mobilização neural como tratamento da dor em pacientes com

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mobilização neural como tratamento da dor em pacientes com
MOBILIZAÇÃO NEURAL COMO TRATAMENTO DA DOR EM PACIENTES
COM LOMBALGIA E LOMBOCIATALGIA
DOUGLAS S. PINTO, SAMIR ZEINEDIN, VIVIANE VIEIRA
www.terapiamanual.com.br
RESUMO
Introdução: Cerca de 80% da população mundial adulta irá sentir algum tipo de dor lombar, e em
grande parte dessas pessoas a dor estará relacionada à compressão do nervo isquiático. Diversas
técnicas de tratamento são propostas pela literatura com intuito de abolir ou controlar os sintomas
álgicos do paciente, estando entre estas a Mobilização Neural. Objetivos: Verificar o efeito da
Mobilização Neural como tratamento da dor em pacientes com lombalgia e lombociatalgia, avaliar
o comportamento desta ao término do tratamento e verificar alterações da capacidade funcional e
na mobilidade da coluna lombar. Metodologia: Foram realizados 15 atendimentos com técnicas de
Mobilização Neural em pacientes que apresentavam lombalgia e lombociatalgia. Como
instrumentos de avaliação foram utilizados a Escala Analógica Visual da Dor, Questionário
Modificado da Dor McGill, Questionário da Incapacidade de Roland-Morris e o Teste de Schober.
Resultados: Foram avaliados e tratados seis pacientes com lombalgia e lombociatalgia, sendo
constatada significância estatística na redução da dor, melhora da capacidade funcional e aumento
na mobilidade lombar, além de ganho na amplitude no movimento de flexão do quadril.
Considerações finais: A aplicação conjunta de técnicas deslizantes e tensionantes de Mobilização
Neural mostrou-se eficaz no tratamento de pacientes com lombalgia e lombociatalgia. Sugere-se a
realização de novos estudos, para o acompanhamento da dor após término do tratamento com
Mobilização Neural.
Palavra-chave: Isquiático. Mobilização Neural. Lombalgia. Lombociatalgia.
ABSTRACT
Introduction: About 80% of the adult population will feel some kind of back pain, and most of
these people the pain is related to compression of the sciatic nerve. Several treatment techniques
are proposed in the literature with intent to abolish or control the symptom of pain of the patient,
being among these the Mobilization Neural. Objectives: Verify the effect of Neural Mobilization as
treatment of pain in patients with low back pain and sciatic pain, to evaluate the behavior of this to
the end of treatment and verify changes in functional capacity and mobility of the lumbar spine.
Methodology: There were realized 15 treatment with Neural Mobilization techniques in patients
with low back pain and sciatic pain. How evaluation tools were used to Visual Analogue Scale for
pain, the McGill Pain Questionnaire Modified, Questionnaire of Incapacity of Roland-Morris and
Schober Test. Results: There were evaluated and treated six patients with low back pain and
sciatic pain, and revealed a statistically significant reduction in pain, improved functional capacity
and increase in lumbar mobility, and gain in the amplitude of motion in hip flexion. Conclusion:
The combined application of techniques sliding and tensioning of Neural Mobilization was effective
in treating of patients with low back pain and sciatic pain. Suggest achievement the new studies, to
the accompaniment of pain after completion of treatment with Neural Mobilization.
Keywords: Sciatic. Neural Mobilization. Low back pain. Sciatic pain.
0 INTRODUÇÃO
A dor lombar (DL) constitui uma causa freqüente de morbidade e incapacidade,
tornando-se a fonte mais dispendiosa de lesão relacionada ao trabalho em países
industrializados (1), sendo o sintoma mais comum encontrado na prática ortopédica (2). No
Brasil existem estimativas de que mais de 10 milhões de pessoas sofram com a
incapacidade relacionada à dor lombar (3). Entre as causas das dores lombares estão as
atividades em trabalho pesado, postura sentada por tempo prolongado, levantar grandes
quantidades de peso, sedentarismo, acidentes de trabalho, dirigir veículos, horas excessivas
de trabalho, gravidez, ferimentos, tabagismo, entre outros (4).
