Como ivens dias branco transformou uma pequena
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Como ivens dias branco transformou uma pequena
Distribuição 249 A revista de negócios dos atacadistas distribuidores Capa: perfil de sucesso: m. dias branco | cash & Carry | especial verão outubro 2013 Edição 249 | outubro 2013 | ano 21 | R$ 13,90 | www.revistadistribuicao.com.br pesquisa Nielsen aponta aumento do número de compradores finais que passaram a frequentar as lojas de cash & carry especial verão Saiba como aproveitar a temporada para capitalizar o seu negócio e lucrar ainda mais Exclusivo O homem da massa Capa DB249.indd 1 Como Ivens Dias Branco transformou uma pequena padaria industrial no Ceará em um dos maiores conglomerados empresariais do País: a M. Dias Branco 07.10.13 16:35:24 perfil de sucesso indústria Farinha, água e visão Os ingredientes que Ivens Dias Branco colocou na M. Dias Branco, empresa que completa 60 anos e lidera o mercado nacional de massas e de biscoitos, e que o tornaram a décima pessoa mais rica do País “T oda unanimidade é burra”, já dizia o escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues. Porém, é a própria lógica dessa afirmação que a impede de se aplicar indiscriminadamente a todos os casos. Por exemplo, uma exceção está no unânime sentimento de alta estima e consideração que envolve a figura do empresário Francisco Ivens de Sá Dias Branco. Querido, amado e destacado por colaboradores, funcionários e pessoas de todas as classes sociais e esferas dos mundos empresarial e governamental como uma personalidade justa e um espírito altamente empreendedor, é porém com recato e discreção que ele se apresenta diante dos holofotes da mídia. Mas essa lição de humildade, combinada com seu jeito espontâneo de se expressar, e com o clima de empatia no qual envolve seu interlocutor, contribui para engrandecer ainda mais seu perfil profissio- 40 nal. Foram, afinal, o enorme poder de realização e a inabalável força de vontade desse cearense da cidade de Cedro, interior do Estado, que o levaram a construir, graças a uma extremamente bem-sucedida atividade comercial, que começou na pequena padaria fundada por seu pai, Manuel Dias Branco, um dos maiores conglomerados industriais do País. De fato, a atual atividade produtiva da empresa de Francisco responde por uma contribuição significativa para o desenvolvimento da indústria de alimentos, a geração de empregos e de renda e a expansão econômica do Ceará, do Nordeste e do Brasil. Com um faturamento que atingiu 3,54 bilhões de reais em 2012, ao passo que em 2011 esse faturamento foi de 2,91 bilhões de reais, crescimento de 21,8%, a M. Dias Branco é a quarta maior indústria do mundo na produção de massas e a sexta maior em biscoitos. >> kaiser Por Cristiano Eloi www.revistadistribuicao.com.br out 2013 perfil m dias.indd 40 08.10.13 13:33:49 Ivens Dias Branco, em sua sala na sede da empresa, em Eusébio/CE: simplicidade e objetividade no dia a dia dos negócios out 2013 perfil m dias.indd 41 www.revistadistribuicao.com.br 41 07.10.13 17:11:35 perfil de sucesso indústria Linha do tempo Para se ter uma ideia de sua dimensão em âmbito nacional, basta dizer que a empresa detém 27,3% e 27% de participação em volume no mercado nacional de massas alimentícias e de biscoitos, respectivamente, de acordo com dados fornecidos pela Nielsen. Isso significa que de cada 100 unidades de massas e biscoitos comercializadas no País, 27 vêm da M. Dias Branco, sendo que essas 100 unidades estão distribuídas em marcas como Adria, Richester, Fortaleza, Isabela, Zabet, Basilar, Pelaggio, Estrela e Vitarella. Mais conhecido como Ivens Dias Branco, o empresário deixa em todos os que entram em contato com ele a imagem de um homem simples, criativo e prático. Três palavras que o definem muito bem, tanto que Fatos marcantes da empresa 1936 Padaria Imperial A família Dias Branco chega a Fortaleza, onde Manuel Dias Branco instala a Padaria Imperial, na Avenida Visconde do Rio Branco. 1939 Modernização da empresa Manuel Dias Branco inicia a modernização de sua empresa, instalando máquinas para a produção do macarrão Imperial. 1940 Sociedade com irmãos Manuel Dias Branco expande seus negócios, formando uma sociedade com seus irmãos José e Orlando, justificando a razão social da empresa como M. Dias Branco e Irmãos. 