Fisiologia - Faculdade Montenegro
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Fisiologia - Faculdade Montenegro
R evi s ta Bra si l ei ra 2009 Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro - IPCFEX d e 06, 07 e 08 de novembro de 2009 Fi si ologi a Período para submissão de resumos: De 3 de agosto a 18 de setembro de 2009 Local d e Fisiologia exercício do IS S N 16778510 Fisiolog do exercí Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Fisiologia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício do exercício Fisiol Fisiologia do ex er c í c i o Envie seu trabalho Informações B r a s i l e i r a d o Conferencistas Internacionais e Nacionais Palestras e Mesas-redondas Apresentações de Temas Livres R e v i s t a exercício do exer F i s i o l o g exercício Fisiologia do exercíc F i s i o l o g i a do do e xNUTRIÇÃO ercício Fisiologia Fisiolog do e x e r c í c i o • Avaliação nutricional de fisioculturistas do e xercí F i s i o l o g i a CARDIOLOGIA F i s i o l o g i a Fisiologia do e x e r c í c i o• Teste do deecaminhada x e r cdeí seis c iminutos o e x e r c í c i o do em cardiopatas Fisiologia F i s i o l o g i a exercício do e x e r c í c i o Fisiologia Auditório da Escola Naval (atrás do Aeroporto Santos Dumont)do E-mail: [email protected] Rua Almirante Silvio de Noronha, s/nº Home Page: www.ipcfex.ensino.eb.br Castelo - Rio de Janeiro - RJ Fisiologia ESTACIONAMENTO GRATUITO NO LOCAL do vol u me 0 8 - n úm ero 0 1 • J an /Abr 2 0 0 9 Telefone: 2543-3323 Ramal: 2044 exercício Transporte do aeroporto até o local do evento Realização • Marcadores inflamatórios e exercícios físicos do exercício • Atividade física durante a gestação Fisiologia do exercício no judô Fisiologia F i s i o l F i s i o•lPrevalência oalto grendimento i ade lesões de do do e x e r c í c i o do exer salto vertical em jogadores e x e•rAnálise c í c do io a F i s i o l o g i a F i s i o l o gdei basquete Fisiolo F i s i o l o i a exerc c i o osteomioarticulares •í Lesões emg jogadores exerc do e x e r c í c i o do de futsal Fisiologia do ESPORTE exercício do exercício do Fisiolog ia Fisiologia ESTÉTICA do gordura localizada e x e r c í•cTratamento i o dado exercício www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 0 8 - nú m e r o 01 • J a n/M a r 2009 R evi s ta R e v i s t a B r a s i l e i r a d e Bra si l ei ra Fisiologia d e exercício do Fisiolog do exercí Fisiologia do exercício Fi si ologi a Brazilian Journal of Exercise Physiology Fisiologia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício do exercício d o Fisiologia do exercício Fisiol ex er c í c i o exer do F i s i o l o g exercício Fisiologia do F i sESPORTE iologia do do do exercíc e•x e r c í c ide o velocidade F i s i o lcrítica o g ia Modelos do e x e r em nadadores juvenis c í c i o Fisiologia Fisiolog do e x e r c í • Mobilidade e equilíbrio em idosos Fisiologia que praticam esporte do e x e r c í c i o do e xdeeesforço r c de í cidosos i oatletas • Comparação e não atletas exercício Fisiologia Fisiologia F i s i o l o g i a exercício do e x e r c í c i o vol u me 0 8 - n úm ero 0 2 • A bri /Ju n 2 0 09 Fisiologia do IS S N 16778510 Fisiologia do exercício • Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada do Fisiologia do exercício Fisiologia do Fisiol • Efeito de suplementos carboidratados Fisiologia na glicemia de atletas x e r c í c i o do e x e r c í c i o do e IMAGÉTICA exer gia F i s i o l o g i a F i s i o•l oEstimulação audiovisual e simulação mental Fisiolo F i s i o l o g i a exercício de competição esportiva exerc do e x e r c í c i o do Fisiologia do e x e r cSUPLEMENTOS ício exercício Fisiologia do CARDIOLOGIA do exercício do Fisiologia • Exercício físico na remodelação miocárdica e x e r c •í Variabilidade c i o da do freqüência cardíaca exercício www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 0 8 - nú m ero 02 • A b r/J u n 2009 R evi s ta R e v i s t a B r a s i l e i r a d e Bra si l ei ra Fisiologia d e exercício do Fisiolog do exercí Fisiologia do exercício Fi si ologi a Brazilian Journal of Exercise Physiology Fisiologia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício do exercício d o Fisiologia do exercício Fisiol ex er c í c i o do exer F i s i o l o g exercício Fisiologia do F i sESPORTE iologia do do do exercíc Fisiolog e•x e r c í c i o ao Fdestreinamento isiologia Adaptações do e x e r c í c i o • Efeitos de treinamento no futebol infantil do e x e r c í • Lesões osteomioarticulares em atletas Fisiologia fisiculturistas do e x e r c í c i o do • Desenvolvimento das capacidades físicas e motoras em crianças Fisiologia exercício Fisiologia exercício Fisiologia F i s i o l o g i a exercício do e x e r c í c i o Fisiologia vol u me 0 8 - n úm ero 0 3 • J ul /Set 2 0 0 9 do IS S N 16778510 Fisiologia do exercício NUTRIÇÃO do exercício Fisiologia do exercício FISIOLOGIA Fisiologia F i s i o l Fisio l o g i a • Métodos de determinação do lactato do x e r c í c i o do e x e r e x •e Exaustão r c í cmuscular i o doeme exercícios resistidos g i aisométrica máxima F i s i o l o g i a F i s i o•l oForça Fisiolo F i s i o l o g i a exercício do e x e r c í c i o • Potência muscular e funcionalidade em idosos e x e r c do Fisiologia do • Nutrição e composição corporal de jovens futebolistas exercício do exercício do F i s i o l oCARDIOVASCULAR gia Fisiologia do • Exercício resistido em circuito e pressão arterial exercício www.atlanticaeditora.com.br do exercício v o l u m e 0 8 - nú m e ro 03 • J u l/S e t 2009 R e v i s t a R e v i s t a B r a s i l e i r a d e B r a s i l e i r a FISIOLOGIA d e DO FISIOLO DO EXERCÍCIO EXERC FISIOLOGI DO EXERCÍCI FI SI OLOGI A Brazilian Journal of Exercise Physiology FISIOLOGI Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício DO EXERCÍCI D O FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIO E X E R C Í C I O EXE DO F I S I O L O G EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO FISIOLOGIA DO ESPORTE EXERCÍCIO DO DO EXERCÍC FISIOLOGIA FISIOLO • Lesões no surfe DO E X E R C Í C I O DO E X E R C • Avaliação da flexibilidade e Pilates FISIOLOGI • Alongamento estático e desempenho DO EXERCÍCI da velocidade DO E X E R C Í C I O FISIOLOGIA EXERCÍCIO FISIOLOGIA FISIOLOGI F I S I O L O G I A EXERCÍCIO DO E X E R C Í C I vol um e 0 8 - nú me ro 0 4 • Ou t/ De z 2 0 0 9 FISIOLOGIA DO ISSN 16778510 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO CARDIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO E FISIO EXE LOGIA F I S I O L O G I A F I S I OBIOENERGÉTICA FISIOL F I S I O L O G I A EXERCÍCIO EXER • ATP e exercício físico DO E X E R C Í C I O DO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO • Exercícios resistidos e pressão arterial • Atividade física e prevenção cardiovascular • Teste de caminhada de seis minutos em cardiopatas F I S Icardíaca O L O GaoI Alongo • Velocidade e freqüência DO E X E R C Í C I O DO X Edos R testes C Í CdeIcorrida O EXERCÍCIO F I S I O L OGENÉTICA GIA DO • Miostatina EXERCÍCIO www.atlanticaeditora.com.br DO EXERCÍCIO DO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO v o l u m e 0 8 - n ú m e r o 0 4 • Out/Dez 2009 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 8 número 1 - janeiro/março 2009 EDITORIAL Atividade física e aplicações clínicas, Paulo Tarso Veras Farinatti ................................................................................ 3 ARTIGOS ORIGINAIS Marcadores inflamatórios em pacientes com doença arterial coronariana submetidos a um programa regular de exercícios físicos, Sonia Aparecida de Morais, Antonio Carlos da Silva Martins, Edison Sandoval Peixoto, Sebastião David Santos-Filho............................................. 4 Avaliação nutricional de fisiculturistas de academias da cidade de São Paulo, Amanda Cristina Lugarezze, Ana Lucia Girasoli, Cinthya Correia Bezerra, Karen Rejane Tanii Farinho, Neide Kaoru Hoshina, Patrícia Lima Araújo, Marcia Nacif ............................................... 9 Prevalência de lesões no judô de alto rendimento, Paloma Angel de Carvalho, Samira Jirges Hanna, Marcelo Massayoshi Ohira, Henrique Koch, Luis Ricardo Revite, Ricardo Xavier Pinto, Daiane Cardoso, Rafael Cusatis Neto ........................................................................................ 14 Análise do salto vertical em jogadores de basquete utilizando o alongamento como preparação da flexibilidade, Juliano Angeli Romani, Cristiane Mariana Rodrigues da Silva, Carlos Fornazzari ............................................................................................. 20 Relação entre alterações posturais e lesões osteomioarticulares em jogadores de futsal, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Cintia Seefeld, Juliana Cardoso Alves ................................................ 24 Influência da atividade física, pressão arterial e variáveis antropométricas da gestante sobre o peso do feto ao nascer, Janyny Galdino Onofre Spolador, Marcos Doederlein Polito ............................................................................................................................................ 30 REVISÕES Uso da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos localizados de gordura, José Diego Botezelli, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme, Maria Alice Rostom de Mello ...................................................................................................................................... 34 A importância do teste de caminhada de seis minutos em pacientes com insuficiência cardíaca, Nivia Schmidt de Souza, Kellen Marcela Santos, Letícia Alckmin Morgado, Elaine Cristina Martinez Teodoro ..................................................................................... 38 NORMAS DE PUBLICAÇÃO.................................................................................................................................. 45 EVENTOS ................................................................................................................................................................. 47 2 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Robert Robergs (USA) Benedito Sérgio Denadai (SP) Rosane Rosendo (SC) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Sebastião Gobbi (SP) Douglas S. Brooks (EUA) Steven Fleck (USA) Emerson Silami Garcia (MG) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Martins (PB) Vilmar Baldissera (SP) Francisco Navarro (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 /3361 9932 E-mail: [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello Editor assistente – Publicidade Guillermina Arias [email protected] Direção de arte Assistente de vendas – Atendimento Assinatura Cristiana Ribas Márcia P. Nascimento 1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00 [email protected] [email protected] www.eventoserevistas.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e MN-Metabólica. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 3 Editorial Atividade física e aplicações clínicas Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti Editor-Chefe da RBFEx Tenho o prazer de apresentar o primeiro número do volume deste oitavo volume da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). Continuando o processo de consolidação da revista, iniciamos o ano com um Conselho Editorial renovado. Além disso, implanta-se paulatinamente um sistema de submissão on-line que, no decorrer do ano, deve começar a funcionar. A quantidade de artigos submetidos vem aumentando a cada ano, permitindo com que a periodicidade da revista se mantenha sem os percalços do passado. Faz parte dos nossos planos aumentar o número de artigos por revista, visando, em prazo médio, uma periodicidade trimestral. O presente número da RBFEx traz oito artigos, seis deles originais e duas revisões, cuja variedade de assuntos reflete a riqueza da própria temática da revista. Inicialmente, a equipe da Universidade Federal Fluminense analisa marcadores inflamatórios em cardiopatas praticantes de exercício. Em seguida, temos um levantamento do perfil nutricional e do conhecimento sobre nutrição em praticantes de fisiculturismo da cidade de São Paulo. O desporto de rendimento é o assunto dos três artigos subseqüentes, um deles dedicado ao salto vertical no basquete e dois com foco nas lesões associadas à prática do judô e do futsal. Fechando os artigos originais, chega-nos da Universidade Estadual de Londrina interessante estudo sobre as relações entre a prática de atividades físicas por parte da gestante e características do feto no nascimento. Enfim, as revisões da literatura apresentadas tratam de assuntos tão diversos quanto a combinação do exercício físico com técnica nãoortodoxa de perda de gordura e a aplicação de teste de caminhada em pacientes cardiopatas. Bom proveito! 4 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Artigo original Marcadores inflamatórios em pacientes com doença arterial coronariana submetidos a um programa regular de exercícios físicos Inflammatory markers in patients with coronary artery disease submitted to a regular program of physical exercises Sonia Aparecida de Morais, Ft.*, Antonio Carlos da Silva Martins, M.Sc.**, Edison Sandoval Peixoto, D.Sc.***, Sebastião David Santos-Filho, Ft., D.Sc.**** Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da UFF, Professora de Fisioterapia Aplicada a Cardiologia do Centro Universitário de Volta Redonda RJ, Responsável Técnica da Reabilitação Cardíaca do Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, **Médico, Professor de Fisioterapia Aplicada à Cardiologia do Centro Universitário de Volta Redonda RJ, Responsável administrativo do Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, ***Médico, Professor Titular de Cardiologia da UFF, Niterói RJ, ****Professor Adjunto de Biofísica e Fisiologia da Universidade Severino Sombra, Vassouras RJ Resumo Abstract As doenças coronarianas, entre elas a aterosclerose, tornaram-se a principal causa de morte. Esse problema é decorrente de aspectos do estilo de vida moderno, entre eles alimentação irregular, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, estresse e o sedentarismo. Nosso estudo tem por objetivo avaliar a importância do exercício físico como recurso terapêutico no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana, correlacionando os benefícios do mesmo na diminuição dos marcadores inflamatórios assim como no controle dos fatores de risco e na morbidade cardiovascular. Os dados deste estudo demonstram a importância dos marcadores inflamatórios como preditores de risco para doença cardiovascular. A efetividade do exercício físico no controle dos fatores de risco de doença cardiovascular, tendo como parâmetro os marcadores inflamatórios, atinge múltiplos benefícios, que podem ser alcançados com alto grau de segurança. The coronary diseases, among them the atherosclerosis, are the main cause of death. This problem is due to aspects of modern life style, such as irregular dietary, tobacco, alcohol ingestion, stress, and sedentarism. Our study aims at evaluating the importance of physical exercise as a therapeutic tool to treat patients with coronary artery disease, correlating benefits on inflammatory markers decrease as well as risk factors control and cardiovascular morbidity. Data showed the importance of inflammatory markers as predictors of cardiovascular disease risk. The effectiveness of physical exercise on prevention and control of cardiovascular disease risk factors, and the inflammatory markers as a parameter, achieve multiple benefits that can be reached with high security level. Key-words: atherosclerosis, inflammatory markers, physical exercise, rehabilitation. Palavras-chave: aterosclerose, marcadores inflamatórios, exercício físico, reabilitação. Autor para correspondência: Sonia Aparecida de Morais, Rua São Francisco Xavier, Bloco E, 681/202, 20550-011 Rio de Janeiro, RJ, Tel: (21) 2568-1371, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução As doenças coronarianas, entre elas a aterosclerose, tornaram-se a principal causa de morte na civilização moderna. Esse problema é decorrente de muitos aspectos do estilo de vida moderno, entre eles alimentação irregular, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, estresse cotidiano e o sedentarismo [1]. Esses hábitos causam o desenvolvimento de fatores de risco relacionados à aterosclerose. A formação de placas ateroscleróticas ou ateromas está diretamente relacionada a acidentes coronarianos, como o infarto, a doença isquêmica do coração e a apoplexia [2]. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre homens e mulheres, nos países desenvolvidos [3]. No inicio do século XX, a doença cardiovascular foi responsável por menos de 10% das mortes em todo o mundo e, ao final deste século, responde por 50% de todas as mortes em países desenvolvidos e 25% nos países em desenvolvimento [4,5]. Os mediadores inflamatórios mais estudados como prováveis fatores prognósticos de risco de doenças cardiovasculares são a proteína C-reativa (PCR), ICAMs, IL6, TNF alfa e a P-selectina [6]. Desses, o que tem recebido maior atenção dos pesquisadores é a PCR, a qual, quando elevada, está associada a um risco aumentado para infarto agudo do miocárdico, acidente vascular cerebral e morte cardiovascular [7,8]. Vários estudos têm evidenciado uma associação entre a atividade física regular e a redução nos níveis dos diferentes marcadores inflamatórios. Um dos prováveis mecanismos de diminuição no risco cardiovascular relacionado com a prática do exercício se relaciona com o impacto deste sobre os diferentes marcadores inflamatórios [9,10]. Nosso estudo tem por objetivo avaliar a importância do exercício físico como recurso terapêutico no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana correlacionando os benefícios do mesmo na diminuição dos marcadores inflamatórios arteriais assim como no controle dos fatores de risco e na morbidade cardiovascular. Material e métodos O estudo foi realizado com pacientes do Setor de Reabilitação Cardíaca no Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, Rio de Janeiro, RJ. Em nosso estudo foram incluídos 14 pacientes com diagnóstico de doença arterial coronariana. Todos os pacientes incluídos apresentavam eventos anteriores, como angioplastia, revascularização do miocárdio, ou infarto e todos eram sedentários. Dez pacientes do sexo masculino (71%) e quatro pacientes do sexo feminino (29%) com idades que variaram de 60 a 80 anos. Todos os pacientes assinaram um termo de consentimento esclarecido e receberam informações a respeito dos procedimentos e objetivos da pesquisa. 5 Os pacientes foram submetidos a uma avaliação médica e físico-funcional, além de exame bioquímico específico – lipidograma, glicemia, proteína C reativa, cardiolepina, homocisteína, imunoglobulina e fibrinogênio. Todos os exames foram realizados em um mesmo laboratório sugerido pelos pesquisadores para evitar erros de metodologia. Os mesmos realizaram teste ergométrico para avaliação clínica e funcional. Todos os pacientes participaram de um programa de reabilitação cardíaca. O programa proposto foi de 60 minutos de exercício físico aeróbico, três vezes na semana, durante doze semanas. Os pacientes iniciavam com 30 minutos de caminhada na esteira e a seguir, 30 minutos de pedalada na bicicleta, seguidos de alongamento global. Todos os pacientes foram acompanhados e supervisionados durante a realização do programa de exercícios. Após 12 semanas de realização do programa, os pacientes foram reavaliados individualmente. Resultados Na Tabela I mostramos os fatores de risco apresentados pelos pacientes na primeira avaliação. Todos os pacientes eram sedentários. Observa-se que 78% dos pacientes apresentaram histórico de hipertensão arterial enquanto que outros 28% eram tabagistas, 48% diabéticos, 42% acima do peso e todos apresentaram dislipidemia. Tabela I - Fatores de risco associados à doença arterial coronariana. Paciente RCV JJB AAB HPG OPC FG RFY MGP ACA JAS CVR JBJ ABS AAC ID HA DB 66 72 78 69 70 79 74 81 64 74 66 77 75 80 Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Não Não Não Sim Sim Não Sim Não Não Sim Sim Sim Não Sim OB/ SP SP Não Não Sim SP Não Não Não Não SP SP Não SP Não HD TB DP SD Sim Sim NS Sim Sim Não Sim NS Sim Não Não Sim Não Sim Não Não Não Não Não Não Sim Não Não Não Sim Sim Não Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim ID – idade; HA – hipertensão arterial; DB – diabetes; OB – obesidade; SP – sobrepeso; HD – hereditariedade; TB – tabagismo; DP – dislipidemia; SD – sedentarismo; NS – não sabe informar. Na Tabela II, apresentamos os parâmetros da avaliação físico-funcional dos pacientes após inclusão no programa. Aproximadamente 42% apresentaram índice de massa corporal (IMC) acima de 25, o que caracteriza sobrepeso. 50% apresentaram circunferência abdominal fora das metas. 6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Tabela II - Avaliação físico-funcional dos pacientes. Peso (kg) 78 72 57 89 89 68 73 70 72 84 80 71 82 74 Paciente RCV JJB AAB HPG OPC FG RFY MGP ACA JAS CVR JBJ ABS AAC Altura (cm) 169 169 164 162 172 168 172 170 170 166 164 169 171 172 IMC 27 25 21 34 30 24 24 24 25 30 30 25 28 25 CA* (cm) 104 96 82 116 109 86 104 99 87 121 118 87 114 88 *Circunferência abdominal Após o programa de reabilitação proposto, observamos que aproximadamente 71% dos pacientes atingiram valores de normalidade na maioria dos marcadores inflamatórios estudados (Tabela III). Os marcadores inflamatórios de maior expressão verificados em nosso estudo foram a PCR ultra-sensível, homocisteína e fibrinogênio. Tabela III - Marcadores inflamatórios. Paciente PCR HC IgG* (mg/dL) (μmol/L) (GPL/ mL) IgM* (MPL/ mL) FG (mg/ dL) RCV JJB AAB HPG OPC FG RFY MGP ACA JAS CVR JBJ ABS AAC 7,8 0,7 0,2 4,0 4,5 8,9 2,0 0,7 0,8 0,7 8,3 0,8 0,5 0,8 318 295 440 540 600 459 320 323 515 287 321 395 540 451 0,06 0,07 1,41 0,14 0,15 7,42 0,70 0,08 7,20 0,08 0,08 7,10 2,43 7,42 11,3 17,0 12,7 13,0 14.0 17,4 6,5 5,8 17,2 7,0 10,4 16,9 7,1 9,4 8,9 3,8 9,3 2,0 2,6 9,1 1,0 1,2 9,2 9,3 9,8 1,3 9,3 8,9 *Tipos de Anti-cardiolepina; Proteína C reativa (PCR); Homocisteína (HC); Lipoproteína de baixa densidade (LDL); Lipoproteína de alta densidade (HDL); Imunoglobulina G (IgG); Imunoglobulina M (IgM); Fibrinogênio (FG) Na Tabela IV podemos observar que apesar de 48% dos pacientes apresentarem diagnóstico de diabetes, 93% alcançaram as metas de normalidade da glicemia de jejum. Observamos ainda que 85,7% alcançaram valores satisfatórios de perfil lipídico e a maioria atingiu as metas de normalidade. Tabela IV - Glicemia e perfil lipídico. Paciente RCV JJB AAB HPG OPC FG RFY MGP ACA JAS CVR JBJ ABS AAC GCM TGC 74 107 104 97 94 84 98 87 101 114 80 74 78 86 88 35 52 112 193 138 101 46 247 46 120 115 80 82 LDL (mg/dL) 60 43 47 80 82 64 73 53 147 50 62 53 77 74 HDL (mg/dL) 40 63 44 60 38 39 47 72 35 62 38 73 44 45 VLDL CT 7 7 10 22 39 28 18 9 20 20 15 9 7 11 110 113 101 164 159 131 121 134 202 121 103 115 105 110 Glicemia (GCM); Triglicerídeos (TGC); Lipoproteína de baixa densidade molecular (LDL); Lipoproteína de alta densidade molecular (HDL); Colesterol total (CT); Colesterol (VLDL). Discussão Existem várias revisões da associação entre inatividade física e risco de doenças cardiovasculares. As meta-análises têm indicado o dobro de risco de doenças cardiovasculares em indivíduos inativos quando comparados com os ativos [11,12]. Nos estudos que têm avaliado a atividade física ocupacional, a inatividade (ou sedentarismo) está associada a 90% de aumento de risco relativo de morte por doenças cardiovasculares [13,14]. Em nosso estudo, todos os pacientes apresentaram estilo de vida sedentário na primeira avaliação. Para Abramson et al. [10] alguns dos mecanismos envolvidos no controle das doenças cardiovasculares utilizando a atividade física, que foram apresentados em trabalhos científicos, incluem efeitos de diminuição da progressão da arteriosclerose e da trombose, diminuição da pressão arterial e isquemia, através de melhora da hemodinâmica local, e também diminuição do perfil lipídico e melhora do quadro de arritmia. Os mecanismos pelos quais o exercício a longo prazo tem efeito protetor na arteriosclerose incluem o incremento significante da proporção de células T circulantes que têm propriedades ateroprotetivas . Para Ford [9] o exercício estimula um efeito protetor nas células endoteliais e nas células T em pessoas com aterosclerose. Existem também evidências de que o desenvolvimento da placa de aterosclerose está associado com o processo inflamatório e que o exercício está associado por sua vez com uma redução de marcadores inflamatórios – Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 proteína C-reativa, células sangüíneas brancas, fibrinogênio, fator VIII–, sugerindo que o exercício está relacionado com uma redução da inflamação. A melhor compreensão da fisiopatologia e o desenvolvimento de tecnologias sensíveis e específicas tornaram cada vez mais evidentes as possibilidades de detecção precoce e monitoração das doenças cardiovasculares. Assim, o conceito dos marcadores foi introduzido nos últimos anos. Um marcador pode refletir a fisiopatologia da doença, predizer eventos futuros, bem como indicar a presença da afecção ou danos a um órgão. Um marcador pode também ser medido para avaliar o progresso do tratamento [15]. Nossos resultados mostraram que 71% dos pacientes atingiram valores de normalidade dos marcadores inflamatórios, além de alcançarem níveis satisfatórios de glicemia de jejum e no lipidograma, com um programa de reabilitação com exercício físico aeróbico. Segundo Sigal et al. [13], o programa de exercícios para pacientes com doença arterial coronariana é baseado na prescrição tradicional para o desenvolvimento do efeito do treino em pessoas saudáveis. Porém, é modificado como indicado pela condição cardiovascular e estado clínico geral do paciente. Isso envolve um adequado programa individual de exercícios com respeito ao modo, freqüência, duração, intensidade e progressão do exercício. O programa de exercício proposto em nosso estudo foi individualizado e adaptado ao paciente respeitando as suas limitações. Para Pescatello et al. [15] o exercício contínuo como andar, correr, pedalar, nadar, aeróbica em grupo e remar são apropriados para o condicionamento de resistência cardiovascular. A freqüência mínima é de 3 dias não consecutivos na semana. Períodos de aquecimento e resfriamento de pelo menos 10 minutos, incluindo alongamento e exercícios de flexibilidade, devem preceder e seguir o exercício de 20-40 minutos realizados tanto continuamente ou em intervalos [15,16]. Exercício em programas supervisionados é realizado em intensidade moderada, de maneira confortável, geralmente 40-85% da capacidade funcional máxima (VO2máx), que correlaciona com 40-85% da reserva de freqüência cardíaca máxima ([freqüência cardíaca máxima – freqüência cardíaca de repouso] x 40-85% + freqüência cardíaca de repouso), ou 55-90% da freqüência cardíaca máxima [17,18]. O grau de esforço percebido pode também ser usado para monitorar a intensidade do exercício, com o objetivo de manter a intensidade em nível moderado. Qualquer programa de exercício deve envolver uma progressão inicial lenta e gradual da duração e intensidade do exercício [19,20]. Com o objetivo de encontrar a melhor terapêutica para esta entidade em particular, a investigação clínica, por meio do exercício físico, tem sido utilizada como um método de intervenção promissor e que parece ser custo-efetivo. São inúmeras as evidências sugerindo que o exercício físico regular não somente melhora a capacidade funcional, expressa pelo aumento do VO2máx, como também reduz a morbidade 7 e, possivelmente, a mortalidade, justificando assim a sua utilização terapêutica. Conclusão Os dados do nosso estudo demonstram a importância dos marcadores inflamatórios como preditores de risco para doença cardiovascular. No entanto, comparando com os dados relatados na literatura notamos que sua plena utilização é limitada pelo alto custo e dificuldade de realização técnica. A efetividade do exercício físico no controle dos fatores de risco de doença cardiovascular, tendo como parâmetro os marcadores inflamatórios arteriais, atinge múltiplos efeitos, que podem ser alcançados com alto grau de segurança. Embora em nosso estudo não tenhamos observado respostas significativas na redução de peso e da circunferência abdominal dos pacientes, inúmeros estudos apontam para os benefícios de um programa regular de exercícios. Estes benefícios incluem capacidade funcional aumentada, diminuição dos fatores de risco, redução dos sintomas de isquemia do miocárdio e subseqüente morbidade da doença coronária, melhora no perfil lipídico sanguíneo, controle do peso e da hipertensão, e, em pacientes diabéticos, tolerância à glicose. Além de melhoras na perfusão do miocárdio, abandono do hábito de fumar e bem estar psicossocial. Referências 1. Ross R, Glomset JA. The pathogenesis of atherosclerosis I. New Engl J Med 1976;295:369-77. 2. Roberts WC. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 9 Artigo original Avaliação nutricional de fisiculturistas de academias da cidade de São Paulo Nutritional assessment of bodybuilders of academies of São Paulo City Amanda Cristina Lugarezze*, Ana Lucia Girasoli*, Cinthya Corrêa Bezerra*, Karen Rejane Tanii Farinho*, Neide Kaoru Hoshina*, Patrícia Lima Araújo*, Marcia Nacif, D.Sc.** *Alunas do Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, Docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie Resumo Abstract Objetivo: Verificar o perfil nutricional e o conhecimento sobre alimentação e nutrição de fisiculturistas de academias da cidade de São Paulo. Material e métodos: Trata-se de um estudo transversal, no qual participaram 13 fisiculturistas entre 21 e 40 anos de idade. Aplicou-se um questionário de conhecimento sobre alimentação e nutrição e foram avaliadas as variáveis antropométricas de peso, estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais. Resultados: Verificou-se um IMC médio de 28,20 kg/m2 (DP ± 2,73) e dentre os atletas estudados, 100% dos indivíduos do gênero feminino e 55% do masculino apresentaram porcentagem de gordura dentro dos parâmetros normais para culturistas. Quanto ao conhecimento nutricional, 71% dos indivíduos não souberam qual deve ser a proporção correta dos macronutrientes presentes na alimentação, estes consideraram ser a proteína o macronutriente que mais deve contribuir com as necessidades calóricas diárias. As vitaminas foram consideradas por 57% dos indivíduos como fornecedoras de calorias e 71% deles referiram o uso de suplementos alimentares. Conclusão: É necessário o acompanhamento nutricional desta população visto que a porcentagem de gordura da maioria encontra-se por volta do limite mínimo recomendado para fisiculturistas. Também é indispensável um trabalho de educação nutricional para manter a performance, rendimento esportivo e saúde adequada destes indivíduos. Aim: To describe the nutritional profile and knowledge about food and nutrition of bodybuilding practitioners in academies of São Paulo City. Method: This was a cross-sectional study made with 13 bodybuilders between 21 and 40 years of age. A questionnaire of knowledge about food and nutrition was applied and the anthropometric variables were evaluated for weight, height, circumferences and body skin folds. Results: The mean BMI was 28.20 kg/m2 (DP ± 2.73). All the females and 55% of males showed percentage of fat within the normal parameters for bodybuilders. As for the nutritional knowledge, 71% of individuals did not know the correct proportion of nutrients in their diet. Mostly they considered that protein should be the macronutrient which the higher contribution for the daily caloric needs. Vitamins were considered by 57% of individuals as supply calories and 71% admitted to use food supplements. Conclusion: The anthropometric characteristics of the sample were within the expected for bodybuilders but the knowledge about nutrition was very poor. Medical and nutritional monitoring would be necessary because the percentage of fat was near the minimum recommended for bodybuilders and to improve their knowledge about the specific needs of this competition modality. Key-words: nutritional assessment, corporal composition, nutritional needs, food and nutrition education. Palavras-chave: avaliação nutricional, composição corporal, necessidades nutricionais, educação alimentar e nutricional. Endereço para correspondência: Amanda Cristina Lugarezze, Rua Pereira de Avelar, 101, Vila Alpina, 03211-040 São Paulo SP, Tel: (11) 7625-7012, E-mail: [email protected]. 10 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução O fisiculturista é o indivíduo que pratica exercícios físicos com peso, objetivando a modelagem corporal por meio do desenvolvimento da massa muscular. Estes atletas enfatizam principalmente a aparência física, a definição muscular e a simetria do corpo. Essa modalidade esportiva é chamada culturismo e seus praticantes geralmente combinam uma dieta altamente seletiva e treinamento de força para alcançar a melhor performance estética, evitando a mínima retenção de fluido e gordura [1,2]. A dieta destes indivíduos deve ser individualizada e estabelecida conforme a freqüência, a intensidade e a duração do treinamento realizado. Deve-se considerar diversos fatores como a adequação energética, distribuição dos macronutrientes e o balanceamento adequado de vitaminas e minerais [3]. Além disso, a maioria dos fisiculturistas associa o treinamento à suplementação nutricional, ou seja, ingerem uma alimentação geralmente hiperprotéica devido a grande preocupação estética que se resume ao aumento da força e massa muscular [4]. Na prática deste esporte, que é categorizado pelo peso corporal, muitos atletas também costumam reduzir seu consumo energético a fim de diminuir sua massa corporal para, assim, incluírem-se em uma categoria de peso inferior, com objetivo de obter vantagem sobre os outros competidores [3]. Os métodos de perda de peso incluem a restrição de alimentos e bebidas, uso de laxantes e de diuréticos e sessões em saunas [5]. Estes atletas chegam a perder dez quilos de peso antes de começar uma competição e para adquirir novamente o seu peso anterior chegam a dobrar seu consumo calórico diário. Seu desempenho é levado mais em consideração do que a sua própria saúde no momento de decidir qual é o melhor método para a modificação de sua composição corporal [4,5]. Devido ao fato de os hábitos alimentares de fisiculturistas na maioria das vezes serem errôneos, assim como o uso indiscriminado de suplementos por um longo tempo e a prática de exercícios intensos serem potencialmente danosos à saúde, é interessante que se avaliem as características corporais destes indivíduos, pois estes dados podem servir como o primeiro passo de uma avaliação completa do estado de saúde do atleta. Material e métodos Trata-se de um estudo transversal, no qual participaram 13 fisiculturistas, voluntários, de ambos os gêneros, de academias da cidade de São Paulo, com idade entre 21 e 40 anos. Foi aplicada uma ficha de anamnese contendo dados sobre idade, gênero, presença de enfermidades, consumo alimentar e ingestão de suplementos. Também foi aplicado um questionário de conhecimento sobre alimentação e nutrição “Avaliação do conhecimento nutricional do desportista” contendo 8 questões de múltipla escolha em que foram atribuídos valores para as questões respondidas corretamente, somando 10 como pontuação máxima. Foram coletadas as variáveis antropométricas de peso, estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais. Utilizou-se uma balança digital da marca Plenna® (modelo MEA-03184) com precisão de 100 gramas e capacidade de 150 quilos para avaliar a massa corporal; fita métrica com escala em milímetros para aferir a estatura, e para medir as circunferências de braço, de abdômen, de quadril, de punho, de coxa e de panturrilha. As dobras cutâneas biceptal, triceptal, subescapular, suprailíaca, peitoral, abdominal, coxa e panturrilha foram aferidas com o uso de um adipômetro clínico da marca Sanny®. Cada dobra cutânea foi medida três vezes em forma de circuito, sendo considerada como valor final a média entre os três registros. A partir de dados de peso e estatura calculou-se o índice de massa corporal (IMC) que foi classificado segundo a Organização Mundial da Saúde [6]. A porcentagem de gordura foi calculada por Jackson e Pollock [7] para os indivíduos do gênero masculino e por Jackson, Pollock e Ward [8] para os indivíduos do gênero feminino e classificada de acordo com a referência proposta por Wilmore e Costill [9]. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo por meio do documento 047/05 e todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Resultados Foram avaliados 13 fisiculturistas com idade média de 28,23 anos (± 5,15), sendo 84,6% (n = 11) do gênero masculino e 15,4% (n = 2) do gênero feminino. Os dados antropométricos podem ser visualizados detalhadamente na Tabela I. As Tabelas II e III apresentam, respectivamente, resultados para o IMC e percentual de gordura para a amostra observada. Tabela I - Idade e dados antropométricos de fisiculturistas. São Paulo, 2008. Variáveis Idade (anos) Peso (Kg) Gordura Abs. (Kg) Massa Magra (Kg) Estatura (cm) Média 28,23 84,30 5,27 79,00 172,00 DP 5,15 14,20 1,84 13,31 0,08 Mín. 21,00 61,50 2,09 55,58 154,00 Máx. 40,00 113,60 9,15 105,29 184,00 IMC (Kg/m2) CB (cm) CMB (cm) DCT (mm) % Gordura (fem) % Gordura (masc) 28,20 37,60 36,10 4,90 8,50 5,90 2,73 3,25 3,37 1,53 1,60 1,75 24,51 29,00 26,80 2,70 7,36 2,89 33,55 42,00 40,30 7,70 9,62 9,15 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Os indivíduos apresentaram grande variação quanto ao peso corporal (84,30 ± 14,20kg) e idade (28,23 ± 5,15 anos). Não houve grande variação em relação à estatura. Esses dados são semelhantes aos encontrados em estudos anteriores como o de Silva [2], no qual a variação de peso corporal foi de 57,4 kg a 105,8 kg e a idade de 20 a 56 anos. Tabela II - Índice de Massa Corporal de fisiculturistas. São Paulo, 2008. IMC (kg/m2) 18,5 – 24,99 25 – 29,99 30 – 34,99 Classificação Eutrófico Sobrepeso Obesidade I N 1 9 3 % 7,7 69,2 23,1 Tabela III - Porcentagem de gordura (%G) corporal de fisiculturistas. São Paulo, 2008. Homens %G < 5% 5 – 8% > 8% N 4 6 1 % 36,4 54,5 9,1 Mulheres %G < 6% 6 – 12% > 12% N 2 - % 100,0 - Discussão Em relação ao Índice de Massa Corpórea (IMC) [10] a maioria dos culturistas apresentou-se dentro da classificação de sobrepeso, porém esse não é o método mais adequado para se avaliar a massa corpórea destes indivíduos, pois sabe-se que atletas geralmente são classificados como obesos, segundo o IMC, devido a grande proporção de tecido muscular em relação ao tecido adiposo [11,12]. Segundo Wilmore e Costill [9], sugere-se que a porcentagem de gordura corporal para culturistas esteja entre os valores de 5 a 8% para homens e de 6 a 12% para mulheres. Esses valores são semelhantes aos sugeridos também por outros autores, como Pollock e Jackson [13] e Petrosky [14], que são de 4 a 9% para homens e de 8 a 12% para mulheres. Portanto, no presente estudo, os valores de porcentagem de gordura encontrados (Tabela III), em 55% dos homens e 100% das mulheres, são considerados normais; 36% dos homens estão abaixo da média e somente 9% estão acima da média de acordo com Wilmore e Costill [9]. Os resultados médios de porcentagem de gordura para mulheres (8,5% ± 1,60), encontrados no presente estudo, mostraram-se adequados para a modalidade e os encontrados nos homens (5,9% ± 1,75) mostraram-se discretamente inferiores aos encontrados por Silva [2] e outros estudos em culturistas brasileiros, que apresentaram porcentagem média de gordura de 6,9%. Já em estudos internacionais encontram-se variação de 6,8 a 9,9% para homens. A diferença nos métodos de cálculo usados pelos autores constitui um fator de dificuldade para comparações [2,15]. 11 Quanto ao conhecimento nutricional da população estudada, pode-se dizer que é de nível intermediário mediante o resultado obtido com a aplicação da “Avaliação de conhecimento nutricional do desportista” que apresentou média de acertos de 52%. Este é um dado importante para ser levado em consideração, visto que a idéia do que é uma alimentação adequada pode influenciar diretamente os hábitos alimentares dos indivíduos. Conforme observado nesta avaliação, verificou-se que a maioria dos culturistas (86%) considerava o carboidrato mais energético do que os lipídeos. Segundo Sabino, que teve como objetivo compreender a visão de mundo e a organização social dos fisiculturistas das academias do Rio de Janeiro, alimentos muito ricos em carboidratos são considerados indispensáveis para os fisiculturistas, pois como dizem as proteínas associadas aos carboidratos “são fundamentais para fazer crescer o músculo” [16]. Um fato muito importante a ser comentado se refere ao conhecimento dos culturistas quanto à distribuição correta dos macronutrientes, ou seja, carboidratos, proteínas e lipídeos, pois apenas 14% dos indivíduos responderam a questão corretamente e 71% escolheram a alternativa que considera que 15% das calorias ingeridas diariamente devem ser de origem glicídica, 60% de origem protéica e 25% de origem lipídica. Este resultado condiz com o perfil de hábitos alimentares observados em culturistas, no qual a quantidade de proteínas ingeridas diariamente é elevadíssima, chegando até a 64% do valor energético total, conforme citado na literatura [5]. Em estudo realizado por Cabral et al. [3], com a Equipe Olímpica Permanente de Levantamento de Peso do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), observou-se que a ingestão de proteínas atendia às necessidades diárias, sendo de 14,53 ± 3,4% nos indivíduos do gênero masculino e 13,72 ± 2,48 nos indivíduos do gênero feminino [3]. Estes resultados se mostram diferentes dos observados em culturistas talvez devido aos diferentes objetivos de cada modalidade esportiva, na qual os culturistas preocupam-se mais com a forma física enquanto que levantadores de peso treinam unicamente objetivando o aumento da força física. É recomendado que praticantes de atividade física aumentem o consumo de proteínas para atender ao aumento da quantidade de proteína utilizada como fonte de energia pelo organismo durante os exercícios e reparar as lesões nas fibras musculares. Exercícios de força requerem até 1,8 gramas de proteína por quilo de peso corporal, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). Em contrapartida, segundo comentado por Cabral [3], esta quantidade está entre 1,5 a 2,5 g/kg de peso. É necessário consumir adequadamente energia e proteínas, pois o excesso de proteínas poderá, em longo prazo, causar danos à saúde como hipercalciúria, desidratação, aumento de trabalho hepático e renal, entre outros [3,17]. 12 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 De acordo com Cabral [3], a redução do consumo de lipídeos ocorre em modalidades nas quais há controle rígido do peso como os fisiculturistas. A SBME orienta que não se deve ingerir dietas restritas em gorduras por muito tempo, sendo as recomendações de lipídeos para atletas as mesmas dos adultos sedentários, ou seja, 30% do valor calórico total da dieta, com as mesmas proporções de ácidos graxos essenciais, que são 10% de saturados, 10% de poliinsaturados e 10% de monoinsaturados [12]. As vitaminas foram consideradas como fornecedoras de calorias por 57% dos participantes do presente estudo, demonstrando o pouco conhecimento em relação aos micronutrientes e, conseqüentemente, em relação à sua importância. A inadequação do consumo de vitaminas pode levar a deficiências nutricionais resultando em diminuição da performance [18]. Quanto à ingestão de água, os participantes do estudo referiram ingerir de 2 a 5 litros por dia, porém, o turnover de água no organismo varia bastante conforme o clima, a prática de exercício e o gênero do indivíduo, desta forma, para verificar a adequação de hidratação seria preciso uma avaliação mais aprofundada [19]. O uso de suplementos nutricionais foi referido por 71% dos fisiculturistas, sendo a maioria dos suplementos, hiperprotéicos. Segundo a SBME, estudos recomendam que suplementos protéicos devem estar de acordo com a ingestão protéica, pois seu consumo excessivo não promove ganho de massa muscular adicional, nem aumento do desempenho. A suplementação de aminoácidos apresenta um baixo grau de recomendação e, em geral, não deve ser usada a não ser em algumas situações especiais [17]. Conclusão O fisiculturismo apresenta controle dietético muito rígido. Isso, somado ao fato de que o estado nutricional pode estar comprometido em virtude da porcentagem de gordura corporal situar-se no limite inferior recomendado para esses atletas, faz-se necessário um acompanhamento médico e nutricional para evitar agravos à saúde. A nutricionista deve fazer valer seu papel de educadora nutricional sempre que possível, conscientizando não só a população em geral, mas também atletas, que têm necessidades nutricionais diferenciadas. Se o conhecimento nutricional por parte de atletas e praticantes de atividade física for aprimorado, parte dos mitos nos quais acreditam, poderão ser eliminados e a aceitação destes indivíduos às mudanças visando melhorar seus hábitos alimentares será facilitada. Com estas intervenções é possível manter tanto a performance e rendimento esportivo como a saúde. Referências 1. Iriart JAB, Andrade TM. 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Os resultados demonstraram que 28,9% do total de lesões foram em ombro, 23,7% em tornozelo e 22,7% em joelho (χ2o = 22,02, χ2c = 9,49). Também foi observado que no ombro houve prevalência de 71,4% das luxações (χ2o = 22,0, χ2c = 9,49), seguido por tornozelo com 47,8% das entorses (χ2o = 45,06, χ2c = 7,82) e joelho com 42,9% das rupturas ligamentares (χ2o = 22,45, χ2c = 7,82). Concluiu-se que a região do corpo mais acometida por lesão foi o ombro, sendo que a luxação foi a lesão mais comum para essa região e a contusão foi a lesão mais freqüente nos atletas estudados. This study aimed to verify the prevalence of injuries in high performance judo along the Olympic Training Program. A group of 39 athletes participated of the study, 15 to 24 years-old, mean 17.5 yrs. A questionnaire was applied to collect data, including 12 questions: 8 closed, 2 mixed and 2 scales. The results showed that 28.9% of the total of injuries were in the shoulder, 23.7% in the ankle, and 22.7% in the knee (χ2o = 22.02, χ2c = 9.49). It was also observed that in the shoulder there was a prevalence of 71.4% of the dislocations (χ2o = 22.0, χ2c = 9.49), followed by the ankle with 47.8% of sprains (χ2o = 45.06, χ2c = 7.82) and the knee with 42.9% of ligament ruptures (χ2o = 22.45, χ2c = 7.82). In conclusion, the shoulders were the regions more affected by injuries, mostly by dislocation. Moreover the injury by impact trauma (bruise) was the most frequent lesion in the studied athletes. Palavras-chave: artes marciais, traumatismo em atletas, fisioterapia esportiva, lesões no esporte. Key-words: martial arts, traumatism in athletes, sporting physical therapy, lesions in the sport. Endereço para correspondência: Rafael Cusatis Neto, Rua Cruzeiro do Sul, 660, 08770-590 Mogi das Cruzes SP, Tel: (11) 99368624, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução O judô como vários outros esportes competitivos, requer destreza de força, velocidade, resistência, habilidade e agilidade, logo as lesões traumáticas físicas acabam sendo inevitáveis para todos que praticam esses esportes. Essas lesões podem ser intrínsecas, com origem na atividade física do próprio atleta, sendo ocasionadas normalmente pela “síndrome do uso excessivo”. Já as lesões traumáticas extrínsecas ocorrem por quedas ou pancadas de origem no meio externo, sendo que ambas podem ser, de certo modo, evitadas com condicionamento e treinamento apropriados [1]. Ide & Padilha [2] apresentam um tipo de lesão que não está associada a nenhuma técnica especifica, e sim as características do esporte que exigem muito contato corporal, essa lesão é chamada hematoma auricular. Segundo os autores, essa lesão está presente em 40% dos lutadores. Fontel [3] encontrou como principais lesões: escoriações de face; rupturas musculares; entorses; luxação nas articulações acrômio-claviculares, interfalangianas, escápulo-umeral e cotovelo; fraturas de falanges, metatarso, metacarpo, tíbia, fíbula, rádio, ulna, clavícula e costelas. Torres [4] realizou um estudo epidemiológico pela análise do prontuário de 220 lesões, em 19 modalidades esportivas, dentre elas o judô. No geral, a lesão que mais acometeu os atletas foi a muscular, com 54,09% de todas as lesões, as lesões articulares ficaram com 23,63% e ligamentares com 22,27%. Os cinco esportes com mais casos de lesão em ordem decrescente foram: basquetebol, com 55 atendimentos, ou seja, 29,25%, em seguida o futebol com 43 atendimentos, 22,91% do total, o handball com 25 atendimentos, 13,29% do total, o atletismo com 14 atendimentos, 7,49% do total e o judô com 7 atendimentos e 3,72% do total. As lesões mais freqüentes no judô não foram citadas, pois esse esporte não se classificou entre os três com maior acometimento de lesão. Carazzato J, Campos, Carazzato S [5] realizaram um estudo de incidência de lesões traumáticas. Foram analisados questionários de 6.955 atendimentos feitos na área de traumatologia esportiva, e nesse estudo o judô foi responsável pelo menor número de atendimentos, sendo que a região mais afetada foi o joelho principalmente com lesões meniscais e ligamentares. Castropil [6] encontrou a entorse de joelho como o mais freqüente em esportes de contato, sendo que as maiores complicações foram às lesões de ligamento colateral medial, menisco medial e ligamento cruzado anterior. Baffa & Barros Júnior [7] verificaram a predominância de lesões no joelho, com 27 lesões (37,5%), seguida do cotovelo, dedos e mão com 12 lesões cada um (16,6%), o ombro apresentou 11 lesões (15,3%), dedos do pé, com 5 lesões (7%), punho e tornozelo, com 2 lesões cada (2,8%) e coluna com 1 lesão (1,4%). A lesão mais comum foi a entorse, com 36 ocorrências (45%), tendinites, com 13 ocorrências (17%), fraturas e luxações obtiveram o mesmo valor, com 9 15 ocorrências cada (12%), contusões, com 8 ocorrências (10%) lesões musculares, com 3 ocorrências (4%). Santos, Duarte, Galli [8] realizaram um estudo analisando algumas variáveis físicas como fator relevante para a ocorrência de lesões em 42 judocas. As lesões encontradas foram: 16 judocas (38,1%) com entorses/torsões (joelho, tornozelo e dedos); 12 judocas (28,6%) com luxações (ombro e joelho); 8 judocas (19%) com pancadas (choque com joelho, perna e cabeça) e 6 judocas (14,3%) com distensões. Carazzato et al. [9] realizaram um estudo de incidência de lesões e atendimentos nos jogos Pan-Americanos de Mar Del Plata, observaram que, entre as 425 lesões em atletas das 24 modalidades esportivas relacionadas, o judô foi o quarto com maior número de lesões. No atletismo foram 42 lesões, na natação 39, no voleibol 38 e no judô 34, sendo que 27 eram lesões exclusivas da área de traumatologia. Carazzato, Cabrita, Castropil [10] encontraram o maior número de lesões nas categorias superiores do judô, podendo ser conseqüência do maior esforço realizado para alcançar resultados melhores. A região mais acometida foi o ombro, com 72,13%; seguida pelo joelho, com 63,59%; a mão, com 62,02%; o pé, com 53,49%; tornezelo, com 49,62%; lesões auriculares, com 46,51% (as mais comuns) e cotovelo, com 41,87%. As lesões articulares foram as mais freqüentes. Ejnisman et al. [11] encontraram oito casos de ruptura do músculo peitoral maior em atletas do sexo masculino, todos de nível competitivo. Dos oito atletas, dois eram praticantes de judô e se lesionaram na competição. Cortez [12] cita a articulação acrômio-clavicular como sede de lesões em atletas de judô, ocorrendo nos mecanismos traumáticos diretos ou indiretos, ou seja, ocasionada pelo choque direto sobre o ombro ou pelo choque indireto que atinge o braço e abala os ligamentos do ombro. Tão importante como a lesão propriamente dita é a base científica para o reconhecimento das lesões mais incidentes nas modalidades esportivas, para que sejam corretamente aplicadas as medidas de controle, tratamento e prevenção [13]. Diante do exposto e levando-se em conta o alto índice de trauma nos esportes de contato, este estudo se propôs verificar a prevalência de lesões no judô de alto rendimento, identificando a lesão mais comum, bem como o local mais acometido por lesão. Além disso, os resultados obtidos poderão contribuir com trabalhos preventivos já focados nas necessidades reais deste tipo de atleta. Material e métodos Participaram deste estudo 39 voluntários, todos atletas praticantes de judô de alto rendimento do Programa Olímpico Projeto Futuro do Estado de São Paulo. Dos atletas selecionados 33,33% eram do gênero feminino e 66,66% do gênero masculino, com idade média de 17,5 anos, variando entre 15 e 24 anos, com amplitude de 9 anos, média igual a 16 anos e mediana de 17 anos. Todos os sujeitos da pesquisa 16 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 e os responsáveis por esses foram esclarecidos quanto à finalidade da pesquisa e assinaram um termo de consentimento informado, conforme resolução CNS 196/96. Foi aplicado um questionário formulado pelos autores com o intuito de verificar a prevalência de lesões em atletas de judô de alto rendimento, o mesmo contendo 12 questões, sendo 8 fechadas, 2 mistas e 2 escalas. Esses foram respondidos e recolhidos no mesmo dia e pela mesma pessoa, após a leitura e explicações de cada questão. Os dados foram processados quantitativamente e qualitativamente por meio de freqüência e porcentagem, sendo apoiado em teste interferêncial não paramétrico, face à natureza dos dados. Foi aplicado o teste do qui-quadrado para verificar a homogeneidade entre as respostas dos judocas, sempre partindo Ho de que não existia diferença significante entre as variáveis em estudo com Ha de que poderiam ser diferentes. Para garantir a confiabilidade e o saber geral, o nível de significância ou margem de erro foi estipulado em p < 0,05, aceito na área. Resultados Os resultados obtidos nos questionários demonstraram que 15,4% dos judocas praticavam judô há menos de 5 anos; 43,6% praticavam judô de 5 a 10 anos e 41,0% praticavam judô há mais de 10 anos. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 5,69, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05, portanto não houve diferença significante na concentração de 5 a 10 anos. Para o tempo de treino semanal, encontrou-se que 2,6% dos atletas treinam 4 vezes por semana e 97,4% treinam 5 ou mais vezes por semana, portanto houve significância na concentração de treinos em 5 ou mais vezes por semana. Quanto à carga horária diária de treino, observou-se que 71,8% dos judocas treinavam de 3 a 4 horas por dia e 23,1% dos judocas treinavam mais de 4 horas por dia. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 5,68, com χ2c de 5,99, ngl igual a 1 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de 3 a 4 horas de treino diário. Com referência ao nível de competição, 35,9% dos judocas eram de nível estadual, 35,9% de nível nacional e 28,2% de nível internacional. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 0,44, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05, portanto não houve diferença significante entre o nível de competição dos atletas. Os resultados evidenciaram que 79,9% dos atletas realizavam aquecimento/ alongamento antes dos treinos, 5,1% realizavam aquecimento/ alongamento depois dos treinos, 7,7% realizavam antes e depois dos treinos e 10,3 nunca realizavam alongamento/ aquecimento. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o 144,31 , com o χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de atletas que realizavam aquecimento e/ou alongamento antes dos treinos e competições. Quanto à freqüência de lesões em treinamento, observou-se que 7,7% dos judocas já se lesionaram pelo menos uma vez, 30,8% dos judocas se lesionaram 2 vezes, 20,5% se lesionaram 3 vezes, 15,4% se lesionaram 4 vezes e 25,6% se lesionaram em treinamento mais de 4 vezes. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 16,04, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de judocas que se lesionaram pelo menos 2 vezes em treinamento. Quanto à freqüência de lesões em competição, observou-se que 38,5% dos judocas se lesionaram pelo menos uma vez em competição, 20,5% se lesionaram 2 vezes, 7,7% se lesionaram 3 vezes, 7,7% se lesionaram 4 vezes, 5,1% se lesionaram mais de 4 vezes e 20,5% dos judocas nunca se lesionaram em competição. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 47,93, com χ2c de 11,07, ngl igual a 5 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de judocas que se lesionaram uma vez em competição. Tabela I - Prevalência de contusão. Ombro Joelho Cotovelo Tornozelo Virilha Coxa Total F 7 9 3 3 2 1 25 % 28,0 36,0 12,0 12,0 8,0 4,0* 100 * Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência. Tabela II - Prevalência de distensão. Ombro Joelho Cotovelo Tornozelo Virilha Coxa Total F 1 2 2 2 3 2 12 % 8,3 16,7 16,7 16,7 25,0 16,7 100 Na Tabela I, quanto à prevalência de contusões nos judocas, podemos observar que 28,0% das contusões encontradas foram em ombro, 36,0% em joelho, 12,0% em cotovelo, 12,0% em tornozelo e 8,0% em quadril. O teste do quiquadrado resultou em χ2o de 30,67, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 para p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de contusões em joelho. Quanto à prevalência de distensões nos judocas, os resultados apresentados na tabela II demonstram que 8,3% das distensões foram em ombro, 16,7% em joelho, 16,7% em cotovelo, 16,7% em tornozelo, 25,0% em virilha e 16,7% em coxa. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 8,33, com χ2c de 11,07, ngl igual a 5 e p ≤ 0,05, portanto não houve diferença significante na concentração de distensão em virilha. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Tabela III - Prevalência de fratura. Ombro Cotovelo Tornozelo Dedos (mão) Clavícula Total F 3 2 1 2 1 9 % 33,3 22,2 11,1 22,2 11,1 100 Tabela IV - Prevalência de luxação. Ombro Joelho Tornozelo Dedos (pé) Total F 15 1 4 1 21 % 71,4 4,8* 19,0 4,8* 100 * Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência. A Tabela III, quanto à prevalência de fraturas em judocas, demonstra que 33,3% das fraturas ocorreram em ombro, 22,2% em cotovelo, 11,1% em tornozelo, 22,2% nos dedos da mão e 11,1% na clavícula. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 17,28, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de fraturas em ombro. Observa-se, na tabela IV, quanto à prevalência de luxações em judocas, que 71,4% das luxações foram em ombro e 19,0% em tornozelo. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 413,30, com χ2c de 3,84, ngl igual a 1 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de luxação em ombro. Tabela V - Prevalência de entorse. Ombro Joelho Cotovelo Tornozelo Dedos (mão) Total F 2 7 1 11 2 23 % 8,7 30,4 4,3* 47,8 8,7 100 17 χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de entorse em tornozelo. Na Tabela VI, quanto à prevalência de rupturas em judocas, nota-se que 42,9% das rupturas foram em joelho, 28,6% em tornozelo, 14,3% nos dedos da mão e 14,3% na coxa. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 22,45, com χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de rupturas em joelho. Quanto ao tipo de tratamento mais utilizado, os resultados demonstraram que 52,3% dos judocas utilizaram a fisioterapia, 38,5% utilizaram medicamentos e 7,7% foram submetidos à cirurgia. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 20,66, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significativa na concentração de judocas que utilizaram fisioterapia. Em relação ao tempo de afastamento decorrente de lesão, 64,1% dos judocas permaneceram afastados por até 2 meses, 17,9% permaneceram afastados de 2 a 4 meses, 10,3% permaneceram afastados de 4 a 6 meses e 7,7% por mais de 6 meses. O teste do Qui-quadrado resultou em χ2o de 83,83, com χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de judocas que permaneceram afastados por até 2 meses. Para a região do corpo mais acometida por lesão, 28,9% das lesões foram em ombro, 22,7% em joelho, 8,2% em cotovelo, 23,7% em tornozelo e 6,2% nos dedos da mão. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 22,02, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de lesões em ombro. Em relação à média das respostas obtidas quanto à importância do tratamento fisioterapêutico na reabilitação dos judocas, esta foi de 8,77, sendo que 0 representa nada importante e 10 significa extremamente importante. Quanto ao rendimento dos mesmos na volta aos treinos, depois do processo de reabilitação, a média obtida foi de 6,08, sendo que 0 significa um rendimento péssimo comparado ao período anterior à lesão, 5 significa um rendimento igual ao anterior e 10 significa um rendimento excelente. Discussão * Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência. Tabela VI - Prevalência de luxação. Joelho Tornozelo Dedos (mão) Coxa Total F 3 2 1 1 7 % 42,9 28,6 14,3 14,3 100,0 Na Tabela V, quanto à prevalência de entorse em judocas, podemos observar que 8,7% das entorses foram em ombro, 30,4% em joelho, 47,8% em tornozelo e 8,7% nos dedos da mão. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 45,06, com O judô, assim como outros esportes de contato, apresentam um elevado número de lesões entre praticantes de vários níveis, como foi observado por Carazzato et al. [9], durante atendimentos nos Jogos Pan-Americanos, relacionando o número de atletas com o número de atendimentos o judô foi o esporte que mais provocou lesão. A literatura relata um fenômeno caracterizado pelo excesso de treinamento chamado de overtraining, esse apresenta entre seus vários sintomas o aumento da incidência de lesões [14]. Além disso, o overtraining é responsável pela diminuição do desempenho levando a erros de execução nas técnicas de ataque e defesa, facilitando a ocorrência de lesões durante a luta [15]. 18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 O presente estudo não relacionou a lesão mais freqüente nos judocas baseado no nível de competição, porém Baffa [7] e Carazzato, Cabrita, Castropil [10] fizeram essa relação em seus estudos e verificaram que quanto maior o nível de competição, maior é o número de lesões. Essa relação pode ocorrer devido a maior intensidade de treinamentos para manter o nível [10]. Amatuzzi & Carazzato [16] verificaram que as lesões causadas pelo judô foram mais comuns em membros inferiores, representando 70,5% do total das lesões encontradas, sendo que 54,9% foram somente em joelho, seguido por 5,8% na coxa, 5,8% no tornozelo, 2,0% no pé e 2,0% na perna. Já Pieter [17] e Yard et al. [18] em seus artigos sobre os ferimentos mais comuns em artes marciais verificaram a prevalência de lesões em membros superiores. Nesse trabalho, se considerarmos o total de lesões somente em membros inferiores teremos equivalência quanto à sua distribuição em membro superior com 44,33% das lesões, membro inferior com 50,52% e tronco com 5,15% das lesões, assim como no trabalho de Carazzato, Cabrita, Catropil [10] que encontraram equivalência na distribuição das lesões. A prevalência de lesões no judô foi estudada por Carazzato, Campos, Carazzato [5] onde as lesões somente em joelho representaram 54,91% do total das lesões, seguido por 21,57% em coluna. Outra pesquisa realizada, dessa vez na população de atletas de jiu-jitsu, demonstrou que a articulação mais acometida por lesões foi a do joelho com 37,7% das lesões, seguida por cotovelo e dedos da mão com 16,6% e ombro com 15,3% das lesões. Esses trabalhos vão de encontro com os resultados obtidos, visto que foram observados 28,9% de lesões em ombro, seguida por 23,7% em tornozelo, 22,7% em joelho, seguido por porcentagens menores respectivamente em cotovelo, dedos da mão, virilha, coxa, quadril, dedos do pé e clavícula. Considerando o tipo de lesão mais freqüente encontramos 25 contusões, 23 entorses, 21 luxações, 12 distensões, 9 fraturas e 7 rupturas (tendões e ligamentos) em um total de 97 lesões relatadas pelos 39 atletas que fizeram parte da pesquisa. Quando relacionamos a lesão mais freqüente de acordo com a região corpórea encontramos no ombro a prevalência de luxação (71,4%), no joelho prevalência de rupturas (42,9%), no cotovelo prevalência de fraturas (22,2%), no tornozelo prevalência de entorse (47,8%), nos dedos da mão prevalência de fraturas (22,2%), na coxa prevalência de distensão (16,7%), em outras regiões só foi relatado um tipo de lesão, sendo virilha distensões, no quadril contusões, nos dedos do pé luxações e na clavícula fraturas. O judô como esporte de contato direto usa movimentos em cadeia fechada. Segundo Carazzato, Cabrita, Castropil [10] acaba ocorrendo a preservação do aparelho motor principal e da alavanca principal que são respectivamente músculos e ossos, e sobrecarga dos locais onde ocorre o movimento, que são as articulações. O retorno ao esporte após o tratamento obteve a média de 6,08, sendo que 5,00 representa um retorno com rendimen- to igual ao anterior à lesão, logo podemos considerar que o rendimento foi bem próximo do considerado anteriormente. Este resultado concorda com Baffa & Barros Júnior [7] que verificaram um rendimento igual ao anterior à lesão em 51,0% dos atletas pesquisados. O conhecimento preciso das principais lesões que acometem judocas de vários níveis é fundamental para estimular o desenvolvimento do trabalho preventivo e suas vantagens, não só para evitar lesões, o que nem sempre é possível, mais para melhorar o rendimento do atleta no seu aspecto geral [19]. Conclusão Em relação à prevalência de lesões, os resultados demonstraram que a região mais acometida por lesão foi o ombro com maior índice de luxação, sendo que de todas as lesões a mais comum foi a contusão. Concluiu-se também que os judocas sofreram mais lesões em treinamento do que em competição, mantendo-se afastados dos treinos por até 2 meses, sendo o tratamento mais utilizado a fisioterapia. Por meio desse levantamento confirma-se a necessidade de trabalhos voltados à prevenção das lesões mais comuns para esse tipo de esporte, visando à melhora do rendimento desses atletas. Referências 1. Salter RB. Lesões músculoesqueléticas. Distúrbios e lesões do sistema músculo-esquelético. 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2001. p.662-65. 2. Ide BN, Padilha DA. Possíveis lesões decorrentes da aplicação das técnicas do jiu-jitsu desportivo [online]. [citado 2006 Set 07]. Disponível em: URL: http://www.efdeportes.com. 3. Fontel E. As lesões mais comuns em competições de judô [online]; 1998; [citado 2006 Set 11]. Disponível em URL: http:// judoesporte.com/arquivos/lesoesmaiscomuns.html. 4. Torres SF. Perfil epidemiológico de lesões no esporte [tese]. Florianópolis: UFSC; 2004. 5. 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Foram avaliados 10 atletas do sexo masculino que atuam na categoria mini, com média de idade entre 10 e 11 anos. O teste realizado para medir a impulsão dos jogadores foi o Salto Vertical Máximo (SVM). A avaliação consistiu-se de 4 etapas: 1) Aquecimento geral inespecífico (corrida do tipo “trote”) por 5 minutos; 2) Realização do SVM para o cálculo da média; 3) Realização do protocolo de alongamento do tipo estático dos seguintes grupos musculares: ísquio-tibiais, quadríceps, glúteos, tríceps sural, adutores e abdutores do quadril; 4) Realização de uma nova bateria de SVM. Concluímos que houve uma diferença estatisticamente de 2,0 cm para menos após o alongamento, sendo este responsável por um efeito inibitório sobre a contração dos grupos musculares do MMII e OTG´s. The present research has as objective of study the analysis of the vertical jump in basketball players after static stretching. Ten male athletes, average age between 10 and 11 years old, were evaluated. The Highest Vertical Jump (HVJ) test was performed to measure players’ impulse. The evaluation consisted in four stages: 1) run at a slow trot for five minutes to warm up; 2) HVJ test to estimate average of jump impulse; 3) stretching of the following muscles group: ischiotibial, quadriceps, gluteus, triceps sural, hip aductors and abductors; 4) HVJ was applied again. As a result, this study showed a statistical difference of less than two centimeters of HVJ after stretching, which causes an inhibitory effect of the inferior limbs and Golgi Tendon Organ (GTO). Key-words: vertical jump, static stretch, impulse, flexibility. Palavras-chave: salto vertical, alongamento estático, impulsão, flexibilidade. Endereço para correspondência: Juliano Angeli Romani, E-mail: [email protected], [email protected], cmrsilva@gmail. com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução O mover-se está intimamente ligado à vida e as atividades realizadas no dia a dia, sendo a flexibilidade um de seus aspectos, tendo uma grande importância nas diversas modalidades esportivas e na reabilitação [1]. O basquetebol se tornou um dos esportes de equipe mais populares nos Estados Unidos, e no mundo todo. O desenvolvimento de habilidades específicas como saltos, corridas e movimentos em pivô se faz necessário. Como modalidade competitiva o basquetebol evoluiu para um esporte que desenvolve muito contato e movimentos de alta velocidade, o que vem contribuindo para um aumento significativo de lesões nos últimos anos [2]. Nas décadas de 60 e 70 já existia grande interesse em entender como ocorria o processo de adaptação das fibras musculares, identificando que o músculo aumentava seu comprimento perante a adição de sarcômeros ao longo das fibras musculares [3,4]. A conexão das pontes cruzadas dos filamentos de actina e miosina no sarcômero é fundamental para determinar a força que o músculo desenvolve durante a contração [5]. Gordon et al. [6] verificaram em um estudo que a força desenvolvida pelo músculo é dependente do seu comprimento e da sua interação dos filamentos de actina e miosina. Quando ocorre o encurtamento muscular e de sarcômeros, os filamentos de actina e miosina apresentam uma sobreposição exagerada comprometendo a tensão ativa do músculo. O contrário também é verdadeiro, se o sarcômero for excessivamente alongado, os miofilamentos de miosina pouco se conectam com os da actina causando um déficit na tensão ativa realizada pelo músculo [7]. É importante ressaltar que este não é o único motivo pelo qual o músculo não consegue desenvolver sua força contrátil máxima, e que a integridade do Sistema Nervoso Central (SNC) córtex motor e Sistema Nervoso Periférico (SNP) unidades motoras também são influenciados por diversos fatores como tipo e diâmetro da fibra muscular, quantidade de recrutamento de unidades motoras [8]. A capacidade de sobreposição entre os filamentos de actina e miosina determinam o grau de tensão mecânica que o músculo pode desenvolver ativamente [9]. A flexibilidade pode ser definida de forma operacional como “uma qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física eletiva, sem que ocorram lesões anatomopatológicas” [1:7]. Quanto maior for o comprimento muscular, maior será a capacidade de desenvolver tensão, proporcionando um melhor rendimento da capacidade contrátil do músculo [10]. Estudos realizados em músculos isolados de rã comprovam que o aumento das excursões de comprimento muscular é necessário para que o músculo consiga desenvolver o máximo de energia mecânica [11]. 21 Cuillo et al. [12] demonstraram em seu estudo que, tanto em humanos quanto em anfíbios, o músculo desenvolve um maior trabalho quando a contração concêntrica precede um alongamento em forma de contração excêntrica, do que após uma contração isométrica. Em estudo realizado com idosos, Feland et al. [13] concluíram que os alongamentos realizados por 15 a 30 segundos repetidos quatro vezes em cada sessão, cinco vezes por semana, por seis semanas produziram um aumento de amplitude significativa em relação ao grupo controle, porém os que alongaram por 60 segundos obtiveram uma maior amplitude articular. Kisner et al. [14] afirmam que os ganhos obtidos com alongamentos de curta duração são transitórios e atribuídos a uma folga temporária entre as actinas e miosinas nos sarcômeros, enquanto que os alongamentos que possuíam duração de 20 minutos ou mais, teriam ganhos mais duradouros. Em relação a alterações plásticas do sistema musculoesquelético, sabe-se que os alongamentos aplicados em uma proporção de 20 a 30% de sua amplitude fisiológica continuam a se manifestar de forma estrutural mesmo após o relaxamento muscular, sendo, portanto irreversíveis [15]. Considerando o exposto anteriormente, este trabalho tem por objetivo avaliar a impulsão reproduzida em atletas de basquetebol após uma preparação da flexibilidade através da aplicação do alongamento muscular do tipo estático. Material e métodos Participaram deste estudo 10 atletas de basquetebol do sexo masculino com idades entre 10 e 11 anos, que foram selecionados e tiveram a participação voluntária. Antes da coleta de dados os indivíduos foram esclarecidos acerca dos objetivos e da metodologia a ser utilizada. Teste SVM: O atleta mergulhava a ponta dos dedos da mão em talco, tomava uma distância equivalente a uma passada do banner que estava adaptado a uma parede e realizava o movimento de salto assim que fosse solicitado. Ao saltar na máxima amplitude o jogador batia com a mão sobre o banner deixando uma marca, a qual era visualizada e anotada pelo pesquisador. O presente estudo envolveu quatro etapas: na primeira etapa os atletas realizaram um aquecimento geral inespecífico (corrida tipo trote) com duração de 5 minutos; na segunda etapa os jogadores realizaram o teste Salto Vertical Máximo (SVM) com três repetições, e a média foi calculada; feito isto os voluntários foram submetidos a um protocolo de alongamento ativo do tipo estático que consistia de três séries com duração de 20 segundos cada, dos respectivos grupos musculares: quadríceps, ísquio-tibiais, tríceps sural, glúteos, adutores e abdutores do quadril. O alongamento foi executado com o mínimo de compensações possíveis, com auxílio de um cronômetro para que o tempo exato de duração e a sua eficácia fossem garantidos. 22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Após o alongamento, por fim os atletas realizaram uma nova bateria de SVM assim como na primeira etapa. A altura atingida foi expressa em cm, através do auxílio de um banner que foi adaptado a uma parede, onde o indivíduo deixava sua marca ao realizar o salto. Antes da realização do salto o atleta mergulhava os dedos em talco que ajudava o examinador a visualizar no banner a altura atingida pelo atleta. Após cada atleta marcar a altura atingida, o examinador apagava a marca e assim sucessivamente até o último atleta realizar o salto para que não houvesse erro na marcação de cada atleta. Os resultados foram analisados estatisticamente pela aplicação do teste t Student para amostra pareada. A realização deste experimento tem como objetivo analisar a aplicação do alongamento em MMII como preparação da elasticidade, em relação ao desenvolvimento do salto vertical, verificando se há um ganho significativo na altura atingida pelos atletas de basquetebol. Resultados Considerando as condições experimentais adotadas por este estudo, o valor médio obtido para a impulsão vertical pré-alongamento foi de 266,44 ± 34,34 cm com coeficiente de variação de 13%. O valor obtido, após a aplicação do protocolo de alongamento, foi de 264,44 ± 34,39 cm com coeficiente de variação de 13%. A diferença pré e pós alongamento foi 2,0 cm com p = 0,021 no valor médio da impulsão vertical máxima após a intervenção proposta neste trabalho. Estes dados podem ser visualizados na Figura 1. Figura 1 - Análise do salto vertical expressa em cm antes e após intervenção do alongamento pelo protocolo de 3 séries com 20 segundos de duração para os grupos musculares descritos anteriormente no estudo. peutas, preparadores físicos recomendam o alongamento tanto para prevenir lesões como para promover o aumento da performance. Uma revisão recente realizada por Herbert et al. [16] concluiu que o alongamento antes ou depois da atividade física não previne a dor muscular ou a lesão muscular e que não há evidências de aumento de performance do atleta. Estudos foram realizados relacionando o aumento da flexibilidade e a diminuição da incidência de lesões, Knapik et al. [17] e Van Mechellen et al. [18] concluíram que o alongamento antes da atividade física possa melhorar a performance para alguns esportes que necessitam da flexibilidade como ginástica ou natação, porém para outros esportes pode diminuir o rendimento do atleta, sendo que o aumento da flexibilidade pode diminuir a força de contração muscular num período de até uma hora. Existem diversos tipos de alongamento, passivo, estático, dinâmico, facilitação neuro-proprioceptiva, balístico e isométrico. Embora o alongamento estático seja o tipo usado com maior freqüência, cada uma destas técnicas tem a sua importância e recomendação. Em nosso trabalho os atletas praticaram o alongamento de forma ativa e do tipo estático, com uma repetição para cada grupo muscular já citado na metodologia. Avela et al. [19] investigaram o efeito do alongamento passivo do músculo tríceps sural, e, após uma hora de alongamento, relataram uma queda de 23% da contração voluntária máxima, e de 43,8% no potencial de ação muscular, sugerindo a redução do drive excitatório produzido pelo motoneurônio-alfa. Em nosso trabalho houve uma redução em média de 2,0 centímetros no salto vertical máximo produzido pelo atleta, sugerindo uma inibição do drive excitatório do motoneurônio-alfa, e também o relaxamento muscular momentâneo produzido pelo Órgão Tendinoso de Golgi (OTG), pois o tempo entre o alongamento e o salto foi menor que 5 minutos. Em contraproposta Wilson et al. [20] concluíram que houve um aumento da performance no salto vertical após o treinamento de 8 semanas de flexibilidade, 5,4% no Leg Press (movimento do rebote) e 4,5% na contração concêntrica pura, sugerindo que este ganho de performance foi devido a capacidade de armazenar e reproduzir a energia elástica do músculo durante o movimento de rebote. Conclusão Discussão O alongamento antes da realização da atividade física é uma prática comum em todos os níveis de esportes seja ele competitivo ou profissional. Atletas, treinadores, fisiotera- Concluímos com este trabalho que a flexibilidade é uma propriedade intrínseca dos tecidos moles que determinam o arco de movimento máximo sem que ocorra lesão ou ultrapasse o limite da plasticidade de um ou grupo muscular ou articular. O alongamento diminuiu em média 2,0 cm durante o salto vertical, sugerindo uma diminuição da contração volun- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 tária máxima concêntrica e uma pequena inibição muscular promovida pelo OTG (efeito transitório). Sabemos que para o músculo desenvolver sua força contrátil máxima é importante que os SNC e SNP estejam íntegros e trabalhando de forma sinérgica. Outros fatores como tipo, diâmetro da fibra, quantidade de recrutamento de unidades motoras também podem influenciar na força muscular máxima. Porém estudos demonstram a importância do alongamento e a sua eficácia em promover o aumento da ADM (braço de alavanca), contudo, é fundamental para prevenir lesões por sobrecarga, e conseqüentemente promover um maior rendimento ao atleta Estudos mais detalhados sobre o alongamento e melhora da performance do atleta se faz necessário, e sugerimos também a implantação de um programa de flexibilidade contínuo para atletas no período de preparação (trabalho de base) analisando o ganho de ADM e flexibilidade. Referências 1. Araújo CGS. Body flexibility profile and clustering among male and female elite athletes. Med Sci Sports and Exerc 1999;31(suppl5):115. 2. Safran MR, Mckeag DB, Van Camp SP. Manual de Medicina Esportiva. São Paulo: Manole; 2002. p. 676-02. 3. Goldspink G. Sarcomere length during post natal growth of mammalian muscle fibers. J Cell Sci 1968;3:539-48. 4. Williams PE, Goldspink G. Longitudinal growth of striated muscle fibres. J Cell Sci 1971;9:751-67. 5. Mouncastle VB. Fisiologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1982. 6. Gordon AM, Huxley AF, Julian FJ. The variation in isometric tension with sarcomere length in vertebrate muscle fibers. J Physiol 1996;184:170-92. 7. Durigon OFS. Stretching muscle. Part II - mechanical interactions. Rev Fisioter Univ São Paulo 1995;2(2):72-8. 23 8. Peter MM. Biomecânica do esporte e exercício. Porto Alegre: Artmed; 2002. p.236-76. 9. Mattew PBC. Muscle spindles: their messages and their fusimotor supply. In: Brooks, VB. Handbook of physiology. Bethesda: American Physiological Society; 1981. 10. Takarada Y, Iwamoto H, Sugi H, Hirano Y, Ishii N. Stretch induced enhancement of mechanical work production in long frog single fibers and human muscle. J Appl Physiol 1997;83(5):1741-48. 11. Cavagna G, Citterio G, Jacini P. Effects of speed and extend of stretching on the elastic properties of active frog muscle. J Exp Biol 1981;91:131-43. 12. Cuillo JV, Zarins B. 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J Strength Cond Res 1994;8(4):235-42. 24 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Artigo original Descrição entre alterações posturais e lesões osteomioarticulares em jogadores de futsal Description of postural changes and osteomyoarticular injuries in futsal players Alisson Guimbala dos Santos Araujo*, Cintia Seefeld**, Juliana Cardoso Alves** *Supervisor de Estágio do curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala, Especialista em Ortopedia e Traumatologia, Mestre em Ciências do Movimento Humano, **Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala, da Associação Catarinense de Ensino Resumo Abstract O Futsal é considerado um esporte em ascensão, onde os atletas sofrem com o excesso de jogos e treinos, aumentando a prédisposição às lesões. O objetivo foi descrever as alterações posturais e quais as lesões osteomioarticulares foram sofridas pelos jogadores durante a Liga Nacional de Futsal. Foram avaliados 17 atletas com média de idade 27 anos (± 6,21), sendo o Grupo A (GA) 11 atletas com lesão e o Grupo B (GB) sem lesão, as lesões foram avaliadas através do prontuário fisioterapêutico e a avaliação postural, por um protocolo elaborado pelos pesquisadores sendo baseado em Kendall et al. A estatística utilizada foi do tipo descritiva-quantitativa. Os resultados mostraram que de acordo com a classificação utilizada, as lesões mais encontradas foram as distensões musculares (50%) e as tendinites (22,2%). As alterações posturais mais encontradas foram cabeça protusa, hiperlordose lombar, entre outras. Não se pode afirmar que ocorreram diferenças entre as alterações posturais encontradas nos grupos lesionados e não lesionados, em todos os segmentos analisados, sendo que os do grupo B (não lesionado) estariam predispostos também a lesões osteomioarticulares, devido às constantes sobrecargas nas estruturas musculo-esqueléticas sofridas durante o desporto. Portanto, conclui-se que existe relação entre alterações posturais e lesões dos atletas. The Futsal is considered a sport on rise, where the athletes are suffering with the excess of games and drills, increasing the risk of injuries. The objective was to describe the postural changes and what osteomyoarticular injuries were suffered by players during the Futsal National League. Were evaluated 17 athletes 27 years old (± 6.21), with in the Group A (GA) 11 athletes with injury and Group B (GB) without injury. The lesions were evaluated by physiotherapeutic records and postural evaluation by a protocol developed by the researchers based on Kendall et al. The statistic used was descriptive-quantitative. The results showed that in accordance with the classification used, the most frequent lesions were: muscle distension (50%) and tendinitis (22.2%). The most frequent postural changes were head protrusion, lumbar hyperlordosis, among others. It cannot be said that there were differences between the postural changes found in the injured and non injured groups in all segments analyzed. The group B (not injured) are also predisposed to osteomyoarticular injury, due to constant overload on the muscle-skeletal structure during the sport. Therefore, it is concluded that exists a relationship between postural changes and injuries in these athletes. Key words: futsal, injuries, postural changes. Palavras chaves: futsal, lesões, alterações posturais. Endereço para correspondência: Cintia Seefeld, Rua Euzébio de Queiróz, 258, 89203-100 Joinville SC, Tel: (47) 3801-4616, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução Na cidade de Montevidéu (Uruguai) foi relatado na década de 30 o surgimento do futsal [1], sendo um dos esportes em ascensão mundial, atraindo cada vez mais adeptos [2]. No Brasil é um dos mais difundidos, jogado por mais de 12 milhões de brasileiros, segundo a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) [3]. As realizações de inúmeras ações motoras, com e sem a posse de bola são características do perfil motor do jogador de futsal [4]. As atividades funcionais incluem aceleração, desaceleração, saltos, giros, viradas, e chutes, devido a essas características do jogo, pode ser esperado um número vasto de lesões em seus praticantes [5]. Diferentes fatores que predispõe a ocorrência de lesões são observados na prática desportiva, em especial no futsal. Alterações no quadril, joelho, tornozelo e pé estão ligados aos fatores intrínsecos. Já condições do piso, iluminação da quadra e tipo de calçado utilizado pelos atletas estão relacionados a fatores extrínsecos [6]. As lesões ocorrem pela exaustão com que os atletas trabalham perto dos seus limites máximos, levando assim a uma grande exigência física predispondo às lesões [7], sendo uma das maiores preocupações para os atletas, devido ao fato de a competitividade exigir o retorno ao esporte o mais rápido possível [8]. O fortalecimento específico, exigido nos treinamentos, busca maior potência muscular, resistência aos exercícios bem como equilíbrio entre os grupos musculares agonistas e antagonistas durante o movimento. Mas, para que tudo isso seja alcançado é importante à intensa e freqüente supervisão e administração na intensidade e momentos mais apropriados ao atleta [9]. As alterações posturais podem ser causadas devido o desequilíbrio entre a musculatura agonista e antagonista, consequentemente isso ocorre pela carga de treinamento intenso e repetitivo causando hipertrofia e diminuição da flexibilidade. Lesões decorrentes do superuso, como microtraumas devidos ao atrito contínuo entre duas ou mais estruturas, levam a quadros de tendinites, bursites entre outras, podendo estar associadas ao excesso de treinamento [2]. Por isso, a avaliação postural é bastante usada para prevenir e, futuramente, corrigir possíveis alterações posturais existentes [10]. Um bom equilíbrio postural também leva o individuo a ter boa saúde, um bom desempenho músculo-articular e ainda uma melhor eficiência nos exercícios. Em posição ortostática, o individuo deve apresentar uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga para conduzir a eficiência máxima no seu corpo levando assim a uma postura adequada [11]. A importância que reside nas anomalias posturais representa as alterações posturais que podem ser de ordem congênita ou adquirida como, por exemplo, por doenças, hábitos, fraqueza muscular entre outras [12]. As adaptações com pouco esforço que os músculos antigravitacionais possuem características que atuam sobre a manutenção da postura corporal [13]. 25 Diante disso, o objetivo deste estudo foi descrever as alterações posturais e as lesões osteomioarticulares sofridas pelos jogadores, durante a Liga Nacional de Futsal. Este estudo baseou-se numa avaliação postural dos atletas e um estudo epidemiológico das lesões entre fevereiro e agosto de 2008, período que ocorreu a Liga Nacional de Futsal. Material e métodos Foram avaliados 17 atletas integrantes da equipe masculina de Futsal de Joinville, com faixa etária entre 18 e 36 anos, sendo que a média de idade foi de 27 anos (± 6,21), a média de estatura 1,76 m (± 0,05), a média de massa corporal 76,2 kg (± 9,97) e o Índice de Massa Corpórea (IMC) teve a média de 24,48 (± 2,42). O critério para inclusão na pesquisa foi ser atleta da equipe, treinar e participar da Liga Nacional de Futsal, tanto os com histórico de lesão quanto os sem históricos de lesão durante a competição. A pesquisa obedeceu aos princípios éticos dispostos nas resoluções Nacionais 196/96 e 251/97, relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos com número de protocolo 08032, sendo aprovado pelo comitê de ética do Hospital Municipal São José – HMSJ. Todos os participantes do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Para a avaliação, o atleta foi encaminhado de forma individual a uma sala, onde era realizado um questionamento, manuscrito logo após em uma ficha individual. Cada atleta era questionado em relação a seu nome, idade, estatura, massa corporal e posição na equipe. Em relação à ocorrência de lesões, as mesmas eram levantadas através de seu prontuário fisioterapêutico, que se encontrava no Ambulatório de Distúrbios Músculos-Esqueléticos da Faculdade Guilherme Guimbala em Joinville/SC, o qual seguiu critérios definidos por Ribeiro e Costa [1], adaptados pelos pesquisadores, sendo que as lesões seriam classificadas como: distensão, contraturas, tendinites e lesão de ligamento, ou seja, somente as lesões não traumáticas. Para se realizar uma boa avaliação postural, devem-se ter critérios de padronizações, sendo o alinhamento postural necessário. Uma postura adequada é aquela que envolve uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, e conduz à eficiência máxima do corpo [9]. Na realização da avaliação postural do atleta os critérios foram baseados nas descrições de Kendall, McCreary, Provance, Rodgers, Romani [11] elaborando assim um Protocolo de Avaliação Postural pelos pesquisadores (em anexo). A avaliação postural foi realizada pelos três pesquisadores que foram devidamente treinados para essa função, sendo que os três analisaram o mesmo atleta durante o procedimento e anotaram na ficha individual. A avaliação postural foi realizada em três dias, sendo dois dias consecutivos e um dia intercalado, no período de 22 a 25 de julho de 2008. Cada avaliação durou aproximadamente 15 minutos. No procedimento para a avaliação postural, o atleta foi posicionado a 3 26 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 metros de distância do avaliador, com pés paralelos e distância de 10 cm, braços em posição neutra, solicitando ao atleta que permanecesse na posição, não fazendo correções. Foram avaliados os planos frontal anterior, frontal posterior, sagital esquerdo e sagital direito. A análise estatística dos dados foi realizada de forma descritiva quantitativa. Para isso, foi utilizado à média, o desvio-padrão e a porcentagem, tabulados e armazenados no software Microsoft Excel 2003. Resultados Em relação aos 17 atletas avaliados, 11 atletas (76,5%) sofreram lesões durante a liga, sendo que foram registradas 18 lesões osteomioarticulares e 6 atletas (23,5%) não sofreram nenhuma lesão. Sendo assim definido como Grupo A (GA) os atletas com lesão e o grupo B (GB) definido como os atletas não lesionado. Na tabela I, apresentou-se os tipos de lesões mais comumente encontrados, dos quais destacaram-se as distensões musculares (50%) , que se caracteriza pelo rompimento das fibras musculares [14], onde o mecanismo de lesão acontece quando a articulação é forçada [15], seguidos de tendinite (22,2%), proveniente de sobrecarga do tendão [14], lesão de ligamento (16,7%) e por ultimo contraturas (11,1%). Tabela I - Classificação das lesões segundo a etiologia. Tipos de lesão Distensão Contraturas Tendinites Lesão de Ligamento TOTAL 09 (50%) 02 (11,1%) 04 (22,2%) 03 (16,7%) 18 Os locais mais lesionados durante a prática do futsal foram coxas, joelhos e tornozelos, e as menos lesionadas foram membros perna e pé, demonstrados na Tabela II. Tabela II - Classificação das lesões segundo o segmento acometido. Parte do corpo lesada Coxa Joelho Perna Tornozelo Pé TOTAL 11 (61,1%) 02 (11,1%) 01 (5,5%) 03 (16,7%) 01 (5,5%) 18 Com relação à avaliação postural, não se pode afirmar que houve diferença entre as alterações encontradas nos grupos lesionados e não lesionados, nos segmentos coluna cervical, ombro, coluna lombar, pelve, joelho, tornozelo/pé, como mostra a Tabela III. Comparando as alterações posturais entre os atletas lesionados e não lesionados, conforme a tabela III verificou-se uma diferença de porcentagem entre os dois grupos, sendo na protusão da cabeça (≠ 34,4%), na protação do ombro (≠ 38,5), na hiperlordose (≠ -44,9%) e na anteversão (≠ -28,9%). Salienta-se ainda que no tornozelo apesar de haver diferença entre as porcentagem, o número de atletas que apresentaram essa alteração e igual com somente 1 atleta. Vale ressaltar aqui que dos 11 atletas que sofreram lesão 11 apresentaram cabeça protusa, desses mesmo 11 atletas somente 5 apresentaram retração ou protação no ombro, 4 hiperlordose e assim sucessivamente. Relatando assim que 1 atleta pode apresentar mais de uma alteração tanto no grupo lesionado como no não lesionado. Tabela III - Distribuição de porcentagem das alterações posturais observadas nos atletas durante a Liga de Futsal. Segmento Cervical Ombro Col. Lombar Pelve Joelho Torno. / Pé ≠ A-B Alteração Cabeça protusa Protacao Retracao Hiperlordose Anteversão Varo Valgo Inversão Eversão Abduzido GA % GB % 11 5 5 84,6% 38,5% 38,5% 2 0 1 50% 0% 25% 4 6 5 1 1 1 8 30,1% 46,1% 38,5% 7,7% 7,7% 7,7% 61,5% 3 3 2 0 1 1 2 75% 75% 50% 0% 25% 25% 50% 34,6% 38,5% 13,5% -44,9% -28,9% -11,5% 7,7% -17,3% -17,3% 11,5% Discussão Desde sua origem o futsal evoluiu-se consideravelmente mas permanece em processo de expansão. Devido a esta continua evolução, deparou-se com divergências entre estudos já realizados. No caso dos atletas de futsal, são verificados grandes esforços, como, velocidade, agilidade e potência muscular, presentes nas ações de deslocamentos (laterais e para trás), saídas e paradas rápidas, saltos, chutes e piques, sendo este esporte caracterizado pela realização de esforços intensos de curta duração [16], resultando com uma freqüência cada vez maior em lesões traumáticas e danos ao sistema músculo-esquelético [8]. As lesões de membros inferiores encontradas no presente estudo foram discutidas por vários autores em seus trabalhos. Raymundo et al. [17] verificaram uma alta incidência de lesões em atletas de futsal, com predominância de lesões nos membros inferiores (88,1%). O tornozelo é uma articulação constantemente lesionada, sendo o entorse (lesão ligamentar) descrita como lesão mais comum do meio esportivo [18,19]. Diferentemente dos resultados obtidos neste estudo, a distensão muscular foi destacada como a lesão que mais acometeu, tendo como fatores predisponentes o desequilíbrio muscular e a flexibilidade muscular precária [20]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Segundo os dados coletados relativos às lesões, a coxa foi o segmento mais acometido seguido de pé e tornozelo, que assemelham-se aos achados de Lindenfeld et al. [21] em estudo com jogadores de futebol com idades entre 19 e 24 anos, que observaram que o segmento mais freqüentemente acometido foi o pé/tornozelo, seguido do joelho. Para Aglietti [22] as distensões foram as mais freqüentes, com uma incidência média de 20-25%, semelhante aos resultados obtidos neste estudo, apresentando 50% das lesões. Alterações posturais também têm sido identificadas em atletas de diferentes modalidades esportivas em função da grande sobrecarga músculo-esquelética imposta pelo treinamento [23]. Elas também podem ser geradas pelo desequilíbrio muscular, que se dá pela necessidade do organismo se reorganizar em cadeias musculares e pelas especificidades de cada modalidade [24,25]. A prevalência de lesões pode aumentar devido a gestos específicos do esporte e erros na técnica de execução dos movimentos [25]. Sendo a avaliação postural importante na prevenção e correção das possíveis alterações posturais existentes [10]. Watson [26] encontrou apenas 23% dos atletas com alteração dos joelhos para varo ou para valgo, diferentemente do encontrado nesse estudo, no qual apresentou 41,2% joelhos varos e 5,9% de joelho valgos. A protração escapular ocorreu em 38,5% dos atletas lesionados, uma das causas desse desequilíbrio é a sobrecarga nos exercícios de flexão dos membros superiores em programas de exercícios propostos que geralmente está associada a uma protração da cabeça [27]. A anteversão de pelve foi observada em 52,9% dos casos, de uma forma geral, isso ocorre devido a retração dos músculos flexores do quadril e extensores do joelho, que são os responsáveis por contribuir na formação da hiperlordose lombar que, em decorrência, pode desencadeia um mecanismo compensatório de encurtamento na cadeia posterior causando assim a cifose torácica e a protrusão da cabeça [28]. Já para Bienfait [24] não há hiperlordose lombar sem anteversão pélvica. Nesta pesquisa, foi detectada, que a maioria (66,7%), realmente obtiveram hiperlordose associada com anteroversão. Para que se possa minimizar a incidência de lesões esportivas, se deve ter a preocupação com a postura e o equilíbrio muscular, pois estes devem ter o mesmo grau de importância que os desenvolvidos pelos treinadores e preparadores físicos para o desenvolvimento das qualidades especificas para um bom desempenho [28]. Conclusão Por ser um esporte de grande impacto nas estruturas osteomioarticulares, o futsal requer um bom condicionamento físico e infra-estrutura apropriada do atleta. De acordo com o objetivo de nosso estudo, verificamos uma possível relação entre as alterações posturais e lesões osteomioarticulares nos 27 jogadores de futsal, pois encontramos diversas alterações posturais devido, no ato desportivo os atletas necessitarem de cargas extras para realizarem os movimentos ágeis, velozes e precisos que são necessários. Deste modo ficam ainda mais suscetíveis a predispor lesões. Os resultados mostraram que as distensões musculares, foram as lesões mais encontradas, ocasionadas durante a pratica esportiva, observando ainda nas alterações posturais, os maiores acometimentos foram a hiperlordose lombar, anteversão da pelve, joelho varo e pé abduzido. A qualidade para a realização do treinamento e a biomecânica dos movimentos envolvidos podem estar relacionadas a diversos fatores, pois isso se afirma devido a presença das lesões musculares em conseqüência possivelmente das alterações posturais existentes. Verificou-se, porém que se faz necessário mais estudos para a avaliação das alterações e seqüelas que estes atletas poderão apresentar em longo prazo. Acredita-se na suma importância da intervenção da fisioterapia, a fim de realizar um trabalho de prevenção com atletas, reduzindo os índices de alterações posturais e lesões estruturais a longo prazo, pois com uma reabilitação adequada do atleta os benefícios são evidentes, pois irá melhorar o desempenho e redução do tempo de afastamento deste atleta. Referências 1. Voser RC, Giusti JG. O futsal e a escola: uma perspectiva pedagógica. Porto Alegre: Artmed; 2002. p.46. 2. Ribeiro CZP, Akashi PMH, Sacco ICN, Pedrinelli A. Relação entre alterações posturais e lesões do aparelho locomotor em atletas de futebol de salão. Rev Bras Med Esp 2003;9(2):9194. 3. Ribeiro RN, Costa LOP. Análise epidemiológica de lesões no futebol de salão durante o XV Campeonato Brasileiro de Seleções Sub 20. Rev Bras Med Esp 2006;12(1):1-5. 4. Chagas MH, Leite CMF, Ugrinowitsch H, Benda RN, Menzel HJ, Souza PRC et al. Associação entre tempo de reação e de movimento em jogadores de futsal. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 29 ANEXO A - PROTOCOLO DE AVALIAÇAO POSTURAL PROPOSTOS PELOS AUTORES VISTA POSTERIOR VISTA ANTERIOR Coluna cervical Antepé ( ) Reta ( ) Flexionada Lateralmente D/E ( ) Alinhado ( ) Abduzido D/E Ombro ( ) Aduzido D/E ( ) Nivelados ( ) Elevados D/E Articulações dos joelhos ( ) Deprimidos D/E ( ) Alinhada ( ) Valgo D/E Escápula ( ) Varo D/E ( ) Neutra ( ) Abduzidas D/E Patelas ( ) Aduzidas D/E ( ) Aladas D/E ( ) Alinhadas ( ) Patela mais alta D/E Coluna torácica ( ) Patela rodada lateralmente ( ) Patela rodada medialmente ( ) Alinhadas ( ) Convexidade D/E Espinhas Ilíacas Antero superiores ( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/E Coluna lombar ( ) Alinhadas ( ) Convexidade D/E Altura das cristas ilíacas ( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/E Altura das cristas ilíacas ( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/E Alinhamento do Tronco Espinhas ilíacas póstero-superiores ( ) Alinhado ( ) Inclinação Lateral D/E ( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/E ( ) Rotação cintura escapular ( ) Rotação cintura pélvica Fossa poplítea Tórax ( ) Simétricas ( ) Mais profunda D/E ( ) Simétrico ( ) Assimétrico Articulações do joelho Articulações dos ombros ( ) Alinhados ( ) Ombro mais alto D/E ( ) Alinhados ( ) Valgo D/E ( ) Rotação medial D/E ( ) Rotação lateral D/E ( ) Varo D/E Cotovelos Articulação do tornozelo ( ) Alinhados ( ) Desalinhado D/E ( ) Alinhados ( ) Aumento flexão D/E Pés ( ) Hiperextensão D/E Clavículas ( ) Paralelos ( ) Abduzido D/E ( ) Simétricas ( ) Horizontalizada D/E ( ) Aduzido D/E ( ) Inversão ( ) Verticalizada D/E ( ) Eversão D/E Fossas supraclaviculares ( ) Simétricas ( ) Assimétricas, diminuída D/E VISTA LATERAL Cabeça ( ) Neutra ( ) Inclinada Pra Frente ( ) Inclinada Pra Trás Coluna cervical ( ) Curva Normal ( ) Aumento da Lordose ( ) Retificação da Lordose Articulações do cotovelo ( ) Alinhada ( ) Aumento da flexão D/E ( ) Hiperextensão D/E Articulações do ombro ( ) Alinhados ( ) Protração D/E ( ) Retração D/E ( ) Rotação Medial D/ E ( ) Rotação Lateral D/E Coluna torácica ( ) Curva Normal ( ) Aumento da Cifose ( ) Retificação da Cifose Coluna lombar ( ) Curva Normal ( ) Aumento da Lordose ( ) Retificação da Lordose Pelve ( ) Posição Neutra ( ) Anteversão ( ) Retroversão Articulações dos joelho ( ) Posição Neutra ( ) Flexionada ( ) Hiperestendidos Art. Do tornozelo ( ) Posição Neutra ( ) Diminuído D/E ( ) Aumentado D/E Percepção dos apoios dos pés ( ) Simétrico ( ) Antepé D/E ( ) Retropé D/E 30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Artigo original Influência da atividade física, pressão arterial e variáveis antropométricas da gestante sobre o peso do feto ao nascer Influence of pregnancy physical activity, arterial blood pressure, and anthropometric factors on birth-weight Janyny Galdino Onofre Spolador*, Marcos Doederlein Polito, D.Sc.** *Departamento de Educação Física, Centro de Educação Física e Esporte, Universidade Estadual de Londrina, **Departamento de Educação Física, Centro de Educação Física e Esporte, Universidade de Londrina, Grupo de Estudo e Pesquisa em Respostas Cardiovasculares e Exercício – GECardio/UEL Resumo Abstract O objetivo do estudo foi analisar o nível de atividade física da gestante com o peso corporal, a pressão arterial durante a gestação e o peso do recém-nascido. Trinta e sete gestantes foram submetidas a um questionário de atividade física habitual e a medidas de pressão arterial (PA) e peso corporal. As informações sobre peso e comprimento do bebê foram obtidas através do cartão do bebê. Foram encontradas diferenças estatísticas para o peso corporal no início e final da gestação (65,7 ± 15,7 e 78 ± 15,0 kg, p < 0,01) e diferenças em relação ao percentual de mulheres que não se exercitavam antes da gestação e durante a gestação (54,3% e 71,4%, p < 0,01). Em relação à PA, houve relação significativa (R = 0,48; p < 0,01) entre aumento de peso corporal durante a gestação e hipertensão arterial sistólica. Não foram encontradas associações entre qualquer variável estudada e o peso do feto ou sobre o nível de atividade física da gestante. Concluindo, no presente estudo ocorreu relação significativa entre o aumento de peso corporal e hipertensão gestacional, sobretudo em relação à pressão arterial sistólica. The purpose of this study was to analyze the pregnancy physical activity, body mass, arterial blood pressure, and birth-weight. The sample was composed by 37 pregnant women. They answered a physical activity questionnaire and were evaluated on arterial blood pressure (BP) and anthropometry. The fetal data was obtained in the hospital. The results showed significantly differences on maternal body mass between before and after pregnancy (65.7 ± 15.7 e 78 ± 15.0 kg, p < 0.01) and the percentage of inactive woman before and during pregnancy (54.3% e 71.4%, p < 0.01). There was significant relation (R = 0.48; p < 0.01) between high body mass during pregnancy and systolic hypertension. There were no differences between any variables and birth-weight or maternal physical activity status. In conclusion, the present study identified significantly relation between high body mass and gestational systolic hypertension. Key-words: obesity, hypertension, exercise, pregnancy. Palavras-chave: obesidade, hipertensão arterial, exercício, gestação. Endereço para correspondência: Marcos Doederlein Polito, Universidade Estadual de Londrina, Centro de Educação Física e Esporte, Departamento de Educação Física, Rodovia Celso Garcia Cid Km 380, 86051-901 Londrina PR, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução Atualmente, doenças como obesidade e hipertensão arterial sistêmica podem ser desencadeadas ou agravadas durante a gestação [1-5]. O aumento exagerado de peso durante a gestação pode ser determinante sobre os desfechos gestacionais (como crescimento fetal e peso ao nascer), trazendo implicações para a criança ao longo da vida, particularmente em relação às doenças crônico-degenerativas [2]. Além das possíveis complicações para o feto decorrente do ganho de peso materno, podem ainda influenciar em tais complicações os valores de pressão arterial da mãe [3]. Estudos relatam que cerca de 7% das gestantes apresentam casos de hipertensão gestacional, representando uma das mais importantes causas de mortes materna e perinatal [5]. Dessa forma, torna-se importante adotar medidas para evitar tais complicações durante a gestação. Uma das medidas menos onerosas é a prática habitual de atividades físicas. Por exemplo, foi verificado que mulheres praticantes de qualquer atividade física antes da gestação reduziram em aproximadamente 35% o risco de desenvolver hipertensão gestacional [6]. Por outro lado, mulheres sedentárias podem apresentar um considerável declínio do condicionamento físico durante a gravidez [7]. De forma semelhante, mulheres com prédisposição à obesidade podem prevenir seu desencadeamento através de exercícios físicos regulares [8]. A literatura apresenta alguns dados sobre os efeitos da atividade física em gestantes atletas [9,10] e não atletas em diferentes países [6]. Contudo, são relativamente escassas investigações nacionais envolvendo atividade física e características antropométricas e cardiovasculares de gestantes. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi relacionar o nível de atividade física da gestante com o peso corporal e pressão arterial durante a gestação, e o peso do recém-nascido. Nossa hipótese foi que a atividade física pode influenciar no comportamento da pressão arterial e do peso corporal da gestante. Material e métodos Esta pesquisa foi observacional sem qualquer intervenção do investigador sobre a amostra. Foram avaliadas 37 gestantes (27 ± 6 anos) e idade gestacional entre 34-40 semanas (37 ± 2 semanas), atendidas no Hospital Universitário e no ambulatório do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina. Todas as gestantes declaram-se voluntárias a participar do estudo e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi conduzida em dois momentos. No primeiro momento, foi realizada uma anamnese através de questões pré-elaboradas sobre a saúde da gestante antes e durante a gestação, aplicado o questionário de atividade física habitual de Baecke [11] e realizadas as medidas de pressão arterial de repouso e peso corporal. A pressão arterial de repouso foi aferida com equipamento automático (G-Tech, BP3AF1-3, Brasil) seguindo as recomendações da V Diretrizes 31 Brasileiras de Hipertensão Arterial [12]. O peso corporal foi obtido com as gestantes descalças e com roupas leves através de balança digital (G-Life, Lumina, Brasil) com graduação de 100 g. Os valores de estatura, pressão arterial de repouso e peso corporal no início da gestação foram obtidos através do cartão da gestante. No segundo momento, foram obtidas informações sobre o peso e comprimento do bebê ao nascer, através do cartão do bebê fornecido pela maternidade. Todas as informações foram coletadas por um único e devidamente treinado investigador. A análise dos dados do cartão do bebê foi realizada de acordo com as curvas de crescimento da National Center for Helth Statistics, utilizadas como curvas padrão no Brasil. Os valores do IMC materno foram obtidos de acordo com os dados de classificação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional [13], sendo utilizado o gráfico da curva de Atallah, o qual relaciona o IMC gestacional com a semana gestacional [13]. Para a análise dos dados, foi conduzida uma regressão simples entre a variável independente nível de atividade física e as demais. Também foi realizada a regressão múltipla tendo como variáveis independentes o nível de atividade física e a pressão arterial. As demais variáveis analisadas antes e durante a gestação foram comparadas pelo teste t-Student. Em todos os casos foi estabelecido p < 0,05 como significância estatística. Os dados foram analisados no programa Statistica 6.0 (Statsoft, EUA). Resultados A Tabela I ilustra os valores iniciais e finais de idade, idade gestacional, peso corporal, pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD). Somente o peso corporal mostrou-se significativamente mais elevado no final da gestação em relação aos valores iniciais. Em relação aos dados dos fetos, o peso ao nascer foi de 3037,5 ± 516,9 g e o comprimento de 47,9 ± 2,3 cm. Nenhuma associação significativa foi encontrada entre o peso e o comprimento do feto e os dados da mãe. Contudo, a porcentagem de mulheres grávidas que faziam exercício físico foi menor que as que não faziam. Analogamente, o número de mulheres que eram fisicamente ativas antes da gravidez diminuiu com o advento da gestação (Tabela II). Tabela I - Valores de idade, idade gestacional, peso corporal, pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica da amostra antes e durante o período gestacional (média±desvio padrão). Variável Início da gestação Idade (anos) 27 ± 6 Idade gestacional (semanas) Peso corporal (kg) 65,7 ± 15,7 PAS (mmHg) 112,5 ± 14,7 PAD (mmHg) 72,3 ± 10,4 Final da gestação 27 ± 6 37,3 ± 1,8 78,9 ± 15,0* 117,8 ± 18,8 71,8 ± 13,4 * diferença significativa (p < 0,01) em relação ao valor de início da gestação 32 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Tabela II - Percentual da amostra que praticava atividades físicas durante a gestação e antes da gestação. Variável Atividade física antes da gestação Atividade física durante a gestação Sim (%) 45,7 28,6 Não (%) 54,3 71,4* * diferença significativa em relação ao percentual durante a gestação Quanto ao IMC, observou-se um aumento no número de mulheres classificadas com sobrepeso e obesas no final da gestação em relação ao início (Tabela III). O número de mulheres que se tornaram obesas e/ou hipertensas durante a gestação também não foi significativo quando associado ao nível de atividade física. Entretanto, observou-se um aumento do percentual de mulheres que adquiriram tais problemas no decorrer da gestação (Tabela IV). Nesse caso, a regressão estatística acusou associação significativa entre o peso corporal durante a gestação e o valor de PAS (p = 0, 003; R = 0,48). O mesmo foi verificado para o IMC e PAS (p = 0,01; R = 0,42). Dessa forma, as mulheres mais pesadas ou com maior IMC apresentaram valores mais elevados de PAS. Tabela III - Classificação em relação ao IMC no início da gestação e no final da gestação em porcentagem (%). Classificação Baixo peso Peso adequado Sobre- peso Obesa Início da ges- Final da tação % gestação % 14,2 8,6* 42,8 31,4* 22,8 34,2* 17,1 31,4* * diferença significativa em relação ao percentual de início da gestação Tabela IV - Percentual de mulheres que desenvolveram hipertensão arterial e/ou obesidade durante a gestação. Patologia % acometidas Hipertensão arterial Obesidade Hipertensão e obesidade 14,3 8,6 17,1 Discussão O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia [14] recomenda que as gestantes realizem 30 min de atividades físicas diárias com intensidade leve a moderada. No entanto, tais recomendações não são comumente seguidas pela população de mulheres grávidas. Por exemplo, um estudo com 4.471 mulheres da cidade de Pelotas (RS) mostrou que 14,8% já realizavam algum tipo de atividade física anterior à gestação e que durante algum período da gestação 12,9% realizavam atividade física de lazer, e apenas 4,3% das mulheres entrevistadas foram ativas fisicamente durante a gestação toda [15]. Tais resultados são divergentes do presente estudo, no qual se observou que 45,7% das entrevistadas relataram realizar algum tipo de atividade física antes da gestação e 28,6% durante algum período ou toda a gestação. Contudo, há de se considerar a grande diferença amostral que indubitavelmente influenciou os dados. No entanto, no presente estudo, observa-se o considerável declínio entre as mulheres que se exercitavam antes da gestação e deixaram de exercitar durante a gestação. Algumas razões identificadas na anamnese como potenciais causas de inatividade física durante a gestação foram patologia ou indisposição durante a gravidez (9 mulheres) e falta de informações sobre a prática de exercícios físicos durante a gravidez (4 mulheres). A importância da prática de atividades físicas durante a gestação pode se relacionar à diminuição de possíveis complicações, dentre as quais as alterações na pressão arterial de repouso. O aumento da pressão arterial de repouso durante a gestação pode ser extremamente complicado, tanto para a mãe quanto para o feto [14]. Um estudo realizado com 609 casos de morte materna mostrou que 23,3% destes casos foram por complicações em razão da síndrome hipertensiva da gravidez, sendo que 7,1% das mulheres desenvolveram a síndrome a partir do terceiro trimestre [16]. A síndrome hipertensiva da gravidez ocorre em 2-4% das gestações [17]. No presente estudo, os resultados de gestantes que desenvolveram doença hipertensiva não tiveram associação com o nível de atividade física. Porém, houve um percentual significativo de mulheres que desenvolveram a hipertensão gestacional durante a gravidez (14,3%) e de mulheres que desenvolveram a hipertensão e a obesidade/sobrepeso (17,1%). Como já comentado, nosso estudo contou com uma amostra relativamente reduzida, o que pode ter influenciado nestes resultados. Contudo, valores próximos foram encontrados em um estudo feito com 200 gestantes com idade gestacional de 37,6 ± 3,5 semanas [18]. Os autores encontraram 16% de casos de hipertensão gestacional, 33% de pré- eclampsia, 3% de hipertensão crônica e 5% de pré-eclâmpsia relacionada à hipertensão crônica. Também houve diferenças significativas em relação ao peso ao nascer, sendo que as mulheres com pré-eclâmpsia deram à luz a fetos com peso significativamente reduzido [18]. No presente estudo, também foi observado diminuição no número de mulheres que se apresentavam antes da gestação abaixo do peso e com peso adequado. Este fato pode estar relacionado à redução do nível de atividade física e, principalmente, ao aumento da ingestão calórica diária acima do recomendado (300 kcal adicionais) [8]. Um estudo descritivo realizado com 240 gestantes em Recife (PE) também indicou aumento do número de mulheres com sobrepeso e obesas no final do terceiro trimestre de gestação. Neste estudo, os autores apontam diferenças significativas no aumento excessivo de peso em mulheres que já apresentavam um peso acima do recomendado no início da gestação, naquelas que tinham escolaridade maior ou igual a oito anos de estudo e naquelas que viviam com o marido ou companheiro [19]. Além da possível influência da atividade física sobre os valores de pressão arterial, o excesso de peso também pode repercutir sobre o comportamento cardiovascular. Um estudo realizado em seis capitais brasileiras constatou que o sobrepeso Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 ocorreu em 25% das gestantes adultas e houve relação direta com alterações da pressão arterial [20]. No presente estudo, também foi verificada associação significativa entre aumento do peso corporal e hipertensão. Isso se deve a uma combinação de fatores ambientais (inatividade e excesso de peso, por exemplo) com os fatores genéticos relacionados à hipertensão (disfunção endotelial, por exemplo) [3,21]. Os resultados do presente estudo mostraram diferença significativa entre os percentuais de mulheres classificadas como sobrepeso e obesas no início e no final da gestação (34,2% e 31,4%, respectivamente). Um estudo já citado [19], interessante foi a associação entre o IMC no início da gestação e o ganho de peso durante a gestação, de forma que maior IMC no início da gestação representou maior chance de peso excessivo no fim da gestação. As complicações decorrentes do ganho de peso excessivo da mãe podem repercutir diretamente sobre o feto. Kac e Velasquez-Melendez [22] constataram que um ganho de peso excessivo em 29,1% das mães associou-se à macrossomia fetal. Conclusão Os resultados obtidos mostraram uma relação significativa entre o aumento excessivo de peso e síndromes hipertensivas na gravidez, sobretudo em relação à pressão arterial sistólica. Também houve relação significativa quanto ao IMC e valores de pressão arterial sistólica, sendo que quanto mais pesada e com maior IMC tiver a gestante, maior o risco de desenvolver hipertensão. Não houve relação entre ganho de peso e nível de atividade física, assim como nenhuma variável associou-se com o peso do bebê. Isto pode ter ocorrido por limitações do estudo, como o número amostral. Entretanto, é consenso o efeito do exercício físico para o controle da obesidade e da hipertensão durante a gestação. Dessa forma, a prática de atividades físicas pode ser importante no período gestacional para contribuir com a qualidade de vida da gestante. Porém, mais estudos sobre os efeitos da atividade física em gestantes são necessários para atender esta área de atuação do profissional de educação física. Referências 1. Finkelstein I, Bgeginski R, Tartaruga MP, Alberton CL, Kruel FM. Comportamento da freqüência cardíaca e pressão arterial, ao longo da gestação, com treinamento no meio líquido. Rev Bras Med Esporte 2006;12:376-80. 2. Melo ASO, Assunção PL, Gondin SSR, Carvalho DF, Amorin MMR, Benicio MHD, et al. Estado nutricional materno, ganho de peso gestacional e peso ao nascer. Rev Bras Epidemiol 2007;10:249-57. 3. Peraçol JC, Parpinelli MA. Síndromes hipertensivas da gestação: identificação de casos graves. Rev Bras Ginecol Obstet 2005;27:627-34. 33 4. Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro – SOCERJ. Recomendações da SOCERJ em cardiopatia e gestação. Rev SOCERJ 2004:17:71-82. 5. Sass N, Atallah AN. Fisiopatologia da pré- eclampsia. Rev Bras Hipertens 2005;8:103-5. 6. 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Embora a forma injetável de fosfatidilcolina não tenha sido aprovada para fins cosméticos no Brasil, o medicamento tem sido amplamente utilizado. Recentemente, seu uso cosmético espalhou-se além das clinicas médicas, chegando até as academias e salões de beleza. Isso evidencia a urgência da realização de pesquisas visando ampliar os conhecimentos sobre os efeitos da aplicação da fosfatidilcolina com objetivos cosméticos. Assim sendo, na presente revisão serão abordados alguns aspectos referentes ao exercício e à ação da fosfatidilcolina no controle da adiposidade, bem como seu emprego no tratamento da gordura localizada bem como alguns efeitos colaterais. São, também, apresentados dados referentes a estudos em modelos animais. It is known that one of the most used processes for treatment of lower and moderate fat deposits is the liposuction. However this method is very expensive and dangerous. Recently, the phosphatidylcholine procedure has been also applied for the correction of fat deposits. Although injectable phosphatidylcholine has not been approved for cosmetic purposes in Brazil, the drug has been widely used. Its cosmetic use was spread out from medical clinics to gyms and beauty parlors. This shows that researches aiming at increasing knowledge about phosphatidylcholine use for cosmetic purposes should be carried out urgently. Therefore, in this revision some aspects referring to exercise and phosphatidylchilne action to control adiposity will be pointed out, as well as its role in localized fat treatment. Animal model studies are also shown. Key-words: exercise, phosohatidylcholine, fat deposits, adiposity. Palavras-chave: exercício, fosfatidilcolina, depósitos de gordura, adiposidade. Autor para correspondência: José Diego Botezelli, Rua Albert Einstein, 398, Jd. Universitário, 13607-331 Araras SP, Tel: (19) 3523- 8361, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução Um problema associado ao excesso de ganho de peso é o acúmulo excessivo de gordura localizada. O procedimento atualmente mais usado para a remoção desses depósitos de gordura é a lipoaspiração [1]. Além do exercício e dos processos cirúrgicos, diversas outras técnicas de tratamento vêm sendo utilizadas no combate aos depósitos localizados de gordura, incluindo alguns medicamentos. Um desses fármacos utilizados, em associação ou não ao exercício físico, é a fosfatidilcolina [2]. Todavia, a discussão das ações deste fármaco no organismo é escassa, sendo tema de grande interesse para a comunidade científica. O exercício físico tem sido amplamente empregado, isoladamente ou em associação com dietaterapia, na redução da adiposidade corporal. Embora a utilização do treinamento aeróbio seja a mais difundida, o treinamento intervalado, segundo alguns autores, também pode produzir excelentes resultados, principalmente em programas de redução ponderal, uma vez que parece induzir maiores adaptações metabólicas e ser facilmente sustentado por tempos prolongados com elevada intensidade de esforço [3]. A combinação de fosfatidilcolina e exercício físico tem demonstrado ser positiva, onde o fármaco pode melhorar o desempenho aeróbio, fundamental no tratamento de emagrecimento somado à dieta [4]. Fosfatidilcolina A fosfatidilcolina é um fosfolipídio emulsificante que possui ação detergente e diminui a tensão superficial, formando partículas menores de gordura na forma de triglicerídeos [5]. Isso causa alteração na forma do adipócito, o que pode explicar a redução de medidas nos locais onde a fosfatidilcolina foi aplicada. Na atualidade já foram iniciadas investigações científicas, no sentido de desvendar o provável mecanismo de ação lipolítica da fosfatidilcolina nos adipócitos de animais e de humanos. Uma das hipóteses a ser considerada, é a de que a fosfatidilcolina penetra no adipócito graças a seu caráter anfipático. No citoplasma, a hidrólise da fosfatidilcolina pela fosfolipase D gera o ácido fosfatídico, que levaria a ativação da proteinaquinase C (PKC). Esta última ativaria a translocação da lípase sensível ao hormônio (LSH), desde o citoplasma do adipócito até o vacúolo que contém os triglicerídeos. Assim, o LSH hidrolisaria os triglicerídeos em ácido graxos e glicerol, que seriam posteriormente utilizados em outras vias metabólicas e eliminados em pequenas quantidades pelo aparelho urinário [6]. Outra hipótese a ser estudada, sugere a ativação de receptores específicos de membrana e a destruição de adipócitos. Essa última seria desencadeada pela ativação da via inflamatória [fosfolipase D e o fator de necrose tumoral alfa, (TNF-α)], ou por uma ação irritante da fosfatidilcolina nos adipócitos [6]. 35 Os estudos sobre os efeitos medicinais da fosfatidilcolina são voltados principalmente para as doenças coronárias e pulmonares, mas há evidências de efeitos positivos também no fígado e cérebro. Nas doenças hepáticas, a fosfatidilcolina foi usada em casos de ingestão abusiva de álcool, existem relatos de sucesso no tratamento tanto por via oral quanto intravenosa [7,8], e na recuperação hepática após danos causados por vírus, como o da hepatite [10]. No cérebro, este fosfolipídio é fornecedor da colina, essencial na formação da acetilcolina, um importante neurotransmissor. Nesta área, destaca-se o estudo de Chung et al. [10], que o uso de fosfatidilcolina melhorou a memória de animais. A fosfatidilcolina também foi utilizada com sucesso em estudos no tratamento do diabetes [11,12]. A colina é, ainda, necessária ao metabolismo de gordura, sendo que a ingestão de fosfatidilcolina mostrou-se eficiente no tratamento de doenças cardiovasculares e redução das concentrações séricas de colesterol. Essas reduções devem-se à destruição de placas ateromatosas que circulam na corrente sanguínea e causam o entupimento e, conseqüentemente, um aumento da pressão arterial. A fosfatidilcolina aumenta a solubilidade do colesterol atuando como agente emulsionante e inibindo a formação de placas na parede dos vasos sanguíneos [13,15]. Contudo, há controvérsias em relação a estes resultados. Em relação ao acúmulo tecidual de gordura, existe o relato de um estudo feito em animais por Takahashi e colaboradores [16], em que a deficiência de fosfatidilcolina foi relacionada a distúrbios na liberação de lipídeos pelas células. Neste estudo, ratos recebiam dietas ricas ou pobres em colina durante duas semanas. Quando a quantidade de colina era baixa, havia distúrbios na liberação de gordura das células do intestino para o sistema linfático. A suplementação oral de fosfatidilcolina rapidamente corrigiu esta disfunção, confirmando a colina como um fator extremamente importante na absorção de gorduras através da membrana celular. Fosfatidilcolina e depósitos localizados de gordura Um grande problema do ganho excessivo de peso é o aparecimento da gordura localizada. Este tipo de gordura geralmente surge após perda de peso brusca ou surge naturalmente mesmo em pessoas magras. Ela é de difícil remoção e mesmo com dietas e exercícios físicos freqüentes, os resultados para a sua perda são pequenos. Para a redução dos depósitos localizados de gordura, foram sugeridos diversos tipos de exercícios, entre eles a ginástica localizada e o lift. Essas duas modalidades visam reduzir o excesso de tecido adiposo localizado na região onde a musculatura é recrutada durante a atividade. Contudo, estudos recentes mostraram que, mesmo nesse tipo de atividade, a gordura mobilizada é retirada de todas as partes do corpo e não somente das regiões mais próximas a musculatura que 36 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 realiza a atividade. Por outro lado, mesmo não reduzindo exclusivamente os depósitos localizados de gordura, esse tipo de atividade pode ajudar a diminuir a adiposidade em diversas partes do corpo, além de fortalecer a musculatura ativada, e não pode ser descartada como alternativa no combate aos depósitos localizados de gordura. Um dos processos eficazes mais utilizados para o tratamento de pequenos e moderados depósitos de gordura é a lipoaspiração [1]. Esse método, porém, além de caro é arriscado, pois envolve um procedimento cirúrgico. Em anos recentes, outro procedimento, a aplicação tópica de fosfatidilcolina, vem sendo empregado com o mesmo propósito. O uso cosmético da fosfatidilcolina tem origem na década de 80 na Itália [17]. No Brasil, o uso da fosfatidilcolina para fins estéticos teve inicio no final da década de 90 [2]. Os tratamentos à base desse fármaco têm sido anunciados como Lipodissolve, Lipoterapia, Lipolyse, Injeção de Massa Magra, entre outras denominações [1,18-20]. Como efeitos colaterais da fosfatidilcolina foram relatados dor local passageira, eczema, urticária transitória e graus variados de edema. O eczema e a maior parte dos edemas desaparecem em 2 dias. Podem ocorrer, também, sensibilidade localizada e edemas leves por semanas, equimoses e, mais raramente, hematomas [1,18]. Os efeitos sistêmicos da aplicação subcutânea de fosfatidilcolina em seres humanos ainda não foram adequadamente avaliados. Hexsel et al. [20] relataram alterações hepáticas e renais em 13 pacientes durante duas semanas subsequentes a dois tratamentos com injeções subcutâneas de fosfatidilcolina. Náusea e dores abdominais também foram apontados como efeitos colaterais de aplicações subcutâneas de fosfatidilcolina [18]. Embora a forma injetável de fosfatidilcolina não tenha sido aprovada para fins cosméticos no Brasil, existem evidências clínicas de sua eficácia no tratamento da gordura localizada [1,20]. O medicamento tem sido amplamente utilizado no Brasil em diversas condições clínicas onde existem depósitos de gordura em tecidos subcutâneos [20]. Receosa quanto ao emprego da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos localizados de gordura, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que regulamenta o uso dos medicamentos no Brasil, publicou uma resolução, em 9 de janeiro de 2003, proibindo o uso cosmético em nível nacional da forma comercial do produto Lipostabil (Aventis Pharma). Contudo, a forma manipulada do medicamento não possui nenhum tipo de regulamentação, fato que aumentou a procura pela fosfatidilcolina na forma manipulada. Recentemente o uso cosmético da fosfatidilcolina espalhou-se além das clínicas médicas, chegando até as academias e os salões de beleza. Estudos experimentais Do exposto anteriormente, conclui-se a urgência da realização de pesquisas visando ampliar os conhecimentos sobre os efeitos da aplicação da fosfatidilcolina com objetivos cosméticos. Como existem limitações nas pesquisas com seres humanos, torna-se interessante o desenvolvimento de modelos experimentais adequados ao estudo desta questão. Em um estudo recente, utilizando ratos tratados com fosfatidil colina, via subcutânea por 5 semanas, constatou-se redução da massa gorda e do peso total, sem a observação de efeitos tóxicos [21]. Em nossos laboratórios, estão em andamento pesquisas que visam analisar os aspectos da fosfatidilcolina, associada ou não ao exercício, sobre a gordura subcutânea e o teor de lipídios de diferentes órgãos, como o fígado, músculo esquelético e sangue, além das concentrações hepáticas e musculares de glicogênio em modelo experimental usando ratos. Os resultados preliminares mostram que as concentrações de glicogênio foram reduzidas no fígado dos ratos tratados com fosfatidilcolina, injetada via subcutânea, e exercitados por natação durante quatro semanas e foram inferiores àquelas mostradas por animais controles, não submetidos a nenhum procedimento experimental assim como àquelas apresentadas por animais submetidos apenas ao protocolo de treinamento de natação. Não foram constatadas quaisquer diferenças estatísiticas entre os grupos nos demais parâmetros availados. Tais resultados preliminares sugerem que a aplicação tópica do medicamento pode exercer efeitos sistêmicos. Outras análises são necessárias para confirmação dessa hipótese [22]. Conclusão Embora os procedimentos mais adequados para o controle da adiposidade sejam dieta de restrição calórica e/ou prática regular de exercícios físicos, outros procedimentos, como cirurgias e medicamentos são freqüentemente empregados com a mesma finalidade. Um problema associado ao excesso de ganho de peso é a gordura localizada. O procedimento mais usado para a diminuição desses depósitos é a lipoaspiração. Contudo, outras técnicas como a aplicação tópica da fosfatidilcolina vêm sendo utilizadas. Apesar de a forma injetável da substância tenha sido proibida pela Anvisa para fins cosméticos, ela está sendo amplamente utilizada no país. Daí a necessidade de ampliar o número de investigações sobre os efeitos sistêmicos da aplicação da fosfatidilcolona e estabelecer modelos animais apropriados para este tipo de estudo. Referências 1. Markey AC. Liposuction in cosmetic dermatology. 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Revista Brasileira de Ciência e Movimento 2006;14:80-80. 38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Revisão A importância do teste de caminhada de seis minutos em pacientes com insuficiência cardíaca The importance of six-minute walk test in patients with heart failure Nivia Schmidt de Souza, Ft.*, Kellen Marcela Santos, Ft.*, Letícia Alckmin Morgado*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, Ft., M.Sc.** *Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI), Pindamonhangaba, SP, **Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP/EPM), Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica - Universidade Estadual Paulista (UNESP) Guaratinguetá – SP Resumo Abstract A Insuficiência Cardíaca (IC) caracteriza-se por ser uma síndrome clínica complexa, que pode resultar de várias anormalidades estruturais e funcionais do coração, envolvendo múltiplos sistemas e mecanismos compensatórios neuro-humorais. O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste prático que avalia de maneira simples a distância máxima que o paciente pode andar, em seu próprio ritmo, por seis minutos. Ele avalia a capacidade funcional e o prognóstico de pacientes com IC. A avaliação da capacidade funcional é necessária para que se prescrevam exercícios para pacientes com IC de forma adequada e também para avaliar a eficácia da terapêutica utilizada. Este trabalho tem como objetivo avaliar a importância do TC6M na avaliação da capacidade funcional e no prognóstico de pacientes com IC. Conclui-se que o TC6M é uma medida útil para avaliação da capacidade funcional e prognóstico de pacientes com IC. Heart failure (HR) is a complex clinical syndrome that may result from many structural and functional abnormalities of the heart, involving multiple systems and neurohumoral compensatory mechanisms. The Six-Minute Walk Test (6MWT) is a simple, practical test that measures the maximal distance a patient can travel at his/her own pace in six minutes. It assesses the functional capacity and prognosis of patients with HF. The assessment of functional capacity is necessary for the adequate prescription of exercise to such patients and for assessing the efficacy of the treatment employed. The aim of the present study was to analyze the importance of the 6MWT in the assessment of functional capacity and prognosis of patients with HF. The 6MWT was concluded to be a useful measure for the assessment of functional capacity and prognosis of patients with HF, as it is a sub-maximal exercise test that imposes a lower cardiovascular load. Palavras-chave: insuficiência cardíaca, teste de caminhada de seis minutos, teste de esforço. Key-words: heart failure, six-minute walk test, exercise test. Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro, Avenida Osvaldo Aranha, 1961, Vila Zélia,12600-000 Lorena SP, Tel: (12) 3152-8023, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Introdução A Insuficiência Cardíaca (IC) é definida como a incapacidade do coração em manter as demandas teciduais por anormalidades na função ventricular e na regulação neurohumoral, resultando em sintomas como fadiga, dispnéia e conseqüente intolerância ao esforço físico [1]. Aproximadamente 23 milhões de pessoas da população mundial são portadoras de IC. No Brasil, estima-se que cerca de 6,4 milhões de brasileiros sofram de IC, a qual representa a terceira causa de mortalidade em diferentes grupos de doenças cardiovasculares [1-3]. A IC resulta de anormalidades cardíacas intrínsecas e extrínsecas, onde vários mecanismos celulares estão envolvidos. Independente da causa inicial da lesão ao coração, este vai sofrer uma série de eventos que levarão finalmente a mudanças profundas na sua geometria e eficiência mecânica [4]. O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é o mais utilizado no mundo para avaliação do esforço submáximo e é uma forma prática de avaliar a capacidade física em indivíduos com limitação funcional, como por exemplo, em pacientes com IC. Este teste ganhou grande importância tanto na prática clínica quanto em pesquisas nos últimos anos, além de ser um método de custo reduzido. Os TC6M são administrados em programas de reabilitação cardiopulmonar com intuito de avaliar a capacidade física, monitorar a efetividade do tratamento e estabelecer o prognóstico dos pacientes [5,6]. Foi sugerido que o tipo de esforço durante o TC6M assemelha-se à atividade diária, possibilitando ao paciente determinar o ritmo da caminhada tolerada, o que é uma vantagem adicional para aquele mais limitado fisicamente e que certamente não toleraria o teste de esforço máximo, porém o TC6M não substitui o teste de esforço, entretanto, a intensidade da caminhada durante os seis minutos pode ser influenciada pelo incentivo verbal [7,8]. Portanto, este estudo tem como objetivo analisar a importância do TC6M na avaliação da capacidade funcional e no prognóstico de pacientes com IC. Insuficiência cardíaca A Insuficiência Cardíaca (IC) caracteriza-se por ser uma síndrome clínica complexa, que pode resultar de várias anormalidades estruturais e funcionais do coração, envolvendo múltiplos sistemas e mecanismos compensatórios neurohumorais [9,10]. Este processo é progressivo e ao surgir disfunção ventricular, vários mecanismos compensatórios serão ativados e irão contribuir para continuada progressão do processo lesivo [4]. A IC pode ser considerada como o último estágio das doenças do coração. A limitada tolerância ao esforço é freqüentemente a primeira e mais importante característica clínica da doença, que reflete a redução na função cardíaca e alterações nos reflexos, metabolismo, vascular e função muscular [11]. 39 A insuficiência cardíaca é a doença cardiovascular mais prevalente na prática clínica e carreia altos índices de morbidade e mortalidade, sendo um problema cada vez maior em saúde pública. No Brasil, segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS), a IC foi a principal causa de internações entre as enfermidades do aparelho cardiovascular, com 418.620 mil casos em 2001 [12,13]. A idade avançada, independentemente de sexo ou raça, está relacionada ao seu pior prognóstico. O envelhecimento da população e a queda da mortalidade por outras doenças cardiovasculares que levam à insuficiência cardíaca congestiva têm resultado no aumento da ocorrência dessa afecção e a perspectiva é de que esses números continuem a aumentar no Brasil e no mundo [14,15]. Etiologia As causas mais comuns da IC na prática clínica são a redução da contratilidade miocárdica, freqüentemente associada à cardiopatia isquêmica, miocardiopatia dilatada idiopática, diabética, hipertensiva, valvar, inflamatória/infecciosa e doença de Chagas. Também são causas de IC as condições nas quais o coração é submetido à sobrecarga hemodinâmica (sobrecarga de volume ou de pressão), distúrbios de freqüência cardíaca ou condições que interfiram no enchimento ventricular [16,17]. “É uma síndrome que pode ser causada por qualquer doença que afete o coração, podendo mais de um fator etiológico estar presente em um mesmo paciente, como por exemplo, a doença arterial coronária e a hipertensão arterial” [18]. Classificação A IC pode ser classificada de diversas formas. A classificação mais amplamente utilizada é a que obedece aos critérios da New York Heart Association (NYHA), utilizada desde 1964, segundo a qual o paciente pode ser classificado dentro de quatro classes, tais como: Classe I: assintomático nas atividades usuais, classe II: assintomático em repouso e sintomas desencadeados por esforços habituais, classe III: assintomático em repouso, sintomas presentes em esforços menores que os usuais, e classe IV: sintomas (fadiga, palpitações e dispnéia) em repouso ou decorrentes de mínimos esforços [1]. Outra forma de classificar os pacientes com IC seria no estadiamento da doença, em relação ao acometimento estrutural do coração e o grau de manifestação clínica prévia, dividindo os pacientes em quatro estágios, sendo: Estágio A: pacientes sem anormalidades ventriculares e risco de desenvolver IC em virtude de condições comórbidas que são fortemente associadas com o desencadeamento da IC, tais como: hipertensão, coronariopatias e diabetes. Estágio B: pacientes que desenvolveram a doença cardíaca estrutural, a qual está fortemente associada com o desenvol- 40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 vimento da IC, mas não apresentam sintomas de IC. Por exemplo: hipertrofia ventricular esquerda, doença valvar cardíaca assintomática com dilatação ventricular e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) prévio. Estágio C: pacientes que apresentam IC assintomática prévia ou atual, associada com doença estrutural cardíaca. Estágio D: pacientes com nítidos sintomas de IC em repouso, apesar de máxima terapia farmacológica e que necessitam de intervenções especializadas. Por exemplo: pacientes que não podem ter alta hospitalar, recorrência de hospitalização, pacientes com suporte inotrópico contínuo para alívio sintomático ou em assistência circulatória [16]. Fisiopatologia A Insuficiência cardíaca é uma condição em que ocorre um dano funcional e estrutural difuso da miofibrila (necrose, apoptose, isquemia ou inflamação) ou uma sobrecarga hemodinâmica excessiva, que provoca uma diminuição da força contrátil do coração (fração de ejeção) e conseqüentemente aumento nos volumes ventriculares com ou sem diminuição do gasto cardíaco [19]. As manifestações periféricas da doença como a disfunção endotelial, alterações musculares esqueléticas, anormalidades de fluxo sanguíneo e do controle quimioreflexo ventilatório são os maiores determinantes dos sintomas que geram a intolerância ao esforço [20]. Na IC a redução do débito cardíaco é o sinal inicial para que vários mecanismos compensatórios sejam recrutados com a finalidade de manter a perfusão dos órgãos-alvo. Frente a uma doença cardíaca, mecanismos compensatórios são desencadeados, independente do agente causal, para sustentar a perfusão de órgãos vitais e estabilizar o desempenho do coração [18,20]. Esses mecanismos – sistema renina-angiotensina-aldosterona, sistema nervoso simpático e remodelamento ventricular – são mudanças anatômicas, funcionais e humorais que tentam normalizar o gasto cardíaco frente a uma diminuição patológica da função sistólica (fração de ejeção). Diante disso, muitos pacientes podem permanecer assintomáticos por períodos de tempos variados [1,19,16]. O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) em condições normais tem um importante papel na manutenção da homeostase de sal e água, e, portanto, controle da pressão arterial e a perfusão arterial. Na IC ocorre aumento da produção de renina pelo aparelho justaglomerular renal através de duas vias principais: estimulação dos adreno receptoresβ1 do aparelho justaglomerular, secundário ao aumento da atividade simpática, e ativação dos baroreceptores renais pela queda da pressão hidrostática no glomérulo e arteríola aferente [16]. A renina atua sobre o angiotensinogêneo convertendo em angiotensina I, que é convertido em angiotensina II pela enzima de conversão da angiotensina (ECA) [16]. A angiotensina II é um dos mais potentes vasoconstritores e peptídeos mitogênicos produzidos sistêmica e localmente no coração, pulmões, rins e endotélio. A IC é caracterizada por concentrações teciduais e circulantes elevadas de angiotensina II, um vasoconstritor que aumenta a pós-carga e causa hipertrofia de miócitos, apoptose, fibrose intersticial, remodelamento cardíaco e vascular, e também aumenta a liberação de catecolaminas [18,21]. Sinais e sintomas Os sinais e sintomas da insuficiência cardíaca podem ser parcialmente explicados pelo conjunto de mecanismos compensatórios utilizados pelo organismo para corrigir a redução do débito cardíaco [22]. Pacientes com IC, freqüentemente são limitados pela dispnéia e fadiga durante o exercício, os quais constituem os principais sintomas clínicos da doença mesmo quando assintomáticos em repouso. Porém, quando comparados a indivíduos normais, apresentam baixa tolerância ao exercício físico, acentuada resposta metabólica e respiratória para a mesma intensidade de trabalho. Essa intolerância induz os pacientes a interromperem o esforço físico precocemente, contribuindo para a diminuição das atividades cotidianas, pelo círculo vicioso de inatividade, piora da capacidade física e redução da qualidade de vida. Esses sintomas são decorrentes de complexa resposta fisiopatológica à disfunção ventricular e da conseqüente diminuição da oferta de oxigênio aos tecidos [23,10]. Os distúrbios respiratórios são freqüentes nos pacientes com IC, que, entretanto, por estarem dormindo, na maioria das vezes não os percebem. As manifestações mais comuns são a síndrome da apnéia do sono e os distúrbios periódicos ou oscilatórios da respiração, que acontecem no período de vigília e também durante o sono [22]. Teste de caminhada de seis minutos O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste prático que mede de maneira simples a distância máxima que o paciente pode andar, em seu próprio ritmo, por seis minutos. Ele apresenta-se como uma opção de baixo custo e de boa tolerância, possibilita ao paciente determinar a velocidade e a necessidade de realizar pausas, além de ser preditor de sobrevida em pacientes com insuficiência cardíaca [24,25,8]. O TC6M foi inicialmente utilizado para avaliar pacientes com doenças respiratórias crônicas, tais como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e insuficiência respiratória. O teste atraiu a atenção dos cardiologistas porque ele é fácil de realizar e interpretar [26]. Seus objetivos incluem: avaliar a capacidade para prática de esportes e outras atividades, o estado funcional do sistema cardiovascular e/ou respiratório, programas de prevenção, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 terapêuticos e de reabilitação e predizer morbidade e mortalidade em candidatos a transplantes cardíacos [6]. Indicações e contra-indicações As indicações para a realização do TC6M são: comparação entre o pré e pós-tratamento de situações como: transplante pulmonar, ressecção pulmonar, cirurgia de redução do volume do pulmão, reabilitação pulmonar, DPOC, hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca; categoria funcional (somente para pacientes usuários de única medição): DPOC, fibrose cística, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, fibromialgia, pacientes idosos; e preditor de morbidade e mortalidade: insuficiência cardíaca, DPOC e hipertensão pulmonar primária [27]. As contra-indicações absolutas para o TC6M incluem as seguintes: presença de angina instável há um mês e infarto agudo do miocárdio precedendo um mês. As contra-indicações relativas incluem: freqüência cardíaca de repouso acima de 120 bpm, pressão arterial sistólica maior que 180 mmHg, e pressão arterial diastólica maior que 100 mmHg [27]. Execução do teste O TC6M deve ser realizado em um corredor reto, plano, de preferência com 30 metros de comprimento, em ambiente fechado, com uma cadeira disposta em cada extremidade da reta demarcada. No entanto, ele pode ser feito em uma esteira rolante, como alternativa em situações em que um corredor não está disponível, porém os valores obtidos não serão fidedignos. O TC6M é um exame limitado por tempo e que pode ser realizado a qualquer hora do dia [27,1,24,28]. Os pacientes devem ser instruídos a caminhar o mais rápido possível, sem correr, porém no ritmo máximo tolerado. A cada trinta segundos o avaliador dirá uma frase de reforço como “você esta indo bem” ou “mantenha este ritmo“. Se eles se sentirem cansados, deverão interromper a caminhada por alguns instantes, a fim de que descansem e continuem tão logo se sintam capazes para isso [1]. Durante o teste o paciente deve usar roupas confortáveis, calçados apropriados para caminhada, deve ter realizado uma alimentação leve previamente, não deve ter se exercitado vigorosamente duas horas antes do início do teste e caminhar sozinho para não haver alteração dos seus passos, pois estudos mostram que pacientes que caminham em grupo apresentam aumento da distância percorrida em seis minutos e caminham em ritmo de competição, o que altera os resultados do teste [28]. Apesar de não ser preconizado pela American Thoracic Society Statement, o teste pode ser realizado com acompanhamento do fisioterapeuta ao lado do paciente, impondo o ritmo da caminhada e oferecendo estímulo verbal, pois essas atitudes contribuem para a melhora no seu desempenho [25]. Todos os pacientes devem ser monitorados com freqüencímetro de pulso. A freqüência cardíaca deve ser anotada no 41 repouso, segundo, quarto e sexto minutos e após dois minutos do término do teste. É fundamental aferir a pressão arterial em repouso, no final e dois minutos após o término do teste. Ao final do mesmo, os pacientes devem relatar o cansaço subjetivo pela escala de Borg e anotar-se-á a metragem total percorrida nos seis minutos [1]. A distância da caminhada é dividida em quatro níveis: Nível I para os que caminharem uma distância menor do que 300 metros, Nível II, entre 300 e 375 metros, Nível III entre 375 e 450 metros e Nível IV distância maior do que 450 metros [29]. Um estudo mostrou que a mortalidade diminui à medida que a distância percorrida aumenta. Distâncias maiores do que 450 metros indicam bom prognóstico e entre 150 a 300 metros caracterizam pior prognóstico [29,30]. Importância da execução do TC6M em pacientes com IC O impacto econômico que a Insuficiência Cardíaca (IC) ocasiona para a sociedade tem motivado o interesse considerável dos programas de gerenciamento na IC em identificar intervenções que sejam eficazes sob o ponto de vista clínico e econômico. Portanto, o desenvolvimento de métodos simples, que não exijam equipamento especial de alto custo, é de grande importância na avaliação destes pacientes [31]. A avaliação da capacidade funcional é necessária para que se prescrevam exercícios para pacientes com IC de forma adequada e também para avaliar a eficácia da terapêutica utilizada. Isso pode ser conseguido com a aplicação do TC6M, uma vez que o mesmo reflete a análise de aspectos metabólicos do miocárdio e o grau de resposta isquêmica ao esforço a que está sendo submetido [28]. O TC6M propõe ser um exame submáximo que pode reproduzir atividades físicas diárias dos pacientes e avaliar o prognóstico de pacientes com IC [11]. Os centros para controle e prevenção de doenças reconhecem como atividades submáximas aquelas com intensidades de 3 a 6 METS, os quais correspondem a uma intensidade moderada para a maioria dos jovens e adultos de meia idade. Para certificar-se de que todos os pacientes se submetem ao teste submáximo, uma cuidadosa padronização foi proposta utilizando a escala de Borg, (Anexo A), na qual o nível de intensidade submáximo é definido entre fácil e ligeiramente cansativo, o qual se encontra entre os valores 11 e 13 na escala [11]. Método Trata-se de uma revisão bibliográfica constituída por artigos científicos que utilizou os seguintes bancos de dados: Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, FEG – UNESP. As bases de dados consultadas foram Medline, Scielo e Lilacs. 42 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 Foi realizado um levantamento bibliográfico utilizando as seguintes palavras-chave: insuficiência cardíaca, teste de caminhada de seis minutos, teste submáximo, six-minute walk test, heart failure, sub-maximal test. Foram selecionados apenas artigos publicados nos idiomas inglês, espanhol e português, com ano de publicação compreendido entre 1996 a 2008. Resultados e discussão Vários e diferentes estudos têm investigado se a distância percorrida durante o teste de caminhada é um indicador de prognóstico em pacientes com IC crônica. A redução dos níveis da capacidade funcional demonstrada por uma distância percorrida < 300 m durante o TC6M foi provado ser um preditor de mortalidade e morbidade, tanto em pacientes com disfunção sistólica ventricular esquerda assintomática como em pacientes com IC leve, moderada e avançada [26]. No estudo de Rubim et al. [13] com 179 pacientes portadores de IC nas classes II e III da NYHA, o objetivo foi avaliar a utilidade do teste como indicador prognóstico e sua contribuição na prática clínica desses pacientes, e verificouse que a média da distância percorrida durante o teste dos pacientes que foram a óbito foi de 480 m e os pacientes que não foram a óbito foi de 540 m, sendo assim observou-se que a distância percorrida no TC6M foi um forte marcador prognóstico para mortalidade nos portadores de IC, o que condiz com o estudo realizado por Rostagno et al. [32] cujos resultados sugeriram que a distância percorrida durante o TC6M parece ser um preditor independente da sobrevida em pacientes com insuficiência cardíaca de leve a moderada, e a mortalidade foi significativamente maior no grupo de pacientes que percorreram menos de 300 m durante o teste. Outro trabalho realizado foi o de Lawrence et al. [33], que em seus estudos com 45 indivíduos (40 homens e 5 mulheres) com idade média de 49 anos, relacionou o VO2 pico e a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos em pacientes com insuficiência cardíaca avançada submetidos a avaliação para transplante cardíaco, e identificaram que a distância percorrida no TC6M é um forte preditor do VO2 pico e que distâncias menores que 300 m previram um aumento da probabilidade de morte ou internação para transplante cardíaco no prazo de 6 meses, mas não previram a longo prazo a sobrevida de eventos cardíacos. Segundo Faggiano et al. [26], a distância percorrida durante o TC6M tende a aumentar quando o mesmo é repetido após um curto período de tempo, porém parece permanecer estável a partir do segundo e terceiro teste em diante, concordando com Refsgaard [34] onde foi demonstrado que pacientes com ICC foram capazes de percorrer uma distância estável no teste de caminhada de seis minutos após a primeira realização do teste, ou seja, à distância percorrida no segundo teste de caminhada foi maior que a distância do primeiro, condizendo também com os estudos de Rubim [13] e Wu, Sanderson, Bittner [35] nos quais foi observado que a média da distância percorrida no pré-TC6M realizado na véspera dos pacientes executarem exames mostrou ser significativamente menor do que a média da distância do TC6M propriamente dito. Segundo Guimarães et al. [8] e Faggiano [26], o incentivo dado durante o teste tem grande efeito, pois a motivação durante o exercício pode determinar um melhor desempenho físico, como o aumento da distância percorrida, da freqüência cardíaca e maior consumo de oxigênio, o que condiz com o American Thoracic Society [27], o qual relata que o incentivo aumenta significativamente a distância percorrida. Porém, segundo Refsgaard [34], o encorajamento realizado durante o teste contribui para que o paciente com IC seja capaz de caminhar significativamente mais, no entanto, as variações das instruções e do próprio encorajamento durante o teste podem contribuir para diferentes resultados, afirmando ainda que o TC6M deveria ser realizado com boas instruções e sem o encorajamento do paciente, pois este é um teste de caminhada, não uma conversa, e se isto for seguido, o TC6M fornecerá informações suplementares válidas, dos efeitos do tratamento e do estado físico do paciente. No estudo realizado por Ingle et al. [36], com uma população inicial de 1.592 participantes de 70 a 82 anos, pertencentes a classe funcional de IC de I-IV da NYHA, que apresentavam sinais clínicos de dispnéia, foi observado que os pacientes que percorreram mais de 360 m tiveram maior sobrevida em relação aos que caminharam 240 m, pois neste segundo grupo, os pacientes (212) foram a óbito. Este fato pode estar relacionado à idade avançada dos pacientes, sendo a média de 76 anos e a maior intensidade dos sintomas ao repouso, concordando com o estudo realizado por Rubim [13], em que foi observado que a maior probabilidade de óbito esteve relacionada à menor distância percorrida no TC6M e a idade mais avançada, o que também se assemelha com o estudo de Pires et al. [6] realizado com 122 indivíduos saudáveis, separados em três grupos (grupo 1: 20-40 anos; grupo 2: 40-60 anos e grupo 3: > 60 anos), no qual constatou-se que quanto maior a idade, menor foi a distância percorrida. Este fato pôde ser observado tanto em pacientes saudáveis, como em pacientes com disfunção cardíaca. De acordo com Faggiano [26], o TC6M pela sua simplicidade de realização, seu tempo de execução (6 minutos) e aceitação (sintoma-limitado), tem mostrado ser um teste submáximo, porém em relação ao consumo de oxigênio (VO2) o teste se assemelha ao esforço máximo e isso pode ser observado nos pacientes que apresentam quadros mais severos de IC, o que se confirma no estudo de Guimarães et al. [8] que demonstra que o TC6M, quando aplicado na sua forma original, alcança níveis de esforço relativamente altos, sugerindo que os determinantes da capacidade de exercício submáximo e máximo neste grupo de pacientes, podem não diferir. Araújo et al. [25] em seus estudos compararam os resultados do TC6M realizado com estímulo verbal e com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 acompanhamento de um fisioterapeuta ao lado do paciente; com a realização do TC6M somente com o estímulo verbal. Em 30 pacientes separados em 2 grupos (grupo1: 14 portadores de doença cardíaca; grupo 2: 16 sem doença cardíaca), sendo observado que o teste sem acompanhamento atingiu um nível de esforço submáximo e no teste com acompanhamento a freqüência cardíaca atingida se assemelhou ao esforço máximo em ambos os grupos, sugerindo que quando o objetivo for avaliar a capacidade física, o acompanhamento estimula um maior desempenho cardiovascular mais próximo do máximo. Segundo Santos e Brofman [37], no estudo com 30 pacientes portadores de insuficiência cardíaca, a qualidade de vida foi relacionada com a distância percorrida no TC6M e com a classe funcional de IC segundo a NYHA, e foi constatado que há uma importante correlação entre estas variáveis, sendo que quanto maior à distância percorrida no teste, melhor é a qualidade de vida e quanto maior a classificação segundo a NYHA, menor é a qualidade de vida desses pacientes. Por outro lado, Opasich et al. [38] afirmam que em pacientes com IC de moderada a grave, a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos não se relaciona com a função cardíaca e apresenta uma pequena relação com a capacidade de exercício, ou seja, não fornece informações prognósticas que complementam ou substituem as informações obtidas pelo VO2 pico ou a classe NYHA, desse modo, nessa população de pacientes o teste apresenta uma limitada utilidade com indicador decisório na prática clínica. Opasich et al. [39] aplicaram o teste de caminhada de seis minutos em 2.555 pacientes, com idade média de 70 anos, pós-cirurgia cardíaca admitidos no Departamento de Reabilitação Cardíaca Salvatore Maugeri Fundation e compararam a média da distância percorrida no TC6M com as variáveis idade, sexo, presença de comorbidades e Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE), onde se observou que a distância percorrida em seis minutos foi significativamente associada ao sexo, idade e presença de pelo menos uma comorbidade. A FEVE teve fraca associação com teste, porém teve significativa correlação com a distância percorrida por homens. Pôde-se observar também, que os homens caminharam mais que as mulheres e que a presença de uma ou mais condições comórbidas, afetou negativamente o desempenho no teste, independente do sexo e idade. Segundo a declaração da American Thoracic Society [27], o TC6M avalia de forma global e integrada a resposta de todos os sistemas envolvidos durante o exercício e os pacientes severamente prejudicados não impõem ritmo máximo durante o teste, uma vez que escolhem sua própria intensidade e estão autorizados a parar e descansar quando necessário. Porém, a maioria das atividades de vida diária é realizada abaixo dos níveis de esforço máximo, desta forma, pode-se dizer que o teste de caminhada de seis minutos reflete melhor o nível funcional e se assemelha com o esforço realizado nas atividades físicas diárias. 43 Conclusão Conclui-se que o TC6M é uma ferramenta útil, simples, de baixo custo e de fácil realização para avaliação da capacidade funcional e prognóstico de pacientes com IC, pois de acordo com a distância percorrida pode-se determinar o real estado físico do paciente. Com relação as suas perspectivas de atuação, por tratarse de um teste submáximo ele impõe uma menor sobrecarga cardiovascular, sendo mais seguro e melhor tolerado pelo paciente, possibilitando-o determinar o ritmo da caminhada tolerada, o que é uma vantagem para aqueles mais limitados fisicamente e que certamente não tolerariam um teste de esforço máximo. Referências 1. Bueno AKM, Umeda IIK, Kawauchi TS. Fisioterapia na reabilitação de pacientes com miocardiopatias. In: UMEDA, I. I. K. Manual de fisioterapia na reabilitação cardiovascular. São Paulo: Barueri; 2006. p. 104-113. 2. Ramos RB, Fabri JRJ, Mansur APA. Insuficiência cardíaca no Brasil e no mundo e avaliação de sua influência sócio econômica. In: Nobre F, Serrano JRCV. Tratado de Cardiologia-SOCESP. São Paulo: Barueri; 2005. p.733-734. 3. Freitas HFG, Chizzola PR, Markus MRP, Mansur AJ, Bocchi EA. Prognóstico em portadores de insuficiência cardíaca sintomática grave. In: Barreto ACP, Bocchi EA, ed. Insuficiência Cardíaca. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 45 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. 46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009 47 Calendário de eventos 2009 Julho 18 a 26 de julho Março 26 a 29 de março Saúde Sport e Fitness Centro de Convenções de Goiânia Informações: (61) 3349-0101 [email protected] VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Física Informações: (011) 2714-5678 www.encontrophorte.com.br [email protected] Setembro X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a Terceira Idade Abril 3 a 7 de abril Núcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) 20 a 25 de Setembro 35º ENAPEF Capão da Canoa, RS Informações: www.apefrs.com.br XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Informações: [email protected] 17 e 21 de abril II Congresso Internacional de Educação Física e Qualidade de Vida Universidade Católica de Brasília Brasília, DF Informações: www.ucb.br/edfisica/congresso Novembro 6 a 8 de novembro Maio 13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro - SIAFis RJ Auditório da Escola Naval Rio de Janeiro, RJ Informações: [email protected] 7 a 9 de maio 21o Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte 9º Congresso Paulista de Medicina do Esporte Centro de Convenções Rebouças São Paulo, SP Informações: www. medicinadoesporte.org.br CURSO 11 a 17 de abril Abril Ciências da Performance Humana UFRJ - Especialização Latu Sensu EEFD / UFRJ Informações: (21) 2562-6803 / 2562-6826 / 8122-0060 [email protected] R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 8 número 2 - abril/junho 2009 EDITORIAL Novas perspectivas, Prof. Dr. Walace David Monteiro ............................................................................................... 51 ARTIGOS ORIGINAIS Comparação entre diferentes modelos de obtenção de velocidade crítica em nadadores juvenis: aplicações e considerações metabólicas, Rodrigo Zacca, Flávio Antônio de Souza Castro .......................................................................................................... 52 Mobilidade funcional e equilíbrio de idosos praticantes de exercícios físicos versus indivíduos sedentários, Fábio Marcon Alfieri, Aline Werner, Anieli Baciega Roschel ...................................... 61 Efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados na glicemia de atletas do jiu-jitsu, José Fernando de Oliveira, Fernando Mauro de Mello e Silva, Fabio Henrique Ornellas, Antonio Coppi Navarro, Francisco Navarro ........................................................................ 65 A comparação de esforço de idosos atletas e idosos não atletas no protocolo de Bruce original, Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, Nathália Maria Resende, Vivian Lamounier Camargos Resende Silva, Romeu Paulo Martins Silva Lamounier, Foued Salmen Espindola, Rimmel Amador Guzman Heredia, Elmiro Santos Resende ................................................ 71 Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada de ambos os sexos em diferentes velocidades, Sebastião Iberes Lopes Melo, Juliane de Oliveira, Mário César Andrade, Raquel Pinheiro Gomes, Roberta Pires .................................................................................... 77 Estimulação cerebral auditiva e fótica: efeito agudo na memória de trabalho, atenção concentrada e tempo de reação em criança com diagnóstico de hiperatividade (TDAH), Maurício Rocha Calomeni, Nilo Terra Arêas Neto, Karla Osires Freire, Bianca Kalil de Macedo Jakubovic, Vernon Furtado da Silva ....................................................................................... 84 Relação entre flexibilidade, composição corporal e índice de massa corporal (IMC) de crianças do sexo feminino de Caratinga-MG, Juliana Santos Anselmo, Marcus Vinicíus de Mello Pinto ............................................................................................ 90 RELATO DE CASO Efeito do exercício físico na remodelação miocárdica: relato de caso, Jefferson Petto, George Robson Ferraz, Anna Jessyca Lima Garrido, Carla Laine Silva Santos, Priscila Ramos ...................................................................................................................... 95 REVISÃO Variabilidade da freqüência cardíaca: método não-invasivo de avaliação do limiar ventilatório, André Lopes, Vinicius Dias, Cintia Stocchero, Giovani dos Santos Cunha, Álvaro R. de Oliveira ........................................................................................................ 99 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 106 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 108 50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Martim Bottaro (DF) Amandio Rihan Geraldes (AL) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Carlos Gomes (PR) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Robert Robergs (USA) Benedito Sérgio Denadai (SP) Rosane Rosendo (SC) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Sebastião Gobbi (SP) Douglas S. Brooks (EUA) Steven Fleck (USA) Emerson Silami Garcia (MG) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Martins (PB) Vilmar Baldissera (SP) Francisco Navarro (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 /3361 9932 E-mail: [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello Editor assistente – Publicidade Guillermina Arias [email protected] Direção de arte Assistente de vendas – Atendimento Assinatura Cristiana Ribas Márcia P. Nascimento 1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00 [email protected] [email protected] www.eventoserevistas.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 51 Editorial Novas perspectivas Prof. Dr. Walace David Monteiro Editor Associado da RBFEx O credenciamento de um periódico passa por diversos requisitos. Além da qualidade dos artigos publicados e dos órgãos em que o mesmo é indexado, considera-se a manutenção da periodicidade do veículo científico. Com relação a este último quesito, é importante destacar que a RBFEx vem recuperando sua periodicidade, o que permite pensar em vôos mais altos. No ano passado, visando aumentar a demanda de artigos submetidos, foram implantadas diversas áreas relacionadas à fisiologia para submissão de artigos, o que permitiu uma maior variedade do conteúdo publicado, aumentando o número de leitores da revista. A partir de 2009 outra importante mudança será implementada na RBFEx. A revista passará a ser trimestral, adicionando desta forma um número a mais aos publicados nos anos anteriores. Em grande parte, isso está sendo possível devido à quantidade de artigos que temos recebido, bem como ao inestimável apoio da Editora Atlântica. Outro importante aspecto a ser destacado diz respeito aos autores provenientes de diferentes áreas da saúde, que têm identificado na RBFEX uma alternativa para veicular o conhecimento por eles produzido. Caracteriza-se, portanto, a fisiologia do exercício como área multidisciplinar de conhecimento. Essa, aliás, foi a premissa sob a qual se fundou a Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício. Desejava-se, naquele ano de 2002, criar um espaço em que profissionais com diferentes formações, mas interessados na temática, pudessem interagir e trocar idéias sem preocupações corporativistas. A diversidade dos autores que vêm publicando na RBFEx traduz essa concepção inicial, o que nos deixa muito satisfeitos. Desse modo, não podemos deixar de fechar o presente editorial sem conclamar os pesquisadores a submeter seus trabalhos à nossa revista, de maneira a melhorá-la cada vez mais. Boa leitura! 52 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Artigo original Comparação entre diferentes modelos de obtenção de velocidade crítica em nadadores juvenis Comparison between different models to determine the critical speed in young swimmers Rodrigo Zacca*, Flávio Antônio de Souza Castro* *Laboratório de Pesquisa do Exercício – LAPEX – Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre Resumo Abstract Velocidade Crítica (VC): máxima intensidade sustentável por um período prolongado sem alcançar o VO2máx, ou seja, o limite inferior da zona de intensidades severas. Objetivo: obter e comparar valores de VC obtidos por meio de nove modelos de diferentes números e combinações de distâncias, utilizando o mesmo grupo de nadadores. Método: Onze nadadores juvenis (idade: 14,4 ± 0,5 anos, massa corporal: 60,6 ± 7,0 kg, estatura: 175,5 ± 5,2 cm, envergadura: 182,2 ± 4,9 cm), com índice de participação em Campeonatos Brasileiros participaram deste estudo. Para a determinação dos diferentes modelos de VC, os atletas realizaram, em nado crawl, testes de 50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m e 1500 m sob máxima intensidade. Para a determinação da VC1 foram utilizadas as distâncias de 50 e 200 m; VC2, 100 e 400 m; VC3, 200 e 800 m, VC4, 400 e 1500 m, VC5, 50, 100 e 200 m; VC6, 100, 200 e 400 m; VC7, 200, 400 e 800 m; VC8, 400, 800 e 1500 m; e para a VC9, 50, 100, 200 e 400 m. Resultados: VC1 (1,28 ± 0,07 m/s), VC5 (1,27 ± 0,07 m/s) e VC9 (1,26 ± 0,07 m/s) apresentaram maiores valores que VC4 (1,19 ± 0,09 m/s) e VC8 (1,19 ± 0,10 m/s). VC4 e VC8 foram semelhantes aos modelos VC2 (1,25 ± 0,07 m/s), VC3 (1,21 ± 0,07 m/s), VC6 (1,25 ± 0,07 m/s) e VC7 (1,20 ± 0,07 m/s). VC6 foi similar a todos os modelos de VC. Conclusão: distâncias percorridas em aproximadamente 60 segundos ou menos parecem induzir a valores mais altos de VC comparados a outras combinações, sugerindo assim a exclusão da distância de 50 m e, se necessário, também a distância de 100 m na confecção de modelos para determinação da mesma. Por outro lado, a exclusão das distâncias mais longas (800 m e 1500 m) parece não alterar o valor da VC em relação aos modelos de VC confeccionados com inclusão de distâncias percorridas em tempos superiores a 60 s. Critical velocity (CV): maximum intensity sustainable for a long time without achieving the VO2max, that is the lower limit of the zone of severe intensity. Objective: To obtain and compare values of CV obtained by means of nine models of different combinations of numbers and distances, using the same group of swimmers. Methods: Eleven young swimmers (age: 14.4 ± 0.5 years, body mass: 60.6 ± 7.0 kg, height: 175.5 ± 5.2 cm; upper arm span: 182.2 ± 4.9 cm ), national level, participated in this study. To determine the different types of VC, the athletes performed, in front crawl swimming, tests of 50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m 1500 m under maximum intensity. To determine the VC1 were used distances of 50 and 200 m; VC2, 100 and 400 m; VC3, 200 and 800 m; for the VC4, 400 and 1500 m; for the VC5, 50, 100 and 200 m; for VC6, 100, 200 and 400 m; for VC7, 200, 400 and 800 m; for VC8, 400, 800 and 1500 m; and for VC9, 50, 100, 200 and 400 m. Results: VC1 (1,28 ± 0,07 m/s), VC5 (1.27 ± 0.07 m/s) and VC9 (1.26 ± 0.07 m/s) showed higher values than VC4 (1.19 ± 0.09 m/s) and VC8 (1.19 ± 0.10 m/s). VC4 and VC8 models were similar to VC2 (1.25 ± 0.07 m/s), VC3 (1.21 ± 0.07 m/s), VC6 (1.25 ± 0.07 m/s) and VC7 (1.20 ± 0.07 m/s). VC6 was similar to all CV models analyzed. Conclusion: distances walked in around 60 seconds or less seem to lead to higher values of CV compared to other combinations, thus suggesting the exclusion of the distance of 50 m and, if necessary, also the distance of 100 m to build models for determining the same. Furthermore, the exclusion of longer distances (800 m 1500 m) does not seem to change the value of CV in relation of the modes of VC that were built with inclusion of distances traveled in times higher than 60 s. Key-words: swimming, performance, critical power. Palavras-chave: natação, desempenho, potência crítica. Endereço para correspondência: Rodrigo Zacca, Rua Jarí, 619/1104 torre 3 Passo d´Areia 91350-170 Porto Alegre RS, Tel: (51) 9223-9076, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução Na natação, como outros esportes, tendo em vista o desempenho, o tempo despendido para os treinamentos precisa ser otimizado. A busca pela praticidade nas sessões em piscina e a necessidade de um protocolo confiável para avaliar o estado de treinamento do atleta é constante, visto o grande número de competições de alto nível a cada temporada e as diversas atividades que um atleta possui além de seu treinamento. Faz-se necessário, então, que técnicos e responsáveis diretos direcionem seus trabalhos de forma objetiva, rápida e econômica, de modo que não se perca a qualidade durante as sessões de treinamento. Estabelecer o limiar anaeróbio individual (LAI) é um passo importante para um bom desenvolvimento e controle no treinamento de natação. Sem uma monitoração adequada das condições físicas do nadador, não é possível verificar as suas necessidades fisiológicas, prescrever com eficácia a dinâmica das cargas e avaliar com precisão a evolução ou involução produzida com o treinamento em um determinado período de tempo [1]. Os testes utilizados para a avaliação do estado fisiológico do atleta e prescrição das intensidades de nado são, em sua maioria, semelhantes, baseados na relação entre consumo de oxigênio (VO2), concentração de lactato sérico ([La]) e velocidade de nado [2]. No entanto, apesar da precisão na utilização de protocolos complexos e/ou invasivos, o dispêndio de tempo em sua aplicação, aliado aos conflitos éticos que envolvem os procedimentos com nadadores jovens [3,4] são os principais motivos para uma busca constante de metodologias práticas e não-invasivas. Nesse sentido, a velocidade crítica (VC) [5], as velocidades de 20 (V20) [6] e 30 minutos (V30) [7], os testes de 2000 m (T2000) [8] e 3000 m (T3000) [9] e o esforço percebido (EP) [10], aparecem como alternativas para técnicos de natação. Muitos treinadores avaliam o estado de treinamento de seus nadadores por meio de intensidades de nado equivalentes ao limiar anaeróbio (LA) utilizando o EP [10-13]. No entanto, apesar de diversos estudos [12,14,15] apresentarem uma forte correlação entre o EP e a resposta do lactato sérico ao exercício (BLRE), o EP mostra-se aplicável em um grupo restrito de nadadores, pois exige uma boa base de treinamento para que se nade séries longas com ajustes mínimos de intensidade entre cada repetição [16]. A aplicação de testes longos como o T30 [7], por sua vez, pode proporcionar informações para prescrição de intensidade ainda mais subjetivas, principalmente quando aplicadas em nadadores jovens e/ou com pouco tempo de experiência em natação competitiva, já que os avaliados deveriam manter suas velocidades de nado por longo tempo, necessitando de perfil psicológico compatível com a demanda do teste [16]. A VC, máxima intensidade sustentável por um período prolongado sem alcançar o VO2máx, ou seja, o limite inferior da zona de intensidades severas [5,17,18] demonstra ser um protocolo de fácil aplicação, pois há a possibilidade de se obtê- 53 la por meio de testes em máxima intensidade com distâncias percorridas em tempos muito inferiores aos testes longos como o T30 [19-23], por exemplo. Cabe ressaltar, também, que a ausência de conflitos éticos envolvendo nadadores jovens (pois a VC é uma metodologia não–invasiva), o baixo custo e a rapidez em sua aplicação, resultam em trabalhos mais objetivos, rápidos e econômicos, sem perder a qualidade durante as sessões de treinamento. Por meio de uma adaptação direta do conceito de potência crítica (PC), previamente estudado por Monod & Scherrer [24], Ettema [25], utilizou-se dados de recordes mundiais datados em atletas de natação, corrida, ciclismo e patinação de velocidade para predizer desempenho e explicar os limites da resistência humana. Surgiu então o termo Velocidade Crítica (VC). Alguns anos mais tarde, Wakayoshi et al. [26] aprimoraram a VC definindo-a como um método simples e não-invasivo para a avaliação e controle em natação. Inicialmente, o conceito de VC foi aplicado em Swimming Flume [26] como a máxima velocidade possível de ser mantida por um longo período de tempo sem exaustão, a qual seria obtida por meio da inclinação da reta (b) de regressão entre a distância de teste ou de prova e o respectivo tempo, quando a primeira é nadada à máxima velocidade. Estudos [5,27,28] demonstraram que a VC pode ser estimada por meio dos melhores tempos oficiais de prova que um nadador realizou em um determinado período. Em um estudo [20] com 23 nadadores de nível nacional (idade: 15 a 20 anos), cujo interesse foi verificar o efeito do nível de desempenho aeróbio na relação entre freqüência de braçada em VC (FBVC) e velocidade máxima do T30 (FBS30), os resultados obtidos indicaram que o nível de desempenho aeróbio não parece influenciar a relação entre FBVC e a FBS30. Assim, a VC poderia fornecer informações de aspectos fisiológicos e também servir um índice associado com a habilidade biomecânica, representando uma importante ferramenta para a avaliação, prescrição e controle do treinamento [29]. A VC mostra-se aplicável principalmente para aqueles atletas das categorias iniciais (infantil, juvenil) que ainda não utilizam o EP por motivos citados anteriormente. Da mesma forma, aplicar a VC na avaliação e controle de nadadores recreacionais em academias, clubes ou escolas, ocasionaria grande praticidade na avaliação e controle dos mesmos. Ainda, a VC é aplicável inclusive quando há um grande número de atletas treinando simultaneamente, devido ao método simples de obtenção dos dados (distância e tempo) e, sobretudo por se tratar de procedimento individualizado e não-invasivo [30]. No entanto, Calis et al. [13] e Bishop et al. [31] acreditam que a escolha das cargas empregadas para a determinação de potência crítica podem nos levar a valores diferentes. Wakayoshi et al. [32], por exemplo, que inicialmente utilizaram quatro distâncias (50 m, 100 m, 200 m e 400 m, utilizaram apenas duas (200 m e 400 m) em um estudo com oito nadadores universitários treinados [33]. Outros estudos também utilizaram modelos de quatro distâncias (Wrigth 54 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 por sessão. Antes da participação nos protocolos, os pais ou responsáveis e os indivíduos foram informados de todos os procedimentos inerentes aos testes, assinando um termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo CEP/UFRGS (nº 2007888). & Smith [28] – 50 m, 100 m, 200 m e 1200 m; Vilas-Boas et al. [1] – 50 m, 100 m, 200 m e 1500 m; Filipatou et al. [34] – 50 m, 100 m, 200 m e 400 m). Rodrigues et al. [35] avaliaram 51 nadadores de nível nacional (18 - 26 anos) utilizando duas distâncias (100 m e 400 m). Em um estudo com 29 nadadores, Reis et al. [21] também determinaram a VC com apenas duas distâncias (200 m e 400 m), e definiramna como um ótimo indicador da influência do treinamento. Assim, o objetivo deste estudo foi obter e comparar valores de VC obtidos por meio de quatro modelos de dois componentes, quatro modelos de três componentes e um modelo de quatro componentes, todos com diferentes combinações de distâncias, utilizando o mesmo grupo de nadadores. Determinação dos diferentes modelos de velocidade crítica Para a determinação dos diferentes modelos de VC, os atletas realizaram em nado crawl, testes de 50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m e 1500 m sob máxima intensidade. Os testes máximos foram realizados durante um período de 16 dias, em ordem aleatória, com no mínimo 48 h de intervalo entre a realização de cada um, em piscina de 50 m, aquecida, com temperatura da água controlada (28 ± 0,5º) e no mesmo horário do dia. A VC foi determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear (Equação 1) entre as distâncias e os respectivos tempos obtidos em cada repetição [26]. Material e métodos Onze nadadores da categoria juvenil, filiados à Federação Gaúcha de Desportos Aquáticos, com índice de participação em Campeonatos Brasileiros de sua categoria e experiência competitiva na modalidade de 5 ± 1,4 anos foram voluntários para este estudo. Os valores de estatura, massa corporal, envergadura, especificações de prova e estilo são apresentados na Tabela I. Os atletas mantinham uma freqüência de seis a oito sessões de treinos semanais e 6 a 8 km de distância nadada Y=a+b*x Onde: y = valor de ordenada (eixo dos yy) → valor da distância nadada (m) Tabela I - Valores de estatura, massa corporal, envergadura, especificações de prova e estilo. Indivíduo nº Especialidade Prova (m) / estilo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 F VEL MF VEL-MF VEL-MF MF VEL F MF VEL MF 400/800/1500 CR 100 BO 200 CR 100/200 PE 100/200 PE 200 MED 50/100 CR AGUAS ABERTAS 200/400 MED 100 BO 200 MED Média Desvio Padrão Idade (anos) 14 14 14 15 14 14 14 15 14 15 15 14,4 0,5 Estatura (cm) Envergadura (cm) 188,5 171 176 175 173,5 168 178 173 178 176,5 173 175,5 5,2 195,5 178 181 182,5 179,5 176 183 182 182 183,5 181 182,2 4,9 Massa corporal (kg) 73,4 64,2 67 52,3 60,5 47,7 61,5 63,6 57,1 57,1 62,3 60,6 7,0 MED = medley; BO = borboleta; PE = peito; CR= crawl; VEL = velocista; MF = meio fundista; F = fundista. Tabela II - Valores médios com respectivos desvios-padrão (dp) dos tempos (s) obtidos nas distâncias de 50, 100, 200, 400, 800 e 1500 m. Média ± dp Distâncias (m) e respectivos tempos (s) 50 m 100 m 200 m 29,3 ± 1,6 s 65,6 ± 3,5 s 146,5 ± 7,5 s 400 m 305,0 ± 16,6 s 800 m 643,5 ± 36,7 s 1500 m 1230,9 ± 88,5 s Tabela III - Valores médios e desvios-padrão (dp) dos nove modelos propostos neste estudo para a obtenção de VC (m/s). Média ± dp Velocidades (m/s) de cada modelo de VC VC1 VC2 VC3 VC4 1,28 ± 1,25 ± 1,21 ± 1,19 ± 0,07 0,07 0,07 0,09 VC5 1,27 ± 0,07 VC6 1,25 ± 0,07 VC7 1,20 ± 0,07 VC8 1,19 ± 0,10 VC9 1,26 ± 0,07 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 x = valor de abcissa (eixo dos xx) → valor do tempo para a distância nadada (s) a = valor da ordenada na origem → valor ao qual a reta intercepta o eixo dos yy na origem do eixo dos xx (m) b = valor da inclinação da reta → velocidade crítica (m/s) Figura 1 - VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio de modelos obtidos com duas distâncias. Para a determinação da VC1 foram utilizadas as distâncias de 50 e 200 m; para a VC2 foram utilizadas as distâncias de 100 e 400 m; para a VC3 foram utilizadas as distâncias de 200 e 800 m, para a VC4 foram utilizadas as distâncias de 400 e 1500 m, para a VC5 foram utilizadas as distâncias de 50, 100 e 200 m; para a VC6 foram utilizadas as distâncias de 100, 200 e 400 m; para a VC7 foram utilizadas as distâncias de 200, 400 e 800 m; para a VC8 foram utilizadas as distâncias de 400, 800 e 1500 m; e para a VC9 foram utilizadas as distâncias de 50, 100, 200 e 400 m. O programa Excel foi utilizado para a plotagem dos dados e cálculo das equações de reta. Para a realização deste estudo foi necessária a utilização de três cronômetros manuais a fim de serem obtidos os tempos (t) para as distâncias (d) de 50 a 1500 m. Todos os atletas estavam envolvidos em seus programas de treinamento, o qual se caracterizava por apresentar grandes volumes e níveis de carga baixos a moderados. Previamente ao início de cada teste, os atletas realizavam um aquecimento determinado pelo treinador de aproximadamente 2000 m, com intensidade moderada e estilos variados. Os testes foram aplicados logo após o aquecimento. Cada atleta tinha direito à apenas uma tentativa e a saída foi realizada de cima do bloco. Os atletas foram verbalmente incentivados a realizar cada teste em máxima intensidade. Logo a seguir, os atletas finalizavam seus treinamentos. Análise estatística Para a comparação dos valores de VC1, VC2, VC3, VC4, VC5, VC6, VC7, VC8 e VC9 foram calculadas as médias, desvios padrão e erros padrão. Verificou-se a normalidade (Teste de Shapiro-Wilk) e a esfericidade (Teste de Mauchly) dos dados. Quando calculada a equação da reta de inclinação linear, foi calculado o coeficiente de determinação (r2). Aplicou-se uma Anova para medidas repetidas, com verificação dos efeitos principais com Teste de Bonferroni. Quando necessário foi utilizado fator de correção “Epsilon” de Greenhouse-Geiser. Adotou-se como significância 0,05 para todas as análises. Os cálculos foram realizados no pacote estatístico SPSS v. 12.0 Resultados A Tabela II apresenta os valores médios (com respectivos desvios-padrão) dos tempos obtidos nas distâncias de 50, 100, 200, 400, 800 e 1500 m. A Tabela III apresenta os valores médios (com respectivos desvios-padrão) de VC1, VC2, VC3, VC4, VC5, VC6, VC7, VC8 e VC9. 55 VC1 (50 e 200 m); b) VC2 (100 e 400 m); c) VC3 (200 e 800 m); d) VC4 (400 e 1500 m) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição. 56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Figura 2 - VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio de modelos obtidos com três distâncias. A Figura 1 apresenta a VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio dos modelos obtidos com duas distâncias (VC1, VC2, VC3 e VC4) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição. A Figura 2 apresenta a VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio dos modelos obtidos com três distâncias (VC5, VC6, VC7 e VC8) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição. A Figura 3 apresenta a VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio do modelo obtido com quatro distâncias (VC9) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição. Figura 3 - VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio de um modelo obtido com quatro distâncias: VC9 (50, 100, 200 e 400 m) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição. A Tabela IV apresenta as diferenças significativas encontradas entre os nove modelos de VC propostos neste estudo (F = (2,445; 24,454) = 14,940; p < 0,001; η2 =0,599). Discussão a) VC5 (50, 100 e 200 m); b) VC6 (100, 200 e 400 m); VC7 (200, 400 e 800m); VC8 (400, 800 e 1500 m) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição. O objetivo central deste estudo foi comparar os valores de VC determinados a partir de nove modelos diferentes com dois, três e quatro componentes. Os principais resultados encontrados foram: a) os modelos VC1(1,28 ± 0,07 m/s), VC5 (1,27 ± 0,07 m/s) e VC9 (1,26 ± 0,07 m/s), que utilizaram a menor distância (50 m), apresentaram maiores valores que os modelos VC4 (1,19 ± 0,09 m/s) e VC8 (1,19 ± 0,10 m/s) que utilizaram a maior distância (1500 m); b) Os modelos VC4 e VC8, no entanto, foram semelhantes aos modelos VC2 (1,25 ± 0,07 m/s), VC3 (1,21 ± 0,07 m/s), VC6 (1,25 ± 0,07 m/s) e VC7 (1,20 ± 0,07 m/s); c) a VC6 foi similar com todos os modelos de VC. As diferenças encontradas entre os nove modelos para obtenção dos valores de VC podem estar relacionadas às rotas metabólicas predominantes utilizadas para percorrer cada uma das seis distâncias utilizadas nesse estudo. A capacidade metabólica é um dos fatores determinantes do Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 57 Tabela IV - Diferenças entre as médias dos modelos de velocidade crítica da vertical em relação as médias dos modelos de velocidade crítica da horizontal. VERTICAL (m/s) Modelos de VC Utilizados (m/s) 50 e 200 m VC1 100 e 400 m VC2 200 e 800 m VC3 400 e 1500 m VC4 50, 100 e 200 m VC5 100, 200 e 400 m VC6 200, 400 e 800 m VC7 400, 800 e 1500 m VC8 50, 100, 200 e 400 m VC9 Horizontal (m/s) VC1 VC2 1,28 ± 0,07 1,25 ± 0,07 -0,073 p=0.050 -0,089 p=0.001 VC3 VC4 VC5 VC6 VC7 VC8 VC9 1,21 ± 0,07 1,19 ± 0,09 0,081 1,27 p=0.003 ± 0,07 1,25 ± 0,07 -0,077 p=0.033 -0,089 p=0.001 1,20 ± 0,07 -0,081 p=0.003 0,01 0,055 p=0.004 desempenho do nadador, e seu treinamento deve ser prescrito para desenvolver a habilidade de gerar energia tanto de forma aeróbia como anaeróbia [22]. A energia necessária para nadar certa distância é suprida por três sistemas necessários para a contração muscular: 1) o sistema fosfagênio; 2) o sistema glicolítico e 3) o sistema oxidativo. Nadadores de provas curtas utilizam predominantemente as reservas de ATP-CP e o sistema glicolítico, ao passo que nadadores de provas médias e longas utilizam principalmente o metabolismo oxidativo [6]. O interesse em verificar as interações e relações de contribuição desses sistemas de energia, durante o exercício máximo, surgiu na literatura entre 1960 e 1970 [23]. Em geral, tiros curtos são normalmente associados a exercícios predominantemente anaeróbios. Muitas tabelas, com o objetivo de atualização do predomínio energético em função do tempo de esforço, basearam-se em antigos cálculos de Foxdal et al. [36] que utilizavam o déficit de oxigênio como medidor de suprimento anaeróbio de energia. No entanto, Ogita [22] relatou que a contribuição dos sistemas de energia aeróbia e anaeróbia foi praticamente igual em exercícios de 60 s em intensidade máxima, sugerindo que a contribuição do sistema aeróbio, mesmo em distâncias curtas, não pode ser negligenciada. Ainda de acordo com Ogita [22], observou-se que em tiros curtos de 15 s, a energia aeróbia supria 15-20% da demanda energética, e mais de 65% em tiros de 2-3 min. Gastin [23] sugere que o método proposto por Foxdal et al. [36] superestima consideravelmente a participação do metabolismo anaeróbio para o fornecimento de energia. Gastin [23] analisou 30 estudos que relataram a contribuição do sistema aeróbio durante exercícios máximos utilizando 0,072 p=0.024 1,19 ± 0,10 0,059 0,071 1,26 p=0.023 p=0.030 ± 0,07 técnicas de modelagem matemática, e observou uma contribuição importante deste sistema nos exercícios de alta intensidade. Com resultados semelhantes aos sugeridos por Ogita [22], Gastin [23] sugere que a duração do exercício máximo que resulta em iguais contribuições dos sistemas de energia aeróbio e anaeróbio, está entre um e dois minutos, e muito provavelmente em torno de 75 s. Estes resultados mostram que o sistema aeróbio responde rápido às demandas de exercícios de alta intensidade, porém é incapaz de manter a demanda energética do início do exercício. Não existem dúvidas de que cada sistema de energia está melhor preparado para suprir a energia requerida de exercícios com as suas próprias características metabólicas, embora isto não implique em exclusividade [23]. Em nosso estudo, a confecção de modelos de VC com inclusão da distância de 50 m, induziu a maiores valores de VC quando comparados a outras combinações que utilizaram distâncias acima de 200 m ou maiores. A justificativa para este fato pode estar no fato de a distância de 50 m, quando em máxima intensidade, ser suprida preferencialmente pelo sistema de energia anaeróbio [23,22]. A similaridade encontrada entre os valores de VC4 e VC8 (modelos que utilizaram a distância de 1500 m para sua determinação) com o valor de VC2, VC3, VC6 e VC7 (modelos que não utilizaram a distância de 50 m) pode ser justificada. Isto por que a partir de, aproximadamente, 60 [11] a 75 s [23], parece existir uma predominância do sistema aeróbio na ressíntese de ATP. Esta faixa de tempo identifica a média de tempo encontrada em nosso estudo para a menor distância (100 m = 65,6 ± 3,5 s), imediatamente após a de 50 m e utilizada na confecção dos modelos 58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 de VC2 e VC6. Assim, baseado também nos resultados encontrados em nosso estudo, acreditamos que quando utilizarmos distâncias para confecção de modelos de VC, que provavelmente serão percorridas em aproximadamente 60 segundos ou menos, os valores de VC serão superiores aos modelos que não utilizarem estas distâncias. Dekerle et al. [19], em um estudo com nadadores bem treinados (18,6 ± 1,9 anos), sugeriu que a velocidade do teste de 30 min (V30) não é diferente da VC obtida do modelo com distâncias de 200 m e 400 m, mas é superestimada em 3,2%, recomendando a distância de 200 m como provável limite inferior na confecção dos modelos de VC. Greco et al. [20], analisando 31 nadadores (grupo1: 10 a 12 anos; grupo 2: 13 a 15 anos), e utilizando VCI (25, 50 e 100 m), VCII (100, 200 e 400 m) e VCIII (50, 100 e 200 m), concluíram que a distância utilizada na determinação da VC interfere no valor obtido independente da idade cronológica, podendo provocar diferentes adaptações quando utilizada para a prescrição do treinamento. No grupo 1 (10 a 12 anos), a VCI (0,98 ± 0,17 m/s) apresentou maior valor que VCII (0,92 ± 0,16 m/s) e VCIII (0,89 ± 0,18 m/s). No entanto, VCII e VCIII foram similares. A mesma relação (VCI > VCII e VCIII; VCII ≅ VCIII) foi verificada no grupo 2. Ainda, o valor de VCI (0,98 ± 0,17 m/s) do grupo 1 foi similar ao valor da velocidade em limiar anaeróbio, assumido em 4mM, (V4mM= 0,97 ± 0,12m/s), sendo maior que as velocidades mantidas em testes de 20 (V20 = 0,92 ± 0,11 m/s) e 30 (V30 = 0,90 ± 0,11 m/s) minutos. No grupo 2, o valor de VCI (1,11 ± 0,11 m/s) foi maior que V4mM (1,02 ± 0,07 m/s), V20 (0,99 ± 0,09 m/s) e V30 (0,97 ± 0,09 m/s). No entanto, os valores de VCII e VCIII foram similares à V4mM, V20 e V30. Assim, estabeleceu-se que VCII e VCIII poderiam prever a maior velocidade que poderia ser mantida por 20 ou 30 minutos, independente da idade cronológica. Contudo, a relação entre a VC e a velocidade em limiar anaeróbio (V4mM) é dependente da distância empregada e da idade cronológica na determinação dos modelos de VC, determinando, assim, intensidade maior do que poderia ser mantida por 20 ou 30 min, independente da idade cronológica. Deste modo, concluiu-se que a VC determinada com distâncias entre 50 e 400 m poderia ser utilizada na avaliação da capacidade aeróbia de crianças e adolescentes, substituindo com vantagens os testes contínuos máximos com durações próximas a 20 ou 30 min. No presente estudo, a comparação entre os nove diferentes modelos de determinação de VC apresentou resultados semelhantes. A VC6, que foi determinada com distâncias intermediárias, foi similar aos modelos de VC4 e VC8, que utilizaram 1500 m como a distância mais longa na sua determinação. Esta distância (1500 m) foi percorrida no nosso estudo em 1230,9 ± 88,5 s, significando aproximadamente 20 min e 30 s, sendo assim muito semelhante ao tempo utilizado na V20 por Greco et al. [20]. Reis et al. [21] avaliaram 29 nadadores (12,9 ± 1,15 anos; 54 ± 10,7 kg; 165,7 ± 9,4 cm) e verificaram que a VC determinada por meio de dois componentes (200 m e 400 m) foi similar à velocidade média do teste de 2000 m. Assim, os resultados encontrados em nosso estudo sugerem que a exclusão das distâncias mais longas não irá alterar o valor de VC em relação aos modelos de VC confeccionados com inclusão de distâncias percorridas em tempos superiores a 60 s ou mais . Ainda hoje encontramos treinadores que empregam testes de 20 e 30 minutos para a avaliação do desempenho aeróbio de seus nadadores, ou ainda prescrevendo as intensidades de nado baseadas em percentuais das velocidades encontradas nesses testes [6]. Porém, a aplicação de testes longos como V20 e V30, ou ainda a utilização das distâncias de 800 m e 1500 m como componentes de VC, podem proporcionar valores ainda mais subjetivos (pois são métodos de natureza não-invasiva) quando aplicados em nadadores jovens e/ou até com pouco tempo de experiência em natação competitiva. Conclusão Com base nos resultados encontrados em nosso estudo, não sugerimos a padronização de um único modelo na determinação da VC em natação, pois as distâncias, quando percorridas em aproximadamente 60 segundos ou menos, parecem induzir a valores mais altos de VC quando comparados a outras combinações, sugerindo assim a exclusão da distância de 50 m e, se necessário, também a distância de 100 m na confecção de modelos para determinação da mesma. Por outro lado, a exclusão das distâncias mais longas (800 m e 1500 m) parece não alterar o valor da VC em relação aos modelos de VC confeccionados com inclusão de distâncias percorridas em tempos superiores a 60 s. Isto se torna mais um atrativo para técnicos e treinadores que buscam praticidade em suas sessões de treinamento, e também interessante para os grupos de nadadores mais jovens e/ou menos experientes, que praticam natação em nível de iniciação competitiva, ou em nível recreacional. Agradecimentos Ao técnico Cristiano Klaser e equipe, pela dedicação e disponibilidade durante o período das coletas; Grupo de Estudos em Esportes Aquáticos – GEEA UFRGS e ao Grupo de Pesquisa em Biomecânica e Cinesiologia – GPBIC UFRGS. Referências 1. Vilas-Boas J, Lamares JP. Velocidade crítica: Critério para a avaliação do nadador e para a definição de objetivos. XX Congresso Técnico Científico da Associação Portuguesa dos Técnicos de Natação 997a; 25 a 27 Abril, Setúbal, Portugal. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 2. David JS, Stephen RN, Hogg JM. Performance evaluation of swimmers: Scientific Tools. Sports Med 2002;32(9):539-54. 3. Maglisho EW. Nadando ainda mais rápido. 1ª ed. Brasileira. São Paulo. Manole; 1999. 4. Heck H, Mader A, Hess G, Mucke S, Muller R, Hollmann, W. Justification of the 4mmol/L lactate threshold. Int J Sports Med 1985;6:117-30. 5. Dekerle J, A Vanhatalo, M Burnley. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 61 Artigo original Mobilidade funcional e equilíbrio de idosos praticantes de exercícios físicos versus indivíduos sedentários Functional mobility and balance of elderly who participate in a regular exercise program versus sedentary individuals Fábio Marcon Alfieri, M.Sc.*, Aline Werner**, Anieli Baciega Roschel** *Doutorando em Ciências Médicas pela USP, Docente do Curso de Fisioterapia do UNASP- SP, **Curso de Fisioterapia do UNASP-SP Resumo Abstract Introdução: A senescência leva a uma série de modificações fisiológicas sobre o corpo dos idosos, dentre elas a diminuição do equilíbrio e mobilidade funcional, e o exercício físico regular pode interferir neste aspecto. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo quantificar e comparar a mobilidade funcional e o equilíbrio em indivíduos praticantes de um grupo de voleibol adaptado para a terceira idade, grupo de ginástica para a terceira idade versus indivíduos idosos sedentários. Método: Participaram do estudo 75 idosos do Município de Itapecerica da Serra, dos quais 25 participam da Seleção Melhor Idade de Voleibol Adaptado (Grupo 1 - 67,36 ± 5,2 anos), 25 da Ginástica da Melhor Idade (Grupo 2 - 65,92 ± 4,3 anos) e outros 25 indivíduos sedentários do município (Grupo 3 - 67,39 ± 5,5 anos). Os voluntários realizaram os seguintes testes: Timed Up & Go (TUG), Apoio Unipodal com olhos abertos e olhos fechados e Bateria de testes de Guralnik. Os dados foram analisados pelo teste de Anova, com significância de p < 0,05. Resultados: Os resultados mostram que o Grupo 1 e o Grupo 2 obtiveram melhores resultados em todos os itens avaliados quando comparados ao Grupo 3. Entretanto, o G1 obteve melhores resultados em três testes quando comparado ao G2. Conclusão: Portanto, conclui-se que a prática regular de exercícios físicos pode interferir positivamente no equilíbrio e mobilidade funcional de idosos. Introduction: The senescence consists on physiological changes on elderly bodies, among them low balance and functional mobility, and regular physical exercise may interfere on this aspect. Aim: This study aims to quantify and compare functional mobility and balance of an adapted group of elderly volleyball players, a group of elderly regular exercise versus sedentary elderly individuals. Methods: The study participants were 75 elderly from Itapecerica da Serra, São Paulo, 25 of them participate in a elderly adapted volleyball team (group 1 – 67.36 ± 5.2 years), 25 participate in a elderly regular exercise group (group 2 – 65.92 ± 4.3 years) and 25 are composed by a sedentary group from the municipal district (group 3 – 67.39 ± 5.5 years). The volunteers perform the following tests: Timed Up & Go (TUG), unipodal position with opened and closed eyes, and Guralnik tests. Data were analyzed by Anova test, with p < 0.05 significance. Results: The results show that group 1 and group 2 achieved better results in every evaluated item when compared with group 3. However, group one achieved better results in three tests when compared to group 2. Conclusion: We concluded that regular physical exercises may interfere positively on elderly balance and functional mobility. Key-words: elderly, postural control, physical exercise. Palavras-chave: idosos, controle postural, exercício físico. Endereço para correspondência: Fábio Marcon Alfieri, Rua Candal, 1/31, Jardim Amália, 05890-030 São Paulo SP, Tel: (11) 91728161, E-mail: [email protected], [email protected] 62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução A melhoria das condições de saúde e a crescente expectativa de vida no mundo, bem como no Brasil, acarretam o crescimento da população idosa [1]. A senescência leva a uma série de modificações fisiológicas sobre o corpo dos idosos. Os sistemas sensoriais: visual, vestibular e sômato-sensorial, sofrem alterações como: diminuição dos sensores proprioceptores dos músculos oculares, alterações na própria estrutura do olho, diminuição do número das células vestibulares ciliares e nervosas, diminuição da velocidade de condução nervosa e perda de receptores, diminuindo assim a propriocepção. Estas alterações sensoriais associadas às modificações músculo-esqueléticas como diminuição da massa, força e velocidade de contração muscular podem interferir negativamente no controle postural dos idosos [1-7]. A capacidade de manutenção do controle postural na posição ortostática bem como na realização de atividades dependentes da estabilização postural, pode estar alterada no idoso, pois o controle postural é influenciado pelos estímulos sensoriais bem como pela ação muscular [3,6,8-12]. Tais alterações podem fazer com que haja maior oscilação corporal, bem como diminuição do controle e qualidade dos movimentos. Um exemplo disto é o resultado de um estudo composto por uma amostra de 310 idosos, dos quais 46,1% apresentavam alterações do equilíbrio [8]. Tais alterações também podem interferir na eficiência da marcha, em movimentos simples como levantar e sentar de uma cadeira, além de gerar instabilidades e aumento do risco de quedas [2,6,8,9]. Um fator agravante é a questão do sedentarismo que ajuda a intensificar a perda de massa e força muscular, bem como diminuição da excitabilidade sensorial [2,7]. Já a prática de atividade física é sabidamente reconhecida como fator de melhora nas condições de saúde nos indivíduos da terceira idade. Dentre seus vários benefícios, fornece estímulos sensoriais que vão propiciar melhor capacidade de manutenção do controle postural [11,12]. Porém, é importante avaliar o quanto de ganho sobre o equilíbrio e a mobilidade alguns tipos de exercícios trazem, especificamente os exercícios realizados em grupos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi o de quantificar e comparar a mobilidade funcional e o equilíbrio em indivíduos praticantes de um grupo de voleibol adaptado para a terceira idade, grupo de ginástica para a terceira idade versus indivíduos idosos sedentários. Material e métodos Este estudo de caráter transversal foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP, processo número 048/2008. Os voluntários que decidiram participar assinaram termo de consentimento livre e esclarecido para participação no estudo. Foram incluídos no estudo indivíduos com idade entre 60 e 81 anos que realizassem atividade física duas ou mais vezes por semana, por mais de seis meses e indivíduos que não realizam nenhum tipo de atividade física, ou seja, sedentários. Não foram incluídos indivíduos cardiopatas, portadores de próteses articulares, indivíduos que tiveram fraturas em membros inferiores ou que foram submetidos a procedimentos cirúrgicos há menos de seis meses. Foram selecionados 75 idosos no Município de Itapecerica da Serra, dos quais 25 participam da Seleção Melhor Idade de Voleibol Adaptado, 25 da Ginástica da Melhor Idade e outros 25 indivíduos sedentários do município. Os voluntários foram inicialmente submetidos à coleta de dados como idade, peso, altura, e após isto realizaram os seguintes testes: Teste Timed Up & Go (TUG) que avalia o nível de mobilidade do indivíduo, mensurando em segundos o tempo gasto pelo voluntário para levantar-se de uma cadeira, sem ajuda dos braços, andar a uma distância de 3 metros, dar a volta e retornar. No início do teste, o voluntário estava com as costas apoiadas no encosto da cadeira e, ao final, estava encostado novamente. O voluntário recebeu a instrução “vá”, para realizar o teste e o tempo foi cronometrado a partir da voz de comando até o momento em que o voluntário apoiava novamente suas costas no encosto da cadeira. O teste foi realizado uma vez para familiarização e uma segunda vez para tomada de tempo [4,13,14]. No Teste de Apoio Unipodal foi pedido para o indivíduo equilibrar-se em apenas um dos pés com olhos abertos e depois com olhos fechados por no máximo 30 segundos. O tempo que o voluntário conseguiu ficar apoiado somente em um dos pés foi medido em três tentativas em cada condição visual (olhos abertos e fechados) e foi considerada a melhor das três tentativas (a que teve maior tempo) [14,15]. Por último, os voluntários realizaram uma bateria de testes Short Physical Performance Battery que é um conjunto de testes que avaliam o equilíbrio estático e dinâmico. A bateria de testes consistiu na avaliação do tempo (em segundos) que o indivíduo conseguiu ficar com os pés juntos, com os pés um na frente do outro (calcanhar de um pé do lado do hálux do outro pé) e com um pé na frente do outro; o indivíduo também foi avaliado quanto ao tempo (em segundos) que demorou a andar normalmente uma distância de 4 metros e por fim quanto de tempo (em segundos) levou para levantar e sentar de uma cadeira durante 5 vezes [16]. Os testes foram realizados no local de treinamento dos grupos e sempre com dois avaliadores para garantir segurança aos participantes, pois um examinador marcou o tempo gasto durante a execução dos testes e o outro acompanhou ao lado do voluntário toda a execução do testes, com a finalidade de evitar qualquer tipo de problema como um desequilíbrio que levasse a uma queda. Foi usada estatística convencional para determinar as médias e desvio padrão dos dados que passaram pelo teste de Kolmogorov-Sminorv com correção de Lilliefors para verificação Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 da normalidade. Para comparação dos resultados entre os grupos foi utilizado o teste de Tukey-Kramer (Anova) quando os dados não apresentavam normalidade (TUG e na bateria de testes de Guralnik) e o teste de Kruskal-Wallis (Anova) quando os resultados apresentavam normalidade (apoio unipodal com olhos abertos e olhos fechados). O nível de significância foi de 5%. Para análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico GraphPad InStat [DATAASET1.ISD]. Resultados Participaram do estudo 75 voluntários divididos em três grupos: 25 indivíduos, sendo 5 homens e 20 mulheres no grupo de voleibol adaptado (G1), 25 voluntários, sendo 5 homens e 20 mulheres no grupo de ginástica (G2) e 25 indivíduos, sendo 5 homens e 20 mulheres no grupo sedentário (G3). A média de idade de cada grupo, bem como o índice de massa corporal (IMC) estão disposto na Tabela I. Tabela I - Distribuição da amostra segundo a idade e o índice de massa corporal (IMC) dos grupos: G1- Voleibol, G2 Ginástica, G3- Sedentários. IMC (Kg/cm2) Idade (anos) G1 (n = 25) 26,92 ± 3,8 67,36 ± 5,2 G2 (n = 25) 25,83 ± 2,8 65,92 ± 4,3 G3 (n = 25) 28,85 ± 5,8 67,39 ± 5,5 Utilizando o teste de Anova, verificou-se que não há diferença significativa entre todos os grupos. A Tabela II mostra os resultados referentes aos testes aplicados entre os voluntários. Tabela II - Comparação dos resultados dos grupos: G1- Voleibol, G2- Ginástica, G3- Sedentários; das variáveis analisadas: teste timed up and Go (TUG); apoio unipodal com olhos abertos (UOA); apoio unipodal com olhos fechados (UOF) e bateria de testes de Guralnik. G1 (n = 25) G2 (n = 25) G3 (n = 25) 7,50 (± 2,1)b,c TUG (s) 4,95 (± 0,6) 5,99 (± 1)a UOA (s) 26,34 (± 8,5) 24,09 (± 8,7) 17,54 (± 9,8)b,c UOF (s) 11,52 (± 8,8) 9,36 (± 8,16) 5,37 (± 3,3)b Guralnik 11,56 (± 0,8) 11,76 (± 0,4) 10,47 (± 1,1)b,c a - G1≠G2, b - G1≠G3, c - G2≠G3, diferenças consideradas quando p < 0,05, utilizando o teste de ANOVA. Discussão O presente estudo teve como principal finalidade avaliar e comparar a mobilidade funcional e o equilíbrio de idosos praticantes de atividade física versus idosos sedentários. Os resultados obtidos indicam que os dois grupos de idosos que praticam exercícios físicos apresentam melhores resultados em comparação aos indivíduos sedentários. Quanto ao TUG, este se correlaciona ao nível de mobilidade funcional, envolvendo equilíbrio dinâmico, velocidade 63 na marcha e maior facilidade em realizar atividades cotidianas, como levantar e sentar e mudar de direção ao caminhar, sugerindo, assim, melhor resultado quanto à mobilidade funcional dos indivíduos que realizam exercícios físicos regularmente em comparação a indivíduos sedentários. Além disso, atividades que estimulam mais o tempo de reação, a agilidade, coordenação motora associada a estímulos sensoriais, como o voleibol, podem propiciar melhores resultados em comparação a atividades como a ginástica [4,6,13]. Indivíduos sem problemas com o equilíbrio realizam o TUG em um tempo inferior a 10 segundos [4]. Neste estudo verificou-se que nos grupos que realizam exercícios regularmente, nenhum voluntário realizou o teste em um tempo superior aos 10 segundos, ao passo que no grupo de indivíduos sedentários, 4 voluntários realizaram-no em um tempo superior, mostrando assim que indivíduos sedentários estão mais propensos a apresentar problemas com o equilíbrio. Alfieri et al. [6] também verificaram a influência de um programa de exercícios multi-sensoriais sobre a mobilidade funcional e verificaram que o grupo que estava treinando há 3 meses realizou o teste em 7,29 segundos ao passo que o grupo inativo realizou o teste em 10,55 segundos, mostrando assim que o exercícios físico interfere positivamente na mobilidade funcional de idosos. Ao avaliar o equilibro estático pelo apoio unipodal, também foi verificado que os indivíduos ativos apresentam melhores resultados, porém no apoio em que a visão foi retirada, apenas o grupo que realiza voleibol, teve valores maiores em relação ao grupo sedentários, mostrando assim que tal atividade pode permitir aos idosos praticantes deste tipo de exercício, aprimoramento de outras aferências e estratégias quando o sistema visual que é o principal fator para o controle postural se encontra suprimido [11]. O melhor desempenho na avaliação do equilíbrio estático por estes indivíduos é extremamente benéfico, pois ao declínio do equilíbrio estático está associado à diminuição do desempenho na realização de muitas atividades cotidianas, como levantar, sentar e caminhar, além de aumentar o risco de quedas [14,17]. Gaurchard et al. [11] comparando 40 idosos praticantes de diferentes modalidades encontraram que indivíduos praticantes de atividade proprioceptivas, como ginástica leve e yoga, apresentam melhores condições de controle postural do que indivíduos que praticam atividades como natação, ciclismo e corrida, devido a especificidade de cada tipo de atividade; estas últimas são importantes para beneficiar seus participantes quanto à força muscular dos membros inferiores, porém são menos benéficas quanto aos estímulos sômato-sensorias que contribuem para o controle postural. Gauchard et al.