Na maioria dos casos a dor nas costas é inespecífica e o diagnóstico impreciso,
visto que diversos tecidos como discos, ligamentos, estruturas articulares, músculos e
estruturas nervosas podem ser responsáveis pela dor (5).
A lombociatalgia surge quando a dor, de origem na região lombar, se irradia para as
nádegas e porção posterior da perna até abaixo do joelho, ao longo da raiz nervosa
lesionada, podendo afetar um ou ambos os membros inferiores (6, 7). A dor é dita como
uma sensação de queimação, pontada, lacinante, ocasionalmente formigamento e parestesia
em dermátomo do membro inferior (7). Esta condição ocorre devido à compressão das
raizes do nervo isquiático e a causa mais comum é a hérnia de disco. Outras causas como
doenças degenerativas da coluna, infecções, luxação traumática do quadril posterior,
anomalias congênitas (8), síndrome do piriforme e estenose do canal vertebral lombar são
citadas na literatura (9).
Autores como Douglas (10) e Dutton (1) descrevem que cerca de 80% da
população mundial adulta irá sentir algum tipo de dor lombar, e em grande parte dessas
pessoas a dor estará relacionada à compressão do nervo isquiático. Para North et al (11) a
ciatalgia é comum em pacientes com idade superior a trinta anos, com incidência de cerca
de 40% da população geral.
Diversas técnicas de tratamento são propostas pela literatura com intuito de abolir
ou controlar os sintomas álgicos do paciente, estando entre estas a Mobilização Neural
(MN), técnica que teve um grande desenvolvimento, principalmente nos últimos 35 anos,
desde que autores como Grieve, Maitland, Elvey e Butler publicaram seus estudos relativos
ao conhecimento da função mecânica do sistema nervoso (12). Posteriormente Shacklock
criou o termo neurodinâmica, revelando a importância em integrar a mecânica do Sistema
1 Nervoso (SN) com a fisiologia, explicando como elas se relacionam entre si e são
integradas à função músculo-esquelética (12).
Este recurso da terapia manual é utilizado tanto para diagnóstico como para
tratamento de patologias que diminuam a mobilidade dos nervos (13). O diagnóstico é feito
através de testes neurodinâmicos, os quais avaliam o envolvimento das raízes nervosas
espinhais e nervos periféricos nas dores extremas, através do tensionamento das mesmas
por meio de movimentos seqüenciais e progressivos, desafiando a capacidade física do
sistema nervoso, usando várias articulações dos membros e ou tronco para alterar o
comprimento e dimensões do trajeto neural, provocando irritação do tecido, reproduzindo
os sintomas no paciente (1, 14). Já, o tratamento se faz pela aplicação de movimentos
oscilatórios lentos e contínuos ou brevemente mantidos ao tecido neural, melhorando a
troca de fluidos, a circulação sanguínea, restabelecendo o fluxo axoplasmático normal,
liberando adesões, diminuindo a inflamação e a dor (15).
Junior e Teixeira (16) encontraram resultados significativos em estudos com a
utilização da mobilização neural como diagnóstico da lombalgia e tratamento de diversas
patologias do sistema nervoso. Em estudo realizado por George (17) de seis pacientes com
dor lombar baixa, avaliados pela escala analógica da dor, cinco obtiveram redução da
intensidade da dor. Machado e Bigolin (5) em um estudo comparativo entre mobilização
neural e alongamento muscular em pacientes com lombalgia crônica, revelaram melhoras
na execução das atividades funcionais, na flexibilidade da cadeia muscular posterior e na
redução do quadro álgico, porém, somente o programa de mobilização neural obteve
melhora estatisticamente significativa.
