. C) medial: quadril em abdução, com o
membro estimulado a 45° em relação à linha do solo. Solicitou-se o
comando CR. Cada exercício foi feito 3 vezes, com 8 segundos de
intervalo entre os exercícios.
Cinesioalongamento lombar: movimento ativo-assistido, em que a
participante sentou em tríplice flexão, apoiando as zonas reflexas dos
antepés no terapeuta. Solicitou-se uma inspiração nasal profunda e,
durante a expiração, o deslocamento do corpo para frente. Ao chegar ao seu limite, a voluntária permaneceu nesta postura sustentada
pela estabilização do terapeuta. Na segunda repetição a participante
expirou deslocando seu corpo para frente e foi tracionada pelo terapeuta. Já na terceira a participante foi tracionada por 8 segundos, e,
em seguida, ela tracionou o terapeuta que ofereceu resistência por 4
segundos, A seguir a participante relaxou e o terapeuta buscou uma
nova amplitude sustentando por mais 4 segundos.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
12
Cinesioalongamento isquiotibial dominante: movimento ativo-
assistido. A participante sentou com extensão do membro inferior a
ser alongado e o membro contralateral fletido. Solicitou-se que ela
apoiasse a mão do mesmo lado do membro em extensão sobre o
joelho estendido, e com o membro superior contralateral alcançasse
o terapeuta. Foi realizada inspiração nasal profunda e, durante a
expiração, o deslocamento do corpo para frente. Ao chegar ao seu
limite, a voluntária permaneceu nesta postura sustentada pela estabilização do terapeuta. Na segunda repetição a participante expirou
deslocando seu corpo para frente e foi tracionada pelo terapeuta.
Já na terceira a participante foi tracionada por 8 segundos, e, em
seguida, ela tracionou o terapeuta que ofereceu resistência por 4
segundos. A seguir a participante relaxou e o terapeuta buscou uma
nova amplitude sustentando por mais 4 segundos.
Cinesioalongamento ísquiotibial unidos: movimento ativo-assistido. Segue a mesma postura do cinesioalongamento lombar, com a
única diferença para a extensão funcional dos membros inferiores.
Resultados
Discussão
As comparações intergrupos, dos dados obtidos nas avaliações iniciais (ΔINI), tanto para o T1 quanto para o T2,
indicam que os dois grupos tinham o mesmo nível de acurácia proprioceptiva. Já após a intervenção, na avaliação final
(ΔFIN), apenas o GCA teve seus níveis de acurácia proprioceptiva aprimorados (menores valores de erro). Nas comparações
intragrupos, observou-se que o GCA foi mais assertivo em
reproduzir os ângulos alvos, evidenciado por valores de erro
significativamente menores na ΔFIN, tanto no T1 quanto no
T2. O mesmo não aconteceu com o GC, sendo que a única
diferença estatística encontrada indicou uma piora da acuidade
proprioceptiva (valores de erro maiores) na ΔFIN para o T2.
A estatística descritiva e inferencial pode ser visualizada
na Tabela I.
A melhora da acuidade proprioceptiva observada no teste
ativo (T2) é mais facilmente explicada do que a melhora no
teste de movimento passivo (T1), já que, no T2, além das
aferências provenientes dos mecanoceptores articulares, há
uma importante participação das aferências provenientes dos
receptores musculares.
Embora, no presente estudo, a força muscular não tenha
sido mensurada, há relatos na literatura que o encurtamento
muscular induz a certo grau de fraqueza muscular, com consequente instabilidade postural; pois, embora os sujeitos com
encurtamento possam detectar seu desequilíbrio, muitas vezes
não são capazes de gerar torques de estabilização adequados
para corrigi-lo. Assim, para compensar a fraqueza, o estado
contrátil dos músculos altera-se para manter o equilíbrio e isso
pode afetar a acuidade proprioceptiva [11,12]. Desta forma,
sugere-se que o cinesioalongamento foi capaz de reverter o
encurtamento muscular e, tal efeito aprimorou a capacidade
proprioceptiva.
A melhora da propriocepção no GCA pode ter sido
secundária às mudanças ocorridas no comprimento do músculo, capazes de estimular os mecanoceptores articulares e
promover dessensibilização dos órgãos tendinosos de Golgi
(OTG). Ao dessensibilizar o OTG, aumenta-se a sensibilidade
ao estiramento do músculo, o que aumenta as contribuições
aferentes para o sistema nervoso central no que diz respeito
ao senso de posição articular [13-15].
Tabela I - Estatística descritiva e inferencial das comparações intergrupos e intragrupos para os dois testes que mensuram a acurácia
proprioceptiva nos dois momentos de avaliação.
TESTE
T1
T2
GC ∆INI GC ∆FIN GCA ∆INI
GCA ∆FIN
5.14
5.64
7.11
2.56 ╫ * / ▲*
3.34
4.38╫ * 5.01
2.75╫ * / ▲*
Teste de movimentos passivos lentos (T1); teste de senso posição
articular (T2); grupo controle (GC); grupo cinesioalongamento (GCA);
avaliação inicial (∆INI); avaliação final (∆FIN); diferença em relação à
∆INI (╫); diferença em relação ao GC no mesmo momento de avaliação (▲); nível de significância encontrado: p < 0,05 (*).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Ainda, a estimulação dos mecanoceptores das estruturas
articulares aumenta a atividade motora local e isso torna os
fusos dos músculos, relacionados às articulações envolvidas
no movimento, mais sensíveis. Esse aumento da sensibilidade
fusal gera um estado de prontidão muscular capaz de reagir
mais rapidamente em situações de perturbação articular [16].
As adequações protetoras nas forças regulatórias que agem nas
articulações modificam a rigidez muscular que é determinada
por um complexo sistema de controle neural por feedback. Há
uma hierarquia nas estratégias de controle neuromuscular que
se iniciam com a ativação das fibras musculares e evoluem até
que mudanças nas propriedades mecânicas de todo o músculo
sejam alcançadas. Alguns aspectos da fisiologia e biomecânica
muscular relacionados com a regulação da rigidez muscular
são: frequência de ativação (somação temporal); recrutamento
das fibras (somação espacial); relação tensão-comprimento do
sarcômero; relação força-velocidade do sarcômero; relação
tensão-comprimento do sarcômero mantido por estruturas
passivas; mecanismos de feedback das fibras intra e extra fusais;
regulação da força muscular e do torque determinado pela
arquitetura muscular [17].
Os mecanoceptores periféricos enviam informações contínuas para ajuste dinâmico da co-contração dos músculos
envolvidos no movimento. As informações partem dos receptores e se dirigem para a medula onde farão sinapses com os
motoneurônios gama. Estes motoneurônios influenciam as
fibras intrafusais que, por sua vez, enviam aferências para os
motoneurônios alfa, direcionados para as fibras extrafusais,
sobre o estado de tensão do músculo e a rigidez muscular é,
por fim, adequada ao movimento [18].
Assim, acredita-se que a melhora na acuidade proprioceptiva observadas no presente estudo possa, também, ser
secundária a melhora do recrutamento motor, já que o sistema
nervoso central dispõe de uma quantidade maior de aferências
por parte dos mecanoceptores articulares e receptores musculares, que foram aprimorados pelo cinesioalongamento, e
isso possibilitou um controle neuromuscular mais adequado.
Os argumentos acima descritos podem justificar a melhora no T2, porém não no T1, já que esse, por ser passivo,
não deveria ter contribuição dos receptores musculares. Alguns estudos questionam a validade dos testes passivos para
avaliação da propriocepção e colocam que os testes ativos
trazem uma informação clínica mais relevante justamente
pela contribuição das informações musculares [13,19]. Contrapondo, estudos mostram que na presença de lesões ligamentares observa-se déficit proprioceptivo pela diminuição
das informações provenientes dessas estruturas, especialmente
as lesões no ligamento cruzado anterior (LCA), já que este
é responsável pela maior parte da restrição passiva que contribuiu para estabilidade articular funcional porque fornece
feedback sensorial consequentes as mudanças na tensão do
ligamento [20]. Porém nem todos os estudos revelam esses
déficits nas lesões de LCA e apontam que os proprioceptores
ligamentares não são os principais responsáveis pela acuidade
13
proprioceptiva e sim os receptores musculares, pois frente à
lesão há uma adaptação negativa na massa muscular que é mais
importante para o déficit propriceptivo do que a diminuição
das informações por parte dos ligamentos [18].
Muito embora os sujeitos que compuseram a amostra
do presente estudo não apresentassem lesões ligamentares,
o reconhecimento de que as estruturas passivas, de fato,
determinam a acuidade proprioceptiva, poderia conduzir a
discussão para uma possível influência do cinesioalongamento
sobre estas estruturas.
Assim, este estudo não consegue explicar a melhora no T1
pelo prisma da influência do cinesioalongamento diretamente
sobre os mecanoceptores articulares. Contudo, hipotetiza-se
que, mesmo no T1, possa ter havido influência da contração
muscular. Como não houve um controle da atividade elétrica
muscular durante os testes, que pode ser feita por eletromiografia de superfície, não se pode garantir que durante os procedimentos do teste passivo os sujeitos tenham mantido uma
atividade muscular silenciosa e, por consequência, não se pode
afirmar ausência total das informações musculares durante o
referido teste. Sendo esta a limitação do presente estudo, sugerese que em estudos futuros, que envolvam testes passivos para
avaliar a acuidade proprioceptiva, seja controlada a atividade
muscular para se quantificar a participação desta nestes testes.
Conclusão
Conclui-se que as técnicas de cinesioalongamento foram
eficazes para aprimorar o senso de posição articular e o limiar
de percepção de movimentos passivos lentos do joelho na
amostra estudada. Contudo, o efeito da técnica de cinesioalongamento sobre o teste ativo parece ser mais reconhecido
do que no teste passivo pela maior contribuição dos receptores
musculares.
Referências
1. Moseley AM, Herbert RD, Sherrington C, Maher CG. Evidence
for physiotherapy practice: a survey of the physiotherapy evidence database (PEDro). Aust J Physiother 2002;48(1):43-9.
2. Fransen M. When is physiotherapy appropriate? Best Pract Res
Clin Rheumatol 2004;18(4):477-89.
3. Musculação Terapêutica, STS – Strength Training Strategies.
[CD ROM], Lucas RWC. 1ª ed. Curitiba: Digital; 2003.
4. Woods K, Bishop P, Jones E. Warm-up and stretching in the prevention of muscular injury. Sports Med 2007;37(12):1089-99.
5. Behm DG, Anderson KG. The role of instability with resistance
training. J Strength Cond Res 2006;20(3):716-22.
6. Martimbianco ALC, Polachini LO, Chamlian TR, Masiero D.
Efeitos da propriocepção no processo de reabilitação das fraturas
de quadril. Acta Ortop Bras 2008;16(2):112-6.
7. Ribeiro F, Oliveira J. Efeito da fadiga muscular local na propriocepção de joelho. Fisioter Mov 2008;21(2):71-83.
8. Bagrichevsky M. Os efeitos dos exercícios de alongamento mediados pela propriocepção: discussão conceitual sobre processos
adaptativos. Revista Unicastelo 2001;4(6):54-61.
14
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
9. Carvalho AR, Piccinin MIW, Bley AS, Faria APG, Iglesias Soler
E, Dantas EHM. Evaluación de un protocolo de prevención
sobre propriocepción de futbolistas. RED – Rev Entrenam
Deport 2007;21(3):5-9.
10. Carvalho AR, Rahn ME, Diedrichs M, Lopes AC, Gregol F,
Grochoski R, et al. Concordância inter-observador em testes
de avaliação proprioceptiva do joelho por goniometria. Fisioter
Pesq 2010;17(1):7-12.
11. Butler AA, Lord SR, Rogers MW, Fitzpatrick RC. Muscle weakness impairs the proprioceptive control of human standing.
Brain Res 2008;1242:244-51.
12. Lee HM, Cheng CK, Liau JJ. Correlation between proprioception, muscle strength, knee laxity, and dynamic standing balance
in patients with chronic anterior cruciate ligament deficiency.
Knee 2009;16(5):387-91.
13. Stillman BC. Making sense of proprioception: The meaning of
proprioception, kinaesthesia and related terms. Physiotherapy
2002;88(11):667-76. 14. Hurley MV. The effects of joint damage on muscle function,
proprioception and rehabilitation. Man Ther 1997;2(1):11-17.
15. Swanik KA, Lephart SM, Swanik CB, Lephart SP, Stone DA,
Fu FH. The effects of shoulder plyometric training on proprioception and selected muscle performance characteristics. J
Shoulder Elbow Surg 2002;11(6):579-86.
16. Fitzgerald GK, Axe MJ, Snyder-Mackler L. The efficacy of
perturbation training in nonoperative anterior cruciate ligament
rehabilitation programs for physically active individuals. Phys
Ther 2000;80(2):128-140.
17. Torry MR, Schenker ML, Martin HD, Hogoboom D, Philippon MJ. Neuromuscular hip biomechanics and pathology in
the athlete. Clin Sports Med 2006;25(2):179-97.
18. Aquino CF, Viana SO, Fonseca ST, Bricio RS, Vaz DV. Mecanismos neuromusculares de controle da estabilidade articular.
Rev Bras Ciênc Mov 2004;12(2):35-42.
19. Abboud RJ, Agarwal SK, Rendall GC, Rowley DI. A direct
method for quantitative measurement of ankle proprioception.
Foot 1999;9:27-30.
20. Shultz SJ, Carcia CR, Perrin DH. Knee joint laxity affects
muscle activation patterns in the healthy knee. J Electromyogr
Kinesiol 2004;14:475-83.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
15
Artigo original
Consumo de cálcio por mulheres praticantes
de atividade física de um parque do município
de São Paulo
Calcium intake of women practitioners of physical
activity in São Paulo
Alessandra Hellbrugge*, Andrea Vargas G. Soares*, Caroline Raele*, Cássia R. Rolim Cauchioli*, Edinéia Menezes*,
Giovanna Mauro* , Marcia Nacif, D.Sc.**
*Alunas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo – São Paulo, **Nutricionista, Professora do Centro Universitário
São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Resumo
Abstract
Introdução: A ingestão adequada de cálcio tem sido apontada
como um importante fator de proteção para o desenvolvimento da
osteoporose em mulheres. Destaca-se a necessidade de um adequado
consumo de alimentos fonte de cálcio para garantir a saúde óssea
dos indivíduos. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal,
realizado com 20 mulheres com idade média de 61,3 ± 10,6 anos,
participantes de um projeto de promoção da qualidade de vida
através da atividade física de um parque do município de São Paulo.
Foram coletadas informações sobre peso, estatura e circunferência
abdominal. O consumo de cálcio foi avaliado por meio da aplicação de um Recordatório Alimentar Habitual. Resultados: Pôde-se
observar que 50% (n = 10) das mulheres eram eutróficas, porém,
apresentaram risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Observou-se consumo inadequado de cálcio (719,50 mg), devido
a baixa ingestão de alimentos fontes deste mineral. Conclusão: A
maioria das participantes apresentou ingestão inadequada de cálcio.
Tais dados sugerem a necessidade de orientação nutricional voltada
à melhoria dos hábitos alimentares desta população.
Introduction: The appropriate intake of calcium has been pointed as an important protection factor against the development of
osteoporosis in women, once the consumption from vital sources
of calcium could guarantee the individuals’ bony health. Methods:
This was a transversal study with 20 women 61.3 ± 10.6 years old,
participants of a project in which life quality is encouraged through
physical activities at a park in São Paulo city. Weight, stature and
waist circumference were evaluated. The consumption of calcium
was evaluated through the application of a Habitual Food Recall.
Results: It could be observed that 50% (n = 10) of the women were
eutrophic, however, some of them were likely to develop cardiovascular diseases due to inadequate and low consumption of calcium
as a vital source (719.50 mg). Conclusion: Most of the participants
presented an inadequate ingestion of calcium. These data suggests
the need of nutritional orientation for the improvement of eating
habits by the population.
Key-words: physical activity, calcium, food consumption,
osteoporosis.
Palavras-chave: atividade física, cálcio, consumo alimentar,
osteoporose.
Recebido 21 de dezembro de 2010; aceito em 15 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Cássia R. Rolim Cauchioli, Rua Aimberê, 156, Perdizes 05018-010 São Paulo SP, E-mail: cassia.
[email protected]
16
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a população idosa como o grupo etário de 60 anos ou mais de idade
para os países em desenvolvimento e para os países desenvolvidos, aqueles acima de 65 anos de idade. No Brasil, segundo o
Estatuto do Idoso são considerados idosos os indivíduos com
faixa etária igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos,
sem distinção de cor, raça e ideologia [1].
O Brasil passa por um envelhecimento rápido e intenso,
estima-se que houve um crescimento de mais de 7,3 milhões
de 1780 a 2000, totalizando mais de 14,5 milhões de idosos
em 2000 e que em 2020 este número será maior que 26
milhões, 12,9% da população total, com isso o Brasil será o
sexto país em número de idosos [2].
Paralelamente ao processo de envelhecimento, transformações significativas têm ocorrido nos últimos séculos
nos padrões dietéticos e nutricionais de populações, e essas
mudanças vêm sendo analisadas como parte de um processo
designado de transição nutricional. No Brasil, a desnutrição
vem diminuindo, e a obesidade e problemas a ela relacionados vêm aumentando. Isso ocorre por causa de mudanças
nos padrões nutricionais da população, caracterizados por
uma dieta rica em gorduras e açúcar refinado e reduzida em
carboidratos complexos e fibras [3].
Dentre as várias deficiências alimentares encontradas
destaca-se a deficiência de cálcio que, em longo prazo, pode
contribuir para o desenvolvimento da osteoporose, ou para
o seu agravamento, quando já instalada [4,5].
Aproximadamente 99% total do cálcio encontram-se
nos ossos e dentes. O 1% restante do cálcio está presente no
sangue, fluído extracelular, músculos e outros tecidos, onde
participa de diversos processos metabólicos como: coagulação
sanguínea (participa da formação de fibrina) age como um
estabilizador de membranas celulares excitáveis como músculos e nervos, e em inúmeras células participa como o segundo
mensageiro ao mediar efeito de sinalização de membranas para
a liberação de substâncias e hormônios [6].
A osteoporose é a doença osteometabólica [7] caracterizada pela diminuição da densidade mineral óssea (DMO),
com deterioração da microarquitetura óssea, levando a um
aumento da fragilidade esquelética e do risco de fraturas e é
mais frequente no paciente idoso [8]. Acomete a ambos os
sexos, sendo mais frequente na mulher, já que, no climatério,
a diminuição dos níveis estrogênicos precipita as perdas de
massa óssea. Aos 50 anos, a cada cinco fraturas por osteoporose
na mulher ocorrem duas no homem. Aos 70 anos, essa relação
cai para três fraturas na mulher a cada duas no homem [4,7].
De acordo com o Consenso Brasileiro de Osteoporose
(CBO) [8], a prevalência de osteoporose e incidência de fraturas
varia de acordo com o sexo e a raça. As mulheres brancas na pósmenopausa apresentam maior incidência de fraturas. A partir
dos 50 anos, 30% das mulheres e 13% dos homens poderão
sofrer algum tipo de fratura por osteoporose ao longo da vida.
A ingestão adequada de nutrientes tem sido apontada
como indicador importante do estado de saúde dos indivíduos, assim como um fator de proteção no desenvolvimento de
doenças. Destaca-se consequentemente a importância de um
adequado consumo de alimentos fonte de cálcio ao longo da
vida para garantir a saúde óssea em idosos [4,9].
O desenvolvimento do presente trabalho visou, portanto,
verificar o consumo de cálcio por mulheres praticantes de
atividade física de um parque do município de São Paulo.
Material e métodos
Trata-se de um estudo transversal e descritivo que contou
com a participação de 20 mulheres, com faixa etária entre 39 a
75 anos, integrantes de um projeto de promoção da qualidade
de vida através da atividade física de um parque do município
de São Paulo, realizado no período de outubro a novembro de
2010. Todas as participantes, no ato da primeira orientação
nutricional, assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido e este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário São Camilo (COEP-047/05).
As medidas antropométricas coletadas foram peso, estatura
(referida) e circunferência abdominal (CA).
O peso foi aferido por meio do uso de uma balança eletrônica digital portátil de marca Ultralife®, com precisão de
100 g e capacidade de 150 Kg, com o indivíduo sem sapatos
e usando roupas leves.
A circunferência abdominal foi mensurada em centímetros, com a pessoa em pé, ereta, abdômen relaxado, braços
estendidos ao longo do corpo e os pés separados numa distância de 25-30 cm. A roupa foi afastada para que o abdômen
ficasse exposto. Após uma expiração normal, posicionou-se
uma fita métrica inelástica posicionada no plano horizontal
ao nível da cicatriz umbilical.
O critério de classificação para avaliar o risco de doenças cardiovasculares (DC) foi o proposto pela WHO (World Health
Organization) (2000) [10]. Segundo esta classificação, homens
com circunferência abdominal acima ou igual a 94 cm apresentam risco alto de desenvolverem DC e com valores aferidos
acima ou igual a 102 cm o risco é muito alto. Para as mulheres
valores aferidos acima ou igual a 80 cm são classificadas como
risco alto, e acima ou igual a 88 cm o risco é muito alto.
A partir dos valores de peso e estatura foi calculado o IMC,
que seguiu o critério de classificação da WHO (1995) [11]
para adultos e SABE/OPAS (2002) [12] para idosos.
As mulheres responderam, durante orientação nutricional, a uma anamnese que continha questões sobre aspectos
gerais, como grau de escolaridade, uso de medicamentos e
ocorrência de doenças.
O instrumento de pesquisa utilizado para avaliação do
consumo alimentar e ingestão de cálcio foi um Recordatório Alimentar Habitual. A aplicação do respectivo método
consiste em obter informações escritas ou verbais sobre a
ingestão habitual do indivíduo, com dados sobre os alimen-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
tos atualmente consumidos e informações sobre quantidade
das porções. Após a coleta de dados, os valores de Energia
total (Kcal), carboidratos, lipídeos, proteínas e cálcio foram
calculados e analisados com o auxílio do programa Avanutri 4.0 (Sistema de avaliação e prescrição nutricional). Os
macronutrientes foram apresentados em porcentagem (%)
em relação ao Valor Energético Total (VET), e o cálcio foi
apresentado em mg/dia. Os resultados de macronutrientes
foram comparados com as recomendações da WHO [13] que
preconiza valores de carboidratos entre 55 e 75% do VET,
15 a 30% de lipídios e 10 a 15% de proteínas. A ingestão de
cálcio foi comparada a AI Ingestão Adequada (AI) sugerida
pela Dietary Reference Intakes (DRI) [14] que preconiza a
ingestão de acordo com a faixa etária: 31 a 50 anos igual a
1000 mg/dia e de 51 a mais de 70 anos igual a 1200 mg/dia.
Resultados e discussão
Foram avaliadas 20 mulheres com idade média de 61,3
anos (± 10,6) praticantes de atividade física de um parque da
Zona Oeste de São Paulo. As características antropométricas
das participantes do estudo podem ser observadas na Tabela I.
Tabela I - Características antropométricas das mulheres avaliadas.
São Paulo, 2010.
Variáveis
Peso (Kg)
Estatura (m)
IMC (Kg/m²)
CA (cm)
Média
70,70
1,57
28,52
92,70
DP
11,10
0,06
3,68
10,00
Segundo os resultados observados na Tabela II, 50% (n =10)
da população estudada apresentava-se eutrófica, porém metade
destas mulheres encontrava-se com risco alto para desenvolvimento de DC. Dado este que se contrapõe ao encontrado
no estudo de Ferreira [15], que contou com a participação de
sessenta e quatro mulheres fisicamente ativas incluídas em um
programa de incentivo ao incremento de atividade física e verificou, a partir dos valores do IMC, que todas as mulheres estavam
com excesso de peso. Nota-se, contudo, que os resultados do
presente estudo corroboram com os encontrados por Ribeiro
[9] que ao buscar identificar aspectos do estado nutricional
de idosas participantes de um programa de educação física,
constatou que a maioria das idosas participantes da pesquisa
possui risco muito alto para doenças cardiovasculares.
Tabela II - Estado nutricional das participantes do estudo de acordo
com o IMC e a circunferência abdominal. São Paulo, 2010.
CA
IMC
Baixo Peso
Eutrofia
Excesso de
Peso
Sem Risco
N%
15
15
Risco Alto
N%
-5 25
Risco Muito Alto
N%
-4 20
--
15
8 40
17
Tabela III - Média do consumo alimentar das mulheres avaliadas.
São Paulo, 2010.
Nutrientes
Energia (kcal)
Carboidratos (%VET)
Lipídios (% VET)
Proteínas (%VET)
Cálcio (mg)
Consumo Médio
1706,42
53,40
26,76
19,81
719,50
DP
549,21
9,36
9,20
5,24
411,33
Neste estudo, o consumo médio de energia e de cálcio foi
de 1.706,42 Kcal e 719,50 mg, respectivamente, demonstrando assim estarem abaixo das recomendações (Tabela III). Tal
inadequação pode ser explicada pelo baixo consumo de leite
e derivados (em média 1,9 porções). Assim como no presente
estudo, a literatura tem descrito um consumo inadequado
de cálcio por mulheres, muito aquém do preconizado pelas
recomendações da Dietary Reference Intakes (DRI) [14,16].
Vale salientar que nenhuma participante do estudo consumia
suplementos de cálcio.
Em relação aos macronutrientes, observou-se um consumo abaixo das recomendações em relação aos carboidratos
(53,4%), acima para proteínas (19,81%) e adequado quanto
aos lipídios (26,76%).
O consumo médio de energia das participantes de nosso
estudo foi maior que o encontrado por Moura [17] em idosos,
praticantes de atividade física e integrantes do projeto “Feliz
Idade” da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal –
FACIMED. Por meio da aplicação de um questionário de
frequência alimentar habitual, os pesquisadores encontraram
valor de 1340,27 calorias.
O estudo de Lopes [18], realizado com habitantes do
município de Bambuí, Minas Gerais, verificou inadequações
no consumo de minerais e vitaminas, evidenciando assim a
importância de uma dieta adequada como fator preventivo
para doenças crônicas não transmissíveis, enfatizando para
tanto, o consumo de vitaminas antioxidantes (A, C e E) e
nutrientes como cálcio, zinco e ferro.
Estudo realizado por Carvalho [19], com idosos matriculados
em um centro de convivência no Rio de Janeiro, que realizaram
exame de densitometria óssea, observou que 62,5% dos idosos
participantes apresentavam osteoporose. Uma das explicações
para este alto número de pacientes com osteoporose deve-se
às intensas mudanças fisiológicas no idoso, desde alterações no
paladar e mastigação, quanto à redução da motilidade gástrica
e da produção de ácido clorídrico, o que dificulta a alimentação
adequada e variada principalmente de leites e derivados.
Estudos de avaliação do consumo de cálcio por indivíduos
do gênero feminino trazem a tona a importância de uma
adequada ingestão deste mineral, uma vez que esta atitude
torna-se um fator de prevenção para as doenças crônicas não
transmissíveis, evidenciando a osteoporose, tão comum nesta
população [9,16,19].
Mesmo conhecendo as fontes alimentares de cálcio,
alguns idosos preferem ingerir suplementos pela facilidade
18
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
e praticidade que o mesmo apresenta. Porém, é necessário
informar que os alimentos como leites, derivados e vegetais
verdes escuros, além de fornecerem cálcio, são fontes essenciais de outros nutrientes indispensáveis à manutenção do
organismo [5,19].
Diante dos dados apresentados como inadequação no
consumo de cálcio e risco para doenças cardiovasculares, é
de extrema importância a conscientização educacional através
da criação de programas que visem o consumo adequado de
cálcio por meio da alimentação, sempre em conjunto com
a prática de atividade física, que favorece o bem estar da
população idosa e sua saúde como um todo, refletindo assim
em uma melhor qualidade de vida.
Conclusão
Pôde-se observar neste estudo, que mesmo eutróficas
a maioria das mulheres avaliadas neste estudo apresentava
risco para doenças cardiovasculares. Observou-se consumo
inadequado de cálcio, devido à baixa ingestão de alimentos
fonte deste nutriente. Tais dados sugerem a necessidade de
orientação nutricional voltada a maximizar o consumo de
alimentos fonte de cálcio e melhoria dos hábitos alimentares
desta população, visando uma alimentação equilibrada importante para a prevenção de doenças crônicas e redução do
risco de osteoporose.
Referências
1. Monteiro MAM. Percepção sensorial dos alimentos em idosos.
Revista Espaço para a Saúde 2009;10:34-42.
2. Schneider RH, Irigaray TQ. O envelhecimento na atualidade:
aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos, sociais. Estud
Psicol 2008;25:585-93.
3. Garcia RN, Almeida EB, Souza K, Vechi G. Nutrição e Odontologia: a prática interdisciplinar em um projeto de extensão.
RSBO 2008;5(1):50-7.
4. Carvalho CMRG, Fonseca CCC, Pedrosa JI. Educação para a
saúde em osteoporose com idosos de um programa universitário:
repercussões. Cad Saúde Pública 2004;20:719-26.
5. Menezes TN, Marucci MFN, Holanda IMM. Ingestão de cálcio
e ferro alimentar por idosos residentes em instituições geriátricas
de fortaleza. Rev Saúde Com 2005;1:100-9.
6. Heaney RP. Calcium intake and disease prevention Arq Bras
Endocrinol Metab 2006;50(4):685-93.
7. Yazbek MA, Marques Neto JF. Osteoporose e outras doenças
osteometabólicas no idoso. Einstein (São Paulo) 2008;6:74-8.
8. Pinto Neto AM, Soares A, Urbanetz AA, Souza ACA, Ferrari
AEM, Amaral B, et al. Consenso brasileiro de osteoporose. Rev
Bras Reumatol 2002;42(6):343-54.
9. Ribeiro SML, Ribeiro SML, Hidalgo CR, Miyamoto MV,
Bavutti H, Velardi, et al. Estado nutricional de um grupo
de idosas participantes de um programa de educação física:
discussão de diferentes padrões de referencia. Rev Bras Ciênc
Mov 2006;14(4):55-62.
10. WHO. Obesity: preventing and managing the global epidemic.
Geneve: WHO; 2000.
11. World Health Organization. Physical status: The use and interpretation of anthropometry. In: Report of the WHO expert
Committee. Geneva: WHO, 1995.
12. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). XXVI Reunión del Comité Asesor de Investigaciones en Salud-Encuestra
Multicêntrica – Salud Bienestar y Envejecimento (SABE) en
América Latina y el Caribe, 2002. – Informe preliminar. [citado
2010 Dez 10]. Disponível em: URL: http://www.opas.org/
program/sabe.htm>.
13. WHO. Diet, nutrition and prevention of diseases. Report of a
joint WHO/FAO Expert consultation. Genebra: WHO; 2003.
14. Dietary Reference Intakes (DRIs): Recommended Intakes for
Individuals, Food and Nutrition Board, Institute of Medicine,
National Academies. Washington: Institute of Medicine; 2004.
15. Ferreira M, Matsudo S, Matsudo V, Braggion G. Efeitos de
um programa de orientação de atividade física e nutricional
sobre a ingestão alimentar e composição corporal de mulheres
fisicamente ativas de 50 a 72 anos de idade. Rev Bras Ciênc
Mov 2003;11(1):35-40.
16. Dietary Reference Intakes and Recommended Dietary Allowances. Tables and reports. [citado 2010 Dez 12]. Disponível
em: URL: http://www.nal.usda.gov/fnic/etext/000105.html.
17. Moura SA, Santos EL, Nunes W, Borges KF, Ramanholo RA.
Relação entre ingestão alimentar, índice de massa corporal e
nível de atividade física de idosos com idade entre 60 a 70 anos
do projeto de extensão feliz idade da Faculdade de Ciências
Biomédicas de CACOAL/ RO- FACIMED. Revista Brasileira
de Nutrição Esportiva 2009;3:286-94.
18. Lopes ACS, Caiaffa, WT, Sichieri R, Mingoti AS, Lima-Costa,
MF. Consumo de nutrientes em adultos e idosos em estudo
de base populacional: Projeto Bambuí. Cad Saúde Pública
2005;4:1201-9.
19. Carvalho CMRG, Fonseca CCC, Pedrosa JI Educação para a
saúde em osteoporose com idosos de um programa universitário:
repercussões Cad Saúde Pública 2004;20(3):719-26.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
19
Artigo original
Levantamento das lesões ocorridas em atletas
da seleção amadora de futebol de Primavera
do Leste/MT em 2010
Injury incidence in athletes of the amateur football team
at Primavera do Leste/MT in 2010
Joaquim Ribeiro de Souza Junior*, Milton Alcover Neto**
*Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade de Cuiabá – UNIC, Unidade de Primavera do Leste, Mato Grosso,
**Professor do Curso de Educação Física da Universidade de Cuiabá – UNIC, Unidade de Primavera do Leste, Mato Grosso
Resumo
Abstract
O futebol é hoje o esporte mais popular e mais praticado no
Brasil e no mundo. Com o aumento desta prática houve o aumento
das lesões, pelo fato de ser um esporte com muita exigência física.
O objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento das lesões
ocorridas em atletas da seleção amadora de futebol de Primavera do
Leste/MT. O presente estudo foi realizado com 18 atletas do sexo
masculino com idade entre 18 e 31 anos, obtendo os dados a partir
da aplicação de um questionário onde os atletas respondiam sobre as
lesões ocorridas no ano de 2010. O resultado constatou um número
de 09 lesões sendo, o maior número das mesmas no tornozelo e coxa
esquerda (22%); a lesão que mais se repetiu foi a entorse com 56%,
e o estiramento com 22%. O mês com maior incidência de lesões
foi o mês de setembro com 56%, isto ocorreu pelo fato de os atletas
estarem participando de uma maior quantidade de jogos. Das lesões
ocorridas, 78% ocorreram sem contato físico entre os jogadores, e
89% dos atletas acometidos por estas lesões ficaram ao menos um
dia afastados de suas atividades, sendo que os mais afetados pelas
lesões foram os goleiros e os meio campistas. Conclui-se que há a
necessidade de um trabalho com médico ortopedista, fisioterapeutas
e profissionais de educação física no período pré-competição para
prevenir que tais lesões ocorram.
Football is nowadays the most popular sport and widely played
in Brazil and worldwide. Consequently there has been an increase
in the number of injuries, due to the fact that it is a very physically
demanding sport. The aim of this study was to investigate injuries
incidence in athletes of Primavera do Leste/MT amateur football
team. This study was conducted with 18 male athletes aged between
18 and 31 years. A questionnaire was applied with questions related
to injuries which occurred in 2010 in order to collect data. The
results showed nine types of injuries and the majority was ankle
injuries and left thigh (22%), the sprain injury was the most repeated injury with 56% and 22% the stretch. The highest incidence of
injuries was in September with 56%, as in this period athletes were
participating in plenty of games. 78% of injuries occurred without
physical contact between players; 89% of athletes with lesions spent
at least a day away from their activities, and the goalkeepers and
midfielders players were most affected. We conclude that there is
a need to work with an orthopedic physician, physical therapists
and physical education teachers during pre-competition period in
order to prevent injuries.
Key-words: football, injuries, incidence of injuries.
Palavras-chave: futebol, lesões, incidência de lesões.
Recebido 20 de dezembro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Joaquim Ribeiro de Souza Junior, Rua Joinville, 146, Novo Horizonte 78850-000 Primavera do Leste
MT, E-mail: [email protected]
20
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
O futebol é hoje o esporte mais popular do Brasil e do
mundo, com aproximadamente 200 milhões de praticantes
em 186 países registrados na International Federation of
Football Association (FIFA). Desde 1970, a popularidade
deste esporte tem crescido consideravelmente. O aumento
da prática de esportes competitivos ocorreu durante o século
XX, iniciando-se com os Jogos Olímpicos Modernos em
Atenas, Grécia, no ano de 1896. As populações de diversos
países foram estimuladas a mostrarem suas performances
esportivas e, com isto, buscarem a superioridade. Muitos
esportes foram criados e desenvolvidos, e alguns alcançaram
fantástica popularidade, destacando-se entre eles o futebol,
que se encontra entre os mais praticados por ambos os sexos
em diferentes faixas etárias.
Por virtude do crescimento dos esportes coletivos
essencialmente constituídos por movimentos naturais e pelos
diferentes gestos específicos de cada desporto, aumentou-se o
número de lesões. Sabe-se que as lesões são bastante comuns
em indivíduos que praticam esportes, e no futebol não é diferente. O grande índice de lesões relacionadas ao esporte se
torna cada vez maior [1]. Entretanto, lesões não tratadas ou
mal tratadas pode ser a maior causa de recidivas destas lesões,
fazendo com que o atleta e a equipe tenham um grande desgaste até que este jogador esteja apto ao retorno. Desta forma,
muitos jogadores vêem suas carreiras se acabando devido à
grande incidência de lesões que os próprios são acometidos, e
com isso, são obrigados a pararem de jogar, pois, chega uma
hora que os atletas têm que optar por andar ou jogar.
Para conhecer mais sobre os tipos de lesão verificados na
modalidade futebol e sobre suas causas, tanto no período de
treinamento como durante os jogos, surgiu o interesse em
verificar a incidência de lesões em atletas de futebol, além
de identificar as causas das lesões durante os treinamentos e/
ou jogos realizados pela equipe, bem como em identificar os
principais segmentos corporais atingidos e os principais tipos
de lesão que ocorrem nesse meio.
Segundo Flegel [2], as lesões são classificadas de acordo
com suas causas e o tempo que levam para ocorrer:
• Causas: as lesões são resultantes de diversas causas como:
compressão, tensão ou estiramento e maceração;
• Tempo: as lesões ou doenças podem ocorrer de modo súbito ou desenvolver-se lentamente com o tempo. Elas são
divididas em lesões agudas e lesões crônicas:
• Lesões agudas: Lesões agudas ocorrem subitamente e são
causadas por um mecanismo específico de lesão. Entre
as lesões agudas estão: contusões, abrasões, perfurações,
cortes-incisões, lacerações e avulsões, entorses, distensões,
lesões na cartilagem, luxações e subluxações e fraturas
ósseas.
• Lesões crônicas: as lesões crônicas ocorrem ao longo do
tempo e frequentemente são causadas por golpes repetidos,
excessivo estiramento, atrito recorrente ou desgaste. Entre
elas estão: distensão muscular crônica, bursite, tendinite,
lesões ósseas crônicas, osteoartrite, fraturas por estresse.
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento
das lesões ocorridas em atletas da seleção amadora de futebol
de Primavera do Leste em 2010.
Material e métodos
Nesta pesquisa foi realizado um levantamento de lesões
em atletas de futebol, tendo aprovação do comitê nacional de
ética em pesquisa – CONEP. A coleta de dados foi realizada
durante dois dias, no período noturno, quando eram realizados os treinos. A amostra foi realizada com 18 atletas, todos
eles da seleção amadora de Primavera do Leste, com faixa
etária entre 18 e 31anos, do sexo masculino. O instrumento
utilizado na coleta de dados foi um questionário adaptado
da Escola Superior de Dança de Lisboa [3], contendo nome,
profissão, tempo de prática de futebol, média de treino por
semana, duração de cada treino, se realizava aquecimento,
uma tabela para identificar segmento corporal onde ocorreu
lesão, tipo de lesão, mês, treino ou jogo, contato ou sem
contato, houve afastamento e quanto tempo e a posição em
que jogava.
Resultados e discussão
A idade dos jogadores variou entre 18 e 31 anos média de
23,7 anos, com tempo de prática entre 7 a 22 anos e média
de 13,2 anos, com treinos 04 vezes por semana e com média
de 40 minutos por dia, incluindo o aquecimento.
Local da lesão, 02 (22%) atletas sofreram lesões na coxa
esquerda; 02 (22%) no tornozelo esquerdo; 01 (11%) atleta
no joelho esquerdo; 01 (11%) na mão esquerda; 01 (11%)
na perna direita; 01 (11%) no tornozelo direito e 01 (11%)
na coxa direita. Reafirma o que outros autores encontraram
anteriormente, como o estudo de Silva et al. [4], que os principais locais de lesões em atletas de futebol são joelho, coxa e
tornozelo, e também Junge et al. apud Zanuto [5], na copa
do mundo de 2002, não na mesma ordem neste estudo eles
também foram os três principais segmentos lesados, isso se
deve a grande exigência no futebol em membros inferiores,
conforme Gráfico 1.
Gráfico 1 - Local da lesão.
11%
11%
22%
11%
22%
11%
11%
tornozelo esquerdo
coxa esquerda
joelho esquerdo
mão esquerda
perna direita
tornozelo direito
coxa direita
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Em relação ao tipo de lesões, a lesão por entorse foi a que
mais teve relato nesta pesquisa com 56%, parecido com o
resultado obtido por Beirão et al. [6], que constataram 54%
de entorses e confirmado por Bertolini e Junge et al. apud
Beirão [6] que citam que o entorse de tornozelo é a lesão mais
comum em atletas de futebol, seguida de 22% de estiramento,
11% fratura e 11% fratura.
21
estudo deles a forma da coleta foi diferente, pois analisaram
os treinos técnicos-táticos onde o nível de competitividade é
semelhante ao jogo.
Gráfico 4 - Lesões ocorridas no treino ou jogo.
33%
Gráfico 2 - Tipo de lesão.
Treino
Jogo
67%
11%
11%
22 %
entorse
estiramento
fratura
contusão
56%
Quanto ao mês de lesão 01 (11%) ocorreu no mês de
janeiro; 01(11%) ocorreu no mês de maio; 01(11%) ocorreu
no mês de junho; 05 (56%) ocorreram no mês de setembro
e 01 (11%) ocorreu no mês de outubro conforme figura 03.
Weineck apud Silva [4] citam que o início da temporada é
marcado pelas altas sobrecargas aeróbicas presentes no treinamento, o que leva a um considerável aumento da performance
aeróbica; já no meio da temporada ou período competitivo,
as sobrecargas aeróbicas são deixadas de lado, priorizando
os treinamentos táticos, que somado a grande frequência de
jogo neste período, justifica um maior índice de lesões nos
atletas. Apesar deste estudo não ser com amadores, é possível
observar certa semelhança entre os grupos.
Gráfico 3 - Mês em que ocorreu a lesão.
11%
11%
11%
11%
Janeiro
Maio
Junho
Setembro
Outubro
Lesões decorrentes de contato e sem contato, 02 (22%)
ocorreram contato e 07 (78%) das lesões ocorreram sem
contato, dados não muito parecidos com o estudo de Cohen
et al. [7] que apontaram 40% de lesões com contato e 59,3
sem contato e também no estudo de Zanuto et al. [5] que as
lesões com contato tiveram maior incidência (57%). O índice
de lesões sem contato neste estudo pode estar relacionado
com o terreno de jogo ou tipo de chuteira não verificada
nesta pesquisa.
Gráfico 5 - Lesões ocorridas com contato ou sem contato.
22%
78%
Contato
Sem contato
Em relação ao tempo de afastamento, 08 (89%) das lesões encontradas tiveram pelo menos 01 dia de afastamento,
tendo uma média de 26,2 dias e um máximo de 80 dias de
afastamento e 01(11%) não houve afastamento. De acordo
com o estudo de Ribeiro e Costa [8], em 34% das lesões encontradas houve afastamento e em 66% das lesões não houve,
o que segundo eles pode ser um indicativo de que os atletas
tiveram tempo insuficiente de preparação para a demanda do
torneio e/ou não houve tempo hábil para a recuperação de
lesões durante a competição.
Gráfico 6 - Houve afastamento ou não houve afastamento.
56%
Lesões ocorridas no treino ou jogo, 03 (33%) ocorreram
no treino e 06 (67%) ocorreram no jogo. Podemos observar
que houve mais lesões no jogo devido aos jogos serem mais
exigentes que nos treinos. Na pesquisa de Silva et al. [4] houve
quase uma igualdade de lesões em jogos ou treinos; 44% das
lesões foram nos jogos e 43% foram nos treinos, porém no
11%
89%
Houve afastamento
Não houve afastamento
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
22
Nas lesões por posição houve uma igualdade entre goleiros
03 (33%) e meio campistas também com 03 (33%) das lesões,
em seguida por laterais 02 (22%) e atacantes 01 (11%), não
houve lesão nos zagueiros. O resultado dos goleiros não condiz
com resultados de outros estudos, como o de Cohen et al. [7]
em que os goleiros tiveram o menor índice de lesões, enquanto
os meio campistas estão parecidos com o resultado do estudo
de Selistre et al. [9] que apontam a dos meio campistas como
a posição mais acometida por lesão.
entorses. Em relação ao número de lesões na coxa esquerda e
tornozelo esquerdo sofrido pelos atletas, a quantidade de 44%
detectada nesta pesquisa foi bastante relevante, mostrando a
necessidade de fazer um programa de prevenção voltado ao
problema, incluindo uma equipe multidisciplinar com médico
ortopedista, fisioterapeuta além dos educadores físicos para
prevenir e reabilitar essas lesões.
Gráfico 7 - Lesão por posições dos jogadores.
1. Bonetti LV. Exercícios proprioceptivos na prevenção de lesões
de tornozelo e joelho no esporte [TCC]. Colégio Brasileiro de
Estudos Sistêmicos: Rio Grande do Sul; 2006.
2. Flegel MJ. Primeiro Socorros no Esporte. 3ª ed. São Paulo:
Manole; 2008.
3. Escola Superior de Dança. Instituto Politécnico de Dança [online]. [citado 2010 Set 15]. Disponível em URL: http://www.
esd.ipl.pt/znew/formularios/pdf/questionario_b.pdf
4. Silva DAS, Souto MD, Oliveira ACC. Lesões em atletas de
futebol e fatores associados. Revista Digital EFDesportes
2008;13:121.
5. Zanuto EAC, Harada H, Gabriel Filho LRA. Análise epidemiológica de lesões e perfil físico de atletas do futebol
amador na região do Oeste Paulista. Rev Bras Med Esporte
2010;16(2):116-20.
6. Beirão ME, Marques TAR. Estudo dos fatores desencadeantes
de entorse do tornozelo em jogadores de futebol e elaboração
de um programa de fisioterapia preventiva. Revista de Pesquisa
e Extensão em Saúde 2007;3(1).
7. Cohen M, Abdalla RJ, Ejnisman B, Amaro JT. Lesões ortopédicas no futebol. Rev Bras Ortop Traumatol 1997;32(12):940-4.
8. Ribeiro RN, Costa LOR. Análise epidemiológica de lesões no
futebol de salão durante o XV Campeonato Brasileiro de Seleção
Sub 20. Rev Bras Med Esporte 2006;12(1):1-5.
9. Selistre LFA, Taube OLS, Ferreira LMA, Barros Junior EA.
Incidência de lesões nos jogadores de futebol masculino Sub –
21 durante os jogos regionais de Sertãozinho/SP de 2006. Rev
Bras Med Esporte 2009;15(5):351-4.
11%
33%
33%
22%
Goleiro
Lateral
Meio campo
Atacante
Conclusão
Este estudo teve como objetivo fazer uma investigação do
número de lesões ocorridas, no ano de 2010, na Seleção amadora de futebol de Primavera do Leste. A entorse do tornozelo
é uma das lesões mais comuns no esporte especialmente no
futebol, e na Seleção Amadora de Primavera do Leste não foi
diferente. Em sua realização constatou-se a ocorrência de cinco
Referências
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
23
Artigo original
Atividade eletromiográfica da musculatura abdominal
associada à expiração forçada
Electromyographic activity of the abdominis muscles
associated with forced expiration
Nilton Souza Carvalho Júnior*, Gabriel Ribeiro, M.Sc.**, Mauricio Malthes Ribeiro, D.Sc.***
*Educação Física pelo Centro Universitário Jorge Amado, Pós graduando em Gestão Pública pelo Instituto Mentoring, Fortaleza/CE,
**Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), ***Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Resumo
Abstract
A atividade eletromiográfica produzida durante a realização
de exercícios abdominais em apneia pode potencializar significativamente esta musculatura. O objetivo deste estudo foi avaliar a
atividade eletromiográfica do músculo reto do abdômen associado à
expiração forçada. Foram selecionados 23 voluntários (21,65  1,33
anos) inativos fisicamente que realizaram Contração Isométrica Voluntária Máxima (CIVM) em apneia inspiratória e CIVM associada
à expiração forçada. Foram avaliados os dados eletromiográficos do
músculo reto do abdômen (direito e esquerdo), utilizando o teste
T. Os valores foram comparados com um nível de significância de
(0,05). Nessas condições experimentais, os resultados do presente
estudo mostraram que os valores são estatisticamente maiores na
tarefa de CIVM em apneia do que na tarefa de CIVM associada
à expiração forçada. Esses achados sugerem que os exercícios abdominais sejam realizados em apneia voluntária. Conclui-se que a
CIVM do reto abdominal em apneia, quando comparada a CIVM
do mesmo músculo em expiração forçada, provoca maiores níveis
de atividade em relação à segunda tarefa.
The activity produced during breath holding (apnea) abdominal
exercises performance can significantly increases the muscle. The
purpose of this study was to evaluate the electromyographic activity
of the rectus abdominis muscle associated with forced expiration. We
selected 23 volunteers (21.65 ± 1.33 years old) physically inactive
who performed isometric maximal voluntary contraction (MVIC)
during inspiratory apnea associated with forced expiration. Electromyographic data of the rectus abdominis muscle (right and left)
were evaluated, using the t Test. The values were compared with a
significance level of (0.05). In these experimental conditions, the
results of this study showed that the values are statistically higher
during breath holding in MVIC task than in MVIC task associated
with the forced expiration. These findings suggest that abdominal
exercises should be performed during voluntary apnea. We concluded that the rectus abdominis MVIC during apnea, compared to
the MVIC of the same muscle in forced expiration, causes higher
levels of activity in relation to the second task.
Palavras-chave: eletromiografia, musculatura abdominal,
exercícios, fitness.
Key-words: electromyography, abdominal muscle, exercises,
fitness.
Recebido em 8 de janeiro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Nilton Souza Carvalho Júnior, Rua Raimundo Ribeiro, 4, 43900-000 São Francisco do Conde BA,
E-mail: [email protected]
24
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
Os músculos abdominais desempenham grande importância nas funções de sustentação e contenção do conteúdo abdominal, auxiliando no processo respiratório, principalmente
na expiração forçada, além de possuir papel de destaque na
postura normal da pelve. Os mesmos são responsáveis indiretamente pela curvatura da coluna lombar, sendo de grande
importância na postura do corpo [1].
Poucas evidências na literatura relacionam a atividade
eletromiográfica da musculatura abdominal associada à
expiração forçada, principalmente no âmbito da educação
física e/ou no fitness.
Desta forma, tornam-se necessários estudos mais aprofundados que comprovem a relação entre uma maior atividade elétrica gerada pelos músculos abdominais associada à
expiração forçada e a melhora da resistência e da força destes
músculos, podendo proporcionar um melhor bem-estar para
os praticantes de musculação.
A eletromiografia de superfície consiste em uma técnica
que utiliza um equipamento eletrônico que revela ao ser
humano algum dos seus eventos fisiológicos, normais ou
anormais [2]. Sendo assim, este equipamento é de grande
importância para evidenciar a atividade muscular. A eletromiografia de superfície em diferentes músculos do corpo
humano tem elucidado vários diagnósticos de disfunções
musculoesqueléticas. Este equipamento é corriqueiramente
utilizado por fisioterapeutas clínicos e do esporte e também
por profissionais de educação física.
A musculatura abdominal nos últimos anos tornou-se um
dos temas mais pesquisados pelas várias áreas da saúde ligadas a este objeto. Os músculos abdominais têm uma função
importante no controle postural e na prevenção de lesões na
coluna lombar. Evidências médicas sugerem que mais de 80%
dos problemas de dores na coluna são causados por músculos
fracos no tronco [3].
A parede abdominal anterior consiste de quatro músculos
divididos em dois grupos: músculos superficiais – o reto do
abdominal e o oblíquo externo do abdômen, e os músculos
profundos – oblíquo interno e o transverso abdominal. No
entanto, o músculo iliopsoas também deve ser considerado
por estar na parede abdominal ântero-inferior e estar envolvido na maioria dos exercícios abdominais [3]. Os músculos
abdominais são de extrema importância para a função de
expansão e compressão da cavidade abdominal e das vísceras
ocas, sua ação contribui também na micção, no parto, na
defecação e no vômito [2].
Trabalhar de maneira eficiente os músculos abdominais
é assunto cada vez mais discutido pelos pesquisadores interessados nesta temática. A mensuração acerca do trabalho da
unidade motora destes músculos nos últimos anos vem sendo
realizada por meio de testes eletromiográficos. Diversos pesquisadores têm recorrido a este método para medir o trabalho
muscular por ativação elétrica. Grandes avanços teóricos já
aconteceram no tratamento de disfunções musculoesqueléticas, ajudando a evidenciar com mais coerência as diversas
atuações da musculatura humana.
A sistematização deste estudo partiu de uma indagação
pertinente e atual: a atividade eletromiográfica do músculo
reto do abdômen pode ser modificada quando associada à
expiração forçada? Seguido do seguinte objetivo: avaliar a
atividade eletromiográfica do músculo reto do abdômen
associada à expiração forçada.
Esta indagação poderá ser evidenciada, visto que os
músculos do abdômen participam contundentemente na
realização da expiração forçada. A expiração forçada requer
a força ativa produzida pelos músculos expiratórios, como,
por exemplo, a musculatura abdominal [4]. Sendo assim a
atividade eletromiográfica poderá ser modificada quando for
associada à expiração forçada.
Estudos demonstram que o músculo transverso do abdômen, associado com o aumento da co-contração dos músculos
antagonistas, pode ocasionar uma melhor estabilidade dos
músculos lombo-pélvicos, contribuindo para uma melhor
postura do tronco [5].
Kera e Maruyama [6], em 2005, analisaram a influência
da postura na atividade expiratória dos músculos abdominais.
Foram mensuradas a atividade eletromiográfica dos músculos
oblíquo externo do abdômen (OEA), oblíquo interno do
abdômen (OIA) e o reto abdominal (RA) em diferentes posições: supino; em pé; sentado e sentado com o cotovelo no
joelho. Foi observado que o volume do pulmão mudou com
a postura. Entretanto, o padrão de respiração sobre a carga
respiratória não modificou. Durante a ventilação voluntária
máxima, a atividade expiratória do músculo oblíquo interno
do abdômen, foi menor na posição sentado com o cotovelo
no joelho do que em qualquer outra posição. A atividade inspiratória do músculo oblíquo externo do abdômen e oblíquo
interno do abdômen foram maiores na posição em pé do que
em qualquer outra posição.
Utilizar de maneira eficiente os músculos abdominais é
assunto cada vez mais discutido na comunidade científica.
Sendo assim pesquisadores ainda procuram a melhor forma
para trabalhar com mais eficácia a musculatura abdominal, e
assim melhorar o desempenho atlético.
Evelyn et al. [7] verificaram a atividade elétrica dos
músculos oblíquo externo, reto femoral e reto abdominal,
durante a execução do exercício abdominal sit up em terra
e água, em velocidade padrão e máxima. Evidenciou-se
que o exercício na velocidade máxima realizado em terra
e no meio líquido apresentou uma atividade eletromiográfica maior que o exercício padrão, com exceção do reto
femoral [7].
Análise eletromiográfica
A análise eletromiográfica trata-se de um método que
avalia a ativação muscular mediante a captação do estímulo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
elétrico enviado pelo sistema nervoso, o qual gera contração do
músculo. Essa técnica é denominada eletromiografia - superficial ou profunda (que é mais invasiva) [8]. A eletromiografia
de superfície pode ser descrita como uma técnica que utiliza
um equipamento eletrônico que revela ao ser humano algum
dos seus eventos fisiológicos [2]. A eletromiografia é o estudo
da atividade elétrica do músculo, proporcionando informações concernentes ao controle dos movimentos voluntários
e/ou reflexos [9].
Os aparelhos de eletromiografia, construídos especificamente para biofeedback, proporcionam tanto respostas
auditivas quanto visuais. Com a utilização de eletrodos de
superfície, a localização do sinal do eletromiograma não é
exata, aplicando-se apenas a músculos razoavelmente superficiais [10].
A validade e precisão de qualquer medida eletromiográfica
são dependentes do processo de detecção dos sinais. Este
processo inclui a distância entre os eletrodos, seu tamanho,
suas localizações, e preparação da pele para minimizar a impedância. Esses parâmetros devem ser controlados em todos
que utilizam a eletromiografia de superfície como técnica de
mensuração da atividade muscular [11]. O potencial de ação
muscular é representado em microvolts (mV), de modo que
o instrumento de eletromiografia torna-se um amplificador
muito potente. Isso significa que qualquer sinal elétrico
estranho será também amplificado, e tende a interferir com
a saída [10].
O sinal de EMG é relativamente pequeno, variando de 5
a 10 mV. Portanto, é imperativo que o sinal seja amplificado
[9]. A eletromiografia de superfície é muito utilizada para
avaliar o tratamento de disfunções musculoesqueléticas [12].
Eletrodos de superfície são aplicados sobre a pele, por cima de
um músculo, sendo utilizados principalmente para músculos
superficiais; eles não devem ser utilizados para músculos profundos [9]. Okano et al. [12] avaliaram a atividade elétrica
da musculatura abdominal e paravertebral durante exercícios
utilizados no tratamento de lombalgias crônicas. Foi verificado que a inclinação pélvica pode ser indicada para ativar
a musculatura extensora do tronco durante o tratamento da
lombalgia. Em outro estudo, foi evidenciado que o músculo
oblíquo externo do abdômen não tem diferença significativa
no sinal eletromiográfico em relação aos outros músculos
abdominais [13].
Alguns pesquisadores demonstraram que durante o exercício, com flexão completa do tronco, nos últimos 40° de
execução do exercício, não existe participação significativa
dos músculos abdominais [14]. Este estudo sugere que os
músculos flexores do quadril ficariam ativos no restante do
movimento, não permitindo que os músculos abdominais
participassem com vigor. A eletromiografia superficial parece
ser apropriada como meio de treinamento da habilidade
motora, já que é possível quantificar a atividade no músculo
desejado.
25
Aspectos respiratórios
A ventilação é o processo mecânico que o ar é inalado
e exalado pelos pulmões e vias aeríferas [4]. Este processo
rítmico ocorre em media 12 a 20 vezes por minuto em
repouso e é essencial para manutenção da vida [4]. A
respiração é o processo que é auxiliado pelos músculos
abdominais, aumentando a pressão intra-abdominal, o que
facilita a liberação do ar de dentro do sistema respiratório
para a atmosfera, reduzindo o tamanho da cavidade torácica
[15]. Os músculos que participam do processo respiratório
incluem o diafragma como o principal músculo da inspiração e os músculos intercostais e escalenos. Este último
juntamente com o esternocleidomastóideo são conhecidos
como músculos acessórios, mas, na verdade, têm um papel de
estabilizadores na respiração corrente [16].
O tipo de respiração mais adequada para realizar o exercício abdominal é a respiração passiva (inspiração durante a fase
excêntrica e expiração na fase concêntrica). A utilização desse
padrão é indicada devido à ação do transverso do abdômen
e oblíquos externo e interno na fase da expiração forçada,
sendo responsáveis pelo movimento de depressão das costelas
[8]. Os padrões de respiração normais ao repouso envolvem
uma fase inspiratória ativa e uma fase expiratória passiva. O
movimento do corpo é, predominantemente, marcado por
uma suave distensão do abdômen durante a inspiração que
retorna ao repouso na expiração [16].
A expiração forçada, como aquela exigida para tossir ou
soprar uma vela, requer a força ativa produzida pelos músculos expiratórios, como, por exemplo, os músculos do abdômen [4]. Kera e Maruyama [6] analisaram a influência da
postura na atividade expiratória dos músculos abdominais.
Foram medidas a atividade eletromiográfica dos músculos
oblíquo externo do abdômen, oblíquo interno do abdômen
e o reto abdominal em diferentes posições. Foi esclarecido
que o volume do pulmão teve modificações com a postura.
Portanto, o padrão de respiração sobre a carga respiratória
não modificou. Durante a ventilação voluntária máxima,
a atividade expiratória do músculo oblíquo interno do
abdômen foi menor na posição sentado com o cotovelo no
joelho do que as outras posições. A atividade inspiratória
do músculo oblíquo externo do abdômen e oblíquo interno
do abdômen foram maiores na posição em pé do que nas
outras posições.
Análise da musculatura abdominal
Os músculos abdominais são de extrema importância para
a função de expansão e compressão da cavidade abdominal e
das vísceras ocas, sua ação contribui também na micção, no
parto e na defecção [17]. A contração destes músculos possui
efeitos significativos sobre a expiração forçada [4]. Todos os
músculos do tronco agem em conjunto, no controle dos
movimentos. Este trabalho coletivo também influencia no
26
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
controle da postura [18]. Sua habilidade em manter a caixa
torácica expandida e a coluna vertebral alinhada todo dia
propicia o espaço interno para movimentos de respiração,
digestão, e outras funções [18].
O músculo reto do abdômen tem origem na sínfise e cristas
púbicas e inserção nas cartilagens costais da quinta, sexta e
sétima costelas e processo xifóide do esterno. As suas fibras
são na direção vertical e o seu ventre muscular é poligástrico.
A ação do músculo reto do abdômen consiste em flexionar a
coluna vertebral. Com a pelve fixa o tórax se movimenta na
direção da pelve; com o tórax fixo, a pelve se movimenta na
direção do tórax [3]. Além destas ações o músculo abdominal
ainda flexiona lateralmente a coluna vertebral e deprime as
costelas na expiração forçada [3]. Já o músculo transverso
do abdômen associado com o aumento da co-contração dos
músculos antagonistas, pode ocasionar uma melhor estabilidade dos músculos lombo-pélvicos, contribuindo para uma
melhor postura do tronco [5].
Balbino et al. [1] analisaram a atividade eletromiográfica
comparativa dos músculos reto do abdômen e reto femoral,
durante a execução do exercício abdominal tradicional e com
utilização da bola de ginástica. Foi observado que a utilização
da bola de ginástica no exercício abdominal não parece ativar
estes músculos com maior intensidade do que o exercício
tradicional [1].
Algumas pesquisas demonstraram a atividade elétrica
dos músculos oblíquo externo do abdômen, reto femoral e
reto abdominal, durante a execução do exercício abdominal
em terra e água, em velocidade padrão e máxima [7]. Foi
demonstrado que o exercício na velocidade máxima realizado em terra e no meio líquido apresentou uma atividade
eletromiográfica maior que o exercício padrão, com exceção
do reto femoral [7].
Furlani e Bankoff [14] analisaram eletromiograficamente
quatro formas de exercícios abdominais, dividindo entre fase
excêntrica e concêntrica. Encontrou-se que o melhor trabalho
para o músculo reto abdominal ocorreu durante o exercício,
deitado em decúbito dorsal, com os joelhos fletidos a 45°,
pés fixos ao solo, mãos entrelaçadas na nuca, realizando o
movimento de subir o tronco em linha reta até a posição
sentada. Sendo assim estes achados corroboram para melhorias na realização dos exercícios abdominais que são pouco
investigados contemporaneamente, e muito influenciados por
pesquisas anacrônicas.
Material e métodos
Sujeitos
Foram selecionados 23 sujeitos saudáveis (13 homens e
10 mulheres), com idade variando entre 18 e 24 anos inativos
fisicamente - segundo os critérios estabelecidos pelo questionário de inclusão e exclusão (Apêndice A). Foram incluídos no
estudo apenas os indivíduos que não apresentaram qualquer
deficiência orgânica, cirúrgica ou dor na região abdominal, e
também nenhuma patologia respiratória.
Tabela I - Demonstração dos valores médios das variáveis dos sujeitos
envolvidos no estudo.
Média
Peso (Kg)
Altura (m)
Idade (anos)
IMC
67,76
1,71
21,65
22,90
N=23
Desvio padrão
11,39
0,10
1,33
2,85
Valores obtidos através do questionário de inclusão e exclusão (Apêndice A).
Para a participação no experimento os sujeitos preencheram o questionário de inclusão e exclusão (Apêndice A).
Foram selecionados somente os sujeitos que apresentaram
os requisitos de inclusão na pesquisa. Os resultados obtidos
foram usados especificamente para a realização da pesquisa. Os
sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido nos moldes da comissão de ética do Centro Universitário
Jorge Amado.
Instrumentação
Registro dos dados eletromiográficos (EMG)
Para a coleta dos dados foram utilizados eletrodos de
superfície bipolares, com o diâmetro de 12 mm, (figura 1)
que foram limpos com álcool para facilitar sua aderência e a
condução do sinal elétrico. Os eletrodos de superfície foram
umedecidos com um gel condutor (figura 2) e colocados no
músculo reto abdominal (RA), fixando a pele através de uma
fita autoadesiva (figura 2). Os eletrodos foram posicionados
numa distância de 1 cm usando uma fita métrica (figura 2).
Para fixação dos eletrodos no músculo reto abdominal (RA)
foi seguido o procedimento descrito por Willett e colaboradores [19].
Em todas as coletas de dados o local foi identificado e
preparado pelo mesmo pesquisador para minimizar erros na
gravação. O sinal eletromiográfico captado pelos eletrodos
foi processado pelo eletromiógrafo portátil de dois canais
EMG Retrainer (Chatanooga Group, Inc. USA) (figura 1).
Sendo por este amplificado, filtrado e retificado. Por meio
de um leitor de infravermelho, o sinal foi integrado a um
computador, pelo programa de computador EMG Retrainer
IR. Os dados obtidos foram gravados em sessões de arquivo
e permaneceram disponíveis em formato gráfico, para posteriores consultas. Os dados eletromiográficos foram coletados
por um processador Intel de 333 MHz, executando o MS
Windows XP; com resolução de SVGA 800/600, uma porta
COM aberta para a aplicação do leitor de infravermelhos e
foram expressos em micro volts.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Figura 1
27
Figura 3
Figura 4
Figura 2
Análise dos dados
Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada no Centro Universitário Jorge
Amado, no consultório 1 da clínica escola.
Procedimentos
O indivíduo foi posicionado, na posição de decúbito
dorsal, sobre uma maca, onde foi solicitado que cada participante no momento da execução ficasse de joelhos fletidos,
(a aproximadamente 45°) e pés fixos ao solo (Figura 3).
Uma faixa (tamanho adulto de aproximadamente 2,90 m de
comprimento e 4,7 cm de largura) (figura 2) foi amarrada
em volta do sujeito (na altura do peitoral) e a maca, servindo
como resistência para a realização da contração isométrica
voluntária máxima (CIVM).
A partir da posição inicial, com o indivíduo em atividade
elétrica do reto do abdômen em 0 mV, ao ouvir o comando
verbal, o sujeito realizou o primeiro protocolo experimental,
que consistiu na contração isométrica voluntária máxima do
músculo reto abdominal por 15 segundos em apneia voluntária (Figura 4). Decorridos 5 minutos da realização do primeiro
protocolo, o mesmo sujeito realizou (na mesma posição inicial
supracitada) o segundo protocolo experimental, que consistiu
na contração isométrica voluntária máxima do músculo reto
abdominal por 15 segundos, realizando concomitantemente
a expiração forçada. Os dois protocolos foram analisados nos
seus respectivos 15 segundos de execução. Os sinais eletromiográficos foram integrados na fase concêntrica da isometria.
Os dados coletados foram transcritos para ficha de anotações dos dados experimentais (Anexo B), foi utilizado o teste
T de (Student) [20], verificando se os mesmos apresentariam
relevância significativa pertinente ao assunto em estudo. Foi
considerado como significante, os resultados de P < 0,05.
Resultados
A análise entre os valores médios, correspondentes aos
testes em apneia e com expiração forçada são apresentados
nos Gráficos 1 e 2. O protocolo descrito mostrou diferenças
significantes no sinal eletromiográfico entre os protocolos
estudados (p < 0,05).
Gráfico 1 - Valores máximos dos sinais eletromiográficos normalizados registrados durante a realização da sessão 1 CIVM do
reto abdominal em apneia e a sessão 2 CIVM do reto abdominal
associada à expiração forçada.
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
%
Sessão 1
Sessão 2
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
28
Gráfico 2 - Valores médios dos sinais eletromiográficos normalizados
registrados durante a realização da sessão 1 CIVM do reto abdominal em apneia e a sessão 2 CIVM do reto abdominal associada
à expiração forçada.
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
%
Sessão 1
Sessão 2
Quando os valores da ativação elétrica foram comparados,
para evidenciar diferenças entre as tarefas propostas, foram
encontradas diferenças estatisticamente significantes (p =
0,006) entre a atividade elétrica do músculo reto abdominal
quando comparado em tarefas de CIVM em apneia e CVIM
realizando concomitantemente a expiração forçada. Os valores
são estatisticamente maiores na tarefa de CIVM em apneia
do que na tarefa de CIVM associada à expiração forçada.
Discussão
O presente estudo mostrou que no tipo de exercício abdominal estudado existem mudanças significantes na atividade
elétrica do músculo reto abdominal quando comparado em
tarefas diferentes. Esse resultado é contrário à hipótese do
estudo. O aumento significativo da atividade Eletromiográfica
(EMG) em apneia pode ser explicado pelo mecanismo de
execução da tarefa, por ter sido realizada em apneia inspiratória, que contribuiu contundentemente para que os músculos
auxiliares pudessem permanecer ativos, colaborando para que
a atividade eletromiográfica do reto abdominal fosse significativamente maior quando comparada a sessão 2 que obteve
resultados menores, pois na expiração os músculos auxiliares
também contribuem, mas não de forma tão significativa
quanto na apneia inspiratória.
O ritmo básico da respiração é gerado na área inspiratória. A cada poucos segundos essa área fica excitada e
transmite sinais neurais para os músculos inspiratórios, em
especial para o diafragma. Os sinais começam muito fracos
mais aumentam progressivamente, fazendo com que os
músculos inspiratórios contraiam com força crescente [21].
No entanto a atividade elétrica do abdômen será maior na
apneia inspiratória do que na expiração forçada, por conta da
pressão interna ocorrer durante a expiração. A contração dos
músculos abdominais aumenta a pressão intra-abdominal,
forçando o diafragma para cima [21]. Outro ponto a ser
considerado é a pressão contrária que é gerada durante a
apneia inspiratória. Esses dois fatores conjugados podem
ocasionar uma dupla pressão, aumentando desta forma a
atividade elétrica dos músculos.
Segundo Graig et al. [22] os músculos inspiratórios não
recebem descargas instantâneas de sinais dos neurônios inspiratórios dorsais e ventrais. A taxa de disparo dos neurônios
aumenta gradualmente no final da fase expiratória. Sendo
assim, quando está ocorrendo uma apneia inspiratória, com
o bloqueio da respiração, faz com que a taxa de CO2 (gás
carbônico) do sangue se eleve a níveis anormais, consequentemente irá exaurir todo o CO2 dos pulmões, fazendo com que
os sinais dos neurônios ventrais e dorsais aumentem gradativamente a atividade dos músculos. Os músculos abdominais
também podem contribuir com a inspiração contraindo no
final da expiração. Esse processo retrai a parede torácica para
fora auxiliando o próximo esforço inspiratório [22]. Esse mecanismo pode ser constatado também em apneia inspiratória,
ocasionando maior atividade eletromiográfica, principalmente
dos músculos abdominais. Vários estudos foram realizados a
fim de identificar diferenças entre os músculos abdominais,
mas os resultados não foram significantes [1,3,5,6,7,14].
Balbino et al. [1] analisaram a atividade eletromiográfica
comparativa dos músculos reto do abdômen e reto femoral,
durante a execução do exercício abdominal tradicional e com
utilização da bola de ginástica. A atividade elétrica dos músculos não teve diferenças significantes quando comparados
em tarefas diferentes.
Segundo McArdle et al. [15] o fechamento da glote após
uma inspiração plena, enquanto estão sendo ativados ao máximo os músculos expiratórios, produz forças compressivas
que irão elevar a pressão intratorácica. A pressão dentro da
cavidade abdominal aumenta em níveis consideráveis durante
uma expiração máxima com uma glote fechada. Sendo assim,
provavelmente a atividade elétrica dos músculos abdominais
irá aumentar significativamente, pois a apneia inspiratória é
também uma expiração interrompida, que poderá levar ao aumento da pressão da cavidade abdominal, consequentemente
poderá atingir maiores níveis de atividade eletromiográfica.
Portanto esses fatores podem ter influenciado nos resultados. Porém novos estudos que possam controlar outras
variáveis devem ser investigados para justificar a indicação
clínica e a aplicabilidade em protocolos de treinamento.
Segundo Wilmore & Costil [23] na execução de um fechamento da glote – que pode ser considerada uma apneia voluntária – ocorre o aumento da pressão intra-abdominal contraindo
forçadamente o diafragma e os músculos abdominais, e também
aumenta a contração forçada dos músculos respiratórios. Com
base nesta afirmação o presente estudo sugere que os exercícios
abdominais sejam realizados em apneia voluntária. Esse mecanismo poderá potencializar a ação dos músculos abdominais, e
consequentemente melhorar o desempenho físico dos praticantes, tanto no fitness quanto na reabilitação em clínicas.
Conclusão
Nessas condições experimentais, os resultados demonstraram que a Contração Isométrica Voluntária Máxima (CIVM)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
do reto abdominal em apneia, quando comparada a CIVM
do mesmo músculo em expiração forçada, provoca alterações
na atividade eletromiográfica dos músculos estudados. Porém
a atividade elétrica do músculo reto abdominal na tarefa de
CIVM em apneia promoveu maiores níveis de atividade
em relação à segunda tarefa, de acordo com a metodologia
descrita. Estes achados contrariam os resultados de outros
estudos que buscavam detectar a melhor maneira de realizar
os exercícios abdominais. Futuros estudos devem ser realizados a fim de verificar se existem modificações da atividade
elétrica em diferentes tarefas, considerando outras variáveis
imprescindíveis para resultados mais plausíveis.
Referências
1. Balbino FL, Cunha GS, Cristina DSO, Valle KM, Bernardino
RJ. Análise eletromiográfica da atividade elétrica dos músculos
reto do abdome e reto femoral em exercícios abdominais com
e sem bola de ginástica. Coleção Pesquisa em Educação Física
2007;6(1):87-94.
2. Basmajian JV, De Luca CJ. Muscle alive: their revealed by
electromyography. 5ª ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1985.
3. Campos MA. Exercícios abdominais: uma abordagem pratica
e cientifica. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2004.
4. Neumann DA. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:
fundamentos para a reabilitação física. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 618 p.
5. McCook DT, Vicenzino B, Hodges PW. Activity of deep
abdominal muscles increases during submaximal flexion and
extension efforts but antagonist co-contraction remains unchanged. J Electromyography Kinesiol 2007;1:2-9.
6. Kera TE, Maruyama H. The effect of posture on respiratory
activity of the abdominal muscles. J Physiol Anthropol Appl
Human Sci 2005;24(4):259-65.
7. Evelyn SM, Gabriela LB, Paulo PF, Luiz FMK, Claudia H,
Hans JA. Comparação eletromiográfica do exercício abdominal
dentro e for a da água. Rev Port Cien Desp 2005;5(3):255-65.
8. Cláudia SL, Ronei SP. Cinesiologia e musculação. Rio de Janeiro: Artmed; 2006. 188 p.
29
9. Hamill J, Knu KM. Bases biomecânicas do movimento humano. 2ª. ed. São Paulo: Manole; 2008. 508 p.
10. Low J, Reed A. Eletroterapia explicada – princípios e prática.
1ª. ed. São Paulo: Manole; 2001. 173 p.
11. Fonseca ST. Análise de um método eletromiográfico para
quantificação de co-contração muscular. Rev Bras Ciênc Mov
2001;9(3):23-30.
12. Okano RG, Marin A, Cosialls A, Helena RCG, Monteiro PB.
A utilização da eletromiografia de superfície na avaliação e
tratamento das disfunções musculoesqueléticas: uma revisão da
literatura. Centro Universitário São Camilo 2006;12(4):59-67.
13. Fernando DC, Schmarczek GB, Araújo KB, Nóbrega MCG,
Trindade SA. Análise do músculo reto do abdômen. Pós graduação Lato-Sensu em Musculação e Treinamento da Força
– Universidade Gama Filho, 2005. [citado 2008 Abril 15].
Disponível em URL: http://www.baseacademia.com.br/artigos
14. Furlani J, Bankoff ADP. Estudo eletromiográfico dos músculos:
reto do abdômen e obliquo externo. Rev Bras Ciênc Morfol
1985;1(4):45-51.
15. McArdle W, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4ª. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1998.
16. Jennifer AP, Barbara AW. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. 2ª. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2002. 324 p.
17. Basmajian JV. Anatomia de Grant. 10ª ed. São Paulo: Manole;
1993. 139-148 p.
18. Alexandre MN. Exercícios abdominais. Universidade Estadual
de Londrina, 2007. [citado 2007 Nov 10]. Disponível em URL:
http://www.hipertrofia.org/blog
19. Willett GM, Hyde JE, Uhrlaub MB, Wendel CL, Karst GM.
Relative activity of abdominal muscles during commonly
prescribed strengthening exercises. J Strength Cond Res
2001;15(4):480-5.
20. Dora Filho U. Introdução à bioestatística: para simples mortais.
Rio de Janeiro: Elsevier; 1999. 89 p.
21. Guyton AC. Fisiológia humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1988.
22. Graig LS, Wilkins RL, Stoller JK. Fundamentos da teoria respiratoria de Egan. 1a ed. São Paulo: Manole; 2000.
23. Jack HW, David LC. Physiology of sport and exercise. 1ª ed.
São Paulo: Manole; 2001.
Apêndice A - Questionário de inclusão e exclusão
Nome:_______________________________________________
Idade:________________________________________________
Altura:________________________________________________
Peso:_________________________________________________
Sexo: ( ) M ( ) F
Curso:_________________________________
Semestre:___ Turno:____________
Se apresentar quais são?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
Já realizou alguma cirurgia na região abdominal que venha
comprometer o estudo?
( ) sim
( ) não
Aspectos gerais:
Apresenta alguma deficiência orgânica?
( ) sim
( ) não
Quais?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
30
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Apresenta ou apresentou nos últimos meses alguma dor na
região abdominal?
( ) sim
( ) não
Qual a causa?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
Alguma patologia respiratória?
( ) sim
( ) não
Esta com dificuldade respiratória ou gripe?
( ) sim
( ) não
Declaro que estou de acordo com o seguinte questionário, e
estou ciente das informações supracitadas, sendo assim consinto em participar da presente pesquisa.
Salvador,___de________________de 2008.
_________________________________
Assinatura do sujeito da pesquisa
Anexo B – Ficha de anotações dos dados experimentais
(Chattanooga Group, 2001)
Nome:____________________________ Nota:____________
Data:___/___/___
Clínica:___________________
Resultado
SEMG Média
SEMG Máximo
SEMG Mínimo
Valor alvo
Trabalho acima do valor alvo
Trabalho no alvo
Trabalho abaixo do alvo
Sessão 1
Sessão 1
Data:___/___/___
Músculo:______________
Tempo da sessão=____:____
Sessão 2
Sessão 2
Data: ___/___/___
Músculo:_______________
Tempo da sessão=____:____
% de variância
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
31
Artigo original
Máxima oxidação de gorduras em bombeiros
da polícia militar do Paraná: análise da correlação
entre o consumo máximo de oxigênio
e o quociente respiratório não-protéico
Maximal fat oxidation in recruits of the fire department military police
of Parana: analysis of the correlation between the maximal oxygen
consumption and non-protein respiratory quotient
Denis Bruno Ranzani*, Francisco Navarro**
*Aluno do curso de Pós-Graduação “Lato-Sensu” da Universidade Gama Filho – Fisiologia do Exercício: Prescrição de Exercício (à
distância) e Sargento do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná, **Coordenador e Professor dos Cursos de Pós-Graduação
“Lato-Sensu” em Fisiologia do Exercício: Prescrição de Exercício, Obesidade e Emagrecimento e Nutrição Esportiva da Universidade
Gama Filho
Resumo
Abstract
Introdução: Com a hipótese de que a intensidade do exercício
é essencial para a regulação do catabolismo de lipídios, o objetivo
deste estudo foi estimar a intensidade onde ocorre a máxima oxidação de gorduras, através da análise da correlação entre o VO2máx.
e o QRnp, via cálculo linear. Material e métodos: Foram avaliados 45
homens saudáveis, sendo aplicado o teste de 12 minutos (protocolo
de Cooper), para obtermos o VO2máx.. A oxidação de substrato foi
estimada por meio de cálculos, com base nos valores de combustão
das gorduras para o QRnp. Resultados e discussão: A intensidade de
pico de oxidação de gorduras foi em média 50,6% ± 2,1% do VO(QRnp 0,89 ± 0,005). A zona de máxima oxidação de gorduras
2máx.
ficou entre 33,7% ± 6,2% e 67,0% ± 6,3% do VO2máx.. O coeficiente de correlação foi (r = 1). Confrontando com outros estudos,
o percentual de diferença das intensidades de pico de oxidação
de gorduras foi -1,0% (50,6% vs. 50,1%) e das zonas de máxima
oxidação de gorduras foram -2,1% (33,7% vs. 33,0%) e -3,0%
(67,0% vs. 65,0%). Conclusão: Os resultados foram consistentes
quando comparados a outros experimentos, podendo este método
ser aplicado numa vasta população.
Introduction: With the hypothesis that exercise intensity is essential for the regulation of lipid catabolism, the objective of this study
was to estimate the intensity where occurs the maximal fat oxidation,
by analyzing the correlation between VO2max. and the QRnp, by linear
calculation. Material and methods: We evaluated 45 healthy men, and
applied the 12-minute test protocol (Cooper) to obtain VO2max.. The
substrate oxidation was estimated by calculation based on values for
the combustion of fat QRnp. Results and discussion: The intensity of
peak fat oxidation averaged 50.6% ± 2.1% of VO2max. (QRnp 0.89
± 0.005). The zone of maximal oxidation of fat was between 33.7%
± 6.2% and 67.0% ± 6.3% VO2max.. The correlation coefficient was
(r = 1). Comparing with other studies, the percentage difference
of intensities of peak fat oxidation was -1.0% (50.6% vs. 50.1%)
and areas of maximal fat oxidation were -2.1% (33.7% vs. 33.0%)
and -3.0% (67.0% vs. 65.0%). Conclusion: Results were consistent
when compared to other experiments; this method can be applied
to a large population.
Key-words: fat oxidation, oxygen consumption, respiratory quotient
non-protein, linear calculation.
Palavras-chave: oxidação de gorduras, consumo de oxigênio,
quociente respiratório não-proteico, cálculo linear.
Recebido em 16 de novembro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Denis Bruno Ranzani, Rua Conrado Schiffer 350/22 – Bl. 01, Estrela 84050-280 Ponta Grossa PR,
Tel: (42) 3028-4254, E-mail: [email protected]
32
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
A obesidade é um grave problema de saúde pública em
países industrializados [1] e, quando inicia na infância, a
probabilidade do adulto ser obeso é três vezes maior [2].
Caracterizada pelo excesso de tecido adiposo [3], usualmente acima de 25% para os homens e acima de 32% para
as mulheres [4], a obesidade tem como causa a deficiência na
utilização de gorduras como substrato energético [5], principalmente, pela carência de atividade física [6].
Nesse sentido, a prática de exercícios físicos pode ser capaz
de compensar esta diminuição da capacidade de oxidar gorduras [5], pois, o exercício físico está associado à redução na
gordura corporal total de uma maneira dose-resposta [1]. Entretanto, a escolha mais adequada da intensidade do exercício
físico para indivíduos acima do peso ainda é um desafio [7].
Com o intuito de avaliar tal intensidade, a utilização da
calorimetria indireta fornece evidência convincente acerca
de sua validade em estimar o metabolismo energético [2].
Pois, supondo-se que a permuta de oxigênio e dióxido de
carbono medida nos pulmões reflete a troca gasosa real do
catabolismo dos nutrientes na célula, a aplicação do quociente
respiratório (QR) em condições de exercício físico com ritmo
estável é razoavelmente válida [2], por fornecer uma estimativa
aceitável das proporções de carboidratos e lipídios que estão
sendo oxidados [8].
Julgando que as reações que liberam energia no organismo são dependentes da utilização do oxigênio, nesse caso,
poderemos estimar indiretamente o metabolismo energético
ao conhecer o consumo de oxigênio (VO2) durante a prática
de exercícios físicos em ritmo estável [2].
Contudo, a utilização da calorimetria indireta para a
mensuração do dispêndio energético pode ser inadequada
para sua aplicação numa ampla população, como em academias, devido ao alto custo dos equipamentos, espaço, tempo
e pessoal especializado para a administração do protocolo.
Portanto, o objetivo deste estudo foi estimar a intensidade
relativa do exercício onde ocorre a máxima oxidação de gorduras
em quarenta e cinco recrutas do Corpo de Bombeiros, através
da análise da correlação entre o consumo máximo de oxigênio e
o quociente respiratório não-proteico (QRnp), via cálculo linear.
Material e métodos
O presente estudo está em conformidade com a Resolução
nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, tendo o Comando
do 2º Grupamento de Bombeiros autorizado a utilização dos
dados para o referido estudo.
• Sujeitos: Quarenta e cinco recrutas do gênero masculino
(idade, 24 ± 3 anos), fisicamente ativos, foram submetidos
a um teste de aptidão física no curso de formação de soldados bombeiro militar. Nenhum dos participantes tinha
alguma doença evidente e não estava em tratamento com
dietas ou medicamentos.
• Biometria: A massa corporal e a estatura foram mensuradas
com a balança mecânica antropométrica e estadiômetro
da marca Welmy. Cada indivíduo permaneceu sobre a
balança com o mínimo de vestimentas, descalços, na posição ortostática, de costas para o avaliador, calcanhares
unidos e os braços relaxados, executando uma inspiração
forçada, com a cabeça posicionada de acordo com o plano
de Frankfurt [9].
• Avaliação da composição corporal: Na composição corporal,
a densidade corporal (Dc) foi estimada a partir do protocolo de sete dobras cutâneas (DC): peitoral, abdômen,
coxa, tríceps, subescapular, supra-ilíaca e axilar média,
de Jackson e Pollok [1], através do plicômetro da marca
Cescorf e modelo científico, onde:
Dc = 1,112 – 0,00043499 . ( sete DC) + 0,00000055 .
(sete DC)2 – 0,00028826. (idade)
Enquanto que o percentual de gordura corporal (%GC)
foi calculado pela equação de Siri [1]:
% GC = (495 . Dc-1) – 450
• Avaliação do consumo máximo de oxigênio: O VO2máx. foi
estimado através de teste de campo, utilizando-se o protocolo de doze minutos de Cooper [9], onde:
VO2máx. (mL.kg-1.min-1) = (Distância percorrida em metros –
504) . 45-1
Em repouso foram aferidas a pressão arterial e a frequência cardíaca com o aparelho digital da marca fitness, modelo
MF-34. Nos cinco minutos precedentes ao teste foi realizado
aquecimento.
• Elaboração da planilha de cálculo: para desenvolvermos a
planilha de cálculo, a presente pesquisa partiu do pressuposto
que a calorimetria indireta, que é uma técnica não invasiva,
utilizada para estimar a participação dos carboidratos e
gorduras no metabolismo energético durante o exercício
físico em estado estável, através do QR [10], poderia ser
reproduzida pela correlação entre o VO2máx. e o QRnp.
Em razão disso, verificou-se que a utilização da molécula
de gordura no metabolismo energético equivale ao QRnp
0,70, enquanto que a utilização da molécula de carboidrato
equivale ao QRnp 1,00 [10].
Entretanto, o metabolismo humano utiliza uma combinação de substratos energéticos [11] e, para determinamos o
valor de combustão dessa mistura de combustíveis, durante o
repouso, consideramos que cada decilitro de sangue transportam aproximadamente 5 mL de oxigênio dos pulmões para
os tecidos e eliminam aproximadamente 4 mL de dióxido de
carbono dos tecidos para os pulmões [12].
Ponderando que a estimativa da contribuição dos carboidratos e das gorduras no metabolismo energético durante o exercício
físico, através do QR, é expresso pela razão entre o dióxido de
carbono produzido e o oxigênio consumido [10], então:
Se, QR = VCO2 . VO2-1;
Logo, QR = 4 . 5-1 = 0,80.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Resultados
A Tabela II apresenta os resultados para a oxidação de
gorduras através da correlação entre o VO2máx. e o QRnp.
Tabela II - A máxima oxidação de gorduras obtida na correlação
entre o VO2máx. e o QRnp.
Variáveis
Pico de oxidação de
gorduras (% VO2máx)
Zona de oxidação
de gorduras, limite
inferior (% VO2máx)
Zona de oxidação
de gorduras, limite
superior (% VO2máx)
QRnp do pico de oxidação de gorduras
Velocidade de oxidação de gorduras
(g.min-1)
± 6,2
18,4
67,0
± 6,3
9,4
0,89
± 0,005
0,6
0,35
± 0,05
14,3
Figura 1 - Progressão linear do VO2 absoluto em função do QRnp.
Correlação produto-momento
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
0,8
0,85
0,9
QRnp
0,95
1
Desv.
Pad.
Variação (%)
±3
± 9,3
±5
12,5
12,6
2,8
Figura 2 - Velocidade de oxidação de gorduras vs. intensidade do
exercício (n = 45).
± 2,3
± 5,2
9,9
37,7
± 4,9
46,2
± 5,7
±4
9
8
± 0,5
13,5
Valores expressos em média ± desvio padrão, com o coeficiente de
variação (%).
33,7
de variação (%).
Oxidação de gorduras (g.min-1)
Idade (anos)
Massa Corporal (kg)
Estatura (cm)
IMC (kg.m-²)
Massa Gorda (%)
Massa Gorda (kg)
Massa Livre de Gordura (kg)
VO2máx. (mL.kg-1.min-1)
VO2máx. (L.min-1)
± 2,1
Variação
(%)
4,2
A Figura 1 demonstra o coeficiente de correlação produtomomento entre o VO2máx. absoluto e o QRnp. Conseguiu-se
uma correlação perfeita positiva entre as duas variáveis (r =
1), ou seja, todos os pontos no gráfico de dispersão caem
exatamente numa linha reta.
Tabela I - Parâmetros físicos e composição corporal dos recrutas do
Corpo de Bombeiros, 2010.
Média
(n = 45)
24
74
178
23,3
13,8
10,6
63,4
49,9
3,69
Desv. Pad.
Resultados expressos em valores médios ± desvio padrão e coeficiente
A Tabela I apresenta os parâmetros físicos e composição
corporal de 45 recrutas.
Variáveis
Média
(n = 45)
50,6
Fonte: Elaborado pelo autor.
VO2(L.min-1)
Outros estudos também corroboraram que na maioria
das pessoas em repouso alimentadas com uma dieta mista é
comum um valor de QR igual a 0,80 [11].
Para a realização dos cálculos ignoramos a contribuição
da proteína na produção de energia, em virtude da utilização
dos valores de combustão para o QRnp.
Sabe-se que o VO2repouso equivale aproximadamente 3,5
mL.kg-1.min-1 [6], então, correlacionamos este com o QRnp
0,80, enquanto que os demais valores da reserva do consumo
de oxigênio (VO2R) foram ordenados em sequência linear a
partir do QRnp 0,81.
Foi verificado que o VO2 progride como uma função linear
em relação à intensidade, até que o VO2máx. seja atingido [10]
e, que o QR aumenta linearmente a partir do repouso até o
valor de 1,00 com o aumento do VO2 [13].
Nesse projeto experimental, o coeficiente linear foi determinado através da razão entre o VO2R pela diferença entre
o QRnp 1,00 e o QRnp 0,80, multiplicado por 100, onde:
coeficiente linear = VO2R . 20-1
• Tratamento estatístico: o grau de correlação (r) entre o
VO2máx. e o QRnp foi apresentado em estatística analítica,
pelo coeficiente de correlação produto-momento, ao passo
que os dados coletados e os resultados foram descritos de
forma sumária através da média, mediana, desvio padrão,
coeficiente de variação (%) e função máximo.
• Interpretação dos dados: o pico de oxidação de gorduras foi
determinado com a função máximo, que retorna o maior
valor num intervalo de dados da planilha de cálculo e a zona
de máxima oxidação de gorduras foi estabelecida através de
um conjunto de valores, que não tiveram diferença entre
si, até a primeira casa decimal.
33
Pico de oxidação de gorduras
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
Intensidade relativa (% VO2 máx.)
100,0
34
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
A Figura 2 demonstra a relação entre a taxa de oxidação
de gorduras e a intensidade do exercício, expressa em percentual do VO2máx., em recrutas do Corpo de Bombeiros. Com
o aumento da intensidade do exercício, a taxa de oxidação
de gorduras aumentou para 0,35 g.min-1 ± 0,05 em 50,6 ±
2,1% do VO2máx., onde, acima dessa intensidade ocorreu a
queda na taxa de oxidação.
A zona de máxima oxidação de gorduras ficou situada
entre 33,7 ± 6,2 a 67,0 ± 6,3% do VO2máx. O QRnp foi em
média 0,89 ± 0,005, no pico de oxidação de gorduras. Na
intensidade média, onde as taxas de oxidação de gorduras foram máximas, a contribuição relativa de oxidação de gorduras
para o dispêndio energético foi de 34,6 ± 1,6%.
Discussão
A seleção de combustível durante o exercício físico é dependente de diversos fatores, entretanto, a intensidade do exercício
é um fator determinante. Quando a intensidade do exercício
aumenta, o valor do QR aumenta concomitantemente [14], diminuindo a contribuição das gorduras como fonte de energia [10].
Esse aumento do QR ocorre à medida que a produção do
volume de CO2 aumenta desproporcionalmente em relação
ao consumo de O2 [11], causando o acúmulo de íons de
hidrogênio (H+) e, consequentemente, a diminuição do pH
dos líquidos corporais e assim, podendo alterar a velocidade
das reações metabólicas controladas por enzimas [10].
A teoria do cruzamento conceitua os efeitos da intensidade
do exercício sobre o equilíbrio do metabolismo de carboidratos e lipídios durante o exercício prolongado [15].
Quando a intensidade do exercício aumenta além do ponto de cruzamento, ocorre um desvio gradativo do catabolismo
das gorduras para o catabolismo dos carboidratos, devido
principalmente, ao recrutamento das fibras rápidas, com o
respectivo aumento das enzimas glicolíticas e pelo aumento
do nível sérico de adrenalina [10].
Nossos resultados, no que diz respeito à intensidade do
exercício e a oxidação do substrato, são consistentes com a
teoria do cruzamento, já que os lipídios forneceram um pouco
mais da metade da energia durante o exercício de baixa intensidade, mas, com o aumento da intensidade do exercício,
a participação relativa de lipídios diminuiu, enquanto que a
participação de carboidratos aumentou.
Em comparação com a tendência central da população
apresentada na tabela III, o percentual de diferença entre as
intensidades relativas médias do pico de oxidação de gorduras
foi -1,0% (50,6% vs. 50,1%).
As maiores taxas de oxidação de gorduras geralmente são
encontradas em exercícios com intensidades baixa a moderada
(variação de 33,0% a 65,0% do VO2máx.) [16].
Então, confrontando as intensidades da zona de máxima
oxidação de gorduras com os nossos resultados, obtivemos o
percentual de diferença -2,1% (33,7% vs. 33,0%) e -3,0%
(67,0% vs. 65,0%).
Tabela III - Intensidade relativa do exercício onde ocorre a taxa
máxima de oxidação de gorduras.
Autores
Achten et al.
[16]
Achten et al.
[17]
Bogdanis et
al. [7]
População
% VO2máx.
Ciclistas moderadamente trei64,0
nados
Homens treinados em endurance
62,5
Homens sedentários com sobrepeso
Mulheres sedentárias com
sobrepeso
Homens obesos
40,1
Meninos pré-púberes (I tercil:
SDS IMC 2,25)
Meninos pré-púberes (II tercil:
SDS IMC 3,38)
Meninos pré-púberes (III tercil:
SDS IMC 4,59)
Pérez-Martin et Homens e mulheres com sobreal. [19]
peso
Homens e mulheres com peso
normal
Riddell et al.
Meninos (estágio de desenvolvi[20]
mento: Tanner 1)
Meninos (estágio de desenvolvimento: Tanner 2/3)
Meninos (estágio de desenvolvimento: Tanner 4)
Steffan et al.
Mulheres obesas e mulheres
[21]
com peso normal
Stisen et al.
Mulheres treinadas
Mulheres não treinadas
[22]
Venables et al. Homens saudáveis
Mulheres saudáveis
[23]
Tendência central das amostras:
44,0
Deriaz et al.
[18]
Maffeis et al.
[5]
39,5
42,0
49,0
52,0
33,3
50,1
56,0
55,0
45,0
50,0
53,0
56,0
45,0
52,0
50,1
As intensidades relativas das dezoito populações heterogêneas foram
expressas em médias.
É interessante ressaltar que valores análogos ao do QRnp
médio do pico de oxidação de gorduras (0,89 ± 0,005) foram
encontrados em outros dois estudos.
Em uma pesquisa das variações do QR, durante o exercício
moderado (47,4% VO2máx.), em nove indivíduos saudáveis,
com base na duração do exercício (30 minutos) e nas respostas
metabólicas, foi alcançado o QR médio de 0,89 ± 0,02 após
o nono minuto de exercício [24].
O QR médio de 0,89 ± 0,07 foi encontrado, também,
durante a investigação da intensidade de pico de oxidação de
gorduras em 55 indivíduos do sexo masculino treinados em
endurance [17].
Nossos experimentos demonstraram ainda que o metabolismo de gorduras é um processo limitado em vários fatores
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
e que existe uma intensidade ideal para esta oxidação. Por
exemplo, se um indivíduo com massa corporal de 65,9 Kg e
VO2máx. absoluto de 2,94 L.min-1, permanecesse em repouso
durante 60 minutos, então, 66,6% do gasto calórico seria de
gorduras (QRnp 0,80), mas seriam gastos apenas 66 Kcal. No
entanto, se este indivíduo praticasse exercício físico durante o
mesmo período de tempo, na intensidade de pico da oxidação
de gorduras (VO2máx., 49,3%), o percentual de utilização de
gorduras diminuiria para 35,8% (QRnp 0,89), entretanto,
o dispêndio energético subiria para 427 Kcal. Nesse caso, a
velocidade de oxidação de gorduras durante o exercício, aumentaria em aproximadamente 3,5 vezes do valor em repouso.
Analisando-se o exemplo acima, verificamos que o VO2 do
exercício determinou o dispêndio energético global. Enquanto
que o QRnp estabeleceu a quantidade de substratos energéticos
que estavam sendo oxidados.
Foi verificado, também, que o VO2 é diretamente proporcional à velocidade de oxidação de gorduras, enquanto que o
QRnp é inversamente proporcional.
Assim, parece existir um ponto ideal na correlação entre
o VO2 e o QRnp para a velocidade máxima de oxidação de
gorduras (g.min-1).
Conclusão
Os resultados obtidos mostraram que a máxima utilização
de gorduras durante o exercício ocorreu entre as intensidades
de 33,7% e 67,0% do VO2máx., enquanto que o pico de oxidação de gorduras aconteceu em 50,6% do VO2máx. (QRnp 0,89).
As semelhanças dos resultados, quando comparados a
outros experimentos, demonstraram que a correlação entre
o VO2máx. e o QRnp, através do cálculo linear, foi um eficiente
instrumento para se estimar a intensidade onde ocorre a máxima oxidação de gorduras, podendo este método de baixo
custo ser empregado numa extensa população.
Referências
1. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua
prescrição. 7a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
2. Mcardle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4nd ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1998.
3. ACSM. Manual do ACSM para avaliação da aptidão física
relacionada à saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
4. Heyward VH, Stolarczyk LM. Avaliação da composição corporal
aplicada. São Paulo: Manole; 2000.
5. Maffeis C, Zaffanello M, Pellegrino M, Banzato C, Bogoni
G, Viviani E, Ferrari M, Tatò L. Nutrient oxidation during
moderately intense exercise in obese prepubertal boys. J Clin
Endocrinol Metab 2005;90:231-36.
35
6. Åstrand PO, Rodahl K, Dahl HA, Strømme, SB. Tratado de
fisiologia do trabalho: bases fisiológicas do exercício. 4a ed.
Porto Alegre: Artmed; 2006.
7. Bogdanis GC, Vangelakoudi A, Maridaki M. Peak fat oxidation
rate during walking in sedentary overweight men and women.
Sports Sci Med 2008;7:525-31.
8. Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Bioquímica do exercício
e do treinamento. São Paulo: Manole; 2000.
9. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividade
física: guia prático. 3a ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
10. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3a ed. São Paulo:
Manole; 2000.
11. Wilmore JH, Costill DL, Kenney WL. Fisiologia do esporte e
do exercício. 4a ed. São Paulo: Manole; 2010.
12. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 9a ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.
13. Jeukendrup AE, Achten J. Fatmax: a new concept to optimize
fat oxidation during exercise? Eur J Sport Sci 2001;1(5):1-5.
14. Lindholm A. What determines fuel selection in relation to
exercise? Proceedings of the Nutrition Society 1995;54:275-82.
15. Brooks GA, Mercier J. Balance of carbohydrate and lipid utilization during exercise: the “crossover” concept. J Appz Physiol
1994;76(6):2253-61.
16. Achten J, Gleeson M, Jeukendrup AE. Determination of the
exercise intensity that elicits maximal fat oxidation. Med Sci
Sports Exerc 2002;34:92-7.
17. Achten J, Jeukendrup AE. Maximal fat oxidation during exercise
in trained men. Int J Sports Med 2003;24:603-8.
18. Dériaz O, Dumont M, Bergeron N, Després J-P, Brochu M,
Prud´homme D. Skeletal muscle low attenuation area and
maximal fat oxidation rate during submaximal exercise in male
obese individuals. Int J Obes Relat Metab 2001;25:1579-84.
19. Pérez-Martin A, Dumortier M, Raynald E, Brun JF, Fédou
C, Bringer J, Mercier J. Balance of substrate oxidation during
submaximal exercise in lean and obese people. Diabets Metabolism 2001;27:466-74.
20. Riddell MC, Jamnik VK, Iscoe KE, Timmons BW, Gledhill
N. Fat oxidation rate and the exercise intensity that elicits
maximal fat oxidation decreases with pubertal status in young
male subjects. J Appl Physiol 2008;105:742-48.
21. Steffan HG, Elliot W, Miller WC, Fernhall B. Substrate utilization during submaximal exercise in obese and normal-weight
women. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1999;80:233-39.
22. Stisen AB, Stougaard O, Langfort J, Helge JW, Sahlin K,
Madsen K. Maximal fat oxidation rates in endurance trained
and untrained women. Eur J Appl Physiol 2006;98:497-506.
23. Venables MC, Achten J, Jeukendrup AE. Determinants of fat
oxidation during exercise in healthy men and women: a crosssectional study. J Appl Physiol 2005;98:160-7.
24. Toda K, Oshida Y, Tokudome M, Manzai T, Sato Y. Effects
of moderate exercise on metabolic responses and respiratory
exchange ratio (RER). Nagoya J Med Sci 2002;65:109-13.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
36
Artigo original
Comparação de diferentes números de repetições
no alongamento dos músculos isquiotibiais
em atletas do sexo feminino
Comparison of different numbers of repetitions on the stretching
of the hamstring muscles in female athletes
Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Ft. M.Sc.*, Karina da Costa Casagrande**, Kátia da Maia**
*Especialista em Ortopedia e Traumatologia – FGG, Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas – FGG,
**Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala – FGG
Resumo
Abstract
O alongamento é um exercício terapêutico que tem por função o
aumento da extensibilidade musculotendínea, sendo no meio esportivo um dos recursos mais utilizados no aumento da flexibilidade e
prevenção de lesões. Portanto, o objetivo do estudo foi verificar qual
número de repetições é mais eficaz no alongamento dos músculos
isquiotibiais em atletas do sexo feminino. A amostra foi composta
de 36 atletas do sexo feminino, com idade 15-20 anos, distribuídas
aleatoriamente em três grupos (n = 12) com variação no número
de repetição em 1, 5 e 10 repetições. Os instrumentos utilizados
foram cronômetro, banco de Wells e flexímetro, e os sujeitos foram
avaliados antes e após a intervenção que durou no total 4 semanas. A
análise estatística foi descritiva (coeficiente de variação) e paramétrica
(ANOVA). Foi observado intragrupos um ganho percentual maior
de G3 (8,2%) em relação aos outros grupos quando utilizado o
flexímetro, o mesmo ocorrendo com a utilização do banco de Wells
G3 (9,4%), porém pela ANOVA os dados apresentaram resultados
diferentes entregrupos sendo que G3 apresentou melhor desempenho com o uso do fleximentro e com o banco. Conclui-se que 10
repetições é o número ideal para o ganho de flexibilidade quando
comparado intragrupos e entregrupos.
Stretching is a therapeutic exercise which aims at increasing
musculotendinous extensibility, and in sports it is one of the most
commonly used resources to increase flexibility and prevent injuries.
Therefore, the purpose of this study was to determine which number
of stretching repetitions of the hamstring muscle in female athletes
is the most effective. The sample consisted of 36 female athletes,
aged 15-20 years, randomly divided into three groups (n = 12) with
variation of repetition 1, 5 and 10 repetitions. Chronometer, Wells
Bench and fleximeter were used as instrument, and the subjects were
evaluated before and after the intervention which lasted 4 weeks in
total. The analysis used descriptive statistics (coefficient of variation)
and parametric (ANOVA). It was observed within the groups a
higher percentual gain of G3 (8.2%) compared to the other groups
when using a fleximeter as well as with the Wells bench G3 (9.4%);
on the other hand, data showed different results by ANOVA among
groups, the G3 showed better performance with the fleximeter and
the bench. We conclude that 10 repetitions is the ideal number to
gain flexibility when compared within groups and among groups.
Key-words: flexibility, stretch muscular, musculoskeletal system,
athletes.
Palavras-chave: flexibilidade, alongamento muscular, sistema
musculoesquelético, atletas.
Recebido em 8 de setembro de 2010; aceito em 1 de dezembro de 2010.
Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua São José, 490, 89202-010 Joinville SC, Tel: (47) 30268251, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
Flexibilidade pode ser definida como a capacidade do
músculo estender-se movimentando uma ou mais articulações
em uma determinada amplitude de movimento (ADM) [1,2],
sendo essencial para um bom desempenho físico, e importante componente ao bem-estar e melhora da performance
esportiva [3]. Já alongamento é uma manobra terapêutica
aplicada para aumentar a extensibilidade musculotendínea,
do tecido conjuntivo muscular e periarticular, contribuindo
para melhorar a flexibilidade [4,5], onde as modalidades
mais utilizadas são o método estático, o ativo e a facilitação
neuromuscular proprioceptiva (FNP) [4-6].
Algumas alterações no músculo como encurtamentos
ou contraturas podem limitar a ADM, restringindo assim a
ação muscular e alterando toda a biomecânica articular, tornando as articulações mais suscetíveis a lesões [7]. O grupo
muscular isquiotibial é um dos mais encurtados devido ao
sedentarismo, o qual é caracterizado pela redução parcial de
uma unidade musculotendínea saudável resultando em limitação da mobilidade [8]. Estudos descrevem o alongamento
estático como o mais efetivo para o aumento de flexibilidade
dos isquiotibiais [9,10].
Vários autores destacam a importância e os efeitos favoráveis do alongamento, tais como o aumento do rendimento
do atleta, prevenir e tratar lesões musculoesqueléticas e distúrbios posturais, recuperar funções em pós-operatório ou
pós-imobilização, relaxamento, aquecimento muscular e promover saúde [5-7,10]. Em um estudo que objetivou verificar o
aumento da flexibilidade nos isquiotibiais, observou-se como
resultado a diminuição do número de lesões nos membros
inferiores de militares e aumento da flexibilidade, realizando
um protocolo de alongamento com três sessões diárias durante
13 semanas [4].
Torna-se notável, em estudos utilizando o alongamento
estático, a variedade de tempos recomendados para a manutenção da posição final (7 a 60 segundos) e do número de
repetições (1 a 10) [11-15]. Um estudo comparou os efeitos
de três diferentes tempos (15, 30 e 60s), utilizando alongamento estático nos isquiotibiais por vários dias, encontrando
ganho na ADM com o tempo de 30s [11], três estudos sendo
2 em humanos [16,17] e um em animais [18] que avaliaram
o efeito do alongamento, observaram que a maior parte do
relaxamento de estresse ocorria durante os primeiros 12 a 20s,
entretanto nos animais foi pesquisado o número de repetições
e observou-se aumento significativo do comprimento em
relação à repetição anterior durante as 4 primeiras repetições.
Outro estudo [19] atribuiu também que quanto maior o
número de repetições e mais tempo de duração melhor será
o efeito do alongamento.
Porém Grandi [20] apresenta a possibilidade de que quanto maior o tempo de duração, maior intensidade dos efeitos
de cada sessão utilizando 4 repetições e considera o tempo
de 30s para cada repetição exagerado, pois o relaxamento do
37
estresse ocorre em 18s. Já Achour Junior [21] descreve que
poucas repetições de alongamento estático de curta duração
(10 a 20s) podem ser realizadas antes de algum exercício que
utilize força prevenindo assim lesões musculares.
Portanto, para um bom treino de flexibilidade é necessário
o uso de parâmetros adequados de alongamento. Estudos demonstram técnica adequada, tempo entre as sessões, número
de repetições, frequência e intensidade de tensão que deve
ser aplicada no músculo durante o alongamento [1,5-10].
Porém ainda existem divergências quanto ao número de
repetições, sobre qual seria o mais ideal para se utilizar na
área clínica ou no desporto, pois esses estudos são realizados
com tempos e números de repetições diferentes não sendo
padronizados mesmo tempo e alternância nas repetições e na
aplicação do alongamento estático. Na pesquisa se trabalhou
com a seguinte hipótese: será que existe diferença no ganho
de flexibilidade se trabalhando com o mesmo tempo, mas
alternando as repetições? O objetivo foi verificar qual número
de repetições é mais eficaz no alongamento dos músculos
isquiotibiais em atletas do sexo feminino.
Material e métodos
A amostra foi composta por 36 atletas das modalidades de
basquete, voleibol e handebol do sexo feminino, com idade
entre 15 e 20 anos, do Centro de Treinamento Ivo Varela.
Como critério de inclusão todas as atletas deveriam ser fisicamente ativas, sem nenhuma lesão associada que pudesse vir
a comprometer a pesquisa.
As atletas receberam uma explicação do procedimento a
que seriam submetidas, do objetivo do estudo e assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido. As menores
de idade foram autorizadas pelos pais ou responsáveis através
do mesmo termo. O projeto foi submetido e teve a aprovação
do Comitê de Ética do Hospital Municipal São José (parecer
10033) conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97
relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos.
Como instrumento de pesquisa utilizou-se um cronômetro da marca Cassio® para marcar o tempo, o Banco de
Wells da marca Terra Azul® para avaliação da flexibilidade da
musculatura de cadeia posterior e o flexímetro da marca TM,
Code Research Institute®, para avaliação da flexibilidade da
musculatura dos isquiotibiais.
Inicialmente foi realizada uma pré-avaliação em que cada
procedimento foi repetido três vezes e a média das três mensurações foi o valor considerado no estudo. As atletas foram
posicionadas em decúbito dorsal com o membro oposto ao
da medida em zero graus no quadril e joelho, para melhor
controle do posicionamento da pelve. O membro inferior
medido foi posicionado a 90 graus de quadril e joelho sendo
lentamente estendido até a primeira sensação de desconforto,
enquanto a posição era mantida a avaliação foi realizada com o
flexímetro. A medida com o Banco de Wells foi realizada com
as atletas sentadas de frente para o banco, colocando os pés no
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
38
apoio com os joelhos estendidos, ergue-se o braço e sobrepõe
uma mão a outra e leva as duas para frente até que toquem
a régua que está no banco. Os resultados foram obtidos de
acordo com a pontuação atingida na régua.
Após as avaliações as atletas foram submetidas a séries de
alongamento que foram realizadas de forma ativo-assistido,
onde uma atleta manteve-se sentada com membros inferiores
estendidos e paralelos um ao outro, enquanto a outra auxiliava
de forma passiva. Cada grupo de atletas realizou números de
repetições diferentes, sendo grupo G1 uma repetição, grupo
G2 cinco repetições e grupo G3 dez repetições de 30 segundos cada um, realizando 3 sessões por semana, com total de
10 minutos cada sessão perfazendo um total de 10 sessões
de intervenção.
Ao término das sessões de alongamento as atletas submeteram-se a novas avaliações com os mesmos instrumentos e procedimentos no intuito de verificar qual número de repetições
foi mais eficaz. O período total da pesquisa foi de 4 semanas.
A fim de analisar a relevância de diferença foi aplicada
a análise paramétrica pelo programa Statistical Package for
the Social Sciences (SPSS/15), utilizando o teste estatístico
ANOVA (p < 0,05) para comparação entre grupos G1, G2
e G3, e análise descritiva (média, desvio padrão e coeficiente
de variação).
Resultados
Observa-se nas tabelas apresentadas abaixo alterações
ocorridas na avaliação do nível de flexibilidade das atletas
durante a aplicação do protocolo, cuja participação foi de
98%, pois 2% da amostra faltou durante a intervenção sendo,
dessa forma, excluída.
A Tabela I apresenta a avaliação intragrupo do flexímetro,
pré e pós-avaliação calculados pela média e desvio padrão, de
acordo com cada número de repetição onde identificou-se
ganhos de -0,2% (G1), 1,2% (G2) e 8,2% (G3) pelo coeficiente de variação.
Tabela I - Média e desvio padrão dos grupos utilizando o flexímetro.
1 repetição
5 repetições
10 repetições
Pré
150,30 (± 11,82)
157,58 (± 9,03)
143,03 (± 11,50)
Pós
149,85 (± 10,31)
159,55 (± 11,37)
154,85 (± 12,50)
Calculando-se pelo teste estatístico ANOVA (p < 0,05*),
os resultados demonstram que G3 apresentou maior ganho
de flexibilidade quando comparados entre grupos G1xG2
(0,836*) e G1xG3 (1,789*).
A Tabela II apresenta os resultados da média e desvio
padrão pelos grupos. Os resultados intragrupos do Banco
de Wells pré e pós-avaliação calculados pelo coeficiente de
variação foram de 8,1% (G1), 2,7% (G2) e 9,4% (G3).
Tabela II - Média e desvio padrão dos grupos utilizando o Banco
de Wells.
1 repetição
5 repetições
10 repetições
Pré
29,64 (± 6,28)
31,04 (± 5,05)
32,02 (± 6,61)
Pós
32,06 (± 5,07)
31,89 (± 5,95)
35,05 (± 5,39)
Os dados relativos ao teste estatístico ANOVA (p < 0,05*)
evidenciaram também que G3 apresentou diferença significativa (maior ganho de flexibilidade) quando comparados entre
grupos G1xG2 (0,624*) e G1xG3 (3,350*).
Discussão
A presente pesquisa demonstrou que o alongamento estático utilizado com 10 repetições em um grupo de mulheres
adultas jovens, após 4 semanas de intervenção, tornou-se
eficiente para o ganho de flexibilidade do grupo muscular
isquiotibial. Outro fator importante foi o tempo de 30s, pois
estudos comentam ser esse o ideal corroborando com o tempo
utilizado na pesquisa. Em um estudo que avaliou a duração do
alongamento estático dos isquiotibiais, verificou-se que entre
30 e 60 s não houve diferença significativa, demonstrando que
30 segundos é um tempo favorável de alongamento estático
[11,22] igualando com outro estudo que comenta também
ser 30 s o tempo ideal [2]. Porém, outro discorda comentando
que 10 s seriam ideais para o ganho de flexibilidade [23].
Entretanto, em relação ao número ideal de repetições,
ainda ocorrem várias divergências em relação aos resultados
dos estudos. O presente estudo relata serem 10 repetições
o número ideal, o que não corrobora com os estudos em
questão. Como o estudo que avaliou a frequência ideal de
alongamento em 93 indivíduos, com idade de 21 a 39 anos,
divididos em 5 grupos comprovando ser uma repetição de
30 s a mais eficaz para o ganho de flexibilidade [22]. Outro
objetivou comparar duas doses ideais de alongamento realizado em 8 indivíduos com idade entre 22 a 33 anos utilizando
em um grupo 4 repetições e outro uma repetição. Verificouse que, após três semanas, realizando os exercícios uma vez
por semana encontrou-se ganho de ADM nos dois grupos e,
portanto, não havendo diferença significativa [20].
O mesmo ocorreu em estudo que avaliou a frequência
de alongamento dos músculos isquiotibiais, utilizando uma
amostra de 36 mulheres distribuídas em 4 grupos (n = 9),
com intervenção de alongamento, cinco dias por semana,
durante duas semanas consecutivas, com variação de uma,
três e seis manobras por sessão. Verificou-se que houve ganho
de amplitude significativo em relação ao grupo controle, mas
não entre eles mesmos, concluindo não haver diferença em
relação ao ganho tardio quando se utilizam uma, três ou seis
manobras de alongamento [24].
Outro comparou diferentes números de repetições no
alongamento dos isquiotibiais em uma amostra de 33 indivíduos com idade entre 8 e 11 anos, de ambos os sexos, divi-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
didos em três grupos, realizando 1, 5 e 10 intervenções com
o tempo de 30s. Todos os resultados apresentaram diferença
significativa entre grupos evidenciando-se que 5 repetições
seriam ideais [25].
Porém estudos corroboram com a presente pesquisa,
pois atribuem que quanto maior o número de repetições
melhor será o efeito do alongamento [19,20], tal como o que
objetivou avaliar os efeitos de 10 séries de 30s e três séries
de três minutos de alongamento estático passivo na flexibilidade dos músculos isquiotibiais, realizado em 25 mulheres
(17 a 25 anos) distribuídas aleatoriamente em três grupos,
durante 6 semanas. Verificou-se que não houve diferença
estatisticamente significante na ADM de joelho entre 30s e
três minutos após seis semanas e que 10 séries de 30 segundos
e três séries de três minutos podem aumentar a flexibilidade
dos isquiotibiais [26].
Outra pesquisa realizada para avaliar a melhora da flexibilidade do ombro com limitação de ADM, após um treino
de 6 semanas, com 1 repetição de 30s de alongamento passivo estático, constatou que houve ganho de ADM. Porém
quanto maior a limitação menor o ganho de amplitude [27].
Dessa forma a presente pesquisa evidencia que 10 repetições
seriam ideais para o ganho de flexibilidade no grupo muscular
isquiotibial.
Conclusão
Este estudo apresenta limitações, pois a amostra se restringiu drasticamente a 12 atletas por grupo não sendo possível generalizar os dados encontrados. Porém ressalta-se, no
entanto, que foi possível observar diferenças entre os grupos
estudados tanto com o uso do flexímetro quanto do banco
de Wells, mesmo com a amostra relativamente pequena. Os
dados apresentados não corroboram com a literatura devido
aos poucos estudos realizados com número de repetições diferentes e mesmo tempo, pois a literatura estudada emprega
número de repetições diferentes com tempos diferentes. O
presente estudo contribuiu para dar suporte à evidência de
que 10 repetições, quando comparada intragrupos e entre
grupos, tanto com o flexímetro quanto com o banco, se
tornou mais eficaz verificando, assim, que a realização de
alongamento antes da prática esportiva contribuiu para a
melhora significativa do comprimento do músculo (ganho de
amplitude de movimento), podendo assim levar a prevenção
de lesões musculares.