1951 compõem o título de um livro dedicado a traçar o seu perfil pessoal e profissional, escrito por Sergio Vilas Boas e publicado no início deste ano pela Editora Manole. Simples no trato com as pessoas e na maneira de encarar a vida, criativo nas soluções de planejamento e no modo de lidar com os negócios, e prático no uso da objetividade para tirar o melhor de uma situação ou para colaborar com pessoas a quem se associa para a realização de um bom trabalho. Em 3 de agosto de 2013, completou 79 anos. Poucos dias antes, em 29 de julho, Ivens, que acumula os cargos de diretor-presidente da M. Dias Branco e de presidente do Conselho de Administração da empresa, fez um comunicado que impactou o mercado. Encaminhado à Comissão de Valores Moinho Dias Branco: produção verticalizada garante maior competitividade Novas instalações A empresa transfere-se para novas instalações, na Rua João Cordeiro, esquina com a Rua Cônego Climério, com o nome de Padaria Fortaleza. 1953 Fábrica Fortaleza Começam as atividades da Fábrica Fortaleza como indústria de massas alimentícias, ainda com características de produção artesanal e com a participação societária de Francisco Ivens de Sá Dias Branco. 1954 Operação em três turnos É instalado o primeiro forno Pensotti metálico de corrente, semiautomático. A partir dessa data, a Fábrica Fortaleza inicia seu regime de operação em três turnos. 1954 Bolacha Pepita A fábrica lança a bolacha Pepita, grande sucesso comercial, com inclusão de mel de abelha em sua formulação. Modernização do parque fabril A Fábrica Fortaleza, com a razão social de M. Dias Branco S.A. Comércio e Indústria, moderniza seu parque fabril e amplia sua área de negócios com o lançamento de novos produtos, entre eles o biscoito Petit Beurre. 42 reprodução 1962 www.revistadistribuicao.com.br out 2013 perfil m dias.indd 42 07.10.13 17:11:53 Mobiliários (CVM), uma vez que a empresa, com valor de mercado de mais de 10 bilhões de reais, tem o capital aberto (com ações listadas na Bolsa de Valores) desde 2006, o comunicado dizia que os dois cargos ocupados por ele sofrerão mudanças a partir de 9 de maio de 2014. Ivens, que esteve no cargo por mais de 40 anos, não será mais o diretor-presidente da companhia a partir desse dia. Seu posto será ocupado por Francisco Ivens de Sá Dias Júnior, um de seus cinco filhos, todos eles atuando em diferentes áreas da companhia. Júnior, de 53 anos, atualmente ocupa a vice-presidência da Área Industrial de Biscoitos, Massas e Margarinas. “Obtivemos um consenso entre todos os irmãos, ao leválos a decidir quem eles escolheriam 3,54 bilhões de reais foi o faturamento da empresa em 2012, a qual havia faturado 2,91 bilhões de reais em 2011, o que corresponde a um crescimento de 21,8% para ser o presidente. A escolha recaiu no Ivens Júnior, que demonstrou muita habilidade para atuar no nível macro. E é também um bom criador de negócios, e um bom administrador, um cara que puxou mais a minha característica”, explica. Ivens tomou essa decisão para ficar mais tranquilo – e deixar todos os acionistas igualmente mais tranquilos, e confiantes no futuro da empresa – diante da preocupação que lhe causou a necessidade imprevista de implantar uma válvula cardíaca há dois anos, quando julgou que tinha de refazer seus planos e de repensar sobre as perspectivas da empresa em vista de sua perenização. “A empresa é um bem, um bem sobretudo social, e não apenas familiar. Prova disso é que abrimos nosso capital em 2006”, afirma. >> Setor primordial O atacado distribuidor representa 46,2% do volume de vendas da empresa no Brasil Ivens Dias Branco ressalta a importância da cadeia atacadista em sua contribuição para o desenvolvimento da economia nacional, principalmente em um País com características continentais, e, em particular, para o crescimento da M. Dias Branco. ● Atacado distribuidor Para um país como o Brasil, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e de extensão continental, o setor atacadista distribuidor é de fundamental importância. Se não fosse pelo atacadista, você teria vazios fantásticos de abastecimento. Por isso, para conviver com um Estado deficiente e com essa extensão territorial, o atacadista requer um elemento principal de ligação a fim de difundir a produção industrial, pois acho que essa é uma condição sine qua non para você obter um abastecimento tranquilo