Este estudo teve como objetivo verificar o efeito da Mobilização Neural como
tratamento da dor em pacientes com lombalgia e lombociatalgia, avaliar o comportamento
desta ao término do tratamento e verificar alterações da capacidade funcional e na
mobilidade da coluna lombar.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo prospectivo, composto por 11 pacientes, 2 do sexo masculino
e 9 do sexo feminino, com idade entre 30 e 55 anos, que aguardavam tratamento na
Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade Anglo-Americano e/ou encaminhados pelo
SUS (Sistema Único de Saúde). Três pesquisadores, com formação no curso de
2 Mobilização Neural, eram responsáveis pela avaliação, tratamento e reavaliação dos
pacientes, os quais foram divididos entre os pesquisadores, conforme se apresentaram para
a avaliação inicial.
Foram definidos como critérios de inclusão: diagnóstico clínico de lombalgia e
lombociatalgia, resultado positivo para alterações neurodinâmicas, através da aplicação do
Slump Test e/ou Teste de Elevação da perna Estendida (TEPE) e não estar recebendo
outros tipos de tratamento. Os critérios de exclusão foram: doenças reumatológicas, fratura
não consolidada em membro inferior, pós-cirúrgico da coluna vertebral, pós-cirúrgico
recente de membros inferiores, artroplastia de quadril, presença de espondilolistese e
espondilólise, gestantes, labirintite e contra-indicações para aplicação da técnica.
Todos os voluntários receberam informações para a participação no estudo e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Assis Gurgacz da cidade de Cascavel-PR,
protocolado pelo número 065/2010.
Na avaliação todos os pacientes apresentaram pelo menos um exame
imaginológico, a fim de verificar possíveis alterações osteomioarticulares, como exames de
Raios-X, em incidências pósterior-anterior e perfil, Ressonância Nuclear Magnética ou
Tomografia Computadorizada da coluna vertebral, com laudo. Em seguida foram
submetidos a um exame físico composto pela verificação da sensibilidade superficial
através do uso de monofilamentos Semmes-Weinstein nos dermátomos correspondentes as
raízes do nervo isquiático (18), e sensibilidade proprioceptiva, com uso de diapasão de
256Hz sobre as proeminências ósseas dos membros inferiores (19), palpação, reflexos
patelar, aquileu e isquiotibiais, força muscular dos membros inferiores e teste do neurônio
motor superior: Babinsk, Oppenheim e Clônus (20).
Para quantificar o índice de dor, a Escala Analógica Visual (EAV) foi empregada
(21), sendo esta aplicada pré e pós cada atendimento, além de instrumentos utilizados para
avaliação e reavaliação, pré e pós tratamento, como o Questionário Modificado da Dor
McGill (1) para obter uma descrição exata da qualidade da dor, Questionário da
Incapacidade de Roland-Morris, para avaliar a incapacidade física decorrente da dor
lombar (1).
A dinâmica das estruturas neurais do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema
Nervoso Periférico (SNP) foram avaliados através do Slump Test. O TEPE foi utilizado
para testar o movimento e a sensibilidade mecânica das estruturas neurais lombossacrais e
3 suas extensões distais (tronco e plexo lombo-sacral na pelve, ciática e nervos tibiais e suas
extensões distais na perna e pé). Manobras de dorsiflexão do tornozelo, inversão, rotação
interna do membro inferior sintomático e flexão cervical passiva foram utilizadas para
diferenciação estrutural a fim de sensibilizar o TEPE (12). Para mensurar a mobilidade da
região lombar foi realizado o Teste de Schober (22) pré e pós tratamento.
Antes de iniciar a avaliação e os atendimentos os pesquisadores aplicaram os testes
em si mesmos durante cinco dias, a fim de aumentar a familiaridade com as técnicas,
padronizando sua aplicação.
Para tratamento, os pacientes foram submetidos a 15 atendimentos de 30 minutos,
realizados duas vezes por semana. Foram aplicadas técnicas de mobilização deslizante de
raiz lombossacral em supino, deslizamento Slump e mobilização tensionante distal do
isquiático (Figura 1).