Referências
1. Voigt L, Vale RGS, Abdala DW, Freitas WZ, Novaes JS, Dantas
EHM. Efeitos de uma repetição de dez segundos de estimulo
do método estático para o desenvolvimento da flexibilidade
de homens adultos jovens. Fitness and Performance Journal
2007;6:352-6.
2. Rosario JLP, Sousa A, Cabral CMN, João SMA, Marques AP.
Reeducação postural global e alongamento estático segmentar
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
39
na melhora da flexibilidade, força muscular e amplitude de movimento: um estudo comparativo. Fisioter Pesqui 2008;15:12-8.
Badaro AFV, Silva AH, Beche D. Flexibilidade versus alongamento: esclarecendo as diferenças. Saúde 2007;33:32-6.
Almeida PHF, Barandalize D, Ribas DIR, Gallon D, Macedo
ACB, Gomes ARS. Alongamento muscular: suas implicações na performance e na prevenção de lesões. Fisioter Mov
2009;22:335-43.
DI Alencar TAM, Matias KFS. Princípios fisiológicos do aquecimento e alongamento muscular na atividade esportiva. Rev
Bras Med Esporte 2010;16:230-4.
Gama ZAS, Dantas AVR, Souza TO. Influência do intervalo
de tempo entre as sessões de alongamento no ganho de flexibilidade dos isquiotibiais. Rev Bras Med Esporte 2009;15:110-4.
Rosa AC, Montandon I. Efeitos do aquecimento sobre a amplitude de movimento: uma revisão critica. Rev Bras Ciênc
Mov 2006;14:103-10.
Tirloni AT, Belchior ACG, Carvalho PTC, Reis FA. Efeito de
diferentes tempos de alongamento na flexibilidade da musculatura posterior da coxa. Fisioter Pesqui 2008;15:62-70.
Davis DS, Ashby PE, McCale KL, McQuain JA, Wine JM. The
effectiveness of 3 stretching techniques on hamstring flexibility
using consistent stretching parameters. J Strength Cond Res
2005;19:27-32.
Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The effect of static stretch and
dynamic range of motion training on the flexibility of the hamstring muscles. J Orthop Sports Phys Ther 1998;27: 295-300.
Bandy WD, Irion JM. The effect of time on static stretch on the
flexibility of the hamstring muscles. Phys Ther 1994;74:845-50.
Condon SM, Hutton RS. Soleus muscle electromyographic
activity and ankle dorsiflexion range of motion during four
stretching procedures. Phys Ther 1987;67:24-30.
Godges JJ, MacRae PG, Engelke KA. Effects of exercise on hip
range of motion, trunk muscle performance, and gait economy.
Phys Ther 1993;73:468-77.
Li Y, McClure PW, Pratt N. The effect of hamstring muscle
stretching on standing posture and hip motions during forward
bending. Phys Ther 1996;76:836-45.
Tanigawa MC. Comparison of the hold-relax procedure and
passive mobilization on increasing muscle length. Phys Ther
1972;52:725-35.
Magnusson SP, McHugh M, Gleim G, Nicholas J. Tension
decline from passive static stretch. Med Sci Sports Exerc
1993;25:140.
McHugh M, Magnusson SP, Gleim G, Nicholas J. Viscoelastic
stress relaxation in human skeletal muscle. Med Sci Sports Exerc
1992;24:1375-82.
Taylor DC, Dalton JD, Seaber AV, Garret WE. Viscoeiastic
properties of muscle-tendon units: The biomechanical effects
of stretching. Am J Sports Med 1990;18:300-9.
Magnusson SP, Simonsen EB, Aagaard, P, Gleim G, McHugh
M, Kjaer M. Viscoelastic response to repeated static stretching
in human skeletal muscle. Scand J Med Sci Sport 1995;5:342-7.
Grandi L. Comparação de “Duas doses” ideais de alongamento.
Acta Fisiátrica 1998;5:154-8.
Achour Junior A. Exercícios de alongamento: anatomia e fisiologia. São Paulo: Manole; 2002.
Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The Effect of time and
frequency of static stretching on flexibility of the hamstring
muscles. Phys Ther 1997;77:1090-6.
40
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
23. Borms J, Van Roy P, Santens JP, Haentjeans A. Optimal duration of static stretching exercises for improvement of coxofemoral flexibility. J Sports Sci 1987;5:39-47.
24. Gama ZAS, Medeiros CAS, Dantas AVR, Souza TO. Influência
da frequência de alongamento utilizando facilitação neuromuscular proprioceptiva na flexibilidade dos músculos isquiotibiais.
Rev Bras Med Esporte 2007;13:33-8.
25. Araujo AGS, Maiochi AM. Comparação diferentes números
repetições no alongamento de isquitibiais. In: XVII Congresso
Brasileiro de Fisioterapia 2009, Rio de Janeiro. Fisioter Pesqui
2009;16.
26. Milazzotto MV, Corazzina LG, Liebano RE. Influência do
número de séries e tempo de alongamento estático sobre a flexibilidade dos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias.
Rev Bras Med Esporte 2009;15:420-3.
27. Azevedo DC, Carvalho SC, Leal EWPS, Damasceno SP, Ferreira
ML. Influencia da limitação da amplitude de movimento sobre
a melhora da flexibilidade do ombro após um treino de seis
semanas. Rev Bras Med Esporte 2008;14:119-21.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
41
Revisão
Manipulação da ordem dos exercícios
na prescrição do treinamento resistido
Manipulation of the order of exercises
in the prescription of resistance training
Ramires Alsamir Tibana*, Sandor Balsamo**
*Centro Universitário UNIEURO, Curso de educação física, Brasília/DF, GEPEEFS (Grupo de Estudo e Pesquisa em Exercício
de Força e Saúde), Brasília/DF, **Centro Universitário UNIEURO, Curso de educação física - Brasília/DF, GEPEEFS (Grupo de
Estudo e Pesquisa em Exercício de Força e Saúde), Brasília/DF, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade de Brasília, Brasília/DF
Resumo
Abstract
Esta revisão foi realizada a partir da seleção de 11 estudos,
que foram agrupados por similaridade de tratamento (estudos
com respostas agudas e crônicas). Os mesmos foram analisados
qualitativamente com descrições de doses e respostas. Nos estudos
que avaliaram as respostas agudas, os resultados indicaram que os
exercícios realizados ao final de cada sequência sempre haverá uma
diminuição no número de repetições, independente da ordem dos
exercícios. A maioria dos estudos foram realizados com indivíduos
jovens e treinados, em idosas limitações de estudos não permitem
estabelecer conclusões. Os estudos crônicos são escassos, apenas dois
realizados até o momento, e a resposta da força muscular parece
responder melhor nos grupamentos musculares treinados no início
da sessão, independente da ordem. Quanto à hipertrofia muscular,
esta parece não ser dependente da ordem dos exercícios. No entanto,
apenas um estudo foi realizado até o momento.
This review was carried out based on 11 selected studies, which
were grouped by treatment similarity (studies of acute and chronic
responses). They were analyzed qualitatively with dose-response
descriptions. Studies which evaluated acute responses showed that
exercises performed at the end of each sequence will always result
in a decrease in the number of repetitions, independent of the
exercise order. The majority of studies were conducted with young
and trained individuals; in elderly women limitations of studies do
not allow conclusions. Chronic studies are restricted (only two)
and the response of the muscle strength seems to respond better in
the muscle groups trained at the beginning of the training session
regardless of the order. As for muscle hypertrophy, it seems not to
be dependent on the order of the exercises. However, only one study
was carried out until now.
Palavras-chave: ordem dos exercícios, número de repetições,
força muscular, espessura muscular.
Key-words: exercise order, repetitions, muscle strength, muscle
thickness.
Recebido em 1 de setembro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Ramires Alsamir Tibana, Centro Universitário Euro-Americano, Laboratório de Avaliação do
Desempenho Físico e Saúde, Av. das Nações, Trecho 0, Conjunto 5, Brasília DF, Tel: (61) 9616-8340, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
42
Introdução
O treinamento resistido (TR) é geralmente prescrito para
promover o aumento na força absoluta, potência, hipertrofia
e resistência muscular. Dependendo dos objetivos e das necessidades individuais, diversas variáveis podem ser consideradas
no delineamento do TR, como o número de exercícios, séries,
intensidade de esforço, ordem dos exercícios, velocidade de
execução e intervalo de recuperação entre as séries [1].
A sequência tradicional dos exercícios determina que sejam
realizados os exercícios para grandes grupos musculares ou os
que envolvem várias articulações antes dos pequenos grupos
musculares. O raciocínio para essa sequência de exercícios é
que, ao realizar os exercícios que envolvem várias articulações
no início de uma sessão de treinamento, um estímulo superior
é fornecido aos músculos envolvidos, o qual acredita ser decorrente de uma maior resposta neural, metabólica, hormonal,
e circulatória [2-4].
Contudo, estudos têm demonstrado que exercícios posicionados ao final de uma sequência de exercícios resultam
em menores repetições quando comparados com os mesmos
exercícios realizados no início da sessão de treinamento, independente do grupamento muscular [5-8]. Além disso, Dias et
al. [9], em um primeiro estudo prospectivo de oito semanas
com 48 homens destreinados (18,7 ± 1,5 anos), compararam
aleatoriamente três grupos: o primeiro iniciava os exercícios
para grandes grupamentos e progredia para pequenos grupamentos musculares; o segundo realizava a série oposta; e o
terceiro serviu como grupo controle. E constataram que os
exercícios posicionados no início da sessão foram os que obtiveram maiores níveis de força muscular, quando comparado
aos exercícios posicionados ao final da sessão de treinamento,
independente do grupamento muscular. Entretanto, diferenças significativas entre os grupos de treinamento ocorreram
apenas para o grupo que iniciou a sessão de treino do pequeno
para o grande grupamento muscular, onde os exercícios de
extensão e flexão de cotovelo foram significativamente superiores ao grupo que iniciava a sessão dos exercícios multi para
os monoarticulares.
Com diversos conflitos na literatura acerca da manipulação
da ordem dos exercícios na prescrição do TR, esta revisão
teve como objetivo analisar e discutir a relação da ordem dos
exercícios no desempenho das séries subsequentes, na potência
e na força e hipertrofia muscular.
Métodos
Foi conduzida uma revisão com base nos seguintes critérios
de inclusão: a) estudos experimentais cujos tratamentos envolviam exclusivamente treinamento com pesos e ordem dos
exercícios; b) amostras compostas por indivíduos saudáveis
de ambos os sexos. Foram analisados estudos publicados e
encontrados através de busca eletrônica no Pubmed, Medline,
Scielo e SportDiscus. Na seleção inicial foram encontrados 15
estudos, dos quais 11 atenderam aos critérios para inclusão. A
partir de então, foram analisados separadamente os resultados
obtidos em estudos agudos e crônicos.
Resultados
Os resultados estão apresentados em respostas agudas do
treinamento (Tabela I) e respostas crônicas (Tabela II) de
acordo com as características gerais dos 11 estudos de acordo
com: amostra, protocolos, coletas e resultados.
Tabela I - Efeitos agudos de diferentes ordens dos exercícios.
Estudo
Sforzo e Touey
[2]
Amostra
17H –T (18 a 29
anos)
Protocolo
Coletas
4 séries, 8RM;
VT (kg) e
IR: 3 min. entre as séries;
IF
IR: 5min, entre os exercícios;
SEQ-GP = AG, CE, FP, SH, DS,
TP SEQ-PG = TP, DS, SH, FP, CE,
AG
Simão et al.
[5]
14H - T
4M - T
(20 anos)
3 séries, 10RM, IR. 2min;
SEQ-GP = SH, PF, DS, RB, TP.
SEQ-PG = TP, RB, DS, PF, SH.
Monteiro et al.
12M - T
[6]
(22 ± 2 anos)
Simão et al.
[7]
23M - T
(24 ± 4,5 anos)
Número de
repetições e
PSE (Borg CR
10)
3 séries, 10RM, IR. 3min; SEQNúmero de
GP = SH, DS, TP; SEQ-PG = TP, repetições e
DS, SH
PSE (Borg CR
10)
3 séries, 80% de 1RM, IR. 2min; Número de
SEQ-GP = SH, DES, TP, LP, CE,
repetições e
FP; SEQ-PG = FP, CE, LP, TP, DES, PSE (Borg CR
SH
10)
Resultados
VT: SEQ GP > PG
VT SEQ GP 1ª série: 5049 kg
VT SEQ PG 1ª série: 3674 kg
VT SEQ GP 4ª série: 1301 kg
VT SEQ PG 4ª série: 1137 kg
IF SEQ GP 1ª para 4ª série: – 44%
IF SEQ PG 1ª para 4ª série: – 31,9%
Em ambas as sequências uma queda similar no número de repetições nos exercícios
realizados ao final da série;
PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
Em ambas as sequências uma queda similar no número de repetições no exercícios
realizados ao final da série;
PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
Em ambas as sequências uma queda similar no número de repetições nos exercícios
realizados ao final da série para membros
inferiores e membros superiores;
PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Novaes et al.
[8]
13H - T (23 ± 2,5 3 séries, 8RM;
anos)
IR: 3 min. entre as séries;
IR: 5min, entre os exercícios;
SEQ-GP = SH, SI, SD, TP, TT;
Número de
43
SEQ-GP e SEQ-PG: NS
repetições
SEQ-PG = TT, TP, SD, SI, SH
Bellezza et al.
[11]
Farinatti et al.
[10]
Silva et al.
[14]
Spreuwenberg
et al.
[12]
18M – T
11H - T (20,9 ±
1,9
anos)
2 séries:
1ª série, 80% de 10RM, 2ª série
10RM; IR. 1min.
SEQ-GP = SM, LP, RE, CE, DS,
FP, RB, FPA, TP; SEQ-PG = TP,
FPA, RB, FP, DS, CE, RE, LP, SM
10M - T
3 séries, 10RM, IR. 3min;
(22 ± 2 anos)
SEQ-GP = SH, DS, TP;
SEQ-PG = TP, DS, SH
(a) 12 M jovens - T 3 séries, 10RM, IR. 3min;
(22 ± 2 anos);
SEQ-GP = SH, DS, TP;
(b) 8 M idosas- T
SEQ-PG = TP, DS, SH
(69 ± 7 anos)
Média no
número total
de repetições,
lactato sanguíneo e PSE
(Borg CR 10)
Número de
repetições
9H - T
(24 ± 4 Anos)
Número de
repetições,
potência muscular (Fitro
Dyne) e
AG 4 séries a 85% de 1RM;
demais exercícios 3 séries de 8 a
10RM, IR. 2 min. menos para a
última série do AR que foi de 4-5
min.
Protocolo A = Apenas AG;
Protocolo B = SH, AV, RE, RB, LT,
AB, AR e por fim o AG.
Média número total de
repetições em
3 séries e PSE
(Borg CR 10)
SEQ-PG média total de repetições > SEQGP (9,9 ± 0,3 vs 9,8 ± 0,1; p = 0,01);
Lactato: SEQ-GP = SEQ-PG;
PSE:SEQ-GP = SEQ-PG
Em ambas as sequências uma queda similar no número de repetições nos exercícios
realizados ao final da série
(a) Em ambas as sequências uma queda
similar no número total de repetições no
exercício realizado ao final da série;
Curiosamente no exercício TP quando
realizado primeiramente (SEQ-PG) ocorreu
um maior número total de repetições quando comparado ao exercício SH quando
realizado inicialmente (SEQ-PG);
SEQ-GP = SEQ-PG para o exercícios DP
(no meio da série);
PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
(b) SEQ-GP o número total de repetições
permaneceu estável ao final da série nos
exercícios DS e TP;
SEQ-PG: queda no número total de repetições apenas no exercício SH; (exercício
executado ao final da série);
PSE: SEQ-PG > SEQ-GP (p < 0,05)
(a,b) PSE: SEQ-GP idosas > jovens
Protocolo A: maior número de repetições;
Protocolo B: maior potência muscular;
PSE: Protocolo A = Protocolo B
PSE (Borg CR
10)
H = Homens; M = Mulheres; D = Destreinados; T = Treinados; VT = Volume de treinamento (carga x número de repetições) SEQ-GP = Seqüência
grande para pequenos grupamentos musculares; SEQ-PG = Seqüência pequenos para grandes grupamentos musculares; IF = fatiga em percentual da
1ª para 4ª série; PSE (Borg CR 10) = Percepção subjetiva de esforço pela escala de Borg; Int. = Intervalo; Vel. = Velocidade; CE = Cadeira extensora;
LP = Leg press; AG = Agachamento; RM = Repetição máxima; IR = Intervalo de recuperação; AG = Agachamento; AR = Arremesso; AB = Abdominal;
SH = Supino Horizontal; AV = Avanço; RE = Remada; RB = Rosca Bíceps; LT = Levantamento Terra; AB = Abdominal; NS = Sem diferença;
Respostas agudas em diferentes ordens dos exercícios
Em 2002, o Colégio Americano de Medicina do Esporte
[3] recomendou que para os ganhos ótimos na força muscular
os exercícios deveriam ser realizados primeiramente para os
grandes grupamentos musculares e em seguida os exercícios
para os pequenos grupamentos musculares. Esta recomendação
partiu apenas do estudo realizado por Sforzo e Touey [2], que
analisaram a manipulação da ordem do exercício no volume
de treino, utilizando-se de duas sessões de treinamento, sendo
que a primeira sequência consistia dos exercícios: agachamento,
cadeira extensora, cadeira flexora, supino, desenvolvimento
e extensão de cotovelo, e a segunda sequência foi o inverso
da primeira. Demonstraram que a taxa de fadiga e o volume
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
44
total de treino, para o supino e agachamento sofreram um
decréscimo substancialmente significativo, quando exercícios
uniarticulares foram precedidos de exercícios multi-articulares.
No entanto, os estudos de Simão et al., Monteiro et al.,
Simão et al., Novaes et al. e Farinatti et al. [5-8,10] examinaram
o número de repetições realizadas com a utilização de diferentes
ordens dos exercícios, durante uma sessão de treinamento, dividindo os grupos em ordem dos grandes para os pequenos e de
pequenos para os grandes grupamentos musculares, e demonstraram que independente da ordem dos exercícios o número de
repetições foi sempre menor nos exercícios posicionados no final
da sequência dos exercícios. Entretanto, o estudo realizado por
Bellezza et al. [11] apresentou resultado contraditório ao analisarem o efeito de diferentes ordens dos exercícios no número de
repetições, lactato sanguíneo e percepção subjetiva de esforço
(PSE), em que o número de repetições foi significativamente
superior quando eram realizados os exercícios de pequenos
para os grandes grupamentos musculares, já para o lactato e
a PSE não houve diferenças significativas entre as sequências.
Em relação à potência muscular, o único estudo realizado analisando a taxa de potência após diferentes ordens dos
exercícios (Tabela I) foi desenvolvido por Spreuwenberg et
al. [12] que demonstraram que a sequência dos exercícios
também é capaz de facilitar a potência de um exercício apesar
das reduções do trabalho total e do número de repetições
realizadas em uma série. Quando o exercício de agachamento
foi executado em primeiro lugar em uma sessão de exercícios,
um número maior de repetições pôde ser realizado com 85%
de 1RM (8,0 ± 1,9). Opostamente, quando o agachamento
foi feito no final de uma sessão de treinamento, um menor
número de repetições pôde ser realizado (5,4 ± 2,7) uma
diferença de 32%, no entanto, não foi significativamente
diferente. Mas, uma maior potência resultante (p < 0,01) foi
observada durante as repetições executadas.
Respostas crônicas em diferentes ordens dos
exercícios
Recentemente Dias et al. [9] em um primeiro estudo
prospectivo de oito semanas com 48 homens destreinados
(18,7 ± 1,5 anos) comparou aleatoriamente três grupos (tabela
II): o primeiro (G1) começava com exercícios para grandes
Tabela II - Efeitos crônicos de diferentes ordens dos exercícios.
Estudo
Dias et al. [9]
Simão et al. [13]
Amostra
G1 = 16H – D
(18,7 ± 1,5
anos);
G2 = 17H – D
(19,4 ± 1,4
anos);
GC = 15H - D
(18,8 ± 1,6
anos)
Protocolo
Estudo controlado randomizado
e prospectivo de 8 semanas, 3x
por semana:
3 séries, 8 a 12 RM, IR. 2min
entre as séries, 48 horas entre
as sessões de treino;
G1 = SEQ-GP:
SH, PF, DS, RB e TP;
G2 = SEQ-PG:
TP, RB, DS, PF, SH;
GC = Grupo controle
Estudo controlado randomizado
G1 = 9H – D
(29,9 ± 1,9
e prospectivo de 12 semanas 2x
anos);
G2 por semana:
Semana 1-4: 4 séries, 12 a 15
= 13H – D
(29,1 ± 2,9
repetições, IR. 1min;
anos);
GC = Semana 5 a 8: 3 séries 8 a 10
9H – D (25,9 ± repetições, IR. 2min;
3,6 anos)
Semana 9 a 12: 2 séries 3 a 5
repetições, IR. 3min, com pelo
menos 72h de intervalo entre as
sessões de treino;
G1 = SEQ-GP:
SH, PF, TP e RB, TP;
G2 = SEQ-PG:
RB, TP PF, SH;
GC = Grupo controle
Coletas
Pré e após 8 semanas: 1RM
Resultados
1RM: G1 e G2 aumentaram a força
no teste de 1RM após 8 semanas,
no entanto, apenas o G2 apresentou
diferença significativa em relação ao
GC e ao G1 no aumento da força
muscular no TP e RB
Pré e após 12
semanas: 1RM e
avaliação do volume
muscular do tríceps
e bíceps braquial
(ultrasom)
1RM: G1 e G2 > GC
(exceto a RB para o grupo G1);
Volume muscular tríceps braquial: G1
e G2 > GC;
Volume muscular bíceps braquial: G1
> GC
G = Grupo; GC = Grupo controle; IR = Intervalo de recuperação; SH = Supino horizontal; PF = Puxada pela frente; DS = Desenvolvimento; RB =
Rosca bíceps; TP = Tríceps; RM = Repetição máxima; SEQ-GP = Sequência do grande para o pequeno grupamento muscular; SEG-PG = Sequência do
pequeno para o grande grupamento muscular.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
grupamentos e progredia para pequenos grupamentos musculares; o segundo (G2) realizava a série oposta e o terceiro
(G3) serviu como grupo controle. Foi realizado o teste de
1RM como parâmetro para avaliar a força muscular nos
exercícios descritos na Tabela II. Os resultados mostraram que
para os grupos G1 e G2 houve melhora significativa da força
(p < 0,05) em relação do pré para o pós-teste e em relação
ao GC, porém contrariamente ao que era recomendado pela
literatura, o G2 foi o que obteve diferenças significativas (p
< 0,05) entre o grupo controle em todos os exercícios e o G1
nos exercícios de flexão e extensão de cotovelo. Outro dado
interessante do estudo foi que os exercícios posicionados no
início da sessão tiveram maiores ganhos de força em relação
aos exercícios posicionados no final. Com estes resultados
parece que, particularmente, no estágio inicial do treinamento
de força, homens jovens destreinados podem responder de
certa forma diferente ao que é realmente recomendando
atualmente na literatura.
Posteriormente, Simão et al. [13] analisaram durante
doze semanas 31 homens destreinados, os quais foram randomizados em 3 grupos: exercícios de grandes para pequenos
grupos musculares (GP); exercícios de pequenos para grandes
grupamentos musculares (PG) e grupo controle (GC). A
sequência dos exercícios realizados para o GP foi supino reto
(SR), puxada (PD), extensão de cotovelo (EC) e flexão de
cotovelo (FC). Já para o grupo PG a sequência foi a inversa
do grupo GP: FC, EC, PD e SR. Foram avaliadas a força
(teste de 1RM) em todos os exercícios e espessura muscular
(ultrassom) do tríceps e bíceps braquial. Após o período de
treinamento, todos os exercícios para ambos os grupos de
treinamento apresentaram ganhos significativos no teste de
1RM quando comparado ao grupo controle, exceto o exercício
de FC para o grupo GP. Já entre o pré e o pós-treinamento
todos os exercícios para ambos os grupos de treinamento
apresentaram ganhos de força com exceção dos exercícios de
FC para o grupo GP e SR para o grupo PG. Em relação à
espessura muscular do tríceps braquial, ambos os grupos de
treinamento apresentaram ganhos significativamente maiores
que o GC, contudo, para o pré e o pós-treinamento apenas o
grupo PG apresentou ganhos significativos, já em relação ao
bíceps braquial a única diferença foi entre o grupo GP e GC.
Os superiores ganhos de força muscular nos exercícios realizados no início de uma sessão de treinamento parecem estar
relacionados ao maior volume de treino, quando comparado
aos exercícios realizados ao final de uma sessão.
Conclusão
Por meio desta revisão, podemos concluir que em exercícios realizados ao final de cada sequência, sempre haverá uma
diminuição no número de repetições e força muscular, não
importando se o exercício é de pequeno ou grande grupamento muscular, no entanto, se o objetivo é potência muscular,
parece que os exercícios posicionados ao final da sequência
45
podem ser beneficiados. Em relação à espessura muscular
de pequenos grupamentos (tríceps e bíceps braquial) parece
não ser dependente da ordem dos exercícios. Portanto, se o
objetivo do treinamento é força muscular em determinado
grupamento, este deve ser realizado no início da sessão de
treinamento, independentemente se é ou não um grande
grupamento muscular.
Referências
1. Kraemer WJ, Ratamess NA. Fundamentals of resistance training: progression and exercise prescription. Med Sci Sports
Exerc 2004;36:674-88.
2. Sforzo GA, Touey PR. Manipulating exercise order affects muscular performance during a resistance exercise training session.
J Strength Cond Res 1996;10:20-4.
3. American College of Sports Medicine. Progression models in
resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc
2002;34:364-80.
4. Kraemer WJ, Fleck S. Optimizing strength training. Champaign: Human Kinetics; 2007.
5. Simão R, Farinatti, PTV, Polito MD, Maior AS, Fleck, SJ. Influence of exercise order on the number of repetitions performed
and perceived exertion during resistive exercises. J Strength
Cond Res 2005;19:152-6.
6. Monteiro W, Simão R, Farinatti PTV. Manipulação na ordem
dos exercícios e sua influência sobre número de repetições e
percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras
Med Esporte 2005;11:146-50.
7. Simão R, Farinatti PTV, Polito MD, Viveiros L, Fleck SJ. Influence of exercise order on the number of repetitions performed
and perceived exertion during resistance exercise in women. J
Strength Cond Res 2007;21:23-8.
8. Novaes J, Salles B, Novaes G, Monteiro M, Monteiro G,
Monteiro MD. Influência aguda da ordem dos exercícios resistidos em uma sessão de treinamento para peitorais e tríceps.
Motricidade 2007;3:38-45.
9. Dias I, Salles BF, Novaes J, Costa PB, Simão R. Influence of
exercise order on maximum strength in untrained young men.
J Sci Med Sport 2010;13:65-69.
10. Farinatti PTV, Simão R, Monteiro WD, Fleck SJ. Influence
of exercise order on oxygen uptake during strength training in
young women. J Strength Cond Res 2009;23:1037-44.
11. Bellezza, PA, Hall EE, Miller PC, Bixby WR. The influence
of exercise order on blood lactate, perceptual, and affective
responses. J Strength Cond Res 2009;23:203-8.
12. Spreuwenberg LP, Kraemer WJ, Spiering BA, Volek DL,
Hatfield R, Silvestre JL et al. Influence of exercise order in
a resistance-training exercise session. J Strength Cond Res
2006;20:141-4.
13. Simão R, Spineti J, Salles BF, Oliveira LF, Matta T, Miranda F,
Miranda H, Costa P. Influence of exercise order on maximum
strength and muscle thickness in untrained men. J Sports Sci
Med 2010;9:1-7.
14. Silva NSL, Monteiro WD, Farinatti PTV. Influência da ordem
dos exercícios sobre o número de repetições e percepção subjetiva do esforço em mulheres jovens e idosas. Rev Bras Med
Esporte 2009;15;219-23.
46
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Revisão
Riscos e benefícios do treinamento resistido
para adolescentes
Risks and benefits of resisted training in teenagers
Ana Carolina de Campos*, Luís Fernando da Silva*, Jean Flávio Alves**, Paulo Ferreira de Araújo, D.Sc.***,
Rita de Fátima da Silva, D.Sc.****
*Educação Física, Instituto Adventista de São Paulo (IASP), **Pós-Graduado em Exercício Físico Aplicado à Reabilitação Cardíaca
e a Grupos Especiais – UGF, ***Docente da Faculdade de Educação Física – UNICAMP, ****Docente da Faculdade de Educação
Física, Instituto Adventista de São Paulo - IASP
Resumo
Abstract
O treinamento resistido se fragmenta em vários aspectos positivos para os adolescentes que estão na faixa etária entre 12 a 20
anos de idade. Nessa fase o treinamento resistido não tem como
objetivo criar músculos volumosos e nem mesmo formar atletas
juvenis de fisiculturismo, e sim beneficiar através dos programas
de treinamento resistido a melhora do condicionamento físico e
do desempenho no desporto e, também, reduzir a probabilidade
das lesões que ocorrem durante a prática do treinamento. Assim, o
presente trabalho busca identificar, através de uma revisão literária,
quais são os possíveis riscos e benefícios da prática do treinamento
resistido efetuado por adolescentes em academias de ginástica analisando o desenvolvimento físico, mental e o impacto na qualidade
de vida de seus praticantes.
Resisted training is fragmented in several positive aspects to
the teenagers who are between 12 and 20 years old. In that phase,
resisted training does not aim to build bulky muscles or even to
form young bodybuilding athletes; instead, it aims to benefit the
improvement of physical conditioning and sports performance
through the programs of resisted training and also to reduce the
probability of lesions that occur during the training practice. Thus,
the present paper tries to identify the possible risks and benefits
of teenagers practicing resisted training at health clubs, analyzing
physical and mental development and the impact to the life quality
of its practitioners through a literary review.
Key-words: resisted training, teenagers, risks and benefits of
resisted training.
Palavras-chave: treinamento resistido, adolescentes, riscos e
benefícios do treinamento resistido.
Recebido em 14 de fevereiro de 2011; aceito em 23 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Jean Flávio Alves, Rua Goiás, 21, Jardim Nova Veneza, 13177-062 Sumaré SP, Tel: (19) 3832-1117,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
Percebe-se na atual sociedade moderna, uma busca frenética por padrões de beleza e autoimagem que são idealizadas e
reforçadas pela mídia que em grande parte é responsável pela
influência de seu desenvolvimento [1]. A insatisfação precoce
com a imagem corporal pode induzir o adolescente à submissão de atividades físicas com altas intensidades e grandes
volumes de treinamento, levando muitas vezes a sobrepor a
própria saúde em decorrência da valorização do corpo e da
imagem a qual idealizam e almejam atingir [2].
A adolescência é marcada por um período de desenvolvimento e mudanças tanto no peso corporal como na
estatura, que são fundamentadas individualmente por suas
bases genéticas e diferenciadas principalmente entre os sexos
[3]. Esse desenvolvimento não acontece de forma contínua,
os segmentos esqueléticos, por exemplo, possuem diferentes
épocas de desenvolvimento, sendo no período da puberdade
a de maior aceleração, como também do aumento dos níveis
de testosterona, da diferenciação antropométrica, das fibras
musculares lentas e rápidas, do volume muscular e da menarca
(início da função menstrual) [4].
A atividade física se desenvolvida nos princípios biológicos, proporciona aumento no desempenho motor e benefícios
psicológicos, devendo considerar sempre o nível maturacional
do adolescente [5]. É de suma importância estimular a prática de atividade física de forma regular durante toda a vida,
porém, visando sempre à saúde e o bem estar.
Durante muitos anos, o treinamento de força para adolescentes era tido como algo prejudicial a essa faixa etária,
descrevendo que poderia atrapalhar o desenvolvimento físico
e o crescimento, além de proporcionar uma grande probabilidade de lesões. A maioria dos praticantes de treinamento
de força eram homens maduros que pretendiam esculpir seus
corpos tanto para a estética como para competições como o
fisiculturismo [6].
O treinamento resistido tornou-se uma das formas mais
conhecidas de exercício tanto para o condicionamento de
atletas como para melhorar a forma física de não atletas,
sendo o método disponível mais efetivo para se manter e aumentar a capacidade de força e de resistência muscular, além
de promover benefícios substanciais em fatores relacionados
à saúde [7-9].
De acordo com Carnaval [10], o treinamento resistido,
além de apresentar finalidades terapêuticas, profiláticas, psicológicas e específicas, apresenta ainda características estéticas,
uma vez que pode modificar a massa corporal, objetivando
formas corporais desejáveis a quem pratica. Essa atividade
quando voltada para o desenvolvimento das funções musculares pode ser imposta através de pesos livres, elásticos, máquinas
específicas ou até mesmo com a própria massa corporal através
da aplicação de sobrecargas [11].
A Academia Americana de Pediatria [12] admite a implantação de programas de treinamento para crianças e ado-
47
lescentes, porém sugere que é necessário evitar treinamentos
extenuantes até que se atinja o estado de maturidade nível
V proposto por Marshall e Tanner [13] que tem a finalidade
de evitar possíveis lesões nas placas epifisárias antes do amadurecimento fisiológico.
Crescimento e maturação
Crescimento e maturação: a transição entre a criança e
o adolescente
O crescimento maturacional é dividido em duas fases,
infância e adolescência podendo essa transição da infância
para a adolescência ser afetada no início da maturação sexual pela ação biológica (genótipo), como pela ação cultural
(fenótipo) no final da adolescência, que se propaga e altera
constantemente através dos veículos de comunicação [3].
Infância
A infância é dividida em dois períodos: período inicial
entre 2 a 6 anos de idade, e período posterior, entre 6 a 10
anos. No período da infância, o aumento da altura e do peso
não é tão acelerado, e se observada entre os sexos, as diferenças
são mínimas, o desenvolvimento ósseo por sua vez é dinâmico,
e o sistema esquelético particularmente é vulnerável à má
nutrição, à fadiga e à doença.
Nesse período, até o aparecimento do período pré-púbere,
há pouca diferença no físico e no peso exibidos, portanto,
ambos (meninos e meninas) devem ser de forma geral capazes
de participarem de atividades juntos. A educação infantil é
um período de aptidão em que se promove a transição gradual
do mundo de brincadeiras para o mundo dos conceitos e da
lógica dos adultos [3].
Adolescência
Na adolescência ocorrem alterações significativas que
podem ser influenciadas tanto pelo genótipo (potencial de
crescimento) quanto pelo fenótipo (condições ambientais)
que podem variar consideravelmente de indivíduo para
indivíduo [3].
Meneses, Ocampos e Toledo [14] descrevem a sequência
maturacional para o período da adolescência, caracterizando
o aparecimento de pelos, formação de genitália, produção de
esperma, de óvulos, agravamento da voz e o aparecimento de
acne mapeada por Tanner em 1962 [13]. (Tabela I).
Tabela I - Sequência maturacional completa na adolescência.
Idade de início
aproximada
9 – 10
Masculino
Primeiro desenvolvimento testicular
Feminino
Início do surto de
crescimento
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
48
10 - 11
11 – 12
12 - 13
13 – 14
14 – 15
15 - 16
16 – 17
18 - 19
Intumescimento dos
mamilos
Intumescimento das
Início do surto de
mamas
crescimento
Início do crescimento
dos pêlos pubianos
Crescimento da
genitália
Início do crescimento Auge do surto de
dos pêlos pubianos
crescimento
Formação de pelos
nas axilas Menarca
Auge do surto de
crescimento do pênis Produção madura de
e dos testículos
óvulos
Formação de pelos
(fim da puberdade)
nas axilas
Agravamento da voz Desenvolvimento
Produção madura de maduro dos pelos
esperma
pubianos e dos seios,
(fim da puberdade)
acne.
Pelos faciais
Peêlos corporais
Desenvolvimento
Fim do crescimento do
maduro dos pêlos
esqueleto
pubianos
Fim do crescimento
do esqueleto
Fonte:Adaptado de Tanner J.M. Growth at adolescence. 2 ed. Oxford:
psicológico e que, necessariamente, tem controle genético e
ambiental.
O indicador mais comum usado em estudos de maturação
somática longitudinais com adolescentes é a idade do pico de
velocidade da estatura, amplamente difundida como estirão
de crescimento, ocorrendo, nesta fase, um enfraquecimento
relativo dos ossos somado ao acelerado crescimento dos músculos, o que geralmente causa desequilíbrio entre os músculos
flexores e extensores, o que propicia um importante fator de
risco para lesões através da ação da contração das unidades
músculo – tendão [16].
Outra forma utilizada na determinação da maturação
biológica é através de métodos observacionais propostos por
Tanner [13], que visam uma análise através do crescimento
de pelos pubianos (Tabela II).
Tabela II - Protocolo de Marshall e Tanner quanto à análise de
pelos pubianos.
Estágio I
Estágio II
Estágio III
Blackwell Scientific Publications 1962.
A puberdade é a fase que mais apresenta modificações, e
as principais alterações decorrentes é a maturação biológica,
a influência hormonal, o crescimento ósseo e o crescimento
dos órgãos.
Maturação biológica
Na adolescência, o crescimento e a maturação biológica
não ocorrem necessariamente em sincronia com a idade cronológica, podendo variar de indivíduo para indivíduo, sendo
em alguns de forma mais precoce e em outros de forma mais
lenta. Vários estudos relatam as variações da idade biológica
ou do nível de maturação biológica dentro de um grupo de
adolescentes do mesmo sexo e da mesma idade cronológica
[3,15].
A avaliação maturacional é um meio de determinar até
que ponto o indivíduo progrediu em relação à sua maturação
física, sendo esta avaliação de fundamental importância para
se determinar o nível de amadurecimento biológico, o qual
permitirá uma melhor classificação do diagnóstico, da prescrição e do prognóstico do indivíduo avaliado.
A maturação biológica é o processo que leva a um completo estado de desenvolvimento morfológico, fisiológico e
Estágio IV
Estágio V
Pré-Púbere
Não há pelos púbicos verdadeiros. Pode-se
encontrar uma fina penugem sobre o púbis,
semelhante a de outras partes do abdômen.
PUBERE
Crescimento esparso de pelos levemente pigmentados, geralmente lisos ou levemente encaracolados; começam, na maioria, ao lado da base do
pênis.
O pelo espalha-se pela sínfise púbica e é
consideravelmente mais escuro mais grosso e,
geralmente, mais encaracolado.
O pelo já está com características adultas, mas
cobre uma área consideravelmente menor que
na maioria dos adultos. O pelo não atinge a face
medial das coxas.
PÓS-PUBERE
O pelo está distribuído em um triângulo invertido,
como na mulher. Atinge a face medial das coxas,
mas não a linha alba ou qualquer outro local
acima da base do triângulo.
Fonte:Adaptado de Tanner J.M. Growth at adolescence. 2 ed. Oxford:
Blackwell Scientific Publications 1962.
Nas meninas, o crescimento dos seios assinala o primeiro
sinal visível da jornada em direção à maturidade sexual. Os
pelos pubianos são usualmente o segundo sinal de progresso
em direção à maturidade sexual. As alterações na genitália
feminina acontecem usualmente na terceira fase no progresso
em direção à maturidade reprodutiva. Os órgãos sexuais internos femininos também passam por consideráveis alterações:
o útero e os ovários aumentam de peso e a menarca ocorre,
após o pico do surto de crescimento, cerca de dois anos após
o início do desenvolvimento dos seios, mas não assinala o
início da maturidade reprodutiva, que de forma geral, em
aproximadamente um ano e meio, pode passar do primeiro
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
ciclo menstrual a estar fisiologicamente capaz de conceber
uma criança, período esse conhecido como esterilidade relativa
da puberdade [3,17].
Nos meninos, a puberdade inicia-se com o desenvolvimento dos testículos, glândulas reprodutivas masculinas,
que produzem o esperma e os hormônios sexuais masculinos.
Esse aumento no comportamento sexual vincula-se a níveis
crescentes de testosterona. O crescimento de pelos pubianos
começa de forma precoce por volta de 10 anos de idade ou
mais tardiamente, aos 15 anos de idade, podendo também
haver desenvolvimento testicular sem a presença de pelos
pubianos. A genitália externa masculina, o pênis e o escroto
apresentam poucas alterações durante a infância, iniciando
seu desenvolvimento em aproximadamente um ano após o
início do crescimento testicular e do surgimento dos pelos
pubianos, pelos axilares, faciais e o agravamento da voz,
que estão vinculados ao progresso gradativo da maturidade
reprodutiva [3,18].
Crescimento na puberdade
Influência hormonal
Durante a adolescência, há um aumento na produção de
testosterona nos garotos que resulta em um aumento marcante
na massa muscular, ao passo que nas garotas, há um aumento
na produção do estrogênio, que proporciona aumento no
depósito de gordura corporal, desenvolvimento dos seios e
alargamento dos quadris [9].
Crescimento ósseo
O esqueleto é um indicador ideal de maturação, porque
seu desenvolvimento abrange todo o período de crescimento
podendo ser monitorado por radiografias. Cada osso possui
uma diáfise (extensão óssea entre as epífises) e uma epífise
(extremidades do osso), que são separadas pela placa de crescimento que é formada por cartilagem. Todos os ossos sejam
eles grandes ou pequenos, crescem em seu comprimento
pela proliferação de células cartilaginosas situadas nessas
placas [16].
A cartilagem de crescimento está localizada em três regiões sendo uma na placa epifisária ou placa de crescimento
(situadas nas extremidades das articulações); outra na epífise
ou superfície articular (uma cartilagem que atua como um
amortecedor articular) e outra na inserção apofisiária ou
tendão de inserção (que assegura a conexão sólida do osso
com o tendão), devido às mudanças hormonais. Estas placas
se solidificam após a puberdade [7].
Crescimento de órgãos
O crescimento do coração e dos pulmões é bastante significativo na adolescência, fator básico na capacidade funcional.
49
O coração chega a aumentar cerca de 50% em seu tamanho
quase dobrando o seu peso [15], e os pulmões têm um
crescimento paralelo ao do coração [3]. Com o aumento do
tamanho do coração e dos pulmões, fica marcado o aumento
da capacidade cardiorrespiratória na adolescência.
Fatores psicológicos da puberdade
As alterações físicas e o aparecimento das características
sexuais secundárias são causas do aumento do interesse do
indivíduo por seu próprio corpo e do nível de autopercepção.
Essas rápidas alterações que estão ocorrendo diante de seus
olhos, somado as constantes alterações sociais, o tornam
bastante vulnerável, podendo motivar, inibir ou ainda desencadear comportamentos comprometedores a saúde [3,19-21].
Treinamento resistido
O tema treinamento resistido para adolescentes vem sendo
discutido desde a década 1950, porém, somente por volta
da década de 80 é que as publicações científicas referente
ao assunto começaram a ganhar força tornando-se uma das
formas mais efetiva de exercício para se manter e aumentar a
capacidade de força, resistência muscular e o condicionamento
físico de atletas e não atletas, além de promover benefícios
substanciais em fatores relacionados à saúde [7-9,22].
O treinamento resistido, além de apresentar finalidades
terapêuticas, profiláticas, psicológicas e específicas, apresenta
ainda características estéticas, uma vez que pode modificar
a massa corporal, objetivando formas corporais desejáveis a
quem pratica. Essa atividade quando voltada para o desenvolvimento das funções musculares pode ser imposta através
de pesos livres, elásticos, máquinas específicas ou até mesmo
com a própria massa corporal através da aplicação de sobrecargas [10,11].
O número crescente de academias, de escolas e de universidades com esses recursos vem sendo amplamente popularizado
entre as pessoas de ambos os sexos, pois esse recurso reproduz
alguns benefícios, tais como aumento de força, aumento de
tamanho dos músculos, melhor desempenho esportivo e
diminuição de gordura corporal [6,7].
O treinamento de força, também conhecido como treinamento com pesos ou treinamento com cargas, na maioria
das vezes é desencorajado para o público jovem, devido ao
seu potencial de risco nas placas epifisárias que ainda não tem
ossificação suficiente, mesmo não havendo relatos em estudos
de fratura da placa epifisária. Segundo o estudo de Greco
[23], a literatura sugere que fraturas na placa epifisária podem
ocorrer com mais frequência em púberes e pós-púberes do
que em pré-púberes, em consequência de, na fase pré-púbere,
as placas estarem mais resistentes ao estresse de cisalhamento
e não estarem em forte influência da atividade hormonal
como nas outras fases, e apesar de haver muitos benefícios
em decorrência do treinamento de força, não há nenhuma
50
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
diretriz estabelecida para treinamento de força no período
da juventude [7,9].
Benefícios do treinamento resistido na adolescência
o ganho da massa óssea. Segundo a literatura, 90% de seu
desenvolvimento é maturado até os 20 anos de idade, sendo
um quarto desse percentual atingido durante os dois anos de
pico da aceleração do crescimento [27].
Riscos do treinamento resistido na adolescência
Diversos são os benefícios atualmente apontados na literatura que podem ser obtidos com o treinamento com pesos
na adolescência. Entidades norte-americanas de alto renome
e prestígio como The American College of Sports Medicine,
American Academy of Pediatrics, American Orthopaedic Society
for Sports Medicine e o National Strength and Conditioning
Research aprovam e prescrevem o exercício resistido para
adolescentes.
Um programa bem elaborado, adequadamente supervisionado, com ênfase à boa técnica de execução dos movimentos
torna a sua realização quase que totalmente isenta de riscos
[25].
Esse método de treinamento exige uma contração muscular que promove um aumento da atividade osteoblástica na
região óssea, próxima aos locais onde os músculos se inserem
gerando um aumento da mineração óssea. Esse mecanismo
de carga imposto pelo exercício aumenta a densidade óssea,
fortalece os tendões, ligamentos e articulações, gerando um
aumento na estabilidade articular e resistência às sobrecargas,
o que contribui para a prevenção e redução dos números e ou
da gravidade de lesões musculares em atletas jovens independentemente do sexo e da idade de quem os pratica [25,26].
Os benefícios do treinamento resistido são evidentes nos
mais variados órgãos e sistemas: cardiovascular (aumento do
consumo de oxigênio, manutenção de boa frequência cardíaca
e volume de ejeção), respiratório (aumento dos parâmetros
ventilatórios funcionais), muscular (aumento de massa, força
e resistência), esquelético (aumento do conteúdo de cálcio e
mineralização óssea), cartilaginoso (aumento da espessura
da cartilagem, com maior proteção articular) e endócrino
(aumento da sensibilidade insulínica, melhora do perfil
lipídico) [27].
O treinamento resistido praticado em intensidade moderada promove aumento dos níveis circulantes do hormônio
de crescimento, somatotrofina ou GH e do fator de crescimento semelhante à insulina também conhecidos como
somatomedinas ou IGF-1, por meio do estímulo aferente
direto do músculo para a adenohipófise, além do estímulo
por catecolaminas, lactato, óxido nítrico e mudanças no balanço ácido-básico. Esse efeito é, portanto, benéfico para o
crescimento linear dos indivíduos pré-púberes [28].
De acordo com o estudo de Nascimento, Glaner e Paccini [29], o exercício físico se destaca por ser o único meio
de intervenção, que pode aumentar potencialmente a força
muscular e a massa óssea. Torna-se ainda mais efetivo quando
realizado próximo ao pico máximo da velocidade de crescimento, ou seja, no início da puberdade se associado a esse
método de treinamento resistido, potencializa principalmente
Especificamente no que se refere ao trabalho de força com
adolescentes, há alguns conceitos culturais equivocados de que
este tende a acarretar uma série de lesões ósteo-mio-articulares,
que pode favorecer a inibição do crescimento, prejudicando
a estatura final [30].
Muitas das lesões são provocadas por negligências por
parte de seus praticantes e orientadores que deixam de observar, por exemplo, se o calçado é adequado para a atividade
proposta, se a execução mecânica do exercício está correta,
se a intensidade ou a carga do exercício não está muito alta
podendo comprometer a segurança [30], por exemplo, das
lombalgias, uma das lesões mais comum em adolescentes
e pré-púberes que realizam treinamento de força, devido à
execução incorreta do exercício e das cargas elevadas que se
comprometem a executar [7].
Weineck [6] alerta aos praticantes sobre a importância
do uso correto da técnica para o levantamento de uma carga,
especialmente durante a fase da juventude, já que pode ocasionar possíveis traumas lombares devido à forma incorreta
da execução dos exercícios.
Um programa de treinamento resistido para adolescentes
não deve concentrar cargas máximas durante seu período
de estirão de crescimento, pois esta é uma fase vulnerável
e propícia às lesões. Nessa fase, pode ocorrer um acelerado
aumento na massa muscular proporcionado pela liberação do
hormônio de crescimento (GH), o qual contribui para uma
série de alterações morfológicas e funcionais que alteram a
capacidade dos tecidos como tendões e ligamentos por suportar grandes cargas mecânicas [7,23].
Considerações de um programa para adolescentes
O treinamento resistido pode ser desenvolvido em adolescentes desde que o programa seja organizado e sistematizado
para contribuir no desenvolvimento harmonioso dos movimentos e da parte estrutural de cada indivíduo. Deve-se ter
muito cuidado na execução dos movimentos e na sobrecarga
utilizada para cada exercício proposto, devendo o adolescente
ser assistido por profissionais capacitados, e o programa básico
não precisa exceder a 60 minutos de atividade, e ser aplicado
mais que 3 vezes na semana [23].
O treinamento com sobrecarga produz um processo de
melhor adaptação neuromuscular no adolescente, levando-o
a um aumento significativo da força muscular e sem grandes
alterações nas suas medidas antropométricas.
O treinamento resistido é mais uma opção de atividade
física para adolescentes, assim como esportes, lutas, jogos,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
entre outros. O professor, assim como em outras áreas da
Educação Física, deverá estar preparado para a atividade
que irá conduzir, planejando o treinamento e respeitando a
individualidade de cada adolescente (Tabela III).
Tabela III - Sugestões para o treinamento resistido para adolescentes.
Ter bem claro os objetivos de realização de exercícios com peso, tais
como, desempenho físico, força, hipertrofia e saúde.
Os equipamentos devem ser adequados ao tamanho dos adolescentes biomecanicamente, caso não seja possível a utilização de pesos
livres (halteres e barras), o próprio peso corporal pode ser uma boa
opção.
Periodização de microciclos, macrociclos e mesociclos.
Observar o grau de stress no adolescente, evitando overtraining.
As cargas iniciais devem ser sempre leves, permitindo uma boa
adaptação.
Aumentar a carga sempre de forma progressiva (5 a 10%).
Dependendo das necessidades individuais e objetivas, devem ser
priorizadas de uma a três séries de 6 a 15 repetições com preferência
para exercícios multiarticulares.
A frequência deve ser de 2 a 3 vezes por semana com intervalos
adequados para a recuperação de estímulos causados (traumas) pelo
treinamento.
Realizar avaliações posturais e maturacionais, para ver que estado se
encontra no protocolo de Tanner.
A ingestão de líquido deve ser constante a cada 15 – 20 minutos.
A alimentação adequada é fundamental para melhora da saúde na
qualidade de vida e performance.
Levar mais em conta a maturação biológica do que a cronológica.
Fonte: Adaptado de American Academy of Pediatrics Council on Sports
Medicine, (2008) e Fleck e Kraemer (1999).
Conclusão
A participação regular de adolescentes em programas de
treinamento resulta em diversos benefícios relacionados à
saúde e ao desempenho, bem como melhora nas habilidades
motoras e redução nas lesões propiciadas em atividades esportivas e recreativas.
Recentemente, o treinamento resistido voltado ao público
adolescente tem aumentado, e com isso recebido muita atenção dos profissionais da área da saúde. Os treinamentos devem
ser projetados de acordo com o sexo, faixa etária, composição
corporal e desempenho muscular de cada indivíduo.
O treinamento resistido para adolescentes visa em
conjunto com o fortalecimento da musculatura postural
a prevenção do desequilíbrio dos músculos, favorecendo o
desenvolvimento geral e harmônico como um todo, além
de poder propiciar uma melhor desenvoltura da capacidade
coordenativa e uma melhor inervação intramuscular a um
número maior de fibras.
Atualmente existem muitos estudos que valorizam o
treinamento de força para esta faixa etária, deixando para
trás o conceito de que a musculação não proporciona benefícios ao adolescente. Este método de treinamento além de
51
proporcionar ao orientador um total controle em relação à
carga, pausa, amplitude, velocidade de execução, controle de
execução mecânica, entre outros, também contém estímulos
para o alongamento e para o encurtamento da musculatura
que em determinados períodos é de suma importância para
o adolescente.
Portanto, a musculação entra em cena com segurança e
eficácia comprovada nessa população, para que se diminuam
os índices de sedentarismo e sua forma isolada de atividade
física ou como parte de um programa de condicionamento
físico. As cargas máximas só devem ser realizadas pelos adolescentes que já tenham atingido o estágio puberal maturacional
no nível V da escala de Tanner.
Referências
1. Tavares MCGCF. Imagem Corporal – conceito e desenvolvimento. São Paulo: Manole; 2003.
2. Silva CC, Teixeira AS, Goldberg TBL. O esporte e suas implicações na saúde óssea de atletas adolescentes. Rev Bras Med
Esporte 2003;9(6):426-32.
3. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento
motor - bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3ª ed. São Paulo:
Phorte; 2005.
4. Ramos AT. Criança, adolescente e a atividade física. Revista
Técnica de Educação Física e Desportos 1998;17(94):1-2.
5. Oliveira AR. Fatores influenciadores na determinação do nível
de aptidão física em crianças. Synopsis 1996;7:48-62.
6. Weineck J. Atividade física e esporte para quê? São Paulo:
Manole; 2003.
7. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força
muscular. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999.
8. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24.
9. Simão R. Fisiologia e prescrição de exercícios para grupos
especiais. 2ª ed. Rio de Janeiro: Phorte; 2007.
10. Carnaval PE. Medidas e avaliação em ciência do esporte. 5ª ed.
Rio de Janeiro: Sprint; 2002.
11. Novaes JS. Ciência do treinamento dos exercícios resistidos.
São Paulo: Phorte; 2008.
12. American Academy of Pediatrics. Committee on Sports Medicine and Fitness: Intensive Training and Sports Specialization
in Young Athletes. Pediatrics 2000;106(1):154-7.
13. Tanner JM. Growth at adolescence. 2a ed. Oxford: Blackwell;
1962.
14. Meneses C, Ocampos DL, Toledo TB. Estagiamento de Tanner:
um estudo de confiabilidade entre o referido e o observado.
Revista Adolescência e Saúde 2008;5(3):54-6.
15. Malina R, Bouchard C. Growth, maturation and physical
activity. Champaign: Human Kinetics; 1991.
16. Malina R, Bouchard C. Atividade física do atleta jovem: do
crescimento à maturação. São Paulo: Roca; 2002.
17. Katchadourian H. The biology of adolescence. San Francisco:
WH Freeman; 1977.
18. Biro FM, Lucky AW, Huster GA, Morrison JA. Pubertal staging
in boys. J Pediatr 1995;127:100-2.
19. Tritchler K. Medida e avaliação em educação física e esportes
de Barrow & Mecgee. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2003. 829p.
52
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
20. Silva CC, Goldberg TBL, Teixeira AS, Marques I. O exercício
físico potencializa ou compromete o crescimento longitudinal
de crianças e adolescentes? Mito ou verdade? Rev Bras Med
Esporte 2004;10(6):520-28.
21. Alves JF. A influência do esporte na construção da imagem
corporal na adolescência. Movimento e Percepção 2010;11(16).
22. Vrijens J. Muscle strength development in pre-and postpubescent age. Med Sport 1978;11:152-58.
23. Greco G. Treinamento de força, crianças e adolescentes. Rev
Digital EFDeportes 2010;15:149.
24. American Academy of Pediatrics. Strength training by children
and adolescents. Council on Sports Medicine and Fitness.
Pediatrics 2008;121(4):835-40.
25. Faigenbaum A, Miliken LA, Westcott WL. Maximal strength
test in healthy children. J Strength Cond Res 2003;17:162-6.
26. Silva CC, Goldberg TBL, Teixeira AS. O esporte e suas implicações na saúde óssea de atletas adolescentes. Rev Bras Med
Esporte 2003;9(6):426-38.
27. Broderick CR, Winter GJ, Allan RM. Sport for special groups.
Med J Aust 2006;184(6):297-302.
28. Godfrey RJ, Madgwick Z, Whyte GP. The exercise-induced growth hormone response in athletes. Sports Med 2003;33(8):599613.
29. Nascimento TBR, Glaner MF, Paccini MK. Influência da
composição corporal e da idade sobre a densidade óssea em
relação aos níveis de atividade física. Arq Bras Endocrinol Metab
2009;53(4):440-5.
30. Braga F, Generosi RA, Garlipp DC, Gaya A. Benefícios do
treinamento de força para crianças e adolescentes escolares. Rev
Digital EFDeportes 2008;13(119).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
53
Revisão
Síndrome metabólica: aspectos clínicos e tratamento
Metabolic syndrome: clinical aspects and treatment
Izulpério Cardoso Olevate*, Marcus Vinicius de Mello Pinto, D.Sc.**, Mário Antônio Baraúna, D.Sc.**, Lamara Laguardia
Valente Rocha, D.Sc.***
*Médico, Aluno do Programa de Mestrado Ciências da Reabilitação do Centro Universitário de Caratinga/MG, **Professores e
Pesquisadores do Núcleo de Tratamento das Desordens Craniofaciais e Reparo Tecidual da Universidade Católica de Petrópolis/RJ,
***Professora e Pesquisadora do Departamento de Ciências Biológicas – Centro Universitário de Caratinga UNEC, Caratinga/MG
Resumo
Abstract
A síndrome metabólica (SM) é um transtorno complexo, usualmente relacionado à deposição central de gordura e à resistência
à insulina. No entanto, a alimentação adequada, associada à modificação no estilo de vida, tais como prática regular de atividade
física, contribui para um controle da doença, prevenindo complicações e aumentando a qualidade de vida. Tem sido demonstrado
que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos benéficos
na prevenção e tratamento da hipertensão arterial, resistência à
insulina, diabetes, dislipidemia e obesidade. Os estudos sobre mecanismos fisiopatológicos e tratamentos, assim como as tentativas
de definição da síndrome metabólica, são recentes e ainda existem
muitas dúvidas e indefinições sobre o assunto. O objetivo desta
revisão sistemática foi analisar a literatura dos últimos anos acerca
da prevalência, fisiopatologia, fatores de risco e tratamento referentes
à síndrome metabólica.
Metabolic syndrome (MS) is a complex disorder usually
related to abdominal obesity and insulin resistance. However,
Palavras-chave: síndrome metabólica, fatores de riscos,
fisiopatologia, tratamento.
proper nutrition, associated with a change in lifestyle such as regular
physical activity helps to control the disease, preventing complications and improving quality of life. It has been shown that regular
physical exercise has beneficial effects on prevention and treatment of hypertension, insulin resistance, diabetes, dyslipidemia
and obesity. Studies on pathophysiology and treatment, as well
as attempts to define the metabolic syndrome, are recent and
there are still many doubts and uncertainties about the subject.
The objective of this systematic review was to analyze the recent
literature on the prevalence, pathophysiology, risk factors and
treatment related to the metabolic syndrome.
Key-words: metabolic syndrome, risk factors, pathophysiology,
treatment.
Recebido em 21 de janeiro de 2011; aceito em 11 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius de Mello Pinto, Rua Benjamin Constant, 213, 25610-130 Petrópolis RJ, E-mail:
[email protected]
54
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
Introdução
A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno representado por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares,
tais como hipertensão arterial, deposição central de gordura,
dislipidemia (LDL-colesterol, triglicérides elevados e HDLcolesterol reduzido) e resistência à insulina. Essa síndrome foi
identificada pela primeira vez em 1922 e tem sido descrita
por diferentes terminologias como quarteto mortal, síndrome
X, síndrome plurimetabólica e síndrome de resistência à insulina
[1].
Os critérios diagnósticos da SM mais utilizados são os
da Organização Mundial da Saúde (OMS) e os do National
Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III
(NCEP-ATP III), e algumas diferenças entre eles são observadas. A definição da OMS requer a avaliação da resistência à
insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose. Por outro
lado, a definição da NCEP-ATP III não exige a mensuração
de resistência à insulina, facilitando sua utilização em estudos
epidemiológicos [1-4].
Segundo o NCEP-ATP III, a síndrome metabólica representa a combinação de três ou mais dos seguintes componentes: deposição central de gordura, triglicérides elevados, baixos
níveis de HDL colesterol, pressão arterial elevada e glicemia
em jejum elevada. Pela simplicidade e praticidade é a definição
recomendada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia [1-4].
O rápido crescimento da ocorrência dessa condição nas
últimas décadas, bem como de diversas doenças crônicas, tem
sido atribuído principalmente às mudanças da composição demográfica, com ênfase para a urbanização e o envelhecimento
das populações bem como às alterações do estilo de vida com
hábitos alimentares menos adequados e sedentarismo [5].
Os estudos sobre mecanismos fisiopatológicos e riscos
cardiovasculares, assim como as tentativas de definição da
SM, são recentes e ainda existem muitas dúvidas e indefinições
sobre o assunto. A síndrome metabólica ainda carece de uma
definição bem estabelecida, mas há uma indicação consensual de que o aumento da pressão arterial, os distúrbios do
metabolismo dos glicídios e lipídios e o excesso de peso estão
de forma definitiva associados ao aumento da morbidade e
mortalidade cardiovascular, fato observado não só nos países
desenvolvidos, mas também nos países em desenvolvimento
como o Brasil. No Brasil há poucos estudos sobre a prevalência
da síndrome [5].
Sendo assim, o objetivo desta revisão sistemática é revisar
e analisar a literatura dos últimos anos acerca da prevalência,
fisiopatologia, fatores de risco e tratamento referentes à síndrome metabólica.
Síndrome metabólica
A Organização Mundial de Saúde (OMS) descreve a
síndrome metabólica como um transtorno complexo, representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular,
usualmente, relacionados à deposição central de gordura e à
resistência à insulina.
Independentemente do grupo ou entidade que define
SM, os fatores de risco, ou seja, os componentes adotados
para sua definição são praticamente os mesmos. Estão incluídos os seguintes componentes: obesidade – especialmente a
obesidade abdominal –, níveis pressóricos elevados, distúrbios
no metabolismo da glicose e hipertrigliceridemia e/ou baixos
níveis de HDL colesterol (HDL-c). De acordo com a OMS, a
presença de resistência à insulina é necessária para o diagnóstico de SM, mais a presença de dois ou mais componentes.
Já para o National Cholesterol Education Program – Adult
Treatment Panel III, o diagnóstico SM é firmado pela presença
de três dentre quaisquer dos cinco componentes adotados. Já
a obesidade abdominal, associada à presença de dois ou mais
componentes, é obrigatória para firmar o diagnóstico de SM
de acordo com o International Diabetes Federation [1-4].
A Organização Mundial de Saúde (OMS) adaptaram os
critérios do NCEP-ATP III e propuseram como definição de
síndrome metabólica em populações pediátricas a presença de
três ou mais dos seguintes critérios: obesidade abdominal >
percentil 80, glicemia de jejum > 110 mg/dL, Triglicerídeos
> 100 mg/dL, HDL-colesterol < 40mg/dL e pressão arterial
> percentil 90 ajustados para idade, sexo e percentil de altura.
Contudo, não há padronização sobre a medida de circunferência abdominal em adolescentes [1-4].
Embora os critérios propostos apresentem algumas diferenças em relação à presença dos componentes, todos eles
incluem medidas de distúrbio da homeostase da glicose,
hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade central. Alguns
estudos têm sugerido a participação de fatores de risco não
tradicionais, por exemplo, indicadores de inflamação e indicadores pró-trombóticos, como componentes da síndrome
metabólica, porém estes indicadores ainda são objeto de
muitas controvérsias e não foram incluídos em nenhum dos
critérios diagnósticos da síndrome metabólica [6]
Diversos ensaios clínicos confirmam a associação entre
diabetes mellitus tipo 2 e doença cardiovascular. No Paris
Prospective Study, após 11 anos de seguimento, observou-se
que os níveis plasmáticos elevados da insulina em jejum aumentam o risco de doença cardiovascular. No ensaio clínico
San Antonio, após sete anos de seguimento, também se notou
que a maioria dos pacientes com resistência insulínica elevada
e desordens metabólicas múltiplas (HDL baixo, triglicérides
elevados e hipertensão arterial sistêmica) evoluiu para diabetes
mellitus tipo 2 [7].
Em 2001, o Programa Nacional de Educação para o Colesterol-Terceiro Painel para Tratamento do Adulto (NCEPATPIII) apresentou sua definição da SM como parte de um
programa educacional para prevenção da doença arterial
coronariana, com o objetivo de facilitar o seu diagnóstico na
prática clínica. Não incluiu a medida de resistência insulínica
e nem privilegiou o distúrbio da glicose. Todas as alterações
teriam igual importância. O NCEP-ATPIII propôs a iden-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
tificação da SM através da presença de quaisquer dos três ou
mais dos seguintes componentes:
• Glicose de jejum > 110 mg/dL;
• Triglicerídeos > 150 mg/dL;
• HDL Colesterol < 40 mg/dL para homens e < 50 mg/dL
para mulheres;
• Pressão arterial > 130x85 mmHg;
• Circunferência abdominal > 102 cm para o homem e >
88 cm para mulheres.
Observa-se que o indivíduo pode ser caracterizado como
portador de SM independente do nível de glicose no sangue.
Em 2004, os valores da normalidade da glicemia de jejum
diminuíram para > 100 mg/dL, de acordo com a Associação
Americana de Diabetes e foram adotados pelo NCEP. A Associação Americana de Endocrinologia Clínica (AACE), em
2002, também se posicionou sobre a síndrome de resistência
à insulina [1-4,8].
A Sociedade Brasileira de Cardiologia então escolheu a
proposta NCEP-ATPIII por sua simplicidade e praticidade
para a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da
Síndrome Metabólica (I-DBSM), em 2005 [8].
Uma definição única e aceita mundialmente permitiria
comparações da prevalência da síndrome em populações
diferentes e seus desenlaces. Com esta finalidade, a Federação
Internacional de Diabetes (IDF), em 2004, reuniu especialistas em diabetes, saúde pública, epidemiologia, genética,
metabolismo, nutrição e cardiologia. Estudiosos dos cinco
continentes do mundo, inclusive da OMS e do NCEPATPIII, se reuniram para este desafio, isto é, elaborar uma
diretriz diagnóstica simples para a síndrome metabólica e de
ampla utilização [1-4,8].
A nova definição, para diagnóstico de SM, inclui a presença de obesidade central, como condição essencial, e dois
ou mais dos critérios a seguir:
• Triglicerídeos elevados: > 150 mg/dL;
• HDL-Colesterol reduzido: < 40 mg/dL em homens e < 50
mg/dL em mulheres (ou tratamento específico para estas
alterações lipídicas);
• Pressão sanguínea elevada: Pressão sistólica > 130 ou
diastólica > 85 mmHg (ou tratamento para hipertensão
previamente diagnosticada);
• Glicose plasmática de jejum: > 100 mg/dL (ou diagnóstico
prévio de DM) [8].
Fatores de risco
O excesso de peso é o principal fator de risco para o
desenvolvimento da SM. O estudo NHANES III mostrou
que de acordo com os critérios da ATP III, teriam síndrome
metabólica:
• 4,6% dos homens com IMC normal;
• 22,4% dos homens com sobrepeso;
• 59,6% dos homens obesos;
55
• 6,2% das mulheres com IMC normal;
• 28,1% das mulheres com sobrepeso;
• 50,0% das mulheres obesas.
A obesidade contribui para a hipertensão, níveis elevados
de colesterol total, baixos níveis de HDL-colesterol e hiperglicemia, que por si próprios estão associados a um risco elevado
de doença cardiovascular [9].
Outro fator de risco para a SM é a resistência à insulina,
que geralmente acompanha a obesidade. Porém, em algumas
populações, como os sul-asiáticos, por exemplo, existe um
componente genético que pode levar à resistência à insulina
mesmo em pessoas com peso normal ou sobrepeso, contribuindo para uma alta prevalência de diabetes e de doença
cardiovascular prematura [9].
Segundo o estudo SESI o gênero masculino é um fator
de risco não modificável para as doenças crônicas não transmissíveis, entre elas a hipertensão arterial. No entanto, as
V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2006) apresentam
como prevalência global entre homens (26,6%; IC 95,0%
26,0-27,2%) e mulheres (26,1%; IC 95,0% 25,5-26,6%), insinuando que gênero não é um fator de risco para hipertensão.
Com relação às idades relatadas neste estudo, evidenciou-se
que a maioria dos hipertensos tem acima de quarenta anos
de idade, semelhante com os estudos de Jardim et al. [10] e
Barbosa et. al. [11] que demonstraram que a HAS aumentou
com a idade. Através do estudo Framingham, realizado em
Massachusetts nos Estados Unidos, que transcorreu durante
trinta anos, evidenciou-se que a obesidade acarretou hipertensão em 78,0% dos homens e 65,0% das mulheres [12].
Santos et al. [13], em um modelo exploratório visando
observar a prevalência da síndrome metabólica e verificar sua
associação com o excesso de peso e inatividade física, utilizaram uma amostra por conveniência de 47 homens (34,6
anos) funcionários de empresas e estabelecimentos de ensino e
observaram que todos os portadores de síndrome metabólica
apresentavam excesso de peso ou obesidade. Esse perfil corrobora o estudo de Meigs et al. [14] que, a partir dos critérios
do NCEP-ATP III , avaliou o risco de diabetes e doenças cardiovasculares através da incidência de obesidade, concluindo
que 63,0% dos obesos apresentam síndrome metabólica. As
explicações dadas pelos epidemiologistas para o crescimento
epidêmico da obesidade apontam para a modernização das
sociedades, que, entre outras coisas, proporciona maior oferta
de alimentos e desequilíbrio na qualidade da dieta, aliada à
melhoria dos instrumentos de trabalho, que gera baixo nível
de atividade física ocupacional e de lazer.
Fisiopatologia da síndrome metabólica
A SM é a combinação de fatores de risco que inclui
obesidade abdominal, hipertensão arterial, dislipidemia e
alteração da glicemia e predispõe o indivíduo à morbidade e
mortalidade por doença cardiovascular (cardíaca e cerebral) e
56
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
ao desenvolvimento de diabetes (tipo 2), se ainda não estiver
presente. Como toda síndrome, se caracteriza por um conjunto de sintomas e sinais físicos bioquímicos para os quais
não se conhece uma causa direta. Enquanto a patogênese da
SM e de cada um de seus componentes não for esclarecida,
duas características parecem despontar como fatores causais
potenciais: a resistência à insulina e a distribuição anormal da
gordura (obesidade abdominal). Outros fatores podem estar
envolvidos como: estado pró-inflamatório, desequilíbrio hormonal, perfil genético, inatividade física e envelhecimento [8].
Resistência à insulina
Resume-se a um defeito na ação da insulina sobre tecidos
alvo, com origem na secreção inadequada e/ou respostas
teciduais diminuídas à ação desse hormônio, que envolve
mecanismos fisiológicos importantes para as outras características da SM. No músculo esquelético e no tecido adiposo,
a resistência à insulina pode ser consequência de defeitos na
translocação, exposição ou ativação das proteínas transportadoras de glicose (GLUT-4), dificultando o trânsito deste
nutriente do meio extra para o intracelular [8,15].
Essas anormalidades podem estar relacionadas ao próprio
tecido (defeitos na sinalização intracelular) ou a fatores externos às células, como hiperglicemia, aumento nas concentrações séricas do TNF-a e de ácidos graxos; destes últimos viria
a maior contribuição para o desenvolvimento da resistência
à insulina. As anormalidades no armazenamento de ácidos
graxos e a lipólise em tecidos com sensibilidade à insulina
proporcionam fluxo aumentado desses lipídeos para tecidos,
podendo diminuir a captação de glicose [8,15].
O quadro de resistência à insulina aumenta a lipólise nos
adipócitos, por estímulo à lipoproteína lipase, produzindo
ainda mais ácidos graxos; estes estimulam a neoglicogênese
no fígado e inibem a depuração hepática da insulina, acumulando esses lipídeos no fígado e nos músculos. Por fim, o
excesso de gordura nos músculos leva à resistência à insulina
e no fígado é promovida a dislipidemia aterogênica, tornando
seus portadores mais sujeitos às alterações nas concentrações
de lípides séricos [8,14].
Natali et al. [16] verificaram que a condição de resistência
à insulina proporciona os estados inflamatório e trombótico, além de causar anormalidades endoteliais por reduzir as
vasodilatações endotélio-dependentes e não-dependentes em
pacientes com DM tipo 2. Fernández-Real et al. [17] obtiveram, adicionalmente, associação positiva entre resistência à
insulina e concentração de lípides séricos, fato relacionando
à qualidade da ingestão destes nutrientes.
Obesidade
A obesidade, principalmente a abdominal, é considerada
como um poderoso fator de risco para o desenvolvimento de
doenças crônicas não transmissíveis como diabetes do tipo 2
(DM2) e doença cardiovascular (DCV). O achado de hiperinsulinemia e resistência insulínica relacionado à presença de
excesso da gordura perivisceral, por diversas técnicas inclusive
Tomografia Computadorizada, não permite questionamentos.
Clinicamente, o uso da circunferência abdominal para acessar
adiposidade visceral é superior ao índice de massa corporal
(IMC) e os valores de corte para esta medida devem ser específicos para cada população, já que existem diferenças étnicas
na relação entre adiposidade total, obesidade abdominal e
acúmulo de gordura [8,15,18].
O excesso de tecido adiposo, particularmente o de concentração abdominal, tem sido associado com hipertensão,
alterações lipídicas plasmáticas, resistência à insulina, estados
inflamatórios e trombóticos. Características da SM: esses fatores de risco normalmente ocorrem em indivíduos obesos ou
com sobrepeso, porém a obesidade por si só não explica estas
alterações: a provável causa é a predisposição dessa morbidade
à resistência à insulina [8,15,18].
Órgão endócrino, o tecido adiposo é capaz de secretar
uma série de substâncias, incluindo hormônios (leptina e
adiponectina), citocinas (as principais são o Fator de Necrose
Tumoral - TNF-a e a Interleucina série 6 – IL-6) e outras
proteínas (como Inibidores do Ativador de Plasminogênio
série 1 – PAI-1, proteínas do Sistema Renina-Angiotensina
– RAS, fator de grupo em comparação aos grupos controle
e pré-obesidade, indicando quadro inflamatório precoce e
possível prognóstico de obesidade. Dessa forma, pode-se dizer
que o percentual de gordura corporal aumentado predispõe
ao aparecimento das características da SM [8,15,18].
Hipertensão arterial
A elevação da pressão arterial em obesos está relacionada à
natriurese pressórica pouco eficiente. O aumento da excreção
renal de sódio é um mecanismo de defesa encontrado pelo
organismo quando a pressão arterial se eleva, possibilitando
seu retorno ao normal. Nos obesos, níveis pressóricos mais
elevados são necessários para que este mecanismo seja desencadeado. Ocorre também a ativação do sistema nervoso
simpático, mediada pela leptina liberada dos adipócitos, cujo
mecanismo de ação ainda não foi totalmente esclarecido e
talvez haja interações importantes com outros neuroquímicos
hipotalâmicos. A ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, pela produção de angiotensinogênio, no adipócito,
também é observada. O sistema renina-angiotensina-aldosterona é um poderoso sistema hormonal que regula a pressão
arterial e o equilíbrio hídrico do organismo. Em indivíduos
normais quando a pressão arterial ou a concentração de sódio
plasmática diminuem, o rim aumenta a secreção de renina
que estimula o angiotensinogênio para formar angiotensina,
potente vasoconstrictor, levando ao aumento da pressão
arterial sistêmica [8,15,18].
Proteínas do sistema RAS, tais como angiotensinogênio,
angiotensinas I, II e enzima conversora de angiotensina,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
contribuem para a hipertensão e aterogênese com efeitos vasoconstritores, estimuladores da secreção de aldosterona pelas
glândulas suprarrenais e da reabsorção de sódio pelos rins. A
hiperinsulinemia atua na maior reabsorção renal de sódio, no
estímulo da atividade do SNS (que aumenta as concentrações
séricas de norepinefrina, aumentando a resposta à ação da
angiotensina) e na redução da vasodilatação mediada pelo
óxido nítrico. Cerca de 50% dos indivíduos que apresentam
distúrbios insulínicos desenvolvem hipertensão arterial [18].
Dislipidemia
Caracterizada por anormalidades no perfil lipídico sérico,
tais como elevação de triglicerídeos, baixo HDL-colesterol e
LDL-colesterol (Low Density Lipoprotein) sob forma pequena
e densa, a dislipidemia aterogênica presente em indivíduos
com SM está associada à resistência à insulina e à obesidade
abdominal. De forma especial, a resistência à insulina pode
alterar cada um dos componentes dessa desordem lipídica,
sendo que anormalidades na secreção de VLDL-colesterol
(Very Low Density Lipoprotein), apolipoproteína B (Apo-B) e
triglicerídeos são as principais. Elevados níveis de ácidos graxos
livres levam a maior produção de partículas contendo Apo-B,
proteína estrutural componente das lipoproteínas aterogênicas
(VLDL, IDL - Intermediate Density Lipoprotein - e LDL),
sendo suas concentrações consequência do número total de
partículas aterogênicas circulantes. Dessa forma, indivíduos
com SM podem apresentar maiores concentrações de Apo-B
se comparados aos não portadores da síndrome [8,15,18,19].
Baixos níveis de HDL em indivíduos com SM são secundários aos altos níveis de triglicerídeos, associados em parte à
maior transferência destes para o HDL e ao menor metabolismo do VLDL. Por ação da enzima colesteril éster transferase,
o HDL e o LDL são enriquecidos com triglicerídeos vindos
do VLDL, tornando-se mais susceptíveis à hidrólise por lipases hepáticas ou pela lipoproteína lipase. Tal fato, além de
diminuir os níveis de HDL, gera partículas pequenas e densas
de LDL com alto poder aterogênico, capazes de penetrar no
endotélio e serem captadas e oxidadas pelos macrófagos. A
partir daí, essas células tornam-se espumosas e dão início ao
processo aterosclerótico. Dessa forma, associadas ao estresse
oxidativo, inflamação e adiposidade central levam ao desenvolvimento da SM e de eventos cardiovasculares [8,15,18,19].
Prevalência da síndrome metabólica no Brasil e
no mundo
A Síndrome Metabólica (SM) constitui um conjunto de
componentes que revela alimentação hipercalórica, além de
um estilo de vida sedentário e, como consequência, o desenvolvimento de sobrepeso/obesidade. A SM reflete, metaforicamente, o aumento da circunferência do mundo. Além disso,
por corresponder a um conjunto de diferentes condições e
não apenas uma doença, possibilita a existência de múltiplas
57
definições concorrentes. Muitos estudos mostraram que a
SM duplica o risco cardiovascular e aumenta em cinco vezes
a chance de desenvolver diabetes. Embora, tenha sido permeada de controvérsias, a SM encontrou seu lugar na literatura
médica e tem hoje mais de 24.000 citações no PubMed. As
divergências ocorrem porque as definições utilizam critérios
e pontos de corte diferentes para identificar os portadores da
mesma síndrome. Há necessidade de adoção de um critério
único para a SM. Isto permitiria seu rastreio com utilização
de protocolos para a prática clínica e estabelecimento de
políticas de saúde [8].
No Brasil vários estudos foram realizados nos últimos anos.
Em 2007, Salaroli et al. [20] realizaram um estudo transversal
em Vitória-ES, com 1.663 indivíduos com idades de 25 a 64
anos e mostraram que a prevalência da SM, de acordo com os
critérios da NCEP/ATP III, é de quase 30% para a população
geral, sendo maior com o avançar da idade: 15,5% na faixa
entre 25 e 34 anos e 48,3% na faixa entre 55 e 64 anos.
Também em 2007, foi publicado um estudo transversal
de Marquezine et al. [21], com 1.561 indivíduos de uma área
urbana, que mostrou uma prevalência de SM de 25,4% nesta
população estudada, sendo cada vez maior com o avançar da
idade, especialmente em mulheres, e com a piora do nível
sócio-econômico.
Nakazone et al. [22], em 2007, realizaram um estudo
para analisar o perfil bioquímico e caracterizar SM a partir de
critérios propostos por NCEP/ATPIII e IDF, com o intuito de
verificar a predisposição para doença cardiovascular em 340
indivíduos (200 pacientes e 140 controles). A prevalência de
SM no grupo de pacientes foi de 35,5%, segundo os critérios
na NCEP/ATP III, e de 46%, segundo os critérios da IDF.
Marcondes et al. [23] realizaram um estudo transversal
com o objetivo de determinar a prevalência, características
e preditores da síndrome metabólica em 73 mulheres com a
síndrome dos ovários policísticos. A prevalência da síndrome
metabólica foi de 38,4%, estando ausente nas mulheres com
índice de massa corporal normal (n = 18) e presente em 23,8%
das com sobrepeso (n = 17), 62,9% das obesas (n = 28) e
85,5% das obesas mórbidas (n = 7). Quando comparadas, as
mulheres com síndrome metabólica apresentaram uma idade
mais avançada (27,3 ± 5,3 vs. 24,2 ± 4,6 anos; p = 0,031)
e um índice de massa corporal maior (36,3 ± 7,7 vs. 26,9 ±
5,4; p < 0,001) que as mulheres sem a síndrome.
Ford et al. [24] publicaram os resultados de um estudo
transversal que tinha como objetivo determinar a prevalência
da SM nos Estados Unidos de acordo com os critérios da
ATP III. Foram analisados 8814 indivíduos com 20 anos de
idade ou mais. A prevalência de SM foi de 21,8% (sem ajuste
para idade) e 23,7% (ajustada para idade), sendo mais alta
em pessoas mais velhas (43,5% em indivíduos com idades
entre 60 e 69 anos).
Estudo publicado por Park et al. [25] demonstrou que
a SM estava presente em mais de 20% da população adulta
americana e que variava significativamente de acordo com a
58
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
etnia: 13,9% em homens negros e 27,2% em mulheres de
origem hispânica.
Marccoli et al. [26] realizaram um estudo transversal com
2.100 indivíduos na região de Lucca, na Itália, que mostrou
uma prevalência de SM na população geral de 18% em mulheres e 15% em homens, segundo os critérios da ATP III. Além
disso, notaram que, em pessoas mais velhas, a prevalência era
maior (25% em indivíduos com mais de 70 anos).
Hu et al. [27] publicaram um estudo que avaliou 11 coortes européias, totalizando 6156 homens e 5356 mulheres,
não-diabéticos, com idades entre 30 e 89 anos, com cerca de
8 anos de seguimento. Segundo os critérios modificados da
OMS utilizados, a prevalência de SM entre os europeus é de
15% (15,7% em homens e 14,2% em mulheres).
Pesquisas mostram que a prevalência é alta também em
populações rurais. A prevalência em uma população rural
mexicana foi de 45,2% e os autores sugerem que o motivo seja
a incorporação de hábitos de vida urbanos destas populações,
com maior consumo de alimentos industrializados e menor
nível de atividade física. No Brasil, essas prevalências variaram
entre 24,8% e 19% em dois estudos [6].
Tratamento
Independentemente da redução da PA, são vários os efeitos
benéficos da redução do peso, entre eles: melhora da tolerância
à glicose e do perfil lipídico; diminuição das doenças degenerativas articulares; melhora dos sintomas depressivos e da
apneia do sono, aumento da tolerância aos exercícios físicos
e melhora da autoestima que, em última análise, significa
melhora da qualidade de vida. Além disso, o tratamento não
medicamentoso, senso amplo (medidas higieno-dietéticas),
não causa os efeitos colaterais geralmente associados ao uso
de drogas anti-hipertensivas [28].
A dieta recomendada para os portadores de SM deve ser
composta por carboidratos complexos e integrais (representando entre 45 e 65 % do valor calórico total diário), proteínas
(10-35% do valor calórico diário total) e gorduras (20-35% do
valor calórico diário total), dando-se preferência às gorduras
mono e poliinsaturadas. Além disso, deve haver um controle
da ingestão de sódio, que tem significante impacto no controle
da pressão arterial [9].
A recomendação tradicional de no mínimo 150 minutos
semanais (30 minutos, cinco dias por semana) de atividade
física de intensidade leve a moderada prescrita por um profissional credenciado, que é baseada primariamente nos efeitos
da atividade física sobre a doença cardiovascular e outras
diabetes mellitus, demonstra não ser doenças crônicas como
o suficiente para programas que priorizem a redução de peso.
Com isso, tem sido recomendado que programas de exercício
para obesos comecem com o mínimo de 150 minutos semanais em intensidade moderada e progridam gradativamente
para 200 a 300 minutos semanais na mesma intensidade.
Entretanto, se por algum motivo o obeso não puder atingir
essa meta de exercícios, ele deve ser incentivado a realizar pelo
menos a recomendação mínima de 150 minutos semanais,
pois mesmo não havendo redução de peso haverá benefícios
para a saúde, existem evidências de que haja redução do tecido
adiposo visceral. A atividade aeróbica melhora a homeostase
da glicose, promovendo o transporte de glicose e a ação da
insulina na musculatura em exercício. Além disso, melhora
o perfil lipídico, aumentando os níveis de HDL-colesterol e
diminuindo os triglicérides [9,29].
No músculo esquelético, o exercício físico aumenta a
captação e oxidação de glicose e de ácidos graxos a partir do
sangue, melhora a sinalização insulínica, aumenta a atividade
e expressão de transportadores e enzimas reguladoras do metabolismo de glicose e de ácidos graxos, promove biogênese
mitocondrial e melhora a vasodilatação endotélio-dependente
[30].
Estudos epidemiológicos e de coorte têm demonstrado
forte associação entre obesidade e inatividade física, assim
como tem sido relatada associação inversa entre atividade
física, índice de massa corpórea (IMC), razão cintura-quadril
(RCQ) e circunferência da cintura. Esses estudos demonstram que os benefícios da atividade física sobre a obesidade
podem ser alcançados com intensidade baixa, moderada ou
alta, indicando que a manutenção de um estilo de vida ativo, independente de qual atividade praticada, pode evitar o
desenvolvimento dessa doença [29].
O treinamento de força (TF), ou treinamento contra resistência, vem sendo reconhecido como importante componente
do programa de condicionamento físico para adultos devido
à promoção de diversos benefícios à saúde. Há fortes indícios
de que altos níveis de força muscular podem estar associados
à diminuição da prevalência de síndrome metabólica [31].
O Colégio Americano de Medicina do Esporte-ACSM
preconiza o treinamento de força para adultos jovens a partir
de uma progressão gradual. A qualidade do programa de treinamento de força deve ser otimizada, sequenciando a execução
de exercícios multiarticulares antes de monoarticulares, de alta
intensidade antes daqueles de menor intensidade. Para indivíduos iniciantes, as cargas de treinamento devem corresponder
a uma intensidade de 8-12 repetições máximas (RM) [32].
Jurca et al. [33] realizaram um estudo no qual um dos
objetivos principais era examinar a associação entre a força
muscular e a prevalência de síndrome metabólica. Participaram do estudo 8.570 homens, com idade de 20-75 anos.
Concluiu-se que a força muscular é independentemente
associada à prevalência de síndrome metabólica. Os homens
com maiores níveis de força tiveram uma probabilidade 67%
menor de ter síndrome metabólica, comparados aos homens
com menores níveis de força.
Estudos de intervenção demonstram que perfis desfavoráveis de lipídios e lipoproteínas melhoram com o treinamento
físico. Essas melhoras são independentes do sexo, do peso
corporal e da adoção de dieta, porém, há possibilidade de ser
dependentes do grau de tolerância à glicose. A atividade física
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
tem demonstrado ser eficiente em diminuir o nível de VLDL
colesterol em indivíduos com diabetes do tipo 2; entretanto,
com algumas exceções, a maioria dos estudos não tem demonstrado significante melhora nos níveis de HDL e LDL
colesterol nessa população, talvez devido à baixa intensidade
de exercício utilizada [29].
Uma metanálise de 54 estudos longitudinais randomizados controlados, examinando o efeito do exercício físico
aeróbio sobre a pressão arterial, demonstrou que essa modalidade de exercício reduz, em média, 3,8 mmHg e 2,6 mmHg
a pressão sistólica e diastólica, respectivamente. Reduções
de apenas 2 mmHg na pressão diastólica podem diminuir
substancialmente o risco de doenças e mortes associadas à hipertensão, o que demonstra que a prática de exercício aeróbio
representa importante benefício para a saúde de indivíduos
hipertensos [29].
Além do tratamento da obesidade, o tratamento
medicamentoso dos componentes da SM deve ser considerado, quando não há melhora destes apesar das mudanças de
estilo de vida, para que haja diminuição do risco de doença
aterosclerótica. Até o momento não existe nenhuma droga
específica recomendada para tratamento da SM. O uso das
estatinas no tratamento da dislipidemia aterogênica reduz o
risco de eventos cardiovasculares em pacientes com SM. Os
fibratos também melhoram o perfil lipídico desses pacientes,
com capacidade de reduzir a aterogênese. O mesmo é válido
para o tratamento da hipertensão arterial e da hiperglicemia
[9].
Os glicocorticóides (GCs) teriam um papel na fisiopatologia da síndrome metabólica ou plurimetabólica. Recentemente, demonstrou-se que elevada expressão gênica de GR
no músculo esquelético está associada a menor sensibilidade
à insulina. Por sua vez, a 11-beta-hidroxiesteróide desidrogenase, que converte cortisona (GC inativo) em cortisol
(GC, biologicamente, ativo), também tem sido implicada
no desenvolvimento da obesidade, na resistência a insulina e
no diabete tipo II [30].
A dexametasona (Dex) tem sido bastante utilizada como
modelo experimental para o estudo da síndrome metabólica
em razão de um dos seus principais efeitos adversos: a resistência à insulina. Segundo alguns autores, ratos tratados com
Dex apresentam diminuição na captação de glicose estimulada
por insulina no músculo esquelético e no tecido adiposo, ao
passo que no fígado há uma reversão da supressão da gliconeogênese. No tecido adiposo, observa-se um efeito permissivo
à ação de hormônios lipolíticos (adrenalina, noradrenalina
e hormônio do crescimento), resultando no aumento da
hidrólise de triglicerídeos, liberação de ácidos graxos para o
sangue (substâncias indutoras de estresse oxidativo e disfunção endotelial) e de glicerol para gliconeogênese hepática. A
resistência periférica à insulina e o aumento na gliconeogênese
mediados por GCs causam hiperglicemia persistente, diabetes,
dislipidemia e hipertensão arterial decorrente da disfunção
endotelial [30,34].
59
No contexto da síndrome metabólica, observa-se que a
metformina também apresenta efeito regularizador sobre o
perfil lipídico e função endotelial. Esse efeito, apesar de estatisticamente significativo, é menos intenso que a normalização
da glicemia e pode passar despercebido na prática clínica. No
entanto, deve ser considerado que o mecanismo de ação da
metformina é distinto de outras drogas usadas no tratamento
da síndrome metabólica, podendo haver potencialização de
seu efeito em terapias combinadas [34].
Existem fortes evidências bioquímicas de que a ativação
da enzima AMPK seja o mecanismo principal pelo qual a
metformina produz seus efeitos metabólicos benéficos. No
contexto não farmacológico, a ativação da AMPK ocorre
em resposta ao exercício, uma atividade conhecida por ter
impacto positivo para pacientes com DM2. Desta forma,
existe uma procura por agentes seletivos e mais potentes
ativadores da AMPK, pois poderão tornar-se drogas importantes no tratamento das doenças que compõem a síndrome metabólica, como DM2, obesidade, dislipidemias,
hipertensão e doença cardiovascular. Neste sentido, torna-se
fundamental o conhecimento dos mediadores envolvidos na
ativação dessa enzima [34].
Conclusão
A Síndrome Metabólica é uma entidade complexa, sem
ainda uma causa bem estabelecida. Sua prevalência aumenta
com o excesso de peso, principalmente com a obesidade abdominal, e está associada a um aumento de risco de doenças
cardiovasculares e de diabetes do tipo 2. Os profissionais
de saúde têm importância fundamental no cuidado destes
pacientes, já que a síndrome pode ser reversível, dado que os
fatores de risco a ela relacionados são controláveis e modificáveis. Convém também salientar que, independentemente
do diagnóstico da síndrome, os pacientes com qualquer fator
de risco cardiovascular devem ser investigados para detectar a
presença de outros fatores de risco e tratados individualmente
de acordo com as diretrizes específicas. É de comum acordo
que mudanças no estilo de vida, com o objetivo primário de
perda de peso, sejam introduzidas.
Referências
1. Moraes ACF, Fulaz CS, Netto Oliveira. Prevalência de síndrome
metabólica em adolescentes: uma revisão sistemática. Cad Saúde
Pública 2009;25(6):1195-02.
2. Carvalho EMG, Rabelo JN. Identificação, prevenção e tratamento dos fatores de riscos associados à síndrome metabólica
em pacientes atendidos no programa integrado de atividade
física, esporte e lazer para todos os servidores da UFV campus
florestal: estudo piloto – PIAFEL-EP. SynThesis Revista Digital
FAPAM 2009;1.
3. Pontes LM, Sousa MSC. Estado nutricional e prevalência de
síndrome metabólica em praticantes amadores de futebol. Rev
Bras Med Esporte 2009;15(3):185-89.
60
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
4. Saad MJA, Zanella MT, Ferreira SRG. Síndrome metabólica:
ainda indefinida, mas útil na identificação do alto risco cardiovascular. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(2):161-2. 5. Olmi PCB, Moretti MP. Prevalência de síndrome metabólica
nos pacientes atendidos no ambulatório médico da UNESC.
ACM Arq Catarin Med 2009;38(2):22-7.
6. Freitas ED, Haddad JPA, Velásquez-Meléndez G. Uma exploração multidimensional dos componentes da síndrome
metabólica. Cad Saúde Pública 2009;25(5):1073-82.
7. Souza MSF. Síndrome metabólica em adolescentes com sobrepeso e obesidade. Rev Paul Pediatr 2007;25(3):214-20. 8. Rocha AC. Exame médico periódico e risco cardiovascular
em trabalhadores de uma grande empresa do Rio de Janeiro
[tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
Arouca; 2009. 62 p.
9. Penalva DQF. Síndrome metabólica: diagnóstico e tratamento.
Rev Med (São Paulo) 2008;87(4):245-50.
10. Jardim PCB. V Hipertensão Arterial e alguns fatores de risco
em uma capital brasileira. Arq Bras Cardiol 2007;88(4):452-7.
11. Barbosa JB. Prevalência da hipertensão arterial em adultos
e fatores associados em São Luís - MA. Arq Bras Cardiol
2008;91(4):260-6.
12. Garrison RJ, Kannel WB, Stokes III J, Castelli WP. Incidence
and precursors of hypertension in young adults: the Framingham Offspring Study. Prev Med 1987; 16:235-51.
13. Santos R, Nunes A, Ribeiro JC, Santos P, Duarte JAR, Mota
J. Obesidade, síndrome metabólica e atividade física: estudo
exploratório realizado com adultos de ambos os sexos, da Ilha
de S. Miguel, Região Autônoma dos Açores, Portugal. Rev Bras
Educ Fís Esp 2005;19:317-28.
14. Meigs JB, Wilson PW, Fox CS, Vasan RS, Nathan DM, Sullivan LM, et al. Body mass index, metabolic syndrome, and risk
of type 2 diabetes or cardiovascular disease. J Clin Endocrinol
Metab 2006;91:2906-12.
15. Dias JCR. Aspectos clínicos e nutricionais na síndrome metabólica. Rev Bras Nutr Clin 2009;24(1):72-8.
16. Natali A, Toschi E, Baldeweg S, Ciociaro D, Favilla S, Saccà
L, et al. Clustering of insulin resistance with vascular dysfunction and low-grade inflammation in type 2 diabetes. Diabetes
2006;55(4):1133-40.
17. Fernández-Real JM, Broch M, Vendrell J, Ricart W. Insulin
resistance, inflammation, and serum fatty acid composition.
Diabetes Care 2003;26(5):1362-8.
18. Miranda PJ, Defronzo RA, Califf RM, Guyton JR. Metabolic
syndrome: definition, pathophysiology, and mechanisms. Am
Heart J 2005;149(1):33-45.
19. Ginsberg HN, Zhang YL, Hernandez-Ono A. Metabolic
syndrome: focus on dyslipidemia. Obesity (Silver Spring)
2006;14(Suppl 1):41S-9.
20. Salaroli LB, Barbosa GC, Mill JG, Molina MCB. Prevalência
de Síndrome Metabólica em Estudo de Base Populacional,
Vitória, ES – Brasil. Arq Bras Endocrinol Metab 2007; 51(Pt
7): 1143-52.
21. Marquezine GF, Oliveira CM, Pereira AC, Krieger JE Mill JG.
Metabolic syndrome determinants in an urban population from
Brazil: Social class and gender-specifi c interaction. Int J Cardiol
2008;129(2):259-65.
22. Nakazone MA, Pinheiro A, Braile MC, PinheL MA, Sousa GF,
Pinheiro SJR, et al. Prevalence of metabolic syndrome using
NCEP-ATPIII and IDF definitions in Brazilian individuals.
Rev Assoc Med Bras 2007;53(5):407-13.
23. Marcondes JA, Hayashida SA, Barcellos CR, Rocha MP, Maciel
GA, Baracat EC. Metabolic syndrome in women with polycystic
ovary syndrome: prevalence, characteristics and predictors. Arq
Bras Endocrinol Metabol 2007;51(6):972-9.
24. Ford ES, Giles WH, Dietz WH. Prevalence of the metabolic syndrome among US adults: fi ndings from the third
National Health and Nutrition Examination Survey. JAMA
2002;287:356-9.
25. Park YW, Zhu S, Palaniappan L, Heshka S, Carnethon MR,
Heymsfield SB. The metabolic syndrome: prevalence and
associated risk factor fi ndings in the US population from the
Third National Health and Nutrition Examination Survey,
1988-1994. Arch Intern Med 2003;163(4):427-3.
26. Marccoli R, Bianchi C, Odoguardi L. Prevalence of the metabolic syndrome among Italian adults according to ATP III
definition. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2005;15:250-4.
27. Hu G, Qiao Q, Tuomilehto J, Balkau B, Borch-Johnsen K, Pyorala K. Prevalence of the metabolic syndrome and its relation to
all-cause and cardiovascular mortality in nondiabetic European
men and women. Arch Intern Med 2004;164(10):1066-76.
28. Barreto-Filho JAS, Consolim-Colombo FM, Lopes HF. Hipertensão arterial e obesidade: causa secundária ou sinais independentes da síndrome plurimetabólica? Rev Bras Hipertens
2002;9(2):174-84.
29. Ciolac EG, Guimaraes GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24.
30. Pinheiro CHJ, Sousa Filho WM, Oliveira Neto J, Marinho MJF,
Motta Neto R, Smith MMRL, et al. Exercício físico previne
alterações cardiometabólicas induzidas pelo uso crônico de
glicocorticóides. Arq Bras Cardiol 2009;93(4):400-408.
31. Guttierres APM, Martins JCB. Os efeitos do treinamento de
força sobre os fatores de risco da síndrome metabólica. Rev Bras
Epidemiol 2008;11(1):147-58.
32. American College Sports Medicine. Diretrizes do ACMS para
os testes de esforço e sua prescrição 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p.136-41.
33. Jurca R, Lçamonte MJ, Church ST, Earnest CP, Fitzgerald SJ,
Barlow CE et al. Association of muscle strength and aerobic
fitness with metabolic syndrome in men. Med Sci Sports Exerc
2004;36(8):1301-7.
34. Santomauro JUN, Augusto Cézar. Metformina e AMPK: um
antigo fármaco e uma nova enzima no contexto da síndrome
metabólica. Arq Bras Endocrinol Metab 2008;52/1:120-5.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
61
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de
artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet)
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já
aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas
Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para
nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos;
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se
unicamente ao estilo literário.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o
nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos
acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo
endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será
publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do
grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total
de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet
seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser
numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em
ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu
nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. NewYork: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais
de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed
in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados
todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação
latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora.
com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011
62
Calendário de eventos
2011
Junho
Abril
7 a 11 de abril
Goiânia Capital Fitness
Goiânia, GO
Informações: www.bsbfitness.com.br
11 de junho
Fórum Internacional de Treinamento de Força e
Qualidade de Vida
Natal, RN
Informações: (84) 9119-9400
23 a 25 de junho
13 a 15 de abril
VI Congreso Internacional Rehabilitación 2011 y III
Encuentro Internacional de Gestión de la Información e
Investigación en Rehabilitación
Cuba
Informações: http://promociondeeventos.sld.cu/
rehabilitacion2011/
13 a 20 de abril
10º Fórum Internacional de Esporte
Florianópolis, SC
Informações: (48) 3335-6050/4104-0816
E-mail: [email protected]
Julho
14 a 16 de julho
13ª Rio Sport Show
Curso de Prescrição de Treinamento Físico Aeróbio e
Resistido para populações especiais
São Paulo, SP
Informações: (11) 3091-3183/2714-5656
Rio de Janeiro, RJ
Informações: riosportshow.com.br
28 a 31 de julho
Costão Fitness – Meeting Sport/Business
Costão do Santinho Resort, Florianópolis, SC
Informações: (48) 3335-6050
E-mail: [email protected]
21 a 24 de abril
21ª Fitness Brasil Internacional
Santos, SP
Informações: fitnessbrasil.com.br
Novembro
Maio
26 a 29 de maio
VII Congresso Internacional de Educação Física e
Motricidade Humana
XIII Simpósio Paulista de Educação Física
Rio Claro, SP
Informações: www.rc.unesp.br/ib/simposio/
9 a 12 de Novembro
VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física
Gramado, RS
Informações: www.cbafs.org.br
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 10 número 2 - abril/junho 2011
EDITORIAL
Editorial, Paulo Farinatti ....................................................................................................................................................67
ARTIGOS ORIGINAIS
Impacto do exercício físico sobre a autonomia de ação de idosas participantes
de um programa de atividade física, Nádia Souza Lima da Silva, Rafael Ayres Montenegro,
Lis Bentes dos Santos, Juliana Ramos de Almeida, Paulo de Tarso Veras Farinatti .................................................................68
Efeito do uso de antioxidantes na prevenção da lesão muscular em atividades
físicas intensas, Fábio Gilberto Valente, Rita de Cássia Dorácio Mendes,
Wanderlei Onofre Schmitz ..................................................................................................................................................74
Estado de hidratação de idosos praticantes de hidroginástica de uma academia
da cidade de São Paulo, Deborah Rivelli Pires, Lygia Russo Xavier, Márcia Nacif,
Mariana Söncksen Garbin ....................................................................................................................................................82
Benefícios do treinamento aeróbio em indivíduos hemiparéticos crônicos,
Kérima Giamarim Batista, Narla Couto, Maria Imaculada Ferreira Moreira Silva,
Regiane Luz Carvalho ..........................................................................................................................................................86
Influência do treinamento do futsal na agilidade de adolescentes,
Mauro Lucio Mazini Filho, Rosimar da Silva Salgueiro, Julio Cesar Correa Neto Carias,
Ricardo Luiz Pace Junior, Felipe José Aidar, Ricardo Luiz Pace,
Bernardo Minelli Rodrigues, Dihogo Gama de Matos .........................................................................................................90
Imagem corporal de atletas de voleibol de um clube de São Paulo, Adriana Passanha,
Fernanda Santos Thomaz, Lídia Regina Barbosa Pereira, Gleice Amancio, Julia Alves Stein, Marcia Nacif ...........................96
RELATO DE CASO
Treinamento resistido e aeróbio promovem regularização nos níveis pressóricos
em um indivíduo sedentário e hipertenso, Alexsandro Fernandes Generoso, Antonio Coppi Navarro .............................100
REVISÕES
Adaptações agudas promovidas por exercícios no aumento da expressão gênica, conteúdo
e translocação da proteína GLUT-4 no músculo esquelético e melhora na responsividade
à insulina, Henrique Quintas Teixeira Ribeiro, Rodolfo Gonzalez Camargo,
Waldecir Paula Lima, Ricardo Zanuto, Luiz Carlos Carnevali Junior ..................................................................................106
Movimento repetitivo e fadiga muscular, Heros Ferreira, Neusa Moro ............................................................................111
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 117
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 119
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
66
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro
Conselho Editorial
Luiz Fernando Kruel (RS)
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Robert Robergs (EUA)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Rosane Rosendo (SC)
Douglas S. Brooks (EUA)
Sebastião Gobbi (SP)
Emerson Silami Garcia (MG)
Steven Fleck (EUA)
Francisco Martins (PB)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Navarro (SP)
Vilmar Baldissera (SP)
Luiz Carnevali (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
E-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Editor assistente
Guillermina Arias
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 / 3361 9932
E-mail: [email protected]
Assinatura
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
[email protected]
Direção de arte
Cristiana Ribas
[email protected]
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
67
Editorial
Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx
Chegamos ao segundo número deste décimo volume
da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). O
processo de revisão por pares foi aperfeiçoado ao longo dos
últimos dois anos e os pesquisadores que contribuem com a
revista já percebem que um aumento da agilidade no decurso da recepção, análise e resposta dos revisores em relação à
aceitação ou recusa dos artigos. Isso é importante para manter
a confiança dos interessados em divulgar seus trabalhos na
revista. Os artigos submetidos têm abordado assuntos variados, o que apenas demonstra o quanto é rica esta área do
conhecimento. Esperemos ter condições de permanecer como
um veículo reconhecido pelos pares como merecedor de sua
confiança para publicação dos resultados de seus esforços.
O presente número da RBFEx traz nove artigos, seis deles
originais, um relato de caso e duas revisões. Inicialmente,
grupo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro traz um
estudo sobre a autonomia de idosos, valendo-se de instrumento de avaliação desenvolvido naquela instituição. O segundo
estudo, encaminhados por docentes de Mato Grosso do Sul
e Paraná, aborda o possível efeito de antioxidantes sobre lesões musculares. No terceiro e quarto estudos, a temática do
exercício para populações com necessidades especiais volta à
pauta, com uma avaliação do estado de hidratação de idosos
praticantes de hidroginástica em uma academia de São Paulo
e dos efeitos do treinamento aeróbio em indivíduos hemiparéticos. Completando os artigos originais, o treinamento
aplicado ao desporto de rendimento é contemplado por dois
estudos com adolescentes praticantes de futsal e atletas de
volibol. Um interessante relato de caso foi incluído nessa
edição, sobre efeitos do treinamento resistido e aeróbio em
hipertenso dependente de fármacos. Os artigos de revisão
abordam temas bem diversos, desde a expressão gênica de
proteína do músculo esquelético em resposta ao exercício,
até aspectos da fadiga muscular em virtude de movimentos
cíclicos. Bom proveito!
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
68
Artigo original
Impacto do exercício físico sobre a autonomia
de ação de idosas participantes de um programa
de atividade física
Impact of exercise on autonomy of action among elderly women
in a physical activity program
Nádia Souza Lima da Silva*, Rafael Ayres Montenegro**, Lis Bentes dos Santos***, Juliana Ramos de Almeida***,
Paulo de Tarso Veras Farinatti****
*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU/IEFD/UERJ, Universidade Federal de Juiz de Fora, **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU/IEFD/UERJ, Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa
do Exercício (GEPEBIEX) – DEF/UFRN, Programa de Mestrado em Nutrição da Faculdade de Nutrição. Universidade Federal
de Alagoas – UFAL, ***Universidade Gama Filho, ****Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU/IEFD/
UERJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física da Universidade Salgado de Oliveira
Resumo
Abstract
O estudo teve por objetivo analisar o impacto do exercício físico
sobre o perfil de autonomia de ação de idosas participantes de um
programa de atividades físicas regulares. Participaram do estudo
60 idosas (74,3 ± 6,7 anos) distribuídas em dois grupos: Grupo
Controle, composto por idosas sedentárias, e Grupo Experimental,
composto por frequentadoras de projeto de atividades físicas há pelo
menos seis meses. A autonomia de ação foi aferida pelo Sistema
Sênior de Avaliação da Autonomia de Ação (SysSen), composto por
um questionário de atividades físicas para obtenção de um índice
de autonomia exprimida (IAE) e um teste de caminhada de 800
m com transporte manual de cargas, para obtenção de um índice
de autonomia potencial (IAP). Uma ANOVA de dupla entrada foi
aplicada para comparar IAP, IAE, ISAC e Idade cronológica entre
GC e GE (p < 0,05). Os resultados revelaram que GE exibiu níveis
maiores de aptidão física e funcional. Apesar de cronologicamente
mais velhas, as idosas ativas exibiram autonomia de ação equivalente
às idosas inativas.
The study aimed to analyze the impact of physical exercise on the
profile of autonomy of action defined SysSen in elderly participants
in a program of regular physical activity. Sixty subjects enrolled in
the study (74.3 ± 6.7 years), being assigned into two groups: control
group composed by sedentary elderly, and experimental group,
elderly women who participated in a physical activity program
for at least six months. The functional autonomy was assessed by
the Senior System for the Evaluation of the Autonomy of Action
(SysSen) which is composed by a physical activity questionnaire
providing an Expressed Autonomy Index (IAE) and a 800 m walking
test carrying weights providing a Potential Autonomy Index (IAP).
An overall autonomy index (ISAC) was obtained from the IAP/IAE
ratio. A 2-way ANOVA was applied to within and between group
comparisons regarding IAP, IAE, ISAC, and chronological age. The
EG exhibited higher levels of physical fitness and functional autonomy (P < 0.05), although similar profiles of overall autonomy as
defined by the ISAC. Hence, although being significantly older, the
active women had similar levels of autonomy of action compared
to the inactive group.
Palavras-chave: envelhecimento, autonomia, qualidade de vida,
aptidão física, saúde.
Key-words: aging, autonomy, quality of life, physical fitness, health.
Recebido em 23 de fevereiro de 2011; aceito em 25 de maio de 2011.
Endereço de correspondência: Nádia Lima da Silva, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (LABSAU-UERJ), Rua São Francisco Xavier 524, 80 andar, sala 8133, Bloco F, 20599-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
O processo de envelhecimento caracteriza-se pela perda
progressiva das capacidades fisiológicas [1]. Dentre as principais implicações do processo de envelhecimento, a perda
de força muscular é uma das que invariavelmente repercute
sobre a aptidão na execução das atividades diárias e, consequentemente, interfere veementemente na qualidade de vida
dos idosos [2,3].
Níveis elevados de fadiga durante as atividades diárias
estão altamente relacionados com incapacidade funcional
futura nos idosos [4-7]. A aptidão aeróbia e a força muscular
figuram entre as capacidades físicas essenciais para a realização
das tarefas do cotidiano [8,9] e estão diretamente relacionadas
com os aspectos cognitivos [10-13] e com a mortalidade em
idosos [14,15].
Todas essas repercussões afetam drasticamente a autonomia dos idosos [16,17]. Neste contexto, vários métodos
de avaliação tentaram quantificar a autonomia de idosos,
relacionando a autonomia às condições do ambiente físico
do indivíduo ou às suas características físicas individuais.
Porém, de acordo com Farinatti et al. [18] estes métodos
voltam-se eminentemente aos interesses do observador e
não aos do indivíduo observado. Ao contrário, o Sistema de
Avaliação da Autonomia de Ação de Idosos (SysSen) constitui
um sistema de avaliação física e funcional que se vale de uma
abordagem positiva, perante a avaliação da autonomia pelos
próprios idosos [16].
Apesar dos estudos prévios terem demonstrado que o
SysSen reveste-se de boa validade e reprodutibilidade [1820], é importante testá-lo em diferentes contextos para
ratificação desses resultados. Uma questão que se apresenta,
por exemplo, é a capacidade do sistema discriminar aspectos
da autonomia de ação entre idosos ativos e sedentários, bem
como os efeitos da prática regular de atividades físicas sobre
a autonomia assim definida. Desse modo, o presente estudo
teve por objetivo analisar o impacto do exercício físico sobre
o perfil de autonomia de ação definida pelo SysSen, em idosas
participantes de um programa de atividades físicas regulares,
o Projeto Idosos em Movimento: Mantendo a Autonomia
(IMMA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Materiais e métodos
Sujeitos
Participaram do estudo 60 idosas (74,3 ± 6,7 anos),
distribuídas igualmente em dois grupos: (I) Grupo Controle
(GC), não praticantes de exercício físico regular e (II) Grupo
Experimental (GE), idosas que participavam do projeto de
extensão universitário intitulado “Idosos em Movimento:
Mantendo a Autonomia (IMMA)”, desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, há pelo menos seis
meses. Para a seleção da amostra foram adotados os seguintes
69
critérios de exclusão: a) restrições médicas para a prática de
exercício físico; b) deficiência motora ou cognitiva impeditiva
da aplicação das atividades previstas (questionário e teste de
campo); c) problemas ósteomioarticulares que comprometessem a realização dos testes.
Todas as voluntárias foram devidamente esclarecidas a
respeito de todos os procedimentos experimentais e possíveis
riscos envolvidos no estudo e, então, assinaram um termo
de consentimento livre e esclarecido, conforme determina a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Avaliação antropométrica
Para determinação do Índice de Massa Corporal (IMC),
expresso em kg/m2, foram aferidas a massa corporal e a estatura, de acordo com as padronizações descritas por Gordon
et al. [21] e Martin et al. [22], respectivamente. O IMC foi
calculado pelo quociente entre peso (kg) e o quadrado da
estatura (m2). As medidas foram coletadas em uma balança
digital da marca Filizola® devidamente calibrada.
Avaliação da autonomia de ação
Para a avaliação da autonomia de ação das idosas foi utilizado o Sistema Sênior de Avaliação da Autonomia de Ação
(SysSen) [18]. O SysSen é composto por dois instrumentos
independentes e complementares: o QSAP (Questionário
Sênior das Atividades Físicas) e o Teste Sênior de Caminhar
e Transportar (TSMP).
O QSAP tem por finalidade observar a autonomia do
idoso através de questões sobre atividades de seu cotidiano. O
questionário é composto por quatro partes: (1ª parte) abrange
as atividades que o entrevistado faz em seu domicílio, em seu
trabalho e no tempo livre; (2ª parte) abrange as atividades que
o entrevistado deve fazer como, por exemplo, quantos lances
de escada o indivíduo deve, obrigatoriamente, subir por dia,
ou quanto tempo o indivíduo leva caminhando de sua casa até
o ponto de ônibus ou outro transporte público mais próximo;
(3ª parte) as atividades que o entrevistado deseja fazer - é
apresentada uma lista de atividades ao entrevistado, o qual
deve dizer se suas condições físicas e de saúde representam
impedimento durante a execução das atividades listadas, bem
como é atribuída uma pontuação aos sentimentos suscitados
pelo fato de não realizar atividades que desejaria fazer; a última parte (4ª parte) é constituída de itens para obter o ponto
de vista do entrevistador quanto à realidade do entrevistado,
buscando minimizar possíveis erros de avaliação.
Cada atividade possui uma pontuação pré-determinada e no
final de todas as respostas às partes do questionário, os pontos
são somados, dando resultado aos chamados “TOT 1, TOT2,
TOT3 e TOT4”. A soma do “TOT 1”, “TOT 2”, “TOT 3”
e “TOT 4”, dividida por quatro, nos leva ao “ITOT”, que
consiste nos índices totais do QSAP. Com base nesses índices
calcula-se o IAE (Índice de Autonomia Exprimida), que re-
70
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
presenta o resultado geral do questionário, através da seguinte
fórmula: IAE = 6,99 x IAEbruto + 69,88, onde IAEbruto = 7,496x1
+ 7,899x2 - 3,423, onde x1 = ITOT (PA), x2 = ITOT (FO)
O segundo instrumento do SysSen, o TSMP, foi pensado de
forma a permitir, em um teste físico, a interação da força muscular de membros superiores e da capacidade cardiorrespiratória
em um contexto funcional [19-20]. Trata-se de uma caminhada
de 800 metros transportando-se cargas de 6,5 kg em cada mão
para as mulheres e 8,0 kg para os homens. Os idosos devem
caminhar o mais rápido que puderem, porém, têm liberdade
para fazer pausas durante o percurso. Nesse teste, as variáveis
observadas são: IMC (Índice de Massa Corporal), tempo total
de percurso em segundos (T-800), S-PAUSA (correspondente
ao número de pausas que o indivíduo fez) e percentual da
frequência cardíaca máxima (%FC máx), determinado pela
fórmula: “%FCmáx = (FCtest x 100) / FCmáx”, sendo a FCtest
a máxima frequência obtida no teste e a FCmáx a frequência
máxima estipulada pela fórmula “220 - idade”.
O TSMP é composto por 3 fases: a) fase de pré-fadiga,
imóvel e de pé, o indivíduo sustenta pesos predeterminados
para seu sexo em cada uma das mãos durante 3 minutos, ao
fim dos quais é autorizado a começar a caminhada; b) fase
de trabalho, o indivíduo é convidado a percorrer, sem correr,
800 m (o mais rapidamente possível sem colocar em risco a
saúde), portando os pesos específicos ao seu sexo. Por razões
operacionais, o teste é feito em uma distância de 50 ou 100
m, percorrida 16 ou 8 vezes; e c) fase de recuperação, ao
fim dos 800 m, o sujeito coloca os pesos no chão e sua FC
(e, preferencialmente, a pressão arterial) é aferida imediatamente e após 3 minutos. Esse período de recuperação pode
ser aumentado, se essas variáveis mostram-se anormalmente
elevadas. A partir das quatro variáveis observadas durante o
teste foi determinado o IAP (Índice de Autonomia Potencial).
O resultado final do SysSen é a razão entre os valores corrigidos de IAP e o IAE, que resulta no ISAC (Índice Sênior
de Autonomia de Ação) (Quadro 1). Foram classificados
como autônomos os idosos cujo ISAC era maior ou igual a
um [18,19].
Protocolo experimental
Todas as idosas que compuseram o GE faziam parte do
IMMA há, no mínimo, seis meses. Portanto, todas foram
classificadas como fisicamente ativas e bem adaptadas aos
exercícios propostos pelo programa. A metodologia de trabalho no IMMA é pautada no desenvolvimento de atividades
corporais como ginástica, dança e jogos recreativos, realizadas
duas vezes por semana em sessões com duração aproximada
de 60 minutos. O esquema de aula engloba estímulos voltados para o desenvolvimento dos seguintes componentes
da aptidão física: força muscular, flexibilidade, equilíbrio,
coordenação e resistência aeróbia, além de valências como
a memória e funcionalidade, por meio de exercícios diários
funcionais específicos.
Quadro 1 - Fórmulas para Cálculo dos Índices Parciais (IAE e
IAP) e Total do SysSen (ISAC).