no País como um todo. ● Produção e distribuição Uma parcela de 46,2% das vendas da empresa é escoada pelo atacado e pelo distribuidor. Então, o Brasil tem uma grande extensão territorial, e para contar com uma logística que tenha condições de abastecer tudo isso, você teria de se preocupar mais com a logística do que com a produção. Então, acho que quanto a nós, temos as fábricas geograficamente bem localizadas e também temos a parte da distribuição. Em algumas cidades, às vezes mais próximas das fábricas, temos uma pulverização via fábrica, e para as cidades situadas mais longe das fábricas, utilizamos a intermediação de atacadistas, pois seria impossível, em extensões como essas, você ter a produção e a distribuição sem a intermediação. ● Pequeno e médio varejo Acho que você não precisa ser concentrado. Você nunca pode pensar só no grande ou só no médio ou só no pequeno, você tem de pensar de uma forma equilibrada em todos, porque o pequeno hoje pode vir a ser um médio ou um grande amanhã, assim como um grande hoje pode vir a não ser tão grande amanhã. Por isso, acho que você precisa ter um trabalho muito equilibrado e convincente para todos, precisa oferecer um tratamento muito equilibrado, precisa respeitar o pequeno para que ele possa trabalhar bem, da mesma maneira que é preciso ter a máxima consideração pelos clientes. ● Equilíbrio Acho que é uma questão de filosofia, de você trabalhar de maneira equilibrada, porque se você começa a privilegiar certos setores, você fica vulnerável, digamos, a determinado tipo de cliente, e é muito ruim quando você tem a imagem de vulnerabilidade. Agora, quando você sente que tem um equilíbrio, que oferece um tratamento equânime, aí sim, eles passam a confiar em você porque sabem que você não cria privilégios, e cria, isto sim, equilíbrio. out 2013 perfil m dias.indd 43 www.revistadistribuicao.com.br 43 07.10.13 17:12:13 perfil de sucesso indústria 1962 Surge o Fortinho, mascote da fábrica Criação do Fortinho, mascote da Fábrica Fortaleza, estampado nas embalagens dos produtos Fortaleza e veiculado na mídia impressa e televisiva, em peças publicitárias de grande sucesso junto aos consumidores. 1967 Linha Extrafina Inauguração da primeira ampliação da Fábrica Fortaleza, com novas máquinas para a produção de massas alimentícias e modernos fornos que permitiram o lançamento de produtos como a linha Extrafina. 1976 1978 Linha Richester A Fábrica Fortaleza lança a nova linha Richester de produtos finos, com os quais conquista novos índices de preferência nos mercados em que atua, com biscoitos recheados, wafers, amanteigados e outros, de aprimorada composição nutricional. 1980 Nova sede Todas as atividades da empresa são transferidas para a nova sede da Fábrica Fortaleza, na BR 116, km 18, no município de Eusébio, onde são instaladas novas linhas de massas e biscoitos e modernos silos para estocagem de matérias-primas. 1985 Centro de Pesquisas e Análises É inaugurado o CPA (Centro de Pesquisas e Análises) da Fábrica Fortaleza. É um moderno centro de controle de qualidade que inclui laboratórios para desenvolvimento de produtos e análises físicoquímicas, microbiológicas, sensoriais e reológicas de matérias-primas, processos e produtos acabados. 1991 Sistema robotizado de embalagem Novos equipamentos para a produção de biscoitos e massas são instalados na Fábrica Fortaleza. Inicia-se a implantação de um sistema robotizado de embalagem. 44 kaiser Nova fábrica em construção Começa a construção da nova sede da Fábrica Fortaleza, na BR 116, km 18, em um terreno de 600 mil m2. Júnior, que trabalha na companhia desde 1976, ocupou diversos cargos e, desde 2006, estava se preparando para o cargo que passará efetivamente a exercer em maio do ano que vem. A partir dessa data, Ivens Dias Branco desempenhará um papel estratégico na empresa, além de continuar em seu cargo de presidente do Conselho de Administração. Segundo suas palavras, Ivens ficará à disposição para consultas e acompanhará de perto as operações. “O que não quero mais é estar envolvido nos afazeres diários. Ter a obrigação de vir todos os dias. Mas quero continuar a ser útil e a ajudar no que precisarem. Quero poder passar adiante minha experiência”, diz. Experiência que começou há 60 anos, mais precisamente, no dia 3 de maio de 1953, quando, com 19 anos, aceitou o convite do pai, seu