[9] e Alfieri [18] acrescentam que atividades que estimulam a propriocepção tem um melhor impacto sobre a regulação e precisão do equilíbrio, devido a inputs neurosensoriais que estas atividades propiciam. Guralnik et al. [16] propõem uma bateria de testes para avaliação física que envolve equilíbrio estático e dinâmico. Comparando os grupos de voleibol e gi- 64 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 nástica não houve diferença estatisticamente significativa nesta avaliação, no entanto quando comparados estes grupo com os sedentários, houve diferença significativa. Desta forma, esta bateria de testes confirma que exercícios são efetivos para melhorar tanto o equilíbrio estático quanto dinâmico, bem como a mobilidade funcional de indivíduos idosos, fazendo com que o risco de quedas de participantes destes tipos de atividades esteja diminuído. Comparado o equilíbrio de um grupo de ginástica, grupo de hidroginástica, grupo que praticava ambas as atividades e grupo sedentário, Teixeira et al. [19] verificaram que o grupo de ginástica foi o que apresentou melhores resultados quanto à estabilidade, porém os autores relatam que existe diferença variável na faixa etária dos participantes, o que pode ter interferido nos achados, pois como o processo de envelhecimento traz prejuízos no equilíbrio, tais diferenças podem comprometer os resultados. No presente estudo, os dados dos grupos referentes à idade e IMC mostram que não há diferença significativa entre os grupos, o que exclui a interferência destes fatores diretamente nos resultados. Um aspecto importante de ser ressaltado é a questão de que os indivíduos do presente estudo estão próximos da sétima década de vida, na qual as alterações fisiológicas se acentuam ainda mais, declinando o equilíbrio, a mobilidade, a força muscular [18]. Desta forma, programas como estes que são oferecidos a população idosa trazem benefícios como interação social e melhora da independência funcional dos participantes, pois interferem positivamente sobre controle postural dos mesmos, especialmente os programas que estimulam as aptidões relacionadas ao controle postural. Acredita-se que atividades como o voleibol adaptado possam proporcionar aos seus participantes, estímulos sensoriais e músculo-esqueléticos que fazem com que o controle postura (equilíbrio dinâmico e estático) seja aprimorado. Conclusão Nesta população estudada, a prática de atividade física regular mostrou condições favoráveis aos seus participantes na realização de testes que mensuram a mobilidade e o equilíbrio, provavelmente devido aos estímulos sensoriais e músculoesqueléticos que tais programas oferecem, especialmente atividades como voleibol, que pôde apresentar resultados melhores quando comparados a ginástica e indivíduos sedentários. Referências 1. 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Efeitos de um programa de exercício físico para idosas sobre variáveis neuro-motoras, antropométrica e medo de cair. Rev Bras Educ Fís Esp 2007;21(2):107-20. 8. Maciel ACC, Guerra RO. Prevalência e fatores associados ao déficit de equilíbrio em idosos. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13(1):37-44. 9. Gauchard GC, Gangloff P, Jeandeal C, Perrin PP. Influence of regular proprioceptive and bioenergetic physical activities on balance control in elderly women. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2003;58:M846-50. 10. Silveira CRA, Menuchim RTP, Simões CS, Caetano MJD, Gobbi LTB. Validade de construção em testes de equilíbrio: ordenação cronológica na apresentação das tarefas. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2006;8(3):66-72. 11. Gauchard GC, Jeandel C, Tessier A, Perrin PP. Beneficial effect of proprioceptive physical activities on balance control in elderly human subjects. Neurosci Lett 1999;273:81-4. 12. Gauchard GC, Jeandel C, Tessier A, Perrin PP. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 65 Artigo original Efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados na glicemia de atletas do jiu-jitsu Effects of different carbohydrates supplements on glycemia of jiu-jitsu athletes José Fernando de Oliveira*, Fernando Mauro de Mello e Silva*, Antonio Coppi Navarro*, Francisco Navarro*, Fabio Henrique Ornellas** *Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Fisiologia do Exercício – IBPFEX, Programa de Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício – Prescrição do Exercício da Universidade Gama Filho – UGF, **Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Fisiologia do Exercício – IBPFEX Resumo Abstract Mensurar as variáveis fisiológicas em situações específicas da modalidade pode fornecer conhecimentos relacionados a aspectos da solicitação energética da atividade, proporcionando condições para um melhor entendimento da modalidade. Objetivo: este trabalho teve como escopo investigar os efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados, comercialmente disponíveis (Carbup e Gatorade) e com diferentes formas físicas (gel e líquido) no comportamento da glicemia sanguínea durante uma competição simulada de jiu-jitsu com três lutas consecutivas. Métodos: A amostra foi composta por 09 (nove) voluntários do sexo masculino, saudáveis, com faixa etária variando de 20 a 40 anos, praticantes de Jiu-Jitsu com pelo menos 1 (um) ano de treinamento, os quais foram divididos em três grupos, onde um dos grupos ingeriu placebo (GP), o segundo grupo Carb-up (GC) e o terceiro grupo Gatorade (GG). Resultados: Os grupos GC e GG apresentaram aumento significativo na glicemia após 20 minutos da ingestão de suplemento Carb-up e Gatorade respectivamente, e também mantiveram maior glicemia ao longo das coletas durante os intervalos entre os combates em relação ao grupo placebo. Conclusão: A análise estatística dos resultados forneceu indicativos que a suplementação ingerida pode beneficiar a glicose otimizando uma melhora no desempenho. Measuring the physiological variation in specific situations of sport modality may increase knowledge related to characteristics of energy demand through exercises and conditions to a better understanding of sport. Objective: This work aims at investigating the effects of different carbohydrate supplements consumption, commercially available (carb-up and Gatorade) and with different physical forms (gel and liquid) to analyze blood glycemia during a simulated competition of jiu-jitsu. Methods: A sample composed by nine male volunteers, healthy, 20-40 years and jiu-jitsu fighters, at least during one year training, were divided into three groups, the first was a placebo group (GP), the second group carb-up (GC), and the third group Gatorade (GG). Results: The groups GC and GG showed significant increase in blood glucose after 20 minutes of supplement Carb-up and Gatorade intake respectively and also had high blood glucose during collections during intervals of fighting comparing with the placebo group. Conclusion: The statistical analysis of the results showed that supplement consumption may be benefic for the glucose optimizing a better development for the fighters. Key-words: blood glucose, dietary supplements, carbohydrate. Palavras-chave: glicemia, suplementos dietéticos, carboidratos. Endereço para correspondência: Francisco Navarro, Rua Húngara, 249/113, Alto da Lapa, São Paulo SP, Tel: (11) 3862-6809, E-mail: [email protected] 66 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução As artes marciais estão presentes em nosso país, desde o início do século XX, e são atividades corporais que influenciaram e influenciam a nossa sociedade com seus valores, traços culturais e participação popular [1]. Entre as diferentes artes marciais o Jiu-jitsu é uma modalidade esportiva que vem sofrendo uma crescente adesão de praticantes, por parte da população em geral [2], sendo acompanhado conjuntamente com um aumento da literatura científica na área, entretanto ainda está longe de alcançar o conhecimento teórico científico adquirido por outras modalidades de luta [3]. O Jiu-jitsu se originou de várias formas de lutas orientais com características de ataque e defesa, podendo ser considerado a mãe de todas as artes marciais e sua precisa procedência se perde no tempo sendo que as primeiras citações datam de 720 a.C. [4,5]. Seu objetivo é forçar a desistência do oponente utilizando-se de técnicas de desequilíbrio, arremessos, imobilizações, estrangulamentos e chaves aplicadas nas articulações do corpo. Os atletas são subdivididos de acordo com a graduação, a idade, e a massa corporal [6], sendo uma modalidade que depende de uma boa capacidade neuro-muscular, além de uma grande exigência técnica [7]. A duração de uma luta de Jiu-jitsu varia de 5 minutos para atletas da faixa branca e até 10 minutos para os da faixa preta. Em uma competição oficial, os competidores realizam vários combates em um mesmo dia, muitos desses com intervalos curtos (cerca de 10 a 15 minutos). A importância do problema baseia-se na hipótese de que os carboidratos trariam benefícios adicionais ao desempenho [8], sendo os mesmos considerados os principais substratos a proporcionar energia para as atividades intermitentes intensas [9-11], e o seu consumo evitaria ou diminuiria algumas respostas que o exercício físico produz no organismo [12]. Sua característica é acíclica, pois os atletas utilizam-se de diferentes seqüências de movimentos [13], demandando uma maior influência das capacidades físicas de força muscular, velocidade, potência, resistência (anaeróbia) e flexibilidade [14]. Essa característica intermitente e de alta intensidade provoca uma alternância nas concentrações de fosfocreatina intramuscular e uma diminuição acentuada nas concentrações de glicogênio [15,16]. Portanto, mensurar as variáveis fisiológicas em situações específicas da modalidade pode fornecer conhecimentos relacionados a aspectos da solicitação energética da atividade [17,18], proporcionando condições para um melhor entendimento da modalidade e possíveis estratégias nutricionais e de treinamento para aprimorar a performance do atleta, pois, apesar da nutrição esportiva ter se tornado o objeto de diversos estudos sobre o desempenho humano, não se sabe ao certo como a suplementação aguda de determinados nutrientes pode influenciar o desempenho nesse esporte. Isto posto, este trabalho tem como objetivo investigar os efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados, comercialmente disponíveis (Carb-up e Gatorade) e com diferentes formas físicas (gel e líquido) no comportamento da glicemia sanguínea durante uma competição simulada de jiu-jitsu com três lutas consecutivas. Material e métodos A amostra foi composta por 9 (nove) voluntários do sexo masculino, saudáveis, com média de idade de 27 ± 6,1 anos, participantes da equipe de competição da Geordashy Team Jiu-jtsu, com pelo menos 1 ano de treinamento, todos filiados à Federação do Estado de São Paulo de Jiu-jitsu. O trabalho foi realizado nas dependências da Academia Corporall na cidade de Campinas (SP). Todos os atletas que concordaram em participar deste estudo foram informados de todo o procedimento adotado na proposta da investigação assinando logo após os esclarecimentos, um termo de consentimento. Após o preenchimento do termo de consentimento, foram coletados os seguintes dados para a caracterização da amostra: idade (anos), estatura (cm), peso corporal (quilogramas) e IMC (índice de massa corporal; kg/m2). As características da amostra podem ser observadas na Tabela I. Tabela I - Médias e desvio-padrão das características antropométricas dos atletas de jiu-jitsu. Idade (anos) Estatura (cm) Massa corporal (kg) IMC (kg/m2) Médias e DP 27 ± 6,10 173,22 ± 7,29 84,02 ± 12,62 27,98 ± 3,65 Os atletas foram divididos de forma aleatória em três grupos, os quais receberam a seguinte suplementação: Grupo Placebo (GP) – ingestão de composto elaborado através de suco Clight® sabor laranja, o qual possui 0 (zero) gramas de carboidrato e 39 mg (miligramas) de sódio. Grupo Carb-up (GC) - repositor energético Carb-up® em gel sabor laranja, onde um sachê contém 25 g (gramas) sendo 17 g de carboidratos, 30 mg de sódio e 24 mg de potássio. Grupo Gatorade (GG) - bebida esportiva Gatorade® sabor laranja, onde 500 ml (mililitros) contém, 30g de carboidratos, 225 mg de sódio, 60 mg de potássio e 210 mg de cloreto. Os respectivos suplementos foram ingeridos em momentos distintos, no primeiro momento (20 minutos antes da competição), foram ingeridos 500 ml do composto para o grupo Placebo e grupo Gatorade e 1 sachê de 25 gramas para o grupo Carb-up, o qual ingeriu concomitantemente um copo de água (250 ml). Nos intervalos entre as lutas 1 e 2 os atletas ingeriram metade da dose inicial, e ao final da luta 3 não ingeriram composto algum. A glicemia foi aferida antes da suplementação inicial (GI) e 20 minutos após a mesma (G20’). Em seguida, foram realizadas três lutas de 8 (oito) minutos com pausa de 15 (quinze) Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 minutos, simulando situação oficial de competição com um árbitro e um técnico para cada lutador. Todas as lutas foram até o final independente de finalização antes do tempo. Durante os 15 minutos de intervalo o repouso foi passivo. Após cada combate, a glicemia era novamente aferida e os tempos de coleta foram: glicemia logo após a luta (G.zero), glicemia 7 minutos pós luta (G.7’) e glicemia 15 minutos pós luta (G.15’). Utilizando-se luvas cirúrgicas, após assepsia local com álcool, foi realizada a punção com a utilização de lanceta descartável na face palmar da falange distal do 3º dedo da mão direita para todos os grupos. Era retirada uma gota de sangue e colocada na zona reativa da tira de teste, e a glicose foi determinada por fotometria de reflexão e seus resultados foram expressos em miligramas por decilitro (mg/dl). Para cada amostra, era passado algodão na superfície desejada para retirada de possíveis gotas de suor, as quais poderiam contaminar as amostras. Para a avaliação da antropometria, foram utilizados os seguintes equipamentos: Utilizou-se o estadiômetro portátil da marca Sanny®, com altura máxima de 210 cm e resolução de 1,0 milímetro (mm), para aferição da estatura; utilizou-se uma balança digital Camry® modelo EB6171, com capacidade de 150 Kg e variação de 0,1 kg, para a avaliação da massa corporal A partir desses dados, foi calculado o índice de massa corporal (IMC), o qual expressa a distribuição da massa corporal em relação à estatura. Ele é obtido a partir da divisão do peso do indivíduo, em quilogramas, pelo quadrado de sua altura em metros. Para a verificação da glicemia foram utilizados os seguintes materiais e equipamentos: Glicosímetro portátil Accu-Check® Active (Roche®), fita reagente do respectivo aparelho; lancetador AccuCheck® Softclix Pro (Roche®); luvas de látex para procedimento (Satari®); álcool a 70° GL; algodão e material de consumo. Para a análise estatística do presente estudo, os resultados foram expressos em média e as diferenças entre os dois grupos foram obtidas, a partir do teste t-Student, e o índice de significância adotado foi p ≤ 0,05. Resultados Os grupos GC e GG apresentaram aumento significativo na glicemia após 20 minutos da ingestão de suplemento CarbUP e Gatorade respectivamente, conforme está demonstrado 67 na Tabela II e também mantiveram maior glicemia ao longo das coletas durante os intervalos entre os combates em relação ao grupo placebo. As tabelas e gráficos abaixo representam os resultados apresentados durante todo o procedimento experimental. Gráfico 1 - Comportamento das concentrações glicêmicas no início da atividade e durante os intervalos entre os combates. Valores expressos em mg/dl. Discussão Com relação à comparação da ingestão de diferentes suplementos a base de glicose numa concentração comercialmente disponível durante uma competição simulada de jiu-jitsu com 3 lutas consecutivas, os resultados demonstraram que: A forma física de ingestão do carboidrato (em gel ou líquido) não exerceu grande influência na resposta metabólica, pois tanto o grupo Carb-up® como o grupo Gatorade® obtiveram respostas semelhantes, corroborando com estudo similar realizado [19]. Houve uma elevação rápida dos níveis iniciais da concentração glicêmica, nos grupos que receberam a suplementação mostrando-se significativamente mais elevada (p < 0,05) que os controles que receberam placebo. Esse resultado, é usualmente observado em outros estudos [20-22], os quais citam que esse resultado aumenta a disponibilidade de glicose no sangue favorecendo a utilização do carboidrato como combustível energético. Nas fases pós-competição, verificam-se níveis glicêmicos mais elevados, embora não seja significante estatisticamente, nos grupos que ingeriram um suplemento carboidratado durante a atividade, facilitando, assim, a ressíntese dos estoques de glicogênio muscular em função de uma maior permeabilidade da membrana muscular, efeito esse citado por estudos Tabela II - Médias das concentrações glicêmicas no início da atividade e durante os intervalos entre os combates. Valores expressos em mg/dl. Placebo Carb-up Gatorade Antesda luta GI G20’ 88,0 92,0 72,0 110,7* 80,0 118,7* Primeiro Combate G.zero G.7’ G.15’ 71,3 74,3 82,0 104,3 88,3 99,0 85,7 78,3 102,0 Segundo G.zero 73,7 83,0 94,7 Combate G.7’ 77,3 89,7 89,0 G.15’ 86,0 99,0 93,7 Terceiro Combate G.zero G.7’ G.15’ 74,7 80,3 83,7 93,7 85,0 77,3 87,7 91,3 87,0 * p ≤ 0,05; GI – glicemia antes da suplementação; G20’ – Glicemia 20 minutos após a ingestão da suplementação; G.zero – glicemia logo após a luta; G.7’ – glicemia 7 minutos pós luta; G15’ – glicemia 15 minutos pós luta. 68 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 ao investigarem a relação entre ingestão de carboidratos e o desempenho atlético [10,21]. Esse resultado deve-se principalmente a combinação da ingestão de carboidratos, antes e durante a competição, o qual exerce um efeito adicional sobre a performance física quando comparado com uma situação em que o carboidrato é ingerido somente em uma única fase da competição [21]. Estudos apontam que a suplementação de carboidrato é eficiente para o aumento do desempenho físico, e o mecanismo proposto para isso é a manutenção da glicemia e a redução da taxa de glicogenólise [23] atenuando assim, distúrbios homeostáticos como a hipoglicemia. Os carboidratos são considerados a fonte primária de energia metabólica para o organismo, uma vez que seu catabolismo é um grande liberador de energia química, fornecendo essencialmente combustível para o cérebro, medula, nervos periféricos e células vermelhas do sangue [12,24]. No corpo humano, o carboidrato é estocado no citoplasma celular dos músculos e no fígado como um polímero polissacarídico sintetizado a partir da glicose, chamado glicogênio; a quantidade armazenada desse substrato é influenciada pelo nível de exercício e pela ingestão diária de carboidrato, sendo este o principal combustível para a contração musculoesquelética durante a atividade física, onde a depleção das reservas endógenas é freqüentemente associada ao baixo rendimento, podendo levar os atletas à fadiga [10,25,26]. O carboidrato é um composto orgânico que contém carbono, hidrogênio e oxigênio [10,27] podendo ser: Simples - geralmente conhecidos como açúcares, e são divididos em duas categorias: monossacarídeos, sendo os principais a glicose, frutose e a galactose; e dissacarídeos como sacarose, maltose e lactose. Complexos - também conhecidos como amidos, geralmente são formados a partir da combinação de três ou mais moléculas de glicose, conhecida como polissacarídeo. Outro fator importante está na capacidade de um carboidrato em elevar a glicemia, assim foi proposto um sistema de classificação dos carboidratos que seria o índice glicêmico, o qual é uma ordenação de alimentos baseada na resposta da glicose sanguínea pós-prandial [28]. Durante o processo de metabolização dos carboidratos, eles precisam ser digeridos, absorvidos e transportados, entretanto é somente na forma de monossacarídeos que ocorre a sua absorção intestinal, pois devido a curta permanência do alimento na boca, a digestão oral dos carboidratos é muito restrita, assim a maior parte ocorre na porção superior do intestino delgado, onde o pH permite uma alta atividade de enzimas específicas secretadas para o interior da luz intestinal [29]. Acredita-se que as bebidas contendo entre 6 – 8% de glicose ou sacarose são absorvidas pelo organismo com a mesma rapidez que a água [30], isto ocorre porque a absorção da água é um processo passivo determinado pela diferença osmótica entre as bordas luminal e celular da mucosa intestinal, enquan- to que a absorção da glicose é realizada por um mecanismo de transporte ativo envolvendo um processo dependente de energia e da presença de sódio, sendo que essa absorção é dependente da concentração da solução ingerida [31]. Após a digestão dos carboidratos pelas enzimas gastrointestinais, ocorre à entrada da glicose na corrente sanguínea sendo transportado até o fígado, onde podem ser armazenados, ou liberados na corrente sanguínea para que sejam levados a outros tecidos, como o muscular [10,27]. Nos primeiros estágios da atividade física, a maior parte da energia obtida dos carboidratos provém da degradação do glicogênio muscular, o qual declina de maneira mais rápida e intensa nos primeiros minutos do exercício sendo diretamente proporcional a intensidade do mesmo [24]. À medida que o exercício prossegue, a utilização do glicogênio muscular decai em função da atividade fosforilase e do aumento do seu transporte no sangue. Esse mecanismo garante que a glicogenólise muscular esteja ligada a demanda de adenosina trifosfato (ATP) [26,32]. Esses exercícios provocam uma elevação na captação de glicose pelos músculos, desse modo, essa redução da dependência do glicogênio muscular é compensada por uma maior dependência da glicose sanguínea e, na tentativa de se manter níveis glicêmicos normais, o fígado libera glicose na corrente sanguínea devido a uma ação direta do exercício, o qual induz um aumento da adrenalina e do glucagon, pois ambos aceleram a liberação da glicose hepática [21]. Uma grande concentração de glicose na corrente sanguínea aumenta a glicemia, sinalizando a liberação de insulina, a qual é um hormônio responsável por estimular a síntese de glicogênio através da ativação da enzima glicogênio sintase [33]. O transporte de glicose para o músculo esquelético é regulado tanto pela insulina como pela atividade contrátil por meio da ação dos transportadores de glicose nos músculos (GLUT-4), os quais migram das vesículas no interior do citosol para a membrana plasmática, facilitando o transporte de glicose para o interior do sarcoplasma, onde é utilizado para a formação de ATP [26,34,33]. Portanto, as concentrações de insulina no sangue diminuem durante o exercício de qualquer duração, pois as próprias contrações musculares estimulam a absorção da glicose no músculo, e sua diminuição durante a atividade é necessária para evitar a hipoglicemia [35]. Quando a concentração da glicose sanguínea diminui abaixo dos níveis fisiológicos normais, ocasiona uma hipoglicemia cujos sintomas são: suor, calafrios, náusea, tonturas e desconforto epigástrico [36,35], além de uma perda da performance física [12,32]. A liberação da glicose hepática fica reduzida quando carboidratos são consumidos durante os exercícios, pois essa ingestão aumenta a disponibilidade de glicose no sangue e mantém a capacidade do organismo em utilizá-la como fonte de energia durante os exercícios [21]. Por outro lado, encontramos referência na literatura que a ingestão carboidratada realizada de 30 a 60 minutos antes de iniciar uma atividade física intensa, faz com que a glicose sanguínea aumente, esti- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 mulando a liberação de insulina, a qual associada à contração muscular realizada no início do exercício pode diminuir as concentrações sanguíneas de glicose provocando o que foi chamado de rebote hipoglicêmico [37]. Já outros autores citam que utilizando intervalos menores, em torno de 15 minutos, entre a ingestão e o início da atividade, esse tempo não seria o suficiente para aumentar a insulina sanguínea, evitando o rebote hipoglicêmico [38]. Assim, a glicose sanguínea tem um papel fundamental no metabolismo, pois sua baixa disponibilidade no organismo pode comprometer o desempenho dos músculos, bem como funções do sistema nervoso central, portanto uma correta reposição dos estoques desse nutriente deve ser realizada durante todo o período de competição (antes, durante e após), sendo que alguns aspectos devem ser considerados como o tipo de carboidrato, o tempo de administração e a concentração [39]. Conclusão Tendo em vista os enfoques estabelecidos, inicialmente, para o presente trabalho, isto é, a análise dos níveis de glicose resultantes da ingestão de diferentes suplementos carboidratados em atletas de jiu-jitsu, as conclusões alcançadas pela ponderação da teoria com a prática experimental forneceu indicativos de que não há diferença significativa nos níveis glicêmicos entre as formas físicas de ingestão (gel ou líquido) de carboidratos. O aumento da concentração de glicose no sangue resulta em um aumento da absorção da mesma pelos músculos, podendo provocar uma economia ou menor depleção dos estoques de glicogênio muscular e hepático decorrentes da suplementação, sendo que esse procedimento pode beneficiar uma melhora no desempenho durante a competição. Em conseqüência do tamanho da amostra, deve-se ter cautela na generalização destes resultados, sugere-se, portanto, que mais estudos sejam realizados com a finalidade de investigar os efeitos bioquímicos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados em atletas do jiu-jitsu. Referências 1. Pinto Neto O, Magini M, Saba MMF. Análise cinemática de um movimento de Kung-Fu: A importância de uma apropriada interpretação física para dados obtidos através de câmeras rápidas. Revista Brasileira de Ensino de Física 2006;28:235-9. 2. Silva KA, Tahara AK. Fatores de adesão à prática do jiu-jitsu. Motriz 2003;9:S186. 3. Souza I, Silva VS, Camões JC. Flexibilidade tóraco-lombar e de quadril em atletas de jiu-jitsu. Revista Digital Buenos Aires 2005;82. 4. Borges OA. Jiu jitsu: Educação ou adestramento? Treinamento Desportivo 1999;4:67-71. 5. Sugai VL. O Caminho do Guerreiro I. São Paulo: Gente; 2000. 69 6. Franchini E, Takito MY, Pereira JNC. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 71 Artigo original A comparação de esforço físico de idosos atletas e idosos não atletas no protocolo de Bruce original The physical effort comparison between aged athletes and aged non athletes in the original Bruce protocol Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, M.Sc.*, Nathália Maria Resende, M.Sc.*, Vivian Lamounier Camargos Resende Silva, M.Sc.*, Romeu Paulo Martins Silva Lamounier, M.Sc., Foued Salmen Espindola, D.Sc*, Rimmel Amador Guzman Heredia, D.Sc**, Elmiro Santos Resende, D.Sc.** *Laboratório de Bioquímica do Exercício e Saúde, Instituto de Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, **Setor de Cardiologia, Hospital de Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia – UFU Resumo Abstract Objetivo: Avaliar a capacidade física de idosos atletas (IA) e idosos não atletas (INA) submetidos ao protocolo de Bruce Original. Métodos: Foram estudados 22 idosos, 15 não atletas e 08 atletas (média de idade 63 ± 2,16 anos), submetidos a teste ergométrico até exaustão voluntária. Utilizamos o protocolo de Bruce Original como teste de esteira. Avaliamos os seguintes parâmetros fisiológicos: Frequência Cardíaca Máxima (FCM), Pressão Arterial Sistólica (PAS), Pressão Arterial Média (PAM), Pressão Arterial Diastólica (PAD) e Duplo Produto (DP), nos estágios: antes do teste (Estag 0), final do teste (Estag Final), 5 (Estag 5’) e 15 (Estag 15’) minutos após o final do teste. Resultados: Mostraram diferenças significativas para p < 0,05 da frequência cardíaca máxima entre os grupos antes e no final do teste. Mas não mostraram diferenças significativas nos estágios 5’ e 15’ minutos após o final do teste. Já PAS, PAM, PAD e DP mostraram diferenças significativas para p < 0,05 em todos os estágios entre os grupos, INA e IA. Conclusão: Os IA apresentaram ter uma melhor capacidade física tendo uma maior permanência durante a realização do teste. E sua recuperação após o teste foi mais acentuada nas variáveis PAS, PAM, PAD e DP do que o grupo INA. Objective: To assess physical capacity of aged athletes and non athletes submitted to the original Bruce protocol. Methods: Twenty two aged, 15 non athletes and 08 athletes, had been studied (average of age 63 ± 2.16 years), submitted on ergometric test until voluntary exhaustion. We use the original Bruce protocol as treadmill test. We assess the following physiological parameters: Maximum Heart Rate, Arterial Systolic Pressure, Arterial Medium Pressure, Arterial Diastolic Pressure and Rate Pressure Product, in the stages, before, at the end, and 5 and 15 minutes of recover. Results: It had shown significant differences to p < 0.05 of the Maximum Heart Rate between the groups, before and after the test. But it had not shown significant differences in the stages 5 and 15 minutes after the end of the test. Already, the Arterial Sistolic Pressure, Arterial Medium Pressure, Arterial Diastolic Pressure and Rate Pressure Product had shown significant differences to p < 0.05 in all the stages between the groups, aged athletes and aged non athletes. Conclusion: The aged athletes had presented greater physical capacity showing bigger resistance and stay during the accomplishment of the test. They had a marked recovery in the values of Arterial Systolic Pressure, Arterial Medium Pressure, Arterial Diastolic Pressure and Rate Pressure Product of that the aged non athletes. Palavras-chave: idoso, atleta, aptidão física, teste ergométrico. Key-words: aged, athlete, physical fitness, ergometric test. Endereço de correspondencia: Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, Rua Carajás, 212, Centro, 78600-000 Barra do Garças MT, Tel: (34) 9121-8252 ou (66) 9988-4310, E-mail: [email protected] 72 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução O processo de envelhecimento implica modificações de ordem psíquica [1], social e fisiológica [2]. Ocasionando diminuições da força e resistência muscular, e da capacidade aeróbia [3]. Tais ocorrências fisiológicas se refletem no desempenho motor, na qualidade de vida e na capacidade do indivíduo para cuidar de si mesmo. O interesse científico pela condição física da população idosa vem aumentando consideravelmente. A capacidade funcional do sistema cardiovascular declina com o avançar da idade e pode ser considerado um fator de risco [4]. Por outro lado, maior condicionamento cardiorrespiratório reduz a mortalidade por doenças cardíacas [5], aumenta a independência e a qualidade de vida [6], e deve ser prioridade em programas de exercícios que visam a melhora do sistema cardiovascular. Portanto, um adequado nível de capacidade aeróbia é essencial para que o idoso consiga caminhar, fazer compras, desenvolver atividades recreativas e praticar esportes [7]. O exercício físico, por sua vez, pode melhorar as respostas centrais e periféricas relacionadas à capacidade cardiorrespiratória e o bem-estar psicológico. Entretanto, a literatura baseia-se que a realização dos exercícios devam compreender as de intensidades que variam de 60 a 70% do VO2máx de indivíduos não idosos [7], e não para idosos. Por sua vez, Wilson e Tanaka [4] mostram em sua meta análise que os estudos dão ênfase para idosos sedentários comparados com idosos ativos ou idosos atletas. Não tendo uma comparação entre os grupos de idosos fisicamente ativos com os idosos atletas. Nosso objetivo foi comparar o esforço físico de idosos atletas (IA) e idosos não atletas (INA) submetidos ao teste ergométrico. E com a hipótese de que não haverá diferença significativa entre os grupos dos parâmetros fisiológicos avaliados. Material e métodos O trabalho foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da UFU obedecendo aos preceitos da resolução do Ministério da Saúde 196 de 1996. Amostra, critérios de inclusão e exclusão Foram comparados os seguintes critérios de inclusão de ambos os grupos: a) Consideramos INA, os sujeitos inscritos e participates do Programa Atividades Físicas e Recreativas para Idosos da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia (AFRID-FAEFI-UFU) por mais de 5 anos, que realizam exercícios físicos de 3 a 5 vezes por semana, que não apresentem qualquer problemas do coração, problemas pulmonares, problemas de rins, diabetes mellitus e hipertensão arterial secundária; b) Consideramos IA, pessoas acima dos 60 anos, do sexo masculino, praticantes de esporte aeróbio de alta resistência (maratonistas) há mais de 5 anos estando em período de atividade atlética plena, não sendo inscritos no AFRID-FAEFI-UFU. Utilizamos como critério de exclusão para ambos os grupos: 1) Exame de sangue fora dos padrões bioquímicos de colesterol, creatina kinase, creatina kinase total, HDL, LDL, triglicerides, ácido úrico, uréia, glicose e proteina C reativa; 2) Alteração da função ventricular sistólica e diastólica e contratilidade segmentar pelo Exame Ecocardiográfico, modalidade bi-dimensional, modo M, color e doppler, conforme padrões da Sociedade Americana de Ecocardiografia [8,9], 3) Alterações no Eletrocardiograma (ECG) basal, nas arritmias, infarto do miocárdio prévio, repolarização ventricular e alterações no segmento ST. As leituras foram feitas no monitor (cardioscópio) e conferidas no registro em papel. O segmento ST foi considerado alterado em três ou mais complexos consecutivos. O intervalo entre as realizações dos exames de ECG e Ecocardiograma foi inferior a um mês. Utilizamos estes rigorosos critérios de exclusões para obtermos o maior grau de homogeneidade entre os participantes do estudo. Todos assinaram o termo de consentimento e livre esclarecimento. O grupo de INA foi composta por 15 idosos de ambos os sexos, sendo 9 mulheres e 6 homens. O grupo de IA foi composto por 8 idosos do sexo masculino altamente treinados. Protocolo do teste de esforço O teste de esforço foi realizado na esteira Ecafix® (Brasil). O protocolo utilizado foi o de Bruce Original [10]. A monitorização foi contínua do eletrocardiograma de 12 derivações acrescido de CM5, com o software Ergo PC 13 para Windows. Todos os testes de esforço foram realizados sempre na presença de um profissional experiente. Parâmetros fisiológicos avaliados A FCM foi monitorada pelo eletrocardiograma de 12 derivações ligado ao programa de computador. As aferições das PAS e PAD foram realizadas pelo método auscultatório, com esfigmomanômetro Tycos® (EUA). A PAM foi obtida pela equação [11] PAM = PAD + [0,333 X (PAS – PAD)]. O DP foi obtido pela multiplicação da FCM com a PAS do pico do esforço. Foi permitindo que os idosos utilizassem apenas as barras frontais de apoio da esteira ergométrica. Todos os parâmetros fisiológicos mencionados foram avaliados no repouso, durante, no pico máximo do exercício e nos estágios 5 e 15 minutos após o encerramento do teste. Interrupção do teste O teste era interrompido por: exaustão; elevação da Pressão Arterial Diastólica (PAD) >120mm/Hg nos normotensos e >140mm/Hg nos hipertensos primários; elevação da PAS >260mm/HG; queda sustentada da PAS; manifestação Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 clínica de precordialgia típica intensa; infradesnivelamento do segmento ST > 3mm; supradesnivelamento do segmento ST > 2mm em derivação sem presença de onda q, arritmia ventricular complexa; aparecimento de taquicardia supraventricular sustentada, taquicardia atrial, fibrilação atrial, bloqueio átrioventricular de 2º e 3º graus, sinais de insuficiência ventricular esquerda, falência dos sistemas de monitoração e/ ou registro [12]. 73 O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício), final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 5’ (após o término do exercício o idoso, era acomodado, passados cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado FC), 15’(esta mesma medida de FC era realizada quinze minutos depois do encerramento do teste) . No eixo Y do gráfico está representando os valores das FCs alcançadas durante todos os estágios sendo expressos em batimentos por minuto (bpm). O teste t-student, mostrou diferença significativa p<0,05 nos estágios 0 e final entre os grupos INA e IA. Porém Resultados na recuperação após o exercício não demonstrou diferença entre as FC. A análise estatística descritiva da média e desvio padrão demonstrou os resultados das Variáveis Antropométricas (VA) que não apresentaram diferença significativa entre os grupos, demonstrando que os grupos estavam homogêneos. Os dados são apresentados na Tabela I de ambos os grupos INA e IA. A avaliação dos parâmetros fisiológicos da FCM mostrou diferença significativa no estágio 0 e estágio final, entretanto não houve diferença na FCM nos estágios 5’ e 15’ após o teste (Figura 1). As PAS (Figura 2), PAM (Figura 3), PAD (Figura 4) e DP (Figura 5) mostraram diferença significativa nos estágios 0, final, 5’ e 15’ após o teste. Foi aplicado o teste t de Student para amostras emparelhadas. Não houve comparação estatística intergrupos. Em todos os casos, foi adotado nível de significância de p < 0,05. Figura 2 - Resultados das médias da Pressão Arterial Sistólica (PAS) entre os grupos de INA e IA. Tabela I - Variáveis antropométricas dos grupos INA e IA. O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício), VA Idade (anos) Peso (kg) Altura (cm) IMC INA X 65,13 62,46 160 24,25 Des Pad 5,35 9,59 8,17 3,36 IA X 62,75 63,62 169,12 22,21 final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), Des Pad 3,24 7,42 7,16 1,94 5’ (após o término do exercício o idoso era acomodado, passados cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAS), 15’(esta mesma medida de PAS era realizada quinze minutos depois do encerramento do teste). O eixo Y do gráfico está representando os valores das PAS alcançadas durante todos os estágios sendo expressos Os valores X (média) e Des. Pad (Desvio Padrão) não demonstrou di- em milímetros por mercúrio/ Hg (mmHg). Os valores uma diferença ferença significativa pela análise estatística descritiva para p<0,05 nas significativa de p < 0,05 em todos os estágios, 0, final, 5’ e 15’ após a variáveis antropométricas (idade, peso, altura e IMC [Índice de Massa sessão de exercício físico. Corporal]) dos grupos Idosos não Atletas (INA) comparados ao grupo de Idosos Atletas (IA). Figura 3 - Resultados das médias da Pressão Arterial Média (PAM) entre os grupos de INA e IA. Figura 1 - Resposta da frequência cardíaca (FC) nos estágios pré, no final o e após 5’ e 15’ do término do exercício físico agudo. O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício), final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 74 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 5’ (após o término do exercício o idoso era acomodado, passados mesma medida do DP era realizada quinze minutos depois do encerra- cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAM), mento do teste). O eixo Y do gráfico está representando os valores do 15’(esta mesma medida de PAM era realizada quinze minutos depois DP alcançados durante todos os estágios sendo expressos pelo cálculo do encerramento do teste). O eixo Y do gráfico está representando os da FC do estágio multiplicados pela PAD do mesmo estágio obtendo um valores das PAM alcançadas durante todos os estágios sendo expressos valor absoluto. O teste t-student, mostrou diferença significativa p<0,05 em milímetros por mercúrio/ Hg (mmHg). Afirmaram uma diferença entre os grupos INA e IA. significativa de p < 0,05 nos estágios, 0, final, 5’ e 15’ após a sessão de exercício físico. Discussão Figura 4 - Resultados das médias da Pressão Arterial Diastólica (PAD) entre os grupos de INA e IA. O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício), final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 5’ (após o término do exercício, o idoso era acomodado, passados cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAS), 15’(esta mesma medida de PAS era realizada quinze minutos depois do encerramento do teste) . O eixo Y do gráfico está representando os valores das PAD alcançadas durante todos os estágios sendo expressos em milímetros por mercúrio/ Hg (mmHg). Existe uma diferença significativa de p < 0,05 em todos os estágios pré, no estágio final e nos estágio 5’ e 15’ após a sessão de exercício físico. Figura 5 - Resposta do Duplo Produto (DP) nos estágios pré, no final o e após 5’ e 15’ do término do exercício físico agudo. O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício), final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 5’ (após o término do exercício o idoso, era acomodado, passados cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAS), 15’(esta Inicialmente vamos discutir algumas características específicas e potenciais limitações do presente estudo. Diferente dos outros estudos da literatura, o grupo de INA foi composto por nove voluntárias e seis voluntários todos considerados idosos segundo Organização Mundial da Saúde. O conjunto da amostra demonstra que as mulheres frequentam mais as atividades que oferecem benefício através do exercício físico do que os homens [13]. Já o inverso acontece com o grupo de IA, tendo uma participação expressiva dos homens. Entretanto, a análise estatística descritiva pode demonstrar não haver diferença significativa nas variáveis antropométricas entre os grupos avaliados, tornando-os homogêneos. Quando comparamos os valores médios da frequência cardíaca no estágio 0 demonstrou haver diferenças entre os grupos. A bradicardia foi observada em ambos os grupos, entretanto, o grupo de IA este fator foi mais expresso. O treinamento de endurance coloca o nódulo sinusal do coração sob uma maior influência da acetilcolina, hormônio parassimpático que torna mais lenta a Frequência Cardíaca de Repouso (FCR) [11], ao mesmo tempo, a atividade simpática em repouso diminui. Esta adaptação ao treinamento explica em partes as FCR mais baixas de muitos atletas de endurance masters [11,14]. Já no parâmetro FCM ambos os grupos tiveram comportamentos semelhantes durante o teste conforme a literatura [11]. Além disto, o grupo de IA apresentou ter maior resistência física durante o teste devido a possuírem um fluxo sanguíneo aumentado com a intensidade do exercício. O débito cardíaco voltava rapidamente durante a transição do repouso para o exercício físico. Provavelmente, fatores de influxo periféricos como quimiorreceptores, metabarroreceptores, monitoram o estado físico e químico da musculatura envolvida no exercício [11]. Tais fatores são capazes de modificar o fluxo anterógrado vagal (parassimpático) ou simpático de forma a induzir respostas cardiovasculares apropriadas para as várias intensidades do exercício físico mesmo estando diminuído em idosos [15,16]. Os efeitos do envelhecimento no mecanismo de ativação dos metabarroreceptores e quimiorreceptores são desconhecidos. Um melhor entendimento do controle destes mecanismos e de suas interações pode aumentar nosso conhecimento das limitações do exercício com envelhecimento. A bradicardia observada em ambos os grupos, após o exercício físico, em condições de repouso é um resultado frequente, ocorrendo também na presente investigação [17- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 19]. Isto evidencia que o teste físico utilizado constitui-se de exercício com intensidades variando de moderado a intenso e de longa duração. Pois nesta intensidade as respostas cardíacas diminuem logo após a sessão de treinamento, mesmo quando se utilizam exercícios aeróbios para membros superiores [17-21]. Outro aspecto que merece ênfase diz respeito à prescrição baseada na FCM para esta idade. No trabalho de Rondon et al. [20], observou-se que a prescrição de intensidades de exercícios físicos baseada na FCM mostra valores significantemente maiores que os valores obtidos a partir de testes submáximos. Desta forma, é possível que as prescrições indiretas baseadas em indivíduos jovens e de meia idade não se apliquem nos idosos. Neste estudo, avaliamos a frequência cardíaca de repouso pré e pós exercício, monitoramos também o comportamento das pressões arterial sistólica, média e diastólica, devidamente padronizadas durante a realização dos testes nos mesmos grupos de indivíduos, permitindo-nos avaliar o comportamento não só durante o exercício mais também nos períodos 5’ e 15’ que sucederam o teste. Grande parte dos estudos [21,24,31] têm demonstrado que o exercício físico agudo aeróbio provoca queda duradora da pressão arterial no período de recuperação após exercício físico, e que podem ser diversos fatores que influenciam essa queda pressórica. Contudo, os mecanismos que determinam a diminuição da pressão arterial (PA) após uma única sessão de exercício físico ainda não estão completamente esclarecidos [17]. O aumento da excreção urinária de sódio e, consequentemente, a diminuição da atividade da renina plasmática [25] são respostas que estão sendo desenvolvidas para explicar a diminuição da PA após o exercício físico. Em nosso trabalho, os valores da PAS entre os grupos foram de 9 mmHg para o grupo INA e 12 mmHg para o grupo IA. No entanto, na PAD do INA não houve alteração, e no IA foi de 5 mmHg, ambos os grupos tiveram diminuídas as medidas descritas na literatura que estão entre 9 e 15mmHg [25,26]. Entretanto, não encontramos subsídios científicos para sustentar nosso achado sobre a PAM que foi de 2 mmHg para o INA e 4 nos IA. Os resultados para o DP apresentam uma similaridade quando comparada ao da FC em todos os estágios. Pode-se entender que a escala crescente apresentada da solicitação cardiovascular associada a cada estágio monitorado foi representado assim: (estag 0 < estag final < estag 5’ < estag 15’). Outro ponto de interesse foi que encontramos valores superiores a 21000 do DP em ambos os grupos; valor muitas vezes aplicado em pacientes com sintomas de angina pectoris [27]. Contudo, não foi desencadeado desconforto por dores no peito durante a realização do teste. Além do mais, há evidências de que a relação entre oferta e demanda de oxigênio para o miocárdio seja alterada pela superposição de esforços estáticos e dinâmicos com menor depressão do segmento ST para um mesmo DP [28-31]. 75 Conclusão No presente estudo, os grupos analisados não apresentaram prevalência de altos níveis pressóricos, além de outros fatores de risco cardiovasculares, o que sugere a necessidade da adoção de medidas educativas, preventivas e terapêuticas em relação a doenças cardiovasculares para a população de idosos. É importante realçar a necessidade de mais estudos enfocando qual a intensidade que deve ser empregada para obter melhores benefícios no envelhecimento através do exercício físico. Tais benefícios devem ser aproveitados como tratamento inicial do hipertenso, visando assim, uma redução no consumo de medicamentos. O exercício físico deve ser incorporado para todas as idades não apenas para o idoso. Ambos os grupos tiveram redução significativa dos níveis pressóricos logo após o exercício, no entanto, o grupo de idosos atletas apresentou melhores respostas cardíacas do que o grupo de idosos não atletas. Neste estudo não nos preocupamos se os atletas tiveram esse desempenho por causa do exercício ou se isto é uma consequência genética descoberta tardiamente. Agradecimento Ao colega técnico administrativo, Inri José Mussi, que nos auxiliou com seu imenso conhecimento e na coleta dos dados. Referências 1. Kim HS, Tanaka K. The assessement of functional age using activities of daily living performance tests: a study of korean women. J Aging Phys Activity 1995;(3):39-53. 2. Savioli NF, Ghorayeb N, Luiz CCC. Atleta idoso. In: Ghorayeb N, Barros T, ed. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 77 Artigo original Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada de ambos os sexos em diferentes velocidades Gait dynamics of individuals of both genders walking in different speeds Sebastião Iberes Lopes Melo, D.Sc.*, Juliane de Oliveira**, Raquel Pinheiro Gomes**, Mário César Andrade***, Roberta Pires**** *Professor do Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), **Mestranda do Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ***Coordenador do Laboratório de Biomecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ****Educadora Física formada pelo Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Resumo Abstract O objetivo desta pesquisa foi comparar as características dinâmicas e espaço-temporais em praticantes de caminhada, considerando gênero e velocidade. Participaram deste estudo 49 sujeitos, de ambos os sexos (46,94% mulheres e 53,06% homens), com idade média de 28,32 (± 10,63) anos, tempo médio de prática de 28,11 (± 30,32) meses e freqüência média de prática semanal de 3,39 vezes por semana. O dados foram coletados em uma esteira ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h. Os resultados apontaram diferenças significantes (p < 0,05) nas características cinéticas da marcha entre homens e mulheres nas variáveis TRP, CP, CAD e TDA. As variáveis PPF, SPF, TAP, TRP, CP e CAD sofreram aumento significativo de seus valores médios em pelo menos um dos ingressos de velocidade. O oposto ocorreu com as variáveis TDA e TAS, que reduziram seus valores médios. The aim of this study was to compare the dynamic and spatiotemporal characteristics of walking practitioners, considering gender and speed. 49 subjects, both genders (46.94% women and 53.06% men), average age 28.32 (± 10.63) years, average frequency of walking 28.11 (± 30.32) months, and 3.39 times a week, participated to the study. Data were collected in a Kistler-Gaitway treadmill, 9810SI model, at speeds of 4 km/h, 5 km/h and 6 km/h. The results pointed out significant differences (p ≤ 0.05) in gait kinetics characteristics between men and women in the TRP, CP, CAD and TDA variables. There was a significant increase in the mean values of at least one speed in the variables PPF, SPF, TAP, TRP, CP and CAD. The opposite occurred with TDA and TAS variables, which had its mean values reduced. Key-words: biomechanical, gait, gender, speed. Palavras-chave: biomecânica, marcha, gênero, velocidade. Endereço para correspondência: Sebastião Iberes Lopes Melo, Laboratório de Biomecânica CEFID-UDESC, Rua Pascoal Simone, 149 Coqueiros 88080-350 Florianópolis SC, Tel: (48) 3244-9451, E-mail: [email protected] 78 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução A caminhada é uma atividade fisica popular de baixo custo e fácil acessibilidade, o que a torna uma alternativa para o controle do peso corporal e manutenção da saúde, comumente praticada por ambos os sexos em diferentes faixas etárias. Entretanto, apesar dos indiscutíveis benefícios promovidos por essa modalidade de exercício físico, a prática inadequada pode levar a prejuízo de diversos sistemas, inclusive no aparelho locomotor. Especula-se que as diferenças nas estruturas corporais entre os gêneros possam influenciar nas características biomecânicas da marcha. Neste sentido, o estudo de Kerrigan et al. [1] encontrou uma maior cadência e comprimento de passada normalizada em mulheres. Chui e Wang e Waters e Mulroy [2,3] acrescentam que a velocidade da marcha dos homens é maior que das mulheres. Ferber et al. [4] afirmam que as mulheres possuem uma alta velocidade angular e aumento da rotação interna do quadril durante a marcha. Cho et al. [5] atribuem as diferenças do padrão da marcha entre os gêneros a fatores anatômicos e hábitos. Chui e Wang [2] sugerem que algumas características intrínsecas como alinhamento esquelético, força muscular e parâmetros antropométricos podem contribuir para as diferenças da performance da marcha entre os gêneros. No entanto, a influência destas variáveis nas características biomecânicas do movimento humano e as diferenças das características cinéticas da marcha entre homens e mulheres praticantes de caminhada têm sido pouco investigadas. Para a análise destas características utiliza-se a descrição quantitativa de diferentes aspectos mecânicos da marcha que estão ligadas às forças que causam o movimento observado e seu papel no fenômeno analisado [6]. As variáveis cinéticas incluem parâmetros como a força de reação do solo, a força transmitida através das articulações, a potência transferida entre os segmentos corporais e a energia mecânica dos segmentos [6], estas variáveis são diferentes nos indivíduos, seja pelas características físicas, individualidade na maneira de caminhar ou de acordo com a velocidade da execução do movimento, entretanto, existem certas características que permitem uma padronização [7]. Diante do que foi exposto, este estudo tem como objetivo geral avaliar as características dinâmicas e espaços-temporais da marcha de praticantes de caminhada considerando o gênero e a velocidade e, como objetivos específicos, comparar as características dinâmicas e espaços-temporais da marcha entre homens e mulheres nas velocidades de 4km/h, 5 km/h e 6 km/h e comparar estas características entre as diferentes velocidades. Material e métodos Participaram deste estudo descritivo do tipo exploratório, 49 sujeitos praticantes de caminhada, de ambos os sexos (49,94% mulheres e 53,06% de homens), com média de idade de 28,32 (± 10,63) anos, tempo médio de prática de 28,11 (± 30,32) meses e freqüência semanal média de 3,39 vezes por semana. As médias de estatura e massa corporal encontradas foram de respectivamente, 1,62 m e 58,2 kg para as mulheres e 1,74 m e 72,7 kg para os homens. Os indivíduos foram selecionados pelo processo casual sistemático, através de abordagem direta e por apresentarem os critérios para inclusão: praticantes de caminhada de forma regular (indivíduo que realiza a caminhada na forma de atividade física por pelo menos duas vezes por semana e no mínimo de três meses) e idade igual ou superior a 20 anos. Após aprovação pelo Comitê de Ética de Pesquisa do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a coleta de dados teve início, utilizando-se como instrumentos de medida: 1) Questionário auto-aplicável, padronizado, com índices de confiabilidade: clareza 0,927, validade 0,934 e fidedignidade 0,86, contendo 16 questões relacionadas ao gênero, idade, dados referentes à prática de caminhada e campos para o preenchimento das medidas antropométricas; 2)Esteira ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, com duas plataformas de forças com sensores de carga de cristais piezoelétricos acoplada à sua base; 3) Balança da marca Filizola com precisão de 100 gramas; 4) Estadiômetro de madeira com escala de medida de 0,1 cm. Para a aquisição dos dados adotaram-se os seguintes procedimentos: 1) Aplicação do questionário; 2) Pesagem dos sujeitos na balança e obtenção da estatura para o cálculo do IMC; 3) Pesagem em uma das plataformas do equipamento com aquisição de 2 segundos, para posterior normalização dos dados pelo peso corporal; 4) Instrução dos sujeitos sobre o correto posicionamento na esteira durante todo o teste, bem como do funcionamento da mesma; 5) Tempo referente à adaptação dos indivíduos ao equipamento, caminhando em velocidade confortável; 6) Aquisição dos dados nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h, sendo que o sujeito permanecia em cada velocidade por dois minutos. O tempo de aquisição foi de 12 segundos a uma freqüência de amostragem de 600 Hz. O processamento dos dados foi realizado no programa Gaitway MD for Windows versão 1.08. Foram selecionados como parâmetros da análise da marcha as variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força (PPF), Segundo Pico de Força (SPF), Taxa de Aceitação do Peso (TAP) e Taxa de Retirada do Peso (TRP) e, as variáveis espaços-temporais: Comprimento do Passo (CP), Cadência (CAD), Tempo de Duplo Apoio (TDA) e Tempo de Apoio Simples (TAS). Para tratamento na caracterização dos dados utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e coeficiente de variação); para comparar as características das variáveis, entre homens e mulheres, nas diferentes velocidades, utilizou-se o teste t de Student. Para comparar o comportamento das variáveis com o incremento da velocidade utilizou-se análise de variância Anova one-way, e para detectar em quais passagens Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 de velocidades houve diferenças utilizou o teste post hoc de Tukey. Em todas as comparações adotou-se p ≤ 0,05. Resultados Os resultados estão apresentados segundo os objetivos específicos do trabalho. Na Tabela I, estão dispostos os resultados da comparação das características dinâmicas e espaçotemporais da marcha entre homens e mulheres nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h. Os resultados da comparação das variáveis dinâmicas e espaços-temporais da marcha para os três grupos (sexo masculino (M), sexo feminino (F) e ambos os sexos (A)) entre as diferentes passagens de velocidade estão dispostos na Tabela II. Analisando a Tabela I, constataram-se diferenças estatisticamente significativas entre algumas características dinâmicas da marcha de homens e mulheres. A variável cinética Taxa de Retirada do Peso e as variáveis espaço-temporais, Comprimento do Passo e Tempo de Duplo Apoio foram significantemente maior para o sexo masculino nas três velocidades. A variável espaço-temporal Cadência foi significativamente maior para as mulheres nas três velocidades. A variável Primeiro Pico de Força apresentou o mesmo valor médio entre os sexos na velocidade de 4 km/h. Com valores não significativos, o valor médio desta variável foi maior na velocidade de 5 km/h para os homens e na velocidade de 6 km/h nas mulheres. A variável Segundo Pico de Força foi maior no sexo masculino nas três velocidades, entretanto, estas diferenças não foram estatisticamente significativas. A variável Tempo de Apoio Simples, de forma não significativa, foram maiores para os homens nas velocidades de 4 km/h 79 e 6 km/h, entretanto, seus valores médios foram iguais em ambos os sexos na velocidade de 6 km/h. A Variável Taxa de Aceitação de Peso apresentou valores médios maiores no sexo masculino na velocidade de 4 km/h, entretanto, com o aumento da velocidade, as mulheres apresentaram valores médios maiores. Estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Prosseguindo com a análise dos resultados da tabela I, constatou-se que o coeficiente de variação das variáveis Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força, Comprimento do Passo e Cadência mostraram-se homogêneos (CV% < 10%) em todas as velocidades em ambos os sexos. O Tempo de Duplo Apoio e Taxa Retirada do Peso apresentaram média variabilidade (11< CV% < 20). A variável Taxa de Aceitação de Peso de modo geral mostraram média variabilidade, entretanto, apresentou-se bastante heterogênea (CV% >30) nas velocidades de 5 km/h e 6 km/h no sexo feminino. Na continuidade do estudo, fez-se a comparação de diferentes variáveis dinâmicas e espaço-temporais entre as velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h, conforme apresentadas na Tabela II, na página seguinte. Através dos resultados apresentados na Tabela II, identificou-se que a velocidade produziu alterações significativas para os níveis pré-estabelecidos em todas as variáveis analisadas. Para verificar em que passagens de velocidade ocorreram estas diferenças, aplicou-se a análise de post-hoc de Tukey, onde se constatou: 1) Nas variáveis Taxa de Aceitação do Peso, Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo, Cadência e Tempo de Duplo Apoio houve diferenças significativas nas três passagens de velocidade no grupo dos homens, das mulheres e de ambos os sexos; 2)Na variável Primeiro Pico de Tabela I - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaços-temporais entre homens e mulheres nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h. VAR S 4 km/h PPF M F M F M F M F M F M F M F M F X 1.08 1.08 1.05 1.07 7.05 6.78 6.29 4.96 0.65 0.61 103.83 108.40 0.30 0.27 0.41 0.40 SPF TAP TRP CP CAD TDA TAS 5 km/h CV % 4.60 9.82 3.77 3.86 13.75 16.23 16.05 16.78 5.63 6.39 4.27 5.04 14.47 11.01 7.54 10.28 * Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos. P 0.526 0.179 0.359 0.000* 0.002* 0.002* 0.019* 0.515 X 1.12 1.11 1.10 1,11 9.26 10.09 7.49 6.03 0,74 0.70 112,88 117,73 0.25 0.22 0,41 0.39 6 km/h CV % 4.65 5.83 7.46 4.64 13.04 32.77 13.28 18.15 3.63 5.49 3.78 4.95 14.24 9.38 12.75 4.91 P 0.284 0.927 0.238 0.000* 0.000* 0.001* 0.000* 0,149 X 1.20 1.22 1.14 1.15 13.33 15.54 8.46 6.85 0.82 0.78 120.41 126.69 0.22 0.18 0.38 0.38 CV% 9.63 6.12 5.06 7.64 15.32 40.64 15.13 18.97 3.80 5.98 3.21 5.49 14.33 12.09 4.43 7.06 P 0.498 0.490 0.212 0.000* 0.001* 0.000* 0,000* 0.619 80 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Tabela II - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaço-temporais entre as diferentes velocidades. VAR PPF SPF TAP TRP CP CAD TODA TAS Sexo M F A M F A M F A M X 4km/h 1.06 1.07 1.06 1.05 1.07 1.06 7.05 6.78 6.92 6.29 X 5km/h 1.12 1.11 1.11 1.10 1.11 1.10 9.26 10.09 9.65 7.49 X 6km/h 1.20 1.22 1.21 1.14 1.15 1.14 12.18 15.55 13.76 8.46 p (P1) 0.016* 0.273 0.005* 0.008* 0.097 0.000* 0.000* 0.023* 0.000* 0.000* P (P2) 0.001* 0.000* 0.000* 0.171 0.054 0.008* 0.000* 0.000* 0.000* 0.006* P (P3) 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* F A M F A M F A M F A M F A 4.96 5.67 0.65 0.61 0.63 103.8 108.4 105.9 0.30 0.27 0.29 0.41 0.40 0.41 6.03 6.81 0.74 0.70 0.72 112.8 117.3 115.1 0.25 0.22 0.24 0.40 0.39 0.40 6.85 7.70 0.82 0.78 0.80 120.4 126.6 123.3 0.22 0.18 0.20 0.38 0.38 0.38 0.004* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.837 0.166 0.253 0.036* 0.002* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.002* 0.000* 0.000* 0.071 0.653 0.056 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.017* 0.022* 0.000* * Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos P1 – Passagem de 4 km/h para 5 km/h; P2 – Passagem de 5 km/h para 6km/h; P3 – Passagem de 4 km/h para 6 km/h. Força identificou-se diferença significativa em quase todas as passagens de velocidade, com exceção do grupo feminino na passagem de 4 km/h para 5 km/h; 3) Na variável Segundo Pico de Força observou-se diferença significativa nas três passagens de velocidade quando considerado o grupo misto. Porém, não houve diferença significativa para o sexo masculino na passagem de 5 km/h para 6 km/h e para o sexo feminino nas passagens de 4 km/h para 5 km/h e 5 km/h para 6 km/h; 4) No Tempo de Apoio Simples ocorreram diferenças significativas para os três grupos apenas na passagem de 4 km/h para 6 km/h. Discussão No que se refere à comparação dos valores das diferentes variáveis analisadas entre homens e mulheres, de um modo geral, os homens apresentaram maiores valores nas variáveis Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo, Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples, enquanto que as mulheres apresentaram maiores valores de Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Cadência. A ausência de diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres nas variáveis Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força e Taxa de Aceitação do Peso, em todas as velocidades analisadas, aponta que homens e mulheres responderam ao teste aplicado de forma semelhante, possivelmente pelo fato de que a velocidade foi controlada e induzida pela esteira. Na variável Taxa de Retirada do Peso, observa-se que os homens apresentam maiores valores, fato que pode ser justificado pelo predomínio de massa magra no sexo masculino. A diferença hormonal é a justificativa mais evidente da diferença de força muscular em homens e mulheres, visto que a testosterona tem características anabólicas e androgênicas. Além disso, Viel [8] afirma que os músculos glúteos e isquiotibiais estão fortemente ligados à fase de pré-oscilação dos membros inferiores durante a marcha. Uma vez que esta fase tem ligação direta com a força dos músculos extensores, e conseqüentemente, com uma maior força de impulsão, justifica-se o fato de os homens apresentarem maiores médias para esta variável. O Comprimento do Passo na velocidade de 4 km/h apresentou maiores valores para os homens, mostrando-se semelhante aos valores encontrados por Alencar et al. [9], com 0,65 m para os homens e 0,62 m para as mulheres em uma velocidade habitual de aproximadamente 4 km/h. Cho Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 et al. [5] também encontraram valores menores de comprimento de passo nas mulheres. Entretanto, estes dados vão de encontro com o estudo de Ferber et al. [4] que encontraram um aumento do comprimento do passo nas mulheres e atribui este aumento a necessidade de manter a velocidade da marcha pré-determinada. Além da variável Comprimento do Passo, o Tempo de Duplo Apoio apresentou valores maiores para o sexo masculino, o que pode ser explicado pela existência de diferenças antropométricas relacionadas ao comprimento dos membros inferiores entre homens e mulheres. A variável Cadência apresentou-se significativamente diferente entre homens e mulheres, sendo maior para o sexo feminino nas três velocidades analisadas. Estes resultados concordam com os obtidos por Tommy et al.[10], Alencar et al. [9] e Cho et al. [5] que também encontraram valores de Cadência maior para este grupo. Tal fenômeno pode indicar uma forma de compensação de alguns fatores antropométricos. As características da marcha são dependentes de múltiplos fatores como o limite mecânico imposto pelo comprimento dos membros inferiores, massa corporal, momento da inércia e o nível de carga tolerado pelo sistema músculo esquelético [11]. Sacco [12] acrescenta ainda, que os fatores extrínsecos são determinantes para as características da marcha. Para este autor, características antropométricas, tais como estatura do indivíduo e comprimento dos membros inferiores, correlacionam e influenciam parâmetros desta tarefa motora. Em adição, Lima [13] destaca que o passo é uma característica individual, estando relacionada com as dimensões corpóreas, principalmente com o comprimento dos membros inferiores e a capacidade de alongamento dos músculos. Em relação aos coeficientes de variação este é definido como o desvio-padrão expresso em porcentagem de média, é a medida mais utilizada para medir a instabilidade relativa de variável, considera-se que quanto menor o CV, maior será a homogeneidade dos dados. Melo [14] considerou valores do CV% até 10% como de baixa variabilidade, de 11 a 20% como de média variabilidade, de 21 a 30% como de alta variabilidade e maior que 30% como de variabilidade muito alta. De forma geral, os coeficientes de variação mostraramse homogêneos, entretanto, as variavéis Tempo de Duplo Apoio, Taxa Retirada de Peso e Taxa de Aceitação do Peso apresentaram-se com média variabilidade, Melo et al. [7], em um estudo sobre as características da marcha, relacionaram a elevação nos índices de heterogeneidade ao piso móvel da esteira. A variável Taxa de Aceitação de Peso apresentou-se com alta variabilidade no sexo feminino nas velocidades de 5 km/h e 6 km/h. Vários estudos [6,15,16] utilizam esta variável como medida de estabilidade e equilíbrio, entretanto, não possuímos dados para aprofundar esta relação. Analisando o comportamento das variáveis cinéticas da marcha, sob influência do incremento da velocidade, observou-se um aumento para os valores médios das variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Taxa de Retirada do Peso; e variá- 81 veis espaciais: Comprimento do Passo e Cadência. Entretanto, as variáveis temporais Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples tiveram redução dos seus valores. Pode-se dizer que os valores das variáveis dinâmicas sofreram um aumento obedecendo a 2ª Lei de Newton, a qual estabelece que a resultante das forças aplicadas a um ponto material é igual ao produto de sua massa pela aceleração adquirida. Desta forma, a aceleração é diretamente proporcional à força aplicada. O comportamento da variável Primeiro Pico de Força que aumentou com o incremento da velocidade, é semelhante aos resultados apresentados por Melo et al. [7] que verificaram um aumento dos valores desta variável, também nas passagens de velocidade de 4 km/h para 5 km/h, 5 km/h para 6 km/h e de 4 km/h para 6 km/h, indicando que os praticantes de caminhada enfatizam a utilização do calcanhar na fase de apoio. Estes resultados também concordam com os apresentados por Simon apud Sacco [12], no sentido de que os picos de força variam de 0,5 a 1,5 vezes o peso corporal, além de ter relação direta com a velocidade do movimento. Observou-se ainda que, na passagem de 4 km/h para 5 km/h, não houve diferença estatisticamente significava na variável Primeiro Pico de Força para o grupo feminino. Para a variável Segundo Pico de Força, os resultados vão de encontro aos apresentados por Melo et al. [7], que registraram a diminuição dos valores desta variável linearmente com o aumento da velocidade. Contudo, o grupo masculino não indicou diferença estatisticamente significativa na passagem de 5 km/h para 6 km/h e o grupo feminino nas passagens de 4 km/h para 5 km/h e 5 km/h para 6 km/h. Admite-se que tal resultado possa ser obtido por uma maior capacidade de adaptação apresentada por estes grupos. A Taxa de Aceitação de Peso é um indicador de uma série de características relacionadas ao recebimento da carga pelos membros inferiores. Costa et al.[17] afirmam que a força de reação do solo não é medida direta de sobrecarga, mas apenas um indicador de níveis de solicitação mecânica externa. Hennig [18], por sua vez, relaciona a acomodação do peso como o choque do impacto e afirma que esta é influenciada pela velocidade. Com o incremento da velocidade, há um aumento dos valores médios dos picos de força, e simultaneamente, uma redução do tempo para atingir estes picos. A variável Taxa de Retirada do Peso pode ser definida como a fase final de impulsão dos pés no solo, que é dada principalmente pela força dos músculos extensores do tornozelo. Sendo o impulso diretamente proporcional a força aplicada [19], pode-se dizer que a TRP é igualmente proporcional à mesma força. Desta forma, justifica-se o comportamento desta variável quando influenciada pela velocidade, uma vez que a força aumenta para a aceleração. A variável Cadência teve seus valores aumentados, enquanto o Tempo de Duplo Apoio e o Tempo de Apoio Simples sofreram uma redução de seus valores médios. O incremento da velocidade pode produzir o aumento dos valores de CAD e a redução dos valores de TDA e TAS. Contudo, apesar 82 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 da diminuição dos valores médios da variável TAS, com o incremento da velocidade, estas diferenças só foram estatisticamente significativas, em nosso estudo, das três passagens analisadas, somente a de 4 km/h para 6 km/h. Sendo assim, tanto a variável Taxa de Aceitação do Peso, quanto a variável Taxa de Retirada do Peso aumentaram com o incremento da velocidade, na tentativa de cumprir as solicitações do aumento da cadência, induzidas pelo piso móvel. Por fim, identificou-se um aumento estatisticamente significativo dos valores médios da variável Comprimento do Passo. Este fenômeno é explicado por Andrade et al. [20] que afirmam que o comprimento do passo deve apresentar um comportamento contrário ao apresentado na cadência, a fim de ajustar a freqüência de passos à velocidade induzida. Desta forma, o comportamento normal para esta variável, quando submetida a um incremento de velocidade, é aumentar sua amplitude na tentativa de acompanhar o ritmo imposto pela esteira. Conclusão Diante dos resultados apresentados e com base no referencial teórico consultado, concluiu-se que: 1) Homens e mulheres demonstram diferenças em algumas características da marcha, sendo que as variáveis Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo e Tempo de Duplo Apoio apresentaram diferenças nas três velocidades; Primeiro Pico de Força na velocidade de 5 km/h; Taxa de Aceitação do Peso a 4 km/h e Tempo de Apoio Simples nas velocidades de 4 km/h e 5 km/h maiores para os homens; 2) As variáveis Segundo Pico de Força e Cadência foram maiores para as mulheres nas três velocidades, enquanto que a variável Primeiro Pico de Força foi maior apenas na velocidade de 6 km/h e a Taxa de Aceitação do Peso foi maior nas velocidades de 5 km/h e 6 km/h; 3) As variáveis Primeiro Pico de Força e Tempo de Apoio Simples apresentaram valores semelhantes para homens e mulheres, respectivamente, nas velocidades de 4 km/h e 6 km/h; 4) As variáveis dinâmicas Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Taxa de Retirada do Peso e as variáveis espaço-temporal Comprimento do Passo e Cadência sofreram aumento significativo de sua magnitude em pelo menos uma das passagens de velocidade, indicando que estas variáveis estão diretamente relacionas ao fator velocidade; 5) Variáveis temporais como Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples tiveram seus valores reduzidos significativamente em pelo menos uma das passagens de velocidade, sugerindo relação inversamente proporcional a este fator; 6) Em síntese, existem algumas diferenças no padrão da marcha de homens e mulheres, porém não muito discrepantes. Além disso, o aumento da velocidade influencia o comportamento de variáveis dinâmicas e espaço-temporal da marcha de indivíduos sadios, ora aumentado, ora diminuindo seus valores médios. Agradecimentos Auxílio financeiro CNPq. Referências 1. Kerrigan DC, Todd M, Della Croce U. Gender differences in joint biomechanics during walking: normative study in young adults. Am J Phys Med Rehabil 1998;77:2-7. 2. Chiu MC, Wang MJ. The effect of gait speed and gender on perceived exertion, muscle activity, joint motion of lower extremity, ground reaction force and heart rate during normal walking. Gait Posture 2007;25:385-92. 3. Waters RL, Mulroy S. The energy expenditure of normal and pathologic gait. Gait Posture 1999;9:207–31. 4. Ferber R, McClay DI, Williams DS. Gender differences in lower extremity mechanics during running. Clin Biomech 2003;18:350–7. 5. Cho SH, Park JM, Kwon OY. Gender differences in three dimensional gait analysis data from 98 healthy Korean adults. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 17. Costa PHL, Duarte M, Amadio AC. Análise da força de reação do solo e da atividade muscular em crianças durante o andar no plano e o subir e descer escadas. VII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1997, Campinas. Anais do VII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1997. p.121-7. 18. Henning EM. Gait analysis and the biomechanics of human locomotion. VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999, Florianópolis. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999. p19-26. 83 19. Schaum D, Merwe VD, Willem C. Física geral. Rio de Janeiro: MacGrawHill do Brasil; 1979. 20. Andrade MC, Melo SIL, Avila AOV, Kraeski MH. Análise biomecânica da marcha atlética e caminhar em diferentes velocidades. VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999, Florianópolis. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999. p.101-6. 84 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Artigo original Estimulação audiovisual e simulação mental de competição esportiva: efeitos na pressão arterial de atletas Stimulation by light and sound and mental imagery of sports competition: effects on arterial pressure in athletes Mauricio Rocha Calomeni, M.Sc.*, Vernon Furtado da Silva, D.Sc.** *Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora (LANPEM) – UCB/RJ, **Professor Universidade Castelo Branco, Laboratório de Neuromotricidade (LABNEU-UCB/RJ), Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora (LANPEM) Resumo Abstract Cada vez mais se sabe que fatores puramente cognitivos influenciam diretamente na performance de atletas, podendo maximizar ou minimizar a performance competitiva. Então se torna importante desenvolver meios de se controlar, por meio de métodos cognitivos, variáveis fisiológicas que influenciam no desempenho atlético. O objetivo do estudo foi verificar se a simulação mental (imagética) associada à estimulação audiovisual interfere, fisiologicamente, de forma semelhante à situação real, na pressão arterial de atletas. Foram coletados os dados da pressão arterial antes de um treino, antes de um jogo e após 5 sessões de imagética associada à estimulação audiovisual. Os resultados mostraram que essa intervenção se mostrou eficiente em elevar a pressão sistólica a níveis superiores à situação de jogo real, contudo esses resultados não se repetiram nos escores da pressão diastólica. Conclui-se que a imagética de situações de jogo associada aos estímulos audiovisuais pode ser uma boa ferramenta no auxílio de treinadores para estabelecer níveis fisiológicos ótimos para um bom desempenho esportivo. Increasingly it is known that purely cognitive factors directly influence the performance of athletes, can maximize or minimize the competitive performance. So it is important to develop ways to control, through cognitive methods, physiological variables that affect athletic performance. The objective of this study was to determine whether the mental simulation (imagery) associated with audiovisual stimulation interferes, physiologically, in a similar way to the real situation in the blood pressure of athletes. We collected data from blood pressure before a training session, before a game and after 5 sessions of imagery associated with audiovisual stimulation. The results showed that the intervention was effective in raising the systolic pressure to levels higher than the actual situation of the game, but these results are not repeated in scores of diastolic pressure. It was concluded that the imagery of situations of audiovisual stimuli associated with the game can be a useful tool in helping the coaches to establish optimal physiological levels for a good sports performance. Palavras-chave: treinamento autógeno, estimulação fótica, estimulação acústica, pressão arterial. Key-words: autogenic training, photic stimulation, acoustic stimulation, blood pressure. Endereço para correspondência: Mauricio Rocha Calomeni, Rua Frei Vitório, 186 Centro 28400-000 São Fidélis RJ, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução O cérebro humano, estrutura principal do sistema nervoso, é o grande maestro de todas as funções orgânicas e fisiológicas que nos dão capacidade de sobreviver e interagir com o meio físico em que vivemos, bem como, com as diversas situações proporcionadas por esse meio, incluindo nesse contexto, as emoções, que dependendo da forma com que os indivíduos as percebem, são capazes de causar alterações corticais que, em um efeito cascata, vão gerar reflexos em diversas variáveis fisiológicas, como por exemplo, a pressão arterial. Influenciando assim o desempenho, e por esse motivo, o ser humano quando atleta em competição, terá sua performance profundamente ligada à qualidade do seu comportamento emocional e à maneira com que treinou para lidar com o stress advindo dessas atividades. A pressão arterial (PA) que conforme definida por Polito e Farinatti 1 é a força exercida pelo sangue por unidade de superfície da parede vascular, refletindo a interação do débito cardíaco com resistência periférica sistêmica. Araújo e Arcuri [2], de forma parecida, definem-na como o produto do débito cardíaco e da resistência dos vasos periféricos, sendo elemento fundamental da dinâmica sanguínea, que é um dos mais importantes parâmetros de avaliação do sistema cardiovascular. Para estes mesmos autores, a pressão arterial pode, também, ser utilizada como parâmetro para mensuração do nível de estresse de um atleta frente a uma competição esportiva, pois é profundamente influenciada pelas altas demandas físicas e psicológicas que envolvem o treinamento de alto nível e a competição esportiva. Fica claro, portanto, que o sistema cardiovascular, participa ativamente das adaptações ao estresse, estando, então, sujeito às influências neuro-humorais. Um bom exemplo, que respalda essas afirmações, é um estudo de Lipp [3], em que esse autor afirma que situações socialmente desafiadoras e estressantes, que nesse estudo podem ser representadas pelas competições esportivas, representam um estressor, cujos efeitos podem variar dependendo do nível de controle que os respondentes exercem sobre suas emoções. Uma das questões que intriga a técnicos e preparadores em geral, refere-se ao porquê de alguns atletas conseguirem ter um ótimo desempenho em competições, enquanto que outros, com a mesma aptidão física e qualidade técnica, não rendem o esperado. Uma possível resposta a essa questão pode ser encontrada através do estudo do papel e do reflexo dos fatores psicológicos no desempenho esportivo, pois, através das afirmações já feitas, pode-se inferir que um indivíduo submetido à influência de um agente estressor como, por exemplo, uma competição esportiva, devido à demanda das pressões psicológicas internas e externas sofridas pelo mesmo, pode ter seus níveis pressóricos aumentados de maneira que prejudique sua performance. Sabe-se que o stress précompetitivo apresenta uma curva em forma de U-invertido e para uma performance ideal o atleta deve apresentar níveis pressóricos entre um patamar mínimo e máximo. 85 Assim, neste estudo, buscar-se-á induzir níveis pressóricos semelhantes a uma situação esportiva através, apenas, de estímulos mentais associado à estimulação audiovisual. Para isso, Schimidt e Wrisberg [4] definem prática mental, que nesse estudo será abordada como imagética, como sendo a recapitulação cognitiva ativa de uma habilidade física na ausência de movimentos físicos explícitos. E a estimulação audiovisual, cuja condição interativa com o cérebro, dá-se em função da sucessão de estímulos (bombardeio) sobre a retina com luz estroboscópica e a percepção dessa freqüência pelo núcleo olivar e daí, ao tálamo, estrutura responsável por receber e filtrar estímulos esternos [5]. Esta via de feedback central juntamente com o sistema reticular ativado possibilita uma freqüência de disparos para o córtex, o qual em poucos minutos passa a acompanhar a freqüência que esta sendo imposta [6]. Usando-se, pois, um protocolo de estimulação com níveis altos de freqüência, pode-se hipotetizar aqui que via a “imaginação” de uma performance de esforço intenso, que em situação real influencia a pressão arterial, poderia ser assim simulada e apresentar um resultado em termos de níveis de pressão arterial, similar ou próximo disto. Material e métodos A amostra componente do estudo em pauta é caracterizada por um montante de 8 indivíduos do gênero masculino, integrantes de um time de basquete da cidade de Campos dos Goytacazes e com idades entre 13 e 15 anos. Como definição prioritária, os mesmos não podiam apresentar qualquer distúrbio visual, auditivo, físico ou mental e bom nível de capacidade imaginativa. Todos pertencentes a uma mesma classe social, integrantes de uma mesma equipe, e com o mesmo volume de treino semanal, visando-se assim, manter a maior homogeneidade possível. Todos os participantes foram voluntários, tendo-se solicitado, de forma obrigatória, a concordância, por escrito, dos pais ou responsáveis por eles. De acordo com a metodologia proposta, inicialmente foi aferida a pressão arterial de toda a amostra antes dos mesmos iniciarem uma sessão de treinamento rotineira, e não se percebeu nenhum tipo de pressão ou stress sobre a amostra. Em um segundo momento, 5 dias após o primeiro, aferiu-se novamente essas mesmas variáveis, cerca de 30 min antes de um jogo válido pelo campeonato estadual da categoria, onde havia certa pressão pelo resultado, uma vez que o mando de jogo era da equipe pesquisada. Buscou-se com isto, detectar qual a possível influência que esta situação, possivelmente estressante, causaria na variável dependente. Dois dias após a conclusão dessa etapa, iniciou-se o momento experimental da pesquisa. Uma hora antes do treino, os voluntários, individualmente, receberam, devidamente sentados de maneira mais confortável possível, em uma sala apropriadamente preparada, livre de ruídos externos, durante 10 minutos, 86 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 estímulos audiovisuais numa freqüência constante de 20 hz (Beta), simultaneamente com a prática de imagética, e se pedia aos atletas que rebuscassem mentalmente as emoções e situações do jogo reais. Esse procedimento ocorreu, da mesma forma, por 05 sessões consecutivas, realizadas uma por dia, sendo a coleta dos dados experimentais da pressão arterial aferidos durante o minuto final da última sessão de estimulação cortical. Os instrumentos necessários à operacionalização da presente pesquisa serão de várias naturezas. Primeiramente objetivando a potencialização (estimulação) cerebral dos atletas foi utilizado um aparelho eletrônico computadorizado denominado Sirius, fabricado pela Mindplace, composto por óculos escuro com 4 leds na face interna de cada lente, um fone de ouvido estéreo e um microprocessador no qual foi programada a freqüência de ondas Beta constante em 20 Hz, com duração de 10 minutos. Simultaneamente a essa estimulação, foram utilizados exercícios de imagética que consiste em visualizações positivas de situações e sensações do jogo. A pressão arterial foi mensurada através de um estetoscópio e um esfigmomanômetro da marca Sanny previamente validado e aprovado para uso clínico segundo os critérios da principal agência nacional de padronização (Inmetro) e foi utilizado o método auscultatório convencional. Os dados oriundos dos procedimentos descritos acima foram analisados no programa SSPS10 for Windows, utilizando-se as ferramentas descritivas média, desvio padrão, escore mínimo e máximo. Para a análise de normalidade dos dados dos escores da variável observada nessa pesquisa, foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk. De acordo com os resultados obtidos no teste de normalidade optou-se entre duas ferramentas estatísticas diferentes, o instrumento paramétrico Anova (Oneway) para comparações intergrupos, com teste da hipótese principal sendo executado dentro da margem probabilística, para a sua aceitação ou rejeição efetiva, de p valor < 0.05 ou o teste não-paramétrico Chi-Square. Como teste complementar adotou-se Post-Hoc, utilizou-se, também, o teste de Tukey na identificação de significância entre médias, em referência às três coletas de dados efetivadas. a homogeneidade do grupo em termos dos testes repetidos. A Tabela I mostra o número de indivíduos que formaram o grupo, as médias obtidas na mensuração da variável pressão arterial sistólica, nos três eventos que compuseram o estudo, e completando ainda, de forma descritiva, estão dispostos os limites superior e inferior dessas coletas bem como os desviospadrão, referentes aos mesmos. Tabela I - Apresentação descritiva do número total de indivíduos em cada grupo, com as respectivas médias, os desvios padrão e os limites inferior e superior da pressão arterial sistólica do grupo. N Coleta Con8 trole Coleta Jogo 8 Coleta Experi8 mental Média Desvio Padrão Limite Inferior Limite Superior 122,5 7,0 110,00 130,00 132,5 8,8 120,00 150,00 137,6 15,8 120,00 160,00 Na observação dos dados apresentados na Tabela I, nota-se claramente um aumento dos escores médios da pressão arterial sistólica no decorrer das três coletas feitas. Percebe-se, também, que na coleta experimental, o grupo teve uma variação significativamente maior em relação aos outros dois momentos que precederam a coleta experimental, o que é comprovado ao se observar os limites inferior e superior de cada momento. Na Tabela II serão apresentados os dados das inferências que podem ser feitas relativas aos dados da pressão arterial sistólica do grupo nas três coletas feitas para esse estudo. Serão mostradas as múltiplas correlações feitas através do teste post hoc com suas respectivas significâncias. Tabela II - Múltiplas correlações através do teste de Tukey HSD com os índices de significância relativos a cada uma das comparações inter-grupos dos valores da pressão arterial sistólica. Coleta Controle ColetaJogo Resultados Coleta Jogo Coleta Experimental Coleta Controle Coleta Experimental Sig. ,201 ,035* ,201 ,640 * Índice de significância p < 0,05 O teste de normalidade de Shapiro-Wilk mostrou que os dados referentes à variável dessa pesquisa se encontram dentro da curva de normalidade, todos com índices p > 0,05, credenciando assim o uso da ferramenta de análise de variância Anova (Oneway) sobre todos os escores. Os resultados obtidos desta ferramenta foram F = 3,737, (gl1) 2, (gl 2) 21, p = 0,041 < 0,05. Ou seja, existiu uma diferença entre as coletas feitas nos diferentes momentos, o teste de homogeneidade de variância realizado para verificar uma possível simetria do grupo, entre condições, revelou-se não significativo com índice > 0,05 o que também caracteriza Das várias inferências feitas das possíveis comparações entre os três momentos vivenciados pela amostra dessa pesquisa, conclui-se que para a variável pressão arterial sistólica somente houve significância na comparação entre as coletas controle e experimental (0,035 < 0,05) e que entre as outras comparações feitas, não apresentaram diferença estatística significante entre os momentos. Na Figura 1 aparece a representação dos dados médios da pressão sistólica listados na Tabela I onde se pode observar claramente um aumento dos valores médios em cada coleta. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Figura 1 - Representação das médias e desvios padrão observados na pressão arterial sistólica mensurados em mmHg, nas três coletas que compuseram este trabalho. 87 A Tabela IV apresenta os dados relativos à inferência feita através das várias possibilidades de comparação feitas entre os momentos para a variável pressão arterial diastólica. Tabela IV - Múltiplas comparações feitas entre os três momentos de coleta de dados deste estudo, com os devidos índices de significância relativos a cada comparação. Coleta Controle Coleta Jogo Coleta Jogo coleta Experimental Coleta Controle Coleta Experimental Sig. ,175 ,811 ,175 ,054 * Índice de significância p< 0,05 Assim como ao apresentado na tabela I, a Tabela III mostra os dados descritivos obtidos da mensuração da pressão arterial diastólica nas três coletas feitas no mesmo grupo de atletas, sendo duas como controle antes de um treino em que se acreditou não haver pressão psicológica e outra antes de um jogo em que se observa que provavelmente houve essa pressão e por último, antes de 5 sessões de estimulação audiovisual, buscou-se vivenciar mentalmente situações e as sensações do jogo. Os dados da média, desvio padrão e limites superior e inferior estão dispostos a seguir. Tabela III - Descrição do número de componentes de cada grupo de coleta, as médias da mensuração da pressão arterial diastólica dos grupos e os respectivos desvios padrão e limites inferior e superior. N Coleta Controle 8 Coleta Jogo 8 Coleta Experi8 mental 77,5 85,0 Desvio Padrão 8,8 5,3 Limite Inferior 70 80 Limite Superior 90 90 75,0 9,4 63 90 Média Da Tabela III pode-se dizer que a média da pressão arterial diastólica, observada nos três momentos, descreve uma curva com pico na coleta feita antes jogo, em que a ansiedade e emoções vivenciadas eram reais, e decai no momento da coleta experimental, na qual os avaliados apenas buscaram reviver estas vivências mentalmente, estando sob efeito da estimulação audiovisual. Esse resultado indica que a intervenção experimental, aparentemente, no que tange a variável pressão arterial diastólica, não provocou nenhuma adaptação, diferentemente ao observado na pressão arterial sistólica. Nota-se também que essa variável não oscilou muito entre as três coletas caracterizando, que, assim, a pressão arterial diastólica do grupo se manteve mais uniforme nos três momentos o que pode ser comprovado pela análise dos limites de cada momento. Nota-se através de observação da tabela IV, que em nenhuma das possíveis comparações feitas dos valores da pressão arterial diastólica se obteve índice significativo de p < 0,05, porém um fato interessante se dá ao se observar a comparação entre a coleta jogo e experimental cujo índice de significância quase alcançou valor de p < 0,05. Contudo, diferentemente do ocorrido na pressão arterial sistólica, que a relação entre a coleta jogo e a coleta experimental apresentou uma reta ascendente, o valor médio da variável pressão arterial diastólica na coleta experimental apresentou uma reta descendente ou se comparar com os valores da coleta jogo, mostrando que por algum motivo a estimulação audiovisual associada com a imagética não provocou efeito algum nesse momento. A figura 2 apresenta os dados da tabela I onde se pode perceber que os escores das três coletas foram bem próximos havendo um pico na coleta jogo e uma queda para a coleta experimental, ficando claro a falta de significância dessa variável nos três momentos que formaram a coleta de dados. Figura 2 - Apresentação gráfica das médias da pressão arterial diastólica, com seus respectivos desvios padrão. 88 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Discussão A literatura científica na área da neurociência mostra, por meio de vários autores, cada vez mais a grande aplicabilidade de tipos diferentes de estimulação cortical em várias áreas do desenvolvimento humano tanto no controle de distúrbios e síndromes relacionadas ao sistema nervoso central quanto na performance e na aprendizagem motora [7-11]. Dentre esses tipos de estimulação pode-se destacar a potencialização por estímulos audiovisuais, como um meio eficaz, seguro e de baixo risco para se otimizar a atividade cerebral de modo que, com isso, o córtex trabalhe em uma freqüência que seja favorável a atividade a qual se pretenda desempenhar [11]. Está também bastante comprovado que o treinamento mental ou imagética pode proporcionar mudanças a nível cortical e motor, influenciando dessa forma a concentração e a motivação em situações esportivas como também na correção fina de movimentos desportivos complexos [12-16]. Estas evidências de pesquisas sustentam a linha de comparação para os resultados decorrentes da intervenção metodológica e da análise dos dados dessa resultante. Os primeiros dados observados foram referentes aos valores da pressão arterial sistólica coletados antes de um treino convencional, onde se esperava não haver nenhum tipo agente que pudesse atuar como fonte de stress pré-competitivo incidente sobre os atletas; essa coleta foi denominada coleta controle. Estes dados mostram, como era previsto, que a pressão arterial sistólica dos avaliados se manteve a níveis normais, o que comprova que no momento da coleta não havia sobre os atletas nenhum tipo de agente estressor que pudesse influenciar nos valores desta variável. O segundo momento que compôs este estudo foi caracterizado por uma coleta antes de um jogo em casa, válido pelo campeonato estadual da modalidade, contra um time de grande popularidade. Nessa coleta procurou-se detectar o efeito da situação esportiva descrita, na pressão sistólica da amostra, visando caracterizar um possível stress pré-competitivo. Esta coleta, a qual se chamou coleta jogo, através dos números obtidos, demonstrou claramente como a ansiedade ocorre na iminência de um jogo, que dependendo de como o atleta percebe essa situação, pode ser classificada como estressante, no grupo em questão essa situação, provocou um aumento médio da variável de 8,2%. O último momento dessa pesquisa, caracterizou-se por um coleta após uma seqüência de 5 sessões de estimulação audiovisual associada a imagética, onde se buscou fazer com que os indivíduos vivenciassem mentalmente situações de jogo, e assim verificar como essas mentalizações, potencializadas pela estimulação audiovisual, afetaram a pressão sistólica da amostra. Os dados, oriundos deste momento classificado como coleta experimental mostraram que a vivência mental do jogo aliada aos estímulos audiovisuais proporcionaram mudanças no padrão cortical e desencadearam, nos atletas, mecanismos neurais de luta e fuga que, ao preparar o organismo para a ação, induziram um aumento de 12,6% na pressão sistólica em relação à coleta controle. Esses escores vão ao encontro do que é relatado pela literatura pesquisada para o trabalho, que diz que fatores puramente cognitivos como as emoções e a ansiedade podem interferir nos valores pressóricos [3,17] e também que o simples fato de imaginar um movimento ativa as mesmas partes do cérebro, responsáveis por esse movimento, havendo inclusive registros de aumento de atividade eletromiográfica no músculo durante a mentalização [13,14]. Portanto, ao buscar, mentalmente, as situações do jogo, as regiões do córtex dos avaliados, responsáveis por processar esses estímulos, provavelmente, foram ativadas fazendo que o corpo reagisse como se estivesse na eminência real dessas situações. Nas comparações possíveis feitas entre esses eventos, observou-se que apesar de entre a coleta controle e a coleta experimental ter havido um aumento de 8,2%, este não se mostrou estatisticamente significante o que reforça a idéia de que antes do jogo válido pelo campeonato estadual, apesar dos vários agentes estressores provenientes dessa situação, os avaliados estavam com níveis fisiológicos muitos próximos dos encontrados em um treino e que estes níveis, de acordo com o resultado do jogo, não se mostraram ideais para um bom status de performance. Outra comparação possível se dá entre a coleta jogo e a coleta experimental, a qual seu índice de significância mostra como essas duas situações, uma real e a outra mental, elevaram os níveis da pressão sistólica a valores bem próximos, o que reforça o fato que a vivência mental põe o corpo em um estado fisiológico similar ao que o próprio estaria diante da situação real. A última comparação possível referente à pressão sistólica se dá entre a coleta controle e a coleta experimental. Essa comparação demonstra de forma conclusiva o efeito da estimulação audiovisual associada à imagética sobre a pressão sistólica da amostra da pesquisa. Esses dados validam também a afirmação de que a estimulação audiovisual aliada à mentalização do jogo leva o corpo a adaptações fisiológicas, pelo menos no que tange a pressão sistólica, semelhantes as que ocorrem em uma situação de jogo real. Cabe agora discutir se estes efeitos ocorrem, ou não, na pressão arterial diastólica. A segunda variável observada foi à pressão arterial diastólica, os escores obtidos na mensuração dessa variável acabaram discrepando dos dados colhidos da pressão sistólica, pois a pressão diastólica teve um comportamento diferente não havendo uma crescente como no primeiro caso, adotando uma curva com pico na coleta jogo e decaindo a valores médios, na coleta experimental, inferiores à própria coleta controle. Para esse fenômeno, pode-se encontrar explicação ao se analisar o trabalho de Chaves e Cade [19], que observaram o efeito da ansiedade na pressão arterial. Estas autoras afirmam que existe uma forte relação entre a intensidade da ansiedade e a pressão diastólica, e ao se transportar essa afirmação para esse trabalho, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 pôde-se explicar porque o pico da pressão arterial ter sido proeminente na coleta jogo, pois o momento dessa coleta foi minutos antes dos atletas disputarem um jogo oficial em que, possivelmente, os níveis de ansiedade estivessem altos a ponto de influenciar somente a pressão diastólica, diferentemente do momento da coleta experimental que, apesar de os indivíduos estarem vivenciando mentalmente as situações e emoções do jogo, eles não estavam na eminência de nenhum jogo e com certeza com os níveis de ansiedade muito mais baixos. Outro fator que pode dar subsídio aos escores obtidos nessa variável está nas afirmações de Lipp [3] que diz que dependendo das emoções vivenciadas, essas podem afetar somente a pressão sistólica, somente a diastólica ou a ambas. Levanta-se assim a hipótese de que a situação de jogo real causou algum efeito, mesmo que estatisticamente insignificante, na pressão arterial diastólica, devido à ansiedade em que os atletas se encontravam antes do início do jogo. E percebe-se que da coleta controle para coleta jogo houve um incremento dos valores médios desta variável de 9,7% e que este efeito não se repetiu quando apenas as emoções do jogo foram vivenciadas mentalmente e não vividas fisicamente. Mostrando, dessa forma, que, pelo menos nesse caso, a estimulação aliada à mentalização das emoções do jogo não produziu efeito sobre a pressão arterial diastólica, talvez em virtude do nível baixo de ansiedade que os avaliados se encontravam durante a coleta experimental, ou talvez, devido à falta de vivências anteriores de emoções do esporte pela razão de estarem em uma categoria de base, a infantil, e ainda não terem vivido fisicamente grandes emoções relacionadas ao esporte que pudessem ser revividas mentalmente a ponto de alterar significativamente a pressão diastólica. Conclusão Conclui-se que a vivência mental das situações e emoções vividas durante a prática esportiva (imagética) associada à estimulação cortical por estímulos audiovisuais induziram os indivíduos desta pesquisa, no que tange a pressão arterial sistólica, a adaptações semelhantes às ocorridas antes de um jogo real, credenciando esse tipo de intervenção como um meio eficiente de proporcionar a atletas, valores da pressão arterial sistólica dentro de patamares fisiológicos ideais a uma boa performance esportiva sem que para isto seja necessário grandes gastos de energia. Quanto à pressão arterial diastólica os dados mostram que, neste caso, a intervenção feita não provocou o efeito esperado, porém, é prematuro afirmar que para esta variável a imagética associada à estimulação audiovisual seja ineficaz. Deve-se, primeiramente, buscar novas formas de intervenção em populações diferentes com exigências esportivas mais altas e em situações de maior ansiedade. 89 Referências 1. 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Chaves EC, Cade NV. Efeitos da ansiedade sobre a pressão arterial em mulheres com hipertensão. Rev Latinoam Enfermagem 2004;12(2):162-7. 90 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Artigo original Relação entre flexibilidade, composição corporal e índice de massa corporal (IMC) de crianças do sexo feminino de Caratinga-MG Relationship among flexibility, body composition and body mass index of female children of Caratinga-MG Juliana Santos Anselmo, Esp*, Marcus Vinícius de Mello Pinto, D.Sc.** *Graduada em Educação Física, Pós Graduada em Fisiologia do Exercício e Treinamento Esportivo pelo Centro Universitário de Caratinga/MG, **Fisioterapeuta, Professor e Pesquisador do Mestrado em Ciências da Reabilitação pelo Centro Universitário de Caratinga Resumo Abstract Este estudo identificou a relação entre os níveis de flexibilidade, a composição corporal e o índice de massa corpórea (IMC) de crianças do gênero feminino, com idade entre 8 e 10 anos de idade, da cidade Caratinga/MG. A flexibilidade é uma qualidade física responsável pelo movimento angular de articulações. Tanto o IMC quanto a composição corporal através de dobras cutâneas são formas de se quantificar a gordura corporal, indicador de propensão a doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e obesidade. Os resultados obtidos mostraram que as meninas classificadas com o “menor grau de flexibilidade” eram aquelas também classificadas com as maiores porcentagens de gordura e IMC. Ao passo que aquelas com “maior grau de flexibilidade” foram classificadas com o menor percentual de gordura e IMC. A detecção do nível de flexibilidade em crianças é mais uma ferramenta utilizada pelo profissional de Educação Física antes da prescrição de exercícios físicos, podendo favorecer na manutenção de índices adequados de flexibilidade e massa corporal, contribuindo na adoção de hábitos saudáveis, no decorrer de suas vidas. This study identified the relationship among flexibility, body composition and body mass index (BMI) of female children, 8-10 years old, of Carating/MG. Flexibility is a physical quality which is responsible for joint range of motion. Both BMI and body composition through skinfold are methods to assess body fat, which indicates probability to cardiovascular diseases, diabetes, hypertension and obesity. Results showed that girls classified as “lower body flexibility” were also classified with higher percentage of body fat and BMI. On the other hand, those with “higher flexibility” had lower body fat and BMI. Children flexibility level detection is another tool used by physical education professionals before prescribing physical exercises, which may help to maintain adequate flexibility and body mass, contributing to healthy habits adoption for the rest of their lifes. Key-words: flexibility, body composition, body mass index, children. Palavras-chave: flexibilidade, composição corporal, índice de massa corpórea, crianças. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius de Mello Pinto, Pró-reitoria de Pesquisa e Extensão do Centro Universitário de Caratinga – Unidade I, Av. Moacyr de Mattos, 49, Centro, 35300-049 Caratinga MG, Tel: (33)3329-4555, E-mail: [email protected], [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução O termo flexibilidade, também conhecido como mobilidade articular, assume diversos conceitos, principalmente por sua grande abrangência e especificidade [1]. De acordo com Dantas [2], a flexibilidade pode ser entendida como qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão. Segundo Novaes e Vianna [3], a flexibilidade é definida também como a qualidade física que condiciona a capacidade funcional das articulações a movimentarem-se dentro dos limites ideais de determinadas ações. Existem diversos métodos para aferição dos níveis de flexibilidade, geralmente utilizando movimentos de flexão e extensão dos segmentos articulares. Marins e Giannichi [4] apresentam três tipos de testes, que podem ser divididos em angulares, lineares e dimensionais. Os testes angulares fornecem de forma direta resultados em ângulos. Os lineares, como o banco de Wells (1952) – também conhecido como teste de sentar e alcançar –, caracterizam-se por expressar seus resultados em uma escala de distância métrica, comumente usados para aferir de forma indireta a flexibilidade da coluna lombossacra e articulação do quadril, muito utilizado devido a seu baixo custo e simples aplicação [5]. Os dimensionais, como o Flexiteste [6]. Alguns autores têm focado seus estudos nos níveis de flexibilidade alcançados por crianças e adolescentes através de testes, dentre eles o de sentar e alcançar com o Banco de Wells (1952), e comparações entre sexo, idade e medidas antropométricas [7-10], os quais vêm a sustentar este trabalho. A composição corporal pode ser avaliada de várias formas, a antropometria tem sido largamente utilizada como procedimento para esta avaliação, por ser um procedimento não invasivo, econômico e prático, que permite em um curto espaço de tempo o exame de muitas crianças, jovens ou adultos [11]. Os valores de variáveis antropométricas, principalmente da massa e estatura corporal, têm sido a forma mais utilizada e aceita para a avaliação do status nutricional de crianças e jovens [12]. Entretanto, a antropometria apresenta valores totais de variáveis corporais, que podem apresentar limitações, pois são resultantes do somatório de diferentes tipos de tecidos como músculos, ossos, gordura e vísceras. Por isso, são necessários outros procedimentos que especifiquem a proporção dos diferentes tecidos corporais. Dessa forma, o estudo da composição corporal, principalmente a avaliação da quantidade de gordura corporal e da massa corporal magra, é muito importante durante a infância e adolescência, pois pode especificar essas proporções. Segundo Lohman [13], a composição corporal de crianças e jovens está mudando em uma direção desfavorável. As crianças são mais obesas do que eram há 20 anos atrás. 91 As mudanças nos padrões de atividade física e nutrição de hoje são responsáveis por essa alteração. Gortmaker et al. [14], em seus estudos sobre a prevalência da obesidade nos Estados Unidos, verificaram um aumento de 61% e 46%, respectivamente, para meninos e meninas, entre os anos 1963-1965 e 1976-1980, para as idades entre 6 e 11 anos. As relações entre a atividade física e obesidade configuram-se como objeto de estudo prioritário e as evidências na literatura apontam associação entre o excesso de peso na adolescência e agravos à saúde na idade adulta, pois o excesso de gordura corporal, além de ser fator de risco para diversas doenças, prejudica o desempenho físico. A obesidade é um problema de saúde pública, principalmente em crianças e adolescentes em fase escolar, pois dificulta o processo de crescimento físico e aprendizagem do indivíduo, cabendo aos profissionais de Educação Física diagnosticar estes problemas e prestar o devido auxílio na promoção de qualidade de vida destes indivíduos. Portanto, o objetivo deste estudo é analisar a relação entre os níveis de flexibilidade, o índice de massa corporal e a composição corporal em crianças do gênero feminino na faixa etária de 8 a 10 anos de Caratinga, Minas Gerais. Objetivos específicos 1. Testar o nível de flexibilidade das crianças, através do teste de sentar e alcançar com o banco de Wells. 2. Avaliar a composição corporal e o percentual de gordura da amostra estudada, através da mensuração das dobras cutâneas. 3. Determinar o índice de massa corporal (IMC), utilizando suas respectivas medidas de peso e altura. 4. Realizar as correlações estatísticas entre os dados coletados. Material e métodos Este estudo caracteriza-se, conforme Gay [15], por ser do tipo causal-comparativo. Neste estudo, as variáveis independentes (causas) são caracterizadas pela amostra populacional pesquisada, e as variáveis dependentes (efeitos) são as variáveis antropométricas, da composição corporal e níveis de flexibilidade. A coleta de dados foi realizada em 20 crianças, do gênero feminino, com idade entre 8 e 10 anos, residentes em Caratinga/MG. Para integrar-se à amostra foram convidadas 10 (dez) crianças, nesta faixa etária, que freqüentam aulas de ballet clássico, 2 (duas) vezes por semana na academia Cia do Corpo, situada na mesma cidade. A outra metade pesquisada foi composta por 10 (dez) crianças, convidadas pela primeira parte da amostra, com a condição de que não fossem praticantes de qualquer exercício físico. 92 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Todas as crianças foram testadas mediante o teste de sentar e alcançar de Wells e Dillon [16], o qual se utiliza como instrumento um flexômetro, que consta de um banco de madeira graduado em forma de cubo assim dimensionado: largura (35 cm), altura (35 cm), comprimento (40 cm). Na borda superior do banco encontra-se afixada uma escala métrica a qual se estende 26 cm para fora, demarcando o ponto zero [17]. A avaliada deve realizar um prévio aquecimento com leves exercícios de alongamento [18]. Sentada no solo, pernas estendidas com as solas dos pés descalços apoiadas contra o banco (encostado em uma parede). Com os braços estendidos sobre a cabeça, a avaliada deve avançar à frente vagarosamente com ambas as mãos paralelas tão distante quanto possível, mantendo esta posição momentaneamente, o avaliador deve apoiar os joelhos do avaliado, segurando-os com as mãos, sem pressioná-los, para que se mantenham estendidos. Computar a melhor de três execuções, como resultado final do teste [18]. A fim de determinar e mensurar as dobras cutâneas necessárias foi utilizado um adipômetro científico. Para a estimação da composição corporal e o percentual de gordura (%G) utilizou-se a equação de regressão apresentada por Lohman [19], para estimar a gordura corporal relativa em crianças e jovens de 7 a 16 anos, que consta a seguir: Mesmo após a coleta de dados, as crianças avaliadas não puderam ser classificadas pela sua flexibilidade, de acordo com os níveis atingidos durante o teste do Banco de Wells (1952). Isto porque o protocolo não permite a classificação de crianças. Contudo, as crianças pesquisadas foram divididas em dois grupos de acordo com os níveis atingidos durante o teste de sentar e alcançar, comparativamente entre as mesmas (meninas com maior flexibilidade, meninas com menor flexibilidade). Deve ficar claro que não se pode afirmar que aquelas intituladas com menor flexibilidade sejam pouco flexíveis, frisando que não há uma tabela para que se possa classificá-las. O fato é que esta divisão foi feita com comparações dentro da própria amostra pesquisada, dividindo metade desta em grupos de maior ou menor flexibilidade em relação às próprias crianças. Gráfico 1 - Grau comparativo dos níveis de flexibilidade. % G = 1,35 (TR + SE) - 0,012 (TR + SE)2 – C* Onde: *C = constantes por sexo, raça e idade; %G = Percentual de gordura; TR = Valor da dobra cutânea tricipital; SE = Valor da dobra cutânea subescapular. Este gráfico apresenta a divisão da amostra pesquisada em relação aos níveis de flexibilidade apresentados no Teste de Sentar e Alcançar do Utilizaram-se as constantes sugeridas por Lohman [19] e, ainda, as constantes intermediárias por sexo, idade e raça, sugeridas por Pires Neto e Petroski [20], em uma tentativa de facilitar e dar maior precisão na estimação do % G. Para a medição da massa corporal e da estatura corporal seguiu-se o protocolo de Gordon et al. [21]. A massa corporal foi registrada em quilogramas, utilizando-se uma balança filizolla com precisão de 100 gramas. A estatura corporal foi medida utilizando-se o estadiômetro da mesma balança, em apnéia, após uma inspiração máxima. Resultados e discussão A literatura demonstra que a flexibilidade tem forte contribuição na eficácia do treinamento da força, da resistência muscular e da resistência cardiovascular, melhorando a performance, tornando os atletas menos suscetíveis a lesões musculares [22]. Isso também é válido para as tarefas do cotidiano, nas quais a flexibilidade desempenha um papel relevante para a saúde geral e para a aptidão física especificamente na prevenção de lombalgias, as quais representam forte indício de redução da flexibilidade do quadril [1] e na manutenção da postura corporal [8]. protocolo de Wells. A mensuração das pregas cutâneas é uma técnica relativamente simples, pouco onerosa e de fácil manuseio e, sobretudo, apresenta alta fidedignidade, estimando o percentual de gordura do indivíduo e permitindo sua classificação de acordo com os protocolos e tabelas padrões. Dentre os riscos para a saúde, Williams et al. [23], verificaram que a incidência de doenças cardiovasculares e outras complicações para a saúde é consideravelmente alta quando meninos e meninas ultrapassam 25% e 30% de gordura corporal relativa. Em seu estudo, as crianças com excesso de gordura apresentaram maior pressão arterial sangüínea sistólica e diastólica, elevado colesterol total e relação do nível de colesterol de baixa densidade (LDL) com o colesterol de alta densidade (HDL). As dietas ricas em gordura, alto consumo de energia combinado com baixo nível de atividade física habitual são os principais fatores de riscos para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. A quantidade de gordura corporal é 45% resultante de fatores não transmissíveis, 30% decorrentes da transmissão cultural e 25% influenciados por fatores genéticos. Considerando os resultados da composição corporal destas meninas, e o percentual de gordura corporal, tornou-se possível classificar a amostra de acordo com a Tabela I. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Tabela I - Percentuais de Gordura (Crianças e Adolescentes de 7 a 17 anos). Classificação Excessivamente baixa Baixa Adequada Moderadamente alta Alta Excessivamente Alta %G 0,00 % a 12,00% 12,01 % a 15,00 % 15,01 % a 25,00 % 25,01 % a 30,00 % 30,01 % a 36,00 % 36,01% a 99,99 % 93 Neste sentido, ao se tratar dos resultados obtidos pelo IMC, foi possível perceber que a maioria das crianças pesquisadas se encontra dentro dos padrões saudáveis para o índice de massa corporal, como mostra o Gráfico 3. Gráfico 3 - Classificação quanto ao IMC. Fonte: Physical Test for Windows [17]. Os resultados obtidos pela composição corporal, em acordo com a Tabela I possibilitaram dividir a amostra de meninas de acordo com seu grau de porcentagem de gordura corporal como mostra o Gráfico 2. Este gráfico apresenta a divisão da amostra pesquisada em relação à Gráfico 2 - Classificação quanto à composição Corporal. Este gráfico apresenta a divisão da amostra pesquisada em relação à classificação dada pea composição corporal (percentual de gordura). Através dos valores antropométricos de massa corporal e estatura, pode-se identificar o Índice de Massa Corporal (IMC). Para Fernandes Filho [24] o mesmo não diferencia peso de gordura e peso livre de gordura. Assim não é sensível às respectivas contribuições de massa muscular e gordurosa ao peso corporal. O erro padrão da predição de percentual de gordura do IMC foi de aproximadamente 5-6%, Pollock apud Fernandes Filho [24]. Entretanto uma interpretação cautelosa dos valores do IMCs deve ser feita como uma medida direta do grau de gordura. As regras do IMC podem implicar que quanto maior for o valor do IMC, maior será o percentual de gordura; podendo este ser o caso de indivíduos com muita massa magra. Aahperd apud Fernandes Filho [24] prevê padrões saudáveis de aptidão para meninas entre 5 e 18 anos (Tabela II). Tabela II - Padrões de aptidão saudáveis para IMC (Meninas de 5 a 18 anos). Idade (anos) 5-9 10-11 12 13 14-16 17 18 Fonte: Aahperd apud Fernandes Filho [24]. IMC (Kg/m²) 14-20 14-21 15-22 15-23 17-24 17-25 18-26 classificação dada pelo Índice de Massa Corporal (IMC). Ao compararem-se as classificações de composição corporal e IMC, dentre as meninas pesquisadas, percebe-se que 45% das classificadas pela composição corporal como adequada, foram classificadas pelo IMC como dentro do padrão saudável. Outras 45% de percentual de gordura moderadamente alto, foram igualmente divididas como IMC saudável. Somente 10% da amostra, que obteve como resultado da composição corporal alta e excessivamente alta obteve como resultado do IMC acima dos níveis recomendados. Tabela III - Relação entre composição corporal e índice de massa corporal (IMC). % Amostra 45% 45 % 5% 5% Classificação quanto à composição corporal Adequada Moderadamente alta Alta Excessivamente alta Classificação quanto ao Índice de Massa Corporal Saudável Saudável Acima do recomendado Acima do recomendado Ao buscar a relação entre a composição corporal das meninas, seus respectivos índices de massa corporal e o grau de flexibilidade das mesmas, tornou-se possível afirmar que o primeiro e segundo têm relação direta com o último. Os resultados obtidos mostraram que as meninas classificadas com o “menor grau de flexibilidade” eram em maioria aquelas também classificadas com os maiores percentuais de gordura e índices de massa corporal. Ao passo que aquelas com “maior grau de flexibilidade” foram em sua maioria classificadas com as menores porcentagens de gordura e índices de massa corporal. Estes resultados são apresentados na Tabela IV: 94 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Tabela IV - Relação dos níveis de flexibilidade e a composição corporal. Teste de Flexibilidade 22,5 – 27,0 (menor flexibilidade) 27,5 – 33,5 (maior flexibilidade) % G Ade- % G Modera- % G Alto/Excesquado damente Alto sivamente Alto 15 % 30 % 5% 30 % 15 % 5% Conclusão Foi possível observar a relação existente entre composição corporal, índice de massa corporal e flexibilidade. Percebeuse que quando se trata de composição corporal e IMC para meninas desta faixa etária, estes dois tipos de mensuração da massa corporal são pertinentes e mostram equivalências de classificação. A flexibilidade também pareceu sofrer influências pela massa corporal, mas é importante salientar que o tamanho da amostra não possui grande representatividade desta população, e que diversos são os fatores que influenciam nos resultados dos testes. É importante ressaltar que, dentro da amostra estudada, a prática do ballet clássico, como atividade física, pareceu não influenciar de maneira tão expressiva nos níveis de flexibilidade, pois a parte da amostra que o pratica (50%) se dividiu igualmente entre os grupos de maior e menor flexibilidade. Este fato se deu, talvez, por estarem a pouco tempo (em média 5 meses) praticando-o. Ficou claro que a detecção da flexibilidade pode ser uma ferramenta necessária aos professores de Educação Física em sua prática diária antes da prescrição de exercícios e demais atividades físicas. Exercícios estes que podem favorecer para a diminuição ou manutenção dos índices ótimos e massa corporal para as crianças, para que carreguem ao longo da vida, hábitos saudáveis de dieta, exercícios e cuidados com o corpo. Sugere-se: 1) que novos estudos ramdomizados sejam implementados e com um N mais expressivo; 2) intervenção biomecânica por eletromiografia com células de carga na dança. Referências 1. Hall S. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara; 1993. 2. Dantas EHM. Flexibilidade, alongamento e flexionamento. 3ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 1989. 3. Novaes JS, Vianna, Jéferson M. Personal training e condicionamento físico em academia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998. 4. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividade física – guia prático. 2ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998. 5. Farias Júnior JC, Barros MVG. Flexibilidade e aptidão física relacionada à saúde. Revista Corporis 1998;3(3):17-28. 6. Ghorayeb N, Barros T, ed. O exercício. S. Paulo: Atheneu; 1999. 7. Faria EI, Faria EW. Relationship of the anthropometric and physical characteristics of male junior gimnasts to performance. J Sports Med Phys Fitness 1989;29(4):369-78. 8. Böhme MTS. Aptidão física e crescimento físico de escolares de 7 a 17 anos de Viçosa – MG. 3. Flexibilidade do Quadril. Revista Mineira de Educação Física 1995;3(1):34-42. 9. Martins FOS. Avaliação das qualidades físicas de crianças através do eurofit [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco; 1998. 10. Feldman D, Shier I, Rossignol M, Abenhaim L. Adolescent growth is not associated with changes in flexibility. Clin J Sport Med 1999;9:24-9. 11. Roche AF, Heymsfield SB, Lohman TG. Human body composition. Champaign: Human Kinetics; 1996. 12. WHO Working Group. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 95 Relato de caso Efeito do exercício físico na remodelação miocárdica Effect of physical exercise on myocardial remodeling Jefferson Petto*, George Robson Ferraz**, Anna Jessyca Lima Garrido***, Carla Laine Silva Santos***, Priscila Ramos**** *Professor de fisiologia do exercício, angiologia e cardiologia da Faculdade Social - SSA, **Cardiologista do Setor de Fisioterapia Cardíaca da Clínica Escola da Faculdade Adventista da Bahia,***Curso de Fisioterapia da Faculdade Socia, ****Curso de Fisioterapia da União Metropolitana de Educação e Cultura Resumo Abstract A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome que se caracteriza pela incapacidade parcial do miocárdio em manter a adequada ejeção do sangue ao sistema, acarretando uma diminuição da capacidade funcional. Uma das características marcantes da IC é o remodelamento miocárdio, que é uma resposta adaptativa do músculo cardíaco a estímulos hemodinâmicos, neuro-hormonais e fatores genéticos associados à modificação da forma, tamanho, composição e função cardíaca. Estudos demonstram que a aplicação de programas de exercício físico nessa população gera uma série de efeitos benéficos, principalmente no que se refere ao aumento da capacidade de resposta ao esforço. O presente trabalho relata a melhora significativa da função cardíaca, devido a adaptações cardiovasculares em especial da remodelação miocárdica de um indivíduo com cardiomiopatia dilatada submetido a um programa de exercício físico personalizado. The heart failure (HF) is a syndrome characterized for partial myocardial impairment in keeping the adequate ejection of blood into the system, causing a reduction of functional capacity. One of the outstanding characteristics of HF is the myocardial remodeling, an adaptive response of heart muscle to hemodynamic responses, neurohormone, and genetic factors associated to modification of form, size, composition and heart function. Studies show that physical exercise programs performed with this population bring benefic effects, mainly increasing strength capacity response. The present work reports significant improvement of the cardiac function, due to cardiovascular adaptations, particularly, myocardial remodeling of an individual with dilated cardiomyopathy submitted to a personalized physical exercise program Key-words: physical exercise, heart failure, myocardial remodeling. Palavras-chave: exercício físico, insuficiência cardíaca, remodelação miocárdica. Endereço para correspondência: Jefferson Petto, Rua Areial de Baixo, 138/201, Bl. A, Largo Dois de Julho, 40060-210 Salvador BA, Tel: (71) 9619-1061, E-mail: [email protected] ou [email protected] 96 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução O sistema cardiovascular assume como função primária manter a homeostasia corporal através da distribuição adequada do sangue aos diferentes tecidos [1]. A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome que justamente compromete essa função, já que é caracterizada pela diminuição da capacidade cardíaca de bombear e distribuir o sangue, de acordo com a necessidade do organismo em manter o seu equilíbrio funcional interno. Uma das características marcantes da IC é o remodelamento miocárdio, que é uma resposta adaptativa do músculo cardíaco a estímulos hemodinâmicos, neuro-hormonais e fatores genéticos associados à modificação da forma, tamanho, composição e função cardíaca [2]. Uma das alterações importantes da remodelação cardíaca é a hipertrofia miocárdica, que ocorre em resposta a uma sobrecarga hemodinâmica crônica [3]. A hipertrofia miocárdica pode ocorrer de duas formas: concêntrica, quando há uma sobrecarga de pressão, aumentando a espessura da parede ventricular desencadeada por um estímulo para síntese de sarcômeros em paralelo; ou excêntrica, estimulada por uma sobrecarga de volume provocando aumento do sarcômeros em série, associado ao deslizamento de feixes de cardiomiócitos [4]. Esses eventos podem originar uma disfunção miocárdica evidenciada pela diminuição da complacência ventricular, bem como pela modificação da geometria cardíaca. O crescimento não-proporcional da densidade dos vasos também pode ocorrer, ocasionando a diminuição da reserva coronariana, com grande deficiência de oxigenação e de nutrientes para o cardiomiócitos [4]. Apesar da hipertrofia ser uma resposta adaptativa, a longo prazo pode representar um fator desencadeante para morbidade e mortalidade por eventos cardiovasculares [3]. Evidências demonstram a existência de tratamentos do remodelamento miocárdico. Entre eles o tratamento medicamentoso, que tem como objetivo melhorar os sintomas e retardar a evolução da disfunção ventricular em portadores da IC [5]. A terapêutica medicamentosa é baseada na associação entre diuréticos, inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) e vasodilatadores. No entanto, entre esses apenas os IECA e os bêta-bloqueadores (bloqueador bêta-adrenérgico não-seletivo de terceira geração) conseguem reduzir os níveis de mortalidade [6]. Um estudo feito por Chizzola et al. demonstrou que o carvedilol reduziu de forma significante o risco de morte em indivíduos com cardiomiopatia dilatada, inclusive promovendo o remodelamento miocárdico reverso [5]. Recentemente tem sido aceito como tratamento da IC o exercício físico, que tem como repercussões positivas a diminuição da atividade simpática em nível central e o aumento da disponibilidade sanguínea periférica. Existem relatos de que a redução da resistência vascular periférica diminui a pós-carga, aumentando o volume sistólico e o débito cardíaco. Os ajustes fisiológicos melhoram a capacidade funcional e conseqüentemente a qualidade de vida desses pacientes. Dessa forma, deve ser entendido que um programa de condicionamento físico é uma conduta terapêutica não farmacológica de grande importância no tratamento de pacientes portadores de IC [7]. Estudos apontam que a elaboração criteriosa e personalizada de um programa de exercício físico para portadores de cardiomiopatia dilatada tem contribuído consideravelmente para um prognóstico positivo desses pacientes além desses pacientes terem subsídio favorável a relação custo-benefício [6,8]. No entanto, em nossa pesquisa da literatura não foram encontrados relatos da relação direta do exercício físico com o remodelamento reverso miocárdico. O presente relato justifica sua importância por evidenciar a influência do exercício físico sobre o remodelamento reverso miocárdico em indivíduo com cardiomiopatia dilatada. Salientamos que houve concordância por parte do paciente em utilizarmos seus dados clínicos na apresentação desse relato. Relato do Caso BSA, sexo masculino, 46 anos de idade, sedentário, sobrepeso, abstêmio de tabaco, iniciando tratamento medicamentoso com Zaarpress, Lipless, Divelol, Monocordil e Digoxina, apresenta-se, em janeiro de 2006, ao setor de fisioterapia cardíaca da Faculdade Adventista da Bahia, com diagnóstico clínico de cardiomiopatia dilatada, com os seguintes dados clínicos relevantes: hipercolesterolemia elevada com diminuição do HDL-colesterol, bloqueio de ramo esquerdo severo, volumes diastólico e sistólico finais de ventrículo esquerdo (VE) respectivamente de 392 ml e 242 ml, massa ventricular esquerda de 407 g e fração de ejeção de Teichholz de 38%. Ao teste ergométrico (TE) de rampa verificou-se em repouso tensão arterial (TA) de 110 x 80 mmHg e freqüência cardíaca (FC) de 72 bpm. Ao finalizar o TE, os seguintes dados foram observados: FC máxima de 123 bpm, MAI de 42,1%, FAI de -5,9%, VO2máx 39,55 ml/kg.min com resposta tensórica fisiológica sem arritmias e negativo para isquemia miocárdica. Após essa avaliação, o cliente foi submetido no mesmo setor a um programa de exercício físico supervisionado, que seguia a seguinte rotina: registro da TA e FC em repouso, a cada 7 minutos durante o exercício e ao final da sessão, sendo as alterações eletrocardiográficas e a FC observadas continuamente por um monitor cardíaco. Antes do condicionamento eram realizados 15 minutos de alongamento global. Após o alongamento o cliente era submetido a 10 minutos de aquecimento em intensidade de 50%, 20 minutos de condicionamento em intensidade de 70% e 5 minutos de desaquecimento em intensidade decrescente. Ao término do desaquecimento, era feito um relaxamento induzido de 10 minutos ou massoterapia podal. O programa era realizado Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 quatro vezes por semana, sendo aplicado 2 vezes em esteira e 2 vezes em bicicleta ergométrica. Os valores da intensidade foram calculados através da fórmula de Karvonen utilizandose como base para os cálculos a FC de repouso e máxima obtidas no TE. Essa primeira etapa do tratamento teve duração de um mês. Após esse período, um novo TE foi realizado, obtendo-se os seguintes dados: FC máxima de 159 bpm, MAI de 26,3%, FAI de -20,9%, VO2máx 45,14 ml/kg.min. com resposta tensórica fisiológica sem a presença de arritmias e negativo para isquemia miocárdica. Com base nestes resultados foram feitos ajustes ao programa sendo modificada a intensidade do aquecimento de 50% para 60%, o tempo do condicionamento de 20 para 30 minutos em intensidade de 75% e a duração do desaquecimento de 5 para 3 minutos. Essa nova etapa durou três meses e meio sendo realizado no final desse período um novo ecocardiograma. Discussão No caso clínico apresentado, observa-se redução dos volumes diastólico e sistólico finais. A redução do volume diastólico (392 ml a 180 ml) se deve provavelmente a melhora da capacidade de ejeção sanguínea ventricular. Já no que se refere ao volume sistólico ocorreu uma redução de 242 a 78 ml, que se fundamenta no conceito da remodelação miocárdica, ou seja, do fortalecimento do miocárdio possivelmente provocado pelas alterações histoquímicas (melhora da absorção e utilização do Ca++, aumento da mioglobina muscular, aumento da capacidade de utilização dos substratos energéticos, aumento das organelas responsáveis pela produção energética e força muscular como retículo e mitocôndrias), levando a um aumento na capacidade de ejeção [9]. Benefícios podem ocorrer também na vasodilatação periférica, já que a redução da pós-carga facilita o trabalho da musculatura ventricular esquerda [10]. Além disso, outros fatores como os efeitos neuro-humorais (aumento da ativação simpática e corticóides), o aumento da perfusão e a vascularização miocárdica podem ter contribuído de forma significativa. Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca [11], nos portadores de insuficiência cardíaca, a melhora da classe funcional obtida com o condicionamento físico é secundária às adaptações periféricas ao exercício, não havendo correlação entre a FEVE em repouso e a capacidade funcional. No caso relatado, a FEVE apresentou um progresso significativo de 38% para 43% e tal fato pode ter sido decorrente tanto das adaptações periféricas, corroborando com a literatura [8,11], quanto da alteração nas fibras musculares cardíacas, permitindo que o coração elevasse o seu poder de contração. No que se refere à redução da massa ventricular esquerda (407 g a 290 g), observa-se que poucos estudos relatam o efeito direto do exercício sobre o remodelamento reverso cardíaco. 97 Cannistra et al. [13] enfocam em seu estudo a ocorrência de uma remodelação ventricular esquerda em pacientes que sofreram um evento isquêmico e foram submetidos a programas de exercícios físicos com intensidade moderada a alta, sendo observado que indivíduos que apresentaram um quadro isquêmico pequeno, não obtiveram alterações significativas, o que não pode ser considerado para indivíduos de grandes infartos, já que tal processo é altamente heterogêneo. Já é sabido que a utilização de medicamentos que provocam bloqueio do sistema renina-angiotensina é benéfica em determinados indivíduos no que se refere à remodelação cardíaca, ou seja, atenuação no processo de hipertrofia cardíaca concêntrica secundária a hipertensão arterial. Nota-se que a literatura aborda principalmente o processo de remodelação em processos de hipertrofia concêntrica gerada pela hipertensão arterial sistêmica, em que, mediante a uma sobrecarga de pressão, ocorre um aumento de sarcômeros em paralelo, gerando uma hipertrofia ventricular concêntrica [4,12]. Contudo, este processo hipertrófico ainda é visualizado como uma resposta cardíaca a uma determinada agressão, e não como um meio de reversão de um determinado quadro patológico [3]. Conclusão Finalmente, diante dos resultados observados e baseados na literatura torna-se precoce afirmar que o processo de remodelação reversa miocárdica foi primariamente oriundo do programa de exercício físico, apesar do paciente se encontrar sob tratamento medicamentoso há dois anos e este não ter sido otimizado durante o programa, com objetivo principal de comprovar a eficácia do exercício físico. No entanto, outras pesquisas similares com uma amostra maior e grupo controle devem ser efetuadas, para que a partir de uma análise ampla possa ser plausível afirmar que o exercício físico promove primariamente redução da dilatação cardíaca e estimar a porcentagem de interação medicamentosa existente nesse processo. Referências 1. II Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia para Diagnóstico e Tratamento da Insuficiência Cardíaca. Arq Bras Cardiol 2002;79 [sup IV]:1-30. 2. Epitafi HB, Zornoff LAM, Matsubara BB, Paiva SAR, Inoue RMT, Matsubara LS. Remodelação miocárdica após infarto agudo de miocárdico experimental em ratos. Efeito do bloqueio do sistema renina angiotensina aldosterona. Arq Brás Cardiol 2005;84(1):10-4. 3. Gonçalves G, Zornoff LAM, Ribeiro HB, Okoshi MP, Cordaro FRS, Okoshi K, Padovani CR et al. O bloqueio do sistema renina-angiotensina atenua a remodelação cardíaca de ratos submetidos a estenose aórtica. Arq Bras Cardiol 2005;84(4):304-8. 4. Matsubara LS, Narikawa S, Ferreira ALA, Paiva SAR, Zornoff LM, Matsubara BB. Remodelação miocárdica na sobrecarga 98 5. 6. 7. 8. 9. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 crônica de pressão ou de volume no coração de ratos. Arq Bras Cardiol 2006;86(2):126-30. Chizzola PR, Freitas HFG, Caldas MA, Costa JM, Meneghetti C, Marinho NVS, et al. Efeitos do carvedilol na insuficiência cardíaca por cardiomiopatia dilatada. Resultado de estudo duplo-cego, randômico, com grupo placebo-controle (Estudo Caribe). Arq Bras Cardiol 2000;74(3):233-7. Thopson PD. O exercício e a cardiologia do Esporte. São Paulo: Manole; 2004. 485p. Negrão CE, Barreto AC P. Cardiologia do Exercício. São Paulo: Manole; 2006. 354p. Horning B, Maier V, Drexler H. Physical training improves endothelial function in patients with chronic heart failure. Circulation 1996;93:210-4. Swynghedauw B. Molecular mechanisms of myocardial remodeling. Physiol Rev 1999;79:215-62. 10. 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FC máxima MAI FAI VO2 máximo Antes do programa 123 bpm 42,1% - 5,9% 39,55 ml/kg.min Após o programa 159 bpm 26,3% - 20,9% 45,14 ml/kg.min Tabela II - Resultados obtidos no ecocardiograma antes e após a execução do programa de exercício físico. Volume diastólico final de VE Volume sistólico final de VE Massa ventricular esquerda Fração de ejeção Teichholz Antes do programa 392 ml 242 ml 407 g 38% Após o programa 180 ml 78 ml 290 g 43% Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 99 Revisão Variabilidade da frequência cardíaca: método nãoinvasivo de avaliação do limiar ventilatório Heart rate variability: non invasive method of ventilatory threshold evaluation André Lopes*, Vinicius Dias*, Giovani dos Santos Cunha*, Álvaro R. de Oliveira*, Cintia Stocchero** *Laboratório de Pesquisa do Exercício (Lapex) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, **Laboratório de Pesquisa do Exercício (Lapex) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Escola de Educação Física do Centro Universitário Metodista IPA da ESEF, Porto Alegre Resumo Abstract A intensidade de trabalho é uma das principais variáveis do planejamento e aplicação do treinamento físico. Diversos métodos são usados para quantificar este esforço, a frequência cardíaca é um método comumente utilizado para determinação da intensidade de exercício, utilizando-se para isso a estimativa da frequência cardíaca máxima a partir da equação 220 – idade, esta equação gera a frequência cardíaca máxima e o percentual desta é usado para prescrição do treinamento. A ergoespirometria e os limiares de lactato são amplamente utilizados com a pretensão de mesurar a intensidade do exercício. Contudo, o uso destas técnicas é questionado tendo em vista as possíveis variações individuais, custo alto devido aos equipamentos e necessidade de capacitação técnica bem desenvolvida. A possibilidade de utilização da frequência cardíaca para a determinação dos níveis de intensidade de exercício de uma forma não invasiva e criteriosa é importante para diminuir custos financeiros. Oscilações que ocorrem entre intervalos R-R ou entre dois batimentos cardíacos instantâneos são chamadas de Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC), sendo que este método é utilizado no meio clínico para detecção de distúrbios cardíacos. Recentes investigações demonstram que a VFC pode ser utilizada para avaliar o controle neural sobre o coração de maneira muito precisa. Desta forma, o uso da variabilidade da frequência cardíaca durante exercício físico pode ser uma alternativa para determinação dos limiares de intensidade do exercício. O objetivo desta revisão é identificar a possibilidade da utilização da variabilidade da frequência cardíaca como um marcador de intensidade de exercício físico. Exercise intensity is one of the main variables in planning and implementing physical training. Many methods are used to quantify this exercise intensity. Heart rate is a commonly used method to determine it, which is generally done by estimating maximum heart rate from the equation 220 - age. Maximal oxygen consumption and lactate threshold are widely used in order to measure exercise intensity. However, these techniques present limitations as they are exclusive to laboratory and demand expensive equipments. Using heart rate for determining precisely exercise intensity would be easier and less expensive than the above techniques. Variations that occur between RR intervals or between two consecutive heart beats are called heart rate variability (HRV) and have been used in the clinical set for detection of cardiac disorders. Recent investigations have showed that HRV can be used to evaluate heart´s neural control in a very accurate way. Moreover, heart rate variability utilization during exercise can be an alternative method for determining exercise intensity. This review intends to clarify if heart rate variability may be used as an exercise intensity marker. Key-words: heart rate, physical training, electrocardiogram. Palavras-chave: frequência cardíaca, treinamento físico, eletrocardiograma. Endereço para correspondência: André Luiz Lopes, Laboratório de Pesquisa do Exercício (Lapex) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51) 3308-5861, E-mail: andrelopes.efi@bol. com.br 100 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Introdução O limiar anaeróbio é um dos métodos mais utilizados, tanto como indicador de desempenho físico quanto na prescrição do treinamento. Existem diversas evidências de que o limiar anaeróbio (LAn) [1] correlaciona-se melhor com o desempenho de esportes de característica contínua e prolongada do que o consumo máximo de oxigênio (VO2max) [2]. O LAn é considerado o ponto no qual ocorre um desequilíbrio entre a produção e a remoção do lactato [3]. Existem muitos métodos, tanto invasivos como não-invasivos para a determinação do LAn, porém não existe um consenso internacional sobre qual o melhor método de determinação [4]. Os métodos invasivos requerem várias coletas de sangue e tanto o ponto no qual ocorre um aumento abrupto das concentrações de lactato como o aumento não linear deste mesmo metabólito têm sido utilizados para a determinação do LAn, necessitando ainda inspeção visual das curvas plotadas [5,6]. Outros definem um valor específico de lactato sanguíneo, como 2,0; 3,0 [5,7] ou 4 mmol [7,8]. Uma crítica que geralmente é feita aos métodos de concentrações fixas é que os mesmos não levam em conta o princípio da individualidade do atleta, superestimando a intensidade de limiar de lactato. Além disso, trata-se de um método invasivo e com custo elevado. Esta crítica encontra suporte no estudo de Baptista et al. [9] no qual foi verificado que o método fixo de 4 mmol.L-1 superestima as variáveis fisiológicas de remadores, como a frequência cardíaca [10], lactato e potência quando comparado com o método Dmáx (sigla do termo em inglês maximal distance), que respeita a individualidade biológica. Uma opção para a resolução deste problema foi apresentada por Wasserman et al. [11] os quais desenvolveram um método de determinação de LAn a partir de variáveis ventilatórias, uma técnica não-invasiva e de baixo custo financeiro. Este estudo demonstrou que as concentrações de lactato apresentam uma forte correlação com a ventilação, em função do tamponamento dos íons hidrogênio pelo íon bicarbonato e subsequente eliminação na forma de dióxido de carbono pela respiração [12]. Este excesso de dióxido de carbono e uma diminuição do pH estimulam a ventilação, que aumenta de uma forma não-linear. Este mecanismo pode ser avaliado através da inspeção visual gráfica das variáveis como a ventilação (VE), equivalentes ventilatórios (VE/VO2 e VE/VCO2), produção de dióxido de carbono (VCO2) e pela razão de trocas respiratórias VCO2/VO2 (R) em função do consumo de oxigênio ao longo do teste [4,11,12]. Assim através deste método é possível identificar o LV1 e LV2 que são cargas de trabalho associadas ao primeiro e ao segundo aumento não linear da ventilação. Onde as intensidades de exercício entre o LV1 e LV2 compreendem a zona aeróbia e as intensidades acima de LV2 corresponde à zona anaeróbia. Outros estudos têm proposto a determinação do LAn através da R, no entanto, ainda não existe um consenso sobre qual o valor que a R pode assumir, seja ele fixo ou variável. Adicio- nalmente, vários estudos em nosso laboratório demonstram a necessidade de utilização de uma técnica de determinação de limiar mais simples e de menor custo financeiro [9,13], visto que os equipamentos de ergoespirometria custam entre R$40.000 e R$100.000, além da necessidade de pessoal especializado. Na expectativa de reduzir os custos e buscando facilitar sua aplicabilidade, utiliza-se a frequência cardíaca [10] para a determinação da intensidade de exercício físico. O uso da FC é baseado em equações, as quais são baseadas em estimativas da frequência cardíaca máxima, com a utilização das fórmulas (220-idade) ou (210-idade x 0,65), estas, por sua vez, estão sujeitas a um desvio padrão de aproximadamente ±12 bpm, comprometendo muitas vezes o treinamento para pacientes que necessitam de controle mais preciso pela presença de arritmia, hipertensão arterial, isquemia, etc. Um método que utiliza a frequência cardíaca para determinação do primeiro limiar com boa precisão é o déficit de pulso, esta técnica que consiste na realização de períodos de 8 minutos de exercício em carga constante e no cálculo do somatório do número de batimentos dos quatro minutos finais, menos o somatório dos quatro minutos iniciais [14]. Apesar de este método estar correlacionado com o primeiro limiar ventilatório (LV1), a necessidade de vários períodos de 8 minutos de exercício torna o método pouco prático, além de não demonstrar correlação com o segundo limiar ventilatório (LV2), sendo uma técnica muito pouco difundida no ambiente de prescrição de treinamento [14]. Entretanto, a variedade de métodos trouxe sua contribuição ao meio esportivo e clínico, por outro aspecto causou certa confusão na literatura. Diferentes autores denominaram os mesmos fenômenos fisiológicos de diferentes maneiras ou denominaram diferentes fenômenos com a mesma nomenclatura. Além deste problema conceitual, existe a necessidade de equipamentos, utilização de equações matemáticas, dispêndio financeiro, subjetividade e/ou mão-de-obra especializada, por tudo isso o acesso à identificação dos limiares se tornou muitas vezes impossibilitado, principalmente do ponto de vista prático. A busca por um método que possa contemplar a avaliação do exercício físico se faz justificada por todos os motivos acima citados, desta forma propomos a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), como método de avaliação dos limiares ventilatórios. Portanto, este artigo de revisão busca subsídios teóricos na literatura para viabilizar a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) como método de identificação do esforço durante a prática de exercício físico. Variabilidade da frequência cardíaca O controle neuroendócrino, que orquestra a máquina cardíaca, apesar de bastante preciso, não garante que o intervalo entre dois ciclos cardíacos seja idêntico [10]. As oscilações que ocorrem entre intervalos R-R (intervalo entre um ponto R Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 e outro no eletrocardiograma) ou entre dois ciclos cardíacos instantâneos, são chamadas de Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) [10,15,16]. Tais oscilações têm aplicação clínica por apresentarem correlação inversa com o risco de morte por doenças cardiovasculares, ou seja, quanto maior a VFC em repouso menor o risco de morte [17]. O cálculo da VFC é feito a partir dos intervalos R-R do sinal eletrocardiográfico, os quais são registrados batimento a batimento utilizando o recurso eletrocardiográfico ou frequencímetros portáteis. A Figura 1 mostra o momento exato do intervalo R-R, o qual é usado para calcular a VFC. Figura 1 - Representação do intervalo RR no eletrocardiograma. A Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) trouxe enorme avanço à pesquisa científica nessa área de investigação, sendo que hoje a VFC é empregada, diversificadamente, em investigações sobre a função autonômica cardíaca em áreas como, a doença de Chagas [18], o diabetes mellitus [19], a insuficiência cardíaca, o pós-infarto do miocárdio [20], a doença pulmonar obstrutiva crônica [21] entre outras; além de ser aplicada na avaliação de atletas e não-atletas durante programas de treinamento físico [22] durante atividades físicas corriqueiras do dia-a-dia [23]. A VFC representa as interações ocorridas principalmente entre o sistema nervoso simpático e parassimpático no controle da frequência cardíaca, sendo um indicador não-invasivo do controle neural sobre o coração [10]. Os cálculos para determinação da VFC são realizados através de métodos no domínio da frequência, do tempo e métodos não lineares. Os métodos do domínio da frequência analisam a VFC com base no fato de a plotagem dos intervalos R-R frente ao tempo ter um caráter ondulatório, gerando assim uma onda que se assemelha a uma função senoidal [24]. A onda gerada pode ser decomposta através de modelos matemáticos em diferentes períodos de frequência. Estes períodos de frequência são dividos em alta frequência (HF) que varia de 0,4 a 0,15 Hz, baixa frequência (LF) de 0,15 a 0,04 Hz e de muito baixa frequência (VLF) que é considerada < 0,04 Hz. O período HF representa a modulação parassimpática, acredita-se que a LF represente a modulação simpática e que a VLF esteja associada à resposta termorregulatória e ao sistema renina-angiotensina [25]. A principal limitação desta análise do domínio da frequência é a necessidade de um sinal estacionário, sem grandes 101 oscilações, pois esse método não consegue determinar como ocorrem as variações ao longo do tempo [26]. Os métodos do domínio do tempo avaliam a dispersão da duração dos intervalos R-R em relação à média de determinado período. Os mais utilizados são o desvio padrão da média dos intervalos R-R do período (SDNN), a raiz quadrada da média dos intervalos R-R sucessivos, e o número de intervalos R-R com diferença sucessiva maior que 50 milisegundos (NN50) [17]. Esses índices estão intimamente associados aos do domínio da frequência. Fronchetti [16] avaliou homens jovens e aparentemente saudáveis em diversos índices do domínio do tempo e da frequência e constataram que houve forte correlação entre os índices do domínio do tempo com a banda LF (r = 0,8) e principalmente com banda HF (r = 0,9) [16]. A correlação entre domínio do tempo e o componente LF do espectro de frequência ainda está indeterminado. Alguns autores sugerem que domínio do tempo estaria associado somente ao componente HF, o que seria uma limitação do método [17,26]. Outra possibilidade de avaliação da VFC é a utilização de uma combinação entre domínio do tempo e da frequência. Nesse método é realizada uma divisão (janelamento) do espectro em períodos curtos e a densidade do espectro é calculada para cada um dos períodos. Assim existe a possibilidade de detectar como ocorrem as oscilações ao longo do tempo nas diferentes bandas de frequência, evitando a necessidade de um sinal estacionário [26]. A Figura 2 descreve os intervalos R-R no período de 24 horas. Variabilidade de frequência cardíaca e exercício físico Estudos recentes têm demonstrado que a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) pode ser utilizada para avaliar o controle neural sobre o coração [17]. Outras investigações mostram que em exercício progressivo a VFC diminui conforme ocorre o aumento da carga de trabalho. O ponto onde a redução passa a ser significativamente menor que o repouso está relacionado ao 1º limiar Ventilatório. O exercício físico progressivo causa alterações bem características no controle neurovegetativo da FC, tornando-o uma ferramenta importante para avaliar as respostas deste sistema a diferentes níveis de estresse fisiológico, através da VFC [17]. No início do exercício, há uma retirada parassimpática que é responsável pelo aumento inicial da FC. Em cargas mais elevadas 102 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 este aumento se dá pela ativação do sistema simpático, que é desencadeado principalmente por quimioreflexos musculares [27]. Apesar de a retirada progressiva do sistema parassimpático ser consenso na literatura, o aumento da estimulação simpática sobre o coração nas cargas mais elevadas ainda gera algumas controvérsias [17]. Alguns estudos indicam que o comportamento da VFC em exercício parece estar de acordo com essas alterações da modulação autonômica [1,10,16,23]. Em estudo realizado com mulheres diabéticas em um teste progressivo em cicloergômetro, a VFC diminuiu progressivamente até estabilizarse em um valor menor que o de repouso. Foi demonstrado também que a intensidade onde houve essa estabilização foi um pouco menor que a intensidade onde foi identificado o primeiro limiar ventilatório. Os autores acima denominaram esse ponto de limiar de atividade vagal (threshold of vagal activity, TVA), pois consideraram que esse ponto representa a completa redução da atividade vagal no exercício com carga progressiva. Resultado semelhante foi obtido por Lewis [28] em indivíduos jovens e saudáveis, em que foi constatada uma redução significativa na VFC conforme o incremento da carga e encontraram uma correlação significativa entre a carga em que a VFC atingiu 50 % do valor inicial e a carga máxima dos indivíduos no teste, sugerindo a possibilidade de utilização deste índice como indicador da carga máxima de trabalho. Cottin et al.[15] mostram que a VFC diminui significativamente frente ao aumento da intensidade de exercício. Identificou-se ainda que elevações na frequência respiratória promovem reduções da VFC [15]. Parece haver também uma somação dos efeitos, pois a diminuição da VFC é visivelmente mais acentuada quando há aumento simultâneo nas duas variáveis. Apesar de a redução ocorrida na VFC em exercício, percebe-se claramente a manutenção de um pico na banda HF do espectro de frequência. A frequência onde esse pico ocorre coincide com a frequência respiratória demonstrando uma associação entre estas, que pode ser oriunda da arritmia sinusal respiratória. A frequência respiratória aumentada durante o exercício constitui-se então em um dos prováveis mecanismos responsáveis pela redução da VFC em exercício. Recentemente Cottin et al. [29] confirmaram seus achados anteriores, a redução da VFC, avaliando-a no domínio tempofrequência, mas identificaram reduções mais significativas no exercício realizado com carga acima do 2º limiar ventilatório comparado ao exercício realizado com carga abaixo do 2° limiar ventilatório. Além disso, verificaram diferenças entre a densidade do período LF e da HF nas duas situações. Em exercício abaixo do 2° limiar mostraram maior prevalência da banda LF, enquanto que houve maior prevalência da densidade da banda HF quando os valores foram normalizados (expressos como um percentual do total da VFC). Os autores sugerem que essa diferença de prevalência possa ser utilizada para identificar cargas acima e abaixo do 2° limiar, sugerindo que a razão LF/HF seja um indicador dessa alteração [29]. Avaliando indivíduos idosos, Perini et al. [30] mostraram resultados semelhantes, demonstraram que a densidade do espectro da banda LF mantém-se constante até aproximadamente 40 % do VO2pico nos homens e 80% do VO2pico dentre as mulheres, diminuindo progressivamente conforme incremento da carga. A densidade do espectro da banda HF, por outro lado, apresentou um aumento linear desde o início do exercício. Os comportamentos diferentes apresentados pela banda HF e LF sugerem uma clara modificação do controle cardiovascular durante o exercício. Diferentemente da situação de repouso do período HF não corresponde à atividade vagal em exercício, estando nitidamente associada a alterações ocorridas na ventilação conforme incremento da carga, enquanto que o período LF apresenta comportamento mais compatível com a resposta parassimpática ao exercício, sendo um indicador deste mecanismo durante o exercício físico [30]. Baseando-se nesse comportamento, Cottin et al. [31] investigaram a possibilidade de determinação dos limiares ventilatórios através da VFC. Avaliando atletas profissionais de futebol, em um protocolo com carga progressiva em esteira rolante, foram comparadas as velocidades encontradas no 1° e 2° limiar ventilatório (LV1, LV2) com as velocidades do LV1 e LV2 do componente de alta frequência (HFT), respectivamente, e não encontraram diferenças significativas. O HFT foi calculado multiplicando-se a densidade total do espectro da banda HF pelo pico do espectro deste período. Os autores propõem que a correlação encontrada se deve a forte correlação existente entre o FHF e a arritmia sinusal respiratória [15]. Realizou-se uma investigação em indivíduos não-treinados e com uma metodologia de cálculo da VFC diferente, mas encontraram também correlação significativa entre o LV2 e o segundo limiar de VFC (r = 0,94). Constataram também forte correlação entre o componente HF do espectro de frequência e a ventilação, sugerindo também que a arritmia sinusal respiratória justifique essa correlação [32]. O comportamento da VFC foi bastante semelhante nas análises realizadas no domínio do tempo. Alonso et al. [33], utilizando um protocolo de exercício num cicloergômetro com carga progressiva, verificaram a resposta da VFC através do cálculo do desvio padrão da média dos intervalos R-R de cada minuto, e encontraram como resultado uma diminuição progressiva da VFC até um valor estável e significativamente menor do que o de repouso. Outro método do domínio do tempo que tem sido estudado é a plotagem de Poincaré, que consiste na plotagem de um intervalo R-R frente ao anterior [17,34]. Os índices derivados desse método associam-se também aos limiares ventilatórios, mas há divergências sobre qual o ponto de corte adequado à determinação do limiar [35]. Analisando os resultados desses diferentes estudos é possível perceber, que apesar de a diversidade de protocolos de exercício e diferentes métodos de análise da VFC utilizados, todos observaram que a VFC diminui progressivamente, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 conforme ocorre o aumento da carga. Esse comportamento da VFC assemelha-se ao comportamento da atividade parassimpática em exercício com carga progressiva, apresentando uma diminuição progressiva. No entanto, essa resposta da VFC em exercício físico progressivo não condiz com a elevação na atividade simpática que é desencadeada frente ao exercício. Polanczyk et al. [1] realizaram um estudo utilizando bloqueio parcial e total da modulação autonômica em situação de repouso e de exercício e verificaram o comportamento da VFC nos domínios do tempo e da frequência. Encontraram diferenças significativas na resposta da VFC apenas após o bloqueio parassimpático e o bloqueio duplo em situação de repouso. Em exercício não foram constatadas diferenças significativas, apesar de uma pequena tendência a diminuição após bloqueio parassimpático e bloqueio duplo. Com base nesses resultados sugerimos que a atividade simpática não pode ser detectada pela VFC e que, no exercício físico, a resposta da VFC não representa a modulação autonômica do coração, sofrendo grande influência de fatores não neurais [1]. Resultados apresentados por De Vitto [36] reforçam essa afirmação, pois demonstram que a inibição central do sistema simpático, através de infusão de moxonidina, não afeta a VFC analisada no domínio do tempo e da frequência em situação de repouso e de exercício em estado estável a 65 % do VO2máx [36]. A exceção foi o índice SD2 da plotagem de Poincaré que teve uma redução significativa no exercício realizado sob ação da moxonidina comparada ao placebo, comportamento que pode ser parcialmente explicado por uma inibição indireta da moxonidina da atividade vagal. A resposta hormonal também foi avaliada, na tentativa de avaliar a eficácia da inibição simpática central. A concentração de noradrelina teve menor aumento, durante o exercício, comparado ao grupo placebo, mas como não houve efeito sobre a VFC conclui-se que sua influência sobre a VFC não é significativa [36]. No entanto, o fato de a concentração de adrenalina não ter influência pode ter confundido essa conclusão, tendo necessidade de mais investigações sobre o tema. Durante a recuperação pós-exercício há a possibilidade de se estimar a modulação autonômica do coração, mas em exercício essa relação ainda gera controvérsias [37]. Verificou-se a existência de diferenças no comportamento da VFC no domínio da frequência, dependendo da forma como é expressa. Em valores absolutos percebe-se claramente uma diminuição da densidade total do espectro da VFC e uma diminuição da banda HF. No entanto, quando os valores são normalizados ou expressos em valores percentuais, há uma manutenção do HF e uma diminuição do LF. Há indícios de que a banda VLF aumente significativamente nas cargas mais elevadas. Tais constatações reforçam as dúvidas existentes sobre se a VFC representa as modulações autonômicas em exercício. Sandercock et al. [38] ao realizarem uma revisão sobre o assunto constataram que durante exercício a VFC não representa a modulação autonômica da FC, pois há estímulos não neurais atuando, principalmente a arritmia sinusal respi- 103 ratória que tem grande influência na banda HF do espectro de frequência. Dewey et al. [39] sugere que o significado fisiológico da VFC em repouso não pode ser aplicado à situação de exercício, pois há grande influência de fatores não neurais (metaboreflexos, distensão atrial e oscilações mecânicas na caixa torácica oriundas da ventilação). O significado fisiológico do comportamento da VFC em exercício pode ser inclusive oposto ao da situação de repouso. Em estudo avaliando 1335 indivíduos idosos, houve uma forte correlação inversa entre altos índices de VFC em exercício com carga progressiva e morte por causas cardiovasculares, contrariando a correlação existente em repouso [39]. No entanto, há necessidade de levar em consideração o fato de que o nível de aumento da FC em exercício pode influenciar na resposta da VFC, o que pode ser um fator de confusão na interpretação dos resultados de Dewey [39]. Sugere-se esse cuidado, pois a VFC é avaliada a partir dos intervalos R-R subsequentes e há uma relação inversa entre FC e os intervalos R-R. O aumento da FC durante o exercício diminui os intervalos R-R e consequentemente diminui a VFC. Por isso, indivíduos que apresentem menores alterações na resposta da FC em exercício tendem a apresentar maiores índices de VFC [39]. Estudo realizado recentemente avaliou atletas de futebol de categoria juvenil e mostrou ser possível a identificação do 2° limiar da frequência cardíaca em todos os sujeitos. Os resultados deste estudo demonstram que o L2VFC, identificado na carga em que a média de VFC (quando calculada pela Plotagem de Poincaré, imbutida no frequêncímetro) é inferior a 2 ms está em intensidade similar ao L2VFC, sugerindo ser um método promissor para a identificação do L2VFC [40]. Assim sendo os autores deste estudo especulam que o comportamento da VFC, supostamente, corresponde aos limiares de transição fisiológicas, tradicionalmente identificados por mudanças no comportamento de variáveis ventilatórias, concentração de lactato sanguíneo, FC, dentre outras variáveis [40]. Conclusão Apesar de o significado fisiológico da VFC estar relacionado principalmente na identificação de anormalidades dos processos cardíacos, as alterações da VFC em resposta exercício progressivo nos sugerem que haja relação entre os limiares ventilatórios e a VFC. A possibilidade de se avaliar os LVs utilizando a VFC tornaria a identificação das zonas de treinamento muito mais práticas e menos dispendiosas, o que popularizaria o método e faria com que a precisão da prescrição da intensidade se tornasse muito mais eficiente. Assim, sugerimos a VFC como método de avaliação da condição cardiorrespiratória e, desta forma, proporcionando uma ferramenta não-invasiva, de baixo custo e de fácil aplicação para quantificação do esforço e prescrição precisa da intensidade do exercício físico. 104 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Referências 1. Polanczyk CA, Rohde L, Moraes R, Ferlin EL, Leite C, Ribeiro JP. 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Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para 107 os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] 108 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009 Calendário de eventos Julho 18 a 26 de julho VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Física São Paulo, SP Tel: (11) 2714-5678, www.encontrophorte.com.br E-mail: [email protected] Agosto 21 a 23 de agosto 9 a 12 de outubro 47º ENAF Poços de Caldas, MG Informações: www.enaf.com.br 15 a 17 de outubro 32º Simpósio Internacional Ciências do Esporte São Paulo, SP Informações: www.celafiscs.com.br (11) 4229-8980 / 4229-9643 22 a 24 de outubro 6º ENAF BH Chevrolet Hall, Belo Horizonte, MG Informações: www.enaf.com.br 10a IHRSA Fitness Brasil Latin American Conference & Trade Show, São Paulo, SP Informações: (11) 5095-2699, www.fitnessbrasil.com.br Setembro 4 a 6 de Setembro X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a Terceira Idade Núcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Alagoas, MA Tel: (82) 3322-2416 20 a 25 de Setembro XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador, BA Informações: [email protected] Outubro 7 a 9 de outubro III Congresso Euroamericano de Motricidade Humana Esporte, Intervenção e Transformação Social Murcia, Espanha Informações: (11) 3413-8430, www.redeuromh.com/ congressos.htm Novembro 6 e 7 de novembro 5a Jornada Santista de Treinamento e Força 1º Simpósio Paulista de Atividade Física e Saúde Gonzaga, Santos, SP Informações: (13) 3285-6993 / 9735-4115 6 a 8 de novembro 13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro - SIAFis RJ Auditório da Escola Naval, Rio de Janeiro RJ Informações: [email protected] 12 a 14 de novembro 7º Congresso Brasileiro de Atividade Física & Saúde SBAFS Porto de Galinhas, PE Informações: www.cbafs.org.br R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 8 número 3 - julho/setembro 2009 EDITORIAL Citius, altius, fortius: a qualquer preço?, Paulo Tarso Veras Farinatti, Jean-Louis Peytavin ...................................... 111 ARTIGOS ORIGINAIS Nutrição e composição corporal de jovens futebolistas, José Augusto Rodrigues dos Santos, Carlos Eduardo Gonçalves da Costa Vasconcelos ................................................................................... 113 Efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima em adolescentes não treinados, José Eduardo Lattari Rayol Prati, Sergio Eduardo de Carvalho Machado, Edmilson Batista de Carvalho, Vernon Furtado da Silva ............................................................................................................................................ 121 Incidência de lesões osteomioarticulares em atletas fisiculturistas, Fabrício Rothier, Deotti Ibrahim, Artur Laizo, Heglison Custódio Toledo................................................................. 125 Relação entre a potência muscular dos membros inferiores e a funcionalidade em idosos, Rodrigo Barbosa de Albuquerque, Oliveira Valéria Mota de Oliveira, Aristides Rihan Geraldes Amândio, Antônio César Cabral de Oliveira ...................................................................... 132 Efeitos do treinamento em uma equipe de futebol infantil ao longo do macrociclo, Daniel Medeiros Alves, Juan Carlos Perez Morales, José Francisco Gomes Schild, Silvia Teixeira de Pinho ............................................................................................................................................. 137 Comparação entre diferentes métodos de determinação do limiar de lactato, Mônica de Oliveira Melo, Cláudia Tarragô Candotti, Mateus Breyer......................................................................... 142 Efeito da combinação de exercícios com pesos sobre indicadores sanguíneos da exaustão em praticantes de musculação, Carol Christina de Faria, Fábio Lera Orsatti, Fernando Moreto, Roberto Carlos Burini .................................................................................................................. 148 REVISÃO Características funcionais e fisiológicas do destreinamento: força e morfologia muscular, Michel Arias Brentano,Tiago Santi ............................................................................................................................ 152 RELATO DE CASO Exercício resistido em circuito regula a pressão arterial e pode melhorar a síndrome do pânico, Gilzandra Lira Dantas Florencio, Ana Carla Gomes Canário, Conceição de Maria L. N. de Melo, Ana Katherine da Silveira Gonçalves, Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva ......................................................................................................... 160 OPINIÃO Desenvolvimento das capacidades físicas e motoras nas aulas de Educação Física para crianças de 10 a 13 anos, Stephan Moreno Tanzillo, Marcus Vinicius Grecco ................................................ 164 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 170 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 172 110 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Amandio Rihan Geraldes (AL) Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Francisco Navarro (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Robert Robergs (USA) Rosane Rosendo (SC) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (USA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 /3361 9932 E-mail: [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello Editor assistente – Publicidade Guillermina Arias [email protected] Direção de arte Assistente de vendas – Atendimento Assinatura Cristiana Ribas Márcia P. Nascimento 1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00 [email protected] [email protected] www.eventoserevistas.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 111 Editorial Citius, altius, fortius: a qualquer preço? Paulo Tarso Veras Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx Jean-Louis Peytavin, Editor executivo O noticiário recente destacou o fato de atletas brasileiros terem sido pegos em exames anti-doping realizados em Presidente Prudente/SP, tendo se valido da eritropoietina para aumentar seu desempenho. Em um conto de ficção científica, o autor americano Ray Bradbury explora o tema da igualdade, imaginando um desportista excepcional que tem de usar handicaps, como solas de chumbo, para não ser superior aos concorrentes com capacidades inferiores. Pouco a pouco, impondo-se tal ideologia igualitarista, a beleza e a inteligência tornamse suspeitas para a maioria dos feios e dos medíocres. As pessoas naturalmente bonitas passam a se esconder atrás de máscaras e os inteligentes a fingirem-se de idiotas. Ao contrário, em nossa sociedade promovemos e adulamos o desportista fora dos padrões, muitas vezes tolerando, às escondidas, a fraude do doping. Em longo prazo, os resultados dessa valorização exacerbada podem representar um ‘espelho’ da ficção de Ray Bradbury: sem controle, a ajuda química tornar-se-á obrigatória para que os atletas sejam, de novo, iguais na linha de partida. O melhor ganhará, mas todos sobrecarregados em ‘aparentados’ da eritropoietina. Já se disse em certa oportunidade que os desempenhos do Tour de France, por exemplo, seriam impossíveis para ciclistas que não utilizassem esse hormônio. O doping desenvolveu-se rapidamente a partir dos anos 1970, com o uso dos anabolizantes, anfetaminas e beta-bloqueadores, mas sofisticou-se a partir dos anos 1990. Apesar da melhora da fiscalização, o futuro da luta contra o doping é difícil e, para alguns, de sombrio prognóstico. Existe uma progressiva expansão de seu uso na juventude, especialmente no meio da musculação, no qual circulam produtos sem controle, desde os clássicos esteróides anabólicos até novidades como inibidores da miostatina. Fala-se também em doping mental, usando-se produtos inicialmente prescritos para os distúrbios de atenção das crianças (ritalina), distúrbios do sono (modafinil) ou ainda para a doença de Alzheimer, a fim de aumentar o desempenho em exames acadêmicos. A Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício posiciona-se frontalmente contra todas as formas de doping. Para lá de efeitos colaterais frequentemente danosos, extensivamente descritos pela literatura, a aceitação, ainda que subreptícia, desse tipo de prática subverte os princípios que deveriam reger as competições desportivas, como o fair-play, ferindo de morte valores que emanam do assim chamado ‘espírito desportivo’. O desenvolvimento tecnológico nas áreas de medicina, biomecânica, fisiologia do exercício, bioquímica, dentre outros campos do conhecimento vem proporcionando as condições para que os limites de desempenho sejam, a cada competição, redefinidos. No entanto, tal desenvolvimento coloca-se a serviço do atleta e, porque não dizer, da humanidade de forma geral. Fazer do progresso tecnológico ferramenta a serviço da vitória a qualquer custo, em detrimento da saúde dos atletas, da lisura das competições e, portanto, do próprio desporto, constitui atitude que deve ser condenada, por criminosa e antiética. Aqueles que fazem da pesquisa em fisiologia do exercício sua área de atuação e interesse devem refletir sobre os limites da aplicação do conhecimento científico para melhorar o desempenho humano. Para além das questões relativas ao doping, discutidas em profundidade por diversos autores, nota-se que essa necessidade se faz tão mais premente quando se percebem os avanços na área da genética. É tênue a fronteira entre manipulação genética indesejável e o desenvolvimento de formas éticas para detecção de talentos, por exemplo. Não são poucos os que consideram cabível a possibilidade de manipulação genética para melhorar o desempenho atlético, não a entendendo 112 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 como forma de doping. Outros, porém, destacam ser frágil a fronteira entre o desejo de conhecer melhor o potencial de desempenho dos atletas desde idades precoces e a tentação de uma seleção arbitrária que nos remeteria aos ideais eugênicos de ditaduras fascistas do passado. Como se percebe, a discussão em torno do tema da melhoria do desempenho humano é algo atual e envolve aspectos que ultrapassam o ganho de milésimos de segundo ou milímetros em provas atléticas. A aceitação ou recusa do doping como recurso para “experimentar os limites do homem” traduz uma visão de mundo. De um lado seus defensores acenam com argumentos que se apóiam no cientificismo mais infame (é a ciência que desenvolve o doping e não se pode barrar a ciência), em hipotéticas vantagens econômicas (seria bom para a indústria farmacêutica etc) ou em um falso liberalismo (é direito do atleta se drogar...). De outro, alinham-se aqueles que defendem ser preciso balizar o desejo de aumentar cada vez mais os limites do corpo humano por valores éticos. Valores que, afinal, dão base para as competições desportivas e, porque não dizer, para a própria ciência – o entendimento de que, no fim das contas, nada deveria ser mais importante do que os próprios seres humanos... Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 113 Artigo original Nutrição e composição corporal de jovens futebolistas Nutrition and body composition in young football players José Augusto Rodrigues dos Santos*, Carlos Eduardo Gonçalves da Costa Vasconcelos** *Professor Associado com Agregação, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, **Licenciado em Desporto e Educação Física, Professor Assistente, Escola Superior de Educação de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu Resumo Abstract Objectivo: Os défices nutricionais de desportistas adolescentes podem afectar negativamente quer o seu rendimento desportivo quer o seu desenvolvimento e maturação. Assim, este estudo pretendeu caracterizar os hábitos de ingestão nutricional de jovens futebolistas portugueses. Avaliamos também o perfil de composição corporal da amostra. Material e métodos: A amostra foi constituída por 60 jogadores de futebol, do sexo masculino (14-16 anos de idade), pertencentes a seis equipas participantes no Campeonato Nacional de Juvenis: Braga, Chaves, Repesenses, Belenenses, Juventude de Évora e Louletano. Os dados nutricionais foram obtidos por registo de três dias consecutivos de consumo alimentar. A conversão dos alimentos em nutrientes foi realizada pelo programa informático Food Processor Plus, versão SQL. A determinação do perfil antropométrico e a composição corporal foram obtidos a partir da mensuração do peso, altura e pregas de adiposidade subcutânea tricipital e subescapular. Estatística: média, desvio-padrão e valores mínimo e máximo e amplitude. Resultados: Verificou-se um aporte calórico médio diário de 2575 ± 470 kcal (1699-3689), correspondendo aos seguintes consumos: hidratos de carbono 45,4 ± 4,1% (4,5 ± 1,1 g.kg-1.dia-1), gorduras 36,7 ± ,3% (1,6 ± 0,4 g.kg-1.dia-1) e proteínas 18 ± 2,5% (1,8 ± 0,4 g.kg-1.dia-1). Conclusão: Os jovens futebolistas do presente estudo apresentam uma nutrição incompatível com as necessidades energéticas do desporto que praticam. Além de terem um aporte calórico total diário insuficiente, a distribuição qualitativa pelos macronutrientes é desequilibrada, com um baixo consumo de hidratos de carbono, e um elevado consumo de gorduras e proteínas. Objective: Nutritional deficits can interfere negatively in growth and biological maturation of the adolescents who practice sport, in case of the energetic intake cannot sustain the increase of the nutritional necessities originated by sportive training. Therefore, we decide to characterize the food habits of young Portuguese footballers trying to elucidate the compatibility between nutritional habits and football practice requirements. We assess also the sample’s body composition. Material and methods: The sample was constituted by 60 male football players 14 o 16 years old. These players belong to six soccer teams who had participated in the age-related National Championship of 2006/2007: Braga, Chaves, Repesenses, Belenenses, Juventude de Évora and Louletano. Nutritional data were registered by food intakes of three consecutive days. The conversion of foods in nutrients was carried through by the program Food Plus Processor, version SQL. Anthropometric profile and body composition had been achieved measuring weight, height, triceps and sub-scapula skinfolds. Statistics: We used the descriptive measures: average, standard deviation, minimum and maximum and amplitude of the three days. Results: The daily average caloric intake was 2575 ± 470 kcal (1699-3689), corresponding to the following intakes: carbohydrates 45.4 ± 4.1% (4,5 ± 1,1 g.kg-1.dia-1), fats 36.7 ± 3.3% (1,6 ± 0,4 g.kg-1.dia-1) and proteins 18 ± 2.5% (1,8 ± 0,4 g.kg-1.dia-1). Conclusion: The young footballers of this study present a nutritional status incompatible with the requirements of football practice. Besides their insufficient daily total caloric intake, the qualitative distribution for the macronutrients is unbalanced, with a low ingestion of carbohydrates and excessive consumption of fats and proteins. Palavras-chave: nutrição, macronutrientes, composição corporal, jovens futebolistas. Key-words: nutrition, macronutrients, body composition, young footballers. Endereço para correspondência: José Augusto Rodrigues dos Santos, Faculdade de Desporto, Rua Plácido Costa, 91, 4200-450 Porto Portugal, E-mail: [email protected] 114 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução Nos últimos 20 anos, foi suficientemente investigada a relação entre a nutrição e a performance desportiva. Não existe dúvida alguma de que aquilo que o atleta ingere pode afectar a sua saúde, o seu peso e composição corporal, a disponibilidade de substratos durante o exercício, o tempo de recuperação após exercício, e por último, a prestação desportiva [1,2]. Por conseguinte, a dieta do desportista deve ter por base a satisfação das necessidades energéticas, de reparação tecidular e aumento de massa muscular, através de uma ingestão adequada, equilibrada e variada de glícidos, gorduras, proteínas, água, minerais e vitaminas. Particularizando as recomendações nutricionais para os futebolistas, verificamos que estes não necessitam de uma dieta de treino diferente da generalidade dos desportistas [3]. Um jogo de Futebol envolve 90 minutos de actividade intermitente de intensidade variada [4] e impõe uma forte depleção nas reservas hepáticas e musculares de glicogénio [5]. Assim, a optimização das reservas de glicogénio pode fazer a diferença entre ganhar ou perder [6]. As necessidades nutricionais variam ao longo da vida [7]. Como refere Beals [8], a adolescência é uma fase de rápido crescimento e desenvolvimento com profundas implicações nas necessidades nutricionais e energéticas. Défices energéticos e nutricionais podem afectar negativamente quer o processo de crescimento e maturação biológica quer o rendimento cognitivo [8] e motor [5]. A literatura não é fértil em estudos na área de nutrição em jovens futebolistas. Em Portugal, temos conhecimento de apenas dois estudos [9,10]. Desta forma, e visando o alargamento dos conhecimentos nesta área, pretendemos com este estudo averiguar quais são os hábitos de ingestão nutricional dos jovens futebolistas portugueses. Como estudo complementar determinamos também a composição corporal da amostra. do registo dos alimentos consumidos durante três dias consecutivos, sendo um dos dias de fim-de-semana. O tratamento da informação contida nos registos alimentares foi realizado através do programa Food Processor Plus® versão SQL (ESHA Research, Salem, Oregon), adaptada à realidade portuguesa pelo Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A composição corporal foi estimada a partir da medição das pregas de adiposidade subcutânea tricipital e subescapular, estimando-se a percentagem de massa gorda (%MG) através das equações de regressão de Slaughter et al. [11]. Utilizamos a estatística descritiva: média (X), desvio padrão (SD) e os valores mínimos e máximos. Na análise dos dados utilizámos o software SPSS versão 14.0. Resultados e discussão Frequência de ingestão nutricional Da avaliação nutricional, retiramos algumas informações colaterais que ajudam a caracterizar o comportamento alimentar dos atletas da nossa amostra. Figura 1 - Representação gráfica da frequência de ingestão alimentar da amostra. Objectivos Caracterização dos hábitos de ingestão nutricional e composição corporal de jovens futebolistas portugueses. Material e métodos A amostra do presente estudo foi constituída por 60 jogadores de futebol, do sexo masculino com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos. Os jogadores pertenciam a seis equipas de futebol que participaram no Campeonato Nacional de Juvenis na temporada de 2006/2007. As equipas foram Braga, Chaves, Repesenses, Belenenses, Juventude de Évora e Louletano. Todos deram o seu consentimento escrito para a realização do estudo que foi aprovado pelo Comité de Ética da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. A avaliação da ingestão nutricional foi realizada através Podemos verificar que a distribuição das refeições no decurso do dia é variável, identificando-se alguns casos que desrespeitam as normas habituais para uma nutrição saudável. Constatámos que 93% da nossa amostra toma o pequenoalmoço, o que dá um panorama satisfatório, uma vez que esta refeição é fundamental para a reposição dos níveis energéticos dos atletas, uma vez que sucede a um longo período de jejum nocturno. Somente 62% da nossa amostra realizam uma refeição intermédia entre o pequeno-almoço e o almoço. Isto pode levar a um período muito prolongado sem qualquer ingestão de alimentos, caso os futebolistas tomem o pequeno-almoço cedo (o que se verifica na maior parte dos casos). Desta forma, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 os futebolistas que não ingerem esta refeição correm o risco de hipoglicemia que normalmente afecta quer o rendimento desportivo quer o trabalho mental [12]. Somente 38% da nossa amostra realiza a ceia. A aversão a esta refeição irá provocar um maior período de jejum nocturno, que pode ser prejudicial para a actividade desportiva. No que se refere à refeição ao meio da tarde (lanche), somente um futebolista não a realiza. A última refeição antes do treino, é de crucial importância para providenciar energia para os esforços físicos e mentais subsequentes, principalmente em situações em que o almoço não foi adequado, sabendo-se que os treinos podem durar mais de 90 minutos o que pode promover situações de hipoglicemia, principalmente nos treinos de elevada intensidade [13]. Quanto ao almoço e ao jantar, são duas refeições que a totalidade dos futebolistas realiza, centralizando grande parte da sua ingestão calórica nestas duas refeições. Isto pode ser negativo, uma vez que a ingestão compactada de nutrientes nestas duas refeições, fundamentalmente os derivados dos hidratos de carbono, podem induzir elevações bruscas de açúcar no sangue com a consequente libertação pancreática de insulina. Ora, uma hiperinsulinemia pós-prandial pode ser um factor tendencialmente armazenador de glucose no adipócito sob a forma de triglicerídeos, o que pode redundar em aumento de peso supérfluo com resultados nefastos não só para o rendimento desportivo como para o perfil de saúde do atleta [12]. A eventual hiperinsulinemia pós-prandial justifica o desdobramento do aporte calórico total por mais refeições [14]. Consumo energético Tabela I - Estatística descritiva referente ao consumo energético da amostra. Energia (kcal/ dia) Energia (kcal/kg/dia) Média DesvioPadrão Mínimo Máximo 2575 470 1699 3689 37,2 8,29 26,0 55,4 Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of Canada and the American College of Sports Medicine [15], a primeira preocupação nutricional que os atletas deverão ter é o conhecimento das suas necessidades energéticas. A única recomendação que encontrámos para jovens futebolistas providencia-nos uma recomendação da ingestão calórica diária variando entre as 3819 e 5185 kcal [16]. No presente estudo (PE), verificamos que os valores médios da nossa amostra estão muito abaixo destas recomendações. Acresce que, ao analisar a amplitude de variação do PE, verificamos valores muito baixos no patamar inferior o que pode significar que estes sujeitos estejam em défice energético 115 dramático mesmo que relativizemos o consumo energético ao peso corporal. Outros estudos realizados em jovens futebolistas encontraram consumos energéticos superiores ao do PE, embora demonstrem uma clara tendência para défices energéticos: 2983 kcal.dia-1 [17], 3619 kcal.dia-1 [18], 3952 kcal.dia-1 [19], 3030-3478 kcal.dia-1 [20], 3382-3912 kcal.dia-1 [9] e 3038 kcal.dia-1 [10]. Calculando o gasto energético correspondente ao metabolismo basal [21], verificamos um gasto metabólico basal médio de 1710 kcal.dia-1, variando entre 1480 kcal.dia-1 em relação ao sujeito mais leve e 1860 kcal.dia-1 para o sujeito mais pesado. A este gasto calórico relacionado com o funcionamento dos vários sistemas orgânicos em repouso, temos de acrescentar a termogénese alimentar, energia gasta para o processamento dos alimentos, e que em média corresponde aproximadamente a 10% do gasto calórico total [22]. Como as necessidades energéticas de um futebolista jovem sobrelevam, em muito, as decorrentes do metabolismo basal e termogénese alimentar, pensamos que o valor médio encontrado no nosso estudo (2575 kcal.dia-1) não está ajustado às exigências energéticas dos jovens futebolistas. Apesar de não termos nenhuma referência que nos providencie informação acerca da ingestão calórica por dia e por quilograma de peso corporal e nos permita comparações, pensamos que o valor médio da ingestão calórica da nossa amostra demonstra, tendencialmente, um défice em termos de consumo energético. Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of Canada and the American College of Sports Medicine [15], ingestões energéticas baixas podem resultar em perda de massa muscular, redução no aumento da densidade óssea, risco crescente de fadiga, lesões e doenças. Com uma ingestão energética deficitária, a massa gorda e alguma massa muscular são utilizadas pelo corpo como “combustível”. Além disso, se o aporte energético não for ao encontro ao aumento das necessidades nutricionais originadas pelo treino e competição, a prática desportiva intensa poderá influenciar negativamente o crescimento e maturação biológica dos atletas adolescentes, impedindo o normal desenvolvimento muscular e afectando o desempenho cognitivo [8]. Glícidos Tabela II - Estatística descritiva referente à ingestão de glícidos da amostra. Média Glícidos (g/kg/ 4,48 dia) Glícidos (%VET) 45,4 Desvio- MíniPadrão mo Máximo Amplitude 1,1 2,8 9,2 6,4 4,1 36,5 55,2 18,7 Os glícidos assumem especial importância, pois são os únicos substratos capazes de apoiar energeticamente o exer- 116 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 cício intenso durante longos períodos de tempo. Por isso, um consumo adequado de glícidos é importante para manter os níveis normais de glicemia durante o exercício e para ressintetizar o glicogénio muscular [2], sendo considerados os elementos mais importantes na dieta de um futebolista [1]. Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of Canada and the American College of Sports Medicine [15], um aumento da intensidade do exercício irá aumentar a contribuição dos glícidos como substracto energético. Embora o glicogénio muscular seja o substrato energético principal que suporta os esforços de maior intensidade característicos do futebol [23], caso a glicose sanguínea não consiga ser mantida, a intensidade do exercício realizado terá de decrescer prenunciando a fadiga [24]. A nossa amostra apresentou um consumo de glícidos correspondente a 45,4% do VET (valor energético total). Este valor está muito longe da única recomendação que dispomos para o consumo de glícidos em jovens futebolistas: 55-60% [16]. O défice de glícidos que caracteriza a nossa amostra corresponde a um panorama que não é original no âmbito do futebol jovem no nosso país. Outros autores encontraram consumos diários de glícidos desajustados para a prática desportiva: 48,7% [10]; 48,5-53,7% [9]. O consumo de glícidos, relativizado ao peso corporal, também apresenta um valor muito baixo (4,48 ± 1,1 g.kg-1. dia-1), quando comparado com os valores mínimos indicados para futebolistas por Hawley et al. [25] e Clark [10] (7 g.kg-1.dia-1). Em estudos realizados em jovens futebolistas, Ruiz et al. [20] encontraram valores entre 4,57 e 6,68 g.kg-1.dia-1, Iglesias Gutierrez et al. [17], um valor médio de 5,6 g.kg-1.dia-1 e Caccialanza et al. [26] valores entre 4,9 e 5 g.kg-1.dia-1. Apesar de serem valores coincidentes ou superiores aos encontrados no nosso estudo, estão abaixo do recomendado para futebolistas por Clark [1] e Hawley et al. [25]. Assim, seja em percentagem do aporte calórico total, seja o consumo relativizado ao peso corporal, a ingestão média diária de glícidos da nossa amostra é inadequada e incompatível com as elevadas exigências energéticas dos treinos e competições. Com este perfil de ingestão nutricional, as reservas de glicogénio no início de cada treino ou no início do jogo tenderão a estar baixas. Com esforços de alta intensidade, como aqueles que são característicos do futebol, com reservas diminuídas de glicogénio muscular atinge-se mais rapidamente a depleção, afectando desta forma a performance dos futebolistas. Como refere Hargreaves [27], um défice marcado deste macronutriente afecta inexoravelmente o rendimento desportivo. Lípidos Segundo várias recomendações, uma dieta saudável não deve ter mais do que 30% do aporte calórico total proveniente das gorduras. Manore et al. [2] e Kirkendall [28] sugerem 15-25% do VET, Giovaninni et al. [29], valores entre os 20-30% do VET, Papodopolou et al. [30] 25-30% do VET e Wilmore & Costill [31] valores a rondarem os 30% do VET. Na única recomendação que dispomos para jovens futebolistas, as propostas são idênticas com Leblanc et al. [16] a recomendar um aporte entre 20-25% do VET proveniente das gorduras. Tabela III - Estatística descritiva referente à ingestão de lípidos da amostra. Média Lípidos (g/dia) 105,4 Lípidos (%VET) 36,7 DesvioPadrão 23,5 3,3 Mínimo 59,4 29,5 Máximo 169,6 44,3 Amplitude 110,2 14,8 As DRI’s recomendadas pelo FNB [32] apontam para valores entre os 25-35% em jovens dos 14 aos 18 anos, o que representa uma excepção aos valores acima citados. No entanto, parece-nos que este alargamento dos valores de referência para o consumo de lípidos se deve ao facto destas recomendações serem feitas especificamente para os indivíduos norte-americanos. Desta forma, estes valores traduzem os hábitos alimentares deste país, onde as taxas de obesidade infantil são muito elevadas. Embora as modernas tabelas nutricionais valorizem o aporte das gorduras vegetais, pensamos que uma redução significativa do aporte de gorduras na dieta de um desportista pode não ter efeitos negativos quanto à saúde nem afectar o rendimento desportivo. No nosso estudo, podemos verificar que a média (36,7%) é superior a qualquer dos valores máximos das recomendações acima referidas, mesmo as DRI’s elaboradas para jovens norte-americanos. O excesso de lípidos na dieta pode constituir um factor de risco para o rendimento e saúde de desportistas, seja pelo contributo acrescido para o aumento do peso corporal dos atletas seja para o eventual aumento da taxa de incidência quanto a uma série de patologias cardiovasculares. O consumo excessivo de gorduras é um facto já verificado em muitos outros estudos. À excepção do estudo efectuado por Giada et al. [33], onde se verificou uma percentagem de 28,3%, valor abaixo do máximo recomendado por diversos autores, outros estudos evidenciam a tendência para consumos excessivos. Craven et al. [34], num estudo efectuado em equipas da English Premier Division encontraram valores de 31,8%, enquanto que Kirkendall [28] encontrou os valores mais elevados (42%). Estudos em jovens futebolistas apresentam o mesmo panorama. Rico-Sanz [18] e Rico-Sanz et al. [19] encontraram em equipas de juniores de elite, respectivamente, 30,1% e 32,4% do VET, Leblanc et al. [16] um valor médio de 34% e Ruiz et al. [20] um valor entre os 38-39,1%. Quanto aos estudos realizados em jovens futebolistas portugueses, Horta [9] encontrou valores entre 30,6-33,6% e Silva [10] um valor de 33,5% do VET. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Os valores médios elevados de ingestão de gorduras, encontrados nos jovens futebolistas, correspondem a uma tendência global, pelo menos na Europa, o que é reforçado pelos estudos de Roland-Cachera et al. [35] que encontraram valores de 36,9% e 41,3% em adolescentes franceses e ingleses, respectivamente e Samuelson [36] que encontrou um valor de 34% do VET em jovens holandeses. Estes estudos incidiram sobre populações de adolescentes não desportistas. No presente estudo, embora os valores de consumo de lípidos não acarretem graves problemas epidemiológicos, podem não corresponder a uma dieta adequada para desportistas, já que o elevado consumo lipídico da nossa amostra corresponde a um reduzido aporte de hidratos de carbono o que pode, em determinados períodos de treino intenso e competição, não providenciar substrato suficiente para a reposição, em tempo útil, das reservas musculares de glicogénio. Proteínas Tabela IV - Estatística descritiva referente à ingestão de proteínas da amostra. MéDesviodia Padrão Proteínas (g/dia) 114,7 22,6 Proteínas (g/kg/ 1,8 0,4 dia) Proteínas (%VET) 18 2,5 Míni- Máxi- Amplimo mo tude 76,2 184,5 108,3 1,0 2,7 1,7 12,6 23,2 10,6 De acordo com Tipton & Wolfe [37], a ingestão proteica adequada é essencial para atletas de desportos de equipa. As proteínas, para além de providenciarem energia através da sua degradação, são necessárias para o crescimento, manutenção e reparação dos tecidos corporais [15]. Além disso, são importantes para a formação de enzimas, hormonas e anticorpos, que ajudam a combater as infecções, diminuindo assim os efeitos lesivos do treino e da competição. Em termos totais, Seeley et al. [38] recomendam 0,8g.kg-1. -1 dia , enquanto que outros autores defendem 0,85g.kg-1.dia-1 [32], 1,2 a 1,4 g.kg-1.dia-1 [2] e 1,4 a 1,7 g.kg-1.dia-1 [39]. Há ainda que acrescentar que Tipton & Wolfe [37] recomendam para atletas de força e velocidade consumos de 1,2-1,7g.kg-1. dia-1, enquanto para atletas de endurance valores de 1,2-1,4g.kg-1.dia-1. Pensamos que os aportes proteicos têm de estar ajustados ao perfil de treino. Assim, em períodos de ganho de força e massa muscular podemos aumentar a quantidade de proteínas ingerida, enquanto que em fases de manutenção essa ingestão pode ser mais reduzida. No nosso estudo encontrámos valores de ingestão proteica de 1,8 g.kg-1.dia-1, que é um valor superior a qualquer uma das recomendações acima citadas. A excessiva ingestão proteica parece ser um traço característico da alimentação de outros jovens futebolistas portugueses [9,10]. Relativizando o aporte proteico ao consumo energético total (VET) verificamos que a nossa amostra excede as recomen- 117 dações, já que Seeley et al. [38] recomendam 12%, Giovannini et al. [29] 12-14%, enquanto Manore et al. [2] e Papodopolou et al. [30] recomendam 12-15%. Rego [7] aconselha um valor percentual de 15% para jovens desportistas, e um valor semelhante é encontrado nas recomendações providenciadas por Leblanc et al. [16] para jovens futebolistas. Excessivos aportes proteicos parecem ter efeitos negativos sobre a saúde do osso já que tendem a promover uma superior taxa de excreção urinária de cálcio. No entanto, embora a taxa de excreção urinária de cálcio aumente com uma elevada ingestão proteica, aumenta também a taxa de absorção de cálcio pelo osso [40]. De igual forma, a excessiva acidificação induzida pelo aporte proteico fora das recomendações pode ser contrabalançado pelo efeito alcalinizante de uma ingestão adequada de frutas e vegetais [41]. É de aceitar a hipótese de excessivos aportes proteicos poderem produzir alguns efeitos adversos, já que se comprovou a toxicidade de alguns aminoácidos – metionina, cisteína e histidina quando tomados em quantidade elevadas [42]. No entanto, uma dieta normal, mesmo com aportes elevados de proteínas não deve promover respostas metabólicas próximas da toxicidade. No entanto, podemos especular que um habitualmente excessivo aporte proteico da dieta, pelo superior trabalho hepático de desaminação que exige, aliado a digestões mais difíceis e prolongadas e desidratação devido à perda de água associada à excreção de azoto, pode interferir negativamente com a performance física. Acresce que as proteínas em excesso podem ser transformadas em gordura onerando o movimento humano com peso supérfluo. Comparando com estudos realizados em desportistas, verificamos que Giada et al. [33] encontraram valores de 15,9% do VET e Craven et al. [34], valores de 16,2%. Em jovens futebolistas, Rico Sanz [18] e Rico-Sanz et al. [19] encontraram valores de ingestão de proteínas de 14,5% e 14,4% do VET, respectivamente e Leblanc et al. [16], 17,5% do VET. Já Ruiz et al. [20] encontraram valores entre 15,2% e 17,7%, enquanto que no estudo de Caccialanza et al. [26] o consumo percentual de proteínas se situa entre 16,6% e 17%. Nestes últimos três estudos, encontramos valores mais coincidentes com o nosso estudo. O mesmo se verifica se particularizarmos para estudos realizados em jovens futebolistas portugueses: 17,8% [10], 15,7-17,8% [9]. No entanto, apesar do valor médio do presente estudo exceder as recomendações para a ingestão deste macronutriente, parece-nos que este excesso não será um factor problemático para atletas, pois está segundo Bilsborough & Mann [43], abaixo dos valores de toxicidade proteica (25% do aporte energético total). De referir que mesmo o valor máximo do nosso estudo (23,2%), encontra-se abaixo desse valor limite. Pensamos que o problema da nossa amostra reside menos no excessivo aporte de proteínas e mais no facto de o excesso de ingestão proteica ser feito a expensas de um reduzido aporte de hidratos de carbono, o que vai estabelecer um quadro nu- 118 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 tricional incompatível com esforços de elevada intensidade e repetidos no tempo, como são os característicos do futebol. Composição corporal Tabela V - Estatística descritiva referente ao peso corporal, estatura, índice de massa corporal e percentagem de gordura corporal. Peso (kg) Estatura (m) IMC (P/E2) Massa Gorda (%) Média 66 1,74 21,8 13,7 DesvioPadrão 7,9 0,74 2 2,9 Mínimo 50,0 1,60 18,2 8,9 Máximo 90,5 1,88 27,2 21 Amplitude 40,5 0,28 9 12,1 A composição corporal é um aspecto importante para a performance de um futebolista, uma vez que um excesso de massa adiposa actua como um “peso morto” em actividades nas quais a massa corporal deve ser repetidamente levantada, contra a acção da gravidade [44]. O mesmo autor complementa a afirmação acima supracitada, referindo que em diferentes modalidades, entre as quais o futebol, uma baixa quantidade de massa gorda tem uma correlação positiva com a intensidade de treino. Na nossa amostra, o valor médio no que diz respeito ao Índice de Massa Corporal (IMC) é de 21,8. Segundo os graus de classificação de obesidade elaborados por Garrow [45], a nossa amostra encontra-se no grau 0 (grau da normalidade). Através desta classificação, e fazendo uma análise individual dos jovens futebolistas, verificamos que 4 deles apresentam valores superiores a 25 kg/m2, encontrando-se no grau 1 (excesso de peso). No entanto, há que atentar que o cálculo do IMC isoladamente tem as suas limitações. Isto, porque como refere Rodrigues dos Santos [12], o IMC não distingue a muscularidade do excesso de massa gorda. Sendo assim, reforçamos os dados do IMC com a determinação da percentagem de gordura corporal [11]. Bubb [46] apresenta valores de referência para a percentagem de massa gorda, de 5% a 13% para indivíduos desportistas e 12% a 18% para sujeitos normais considerados saudáveis. A percentagem média de massa gorda da nossa amostra (13,7 ± 2,9%) excede ligeiramente os valores tidos como recomendáveis para desportistas. Apesar de não termos realizado correlações entre os vários indicadores nutricionais e os indicadores de composição corporal, o elevado consumo de gorduras, principalmente as gorduras saturadas, pode ser uma explicação para que o nosso valor médio exceda ligeiramente os valores recomendados [47]. Outros estudos verificaram, em futebolistas, valores médios de percentagem de massa gorda de 14,7% [48] e 10,6% [49]. Os valores encontrados nestes dois estudos permitemnos verificar a diversidade das amostras quanto à composição corporal. Como afirma Santos [50] os jogadores de futebol necessitam de uma certa quantidade de massa gorda para funcionar quer como insulação quer como proteção em relação aos choques e quedas. Os valores médios de massa gorda de futebolistas profissionais da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª divisões, encontrados por Rodrigues dos Santos [50] foram de 11.5 ± 2.5. Particularizando para estudos efectuados em jovens futebolistas, os valores encontrados foram todos inferiores ao do nosso estudo, e dentro das recomendações para desportistas: Ruiz et al. [20]: 11,4-11,9%, Rico Sanz [18]: 10% e Rico Sanz et al. [19]: 7,6%. Dada a amplitude da nossa amostra, pareceu-nos pertinente analisar pormenorizadamente os valores de %MG de cada jovem futebolista. Sendo assim, uma percentagem elevada (47%) da nossa amostra ultrapassa o valor máximo recomendado para desportistas por Bubb [42] (13% MG). Estes futebolistas possuem níveis de gordura corporal incompatíveis com a condição de desportista, podendo trazer consequências negativas para a performance desportiva. A este respeito, Santos [12] refere que o excesso de peso pode ser um obstáculo para o rendimento desportivo, pois um acúmulo exagerado de gordura supérflua afecta a economia de esforço e mesmo a coordenação motora. Como fizemos a recolha dos dados no início da época, os valores médios elevados da nossa amostra podem estar relacionados com o acúmulo normal de gordura no período de transição. Acreditamos que o avançar do processo de treino irá progressivamente reduzindo a massa gorda dos futebolistas que estudámos. Conclusão Os dados do nosso estudo parecem evidenciar uma inadequada ingestão alimentar dos futebolistas que participaram no Campeonato Nacional de Juvenis de Futebol, na época desportiva 2006/2007, quer em termos quantitativos quer em termos qualitativos. Em termos quantitativos, a ingestão calórica diária dos jovens futebolistas foi insuficiente para suportar as exigências energéticas que o futebol exige. Já em termos qualitativos, os jovens futebolistas apresentam um excesso de consumo de gorduras e proteínas em detrimento dos hidratos de carbono. Isto implicará uma maior dificuldade para suportar os esforços prolongados de elevada intensidade característicos do futebol, uma vez que os hidratos de carbono são o único macronutriente que pode ser metabolizado anaerobicamente. No nosso estudo encontrámos uma percentagem de massa gorda nos jovens futebolistas ligeiramente superior ao valor recomendado para desportistas. Este valor parece-nos estar associado com o excesso de consumo de gorduras (principalmente as saturadas), pelo que pensamos que os jovens futebolistas do nosso estudo devem ser objecto de uma intervenção nutricional que reajuste este panorama nutritivo. Referências 1. Clark K. Nutritional guidance to soccer players for training and competition. J Sports Sci 1994;12(special issue):43S-50S. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 2. Manore M, Barr S, Butterfield G. Nutrition and athletic performance. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 121 Artigo original Efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima em adolescentes não treinados Time of day effects in isometric strength development in untrained adolescents José Eduardo Lattari Rayol Prati*, Sergio Eduardo de Carvalho Machado**, Edmilson Batista de Carvalho***, Vernon Furtado da Silva**** *Mestrando em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora – IPUB/UFRJ, **Doutorando em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora – IPUB/UFRJ, Professor da Universidade Castelo Branco - UCB, ****Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, RJ Resumo Abstract O presente estudo investigou os efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima em adolescentes não treinados. Participaram do estudo 20 adolescentes na faixa etária 15 a 17 anos, gênero masculino. 10 participantes treinaram força isométrica máxima no horário vespertino entre 15:00 h e 18:00 h e os outros 10 treinaram o mesmo em horário diurno entre 7:00 h e 10:00 h. Ambos os grupos foram submetidos a um teste de força isométrica máxima para os músculos flexores de cotovelo para qual foi utilizado um transdutor de força Biopac de modelo TSD130c. O treinamento foi realizado em dias alternados, em horários vespertinos para um grupo e diurno, para o outro. O programa ocorreu em 3 sessões semanais durante 4 semanas, onde 3 séries de 5 contrações máximas com 5 segundos e intervalo de 1 minuto foram executados. Os resultados revelaram uma diferença significativa entre os períodos, sendo p < 0,05, favorecendo o grupo treinado no horário vespertino. Conclui-se que o treinamento de força isométrica realizado no horário vespertino produziu maiores ganhos de quando comparados ao horário diurno para esses adolescentes. The present study investigated the time of day effects in maximum isometric strength development in untrained adolescents. 20 male adolescents 15 to 17 years old participated in the study. 10 participants trained maximum isometric strength in the afternoon between 3:00 and 6:00 pm, and 10 trained the same exercise, in the morning between 7:00 and 10:00 am. Both groups were submitted to a test of maximum isometric strength for the elbow flexor muscles where a Biopac force transdutor model TSD130c was used. The training was performed in alternate days, in the evening for a group and in the morning for the other. The program was scheduled in 3 sessions/week during 4 weeks, where 3 sets of 5 maximum contractions for 5 seconds and 1 minute interval were performed. The results demonstrated a significant difference among the periods, being p < 0.05, favoring the group in the evening schedule. It was concluded that the isometric strength training accomplished in the evening produced better results when compared to the training developed during the morning for those adolescents. Key-words: time of day, isometric strength, adolescents. Palavras-chave: horário do dia, força isométrica, adolescentes. Endereço para correspondência: José Eduardo Lattari Rayol Prati, Estrada do Mendanha, 1665, casa 59 Campo Grande 23087-286 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]. 122 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução Nos últimos anos, muito se têm discutido em relação à influência dos ritmos circadianos (as 24 h do ciclo circadiano completo) em vários índices do desempenho muscular. Sugere-se que os maiores ganhos seriam conseguidos quando o treinamento fosse executado em um horário particular. A especificidade temporal pode significar que, independente do horário do dia, a adaptação ao treinamento será maior se o treinamento for executado em um horário particular [1]. Estudos relatam que o desempenho muscular máximo é melhor geralmente mais para o final da tarde, no pico da curva da temperatura corporal [2-4]. Outros estudos demonstram que ocorre uma influência significativa de um ritmo circadiano na contração voluntária máxima [5] e no pico de torque isocinético [2] caracterizada por uma acrofase (tempo do valor do pico) atrasada pela tarde. A magnitude da variação diária de força difere de acordo com o grupo muscular testado, a modalidade da contração e da duração do esforço, conforme mostra o estudo de Coldwells et al. [6] no qual se verificou uma variação de pico de 17,9% para a extensão isométrica máxima do joelho. Os achados de Deschenes et al. [5] verificaram um efeito significativo do horário do dia no pico do torque concêntrico máximo dos músculos extensores do joelho a uma velocidade angular de 3.14 rad s¯1. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo, verificar os efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima em sujeitos destreinados. Material e métodos Amostra transdutor do equipamento foi usado como elo central de uma corrente de aço. Uma ponta da corrente estava fixada numa base rígida e do outro lado foi posta uma barra reta curta ou uma manopla padrão utilizada em salas de musculação. Para tal foram adotados os seguintes procedimentos: o indivíduo foi posicionado de pé, com os pés apoiados no solo, joelhos levemente flexionados, estando o comprimento da corrente ajustada para permitir que o cotovelo estivesse numa posição de 90o determinado por meio de um goniômetro pelos pontos anatômicos acromial, epicôndilo lateral do úmero e processo estilóide do rádio; a pegada utilizada foi a de supinação para evitar possíveis aumentos na co-ativação do tríceps braquial. Ao comando, o indivíduo tinha que realizar a flexão de cotovelo o máximo que pudesse durante 6 segundos, puxando a manopla presa à base fixa, realizando assim, uma contração isométrica voluntária máxima dos flexores de cotovelo. Programa de treinamento A carga de treinamento foi determinada através do teste de força dinâmica máxima (1RM) na polia inferior do aparelho pulley. A carga obtida no teste de 1 RM foi adotada durante o treinamento isométrico máximo. O protocolo de treinamento de força isométrica máxima consistiu de três sessões semanais realizadas durante 4 semanas de treinamento. O treinamento foi realizado por um grupo no horário diurno entre 7:00 h e 10:00 h e por outro grupo no horário vespertino entre 15:00 h e 18:00 h, com exercícios de flexão de cotovelo, estando a uma angulação 90o, no aparelho de musculação (pulley baixo). Foram realizadas 3 séries de 5 contrações isométricas máximas de 5 segundos, com intervalo de 1 minuto entre cada uma dentro dos respectivos horários. Análise estatística Foram selecionados 20 adolescentes do sexo masculino, idade entre 15 e 17 anos, não treinados e não apresentando qualquer distúrbio físico ou mental. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em dois grupos compostos por dez indivíduos, um grupo referente ao horário matutino (7:00 h e 10:00 h) e o outro grupo referente ao horário vespertino (15:00 h e 18:00 h). O presente estudo atendeu as Normas para a Realização de Pesquisa em Seres Humanos, Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996. Avaliação da força muscular Cada participante se submeteu a um teste de flexão do cotovelo para se determinar a força isométrica máxima dos músculos envolvidos, antes e depois do programa de treinamento dentro do referido horário estabelecido para o treinamento. Foi utilizado um transdutor de força Biopac de modelo TSD130c (Biopac System Inc., Santa Barbara CA). O A análise de dados foi realizada através de estatística descritiva, na qual se incluiu a relação de média e desvio padrão das diferenças de ganhos obtidos pelos grupos. Além disto, foi realizado um teste t pareado sobre os valores médios dos grupos, e um Teste t de Student para amostras independentes sobre os ganhos percentuais individuais, tendo como nível de significância (p ≤ 0,05). Resultados Através da análise de dados comparando-se os valores médios, verificou-se que tanto o grupo matutino (GM) quanto o grupo vespertino (GV) apresentaram aumentos significativos de força. Porém o GV foi superior ao grupo diurno GM. Tais resultados puderam ser observados quando foi aplicado o teste t pareado comparando os resultados dos testes com os resultados dos re-testes em cada um dos grupos, conforme mostra a Tabela I. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 123 Tabela I - Teste t pareado para o GM e GV. Testes Média (kg) Diferença entre teste e re-teste p Teste GM 22,77 ± 0,85 2,66 ± 0,12 0,000 Os percentuais de ganho de cada um dos indivíduos foram calculados aplicando a seguinte fórmula: % de ganho = ((Pós-teste x 100) / pré-teste) – 100. Portanto optou-se pela utilização do teste t de Student para amostras independentes presumindo variâncias equivalentes. Dessa maneira, verificouse que a diferença encontrada nas médias dos ganhos percentuais foi significativa (p = 0,000), revelando uma superioridade do grupo vespertino em relação ao grupo diurno, conforme mostra a Tabela II. Tabela II - Teste t para amostras independentes. Médias Diferença entre as médias de ganhos % do G2 – G1 P Ganhos % GM Ganhos % GV 4,20 ± 0,37 5,73 ± 1,29 1,53 ± 0,82 0,000 Discussão O presente estudo tem como objetivo verificar os efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima em adolescentes não treinados. Nossos resultados mostraram uma superioridade do grupo que realizou treinamento no horário vespertino em relação ao que realizou no horário matutino, apresentando valores mais significativos de força isométrica máxima. Corroborando com nossos resultados, Gauthier et al. [7] verificaram em jovens saudáveis uma maior eficiência neuromuscular (pico) às 18:00 h, juntamente com uma maior ativação muscular também às 18:00 h em contrações isométricas máximas e sub-máximas de flexão do cotovelo. De maneira bastante semelhante, Gauthier et al. [3] também observaram um pico de torque por volta das 17:55h. A temperatura tem sido indicada como uma possível variável influenciadora nessa resposta da força. Muitos estudos mostram que as diversas manifestações da força muscular atingem seu ápice no período vespertino entre 14 e 19 horas [8,10,11]. Partindo desse mesmo princípio, Cappaert [9] verificou que o horário vespertino propiciou melhores resultados na realização de testes de força isocinético e isotônica de flexão e extensão de joelho e isotônica de preensão manual. Porém, independentemente da temperatura, os aumentos de força são superiores no horário vespertino em relação ao matutino, conforme indica o estudo de Racinais et al.[12]. Nesse estudo foram demonstrados que quando os sujeitos eram expostos em ambientes aquecidos ocorria aumento da potência muscular, porém esse aumento era superior no horário vespertino em relação ao matutino. Talvez esse aumento da temperatura Re-teste GM 25,43 ± 0,73 Teste GV 26,98 ± 1,15 4,18 ± 0,20 0,000 Re-teste GV 31,16 ± 0,95 corporal, possa ser o desencadeador de um comando central enviando informações adicionais vias cortico-espinais, aumentando assim, a frequência de disparos das unidades motoras [13]. Entretanto, há de se ressaltar, que a temperatura parece não ser a justificativa principal para o aumento da força muscular, já que no estudo realizado por Racinais et al. [14] foi verificado que uma exposição em ambiente quente, tanto no horário vespertino quanto no matutino, não promoveu efeitos passivos de aquecimento. Diversas evidências levam a crer que as diferenças na força muscular em diferentes horários do dia não ocorrem somente por alterações na temperatura corporal [13]. Tais diferenças também podem ser atribuídas a alterações de parâmetros como níveis intracelulares do Pi, liberação de Ca2+ e sensibilidade da fibra do músculo ao Ca2+14, além de diferenças hormonais durante o dia, como observado através de concentrações de cortisol plasmático, beta-endorfina e de catecolaminas na urina [15]. O ritmo circadiano hormonal possui importantes flutuações durante o dia podendo influenciar diretamente nesse processo. A relação testosterona/cortisol se dá de forma diferente no horário vespertino (18:00 h) quando comparado ao horário diurno (6:00 h). Tais resultados foram demonstrados pelo estudo de Bird e Tarpenning [16] onde as concentrações de cortisol no pré-exercício foram significativamente mais baixas na sessão vespertina (18:00 h). Isto resultou em um valor de pico mais baixo, acompanhado por um aumento da testosterona, sugerindo um ambiente catabólico reduzido. Conclusão Conclui-se que o horário vespertino foi o mais apropriado para desenvolver maiores níveis de força isométrica máxima. Com isso, atividades que necessitam desempenhar força isométrica máxima, como, por exemplo, a ginástica olímpica, há necessidade de realizar exercícios estáticos específicos em determinados ângulos. Partindo desses princípios, o horário mais adequado para realização de treinamentos seria o vespertino. Recomenda-se, portanto, que sejam realizados novos estudos relacionados à força, em outros horários, como o noturno, utilizando outros tipos de ação muscular, tais como a concêntrica e excêntrica, e também a isocinética. Além disso, sugerimos a utilização de diferentes equipamentos, como a Eletroencefalografia quantitativa (EEGq), na busca de melhor compreender a influencia dos horários do dia nos mecanismos centrais relacionados à força muscular. 124 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Referências 1. Hill DW, Leiferman JA, Lynch NA, Dangelmaier BS, Burt SE. Temporal specificity in adaptations to high intensity exercise training. Med Sci Sports Exerc 1998;30:450-5. 2. Deschenes MR, Kraemer WJ, Bush JA, Doughty TA, Kim D, Mullen KM et al. Biorhythmic influences on functional capacity of human muscle and physiological responses. Med Sci Sports Exerc 1998;30:1399-407. 3. Gauthier A, Davenne D, Gentil C, Van Hoecke J. Circadian rhythm in the torque developed by elbow flexors during isometric contraction: effect of sampling schedules. Chronobiol Int 1997;14:287-94. 4. Gauthier A, Davenne D, Martin A, Van Hoecke J. 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O objetivo do artigo foi verificar a incidência de lesões osteomioarticulares em atletas fisiculturistas de Juiz de Fora/MG. Foi elaborado um questionário para os atletas contendo perguntas sobre as características de seu treinamento e possíveis lesões ocorridas. Foram entrevistados 30 fisiculturistas de faixa etária variada. Mais da metade dos atletas (86,6%) afirmou já ter sofrido alguma lesão decorrida do esporte. O ombro, o cotovelo e a coluna foram os segmentos corporais mais citados. Baseado nos resultados obtidos, concluímos que os atletas fisiculturistas estão suscetíveis a diversos tipos de lesões, devido à sobrecarga a que são expostos. The bodybuilding is a sport in which athletes seek the best training muscle through weight training. The aim of this study was to verify the incidence of osteomioarticular lesions in bodybuilder athletes’ of Juiz de For a/MG. A questionnaire about training and possible lesions was applied. 30 bodybuilding athletes of different ages were interviewed. More than half of the athletes (86.6%) claimed to have already suffered lesions during practice. Among the most cited lesions were the shoulder, the elbow and the column. Based on the results, we concluded that the bodybuilding athletes are susceptible to different types of injuries due to the overload they are exposed to. Key-words: bodybuilding, training, overload, injuries. Palavras-chave: fisiculturismo, treinamento, sobrecarga, lesões. Endereço para correspondência: Artur Laizo, Av. Barão do Rio Branco, 2644/302 Centro 36016-311 Juiz de Fora MG, Tel: (32) 32133705, E-mail: [email protected], [email protected] 126 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução O fisiculturismo é um esporte cujo objetivo é buscar através da musculação, ou seja, por meio de exercícios resistidos, a melhor formação muscular, que visa o desenvolvimento do volume e da definição dos músculos e da simetria corporal. A estimulação das fibras musculares, pelo princípio da sobrecarga leva o tecido à fadiga, que associada a uma ingestão correta de nutrientes e um repouso adequado para a reparação tecidual ocorre o desenvolvimento dessas fibras [1-3]. O culturismo, como é chamado por alguns, teve início no final do século XIX, quando surgiu um novo interesse no idealismo do corpo humano. Nessa época a tradição antiga de levantar pesos evoluiu dentro do esporte moderno. Com o tempo, estes atletas começaram a perceber que não importava somente a força muscular, mas também uma maneira de mostrar a definição e o volume dos músculos [1,2]. Surgiram, então, grandes nomes no fisiculturismo internacional, tais como: Eugen Sandow (1890), Reg Park (1950), Clarence Ross (1960), entre outros. Assim, o fisiculturismo com toda essa competitividade, através da Federação Internacional de Body Building (IFBB), no começo do século XX, foi oficializado como um esporte, em que se tem o objetivo de julgar o corpo mais musculoso aparentemente [2]. O esporte se concretizou por volta dos anos 80 e 90. Várias técnicas de treinamento foram sendo desenvolvidas e muitos atletas, por estarem experimentando novos tipos de treinamento, acabavam se lesionando de alguma forma [1,2]. Os fisiculturistas observam que o tempo de repouso influencia tanto na recuperação dos músculos (desenvolvimento muscular), quanto para a prevenção das lesões. O trabalho de um culturista é muito intenso, pois requer um treinamento periodizado de hipertrofia, resistência e força muscular. Por ser um esporte em que o corpo é submetido ao extremo, em alguma dessas etapas, surgem às lesões. Elas podem ter o caráter ósseo, muscular ou articular (tendões, ligamentos e cápsulas articulares) [3,4]. As lesões nos músculos, tendões ou ligamentos podem ocorrer de vários modos. Um deles é o trauma direto, como uma pancada com um objeto grosso ou agudo, causando uma contusão (escoriação) ou uma laceração. Outro meio é decorrente do esforço causado pelo uso excessivo dessas estruturas ou por um único episódio violento, como uma força de estiramento súbito aplicada sobre um músculo que está executando uma contração vigorosa, quando a força aplicada é mais forte que a capacidade da estrutura resistir à ruptura, como no caso do fisiculturismo [1]. A ruptura destas estruturas pode ser parcial ou completa e pode ocorrer na ligação entre músculos e tendões, no tendão ou onde o tendão se liga com o osso. De certo modo, o tendão ou músculo é vencido pela resistência pela qual está trabalhando, e a área de menor resistência é o local da lesão. Algumas fibras podem ser rompidas ou toda estrutura pode se romper [1,5]. Na maioria dos casos o estiramento é leve, simplesmente um estiramento dos músculos, sem uma ruptura apreciável. Isso resulta em dor e desconforto aos movimentos, e um espasmo muscular subsequente. Em lesões mais graves, com rupturas de algumas fibras, os sintomas são mais fortes. A dor e o desconforto são mais intensos e há edema e limitação dos movimentos [1]. Os tendões são estruturas formadas por tecido conjuntivo denso (fibras de colágeno) que fazem a ligação entre o músculo e o osso. Por isso, várias lesões tendíneas estão intimamente ligadas à fadiga sofrida pelo músculo, que, por sua vez, é acometido na maioria das vezes por uma distensão ou estiramento, que é o rompimento parcial ou total das fibras. Por outro lado, pode-se ter apenas uma inflamação no tendão gerada por excesso de sobrecarga, por alterações anatômicas ou por traumas, que são chamadas de tendinites [5-7]. Como essas lesões são causadas principalmente por contrações excêntricas contínuas e intensas, outras estruturas podem ser danificadas, como é o caso da fratura por stress, onde é gerada uma contração tão forte que o tendão e o músculo com o máximo de estiramento não suportam a sobrecarga e acabam entrando em fadiga, gerando microtraumas nas estruturas ósseas [5,10]. Nas articulações várias estruturas e tecidos podem ser lesados, como os ligamentos, que são formados por tecido conjuntivo fibroso relativamente inelástico e que tem a função de unir ossos e outras estruturas anatômicas. Os ligamentos podem ser danificados por excesso de esforço, por traumas ou por alterações biomecânicas. Esses danos podem ser observados com o rompimento das fibras [6,5]. Outra estrutura ainda dentro da articulação é a bursa, que são as “bolsas” contendo líquido sinovial e têm a função de diminuir impactos e fricção nas estruturas articulares. A inflamação deste tecido é causada por uma irritação crônica da membrana sinovial, por aumento do atrito da bursa com outras estruturas, ou por traumas, e dá-se o nome de bursite. Pode ocorrer também luxações ou subluxações quando pelo menos um osso, em uma articulação, é forçado para sair do seu alinhamento normal e próprio, podendo ser total, como é o caso da luxação, ou parcial, como é o caso da subluxação [5,6]. O objetivo deste trabalho foi verificar a incidência das lesões ósseas, musculares e articulares em atletas fisiculturistas do sexo masculino na cidade de Juiz de Fora/MG. Material e métodos A metodologia empregada neste estudo tem caráter descritivo e quantitativo. Os atletas avaliados foram escolhidos intencionalmente tendo como parâmetros de inclusão, apresentar mais de dois anos de treinamento sem grandes períodos de pausa (mais de dois meses), ser do sexo masculino e realizar Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 treinamento na cidade de Juiz de Fora/MG. A coleta dos dados foi realizada no período de 01 a 26 de setembro de 2008, no horário de treinamento dos atletas e nas próprias academias em que treinavam. Foram avaliados 30 fisiculturistas de 9 academias da cidade, com idade entre 19 e 41 anos. Os dados foram coletados após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Para a realização da pesquisa, todos os atletas responderam a um questionário padronizado, composto de 15 questões objetivas (Anexo). Essas perguntas informavam não só a história patológica do atleta (HPP), como também sobre o seu treinamento e se apresentavam algum tipo de lesão (óssea, muscular ou articular) e suas características. Obtiveram-se informações sobre o tipo de lesão que mais ocorreu e qual a articulação mais acometida. Com a relação dessas lesões os dados foram apresentados na forma de planilhas eletrônicas construídas no programa Microsoft Excel, onde houve a correlação do tipo de lesão, incidência e local ocorrido. Resultados Dos 30 fisiculturistas entrevistados, observou-se à incidência de lesões em todas as idades (Tabela I). 127 Gráfico 2 - Tipos de lesões musculares (%). Dentre as contraturas musculares os músculos mais citados foram os paravertebrais e rombóides. Em relação aos estiramentos foram citados os músculos adutores (2%), bíceps (2%), coluna vertebral – incluindo paravertebrais, trapézio e rombóides (2%), deltóide (2%), isquiocrurais (2%) e, em sua maioria, o músculo peitoral (8%). O grupo muscular citado com lesão inflamatória ou mesmo lesão tendínea foi o manguito rotador com 12%. Do total das lesões citadas pelos atletas 46,0% foram lesões tendíneas. Os tendões foram analisados em estiramentos, inflamações ou tendinite, degenerações ou tendinose e/ou rompimento total (Gráfico 3). Gráfico 3 - Tipos de lesoões tendíneas (%). Tabela I - Incidência de atletas. Idade Número de atletas Até 20 anos 1 20 – 25 anos 11 25 – 30 anos 6 30 – 40 anos 10 Mais de 40 anos 2 Porcentagem 3,3% 36,6% 20,0% 33,3% 6,6% Do total dos entrevistados, 86,6% já sofreram alguma lesão decorrida do fisiculturismo, sendo estas musculares, tendíneas e/ou ligamentares (Gráfico 1). Gráfico 1 - Tipos de lesões (%). Os tendões apresentados como estiramento foram o patelar, dos extensores de punho, do tríceps e do supra-espinhoso com 2% cada. Em rompimento total foi apenas o tendão de Aquiles. Na tendinite que teve o maior número de atletas com tal lesão foram encontrados os tendões da porção longa do bíceps (2%), do supra-espinhoso (2%), do tríceps (8%), dos extensores de punho – epicondilite lateral (8%) e patelar (14%). Como tendinose ou degenerações apenas um atleta relatou nos extensores de punho. Do total das lesões citadas pelos atletas 10,0% foram lesões ligamentares. Esses tipos de lesões foram divididos em rompimento parcial e rompimento total (Gráfico 4). Gráfico 4 - Tipos de lesões ligamentares (%). Do total das lesões citadas pelos atletas 44,0% foram lesões musculares. Essas lesões foram divididas em contraturas, estiramento ou inflamação (Gráfico 2). 128 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Em relação à incidência de lesões ligamentares, apenas o cruzado anterior (LCA) apresentou rompimento total, e os ligamentos que estabilizam a articulação do ombro (não foram diferenciados) foram citados em rompimentos parciais. Em relação à localização das articulações acometidas, o ombro e o cotovelo foram os segmentos corporais mais citados, seguidos por joelho, coluna vertebral e punho (Gráfico 5). Gráfico 5 - Articulações acometidas (%). Discussão O treinamento de força, na maioria das vezes, está associado ao aumento de massa muscular, sendo um meio para atingir uma hipertrofia adequada, como no caso do fisiculturismo, e para o aumento de força máxima e potência muscular, importante para muitos outros esportes [11]. Os fisiculturistas buscam alcançar determinado padrão estético peculiar a essa modalidade, ultrapassando os limites fisiológicos humanos. Assim, os mesmos estão sujeitos a uma série de lesões desprovidas de vários fatores relacionadas ao treinamento. As possíveis causas dessas lesões são treinos excessivos, uso impróprio das técnicas de treinamento ou a combinação de ambos [7-9,12]. No presente estudo, os atletas que relataram sentir alguma dor ou desconforto, 85,7% das dores surgiram dos casos em exercícios moderados a pesados, contra apenas 7,1% em estado de repouso. Com isso, observou-se que essas dores foram por excesso de carga e de treinamento, pois, 96,6% dos atletas entrevistados treinavam de uma a duas horas por dia e, 93,3% de quatro a seis vezes por semana em que 89,9% diziam de maneira subjetiva, treinar de pesado a muito pesado, se comparado à repetição máxima (RM) de cada um [13]. Acredita-se que, apesar dos fisiculturistas treinarem por anos com alto volume e intensidade, estes atletas apresentam um nível de lesão osteomioarticular inferior aos da população normal, devido ao desenvolvimento de maior resistência das estruturas articulares causado pela maior deposição de fibras colágenas nos tendões e ligamentos [15]. Estudos mostram que alguns seguimentos corporais, como o ombro e o cotovelo, são mais provenientes às lesões devido ao fato de estarem interligados ao grande número de estruturas musculares, tendinosas e ligamentares que circundam a região [4,7,15]. Constatou-se, neste estudo, a ocorrência de todos os tipos de lesões musculares, tendinosas e ligamentares. Nas lesões musculares, observou-se que as contraturas afetaram mais a região da coluna, pelo fato de a musculatura da região de paravertebrais ou os multífidos ter mais a função de estabilização e não de força, não aguentando a sobrecarga imposta pelo atleta, como exercícios para membros inferiores de cadeia cinética fechada, em que a sobrecarga na coluna é maior, gerando nos pequenos músculos da coluna um espasmo muscular [4]. Nos estiramentos foram citados músculos de diversas áreas do corpo, como membros superiores, membros inferiores e parte anterior do tronco. Vários atletas por compensarem alguns músculos, acabam fadigando o que pode gerar a ruptura parcial da estrutura, ou seja, os estiramentos. No caso dos estiramentos, o músculo mais citado foi o peitoral maior com 8% de todas as lesões. Embora seja muito requisitado pelos culturistas, pelo fato de ser um músculo sobressalente em todas as poses, o peitoral maior auxilia em vários movimentos do ombro sendo, portanto, sinergista em alguns exercícios, como para o fortalecimento de ombro, bíceps e tríceps [1618]. Estudos demonstraram que vários exercícios para o peitoral podem gerar de inflamações a estiramentos graves, como mostra um estudo feito no Centro de Traumatologia e Ortopedia da Universidade Federal de São Paulo, em que mostra a incidência de inflamações e estiramentos do peitoral maior em levantadores de peso [8]. Como inflamação, o manguito rotador foi citado como 10% de todas as lesões, pelo mesmo fato dos paravertebrais, os quatro músculos do manguito (supra-espinhal, infra-espinhal, sub-escapular e redondo menor) têm a função de estabilizar o complexo articular do ombro. Por não ser o responsável por proporcionar força aos movimentos do braço, o manguito acaba sendo lesado por uso indevido dos atletas em exercícios inadequados que submetem a articulação a amplitudes exageradas [5,4]. Nas lesões tendíneas, a tendinite foi à lesão mais acometida, com 34% de todas as lesões. Porém, vários atletas não souberam diferenciar os tendões acometidos. Foi citado apenas o tendão do supra-espinhoso na região do ombro, do tríceps e dos extensores de punho na região do cotovelo e o tendão patelar na articulação do joelho. Os mais acometidos foram o tendão dos extensores de punho e do tríceps (16%). A justificativa é o fato de que estes músculos auxiliam o movimento de vários exercícios para grupamentos musculares e por serem músculos pequenos não suportam tal sobrecarga, ocorrendo uma inflamação no complexo músculo-tendão, pois com o tempo estas fibras não acompanham o desenvolvimento muscular [1,5,4,7]. No joelho o tendão patelar é composto por quatro músculos: vasto medial, vasto lateral, vasto intermédio e reto femural. Por isso, para hipertrofiar e recrutar todo o grupamento Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 muscular é necessário força excessiva, isto é, levantar muito peso, inflamando assim o tendão, que ao passar dos anos não suporta tal sobrecarga [1,5,4,7]. As lesões ligamentares foram poucas em relação aos outros tipos de lesões (musculares e tendíneas) com 10% das lesões. Sendo um rompimento total de LCA, provavelmente relacionado a sobrecargas na articulação ou por alterações biomecânicas, e quatro rompimentos parciais no cotovelo e ombro, talvez pelos mesmos fatores [1,5,19]. A lesão ligamentar pode ocorrer por excesso de esforço, resultando em dano à substância ligamentar ou ao seu local de ligação [4]. Vários são os ligamentos e estruturas que estão associados ao complexo de articulações do ombro, porém, alguns são mais suscetíveis a lesões pela própria biomecânica, como os ligamentos glenoumerais, coracoumeral e os tendões dos músculos subescapulares, supra-espinhoso, infra-espinhoso e redondo menor que se fundem à cápsula articular. Entretanto não foram analisados danos específicos na cápsula articular ou de outras estruturas articulares, devido aos atletas não saberem sobre a patologia acometida [4]. Neste estudo todas as articulações foram envolvidas, as do ombro e do cotovelo foram as mais lesadas, junto a várias estruturas que circundam a região ou até mesmo as que se inserem, como o peitoral maior que se insere na tuberosidade do úmero [15]. Na localização das lesões ligamentares e tendíneas, verificaram maior incidência de lesões no ombro em relação a outros segmentos corporais entre os praticantes de musculação [13]. Em um estudo realizado, o joelho foi o segmento mais acometido na prática da musculação, seguido por ombro e coluna [20]. Outro fator predisponente às lesões nos atletas fisiculturistas é o uso de drogas anabólicas. Relatou-se que o uso de esteróides anabólicos gera maior risco de lesões sobre o sistema músculo-esquelético, pois a estrutura osteoarticular não acompanha o crescimento muscular [21]. Afirma-se também que, o uso de esteróides anabólicos leva a um aumento de força desproporcional à capacidade de adaptação dos tendões e ligamentos e, em decorrência disso, muitos atletas experimentam inflamações, inchaço e até ruptura dos mesmos [20]. As estruturas além de não suportarem o ganho rápido de hipertrofia muscular, acabam se degenerando, como mostra um estudo publicado pelo American Orthopaedic Society for Sport Medicine, que mostra que o uso de esteróides anabolizantes em longo prazo causa degenerações musculares e tendíneas [23]. O uso de alguma droga ou medicamento para ganho de massa muscular foi mencionado por 80,0% dos entrevistados dos quais 90% já utilizaram anabolizantes, 37,5% estimulantes e 8,3% diuréticos e/ou broncodilatadores, o que pode ter favorecido às lesões. Os anabolizantes favorecem o ganho muscular em um período curto de tempo o que sobrecarrega não só os músculos como também os tendões e 129 os ligamentos, que não hipertrofiam como o tecido muscular não suportando as tensões postas pelas altas cargas resistidas do treinamento [21]. Em relação ao aquecimento, 90,0% dos atletas o realizavam antes do treinamento, sendo que destes, 92,5% até dez minutos de duração. Estudos mostram que o aquecimento bem feito do músculo trabalhado do dia pode, além de favorecer o ganho de força e hipertrofia, pode ajudar a prevenir lesões músculo-esqueléticas, pois ocorre melhora do aporte sanguíneo na região, aumentando a nutrição e oxigenação tecidual, além de beneficiar a capacidade do músculo de suportar grandes cargas em longo tempo, sem entrar em fadiga [24]. Conclusão Com a realização desta pesquisa podemos concluir que, os atletas fisiculturistas estão sujeitos às mais variadas lesões tendíneas, ligamentares e musculares, com grande incidência na região da cintura escapular, como a articulação do ombro, e no cotovelo. Contudo, ainda não se pode afirmar se os atletas são mais ou menos vulneráveis às lesões apresentadas, pois são poucas as literaturas sobre o assunto. Outro fator relevante é o baixo número de lesões ligamentares em relação às lesões músculo-tendíneas. Por ter sido um estudo exploratório, os resultados aqui obtidos podem servir como base para estudos posteriores que investiguem objetivamente, por meio de avaliações, a incidência e prevalência de lesões na prática de atividades físicas em atletas fisiculturistas em academias de ginástica. Referências 1. Schwarzenegger A, Dobbins B. Enciclopédia de fisiculturismo e musculação. 2a ed. Porto Alegre: Artmed 2001; 800p. 2. História do Fisiculturismo no Brasil. Force Muscle [online]. [citado 2008 Ago 18]. Disponível em URL: http://www. forcemuscle-artigos.blogspot.com 3. Fisiculturismo. Wikipédia: A Enciclopédia Livre [online]. [citado 2008 Ago 20]. Disponível em URL: http://www. pt.wikipedia.org/wiki/Fisiculturismo 4. Hebert S. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. 1631 p. 5. Prentice WE, Voight ML. Técnicas em reabilitação músculoesquelética. Traduzido por: Oppido T, Araújo MAQB. Porto Alegre: Artmed; 2003. 6. Lopes A. 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( ) Não ( ) Sim, ( ) IFBB ( ) NABBA ( ) Outra (s): __________________________________________ ____________ 3. Pratica algum exercício físico além da musculação? ( ) Não ( ) Sim, ( ) Basquete ( ) Futebol ( ) Natação ( ) Vôlei ( ) Outro (s): __________________________________________ ____________ 4. Tem ou já apresentou algum problema de saúde (HPP)? ( ) Não ( ) Sim, ( ) Problemas no sistema cardíaco ( ) Problemas no sistema nervoso ( ) Problemas no sistema respiratório ( ) Outro (s): __________________________________________ ____________ 5. Utiliza alguma droga ou medicamento? ( ) Não ( ) Sim, ( ) Anabolizantes ( ) Estimulantes ( ) Corticóides ( ) Outra (s): __________________________________________ ____________ 6. Qual a frequência de treinamento diário? ( ) Uma a duas horas por dia ( ) Duas a três horas por dia ( ) Acima de três horas por dia Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 7. Qual a frequência semanal de treino? ( ) 2 vezes por semana ( ) 3 a 4 vezes por semana ( ) 4 a 6 vezes por semana 8. Qual a intensidade do seu treinamento quanto à carga? ( ) Leve ( ) Moderado ( ) Pesado ( ) Muito pesado 9. Há quanto tempo pratica esse esporte? ( ) Até 1 ano ( ) 1 a 2 anos ( ) 2 a 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 10. Apresenta alguma disfunção no sistema músculo-esqueletico? ( ) Não ( ) Sim, Qual? _____________________________________________ ________________ 11. Sente alguma dor ou desconforto? ( ) Não ( ) Sim, 11.1. Há quanto tempo? ( ) Até 1 semana ( ) 1 a 2 semanas ( ) 3 a 4 semanas ( ) Mais de 4 semanas 11.2. Quando aparece essa dor ou desconforto? ( ) Em repouso ( ) Ao exercício leve ( ) Ao exercício moderado ( ) Ao exercício pesado 11.3. Ela já foi diagnosticada? ( ) Não ( ) Sim, Patologia: _____________________________________________ _____ 131 12. Já sofreu alguma lesão decorrida do esporte? ( ) Não ( ) Sim, 12.1. Lesões musculares: ( ) Estiramento ( ) Inflamação ( ) Contratura 12.2. Lesões tendíneas: ( ) Tendinite ( ) Tendinose ( ) Paratendinite / Paratendinose ( ) Estiramento 12.3. Lesões ligamentares: ( ) Rompimento parcial ( ) Rompimento total 13. Qual a articulações acometidas pelas lesões? ( ) Joelho ( ) Ombro ( ) Tornozelo ( ) Cotovelo ( ) Coluna ( ) Quadril ( ) Outra (s): __________________________________________ _______________ 14. Você faz algum tipo de aquecimento antes do treino? ( ) Não ( ) Sim, ( ) Até 5 minutos ( ) 5 a 10 minutos ( ) 10 a 15 minutos ( ) 15 a 20 minutos ( ) mais de 20 minutos 15. Você faz algum tipo de alongamento dos músculos exercitados no dia do treinamento? ( ) Não ( ) Sim 132 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Artigo original Relação entre a potência muscular dos membros inferiores e a funcionalidade em idosos Relationship between muscle power in lower limb and performance in elderly Rodrigo Barbosa de Albuquerque*, Valéria Mota de Oliveira**, Amândio Aristides Rihan Geraldes***, Antônio César Cabral de Oliveira**** *Laboratório de Qualidade de vida, Saúde, Fisiologia e Desempenho (LAQUASFIDE) – Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas (IBESA), Faculdade de educação física do Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas – FACEF/IBESA, Laboratório de Aptidão Física, Desempenho e Saúde - Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Alagoas (LAFIDES/DEF/ UFAL), Núcleo de Pós Graduação em Medicina/Universidade Federal de Sergipe, **(LAQUASFIDE), Faculdade de Educação Física do Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas – FACEF/IBESA, ***Laboratório de Aptidão Física, Desempenho e Saúde - Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Alagoas (LAFIDES/DEF/UFAL), ****Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Pós Graduação em Medicina, Universidade Federal de Sergipe – NPGME/UFS Resumo Abstract Objetivo: O objetivo deste estudo foi verificar a correlação entre potência muscular dos membros inferiores e desempenho funcional de idosas. Material e métodos: Compuseram a amostra 28 mulheres com as seguintes médias de idade, estatura e massa corporal: 71 ± 5 anos; 1,52 ± 0,1 m; 65,15 ± 10 kg. Para medir o desempenho funcional (DF), foram utilizados os seguintes testes: 1) Timed Up & Go Test (TUGT) e, 2) sentar e levantar na cadeira cinco vezes (SLC). Para a medida da potência foi utilizado o teste de subir escada. Para a verificação dos níveis de correlação foi utilizado o teste de correlação de Pearson e adotou-se um nível de significância de p < 0,05. Resultados: Os resultados médios para os testes funcionais foram: 6,06 ± 1,01 e 6,44 ± 1,42 seg., respectivamente para o TUGT e o SLC. O resultado médio para o teste de potência foi de 239,56 ± 49,45 N. Tais resultados denotam que a amostra apresenta elevado nível de desempenho funcional. Os resultados dos testes funcionais não apresentaram correlações significativas com a potência muscular. Conclusão: Embora o reduzido tamanho da amostra possa ter participação importante nos resultados, a ausência de correlação significativa pode ser atribuída à homogeneidade e aos elevados níveis de DF e PM dos sujeitos da amostra. Pode-se concluir que, em idosos independentes, as correlações entre o desempenho funcional e a potência muscular, não são significativas. Objective: The purpose of the study was to verify the correlation between muscle power of lower limb and functional performance of the elderly. Methods: The sample was composed by 28 women with the following averages of age, height and weight: 71 ± 5 years; 1.52 ± 0.1 m; 65.15 ± 10 kg. To measure the functional performance (FP), we used the following tests: 1) Timed Up & Go Test (TUGT) and, 2) Five-Times-Sit-to-Stand Test (STS). To measure the muscle power it was used the Timed Up and Down stairs test. The Pearson correlation test was used to verify correlation level and a significance level of p < 0.05 was adopted. Results: The medium term results for the functional tests were: 6.06 ± 1.01 sec. and 6.44 ± 1.42, respectively for TUGT and SLC. The medium result for the power test was of 239.56 ± 49.45 N. Such results show that the sample has high level of functional performance. The functional ability test did not show significant correlation with muscle power. Conclusion: Although the reduced sample size has an important participation in the results, the absence of significant correlation could be assigned to the homogeneity and the high levels of FP and muscle power of sample subjects. We conclude that, in independent elderly, the correlations between the functional performance and the muscle power are not significant. Key-words: elderly, functional performance, muscle power. Palavras-chave: envelhecimento, desempenho funcional, potência muscular. Endereço para correspondência: Rodrigo Barbosa de Albuquerque, Rua Tupinambás, 78, Ponta Grossa 57014-820 Maceió AL, Tel: (82) 8895-9691, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução A sarcopenia, caracterizada principalmente pela perda de fibras musculares do tipo II (responsáveis pela maior produção de força e de potência muscular) tem proporcionado importantes alterações na potência muscular de indivíduos idosos [1]. O avanço da idade, caracterizado por uma série de alterações morfológicas, bioquímicas e fisiológicas leva especialmente a perda significativa da potência muscular. Segundo Petrella et al. [2], a potência muscular, após os 50 anos de idade, sofre uma redução aproximadamente de 3 a 4% por ano que é cerca de duas vezes mais que as perdas na força muscular. Os autores complementam os achados, sugerindo que o déficit na potência muscular pode ser um forte contribuinte para a perda da mobilidade e risco de quedas em idosos. Evidencias apontam que a potência muscular possui um papel imperativo na realização das tarefas motoras da vida diária (AFDD), sejam elas básicas (AFBDD), como: vestir-se, banhar-se, transferir-se de uma cadeira para a posição em pé, ou instrumentais (AIDD), incluindo o lidar com dinheiro, fazer compras, andar longas distâncias [3]. Particularmente, indivíduos idosos do sexo feminino podem alcançar níveis abaixo do limiar para a realização de tarefas importantes para uma vida independente [4]. Adicionalmente, Hruda et al. [5] enfatizam a existência de uma forte relação positiva entre a potência muscular e a capacidade de realizar tarefas funcionais. Quando comparada com a força muscular, estudo feito com idosos com média de idade de 69 ± 6 anos demonstrou que a potência muscular possui maior influência sobre a performance funcional, até mesmo em adultos independentes funcionalmente, embora os maiores níveis de relação tenham sido encontrados naqueles idosos com menores escores iniciais de potência. Capodaglio et al. [7] declaram que existem poucos estudos demonstrando a relação entre a potência muscular e a performance funcional, utilizando idosos independentes como amostra. Vários autores [6,8] têm sugerido que déficit na potência muscular está associado também a maiores riscos de quedas, principalmente em indivíduos frágeis. Na Ucrânia, por exemplo, os gastos com danos relacionados a quedas em pessoas idosas chegam a aproximadamente um bilhão de dólares por ano. Para a medida da potência muscular anaeróbica, vários instrumentos têm sido utilizados, sendo, em sua grande maioria, sofisticados e de difícil utilização operacional. Nesse sentido, na tentativa de facilitar e permitir a utilização de pesquisas analisando essa variável em estudos populacionais e sabendo que a potência muscular é definida como o deslocamento de uma determinada massa em uma determinada distância em máxima velocidade Margaria et al. [9] propuseram uma técnica de verificação da potência muscular anaeróbica simples e de baixo custo. A técnica proposta pelos autores parte da premissa de que quando alguém sobe uma escada correndo, 133 em velocidade máxima e com máximo esforço, uma velocidade constante é atingida em aproximadamente um a dois segundos e esta é mantida constante até cinco segundos, sugerindo que a manutenção da velocidade na corrida de uma dada distância (subindo escada) é independente da velocidade. Sartorio et al. [10], em um estudo com sujeitos do sexo feminino idosas e obesas, propôs uma modificação do teste originalmente proposto, sendo este de maior facilidade de execução e apresentando um coeficiente de variação para medidas repetidas menor que 5%. Tal modificação tem sido amplamente utilizada em estudos com sujeitos obesos, entretanto a técnica pode ser utilizada universalmente entre as categorias etárias. Em se tratando de sujeitos idosos é consensual a importância da potência muscular na manutenção de uma vida independente principalmente em idosos frágeis, entretanto, ainda não se tem evidências suficientes da verdadeira relação entre essa variável e a capacidade funcional em idosos independentes funcionalmente. Assim, o presente estudo tem como objetivo verificar os níveis de correlação entre a potência muscular anaeróbica verificada através do teste de subir degraus e a capacidade funcional em tarefas selecionadas de idosos fisicamente independentes. Material e métodos Amostra A amostra não probabilística e escolhida por conveniência foi composta por 28 indivíduos idosos com idade igual ou superior a 60 anos (70,07 ± 5,12), do sexo feminino e independentes funcionalmente. As participantes foram selecionadas de um centro de convivência em Maceió e, para compor a amostra, deveriam ser funcionalmente independentes nas tarefas instrumentais do dia a dia, não estarem envolvidas em programas de exercícios físicos regulares, não apresentarem diagnóstico de doenças físicas ou mentais que impedissem a realização das tarefas funcionais propostas. Os critérios selecionados foram avaliados através da aplicação dos seguintes questionários: Multidimensional Functional Assessment Questionnaire [11], para verificação da independência nas atividades instrumentais do dia a dia; Questionário geral cujo objetivo foi a verificação da idade, e histórico de doenças. Tais instrumentos foram capazes de identificar os sujeitos elegíveis para o estudo. A todos os sujeitos foram dadas informações a respeito das datas dos testes funcionais e os possíveis riscos e benefícios da participação deles na pesquisa. Um termo de consentimento livre e esclarecido foi entregue a todas as participantes de acordo com as recomendações da Convenção de Helsinque e da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde Brasileiro para pesquisas envolvendo seres humanos. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisas da 134 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Universidade Federal de Alagoas, sob o processo de número 008409/2004-57. Medidas para a caracterização da amostra As medidas de massa corporal e estatura foram utilizadas para que a amostra fosse caracterizada. Ambas as medidas foram realizadas com os sujeitos descalços, vestindo o mínimo possível de roupa. A medida da massa corporal (expressa em quilos) foi realizada em uma balança mecânica (Filizolla®, Brasil) e a estatura (expressa em metro) através de um estadiômetro portátil (Seca®, Baystate Scale & Systems, USA). A realização de todas as medidas antropométricas respeitou os protocolos sugeridos por Lohman, Roche e Martorell [12]. Medidas da performance funcional Para a verificação do desempenho funcional foram utilizados os testes de sentar e levantar da cadeira (sit-to-stand) e o teste Timed up & Go, descritos abaixo. Timed Up & Go Test A versão utilizada neste estudo foi proposta por Podsiadlo e Richardson [13], em que, o indivíduo teria que se levantar de uma cadeira com altura de 43 a 50 centímetros com apoio para os braços, caminhar em linha reta a uma distância de três metros, numa velocidade habitual, fazer a volta, retornar à cadeira e sentar. Westhoff et al. [14] relataram alta confiabilidade intra e inter classes (r = 0,99). O número de tentativas foi feito de acordo com o mesmo protocolo; apenas uma tentativa e o tempo gasto marcado em segundos. Porém na presente pesquisa foi utilizada a modificação feita por Geraldes [15], em que não se utilizou uma cadeira com apoio para os braços e sim um banco de mesma altura, onde os indivíduos não puderam utilizar as mãos para se levantarem. O avaliado sentado com as duas mãos apoiadas nas coxas teve que levantar, caminhar até um cone situado a uma distância de três metros da cadeira, contorná-lo e, voltando à cadeira, sentar na mesma. ção do método proposto por Sartorio et al. [10]. Apesar de o teste ter sido utilizado com indivíduos obesos, sua praticidade, baixo custo e possibilidade de utilização em indivíduos de qualquer idade nos incentivou a usá-lo em nosso estudo. O coeficiente de variação entre medidas repetidas para o teste utilizado neste estudo foi de 5% [18]. Para a realização do teste, solicitou-se aos indivíduos que subissem uma escada com três degraus com altura total de 49 cm, o mais rápido possível; os degraus eram estruturados da seguinte forma: o primeiro com 13 cm de altura, 24 cm de profundidade e 68 cm de largura; o segundo com 18 cm de altura, 24 cm de profundidade e 68 cm de largura e o terceiro e último (plataforma), com 18 cm de altura, 67 cm de largura e mesma dimensão na profundidade. A potência (W) mecânica foi calculada, como proposto pelos autores acima citados, através da seguinte fórmula: W = (Wbgh) / t, onde Wb seria o peso do indivíduo; g seria a aceleração da gravidade (9,81 m/seg), h e t seriam a distância vertical no teste e o tempo para a realização do mesmo, respectivamente. A tarefa foi executada da seguinte forma: o avaliado deveria, a partir da posição em pé, com os dois pés paralelos, o mais próximo do primeiro degrau, subir o mais rapidamente possível a escada. O teste não tem tempo máximo e foram permitidas três tentativas, sendo computado como resultado (através de um cronômetro) o menor tempo das três tentativas. O teste foi começado quando o indivíduo iniciasse o movimento (levantasse um dos pés) e terminado quando o mesmo pé tocasse o último degrau. Tratamento estatístico A correlação entre as variáveis do estudo foi calculada através de técnicas de correlação simples (r de Pearson) e através de correlação múltipla. O nível de significância estatística foi fixado para um valor de p < 0,05. Todos os cálculos foram realizados com o auxílio do SPSS 15.0® para Windows (USA). Resultados Características dos sujeitos Levantar e sentar da cadeira A versão utilizada neste estudo foi proposta por Schenkman et al. [16]. O avaliado deveria, com os braços cruzados a frente do tórax, levantar e sentar em uma cadeira, cinco vezes consecutivas. Segundo Bohannon [17], este teste apresenta moderados a elevados coeficientes de reprodutibilidade (testereteste), variando entre 0,66 e 0,88. Medida da potência muscular A potência muscular dos membros inferiores foi medida através do teste de subir escada. Tal medida, é uma modifica- Através das medidas utilizadas para caracterizar os indivíduos que compuseram a amostra do presente estudo, pode-se observar que a média de idade foi de 70,07 ± 5,12 anos o peso corporal de 65,15 ± 10,13 quilos e a estatura de 1,52 ± 0,07 metros. Além dos testes para caracterização da amostra, utilizou-se os testes funcionais assim como os testes de potência muscular dos membros inferiores para o teste da hipótese. Os resultados destes testes podem ser observados na Tabela I. Os resultados das correlações foram analisados utilizando-se a correlação simples (r de Pearson). A matriz correlacional entre os resultados das variáveis pode ser observada na Tabela II. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Tabela I - Característica antropométrica e testes funcionais. Variáveis N 28 28 28 28 Variação Mínimo - Máximo 60,00 – 83,00 50,40 – 87,60 1,43 - 1,69 4,69 – 10,40 Idade (anos) Peso (kg) Estatura (m) Levantar da cadeira (seg) Potência (N) TUGT (seg) M ± DP 70,07 ± 5,12 65,15 ± 10,13 1,52 ± 0,07 6,44 – 1,42 28 28 156,86 - 353,79 4,47 - 10,03 239,56 ± 49,45 6,06 ± 1,01 Tabela II - Matriz correlacional. 1. 2. 3. Variáveis Potência TUGT (seg) Levantar da cadeira (seg) 1 - 2 -,11 - 3 -,15 ,44* - * Correlação significativa para um nível de 0,05 Discussão Os resultados encontrados concordaram com nossa hipótese inicial, ou seja, apesar da existência de correlação entre as variáveis analisadas, os níveis correlacionais apresentaram-se baixos e não foi encontrada significância estatística. Pode-se atribuir tal resultado, ao fato dos idosos, componentes deste estudo, possuírem alto nível de aptidão física, ou serem independentes funcionalmente. Além disso, é importante levar em consideração as limitações metodológicas existentes neste estudo, onde podemos destacar o tamanho da amostra e a forma com que ela foi escolhida (não probabilística e por conveniência). Os resultados do presente estudo podem ser explicados também, pelo fato dos indivíduos componentes de nossa amostra possuírem valores elevados de potência muscular, semelhante ao de indivíduos fisicamente ativos [5,3]. Tal afirmação pode ser sustentada pela proposição de Buchner et al. [19] sugerindo a existência de um limiar de aptidão muscular, em que altos níveis de força e/ou potência muscular não representariam aumentos na performance funcional. Ao compararmos os resultados encontrados no teste de levantar e sentar da cadeira com os resultados encontrados no estudo de Whitney et al. [20], realizado com idosos com média de idade de 73 ± 5 anos, observamos que nossa amostra realizou tal tarefa em um tempo 48% mais rápido, o que reforça que nosso estudo foi realizado com idosos com alto nível de aptidão funcional. Naquele estudo os indivíduos obtiveram uma média de 13,4 segundos para a realização do teste, enquanto que em nosso estudo a média foi de 6,44 segundos. Mais além, ao compararmos os resultados de nosso estudo com o estudo de Guralnik et al. [21], observou-se que nossos idosos apresentaram resultados acima da média para indivíduos de mesma média de idade. 135 Ao observarmos os resultados do Teste Timed Up & Go e utilizando como referência o estudo de Podsiadlo e Richardson [13], que propõe a seguinte classificação quanto ao nível de capacidade funcional: resultados menores que 10 segundos classificam os sujeitos como normais; menores ou iguais a 20 segundos classificam os indivíduos como possuindo uma boa mobilidade, condição de sair sozinho e se mover sem ajuda; menor que 30 segundos classificam os indivíduos com problemas, não podem sair sozinhos e requerem ajuda e, menor ou igual a 40 segundos indicam um alto risco de quedas. Através dessas informações os indivíduos do presente estudo classificam-se como normal. Mais além, ao compararmos nossos resultados com os resultados do estudo de Sousa e Sampaio [22], realizado com idosos independentes funcionalmente e que viviam na comunidade rural, com média de idade de 75 (± 5,00) anos, não observamos diferenças significativas, desde que a média encontrada para a realização desse teste naquele estudo foi de 6,0 ± 0,9 segundos. Com relação ao nível de correlação, os resultados do presente estudo mostraram-se diferentes a maioria das evidências, como no estudo de Bassey et al. [23], realizado com idosos com baixo nível de aptidão, que demonstrou a existência de correlação significativa entre a potência de membros inferiores com a capacidade funcional. Entretanto, os resultados deste estudo como mencionado acima, podem ser atribuídos a existência de um pequeno tamanho amostral, ou ainda a não sensibilidade dessa variável para indivíduos fisicamente ativos. Do mesmo modo Suzuki, Bean e Fielding [24] realizaram um estudo com mulheres idosas (75,4 ± 5,1 anos) e demonstrou a existência de correlação significativa entre a potência dos músculos flexores dos tornozelos e a performance funcional. Não obstante, Petrella, Miller e Cress [25], em um estudo feito com idosos independentes e dependentes parcialmente, com médias de idade de 76,8 ± 5,8 e 77,6 ± 6,3 anos, respectivamente, demonstraram que a potência muscular foi um preditor significativo de independência. Vale ressaltar que os estudos citados apresentam resultados que propõem a participação da potência muscular como uma variável importante na manutenção da independência funcional, resultados que não demonstram semelhança com os encontrados no presente estudo. Podendo-se atribuir tal feito pelo fato das médias de idade dos idosos dos estudos citados, serem bem maior que a dos indivíduos de nosso estudo. Conclusão De acordo com os resultados encontrados, nesta pesquisa, conclui-se que, em idosos independentes, a potência muscular não é preditora do desempenho em tarefas funcionais, ao menos naquelas que se assemelham aos testes realizados no presente estudo. 136 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Referências 1. Welle S. Cellular and molecular basis of age-related sarcopenia. Can J Appl Physiol 2002;27:19-41. 2. Petrella JK, Kim J, Tuggle SC, Hall SR, Bamman MM. Age differences in knee extension power, contractile velocity, and fatigability. J Appl Physiol 2005;98: 211-20. 3. Macaluso A, Young A , Gibb KS, Rowe DA, De Vito G. Cycling as a novel approach to resistance training increase muscle strength, Power and selected functional abilities in healthy older women. J Appl Physiol 2003;95:2544-53. 4. Skelton DA, Grieg CA, Davies JM, Young A. Strength, Power and related functional abilities of healthy people aged 65 – 89 years. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 137 Artigo original Efeitos do treinamento em uma equipe de futebol infantil ao longo do macrociclo Effects of training in an infant football team over macrocycle Daniel Medeiros Alves*, Silvia Teixeira de Pinho*, Juan Carlos Perez Morales, M.Sc.**, José Francisco Gomes Schild, D.Sc.*** *Mestrando ESEF-UFPel, **EEFFTO-UFMG, ***ESEF-UFPel Resumo Abstract O propósito do presente estudo foi analisar aptidão física de futebolistas infantis ao longo de um macrociclo de treinamento. A amostra foi composta por 16 atletas de futebol infantil, com estatura média de 1,74m (DP = 0,07) e peso corporal médio igual a 63 kg (DP = 6). Analisou-se a potência aeróbia (VO2max), velocidade (T30m), força explosiva de salto vertical (SV) e de salto horizontal (SH) em 4 momentos diferentes do macrociclo (P1, P2, P3, P4). Para análise dos dados foram utilizadas estatística descritiva e ANOVA uni-fatorial de medidas repetidas, com correção de Bonferroni. Os principais resultados foram os seguintes: VO2max = 13% (P1 x P3) e -3,8% (P3 x P4); T30m = 4,1% (P1 x P2); SV= 5,26% (P2 x P3); SH = 2,13% (P1 x P3). Foi possível observar coerência dos resultados com a proposta metodológica adotada, embora os resultados tenham se demonstrado abaixo do esperado. The purpose of this study was to evaluate children’s physical fitness of footballers over a macro training. The sample consisted of 16 athletes from children’s football, with average height of 1.74 m (SD = 0.07) and average body weight equal to 63 kg (SD = 6). We analyzed the aerobic power (VO2max ), speed (T30m), explosive power of vertical jump (SV) and horizontal jump (HS) in 4 different times of macro (P1, P2, P3, P4). Data analysis was used descriptive statistics and one-way ANOVA with Bonferroni adjustment. The main results were as follows: VO2max = 13% (P1 x P3) and -3.8% (P3 x P4); T30m = 4.1% (P1 x P2), SV = 5.26% (P2 x P3); SH = 2.13% (P1 x P3). It was possible to observe the consistency of results with the methodology adopted, although the results have been below expectations. Key-words: football, training, fitness, periodization. Palavras-chave: futebol, treinamento, aptidão física, periodização. Endereço para correspondência: Daniel Medeiros Alves, Rua Catulo Cearense, 104, 96055-460 Pelotas RS, E-mail: silvia_esef@ yahoo.com.br 138 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução O futebol é um desporto coletivo no qual o desempenho dos atletas é determinado por uma série de fatores, tais como físicos, técnicos, táticos e cognitivos [1]. Por ser um desporto de ação/cooperação e por se tratar de um sistema complexo, nem sempre fica claro quais fatores estão influenciando diretamente no rendimento da equipe. O condicionamento físico representa um pré-requisito para a performance técnica, tática e psíquica na competição onde existe uma interdependência entre esses fatores [2]. Portanto a preparação física é considerada como um fator de grande importância pelos futebolistas profissionais, exigindo uma adequada estruturação e planificação do treinamento [3]. Diferentes propostas metodológicas para o treinamento desportivo são apresentadas na literatura mundial [4-7], e, dentre as quais o modelo tradicional parece ser o mais indicado para a preparação de atletas em fase de formação [6]. Poucos estudos sobre a aptidão física têm sido realizados em atletas de futebol durante o período de formação. Neste sentido procurou-se mostrar as alterações na aptidão física, decorrentes de uma estruturação tradicional de treinamento utilizada em uma categoria infantil de futebol. Material e métodos Amostra A amostra foi composta por 16 atletas de futebol da categoria infantil (sub-15), do futebol gaúcho, com estatura média de 1,74 m (DP = 0,07) e peso corporal médio igual a 63 kg (DP = 6). Os testes A estruturação da periodização se deu de forma semestral, onde foram planejados 2 “picos” de performance, porém o primeiro priorizou a aquisição da forma desportiva enquanto que o segundo visou a competição. O período pré-competitivo (P1) enfatizou meios de preparação geral (mesociclo básico), e teve o seu volume aumentado gradativamente. Durante o mesociclo de preparação especial, o volume foi diminuindo enquanto a intensidade do treinamento foi aumentando, mantendo-se alta até as primeiras semanas do período competitivo. Após o término do período competitivo (P2), houve um recesso (3 semanas) e logo a seguir iniciou-se o período précompetitivo (P3) com duração de 6 semanas. Neste período foi adotado apenas um mesociclo de preparação especial de volume acentuado. A intensidade foi gradativamente aumentada até as primeiras semanas do período competitivo (P4), onde ainda foram utilizados meios de preparação geral. Os meios de preparação são exemplificados no Quadro 1. Durante os períodos competitivos (P2) e (P4), objetivouse ainda aquisição na forma física, porém a ênfase foi à manutenção. A lógica para isso foi primeiramente a redução do volume e posteriormente a manutenção da intensidade, bem como a priorização dos treinamentos de caráter mais especiais (técnico-táticos). Tratamento estatístico Os dados foram analisados através do software spss 12.0. Adotou-se estatística descritiva e ANOVA uni-fatorial de medidas repetidas, com correção de Bonferroni para identificar diferenças significativas entre os períodos nas diferentes variáveis dependentes. O nível de significância adotado foi de p < 0,05. Resultados Para análise da aptidão física foram aplicados 4 testes: o teste de Cooper de 12 minutos (Potência Aeróbia); o teste de 30 metros (Velocidade) e os testes de salto vertical e horizontal (Força Explosiva) em quatro momentos (P1, P2, P3, P4) ao longo do macrociclo de treinamento. O treinamento Após o esclarecimento a respeito dos procedimentos da pesquisa, foi obtido um consentimento livre e esclarecido, tanto do clube, quanto dos atletas. Os atletas, então, foram submetidos a 5 sessões de treinamento semanais. O modelo de treinamento que serviu como referência para a elaboração da periodização foi o tradicional de cargas distribuídas [6]. Foram identificados dois períodos competitivos, onde a segunda competição (segundo semestre) foi considerada como a principal. A Tabela I mostra os resultados encontrados nos testes durante os diferentes momentos analisados permitindo observar o comportamento das variáveis analisadas durante os diferentes momentos. Através da análise descritiva, observamse as médias dos testes em cada período, assim como o desvio padrão. A Tabela II demonstra a comparação entre os períodos, demonstrando os momentos onde ocorrem diferenças significativas. Para o VO2max foram encontradas diferenças significativas entre P1x P3, P1 x P4 e P3 x P4. Em relação à velocidade, os testes demonstraram diferenças significativas nos períodos P1 x P2, P1 x P3 e P1 x P4. O teste de SV demonstrou diferenças significativas entre os períodos P1 x P4, P2 x P3 e P2 x P4 e de SH entre os períodos P1x P3, P1 x P4 e P2 x P4. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 139 Quadro 1 - Meios utilizados nos diferentes mesociclos. Mesociclo Meios de preparação Pré-Competitivo (P1) Competitivo (P2) Pré-Competitivo (P3) Competitivo (P4) Res. aeróbia: Corridas continuas, fartlek, tiros, 1500 m (Mét. intervalado), Fartlek c/ bola. Res. força: Circuitos, corridas na areia, flexões, abdominais Res. anaeróbia: Suicídio, circuitos (1 a 3 min), tiros 100 m, (Mét. intervalado) Potência: Saltos variados, (des)acelerações, tração. Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação). Flexibilidade: Alongamentos estáticos (método ativo). Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrando ações técnicas (passe, cabeceio etc.) Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, ênfase na apt. física. Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação), c/ ou s/ bola. Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrado ações técnicas (passe, cabeceio etc.) Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, bola parada, finalização, jogos de passe. Res. aeróbia: Tiros, 1500 m (Mét. intervalado), fartlek c/ e s/ bola. Res. força: Circuitos, corridas na areia, flexões, abdominais. Potência: Saltos variados c/ e s/ carga, (des)acelerações, tração. Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação) e integrada ao técnico-tático. Flexibilidade: Alongamentos estáticos (método ativo). Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrando ações técnicas (passe, cabeceio etc.) Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, bola parada. Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação), c/ ou s/ bola e integrando jogos técnico-táticos. Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrando ações técnicas (passe, cabeceio etc.) Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, bola parada, finalização, jogos de passe, finalização. Tabela I - Resultados dos testes aplicados durante os 4 diferentes períodos. VO2max (ml.Kg-1.min-1) T30m (segundos) SV (centímetros) SH (metros) P1 M DP P2 M DP P3 M DP P4 M DP 44,1 4,26 49,1 3,03 49,9 1,59 48,0 1,67 5,12 41,9 1,88 0,18 3,88 0,14 4,91 41,8 1,92 0,19 4,29 0,17 4,89 44,0 1,92 0,21 4,34 0,16 4,91 44,6 1,95 0,21 3,93 0,17 M = média, DP = desvio padrão Tabela II - Diferenças estatisticamente significativas na comparação entre períodos. VO2max P1 P1 P2 P3 P4 SV P2 * * P1 P1 P2 P3 P4 T30m P3 * * * P2 P3 * * P4 * * * P4 * * P1 P1 P2 P3 P4 SH P1 P2 P3 P4 P2 * P3 * P4 * * * * Gráfico 1 - Dinâmica do percentual de alteração das variáveis analisadas. P1 P2 * * * P3 * P4 * * * Diferenças significativas na comparação entre períodos com Teste de Bonferroni O Gráfico 1 mostra o percentual de alteração de cada variável nos diferentes momentos. É possível observar que os principais incrementos na aptidão física ocorreram em P1x P2. Somente o SV que demonstrou maior ganho m P2 x P3 (5,26%). A principal queda ocorreu para o VO2max, em P3 x P4 (-3,8%). 140 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Discussão Em relação a VO2max, é possível observar a maior diferença descritiva em P1x P2 (11,3%), sugerindo uma tendência a elevação da capacidade aeróbia. Essa tendência foi confirmada no período seguinte onde foi encontrada diferença estatisticamente significativa para P1x P3 (13%). Embora a elevação do estado de rendimento tenha se demonstrado gradual, a diferença estatisticamente significativa foi encontrada no período em que foram adotadas cargas mais intensas. Esses achados corroboram outro estudo [8] que encontrou diferenças significativas na potência aeróbia após 6 semanas de treinamento, utilizando metodologia de treinamento com altas intensidades. De qualquer forma, é provável que a amostra do presente estudo tenha elevado o estado de rendimento pelo processo metodológico, que iniciou com cargas menos intensas e mais volumosas dos períodos iniciais. A queda significativa de desempenho em P3 x P4 (-3,8%), se deu, provavelmente, pela falta de estímulo adequado, pela duração do período competitivo. Em relação a isso, alguns estudos [9-11] verificaram diferenças entre as intensidades de jogo e treinamento, sugerindo que os estímulos de treinamento podem não ser adequados para elevar o estado de rendimento. O futebol exige dos atletas um total de deslocamentos por volta de 10 km, em que por volta de 60% dessa distância é realizada em intensidades baixas a moderadas [12-16]. Por outro lado, em grande parte do jogo a freqüência cardíaca encontra-se por volta de 83% da freqüência cardíaca máxima. É provável que a exigência de uma partida infantil seja inferior a de profissionais e juniores, porém a escassez de estudos sobre essa categoria não permite confirmar tal suposição, embora seja possível identificar diferenças no nível de aptidão física em diferentes categorias [17]. De forma geral, os resultados se encontram em conformidade com estudos realizados no futebol [18-20], ainda que pouco abaixo dos índices esperados. As alterações significativas nos índices de velocidade aparecem em P1x P2 (4,1%), onde os índices mantiveram-se semelhantes ao longo da temporada. Apesar de a manutenção dos índices para essa capacidade possa ser considerada como positiva, esperava-se uma nova alteração positiva nos índices em P2 x P3, principalmente pela ênfase dada a essa capacidade. É provável que o efeito concorrente [21,22] de outras orientações de treinamento, bem como uma inadequada organização da distribuição/interconexão da carga possa ter interferido no processo de aprimoramento dessa capacidade. Em outro estudo, adotando metodologia diferente [23], os índices de força rápida e resistência de força em futebolistas juniores também foram decorrentes do período preparatório, porém não ocorrendo o mesmo durante o período competitivo. Devido à grande relevância da capacidade de sprint para o futebol [22], faz-se necessária uma reflexão sobre a metodo- logia adotada, no que diz respeito à eficácia do treinamento para essa capacidade. Em relação à força explosiva (SH, SV) não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas encontradas P1x P2. Para SV, diferenças significativas foram encontradas durante o período competitivo (P2 x P3), enquanto SH teve sua principal alteração em P1 x P3 (2,13%). Outra constatação foi aumento significativo encontrado em relação a P4 (SH = 1,6%, SV = 1,4%), provavelmente pela redução gradual do volume, de treinamento, nesse período do macrociclo. Um dado interessante é que o maior incremento em SH se deu em P1xP2 (2,13%) enquanto que para SV ocorreu entre P2 x P3 (5,26%). Esse fato pode ser atribuído a uma possível diferença na adaptação neuromuscular relacionada ao ângulo da aplicação da força explosiva, que no presente estudo ocorreu em diferentes momentos. Um estudo [25] descreveu as alterações na força explosiva, em futebolistas juniores após 8 semanas de preparação. Esse estudo demonstrou um aumento significativo nos índices de força explosiva, e força explosiva elástica. Outro estudo [26] demonstrou os efeitos de 24 semanas de treinamento sobre variáveis antropométricas e funcionais em atletas de futsal juvenil, em que constatou uma alteração significativa na composição corporal e sobre os índices obtidos nos testes de impulsão horizontal e shuttle run. O mesmo não foi observado nos testes sentar-e-alcançar, impulsão vertical e resistência abdominal. Esses resultados compatibilizam com os encontrados no presente estudo, apesar de que se trate de modalidades e metodologias de treinamento diferentes. Possivelmente o tempo disponível durante P1 e P2 não tenha sido suficiente para elevar a performance de maneira mais efetiva, o que sugere que outras propostas metodológicas poderiam ser mais efetivas. Outro fator que pode ter interferido negativamente é a concorrência entre as diferentes orientações de treinamento, não permitindo um desenvolvimento considerável em múltiplas capacidades motoras, uma vez que elas se apresentam de forma conjugada. Conclusão Os resultados mostram uma coerência com a proposta metodológica tradicional, embora tenham demonstrado que apenas a força explosiva (SH) foi aumentada nos dois períodos pré-competitivos (P1 e P3). As alterações positivas nos testes de salto, decorrentes do período competitivo (P4), podem estar ligadas à manutenção na intensidade de treinamento combinada à redução do volume. Os índices de velocidade e potência aeróbia demonstraram uma melhora apenas no período P1 x P2 e P1 x P3. Esses índices apresentaram-se abaixo do desempenho esperado para esses atletas, sugerindo que, apesar de o modelo de preparação tenha sido eficaz, não foi suficiente para promover grandes alterações na aptidão física. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Sendo assim, os objetivos do estudo foram atingidos, possibilitando fornecer referências para futuras comparações entre diferentes modelos de treinamento para futebol na categoria infantil. 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Os métodos de identificação de LL foram: concentração fixa de 4 mml/l (OBLA), limiar aeróbio individual (IAT) e transformação logarítmica (log-log). A concordância entre os métodos foi avaliada por meio da técnica de análise gráfica proposta por Bland e Altman. Foram encontradas maiores concordâncias entre os métodos log-log versus IAT do que os métodos IAT versus OBLA e log-log versus OBLA. Aiming to compare the exercise intensity associate to lactate threshold identified by three distinct methods, blood samples of 22 subjects were taken at rest and every 3 minutes before the end of each stage during maximal progressive test on a bicycle ergometer. The identification methods were: fixed blood lactate concentration of 4 mmol/l (OBLA), individual anaerobic threshold (IAT), log-log transformation model (log-log). The degree of agreement between the methods was analyzed by the statistical procedure suggested by Bland and Altman. As results, the degree of agreement was higher between the log-log versus IAT than the IAT versus the OBLA and the log-log versus the OBLA. Palavras-chave: critério, prescrição, exercício aeróbio. Key-words: guidelines, prescription, aerobic exercise. Endereço para correspondência: Mônica de Oliveira Melo, Rua Demétrio Ribeiro, 112/ 302, Centro Histórico 90010-312 Porto Alegre RS, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução Poucos assuntos têm gerado tanto debate no contexto da ciência do exercício como o Limiar de Lactato (LL). As divergências entre os pesquisadores se dão não só pela falta de uma padronização metodológica, mas também pela falta de concenso a respeito dos mecanismos que controlam a produção e remoção de lactato durante o exercício. Nesse contexto, percebe-se que há basicamente duas correntes clássicas: de um lado autores que acreditam que o aumento da concentração de lactato está relacionada com baixos níveis de oxigênio nas células musculares (hipóxia) [1], e outros autores que apostam numa explicação multifatorial para o fenômeno, a qual pode incluir: regulação bioquímica que promove a glicólise [2], aumento da atividade simpática[3], recrutamento progressivo de unidades motoras glicolítica [4-6], e diminuição do balanço entre a remoção versus produção de lactato [7,2]. Não obstante, pelo menos a fins operacionais, parece haver um acordo antre os autores de que o LL representa uma intensidade de exercício a partir da qual a concentração de lactato aumenta de forma exponencial [3], ou também uma intensidade de exercício na qual a concentração de lactato atinge um ponto fixo [8]. De qualquer forma, a resposta do lactato sanguíneo ao exercício parece ter uma natureza trifásica. A resposta fisiológica conhecida é que durante intensidade leves e moderadas de exercício (tipicamente <60% do consumo máximo de oxigênio) não há acúmulo do lactato [9]. Nessa condição, o lactato produzido difunde-se para fora das fibras musculares por meio de moléculas transportadoras específicas da membrana celular, que pertencem à família dos transportadores de monocarboxilatos ligados a prótons (MCTs) (difusão facilitada). À medida que o exercício continua, a concentração de lactato diminui novamente, a atividade física pode continuar por muito tempo. Durante intensidades mais severas (60-80%), a taxa de produção do lactato sangüíneo excede sua taxa de captação a fim de o lactato muscular e sanguíneo atinja altos níveis de steady-state do que o descanso. Quando o máximo limite do exercício é atingido, há um progressivo aumento do lactato no músculo e sangue, levando à fadiga e à exaustão [10]. Assim, treinadores têm usado o LL como um guia para prescrição de treinamento, onde intensidades em torno do LL têm sido usadas no treinamento aeróbio intensivo, abaixo dessa intensidade, aeróbio extensivo e, acima dela, anaeróbio. Diante da utilidade prática, diversas metodologias de aquisição e análise têm sido propostas para estimação do LL. Classicamente, um método direto e simples consiste em coletar o lactato direto do sangue durante a realização de testes máximos progressivos, plotar esses valores em função da carga de trabalho e indentificar um ponto de quebra com base em um critério, previamente determinado pelo pesquisador. De acordo com Ribeiro [11], o critério de determinação do LL pode ser resumidamente descrito a partir de três abordagens: 143 1) adoção de concentrações fixas de lactato e interpolação de resultados; 2) uso de modelos matemáticos para avaliar as curvas de lactato; e 3) estimativa visual de quebra nas curvas de lactato. Nesse contexto, o que se observa é que a escolha do critério escolhido implica no uso de diferentes nomenclaturas para descrever o mesmo fenômeno, ou então na identificação de fenômenos diferentes com mesma nomenclatura. Como exemplo, na linha de estudos sobre limiares de lactato, alguns autores sugerem tanto o uso do método de identificação individual ou IAT (Individual Anaerobic Threshold), proposto por Stegmann, Kindermann & Schnabel [12] como o uso do método de concentração fixa de 4 mml ou OBLA (Onset of Blood Lactate Accumulation), investigado extensamente por Heck, Mader, Hess [13], para identificar o fenômeno conhecido como a máxima fase estável do lactato. Esse último é descrito pela sigla inglesa MLSS (Maximal Lactate Steady State), e é definido como a mais alta carga de trabalho que pode ser suportada sem o acúmulo de lactato sangüínio. De outra maneira, outros estudos têm usado o método de transformação logarítmica (log-log), proposto por Beaver, Wasserman & Whipp [14] para determinação do chamado primeiro LL, ou intensidade de trabalho correspondente ao início do aumento linear de lactato no sangue [15], enquanto que outros estudos têm usado essa metodologia para identificar o segundo LL, ou simplesmente a intensidade imediatamente anterior ao aumento exponencial da concentração de lactato [16]. O resultado disso, é que a intensidade associada ao LL, pode variar simplesmente devido à escolha de um ou outro modo de identificação e tornar difícil a comparação dos resultados em pesquisas nesse campo de investigação. Além disso, do ponto de vista prático, compromete a prescrição e acompanhamento do desempenho, ora superestimando, ora subestimando a intensidade ótima de treinamento aeróbio. Considerando a importância da identificação do LL para prescrição de treinamento, este estudo tem por objetivo comparar intensidades de exercício associadas ao limiar de lactato identificadas por três métodos diferentes. Material e métodos Amostra A amostra foi composta por 22 indivíduos saudáveis, do sexo masculino, com idade média de 25,1 ± 2,6 anos, com massa corporal média de 73,3 ± 6,9 kg e estatura média de 164 ± 3,7. Todos estavam engajados em atividades físicas regulares (2 a 3 horas por semana), como caminhada, musculação e ciclismo. O critério de exclusão foi que não tivessem histórico de lesão músculo esquelético ou problemas cardiovasculares. Os indivíduos foram informados dos procedimentos da pesquisa, do possível desconforto do teste e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), antes da realização da avaliação. Este estudo foi aprovado pelo Comite de Ética da universidade onde foi realizado. 144 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Protocolo Antes do teste, os indivíduos foram familiarizados com o equipamento e após foram submetidos a um teste máximo progressivo contínuo em um cicloergômetro eletromagnético (modelo SF, Funbec, Brasil), adaptado com guidão, selim e pedaleiras similares as utilizadas no ciclismo. O teste consistiu em pedalar na cadência fixa de 80 rpm até a exaustão, com aumentos constantes da carga de 25 watts a cada três minutos. O teste era interrompido quando o indivíduo manifestasse verbalmente a impossibilidade de continuar ou quando não conseguisse manter a cadência mínima de 80 rpm. Aquisição e análise de dados Amostras de sangue (25 μl) para mensuração do lactato sangüíneo foram obtidas antes do início do teste, a cada três minutos antes do final de cada estágio e imediatamente após o final do exercício, utilizando um Accusport Lactate Analyzer (Boehringer Mannhein, Mannhein, Germany) [17]. Após serem plotadas as curvas de lactato em função do tempo de teste, a determinação do limiar de lactato foi realizada utilizando-se três diferentes métodos: 1) método de identificação do limiar anaeróbio individual (IAT) [12]; 2) método da concentração fixa de 4mml/L (OBLA); e 3) método de transformação logarítmica (log-log) [14]. Para o IAT, foi traçada uma linha tangente a partir do ponto onde a concentração de lactato durante a recuperação diminui e atinge o valor da maior concentração de lactato observada no final do teste. O ponto de intersecção dessa linha com a curva de lactato foi referido como IAT. Para o limiar de OBLA, uma concentração sanguínea de 4 mm/l foi identificada por meio de interpolação linear. No método de transformação logarítmica, o log da concentração sanguínea de lactato foi registrado no eixo do y como função do log da carga de trabalho no eixo de x. No diagrama de dispersão dessa função, pôde-se observar uma fase de incremento muito lento, imediatamente seguida de uma fase de aumento abrupto, definindo claramente uma transição (LL) na relação do acúmulo de lactato versus carga de trabalho. Observando a distribuição dos pontos do diagrama destacam-se duas fases lineares, onde o LL corresponde ao ponto de intersecção entre duas retas de regressão, respectivamente em cada uma das fases. Essas análises foram realizadas por dois fisiologistas experientes e caso houvesse discordância entre os resultados encontrados, um terceiro fisiologista teria acesso as curvas de LL para emitir seu parecer. Tratamento estatístico Inicialmente foi realizada a estatística descritiva, verificado-se os valores de média e desvio padrão para a carga de trabalho referente ao LL, identificadas pelos três métodos descritos. Após, foi verificada a normalidade dos dados (Shapiro Wilk) e a homogeneidade das variâncias (Levene Test). Sendo comprovada a normalidade e homogeneidade dos dados, para verificar a presença de diferença entre as médias e o desvio padrão das cargas foi realizada uma análise de variância (ANOVA one-way). As diferenças foram identificadas usando post-hoc test (Bonferroni Test). O grau de concordância entre os métodos foi verificado usando procedimento sugerido por Bland e Altman [18]. Os dados foram apresentados graficamente através da plotagem das diferenças entre os valores obtidos pelos métodos contra o valor das suas médias. Foram feitas as seguintes comparações: IAT versus log-log, IAT versus OBLA e log-log versus OBLA. A média das diferenças (bias) e o desvio padrão (dp) das diferenças entre os valores obtidos nas comparações entre os métodos, expressados em watts, foram calculados. Os limites de concordância foram mantidos no bias ± DP. O nível de significância adotado foi p < 0,05 Resultados Os valores de média e desvio padrão para a carga de trabalho associada o LL definidas pelo OBLA, log-log e IAT correspondenderam a 90,53 ± 10,69 (W); 131,25 ± 6,99 (W) e 138,33 ± 7,66 (W), respectivamente. Ao comparar os valores médios de carga de trabalho associadas ao LL, foi encontrada diferença significativa entre: a) o log-log e OBLA e b) OBLA e IAT. Por outro lado, não foram encontradas diferenças significativas na comparação realizada entre as intensidades identificadas pelos métodos log-log e IAT (Figura 1). Figura 1 - Comparação entre os valores médios da carga de trabalho (W) correspondentes ao LL identificada por três métodos diferentes. * diferenças significativas (p < 0,05). A Figura 2A ilustra a plotagen da diferença individual do LL, identificado pelos métodos log-log versus OBLA em função dos valores médios de ambas as estimativas. O valor de bias encontrado foi de 27,38 (W) e os limites de concordância superior e inferior foram 92,38 e -37,62 (W), respectivamente. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Figura 2A - Análise gráfica da carga de trabalho do LL identificada pelo log-log e pelo OBLA em 21 sujeitos durante teste máximo progressivo. Ainda, quando os métodos log-log versus IAT foram confrontados, valores de 2,08 (W) para o bias e valores de 35,71 e -31,34 (W) para os respectivos limites de concordância superior e inferior (Figura 2C) foram observados. Figura 2B - Análise gráfica da carga de trabalho do LL identificada pelo IAT e pelo OBLA em 14 sujeitos durante teste máximo progressivo. Figura 2C - Análise gráfica da carga de trabalho do LL identificada pelo log-log e IAT em 14 sujeitos durante teste máximo progressivo. As diferenças estimadas de bias entre os métodos log-log versus OBLA foram grandes quando comparadas as diferenças entre os métodos IAT versus OBLA e log-log versus IAT. Para carga de trabalho, todos os valores permaneceram dentro dos limites de condordância em todas as comparações realizadas. Discussão O objetivo desse estudo foi comparar intensidades de exercício associadas ao LL identificadas por três métodos 145 diferentes, obtidas durante o mesmo protocolo de cargas progressivas. Nessa direção, foram escolhidos os métodos OBLA, IAT e log-log, por representarem cada uma das categorias comumente adotadas na literatura, ou seja, adoção de concentrações fixas de lactato, estimativa visual de quebra nas curvas de lactato e uso de modelos matemáticos, respectivamente. Dentro das condições experimentais do presente estudo, no qual não foram realizados testes com cargas contínuas para verificar os efeitos das intensidades determinadas pelos diferentes métodos, o principal achado foi que a média das cargas identificadas pelo OBLA, foi significativamente menor quando comparada as médias das cargas do LL de IAT e log-log (p < 0,05). Além disso, foi observado que não houve diferenças significativas entre as médias das cargas identificadas pelos métodos log-log e IAT (Figura 1). Diversos autores têm identificado o LL por meio de uma concentração fixa de 4mml/l [13,19,20]. Alguns autores têm inclusive demonstrado que essa é uma intensidade adequada para determinar indiretamente a máxima fase estável do lactato sangüíneo (MLSS). Operacionalmente, se a intensidade de exercício associada ao LL é identificada pela determinação da intensidade, na qual o lactato sangüíneo permanece em steady state, então a terminologia MLSS é mais apropriada [3]. Nesse contexto, Heck et al. [13], por exemplo, justificam a escolha da concentração fixa de 4 mml/l, em função da maioria dos sujeitos apresentarem, nesta intensidade de exercício, o máximo balanço entre produção e remoção de lactato. Embora estes pesquisadores tenham proposto uma concentração fixa de 4mml/L para determinar a MLSS, outros estudos verificaram que a concentração de lactato correspondente a esta intensidade, pode variar de 3,0 a 5,5 mml/L. Mesmo com esta variabilidade, o OBLA ainda é um dos critérios mais utilizados para determinar a MLSS [21,22]. Todavia, devido a críticas na utilização de concentrações fixas e a falta de individualização, alguns protocolos foram desenvolvidos com o objetivo de estimar indiretamente a MLSS. Nessa direção, Stegmann, Kindermann & Schnabel [12] propuseram um protocolo que levava em consideração a cinética individual do lactato durante o teste incremental, chamado de IAT, pois segundo estes pesquisadores, embora a concentração de lactato na MLSS seja aproximadamente 4mml/l, em seus estudos foi encontrada uma variação individual muito grande (1,5 – 7,0 mml/l). Sendo assim, eles acreditavam que esta metodologia seria capaz de identificar a MLSS de forma individualizada. Segundo Beneke et al. [23], o limiar de OBLA e o IAT parecem ser bastante representativos do MLSS em corrida e ciclismo e inclusive são os métodos mais comumente usados para a detecção de LL em remadores. Visando verificar se estes dois métodos também teriam uma boa correlação com o MLSS no remo, os pesquisadores usaram um teste máximo em remoergômetro para comparar a carga de trabalho correspondente ao limiar de lactato entre os métodos OBLA e IAT. O estudo concluiu não haver diferenças significativas entre 146 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 os dois métodos, porém, as cargas de trabalho identificadas pelos mesmos foram sempre maiores que a carga de MLSS. O presente estudo parece não corroborar com o resultado encontrado acima, uma vez que a média das cargas identificadas pelo OBLA foi significativamente menor quando comparada a médias das cargas do LL de IAT e log-log. Além disso, o procedimento estatístico sugerido por Bland e Altman [18] foi usado para expressar o grau de concordância entre os valores dos limiares obtidos a partir dos métodos usados. Na análise gráfica foi possível observar um erro médio de 27,38 (watts) para comparação de log-log versus OBLA e um erro médio de 22,92 (watts) para a comparação de IAT versus OBLA (Figuras 2A e 2B). A partir desses resultados, pode-se verificar que o uso do log-log e possivelmente do IAT implica na determinação de uma carga de trabalho um estágio acima daquela prevista pelo OBLA. Escolher um ou outro critério de determinação nesse caso pode ser um fator ímpar da prescrição e modulação da intensidade do treinamento e consequentemente no sucesso do programa, pois o treinador que desejar promover adaptações predominantemente aeróbias (abaixo do LL) pode equivocar-se ao escolher um critério que teoricamente identifica um “limiar”, mas que na prática esse limiar está associado a uma intesidade de treinamento onde a glicólise aeróbia não dá conta da produção de ATP para fornecer energia ao trabalho realizado. Cabe lembrar que neste estudo o objetivo foi comparar as cargas de trabalho correspondentes ao LL, sem a realização de testes contínuos de carga constante para verificar a relação desses valores com a MLSS. Por essa razão, os resultados devem ser analizados com cautela e somente suposições podem ser realizadas com respeito às cargas de trabalho dos LL previstas pelos critérios avaliados e seus efeitos crônicos no desempenho. Para que se tenha uma relação precisa entre os valores de limiar e a MLSS, novas pesquisas devem ser realizadas. Supõe-se que o fato de que as cargas de trabalho associadas ao limiar de lactato terem sido significativamente menores no método 4mml/l na comparação dos métodos IAT versus loglog indica que, neste estudo, o método de concentração fixa subestimou a carga de limiar. Baptista et al. [21], comparando o OBLA com um método que respeita a individualidade fisiológica de cada indivíduo, chamado Dmáx, encontrou justamente o oposto deste estudo, pois a carga de trabalho de OBLA superestimou os valores de limiar. Considerando que a detecção do LL é altamente dependente do protocolo realizado, essa diferença pode residir no fato de que a amostra do estudo referido foi composta por atletas remadores, homens e mulheres, submetidos a um protocolo diferente do presente estudo em remoergômetro. Apesar disso, o mecanismo exato que explica as diferenças na cinética do lactato entre diferentes grupos são desconhecidos. Beaver et al. [14] sugeriram o uso da transformação loglog, usando a concentração de lactato em cálculos matemáticos para determinar o LL. Estes pesquisadores concluíram que o lactato apresenta uma abrupta transição de um lento aumento para um rápido aumento na sua concentração sangüínea. Este método acabou sendo aceito por muitos e também criticado por outros que afirmavam, entre outras coisas, que o log-log acaba “criando” um aparente ponto de quebra antes inexistente [24]. Contudo, no presente estudo, quando comparado o valor médio de carga do LL definida por log-log com o LL de IAT, não foram observadas diferenças significativas (Figura 1). Além disso, a análise gráfica permitiu concluir que há uma boa concordância entre os métodos loglog e IAT, apresentando um valor de bias de 2,09 (W) (Figura 2C). Esses resultados indicam, dentro das condições experimentais deste estudo, que ambos os métodos identificam as mesmas intensidades, porém cabe lembrar que o método do IAT requer que sejam feitas coletas de sangue também durante a fase de recuperação, o que aumenta os custos com materiais necessários para a coleta, e a definição dos pontos de quebra ainda é altamente dependente da experiência do avaliador. Por essas razões, para circunstâncias em que o objetivo seja identificar uma intensidade associada ao LL com maior praticidade, economia e objetividade, recomenda-se o uso do log-log [14]. Há na literatura, uma enorme variabilidade de métodos, fato este que ainda representa um dos maiores problemas quando o objetivo é identificar LL ou fenômenos semelhantes, principalmente naquilo que se refere à comparação entre os estudos desse tipo [3,22]. Este trabalho utilizou um mesmo protocolo de coleta e teve como principal foco comparar diferentes critérios de identificação do LL, pois a determinação correta desta intensidade pode influenciar diretamente a prescrição e acompanhamento do treinamento. Porém, são necessários novos estudos objetivando comparar métodos, avaliar os resultados obtidos nesse trabalho e se possível levar em conta a utilização de outros tipos de protocolos e populações, para que se possa optar por este ou aquele método com maior segurança. Conclusão Os resultados demonstram que não há diferenças significativas na determinação do LL entre os métodos OBLA versus IAT e log-log, enquanto que o OBLA subestimou o LL quando comparado aos outros métodos investigados. Sugere-se o desenvolvimento de novos estudos que analisem as respostas fisiológicas de indivíduos submetidos a testes de carga contínua em intensidades associadas ao LL identificados nos critérios usados neste estudo. Referências 1. Wassermann K, Hansen JE, Sue SY, Whipp BJ. Principles of exercise testing & interpretation; including pathophysiolgy and clinical applications. 3 ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 1999. 2. Gladden LB. Muscle as a consumer of lactate. Med Sci Sports Exerc 2000;32:764-71. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 3. Svedahl K, Macintosh BR. Anaerobic threshold: The concept and methods of measurement. Can J Appl Physiol 2003;28(2):299-323. 4. 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Saúde Pública, Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu/SP, **Biomédico, mestrando em Patologia, Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu/SP, (CeMENutri),***Professor Titular do Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu, SP, Responsável pelo CeMENutri Resumo Abstract Foram comparados os indicadores sanguíneos (de acidose e hemoconcentração), de 21 homens (20-32 anos) treinados em musculação e divididos em três grupos, segundo o número de exercícios executados: grupo 5 (n = 6) cinco exercícios, grupo 4 (n = 7) quatro exercícios, grupo 3 (n = 8) três exercícios. Foram submetidos à sobrecarga inicial de 80% de uma repetição máxima (1RM), até a exaustão. O sangue foi coletado antes (At) e imediatamente após (Ap) ao teste de exaustão (TE) para a análise de indicadores hemogasimétricos: pH, pO2, pCO2, HCO-3, hemoconcentração (Ht) e glicemia. O efeito do TE sobre cada variável foi avaliado comparando-se os grupos por meio de ANOVA-medidas repetidas para significância de p = 0,05. Houve significância (p < 0,05) na elevação do Ht, glicose e pO2 e redução do pH, pCO2 e HCO-3. Diferença significativa ocorreu entre os grupos apenas em relação ao HCO-3, cuja maior variação foi registrada no grupo 4. Assim, esses marcadores sistêmicos respondem a exaustão muscular de modo semelhante ao envolvimento de três, quatro ou cinco grupamentos musculares. In this study, biochemical markers (eg., acidosis and hemoconcentration) are compared in 21 strength trained male individuals (20-32 years) and divided in three groups, according to the number of executed exercises: group 5 (n = 6) five exercises, group 4 (n = 7) four exercises, group 3 (n = 8) three exercises. All individuals were submitted to an overload exercise at 80% of one maximum repetition (1RM) until exhaustion. Blood samples were drained before and immediately after the test to hemogasometric parameters: pH, pO2, pCO2, HCO-3, hemoconcentration (Ht) and glucose. Exhaustion test (ET) effects over the blood markers were compared by means of ANOVA with group significance level at p = 0.05. Ht, glucose and pO2 elevation, and pH, pCO2 e HCO-3 reduction were significant. There was significant differences among the groups only in relation to HCO-3 that showed higher variation in the group 4. The data gathered suggest that those biochemical markers have similar responses to ET encompassing three, four and five muscle groups. Key-words: exhaustion test, 1RM-test, biochemical markers. Palavras-chave: teste de exaustão, 1RM, indicadores sanguíneos. Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, UNESP – Universidade Estadual Paulista, Rubião Júnior 18618-970 Botucatu SP, Tel: (14) 3811-6128, E-mail: burini@ fmb.unesp.br. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução Sabidamente intensidade e duração do trabalho muscular são os principais indutores do ritmo de fadigamento muscular. Esta por sua vez constitui o end-point para o treinamento máximo e turning-point para o início fisiopatológico do exercício exaustivo. Por estas razões os indicadores da fadiga muscular, e suas sensibilidades e especificidades, são duplamente perseguidos pelos estudiosos dos limites do treinamento e por aqueles do estresse metabólico do exercício exaustivo. Embora a etiologia complexa, a fadiga muscular pode ser precipitada por fatores locais, intramusculares, sistêmicos e centrais. Nos exercícios de alta intensidade e curta duração os fatores locais particularmente a transmissão nervosa, recrutamento miofibrilar e utilização anaeróbia de substratos energéticos parecem ser os mais importantes. Entretanto, para a continuidade do esforço físico, a perfusão adequada do músculo com suprimento sanguíneo de oxigênio e remoção de calor, CO2 e metabolitos ácidos gerados pelo trabalho contrátil, são também importantes [1]. Em humanos os estudos da transmissão dos impulsos nervosos por intermédio da técnica se resumem a músculos individualizados. Por sua vez a tipagem miofibrilar recrutada e o consumo de substratos energéticos intramusculares são estudos envolvendo biópsias de músculos, ainda dependentes de pendências éticas não universalizadas nas regiões brasileiras. O uso da ressonância magnética do fósforo para estudo cinético das vias fosfagênicas veio como alternativa in vivo para o uso da biópsia, mas é limitante pela existência e custo do aparelho [2]. Assim, o estudo local dos fatores intramusculares da fadiga é de difícil execução restando o estudo indireto pela variação dos indicadores sistêmicos (sanguíneos). Em estudo de protocolo de exaustão com pesos envolvendo jovens culturistas do gênero masculino verificou-se que amostras de sangue venoso colhidas antes e após o teste de exaustão individual (iniciando-se a 85% de 1RM) diferiam nos indicadores de acidose, hemoconcentração, glicemia e enzimas características de permeabilidade–lesão muscular [3]. Posteriormente, em amostragem sanguínea antes e após o conjunto de testes de exaustão em três exercícios: supino reto, agachamento na máquina Hack e remada baixa no pulley, sem descanso entre exercícios foi observado que a pCO2 prediz 50% e a aspartato aminotransferase 40% do total de repetições observadas nos 3 exercícios. Somadas essas 2 variáveis a pCO2, hematócrito, HCO3- e fração cardíaca da creatina quinase (CK-MB) o nível preditivo do esforço (repetições) realizado se eleva a 92% [4]. Mais recentemente [5], esse protocolo foi repetido individualmente em 8 exercícios para grupamentos musculares distintos. Em todos os 8 exercícios foram observados reduções 149 significativas do pH e HCO3- sanguíneos e elevações do lactato e NH4 plasmáticos. Rosca direta, puxador alto, supino e mesa flexora diferiram da flexão plantar do tornozelo em pé na máquina e Hack pelo maior número de variáveis sanguíneas alteradas e pela maior magnitude da acidose metabólica e tamponantes (NH4+, lactato e HCO3-). Assim considerando que grupamentos musculares distintos, quando submetidos a exaustão com pesos, apresentam padrão bioquímico-sanguíneo semelhante (acidose metabólica, hemoconcentração e aumento da glicemia), mas de magnitude de variação dependente do grupamento muscular exercitado. O presente estudo pretende investigar o impacto associado da exaustão de 3, 4 ou 5 grupamentos musculares sobre esses parâmetros bioquímicos-sanguíneos da exaustão muscular. Material e métodos Contou-se, neste estudo, inicialmente, com a participação de cinco trabalhos (ntotal=.40) Todos estes visavam a promoção da exaustão muscular por meio de um mesmo tipo de protocolo com exercícios resistidos. Contudo, dois desses trabalhos (n = 19) foram excluídos do estudo, durante a fase analítica, pois apresentaram dados imprecisos. A amostra em estudo foi composta por 21 jovens (20-32 anos) do sexo masculino que estavam de acordo com os procedimentos investigativos e que obedeciam aos critérios de inclusão: mínimo de três anos de prática de exercícios com pesos, não tabagistas, não usuários de esteróides anabolizantes e não portadores de doenças metabólicas. Após serem informados sobre o propósito desta investigação e os procedimentos a serem adotados, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, em conformidade com as instruções contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, processo n° 150/2000- CEP MVCR/asc Avaliação da força muscular (1RM) A força muscular foi determinada por meio do teste de uma repetição máxima (1RM), envolvendo os segmentos do tronco, membros inferiores e membros superiores como descrito por Porto et al. [5]. O teste de 1RM foi realizado no dia anterior ao protocolo de exaustão. Protocolo de exaustão muscular Determinada a carga máxima individual para cada exercício (1RM) [5], em dia anterior, cada um dos atletas realizou (na manhã do dia seguinte) o protocolo para indução da exaustão muscular após café da manhã de composição padronizada oferecido 60 minutos antes. Os exercícios foram 150 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 iniciados com carga individual de 80% de 1RM, realizando o maior número de repetições possíveis sem auxilio externo. Em seguida, com auxilio externo e sem interrupção do exercício, a carga foi reduzida em 20% para a continuidade das repetições, e assim foram realizadas sucessivamente reduções de 20% do peso, até a impossibilidade de continuidade de realização do exercício com a carga mínima (20% de 1RM) [5]. Esta incapacidade de continuidade do exercício configurou o estado de exaustão muscular. Os exercícios abaixo foram selecionados para compor os grupos por serem bastante populares: Grupo com cinco exercícios (G5): Extensão do cotovelo, desenvolvimento pela frente, supino reto, levantamento terra e agachamento hack; Grupo com quatro exercícios (G4): Supino reto, rosca direta com barra, agachamento hack, tríceps no pulley; Grupo com três exercícios (G3): Agachamento hack, supino reto e rosca direta. Nos momentos pré e imediatamente pós-exaustão, foram avaliados os indicadores sangüíneos, por meio de amostras coletadas da veia cubital, para análises hemogasimétricas (pH, pO2, pCO2 e HCO-3) em aparelho de análise automática (Cobas Mira Plus), glicose (glicose oxidase) e hematócrito mediante centrifugação pelo método de Microhematócrito. Análise estatística O teste de Kolmogorov e Smirnov foi realizado para observar se as amostras tinham distribuição normal. Os resultados foram agrupados mediante valores médios e desvio padrão e, posteriormente, comparados por análise de variância (ANOVA de medidas repetidas entre os momentos), grupos (5, 4 e 3 exercícios) x momentos (pré e pós) com nível de significância” p< 0,05. Resultados Ao compararmos os momentos pré e pós TE nos três protocolos, observou-se queda significativa nos valores do pH e pCO2 (pré > pós), porém, estes não apresentaram diferença significativa entre os grupos (Tabelas I e II). Em relação ao íon HCO-3, este foi o único parâmetro que apresentou diferença significativa entre os grupos, sendo o grupo quatro (G4) aquele que apresentou maior variação em relação aos demais (Tabela II). Para a variável PO2 os valores se elevaram significantemente para todos os grupos (pré < pós), contudo, não houve variação significativa entre esses mesmos valores (Tabelas I e II). Os parâmetros correspondentes a hemoconcentração (hematócrito) e substrato energético (glicose) acompanharam o pO2, pois aumentaram significativamente seus valores em comparação ao momento pré, porém não apresentaram diferença entre si (Tabelas I e II). Tabela I - Valores hemogasimétricos, hemoconcentração e glicemia no momento pré-teste de exaustão com três, quatro ou cinco exercícios. Variável pH pCO2 (mmHg) pO2 (mmHg) HCO-3 (mmol/l) Ht (%) Glicose (mg/dl) G3 7,3 ± 0,03 59,8 ± 5 24,7 ± 5,1 29,7 ± 2,2 46,8 ± 2,4 85,1 ± 3,0 G4 7,4 ± 0,03 44,7 ± 5,2 37,1 ± 14,8 25,2 ± 1,7 48,1 ± 6,6 88,0 ± 16,9 G5 7,4 ± 0,02 46,1 ± 3,6 4,2 ± 25,6 25,6 ± 2,1 46,3 ± 4,0 89,8 ± 4,6 Os valores são média ± desvio padrão; pH = concentração de H+ em -log10, pCO2 = pressão parcial de dióxido de carbono; pO2 = pressão parcial de oxigênio; Ht = hematócrito; Glicose = glicemia de jejum. Tabela II - Delta percentual dos dados hemogasimétricos, hematócritos e glicemia após teste de exaustão com três, quatro ou cinco exercícios. Variável pH pCO2 (mmHg) pO2 (mmHg) HCO-3 (mmol/l) Ht (%) Glicose (mg/dl) G3 -1,8 ± 1,5 G4 -2,7 ± 0,8 -24,7 ± -8,3 ± 26,3 17,3 106,6 ± 59,7 ± 112,4 56,8 -51,4 ± -33,5 ± 9,1 7,9* 10,2 ± 5,4 9,1 ± 13,8 13,4 ± 20,5 8,6 ± 24,5 G5 -2,8 ± 1,2 p ns 4,7 ± 24,0 ns 23,4 ± 28,3 ns -36,4 ± 5,8 <0,001 6,0 ± 7,2 14,7 ± 10,7 ns ns *Diferença significativa do G3 e G5, Anova - one way (post hoc - Bonferroni). Os valores são média ± desvio padrão; pH = concentração de H+ em -log10; pCO2, = pressão parcial de dióxido de carbono; pO2 = pressão parcial de oxigênio; Ht = hematócrito; Glicose = glicemia de jejum. Discussão A fadiga muscular nos últimos anos tem sido o escopo de investigação em inúmeras publicações pertencentes à área da fisiologia do exercício [6,7]. O grande volume de trabalhos publicados referentes a essa temática sinaliza o forte interesse que os fisiologistas têm de compreender, em maior profundidade, esse mecanismo tão importante ao nosso corpo. Sugere-se que a fadiga muscular seja possível mecanismo protetor aos eventuais efeitos deletérios da integridade da fibra muscular esquelética [8]. Sendo esta modulada pelo tipo, intensidade e duração do trabalho muscular, tipologia de fibras musculares recrutadas, do nível de treinamento do sujeito e das condições ambientais de realização do exercício [9-11]. Apesar dos estudos in vivo realizados em animais [12,13] e em humanos [14,15] terem constituído ferramenta fundamental para o estabelecimento do estudo da fadiga central em exercício prolongado, pouco se sabe sobre as possíveis Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 implicações sistêmicas que a fadiga periférica causa após exercícios de curta duração e de alta intensidade. O uso do teste de 1RM, como ponto de referência para o teste de exaustão em grupamentos musculares, vem sendo sugerido pela literatura [16], assim como os indicadores de acidose [5], variações hormonais [16-18] e de substratos energéticos [11,19] e dos seus metabólitos como parâmetros sistêmicos dimensionadores da intensidade da fadiga (exaustão) [1,5,20]. Os protocolos de indução a exaustão aplicados, caracterizados pelo exercício contínuo e com intervalo mínimo de recuperação entre as séries, com cargas diferentes, repercute em respostas acentuadas nos indicadores do metabolismo anaeróbio, gerando, consequentemente, produção crescente de metabólitos com acúmulo de íons hidrogênio (H+) desencadeando o estado de acidose [20]. O organismo dispõe de mecanismos específicos que regulam a concentração de H+ no sangue denominados sistemas tampões, sendo estes classificados em químicos ou fisiológicos [20]. O bicarbonato (tampão químico) atua como agente de rápida ação na manutenção ácido-básica, já o mecanismo de hiperventilação (tampão fisiológico) entra em ação quando os tampões químicos estão esgotados, ou seja, a segunda linha de defesa entra em ação quando já ocorreu alteração no pH [20]. Com o exercício intenso, há maior produção de dióxido de carbono em virtude do tamponamento do lactato que se acumula, em parte por causa da glicólise anaeróbica aumentada. O CO2 plasmático em excesso estimula imediatamente o centro bulbar aumentando a freqüência e amplitude dos movimentos respiratórios resultando em aumento na oxigenação sanguínea para eliminar este excedente [20]. O Ht e O2 aumentaram significativamente, sendo relacionado a fadiga muscular pelo aumento da viscosidade sanguínea e conseqüente redução no transporte de O2, remoção do CO2 e outros metabólitos [21]. A glicemia aumentou significativamente após o TE, provavelmente pela descarga simpática, desencadeando a glicogenólise e neoglicogênese hepática [5]. O teste de exaustão aplicado nos três protocolos com carga inicial de 80% de 1RM mostrou causar estresse sistêmico, pois alterou significativamente vários parâmetros dimensionadores de intensidade da fadiga muscular. Contudo, não diferiu entre os grupos, mostrando que a ordem e a quantidade de exercícios não interferiram na resposta sistêmica. Conclusão Os exercícios exaustivos provocaram de forma e intensidade semelhantes acidose metabólica, hemoconcentração e elevação da glicemia. Portanto, a magnitude desses fatores não tem correlação com o número de exercícios realizados. Em outras palavras, adotar protocolo com elevado número de exercícios não constitui condição indispensável para atingir fatiga muscular de maior intensidade. 