Índice Senior de Autonomia Exprimida (IAE)
6,99 x IAEbruto + 69,88
IAEbruto = 7,496 x ITOT (PA) + 7,899 x ITOT (FO) - 3,423
ITOT (PA) = somatório dos índices parciais das partes do
QSAP para FO
Índice Senior de Autonomia Potencial (IAP)
IAP = 69,02 - 4,49 x IAPbruto
IAPbruto (homens) = 0,005x1 + 0,053x2 + 0,514x3 - 0,013x4
- 3,28
IAPmulheres = 68,51 - 6,84 x IAPbruto
IAPbruto (mulheres) = 0,006x1 + 0,080x2 + 0,233x3 +
0,029x4 - 8,32
x1 = T-800 (seg); x2 - BMI (kg;m2); x - S-PAUSW (s/dim); x4 =
%FCmax (%)
Índice Senior de Autonomia de Ação (ISAC)
ISAC = IAPcorr/IAEcorr
IAPcorr (mulheres) = 1,48 x IAPmulheres - 52,43
IAEcorr (mulheres) = 2,04 x IAE - 91,65
IAPcorr (homens) = 2,23 x IAPhomens - 102,86
IAEcorr (homens) = 1,37 x IAE - 46,10
Fonte: Farinatti et. al., 2000.
O SysSen foi aplicado durante o período de 28 dias. Toda
a avaliação era realizada em um único dia, portanto, avaliouse cerca de duas idosas/dia. Após explanação dos objetivos e
metodologia do estudo, os participantes assinavam o TCLE
e, em seguida, eram realizadas as medidas antropométricas.
Feito isso, dava-se início a aplicação do QSAP. A duração
média da aplicação do QSAP era de 15 minutos por idosa.
Após todas as idosas responderem o questionário iniciava-se
a fase de aplicação do TSMP.
A aferição da frequência cardíaca e da pressão arterial de repouso era realizada antes da caminhada. Caso o sujeito exibisse
FC maior que 120 bpm, PA sistólica acima de 150 mmHg ou
PA diastólica acima de 100 mmHg, o teste não era realizado,
sendo remarcado o dia de aplicação do teste. A avaliação era
realizada sempre individualizada, somente com o avaliador
responsável. A FC foi monitorada continuamente, da fase
pré-fadiga até o final da recuperação. Na fase de recuperação
eram aferidas a FC e a PA imediatamente após o término do
TSMP e três minutos após. A frequência cardíaca (FC) foi
aferida pelo Polar ® Accurex (Tampere, Finlândia) e a pressão
arterial (PA) aferida pelo esfigmomanômetro aneróide BIC®.
Análise estatística
Os resultados foram apresentados sob a forma de média e
desvio-padrão. Após a comprovação de normalidade e heteroscedasticidade, foi utilizado, para comparação dos valores médios
dos índices fornecidos pelo QSAP e TSMP, o teste t-Student
para amostras independentes. Uma ANOVA de dois fatores,
seguida de verificação post-hoc de Tukey, foi aplicada conside-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
rando IAP, IAE e Idade cronológica para os grupos controle e
experimental. Foi adotado um nível de significância de p ≤ 0,05.
Resultados
A Tabela I apresenta as características da amostra (n = 60).
Os grupos controle e experimental revelaram-se homogêneos.
E de acordo com a NSI (1992), ambos os grupos se apresentam na faixa de normalidade para o índice de massa corporal.
sultado do teste de caminhar e transportar pesos, o resultado
tendeu a ser menor para o GC do que para o GE. Mesmo não
havendo diferenças estatísticas entre os grupos estudados, vale
ressaltar os valores absolutos dos IAPs entre os grupos. No
GC, somente sete das 30 idosas conseguiram transportar os
pesos por todo o percurso de 800 m, enquanto que no GE, 21
das 30 idosas completaram com êxito o transporte dos pesos.
Figura 1 - Resultados para os índices gerais do SysSen e idade
cronológica.
Tabela I - Caracterização da amostra.
30
Idade
77,4 ±
4,7*
71,2
±8,7
Altura
1,56 ±
0,1
1,58
±0,1
85
Massa
60,8
±11,4
61,3
±10,3
IMC
25,1
±4,5
24,6
±3,8
Na Tabela II apresentam-se os resultados da comparação
entre as médias dos resultados obtidos no QSAP e TSMP para
GE e GC. Observa-se que, para o escore do “TOT1 PA”, que
compreende questões referentes às necessidades relacionadas
à potência aeróbia impostas pelas atividades que os avaliados
fazem no seu cotidiano, o GE apresentou valores significativamente maiores que o GC. Em contrapartida, para os escores do
“TOT1 FO”, que compreendem atividades que exigem força
muscular de membros superiores, não foi encontrada diferença
significativa entre os grupos estudados. Para os escores “TOT3
PA” e “TOT3 FO” os resultados foram significativamente
superiores para GC que para GE. Já em relação ao IAE e IAP,
não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos.
Tabela 2 - Valores médios dos resultados do QSAP E TSMP.
GE
GC
TOT1 PA
0,16 ±0,1*
0,11 ±0,06
TOT1 FO
0,12 ±0,05
0,10 ±0,06
TOT2 PA
0,29 ±0,12
0,28 ±0,17
TOT2 FO
0,25 ±0,10
0,25 ±,16
TOT3 PA
0,07 ±,006*
0,21 ± 0,20
TOT3 FO
0,08 ±0,08*
0,22 ±0,21
TOT4 PA
0,31 ±0,14
0,31 ±0,7
TOT4 FO
0,31 ±0,14
0,29 ±0,15
ITOT PA
0,21 ±0,06
,023 ±0,12
ITOT FO
0,19 ±0,05
0,21 ±0,11
IAE BRUTO
-0,36 ±0,9
0,04 ±1,7
IAP BRUTO
1,47 ±1,42
1,68 ±2,24
IAE
67,36 ±6,26
69,63 ±12,09
IAP
58,5 ±9,7
57,02 ±15,35
*Diferença significativa entre os grupos experimental e controle.
A Figura 1 apresenta os resultados da ANOVA para a
comparação entre IAE, IAP e idade cronológica em GC e
GE. Nota-se que os valores de IAE foram superiores em GC,
embora o “TOT 1 PA” tenha sido maior no GE, conforme
mostrado na Tabela II. Em relação ao IAP, que traduz o re-
Unidade Normalizada (anos)
Inativos
N
30
80
IAE
IAP
75
70
65
IAE
IAP
Idade
IAP
Idade
IAP
60
Idade
IAP
Idade
IAE
55
50
45
IAE
IAP
Idade
Ativas
Inativas
IAE: Índice de autonomia exprimida; IAP: índice de autonomia potencial.
* Diferença significativa entre GE e GC (P = 0,013). As indicações internas indicam diferença significativa em relação ao índice mencionado
( P < 0,01). As barras representam os intervalos de confiança a 95%.
A Figura 2 exibe o Índice Sênior de Autonomia de Ação
(ISAC), resultante do cruzamento entre IAP e IAE. Percebe-se
que, em média, ambos os grupos analisados não atingiram os
escores mínimos estabelecidos para que fossem considerados
autônomos (ISAC ≥ 1). Observa-se também, que os ISACs
dos grupos não diferiram significativamente (p = 0,88).
Figura 2 - Resultados para o Índice Sênior de Autonomia de Ação.
1,1
1,0
ISAC (adimensional)
Sujeitos
Ativos
71
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
Ativas
Inativas
(ISAC) entre os grupos GE e GC. NS: Diferença não-significativa (P =
0,88). As barras representam os intervalos de confiança a 95%.
72
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Discussão
O objetivo do presente estudo foi analisar o impacto do
exercício físico praticado regularmente por idosas participantes do Projeto Idosos em Movimento: Mantendo a Autonomia (IMMA) sobre o perfil de autonomia de ação definida
pelo SysSen, em comparação com um grupo não vinculado a
quaisquer programas de atividades físicas.
Apesar de o SysSen ter reduzido poder de discriminação
quando aplicado a idosos cujo grau de comprometimento
da autonomia seja elevado [18], tal limitação não chegou a
comprometer os resultados obtidos. Mesmo o grupo inativo
era composto de idosas hígidas e vivendo em comunidade,
com funcionalidade compatível com as atividades propostas
pelo TSMP.
A comparação entre as médias obtidas no QSAP entre os
grupos mostrou que, no tocante ao “TOT1 PA” (total das
necessidades associadas à potência aeróbia na Parte I do questionário), o GE apresentou valores significativamente maiores
que o GC (p < 0,05). Em contrapartida, para os escores do
“TOT1 FO”, que compreendem atividades que exigem
força muscular de membros superiores, não foi encontrada
diferença significativa entre os grupos estudados.
Pode-se suspeitar, portanto, que as exigências físicas de
características aeróbias possam produzir maiores influências
sobre o desempenho nas atividades diárias cotidianas das
idosas inativas, do que as exigências físicas relativas à força
muscular de membros superiores. Corroborando esse achado,
Skelton et al. [23] e Miszko et al. [24] analisaram o efeito do
treinamento da força e da potência muscular sobre as funções
físicas e capacidades funcionais de idosos, concluindo que,
se o treinamento resistido gera ganhos de força muscular
significativos, isso não se refletiria na mesma proporção no
desempenho das tarefas funcionais diárias.
Em adição, Vreede et al. [25] compararam o efeito do
treinamento de força muscular e de exercícios para tarefas
funcionais em idosas utilizando um questionário que objetivava avaliar o desempenho nas atividades funcionais diárias
de idosos (ADAP). O treinamento da força produziu efeitos
inferiores aos produzidos pelos exercícios funcionais específicos, porém conseguiu melhorar o desempenho de idosos
em comparação com grupo controle. Este estudo ratifica
a importância da prática de exercícios que visam trabalhar
musculaturas específicas recrutadas em tarefas diárias dos idosos, o que se aproxima bastante das atividades ofertadas pelo
IMMA. Além disso, Arnett et al. [8] avaliaram o desempenho
funcional e a reserva aeróbia de idosos durante uma série de
atividades diárias funcionais, utilizando como instrumento
de avaliação o CS-PFP, que se constitui num protocolo que
inclui 16 tarefas de vida diárias, quantificadas pelo tempo e
distância percorrida, considerando o peso dos avaliados. Este
instrumento tem sua validade e reprodutibilidade testadas
[26,27]. Concluiu-se que tarefas domésticas, como o ato de
carregar mantimentos, requerem de 40 a 50% do VO2 de pico
dos idosos. Isso ilustra o quão necessária é a aptidão aeróbia
para um bom desempenho nas atividades de vida diárias à
medida que se envelhece.
Para os escores “TOT3 PA” e “TOT3 FO”, houve diferença estatística entre os grupos GE e GC, as idosas inativas
revelando maior necessidade de força nas atividades relatadas
como desejadas, apesar de não realizadas (p < 0,05). Pode-se
pensar que as idosas do GE, por pertencerem ao IMMA e
realizarem atividades físicas variadas e lúdicas, executariam
cotidianamente um maior leque de atividades do que as idosas
do GC, daí um nível menor de desejo por atividades novas
do que o exibido pelas idosas inativas.
Já para o IAP, não houve diferenças significativas entre os
grupos. Porém, deve-se levar em consideração que a quantidade absoluta de idosas que completaram o teste em GC foi
nitidamente menor que em GE (7 em 30 vs 21 em 30). Além
disso, como apresentado na Tabela I, a média de idade do GE
foi superior à do GC (p = 0, 001). Portanto, em função da
maior idade, era de se esperar que o GE apresentasse um pior
resultado, uma vez que idades mais avançadas implicariam em
maiores dificuldades na manutenção da autonomia funcional
[28]. Em vez disso, as idosas pertencentes ao IMMA tenderam
a possuir melhor desempenho no teste proposto.
Em relação ao índice Sênior de Autonomia de Ação
(ISAC), nenhum dos grupos atingiu os escores mínimos
estabelecidos como ponto de corte para a autonomia (ISAC
≥ 1), sem diferença estatística entre eles (p = 0,88). Todavia,
deve-se levar em consideração as características do método de
avaliação. Por se tratar de um índice que nasce da comparação
entre os resultados do QSAP e TSMP (leia-se, IAE e IAP), é
possível que um mesmo ISAC seja obtido para sujeitos com
marcada diferença no desempenho físico obtido no TSMP.
Basta que as necessidades do IAE sejam igualmente elevadas
no sujeito fisicamente mais apto. Nesse sentido, indivíduos
sedentários e felizes de o serem, sem desejos de novas atividades (Parte III do QSAP), podem ser considerados tão
autônomos quanto outros, fisicamente ativos, mas que, por
conta disso, realizam muito mais atividades em seu cotidiano
(Partes I e II do QSAP).
Assim, a influência de partes específicas do QSAP pode
levar a uma igualdade entre os grupos, igualdade essa que
nasce de uma desigualdade proporcional que equilibra as
necessidades em termos de atividades tidas pelo próprio idoso
como importantes para uma vida autônoma e a capacidade
físico-funcional de responder e fazer frente a elas.
Conclusão
Considerando os resultados obtidos, pode-se concluir
que idosas que participam regularmente do Projeto IMMA
tendem a exibir níveis maiores de aptidão física e funcional,
ainda que perfis similares de autonomia de ação conforme
definida pelo SysSen. Apesar de cronologicamente mais velhas,
as idosas ativas exibiram autonomia de ação, necessidades em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
termos de atividades físicas e desempenho físico-funcional
equivalente às idosas inativas. Em ambos os grupos, as necessidades para uma vida autônoma pareceram se relacionar mais
proximamente com a aptidão aeróbia do que com a força de
membros superiores. Enfim, os resultados obtidos pelo SysSen
pareceram revestir-se de consistência interna e lógica externa,
reforçando com isso sua validade de potencial de aplicação a
diferentes populações de idosos.
Referências
1. Marin RV, Matsudo S, Matsudo V, Andrade E, Braggion G.
Acréscimo de 1 kg aos exercícios praticados por mulheres acima
de 50 anos: impacto na aptidão física e capacidade funcional.
Rev Bras Ciên Mov 2003;11:53-8.
2. Smilios I, Pilianidis T, Karamouzis M, Parlavantzas A, Tokmakidis SP. Hormonal responses after a strength endurance
resistance exercise protocol in young and elderly males. Int J
Sports Med 2007;28:401-6.
3. Hunter GR. Wetzstein CJ, Mclafferty CL, Zuckerman PA,
Landers KA, Bamman MM. High-resistance versus variableresistance training in older adults. Med Sci Sport Exerc
2001;33:1759-64.
4. Avlund K, Rantanen T, Schroll M. Tiredness and subsequent
disability in older adults: The role of walking limitations. J
Gerontol A Biol Sci Med Sci 2006;61:1201-5.
5. Avlund K, Rantanen T, Schroll M. Factors underlying tiredness
in older adults. Aging Clin Exp Res 2007;19:16-25.
6. Avlund K, Vass M, Hendriksen C. Onset of mobility disability
among community-dwelling old men and women. The role of
tiredness in daily activities. Age Ageing 2003;32:579-84.
7. Wick JY, Lafleur J. Fatigue: implications for the elderly. Consult
Pharm 2007;22:566-70.
8. Arnett SW, Laity JH, Agrawal SK, Cress ME. Aerobic reserve
and physical functional performance in older adults. Age Ageing 2008;37:384-9.
9. Pugh KG, Wei JY. Clinical implications of physiological changes
in the aging heart. Drugs Aging 2001;18:263-76.
10. Colcombe SJ, Kramer AF, Erickson KI, Scalf, P, Mcauley E,
Cohen NJ et al. Cardiovascular fitness, cortical plasticity, and
aging. Proc Natl Acad Sci 2004;101:3316-21.
11. Colcombe SJ, Kramer AF, Mcauley E, Erickson KI, Scalf P.
Neurocognitive aging and cardiovascular fitness: recent findings
and future directions. J Mol Neurosci 2004;24:9-14.
12. Marks BL, Madden DJ, Bucur B, Provenzale JM, White LE,
Cabeza R et al. Role of aerobic fitness and aging on cerebral
white matter integrity. Ann N Y Acad Sci 2007;1097:171-4.
13. Mcauley E, Kramer AF, Colcombe SJ. Cardiovascular fitness
and neurocognitive function in older adults: a brief review.
Brain Behav Immun 2004;18:214-20.
73
14. Sui X, Laditka JN, Hardin JW, Blair SN. Estimated functional
capacity predicts mortality in older adults. J Am Geriatr Soc
2007;55:1940-7.
15. Sui X, Lamonte MJ, Laditka JN, Hardin JW, Chase N, Hooker
SP, et al. Cardiorespiratory fitness and adiposity as mortality
predictors in older adults. Jama 2007;298:2507-16.
16. Farinatti PTV. Avaliação da autonomia do idoso: definição
de critérios para uma abordagem positiva a partir de um
modelo de interação saúde-autonomia. Arq Gerontol Geriatr
1997;1:31-38.
17. Heathcote G. Autonomy, health and ageing: transnational
perspectives. Health Ed Res 2000;15:13-24.
18. Farinatti PTV, Assis BFCB, Silva NSL. Estudo comparativo
da autonomia de ação de idosas participantes de programas
de atividade física no Brasil e Bélgica. Rev Bras Cineantropom
Desempenho Hum 2008;10:107-14.
19. Farinatti PTV. Mise au Point d’un Systeme d’Evaluation de
l’Autonomie d’Action des Seniors: de la théorie à la pratique
[Tese]. Bruxelas: Universidade Livre de Bruxelas; 1998.
20. Farinatti PTV. Proposta de um instrumento para avaliação da
autonomia do idoso: o Sistema Sênior de Avaliação da Autonomia de Ação (SysSen). Rev Bras Med Esp 2000;6:224-30.
21. Gordon C, Chumlea WC, Roche AF. Stature, recumbent length,
and weight. Champaign: Human Kinetics; 1988.
22. Martin AD, Carter JEL, Hendy KC, Malina RM. Segment
lengths. Champaign: Human Kinetics; 1988.
23. Skelton DA, Young A, Greig CA. Malbut KE. Effects of
resistance training on strength, power, and selected functional abilities of women aged 75 and older. J Am Geriatr Soc
1995;43:1081-7.
24. Miszko TA, Cress ME, Slade JM. Covey CJ, Agrawal SK, Doerr,
CE. Effect of strength and power training on physical function
in community-dwelling older adults. J Gerontol A Biol Sci Med
Sci 2003;58A:M171-75.
25. Vreede PL, Samson MM, Van Meeteren NLU, Duursma SA,
Verhaar HJJ. Functional-task exercise versus resistance strength
exercise to improve daily function in older women: a randomized, controlled trial. J Am Geriatr Soc 2005;53:2-10.
26. Cress ME, Buchner DM, Questad KA, Esselman PC, DeLateur BJ, Schwartz RS. Continuous-scale physical functional
performance in healthy older adults: a validation study. Arch
Phys Med Rehabil 1996;77:1243-50.
27. Cress ME, Buchner DM, Questad KA, Esselman PC, deLateur
BJ, Schwartz RS. Exercise: effects on physical functional performance in independent older adults. J Gerontol A Biol Sci
Med Sci 1999;54:242-8.
28. Van Den Hombergh CEJ, Schouten EG, Van Staveren WA,
Van Amelsvoort LGPM, Kok FJ. Physical activities of noninstitutionalized Dutch elderly and characteristics of inactive
elderly. Méd Sci Sports Exerc 1995;27:334-9.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
74
Artigo original
Efeito do uso de antioxidantes na prevenção da lesão
muscular em atividades físicas intensas
Effect of antioxidant in the prevention of muscular lesion
in intense physical activities
Fabio Gilberto Valente*, Rita de Cassia Doracio Mendes, M.Sc.**, Wanderlei Onofre Schmitz, M.Sc.***
*Biomédico graduado pelo Centro Universitário da Grande Dourados, **Professora do curso de Nutrição do Centro Universitário da
Grande Dourados, ***Professor do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados
Resumo
Abstract
O exercício intenso tem sido reconhecido como principal
causa evitável de lesão muscular. Isso ocorre devido à produção dos
radicais livres durante o exercício. Por isso seria importante o uso
de substâncias antioxidantes para minimizar as lesões durante os
exercícios. Este estudo avaliou o uso de antioxidante (vitamina C)
na prevenção da lesão muscular em atletas. A pesquisa foi realizada
com um grupo de 9 fisiculturistas. Cada atleta realizou uma série de
exercícios e posteriormente foram tomadas as medidas antropométricas e, para avaliar o grau de lesão muscular, foi dosada a atividade
enzimática (CPK, CK-MB, ALT, AST) no soro dos atletas. O IMC
dos atletas foi adequado (23,1 ± 0,4 kg/m2), e a porcentagem de
gordura corporal (14,2 ± 1,5%), próximo da média recomendada
para os homens. Os níveis séricos de CPK decaíram de maneira
significativa, atividade sérica da CK-MB apresentou uma diminuição
de 8% na sua atividade, já a AST apresentou uma queda de 15% da
sua atividade e a Enzima ALT não teve alterações significativas, após
o tratamento com vitamina C. Os resultados do estudo sugerem
que o consumo regular da vitamina C melhora os mecanismos de
defesa antioxidante e reduz as manifestações de danos musculares
induzidos pelo esforço, possivelmente por meio da neutralização da
ação dos radicais livres.
The intense exercise has been recognized as the main avoidable
cause of muscular lesion, which happens because of the production
of free radicals during the exercise. Therefore, it would be important to use antioxidant substances to minimize the lesions during
exercises. This study evaluated the use of antioxidant (vitamin C)
in the prevention of muscular lesion in athletes. The study was
performed with a group of 9 body-builders who carried out several
series of exercises. In order to evaluate the level of muscular lesion,
the enzymatic activity in the serum of the athletes was dosed (CPK,
CK-MB, ALT, AST). The BMI of the athletes was adequate (23.1 ±
0.4 kg/m2) and the percentage of body fat (14.2 ± 1.5%) was close
to the average recommended for men. The serum levels of CPK
decreased significantly. The serum activity of CK-MB presented a
decrease of 8% in its activity while the AST presented a decrease of
15% in its activity and the enzyme ALT have not had any significant
alterations after the treatment with vitamin C. The results suggest
that a regular consumption of vitamin C improves the antioxidant
defense mechanisms and reduce the manifestations of muscle tissue
damage induced by effort, possibly by means of neutralization of
the damaging action of free radicals.
Key-words: free radicals, muscular lesion, antioxidants, vitamin C.
Palavras-chave: radicais livres, lesão muscular, antioxidantes,
vitamina C.
Recebido em 28 de fevereiro de 2011; aceito em 15 de maio de 2011.
Endereço para correspondência: Wanderlei Onofre Schmitz, Rua Ranulfo Saldivar, 458, Parque Alvorada, 79823-420 Dourados MS,
Tel: (67) 3426-7442, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
O exercício exaustivo e extenuante tem sido reconhecido
como causa comum e evitável de lesão muscular, principalmente em homens não condicionados, pois, durante a atividade física, ocorrem diversas adaptações fisiológicas, sendo necessários
ajustes cardiovasculares e respiratórios para compensar e manter
o esforço realizado. O aumento do consumo de oxigênio,
assim como a ativação de vias metabólicas específicas, resulta
na formação de radicais livres (RL) durante o exercício [1].
Segundo Clarkson e Thompson [2], essas espécies reativas são
moléculas que apresentam um elétron desemparelhado na sua
camada de valência, podendo contribuir para danos celulares
e também prejudicando o desempenho do atleta.
O treinamento resistido consiste em um tipo de treinamento de força, que é predominantemente um processo
anaeróbico, ou seja, com suprimento de O2 reduzido, nestes
casos o músculo converte o ATP em ADP e o ADP em AMP.
O AMP acumulado no músculo é degradado a inosina monofosfato (IMP) e a IMP formada é degradada à inosina, e esta,
à hipoxantina. A hipoxantina sofre ação da xantina oxidase
que durante o processo de oxidação da hipoxantina a xantina,
gera diretamente moléculas de radicais livres (superóxido,
peróxido de hidrogênio e radical hidroxila) [3].
Os RL podem atacar todas as principais classes de biomoléculas do organismo, sendo os lipídeos os mais suscetíveis. Os
ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) das membranas celulares sofrendo lipoperoxidação, que é uma destruição oxidativa
que se autopropaga na membrana. Uma grande produção de
RL pode conduzir ao estresse oxidativo, que causa danos à
estrutura do DNA, lipídios, carboidratos e proteínas, além
de outros componentes celulares. Estes danos ocorridos nas
células ampliam o tempo necessário para a reparação celular e
isso obriga os atletas a manter um determinado tempo para a
recuperação da musculatura, que foi exigida durante o treino,
sob o risco de sobrecarga à musculatura produzindo fadiga e
perda de massa muscular [4].
Uma das maneiras de avaliar as lesões causadas por RL é
dosar os metabólitos formados durante o estresse oxidativo,
estes metabólitos são: a produção de malondialdeido (MDA)
e dienos conjugados [2]. Ramel et al. [5] avaliaram o perfil
antioxidante, a lipoperoxidação, a produção de MDA e dienos
conjugados em atletas que realizavam exercícios resistivos e em
atletas que não realizavam exercícios resistivos e encontrou um
aumento da produção de RL nestes dois tipos de atletas não
havendo diferença entre o tipo de treino na produção dos RL.
Estas lesões causadas às células musculares durante o
treino podem ser prevenidas ou reduzidas por meio da ação
dos antioxidantes encontrados nos alimentos, os quais podem
ocorrer naturalmente na dieta do atleta ou ser introduzidos
especificamente durante o processo de treinamento para
melhorar o rendimento do mesmo [6].
Zoppi et al. [7] tentaram explicar a etiologia da lesão
muscular, em um estudo sobre alterações em biomarcadores
75
de estresse oxidativo em atletas, eles observaram que, durante
o exercício físico, o consumo de oxigênio aumenta em até 20
vezes. Considerando-se que 2 a 5% do oxigênio consumido
dão origem a RL, consequentemente ocorre aumento da produção de tais agentes nocivos. Assim, ocorre uma associação
direta entre a produção de RL durante o exercício físico, o
processo de fadiga muscular e a lesão celular. Segundo García [8], o exercício forçado se caracteriza por um aumento
no consumo de oxigênio levando a um desequilíbrio entre
os mecanismos pró-oxidantes da homeostase celular e os
mecanismos de defesa antioxidantes, causando a produção
excessiva de RL que pode induzir destruição celular. O nível
da lesão é determinado pela duração e intensidade do exercício. Desta forma, atividades de resistência ou de explosão
produzem vários níveis de resposta celular e de lesão muscular.
O maior risco de lesão muscular ocorre durante a contração
excêntrica, pois, neste tipo de ação, realiza-se trabalho de força
e de alongamento ao mesmo tempo, aumentando o estresse
sobre os tecidos [9].
Marcadores de lesão muscular
As lesões causadas no músculo esquelético pelo exercício
podem variar dependendo da fibra muscular e do tipo de
trauma ocorrido. O exercício normalmente eleva os valores
das enzimas musculares de 12 a 48 horas após o mesmo. O
aumento das proteínas presentes no citosol celular na circulação plasmática reflete diretamente na lesão da membrana
da célula muscular [10].
Para o diagnóstico dos danos musculares esqueléticos é
utilizada a dosagem da atividade enzimática da creatinafosfoquinase (CPK), já para avaliar a lesão muscular cardíaca
utiliza-se a creatinafosfoquinase fração MB (CK-MB). Dentre
essas enzimas, a CPK é frequentemente descrita como melhor marcador de dano ao tecido muscular, sobretudo após
o exercício de força [11].
A CPK é um indicador altamente sensível e específico de
lesão muscular em humanos. A CPK pode apresentar um
aumento de suas taxas no soro em casos de lesão muscular
reversível ou na necrose muscular. Assim, altas taxas de
CPK sérica indicam doença muscular ativa ou de ocorrência
recente, enquanto valores persistentemente altos refletem a
continuidade da lesão. Já a CK-MB é uma isoenzima da CPK
que corresponde à principal enzima liberada pelo músculo
estriado cardíaco. Esta enzima eleva-se quando ocorre isquemia em uma determinada região do músculo cardíaco e sua
determinação é altamente específica para o diagnóstico da
lesão celular aguda do miocárdio. O aumento da CK-MB
atinge seu pico entre 12 e 24 horas, para depois regressar ao
normal dentro de 48 a 72 horas [12].
Também é possível diagnosticar a lesão muscular através
da dosagem da atividade enzimática da aspartato aminotransferase (AST) e da alanina aminotransferase (ALT), já que essas
enzimas são enzimas intracelulares e, devido à lesão celular, são
76
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
liberadas no plasma onde se tornam elevadas. Esse aumento
ocorre poucas horas após a lesão e atinge valores máximos em
12 horas, voltando ao normal 24 a 48 horas depois de cessar
a alteração de permeabilidade muscular. A AST é encontrada
principalmente no fígado, nos eritrócitos e no músculo estriado esquelético e cardíaco. Normalmente é utilizada para
avaliar lesão muscular juntamente com a ALT. A utilização da
enzima AST oferece informações mais precisas sobre o grau da
lesão, pois é encontrada em maior concentração no interior
da mitocôndria e seu aumento sugere lesão mitocondrial [10].
O uso de antioxidantes
Os antioxidantes são capazes de sequestrar os RL gerados
pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, impedindo
o ataque destes sobre os lipídeos, os aminoácidos das proteínas, a dupla ligação dos ácidos graxos poliinsaturados e as
bases púricas e pirimídicas do DNA, evitando assim a formação de lesões e perda da integridade da membrana celular.
O controle do estresse oxidativo pela ação dos antioxidantes
nas células é extremamente importante para a sobrevivência
do ser humano no ambiente aeróbico [13].
Atua nesse sentido a vitamina C, que proporciona proteção
contra a oxidação descontrolada no meio aquoso da célula,
pois apresenta a habilidade de atuar como agente redutor
(doador de elétrons). A recomendação diária (RDA) de
vitamina C para mulheres adultas foi estipulada em 75 mg/
dia e, para homens, em 90 mg/dia. Já os fumantes, que têm
maior estresse oxidativo, devem aumentar a sua ingestão em
35 mg/dia. O limite máximo tolerável para um indivíduo
com idade de dezenove (19) a cinquenta (50) anos é de 2000
mg/dia de vitamina C, essa dosagem foi baseada no efeito
adverso da indução de diarréia osmótica causada pela alta
ingestão de vitamina C. A vitamina C da dieta é absorvida
de forma rápida e eficiente por um processo dependente de
energia, o seu consumo em doses altas leva ao aumento da sua
concentração em praticamente todos os tecidos do organismo
e diretamente no plasma sanguíneo [14].
A deficiência de vitamina C no organismo pode resultar
em câimbras musculares, promover sensações de fraqueza,
baixo desempenho físico e dificuldade na resistência aeróbica.
Estes sintomas prejudicam o desempenho dos atletas durante
os treinamentos físicos, podendo favorecer a lesão muscular e a
dor. Assim o uso de antioxidantes pode atuar na prevenção de
danos no tecido muscular e tornar o treinamento mais eficaz
melhorando os resultados nas competições [8,15].
Goldfarb et al. [16] ministraram doses de 500 ou 1.000mg
de vitamina C/dia a voluntários durante duas semanas e no
final do tratamento, os pacientes foram submetidos a uma
corrida de 30 minutos. Após o exercício, o grupo que recebeu
a vitamina C apresentou uma menor oxidação das suas proteínas em relação ao grupo controle não tratado, demonstrando
a ação da vitamina C. A suplementação com vitamina C por
um tempo mais prolongado e em menores doses pode trazer
benefícios em relação à dor e à lesão musculares, que os atletas enfrentam após uma competição. Thompson et al. [17]
avaliaram o efeito de duas semanas de suplementação com
vitamina C sobre a recuperação dos atletas após um protocolo
de exercício intenso e prolongado, a concentração de CPK e
de mioglobina não foram alteradas pela suplementação, mas
a suplementação atenuou a concentração de MDA e da dor
muscular, beneficiando a recuperação da função do músculo.
Tendo em vista os dados apresentados, este trabalho tem
como objetivo avaliar a ação da vitamina C como agente antioxidante e mioprotetor, amenizando as lesões musculares ocorridas
durante o treinamento físico em atletas e com isso possibilitando
uma melhor recuperação muscular destes indivíduos.
Material e métodos
Caracterização e recrutamento da amostra
A pesquisa foi realizada com nove atletas fisiculturistas,
na cidade de Dourados/MS, que praticavam musculação, no
mínimo por um ano, sendo todos do sexo masculino, com
idade de 18 a 25 anos e com peso entre 65 a 100 kg. O estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos do Centro Universitário da Grande Dourados Unigran (CEP - Unigran), mediante o processo n.º 246/07,
de que resultou o ofício de aprovação em 30 de outubro de
2008, todos os participantes da pesquisa assinaram o termo
de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Coleta da amostra
A coleta sanguínea foi realizada no laboratório de Análises
Clínicas do Centro Universitário da Grande Dourados – Unigran, onde foi coletado 6 mL de sangue por punção venosa
da fossa cubital e o sangue coletado em tubo da marca BD
Vacuntainer® sem anticoagulante. O tubo sem anticoagulante
foi deixado por 30 minutos em banho-maria à 37º C e centrifugado por 10 minutos a 3000 rpm para a obtenção do soro.
Delineamento experimental
A primeira coleta de sangue dos atletas foi realizada após
uma semana de descanso e antes dos testes físicos. No dia
seguinte após a coleta, iniciou-se a primeira série de exercícios
físicos, com carga máxima de 80% da capacidade física de cada
atleta e até ocorrer exaustão muscular. No protocolo adotado
cada atleta foi avaliado para determinar a sua carga máxima
e foi selecionado o peso correspondente a 80% desta carga
máxima para cada atleta, em seguida os atletas realizaram uma
série de repetições até a fadiga [18].
Cada atleta realizou uma série de exercícios: crucifixo
inclinado (peito), puxador articulado (ombro), ramada cavalo
(costas), rosca concentrada scott (braço), tríceps testa (braço),
agachamento guiado (perna), levantamento terra (perna), pan-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
turrilha sentado (perna). Sendo que 12 horas após os exercícios,
foi realizada a segunda coleta de sangue. Uma semana depois
dos exercícios, tempo este necessário para a recuperação das
células musculares dos atletas. Cada um dos atletas fez ingestão
de 20 mg/kg de vitamina C e 2 horas após a ingestão, tempo
necessário para o início da absorção da vitamina C, foi realizada
a mesma série de exercícios para cada um dos indivíduos. A
terceira coleta foi realizada 12 horas após o término da segunda
série de exercícios. As medidas antropométricas foram obtidas
no Núcleo de Nutrição da Unigran sendo compostas da avaliação da estatura utilizando o estadiômetro que se encontra
acoplado a balança e a avaliação do peso em balança mecânica
da marca Welmy. Os dados foram usados para o cálculo do
Índice de Massa Corpórea (IMC= P/A2) e avaliação de gordura
corporal e da água corporal foi feita através do equipamento
de bioimpedância da marca TBW [19,20].
77
Tabela I - Avaliação nutricional dos atletas quanto a sua massa
corporal.
Atletas
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Total
MM
kg
%
59,2
80,5
57,8
85,6
56,6
84,1
50,6
85,5
57,1
83,3
70,5
79,3
60,4
90,0
65,9
91,7
62,5
86,5
60,1 ± 85,2 ±
1,9
1,3
MG
kg
%
14,3
19,5
9,7
14,4
10,7
15,9
8,6
14,5
11,4
16,6
18,4
20,7
6,7
10,0
6,0
8,3
5,3
7,9
10,1 ± 14,2 ±
1,4
1,5
IMC
kg/m2
23,7
22,6
23,2
22,8
22,9
26,0
21,1
23,5
22,1
23,1 ±
0,4
MM: Massa Magra; MG: Massa Gorda; IMC: Índice de Massa Corpórea. Média ± desvio padrão.
Dosagem das enzimas CPK, CK-MB, AST e ALT
A dosagem das enzimas séricas dos atletas foi realizada utilizando kits comerciais da marca Gold Analisa Diagnóstico LTDA,
os quais apresentavam método cinético-colorimétrico, sendo a
leitura das absorbâncias feitas em espectrofotômetro semiautomatizado a 340 nm (UV) da marca Bioplus, modelo BIO 200.
Análise estatística
As análises foram apresentadas como média e o erro padrão da média (SE). Empregando-se o programa de análise
estatística computadorizada Statistica 6.0 (STAT SOFT), a
comparação entre os atletas foi realizada pela análise de variância (ANOVA) e Teste de Tukey. Todas as conclusões estatísticas
foram efetuadas em nível de 5% de significância (p < 0,05).
Resultados e discussão
Os dados dos atletas que participaram da pesquisa, referentes à massa magra, massa gorda e o índice de massa corpórea
dos participantes da pesquisa são apresentados na Tabela I.
Analisando os resultados obtidos os atletas estão com o peso
adequado (23,1 ± 0,4 kg/m2), ficando entre 18,5 e 25 que é
o esperado para a população e com a porcentagem de gordura
corporal (14,2 ± 1,5%), próximo da média recomendada para
os homens que é de 15% [21].
Os valores encontrados neste experimento se mostram
muito próximos dos valores encontrados em um estudo realizado por Maestá et al. [22], sendo que a Massa Gorda (MG)
dos atletas aqui testados estava apenas 3% acima dos valores
encontrados no estudo acima citado, mas em compensação
o IMC dos nossos atletas está menor que o encontrado no
estudo de Maestá et al. [22], que também avaliou parâmetros
antropométricos em atletas fisiculturistas, isso pode indicar
que nossos atletas apresentavam menor massa muscular.
Os dados dos participantes da pesquisa, referentes à altura,
peso, água intracelular e água extracelular são apresentados na
Tabela II. A quantidade de água intracelular apresentou-se
ligeiramente acima dos valores de referência que variam de 50 a
60%, uma possível explicação para este fato é que as frequentes
lesões celulares dos atletas levam a um quadro de tumefação
turva, que é o aumento da concentração de água dentro das
células, causando uma retenção maior de líquido intracelular. A
tumefação turva é a primeira alteração a ser observada durante
a agressão a uma célula, mas esta lesão é totalmente reversível,
com a retirada do agente agressor. Já a água corporal total (ACT)
apresentou-se dentro dos parâmetros normais. Comparando
esses resultados com os obtidos de outros estudos em atletas de
elite, pode-se concluir que os resultados estão coerentes com
os encontrados na literatura [23].
Tabela II - Avaliação nutricional dos atletas quanto ao índice de
água corporal.
Atle- Altura
tas
(m)
Peso
(kg)
AIC
AEC
kg
%
kg
%
1
1,76
73,5
24,8
59
17,2
41,0
2
1,73
67,8
25,7
62,1
15,7
37,9
3
1,70
67,3
26,0
64,4
14,4
35,6
4
1,61
59,2
23,6
65,7
12,3
34,3
5
1,73
68,5
24,4
60,0
16,3
40,0
6
1,85
88,9
29,5
57,8
21,5
42,2
7
1,78
67,1
26,8
61,3
16,9
38,7
8
1,75
71,9
31,4
64,1
17,6
35,9
9
1,77
76,4
29,5
61,4
17,0
32,0
Total 1,74 ± 71,2 ± 26,9 ± 61,8 ± 16,5 ± 37,5 ±
0,02
2,74
0,9
0,9
0,8
1,1
AIC: Água Intracelular; AEC: Água Extracelular; Média ± desvio padrão.
Os exercícios físicos realizados pelos atletas são apresentados na Tabela III. A maioria dos experimentos realizados
com atletas utiliza poucos grupos musculares, com maior
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
número de repetições do mesmo exercício, ocorrendo assim
uma extensa lesão do mesmo músculo, semelhante ao estudo
proposto por Mayhew, Thyfault, Koch [24] no qual foram
desenvolvidos dois tipos de treinamento de força para indivíduos. Os dois foram realizados no leg-press, com 10 séries
de 10 repetições a 65 % de (RM). Um grupo realizou os
exercícios com intervalo entre as séries de 1 minuto e o outro
grupo o intervalo foi de 3 minutos. No grupo com intervalo
de 1 minuto, a concentração sérica de CPK aumentou 24
horas após o término da sessão de treinamento. Já o grupo que
treinou com intervalo de 3 minutos não apresentou diferença
significativa na CPK, sugerindo que o dano muscular pode ser
influenciado pelo tempo de intervalo entre as séries e exercícios. Em um estudo visando observar marcadores de estresse
oxidativo em jogadores de futebol, Zoppi et al. [7] também
avaliaram a concentração de CPK no plasma e encontraram
níveis bem acima da média de valores de sujeitos não-atletas,
confirmando a alteração muscular nesses atletas.
Estes quadros não são tão fiéis ao que acontece no dia-a-dia
dos atletas, pois na maioria das vezes os atletas treinam vários
grupos musculares com várias repetições. Tendo em vista estes
experimentos e com a orientação de um professor de educação
física, foi montado um quadro de treinamento onde os atletas
exercitaram vários grupos musculares, para que, assim, fosse
possível conseguir um grau de lesão em vários músculos,
mas evitando-se a fadiga muscular ou a fratura muscular. Os
exercícios físicos realizados pelos atletas (Tabela III) foram
crucifixo inclinado (17,8 ± 0,4 kg e frequência de 29,3 ± 1,0
vezes), puxador articulado (45 ± 0 kg e frequência de 23,8
± 0,9 vezes), remada a cavalo (61,5 ± 0,8 kg e frequência
de 44,2 ± 0,6 vezes), rosca concentrada scott (14 ± 0 kg e
frequência de 23,8 ± 1,7 vezes), tríceps testa (12,3 ± 0,4 kg e
frequência de 13,1 ± 0,6 vezes), agachamento guiado (22 ± 0
kg e frequência de 27,2 ± 0,6 vezes), levantamento terra (40
± 0 kg e frequência de 6,6 ± 0,5 vezes) e panturrilha sentado
(50 ± 0 kg e frequência de 25 ± 0,0 vezes).
Tabela III Treinamento físico com carga máxima realizado pelos
atletas até ocorrer exaustão muscular.
Tipo de exercícios
realizados
Crucifixo Inclinado
Puxador Articulado
Remada Cavalo
Rosca Concentrada Scott
Triceps Testa
Agachamento Guiado
Levantamento Terra
Panturrilha Sentado
Peso utilizado no exercício (kg)
17,8 ± 0,4
45,0 ± 0,0
61,5 ± 0,8
14,0 ± 0,0
12,3 ± 0,4
22,0 ± 0,0
40,0 ± 0,0
50,0 ± 0,0
Frequência
(número de
repetições)
29,3 ± 1,0
23,8 ± 0,9
44,2 ± 0,6
23,8 ± 1,7
13,1 ± 0,6
27,2 ± 0,6
06,6 ± 0,5
25,0 ± 0,0
Média ± desvio padrão.
A atividade sérica da CPK (Figura 1 A) na primeira coleta
(condição controle) apresentou níveis considerados normais
para indivíduos normais ou atletas em repouso (109,8 ± 17,2
UI/L). Após 12 horas do exercício intenso os níveis de CPK
tiveram um significativo aumento (325,3 ± 57,8 UI/L), chegando até a ultrapassar os valores de referência para indivíduos
normais do sexo masculino (até 174 UI/L). Nas comparações
dos resultados individuais de cada atleta, foi encontrado em
um determinado atleta um aumento de 6,8 vezes nos valores
de CPK, em relação ao valor basal deste mesmo atleta. Com a
ingestão da vitamina C devidamente calculada para cada atleta,
os níveis séricos de CPK decaíram de maneira significativa, voltando para próximo dos limites dos valores de referência (181,3
± 10,6 UI/L), indicando uma proteção da vitamina C contra os
radicais livres gerados durante o exercício físico e minimizando
o grau de lesão muscular. O mesmo atleta que apresentou o
maior aumento dos valores de CPK, após o uso da vitamina
C apresentou uma redução de 2,8 vezes seus valores de CPK,
isso indica que quanto maior a lesão causada pelos RL maior a
eficiência do uso de antioxidantes para bloquear estas agressões.
Torres, Carvalho e Duarte [25] também realizaram um estudo com objetivo de determinar o estiramento do músculo e
saber as manifestações clínicas e bioquímicas de lesão muscular
esquelética após exercício em jovens sedentários. A avaliação
bioquímica neste estudo compreendeu a quantificação da
atividade plasmática da CPK e da AST, neste estudo também
foram encontrados valores acima dos valores de referência nos
indivíduos submetidos a contrações excêntricas, confirmando
assim o dano muscular. Outro estudo citado por Foschini
[11] também observou lesões musculares induzidas pelas
ações concêntricas e excêntricas à atividade física de 3 séries
de 12 repetições a 80 % de uma repetição máxima (RM).
Observou-se que em 48 horas após a execução do exercício,
a concentração sérica de CPK teve um aumento significante,
mostrando que o exercício de força também é capaz de provocar dano muscular. Foi ainda descrito que a lesão muscular
não depende só do tipo de ação, mas também do tempo
de intervalo entre as séries, pois quanto maior o tempo de
descanso entre as séries, menor é o grau de lesão muscular.
Figura 1 - Avaliação da atividade da creatinafosfoquinase (CPK)
(A) e da atividade da creatinafosfoquinase fração MB (CK-MB)
(B) no soro de atletas submetidos ao exercício físico intenso. Médias
seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si em
nível de p < 0,05 (teste de Tukey); * p < 0,05 entre grupo exercício
e exercício + Vit. C.
A
500
400
300
200
100
0
CPK (UI/L)
78
a*
b
b
Controle
Exercício
Avaliações
Exercício
+ Vit. C
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
CK-MB (UI/L)
B
20
16
12
8
4
0
a
Controle
a
Exercício
Avaliações
a
Exercício
+ Vit. C
Maxwell et al. [26] observaram que os atletas que fizeram
ingestão de 400 mg de vitamina C por dia, durante 3 semanas apresentaram um aumento da atividade antioxidante no
plasma e com isso apresentaram menores lesões oxidativas
decorrentes da ação dos RL. Thompson et al. [27] também
suplementaram atletas que posteriormente foram submetidos
a uma corrida de 90 minutos. A suplementação consistiu de
uma dose de 200 mg de vitamina C, sendo que este autor
também obteve um aumento da ação antioxidante no plasma,
mas esta dose de vitamina C foi incapaz de inibir o aumento
das enzimas musculares no soro destes atletas, sendo que a
enzima CPK e a proteína mioglobina foram os marcadores
de lesão que mais aumentaram nestes atletas.
De acordo com a Figura 1 B podemos constatar que
os níveis séricos de CK-MB tiveram um aumento de 12%
durante o exercício (de 13,6 ± 1,4 para 16,6 ± 1,5 UI/L).
Apesar de não ser significativo e não ultrapassar os valores
de referência para esta enzima (até 24 UI/L), este aumento
indica um desgaste maior do músculo cardíaco. Podemos
observar também que a ação antioxidante da vitamina C
levou a diminuição de 8% na atividade sérica da CK-MB
no plasma dos atletas, mas, apesar de esta diminuição não
ter sido significativa, demonstrou uma tendência para este
marcador. Vale à pena lembrar que os miócitos cardíacos são
células permanentes, pois não se dividem mais e que qualquer
lesão nessas células leva a perda irreparável destes miócitos.
Por isso, lesões crônicas do músculo cardíaco podem levar a
presença de fibrose no tecido cardíaco, com perda da atividade
contrátil do coração e possivelmente a hipertrofia das células
restantes, alterações estas comuns de serem encontradas em
atletas, pois o exercício físico é um estímulo bem identificado para o desenvolvimento, principalmente, de hipertrofia
ventricular esquerda, sendo que estas alterações estruturais
são resultantes do tipo de treinamento físico, da natureza do
exercício, duração e intensidade do exercício [28,12].
França et al. [29] realizaram um estudo analisando os
valores das enzimas (CPK, CK-MB e LDH), em 20 atletas
masculinos, sadios, com idade de 25 a 40 anos, participantes
de uma maratona, para avaliar o desgaste muscular e o grau
do dano muscular sofrido por estes atletas. Foram realizadas
várias coletas de sangue venoso (48 horas antes da maratona,
logo após o término da corrida e na manhã seguinte, 20 horas
após a realização da prova). Os níveis de CPK, CK-MB e LDH
estavam significativamente mais elevados ao final da corrida e
79
mais ainda na recuperação (exceto a CK-MB), caracterizando
um grande desgaste muscular.
Após vários estudos e comparações Brown et al. [30]
também observaram que após exercícios físicos os níveis de
CK-MB não se elevam muito, mas se o exercício for com
grande intensidade pode ocorrer uma elevação suficiente para
diagnosticar uma lesão no miócito cardíaco. Perseguindo objetivos similares, Croisier et al. [31] utilizaram um protocolo
composto de contrações excêntricas/concêntricas máximas
para os grupos musculares flexores e extensores do joelho.
Todas as sessões de treinamento foram executadas num dinamômetro isocinético. Os sujeitos desta pesquisa apresentaram
níveis elevados de CPK e CK-MB, 24-48 horas após a carga
de exercício. A elevação da concentração destas enzimas no
sangue foi observada, concomitantemente, com a presença de
dor muscular severa no quadríceps femoral e, especialmente,
no grupo muscular dos posteriores da coxa. Os níveis elevados de CPK e CK-MB no sangue foram interpretados como
indicativos de danos na estrutura celular do músculo estriado
esquelético e cardíaco.
A atividade sérica da enzima AST (Figura 2 A), durante
a atividade física sem vitamina C, apresentou valores mais
elevados no soro (24,2 ± 2,0 UI/L), quando comparado com
os valores do controle (18,3 ± 1,8UI/L), mas, após o uso de
vitamina C, durante os exercícios físicos, os níveis séricos
da AST apresentaram uma queda de aproximadamente
15% da sua atividade, confirmando que a vitamina C é um
excelente antioxidante capaz de minimizar a lesão muscular
causada pela produção de radicais livres durante o exercício.
É importante lembrar que a geração de radicais livres ocorre
preferencialmente no interior das mitocôndrias, sendo que a
AST é encontrada justamente neste local e a diminuição da
concentração da AST no soro dos atletas é um importante
indicativo que a vitamina C age como um antioxidante intracelular, minimizando a ação dos RL nas mitocôndrias e
isso é fundamental para a integridade da célula, pois lesões na
mitocôndria são o passo sem retorno entre a lesão reversível
e a lesão irreversível nas células.
Após uma comparação deste experimento com o experimento que Torres et al. [25] realizaram, pode-se observar
que se houver lesão muscular com alto gasto de energia, pode
ocorrer lesão na membrana da mitocôndria, e esta lesão pode
alterar a atividade enzimática da AST na corrente sanguínea.
Já Thompson et al. [19], ao estudar a ação da vitamina C em
atletas estimulados a correr por 90 minutos e que fizeram a
ingestão de 1 g de vitamina C 2 horas antes de começarem o
exercício, observou que os valores de CPK e AST não foram
estatisticamente diferentes dos valores encontrados no grupo
que fez o exercício e tomou apenas placebo. A conclusão deste
estudo indica que são necessários valores maiores de vitamina
C para que ocorra uma alteração no perfil sorológico do atleta
quanto aos marcadores de lesão muscular, pois 1 g de vitamina
C não conseguiu atingir o interior das células em concentração suficiente para bloquear a ação dos RL na membrana da
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
80
mitocôndria. Por outro lado, a dose de 2 g de vitamina C se
mostrou mais eficaz em atuar nas mitocôndrias, apresentando
uma diminuição dos valores da AST nos atletas.
Figura 2 - Avaliação da atividade da aspartato aminotransferase
(AST) (A) e da atividade da alanina aminotransferase (ALT) (B)
no soro de atletas submetidos ao exercício físico intenso. Médias
seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si em
nível de p < 0,05 (teste de Tukey).
AST (UI/L)
A 30
25
20
15
10
5
0
ALT (UI/L)
B 30
25
20
15
10
5
a
a
ALT, pois o exercício físico intenso provoca um aumento no
gasto de energia, levando a uma maior produção de radicais
livres que agem primordialmente na membrana da mitocôndria e não no citoplasma das células. Conforme o resultado
apresentado comprovou-se uma ação protetora antioxidante
para as células estriadas musculares e com isso um importante
efeito na prevenção de lesões musculares provocadas pela
formação de radicais livres durante os exercícios.
Referências
a
Controle
Exercício
Avaliações
Exercício
+ Vit. C
a
a
a
Controle
Exercício
Avaliações
Exercício
+ Vit. C
A atividade sérica da ALT (Figura 2B) não apresentou modificações significativas em nenhum momento da avaliação,
tanto no controle (21,8 ± 1,7 UI/L), como após exercício
físico com a ingestão da vitamina C (21,8 ± 1,8 UI/L) ou
não (23,3 ± 2,0 UI/L). A enzima ALT é encontrada no citoplasma das células enquanto que a enzima AST é encontrada
na mitocôndria. Como os radicais livres são produzidos na
mitocôndria, durante a fosforilação oxidativa, e devido a um
gasto de energia muito grande durante os exercícios, há maior
concentração de radicais livres na mitocôndria e, portanto,
maior lesão na membrana mitocondrial e com isso uma aumento mais significativo da AST em comparação com a ALT.
Segundo Ribeiro et al. [32] que realizaram um experimento com 12 atletas de judô do sexo masculino, os atletas foram
divididos em duplas onde realizaram três lutas com tempos
diferentes (90s, 180s e 300s), a enzima ALT foi quantificada
durante as lutas e foi observado um aumento significativo em
todas as lutas. Este aumento pode ser justificado devido ao
tipo de atividade física que é de contato e causa maior lesão
celular muscular, diferente da musculação que leva a uma
lesão por desgaste metabólico.
Conclusão
De acordo com os dados obtidos na pesquisa, conclui-se
que a alteração das enzimas CPK, CK-MB e AST ocorreu
devido à lesão no músculo estriado esquelético e no músculo
cardíaco, provocado pela prática do exercício físico intenso.
Suspeita-se que não ocorreu uma alteração significativa da
1. Schneider DC. Radicais livres de oxigênio e exercício: mecanismos de formação e adaptação ao treinamento físico. Rev Bras
Med Esporte 2004;10(4):308-13.
2. Clarkson PM, Thompson HS. Antioxidants: what role do
they play in physical activity and health? Am J Clin Nutr
2000;72:637-46.
3. Gomez-Cabrera MC, Domenech E; Viña, J. Moderate exercise
is an antioxidant: Upregulation of antioxidant genes by training.
Free Radic Biol Med 2008;44:126-31.
4. Koury JC, Donangelo CM. Zinco, estresse oxidativo e atividade
física. Rev Nutr 2003;16(4):433-41.
5. Ramel A, Wagner KH, Elmadfa I. Plasma antioxidants and
lipid oxidation after submaximal resistance exercise in men.
Eur J Nutr 2004;43:2-6.
6. Leite HP, Sarni RS. Radicais livres, anti-oxidantes e nutrição.
Rev Bras Nutr Clin 2003;18(2):87-94.
7. Zoppi CC, Antunes-Neto J, Catanho FO, Goulart LF, Moura
NM, Macedo DV. Alterações em biomarcadores de estresse
oxidativo, defesa antioxidante e lesão muscular em jogadores
de futebol durante uma temporada competitiva. Rev Bras Educ
Fís Esp 2003;17(2):119-30.
8. Garcia JAV, Daoud R. Efeitos dos antioxidantes fenólicos na
prática desportista. Fitness & Performance 2002;1(4):21-7.
9. Clebis NK, Natali MJM. Lesões musculares provocadas por
exercícios excêntricos. Rev Bras Ciênc Mov 2001;9(4):47-53.
10. Cruzat VF, Rogero MM, Borges MC, Tirapegui J. Current
aspects about oxidative stress, physical exercise and supplementation. Rev Bras Med Esporte 2007;13(5):336-42.
11. Foschini D, Prestes J, Charro MA. Reação entre exercício físico, dano muscular e dor muscular de inicio tardio. Rev Bras
Cineantrop Desempenho Hum 2007;9(1):101-6.
12. Nigam PK. Biochemical markers of myocardial injury. Indian
J Clin Biochem 2007;22:10-7.
13. Amaya-Farfan J, Domene SMA, Padovani RM. DRI: síntese
comentada das novas propostas sobre recomendaçoes nutricionais para antioxidantes. Rev Nutr 2001;14(1):71-8.
14. Miranda CEL, Viaro F, Ceneviva R, Evora BRP. As bases experimentais da lesão por isquemia e reperfusão do fígado. Acta
Cir Bras 2004;19(1):3-12.
15. Fanhani APG, Ferreira MP. Agentes antioxidantes: seu papel na
nutrição e saúde dos atletas. Rev Saúde Biol 2006;1(2):33-41.
16. Goldfarb AH, Patrick SW, Bryer S, You T. Vitamin C supplementation affects oxidative-stress blood markers in response
to a 30-minute run at 75% VO2max. Int J Sport Nutr Exerc
Metab 2005;15:279-90.
17. Thompson D, Bailey DM, Hill J, Hurst T, Powell JR, Williams C. Prolonged vitamin C supplementation and recovery
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
from demanding exercise. Int J Sport Nutr Exerc Metab
2001;11:466-81.
Tritschler K. Medida e avaliação em Educação Física e Esportes
de Barrow & Mc Gee. São Paulo: Manole; 2003. 828p.
Thompson D, Williams C, Kingsley M, Nicholas CW, Lakomy
HK, McArdle F, et al. Muscle soreness and damage parameters
after prolonged intermittent shuttle-running following acute
vitamin C supplementation. Int J Sports Med 2001;22:68-75.
Gomez-Cabrera MC, Domenech E, Romagnoli M, Arduini
A, Borras C, Pallardo FV, et al. Oral administration of vitamin
C decreases muscle mitochondrial biogenesis and hampers
training-induced adaptations in endurance performance Am J
Clin Nutr 2008;87:142-49.
Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric standardization reference manual. Abridged edition. Champaign:
Human Kinetics Books; 1991.
Maestá M, Cyrino ES, Nardo Júnior N, Morelli MYG, Sobrinho
JMS, Burini RC. Antropometria de atletas culturistas em relação
a frequência populacional. Rev Nutr 2000;13(2):135-41.
Rossi L, Tirapegui J. Comparação dos métodos de bioimpedância e equação de Faulkner para avaliação da composição corporal
em desportistas. Rev Bras Ciênc Farm 2001;37(2):137-42.
Mayhew DL, Thyfault JP, Koch AJ, Rest-interval length affects
leukocyte levels during heavy resistance exercise. J Strength
Condit Res 2005;19(1):16-22.
Torres R, Carvalho P, Duarte JA. Influência da aplicação de um
programa de estiramentos estáticos, após contrações excêntricas,
nas manifestações clínicas e bioquímicas de lesão muscular
esquelética. Rev Port de Ciênc Desp 2005;5(3):274-87.
81
26. Maxwell SRJ, Jakeman P, Thomason H, Leguen C, Thorpe
GHG. Changes in plasma antioxidant status during eccentric
exercise and the effect of vitamin supplementation. Free Radic
Res Commun 1993;19:191-202.
27. Thompson D, Williams C, Garcia-Roves P, McGregor SJ,
McArdle F, Jackson MJ. Post-exercise vitamin C supplementation and recovery from demanding exercise Eur J Appl Physiol
2003;89:393-400.
28. Ghorayeb N, Batlouni M, Pinto IMF, Dioguardi GS. Hipertrofia ventricular esquerda do atleta. Resposta adaptativa fisiológica
do coração. Arq Bras Cardiol 2005;85(3):191-7.
29. França SCA, Neto TLB, Agresta MC, Lotufo RFM, Kater CE.
Resposta divergente da testosterona e do cortisol séricos em
atletas masculinos após uma corrida de maratona. Arq Bras
Endocrinol Metab 2006;50(6):1082-7.
30. Brown SJ, Child RB, Day SH, Donnelly AE. The role of eccentric exercise duration in experimental skeletal muscle damage
in man. J Physiol 1995;489:148.
31. Croisier JL, Camus G, Deby-Dupont G, Bertrand F, Lhermerout C, Crielaard JM et al. Myocellular enzyme leakage,
polymorphonuclear neutrophil activation and delayed onset
muscle soreness induced by isokinetic eccentric exercise. Arch
Physiol Biochem 1996;104(3):322-29.
32. Ribeiro SR. Efeitos de diferentes esforços de luta de judô na
atividade enzimática, atividade elétrica muscular e parâmetros biomecânicos de atletas de elite. Rev Bras Med Esporte
2006;12(1):27-32.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
82
Artigo original
Estado de hidratação de idosos praticantes
de hidroginástica de uma academia
da cidade de São Paulo
Hydration status of elderly people who practice hydrogymnastics
in an academy of São Paulo
Deborah Rivelli Pires*, Lygia Russo Xavier*, Márcia Nacif, D.Sc.**, Mariana Söncksen Garbin***
*Graduandas do Curso de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar
(HC-FMUSP), professora do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
***Nutricionista, pós-graduanda em Nutrição Esportiva pela Universidade Gama Filho
Resumo
Abstract
Objetivo: Avaliar a perda hídrica em idosos praticantes de hidroginástica. Material & métodos: A amostra foi composta por 15 idosos
(72,47 ± 7,92 anos), de ambos os gêneros. Os seguintes dados foram
coletados, antes e depois da aula: temperatura ambiente (°C), umidade relativa do ar (%), duração da aula (min), consumo médio de
líquidos (mL), massa corporal (kg) e coloração urinária. Resultados:
Verificou-se uma porcentagem de perda de peso de 0,25 ± 0,17 % e
taxa de sudorese de 4,88 ± 3,26 mL/min. Nenhum dos participantes
consumiu qualquer tipo de bebida durante a aula. Observou-se que
33,3% (n = 5) dos idosos tiveram uma perda de peso menor que
1%, enquanto 53,3% (n = 8) dos participantes ganharam peso após
a atividade física. Segundo o índice de coloração urinária todos os
participantes apresentaram algum grau de desidratação, sendo que
antes e após a aula 85,7% (n = 6) estavam levemente e 14,3% (n = 1)
moderadamente desidratados. Conclusão: Não foi identificada uma
elevada perda hídrica nos participantes, entretanto essa população
é um grupo de risco para desidratação e o clima do local da aula
propicia uma elevada perda hídrica e, portanto, deve-se enfatizar a
hidratação destes indivíduos.
Objective: To evaluate the water loss of elderly people who
practice hydrogymnastics Methods: The sample was composed of
15 elderly people (72.47 ± 7.92 years old), of both genders. The
following data were collected, before and after the class: room temperature (ºC), relative humidity (%), the time of the class (min),
liquids intake (mL), body mass (kg) and urinary color. Results: The
loss weight’s percentage was 0.25 ± 0.17% and the sweating rate
was 4.88 ± 3.26 mL/min. None of the participants had any kind
of drinking intake. There was weight loss lower than 1% in 33.3%
(n = 5) of the people, and a weight gain in 53.3% (n = 8) after the
physical activity. According to the urinary color index, all of the
participants presented some dehydration degree, before and after
the class 85.7% (n = 6) was slightly and 14.3% (n = 1) moderately
dehydrated. Conclusion: A high water loss has not been identified
in the participants, however this population is a risk group for
dehydration and the weather conditions for the location of the
class provides a high water loss, therefore the hydration of these
individuals must be emphasized.
Key-word: elderly, fluid therapy, sweating, motor activity.
Palavras-chave: idosos, hidratação, sudorese, atividade motora.
Recebido em 18 de abril de 2011; aceito em 31 de maio de 2011.
Endereço para correspondência: Déborah Rivelli Pires, Rua Fábia, 800/192A, 05051-030 São Paulo SP, E-mail: rivelli_de@hotmail.
com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
O crescimento da população de idosos, em números
absolutos e relativos, é um fenômeno mundial. Em 1988 o
número de idosos no mundo alcançava 579 milhões de pessoas
e, segundo o IBGE, as projeções para 2050 para a população
idosa será de 1,9 bilhões de pessoas – o que equivale a um
quinto da população mundial. O Brasil é um país que está
envelhecendo em considerável progressão, fato que se deve,
fundamentalmente, ao aumento da expectativa de vida que
abrange desde investimentos nos serviços de saúde de alta
complexidade até as ações primárias de saúde [1,2].
Atualmente, vários idosos têm praticado atividades físicas.
Dentre as atividades físicas mais indicadas por médicos e
educadores físicos, especialmente para os idosos, encontra-se
a hidroginástica, considerada uma atividade segura, prazerosa
e eficiente devido aos efeitos terapêuticos proporcionados pela
água. Além de ser uma atividade que causa um baixo impacto
nas articulações e melhora o nível cardiorrespiratório, atua de
forma importante na tonificação muscular [3].
No entanto, a prática de atividade física expõe o indivíduo
a uma elevação da temperatura corporal. A liberação desse
calor produzido se dá, primeiramente, através da evaporação
do suor sobre a pele. Em esportes aquáticos a produção de
suor é um pouco mais limitada que em outras modalidades
esportivas, sendo a perda de calor obtida principalmente
através da condução e convecção [4].
O suor contém água e eletrólitos que, se não forem apropriadamente repostos, podem favorecer o desenvolvimento
de quadros de desidratação e hiponatremia, refletindo em
prejuízos ao rendimento e às respostas fisiológicas, além de
produzir riscos à saúde [5].
Os efeitos podem ocorrer mesmo que a desidratação seja
leve ou moderada, com até 2% de perda, agravando-se à
medida que ela se acentua. Em torno de 3%, há uma redução
importante do desempenho; com 4 a 6% pode ocorrer fadiga
térmica; a partir de 6% existe risco de choque térmico, coma e
morte. A desidratação afeta o desempenho aeróbio, diminui o
volume de ejeção ventricular e aumenta a frequência cardíaca.
O reconhecimento dos sinais e sintomas da desidratação é
fundamental. Quando leve a moderada, ela se manifesta com
fadiga, perda de apetite, sede, pele vermelha, intolerância ao
calor, tontura, oligúria e aumento da concentração urinária.
Quando grave, ocorre dificuldade para engolir, perda de
equilíbrio, a pele se apresenta seca e murcha, olhos afundados e visão fosca, disúria, pele dormente, delírio e espasmos
musculares [6].
A desidratação decorrente do exercício pode ocorrer não
apenas devido à sudorese intensa, mas, também, devido à
ingestão insuficiente e/ou deficiente absorção de líquidos.
Com o envelhecimento há diminuição da taxa de sudorese, da
percepção da sede e saciedade e da eficiência dos mecanismos
renais e pulmonares, comprometendo a ingestão suficiente de
líquidos e, assim, expondo os indivíduos idosos com mais fa-
83
cilidade à desidratação. Portanto, deve-se aumentar a ingestão
de líquidos antes, durante e depois de atividades físicas [6,7].
Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem
hidratado, recomenda-se que ele beba entre 250 a 500 mL
de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício
recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos
e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a
ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, na faixa de
500 a 2.000 mL/hora. Após o exercício, deve-se continuar
ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de
água pela urina e sudorese [6].
Desta forma, este estudo teve como principal objetivo
avaliar a perda hídrica em idosos praticantes de hidroginástica
de uma academia na cidade de São Paulo/SP.
Materiais e métodos
A amostra foi composta por 15 idosos com idade entre
63 e 90 anos, de ambos os gêneros, praticantes de uma aula
de hidroginástica com uma duração de 45 min, voluntários
e residentes no município de São Paulo - SP. Nenhum dos
participantes consumia substâncias ergogênicas ou qualquer
outro tipo de droga que pudesse alterar o resultado do estudo.
Todos foram informados e orientados com antecedência sobre
a realização do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, o qual garantiu a privacidade de
informações pessoais. O presente trabalho também atendeu
às normas para a realização de pesquisa em seres humanos,
resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/96,
e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário São Camilo, sob número 097/06.
No dia da coleta, tanto antes como depois da aula, os
seguintes dados foram coletados: temperatura ambiente
(em graus centígrados, °C), umidade relativa do ar (em percentual, %), duração da aula (em minutos, min), consumo
médio de líquidos (em mililitros, mL), massa corporal (em
quilograma, kg) e coloração urinária. Os dois últimos foram
utilizados como marcadores simples para avaliação do estado
de hidratação. Os alunos podiam ingerir água ou bebidas
esportivas ad libitum.
A massa corporal foi registrada antes (pré) e após (pós) a
aula, utilizando-se para tal uma balança digital antropométrica
da marca Plenna, modelo Lumini, com capacidade de 150 kg e
precisão de 100 g. No momento da medida os indivíduos estavam
em pé, de frente para o avaliador, na posição ereta, pés afastados
à largura do quadril, descalços e usando roupas de banho.
A coloração da urina foi avaliada antes (pré) e imediatamente após a aula por meio da escala de Armstrong et al.
[8]. Os resultados obtidos da massa corporal e coloração
urinária foram classificados perante a tabela proposta por
Casa et al. [9].
Foram calculados a porcentagem de perda de peso (% pp)
e a taxa de sudorese. O cálculo da porcentagem de perda de
peso foi obtido subtraindo-se o peso final pelo peso inicial em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
84
quilos e dividindo esse resultado pelo peso inicial em quilos.
O resultado final foi obtido em porcentagem.
A taxa de sudorese foi calculada dividindo-se o peso perdido em mL pelo tempo de exercício em minutos. O resultado
final foi obtido em mL/min.
Resultados
Foram convidados a participar do estudo, todos os idosos
que estavam presentes na aula de hidroginástica no dia da
coleta de dados. Destes, 15 aceitaram fazer parte da pesquisa,
sendo 66,7% (n = 10) do sexo feminino e 33,3% (n = 5) do
masculino, com idade média de 72,47 + 7,92 anos. As condições ambientais, a duração da aula, bem como o consumo de
água e bebida esportiva estão descritos na Tabela I. Durante
a aula, a temperatura era de 28,5ºC. Pôde-se observar que
nenhum participante do estudo consumiu qualquer tipo de
bebida durante a aula de hidroginástica.
A média do peso inicial e final dos indivíduos participantes do estudo foi de 74,49 ± 11,7 kg e 72,72 ± 11,69
kg, respectivamente, sendo que a média da porcentagem de
perda de peso foi de 0,25 ± 0,17 % e da taxa de sudorese de
4,88 ± 3,26 mL/min.
Ao serem analisados os dados de porcentagem de perda
de peso, pôde-se perceber que após a aula todos os indivíduos
apresentaram um estado de euidratação. Apesar deste resultado, 33,3% (n = 5) sofreram uma perda de peso, porém esta não
foi elevada, já que não representou uma perda maior que 1%.
Também houve ganho de peso em 53,3% (n = 8) dos idosos.
Dos 15 idosos participantes do estudo, apenas 7 realizaram
a coleta da urina de forma correta. As médias e respectivos
desvios padrão de massa corporal e índice de coloração urinária antes (pré) e após (pós) a aula estão descritos na Tabela III.
Tabela III - Valores absolutos da massa corporal e índice de coloração
urinária antes (pré) e depois (pós) da aula, expressos como média
± desvio padrão.
Tabela I - Caracterização do controle amostral.
Temperatura (ºC)
Duração da aula (min)
Consumo médio de água ± desvio
padrão (mL)
Consumo médio de bebida esportiva
± desvio padrão (mL)
Massa Corporal (kg)
28,5
45
-
O peso inicial e final de cada indivíduo avaliado, a porcentagem de perda de peso, a taxa de sudorese, assim como seus valores
médios e de desvio padrão (DP) estão descritos na Tabela II.
Tabela II - Variações de peso (kg), porcentagem de perda de peso
(%) e taxa de sudorese (mL/min).
Indivíduo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Média
DP
*ganho de peso
Peso inicial (kg)
70,1
67,6
73,7
77,5
71,6
68,8
61,3
86,7
80,0
81,5
60,1
48,0
96,3
62,1
82,0
72,49
11,7
Peso final
(kg)
70,1
67,9
74,2
77,6
71,9
69,1
61,2
86,7
82,2
81,3
60,7
47,8
95,8
62,4
81,9
72,72
11,69
perda de
peso (%)
*
*
*
*
*
0,16
*
0,25
*
0,42
0,52
*
0,12
0,25
0,17
Sudorese
(mL/min)
*
*
*
*
*
2,22
*
4,44
*
4,44
11,1
*
2,22
4,88
3,26
Pré
Pós
72,49 ± 11,7
72,72 ± 11,69
Índice de Coloração Urinária
3 ± 0,93
3 ± 0,84
Segundo o índice de coloração urinária todos os idosos
participantes apresentaram algum grau de desidratação, sendo
que antes e após a aula 85,7% (n = 6) estavam levemente e
14,3% (n = 1) moderadamente desidratados.
Discussão
A participação em atividades esportivas expõe o indivíduo
a uma variedade de fatores que influenciam a quantidade de
água eliminada pelo suor. Estes fatores incluem a duração e a
intensidade do exercício, as condições ambientais e o tipo de
roupas/equipamentos utilizados. Características individuais,
como a idade, o peso corporal, a predisposição genética, o estado
de aclimatização e a eficiência metabólica também podem ter
influência nas taxas de suor de determinada atividade [10]. Em
esportes aquáticos a produção de suor é um pouco mais limitada
que em outras modalidades esportivas, sendo a perda de calor
obtida principalmente através da condução e convecção [4].
Existem diferentes métodos de avaliação do estado de
hidratação dos indivíduos. As mudanças no peso corporal
podem refletir as perdas pela sudorese durante o exercício e
podem ser usadas para calcular as necessidades individuais de
reposição hídrica para atividades físicas específicas e condições
ambientais [10]. No presente estudo, verificou-se uma média
de porcentagem de perda de peso de 0,25 ± 0,17 % e taxa de
sudorese de 4,88 ± 3,26 mL/min. Estes dados corroboram
os estudos que demonstram uma perda reduzida de suor em
atividades aquáticas [4].
Observou-se ganho de peso em 53,3% (n = 8) dos idosos,
o que provavelmente deve-se ao fato de não terem molhado
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
suas vestimentas corretamente no momento da aferição do
peso inicial e/ou terem ingerido líquido (água da piscina) involuntariamente, pois estes idosos não consumiram o líquido
fornecido pelas pesquisadoras.
Ademais, embora a pele tenha baixa permeabilidade à
água, um pouco de líquido pode ter sido absorvido pela pele
durante a imersão [4], o que também contribuiria para o aumento de peso dos participantes do estudo. Vale mencionar
que a umidade relativa do ar no dia da coleta estava muito
alta, fato que prejudica a perda de suor pelos indivíduos.
O estudo de Cunha e Viebig [3] realizado com 14 adultos
e idosos, praticantes de hidroginástica, de ambos os gêneros,
verificou uma porcentagem de perda hídrica de 1,3 + 0,4%
e taxa de sudorese de 1,98 + 0,4 mL/min. O consumo de
água ou líquidos era ad libitum, e notou-se que nenhum
dos participantes ingeriu qualquer tipo de líquido durante a
aula, assim como ocorreu no presente estudo, o que reforça
a diminuição da sensação de sede em idosos.
A desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum
evidenciado em idosos. O menor consumo de água associado
ao uso de medicamentos diuréticos e ao exercício físico pode
levar a desidratação. É necessária uma preocupação ainda
maior quando as aulas são realizadas em piscinas muito
aquecidas (>28ºC), pois a troca de calor entre a temperatura
corporal do indivíduo e a do meio ambiente é muito maior
na água. Assim, a temperatura do corpo iguala-se à da água
de forma bem mais rápida, aumentando a possibilidade de
desidratação [6].
Em relação à coloração da urina, todos os idosos participantes apresentaram algum grau de desidratação. Esta
ocorrência deve-se ao fato dos indivíduos não se hidratarem
adequadamente, levando a um estado de desidratação cumulativa e progressiva. A desidratação pode ser decorrente tanto
da sudorese intensa durante a prática do exercício quanto de
uma deficiência na absorção de líquidos e/ou ingestão insuficiente. Esta por sua vez, deve-se a uma redução na sensação
de sede que acomete principalmente idosos, sendo, portanto
um indicador deficiente das necessidades corporais de líquidos
para esta população [11].
85
Conclusão
O presente estudo não identificou uma elevada perda
hídrica em idosos praticantes de hidroginástica. Entretanto,
esta população é um grupo de risco para desidratação e o clima
do local onde é praticada a hidroginástica (quente e úmido)
propicia uma elevada perda hídrica e, portanto, deve-se enfatizar a hidratação destes indivíduos na orientação nutricional,
conscientizando os praticantes desta atividade física. Sugere-se
que sejam realizados mais estudos envolvendo a hidratação e
a perda hídrica de idosos praticantes de hidroginástica.
Referências
1. Pinho ST, Alves DM, Schild JFG, Afonso MR. A hidroginástica
na terceira idade. Revista Digital EFDesportes 2006;102.
2. Pereira AB, Alvarenga H, Pereira Júnior RS, Barbosa MTS. Prevalência de acidente vascular cerebral em idosos no município
de Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil, através do rastreamento
de dados do Programa Saúde da Família. Cad Saúde Pública
2009;25(9):1929-36.
3. Cunha LSA, Viebig RF. Perda hídrica e taxa de sudorese de adultos e
idosos praticantes de hidroginástica observando-se a hidratação
voluntária e realizando-se a hidratação monitorada com água
e bebida esportiva. Revista Digital EFDesportes 2008;117.
4. Maughan RJ, Dargavel LA, Hares R, Shirreffs SM. Water and
salt balance of well-trained swimmers in training. Int J Sport
Nutr Exerc Metabol 2009;19:598-606.
5. Silva RP, Altoé JL, Marins JCB. Relevância da temperatura e do
esvaziamento gástrico de líquidos consumidos por praticantes
de atividade física. Rev Nutr 2009;22(5):755-65.
6. Hernandez AJ, Nahas RM. Modificações dietéticas, reposição
hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de
ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med
Esp 2009;15(3):3-12.
7. Hirschbruch MD, Carvalho JR. Nutrição esportiva: uma visão
prática. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2008. 430p.
8. Armstrong LE, Maresh CM, Castellani JW, Bergeron MF,
Kenefick RW, Lagasse KE et al. Urinary indices of hydration
status. Int J Sport Nutr 1994;4(3):265-79.
9. Casa DJ, Armstrong LE, Hillman SK, Montain SJ, Reiff
RV, Rich BS. National Athletic Trainer’s Association Position Statement: fluid replacement for athletes. J Athl Train
2000;35(2):212-24.
10. American College of Sports Medicine - ACSM. Position
stands: exercise and fluid replacement. Med Sci Sports Exerc
2007;39(2):377-90.
11. Kenny WL. Dietary water and sodium requirements for active
adults. Sports Science Exchange 2004;17(1).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
86
Artigo original
Benefícios do treinamento aeróbio em indivíduos
hemiparéticos crônicos
Benefits of aerobic training in patients with chronic hemiparesis
Kérima Giamarim Batista, Ft.*, Narla Couto, Ft.**, Maria Imaculada Ferreira Moreira Silva, M.Sc.***,
Regiane Luz Carvalho, D.Sc.****
*Especialista em Fisioterapia em Neurologia Infantil/UNICAMP, **PUC/MG - Campus Poços de Caldas,***Especialista em Fisiologia do Exercício – UNIFESP, Professora do curso de Fisioterapia da PUC-Minas Campus Poços de Caldas, ****Pós-doutoranda em
bioengenharia-USP/RP, Professora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de São João da Boa Vista-FAE, São João da Boa
Vista/SP
Resumo
Abstract
O acidente vascular encefálico (AVE) ocasiona déficits sensitivos
e motores que predispõem ao sedentarismo e agravam o risco de
complicações cardiorrespiratórias. Este estudo propôs investigar
o efeito do treinamento aeróbico na capacidade funcional, força
muscular respiratória, espasticidade e equilíbrio de indivíduos com
AVE. Participaram sete indivíduos do sexo masculino (idade média
59,7 ± 10,8 anos) com AVE crônico (média 4,05 anos). Todos foram
avaliados por teste ergométrico (TE), teste de caminhada de seis
minutos (TC6), manovacuometria, escala de Asworth e de equilíbrio
antes e após 16 sessões de treinamento em bicicleta ergométrica por
30 minutos com carga entre 60 a 70% da FC atingida no TE. Houve
melhora significativa na FC, PA diastólica, escore de percepção de
esforço na isocarga do TE, distância percorrida no TC6, pressão
inspiratória máxima na manovacuometria e no equilíbrio, sendo que
o grau de espasticidade não foi alterado. O treinamento aeróbico
trouxe benefícios cardiorrespiratórios e funcionais aos indivíduos
hemiparéticos estudados.
The sensitive and motor disabilities observed on individuals with
stroke result in deconditioning, increasing the risk of cardiorespiratory injury. The objective of this study was to assess the effects
of exercise intervention on functional capacity, respiratory muscles
strength, balance and spasticity in patients after stroke. Seven men
(mean age 59.7 ± 10.8 years old) with chronic stroke (mean 4.05
years) participated in this study. All subjects were assessed by cycloergometric test, six-minute walk test (SWT), maximal inspiratory
and expiratory pressure, Asworth and Balance Scales before and
after sixteen cycling training sessions at an intensity determined by
60-70% of heart rate reserve (HR). Significant improvements were
observed in HR, Borg scale, diastolic pressure, maximal inspiratory
pressure, distance running on SWT and balance. No difference was
observed on spasticity. There is good evidence that aerobic exercise
was beneficial for improving aerobic and functional capacity to the
hemiparetic individuals in our study.
Key-words: stroke, aerobic training, physical activity, hemiparetic.
Palavras-chave: acidente cerebral vascular, treinamento aeróbico,
atividade física, hemiparesia.
Recebido em 29 de abril de 2011; aceito em 31 de maio de 2011.
Endereço para correspondência: Regiane Luz Carvalho, Centro Universitário de São João da Boa Vista-FAE, Curso de Fisioterapia,
Paulo de Almeida Sandeville, 15, 13870-377 São João da Boa Vista SP, Tel: (19) 3623-3022, E-mail: [email protected],
[email protected], [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
87
AVE crônico (tempo médio de evolução pós AVE de 4 anos)
hemiparéticos espásticos, com marcha independente (57%
dos participantes utilizavam dispositivo de auxílio de marcha e
43% não) conforme características descritas na Tabela I. Todos
foram informados a respeito dos procedimentos e assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 0055.0.213.000-07).
Inicialmente os indivíduos foram submetidos a uma
avaliação clínica com coleta da história, medicações de uso
rotineiro e estilo de vida, seguida pelo teste ergométrico (TE)
em bicicleta, protocolo em degrau contínuo com aumento
de carga de 0,5 KPM a cada 2 minutos. Em cada nível de
esforço, assim como no repouso e no 1º, 3º e 6º minutos de
recuperação, foram avaliados: o eletrocardiograma (derivação
MC5), pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC), e a
percepção de esforço através da escala de Borg [7].
A força muscular respiratória foi avaliada através do manuvacuômetro, equipado com adaptador de bocais, orifício
de 2 milímetros de diâmetro, servindo com uma válvula de
alívio dos músculos da parede bucal. As manobras foram
mensuradas na posição sentada utilizando clipe nasal.
O teste de caminhada de seis minutos (TC6) foi realizado
em um percurso de 18 metros demarcado a cada 3 metros,
com terapeuta monitorando PA inicial e final, FC, grau de
dispneia e fadiga de membros inferiores a cada 2 minutos e
no 1º, 3º e 6º minuto de recuperação. Os pacientes foram
encorajados verbalmente com frases padronizadas de incentivo
a cada minuto do teste. O TC6 foi realizado duas vezes para
minimizar o efeito aprendizagem.
O equilíbrio foi avaliado na posição sentada, em pé e durante as transferências pela escala funcional de equilíbrio [10].
O grau de espasticidade dos flexores plantares e dos extensores de joelho foi avaliado através da escala de Ashworth
modificada [11].
O treinamento ocorreu durante oito semanas, sendo duas
sessões por semana em dias alternados, com duração aproximada de uma hora, sendo 15 minutos de aquecimento, 30
minutos de bicicleta ergométrica com carga entre 60 a 70%
da FC atingida no TE, e 15 minutos de desaquecimento.
A eficácia do treinamento na FC, PAS e PAD foi avaliada
pelo teste -t pareado de Student. Para as comparações das
escalas de Borg, Tônus e Equilíbrio o teste pareado não para-
O acidente vascular encefálico (AVE) merece grande atenção dos profissionais da saúde por ser um problema de saúde
pública não só no Brasil, mas também no mundo.
As sequelas deixadas pelo AVE são variáveis incluindo alterações sensitivas, cognitivas e motoras. As disfunções motoras
restringem a mobilidade e a realização de atividades funcionais
e contribuem para o isolamento social e sedentarismo. Este
quadro aumenta os fatores de risco cardiovasculares e a recorrência do AVE formando um circulo vicioso [1]. A função
respiratória também fica normalmente comprometida devido
ao estilo de vida, alta incidência de tabagismo, diminuição dos
volumes pulmonares, alteração na ventilação, difusão e perfusão, restrição da mobilidade torácica e fraqueza muscular [2].
O que é oferecido a esta população como opção de atividade se resume a prática de exercícios de manutenção no âmbito
da fisioterapia. Na maioria das vezes a rotina de reabilitação
enfatiza o ganho de força, melhora da coordenação motora
e da execução de atividades de vida diária [3]. Apesar das
evidências do descondicionamento físico em hemiparéticos
crônicos [4], o treinamento aeróbico é pouco utilizado dentro
da reabilitação, possivelmente devido ao desconhecimento de
seus efeitos [5].
Tem sido mostrado que o treinamento aeróbico entre os
sobreviventes do AVE tem um impacto positivo na redução
de vários fatores de risco de doenças cardiovasculares [6] e
na melhora da qualidade de vida [7]. Resultados positivos
também têm sido descritos na mobilidade e execução de
funções cognitivas relacionadas ao aprendizado motor [8] e
na capacidade de caminhar.
Tendo em vista a importância da atividade física e sua
pouca utilização nos protocolos de reabilitação, este estudo
tem por objetivo avaliar os benefícios do condicionamento
aeróbico sobre a capacidade funcional e força muscular
respiratória, assim como sua influência no tônus muscular
e equilíbrio de indivíduos hemiparéticos após AVE crônico.
Material e métodos
Participaram deste estudo sete indivíduos do sexo masculino, idade média de 59,7 ± 10,8 anos, com diagnóstico de
Tabela I - Características clínicas e dados demográficos dos participantes.
Participantes
1
2
3
4
5
6
7
Sexo
Idade
Altura
Peso
IMC
M
M
M
M
M
M
M
48 anos
59 anos
61 anos
68 anos
73 anos
43 anos
66 anos
170 cm
170 cm
163 cm
167 cm
167 cm
174 cm
166 cm
61 kg
72 kg
79 kg
61 kg
66 kg
84 kg
77 kg
170
170
163
167
167
174
166
M: Masculino; D direito; E esquerdo.
Uso de òrtese (AFO)
S
S
N
N
N
N
S
Tempo
de AVE
8 anos
4 anos
5 anos
4 anos
3 anos
3 anos
2 anos
Estado profissional
inativo
aposentado
aposentado
aposentado
aposentado
ativo
aposentado
Estado
civil
Solteiro
Casado
Casado
Casado
Casado
Casado
Casado
Hemicorpo
afetado
D
D
E
D
E
E
D
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
88
métrico de Wilcoxon foi aplicado devido a não normalidade
dos dados. As diferenças foram consideradas significantes
para p < 0,05.
Tabela IV - Média e desvio padrão do grau de espasticidade (escala
de Ashworth) e pontuação na escala funcional de equilíbrio antes
e após o tratamento.
Pré-treinamento
Pós-treinamento
Wilcoxon
Espasticidade
Flexores plantares
2,57 ± 0,7
2,2 ± 0,44
0,06 NS
Extensores de joelho
2,02 ± 0,5
2,8 ± 0,24
0,07 NS
Equilíbrio
32,4 ± 16,2 35,8 ± 16,3
0,008 *
Resultados
Na Tabela II estão apresentadas as variáveis medidas no
teste ergométrico antes e após o treinamento na isocarga e
a respectiva análise estatística. Foram constatadas reduções
significativas na FC e PA diastólica. Note que a PA sistólica
não apresentou redução estatística significativa, porém seus
valores tenderam a ser inferiores em relação aos valores póstratamento. Houve também uma melhora na percepção de
esforço medida pela escala de Borg.
*Diferenças significativas (p < 0,05), NS: não significativo.
Discussão
Tabela II - Média e desvio padrão dos valores de FC, PAS, PAD e
Borg no teste ergométrico.
Variáveis
FC (bpm) isocarga
PAS (mmHg)
isocarga
PAD (mmHg)
isocarga
Borg isocarga
Pré Treinamento
110,6 ± 20,7
147,1 ± 13,8
92,8 ± 7,5
3,8 ± 2,9
Pós Treinamento
83,8 ± 18,9
P
0,0027 *
(teste t)
137,1 ± 7,5
0,06
NS(teste t)
85,7 ± 9,7
0,046
*(teste t)
1,1 ± 0,55
0,015 *
(Wilcoxon)
*Diferenças significativas (p < 0,05), NS: não significativo.
A média da distância percorrida (DP) no teste de caminhada de seis minutos (TC6) aumentou significativamente
com o treinamento (Tabela III). O mesmo comportamento foi
observado para a força muscular respiratória com o aumento
na Pimáx (significativo) e Pemáx (NS).
Tabela III - Média de distância percorrida (DP) no teste de caminhada de seis minutos e da Pimáx e Pemáx.
Variáveis
Pré TreinaPós Treinamento
mento
D.P (m)
184,7 ± 108,6
218,3 ±
121,7
110 ± 208
Pi máx (cm/H2O) 97,1 ± 22,1
Pe máx(cm/H2O)
98,6 ± 12,1
111,4 ±
19,5
P
0,012 *
(teste t)
0,022 *
(teste t)
0,07 NS
(teste t)
*Diferenças significativas (p < 0,05), NS: não significativo.
Não houve diferença na espasticidade dos músculos
flexores plantares e extensores do joelho. Já em relação ao
equilíbrio, quando comparados os dados pré e pós-tratamento
nota-se um ganho significante na pontuação geral da escala
funcional do equilíbrio refletindo a melhora da estabilidade na
posição sentada, em pé e durante as transferências (Tabela IV).
O presente estudo corrobora com alguns achados da literatura que apontam os benefícios de programas de treinamento
aeróbico em pacientes hemiparéticos [12]. Observou-se uma
melhora das variáveis cardiovasculares na isocarga do teste ergométrico, fato que contribui com a ideia postulada por Macko
et al. [13] de que indivíduos hemiparéticos podem adquirir os
mesmos benefícios cardiovasculares que indivíduos adultos
saudáveis. A favor desta ideia encontram-se também os estudos
de Santiago et al. [14] com melhora de 23% na capacidade física
e 16% no condicionamento cardiorrespiratório de pacientes
hemiparéticos com diferentes graus de incapacidade, e de Yang
et al. [15] e Pang et al. [16] com aumento do pico de VO2.
O aumento da distância percorrida no TC6 com o treino
pode ser justificado pelas melhoras cardiovasculares. Teixeira
et al. [5] observaram resultados semelhantes após treinamento
de musculação associado a exercícios aeróbicos. O aumento
da velocidade da marcha após o exercício aeróbico também
foi descrito por Pang et al. [16].
Com relação à força muscular respiratória houve ganho
significativo na Pimáx, e não significativo na Pemáx. Segundo
Ryerson [17], a função respiratória na hemiplegia é comprometida, com volume pulmonar diminuído, alteração na
mecânica do tórax e na capacidade de difusão pulmonar. A
capacidade respiratória diminuída e a alta demanda de oxigênio podem resultar em padrões de movimentos atípicos e
fadiga muscular. Associado a estes fatores estão as limitações
motoras e a inatividade física que favorecem a perda tanto da
massa muscular periférica quanto da musculatura respiratória
[18]. Neder et al. [19] relataram uma positiva e significante
associação entre a força muscular periférica dos extensores
do joelho e a força da musculatura respiratória, ou seja, os
indivíduos com menor força na musculatura extensora do
joelho, também apresentavam proporcionalmente efetiva
diminuição nos valores das pressões respiratórias máximas.
Powers e Criswell [20] apontam evidências de que a atividade
física dinâmica está associada a um aumento na força e na
capacidade de resistência, tanto dos músculos periféricos como
também dos músculos respiratórios.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Neste estudo não foram observadas diferenças significativas no grau de espasticidade com o treinamento de forma
similar aos achados de Teixeira et al. [21]. Por outro lado
observou-se melhora significativa no equilíbrio. Estas melhoras podem ser explicadas pelos benefícios que o treinamento
aeróbico pode propiciar em relação ao ganho de força muscular, mobilidade, coordenação e desempenho motor [22].
Conclusão
Com base em nossos achados podemos concluir que um
programa de treinamento aeróbico pode trazer benefícios
cardiorrespiratórios associados a ganhos funcionais, como
melhora da estabilidade e do equilíbrio, devendo ser incluído
na reabilitação desses pacientes.
Referências
1. Batista KG, Lopes PO, Serradilha SM, Souza GAF, Bella GP,
Souza RCT. Benefícios do condicionamento cardiorrespiratório
em crianças e adolescentes com paralisia cerebral. Fisioter Mov
2010;23(2)201-9.
2. Bosco R, Demarchi A, Rebelo FPV, Carvalho P. O efeito de um
programa de exercício físico aeróbio combinado com exercícios
de resistência muscular localizada na melhora da circulação
sistêmica e local. Rev Bras Med Esporte 2004;10(1):56-62.
3. Macko RF, Ivey FM, Forrester LW, Hanley D, Sorkin JD,
Katzel LI, et al. Treadmill exercise rehabilitation improves
ambulatory function and cardiovascular fitness in patients
with chronic stroke: a randomized, controlled trial. Stroke
2005;36(10):2206-11.
4. Michael K, Macko RF. Ambulatory activity intensity profiles,
fitness, and fatigue in chronic stroke. Top Stroke Rehabil
2007;14(2):5-12.
5. Teixeira SLF, Oliveira ESG, Santana EGS, Resende GP. Fortalecimento muscular e condicionamento físico em hemiplégicos.
Acta Fisiátrica 2000;7(3):108-18.
6. Lennon O, Carey A, Gaffney N, Stephenson J, Blake C. A
pilot randomized controlled trial to evaluate the benefit of the
cardiac rehabilitation paradigm for the non-acute ischaemic
stroke population. Clin Rehabil 2008;22(2):125-33.
7. Globas C, Macko RF, Luft AR. Role of walking-exercise therapy
after stroke. Expert Rev Cardiovasc Ther 2009;7(8):905-10.
89
8. Quaney BM, Boyd LA, McDowd JM, Zahner LH, He J,
Mayo MS, Macko RF. Aerobic exercise improves cognition
and motor function poststroke Neurorehabil Neural Repair
2009;23(9):879-85.
9. Borg GA. Psychophsical bases of perceived exertion. Med Sci
Sports Exerc 1982;14:377-81.
10. Berg K. Measuring balance in the elderly: validation of an
instrument. In: Shumway-Cook A, Woollacott M. Motor
control: theory and practical applications. Baltimore: Williams
& Wilkins; 1995. p.448-51.
11. Teixeira LF, Olney SJ, Brouwer B. Mecanismos e medidas de
espasticidade. Rev Fisioter Univ São Paulo 1998;5(1):4-19.
12. Mackay LMJ, Howlett J. Exercise capacity and cardiovascular
adaptations to aerobic training early after stroke. Top Stroke
Rehabil 2005;12(1):31-42.
13. Macko RF, Souza CA, Tretter LD, Silver KH, Smith GV, Anderson PA. Treadmill aerobic exercise training reduces the energy
expenditure and cardiovascular demands of hemiparetic gait in
chronic stroke patients. Stroke 1997;28:326-30.
14. Santiago MC, Catherine PC, Walter BK. Aerobic exercise effect
in individuals with physical disabilities. Arch Phys Med Rehabil
1993;74:1192-8.
15. Yang AL, Lee SD, Su CT, Wang JL, Lin KL. Effects of exercise
intervention on patients with stroke with prior coronary artery
disease: aerobic capacity, functional ability, and lipid profile: a
pilot study. J Rehabil Med 2007;39(1):88-90.
16. Pang MY, Eng JJ, Dawson AS, Gylfadóttir S. The use of aerobic
exercise training in improving aerobic capacity in individuals
with stroke: a meta-analysis. Clin Rehabil 2006;20(2):97-111.
17. Ryerson SD. Hemiplegia. In: Umphred DA. Reabilitação neurológica. 4ª ed. São Paulo: Manole; 2004. p. 788-9.
18. Simões RP, Auad MA, Dionísio J, Mazzonetto M. Análise comparativa da força muscular respiratória entre idosos institucionalizados e não institucionalizados. Fisioter Bras 2006;7(3):191-5.
19. Neder JA, Andreani S, Lerario MC, Nerry LE. Reference values
for lung function tests II. Maximal respiratory pressures and
voluntary ventilation. Braz I Méd Biol Res 1999;32:719-27.
20. Powers SK, Criswell D. Adaptive strategies of respiratory
muscles in response endurance exercise. Med Sci Sports Exerc
1996;28:115-22.
21. Teixeira SLF, Augusto ACC, Silva PC, Lima RCM, Goulart F.
Musculação e condicionamento aeróbio em hemiplégicos: impacto no desempenho motor. Rev Bras Fisioter 2003;7(3):209-15.
22. Leroux A. Exercise training to improve motor performance in
chronic stroke: effect of a community-based exercise program.
Inter J Rehabil Res 2005;28(1):17-23.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
90
Artigo original
Influência do treinamento do futsal na agilidade
de adolescentes
The influence of futsal on adolescents agility
Mauro Lucio Mazini Filho*, Rosimar da Silva Salgueiro*, Julio Cesar Correa Neto Carias*, Ricardo Luiz Pace Junior*, Felipe
José Aidar*, Ricardo Luiz Pace**, Bernardo Minelli Rodrigues***, Dihogo Gama de Matos*
*Programa de Pós Graduação Strictu Senso em Educação Física e Desporto, Universidade Trás os Montes e Alto D’ouro, UTAD,
Vila Real, Portugal, **Universidade Presidente Antônio Carlos, UNIPAC, ***Laboratório de Biociências da Motricidade Humana LABIMH, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
Abstract
O futsal moderno possui grande exigência da condição física para
sua prática, por isso os programas de treinamento do futsal buscam
não só desenvolver a velocidade, mas também os diferentes tipos de
valências físicas. O objetivo deste estudo foi verificar a influência
exercida por grupo de adolescentes em relação à agilidade. A amostra contou com a participação de 12 jogadores de futsal, do gênero
masculino, com 15,77 ± 1,2 anos. Como instrumento de avaliação
da agilidade, utilizou-se o teste Shuttle Run. Após a realização do
pré-teste, os jogadores foram submetidos a 24 sessões de treinos,
ministrados duas vezes por semana, com duração de 1,5 h, que
buscaram aprimorar as técnicas individuais empregadas durante a
prática do futsal, dentre elas: velocidade, equilíbrio, força, resistência, ritmo, coordenação, espaço e tempo. A série de treinamento e
exercícios, na maior parte, eram específicos do futsal. Verificou-se,
no pós-teste, que a amostra se tornou mais homogênea e também
houve a melhoria do rendimento individual dos avaliados, teste
shuttle run (pré-teste 11,28 ± 0,04 segundos; pós-teste 10,7 ± 0,4
segundos), teste abdominal (57,42 ± 7,6 repetições; pós teste 59,0
± 5,7 repetições) e teste flexão horizontal de ombros (18,92 ± 6,0
repetições, pós teste 21,17 ± 5,1 repetições) observando-se assim a
influência positiva do treinamento em relação à agilidade.
The modern futsal puts high demands on physical fitness to its
performance; therefore the futsal training programs aim not only
to develop speed, but also the different types of physical capacities.
The aim of this study was to investigate the influence of agility in
a group of adolescents. The sample included the participation of
12 futsal players, male gender, 15.77 ± 1.2 years old. The Shuttle
Run Test was used to measure agility. After performing the pre-test,
the players underwent 24 training sessions, twice a week, for 1,5 h,
which aimed at improving individual techniques employed during
futsal practices, among them: speed, balance, strength, endurance,
rhythm, coordination, space and time. Most of the series of training
and exercises were specific to futsal. We verified that in the post-test
the sample became more homogeneous and there was also improvement in individual physical performance, shuttle run test (pretest
11.28 ± 0.04 seconds; post test 10.7 ± 0.4 seconds), abdominal
test (57.42 ± 7.6 repetitions; post-test 59.0 ± 5.7 repetitions) and
shoulder horizontal flexion test (18.92 ± 6.0 repetitions, post-test
21.17 ± 5.1 repetition) thus observing the positive influence of
training in relation to agility.
Key-words: training, futsal, agility.
Palavras-chave: treinamento, futsal, agilidade.
Recebido em 29 de abril de 2011; aceito em 01 de junho de 2011.
Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, Rua Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
91
Introdução
Avaliação da agilidade
Em qualquer modalidade esportiva a preparação física
se torna essencial para melhor desempenho e obtenção de
resultados satisfatórios nas competições, por isso as técnicas
utilizadas no aperfeiçoamento do desempenho físico se tornam cada vez mais aprimoradas. Por isso, o sistema de treinamento deve ser bem organizado, planejado e específico, para
que os sistemas de energia do atleta se adaptem às exigências
específicas do esporte praticado [1].
O futsal moderno possui grande exigência da condição
física para sua prática [2]. Um bom condicionamento e aptidão
física favorecem o desempenho no futsal [3]. Os programas de
treinamento do futsal buscam não só desenvolver a velocidade,
mas também os diferentes tipos de deslocamentos, fintas e giros
que são necessários para a prática deste desporto [4], que possui
características intermitentes e de intensidade elevada, demonstrando grande participação do metabolismo anaeróbio, como
nas corridas, saltos, chutes e movimentações táticas, solicitando
dos atletas o máximo de suas capacidades funcionais [5].
Em um estudo realizado por Almeida et al. [3] 70% dos
movimentos no futsal se caracterizam pelas qualidades físicas:
força e velocidade, sendo a agilidade nesse contexto bastante
evidenciada. A agilidade pode ser conceituada como a movimentação do corpo no espaço, ou seja, movimentos que
incluem troca de sentido e direção [6] e sendo uma variável
neuromotora caracterizada pela capacidade de realizar trocas
rápidas de direção, sentido e deslocamento da altura do centro
de gravidade de todo o corpo ou parte dele [7], desenvolve-se
por meio de exercícios que exigem uma inversão rápida dos
movimentos e participação de todo o corpo [8-11].
O estudo tem como objetivo avaliar a agilidade e sua alteração após 12 semanas de treinamento de futsal utilizando-se
o método global, através de pequenos jogos, sem treinamento
específico para o desenvolvimento da agilidade.
Para aferir a agilidade foi utilizado o teste de Shuttle Run
[12], em um ginásio poliesportivo. Foram demarcadas na
quadra, duas faixas paralelas equidistantes a 9,14 metros,
dois blocos de madeiras com as dimensões de 5 x 5 x 10 cm
colocados atrás de uma delas de forma paralela à mesma e
distantes 30 cm, um do outro como ilustrado na figura 1.
Para a realização do Shuttle Run , os seguintes materiais foram
utilizados: fita adesiva, cronômetro, dois blocos de madeira,
uma caneta, prancheta com planilha de dados e apito.
Os voluntários iniciaram o teste na posição em pé, atrás da
linha de partida. Foi utilizado um apito pelo avaliador, como
sinal para o voluntário correr em direção aos blocos, pegar um,
retornar à linha de partida, colocando-o atrás desta e repetir
esta movimentação com o outro bloco. Foram realizadas duas
tentativas, havendo entre elas um intervalo de descanso de
10 minutos. O resultado foi o tempo gasto para executar a
tarefa. Foi computado o melhor tempo das duas tentativas.
Os blocos eram colocados no chão e não arremessados, pois,
em caso desta ocorrência, o teste era anulado, devendo ser
repetida a tentativa.
Figura 1 - Ilustração do Teste Shuttle Run.
9,14 metros
Fonte: AAHPERD [13].
Material e métodos
Amostra
Participaram deste estudo 12 homens com 15,8 ± 1,2 anos,
integrantes do projeto “Minas Olímpica/Nova Geração”, na
cidade de Cataguases/MG. Todos participaram do estudo
de maneira voluntária, aparentando boa saúde, e assinaram
termo de livre consentimento assim como seus responsáveis
legais. O presente estudo foi aceito pelo Comitê de Ética em
Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Federal
de Viçosa. Os procedimentos adotados seguiram as normas
de ética em pesquisas com humano conforme a resolução
nº 251, de 07/08/1997 do Conselho Nacional de Saúde e
da resolução nº. 196, de 10/10/1996 que são as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, em concordância com os princípios éticos contidos
na Declaração de Helsinki.
Avaliação da resistência muscular localizada
O teste de flexão de tronco (abdominal modificado) teve
por objetivo mensurar a força dos músculos abdominais e flexores do tronco [14]. Na posição inicial, o avaliado coloca-se
em decúbito dorsal sobre um colchonete. Quadris e joelhos
devem estar flexionados e as plantas dos pés voltadas para o
solo; os braços cruzados sobre a face anterior do tórax, com
as palmas das mãos voltadas para este na altura dos ombros.
Os pés devem estar unidos e segurados pelo auxiliar, que
procura mantê-los em contato permanente com o solo. A
distância entre a região glútea e os calcanhares deve estar
entre 30 e 45 centímetros. O avaliado eleva o tronco até o
nível em que ocorre o contato da face anterior dos antebraços
com as coxas, retornando logo em seguida à posição inicial,
até encostar pelo menos a metade anterior das escápulas no
solo. Entende-se como execução completa o momento em
92
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
que o avaliado parte da posição inicial, elevando o tronco até
ocorrer o contato antebraço-coxa, e retorna à posição inicial.
O avaliado deve repetir a maior quantidade possível desses
movimentos durante um minuto [14-16].
O teste “flexão de braços - apoio” (homens) tem como objetivo mensurar a resistência dos braços e da cintura escapular.
Esse teste pode ser aplicado em crianças do sexo masculino
a partir de 10 anos de idade. A posição inicial é em decúbito
ventral no chão. O corpo deve ser erguido pela extensão do
cotovelo, sendo que as mãos devem estar voltadas para frente,
na linha dos ombros, e o olhar direcionado para o espaço entre
elas. O corpo deve ser erguido até formar uma linha reta, não
sendo permitido nenhum tipo de curvatura ou de balanço
vertical do corpo. Na volta, a flexão de cotovelos deve ser
feita até levar a caixa torácica próxima ao solo. O movimento
deve ser contínuo e o exercício realizado até a exaustão. Cada
movimento completo vale um ponto. Não são marcados
pontos quando os braços se curvam sob o corpo; os quadris
se abaixam; o corpo faz um movimento vertical, no qual os
ombros e, depois, os quadris se elevam, ou vice-versa [14].
Protocolo de treinamento
Após a avaliação da agilidade, foram realizados exercícios
por um período de 12 semanas, como conteúdo do treinamento [16-18]. As sessões de treinos foram aplicadas duas
vezes por semana, pois o treinamento da agilidade, durante a
pré-temporada, deveria ser realizado de duas a três vezes por
semana [11,19]. Totalizaram-se assim, 24 (vinte e quatro)
sessões, com duração de 90 minutos cada uma.
Buscou-se através dos exercícios utilizando-se do método
global, ou seja, em forma de pequenos jogos, aprimorar as
capacidades físicas e técnicas do futsal, a coordenação motora,
a percepção do espaço sensorial, resistência e a mudança de
direção em velocidade, de forma a propiciar ao jogador um
melhor rendimento em relação a sua agilidade.
As sessões eram iniciadas sempre com a corrida de 12 minutos, em volta da quadra, procurando desta forma estimular
a resistência de longa duração, que ocorre a estímulos superiores a oito minutos e uma mobilização “aeróbica” de energia,
trabalhando-se assim a “resistência psíquica” e a “resistência
física”. Quando o voluntário se sentia cansado era instruído a
caminhar em passada viva até sentir-se melhor, quando deveria
voltar a correr [4]. No décimo minuto o avaliador através de
um apito, fazia com que os voluntários buscassem acelerar o
ritmo exercendo um rendimento vigoroso por um minuto e
com dois apitos longos, ordenando que permanecessem trotando ou caminhando a largos passos até que sua respiração
e batimentos voltassem a níveis de repouso ativo.
Nas doze primeiras sessões de treinamento foram utilizados exercícios de aquecimento que consistiam em colocar os
voluntários em duas colunas fazendo primeiramente que ao
sinal do avaliador: “trotando”, ou seja, correndo no mesmo
lugar, mudassem de direção, elevassem alternadamente os
joelhos procurando tocar apenas com a ponta dos pés no solo,
e em seguida elevassem os calcanhares executando progressão
lateral com direção à esquerda e a um novo sinal, em direção
à direita, sucessivamente; trotando corressem de costas, e a
um novo sinal, voltassem a trotar, mudando de direção ao
comando do avaliador e se deslocando para a direita, esquerda,
para frente ou de costas; trotando como se fossem cabecear
uma bola à frente, ao finalizar o salto, tocassem com os pés
no solo dando meia volta, mudando a direção do toque. Os
exercícios eram ministrados com duração aproximada de dois
minutos para cada um, a fim de estabelecer uma “resistência
de curta duração”, permanecendo os voluntários trotando
até a execução do próximo. Em seguida eram aplicados, para
cada voluntário, exercícios de velocidade de curta duração, nos
quais os mesmos eram divididos em dois grupos. Colocavamse duas balizas equidistantes a 12 metros uma da outra, e os
voluntários em fila davam um pique de frente e em velocidade
em direção a uma baliza, contornando-a e seguindo até a
oposta. Ao chegar o próximo, repetia o protocolo.
Na primeira bateria de exercícios as equipes eram estimuladas a completar em menor tempo o circuito. Na segunda
e terceira baterias as equipes competiam entre si pelo menor
tempo. Após três baterias trocava-se o exercício. Outro exercício era realizado com quatro barreiras colocadas paralelamente
a uma distância de 60 cm e distantes a 10 m do ponto de
partida, onde os voluntários em fila distribuídos em duas
colunas corriam até a primeira baliza, circulando-a e seguiam
até a próxima repetindo o mesmo movimento, até a última,
retornando por entre elas da mesma forma e dando um pique
em direção a coluna, quando outro voluntário faria o mesmo
percurso até completar três execuções para cada voluntário,
vencendo a equipe que fizesse o menor tempo. Se ao final
dos dois exercícios as equipes estivessem empatadas eram
montadas as quatro colunas em cada extremidade da quadra,
uma de frente para outra e os voluntários davam um pique
em direção ao seu companheiro, que repetia o mesmo gesto
até completar três execuções para cada voluntário, vencendo
a equipe que concluísse o percurso em menor tempo. Como
complemento físico e motivacional, a equipe perdedora, tinha
de fazer uma série de 20 abdominais. Como motivação, na
parte técnica com bola, eram ministrados jogos 4 contra 4,
sem goleiro, com gol válido somente dentro da área, com
duração de 10 minutos, sendo que a equipe perdedora, tinha como complemento físico e motivacional executar uma
série de 20 abdominais. Nas outras 12 sessões, após a corrida
de 12 minutos, os voluntários eram motivados a executar
atividades ou fundamentos específicos do futsal, montando
duas colunas, do lado oposto ao voluntário que conduzia a
bola, sendo que este conduzia a bola utilizando a parte interna, externa e solado do pé, alternadamente de uma área a
outra passando para o voluntário com um passe lateral, que
tinha de ser executado com a maior precisão possível, caso
contrário ao final do exercício o aluno faria uma série de 20
abdominais. Logo após, os voluntários eram divididos em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
uma fila na extremidade lateral, ficando paralela a esta, com
um deles ocupando a posição central, e o avaliador colocado
na extremidade oposta. O voluntário recebia a bola do companheiro que estava a sua frente, girava ficando de frente
para o avaliador, tocava a bola para este, recebia de volta,
executava o mesmo movimento e corria em direção ao final
da fila, sendo que o voluntário que recebeu se deslocava até
o centro da quadra, girava em direção a lateral oposta, tocava
para o primeiro da fila, e repetia o procedimento do primeiro
voluntário, sucessivamente.
Em seguida, o avaliador colocava quatro balizas a 10
m da fila, e equidistantes a 60 cm uma da outra, e a seu
comando o primeiro jogador arrancava com a bola, contornava os obstáculos conduzindo-a junto ao pé, com a maior
velocidade possível, retornando do mesmo modo e passando
para o companheiro da fila assim que completasse o último
obstáculo. Depois colocava os voluntários em fila e passava a
bola para que os mesmos rebatessem de volta, lançando-a para
o alto e em direção ao primeiro voluntário da fila para que
fosse realizado o cabeceio, ou o arremate com a parte interna
do pé direito e do esquerdo sem deixar que a mesma caísse,
indo este para o final da fila após a execução. Ao encerramento dessa série a bola era lançada em direção ao tórax e coxas
dos voluntários para que os mesmos a dominassem e depois
fizessem o passe de volta ao pesquisador, indo para o final da
fila como no anterior. Também foram realizados exercícios
de finalização, com os voluntários executando o chute ao
gol. Após terem percorrido sem bola e em velocidade uma
distância igual a 12 m, fazendo movimentos circulares entre
os cones, executando um chute após o avaliador ter lançado a
bola no alto e estando este atrás do voluntário, sem deixar que
a bola tocasse o solo, a uma distância de aproximadamente 10
m do gol. Os voluntários realizavam um total de cinco tentativas para cada um, sendo que os cinco com maior número
de acerto formariam uma equipe no coletivo ministrado ao
final desta sessão, e assim sucessivamente. Na parte final dos
treinamentos eram realizados os jogos (coletivos), disputados
em tempos de 10 min com a equipe perdedora tendo que
executar uma série de 20 abdominais, como complemento
físico e motivacional.
Análise estatística
Foi realizada a estatística descritiva média e desvio padrão
e o teste t para amostras pareadas para a comparação do grupo
no pré e pós-teste. Foi adotado um intervalo de confiança de
p < 0,05. Para a análise dos dados foi utilizado o programa
SPSS for Windows versão 15.0.
Resultados
A descrição dos resultados obtidos no pré-teste e no pósteste foram apresentados na Tabela I. Analisando a variável
agilidade diferença (p = 0,0003) foi observado entre pré e
93
pós-teste, sendo o valor pós menor que o valor pré. Para o
teste de resistência abdominal diferença de (p = 0,077) foi
observado entre pré e pós-teste, sendo o valor pós maior que
o valor pré. O mesmo resultado foi encontrado para o teste
flexão horizontal de ombros que teve diferença (p = 0,0038).
Tabela I - Comparação dos resultados apresentados entre o pré e
o pós-teste.
Variáveis
Teste Suttle Run
(segundos)
Teste Abdominal
(repetições)
Teste flexão horizontal de ombros
(repetições)
Pré-teste
Pós-teste
P = valor
11,28 ± 0,4 10,70 ± 0,4
0,0003*
57,42 ± 7,6 59,00 ± 5,7
0,077
18,92 ± 6,0 21,17 ± 5,1
0,0038*
* = Diferença significativa entre pré e pós-testes.
Discussão
O presente estudo mostrou diferenças quanto à agilidade
e flexão horizontal de ombros dos voluntários avaliados pelo
teste de Shuttle Run [12], nestes dois testes foi encontrada
melhora após a intervenção através do método global.
O treinamento de futsal pode provocar alterações importantes no condicionamento físico, mesmo sendo trabalhado
de maneira global, em forma de pequenos jogos. É necessária
uma boa agilidade para a prática do futsal, independente da
posição do atleta, achando valores maiores quando comparados a esta amostra [20]. O treino tem efeito claro no desempenho destes componentes, o que concorda com alguns
experimentos [21-23]. Independente da prática esportiva 10
semanas de treinamento em qualquer desporto é capaz de
melhorar a agilidade [24,25].
A potência muscular é entendida como sendo o produto da
força e da velocidade do movimento, a mesma é pré-requisito
fundamental para a realização de ações motoras e vem recebendo crescente atenção no treinamento de jogos coletivos
e também no futsal [20,26]. Referente a isso, estudos têm
afirmado que as ações técnicas no futsal são caracterizadas
por movimentos explosivos que exigem velocidade e força
rápida [26]. Por outro lado, o metabolismo aeróbio é requerido principalmente nos momentos de recuperação entre os
esforços curtos e intensos, sendo considerado como o principal
elemento bioenergético em uma partida [26,27].
As ações técnicas em uma prática esportiva estão relacionadas à capacidade do atleta de realizar tarefas em situações
previsíveis e imprevisíveis, envolvendo trocas de direções,
movimentos rápidos e coordenados. A melhoria da agilidade
pode ajudar a potencializar os resultados de uma equipe, pois
um atleta mais ágil pode definir uma partida [26].
As características fisiológicas tendem a apresentar um
papel importante para o desempenho do futebol de alto rendimento [28], sendo que a velocidade de corrida tem lugar
94
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
dentre os indicadores que podem diferenciar o desempenho
de jogadores, além da agilidade, equilíbrio, flexibilidade,
coordenação e ritmo, que se constituem também em qualidades por demais importantes [29,30]. Já no futsal, algumas
qualidades físicas são consideradas essenciais como: resistência
aeróbica, resistência anaeróbica alática e lática, resistência
muscular localizada, potência, agilidade, tempo de reação,
flexibilidade e velocidade [30,31]. A velocidade tem sido fundamental em inúmeros momentos decisivos de cada partida,
pois é através dela que vários campeonatos são decididos e
atletas se consagram por chegarem no momento e local exato
antes de seus adversários [28]. Malina et al. [21] verificaram
melhora da agilidade, velocidade e coordenação de meninos
praticantes e não praticantes de futebol com idade variando
entre 10 a 11 anos, com tempo de prática regular mínima
de 1,5 anos, com as atividades de futebol variando entre 2
a 3 vezes semanais e tempo de 1 hora por sessão de treino.
Observou-se diferenças significativas entre os grupos para os
componentes da capacidade física coordenação, velocidade
e agilidade, favorecendo o grupo de praticantes de futebol.
Dentro dos diferentes fatores determinantes do desempenho no futebol de campo e futsal, pode-se considerar o nível
de desenvolvimento das capacidades físicas como um fator de
fundamental importância no rendimento do atleta, sendo a
velocidade e agilidade um componente de grande importância
para um bom desempenho durante uma partida, devendo ser
considerado como uma das referências numa periodização do
treinamento [31].
Em nosso estudo ocorreu aumento da força de resistência
devido ao treinamento de 12 semanas no teste de flexão horizontal de ombros. Mecanismos neurais foram responsáveis
pelo aumento dos níveis de força inicial [20,26]. Apesar de
possuir no programa de treinamento exercícios semelhantes ao
teste de força de resistência, não encontramos melhoras significativas para o teste de resistência abdominal. Uma possível
explicação é que a musculatura solicitada não recebeu estímulo
suficiente para causar melhoras na duração deste estudo.
No presente estudo, observamos que o treinamento teve
um resultado positivo, em relação ao tempo e que a qualidade física em questão, por meio de exercícios que exigem
uma inversão rápida dos movimentos e participação de todo
o corpo [8].
Conclusão
O futsal mostrou-se eficiente para melhorar a agilidade,
pois seus exercícios técnicos e táticos contribuem de maneira
positiva para o aumento desta capacidade física sem a necessidade de treinamento físico específico para jovens de 14 a 18
anos. Apesar dos exercícios a serem trabalhados solicitem mais
os músculos que envolvem os membros inferiores, percebemos
melhora da força de resistência.
Ressalta-se que a amostra era constituída de jovens participantes de um projeto social, não sendo atletas de alto nível.