Manuel, para trabalhar com ele. Antes disso, a história da empresa, que na época ainda não tinha o nome atual, começa em 1927, quando Manuel Dias Branco, que, vindo de Portugal, chegara um ano antes ao País, mais precisamente a Belém/PA, montou uma padaria na cidade do Cedro/ CE, município onde Ivens Dias Branco nasceu. Depois, rumou para Fortaleza, onde abriu outra padaria e convidou dois irmãos para serem sócios em outros empreendimentos. Em 1953, a sociedade com os irmãos acabou e Manuel ficou com a padaria. O fato mudaria para sempre a vida do jovem Ivens, que não tinha a pretensão de trabalhar com o pai. Ele queria ser médico, mas foi convencido, pela inteligência e o poder de argumentação do pai comerciante, a ficar com ele. Reticente, e com vontade de vencer na vida, o jovem aceitou e, em 3 de maio de 1953, ingressou na empresa do pai. Aos poucos, Manuel passou a reconhecer naquele rapaz de boas ideias, de espírito empreendedor e de dedicação ímpar ao trabalho a marca de uma autêntica vocação. A padaria logo mudou de endereço, pois o volume de vendas exigia um estoque que já não cabia mais no espaço inicial. Ao mesmo tempo, começou a fabricar biscoitos, cujo sabor procurava responder não apenas à demanda popular, mas também a um padrão de qualidade até mesmo superior ao dos www.revistadistribuicao.com.br out 2013 perfil m dias.indd 44 07.10.13 17:12:30 Fábrica Fortaleza, em Eusébio/CE: no total, há 14 unidades industriais no País biscoitos que as fábricas do Sudeste vendiam no mercado nordestino. Graças à acuidade de sua visão de longo prazo, ao prever os problemas que poderiam surgir à medida que as empresas fossem crescendo, Ivens Dias Branco apostou na verticalização e abriu moinhos para garantir a oferta de trigo, uma de suas principais matérias-primas. Depois, já suficientemente capitalizado, característica que herdou do comerciante Manuel, homem que sempre preferiu juntar e guardar o dinheiro que ganhava no comércio e, posteriormente na indústria, a recorrer aos empréstimos bancários, Ivens ganhou projeção nacional ao realizar a aquisição da Adria em 2003, marca conhecida no Sudeste. Logo depois, viria a adquirir mais empresas, o que fez a M. Dias Branco se tornar a mais importante fábrica de massas e de biscoitos da América Latina. Receita de sucesso de uma empresa que alia o olho clínico do dono à expertise de profissionais de mercado, e que combina a verticalização do processo produtivo, fato que garante um custo melhor, uma vez que as matérias-primas são próprias, com a solidez financeira. >> out 2013 perfil m dias.indd 45 www.revistadistribuicao.com.br 45 08.10.13 11:56:41 perfil de sucesso indústria 1992 Moinho do Grupo Graças à desregulamentação do setor de moagem de trigo, entra em operação em Fortaleza o primeiro moinho do Grupo M. Dias Branco. A alta tecnologia, a automação dos equipamentos, a inovação da qualidade e a tipificação de seus produtos permitiram a esse empreendimento representar um marco para o mercado de farinha de trigo e seus derivados no País. 1997 Segunda ampliação O Moinho Dias Branco passa por uma segunda ampliação, instalando um novo diagrama de moagem, atendendo a solicitações do mercado, ávido por farinha de trigo. 1999 Nova linha de biscoitos A Fábrica Fortaleza lança uma nova linha de biscoitos salgados, do tipo snack, com vários sabores, produzidos em forno, sem fritura, com a marca Tot’s. 2000 ISO 9000 O Moinho Dias Branco recebe sua primeira Certificação baseada nas normas internacionais ISO 9000, sendo o único moinho do Norte e do Nordeste e um dos poucos do Brasil a conquistar e manter esse certificado até hoje. 2003 Aquisição do Grupo Adria M. Dias Branco adquire o Grupo Adria, composto pelas indústrias Adria (São Caetano do Sul/SP), Isabela (Bento Gonçalves/RS), Basilar (Jaboticabal/ SP) e Zabet (Lençóis Paulista/SP). Essa aquisição permitiu ao Grupo M. Dias Branco assumir a liderança na produção de biscoitos e massas na América Latina. 2005 Moinho Tambaú Começa a operar, em Cabedelo/PB, o Grande Moinho Tambaú (GMT). O Moinho é parte de um complexo industrial que inclui uma indústria de massas e um centro de distribuição regional. 