151 Referências 1. Cyrino ES, Burini RC. Modulação nutricional da fadiga. 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Em período médio/longo há uma significativa redução na força muscular dinâmica e estática concomitante com uma diminuição da atividade eletromiográfica. A atrofia das fibras musculares ocorre tanto em atletas como em não-atletas, principalmente nas fibras do tipo II. Quanto à imobilização, observa-se que períodos entre 3-6 semanas reduzem a força concêntrica e excêntrica. Períodos superiores a duas semanas causam atrofia muscular sendo esta a maior conseqüência da imobilização, exacerbada com a imobilização em posição encurtada. A redução na força está associada a menor ativação muscular, diminuindo inclusive os receptores de acetilcolina na placa motora. Studies have shown that detraining leads to a reversal of the morphological and physiological adaptations achieved through training. In the medium/long term there is a significant reduction in dynamic and static muscular force concomitant with reduced electromyographic activity. In both athletes and non-athletes, atrophy occurs mainly in the type II muscle fibers. Regarding immobilization, periods of 3 to 6 weeks are seen to reduce concentric and eccentric force. Periods longer than two weeks cause muscular atrophy, which is the greatest consequence of immobilization and this consequence is exacerbated by immobilization in a shortened position. The reduction in force is related to the reduced muscular activation, while decreasing the acetylcholine receptors in the motor plate. Palavras-chave: adaptações ao destreinamento, exercício físico, inatividade, adaptações neuromusculares. Key-words: detraining adaptations, exercise, inactivity, neuromuscular adaptations. Endereço para correspondência: Michel Arias Brentano, GPAT, Laboratório de Pesquisa do Exercício, UFRGS, Rua Felizardo, 750, 90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51)33085842, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução Quando se interrompe ou se reduz o treinamento, seja em seu volume, intensidade ou freqüência, ou mesmo uma associação destes, esta interrupção poderá implicar destreinamento, sendo este, um processo de descondicionamento que afeta o desempenho através da diminuição da capacidade fisiológica [1]. Esta interrupção pode ser espontânea, ou condicionada devido a uma lesão, às vezes passível de imobilização. Como resultado do destreinamento, verificamos reduções nas adaptações morfológicas (massa corporal magra) e fisiológicas (capacidade respiratória, força muscular) que influenciam de forma negativa a funcionalidade das atividades de vida diária em indivíduos comuns, ou no desempenho de atletas. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é revisar as principais características funcionais e fisiológicas acarretadas pelo destreinamento, causado pela interrupção completa ou parcial do treinamento. O destreinamento Uma das mais importantes características do músculo esquelético é a sua capacidade de adaptação a variados estados e demandas funcionais, atividades neuromusculares e estímulos hormonais [2]. O treinamento físico implica em estresse fisiológico, que provoca adaptações funcionais no músculo para resistir a tal estresse. Por outro lado, o processo inverso, ou seja, o destreinamento gera a reversão total ou parcial das adaptações funcionais alcançadas em treinamento [2]. Em relação ao treinamento de força, a diminuição na massa magra é mediada pela diminuição no tamanho e/ou número de células musculares, especialmente as fibras tipo II [3]. Teoricamente, a atrofia de fibras musculares extremamente hipertrofiadas (como é o caso de atletas altamente treinados em força), especialmente fibras do tipo II, causa diminuições na força muscular. Alterações hormonais podem também contribuir para a atrofia. Por outro lado, uma redução na condução neural das unidades motoras pode reduzir a força máxima sem atrofia muscular [3]. Também é conhecido que em destreinamento ocorrem diminuições na ativação voluntária máxima do músculo, e na força em adultos jovens, acompanhadas de atrofia muscular [3]. Os dados encontrados até o momento sugerem que a força muscular retorna aos níveis de controle após várias semanas de destreinamento, através da reversão das adaptações hormonais e neuromusculares. Além disso, a força muscular é mais bem preservada durante o destreinamento se o programa incluir contrações excêntricas [4]. Em relação às modalidades esportivas essencialmente aeróbias (também conhecidas como esportes de endurance), reduções no consumo máximo de oxigênio (VO2max) em destreinamento são associadas a reduções na performance em endurance [5-9]. Estas alterações são acompanhadas por fatores como redução na atividade de enzimas oxi- 153 dativas [5-12], alterações cardiovasculares e respiratórias [5,7,8,11,13]. Como as adaptações decorrentes do destreinamento são variadas, a seguir, elas serão apresentadas separadamente. Força muscular Os estudos que avaliaram a força muscular constataram uma redução na performance em períodos longos de destreinamento [14]. Porém, esta redução não foi maior que 7-12% em 8-12 semanas de destreinamento [2], e 16-21% no mesmo período para [15]. Períodos reduzidos de destreinamento, inferiores a duas semanas, parecem não afetar os níveis de força isométrica, sendo que uma pequena redução na força concêntrica pode ser observada [16] (Tabela I). Esse efeito está associado com uma diminuição da atividade muscular, além de atrofia muscular, após 12 semanas de destreinamento [17]. Para atletas treinados em força, após um longo período de interrupção de treinamento (12 semanas), a força excêntrica diminui [18], o mesmo ocorrendo com a força isométrica [18]. Entretanto, Hortobagyi et al. [18] constataram que a força concêntrica não se altera de forma relevante (Tabela I). A redução na força excêntrica pode estar associada com a atrofia das fibras tipo II, se existir um recrutamento preferencial destas fibras [19] durante essa fase de movimento. Em indivíduos não-atletas, a força máxima, de extensão do joelho bilateral, diminuiu após 8 semanas [13] e 12 semanas de destreinamento [15,20], permanecendo, porém, acima dos valores pré-treinamento. Já Housh et al. [21] verificaram que sujeitos destreinados durante oito semanas após treinamento excêntrico com pesos livres, não alteraram o seu pico de torque concêntrico em pós-treinamento e pós-destreinamento (Tabela I). Neste caso, o treinamento apenas excêntrico não parece ter sido um estímulo suficiente para aumentar o pico de torque concêntrico isocinético. Os ganhos na força muscular foram mantidos mesmo após as oito semanas de inatividade, tanto para o membro inferior treinado como para o não treinado. O aumento de força do membro contralateral não treinado pode ser relacionado a fatores neurais relacionados com o cross-education e/ou a contração muscular do membro não-treinado para manter a posição e o equilíbrio na realização do exercício do membro treinado [21]. Em um período de destreinamento e de longa duração (30-32 semanas), mulheres treinadas em força reduziram sua força máxima nos exercícios de pressão de pernas e extensão de joelhos, mas não no agachamento [22], entretanto, após um período de retreinamento, e uma nova interrupção de quatro semanas, e mais sete semanas de retreinamento, apenas o agachamento apresentou uma redução significativa. Estas mesmas mulheres, quando submetidas ao retreinamento de 6 semanas, recuperaram seus níveis de força alcançadas ao final do primeiro período de treinamento, contudo em um menor espaço de tempo; enquanto que com as outras sete semanas de retreinamento os níveis de força no agachamento e extensão de pernas apresentaram significativos aumentos. 154 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Em indivíduos de meia idade ou idosos, a força máxima não se altera em destreinamento de curta duração (3 semanas) e diminui se o destreinamento for de longa duração (24 semanas) [3]. Também em crianças observa-se a diminuição da força durante o destreinamento: Feigenbaum et al. apud Mujika e Padilla [2] constataram que crianças entre 7-12 anos, após treinarem 8 semanas e destreinarem por mais 8, tiveram uma queda semanal de 3% na força, sendo que, ao final de 8 semanas de destreinamento, os sujeitos atingiram os valores de força do grupo controle; sugerindo que para se manter os ganhos de força em crianças se deve manter a continuidade do treinamento. O pico de torque concêntrico parece diminuir de forma uniforme, assim como o excêntrico, com o aumento da velocidade angular de teste em destreinamento, não sendo, portanto, alterado o padrão da curva de torque-velocidade em função do destreinamento [15,20], porém, verificaramse reduções de força apenas nas velocidades mais baixas, sem nenhuma alteração em velocidades altas. A força relativa a testes de peso livre não se alterou em atletas treinados em força no supino e no agachamento, após 12 semanas de destreinamento [18]; tais resultados foram atribuídos a não alteração na força concêntrica, que segundo Hortobagyi et al. [18], é determinante para a performance em exercícios com pesos livres. De acordo com esta hipótese, está o trabalho de Colliander e Tesch [20], que verificou uma redução da força excêntrica em teste de 3-RM no agachamento com pesos livres, após destreinamento subseqüente a treinamento de força apenas concêntrico, ou com contrações mistas. No entanto, Housh et al. [21] não observaram alterações na força excêntrica máxima, após oito semanas de destreinamento, subseqüente a oito semanas de treinamento apenas excêntrico com pesos livres, em sujeitos não atletas. Também não encontrou reduções significativas na força excêntrica no agachamento, após 5 meses de destreinamento seguintes a oito semanas de treinamento de força [14]. No geral, a força muscular não é reduzida aos valores pré-treinamento com o período de inatividade. No entanto, Narici et al. [23] verificaram uma redução na força máxima isométrica, após 40 dias de destreino, em taxas semelhantes aos ganhos no treinamento isocinético do quadríceps, sendo que ao final do período, os valores da força se mostraram similares aos do início do treinamento. Ativação muscular A ativação muscular corresponde aos impulsos nervosos transmitidos às unidades motoras recrutadas para produzir força. A eletromiografia (EMG) tem servido como parâmetro para avaliar os níveis de ativação muscular durante a contração [1]. Para atletas altamente treinados, após interromperem o treinamento por longo período (12 semanas), não houve alterações significativas na EMG de extensores e flexores de joelho, tanto nas contrações isocinéticas quanto nas isométricas [18]. Apesar disso, Mujika e Padilla [2] afirmam que atletas treinados em força apresentam uma diminuição na atividade eletromiográfica em destreinamento, sendo que a queda na produção de força está associada a este fenômeno. Em sujeitos não-atletas, submetidos a destreinamento, os valores médios de EMG, reduzem tanto nas ações dinâmicas [17], como nas isométricas [17,23] (Tabela 1). Esta queda na EMG pode estar associada a uma diminuição da sincronização das unidades motoras; já para Hakkinen et al. [3], esta diminuição não ficou tão clara assim em indivíduos idosos e de meia idade, submetidos a destreinamento de 3 ou 24 semanas. A atividade muscular parece diminuir de forma mais significativa nas primeiras quatro semanas de destreinamento [17], sendo que as suas reduções no destreinamento podem se comportar de forma semelhante ao seu aumento com o treinamento, só que em sentido contrário [23]. Entretanto, a ativação dos músculos antagonistas parece não ser influenciada com destreinamento de curta e longa duração – 3 e 24 semanas, respectivamente [3]. Tabela I - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações neuromusculares. Onde: 1-RM= uma repetição máxima; Exc= excêntrica; Conc= concêntrica; Iso= isométrica; EMG= eletromiografia; n.s.= não significativo. Referência Thorstensson (1977) Hakkinen & Komi (1983) Coyle et al (1985) Narici et al (1989) Ishida et al (1990) Colliander & Tesh (1991) Staron et al (1991) Hortobagyi et al (1993) Housh et al (1996) Hakkinen et al (2000) Billeter et al (2003) Condições Período 5 meses 8 semanas 12 semanas 40 dias 8 semanas 12 semanas 30 semanas 2 semanas 8 semanas 3-24 semanas 3 anos Treino força força aeróbio força força força força força força força força Força muscular 1-RM Exc - 16,3% - 22% n.s. - 10,2% - 24,9% n.s. - 12% n.s. - 5% - Exc - 7,7% n.s. - Isom - 12% - 15% n.s. - 7% - 10,5% - EMG - 6% - 20% - 11,4% n.s. - Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Composição corporal 155 promover uma hipertrofia seletiva das fibras do tipo II, já que estas respondem melhor ao treinamento intenso [14,18,25], além da possibilidade de fatores genéticos influenciarem esta seletividade, principalmente em atletas de alto nível [25]. Para sujeitos não atletas, o destreinamento de curta duração não altera significativamente a AST das fibras musculares, porém destreinados em longo prazo, demonstram uma redução na mesma [3,22] (Tabela II), mas não suficiente para que a AST alcance seu valor pré-treinamento, podendo esta ser uma das explicações para a manutenção de algum nível de força após o destreinamento [22]. Narici et al. [23] também verificaram uma atrofia muscular de cerca de 10% no quadríceps após 40 dias de destreinamento; enquanto Houston et al. [15] relataram que apenas as fibras do tipo IIb sofreram reduções significativas na sua área após 12 semanas de destreinamento. Quando o treinamento consistiu em trabalho aeróbico, também se verificou uma redução na AST após destreinamento, inclusive conduzindo os valores aos mesmos observados antes do treinamento [5]. Distribuição de fibras: Estudos mostram que nas semanas iniciais, não há uma modificação na distribuição das fibras musculares em geral. Porém em períodos maiores, como em 8 semanas de destreinamento, atletas treinados em força apresentam um aumento na proporção de fibras oxidativas [2]. No entanto, o destreinamento de longa duração (12 semanas) não parece ter influenciado a distribuição dos percentuais de fibras musculares [18] em atletas altamente treinados; em contraste, atletas treinados aerobicamente, apresentam uma redução do percentual de fibras IIa com um concomitante aumento do percentual de fibras IIb, com as mesmas 12 semanas de destreinamento, sem apresentarem alterações no tipo I [7], ou com conversões entre o tipo II e tipo I de fibras, aumentando o percentual destas últimas [5], ou ainda sem apresentarem alterações percentuais na distribuição de fibras [5,24,26] (Tabela II). Para indivíduos não atletas, o destreinamento causa um aumento na proporção de fibras do tipo IIa com uma concomitante redução no percentual das fibras IIb [22] (Tabela II). A massa corporal e a composição corporal de atletas treinados em força, não se modificaram após 12 semanas de destreinamento [18], assim como a dos atletas treinados em endurance [10-12]. Já para indivíduos não atletas, a massa corporal parece reduzir após destreinamento sem alteração na composição corporal [17,22]. Entretanto, Colliander e Tesch [20] verificaram um aumento no percentual de gordura corporal em um grupo que foi submetido a destreinamento de 12 semanas, após treinarem 12 semanas somente com contrações concêntricas. Thorstensson [14] verificou um aumento do percentual de gordura após 5 meses de destreinamento. Para indivíduos idosos, o percentual de gordura é diminuído após uma seqüência de treinamento, destreinamento e retreinamento, enquanto aumenta para indivíduos de meia idade em períodos longos de destreinamento [3]. Em contraste, Linossier et al. [24], não verificaram nenhuma alteração na composição ou peso corporal, após sete semanas de destreinamento em sedentários após treinamento aeróbio. Massa corporal magra: Atletas treinados em força apresentam uma rápida diminuição na área de secção transversal do músculo com o destreinamento, apesar de que pequenos períodos de destreinamento parecem afetar apenas a área das fibras tipo II [2]. O destreinamento de longa duração parece induzir a uma grande diminuição da área de secção transversa das fibras (AST), do tipo I e do tipo II, sendo estas últimas mais afetadas [2]. Esta observação está de acordo com as observações de Staron et al. apud Mujika e Padilla [2], em 7 meses de destreinamento, atletas de levantamento básico diminuíram em 37,1% a AST de suas fibras musculares. Em atletas treinados em força, no entanto, as fibras do tipo I podem permanecer com sua AST inalterada após o destreinamento de longo prazo, sendo encontrados resultados significativos apenas nas fibras do tipo II [18,25] (Tabela II). Isto foi atribuído ao regime de treinamento de tais atletas, Tabela II - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações morfológicas. Onde: AST= área de secção transversal; F I = fibras do tipo I; F IIa= fibras do tipo IIa; F IIb= fibras do tipo IIb;n.s.=não significativo. Hakkinen et al (2000) Condições Período 5 meses 15 dias 8 semanas 12 semanas 40 dias 8 semanas 30 semanas 2 semanas 7 semanas 3-24 semanas Billeter et al (2003) 3 anos Referência Thorstensson (1977) Houston et al (1979) Klausen et al (1981) Coyle et al (1985) Narici et al (1989) Ishida et al (1990) Staron et al (1991) Hortobagyi et al (1993) Linossier et al (1997) Treino força aeróbio aeróbio aeróbio força força força força aeróbio força Secção transversal e distribuição de fibras AST total AST F I AST F IIa AST F IIb n.s. n.s. n.s. n.s. - 11,9% - 5,9% -10,6% - 5% n.s. n.s. n.s. -14,2% n.s. - 6,4% - 6,4% n.s. n.s. - %FI n.s. - 6,1% n.s. n.s n.s. n.s. - % F IIa n.s. n.s. - 13% + 23,3% n.s. n.s. - % F IIb n.s. + 3,1% + 14% - 16,5% n.s. n.s. - força - + 13% - - 13% n.s. - 25% - 25% 156 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Interessante que, neste estudo, as alterações na distribuição de fibras não acompanharam os mesmos níveis de alterações observados na AST. Cadeias de miosina: O treinamento de força, com ênfase na força dinâmica explosiva, leva a um aumento da expressão da cadeia leve de miosina (MyoLC), mostrando a tendência de um fenótipo de fibras de contração rápida, já que um aumento da proporção da MyoLC tem sido associada ao aumento da velocidade de contração em humanos [25]. Funcionalidade muscular Poucos estudos analisaram os efeitos do destreinamento em atividades funcionais, sendo que a maioria envolve os eventuais efeitos no desenvolvimento de potência em saltos [3,18,24] e a velocidade de caminhada [3]. Por exemplo, a potência muscular de atletas treinados em força, após 12 semanas de destreinamento, analisada através de salto vertical, não mostrou nenhum resultado significativo [18]. Da mesma forma, indivíduos não-atletas parecem não ter a potência muscular influenciada por um destreinamento de curta ou longa duração [3]. Ainda, a velocidade de caminhada em sujeitos de meia idade e idosos, não demonstrou alteração após 3 semanas, ou após 24 semanas de destreinamento [3]. Com o treinamento aeróbico de alta intensidade (sprint), as melhoras na velocidade máxima e potência máxima em indivíduos não-atletas, não foram alteradas com sete semanas de destreinamento [24]. Percebe-se que ainda são escassas as informações sobre essa questão. Entretanto, diferentemente dos níveis de força, atividades funcionais parecem não sofrer uma influência aguda do destreinamento, tanto em indivíduos atletas como não-atletas. A imobilização A imobilização pode ser caracterizada como um processo pelo qual um membro é privado, ao menos em parte, de seu movimento, durante alguns dias. Tal procedimento se faz necessário em alguns casos de lesão, e é comum em traumas como a fratura. Esta interrupção forçada parece ser mais severa do que a simples inatividade sem abstenção do movimento (destreinamento), ao menos no que tange à atrofia muscular [27]. Força muscular A imobilização em períodos curtos diminui a força excêntrica e concêntrica de forma significativa (Tabela III) [4,28-30], tanto para o membro inferior imobilizado quanto para o não imobilizado. A força isométrica também é reduzida após períodos relativamente curtos de imobilização [27,31] para extensores do joelho, sendo afetado pela redução tanto o membro inferior submetido à imobilização como o não submetido à imobilização [4]. A diminuição da força muscular após imobilização pode estar associada à diminuição das proteínas contráteis [29,31]. A grande redução de força no membro imobilizado, encontrada por Hortobagyi et al. [4], pode ter sido potencializada pela posição de imobilização com o músculo em um pequeno comprimento (encurtado). Estudos demonstram que o pico de torque dos extensores do joelho, em indivíduos saudáveis submetidos à imobilização, diminui em todas as velocidades de teste isocinético, assim como para os flexores – exceto na velocidade mais alta de teste (3.14 rad.s-1) realizado por Deschenes et al. [31] – sendo a redução média mais significativa para os extensores de joelho [27,31]. A redução do torque isocinético dos extensores do joelho tende a ser menor à medida que a velocidade de contração aumenta [27,31]. A queda de força no quadríceps é atribuída à redução da capacidade do sistema nervoso em excitar o músculo [31]. Entretanto, deve ser considerado o fato de a análise de força isocinética não imitar as condições normais do uso da força muscular, somado ao fato de a diminuição temporária da coordenação, após a imobilização, afetar a realização dos testes isocinéticos. Além disso, a força isocinética é relacionada com os níveis funcionais iniciais dos indivíduos, enquanto a fadiga muscular para contrações isocinéticas é atribuída à estrutura muscular [27]. Grandes ganhos de força muscular com uso de contrações excêntricas após a imobilização podem ser relacionados à grande quantidade de trabalho durante contrações excêntricas [4]. A força dinâmica tende a recuperar-se mais rapidamente com retreinamento após a imobilização, se as contrações realizadas no retreinamento envolverem contrações excêntricas [3], sendo que o tempo de recuperação com contrações somente excêntricas ou excêntricas combinadas com concêntricas seja reduzido à metade do tempo necessário para a recuperação da força com contrações somente concêntricas [3]. Enquanto atletas demonstram um déficit de 20% de força após recuperação espontânea, Grimby et al. apud Hortobagyi et al. [4]), sujeitos não exercitados recuperaram-se completamente após 12 semanas; sugerindo diferenças no comportamento muscular de atletas e indivíduos inicialmente inativos. A imobilização em posição encurtada também pode ter um efeito negativo na resistência muscular, devido ao aumento da quantidade e rigidez de elementos musculares passivos, Willians et al. apud Hortobagyi et al. [4]. Além disso, a diminuição da atividade das enzimas oxidativas em pacientes com lesões [27,29], pode influenciar esse aspecto. A resistência à fadiga muscular – mensurada após 30 repetições a 3.14 rad.s-1, dividindo o trabalho total produzido nas dez primeiras, pelo trabalho total produzido nas dez últimas – aumentou após 2 semanas de imobilização dos extensores e flexores do joelho [31], resultado este que não era o esperado, sendo ele, contrário as observações de redução da resistência isocinética, após quatro semanas de imobilização de extensores do joelho [27]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Ativação muscular 157 aumento da degradação das mesmas é o mecanismo predominante da atrofia durante as primeiras semanas de imobilização [4]. Outro estudo associou a indução à diminuição da força por imobilização à atrofia do músculo ou de suas miofibrilas [31]. Entretanto, a atrofia das miofibrilas e do músculo como um todo necessita de períodos de imobilização de pelo menos 4-6 semanas [31]. Períodos mais curtos parecem não estar relacionados com a atrofia muscular, porém isto não foi demonstrado por Berg et al. [30] e por Hortobagyi et al. [4], que encontraram uma atrofia de fibras tipo I e II após 3-4 semanas de imobilização. Geralmente a AST das fibras tipo II é mais reduzida que a das fibras do tipo I, porém isto não foi verdadeiro para o estudo de Hortobagyi et al. [4]; mas foi demonstrado por MacDougall et al. [32], que observaram uma redução de 25% para tipo I e 30% para tipo II, que a diferença entre as duas áreas foi significativa, inclusive comparando a razão entre tipos II e I de fibras, concluiu-se que a atrofia afetou mais as fibras do tipo II, indicando uma atrofia seletiva. Nos períodos mais curtos de imobilização (9 ou 10 dias), a diminuição da força muscular não se dá através da atrofia, pois a degradação das proteínas contráteis é lenta, assim como os ganhos de força iniciais não se dão por hipertrofia nas primeiras semanas de treinamento; ambos fenômenos se relacionam, portanto, a alterações neuromusculares [31]. A imobilização prolongada reduz significativamente a AST das fibras musculares [3,27,28]. Entretanto, após um re-treinamento seguinte a imobilização, Hortobagyi et al. [4] verificaram um aumento da AST das fibras, sendo as respostas diferentes em cada tipo de treinamento realizado: as fibras tipo I hipertrofiaram 10, 11 e 4%, enquanto as do tipo IIx mostraram uma hipertrofia de 16, 10, 5%, e as IIa de 16, 9 e 5% em indivíduos retreinados em contrações apenas excêntricas, excêntricas-concêntricas e somente concêntricas, respectivamente. Estudos realizados em animais demonstram que a atrofia é mais significativa quando a imobilização é em posição encurtada [27]. Trabalhos semelhantes, também demonstram que a atrofia afeta mais músculos com maior proporção de fibras tipo I; estes resultados confrontam a teoria de que o quadríceps é mais suscetível à atrofia do que os ísquios tibiais, já que estes são ricos em fibras tipo I, Johnson et al. apud Veldhuizen et al [27]. Porém, das quatro porções do quadríceps, três são mono- As diminuições de força muscular estão diretamente associadas à redução da função neuromuscular, sendo que, em períodos curtos de imobilização (9 ou 10 dias), a redução da força parece ser conseqüência exclusiva da diminuição da ativação neural, já que não se verifica atrofia muscular em períodos tão reduzidos de imobilização [31]. A imobilização pode diminuir o potencial de reflexo, a atividade EMG (Tabela III), a taxa de ativação das unidades motoras, o potencial de repouso da membrana, os fatores neurotrópicos, e afeta as propriedades mecânicas do músculo [4]. A imobilização parece reduzir a EMG, de forma relacionada com a redução da força, tanto dinâmica quanto isométrica [4,29]. Entretanto, parece não haver diferenças no percentual de alteração da EMG quando comparadas as forças excêntricas, concêntricas e isométricas. Assim como a EMG diminui paralelamente a força, ela tende a reverter este processo também de forma paralela à recuperação da força após retreinamento subseqüente à imobilização [3]. A recuperação da EMG parece ser também dependente do tipo de contração utilizada no retreinamento. Hortobagyi et al. [4] demonstraram que o maior nível de recuperação da EMG, após a imobilização seguida de retreinamento, deu-se no teste de contrações excêntricas, para indivíduos que treinaram com contrações excêntricas ou mistas; e o menor valor, foi observado em teste excêntrico para indivíduos que treinaram somente com contrações concêntricas. Tais resultados sugerem que rápidas taxas de recuperação da atividade neural, e conseqüentemente da força muscular, estão provavelmente relacionadas com aspectos únicos do estiramento muscular. Esses aspectos, estando associados a contrações excêntricas, referem-se à resistência à fadiga, eficiência muscular, dissipação da energia potencial, reforço de elementos passivos, ou recrutamento das unidades motoras [4]. Composição corporal A massa corporal parece não ser influenciada pela imobilização, ao menos em períodos reduzidos [30,31]. Entretanto, a atrofia muscular, é apontada como a principal conseqüência da imobilização [27] (Tabela IV). Estudos in vivo sugerem que a diminuição na taxa de síntese de proteínas, mais do que o Tabela III - Relação dos trabalhos abordando a imobilização e adaptações neuromusculares. Onde: 1-RM= uma repetição máxima; Exc= excêntrica; Conc= concêntrica; Iso= isométrica; EMG= eletromiografia; n.s.= não significativo. Hortobagyi et al (2000) Condições Período 5 semanas 5-6 semanas 6 semanas 4 semanas 4 semanas 3 semanas Treino Força Força Força Força muscular 1-RM Exc - 33% - 23,2% - 48% Exc - 35% - 41% - 19,9% - 22% - 45% Isom - 55% - 48% EMG - 40% Deschenes et al (2002) 2 semanas - - - - 17,2% - 15,9% Referência McDougall et al (1977) McDougall et al (1980) Duchateau & Hainaut (1987) Berg et al (1991) Veldhuizen et al (1993) - 158 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Tabela IV – Relação dos trabalhos abordando a imobilização e adaptações morfológicas. Onde: AST= área de secção transversal; F I = fibras do tipo I; F IIa= fibras do tipo IIa; F IIb= fibras do tipo IIb; n.s.= não significativo. Condições Período McDougall et al (1977) 5 semanas McDougall et al (1980) 5-6 semanas 4 semanas Berg et al (1991) Veldhuizen et al (1993) 4 semanas Hortobagyi et al (2000) 3 semanas Referência Treino Força Força Força Deschenes et al (2002) 2 semanas - Secção transversal e AST total AST F I - 5% - 25% - 6,8% - 21% - 14,9% - 13% n.s. articulares, e podem ser totalmente imobilizadas, enquanto os ísquios tibiais são todos bi-articulares, não sendo possível imobilizá-los por completo, não garantindo, portanto, que eles não sejam ativados [27]. Distribuição de fibras: A hipótese da imobilização de um segmento alterar a porcentagem de fibras musculares permanece inconclusiva. Hortobagyi et al. [4], em 3 semanas de imobilização, verificaram a redução do percentual de fibras do tipo I, o aumento do percentual de fibras IIx, porém sem alteração no percentual das fibras IIa. Quando os sujeitos foram submetidos ao retreinamento, houve aumento do percentual de fibras tipo I e IIa, e redução do percentual das fibras tipo IIx. Entretanto Veldhuizen et al. [27] não observaram esses efeitos após quatro semanas de imobilização do joelho, o mesmo sendo observado em um período de imobilização inferior a três semanas [31]. Cadeias pesadas de miosina (MHC): Níveis de RNA de MHC sofreram alteração após imobilização e subseqüente retreinamento [4], sendo que nas fibras do tipo I, ocorreu uma diminuição e posteriormente o aumento da MHC na imobilização e no retreinamento respectivamente, enquanto as fibras IIa não modificaram sua expressão de MHC e as tipo IIx aumentaram sua expressão na imobilização e permaneceram inalteradas no retreinamento. As alterações na expressão da MHC foram correlacionadas às alterações na força muscular apresentadas no estudo. Estas alterações na expressão MHC correlacionadas com mudanças no tamanho da fibra sugerem uma razoável sincronização entre a expressão da MHC e o fenótipo muscular [4]. Esses autores ainda sugerem que o curso da expressão do gene MHC pode ser alterado com exercício. Quando o músculo é submetido à geração de força os genes de miosina lenta são expressos e genes de MHC rápidos são reprimidos. Em contrapartida, quando o músculo não é ativado, os genes MHC rápidos são expressos por déficit de ativação, como foi o caso do segmento imobilizado [4]. Conclusão Resumidamente, observa-se que a redução da força é acompanhada por uma redução na atividade elétrica do músculo e redução da área de secção transversa muscular, esta, mais importante nas fibras tipo II, para treinados em força. Além disso, conversões nos tipos de fibra musculares parecem - distribuição de fibras AST F IIa AST F IIb - 30% - 30% - 7,1% - 19,2% - 10% - 10% - - %FI n.s. n.s. - 9% % F IIa % F IIb n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. + 7% n.s. n.s. n.s. ocorrer durante o destreinamento, com a conversão das fibras do tipo IIb para IIa, em indivíduos treinados em força, e uma conversão contrária para treinados aerobiamente. Ainda, contrações excêntricas podem ser essenciais para promover adaptações neurais e preservá-las em destreinamento. Os mecanismos fisiológicos mediadores dos ganhos e manutenções da força excêntrica, parecem não serem os mesmos da que interferem nas alterações na força concêntrica. Referências 1. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. 2. Mujika I, Padilla S. Muscular characteristics of detraining in humans. Med Sci Sports Exer 2001;33:1297-303. 3. Hakkinen K, Alen M, Kallinen M, Newton RU, Kraemer WJ. 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Eur J Appl Physiol 1980; 43:25-34. 160 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Relato de caso Exercício resistido em circuito regula a pressão arterial e pode melhorar a síndrome do pânico Resistive exercise in-circuit system regulates blood pressure and can improve panic syndrome Gilzandra Lira Dantas Florêncio*, Ana Carla Gomes Canário*, Conceição de Maria LN de Melo*, Ana Katherine da Silveira Gonçalves*, Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva* *Universidade Federal do Rio Grande do Norte Resumo Abstract O relato de caso visou descrever as respostas dos níveis pressóricos sanguíneos e o estado de humor, após 24 sessões de exercício resistido em circuito com 3 fases de treinamento. Foi estudada uma voluntária do sexo feminino, de 56 anos, sedentária, com diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica e síndrome do pânico, sem experiência com esse tipo de treinamento. Foi elaborado um protocolo de exercício resistido, em sistema de circuito, com 24 sessões de treinamento, realizadas em dias alternados e divididas em 3 fases. A aferição da pressão arterial foi realizada em testes ergométricos feitos antes e após as sessões de treinamento. Os sintomas da síndrome do pânico foram auto-avaliados antes e após as sessões, evidenciando melhora da sintomatologia. Houve diminuição da pressão arterial sistólica no pós-esforço de 15,38% e uma diminuição da pressão arterial diastólica no pós-esforço de 12,5%. Concluindo que o exercício resistido em circuito, em intensidade moderada, realizado três vezes por semana diminuiu a pressão arterial após treinamento e melhorou a síndrome do pânico. This case report describes the responses levels of blood pressure and the mood, after 24 sessions of resistive exercises with three stages of training. It was studied a 56 years old woman, sedentary, with diagnosis of hypertension and panic syndrome, with no experience in training. A protocol of resistive exercise, in-circuit system, with 24 training sessions conducted on alternate days and divided into 3 phases was applied. The measurement of blood pressure was performed in tests before and after the 24 sessions of training. On the other hand, the symptoms of the syndrome of panic were selfassessed before and after the training sessions, showing improvement in symptoms. There was a post-exercise decrease in systolic blood pressure (15.38%) and in diastolic blood pressure (12.5%). Concluding, the resistive exercise, at moderate intensity, performed three times per week decreased blood pressure after sessions of training and improved the panic symptoms. Key-words: resistive exercises, panic attacks, hypertension. Palavras-chave: exercício resistido, síndrome do pânico, hipertensão arterial. Endereço para correspondência: Gilzandra Lira Dantas Florêncio, Rua Virginópolis, 80/603, Cond. Uruaçu IV, Nova Parnamirim, 59150-080 Parnamirim RN, Tel: (84) 9401-0404, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Introdução O capitalismo trouxe a exigência para a humanidade de uma situação financeira mais estável, o que acarretou a sobrecarga de trabalho no indivíduo e a dificuldade de dispor de tempo para o lazer e prática de atividade física regular. O sedentarismo vem sendo observado à medida que a tecnologia avança, fazendo com que o indivíduo faça cada vez menos esforço físico para realizar suas atividades cotidianas. Sendo assim, é possível observar o aumento de doenças crônicodegenerativas e de patologias psiquiátricas [1]. A principal doença crônico-degenerativa é a hipertensão arterial sistêmica sendo uma das maiores causas de morbidade cardiovascular no mundo, acometendo entre 15% a 20% da população adulta. É crescente a preocupação do surgimento desta patologia também em crianças [2]. De acordo com as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial [3], o aparecimento da hipertensão é favorecido pelo excesso de peso, sedentarismo, elevada ingestão de sal, baixa ingestão de potássio e consumo excessivo de álcool. Sendo recomendados programas de redução de peso, empregando aumento da atividade física e dieta hipocalórica para todos os hipertensos com excesso de peso, tendo como meta alcançar um índice de massa corporal (IMC) inferior a 25 kg/m² e circunferência da cintura inferior a 102 cm (homens) e 88 cm (mulheres). Porém enfatiza que a diminuição de 5 a 10% do peso corporal inicial já seja capaz de reduzir a pressão arterial (SBC – Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2002). Já a síndrome do pânico representa um problema importante de saúde mental. O aumento da ansiedade altera a captação da serotonina cerebral e dispara o sistema nervoso simpático, que produz noradrenalina em grandes quantidades, causando sintomas físicos, como: taquicardia, tremores, sudorese, náusea, tensão muscular, parestesias e algumas distorções de percepção do real. Fatores genéticos, ambientais e de experiências vividas de caráter sofrido, durante o desenvolvimento da personalidade, parecem estar associados à ansiedade clínica, sendo mais frequente em mulheres maiores de 18 anos [1]. A prática de atividade física tem efeito oposto ao do sedentarismo, aumentando o gasto calórico, melhorando o transporte e captação de insulina. Os exercícios aeróbios, assim como os exercícios resistidos, promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como metabolismo de repouso, que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total, contribuindo para a perda de peso e diminuição do risco de desenvolver a hipertensão e outras doenças [4]. Da mesma forma, a prática sistemática de atividade física é capaz de reduzir a ocorrência de sintomas de ansiedade e depressão. E, apesar dos exercícios aeróbios serem os mais indicados para pessoas hipertensas, pesquisas científicas mostram que o exercício resistido também pode ser eficiente e seguro para essa população [5]. 161 O exercício resistido caracteriza-se pela contração de músculos contra uma resistência externa e são comumente denominados exercícios de musculação. Essa atividade quando de baixa intensidade, com pequenos pesos (cargas), melhora a resistência muscular localizada causando discretas elevações da pressão arterial durante o esforço, reduzindo-a posteriormente [6]. O exercício resistido vem sendo utilizado em programas de reabilitação cardíaca, promovendo benefícios com menos riscos, contribuindo para a redução da pressão arterial de repouso [7]. Os benefícios da atividade física para os transtornos psiquiátricos vêm sendo estudados. Porém, a influência de fatores como a intensidade, duração e o tipo de exercício ou ainda a combinação entre eles sobre os aspectos psicológicos necessitam de estudos mais rigorosos [5]. Relato de caso VBC, do sexo feminino, com 56 anos, pesando 74,2 kg e 153 cm de estatura, IMC = 32, sedentária e sem experiência prévia com exercício resistido. Apresentava diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica há dois anos, em acompanhamento cardiovascular regular, fazendo uso de atenolol 50 mg/dia. Os exames de controle excluíam complicações em órgãos alvos. Apresentava ainda diagnóstico de síndrome do pânico sem agorofobia, definido pelo psiquiatra segundo os critérios de DSM-III-R, e com prescrição de clonazepam 2 mg/dia [8]. Foi orientada, pelos médicos assistentes, ao início de atividade física para melhor controle das patologias de base. Procurou uma academia de ginástica e, após ser orientada sobre o propósito do acompanhamento, concordou em participar do estudo, como voluntária, após assinatura do consentimento livre e esclarecido. No primeiro dia do estudo foi realizada anamnese e avaliação física utilizando-se o protocolo de Guedes [9]. A paciente foi submetida a um teste ergométrico em esteira na Procárdio – Clínica Cardiológica, tendo sido realizado por um cardiologista que utilizou o protocolo de Bruce e considerou a voluntária como apta à realização de atividades físicas. Respondeu a um instrumento de avaliação emocional, adaptado conforme protocolo de acompanhamento do Anxiety Disorder Interview Schedule (ADIS-R), informando os sinais e sintomas referidos no momento do exame e após oito semanas, assim como a sua gravidade [8]. Após a avaliação físico-emocional, foi desenvolvido um protocolo de treinamento de força em circuito com 24 sessões de treinamento divididas em 3 fases, desenvolvidas no período de janeiro a março de 2006. Em cada fase, eram modificados a carga, a intensidade e o volume de treinamento. A mudança de carga era feita após a realização de testes de força de 1RM (uma repetição máxima). Os exercícios foram executados durante 1 minuto alternando-se entre 162 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 membros superiores e inferiores sem interrupção entre os mesmos (Tabela I). Tabela II - Resultados do teste ergométrico realizado antes do início (t = 0) e após 24 sessões de treinamento (t =1). Etapa Tabela I - Fases do programa de exercícios resistidos. FASE 1 Esteira (aquecimento 5 min) Puxada alta por trás do pescoço FASE 2 Esteira (aquecimento 5 min) Desenvolvimento na máquina Mesa extensora Leg press 45º Peck deck Máquina adutora Rosca direta de bíceps com halteres Panturrilha sentado em 90º Tríceps no pulley FASE 3 Esteira (aquecimento 5 min) Hack machine Crucifixo em banco horizontal com halter Remada baixa Leg-press 45º Puxada alta pela Máquina abdutora frente e pegada fechada Supino reto em Rosca francesa banco horizontal Tríceps Panturrilha no calf Mesa flexora baixo Tríceps no pulley Remada Alta A pressão arterial da voluntária era verificada em repouso, durante o circuito e após a sessão. Ao final de oito semanas a voluntária foi reavaliada na mesma clínica seguindo-se o mesmo protocolo de avaliação físico-emocional. Discussão A atividade física representa um estresse fisiológico para o organismo devido ao aumento da demanda energética e a necessidade de dissipação de calor, produzindo ajustes homeostáticos integrados durante a realização do exercício, chamados de respostas fisiológicas ou efeitos agudos do exercício. Exemplos destes efeitos incluem sudorese, aumento da frequência cardíaca, da ventilação pulmonar, da sensibilidade à insulina e da secreção de catecolamina, bem como a redução da atividade parassimpática e do fluxo sanguíneo esplênico. Ao longo de semanas de exposição regular e repetitiva ao exercício, desenvolvem-se adaptações morfofuncionais, chamadas de efeitos crônicos, que aumentam a capacidade do organismo responder aos estímulos agudos do exercício [10]. No presente estudo, observou-se que houve adaptações crônicas, resultantes da ação do condicionamento físico sobre o sistema cardiovascular. Essas modificações foram observadas no teste ergométrico realizado após 24 sessões de exercício resistido em forma de circuito observando redução da frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica e duplo produto. Após a avaliação física inicial a paciente foi classificada como tendo aptidão cardiorrespiratória boa. Ao final de oito semanas a voluntária foi reavaliada na mesma clínica e com o mesmo protocolo, tendo alcançado aptidão cardiorrespiratória excelente (Tabela II). FC (t=0) Repouso 61 1 93 2 109 3 126 4 146 Pós77 esforço FC (t=1) 65 97 109 141 141 87 PA (t=0) 130/90 130/60 150/50 170/50 170/50 110/70 PA (t=1) 125/80 130/80 140/80 160/85 160/85 130/80 DP (t=0) 7930 12090 16350 21420 24820 8470 DP (t=1) 8125 12610 15260 22560 22560 11310 Os valores da frequência cardíaca comparando-se os dois testes ergométricos revelaram uma diminuição de 6,2% (- 4 bpm) no pré-esforço e de 11,5% (- 10 bpm) no pós-esforço caracterizando melhoria do condicionamento cardiorrespiratório. Negrão & Rondom [11] enfocam que não existem dúvidas sobre os benefícios fisiológicos da atividade física para a pressão arterial, desde que praticada em intensidade de baixa a moderada e duração de 30 a 45 minutos. É importante ainda considerar que os pacientes hipertensos ativos possuem metade do risco de morte, por todas as causas, comparado com hipertensos inativos [12]. Analisando o comportamento dos valores da pressão arterial nesses mesmos testes, verificamos redução nos níveis da pressão arterial sistólica de 15,38% (-20 mmHg) no pósesforço e um aumento de 10,4% no pré-esforço. Em relação à pressão arterial diastólica houve uma diminuição de 12,5% (-10 mmHg) no pós-esforço e não foi observada nenhuma modificação no pré-esforço. Estes valores no pré-esforço podem ter sido influenciados pelo fato da voluntária ter feito uma longa caminhada até a academia imediatamente antes da realização do teste ergométrico realizado após oito semanas de treinamento. No entanto a ocorrência dessa diminuição da pressão arterial deve-se ao fato da mesma ter tido uma resposta crônica ao exercício denominada de adaptação. Quanto ao duplo produto foi possível perceber uma redução de 2,4% (-195) no pré-esforço e observou-se uma redução de 25,12% (-2840) no pós-esforço. Estes resultados são concordantes com estudos que observaram a redução dos parâmetros hemodinâmicos como efeito crônico do exercício resistido. Isso ocorre devido ao fato de que a resposta fisiológica ao exercício resistido promove declínio da pressão arterial por diminuição no débito cardíaco que está associada ao decréscimo da frequência cardíaca, uma vez que não são observadas alterações no volume sistólico [3,6,11,13,14]. A atividade física sistematizada pode acarretar diversos benefícios tanto na esfera física quanto na mental do ser humano proporcionando uma melhor qualidade de vida. Evidenciando os benefícios da atividade física aeróbia para a síndrome do pânico. Em relação às atividades físicas de predominância anaeróbia, ainda não há consistência entre os estudos encontrados, talvez em decorrência das variações Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 metodológicas [5]. Os efeitos do exercício resistido sobre a síndrome do pânico foram avaliados de forma subjetiva, podendo-se verificar uma melhoria dos sinais e sintomas na patologia da voluntária. Considerando os sintomas da síndrome do pânico, observouse melhora da sintomatologia emocional, auto-referida pela paciente, no momento inicial e final da observação (Tabela III). Um dado complementar favorável foi à remoção do medicamento ansiolítico no final das sessões do treinamento físico, que corroborou com os resultados positivos. A mesma deixou de fazer uso da medicação, após a oitava sessão de treinamento, mostrou-se mais independente e menos ansiosa, sendo capaz de realizar suas atividades cotidianas como dirigir, por exemplo. Demonstrando que a atividade física pode ser um importante instrumento no controle da ansiedade, tanto como terapêutica única nos casos mais leves, particularmente a ansiedade aguda, reativa a uma situação circunstancial, como um importante coadjuvante à psicoterapia ou à psicofarmacoterapia nos casos de maior gravidade [1,5]. Tabela III - Avaliação emocional do transtorno do pânico, adaptado ADIS-R. Sintomatologia T(0)- início do T(1)– após 8 estudo semanas Falta de ar ou asfixia 2 0 Sufocamento 2 0 Palpitação 3 1 Desconforto no peito 2 0 Sudorese 1 0 Vertigem 1 0 Náusea 0 0 Despersonalização 2 0 Parestesia 1 0 Ondas de calor 3 0 Tremores 3 0 Medo de morrer 3 0 Medo de perder o controle 3 0 0 – nenhum; 1- leve; 2-moderado; 3-grave; 4 - muito grave De acordo com a observação, pode-se concluir que, o exercício resistido está associado à redução da pressão arterial e à melhoria dos sintomas da síndrome do pânico. 163 Conclusão A prática de exercícios físicos de forma monitorada, pode se tornar um poderoso coadjuvante no tratamento de diversas enfermidades físicas e psicológicas, em especial, na terceira idade, onde estas se fazem mais presentes. Estudos interdisciplinares, em que o médico e o profissional da educação física possam interagir de forma harmônica, em suas habilidades, poderiam trazer grandes benefícios à saúde. Referências 1. Araújo SRC, Mello MT, Leite JR. 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O plano elementar das experiências motoras e físicas funciona como estímulo mental e incentivador de inteligência. Cada sucesso ou insucesso motiva para aquisição de novos conhecimentos. Quanto mais numerosas e variadas forem as atividades motoras da criança, mais desenvolverá o organismo, seu preparo físico e o bem-estar geral. Health encloses physical, mental and social well-being. All debilities of the physical development or motor behavior mean disequilibrium of the set. Physical debilities affects the attitude, the motor coordination, the dexterity or the capacity of coordination. In infancy the motor and physical capacity is the key that opens to the child the world of the knowledge and ways to behave itself. The elementary plan of the motor and physical experiences functions as mental and encourages stimulation of intelligence. Each success or failure motivates for acquisition of new knowledge. The more numerous and varied they will be the motor activities of the child, more will develop the organism, its physical preparation and general well-being. Palavras-chave: educação física, criança, capacidade física e motora. Key-words: physical education, children, capacity physical and motor. Introdução Atualmente a qualidade de vida e a saúde figuram como dimensões prioritárias. A atividade física é um componente importante na adoção de um estilo de vida saudável como preventivo de múltiplas doenças e morte prematura, com benefícios que podem se apresentar desde a infância até o estado adulto. O estilo de vida sedentário vem sendo associado a diversas doenças, dentre elas, podemos citar as coronariopatias, hipertensão, diabetes, obesidade. Essas doenças são processos crônicos que podem ter seu início na infância [2-4]. Dar ao homem o conhecimento é libertá-lo do desconhecido, dando-lhe independência e autonomia. Neste sentido, o papel do professor de Educação Física no ensino de habilidades motoras e da percepção corporal envolve muitas responsabilidades distintas. Estas requerem que o professor seja um planejador e um motivador, não somente um apresentador de informação e um avaliador de desempenho [1]. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros 81/31, 05027-020 Vila Pompéia SP, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Talvez a maior razão das pessoas serem espectadoras e não participantes de um programa de atividade física seja o fato de que elas não entendem o que a atividade física praticada regularmente pode fazer por elas [2]. Desenvolvimento motor, conquanto esteja ocupado com a aprendizagem e o desempenho de habilidades motoras, está principalmente devotado a estudar aqueles comportamentos sob o ponto de vista do desenvolvimento [1]. Não há dúvida de que a infância é o período mais adequado para o início de atitudes e comportamentos saudáveis. Esse é um período em que a criança está em processo de aprendizado constante e, portanto, aberta a novos conceitos. É relevante que os pais, professores e pediatras, que são as pessoas mais próximas delas, tenham hábitos saudáveis de alimentação e atividade física, pois são modelos positivos essenciais durante este processo de formação [2]. É preciso considerar o fato de que o maior grau de desenvolvimento de uma capacidade motora específica (força, resistência, velocidade, etc.) pode somente ser alcançado se outras capacidades forem também desenvolvidas a certo nível. Por isso, o desenvolvimento de todas as capacidades motoras deve ser harmonioso [2-5]. Há uma infinidade de atividades das quais pessoas de ambos os sexos podem tomar parte, atividades estas que não requerem habilidades excepcionais, coragem, equipamentos sofisticados e caros ou instalações faraônicas para praticá-las. A preferência deveria ser por atividades que permitissem às pessoas se ajustarem de acordo com a sua aptidão, característica corporal e, acima de tudo, desejo pessoal [2]. Por isso, programas escolares também devem focar mudanças da educação e do comportamento para incentivar o engajamento em atividades apropriadas fora das aulas [6]. Aptidão física Há uma preocupação quanto à condição física das crianças e adolescentes, pois existe uma controvérsia sobre a ênfase que deve ser dada à aptidão física em Programas de Educação Física. A aptidão física é primariamente determinada pela prática de atividade física e é operacionalmente definida como o desempenho atingido nos seguintes testes: potência aeróbica, composição corporal, flexibilidade e força e resistência dos músculos esqueléticos. A aptidão física é importante durante a vida para desenvolver e manter a capacidade funcional para as demandas vitais e promoção de saúde. De acordo com a acentuação atribuída a determinadas componentes da aptidão física é usual pensar em aptidão física relacionada com o rendimento desportivo – motor (no qual são avaliados um conjunto diversificado de componentes ou capacidades que vão desde a força, velocidade, resistência, etc.); ou com a saúde (para a qual os componentes se circunscrevem a capacidades supostamente relacionadas com a saúde) [2,3,5,7]. 165 A importância do Professor de Educação Física Historicamente, a escola sempre refletiu o seu tempo, sempre esteve a serviço dos interesses de um regime social específico, e se assim não fosse, não existiria, teria sido eliminada. Embora se considere que a educação possa acontecer em outros espaços sociais, é na escola o lugar por excelência, onde o processo de construção do conhecimento se dá de forma sistematizada. E é dentro dela que o professor convive com as desigualdades de toda natureza e suas conseqüências sociais, econômicas, políticas e culturais. Daí a necessidade de refletirmos sobre como desenvolver a capacidade de pensar, de decidir e de participar do Professor, no nosso caso o Professor de Educação Física, para que este se torne um dos agentes do processo de transformação. Portanto este professor deverá estar comprometido com uma perspectiva de transformação da sociedade em que vive o que quer dizer se dedicar a oferecer condições para a formação de cidadãos conscientes. O papel do professor no ensino de habilidades motoras envolve muitas responsabilidades distintas. Estas requerem que o professor seja um planejador de instrução, um apresentador de informação, um avaliador de desempenho e um motivador. O papel do professor no ambiente de instrução é intensamente orientado para sua responsabilidade de determinar o que será ensinado, como será ensinado, quais serão as condições de prática e assim por diante. O trabalho do professor não termina com o desenvolvimento de planos de aulas ou a apresentação de instrução. Uma fase muito crítica do processo é a avaliação do desempenho do estudante, que inclui a determinação do que o estudante fez de errado e corretamente. O professor, então, tem que comentar esta informação com o estudante para ajudá-lo a melhorar a próxima tentativa de execução da habilidade. A responsabilidade do professor como um motivador está envolvida em todos os aspectos do processo de instrução. O professor tem que determinar o ambiente apropriado de instrução para produzir no estudante um desejo de aprender a habilidade que se está ensinando [1,6,8]. Vida sedentária: a importância da aptidão física Atualmente, a qualidade de vida e a saúde se afiguram como dimensões prioritárias, principalmente nas sociedades ditas desenvolvidas ou em desenvolvimento. A atividade física é uma componente importante na adoção de um estilo de vida saudável, assim como preventivo de múltiplas doenças e morte prematura, com benefícios presentes na adolescência e durante o estado adulto. Em relação às idades pediátricas, apesar de persistir alguma incerteza, acredita-se nos efeitos positivos da atividade física para a saúde e nas conseqüências adversas de uma vida sedentária – muitos fatores de risco de doenças crônicas se iniciam na infância. Estilo de vida sedentário vem sendo associado com coronariopatia, hipertensão, diabetes, obesidade no adulto. Essas 166 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 doenças são processos crônicos que podem ter seu início na infância. Essa fase, portanto, é uma época importante para promover atitudes saudáveis, como a prática de várias atividades físicas e o desenvolvimento de habilidades motoras diversas. Por outro lado, é importante reconhecer as particularidades do crescimento, desenvolvimento músculoesquelético, maturação sexual e a resposta termorregulatória da criança para que se possam evitar os potenciais riscos de lesões, treinamento físico de alta intensidade e especialização esportiva no atleta infanto – juvenil. Talvez um bom nível de aptidão física não seja necessário para um mundo dominado por inovações tecnológicas, mas é necessário desenvolver ao máximo nossas pontecialidades mentais, para evitar doenças hipocinéticas e para se sentirnos bem, aproveitando ao máximo o que a vida tem para oferecer [5,3,4,7]. Desenvolvimento motor: classificação e importância Os termos aprendizagem motora e desenvolvimento motor são muitas vezes confundidos e usados de maneira intercambiável. Desenvolvimento motor, conquanto esteja ocupado com a aprendizagem e o desempenho de habilidades motoras, está principalmente devotado a estudar aqueles comportamentos sob o ponto de vista do desenvolvimento. Por exemplo, da mesma maneira como a criança desenvolve a capacidade de pular, que características parecem identificar a maioria dos indivíduos em certas idades? Outro exemplo de um tema importante no desenvolvimento motor é o que distingue a criança do adulto em processos de memória [1]. Níveis desenvolvimentistas podem ser classificados de muitas maneiras. O método mais popular, mas freqüentemente o menos acurado, é a classificação pela idade cronológica. A “idade cronológica” ou idade do indivíduo em meses e/ ou anos é de uso universal e representa constantemente para todos. Pelo conhecimento da data de nascimento de alguém, podemos facilmente calcular sua idade em anos, meses e dias [2]. Há também a “idade biológica” de um indivíduo que fornece um registro do índice de seu progresso em direção a maturidade e pode ser determinada medindo-se a idade morfológica, fornecendo o tamanho atingido pelo indivíduo (altura e peso) segundo padrões normativos, idade esqueletal/ óssea, fornecendo um registro da idade biológica do esqueleto em desenvolvimento. A idade dental é outro meio preciso, porém não freqüentemente usado para determinar a idade biológica, e por último a idade sexual que é medida pela maturação sexual é determinada pelo alcance variável de características sexuais primarias e secundarias [6,8,9]. Na fase pré-escolar, as crianças estão aprendendo a pular, correr, lançar, pegar e chutar. Esses movimentos, assim como atividades recreativas que facilitam a adesão ao programa, devem ser estimulados em crianças até quatro anos de idade. Nesses primeiros anos de vida, não há indicação de nenhum esporte específico e o mais importante é o estimulo das funções motoras que serão utilizadas nos movimentos comuns do dia-a-dia. A maioria das crianças termina aos seis anos de idade o desenvolvimento motor. Tornam-se, portanto, a partir desse período, aptas para realizar as atividades motoras como os adultos, ainda que sem a mesma perfeição de movimentos. Para que ocorra aprimoramento do desenvolvimento motor, ensinamentos básicos de esportes coletivos e individuais podem ser iniciados nessa fase [1,8-11]. Não há dúvida de que a infância é o período mais adequado para o início de atitudes e comportamentos saudáveis. Esse é um período em que a criança está em processo de aprendizado constante, e, portanto, aberta a novos conceitos. É relevante que os pais, professores e pediatras, que são as pessoas mais próximas delas, tenham hábitos saudáveis de alimentação e atividade física, pois são modelos positivos essenciais durante este processo de formação. Hoje sabemos que se deve, em grande parte, ao estilo de vida sedentário o aumento de risco de doenças coronarianas, assim como hipertensão, diabetes mellitus, obesidade e outras enfermidades crônicas que acometem os adultos. A adolescência costumava incluir a idade de 13 a 18 anos, mas agora começa mais cedo, na idade de 10 anos, e não termina até aproximadamente a idade de 20 anos [8,9]. As notáveis alterações na altura e no peso são facilmente observadas, porém outras alterações igualmente importantes como o crescimento do coração e dos pulmões é enorme, fator básico na capacidade funcional crescente do adolescente. O coração aumenta cerca de 50% em tamanho e quase dobra de peso na adolescência. Existe uma variedade ampla de habilidades motoras. Habilidades motoras tão diferentes, como arremessar uma bola no futebol americano e tocar piano são incluídas sob a designação genérica de habilidades motoras. Um meio de aumentar a facilidade com que podemos aplicar conceitos e princípios da aprendizagem à instrução em habilidades motoras é desenvolver categorias gerais de tais habilidades motoras baseadas em algumas características comuns de varias aptidões motoras. Um sistema é baseado na precisão do movimento exigida pela habilidade; aqui as habilidades são classificadas como globais ou como finais. Em segundo lugar, um sistema baseado na definição clara do ponto inicial e final de uma habilidade considera-a como discreta ou continua. O terceiro sistema é baseado na estabilidade do ambiente em que a habilidade é executada; este ambiente pode ser estável ou fechado; ou pode ser muito variável ou aberto. Por último, as habilidades podem ser classificadas de acordo com a maneira como o retorno da informação sensorial é usado no controle ou produção do movimento. Um sistema de circuito fechado usa o retorno da informação enquanto um sistema de circuito aberto não usa [1]. O processo do desenvolvimento motor revela-se basicamente por alterações no comportamento motor. Todos nós – bebês, crianças, adolescentes e adultos – estamos envolvidos no processo permanente de aprender a mover-se com con- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 trole e competência, em reação aos desafios que enfrentamos diariamente em um mundo em constante mutação. Podemos observar diferenças desenvolvimentistas no comportamento motor, provocadas por fatores próprios do indivíduo (biologia), do ambiente (experiência), e da tarefa em si (físico/mecânico). Podemos fazer isso pela observação das alterações no processo (forma) e no produto (desempenho). Assim, um meio primário pelo qual o processo de desenvolvimento motor pode ser observado é o estudo das alterações no comportamento motor no decorrer do ciclo da vida. Em outras palavras, o comportamento motor observável real de um indivíduo fornece uma “janela” para o processo de desenvolvimento motor, assim como indicações para os processos motores subjacentes [6,8,9]. Benefícios da prática de atividade física associados à saúde e ao bem-estar, assim como riscos predisponentes ao aparecimento e ao desenvolvimento de disfunções orgânicas relacionadas ao sedentarismo, são amplamente apresentados e discutidos na literatura. Apesar de o maior número de estudos envolver adultos, parece não haver dificuldade em selecionar evidências de cunho biológico e psicoemocionais quanto às vantagens de os adolescentes tornarem-se adequadamente ativos fisicamente. É preciso considerar o fato de que o maior grau de desenvolvimento de uma capacidade motora específica (força, resistência, velocidade, etc.) pode somente ser alcançado se as outras forem também desenvolvidas a certo nível. Por isso, o desenvolvimento de todas as capacidades motoras deve ser harmonioso. É consensual o fato de os níveis moderados a elevados de aptidão física representarem uma mais valia inquestionável na qualidade de vida das crianças e jovens. Basta para tanto refletir no empenhamento heterogêneo das crianças nas suas atividades lúdicas de intensidade moderada a elevada, na forma sempre diversificada com que respondem aos estímulos das aulas de Educação Física, ou na sua tradução no estilo de vida ativo e saudável. De acordo com a acentuação atribuída a determinadas componentes da aptidão física é usual pensar em aptidão física relacionada com o rendimento desportivo - motor - onde se avaliam um conjunto diversificado de componentes ou capacidades que vão desde a força, velocidade, resistência, etc.; ou com a saúde - onde os componentes se circunscrevem a capacidades supostamente relacionadas com a saúde [1,2,4,8,9,12]. Aptidão física: definições das capacidades motoras e físicas “Atividade física ideal é aquela que a pessoa gosta” [2]. A atividade física é benéfica e pode interferir diretamente na mudança de estilo de vida. É importante que você saiba que só se pode prevenir ou tratar de forma adequada as chamadas doenças crônico-degenerativas (como, por exemplo, doenças das coronárias, hipertensão arterial, diabetes mellitus), a partir da identificação e quando possível remoção dos agentes causadores. Estes agentes causadores ou responsáveis por estas 167 doenças são chamados fatores de risco. A base da prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas deve então ser constituída de um tripé: exercício físico, alimentação e controle do estresse. A princípio, para que possamos oferecer uma resposta adequada a esta questão, torna-se necessário, inicialmente, entendermos o que vem a ser aptidão física. Conceitualmente, aptidão física pode ser definida como a capacidade de todo o nosso organismo, incluindo músculos, ossos, coração, pulmões e outros órgãos e sistemas, de trabalhar eficientemente todo o tempo [10-11]. “A capacidade de executar tarefas diárias com vigor e vivacidade, sem fadiga excessiva e com ampla energia para apreciar as ocupações das horas de lazer e para enfrentar emergências imprevistas.” “Então a aptidão física é a capacidade de durar, de continuar, de resistir ao stress, de persistir em circunstâncias difíceis onde uma pessoa destreinada desistiria. A aptidão física é o oposto de estar fadigado com esforços ordinários, de falta de energia para realizar as atividades da vida com entusiasmo, tornando-se exausto em esforços físicos exigentes e inesperados...” “É uma qualidade positiva, estendendo de uma escala da morte até uma vida abundante.” “Aptidão física é um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um não apenas realizar as tarefas diárias, as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevisíveis sem fadiga excessiva, mas também ajuda a evitar doenças hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentido uma alegria de viver.” [2] Componentes da aptidão física Para entendermos de que maneira os programas de atividade física deverão interferir nos índices de aptidão física, torna-se necessário considerar que aptidão física abrange a participação de diferentes componentes motores, cada um recebendo diferentes estímulos mediante a realização de tipos particulares de exercícios. Contudo, pelas implicações fisiológicas em termos de esforços físicos, os componentes da aptidão física deverão, necessariamente, ser agrupados em duas categorias: aqueles voltados à aptidão física relacionada à saúde e aqueles que se identificam com a aptidão física relacionada às habilidades motoras, como força, velocidade, flexibilidade e resistência aeróbia [7]. Resistência cardiorrespiratória A primeira resposta do sistema cardiovascular ao exercício é o aumento da freqüência cardíaca (FC) e a diminuição do tônus vagal. Nas crianças, o tamanho do coração e o volume sistólico são menores quando comparadas com o adulto e a FC máxima é maior na tentativa de manter o débito cardíaco. Com o treinamento, a FC de repouso mantém-se mais baixa, mas a FC máxima não se altera. Ela apresenta relação inversa 168 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 com o aumento da idade. Os níveis da pressão sistólica vão subindo de acordo com a elevação da carga do exercício e raramente ultrapassam 200 mmHg. A pressão diastólica não se eleva muito durante o esforço, sendo muitas vezes difícil o controle, dependendo da idade da criança. A resistência cardiorrespiratória é a capacidade que o nosso organismo apresenta para que possamos realizar esforços físicos por um longo período de tempo numa intensidade moderada. Assim, é a resistência cardiorrespiratória que nos permite desenvolver inúmeras tarefas em nosso cotidiano, seja no trabalho ou no lazer, e a enfrentar imprevistos que possam surgir quando da realização de esforços físicos mais intensos. Se, por um lado, consideramos que quando nosso organismo é exposto a um esforço físico, os músculos ativados demandam quantidades crescentes de oxigênio, para que se possa atender a produção de energia necessária à contração muscular; e por outro, a resistência cardiorrespiratória está relacionada com o nível de eficiência do coração, pulmões e sistema circulatório em transportar oxigênio ao tecido muscular; as pessoas que apresentam uma boa resistência cardiorrespiratória tendem a se cansar menos nas atividades diárias e a recuperar-se mais rapidamente, após a realização de esforços físicos mais intensos [12-14]. Força e resistência muscular Para efeitos práticos, a força pode ser definida como o nível de tensão que podemos produzir em uma única contração máxima por um grupo muscular específico. Portanto, a força de uma pessoa é diretamente proporcional ao desenvolvimento apresentado pelos músculos que estão envolvidos no esforço físico: quanto mais desenvolvido for um músculo, maior deverá ser a sua capacidade de gerar força. A resistência muscular, por outro lado, refere-se à capacidade de realizar repetidas contrações submáximas. Deve-se observar que existe uma tendência para que quando um grupo muscular se torne mais forte, via de regra, também melhore sua capacidade para realizar repetidas contrações submáximas. Porém, não se deve confundir a resistência muscular, com a resistência cardiorrespiratória que depende, fundamentalmente, da função cardiorrespiratória e não dos níveis de força muscular [15,16]. Flexibilidade Definida como amplitude máxima possível de um dado movimento de uma articulação especifica ou de uma série de articulações, a flexibilidade pode determinar a capacidade de uma pessoa em movimentar o corpo com maior eficácia e facilidade. Um nível de flexibilidade inadequado pode resultar no aumento da probabilidade de ocorrer lesões músculo-esquelético, ou ainda, tornar impossível a realização de determinados movimentos. A flexibilidade é controlada pela elasticidade apresentada pelos músculos e pelos tecidos conectivos existentes nas articulações. As articulações se mantém estáveis em razão dos ligamentos, tendões e cápsulas articulares existentes em suas respectivas estruturas, que são compostas, fundamentalmente, por tecidos conectivos elásticos [2,5]. Quanto à eficiência mecânica, na criança é sempre constante independente da intensidade, entretanto está sempre menor que a verificada em adultos. Quando considerado o ambiente escolar, sugere-se a utilização de exercícios de força em grupos, com exercícios individuais ou coletivos, devido à facilidade de execução dos mesmos. No que se refere à flexibilidade, sugere-se que os movimentos de tronco são os que melhor identificam o comportamento da flexibilidade total, corroborando a utilização do teste de sentar-e-alcançar como um bom parâmetro para esta faixa etária. Faz-se interessante ressaltar que a exacerbação de um trabalho de hipermobilidade, sem um complemento com exercícios de força, pode favorecer o aparecimento de lesões ligamentares, principalmente após a adolescência, pois um trabalho adequado e complementar de força tende a estabilizar as articulações [7,16]. Aptidão relacionada à saúde A aptidão física relacionada à saúde contempla aqueles componentes motores cujos aspectos fisiológicos podem oferecer alguma proteção aos distúrbios orgânicos provocados por um estilo de vida sedentário. As capacidades condicionais são fundamentadas na eficiência do metabolismo energético. Elas são determinadas pelos processos que conduzem à obtenção e transformação de energia, isto é, os processos metabólicos nos músculos e sistemas orgânicos. Desse modo, os índices de aptidão física relacionada à saúde tornam-se extremamente sensíveis ao desenvolvimento de determinados tipos de programas de aptidão física e demonstram também uma influencia genética. A resistência cardiorrespiratória, a força, a resistência muscular, a flexibilidade e a velocidade são os componentes da aptidão física relacionada à saúde. Portanto, todos nos devemos apresentar um rendimento mínimo em cada um desses componentes, independente dos aspectos hereditários e do meio em que vivemos. Ao nos envolvermos com um programa de atividade física que procura atender a participação desses componentes, estaremos usufruindo dos benefícios da atividade física em termos de saúde, basta que nos empenhemos em participar de programas específicos, desde a infância até a idade adulta, que atendam componentes motores realmente direcionados a um melhor estado orgânico e funcional de nosso corpo. Aptidão física relacionada à saúde engloba componentes que afetam a qualidade da saúde [7,17]. VIDA => aptidão física => SAÚDE ÓTIMA A quantidade e intensidade da atividade física das crianças e jovens parecem não estar conforme as recomendações pre- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 169 conizadas para estes níveis etários. Estes aspectos devem ser objeto de consideração pelos responsáveis pela implementação de programas de atividade física na adolescência de forma a proporcionar maior adesão [18,19]. A Educação Física revelou, em termos da proporção de tempo despendido em atividade física de diferentes intensidades, que a atividade física despendida era sedentária ou leve. A percentagem média de tempo despendida em atividade física moderada à vigorosa não atingiu o critério recomendado o qual preconiza que os alunos devem despender, pelo menos, metade do tempo da aula de Educação Física em atividade física significativa [2,4,12]. natação e ginástica olímpica. Outras atividades, especialmente aquelas de natureza individual e provável de serem realizadas ao longo da vida, precisam ser mais acessíveis e promovidas de maneira atrativa. Aulas de educação física normalmente dedicam algum tempo para instruções sobre a prática das atividades, mas o tempo de aula é geralmente insuficiente para desenvolver e manter condicionamento físico adequado. Por isso, programas escolares também devem focar mudanças da educação e do comportamento para incentivar o engajamento em atividades apropriadas fora das aulas. Conclusão 1. Magill R. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. 5ª ed. São Paulo: Edgard Blucher; 2000. 2. Barbanti VJ. Aptidão física: um convite à saúde. 2ª ed. São Paulo: Manole; 1990. 3. Barbanti VJ. Desenvolvimento das capacidades físicas básicas na puberdade. Rev Paul Educ Fís 1989;3(5):31-44. 4. Guedes D. Atividade física, aptidão e saúde. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1995;1:18-35. 5. Barbanti VJ. Teoria e prática do treinamento desportivo. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blucher; 1997. 6. Gallahue DL. Educação física desenvolvimentista. Cinergis 2000;1:7-18. 7. Boheme MT. Aptidão física: aspectos teóricos. Rev Paul Educ Fís 1993;7:52-5. 8. Gallahue D. Development physical education for today’s children. 1ª ed. Duduque: Brown & Benchmark;1993. 9. Gallahue D. Understanding motor development in children.1ª ed. New York: John Willey & Sons; 1982. 10. Guedes D. Desempenho motor em crianças e adolescentes. Rev Paul Educ Fís 1995;9:1-5. 11. Tourinho F. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Rev Paul Educ Fís 1998;12:71-84. 12. Shepard RJ. Custos e benefícios dos exercícios físicos na criança. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1995;1:66-84. 13. Canill N. Health enhancing physical activity for young people: statement of United Kingdom expert consensus conference. Pediatr Exerc Sci 2001;13:12-25. 14. Horta L. Atividade física e prevenção primária das doenças cardiovasculares. Ludens 1995;15:24-8. 15. Whithead E. Aptidão muscular. Horizonte 1986;8(16):136-41. 16. Liemohn W. Flexibility and muscular strength. Joperd 1988;3:37-40. 17. Bergmann G, Araújo MLB, Garlipp DC, Lorenzi TC, Gaya A. Alterações anual no crescimento e na aptidão física relacionada a saúde de escolares. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2005;7:55-61. 18. Bailey R. The level and time of children’s physical activities: An observational study. Med Sci Sport Exerc 1995;7:1033-41. 19. Souza OF, Pires Neto CS. Alteração anual do desenvolvimento físico de meninos de 10 a 12 anos de idade. Rev Bras Ciên Mov 2002;10:19-24. O estudo mostra que as profissões relacionadas à saúde precisam tornar-se mais ativas em promover o condicionamento físico em crianças e jovens. Programas continuados de educação física para crianças e adolescentes devem ser oferecidos por profissionais da saúde. A Saúde Pública deve ver a aptidão física de crianças e adolescentes como sendo de sua responsabilidade em adição a medidas tradicionais como imunização e investigação de escoliose. Programas educacionais projetados para aumentar o conhecimento e o reconhecimento do papel e do valor do exercício na aptidão física e na saúde são virtualmente inexistentes em escolas, embora tais programas sejam comuns em faculdades e universidades. Esforços profissionais são necessários para desenvolver, testar e publicar materiais educativos adequados para o uso em escolas. Programas de treinamento precisam ser desenvolvidos e iniciados para proporcionar professores escolares com conhecimentos e habilidades para ajudar seus estudantes a atingir qualidades cognitivas, afetivas e comportamentais associadas ao exercício, saúde e condicionamento. Os professores também precisam dar assistência nas formas de integrar outros aspectos da promoção da saúde (boa nutrição e não fumar, por exemplo) nas instruções sobre exercício e aptidão física. Os componentes educacionais de avaliar, ensinar atividades de condicionamento físico e reconhecimento através de premiação devem ser complementares e precisam ser coordenados para um programa compreensivo. Programas de Educação Física em escolas é uma parte importante do processo geral de educação e devem ser incentivados para desenvolver e manter hábitos de prática de exercício ao longo da vida e prover instruções sobre como adquirir e manter uma aptidão física adequada. A quantidade de exercício necessária para uma capacidade funcional adequada e saúde nas várias idades não foi precisamente definida. Até que evidências definitivas estejam disponíveis, as atuais recomendações são que crianças e adolescentes realizem 20-30 minutos de atividade física vigorosa ao dia. O aspecto recreacional e de diversão do exercício devem ser enfatizados. As oportunidades de exercício físico na comunidade devem ser expandidas. Há muitas possibilidades para crianças interessadas em esportes como baseball, basquete, futebol, Referências 170 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para 171 os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] 172 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009 Calendário de eventos 2009 20 a 25 de Setembro XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e Setembro 18 a 20 de setembro III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador, BA Informações: [email protected] III Simpósio de Reabilitação Esportiva da USP-RP Ribeirão Preto, SP Informações: (16) 3630-5649 Setembro de 2009 X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a Terceira Idade Núcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Alagoas, MA Informações: (82) 3322-2416 Novembro 6 a 8 de novembro 13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro - SIAFis RJ Auditório da Escola Naval Rio de Janeiro, RJ E-mail: [email protected] CURSO Julho 18 a 26 de Julho VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Fisica Informações: (011) 2714-5678/2714-5677 e-mail: [email protected] site: www.encontrophorte.com.br R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 8 número 4 - outubro/dezembro 2009 EDITORIAL A oportunidade dos Jogos Olímpicos de 2016, Paulo Tarso Veras Farinatti ............................................................ 175 ARTIGOS ORIGINAIS Lesões no surfe em São Francisco do Sul/SC, Alberto Sumiya, Rafael Fernando Cezário, Alexandre Aguiar Wolanski, Newton Nogueira Henriques..................................................................................................................................... 176 Comparação dos testes de campo de 2.400 m de Cooper e 3.200 m de Weltman em homens saudáveis, Matheus Santos Cerqueira, Guilherme Tucher, João Carlos Bouzas Marins .......................................................................................................... 181 Atividade física como fator de prevenção de risco cardiovascular, Dihogo Gama de Matos, Leandro Otávio Apolinário Cantaruti, Mauro Lúcio Mazini Filho, Rafael Pedrosa Savóia, André Luiz Zanella, Moacir Marocolo Júnior............................................................................................................. 187 Avaliação da flexibilidade em indivíduos submetidos ao método Pilates, Martha Arno, Fabiana Ferro Machado, Angélica Castilho Alonso .............................................................................. 191 Efeito agudo do alongamento estático sobre o desempenho da velocidade de jogadores de futebol profissional, Wagner Antonio B. da Silva, Igor Alexandre Fernandes, Cláudia de Mello Meirelles, Paulo Sérgio Chagas Gomes ................................................. 196 REVISÕES Redução e manutenção da pressão arterial através de exercícios resistidos com pesos, Maria da Graça Meurer Monteiro, Vanise Flores Bittencourt, Rafaela Liberali, Fabio Henrique Ornellas, Francisco Navarro ................................................................................... 205 Bioenergética do metabolismo celular: ATP e exercício físico, Diego Adão Fanti Silva, Rodrigo Luiz Vancini, Claudio Andre Barbosa de Lira, Antonio Carlos da Silva, Viviane Louise Andrée Nouailhetas..................................................................................... 212 A importância do teste de caminhada de seis minutos na avaliação da capacidade funcional de idosos hipertensos, Nina Araújo de Oliveira, Thaís Miranda Costa, Elaine Cristina Martinez Teodoro ........................................................................................... 221 Miostatina, Fábio Eduardo de Almeida..................................................................................................................... 230 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 234 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 236 174 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Conselho Editorial Amandio Rihan Geraldes (AL) Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Francisco Navarro (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Robert Robergs (EUA) Rosane Rosendo (SC) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Co Editor Artmerkado Editora Técnica e Cultural Ltda E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Projeto gráfico Artmerkado Editora Técnica e Cultural Ltda Marketing e Publicidade José Gomes [email protected] Assistente de vendas – Atendimento Márcia P. 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Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 175 Editorial A oportunidade dos Jogos Olímpicos de 2016 Walace David Monteiro, Editor associado Depois de três tentativas, o Brasil ganhou o direito de sediar os XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna. Na rodada final, o Rio de Janeiro bateu Madrid por 66 votos a 32, em campanha que começou em 1992 com a candidatura de Brasília para abrigar os Jogos em 2000. Após duas tentativas (2004 e 2012), a cidade do Rio de Janeiro finalmente conseguiu a indicação para sediar a competição em 2016. Agora os cidadãos brasileiros terão de desembolsar cerca de R$ 26 bilhões (em uma primeira estimativa) para concluir a complexa estrutura necessária a realização do evento. Talvez o primeiro passo na direção de um legado concreto para a cidade e o país após os Jogos de 2016 seja superar a desconfiança decorrente do que ocorreu nos Jogos Pan Americanos. Como se sabe, gastou-se na organização do Pan 2007 bem mais do que o previsto, deixando pífio legado em termos de estrutura urbana e desenvolvimento do desporto. Não há dúvidas de que o Rio de Janeiro tem condições de realizar de forma brilhante os Jogos Olímpicos de 2016, mas cumprenos o papel de fiscalizar as autoridades no sentido de que o faça com competência e honestidade na gestão de recursos. Nesse contexto, no que pode se beneficiar e contribuir a Fisiologia do Exercício como campo do conhecimento? É lógico pensar que, para desenvolver a estrutura requerida para a competição desportiva internacional de maior porte, esperase que as ciências do desporto sejam lembradas. Dentre outras áreas do conhecimento, a Fisiologia do Exercício pode auxiliar na detecção de futuros talentos e no direcionamento do treinamento de jovens atletas, com bases científicas e sólidas. Desse modo, espera-se que recursos destinados à infra-estrutura para a pesquisa na área sejam ampliados. Igualmente, é necessária a formação de profissionais que sejam capazes não apenas de realizar estudos científicos, mas também de efetivamente aplicar os conhecimentos a Fisiologia do Exercício em sua prática cotidiana. O estímulo à pesquisa no âmbito do treinamento do desporto e o incremento do potencial de técnicos e preparadores físicos em valerem-se do conhecimento produzido para aumentar o desempenho e a segurança de seus atletas é aspecto importante de uma política desportiva colocada na perspectiva do longo prazo. Afinal, há que se superar a fase em que festejamos como se fossem pérolas do desporto brasileiro os resultados de atletas que treinam em outros países, sendo treinados por técnicos cuja formação e atividades se deram em realidades completamente diversas da nossa. Na verdade, com isso reafirma-se o fracasso do Brasil em fomentar uma política desportiva que frutifique por nossas próprias virtudes. A Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício congratula-se com o Rio de Janeiro e com o Brasil de forma geral pelo expressivo significado de sua indicação como sede olímpica. Partindo da premissa que isso não basta, porém, para a construção de um legado para as gerações futuras, coloca-se também à disposição dos responsáveis pela organização dos Jogos Olímpicos para todo o apoio que se considere possa ela oferecer. Temos a certeza de que, juntos, olharemos um dia para trás na certeza de que aproveitamos essa oportunidade para alavancar o desporto nacional, aumentando a oportunidade de acesso à sua prática aos brasileiros de forma geral e proporcionando, enfim, as condições de o atleta de rendimento desenvolver ao máximo seu potencial sem ter de partir para centros mais desenvolvidos. 176 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Artigo original Lesões no surfe em São Francisco do Sul/SC Surf injuries in São Francisco do Sul/SC Alberto Sumiya, M.Sc.*, Rafael Fernando Cezário**, Alexandre Aguiar Wolanski**, Newton Nogueira Henriques** *Professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), **Acadêmicos do curso de Fisioterapia, Associação Catarinense de Ensino (ACE – SC) Resumo Abstract O surfe é um esporte amplamente conhecido, no qual o número de adeptos tem crescido mundialmente, fato que leva concomitantemente ao aumento da incidência de lesões. O objetivo deste trabalho foi identificar as principais lesões e suas causas, os segmentos corporais mais acometidos e a proporção daqueles que adentraram no processo reabilitativo. A metodologia empregada para a pesquisa foi descritiva, com utilização de questionário estruturado de 16 perguntas, aplicado a 46 praticantes masculinos. As lacerações foram o tipo de lesão mais citado (39,59%), seguidas por entorses (18,75%), luxações (12,50%). Os segmentos corporais mais acometidos foram o joelho (22,45%), pé (18,37%), perna (14,30%), tornozelo (12,24%), ombro (10,20%). Conclui-se que a maioria dos entrevistados (86,96%) já sofreu algum tipo lesão decorrente da prática do surfe, e que os membros inferiores são os locais de maior predominância de lesões. The surf is a widely known sport, in which the number of fans increased worldwide, a fact that brings together the increasing incidence of injuries. The aim of this study was to identify the major injuries and their causes, the body segments most affected and the proportion of those who needed rehabilitation. The methodology used for the research was descriptive, using structured questionnaire of 16 questions with 46 male practitioners interviewed. The results showed that lacerations were the most cited type of injury (39.59%), followed by sprains (18.75%), dislocations (12.50%). The body segments most affected were the knee (22.45%), foot (18.37%), leg (14.30%), ankle (12.24%), shoulder (10.20%). We concluded that the majority of respondents (86.96%) have suffered some type of injury, and report lower limbs as the region of the highest incidence of injury. Palavras-chave: epidemiologia, lesões do esporte, lesões no surfe, fisioterapia. Key-words: epidemiology, sports injuries, surf injuries, physical therapy. Endereço para correspondência: Alberto Sumiya, Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 3 Vila Carli 85040-080 Guarapuava PR, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução O surfe é um esporte popular apreciado nas praias de 5 continentes tanto no nível amador quanto no competitivo. A sua prática cresceu na última década e a indústria que a move se tornou um negócio multimilionário. Dado que atrai mais participantes a cada dia na esperança de altos ganhos quando se atinge um alto nível. O Brasil, os Estados Unidos e a Austrália são as três maiores potencias do surfe no mundo. No Brasil estima-se aproximadamente 2,7 milhões de surfistas. Contudo, apesar da relevância desse esporte, a literatura científica é ainda inexpressiva, tendo poucas pesquisas nessa área [1]. Historicamente, o surfe era considerado o esporte dos reis havaianos e somente eles podiam desfrutar do prazer de deslizar sobre as ondas. O nascimento moderno da prática é atribuído ao havaiano Duke Kahanamoku, que depois dos Jogos Olímpicos de Estocolmo em 1912, dedicou-se a demonstrações por toda a Europa, Austrália e Estados Unidos [2]. No Brasil, as primeiras pranchas foram trazidas por turistas. A primeira prancha brasileira foi feita em 1938 pelos paulistas Osmar Gonçalves, João Roberto e Júlio Putz, a partir da matéria de uma revista americana, que dava medidas e o tipo de madeira a ser usada. Competir ou treinar traz consigo um aumento simultâneo no risco de lesões conseqüentes a busca da perfeição nas competições. A sobrecarga dos exercícios repetitivos provoca lesões que podem estar relacionadas com as mais diversas causas, que vão desde inabilidade técnica e audácia excessiva até as alterações climáticas e excesso de rigor na aplicação das regras. Os mecanismos básicos envolvidos com a lesão também variam muito e podem ser listados: o contato, a sobrecarga dinâmica e a vulnerabilidade estrutural [4,5]. A epidemiologia tem se mostrado ao longo da história um importante instrumento para identificar e muitas vezes prevenir lesões em diferentes situações, e hoje também no meio esportivo, sendo muitas vezes utilizada como base para decisões que envolvem o treino e o jogo [6]. Portanto, o objetivo deste estudo é contribuir com a identificação das principais lesões que acometem os praticantes de surfe, assim como suas causas e a regiões mais acometidas, oferecendo assim uma visão detalhada desse esporte na região de São Francisco do Sul/SC. Material e métodos Trata-se de uma pesquisa de campo, de caráter descritivo e retrospectivo, sobre lesões crônicas e agudas relacionadas ao surfe. Foi realizado primeiramente levantamento bibliográfico para melhor entendimento do tema e, posteriormente, com o estudo das fontes procedeu-se a elaboração de um questionário estruturado de 16 questões (Figura 1). A coleta dos dados foi feita no mês de setembro de 2007, em São Francisco do Sul/ SC, na localidade da Prainha. Participaram 46 praticantes de surfe entre amadores e profissionais, somente do sexo masculino, com idade entre 19 e 44 anos, e média de prática de 9,9 anos nessa modalidade esportiva. Como procedimento 177 padrão foi explicado aos atletas as razões da pesquisa e da utilização dos dados e, após entendimento e concordância do entrevistado, aplicou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e conseqüentemente as perguntas. Resultados A distribuição do número de lesões entre os participantes da pesquisa aliada ao momento que a mesma ocorreu é apresentada a seguir (Tabela I) juntamente com os dias de afastamento. A análise demonstra que dos 46 sujeitos, somente 40 relataram lesões, somente 1 elemento acusou ter se machucado durante a competição, o que caracteriza de certa forma um público majoritariamente amador. Em relação aos dias de afastamento devido às lesões, evidenciou-se que 52,5% da população foi forçada a ficar fora da prática desportiva, sendo uma maioria expressiva mais que 14 dias de afastamento. Tabela I - Distribuição das lesões conforme ocorrência, momento e dias de afastamento. Sofreu lesão sim não n 40 6 Momento da lesão Treinamento Competição n Afastamento n 39 1 1 a 7 dias 8 a 14 dias > 14 dias Não houve 2 4 15 19 Observou-se um total de 48 lesões, salientando-se que as lacerações seguidas pelas entorses e luxações tiveram maior caracterização. A localização topográfica das lesões marcou a predominância dos membros inferiores (Tabela II). As dores mencionadas como lesão referem-se a lesões sem definição clínica por profissional especializado, mas que em contrapartida possui localização. Tabela II - Distribuição das lesões segundo o tipo e a localização segmentar. Tipo de lesão Laceração Entorse Luxação Dor aguda inespecífica Dor crônica inespecífica Distensão muscular Dor muscular Total n % Localização da lesão 19 39,59 Joelho 9 18,75 Pés 6 12,50 Perna 4 8,33 Tornozelo n % 11 9 7 6 22,45 18,37 14,30 12,24 4 8,33 Ombro 5 10,20 3 6,25 Coluna lombar 4 8,16 3 6,25 Cotovelo Braço Coluna cervical Face Coxa Total 3 1 1 1 1 49 6,12 2,04 2,04 2,04 2,04 100 48 100 178 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Quanto aos agentes causais salienta-se que o impacto contra a própria prancha foi o mecanismo de lesão mais presente, seguidos pela virada e remada, nos quais a altura da onda estava para a maioria dos praticantes entre 0,5 e 1m (Tabela III). Desses que sofreram lesões somente 10 submeteram-se a processo reabilitativo, o que é preocupante do ponto de vista da prevenção de novas lesões, pois a tendência à alteração do gesto desportivo pode predispor a cronificações, principalmente se levarmos em consideração que quase 50% do total, independente da reabilitação ou não, voltaram à prática sintomáticos (Tabela IV). Tabela III - Distribuição das lesões segundo a manobra e altura da onda. Manobra da lesão Impacto contra a prancha Virada Remada Manobras aéreas Peixinho Subida na prancha Floater Impacto contra surfista/banhista Tubo Outras n 13 % 29,54 Altura da onda Até 0,5 m n 15 9 6 3 3 3 3 1 20,45 13,64 6,81 6,81 6,81 6,81 2,27 Até 1 m > 1 metro Não especificou 19 5 1 1 2 2,27 4,54 Tabela IV - Distribuição dos indivíduos segundo processo de reabilitação. Fisioterapia n Sim Não N° sessões 10 1 a 10 30 11 a 20 Mais de 20 Não Informou n 2 2 5 1 Retorno às atividades Sintomático Assintomático n 16 24 Discussão Os critérios de catalogação do conceito de lesão nos esportes, assim como os métodos investigativos encontram ainda dificuldades para estabelecerem protocolos adequados ao delineamento de diferentes estudos [7]. Contudo, de acordo com o modelo multifatorial de causalidade de lesões musculares, hoje vastamente aceito, é fundamental a aplicação de medidas de proteção e prevenção específicas [8]. Nathanson et al. [9], em um estudo realizado com 1348 indivíduos, identificaram a freqüência, o padrão e o mecanismo das lesões no surfe. Relataram que havia 1237 lesões agudas e 477 crônicas. As lacerações responderam por 42% das lesões agudas, seguidas por 13% de contusões, 12% de entorses e 8% de fraturas. O contato com a própria prancha foi o mecanismo de lesão mais citado, perfazendo 55% do total, com a prancha de outro surfista a ocorrência foi de 12% e com o fundo do mar de 17%. Manobras de saída e de virada apresentaram 16% de ocorrência. Nathanson et al. [10], em outra pesquisa, verificaram os mesmos critérios levando em consideração também os fatores de risco em uma população de 32 competidores entre profissionais e amadores. Relataram 116 lesões da quais 89 ocorreram durante as competições. Acrescentaram ainda que ondas no nível da cabeça ou mais altas, somadas as condições de surfar em regiões de rochosas ou perto de recifes ocasionam mais lesões do que aqueles lugares com fundo de areia. Nesse estudo as entorses mostraram maior índice de lesão com 45%, sendo os membros inferiores o local mais acometido, lacerações 35%, fratura ou luxações 11% e contusões diversas 10%. Taylor et al. [11] analisaram lesões agudas e deficiências crônicas em praticantes de surfe nas praias de Victoria na Austrália. Participaram 646 indivíduos, 145 surfistas relataram 168 lesões agudas. O impacto com a própria prancha ou outro surfista (36,3%) continuou sendo o mecanismo de maior causa das lesões, o fundo do mar contribuiu com 17,9%. As lacerações (46,4%), entorses (28,6%), luxações (10,7%), fraturas (8,9%), permaneceram no topo da lista das lesões, assim como os membros inferiores (45,8%) como localidade das mesmas, seguida da cabeça e face (26,2%). Os que mencionaram deficiências crônicas eram problemas de dores musculares e articulares, associadas também à rigidez. Steinman et al. [12], no Brasil, ofereceram uma das primeiras visões sobre esse esporte. Por meio de um levantamento abrangente, montaram um banco de dados, do qual 930 praticantes relataram 927 lesões que necessitaram atenção médica ou que impediram a prática do surfe por um ou mais dias em um período de três anos. A maioria das lesões foi de natureza traumática (82,5%) e ocorreu durante a prática do surfe recreacional (96,2%). As lesões mais comuns foram as lacerações (44%), as contusões (16,9%) e as lesões músculoligamentares (15,5%); 38% das lesões atingiram os membros inferiores, 17,9% os membros superiores e 15,6% a cabeça. Base et al. [1] verificaram a ocorrência de lesões relatadas por surfistas profissionais brasileiros, integrantes do circuito brasileiro. Participaram do estudo 32 surfistas profissionais que relataram 112 lesões. O ferimento corto-contuso foi a lesão de maior ocorrência (33,9%), seguido das entorses (25,9%), das contusões (14,2%), dos estiramentos musculares (12,5%), das queimaduras (8,0%), das fraturas (5,3%). Observa-se que existe similaridade nos resultados encontrados nesta pesquisa com os estudos citados acima, quando comparamos os tipos de lesões e a predominância regional delas. Portanto, as lacerações, seguidas pelas entorses e contusões tiveram maior relevância no contexto geral. Os membros inferiores são os segmentos mais acometidos e reflete os achados encontrados em nosso estudo. Excetuando as lacerações, observa-se que as lesões musculares e ligamentares apresentadas juntas representam uma proporcionalidade Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 significativa e que talvez sejam responsáveis pelos afastamentos mais prolongados na amostra. A gravidade das lesões pode ser considerada leve e talvez isso tenha relação com a altura da onda que quanto mais alta mais predispõem a queda dependendo da perícia técnica do praticante. A população estudada, na sua grande parte, não passou da altura de 1 metro. Outra característica a salientar é o fundo do mar brasileiro que é basicamente de areia. Jekel et al. [13] alegam que as lesões musculares são as que com maior freqüência se apresentam e se tratam em medicina desportiva, responsáveis por um percentual de 42%, seguido por 23% das lesões ligamentares. Segundo Armstrong [14] e Smith [15], nessa instância a lesão pode parecer parte integrante do processo de treinamento e da competição. O fato é que para atletas altamente treinados pode haver algum prejuízo ocasional, o qual quando exige tratamento, o mesmo não parece requisitar nada além de um apropriado período de recuperação. O baixo número de afastamentos e a presença fraca dos praticantes do nosso estudo na reabilitação ou volta sintomática a prática do esporte pode ter relação, portanto, com essa constatação. O joelho como visto neste estudo é a região mais afetada e certamente a articulação mais exposta a lesões ligamentares, pois além de servir de apoio, sofre mudanças bruscas de direção quando do gesto esportivo [16,17]. Os mecanismos de lesão mais citados coincidem com os que são relatados por Nathanson [9] e Taylor [11], sendo encontrados resultados próximos para impacto contra a própria prancha ou outro indivíduo. O que justifica, na visão desses autores, a indicação do uso de materiais protetores e acessórios diversos. O que nos faz pensar nesse caso nos fatores externos relacionados a esse esporte como vento, temperatura, e condições da onda. Conclusão Os resultados permitiram apontar que a prática do surfe provoca lesões agudas e crônicas, e mesmo o hábito de realizar aquecimentos e alongamentos não são suficientes para a prevenção de novas lesões. Foi observado um predomínio de lesões em membros inferiores de caráter leve, considerando-se o tempo de afastamento e o retorno que foram razoavelmente curtos. 179 O aparecimento de lesões, portanto, é um evento multifatorial, no qual o bom rendimento esportivo vai ao encontro do trabalho em equipe. Sugerimos mais estudos, já que a literatura na área é escassa, e esses possam levar em consideração a biomecânica do esporte. Referências 1. Base LH, Alves MAF, Martins EO, Costa RF. Lesões em surfistas profissionais. Rev Bras Med Esporte 2007;13(4):251-3. 2. Mendez-Villanueva A, Bishop D. Physiological aspects of surfboard riding performance. Sports Med 2005;35(1):55-70. 3. Pedrinelli A. Aspectos preventivos no esporte. Âmbito Med Desp 1997;3(30):15-8. 4. Safran MR, McKeag DB, Van Camp SP. Manual de medicina esportiva. Barueri: Manole; 2002. 5. Hillman SK. Avaliação, prevenção e tratamento imediato das lesões esportivas. Barueri: Manole; 2002. 6. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Júnior JN, Padovani CR. Lesões desportivas na elite do atletismo brasileiro: estudo a partir de morbidade referida. Rev Bras Med Esporte 2005;11(1):43-7. 7. Vital R, Silva HGPV, Souza RPA, Nascimento RB, Rocha EA, Miranda HF et al. Lesões traumato-ortopédicas em atletas paraolímpicos. 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( ) Não houve afastamento ( ) Houve afastamento de 1-7 dias ( ) Houve afastamento de 8-14 dias ( ) Houve afastamento maior ou igual há 15 dias Qual o tipo de lesão ocorreu? ( ) Distensão Muscular ( ) Dor aguda Inespecifica ( ) Dor crônica inespecifica ( ) Fratura ( ) Dor Muscular ( ) Luxação ( ) Hipotermia ( ) Queimadura ( ) Outra. Qual? _______________________________ ( ) Laceração ( ) Entorse Qual a localização dessa lesão ou sintoma? ( ) Abdômen ( ) Mão ( ) Tórax anterior ( ) Punho ( ) Coxa ( ) Antebraço ( ) Joelho ( ) Cotovelo ( ) Perna ( ) Braço ( ) Tornozelo ( ) Ombro ( ) Pé ( ) Coluna Cervical ( ) Pelve ( ) Coluna Torácica ( ) Face ( ) Coluna Lombar Qual o momento em que ocorreu a lesão? ( ) Manobras aéreas ( ) Impacto contra a prancha ( ) Peixinho ( ) Contato com o fundo mar ( ) Floater2 ( ) Impacto com outro surfista ou banhista ( ) 360° ( ) Durante aquecimento ( ) Remanda ( ) Virada ( ) Outra. Qual? _______________________________ ( ) Tubo ( ) Subida na prancha ou drop1 ou saída da água Qual a altura aproximada da onda quando se lesionou? ( ) até 0,5m altura ( ) até 1m altura ( ) > 1m altura Realizou Fisioterapia? ( ) Sim........( ) Não Por quantas sessões realizou fisioterapia? ( ) 1 a 10 sessões ( ) 11 a 20 sessões ( ) Mais de 20 sessões Retornou as atividades como? ( ) Sintomático ( ) Assintomático 1 É a entrada na onda – não é considerada uma manobra do ponto de vista do surfe de competição, porém é o primeiro passo no aprendizado. 2 Manobra que consiste em deslizar a prancha sobre a onda, retornando a mesma após ganhar velocidade e passar para outra sessão da onda. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 181 Artigo original Comparação dos testes de campo de 2.400 m de Cooper e 3.200 m de Weltman em homens saudáveis Comparison between 2.400 m Copper and 3.200 m Weltman field tests in healthy men Matheus Santos Cerqueira, Esp.*, Guilherme Tucher, M.Sc.**, João Carlos Bouzas Marins, D.Sc.