Talvez este quadro possa ter colaborado para obtermos um
resultado expressivo.
Sugere-se uma maior observação e continuidade do estudo, abordando juntamente as questões relacionadas a outras
qualidades físicas e motoras intervenientes na prática do futsal
ou outra modalidade esportiva assim como em diferentes
níveis de atletas.
Referências
1. Bompa TO. Treinamento de potência para o esporte. São Paulo:
Phorte; 2004.
2. Rampinini E, Sassi A, Azzalin A, Castagna C, Menaspa P,
Carlomagno D et al. Physiological determinants of Yo-‐Yo
intermittent recovery tests in male soccer players. Eur J Appl
Physiol 2010;108(2):401‐9.
3. Almeida GT, Rogatto GP. Efeitos do método pliométrico de
treinamento sobre a força explosiva, agilidade e velocidade de
deslocamento de jogadores de futsal: effects of plyometric training on muscle power, agility. Revista Brasileira de Educação
Física, Esporte, Lazer e Dança 2007;2(1):23-38.
4. Santos Filho JLA. A preparação física no futebol de salão. 2a
ed. Rio de Janeiro: Sprint; 1998.
5. Gomes AC, Silva SG. Preparação física no futebol: características
da carga de treinamento. In: Silva FM. (org.). Treinamento
desportivo: aplicações e implicações. João Pessoa: Universitária/
UFPB; 2002
6. Rigo L. Preparação física. São Paulo: Global, 1977.
7. Hoff J, Helgerud J. Endurance and strength training for
soccer players: physiological considerations. Sports Med
2004;34(3):165-80.
8. Kraemer W, Ratamess N. Fundamentals of resistance training:
progression and exercise prescription. Med Sci Sports Exerc
2004;36(4):674.
9. Blazevich A, Gill N, Deans N, Zhou S. Lack of human muscle
architectural adaptation after short term strength training.
Muscle Nerve 2007;35(1):78-86.
10. Komi P. Strength and power in sport: London: Wiley Blackwell;
2003.
11. Cunha FA. Estudo do treinamento físico aplicado à categoria
juvenil (sub-17) em equipes de futebol do Estado de São Paulo
[Dissertação]. Guarulhos: Universidade Guarulhos; 2003.
12. Léger L, Lambert J. A maximal multistage 20 m shuttle run
test to predict VO2max. Eur J Appl Physiol Occupl Physiol
1982;49:1-12.
13. AAHPERD. Health related physical fitness test manual. Reston:
AAHPERD; 1980.
14. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividade
física: guia prático. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
15. Johnson BL, Nelson JK. Pratical measurements for evaluation
in physical education. Minnesota: Burgess Publishing Company; 1975.
16. Johnson BL, Nelson JK. Practical measurements for evaluation
in physical education. 4th ed. Edina: Burgers; 1986.
17. Ferreira RL. Futsal e a iniciação. Rio de Janeiro: Sprint; 1998.
18. Ferreira RL. Futsal e a iniciação. 6ª ed. Rio de Janeiro: Sprint;
2002.
19. Melo RS. Futebol 1000 exercícios. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Sprint; 2000.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
20. Duarte CR, Matsudo VKR. Efeito de dois programas de atividade física sobre a aptidão física geral de escolares. Rev Bras
Ciênc Mov 1985;2(2):67-72.
21. Malina RM. Height, mass and skeletal maturity of elite
Portuguese soccer players aged 11-16 years. J Sports Sci
2000;18(1):685-93.
22. Philippaerts RM, Vaeyens R, Janssens M, Renterghem BV,
Matthys D, Craen R, et al. The relationship between peak height velocity and physical performance in youth soccer players.
J Sports Sci 2006;24(3):221-30.
23. Maia JAR, Loos R, Beunen G, Thomis M, Vlietinck R, Morais
FP, et al. Aspectos genéticos da prática desportiva: um estudo
em gêmeos. Rev Paul Educ Fís 1999;13(2):160-76.
24. Silva P. Efeito do treinamento muscular realizado com pesos,
variando a carga continua e intermitente em jogadores de futebol. Acta Fisiatra 2001;8(1):18-23.
95
25. Duarte MFS, Duarte CR. Evolução de aptidão motora em
escolares da rede pública de ensino – Diadema/SP. Rev Bras
Ciênc Mov 1985;2(2):67-72.
26. Böhme MTS. Relações entre aptidão física, esporte e treinamento esportivo. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11(3):97-104.
27. Cyrino ES, Altimari LR, Okano AH, Coelho CF. Efeitos do treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho
motor de jovens atletas. Rev Bras Ciênc Mov 2002;10(1):41-46.
28. Hoff J. Training and testing physical capacities for elite soccer
players. J Sports Sci 2005;23(6):573-82.
29. Timão AS. Relação entre parâmetros dinâmicos de membros
inferiores e velocidade de locomoção em jogadores de futebol.
Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2002.
30. Kellis E, Katis A, Vrabas IS. Effects of an intermittent exercise
fatigue protocol on biomechanics of soccer kick performance.
Scand J Med Sci Sports 2006;16(5):334-8.
31. Gabriel DA, Kamen G, Frost G. Neural adaptations to resistive exercise: mechanisms and recommendations for training
practices. Sports Med 2006;36(2):133-49.
96
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Artigo original
Imagem corporal de atletas de voleibol
de um clube de São Paulo
Body image of volleyball athletes of a club in São Paulo
Adriana Passanha*, Fernanda Santos Thomaz**, Lídia Regina Barbosa Pereira**, Gleice Amancio**, Julia Alvez Stein**,
Marcia Nacif, D.Sc.***
*Nutricionista, com aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela FSP/ USP, mestranda em Nutrição em Saúde Pública da
FSP/ USP, **Nutricionista, graduada pelo Centro Universitário São Camilo, ***Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar
pelo HC-FMUSP, professora do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Resumo
Abstract
Introdução: O temor à obesidade pode criar distorções na imagem corporal em crianças e adolescentes, gerando condutas danosas
à saúde. A estreita relação entre imagem corporal e desempenho
físico faz com que atletas sejam um grupo mais susceptível à instalação desses transtornos. Na tentativa de elucidar este contexto
o presente estudo teve por objetivo avaliar a autopercepção da
imagem corporal de jogadoras de uma equipe feminina de vôlei.
Material e métodos: A amostra foi composta por 44 jogadoras de
vôlei de um clube de São Paulo. Como instrumento de coleta de
dados utilizou-se o questionário Body Shape Questionnaire (BSQ).
Resultados e discussão: Verificou-se que 4,5% (n = 2) das atletas
apresentaram grave distorção de autoimagem corporal e 11,4% (n
= 5) das atletas distorção moderada. Das atletas com percentual de
gordura adequado, 13,6% (n = 6) apresentaram moderada distorção da imagem corporal. Conclusão: A insatisfação com a imagem
corporal das atletas é bastante representativa, sendo detectado um
percentual de 34% de distorção da imagem corporal. Mais pesquisas
devem ser realizadas para identificar a prevalência dos distúrbios da
imagem corporal entre atletas.
Introduction: The fear of obesity may create body image distortions in children and adolescents, which cause harmful health
behaviors. The relationship between body image and physical
performance make athletes to become a more susceptible group to
this disorder. In order to elucidate this context, the aim of this study
was to evaluate the body image of a female volleyball players team.
Material and methods: The sample was composed of 44 volleyball
players of a club in São Paulo. The Body Shape Questionnaire (BSQ)
was used to collect data. Results and discussion: It was verified that
4.5% (n = 2) of the athletes showed serious body image distortions
and 11.4% (n = 5) moderate distortions. Those with ideal body fat
percentage, 13.6% (n = 6), showed moderate body image distortion.
Conclusion: The low body satisfaction among athletes is representative, as it was detected a percentage of 34% of body image distortion.
Several studies should be carried out to identify the prevalence of
body image distortions among athletes.
Key-words: corporal image, athlete, adolescent, volleyball.
Palavras-chave: imagem corporal, atletas, adolescentes, voleibol.
Recebido em 25 de maio de 2011; aceito em 6 de junho de 2011.
Endereço para correspondência: Adriana Passanha, Faculdade de Saúde Pública/ Departamento de Nutrição, Avenida Doutor
Arnaldo, 715, 01246-094 São Paulo SP, Tel: (11) 9710-2121, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
A partir da década de 1960, iniciou-se a busca pelo corpo
magro e atlético. O surgimento de intensas propagandas na
mídia de uma infinidade de regimes e de produtos dietéticos
propiciou um ambiente sócio-cultural favorável que justificaria
a perda de peso, criando uma simbologia de que a beleza física
proporcionaria: autocontrole, poder e “modernidade” [1,2].
Essa fantasia coletiva pelo corpo ideal tem gerado o que
autores denominam “descontentamento normativo”. As
crianças aprendem cedo, em suas famílias e meios sociais,
a valorizar o corpo delgado, e muitas, mesmo com peso
adequado, relatam a insatisfação com seu corpo. O temor
à obesidade pode criar distorções na imagem corporal em
crianças e adolescentes, gerando condutas danosas à saúde,
como ingestão inadequada de nutrientes pela omissão de
refeições como café da manhã e jantar, trazendo prejuízo ao
desenvolvimento cognitivo e risco para o desenvolvimento de
transtornos do comportamento alimentar [3].
Uma das características comportamentais apresentadas
pelos adolescentes é a de contestação, o que o torna vulnerável,
volúvel, seguidor de líderes, grupos e modas, desenvolvendo
preocupações ligadas ao corpo e à aparência [4].
A “autopercepção da imagem corporal” ou “autoimagem
corporal” é um fator psicológico importante; componente do
complexo mecanismo de identidade pessoal, onde, formamos
em nossa mente a figura do nosso corpo. É o conjunto de
sensações sinestésicas construídas pelos sentidos (audição,
visão, tato, paladar), oriundos de experiências vividas pelo
indivíduo, no qual o referido cria um referencial do seu corpo,
para o seu corpo e para o outro. O termo “imagem corporal”
refere-se a uma ilustração, que se tem na mente, de tamanho,
imagem e forma do corpo, expressando também sentimentos
relacionados a essas características [1,5].
A influência que a autoimagem corporal exerce sobre os
hábitos de saúde desses adolescentes, (principalmente os do
gênero feminino) é muito preocupante. Aproximadamente
70% das mulheres com menos de 21 anos se sentem suficientemente obesas, a ponto de fazerem dieta, embora apenas 15%
tenham realmente sobrepeso [2,6].
A estreita relação entre imagem corporal e desempenho
físico faz com que atletas adolescentes sejam um grupo mais
susceptível à instalação dos transtornos do comportamento
alimentar, tendo em vista a ênfase dada ao controle de peso.
Existe ainda a influência exercida pelos treinadores, patrocinadores e familiares, por meio de seus comentários relativos
ao físico, podendo ser considerado um fator importante para
alterações anormais do comportamento alimentar [7].
Na tentativa de identificar distorções da imagem corporal, têm sido desenvolvidos instrumentos que visam detectar
os sentimentos subjacentes a essa distorção. Nesse sentido,
buscando incorporar outros aspectos, como a influência do
meio social, é utilizado o Body Shape Questionnaire (BSQ),
instrumento que, embora não isento de limitações, apre-
97
senta-se como recurso técnico de utilidade em estudos com
populações clínicas e não-clínicas quando se busca avaliar a
imagem corporal [1].
Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo
identificar a autopercepção da imagem corporal entre atletas
de voleibol feminino em um clube de elite do município de
São Paulo.
Material e métodos
A amostra deste estudo transversal, com coleta de dados
primários foi constituída por 44 atletas, jogadoras de vôlei,
com idade entre 13 e 19 anos, que treinam três vezes por semana, durante 2 horas, em um clube localizado em São Paulo.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo (documento Coep
047/05).
Para avaliar a autopercepção da imagem corporal foi aplicado o questionário Body Shape Questionnaire – BSQ, validado
por Cooper et al. [8], a cada atleta, as quais o responderam
individualmente.
Este instrumento avalia a insatisfação com a imagem
corporal considerando o grau de preocupação com a forma
do corpo, a autodepreciação devida à aparência física e à
sensação de estar gorda. Segundo Cordás e Neves [9], o
questionário distingue dois aspectos específicos da imagem
corporal: a exatidão da estimativa do tamanho corporal e os
sentimentos em relação ao corpo (insatisfação ou desvalorização da forma física). O instrumento consta de 34 itens, com
seis opções de respostas: 1) nunca, 2) raramente, 3) às vezes,
4) frequentemente, 5) muito frequente, 6) sempre. De acordo
com a resposta marcada, o valor do número correspondente
à opção feita é computado como ponto para a questão (por
exemplo: nunca vale um ponto). O total de pontos obtidos
no instrumento é somado e o valor é computado para cada
avaliação. A classificação dos resultados é feita pelo total
de pontos obtidos e reflete os níveis de preocupação com a
imagem corporal. Obtendo o resultado menor ou igual a 80
pontos, é constatado um padrão de normalidade e tido como
ausência de distorção da imagem corporal. Resultado entre 81
e 110 pontos é classificado como leve distorção da imagem
corporal; entre 111 e 140 é classificado como moderada distorção da imagem corporal; e acima de 140 a classificação de
presença de grave distorção da imagem corporal.
Foram coletados os seguintes dados antropométricos: peso,
estatura e dobras cutâneas (tríceps, suprailíaca e abdominal).
O Índice de Massa Corpórea (IMC) foi calculado e classificado segundo as recomendações do CDC (2000) e a porcentagem de gordura corporal segundo Jackson e Pollock [10].
O estudo da relação dos indivíduos segundo categoria e
presença de distorção de imagem corporal, categoria e IMC
e categoria e porcentagem de gordura corporal foi feito por
meio do teste de Qui-quadrado de Pearson e teste de Fischer
[11]. O nível de significância adotado foi de p < 0,05.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Todos estes procedimentos foram realizados com o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão
10.0 for Windows [12].
Resultados e discussão
Foram avaliadas 44 atletas jogadoras de voleibol do
gênero feminino, com idade média de 16 anos. Destas, 07
pertenciam à equipe pré-mirim, 09 ao grupo mirim, 09 ao
infantil, 13 à categoria infanto e 06 à classe juvenil de um
clube de São Paulo.
Segundo a classificação do BSQ, verificou-se que 11,1%
(n = 1) das atletas apresentaram distorção de imagem grave na
equipe infantil e 7,7% (n = 1) na categoria infanto. Também
foi observado que 55,6% (n = 5) das jogadoras mostraramse com distorção de imagem corporal moderada quanto à
equipe mirim e 57,1% (n = 4) leve distorção de imagem
entre as atletas de voleibol da categoria pré-mirim, como
mostra a Tabela I.
Neste estudo, não houve associação estatisticamente significante entre a categoria e a presença de distorção de imagem
corporal (p = 0,165).
ou mesmo semelhantes a pacientes portadores de distúrbios
alimentares como anorexia nervosa e bulimia. Esses modelos
de beleza divulgados pela mídia exercem efeitos sobre o comportamento e o estabelecimento de hábitos alimentares entre
adolescentes do sexo feminino [13,14]. Em nosso estudo, não
houve associação estatisticamente significante entre a categoria
esportiva e o índice de massa corporal (p = 0,050).
Na Figura 1 pôde-se verificar que o percentual de gordura da maioria das atletas jogadoras de voleibol mostrou-se
adequado, sendo os maiores valores encontrados na categoria
juvenil.
Figura 1 - Boxplot da Porcentagem de Gordura (%) dos indivíduos,
segundo categoria de estudo. São Paulo, 2008.
24
22
% Gordura
98
20
18
16
Tabela I - Classificação de imagem corporal de atletas jogadoras de
voleibol, segundo equipe. São Paulo, 2008.
Equipe
Pré-mirim
Mirim
Infantil
Infanto
Juvenil
Classificação BSQ
Normalidade
Leve
Moderado Grave
n %
n %
n %
n %
3 42,9
4 57,1
4 44,4
5 55,6
8 88,9
1 11,1
9 69,2
2 5,4
1 7,7
1 7,7
5 83,3
1 16,7
-
Ao correlacionarmos a autopercepção da imagem corporal
com o estado nutricional, detectamos a superestimação feminina,
ou seja, aproximadamente 25% (n = 11) das meninas eutróficas
se percebiam acima do peso (em distorção leve e moderada). o
que pode ser observado na Tabela II.
Tabela II - Relação entre IMC e classificação da imagem corporal
de atletas, jogadoras de vôlei de um clube de São Paulo, SP, 2008.
IMC
Normalidade
n %
Baixo peso
05 11,4
Eutrofia
Sobrepeso
23 52,3
01 2,3
Classificação BSQ
Leve
Moderado
n %
n %
06 13,6
-
05 11,4
02 4,5
Grave
n %
02 4,5
O fato de algumas atletas mesmo com peso adequado
para a estatura desejarem pesos ainda menores é preocupante. Certamente essa distorção da imagem corporal encontra
bases nos meios de comunicação em massa que privilegiam
modelos de beleza que possuem pesos para estatura próximos
14
12
Pré-mirim
Mirim
Infantil
Infanto
Categoria
Juvenil
Também foi possível observar que 4,5% (n = 2) das atletas
que foram classificadas com grau de distorção de imagem
grave possuíam porcentagem de gordura corporal adequada
(Tabela III). Ademais, 3 atletas apresentaram distorção de
imagem, mesmo com a porcentagem de gordura abaixo do
recomendado. Não houve associação estatisticamente significativa entre a categoria e a porcentagem de gordura corporal
(p = 0,707).
Segundo Branco et al. [4], a imagem corporal parece ser
uma marca feminina, sobretudo na adolescência, quando
há o maior desenvolvimento de seu corpo. É provável que
as meninas sejam mais críticas com sua imagem corporal do
que os meninos, uma vez que no estudo de Branco elas se
perceberam mais acima do peso, enquanto que os meninos
se identificaram mais com a normalidade.
Tabela III - Relação entre a porcentagem de gordura e classificação
da imagem corporal entre atletas, jogadoras de vôlei de um clube
de São Paulo, SP, 2008.
% Gor- Normalidade
dura
n %
Baixa
11 25
Adequada
18 41
Classificação BSQ
Leve
Moderado Grave
n %
n %
n %
02 4,5
01 2,3
04 9,1 06 13,6 02 4,5
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
As atletas que não atingem suas expectativas competitivas
podem ter um aumento da visão negativa em relação aos seus
corpos, levando-as a buscar um padrão ideal. A combinação
entre a performance esportiva, imagem corporal e peso podem levar o esportista a distúrbios da imagem corporal [15].
Deste modo, faz-se necessário mais estudos que avaliem as
dimensões da problemática em questão.
Conclusão
Os resultados deste estudo revelaram um alto percentual
de distorção da imagem corporal entre as atletas (34%),
apresentados em níveis de insatisfação, seja leve, moderada
ou grave.
A distorção da imagem corporal pode induzir as atletas às
restrições alimentares desnecessárias, exercícios extenuantes,
distúrbios alimentares, isolamento social que acarretam danos
à saúde e à performance.
Desta forma, é necessário que treinadores, patrocinadores
e familiares orientem esses atletas a um processo consistente e
coerente na busca de uma melhor qualidade de vida. Também
faz-se necessário mais estudos com diferentes modalidades
esportivas que contribuam para compreensão de um tema
complexo que envolve aspectos biopsíquicos, sociológicos e
econômicos.
Referências
1. Bosi MLM, Luiz RR, Morgado CMC, Costa MLS, Carvalho
RJ. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de
nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. J Bras
Psiquiatr 2006;55(2):108-13.
99
2. Souto S, Bucher JSNF. Práticas indiscriminadas de dietas de
emagrecimento e desenvolvimento de transtornos alimentares.
Rev Nutr Camp 2006;19(6):693-704.
3. Pinheiro AP, Giugliani ERJ. Who are the children with adequate
weight who feel fat? J Pediatr 2006;82(3):232-5.
4. Branco LM, Hilário MOE, Cintra IP. Percepção e satisfação
corporal em adolescentes e a relação com seu estado nutricional.
Rev Psiquiatr Clín 2006;33(6):292-6.
5. Mataruna L. Imagem corporal: noções e definições. Revista
Digital EFDesportes 2004;10(71).
6. Braggion GF, Matsudo SMMM, Matsudo VKR. Consumo
alimentar, atividade física e percepção da aparência corporal em
adolescentes. Rev Bras Ciênc Mov 2000;8(1):15-21.
7. Oliveira FP, Bosi MLM, Vigário PS, Vieira RS. Comportamento
alimentar e imagem corporal de atletas. Rev Bras Med Esporte
2003;9(6):348-56.
8. Cooper PJ, Taylor MJ, Cooper Z, Fairbum CG. The development and validation of the body shape questionnaire. Int J Eat
Disord 1987;6:485-94.
9. Cordás TA, Neves JEP. Escalas de avaliação de transtornos
alimentares. Rev Psiquiatr Clín 1999;26:41-8.
10. Jackson AS, Pollock ML. Practical assessment of body composition. The Physician and Sportsmedicine 1985;13:76-90.
11. Agresti A. Categorical data analysis. New York: Wiley Interscience; 1990. 558p.
12. SPSS for Windows, Release 10.0.1, Standard Version. Chicago:
SPSS, 1999.
13. Almeida GAN, Loureiro SR, Santos JE. Imagem corporal de
mulheres morbidamente obesas avaliada através do desempenho
da figura humana. Psicol Reflex Crít 2002;15(2):283-92.
14. Kakeshita IS, Almeida SS. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da auto-imagem em universitários. Rev Saúde
Pública 2006;40(3):497-504.
15. Costa SPV, Guidoto EC, Camargo TPP, Uzunian LG, Viebig
RF. Distúrbios da imagem corporal e transtornos alimentares
em atletas e praticantes de atividade física. Revista Digital
EFDesportes 2007;12(114).
100
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Relato de caso
Treinamento resistido e aeróbio promovem
regularização nos níveis pressóricos em um indivíduo
sedentário e hipertenso
Resistance and aerobic training promote adjustment in blood pressure
levels in a sedentary and hypertensive patient
Alexsandro Fernandes Generoso*, Antonio Coppi Navarro**
*Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho, Reabilitação cardíaca e grupos especiais, Pós-graduado em
Fisiologia e prescrição do exercício, Auxiliar de anestesia (Hospital Amaral Carvalho), Personal Trainer, **Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho, Reabilitação cardíaca e grupos especiais
Resumo
Abstract
Introdução: A hipertensão hoje é um dos grandes problemas na
população mundial. Segundo dados, o Brasil não foge à regra, tendo
um alto índice de mortalidade, acidentes cardiovasculares, circulatórios, arritmias cardíacas e paradas cardíacas. Objetivo: O objetivo
deste estudo é apresentar um caso de de redução e estabilização dos
níveis pressóricos, antropométricos e bioquímicos em um indivíduo
sedentário e hipertenso dependente de fármacos, utilizando exercícios resistidos, aeróbios moderados e de alta intensidade, combinados
em circuitos. Material e métodos: Foi selecionado um cliente de 58
anos, do sexo masculino, sedentário, pesando 93,1 kg, com estatura
de 176 cm. A frequência cardíaca era de 88 bpm, pressão arterial de
160/110 mmHg sendo classificado como hipertenso severo. Foram
avaliadas as medidas antropométricas a pressão arterial por 6 dias,
sempre no mesmo horário e condições semelhantes. Resultados: O
cliente exibiu alterações em nível considerado excelente em termos
de medidas antropométricas e bioquímicas, da mesma maneira que
foi para a pressão arterial. Discussão: Os exercícios resistidos, além de
promoverem a recuperação e desenvolvimento da massa muscular
no início do trabalho, causaram hipertensão induzida em um curto
período de tempo, ou seja, apenas na execução do exercício. Isto
está associado aos exercícios aeróbios que, de continuo, podem ter
volumes maiores no trabalho, induzindo a hipotensão por exercício
por modular os componentes fisiológicos responsáveis pelos níveis
pressóricos. Conclusão: Um trabalho bem elaborado e supervisionado
por especialista pode exercer resultados mais do que satisfatórios em
indivíduos sedentários que tenham alguma patologia associada e
tenham receio de praticar atividades físicas e mudar seu estilo de vida.
Background: Hypertension is a major problem in the worldwide
population. According to data, Brazil is not exception, with a high
mortality rate, cardiovascular accidents, cardiac arrhythmias and
cardiac arrest. Objective: The objective of this study was to present
a case of reduction and stabilization of blood pressure levels, anthropometric and biochemical parameters in a sedentary patient,
dependent of anthypertensive drugs, using resistance training, moderate aerobic and high intensity exercices, combined into circuits.
Materials and methods: We selected a client of 58 years old, male,
sedentary, weighing 93.1 kg, height 176 cm. The heart rate was
88 bpm, blood pressure 160/110 mmHg, therefore was classified
as severe hypertension, dependent on anti-hypertensive drugs. We
evaluated the anthropometric parameters and the blood pressure
for 6 days, always at the same time and under similar conditions.
Results: The client exhibited changes considered excellent in terms of
anthropometric, biochemical data, and blood pressure. Discussion:
Resistance exercises promote the recovery and development of muscle mass in early labor, can induce a short time hypertension, only
in executing the exercise. The combination with aerobic exercises
can induce hypotension by modulating the physiological components responsible for blood pressure levels. Conclusion: A supervised
training by specialist can perform more than satisfactory results in
sedentary individuals with associated pathology and are afraid of
physical activities or change in their lifestyle.
Key-words: resisted exercices, aerobic, blood pressure.
Palavras-chave: exercícios resistidos, aeróbio, hipertensão arterial.
Recebido em 2 de março de 2011; aceito em 13 de maio de 2011.
Endereço para correspondência: Alexsandro Fernandes Generoso, Rua Norberto Bueno, 60, Jardim Parati, 17210-774 Jaú SP, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
Hoje, os governos mundiais já se mobilizam em divulgar
a preocupação com a hipertensão e vêm fazendo esforços em
relatar a importância da atividade física programada por especialistas no controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS).
O Colégio Americano de Medicina do Esporte relata a
importância da atividade física associada à saúde e vem divulgando os resultados dos treinamentos contra a resistência
em estudos destinados a várias patologias, entre elas a HAS
[1]. Relata também a importância do percentual de carga
utilizada que age com determinadas respostas fisiológicas
durante e pós-exercício, demonstrando que cada patologia
tem seu nível de intensidade a ser ministrada [2].
Considera-se importante a realização de exercícios, 3 a 4
vezes por semana, com duração de pelo menos 30 minutos,
ministrados a uma intensidade de 50% a 60% da frequência cardíaca máxima ou 40% a 50% do VO2 máximo, cujo
objetivo principal é a redução das catecolaminas circulantes,
acarretando na redução da pressão arterial (PA) [3].
O efeito hipotensivo pós-exercício está associado a mudanças fisiológicas, como o mecanismo modulador do barro
reflexo da atividade simpática, pela hiperemia de controle das
contrações musculares e supressão da atividade simpática [4].
Ele pode estar ligado a modificações no endotélio, que está associado à liberação de oxido nítrico derivado do endotélio [5].
Os membros inferiores são os grandes responsáveis pela
hipotensão pós-exercício do que os superiores, talvez devido
ao aumento maior da demanda volêmica durante o exercício
por ter agrupamentos musculares maiores [2].
A Sociedade Brasileira de Hipertensão afirma que, hoje,
aproximadamente 20% da população brasileira adulta é
atingida por esta patologia sendo, portanto, um dos grandes
fatores da mortalidade no mundo [5].
O nível de óbito em pessoas que apresentam esta patologia
no Brasil chega a 40%, o que é considerado um percentual
elevado [6].
Os acidentes cardiovasculares e cerebrais a hipertrofia
ventricular à esquerda e infarto do miocárdio estão relacionados à HAS, mesmo quando são leves ou moderadas. De
acordo com a Associação Brasileira de Hipertensão, a HAS
se classifica em leve (160/100 mmHg); moderada (180/100
mmHg); severa (180/110 mmHg) [7].
A causa do grande percentual de HAS no mundo está
relacionada ao sedentarismo, que se impõe por vários fatores,
tais como: condições socioeconômicas, comportamentais, as
facilidades tecnológicas e condimentos industrializados [8].
A alimentação é outro fator importante, pois todos os
alimentos que são industrializados possuem conservantes
em sua composição e, entre eles, o sódio, grande causador
da elevação da PA, principalmente em pessoas que já têm
pré-disposição à HAS [8].
Para corrigir este problema orienta-se a ingestão de produtos com baixo índice de gordura, baixo consumo de sódio
101
e incorporação de frutas e leguminosas nas refeições para
controle da PA [9].
A Sociedade Brasileira de Cardiopatia relata que a sociedade brasileira apresenta uma porcentagem em termos de
sedentarismo em torno de 80%, e 30% são obesas. Isto está
diretamente associado a esta patologia, sendo que 10% do
aumento do peso corporal induz a 30% das doenças coronarianas e aumento de 12 mg/dl do colesterol plasmático [10].
O objetivo deste estudo de caso é demonstrar os resultados
em termos de redução e estabilização dos níveis pressóricos
em relação à PA e frequência cardíaca de repouso, tendo como
consequência a diminuição das medidas antropométricas e
estabilização dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos, em
um indivíduo hipertenso de 58 anos, sedentário, dependente
de fármaco diurético e beta-bloqueador. Para isto, foram
utilizados exercícios resistidos e aeróbios com intensidades
leves, moderados e intensos, trabalhados em grande parte
em circuitos de acordo com a evolução fisiológica e ajustes
articulares e musculares do cliente. Tais medidas estão ligadas
à orientação alimentar para se alcançar o objetivo proposto.
Material e métodos
Foi escolhido para o estudo de caso um cliente do sexo
masculino, sedentário, com 58 anos de idade, pesando 93,1
kg, com estatura de 176 cm, cuja frequência em repouso
era de 88 bpm. Este cliente é dependente de fármacos
anti-hipertensivos, apresentando pressão arterial de 160/110
mmHg com alguns picos de 200/120 mmHg. O mesmo já foi
encaminhado ao pronto socorro por parentes algumas vezes
antes do início destas atividades.
O roteiro de trabalho constou de medidas antropométricas (peso, altura, circunferências); pregas cutâneas; avaliações
bioquímicas; avaliações de hábitos alimentares (orientação por
uma terapeuta Ayurvédica, técnica de nutrição); o acompanhamento durante as aulas foi feito por um médico anestesista; a
verificação do peso foi realizada em uma balança com intervalos
a cada 0,01 kg; os voluntários foram pesados em pé, descalços
e usando apenas sunga; a medida de estatura foi aferida na
balança, utilizando-se a haste de metal rígida que atinge uma
altura de até 2 metros com intervalos em centímetros – para
isto, o mesmo ficou descalço, encostando a região escapular e
occipto cervical na haste de metal e a parte superior do crânio
no ponto mais alto da haste de metal do aparelho –; as dobras
cutâneas foram aferidas com o compasso da Cescorf, sendo
verificado um total de 9 dobras cutâneas, aferidas três vezes a
mesma dobra e utilizada a aferição média como base de estudo;
As análises bioquímicas foram realizadas em um laboratório,
com jejum de 12 horas no começo do estudo, e determinados
os intervalos de novas coletas com o voluntário; a aferição da
PA foi realizada, durante 6 dias no mesmo horário e condições
semelhantes, com um esfignomanômetro e um estetoscópio
da (BD), aprovado pelo Inmetro; as medidas antropométricas
foram verificadas por uma trena, com divisão em milímetros;
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
102
para que se realizasse a avaliação e se determinasse o nível de
condicionamento do voluntário, utilizou-se um teste ergométrico do cliente que ele havia realizado em uma data anterior.
Mesmo possuindo teste ergométrico anterior, que foi
anexado aos demais exames, o cliente foi reavaliado na sala
para se verificar o comportamento da frequência cardíaca no
ambiente em que se realizariam os trabalhos sendo, então,
determinadas as intensidades. O treinamento foi realizado em
uma sala vip e personalizado, sendo realizado com frequência
de 3 a 4 vezes por semana.
Os trabalhos se iniciaram com aquecimento de 7 minutos,
com alongamentos e exercícios de recuperação muscular com
o próprio peso do corpo para ajustes muscular, articular e
cardíaco com 6 exercícios (3 para MMII e 3 MMSS), com 1
serie e 8 a 12 repetições, conforme cita Simão et al. [11] em
seu estudo. Foram utilizados neste estudo de 30 a 50 segundos de descanso de acordo com PA e duplo produto, sendo
que no final foi realizada uma caminhada na esteira por 10
minutos a 2,5 km/h por não ter suporte para realizar em uma
intensidade maior, pois o mesmo atingia picos de 210/110
mmHg de PA e duplo produto de 23.310.
Após 12 sessões (4 semanas) já eram nítidos os ajustes musculares, articulares e cardiológicos sendo, então, os trabalhos
direcionados para utilização de pesos com 8 exercícios (4 para
os MMII e 4 para os MMSS) sendo 2 séries e 8 repetições e
15 a 20 minutos de caminhadas na esteira a 5,8 km/h.
O treinamento, após 24 sessões (8 semanas), foi direcionado para trabalhos em circuitos, sendo que os resistidos eram
realizados com 2 exercícios para membros inferiores e 2 para
membros superiores alternados e o aeróbio era utilizando a
esteira por 5 minutos no intervalo de cada série completada
do resistido somando, no final da aula, 20 minutos de trabalho na esteira. Evitou-se, assim, a elevação do duplo produto
por um tempo elevado sem condições de ficar 20 minutos na
esteira sem intervalo em um volume maior.
As atividades após 36 sessões (12 semanas) foram redirecionadas, pois já tínhamos novos parâmetros fisiológicos
inclusive com crises de hipotensão após os exercícios. No diaa-dia ficou demonstrado que o trabalho estava apresentando os
resultados esperados sendo, então, aumentado tanto o volume
quanto intensidade nos trabalhos musculares, utilizando de
10 a 12 repetições de 3 séries, modulando a velocidade e
intensidade nas execuções e trabalho aeróbio com trotes de
2 a 4 minutos, dependendo do duplo produto.
Quando a aula não era em circuito, realizavam-se os trabalhos musculares, alternando membros sup. e inf. com 20 a
30 seg. de descanso, dependendo do duplo produto, que era
também utilizado como parâmetro de descanso, intensidade,
e segurança, já que quando o duplo produto retorna próximo ao valor inicial se dava um volume e intensidade maior
e quando não retornava se diminuía o volume e intensidade
na próxima execução.
Após 60 sessões (5 meses) o cliente já estava apresentando
hipotensões no seu cotidiano, vindo até a apresentar desconforto por vários períodos. O mesmo foi ao consultório de
seu médico responsável, pois a consulta já estava marcada
há vários meses. Foram, então, suspensos os medicamentos
anti-hipertensivos, permanecendo apenas com o diurético.
A partir deste ponto observamos o cliente por 5 sessões para
ver a evolução sem os medicamentos. Partimos, então, para
o trabalho especifico de corrida juntamente com trabalhos
musculares e, em grande parte, em circuitos com um aumento
de volume e intensidade, tendo como objetivos a manutenção
da PA e um maior desenvolvimento muscular e proteção das
articulações.
Quando os trabalhos musculares não eram realizados em
circuito e associado à esteira, realizava-se primeiro os resistidos e depois os aeróbios para não degradar totalmente o
glicogênio muscular no aeróbio, uma vez que algumas vezes
o volume e intensidade no aeróbio eram elevados e no trabalho resistido se utiliza muito o glicogênio muscular como
substrato energético, dependendo do volume e intensidade
e descanso que se teria.
Em 7 meses de trabalho o cliente estava com todos os
seus parâmetros fisiológicos estáveis e treinando como um
aluno sem nenhuma patologia de base, correndo de 30 a 40
minutos sem parar e realizando todos os exercícios resistidos,
demonstrando total sucesso no trabalho que foi elaborado. As
tabelas e gráficos demonstra os resultados obtidos.
Resultados
Nos resultados do presente estudo pode-se observar às
alterações de grandes amplitudes em termos bioquímicos,
antropométricos, PA, frequência cardíaca e duplo produto
durante os exercícios e em repouso. Portanto, para melhor demonstração colocaremos tais resultados em gráficos e tabelas.
Através da Tabela I pode-se observar a diminuição do peso,
do índice de massa corporal.
Tabela I - Resultados do IMC, altura e peso.
Nº de aferições
01
02
03
Tempo
IMC
Altura
Peso
1 dia
4 meses
9 meses
30,42
28,0
27,09
1,75 cm
1,75 cm
1,75 cm
93,1 kg
85,7 kg
82,9 kg
Tabela II - Resultados dos exames bioquímicos.
Coleta
03/08/2009
11/06/2010
03/12/2010
Colesterol
159 mg/dl
141,0 mg/dl
160 mg/dl
Triglicérides
139 mg/dl
135,0 mg/dl
99 mg/dl
Hemoglobina
16,7 g/dl
15,4 g/dl
TGP
17,0 u/l
25,0 u/l
29,0 u/l
Glicose
109,0 mg/dl
90 mg/dl
82 mg/dl
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Através daTabela II pode se verificar os valores bioquímicos
e observar as alterações e a estabilização nos níveis iniciais de
glicose, colesterol, triglicérides, hemoglobina e transaminase
glutamina pirúvica.
Quanto à analise das dobras cutâneas, pode-se observar
a diminuição significativa e importante em alguns pontos,
como demonstra a Tabela III.
Tabela III - Evolução das dobras cutâneas.
Gastrocnémio
Tríceps
Bíceps
Tórax
Subescapular
Suprailíaca
Abdômen
Coxa
Axilar média
Medida 1
Medida 2
Medida 3
1 dia
19/05/2010 21/11/2010
17
13,5
10
23
16
8
20
13,5
7
37
18
14,5
34
23,5
19,5
34
23,5
17
47
35
26,5
26
20
14,5
25
22
19,5
Através da Tabela IV podem-se observar mudanças nas
medidas antropométricas.
Através da Tabela V pode se verificar durante os exercícios
alterações fisiológicas e funcionais, tais como: pressão arterial,
frequência cardíaca de repouso e frequência cardíaca durante
o exercício.
Através da Tabela VI pode se verificar os ajustes fisiológicos
no decorrer do tempo durante o exercício.
103
Discussão
Os trabalhos científicos têm demonstrado que os exercícios
tanto resistidos como aeróbios têm causado ajustes fisiológicos
de tal maneira que se consegue a regularização dos níveis pressóricos, reduzindo ou até suspendendo o uso de medicamentos.
Além da incorporação dos exercícios no cotidiano a diminuição da ingestão de sódio são fatores fundamentais para
a redução da PA [12]. O peso é outro fator que determina o
aumento da PA, e a cada 10% do aumento do peso corporal
a diastólica sobe 6,5 mmHg [3]. A retenção do sódio associado à glicose circulante é que estimula a liberação dos ácidos
graxos livres alterando e aumentando a secreção de insulina
pelo pâncreas [13].
O que se pode verificar no estudo é que a redução de ingestão de sódio, produtos industrializados, a reeducação dos
horários alimentares combinado com os exercícios resistidos
e aeróbios com variações de protocolos após alguns ajustes
fisiológicos utilizando trabalhos em circuitos, pode reduzir
os níveis pressóricos do cliente.
Os exercícios resistidos têm um papel importante nos trabalhos físicos, pois promovem um aumento da força muscular,
adaptações na função cardíaca, minimiza a perda da massa
magra, aumenta a potência e utiliza uma demanda energética
menor para se realizar um trabalho, ocorrendo um ajuste nos
níveis pressóricos menores no dia-a-dia.
A intensidade está diretamente ligada às respostas cardiovasculares agudas, alterando o sistema nervoso simpático
devido à liberação das catecolaminas circulantes, ocorrendo o
aumento da frequência cardíaca, maior resistência periférica,
oclusão do leito vascular e aumento metabólico, modulando
os quimiorreceptores musculares [14].
Tabela IV - Evolução das circunferências.
Medidas
18/01/2010
19/05/2010
21/11/2010
Pescoço
38,5 cm
38,1 cm
38,5 cm
Tórax
110,5 cm
112 cm
110 cm
Bíceps
37,6 cm
35,5 cm
35,0 cm
Abdômen
110 cm
105 cm
101 cm
Coxa
50,5 cm
49,5 cm
48 cm
Gastrocnemio
37 cm
35,5 cm
35,5 cm
Ombro
125 cm
122,3 cm
121 cm
Tabela V - Evolução da pressão arterial de repouso, FC de trabalho e de repouso.
Tempo 4 km/h
Esteira
Avaliação
30 min
24 min
22:44 min
Tempo
PA em repouso
FC de trabalho
FC em repouso
01 dia
4 meses
9 meses
10 meses
160/110 mmHg
125/85 mmHg
125/80 mmHg
120/85 mmHg
111 bpm
156 bpm
155 bpm
161 bpm
88 bpm
70 bpm
67 bpm
63 bpm
Tabela VI - Ajustes fisiológicos do exercício no decorrer do tempo.
Tempo de trabalho
Avaliação
30:00 min
24:00 min
22:44 min
Tempo
PA em exercício
FC de trabalho
01 dia
4 meses
9 meses
10 meses
200/110 mmHg
185/85 mmHg
190/80 mmHg
195/75 mmHg
111 bpm
156 bpm
155 bpm
161 bpm
FC recupe
5 minutos
97 bpm
90 bpm
89 bpm
90 bpm
Duplo Produto
22.200
28.860
29.450
31.395
104
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Pôde-se observar que, de acordo com os estímulos e intensidades nos trabalhos resistidos, tinha-se um aumento do
duplo produto sendo que, após alguns segundos ou minutos,
os níveis regrediam a parâmetros aceitáveis para se determinar a próxima carga a ser executada. Isto demonstrou uma
vantagem ao exercício aeróbio, pois permanece a frequência
cardíaca, duplo produto e a PA em alguns níveis mais elevados
e constantes durante os exercícios.
Nota-se que há queda da PA tanto diastólica como
sistólica, após uma sessão de exercícios resistidos, o que
foi observado também em nosso trabalho com exercícios
resistidos [4].
Estudos mostram significativa redução nos níveis pressóricos após uma sessão de exercícios de forma isolada [15].
Contudo, há relatos de redução significativa destes níveis da
PA após a realização de cinco exercícios resistidos em circuito
com carga de 50% de 1rm. Os resultados destes autores apresentam semelhanças com os resultados deste estudo, já que
em circuito se trabalha com frequência, duplo produto e PA
elevada, proporcionando um caráter teoricamente aeróbio, já
que no pós-exercício se tem vaso dilatação, menor resistência
vascular e adaptações neuro-humorais e estruturais e liberação
do óxido nítrico no endotélio, ocasionando hipotensão no
pós-exercício [16].
Outro fator importante que determinou o sucesso deste
estudo foi a redução dos níveis pressóricos, que foram os
exercícios aeróbios na esteira, modulando intensidades, volume e tempo que foram trabalhados em parte em circuitos
associados aos resistidos.
Em uma metanálise canadense demonstrou-se redução
significativa de 5/7 mmHg na PA [17]. Contudo, estudos
realizados em 72 ratos mostraram a redução de -6,9/-4,9 em
indivíduos com treinamento aeróbio.
O efeito hipotensivo – quando se trata de hipertensos
severos – os resultados são significativos após 48 sessões de
treinamento aeróbio [18].
Talvez este período de 48 sessões seja devido à falta de
possibilidade de se trabalhar em altas intensidades por causa
da hipertensão estar instalada no indivíduo e não controlada.
Isto elevaria os níveis pressóricos por muito tempo e ultrapassaria as margens de segurança no início de um trabalho. Isto
demonstra que o trabalho resistido associado ao aeróbio em
circuito tem duplo produto, frequência cardíaca e PA elevada
por um menor período, conseguindo se modular a prescrição
do exercício e promover os ajustes fisiológicos necessários para
a queda dos níveis pressóricos.
No exercício com peso o efeito hipotensivo talvez esteja ligado à diminuição do débito cardíaco que não foi compensado
pelo aumento da resistência vascular periférica, determinado
pela queda do volume sistólico [19]. O exercício aeróbio pode
causar reações fisiológicas como, por exemplo, bloqueio simpático, potencializando a liberação do óxido nítrico, melhoria
do fluxo sanguíneo e, com isto, menor resistência periférica,
ocasionando hipotensão no pós-exercício [14].
Esta associação de exercícios e modulação de intensidades
e velocidades da execução são fatores determinantes para se
escolher os substratos principais a serem utilizados e oxidados,
tendo como produto final a estabilização da PA e regularização
dos níveis bioquímicos.
Há estudos que relatam que durante a atividade física os
gliceróis são oxidados e há, portanto, estímulo dos hormônios
da tireóide, ocorrendo captação da glicose circulante pelas
células e a síntese negativa dos triglicérides sendo, então, a
glicose e os ácidos graxos livres transportados para as fibras
musculares [20].
O College American of Sports Medicine afirma que os trabalhos resistidos têm papel fundamentalmente importante no
programa de redução da PA, ficando bem clara a importância
da associação dos resistidos com os aeróbios [21]. Este relato
demonstra a importância de um protocolo bem elaborado
para se ter resultados satisfatórios na redução da PA [21].
Porém, não se pode deixar de ressaltar a importância da participação de outros profissionais no estudo para orientação
alimentar, pois a mesma deve ser feita para se ter suporte
nutricional tanto para a execução dos exercícios como para a
redução dos níveis de sódio, gorduras e cafeína.
Este apoio é importante para a recuperação em nível de
glicogênio muscular e cardíaco e para as sessões subsequentes,
já que, se não houver restauração correta dos substratos não
se consegue uma performance nas atividades.
Devemos lembrar que a presença durante as sessões iniciais
do médico anestesista Dr. Mozart na sala foi de fundamental
importância para termos mais segurança, tranquilidade e
amparo médico para qualquer eventualidade.
Conclusão
Os dados deste estudo de caso demonstram que a prática
de exercícios físicos com orientação adequada de um especialista é uma importante estratégia na regularização da PA e que
sua regularização minimiza os fatores de risco cardiológicos.
Demonstrou-se também que com a associação de exercícios
aeróbios em diferentes intensidades juntamente com exercícios
resistidos se consegue a regularização da PA, melhoria na parte
cardiopulmonar, recuperação muscular e redução nas medidas
antropométricas, tendo, portanto, como produto final a suspensão parcial ou total dos medicamentos anti-hipertensivos.
A conclusão que se tem é que um trabalho bem elaborado
envolvendo mudanças no cotidiano, orientação alimentar e
prescrição de exercícios individualizados pode e deve trazer
benefícios de grande impacto fisiológico para clientes que possuem alguma patologia de base e não têm conhecimento dos
benefícios que o treinamento personalizado pode proporcionar.
Referências
1. Polito MD, Simão R, Nóbrega ACL, Farinatti PTV. Pressão
arterial, frequência cardíaca e duplo produto em series sucessivas
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
do exercício de forca com diferentes intervalos de recuperação
portuguesa de ciências do desporto. Rev Port Ciências Desp
2004;4:7-15.
Polito MD, Farinatti PTV. Comportamento da pressão arterial
após exercícios físicos contra resistência: uma revisão sistemática
sobre variáveis determinantes e possíveis mecanismos. Rev Bras
Med Esporte 2006;12(06):386-92.
Novaes JS, Vianna JM. Personal training e condicionamento
físico em academia. 2a ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
Mediano MFF, Paravidino V, Simão R, Pontes FL, Polito MD.
Comportamento subagudo da pressão arterial após o treinamento de força em hipertensos controlados. Rev Bras Méd Esporte
2005;11(6):337-40.
Viecili PRN. Curva dose resposta do exercício em hipertensos:
análise do número de sessões para efeito hipotensivo. Arq Bras
Cardiol 2007;92(5):393-99.
Cunha GA. Hipotensão pós-exercício em hipertensos submetido ao exercício aeróbio de intensidades variadas e exercícios de
intensidade constante. Rev Bras Méd Esporte 2006;12(6):31317.
Ribeiro Filho FFR, Mariosa LS, Ferreira SRG, Zanella MT.
Gordura visceral e síndrome metabólica: mais que uma simples
associação. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(2):230-38.
Ferreira Filho CF, Meneghini A, Pérez ARR, Serpa Neto A,
Teixeira GK, Ferreira C. Benefício do exercício físico na hipertensão arterial sistêmica. Arq Méd ABC 2007;32(2):82-87.
Steenburgo T, Dall’Alba V, Jorge L, Gross JL, Azevedo MJ.
Fatores dietéticos e síndrome metabólica. Arq Bras Endocrinol
Metab 2007;51(9):1425-33.
Monteiro MF, Sobral Filho DC. Exercício físico e o controle
da pressão arterial. Rev Bras Méd Esporte 2004;10(6):513-16.
Simão R, Polito M, Monteiro W. Efeito de diferentes intervalos
de recuperação em um programa de treinamento de força para
indivíduos treinados. Rev Bras Med Esporte 2008;4(14):353-56.
105
12. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Méd Esporte 2004;10(4):319-24.
13. Machado VF, Shaan BD, Serafim PM. Tratamento da glicose
na síndrome metabólica. Arq Bras Metabol 2006;50(2):177-89.
14. Assunção WD, Marcelo D, Simão R, Polito M, Monteiro W.
Respostas cardiovasculares agudas no treinamento de forca
conduzido em exercícios para grandes e pequenos grupos musculares. Rev Bras Méd Esporte 2007;13(2):118-22.
15. Costa JBY, Gerage AM, Gonçalves CGS, Pina FLC, Polito MD.
Influência do estado de treinamento sobre o comportamento
da pressão arterial após uma sessão de exercícios com peso em
idosas hipertensas. Rev Bras Med Esporte 2010;16(2):103-6.
16. Russo K, Monteiro W. Hipertensão arterial: uma abordagem
direcionada aos efeitos do treinamento, mecanismos hipotensivo e respostas a programa de exercícios. Revista Brasileira de
Fisiologia do Exercício 2005;4(1):49-57.
17. Cleroux J, Feldeman RD, Petrella RJ. Lifestyle modifications
to prevent and control hypertension. 4 recommendations on
physical exercise training. Canadian hypertension society,
Canadian coalition for high blood pressure prevention and
control. Laboratory centre for disease control at hearth Canada,
heart and stroke foundation of Canadian. CMAJ 1999;160(9
Suppl):S21-S28.
18. Alves LL, Forjaz C. Influência da intensidade e do volume do
treinamento aeróbio na redução da pressão arterial de hipertensos. Rev Bras Ciênc Mov 2006;15(3):115-22.
19. Raglin JS, Turner PE, Eksten F. State anxiety and blood pressure
following 30 min of leg ergometry or weight training. Med Sci
Sport Exerc 1993;25:1044-8.
20. Hauser C, Benetti M, Rebelo FP. Estratégias para o emagrecimento. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum
2004;6(1):72-81.
21. Nunes RAM. Reabilitação cardíaca. São Paulo: Cone; 2010.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
106
Revisão
Adaptações agudas promovidas por exercícios no
aumento da expressão gênica, conteúdo e translocação
da proteína GLUT-4 no músculo esquelético e melhora
na responsividade à insulina
Acute adaptations promoted by exercises upon GLUT-4 translocation,
gene and protein content in the skeletal muscle and improvement
in insulin sensitivity
Henrique Quintas Teixeira Ribeiro*, Rodolfo Gonzalez Camargo*, Waldecir Paula Lima**, Ricardo Zanuto***,
Luiz Carlos Carnevali Junior****
*Grupo de Biologia Molecular da Célula, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São Paulo/SP, **Grupo de Biologia
Molecular da Célula, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São Paulo/SP, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo/SP, ***Laboratório de Sinalização Intracelular, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São
Paulo/SP,****Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra/SP, Grupo de Biologia Molecular da Célula, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São Paulo/SP
Resumo
Abstract
Diversos estudos indicam que os exercícios físicos em geral
promovem melhorias fisiológicas tanto em indivíduos saudáveis
quanto em portadores de patologias. Dentre estas melhorias, citase o aumento da expressão do GLUT-4, promovendo aumento da
tolerância à glicose em indivíduos que apresentam resistência à
insulina, como diabetes, particularmente de tipo 2. Nesta revisão,
será apresentada uma descrição de vários estudos sobre o tema,
destacando os efeitos agudos promovidos por treinamentos aeróbios e anaeróbios, particularmente relacionados ao aumento da
sensibilidade à insulina. Foi realizada uma vasta revisão bibliográfica
de artigos internacionais indexados ao Pubmed, entre os meses de
janeiro e julho de 2010.
Several studies indicate that physical exercise in general promotes physiological improvements in both healthy subjects and in
patients with pathologies. Among these improvements, the increased
expression and amount of GLUT-4 may be described. Such adaptations clearly increase glucose tolerance in subjects with diabetes,
particularly type 2. In this review, a description of many studies on
the subject will be showed, highlighting the acute effects provided
by aerobic and anaerobic training, particularly related to the increase
of insulin sensitivity. We performed an extensive literature review
of international articles indexed in Pubmed, between the months
of January and July 2010.
Key-words: physical exercise, GLUT-4, diabetes, insulin.
Palavras-chave: exercícios físicos, GLUT-4, diabetes, insulina.
Recebido em 2 de maio de 2011; aceito em 27 de maio de 2011.
Endereço para correspondência: Luiz Carlos Carnevali Junior, Grupo de Biologia Molecular da Célula, Instituto de Ciências
Biomédicas I, Universidade de São Paulo, SP, Avenida Professor Lineu Prestes, 1524, Cidade Universitária, São Paulo SP, Tel: (11) 30917225, E-mail: [email protected].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
Nos mamíferos, o sistema nervoso central necessita de
glicose como fonte essencial de energia. Desta forma, para
sobreviverem, indivíduos normais devem manter o nível plasmático de glicose entre 4-7 mM [1], através de alterações de
mecanismos centrais e periféricos do organismo [2].
A insulina é um dos hormônios responsáveis por esta
manutenção, sendo secretada pelas células beta-pancreáticas
em resposta a um aumento da glicose plasmática. Nos tecidos
musculares, assim como nos tecidos adiposos (em menor escala), a insulina aumenta a captação de glicose, diminuindo
a produção de glicose hepática. Este hormônio atua também
promovendo o armazenamento de substratos nos tecidos
adiposos, no fígado e nos músculos, por estimular lipogênese
e síntese de glicogênio e proteínas, respectivamente; além de
inibir a lipólise, glicogenólise e proteólise [1], através de duas
vias distintas de sinalização (citadas no próximo tópico). Em
relação às células musculares esqueléticas, principal alvo de
nosso estudo, pode-se afirmar que são os mais importantes
alvos da insulina na regulação da glicose sanguínea [3]. Elas
são responsáveis por pelo menos 80% da captação de glicose
do sangue [4]. Rodnick et al. [5] reportaram que o GLUT-4
está presente em estruturas tubulovesiculares agrupadas no
retículo transgolgi, e que através da insulina ou do exercício
físico, são translocados até a membrana sarcoplasmática, onde
ocorre a captação de glicose.
A diminuição da atividade muscular, que acarreta em
mudanças no nível de expressão gênica dos receptores de
glicose nas células musculares (GLUT-4), é um dos fatores
que altera a sensibilidade à insulina nestas células [6]. Richter
et al. e Tabata et al. [7,8], através de seus estudos, apontaram
que uma redução aguda no nível de atividades diárias, como,
por exemplo, em imobilizações de membros inferiores, ou até
mesmo em um descanso deitado em uma cama, rapidamente
diminuíram a sensibilidade à insulina dos músculos, bem
como seu conteúdo de GLUT-4. Houmard et al. [9] mostraram que, em caso de um aumento do padrão de atividade
física, como, por exemplo, no treinamento, ocorre aumento
do conteúdo proteico de GLUT-4 nas células musculares.
Desta forma, pode-se esperar um aumento da sensibilidade à insulina, o que acarreta uma maior tolerância à glicose.
Ainda seguindo esta linha de raciocínio, Kawanaka et al.
[10] concluíram que a mudança da responsividade à insulina
durante o destreinamento estava diretamente relacionada ao
conteúdo de GLUT-4 muscular, e consequentemente quanto
maior o aumento do conteúdo de GLUT-4 induzido pelo treinamento, tal efeito persiste por um período mais prolongado.
O conteúdo total de GLUT-4 tem sido considerado um
dos fatores determinantes da responsividade a insulina na
musculatura esquelética [11], fato extremamente importante,
particularmente para indivíduos que apresentam quadro de
resistência à insulina, como diabetes, obesidade e hipertensão.
Além do aumento da expressão gênica e conteúdo de GLUT-4,
107
o aumento da translocação das vesículas de GLUT-4 rumo à
superfície celular, providenciado pelo aumento da atividade
das proteínas envolvidas nesta cascata de sinalização, também
é fundamental para uma maior responsividade à insulina [12].
Partindo desta premissa, o objetivo principal deste trabalho é
revisar os estudos que apontam as modificações que o exercício
realizado em diferentes intensidades promove em relação à
diminuição da resistência à insulina, providenciada não só
pelo aumento do conteúdo de GLUT-4, mas também pelo
aumento da translocação de suas vesículas.
Vias intracelulares da captação de glicose dependente e independente de insulina
A regulação da captação de glicose dependente de insulina
pelas células musculares ocorre através da ativação de uma série
de proteínas intracelulares [13]. A ligação da insulina com a
subunidade alfa de seu receptor (IR) causa um aumento da
atividade da tirosina kinase da subunidade beta, levando à
autofosforilação deste receptor e à fosforilação do substrato-1
do receptor de insulina (IRS-1). A partir deste ponto, ocorre
a sinalização de duas vias distintas, cujos finais se dão através
da translocação de GLUT-4 para a membrana sarcoplasmática
e para os túbulos T, captando a glicose através da difusão
facilitada. Na primeira via, o IRS-1 se liga à subunidade
regulatória do fosfatidilinositol 3-kinase (PI3-kinase), que
ativa a subunidade catalítica 110 desta enzima.
A PI3-kinase catalisa a produção das metades dos fosfoinositídeos, que ativam as kinases dependentes dos fosfoinositídeos (PDK), incluindo a PDK-1. Um alvo desta cascata de
sinalização é a Akt/proteína kinase B (Akt/PKB). A ativação
destas proteínas resulta na translocação do GLUT-4 [14]. Já
a segunda via está relacionada ao gene Cbl, que se encontra
associado à proteína CAP [15]. Quando o Cbl é fosforilado,
ocorre translocação do complexo Cbl-CAP, que recruta a proteína CrkII. Esta proteína também forma um complexo com
a proteína C3G, que quando translocada, fosforila a proteína
G da proteína TC10. A TC10, uma vez ativada, providencia
um segundo sinal para o GLUT-4 (ver figura 1) [16].
O transporte de glicose pelas células musculares também é
estimulado por mecanismos independentes de insulina devido
a contrações musculares [17], por aumentar a ativação da
AMP kinase (proteína 5’ AMP-ativada kinase), uma enzima
ativada pela diminuição da carga energética celular [18], que
aumenta a translocação de GLUT-4 para a superfície celular.
Um dos mecanismos responsáveis pela maior ativação da
AMPK é o aumento nas razões AMP/ATP e creatina/fosfocreatina [19]. A atividade contrátil altera o status energético
das células musculares esqueléticas, e dependendo da intensidade das contrações pode haver diminuições significantes nas
concentrações de fosfocreatina e ATP, levando a uma maior
ativação da AMPK [20]. Um outro mecanismo a ser citado
é o aumento da concentração miocelular de cálcio devido à
contração muscular [21].
108
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
A contração muscular é iniciada pela despolarização da
membrana sarcoplasmática e dos túbulos T, disparando o
gatilho para a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático.
O aumento intracelular de cálcio leva a uma interação entre
os filamentos de actina e miosina, permitindo o desenvolvimento de tensão nas fibras. A CaMKK (cálcio/calmodulinadependente proteína kinase), uma molécula sensível ao cálcio
ionizado, é ativada, e consequentemente aumenta a ativação
da AMPK [22].
Efeitos do exercício agudo no conteúdo de
GLUT-4
Embora o principal estímulo da secreção de insulina e
glucagon seja a variação da glicemia, ambos hormônios também sofrem influência de sua secreção pelo sistema nervoso
autônomo [23]. Mudanças na secreção pancreática de insulina
e glucagon representam um importante papel na regulação da
glicose plasmática [24]. É sabido que o pâncreas é inervado
por nervos vagos e viscerais, e a estimulação destes nervos
altera a secreção de insulina e glucagon [25].
A estimulação alfa adrenérgica inibe a secreção de insulina,
enquanto que a estimulação beta adrenérgica estimula a liberação deste hormônio [26]. Durante o exercício, a estimulação
dos nervos viscerais libera norepinefrina e inibe a secreção de
insulina pelas células beta-pancreáticas [27]. A estimulação
dos receptores alfa2 pela norepinefrina apresenta efeito inibitório na liberação de insulina, enquanto que a estimulação
dos receptores beta adrenérgicos aumenta a liberação de
insulina. No entanto, a ação da norepinefrina nos receptores
alfa 2 predomina, e a secreção de insulina é reduzida [25].
A estimulação elétrica do músculo ou uma série única de
exercícios por corrida em esteiras ou natação mostraram um
aumento da captação de glicose em diversos estudos, como
revisado por Ivy [28]. O efeito agudo do exercício consiste em
duas fases [29]. O efeito inicial dura por algumas horas e não
necessita da presença de insulina. A duração desta fase parece
estar correlacionada com a ressíntese de glicogênio e pode ser
prolongada pela manipulação dietética, com o objetivo de
adiar tal ressíntese [29]. Ainda em relação a esta fase, durante
a atividade física ocorre um aumento da via de translocação
de GLUT-4 devido ao aumento intracelular de cálcio. No
momento em que ocorre a despolarização, fundamental para
que haja interação entre os filamentos de actina e miosina,
ocorre liberação do cálcio do retículo endoplasmático liso,
que também atua como mediador do transporte de glicose.
Holloszy et al. [30] observaram que a frequência da contração
é responsável pelo aumento do transporte de glicose, não a
duração, e nem tampouco a tensão do movimento.
No entanto, o estudo de Ihlemann et al. [31] apontou que
em músculos sóleos incubados de ratos, a captação de glicose
estimulada pela contração é mais dependente da produção de
força do que da estimulação da frequência. Este aumento de
cálcio citoplasmático pode atuar iniciando ou facilitando a
fosforilação de proteínas ou moléculas envolvidas nas cascatas
de sinalização intracelulares, que desencadeiam os efeitos tanto
agudos quanto crônicos do exercício em relação ao transporte
de glicose. Pode-se citar como exemplo desta fosforilação a
proteína quinase C (cálcio dependente e sinalizadora intermediária), que devido à contração muscular é ativada, e parece
estar envolvida na regulação do transporte de glicose que é
estimulado por esta contração [32]. Na segunda fase, ocorre
aumento da sensibilidade à insulina, que pode durar por até
24 horas ou até mesmo ao redor de 48 horas, dependendo
da atividade realizada.
Annuzzi et al. [33] observaram o efeito de uma única sessão
de exercício (3 horas, 50% VO2 máx) em que após 24 horas
a sensibilidade à insulina mantinha-se alta nos músculos que
haviam sido utilizados. Etgen et al. [34], em um estudo em
que ratos correram em uma esteira durante 5 dias/semana,
entre 12-16 semanas, em que progressivamente atingiram
velocidade de 32m/min após a oitava semana, mantendo esta
velocidade posteriormente (estímulo intenso), apontaram que
os efeitos deste treinamento em relação à responsividade à insulina ou à captação de glicose em músculos das patas traseiras
(predominantemente compostos por fibras do tipo IIb) de
ratos saudáveis apresentaram vida curta (29% maior do que
sedentários durante as primeiras 24 horas), e desapareceram
dentro de 48 horas após o treinamento. Ren et al. [35] reportaram um grande aumento na expressão gênica (duas vezes
maior se comparado ao conteúdo de RNA-m de ratos controle) e no conteúdo de GLUT-4 no músculo epitrochlearis
(músculo das patas frontais, compostos predominantemente
por fibras glicolíticas) de ratos saudáveis (aproximadamente
1,5 vezes maior) 16 horas após uma sessão de treinamento
de natação (2 séries de 3 horas, sem carga acoplada, com
45 minutos de intervalo entre as séries), e apesar de não ter
havido aumento na expressão gênica, houve aumento de
aproximadamente duas vezes na quantidade de GLUT-4 16
horas após o fim de 2 sessões, realizadas em dias consecutivos.
Kawanaka et al. [36], na tentativa de descobrirem se os
efeitos do treinamento de natação em relação à responsividade
à insulina poderiam ser mantidos por mais de 24 horas, submeteram um grupo de ratos a nadar 2 horas diárias, divididas
em 4 séries de 30 minutos e separadas por um intervalo de
5 minutos, durante 5 dias. Após a primeira série, os ratos
tinham anexado a seus corpos um peso correspondente a 2%
de seus pesos corporais. O estudo apresentou como resultado
que, após 18 horas após o treinamento, a responsividade à
insulina e o conteúdo de GLUT-4 nos músculos epitrochlearis
dos ratos aumentaram 85%, e mantiveram-se 50% maior do
que o observado nos ratos controle após 42 horas de treino.
Esses efeitos de treinamento retornaram ao nível controle
após 90 horas após o treinamento. Após uma série aguda
de exercício, o transporte de glicose nos músculos aumenta
em um mesmo nível de um estímulo máximo de insulina. Durante o exercício agudo, é sabido que a ativação de
AMPK estimula uma maior captação de glicose através da
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
translocação do GLUT-4 até a superfície celular esquelética
[37]. Neufer e Dohm [38] mostraram que a indução pelo
exercício no aumento de GLUT-4 é mediada em nível transcricional. O RNA-m dos GLUT-4 e GLUT-1, bem como as
próprias proteínas em si aumentaram nos músculos treinados
e imagina-se que são responsáveis pelo aumento máximo da
captação de glicose estimulado pela insulina. Zheng et al. [39]
demonstraram que a expressão gênica do GLUT-4 é modulada
em nível transcricional pela ativação da AMPK, fornecendo
evidências adicionais do seu envolvimento na regulação da
expressão gênica muscular devida ao exercício.
Comparações entre exercícios de diferentes intensidades na modulação aguda da expressão gênica
e conteúdo de GLUT-4
Terada et al. [40], em 2001, realizaram um estudo com a
intenção de verificar os efeitos do treinamento de natação de
altíssima intensidade no conteúdo do GLUT-4 dos músculos
epitrochlearis de ratos saudáveis, bem como de comparar
este conteúdo com o observado nos treinamentos de duração prolongada e intensidade baixa. O estudo demonstrou
que o treinamento de altíssima intensidade, em que os ratos
deveriam nadar 14 séries de 20 segundos nadando com 10
segundos de intervalo de descanso entre as séries, em um
tempo total de 280 segundos, durante 8 dias, em que foi
anexada aos corpos dos ratos uma carga equivalente a 14% de
seus pesos corporais, levou a um aumento agudo de GLUT-4
semelhante ao aumento do treinamento de baixa intensidade,
em que o grupo deveria nadar 2 séries de 3 horas de duração,
com intervalo de descanso de 45 minutos entre as séries,
também durante 8 dias, em um tempo total de 360 minutos),
respectivamente 83% e 91%, que até então era tido como o
estímulo mais forte para aumentar os níveis de GLUT-4 nos
músculos epitrochlearis dos ratos [39].
Neste estudo, foram estudados 2 fatores que podem ter
induzido um aumento da expressão gênica de GLUT-4: os
fatores neurotróficos e a AMPK. Especulou-se que durante
o treinamento de baixa intensidade houve maior liberação de
fatores neurotróficos nos músculos epitrochlearis, embora essa
taxa de secreção seja bem menor se comparada à taxa secretada
durante o treinamento alta intensidade. É concebível a ideia
de que em ambos os tipos de exercícios, a taxa secretada destes
fatores foi suficientemente alta para induzir a expressão gênica
de GLUT-4 nas células musculares de ratos. Em relação à
AMPK, podem existir duas hipóteses distintas para a indução
máxima da expressão gênica de GLUT-4. A primeira é baseada
na afirmação de Hutber et al. [41], que apontou que a atividade
da AMPK aumenta gradativamente durante o exercício. Desta
forma, seria possível que durante o treinamento LIT haja um
aumento considerável da atividade de AMPK, que acarreta em
uma indução máxima da expressão gênica do GLUT-4.
A segunda hipótese é baseada em Rasmussen et al. [42],
que demonstrou que a atividade da AMPK é dependente
109
da intensidade do exercício. Sendo assim, é possível que no
treinamento HIT ocorra uma ativação máxima da AMPK
dentro de poucos minutos. Embora estas hipóteses sejam
divergentes, em ambos os casos houve indução máxima da
expressão gênica de GLUT-4.
Conclusão
O aumento da expressão gênica e do conteúdo do GLUT4, assim como a ativação das proteínas intracelulares envolvidas nas vias sinalizadoras de translocação das vesículas de
GLUT-4, acarreta em um aumento à responsividade à insulina, algo favorável para indivíduos com quadro de resistência
à insulina. Agudamente a prática de atividade física promove
tanto o aumento da expressão gênica quanto do conteúdo
proteico, além de aumentar a translocação dos receptores
de glicose nas células musculares, sendo que a natação, se
comparada à corrida em esteira, é capaz de promover manutenção da diminuição à resistência à insulina por mais tempo.
Atividades de alta intensidade e curta duração aparentemente
são mais eficientes do que atividades de baixa intensidade e
longa duração, por apresentarem menor tempo dispendido.
Referências
1. Saltiel AR, Kahn, CR. Insulin signaling and the regulation of
glucose and lipid metabolism. Nature 2001;414(6865):799806.
2. Dallman MF, Akana SF, Bhatnagar S, Bell ME, Choi S, Chu
A et al. Starvation: early signals, sensors, and sequelae. Endocrinology 1999;140:4015-23.
3. DeFronzo RA, Jacot E, Jequier E, Maeder E, Wahren J, Felber
JP. The effect of insulin on the disposal of intravenous glucose.
Results from indirect calorimetry and hepatic and femoral
venous catheterization. Diabetes 1981;30:1000-7.
4. Kubo K, Foley JE. Rate-limiting steps for insulin-mediated
glucose uptake into perfused rat hindlimb. Am J Physiol
1986;250(13):100-2.
5. Rodnick KJ, Slot JW, Studelska DR, Hanpeter DE, Robinson
LJ, Geuze HJ, James DE. Immunocytochemical and biochemical studies of GLUT 4 in rat skeletal muscle. J Biol Chem
1992;267:6278-85.
6. Richter EA, Derave W, Wojtaszewski JF. Glucose, exercise and
insulin: emerging concepts. J Physiol 2001;535:313-22.
7. Richter EA, Kiens B, Mizuno M, Strange S. Insulin action in
human thighs after one-legged immobilization. J Appl Physiol
1989;67:19-23.
8. Tabata I, Suzuki Y, Fukunaga T, Yokozeki T, Akima H, Funato
K. Resistance training affects GLUT-4 content in skeletal muscle
of humans after 19 days of head-down bed rest. J Appl Physiol
1999;86:909-14.
9. Houmard JA, Hickey MS, Tyndall GL, Gavigan KE, Dohm
GL. Seven days of exercise increase GLUT-4 protein content
in human skeletal muscle. J Appl Physiol 1995;79:1936-38.
10. Kawanaka K, Tabata I, Katsuta S, Higuchi M. Changes in
insulin-stimulated glucose transport and GLUT-4 protein in rat
skeletal muscle after training. J Appl Physiol 1997;83:2043-47.
110
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
11. Hansen PA, Gulve EA, Marshall BA, Gao J, Pessin JE, Holloszy
JO, Mueckler M. Skeletal muscle glucose transport and metabolism are enhanced in transgenic mice overexpressing the
GLUT-4 glucose transporter. J Biol Chem 1995;270:1679-84.
12. Jessen N, Goodyear LJ. Contraction signaling to glucose transport in skeletal muscle. J Appl Physiol 2005;99:330-7.
13. Shepherd PR, Kahn BB. Glucose transporters and insulin action. Implications for insulin resistance and diabetes mellitus.
N Engl J Med 1999;341:248-57.
14. Henriksen EJ. Invited review: effects of acute exercise
and exercise training on insulin resistance. J Appl Physiol
2002;93(2):788-96.
15. Ribon V, Saltiel AR. Insulin stimulates tyrosine phosphorylation
of the proto-oncogene product of c-Cbl in 3T3-L1 adipocytes.
Biochem J 1997;324:839-45.
16. Chiang SH, Baumann CA, Kanzaki M, Thurmond DC,
Watson RT, Neudauer CL, et al. Insulin-stimulated GLUT4
translocation requires the CAP-dependent activation of TC10.
Nature 2001;410:944-8.
17. Nesher R, Karl IE, Kipnis DM. Dissociation of effects of insulin and contraction on glucose transport in rat epitrochlearis
muscle. Am J Physiol Cell Physiol 1985;249:226-32.
18. Kurth-Kraczek EJ, Hirshman MF, Goodyear LJ, and Winder
WW. 5 AMP-activated protein kinase activation causes GLUT4
translocation in skeletal muscle. Diabetes 1999;48:1667-71.
19. Kemp BE, Mitchelhill KI, Stapleton D, Michell BJ, Chen
ZP,Witters LA. Dealing with energy demand: the AMPactivated protein kinase. Trends Biochem Sci 1999;24:22-5.
20. Jessen N, Goodyear LJ. Contraction signaling to glucose
transport in skeletal muscle. J Appl Physiol 2005;99(1)330-37.
21. Holloszy JO, Hansen PA. Regulation of glucose transport into
skeletal muscle. Rev Physiol Biochem Pharmacol 1996;128:99193.
22. Jorgensen SB, Rose AJ. How is AMPK activity regulated in skeletal muscles during exercise? Front Biosc 2008;13:5589-604.
23. Woods SC, Chavez M, Park CR, Riedy C, Kaiyala K, Richardson RD et al. The evaluation of insulin as a metabolic signal
influencing behavior via the brain. Neurosci Biobehav Rev
1996;20:139-44.
24. Wasserman DH. Regulation of glucose fluxes during exercise in
the postabsorptive state. Annu Rev Physiol 1995;57:191-218.
25. Woods SC, Porte JD. Neural control of the endocrine pancreas.
Physiol Rev 1974;54:596-619.
26. Luyckx AS, Lefebvre PJ. Mechanisms involved in the exerciseinduced increase in glucagons secretion in rats. Diabetes
1974;23:81-93.
27. Miller RE. Pancreatic neuroendocrinology: peripheral neural
mechanisms in the regulation of the islets of Langerhans. Endocr
Rev 1981;2:471-94.
28. Ivy JL. The insulin-like effect of muscle contraction. Exercise
Sport Sci Rev 1987;15:29-51.
29. Garetto LP, Richter EA, Goodman MN, Ruderman NB.
Enhanced muscle glucose metabolism after exercise in the rat:
the two phases. Am J Physiol 1984;246:471-75.
30. Holloszy JO, Constable SH, Young DA. Activation of glucose transport in muscle by exercise. Diabetes Metab Rev
1986;1:409-24.
31. Ihlemann J, Ploug T, Hellsten Y, Galbo H. Effect of stimulation
frequency on contraction-induced glucose transport in rat skeletal muscle. Am J Physiol Endocrinol Metab 2000;279:862-67.
32. Goodyear LJ, Kahn BB. Exercise, glucose transport and insulin
sensitivity. Annu Rev Med 1998;49:235-61.
33. Annuzzi G, Riccardi G, Capaldo B, Kaijser L. Increased
insulin-stimulated glucose uptake by exercised human muscles
one day after prolonged physical exercise. Eur J Clin Invest
1991;21:6-12.
34. Etgen GJJr, Brozinick JTJr, Kang HY, Ivy JL. Effects of exercise
training on skeletal muscle glucose uptake and transport. Am
J Physiol 1993;264:723-33.
35. Ren JM, Semenkovich CF, Gulve EA, Gao J, Holloszy JO.
Exercise induces rapid increases in GLUT-4 expression, glucose
transport capacity, and insulin-stimulated glycogen storage in
muscle. J Biol Chem 1994;269:14396-401.
36. Kawanaka K, Tabata I, Katsuta SE, Higuchi M. Changes in
insulin-stimulated glucose and GLUT-4 protein in rat skeletal
muscle after training. J Appl Physiol 1997;83(6):2043-47.
37. Holmes BF, Kurth-Kraczek EJ, Winder WW. Chronic activation
of 5’-AMP-activated protein kinase increases GLUT-4, hexokinase, and glycogen in muscle. J Appl Physiol 1999;87(5)1990-5.
38. Neufer PD, Dohm GL. Exercise induces a transient increase
in transcription of the GLUT-4 gene in skeletal muscle. Am J
Physiol Cell Physiol 1993;265:1597-1603.
39. Zheng D, MacLean PS, Pohnert SC, Knigh JB, Olson AL,
Winder WW, Dohm GL. Regulation of muscle GLUT-4 transcription by AMPK-activated protein kinase. J Appl Physiol
2001;90:1073-10.
40. Terada S, Yokozeki T, Kawanaka K, Ogawa K, Higuchi M, Ezaki
O, Tabata I. Effects of high-intensity swimming training on
GLUT-4 and glucose transport activity in rat skeletal muscle.
J Appl Physiol 2001;90(6):2019-24.
41. Hutber CA, Hardie DG, Winder WW. Electrical stimulation
inactivates muscle acetyl-CoA carboxylase and increases AMPactivated protein kinase. Am J Physiol Endocrinol Metab
1997;272:262-66.
42. Rasmussen BB, Hancock CR, Winder WW. Post exercise
recovery of skeletal muscle malonyl-CoA, acetyl-CoA carboxylase, and AMP-activated protein kinase. J Appl Physiol
1998;85:1629-34.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
111
Revisão
Movimento repetitivo e fadiga muscular
Repetitive movements and muscle fatigue
Heros Ferreira*, Neusa Moro**
*Programa de Doutorado em Educação Física da UFPR, Departamento de Ciências do Esporte – CBCa, **Programa de Doutorado
em Educação Física da UFPR
Resumo
Abstract
A busca pela melhoria do desempenho físico e a redução nos
mecanismos geradores de fadiga têm sido o grande desafio dos
pesquisadores das chamadas Ciências do Esporte ao longo dos
anos. Este estudo apresenta uma revisão sistemática de artigos que
enfocam o movimento repetitivo e a fadiga muscular e seus aspectos
neurofisiológicos. Foram consultados os bancos de dados: Medline,
Pubmed, Lilacs e Scielo. Contudo, os artigos demonstram que os
estudos sobre a temática são altamente complexos, devido ao grande
número de variáveis que interagem e podem interagir ao mesmo
tempo durante um determinado tipo de esforço físico. Portanto, a
presente investigação foi fundamentada com poucos trabalhos disponíveis na literatura, relacionados à fadiga gerada por movimentos
repetitivos.
The search for improved physical performance and reduced
fatigue generating mechanisms has been the great challenge of the
Sports Science over the years. This study presents a systematic review of articles that focus on repetitive motion, muscle fatigue and
neurophysiological aspects. We consulted the databases Medline,
Pubmed, Lilacs and Scielo. However, the articles demonstrate that
studies on the subject are highly complex due to the large number of
variables that interact and can interact simultaneously for a certain
type of physical exertion. Therefore, this research was based with
few papers available in the literature related to the fatigue generated
by repetitive motion.
Key-words: fatigue, repetitive strain, neurophysiology.
Palavras-chave: fadiga, esforço repetitivo, neurofisiologia.
Recebido em 14 de fevereiro de 2011; aceito em 24 de fevereiro de 2011.
Endereço para correspondência: Heros Ferreira, Avenida Sete de Setembro, 3877/601, Centro 81130-210 Curitiba PR, E-mail:
[email protected]
112
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
Introdução
Nas atividades de vida diária, no trabalho e no esporte a
fadiga muscular apresenta-se muitas das vezes como limitante
do desempenho humano e causadora de lesões em diversos
níveis do sistema musculoesquelético [1].
Assim, em atividades que envolvem movimento repetitivo
é frequente observar uma diminuição do rendimento por causa da fadiga central (mental, sensorial, emocional) ou a fadiga
física (motora ou coordenativa). Estas formas de cansaço não
se manifestam de forma isolada senão em estreita combinação, devido aos diversos efeitos causados pela fadiga [1]. A
fadiga pode ser definida como o conjunto de manifestações
produzidas por trabalho ou exercício prolongado, tendo como
consequência a diminuição da capacidade funcional de manter ou continuar o rendimento esperado. A fadiga é também
definida como uma falha para manter uma força requerida
ou esperada. Além disso, a fadiga é um dos sintomas mais
incapacitantes [2]. Sua etiologia tem despertado grande interesse, principalmente em função de seu caráter multifatorial,
podendo ser dividida em dois componentes: fadiga periférica
(física) e fadiga central (mental) [3]. No aspecto fisiológico,
a fadiga física seria explicada por deficiências na liberação
de cálcio do retículo sarcoplasmático [4], deficiência na síntese ou liberação de acetilcolina ou defeitos nos filamentos
contráteis [5]. Esses fatores levariam a uma menor produção
de força e uma recuperação mais lenta, que seriam causadas
por problemas na ativação elétrica do músculo e defeito no
acoplamento excitação-contração ou no processo contrátil [6].
No entanto, devido à complexidade desses eventos, a
fadiga muscular pode ter origem em um ou em todos os
sistemas fisiológicos envolvidos na ação muscular, desde o
sistema nervoso central até o sistema nervoso periférico [3].
A fadiga pode ocorrer a nível local, isto é, em um só músculo ou em determinado grupo de músculos, ou a nível geral,
afetando a todo o organismo do indivíduo. O movimento
repetitivo pode resultar em fadiga, pois indica uma diminuição da capacidade de rendimento como reação aos ônus
do esforço, ou seja, ante a presença da fadiga se produz uma
deterioração do rendimento em uma determinada atividade.
Em determinadas atividades físicas, podem estas se tornar
mais lentas, ou a força das contrações musculares isotônicas
máximas diminuírem [7,8].
A fadiga muscular tem-se revelado como um dos tópicos
centrais na investigação em fisiologia do exercício. O número
de trabalhos publicados sobre esse tema é bastante expressivo,
todavia os mecanismos associados à sua etiologia ainda são
controversos [9].
Esse fato nos leva à reflexão sobre as diversas possibilidades
de interação entre os mecanismos que envolvem o tema em
questão e de que forma se dá a associação entre os sistemas:
nervoso central e periférico na fadiga muscular.
Dessa forma, esta revisão de literatura teve os seguintes
objetivos:
a) apresentar os principais conceitos sobre fadiga na literatura;
b) estabelecer quais as estruturas neuro-anatômicas que estão
envolvidas no surgimento da fadiga muscular;
c) apresentar a associação entre o sistema nervoso central e
o sistema nervoso periférico perante a fadiga muscular.
Material e métodos
Foi realizada uma busca em banco de dados para identificar
artigos científicos. Esta busca foi realizada nos seguintes bancos
de dados: Medline, Pubmed, Lilacs e Scielo. Os artigos selecionados foram aqueles publicados entre 1995 a 2010, atendendo-se
aos seguintes critérios de inclusão: estudos com sujeitos sadios,
em qualquer faixa etária, que explanassem sobre lesão por
movimento, esforço repetitivo, fadiga muscular e revisões de
literatura com enfoque neurofisiológico. Foram combinadas as
seguintes palavras-chave: esforço repetitivo, fadiga, estruturas
neuro-anatômicas, nos idiomas português, espanhol e inglês.
Como critérios de exclusão foram considerados os estudos em populações patológicas, modelos experimentais em
cobaias, teses e dissertações e ainda os artigos que somente
estavam disponíveis em resumos.
Assim, foram selecionados 39 artigos com texto integral
e dois livros de fisiologia para fundamentação neste estudo.
Resultados e discussão
O total de artigos encontrados foi de 1.121 e após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados
52 artigos para o presente estudo, dos quais apenas 39 estavam
disponíveis com texto integral.
Na Tabela I é apresentada a síntese de conceitos de alguns
dos artigos encontrados.
Tabela I - Definições do termo fadiga por autores.
Autor
Vollestad &
Sejersted [10]
Farto [7]
Ano
1988
2003
Bertuzzi, Franchini, Kiss [6]
Silva, Fraga,
Gonçalvez [1]
2004
Diefenthaele &
Vaz [11]
2008
2007
Definição
Diminuição da capacidade de
força.
Processo complexo que envolve
todos os níveis de atividade do
organismo.
Incapacidade na sua manutenção
durante uma determinada tarefa.
É um processo dinâmico e tempodependente desenvolvido no sistema neuromuscular.
Conjunto de alterações decorrentes
do trabalho ou exercício prolongado, gerando incapacidade funcional
na manutenção de um nível esperado de força.
Como podemos observar, o conceito de fadiga ao longo
do tempo foi sendo complementado, à medida que os estu-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
dos demonstraram que a diminuição da força nesse estado
é um complexo processo que compreende todos os níveis
da atividade do organismo (molecular, subcelular, celular,
orgânico e dos sistemas) e que se manifestam no conjunto
das mudanças relacionadas com as transformações da homeostasia, os sistemas reguladores, vegetativo e executivo, como
o desenvolvimento do sentido do cansaço e a diminuição
temporária da capacidade do trabalho (Tabela I).
A literatura sobre a fadiga muscular aponta os potenciais
fatores envolvidos no desenvolvimento da fadiga, sendo que
estes podem ser: fatores centrais, os quais causam a fadiga
por distúrbio na transmissão neuromuscular entre o SNC e
a membrana muscular, e fatores periféricos, que promovem
uma alteração do músculo. Ainda, a fadiga caracteriza-se
por depender da tarefa realizada, variando suas causas e seu
comportamento conforme a mesma é induzida [8,12,13].
Para Schilings et al. [14], por causa das contrações musculares voluntárias serem controladas pelo sistema nervoso
central (SNC), a fadiga muscular pode ter sua origem em
todas as estruturas nervosas que se localizam acima da junção
neuromuscular.
Alguns estudos iniciais que sugeriram o estado de fadiga
aguda a partir do SNC apenas o faziam quando não era observada nenhuma disfunção no músculo esquelético, assumindo
que os fatores psicológicos eram os responsáveis pelo surgimento
desse fenômeno. Sendo estes normalmente caracterizados
pela ausência de motivação, de atenção e a incapacidade de
suportar o esforço físico [3,15].
Em outros estudos observou-se o comportamento de
alguns neurotransmissores responsáveis pelo controle das sinapses no encéfalo e na medula espinal [16]. As alterações nos
níveis normais desses neurotransmissores poderiam implicar
a redução dos impulsos enviados aos motoneurônios, assim
como na excitabilidade de neurônios mediadores localizados
na medula espinal, responsáveis pelas vias aferentes [6,15].
Um dos primeiros neurotransmissores observados na
fadiga aguda foi a Dopamina – originada no SNC [17].
Comumente é observada a sua redução no cérebro durante
113
a prática de exercícios físicos com duração superior a trinta
minutos, fato que poderia implicar a regulação dos impulsos
elétricos enviados ao tecido muscular estriado esquelético ou
na redução da motivação. Os mecanismos pelos quais a dopamina influenciaria no surgimento da fadiga aguda ainda não
estão totalmente esclarecidos, mas parece que a sua redução
seria um dos fatores estimulantes ao aumento dos níveis de
outro neurotransmissor, a serotonina [6,15].
A serotonina é um dos neurotransmissores que está associado com a percepção e o desenvolvimento da fadiga central,
atuando na memória, na letargia, no sono, no humor, na
supressão do apetite e nas alterações na percepção do esforço. O aumento na concentração da serotonina no cérebro,
durante exercício físico intenso e prolongado, estaria diretamente relacionado a um prejuízo na função do SNC, com
correspondente desenvolvimento da fadiga, e consequente
diminuição do desempenho [17].
Assim, quando a concentração dos neurotransmissores
estivesse alterada com o exercício físico, o SNC poderia participar indiretamente na instalação da fadiga muscular aguda,
ou seja, atuando primeiramente no sistema cardiovascular.
No entanto, não encontramos estudos que demonstrem o
comportamento deste mecanismo, mantendo-se assim uma
lacuna sobre a magnitude da participação do SNC no controle do sistema cardiovascular que resultará no surgimento
da fadiga muscular [6].
Verifica-se pelos estudos que a fadiga muscular está associada a mecanismos e fatores metabólicos, que podem afetar os
músculos, esta denominada fadiga periférica, e o SNC (tabelas
II e III), denominada fadiga central, durante a realização de
exercício intenso. Além das alterações metabólicas, a fadiga
periférica pode também ser dependente de fatores centrais,
podendo estar associada às falhas na transmissão do estímulo na
junção neuromuscular, falhas na ativação do sarcolema, falha na
condução do potencial de ação nos túbulos transversais ou falha
na liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático [11,17,18].
A fadiga muscular pode, portanto, ocorrer como resultado da
falha de qualquer um dos processos na contração muscular [1,8].
Tabela II - Artigos com enfoque no Sistema Nervoso Periférico (SNP).
Autor
Ano
Objetivo
Verificar utilização do valor
Breyer et al., Root Mean Square (RMS)
2005 [19]
permite mensuração da fadiga
muscular localizada.
Oliveira et
al., 2005
[20]
Identificar o Limiar de Fadiga Eletromiográfico (EMGLF)
do músculo bíceps do braço
bilateralmente em diferentes
tempos de execução durante o
exercício rosca bíceps.
Sujeitos
20 indiv.
Idade: (24,2 ± 7,4) anos.
massa corp. média: (68,5 ±
8,6) kg
estatura: (172,2 ± 5,6) cm.
9 voluntários masculinos
Metodologia
Principais resultados
(EMG)
Correlação significativa entre
a Frequência Mediana (MF) e
o valor RMS, durante contrações isométricas sustentadas.
Teste de carga máxima 1 Repetição
Máxima (1RM)
O protocolo proposto no estudo permite identificar o EMGLF
para os músculos do braço
direito (BD) e braço esquerdo
(BE) durante o exercício rosca
bíceps
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
114
Allen et al.,
2002 [21]
O artigo incide sobre os resultados obtidos nos estudos sobre
a fibra muscular onde a mem- Artigo de Revisão
brana superficial foi removida
química ou fisicamente.
18 atletas
Investigar os efeitos simultâneos
Paavolainen
de força explosiva e de resistên- 10 – grupos para o experimenet al., 1999
cia muscular no desempenho
to
[22]
físico.
8 – grupo controle.
Revisão de Literatura
Os dados estudados forneceram um apoio substancial
para o aumento do fosfato
inorgânico tendo um papel
fundamental na fadiga do
músculo esquelético.
Medidas antropométricas 9 semanas
de treinamento.
Dinamômetro.
Eletromecânico.
Esteira.
Análise sanguínea
A melhoria no desempenho
de atletas é sugerida devido
às melhores características
neuromusculares que foram
transferidas na força muscular.
Tabela III - Artigos com enfoque no Sistema Nervoso Central (SNC).
Autor
Ano
Objetivo
Sujeitos
Metodologia
Diefenthaeler
and Vaz,
2008 [11]
Fazer uma revisão sobre aspectos
relacionados com as mudanças na
técnica de pedalada e na atividade
elétrica dos músculos na fadiga.
Artigo de
Revisão
Revisão de Literatura
Basset; Howley,
2000 [23]
O artigo é uma tentativa de esclarecer o ponto de vista sobre VO2max
e apresentar novas evidências da
teoria de Hill.
Artigo de
Revisão
Revisão de Literatura
Todd et al.,
2007 [24]
Demonstrar que a medição das
propriedades contráteis do músculo
usando TMS durante contrações
11 sujeitos
voluntárias é reprodutível entre os
4 homens
dias e que a técnica pode ser usada
7 mulheres
para demonstrar as alterações nas
propriedades contráteis do músculo
quando está fadigado ou aquecido.
Silva et al.,
2006 [13]
Verificar os efeitos da FM no tempo
de reação muscular.
14 homens
sadios
A distinção entre fadiga central e periférica consiste numa
diminuição no rendimento esportivo ou do movimento repetitivo esperado, estabelecida em nível do SNC, e aqueles
localizados nos nervos periféricos, ou na contração muscular,
cujo complexo processo pode ser abordado de diversas maneiras: modo de estimulação (voluntária –elétrica), tipo de
contração (isométrica – isotônica; intermitente – sustentada),
frequência, intensidade, duração, tipo de músculo e características das fibras musculares [12,17].
A fadiga ocorre em diferentes níveis. A fadiga aguda periférica que é a diminuição da capacidade funcional ocorrida
num curto prazo, devido a atividades físicas intensas. Pode
Principais Resultados
Embora a análise do sinal eletromiográfico forneça informações sobre os
parâmetros neuromusculares, torna-se
difícil determinar se o mecanismo de
fadiga ocorre em detrimento de fatores
centrais e periféricos.
O artigo concluiu que as teorias de Hill
têm servido como um quadro teórico
ideal. Os trabalhos que têm por base
este quadro permitem que os cientistas
do exercício conheçam mais sobre os
fatores fisiológicos que regem o desempenho atlético.
(EMG)
Estimulação Magnética Transcraniana (TMS)
Termometria
A saída voluntária do córtex motor
torna-se insuficiente para manter a
ativação completa do músculo, entretanto a desaceleração da contração
muscular e relaxamento indicam que
uma unidade motora de disparo menor
é necessária para a fusão da força.
(EMG)
Houve aumento significativo no tempo
de reação muscular após a indução da
fadiga- comprometimento muscular.
ocorrer a perda de eficiência nos sistemas de transportes de
energia; queda na produção de hormônios envolvidos com
a prontidão orgânica para a atividade, em especial os corticóides e a adrenalina. Diminuição da contração de potássio
no líquido intracelular; acúmulo ou falta de acetilcolina
nas sinapses. Ligada à fadiga aguda periférica está a dor
muscular tardia, ou seja, a que ocorre de 24 a 48 horas após
o exercício intenso. Convém esclarecer que a dor muscular
precoce é devido a roturas do tecido muscular (distensão)
e/ou conjuntivo e se manifesta durante ou imediatamente
após cessar o exercício e diminuir a temperatura corporal
[25,26].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
A fadiga aguda central ocorre quando os efeitos da fadiga
aguda periférica chegam ao sistema nervoso central. Manifesta-se através da diminuição da capacidade coordenativa e
da percepção sensorial, surgimento de distúrbios na atenção,
na concentração e no pensamento; atenuação da vontade e
aumento do tempo de reação. A fadiga crônica resulta na soma
de exigências sobre os sistemas orgânicos e se manifestam mais
tardiamente e com mais duração [25,26].
A chamada fadiga central tem sido relacionada a alterações
nos níveis de neurotransmissores induzida por exercícios ou
movimentos repetitivos. Especificamente, a função dos neurotransmissores (substâncias envolvidas na comunicação entre
as células nervosas), os quais são também responsáveis em
enviar sinais do sistema nervoso para os músculos, pode estar
diminuída. Isto pode também resultar no início de sintomas
psicológicos como falta de motivação, baixo estado de humor,
etc., como mencionado acima. Da mesma forma dos outros
sistemas, o SNC pode ficar sem substrato (energia) devido a
uma super exigência ou falta de nutrientes [5].
É sugerido o envolvimento dos neurotransmissores serotonina derivada do aminoácido L-triptofano – utilizado
como neurotransmissor pelos neurônios com corpos celulares
nos chamados núcleos de Rafe localizados ao longo da linha
mediana do tronco encefálico - e dopamina na fadiga central
pelas suas funções de regulação da percepção sensorial, humor,
prazer, etc. Duarte et al. [5] sugerem que o desequilíbrio
entre estes neurotransmissores, isto é, aumento dos níveis de
serotonina e diminuição de dopamina estão associados com
o início da fadiga do SNC.
Alguns estudos demonstraram que a fadiga central também pode ser provocada pela baixa oxigenação do cérebro, ou
seja, mediante a entrega insuficiente de O2 e/ou baixa pressão
gradiente para conduzir a difusão do O2 dos capilares para
a mitocôndria. O SNC é altamente sensível à redução da
oxigenação e, consequentemente, essa oxigenação cerebral é
fortemente defendida por vários mecanismos homeostáticos
[27].
Entretanto, a maioria das hipóteses, sobre a fadiga
muscular a partir do SNC, indica falhas nos mecanismos,
que consistem principalmente na exaustão total ou parcial
dos estoques de substância transmissora nos terminais présinápticos, que resultam na disfunção do processo contrátil,
sendo que esse sistema também atua no controle da função
cardiovascular [6].
No caso de atletas, são dois os fatores apontados como
responsáveis pela fadiga aguda em todos os eventos de corrida:
a atividade enzimática da miosina ATPase e a sensibilidade
do cálcio no músculo esquelético, sendo que esses eventos
fisiológicos musculares, independentemente da oferta de O2,
são denominados de limitação periférica [28].
Os estudos de Nielsen et al. [29] ressaltaram o fato de
que em situações que levariam a oferta inadequada de O2
induzida por exercício, o miocárdio seria o primeiro tecido muscular a sofrer as consequências dessa situação. Este
115
mesmo autor sugeriu a limitação do exercício físico através
de um modelo denominado Governador. Este modelo está
baseado na premissa de que quimiorreceptores localizados
no miocárdio enviariam sinais inibitórios ao SNC antes da
capacidade máxima do coração ser alcançada, e reduziriam
os comandos para o músculo esquelético, numa tentativa de
evitar a resposta isquêmica do miocárdio.
Outros estudos mostram resultados que refutam a teoria
da limitação central, nestes casos não foi observada a estabilização do volume de ejeção em atletas de elite, indicando que esse
fenômeno não é o principal fator limitante do desempenho
nesses sujeitos [22,30].
Um fator a ser considerado, durante o exercício intenso
e prolongado, é o acúmulo de lactato, ocasionando no
músculo uma diminuição do pH, fato associado com a inibição da enzima fosfofrutoquinase, e redução na glicólise.
Este processo é também associado à diminuição na geração
máxima de força e é considerado um dos principais agentes
fatigantes [3,17].
Estudos mais recentes questionam a veracidade de que
a fadiga associada ao exercício severo é causada pelo lactato.
Efeitos benéficos dos ânions de lactato no fornecimento de
substratos oxidáveis e glucogênicos precursores, bem como em
célula-célula sinalizando, como, por exemplo, no glutamatomediador tem sido reconhecido na transmissão sináptica. Ainda, os mesmos estudos apontaram que as contrações podem
tanto causar acidose láctica quanto perda de íons potássio
intracelular com acúmulo extracelular. Assim a acidificação
neutraliza os efeitos da elevação de íons potássio, os quais são
associados à fadiga muscular [29,31].
Conclusão
O conceito de fadiga ao longo do tempo vem sendo
complementado, à medida que os estudos demonstraram
que a diminuição da força nesse estado é um complexo
processo que compreende todos os níveis da atividade do
organismo. Alguns estudos iniciais que sugeriram o estado
de fadiga aguda a partir do Sistema Nervoso Central, em
outros estudos observaram-se o comportamento de alguns
neurotransmissores responsáveis pelo controle das sinapses
no encéfalo e na medula espinal.
Relativamente à definição do conceito de fadiga, importa
salientar a diversidade de trabalhos que, embora intitulados
e expressamente associados à fadiga, se afastam claramente
do conceito clássico de fadiga, ou seja, da incapacidade de
produzir e manter um determinado nível de força ou potência
muscular durante a realização do exercício. De fato, alguns
autores têm associado o termo fadiga a inúmeras manifestações
de incapacidade funcional evidenciadas quer durante o exercício (máximo ou submáximo), quer com caráter retardado
relativamente à realização do mesmo.
Em vista do exposto, a fadiga muscular pode ser compreendida como a incapacidade de gerar determinados níveis
116
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
de força em função de seus mecanismos indutores de origem
central ou periférica.
Sendo assim, torna-se importante o conhecimento científico dos componentes centrais e periféricos da fadiga para
a prescrição do exercício, baseada em estratégias, tais como:
intensidade e duração do exercício; intervalo de descanso entre
séries e sessões; e a ordem de utilização dos grupos musculares
e sistemas fisiológicos durante diferentes sessões.
Enfim, as refutações apresentadas entre as teorias descritas
certamente perfazem o processo natural da construção do
conhecimento científico. Entretanto, esse fato não implica a
total falta de credibilidade de um modelo ou garante a veracidade absoluta de outro, mas de certa forma, pode indicar
a necessidade da elaboração de modelos que representem
melhor a fadiga muscular.
Referências
1. Silva SRD, Fraga CHW, Gonçalvez M. Efeito da fadiga
muscular na biomecânica da corrida: uma revisão. Motriz
2007;13(3):225-35.
2. Meeusen R, Meirleir KD. Exercise and brain neurotransmission.
Med Sci Sports Exercise 1995;20(3):160-88.
3. Sahlin K. Metabolic factors in fatigue. Sports Med
1992;13(2):99-107.
4. Gibson ASC, Lmabert MI, Noakes TD. Neural control of force
output during maximal and submaximal exercise. Sports Med
2001;31(9):637-50.
5. Duarte VL, Dias DS, Melo HCS. Mecanismos moleculares
da fadiga. Brazilian Journal of Biomotricity 2008;2(1):30-8.
6. Bertuzzi RCM, Franchini E, Dal’ Monlin Kiss MAP. Fadiga
muscular aguda: uma breve revisão dos sistemas fisiológicos e
suas possíveis relações. Motriz 2004;10(1):45-54.
7. Farto ER. A fadiga e sua influência na natação desportiva.
Revista Digital EFDesportes 2003;9(63).
8. Gandevia SC. Neural control in human muscle fatigue: changes
in muscle afferents, motoneurones and motor cortical drive.
Acta Physiol Scand 1998;162(3):274-83.
9. Ascensão A, Magalhães J, Oliveira J, Duarte J, Soares J. Fisiologia da fadiga muscular. Delimitação conceptual, modelos de
estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica.
Rev Port Ciênc Desporto 2003;3(1):103-23.
10. Vollestad N, Sejersted OM. Biochemical correlates of fatigue.
Eur J Appl Physiol 1988;57:36-47.
11. Diefenthaeler F, Vaz MA. Aspectos relacionados à fadiga durante
o ciclismo: uma abordagem biomecânica. Rev Bras Med Esporte
2008;14(5):45-52.
12. Gandevia SC. Spinal and supraspinal factors in human muscle
fatigue. Physiol Rev 2001;81(4):1725-89.
13. Silva BA, Martinez FG, Pacheco AM, Pacheco I. Efeitos da
fadiga muscular induzida por exercícios no tempo de reação
muscular dos fibulares em indivíduos sadios. Rev Bras Med
Esporte 2006;12(2):85-9.
14. Shillings ML, Hoefsloot W, Stegeman DF, Zwarts MJ. Relative
contributions of central and peripheral factors to fatigue during
a maximal sustained effort. Eur J Appl Physiol 2003;90(5):5628.
15. Davis JM, Bailey SP. Possible mechanisms of central nervous system fatigue during exercise. Med Sci Sports Exercise
1997;29(1):45-57.
16. Chaouloff F. Effects of acute physical exercise on central serotonergic systems. Med Sci Sports Exercise 1997;29(1):58-62.
17. Rossi L, Tirapegui J. Aspectos atuais sobre o exercício físico,
fadiga e nutrição. Rev Paul Educ Fis 1999;13(1):67-85.
18. Noakes TD, Gibson AS, Lambert EV. From catastrophe to
complexity: a novel model of integrative central neural regulation of effort and fatigue during exercise in humans. Br J Sports
Med 2004;38:511-4.
19. Breyer M. Detecção da fadiga muscular localizada através da
eletromiografia analisada no domínio do tempo. XI Congresso
Brasileiro de Biomecânica; São Paulo: Sociedade Brasileira de
Biomecânica; 2005.
20. Oliveira ASC, Cardozo AC, Barbosa FS, Gonçalves M. Análise
do limiar de fadiga eletromiográfico do músculo bíceps do
braço em diferentes porcentagens de tempo. XI Congresso
Brasileiro de Biomecânica; São Paulo: Sociedade Brasileira de
Biomecânica; 2005.
21. Allen DG, Ewsterblad H. Role of phosphate and calcium stores
in muscle fatigue. J Physiol 2001;536(3):657-65.
22. Paavolainen L, Hakkinen K, Hamalainen I, Nummela A, Rusko
H. Explosive-strength training improves 5-km running time by
improving running economy and muscle power. J Am Physiol
1999;86(5):1527-33.
23. Basset DR, Howley ET. Limiting factors for maximum oxygen
uptake and determinants of endurance performance. Med Sci
Sports Exercise 2000;32(1):70-84.
24. Todd G, Taylor JL, Butler JE, Martin PG, Gorman RB,
Gandevia SC. Use of motor cortex stimulation to measure
simultaneously the changes in dynamic muscle properties
and voluntary activation in human muscles. J Appl Physiol
2006;102(1):1756-66.
25. Fox SI. Fisiologia Humana. São Paulo: Manole; 2007.
26. Powers SK, Howley ET. Exercise physiology: theory and applications to fitness and performance. Australia: MacGraw-Hill; 2004.
27. Amann M, Calbet JAL. Convective oxygen transport and
fatigue. J Appl Physiol 2008;104:861-70.
28. Noakes TD. Implications of exercise testing for prediction of
athletic performance: a contemporary perspective. Med Sci
Sports Exercise 1988;20(4):319-30.
29. Nielsen OB, De Paoli F, Overgaard K. Protective effects of
lactic acid on force production in rat skeletal muscle. J Physiol
2001;536(1):161-6.
30. Zhou B, Conlee RK, Jensen R, Fellingham G, George JD,
Fisher G. Stroke volume does not plateau during graded exercise in elite male distance runners. Med Sci Sports Exercise
2001;33(11):1849-54.
31. Brooks GA. Lactate doesn’t necessarily cause fatigue: why are
we surprised? J Physiol 2001;536(1):1.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
117
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições
de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
118
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011
119
Calendário de eventos
2011
26 e 27 de agosto
Julho
9° JEFAP - Jornada Educação Fisica do Alto Paranaiba
Patos de Minas, MG
Informações: www.unipam.edu.br
7 a 10 de julho
Curso de formação no conceito performance stability
Florianópolis, SC
Informações: (48) 3228-9898
Outubro
5 a 7 de outubro
I Simpósio de Atualização em Fisiologia: Neurofisiologia
I Mostra de Projetos de Pesquisa em Fisiologia
Uruguaiana, RS
Informações: [email protected]
14 a 16 de julho
13ª Rio Sports Show
Rio de Janeiro, RJ
Informações: www.riosportshow.com.br
Novembro
28 a 31 de julho
Costão Fitness – Meeting Sport/Business
Costão do Santinho Resort
Florianópolis, SC
Informações: (48)3335-6050
E-mail: [email protected]
9 a 12 de novembro
VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física
Gramado, RS
Informações: www. cbafs.org.br
Dezembro
Agosto
11 a 14 de agosto
6 a 8 de dezembro
Brasília Capital Fitness
Brasília, DF
Informações: www.bsbfitness.com.br
Vascular & Smooth Muscle Physiology Themed Meeting
Edinburgh, UK
Informações: www.physoc.org/vs2011
12 a 14 de agosto
4o Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol
São Paulo, SP
Informações: www.cbcf.com.br
2012
Março
20 a 23 de agosto
19 a 21 de março
First Brazilian International Symposium on Integrative
Neuroendocrinology
Dourado, SP
Informações: http://rfi.fmrp.usp.br/neuroendo
The Biomedical Basis of Elite Performance
London, UK
Informações: www.physoc.org/meetings
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
Fisiologia
do
exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 10 número 3 - julho/setembro 2011
Editorial
Incentivar a pesquisa em doping, Pedro Paulo da Silva Soares ..................................................................................... 123
ARTIGOS ORIGINAIS
Diferenças entre idade cronológica e idade motora geral para alunos do 1º ano
do ensino fundamental, Leonardo Nobre Ghiggino, Flavio Fernandes Bahiana,
Paulo Cesar Nunes-Junior...................................................................................................................................................124
Influência da flexibilidade no desenvolvimento da força muscular, Thiago Pereira,
Gilmar Weber Senna, Sidney Cavalcante da Silva................................................................................................................132
Influência dos exercícios de estabilização central sobre a oscilação corporal
de indivíduos com lombalgia crônica, Adriana Regina de Andrade, Bruna Karla Grano,
Francieli Wilhelms, Juliana Gaffuri, Marcela Medeiros de Almeida Costa,
Marina Pegoraro Baroni, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini....................................................137
Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos livres em indivíduos
com cardiomiopatia Chagásica, Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Thiêgo Andrade,
Vinicius Afonso Gomes, Thiago Bouças, Jefferson Petto......................................................................................................142
Utilização do percentual da carga máxima dinâmica e velocidade de movimento durante
o treinamento de força, Alexandre Correia Rocha, Dilmar Pinto Guedes Junior................................................................147
Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas do gênero feminino
de uma equipe de natação, Lidiane Yurie Pereira, Roberta Amancio Ruiz Costa,
Tamara Eugenia Stulbach, Luciana da Silva Garcia..............................................................................................................151
Comportamento da frequência cardíaca em corredores de esteira ergométrica
na presença e na ausência de música, Karina Stela de Sena, Marcus Vinicius Grecco........................................................156
Maturação esquelética versus idade cronológica nas categorias de base do futebol,
Marcos Maurício Serra, Angélica Castilho Alonso, Julio Stancati, Júlia Maria D’Andréia Greve .......................................162
REVISÕES
Nutrição, hidratação e suplementação para jogadores de futebol,
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Adriana Passanha......................................................................................................166
O exercício físico modulando alterações hormonais em vias metabólicas dos tecidos
musculoesquelético, hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo energético
e consumo alimentar, Fábio Medici Lorenzeti, Waldecir Paula Lima, Ricardo Zanuto,
Luiz Carlos Carnevali Junior, Daniela Fojo Seixas Chaves, Antônio Herbert Lancha Junior................................................172
Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo, Juliano Ribeiro Bueno,
Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa........................................................................................................................................178
NORMAS DE PUBLICAÇÃO.............................................................................................................................. 181
EVENTOS................................................................................................................................................................ 183
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
122
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
Fisiologia
do
exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro
Conselho Editorial
Luiz Fernando Kruel (RS)
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Robert Robergs (EUA)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Rosane Rosendo (SC)
Douglas S. Brooks (EUA)
Sebastião Gobbi (SP)
Emerson Silami Garcia (MG)
Francisco Martins (PB)
Steven Fleck (EUA)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Navarro (SP)
Vilmar Baldissera (SP)
Luiz Carnevali (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
E-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Editor assistente
Guillermina Arias
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 / 3361 9932
E-mail: [email protected]
Assinatura
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
[email protected]
Direção de arte
Cristiana Ribas
[email protected]
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou
distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright,
Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
123
Editorial
Incentivar a pesquisa em doping
Pedro Paulo da Silva Soares, Editor Associado
O Brasil sediará muito em breve eventos esportivos de
grande relevância e repercussão mundial, sendo os mais
importantes a copa do Mundo de Futebol em 2014 e as
Olimpíadas em 2016. A RBFEx não poderia deixar de aproveitar estas oportunidades para fazer uma provocação a nossos
colaboradores no sentido de incentivá-los a produzirem artigos
científicos com um viés aplicado ao esporte, sem, contudo,
esquecer os estudos mais básicos sobre mecanismos fisiológicos. Identificamos uma enorme janela de oportunidades
para avançar no conhecimento da fisiologia do exercício nas
diversas modalidades esportivas que se apresentam.
Dentre os inúmeros assuntos que são potencialmente instigantes, o doping é um dos que mais atrai nossa curiosidade
seja pelo impacto que causa na mídia seja pela dúvidas levantadas sobre o assunto. Contudo, trabalhos científicos sobre o
assunto ainda são relativamente escassos. Embora os efeitos
nocivos desta prática sejam bem divulgados, a investigação e
experimentação no tema ainda se encontram bastante restritos. A utilização de substâncias proibidas confere uma fraude
ou uma violação das regras do “jogo limpo” e justo entre os
competidores, e este fato já está mais que bem estabelecido.
Entretanto, não conhecemos a fundo as repercussões do uso
prolongado de estimulantes ou de esteroides anabolizantes, por
exemplo. Em parte, porque os usuários e aqueles que os suprem
com substâncias proibidas dificilmente revelam publicamente
seu uso ou divulgam seus dados pessoais que poderiam revelar
as alterações provocadas pelo doping. Entendemos que uma
grande limitação para os estudos nessa área se refere a questões
éticas em pesquisa científica. Alguns estudos com experimentação animal nos permitiram avançar em alguns aspectos, mas
em relação a dados com humanos ainda temos pouco material
para além dos estudos com uma abordagem clínica.
Atualmente não somente atletas façam uso de doping,
mas também não-atletas ou praticantes de atividades físicas
recreativas, principalmente a musculação. Estas pessoas
parecem empregar estas estratégias para obter ganhos de
desempenho, com o objetivo estético através de aumentos
de massa muscular no caso dos esteroides anabolizantes ou
mesmo para ganharem maior motivação em treinar através
dos estimulantes como as anfetaminas.
A RBFEx se manifesta fortemente contrária ao uso de
substâncias dopantes e estimula seus colaboradores e leitores
a comprovarem cientificamente que é possível o aumento de
desempenho através do conhecimento preservando o “jogo
limpo”. Cabe a comunidade da fisiologia do exercício e demais participantes da área da saúde apresentarem elementos
a sociedade que permitam a construção de uma base de
conhecimento sobre o assunto esclarecendo a população e a
comunidade do esporte sobre os efeitos do uso do doping.
O Brasil possui uma larga experiência no controle de
doping que já é realizado em nosso território através das federações e confederações esportivas nacionais e internacionais
que promovem controles de doping tanto em competição
como fora-de-competição há vários anos através de profissionais altamente qualificados. Quase sempre ouvimos de várias
pessoas, atletas, treinadores ou mesmo de leigos, que a ciência
está sempre correndo atrás dos fraudadores que investem
quantias volumosas no desenvolvimento de substâncias não
detectáveis em nossos métodos laboratoriais. Isso em parte
é verdade uma vez que o desenvolvimento de drogas que
podem ser usadas para o doping foram desenvolvidas com
fins terapêuticos e não esportivos. Aqueles que o fazem com
este objetivo já estamparam as páginas policiais num passado recente e os desportistas que se tiveram êxitos esportivos
através da fraude foram desmoralizados e perderam suas
medalhas. Alguns sofreram consequências mais graves com
danos a saúde e risco à vida. Ainda assim as modificações no
tecido muscular, sistema endócrino, nervoso e cardiovascular
causadas pelo uso indevido e mesmo com o uso terapêutico
ainda demandam investimento dos cientistas.
A RBFEx repudia a prática de doping e estimula a comunidade cientifica a apresentar novos trabalhos nesta área,
não com o intuito de incentivar esta prática, mas sim o que
conhecermos os potenciais riscos do doping e as repercussões
sobre a saúde e, apresentar evidências que comprovem que
temos opções na área da fisiologia do exercício para a promoção da saúde e para o desempenho esportivo recreativo e em
alto nível sem a necessidade do uso do doping.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
124
Artigo original
Diferenças entre idade cronológica e idade motora
geral para alunos do 1º ano do ensino fundamental
Difference between motor age and chronological age
in 1st grade children
Leonardo Nobre Ghiggino*, Flavio Fernandes Bahiana*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft. Esp.**
*Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia
Resumo
Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos do
nascimento ao presente momento. Idade motora geral é um procedimento aritmético que objetiva pontuar e avaliar os resultados da
Escala de Desenvolvimento Motor. A idade motora geral relaciona-se
com o nível de desenvolvimento motor do indivíduo. Este desenvolvimento motor classifica-se como um processo de mudanças no
nível de funcionamento do indivíduo, em que a maior capacidade
de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo. A aquisição desta habilidade é individualizada, pois os indivíduos possuem
níveis de maturação diferentes, implicando em diferenciações de
desenvolvimento motor em crianças do mesmo ano letivo escolar.
Este trabalho objetivou investigar a diferença entre a idade motora
geral e a idade cronológica em 19 crianças do 1º ano letivo do
Ensino Fundamental, sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo
feminino, visando proporcionar ao professor de Educação Física o
acompanhamento da evolução da maturação dos alunos de forma
individualizada. Este acompanhamento possibilitou a prescrição
de atividades e exercícios adequados ao desenvolvimento motor de
cada aluno. Para a realização da pesquisa, foram feitas uma bateria de
testes que avaliaram o desenvolvimento motor de crianças com idade
cronológica entre dois e onze anos, testando os seguintes parâmetros:
motricidade fina e global, organização espacial e temporal, equilíbrio
e esquema corporal. Chegamos à conclusão que as crianças avaliadas
obtiveram uma idade motora geral inferior à idade cronológica, o
que evidenciou atrasos no desenvolvimento motor.
Abstract
Chronological age is the number of days, months and years
lived from birth to present. General Motor Age is an arithmetic
procedure that aims to score and evaluate the results of Motor
Development Scale. The General Motor Age is related to the level
of Motor Development of the individual. The Motor Development
is classified as a process of change in level of functioning, where
the greater ability to control movements is acquired over time.
The acquisition of this skill is individual, because individuals have
different levels of ripeness, resulting in the differentiation of motor
development in children from the same school year. This study
aimed to investigate the difference between the Motor Age General
and chronological age in 19 children of the 1st grade children, 7
males and 12 females, to provide the physical education teacher to
monitor the evolution of maturation students individually. This
monitoring will allow the prescription of activities and exercises
suitable for the motor development of each student. For the survey,
was made a battery of tests that assessed the motor development of
children with chronological ages between 2 and 11 years, testing
the following parameters: fine motor, global spatial and temporal
organization, balance and body schema. It is concluded that the
children studied had a General Motor Age less than chronological
age, which showed delays in motor development.
Key-words: chronological age, motor age, motor development,
children, 1st grade.
Palavras-chave: idade cronológica, idade motora geral,
desenvolvimento motor, crianças, 1º ano do ensino fundamental.
Recebido em 30 de maio de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25784036, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O processo de envelhecimento é uma realidade biológica
que possui sua própria dinâmica [1]. No entanto existem
fatores que podem ser controlados, tais como alimentação,
exposição a riscos à saúde, fumo ou álcool, e a prática de exercícios físicos. Esses fatores são determinantes para a aptidão
física e desenvolvimento motor.
Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos desde o momento do nascimento de um indivíduo até
o presente momento de sua vida. É o método mais popular
de se classificar desenvolvimento, mas frequentemente o
menos acurado. A idade cronológica fornece uma estimativa
aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que
pode ser mais precisamente determinado por outros meios,
tais como idade óssea, dental, sexual e motora [2].
Idade motora geral está ligada ao nível de desenvolvimento
motor. É o resultado de um procedimento aritmético para
pontuar e avaliar os resultados dos testes propostos por Rosa
Neto na Escala de Desenvolvimento Motor [3].
Desenvolvimento motor é um processo de mudanças
no nível de funcionamento de um indivíduo, em que uma
maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao
longo do tempo [4].