46 reprodução 1994 Ampliação do portfólio Com o reconhecimento, pelo mercado, da qualidade da farinha produzida pelo Moinho Dias Branco, a empresa amplia suas instalações e inova com um diagrama de moagem que possibilita a moagem do trigo durum (específico para pastifício). Grande Moinho Potiguar, em Natal/RN: fábrica de massas e terminal de recebimento de grãos A garantia do sucesso é fortalecida pelo investimento no colaborador, pela presença de administradores experientes e pela abertura para o novo. Além disso, graças a uma conceituada fama de honestidade, tem a firme confiança de fornecedores e clientes. Outros aspectos que se destacam na M. Dias Branco são a distribuição pulverizada, que faz com que a empresa não dependa de outras grandes empresas, e o controle de custos e de despesas para garantir que o produto chegue até o consumidor a um preço atrativo. Atualmente, a companhia é formada por 14 unidades industriais, 13 centros de distribuição e mais de 20 mil colaboradores espalhados por 16 Estados brasileiros nas Regiões Nordeste, Sudeste e no Sul, com atuação nos mercados de biscoitos, massas, farinha e farelo de trigo, margarinas, gorduras e refino de óleo. O conglomerado também reúne hotéis e uma construtora, e atua na atividade cimenteira, além de possuir um porto na Bahia para movimentar grãos. O êxito dessa trajetória de sucesso adquiriu uma dimensão tal que elevou seu mentor, Francisco Ivens de Sá Dias Branco, ao ranking de décimo brasileiro mais rico do País, com uma fortuna estimada em 9,6 bilhões de reais, de acordo com a revista Forbes. Tudo isso, no entanto, não foi capaz de estimular nele os altos níveis de sofisticação do consumo que caracterizam as vidas de tantos milionários que podem ter muito dinheiro, mas não têm nenhum ideal para se orgulhar. Ivens, no entanto, continuando a ser o homem de hábitos simples que sempre foi, que adora comer sempre no mesmo restaurante, frequentar sempre os mesmos lugares preferidos e ouvir rádio nas madrugadas, sabe que é um importante gerador de riqueza social e econômica, e que colabora para a melhoria da vida das pessoas. E também sabe que, enquanto homem de negócios que atingiu o topo de sua competência profissional, essa missão é o que mais importa. Tranquilo, destaca que a receita essencial para se construir uma grande empresa consiste, basicamente, em gostar do que se faz, e procurar fazer da melhor maneira possível, dedicando-se a isso de corpo e alma. “Meu contentamento está em saber que minhas atividades tiveram efeitos valiosos. Acho que a nossa felicidade consiste na sensação de que fomos fiéis aos nossos princípios e cumprimos o nosso dever de vida da maneira mais nobre que pudemos. E a maneira mais nobre, meu grande orgulho, minha vaidade, é saber que estou sendo útil, e que, digamos, pelas nossas mãos, pelo nosso esforço, por nossa competência, ou até mesmo por uma questão de destino, fui produtivo e fiz o bem.” www.revistadistribuicao.com.br out 2013 perfil m dias.indd 46 07.10.13 17:13:19 kaiser perfil de sucesso indústria A parte alimentícia do Grupo abriu seu capital desde 2006. O Grupo tem igualmente a intenção de abrir o capital das outras empresas? A tendência geral é no sentido de abrir o capital de todas as empresas. Atualmente, só está aberto o da parte alimentícia, que envolve a participação das margarinas e das gorduras. Mas as partes portuária, imobiliária, cimenteira e de construção civil ainda não estão abertas, embora a tendência seja a de abrir o capital de todas elas. Ivens Dias Branco: 60 anos de trabalho, dos quais 40 na presidência da companhia Capital aberto Ivens Dias Branco planeja oferecer ações na Bolsa de Valores de todas as suas empresas em um prazo de até seis anos Por Cristiano Eloi 48 O Grupo tem uma data definida para isso? Ele tem uma meta, mas para se abrir o capital é preciso muita preparação das empresas, preparação para o mercado e informações muito adequadas, porque não é o simples fato de dizer: “Eu vou abrir ou eu não vou abrir.” Esse é um processo que passa por crivos, crivos oficiais, e daí a necessidade de todas essas preparações. Acredito que daqui a mais uns cinco, seis anos, todas elas estarão abertas. Porque se você abrir todas, então não há dúvidas e nem há choques de interesses, porque tudo é ação. Então, se amanhã, com o [meu] desaparecimento, alguém herdar algo, ele herdará ações, e com as ações ele vai na bolsa, e negocia mais ou menos, e ninguém vai brigar dizendo que isso vale tanto. Não se briga. Quem vai pagar é a