- Mobilização deslizante de raiz lombo-sacral em supino: Paciente em decúbito
dorsal sobre a maca, membros inferiores (MMII) cruzados, flexão de quadril e joelho a 90º,
membros superiores ao longo do corpo. Terapeuta posicionado contralateral ao membro a
ser tratado, segura ambas as pernas do paciente e realiza passivamente oscilações em
inclinação lateral da lombar usando os membros inferiores como alavanca (20).
- Deslizamento Slump: Paciente sentado com os membros superiores cruzados atrás
das costas, leve flexão lombar e torácica, joelho do membro afetado em leve extensão. O
paciente realiza ativamente e de forma simultânea uma flexão cervical e plantiflexão do
tornozelo, alterando o movimento para uma extensão cervical acompanhada de dorsiflexão
do tornozelo. Repete os movimentos sem interrupção por tempo determinado (20).
- Mobilização tensionante distal do isquiático: Paciente em decúbito dorsal, com o
corpo alinhado. Terapeuta realiza uma elevação do membro em extensão até sentir a reação
de proteção muscular ou o paciente referir início de dor. Em seguida, posiciona-se
lateralmente ao membro afetado, estabiliza o joelho em extensão com os antebraços e
traciona o membro elevando-o até próximo a amplitude em que o sintoma se manifesta. Ao
retornar à posição inicial a tração é liberada (20).
4 Deslizante de raíz lombo-sacral.
Deslizamento Slump
Tensionante distal do isquiático
FIGURA 1
Fonte: Os autores.
Foi realizada análise estatística descritiva para calcular a média e o desvio padrão
dos resultados, teste de “Wilcoxon” pareado não paramétrico para análise dos
questionários e Escala Analógica Visual da dor pré e pós tratamento, e o teste “T Student”
para análise do Teste de Schober e alteração na amplitude de movimento durante a
realização do TEPE. O nível de significância foi estabelecido em 5%, fazendo uso do
software SPSS 19.0.
RESULTADOS
Dos 11 pacientes selecionados, apenas 6 concluíram os 15 atendimentos, sendo que
os demais interromperam o tratamento antes do término, não sendo possível realizar a
reavaliação, ficando a amostra composta apenas por pacientes do sexo feminino, com a
idade média de 42,67 ± 7,74 anos.
O índice de dor, analisado pela Escala Analógica Visual, apresentou média pré 4,60
± 1,94 e pós de 0,07 ± 0,16, constatando redução estatisticamente significativa da dor em
todos os pacientes (p ≤ 0,0277). Esta redução é representada no gráfico 1.
5 GRÁFICO 1 – Escala Analógica Visual.
Ainda analisando a dor, pelo Questionário Modificado da Dor McGill foram
encontrados redução nos valores dos índices de dor pré e pós tratamento com médias
variando de 26,00 ± 10,18 para 3,67 ± 7,61, significância estatística de (p ≤ 0,0277), e nos
descritores variando de 11,00 ± 3,63 para 1,83 ± 1,60, com significância estatística de (p ≤
0,0277).
Quanto à capacidade funcional, utilizando o Questionário da Incapacidade de
Roland-Morris, também foi constatada melhora em todos os pacientes, com média pré 9,50
± 3,83 e média pós 1,83 ± 2,04, conforme observado no gráfico 2,
apresentando
significância estatística (p ≤ 0,0272).
GRÁFICO 2 - Questionário da Incapacidade de Roland-Morris.
No que se refere à mobilidade lombar, foi utilizado o Teste Schober e verificou-se
alteração entre a media pré 19,83 ± 0,75 e pós tratamento 21,50 ± 1,10, com diferença
estatisticamente significante (p ≤ 0,0029). Este resultado pode ser observado no gráfico 3.
6 GRÁFICO 3 – Teste de Schober.
Com o estudo, também foi verificado aumento na amplitude durante o movimento
de flexão do quadril com a perna estendida com valores variando de 55,00 ± 16,73 para
89,67 ± 17,04, constando como resultado positivo para aumento de flexibilidade dos
músculos posteriores do membro comprometido, com significância estatística (p ≤ 0,0036).