Embora relacionado à idade cronológica, o desenvolvimento motor não está sujeito a esta. A aquisição de habilidades é individualizada devido a características únicas de cada
indivíduo, tais como fatores ambientais, incentivo e instrução
adequada. Desta forma pode-se afirmar que cada aluno do
mesmo ano letivo terá um histórico diferenciado, o que implicará em diferenciações no seu desenvolvimento motor. Na
criança, a motricidade e a inteligência se desenvolvem como
resultado da interação de fatores genéticos, culturais, ambientais e psicossociais. Um dos modos de avaliar o resultado da
ação conjunta desses fatores é determinar o perfil psicomotor
da criança, que indica a qualidade do desenvolvimento psicomotor, especificando as habilidades motoras mais e menos
elaboradas adquiridas até o momento [5].
A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras, formas de movimento e primeiras combinações de movimento, que possibilitam a criança
dominar seu corpo em diferentes posturas e locomover-se pelo
meio ambiente de variadas formas. A base para habilidades
motoras globais e finas é estabelecida neste período, sendo
que as crianças aumentam consideravelmente seu repertório
motor e adquirem os modelos de coordenação do movimento
essenciais para posteriores performances habilidosas [6-10].
Conhecer os níveis de desenvolvimento motor de crianças
é fundamental para a estruturação de programas motores
que propiciem a elaboração de práticas mais efetivas que
levem crianças à construção de padrões de movimento mais
avançados e que garantam a participação em atividades de
movimento durante toda a vida [11]. Assim é necessário que
professores de Educação Física promovam atividades baseadas
125
na capacidade dos alunos, evitando generalizar exercícios para
o mesmo ano letivo.
A Educação Física escolar adquire um papel fundamental
promovendo estímulos que ajudarão a levar ao desenvolvimento motor e a melhora da autoestima [2].
Estudos sobre a motricidade infantil são realizados com
o objetivo de avaliar, analisar e estudar o desenvolvimento
de crianças em diferentes etapas evolutivas. Rosa Neto [3]
desenvolveu a Escala de Desenvolvimento Motor, que consiste
numa bateria de testes que visam mensurar o desenvolvimento
motor de crianças de dois a onze anos de idade cronológica.
Essa bateria de testes tem como resultado a obtenção de uma
idade motora geral. Os parâmetros testados são: motricidade
fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e lateralidade.
Motricidade fina é o conjunto de atividades de movimento
de segmentos do corpo humano em sincronia com a visão
a fim de se obter uma resposta precisa para uma tarefa [3].
Motricidade global é o controle de grandes movimentos dinâmicos de caráter tátil, sinestésico, labiríntico, visual, espacial
e temporal [12]. Equilíbrio é base primordial de toda ação
diferenciada dos segmentos corporais [3]. Esquema corporal é
a capacidade de o indivíduo discernir as partes do seu próprio
corpo em associação ao mundo exterior [13]. Organização
espacial trata da nossa habilidade em avaliar a relação do nosso
corpo, como um todo, com o ambiente que nos cerca [14].
A Organização temporal diz respeito à ordem de fenômenos
e ao ritmo com que ocorrem [3].
O presente trabalho objetivou investigar a diferença entre
idade motora geral e idade cronológica em 19 crianças do
1º ano letivo do Ensino Fundamental, sendo sete do sexo
masculino e 12 do sexo feminino. O estudo do crescimento
e desenvolvimento humano, adicionados à avaliação motora
na Educação Física escolar possibilita estabelecer objetivos e
conteúdos coerentes para cada indivíduo, assim o profissional
de Educação Física pode acompanhar a evolução e maturação
individual, prescrevendo atividades e exercícios adequados ao
desenvolvimento motor de cada aluno.
Materiais e métodos
O experimento foi conduzido no dia 07 de maio de 2010
em 19 crianças nascidas entre 01/06/2003 e 31/08/2004,
sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo feminino. Foi
necessária autorização dos diretores da escola, consentimento
dos responsáveis pedagógicos e das crianças respectivamente.
As crianças incluídas neste estudo precisavam estar matriculadas no primeiro ano do ensino fundamental e realizar,
no mínimo, uma aula de Educação Física escolar por semana.
Estas crianças permaneceram com suas roupas de aula, tirando
apenas as vestimentas que atrapalhavam o movimento.
A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) avalia motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal,
organização espacial, organização temporal e lateralidade [3].
126
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Esse último parâmetro não foi avaliado neste estudo, pois
não apresenta relevância para obtenção da Idade Motora
Geral (IMG).
Os testes foram aplicados em uma única sessão de duas
horas e quarenta minutos. Foi feita uma explicação, para
os alunos avaliados, acerca dos testes a serem realizados. As
atividades tiveram um enfoque na ludicidade e os avaliadores
desempenharam um papel motivacional, procurando incentivar a criança na execução dos exercícios.
Foram montadas estações para a aplicação da bateria de
testes. Esta tática foi utilizada para facilitar a organização do
espaço e agilizar o tempo de aplicação das atividades. Com
isso, foi possível desenvolver um circuito em que até três
crianças e avaliadores participavam do processo de coleta.
Cada prova da bateria marca uma nova etapa maturativa,
que vai dos dois anos até os onze anos. Para o presente estudo,
foram realizados os testes a partir da etapa de quatro anos.
Se houvesse uma resposta positiva da criança para a atividade
relativa ao teste de quatro anos, esta criança estaria habilitada
a tentar o teste correspondente à idade de cinco anos, e assim
sucessivamente. No caso de uma resposta negativa ao teste de
quatro anos foi realizado o teste de três anos.
Motricidade fina
Com 12 cubos em desordem, o avaliador tomava três e
formava uma ponte, com dois cubos na base e um no topo.
Pedia-se para a criança fazer algo semelhante. Caso ela não
entendesse o que deveria fazer, podia-se repetir a construção.
Foi considerado acerto se a ponte continuasse montada, ainda
que não bem equilibrada.
O teste inicial, que é relativo à idade motora fina de quatro
anos, é colocar um pedaço de linha de 15 cm, número 60,
por uma agulha de costura (1 cm x 1 mm). Inicialmente a
criança deve estar com as mãos separadas a uma distância
de 10 cm e com a linha passada pelos dedos em 2 cm. Cada
criança teve nove segundos para realizar esta atividade e direito
a duas tentativas.
No teste seguinte, que corresponde à idade de cinco anos,
o avaliador demonstra ao avaliado como fazer um nó simples
em um lápis. Em seguida, a criança tem que realizar o mesmo
nó no dedo do avaliador. Para este teste, utilizou-se um par
de cordões de sapato de 45 cm. Considerou-se qualquer tipo
de nó, contanto que não se desmanchasse.
No teste relativo à idade de seis anos a criança deveria
traçar, com um lápis e com a mão dominante, uma linha
contínua da entrada até a saída de um labirinto, tendo que,
logo em seguida, iniciar outro labirinto. Após trinta segundos
de repouso, a criança teria que realizar a mesma atividade com
a mão não-dominante. Cada criança só poderia ultrapassar
os limites do labirinto mais de duas vezes com a mão dominante e três com a não-dominante. Se houvesse um número
de erros maior do que estes estipulados, considerava-se uma
falha na execução. Também foram considerados erros levan-
tar mais de uma vez o lápis do papel e ultrapassar o tempo
limite para execução da atividade. O tempo de duração para
cada atividade foi de 1 minuto e 20 segundos para a mão
dominante e 1 minuto e 25 segundos para a não-dominante.
Foram realizadas duas tentativas para cada mão. Nenhuma
das crianças conseguiu ultrapassar essa etapa.
Motricidade global
O teste correspondente à idade de quatro anos foi a realização de sete ou oito saltos, sucessivamente, sobre o mesmo
lugar, com as pernas levemente flexionadas. Possíveis erros
cometidos pelos alunos foram movimentos não simultâneos
de ambas as pernas ou cair sobre os calcanhares. Cada criança
teve direito a duas tentativas.
O teste relativo à idade de cinco anos foi saltar, sem tomar
impulso, uma altura de 20 cm, determinada por um elástico
amarrado em dois apoios. Cada criança teve direito a três
tentativas, sendo que duas deveriam ser positivas. Os erros
considerados foram tocar no elástico durante o salto, cair no
chão mesmo que não tivesse encostado no elástico e tocar no
chão com as mãos.
O teste da idade de seis anos foi, com os olhos abertos,
a criança deveria caminhar uma distância de dois metros
sobre uma linha reta, posicionando a ponta de um pé no
calcanhar do outro pé. Foram permitidas três tentativas para
cada criança. Os possíveis erros eram afastar-se da linha,
balançar ou afastar um pé do outro e executar a atividade de
maneira incorreta.
No teste relativo à idade de sete anos a criança deveria,
com os olhos abertos, saltar em um pé só ao longo da uma
linha de cinco metros, com a outra perna flexionada em 90º e
com os braços relaxados ao lado do corpo. Após 30 segundos
de descanso, realizou-se a mesma atividade, mas saltando com
a outra perna. Não foi estipulado um tempo determinado.
Cada criança teve direito a duas tentativas com cada perna. Os
erros considerados foram distanciar-se da linha por mais de
50 cm, tocar no chão com a outra perna e balançar os braços.
No teste correspondente a idade de oito anos a criança deveria saltar uma altura de 40 cm, determinada por um elástico,
sem impulso. Cada criança teve direito a três chances, sendo
que duas deveriam ser positivas. Os erros considerados foram
tocar no elástico durante o salto, cair no chão mesmo que não
tivesse encostado no elástico e tocar no chão com as mãos.
No teste da idade de nove a criança deveria realizar um salto
no ar, flexionando os joelhos para tocar os calcanhares com as
mãos. O único erro era não tocar os calcanhares com as mãos.
No teste correspondente à idade de dez anos a criança
deveria estar com um joelho flexionado em ângulo reto e os
braços relaxados ao longo do corpo. A 25 centímetros do pé
em repouso posicionamos no solo uma caixa de fósforos. A
criança então deveria levá-la impulsionando-a com o pé a um
ponto situado a cinco metros de distância. Os possíveis erros
eram tocar o chão com o outro pé, exagerar o movimento
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
dos braços, ultrapassar com a caixa em mais de cinquenta
centímetros o ponto fixado e falhar no deslocamento da caixa.
Foram dadas três tentativas. Nenhuma das crianças conseguiu
passar por esse teste.
Equilíbrio
O teste de equilíbrio correspondente à idade de quatro anos
foi à realização de uma flexão de tronco em ângulo reto durante
o tempo de 10 segundos. Para realizar este exercício, a criança
deveria estar com os olhos abertos, os pés juntos e as mãos
apoiadas nas costas. Foram concedidas duas tentativas. Os erros
considerados foram realizar movimentos com os pés, flexionar
os joelhos e ficar na posição desejada por menos de 10 segundos.
O segundo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste,
a criança deveria manter-se em equilíbrio nas pontas dos pés
durante 10 segundos. Durante este exercício, os olhos deveriam estar abertos, os pés estar juntos e os braços juntos ao
corpo, com as palmas das mãos encostando nas coxas. Cada
criança teve direito a três tentativas.
No teste de equilíbrio para a idade motora de seis anos,
as crianças deveriam manter-se de pé sobre a perna direita
enquanto que o joelho esquerdo estaria flexionado em ângulo
reto, com a coxa paralela à direita e em leve abdução, com os
braços ao longo do corpo. Após um intervalo de 30 segundos, o
exercício foi repetido, mas havendo a troca de pernas. O tempo
mínimo para que cada criança se mantivesse em equilíbrio com
cada perna foi de 10 segundos. Os erros considerados foram
baixar mais de três vezes a perna levantada, saltar ou balançar,
tocar com o outro pé no chão e elevar-se sobre a ponta do pé.
O próximo teste foi para a idade de sete anos. Neste
a criança deveria se posicionar de cócoras, com os braços
estendidos lateralmente, com os olhos fechados e com os
pés e calcanhares unidos. Foram permitidas três tentativas e
o tempo mínimo que uma criança deveria manter-se nesta
posição foi de 10 segundos. Os erros foram cair ou deslizar,
sentar-se sobre os calcanhares, tocar no chão com as mãos e
baixar o braço três vezes.
O último teste de equilíbrio correspondeu à idade de oito
anos. Neste, a criança deveria manter-se em equilíbrio com
o tronco flexionado realizando a flexão plantar. As crianças
deveriam estar com os olhos abertos, as mãos nas costas,
o tronco em ângulo reto e os calcanhares elevados. Foram
concedidas duas tentativas e o equilíbrio deveria ser mantido
por pelo menos 10 segundos. Os erros considerados foram
flexionar as pernas por duas vezes ou mais, sair do lugar e tocar
o chão com os calcanhares. Nenhuma das crianças conseguiu
ultrapassar esse teste.
Esquema corporal
Para avaliar o esquema corporal correspondente as idades
de dois a cinco anos, em relação à capacidade de controle do
próprio corpo, foram feitos dois blocos de testes. As atividades
127
foram feitas a partir de exercícios de imitação de gestos simples.
O primeiro bloco teve dez exercícios de movimentos simples
com as mãos e o segundo teve mais dez atividades de movimento simples com os braços. Nestes testes o avaliador demonstra
um gesto simples e a criança teria que repetir este gesto.
No primeiro bloco foram feitos os seguintes testes:
1.O avaliador mostra as mãos abertas com as palmas voltadas
para frente, de forma que a criança possa vê-las. As mãos
devem estar distantes 40 cm uma da outra e 20 cm do
peito, aproximadamente.
2.Repetir o exercício anterior, mas com as mãos fechadas.
3.Demonstrar a mão esquerda aberta e a mão direita fechada.
4.Posicionar as mãos inversamente ao exercício anterior. Mão
esquerda fechada e mão direita aberta.
5.Mão esquerda na vertical e mão direita na horizontal. A
mão direita deve tocar a mão esquerda em um ângulo reto.
6.Colocar as mãos em posição inversa a do exercício anterior. A mão esquerda deve estar na horizontal fazendo um
ângulo reto com a mão direita que estará na vertical.
7.Mão esquerda em posição plana, com o polegar na altura
do esterno. A mão e o braço direitos devem estar inclinados.
Deve haver uma distância aproximada de 30 cm entre as
mãos. A mão direita deve estar por cima da mão esquerda.
8.Posição inversa das mãos. Mão direita em posição plana,
com o polegar na altura do esterno. Mão e braço esquerdos inclinados. Mão esquerda por cima da mão direita e,
aproximadamente 30 cm de distância entre as mãos.
9.O avaliador posiciona as mãos paralelas. Mão esquerda
diante da mão direita a uma distância de 20 cm. A mão
esquerda deve estar por cima da direita, com um desvio
de 10 cm. Todas as medidas são valores aproximados.
10. Posicionamento das mãos inverso ao da atividade anterior. Mão direita diante da mão esquerda a uma distância
aproximada de 20 cm. Mão esquerda por cima da direita
com um desvio aproximado de 10 cm.
No segundo bloco, correspondente aos testes de movimentos simples dos braços, foram feitas as seguintes atividades:
1.O examinador estende o braço esquerdo, horizontalmente
para a esquerda, com a mão aberta.
2.Faz-se o mesmo movimento de extensão do braço, mas
agora com o direito. A mão deve estar aberta.
3.Levantar o braço esquerdo.
4.Levantar o braço direito.
5.Levantar o braço esquerdo e estender o direito.
6.Realizar movimento inverso. Braço direito levantado e
braço esquerdo estendido.
7.Extensão do braço esquerdo para frente e levantar o direito.
8.Inversão das posições. Braço direito estendido e braço
esquerdo levantado.
9.Os braços devem estar estendidos de forma oblíqua. Com
a mão esquerda no alto e a mão direita abaixo. O tronco
deve estar ereto.
128
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
10. Posicionamento inverso ao teste anterior. Os braços
permanecem estendidos de forma obliqua, com a mão
esquerda abaixo e a direita no alto.
A pontuação foi feita a partir do número de testes que a
criança acertou. Como são vinte testes, a pontuação máxima
possível foi de vinte pontos. A pontuação média para crianças
com idade de três anos foi de 7 a 12 acertos; para crianças de
quatro anos, de 13 a 16 acertos; e para as crianças de cinco
anos, de 17 a 20 acertos.
Caso a criança acertasse todos os movimentos anteriores
ela era submetida ao teste a seguir.
Para avaliar o esquema corporal das crianças com possíveis
idades motoras entre seis e 11 anos, os alunos receberam uma
folha quadriculada, 25 cm x 18 cm, com quadrados de um
centímetro de lado e um lápis número dois. A folha ficou
posicionada em sentido horizontal. As crianças tiveram que
marcar com um risco cada quadrado da folha, o mais rápido
que pudessem durante um minuto. Durante o teste, o avaliador
observava se a criança apresentava dificuldades na coordenação
motora, na instabilidade, na ansiedade e nas sincinesias.
Com relação à pontuação, adotou-se como critério crianças com seis anos, pontuação média entre 57 e 73 traços; sete
anos, de 74 a 90 traços; oito anos, 91 a 99 traços; nove anos,
de 100 a 106 traços; dez anos, entre 107 e 114 traços; e com
11 anos, 115 ou mais traços.
Organização espacial
Para avaliar a capacidade de organização espacial de
crianças com idade de quatro anos pegou-se dois palitos com
tamanhos diferentes, um de 5 cm e outro de 6 cm, e estes
foram posicionados paralelamente em cima de uma mesa,
separados 2,5 cm. A criança deveria adivinhar qual palito
era o maior. Foram três tentativas, em todas houve a troca
de posição dos palitos. Se houvesse falha em uma dessas três
tentativas, eram feitas mais três, sempre trocando o posicionamento dos palitos. O teste era positivo quando a criança
acertava três de três tentativas ou cinco de seis.
O próximo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste
colocou-se um retângulo de 14 cm x 10 cm, feito de cartolina, em sentido longitudinal diante da criança. Um pouco
mais próximo da criança colocou-se duas metades de outro
retângulo, cortados na diagonal, com as hipotenusas voltadas
para o exterior e separados alguns centímetros. A criança
deveria pegar as duas metades e formar algo parecido com o
retângulo que estava à frente dela. O teste teve duração de um
minuto e, durante este tempo, foi concedido três tentativas.
A criança teve direito a repetir a atividade duas vezes, caso
não obtivesse sucesso na primeira.
No teste correspondente a idade de seis anos, a criança
deveria conseguir identificar, nela mesmo, a noção de direita
e esquerda. O avaliador ordenava três comandos, como exemplo “levantar o braço direito”. Apenas o examinado deveria
executar os movimentos. O teste só seria considerado positivo
se os três comandos fossem feitos de forma correta.
O teste para a idade de sete anos tem como objetivo a
execução de movimentos a partir de uma determinada ordem.
A sequência de movimentos foi: 1) mão direita na orelha
esquerda; 2) mão esquerda na orelha direita; 3) Mão direita
no olho esquerdo; 4) mão esquerda no olho direito; 5) mão
direita no olho direito; 6) mão esquerda no olho esquerdo. A
criança obterá êxito no teste se obtiver cinco acertos.
O teste relativo à organização espacial para as crianças de
oito anos tem como objetivo avaliar o reconhecimento de
direita e esquerda da criança em uma pessoa que está de frente
para ela, no caso o avaliador. Na primeira atividade a criança
deveria tocar a mão direita do avaliador, na segunda, tocar
a mão esquerda e na terceira o avaliador segurou, de forma
visível, uma bola em uma das mãos e a criança deveria dizer
em qual mão a bola se encontrava. A criança passaria no teste
se acertasse as três. Nenhuma criança ultrapassou esse teste.
Organização temporal
O teste para idade de quatro anos consistia na repetição
de duas frases. O avaliador dizia à criança: “Você vai repetir”:
a. “Vamos comprar pastéis para mamãe”.
b.“O João gosta de jogar bola”.
Havendo dúvida o avaliador deveria animá-la e deveria
estimular a repetição de outras frases.
O próximo teste relativo à idade de cinco anos consistia
na repetição de frases mais complexas.
a. “João vai fazer um castelo de areia”.
b.“Luís se diverte jogando futebol com seu irmão”.
Foram considerados erros para ambos os testes a falha na
repetição exata das frases.
Para avaliar a organização temporal das crianças com possíveis idades motoras entre 6 e 11 anos, foi feita uma bateria
de quatro blocos de testes.
No primeiro bloco - estruturas temporais, o avaliador e
a criança ficaram sentados frente a frente, com um lápis na
mão de cada um. O examinador descrevia o que ia fazer para
a criança: “Você vai escutar diferentes sons e, com o lápis, irá
repeti-los. Escute com atenção”.
O avaliador prosseguia realizando um tempo curto, de
cerca de um quarto de segundo, representado por 0 0, feito
com o lápis sobre a mesa. Seguido por um tempo longo, de
cerca de um segundo, representado por 0 0 0, feito com um
lápis sobre a mesa.
Nesse momento o avaliador poderia corrigir a criança para
que ficasse claro que havia entendimento da etapa. Feito isso
o examinador prosseguia para a primeira estrutura da prova,
e a criança deveria repeti-lo. O examinador golpeava outras
estruturas e enquanto a criança repetisse corretamente o
avaliador continuava a prova.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
As estruturas são definidas no quadro I.
Organização temporal
Ensaio 01
00
Teste 01
000
Teste 02
00 00
Teste 03
0 00
Teste 04
0 0 0
Teste 05
0000
Teste 06
0 000
Teste 07
00 0 0
Teste 08
00 00 00
Teste 09
00 000
Teste 10
0 0 0 0
– Estruturas temporais
Ensaio 02
0 0
Teste 11
0 0000
Teste 12
00000
Teste 13
00 0 00
Teste 14
0000 00
Teste 15
0 0 0 00
Teste 16
00 000 0
Teste 17
0 0000 00
Teste 18
00 0 0 00
Teste 19
000 0 00 0
Teste 20
0 0 000 00
Os movimentos do lápis, os golpes, não eram vistos pelas
crianças. Posicionavam-se anteparos para bloquear a visão
do que o avaliador realizava. Parava-se em definitivo caso a
criança cometesse três erros consecutivos.
O próximo bloco dizia respeito à simbolização de estruturas espaciais. O avaliador dizia: “Agora você vai desenhar
círculos no papel, o mais rápido que conseguir, de acordo
com as figuras que mostrarei”. Nesse momento dava-se uma
folha em branco para a criança poder desenhar.
As estruturas foram impressas em papel de alta gramatura,
e recortadas para formar cartões. Foram apresentadas às crianças por cinco segundos antes de serem guardadas novamente.
As estruturassão definidas no quadro 2.
Organização temporal 2 – Simbolização
Ensaio 01
00
Ensaio 02
Teste 01
0 00
Teste 06
Teste 02
00 00
Teste 07
Teste 03
000 0
Teste 08
Teste 04
0 000
Teste 09
Teste 05
000 00
Teste 10
de estruturas
0 0
0 0 0
00 0 00
0 00 0
0 0 00
00 00 0
129
A não confirmação da normalidade levou à aplicação do
teste de Wilcoxon para efetividade comparação das variáveis,
a = 0,05 [16], cujo formato foi:
H0: Idade Cronológica = Idade Motora Geral
H1: Idade Cronológica ≠ Idade Motora Geral
Resultado e discussão
Como demonstrado na Tabela I, a média da idade cronológica dos participantes foi de 74,66 meses (s = 4,0 meses).
O coeficiente de variação foi de 5,39%, indicando a concentração dos resultados individuais ao redor do valor médio,
não havendo grande variabilidade no grupo. Em razão disto,
aquela variável não interferiu no desempenho dos avaliados,
portanto possíveis discrepâncias podem ser explicadas, mesmo
que parcialmente, por condicionantes genéticos, cuja influência se deu no domínio fisiológico ou motor.
Tabela I - Média, desvio padrão, mediana e coeficiente de variação
dos parâmetros analisados.
Idade cronológica
Motricidade fina
Motricidade global
Equilíbrio
Esquema corporal
Organização espacial
Organização temporal
Idade motora geral
Média
Desvio
Padrão
Mediana
74,66
42,95
68,84
56,84
58,11
4,0
10,1
16,4
14,9
14,6
75,50
36,00
60,00
48,00
48,00
Coeficiente de
variação
(%)
5,39
23,41
23,85
26,18
25,07
65,05
13,5
60,00
20,68
73,26
9,7
72,00
13,26
60,84
8,4
58,00
13,83
Os valores: média, desvio padrão e mediana estão expressos em
Após a realização dos ensaios o avaliador corrigiu o examinando, certificando-se de que todos os testes foram compreendidos corretamente. Foi considerado erro se a criança
falhasse duas estruturas consecutivas. Nenhuma das crianças
conseguiu prosseguir além desse teste.
O teste de lateralidade não foi executado por não entrar
na média do cálculo da Idade Motora Geral.
O tratamento estatístico se concentrou na caracterização
do grupo, através das estimativas de medidas de localização
(média e mediana) e dispersão (desvio-padrão e coeficiente de
variação), tal como proposto por Costa Neto [15]. A análise
inferencial se deu pela avaliação da normalidade, através do
teste de Shapiro-Wilk, a = 0,05, segundo o desenho [16]:
H0: A variável i não se aproximou da Distribuição Normal
H1: A variável i se aproximou da Distribuição Normal
" i Î I = {Idade Cronológica, Idade Motora Geral}
meses.
Os parâmetros idade cronológica, organização temporal
e idade motora geral apresentaram coeficiente de variação
(%) de 5,39; 13,26 e 13,83 determinando o uso da média e
desvio-padrão para descrição dos resultados.
A mediana no teste de Motricidade Fina dos participantes
foi de 36,00 meses, com coeficiente de variação de 23,41%.
Esse resultado indica grande dispersão nos valores individuais, como visto na Tabela I. As medianas encontradas no
presente estudo foram inferiores aos valores das medianas
para o parâmetro Motricidade Fina encontrados num estudo
realizado por Rosa Neto [3]. Isso demonstrou que as crianças
do presente estudo configuram um grupo que se apresenta
bastante atrasado nesse parâmetro.
A mediana no teste de Motricidade Global dos participantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de 23,85%.
Esses resultados fogem dos dados encontrados por Rosa Neto
130
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
[3]. A média foi de 68,84 meses (s=16,4 meses), similar à
encontrada por Silveira et al. [17], média de 71,59 meses (s=
16,95 meses), mas difere dos valores encontrados por Rosa
Neto [3], que obteve média de 85,67 meses (s= 9,47 meses).
A mediana no teste de Equilíbrio dos participantes foi de
48,00 meses, com coeficiente de variação de 26,18%. Esse
resultado difere dos encontrados por Rosa Neto [3], que
obteve mediana de 63,00 meses, e coeficiente de variação de
14,95%. A média no presente estudo foi de 56,84 meses (s =
14,9), valor inferior aos encontrados tanto por Silveira et al.
[17] e Rosa Neto [3], que foram 69,53 (s = 20,42) e 83,20
(s = 9,12) meses respectivamente. Por volta dos 5 e 6 anos de
idade a criança passa por instabilidades no desempenho de
tarefas de equilíbrio [4]. Além disso, podem não ter vivenciado
experiências motoras suficientes que permitissem a realização
das tarefas de equilíbrio com sucesso. As oportunidades que a
criança tem para explorar o ambiente e suas próprias potencialidades geram experiências, que podem afetar a aquisição
e o aprimoramento de habilidades motoras [2].
A mediana no teste de Esquema Corporal dos participantes foi de 48,00 meses, com coeficiente de variação de
25,07%. Esse valor apresenta-se 12 meses inferior ao obtido
por Rosa Neto [3]. A média de 58,11 meses (s = 14,6 meses)
mostrou-se 6 meses inferior aos dados obtidos por Silveira et
al. [17] e 9 meses inferior aos de Rosa Neto [3].
A mediana no teste de Organização Espacial dos participantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de
20,68%. Esse valor apresenta-se inferior ao obtido por Rosa
Neto [3] em 24 meses. A média obtida no presente estudo
também se mostrou inferior à obtida por Silveira et al. [17] e
Rosa Neto [3], que foram 71,43 (s=2,85) e 81,33 (s=12,86)
meses respectivamente.
A média no teste de Organização Temporal dos participantes foi de 73,26 meses (s= 9,7 meses). Esse valor é similar ao
encontrado por Rosa Neto [3]: 75,31 meses (s=8,67 meses).
Esses resultados permitem afirmar que o desenvolvimento
da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema
corporal e organização espacial dos participantes se apresentam atrasados em relação à idade cronológica.
A média da idade cronológica foi de 74,66 meses (s = 4,0
meses). A média da idade motora geral foi de 60,84 (s = 8,4
meses). Essa última mostrou-se bastante inferior à obtida por
Rosa Neto [3], 73,81 meses (s = 6,25 meses).
A diferença entre idade cronológica e idade motora geral
foi de 13,81 meses negativos (-13,81 meses), demonstrando
atraso motor generalizado na amostra. Em toda amostra (n
= 19) apenas um indivíduo (5,2%) apresentou-se adiantado,
mas em apenas 1 mês e 15 dias. As variáveis idade cronológica e idade motora geral se apresentaram distantes da
distribuição normal, valor-p = 0,00, portanto a comparação
foi não-paramétrica, através do teste de Wilcoxon, o qual
revelou diferença estatisticamente significativa (p = 0,02). Em
última análise foi possível afirmar que havia distinção entre
as variáveis com 98,00% de certeza.
Crianças com atrasos motores às quais não são dadas
oportunidades de intervenções motoras tendem a evidenciar
atrasos no desenvolvimento mais acentuados com o tempo
[11].
Caetano et al. [4] realizaram estudo com grupo de crianças
em fase pré-escolar com intervalo de 13 meses, e constataram,
em sua primeira avaliação, que o grupo de crianças de 5 anos
e 6 anos não conseguiu realizar a tarefa correspondente à
idade cronológica, obtendo Idades Motoras Gerais (IMG)
inferiores às Idades Cronológicas (IMG = 4 anos e IMG = 5
anos, respectivamente); desta forma, a tarefa correspondente
aos 5 anos só foi solucionada pelas crianças de 6 anos. Já na
segunda avaliação, as crianças de 5 anos realizaram a tarefa
que corresponde a 6 anos, obtendo idade motora superior
à idade cronológica (IMG = 6 anos). Sugerindo que por
volta dos 5 anos de idade, a criança passa por instabilidades
no desempenho de tarefas motoras finas. Estes períodos
de instabilidade do comportamento são característicos do
processo de desenvolvimento, sendo essenciais os momentos
de desorganização para posterior melhora no desempenho
[8,18-20]. Cabe destacar que, nesta idade, as crianças estão
sendo preparadas para a alfabetização com intensas atividades
relacionadas à motricidade fina.
Conclusão
Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que o
desenvolvimento da motricidade fina, motricidade global,
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial dos indivíduos testados mostram-se abaixo do esperado, consequentemente apresentam um baixo nível de desenvolvimento motor.
Nos anos iniciais da infância ocorrem mudanças substanciais no comportamento motor a cada ano, sendo que
o repertório motor torna-se cada vez mais diversificado à
medida que a idade aumenta. Isto sugere que os testes devem
ser repetidos após um período, para avaliar o desenvolvimento
dos indivíduos estudados. Pois, com o avanço da idade, as
proporções corporais mudam, requerendo reorganização de
todo o sistema, influenciando o desenvolvimento das habilidades motoras e do comportamento motor. Além dos fatores
de crescimento e maturação, a experiência também contribui
no processo de desenvolvimento.
Fatores do ambiente, do indivíduo e da tarefa, mais especificamente, fatores de crescimento e experiências motoras
podem explicar as mudanças no desenvolvimento infantil.
Estas mudanças parecem ser influenciadas pelas diferenças
na estimulação e no encorajamento para explorar seu próprio
corpo e o ambiente, podendo privilegiar mais acentuadamente
um componente da motricidade em detrimento de outro.
A Escala de Desenvolvimento Motor mesmo tendo sido
validada, pode não ser perfeitamente adaptada para crianças
de diferentes culturas e ambientes. Mais especificamente, as
tarefas propostas para cada idade podem não estar refletindo
as mudanças esperadas quanto ao desenvolvimento. Desta
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
forma, sugere-se que as tarefas de cada componente da
motricidade sejam novamente validadas para que se possa
conclusivamente observar a não linearidade do desenvolvimento motor.
Os resultados possibilitam concluir que os componentes
da motricidade apresentam ritmos diferentes de desenvolvimento. A presente avaliação pode favorecer o entendimento
do processo de desenvolvimento motor das crianças, permitindo que os profissionais envolvidos com a educação infantil
consigam avaliar e intervir neste por meio da adequação das
atividades. Assim, sugere-se que novos estudos sejam realizados de forma a avaliar a qualidade das atividades motoras
propostas dentro e fora do ambiente escolar e o seu relacionamento com o desenvolvimento motor.
Referências
1. Gorman M. Development and the rights of older people. In:
Randel J, et al. (eds.). The ageing and development report:
poverty, independence and the world’s older people. London:
Earthscan; 1999. p.3-21.
2. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo:
Phorte; 2001.
3. Rosa Neto F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artes
Médicas; 2002.
4. Caetano MJD, Silveira CRA, Gobbi LTB. Desenvolvimento
motor de pré-escolares no intervalo de 13 meses. Rev Bras
Cineantropom Desempenho Hum 2005;7(2):5-13.
5. Campos AC, Silva LH, Pereira K, Rocha NACF, Tudella E.
Intervenção psicomotora em crianças de nível socioeconômico
baixo. Fisioter Pesqui 2008;15(2):188-93.
131
6. Clark JE. Motor Development. Encyclopedia of human behavior. San Diego: Academic Press; 1994. P.245-55.
7. Papalia Olds SW. Desenvolvimento humano. 7a ed. Porto
Alegre: Artmed; 2000.
8. Flinchum BM. Desenvolvimento motor da criança. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Interamericana; 1981.
9. Connolly K. Desenvolvimento motor: passado, presente e
futuro. Rev Paul Educ Fís 200;14(S3):6-15.
10. Meinel K. Motricidade II: O desenvolvimento motor do ser
humano. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico; 1984.
11. Valentini NC. A influência de uma intervenção motora no
desempenho motor e na percepção de competência de crianças
com atrasos motores. Rev Paul Educ Fís 2002;16(1):61-75.
12. Kolyniak Filho C, Kolyniak HMR. O ensino da motricidade
humana na universidade: relato de uma experiência. Integração
2004;10(38):253-68.
13. Falcón VC, Rivero ED. Importancia del desarrollo del esquema
corporal. Revista Digital EFDeportes 2008;13(128).
14. Oliveira GC. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num
enfoque Psicopedagógico. 5a ed. Rio de Janeiro: Vozes; 2001.
15. Costa Neto PLO. Estatística. 4a ed. São Paulo: Edgard Blucher;
2005. 268 p.
16. Triola MF. Introdução a estatística. 10a ed. Rio de Janeiro:
LTC; 2008. 722 p.
17. Silveira CRA, Gobbi LTB, Caetano MJD, Rossi ACS, Candido
RP. Avaliação motora de pré-escolares: relações entre idade motora
e idade cronológica. Revista Digital EFDeportes 2005;10(83).
18. Haywood KM, Getchell N. Desenvolvimento motor ao longo
da vida. Porto Alegre: Artmed; 2004.
19. Santos S, Dantas L, Oliveira J. Desenvolvimento motor de
crianças, de idosos e de pessoas com transtornos da coordenação.
Rev Paul Educ Fís 2004;18:33-44.
20. Manoel EJ. A dinâmica do estudo do comportamento motor.
Rev Paul Educ Fís 1999;13:52-9.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
132
Artigo original
Influência da flexibilidade no desenvolvimento
da força muscular
Influence of flexibility in the development of muscular strength
Thiago Pereira*, Gilmar Weber Senna**, Sidney Cavalcante da Silva***
*CEPAC- Universidade Gama Filho (UGF) – RJ, **Escola de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEFD/UFRJ), ***Universidade Católica de Petrópolis (UCP) – RJ, Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – RJ
Resumo
Introdução: O objetivo do estudo foi verificar a influência dos
exercícios de alongamento, no desenvolvimento da força quando
realizados antes de exercícios resistidos. Métodos: A amostra foi composta por um grupo de 26 sujeitos do sexo masculino, com idades
entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de 73,96 kg (±
8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm). Foram realizados
teste e reteste de cargas no supino horizontal (SH), para 10RM, em
dias não consecutivos. Depois, em entrada alternada, realizaram-se
dois dias de experimento compostos por uma série de 10RM no SH,
sendo um dia precedido por alongamento (CA) utilizando duas séries
de 30 segundos, com 30 segundos de intervalo entre as mesmas e
o outro não (SA). Resultados: Após a análise estatística por meio do
teste t de Student pareado observamos uma redução significativa (p
< 0,001) no número de repetições máximas na situação CA. Conclusão: Logo, nossos dados nos permitiram concluir que a execução
prévia de duas séries de 30 segundos de um alongamento estático
antes do SH provoca uma redução significativa no desenvolvimento
da força máxima.
Abstract
Introduction: The aim of this study was to verify if exists any
influence of the stretch exercise on strength standard when executed
before strength training. Methods: The sample was composed of a
group of 26 male-subjects, 17 to 29 years old (21.41 ± 3.09), body
mass 73.96 kg (± 8.61 kg) and height 175.10 cm (± 5.65 cm). Tests
and re-tests of load were made on the bench press for 10RM, in
non-consecutive days. After that, in alternative entry, they executed a serie of 10RM on the bench press, a day preceded by stretch
exercises and the other day without. The static stretch exercises
were divided into 2 series of 30 seconds each, with 30 seconds of
interval between them. Results: After statistic analysis through a
t-paired test was observed a significant decrease (p < 0,001) on the
number of repetitions of the bench press, after the static stretch
exercises protocol used on this study. Conclusion: We can conclude
that the static stretch exercises before the strength training on the
bench press cause decrease of the number of maximum repetitions.
Key-words: strength training, flexibility training, bench press.
Palavras-chave: treinamento de força, treinamento de
flexibilidade, supino horizontal.
Recebido em 4 de julho de 2011; aceito em 11 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Sidney Cavalcante da Silva, Rua Dr. Paulo Herve, 708/201, 25665-132 Petrópolis RJ, E-mail: sidney.
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O alongamento estático (AE) é comumente utilizado com
a finalidade de preparar a musculatura para determinado gesto
atlético, assim como forma de aquecimento prévio a realização
de programas de treinamento de força (TF) [1]. O American
College of Sports Medicine [2] recomenda a incorporação de
exercícios de flexibilidade e de TF, dentro de um programa de
treinamento. Contudo, a utilização de exercícios de flexibilidade aliados a uma rotina de TF tem despertado o interesse
da comunidade científica, visto que existem evidências que
apontam uma controvérsia na relação dos exercícios de alongamento quanto à proteção ao músculo, bem como a redução
no risco de lesões [3-6].
Evidências acerca da utilização do AE antecedendo o salto
vertical [7-9] tem demonstrado ocorrer reduções quando
comparados a outros métodos de aquecimento como, por
exemplo, saltos submáximos (aquecimento específico), bem
como a não utilização de aquecimento (grupo controle) [10].
Também foram observados decréscimo da atividade neuromuscular através de eletromiografia [7] mostrando decréscimo
significativo no desenvolvimento do salto vertical quando
precedido pelo AE.
Evetovich et al. [11] não encontraram diferença do sinal
eletromiográfico nas condições pré e pós alongamento, no
entanto, fazendo uso da mecanomiografia, observaram que a
realização AE antes de atividades esportivas gerava uma queda
no desenvolvimento da força devido a uma diminuição na
rigidez músculo tendínea. Provavelmente por este motivo,
também observamos diminuições da performance da força
muscular em estudos com aparelhos isocinéticos e exercícios
de membros inferiores testados a uma repetição máxima
(1RM) [12-14].
Apesar de a literatura ser quase unânime em mostrar uma
relação inversa entre AE e força, o trabalho de Nelson et al.
[15] apresenta uma relação entre a força de endurance e os
exercícios de AE divididos em dois experimentos. Para tanto,
os autores avaliaram a força a 60, 50 e 40% da massa corporal
de cada indivíduo em duas situações diferentes, pré e pósalongamento dos posteriores de coxa, com duração total dos
alongamentos de aproximadamente 15 minutos. Ambos os
experimentos foram realizados por seis dias diferentes, sendo
quatro dias com alongamento. Os resultados obtidos foram de
uma queda de 24% no padrão de força no grupo que realizou
o movimento com 60%, de 28% no grupo que realizou 50%
e 9,8% no grupo que realizou com 40% do peso corporal. A
partir dos dados encontrados os pesquisadores concluíram que
exercícios de AE de alta duração deveriam ser evitados antes
de performances de força de endurance máximas.
Recentemente, Endlich et al. [16] verificaram reduções
significativas do desenvolvimento da força com cargas de
10RM no leg press, quando precedidos por 8 e 16 minutos de
alongamentos. Já para o supino horizontal (SH) esta redução
só foi observada com 16 minutos de alongamentos. Contudo
133
entre a execução dos alongamentos e o teste de 10 RM, os
indivíduos foram submetidos a um aquecimento específico
com carga equivalente a 50% da carga de teste, o que poderia
influenciar positivamente o desenvolvimento da força [17].
Embora a literatura aponte para reduções no desenvolvimento da força muscular, quando precedida por exercícios
de flexibilidade nos membros inferiores, parece haver uma
lacuna quanto à relação destes dois tipos de treinamento
em membros superiores, no que diz respeito ao volume e a
intensidade comumente utilizada em programas de atividades
físicas [18]. Portanto, o presente estudo teve como objetivo
investigar a influência do AE no desenvolvimento da força
muscular no exercício de supino horizontal.
Material e métodos
Sujeitos
Foram estudados 26 sujeitos do sexo masculino com
idades entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de
73,96 kg (± 8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm).
Todos os indivíduos estudados eram fisicamente ativos, e
envolvidos no treinamento de força de membros superiores
por pelo menos 6 meses, treinando três vezes na semana.
Todos foram informados sobre os possíveis desconfortos do
estudo, como, por exemplo, a dor muscular de início tardio,
além dos riscos, não descartados, de lesão na coleta dos dados
do presente estudo, bem como responderam negativamente
aos itens do Questionário PAR-Q [19] e assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.
Teste de 10 Repetições Máximas (10RM)
O teste e o reteste de 10 RM foram realizados em dois dias
não consecutivos. Os testes decorreram no supino horizontal
(SH), que foi executado com pesos livres. A obtenção da carga
de 10RM foi dada a partir de no máximo três tentativas. Para
os indivíduos que ultrapassaram ou ficaram aquém das 10
repetições máximas, foram efetuados os ajustes necessários
de carga para cada sujeito. Visando reduzir a margem de erro
no teste de 10RM, foram adotadas as seguintes estratégias:
a) instruções padronizadas de modo que o avaliado estivesse
ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados, antes
de sua execução; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de
execução do exercício, para reduzir um efeito do aprendizado
nos escores obtidos; c) o avaliador estava atento quanto à
posição adotada pelo praticante no momento da medida [20].
Após 48 horas da realização dos testes de carga, foram
conduzidos os retestes da carga de 10RM. Uma excelente
reprodutibilidade das cargas foi verificada entre o teste e o
reteste de 10RM, através do coeficiente de correlação intraclasse (r = 0,99). Durante os testes, cada sujeito realizou três
tentativas para o exercício, com cinco minutos de intervalo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
entre as tentativas. Técnicas padronizadas do exercício foram
demonstradas para cada sujeito antes da execução de cada
teste. Não foram permitidas pausas entre as fases concêntricas e excêntricas nas repetições ou entre as repetições. Para
as repetições serem bem sucedidas, o completo ângulo de
movimento, como é normalmente definido para o exercício,
tiveram de ser completados.
Procedimento experimental
O experimento consistiu em duas visitas realizadas em dias
não consecutivos com entradas alternadas, com intervalo mínimo de quarenta e oito horas entre as mesmas, quando o SH foi
executado em duas condições de pré-exercício, com (CA) e sem
alongamento (SA). Na visita (CA) foi realizado um exercício de
alongamento que consistiu no indivíduo deitado em decúbito
ventral, com os braços e pernas estendidas no prolongamento
do corpo e as palmas das mãos voltadas para o solo. O avaliador
abduz o braço do avaliado segurando-o pela palma das mãos,
buscando a união das mãos até o ponto de desconforto. O
alongamento foi executado de forma estática dividido em duas
séries de 30 segundos, o que, segundo ACSM [3], é o tempo
necessário para o aumento da flexibilidade pelo método estático.
Entre as duas séries foi dado um intervalo de 30 segundos, e após
a realização dos alongamentos foi dado o intervalo de 1 minuto
para execução do SH com a carga de 10RM pré-estipulada. A
visita (SA) foi realizada da seguinte maneira, foram executadas
10RM no SH na condição SA. Os participantes foram instruídos a realizar o número máximo de repetições no SH, assim
como encorajados verbalmente durante o teste. A velocidade de
execução foi controlada pelos próprios indivíduos. O número
de repetições realizadas por cada indivíduo nos diferentes dias
foi anotado com precisão para a análise posterior.
Análise estatística
Para analisarmos a influência do alongamento sobre a força, foi utilizado o teste t de Student pareado, a fim de comparar
o número máximo de repetições realizadas no exercício supino
horizontal precedido ou não pelo alongamento. O nível de
significância adotado foi p < 0,05, para tal foi utilizado o
software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, USA). Com o
intuito de verificar a reprodutibilidade da carga assim como
maior acuracia da medida de força, foi realizado o coeficiente
de correlação intraclasse através do software SPSS versão 13.0
(SPSS Inc., Chicago, IL).
Resultados
A Figura 1 demonstra os resultados do número de repetições realizadas no SH nas duas distintas condições, SA (10,11
± 0,58) e CA (6,61 ± 1,35). A condição CA resultou em um
número de repetições significativamente inferior a condição
SA (p = 0,001).
Figura 1 - Teste de 10 repetições máximas nas condições sem
alongamento (SA) e com alongamento (CA). Valores expressos com
média ± desvio padrão (DP). Teste t-student pareado. Diferenças
significativas estabelecidas quando p < 0,001.
13
12
11
10
9
Nº Reps
134
8
*
7
6
5
4
3
SA
CA
Discussão
O estudo analisou a influência do AE sobre o desenvolvimento da força máxima no SH. Para tanto, foi utilizado o
tempo de estímulo recomendado pelo American College of
Sports Medicine [2] para aumento da flexibilidade, (2 séries
de 30 segundos). Com base nos dados apresentados podemos
verificar a influência que o AE exerceu sobre o desenvolvimento da força, na amostra estudada, apresentando uma queda
extremamente acentuada com a utilização do alongamento
antes da execução do SH (figura 1). Contudo, quando vamos
à literatura observamos que a maioria dos trabalhos que abordam o tema utiliza tempos de alongamento demasiadamente
elevados, ultrapassando as recomendações supracitadas, e os
dados apresentados em nosso estudo [1].
Endlich et al. [16], utilizando o SH com 10 RM, observaram uma diminuição no número de repetições quando
precedidas por uma sessão de alongamento de 16 minutos.
No entanto, quando a mesma era realizada após uma sessão
de alongamentos inferior a oito minutos isto não foi possível.
Acreditamos que essa resposta pode estar associada ao aquecimento a 50% da carga que os indivíduos eram submetidos
após os 8 minutos de aquecimento, o que pode ter influenciado de forma positiva o desenvolvimento da força. Sendo
assim, esses escores podem ter sofrido alterações pelo aumento
da potência muscular decorrente de um pré-exercício [17].
Ao compararmos os dados desse estudo com o nosso experimento, verificamos uma diferença bem significativa quanto
aos resultados. Contudo, ao observarmos a metodologia
aplicada, verificamos que os autores não realizaram reteste
de carga. Este fato pode ter contribuído para tornar a carga
máxima utilizada no trabalho, em submáxima, o que poderia
explicar a não observância de uma diferença significativa
para o SH realizado após alongamento, mesmo utilizando
um tempo de estímulo 8 vezes maior do que o utilizado em
nosso estudo. No mesmo estudo trabalhando com 10 RM
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
para o exercício extensão de pernas no leg press, os autores
observaram reduções no número de repetições para o exercício
tanto após 8 como para 16 minutos de alongamento, com
reduções de 4,2% e 14,3% respectivamente. Isto nos leva a
crer que independentemente do tipo de exercício executado,
quanto maior o tempo de alongamento maior a prevalência
de diminuição nos níveis de força de maneira aguda.
Arruda et al. [21] também observaram o efeito
deletério da força quando precedida por exercícios de alongamento no supino reto na máquina para 10RM. Como no
estudo de Rhea e Kenn [17], os autores não realizaram reteste
de carga também, o que pode ter causado mudanças na carga utilizada na coleta. Além disso, utilizaram um tempo de
estímulo para os alongamentos em torno de 5 minutos. Isto
reforça mais ainda a hipótese de que quanto maior o tempo
de alongamento antes da execução de um exercício de força
maior a probabilidade de termos um efeito negativo sobre o
desenvolvimento dessa força, mesmo que essa carga não seja
realmente de 10RM.
Nelson et al. [15] avaliaram a força de endurance de
membros inferiores através de um teste de carga submáxima,
a 40, 50 e 60% do peso corporal de cada indivíduo, demonstrando quedas de 9,8%, 28% e 24% respectivamente, após
uma sessão de 15 minutos de alongamento estático. Os dados
apresentados nos levam a crer que quanto mais baixa a sobrecarga utilizada, menor a queda relativa no desenvolvimento da
força de endurance. Tendo em vista que em nosso experimento
utilizamos a intensidade de 10RM, carga recomendada para
o treinamento da força muscular [19], o estudo de Nelson
et al. [15] vem a corroborar com o nosso estudo, mostrando
que quanto mais próximo do máximo se encontra a sobrecarga aplicada maior é o percentual de influência exercido
pelo exercício de alongamento no desenvolvimento da força
muscular de forma aguda.
Após analisarmos diferentes evidências disponíveis na
literatura, observamos haver um número reduzido de estudos que buscaram verificar a influência do alongamento no
desenvolvimento da força muscular com 10RM, já que, na
maioria dos casos, os dados foram obtidos a partir de testes
de 1RM ou em aparelhos isocinéticos. Adicionalmente a este
fato, observamos que o tempo total de alongamento utilizado
varia muito oscilando entre 5 e 20 minutos [11-14].
Cargas mal estabelecidas associadas a longos períodos de
alongamentos podem ser uma combinação que propicie decréscimo no desenvolvimento da força máxima. Na contramão
da literatura observamos que a utilização de carga máxima
bem estabelecida associada a um reduzido tempo total de
alongamento (± 1 min e 30 seg) também pode promover
reduções significativas na força máxima como observado em
nossos dados.
A literatura não é precisa nem consensuosa, mas apresenta
algumas hipóteses para justificar a redução na força máxima, de maneira aguda, em detrimento de exercícios de AE.
Kubo et al. [22] relatam que os exercícios de AE alteram as
135
propriedades viscoelásticas da unidade músculo tendínea, o
que reduz a tensão passiva e causa rigidez na unidade motora,
diminuindo a capacidade do sistema músculo esquelético
de gerar força e tensão. Evetovich et al. [11], apesar de não
terem encontrado em seu estudo diferença significativa no
sinal eletromiográfico após o AE, acreditam que uma maior
habilidade para gerar torque, sem alongamento prévio, está
mais associada a rigidez na unidade músculo-tendão, do que o
total de unidades motoras ativadas. Wilson et al. [23] relatam
que um sistema músculo tendíneo mais maleável devido ao
alongamento, apresentaria diminuição de seu comprimento,
o que levaria a uma ausência de sobrecarga, até que os componentes elásticos do sistema se ajustassem de maneira adequada
possibilitando a transmissão de força. Nesse momento, o
componente contrátil se encontraria em uma posição menos
favorável em termos de produção de força, isso explicaria a
queda na produção de força.
Conclusão
O presente estudo sugere que os exercícios de alongamento
estático podem inibir a capacidade máxima de desenvolver
força a cargas de 10RM, de maneira aguda. Esses resultados
parecem estar em consonância com os de outros estudos
apresentados na literatura.
Além disso, é importante que sejam realizados estudos que
possam verificar a influência da flexibilidade nos exercícios
com cargas de 10RM em séries subsequentes, assim como
experimentos crônicos sobre as respostas do treinamento de
força aliado a uma rotina prévia de alongamentos, fazendo
uso de diferentes tipos de exercícios.
Referências
1. Rubini EC, Costa ALL, Gomes PSC. The effects of stretching
on strength performance. Sports Med 2007;37:213-24.
2. American College of Sports Medicine. Guidelines for exercise
testing and prescription. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006.
3. Shellock FG, Prentice WE. Warming up and stretching for
improved physical performance and prevention of sport-related
injuries Sports Med 1985;2:267-78
4. Shrier I. Should people stretch before exercise? West J Med
2001;174;282-3.
5. Herbert RD, Gabriel M. Effects of stretching before and after
exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic
review. BMJ 2002;325:1-5.
6. Woods K, Bishop P, Jones E. Warm-up and stretching in the
prevention of muscular injury. Sports Med 2007;37:1089-99.
7. Wallmann HW, Mercer JA, Landers MR. Surface electromyographic assessment of the effect of static stretching of the
gastrocnemius on vertical jump performance. J Strength Cond
Res 2008;22:787-93.
8. Robbins JW, Scheuermann BW. Variyng amounts of acute
static stretching and its effects on vertival jump performance.
J Strength Cond Res 2008;22:781-6.
136
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
9. Thompsen AG, Kackley T, Palumbo MA, Faigenbaum AD.
Acute effects of different warm-up protocols with and without
a weighted vest on jumping performance in athletic women J
Strength Cond Res 2007;21:52-6.
10. Burkett LN, Phillips WT, Ziuraitis J. The best warm-up for
the vertical jump in college-age athletic men. J Strength Cond
Res 2005;19:673-6.
11. Evetovich TK, Nauman NJ, Conley DS, Todd JB. Effect of
static stretching of the biceps brachii on torque, electromyography and mecanography during concentric isokinetic muscle
actions. J Strength Cond Res 2003;17:484-8.
12. Kokkonen J, Nelson AG, Cornwell A. Acute muscle stretching
inhibits maximal strength performance. Res Q Exerc Sport
1998;69:411-5.
13. Cramer JT, Housh TJ, Johnson GO, Miller JM, Coburn JW,
Beck TW. Acute effects of static stretching on peak torque in
women. J Strength Cond Res 2004;18:236-41.
14. Fowles JR, Sale DG, MacDougall JD. Reduced strength after
passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol
2000;89:1179-88.
15. Nelson AG, Kokkonen J, Arnall DA. Acute muscle stretching
inhibits muscle strength endurance performance. J Strength
Cond Res 2005;19:338-43.
16. Endlich PW, Farina GR, Dambroz C, Gonçalves WLS, Moysés
MR, Mill JR, et al. Efeitos agudos do alongamento estático no
desempenho da força dinâmica em homens jovens. Rev Bras
Med Esporte 2009;15:200-3.
17. Rhea MR, Kenn JG. The effect of acute applications of wholebody vibration on the iTonic platform on subsequent lowerbody power output during the back squat. J Strength Cond
Res 2009;23:58-61.
18. American College of Sports Medicine. Position stand on progression models in resistance exercise for healthy adults. Med
Sci Sports Exerc 2009;41: 687-708.
19. Shephard, RJ. PAR-Q, Canadian home fitness test and exercise
screening alternatives. Sports Med 1988;5:185-95.
20. Monteiro W, Simão R, Farinatti P. Manipulação na ordem
dos exercícios e sua influência sobre número de repetições e
percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras
Med Esporte 2005;11:146-50.
21. Arruda FLB. A influência do alongamento no rendimento
do treinamento de força. Revista Treinamento Desportivo
2006;7:1-5.
22. Kubo K, Kanehisa H, Kawakami Y, Fukunaga T. Influence of
static stretching on viscoelastic properties of human tendon
structures in vivo. J Appl Physiol 2001;90:520-7.
23. Wilson GJ, Murphy AJ, Pryor JF. Muscletendinous stiffness:
its relationship to eccentric, isometric, and concentric performance. J Appl Physiol 1994;76:2714-9.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
137
Artigo original
Influência dos exercícios de estabilização central
sobre a oscilação corporal de indivíduos
com lombalgia crônica
Influence of core stabilization exercises on the body oscillation
of individuals with chronic low back pain
Adriana Regina de Andrade, Ft.*, Bruna Karla Grano, Ft.*, Francieli Wilhelms, Ft.*, Juliana Gaffuri, Ft.*,
Marcela Medeiros de Almeida Costa, Ft.*, Marina Pegoraro Baroni, M.Sc.**, Alberito Rodrigo de Carvalho***,
Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.****
*Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel PR, **Docente da Faculdade de Ciências da Saúde
do Trairí - FACISA/UFRN, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de fisioterapia da
Unioeste
Resumo
Introdução: A lombalgia é caracterizada por dor, rigidez muscular,
fadiga ou desconforto localizado no terço inferior da coluna vertebral. A estabilização central tem como objetivo proporcionar melhor
suporte à coluna lombar e promover maior estabilidade funcional
da região lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões
e desconfortos nessa região. Objetivo: Verificar a eficácia de um
treinamento baseado em exercícios de estabilização central, aplicados
em uma única intervenção sobre a oscilação do centro de gravidade
corporal. Métodos: A amostra foi constituída de 25 indivíduos divididos em grupo controle (n = 11), grupo placebo (n = 7) e grupo
estabilização central (n = 7). Todos foram submetidos à avaliação
baropodométrica. Somente os grupos placebo e estabilização central
foram submetidos aos protocolos de intervenção e avaliação pósintervenção. Resultados: Em todas as variáveis estabilométricas não
houve diferença significativa, em nenhum momento, ao comparar os
valores intragrupo e intergrupo. Conclusão: Uma única intervenção
de exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre a alteração
da oscilação do centro de gravidade corporal.
Abstract
Introduction: Low back pain is characterized by pain, muscle
stiffness, fatigue or discomfort located in the lower third of the
spine. The stabilization center aims to provide better support to
lumbar spine and to promote greater functional stability of the
lumbopelvic region as well as to reduce the incidence of injury and
discomfort in this region. Objective: To verify the effectiveness of
a training exercise based on stabilization center, applied in a single
statement on the oscillation of the body center of gravity. Methods:
The sample consisted of 25 subjects divided into control group (n
= 11), placebo (n = 7) and core stabilization group (n = 7). All underwent baropodometric evaluation. Only the central stabilization
and placebo groups were subjected to the intervention protocols and
post-intervention assessment. Results: In all stabilometric variables
there was no significant difference at any time point, when compared
the values intragroup and intergroup. Conclusion: A single exercise
intervention of central stabilization was not effective on the change
of oscillation of body’s center of gravity.
Key-words: low back pain, postural balance, exercise therapy.
Palavras-chave: lombalgia, equilíbrio postural, terapia por
exercício.
Recebido em 18 de julho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Colegiado de Fisioterapia
da Unioeste, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected]
138
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A dor lombar, ou lombalgia pode ser caracterizada por
um quadro de dor, rigidez muscular, fadiga ou desconforto
localizado no terço inferior da coluna vertebral. Além disso,
pode ter surgimento rápido ou lento, com ou sem irradiação
para os membros inferiores e concomitantes restrições da
mobilidade [1,2]. Esse sintoma possui etiologia multifatorial,
podendo estar relacionado às inflamações, às neoplasias, aos
defeitos congênitos, à debilidade muscular, à predisposição
reumática e aos sinais de degeneração da coluna ou dos discos
intervertebrais [3].
As lombalgias atingem altos índices na população em geral
e são responsáveis por elevados custos para os sistemas de
saúde. Em países industrializados, sua prevalência é estimada
em torno de 70% a 85% da população em idade laboral [4-7].
Uma variedade de intervenções fisioterapêuticas tem sido
utilizada no tratamento das lombalgias. Dentre elas estão os
exercícios aeróbios, exercícios de flexão e extensão da coluna,
de inclinação pélvica, alongamentos e, também, os treinamentos de estabilização central [8]. A estabilização central
tem como objetivo proporcionar melhor suporte à coluna
lombar e promover maior estabilidade funcional da região
lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões e
desconfortos nessa região. O complexo lombo-pélvico é descrito na literatura como “centro”, pois é nessa região que fica
posicionado o centro de gravidade corporal e onde a maioria
dos movimentos é iniciada [9-11].
O programa de treinamento de estabilização central ajuda
o indivíduo a obter ganhos de força, controle neuromuscular,
potência e resistência musculares com o objetivo de facilitar
o funcionamento e equilíbrio de toda a cadeia cinética. Com
isso haveria redução dos sintomas consequentes da lombalgia
mecânica, bem como a melhora da qualidade de vida dos
indivíduos [12,13].
Com o intuito de avaliar a redução ou não da oscilação
do centro de pressão (CP) corporal, há alguns anos, vem
sendo utilizada a Estabilometria ou Posturografia Estática. A
estabilometria é um método de análise do equilíbrio postural
por meio da quantificação das oscilações do corpo utilizando
para isso, o deslocamento do CP durante a fase de apoio.
Permite definir de forma objetiva, a posição média do centro
de gravidade corporal e também as pequenas oscilações que
ocorrem ao redor desse centro. Para esse método, geralmente,
podem ser utilizadas as plataformas de força ou a baropodometria [14,15].
Apesar de diversos estudos demonstrarem os efeitos positivos do uso de exercícios de estabilização central na dor lombar,
há escassez de estudos que relatem se tal técnica apresenta
efeitos benéficos, em uma única intervenção, sobre a oscilação
do CP corporal. Além disso, a utilização da baropodometria na
análise do equilíbrio corporal é uma tecnologia recente, existindo poucas pesquisas relatando seu uso, pois é normalmente
utilizada para fins clínicos, explicando assim a inexistência de
artigos acadêmicos sobre o assunto. No entanto, se mostra
uma nova proposta de metodologia para avaliar o equilíbrio
por meio do deslocamento do centro de pressão [16].
Assim, o objetivo do estudo foi verificar a eficácia de um
treinamento baseado em exercícios de estabilização central,
aplicados em uma única intervenção, sobre a oscilação do
centro de gravidade corporal.
Material e métodos
Caracterização do estudo e amostra
Este estudo caracteriza-se como analítico, intervencional,
cruzado, do tipo ensaio clínico não aleatorizado, com avaliador cego. Realizado no Laboratório de Estudo das Lesões e
Recursos Fisioterapêuticos da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – UNIOESTE, campus Cascavel.
A amostra foi composta por 25 indivíduos de ambos os
sexos divididos em três grupos:
• Grupo estabilização central (GEC): constituído por 7
indivíduos;
• Grupo placebo (GP): constituído por 7 indivíduos;
• Grupo controle (GC): constituído por 11 indivíduos.
Para compor os grupos GEC e GP, foram selecionados
os pacientes com sintomas de lombalgia crônica, de origem
mecânica, atendidos pelo Projeto “Escola de Coluna”. Já os
participantes do GC foram convidados verbalmente a participarem do estudo, de forma aleatória, respeitando a média de
idade dos indivíduos dos grupos GEC e GP e que não apresentassem queixa/sintoma de lombalgia. A todos os sujeitos
que aceitaram participar do estudo foi solicitada a assinatura
de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
do projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Humanos da Unioeste, sob protocolo no 642/2010.
Os grupos foram homogêneos quanto à idade, peso e
altura. Sendo que o perfil do GC demonstrou média de
idade de 41 ± 8,61 anos, peso de 71,23 ± 13,99 kg e altura
de 168,20 ± 8,99 cm. Já os grupos GP e GEC apresentaram
como médias das mesmas variáveis 53,14 ± 14,10 anos, 76,30
± 14,10 kg e 164,43 ± 5,86 cm, respectivamente.
Protocolo de avaliação
Para a avaliação da atividade postural estática, ou seja,
avaliação da oscilação do centro de pressão corporal (em centímetros) foi utilizado o Baropodômetro Footwork Pro AM
Cube® (AM3), o qual é formado por uma plataforma com 4800
sensores ativos em 120 cm. Além disso, verifica as oscilações
ântero-posteriores e látero-laterais do centro de gravidade que
é o principal foco de avaliação do presente estudo [15,17].
Para análise baropodométrica, o participante ficou imóvel
sobre a plataforma, durante 60 segundos, em apoio bipodal,
pés alinhados ao quadril, afastados dez centímetros, sem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Todas as avaliações foram realizadas no mesmo dia da
intervenção, exceto para GC que foi realizada isoladamente
em um dia aleatório.
Os grupos GEC e GP foram avaliados de forma cruzada.
Para isso, metade dos participantes dos referidos grupos foram
submetidos ao protocolo de exercícios de estabilização central
e a outra metade submetida a exercícios de alongamento. Na
semana seguinte, os indivíduos que realizaram o protocolo de
exercícios de estabilização central realizaram os exercícios de
alongamento e vice-versa. Portanto, totalizou-se 7 indivíduos
em cada grupo (GEC e GP).
Protocolo de intervenção
O programa de exercícios de estabilização central compreendeu as seguintes posturas:
• “Mosca morta”: o indivíduo ficou em decúbito dorsal
(DD) e realizou movimento abdominal com elevação dos
membros inferiores.
• Ponte: o indivíduo ficou em DD, com pés apoiados no
solo, joelhos flexionados e realizou a contração dos abdominais, glúteos e posteriores da coxa elevando a pelve.
Associou-se ainda a elevação de um dos membros inferiores
mantendo-o estendido. Posteriormente o membro elevado
foi alternado.
• Flexão lateral: o indivíduo ficou em decúbito lateral (DL)
e com a contração dos músculos abdominais, glúteos e
quadríceps; o sujeito realizou elevação lateral da pelve,
com apoio no pé e cotovelo.
• “Super-homem”: o indivíduo ficou em decúbito ventral
(DV) e manteve a contração dos músculos posteriores da
coxa, glúteos e eretores da coluna, elevando os membros
superiores, inferiores e estabilizando a escápula.
Cada exercício foi realizado 10 vezes, mantendo uma
contração isométrica de 10 segundos.
Para o programa de alongamento, foram realizados os
seguintes exercícios:
• Cervical: o indivíduo em pé realizou uma inclinação da
cabeça para direita e depois para esquerda, aumentando o
arco de movimento com a mão homolateral ao movimento.
• Posteriores de tórax: o indivíduo em pé, abraçou seu próprio corpo, levando as mãos nos ombros opostos.
• Posteriores do braço: o indivíduo em pé, posicionou o
braço nas costas e com a outra mão puxou o cotovelo.
• Posteriores da perna: o indivíduo se posicionou com uma
perna mais a frente, apoiando o pé na parede, e a outra
atrás. Realizou uma inclinação do corpo para frente para
flexionar a perna anterior, dessa forma foi alongada a região
posterior da perna posicionada atrás.
Cada alongamento foi repetido três vezes e sustentado
por 30 segundos.
Análise estatística
Os dados foram analisados quanto à sua normalidade
pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo que observada a
normalidade, foi utilizado o teste t de Student para amostras
pareadas na avaliação dentro do grupo, e o teste t não pareado
para avaliação intergrupos e, em todos os casos, o nível de
significância foi de 5%.
Resultados
Quanto aos resultados encontrados neste estudo,
observou-se que a área de oscilação do CP teve médias préintervenção do GC de 3,771 ± 1,584 cm2, GP de 5,199 ±
5,480 cm2 e GEC de 4,772 ± 4,809 cm2. Já no momento
pós-intervenção obteve-se como médias 3,671 ± 2,849 cm2
para GP e 5,098 ± 4,552 cm2 para GEC (Fig. 1). Esses dados
não apresentaram diferença estatisticamente significativa tanto
na avaliação intragrupo quanto intergrupo.
Figura 1 - Valores de oscilação da área, em centímetros quadrados,
para os diferentes grupos analisados.
12
Oscilação da área
10
Valor (cm²)
calçado, com a boca semiaberta, braços ao longo do corpo e
com os olhos abertos. Essa avaliação foi aplicada a todos os
participantes. O protocolo foi repetido três vezes, e foram
selecionados os dados da terceira execução para análise.
As avaliações transcorreram da seguinte forma:
• Grupo estabilização central (GEC): avaliação pré-intervenção + aplicação de sessão de 30 minutos de exercícios de
estabilização central + reavaliação pós-intervenção.
• Grupo placebo (GP): avaliação pré-intervenção + aplicação
de sessão de 30 minutos de exercícios de alongamento +
reavaliação pós-intervenção.
• Grupo controle (GC): avaliação única.
139
8
6
4
2
0
GC (n = 11)
GP (n = 7)
Grupos
ÁREA Pré-interv.
GEC (n = 7)
ÁREA Pós-interv.
Em relação ao deslocamento ântero-posterior, as médias
encontradas foram no momento pré-intervenção 2,281 ±
0,822 cm para GC, 2,198 ± 0,938 cm para GP e 1,964 ±
0,738 cm para GEC. No momento pós-intervenção, obteve-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
140
se valores de 2,187 ± 1,508 cm no GP e 2,304 ± 1,009 cm
no GEC (Fig. 2). Ao confrontar os dados, não se observou
diferença significativa entre os grupos GC, GP e GEC, bem
como ao analisar os momentos pré e pós-intervenção.
Figura 2 - Valores de oscilação do deslocamento ântero-posterior,
em centímetros, para os diferentes grupos.
Deslocamento ântero-posterior
4
3,5
Valor (cm)
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
GC (n = 11)
GP (n = 7)
Grupos
DESL. ÂNT-POST
Pré-interv.
GEC (n = 7)
DESL. ÂNT-POST
Pós-interv.
Para o deslocamento látero-lateral, foram obtidas como
médias, no momento pré-intervenção, para o GC 2,104 ±
0,508 cm, GP 2,592 ± 1,645 cm e GEC 2,7 ± 1,851 cm.
E posteriormente no momento pós-intervenção, os valores
foram de 2,101 ± 0,574 cm no GP e 2,443 ± 1,256 cm no
GEC (Fig. 3). Em análise estatística os resultados para esta
variável não apresentaram diferenças significativas.
Figura 3 - Valores de oscilação do deslocamento látero-lateral, em
centímetros, para os diferentes grupos.
Deslocamento látero-lateral
5
Valor (cm)
4
3
2
1
0
GC (n = 11)
GP (n = 7)
Grupos
DESL. LÁT-LAT
Pré-interv.
GEC (n = 7)
DESL. LÁT-LAT
Pós-interv.
Discussão
Este estudo demonstrou que uma única intervenção de
exercícios de estabilização central não promoveu diferença
significativa entre os valores de oscilação da área, deslocamento
ântero-posterior e deslocamento látero-lateral.
Tais resultados podem ser atribuídos ao conceito de que o
equilíbrio corporal é mantido pela ativação muscular segundo
desequilíbrios de forças externas. As principais articulações
envolvidas são o tornozelo e o quadril dependendo do grau
de perturbação. Em outras palavras, a postura é reflexo direto
da ação das forças musculares anteriores, posteriores e laterais
[18]. Dessa forma, o tempo de intervenção do estudo pode
não ter sido suficiente para gerar adaptações neuromusculares
e morfológicas. Uma vez que achados da literatura descrevem
que essas adaptações ocorrem após um período mínimo de seis
semanas de treinamento, quando se observam ganhos de coordenação intra e intermuscular, como também hipertrofia [19].
Os resultados obtidos não demonstraram alterar a oscilação
do CP, após uma única intervenção com exercícios de estabilização central. Isso pode indicar que tal constatação não está
relacionada com a mudança no comportamento da dor, considerando que há evidências de que programas de estabilização
central melhoram significativamente níveis de dor e função após
um período de quatro semanas de intervenção [20].
Complementando o exposto acima, foi observado, em
estudo com ciclistas acometidos por lombalgia crônica, que
esses podem precisar de tempo e instrução extra para recrutar
os músculos envolvidos, considerando que apresentam fraqueza, falta de coordenação muscular assim como presença
de padrões compensatórios decorrentes da lombalgia [21].
Poucos foram os estudos que investigaram o controle do
equilíbrio em sujeitos com dor lombar. Em geral, indivíduos com essa sintomatologia têm maior oscilação postural
quando comparados a indivíduos saudáveis [22], sendo mais
evidente no sentido látero-lateral, podendo essa alteração ser
correlacionada com níveis aumentados de incapacidade física
e baixa qualidade de vida [23]. Fato este não observado no
presente estudo, o qual demonstrou que os grupos foram
estatisticamente semelhantes quanto à oscilação do centro
de gravidade. Vale ressaltar que a amostra foi composta por
indivíduos com dor lombar que estavam em tratamento e
foram comparados com indivíduos saudáveis.
Em contrapartida, autores que investigaram a estabilometria
em indivíduos normais observaram frequência duas vezes maior
de oscilações ântero-posteriores, independente do controle visual, sugerindo assim uma maior estabilidade lateral em apoio
bipodálico. No entanto desequilíbrios nesse sentido sugerem
problemas ou distúrbios no Sistema Nervoso Central [24,25].
Na literatura, há escassez de estudos que avaliem, por
meio da estabilometria, o efeito dos exercícios de estabilização
central nas lombalgias. Porém há relatos que essa intervenção
seja mais efetiva nos tratamentos que estratégias tradicionais
de alongamento [26], que pode ser explicado devido ao fato
que exercícios de contrações isométricas sincronizadas, sutis
e específicas, atuarem diretamente no alívio da dor por meio
do aumento da estabilidade do segmento vertebral [27].
Outros estudos justificam os efeitos positivos da estabilização central nas lombalgias devido ao aumento da ativação muscular observada em diferentes graus dos músculos
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
constituintes do complexo lombo-pélvico [28,29]. Ainda,
outros autores relatam que o fortalecimento da musculatura
lombo-pélvica aumenta o desempenho esportivo, reduz a
fadiga muscular, aperfeiçoa movimentos apendiculares e previne lesões musculoesqueléticas, dentre elas a lombalgia [21].
Em contraste com a maioria dos ensaios, May e Johnson
[30], em revisão sistemática, constataram que os exercícios
específicos de estabilização central em pacientes com dor
lombar crônica não se mostraram mais eficazes que outras
modalidades terapêuticas.
Por fim, como limitações do presente estudo pode-se citar
o número reduzido da amostra que não é representativo para
toda a população que apresenta sintomatologia de lombalgia
mecânica e a escassez de estudos que abordem a estabilometria como uma variável, tanto em indivíduos com lombalgia
quanto para indivíduos saudáveis. Isso implicaria no estabelecimento de parâmetros de normalidade no que diz respeito
à oscilação corporal desses indivíduos e assim posteriormente
seria possível avaliar o efeito de tratamentos, com exercícios
de estabilização central e outras modalidades de intervenção.
Conclusão
Conclui-se com o estudo que uma única intervenção de
exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre alteração da
oscilação do centro de gravidade corporal tanto na área quanto nos
eixos ântero-posterior e látero-lateral de indivíduos com lombalgia.
Referências
1. Kaziyama HHS, Teixeira MJ, Yeng LT. Lombalgias de origem
muscular. In: Greve JMA, Amatuzzi MM. Medicina de reabilitação nas lombalgias crônicas. São Paulo: Roca; 2003. p. 149-51.
2. Imamura ST, Kaziyama HHS, Imamura M. Lombalgia. Rev
Med 2001;80(2):375-90.
3. Almeida IGB. Prevalência da dor lombar crônica na cidade de
salvador. Rev Bras Ortop 2008;43(3):96-102.
4. Bekkering GE. Implementation of clinical guidelines on
physical therapy for patients with low back pain: randomized
trial comparing patient outcomes after a standard and active
implementation strategy. Phys Ther 2005;85(6):544-55. 5. Chou R. Diagnosis and treatment of low back pain: a joint clinical
practice guideline from the American College of Physicians and
the American pain society. Ann Intern Med 2007;147:478-91.
6. Maher CG, Latimer J, Hodges PW, Refshauge KM, Moseley
GL, Herbert RD, et al. The effect of motor control exercise
versus placebo in patients with chronic low back pain. BMC
Musculoskelet Disord 2005;6(54):1-8.
7. Wand BM, O’Connell NE. Chronic non-specific low back
pain – sub-groups or a single mechanism? BMC Musculoskelet
Disord 2008;9(11):1-15.
8. Blanda J, Bethem D, Moats W, Lew M. Defects of pars interarticularis in athletes: a protocol for nonoperative treatment.
J Spinal Disord 1993;6(5):406-11.
9. Richardson C, Jull G, Toppenberg R, Comerford M. Techniques
for active lumbar stabilization for spinal protection: a pilot
study. Aust J Physiother 1992;38(2):105-12.
141
10. Jull GA, Richardson CA. Rehabilitation of active stabilization of the
lumbar spine. In: Twomey LT, Taylor JR. Physical therapy of the
lumbar spine. New York: Churchill Livingstone; 1994. p. 151-83.
11. Akuthota V, Nadler SF. Core strengthening. Arch Phys Med
Rehabil 2004;85(3):86-92.
12. Clark MA. Treinamento de estabilização central em reabilitação. In: Prentice WE, Voight ML. Técnicas em reabilitação
musculoesqueléticas. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 245-63.
13. Reinehr FB, Carpes FP, Mota CB. Influência do treinamento de
estabilização central sobre a dor e estabilidade lombar. Fisioter
Mov 2008;21(1):123-29.
14. Veja RL, Ruiz MCL. Estabilometría y calidad de vida en las
algias vertebrales. Un estudio transversal analítico. Fisioterapia
2005;27(3):129-37.
15. Schmidt A, Bankoff A, Zamai C, Barros D. Estabilometria: estudo do
equilíbrio postural através da baropodometria eletrônica. Caxambu:
Anais do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte; 2003.
16. Marsico V, Moretti B, Patella V, De Serio S, Simone C. Analisi
baropodometrica del passo in soggetti sani anziani ed in pazienti
gonartrosici prima e dopo intervento di artroprotesi di ginocchio. G Ital Med Lav Erg 2002;24(1):72-83.
17. Moreira M, Moreira N. Comparação das estratégias posturais
pelo exame baropodométrico. Ter Man 2004;3(1): 228-34.
18. Winter DA. Human balance and posture control during standing and walking. Gait Posture 1995;3(4):193-214.
19. Junior NKM. Adaptações fisiológicas do treino de força em atletas
de desportos de potência. Rev Min Educ Fís 2005;13(2):43-60.
20. Sakamoto ACL, Nicácio AS, Silva LA, Júnior RCV, Andrade
ILL, Nascimento LR. Efeito dos exercícios de estabilização na
intensidade da dor e no desempenho funcional de indivíduos
com lombalgia crônica. Conscientiae Saúde 2009;9(4):615-19.
21. Di Alencari TAM, Matisi KFS. Abordagem da estabilização
central em ciclistas. Revista Movimenta 2009;2(4):137-43.
22. Harding VR, Williams AC, Richardson PH, Nicholas MK,
Jackson JL, Richardson IH, et al. The development of a battery
of measures for assessing physical functioning of chronic pain
patients. Pain 1994;58(3):367-75.
23. Mientjes MIV, Frank JS. Balance in chronic low back pain
patients compared to healthy people under various conditions
in upright standing. Clin Biomech 1999;14(10):710-6.
24. Bankoff ADP, Bekedorf RG, Schmidt A, Ciol P, Zamai CA.
Análise do equilíbrio corporal estático através de um baropodometro eletrônico. Rev Conex 2006;4(2):19-31.
25. Hodges PW, Gurfinkel VS, Brumagne S, Smith TC, Cordo
PC. Coexistence of stability and mobility in postural control:
evidence from postura compensation for respiration. Exp Brain
Res 2002;144(3):293-302.
26. Rie Kasai RPT. Current trends in exercise manangement for
chronic low back pain: comparision between strenghthening
exercise and spinal segmental stabilization exercise. J Phys Ther
Sci 2006;18(1):97-105.
27. França FJR, Burke TN, Claret DC, Marques AP. Estabilização
segmentar da coluna lombar nas lombalgias: uma revisão bibliográfica e um programa de exercícios. Fisioter Pesq 2008;15(2):200-6.
28. Davidson KLC, Hubley-Kozey CL. Trunk muscle responses to
demands of an exercise progression to improve dynamic spinal
stability. Arch Phys Med Rehabil 2005;86(2):216-23.
29. Arokoski JP, Valta T, Airaksinen O, Kankaanpää M. Back and
abdominal muscle function during stabilization exercises. Arch
Phys Med Rehabil 2001;82(8):1089-98.
30. May S, Johnson R. Stabilization exercises for low back pain: a
systematic review. Physiotherapy 2008;94(3):179-89.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
142
Artigo original
Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos
livres em indivíduos com cardiomiopatia chagásica
Maximum repetition of resistance movements with free weights in
patients with Chagas cardiomyopathy
Luciano Sá Teles de Almeida Santos*, Thiêgo Andrade*, Vinicius Afonso Gomes*, Thiago Bouças, Ft.**,
Jefferson Petto, Ms.***
*Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Faculdade Social, Salvador/BA, **Faculdade Social, Salvador/BA, ***Professor de Fisiologia
do Exercício e Angiologia da Faculdade Social, Salvador/BA
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar se existe diferença significante
no número de repetições máximas de exercícios resistidos (ER)
realizados com pesos livres em indivíduos com Doença de Chagas
(DC). Participaram 11 indivíduos com cardiomiopatia chagásica,
divididos em dois grupos: sintomático (GS) e assintomáticos (GA).
Todos foram submetidos ao teste de 1RM adaptado para cardiopatas
e o de repetições máximas (RM) com 30% da carga máxima de
quatro movimentos resistidos. Na análise das RM dos movimentos, a
flexão de joelho apresentou diferença estatística significante quando
comparada com a abdução de ombro e a flexão de ombro no GS,
enquanto que no GA houve diferença entre a flexão de ombro e a
flexão coxo femoral e flexão de joelho. Conclui-se que a determinação da RM para indivíduos com DC deve ser individualizada e
determinada para cada movimento do programa de ER.
The aim of this study was to evaluate whether there is significant
difference in the number of maximum repetitions of resistance
exercises (RE) performed with free weights in individuals with
Chagas Disease (CD). Eleven individuals with Chagas cardiomyopathy participated in this study and were divided into two groups:
symptomatic (GS) and asymptomatic (GA). All were tested for 1RM
adapted for cardiac patients and the repetitions maximum (RM)
with 30% of the maximum load resistance of four movements. In the
analysis of RM of the movements, the knee flexion had a statistically
significant difference when compared with shoulder abduction and
flexion in GS, while in the GA there was difference between shoulder
flexion and coxofemoral flexion and knee flexion. We concluded
that the determination of RM for individuals with CD should be
individualized and determined for each movement of RE program.
Palavras-chave: exercício físico, cardiomiopatia chagásica,
exercício resistido, repetições máximas.
Key-words: exercise, Chagas cardiomyopathy, resistance exercise,
repetitions maximum.
Recebido em 27 de junho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Rua Ismael Ribeiro, 62, Torroró 40050-200 Salvador BA, Tel:
(71) 8191-2987, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A cardiomiopatia chagásica é caracterizada como uma
doença inflamatória originada pelo protozoário Trypanosoma
Cruzi que se apresenta na forma sintomática em cerca de 30%
dos indivíduos infectados [1,2].
Esta afecção é caracterizada por uma larga diversidade
clínica, sendo um dos maiores problemas de saúde pública do
Brasil e das Américas. Somente na América Latina é estimado
que entre 15 e 16 milhões de pessoas estejam infectadas com
Trypanosoma Cruzi, e que 75 a 90 milhões vivam expostas à
infecção [3-5]. No Brasil aproximadamente três milhões de
pessoas são portadoras da Doença de Chagas (DC) [1].
No coração, o Trypanosoma Cruzi tem uma forte afinidade
pelo complexo nervoso cardíaco provocando várias alterações
patológicas no processo de produção e condução do estímulo
nervoso. Como tratamento para atenuação dos sintomas da
doença de Chagas, preconiza-se como terapêutica o uso de
cardiotônicos, antiarrítmicos e implante de marca-passo cardíaco. Atualmente, houve avanços substanciais na terapêutica
medicamentosa específica da DC, mas um grande desafio
atual, além da busca de drogas mais eficazes e eficientes e com
menos efeitos colaterais, é o de preparar mais profissionais de
saúde para que saibam diagnosticar e tratar esta doença e promover alternativas de tratamento não medicamentoso, dentre
elas o exercício físico tanto aeróbico quanto o resistido [6].
O exercício resistido é uma categoria que se distingue por
ser realizado com uma carga externa agindo esta como resistência ao movimento articular, sendo qualquer resistência que
não seja a força gravitacional ou a massa segmentar corpórea
envolvida no movimento [7].
Como dito anteriormente, aproximadamente 30% dos
indivíduos infectados desenvolvem a forma sintomática da
doença, apresentando cardiomiopatia inflamatória crônica,
a chamada cardiomiopatia chagásica crônica. A reabilitação
cardíaca visa minimizar os efeitos da progressão da DC utilizando como recurso terapêutico o exercício físico aeróbico e
resistido [8]. No entanto, muitas dúvidas permeiam a prática
com relação à determinação das variáveis dos exercícios resistidos, como carga, número de repetições e séries de trabalho
as quais não estão bem definidas.
Testes de força máxima, ou mesmo submáxima, são
pouco utilizados na prescrição do exercício resistido, talvez
pela dificuldade de operacionalização e pelo tempo gasto na
realização dos mesmos. O Teste de Carga Máxima (TCM)
realizado com uma repetição máxima é o mais frequentemente
utilizado como medida de força muscular [9].
Esse teste operacionalmente é definido como a maior
carga movida durante a execução de movimento específico
numa única repetição e sem compensações musculares ou
posturais [10]. Normalmente a prescrição do programa de
condicionamento resistido é baseada apenas no percentual do
TCM. No entanto, a não realização de um teste que mensure
a capacidade individualizada de repetições máximas, pode
143
resultar em programas que trabalhem supra ou subestimando
a capacidade funcional dos indivíduos que praticam exercícios
resistidos [9].
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo avaliar se
existe diferença significante no número de repetições máximas de exercícios resistidos realizados com pesos livres em
indivíduos com DC que leve a uma supra ou subestimativa
da capacidade de trabalho.
Material e métodos
A seguinte pesquisa se caracteriza como um estudo
comparativo quase experimental, na qual participaram 11
indivíduos, 8 do sexo feminino, todos com cardiomiopatia
chagásica crônica, diagnosticados através do exame sanguíneo
de Machado Guerreiro e Imunuofluorescência, clinicamente
estáveis, com idade entre 35 e 70 anos, sedentários definidos
pelo Questionário Internacional de Atividade Física-Curto
(IPAQ-curto), que são atendidos no Centro de Referências
de Doenças Cardiovasculares de Salvador.
Foram adotados como critérios de exclusão alterações
osteomioarticulares, neurológicas ou cognitivas incompatíveis
com a realização do protocolo proposto no estudo.
Todos os voluntários foram esclarecidos sobre os objetivos,
os riscos e benefícios dos procedimentos em linguagem acessível e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido,
que foi elaborado a partir das diretrizes sobre a pesquisa com
seres humanos da Declaração de Helsinque e da Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este projeto foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Faculdade de Tecnologia e Ciência de Salvador – FTC protocolo 0772\2009.
Todos os participantes passaram por um exame físico
constituído por mensurações da frequência cardíaca e pressão
arterial em repouso, massa corporal total, estatura e um ecocardiograma com o objetivo de mensurar a fração de ejeção
de Teicholz.
Os indivíduos foram divididos em dois grupos: um grupo
sintomático (GS), composto por cinco indivíduos, 3 do sexo
feminino, com média de idade e fração de ejeção respectivamente de 58 anos e 42%, e um grupo assintomático (GA),
formado por 6 indivíduos, 5 do sexo feminino, com média de
idade e fração de ejeção respectivamente de 54 anos e 71%.
O TCM foi realizado com o membro dominante, utilizando o protocolo de uma repetição máxima adaptada para
cardiopatas [11], partindo de carga zero com aumento de ½ kg
por série com intervalo de 3 minutos entre uma série e outra.
Em cada série se verificou, durante a execução do movimento,
a FC, o traçado eletrocardiográfico a TA no braço contralateral
a execução do movimento e a intensidade de esforço mensurada pela escala de percepção subjetiva de BORG.
Os movimentos utilizados no teste de carga máxima
foram: flexão coxofemoral em supino, flexão de joelho em
prono, flexão de gleno-umeral e abdução de gleno-umeral
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
144
em ortostase. Todos os movimentos preconizaram a fase
concêntrica da contração.
Foram considerados critérios para determinação da carga
máxima: alterações eletrocardiográficas significativas (arritmias sustentadas, arritmias complexas, infra-desnivelamento ≥
3 mm e supra-desnivelamento ≥ 2 mm de ST), compensações
na execução do movimento ou Escala de Borg entre 17 a 20.
Todo o exame foi realizado em ambiente hospitalar na
presença de um cardiologista e com suporte técnico adequado
de acordo com a II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [12].
Para o Teste de Repetição Máxima (TRM) foram utilizados os mesmos movimentos do teste de carga máxima.
O TRM foi realizado com 30% da carga máxima, sendo o
voluntário instruído a executar cada movimento até a exaustão. Adotaram-se como critérios para interrupção do teste os
mesmos parâmetros do TCM.
Todos os resultados foram armazenados em um banco
de dados no Microsoft Excel 2007 e posteriormente analisados. Antes das análises foi realizado o teste de Shapiro-Wilks
para identificação da normalidade dos dados e testagem dos
pressupostos dos testes. Como as variáveis não apresentaram
distribuição normal e simétrica, os dados foram descritos
utilizando mediana e intervalo interquartil. Para os dados encontrados foram realizadas Análises de Variâncias (ANOVA).
Em todos os testes se utilizou o pacote estatístico SPSS (Sta-
tistical Package for the Social Sciences) versão 13.0, adotando
um nível de significância de 5%.
Resultados
As características gerais da amostra são apresentadas na
Tabela I descritas em médias e desvio padrão.
Os valores referentes ao número de repetições máximas
de cada movimento executado estão descritos na Tabela II.
Dentre os movimentos, o que apresentou o maior número
de repetições, em ambos os grupos, foi à flexão de joelho.
As comparações intergrupos do número mediano de
repetições realizadas estão descritas na Tabela III. Observase que não há diferença estatística significante, no entanto,
vale enfatizar que no movimento de flexão do joelho, o GS
apresentou um número de repetições consideravelmente
maior que o GA.
Os dados referentes à comparação intragrupo do número
de repetições máximas alcançadas nos movimentos propostos são apresentados na Tabela IV. Observa-se que houve
diferença estatística significante na comparação da flexão de
joelho com a flexão de ombro e abdução de ombro no GS.
Já no GA foi verificada diferença estatística na comparação
de flexão de coxo femoral com a flexão de ombro e com a
flexão de joelho.
Tabela I - Caracterização da amostra por grupo (média e desvio padrão).
Grupo
Sintomático
Assintomático
Idade (anos)
60 ± 8,0
58 ± 6,0
Altura (cm)
158 ± 1,0
164 ± 0,1
Massa (kg)
61 ± 5,5
74 ± 8,5
IMC (kg/m2)
24 ± 5,2
27 ± 2,6
FE (%)
42 ± 0,0
71 ± 0,0
Siglas: IMC = Índice de Massa Corpórea; FE = Fração de Ejeção.
Tabela II - Número de repetições máximas por grupo alcançadas nos quatro movimentos propostos.
Grupo
Sintomático (n = 5)
Assintomático (n =6)
Flexão de ombro
Abdução de ombro
Flexão de joelho
Flexão de coxo femoral
Flexão de ombro
Abdução de ombro
Flexão de joelho
Flexão de coxo femoral
Min
20
16
23
10
18
15
12
8
Máx
30
30
85
30
70
40
100
30
Mediana
28
22
50
20
21
20
19
15
Dq*
3,50
5,25
21,50
8,00
14,75
8,00
35,00
8,38
* Dq - Desvio-quartil (percentil 75 - Percentil 25) /2.
Tabela III - Comparações intergrupo das repetições máximas dos quatro movimentos realizados.
Atividade
RM FO
RM AO
RM FJ
RM FCF
Mediana
Sintomático n = 5
Assintomático n = 6
28
21
22
20
50
19
20
15
Diferenças
p-valor*
7
2
31
5
0,5200
0,9270
0,2730
0,5210
* Teste Kruskal-Wallis H (comparação múltipla, para as quatro atividades). Siglas: RM = Repetição Máxima; FO = Flexão de Ombro; AO = Abdução de
Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
145
Tabela IV - Comparação intragrupo das repetições máximas dos quatro movimentos propostos.
Medianas
Grupo
Comparações
RM FO
GS
(n=5)
RM AO
RM FJ
RM FO
GA
(n=6)
RM AO
RM FJ
RM AO
RM FJ
RM FCF
RM FJ
RM FCF
RM FCF
RM AO
RM FJ
RM FCF
RM FJ
RM FCF
RM FCF
1
28
22
50
21
20
19
2
22
50
20
50
20
20
20
19
15
19
15
15
Diferenças
p-valor*
6
22
8
28
2
30
1
2
6
1
5
4
0,0656
0,0431
0,1441
0,0431
0,3452
0,0796
0,1756
0,7532
0,0458
0,4004
0,0747
0,0585
p-valor
ANOVA**
0,0378
0,1193
*Teste não paramétrico – Wilcoxon; **ANOVA - refere-se ao teste não paramétrico de Friedman.
Nota: O teste de Shapiro-Wilks rejeitou a hipótese de normalidade das variáveis de estudo. Siglas: RM = Repetições Máximas; FO = Flexão de Ombro;
AO = Abdução de Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral.
Discussão
A falta de pesquisas quantificando as variáveis de condicionamento resistido para adultos foi a principal razão
para o American College of Medicine Sports (ACMS) omitir
em sua diretriz de 1978 os exercícios resistidos como parte
integrante do trabalho de condicionamento para indivíduos
cardiopatas. Por volta dos anos 80, as pesquisas nessa área se
intensificaram e em 1990 a ACMS formalmente reconheceu
a importância dos exercícios resistidos para um programa
completo de condicionamento físico [13].
Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca, 2005, um programa de exercício físico supervisionado tem se mostrado eficaz
como tratamento não medicamentoso da insuficiência cardíaca
com indicação de exercícios resistidos para estes indivíduos [8].
Graves sugere que o condicionamento com pesos parece ser bem
seguro para essa população, já que desencadeia menos distúrbios
de condução e arritmias além de promover adaptações benéficas
de vários parâmetros hemodinâmicos, embora no caso de alguns
deles de maneira menos marcante comparativamente ao condicionamento com exercícios contínuos [13].
A American Heart Association e a American Association
of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation, em uma
revisão de 12 estudos sobre o uso do treinamento de força em
programas de reabilitação cardíaca mostrou que em portadores
de doença arterial coronariana estável, já em condicionamento
aeróbico por pelo menos três meses, adicionar o treinamento
de força parece ser bastante seguro, promovendo melhora da
força muscular e da resistência, sem desencadear episódios
de isquemia miocárdica, anormalidades hemodinâmicas,
arritmias ventriculares complexas ou outras complicações
cardiovasculares [8].
Dessa forma, a inclusão de exercícios resistidos na reabilitação cardíaca supervisionada pode preparar melhor os
cardiopatas para retornarem em menor tempo às suas atividades de vida diária. Porém as variáveis de prescrição devem
ser bem determinadas e elucidadas para que sua efetividade
seja garantida.
A determinação do número de repetições máximas é fundamental na elaboração de um protocolo de condicionamento
resistido para indivíduos cardiopatas com ou sem disfunções
ventriculares. O que se encontra na literatura em relação ao
número de repetições são valores fixos para qualquer perfil de
indivíduo. Segundo o ACMS se preconiza inicialmente de 8 a
10 repetições evoluindo para 15 a 20 repetições no máximo.
O supervisor pode optar por aumentar a carga e diminuir
as repetições ou manter a carga e aumentar as repetições e a
velocidade do movimento.
No entanto, de acordo com os resultados do presente estudo, foi verificada diferença significante no valor da repetição
máxima em quatro das doze comparações realizadas entre
os movimentos avaliados, e em outras três foram observadas
diferenças estatísticas próximas da significância, como observado na tabela IV. Acredita-se que se a amostra do estudo
fosse maior todas essas comparações apresentariam um p-valor
significante, o que nos leva a pensar que as repetições deveriam
ser preconizadas de forma individual e não pré-determinadas.
Segundo Fleck e Kreamer, 1999, citado por Forjaz et
al. [14], os exercícios resistidos podem ser executados em
diferentes intensidades. Quando são feitos com intensidade
leve (40% a 60% da carga máxima), várias repetições (20 a
30) podem ser realizadas e o resultado dessa prática será o
aumento da resistência da musculatura envolvida no exercício.
Por outro lado, quando os exercícios são realizados em intensidades maiores (acima de 70% da carga máxima), o número
de repetições não pode ser alto devendo estar entre 8 a 12
repetições [14]. Pollock descreve que com a progressão do
condicionamento deve-se aumentar o número de repetições,
146
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
sendo o teto máximo para os membros superiores e inferiores
de 15 e 20 respectivamente [15].
Embora a carga utilizada nesta pesquisa tenha sido de
30% da carga máxima, os resultados do nosso estudo vão de
encontro a essas recomendações, pois vários indivíduos conseguiram realizar um número abaixo do recomendado pela
literatura e outros bem acima, desta forma estaríamos supra
ou subestimando a capacidade da maioria dos indivíduos
avaliados. Além disso, houve grande discrepância nos valores
das repetições de cada movimento de forma individualizada,
inclusive entre membros superiores e inferiores.
O conhecimento da capacidade individual das repetições
máximas pode servir de base para o terapeuta, direcionando-o
a prescrições mais eficazes e individualizadas, não havendo
desta forma superestimação nem subestimação desta variável,
para que a reabilitação ocorra de forma objetiva e segura.
Conclusão
Os resultados apontam que a determinação da repetição
máxima para portadores de DC deve ser individualizada e
determinada para cada movimento do programa de exercício
resistido. Dessa forma sugerimos que a elaboração de um protocolo mais específico deve ser baseada na carga máxima, bem
como no número de repetições máximas que cada indivíduo
é capaz de realizar.
Referências
1. Bilate AMB, Cunha-Neto E. Chagas disease cardiomyopathy: current concepts of an old disease. Rev Inst Med Trop
2008;50(2):67-74.
2. Coura JR. Chagas disease: what is known and what is needed. A
background article. Mem Inst Oswaldo Cruz 2007;102(I):113-12.
3. Mattos BP. Mecanismos celulares e biomoleculares na cardiomiopatia dilatada. Arq Bras Cardiol 1999;72(4):507-15.
4. Petti MA. Predictors of heart failure in chronic Chagasic cardiomyopathy with asymptomatic left ventricular dysfunction.
Rev Esp Cardiol 2008;61(2):116-22.
5. Filho AAF. Tratamento etiológico da doença de Chagas. Rev
SOCESP 2009;19(1):2-5.
6. Bern C, Montgomery SP, Herwaldt BL, Rassi Junior A, MarinNeto JA, Dantas RO, et al. Evaluation and treatment of Chagas disease in the United States: A systematic review. JAMA
2007;298(18):2171-81.
7. Kisner C, Colby AL. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
técnicas. 4a ed. Barueri: Manole; 2005.
8. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol
2005;84(05):432.
9. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular:
confiabilidade e predição de uma repetição máxima – revisão
e novas evidências. Rev Bras Med Esporte 2003:9(5):325-35.
10. Possani HV, Carvalho MJ, Probst VS. Comparação da redução
na força muscular de membros superiores e membros inferiores
após um protocolo de fadiga em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). ASSOBRAFIR Ciência
2009;33:43.
11. Petto J, Ferraz GR, Bouças T. Influência do exercício físico resistido na melhora da fração de ejeção em indivíduo chagásico.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2010;9(3):181-3.
12. II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste
Ergométrico. Arq Bras Cardiol 2002;78(Supl II):1-18.
13. Graves JE, Franklin BA. Treinamento resistido na saúde e
reabilitação. Rio de Janeiro: Revinter; 2006.
14. Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM. Exercício resistido para o
paciente hipertenso: indicação ou contra-indicação. Rev Bras
Hipertens 2003;10(2):119-24.
15. Pollock M, Schmidt DH. Doença cardíaca e reabilitação. Rio
de Janeiro: Revinter; 2003. p.229-55.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
147
Artigo original
Utilização do percentual da carga máxima
dinâmica e velocidade de movimento durante
o treinamento de força
Percentage of the maximum dynamic strength and velocity
of movement during strength training
Alexandre Correia Rocha*, Dilmar Pinto Guedes Junior**
*Mestrando pela Universidade São Judas Tadeu, São Paulo/SP, Coordenador do Centro de Treinamento Personalizado New Life,
Santos/SP, **Acadêmico dos cursos de Educação Física da Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS) e Faculdade de Educação
Física e Esportes (FEFESP), Santos/SP
Resumo
Abstract
Palavras-chave: treinamento de força, intensidade, repetições
máximas, força máxima.
Key-words: strength training, intensity, repetitions maximum,
strength maximum.
O objetivo do estudo foi avaliar a eficiência do controle intencional da Velocidade de Movimento (VM) em cada repetição de
uma série no Treinamento de Força (TF) e verificar a relação entre
a porcentagem da Carga Máxima Dinâmica (CMD) e o número de
repetições para prescrição do TF. Vinte sujeitos, com 21 ± 3 anos,
realizaram o TCMD no supino, agachamento e rosca direta e após
24 e 48h realizaram o máximo de repetições com 80% da CMD
com e sem o controle da VM. Como resultados obteve-se: CMD
(kg) no *¹supino 87,55 ± 27,80, ²agachamento 112,40 ± 30,75 e
rosca direta 68 ± 11,58 (* p = 0,01 vs agachamento; ¹ p = 0,00 vs
rosca direta e ² p = 0,00 vs rosca direta). RSM para o supino 11 ± 3,
* agachamento 11 ± 5 e rosca bíceps 9 ± 2 e RCM para o ¹supino 3
± 1, ¹agachamento 3 ± 1 e ¹rosca bíceps 3 ± 1 (* p = 0,05 vs rosca
direta (RSM); ¹ p = 0,00 vs agachamento, rosca direta e supino
(RSM)). Os resultados demonstram que o controle intencional da
VM, a relação entre porcentagem da CMD e número de repetições
por série de exercícios e a prescrição utilizando essas variáveis devem
ser vistas com cautela.
The aim of this study was to evaluate the efficacy of intentional
control of Velocity of Movement (VM) on each repetition of a set
in the strength training (ST) and the relationship between percentage of Maximum Dynamic Strength (MDS) and the number of
repetitions to prescribe strength training programs. Twenty subjects,
with 21 ± 3 years, performed the Maximum Dynamic Strength
Training in the bench press, squat and curl and after 24 and 48
hours completed the maximum number of reps with 80% of MDS
with and without the control of VM. We got the following results:
MDS (kg) * 87.55 ± 27.80 ¹ bench press, squat ² 112.40 ± 30.75
and curl 68 ± 11.58 (* p = 0.01 vs. squat; ¹ p = 0.00 vs. curl e ² p =
0.00 vs curl). Bench press maximum repetition 11 ± 3, * squat 11
± 5 and biceps 9 ± 2 and SPC for ¹ supine 3 ± 1 ¹ squat 3 ± 1 and
¹ biceps curl 3 ± 1 (* p = 0.05 vs. curl (RSM ) ¹ p = 0.00 vs. squat,
curl and bench press (RSM)). The results show that the intentional
control of the VM, the relationship between percentage of MDS
and number of repetitions per set and exercise prescriptions using
these variables should be studied with caution.
Recebido em 21 de julho de 2011; aceito em 15 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Alexandre Correia Rocha, Rua Barão de Paranapiacaba, 77/16, Encruzilhada 11050-250 Santos SP,
E-mail: [email protected], Tel: (13) 3234-8629
148
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
Nas últimas décadas o treinamento de força (TF), tem
sido objeto de estudo e despertado interesse na comunidade
científica. A musculação é definida como movimentos biomecânicos localizados em segmentos musculares definidos com a
utilização de sobrecarga [1,2]. O TF tem papel fundamental
nos programas de exercício físico relacionados para a estética
e nos últimos anos tem sido recomendado para a profilaxia
e tratamento de diversas patologias [3-6]. O TF promove
alterações funcionais, ou seja, aumento da força e melhora da
capacidade de realizar atividades do cotidiano, assim como
modificações morfológicas, principalmente o aumento da
massa muscular [7,2]. O aumento da massa muscular se dá
principalmente pelo mecanismo de hipertrofia muscular, definida como aumento da área de secção transversa de cada fibra
muscular. Essa condição é favorecida por alterações agudas e
crônicas na fibra muscular, frente ao TF [8].
Durante a montagem dos programas de TF, os componentes de carga devem ser organizados com intuito de promover
intensidade ótima para maximizar o aumento da força e hipertrofia muscular, dentre eles, podemos citar: o exercício, a
frequência semanal, o número de repetições, o peso, as séries,
o intervalo entre séries e a velocidade do movimento [9-11,8].
Diversos autores relatam que uma janela de repetições variando de 8 a 12, com uma carga de 60 a 80% da carga máxima
dinâmica (CMD) e uma velocidade de movimento moderada
(VMM) seriam condições favoráveis para o desenvolvimento
de força e hipertrofia muscular [1,5,10,12,13]. De acordo com
Kraemer e Ratamess [10], a VMM é de um segundo para a
fase concêntrica (1FC) e dois segundos para a fase excêntrica
(2FE). Para esse controle o metrônomo é comumente utilizado, emitindo um sinal sonoro previamente programado.
Alguns autores questionam a utilização de algumas dessas
variáveis para a prescrição do TF [14-17]. Sendo assim, os
objetivos do presente estudo são: 1) Avaliar a eficiência do
controle intencional da VM em cada repetição de uma série
no TF e 2) Verificar a relação entre a porcentagem da CMD
e o número de repetições para prescrição do TF.
Material e métodos
Participaram do estudo 20 voluntários com média de idade
de 21 ± 3 anos, sendo todos praticantes de musculação há no
mínimo seis meses. Todos os sujeitos receberam explicações
verbais sobre os procedimentos do estudo e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes do início
dos testes.
A intensidade da carga de treino foi estabelecida em 80%
CMD, para isso todos os voluntários realizaram o teste de
carga máxima dinâmica (TCMD) e as padronizações utilizadas
foram as do ACSM [4]. Os testes foram realizados em um só
dia com intervalo de dez minutos entre os exercícios (supino
reto, rosca direta com a barra W e o agachamento 90º) e a
ordem dos exercícios foi determinada aleatoriamente. Após
24 horas, foi estabelecido 80% da CMD para a realização dos
testes. Para o controle da velocidade do movimento foi utilizado um metrônomo, respeitando 1FC e 2FE, como sugerido
anteriormente. Os testes de repetições máximas (RSM) foram
realizados sem a utilização do metrônomo e com o controle da
velocidade através do metrônomo (RCM), a ordem dos testes
foi aleatória respeitando um intervalo de 48 horas. No teste
RSM os voluntários foram incentivados a realizar o máximo de
repetições corretas. Para a familiarização da VM os voluntários
realizavam um aquecimento de 30 repetições (RP) somente com
a carga da barra, respeitando a velocidade determinada, após
um minuto realizavam 10 reps a 40% da CMD no mesmo
ritmo e após um minuto realizava-se o teste propriamente dito.
Análise estatística
Após verificar a normalidade do grupo, utilizou-se o teste
t Student para amostra dependente para avaliar se existe diferença entre as variáveis estudadas. O nível de significância
foi estabelecido em p < 0,05.
Resultados e discussão
Tabela I - CMD (kg) nos exercícios supino reto, agachamento 90º
et rosca direta na barra.
n
20
Supino
87,55
(27,80)*1
Agachamento
112,040
(30,75)2
Rosca direta
68 (11,58)
Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p
= 0,01 vs. agachamento; 1 p = 0,00 vs. rosca direta e 2 p = 0,00 vs.
rosca direta.
De acordo com os resultados da tabela I, os exercícios
multiarticulares, que envolvem maior massa muscular e um
número maior de grupos musculares foram capazes de produzir mais força. Portanto, para a amostra estudada a força
muscular é dependente do número de articulações envolvidas
no trabalho, como também da massa muscular dos grupos
musculares envolvidos nos exercícios. Segundo Shimano et
al. [15], exercícios envolvendo grandes massas musculares
tendem a produzir mais força do que exercícios que envolvem
grupos musculares menores.
Tabela II - Número de repetições máximas realizadas com o metrônomo (RCM) e sem o metrônomo (n = 20)
Exercícios
Supino
Agachamento
Rosca direta
80% CMD
70,0 (22,2)
85,5 (31,8)
34,6 (9,3)
RSM
11 (3)
11 (5)*
9 (2)1
RCM
3 (1)1
3 (1)1
3 (1)1
Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p
= 0,015 vs. rosca direta; 1 p = 0,00 vs. agachamento, rosca direta e
supino (RSM).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
A Tabela II demonstra que para uma mesma intensidade
da CMD (80%) o número de repetições varia de acordo com
o exercício realizado. Esses resultados corroboram com outros
estudos. Segundo diversos autores, o número de repetições
para uma determinada porcentagem da CMD pode variar
quando considerada a massa muscular envolvida no exercício,
se utilizados membros superiores ou inferiores e ainda o nível
de aptidão do praticante [15,16,18-21]. Pereira e Gomes
[16] investigaram, em um artigo de revisão, a prescrição do
exercício a partir de determinada porcentagem da CMD e
encontraram diferença significativa quando considerado o
exercício escolhido, a velocidade do movimento e a população.
Barros et al. [22] encontraram diferença significativa entre o
teste na puxada pela frente quando realizado em dois dias
consecutivos em adultos ativos. De acordo com Maior et al.,
Simão et al., Shimano et al. [14,23,15], os grupos musculares
maiores suportam um maior número de repetições para uma
mesma porcentagem de carga quando comparados a grupos
musculares menores. Uma hipótese para explicar esse fato é o
padrão de recrutamento das unidades motoras (UM). Durante
os exercícios de intensidade submáxima as UM motoras são
recrutadas de forma não sincronizada, preservando algumas
fibras musculares durante o esforço, podendo assim retardar
a fadiga. Além disso, possivelmente um maior número absoluto de UM é recrutado nos exercícios envolvendo grupos
musculares maiores e essa condição somada ao recrutamento
não sincronizado também pode favorecer o retardo da fadiga
e consequentemente um número maior de repetições pode
ser realizado [15]. Com relação ao número de repetições
realizadas com o controle intencional e não intencional da
velocidade de movimento, observou-se uma redução no
número de repetições quando realizadas com a utilização
do metrônomo. Segundo Fleck e Kraemer [24], o controle
intencional da velocidade acarreta redução da força muscular
em cada repetição. Também vale ressaltar que durante o TF
ocorre uma redução natural da velocidade de movimento
devido à instalação do processo de fadiga impossibilitando
a manutenção de um ritmo de movimento [14]. Portanto,
o controle intencional da VM não permitiu a realização do
número mínimo de repetições sugerido pela literatura para
maximizar os efeitos da hipertrofia muscular.
Conclusão
Para a amostra analisada a CMD é diferente entre os
exercícios. Para uma determinada porcentagem da CMD o
número de repetições mostrou-se diferente entre os exercícios
rosca direta e agachamento, além disso, quando controlada
a VM o número de repetições foi significativamente menor
para uma mesma porcentagem da CMD. Sendo assim, o
controle intencional da VM, a relação entre porcentagem da
CMD e número de repetições por série de exercícios como
também a prescrição utilizando essas variáveis devem ser
vistas com cautela.
149
Referências
1. Guedes Junior DP. Personal training na musculação. Rio de
Janeiro: Ney Pereira; 1998.
2. Guedes Junior DP, Souza Junior TP, Rocha AC. Treinamento
personalizado em musculação. São Paulo: Phorte; 2008.
3. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de
Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010;95(1
supl.1):1-51.
4. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua
prescrição. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan; 2007.
5. ACSM. Position stand. Progression models in resistance training
for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2009;41(3):687-708.
6. ACSM. Position Stand: Progression models in resistance training
for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2002;34(2):364-79.
7. Gentil P, Oliveira E, Fontana K, Molina G, Olivieira R, Bottaro.
Efeitos agudos de vários métodos de treinamento no lactato
sanguíneo e características de cargas em homens treinados
recreacionalmente. Rev Bras Med Esporte 2006;12(6):303-7.
8. Brow LE. Treinamento de força. São Paulo: Manole; 2008.
9. Tan B. Manipulating resistance training program variables to
optimize maximum strength in men: A review. J Strength and
Cond Res 1999;13(3):289-304.
10. Kraemer WJ. Performance and physiologic adaptations to resistance training. Am J Phys Med Rehabil 2002;81(suppl):3-16.
11. Kraemer WJ, Ratamess NA. Fundamental of resistance training:
progression and exercise prescription. Med Sci Sports Exerc
2004;36(4):674-88.
12. Faigenbaum AD, Kraemer WJ, Blimkie CJ, Jeffreys I, Micheli
LJ et al. Youth resistance training: updated position statement
paper from the National Strength and Conditioning Association. J Strength Cond Res 2009;23(4):1-20.
13. Hass CJ, Feigenbaum MS, Franklin BA. Prescription of
resistance training for healthy populations. Sports Med
2001;31(14):953-64.
14. Munn J, Herbert RD, Hancock MJ, Gandevia SC. Resistance
training for strength: effect of number of sets and contraction
speed. Med Sci Sports Exerc 2005;37(9):1622-26.
15. Maior AS, Lemos A, Carvalho N, Novaes J, Simão R. Utilização
do teste de 1RM na prescrição de exercícios resistidos: vantagem
ou desvantagem? Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
2005;4(1):22-26.
16. Shimano T, Kraemer WJ, Spiering BA, Volek JS, Hatfield DL,
Silvestre R, et al. Relationship between the number of repetitions and selected percentages of one repetition maximum in
free weight exercise in trained and untrained men. J Strength
Cond Res 2006;20(4):819-23.
17. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular.
Confiabilidade e predição de 1RM. Revisão e novas evidências.
Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):325-35.
18. Pereira MIR, Gomes PSC. Efeito do treinamento contra resistência isotônico com duas velocidades de movimento sobre
os ganhos de força. Rev Bras Med Esporte 2007;13(2):61-96.
19. Hoeger WWK, Hopkins DR, Barette SL, Hale DF. Relationship
between repetitions and selected percentages of 1 RM. J Appl
Sport Sci 1987;1(1):11-3.
20. Hoeger WWK, Hopkins DR, Barette SL, Hale DF. Relationship
between repetitions and selected percentages of one repetition
150
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
maximum: a comparison between untrained and trained males
and females. J Appl Sport Sci Res 1990;4:47-54.
21. Kraemer WJ, Fleck SJ. Otimizando o treinamento de força.
São Paulo: Manole; 2008.
22. Borge DG, Oliveira JS, Riscado JPM, Salles BF. Análise das
repetições máximas estimadas através do teste de 1RM. Arquivos
em Movimento 2007;3(2):33-41.
23. Barros MAP, Sperandi S, Silveira Júnior PCS, Oliveira CG.
Reprodutibilidade no teste de 1RM no exercício de puxada pela
frente para homens. Rev Bras Med Esporte 2008;14(4):348-52.
24. Simão R, Polito MD, Viveiros L, Farinatti PTV. Influência da
manipulação na ordem dos exercícios de força em mulheres
treinadas sobre o número de repetições e percepção de esforço.
Rev Bras Ativ Física Saúde 2002;7:53-61.
25. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamento do treinamento de força
muscular. Porto Alegre: Artmed; 2006.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
151
Artigo original
Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas
do gênero feminino de uma equipe de natação
Sweating rate and anthropometric profile
of a swimming team female athletes
Lidiane Yurie Pereira*, Roberta Amancio Ruiz Costa*, Tamara Eugenia Stulbach, D.Sc.**, Luciana da Silva Garcia***
*Graduandas de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do curso
de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, ***Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do Curso de Nutrição
do Centro Universitário São Camilo
Resumo
Objetivo: Verificar o estado de hidratação e perfil antropométrico
de atletas da natação. Material e métodos: Foram avaliadas 12 atletas
do gênero feminino de idade entre 13 e 14 anos. Verificou-se a ingestão hídrica habitual das nadadoras. Na avaliação antropométrica
foram aferidos peso, dobras cutâneas e estatura, antes e após o treino
para determinação da taxa de sudorese e porcentagem de perda
hídrica. Resultados: As atletas em sua maioria (n = 11) apresentaram
peso final maior que o inicial, ou seja, ganho de peso após o treino,
contrapondo-se a outros estudos da mesma modalidade. A taxa de
sudorese encontrada foi baixa. As nadadoras apresentaram-se bem
hidratadas, sem nenhuma ocorrência de desidratação mesmo com
baixa ingestão hídrica. Em relação à avaliação antropométrica,
observou-se maior frequência de eutrofia e percentual de gordura
adequado. Conclusão: Observou-se boa hidratação apesar da reduzida ingestão hídrica, baixa taxa de sudorese e ganho de peso após
o treino provavelmente devido aos diferenciais do esporte. Porém
mais estudos são necessários a fim de identificar as reais causas desta
divergência.
Abstract
Objective: To assess hydration status and anthropometric profile
of swimmers. Material and methods: 12 female athletes 13-14 years
old were evaluated. We checked the habitual water intake of the
swimmers. Height, weight and skin folds were measured before and
after training to determine the sweat rate and percentage of water
loss. Results: The majority of athletes (n = 11) showed higher final
weight than the initial, that is, weight gain after training, in contrast to other studies in the same sport. The sweating rate was low.
The swimmers are well hydrated, without dehydration even with
low water intake. Regarding the anthropometric evaluation it was
observed a higher frequency of eutrophy and body fat percentage
was appropriated. Conclusion: There was good hydration despite the
low water intake, low sweating rate and weight gain after training
probably due to the differentials of the sport. Anyway, more studies
are needed to identify the real causes of this divergence.
Key-words: fluid therapy, nutritional status, aquatic environment,
athletes.
Palavras-chave: hidratação, estado nutricional, ambiente
aquático, atletas.
Recebido em 15 de julho de 2011; aceito em 16 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Lidiane Yurie Pereira, Rua João Cavinato, 211, Jardim Portugal, São Bernardo do Campo SP, E-mail:
[email protected]
152
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A natação é praticada desde a pré-história e por absoluta
necessidade, já que os homens buscavam seus alimentos
nos rios e mares e em momentos de perigo, refugiavam-se
transpondo curso de água ou talvez permanecendo nele [1].
Por volta do século XX, a restrição de líquidos durante o
exercício físico era associada ao bom desempenho do atleta,
portanto era preconizada a não ingestão de água durante
treinos e competições [2].
Atualmente, reconhece-se a importância da hidratação
antes, durante e após a atividade física, para manutenção
da homeostase e melhora de desempenho do atleta, já que
a ingestão inadequada de líquidos pode causar alteração da
frequência cardíaca, da temperatura corporal além de prejuízo
no rendimento [3,4].
Água e eletrólitos são essenciais na manutenção da atividade física, um desequilíbrio entre estes elementos pode ocasionar alteração na capacidade física. Entretanto, a hiperhidratação também pode trazer prejuízos ao desempenho, devido
ao desconforto gástrico e possível estado de hiponatremia [5].
É necessário o equilíbrio entre a perda e ganho de fluidos,
as vias de perda de água pelo corpo são através do sistema urinário, respiratório e da pele. Esta perda resulta em alterações
dos fluidos intra e extracelulares [6].