*** *Mestrando em Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Professor da Fundação Universitária de Itaperuna (FUNITA), **Professor da Fundação Universitária de Itaperuna (FUNITA), Professor da Faculdade de Minas (Faminas), ***Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Resumo Abstract Objetivos: Comparar as respostas de VO2máx, tempo de duração e o comportamento da velocidade e Freqüência Cardíaca (FC) ao longo dos testes de corrida de 2.400 m e 3.200 m. Material e métodos: Noventa e sete indivíduos do sexo masculino (23,28 ± 2,93 anos) realizaram os dois protocolos de corrida. Para determinar as diferenças entre VO2máx, velocidade média e tempo de duração optou-se pelo teste t de Student. Para a diferença da FC e velocidade por volta em cada teste, utilizou-se da Anova com teste complementar post hoc de Tukey. Considerou-se a significância de p < 0,05. Resultados: Os resultados de VO2máx, velocidade média e tempo de duração apresentaram diferenças significativas, onde o VO2máx e velocidade foram maiores no teste de 2.400 m e o tempo de duração foi maior no teste de 3.200 m. Em ambos os testes, a velocidade apresentou um declínio a cada volta, com um ligeiro aumento apenas na última volta, enquanto que a FC apresentou uma evolução a cada volta. Conclusão: Os resultados de VO2máx, tempo de duração e velocidade apresentaram diferença entre os testes. Em ambos os testes, a FC apresentou um comportamento de elevação a cada volta, enquanto a velocidade apresentou um declínio. Objectives: This study aims to compare VO2max responses, time intervals and the behavior of the speed as well as the heart rate (HR) during the running tests of 2.400 m and 3.200 m. Methods: Ninety seven male individuals aged 23,28 ± 2,93 years took the two running protocols. In order to determine the differences among VO2max, average speed and time intervals, the T test of student was used. To check heart rate and running speed in each test Anova was used along with post hoc of Turkey complementary test (considering p < 0.05). Results: The results of VO2max, average speed and duration time showed significant differences, VO2max and speed were higher in the 2.400 m test and the duration time was greater in the 3.200 m one. Both tests showed a decline in each lap and a slight increase in the last one while the HR showed an increase in each lap. Conclusion: The results of VO2max duration time and speed showed difference between the tests. Whereas HR presented an increase at each lap in both tests, the speed presented the opposite. Key-words: heart rate, effort test, healthy men, VO2max. Palavras-chave: freqüência cardíaca, teste de esforço, homens saudáveis, VO2máx. Endereço para correspondência: Matheus Santos Cerqueira, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Educação Física, LAPEH 36571-000 Viçosa MG, Tel: (31) 3899-2076, E-mail: [email protected] 182 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução Testes de campo são formas alternativas de avaliação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), que tem como vantagens o baixo custo, praticidade, além de não necessitarem de equipamentos sofisticados [1]. Cooper [2] e Weltman et al. [3] propuseram testes de corrida de campo com distâncias diferentes que estimam de forma indireta o VO2máx. Para tanto, os protocolos determinam apenas que o avaliado percorra a distância determinada no menor tempo possível e que seja registrado o tempo total da corrida, que será utilizado para o cálculo do VO2máx. Contudo, tanto as diferenças de distâncias quanto as equações que estimam o VO2máx dos testes podem proporcionar diferenças entre os protocolos. Diversas pesquisas foram realizadas envolvendo testes físicos de campo, entre elas pode-se citar estudos comparando a resposta da freqüência cardíaca máxima (FCM) entre os testes de campo de 2.400 m e 3.200 m [4]; comparando a resposta da FCM do teste de 2.400 m com um teste de corrida em esteira [1]; comparando o VO2máx entre dois testes de campo de Cooper de 2.400 m e 12 minutos [5]; analisando o VO2máx entre testes de campo de Cooper de 12 minutos, corrida de vai e vem de Léger e em esteira em laboratório com análise de gases [6]. Outros exemplos de estudos envolvendo testes de campo foram os de Silva et al. [7] que buscaram determinar a intensidade de treinamento aeróbico a partir do teste de campo de corrida de 12 minutos de Cooper e Cantenhede et al. [8] que analisaram o comportamento do lactato e glicose durante teste de Cooper de 12 minutos. Contudo não foram encontrados estudos que comparassem o teste de 2.400 m frente ao de 3.200 m. Apesar dos testes de corrida de 2.400 m e 3.200 m terem o mesmo objetivo, que é avaliar a capacidade aeróbica (VO2máx), eles podem apresentar diferentes comportamentos para algumas variáveis. Avaliando minuciosamente os testes propostos por Cooper [2] e Weltman et al. [3], existem dados importantes sobre o avaliado que muitas vezes são negligenciados. Informações como a velocidade de corrida, evolução da freqüência cardíaca, tempo de duração e adequabilidade do teste podem auxiliar na interpretação dos testes de forma a indicar qual deles é mais apropriado para determinadas populações. Assim, os objetivos deste estudo foram: a) comparar as respostas de VO2máx obtidas nos testes de campo de 2.400 m de Cooper [2] e 3.200 m de Weltman et al. [3]; e b) analisar e comparar as respostas dos testes quanto ao tempo de duração e o comportamento da velocidade e FC ao longo do teste. Material e métodos Amostra Participaram do estudo noventa e sete indivíduos do gênero masculino, estudantes universitários de Educação Física, com idade de 23,28 ± 2,93 anos (média ± desvio padrão), variando entre 19 e 38 anos, aparentemente saudáveis e fisicamente ativos. Os avaliados se apresentaram como voluntários para a participação no estudo. A tabela I apresenta as características básicas do grupo avaliado quanto à massa corporal, estatura e índice de massa corporal (IMC). Tabela I - Características dos avaliados participantes do estudo. Parâmetro Idade (anos) Massa corporal (kg) Estatura (cm) IMC (kg/m2) Média ± DP 23,28 ± 2,93 74,79 ± 9,61 177,71 ± 6,66 23,62 ± 2,20 Procedimento experimental Antes de iniciarem os testes, os avaliados passaram por uma triagem pré-atividade respondendo ao Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q) proposto por Thomas et al. [9]. Os candidatos também preencheram um questionário de risco coronariano do Michigan Heart Association [10], além de um terceiro questionário padrão adotado pelo LAPEH [11]. Qualquer resposta positiva no questionário Par-Q, escore igual ou superior a risco médio, ou a presença de algum fator de risco cardíaco ou ortopédico, o candidato seria excluído do estudo. Também foram feitas orientações aos avaliados para a realização dos testes, seguindo as normativas da SBC [12]. O estudo obedeceu aos critérios de ética em pesquisas com humanos, resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996 (CNS). Todos os participantes foram informados por um termo de consentimento sobre os riscos e benefícios envolvidos na realização dos testes, devendo assiná-lo para participação no estudo e eram livres para abandonar a pesquisa em qualquer momento. O estudo foi conduzido na Universidade Federal de Viçosa (UFV) com os testes realizados em pista oficial de 400 m de atletismo. Os sujeitos foram avaliados quanto ao desempenho nos testes de campo de 2.400 m de Cooper [2] e de 3.200 m de Weltman et al. [3] para a obtenção da velocidade e FC por volta, além do cálculo do VO2máx em cada um dos testes. A ordem de realização dos testes de campo ocorreu de forma aleatória e com intervalo entre os testes de uma semana. Os indivíduos tinham a possibilidade de realização do teste na parte da manhã ou da tarde, tendo que realizar o segundo teste no mesmo horário do primeiro. Em ambos os testes, o aquecimento correspondeu a 3 voltas na pista de atletismo totalizando 1.200 m. Na primeira volta, realizaram uma caminhada rápida sendo a FC sugerida para não exceder 120 bpm. A segunda volta foi em ritmo de trote com a FC mantida entre 120 e 140 bpm; já a última volta em ritmo de corrida lenta, em que a FC deveria ser mantida entre 140 e 160 bpm. Na aplicação do teste, os indivíduos foram orientados a manterem um ritmo constante máximo, suficiente para terminar o teste, procurando evitar sprints ou desacelerações acentuadas. Ao fim do teste foi realizado Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Foram empregados dois protocolos máximos no campo: o protocolo de 2.400 m de Cooper [2] e o protocolo de 3.200 m de Weltman et al. [3]. Ambos os testes seguem a mesma metodologia, que corresponde a correr o mais rápido possível a distância determinada, sendo registrado o tempo para execução do teste. Para o cálculo do VO2máx, empregou-se as seguintes equações: no teste de 2.400 m utilizou-se a equação de estimativa do VO2máx do ACSM [13] para o teste de 2.400 m [VO2máx = 483/Tempo(min)+3,5] e para o teste de 3.200 m de Weltman et al. [3] a equação [VO2máx = 118,4 – (4,77* Tempo(min)]. Materiais Cada indivíduo realizou os testes utilizando um monitor de freqüência cardíaca (Polar®) modelo A1 com o acompanhamento de um anotador que registrava o tempo e a FC por volta. Para o registro da massa corporal foi utilizada uma balança (Welmy®), e um estadiômetro (Sanny®) para a medição da estatura. Figura 1 - Comportamento da FC e da velocidade em cada volta ao longo do teste de 2.400 m. 195 a,b,c 235 a,b 190 a 185 230 a 225 A 180 220 FC 175 170 a,b,c,d 240 Velocidade (m/min) Protocolos de testes De acordo com a idade média dos avaliados e os valores de VO2máx obtidos nos testes, o nível de condicionamento físico dos avaliados para ambos os testes é classificado como “Bom”, de acordo com a tabela proposta pelo AHA [14]. As Figuras 1 e 2 apresentam o comportamento da FC e da velocidade em cada volta ao longo de cada teste. Frequência cardíaca (bpm) uma “volta à calma”, que correspondeu a uma volta na pista caminhando em ritmo livre. 183 1 2 Velocidade 3 4 Voltas 215 5 210 6 As letras minúsculas representam diferença significativa da FC das voltas com as demais com os seguintes significados: a - volta 1; b - volta 2; c - volta 3; d -volta 4. A - significa diferença da velocidade da volta 1 com as demais. Análise estatística Resultados Figura 2 - Comportamento da FC e da velocidade em cada volta ao longo do teste de 3.200 m. 190 a 185 a,b a,b,c,d,e 240 a,b,c,d a,b,c 235 a,b,c Velocidade (m/min) 195 Frequência cardíaca (bpm) Foram utilizados os procedimentos da estatística descritiva, como média, desvio-padrão, máximo e mínimo dos parâmetros avaliados. Para provar o grau de normalidade utilizou-se do teste de Kolmogorov-Smirnov. O teste T de Student buscou diferença entre os protocolos de Cooper e Weltman para o VO2máx, velocidade média de corrida e tempo total de duração dos testes. Para a diferença da FC e velocidade por volta em cada teste, utilizou-se da Anova com teste complementar post hoc de Tukey. Em todos os casos considerou-se a significância de p < 0,05. O pacote estatístico utilizado foi o SPSS 16.0 para Windows. 230 a 225 180 220 175 A 170 165 FC 1 2 215 Velocidade 3 4 5 Voltas 6 7 8 210 As letras minúsculas representam diferença significativa da FC das voltas A Tabela II apresenta os resultados de VO2máx, velocidade e tempo de realização dos testes de Cooper de 2.400 m e Weltman et al. de 3.200 m. com as demais com os seguintes significados: a - volta 1; b - volta 2; c volta 3; d - volta 4; e - volta 5. A - significa diferença da velocidade da volta 1 com as demais. Tabela II - Análise estatística dos parâmetros dos testes de corrida de 2.400 m e 3.200 m. VO2máx Cooper1 VO2máx Weltman1 Velocidade Cooper (m/s) Velocidade Weltman (m/s) Tempo Cooper (min) Tempo Weltman (min) Média 49,04 47,77 3,77 3,64 10’ 45” 14’ 48” * Considerou-se p < 0,05; 1VO2máx em ml(kg.min)-1 Mínimo 32,28 19,90 2,38 2,58 8,75 11,95 Máximo 58,70 61,40 4,57 4,46 16,78 20,65 Amplitude 26,42 41,5 2,19 1,88 8,03 8,7 DP 5,00 7,67 0,41 0,37 1,26 1,60 P* Resultado < 0,05 Diferentes 0,02 Diferentes < 0,05 Diferentes 184 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Nos dois testes, as figuras demonstram uma redução da velocidade a cada volta, com exceção da última volta que demonstra uma aceleração em relação à volta anterior. Entretanto a velocidade de cada volta foi analisada estatisticamente, e os resultados demonstram que só houve diferença significativa entre as voltas 1 e 5 do teste de 2.400 m e entre as voltas 1 e 7 do teste de 3.200 m., ou seja, entre a primeira e a penúltima voltas de cada teste, sendo este modelo obtido em ambos os testes. Discussão Quanto ao VO2máx, os testes apresentaram diferença significativa, e com uma diferença entre os valores médios de 2,03%, com o maior valor observado no teste de 2.400 m.. Entretanto não é possível inferir qual teste proporcionou o valor exato de VO2máx, pois não foi realizado um teste com análise direta de gases para determinar o valor real dos avaliados, sendo esta uma limitação do estudo. A média dos resultados obtidos no teste de 2.400 m., que aponta um VO 2máx de 48,75 ml(kg.min) -1, foram superiores aos observados por Cerqueira et al. [15] com VO2máx de 45,00 ml(kg.min)-1 utilizando o mesmo teste e Pereira e Graup [16] que observaram um VO2máx de 44,24 ml(kg.min)-1 utilizando o teste de 12 minutos, ambos com populações semelhante a deste estudo. O que demonstra que estes resultados indicam uma consistência do perfil de VO2máx neste grupo avaliado. Já para o teste de Weltman et al. o valor do VO2máx (47,77 ml(kg.min)-1) foi inferior ao observado por Lima et al. [17] (58,5 ml(kg.min)-1) que aplicaram o mesmo teste em jogadores de futsal com idade média de 18,6 anos. Isto é positivo tendo em vista que se pode esperar que um grupo de atletas tenha um VO2máx superior ao de não atletas, demonstrando, assim, que o teste pode ser sensível para indicar as diferenças entre os grupos populacionais. Analisando o tempo de duração dos testes e considerando que o tempo de duração ideal de um teste físico deve estar compreendido entre oito a quinze minutos [11,18-20], podese fazer algumas considerações dos resultados obtidos nos testes. No protocolo de 2.400 m., o tempo médio dos testes foi de 10 minutos e 45 segundos. Nenhum avaliado ficou abaixo do tempo mínimo de 8 minutos e apenas 1 avaliado (1,03%) ultrapassou o limite superior de 15 minutos. Isto indica que o teste de 2.400 m está totalmente adequado para o perfil populacional avaliado neste estudo, homens em idade universitária, aparentemente saudáveis e fisicamente ativos. Já para o protocolo de 3.200 m, a média de duração dos testes foi de 14 minutos e 48 segundos. Também neste teste nenhum avaliado completou com um tempo inferior a faixa limite ideal de 8 minutos. Porém, 44 avaliados (45,36%) ultrapassaram o tempo máximo indicado como ideal de um teste para avaliar o VO2máx. Esse teste demonstrou ser de longa duração, sendo extremamente desgastante para a população avaliada, de forma que a sua adoção para um grupo com estas características deve ser feito de forma muito criteriosa. Estes resultados apontam o teste de 2.400 m como um teste que estabelece uma distância suficiente para que os avaliados possam concluí-lo com um tempo compreendido dentro da faixa considerada ideal de 8 a 15 minutos, para esta população estudada. Considerando o limite superior de 15 minutos para a realização de um teste cardiorrespiratório, é possível determinar um padrão de referência do nível de condicionamento mínimo indicado para um sujeito realizar os testes no limite de quinze minutos. Para o teste de 2.400 m. recomenda-se que o avaliado tenha um VO2máx igual ou superior a 35,5 ml(kg.min)-1, enquanto que para o teste de 3.200 m o valor de referência do VO2máx é de 46,85 ml(kg.min)-1. Desta forma, pode-se estabelecer que a indicação do teste de 2.400 m de Cooper abrange uma amplitude maior de indivíduos aptos para realizar o teste com o perfil da amostra estudada. Já o teste de 3.200 m de Weltman et al. é mais indicado para indivíduos atletas com elevada capacidade aeróbica ou sujeitos não atletas, porém bem treinados e que tenham um maior nível de condicionamento físico. Com relação à velocidade, os testes seguiram uma tendência inversamente proporcional entre a velocidade e a distância percorrida. Para uma menor distância dos testes, maior a velocidade média e máxima alcançadas. Estas diferenças de valores de velocidade média entre os testes mostraram-se significativas (p = 0,023) e que pode ser explicada pelo fato de que, para a realização de um teste mais longo (3.200 m), o indivíduo acaba tendo um maior desgaste físico, tendo que controlar mais a velocidade da corrida em um ritmo mais lento para conseguir finalizar o teste. Comparando a velocidade de corrida de todas as voltas entre si, foi constatado uma diferença significativa apenas entre as volta 1 e 7 no teste de 3.200 m e 1 e 5 no teste de 2.400 m.. Nos dois testes ocorreu a mesma situação: a velocidade da 1ª volta foi a mais rápida, ocorrendo uma ligeira redução da velocidade a cada volta até a penúltima volta, que era a mais lenta e que apresentava valores significativamente inferiores apenas ao da 1ª volta (mais rápida). Em seguida, durante a última volta, ocorria uma aceleração em relação à volta anterior, provocado pela busca de melhor rendimento físico no teste. Em termos gerais, a velocidade manteve-se em um ritmo constante durante todo o teste, com pequenas oscilações na penúltima e última volta. É interessante observar que em ambos os testes ocorreu uma tendência de redução da velocidade obtida na primeira volta frente às voltas que a sucederam, com exceção da última volta, na qual ocorreu uma aceleração destacada, sendo isto, apesar da fadiga instalada, causada provavelmente pelo fator motivação, visando aprimorar o resultado final. Entretanto, analisando estatisticamente a velocidade de cada volta, foi demonstrado que apenas a primeira e a penúltima volta apresentaram diferenças significativas em ambos os testes. Em Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 síntese, o que ocorria era que a primeira volta dos testes era a mais rápida, com redução gradativa da velocidade a cada volta até atingir o menor valor na penúltima volta. Apenas neste momento, os valores de velocidade da primeira volta (a mais rápida) e a penúltima volta (a mais lenta) apresentavam resultados diferentes estatisticamente. Quando analisado o comportamento da FC ao longo dos testes, foi observada uma elevação contínua e progressiva da FC ao longo do teste. A elevação da FC a cada volta também foi expressa, em termos estatísticos, pela diferença significativa nos valores da FC obtida entre as voltas no Teste de Cooper, o mesmo ocorrendo no teste de Weltman et al., conforme apresentado nas figuras 3 e 4. Estes resultados estatísticos permitem uma análise fisiológica, na qual fica claro que durante os testes não ocorre um steady state clássico, mas sim uma progressão contínua da FC. Isto ocorre provavelmente por ajustes hemodinâmicos como o débito cardíaco, vasodilatação de áreas ativas, vasoconstricção de áreas inativas, maior necessidade de perda de calor e fadiga muscular. Com isto, durante uma aplicação de ambos os testes é necessário esperar as voltas finais para registro da FCM. Outro fator que explica a elevação da FC é pelo controle direto exercido pelo sistema nervoso autônomo, pelos seus ramos simpático e parassinpático. O ramo parassimpático é responsável pelo controle da FC enquanto que o ramo simpático estimula o aumento da FC [21-23]. Desta forma, nos segundos iniciais do exercício em que ocorre elevação rápida da FC, conhecido como transiente inicial, é mediado exclusivamente pela inibição parassimpática. Com a continuidade do exercício ocorre ativação da atividade simpática, proporcional à intensidade do exercício e que acelera progressivamente a FC [24]. Como limitações do estudo é possível destacar o fato de não ter sido realizado um teste direto para análise do VO2, o que não permite induzir qual dos dois testes estabelece o VO2máx verdadeiro, ou se os registros são sub ou superestimados. Também não foi feita a dosagem de lactato ao final da prova, o que poderia contribuir para indicar a intensidade do teste. Conclusão Os resultados de VO2máx apresentaram diferenças entre os testes, não sendo, entretanto, possível inferir qual o teste que proporcionou o valor exato de VO2máx, pois não foi realizado um teste com análise direta de gases para determinar o valor real dos avaliados. Para a velocidade de corrida, houve diferença significativa nos resultados entre os testes, visto que o teste de 3.200 m representou uma velocidade mais baixa. Em ambos os testes, a velocidade de corrida apresentou um declínio no desenvolvimento do teste, ocorrendo um aumento apenas na última volta. Tomando como referência a indicação de tempo de duração ideal de um teste compreendido entre oito e 15 minutos, 185 o teste de 2.400 m apresentou-se como ideal para a população testada no estudo. Também foi possível concluir que o teste de 2.400 m abrange uma maior quantidade de indivíduos, sendo indicado para indivíduos com um nível de condicionamento mais baixo, com um VO2máx a partir de 35,5 ml(kg.min)-1. Já o protocolo de 3.200 m deverá ser proposto para indivíduos com maior nível de condicionamento físico, com um VO2máx igual ou superior a 46,85 ml(kg.min)-1. O comportamento da FC tende a um aumento contínuo ao longo do teste, independente do aumento da velocidade de corrida, até atingir a FCM normalmente na última volta. Seria interessante que este mesmo trabalho fosse realizado com atletas de corrida para observar se ocorre o mesmo comportamento da velocidade e da freqüência cardíaca durante o teste. Sugere-se também a aplicação em indivíduos do gênero feminino. Referências 1. Santos AL, Silva SC, Farinatti PTV, Monteiro WD. Respostas da freqüência cardíaca em testes máximos de campo e laboratório. Rev Bras Med Esporte 2005;3:177-80. 2. Cooper KH. Capacidade aeróbica. Coleção Educação Física Mundial - Técnicas Modernas. 2a ed. Rio de Janeiro: Honor; 1972. 3. Weltman J, Seip R, Levine S, Snead D, Kaiser D, Rogol A. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 187 Artigo original Atividade física como fator de prevenção de risco cardiovascular Physical activity as cardiovascular risk factor prevention Dihogo Gama de Matos*, Mauro Lúcio Mazini Filho*, Rafael Pedrosa Savóia*, André Luiz Zanella*, Leandro Otávio Apolinário Cantaruti**, Moacir Marocolo Júnior*** *Programa de Pós-graduação Strictu Senso em Avaliação das Atividades Físicas e Desportivas, UTAD Portugal, **Programa de Pós Graduação Lato Sensu em Musculação e Personal Trainer – UCB Barbacena/MG, ***Unipac Barbacena/MG Resumo Abstract O número de pessoas com hipertensão arterial vem aumentando a cada dia, e as doenças cardiovasculares representam, no Brasil, 32% das causas de morte. A adoção de um estilo de vida que incorpore a prática regular de exercícios físicos pode reduzir significativamente os comprometimentos relacionados à hipertensão, como o diabetes, hiperlipidemia e doenças cardiovasculares em geral. O objetivo do estudo foi revisar a literatura sobre os efeitos do exercício sobre fatores de risco relacionados à hipertensão. Adicionalmente, apresentam-se resultados de questionários sobre o perfil de risco de pacientes com diagnóstico de hipertensão. Os benefícios do exercício podem ter grande impacto sobre a saúde pública, porém, devem se inserir dentro de um programa global de intervenção sobre os fatores de risco cardiovasculares. Dentre alguns benefícios da atividade física podemos citar a melhora da sensibilidade à insulina, levando a um melhor controle glicêmico, aumento da fração HDL e diminuição da LDL e redução de triglicerídeos sanguíneos. A composição corporal tende a melhorar, com diminuição do percentual da gordura corporal e aumento da massa muscular. Mesmo com intensidade de volume moderados, programas de exercício podem exercer efeito protetor contra a doença arterial coronariana e demais causas de mortalidade relacionadas à hipertensão. Os pacientes avaliados exibiam evidente histórico familiar para diversos fatores de risco, mas em sua maioria não fumavam. Quanto às atividades físicas, grande parte a praticava, pelo menos duas vezes por semana, com preferência pelas caminhadas. The hypertension prevalence is increasing and in Brazil the cardiovascular diseases represent 32% of the death causes. The regular practice of exercises may reduce the risk for the development of health problems associated with hypertension, as diabetes, hyperlipidemia, and cardiovascular diseases in general. The purpose of the present study was to review the literature on the possible effects of regular exercise on the risk factors related to hypertension. Additionally, the results of questionnaires applied to hypertensive patients to define their risk profile are presented. The benefits of exercise practice may have a major impact on public health. However, it must be part of a comprehensive program of intervention aiming the reduction of cardiovascular risk factors. Some of the desirable effects of regular exercising are: better insulin sensibility, improvement of glucose metabolism, increase of HDL and reduction of LDL cholesterol fraction, reduction of triglyceride levels. Moreover, the body composition probably improves, with a decrease of body fat and increase of muscle mass. Moderate intensity and volume exercise training may have a protective effect against coronary artery disease and all-mortality causes related to hypertension. The evaluated patients exhibited evident familiar history related to hypertension risk factors, but they were mostly non smokers. Most of the patients practiced exercise at least two times per week, and walking was the preferred activity. Key-words: hypertension, exercise, body composition. Palavras-chave: hipertensão, exercício, composição corporal. Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, Rua Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, E-mail: [email protected] 188 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução Doenças cardiovasculares coronarianas, dislipidemias, hipertensão, obesidade e diabetes formam um conjunto de morbidades geralmente associadas entre si, constituindo-se em graves problemas de Saúde Pública [1,2]. No Brasil, como se sabe, tais morbidades são responsáveis por grande número de mortes prematuras entre adultos. Por exemplo, em 1985, um terço das mortes ocorridas foi provocado por causas cuja origem se encontra nessas doenças. No que diz respeito à população vitimada, cerca de 30% pertencia ao grupo etário entre 20 a 49 anos de idade. No Município de São Paulo, a proporção de mortes por essas causas foi de 37% [3]. A hipertensão arterial (HA) é considerada um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares [4], representando no Brasil um dos problemas de saúde pública de maior prevalência na população, capaz de levar ao óbito aproximadamente 40% dos indivíduos acometidos [5]. O tratamento da HA é realizado por meio de medicamentos e deve estar associado a uma mudança de estilo de vida, como alterações no padrão alimentar e prática regular de exercícios físicos [6]. No Brasil, 32,6% das causas de mortalidade foram atribuídos a comprometimentos cardiocirculatórios, constituindo-se também na principal causa de mortes [7]. Um dos principais fatores de risco para a doença cardíaca é a elevação crônica da pressão arterial (PA). A redução de valores pressóricos, mesmo em sujeitos normotensos, é um importante fator para minimizar o risco de doença cardíaca [8]. A doença cardíaca é a principal causa de morte nos EUA [9]. Cerca de 80% dos portadores de doença arterial coronariana (DAC) apresentam fatores de risco convencionais ou clássicos, representados por hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, hipercolesterolemia, diabetes mellitus, idade avançada, sexo masculino e antecedentes familiares, sendo acrescentados, posteriormente, sedentarismo, estresse emocional e obesidade [10,11]. Há evidências de que o processo aterosclerótico inicia-se na infância, progride com a idade e exibe gravidade diretamente proporcional ao número de fatores de risco apresentados pelo indivíduo [12], razão pela qual se acredita que a prevenção primária das doenças cardiovasculares deve começar na infância, principalmente pelo processo de educação para a promoção da saúde cardiovascular com ênfase na importância da dieta e da manutenção de uma prática regular de atividade física para toda a vida [13,14]. Exercícios, mesmo que em graus moderados, têm efeito protetor contra a doença arterial coronariana e sobre todas as causas de mortalidade e uma série de outros benefícios: elevação do HDL-colesterol, redução de cifras na hipertensão arterial sistêmica e auxílio na baixa do peso corporal [15,16]. São importantes estudos que busquem identificar os hábitos de pacientes com diagnóstico de hipertensão, facilitando assim o planejamento de programas de intervenção. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo analisar através de um questionário o perfil de indivíduos hipertensos diagnosticados no tocante a diversos fatores de risco. Materiais e métodos Participaram do estudo, 18 indivíduos hipertensos diagnosticados de ambos os gêneros (8 homens e 10 mulheres), com idade média compreendida em 57,89 anos (masculino) e 60,25 anos (feminino), os quais responderam a um questionário sobre histórico familiar e nível de atividade física. O questionário apresentou o histórico familiar das incidências de problemas cardíacos, hipertensão e diabetes. Posteriormente foi levantado o nível de atividade física diária dos avaliados, quais atividades eram as mais praticadas e também qual o programa de atividade física que eles gostariam de participar. Todos foram voluntários e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para experimentos com humanos. Resultados Nos fatores de risco relacionados à hereditariedade, o resultado indica uma predisposição a problemas arteriocoronarianas, pois a maioria apresenta incidências de fatores de risco na família, como é observado na Figura 1. Figura 1 - Histórico familiar e tabagismo. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Cardíaco PA sim Diabetes Cigarro não Quando os avaliados foram perguntados sobre o uso de cigarros, o resultado foi satisfatório, pois 88,89% não fumam e 11,11% fumam. Apesar de os indivíduos, que responderam o questionário, serem hipertensos diagnosticados, 16,67% não tomam medicação apesar da orientação medica. Na segunda parte do questionário foram mapeados o nível de atividade física, as atividades mais praticadas e as atividades que os indivíduos gostariam de participar. De acordo com as respostas obtidas, quanto à prática regular de atividade física, podemos observar uma boa aceitação, pois a maioria tem como rotina os exercícios físicos. Nos indivíduos que não Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 praticam atividades físicas, 25% possuem algum impedimento para o exercício (ortopédico, cardíaco etc); 25% não se sentem bem durante a prática o que pode indicar a falta de preparo físico (fadiga) ou um problema cardiovascular; a maioria apresentou como resposta a não prática de atividade física como a falta de tempo chegando a 50% o índice. Quanto à freqüência diária de atividade, 40% responderam que realizam atividades mais de quatro dias por semana; 20% responderam que realizam atividades até duas vezes por semana; 40% responderam que realizam atividades ate três vezes por semana. Nas atividades mais praticadas foram encontradas atividades leves a moderadas indicando um exercício voltado à saúde e à qualidade de vida, como demonstram os resultados a seguir: 60% praticam caminhadas leves; 10% praticam corridas e ou bicicletas com intensidade moderada; 10% realizam musculação; e 20% realizam natação ou hidroginástica. Sobre os exercícios que os indivíduos mais gostariam de praticar em um programa orientado, obtivemos como resultado o que demonstra a Figura 2. Figura 2 - Preferência de atividade física orientada. 60 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 40 6,65 Musculação Caminhadas Hidroginástica Discussão O presente estudo buscou, além de uma breve revisão bibliográfica, mostrar através de questionários o nível de atividade física de indivíduos hipertensos e fatores de risco cardiovascular. Durante muito tempo, persistiu a idéia de que as doenças cardiovasculares seriam determinadas geneticamente, e que pouco poderia ser feito para sua prevenção. Porém, o reconhecimento dos fatores de risco modificou essa visão. Os resultados iniciais do primeiro projeto de intervenção nos hábitos de vida de um grupo populacional, realizado na Karélia do Norte, província finlandesa com altíssimas taxas de incidência e de mortalidade por doença arterial coronariana, mostraram a possibilidade de reduções importantes nesses índices, através de ações abrangentes relacionadas ao estilo de vida [17]. No que diz respeito a problemas cardíacos, Fuchs [18] relatou, em Porto Alegre, uma incidência de 12,6% em indivíduos com hipertensão arterial sistêmica (>140/90 mmHg). 189 Quando se consideravam as pressões arteriais normalizadas por anti-hipertensivos (pressão arterial >160/95 mmHg) a incidência era de 19,2%. Lotufo [19], em São Paulo, encontrou 15,5% em hipertensos homens e 7,8% em mulheres, na amostra atual, do total 15%, 47,3% eram homens hipertensos e 52,7% mulheres. James e cols. [20] encontraram, também, mais hipertensão arterial sistêmica em homens do que em mulheres. Já para a prevalência de diabetes, o Ministério da Saúde [21] estima a prevalência, ajustada para a idade, mas com limite de 120 mg/dl, de 7,6% em adultos de 30 a 69 anos. No atual levantamento, glicemias entre 110 e 125 mg/dl foram de 8,1%, e > 126 mg/dl foram de 7% e com aumentos percentuais com o aumento das faixas etárias. Duncan et al. [22], em Porto Alegre, encontraram 8,89% de diabéticos. Cervato et al. [23] encontraram uma cifra inferior de 5% de diabetes mellitus em adultos > 20 anos. O hábito de fumar entre estudantes dos níveis médio e fundamental no Brasil tem variado de 1 a 34% [24-27]. Em 1989, um estudo realizado em 10 capitais brasileiras apontou o consumo de tabaco em 20% dos estudantes desses níveis [24]. Entretanto, não há como desprezar a possibilidade de que as campanhas antitabaco promovidas nos últimos anos tenham, realmente, determinado uma redução importante no número de indivíduos que iniciam o hábito na infância ou adolescência. A prática regular de atividade física tem sido recomendada não apenas para a prevenção e reabilitação das doenças cardiovasculares, mas como estratégia importante de promoção de saúde [25,26]. Apesar disso, as pesquisas no Brasil apontam para uma freqüência de sedentarismo entre os adultos que varia de 55,8 a 80,8% [27,28]. Os estudos em crianças e adolescentes, utilizando diferentes parâmetros, têm demonstrado uma prevalência de sedentarismo de até 89,5% [23,24-26]. Em estudo realizado em estudantes de 14 a 15 anos, de ambos os sexos, da rede pública de ensino de Niterói, utilizando o PAQ-C [29,30], Silva e Malina [31] identificaram 89,5% sedentários. Na presente investigação, em indivíduos de 7 a 17 anos e utilizando-se o mesmo instrumento de investigação da atividade física, 93,5% dos estudantes foram considerados sedentários, resultado não muito diferente do observado por Silva e Malina [31]. Pelo estudo de Maceió ter incluído indivíduos mais jovens, esperar-se-ia inclusive uma menor prevalência dessa variável, considerando-se que o maior decréscimo da atividade física ocorre na adolescência [32] e que a participação em atividades físicas diminui com a idade para todos os tipos de exercício. Conclusão A promoção de programas de atividade física deve ser enfatizada a fim de aumentar a prática regular, notadamente à prática nos dias de semana. Atividades como a musculação, a caminhada/corrida, hidroginástica e a dança devem ser in- 190 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 cluídas, uma vez que são as mais populares e propiciam dessa forma, uma maior aderência aos programas. A promoção da prática regular possibilitará aos indivíduos o usufruto dos benefícios sobre a saúde, tanto a curto como em longo prazo. A prática de atividade física deve seguir uma freqüência longitudinal fazendo parte do cotidiano de cada um, sendo realizada em todo o período de seu desenvolvimento inclusive desde sua juventude, para que os benefícios adquiridos com sua prática sejam mais otimizados, refletindo assim uma vida mais saudável, independente e duradoura. Referências 1. Turner RWD. Coronary heart disease: the size and nature of the problem. Postgrad Med 1980;56:538-47. 2. Zimmet ZP. Obesity, hipertension, carbohydrate disorders and risk of chronic diseases. Med J Aust 1986;145: 256-62. 3. Ministério da saúde. Estatística de mortalidade: Brasil, 1985. Brasília: Centro de Documentação; 1988. 4. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cusham WC, Green LA, Izzo Junior JL, et al. National High Blood Pressure Education Program Coordinating Committee. 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M.Sc.** *Fisioterapeuta especialista no método Pilates, ** Fisioterapeutas e docentes Resumo Abstract O objetivo do presente estudo foi avaliar a flexibilidade em indivíduos saudáveis, antes e após a prática do método Pilates. Métodos: Foram avaliados 21 indivíduos sedentários e praticantes de atividade física, sendo 8 homens e 13 mulheres com idade entre 20 e 45 anos, utilizando o banco de Wells e o flexímetro da marca Sanny. Foram realizadas três medições da amplitude de movimento: a 1.ª antes de iniciarem as aulas, a 2.ª após 30 aulas e a 3.ª após 75 aulas individuais. Resultados: De acordo com os resultados obtidos, utilizando o Banco de Wells, verificou-se uma melhora da flexibilidade da cadeia posterior (p ≤ 0,001). Nas avaliações realizadas com o flexímetro, verificou-se um aumento significativo na amplitude das seguintes articulações: coluna cervical: extensão (p = 0,04) e rotação (direito p = 0,003 e esquerdo p = 0,001); extensão de ombro (direito p ≤ 0,04 e esquerdo p = 0,007), flexão de quadril (direito p = 0,03 e esquerdo p ≤ 0,001). Conclusão: Pode-se concluir que o método Pilates melhora a flexibilidade em sujeitos saudáveis nas articulações da coluna cervical nos movimentos de extensão e rotação, extensão de ombro, flexão de quadril e da cadeia posterior. The objective of this study was to evaluate the flexibility of healthy individuals before and after practicing the Pilates method, in individual sessions. Method: Twenty one sedentary and physically active individuals 20 to 45 years old were assessed (8 men and 13 women) using the Wells bench and a Sanny fleximeter. Three measurements of range of motion were taken: before the beginning of the sessions, at the end of 30 sessions and at the end of 75 sessions. Results: With the Wells bench, an improvement in the flexibility of the posterior chain was observed (p £ 0.001). With the fleximeter, a significant increase in the range of motion in the following articulations was observed: cervical column; extension (p = 0.04) and rotation (right p = 0.003 and left p = 0.001); extension of shoulder (right p £ 0.04 and left p = 0.007), hip flexion (right p = 0.03 and left p £ 0.001). Conclusion: It may be concluded that the Pilates method improves the flexibility of cervical column extension and rotation, shoulder extension, hip flexion and the posterior muscular chain of healthy individuals. Key-words: Pilates, flexibility, evaluation. Palavras-chave: Pilates, flexibilidade, avaliação. Endereço para correspondência: Angélica Castilho Alonso, Rua Aquiráz, 156, 03654-040 São Paulo SP, Tel: (11) 9998-7682, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] 192 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução Procedimentos A flexibilidade é uma das variáveis da aptidão física relacionada à saúde, representando um fator fundamental para o desempenho do corpo e do movimento, seja em modalidades desportivas ou cênicas. Ela é definida como a mobilidade passiva máxima de um dado movimento articular, descrita em termos de amplitude articular: flexão, extensão, abdução, adução e rotação. Junto com a força e a resistência é uma das principais capacidades motoras para o desempenho tanto das atividades da vida diária, quanto para os gestos mais complicados nos esportes [1]. O método Pilates tem sido divulgado aos atletas, portadores de doenças crônico-degenerativas, portadores de lombalgia e a população geral, como um método que melhora a força, a flexibilidade, a postura e a saúde em geral [2]. Esta melhora se deve ao fato de os exercícios de Pilates enfatizarem o trabalho nos músculos que são considerados a chave da boa postura: as quatro camadas dos músculos abdominais, junto com os glúteos e os músculos da parte inferior das costas [3,4]. Esses músculos sustentam a coluna vertebral, os órgãos internos e a postura. A força é adquirida junto com o alinhamento e a flexibilidade, como se fosse um “fortalecer alongando” [5,6]. Nas últimas duas décadas houve uma grande popularização do método. Ele é utilizado no mundo todo por companhias de dança, atletas profissionais e em academias de ginástica. Há vários livros publicados e vídeos ensinando o método. Alguns estudos verificaram a eficácia do método na melhora da lombalgia [7-9]. Apesar de Pilates ser divulgado como um método que melhora força, equilíbrio e flexibilidade, há poucas pesquisas que mensuram a melhora na flexibilidade de indivíduos saudáveis. O objetivo do presente estudo foi avaliar a flexibilidade em indivíduos saudáveis, antes e após a prática do método Pilates. Realizou-se, inicialmente, uma avaliação da flexibilidade da região posterior do tronco e pernas e das articulações. A medida da flexibilidade posterior do tronco e pernas consistiu na utilização do banco de Wells, também conhecido como o teste de sentar e alcançar [1,10]. As medidas de flexibilidade das articulações seguiram o Manual de utilização do Flexímetro Sanny que foi o utilizado na pesquisa [11]. Para flexão e extensão da articulação do ombro; e flexão, extensão, flexão lateral e rotação da articulação da coluna cervical, o indivíduo foi posicionado sentado em uma cadeira com os pés no chão em ângulo reto, os joelhos voltados para frente fletidos em 90°, o rosto voltado para frente. Nesta posição inicial o flexímetro foi ajustado em zero. Realizou-se o movimento e na posição final obteve-se o valor da amplitude de movimento (ADM). Para se obter o valor ADM de abdução horizontal da articulação de ombro, da flexão de quadril com joelho fletido e estendido ativamente e passivamente, o indivíduo foi posicionado sobre uma maca em decúbito dorsal. O flexímetro foi ajustado em zero na posição inicial e a medição foi feita na posição final. A extensão da articulação do quadril foi medida com o indivíduo em decúbito ventral e, para a obtenção dos valores da flexão plantar e dorsal do tornozelo, o indivíduo foi posicionado em sedestação sobre a maca, sem contato do pé com o chão. Os sujeitos realizaram então 30 aulas, duas vezes por semana, durante 60 minutos por um período de três meses e meio. As aulas foram individuais e ministradas por professores certificados no Autêntico Pilates, utilizando os seguintes aparelhos do Studio Pilates: Reformer, Mat, Wunda Chair, Cadillac e Barris. Após 30 aulas, os sujeitos foram submetidos a uma reavaliação, seguindo os mesmos procedimentos da primeira avaliação. Continuaram com o programa e no final de 75 aulas foram submetidos a uma avaliação final. Material e métodos Trata-se de uma pesquisa experimental, prospectiva longitudinal, realizada em um Studio Pilates de São Paulo. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Ibirapuera (n°242/06) de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Participaram da pesquisa 21 indivíduos saudáveis, sedentários e praticantes de atividade física, sendo oito homens (38,1%) e 13 mulheres (61,9%) com idade média 29,4 ± 5,6 anos variando de 21 a 42 anos. Os critérios de inclusão foram: 1) estar ciente e concordar com o termo de consentimento livre e esclarecido; 2) ter entre 20 e 45 anos de idade; 3) apresentar exame médico apto a realizar exercícios físicos; 4) ser formado em educação física ou fisioterapia; 5) nunca terem praticado o método Pilates. Como critérios de exclusão: Apresentar mais que três faltas durante o programa. Análise estatística Foi realizada estatística descritiva das variáveis estudadas. Para verificar a significância entre os três momentos de avaliação foi utilizado teste de medidas repetidas. Em seguida, para verificar a diferença entre as avaliações duas a duas foi realizado teste de comparação múltipla. Uma significância de 5% foi utilizada em toda a análise estatística. Resultados Os resultados obtidos com o teste de sentar e alcançar demonstram uma melhora significante da flexibilidade da cadeia posterior de tronco (p ≤ 0,001). No teste de comparação múltipla, foi observada diferença significante entre a 1ª Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 e 2ª avaliação (p = 0,01), entre 1.ª e 3.ª avaliação (p < 0,001) e entre 2ª e 3ª (p < 0,001) (Tabela I). Tabela I - Comparação da média das avaliações iniciais, intermediárias e finais da flexibilidade da cadeia posterior. Mínimo 1.º Avaliação 130 2.º Avaliação 240 3.º Avaliação 105 Máximo 490,5 510 980 Média (± DP) p 344,8 (± 107) 392,4 (± 68,4) ≤0,001* 772,3 (± 234) Análise para medidas repetidas; *p ≤ 0,05 Quanto à medida de flexibilidade da articulação do ombro, não foi observada uma diferença significativa nos movimentos de flexão e abdução horizontal. Na extensão, porém, no teste de comparação múltipla, foi notada diferença significante na extensão entre a 1ª e 2ª avaliação e entre a 1ª e 3ª avaliação (Tabela II). Tabela II - Comparação da média das avaliações iniciais, intermediárias e finais da extensão de ombro. Mínimo Ombro Extensão Direito 1.º 20 2.º 22 3.º 15 Esquerdo 1.º 24 2.º 23 3.º 18 Flexão Direito 1.º 100 2.º 96 3.º 110 Esquerdo 1.º 100 2.º 105 3.º 117 Abdução horizontal Direito 1° 110 2.º 115 3.º 110 Esquerdo 1.º 90 2.º 115 3.º 110 Média (± DP) Máximo p 31,8 (± 6,4) 37,0 (± 6,6) 34,9 (± 7,6) 44 50 46 £ 0,04* 31,6 (± 5,5) 37,9 (± 7,6) 36,1 (± 8,1) 42 50 46 0,007* 123,9 (± 10,5) 126,8 (± 13,5) 125,2 (± 8,3) 140 155 142 0,67 124 (± 11,4) 128 (± 11,4) 127 (± 6,8) 140 152 140 0,18 127 (± 12,3) 131,8 (± 9,5) 129 (± 9,1) 150 160 150 0,07 123,7 (± 15,2) 130 (± 8,8) 129,9 (± 8,3) 150 155 150 0,06 Análise para medidas repetidas; *p ≤ 0,05 No movimento de flexão da articulação de quadril com o joelho flexionado, foi notada diferença significativa entre as três avaliações tanto no lado direito quanto no esquerdo, porém no lado direito não foi observada diferença entre a 2ª e 193 a 3ª avaliação. Nos movimentos de flexão ativa da articulação do quadril com o joelho estendido, foi observada diferença significante entre as três avaliações. No teste de comparação múltipla, constatou-se diferença significante entre a 1ª e a 2ª avaliação, entre a 1ª e a 3ª e entre a 2ª e a 3ª. Na avaliação da flexão passiva de quadril com o joelho estendido verificouse diferença significante entre as três avaliações. No teste de comparação múltipla, constatou-se uma diferença significante entre a 1ª e a 2ª avaliação, e entre a 1ª e a 3ª, porém não foi observada diferença entre 2ª e 3ª (Tabela III). Tabela III - Comparação da média das avaliações iniciais, intermediárias e finais dos movimentos do quadril. Mínimo Média (± DP) Máximo P Flexão quadril - Com joelho em flexão Direito 1.º 90 109,1 (± 10,5) 130 2.º 90 113,5 (± 10,0) 130 0,03* 3.º 97 116,1 (± 8,6) 130 Esquerdo 1.º 90 108,9 (± 9,6) 122 2.º 92 113,3 (± 9,6) 126 ≤ 0,001* 3.º 99 116,8 (± 8,4) 134 Flexão quadril - Com joelho em extensão ativa Direito 1.º 55 91,3 (± 18,3) 130 2.º 75 101,1 (± 14,3) 125 ≤ 0,001* 3.º 85 106,5 (± 11,7) 130 Esquerdo 1.º 55 93,7 (± 16,3) 120 2.º 82 103 (± 10,7) 122 ≤ 0,001* 3.º 95 109,5 (± 10,2) 129 Flexão quadril - Com joelho em extensão passiva Direito 1.º 85 115,3 (± 17,7) 150 2.º 105 125,8 (± 10,9) 148 0,04* 3.º 31 125,4 (± 16,1) 141 Esquerdo 1.º 80 115,8 (± 18,2) 142 2.º 108 124,7 (± 10,1) 145 0,04* 3.º 38 125,9 (± 22,4) 148 Extensão Direita 1.º 10 29,7 (± 7,5) 40 2.º 16 34,1 (± 7,2) 44 0,09 3.º 20 32,1 (± 7,1) 42 Esquerdo 1.º 14 30,5 (± 7,5) 40 2.º 13 34,5 (± 8,1) 46 0,11 3.º 20 33,1 (± 6,6) 43 Análise para medidas repetidas;* p ≤ 0,05 Quanto aos resultados obtidos após medida da flexibilidade da articulação do tornozelo, não foi observada diferença 194 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 significativa no movimento de flexão dorsal como também no movimento de flexão plantar. Discussão Os músculos da cadeia posterior, ou seja, da estática, têm grande importância na manutenção da postura, pois sua função é impedir o desequilíbrio com uma ação reflexa e inconsciente [12,13]. São eles: tríceps sural, isquiotibiais, paravertebrais, trapézio superior e longo do pescoço. São os músculos mais utilizados no dia-a-dia, tornando-se mais fortes e mais encurtados, provocando compensações e desvios posturais, ocasionando quadros álgicos, piora na realização de atividades diárias e esportivas, fazendo com que o indivíduo se torne cada vez mais inativo [8,14]. Sacco et al. [15] cita que na prática da fisioterapia é comum pacientes apresentarem encurtamento da cadeia posterior. O tratamento consiste em promover um reequilíbrio das cadeias musculares. Os exercícios de Pilates são uma boa alternativa para promover a melhora da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior, melhorando assim a relação do equilíbrio agonista e antagonista [7]. A diferença de um alongamento convencional passivo para os exercícios básicos do método Pilates é que, durante a realização dos exercícios do método, ocorre uma estabilização pélvica feita pelo glúteo máximo, um trabalho isométrico dos estabilizadores de escápula e um trabalho de fortalecimento dos músculos abdominais, tornando o alongamento da cadeia posterior mais eficaz [2,13,15]. Os resultados do presente estudo demonstram que após o treinamento com o método Pilates, houve uma melhora da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior, dados também encontrados por Segal et al. [2], que avaliaram por meio do teste distância dedo chão a flexibilidade de 32 sujeitos que treinaram Mat Pilates após dois, quatro e seis meses. Sekendiz et al. [16] verificaram os efeitos do Pilates na flexibilidade da musculatura da cadeia posterior em mulheres sedentárias também com o teste de sentar e alcançar, os sujeitos praticaram Mat Pilates por cinco semanas e apresentaram melhora significante da flexibilidade, e Bertolla et al. [14], em estudo recente, avaliou a flexibilidade da musculatura posterior, utilizando o Banco de Wells e o flexímetro com uma equipe de futsal de categoria juvenil. Os atletas nesse estudo realizaram sessões de Mat Pilates em grupo durante quatro semanas. O que difere os estudos anteriores do atual foi que os sujeitos realizaram exercícios de Mat Pilates no solo e em grupo, sem o auxílio de molas e em cadeia cinética aberta. Já no presente estudo, os sujeitos realizaram aulas individuais, utilizando todos os aparelhos com molas do Studio Pilates, que oferecem maior resistência aos membros trabalhados, por vezes aumentando a dificuldade dos exercícios, por vezes facilitando a execução, dependendo se o indivíduo está em decúbito dorsal, sedestação ou posição ortostática. Em ambos os métodos constatamos uma melhora significante da flexibilidade da musculatura posterior de tronco [15]. O músculo longo do pescoço realiza a anteflexão ou endireitamento da coluna cervical agindo bilateralmente para manter a lordose cervical em seus limites fisiológicos. As porções oblíquas agem contra a tendência do aumento da lordose cervical ocasionada pela ação da gravidade e também para impedir a queda do lado oposto. Ele faz parte dos músculos da estática, ajudando assim na manutenção da postura, evitando a queda da cabeça à frente. Se não há atenção na manutenção correta da postura, ocorre uma protrusão da cabeça [12,14]. Neste estudo observou-se que após a prática do método Pilates, houve uma melhora na extensão e rotação lateral da coluna cervical. Isso não se deve a exercícios específicos para esta articulação, mas sim ao trabalho de alongamento e fortalecimento axial realizado nos aparelhos do Studio Pilates (Reformer, Baby Chair e Wall). Nestes aparelhos os exercícios são realizados em decúbito dorsal ou mesmo contra uma parede ou encosto reto, promovendo um melhor alinhamento da coluna. Estes exercícios enfatizam o conceito de “abrir espaço” entre as vértebras, auxiliando no alongamento dos músculos da estática. Springer [3] e Kolyniak et al. [7] afirmam que os exercícios do método Pilates promovem a eliminação da tensão excessiva desses músculos, o que melhora os movimentos de extensão e rotação da coluna cervical. Quanto à articulação do ombro, não foi notada diferença na flexão e abdução de ombro, porém houve melhora na extensão. Assim como na coluna cervical, não foram realizados exercícios específicos para a articulação do ombro. O trabalho de fortalecimento com as vértebras da coluna alinhadas, os estímulos neuromusculares provocados pelas contrações isométricas dos músculos estáticos aumentando assim seu comprimento e o uso correto da musculatura central, melhoraram a organização da cintura escapular, permitindo um maior “espaço” entre as articulações da coluna e cintura escapular, facilitando assim o movimento de extensão da articulação do ombro [3,7,17]. Nos movimentos de flexão de quadril bilateralmente com os joelhos em flexão e extensão houve melhora significante da flexibilidade. Diversos autores afirmam que a melhora na flexibilidade do quadril se deve não somente ao alongamento e otimização da musculatura estática posterior: espinhais, isquiotibiais e tríceps sural, mas também à ênfase dada ao “enrolamento” da coluna durante a flexão do tronco nos exercícios básicos de Pilates [2,3,7,18]. A utilização do Powerhouse (centro de força) para se obter a curva “C” e a estabilização escapular evita o tensionamento dos músculos do pescoço e ombros. O enrolamento da coluna dissociando cada vértebra favorece a mobilidade intervertebral e cria um espaço sacrolombar que melhora a hiperlordose e a flexibilidade na articulação do quadril [7,12,18]. Sacco et al. [15] explica que a flexão de tronco é realizada por um trabalho concêntrico dos oblíquos e reto do abdome. Nos exercícios de Pilates, quando o gradil costal funciona Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 como ponte fixa, estes músculos levantam a parte inferior da pelve, tendo um efeito de diminuição de lordose lombar. A melhora do trabalho axial e conseqüente aumento da ADM das articulações são observados mais no início do trabalho: a diferença significante foi observada entre a primeira e segunda avaliação, e entre a primeira e a terceira, mas não entre a segunda e a terceira. Como a flexibilidade de uma articulação é dependente do seu grau de utilização, um programa de exercícios é mais efetivo no início, principalmente em sujeitos sedentários que possuíam articulações até então pouco utilizadas e provavelmente encurtadas [19]. Dentre os estudos encontrados, que avaliaram a flexibilidade de praticantes do método Pilates, nenhum realizou aulas individuais, utilizando todos os aparelhos do Studio Pilates, mas apenas exercícios de grupo no solo, o Mat. Diante disso, sugere-se então que mais estudos sejam feitos utilizando os aparelhos Reformer, Mat, Electric Chair, Wunda Chair, Baby Chair, Barris, Cadillac e Wall. Conclusão De acordo com os resultados obtidos, verificou-se uma melhora da flexibilidade da cadeia posterior, nos movimentos de extensão e rotação da articulação da coluna cervical, extensão de ombro e flexão de quadril. Pode-se concluir que o método Pilates pode melhorar a flexibilidade em sujeitos saudáveis. Referências 1. Araújo CG, Araújo DSMS. Flexiteste: utilização inapropriada de versões condensadas. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):381-4. 2. Segal NA, Hein J, Basford J. The effects of Pilates training on flexibility and body composition: an observational study. Arch Phys Med Rehabil 2004;85(12):1977-81. 3. Springer K. O método Pilates e o benefício dos exercícios. In Gallager SP, Kryzanoska R. O método Pilates de condicionamento físico. São Paulo: The Pilates Studios do Brasil; 2000. p. 19-24. 195 4. Latey P. Updating the principles of the Pilates method – Part 2. J Bodyw Mov Ther 2002;6(2):94-101. 5. Pilates JH. Your health. New York: Presentation Dynamics; 1998.64p. 6. Pilates JH, Miller WJ. Pilates’ return to life through contrology. New York: Presentation Dynamics; 1998.p. 6-24. 7. Kolyniak IÉG, Cavalcanti SMB, Aoki MS. Avaliação isocinética da musculatura envolvida na flexão e extensão do tronco: efeito do método Pilates. Rev Bras Med Esporte 2004;10(6):487-90. 8. Blum CL. Chiropractic and Pilates therapy for the treatment of adult scoliosis. J Manipulative Physiol Ther 2002;25(4):E3. 9. Geweniger V. Eine gesunde balance finden, Prophylaxe von Rückenbeschwerden mit Pilates-Training. Pflegezeitschrift 2002;747-748. 10. Costa RF. Apresentação. In: Monteiro GA. Avaliação da flexibilidade: Manual de utilização do flexímetro Sanny. São Bernardo do Campo: American Medical do Brasil; 2000: p.4-8. 11. Monteiro GA. Avaliação da flexibilidade: Manual de utilização do flexímetro Sanny. São Bernardo do Campo: American Medical do Brasil; 2000. p. 6-18. 12. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. São Paulo: Manole; 1998. p. 18. 13. Muscolino JE, Cipriani S. Rehabilitation and core stability – Pilates and the “Powerhouse”. J Bodyw Mov Ther 2004;8:122-30. 14. Bertolla F, Baroni BM, Leal Junior ECP, Oltramari JD. Efeito de um programa de treinamento utilizando o método Pilates® na flexibilidade de atletas juvenis de futsal. Rev Bras Med Esporte 2007;13(4):222-6. 15. Sacco ICN, Andrade MS, Souza PS et al. Método Pilates em revista: aspectos biomecânicos de movimentos específicos para reestruturação postural - estudos de caso. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13(4):65-78. 16. Sekendiz B, Altun Ö, Korkozuz F, Akin S. Effects of Pilates exercise on trunk strength, endurance and flexibility in sedentary adult females. J Bodyw Mov Ther 2007;11(4):318-326. 17. Souchard P. O stretching global ativo. São Paulo: Manole; 1996. 18. Gallagher SP, Kryzanovska R. O método Pilates. The Pilates® Studios do Brasil; 2000. p. 9. 19. Cyrino ES, Oliveira AR, Leite JC, et al. Comportamento da flexibilidade após 10 semanas de treinamento com pesos. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):233-7. 196 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Artigo original Efeito agudo do alongamento estático sobre o desempenho da velocidade de jogadores de futebol profissional Acute effect of static stretching on sprint performance of professional soccer players Wagner Antônio B. da Silva, Esp.*, Igor Alexandre Fernandes, Esp.**, Cláudia de Mello Meirelles, Dra.***, Paulo Sergio Chagas Gomes, Ph.D.**** *Laboratório Crossbridges da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, **Laboratório Crossbridges e Aluno do Programa de Pósgraduação Stricto Sensu da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, ***Laboratório Crossbridges, Universidade Gama Filho e Professora da Escola de Educação Física do Exército, Rio de Janeiro, **** Coordenador do Laboratório Crossbridges e Professor do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro Monografia apresentada no Programa de Pós-graduação Lato Sensu em Fisiologia do Exercício e Avaliação Funcional da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro. Resumo Abstract O presente estudo investigou os efeitos de duas rotinas de alongamento estático de curta duração – 15 s e 30 s – sobre o desempenho do sprint de jogadores de futebol profissional. Vinte e cinco atletas, alocados aleatoriamente em dois grupos, foram submetidos ao teste de velocidade de 50 metros (TV50) em duas condições. Na condição CON, o TV50 foi determinado logo após uma rotina de aquecimento típica da prática do futebol. Na condição AE, além do aquecimento específico, o TV50 foi precedido por rotinas de alongamento estático com duração de 15 s (Gr15) ou 30 s (Gr30). O TV50 demonstrou alta confiabilidade com CCI de 0,960 (P = 0,000), erro técnico da medida de 0,10 s e 1,62 % e ausência de erro heterocedástico. Uma ANOVA com medidas repetidas não identificou interação grupo x teste, porém, encontrou aumentos significativos no TV50 de ambos os grupos (Gr15: 7,5 %, p = 0,000; Gr30: 6,8%, p = 0,000). Os resultados sugerem que rotinas de alongamento, mesmo de curta duração, realizadas antes de uma corrida de velocidade, promovem uma diminuição no desempenho. Sendo assim, da mesma maneira como nas tarefas nas quais a força/ potência são variáveis determinantes do desempenho, o alongamento estático não deve preceder atividades em que a velocidade é uma das variáveis principais ao desempenho de excelência. The purpose of the study was to investigate the effects of two different static stretching routines of short duration – 15 s e 30 s – on sprint performance in professional soccer players. Twenty-five athletes, randomly allocated into two groups (Gr15 and Gr30), performed a 50 m running sprint (TV50) in two different conditions. In the first condition (CON), the TV50 was determined just after a typical soccer warm-up. In the second condition (AE), besides the warm-up, TV50 was also preceded by different static stretching routine of either 15 s (Gr15) or 30 s (Gr30). The TV50 showed to be highly reliable with ICC of 0,960 (p = 0.000), typical error of the measurement of 0.10 s and 1.62 % and no heterocedastic error. Although an ANOVA with repeated measures did not identify a group x test interaction, the main effect test was observed showing that the time for TV50 significantly increased in both groups (Gr15: 7.5 %, p = 0.000; Gr30: 6.8%, p = 0.000). The results suggest that short-duration static stretching performed prior to short sprint decreases running performance. Likewise, in tasks in which strength/power is determinant of performance, static stretching routines should not precede activities in which the sprint is an important variable related to performance. Key-words: muscle stretching exercises, flexibility, power, sports. Palavras-chave: exercícios de alongamento muscular, flexibilidade, potência, esportes. Endereço para correspondência: Paulo Sergio Chagas Gomes, Centro de Pesquisas Interdisciplinares em Saúde, Universidade Gama Filho, Rua Manoel Vitorino 625, 20748-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:[email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução Comumente, rotinas de alongamento estático precedem a prática esportiva no intuito de garantir efeitos popularmente atribuídos a esta intervenção, tais como redução de lesões musculares e esqueléticas e redução na dor muscular tardia induzida pelo exercício. No entanto, de acordo com revisões sistemáticas da literatura [1,2], não há evidências que justifiquem tal procedimento. Ainda dentro desse contexto, rotinas de alongamento também são aplicadas como atividade condicionante no intuito de aumentar o desempenho em atividades subseqüentes. Em uma recente revisão da literatura, Rubini et al.[3] concluíram que o desempenho da força, nas suas mais diferentes manifestações, é significativamente reduzido quando precedido de rotinas de alongamento estático. Outros estudos, desde então, também têm relatado um déficit da força induzido por esta intervenção [4,5]. Mesmo diante deste fato, esta prática ainda permanece extremamente popular no cotidiano de inúmeras modalidades esportivas, com destaque para o futebol. Característica 197 importante para determinadas ações dentro dessa modalidade [6], o desempenho de força explosiva, expresso por meio de corridas de alta intensidade e curta distância (sprint), também parece ser reduzido como conseqüência da aplicação dos exercícios de alongamento estático[7-14]. Algumas dessas investigações [7,9,12] têm atribuído os efeitos deletérios sobre o desempenho do sprint à longa duração das rotinas de alongamento. No entanto, a inferência desses achados deve ser considerada com cautela, uma vez que rotinas aplicadas durante essas investigações não se assemelham aos protocolos adotados na prática esportiva. Por outro lado, conforme observado na Tabela I, as investigações que contemplam rotinas de alongamento estático com menor duração apresentam achados contraditórios sobre o efeito que a intervenção exerce sobre o desempenho do sprint nas mais variadas distâncias. Em parte, os resultados controversos podem ser explicados pela ausência de informações a respeito da precisão da medida do tempo de sprint. Quando disponíveis, essas informações envolvem apenas valores de confiabilidade relativa, expressos através do coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Tabela I - Efeitos agudos de rotinas de alongamento sobre o desempenho do sprint. Estudo Amostra Presente estudo 25 jogadores de futebol profissional Método Série x tempo AE – 1 x 15s AE – 1 x 30s Siatras et al. [11] 11 H ginastas AE – 1 x 30s Fletcher e Jones [8] 97 H atletas de rugby AE – 1 x 20s Nelson et al. [9] AE – 4 x 30s Sayers et al. [10] 16 velocistas (H e M) 18 velocistas (H e M) 22 atletas (11 H e 11 M) 11 M atletas de futebol AE – 1 x 30s Taylor et al. [12] 13 H atletas de netboll AE – 2 x 30s Fletcher e Anness [7] Winchester et al. [13] AE – 3 x 22s AE – 1 x 30s Distância (m) Confiabilidade 50 m CCI = 0,960 ETM 1,62 % 20 ND 20 CCI = 0,99 20 CCI = 0,99 50 CCI = 0,99 40 CCI = 0,99 30 CCI = 0,98 20 ND Tempo de sprint 7,5% 6,8 % ND% 1,9% 1,3% H 2,5% M 1,4% 1,8% 2,1% 1,4% 20 0,8% ND Little e Williams [16] 18 H atletas de futebol 6 min (total) 10 SD – 10m (7 exercícios) 20 – 20min Stewart et al.[17] 14 H atletas de rugby AE - 1 X 45s 40 SD ND Vetter [18] 26 estudantes AE – 1 x 30s 30 SD (14 H e 12 M) CCI = 0,98 Favero et al. [19] 10 H treinados AE – 2 x 45s 40 SD ND AE – alongamento estático; CCI – coeficiente de correlação intraclasse; ETM – erro típico da medida; H – Homens; M – mulheres; ND – Não disponível; SD – sem diferenças significativas. Beckett et al. [14] 13 H atletas AE – 1 x 20s 198 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 De acordo com Atkinson e Nevill [15], as variáveis que expressam valores de confiabilidade absoluta, tais como erro típico da medida (ETM) e os limites de concordância de Bland-Altman, são mais apropriadas para determinar a precisão das medidas e, consequentemente, para interpretação de achados associados a elas. Isto significa que, quando considerados os resultados da Tabela I, não é possível determinar se as pequenas alterações percentuais no tempo de sprint são resultado do efeito induzido pelo alongamento ou apenas do erro associado à medida desta variável. De fato, as rotinas aplicadas na maior parte dos estudos apresentados anteriormente são muito semelhantes àquelas adotadas no cotidiano de diferentes práticas esportivas. Séries simples e múltiplas de exercícios de alongamento com duração de 20 s [8,14] e 30 s [10,11,13] parecem exercer efeitos discretos, contudo significativos, sobre o desempenho do sprint. Considerando as características dessas rotinas, e o pequeno efeito que elas exercem sobre a tarefa, é razoável especular que exercícios de menor duração não exerceriam efeitos deletérios sobre o desempenho do sprint. Embora haja relatos na literatura que rotinas de menor duração (15 s) possam exercer efeitos significativos sobre os níveis de flexibilidade [20], intervenções com essa característica ainda não foram contempladas como variável independente nas investigações que têm como objeto de estudo o desempenho do sprint. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos de duas rotinas de alongamento estático – 15 s e 30 s – sobre o desempenho do sprint de 50 m em jogadores de futebol profissional. Materiais e métodos A amostra foi constituída por 26 atletas voluntários, federados por um clube de futebol profissional da segunda divisão do estado do Rio de Janeiro, que estavam em fase de preparação para o campeonato estadual. Antes de iniciar a participação nos procedimentos experimentais, todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido em conformidade com as normas éticas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96). Este termo continha informações pertinentes aos procedimentos experimentais, assim como os possíveis riscos e desconfortos inerentes a estudos desta natureza. Os critérios de inclusão foram: 1) ausência de lesão em um período anterior a seis meses a partir da data do início dos testes; 2) idade entre 18 e 30 anos e 3) mesmo início de treinamento para a pré-temporada. Vinte e seis atletas foram assim selecionados para participar do estudo e alocados aleatoriamente em dois grupos experimentais (Gr15 e Gr30), cada um composto por 13 sujeitos. Subsequentemente, um dos sujeitos foi excluído da amostra, com base na sua característica de outlier em relação ao grupo (vide detalhes a diante). As características físicas dos participantes que completaram o estudo são apresentadas na Tabela II. Tabela II - Características físicas dos participantes do estudo. Grupos (Média ± DP) 30 s 15 s Idade (anos) 21 ± 2,0 21 ± 2,0 Estatura (cm) 175,3 ± 6,7 174,4 ± 5,3 Massa corporal (kg) 69,8 ± 4,4 68,6 ± 8,1 Procedimentos experimentais Os procedimentos experimentais foram realizados em um campo de grama natural em um total de quatro visitas. As duas visitas iniciais foram realizadas em um período de três dias (considerando o intervalo entre as visitas de 24 horas), e na semana seguinte, da mesma maneira, foram realizadas as visitas subsequentes. No intuito de evitar possíveis influências do ciclo circadiano na variável dependente, as visitas foram realizadas sempre no período da manhã. No início de todas as visitas, todos os participantes, calçando chuteiras, foram submetidos a um aquecimento específico constituído por atividades desempenhadas na prática do futebol. Atividades como saltos, diversas variações de corrida e outros exercícios dinâmicos compuseram a rotina de aquecimento que tinha duração aproximada de 10 minutos. Na visita inicial, denominada condição controle um (CON1), logo após o aquecimento, ambos os grupos foram submetidos a três sprints máximos com distância de 50 metros. Na segunda visita, denominada condição alongamento estático da semana um (AE1), após a realização da rotina de aquecimento, os voluntários foram submetidos a rotinas de alongamento estático, sendo que a duração dos exercícios foi definida de acordo com o grupo (Gr15 ou Gr30) no qual estavam alocados. Imediatamente após a aplicação das rotinas de alongamento, os voluntários foram novamente submetidos ao mesmo protocolo de sprint. Nas duas visitas subsequentes, denominadas controle semana dois (CON2) e alongamento estático semana dois (AE2) os procedimentos experimentais realizados foram semelhantes aos descritos anteriormente. A repetição dos procedimentos foi justificada pela necessidade de determinar a confiabilidade da medida de sprint e assim assegurar que, na presença de um possível efeito do alongamento sobre o desempenho nos testes de velocidade, este não foi por causa do procedimento adotado e sim pelo tratamento aplicado. A Figura 1 ilustra os procedimentos descritos acima. Teste de Velocidade de 50 Metros (TV50) Os intervalos entre os estímulos foram aqueles suficientes para que os atletas retornassem ao ponto de partida, trotando levemente, para iniciar um novo sprint. Para essa medida, foram feitas demarcações no campo de futebol, sendo estas referentes aos pontos de partida e chegada (50 m). Os voluntários foram orientados a manter a velocidade de execução da tarefa até uma distância de aproximadamente 5 m após a linha de chegada. Os tempos obtidos no TV50 foram aferidos com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 um cronômetro de mão (Technos, Modelo YP2151). Para isto, um investigador se posicionava na linha de chegada e ao mesmo tempo em que dava partida no cronômetro, indicava para o voluntário o início da tarefa através de sinalização visual e sonora (apito). No momento em que os participantes passavam pela linha de chegada, o pesquisador responsável parava o cronômetro para registrar o tempo necessário para o cumprimento da tarefa. O menor tempo (s) obtido nas três tentativas foi registrado para a análise estatística dos dados. 199 máxima flexão de tronco buscando tocar a ponta dos pés com a falange distal dos dedos. Os músculos flexores do quadril foram alongados com o participante adotando a posição de agachamento com um dos joelhos apoiado no gramado e o outro flexionado a 90º. Os voluntários foram orientados a inclinar o tronco para trás induzindo o alongamento através de uma hiperextensão do quadril (Figura 2C). Figura 2 - Exercícios de alongamento. Figura 1 - Procedimentos experimentais. Condição Controle (CON)* AD (10 min) Condição Alongamento Estático (AE)* AD (10 min) AE Legenda AD: Aquecimento dinâmico - Saltos, corridas e movimentos específicos AE: Alongamento estático - 3 exercícios - Grupo 15s (1 x 15s) Grupo 30s (1 x 30s) : 3 sprints máximos intervalados por 30s - Dist. 50 metros *: Ambas as condições são realizadas duas vezes. 1ª semana (CON1 e AE1) 2ª semana (CON2 e AE2) Protocolo de alongamento Em ordem, os grupos musculares submetidos às rotinas de alongamento estático em ambos os membros inferiores foram os seguintes: 1) quadríceps; 2) isquiotibiais e 3) flexores do quadril (Figura 2). Em todos os exercícios, os participantes foram orientados a alcançar a posição na qual se encontrava o limite da amplitude de movimento articular e expressá-la oralmente a partir da sensação de maior desconforto. O tempo de manutenção da posição de alongamento foi determinado de acordo com o grupo no qual o sujeito estava alocado (Gr15 ou Gr30). Não houve intervalo entre os exercícios. O exercício direcionado ao alongamento do quadríceps foi realizado com o sujeito de pé, mantendo o equilíbrio através da ajuda de um pesquisador. O voluntário, através de uma pegada invertida (mão direita em contanto com o pé esquerdo e mão esquerda com o pé direito), segurando no dorso do pé, movimentou o calcâneo em direção a nádega enquanto realizava simultaneamente um movimento de hiperextensão do quadril (Figura 2A). Para alongar os músculos isquiotibiais (Figura 2B), sentados com as pernas abduzidas e os braços completamente estendidos, os participantes foram orientados a realizar uma Análise estatística A estabilidade da medida do tempo do TV50 foi determinada pelo coeficiente de correlação intraclasse (CCI) utilizando os valores obtidos por cada um dos voluntários nas condições CON1 e CON2. Valores de CCI também foram determinados quando os dados de ambos os grupos foram analisados em conjunto. O coeficiente de correlação de Pearson entre a média e a diferença absoluta entre as CON1 e CON2 foi usado para identificação de um possível erro heterocedástico. O erro típico da medida (ETM) foi determinado através da equação sugerida por Hopkins [21], em que a precisão das medidas é determinada pela razão entre o desvio padrão das diferenças obtidas entre pares de medidas (CON1 e CON2) e a raiz quadrada do algarismo dois. O grau de concordância entre os valores obtidos nas mesmas medidas foi determinado através do método sugerido por Bland-Altman [22]. Uma análise de variância (ANOVA) de duas entradas (2 x 2 – grupo x teste) com medidas repetidas no segundo fator foi usada para identificar os efeitos de duas durações de alongamento estático (15 s e 30 s) sobre o desempenho no sprint. Em outra análise, a diferença absoluta entre os valores das condições CON2 e AE2 foi expressa como valor percentual da medida obtida na mesma condição CON2. O teste t de Student independente foi aplicado para identificar possíveis diferenças entre as modificações percentuais entre os grupos (Gr15 e Gr30). Com exceção das medidas de confiabilidade absoluta, as análises foram feitas através do uso de um software disponível comercialmente (SPSS, versão 17.0 para Windows, SPSS INC; Chicago, IL). O limite de significância estatística foi estabelecido em p < 0,05. Anterior ao uso da estatística paramétrica, a distribuição dos valores médios dos tempos do TV50 obtidos por cada um dos grupos nas condições CON e AE foi examinada através do teste de Shapiro-Wilk. 200 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Resultados Tabela III - Variáveis associadas à confiabilidade da medida do tempo TV50. Uma análise preliminar com todos os sujeitos foi realizada de modo a avaliar a característica dos dados observados. O teste de Shapiro-Wilk identificou que os valores do TV50 em CON1 não apresentavam distribuição normal (p = 0,002) enquanto em CON2 mostrou valores limítrofes (p = 0,053). Subsequentemente, as diferenças entre os testes CON1 e CON2 foram usadas para o cálculo do gráfico box plot, considerando-se como outlier qualquer diferença maior que Q3 + (3*AIQ) e menor que Q1 – (3*AIQ), onde: Q1 e Q3 são os quartis 1 e 3; AIQ é o intervalo interquartílico ou Q3 – Q1. Desta maneira o critério de corte foi estabelecido para valores abaixo de -0,48 s e acima de 0,46 s. A partir deste cálculo identificou-se um outlier que foi retirado da análise subsequente, restando assim 25 sujeitos (Gr15 = 13 e Gr30 = 12), como observado na Figura 3. Diferença entre medidas 1 e 2 (segundos) Figura 3 - Identificação de outlier a partir das diferenças entre os dois TV50 na condição sem alongamento (CON1 e CON2). Os quatro casos mostrados são possíveis outliers, porém só um (-0,79) foi considerado extremo, pois atingiu o critério de exclusão - diferença maior que Q3 + (3*AIQ) e menor que Q1 – (3*AIQ). 0,50 • 0,25 0,48 • 0,29 0,00 -0,25 • -0,50 -0,33 -0,75 -0,79 * Um novo teste de Shapiro-Wilk demonstrou que a exclusão tornou a distribuição com características normais tanto para CON1 (p = 0,070) quanto para CON2 (p = 0,139). As medidas de confiabilidade relativa (CCI) e absoluta (ETM) do tempo TV50 são apresentadas na Tabela III. Todos os valores de CCI alcançaram significância estatística, com o Gr15 apresentando maiores valores (r = 0,960; p = 0,000) do que os obtidos pelo Gr30 (r = 0,894; p = 0,000). Quando ambos o grupos foram analisados em conjunto, estes apresentaram valores de CCI de 0,939 (p = 0,000) . Os valores de ETM absoluto e relativo de ambos os grupos em conjunto foram de aproximadamente 0,15 s e 2,4% respectivamente, enquanto separadamente foram de 0,10 s e 1,6% para Gr15 e 0,19s e 3,0% para Gr30. Média ± DP Grupo 15 s (N = 13) CON1 CON2 Grupo 30 s (N = 12) CON1 CON2 Grupos 15 s + 30 s (N = 25) CON1 CON2 ICC R ETM P s % 6,36 ± 0,11 0,960 6,37 ± 0,94 0,000 0,10 1,62 6,30 ± 0,27 0,890 6,31 ± 0,27 0,000 0,19 3,0 6,33 ± 0,33 0,919 6,34 ± 0,34 0,000 0,15 2,41 CCI – coeficiente de correlação intraclasse; DP – desvio padrão; ETM – erro técnico da medida (absoluto em s e relativo em %). O grau de concordância entre os valores obtidos nas condições CON1 e CON2 podem ser observados nos gráficos de Bland-Altman apresentados na Figura 4. Os valores médios das diferenças entre CON1 e CON2, assim como os limites de concordância para cada um dos grupos separadamente ou em conjunto são apresentados na Tabela IV. As correlações de Pearson entre a média dos valores obtidos e a diferença absoluta entre as condições CON1 e CON2 para os Gr15 (r = 0,387; p = 0,191) e Gr30 (r = -0,013; p = 0,969) e para os grupos combinados (r = 0,210; p = 0,314) não alcançaram significância estatística, caracterizando ausência de erro heterocedástico. Para a análise dos efeitos do alongamento sobre o desempenho no TV50 foram considerados apenas os testes realizados nas condições CON2 e AE2, já que em análise preliminar não foram observadas diferenças significativas entre CON1 e CON2 e AE1 e AE2. Os resultados da ANOVA não identificaram interação grupo x teste, porém, foram encontradas diferenças significativas no efeito principal teste (CON2 x AE2) tanto para o Gr15 (p = 0,000) quanto para Gr30 (p = 0,000), conforme Figura 5. Embora não reportados, os mesmos resultados foram encontrados quando as comparações envolveram as condições CON1 e AE1. Quando a diferença absoluta entre os valores das condições CON2 e AE2 foi expressa como valor percentual da medida obtida durante a condição CON2, o tempo de sprint após o alongamento estático para Gr15 e Gr30 aumentou em aproximadamente 7,5% e 6,8% respectivamente. O teste t de Student independente também não identificou diferenças significativas entre os grupos para estes valores percentuais (p = 0,499). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Figura 4 - Gráficos de Bland-Altman para a caracterização do erro nos momentos teste e reteste na condição sem alongamento (CON1 e CON2). 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 Média (segundos) 7,5 8,0 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 Média (segundos) 7,5 8,0 Diferença (segundos) Diferença (segundos) Diferença (segundos) Grupo 15 s e 30 s(N = 25) 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 -0,20 -0,40 -0,60 -0,80 -1,00 Grupo Média ± DP das Limites de condiferenças (s) cordância (s) - 0,002 ± 0,146 - 0,2942 – 0,2896 -0,011 ± 0,169 - 0,3498 – 0,3281 - 0,024 ± 0,217 - 0,4106 – 0,4591 Discussão Grupo 30 s (N = 12) 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 -0,20 -0,40 -0,60 -0,80 -1,00 Tabela IV - Resultados da análise de Bland-Altman para cada grupo individualmente e ambos em conjunto. Grupo 15s (n = 13) Grupo 30 (n = 12) Grupos 15 s e 30 s (n = 25) DP – Desvio padrão. Grupo 15 s (N = 13) 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 -0,20 -0,40 -0,60 -0,80 -1,00 201 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 Média (segundos) 7,5 8,0 Os achados da presente investigação sugerem que até mesmo uma rotina de alongamento estático com três exercícios realizados com uma única série de 15 s de duração é capaz de induzir efeito deletério significativo sobre o desempenho de um teste de velocidade de magnitude semelhante àquele induzido por uma intervenção de maior volume (1 x 30 s). Até onde se tem conhecimento, não há relatos sobre os efeitos induzidos por rotinas de alongamento estático com a característica aqui estudada (1 x 15 s) sobre o desempenho de corridas de alta intensidade e curta distância. Diante da ausência de diferenças significativas entre as duas diferentes rotinas de alongamento, os resultados aqui reportados não apóiam a idéia que sugere a presença de uma relação de dose-resposta entre o volume de alongamento (duração dos exercícios e o número de séries) e a magnitude do efeito deletério induzido no desempenho. Entretanto, é importante lembrar que exercícios de alongamento têm suas intensidades avaliadas de maneira subjetiva, já que estas são limitadas pela sensação subjetiva de dor, que pode ser bastante diferente entre sujeitos. Comparando com os estudos apresentados na Tabela I, as alterações percentuais resultantes da aplicação das duas rotinas de alongamento estático adotadas na presente investigação (7,5 % – 1 x 15 s vs. 6,5% – 1 x 30 s) foram bem maiores do que aquelas reportadas por estudos anteriores. Independente do volume de alongamento e da distância percorrida nos testes de velocidade, grande parte das investigações tem relatado pequenos ( 0,8 – 2,5%), mas significativos, efeitos sobre o desempenho da tarefa executada. Segundo Winchester et al. [13], rotinas com características semelhantes à adotada por um dos grupos que compuseram a amostra do presente estudo (1 x 30 s) foram suficientes para induzir efeito deletério sobre o desempenho de atletas das mais diferentes modalidades (diminuição do desempenho em torno de 1,8 %). Já Nelson et al.[9] observaram que mesmo rotinas com maiores volumes (4 x 30 s) parecem induzir efeitos deletérios de magnitude semelhante (1,3 %) àqueles induzidos por menores volumes de alongamento quando aplicados em sujeitos que apresentam características semelhantes aos que compuseram a amostra do estudo de Winchester et al. [13]. 202 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Figura 5 - Comparação entre valores obtidos nas condições sem alongamento (CON2) e após alongamento estático (AE2) para ambas as rotinas de alongamento. Diferenças significativas entre as condições CON2 e AE2 para ambos os grupos (p<0,05). 7,0 6,8 6,6 Tempo (s) 6,4 6,2 6,0 5,8 5,6 5,4 5,2 0,0 CON2 Condição Grupo 15s AE2 Grupo 30s Diante da ausência de informações associadas à confiabilidade absoluta da medida adotada por estas investigações, a inferência dos achados tem de ser considerada com cautela, uma vez que não é possível determinar se as pequenas alterações percentuais nos tempos relatados nos diversos estudos foram consequentes do efeito induzido pelo alongamento ou do erro associado à medida desta variável. Dentro desse contexto, um objetivo secundário da presente investigação foi determinar os valores de confiabilidade relativa e absoluta da medida, e assim assegurar que os resultados encontrados aqui foram decorrentes de uma relação de causa e efeito entre as diferentes rotinas de alongamento e o aumento no tempo médio do TV50. Os valores de CCI aqui observados, assim como a significância estatística alcançada por eles em cada grupo individualmente ou em conjunto, indicam alta reprodutibilidade no tempo do TV50 quando o teste é realizado em dias diferentes. Mesmo com características bem diferentes da medida frequentemente adotada em outras investigações (cronometragem acionada por célula foto elétrica), a amplitude de valores de CCI apresentados no presente estudo (R = 0,890 – 0,960) são ligeiramente menores do que aqueles tradicionalmente reportados na literatura (Tabela I). Já a ausência de significância estatística das correlações de Pearson entre a média dos valores das condições CON1 e CON2 e a diferença absoluta entre as mesmas condições também obtidas por cada grupo individualmente ou em conjunto, indica que a variável dependente investigada não apresenta erro heterocedástico. A análise dos gráficos de Bland-Altman confirma a ausência de relação linear entre as diferenças absolutas entre as condições CON1 e CON2 e a magnitude da medida do tempo do TV50. Considerando a característica da medida adotada no presente estudo, que além do provável erro consequente da variabilidade biológica, poderia ser influenciada pela precisão do investigador responsável, sua precisão foi determinada através dos valores de ETM relativos e absolutos. A pequena amplitude de valores obtidos através da análise dos dados de cada grupo individual ou em conjunto, tanto para o ETM absoluto (0,10 – 0,19 s) quanto relativo (1,6 – 3,0 %), tende a confirmar a alta reprodutibilidade do TV50 quando este é determinado em dias diferentes nas mesmas condições. Diante da ausência de informações a respeito da precisão da medida adotada pelas investigações resumidas na Tabela I, a pequena, mas significativa, amplitude de alterações nos tempos dos testes de velocidade ( 0,8 a 2,5 %) reportada em seus resultados deve ser interpretada com cautela, principalmente se confrontada com os valores de ETM aqui reportados. Obstante a este fato, os efeitos induzidos pelas duas rotinas de alongamento adotadas no presente estudo foram refletidos por aumentos de 6,5 a 7,5% no tempo médio do TV50, estabelecendo assim uma relação de causa e efeito entre a intervenção e o reduzido desempenho da tarefa, uma vez que estes valores estão bem acima dos reportados para o ETM (1,62 – 3,0 %). A propriedade de rigidez passiva da unidade músculotendinosa e a influência que exercícios de alongamento exercem sobre ela podem ser indicadas como prováveis causas do reduzido desempenho em provas de velocidade. A aplicação do alongamento estaria associada à redução na rigidez passiva, sendo esta consequência das alterações nos componentes mecânico e neuromuscular que atuam como mediadores da força que resiste a mudanças no comprimento da unidade músculo-tendinosa [23-27]. Conforme sugerido por Wilson et al. [28], a rigidez músculo-tendinosa estaria diretamente associada a um maior desempenho em ações concêntricas e isométricas, sendo resultantes de um efeito induzido por essa variável sobre a taxa inicial de desenvolvimento de força. Em sistemas músculo-tendinosos rígidos, a transmissão de força produzida pelo componente contrátil para os componentes elásticos em série e, finalmente para o sistema esquelético estaria aumentada, o que consequentemente facilitaria a taxa inicial do seu desenvolvimento[28]. O aumento na transmissão de força estaria diretamente associado à rigidez ou ausência de complacência do tecido tendinoso, que, por sua vez, reduziria o atraso eletromecânico, definido como espaço de tempo entre o aumento na atividade elétrica e a resposta mecânica do músculo [29, 30]. Considerando a importância da rápida produção de força/ potência na fase de aceleração da curva de velocidade em ações que envolvem alta velocidade e curta duração, é provável que o efeito deletério induzido pelas duas diferentes rotinas de alongamento estático adotadas na presente investigação estejam associadas à fase inicial da tarefa. Sayers et al.[10] corroboram nossa especulação uma vez que relataram que exercícios de alongamento estático exercem efeito negativo sobre a fase de aceleração do sprint. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 No entanto, outros mecanismos alternativos que estariam associados à fase de velocidade constante do sprint [31] têm sido propostos a partir dos eventos que acontecem durante a fase de contato com o solo. Durante essa fase, o músculo ativo é forçadamente alongado e há produção de trabalho negativo com parte da energia mecânica sendo absorvida na forma de energia potencial elástica de acordo com o grau de rigidez dos componentes elásticos em série. Uma rápida transição para fase de propulsão garante a utilização dessa energia em forma cinética, aumentando assim a produção da força e eficiência do movimento. Desta forma, os achados de Kubo et al. [32], que relataram reduções significativas na rigidez dos tendões através da medida de ultrassom, em conjunto com aqueles apresentados por Kuitunen et al. [33] que relatam a existência de relação inversa entre a rigidez músculo tendinosa e o tempo de contato com o solo, indicam como potencial mediador do efeito induzido pelo alongamento sobre o sprint a reduzida capacidade de armazenar e reutilizar energia elástica na fase excêntrica e concêntrica do ciclo alongamento-encurtamento, respectivamente. Segundo Komi e Gollhofer [34], além do estoque e liberação de energia elástica, dentro da fase excêntrica do ciclo, o alongamento do músculo ativo também induziria uma resposta reflexa a mudança do comprimento da unidade músculo tendinosa, contribuindo para a produção de força e rigidez. No entanto, Rosenbaum e Hennig [26] reforçam os achados associados à reduzida capacidade de armazenar energia elástica, uma vez que relataram redução significativa na amplitude da resposta reflexa do tríceps sural em conjunto com aumento no seu tempo de latência logo após a aplicação de uma rotina de alongamento. Conclusão Diante dos resultados aqui apresentados e em vista dos estudos anteriormente reportados, concluiu-se que os procedimentos muitas vezes utilizados em diversas modalidades esportivas nos momentos que antecedem a sua prática, aqui destacada a velocidade de alta intensidade e curta duração, deve ser reconsiderada. As evidências disponíveis na literatura não só indicam um pior desempenho nas tarefas em que a velocidade é fator preponderante, mas também naquelas em que a força/potência são requisitos básicos e necessários para o melhor desempenho. É importante que outros estudos sejam realizados de modo a determinar de que maneira a intensidade dos exercícios de alongamento pode interferir no desempenho destas e de outras tarefas esportivas que envolvam a força, a potência e a velocidade de alta intensidade e curta duração. É possível que haja um efeito combinado entre a intensidade e a duração do alongamento. O mesmo deve ser feito com o alongamento balístico e a facilitação neuromuscular proprioceptiva. 203 Referências 1. Herbert RD, de Noronha M. Stretching to prevent or reduce muscle soreness after exercise. Cochrane Database Syst Rev 2007(4):CD004577. 2. Herbert RD, Gabriel M. Effects of stretching before and after exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic review. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 205 Revisão Redução e manutenção da pressão arterial através de exercícios resistidos com pesos Blood pressure reduction and maintenance by means of resistance exercises Maria da Graça Meurer Monteiro*, Vanise Flores Bittencourt*, Rafaela Liberali*, Fabio Henrique Ornellas**, Francisco Navarro*** *Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho – UGF - Fisiologia e Prescrição do Exercício, **IBPEFEX - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício, ***Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho – UGF – Fisiologia e Prescrição do Exercício, IBPEFEX – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício Resumo Abstract A hipertensão é um dos fatores que contribuem para o aumento das morbidades e mortalidade na sociedade atual, sendo necessária uma modificação do estilo de vida, para prevenção ou tratamento. Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar a influência dos exercícios resistidos com peso, como uma forma de tratamento não-farmacológico para a redução e manutenção da pressão arterial, realizado através de levantamento bibliográfico, sendo delimitado em: artigos científicos, livros, diretrizes e orientações sobre o assunto, publicados a partir do ano de 2000. A inatividade física está relacionada ao risco de desenvolvimento de hipertensão, nesse sentido, estudos com indivíduos de ambos os gêneros buscam analisar os benefícios diretos e indiretos dos efeitos agudos e crônicos de um treinamento de exercícios resistidos com pesos, para reduzir ou manter a pressão arterial. Conclui-se que a atividade física regular com exercícios resistidos com peso pode contribuir para reduzir e manter a pressão arterial. Hypertension is one of the factors that contribute to the increase of morbidities and mortality in modern society, being necessary a modification in lifestyle, either to prevent it or to treat it. Thus, this study aims to analyze the influence of the resistance exercises weighing as a non-pharmacological treatment to reduce and to maintain blood pressure, achieving it through literature review in books; guidelines; and articles about the subject, published after 2000. Physical inactivity is related to the risks of developing blood hypertension; therefore, studies considering individuals of both sex attempt to analyze the direct and indirect benefits of the acute and chronic effects of resistance training with weight to reduce or to maintain blood pressure. It is concluded that regular physical activity with resistive exercises weighing can contribute to reduce and to maintain blood pressure. Key-words: hypertension, resistance exercises, blood pressure, acute and chronic effects. Palavras-chave: hipertensão, exercícios resistidos, pressão arterial, efeitos agudos e crônicos. Endereço para correspondência: Francisco Navarro, E-mail: [email protected] 206 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução A hipertensão arterial é uma doença que acomete os vasos sanguíneos, coração, cérebro, olhos e pode causar paralisação dos rins. A hipertensão, segundo o Ministério da Saúde, conforme dados de 2006, responde por grande parte das comorbidades e da mortalidade por problemas em órgãos alvos nos países industrializados, sendo um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo responsável por pelo menos 40% das mortes por acidentes vasculares encefálico (AVE), 25% de doença arterial coronariana e, em combinação com diabetes, 50% dos casos de insuficiência renal terminal. Estes índices podem ser alterados através de uma modificação do estilo de vida, como a adesão de medidas farmacológicas e não-farmacológicas de prevenção ou de tratamento. Entre estas medidas destacamos a prática de atividade física regular, associada a hábitos alimentares saudáveis, redução de ingestão de bebidas alcoólicas e ao tabagismo, redução do sobrepeso, diminuição dos níveis de estresse, restrição de sódio, suplementação de potássio, cálcio e magnésio, controle das dislipidemias e diabetes, e diminuição da concentração de colesterol. Além desses fatores de risco, sabe-se que sua incidência é maior na etnia negra, aumenta com a idade, é maior entre homens com até 50 anos, e em mulheres acima de 50 anos. Sendo essa doença, herdada dos pais em 90% dos casos. O estudo pretende verificar através de um levantamento bibliográfico a partir do ano de 2000, se a hipertensão arterial pode ser controlada pelas mudanças fisiológicas induzidas através do treinamento de exercícios resistidos com pesos. Pressão arterial Pressão arterial, conforme o Colégio Americano de Medicina do Esporte [1], é a força na qual o coração bombeia o sangue através dos vasos, portanto podemos dizer que a pressão arterial é o produto de dois fatores: da resistência que o sangue encontra nas artérias versus o volume de sangue que o coração bombeia a cada batida, ou seja, é determinada pelo débito cardíaco e pela resistência periférica. Sabemos que a resistência é proporcional ao diâmetro das artérias, que variam dependendo da espessura de suas paredes internas e da sua elasticidade, portanto quanto maior for a resistência, maior será a pressão. A pressão arterial varia muito durante o dia, conforme a postura física do momento, bem como do esforço físico que se esteja sendo realizado ou das emoções que estiver sentindo. O estresse também tem um efeito marcante na elevação da pressão. Hipertensão A hipertensão arterial é uma condição sistêmica com alterações estruturais das artérias e do miocárdio, associadas à disfunção endotelial, constrição e remodelamento da musculatura lisa vascular [2]. Essa condição clínica de natureza multifatorial é caracterizada, conforme as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão [3], quando os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica aferidos obtiverem valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg sustentados em mais de uma ocasião e na ausência de medicamentos anti-hipertensivos. Picos da pressão arterial muito elevados podem contribuir para aumentar o risco de doenças e danos nos órgãos-alvo, como coração, rins, cérebro e vasos, com consequente aumento do risco cardiovascular [2], também com esses casos pode ocorrer o rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes, causando acidentes vasculares encefálicos, especialmente nos hipertensos [4]. A hipertensão arterial pode ser classificada considerando dois aspectos: a causa e a gravidade. Quanto à origem classificamos de primária ou essencial (quando não tem causa identificada e acarreta danos aos órgãos alvo) responsável por 85% dos casos; e secundária (quando consequência de outra patologia). Existem, também, alguns fatores complicadores que aumentam o risco da hipertensão, como a hereditariedade, o tabagismo, o álcool, a obesidade, o sódio, o stress e o sedentarismo. A população hipertensa vem crescendo muito nos últimos anos, com o aumento da expectativa de vida ou mesmo com a prática de alguns hábitos que estimulam tal quadro. Inicialmente a hipertensão é assintomática, sendo uma doença silenciosa, que com a sua evolução pode levar a morte. Tratamento da hipertensão Para tratamento da hipertensão existem basicamente dois meios, o farmacológico, através de drogas hipotensoras como os diuréticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos, inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores dos canais de cálcio. E os não farmacológicos, baseados na modificação do estilo de vida, como no controle e diminuição do peso, adoção de hábitos alimentares saudáveis, abandono do álcool e do tabagismo e a prática de atividades físicas regulares [5]. Exercício resistido com peso O treinamento resistido com peso é aquele realizado de forma dinâmica, com uso de implementos específicos ou cargas livres, cujo objetivo é aumentar tanto a capacidade quanto à habilidade para se levantar uma determinada carga durante um movimento específico [6-7]. Trata-se de um tipo de exercício no qual a contração muscular é realizada por um determinado segmento corporal, contra uma força que se opõe ao movimento [4]. Em geral, os exercícios resistidos com peso são realizados em séries (sequências contínuas de repetições do movimento) separadas por intervalos com duração variada, que podem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 ser ativos ou passivos. Dessa forma, algumas variáveis do treinamento resistido com peso estão diretamente associadas ao aumento das respostas cardiovasculares, principalmente da pressão arterial (PA), como o número de séries, intervalos de recuperação, carga mobilizada, tipos de exercícios e massa muscular envolvida. A inatividade física está relacionada ao maior risco de desenvolvimento de hipertensão arterial [4], pesquisas têm comprovado com evidências epidemiológicas que sustentam a indicação da prática da atividade física como medida não farmacológica para o tratamento da pressão arterial, promovendo reduções e controle através de seus benefícios [8-11]. Um procedimento seguro para conduzir um treinamento, é ofertar subsídios adicionais à manipulação de variáveis associadas à sua intensidade absoluta e relativa (tipo de exercício, intervalo de recuperação, número de repetições e séries, carga mobilizada e velocidade de execução) [6]. Estes benefícios podem proporcionar mudanças fisiológicas agudas (imediatas), e/ou e crônicas (tardias) [12]. Nos exercícios resistidos com pesos, a resposta aguda tem relação direta com a sessão de treinamento, pode ser imediata, durante a fase concêntrica e excêntrica, ou até alguns minutos após o exercício, porque atua na frequência cardíaca, pressão arterial, volume sistólico, débito cardíaco, pressão intratorácica e pela sudorese normalmente associados ao esforço [12]. Já os efeitos tardios, são aqueles observados ao longo das primeiras 24 ou 48 horas (às vezes até 72 horas) que se seguem ao término do treino e apresentam uma discreta diminuição nos níveis tensionais (especialmente em hipertensos), na expansão do volume plasmático, melhora da função endotelial e aumento da sensibilidade insulínica nas membranas das células musculares. Os efeitos crônicos do exercício resistido, também denominados de adaptações [12], decorrentes da frequência regular e sistematizada das sessões de treino causam mudanças na morfologia cardíaca, uma diminuição do estresse cardiovascular, bradicardia relativa de repouso, hipertrofia ventricular esquerda fisiológica e o aumento do consumo máximo de oxigênio [6]. Contudo, apesar dos benefícios, indivíduos com problemas cardiovasculares (hipertensão, enfarto, etc.) devem evitar o bloqueio respiratório durante os exercícios resistidos com peso, pois sofrem o risco de haver um pico anormal pressórico, excedendo 200 mmHg, dependendo da força e da duração deste bloqueio [13]. Estudos verificaram o efeito hipotensor após o exercício resistido com peso. No estudo do comportamento subagudo da pressão arterial após o treinamento de força em hipertensos controlados [14], foram estudados 20 indivíduos de ambos os gêneros (61 ± 12 anos) com hipertensão controlada por fármacos e participantes de um programa de exercícios, porém sem experiência no treinamento de força. O estudo foi realizado em três dias não consecutivos. Primeiramente, determinouse a carga de 10 repetições máximas em cada exercício da 207 sequência (supino-reto, leg-press horizontal, remada em pé e rosca tríceps). A aferição da PA foi executada pelo método auscultatório no momento pré-exercício, imediatamente após o término de cada sessão e durante 60 minutos após o término dos exercícios. Neste estudo foi identificado que em ambas as sessões os valores da PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD), medidos imediatamente após o término dos exercícios, foram mais elevados (p < 0,05) que os do pré-exercício. O acompanhamento em 60 minutos exibiu, após 1 série, uma redução dos valores de PAS apenas no 40º minuto, enquanto não foram encontradas reduções para a PAD. Já após 3 séries, observou-se uma queda dos níveis de PAS que perdurou por todo o período de monitoração. Para PAD, foram encontradas reduções apenas no 30º e 50º minuto pós-exercício. Concluiu-se que uma sessão de treinamento de força pode promover reduções nos níveis de PAS em indivíduos hipertensos medicados. Após estudo em que a amostra constituía de 3 grupos, “sedentários”, “treinamento resistido” e o grupo “treinamento de resistência”, todos com homens e mulheres, adultos jovens 22 anos em média, normotensos, concluiu-se que a elevação da PA que acontece durante o exercício de resistência com peso não persiste dentro de 24 horas após a sessão de exercício agudo dentro dos 3 grupos [15]. No estudo sobre o efeito hipotensivo do exercício físico de força realizado em diferentes intensidades no mesmo volume de trabalho [6], o objetivo era verificar o exercício contra resistência sobre os efeitos agudos tardios da PAS e PAD. Durante 3 dias, não consecutivos, 16 jovens foram submetidos a vários exercícios (supino-reto, leg press, puxada no pulley, mesa flexora, desenvolvimento e rosca bíceps), organizado da seguinte forma: no primeiro dia, foi realizado teste de 6 repetições máximas (RMs) para cada exercício; no segundo dia, foram feitos 3 séries de 6 RMs em cada exercício; e, no último dia, foram realizadas 12 repetições com 50% de 6 RMs. As PAS e PAD foram aferidas antes e após cada sequência, por método auscultatório, e por monitoração ambulatorial, em ciclos de 10 minutos, em repouso absoluto durante 1hora. Os autores concluíram que o exercício de resistência com peso, exerceu efeito hipotensivo sobre a pressão arterial, principalmente sobre PAS; o declínio absoluto da PAS não foi influenciado pelas diferentes interações de carga e repetições; a magnitude das cargas tendeu a favorecer a duração da redução da PAS; e o número de repetições teve maior repercussão sobre a PAD que sobre a PAS, mas por curto período de tempo. Em outro estudo sobre a verificação das alterações provocadas pelo exercício contra resistência no indivíduo hipertenso [16], verificou-se a possível redução na pressão arterial. A amostra foi constituída por um indivíduo de 37 anos, do gênero masculino, hipertenso, em tratamento farmacológico. Ao iniciar o programa, este indivíduo foi submetido a uma anamnese e ao teste de 1 RM. Todas as variáveis estudadas foram mensuradas semanalmente, antes e após a sessão de exercícios, com 5 minutos de descanso. Os exercícios foram 208 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 realizados no supino-reto, na remada barra curta, no leg press (quadríceps e panturrilha), na cadeira extensora, na mesa flexora e abdominal, com 3 sessões de exercícios semanais, duração de 50 a 60 minutos, durante quatro meses, a 80% de 1RM. Nos resultados observa-se que a PAD e a PAS modificaram de forma positiva e significativa. Cada média mensal foi calculada em cima dos valores obtidos nas médias semanais, constituídas de coleta feita a cada dia de treinamento. Autores testaram a hipótese de que o treino de resistência de força reduz a pressão arterial em repouso [17], concomitante com reduções da atividade muscular do nervo simpático. A amostra contou com 12 adultos jovens que foram submetidos a um programa de treinamento de resistência de corpo inteiro realizados em 3 dias na semana, durante 8 semanas. Os indivíduos treinaram 3 séries, 10 repetições de 7 exercícios isotônicos. No estudo a verificação da pressão arterial (n = 12; esfigmomanômetro automatizado) e MSNA (n = 8; microneurografia do nervo peroneal) foram medidas durante um período de 5 minutos em repouso antes e após o exercício. Para o grupo controle, participaram do estudo 13 adultos jovens. A resistência aumentou significativamente no treinamento de uma repetição máxima em todos os grupos musculares treinados (p < 0,001), e diminuíram significativamente a pressão sistólica Os resultados indicam que o treino de exercícios resistidos com pesos poderão exercer uma diminuição no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares pela redução da pressão arterial. O objetivo de um estudo era verificar a PAS e a PAD, taxa de coração (FC) e duplo-produto (DP) durante e depois da extensão de joelho com execução unilateral e bilateralmente até esgotamento [18]. A amostra era formada por 18 indivíduos saudáveis, sendo 6 homens e 12 mulheres, e o estudo foi realizado através do treinamento de força, sendo executadas 3 séries de 12 repetições. A pressão arterial foi medida pelo método auscultatório ao término de cada série e durante 20 minutos depois do exercício, com intervalos de 5 minutos. Depois do exercício, não foi identificada nenhuma diferença entre todas as variáveis observadas. Aparentemente, o modo de desempenho do joelho em extensão unilateral não reflete nas respostas cardiovasculares agudas, durante ou depois do exercício. Porém, o desempenho bilateral mostrou tendência para elevar os valores de PAS e DP em relação ao desempenho unilateral, o que deve ser considerado em prescrições para pessoas que precisam de cuidados especiais. Outro estudo objetivou investigar sobre hipotensão de pós-exercício em um único turno de exercício de resistência de baixa-intensidade na pressão arterial de mulheres com hipersensibilidade ao receptor para captopril [18]. A amostra contou com 12 mulheres hipertensas fazendo uso de captopril, sofreram 2 sessões experimentais: controle (40 minutos de repouso sentado) e exercício de resistido com peso de baixaintensidade (6 exercícios de resistência com peso, 3 séries, 20 repetições, 40% de uma repetição máxima). A pressão arterial foi medida no laboratório, antes e 120 minutos depois de exercício ou repouso. Além disso, a pressão arterial ambulatória também foi medida 21 horas depois do exercício. Os resultados apresentaram diminuições significativas nas pressões arteriais clínicas depois do exercício, mas não depois do repouso e também não diferiram entre as sessões experimentais. A conclusão dos autores foi que em mulheres hipertensas com uso do medicamento de receptor de captopril, um único turno de exercício resistido com peso de baixa intensidade reduz a pressão arterial. Esta redução persiste por 10 horas, durante o período acordado, enquanto as pacientes estavam comprometidas nas atividades diárias delas, sendo maior em pacientes com pressão arterial mais alta. Um estudo comparou as respostas da PA pós-esforço em mulheres hipertensas e normotensas [20]. O grupo hipertenso não utilizava medicação e apresentava valores de PA significativamente mais elevados que o grupo normotenso, após a execução de 15 repetições de 5 exercícios realizados em circuito a 50% da carga de 1RM, no qual registrou a PA pósesforço durante 60 minutos e verificou-se redução significativa somente na PAS de forma semelhante em ambos os grupos. Verificou-se, em outro estudo, as respostas agudas tardias da pressão arterial sistólica e diastólica pela execução de 3 sequências de exercícios resistidos com peso [13]. Foram divididos aleatoriamente, em grupo 1 (G1) e grupo 2 (G2). A sequência do G1 foi composta pelos exercícios: supino horizontal, leg press inclinado, “puxada pela frente” no pulley alto, desenvolvimento pela frente em pé, e rosca bíceps. Na sequência de G2 constavam todos os exercícios de G1, mais o exercício mesa flexora. No segundo dia, ambos os grupos realizaram 3 séries de 6RM em cada exercício, com um intervalo de recuperação de 2 minutos entre as séries e os exercícios. No último dia, 12 repetições foram realizadas em cada exercício, com carga correspondente a 50% de 6 RM, sendo que G1 realizou os exercícios em forma de circuito, perfazendo um total de 3 passagens, enquanto que G2 os realizou do mesmo modo que no dia anterior. A PA foi aferida antes de iniciar a coleta dos dados e imediatamente após o término de cada sequência, durante 60 minutos. Os autores concluíram que no grupo 1, o treinamento em circuito apresentou reduções significativas até 50 minutos e, para o treinamento de 6 RM, essas reduções foram também de 50 minutos. No grupo 2, o treinamento de 6 RM ocasionou reduções significativas em todas as medidas, enquanto que o de 12 repetições ocasionou redução até a 4ª medida. Não foram identificadas reduções significativas na PAD em nenhuma sequência de treinamento adotado, enquanto que a PAS sofreu redução significativa pós-esforço. No estudo de Lizardo et al. foram investigados os efeitos de diferentes sessões de exercícios resistidos sobre a hipotensão pós-exercício (HPE) [21]. A amostra contou com 11 indivíduos normotensos treinados, os quais realizaram, em dias distintos, 4 sessões de exercícios resistidos com peso: 1) 2 séries de 30 repetições a 30% de 1 repetição máxima (1 RM); 2) 2 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 séries de 8 repetições a 80% 1 RM; 3) 4 séries de exercícios para membros superiores, sendo 30 repetições a 30% 1 RM; e 4) 4 séries de exercícios para membros inferiores, com 30 repetições a 30% 1 RM. Os exercícios realizados foram: supino reto, desenvolvimento, adução-ombros, puxador e rosca direta; leg press, mesa extensora e flexora, flexão plantar e abdução quadril; sendo todos os exercícios realizados a 30% e 80% de 1 RM. A PAS, PAD, PAM e freqüência cardíaca foram mensuradas em repouso no final dos exercícios e durante 120 minutos após. Este estudo observou efeito hipotensivo na PAS após todas as sessões, enquanto que a pressão arterial diastólica foi observada apenas após as sessões de 30% e 80% 1 RM. Valores da PAD foram maiores 50 e 70 minutos após a sessão de exercício de membros superiores quando comparados à sessão de membros inferiores. Sendo assim os autores concluíram que o volume, a intensidade e a massa muscular envolvida e/ou a proximidade dos músculos exercitados em relação ao coração podem influenciar no efeito hipotensor após os exercícios resistidos com peso. O estudo sobre a redução da pressão arterial em hipertensos tratados com medicamentos anti-hipertensivos após um programa de treinamento físico [22], teve como objetivo verificar o comportamento da PA após 4 meses de treinamento em indivíduos hipertensos medicados. A amostra contou com 40 indivíduos sedentários. Os indivíduos foram divididos em 2 grupos: grupo-treinamento (GT) e grupo-controle (GC). Todos os sujeitos passaram por uma avaliação clínica e física; o GT realizou 3 sessões semanais em dias alternados, executando simultaneamente o treinamento aeróbio, de força e flexibilidade. O resultado do estudo demonstrou que no GT houve uma redução de 9% na PAS e de 2,2% na PAD na análise intragrupo. Nos intergrupos, o GT diferenças significativas em relação ao GC na PAS, mas não na PAD. Resultados e discussão Os estudos encontrados realizaram treinos envolvendo vários exercícios resistidos com peso. Os exercícios executados foram: supino-reto; leg press horizontal ou inclinado; remada vertical em pé ou sentado; flexão de joelho; extensão de tríceps; puxada pela frente/atrás, baixa ou alta no pulley; extensão de joelho (unilateral e bilateral); rosca bíceps; abdominais, supra e infra; desenvolvimento; adução de ombro; e abdução de quadril. A quantidade variou de 2 a 12 exercícios entre os estudos, a intensidade de 30 a 80% de uma repetição máxima (1 RM), variou também de 1 a 3 séries, e o tempo não foi homogêneo sendo que alguns estudos foram realizados com uma única sessão e outros com 3 sessões semanais durante 4 meses . Alguns estudos apresentaram em seus resultados mudanças positivas de forma significativa na PAD e PAS [14,16,17,19]. 