O resumo dos resultados pode ser observado na tabela 1.
TABELA 1- Médias pré e pós, desvio padrão e significância estatística.
Instrumentos de
avaliação
EAV
PRÉ
(média ± DP)
4,60 ± 1,94
PÓS
(média ± DP)
0,07 ± 0,16
Valor do p
McGILL - índice
26,00 ± 10,18
3,67 ± 7,61
0,0277
McGILL - descritores
11,00 ± 3,63
1,83 ± 1,60
0,0277
ROLAND-MORRIS
9,50 ± 3,83
1,83 ± 2,04
0,0272
SCHOBER
19,83 ± 0,75
21,50 ± 1,10
0,0029
TEPE
55,00 ± 16,73
89,67 ± 17,04
0,0036
0,0277
DISCUSSÃO
A lombalgia e a lombociatalgia ainda é um problema de saúde pública e um
problema do consultório dos clínicos e ortopedistas (23). Como já mencionado, a hérnia de
disco é a causa mais comum, comprimindo estruturas nervosas adjacentes, precipitando
fraqueza motora, redução de reflexos e perda sensorial (3, 8, 24, 25) devido à alteração da
função fisiológica do nervo (12). Um exemplo destas alterações foi achado no estudo de
Cornefjord et al (26), onde realizaram um experimento em porcos, submetendo as raízes
7 nervosas a compressão e ao contato direto do núcleo pulposo do disco intervertebral, sendo
constatado que, a mera presença do conteúdo do núcleo pulposo nas raízes nervosas já era
o suficiente para causar alterações morfológicas e funcionais, bem como uma redução do
fluxo sanguíneo intraneural em comparação com o controle contralateral das mesmas raíz
nervosas.
Shaclock (12) relata que o corpo é um recipiente do sistema nervoso, e o sistema
músculo esquelético apresenta-se como uma interface mecânica para o sistema nervoso,
assim uma lesão nervosa, gera alterações em suas propriedades mecânicas (tensão,
deslizamento e compressão) e fisiológicas (alteração do fluxo sanguíneo intraneural,
condução nervosa, e resposta inflamatória), que, por sua vez, sustentam ou agravam a
lesão. Tais lesões podem derivar para disfunções nas estruturas que recebem sua inervação.
Como consequência, estruturas músculo-esqueléticas podem estar comprometidas em uma
disfunção de origem neural (14).
A média de idade apresentada pelos participantes da pesquisa foi superior a 40
anos, o que condiz com o estudo de North et al (11) que relata a prevalência de ciatalgia
entre pessoas com idade superior a trinta anos.
O predomínio de participantes do sexo feminino nesta pesquisa vem confirmar os
dados encontrados por Boeing (7) e Silva et al (3). Uma vez que as mulheres combinam a
realização de tarefas domésticas com o trabalho fora de casa, ficam expostas a cargas
ergonômicas, posições viciosas e repetitivas (3, 5, 7), além do que, possuem características
anátomo-funcionais diferentes das do homem, o que as tornam mais propensas aos
sintomas dolorosos (27).
No presente estudo, optou-se por utilizar de forma conjunta as técnicas de MN
deslizantes e tensionantes. A associação destas duas formas de aplicação teve bons
resultados na redução da intensidade da dor, de acordo com a EAV e o Questionário
Modificado da Dor McGill. A aplicação de forma conjunta ou individual dessas técnicas
foi relatada com sucesso em estudos com autores descrevendo pacientes com sinais de
mecanosensibilidade de tecido neural aumentada, combinado com sintomas lombares e em
membro inferior (14), como pode ser observado nos estudos de Cleland et al (28).
Resultados positivos quanto à redução da dor também foram alcançados por Junior e
Teixeira (15) e George (16).