Um método simples de avaliar o estado de desidratação do
indivíduo é aferindo o peso corporal antes e após a atividade
física; a partir de então, calcula-se a diferença entre ambos e
o percentual de perda de peso, para posterior classificação do
estado de desidratação [7].
A natação apresenta condições especiais que modificam a
termogênese corporal, já que o contato com a água facilita a perda
de calor, através da condução, processo no qual há a transferência
de calor do corpo para as moléculas mais frias da água [8,9].
Outro diferencial é o contato da água com a boca durante
todo o exercício, o que estimula os receptores nervosos localizados na região orofaríngea, desta forma é como se o atleta
estivesse continuamente se hidratando, fazendo com que o nadador não sinta sede e assim não se hidrate corretamente [9].
Para avaliação do desempenho e acompanhamento
nutricional, uma das determinações mais importantes é o
percentual de gordura. Portanto o objetivo do presente estudo
foi verificar o estado de hidratação em atletas de natação da
cidade de São Caetano do Sul, através do cálculo de taxa de
sudorese e o consumo hídrico dos nadadores [3].
Material e métodos
Estudo transversal, realizado em um clube do estado de
São Paulo. A amostra foi composta por doze atletas do gênero
feminino, de idade entre 13 e 14 anos, com treino de duração
de 90 min.
Todos os participantes, estando de acordo com o estudo,
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido de
acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo n° 097/06.
A coleta de dados foi conduzida em um dia de treino no
período da manhã. Foram aferidos os pesos antes (Pi) e após
(Pf ) o treinamento, para isso foi utilizada balança digital da
marca Plenna com pesagem máxima de 150 kg e intervalos
de 100 g. As atletas foram pesadas trajando apenas maiô, sem
touca e/ou óculos.
A estatura foi mensurada com duas fitas métricas inelásticas e inextensíveis, inversas e afixadas verticalmente na
parede lisa sem rodapé. Foi solicitado que a avaliada ficasse
descalça, com os braços estendidos ao longo do corpo e com
os calcanhares juntos e costas retas. A cabeça foi posicionada
eretamente com os olhos fixos para frente na linha do horizonte (Plano de Frankfurt).
Com o peso inicial (Pi) e estatura foi calculado o Índice de
Massa Corpórea (IMC), mediante a fórmula: IMC = P /E².
Foi avaliada a ingestão hídrica habitual das nadadoras,
as quais se solicitou que apresentassem seus squeezes para
análise do volume de água inicial, e as que não possuíam,
orientou-se que solicitassem copos de água quando necessário para que assim houvesse o controle do volume ingerido
individualmente. Ao final do treino, foi medido o volume
restante dos squeezes descontando-se assim do volume inicial
o líquido ingerido.
Taxa de sudorese (TS)
Para calcular a taxa de sudorese foi utilizada a seguinte
fórmula de Fleck e Figueira Junior (1997):
(Pi kg – Pf kg) – ingestão hídrica durante o treino (L)
tempo total de atividade física (min)
Porcentagem de perda hídrica
Para verificar a porcentagem de perda hídrica foi utilizada
a seguinte fórmula:
Pi (Kg) ------------ 100%
Pi (Kg) – Pf (Kg) ----------- X
X= % de perda hídrica
Percentual de gordura
As atletas foram orientadas a não iniciar o treino antes
da avaliação antropométrica, para não haver influência sob
os resultados.
A composição corporal foi avaliada com base nas dobras
cutâneas: triciptal (TR) e subescapular (SE), mensuradas com
a utilização de adipômetro da marca Sanny.
O percentual de gordura das adolescentes foi calculado
por meio da equação de Slaughter et al. [10]:
• %G = 1,33 (TR+SE) - 0,013 (TR+SE)² - 2,5
• %G = 0,546 (TR+SE) + 9,7 quando a soma das dobras
cutâneas (TR e SE) foi maior que 35 mm.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
153
A classificação destes resultados foi feita por pontos de
corte propostos por Deurenberg et al. [10].
6) Você está com vontade de comer?
(X) sim (66,67%) (X) não (33,33%)
Questionário
Resultados
Ao término do treino foi aplicado individualmente um
questionário, utilizado em outro estudo semelhante de Perrella, Noriyuki e Rossi [11], com questões em relação à intensidade do treino, sensações de sede, fome e o que desejavam
ingerir naquele momento.
As atletas apresentaram, em média, idade de 13,5 anos,
peso 49,5 kg, estatura 1,61 m e IMC 19,5 kg/m². Apenas
16,67% (n = 2) das nadadoras foram classificadas como sobrepeso; as 83,33% (n = 10) restantes mostraram-se eutróficas.
O percentual de gordura (%G) médio foi de 20,4%,
classificado como percentual adequado, apenas 1 atleta apresentou alta porcentagem. Esses valores podem ser visualizados
detalhadamente na Tabela I.
Ao término do treino, encontrou-se uma taxa de sudorese
média de 3,6 mL/min. Foi observado aumento de peso em
91,67% da amostra, somente uma atleta apresentou perda
de peso. (Tabela II)
Questionário de hidratação aplicado em atletas de
Natação. São Paulo, 2011.
Nome: 12 nadadoras de um clube de São Paulo
1) Você ingeriu líquidos antes de iniciar o treinamento?
(X) sim (50%) (X) não (50%)
O quê? (X) água (66,67%) ( ) refrigerante (X) suco (33,33%)
( ) isotônico ( ) outros.
2) Como você treinou hoje?
( ) muito leve ( ) leve (X) moderado (8,33%)
(X) quase forte (8,33%) (X) forte (16,67%)
(X) muito forte (58,34%) (X) totalmente forte (8,33%)
3) Você está com sensação de “boca seca”?
(X) sim (33,33%) (X) não (66,67%)
4) Você está com sede?
(X) sim (41,67%) (X) não (58,33%)
5) O que você gostaria de beber agora?
( ) nada (X) água (58,34%) (X) suco (25%)
(X) refrigerante (8,33%) ( ) isotônico (X) outros (vitamina
de abacate) (8,33%)
Discussão
O presente estudo descreveu e comparou os dados antropométricos de nadadoras adolescentes de 13 a 14 anos.
Prestes et al. [12] encontraram em seu estudo, uma média
de estatura de 1,60 m e média de peso de 48,26 kg. Em relação
ao presente estudo, na mesma faixa etária e categoria- infantil
foram encontrados média de estatura de 1,61 m e de peso
48,26 kg, mostrando atletas com altura semelhante, porém
mais leves.
No estudo de Meyer e Schneider, a média de IMC
encontrada foi de 18,3 kg/m², e a observada neste estudo foi
de 19,2 Kg/m², consideradas eutróficas, com somente 2 atletas
na faixa de sobrepeso, as quais apresentaram os maiores valores
de dobras cutâneas triciptal e subescapular [13].
Em relação aos valores de percentual de gordura, a maior
parte da amostra, ou seja, 11 das 12 atletas classificaram-se
Tabela I - Características gerais da amostra de atletas adolescentes do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo, 2011.
Atleta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Média
Máximo
Mínimo
Idade
14
13
13
14
13
14
13
13
14
13
14
14
13,5
13
14
Peso
49,0
65,4
44,8
54,4
39,3
48,5
52,2
48,3
50,7
47,6
48,2
45,9
49,5
65,4
39,3
Estatura (m)
1,68
1,67
1,63
1,66
1,54
1,66
1,51
1,51
1,67
1,66
1,51
1,60
1,61
1,68
1,51
IMC (Kg/m²)
17,4
23,5
16,9
19,7
16,6
17,6
22,9
21,2
18,2
17,3
21,1
17,9
19,2
23,5
16,6
DCT
13
23
9
13
13
15
14
9
11
14
8
11
12,8
23
8
DCSE
7
21
8
9
7
7
11
7
12
12
9
7
9,8
21
7
% de gordura
18,9
33,7
16,4
20,5
18,9
20,5
22,6
15,5
21,2
23,3
16,4
17,2
20,4
33,7
15,5
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
154
como adequadas segundo Deurenberg et al.[10]. Apenas uma
atleta apresentou percentual alto de gordura corporal, além
de apresentar-se acima da média de peso, estatura e IMC.
Tabela II - Valores de peso inicial, peso final, porcentagem de perda
hídrica, taxa de sudorese e consumo de água de atletas adolescentes
do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo,
2011.
Atleta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Média
Máximo
Mínimo
Pi (kg) Pf (kg)
49
65,4
44,8
54,4
39,3
48,5
52,2
48,3
50,7
47,6
48,2
45,9
49,5
65,4
39,3
50,2
66
45,4
55
39,7
48,7
52,7
48,4
51,4
47,9
47,9
45,8
49,9
66
39,7
Taxa
Água
% perda
sudorese consumida
hídrica
(mL/min.)
(mL)
2,4
6,1
650
0,9
4,7
180
1,3
6,7
0
1,1
0
600
1
3,1
680
0,4
2,2
0
1
3,3
200
0,2
6,1
450
1,4
3,7
360
0,6
1,7
450
1
4,4
100
0,2
1,1
500
1,0
3,6
347,5
2,4
6,7
650
0,2
0
0
O treino de todas as atletas é semelhante, não havendo
diferença entre fundistas e velocistas, porém nas competições
há a diferenciação, e em relação ao peso e IMC, as velocistas,
atletas de provas de curta duração apresentaram valores menores em relação as fundistas.
No presente estudo, as nadadoras em sua maioria, (n =
11), apresentaram peso final maior que o inicial, ou seja,
houve ganho de peso ao invés de perda, contrapondo-se a
outros estudos da mesma modalidade esportiva. No estudo de
Lanius et al. [8], todos os atletas apresentaram perda de peso,
com média de 0,6%, e a taxa de sudorese foi de 4,3 ml/min,
já no presente estudo a média de ganho de peso foi de 1,0%
e 3,6 mL/min de taxa de sudorese. Esta variação de perda de
peso é provavelmente devido a diferenças na temperatura da
água, variedade e intensidade dos exercícios.
As nadadoras que não ingeriram água não apresentaram
desidratação, provavelmente, durante o treinamento involuntariamente há a ingestão de água da própria piscina.
O suor é um dos principais mecanismos fisiológicos da
termorregulação. A taxa de sudorese se difere em esportes
aquáticos e terrestres, a natação apresenta condições que
alteram a termogênese corporal, já que o contato com a
água facilita a perda de calor, através do processo de condução [8,14].
Em relação ao consumo de água, foi observada uma
ampla variação, de 650 mL a ingestão zero. A justificativa
para a ausência de ingestão hídrica durante todo o treino
por parte das atletas foi pela falta da sensação de sede e o
relato de desconforto quando ingeriam líquidos durante
o exercício.
No questionário de hidratação, as atletas que apresentaram
baixa ingestão de água consideraram o treino muito forte, o
que pode ter relação, já que a percepção subjetiva de esforço
é aumentada em proporção ao déficit de líquidos [14], apesar
de não apresentarem sintomas de desidratação.
Uma das principais manifestações da desidratação é a sede.
No entanto, neste esporte, o nadador pode ter essa percepção
reduzida, já que o contato da água com a boca durante todo o
exercício estimula os receptores nervosos localizadas na região
orofaríngea, assim é como se o atleta estivesse hidratando-se
constantemente [8,15].
Conclusão
No presente estudo, verificou-se atletas bem hidratados,
sem nenhuma ocorrência de desidratação, apesar da reduzida
ingestão de água. A taxa de sudorese encontrada foi baixa.
Estes valores provavelmente são devido aos diferenciais
da modalidade esportiva, ou seja, o contato constante da
boca com a água estimula os receptores nervosos da região
orofaríngea, assim é como se a atleta estivesse se hidratando
continuamente, fazendo com que a nadadora não tenha a
sensação de sede e, portanto não se hidrate adequadamente.
A maior parte das atletas apresentou ganho de peso,
contrapondo-se a outros estudos, nos quais houve perda de
peso pelos nadadores. Fazem-se necessários mais estudos
semelhantes para comparação, a fim de identificar as reais
causas desta divergência.
Referências
1. Filho JF, Pável DAC. Identificação dos perfis dermatoglífico,
somatotípico e das qualidades físicas básicas de atletas de alto
rendimento em modalidades de natação em provas de meio
fundo e fundo. Fitness e Performance 2004;3:18-27.
2. Tirapegui J. Nutrição, Metabolismo e suplementação na atividade física. São Paulo: Atheneu; 2005. p.107.
3. Azevedo COE, Reis VAB, Rossi L. Perfil antropométrico e
taxa de sudorese no futebol juvenil. Rev Bras Cineantropom
Desempenho Hum 2009;11:134-41.
4. Barroso SS, Góis HO, Prado ES, Reinert T. Estado de hidratação
em nadadores após diferentes formas de reposição hídrica na
cidade de Aracaju-SE. Fitness e Performance 2009;8:218-25.
5. Brito CJ, Marins JCB. Caracterização das práticas sobre hidratação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas
Gerais. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13:59-73.
6. Shirreffs SM. The importance of good hydration for work and
exercise performance. Nutri Rev 2005;63:14-21.
7. Machado-Moreira CA, Vimieiro-Gomes AC, Silami- Garcia
E, Rodrigues LOC. Hidratação durante o exercício: a sede é
suficiente? Rev Bras Med Esporte 2006;12:405-9.
8. Crescente L, Lanius SF, Siqueira OD. Perda hídrica em atletas
jovens de natação. Revista Digital EFDeportes 2010;15:147.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
9. Almeida GL, Ferreira FG, Marins JCB. Efeitos da ingestão de
diferentes soluções hidratantes nos níveis de hidratação e na
freqüência cardíaca durante um exercício de natação intervalado.
Rev Port Cien Desp 2007;7:319-27.
10. Parente M, Almeida AL, Cintra CE. Obesidade como fator
limitante da aptidão física em crianças pré- púberes. Revista
Brasileira de Nutrição Esportiva 2007;1:105-14.
11. Perrela MM, Noriyuki PS, Rossi L. Avaliação da perda hídrica durante treino intenso de rugby. Rev Bras Med Esporte
2005;11:229-32.
12. Prestes J, Leite RD, Leite GS, Donatto FF, Urtado CB, Neto
JB. Características antropométricas de jovens nadadores brasileiros do sexo masculino e feminino em diferentes categorias
155
competitivas. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum
2006;8:25-31.
13. Schneider P, Meyer F. Avaliação antropométrica e da força
muscular em nadadores pré púberes e púberes. Rev Bras Med
Esporte 2005;11:209-13.
14. Panza VP, Coelho MSPH, Pietro PFD, Assis MAA, Vasconcelos
FAG. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábitos alimentares e métodos para
avaliação do gasto e consumo energéticos. Rev Nutr Campinas
2007;20:681-92.
15. Passanha A, Thomaz FS, Barbosa LRP, Nacif M. Perda hídrica
em atletas de uma equipe feminina de vôlei. Revista Digital
EFDeportes 2008;13:122.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
156
Artigo original
Comportamento da frequência cardíaca
em corredores de esteira ergométrica na presença
e na ausência de música
Behavior of heart rate in runners treadmill in the presence
and absence of music
Karina Stela de Sena*, Marcus Vinicius Grecco, M.Sc.**
*Educadora Física especialista em treinamento desportivo pela FMU, **Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP
Resumo
Objetivo: Analisar as mudanças na frequência cardíaca (FC),
durante a corrida em esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0
km/h sem música, com música a 120 bpm (música de andamento
lento) e a 140 bpm (música de andamento rápido). Material e métodos: Participaram desta pesquisa doze homens de 21 a 36 anos,
alunos da academia Top Swin, praticantes de musculação e corrida
3 a 4 vezes por semana. A FC era mensurada no décimo minuto, no
décimo quinto minuto e por final no 20’, além de analisarmos, em
todos os participantes, a FCmáx e FCmédia em todas as etapas do
trabalho. Todos responderam questionários sobre estado de humor
e preferência musical antes dos testes. Os dados foram analisados
por média e desvio padrão, comparados pela Anova Two Way e o
nível de significância foi de p < 0,05. Resultados: Nos testes realizados a comparação da corrida sem música e com música a 120 bpm
tiveram diferença significativa na frequência cardíaca do décimo
minuto. Na comparação da corrida sem música e com música a
140 bpm também houve diferença significativa do décimo minuto.
Na comparação da música a 120 bpm com música a 140 bpm não
ocorreu diferença significativa. Conclusão: Não há diferenças significativas no comportamento da FC quando se corre com música
a 120 bpm e a 140 bpm. Teve uma diferença no décimo minuto,
quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música.
O bom humor reparado após a corrida independe da música. A
beta-endorfina liberada durante o exercício é a maior responsável
em causar bom humor nos corredores.
Abstract
Objective: To analyze changes in heart rate (HR) during treadmill
running for 20 minutes at a speed of 8.0 km/h without music, with
music at 120 bpm (slow music) and 140 bpm ( fast music). Methods:
The study gathered twelve men 21 to 36 years attending the academy
Top Swin, bodybuilders and running 3-4 times a week. The HR
was measured in the tenth minute after the fifteenth minute and
the final 20’, also analyzed in all participants, and HRmax and HR
average at all stages of work. All completed questionnaires about
mood and musical preferences before testing. Data were analyzed
by mean and standard deviation, compared by Two Way Anova and
the significance level was p < 0.05. Results: In tests comparing the
race without music and song to 120 bpm there was a significant
difference in heart rate in the tenth minute. In comparing the race
without music and with music 140 bpm there was no significant
difference in the tenth minute. In comparing the music to music at
120 bpm with music at 140 bpm there was no significant difference.
Conclusion: No significant differences in HR behavior when running
with music at 120 bpm and 140 bpm. There was a difference in the
tenth minute, when comparing the race in the presence and absence
of music. Good humor repaired after the race is independent of
music. The endorphin released during exercise is largely responsible
for causing mood in the runners.
Key-words: race, heart rate, music.
Palavras-chave: corrida, frequência cardíaca, música.
Recebido em 29 de julho de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846, 05047-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A música estimula adultos, crianças e idosos na prática
de exercícios físicos, cada um com o seu estilo de música
preferida. Segundo Miranda e Godelli [1], a atividade física
com música pode criar um contexto positivo e agradável e,
dessa maneira, tornar-se uma intervenção adequada para que
os indivíduos permaneçam em atividade, considerando que
tanto a música quanto a atividade física podem promover
alterações fisiológicas e psicológicas, seja de natureza positiva
ou negativa, dependendo de como são manipuladas as características de cada uma delas.
Segundo Miranda e Souza [2], a música constitui-se
em elemento valioso no contexto da atividade física em se
tratando de idosos. Isso seria devido ao fato da presença da
música levar os indivíduos a afastarem sensações desagradáveis
produzidas pelo exercício prolongado, usando a música como
um fator que pode contribuir para a adesão, diminuindo os
níveis de desistência ao longo do tempo.
Mori e Deustch [3] comentam que, para alunos de ginástica em academias, a música é muito importante dentro da
atividade. Apesar da ginástica já ter seu papel na alteração do
estado de ânimo, a presença da música tem uma influência
extremamente positiva proporcionando alegria, coragem e
vontade de se exercitar, interferindo no aspecto motivacional.
A ausência da música, por outro lado, trouxe um certo peso
à atividade tornando-a cansativa e trazendo a sensação de
inutilidade a sua prática. Não só na ginástica mas também
na hidroginástica, a música oferece o estímulo e o prazer de
executar os movimentos propostos nas aulas. Siqueira et al.
[4] falam que não basta apenas inserir músicas nas aulas de
hidroginástica, é necessário escolher a música certa para o
objetivo da aula e mais precisamente para o movimento proposto, pois, assim, terá a atividade muscular desejada. Neves
et al. [5] comentam que vários exercícios causam mudanças
na frequência cardíaca, melhorando o condicionamento físico.
A hidroginástica e a corrida são algumas opções de atividades
para melhoria do condicionamento físico. Para que os objetivos sejam alcançados com eficácia é importante o controle
da intensidade do exercício durante as aulas. Este é um dos
fatores mais importantes quanto à prescrição de exercícios,
devendo ser constantemente monitorada para garantir que o
trabalho seja realizado na faixa adequada de esforço, a fim de
se obter todos os benefícios da atividade. Uma das maneiras
mais eficazes de monitoramento da intensidade baseia-se no
controle da frequência cardíaca.
A música nas atividades e exercícios físicos é um fator
de estímulo na maioria das vezes, mas pode ser também um
fator desestimulante quando se escuta uma música desagradável aos ouvidos. Segundo Santos [6], a música de ritmo
forte, própria para a prática de exercícios físicos, aumenta a
frequência cardíaca dos participantes. A frequência cardíaca
no exercício físico pode aumentar ou não, dependendo da
música escutada durante o exercício.
157
Monteiro et al. [7] examinaram os efeitos do andamento
da música sobre a frequência cardíaca em praticantes de
ginástica aeróbica do sexo feminino com diferentes níveis de
aptidão (baixa, média e alta) e três diferentes andamentos de
música (lenta, moderada e rápida). Verificaram que os indivíduos iniciantes apresentaram frequência cardíaca maiores que
os intermediários, que, por sua vez, apresentaram frequências
cardíacas maiores que os avançados. Portanto, na ginástica
aeróbica, como programa de treinamento, a intensidade
pode ser controlada por meio do andamento musical, pois o
mesmo impõe uma velocidade de execução do movimento de
forma similar ao metrônomo, desde que se observem os níveis
iniciais de aptidão do praticante para adequação do mesmo.
Tibeau [8] comenta que a música tem uma grande importância no desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo,
sendo de grande valor na educação física escolar. Vivências
práticas que evidenciam atividades rítmicas motriciais prazerosas, com sentido e significado, são necessárias para o desenvolvimento da capacidade de expressão e abrem caminho para
a expansão das conexões nervosas entre o cérebro e o corpo.
Lacerda et al. [9] falam que a música, durante a atividade, traz
muitos benefícios, mas dependendo da maneira utilizada pode
trazer riscos à saúde dos alunos e dos professores. Os níveis
de pressão sonora contida nas músicas em atividades de lazer,
especificamente nas academias de ginástica, é considerada
parte indispensável nas aulas de ginástica e não são raros os
professores da área que acreditam que o som muito intenso
aumenta o rendimento dos alunos, mantendo-os motivados,
existindo, assim, a possibilidade desta exposição oferecer riscos
à audição e a voz dos profissionais expostos por várias horas ao
dia. Na cidade americana de Massachussets foi aprovado um
projeto de lei que adverte que no interior das academias de
ginásticas deverão existir placas informativas de que o ruído
não deverá ultrapassar 90db NPS (níveis de pressão sonora),
objetivando a proteção auditiva dos indivíduos [10]. Deus e
Duarte [11] perceberam que não existia uma preocupação por
parte das academias e dos professores quanto ao nível de risco
que poderiam estar expostos, pois utilizavam níveis sonoros
superiores àqueles que o ouvido humano estaria preparado
para suportar. Desta maneira percebemos que a música traz
muitos benefícios como estímulo e diminuição de sensação
de cansaço, desde que tomemos cuidado com os decibéis.
A música, além de vários benefícios que ela faz durante a
atividade física, também ajuda no cuidado terapêutico. Para
Bergold et al. [12], a música se constitui como expressão artística e cultural, importante e universal, produzindo trilhas
sonoras que embalam o cotidiano da vida social, afetiva e
profissional das pessoas, além de favorecer a manutenção da
saúde mental, a prevenção do estresse e o alívio do cansaço
físico. O interesse da enfermagem pela música como um recurso no cuidado tem aumentado e pode ser constatado nos
estudos que apontam suas diversas contribuições junto ao
cliente, a exemplo de trazer conforto, diminuir a dor, facilitar
a comunicação e a relação cliente-enfermeiro, tornando o
158
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
cuidado mais humanizado. O uso da música na sua prática
do cuidar está preocupado em fazê-lo de forma respeitosa
com conhecimento científico e valorizando a construção de
subjetividades inerentes ao afeto e a criatividade.
Em toda a atividade praticada tem que haver uma preocupação com a música que irá escutar, pois pode influenciar
muito o praticante, deixando-o mais agitado ou mais calmo
dependendo do estilo musical. Segundo Valim et al. [13], as
aulas de alongamento, com o objetivo de se alcançar o relaxamento, podem ser acompanhadas de música. Estas músicas
são suaves, sem o predomínio de ritmo com supremacia da
melodia, e muitas delas são sem acompanhamento vocal, ou
seja, instrumentais, que facilitam o relaxamento corporal.
Tal escolha é feita, muitas vezes, sem levar em consideração
a preferência musical do grupo que praticará o exercício. As
preferências musicais são pessoais e se originam de necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento e de
experiências, as quais podem ou não ser modificadas. A música
é composta por ritmo, melodia e harmonia, cada um destes
aspectos tem sua determinada atuação no ritmo corporal, nos
movimentos, nas emoções e a harmonia no intelecto. Valim
et al. [13] dizem que a música pode afetar a energia muscular,
elevar ou diminuir os batimentos cardíacos e influenciar na
digestão. A função da música é dirigir a atenção do ouvinte
para padrões adequados a um determinado estado de ânimo,
além de afastar o tédio e a ansiedade. A música nas atividades
é utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios
físicos ou de distrair o praticante de estímulos não prazerosos
como cansaço, dor e até tensão psicológica. Entretanto, o
estilo musical adequado para determinadas atividades físicas,
principalmente aquelas destinadas à diminuição do estresse,
necessita ser investigado. O estudo de Valim et al. [13] e de
Nakamura et al. [14] citam as relações entre o exercício físico,
a música e os estados de ânimo. O estudo de Nakamura [14]
investigou se há influência da música preferida e não preferida
no estado de ânimo e no desempenho em exercícios realizados em intensidade vigorosa. A hipótese foi que a música de
não preferência piore o estado de ânimo e o desempenho em
exercícios realizados em intensidade vigorosa, enquanto a
música preferida melhora essas variáveis. Os resultados desse
estudo demonstraram uma melhora dos adjetivos positivos
após a realização dos exercícios na intensidade vigorosa. A
melhora nestes adjetivos pode ser atribuída à utilização da
música preferida, pois esta ocasiona um aumento da motivação para exercitar-se, causa uma distração da monotonia
das atividades físicas repetitivas, diminui o desconforto resultante da atividade física e o sujeito avalia o ambiente como
mais agradável. Concluiu-se que as músicas preferidas e não
preferidas influenciam os estados de ânimo, porém não são
capazes de influenciar o desempenho em exercícios realizados
em intensidade vigorosa.
Afonso et al. [15] afirmam que dependendo do estilo
musical ouvido, a frequência cardíaca do indivíduo pode
mudar. Para Andrade e Ávila [16], o ritmo da música pode ser
sincronizado com as taxas de trabalho muscular para ajudar a
regular o movimento e prolongar o desempenho.
Flores et al. [17] lembram que para iniciação da atividade física é indispensável uma avaliação física e alguns testes
como, por exemplo, o da frequência cardíaca que, dentre os
fatores avaliados nos diferentes testes, destaca-se quando se
quer obter o nível de esforço exigido por uma atividade, bem
como VO2máx, por haver uma relação linear entre a frequência cardíaca e o volume de oxigênio absorvido. Por ser uma
prática relevante pode ser aplicado em diversos ambientes,
com mínima estrutura necessária. Entretanto, vários fatores
podem influenciar a frequência cardíaca, como a alimentação,
temperatura, estresse e umidade, o que pode fazer com que
esta linearidade se torne menos exata, influenciando no resultado dos testes e posteriormente na prescrição do exercício.
Todo indivíduo tem suas individualidades, que são caracterizadas pelo nível de aptidão física, condicionamento e
frequência cardíaca, apresentando diferentes respostas para
cada estímulo. Alonso et al. [18] comentam que, para o treinamento aeróbio, utiliza-se como controle de intensidade dos
exercícios físicos percentuais da frequência cardíaca máxima
e/ou do consumo máximo de oxigênio. Em qualquer um dos
casos é preciso obter o máximo que o indivíduo pode chegar,
para só então, aplicar percentuais sobre esses máximos, determinando a intensidade correta para a prática dos exercícios
e analisar os resultados. É possível perceber que as respostas
fisiológicas de uma amostra podem apresentar variações de
um indivíduo para o outro, mesmo sendo um grupo homogêneo sobre o nível de condicionamento. Assim, a utilização
das correlações do controle de intensidade poderá ser feita
desde que seja respeitada a individualidade biológica. Uma
das formas é combinar diferentes parâmetros para a prescrição
dos exercícios, bem como diferentes métodos para o acompanhamento das intensidades no exercício físico.
Lopes et al. [19] confirmam que o aumento da idade
provoca alterações na modulação autonômica exercida sobre o
nodo sinusal retratada por uma diminuição da variabilidade da
frequência cardíaca em indivíduos de meia idade que não foi
modificada de maneira significativa pelo tipo de treinamento
físico estudado. Segundo Yukio et al. [20], a capacidade de
variar a frequência cardíaca em função de estímulos externos
parece representar um importante papel fisiológico na vida
diária mesmo em situações simples de mudanças posturais,
mas principalmente em situações de esforço físico mais
intenso, como atividade esportiva. Além disso, eventos cardiovasculares ou mesmo a evolução natural da idade parecem
colaborar para a perda ou redução da capacidade de variar a
frequência cardíaca.
A análise da frequência cardíaca é muito importante para
observarmos a variação do esforço no exercício e foi utilizada
para analisar se acontecem mudanças durante a corrida com
música e sem música. Segundo Herdy et al. [21], a resposta
da frequência cardíaca, durante teste de esforço, mostra-se
de grande importância na análise prognóstica de um teste
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
funcional. Os mecanismos pelos quais o déficit cronotrópico relaciona-se a um pior prognóstico não estão totalmente
estabelecidos. A recuperação da frequência cardíaca no pósesforço está intimamente ligada à modulação do tônus vagal.
Já está bem estabelecido maior risco de morte quando existe
diminuição na atividade parassimpática. É comum acontecer
a variabilidade da frequência cardíaca em indivíduos de faixas
etárias diferentes. Para Yukio et al. [20] pode-se depreender
que a VFC (variabilidade da frequência cardíaca), aplicada
a dados extraídos de análises comparativas das respostas
cardíacas, nas posições supina e bípede, e também durante
os próprios testes de mudança postural, como a MPA (manobra postural ativa), tem uma evidente colaboração como
ferramenta de investigação do aumento da idade de seres
humanos hígidos, com relação à função autonômica cardíaca.
Houve progressiva diminuição da resposta de FC (frequência
cardíaca) com o avançar da idade, principalmente na adaptação à posição bípede, e esses dados podem servir de alerta
ao desenvolvimento de ações preventivas.
O controle da frequência cardíaca é muito importante
em muitos exercícios para alcançar os objetivos dos mesmos.
Furtado et al.[22], em seu estudo de análise de consumo de
oxigênio, frequência cardíaca e dispêndio energético, durante
as aulas de ginástica em academias, sugerem que as respostas
destas variáveis estejam de acordo com as recomendações da
American College Sports Medicine (ACSM) em relação à
zona ideal de treinamento de um exercício físico 60 a 90%
da frequência cardíaca máxima e 50 a 85% do VO2máx,
proporcionando aumento da resistência cardiorrespiratória,
melhorando a condição aeróbia e contribuindo de forma
efetiva para a manutenção e melhora da aptidão física e qualidade de vida. Segundo Martins e Santos [6,23], a música
de ritmo forte, própria para a prática de exercícios físicos,
aumentam a frequência cardíaca e uma sessão sem música é
a que tem menor aumento da frequência cardíaca. A música,
quando é consonante aos ouvidos, é capaz de aumentar o
rendimento dos indivíduos praticantes de caminhada em
comparação ao mesmo exercício realizado sem música, contudo quando a música é dissonante aos ouvidos, ela vai ser
um fator de rendimento negativo, maior que fazer exercícios
físicos na ausência de música. A relação música e exercício
físico possuem expressividades, tanto nas questões referentes
à motivação, quanto nas questões referentes a rendimento.
O estudo de Martins [23] cita que o objetivo proposto diz
respeito às alterações que a música aliada ao exercício físico
tenderia a interferir na frequência cardíaca, distância percorrida, fadiga, tensão, confusão mental, vigor, depressão e
raiva nas pessoas. Baseando-se nos resultados desse estudo,
conclui-se que a presença da música durante o exercício físico
pode contribuir para a melhoria da performance psicofisiológica do indivíduo em alguns dos itens estudados. A fadiga
foi o único item que as alterações não foram de significado
estatístico, o que nos leva a acreditar numa maior influência
dos sintomas fisiológicos sobre a acomodação psicológica dos
159
sujeitos. Contudo, sempre devemos escolher bem nossa trilha
sonora para ouvirmos durante o exercício físico, pois a música
influência muito o nosso corpo e a nossa mente.
O objetivo desta pesquisa é analisar se há mudanças na
frequência cardíaca, durante a corrida na esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0 km/h sem música, com música
de 120 bpm (música de andamento lento) e com música de
140 bpm (música de andamento rápido).
Material e métodos
Amostra
Participaram desta pesquisa 12 participantes do sexo
masculino (21 a 36 anos), alunos da academia Top Swin na
cidade de São Paulo, em novembro de 2010. Todos praticantes
de musculação e corrida 3 a 4 vezes por semana.
Coleta de dados
Mensuramos a frequência cardíaca dos participantes durante 20 minutos de corrida em esteira da marca TRX 380
Total Health a 8 km/h, tendo em vista que os participantes
poderiam não aguentar se o tempo e a velocidade fossem
maiores. No primeiro dia, correram os 20 minutos sem música; no segundo dia, com música a 120 bpm; e no terceiro
dia, com música a 140 bpm, ouvidas por um MP3 (SONY)
contendo 20 minutos de música. Os testes foram feitos com
intervalo de 2 dias entre eles. Foi verificada, em todas as etapas
do trabalho, a FC dos alunos no décimo, décimo quinto e
vigésimo minuto. Analisamos a FCmáx e média de todos os
participantes durante a corrida.
Os participantes responderam um questionário de estado
de humor, antes e depois da corrida e um de preferências
musicais (as músicas ouvidas durante a corrida eram da
preferência dos participantes). Foi utilizado um monitor de
frequência cardíaca F4F da marca Polar, com função de medir
a frequência cardíaca dos participantes. Todos assinaram um
termo de consentimento.
Análise estatística
Os dados foram analisados por média e desvio padrão e
a comparação pela Anova Two Way e o nível de significância
p < 0,05.
Resultados
O objetivo deste estudo foi analisar se ocorre alguma mudança na frequência cardíaca, durante testes de corrida sem
música, com música de 120 bpm e com música de 140 bpm,
considerando 120 bpm um andamento musical lento e 140
bpm um andamento musical rápido, em indivíduos do sexo
masculino praticantes de corrida e musculação.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
160
As 3 tabelas apresentam as médias e desvio padrão da
frequência média, máxima, nos 10 minutos, nos 15 minutos
e nos 20 minutos da corrida.
A escala de motivação respondida pelos participantes
mostrou que no teste sem música 16,6% dos mesmos estavam
com seu estado de espírito feliz para realizar a corrida e depois
do teste ficaram mais felizes, 50% estavam com seu estado
de espírito feliz e continuaram no mesmo estado de humor
e 33,3% estavam com o estado de ânimo triste e depois do
teste ficaram felizes.
No teste com música de 120 bpm mostrou que 25% dos
mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e depois do
teste ficaram mais felizes, 58.3% estavam com seu estado de
espírito feliz e depois do teste continuaram com o mesmo
estado de humor e 16,6% estavam com seu estado de ânimo
triste e depois do teste ficaram felizes.
No teste com música de 140 bpm mostrou que 33,3%
dos mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e ficaram depois do teste mais felizes, 41,6% estavam com seu
estado de espírito feliz e depois do teste continuaram felizes
da mesma forma e 25% estavam com seu estado de espírito
triste e ficaram felizes depois do teste.
Apresentaremos 3 tabelas sobre o comportamento da FC
com presença e a ausência de música durante a corrida em
esteira:
Tabela I - Mudança da frequência cardíaca durante 2 testes
de corrida de 20 minutos em dias diferentes, primeiro teste sem
música e segundo com música de 120 bpm, em homens praticantes
de corrida e musculação da academia Top Swin.
Sem Música
FC Média
FC Max
FC 10’
FC 15’
FC 20’
135,33 (9,1)
146,91 (12,22)
151,5 (9,2)
140,91 (11,64)
141,75 (10,02)
Música 120
bpm
133,91 (11,35)
149,16 (13,2)
137,5 (13,34)
137,83 (12,73)
140,91 (11,68)
Δ%
-1,05
1,53
-9,25
-2,19
-0,6
*p < 0,05
A Tabela I mostra que no teste houve uma diferença significativa (p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto
sem música e com música de 120 bpm.
Tabela II - Mudança da frequência cardíaca durante testes de
corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes sem música e com
música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida e musculação
da academia Top Swin.
Sem Música
FC Média
FC Max
FC 10’
FC 15’
FC 20’
*p < 0,05
135;33 (9,1)
146,91 (12,22)
151,5 (9,2)
140,91 (11,64)
141,75 (10,02)
Música 140
bpm
135,41 (12,41)
147,41 (16,43)
137,33 (13,68)
139,58 (14,58)
141,75 (14,05)
Δ%
0,05
0,34
-9,36
-0,95
0
A Tabela II apresenta no teste uma mudança significativa
(p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto, sem
música e com música de 140 bpm.
Tabela III - Mudança da frequência cardíaca durante testes de
corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes com música de 120
bpm e com música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida
e musculação da academia Top Swin.
FC Média
FC Max
FC 10’
FC 15’
FC 20’
Música
120bpm
133,91 (9,1)
149,16 (12,22)
137,5 (9,2)
137,83 (11,64)
140,91 (10,02)
Música 140
bpm
135,41 (12,41)
147,41 (16,43)
137,33 (13,68)
139,58 (14,58)
141,75 (14,05)
Δ%
1,12
-1,18
-0,13
1,26
0,59
*p < 0,05
A Tabela III mostra que no teste com música de 120 bpm
com o de 140 bpm não houve diferença significativa (p <
0,05) na mudança da frequência cardíaca em nenhum dos
momentos analisados.
Discussão
As Tabelas I e II mostram que a maior diferença no comportamento da FC ficou na análise do décimo minuto, enquanto
os outros parâmetros não tiveram diferenças significativas.
Alonso et al. [18] demonstram que a queda da variabilidade
da frequência cardíaca ocorre durante a fase do exercício em
que predomina o metabolismo aeróbico como fonte de energia.
Santos [6] mostrou que a música através da teoria da atenção
restrita e do estabelecimento do ritmo da atividade é fator de
motivação, distração e animação dos sujeitos durante sua prática, afetando o fisiológico (FC e rendimento) e o psicológico
(estado de humor) dos indivíduos. A música rápida de 140 bpm
do teste alterou pouco a frequência cardíaca, deixando-a menos
acelerada, possivelmente pelo motivo da música ser um fator
fisiológico menos estressor para a FC, liberando menor estímulo
adrenérgico, e um aspecto motivacional, ajudando o indivíduo
a correr sem perceber o esforço realizado. No grupo sem música a FC ficou mais elevada em alguns momentos, talvez pela
falta de música, que deixa o exercício mais estressante para o
praticante. Mori e Deustsch [5] relatam que a ginástica rítmica
acompanhada de música interfere nos estados de ânimo de seus
participantes de forma positiva, as ginastas se sentiram menos
tristes, com menos medo e mais ativas. A atividade física com
música por ser mais agradável poderia reforçar a sensação de
desligamento da sensação de fadiga. Assim, temos motivos para
utilizar a música na execução da atividade física; porém, alguns
estudos mostram que é importantíssimo oferecer a música que
mais agrada ao praticante de corrida, caso contrário, poderá ter
efeito deletério ao desempenho.
Nakamura et al. [14] observam que a música ocasiona
alterações positivas no desempenho do exercício físico e no
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
estado de ânimo, exercido pelo estilo da música ouvida durante
os exercícios. Está bem estabelecido que a preferência musical
é capaz de influenciar os estados de ânimo positivamente e ou
negativamente. Teoricamente, as músicas preferidas são estímulos prazerosos que provocam uma melhora no estado de humor
e possivelmente no desempenho do exercício. Por outro lado,
a música não preferida é um estimulo não prazeroso, causando
uma piora no estado de ânimo e uma diminuição no desempenho. Neste trabalho, antes dos testes, foi aplicado um questionário de preferência musical, sendo que 60% preferiram rock,
30% foram dance e 10% responderam MPB. Todos ouviram
durante a corrida músicas de sua preferência. Segundo Valim et
al. [13], as preferências musicais são pessoais e se originam de
necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento
e de experiências, podendo ou não ser modificadas. Podemos
apreciar as músicas e classificá-las para diferentes funções, por
exemplo, músicas para dançar, músicas só para ouvir. Muitos
ouvintes acreditam que a música é entretenimento, outros,
verdadeiros consumistas, a utilizam em vários ambientes e
atividades diárias. Consciente ou não da sua presença, as
pessoas escutam músicas, expondo-se a seus efeitos. Miranda
e Godelli [24] comentam que a música nas atividades físicas é
utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios
físicos e de distrair o praticante de estímulos não prazerosos
como cansaço, dor ou até tensão psicológica. Entretanto, o
estilo musical adequado para determinada atividade física,
principalmente aquelas destinadas à diminuição de estresse,
necessita ser investigada. O fator humor e estado de ânimo
após atividade física parece não ter influência da música e sim
da liberação do hormônio beta-endorfina durante o esforço
físico. Este hormônio é conhecido pelo seu poder analgésico e
gerador de bem-estar físico [1].
Conclusão
Não há diferenças significativas no comportamento da
FC quando se corre com música a 120 bpm e a 140 bpm.
Houve uma diferença no décimo minuto, quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música. O bom
humor reparado após a corrida independe da música. A betaendorfina liberada durante o exercício é a maior responsável
em causar bom humor nos corredores.
Referências
1. Miranda MLJ, Godelli MRCS. Música, atividade física e bemestar psicológico em idosos. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11:74-82.
2. Miranda MLJ, Souza MR. Efeitos da atividade física aeróbica
com música sobre estados subjetivos de idosos. Rev Bras Ciênc
Esporte 2009;30:35-41.
3. Mori P, Deustsch S. Alterando estados de ânimo nas aulas de
ginástica rítmica com e sem a utilização de música. Revista
Motriz 2005;11:102-10.
4. Siqueira GR, Manhães FC, Carvalho CP, Souza CHM. Considerações sobre a influência da música na intensidade dos
161
exercícios realizados em aulas de hidroginástica. Revista Digital
EFDesportes 2009;128:10-6.
5. Neves ARM, Doimo LA. Avaliação da percepção subjetiva de esforço
e da frequência cardíaca em mulheres adultas durante aulas de hidroginástica. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2007;9:40-6.
6. Santos MOS. Exercício físico e música: uma relação expressiva.
Revista Digital EFDesportes 2008;13:66-71.
7. Monteiro AG, Silva SG, Monteiro GA, Arruda M. Efeitos do
andamento musical sobre a frequência cardíaca em praticantes
de ginástica aeróbica com diferentes níveis de aptidão cardiorrespiratória. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1999;2:36-45.
8. Tibeau CCP. Motricidade e música: Aspectos relevantes das atividades rítmicas como conteúdo da educação física. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes, Lazer e Dança 2006;1:43-50.
9. Lacerda ABM, Morata TC, Fiorini AC. Caracterização dos níveis
de pressão sonora em academias de ginástica e queixas apresentadas
pelos seus professores. Rev Bras Otorrinolaringol 2001;63:14-21.
10. Nadler N. Protect your hearing because once it goes, its gone
for good. Technology Journal; 1999. 11. Deus MJ, Duarte MFS. Nível de pressão sonora em academias
de ginástica e a percepção auditiva dos professores. Rev Bras
Ativ Fís Saúde 1997;2:51-6.
12. Bergold LB, Alvim NAT, Cabral IE. O lugar da música no espaço do cuidado terapêutico: sensibilizando enfermeiros com a
dinâmica musical. Texto Contexto Enfermagem 2006;15:23-31.
13. Valim PC, Bergamaschi, Volp CM, Deustch S. Redução de estresse pelo alongamento: a preferência musical pode influenciar?
Revista Motriz 2002; 8:32-40.
14. Nakamura PM, Deustch S, Kokubun E. Influência da música
preferida e não preferida no estado de ânimo e no desempenho
de exercícios realizados na intensidade vigorosa. Rev Bras Educ
Fís Esp 2008;22:120-9.
15. Afonso LS, Santos JFB, Lopes JR, Tambelli R, Santos EHR,
Back L, et al. Frequência cardíaca máxima em esteira ergométrica
em diferentes horários. Rev Bras Med Esporte 2006;12:32-40.
16. Andrade MC, Avila AOV. Uso da música na prática de atividade
física. Tecnicouro 2007:(7):72-5.
17. Flores MF, Rossi DS, Santos DL. Análise do comportamento
da freqüência cardíaca durante teste de esforço máximo em diferentes ergômetros. Revista Digital EFDesportes 2006;11:22-9.
18. Alonso DO, Forjaz CLM, Rezende LO, Braga AMFW, Barreto
ACPB, Negrão CE, Rondon MUPB. Comportamento da frequência cardíaca e da sua variabilidade durante as diferentes fases do exercício físico progressivo máximo. Arq Bras Cardiol 1998;71:13-7.
19. Lopes FL, Pereira FM, Reboredo MM, Castro TM, Vianna JM,
Novo JRJM, Silva LP. Redução da variabilidade da frequência
cardíaca em indivíduos de meia-idade e o efeito do treinamento
de força. Rev Bras Fisioter 2007;11:82-90.
20. Yukio L, Kawaguchi, Nascimento ACP, Lima MS, Frigo L, Junior
ARPJ et al. Análise do comportamento da frequência cardíaca em
diferentes posturas corporais. Rev Bras Med Esporte 2007;13:51-9.
21. Herdy AH, Fay CES, Bornschein C, Stein CB. Importância
da análise da frequência cardíaca no teste de esforço. Rev Bras
Med Esporte 2003;9:66-72.
22. Furtado E, Simão R, Lemos A. Análise do consumo de oxigênio,
frequência cardíaca e dispêndio energético, durante as aulas do
Jump Fit. Rev Bras Med Esporte 2004;10:94-9.
23. Martins CO. A influência da música na atividade física [Tese].
Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina; 1996.
24. Miranda MLJ, Godelli MRCS. Avaliação de idosos sobre o
papel e a influência da música na atividade física. Rev Paul
Educ Fís 2002;16:15-22.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
162
Artigo original
Maturação esquelética versus idade cronológica
nas categorias de base do futebol
Skeletal maturity versus age chronological age
in young Brazilian soccer players
Marcos Maurício Serra, Ft.*, Angélica Castilho Alonso, Ft.**, Julio Stancati*** , Júlia Maria D’Andréia Greve****
*Profissional da Educação Física, Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício, **Profissional da Educação Física, doutorando pelo Departamento de Fisiopatologia Experimental – FMUSP e Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento
(LEM) do IOT/HCFMUSP, *** Médico especialista em Medicina Esportiva, ****Fisiatra, professora associada da FMUSP, Diretora
do Laboratório do Estudo do Movimento IOT-FMUSP
Resumo
O presente estudo teve como objetivo comparar a idade cronológica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias de
base do futebol brasileiro. Foram avaliados 30 jovens jogadores de
futebol com idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e idade óssea
(avaliada pela radiografia de punho esquerdo) de 16,5 (± 1,0) anos,
inscritos na Federação Paulista de Futebol. Todos estavam treinando
três e cinco vezes por semana e jogando, de forma competitiva pelo
período mínimo de um ano. Os jogadores de futebol da categoria
de base apresentam idade óssea maior que suas idades cronológicas
(p = 0,001). Sugere-se que os jogadores de futebol das categorias de
base do futebol brasileiro apresentam uma maturação esquelética
significantemente maior que suas idades cronológicas.
Palavras-chave: idade óssea, maturidade esquelética, punho,
desenvolvimento ósseo, futebol.
Abstract
The purpose of this study was to compare the chronological age
versus skeletal maturity of the young Brazilian soccer players. We
evaluated 30 young soccer players with a mean chronological age
of 15.0 (± 0.7) years and mean skeletal maturity of 16.5 (± 1.0)
years (assessed by radiograph of left wrist) enrolled in the Paulista
Soccer Federation. All trained three to five times/week during one
year or more. The results showed that the young soccer players have
a significantly higher skeletal maturity than their chronological age
(p = 0.001). We conclude that the young Brazilian soccer players
of the basic categories have a significantly higher skeletal maturity
than their chronological age.
Key-words: bone age, skeletal maturity, wrist, bone development,
soccer.
Recebido em 28 de julho de 2011; aceito em 26 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Marcos Maurício Serra, Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 333, 04503-010 São Paulo SP, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
163
Introdução
Material e métodos
A formação de atletas de elite inicia-se na infância e há dificuldades para se fazer a adequação das cargas de treinamento
para os jovens atletas, que muitas vezes não levam em consideração as características maturacionais e de desempenho.
O desempenho esportivo excelente só pode ser alcançado quando os seus fundamentos são trabalhados e bem
desenvolvidos na infância, mas é necessário que se respeite
o desenvolvimento dos atletas jovens nos diferentes estágios
de maturação.
Um bom planejamento de treinamento deve considerar
os processos de crescimento e desenvolvimento da constituição corporal e aptidão física dos jovens, pois organismos
em diferentes estágios de maturação apresentam índices de
aptidão física diferentes, em especial no componente força
[1]. A adequação do treinamento e desempenho à maturidade
biológica deve nortear os profissionais que trabalham com
as atividades esportivas. O desempenho esportivo de elite e
as características do crescimento das crianças e adolescentes
estão associados com o estágio de maturação biológica [2].
Respeitar os níveis de maturação esquelética e muscular dos
jovens adolescentes, colocando-os para competir e treinar em
igualdade de condições do desenvolvimento físico maturacional é primordial na prática esportiva.
O futebol, sistematicamente, exclui garotos de maturação
tardia e favorece garotos com maturação precoce, que ajuda na
especialização esportiva. É possível que garotos com maturação tardia abandonem o futebol [3]. Adolescentes fisicamente
imaturos podem sofrer mais lesões quando jogam futebol com
companheiros de mesma idade mais maduros fisicamente [4].
Já Machado et al. afirmam que indivíduos de mesma idade
cronológica, porém mais maturados, podem apresentar vantagens esportivas pela maior força e massa muscular. O estado
de maturidade de uma criança ou de um adolescente pode ser
definido por sua idade cronológica e por sua idade óssea [6].
A criança é fisiologicamente diferente do adulto e deve
ser treinada de maneira diferente do adulto. Os programas de
treinamento devem ser específicos para cada grupo etário com
atenção para os fatores de desenvolvimento ligados à idade.
Em geral a capacidade de desempenho aumenta à medida
que a criança se aproxima da maturidade física. No entanto,
quando os atletas categorias de base atingem a maturidade
física, suas funções fisiológicas atingem um platô [6].
Um dos métodos mais utilizados para determinar a idade
óssea é o de Greulich & Pyle [7] que é a radiografia de mão
e punho esquerdo do indivíduo comparado com padrões radiográficos. É um método eficaz e ajuda os educadores físicos
e profissionais ligados à medicina esportiva na prescrição de
atividades físicas adequadas, que não interferem na maturação
corporal e ajudam na prevenção de lesões.
Este estudo tem como objetivo comparar a idade cronológica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias
de base.
Trata-se de um estudo descritivo transversal, realizado
no departamento Médico de Futebol Amador do S.C. Corinthians Paulista e obteve aprovação do Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Brasil) nº
1321/03, respeitando as normas internacionais de experimentação com humanos.
O estudo seguiu as diretrizes e normas que regulamentam
a pesquisa com seres humanos (lei 196/96), sendo informado
aos participantes todos os propósitos e métodos utilizados
no estudo e ressaltando o direito dos mesmos, de desistir do
experimento a qualquer momento. Após obtenção de termo
de consentimento livre e esclarecido dos pais ou responsáveis,
os dados foram coletados.
Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol, praticantes há mais de um ano e que disputavam os campeonatos de
futebol organizados pelas Federações Estaduais e Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Os critérios de inclusão foram: jogadores de futebol; sexo
masculino; idade entre 13 e 16 anos; inscritos na Federação
Paulista de Futebol; ser brasileiros e residentes na cidade de
São Paulo; e estarem treinando (frequência entre três e cinco
vezes por semana) e jogando competitivamente pelo clube
pelo período mínimo de um ano.
A idade cronológica foi calculada com base nas datas de
nascimento e do dia em que as radiografias foram realizadas.
A idade óssea foi avaliada por meio da radiografia de punho
esquerdo, seguindo o protocolo de Greulich e Pyle [7].
Analise estatística
A análise descritiva foi realizada por meio de comparações
de seus percentuais por categoria ou pelo cálculo de suas
médias, medianas e desvio-padrão.
As variáveis foram testadas para distribuição normal por
meio do teste de Komogorov-Smirnov.
A comparação das variáveis idade óssea com idade cronológica foi feita pelo teste t não pareado.
Os testes estatísticos foram considerados significantes para
um erro alfa de 5% (p < 0,05). Os cálculos e gráficos foram
realizados no software Statistica (Versão 5.1 – Statsoft, Inc,
Tulsa, OK) e Microsoft Excel (Versão 2003 SP2, Portland,
OR).
Resultados
Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol com média
de idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e média de idade
óssea de 16,5 (± 1,0) anos.
Os jogadores de futebol das categorias de base apresentam
uma maturação esquelética significantemente maior que suas
idades cronológicas (p = 0,001) (Figura 1).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
164
Figura 1 - Comparação da idade cronológica versus idade óssea dos
jogadores de futebol.
17,0
Cronológica vs. Óssea
16,8
16,6
16,4
16,2
16,0
15,8
15,6
15,4
15,2
15,0
14,8
14,6
Cronológica Óssea
Mean
±SE
±1,96*SE
Discussão
Crescimento, desenvolvimento e a maturação são termos
que podem ser utilizados para descrever as alterações que
ocorrem no corpo, que têm início na fase embrionária e
continuam até a idade adulta [1,5]. Os eventos biológicos
causam mudanças nos sistemas endócrino, nervoso, antropométrico e fisiológico [8]. O crescimento e desenvolvimento
das estruturas corporais regem as capacidades fisiológicas e
de desempenho [9].
Crescimento é o aumento do tamanho do corpo ou de
qualquer uma de suas partes. Desenvolvimento refere-se à
diferenciação celular e especialização de funções e reflete
as alterações funcionais que ocorrem com o crescimento.
Maturação é o processo de aquisição da forma e função do
organismo adulto e é definida pelo sistema ou pela função
que estiver sendo considerada [6].
Bloomfield et al. [10] defenderam a necessidade de referenciais de parâmetros de aptidão física e de crescimento dos
jovens atletas para a avaliação do desenvolvimento e elaboração de perfis de acompanhamento destes atletas.
A maturação de um indivíduo implica em mudanças
morfológicas observadas durante o crescimento, acentuadas
na puberdade, envolvendo a maioria dos órgãos e estruturas
corporais; no entanto, tais eventos não têm início na mesma
idade e não tem a mesma duração para completarem seu ciclo
de transformações definitivas [2,3,5].
As respostas individuais do desenvolvimento à atividade
física de treinamento regular são insuficientes para alterar os
processos de crescimento e maturação programados genotipicamente [3,6]. Machado & Barbanti [5] descrevem que os
fatores genéticos têm grande participação na determinação
d estatura, distribuição de massa corporal, comprimento de
membros, estrutura óssea e aspecto facial, mas que o baixo
nível socioeconômico, a alimentação inadequada ou insuficiente, a falta de atividade física e algumas doenças podem
interferir no resultado final. Portanto não se sabe quais as
repercussões do treinamento e prática de futebol organizado
e competitivo na maturação esquelética dos jovens jogadores.
A avaliação da maturidade esquelética pela radiografia de
punho esquerdo é bem aceita como medida da idade óssea
[11,12].
Em nosso estudo os atletas demonstraram uma maturação
óssea precoce quando comparado com a idade cronológica.
Machado et al. [13] correlacionaram o desempenho motor
à idade biológica determinada pelo pico de velocidade do
crescimento e demonstraram que os indivíduos que apresentavam maior idade biológica tinham melhor desempenho
nos testes motores. Demonstraram também que a idade óssea
aumenta de forma mais acelerada que a idade cronológica,
sendo que a maior diferença ocorre nos períodos etários finais
da adolescência.
Pena Reyes et al. [14] analisaram idade óssea de 55 garotos
(6-17 anos) participantes de uma liga de futebol e sugeriram
que garotos com maior maturação óssea têm mais sucesso
no futebol. Tritrakarnet et al. [15] estudaram 50 jogadores
asiáticos com idade entre 15 e 16 anos. Mais de 30% dos
atletas apresentaram idade óssea de 19 anos. Malina et al.[3]
realizaram um estudo com 135 meninos jogadores de futebol
de elite portugueses, com idade entre 10 e 17 anos e sugeriram
que o futebol exclui os jogadores com maturidade tardia e
favorece os jogadores com uma maturidade precoce em relação à idade cronológica. Silva et al. [16] compararam a idade
óssea e biológica em jovens atletas de tênis, natação e futebol.
Não houve diferenças entre os grupos, porém os atletas de
futebol foram os que apresentaram maior maturidade óssea em
relação à cronológica. Os indivíduos com maior maturidade
esquelética com músculos mais fracos são mais susceptíveis à
lesão no futebol comparados com companheiros de mesma
idade cronológica [4,17]. Hansen et al. [18] analisaram 98
jogadores de futebol de 10-12 anos divididos em jogadores
de elite e não elite. A estatura corporal, peso corporal, índice
de massa corporal, dobras cutâneas, maturação, potencial
genético para a altura e peso e estatura no nascimento foram
analisadas. Constataram que os jogadores de elite são mais
altos, apresentam dobras cutâneas mais baixas e o volume
testicular maior.
A defasagem entre idade óssea e cronológica poderia ser
um fator de seleção para a prática de futebol, pois os indivíduos mais aptos fisicamente seriam naturalmente selecionados e teriam melhor desempenho motor. Ainda que haja
melhor aptidão para a prática esportiva, o adolescente é um
organismo em desenvolvimento e crescimento, com necessidades especiais de alimentação e treinamento. Cargas altas de
treinamento para jogadores de futebol jovens é uma prática
comum de muitos treinadores e preparadores físicos, pois
atletas com maturação precoce se sobressaem nestas categorias
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
[18-21]. O excesso de treinamento e atividades inadequadas
podem causar graves lesões e acabar com a carreira de um
atleta, além de alijar potenciais talentos com menor grau de
desenvolvimento ósseo na adolescência.
Estes parâmetros são muito importantes para educadores
físicos, fisioterapeutas e médicos, permitindo a prescrição adequada de exercícios e cargas para os futebolistas, respeitando
a maturação corporal dos jovens.
Conclusão
Os jogadores de futebol da categoria de base analisada
apresentaram uma maturação esquelética significantemente
maior que suas idades cronológicas.
Referências
1. Vaughan VC, Mckay JR, Behrman RE. Nelson Tratado de
Pediatria. 11ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1983. p. 9-31.
2. Beunen G, Malina RM. Growth and biological maturation:
relevance to athletic performance. In: Bar-Or. The child and
adolescent athlete. Oxford: Blackwell Science; 1996.
3. Malina RM, Peña Reyes ME, Eisenmann JC, Horta L, Rodrigues J, Miller R. Height, mass and skeletal maturity of
elite Portuguese soccer players aged 11-16 years. J Sports Sci
2000;(9):685-93.
4. Backous DD, Friedl KE, Smith NJ, Parr TJ, Carpine WD Jr.
Soccer injuries and their relation to physical maturity. Am J
Dis Child 1988;142(8):839-42.
5. Machado DRL, Barbanti VJ. Maturação esquelética e crescimento em crianças e adolescentes. Rev Bras Cineantropom
Desempenho Hum 2007;9(1):12-20.
6. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício.
São Paulo: Manole; 2001. p 518-35.
7. Greulich WW, Pyle SI. Radiographic atlas of skeletal development of the hand and wrist. 2nd ed. Standford: University
Press; 1959.
8. Malina RM, Chamorro LS, Morate FM. Tw3 and fels skelet ages
in elite youth soccer players. Ann Hum Biol 2007;34(2):265-72.
165
9. Guedes JERP, Guedes DP. Maturação biológica em crianças e
adolescentes. Um estudo de revisão. Revista da Associação dos
Professores de Educação Física de Londrina 1995;10(18):32-49.
10. Bloomfield JTR, Ackland TR, Eliott BC. Applied anatomy and
biomechanics in sport. Melbourne: Blackwell; 1994.
11. Lima KTF, Sales RD, Soares EA, Cruz HN, Soares RPF. Comparação entre três métodos para a determinação da maturação
esquelética. Odontol Clin Cient 2006;5(1):49-55.
12. Damian MF, Woitchunas FE, Cericato GO, Cechinato FM,
Massochin ME, Castoldi FL. Análise da confiabilidade e da
correlação de dois índices de estimativa da maturação esquelética: índice carpal e índice vertebral. Rev Dent Press Ortodon
Ortopedi Facial 2006;11(5):110-20.
13. Machado DRL, Bonfim MR, Costa LT. Pico de velocidade de
crescimento como alternativa para classificação maturacional
associada ao desempenho motor. Rev Bras Cineantropom
Desempenho Hum 2009;11(1):14-21.
14. Peña Reyes ME, Malina RM. Growth and maturity profile of
youth swimmers in Mexico. In: Silva MCE, Malina RM, eds.
Children and youth in organized sports. Coimbra: Coimbra
University Press; 2004. p 222-30.
15. Tritrakarn A, Tansuphasiri V. Roentgenographic assessment of
skeletal ages of Asian junior youth football players. J Med Assoc
Thai 1991;74(10):459-64.
16. Silva CC, Goldeberg TBL, Capela RC, Kurokawa CS, Teixeira
AS, Dalmas JC. Respostas agudas pós-exercício dos níveis de
lactato sanguíneo e creatinofosfoquinase de atletas adolescentes.
Rev Bras Med Esporte 2007;13(6):381-6.
17. Maffulli N, King JB, Helms P. Training in elite young athletes
(the Training of Young Athletes (TOYA) Study): injuries, flexibility and isometric strength. Br J Sports Med 1994;28(2):123-36.
18. Hansen L, Bangsbo J, Twisk J, Klausen K. Development of
muscle strength in relation to training level and testosterone in
young male soccer players. J Appl Physiol 1999;87(3):1141-7.
19. Hegg V, Bonjardim E. Critérios para agrupamento de indivíduos em competições durante a puberdade. Rev Paul Educ Fís
1988;2(3):23-29.
20. Andrén-Sandberg A. Athletic training of children and adolescents: growth and maturation more important than training for
endurance in the young. Lakartidningen 1998;95(41):4480-87.
21. Weineck J. Treinamento ideal. São Paulo: Manole; 1999. p.115-28.
166
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Revisão
Nutrição, hidratação e suplementação
para jogadores de futebol
Nutrition, hydration and supplementation for soccer players
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Adriana Passanha**
*Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, **Nutricionista com aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo
Resumo
O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos sobre
futebol e nutrição, como necessidade energética, ingestão de macro
e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da
literatura científica. Por meio de rastreamento literário sistemático,
foram selecionados artigos publicados nos idiomas português e
inglês, durante o período de 2000 a 2009. O consumo adequado
de nutrientes é essencial para um bom desempenho no esporte;
assim sendo, a dieta de um jogador de elite deve atender seu gasto
energético, fornecer balanço adequado de carboidratos, proteínas e
lipídeos, além de atender às recomendações de vitaminas e minerais.
A hidratação e o balanço eletrolítico devem ser adequados a cada
jogador, contribuindo para o bom desempenho nas partidas. A relevância da ingestão de suplementos no futebol deve ser discutida sob
perspectiva científica, juntamente com preocupações éticas ligadas
à suplementação e à educação esportiva.
Palavras-chave: futebol, necessidades nutricionais, hidratação,
suplementos dietéticos.
Abstract
The objective of this review was to relate various issues about
football and nutrition, such as energy needs, intake of macro and
micronutrients, hydration and supplementation, based on scientific
literature data. Articles published in Portuguese and English, from
2000 to 2009, were selected using systematic screening. Adequate
intake of nutrients is essential for good performance in sports;
therefore, elite player’s diet should match energy expenditure, to
provide adequate balance of carbohydrates, proteins and lipids,
and the recommended intake of vitamins and minerals. Hydration
and electrolyte balance should be tailored to each player, thereby
contributing to the good performance in games. The relevance of
taking supplements in football should be discussed from scientific
perspective, along with ethical concerns related to education and
supplementation in sports.
Key-words: soccer, nutritional requirements, fluid therapy, dietary
supplements.
Recebido em 5 de julho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública,
Departamento de Nutrição, Avenida Dr. Arnaldo, 715 - 2º andar, Cerqueira Cesar 01246-904 São Paulo SP, Tel: (11) 3061-7701,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
Recomendações dietéticas
O futebol é o esporte mais popular do mundo, com
aproximadamente 200 milhões de jogadores em 186 países
registrados na International Federation of Football Association (FIFA) [1].
A demanda fisiológica do futebol é muito variada durante
o jogo, sendo atribuída a diversos fatores como aptidão física,
condições climáticas, condições nutricionais, entre outros [2].
O desempenho de jogadores de futebol vem melhorando nas
últimas décadas: a distância média percorrida durante uma
partida aumentou em mais de 50%, comparada com o que
se observava na década de 70. Esta melhora se deu, provavelmente, pelo desenvolvimento e intensificação das cargas
ao longo dos anos [3].
O futebol é uma modalidade de esporte com exercícios
intermitentes de intensidade variável. Uma partida do jogo
envolve mais atividades aeróbias (88%) do que anaeróbias
(12%). A distância percorrida no primeiro tempo é 5% maior
do que a do segundo tempo e a distância varia de acordo com
a posição do jogador em campo [4]. Dependendo da função
tática que o jogador exerce no time, ele tem um nível de solicitação metabólica que exige e gera adaptações diferenciadas
nos processos de produção de energia [5].
Desde a Conferência da FIFA sobre Nutrição no Futebol realizada em 1994, o futebol de elite tem se desenvolvido muito, considerando a performance no jogo e no
treino [6]. Alimentação, treinamento e estado nutricional
são fatores fundamentais para um bom desempenho na
partida. As necessidades energéticas dos jogadores dependem, também, da função tática, da distância percorrida e
do estilo do jogo [7].
O aumento das necessidades de macro e micro nutrientes pode ser suprido adequadamente através de dieta
saudável e balanceada. Apesar disso, a ingestão adequada
de alguns suplementos juntamente com um treinamento
apropriado pode contribuir para melhora significativa de
desempenho [8].
O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos
sobre futebol e nutrição, incluindo necessidade energética,
ingestão de macro e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da literatura científica.
Necessidades energéticas
Material e métodos
As informações foram obtidas por meio de rastreamento
literário sistemático, nas bases de dados Lilacs, Medline,
Scielo e Bireme, empregando-se a técnica booleana utilizando
as palavras: and e or e os seguintes descritores: “futebol” or
“soccer” and “nutrição” or “nutrition”, com limites de idioma (português e inglês) e de período (2000 a 2009). Foram
rastreados 72 materiais. Destes, 24 foram selecionados por
atenderem aos objetivos da presente pesquisa.
167
A quantidade e a qualidade dos treinamentos influenciam
o gasto energético diário. Jogadores de futebol treinam em intensidade moderada a alta, e tem suas necessidades energéticas
em torno de 3150 a 4300 calorias diárias. O gasto energético
por jogo pode alcançar 1360 calorias [4,7].
Carboidratos
Uma dieta com quantidades adequadas de carboidrato é
essencial para o desempenho atlético, pois esse nutriente é
estocado no fígado e músculos como glicogênio, tendo como
função prover fonte primária de energia para os músculos em
exercício e para o cérebro, além de metabolizar gordura de
forma mais eficiente [7].
O jogo de futebol demanda tanto as reservas de carboidrato quanto as de líquidos. A ingestão de carboidratos antes
e durante uma partida diminui a utilização de glicogênio
muscular durante o jogo, e aumenta o desempenho na corrida
durante os momentos finais [6,7].
Durante a primeira metade do jogo, o nível de glicogênio
muscular não constitui fator limitante do desempenho. Na
segunda metade, se esse nível estiver reduzido desde o início
do jogo haverá comprometimento do desempenho físico.
Normalmente há depleção de 20 a 90% do glicogênio muscular durante competições de alto nível [4].
A ingestão de 312 g de carboidratos nas 4 horas precedentes ao início do exercício resulta em aumento de 15% no
desempenho físico. Essa ingestão 10 minutos antes do início
de um jogo diminui a utilização de glicogênio muscular em
39%, aumenta a velocidade de corrida e a distância percorrida
na segunda metade da partida em 30%. Os jogadores que
ingerem bebidas contendo carboidratos mantêm intensidade
maior de exercício durante a partida, quando comparados
com os que consomem somente água [4].
É importante o consumo imediato de alimentos ricos
em carboidratos após o exercício por ser o momento em
que a recuperação dos estoques de glicogênio muscular está
mais sensível. Essa recuperação envolve a restauração dos
estoques hepáticos e musculares de glicogênio, reposição
de fluidos e eletrólitos, regeneração e reparos de lesões
causadas pelo exercício e adaptação após o estresse catabólico. Problemas musculares, por trauma ou treinamento
excessivo, podem limitar o potencial de reposição destes
estoques [4,7].
A síntese de glicogênio muscular tem precedência na
restauração do glicogênio hepático e ocorre mesmo sem a
ingestão de carboidratos, após o exercício, em taxas baixas, a
partir dos substratos fornecidos pela neoglicogênese. Porém,
a síntese completa depende da ingestão adequada de carboidratos, de preferência de índice glicêmico de moderado a alto,
168
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
que demonstraram ser mais eficazes na taxa de ressíntese do
que alimentos com índice glicêmico baixo [4].
A recomendação de ingestão de carboidratos para os jogadores de futebol é de 60 a 70% do valor energético diário
total, ou 6 a 10 g/kg/dia [7].
Proteínas
A oxidação de aminoácidos (principalmente os de cadeia
ramificada), as lesões introduzidas pelo exercício nas fibras
musculares, o uso de pequenas quantidades de proteína como
fonte de energia e o ganho de massa magra aumentam as
necessidades proteicas [7].
A proteína contribui para o pool energético durante o
repouso e o exercício, sendo que durante a atividade sua
oxidação contribui com 5 a 10% do fornecimento total de
energia. Assim, os aminoácidos servem como fonte auxiliar de
combustível durante exercícios intensos e de longa duração e,
após sua oxidação, são irreversivelmente perdidos. Caso não
sejam repostos, via alimentação, haverá comprometimento do
processo normal de síntese proteica. Isso pode levar à perda
da força muscular, diminuindo, assim, o desempenho durante
uma partida de futebol [4].
O consumo mais indicado para jogadores de futebol varia
entre 1,4 a 1,7 g/kg/dia. Esta recomendação é facilmente
alcançada pelos jogadores brasileiros com consumo diário de
carnes, e da combinação do arroz com feijão [7].
Em atletas adolescentes do sexo masculino há aumento da
massa muscular, o que pode estimular o metabolismo proteico. A ingestão de proteína deve ser adequada para sustentar
o crescimento e suprir a oxidação aminoacídica que pode
ocorrer durante o treino. Para esta população, a recomendação
de ingestão proteica é de 1,6 g/kg/dia [8,9].
Lipídeos
O objetivo da utilização de gordura durante o exercício é poupar o uso do glicogênio muscular. Este nutriente
também participa do transporte de vitaminas lipossolúveis
pelo organismo e faz parte da composição das membranas
celulares. Assim, o consumo de lipídeos entre jogadores de
futebol deve ser de 30% do valor energético total diário. É
importante não ultrapassar a recomendação de ingestão, para
não tornar difícil o consumo das quantidades preconizadas
de carboidratos e para não causar danos à saúde relacionados
ao excesso de gorduras na dieta [7].
Vitaminas e minerais
Algumas vitaminas e minerais desempenham papel importante no metabolismo energético; por isso, a inadequação de
um ou mais micronutrientes pode comprometer a capacidade
aeróbia e anaeróbia. Atletas submetidos a intenso programa
de treinamento e competições (como é o caso dos jogado-
res de futebol) têm, possivelmente, alguma dificuldade em
manter níveis adequados de vitaminas, pois o exercício pode
causar redistribuição dos minerais entre os compartimentos
corporais [4,7].
A suplementação com vitaminas e minerais é uma prática
bastante comum entre atletas do futebol, visando melhorar
seu desempenho (embora não haja evidências científicas de
que a suplementação tenha algum tipo de efeito ergogênico).
A suplementação vitamínica e de minerais melhora as concentrações bioquímicas desses micronutrientes, mas não altera
a capacidade de captação de oxigênio ou a concentração de
lactato no sangue durante exercícios aeróbios com intensidade
elevada (como é o caso do futebol). Pode-se dizer que essa
suplementação em altas doses, em indivíduos com valores
bioquímicos normais desses nutrientes e que consomem dieta
adequada e balanceada, não melhora o desempenho físico [4].
Necessidades hídricas e eletrolíticas
A hidratação é um fator importante que deve ser considerado antes, durante e depois do exercício. Há evidências de
que a hidratação antes do início do exercício e durante essa
atividade melhore o desempenho, especialmente por meio de
líquidos que contenham carboidrato [10].
Devido ao fato de o futebol ser um esporte com duração
de 90 minutos, geralmente ocorrem problemas associados à
termorregulação e ao balanço hídrico. O treinamento físico
associado ao estresse térmico aumenta o fluxo sanguíneo
cutâneo e a produção de suor. Há grande variedade individual
de perda hídrica devido às diferenças na composição corporal,
taxa metabólica, aclimatação do atleta, temperatura e umidade
ambientes, variedade e intensidade de exercícios realizados
durante o jogo, diferenças no consumo máximo de oxigênio
e diferenças nas funções desempenhadas. Os jogadores de
futebol podem perder até três litros ou mais de suor durante
um jogo em dia quente. O estado crônico de desidratação
e o estresse térmico ao longo da partida podem limitar o
desempenho e ser prejudiciais ao jogador caso a desidratação
exceder 2% da massa corpórea [4,12].
Iniciar o jogo bem hidratado ingerindo 500 ml de líquido
com concentrações de 5 a 8% de polímeros de glicose, meia
hora antes do início do jogo, é conduta amenizadora dos
obstáculos encontrados no mundo do futebol resultantes da
desidratação. Essa concentração de carboidrato na bebida é
importante, visto que propicia ótimo esvaziamento gástrico
e absorção intestinal adequada [5].
Além disso, durante a partida os jogadores devem consumir líquidos em pequenas quantidades e em intervalos
regulares, para não interferir no esvaziamento gástrico e, também, repor toda a água perdida através do suor. Os líquidos
a serem oferecidos devem estar entre uma temperatura de 15
e 22ºC e ter sabor agradável, para assim promover sua ingestão voluntária. A bebida hidroeletrolítica adequada deve ter
as seguintes características: permitir que os fluidos cheguem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
rapidamente aos tecidos, fornecer carboidratos durante o
exercício, fornecer baixos níveis de eletrólitos, ser palatável
e refrescante e não causar distúrbios gastrointestinais. Após
o término do jogo, essas bebidas ajudam na hidratação e na
recuperação do glicogênio muscular [5].
O suor e a urina são as principais rotas de perdas de
eletrólitos no corpo humano e, aparentemente, há variação
na composição do suor dependendo da região do corpo. As
glândulas sudoríparas reabsorvem eletrólitos e essa quantidade reabsorvida é dependente da taxa de sudorese: quanto
menor é essa taxa mais sódio é reabsorvido; sendo assim, a
concentração de sódio secretada pelo suor é menor. A perda de
altas concentrações de sódio é fator importante para câimbras
musculares. A maioria dos jogadores apresenta perda de sódio
em torno de 3 a 4 g nos treinos e partidas, o que não torna
essencial sua reposição durante a atividade [11].
Os principais eletrólitos eliminados pelo suor são o sódio
e o cálcio; porém, a perda de cálcio ocorre em quantidade
significativamente menor. Outros eletrólitos como potássio
e magnésio estão presentes em concentrações vastamente
menores [11].
Suplementações
Para um suplemento ser considerado potencialmente
efetivo no futebol, é necessário que funcione de fato, e não
apenas que cause melhora no desempenho devido à influência
psicológica; ademais, não deve causar nenhum efeito adverso e
não conter nenhuma substância proibida ou que possa resultar
em doping positivo [12].
Alguns suplementos podem produzir efeito ergogênico
pela melhoria direta da performance nas partidas, e outros
por, a longo prazo, apresentarem efeitos benéficos para a saúde
e pela prevenção de lesões [13-16].
É comum a ingestão de quantidades excessivas de vários
suplementos. Tal prática tem custo elevado e não facilita o efeito ergogênico dos suplementos, além de não ser segura, pois
o mecanismo de ação de muitos suplementos ainda não está
completamente elucidado, tornando arriscada a combinação
dessas substâncias. Pelo ponto de vista prático, a ingestão dos
suplementos deve coincidir com o treinamento, ou mesmo
durante o descanso, de 1 a 3 horas após o exercício [12].
A seguir, serão apresentadas as principais características de
alguns dos suplementos comumente utilizados por jogadores
de futebol.
Cafeína
Estimula a utilização de gordura, diminuindo a taxa de
quebra do glicogênio muscular, além de reduzir a percepção
da fadiga, melhorando o controle motor e a reconstituição das
fibras musculares. É rapidamente absorvida pelo organismo e
seus efeitos são mantidos durante toda a partida. Os efeitos
são menores quando ingerida sob a forma de café [17,18].
169
O consumo de bebida esportiva cafeinada proporciona
efeito ergogênico para jogadores de futebol, aumentando
a potência de membros inferiores relacionada com a força
explosiva, frente a uma bebida carboidratada comercial [19].
Pequenas doses de cafeína podem beneficiar o tempo de
reação, o estado de alerta e o processamento de informações
visuais. A ingestão de 1 a 2 mg/kg peso melhora o desempenho
sem causar confusão mental e problemas cardiovasculares e
metabólicos [12].
Creatina
A suplementação de creatina melhora as disparadas, além
de potencializar o aumento de massa magra de 1 a 3 kg (provavelmente por um acúmulo de água intracelular e glicogênio).
Mudanças no acúmulo de proteína muscular podem acontecer
pelo melhor desempenho do indivíduo nos treinamentos de
alta intensidade, como é o caso do futebol [12].
O aumento da creatina muscular facilita as reações da
creatina-quinase por prevenir a degradação de moléculas de
energia durante contrações de alta intensidade. O estímulo
da ressíntese de fosfo-creatina muscular pode contribuir para
a melhora da recuperação entre séries de treinos agudos de
futebol [12].
A dosagem clássica de creatina é de 15 a 20 g/dia na fase
inicial (4-7 dias), e 2 a 5 g/dia na fase de manutenção. Os
efeitos da suplementação podem enfraquecer depois de dois
meses, e provavelmente melhorem após períodos de interrupção (8-10 semanas) [20].
b – Hidróxi β – metilbutirato (HMB)
O HMB é um metabólito que ocorre naturalmente a
partir do aminoácido de cadeia ramificada leucina. Supõe-se
que este componente contribua para o anabolismo muscular
por mediar a ação da leucina em inibir a quebra de proteínas
musculares [21].
A ingestão de HMB, em doses de 1,5-3 g/dia pode resultar em ganhos expressivos de massa magra e força muscular
quando associada a treinamentos de resistência do futebol.
Ingestão de HMB por curtos períodos (1 a 8 semanas) não
introduzem efeitos adversos [12,22].
Antioxidantes
O exercício físico aumenta o consumo de oxigênio e,
consequentemente, aumenta a produção de Espécies Reativas
de Oxigênio (EROs). Esse aumento pode danificar o DNA
celular, prejudicando o metabolismo da célula. Em contrapartida, o organismo possui um sistema antioxidante, e um dos
principais meios desse sistema é o enzimático, onde a atividade
das enzimas é modulada pela concentração de EROs [23].
Para um treinamento eficiente dos jogadores de futebol, são
necessários baixo stress oxidativo e boa defesa antioxidante [3].
170
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Suplementos nutricionais de antioxidantes previnem
danos no tecido muscular de atletas. Não é cientificamente
comprovado que o aumento do treinamento aumente a necessidade de ingestão de antioxidantes pela dieta, nem que
esta suplementação tenha efeitos ergogênicos [12].
Vitamina C
Treinamentos árduos como os do futebol podem ter efeito
imunossupressivo. A vitamina C é sugerida por participar da
regulação imunológica, reduzindo a incidência de doenças
infecciosas e mantendo os jogadores saudáveis [12].
A suplementação de vitamina C não diminui o risco de
desenvolver um resfriado, mas diminui ligeiramente (~8%)
sua duração. Tal efeito é obtido com doses de 200 mg/dia,
alcançada facilmente em uma dieta balanceada [24].
Glucosamina
Jogadores de futebol apresentam alta incidência de lesões
nas articulações de tornozelo e joelho, mantendo-os afastados
de treinos em competições [12]. Há evidências de que a glucosamina ajuda na integridade estrutural dessas cartilagens,
retarda a progressão de artrites ósseas (especialmente em
indivíduos com idade avançada), tem efeito anestésico e pode
ser uma alternativa para tratamentos com anti-inflamatórios
não esteroidais [25].
A suplementação de glucosamina em doses de 20-25
mg/kg peso corporal é segura, podendo ocorrer diarreia
como efeito adverso. Pode-se utilizar a glucosamina como
uma estratégia de prevenção de dores nos joelhos e artrites
ósseas, embora não haja evidências de tais benefícios em
atletas saudáveis e jovens, considerando que os estudos
envolvem idosos [12].
Efedra
A efedra age como um agonista de receptor β-adrenérgico,
aumentando o gasto energético basal por ativar o sistema
nervoso autônomo simpático. Estudos mostram que sua
ingestão pode facilitar a perda de peso em curtos períodos de
tempo. Efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, sintomas
psiquiátricos, hiperatividade e arritmias cardíacas. Efedra e
Efedrina estão na lista de substâncias proibidas, devendo ter
seu uso totalmente desencorajado [26].
Conclusão
O consumo adequado de nutrientes é essencial para o
bom desempenho no esporte. Dessa forma, a dieta de um
jogador de elite deve atender seu gasto energético, fornecer
balanço adequado de macronutrientes antes, durante e após
treinamentos e competições e atender às recomendações de
vitaminas e minerais.
A hidratação e balanço eletrolítico devem ser adequados a
cada jogador, otimizando, assim, o desempenho nas partidas.
A relevância da ingestão dos diversos tipos de suplementos
viáveis de serem utilizados no futebol deve sempre ser discutida sob perspectiva científica, juntamente com preocupações
éticas ligadas à suplementação e educação esportiva.
Agradecimentos
Agradecemos a contribuição de Gabriela Rodrigues,
Nathália Panzenboeck Sab e Vivian Nicastro Mansur pelo
auxílio na coleta de dados, e a professora Luciana Rossi pela
supervisão do grupo de pesquisa.
Referências
1. Andrade MS, Fleury AM, Silva AC. Força muscular isocinética de jogadores de futebol da seleção paraolímpica brasileira
de portadores de paralisia cerebral. Rev Bras Med Esporte
2005;11(5):281-5.
2. Silva PRS, Inarra LA, Vidal JRR, Oberg AARB, Fonseca Junior
A, Roxo C, et al. Níveis de lactato sangüíneo, em futebolistas
profissionais, verificados após o primeiro e o segundo tempos
em partidas de futebol. Acta Fisiátrica 2000;7(2):68-74.
3. Zoppi CC, Antunes-Neto J, Catanho FO, Goulart LF, Moura
NM, Macedo DV. Alterações em biomarcadores de estresse
oxidativo, defesa antioxidante e lesão muscular em jogadores
de futebol durante uma temporada competitiva. Rev Paul Educ
Fís 2003;17(2):119-30.
4. Guerra I, Soares EA, Burini RC. Aspectos nutricionais do futebol de competição. Rev Bras Med Esporte 2001;7(6):200-6.
5. Balikian P, Lourençâo A, Ribeiro LFP, Festuccia WTL, Neiva
CM. Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio de
jogadores de futebol: comparação entre as diferentes posições.
Rev Bras Med Esporte 2002;8(2):32-6.
6. Bangsbo J, Mohr M, Krustrup P. Physical and metabolic demands of training and match-play in the elite football player.
J Sports Sci 2006;24(7):665-74.
7. Guerra IPLR, Barros Neto T, Tirapegui J. Dietary needs of
soccer players: a review. Nutrire 2004;28:79-90.
8. Boisseau N, Vermorel M, Rance M, Duché P, Patureau-Mirand
P. Protein requirements in male adolescent soccer players. Eur
J Appl Physiol 2007;100(1):27-33.
9. Boisseau N, Le Creff C, Loyens M, Poortmans JR. Protein
intake and nitrogen balance in male non-active adolescents and
soccer players. Eur J Appl Physiol 2002;88(3):288-93.
10. Monteiro CR, Guerra I, Barros TL. Hidratation in soccer: a
review. Rev Bras Med Esporte 2003;9(4):243-6.
11. Shiffers SN, Sawka MN, Estomo M. Water and electrolyte
needs for football training and match-play. J Sports Sci
2006;24(7):699-707.
12. Hespel P, Maughan RJ, Greenhaff PL. Dietary supplements for
football. J Sports Sci 2006;24(7):749-61.
13. Hawley JA, Tipton KD, Millard-Stafford ML. Promoting training adaptations through nutritional interventions. J Sports Sci
2006;24(7):709-21.
14. Burke LM, Loucks A, Broad N. Energy and carbohydrate for
training and recovery. J Sports Sci 2006;24(7):675-85.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
15. Shirreffs SM, Sawka MN, Stone M. Water and electrolyte needs
for soccer training and match-play. J Sports Sci 2006;24(7):699707.
16. Williams C, Serratosa L. Nutrition on match day. J Sports Sci
2006;24(7):687-97.
17. Graham TE. Caffeine and exercise: metabolism, endurance and
performance. Sports Med 2001;31(11):785-807.
18. Magkos F, Kavouras SA. Caffeine and ephedrine: physiological, metabolic and performance-enhancing effects. Sports Med
2004;34(13):871-89.
19. Guttierres APM, Natali AJ, Alfenas RCG, Marins JCB. Efeito
ergogênico de uma bebida Esportiva cafeinada sobre a performance em testes de habilidades específicas do futebol. Rev Bras
Med Esporte 2009;15(6):450-4.
20. Terjung RL, Clarkson PM, Eichner ER, Greenhaff PL, Hespel P, Israel RG et al. The physiological and health effects
of oral creatine supplementation. Med Sci Sports Exerc
2000;32(3):706-17.
171
21. Gallagher PM, Carrithers JA, Godard MP, Schulze KE,
Trappe SW. B-Hidroxy- B-methylbutyrate ingestion. Part I:
Effects on strength and fat free mass. Med Sci Sports Exerc
2000;32(12):2109-15.
22. Nissen SL, Sharp RL. Effect of dietary supplements on lean
mass and strength gains with resistance exercise: A metaanalysis. J Appl Physiol 2003;94(2):651-59.
23. Sen CK. Antioxidants in exercise nutrition. Sports Med
2001;31(13):891-908.
24. Douglas RM, Hemila H, D’Souza R, Chalker EB, Treacy
B. Vitamin C for preventing and treating the common cold.
Cochrane Database of Sistematic Review 2004, CD000980.
25. Gorsline RT, Kaeding CC. The use of NSAIDs and nutritional
supplements in athletes with osteoarthritis: Prevalence, benefits, and consequences. Clin Sports Med 2005;24(1):71-82.
26. Dwyer JT, Allison DB, Coates PM. Dietary supplements in
weight reduction. J Am Diet Assoc 2005;105(5):80-6.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
172
Revisão
O exercício físico modulando alterações hormonais
em vias metabólicas dos tecidos musculoesquelético,
hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo
energético e consumo alimentar
The exercise modulating hormonal changes in metabolic pathways
of skeletal muscle, liver and hypothalamus related to energy
metabolism and food intake
Fábio Medici Lorenzeti*, Waldecir Paula Lima, D.Sc.**, Ricardo Zanuto, D.Sc.***, Luiz Carlos Carnevali Junior, D.Sc.****,
Daniela Fojo Seixas Chaves, D.Sc.*****, Antônio Herbert Lancha Junior*****
*Técnico em Nutrição e Dietética (ETEC – Julio de Mesquita), membro do Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicado a
Atividade Motora – EEFE/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, **Professor-Doutor
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP, membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios
– ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ***Laboratório de Sinalização Celular
– ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ****Membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios – ICB/USP, *****Professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador do Laboratório de Nutrição e
Metabolismo Aplicados à Atividade Motora (EEFE-USP)
Resumo
O exercício físico é responsável por gerar diversas adaptações
morfofuncionais, endócrinas, metabólicas e neurais. Dentre estas,
destaca-se a melhora na sensibilidade à ação de hormônios como
a insulina e a leptina, bem como a modulação nas concentrações
plasmáticas dos hormônios GH, IGF-1, testosterona e cortisol,
responsáveis pela homeostase energética. A insulina é um importante
estimulante na secreção de leptina, ambos exercem papel central na
homeostase energética e controle do consumo alimentar no núcleo
arqueado do hipotálamo, controlando a secreção de neuropeptídios responsáveis pelo consumo alimentar, tais como: NPY, AgRP,
CART e POMC. Esta revisão objetiva elucidar algumas ações do
exercício físico relacionadas ao metabolismo e ao consumo alimentar, descrevendo algumas vias metabólicas que ocorrem nos tecidos
musculoesquelético, hepático e, principalmente, hipotalâmico,
ativadas por hormônios.
Abstract
Exercise is responsible for generating various morphofunctional
endocrine, metabolic and neural adaptations. Among them, there
is the improvement in sensitivity to the action of hormones such as
insulin and leptin, as well as modulation of plasma concentrations
of hormones GH, IGF-1, testosterone and cortisol, responsible for
energy homeostasis. Insulin is an important stimulation of leptin
secretion, both have central role in energy homeostasis and control
of food intake in arcuate nucleus of the hypothalamus, controlling
the secretion of neuropeptides responsible for food intake, such as
NPY, AgRP, POMC and CART. This review aimed to elucidate
some of the actions related to exercise metabolism and food intake,
describing some metabolic pathways that occur in skeletal muscle
tissue, liver, and especially hypothalamic, activated by hormones.
Key-words: exercise, hormones, metabolic pathways, food
consumption.
Palavras-chaves: exercício físico, hormônios, vias metabólicas,
consumo alimentar.
Recebido em 24 de junho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Waldecir Paula Lima, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
Coordenação de Educação Física, Rua Pedro Vicente, 625, 01109-010 Canindé SP, Tel: (11) 2763-7536, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O exercício de média ou alta intensidade é responsável por
gerar um balanço energético negativo [1,2]. Estudos longitudinais mostram indivíduos com perda de massa corporal em resposta à prática regular de um programa de exercícios físicos [3].
Embora os procedimentos metabólicos na geração de
energia durante a prática de exercícios físicos justifiquem a
manutenção da massa corporal, especula-se que esta prática
possa contribuir para um equilíbrio energético e metabólico
alterando a ingestão de nutrientes [1].
Estudos com animais submetidos a diversos protocolos de
treinamento físico apontam para uma melhora na sensibilidade à leptina em relação a animais controle sedentários [4-6].
É importante ressaltar que a leptina é responsável por inibir
a secreção do neuropeptídeo Y (NPY) e estimular a secreção
de POMC (pró-ópiomelanocortina) no núcleo arqueado do
hipotálamo, responsáveis, respectivamente, por aumentar e
inibir o consumo alimentar [7].
Diversos trabalhos apontam, também, que a prática de
exercício físico promove o aumento de algumas citocinas,
destacando-se as classes de interleucinas (ILs): IL-1, IL-6,
IL-1β e IL-10 [1,8]. Destas, especula-se que o aumento de
IL-6 relaciona-se ao aumento da atividade de 5’AMP proteína
cinase ativada (AMPK) nos tecidos, adiposo e musculoesquelético. Contudo, no hipotálamo a IL-6 promove a diminuição
da atividade de AMPK e acetil coenzima A carboxilase (ACC),
além de ativar a via da mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos), aumentando a fosforilação das proteínas p70S6K
(proteína ribossomal S6 cinase) e 4EBP1 (proteína de ligação
do fator inicial de tradução eucariótico 4E), sendo responsável
pelo controle da ingestão de nutrientes no hipotálamo [9].
A fosforilação de mTOR é uma importante via do controle
da ingestão alimentar e homeostase energética, pois por meio
da fosforilação da PI-3K (fosfoinositol 3 cinase) e da proteína
cinase B (Akt) há o aumento da fosforilação da mTOR e das
proteínas p70S6K ou 4EBP1; ressalta-se que esta via pode ser
inibida pelas baixas concentrações plasmáticas de nutrientes
como glicose e aminoácidos [1,9].
Exercício de endurance e metabolismo
O exercício físico de endurance é responsável por gerar
diversas alterações no metabolismo dos carboidratos, lipídios e das proteínas. O exercício físico aumenta a lipólise
no tecido adiposo [10], principalmente pelo aumento nas
concentrações plasmáticas de catecolaminas (adrenalina e
noradrenalina) combinadas a diminuição nas concentrações
de insulina, liberando ácidos graxos livres que serão captados
pelo músculo durante o exercício. Sendo assim, o exercício
físico é um importante modulador da secreção hormonal e
da produção e consumo de energia [11].
A lipólise e a mobilização de ácidos graxos livres durante
o exercício são influenciadas pelo estado nutricional, pela
173
intensidade do exercício e pelo nível de condicionamento
físico [10-13]. A contribuição total dos ácidos graxos livres
para a produção energética é dependente do volume do
exercício [10].
O exercício físico de endurance representa importante
estimulo na modulação da expressão gênica dos receptores
relacionados aos proliferadores de peroxissomas alfa, beta
e gama (PPARα, PPARβ e PPARγ) [14-16]. A ativação do
PPARα e PPARβ modula a expressão gênica de proteínas
envolvidas nos processos de oxidação lipídica, tais como,
piruvato desidrogenase cinase 4, malonil-CoA descarboxilase
e carnitina palmitoil transferase-1 [16].
Já o PPARγ é responsável por modular proteínas relacionadas ao processo de lipogênese e lipólise nos adipócitos e
hepatócitos respectivamente. Esta ação é exercida pela ativação
de proteínas como a sintetase de ácidos graxos (tecido adiposo)
e lipase hormônio sensível (fígado) [17,18].
A secreção das IL-1ra; IL-6 e IL-10 durante o exercício de
endurance é responsável por inibir a ação do TNF-α. Além
de atuarem endocrinamente participando da liberação de
ácidos graxos pelo tecido adiposo para posterior oxidação no
músculo esquelético [19]. O músculo esquelético é capaz de captar glicose durante o
exercício de endurance através de mecanismo que não utiliza
a insulina como ativador do Glut-4, mas, sim, o cálcio que
é liberado do retículo sarcoplasmático através da contração
muscular [20].
O exercício físico de endurance é um importante ativador
de 5’AMP proteína cinase ativada (AMPK). A AMPK é uma
proteína heterodimérica ativada pelo estresse celular associado
à depressão do ATP [20,21]. Sendo assim, ela é um importante
sensor da quantidade de energia da célula, refletindo a relação
entre AMP/ATP e creatina/fosfocreatina [20].
Desta forma, a ativação da AMPK no músculo esquelético
é dependente da intensidade do exercício físico. A ativação da
AMPK durante a contração muscular estimula a captação de
glicose através da translocação do GLUT-4 [20,22].
Além disso, o exercício físico é responsável, também, por
aumentar a taxa de difusão da glicose para a célula muscular,
visto que, após a sua captação a glicose é rapidamente fosforilada em glicose-6-fosfato pela ação enzimática da hexocinase
[23-25].
Exercício de endurance e consumo alimentar
Diversas pesquisas procuram mostrar a relação entre o
exercício físico de endurance e o consumo alimentar. Estudos
realizados com ciclistas e maratonistas descrevem uma redução
no consumo alimentar, por um fenômeno descrito como
“anorexia induzida pelo exercício físico” [26-28]. Entretanto, a literatura afirma não haver alterações crônicas geradas
pelo exercício físico de endurance em relação ao aumento do
consumo alimentar [29-31]. Ocorrendo então, apenas uma
ação temporária do exercício sobre o consumo energético [2].
174
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
O efeito do exercício físico de endurance está diretamente
relacionado com a secreção e ação hormonal. Dentre os hormônios envolvidos destacam-se a leptina, a grelina e a insulina
(hormônio secretado pelas células β-pancreáticas). Entretanto,
o exercício físico é capaz de modular a secreção de diversos
hormônios como o cortisol, as catecolaminas (adrenalina e
noradrenalina), GH, hormônios tireoidianos (T3 e T4) e os
hormônios gonadais (testosterona e estrogênio), estes que
por sua vez podem modular a secreção de leptina [31-33].
O exercício físico de endurance de alta intensidade é
responsável por reduzir as concentrações plasmáticas tanto
de insulina, quanto de leptina [33]. Entretanto, o exercício
físico é capaz de modular positivamente a sensibilidade da
ação destes dois hormônios podendo ser este um dos motivos
da anorexia induzida pelo exercício físico [34].
O estresse metabólico gerado pelo exercício físico de
endurance de alta intensidade é responsável por aumentar a
transcrição do gene da POMC pelos neurônios do núcleo
arqueado do hipotálamo e pelos neurônios do trato solitário.
A POMC por sua vez exerce seus efeitos biológicos através da
interação com seu receptores de melanocortina 3 e 4 (MC3R
e MC4R), levando a clivagem deste peptídeo e formação de
outros peptídeos como ACTH e α-MSH [35,36]. Este último
age em neurônios do núcleo do trato solitário inibindo o consumo alimentar [37]. Entretanto, os mecanismos envolvidos
nesta inibição ainda não estão totalmente elucidados [37].
A leptina é um hormônio constituído por 146 aminoácidos e secretado pelo tecido adiposo [32,38]. Atua no hipotálamo por meio do controle do balanço energético, ativando
o sinal anorexígeno [39-41].
A secreção da leptina é oriunda do gene “ob” em resposta
ao consumo alimentar, desencadeando assim um sinal anorexígeno em resposta ao aumento das concentrações plasmáticas
de leptina [42].
Estudos apontam que a administração de leptina em ratos
induz a uma menor expressão de neuropeptídeos ligados ao
aumento do consumo alimentar [43,44]. Em contrapartida,
o jejum diminui as concentrações plasmáticas de leptina,
aumentando o consumo alimentar [42].
A leptina ao se ligar em seu receptor no hipotálamo (ObRb) fosforila a proteína Janus cinase-2 (Jak-2), ativando a proteína STAT3 (em tirosina 705), promovendo a translocação
dessa proteína para o núcleo se ligando ao DNA e ativando o
fator transcricional SOCS3, gerando um feedback negativo na
fosforilação da Jak2. Em função do feedback negativo, ocorre
um cross-talk (refere-se a uma regulação cruzada entre uma
determinada via metabólica sobre outra via metabólica. A
este exemplo a ativação da via de sinalização intracelular da
leptina, ativa paralelamente a via de sinalização da insulina)
em relação às proteínas da cascata de sinalização da insulina
IRS-1 e IRS-2 (substratos do receptor de insulina 1 e 2).
O aumento da ativação da Akt gera sinalização intracelular
inibindo o consumo alimentar e modulação das ERKs, responsáveis pela homeostase energética [45].
A leptina é responsável, também, por reduzir a atividade de
proteínas como AMPK e ativar a proteína alvo de rapamicina
(mTOR) no hipotálamo [1], proteínas essas responsáveis pelo
controle da ingestão alimentar no hipotálamo.
Trabalhos como o de Saladin et al. [46] referem que a
insulina é um importante hormônio estimulante do gene
ob e consequentemente estimulante da secreção de leptina.
Segundo Tups [47], o principal sinalizador da leptina no
hipotálamo é a proteína PI-3k, que ativa Akt / PKB, por meio
de um cross-talk, desencadeando assim o sinal anorexígeno.
A grelina é um hormônio constituído por 28 aminoácidos
cuja secreção é feita pelas células estomacais em condições de
balanço energético negativo, produzindo um sinal orexígeno
- aumento do consumo alimentar - no hipotálamo [48,49].
Desta forma, a ação da grelina no hipotálamo é responsável
por aumentar a secreção de neurotransmissores ligados ao
aumento do consumo alimentar NPY e proteína relacionada
ao agoti (AgPR) e diminuir a secreção de neurotransmissores
ligados a restrição do consumo alimentar POMC e o fator
de transcrito relacionado a cocaína e anfetamina (CART)
[48,49].
Para que a grelina esteja biologicamente ativa, esta deve
ser acetilada no aminoácido serina pela ação da enzima Oaciltransferase (GOAT) [49]. Sendo assim, são encontradas
no plasma a forma acetilada e a forma não acetilada ou desacetilada. Destas, a forma não acetilada encontra-se em maior
concentração em relação à forma acetilada [50,51].
Estudos mostram que o exercício de endurance agudo é
capaz de diminuir as concentrações plasmáticas de grelina
acetilada. Contudo, o estudo de King et al. [52] avaliou a
concentração de grelina total (acetilada e desacetilada) após
doze semanas de treinamento de endurance e não mostrou
diferença estatística na quantidade de grelina acetilada entre
o grupo treinado e o grupo controle.
Exercício de força: metabolismo e consumo alimentar
É bem estabelecido que o treinamento de força pode
aumentar a área da secção transversa da fibra muscular, bem
como trazer ganhos de força e potência [53,54]. Isso decorre
das adaptações neuromusculares promovidas pelo treinamento
de força, especulando-se que com o estimulo mecânico há um
aumento no número de RNAs mensageiros (mRNAs) envolvidos na síntese proteica no músculo esquelético e, também,
na diminuição dos níveis de mRNAs de genes relacionados
com o catabolismo muscular [55].
Trabalhos como o de Zanchi et al. [55] mostram que o
treinamento de força é responsável por diminuir a expressão
de genes como Atrogina-1 e MuRF-1, em relação a ratos
sedentários, causando assim um aumento no ganho de força
e aumento na área da secção transversa da fibra muscular.
Outra relação com o treinamento de força é que ele é
capaz de aumentar a expressão de proteínas como a proteína
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
cinase B / Akt e a mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos),
responsáveis pela síntese proteica cursando com o aumento
da massa muscular [56].
O músculo esquelético é responsável, não apenas pelas
funções contráteis, mas, também, metabólicas do organismo
humano, como metabolismo de aminoácidos, carboidratos
e lipídeos, diminuindo a adiposidade e melhorando a sensibilidade a ação da insulina [56].
Os mecanismos de hipertrofia muscular, pelo treinamento
de força, envolvem múltiplos fatores, tais como, estímulo
mecânico, metabólicos, endócrinos e fatores neurais [53].
Estes fatores estão relacionados com a secreção de hormônios
como GH (Hormônio de Crescimento), testosterona e IGF-1
(fator de crescimento semelhante à insulina-1) responsáveis
pela resposta hormonal anabólica [57-61]. Ademais, estes
hormônios modulam a secreção e ação de hormônios como
insulina e leptina que podem atuar no núcleo arqueado do
hipotálamo através dos mecanismos já descritos controlando
o consumo alimentar e a homeostase energética.
É estabelecido que o IGF-1 exerce papel fundamental na
regulação da glicemia e homeostase energética. Os mesmos
autores relatam aumento nas concentrações plasmáticas de
IGF-1 decorrentes do exercício e da alimentação [62].
Diferentemente do exercício físico de endurance, pouco
se sabe a respeito das ações do exercício de força em relação à
homeostase energética e controle do consumo alimentar [63].
Em relação ao exercício físico de força, são bem conhecidos
os mecanismos que envolvem o crescimento muscular por
meio de uma complexa cascata de sinalização intracelular [58].
Conclusão
É bem estabelecido que o exercício físico modula as concentrações plasmáticas de diversos hormônios, dentre eles a
insulina e a leptina. Estes hormônios representam importantes
reguladores do consumo alimentar e da homeostase energética. Contudo, a cascata de sinalização destes hormônios
envolve a ativação de diversas proteínas-chave que podem
modular a sensibilidade e levar aos seus efeitos biológicos
finais. Tal cascata de sinalização é descrita em diversos trabalhos. Entretanto, todos os mecanismos que envolvem esta
cascata ainda não estão totalmente elucidados, bem como o
total efeito do exercício físico sobre o consumo alimentar.
Sendo assim, tornam-se necessários o desenvolvimento de
mais estudos que investiguem a relação do exercício físico em
diferentes intensidades e duração com estes hormônios reguladores da fome e saciedade, assim como os efeitos destes hormônios em relação a sua cascata de sinalização hipotalâmica.
Agradecimentos
Este trabalho foi apoiado por uma agencia brasileira de
financiamento (FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa
do Estado de São Paulo, nº 2010/08329-3).
175
Referências
1. Ropelle ER, Fernandes MF, Flores MB, Ueno M, Rocco S,
Marin R, et al. Central exercise action increases the AMPK and
mTOR response to leptin. PloS One 2008;3:e3856.
2. Martins C, Morgan L, Truby H. A review of the effects of
exercise on appetite regulation: an obesity perspective. Int J
Obes 2008;32:1337-47.
3. Wing RR, Hill JO. Successful weight loss maintenance. Annu
Rev Nutr 2001;21:323-41.
4. Flores MB, Fernandes MF, Ropelle ER, Faria MC, Ueno M,
Velloso LA et al. Exercise improves insulin and leptin sensitivity
in hypothalamus of Wistar rats. Diabetes 2006;55:2554-61.
5. Heymsfield SB, Greenberg AS, Fujioka K, Dixon RM, Kushner
R, Hunt T et al. Recombinant leptin for weight loss in obese
and lean adults: a randomized, controlled, dose-escalation trial.
Jama 1999;282:1568-75.
6. Van Heek M, Compton DS, France CF, Tedesco RP, Fawzi
AB, Graziano MP et al. Diet-induced obese mice develop
peripheral, but not central, resistance to leptin. J Clin Invest
1997;99:385-90.
7. Yee CL, Wang Y, Anderson S, Ekker M, Rubenstein JL. Arcuate
nucleus expression of NKX2.1 and DLX and lineages expressing
these transcription factors in neuropeptide Y(+), proopiomelanocortin(+), and tyrosine hydroxylase(+) neurons in neonatal
and adult mice. J Comp Neurol 2009;517:37-50.
8. Izquierdo M, Ibañez J, Calbet JA, Navarro-Amezqueta I, González-Izal M, Idoate F, et al. Cytokine and hormone responses
to resistance training. Eur J Appl Physiol 2009;107:397-409.
9. Ropelle ER, Pauli JR, Fernandes MF, Rocco SA, Marin RM,
Morari J, et al. A central role for neuronal AMP-activated
proteinkinase (AMPK) and mammalian target of rapamycin
(mTOR) in high-protein diet–induced weight loss. Diabetes
2008;57:594-605.
10. Stich V, Glisezinski I, Berlan M, Bulow J, Galitzky J, Harant
I et al. Adipose tissue lipolysis is increased during a repeated
bout of aerobic exercise. J Appl Physiol 2000;88:1277-283.
11. McMurray RG, Hackney AC. Interaction of metabolic hormones, adipose tissue and exercise. Sports Med 2005;35:393-412.
12. De Glisezinski I, Harant I, Crampes F, Trudeau F, Felez A,
Cottet-Emard JM et al. Effect of carbohydrate ingestion on
adipose tissue lipolysis during long exercise in trained men. J
Appl Physiol 1998;84:1627-32.
13. Kempen KP, Saris WH, Senden JM, Menheere PP, Blaak EE,
van Baak MA. Effect of energy restriction on acute adrenoreceptor and metabolic responses to exercise in obese subjects. Am J
Physiol Endocrinol Metab 1994;267:E694-E701.
14. Russell AP, Feilchenfeldt J, Schreiber S, Praz M, Crettenand A, Gobelet C et al. Endurance training in humans
leads to fiber type-specific increases in levels of peroxisome
proliferators-activated receptor-α in skeletal muscle. Diabetes
2003;52(2):874-81.
15. Tunstall RJ, Mehan KA, Wadley GD, Collier GR, Bonen A,
Hargreaves M et al. Exercise training increases lipid metabolism gene expression in human skeletal muscle. Am J Physiol
Endocrinol Metab 2002;283: E66-72.
16. Muoio DM, MacLean PS, Lang DB, Li S, Houmard JA,
Way JM et al. Fatty acid homeostasis and induction of lipid
regulatory genes in skeletal muscle of peroxisome proliferatoractivated receptor (PPAR) α Knockout mice. Evidence for
176
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
compensatory regulation by PPARβ. J Biological Chemistry
2002;277(26):89-97.
17. Petridou A, Tsalouhidou S, Tsalis G. Long-term exercise
increases de DNA binding activity of peroxisome proliferatoractivated receptor gamma in rat adipose tissue. Metabolism
2007;56(1):29-36.
18. Sugden MC, Zariwala MG, Holnes MJ. PPARs and orchestration of metabolic fuel selection. Pharmacol Res 2009;60:141150.
19. Petersen AMW, Pedersen BK. The anti-inflammatory effects of
exercise. J Appl Physiol 2005;98(1):154-62.
20. Rose AJ, Richter EA. Skeletal muscle glucose uptake during
exercise: how is it regulated? Physiology 2005;20:260-70.
21. Pereira LO, Lancha Junior AH. Effect of insulin and contraction
upon glucose transport in skeletal muscle. Biophys Mol Biol
2004;84:1-27.
22. Barnes BR, Marklund S, Steiler TL, Walter M, Hjalm G, Amarger V et al. The 5-AMP-activated protein kinase 3 isoform has
a key role in carbohydrate and lipid metabolism in glycolytic
skeletal muscle. J Biol Chem 2004;279:38441-47.
23. King PA, Hirshman MF, Horton ED, Horton ES. Glucose
transport in skeletal muscle membrane vesicle from control and
exercise rats. Am J Physiol Cell Physiol 1989;257:C1128-C34.
24. Sakamoto K, Aschenbach WG, Hirshman MF, Goodyer LJ. Akt
signaling in skeletal muscle: regulation by exercise and passive
stretch. Am J Physiol Endocrinol Metab 2003;285:E1081E1088.
25. Zinker BA, Lacy DB, Bracy D, Jacobs J, Wasserman DH. Regulation of glucose uptake and metabolism by working muscle.
An in vivo analysis. Diabetes 1993;42:956-65.
26. King NA, Blundell JE. High-fat foods overcome the energy
expenditure induced by high-intensity cycling or running. Eur
J Clin Nutr 1995;49:114-23.
27. Westerterp-Plantenga MS, Verwegen CR, Ijedema MJ,
Wijckmans NE, Saris WH. Acute effects of exercise or sauna on appetite in obese and nonobese men. Physiol Behav
1997;62:1345-54.
28. Lluch A, King NA, Blundell JE. Exercise in dietary restrained
women: no effect on energy intake but change in hedonic
ratings. Eur J Clin Nutr 1998;52:300-7.
29. Thompson DA, Wolfe LA, Eikelboom R. Acute effects of
exercise intensity on appetite in young men. Med Sci Sports
Exerc 1988;20:222-27.
30. King NA, Snell L, Smith RD, Blundell JE. Effects of short-term
exercise on appetite responses in unrestrained females. Eur J
Clin Nutr 1996;50:663-67.
31. Blundell JE, King NA. Physical activity and regulation of food
intake: current evidence. Med Sci Sports Exerc 1999;31:573-83.
32. Benatti FB, Lancha Junior AH. Leptina e exercício físico aeróbio: implicações da adiposidade corporal e insulina. Rev Bras
Med Esporte 2007;13:263-9.
33. Karamouzis I, Karamouziz M, Vrabas IS, Christoulas K, Kyriazis
N, Giannoulis E, et al. The effects of marathon swimming on
serum leptin and plasma neuropeptide Y levels. Clin Chem Lab
Med 2002;40:132-36.
34. Zoladz JA, Konturek SJ, Duda K, Majerczak J, Sliwowski Z,
Grandys M et al. Effect of moderate incremental exercise, performed in fed and fasted state on cardio-respiratory variables
and leptin and ghrelin concentrations in young healthy men.
J Physiol Pharmacol 2005;56:63-85.
35. Ellacott KL, Cone RD. The central melanocortin system and
the integration of short- and longterm regulators of energy
homeostasis. Recent Prog Horm Res 2204;59:395-408.
36. Fan W, Ellacott KL, Halatchev IG, Takahashi K, Yu P, Cone RD.
Cholecystokinin-mediated suppression of feeding involves the
brainstem melanocortin system. Nat Neurosci 2004;7:335-36.
37. Zheng H, Patterson LM, Rhodes CJ, Louis GW, Skibicka KP,
Grill HJ et al. A potencial role for hypothalamo-medullary
POMC projections in leptin-induced suppression of food intake. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2010;298:R7208.
38. Morash B, Li A, Murphy PR, Wilkinson M, Ur E. Leptin gene
expression in the brain and pituitary gland. Endocrinology
1999;40:5995-8.
39. Halaas JL, Gajiwala KS, Maffei M, Cohen SL, Chait BT, Rabinowitz D, et al. Weight-reducing effects of the plasma protein
encoded by the obese gene. Science 1995;269:543-6.
40. Priego T, Sánchez J, Palou A, Picó C. Leptin intake during the
suckling period improves the metabolic response of adipose
tissue to a high-fat diet. Int J Obes 2010;1:809-19.
41. Maia-Monteiro CM, Bozza P. Leptin and mTOR partners in
metabolism and inflammation. Cell Cycle 2008;7:1713-7.
42. Jéquier E. Leptin signaling, adiposity, and energy balance. Ann
NY Acad Sci 2002;967:379-88.
43. Caron E, Sachot C, Prevot V, Bouret SG. Distribution of leptinsensitive cells in the postnatal and adult mouse brain. J Comp
Neurol 2009;518:459-76.
44. Campfield LA, Smith FJ, Guisez Y, Devos R, Burn P. Recombinant mouse OB protein: evidence for a peripheral
signal linking adiposity and central neural networks. Science
1995;269:546-9.
45. Burgos-Ramos E, Chowen JA, Argente J, Barrios V. Regional
and temporal differences in leptin signaling in rat brain. Gen
Comp Endocrinology 2010;167:143-52.
46. Saladin R, De Vos P, Guerre-Millo M, Leturque A, Girard J,
Staels B et al. Transient increase in obese gene expression after
food intake or insulin administration. Nature 1995;377:527-9
47. Tups A. Physiological models of leptin resistance. J Neuroendocrinol 2009;21:961-71.
48. Toshinai K, Date Y, Murakami N, Shimada M, Mondal MS,
Shimbara T et al. Ghrelin-induced food intake is mediated via
the orexin pathway. Endocrinology 2003;144:1506-12.
49. Kageyama H, Takenoya F, Shiba K, Shioda S. Neuronal circuits
involving ghrelin in the hypothalamus-mediated regulation of
feeding. Neuropeptides 2009;44:133-8.
50. Akamizu T, Takaya K, Irako T, Hosoda H, Teramukai S, Matsuyama A et al. Pharmacokinetics, safety, and endocrine and
appetite effects of ghrelin administration in young healthy
subjects. Eur J Endocrinol 2004;150:447-55.
51. Hosoda H, Doi K, Nagaya N, Okumura H, Nakagawa E,
Enomoto M et al. Optimum collection and storage conditions
for ghrelin measurements: octanoyl modification of ghrelin is
rapidly hydrolyzed to desacyl ghrelin in blood samples. Clin
Chem 2004;50:1077-80.
52. King NA, Gibbons CH, Martins C. Ghrelin and obestatin
concentrations during puberty: relationships with adiposity,
nutrition and physical activity. Med Sport Sci 2010;55:69-81.
53. Goto K, Ishii N, Kizuka T, Takamatsu K. The impact of metabolic stress on hormonal responses and muscular adaptations.
Med Sci Sports Exerc 2005;36:955-63.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
54. Häkkinen K, Alen M, Kraemer WJ, Gorostiaga E, Izquierdo M,
Rusko H et al. Neuromuscular adaptations during concurrent
strength and endurance training versus strength training. Eur
J Appl Physiol 2003;89:42-52.
55. Zanchi NE, Siqueira Filho MA, Lira FS, Rosa JC, Yamashita
AS, Oliveira Carvalho CR et al. Chronic resistance training
decreases MuRF-1 and Atrogin-1 gene expression but does not
modify Akt, GSK-3beta and p70S6K levels in rats. Eur J Appl
Physiol 2009;106:415-23.
56. Baar K, Nader G, Bodine S. Resistance exercise, muscle loading
/ unloading and the control of muscle mass. Essays Biochem
2006;42:61-74.
57. Holm L, Reitelseder S, Pedersen TG, Doessing S, Petersen SG,
Flyvbjerg A et al. Changes in muscle size and MHC composition
in response to resistance exercise with heavy and light loading
intensity. J Appl Physiol 2008;105:1454-61.
58. Spiering BA, Kraemer WJ, Anderson JM, Armstrong LE, Nindl
BC, Volek JS et al. Resistance exercise biology manipulation
of resistance exercise programme variables determines the responses of cellular and molecular signalling pathways. Sports
Med 2008;38:527-40.
177
59. Bosco C, Colli R, Bonomi R, von Duvillard SP, Viru A. Monitoring strength training: neuromuscular and hormonal profile.
Med Sci Sports Exerc 2000;32:202-8.
60. Kraemer WJ, Marchitelli L, Gordon SE, Harman E, Dziados JE,
Mello R et al. Hormonal and growth factor responses to heavy
resistance exercise protocols. J Appl Physiol 1990;69:1442-50.
61. Mccall GE, Byrnes WC, Fleck SJ, Dickinson A, Kraemer WJ.
Acute and chronic hormonal responses to resistance training
designed to promote muscle hypertrophy. Can J Appl Physiol
1999;24:96-107.
62. Karl JP, Alemany JA, Koenig C, Kraemer WJ, Frystyk J,
Flyvbjerg A et al. Diet, body composition, and physical fitness
influences on IGF-I bioactivity in women. Growth Horm IGF
Res 2009;19:491-6.
63. Ballard TP, Christopher LM, Camus H, Matthew C, Pitts J,
Schmidt S et al. Effect of resistance exercise, with or without
carbohydrate supplementation, on plasma ghrelin concentrations and post-exercise hunger and food intake. Metabolism
2009;58:1191-9.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
178
Revisão
Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo
Cortisol and exercise: effects, secretion and metabolism
Juliano Ribeiro Bueno, Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa, D.Sc.
*Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL, Alfenas/MG
Resumo
A prática frequente de exercício físico traz inúmeros benefícios. O exercício modula uma série de reações orgânicas, contudo
os efeitos do exercício sobre os níveis e metabolismo do cortisol
ainda não estão totalmente esclarecidos. O objetivo deste estudo
foi realizar uma revisão sobre os efeitos do cortisol no exercício, de
sua secreção e metabolismo. Tem sido demonstrado na literatura
que o cortisol age como um antagonista fisiológico da insulina,
por promover a quebra das moléculas de carboidratos, lipídeos e
proteínas, desta maneira mobilizando as reservas energéticas. Isto
aumenta a glicemia e a produção de glicogênio pelo fígado. Uma vez
que o cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar
a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente efeito
negativo no rendimento esportivo. A ação muscular do cortisol
é ambígua: contribui para o catabolismo e perda muscular, mas,
simultaneamente, na ausência deste hormônio a contratilidade dos
músculos esquelético e cardíaco é reduzida. O catabolismo e perda
musculares verificam-se na presença de níveis elevados de corticosteróides. Embora o aumento de cortisol possa produzir efeitos
colaterais, o treinamento físico induz o desenvolvimento de diversos
mecanismos para proteger os tecidos de tais efeitos deletérios. Com
isto o organismo torna-se menos responsivo ao estresse.
Abstract
Physical exercise brings several benefits. Exercise modulates
several organic reactions; however the effects of the physical exercise
on the level and metabolism of cortisol are not completely clear.
The aim of this study was to review the effects of cortisol secretion
and metabolism on exercise. It has been shown in literature that
cortisol acts as a physiological antagonist of insulin, and promotes
carbohydrates, lipids and proteins cleavage thus mobilizing energetic
storages. It increases glicemia and liver glycogen production. Since
cortisol stimulates proteolysis, the cortisol increasing could lead
to muscular atrophy and strength decreases, with negative consequences to the sportive performance. The skeletal muscle action of
cortisol is ambiguous: it contributes to carbohydrate and muscle
loss, but simultaneously, without cortisol the skeletal and cardiac
muscle contraction is reduced. The catabolism and muscle loss only
occurs when corticosteroids levels are high. Although the increased
level of cortisol can produce side effects, physical training induces
the development of diverse mechanisms to protect cells and tissues
from the cortisol deleterious effects. So that the organism becomes
less responsive to stress.
Key-words: exercise, cortisol, stress.
Palavras-chave: exercício, cortisol, estresse.
Recebido em 14 de julho de 2011; aceito em 25 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Juliano Ribeiro Bueno, Praça do Pretório, 209, 37110-000 Elói Mendes MG, Tel: (35) 3264-1372,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O exercício físico tem um papel fundamental na melhoria
de vida do ser humano. Assim sendo o exercício físico vem
conquistando cada vez mais o número de adeptos. Mas é importante ressaltar que para a prática eficiente do exercício físico
sejam respeitados alguns princípios como volume, intensidade
e duração, que são variáveis que determinam a qualidade e
os benefícios do exercício físico. Sendo assim sabe-se que o
exercício físico quebra a homeostase alterando os sistemas
fisiológicos causando adaptações metabólicas, hormonais e
neuromusculares. Segundo Wilmore e Costil [1], o exercício
físico pode ser intensificado mediante o aumento da duração
ou da frequência dos períodos de treinamento, de acordo com
os objetivos e a especificidade de cada pessoa ou atleta. No
entanto, muitas vezes a relação inadequada de volume e intensidade pode levar a uma situação de estresse excessivo, que
não é desejável. Assim, neste trabalho será estudada a alteração
do sistema endócrino mediante ao exercício físico intenso.
Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o sistema endócrino
consiste em um órgão hospedeiro (glândula), minúsculas
quantidades de mensageiros químicos (hormônios) e um órgão-alvo ou receptor. Será observado no trabalho a adaptação
e alteração de um mensageiro químico do sistema endócrino
que tem uma função importante durante o exercício físico
intenso e de longa duração, o cortisol.
Os hormônios são as substâncias químicas sintetizadas
por glândulas hospedeiras específicas, secretadas para dentro
do sangue e carreadas por todo o corpo. O hormônio cortisol
é o principal glicocorticoide do córtex suprarrenal que afeta
profundamente o metabolismo da glicose, das proteínas
e dos ácidos graxos livres [2]. Segundo Wilmore e Costil
[1], evidências sugerem que as concentrações de cortisol
também aumentam durante o exercício, assim sendo aumenta o metabolismo proteico, liberando aminoácidos para
serem utilizados pelo fígado no processo da gliconeogênese.
Assim sendo o cortisol tem atividade predominantemente
catabólica, induzindo proteólise e lipólise, com aumento
da gliconeogênese hepática e elevação da glicemia segundo
França et al. [3].
Cortisol
Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o cortisol ou hidrocortisona é o principal glicocorticoide produzido pelo córtex
suprarrenal (10-20 mg diários), que afeta profundamente o
metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos
livres. Após a síntese, o cortisol passa para a corrente sanguínea onde a maior parte (mais de 60%) encontra-se ligada a
proteínas (SHBG e albumina) e o restante encontra-se livre
no plasma, que é a forma ativa. A concentração sanguínea
de cortisol não permanece constante durante todo o dia e
sua vida média é de 80-100 min, por isso a manutenção da
concentração sérica depende da síntese constante.
179
O ACTH, hormônio adrenocorticotrópico, funciona
como parte do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal
para regular a produção de hormônios secretados pelo córtex suprarrenal. As situações com uma alta carga emocional
ou as demandas estressantes da atividade física estimulam
o hipotálamo a secretar o fator liberador de corticotropina
que induz a hipófise anterior a liberar ACTH. Por sua vez, o
ACTH promove a liberação de glicocorticoides pelo córtex
suprarrenal. Segundo Canali e Kruel [4], o ACTH tem a
função de regular o crescimento e a secreção do córtex adrenal, do qual a principal secreção é o cortisol, além de outros
glucocorticoides e aminas biogênicas [5].
Os efeitos biológicos do cortisol incluem o catabolismo
de proteína em todas as células do organismo, com exceção do fígado e uma vez na circulação, os aminoácidos são
translocados para o fígado para serem transformados em
glicose através da gliconeogênese; facilitam a ação de outros
hormônios, principalmente glucagon e GH, no processo da
gliconeogênese; funcionam como antagonista da insulina,
por inibir a captação e a oxidação da glicose; promovem a
ativação de lipase e a degradação dos triglicerídeos no tecido
adiposo, formando glicerol e ácidos graxos, que são utilizados
nos tecidos ativos, para produção de energia; promovem a
adaptação ao estresse; e a manutenção de níveis de glicose
adequados mesmo em períodos de jejum [4,3]. Segundo
Wilmore e Costil [1], o cortisol também é conhecido por
diminuir a utilização de glicose, poupando-a para o cérebro;
por atuar como um agente anti-inflamatório; por deprimir
as reações imunológicas; e por aumentar a vasoconstrição
causada pela adrenalina.
Os glicocorticoides e, mais especificamente, o cortisol são
hormônios catabólicos no músculo esquelético e seus efeitos
incluem a conversão de aminoácidos em carboidratos, aumento das enzimas proteolíticas, inibição da síntese de proteínas
e aumento da degradação de proteínas [6]. Uma vez que o
cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar
a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente
efeito negativo no rendimento esportivo [7].
Exercício e cortisol
Durante um período de treinamento podem ocorrer
adaptações fisiológicas em resposta à sobrecarga aplicada, resultando em melhora no desempenho desportivo. No entanto,
muitas vezes uma relação inadequada entre o volume (por
exemplo, distância de corrida) e a intensidade do treinamento
(por exemplo, velocidade de corrida) pode resultar em condições indesejáveis como overtraining. Este está associado a
uma recuperação incompleta entre as sessões de treinamento.
Como sintomas do overtraining destacam-se a fadiga crônica,
perda do apetite, diminuição do desempenho, aumento da
frequência cardíaca de repouso, infecções frequentes, distúrbios do sono, alterações de humor e o desinteresse geral do
atleta pelo treino [8,9]. O hormônio cortisol, cuja produção
180
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
é aumentada em situações de estresse (como o treinamento
intenso e de longa duração), está relacionado com o catabolismo dos tecidos muscular esquelético e adiposo [10].
Dressendorfer et al.[11] demonstraram que corredores
de longa distância não apresentaram aumento da concentração basal de cortisol. Maestu, Jurimae e Jurimae [12],
trabalhando com atletas remadores em período de treinamento, observaram que a concentração de cortisol permaneceu relativamente constante. Entretanto, outros autores
[13,14] mostraram diminuição da concentração basal de
cortisol em corredores, após período de treinamento de
endurance. Fernandez-Garcia et al. [15] também observaram
diminuição da concentração basal de cortisol em ciclistas
durante período de competição intensa. Bonifazi et al. [16]
mostraram que a diminuição da concentração de cortisol
está associada com melhora na performance de nadadores
em treinos. Os mesmos autores [17] mostraram diminuição
na concentração de cortisol de repouso de nadadores ao
final do período com alto volume de treino. Estas alterações
ocorreram no grupo avaliado. Entretanto, essas modalidades
esportivas são de caráter individual. Os valores obtidos nesses
resultados são similares àqueles mostrados por Bauer et al.,
[18]. Estes autores mostraram valores de concentração de
cortisol salivar em torno de 25nmol/L para grupo controle.
Simões et al. [6] estudaram a resposta da razão testosterona/
cortisol durante o treinamento de corredores velocistas e
fundistas e observaram que não houve diferença significante
para os valores médios da razão T/C para ambos os grupos
após o período de treinamento. No entanto, quando se
observa o comportamento individual da razão T/C, nota-se
uma resposta adaptativa adequada para alguns indivíduos e
inadequadas para outros, sendo que a maior incidência de
queda da razão T/C foi observada entre os CF. Os autores
concluíram que a utilização da razão T/C para o controle das
cargas de treinamento deve ser feita individualmente, e que
aparentemente esta variável sofre uma maior influência do
volume do treinamento do que da intensidade do mesmo.
Conclusão
O exercício induz aumento da secreção de cortisol, por
estímulo do eixo HPA. Embora o aumento de cortisol possa
produzir efeitos colaterais, o treinamento físico induz o
desenvolvimento de diversos mecanismos para proteger os
tecidos de tais efeitos deletérios. A modulação dos níveis
séricos de cortisol livre (forma ativa) pela ligação à globulina
ligante de cortisol e ativação da enzima conversora de cortisol em cortisona (forma inativa) parecem ser os principais
mecanismos estimulados pelo exercício físico. Com isto o
organismo torna-se menos responsivo ao estresse o que traz
efeitos benéficos para a saúde física e mental, protegendo-o
contra as consequências do estresse crônico e de doenças
relacionadas ao estresse.
Referências
1. Wilmore JH, Costill DL. 2 ed. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole; 2001. 726 p.
2. Mcardle W, Katch FI, Katch VL. Fundamentos de fisiologia do
exercício. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 692 p.
3. França SC, Neto TLB, Agresta MC, Lotufo RFM, Kater CE.
Resposta divergente da testosterona e do cortisol séricos em
atletas masculinos após uma corrida de maratona. Arq Bras
Endocrinol Metab 2006;50:1082-7.
4. Canali ES, Kruel LFM. Respostas hormonais ao exercício. Rev
Paul Educ Fís 2001;15:141-53.
5. Leandro C, Nascimento E, Manhães-de-Castro R, Duarte
JA, Castro CMMB. Exercício físico e sistema imunológico:
mecanismos e integrações. Rev Port Ciênc Desp 2002;2:80-90.
6. Simões HG, Marcon F, Oliveira F, Campbell CSG, Baldissera
V, Costa Rosa LFBP. Resposta da razão testosterona/cortisol
durante o treinamento de corredores velocistas e fundistas. Rev
Bras Educ Fís Esp 2004;18:31-46.
7. Coltinho H, Brinco RA, Diniz SH. Respostas hormonais da
testoterona e cortisol depois de determinado protocolo de hipertrofia muscular. Rev Bras Prescr Fisiol Exerc 2007;1:72-77.
8. Fry AC, Kraemer WJ, Ramsey LT. Pituitary-adrenal gonadal
responses to high-intensity resistance exercise overtraining. Eur
J Appl Physiol 1998;85:2352-9.
9. Mackinnon LT. Special feature for the Olympics: effects of exercise on the immune system: overtraining effects on immunity
and performance in athletes. Immunol Cell Biol 2000;78:502-9.
10. Hoffman JR, Falk B, Radom-Isaac S, Weinstein Y, Magazanik
A, Yarom Y. The effect of environmental temperature on testosterone and cortisol responses to high intensity, intermittent
exercise in humans. Eur J Appl Physiol 1997;75:83-7.
11. Dressendofer RH, Wade CE. Effects of a 15-d race on plasma
steroid levels and leg muscle fitness runners. Med Sci Sports
Exerc 1991;23:954-8.
12. Maestu J, Jurimae J, Jurimae T. Hormonal reactions during
heavy training stress and following tapering in highly trained
male rowers. Horm Metab Res 2003;35:109-13.
13. Wheeler GD, Singh M, Pierce WD, Epling WF, Cumming
DC. Endurance training decreases serum testosterone levels in
men without change in luteinizing hormone pulsatile release.
J Clin Endocrinol Metab 1991;72:422-5.
14. Wittert GA, Livesey JH, Espiner EA, Donald RA. Adaptation of
the hypothalamopituitary adrenal axis to chronic exercise stress
in humans. Med Sci Sports Exerc 1996;28:1015-9.
15. Fernadez-Garcia B, Lucía A, Hoyos J, Chicharro JL, RodriguezAlonso M, Bandrés F, Terrados N. The responses of sexual and
stress hormones of male pro-cyclists during continuous intense
competition. Int J Sports Med 2002;23:555-60.
16. Bonifazi M, Bela E, Carli G, Lodi L, Martelli G, Zhu B, et
al. Influence of training on the response of androgen plasma
concentrations to exercise in swimmers. Eur J Appl Physiol
1995;70:109-14.
17. Bonifazi M, Sardella F, Lupo C. Preparatory versus main competitions: differences in performances, lactate responses and
pre-competition plasma cortisol concentrations in elite male
swimmers. Eur J Appl Physiol 2000;82:368-73.
18. Bauer ME, Vedhara K, Perks P, Wilcock GK, Lightman SL,
Shanks N. Chronic stress in caregivers of dementia patients is
associated with reduced lymphocyte sensitivity to glucocorticoids. J Neuroimmunol 2000;103:84-92.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
181
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de
artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet)
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já
aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas
Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para
nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos;
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se
unicamente ao estilo literário.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o
nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos
acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo
endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será
publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do
grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total
de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
-Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet
seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser
numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em
ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu
nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. NewYork: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais
de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed
in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados
todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação
latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora.
com.br
182
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Calendário de eventos
2011
2012
Outubro
Janeiro
5 a 7 de outubro
14 a 18 de janeiro
I Simpósio de Atualização em Fisiologia: Neurofisiologia e
I Mostra de Projetos de Pesquisa em Fisiologia
Uruguaiana, RS
Informações: [email protected]
Congresso Internacional de Educação Física – FIEP
Foz de Iguaçu
Tel: (45) 3523-0039
Março
6 a 8 de outubro
34º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte
São Paulo, SP
Informações: www.simposiocelafiscs.org.br
Novembro
19 a 21 de março
The Biomedical Basis of Elite Performance
London, UK
Informações: www.physoc.org/meetings
Abril
9 a 12 de novembro
2 a 5 de abril
VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física
Gramado, RS
Informações: www.cbafs.org.br
Dezembro
XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação
Física dos Países de Língua Portuguesa
Belo Horizonte, MG
Informações: www.casaef.org.br/palops
6 a 8 de dezembro
Vascular & Smooth Muscle Physiology Themed Meeting
Edinburgh, UK
Informações: www.physoc.org/vs2011
Junho
26 a 29 de junho
4th International Congress on Cell Membranes and
Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP
Channels, Isparta, Turkey
Informações: www.cmos.org.tr/2012/
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 10 número 4 - outubro/dezembro 2011
EDITORIAL
Novos objetivos de pesquisas, Walace D. Monteiro...........................................................................................................187
ARTIGOS ORIGINAIS
Nutrição e suplementos dietéticos: o que praticantes de atividade física de um clube
de São Paulo sabem sobre isso? Natália de Almeida Araújo, Patrícia Miquilim Seki,
Pedro Simonsen Teixeira Multari, Renata Farrielo de Campos, Renata Furlan Viebig..........................................................188
Efeitos agudos do método Pilates nos valores glicêmicos: estudo experimental,
Karize Tanita Martins de Souza, Adroaldo José Casa Júnior, Claudio Vieira de Araújo,
Lissandra Glusczak..............................................................................................................................................................197
Utilização do strap na puxada fechada com pegada neutra na roldana alta,
Luiz Alberto Werneck, Eduardo Lattari, Edmilson de Carvalho..........................................................................................205
Efeitos da suplementação com carboidrato em forma de gel sobre os níveis sanguíneos
de glicose e lactato pré e pós-exercício em ratas não treinadas, Maria Laura da Costa Louzada,
Júlia Luzzi Valmórbida, Jadson Pereira Alves, Ramiro Barcos Nunes....................................................................................209
Lesões musculoesqueléticas em atletas de elite da prova de salto em altura,
Mônica Araújo de Freitas, Alexandre Sabbag da Silva, Angélica Castilho Alonso.................................................................213
Efeito agudo do treinamento aeróbio contínuo e variado na glicemia de portadores
de diabetes mellitus do tipo 2, Jean Flávio Alves, Antônio Coppi Navarro,
Paulo Ferreira de Araújo, Rita de Fátima da Silva................................................................................................................219
Efeito da estimulação mecânica vibratória aplicada durante o intervalo entre séries
no trabalho de força sobre o volume de treinamento em séries múltiplas no exercício
supino horizontal, Natasha Lama, Tainah Lima, Lenifran Santos, Walace Monteiro..........................................................225
REVISÕES
Alterações fisiológicas e bio-ajustamentos provocados pela prática do ciclismo indoor,
Cleomar Rodrigues Romeiro...............................................................................................................................................231
Regulação autonômica da frequência cardíaca em pacientes infectados pelo HIV,
Juliana Pereira Borges, Paulo de Tarso Veras Farinatti..........................................................................................................235
A mioglobina: oferta de oxigênio no músculo, Flávio Inácio Bachini,
Mauro Lucio Mazini Filho, Felipe José Aidar, Rosimar da Silva Salgueiro,
Dihogo Gama de Matos......................................................................................................................................................240
NORMAS DE PUBLICAÇÃO.............................................................................................................................. 215
EVENTOS................................................................................................................................................................ 246
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
186
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro
Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Robert Robergs (EUA)
Douglas S. Brooks (EUA)
Rosane Rosendo (SC)
Emerson Silami Garcia (MG)
Sebastião Gobbi (SP)
Francisco Martins (PB)
Steven Fleck (EUA)
Francisco Navarro (SP)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Luiz Carnevali (SP)
Vilmar Baldissera (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
E-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Editor assistente
Guillermina Arias
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 / 3361 9932
E-mail: [email protected]
Assinatura
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
[email protected]
Direção de arte
Cristiana Ribas
[email protected]
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou
distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright,
Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
187
Editorial
Novos objetivos de pesquisas
Walace D. Monteiro, Editor associado
Chegamos ao final de 2011 e a Revista Brasileira de
Fisiologia do Exercício concluiu o segundo ano consecutivo
de publicação trimestral, o que nos permite alçar vôos mais
altos. O número de artigos submetidos aumentou consideravelmente e os temas de interesse também, o que resultou
em uma melhor qualidade das pesquisas publicadas. O
próximo passo é solicitar a indexação da revista em bases
de dados que permitam a maior visibilidade dos trabalhos
nela publicados. Com isso, espera-se que o Qualis da revista
aumente ano a ano.
Para 2012 alguns objetivos estão traçados. Entre eles
destacamos a consolidação do processo de submissão online
e o aumento do corpo de revisores, para agilizar o processo
de publicação e incrementar as áreas temáticas da revista.
Além disso, atendendo a diversas solicitações, estamos implantando um segmento destinado aos aspectos fisiológicos
e da prescrição de exercícios na criança, incluindo-se aí uma
atenção especial para a Educação Física Escolar. Por fim,
como os Jogos Olímpicos serão realizados no Brasil em 2016,
estamos incentivando os pesquisadores a encaminharem suas
investigações direcionadas ao esporte em geral, incluindo-se
também o desporto Para-Olímpico. Acreditamos que essas
vertentes atingirão grande crescimento no país e a produção
de pesquisas nessas áreas também.
É importante fechar esse editorial com alguns
agradecimentos. Em primeiro lugar agradecemos aos
revisores da RBFEx pelo excelente e ágil trabalho realizado.
Agradecemos também aos pesquisadores que submeteram
suas investigações, o que vem possibilitando o crescimento
da revista. Por fim, nosso fraterno agradecimento aos profissionais da Editora Atlântica, pelo apoio e qualidade que vem
imprimindo em seu trabalho.
Feliz Natal e Um ano Novo cheio de saúde e prosperidade!
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
188
Artigo original
Nutrição e suplementos dietéticos: o que praticantes
de atividade física de um clube de São Paulo
sabem sobre isso?
Nutrition and dietary supplements:
what gym goers of a club in São Paulo know about it?
Natália de Almeida Araújo*, Patrícia Miquilim Seki*, Pedro Simonsen Teixeira Multari**, Renata Farrielo de Campos***,
Renata Furlan Viebig, D.Sc.****
*Nutricionistas pelo Centro Universitário São Camilo (SP),**Graduando do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo
(SP), ***Nutricionista e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética pelo Centro Universitário São Camilo (SP),**** Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo (SP) e da Universidade
Presbiteriana Mackenzie (SP)
Resumo
O objetivo do presente estudo foi avaliar o conhecimento em
nutrição e de suplementos dietéticos em praticantes de atividade
física de um clube esportivo da cidade de São Paulo. A pesquisa
foi do tipo transversal, com coleta de dados primários, realizado
com adultos praticantes de atividade física. Foi desenvolvido um
instrumento para coleta de dados composto por um questionário
com questões objetivas. A amostra foi composta por 108 indivíduos, sendo 52,8% do gênero feminino e 47,2% do masculino. Os
desportistas mostraram assiduidade na prática de atividade física
e o principal objetivo citado foi a qualidade de vida (72,2%). A
atuação do nutricionista esportivo era importante para 98% dos
participantes. Quando questionados sobre os macronutrientes e suas
funções, 76% responderam corretamente a questão. Quanto às substituições dos alimentos de acordo com seu valor nutricional, houve
77% de acertos. Cerca de 60% dos desportistas alegaram conhecer
suplementos dietéticos, entretanto, menos de 10% dos participantes
consumiam esses produtos. Após o término do estudo, percebemos a
necessidade do nutricionista na área esportiva e sua importância para
os frequentadores de academias e clubes esportivos. Somente com a
atuação efetiva deste profissional será possível promover mudanças
comportamentais e no estilo de vida desta população.
Abstract
The objective of this study was to evaluate the nutrition and
dietary supplements knowledge by gym goers in a fitness club at São
Paulo. This was a cross-sectional survey, with primary data collection,
conducted with adults engaged in physical activity. A questionnaire
with objective questions was developed for analyzing the data. The
sample consisted of 108 individuals: 52.8% female and 47.2% male.
The sportsmen showed diligence in the practice of physical activity
and the main goal cited was the quality of life (72.2%). 98% of
the participants considered important to have sports nutritionists
to assist them. When asked about the nutrients and their functions,
76% answered the question correctly. 77% answered correctly the
question in regard to the substitution of foods according to their
nutritional value. About 60% of the participants alleged to know
dietary supplements, however, less than 10% consumed these products. After finishing the study, we perceived the need of a sport
nutritionist and his importance to attend people in fitness and sports
clubs. Only with the participation of this professional it will be possible to promote behavior and lifestyle changes of this population.
Key-words: fitness centers, motor activity, nutritional knowledge,
dietary supplements.
Palavras-chave: academias de ginástica, atividade física,
conhecimento nutricional, suplementos dietéticos.
Recebido em 15 de agosto de 2011; aceito em 19 de outubro de 2011.
Endereço para correspondência: Natália de Almeida Araújo, Rodovia Régis Bittencourt, 1335/83 C, 06768-100 Taboão da Serra SP,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
A crescente valorização do corpo, tanto pela mídia quanto pela própria sociedade, vem ocasionando o aumento da
procura de pessoas pela prática de exercícios físicos oferecidos
pelas academias de ginástica. As academias de ginástica e
musculação tornaram-se uma opção para a população urbana,
que adere ao exercício físico com o intuito de obter melhorias
em seu bem-estar geral. Dentre os objetivos que os indivíduos
apresentam ao frequentar academias estão a busca pelo melhor
condicionamento físico, a manutenção da saúde, além de
motivos estéticos [1-8].
Os frequentadores de academias de ginástica são, em geral,
indivíduos com alta escolaridade, com motivação e recursos
para a prática de atividades físicas e para uma alimentação
saudável e com acesso a informações sobre nutrição e atividade
física [3,9,10].
Entretanto, embora tenham acesso a informações, alguns
usuários de academia utilizam recursos para obter resultados
mais rápidos, mesmo sem conhecer os riscos à saúde, como é
o caso do consumo indiscriminado de suplementos dietéticos,
os quais são comercializados livremente. Muitas vezes, devido
a informações incorretas de profissionais despreparados, esses
indivíduos acabam aderindo formas de conseguir alcançar seu
objetivo que nem sempre são corretas [1,4,7,11,12].
Segundo Albino, Campos e Martins [12], em um estudo
realizado em Lages/SC com 120 voluntários praticantes de
exercícios físicos, 63% dos participantes utilizavam algum tipo
de suplemento nutricional. Lollo e Tavares [13] encontraram
resultados semelhantes em um estudo realizado em Campinas/
SP, onde a maioria dos participantes declarou consumir mais
de um tipo de suplemento dietético (70,2%).
Em geral, observa-se que esses frequentadores de academia
sofrem influência de treinadores, amigos, mídia, entre outros,
além do próprio desejo por um padrão corporal pré-estabelecido, o que os leva a consumir suplementos nutricionais
indiscriminadamente [1,6,14].
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), atualmente, são considerados alimentos para
atletas: suplementos hidroeletrolíticos, suplementos energéticos, suplementos proteicos, suplementos para substituição
parcial de refeições, suplementos de creatina e suplementos
de cafeína. A ANVISA reforça que atletas são aqueles praticantes de exercício físico com especialização e desempenho
máximos com o objetivo de participação em esportes com
esforço muscular intenso [15].
Dessa forma, é importante ressaltar que possíveis efeitos
ocasionados pelos suplementos alimentares, podem beneficiar
atletas, mas não são recomendados para praticantes de atividade física, com exceção àqueles que consultarem um médico
ou nutricionista, pois esses profissionais são habilitados e
capacitados para prescrever o uso desses produtos [4].
Na atualidade, considera-se que a prática da atividade
física, seja ela com o objetivo de promoção da saúde, quali-
189
dade de vida ou com o intuito competitivo, é amplamente
beneficiada pela adoção de hábitos alimentares adequados
[6,14,16,17].
A nutrição adequada baseada na alimentação equilibrada
e aliada aos exercícios físicos pode aumentar o desempenho
nos exercícios realizados por praticantes de atividades físicas,
bem como melhorar a competitividade dos atletas [5].
Portanto, há uma necessidade crescente de orientação e
educação em nutrição esportiva para ajudar esses indivíduos a
melhorar seus hábitos alimentares e também seu rendimento
nos exercícios [6,14,18].
O presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento em nutrição e de suplementos dietéticos, bem como
o seu uso em praticantes de atividade física de um clube
esportivo da cidade de São Paulo.
Material e métodos
Delineamento do estudo
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com coleta
de dados primários nos meses de outubro e novembro de
2010.
Local do estudo
O estudo foi realizado em uma academia de ginástica
inserida dentro de um clube esportivo de uma grande instituição bancária, o qual está localizado na região Sul da cidade
de São Paulo.
População de estudo e amostra
Este estudo foi realizado com adultos praticantes de
atividade física, frequentadores da academia. A amostra
foi composta por 108 indivíduos, sendo 52,8% (n = 57)
do gênero feminino e 47,2% (n = 51) do gênero masculino. Os critérios de inclusão foram: a) o participante
ser frequentador da academia do clube esportivo; b) o
participante realizar treinos de musculação, ginástica,
condicionamento físico, corrida e/ou boxe independente
de quanto tempo pratica atividade física; c) o participante
apresentar idade igual ou superior a 20 anos e igual ou
inferior a 60 anos.
Coleta de dados
Os participantes foram abordados de forma aleatória na
academia do clube, em 4 dias alternados e em todos os períodos (matutino, vespertino e noturno).
A proposta e os objetivos do trabalho eram apresentados
aos possíveis participantes e era solicitada a assinatura do
desportista no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, caso ele concordasse em participar do estudo. Em
190
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
seguida, era entregue ao participante um questionário com
questões objetivas. Esse questionário era preenchido por
cada participante da pesquisa. Algumas questões possibilitavam escolher mais de uma alternativa. O questionário
continha questões pessoais (nome, idade, sexo, modalidade); questões voltadas à prática de atividade física (há
quanto tempo faz academia, quantas horas de treino/dia,
objetivos, importância do nutricionista na área esportiva);
questões básicas sobre nutrição (fontes de carboidratos,
proteínas e gorduras da dieta, suas funções e substituições
por alimentos de mesmo valor nutricional); questões voltadas ao conhecimento e uso de suplementos alimentares
(objetivos, indicação, eficácia).
Após o indivíduo preencher o questionário, estagiários
de Nutrição entregavam um folder com dicas de alimentação
saudável e forneciam algumas orientações nutricionais de
acordo com as dúvidas do participante.
Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada por meio da avaliação de
proporções e medidas de tendência central (média e desvio-padrão), com auxílio do software Microsoft Office Excel
(versão 2007).
Aspectos éticos
Todos os participantes foram devidamente informados
sobre os objetivos e os procedimentos realizados. O estudo
teve participação voluntária, sem despesas e bonificações, não
foram utilizados métodos invasivos, não causou nenhum tipo
de risco à saúde e/ou integridade dos participantes, mantendo
o sigilo sobre os dados coletados. O presente estudo faz parte de um projeto maior intitulado
“Avaliação Nutricional de atletas e praticantes de atividade
física da Região Metropolitana de São Paulo” aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) do Centro Universitário
São Camilo, sob o nº 047/05.
Resultados
Foram avaliados 108 praticantes de atividade física, com
idade média de 40 anos (± 10,8), sendo 52,8% mulheres.
Com relação à escolaridade, observamos que 61,1% dos
praticantes tinham pelo menos o ensino superior completo,
sendo que destes, 10,2% haviam completado um curso de
Pós-graduação.
Diversas profissões foram encontradas, sendo as principais: professor (11,1%), comerciante (9,3%), administrador
(5,6%), analista (5,6%) e vendedor (5,6%).
Apenas 13,9% dos indivíduos relataram possuir alguma
doença, sendo o aumento nos níveis de colesterol o problema de saúde mais citado (53,3%), seguido de 46,7% de
indivíduos que mencionaram ter problemas de hipertensão
arterial sistêmica.
Os participantes também foram questionados sobre o
consumo de bebidas alcoólicas e o consumo de cigarros, apenas 6,5% afirmaram ser fumantes e 62% revelaram consumir
bebidas alcoólicas.
De acordo com a Tabela I, observamos que aproximadamente 73% da população estudada praticava atividade
física há mais de um ano, com destaque para 37% dos
homens que praticavam há mais de dez anos. Em relação à
duração dos treinos, notamos que aproximadamente 74%
das mulheres permaneciam de uma a duas horas por dia na
academia, sendo que 8,7% treinavam três ou mais horas
por dia. No que se refere à frequência de atividade física
durante a semana, aproximadamente metade das mulheres
frequentava a academia por três vezes na semana e 22,8%
o faziam de quatro a seis vezes por semana. No caso dos
homens, 37,3% frequentavam a academia de quatro a seis
vezes na semana.
Tabela I - Distribuição dos praticantes de atividade física, segundo
tempo, duração e frequência da prática de atividade física, por sexo.
São Paulo, 2010.
Feminino
(n = 57)
n
%
Tempo que pratica atividade física
Menos de 6 meses
11 19,3
Até 1 ano
7 12,2
De 1 a 5 anos
15 26,3
De 5 a 10 anos
12 21,1
Mais de 10 anos
12 21,1
Masculino
TOTAL
(n = 51) (n = 108)
n
%
n
%
(meses/anos)
9 17,6 20 18,5
2
3,9
9
8,3
11 21,6 26 24,1
10 19,6 22 20,4
19 37,3 31 28,7
Duração da atividade física (horas/dia)
Menos de 1 hora por dia 10 17,5 7 13,7 17
1-2 horas por dia
21 36,9 27 52,9 48
2-3 horas por dia
21 36,9 16 31,4 37
Mais de 3 horas por dia 5
8,7
1
2,0
6
Frequência de atividade física (vezes/semana)
1x por semana
1
1,8
1
2,0
2
2x por semana
15 26,3 9
17,6 24
3x por semana
28 49,1 22 43,1 50
4x por semana
11 19,3 14 27,5 25
5-6x por semana
2
3,5
5
9,8
7
15,7
44,4
34,3
5,6
1,9
22,2
46,3
23,1
6,5
Na Figura 1, observamos que, para a maioria dos indivíduos pesquisados, a qualidade de vida era o principal
objetivo da prática da atividade física (72,2%), sendo que
para mais da metade das mulheres (54,4%) emagrecer
também aparecia como uma prioridade. No caso dos homens, a saúde foi a segunda maior preocupação (45,1%),
seguida do aumento de massa muscular (41,2%). Notamos
que o objetivo de competição só foi citado pelo gênero
masculino (13,7%).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Figura 1 - Objetivos para a prática de atividade física por praticantes de atividade física, segundo o gênero. São Paulo, 2010.
90,0%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
191
esta questão, verificou-se que 40% dos indivíduos afirmaram,
erroneamente, que verduras e frutas são alimentos proteicos.
Tabela III - Conhecimento em número e porcentagem da população em relação aos alimentos fontes de proteínas na dieta conforme
gênero. São Paulo, 2010.
Qualidade Saúde Emagrecer Aumentar
de vida
massa
muscular
Lazer Competição
Gênero masculino
Gênero feminino
TOTAL
No presente estudo foi constatado que 98% dos participantes acreditavam que é importante a atuação do nutricionista dentro das academias de ginástica e clubes esportivos.
Quando questionados sobre a relação de macronutrientes e suas funções, 76% da população analisada respondeu
corretamente a questão, 19,4% erraram e apenas 4,6% não
souberam responder a questão.
Segundo a Tabela II, aproximadamente 92% da amostra
de ambos os gêneros afirmaram que arroz e batata eram fontes
de carboidratos. Entretanto, uma minoria sabia que frutas e
mel (21,3% e 14,8%, respectivamente) também eram fontes
desse nutriente. O erro mais encontrado nesta questão foi a
classificação do feijão como fonte de carboidratos (cerca de
30%). Também é relevante ressaltar que 10% dos homens
citaram peixes como fontes de carboidratos.
Acertos
Fígado
Carnes
Iogurte
Atum
Ovo
Erros
Manteiga
Arroz
Verduras
Frutas
Acertos
Mel
Arroz
Batata
Farinha
Frutas
Erros
Feijão
Ovo
Peixe
Carnes
Masculino
(n = 51)
n
%
TOTAL
(n = 108)
n
%
3
53
55
45
10
5,3
93,0
96,5
78,9
17,5
13
46
44
34
13
25,5
90,2
86,3
66,7
25,5
16
99
99
79
23
14,8
91,7
91,7
73,1
21,3
12
1
1
4
21,1
1,8
1,8
7,0
20
4
5
2
39,2
7,8
9,8
3,9
32
5
6
6
29,6
4,6
5,6
5,6
Na Tabela III, em relação às fontes de proteína, a carne
obteve um percentual maior de acertos dentre homens e mulheres (88,9%). Já o iogurte, foi citado por menos de 30% da
amostra como sendo fonte desse macronutriente. Ainda sobre
Masculino
(n = 51)
n
%
TOTAL
(n = 108)
n
%
38
53
19
26
40
66,7
93,0
33,3
45,6
70,2
34
43
12
34
37
66,7
84,3
23,5
66,7
72,5
72
96
31
60
77
66,7
88,9
28,7
55,6
71,3
8
1
8
14
14,0
1,8
14,0
24,6
1
4
11
10
2,0
7,8
21,6
19,6
9
5
19
24
8,3
4,6
17,6
22,2
Em relação aos alimentos fontes de gorduras, apresentados
na Tabela IV, uma média de 90% da população, considerando
ambos os gêneros, souberam responder corretamente esta
questão. Em contrapartida, o maior erro observado foi a
citação do peixe como fonte de gordura (6,5%), justificado
pelos participantes pela presença dos óleos ômega-3 e ômega-6, presentes no peixe.
Tabela IV - Conhecimento em número e porcentagem da população em relação aos alimentos fontes de gorduras na dieta conforme
gênero. São Paulo, 2010.
Tabela II - Conhecimento em número e porcentagem da população
em relação aos alimentos fontes de carboidratos na dieta conforme
gênero. São Paulo, 2010.
Feminino
(n = 57)
n
%
Feminino
(n = 57)
n
%
Acertos
Óleo
Margarina
Manteiga
Maionese
Erros
Cereais
Frutas
Feijão
Arroz
Peixe
Feminino
(n = 57)
n
%
Masculino
(n = 51)
n
%
TOTAL
(n = 108)
n
%
53
53
50
53
93,0
93,0
87,7
93,0
47
44
43
44
92,2 100 92,6
86,3 97 89,8
84,3 93 86,1
86,3 97 89,8
----1
1
3
----1,8
1,8
5,3
1
--2
1
4
2,0
--3,9
2,0
7,8
1
--3
2
7
0,9
--2,8
1,9
6,5
Na questão referente às substituições dos alimentos de
acordo com seu valor nutricional, houve 77% de acertos,
15,6% de erros e 7,4% não responderam essa questão. Os
maiores erros observados foram em relação às trocas dos seguintes alimentos: laranja por espinafre e tomate por couve
(8,3%), sendo que a substituição correta seria a laranja pelo
tomate e o espinafre pela couve; e também a manteiga por
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
192
queijo e margarina por leite (7,4%), sendo que o correto seria a
substituição da manteiga pela margarina e do queijo pelo leite.
Em relação ao conhecimento dos suplementos dietéticos,
foi constatado, por meio do questionário aplicado, que cerca
de 40% da amostra, considerando os usuários e os não usuários de suplementos, possuíam um conhecimento superficial
sobre este assunto. Apenas 9,3% da população estudada
consumiam esses produtos alimentares, sendo que destes
usuários 20% eram mulheres e 80% homens.
Os suplementos dietéticos mais utilizados pelos participantes da pesquisa foram: whey protein (30%), proteína (20%)
e creatina (20%). Todos os usuários relataram sentir diferença
após o uso desses produtos. O objetivo mais mencionado
para o seu uso foi a busca pelo aumento da massa muscular
(80%), conforme pode ser observado na Figura 2, sendo que
para as duas mulheres que referiram utilizar suplementos, o
objetivo principal foi a complementação da dieta. É importante ressaltar que, nesta questão, os entrevistados podiam
escolher mais de uma alternativa que justificasse o uso de
suplementos nutricionais.
Figura 2 - Objetivos para uso de suplementos dietéticos por praticantes de atividade física da academia. São Paulo, 2010.
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Aumentar Queimar Comple- Melhorar Hidratar
massa
gordura
mentar desempenho
muscular
a dieta
Gênero masculino
Gênero feminino
Conforme a Figura 3, notamos que 50% dos indivíduos faziam uso de suplementos dietéticos por conta própria. Também
pudemos observar que o treinador da academia e o nutricionista
eram igualmente procurados pelos desportistas (25%).
Figura 3 - Indicação para o uso de suplementos dietéticos em porcentagem segundo gênero. São Paulo, 2010.
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Treinador Médico Nutri- Amigos
da academia
cionista
Gênero masculino
Mídia Por conta
própria
Gênero feminino
Discussão
No presente estudo, encontramos um leve predomínio de
indivíduos do gênero feminino (52,8%), com idade média de
40 anos (± 10,8), elevado nível de escolaridade e que praticam
a academia com assiduidade. Apenas 13,9% relataram ter
alguma doença relacionada ao estado nutricional, sendo as
mais citadas, colesterol elevado e hipertensão arterial sistêmica; 6,5% afirmaram ser fumantes e 62% revelaram consumir
bebidas alcoólicas. A população estudada apresentou um
conhecimento satisfatório sobre nutrição básica, mas 40%
dos participantes alegaram conhecer superficialmente sobre
suplementos dietéticos. O uso desses produtos foi encontrado
em menos de 10% da amostra, sendo o principal objetivo
do consumo, o aumento da massa muscular (80%) e 50%
dos usuários desses suplementos nutricionais, fazem uso por
conta própria.
Assim como no presente estudo, Pereira e Cabral [6], num
estudo realizado em Recife (PE) para avaliar o conhecimento
de nutrição de 141 praticantes de musculação, frequentadores de uma academia, encontraram um leve predomínio de
indivíduos do gênero feminino (54,3%). Soares et al. [1], em
estudo que avaliou o consumo de suplementos alimentares por
119 praticantes de atividade física de uma academia de São
Paulo, também encontraram resultados semelhantes, sendo
a amostra, composta por 56,3% de mulheres.
Em relação à escolaridade, foi observado no estudo de Silva
et al. [19], no qual foi avaliado o perfil dos frequentadores
de uma academia em Brasília, que o nível de escolaridade
também foi elevado, uma vez que mais de 80% dos participantes possuíam nível superior em curso ou concluído.
Corroborando estes resultados, Soares et al. [1] avaliaram 119
indivíduos praticantes de atividade física de uma academia
em São Paulo, e observaram que o nível superior foi predominante, sendo 54,6% graduados, 32,8% pós-graduados e
apenas 12,6% possuíam somente o ensino médio completo.
Albino, Campos e Martins [12] também verificaram que a
maioria dos participantes (70,9%) já havia concluído o ensino
superior ou possuía ensino superior incompleto.
No que se refere às doenças, apenas 13,9% dos indivíduos relataram possuir alguma doença relacionada ao estado
nutricional. A adoção de um estilo de vida não sedentário,
juntamente com a prática regular de atividade física, diminui
a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das doenças crônicas degenerativas. Sugere-se inclusive que a prática
regular de atividade física pode ser na tentativa de controle
das doenças crônicas degenerativas. Considerado um dos
fatores de riscos primários para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial, as dislipidemias
juntamente com outras enfermidades crônicas não transmissíveis tornaram-se a principal causa de morbimortalidade na
atualidade [20].
Em estudo com adultos realizado por Guedes e Gonçalves [21], comprova-se que o estilo de vida sedentário é um
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
comportamento claramente identificado com perfil lipídico
desfavorável. A associação observada entre a prática insuficiente de atividade física e as dislipidemias pode explicar
parcialmente o menor risco predisponente ao aparecimento
e ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares em indivíduos mais fisicamente ativos.
Um estudo realizado por Fagherazzi, Dias e Bortolon
[22], com o objetivo de avaliar o impacto do exercício físico
isolado e combinado com a dieta, sobre o perfil lipídico de 30
indivíduos, verificou que após seis meses de exercícios físicos
com frequência de três vezes por semana e com duração de
uma hora, e a um aconselhamento dietético, onde os pacientes
eram submetidos à avaliação nutricional e recebiam plano alimentar quando iniciava o programa, esses indivíduos tiveram
uma diminuição no colesterol total em 8mg/dl.
Tem sido amplamente demonstrado que o treinamento
físico aeróbio provoca importantes alterações autonômicas
e hemodinâmicas que vão influenciar o sistema cardiovascular. Um estudo de revisão realizado por Rondon e Brum
[23] relatou que o treinamento físico é capaz de diminuir a
pressão arterial em 75% dos pacientes hipertensos. Em uma
meta-análise realizada por Hagberg et al. [24], foi observado
que o treinamento físico provocava redução de 11 mmHg e
8 mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente.
Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, o estudo
realizado por Duran et al. [9], sobre a correlação entre consumo alimentar e nível de atividade física habitual de 32
praticantes de exercícios físicos de uma academia de Cotia
(SP), evidenciou que a maioria dos entrevistados (71,9%)
referiu consumir bebida alcoólica, pelo menos uma vez ao
mês, assim como no presente estudo, no qual mais da metade
dos indivíduos relevaram consumir bebidas alcoólicas, pelo
menos, socialmente. Já em relação ao consumo de cigarros, foi
constatado pelos mesmos autores que não havia fumantes em
sua amostra, sendo que 31,3% consideram-se ex-fumantes [9].
Dados semelhantes foram encontrados no presente estudo,
no qual apenas 6,5% afirmaram ser fumantes.
Os desportistas do presente estudo mostraram assiduidade
na prática de atividade física. Observamos que a população
masculina frequentava a academia há mais tempo e mais vezes
durante a semana em comparação a população feminina, que
frequentava menos a academia, porém realizavam mais horas
de treino por dia.
O estudo realizado por Tahara, Schwartz e Silva [8], com
50 alunos regularmente matriculados numa academia de
Rio Claro (SP), na questão referente ao tempo de prática de
atividades físicas, aponta que a maioria da população pratica
exercícios físicos em academia há, pelo menos, quatro anos
(26,7%), sendo o segundo valor encontrado de seis anos
de prática (20%), corroborando os resultados encontrados
neste estudo.
Já no estudo de Pereira e Cabral [6], realizado na cidade
de Recife (PE) com 141 praticantes de atividade física, nota-se
193
que mais de 50% da amostra praticava musculação há menos
de sete meses, e as autoras justificam o pouco conhecimento
sobre musculação e nutrição pelos participantes, devido ao
pouco tempo de prática de atividade física. Apesar desse
dado controverso, as autoras relataram que a maioria dos
frequentadores da academia praticava musculação de duas a
cinco vezes por semana com duração de uma a duas horas de
treino por dia, portanto, frequência e horas de treino por dia
muito semelhantes às encontradas neste estudo.
A frequência da prática de atividade física durante a semana foi elevada no estudo realizado por Silva et al. [19], onde
cerca de 96% dos entrevistados frequentavam a academia, pelo
menos, três vezes na semana, sendo a musculação (91,4%) e
a ergonomia (61,9%) as atividades mais praticadas.
Dentre os objetivos para a prática de atividade física,
apresentados pelos desportistas estudados, a qualidade de vida
foi o mais citado (72,2%). O estudo sobre a aderência e manutenção da prática de exercícios em academias, realizado por
Tahara, Schwartz e Silva [8], evidencia que a população está
cada vez mais se preocupando com a melhoria da qualidade
de vida, e essa conscientização, a respeito da importância do
exercício físico, vem proporcionando um grande aumento de
público nas academias de ginástica. Nesta mesma pesquisa,
os principais fatores para a procura por academias são referentes ao divertimento, a sentir-se bem, ao controle de peso,
à melhora da flexibilidade e redução dos níveis de estresse. O
objetivo mais mencionado no estudo de Soares et al. [1] pelos
frequentadores das academias foi a melhora na qualidade de
vida, seguida por perda de peso e hipertrofia muscular, dados
parecidos aos encontrados neste estudo. Para Kruseman,
Miserez e Kayser [5], o objetivo da prática de atividade física
inclui perda de peso, melhora do nível cardiovascular, melhora
no alongamento, qualidade de vida, mudança na imagem
corporal ou uma combinação desses fatores.
Entretanto, no estudo de Albino, Campos e Martins [12],
a qualidade de vida foi muito pouco citada pelos entrevistadores, somente sendo mais citada do que a prevenção de
doenças. O principal objetivo identificado foi o aumento de
massa muscular (76%) e apenas 7% praticavam exercícios
físicos com o intuito de qualidade de vida. Quanto ao objetivo do treinamento no estudo de Pereira e Stella [11], 26%
dos praticantes relataram buscar hipertrofia muscular, 22%
estética corporal, 18% saúde, 14% condicionamento físico e
10% buscavam melhorar o rendimento esportivo específico
para modalidade que praticavam ou aumento de força.
Pressupõe-se que os indivíduos que frequentam academias
de ginástica estejam preocupados com a saúde, nutrição e
qualidade de vida, e em sua grande maioria desconheçam
os conceitos básicos de Nutrição. Por estarem diretamente
vinculados às academias, os profissionais de Educação Física
vem sendo requisitados a orientar dietas e/ou na utilização
de suplementos e recursos ergogênicos. Entretanto, não cabe
a estes profissionais este tipo de orientação, mas cabe ao nutricionista o papel central de orientar dietas específicas que
194
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
assegure a perfeita relação entre performance física, saúde e
qualidade de vida [19].
Conforme a resolução do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) nº 380/2005, compete ao nutricionista, no
exercício de suas atribuições na área de nutrição em esportes:
“prestar assistência e educação nutricional a coletividade ou
indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e
privadas e em consultório de nutrição e dietética, prestar
assistência e treinamento especializado em alimentação e
nutrição, prescrever suplementos nutricionais necessários
à complementação da dieta, solicitar exames laboratoriais
necessários ao acompanhamento dietético [26].”
Assim como no presente estudo, no estudo de Silva et
al. [19], dentre a população de academias avaliadas que não
possuem nutricionista desportivo, a maioria (81,8%) gostaria
de contar com este serviço.
No ambiente esportivo, muito se discute sobre alimentação saudável, porém o conhecimento sobre nutrição entre os
desportistas muitas vezes é limitado. Através de intervenções
centradas na educação nutricional, por parte dos nutricionistas da área esportiva, é possível aumentar o conhecimento
nutricional da população e, consequentemente, melhorar seus
hábitos alimentares.
No estudo de Hoogenboom et al. [18] realizado em Michigan, as 85 nadadoras avaliadas demonstraram um bom
conhecimento de nutrição medido pelo acerto de 71,8% de
questões no teste nutricional, semelhante ao encontrado neste
estudo, no qual 76% da população analisada mostraram um
conhecimento nutricional satisfatório.
De acordo com o estudo de Pereira e Cabral [6], observa-se
que 16% dos praticantes de musculação citaram o ovo, 10%
o iogurte e 5% a margarina como fontes de carboidratos;
7% dos indivíduos citaram a margarina como fonte proteica
e 7% o leite desnatado como fonte de gordura. As autoras
declararam que estes resultados sugerem a necessidade de um
profissional especializado atuando nas academias para orientar
esses indivíduos quanto à alimentação saudável e fontes de
macronutrientes.
Conforme observado sobre o conhecimento de nutrição é
possível afirmar a necessidade de orientação nutricional para
esta população. E de acordo com Hoogenboon et al. [5], práticas de alimentação ruim podem se tornar um fator limitante
no esporte e exercício, e também podem afetar negativamente
a saúde. Os autores afirmaram que, na população geral, fontes
de orientações nutricionais são geralmente, televisão ou rádio,
revistas, jornais, embalagens de alimentos, parentes ou amigos.
Além do questionamento sobre conhecimento de nutrição, os frequentadores da academia pesquisada também foram
questionados a respeito do conhecimento e uso de suplementos dietéticos. No estudo de Pinto et al. [7], realizado com
praticantes de musculação frequentadores de uma academia
de ginástica na cidade de Caratinga (MG), percebe-se falta
de conhecimento em relação à alimentação balanceada, e
também observa-se que 40% dos entrevistados utilizavam
suplementos alimentares. Já Pereira e Cabral [6], em um estudo realizado em Recife (PE) com 141 indivíduos, obtiveram
resultados satisfatórios no que se refere ao conhecimento dos
alimentos fontes de macronutrientes, porém foi encontrado
pouco conhecimento sobre suplementos, já que que a maioria
da população estudada não fazia uso desses produtos (61,7%).
Os usuários de suplementos dietéticos do estudo de Soares
et al. [1] somavam 27,7%, e um dado controverso ao presente estudo, é que deste percentual, 15,1% eram mulheres
e 12,6% eram homens. Contrariando estes dados, no estudo
de Albino, Campos e Martins [12], entre os consumidores
de suplementos, 86,4% eram do sexo masculino e 13,6% do
sexo feminino, dados estes semelhantes ao presente estudo,
no qual a maioria dos usuários desses produtos eram homens.
Os suplementos alimentares whey protein e creatina, assim
como no presente estudo, também foram citados dentre os
suplementos mais relatados pelos praticantes de musculação
no estudo de Pinto et al. [7], realizado na cidade de Caratinga
(MG), que também citaram albumina, arginina, vanadium,
BCAA, barras proteicas, malto-dextrose, ácido linoleico, ácido
linolênico e vitamina E. No estudo de Albino, Campos e
Martins [12], no qual foi avaliado o consumo de suplementos
nutricionais por 120 frequentadores de academias de ginástica em Lages (SC), observou-se que 30% dos consumidores
mencionaram os produtos proteicos, 29% aminoácidos, 15%
hipercalóricos, 13% vitaminas e minerais, 10% carboidratos
e apenas 3% queimadores de gordura.
No que se refere à diferença percebida após o uso desses
produtos, foi verificado no estudo de Soares et al. [1] que
97% dos participantes relataram ter tido benefícios com o
consumo de suplementos. É importante ressaltar que, no
caso da maior parte dos suplementos dietéticos, não há
provas conclusivas de benefícios a saúde e a performance, e
qualquer melhora tende a ser mediada por um efeito placebo. Na maioria dos casos, os suplementos são simplesmente
formas mais caras de proteínas, açúcares ou vitaminas. Contudo, quando os esportistas estão convencidos de que certos
alimentos, dietas ou suplementos melhoram a performance,
essas substâncias ou técnicas podem fornecer benefícios
psicológicos, mais que fisiológicos [4].
A alimentação quali-quantitativamente equilibrada é o
suficiente para suprir as necessidades calóricas e energéticas
de praticantes de atividade física, não sendo necessário o
uso desses suplementos dietéticos. Se o uso destes produtos
for indispensável, nutricionistas e médicos são profissionais
capacitados e habilitados para prescrever suplementos [4].
Conforme estudo de Soares et al. [1], igualmente ao
presente estudo, a maioria também fazia uso de suplementos
por auto indicação. E no estudo de Pereira e Cabral [6], quase
50% dos usuários de suplementos receberam indicação para
o seu uso de professores de educação física e apenas 10% de
um nutricionista. Albino, Campos e Martins [12] também
observaram que a maioria dos consumidores recebeu a prescrição do suplemento através do instrutor da academia (47,7%)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
a qual frequentavam, e que, apenas 4,6% dos consumidores
haviam recebido a prescrição de um nutricionista.
Hoogenboon et al. [5], em estudo realizado em Genebra
com 26 instrutores de academias, encontraram que o nível
de conhecimento nutricional desses instrutores era fraco e,
mesmo assim, a maioria fornecia orientações nutricionais aos
frequentadores das academias, mesmo estando conscientes da
sua falta de conhecimento. Neste estudo, 58% dos instrutores
recomendavam o uso de suplementos nutricionais.
Conclusão
Analisar o perfil dos frequentadores de academias pode
ser importante para os proprietários, os coordenadores de
academias e para os profissionais de saúde, pois ao descobrirem quais são os objetivos e as limitações de sua clientela, os
responsáveis poderão fazer investimentos tanto em profissionais qualificados quanto de equipamentos a fim de facilitar o
alcance de metas e melhorar o atendimento a esta população.
Além disso, ao conhecer o perfil dos usuários de academias, os
profissionais de saúde poderão ter informações a respeito de
condutas inadequadas que são normalmente praticadas por
esta população, podendo posteriormente corrigi-las.
Os conhecimentos básicos em nutrição, avaliados nos
praticantes de atividade física do presente estudo, demonstraram certa consistência em estabelecer a relação dos macronutrientes e suas funções, alimentos-fonte desses nutrientes e
substituições dos alimentos por outros de mesmo valor nutricional, embora alguns participantes tenham se equivocado
nas respostas. No entanto, muitos participantes queixaram-se
por não saber sobre o assunto e relataram não responder as
questões com precisão. Também foi constatado um conhecimento superficial no que se refere aos suplementos dietéticos,
embora a maioria da população não faça uso desses produtos.
Sendo assim, parece-nos necessário a atuação mais intensa de um nutricionista desportivo no local, pois cabe a
esse profissional orientar e elaborar uma dieta específica para
pessoas que praticam atividade física, uma vez que devem
ser considerados fatores importantes, como as necessidades
específicas decorrentes de doenças prévias (caso existam),
novas demandas impostas pela atividade física e o objetivo
da prática de atividades físicas, vinculado ao tempo de treino,
frequência e modalidade esportiva de cada cliente.
Dessa forma, será possível implantar e implementar
programas de educação alimentar com apoio do nutricionista, atuando juntamente com os demais profissionais nas
academias ou locais em que se pratiquem exercícios físicos
para uma orientação adequada sobre alimentação e nutrição.
Referências
1. Soares CS, Andrade GBFG, Viganó MG, Veiga RF, Nacif
MAL. Avaliação do consumo de suplementos alimentares por
praticantes de atividade física em uma academia do município
de São Paulo. Revista Digital EFDesportes 2010;14(140).
195
2. Migliorança A, Melo CA, Guerra FP, Jorge J, Bergamasco JS,
Tumani MV et al. Prática de atividade física e acompanhamento
nutricional de frequentadores de um clube de São Paulo. Revista
Digital EFDesportes 2009;13(129).
3. Peres N, Reis GC, Silva CC, Viebig RF, Mendonça RB. Interesse e conhecimentos básicos em nutrição dos praticantes de
atividade física de uma academia da região norte do município
de São Paulo. Revista Digital EFDesportes 2009;14(134).
4. Hirschbruch MD, Fisberg M, Mochizuki L. Consumo de suplementos por jovens frequentadores de academias de ginástica
em São Paulo. Rev Bras Med Esporte 2008;14:539-43.
5. Hoogenboon BJ, Morris J, Morris C, Schaefer K. Nutritional
knowledge and eating behaviors of female, collegiate swimmers.
N Am J Sports Phys Ther 2009;4(3):139-48.
6. Pereira JMO, Cabral P. Avaliação dos conhecimentos básicos sobre nutrição de praticantes de musculação em uma
academia da cidade de Recife. Rev Bras Nutr Esportiva
2007;1:40-47.
7. Pinto MVM, Araújo AS, Silva ALS, Santos HR, Baraúna MA,
Biagini AP, et al. Análise dos hábitos alimentares e uso de recursos ergogênicos utilizados pelos praticantes de musculação com
objetivo de hipertrofia muscular. Revista Digital EFDesportes
2007;12(115).
8. Tahara AK, Schwartz GM, Silva KA. Aderência e manutenção
da prática de exercícios em academias. Rev Bras Ciênc Mov
2003;11:7-12.
9. Duran ACFL, Latorre MRDO, Florindo AA, Jaime PC.
Correlação entre consumo alimentar e nível de atividade física
habitual de praticantes de exercícios físicos em academia. Rev
Bras Ciênc Mov 2004;12:15-9.
10. Pereira RF, Lajolo FM, Hirschbruch MD. Consumo de suplementos por alunos de academias de ginástica em São Paulo.
Rev Nutr 2003;16:265-72.
11. Pereira BA, Stella SG. Utilização de suplementos alimentares
por praticantes de musculação em academias de Ribeirão Preto,
SP. Revista Digital EFDesportes 2010;15(148).
12. Albino CS, Campos PE, Martins RL. Avaliação do consumo de
suplementos nutricionais em academias de Lages, SC. Revista
Digital EFDesportes 2009;14(134).
13. Lollo PCB, Tavares MCGCF. Perfil dos consumidores de suplementos dietéticos nas academias de ginástica de Campinas,
SP. Revista Digital EFDesportes 2004;10(76).
14. Silva DA, Santos EA, Akamine G, Esquillaro LNK, Cotillo
THC, Viebig RF. Profissional nutricionista no mercado de fitness e wellness: atuação, entraves e perspectivas. Revista Digital
EFDesportes 2010;15(147).
15. ANVISA [Internet]. Brasil: Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC s/n, 2010.
Dispõe o Regulamento Técnico sobre Alimentos para Atletas
– [citado 2010 Dez 1]. Disponível em: URL: http://portal.
anvisa.gov.br.
16. Theodoro H, Ricalde SR, Amaro FS. Avaliação nutricional
e autopercepção corporal de praticantes de musculação em
academias de Caxias do Sul, RS. Rev Bras Med Esporte
2009;15:291-294.
17. Viebig RF, Nacif MAL. Nutrição aplicada à atividade física e ao
esporte. In: Silva SMCS, Mura JDP. Tratado de alimentação,
nutrição e dietoterapia. São Paulo: Roca; 2009. p.216-232.
18. Silva AM, Giavoni A, Melo GF. Análise da importância atribuída aos nutricionistas desportivos pelos administradores de
196
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
academias de ginástica do Distrito Federal. Revista Digital
EFDesportes 2005;10(90).
19. Silva AB, Dalvi LT, Amorim MF, Raso W. Avaliação do perfil
dos frequentadores de academia do plano piloto. Rev Bras Obes
Nutr Emagr 2007;1:47-54.
20. Krinski K, Elsangedy HM, Gorla JI, Calegari DR. Efeitos do
exercício físico em indivíduos portadores de diabetes e hipertensão arterial sistêmica. Revista Digital EFDesportes 2006;10(93).
21. Guedes DP, Gonçalves LAVV. Impacto da prática habitual de
atividade física no perfil lipídico de adultos. Arq Bras Endocrinol
Metab 2007;1:72-78.
22. Fagherazzi S, Dias RL, Bortolon F. Impacto do exercício físico
isolado e combinado com dieta sobre os níveis séricos de HDL,
LDL, colesterol total e triglicerídeos. Rev Bras Med Esporte
2008;14:381-86.
23. Rondon MUPB, Brum PC. Exercício físico como tratamento
não-farmacológico da hipertensão arterial. Rev Bras Hipertens
2003;10:134-9.
24. Hagberg JM, Park JJ, Brown MD. The role of exercise training in the treatment of hypertension: an update. Sports Med
2000;30:193-206.
25. Barchet GV, Mattos KM, Lima L, Mesquita MO, Rocha T,
Benetti U. Intervención de nutricionistas en gimnasios. Revista
Digital EFDesportes 2009;134(14).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
197
Artigo original
Efeitos agudos do método Pilates nos valores glicêmicos
Acute effects of the Pilates method on blood glucose levels
Karize Tanita Martins de Souza*, Adroaldo José Casa Júnior, M.Sc.**, Claudio Vieira de Araújo, D.Sc.***,
Lissandra Glusczak, D.Sc.****
*Fisioterapeuta Pós-graduada em Ortopedia Traumatologia e Desportiva, **Coordenador cientifico e docente do CEAFI Pós-graduação, ***Professor na Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Sinop, ****Professora na Universidade Federal do Mato Grosso
– Campus Sinop
Resumo
Introdução: O método Pilates, criado pelo alemão Joseph Pilates,
durante a 1ª Guerra Mundial, é uma forma de treinamento resistido
que, entre outros benefícios, proporciona melhora da força, flexibilidade e condicionamento físico. Pode-se observar grande difusão
e aumento do número de adeptos, portanto, torna-se interessante
avaliar mais precisamente os mecanismos assim como benefícios
dessa modalidade, como, por exemplo, na glicemia, uma importante
ferramenta no monitoramento das respostas do organismo frente
à atividade física. A glicemia é a taxa de glicose no sangue, que é
necessária para um ótimo funcionamento dos órgãos. Objetivo: Avaliar possíveis alterações nos valores glicêmicos durante uma aula de
Pilates. Métodos: Trata-se de um estudo experimental, quantitativo
e analítico, realizado com 11 voluntários (8 do sexo feminino e 3 do
sexo masculino) com idade entre 18 e 40 anos que já praticavam o
método Pilates em período mínimo de 2 meses e máximo de 1 ano
e que foram submetidos a uma aula de Pilates sendo mensurada
a glicemia antes e depois da aula. Resultados: Ao final dos testes
pode-se observar queda da glicemia em todos os participantes da
pesquisa com um percentual de 14,82% (p = 0,001), não havendo
diferença estatística entre os efeitos gerados com o sexo e a idade.
Conclusão: Conclui-se que durante uma aula de Pilates, a glicemia
tende a diminuir devido à necessidade muscular de glicose para sua
posterior utilização em forma de ATP.
Abstract
Introduction: The Pilates method, developed by German born
Joseph Pilates, during World War I, is a kind of resistance exercises,
which allows strength improvement, flexibility and physical fitness
among other benefits. We can notice a large spread and increase of
followers of this method. Therefore it is important to evaluate both
the mechanism and the benefits of this modality, such as glycemia,
an important tool to monitor body’s responses to physical activity.
Glycemia is the rate of glucose in the blood which is responsible for
the proper functioning of our organs. Objective: To evaluate possible
alterations of glycemic levels during a Pilates class. Methods: This was
an experimental study, with quantitative and analytical approach,
involving 11 volunteers (8 females and 3 males) 18 to 49 years old
who have already been practicing Pilates Method for a minimum
of 2 months up to a maximum of 1 year. These people attended a
Pilates class and their blood glucose was measured before and after
the class. Results: At the end of the tests we could observe glycemic
levels decline of 14.82% (p = 0.001). There was no statistic difference
between the effects concerning sex and age. Conclusion: We could
conclude that during a Pilates class, blood glucose tends to decline
due to muscles glucose uptake for its subsequent use as ATP.
Key-words: Pilates method, blood glucose, adenosine triphosphate.
Palavras-chave: método Pilates, glicemia, trifosfato de adenosina.
Recebido em 5 de setembro de 2011; aceito em 14 de outubro de 2011.
Endereço para correspondência: Karize Tanita Martins de Souza, Rua da Primavera, 2706, Setor Residencial Sul, 78550-021 Sinop
MT, Tel (66) 9606-6889, E-mail: [email protected]
198
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
O método Pilates foi idealizado pelo alemão Joseph
Hubertus Pilates (1880-1972) na década de vinte do século passado, mais precisamente durante a primeira Guerra
Mundial [1-3]. Joseph foi uma criança frágil, apresentava
grande fraqueza muscular, portador de asma, raquitismo e
febre reumática e quando jovem desenvolveu exercícios para
melhorar sua aptidão física [2,4].
Originalmente, chamado de contrologia, e posteriormente método Pilates, este se constitui em um programa de
treinamento físico e mental, sendo caracterizado por uma
série de exercícios de baixo impacto e surgiu com uma nova
proposta para recuperar tanto a saúde como a felicidade das
pessoas [1-3,5,6].
O método Pilates possui seis princípios básicos que devem
ser respeitados para sua correta aplicação: respiração, concentração, controle, precisão, casa de força e movimento fluido
[1,4]. Os exercícios são adaptados às condições do paciente,
e o aumento da dificuldade respeita as características e habilidades de cada praticante [2].
Dentre as diversas formas de treinamento resistido, o
método Pilates surge como forma de proporcionar força, flexibilidade, estimular a circulação, melhorar o condicionamento
físico e o alinhamento postural, diminuir o estresse e melhorar
a propriocepção, o equilíbrio e a coordenação motora [3-5,7].
Durante uma sessão de exercícios do método Pilates, o esforço
mental centra-se na ativação de músculos específicos em uma
sequência funcional com velocidades controladas, enfatizando
a qualidade e controle de movimento [5].
Os exercícios podem ser realizados tanto no solo com
auxílio de alguns equipamentos como bolas e faixas elásticas
ou em aparelhos, criados pelo próprio Joseph, que possuem
resistência à base de molas [7]. As repetições de cada exercício
geralmente não ultrapassam dez movimentos [5].
Programas de exercícios resistidos têm sido recomendados
não apenas na melhoria da aptidão funcional, mas também
como forma de tratamento de algumas patologias, uma vez
que tem se mostrado eficazes na melhora das funções metabólica, neuromuscular e cardiovascular e da composição
corporal de populações especiais [8], sendo assim é relevante
que métodos individualizados de avaliação funcional em
exercícios resistidos sejam investigados.
Atualmente, o método Pilates é popular em todas as
áreas de fitness e reabilitação [3], e pode-se observar grande
difusão e aumento do número de adeptos ao método Pilates
em todo o mundo. Desse modo, torna-se interessante avaliar
mais precisamente os mecanismos assim como benefícios
dessa modalidade de atividade física, como, por exemplo,
a glicemia, uma importante ferramenta no monitoramento
das respostas do organismo frente à atividade física. Portanto
verifica-se a importância deste estudo, já que este tema tem
sido amplamente discutido em diversos estudos com temas
relacionados.
A glicemia é a taxa de glicose sanguínea e sua variação
normal em jejum é de 70 mg/dL a 110 mg/dL [9]. Esta
taxa normal de glicose circulante é necessária para um
ótimo funcionamento do cérebro e do sistema nervoso
central [10].
Segundo Sapata, Fayh e Oliveira [11] durante um exercício
com duração de 30 minutos ou mais, as concentrações de
insulina tendem a baixar, embora a taxa de glicose permaneça constante. Para Almeida [12], a insulina é um hormônio
anabólico, com efeitos sobre o metabolismo e é essencial
para a manutenção de glicose fazendo seu transporte para o
interior das células. A quantidade de insulina disponível no
sangue é proporcional à quantidade de glicose circulante, no
entanto, durante o exercício ocorre queda desse hormônio,
para tanto a contração muscular estimula a translocação do
GLUT4 para a membrana plasmática, permitindo a entrada
de glicose [10].
Durante o exercício ocorre um aumento da captação de
glicose no sangue [10] e quanto mais intenso for o exercício
maior é a necessidade de glicose [11].
Atualmente, observa-se grande difusão do método Pilates
e o aumento exponencial de praticantes dessa modalidade
de atividade física. Diante dessa perspectiva e levando em
consideração a escassez de trabalhos que correlacionem a
medida da glicemia em uma modalidade como o Pilates, o
objetivo deste estudo é avaliar possíveis alterações nos valores
glicêmicos durante uma aula de Pilates.
Material e métodos
Trata-se de um estudo experimental, quantitativo e analítico, cuja coleta de dados foi realizada no mês de dezembro
de 2010 na Academia Vitálita – Sala de Pilates, localizada na
cidade de Sinop/MT.
Participaram do estudo 11 indivíduos de ambos os sexos. A
seleção destes foi realizada por meio da utilização dos seguintes
critérios de inclusão: assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), pessoas com idade entre 18 e
40 anos que praticassem o método de Pilates na Academia
Vitálita, no período de 2 meses até 1 ano, e que sua glicemia
antes da aula estivesse entre 70-110 mg/dL.
Os critérios de exclusão englobaram a existência de
marca-passo, problemas cardíacos, trombose venosa, déficits
cognitivos que interferissem na compreensão do exercício,
labirintite, quadro álgico agudo, grávidas, pessoas que não
estivessem disponíveis para o estudo e, portanto, não assinaram o TCLE. Dados que foram coletados por meio de
entrevista com o participante e constatados por meio da Ficha
de Avaliação (Apendice 01).
Todos os voluntários foram informados a respeito do
objetivo e dos procedimentos a serem adotados para a realização deste estudo, assinando o TCLE. O presente estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Cuiabá
Unic/Cuiabá sob o nº 2010-204 e seguiu todas as Diretrizes e
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde).
Primeiramente, foi realizada uma avaliação com o indivíduo que se interessasse em participar deste estudo, sendo
entregue uma ficha de avaliação, composta por questões
objetivas de fácil compreensão que teve por finalidade
classificar os indivíduos como elegíveis a participarem do
estudo. A ficha continha os seguintes dados: nome, sexo,
idade, estado civil, nível de escolaridade, peso, altura, presença de doenças cardíacas e arteriovenosas importantes e
prática de atividade física.
Para a coleta da glicemia foram utilizados os seguintes
aparelhos: Glicosímetro portátil Optium-Xceed (MedSense), fita reagente Optium Xceed (MedSense); Lancetador do
próprio aparelho; luvas de látex para procedimento da marca
Supermax; álcool a 70º GL, algodão da marca Johnson &
Johnson e papel toalha da marca Scott.
Após a análise das fichas de avaliação, a pesquisadora
entrou em contato com as pessoas que, de acordo com esta,
enquadraram-se nos critérios de inclusão da pesquisa. Foram
programados horários para realizar os exames de glicemia
juntamente com a aula de Pilates e os alunos foram orientados
a estar pelo menos em duas horas em jejum.
Os participantes realizaram uma única aula de Pilates para
o estudo. A aula foi estruturada com duração de 50 minutos
e mais 10 minutos para as coletas de sangue capilar. Foram
realizadas duas coletas, sendo uma antes e outra depois da aula
de Pilates. A medida da glicose foi obtida após assepsia do
dedo indicador direito, com álcool 70% e secagem do dedo
com algodão. Este procedimento foi realizado previamente a
coleta da glicemia, sendo que antes de começar a aula o aluno
era orientado a lavar as mãos com água e sabão.
Cabe salientar que todo o material descartável utilizado
para a coleta de sangue (algodão, lancetas, fitas) foi descartado
em caixa própria para materiais perfuro cortantes da marca
Descarpack e, posteriormente, designado a coleta pública de
lixo hospitalar.
Foram realizados exercícios de alongamento e fortalecimento (Anexo 01), respeitando a respiração, sendo que o
movimento ocorreu durante uma expiração e o retorno do
movimento durante uma inspiração. Os exercícios foram
executados em uma única série de 10 movimentos exceto a
bicicleta na cadeira que foi realizado durante um minuto e
o alongamento dos músculos do quadril e da região lombar
que foi realizado em uma única série sendo que o aluno
contava 20 respirações em posição estática. Após a aula foi
realizada uma segunda coleta de sangue para verificação da
glicemia.
Para a análise estatística, as unidades experimentais foram classificadas com relação ao sexo e classes de idade, tais
como: Classe 1 - de 21 a 30 anos (com média de 25,00 ±
4,18) e Classe 2 - de 35 a 40 anos (com média de 38,17 ±
2,23). Na análise estatística optou-se por utilizar testes não
paramétricos em função da violação das pressuposições de
199
análise de variância em relação à normalidade e homogeneidade de variâncias.
Aplicou-se o teste de Mann-Whitney-Wilcoxon para testar
os valores de glicemia no momento anterior a atividade física,
sob a hipótese de nulidade de que as amostras classificadas
com relação ao sexo e à idade e, analisadas separadamente,
não diferissem entre si estatisticamente.
Posteriormente, aplicou-se o teste de Wilcoxon Signed
Rank Sum sob a hipótese de nulidade de que o valor de
glicemia antes e posterior ao exercício físico não diferisse
estatisticamente, ou seja, o exercício não alterou o parâmetro
da glicemia.
Em todas as analises adotou-se o valor de 0,05 para o
nível de significância.
Resultados
Nas Tabelas I e II são exibidos os números de observações
(N), médias, desvios-padrão (DP), valores mínimos (Min.) e
máximos (Max.) observados para os valores de glicemia com
relação às classes de sexo e idade, respectivamente.
Verifica-se que tanto nas classes de sexo quanto nas de
idade não houve diferenças estatísticas pelo teste de Mann-Whitney-Wilcoxon, concluindo que a amostra pode ser
considerada única, independentemente do sexo e idade da
unidade experimental.
Tabela I - Número de observações (N), estimativas de médias,
desvio-padrão (DP), valores mínimos e máximos observados para a
variável glicemia, em cada classe de sexo e o valor da probabilidade
do teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (p).
Sexo
Feminino
Masculino
N
8
3
Média
94,13
102,66
DP
8,61
2,87
Min.
Max.
80,00 107,00
101,00 106,00
p = 0,1818
Tabela II - Número de observações (N), estimativas de médias,
desvio-padrão (DP), valores mínimos e máximos observados para a
variável glicemia, em cada classe de idade e o valor da probabilidade
do teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (p).
Classe de idade
21 a 30
35 a 40
N
5
6
Média
93,20
99,17
DP
10,37
5,77
Min.
80,00
92,00
Max.
106,00
107,00
p = 0,2662
A distribuição dos valores de glicemia em cada unidade experimental, nos momentos anterior e posterior
ao exercício pode ser observada na Figura 1. A descrição
dos dados mostra diminuição dos valores glicêmicos após
realização do exercício, bem como maior dispersão dos
valores observados entre as unidades experimentais, após
realização do exercício, demonstrando comportamento
individual bem variado.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
200
Figura 1 - Descrição dos valores de glicemia em cada unidade
experimental antes e após realização do exercício.
110
Glicemia (mg/dl)
100
90
80
70
60
50
1
2
3
4
5
6
7
8
Unidade experimental
Antes
9
10 11
Depois
Na Tabela III pode-se observar a estatística descritiva para
os valores de glicemia nos momentos que antecederam e posteriores ao exercício. Verifica-se maior desvio-padrão para a
média da glicemia, após realização do exercício, corroborando
o comportamento descritivo da Figura 1.
A probabilidade do teste de Wilcoxon Signed Rank Sum,
p = 0,001, indica diminuição dos valores de glicemia após a
prática do exercício físico. Em termos relativos, observa-se
uma redução de 14,82% nos valores de glicemia.
Tabela III - Número de observações (N), estimativas de médias,
desvio-padrão (DP), valores mínimos (Min.) e máximos (Max.)
observados para a variável glicemia, antes a após realização do
exercício e o valor da probabilidade do teste de Wilcoxon Signed
Rank Sum (p).
Momento
Antes
Depois
N
11
11
Média
96,45
84,00
DP
Min.
8,33 80,00
11,30 65,00
Max.
107,00
102,00
p = 0,001
Discussão
Este estudo buscou avaliar possíveis alterações na glicemia
durante uma aula de Pilates. Nossos resultados evidenciaram
que em uma sessão normal do método Pilates houve diminuição dos valores glicêmicos, assim observa-se que o músculo
necessita da glicose para realização da contração muscular
e, durante o exercício, a necessidade muscular de glicose
aumenta, levando a uma diminuição da glicose circulante.
A glicose é um substrato essencial para o metabolismo
e homeostase de todas as células eucarióticas, e sua baixa
disponibilidade no organismo pode comprometer o desempenho dos músculos e também funções do sistema nervoso
central [16]. A concentração de glicose no sangue é um fator
determinante na qual o músculo pode consumir glicose [17].
Mesmo com a atividade física as concentrações de glicose no
sangue tendem a permanecer dentro da normalidade [17].
A regulação fisiológica da absorção de glicose dos músculos
é complexa, sendo esta manutenção fundamental durante o
exercício, já que constitui uma fração significativa do com-
bustível para o trabalho muscular [16]. Nos estágios iniciais
da atividade física, a maior parte da energia obtida dos carboidratos provém da degradação do glicogênio muscular, o
qual declina de maneira mais rápida nos primeiros minutos
do exercício e é proporcional a sua intensidade, sendo este, um
substrato essencial para a realização do exercício; no entanto,
um aumento na intensidade do exercício, amplia a necessidade
de carboidratos, uma vez que o transporte de glicose é elevado
em resposta a níveis de glicogênio muscular baixo [17].
Quando o indivíduo parte do repouso para alguma atividade física, a necessidade de glicose aumenta, portanto,
o fígado desempenha um importante papel regulador na
manutenção da homeostase da glicose no sangue, aumentando a taxa de utilização de glicose muscular com uma taxa
quantitativa igual de sua produção [10]. A liberação de glicose
do fígado é o principal meio em que a glicose no sangue é
mantida no estado pós-absortivo, vista a necessidade do uso
constante de glicose no tecido, sendo assim, o controle da
produção de glicose no fígado é essencial para a regulação da
captação de glicose muscular [16]. Esse fato deve-se provavelmente ao aumento gradual nas concentrações plasmáticas
de glucagon e adrenalina, pois ambos aceleram a liberação da
glicose hepática, elevando, assim, a glicemia e com isso mantendo adequada sua concentração para satisfazer as demandas
metabólicas do exercício [11,17], portanto, um aumento das
concentrações de glicose no sangue fará a captação de glicose
muscular aumentar [16]. Segundo Riddell [18], os principais
hormônios glicorregulatórios, durante o exercício prolongado,
são a insulina e o glucagon e, com a intensidade crescente do
exercício, as catecolaminas são os principais reguladores da
produção hepática de glicose e glicogênio.
O glucagon é o controlador primário da produção de
glicose hepática em estado sedentário e, durante o exercício,
a produção desse hormônio nas células α pancreáticas é aumentada, enquanto que a secreção de insulina nas células β
diminui [16]. Sendo assim, as concentrações do hormônio
insulina diminuem durante o exercício de qualquer duração,
pois as próprias contrações musculares estimulam a absorção
de glicose no músculo e a diminuição de insulina é necessária
para evitar hipoglicemia [17].
A captação de glicose no músculo esquelético pode aumentar 50 vezes durante o exercício, esse processo é definido
por três as etapas: 1) entrega de glicose para o músculo; 2)
transporte de glicose no músculo através do GLUT4 e fosforilação da glicose no músculo pela enzima, a hexoquinase(HK)
[16,19]. Durante o exercício o mais importante transportador
de glicose para dentro da célula é o GLUT4 [10] e em um
estudo foi observado que no músculo vasto lateral houve
expressão maior de GLUT4 em fibras de contração lenta
tipo I [20].
Holloszy [21] mostra que uma das respostas adaptativas ao
exercício é o aumento do transportador GLUT4, o que torna
a captação de glicose mais rápida e um maior armazenamento
de glicogênio após o exercício.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
O transporte de glicose para o músculo esquelético é regulado tanto pela insulina quanto pela atividade contrátil do
músculo, sendo estas as condições fisiológicas primárias que
estimulam a absorção de glicose no músculo [10,16,17,22].
Além disso, o destino da glicose extraída do sangue é diferente
em resposta ao exercício e insulina, o primeiro oxida glicose,
enquanto a insulina estoca glicose no músculo [16].
A energia utilizada pelo músculo esquelético durante o
exercício é obtida pela quebra de ATP, concentração sanguínea
de glicose, fluxo sanguíneo muscular e ao recrutamento dos
capilares para determinar o movimento muscular da glicose
do sangue para o interstício [16].
Wasserman et al.[16] explicam que o fluxo sanguíneo para
o músculo é aumentado, portanto uma característica essencial
da resposta fisiológica ao exercício é a hiperemia marcada por
um aumento do fluxo sanguíneo capilar.
Quando inicia o exercício, ocorre um aumento do número
de moléculas de glicose na corrente sanguínea, no entanto,
a molécula de glicose é incapaz de atravessar a membrana
plasmática passivamente, portanto ocorre translocação do
GLUT4, que migra de vesículas do interior do sarcoplasma
para a membrana plasmática em resposta à contração muscular
[10,16,17,19,21,22].
Dentro da célula a glicose é inicialmente fosforilada através
da enzima hexoquinase, tornando-se gliose-6-fosfato, que é
uma molécula carregada negativamente sendo impossível
esta atravessar passivamente a membrana celular, portanto
fica aprisionada dentro da célula, e esta é uma reação irreversível [16]. No presente estudo, essa sequência de eventos
pode explicar o comportamento descendente da glicemia,
demonstrando que houve aumento do consumo de glicose
pelo músculo.
Wasserman et al. [16] acrescentam que a queda da glicemia ocorre porque, durante o exercício, a membrana celular
é altamente permeável à glicose devido à contratação de
GLUT4 das vesículas intracelulares e também pelo aumento
do transporte da glicose através da hiperemia induzida pelo
exercício, fato este que remove a barreira de entrega de glicose.
Durante um exercício com duração de 30 minutos ou
mais, as concentrações de insulina tendem a baixar, embora
a taxa de glicose permaneça constante. Portanto, quanto
mais intenso for o exercício maior será sua dependência de
carboidrato como combustível [10].
São raros os estudos referentes aos efeitos fisiológicos do
Pilates assim como seu comportamento glicêmico, portanto
só foi possível verificar diferentes práticas de atividade física
em comparação ao que provavelmente pode acontecer também no Pilates.
Em um estudo realizado por Silva, Silva e Abad [23] com
4 indivíduos do sexo masculino em cicloergômetro por 15
minutos, foi verificado queda da glicemia ao final do exercício.
Um trabalho realizado com 12 indivíduos do sexo masculino com sequências de exercício resistido de supino e Leg
Press [8], observou-se diminuição progressiva da glicemia e
201
depois um sensível aumento, que pode ter ocorrido devido
ao aumento progressivo da carga, pois esse fato pode sinalizar
uma demanda maior de glicose para realizar o exercício.
Este estudo verificou que tanto para as classes de sexo
quanto para as classes de idade não houve diferenças estatísticas, isso está de acordo com o estudo realizado por Marliss
et al. [24], no qual vinte e oito indivíduos ativos participaram
de um teste em cicloergometro, sendo que a exaustão era
definida no momento em que o indivíduo não fosse mais
capaz de pedalar. Este estudo mostrou que as concentrações
de glicose plasmática não foram significativamente diferentes
entres os sexos, mostrando que as mulheres tem um padrão
similar de respostas glicorregulatórias que homens.
Além disso, o fato de não ter mostrado diferença entre
sexo e idade talvez se deva por características metodológicas,
já que neste estudo optou-se por uma única aula de Pilates e
poucos voluntários.
Os resultados mostraram que a glicemia diminuiu, mas
permaneceu dentro dos parâmetros normais, isto demonstra
que ocorre queda da glicemia durante a atividade física, mas
não leva o indivíduo a uma queda importante desta ou até a
um estado hipoglicêmico, já que esse fato não é interessante,
visto que a manutenção de glicose no sangue é fundamental
para que os diversos órgãos do corpo continuem recebendo
sua fonte energética e funcionando corretamente. Segundo
Silva e Azevedo [25], a diminuição da glicemia a valores abaixo
do limiar hipoglicêmico procova sintomas, tais como, fome,
sudorese, nervosismo, tremor e até perda de consciência e
convulsões e que, quando severa e prolongada, pode causar
morte cerebral.
Apesar das limitações acima discutidas, foi possível verificar que houve diminuição da glicemia durante uma única
sessão de Pilates. Os resultados sugerem novas possibilidades
para avaliação, prescrição dos exercícios do Pilates para a
melhora do desempenho, saúde e, consequentemente, da
qualidade de vida das pessoas. É possível que o treinamento
do Pilates resulte em melhora nas funções neuromuscular,
metabólica, osteomioarticular e cardiovascular dos praticantes.
No entanto, investigações adicionais sobre a validade e o significado desses limiares para diferentes populações (sedentários,
atletas, cardiopatas, diabéticos, etc.) devem ser realizadas.
Conclusão
A partir dos métodos empregados e dos dados colhidos
e analisados, pode-se observar redução significativa da glicemia (p = 0,001), uma vez que o decréscimo foi em média de
14,82%. Desta forma, conclui-se que, durante uma aula de
Pilates, a glicemia tende a diminuir, possivelmente, devido
à necessidade muscular de glicose para sua posterior utilização em forma de ATP. Não se encontrou correlação entre
a alteração nos níveis glicêmicos, a idade e o sexo, pois os
indivíduos participantes desta pesquisa tiveram um padrão
bastante variado.
202
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Contudo, investigações futuras sobre o assunto, utilizando
diferentes protocolos de exercícios do método Pilates, assim
como outras variações, devem ser consideradas a fim de
elucidar-nos a respeito deste tema.
Referências
1. Machado CANR. Efeitos de uma abordagem fisioterapêutica
baseada no método Pilates, para pacientes com diagnóstico de
lombalgia, durante a gestação. Fisioter Bras 2006;7(5):345-8.
2. Silva ACLG, Mannrich G. Pilates na reabilitação: uma revisão
sistemática. Fisioter Mov 2009;22(3):449-55.
3. Touche RL, Escalante K, Linares MT. Treating non-specific chronic low back pain through the Pilates method
2008;12(1):364-70.
4. Gonçalves MBK, Ângelo RCO, Martins PPC. Aspectos clínicos
e morfofuncionais da casa de força no método Pilates. Fisioter
Bras 2009;10(1):54-7.
5. Keays KS, Harris SR, Lucyshyn JM, Maclntyre DL. Effects of
Pilates exercises on shoulder range of motion, pain, mood, and
upper-extremity function in women living with breast cancer:
a pilot study. Phys Ther 2008;88(4):494-510.
6. Jago R, Jonker ML, Missaghian M, Baronowski T. Effect of 4
weeks of Pilates on the body composition of young girls. Prev
Med 2006;42(1):177-80.
7. Lima PSQ, Medeiros MSL, Mendes ACG, Laurentino GEC,
Montenegro EJN. O método Pilates no ganho de flexibilidade
dos músculos isquiotibiais em pacientes portadores de hérnia
de disco lombar. Fisioter Bras 2009;10(5):314-7.
8. Oliveira JC, Baldissera V, Simões HG, Aguiar AP, Azevedo
PHSM, Poian PAFO et al. Identificação do limiar de lactato e
limiar glicêmico em exercícios resistidos. Rev Bras Med Esporte
2006;12(6):298-301.
9. Siqueira F. Rodrigues, LFP. Frutoso, MFP. Índice glicêmico
como ferramenta de auxílio à prescrição de dietas. Rev Bras
Nutr Clin 2007;22(1):55.
10. Suh HS, Paik IY, Jacobs KA. Regulation of blood glucose homeostasis during prolonged exercise. Moll Cells 2007;23(3):272-77.
11. Sapata KBS, Fayh APT, Oliveira AR. Efeitos do consumo prévio
de carboidratos sobre a resposta Glicêmica e desempenho. Rev
Bra Med Esporte 2005;12(4):189-94.
12. Almeida FE. Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios?
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2010;9(2):130-3.
13. Camarão T. Pilates com a bola no Brasil corpo definido e bem-estar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005
14. Stabnomore T. Pilates para as costas. São Paulo: Manole; 2008.
15. Barra BS, Araújo WB. O efeito do método Pilates no ganho
da flexibilidade, em Linhares/ES [monografia/dissertação/tese].
Linhares: Faculdade de Ciências Aplicadas Sagrado Coração
Unilinhares; 2007. 10-28p.
16. Wasserman DH, Kang L, Ayala JE, Fueger PT, Lee-Young RS.
The physiological regulation of glucose flux into muscle in vivo.
J Exp Biol 2011;214:254-62.
17. Oliveira JF, Silva FMM, Navarro AC, Navarro F, Ornellas FH.
Efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados na
glicemia de atletas do jiu-jitsu. Revista Brasileira de Fisiologia
do Exercício 2009;8(2):65-9.
18. Riddell MC. The endocrine response and substrate utilization
during exercise in children and adolescents. J Appl Physiol
2008;105(2):725-33.
19. Merry TL, McConell GK. Skeletal muscle glucose uptake
during exercise: A focus on reactive oxygen species and nitric
oxide signaling. IUBMB Life 2009;61(5):479-484.
20. Mavros Y, Simar D, Singh MAF.Glucose transporter-4 expression in monocytes: a systematic review. Diabetes Res Clin Pract
2009;84(2):123-131.
21. Holloszy JO. Regulation by exercise of skeletal muscle content of mitochondria and GLUT4. J Physiol Pharmacol
2008:59(7):5-18.
22. Alves JF, Santos RCS, Fada RBN, Gomes TRG, Lasaponari T,
Sampaio K. Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores
de diabetes mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício 2010;9(2):107-13.
23. Silva RB, Silva GR, Abad CCC. Comportamento da variabilidade da frequência cardíaca, pressão arterial e glicemia durante
exercício progressivo máximo em dois ergômetros diferentes.
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
2010;4(19):13-23.
24. Marliss EB, Kreisman SH, Manzon A, Halter JB, Vranic M,
Nessim SJ. Gender differences in glucoregulatory responses to
intense exercise. J Appl Physiol 2000;88(2):457-66.
25. Silva AS, Azevedo WKC. Comportamento Glicêmico em treinamentos de natação com caráter aeróbio e anaeróbio. Revista
de Educação Física 2007;137:26-32.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
203
Anexo 01
Exercícios do método Pilates
a) Alongamentos:
• Alongamentos de posterior da perna: sentado na bola, uma das pernas em angulo de 90º, a perna contralateral irá realizar
extensão do joelho e o aluno será orientado a fazer uma dorsiflexão (puxar a ponta do pé para cima), juntamente com a extensão de joelho será realizada uma flexão de tronco [13].
• Alongamento de glúteos e piriforme: o aluno deitado com o joelho de um dos membros inferiores apoiado sobre o chão e
com o outro fletido sobre a perna de forma que ele faça um quatro. O movimento será realizado com o aluno fletindo a perna
em direção ao tórax [14]
• Alongamento dos músculos posteriores da coxa e da coluna: sentado com a coluna ereta e as pernas estendidas, o aluno realizará
uma flexão de tronco em direção aos pés [14].
• Alongando a coluna: o aluno ficará sentado com a bola a frente, pernas afastadas, este realizará o deslocamento da bola à
frente [13].
• Alongamento dos músculos do quadril e da região lombar: deitado de barriga para cima (decúbito dorsal), joelhos flexionados,
pés um pouco afastados. O aluno flexionará um dos joelhos em direção ao tórax enquanto o joelho fica estendido e o calcanhar
é pressionado contra o solo para aumentar o alongamento [14].
b) Exercícios para o tronco:
• Gato: ajoelhado com a bola encostada nas coxas, durante a expiração, o aluno levará a bola para frente até que a coluna fique
paralela com o chão. O aluno retorna do movimento realizando um C [13].
• Alongando a perna: deitado de barriga para cima (decúbito dorsal), com as mãos posicionadas atrás do pescoço, joelhos fletidos
sobre a bola. Durante a expiração o aluno realizara uma elevação do tronco e simultaneamente irá estender uma das pernas [13].
• Cruzado: deitado de barriga para cima (decúbito dorsal), com as mãos posicionadas atrás do pescoço, joelho fletidos sobre a
bola. Durante a expiração, o aluno realizará uma elevação do tronco e simultaneamente irá estender uma das pernas, de forma
que o cotovelo de um membro vá em direção ao joelho do membro contralateral [13].
• Alongamento duplo: deitado no colchonete de barriga para cima (decúbito dorsal), pés posicionados sobre a bola. Tronco
flexionado (caso o paciente tenha dificuldade de manter o tronco fletido, uma bola pequena será colocada sobre a cabeça do
paciente). O movimento é realizado com o aluno estendendo as pernas ao mesmo tempo em que este realiza um circulo com
os braços [13].
c) Exercícios para membros superiores:
Os exercícios de braço serão realizados no trapézio com o aluno em pé de costas para o aparelho, mãos segurando as alças nas
molas. Será utilizada uma mola de resistência leve, assim o aluno poderá graduar sua resistência se aproximando ou se afastando
do aparelho.
• Rombóides, Grande dorsal, Deltóide Posterior: de frente para o aparelho, segurando um bastão, realiza o movimento trazendo
o bastão de encontro ao corpo [15].
• Tríceps braquial: manter o corpo ligeiramente inclinado para anterior, para equilíbrio; braços por cima da cabeça em flexão
de cotovelos. Realize movimentos de flexão e extensão curta de cotovelos [15].
• Bíceps braquial: em pé de frente para o aparelho, joelhos semifletidos e abdômen contraído para proporcionar estabilidade a
coluna. As mãos posicionadas nas alças, braços ao lado do corpo e partindo de uma extensão de cotovelo, realizará uma flexão
do mesmo [15].
Sentado no trapézio de lado para a barra torre, uma mão segura a barra torre e a outra ficará livre, pernas fora da mesa. O
movimento será realizado com uma flexão de cotovelo, puxando a barra torre para baixo [15].
204
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
d) Exercícios para membros inferiores:
O trabalho para membros inferiores será realizado em um aparelho denominado Cadeira de Combo e mola será graduada
de acordo com a força do aluno;
• Trabalho de perna em pé de frente para a cadeira: o aluno estará em pé com uma das pernas posicionadas sobre um dos pedais
da cadeira, realizará o movimento pressionando o pedal para baixo empurrando-o em direção ao solo [15].
• Quadríceps: De frente para a cadeira com um dos pés todo apoiado na parte superior do aparelho e o outro com apoio na
base, será então realizado o movimento de subida [15].
• Quadríceps e adutor: de lado para o aparelho com um dos pés todo apoiado na parte superior em diagonal do aparelho e o
outro com apoio na base, realizar o movimento de subida [15].
• Bicicleta na cadeira: sentado no assento da cadeira, as mãos apoiadas na barra haste. Os pés apoiados no pedal. Manter sempre o controle de centro. Pressionar o pedal para baixo com as pernas alternadamente, empurrando-o em direção ao solo,
simulando pedaladas [15].
Apêndice 01
Ficha de Avaliação
Dados pessoais
Nome: ____________________________________________________Idade: ____________
Endereço: ___________________________________________________________________
Telefone para contato:__________________
Medidas antropométricas:
Peso: _______________ Altura: _____________
IMC: _________
Hábitos de vida
1) Você pratica exercícios físicos? ( ) Sim ( ) Não
2) Quantas vezes por semana? __________________________________________________
3) Já praticou o método Pilates? ( ) Sim ( ) Não
História da moléstia pregressa
4) Possui alguma patologia no sistema músculo esquelético?
( ) Sim ( ) Não
a) Local: ( ) Ombro
( ) Joelho ( ) Cotovelo ( ) Punho
Direito ( ) Esquerdo ( )
Qual?_____________________________
Há quanto tempo?___________________
5) Já sofreu tonturas?
( ) Sim ( ) Não Causa:____________________________
6) Você faz uso de marca-passo cardíaco?
( ) Sim ( ) Não
7) Tem algum problema cardíaco?
( ) Sim ( ) Não
8) Faz uso de medicação para controle da Pressão Arterial?
( ) Sim ( ) Não
( ) Quadril
( ) Joelho
( ) Coluna
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
205
Artigo original
Utilização do strap na puxada fechada
com pegada neutra na roldana alta
Usage of the strap on lat pull-down with the close grip hand position
Luiz Alberto Werneck*, Eduardo Lattari**, Edmilson de Carvalho***
*Laboratório de Biociências da Motricidade Humana UCB – LABIHM / RJ, *Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração
Sensório-Motora – IPUB/UFRJ, Laboratório de Biodinâmica – UCB/RJ, ***Laboratório de Biodinâmica – UCB/RJ
Resumo
O presente estudo teve por objetivo verificar se a utilização de
um acessório no treinamento de força, o strap, influencia no volume total de repetições no exercício puxada pela frente com pegada
neutra. Foram selecionados 10 indivíduos universitários do gênero
masculino com idade media 23,5 ± 1,27 anos. Os participantes
realizaram a pesquisa em 3 dias distintos. No 1º dia, o teste de
1RM foi aplicado. No 2º e 3º dia, os participantes executaram 3
séries a 75% de 1RM, executando aleatoriamente com ou sem o uso
do strap, separados por pelo menos 48 horas de descanso. Como
resultado, percebeu-se que houve diferenças significativas entre os
tratamentos, com um incremento no número total de repetições
realizadas com a utilização do strap.
Abstract
The purpose of the present study was to verify if the usage of
the strap has a significant influence on the total sum of repetitions
of 3 series of lat pull-downs with the close grip hand position at
75% 1RM. Ten male students, average 23.5 ± 1.27 years old, were
selected. The research was performed in 3 different days. The first
day, the 1RM test was applied. On the second and third day, the
participant performed 3 exercise sets at 75% 1RM, using or not the
strap, with at least an interval between sets of 48 hours each. As a
result, we perceived a significant difference between treatments, with
an increase in the total number of repetitions done with the strap.
Key-words: strap, close grip, number of repetitions.
Palavras-chave: strap, pegada fechada, número de repetições.
Introdução
Os exercícios básicos ou primários, que tem como objetivo
a hipertrofia do músculo latíssimo do dorso (LD), tendem a ter
a sua máxima utilização prejudicada. Isso porque a atividade
eletromiográfica do músculo flexor superficial dos dedos, em
particular, mensurada em estudos citados por Sheel [1], foi
alta durante a realização de exercícios de puxada com a pegada
pronada. Talvez devido aos músculos flexores superficiais dos
dedos entrarem em fadiga precocemente, o que podem acarretar em prejuízo para execução do movimento. Outro fator
importante que pode acarretar na diminuição da atividade
elétrica do músculo LD são as diferentes pegadas utilizadas
no treinamento. Foi verificado em estudo realizado [2] que o
exercício de puxada pela frente com pegada aberta e pronada
foi superior na atividade elétrica do LD que os exercícios de
puxada por trás, puxada com pegada supinada e puxada com
pegada neutra. O mesmo foi observado em estudo recente [3]
que revelou que a pegada pronada demonstrou maior atividade
para o LD do que a pegada supinada, independente da largura
da pegada. Contudo, a parcela de contribuição de cada músculo em cada movimento não é precisa, o que torna a análise
dos movimentos ainda mais subjetiva, podendo comprometer
a elaboração adequada de um programa de treinamento [4].
Recebido em 31 de agosto de 2011; aceito em 3 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Eduardo Lattari, Estrada do Mendanha, 1665, casa 59, 23087-286 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)
2413-8284, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]
206
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Talvez, somente o fato dos sujeitos serem bem instruídos na
execução do exercício possa gerar uma atividade eletromiográfica maior para o músculo latíssimo do dorso, motor primário do
movimento. Na pesquisa realizada por Snyder e Leech [5] foi
demonstrado que os sujeitos após instruções sobre a técnica de
execução podem voluntariamente aumentar a atividade elétrica
do músculo latíssimo do dorso durante o exercício de puxada,
e esse aumento não representa uma diminuição na atividade
elétrica do músculo bíceps braquial, motor secundário no
movimento. Sendo assim, os músculos motores secundários
podem não ser os únicos responsáveis pela diminuição da
atividade elétrica do músculo motor primário. Um possível
comprometimento na produção de força do músculo motor
primário (LD) pela fadiga precoce dos secundários, talvez,
possa ser evitada pelo uso de acessórios adequados a prática do
treinamento de força. Uma alternativa para este inconveniente,
utilizada por alguns fisiculturistas e praticantes de musculação
não competitiva, é a utilização de um strap fixando os punhos
no implemento utilizado (Figura 1).
Figura 1- Pegada na barra com o auxílio do strap.
Este acessório, segundo relatos de usuários praticantes,
contribui para uma maior produção de força e um volume
total de repetições. Apesar de haver uma crença na eficiência
da sua utilização, não foram encontrados estudos a respeito
da sua eficácia.
Assim, o objetivo deste estudo foi verificar se há uma
influência significativa na utilização do strap no volume total
de repetições no exercício de puxada pela frente com pegada
neutra.
Material e métodos
Amostra
Foram selecionados 10 indivíduos universitários, do
gênero masculino, com idade média (23,5 ± 1,27) anos,
saudáveis, não praticantes de qualquer atividade que influenciasse na força dos músculos flexores do carpo (ex.: Jiu
Jitsu, Judô ou Alpinismo), participantes de um programa
de musculação, sem a utilização de strap, por pelo menos
1 ano, que tinham como objetivo dos seus treinamentos,
a hipertrofia muscular. A realização dos testes em dois dias
foi para tentativa de reduzir a influência do aumento da
carga à medida que os testes subsequentes ocorressem. A
familiarização ao exercício executado faz com que ocorra
aumento significativo de carga para o teste seguinte, podendo ser observado em estudos realizados por Dias et al. [6],
Cronin e Henderson [7] e Ploutz-Snyder e Giamis [8]. O
presente trabalho atende às normas de realização de pesquisa
em seres humanos, Resolução 160/96 do Conselho Nacional de Saúde, e o seu projeto de pesquisa foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos
da Universidade Castelo Branco (UCB).
Procedimentos para coleta de dados
Os testes foram feitos em 3 dias distintos:
• 1o dia - Aplicação de um teste de 1RM, e logo após 10
minutos, um reteste de 1RM, realizado sem a utilização do
strap, para os 10 indivíduos da pesquisa. Segundo Prati et
al. [9], a execução de um resteste de força dinâmica máxima, após 10 minutos de intervalo de descanso, garante o
restabelecimento da força e apresenta um alto coeficiente
de correlação intraclasse. O teste de 1RM adotado foi o
mesmo segundo Whisenant et al. [10]. Como padronização
de amplitude do movimento, os sujeitos deveriam estar
com o braço na mesma altura do ombro, no final da fase
concêntrica, num elástico fixado entre os dois cotovelos,
em cada repetição executada, atingindo, assim, os 90º de
variação angular do movimento proposto;
• 2o dia - realização de 3 séries com 75% da carga máxima, até
a fadiga, com intervalo de 1 minuto (tempo normalmente
utilizado nas academias, pelos praticantes de musculação
que têm a hipertrofia como objetivo) [11]. Dos dez participantes, metade deles (5) realizou aleatoriamente o exercício
com a utilização do strap e a outra metade (5) não;
• 3o dia – realização de 3 séries com 75% da carga máxima,
até a fadiga, com intervalo de 1 minuto. Nesta etapa,
inverteu-se a realização do exercício quanto à utilização
do strap ou não entre os sujeitos da pesquisa.
Durante o 2o e 3o dia, todos os exercícios foram realizados com um padrão de velocidade, sendo 1,8 segundos
para cada fase do movimento (concêntrica e excêntrica),
já que a velocidade de execução pode afetar diretamente o
número de repetições máximas atingidas [12]. O exercício
de puxada teve uma variação angular de aproximadamente
90º, o que convertendo em radianos equivale em aproximadamente 1,57 radianos. Assumindo uma amplitude de
aproximadamente 1,57 radianos, dois batimentos em 132
batidas por minutos (bpm) representam uma velocidade
angular de 1,75 rad·s-1 [13]. A intenção de utilizar essa
velocidade de execução é por estar mais aproximada da
velocidade de execução tradicional executada nas salas de
musculação.
Todas as etapas foram realizadas num mesmo horário,
evitando que o horário em especial pudesse interferir no re-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
sultado final quanto ao ganho de força, conforme demonstra
Prati et al. [14].
Instrumentos e materiais
Foi usado um aparelho de Pulley alto, da marca Cybex,
uma pegada triângulo e um Strap para as mãos, da marca
Vitaminas e Minerais. O instrumento utilizado para controle
da velocidade foi um metrônomo da marca Personal Counter.
Análise estatística
Para se analisar a reprodutibilidade dos testes de 1RM
em medidas repetidas por um mesmo avaliador, utilizamos
o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) na análise das
relações entre os testes. O teste de Wilcoxon foi utilizado para
comparar as duas medidas.
Resultados
Através da análise dos dados, verificou-se a média e o
desvio padrão do teste e reteste de 1RM dos 10 indivíduos,
conforme se pode observar na Tabela I.
Tabela I - Média e desvio padrão do teste-reteste de 1RM.
Testes
1RM
Reteste 1RM
Média (kg)
108,0
108,3
Desvio Padrão (kg)
6,91
6,01
RM = repetição máxima.
207
Os resultados encontrados através do coeficiente de correlação intraclasse (CCI = 0,99) mostram que a fidedignidade
do teste de 1RM foi alcançada, obtendo-se um p = 0,000.
A Tabela II apresenta uma análise descritiva da média e desvio padrão, sem e com o uso do strap, em suas respectivas séries.
A Tabela III apresenta o resultado do Teste Wilcoxon
(pequenas amostras).
Na análise da Tabela III, percebe-se que houve diferenças
significativas entre os tratamentos, tendo em vista que o
somatório dos ranks (R+ e R-) encontra-se fora dos limites
críticos para o nível de significância adotado (α < 0,01), o
que levou à rejeição da hipótese nula.
Discussão
Os resultados acima demonstraram que a utilização
do strap gera um volume de trabalho maior do que sem o
uso do determinado acessório. Isso criou algumas dúvidas
e esclarecimentos sobre a maior produção de força pelo
latíssimo do dorso em relação a diferentes pegadas no
exercício de puxada.
Por exemplo, conforme são demonstrados no estudo
realizado por Signorile et al.[2] os resultados indicaram
que o exercício da puxada pela frente com pegada aberta
produz uma maior atividade no músculo latíssimo do dorso
em relação a qualquer outra pegada, tanto durante a fase
concêntrica ou excêntrica do movimento. Já o estudo realizado por Carpenter et al. [16] os resultados demonstraram
que existe diferença significativa apenas para o músculo
trapézio na condição de velocidade cadenciada a 80% de
Tabela II - Desempenho dos sujeitos sem e com Strap no teste de 1RM.
Sujeito
M
DP
1RM
108
6,91
série 1
8,6
0,69
Sem Strap
série 2
6,9
0,99
série 3
5,4
1,07
Total
Com Strap
série 2
9
1,15
série 1
11
0,94
20,9
2,42
série 3
7,3
1,16
Total
27,3
3,02
RM = repetição máxima; M = média; DP = desvio padrão
Tabela III - Teste Wilcoxon (pequenas amostras).
Sujeito
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
Sem Strap
Com Strap
pós-pré
Rank
R+
R-
17
19
21
26
20
22
22
19
21
22
22
26
30
32
25
28
29
24
29
28
5
7
9
6
5
6
7
5
8
6
2
7,5
10
5
2
5
7,5
2
9
5
55
2
7,5
10
5
2
5
7,5
2
9
5
ΣR+ = 55
ΣR- = 0
* Valores obtidos da Tabela para Wilcoxon (pequenas amostras) [15].
valores críticos* (p < 0,01)
Inferior
3
Superior
52
208
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
1 RM, realizando a puxada por trás. Não existia diferença
para os músculos peitoral maior, latíssimo do dorso, deltóide
posterior e bíceps braquial.
Porém, Sperandei et al. [17] demonstraram que 3 diferentes pegadas nos exercícios de puxada não causava diferença
significativa na atividade elétrica do músculo latíssimo do
dorso. Com isso, outros fatores envolvidos durante a realização
do gesto motor podem influenciar diretamente a produção de
força e a atividade eletromiográfica das musculaturas envolvidas. Os motores secundários envolvidos no movimento foi
sugerido como fator limitante na produção de força no estudo
realizado por Shell et al. [1]. Talvez essa seja uma hipótese bem
relevante, pois o tamanho da musculatura envolvida contribuiu para menor produção de força. Entretanto, na pesquisa
realizada por Snyder e Leech [5] foi visto que os sujeitos após
instruções sobre a técnica de execução podem voluntariamente
aumentar a atividade elétrica do músculo latíssimo do dorso
durante o exercício de puxada por trás, e esse aumento não
representa uma diminuição na atividade elétrica do músculo
bíceps braquial, motor secundário no movimento. Assim, os
motores secundários do movimento podem ser bem solicitados no momento inicial de aprendizagem do movimento, e,
posteriormente a aprendizagem, não diminuírem sua atividade elétrica, mas sim aumentar a atividade eletromiográfica do
músculo motor primário. O uso de algum acessório pode gerar
certa facilitação no movimento, e isso pode auxiliar na maior
produção de força. É prematuro ainda afirmamos que o uso
de um acessório é o único responsável por esse aumento no
volume do treinamento de força, sendo que novas pesquisas
devem ser realizadas com intuito de maior esclarecimento
sobre o devido assunto.
Conclusão
Ao comparar a soma das repetições das 3 séries, na realização da puxada pela frente, com e sem a utilização do strap
fixando os punhos, observou-se que houve um incremento no
número total de repetições realizadas quando o strap foi utilizado, o que vem a confirmar a hipótese inicial deste trabalho.
Isso pode ser fundamental para sujeitos que necessitam de
um suporte adicional, quanto à produção de força e volume
de treino, para treinar esse exercício em particular.
Sugere-se que novos trabalhos procurem investigar a
possível influência da utilização do strap na resposta eletromiográfica do músculo latíssimo do dorso.
Referências
1. Sheel AW. Physiology of sport rock climbing. Br J Sports Med
2004;38(3):355-9.
2. Signorile J, Zink A, Szwed S. A comparative electromyographical investigation of muscle utilization patterns using various
hand positions during the lat pull-down. J Strength Cond Res
2002;16(4):539-46.
3. Lusk SJ, Hale BD, Russell DM. Grip width and forearm
orientation effects on muscle activity during the lat pull-down.
J Strength Cond Res 2010;24(7):1895-900.
4. Matheson JW, Kernozek TW, Fater DCW, Davies GJ. Electromyographic activity and applied load during seated quadriceps exercises. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1713-25.
5. Snyder BJ, Leech JR. Voluntary increase in latissimus dorsi
muscle activity during the lat pull-down following expert instruction. J Strength Cond Res 2009;23(8):2204-9.
6. Dias RM, Cyrino ES, Salvador EP, Caldeira LFS, Nakamura
FY, Papst RR et al. Influência do processo de familiarização
para avaliação da força muscular em teste de 1-RM. Rev Bras
Med Esporte 2005;11(1):34-8.
7. Cronin JB, Henderson ME. Maximal strength and power
assessment in novice weight trainers. J Strength Cond Res
2004;18(1):48-52.
8. Ploutz-Snyder LL, Giamis EL. Orientation and familiarization
to 1RM strength testing in old and young women. J Strength
Cond Res 2001;15(4):519-23.
9. Prati JEL, Machado SEC, Pinheiro A, Carvalho MCGA, Dantas EHM. Análise do intervalo de recuperação e consistência
no teste de 1RM. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
2005;4(1):4-6.
10. Whisenant MJ, Panton LB, East WB, Broeder CE. Validation
of submaximal prediction equations for the 1 repetition maximum bench press test on a group of collegiate football players.
J Strength Cond Res 2003;17(2):221- 27.
11. De Salles BF, Simão R, Miranda F, Novaes JS, Lemos A, Willardson JM. Rest interval between sets in strength training. Sports
Med 2009;39(9):765-77.
12. Lachance PF, Hortobagyi T. Influence of cadence on muscular
performance during push-up and pull-up exercise. J Strength
Cond Res 1999;8(2):76-9.
13. Gomes PS, Pereira MI. Testes de força e resistência muscular:
confiabilidade e predição de uma repetição máxima – revisão
e novas evidencias. Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):325-35.
14. Prati JEL, Machado SEC, Carvalho EB, Silva VF. Efeitos do
horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima
em adolescentes não treinados. Revista Brasileira de Fisiologia
do Exercício 2009;8(3):121-4.
15. Rosner B. Fundamentals of Biostatistics. Belmont: Duxbury
Press; 1995.
16. Carpenter CSC, Novaes J, Batista LA. Comparação entre a
puxada por trás e a puxada pela frente de acordo com a ativação
eletromiográfica. Revista de Educação Física 2007;136:20-7.
17. Sperandei S, Barros MA, Silveira-Júnior PC, Oliveira CG.
Electromyographic analysis of three different types of lat pull-down. J Strength Cond Res 2009;23(7):2033-8.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
209
Artigo original
Efeitos da suplementação com carboidrato em forma
de gel sobre os níveis sanguíneos de glicose e lactato
pré e pós-exercício em ratas não treinadas
Effects of carbohydrate supplementation in the form of a gel in glucose
and lactate blood levels before and after exercise in sedentary rats
Maria Laura da Costa Louzada*, Júlia Luzzi Valmórbida**, Jadson Pereira Alves***, Ramiro Barcos Nunes, M.Sc.****
*Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, **Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências
da Saúde de Porto Alegre, ***Educador Físico, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Educador Físico, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde
da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
Resumo
Objetivo: Analisar os efeitos da suplementação com carboidrato
gel sobre os níveis sanguíneos de glicose e lactato pré e pós-exercício
em ratas não treinadas. Métodos: Quinze ratas foram divididas em 3
grupos: Jejum (GJ), que foi mantido sem alimentação por 8 horas,
Nutrido (GN), que recebeu ração ad libitum, e Jejum + Suplemento
(GJ+S), que foi mantido em jejum por 8 horas e recebeu o suplemento 15 minutos antes do exercício. Os grupos foram submetidos
à natação com carga de 6% do peso corporal. Realizaram-se medidas
de glicose sanguínea 30 minutos antes, no início e imediatamente
após o final do exercício e de lactato 30 minutos antes e imediatamente após o exercício. Resultados: Não houve diferença nos valores
de glicose 30 minutos antes (P = 0,23), mas no início e no final do
exercício os valores do grupo GJ+S foram maiores (P < 0,01). A
média de tempo de exercício do grupo GJ foi menor do que o tempo
de exercício dos outros grupos (P < 0,01). Não houve diferenças
nos valores de lactato pré (P = 0,31) e pós-exercício (P = 0,23) entre
os grupos. Conclusão: A suplementação foi efetiva na manutenção
dos níveis sanguíneos de glicose pós-exercício, mas não mostrou
influência do mesmo sobre níveis de lactato.
Palavras-chave: exercício, suplementos dietéticos, metabolismo
de carboidratos, nutrição.
Abstract
Objective: To analyze the effects of carbohydrate supplementation in the form of a gel in glucose and lactate blood levels before
and after exercise in sedentary rats. Methods: Fifteen female rats were
divided into three groups: Fasting (FtG), which was kept without
food for 8 hours, Fed (FdG), which received ration ad libitum and
Fasting + Supplementation (Ft+SG), which was kept without food
for 8 hours and received carbohydrate supplementation 15 minutes before the exercise. All groups were submitted to swimming
carrying a load corresponding to 6% of body weight. Glucose was
measured 30 minutes before the exercise, at the beginning of it and
immediately after it. Lactate was measured 30 minutes before the
exercise and immediately after it. Results: There was no significant
differences among the groups in the levels of glucose 30 minutes
before the exercise (P = 0.23), but at the beginning and at the end of
it, the values of group Ft+SG were higher (P < 0.01). The exercising
time of the FtG group was lower than the other groups (P < 0.01).
There were no differences among groups in the levels of lactate
before (P = 0.31) and after the exercise (P = 0.23). Conclusion: The
supplementation was effective in maintaining blood glucose levels
after exercise, but didn’t show the same effect on lactate levels.
Key-words: exercise, dietary supplements, carbohydrate
metabolism, Nutrition.
Recebido em 3 de outubro de 2011; aceito em 3 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Maria Laura da Costa Louzada, Rua Sarmento Leite 245, Anexo I, sala 3, 90050-170 Porto Alegre
RS, Tel: (51) 3303-8798, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], rbarcos9@
hotmail.com
210
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
A influência da dieta em diferentes situações de demanda
energética, como aquelas observadas durante a realização
de exercícios físicos, tem despertado a atenção de pesquisadores [1]. Por causa disso, os efeitos da alimentação e da
suplementação vêm sendo mais exaustivamente investigados,
especialmente devido a sua influência no desempenho atlético.
Sabe-se que a prevenção do declínio da glicose sanguínea é
importante para a manutenção da oxidação de carboidrato e
este é um fator determinante da capacidade aeróbia [2]. Estudos desenvolvidos tanto em humanos quanto em animais têm
observado a relação da metabolização do carboidrato com o
desempenho [2-4]. A relação entre a glicose sanguínea e concentração sanguínea de lactato como preditor de desempenho
físico ainda permanece obscuro na literatura.
Inúmeras são as opções para utilização de suplementos de
carboidrato, podendo ser administrados sobre diversas formas,
incluindo bebidas, géis, barras e balas esportivas [2]. Vários
estudos têm demonstrado que a ingestão de carboidrato na
forma líquida pode melhorar o desempenho no exercício, por
manter os níveis sanguíneos de glicose e prevenir a depleção
das reservas endógenas de glicogênio [2,4,5]. A efetividade dos
géis de carboidrato em melhorar o desempenho, no entanto,
foi pouco examinada [3]. O objetivo do presente trabalho
foi analisar os efeitos da suplementação com carboidrato em
forma de gel, comparado com alimentação de livre acesso e
jejum, nos níveis sanguíneos de glicose e lactato pré e pós-exercício em ratas não treinadas.