209 Da mesma forma nas duas metas-análise, a PAS e PAD de repouso diminuíram para os indivíduos que foram expostos ao treinamento resistido com peso [23,24]. Já em outro estudo, depois do exercício, não foi identificada nenhuma diferença entre todas as variáveis observadas [18]. Autores verificaram redução significativa pós-esforço, somente na PAS [20,21,13], bem como, outro estudo em que nos intragrupos e intergrupos, o grupo-treinamento apresentou diferenças significativas na PAS em relação ao grupo-controle, enquanto que a PAD foi verificada somente na análise intragrupo [22]. Enquanto que um observou que a redução na PAD ocorreu após as sessões de 30% e 80% 1RM e maiores 50 e 70 minutos após a sessão de membros superiores quando comparados à sessão de membros inferiores [13]. Também se observa que o efeito isolado do exercício sobre a redução e controle da pressão arterial parece depender de algumas variáveis, como a intensidade ou o período de monitoração. Por exemplo, um determinado estudo utilizou a maior quantidade de exercícios (n = 12), no qual apesar da redução da PA, não foram identificadas alterações significativas na pressão arterial após o esforço [15]. Nesse caso, o período de acompanhamento foi de 24h, já outro, utilizou-se apenas de 2 exercícios (extensão de joelhos unilateral e bilateralmente) e os autores identificaram redução moderada na pressão arterial depois do exercício, contudo no exercício bilateral de extensão de joelhos houve uma tendência para aumento na pressão arterial sistólica [18]. O declínio absoluto da PAS não foi influenciado pelas diferentes interações de carga e repetições; a magnitude das cargas tendeu a favorecer a duração da redução da PAS; e o número de repetições teve maior repercussão sobre a PAD que sobre a PAS, mas por curto período de tempo [6]. Conclusão A maioria dos resultados encontrados nos estudos citados sugere que exercícios resistidos com peso podem provocar uma redução e manutenção da pressão arterial (em longo prazo), sendo essa redução maior após os exercícios de menor intensidade. A intensidade e o volume de treinamento podem influenciar nos efeitos agudos ou crônicos em indivíduos hipertensos medicados, porém é necessário que sejam mais investigados para verificar a sua magnitude. Por outro lado, exercícios resistidos com peso de alta intensidade não têm mostrado efeito hipotensor em indivíduos hipertensos, e promovem picos pressóricos extremamente elevados durante a sua realização, sendo um agravante para lesões em órgãos alvos. Nesse sentido, o exercício resistido com peso supervisionado incluindo conjuntamente o trabalho aeróbio e de flexibilidade mostrou-se eficaz como variável interveniente para a redução, mesmo que temporária, e controle da pressão arterial de repouso. 210 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Tabela I - Resumo dos estudos do efeito hipotensor após o exercício resistido com peso. Autor Casuística Mediano et al. 20 indivíduos, 16H e 4M 2005 [14] hipertensos/medicados (61±12 anos) Roltsch et al. 33 indivíduos, normotenso, 2001 [15] 3 grupos, sedentários,treino com peso, treino resistência (22±3,2 anos) Polito et al. 16 indivíduos treinados 2003 [6] 9H (20±1 anos) 7M (21±5 anos) Exercício 2 dias alternados 4 exercícios 1 e 3séries 10 RM 1 sessão aguda 6-12 rep 12 exercícios 60 a 80% 1RM 2 dias alternados. 3séries 6RM 3séries 12 rep 6 exercícios 12 rep 50% 1RM Lisboa et al. 2007 [16] 1 indivíduo homem 37 anos hipertenso medicado 3 vezes por semana 4 meses 8 exercícios 80% 1RM Carter et al. 2003 [17] 12 indivíduos, treino (21±0,3 anos) 3 vezes por semana. 8 semanas. 7 exercícios Polito et al. 2004 [18] 18 indivíduos 6H e 12M normotensos (33±11 anos) 3 séries 12 rep 2 exercícios Melo et al. 2006 [19] 12 M Hipertensas, medicadas 3séries 20rep 6 exercícios 40%1 RM Fischer 2001 [20] 7M hipertensas 9M normotensas 5 exercícios 50% 1RM Simão et al. 2005 [13] Grupo 1 Grupo 2 3 sessões 15 rep. circuito 3 séries, 12rep circuito 3séries,6rep. Lizardo et al. 2005 [21] 11 indivíduos normotensos treinados (23,9±4,3 anos) 40 hipertensos medicados e sedentários grupo treino grupo controle 341 adultos, sedentários, normotensos 12 estudos Simão et al. 2008 [21] Meta-análise Cornelissen et al. 2005 [24] Kelley et al. 2000 [23] 320 adultos normotensos ou hipertensos, sedentários Grupo treino (n=182) Grupo controle (n=138) 11 estudos 4 sessões dias distintos 3 x semana. 4 meses 1 sessão 1 sessão Aferição Met. Auscultatório Pré-exercício-10min Pós-exercício-60min MAPA Pós-exercício (24h) Repouso (48h) Met. Auscultatório Pré-exercício Met.ambulatórial Pós-exercício(ciclos de 10 até 60 min.) Met. Auscultatório Pré-exercício Met.ambulatórial Pós-exercício Met. Auscultatório Pré-exercício-5min Pós-exercício: treino controle Met. Auscultatório Pós-série Pós-exercício:5/20min uni e bilateral Met. Auscultatório Pré-exercício-120min Pós-exercício: 10-21h Met. Auscultatório Pós-exercício-60min Met. Auscultatório Pré e Pós-exercício: até 60min G1 e G2 10 exercícios Met. Auscultatório 5 mmss/5 mmii Pré-exercício 30 e 80% 1RM Pós-exercício exercícios Met. Auscultatório Pré-exercício Pós-exercício: GT p/ GC Met. Auscultatório exercícios Pré-exercício convencionais ou circuito Pós-exercício 30 a 90% 1 RM exercícios cirMet. Auscultatório cuito, Pré-exercício convencional Pós-exercício: Grupo Treino p/ Grupo Controle PAS PAD s/ sig. s/ sig. - - - s/≠ 5 exercícios Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Referências 1. American College of Sports Medicine. ACSM’s. Guidelines for exercise testing and prescription. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2000. 2. Brandão AP, Brandão AECM, Pozzan R. Epidemiologia da hipertensão arterial. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2003;13:7-19. 3. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. 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A liberação de energia de nutrientes é acompanhada pela maquinaria bioquímica da célula através de reações químicas acopladas e associadas seqüencialmente (vias metabólicas). Essas vias permitem a liberação gradual de energia livre, estocada em ligações químicas entre átomos dentro de moléculas biológicas (carboidratos, lipídios e proteínas), em adequados pacotes energéticos os quais são usados para fosforilar o ADP à ATP. Dessa maneira, a forma de utilização universal de energia celular é conservada em ligações fosfatos da molécula de ATP, a qual é considerada a moeda energética celular. As duas vias metabólicas, aeróbia e anaeróbia, diferem em complexidade. Quanto mais complexa a estrutura química da molécula orgânica, mais longo é o tempo para degradá-la e mais alta é a produção de ATP. Logo, o organismo prioriza uma ou outra via metabólica de acordo com a demanda energética específica, a qual é estabelecida pelo modo, intensidade, volume e freqüência da atividade física. The constancy of the internal milieu (homeostasis) is crucial for life. Living organism ability to perform work (function) depends on a continual energy supply which is guaranteed by the medium energy flux from the input of external medium from nutrients into the cell. The adjusted flux of raw material (and energy) between the cell and the medium, followed by cell consumption, and elimination of degraded energetic products to the external medium characterizes the steady state. The release of energy from nutrients is achieved by the cell biochemistry machinery, through several sets of sequenced chemical reactions (metabolic pathways). These metabolic pathways allow the gradual release of free energy, stored in the chemical bonds between atoms in the complex chemical structure of biological molecules (carbohydrates, lipids, and proteins), in adequate energetic packages, which are used to phosphorylate ADP to ATP. Thus, the universal useful form of the cell energy is conserved in the phosphate bonds from the ATP molecule, which is considered the cellular energetic coin. The two metabolic pathways, aerobic and anaerobic, differ in complexity. The more complex the chemical structure of the organic molecule, the longer the time to degrade it, and the higher the ATP production is. Hence, living organism priories one or other metabolic pathway according to specific energetic demand, which is established by the mode, intensity, volume, and frequency of physical activity. Palavras-chave: exercício físico, ATP, metabolismo, energia livre, bioquímica do exercício. Key-words: physical exercise, ATP, metabolism, free energy, biochemistry of exercise. Endereço para correspondência: Viviane Louise Andrée Nouailhetas, Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Biofísica, Rua Botucatu, 862 - 2º andar, 04023-062 São Paulo SP, Tel: (11) 5576-4583, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução As células do organismo, para assegurarem a capacidade de executar suas diversas funções e manter constante o meio ambiente intracelular (homeostasia), necessitam de um aporte contínuo de energia do meio ambiente. Milhares de anos de evolução foram necessários para tornar os mecanismos bioquímicos celulares eficientes nos processos de captura, transferência, armazenamento e utilização dessa energia, a fim de adequar, quantitativamente, a sua produção ao seu consumo [1-3]. As células eucarióticas possuem duas vias metabólicas, a aeróbia e a anaeróbia, para capturar e transferir a energia contida nos nutrientes disponíveis no meio ambiente (carboidratos, lipídios e proteínas) [2,3]. A energia, que se encontra armazenada nas ligações químicas entre os átomos que constituem a estrutura molecular desses nutrientes, é direcionada para formação de novas ligações químicas presentes em moléculas menos complexas, de tal modo que possa ser aproveitada com o máximo de eficiência pelas células [4,5]. Para tanto, foi selecionada no organismo uma molécula com o intuito de exercer o duplo papel de receber e fornecer energia, o trifosfato de adenosina (ATP), sendo conhecida, por esse motivo, como a moeda energética celular [1,2,4,6-8]. A Bioenergética, utilizando-se dos princípios da Termodinâmica aplicados à Biologia, estuda os eventos relacionados aos fluxos energéticos responsáveis pela síntese de ATP e reposição das reservas celulares internas de energia [1-3,6,9,10]. Os conceitos da Bioenergética só podem ser compreendidos com um conhecimento prévio de Bioquímica, já que todos os processos envolvem reações químicas catalisadas por enzimas [1,3,11]. Os princípios da Bioenergética constituem o alicerce para o entendimento dos processos metabólicos que ocorrem no organismo durante a atividade física, já que praticar qualquer exercício significa realizar trabalho e realizar trabalho nos remete ao consumo de energia [12,13]. Assim, fica evidente que o estudante ou profissional da área da saúde deve ter uma boa base bioquímica para concatenar com clareza as idéias que integram a Bioenergética Celular ao exercício físico, principalmente no que se refere ao direcionamento do fluxo energético nas células enquanto o indivíduo se exercita [14]. Dessa forma, o objetivo deste artigo é enfatizar alguns conceitos clássicos de Bioquímica integrados aos conceitos clássicos de Termodinâmica, tendo como foco principal os acoplamentos de reações químicas das vias metabólicas, as quais fornecem energia em locais específicos para a execução dos diversos trabalhos celulares, para o entendimento do metabolismo energético celular e suas aplicações à atividade física. Bioenergética celular Os seres vivos são diferentes dos demais objetos inanimados pelo seu complexo grau de organização molecular e a sua incrível capacidade de realizar trabalho, desde o ato de respirar e falar até a prática de algum esporte envolvendo a 213 ação coordenada de grandes massas musculares. Para tanto, faz-se necessário um suprimento constante (fluxo) de energia [15] do meio ambiente, que reponha na medida exata a energia consumida durante os diversos trabalhos celulares. Esse suprimento constante de energia [15] caracteriza um estado que é denominado de estado estacionário (steady state), em oposição ao estado de equilíbrio. No estado de equilíbrio – um deles representado pela morte – o organismo é incapaz de realizar qualquer troca de energia, calor, trabalho ou informação com o meio ambiente, impossibilitando a manutenção da homeostasia e, conseqüentemente, da vida [1-3]. Do ponto de vista da Termodinâmica, o fato de as células serem um sistema aberto possibilita a manutenção do estado estacionário, uma vez que elas podem interagir com o arredor, trocando energia. Essa troca pode acontecer na forma de calor (q) [1-3,16], ou seja, em função da diferença de temperatura entre a célula e o meio ambiente, ou na forma de trabalho (w), caracterizado por qualquer outra troca energética que não seja por diferença de temperatura [1-3]. Além disso, a célula, como sistema aberto, também pode trocar matéria com o meio externo, seja para eliminar o que não é mais aproveitável no organismo, seja para repor os estoques de nutrientes e matéria-prima dos órgãos e tecidos [2,3]. A reposição de energia é feita a partir dos nutrientes presentes na alimentação, os quais, após serem digeridos e absorvidos, fornecem os substratos energéticos que serão processados no organismo: os carboidratos (glicose e frutose, principalmente), os lipídeos (ácidos graxos e glicerol) [17] e as proteínas (aminoácidos) [11]. Esses substratos apresentam, armazenada nas ligações químicas de suas moléculas, energia, a qual se encontra organizada de uma forma tal que possa ser utilizada pelas células após os processos de captura e transferência [18]. Essa forma de energia, denominada de energia livre, é a única que pode ser destinada para a execução dos diversos tipos de trabalho celulares nos ambientes bioquímicos apropriados, como os trabalhos de contração muscular [15,19] digestão, excreção, entre outros. A outra forma de energia encontrada nas células, a energia entrópica, é uma forma de energia “degradada” e, portanto, não pode ser utilizada para realizar trabalho, sendo dissipada na forma de calor [1,2,16]. Partindo-se do princípio de que: 1) há liberação de energia na quebra de uma ligação química entre dois átomos; 2) quanto maior o grau de complexidade bioquímica da molécula que está sendo degradada, maior a reserva de energia na forma química, sendo necessárias mais etapas para degradá-la completamente, e 3) apenas uma fração da energia liberada pode ser aproveitada para realizar trabalho; pode-se concluir que os substratos energéticos devem ser processados no organismo em etapas. De fato, se todas as ligações químicas dos substratos energéticos fossem quebradas simultaneamente, haveria um aumento abrupto da temperatura, já que se aproveitaria apenas uma pequena fração da energia total liberada. A outra grande fração, liberada e não utilizada, seria dissipada na forma de calor [1,16]. Como as funções químicas celulares e a homeostasia dependem da 214 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 manutenção da temperatura por volta de 37º C, é preciso que os substratos energéticos sejam degradados gradualmente a moléculas menores, menos complexas e menos energéticas, de modo que a energia seja liberada em pequenos “pacotes”. Isso explica por que as vias metabólicas são, necessariamente, constituídas por seqüências de reações químicas em cadeia, o que permite a transferência dos “pacotes” energéticos para os locais de síntese do ATP [6,10]. Portanto, verificamos que, em obediência aos princípios da Termodinâmica (lei da conservação da energia, lei da entropia e conceito de energia livre), o catabolismo corresponde ao processo que libera, gradualmente, a energia química dos substratos energéticos ao passo em que os degrada, transferindo essa energia para os locais de síntese de ATP, a moeda energética celular [6,11,20]. O ATP, ao ser hidrolisado no ambiente bioquímico adequado (locais de consumo de energia), libera energia livre [13,20], capacitando a célula a realizar os diversos trabalhos biológicos à temperatura relativamente constante, dissipando o que não pôde ser aproveitado na forma de calor. Essa quantidade de energia livre trocada é denominada de variação de energia livre (ΔG, ou variação de energia livre de Gibbs) [1-3,7]. Antes de discutirmos especificamente sobre o ATP e seu papel no fornecimento de energia livre para os trabalhos celulares [4,15,20], vamos inicialmente entender como se processa a transferência da energia obtida pela dieta para a moeda energética, isto é, como a energia química dos substratos energéticos é utilizada para produzir as moléculas de ATP [21]. Princípios de transferência de energia livre Muitas das reações químicas que ocorrem no organismo, como a formação do ATP nas vias metabólicas [6,15], nem sempre se processam naturalmente, ou seja, de forma espontânea. Isso porque essas reações são energeticamente inviáveis, dependendo de um aporte de energia livre do meio. A fonte de energia livre para essas reações vem da energia contida nos substratos energéticos, a qual é transferida pelo princípio de transferência de energia por acoplamento de reações químicas exergônicas a endergônicas [1-3] (ver Figura 1). Esse princípio se resume no seguinte exposto: Figura 1 - Acoplamento de reações exergônica e endergônica. B A-Int enzima A Reação exergônica ∆G < 0 Int B-Int + calor Reação endergônica ∆G > 0 A reação exergônica, ao se processar, libera, entre outros produtos, um intermediário comum (Int) e uma quantidade de energia livre. O intermediário comum e a energia livre serão utilizados pela reação endergônica, a qual se processa simultaneamente à exergônica. A velocidade é controlada pela enzima que atua sobre as duas reações. Como a eficiência do acoplamento não é de 100%, o excedente energético é dissipado na forma de calor. Primeiro, é necessário que estejam envolvidas no processo duas reações químicas simultâneas, sendo, necessariamente, uma exergônica e outra endergônica. Isso significa que elas devem, respectivamente, liberar e consumir energia livre para se processar. Termodinamicamente, é fundamental entender que uma reação exergônica é espontânea, natural, ou seja, o seu processamento não depende de aporte energético do meio, já que a energia livre dos produtos é menor que a dos reagentes envolvidos na reação. Uma reação endergônica, por sua vez, não é espontânea e só ocorre se receber um aporte energético, pelo motivo de a energia livre dos seus produtos ser maior que a dos seus reagentes. Assim, a reação exergônica apresenta sempre uma variação de energia livre negativa (ΔGprodutos-reagentes < 0), enquanto que na reação endergônica, essa variação é sempre positiva (ΔGprodutos-reagentes > 0). Segundo, as duas reações devem ter um intermediário comum. Isso significa que um dos produtos da reação exergônica deve ser, necessariamente, um dos reagentes da reação endergônica. Terceiro, a reação exergônica cede energia livre, que é imediatamente transferida pelo intermediário comum, sendo armazenada na formação de novas ligações químicas de moléculas mais simples (produtos da reação endergônica), ou pode também ser utilizada em outros processos endergônicos para realizar trabalho. Quarto, pelo segundo princípio da Termodinâmica, como a eficiência dos processos de transferência e consumo de energia livre é obrigatoriamente inferior a 100%, em toda transferência de energia haverá perdas na forma de calor [1,16]. Assim, podemos concluir que o produto a ser formado pela reação endergônica possui uma quantidade de energia livre armazenada em suas ligações químicas inferior à dos reagentes da reação exergônica. Finalmente, devemos também lembrar que o acoplamento deve ocorrer na velocidade adequada, o que é controlado pela enzima que catalisa as reações do mesmo [1-3]. Assim, é preciso ficar claro que nas etapas de preparação para a transferência de energia livre nas vias metabólicas, a variação de energia livre do acoplamento é geralmente próxima ao equilíbrio (ΔGtotal = 0), o que evita grandes perdas de energia na forma de calor. Diferentemente, nas etapas de transferência de energia ou realização de trabalho, ou seja, de consumo de energia livre, tal variação é afastada do equilíbrio (ΔGtotal < 0), isto é, a reação exergônica libera maior quantidade de energia livre que o processo endergônico consome [1-3]. É importante salientar que em uma via metabólica, os acoplamentos que ocorrem com ΔG próximo de zero são etapas reversíveis e obedecem à lei de ação das massas. Dife- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 rentemente, os acoplamentos com elevados valores de ΔG, sejam eles positivos ou negativos, são irreversíveis, os quais direcionam o fluxo energético nas vias metabólicas [1-3]. Uma vez entendido o princípio de transferência e consumo de energia livre, podemos analisar os dois tipos de acoplamentos que o metabolismo dispõe para a mobilização de energia livre na célula os acoplamentos desfosforilação/fosforilação e oxidação/redução [1,2,22]. Acoplamento de reações de desfosforilação/fosforilação O primeiro tipo de transferência de energia no organismo dá-se por meio da utilização do grupo fosfato inorgânico (Pi) [18] como intermediário comum, no chamado acoplamento de reações de desfosforilação/fosforilação [22,23]. A reação de desfosforilação, exergônica, ao se processar, quebra a ligação química entre o grupo Pi e o restante da molécula, liberando a energia livre (ΔG < 0). Essa energia livre é imediatamente utilizada pelos reagentes da reação de fosforilação, endergônica, para a formação de um determinado substrato fosforilado (ΔG > 0). Desse modo, podemos verificar que a transferência de um grupo Pi de um substrato fosforilado para outro não fosforilado resulta, em última análise, na transferência de uma certa quantidade de energia livre de um substrato para outro e, às vezes, de um local para outro na célula [18]. Vale ressaltar que, em cada transferência, a quantidade de energia livre excedente liberada é dissipada na forma de calor, em obediência à lei da conservação da energia aplicada a sistemas termodinamicamente classificados como abertos, como é o caso das células do organismo [1-3]. Como exemplo desse tipo de acoplamento, temos a produção de glicose-6-fosfato a partir de ATP e glicose (ver Figura 2) [1-3]. Figura 2 - Produção de glicose-6-fosfato a partir de ATP e glicose. Glicose ATP hexocinase ADP + HDesfosforilação (exergônica) Pi Glicose-6-fosfato + calor Fosforilação (endergônica) A hidrólise do ATP a ADP, Pi e H+ (desfosforilação, reação exergônica) libera uma quantidade de energia livre que é utilizada pela reação entre a glicose e o mesmo Pi (fosforilação, reação endergônica), produzindo glicose-6-fosfato. A enzima hexocinase catalisa o acoplamento. A energia excedente é dissipada na forma de calor. A hidrólise do ATP, ao se processar no ambiente bioquímico adequado, libera como produtos o difosfato de adeno- 215 sina (ADP), Pi, íons H+ e certa quantidade de energia livre (ΔGprodutos-reagentes = -30,5 kJ/mol). Essa energia disponibilizada é utilizada para processar a reação endergônica entre a glicose e o fosfato (ΔGprodutos-reagentes = 13,8 kJ/mol), “energizando” (fosforilando) a glicose a glicose-6-fosfato. Ambas as reações ocorrem simultaneamente e são catalisadas pela enzima hexocinase. Esse acoplamento é energeticamente viável (ΔGtotal = -16,7 kJ/mol), pois a energia livre liberada pela quebra da ligação do Pi da molécula primária (ATP, no exemplo) é maior do que a energia consumida para a ligação desse mesmo Pi ao novo substrato químico (a glicose, no exemplo), sendo que a energia excedente liberada é dissipada na forma de calor. Ou seja, a energia do grupo Pi associado à glicose-6-fosfato é inferior a desse mesmo grupo Pi associado ao ATP (segunda lei da Termodinâmica)[1-3]. Acoplamento de reações de oxidação/redução A segunda maneira de transferência de energia livre no organismo dá-se através da transferência de pares de elétrons por meio do acoplamento de reações de oxidação-redução (ver Figura 3) [1-3]. Figura 3 - Acoplamento de reações de oxidação/redução. NAD+ ou FAD Reagente reduzido desidrogenase Produto oxidado Oxidação (exergônica) 2eNADH + H+ ou FADH2 + calor Redução (endergônica) A oxidação (reação exergônica) de um substrato energético (reagente reduzido) libera pares de elétrons que são captados por moléculas transportadoras de elétrons, NAD+ ou FAD, as quais se reduzem (reação endergônica) a NADH + H+ ou FADH2, respectivamente. O acoplamento é catalisado por uma enzima do tipo desidrogenase. A energia livre excedente é dissipada na forma de calor. A oxidação de um substrato energético (reação exergônica) cede um par de elétrons (intermediário comum), que é captado por moléculas transportadoras de elétrons, reduzindo-as (reação endergônica). Como exemplo dessas moléculas, temos a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+) e a flavina adenina dinucleotídeo (FAD), que são reduzidas a NADH + H+ e FADH2, respectivamente. As reações de oxidação e redução ocorrem simultaneamente, sendo catalisadas por uma enzima do tipo desidrogenase. A energia livre excedente é dissipada na forma de calor [1-3]. Os transportadores de elétrons do exemplo, NAD+ e FAD, são as coenzimas envolvidas nos acoplamentos de oxidação/ redução das vias catabólicas [1,2,11]. 216 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Vias metabólicas para produção de ATP O catabolismo disponibiliza, por meio das vias metabólicas, a energia livre necessária para a síntese das moléculas de ATP a partir da fosforilação do ADP. Uma via metabólica é constituída por uma seqüência de reações químicas em cadeia, organizadas de tal modo que os produtos da primeira reação são os reagentes da segunda, e assim sucessivamente, até a formação dos produtos finais [11]. A velocidade de cada reação química pertencente à via metabólica é controlada por uma enzima específica. A enzima que catalisa a reação química mais lenta da via metabólica é conhecida como enzima limitante, já que sua atividade determina a velocidade de processamento de toda a via [1-3]. As células possuem duas vias, de complexidade variável, capazes de sintetizar ATP: a via aeróbia e a anaeróbia. Via aeróbia: via metabólica central A via aeróbia, aqui entendida como a via metabólica central (ver Figura 4), constitui-se de quatro etapas: 1) glicólise, 2) descarboxilação oxidativa do piruvato a acetil-CoA, 3) ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido cítrico, ou ainda ciclo dos ácidos tricarboxílicos) e 4) cadeia respiratória (ou fosforilação oxidativa) [2,7,24,25]. A via aeróbia, por corresponder a um total de mais de 33 reações e depender do oxigênio molecular fornecido pela circulação, é a via mais lenta na produção de ATP, porém a com o maior rendimento. Figura 4 - Via metabólica central. Citoplasma Mitocôndria Glicose Glicose 2ATP + 2NADH + H 2 Piruvato Descarboxilação oxidativa Citrato Ciclo de Krebs 2 Acetil-CoA Oxaloacetato + 2NADH + H 6NADH + H+ Cada molécula de piruvato é transportada para dentro da mitocôndria, onde sofre o processo de descarboxilação oxidativa, produzindo acetil-CoA, NADH e CO2. Essa reação química, catalisada por um complexo de três enzimas, conhecido como complexo da piruvato desidrogenase, apresenta uma variação de energia livre de -33,4 kJ/mol [2,3]. O ciclo de Krebs, por sua vez, é caracterizado por um conjunto de oito reações químicas seqüenciais que se processam na matriz mitocondrial. Inicia-se pela produção de citrato a partir da condensação entre uma molécula de acetil-CoA, oriunda da descarboxilação do piruvato, e uma molécula de oxaloacetato, previamente existente na matriz [11,24]. Após essa condensação, segue-se uma seqüência cíclica de sete reações químicas que promove a quebra oxidativa do citrato a novo oxaloacetato, produzindo três moléculas de NADH + H+, uma de FADH2, uma de trifosfato de guanidina (GTP) e duas de CO2. A regulação do ciclo de Krebs dá-se tanto pelo complexo da piruvato desidrogenase, que limita a disponibilidade de acetil-CoA (o combustível do ciclo de Krebs) quanto pela enzima isocitrato desidrogenase, que catalisa a produção de isocitrato a partir do citrato. A variação de energia livre total do processo cíclico é de -50,3 kJ/mol [2,3,24]. A cadeia respiratória (ver Figura 5) é constituída por numerosos conjuntos de quatro complexos protéicos (enzimas) associados a uma proteína de membrana do tipo sintase (ATP sintase), todos localizados nas cristas da membrana interna das mitocôndrias. Nesses complexos enzimáticos são introduzidas as moléculas transportadoras de elétrons, NADH + H+ e FADH2, de tal modo que a energia associada aos seus pares de elétrons seja gradualmente degradada por meio de sucessivos acoplamentos de oxidação/redução. Essa transferência dos pares de elétrons processa-se dos substratos mais energéticos para os substratos menos energéticos, reduzindo estes (reação endergônica) e oxidando aqueles (reação exergônica). Os substratos que receberam os elétrons, ao serem reduzidos, podem doar esse par para o substrato seguinte em um novo acoplamento. Nesse processo de transferência, há a regeneração das formas oxidadas dos transportadores de elétrons NAD+ e FAD, fundamental para garantir a continuidade do metabolismo aeróbio [2,11,27]. 2 FADH2 2 GTP Figura 5 - Cadeia respiratória. Cadeia respiratória Mitocôndria 4H+ 28 ATP A glicólise, constituída por uma cadeia de 10 reações químicas sucessivas, corresponde à quebra citosólica de uma molécula de glicose a duas de piruvato. Além do piruvato, apresenta também, como produtos finais, duas moléculas de ATP, duas de NADH + H+ e duas de água [11,26]. A enzima limitante e reguladora da glicólise é a fosfofrutocinase-1 (PFK-1), que catalisa a produção de frutose-2,6-bisfosfato a partir de frutose-6-fosfato. A variação de energia livre total da glicólise é de -85 kJ/mol [1,2,26]. I 4H+ II NAD+ NADH III ATP sintase ADP + Pi FAD FADH2 H+ ATP Ciclo de Krebs Piruvato Glicose 2H+ Cit c, a, a3 IV Matriz Membrana interna Membrana externa Cit = citocromo. O2 H2O Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 A energia livre liberada pelos acoplamentos é utilizada para produzir um gradiente de prótons e, conseqüentemente, um gradiente elétrico decorrente da separação de íons H+. A energia livre desse gradiente é utilizada pela proteína de membrana ATP sintase na fosforilação do ADP a ATP. O substrato mais energético é o NADH, enquanto que o menos energético é a molécula de oxigênio (O2), que, por sua vez, é reduzida à água (H2O). Podemos visualizar a cadeia respiratória como uma espécie de escada energética, em que cada degrau representa um nível energético diferente. O degrau energético mais elevado é aquele no qual o par de elétrons é introduzido na primeira proteína da cadeia respiratória através do NADH, e o degrau energeticamente mais inferior é aquele onde o par de elétrons reage com a molécula de oxigênio (O2), que atua como receptor final, reduzindo-se à água [2,3,8]. A quantidade de energia livre associada a cada par de elétrons processado na cadeia respiratória é utilizada para separar prótons através da membrana interna da mitocôndria. Essa separação de prótons promove um acúmulo de íons H+ no espaço entre as membranas interna e externa, gerando um gradiente de prótons e um gradiente elétrico. A energia armazenada nesse gradiente de prótons representa uma fonte de energia livre, que é consumida pela proteína ATP sintase para promover a fosforilação do ADP da matriz mitocondrial a ATP. Como a produção de ATP [15] pela cadeia respiratória depende da quantidade de energia livre liberada pelos acoplamentos de oxidação/redução – energia essa que será utilizada pelas reações de fosforilação do ADP –, esse processo de síntese de ATP é também conhecido como fosforilação oxidativa [2,3,22,28]. A via aeróbia, além de depender da presença do oxigênio molecular como receptor final dos pares de elétrons – os quais foram retirados dos substratos energéticos processados pela glicólise [26] e ciclo de Krebs [24] – é também a via que produz maior quantidade de energia, fornecendo 32 moléculas de ATP por molécula de glicose processada [11,24]. A energia livre necessária para sintetizar essas 32 moléculas de ATP equivale a 976 kJ/mol; como a energia livre total contida em uma molécula de glicose é de 2.840 kJ/mol, podemos dizer que a eficiência da via aeróbia é de 34%. Ou seja, a quebra da glicose a seis moléculas de CO2 e seis de H2O, que se processa ao longo de toda a via aeróbia, libera uma quantidade de energia livre que é aproveitada em 34% pelo organismo, sendo o restante dissipado, gradualmente, na forma de calor. Por ser a via mais complexa, tendo um total de 33 reações químicas excetuando-se as envolvidas na cadeia respiratória, e por depender do fornecimento adequado de oxigênio pela circulação, é, evidentemente, a via mais lenta para a produção de ATP [1,2,11]. A via aeróbia é aqui também chamada de via metabólica central porque alguns de seus intermediários químicos não precisam ser, necessariamente, produtos oriundos de suas próprias reações, podendo provir da metabolização de outros 217 substratos energéticos, como lipídios e aminoácidos [2,11]. Esses substratos fornecem, depois de passarem por diversas reações químicas preparatórias, produtos que podem entrar como substratos intermediários da glicólise ou do ciclo de Krebs. É como se a via metabólica central fosse um rio, e as demais vias, como a lipólise e a proteólise, seus afluentes [2,3,7,24]. Via anaeróbia A via anaeróbia caracteriza-se pelos processos de produção de ATP independentemente do suprimento de oxigênio. Isso significa que essa via é capaz de disponibilizar energia livre para o organismo em situações de carência de oxigênio, seja porque não houve tempo suficiente para os ajustes biológicos determinarem um aporte ideal de oxigênio (início do exercício, em que os sistemas respiratório e cardiovascular não estão no máximo de sua eficiência), seja porque a demanda por oxigênio excede o aporte máximo (exercício intenso, em que os sistemas respiratório e cardiovascular já chegaram ao seu limite) [7,14]. O organismo dispõe de duas vias anaeróbias, aqui referidas como via anaeróbia de emergência primária e a via anaeróbia de gatilho. Via de emergência primária A via anaeróbia de emergência primária, ou simplesmente via de emergência primária (ver Figura 6), corresponde à quebra citosólica da glicose em duas moléculas de piruvato (glicólise), acrescentada de mais um acoplamento de oxidação/ redução, levando à produção de lactato a partir da redução do piruvato [11,29]. Figura 6 - Via de emergência primária. Glicose 2 Lactato + 2 NAD 2 NADH+ + H+ 2 ATP 2 Piruvato A quebra oxidativa parcial da glicose a piruvato, seguida pela redução deste último a lactato, também permite a recuperação do potencial redox do citoplasma, uma vez que reoxida o NADH + H+ a NAD+. Por ser uma via independente de oxigênio e processar-se em apenas 17 reações químicas, é a menos complexa e mais rápida na produção de ATP se comparada à via aeróbia, porém com menor rendimento. 218 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Este último acoplamento ocorre porque: 1) o metabolismo encontra-se com um déficit relativo de oxigênio e 2) não havendo oxigênio suficiente para a demanda energética, automaticamente não há o processamento final dos elétrons na cadeia respiratória, nem a síntese mitocondrial de ATP na velocidade requerida. Logo, só resta ao organismo acrescentar ou priorizar, sobre o metabolismo aeróbio central, a degradação citosólica da glicose até lactato, ao invés de piruvato, para a produção da energia adicional requerida [29]. Essa degradação, por produzir pouco ATP (apenas duas moléculas), precisa ser processada várias vezes, o que demanda um elevado suprimento de glicose, como também de NAD+ para os acoplamentos de oxidação/redução da glicólise [26]. O suprimento de glicose é garantido pela presença e disponibilidade do glicogênio muscular [30,31]. O NAD+, por não estar sendo regenerado pela cadeia respiratória, deve ser regenerado por uma fonte alternativa, ou seja, é preciso manter o potencial redox do citoplasma (manter a relação entre [NAD+]/[NADH + H+]), a fim de dar continuidade às reações da glicólise e, conseqüentemente, à produção de energia. Isso se dá pela redução do piruvato a lactato (reação endergônica), o que promove a reoxidação citoplasmática do NADH + H+ a NAD+ (reação exergônica). Tal acoplamento é energeticamente viável porque o potencial energético da molécula de lactato é maior que o da molécula de piruvato, o que justifica o fato de o lactato ser um substrato energético que pode ser reaproveitado pelo organismo [29]. A variação de energia livre total do acoplamento de redução do piruvato a lactato é de -25,1 kJ/mol [1-3]. Em comparação com a via aeróbia (mais de 33 reações), a via de emergência primária é menos complexa (17 reações) e independe do oxigênio. Logo, mostra-se mais rápida na produção de energia, embora seu rendimento seja bem menor, gerando apenas duas moléculas de ATP por molécula de glicose processada [11]. Sua grande vantagem é que, ao regenerar o potencial redox do citoplasma, permite a utilização da molécula de glicose proveniente da degradação do glicogênio muscular [2,3,30]. A via de emergência primária foi aqui referida por esse nome porque, em situações de emergência energética, ou seja, elevada demanda por ATP associada a um suprimento insuficiente de oxigênio, representa uma fonte primária de energia livre da qual o organismo pode lançar mão. Em situações mais graves e prolongadas de carência energética, há a produção de corpos cetônicos, uma fonte de energia alternativa proveniente dos lipídios [1-3]. Via de gatilho Finalmente, a via ATP/PCr, aqui referida como via anaeróbia de gatilho, ou simplesmente via de gatilho (ver Figura 7), caracteriza-se pela transferência direta de energia da fosfocreatina (PCr) para o ADP, em um único acoplamento de desfosforilação/fosforilação [11,18]. O fosfato de alta energia da molécula de PCr é transferido para a molécula de ADP, produzindo creatina (Cr) e ATP [32]. Essa única reação de síntese de ATP é catalisada pela enzima creatinacinase (CK) [33] e tem uma variação de energia livre total de -12,5 kJ/ mol [2,3,7]. Figura 7 - Via de gatilho. ADP PCr CK Pi Cr ATP A regeneração do ATP através da via de gatilho resume-se em um único acoplamento de desfosforilação/fosforilação, catalisado pela enzima CK. A PCr é desfosforilada a Cr e Pi (reação exergônica), ao mesmo tempo em que o ADP é fosforilado a ATP (reação endergônica). Por ser uma via muito simples, é a mais rápida na produção de ATP, embora seja a de menor rendimento. Além disso, sofre uma limitação parcial por estar diretamente relacionada à quantidade de PCr nas células. A via de gatilho é a via celular de menor complexidade, sendo, portanto, a via mais rápida na produção de ATP. Entretanto, é via de menor capacidade, pois sintetiza apenas uma molécula de ATP por molécula de PCr processada. Além disso, depende da quantidade de PCr armazenada na célula, que é variável e limitada de acordo com o tipo de fibra muscular [2,11,13]. A via de gatilho foi aqui referida por esse nome porque está relacionada ao fornecimento energético inicial para a realização dos trabalhos celulares, antes de qualquer outra via [15]. Isso significa que é a via que fornece energia para o organismo durante os segundos iniciais dos trabalhos celulares, enquanto as vias aeróbia e de emergência primária estão ainda se processando. Além disso, essa via volta a ser priorizada todas as vezes que ocorrer um aumento na intensidade da atividade física, ou seja, quando houver uma demanda maior de energia, exigindo novos ajustes das outras vias [7-34]. ATP como moeda energética Depois de termos entendido os principais fundamentos de transferência de energia livre pelos acoplamentos entre reações exergônicas a endergônicas, podemos voltar à discussão que deu origem a toda essa reflexão anterior: o ATP. Pela análise das vias, verificamos que todas elas têm uma função em comum, que é a produção ou regeneração do ATP com o intuito de atender à demanda energética à qual o organismo está sendo submetido. O ATP é uma molécula que contém três ligações de grupos fosfatos das quais duas, ao serem hidrolisadas, liberam energia livre e íons H+ [6,11]. O ATP foi selecionado durante o processo evolutivo por Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 encontrar-se em um nível energético intermediário em relação aos diversos substratos fosforilados disponíveis no organismo. Isso significa que há tanto moléculas fosforiladas mais energéticas quanto menos energéticas que o ATP (ver Tabela I). Assim sendo, o ATP pode participar dos acoplamentos de dois modos distintos: ora como o produto sintetizado por uma reação endergônica, ora como o reagente de uma reação exergônica. Daí a denominação do ATP de moeda energética celular [2,3,6,7,34]. Tabela I - Valores da variação de energia livre (ΔG) da hidrólise do ATP e de outros substratos fosforilados encontrados no organismo. Fosfocreatina (PCr) Acetil-CoA ATP (ADP + Pi) Glicose-1-fosfato Glicose-6-fosfato ∆G (kJ/mol) -61,9 -31,4 -30,5 -20,9 -13,8 Adaptada de Nelson & Cox, 2004 [2]. Um exemplo da participação do ATP como doador de energia ocorre na síntese da glicose-6-fosfato durante a primeira fase da glicólise (ver Figura 2); diferentemente, o ATP participa como um receptor de energia quando da sua síntese pela PCr (ver Figura 7) [2,3,7,34]. As vias metabólicas, por possuírem diferentes graus de complexidade, requerem uma quantidade de tempo diferente para a produção do ATP. Assim sendo, é possível ao organismo, ao enfatizar uma determinada via, adequar a velocidade da produção de ATP ao seu consumo, buscando repor o mesmo conforme a necessidade, evitando sua depleção [11,35]. Tal capacidade de adequação possibilitou ao organismo impor uma condição de homeostasia para a concentração de ATP celular, obviamente dentro de certos limites. A concentração normal de ATP nas células é por volta de 5mM e, durante um trabalho intenso, pode cair, no máximo, para cerca de 4,7 mM sem prejuízo para a célula. Assim, evitam-se alterações do potencial de membrana e dos gradientes iônicos, sustentam-se os transportes ativos e ativos secundários, entre outros [2,3,34]. Desse modo, fica evidente que, de acordo com o tipo exercício realizado, a produção de ATP deve ser ajustada na tentativa de evitar carências ou desperdícios energéticos [7,11,14,34]. Para ficar mais claro, vamos analisar três exemplos: 1) um atleta de elite na metade de uma maratona, 2) um corredor a 10 m da linha de chegada em uma prova de 100 m rasos e 3) esses dois atletas nos segundo iniciais de suas respectivas provas. No caso do maratonista, essa prática corresponde a um exercício aeróbio intenso e de longa duração, em que o atleta já percorreu boa parte da prova e está administrando bem o seu ritmo. Como se encontra, então, a produção de energia pelo seu organismo nesse momento? Como sua demanda energética é prolongada e intensa, e não apenas imediata, sendo relativamente constante, podemos concluir que, das 219 duas vias em funcionamento, a mais requisitada e enfatizada é a aeróbia. Isso porque o tempo de consumo de energia é longo o suficiente para que os sistemas cardiovascular e respiratório abasteçam os músculos com a quantidade de oxigênio necessária, e o metabolismo aeróbio possa executar as mais de 33 reações para o processamento total da molécula de glicose a CO2 e água, sucessivamente ao longo da atividade. Apesar da via aeróbia ser priorizada, ocorre também a produção anaeróbia de ATP, porém em menores proporções [7,8,27,34]. Já em uma corrida de 100 m, o corredor que se encontra próximo à linha de chegada está em exercício intenso, cuja demanda por energia é máxima e imediata [36]. Nesse caso, não há tempo hábil para que ocorram as mais de 33 reações da via aeróbia e o fornecimento adequado de oxigênio pelos sistemas cardiovascular e respiratório [8,11], assim como não há tempo para regenerar o potencial redox do citoplasma. Nesse caso, a via enfatizada pelo organismo será a anaeróbia de emergência primária, uma vez que sua menor complexidade e independência do aporte adequado de oxigênio permitem uma produção de ATP e uma regeneração do potencial redox do citoplasma mais rápidas. A pequena quantidade de moléculas de ATP produzida é compensada pela elevada quantidade de moléculas de glicose processadas provenientes, principalmente, da reserva local de glicogênio muscular [7,30,34]. Finalmente, como ocorre a disponibilidade de energia livre para esses dois atletas nos segundos iniciais de suas provas? Já podemos concluir que é necessária uma via cuja produção de ATP seja imediata, ou seja, que produza energia em questão de poucos segundos. A via aeróbia seria inviável, assim como a anaeróbia de emergência primária, em virtude de suas complexidades e tempos de produção de ATP [27]. Portanto, enquanto essas duas vias são disparadas e estão em processamento, o ATP utilizado será aquele ressintetizado pela via anaeróbia de gatilho, cuja pequena complexidade de apenas um acoplamento possibilita a rápida disponibilidade de novas moléculas de ATP nos locais de consumo, mantendo a relação [ATP]/[ADP][Pi] praticamente constante [8,11]. Esse processo de rápida regeneração do ATP pela via de gatilho corresponde ao tamponamento temporal de energia. A via de gatilho, embora seja requisitada nos momentos iniciais dos exercícios – principalmente naqueles de alta intensidade – não pode ser utilizada além de alguns segundos, devido à rápida depleção de PCr nas células [7,11,34]. Em geral, apesar de todas as vias serem requisitadas durante o exercício, o organismo sempre prioriza aquela mais adequada à demanda energética em função da intensidade e do volume de trabalho realizado [7,11,36]. Conclusão Assim, podemos afirmar que uma célula – e, conseqüentemente, um organismo – mantêm-se vivos enquanto tiverem 220 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 capacidade de capturar energia do meio ambiente, como também de transferir, armazenar e utilizar essa energia, na forma de energia livre, para a realização dos diversos trabalhos celulares. Entender os mecanismos celulares que o organismo lança mão para sintetizar ATP, assim como relacionar essa síntese ao exercício físico, exige um conhecimento de Bioquímica integrado aos princípios da Termodinâmica aplicados à Biologia, os quais regem a transferência e a transformação da energia no organismo. 17. 18. 19. 20. Referências 1. Morowitz HJ. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 221 Revisão A importância do teste de caminhada de seis minutos na avaliação da capacidade funcional de idosos hipertensos The importance of six minute walk test in the evaluation of the functional capacity of aged hypertensive patients Nina Araújo de Oliveira, Ft.*, Thaís Miranda Costa, Ft.*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, M.Sc.** *Faculdade de Pindamonhangaba – FAPI, Pindamonhangaba/SP, **Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP/EPM), Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica – Universidade Estadual Paulista (UNESP) Guaratinguetá/SP, Professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Pindamonhangaba – FAPI, Pindamonhangaba/SP Resumo Abstract A grande incidência de hipertensão em idosos se dá por alterações anatômicas e fisiológicas que ocorrem principalmente no sistema cardiovascular durante o envelhecimento. Uma das formas de diminuir os níveis de pressão arterial em indivíduos hipertensos é obtida por meio de mudanças nos hábitos de vida, uso de medicamentos e realização de exercícios físicos, sendo extremamente importante a inclusão de uma avaliação dinâmica da capacidade funcional dos idosos, hipertensos ou não, anteriormente ao início da realização de um programa de exercícios. O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é considerado um teste de exercício submáximo, simples de ser realizado, de baixo custo e bem tolerado pelos pacientes, mesmo por aqueles com idades mais avançadas. Concluise que o TC6M impõe uma sobrecarga cardiovascular menor, sendo considerado mais seguro para a avaliação da capacidade funcional dos idosos hipertensos. The considerable incidence of hypertension among the elderly is due to anatomic and physiological changes that mainly occur in the cardiovascular system throughout aging. Means to reduced blood pressure levels in hypertensive individuals include a change in life habits, the use of medication and physical exercise. It is also extremely important to include a dynamic assessment of functional capacity in elderly individuals (whether hypertensive or not) prior to beginning any exercise regimen. The Six-Minute Walk Test (6MWT) is considered a low-cost sub-maximum test that is easy to perform and is well tolerated by patients, even those at more advanced ages. In conclusion, the 6MWT imposes less cardiovascular load and is considered safer for the assessment of functional capacity in hypertensive elderly individuals. Key-words: aging, elderly, arterial hypertension, six-minute walk test. Palavras-chave: envelhecimento, idoso, hipertensão arterial, teste de caminhada de seis minutos. Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro, Avenida Osvaldo Aranha, 1961, 12600-000 Lorena SP, Tel: (12) 3152-8023, E-mail: [email protected] 222 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução Nas últimas décadas observou-se um crescente processo de envelhecimento populacional, sendo este um dos maiores triunfos da humanidade. Envelhecer ativamente faz com que os indivíduos participem da sociedade, descobrindo potenciais para o seu bem estar físico e mental, mantendo sua independência e autonomia [1]. A faixa etária que mais cresce em todo o mundo é o de pessoas com 60 anos ou mais. Este processo relaciona-se a uma redução nas taxas de fecundidade e da mortalidade, acarretando um aumento da longevidade graças ao controle das doenças infecto-contagiosas, da melhora nas condições de vida e aos avanços da ciência [1,2]. O aumento da longevidade implica em mudanças no perfil epidemiológico com aumento da prevalência de doenças crônicas e degenerativas na população idosa [3]. O processo de envelhecimento é resultado de perdas estruturais e funcionais que facilitam o aparecimento de doenças piorando a qualidade de vida. Dentre os aspectos negativos do envelhecimento, destaca-se o aumento da prevalência de doenças cardiovasculares (DCV), que são a principal causa de morte no Brasil e nos demais países ocidentais. Sabe-se que dentre várias DCV a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é potencialmente danosa ao sujeito idoso, independente de sexo ou raça [4]. A HAS é definida como o aumento da pressão que o sangue exerce dentro das artérias acima dos valores considerados como normais que, arbitrariamente, são representados por 140 x 90 mmHg [5]. As estimativas de prevalência da HAS são altas, atingindo 50% da população idosa e apresentamse bastante heterogêneas na dependência de fatores como idade, sexo, atividade física, níveis de estresse, histórico etílico e familiar contribuindo para deteriorar o processo de envelhecimento [6,7]. À medida que aumenta a idade cronológica das pessoas, ocorrem alterações no sistema neuromuscular atingindo a mobilidade do indivíduo, e nos sistemas cardiovascular e respiratório, com declínio da capacidade aeróbica e do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), ou seja, há transformações na capacidade funcional do idoso [7]. Esse declínio dos sistemas orgânicos associados à hipertensão arterial pode ou não afetar a diminuição da capacidade física do idoso, causando sua dependência e perda de autonomia [8]. Para que esses efeitos deletérios do envelhecimento associados às doenças crônicas degenerativas, como a HAS, diminuam são necessárias várias mudanças no estilo de vida do indivíduo, tais como a prática regular de atividade física [6]. Entretanto, antes de se adotar um programa regular de atividade física, que vise o cuidado com a saúde física e mental do idoso, é necessário que ocorra uma avaliação da sua capacidade funcional dentro das suas limitações [9,2]. Um teste que tem sido amplamente aplicado e recomendado para a avaliação da capacidade funcional em idosos de todo o mundo é o Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) [10]. Seus objetivos incluem: avaliar a capacidade aeróbica para a prática de esportes e outras atividades, como também o estado funcional do sistema cardiovascular e/ou respiratório saudável ou comprometido e ainda os programas de prevenção e reabilitação cardiorrespiratórios. O TC6M além de possuir uma boa correlação com VO2máx é facilmente aplicado, tolerado, prático e de baixo custo [9]. Este trabalho tem, portanto, como objetivo verificar a importância do teste de caminhada de seis minutos para avaliar a capacidade funcional de idosos hipertensos. Envelhecimento A grande heterogeneidade entre os idosos em todos os seus aspectos sejam os morfológicos, funcionais, psicológicos e sociais, tem apresentado diferenças entre o conceito de normalidade nesta população [2]. O que tem ocorrido de forma sustentada em toda população mundial é a longa sobrevivência. Este fato deve-se ao processo de transição demográfica que resultou na transformação de toda estrutura etária da população, pois ocorreram mudanças nos níveis de fecundidade e mortalidade, gerando um crescimento e envelhecimento da população [11]. A partir dessas mudanças e de outras, como as sociais e econômicas, transformou-se também o perfil epidemiológico da população, sendo caracterizado por modificações nos padrões de morbidade, invalidez e morte de uma população específica [12]. Esta transição epidemiológica engloba três processos de mudanças básicas: a substituição entre as primeiras causas de morte das doenças transmissíveis por doenças crônicas degenerativas ou não transmissíveis e de causas externas; o deslocamento da maior carga de morbidade e mortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos e a transformação do perfil de saúde da população, que antes sofria de processos agudos os quais eram solucionados rapidamente por cura ou óbito e que atualmente passa a ser mais susceptível aos fatores de riscos e complicações das doenças crônicas degenerativas, implicando na utilização dos serviços de saúde por várias décadas, aumentando assim a expectativa de vida [3,11]. O processo de envelhecimento é um fenômeno biológico normal na vida de todos os seres vivos, não devendo ser considerado uma doença, mas um processo dinâmico e progressivo, com características e valores próprios, no qual há modificações, dificultando a adaptação do indivíduo em seu meio [13,14]. Pode-se dizer que ninguém está livre do envelhecimento, e com a evolução de nossas vidas ocorrem transformações na aparência, a pele se enruga em conseqüência de uma desidratação e há perda de elasticidade do tecido dérmico subjacente [13]. Observa-se também um aumento da gordura corporal total, com maior acúmulo preferencialmente na região abdominal [15]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Há redução do tecido muscular e conseqüentemente perda da força, dificultando a locomoção e o equilíbrio [14], diminuição da estatura devido à compressão das vértebras, achatamento dos discos intervertebrais e mudanças motoras, tais como: anteriorização dos ombros, inclinação da cabeça para frente, acentuação da curvatura dorsal e flexão do joelho [15]. Os órgãos dos sentidos são prejudicados e o coração sofre modificações funcionais e anatômicas, facilitando a atuação dos mecanismos fisiopatológicos das doenças crônicas degenerativas [13]. Antes de representarem um risco de vida, estas doenças constituem uma ameaça à autonomia e independência do indivíduo, tendo como exemplo as limitações causadas por fraturas após queda, as amputações e cegueira por causa do diabetes e as doenças cardiovasculares como acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, doenças coronarianas e hipertensão arterial [7]. Para que o envelhecimento seja uma experiência positiva, isto é, uma vida mais longa acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança, adotou-se o termo “envelhecimento ativo” desde o final de 1990 cujo objetivo é aumentar a qualidade e a expectativa de uma vida saudável para as pessoas que estão envelhecendo [1]. Mas para envelhecer de forma ativa é necessário que além das medidas gerais de saúde se inclua a atividade física [7], sendo que para o idoso esse complemento é essencial, resultando no alcance do nível desejável de capacidade funcional para se viver independente [14]. Tanto para os adultos como pessoas na terceira idade, com ou sem patologia associada, é necessário se determinar os mecanismos que são influenciados pelo exercício, como a capacidade funcional e as funções cardiovascular e pulmonar [14]. Envelhecimento do sistema cardiovascular O músculo cardíaco fornece ao coração a capacidade de bombear uma variável quantidade de sangue. Quando há uma presença de grande quantidade sanguínea chegando ao coração, a força de contração do músculo cardíaco fica mais elevada, ocorrendo um estiramento de suas fibras e câmaras. Mas, quando apenas uma pequena quantidade chega, a força de contração é diminuída e as fibras cardíacas são pouco estiradas [16]. O coração em repouso bombeia aproximadamente 5 litros/ minuto de sangue. Este volume é chamado débito cardíaco (DC), podendo aumentar frente a exercícios ou diminuir em casos de hemorragias [17]. Para que este volume sanguíneo percorra todo o sistema circulatório é necessário que ele vença a resistência que ocorre entre as paredes vasculares e o sangue, chamada resistência vascular periférica (RVP). Essa resistência pode aumentar ou diminuir, dependendo do comprimento e diâmetro do vaso e da viscosidade sanguínea [16]. O coração alterna entre bombear sangue para as artérias (sístole ventricular) e relaxar para receber sangue das veias 223 (diástole ventricular), período durante o qual nenhum sangue entra nas artérias. Mas, o fluxo nos capilares não sofre qualquer alteração; tal fenômeno provém das propriedades das paredes arteriais [16]. As artérias são constituídas por três camadas: a túnica adventícia, a mais externa, composta de tecido conjuntivo; a túnica média que possui musculatura lisa e fibras de colágeno e elastina; e a túnica íntima revestida de tecido endotelial. Tais camadas proporcionam às artérias uma força de tensão contra a pressão exercida pelo sangue e a capacidade de se dilatarem para reterem o excesso de sangue ejetado. Esta diferença de pressão arterial produz uma pulsação que é um indicador da atividade cardíaca [18]. O consumo máximo de oxigênio ou potência aeróbia máxima (VO2máx) representa o maior valor de oxigênio consumido ao nível alveolar pelo indivíduo em um minuto, ou seja, seus valores estão diretamente relacionados com a freqüência cardíaca (FC), sendo que esta varia em torno de 60 a 80 batimentos por minuto, em indivíduos em repouso [19,17]. O coração possui um sistema de controle intrínseco, podendo funcionar sem influências nervosas, no qual a eficácia de sua ação pode ser melhorada pela participação do sistema nervoso central (SNC) através do sistema nervoso autônomo (SNA), que por sua vez, é subdivido em sistema nervoso parassimpático e simpático [20]. O sistema nervoso parassimpático produz sobre o coração o efeito de reduzir a atividade cardíaca, através da diminuição da freqüência e da força de contração cardíaca e da condução retardada dos impulsos nervosos. Isso ocorre durante os períodos de repouso, fazendo com que o coração descanse e conserve energia [16]. Porém, o sistema nervoso simpático exerce efeitos quase que opostos sobre o coração, pois aumenta a freqüência e a força de contração cardíaca e a velocidade de condução do impulso, podendo elevar sua capacidade de bombeamento em até 100%. Esta estimulação simpática ocorre quando o indivíduo necessita de um fluxo sangüíneo mais rápido pelo sistema circulatório, como durante uma atividade física ou esforço [16]. Outra importante função desse sistema é regular a vasoconstrição e a vasodilatação das artérias, e principalmente das arteríolas e veias. Isso ocorre por que normalmente essas estruturas possuem um tônus vasomotor, devido à transmissão de impulsos simpáticos que as mantêm sempre em estado moderado de constrição. Então, a regulação é feita pelo aumento ou diminuição dos impulsos simpáticos, isto é, quando há um aumento dos impulsos os vasos elevam seu grau de constrição e quando há uma diminuição desses impulsos ocorre a dilatação [20]. Além disso, as respostas reflexas do simpático e parassimpático contribuem para a estabilização e manutenção da pressão arterial sistêmica diante de diferentes situações fisiológicas, através de ajustes DC e resistência vascular periférica [20]. O processo de envelhecimento no sistema cardiovascular causa uma redução na capacidade cardíaca e uma diferença da 224 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 oxigenação arteriovenosa [14]. O coração de um idoso normal, com ou sem patologia, permanece do mesmo tamanho ou torna-se ligeiramente menor do que na meia-idade [21]. No músculo cardíaco ocorre acúmulo de gordura principalmente nos átrios e septos interventriculares, podendo ou não ocupar as paredes ventriculares. Observam-se também a substituição de células miocárdicas por tecido fibroso e o aumento da resistência vascular periférica, podendo ocasionar uma hipertrofia miocárdica concêntrica moderada, principalmente no ventrículo esquerdo, diminuindo assim sua complacência [22]. O pericárdio sofre alterações discretas, na maioria das vezes por desgastes progressivos, quando ocorre o espessamento difuso e o aparecimento do aumento da taxa de gordura epicárdica, sendo as cavidades esquerdas mais comprometidas [22]. Já na camada mais interna, as alterações encontradas são as proliferações, fragmentação e desorganização das fibras colágenas e elásticas, resultando no espessamento e opacidade endocárdica, sendo o átrio esquerdo o mais acometido [22]. A partir dos 30 anos de idade o VO2 máximo diminui aproximadamente de 5- 15% por década devido ao processo de envelhecimento e redução da capacidade cardíaca [14]. O débito cardíaco sofre uma redução de 30% a 40%, tanto no repouso como durante o esforço. A freqüência cardíaca de repouso é baixa, entretanto, durante o exercício ou outro tipo de estímulo, a FC máxima decresce progressiva e linearmente com a idade [14]. Os batimentos cardíacos em repouso diminuem de 6 a 10 batimentos por minuto, ocorrendo uma rápida elevação durante a atividade física, sendo este fato explicado pela diminuição no volume de sangue bombeado pelo coração [14]. Já os indivíduos sedentários e não condicionados, poderão exceder 100 batimentos por minuto, tendo em vista que os batimentos ectópicos ocasionais são comuns, podendo ou não indicar uma cardiopatia [17,21]. Há uma grande influência do SNA sobre o desempenho cardiovascular, visto que a eficácia dessa modulação sobre o coração, vasos e, principalmente, as arteríolas diminui com o envelhecimento, sendo que os mecanismos responsáveis por estas alterações, ainda não foram identificados [22]. Com o envelhecimento ocorre um remodelamento na parede das grandes artérias, tais como: dilatação da luz do vaso e disfunção endotelial, as quais podem ser explicadas pelo aumento da rigidez arterial, que, por conseqüência, eleva a pressão sistólica e a de pulso e o aumento da espessura da parede, principalmente da camada íntima [22]. A resistência vascular periférica é geralmente mais alta nos idosos, devido à diminuição progressiva da quantidade de elastina nas paredes arteriais e ao depósito de quantidades variáveis de cálcio e colágeno nas paredes vasculares, causando maior resistência nos vasos periféricos [23]. Para o controle da pressão arterial, o endotélio exerce uma ação essencial, pois é responsável pela liberação de inúmeras substâncias vasodilatadoras e vasoconstritoras. A disfunção do endotélio causa um desequilíbrio na liberação destas substâncias, criando uma prevalência dos vasoconstritores e contribuindo para a instalação da hipertensão arterial. Entre as várias causas de disfunção endotelial, as mais notáveis são: obesidade, dislipidemia, deficiência de estrogênio induzida por menopausa, alterações causadas pelo envelhecimento e pela própria hipertensão. Todos estes fatores são prevalentes entre os idosos [23]. Hipertensão arterial sistêmica no idoso A interação de modificações próprias do envelhecimento e as que decorrem de processos patológicos são responsáveis pela apresentação clínica de várias enfermidades que se tornam mais graves nos idosos [24]. Com aumento da idade aumenta o número de doenças crônicas, sendo a HAS um dos mais importantes fatores de risco cardiovasculares, pois atua acelerando as alterações próprias do envelhecimento [21]. Estabeleceu-se através de vários estudos que para ser considerado hipertenso o idoso deve apresentar pressão arterial sistólica igual a 160 mmHg e pressão arterial diastólica igual a 90 mmHg. Isso pode ser explicado porque há uma tendência do aumento da pressão arterial com a idade [24]. Nas últimas décadas, apesar do progresso de sua detecção e tratamento, não ocorreu redução na sua prevalência, sendo que nos idosos ela é superior a 50% e nas mulheres acima de 75 anos essa prevalência pode chegar a 80% [25]. Evidências epidemiológicas demonstram que o idoso hipertenso apresenta maior risco cardiovascular do que o normotenso de idade semelhante, estando diretamente relacionado com o aumento da Pressão Arterial Sistólica (PAS) ou da Pressão Arterial Diastólica (PAD). Com o avançar da idade, este risco é predominantemente influenciado pela elevação da PAS definida como hipertensão arterial sistólica isolada (HASI). Este evento é tipicamente apresentado por idosos, sendo mais prevalente entre 65 e 89 anos [26,24]. O sistema cardiovascular com o passar dos anos sofre uma série de alterações fisiológicas tornando o indivíduo mais propenso ao desenvolvimento da HAS e quando esta se instala, ocorre diminuição da sobrevida e piora na qualidade de vida. Desse modo, a HAS no idoso se caracteriza por apresentar aumento da resistência vascular periférica com decréscimo do débito cardíaco (redução da freqüência cardíaca e do volume sistólico) e volume intravascular, hipertrofia cardíaca e diminuição do fluxo sanguíneo renal [26,27]. O processo de envelhecimento associado a várias doenças, especialmente a HAS, pode ser amenizado pela prática de atividade física, que, por sua vez, é importante na prevenção do declínio funcional e no aumento da sobrevivência, trazendo mais benefícios à saúde cardiovascular [13,4]. Porém, quando esta atividade é realizada de forma inadequada, excedendo a capacidade do praticante, pode trazer riscos. Desta forma, a avaliação da capacidade funcional é necessária para que se prescrevam exercícios para pacientes hipertensos, dentre outros, de forma adequada. Uma das várias alternativas terapêuticas existentes para avaliação desta capacidade é o teste de caminhada de seis minutos [28,29]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Teste de caminhada de seis minutos Definição O Teste da Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste de esforço submáximo que se assemelha às atividades diárias do indivíduo e permite uma avaliação objetiva da sua condição física. Desta forma, a avaliação da capacidade funcional é necessária para que sejam prescritos exercícios aos pacientes cardiopatas de forma adequada e também para avaliar a eficácia da terapêutica utilizada [29]. Em 1960, Balke desenvolveu um teste simples para avaliar a capacidade funcional mediante a mensuração da distância caminhada durante um período definido de tempo. Um teste de doze minutos, então, foi desenvolvido para avaliar o nível de aptidão física de indivíduos saudáveis. Em 1976, McGavin, adaptou este teste para avaliar pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) [30,31]. Posteriormente, Butland et al. [32], em 1982, estudaram a possibilidade de diminuir o tempo desse teste para seis e dois minutos, com o objetivo de que a performance dos pacientes com doenças das vias respiratórias fosse menos exaustiva. Entretanto, o teste de caminhada de seis minutos apresentou melhor correlação com o teste de doze minutos. Desde então, o TC6M vem sendo amplamente utilizado para avaliar a efetividade de diferentes modalidades de tratamento nas áreas clínica e cirúrgica além da avaliação da capacidade funcional [33,34]. A capacidade funcional pode ser obtida através da Classificação da New York Heart Association (NYHA) pelo teste de esforço máximo e teste de esforço submáximo [29]. A classificação da NYHA avalia o grau dos sintomas desencadeados por atividades diárias, porém devido à subjetividade desses sintomas e por seu valor ser limitado, foi introduzido o teste de esforço [29]. O teste de esforço máximo, com medida do VO2máx tornou-se a avaliação mais objetiva e reprodutível, pois necessita de monitorização eletrocardiográfica e da saturação de O2. Porém, devido ao seu alto custo e por não representar a atividade diária do paciente e ainda necessitar de uma equipe especializada e treinada para sua realização, o mesmo não é muito acessível [35,36]. Aproximando-se mais das atividades normais do paciente, o teste de esforço submáximo, representado pelo TC6M, tem sido mais utilizado, possibilitando o paciente determinar o ritmo da sua caminhada, tornando-se uma vantagem aos mais limitados fisicamente e que não tolerariam o teste de esforço máximo [29]. Além de ser de fácil execução, é seguro e de baixo custo, necessitando apenas da monitorização da Freqüência Cardíaca (FC), Freqüência Respiratória (FR) e Pressão Arterial (PA) [37]. O teste de caminhada de seis minutos tem como principal objetivo avaliar, através das respostas do paciente, a sua capacidade aeróbica, possibilitando identificar o estado 225 funcional de vários sistemas, como o cardiovascular e o respiratório, indicando um prognóstico de morbidade e mortalidade, proporcionando assim a criação de intervenções médicas e terapêuticas de prevenção e reabilitação do paciente [38,31]. Indicações e contra-indicações O teste de caminhada é útil na determinação da capacidade funcional de pacientes saudáveis ou que apresentam graus de debilidade moderada ou grave, desde crianças até idosos [31]. Outras importantes indicações são as medidas dos resultados encontrados antes e depois do tratamento de cardiopatias ou pneumopatias, das evoluções pré e pós-operatórias e identificação de prognósticos de hospitalização e óbito, segundo ilustra a Tabela I [36]. Tabela I - Indicações para a realização do teste de caminhada de seis minutos. Comparações Pré e Pós-tratamento Transplante ou ressecção pulmonar Cirurgia para redução do volume pulmonar Reabilitação pulmonar e cardíaca Hipertensão pulmonar Terapia medicamentosa para DPOC e cardiopatias Insuficiência cardíaca Medida da Capacidade Funcional DPOC Fibrose cística Insuficiência cardíaca Doença vascular periférica Pacientes idosos Diagnosticar hospitalização e Óbito DPOC Insuficiência cardíaca Hipertensão pulmonar Estudos demonstram que esse teste tem sido também empregado em outras diversas disfunções, como doença de Parkinson, diabetes, fibromialgia, acidente vascular encefálico, insuficiência renal crônica, doença vascular periférica oclusiva, transplante de fígado, artroscopia do joelho, artrite e lombalgia crônica, avaliando desse modo, a mobilidade funcional [10]. As contra-indicações do TC6M incluem história de angina instável, insuficiência congestiva aguda, estenose aórtica grave, paciente com menos de cinco dias após infarto agudo do miocárdio ou pós-cirurgia de enxerto coronariano, arritmias não controladas antes do exercício, tais como fibrilação atrial, HAS em repouso (PAS = 180 mmHg e PAD = 100 mmHg), hipotensão (PAS = 80 mmHg e PAD = 50 mmHg) e taquicardia (> 120 bpm) [31,36]. 226 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Execução O TC6M é um exame limitado por tempo e pode ser realizado a qualquer hora do dia [39]. O corredor mais utilizado para a sua realização deve apresentar uma temperatura confortável, podendo ser em um ambiente fechado ou ao ar livre. Seu piso deve ser nivelado em toda sua extensão, com superfície resistente, e que raramente haja fluxo de pessoas transitando naquele local. Geralmente utiliza-se uma esteira ou corredor de 30 metros onde o momento de realizar uma curva deve ser marcado por um cone, e a linha de partida deve ser demarcada por uma fita colorida no chão. Alguns estudos demonstram que o TC6M pode também ser executado em corredores de 20 ou 50 metros, sendo pouco viável a utilização de corredores menores, pois podem alterar o resultado do teste [31]. Durante a realização do teste o paciente deve usar roupas confortáveis, calçados apropriados, não deve ter realizado exercício físico rigoroso, nem aquecimento duas horas antes do início do teste e ter realizado previamente uma alimentação leve [36]. Antes do início da caminhada o paciente deve sentar-se confortavelmente numa cadeira colocada na posição inicial, por pelo menos 10 minutos, enquanto o examinador avalia os sinais vitais (PA, FC, FR, saturação de O2) [31,36,40]. O paciente é posicionado no corredor, devendo andar em ritmo máximo tolerável, porém sem correr durante seis minutos. Pode realizar quantas pausas julgar necessárias, no caso de fadiga extrema ou outros sintomas limitantes como dor torácica, dispnéia, palidez, câimbras nas pernas, sudorese e claudicação, retornando à caminhada logo que se sinta apto, sem falar com as pessoas ao seu redor até chegar aos cones, onde realizará a volta rapidamente em torno deles, retomando a caminhada [31]. O TC6M é dependente de motivação, aprendizado e esforço, estando o encorajamento verbal associado a um aumento da distância percorrida. Porém, a padronização do TC6M com acompanhamento não utiliza apenas o encorajamento, mas associa a presença do fisioterapeuta ao lado do paciente, impondo a manutenção do ritmo, que reflete em maior distância alcançada, assim como todas as variáveis avaliadas, quando comparadas ao TC6M sem acompanhamento [31,10]. As variáveis medidas pelo TC6M são as objetivas e as subjetivas. A objetiva é a distância da caminhada total e as subjetivas podem incluir dispnéia, fadiga e nível de esforço para a realização das atividades de vida diária, medidas pela escala de Borg modificada, conforme mostra a Tabela II [36]. O nível da distância de caminhada prevista para cada teste realizado é determinado segundo as equações descritas por Enrigth e Sherrill [40]: homens - distância TC6M (m) = (7,57 x altura cm) – (5,02 x idade) – (1,76 x peso kg) – 309 m, mulheres - distância TC6M (m) = (2,11 x altura cm) – (2,29 x peso kg) – (5,78 x idade) + 667 m. Tabela II - Escala de Borg Modificada Escala de Borg Modificada 0 nenhum 0,5 muito, muito fraco (apenas observável) 1 muito fraco 2 fraco 3 moderado 4 qualquer coisa forte 5 forte (pesado) 6 7 muito forte 8 9 10 muito, muito forte (máximo) Os fatores como sexo, idade, peso, altura, IMC, presença de patologias músculo esqueléticas ou outras patologias limitantes e o encorajamento são variáveis independentes que, quando associadas, podem influenciar o resultado do teste [41]. A partir do cálculo da distância percorrida através dessas equações, obtêm-se, então, os níveis de caminhada: Nível 1 < 300 m; Nivel 2, entre 300 e 375 m; Nível 3, entre 376 e 450 m; Nível 4 > 450 m. Estudos comprovam que a relação do nível da distância percorrida no primeiro teste não apresenta boa reprodutibilidade quando comparada ao segundo teste, em que ocorre aumento da velocidade da caminhada, melhora do nível da distância percorrida e da coordenação [31]. Além de avaliar as condições físicas do paciente, o TC6M também avalia o consumo máximo de O2 (VO2 máximo) durante sua realização, que é calculado pela fórmula VO2máx = 0,03 x distância (m) + 3,98. Posteriormente, o VO2 é relacionado com a distância alcançada durante o teste e obtém-se o consumo de O2 durante o esforço e a capacidade funcional do indivíduo. Portanto, as variáveis VO2máx < 10 ml/kg/min identifica paciente de alto risco, VO2máx > 18 ml/kg/min, paciente de baixo risco e valores entre 10 e 18 ml/kg/min definem paciente de médio risco [42]. Método Trata-se de um estudo de revisão de literatura, no qual foram utilizados artigos em português e inglês de revistas indexadas nos bancos de dados Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, FEG – UNESP, nas bases de dados Medline, Scielo e Lilacs, publicados entre os anos de 1998 a 2008 além de livros e revistas do acervo da biblioteca da Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI) e acervo pessoal. As palavras-chave utilizadas para busca dos artigos foram: envelhecimento, idoso, hipertensão arterial, teste de Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 caminhada de seis minutos, aging, elderly, hypertension, six minute walk test. Discussão A pessoa idosa apresenta uma capacidade física semelhante à das pessoas jovens ativas. Isto significa que alguns processos fisiológicos que diminuem com a idade, como a capacidade aeróbica máxima, podem ser modificados pelo exercício e pelo condicionamento físico, podendo melhorar a eficiência cardíaca e a função pulmonar; ou seja, a prática de atividade física contribui com respostas positivas para um envelhecimento saudável quando realizada regularmente. Por isso é um importante recurso para minimizar a degeneração provocada pela idade e possibilita ao idoso manter um estilo de vida melhor [36]. Estudos indicam que um programa de atividade física para idosos é essencial, a fim de que se alcance um nível desejado de capacidade aeróbica para se viver funcionalmente independente, sendo de extrema importância a inclusão de uma avaliação dinâmica da capacidade funcional dos idosos, hipertensos ou não, através de um teste de esforço submáximo. Desse modo, o TC6M possibilita uma prescrição fisioterapêutica apropriada de exercícios, permite a análise de outras terapêuticas utilizadas e identifica o paciente de alto risco [14]. No estudo de Trooster et al. [30], o teste de caminhada foi realizado com indivíduos saudáveis entre 50 e 80 anos e foi observado que quanto maior a idade, menor é a distância percorrida, o que concorda com o estudo de Pires et al. [9] que encontrou diferenças no grupo dos adultos quando comparados aos idosos. Isto pode ser explicado pelo fato de o efeito do aprendizado ter sido maior na faixa etária mais jovem, pela melhor tolerância ao exercício do mesmo grupo ou devido, ainda, ao intervalo pequeno de descanso entre os testes. Para Enrigth e Sherril [41] essa diferença da distância percorrida pode ser explicada pela diminuição da força muscular global e da função pulmonar por ação fisiológica do processo de envelhecimento, ressaltando que o TC6M torna-se um importante instrumento de avaliação desta população. Valenti et al. [43] avaliaram a correlação da distância percorrida com a idade, altura, peso e índice de massa corporal (IMC) através do teste de caminhada de seis minutos em indivíduos do gênero feminino saudáveis entre 45 a 58 anos de idade. Eles verificaram que não houve correlação significativa entre essas variáveis, ou seja, o teste de caminhada não foi influenciado por elas, o que contradiz os estudos de Enrigth et al. [36], o qual relatou que o teste de caminhada de seis minutos pode ser influenciado por vários fatores como baixa estatura, sexo feminino, idade avançada, obesidade, doenças músculo esqueléticas e desmotivação. Vários estudos têm demonstrado que a curta distância percorrida tende a aumentar com a administração repetida do teste de caminhada de seis minutos, podendo ser explicado pelo efeito de familiarização com o teste, ou seja, a aprendiza- 227 gem [44]. Por outro lado, Rodrigues et al. [33] sugerem que a magnitude do efeito de aprendizagem é bastante variável de estudo para estudo. Kervio et al. [45] aplicaram cinco TC6M em diferentes horários e dias, em indivíduos com idade entre 60 e 70 anos e observaram uma menor distância percorrida nos dois primeiros testes, considerando, então, necessário executar pelo menos dois testes para o aprendizado do mesmo. Já Trooster et al. [30] usaram um intervalo de duas horas e meia entre os testes e observaram uma maior distância no segundo teste. Wu et al. [44] observaram que a partir da realização do terceiro teste de caminhada a distância percorrida tende a um platô, havendo diferença entre os testes realizados posteriormente, sugerindo a aplicação deste protocolo antes de determinar a capacidade do exercício de um indivíduo, o que contradiz com as postulações do American Thoracic Society [31] no qual é relatado que nem sempre é necessária a realização de um segundo teste. Pires et al. [9] confirmaram as medidas do ATS e explicaram que essas contradições entre autores são devido ao uso de protocolos diferentes, tamanhos variados de corredores e realização do teste com acompanhamento e incentivo ou com nenhuma destas duas condições. Neste mesmo estudo, os autores encontraram diferenças no efeito do aprendizado no grupo de adultos quando comparados aos idosos, demonstrando a sensibilidade que o teste de caminhada de seis minutos tem em avaliar o desempenho e a capacidade funcional em diferentes indivíduos. Guyatt et al. apud Araújo et al. [10] relataram que outra maneira de se aumentar a distância percorrida pode ser obtida por meio do encorajamento verbal. Para Araújo et al. [10] esta proposta é confirmada, pois o TC6M em indivíduos idosos com acompanhamento de um fisioterapeuta ao lado, impondo a manutenção do ritmo, refletiu em uma maior distância percorrida, além de modificações em outras variáveis analisadas como as frequências cardíaca e respiratória, diferente do TC6M sem acompanhamento, o que reforça os estudos de Nery et al. [46], os quais observaram que a melhora do desempenho dos pacientes durante o TC6M deve-se a um simples encorajamento. Segundo Araújo et al. [10], essa forma de padronização do TC6M com acompanhamento estimula um maior desempenho cardiovascular, pois neste estudo verificou-se que a distância percorrida pelos idosos com cardiopatias evidentes aumentou em 15% e naqueles idosos sem cardiopatias esse desempenho aumentou 12%. Peeters e Mets apud Araújo et al. [10] demonstraram que 22% dos idosos com cardiopatia foram incapazes de concluir o teste ergométrico, diferentemente do teste de caminhada de seis minutos que todos foram capazes de realizar. Eles explicam que este fato deve-se à velocidade da esteira e conseqüentemente à sensação de queda. No estudo de Araújo et al. [10] todos os idosos foram capazes de realizar o TC6M, apresentando boa tolerância ao 228 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 mesmo, não havendo necessidade de pausas ou interrupções devido à presença de sintomas. Já quando submetidos ao teste cardiopulmonar, dois pacientes idosos com cardiopatias evidentes interromperam o teste devido a alterações eletrocardiográficas. No estudo de Oliveira Júnior et al. apud Carreira et al. [47], o teste de caminhada de seis minutos foi empregado para avaliar o efeito dos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) no tratamento de portadores de cardiopatias. Esse estudo mostrou que os inibidores da ECA aumentam o desempenho dos cardiopatas e que este aumento, avaliado pela distância percorrida, ocorre principalmente em um mês, podendo perdurar até pelo menos três meses. Pedroso et al. [48] realizaram o teste de caminhada de seis minutos como avaliação da capacidade aeróbica de mulheres hipertensas de 28 a 61 anos que se submeteram ao treinamento físico resistido durante oito semanas. Concluiu-se que não houve diferença significativa na distância percorrida, sugerindo que o treinamento de força não proporcionou estímulos suficientes para a melhora da capacidade cardiorrespiratória, estando os valores da pressão arterial, freqüência cardíaca e respiratória dentro dos limites da normalidade antes e depois do teste de esforço. Macanhan et al. [49] também confirmaram este achado através do seu estudo, em que foram avaliados idosos diabéticos e hipertensos que realizavam alguma atividade física regular como, por exemplo, a caminhada comparados com idosos não diabéticos e hipertensos sedentários. Vitorino [50] identificou que idosos hipertensos que realizaram o TC6M depois de uma intervenção fisioterapêutica constituída por duas sessões semanais que objetivava o alívio da dor, obtiveram um percurso máximo de 412 metros, diferente do resultado encontrado antes do tratamento que foi de 397 metros. Reboredo et al. [51] relataram que há vários tipos de testes que podem ser utilizados na avaliação da capacidade funcional, a qual é determinada pelo Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx). Cahalin et al. apud Rocha et al. [42] evidenciaram uma forte correlação entre a distância percorrida pelo TC6M com o VO2máx, no qual a distância percorrida durante o teste prediz o pico de VO2 e uma sobrevida a curto prazo. Nery et al. [46] verificaram que os testes de avaliação das capacidades física e funcional são importantes marcadores de prognósticos e que auxiliam na tomada de medidas terapêuticas mais adequadas, sendo o TC6M um procedimento cada vez mais utilizado. Conclusão No presente trabalho foi concluído que o Teste de Caminhada de Seis Minutos apresenta-se como uma opção de baixo custo e de boa tolerância, além de representar melhor a evolução diária do paciente, uma vez que se assemelha com as atividades diárias por ele realizadas. É um procedimento importante a ser aplicado nos pacientes mais limitados fisicamente e para aqueles incapazes de tolerar um teste máximo. Por se tratar de um teste submáximo, ele impõe uma sobrecarga cardiovascular menor, sendo sua aplicação mais segura para a avaliação da capacidade funcional de idosos hipertensos permitindo, desse modo, a prescrição de exercícios de forma adequada a este perfil de pacientes. Referências 1. World Health Organization. Envelhecimento ativo: uma política de saúde; 2005. 2. Santana RR, Strottmann IB. Os fatores de risco da hipertensão arterial sistêmica em indivíduos idosos (revisão de literatura). XI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação. São José dos Campos: - Universidade do Vale do Paraíba; 2005. 3. Vieira VA, Castiel LD. Hipertensão arterial em idosos atendidos em grupos de aconselhamento. Comentários a partir de um estudo descritivo preliminar. Psicol Ciênc Prof 2003;23(2):76-83. 4. 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The discovery of myostatin, a protein that limits the development of skeletal muscle, is of great importance to minimizing the loss of lean muscle mass in individuals who have diseases which dystrophy and muscular atrophy are very large. Studies are trying to figure out how to inhibit this protein and possible side effects caused by the same. This review aims to evaluate some of the studies and explain the most important points to be studied on myostatin. Key-words: myostatin, protein, pathologies, skeletal muscle. Palavras-chave: miostatina, proteína, patologias, músculo esquelético. Endereço para correspondência: Fábio Eduardo de Almeida, Loteamento Bela Vista, Muzambo, Caixa Postal 36, 37145-000 Alterosa MG, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 Introdução Após sua descoberta inicial em 1997 por Lee e McPherron [1], a miostatina tem levado vários pesquisadores a realizarem trabalhos para descobrir seus mecanismos de funcionamento e sua possível inibição para uso contra patologias em que a perda de massa muscular seja avassaladora. Há alguns anos, foi observado o primeiro ser humano com uma mutação genética em seus níveis de miostatina, crescendo assim uma criança extremamente forte e com grande volume muscular [2]. Estudos com animais vêm sendo realizados com freqüência, porém, falta saber se a inibição da miostatina em seres humanos não causa nenhum efeito colateral considerado deletério. Mecanismo de funcionamento A miostatina é uma proteína pertencente à família das supercitocinas dos TGF-. Seu papel, além de regular a proliferação de mioblastos durante o período embrionário e a síntese de proteína no músculo esquelético após o período embrionário, é o de regular negativamente a massa muscular através de sua interação com o receptor ActIIb por sua junção ativada com um propeptídeo [3-6]. Tem uma maior expressão em músculo esquelético adulto e em desenvolvimento [7]. A miostatina, como outras proteínas da família TGF-, é produzida e secretada por uma proteína precursora através do processo proteolítico. A maioria da miostatina circulante em soro é associada ao seu propeptídeo formando um pequeno latente complexo [8]. Ela regula a massa muscular, agindo diretamente nas células musculares, além de exercer efeitos severos sobre a inibição da diferenciação de mioblastos dentro dos miotubos e a regulação da sobrevivência das células [9]. Existem várias outras proteínas vinculadas a miostatina, entre elas a folistatina, além de um fator de diferenciação do crescimento associado a proteínas séricas (GASP-1) [10]. A via de miostatina, segundo Tobin e Celeste [11], regula a massa muscular em inúmeros animais, desde peixes até seres humanos. Pequenas expressões de miostatina foram encontradas nas células de Purkinje, nas glândulas mamárias, nos cardiomiócitos e no tecido adiposo [9]. Segundo Wolfman et al. [12], a miostatina circula pelo sangue juntamente de outras proteínas incluindo seu propeptídeo que mantém o terminal-C dímero em uma latente de estado inativo. Esta latente forma de miostatina pode ser ativada in vitro através de tratamento com ácido, porém, as maneiras de se ativar a miostatina de maneira in vivo são desconhecidas. In vitro, a miostatina se torna inútil ao seu propeptídeo após tratamento proteólico, produzindo um complexo biologicamente inativo que é impedido de se ligar as células responsivas [10]. Para produzir um sinal in vivo, é necessário ativar a pequena latente complexa de miostatina através da remoção da 231 fração de propeptídeo. No caso dos TGF-, em que as formas são pequenas análogas latentes complexas, a ativação pode ocorrer através de métodos fisioquímicos e proteolíticos [8]. De acordo com Bogdanovich et al. [13], o aumento da massa muscular devido a mutações na miostatina foram reportadas em bovinos, ratos e seres humanos. Segundo Schuelke [2], o único caso de ser humano com mutação na miostatina foi reportado em 2004. Estudos com animais Em estudos realizados por Zhu et al. [14] com ratos, o grupo em que a miostatina foi bloqueada por completo mostrou aumento no volume das fibras musculares. Não foi observado aumento significativo no número de fibras musculares, sugerindo que o efeito hipertrófico da miostatina é independente de seu efeito hiperplásico. Portanto, a função da miostatina está envolvida mais com a hipertrofia do que com a hiperplasia. Outro estudo com ratos realizado por Bogdanovich et al. [15] mostra que após três meses de injeções de anticorpos bloqueadores de miostatina, os ratos incrementaram a massa muscular, o peso corporal, o tamanho dos músculos e a força muscular absoluta além de uma diminuição significativa na degeneração muscular e as concentrações de creatina kinase. Após o bloqueio da ação da miostatina em roedores, pôde ser observado um grande incremento na massa muscular através da desinibição das células musculares progenitoras não havendo quaisquer efeitos colaterais deletérios [16]. Em estudo realizado por Lin et al. [17] também com ratos, após o bloqueio da ação da miostatina, foi observado uma diminuição no tecido adiposo e aumento muscular significativamente grande, sendo que, este aumento muscular está ligado a redução na formação de gordura e, conseqüentemente, uma queda na secreção de leptina. Estudo conduzido por Tay et al. [18] com bovinos, em que a miostatina teve perda de sua função, demonstrou que os bovinos apresentaram um quadro de hiperplasia do músculo esquelético mais conhecido como “double muscling”. Girgenrath et al. [19] fizeram estudos com roedores, anulando a ação da miostatina, sendo que os dados constatados foram de que a quantidade de fibras do tipo IIx de contração rápida, podendo ser chamada também de fibra branca, era maior do que as fibras do tipo I de contração lenta. Essas diferenças na distribuição de fibras musculares foram acompanhadas pelas diferenças na expressão da miosina de cadeia pesada na sua isoforma. Durante estudo realizado por Taylor et al. [20] foi observado que devido à massa muscular representar o balanço entre a replicação de células musculares, a síntese protéica, a quebra de proteína muscular e a morte das células foi considerado a possibilidade de a miostatina inibir o crescimento muscular afetando um ou mais desses processos. 232 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009 A relação com patologias Conclusão De acordo com Ma et al. [21], o incremento na concentração de miostatina está associada na perda de massa muscular em homens com o vírus da AIDS. O aumento da miostatina foi reportado também em animais experimentais que foram expostos a um vôo espacial. Wehling et al. [4] também observaram uma grande perda de massa muscular em homens HIV positivos ligados a miostatina. O aumento na expressão de miostatina foi reportado em modelos severos de atrofia muscular como imobilizações, microgravidade e queimaduras em que os glicocorticóides desempenham uma função importante [22]. A sua inibição ocorre em uma variedade de abordagens terapêuticas que podem incrementar a massa muscular em vários tipos de animais que possuem patologias humanas, incluindo distrofia muscular [11]. A miostatina mostrou ter grande importância na limitação do crescimento muscular, porém, suas funções em outros aspectos corporais como o coração, ainda está muito obscura e necessita ser mais estudada. Ainda faltam muitas respostas em relação ao ser humano quanto ao bloqueio e ao mecanismo de funcionamento da miostatina, deve-se fazer uma análise profunda para saber até onde é seguro bloqueá-la e por que fazê-lo. Outro fator preocupante é o uso de substâncias bloqueadoras de miostatina como droga para melhora no desempenho e na estética de indivíduos cujo objetivo não seja o de auxiliar no combate de patologias. Portanto, é de extrema importância a realização de mais estudos seguros e confiáveis para que seja feito o uso em seres humanos. Mutações com seres humanos Em 2004, uma mulher saudável, ex-atleta, deu a luz uma criança após uma gravidez normal. A criança tinha uma aparência extremamente forte, especialmente em suas coxas e nas partes superiores dos braços. Foram realizados vários exames para análise de tal acontecimento e, após as análises, foi constatada uma inibição na miostatina, sugerindo assim, fatores iguais, tanto para ratos, bovinos e seres humanos [9-2]. A mutação com o ser humano mostrou grande importância devido ao sucesso na anulação dos efeitos da miostatina, sugerindo efeitos benéficos em quadros de patologia em seres humanos sem efeitos colaterais deletérios, porém, ainda não se sabe, se a função da miostatina está apenas na limitação do crescimento do músculo esquelético, ou se também está envolvida com o músculo cardíaco, os adipócitos e o cérebro. Portanto, as intervenções terapêuticas sobre as funções da miostatina podem acarretar efeitos colaterais, nestes, ou em outros aspectos [1,6]. A manipulação da miostatina pode ser benéfica para aplicações na agricultura, nas doenças musculares como atrofia ou distrofia muscular entre outras, porém, outro fator preocupante é o fato de ser utilizada como droga para aumento do desempenho esportivo, já que existe um grande número de modalidades esportivas em que o volume muscular é um fator crucial, criando, assim, uma nova classe de doping [3,6,23]. A inibição da miostatina A inibição da atividade da miostatina é um promissor método terapêutico para restaurar a massa muscular e a força. Potentes inibidores de miostatina incluindo a folistatina, a miostatina propeptídeo, os anticorpos de miostatina, compostos químicos e receptores solúveis podem ser benéficos para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento de doenças musculares [24, 25]. Referências 1. Rodgers BD, Garikipati DK. Clinical, agricultural, and evolutionary biology of myostatin: A comparative review. Endocrine Reviews 2008;29:513-34 2. Schuelke M, Wagner KR, Stolz LE, Hübner C, Riebel T, Kömen W et al. Myostatin mutation associated with gross muscle hypertrophy in a child. N Engl J Med 2004;350: 2682-8. 3. Yamada AK. Hipertrofia do músculo esquelético: aspectos fisiológicos, celulares e moleculares. 6ª Mostra Acadêmica UNIMEP [online]. [citado 2009 Jun 13]. Disponível em URL: http://www.unimep.br 4. Wehling M, Cai B, Tidball JG. 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A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. 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Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas.
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