Qualquer processo inflamatório que afeta uma raiz nervosa pode levar ao
desenvolvimento de tecido fibroso, causando aderências que resultam em disfunção, déficit
8 de mobilidade do nervo, gerando dor durante o movimento (29, 30). Pacientes com
lombalgia e lombociatalgia frequentemente apresentam dificuldades em pegar objetos no
chão, subir e descer escadas, dificuldade de deambulação o que pode limitar sua
funcionalidade, restringindo principalmente as atividades ocupacionais e de lazer,
comprometendo sua capacidade funcional (31, 1). Neste estudo os pacientes apresentaram
resultados significativos quanto à melhora na capacidade funcional comprovando os
achados de Machado e Bigolin (5) onde os pacientes também obtiveram melhora após o
tratamento com MN.
Em se tratando da mobilidade da coluna lombar, foi possível observar um aumento
significante, contradizendo os dados encontrados por Boeing (7). Isto pode ser devido ao
tempo de tratamento superior e as diferentes formas de aplicação da técnica empregada
para tratamento.
A comparação da amplitude do movimento de flexão do quadril durante a
realização do TEPE pré e pós tratamento não fazia parte dos objetivos iniciais da pesquisa,
sendo utilizado apenas para verificar alterações neurodinâmicas tendo como parâmetro
valores goniométricos estabelecidos na literatura. Entretanto, como o ganho de amplitude
foi significativo optou-se por incluir estes resultados no estudo. De acordo com Shaclock,
o ganho de amplitude está relacionado à melhora na capacidade do nervo em suportar a
tensão, melhorando a excursão em seu trajeto longitudinal (14).
No presente estudo, foi estipulado um protocolo de 15 atendimentos, considerado
um tempo de tratamento intermediário em relação ao encontrado na literatura. A amostra
inicial era composta por 11 indivíduos, destes, houve 5 desistências, os quais não entraram
para análise dos resultados finais. Apesar da quantidade de atendimentos inferior, os
pacientes desistentes apresentaram redução de aproximadamente 60% no quadro álgico,
com uma média de 3,6 atendimentos, de acordo com os registros na EAV diária. Este fator,
entre outros, provavelmente contribuiu para o abandono do tratamento.
As técnicas de mobilização do tecido neural são movimentos ativos e passivos que
objetivam restabelecer a habilidade do sistema nervoso em tolerar as forças compressivas
normais, de atrito, fricção e forças de tensão associados com as atividades diárias (14). É
hipotetizado que estes movimentos terapêuticos possam ter um impacto positivo sobre os
sintomas, melhorando a circulação intraneural, o fluxo axoplasmatico, a viscoelasticidade
do tecido conjuntivo neural e redução da sensibilidade, o que restabelece a neurodinâmica
do sistema nervoso e sua integração com o sistema musculo-esquelético (12, 14, 15).
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados encontrados neste estudo, constatou-se que o emprego
da MN, fazendo uso de técnicas deslizantes e tensionantes, foi eficaz para a redução da
dor, melhora da capacidade funcional, obtenção de ganho na amplitude de movimento do
quadril e aumento na mobilidade da coluna lombar.
Sugere-se a realização de novos estudos, nos quais sejam realizado o
acompanhamento periódico dos participantes, a fim de verificar o comportamento da dor
após término do tratamento com MN.
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um plano de saúde: prevalência e fatores associados Cad. Saúde Pública. [periódico
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28. Cleland J, Hunt G, Palmer S. Effectiveness of neural mobilization in the treatment of a
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Manual and Manipulative Therapy. [periódico online]. 2004 [acesso 21 nov.-2010];-12(3):143–152.-Disponível-em:
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30. Kobayashi S, Shizu N, Suzuki Y, Asai T, Yoshizawa H. Changes in nerve root motion
an intrarradicular blood flow durin an intraoperative straiht-leg-raising test. Spine.
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31. Ocarino JM, Gonçalves GGP, Vaz DV, Cabral AAV, Porto JV, Silva MT. Correlação
entre um questionário de desempenho funcional e teste de capacidade física em pacientes
com lombalgia. Rev Bras Fisioter. [periódico online]. 2009 [acesso 18 out. 2010]; 13(4):
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13 ANEXO A - Questionário Modificado da Dor McGill®
NOME:_________________________________________________________________
DATA DA AVALIAÇÃO:_______________AVALIADOR: ______________________
Questionário de Dor McGill – Avaliação do Padrão da Dor
Algumas palavras abaixo descrevem a sua dor atual. Escolha apenas uma palavra de cada grupo. Não
escolha palavras que não se aplicam. Diga a que melhor descreve sua dor atual.