bolsa. >> www.revistadistribuicao.com.br out 2013 perfil m dias.indd 48 07.10.13 17:13:38 perfil de sucesso indústria Por exemplo, se os filhos quiserem sair da empresa, eles venderão as ações? Se um deles quiser sair hoje da parte alimentícia, ele pode, pois cada qual tem uma participação, mas não tem tudo porque eu ainda tenho grande parte. Mas se eles quiserem sair, eles pegam a parte deles e chegam na bolsa e vendem ou então ficam com ela apostando no futuro. E a empresa passa a ser administrada democraticamente, pois 75% dela pertence à família, 25% está nas mãos de terceiros, mas para esses 25% eles têm representantes no conselho. Então, nós administramos com o consenso de uma empresa cujo capital é democratizado, e é isso o que fazem as grandes empresas norte-americanas e europeias, que é a democratização do capital. Quando o senhor teve a visão de que a empresa transcende a família e tem uma função econômica e social? Quando eu comecei a trabalhar, também comecei a estudar a respeito das empresas e comecei a notar quais eram as deficiências e os fatores de sucesso de empresas norte-americanas e europeias, com cento e tantos anos ou duzentos e tantos anos. Aí, eu vi que a fórmula de todas elas é a democratização do capital. Ou seja, você tem de pegar a empresa, porque nós somos mortais, não somos eternos, se existir a eternidade ela é espiritual, mas no nosso dia a dia nós somos factíveis a mokaiser Como é ser um dos homens mais ricos do Brasil? Tenho a filosofia de que você não vive para ter a sensação de que tem dinheiro, você deve viver para ter a sensação de que o seu dinheiro foi útil, ou seja, é o seguinte: se você tem uma situação financeira e econômica boa, você então, particularmente, usufrui disso, mas dentro de condições normais, porque o fato de você ter muito dinheiro não fará você viver mais, talvez você viva até menos, você não vai vestir duas roupas ao mesmo tempo, não vai calçar dois calçados a um só tempo. Há limitações humanas. Então, para que serve o dinheiro? O dinheiro serve para você deixar o seu nome como uma coisa edificante, fulano de tal foi útil, criou empregos. Hoje, para se ter uma ideia, só de empregos diretos temos mais de 20 mil, aí se você colocar mais quatro pessoas por família, nesse Brasil inteiro dará umas 80 mil pessoas que dependem da gente. Então, você tem uma responsabilidade social. A gente se sente bem com isso porque sabe que aquilo que veio para a nossa mão nós soubemos administrar e demos oportunidade para as pessoas crescerem dentro da companhia, e também soubemos dividir com quem precisava. Acesse: www.newtrade.com.br e assista a entrevista completa de Cristiano Eloi com Ivens Dias Branco 50 mentos de vida, então, eu comecei a pensar, estudar, estudar, e disse para mim mesmo: nós temos de entrar por esse caminho. Então, estamos realmente nos preparando para que tudo seja de capital aberto, e aí você sente que deixou uma coisa perene, porque se hoje, amanhã, você tem, pode ser que daqui a 30 anos a empresa não tenha mais ninguém da família. Se eles quiserem vender as ações, podem vender, mas a empresa fica. Quais são as perspectivas do mercado de consumo brasileiro? O que se nota é que no Brasil ainda se precisa consumir mais, ter mais ganhos, se precisa. Você precisa melhorar o nível de renda do povo, pois na hora em que você melhorar o nível de renda do povo, você terá automaticamente melhorado o consumo. Então, vejo o Brasil como um País fadado a melhorar ainda mais, em muito, o consumo e também os negócios como um todo. E, particularmente, você vai começar pela alimentação e continuar pela moradia, e depois virão as outras coisas, mas tudo ainda vai crescer muito. Se o senhor tivesse de começar hoje, com a idade daquele Ivens de 19 anos, faria algo diferente? Se eu tivesse, com 19 anos, o conhecimento que eu tenho hoje! Eu comecei com a coragem e com a cara, pensava, e minha ideia de trabalho era até outra. Não tinha nada definido. Comecei depois a me conscientizar no dia a dia. E o desejo de evoluir, de procurar ler a história dos empresários, e eu então estudei, analisei, mas eu ainda não tinha experiência. Se hoje, com a experiência que eu tenho, eu tivesse de começar, é óbvio que eu teria mais facilidade em obter maior êxito. A experiência soma. www.revistadistribuicao.com.br out 2013 perfil m dias.indd 50 07.10.13 17:13:54