Material e métodos
Animais
A amostra foi composta por 15 ratas da linhagem Wistar,
com 90 dias de idade, pesando entre 200 e 250g, obtidas na
unidade de reprodução animal da Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Durante o
período experimental, os animais foram mantidos em caixas
plásticas (cinco ratas por caixa) e receberam água e ração ad
libitum. Os animais foram mantidos sob ciclo de claro/escuro
de 12 horas e temperatura média de 22°C. A investigação
obedeceu às regras de ética estabelecidas pelo guia de cuidado e uso de animais experimentais publicadas pelo Instituto
Nacional de Saúde (I.N.S. publicação n° 85-23, revisada
em 1996). Todos os procedimentos descritos neste presente
estudo foram aprovados pelo comitê de ética da UFCSPA.
Adaptação ao meio líquido
Anteriormente à realização protocolo de exercício de natação, as ratas foram adaptadas ao meio líquido em tanques
plásticos com capacidade de 50 litros, medindo 45 cm de
diâmetro e 60 cm de altura, com temperatura da água mantida
a 30-32°C, de acordo com protocolo pré-estabelecido para a
prática da natação [6]. A adaptação foi realizada durante 5 dias
consecutivos, nos primeiros dois dias as ratas nadaram durante
10 min com 0% de carga, no terceiro dia com 2,0% do peso
corporal adicionado à cauda durante 5 min e no quarto e
quinto dias, com 4,0% durante 5 min. O propósito da adaptação foi reduzir o estresse durante o experimento, sem, no
entanto, promover ganhos decorrentes do treinamento físico.
Protocolo experimental
As ratas foram divididas em 3 grupos experimentais: Jejum
(GJ, n = 5), que foi mantido sem alimentação por 8 horas,
Nutrido (GN, n = 5), que recebeu ração ad libitum e Jejum
+ Suplemento (GJ+S, n = 5), que foi mantido em jejum por
8 horas e recebeu suplemento de carboidrato em gel (GU
Energy, Berkeley, CA), por gavagem, na dose de 1g/kg de peso
corporal 15 min (tempo 15) antes da realização do exercício.
Todos os grupos foram submetidos a exercício de natação
com duração de 30 min e suportando uma carga referente
a 6% do peso corporal adicionada à cauda. Trinta minutos
antes do exercício (tempo 0) foi realizada coleta de sangue,
por punção caudal, para dosagem da glicemia e lactacidemia
de repouso. Antes do início do exercício (tempo 30), todos
os grupos foram submetidos à nova coleta de sangue para
dosagem da glicemia. Ao final do período de exercício (tempo
60), foi realizada nova coleta de sangue para verificação da
glicemia e lactacidemia em todos os grupos. A realização do
exercício ocorreu no mesmo tanque usado na adaptação. O
exercício era interrompido quando completavam 30 minutos
ou quando os animais ficavam submersos por, no mínimo,
15 segundos por três vezes consecutivas. As concentrações
de lactato sanguíneo foram determinadas em um lactímetro digital (Accutrend lactate, Roche) e as concentrações de
glicose foram determinadas por um aparelho glicosímetro
(Accu-Chec, Roche).
Análise estatística
Para análise estatística foi utilizado o programa estatístico
Graph-pad Prisma versão 4.0 para Windows. Para comparação
entre os grupos foi realizada ANOVA de uma via, seguida de teste
Post-Hoc de Student-Neewman-Keuls. A diferença foi considerada
estatisticamente significativa quando apresentava p < 0,05.
Resultados e discussão
O presente estudo comparou o efeito da suplementação
do carboidrato gel no desempenho do exercício de moderada
a alta intensidade, com o desempenho de animais em jejum
de 8 horas e animais com alimentação livre, avaliando as
concentrações sanguíneas de lactato e glicose. Os animais
foram pesados no início do estudo, apresentando médias de
223 ± 6g no grupo nutrido (GN), 220 ± 8g no grupo jejum
Glicose sanguínea (mg/dL)
Figura 1A - Medida da glicose sanguínea pré-exercício (tempo 0)
dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão
em média ± DP e o p = 0,23.
100
75
50
25
0
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
Tempo (minutos)
Glicose sanguínea (mg/dL)
Glicose sanguínea (mg/dL)
150
Os animais
também tiveram o nível de glicose sanguínea mensurado no início do exercício com o intuito de
verificar 100
o efeito da suplementação de carboidrato no grupo
Jejum+Suplemento, comparado aos demais grupos. Não houve alteração significativa nos valores de glicose sanguínea dos
50
grupos Nutrido
e Jejum, porém o grupo Jejum + Suplemento
apresentou um aumento de 93,6 ± 6,3 mg/dL para 139,6 ±
10,7 mg/dL0representando 32,9% de aumento, sendo este valor
significativamenteNutrido
maior do que Jejum
a dos outrosJejum+Supl
grupos (Figura 1
60
*
B). Imediatamente após o exercício, os animais foram
submetidos a mais
50 uma medida de glicose sanguínea, apresentando
valores de 40
31,6 ± 4,3 mg/dL, 28,2 ± 9,3 mg/dL, 51,3 ± 10.9
mg/dL para os grupos Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento,
30
respectivamente.
Os valores do grupo Jejum+Suplemento
foram significativamente
maiores comparados aos demais
20
grupos (Figura 1 C). Os níveis mais altos de glicose sanguínea
10
com o uso de suplementos de carboidrato já foi demonstrada
0 estudos [4,8,9], entretanto a maioria desses
por inúmeros
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
utilizou a suplementação em forma líquida. Em outro estudo
realizado com
40 humanos, foram observados níveis mais altos de
glicose sanguínea
com o uso de suplementos de carboidrato
35
em comparação
à
água, independentemente da forma (gel,
30
*
líquida ou25
balas esportivas) [3]. Estudos em modelos animais
são escassos
20na literatura, sobretudo, aqueles com a utilização
de suplementação
de carboidrato em gel [3]. No presente
15
estudo, foi10
verificado que a suplementação de carboidrato em
gel, administrada
por gavagem, 15 minutos antes do início da
5
0
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
211
100
75
sessão de exercício (conforme recomendação do fabricante) foi
eficiente tanto
em manter a glicemia quanto em possibilitar a
50
100
manutenção do exercício até o final do protocolo.
25
75
Figura 1 B - Medida da glicose sanguínea pré-exercício (tempo 30)
dos grupos Nutrido,
Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão
0
50
Jejum+Supl
em média ± DP e Nutrido
o p < 0,001, vs Jejum
nutrido e jejum.
150
25
0
100
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
*
150
50
100
0
60
50
100
Figura 1 C50- Medida da glicose sanguínea pós-exercício (tempo 60)
dos grupos75
Nutrido, Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão
em média 40
±0DP e o p = 0,0016, vs nutrido e jejum.
50
60
30
50
20
25
40
10
0
30
0
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
*
Nutrido
Nutrido
Jejum
Jejum
Jejum+Supl
Jejum+Supl
20
150
40
10
35
100
0
30
*
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
25
No grupo Jejum nenhum animal conseguiu concluir os
20
40
50
30 minutos
previstos de exercício. A média de tempo de
15
35
exercício desse grupo ficou em 26,4 ± 2,4 minutos, que foi
10
30
significativamente
menor do que*o tempo de exercício dos
05
25
Nutrido
outros grupos (Figura
1 D). EsseJejum
fato podeJejum+Supl
ser explicado pela
0
60
20
*do desempefalta de substratoNutrido
energético paraJejum
a manutenção
Jejum+Supl
15
50
nho, bem como pelo acúmulo de metabólitos não desejados
10
prejudiciais
405para os processos metabólicos durante a atividade.
Para Rowlands [10], a suplementação pode aumentar o tempo
300 realizado pela elevação da glicose sanguínea e
de exercício
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
redução do
20 uso de glicogênio muscular.
10
Figura 1 D - Medida de exercício dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum
0 Os valores estão em média ± DP e o p < 0,0009, vs
+ Suplemento.
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
jejum + suplemento e nutrido.
Tempo (minutos)
(GJ) e 217 ± 6g no grupo Jejum + Suplemento (J+S), não
apresentando diferença significativa entre os grupos.
Todos os animais tiveram a glicose sanguínea mensurada
antes do início do exercício (tempo 0) e os valores foram 86,2
± 6,1mg/dL; 83,4 ± 13,3 mg/dL; 93,6 ± 6,3 mg/dL nos grupos
Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento respectivamente, sem
apresentar diferença significativa entre os grupos (Figura 1 A).
Esse resultado pode ser explicado pela possibilidade de que
tanto os grupos que estavam em jejum (GJ e GJ+S) quanto
o grupo Nutrido (GN) estivessem com o mesmo estado alimentar, ou seja, em jejum, já que o experimento foi realizado
durante o período diurno e sabe-se que cerca de 80–90% do
consumo alimentar dos ratos ocorre no período noturno [7].
Glicose sanguínea (mg/dL)
Glicose
(mg/dL)
Glicose
sanguínea
(mg/dL)
Tempo (minutos)
Glicose
sanguínea
(mg/dL)
Glicose
sanguínea
(mg/dL)
(mg/dL)
Temposanguínea
(minutos)
Glicose
sanguínea
(mg/dL)
Glicose
sanguíneaGlicose
(mg/dL)sanguínea
Glicose
sanguínea (mg/dL)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
40
35
30
25
20
15
10
5
0
*
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
212
Antes e após o exercício (tempos 0 e 60) também foi mensurada a concentração sanguínea de lactato dos três grupos.
No pré-exercício (tempo 0), foram encontrados valores de 2,2
± 0,4 mmol/L, 2,2 ± 0,1 mmol/L 2,4 ± 0,4 mmol/L para os
grupos Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento respectivamente,
sem diferença significativa entre os grupos (Figura 2 A). No
pós-exercício (tempo 60), os valores de lactato encontrados
foram 5,1 ± 0,5 mmol/L, 5,9 ± 1,5 mmol/L, 5,3 ± 0,9 mmol/L
para os grupos Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento respectivamente, também sem apresentar diferença significativa entre
os grupos (Figura 2 B). Esse resultado difere do encontrado
por outros autores [2,3], que afirmaram que a suplementação
com carboidrato mantém o lactato sanguíneo em níveis mais
baixos. O estudo de Campbell et al. [3], ao contrário, relatou
concentrações de lactato sanguíneo significativamente maiores
com a suplementação de carboidrato em comparação ao uso
de água apenas, pela maior disponibilidade de substrato. O
presente estudo mostrou a efetividade da suplementação com
carboidrato em forma de gel na manutenção nos níveis sanguíneos de glicose pós-exercício, mas não mostrou influência
do mesmo sobre níveis de lactato.
Lactose
sanguíneo
(mmol/l)
Lactose
sanguíneo
(mmol/l)
Figura 2 A - Medida da concentração sanguínea de lactato pré-exercício (tempo 0) dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão em média ± DP e o p = 0,31.
3
3
2
2
1
1
0
0
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
Nutrido
Jejum sanguínea
Jejum+Supl
Figura 2 B - Medida
da concentração
de lactato pós-exercício (tempo 60) dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum + Suplemento. Os 7valores estão em média ± DP e o p = 0,23.
Lactato
(mmol/l)
Lactato
(mmol/l)
7
6
6
5
5
4
4
3
3
2
2
1
1
0
0
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
Nutrido
Jejum
Jejum+Supl
Conclusão
A partir dos dados apresentados, observa-se que o carboidrato em forma de gel é uma forma efetiva de suplementação
para a prática de exercício, sendo importante para prevenção
do declínio da glicose sanguínea, manutenção da oxidação
de carboidrato e, consequentemente, um fator que pode
influenciar na capacidade aeróbia. O mesmo parece não ter
influência sobre os níveis de lactato sanguíneos.
Referências
1. Spriet LL, Peters SJ. Influence of diet on the metabolic responses
to exercise. Proc Nutr Soc 1998;57(1):25-33.
2. Khanna GL, Manna I. Supplementary effect of carbohydrate-electrolyte drink on sports performance, lactate removal
& cardiovascular response of athletes. Indian J Med Res
2005;121:665-9.
3. Campbell C, Price D, Braun M, Applegate E, Casazza GA.
Carbohydrate-supplement form and exercise. Int J Sport Nutr
Exerc Metab 2008;18(2):179-90.
4. Foskett A, Williams C, Boobis L, Tsintzas K. Carbohydrate
availability and muscle energy metabolism during intermittent
running. Med Sci Sports Exerc 2008;40(1):96-103.
5. Wong SH, Williams C, Adams N. Effects of ingesting a large
volume of carbohydrate-eletrolyte solution on rehydration
during recovery and subsequent exercise capacity. Int J Sport
Nutr Exerc Metab 2000;10(4):375-93.
6. Kregel K, Allen D, Booth F, Fleshner M, Henriksen E, Musch
TI, et al. Resource book for the design of animal exercise protocols. Bathesda: The American Physiological Society; 2006.
p. 1-152.
7. Asarian L, Geary N. Modulation of appetite by gonadal
steroid hormones. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci
2006;361(1471):1251-63.
8. Ivy JL, Res PT, Sprague RC, Widzer MO. Effect of a carbohydrate-protein supplement on endurance performance during
exercise of varying intensity. Int J Sport Nutr Exerc Metab
2003;13(3):382-95.
9. Febbraio MA, Chiu A, Angus DJ, Arkinstall MJ, Hawley
JA. Effects of carbohydrate ingestion before and during
exercise on glucose kinetics and performance. J Appl Physiol
2000;89(6):2220-6.
10. Rowlands DS, Hopkins WG. Effect of high-fat, high-carbohydrate, and high-protein meals on metabolism and
performance during endurance cycling. Int J Sport Nutr Exerc
Metab 2002;12(3):318-35.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
213
Artigo original
Lesões musculoesqueléticas em atletas de elite
da prova de salto em altura
Musculoskeletal injuries in elite athletes of high jump
Mônica Araújo de Freitas, Ft.*, Alexandre Sabbag da Silva, Ft.*, Angélica Castilho Alonso, Ft.**
*Centro Universitário Sant’Anna – Unisant’Anna, **Educadora Física, Centro Universitário Sant’Anna – Unisant’Anna
Resumo
Abstract
Palavras-chave: esportes, medicina desportiva, lesões em atletas,
fisioterapia.
Key-words: sports, sport medicine, athletics injuries, physical
therapy.
Introdução: O atletismo é uma modalidade composta por quatro
grupos de provas: arremessos, fundo, velocidade e saltos. A prova de
salto em altura tem como objetivo ultrapassar o sarrafo, realizando
mudanças de direções bruscas e movimentos repetitivos nos treinamentos e competições. No salto em altura ocorre um grande número
de lesões em membros inferiores, afetando principalmente joelho
e tornozelos. Objetivos: Este estudo tem como objetivos verificar
as principais lesões que ocorrem nessa prova, o período de maior
ocorrência, a localização anatômica, que fase do salto sofre com mais
injurias e se homens ou mulheres são mais afetados. Métodos: Foram
entrevistados 31 atletas, 54,84% do gênero masculino e 45,16% do
feminino, que praticam exclusivamente a prova de salto em altura
no atletismo brasileiro. Foi aplicado um questionário contendo
questões de múltipla escolha e discursivas sobre dados pessoais, vida
esportiva, esporte atual e lesões, o local anatômico mais afetado e o
tempo de afastamento. Resultados: No total foram encontradas 82
lesões, destas 22% entorses, 21% lesões musculares, 16% tendinites e
12% lombalgias (59% em homens e 41% em mulheres). Conclusão:
Os locais anatômicos mais afetados foram os membros inferiores em
região da coxa, joelho e do tornozelo. O maior período de ocorrência
foi a fase de treinamento e dentro deste a fase de impulso como o
mecanismo que mais lesionou os atletas.
Introduction: Athletics is composed of four groups of events:
shots, long distance, speed and jumps. The competition of high
jump aims to overcome the bar, making sudden changes of directions and repetitive movements in training and competitions. In
the high jump occurs a high incidence of injuries in lower limbs,
affecting mainly knees and ankles. Objectives: The main objective of
this study was to determine the prevalence of injuries occurring in
this competition, check the period of highest incidence, anatomic
location, stage of jump wih high incidence of injuries and whether
men or women are more affected. Methods: We interviewed 31 athletes, 54.84% male and 45.16% female, engaged exclusively in the
competition of high jump in athletics in Brazil. We administered a
questionnaire containing multiple choice questions and discourses
on personal data, sports activities, current sports and injuries, incidence of injuries resulting from the practice of such competition,
most affected anatomical site and time of removal. Results: In total
we found 82 lesions, 22% sprains, 21% muscle injuries, 16% tendinitis and 12% low back pain affecting 59% of the men and 41%
of the women. Conclusion: The anatomical sites most affected were
the lower limbs in the thigh, knee and ankle. as having the longest
period of occurrence is more frequent in training phase, especially
in the short period of impulse..
Recebido em 12 de setembro de 2011; aceito em 3 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Angelica Castilho Alonso, Rua Aquiráz, 156, Vila Granada, 03654-040 São Paulo SP, Tel: (11) 99987682, E-mail: [email protected]
214
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
O atletismo teve seu início na antiguidade nos Jogos
Olímpicos da Grécia Antiga. É uma modalidade composta
por quatro grupos de provas: velocidade, arremessos, fundo
e saltos. Cada prova exige um gesto esportivo diferente e
isso gera riscos para lesões bem especificas de cada prova
[1]. Além disso, a participação dos atletas em níveis cada vez
mais competitivos é um fator de risco importante para lesões
desportivas.
No grupo de salto, a prova de salto em altura tem como
principal objetivo ultrapassar o sarrafo sem derrubá-lo. Ela
é dividida em fases como a corrida de aproximação, entrada
do salto e transposição do sarrafo. Martins [2] acrescenta a
fase de queda no colchão.
Por ser uma prova que exige mudanças de direção bruscas,
treinos estafantes e repetitivos de saltos e força, excesso de
impacto no tornozelo, joelho e região lombar, podem ocorrer
lesões específicas.
Pastre et al. [3] dizem que uma lesão só se instala quando
a prática física está sendo executada de forma inadequada
ou extenuante. Isso é ocasionado porque os atletas que
competem em alto rendimento chegam muito próximos e/
ou até ultrapassam o mecanismo fisiológico do organismo. A
necessidade de sucesso na vida esportiva leva os atletas a esse
tipo de esforço levando-os a se expor mais facilmente a lesões
com os mais diferentes níveis de gravidade [3,4].
O atletismo ainda carece de estudos epidemiológicos
relatando lesões. Observamos que a maioria deles agrupam
atletas de provas diferentes [5,6], o que não desenha o
verdadeiro perfil das lesões no atletismo, pois as provas são
muito diferentes e cada qual com suas especificidades. Não
encontramos nenhum estudo epidemiológico exclusivamente
com o salto em altura, talvez por ter um menor número de
praticantes do que as corridas, por exemplo. Por esse motivo
o presente estudo tem como principal objetivo verificar as
principais lesões que ocorrem na prova de salto em altura do
atletismo brasileiro. Secundariamente: investigar o período de
ocorrência das lesões; identificar os locais anatômicos mais
comumente acometidos; verificar em qual fase do treinamento
e/ou salto ocorre mais lesões e identificar qual gênero é mais
afetado.
Material e métodos
Trata-se de uma pesquisa retrospectiva epidemiológica. A
aplicação do questionário foi realizada nos locais de treinamento e em competições realizadas pela Federação Paulista de
Atletismo (FPA) e pela Confederação Brasileira de Atletismo
(CBAt) no Brasil em 2010.
Foram entrevistados 31 atletas de elite entre 15 e 31
anos, dos quais 17 (54,84%) eram do gênero masculino e
14 (45,16%) do gênero feminino; sete, da categoria menor
(até 17 anos), seis do juvenil (até 19 anos), 11 do sub-23 (até
22 anos) e nove da categoria adulta (acima de 22 anos e sem
idade máxima).
Os critérios de inclusão foram: ser atleta exclusivamente
de salto em altura; competir por clubes filiados a CBAt; participar de provas a nível estadual, brasileiro e internacional
há no mínimo dois anos.
Procedimentos
Após concordarem em participar da pesquisa, os mesmos
assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
para os menores de idade foi necessária a autorização de um
responsável. Para a aplicação do questionário, o responsável
pelo local, de competição ou de treinamento, foi devidamente
informado sobre a coleta dos dados e autorizou a realização
do mesmo, assinando o termo de autorização.
O estudo foi realizado por meio da aplicação de um
questionário de múltipla escolha e dissertativas relacionadas
a dados pessoais (idade, gênero), atividades esportivas (categoria, frequência de treinamento/competição), histórico de
lesões (frequência, localização e tipo de lesão).
Para este estudo definimos como lesão o que diz o Sistema
de Registro Nacional de Lesões Atléticas dos Estados Unidos
(NAIRS): “um acontecimento que limita a participação do
atleta por no mínimo um dia após sua ocorrência [7].”
Análise estatística
Os dados obtidos por meio dos questionários aplicados
com os atletas foram tratados e tabulados estatisticamente de
maneira descritiva com tabelas de frequência e percentuais.
Resultados
Dos 31 atletas entrevistados, 30 (97%) apresentaram alguma lesão e apenas 1 (3%) não relatou a ocorrência de injurias
decorrentes do esporte. No total foram relatadas 82 lesões.
Em relação à idade, nove atletas (29%) têm idade entre15
e 18 anos, 12 (38%) têm entre 19 e 21 anos, 5 (16%) entre
22 e 25 anos, 2 (7%) entre 26 e 28 anos e 3 (10%) entre 29
e 31 anos.
Em relação ao tempo que estes atletas competem, houve
uma variação: 18 atletas competem de 2 a 5 anos, nove atletas
competem de 6 a 11 anos e somente quatro competem de 12
a 15 anos. Destes 41,94% competem na categoria menor e
juvenil e 58,06% competem na categoria adulta.
A frequência semanal de treinos varia entre cinco e seis
dias: 15 (50%) treinam seis a sete dias; 13 (42%) treinam
cinco dias; 2 (6%) treinam de dois a três dias na semana.
O número de competições anuais são em média 10 por
ano, porém é extremamente variável indo de duas até 15
competições anuais.
O período de treinamento em que mais ocorrem lesões
está apresentado na Figura 1.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Figura 1 - Período de ocorrência das lesões e o número de atletas
acometidos.
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Relação anos de treinamento x N de lesões
Preparatório Pré-competitivo Competitivo
Frequência
As lesões que mais acometem os atletas da prova de salto
em altura estão apresentadas na Figura 2.
Figura 2 - Número e frequência (%) de leões.
20
15
com apenas 1 (4,35) caso, uma contusão (Trauma crânio
encefálico – TCE).
A relação entre anos de treinamento e número de lesões
estão apresentados na Figura 3.
Figura 3 - Relação entre anos de treinamento versus o número de
lesões ocorridas e quantos foram os atletas afetados.
Número
25
215
Lesões
16
12
6
5
5
4
4
3
2 3
1 8
3 4
2 15
4
4
5
12
5
3
6
8
6
1
7
4
7
1
8
2
8 9 10
1 3 2
9 10 12
5 6 10
11
1
13
5
12
1
15
3
Das 82 lesões relatadas pelos participantes, 48 (59%)
foram ocasionadas no gênero masculino e 34 (41%) afetaram
o feminino. Sendo que dos 31 atletas entrevistados 17 são do
gênero masculino e 14 do feminino.
A fase do treinamento e/ou salto no qual mais ocorreu às
lesões estão apresentados na Figura 4.
22 21
10
1
Atletas
5
Anos de treinamento 2
N de lesões
10
1
1
1
1
1
1
Le
s
ão En
M tor
us se
cu
Te lar
nd
Lo in
m ite
ba
Ca lgia
n
Fr
at Co elit
ur n e
a tu
Co
po sã
nd
rs o
ro
tre
m
Ar ala Fa ss
tri si sci
te a
i
Re Pat te
Ro
um ela
m
r
pi
Di atoi
m
en
sc de
o
to
do P pati
In
u
fla
T. ba a
m
Ca lg
aç
lcâ ia
ão
do C ne
i
T. ata o
Ca lg
icâ ia
ne
o
0
Número
Frequência (%)
Figura 4 - Fase do treinamento e/ou salto em que ocorrem as lesões.
30
Fase do treinamento / salto x lesões
25
20
24
20
15
19
10
Levando em consideração as categorias do atletismo, a
categoria menor sofre 13 (15,8%) lesões; a juvenil 11 (13,5%);
a sub-23 foi a que mais sofreu lesões com 34 (41,5%) e a
categoria adulta 24 (29,2%).
Das 82 lesões relatadas, 59 (72%) ocorreram em membros
inferiores, 22 (27%) em tronco, 1 (1%) em cabeça e nenhuma
nos membros superiores.
Das regiões anatômicas mais afetadas nos membros inferiores, 20 (34%) foram no tornozelo, 13 (22%) no joelho,
12 (20%) na coxa, 7 (12%) na perna e 7 (12%) no pé). Das
lesões que ocorreram em membros inferiores prevaleceram as
entorses de tornozelo, seguidas de tendinopatias no joelho,
lesões musculares na região da coxa, canelite na perna e fasciite no pé. Dos 20 (100%) casos relatados em tornozelo 18
(90%) foram entorses, já no joelho prevaleceu 10 (76,92%)
as tendinites.
Na região de tronco e cabeça as principais lesões foram
a região lombar 15 (65,22%) seguida de lesões na região de
cintura pélvica 6 (26,08%), já a região dorsal foi pouco atingida com apenas 1 (4,35) caso e a região de cabeça também,
5
8
0
6
5
Fase de Treino Corrida Treino Treino Fase de
impulso geral
de força técnico queda
Atletas
Das 82 lesões relatadas 22 (26,83) não tiveram o acompanhamento de um médico, apesar de terem médicos na equipe
e a grande maioria 60 (73,17%) tiveram acompanhamento,
destes 67 (81,70%) realizaram tratamento fisioterapêutico,
sendo o profissional da equipe ou particular, somente 15
(18,20%) não tiveram acompanhamento.
O tempo de tratamento variou muito de dois até 365
dias. A média variou entre 30 e 60 dias. Destes, 45 (54,88%)
das lesões levaram ao afastamento total dos treinamentos e
competições e as outras 37 (45,12%) tiveram apenas a redução das atividades esportivas. Em relação à dor, 48(58,5%)
relataram dor ao retorno às atividades e 34 (41,5%) não houve
retorno com dor.
216
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Dos atletas pesquisados, 68% (21) têm assistência da
fisioterapia e médico na equipe. Os outros 32% (10) alegam
não ter esse tipo de suporte e quando necessário utilizam por
meios particulares.
Discussão
Não existe um consenso em relação à definição de lesão
nos esportes, o que dificulta o estudo epidemiológico, pois
diferentes conceitos, desenho dos estudos, métodos de coleta de dados e períodos de observação levam a diferentes
resultados [8,9].
Segundo Laurino et al. [1], o atletismo é um grande fator
de risco para lesões desportivas. O mesmo possui provas com
gestos esportivos bem específicos, esse fator ocasiona lesões
específicas de cada prova. Levando em consideração essa
afirmação, os dados desta pesquisa confirmam tal colocação,
pois 97% dos atletas entrevistados relataram ter sofrido algum
tipo de lesão, a qual o obrigou a se afastar ou pelo menos
diminuir a intensidade dos treinamentos, dados concordantes
com o estudo de Pastre et al. [10] que encontrou 83,33% dos
saltadores com lesão.
Atletas mais velhos estão mais predispostos a sofrerem
lesões por serem submetidos à maior intensidade, estresse e a
volumes de treinamentos maiores [10], o que vai ao encontro
deste estudo no qual 58 (70,73%) das lesões ocorreram nas
categorias mais velhas sub-23 e adultos, discordando do estudo de Oliveira [11] que relata que os atletas jovens estão mais
sujeitos a lesões por estarem entrando em níveis competitivos
mais cedo. Porém o mesmo autor se contradiz ao falar que o
número de anos de prática e o início da competição podem
ser o principal risco para lesões.
Os atletas do gênero masculino são em maior número e,
por conseguinte, maior número de lesões, dados confirmados
por outros autores [1,12,13].
Do grupo com menor tempo de treinamento, os que têm
quatro anos de vida esportiva são os que mais tiveram lesões.
Deve-se levar em consideração que foram entrevistados mais
indivíduos com esse tempo de treinamento. Além disso, os
atletas que poderiam ter mais tempo de treinamento nem
sempre continuam no atletismo, a menos que estejam numa
equipe que lhes dêem suporte, senão acabam abandonando
o esporte. Outro fator que pode levar os atletas jovens a ter
mais lesões é o fato de que quando se chega à categoria adulta
o número de competições diminui.
O número de competições no estudo foi de três até 15 por
ano, com 51,61% dos participantes da pesquisa participando
de 10 competições ao ano. Observamos que os atletas que
participam de um número maior de competições estão mais
sujeitos a lesões, pois o período de treinamento diminui, mas
a intensidade e potência dos gestos aumentam visando melhor
resultado nas competições concordando com Oliveira [11],
que relata que o número e a gravidade das lesões desportivas
tendem a aumentar com o aumento do nível da competição,
devido ao nível do treinamento. O estudo de Borin [7] revelou
que o atletismo é o quinto esporte que mais sofre com as lesões
desportivas, com 8,69% de todas as lesões de determinada
competição. Porém esse autor não especifica qual a prova do
atletismo que foi acometida pelas lesões.
A maioria dos atletas, 21(67,74%) participantes desta
pesquisa, tem assistência de médico e fisioterapia nas equipes ou por meios particulares. Concordamos com Feitoza e
Junior [12] e Oliveira [11], que falam da importância de um
fisioterapeuta/médico no local de treinamento para evitar e
efetuar os cuidados na fase aguda pós-lesão para um retorno
mais breve às atividades.
As lesões que mais acometeram os atletas foram entorse de
tornozelo, lesões musculares, tendinites, lombalgias, canelites,
contusões, fratura por estresse e fasceite, dados esses próximos ao estudo de Feitoza e Junior [12] que encontrou lesões
musculares seguidas de tendinites, torções, microfraturas,
entorses, lombalgias. Borin [7], em estudo realizado sobre
as principais lesões em determinada competição, encontrou
tendinites, contusões e entorses de tornozelo, dores articulares, lombalgias, contraturas, lesões musculares, porém neste
estudo foram verificadas todas as modalidades que estavam
participando desta competição não especificando quais foram
as lesões no atletismo, o local anatômico e nem a prova que
o atleta lesionado participou.
Estima-se que as entorses de tornozelo correspondam de
10 a 33% de todas as lesões desportivas principalmente nos
esportes que envolvem saltos e aterrissagem, além de ser uma
lesão bastante recorrente [14]. No presente estudo, as entorses
foram as lesões mais frequentes, com algumas recidivas.
As lesões musculares são comuns em atletas, entre 10
% a 55% de todas as lesões que acometem os desportistas
[12,15,16]. Dado este que corrobora o encontrado no presente estudo.
Os atletas de provas de salto têm uma grande quantidade
de tendinopatias patelares geradas pela sobrecarga do aparelho extensor do joelho. A tendinopatia patelar está associada
a provas de explosão e esportes de alto desempenho. Essa
afecção é ocasionada pelo esforço repetitivo com sobrecarga,
a intensidade dos treinamentos e competições, além dos calçados usados para absorção do impacto [17,18].
Pelo gesto biomecânico da prova era de se esperar que os
membros inferiores (72%) e tronco (27%) fossem os mais
acometidos por lesões confirmando os dados encontrados
pelos autores [1,3,5,12,14].
Os períodos preparatórios e competitivos foram os que
mais ocasionaram lesões, com 38% cada. Nos estudos de
Pastre et al. [5] estes valores foram muito mais significantes
no período de treinamento (60%) e somente 20% das lesões
ocorreram nas competições. Em outro estudo de Pastre et al.
[10] 77,27% das lesões ocorreram no período de treinamento
e 22,73% nas competições. O mesmo aconteceu no estudo
de Feitoza e Junior [12], no qual os saltadores sofrem mais
lesões nos treinamentos com 82,3% e nas competições os
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
números são menores com 17,7%, porém estes estudos não
especificam a prova dentro do grupo de saltos (o mesmo
consta de salto em altura, salto em distância, salto com vara,
salto triplo). No presente estudo os dados são exclusivos de
atletas que praticam a prova de salto em altura.
As lesões no presente estudo ocorreram com mais frequência nas fases de impulso com 30% de todas as lesões
seguidas do treinamento geral e da corrida com 24% e 23%
respectivamente. A fase de impulso é quando o atleta entra
para realizar o início do salto, saindo da corrida para a fase
aérea do salto mudando a direção do corpo bruscamente.
Nesta fase o joelho e tornozelo são muito utilizados e onde
ocorre a maioria das lesões tanto por mecanismos intrínsecos
quanto extrínsecos. Outro período que ocasiona injúrias
desportivas é a fase de treinamento geral fase essa em que os
atletas realizam fortalecimentos dos outros grupos musculares,
e no treino de força é quando eles praticam a musculação e os
exercícios pliométricos (os saltos sobre barreiras, saltos com
caixotes e na areia). Esses dois períodos do treinamento são
os que ocasionam lesões musculares, inflamações, entorses,
lombalgias.
Outros mecanismos, como fase de queda, treino técnico e de força também foram citados por alguns atletas,
sendo respectivamente 6%, 7% e 10 %. Na fase de queda é
quando o atleta ultrapassa o sarrafo e cai no colchão. Esse
é um mecanismo onde ocorrem as lesões musculares em
região lombar principalmente. A queda no colchão pode
ocasionar dores nas costas que atrapalham o treinamento,
por um gesto mais brusco, por uma queda errada com a
região do tronco cai em rotação, ou até por o colchão estar
mais duro ou macio, ou até quando existem dois e eles se
abrem na queda do atleta.
Simões [19] constatou que a maioria dos atletas brasileiros
que sofreu com lesões não procura atendimento especializado.
No presente estudo, 60 (73,13%) das lesões relatadas tiveram
acompanhamento médico e 22 (26,83%) não procuram
atendimento. Os atletas quando sofrem alguma lesão não
procuram o atendimento especializado, muitas vezes, por
não possuir esse tipo de atendimento no local de treinamento ou na equipe e ter que procurar o profissional particular.
Fatores esses que vem melhorando com o passar dos anos
devido aos patrocínios e maior profissionalismo do atletismo,
com isto, diminuiu-se o tempo afastado dos treinamentos e
competições.
Parreira [20] relata que o tratamento de um atleta precisa ser o mais rápido e efetivo, pois o atleta precisa executar
todas as funções do corpo para o ato esportivo. O tempo de
tratamento teve uma média de 30 a 60 dias (variando de 2 a
365 dias), porém tudo depende da gravidade da lesão corroborando a literatura [1].
Encontramos dificuldades na comparação dos estudos,
pois são escassos os documentos que abordam o tema lesões
em altos rendimentos além de provas específicas, dados também confirmados por outros autores [10].
217
O trabalho retrospectivo é dificultado pelo fator memória,
porém tem um valor importante para se traçar um perfil das
lesões nos atletas. Outros autores [5] também discorrem sobre
este problema e relatam a dificuldade de gerar informações sobre
as lesões desportivas e que a memória dos atletas pode ajudar,
apesar da dúvida do tempo de recordação dos atletas das lesões.
Conclusão
As principais lesões nos atletas da prova de salto em altura
foram as entorses seguidas de lesões musculares.
O período de maior ocorrência de lesões foi o de treinamento seguido pelo competitivo. Dentro do período de
treinamento a fase que mais gerou lesões foi o período preparatório. Os locais anatômicos mais acometidos por lesões
foram os joelhos e tornozelos nos membros inferiores e a
região lombar no tronco.
A fase de impulso foi no momento em que houve o maior
número de lesões durante o treinamento e/ou salto.
Neste estudo, os homens foram mais afetados por lesões
que as mulheres.
Referências
1. Laurino CFS, Lopes AD, Mano KS, Cohen M, Abdalla RJ.
Lesões musculoesqueléticas no atletismo. Rev Bras Ortop
2000;35(9):364-8.
2. Martins SGGL. Avaliação dinanométrica da chamada do salto
em altura [Dissertação]. Porto: Universidade do Porto; 2009.
3. Pastre, CB, Neto FFC, Lesões desportivas na elite do atletismo
brasileiro: estudo a partir da morbidade referida. Rev Bras Med
Esporte 2005;11(1):43-7.
4. Carazzato JG. Manual de medicina do esporte. São Paulo:
Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva/Laboratório Pfizer;
1993. p.4-41.
5. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Junior JN, Padovani CR.
Lesões desportivas no atletismo: comparação entre informações
obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade referida. Rev
Bras Med Esporte 2004;10(1):1-8.
6. Laurino CFS, Pochini AC. Atletismo. In: Cohen M, Abdalla
RJ. Lesões nos esportes. São Paulo: Revinter; 2003. p.688-713.
7. Borin SH. Incidência de lesões esportivas nos atletas de Piracicaba, em diferentes modalidades, ocorrida nos Jogos Regionais
de Lins-2008. 6ª Amostra Acadêmica UNIMEP. 6º Simpósio
de Ensino de Graduação. Universidade Metodista de Piracicaba. 2008.
8. Junge A, Dvorak J. Influence of definition and data collection
on the incidence of injuries in football. Am J Sports Med
2000;28:40-6.
9. Ribeiro RN, Vilaça F, Oliveira HU, Vieira LS, Silva AA.
Prevalência de lesões no futebol em atletas jovens: estudo
comparativo entre diferentes categorias. Rev Bras Educ Fís Esp
2007;21(3):189-94.
10. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Junior JN, Padovani
CR, Garcia AB. Exploração de fatores de risco para lesões
no atletismo de alta performance. Rev Bras Med Esporte
2007;13(3):200-4.
218
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
11. Oliveira R. Lesões nos Jovens Atletas: conhecimento dos factores de risco para melhor prevenir. Rev Port de Fisiot Desporto
2009;3(1):33-8.
12. Feitoza JE, Junior JM. Lesões desportivas decorrentes da prática
do atletismo. Rev Educ Fis UEM 2000;11(1):139-47.
13. Kretly V, Vianna LAC. Incidência de contusões localizadas, eu
atletas que freqüentam o Centro Olímpico de Treinamento e
Pesquisa da prefeitura do município de São Paulo em 1997.
Acta Paul de Enferm 2002;15(3):44-50.
14. Silva PB, Gonçalves M. Suportes de pé e tornozelo: efeitos
na biomecânica e na prevenção de lesões desportivas. Motriz
2007;13(4):312-23.
15. Jarvinen TAH, Jarvinen TLN, Kaariainen M, Kalimo H, Jarvinen M. Muscle injuries: biology and treatment. Am J Sports
Med 2005;33:745-64.
16. Vieira PR, Alonso AC, Gonçalvez JAF, Sousa JPG. Lesões
musculares no esporte. In: Greve JMD. Tratado Medicina de
Reabilitação. São Paulo: Roca; 2007. 134 p.
17. Cohen M, Ferretti M, Marcondes FB, Amaro JT, Ejnisman
B. Tendinopatia patelar. Rev Bras Ortop 2008;43(8):309-18.
18. Alonso AC, Vieira PR, Macedo OG. Tendinopatia patelar.
In: Greve JMD. Tratado Medicina de Reabilitação. São Paulo:
Roca; 2007. p. 980-8.
19. Simões NVB. Lesões desportivas em praticantes de atividade física: Uma revisão bibliográfica. Rev Bras Fisioter
2005;9(2):123-8.
20. Parreira CA. Tratamento fisioterápico e prevenção de lesões
desportivas. Experiências em extensão universitária. Londrina:
UniFil; 2009.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
219
Artigo original
Efeito agudo do treinamento aeróbio contínuo
e variado na glicemia de portadores de diabetes
mellitus do tipo 2
Acute effect of continuous and varied aerobic training
on glycemia of patients with type 2 diabetes mellitus
Jean Flávio Alves, Esp.*, Antônio Coppi Navarro, D.Sc.*, Paulo Ferreira de Araújo**, Rita de Fátima da Silva***
Universidade Gama Filho*, Livre Docente UNICAMP**, Pós Doutoranda, Instituto Adventista de São Paulo***
Resumo
Estudos demonstraram que o exercício físico pode resultar
queda nos níveis glicêmicos mesmo quando analisado de forma
aguda em diabéticos. O objetivo do trabalho foi analisar os efeitos
agudos do treinamento aeróbio praticado de forma contínua e
variada em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2). Oito
indivíduos com DM2 de ambos os sexos, entre 40 e 55 anos, foram
submetidos a duas sessões de 30 minutos cada, sendo uma sessão
no método de treinamento aeróbio contínuo (TAC) na velocidade
fixa de 5,5 km/h e outra no método de treinamento aeróbio variado
(TAV) com velocidades de 5 e 6 km/h intercalando a cada 5 minutos, as quais correspondiam a uma intensidade de 70 a 80% da
frequência cardíaca máxima (FCMáx.) predita pela idade média do
grupo, tendo um intervalo entre as sessões de 48 horas. Em ambas
as sessões foi aferida a Glicemia Capilar (GC) 5 minutos pré, 15
minutos durante, 5 e 15 minutos pós-exercício. Ambas as sessões
executadas no período da manhã com os participantes pré-agendados
no mesmo horário, sem intervenção de alimento e medicamento.
Foi observado além das características peculiares dos portadores de
DM2 que o TAC resultou em uma queda de 28 mg/dl (p < 0,005
ANOVA teste t Student) e o TAV resultou em queda de 20 mg/dl (p
< 0,181 ANOVA teste t Student) sendo ambos protocolos, mesmo
por apenas 30 minutos de atividade, benéficos para a redução da
glicemia em DM2.
Abstract
Studies showed that the physical exercises may lead to decrease
glycemic levels, even when it is analyzed in patients with acute
diabetes. The aim of this paper was to analyze the acute effects of
varied and continuous aerobic training on people with type 2 diabetes mellitus (DM2). Eight individuals with DM2, both genders,
aged 40-55 years, attended a two 30-minute exercise session. One
session used the aerobic continuous training (ACT) method at a
steady speed of 5,5km/h. The other one used the aerobic varied
training (AVT) method with speed ranging into 5 and 6 km/h each
5 minutes, which corresponds to 70-80% of maximum heart rate
predicted by the average group age with an interval of 48 hours
between sessions. Capillary Glycemia was taken in both sessions,
being 5 minutes pre, 15 minutes during and 5 and 15 minutes post
exercise. Both sessions were performed in the morning, always at
the same scheduled time, without intervention of food or medicine.
Besides peculiar features of people with DM2 it was also observed
that the ACT resulted in a decrease of 28 mg/dl (p < 0.005 ANOVA
Student’s t test) and TAV resulted in a decrease of 20 mg/dl (p <
0.181 ANOVA Student’s t test). Both protocols showed a reduction
on glucose levels of patients with DM2, even for only 30 minutes
of activity.
Key-words: aerobic training, mellitus diabetes, acute effect.
Palavras-chave: treinamento aeróbio, diabetes mellitus, efeito
agudo.
Recebido em 12 de agosto de 2011; aceito em 9 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Jean Flávio Alves, Rua Goiás, 21, Jardim Nova Veneza, 13177-062 Sumaré SP, Tel: (19) 3832-1117,
E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]
220
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
O diabetes mellitus é considerado uma das maiores epidemias da história da humanidade, estimando-se que, no ano
de 2025, cerca de 380 milhões de pessoas serão portadores
dessa patologia [1], tornando-se um dos mais importantes
problemas de saúde pública do mundo, pois essa patologia
proporciona grande impacto nos setores econômicos com os
cuidados médicos e hospitalares [2-5].
Essa epidemia atinge hoje mais de 350 milhões de pessoas
no mundo e, no Brasil, cerca de 10% da população está ameaçada pela doença, porém, só a metade sabe que é portadora
e, na grande maioria, esta enfermidade está relacionada ao
seu estilo de vida [3].
O aumento das taxas de sobrepeso e da obesidade associado às alterações do estilo de vida e ao envelhecimento populacional são os principais fatores que explicam o crescimento
da prevalência do diabetes mellitus do tipo 2 (DM2) [6].
O DM2 é parte de uma ampla síndrome centralizada no
fenômeno da resistência insulínica da qual decorre uma série
de distúrbios metabólicos e hemodinâmicos e o exercício
físico praticado de forma regular é altamente recomendado
para as pessoas que têm essa patologia, já que a combinação
de atividades aeróbicas e exercícios resistidos tem sido um
excelente modelo terapêutico na prevenção e no controle
dessa doença [3,7-9].
O controle de alguns fatores de risco modificáveis como o
peso, a dieta alimentar e a prática de atividade física regular,
pode reduzir em até 88% os riscos de desenvolver o DM2 [10].
Sabendo que o exercício físico pode minimizar esses
fatores de risco e os custos da saúde pública, esta pesquisa
tem como objetivo analisar os efeitos agudos propiciado
pelo treinamento aeróbio nos métodos contínuo e variado
em portadores de DM2.
Material e métodos
Esta é uma pesquisa do tipo experimental, da qual através
de uma carta convite feita à Unidade do Centro de Saúde II de
Sumaré, foi selecionado e retirado uma amostra de 8 sujeitos
da população de diabéticos deste Centro de Saúde, tendo
como critério primordial para a inclusão no estudo o indivíduo ser voluntário e sedentário. Todos os sujeitos da amostra
tinham DM2, sendo 7 (87,5%) tratados com medicamento
(metformina ou glicemin) e 1 (12,5%) não-tratado com
medicamento, sendo 3 do sexo masculino e 5 do feminino,
na faixa etária de 40 a 55 anos. Dos 8 indivíduos da amostra,
7 estavam com o IMC (índice de massa corporal) acima do
valor sugerido de 25, 0 kg/m² sendo o valor médio do grupo
32,87 kg/m² ± 8,01 kg/m², 5 indivíduos da amostra também
associavam uma pressão arterial sistólica acima de 139 mmHg
sendo o valor médio do grupo 140 mmHg ± 22,08 mmHg
e ou diastólica acima de 89 mmHg sendo o valor médio do
grupo 90 mmHg ± 7,21 mmHg, sendo 4 (50%) clinicamente
tratados com medicamento para hipertensão (captopril, furosemida ou inalapril). O critério para a exclusão do estudo
foi: indivíduo que faltasse no treinamento ou em qualquer
avaliação pré-agendada. Todos os participantes voluntários
convidados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido previamente aprovado pelo protocolo nº 722/2010
do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
Médicas da UNICAMP, seguindo a pesquisa com todas as
normas éticas que preconiza a resolução 196/96.
Utilizou-se ao grupo selecionado um modelo de avaliação
tipo pré-teste e pós-teste, quando foram aferidas, analisadas
e registradas as seguintes variáveis: peso corporal; estatura;
IMC; circunferência da cintura e do quadril, RCQ, pressão
arterial sistólica e diastólica; glicemia capilar; as variáveis glicemia capilar, pressão arterial sistólica, diastólica e frequência
cardíaca foram aferidas com o indivíduo na posição sentada
em repouso de 5 minutos no início e ao término após 5 e 15
minutos com o mesmo procedimento, sendo ainda aferida e
registrada a glicemia capilar no minuto 15 durante o exercício
e a frequência cardíaca aferida e registrada a cada 5 minutos
durante os 30 minutos de sessão de treinamento físico. Os
testes foram divididos em dois momentos:
1) Procedimento de análise clínica: todos os participantes
selecionados passaram por um clínico para obter a liberação
para a prática de atividade física e para a coleta de amostra sanguínea para análises laboratoriais como glicemia
plasmática, hemoglobina glicada, triglicerídeos, LDL-C,
VLDL-C, HDL-C e CT;
2) Procedimento de análise de campo: todos os participantes
após a bateria da primeira rotina foram até o Espaço de
Bem Estar Pimenta Doce, para a confecção da ficha de
identificação, anamnese e aferição dos seguintes dados:
peso corporal aferida pela balança Techline modelo portátil,
estatura medida pelo estadiômetro de parede Wiso, índice de
massa corporal calculado com base na fórmula de Quetelet
(peso corporal dividido pela estatura ao quadrado), risco
cintura e quadril calculado com base da circunferência da
cintura e do quadril aferida pela trena de marca Sanny. Estes
dados foram aferidos e registrados no início do programa, os
valores da glicemia capilar foi aferida pelo monitor de marca
One Touch Ultra modelo portátil; pressão arterial sistólica,
diastólica e frequência cardíaca de repouso foram aferidas
pelo aparelho de pulso de marca Microlife modelo 3BU13. Os dados foram coletados 5 minutos antes do início
do exercício e no final (5 e 15 minutos após o término do
exercício) de cada sessão de treinamento, sendo a frequência
cardíaca aferida e registrada a cada 5 minutos durante os 30
minutos de exercício pelo frequêncimetro cardíaco da marca
Polar modelo CS100, e a glicemia capilar aferida no minuto
15 durante o exercício, as atividades foram executadas na
esteira rolante da marca Moviment modelo RT-400 PRO.
Para o experimento, foi elaborado um programa de treinamento físico com 2 sessões de treinamento comparativo com
intervalo de 48 horas de uma sessão para a outra, tendo cada
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
sessão de treinamento físico a duração de 30 minutos. Para o
experimento foi imposto o modelo de treinamento aeróbio
contínuo e variado, sendo que para o método contínuo, o
indivíduo caminhou por 30 minutos a uma velocidade fixa
de 5,5 km/h e para o método variado, o indivíduo caminhou
intercalando a cada 5 minutos nas velocidades de 5,0 e 6,0
km/h até completar os 30 minutos, representando em ambos os testes uma intensidade entre 70 e 80% da frequência
cardíaca máxima (FCMáx.) representada no protocolo de
predição matemática ajustada à idade [11-15].
Não foi sugerida nenhuma alteração no método da composição medicamentosa e alimentar do grupo, conforme
recomendações [14] também não foi executada atividade física
ao participante que apresentasse níveis de glicemia capilar
acima ou igual a 300mg/dl, sendo as atividades prescritas
e executadas no período da manhã após o café habitual de
cada participante.
Resultados
A Tabela I apresenta de forma geral a média e o erro
padrão médio de todas as características da amostra em
estudo, confirmando com os trabalhos já existentes sobre as
características peculiares do portador de (DM2) como idade
acima dos 40 anos, peso acima do recomendado, alto índice
de obesidade central e hipertensão arterial formando dessa
forma a síndrome plurimetabólica [14,16-19].
221
A Tabela II apresenta a média e o erro padrão médio
das características dos 3 voluntários participantes do sexo
masculino e a Tabela III a média e o erro padrão médio dos
5 voluntários participantes do sexo feminino. Observa-se
na amostra que, independente do sexo, a patologia, em sua
grande maioria, inicia-se a partir dos 40 anos de idade, o que
corrobora vários trabalhos publicados. Com exceção de um
participante do sexo masculino, todos os demais estão acima
do peso sugerido, sendo mais acentuado no grupo feminino
(Figura 1), e tratando-se da distribuição anatômica dessa
obesidade, com exceção de um participante do sexo feminino,
todos os demais estão no fator de risco de moderado a alto,
não estando essa exceção fora do grupo de risco devido a
apresentar um alto índice de obesidade e por ter esse resultado
uma forte associação com a dimensão da estrutura da pelve
do participante (Figura 2) [16,17,20].
A Tabela IV e V apresentam a média e o erro padrão médio
dos resultados do efeito agudo nos níveis de glicemia plasmática após sessão de 30 minutos de treinamento aeróbio, sendo
no método contínuo (Figura 3) uma queda mais expressiva
(17,62% de queda o que corresponde a 28mg/dl *p < 0,005)
do que no método variado (Figura 4) (13,30% de queda o que
corresponde a 20mg/dl p < 0,181), mesmo assim os métodos
se mostraram eficazes na redução dos níveis da glicemia plasmática, porém, o método variado pode ter sofrido a influência
do efeito pós-exercício de 48 horas de 1 sessão de treinamento
realizado no primeiro método aeróbio contínuo [18,21].
Tabela I - Características biométricas da amostra.
(n = 8)
Média
EPM
idade
(anos)
Estatura
(m)
Peso (kg)
IMC (kg/
m2)
RCQ
(cm/cm)
GC (mg/
dl)
PAS
(mmHg)
PAD
(mmHg)
FCRep.
(bpm)
FCMáx.
(bpm)
45,0 ±
3,7
1,631 ±
0,08
87,113
± 20,74
32,87 ±
8,01
0,87 ±
0,87
157 ±
37,39
140 ±
22,08
90 ±
7,21
79 ±
12,73
175 ±
3,7
(n) Número total de participantes da amostra; (IMC) Índice de Massa Corporal; (RCQ) Risco Cintura Quadril; (GC) Glicemia Capilar; (PAS) Pressão
arterial sistólica; (PAD) Pressão arterial diastólica; (FCRep) Frequência cardíaca de repouso; (FCMáx) Frequência cardíaca máxima.
Tabela II - Características biométricas da amostra masculina.
(n = 8)
Média
EPM
idade
(anos)
Estatura
(m)
Peso
(kg)
IMC
(kg/m2)
RCQ
(cm/cm)
GC (mg/
dl)
PAS
(mmHg)
PAD
(mmHg)
FCRep.
(bpm)
FCMáx.
(bpm)
48,3 ±
4,04
1,693 ±
0,09
76,033
± 15,26
26,34 ±
2,90
0,94 ±
0,05
162 ±
56,09
129 ±
10,97
87 ±
7,77
75 ±
16,52
172 ±
4,04
(n) Número total de participantes da amostra; (IMC) Índice de Massa Corporal; (RCQ) Risco Cintura Quadril; (GC) Glicemia Capilar; (PAS) Pressão
arterial sistólica; (PAD) Pressão arterial diastólica; (FCRep) Frequência cardíaca de repouso; (FCMáx) Frequência cardíaca máxima. De 3 participantes
masculino, um (n = 1) é hipertenso medicado e acompanhado clinicamente.
Tabela III - Características biométricas da amostra feminina.
(n = 8)
Média
EPM
idade
(anos)
Estatura
(m)
Peso
(kg)
IMC
(kg/m2)
RCQ
(cm/cm)
GC (mg/
dl)
PAS
(mmHg)
PAD
(mmHg)
FCRep.
(bpm)
FCMáx.
(bpm)
43,0 ±
1,58
1,593 ±
0,04
93,760
± 22,12
36,79 ±
7,54
0,82 ±
0,08
153 ±
28,91
146 ±
25,86
93 ±
6,66
82 ±
11,14
177 ±
1,58
(n) Número total de participantes da amostra; (IMC) Índice de Massa Corporal; (RCQ) Risco Cintura Quadril; (GC) Glicemia Capilar; (PAS) Pressão
arterial sistólica; (PAD) Pressão arterial diastólica; (FCRep) Frequência cardíaca de repouso; (FCMáx) Frequência cardíaca máxima. De 5 participantes
feminino, três (n = 3) é hipertenso medicado e acompanhado clinicamente.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
222
Figura 1 - Diferença entre o índice de massa corporal (IMC)
feminino e masculino. (ANtOVA p < 0,0661 / teste t de “Student)
Índice de massa corporal
(IMC)
40,00
Figura 3 - Alterações glicemicas agudas pré e pós-exercício aeróbio
em velocidade fixa de 5,5km/h realizado por 30 minutos (ANOVA
* p < 0,005 / teste t de “Student)
36,79
35,00
160
26,34
25,00
20,00
15,00
10,00
Feminino
100
60
Masculino
Figura 2 - Diferença entre o risco cintura quadril (RCQ) feminino
e e masculino. (ANOVA p < 0,0597 / teste t de “Student)
5' Pré
Risco cintura quadril
(RCQ)
0,94
160
140
0,82
15' Ex.
5' Pós
15' Pós
Figura 4 - Alterações glicemicas agudas pré e pós-exercício aeróbio
em velocidade variada intercalada a cada 5 minutos em 5 e 6 km/h
realizado por 30 minutos. (ANOVA p< 0,181 / teste t de “Student)
(mg/dl)
(cm/cm)
*
129
120
p < 0,0661
0,96
0,94
0,92
0,90
0,88
0,86
0,84
0,82
0,80
0,78
0,76
0,74
130
80
5,00
0,00
141
140
(mg/dl)
(kg/m2)
30,00
Alterações Glicemicas Agudas do
(TAC)
*
p<0,005
157
Alterações Glicemicas Agudas do
(TAV)
p<0,181
148
134
128
127
120
100
80
Feminino
Masculino
60
5' Pré
p < 0,0597
15' Ex.
5' Pós
15' Pós
Discussão
Tabela IV - Alterações glicemicas agudas do TA contínuo.
(n = 8)
Média
EPM
GC (mg/
dl) 5’Pré
157 ±
37,39
GC (mg/
dl) 15’Ex.
130 ±
57,80
GC (mg/
dl) 5’Pós
141 ±
60,30
GC (mg/
dl) 15’Pós
129 ±
41,59
Tabela V - Alterações glicemicas agudas do TA variado.
(n = 8)
Média
EPM
GC (mg/
dl) 5’Pré
148 ±
48,50
GC (mg/
dl) 15’Ex.
134 ±
57,83
GC (mg/
dl) 5’Pós
127 ±
56,09
GC (mg/
dl) 15’Pós
128 ±
62,03
O sobrepeso e a obesidade estão fortemente associados ao
surgimento de vários fatores de riscos para a saúde que incluem
o distúrbio metabólico glicêmico e alterações hemodinâmicas,
sendo o grau de obesidade apresentado neste estudo com
maior evidência no sexo feminino em comparação ao sexo
masculino (Figura 1), o que está de acordo com os resultados
do estudo de Ferreira et al. [22] e também por corresponder
a grande estatística de indivíduos de meia idade com o IMC
acima do recomendado o que favorece o surgimento dessas
disfunções crônico-degenerativas entre elas o DM foco do
nosso estudo [2,6,22-27].
Atualmente o que mais compromete o surgimento desse
quadro clínico é a hipocinesia associada ao desequilíbrio
nutricional quando à ingestão excessiva de carboidratos
representados principalmente na forma de glicose se eleva
na corrente sanguínea, estimulando as células β do pâncreas
a secretar o hormônio regulador insulina. Este estimula os
receptores celulares periféricos das células hepáticas e mus-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
culares a fim de captar a glicose do plasma sanguíneo para o
interior de suas células e propagar energia, podendo também
esse substrato energético permanecer armazenado no interior
dessas células na forma de glicogênio, que são enormes polímeros ramificados de glicose [3,4,16,28-30].
Esse aumento dos níveis de glicose sanguínea de forma
crônica causa as disfunções metabólicas que contribuem
para a hiperglicemia a qual por sua vez acarreta distúrbios na
secreção do hormônio insulina, ocasiona resistência de seus
receptores celulares periféricos, aumenta a produção de glicose
pelo fígado e a concentração dos ácidos graxos livres no tecido
adiposo [4,31,32], e o aumento do metabolismo, durante o
exercício físico, promove a utilização dessas fontes de energia,
sendo os glicogênios a principal fonte de energia no início
do exercício nas atividades de moderada intensidade [33].
Na ausência ou na ineficiência da ação do hormônio insulina, as taxas de glicose no sangue aumentam muito e parte
desse excesso passa a ser armazenado nas células hepáticas e
musculares na forma de glicogênio, e neste contexto o exercício físico para o DM é de fundamental importância para
auxiliar no controle glicêmico plasmático, já que impõe ao
músculo solicitado uma grande demanda de energia a custas
da degradação desses substratos energéticos [28,30,33]. Esse
aumento da captação de glicose favorecido pela sensibilidade
periférica das células também pode ser observado após uma
realização aguda de exercício físico, proporcionando no sistema adaptações favoráveis a tolerância à glicose [33] o que
confirma com os dados apresentados no estudo.
No jejum ou no exercício, a rápida redução da glicemia
plasmática deprime a secreção do hormônio insulina que, para
restabelecer o equilíbrio, estimula as células α do pâncreas a
secretar o hormônio glucagon um contra regulador do hormônio insulina, que tem seus níveis no início do exercício
físico aumentado vindo a se estabilizar por volta de 15 minutos
de atividade, esse hormônio tem por finalidade estimular o
fígado a converter seus estoques de glicogênio em glicose e
com isso aumentar os níveis de glicose plasmática para auxiliar na demanda requisitada da musculatura ativa [9,28,34]
o que pode explicar dois casos ocorridos no método variado.
O exercício físico de natureza aeróbia além de ser indicado
para o controle do peso corporal, também é indicados para
melhorar a eficácia da ação do hormônio insulina, pois envolve grandes grupos musculares e pode ser mantido por um
período de tempo maior e, assim, promover maior captação
hepática e melhor sensibilidade aos seus receptores celulares
periféricos, devido à contração muscular proporcionar um
efeito análogo à ação do hormônio insulina, dentre outros
diversos fatores de suma importância para o organismo
[6,8,25,35].
Durante o exercício físico, o aporte sanguíneo aos músculos em atividade aumenta, o que permite uma maior disponibilização desses substratos energéticos aos seus receptores,
tornando-o assim um importante regulador fisiológico, pois
seu efeito é semelhante ao do hormônio insulina que estimula
223
a translocação das vesículas transportadoras de (GLUTs4) para
a membrana da célula muscular, mesmo na ausência desse
hormônio. Porém, esse efeito ainda não está bem esclarecido
no meio científico, tendo apenas algumas evidências da ação
do cálcio liberado do retículo sarcoplasmático como seu
mediador [4,33,36,37].
Exercícios aeróbios vigorosos e/ou de resistência devem ser
evitados quando o paciente já estiver apresentando problemas
de retinopatias, devido ao risco de descolamento da retina e de
hemorragia vítrea, do mesmo modo se a glicemia estiver acima
dos padrões de controle sugerido de 300 mg/dl [7,38,39].
Exercícios físicos quando praticados de forma regular em
intensidade de moderada a alta, melhoram a sensibilidade
periférica dos receptores celulares, reduzindo as concentrações
da glicemia sanguínea e o risco de desenvolver o diabetes em
até 70% dos casos, sendo dessa forma uma atividade fundamental para a prevenção desta patologia [21], já que mesmo os
exercícios de baixa intensidade, se praticados de forma regular,
podem prevenir e até mesmo retardar o início do DM2 [31].
No presente estudo foi possível observar que em uma
única sessão de 30 minutos de atividade física aeróbia, seja
ela contínua ou variada (Figura 3 e 4), foi suficiente para
induzir melhora na glicemia capilar o que vai ao encontro de
vários estudos abordados sobre o efeito agudo do exercício
físico [2,23,33].
Os resultados apresentados estão de acordo com o esperado para o tratamento não medicamentoso, e com o diagnóstico precoce, tratamento adequado e um bom controle
de exercício físico, a progressão e as complicações do (DM)
podem ser evitadas justificando o exercício físico como uma
alternativa reconhecida e viável aos altos custos disponibilizados para o seu tratamento [23-25,40,41].
Conclusão
Estes resultados nos permitem concluir que o exercício
físico aeróbio, seja ele no método contínuo ou variado, mesmo que por um pequeno período de 30 minutos, apresenta
reduções significativas nos níveis glicêmicos que é de grande
importância para o indivíduo diabético, justificando sua eficiência em grupos de baixa renda que não tem possibilidades
de um cotidiano mais sistematizado, viabilizando não só o
setor público como proporcionando saúde e qualidade de
vida aos portadores desta patologia.
Agradecimentos
Agradeçemos às enfermeiras Maria Lúcia e Márcia Borges,
ao clínico Dr. Reginaldo do Centro de Saúde II de Sumaré pelo
apoio dado a execução do trabalho, ao Dr. Fábio C. Hirata responsável pelo laboratório de análises clínicas HP que sem a sua
ajuda não haveria possibilidade das amostras clínicas, a minha
eterna amiga professora Karen pelo auxílio nos inúmeros dias
de coleta de dados, a todos, minha eterna gratidão.
224
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Referências
1. Brito CP. Prevenção da diabetes tipo 2: Consenso da International Diabetes Federation. Revista Portuguesa de Diabetes
2007;2(2):34-37.
2. Silva CA, Lima WC. Efeito benéfico do exercício físico no
controle metabólico do Diabetes Mellitus tipo 2 à curto prazo.
Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(5):550-56.
3. Franco LL. Diabetes: como revenir, tratar e conviver. São Paulo:
Elevação; 2005. p. 148.
4. Berlese DB, Moreira MC, Sanfelice GR. A importância do
exercício físico e sua relação com Diabetes Mellitus tipo 2.
Revista Digital EFDesportes 2007;12(115).
5. Mediano MFF, Barbosa JSO, Sichieri R, Pereira RA. Efeito do
exercício físico na sensibilidade à insulina em mulheres obesas
submetidas a programa de perda de peso: um ensaio clínico.
Arq Bras Endocrinol Metab 2007;51(6):993-99.
6. Sartorelli DS, Franco LJ. Tendências do diabetes mellitus no
Brasil: o papel da transição nutricional. Cad Saúde Pública
2003;19(1):29-36.
7. Martins DM. Exercício físico no controle da Diabetes Mellitus.
São Paulo: Phorte; 2000. p. 145.
8. Farrell PA. Diabetes, exercício físico e esportes de competição.
Sports Science Exchange 2004;16(3).
9. Pádua S, Neiva CM, Tonello MGM, Araújo ECF. Treinamento
físico como método terapêutico e controle clínico do diabetes:
atualizando modelos. Revista Digital EFDesportes 2007;12(114).
10. Hu FB, Manson JE, Stampfer MJ, Colditz G, Liu S, Solomon
CG, Willett WC. Diet, lifestyle, and risk of type 2 diabetes
mellitus in women. New Engl J Med 2001;345(11):790-7.
11. Pitanga FJG. Testes, medidas e avaliações em educação física e
esporte. 4ª ed. São Paulo: Phorte; 2005. p. 200.
12. Domingues Filho LA. Manual do personal trainer brasileiro.
3ª ed. São Paulo: Ícone; 2006. p. 216.
13. Gisela AC, Aline CSR, Juliano RM, Pedro LB, Carmen SGC,
Herbert GS, et al. Hipotensão pós-exercício em hipertensos submetidos ao exercício aeróbio de intensidades variadas e exercício de
intensidade constante. Rev Bras Med Esporte 2006;12(6):313-17.
14. American Diabetes Association (ADA). Diabetes de A a Z: tudo
o que é preciso saber sobre diabetes – de forma simples. 5ª ed.
Rio de Janeiro: Anima; 2006. p. 202.
15. Guiselini M. Exercícios aeróbicos: teoria e prática no treinamento personalizado e em grupos. São Paulo: Phorte; 2007. p. 376.
16. Alves JF, Santos RC, Fada RBN, Gomes TRG, Lasaponari T,
Sampaio K. Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores
de diabetes mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício 1010;9(2):107-15.
17. Picon PX, Leitão CB, Gerchman F, Azevedo MJ, Silveiro SP,
Gross JL, et al. Medida da cintura e razão cintura/quadril e
identificação de situações de risco cardiovascular: estudo multicêntrico em pacientes com diabetes mellito tipo 2. Arq Bras
Endocrinol Metab 2007;51(3):443-9.
18. Cambri LT, Souza M, Mannrich G, Cruz RO, Gevaerd MS.
Perfil lipídico, dislipidemias e exercícios físicos. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2006;8(3):100-6.
19. Negrão CE, Barreto ACP. Cardiologia do exercício: do atleta ao
cardiopata. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2006. p. 372.
20. Pereira RA, Sichieri R, Marins MR. Razão cintura/quadril
como preditor de hipertensão arterial. Cad Saúde Pública
1999;15(2):333-44.
21. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24.
22. Ferreira S, Tinoco ALA, Panato E, Viana NL. Aspectos etiológicos e o papel do exercício físico na prevenção e controle da
obesidade. Revista Educação Física 2006; 133:15-24.
23. Mercuri N, Arrechea V. Atividade física e diabetes mellitus.
Diabetes Clínica 2001;4:347-9.
24. Krinski K, Elsangedy HM, Gorla JI, Calegari DR. Efeitos do
exercício físico em indivíduos portadores de diabetes e hipertensão arterial sistêmica. Revista Digital EFDesportes 2006;10(93).
25. Lima ICG, Júnior GMJ, Giacomini MCC. Análise dos efeitos
fisiológicos dos exercícios físicos aeróbicos na prevenção do
diabetes tipo 2. Revista Digital EFDesportes 2009;13(130).
26. Zabaglia R, Assumpção CO, Urtado CB, Souza TMF. Efeito
dos exercícios resistidos em portadores de diabetes mellitus.
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
2009;3(18):547-58.
27. Lima-Silva AE, Fernandes TC, Oliveira FR, Nakamura FY, Gevaerd MS. Metabolismo do glicogênio muscular durante o exercício
físico: mecanismos de regulação. Rev Nutr 2007;20(4):417-29.
28. Guyton AC. Fisiologia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1988. p. 564.
29. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3ª ed. São Paulo:
Manole; 2000. p. 527.
30. Maughan RJ, Burke LM. Nutrição esportiva. Porto Alegre:
Artmed; 2004. p. 190.
31. Cardoso LM, Moraes Ovando RG, Silva SF, Alberto Ovando
L. Aspectos importantes na prescrição do exercício físico para
o Diabetes Mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Prescrição e
Fisiologia do Exercício 2007;1(6):59-69.
32. Silva-Costa E, Gonçalves AA, Brito IJL, Silva CA. Metformina
interage com o treinamento físico diminuindo a glicemia e aumentando o armazenamento de glicogênio em ratos diabéticos.
Rev Bras Med Esporte 2008;14(4):337-40.
33. Rogatto GP, Luciano E. Efeitos do treinamento físico intenso
sobre o metabolismo de carboidratos. Rev Ativ Fís Saúde
2001;6(2):39-46.
34. Canali ES, Kruel LFM. Respostas hormonais ao exercício. Rev
Paul Educ Fís 2001;15(2):141-53.
35. Brum PC, Forjaz CLM, Tinucci T, Negrão CE. Adaptações
agudas e crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular.
Rev Paul Educ Fís 2004;18:21-31.
36. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia: do esporte e do exercício.
São Paulo. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2001. p.710.
37. Irigoyen MC, Angelis K, Schaan BD, Fiorino P, Michelini
LC. Exercício físico no diabetes melito associado à hipertensão
arterial sistêmica. Rev Bras Hipertens 2003;2:109-17.
38. Ramalho ACR, Soares S. O papel do exercício no tratamento
do Diabetes Mellitus tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab
2008;52(2):260-67.
39. Forjaz CLM, Junior CGC, Bisquolo VAF. Exercício físico, resistência à insulina e diabetes melito: efeitos agudos e crônicos,
cuidados necessários. Rev Soc Cardiol 2002;12(5)(supl. A):16-27.
40. Assunção MCF, Santos IS, Costa JSD. Avaliação do processo
da atenção médica: adequação do tratamento de pacientes com
diabetes mellitus, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad Saúde
Pública 2002;18(1):205-11.
41. Geloneze B, Lamounier RN, Coelho OR. Postprandial hiperglycemia: Treating it atherogenic potential. Arq Bras Cardiol
2006;87:604-13.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
225
Artigo original
Efeito da estimulação mecânica vibratória aplicada
durante o intervalo entre séries no trabalho de força
sobre o volume de treinamento em séries múltiplas
no exercício supino horizontal
Effect of the mechanical vibratory stimulation applied during
the rest interval between sets in the resistance training on the total
workload at bench press exercise with multiple sets
Natasha Lama*, Tainah Lima*, Lenifran Santos**, Walace Monteiro**
*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laboratório
de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-graduação
em Ciências da Atividade Física, Universidade Salgado de Oliveira (PPGCAF/UNIVERSO)
Resumo
O objetivo do presente estudo foi verificar o efeito do emprego
da estimulação mecânica vibratória (EMV) aplicada durante o intervalo entre séries sobre o volume de treinamento de força obtido
no exercício supino horizontal. A amostra foi composta por 19
homens com experiência no treinamento de força que realizaram
4 séries a 80% de 1RM conduzidas em 2 sessões de treinamento,
com 2 minutos de intervalo (na primeira, recuperação passiva de
2 minutos; na segunda 1 minuto passiva e 1 minuto com EMV).
Não foram detectadas diferenças entre as duas situações investigadas em cada série isoladamente. Contudo, verificou-se aumento
no volume total de treinamento somando-se as 4 séries a favor da
sessão submetida à EMV (p < 0,05). Ao menos neste protocolo a
EMV aumentou o volume total de treinamento em séries múltiplas
no exercício supino horizontal em indivíduos treinados, mas não o
volume em cada série isoladamente.
Abstract
The purpose of the study was to check the results of the mechanical vibratory stimulation (MVS) applied during the intervals
between sets of the bench press. Nineteen men experienced in
strength training composed the sample. They performed 4 sets
using 80% of 1 MR until concentric failure in two sessions. Each
of them had two minutes of rest (at the first one was used two
minutes of passive rest and at the other one minute of passive rest
and one minute of MVS). No difference between the two situations
was found at first, but when the volume was compared the second
day were superior to the first one. The MSV used in this protocol
increased the total training volume in multiple sets of the bench
press in trained volunteers, but not the total number of repetitions
each set separately.
Key-words: mechanical vibratory stimulation, intervals between
sets, strength training, multiple sets.
Palavras-chave: estimulação mecânica vibratória, intervalo entre
séries, treinamento de força, séries múltiplas.
Recebido em 22 de setembro de 2011; aceito em 11 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524/8121, 8º andar, bloco F, 20550-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:
[email protected]
226
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
Material e métodos
O treinamento de força (ou treinamento resistido)
consiste na modalidade mais pragmática para aperfeiçoar o
condicionamento muscular [1]. Na busca de técnicas para
intensificar tal treinamento, pesquisadores combinaram a
estimulação mecânica vibratória (EMV) com o treinamento
resistido. Essa nova técnica denominou-se Exercício de Vibração [2] ou Treinamento sob Vibração Mecânica (TVM)
[3], pois envolve um estímulo mecânico, caracterizado por
movimentos oscilatórios (4).
As vibrações são muito frequentes na vida diária [5]. Por
isso, seus efeitos no corpo humano, tanto positivos quanto
negativos, têm sido documentados [6,7]. No que condiz
aos efeitos positivos, geralmente associados ao campo da
reabilitação, da atividade física e do desporto [8,9] podemos
citar: aumento da força [10,11], potência [6,12], flexibilidade
[12,13], equilíbrio [14,15] e densidade mineral óssea [10,16].
Quanto aos efeitos negativos, são quase sempre observados nos
locais de trabalho, em função de longos períodos de exposição
a cargas vibracionais elevadas [17].
Alguns estudos verificaram ainda alterações no volume
sanguíneo do músculo após uma exposição à vibração [18-20].
Kerschan-Schindl et al. [21] submeteram 20 adultos saudáveis a uma sessão de 9 minutos em pé sobre uma plataforma
vibratória, constatando alterações no volume sanguíneo nos
músculos quadríceps e gastrocnêmios. As medidas realizadas
antes e imediatamente após o exercício indicaram um fluxo
sanguíneo muscular significantemente maior no pós-esforço.
Em 2005, Stewart et al. [22] encontraram um aumento no
fluxo sanguíneo periférico e sistêmico após expor à vibração
mecânica 18 mulheres com faixa etária variando de 46 a 63
anos.
Segundo estudo realizado por Boushel [23] pode-se inferir
que uma redução no fluxo sanguíneo acarretaria em um maior
acúmulo de metabólitos durante o exercício. Tal efeito reduz
o desempenho no treinamento de força, o que poderia ser
melhorado com a utilização da vibração devido a uma maior
remoção desses metabólitos. Isso se faz especialmente importante quando o treinamento é realizado com séries múltiplas,
em que a produção de metabólitos tende a ser maior [24].
Muitos estudos têm verificado o aumento de força na
musculatura treinada após a utilização da EVM [10,11]. Além
disso, tem-se evidenciado o aumento da perfusão sanguínea
com consequente efeito na restauração de metabólitos mediante uma acentuação da permeabilidade capilar com outros
tipos de técnicas de vibração, como a massagem vibratória
[25]. Porém, nenhum estudo foi encontrado utilizando a
vibração durante a recuperação entre séries, especialmente
no treinamento de força. Visto isso, o presente estudo teve
por objetivo verificar o efeito do emprego da EVM durante o
intervalo entre séries aplicado no exercício supino horizontal
sobre o volume de treinamento realizado em séries múltiplas
no treinamento de força.
Amostra
Participaram do estudo 19 homens (idade: 25 ± 3 anos;
massa corporal: 74,9 ± 9,4 kg; estatura: 174,6 ± 7,7 cm), com
experiência de pelo menos um ano em treinamento de força.
Antes da coleta de dados, os indivíduos responderam a uma
anamnese direcionada à identificação das atividades físicas
praticadas e ao questionário PAR-Q. Dentre os critérios de
exclusão, destacamos, além do PAR-Q positivo, a presença
de problemas osteo-mio-articulares que pudessem interferir
na realização dos exercícios propostos, assim como o uso de
substâncias cujo efeito incidisse sobre o sistema circulatório.
Antes de ingressar no estudo, os voluntários assinaram um
termo de consentimento pós-informado, conforme Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Coleta de dados
A coleta de dados foi efetuada em quatro dias, com intervalos de 48-72 horas entre cada avaliação. No primeiro e
segundo dias foram realizados os testes para obtenção da carga
máxima (1RM) e sua reprodutibilidade, respectivamente. A
partir do terceiro dia, foram aplicadas as sessões de treinamento de forma aleatória (através de sorteio). Em ambos os
protocolos os indivíduos realizaram o teste com o mesmo
percentual de carga, número de séries e tempo de intervalo.
Porém, os testes diferiram quanto à forma de condução do
intervalo. Sendo um deles realizado com intervalo de 2 minutos de forma passiva e o outro realizado durante 1 minuto
de forma passiva e 1 minuto sob a EMV. No quarto dia, as
ordens de trabalho se inverteram.
Teste de 1 RM
O teste de 1RM foi realizado no exercício supino horizontal no aparelho Smith (Cybex Strength Systens). Todos os
indivíduos envolvidos foram submetidos a um período de
familiarização ao teste de 1RM [26], 1-2 semanas antes do
início do protocolo experimental. Antes de cada teste, foram
realizadas três séries de aquecimento no supino horizontal: 15
repetições a 20% da RM estimada no período de familiarização, 8 repetições a 50% e 3 repetições a 70%, sem intervalos
entre as séries adaptado de Weir, Vagner, Housh [27]. Logo
após o aquecimento, somado a um breve intervalo de 1min
30s antes do início do teste, 3 tentativas foram permitidas
para obtenção da carga máxima, com intervalos de 3 minutos
entre as séries.
Visando a reduzir a margem de erro no teste de 1 RM,
foram adotadas as seguintes estratégias [28]: a) instruções
padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo que
o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a
coleta de dados; b) os avaliadores motivaram os participantes
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
227
através de estímulos verbais ao longo de todo o teste; c) todos
os pesos utilizados no estudo foram previamente aferidos em
balança de precisão (Filizola ® - Personal). Para a realização do
exercício supino horizontal, adotou-se como posição inicial
o indivíduo em decúbito dorsal com os braços elevados, sustentando a barra, com os joelhos e quadris semi-flexionados
e os pés apoiados sobre o próprio aparelho. Ciente disso, ao
executar o exercício, o avaliado deveria flexionar o cotovelo
até obtenção de um ângulo de noventa graus entre braço e
antebraço, para somente após realizar a extensão completa
dos cotovelos e consequente flexão horizontal dos ombros.
Após a obtenção da carga máxima no teste de 1RM, os
indivíduos descansaram por 48-72 horas, sendo então reavaliados no segundo dia, para verificação da reprodutibilidade
da carga obtida. Devido aos intervalos entre as sessões de testes
de 1RM, bem como entre as sessões de treinamento de força,
os voluntários foram orientados a não praticar pelo menos os
exercícios de força destinados à musculatura motora primária
envolvida no supino horizontal, a fim de evitar interferências
nos resultados obtidos. As cargas utilizadas nas sequências de
treinamento foram as maiores obtidas nas situações de teste
e reteste.
Figura 1 - Posição adotada na plataforma vibratória.
Sessões de treinamento de força
Tratamento estatístico
Antes de serem submetidos aos protocolos experimentais,
os voluntários realizaram 15 movimentos de circundução
do ombro para frente, 15 movimentos de circundução do
ombro para trás e 15 movimentos de flexão e extensão horizontal do ombro. Como aquecimento articular específico,
os indivíduos desempenharam 15 repetições com 20% de
1RM e 10 repetições a 60%, no exercício proposto. Após o
aquecimento, foi dado um intervalo de 2 minutos antes do
início de cada sessão. Em relação às sessões de treinamento de
força, consistiam em realizar 4 séries de repetições máximas
até a falha concêntrica, mediante 80% da carga máxima no
exercício supino horizontal, com intervalo de 2 minutos
entre as séries. Importante salientar a motivação verbal
padronizada, fornecida pelo mesmo avaliador em todas as
séries de treinamento.
Os intervalos sob EMV foram realizados na plataforma
mecânica Power Plate (Power Plate® - Next Generation),
ajustada para frequência de 50 Hz e amplitude de 4 a 6 mm
por 1 minuto. O outro minuto de intervalo foi utilizado
para o deslocamento dos indivíduos do aparelho supino para
a plataforma e vice-versa. O voluntário adotou a seguinte
posição na plataforma mecânica: decúbito ventral, sobre
um colchonete e à frente da plataforma, com os membros
superiores estendidos de modo que os braços e região peitoral estivessem em contato com a superfície da máquina
(Figura 1). De modo a ampliar o contato com a plataforma
vibratória, foram efetuadas leves compressões nos membros
superiores do avaliado.
Para comparar o volume de treinamento em cada série
entre as duas situações investigadas, foi utilizada uma ANOVA
de dupla entrada para medidas repetidas no primeiro fator
(número de séries x situação investigada). Posteriormente,
a fim de comparar o número total de repetições e o volume
total de treinamento, utilizou-se o test t de Student. O grau
mínimo de significância considerado foi de 95% (p < 0,05)
e os cálculos foram realizados com auxílio do programa Graphpad Prizm (New York, EUA).
Com o intuito de avaliar a influência da EMV no treinamento, foram analisados o número de repetições máximas e o
volume de treinamento, em cada série e na sessão (somatório
das séries). O volume total de treinamento foi dado pela
multiplicação do número de repetições máximas da sessão
pela carga (kg).
Resultados
A Figura 2 ilustra os volumes de treinamento obtidos
em cada série, com e sem aplicação da vibração. O tratamento estatístico não detectou diferenças significativas
entre as duas situações investigadas em cada série isoladamente. Contudo, ao considerar o efeito da evolução do
número de séries, foram apontadas diferenças significativas
entre 1ª e 2ª; 1ª e 3ª e 1ª e 4ª séries, em ambas as situações
estudadas. O mesmo ocorreu da 2ª para a 3ª e da 2ª para
a 4ª série.
As Figuras 3 e 4 ilustram, respectivamente, os valores
encontrados para o somatório do número de repetições
máximas e o volume total de treinamento, nas quatro séries
realizadas. A comparação do número de repetições máximas entre as sessões dos grupos sem e com EMV mostrou
diferença significativa, o mesmo ocorrendo para o volume
total de treinamento nos dois grupos, a favor do grupo
submetido ao EMV.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
228
Figura 2 - Valores referentes à média e desvio padrão dos volumes de
treinamento obtidos em cada série para as situações com e sem EMV.
Volume (Kg . RM)
1750
1500
*
1250
**
*
1000
750
#
500
#
##
250
0
1
**
*
2
Séries
sem EMV
#
##
3
4
com EMV
*diferença significativa em relação à primeira série do grupo com EMV
(p < 0,05); **diferença significativa em relação à segunda série do grupo com EMV (p < 0,05); # diferença significativa em relação à primeira
série do grupo sem EMV (p < 0,05); # # diferença significativa em
relação à segunda série do grupo sem EMV (p < 0,05).
Número de RM
Figura 3 - Valores referentes à média e desvio padrão do número total
de repetições máximas das sessões para as situações sem e com EMV.
**
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Sem EMV
Com EMV
** diferença significativa em relação ao trabalho sem EMV (p< 0,01)
Volume (kg.RM)
Figura 4 - Valores referentes à média e desvio padrão do volume
total de treinamento das sessões para as situações sem e com EMV.
**
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
Sem EMV
Com EMV
**diferença significativa em relação ao trabalho sem EMV (p < 0,01).
Discussão
O objetivo do estudo foi verificar o efeito do emprego da
EVM durante o intervalo entre séries aplicado no exercício
supino horizontal sobre o volume de treinamento realizado
em séries múltiplas no treinamento de força. O principal
achado do estudo revelou que a vibração mecânica pode ser
útil para melhorar a capacidade de recuperação entre as séries
no treinamento de força, constituindo-se em uma estratégia
favorável para ampliar o volume de trabalho em uma sessão de
treinamento. Nesse sentido, a originalidade do estudo reside
no fato de a vibração mecânica ter sido empregada durante
os intervalos entre séries, incrementando o leque de aplicação
dessa ferramenta.
Antes de discutir os resultados propriamente obtidos, é
importante explicar a escolha dos parâmetros de vibração
adotados nesse experimento. De acordo com Maloney-Hinds
[18] uma faixa de frequência variando de 30 a 50 Hz pode
aumentar a circulação sanguínea local, assim como a temperatura nos tecidos massageados e a ativação das enzimas
musculares. Por isso, optou-se pela utilização da frequência
de 50 Hz. Além disso, a maioria dos estudos relata que os
benefícios encontrados para a circulação ficam restritos à região que está em contato direto com a vibração [29,30], o que
justifica a forma de posicionamento da musculatura adotada.
A literatura tem destacado que a aplicação da vibração
pode incrementar o fluxo sanguíneo local. Kerschan-Schindl
et al. [21] investigaram as alterações no volume sanguíneo
muscular após submeterem 20 indivíduos à vibração. Neste
experimento, foram utilizados 26 Hz e 3min como os parâmetros de frequência e amplitude, respectivamente. Os
indivíduos realizaram três diferentes exercícios, com duração
total de 9 minutos. Vale ressaltar que os autores avaliaram o
volume sanguíneo dos músculos quadríceps e gastrocnêmios,
antes e imediatamente após a intervenção da vibração. Com
base nisso, os resultados indicaram um aumento significativo
do fluxo sanguíneo da coxa e da panturrilha após o TVM.
Posteriormente, Stewart et al. [22] avaliaram o fluxo sanguíneo
sistêmico e periférico de 18 mulheres com idades variando
de 46 a 63 anos. Após a aplicação da vibração, os autores
também verificaram um aumento significativo desses valores.
Sabe-se que a oclusão dos vasos sanguíneos pode acarretar uma diminuição do fluxo sanguíneo daquela região,
dificultando a chegada de oxigênio nas fibras musculares.
Isso ocasiona uma queda do pH sanguíneo, refletindo em
um maior acúmulo de metabólitos [31]. A partir daí, pode-se
inferir que um aumento do fluxo sanguíneo muscular levaria
a uma maior possibilidade de remoção dos metabólitos, como
o lactato, durante a recuperação.
O presente experimento aplicou a vibração no período de
recuperação entre as sessões na musculatura principal utilizada
no exercício supino horizontal, que se encontrava relaxada
sob a plataforma vibratória. Pesquisas iniciais sobre o assunto
relacionavam a aplicação da vibração através da massagem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
vibratória, tendo repercussão no aumento do fluxo sanguíneo,
na acentuação da permeabilidade capilar e no transporte de
metabólitos acumulados durante o trabalho anterior [25].
Tal interferência poderia exercer influência positiva no treinamento de força, principalmente quando o treinamento é
realizado por meio de séries múltiplas, no qual a produção
de metabólitos tende a ser maior [24].
Os resultados do presente estudo indicaram que, ao considerarmos os valores obtidos em cada série isoladamente, não
houve diferenças no volume de treinamento nos dois procedimentos empregados. Contudo, quando avaliado o efeito
da evolução do número de séries, foram apontadas diferenças
significativas, com declínio acentuado do desempenho nas
primeiras duas séries e, em seguida, tendência à estabilização.
Entretanto, quando se levou em conta o somatório total nas 4
séries, verificou-se um aumento significativo no volume e no
número de repetições em favor da sessão submetida ao EMV.
Dos 19 sujeitos investigados, apenas 4 reduziram o número de
repetições máximas realizadas com aplicação da vibração. Os
demais integrantes da amostra exibiram aumentos do número
de repetições máximas (de duas a dezessete), o que resultou
em aumentos no volume de treinamento de 188 a 1638 (kg
x repetições), a depender do sujeito investigado. Isso mostra
que não somente perante o grupo, mas principalmente na
análise individual, a aplicação do estímulo vibratório pode
provocar incrementos no volume de trabalho em uma sessão
de treinamento. Ao assumirmos a prescrição habitual do
treinamento de força mediante séries múltiplas, e às vezes
com a participação de mais de um exercício por grupo muscular, a otimização do treino por meio da EMV deveria ser
considerada uma estratégia viável.
Não obstante o estágio atual do conhecimento não permitir determinar com exatidão a relação entre aplicação da
vibração e remoção de metabólicos decorrentes do aumento
no fluxo sanguíneo, especula-se que tal aspecto possa ter
influenciado os resultados, a favor da recuperação com o uso
da vibração. Em contrapartida, a falta de controle de algumas
variáveis pode ser considerada uma limitação deste estudo.
Apesar de ter sido solicitado que os voluntários não realizassem
exercícios entre as sessões de treinamento, não foi controlado
o nível habitual de atividade física dos integrantes. E muito
embora todos os voluntários possuíssem ao menos um ano
de prática regular, alguns indivíduos possuíam vários anos de
treinamento e, consequentemente, nível de força muscular
mais elevado em relação aos outros com menos experiência
de treinamento.
Conclusão
De acordo com os dados obtidos e dentro das limitações
apresentadas no estudo, foi possível concluir que ao menos no
tempo, frequência e amplitude investigados, o uso da EMV
influenciou positivamente no aumento do volume total de
treinamento de séries múltiplas no exercício supino horizontal
229
em indivíduos treinados, mas não o volume em cada série
isoladamente. Essa informação pode ser útil na elaboração de
futuros estudos que visem investigar estratégias de intervalos
para ampliar as cargas suportadas em séries múltiplas nos
exercícios de força. Além disso, podemos sugerir também
a análise dos efeitos da vibração aplicada com diferentes
parâmetros de frequência, amplitude e duração do estímulo
no desempenho.
Referências
1. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para
os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2010.
2. Rittweger J, Mutschelknauss M, Felsenberg D. Acute changes
in neuromuscular excitability after exhaustive whole body vibration exercise as compared to exhaustion by squatting exercise.
Clin Physiol Funct Imaging 2003;23(2):81-6.
3. Delecluse C, Roelants M, Verschueren S. Strength increase after
whole-body vibration compared with resistance training. Med
Sci Sports Exerc 2003;35(6):1033-41.
4. Cardinale M, Bosco C. The use of vibration as an exercise
intervention. Exerc Sport Sci Rev 2003;31(1):3-7.
5. Fajardo JT, Ferliú GM. Entrenamiento por medio de vibraciones
mecânicas: revisión de la literatura. Revista Digital EFDesportes
2004;10(79).
6. Jordan MJ, Norris SR, Smith DJ, Herzog W. Vibration training:
an overview of the area, training consequences, and future considerations. J Strength Cond Res 2005;19(2):459-66.
7. Cochrane DJ. Vibration exercise: the potential benefits. Int J
Sports Med 2011;32(2):75-99.
8. Marin PJ, Rhea MR. Effects of vibration training on muscle
strength: a meta-analysis. J Strength Cond Res 2010;24(2):54856.
9. Machado A, Garcia-Lopez D, Gonzalez-Gallego J, Garatachea
N. Whole-body vibration training increases muscle strength and
mass in older women: a randomized-controlled trial. Scand J
Med Sci Sports 2010;20(2):200-7.
10. Von Stengel S, Kemmler W, Bebenek M, Engelke K, Kalender
WA. Effects of whole-body vibration training on different
devices on bone mineral density. Med Sci Sports Exerc
2011;43(6):1071-9.
11. Lau RW, Teo T, Yu F, Chung RC, Pang MY. Effects of
whole-body vibration on sensorimotor performance in people with Parkinson disease: a systematic review. Phys Ther
2011;91(2):198-209.
12. Bunker DJ, Rhea MR, Simons T, Marin PJ. The use of
whole-body vibration as a golf warm-up. J Strength Cond Res
2011;25(2):293-7.
13. Sands WA, McNeal JR, Stone MH, Russell EM, Jemni M.
Flexibility enhancement with vibration: Acute and long-term.
Med Sci Sports Exerc 2006;38(4):720-5.
14. Fransson PA, Kristinsdottir EK, Hafstrom A, Magnusson M,
Johansson R. Balance control and adaptation during vibratory
perturbations in middle-aged and elderly humans. Eur J Appl
Physiol 2004;91(5-6):595-603.
15. Torvinen S, Kannu P, Sievanen H, Jarvinen TA, Pasanen M,
Kontulainen S et al. Effect of a vibration exposure on muscular
230
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
performance and body balance. Randomized cross-over study.
Clin Physiol Funct Imaging 2002;22(2):145-52.
16. Prisby RD, Lafage-Proust MH, Malaval L, Belli A, Vico L.
Effects of whole body vibration on the skeleton and other organ
systems in man and animal models: what we know and what
we need to know. Ageing Res Rev 2008;7(4):319-29.
17. Brooke-Wavell K, Mansfield NJ. Risks and benefits of
whole body vibration training in older people. Age Ageing
2009;38(3):254-5.
18. Maloney-Hinds C, Petrofsky JS, Zimmerman G. The effect of
30 Hz vs. 50 Hz passive vibration and duration of vibration on
skin blood flow in the arm. Med Sci Monit 2008;14(3):CR1126.
19. Lohman EB, 3rd, Petrofsky JS, Maloney-Hinds C, Betts-Schwab H, Thorpe D. The effect of whole body vibration on
lower extremity skin blood flow in normal subjects. Med Sci
Monit 2007;13(2):CR71-6.
20. Lohman Iii EB, Bains GS, Lohman T, Deleon M, Petrofsky JS.
A comparison of the effect of a variety of thermal and vibratory
modalities on skin temperature and blood flow in healthy volunteers. Med Sci Monit 2011;17(9):72-81.
21. Kerschan-Schindl K, Grampp S, Henk C, Resch H, Preisinger E, Fialka-Moser V et al. Whole-body vibration exercise
leads to alterations in muscle blood volume. Clin Physiol
2001;21(3):377-82.
22. Stewart JM, Karman C, Montgomery LD, McLeod KJ. Plantar
vibration improves leg fluid flow in perimenopausal women.
Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2005;288(3):623-9.
23. Boushel R. Muscle metaboreflex control of the circulation
during exercise. Acta Physiol (Oxf );199(4):367-83.
24. Leite RD, Prestes J, Rosa C, De Salles BF, Maior A, Miranda
H, et al. Acute effect of resistance training volume on hormonal responses in trained men. J Sports Med Phys Fitness
2011;51(2):322-8.
25. Issurin VB. Vibrations and their applications in sport. A review.
J Sports Med Phys Fitness 2005;45(3):324-36.
26. Dias RMR, Cyrino ES, Salvador EP, Caldeira LFS, Nakamura
FY, Past RR, et al. Influência do processo de familiarização para
avaliação da força muscular em testes de 1RM. Rev Bras Med
Esporte 2005;11(1):34-8.
27. Weir JP, Vagner LL, Housh TJ. The effect of rest interval length on repeated maximal bench presses. J Strength Cond Res
1994;8(1):58-60.
28. Monteiro WD, Simão R, Farinatti PTV. Manipulação na ordem
dos exercícios e suas influências sobre número de repetições e
percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras
Med Esporte 2005;11(2):146-50.
29. Bovenzi M, Welsh AJ, Griffin MJ. Acute effects of continuous
and intermittent vibration on finger circulation. Int Arch Occup
Environ Health 2004;77(4):255-63.
30. Rittweger J, Moss AD, Colier W, Stewart C, Degens H. Muscle
tissue oxygenation and VEGF in VO-matched vibration and
squatting exercise. Clin Physiol Funct Imaging 2010;30(4):269-78.
31. Kon M, Ikeda T, Homma T, Akimoto T, Suzuki Y, Kawahara T.
Effects of acute hypoxia on metabolic and hormonal responses
to resistance exercise. Med Sci Sports Exerc 2010;42(7):1279-85.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
231
Revisão
Alterações fisiológicas e bio-ajustamentos provocados
pela prática do ciclismo indoor
Physiological changes and bio-adjustements in indoor cycling practice
Cleomar Rodrigues Romeiro
*Graduando do curso de Educação Física – UEG – Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia do Estado de Goiás
Resumo
Muito se tem mencionado sobre a prática do Ciclismo Indoor
(CI) no meio televisivo e acerca das vantagens do mesmo. Ao se
questionar o motivo da escolha da modalidade de CI, a primeira
razão alistada disparadamente é o seu alto gasto calórico. Não desconsideramos a relevância deste fator, por isso o presente estudo
teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre alguns
dos principais efeitos da prática do CI e as alterações fisiológicas e
bio-ajustamentos induzidos pela prática regular.
Abstract
Much has been said about the practice of Indoor Cycling (IC)
in television and the benefits of it. When questioning people why
to perform IC modality, the first purpose listed is the high caloric
expenditure. Therefore this study aimed at conducting a literature
review concerning some of the main effects of IC programs and the
physiological changes and bio-adjustments induced by this practice.
Key-words: indoor cycling, physiological changes, aerobic exercise.
Palavras-chave: ciclismo indoor, alterações fisiológicas, exercício
aeróbico.
Introdução
O ciclismo vem fascinando e criando amantes desde o
surgimento das primeiras formas de bicicletas. Não se pode
precisar exatamente quando surgiram os primeiros modelos.
Enquanto autores defendem o surgimento no século XVIII,
outros remontam seu surgimento na renascença com os esboços de Leonardo Da Vinci [1], já descobertas arqueológicas
indicam o uso de um tipo de bicicleta primitiva há mais de
1500 anos antes de Cristo. Mas o importante é que as bicicletas evoluíram e também o seu uso, um destaque é o uso da
bicicleta estacionaria para treinamento indoor.
O ciclismo indoor (CI) tem apresentado grande aceitação em academias e clubes, por se tratar de uma forma de
treinamento que mescla música com ritmo forte, rotação
por minuto pré- determinada, ter um instrutor que frequentemente explica e demonstra as modificações nos exercícios
para que os clientes possam trabalhar dentro da intensidade
apropriada e de acordo com o seu nível de condicionamento
[2], acompanhamento da frequência cardíaca, carga de trabalho e os resultados oferecidos, entre estes o gasto calórico
acima da média dos outros exercícios e ginásticas de academia.
Há ainda outros fatores envolvidos neste crescente sucesso,
segundo Melo [3], o ciclismo indoor foi adaptado a academias
de ginástica devido à crescente fuga da violência urbana e também às intempéries climáticas, o que tem conquistado adeptos
no mundo todo, em especial em grandes centros urbanos.
Tenório [4] cita que o CI é uma atividade física muito
concorrida entre frequentadores de academias de ginástica.
Isto se dá pelo seu alto poder de treinabilidade, por não exigir
Recebido em 16 de setembro de 2011; aceito em 14 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Cleomar Rodrigues Romeiro, Rua GB 46 QD 70 LT 3B Casa 2 Setor Jardim Guanabara III, 74683460 Goiânia GO, E-mail: [email protected]
232
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
de seus praticantes nenhuma habilidade específica e, ainda,
por ser uma atividade coletiva muito dinâmica e motivada.
Outro fator a ser considerado é o do tempo, que se mostra de
outra forma um fator limitante, é necessário sermos realistas,
pois a maioria dos adultos não consegue tempo para encaixar
mais que três a quatro sessões de treino em seus esquemas
corridos de trabalho, quando o conseguem. A ausência de
impacto é também um fator que tem aumentado o número
de participantes com pré-disposição a problemas articulares, e
que desejam praticar uma atividade ergométrica. Na bicicleta
de ciclismo indoor o peso corporal é sustentado pelo selim
da bicicleta e o trabalho físico é determinado pela interação
entre resistência da frenagem estabelecida nas rotações dos
pedais e a frequência das pedaladas, o que evita impacto nas
articulações [5].
Muitos trabalhos acerca do CI vêem sido produzidos devido a seu grande sucesso e enfoque contínuo na mídia, e pelas
promessas de resultados que o mesmo pode proporcionar.
Como uma modalidade praticada em academias e outros espaços permite a simulação de uma competição e proporciona
o controle mais efetivo de variáveis de treinamento tais como
rotações por minuto (RPM), Tempo, Frequência Cardíaca
(FC), tempo de sprint (esforço máximo sobre a bicicleta).
Muito se tem falado acerca das vantagens da prática do
CI, na maioria das vezes o foco de atenção se dá no fator gasto
calórico que é realmente considerável, pois em uma seção
de treinamento de 45 minutos chega a se gastar entorno de
800 kcal [6].
O foco deste estudo é apresentar as modificações fisiológicas sofridas em praticantes de ciclismo indoor, as alterações
metabólicas e bio-ajustamentos induzidos pelo treinamento.
Ciclismo indoor um exercício aeróbico
Para Cooper [7], correr, nadar, pedalar e corrida estacionária são típicos exercícios aeróbicos que estimulam as
atividades do coração e dos pulmões, durante um período
de tempo suficientemente longo, de forma a produzir modificações benéficas no organismo. Segundo Pollock [8] o
ciclismo é listado como uma atividade capaz de promover
uma melhora significativa na capacidade aeróbia. Um dos
fatores que diferenciam o CI dos demais exercícios aeróbios
é o fato de que na bicicleta o peso corporal é sustentado
pelo selim e o trabalho físico é determinado pela interação
entre resistência da frenagem estabelecida nas rotações dos
pedais e a frequência das pedaladas [5]. Uma sessão de CI
pode variar entre 30 e 50 minutos, o que a coloca entre os
exercícios de resistência de longa duração que desenvolvem
o condicionamento cardiorrespiratório e auxiliam na manutenção do peso e da gordura corporal. A CI está entre os
exercícios que requerem um esforço prolongado e continuo
[9], envolvendo, normalmente, vários grupos musculares
durante a atividade [5], que proporciona um excelente meio
de condicionamento físico.
De acordo com pesquisas e recomendação do American
College of Sports Medicine, um programa ideal de treinamento
aeróbio deve ter a frequência de no mínimo três dias por semana,
com duração de no mínimo 20 minutos contínuos ou intervalados e com frequência de aproximadamente 70% da capacidade
cárdica máxima. A regularidade com que uma pessoa treina está
estreitamente relacionada à frequência de treinamento e seu efeito
sobre o condicionamento cardiorrespiratório.
Para Viana [5] uma resposta satisfatória ocorre quando o
exercício é realizado duas ou, preferencialmente, três vezes por
semana, durante pelo menos seis semanas. E alguns fatores
podem influenciar nos resultados obtidos entre eles: idade,
intensidade [9], duração e frequência semanal.
Alterações fisiológicas e bio-ajustamentos
Segundo Leite [10] o condicionamento físico refere-se
ao estado de adaptação do organismo em responder adequadamente a esforços físicos de diferentes tipos, intensidades e
duração de trabalho muscular, visando melhores condições
cardiopulmonares (respiratórias) e músculo esqueléticos, sem
caráter competitivo. O sistema cardiovascular modifica-se significativamente após o condicionamento físico. As alterações
ocorrem anatômica e fisiologicamente, afetando o sistema de
transporte, extração e utilização de oxigênio.
Para Sampaio [11:76] os bio-ajustamentos ocasionados
pelos exercícios são:
Aumento do débito cardíaco, isto é da quantidade de sangue
bombeado pelo coração, e a redistribuição do fluxo sanguíneo,
que se afasta dos órgãos inativos e se dirigem para os músculos
esqueléticos ativos. A redistribuição do fluxo sanguíneo durante
o exercício implica a vaso constrição das arteríolas que irrigam
as áreas inativas do corpo e a vasodilatação nos músculos ativos,
provocada pelo aumento da temperatura, pelo nível de CO2 e
acido lático e oferta do oxigênio.
Segundo Cooper [7], as atividades aeróbias trazem os
seguintes benefícios:
Aumento da eficiência dos pulmões e coração, aumento das
cavidades do coração, aumento do número e tamanho dos
vasos sanguíneos, aumento do volume total de sangue e volume
máximo de oxigênio (aumento da absorção, captação e transporte de oxigênio), melhora da tonicidade muscular e dos vasos
sanguíneos, aumento da capacidade oxidativa dos carboidratos e
ácidos graxos livres (AGL), aumento do número e do tamanho das
mitocôndrias, aumento do colesterol bom (HDL), diminuição do
colesterol ruim (LDL), diminuição da frequência cardíaca basal.
Capacidade cardiovascular
O objetivo principal de um programa de exercícios aeróbicos é o de aumentar a capacidade máxima a quantidade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
de oxigênio que o corpo pode captar e processar dentro de
um determinado período de tempo. Ou seja, a capacidade
aeróbica depende de um coração forte, pulmões eficientes, e
um bom sistema cardiovascular. Acredita-se que o aumento
da capacidade da captação de oxigênio no nível tecidual se
dê devido a um aumento da densidade capilar e ao aumento
da quantidade de mitocôndrias [12].
Para Ribeiro [6], o CI tem como objetivo desenvolver e
melhorar a parte cardiovascular respeitando a individualidade biológica de cada pessoa. Vidotti [13] concorda com tal
premissa e destaca que a pessoa que busca o CI visa o desenvolvimento muscular e cardiorrespiratório e que o mesmo
tem forte impacto na função cardiovascular.
Débito cardíaco
Segundo Robergs [14], a prática de treinamento tal como
o CI possibilita ao coração aumentar o volume de ejeção até
o VO2máx e assim permite aumentos adicionais do débito
cardíaco e a melhora no desempenho do exercício.
Termorregulação
Outro fator relevante quanto às adaptações causadas pelo
treino aeróbico trata da transferência de calor corporal, pois
com o treino os mecanismos termorreguladores se tornam
mais responsivos e o volume plasmático maior, o indivíduo
tem a capacidade de dissipar o calor mais rápida e economicamente, o que representa menor dano potencial para a
realização de exercícios e a segurança global [15].
Volume plasmático e viscosidade sanguínea
O exercício físico realizado de forma regular resulta em
uma redução da viscosidade sanguínea. Ocasiona um aumento
considerável no nível plasmático sanguíneo, o que resulta
em uma hemodiluição, facilitando com que o sangue irrigue
de forma mais eficiente os tecidos e músculos envolvidos no
exercício [15,16].
Um volume plasmático aumentado provoca um aumento do retorno venoso para o coração, aumenta a pré-carga
ventricular e, assim, aumenta o volume de ejeção para uma
determinada intensidade de exercício [14,16].
Pressão sanguínea
A pressão sanguínea tende a se manter igual ou aumentar
suavemente durante a maior parte dos exercícios [17]. Vários
estudos têm demonstrado que o exercício aeróbio provoca a
queda da pressão após o exercício, e segundo Forjaz et al. [18]
a queda da pressão após o exercício se deve a redução do débito
cardíaco, ocasionada pela diminuição do volume sistólico. O
233
exercício apresenta efeito hipotensor pós-exercício tanto em
indivíduos monotensos e principalmente hipertensos [19].
Hipertrofia cardíaca
O treinamento produz uma hipertrofia seletiva de fibras
musculares esqueléticas vermelhas e brancas. A hipertrofia
cardíaca se caracteriza por uma grande cavidade ventricular e
uma espessura normal da parede ventricular, o que significa
que o volume sanguíneo que enche o ventrículo durante
a diástole é maior. O treinamento resulta em hipertrofia
dos músculos esqueléticos e aumento da densidade capilar
[20,21].
O coração passa a bombear maiores quantidades de sangue a cada contração, isto se dá devido a um aumento das
cavidades cardíacas, especialmente do ventrículo esquerdo,
adquirindo assim a capacidade de se esvaziar completamente
com a ejeção total do sangue possibilitando a diminuição da
frequência cardíaca em treino e após ele, [22] sendo o resultado: frequência cardíaca basal menor, aumento na absorção
de VO2máx, boa capacidade aeróbia e fortalecimento da
musculatura inferior [20].
Taxa metabólica basal
Os exercícios aeróbios agem sobre os níveis plasmáticos e
lipídeos e promovem um aumento da taxa metabólica basal e,
consequentemente, propiciam a perda de peso e uma redução
sistemática de LDL e aumento do HDL [19]. É importante
frisar que para potencializar os resultados é necessário o uso
de uma dieta apropriada.
Articulações
Um fator a se levar em consideração segundo Sovndal [23]
é que em consequência do movimento suave da pedalada,
muito pouca tensão é colocada sobre o osso. O que poupa as
articulações de impactos e possíveis complicações. Mas não
se recomenda somente a prática do CI, pois o mesmo autor
relata que pessoas que praticam somente o ciclismo comum
ou indoor correm o risco de desenvolver osteoporose.
Sono
Até mesmo o sono pode ser influenciado pela prática de
determinados exercícios. Segundo Sampaio [11], especialistas recomendam a prática de exercícios aeróbios (natação,
ciclismo, atletismo) durante uma hora por dia para melhorar
o sono. Isto se dá, porque a produção e secreção de alguns
hormônios são favorecidas pela regulação do ritmo cardíaco.
Ao passo que outras são diminuídas como parte dos ajustes
que as glândulas fazem.
234
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Tabela I - Efeitos fisiológicos e metabólicos provocadas pela prática
regular do ciclismo indoor.
Aumento
Funções cardíacas e pulmonares
Vasodilatação e fluxo sanguíneo
Metabolismo basal
Ventilação pulmonar
Volume sistólico
Contratilidade miocárdica
Hipertrofia cardíaca
Densidade capilar
Volume sanguíneo
Debito cardíaco
HDL – bom colesterol
Irrigação colateral
Calibre dos vasos coronarianos
Hemodiluição
Redução
Concentração plasmática de
triglicerídeos
Resistência vascular periférica
Pressão arterial
Massa gorda
Respostas beta-adrenérgicas
do miocárdio
LDL – mau colesterol
Frequência cardíaca basal
Risco cardiovascular
Gordura visceral
Viscosidade sanguínea
Impacto articular
Insônia
Conclusão
Entre os fatores observados podemos listar vários benefícios do ciclismo indoor, dentre eles: redução na pressão
arterial, aumento do débito cardíaco, aumento no volume
sistólico, redução do LDL (triglicerídeos) e aumento de HDL,
hemodiluição que favorece a irrigação sanguínea, formação
de irrigação colateral coronariana. O débito cardíaco e a taxa
de ventilação aumentam, e o fluxo sanguíneo é mais bem
aproveitado e direcionado para a musculatura ativa devido à
vasodilatação. O sono também sofre efeitos positivos. Estes
entre outros fatores diminuem o risco de doenças cardiovasculares e promovem melhor a qualidade de vida. O CI como
um exercício aeróbio traz então grandes benefícios aos praticantes. Este estudo vem corroborar então com o conceito que
derivamos grandes benefícios de sermos fisicamente ativos.
Referências
1. D’élia JR. Ciclismo: treinamento, fisiologia e biomecânica. São
Paulo: Phorte; 2009. p. 21-150.
2. Guiselini MA, Barbanti VJ. Fitness Manual do Instrutor. São
Paulo: CRL Balieiro; 1993. p.6-48.
3. Mello DB, Dantas EHM, Novaes JS, Albergaria MB. Alterações
fisiológicas no ciclismo indoor. Fitness & Performance Journal
2003;2(1):30-40.
4. Tenório WMN, Hartmann C. Nível de flexibilidade de praticantes de bike indoor após 16 semanas de treinamento. XXV
CONAFF; 14-18 Nov 2007; Fortaleza, CE. p. 60-65.
5. Vianna JM, Novaes JS. Personal training e condicionamento físico em academia. 1a ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998. p. 36-55.
6. Ribeiro LT, Nascimento JD, Liberali R. Comparação da alteração da composição corporal de mulheres de 18 a 32 anos
praticantes de ciclismo indoor e atividades no minitrampolim. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
2008;2(7):81-89.
7. Cooper KH. Capacidade aeróbia. Rio de Janeiro: Fórum;
1972. p.9-10
8. Pollock ML, Wilmore JH. Exercício na saúde e na doença. 2ª
ed. São Paulo: Medsi; 1993. p.106-19.
9. Borg G. Escalas de Borg para a dor e o esforço percebido. São
Paulo: Manole; 2000. p. 3-10.
10. Leite PF. Fisiologia do exercício: ergometria e condicionamento
físico, cardiologia desportiva. 3ª. ed. São Paulo: Robe;1993.
p.237-57.
11. Sampaio E, Veloso E. Fisiologia do esforço. Ponta Grossa:
UEPG; 2001.
12. Rondon MUPB, Alonso DO, Santos AC, Rondon E. Noções
sobre fisiologia interativa no exercício. In: Negrão CE, Barreto
ACP. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. São
Paulo: Manole; 2005. p.26-43.
13. Vidotti MR, Favarro ORP. Intensidade de esforço durante
ciclismo indoor em mulheres treinadas e iniciantes. Revista
Digital EFDeportes 2011;15(153).
14. Robergs RA. Princípios fundamentais de Fisiologia do Exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte;
2002. p.150-61.
15. McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício,
energia, nutrição e desempenho humano. 7a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2008. p.268-365.
16. Franco FGM, Matos LDN. Exercício físico e perfusão miocárdio. In: Negrão CE, Barreto ACP. Cardiologia do exercício:
do atleta ao cardiopata. São Paulo: Manole; 2005. p. 45-51.
17. Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Bioquímica do exercício
e do treinamento. São Paulo: Manole; 2000. p.35-46.
18. Forjaz CLM, Rezk CC, Cardoso Junior CG. Exercícios resistidos e o sistema cardiovascular. In: Negrão CE, Barreto ACP.
Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. São Paulo:
Manole; 2005. p. 260-71.
19. Ribeiro PRQ, Oliveira DM. Exercícios físicos e fatores de risco
cardiovascular. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
2010;9(4):260-5.
20. Weineck J. Biologia do esporte. 7ª ed. São Paulo: Manole;
2005. p.100-231.
21. Mathews DK, Fox EL. Bases Fisiológicas da Educação Física
e dos Desportos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1979.
22. Domingues Filho LA. Ciclismo indoor: guia teórico prático.
Jundiaí: Fontoura; 2005. p. 32-83.
23. Sovndal S. Anatomia do ciclismo. São Paulo: Manole; 2010.
p.1-165.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
235
Revisão
Regulação autonômica da frequência cardíaca
em pacientes infectados pelo HIV
Autonomic regulation of heart rate in HIV-infected patients
Juliana Pereira Borges, M.Sc. *, Paulo de Tarso Veras Farinatti, D.Sc.**
*Laboratório de Investigação Cardiovascular, Fiocruz, Rio de Janeiro, **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde LABSAU, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Ciências da Atividade Física,
Universidade Salgado de Oliveira, Niterói
Resumo
Diversos estudos prévios demonstraram em pacientes infectados
pelo HIV a existência de uma associação com disfunção autonômica,
caracterizada pelo aumento na atividade nervosa simpática associada
à redução no tônus vagal. Apesar do número crescente de publicações, os mecanismos associados à etiologia dessa disfunção ainda
não são claros. É discutido se essa patogênese estaria relacionada à
infecção pelo HIV por si só, pela utilização da terapia antirretroviral
e seus efeitos adversos, a doenças oportunistas, ou pela combinação
desses fatores. Dessa forma, pode-se pensar que é necessário esforço
adicional para que se conheçam melhor as alterações pelas quais passa
o controle autonômico em indivíduos portadores do HIV. Portanto, neste estudo, serão revisados os principais estudos científicos,
indexados pelo Medline/Pubmed, que tiveram como foco estudar
a regulação autonômica em pacientes HIV.
Abstract
Several previous studies have shown in HIV-infected patients
the existence of an association with autonomic dysfunction, characterized by increased sympathetic nerve activity associated with a reduction in vagal tone. Despite the growing number of publications,
the mechanisms involved in the etiology of this dysfunction are still
not clear. It is debated whether this is related to the pathogenesis
of HIV infection itself, the use of antiretroviral therapy and its
adverse effects, opportunistic infections, or a combination of these
factors. Thus, one might think that it is necessary additional effort
to get to know the changes undergone by the autonomic control
in individuals with HIV. Therefore, this study will review major
scientific studies, indexed by Medline/Pubmed, which have focused
on studying the autonomic regulation in HIV patients.
Key-words: heart rate variability, AIDS, autonomic dysfunction.
Palavras-chave: variabilidade da frequência cardíaca, AIDS,
disfunção autonômica.
Recebido em 28 de outubro de 2011; aceito em 17 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Juliana Pereira Borges, Laboratório de Investigação Cardiovascular, Departamento de Fisiologia
e Farmacodinâmica – IOC/Fiocruz, Avenida Brasil 4365, sala 14, Manguinhos, 21040-360 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2562-1286,
E-mail: [email protected]
236
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011
Introdução
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS),
embora ainda sem cura, teve seu perfil alterado e já pode ser
encarada, de certa forma, como um distúrbio crônico [1]. Isso
se deu, em grande medida, em função do início da utilização
de novos medicamentos, especialmente da terapia antirretroviral de alta atividade ou highly active antiretroviral therapy
(HAART). Apesar da utilização da HAART ter aumentado
a sobrevida e melhorado a qualidade de vida dos pacientes,
por outro lado, a sua utilização continuada associada, consequentemente, ao prolongamento do tempo de infecção,
também levou a efeitos colaterais [2]. Nesse sentido, diversos
autores sugerem que o uso de medicamentos antirretrovirais
estabeleceu uma nova preocupação terapêutica, em virtude de
fatores de risco para doença cardiovascular, como hipertensão
arterial [3,4], aterosclerose, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, resistência à insulina [5], diabetes mellitus [6] e
disfunção endotelial [4].
Discute-se, igualmente, a ocorrência de manifestações
mais específicas, dentre elas a lipodistrofia [7], caracterizada por mudanças na composição corporal, com perda de
gordura subcutânea nos braços, pernas e face, associada ao
aumento de gordura visceral [8]. Em adição, manifestações
etiológicas ligadas à AIDS e à HAART podem contribuir
com a deterioração da função cardiovascular. Esse é o caso
das infecções oportunistas e virais e das respostas autoimunes
delas decorrentes, bem como da cardiotoxicidade relacionada
aos medicamentos, deficiências nutricionais, imunossupressão prolongada, infecção do miocárdio pelo HIV e tumores
relacionados à doença [9].
Além disso, já foi demonstrada, em pacientes infectados
pelo HIV ou com AIDS, a existência de uma associação
com disfunção autonômica, ou seja, aumento na atividade
nervosa simpática associada à redução no tônus vagal [914]. De acordo com diversos estudos, esse desequilíbrio no
controle autonômico relaciona-se com um aumento do risco
de intercorrência cardiovascular, como morte súbita e infarto
do miocárdio [15].
Apesar do número crescente de public

Documentos relacionados

Fisiologia - Faculdade Montenegro

Fisiologia - Faculdade Montenegro Ricardo Xavier Pinto, Daiane Cardoso, Rafael Cusatis Neto ........................................................................................ 14 Análise do salto vertical em jogadores de basqu...

Leia mais

fisiologia - Faculdade Montenegro

fisiologia - Faculdade Montenegro Estudo sobre lesões em profissionais de ballet clássico e contemporâneo em Belo Horizonte/MG, Juliana Santos Anselmo, Adelina Lima Rocha, Elisangela Macedo Rufino, Jediane Souza Julio, Luciana Gobi...

Leia mais