A
E
I
M
Q
1-vibração
1-beliscão
1-mal localizada
1-amedrontadora
1-espalhada
2-tremor
2-aperto
2-dolorida
2-apavorante
2-irradia
3-pulsante
3-mordida
3-machucada
3-aterrorizante
3-penetra
4-latejante
4-cólica
4-doída
4-atravessa
5-como batida
5-esmagamento
5-pesada
6-como pancada
B
F
J
N
R
1-pontada
1-fisgada
1-sensível
1-castigante
1-aperta
2-choque
2-puxão
2-esticada
2-atormenta
2-adormece
3-tiro
3-em torção
3-esfolante
3-cruel
3-repuxa
4-rachando
4-maldita
4-espreme
5-mortal
5-rasga
C
G
K
O
S
1-agulhada
1-calor
1-cansativa
1-miserável
1-fria
2-perfurante
2-queimação
2-exaustiva
2-enlouquecedora
2-gelada
3-facada
3-fervente
3-congelante
4-punhalada
4-em brasa
5-em lança
D
H
L
P
T
1-fina
1-formigamento
1-enjoada
1-chata
1-aborrecida
2-cortante
2-coceira
2-sufocante
2-que incomoda
2-nauseante
3-lacerante
3-ardor
3-desgastante
3-agonizante
4-ferroada
4-forte
4-pavorosa
5-insuportável
5-torturante
Número de Descritores
Índice de Dor
Sensorial ...............................................
Sensorial ...............................................
Afetiva ...................................................
Afetiva ....................................................
Avaliativa ...............................................
Avaliativa ...............................................
Diversas ................................................
Diversas ................................................
Total .......................................................
Total .......................................................
As categorias de A a J representam respostas sensitivas à experiência dolorosa (tração, calor, torção, entre
outros); os descritores das categorias de K a O são respostas de caráter afetivo (medo, punição, respostas
neurovegetativas, etc.); a categoria P é avaliativo (avaliação da experiência global) e as de Q a T são
diversas.
Chave para o questionário da dor:
Grupo A: sugere distúrbio vascular.
Grupo B – H: sugerem distúrbio neurogênico.
Grupo I: sugere distúrbio musculoesquelético.
Grupo J – T: sugerem transtorno emocional.
Guia de pontuação - adicione o número total de verificações (x):
Total: 4 – 8 = normal
8 – 10 = foco excessivo na dor
10 – 16 = um Psicólogo pode ajudar mais que um Fisioterapeuta
Maior que 16 = provavelmente não tem condições de responder aos procedimentos
terapêuticos.
14 Fonte: DUTTON, 2006.
ANEXO B - Questionário da Incapacidade de Roland-Morris®
NOME:_______________________________________________________________
DATA DA AVALIAÇÃO:_________________AVALIADOR:___________________
INSTRUÇÕES:
Quando suas costas doem, você pode encontrar dificuldade em fazer algumas coisas que
normalmente faz. Esta lista possui frases que as pessoas usam para se descreverem quando
sentem dores nas costas. Quando você ouvir estas frases poderá notar que algumas se
destacam por descrever você hoje.Ao ouvir a lista pense em você hoje.
Quando uma frase descrever você hoje, responda sim. Se a frase não descrevê-lo responda
não e siga para a próxima frase.
Lembre-se, responda sim apenas à frase que tiver certeza que descreve você HOJE.
PERGUNTAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
Avaliação
SIM
NÃO
Reavaliação
SIM
NÃO
Fico em casa a maior parte do tempo por causa de minhas costas.
Mudo de posição freqüentemente tentando deixar minhas costas confortáveis.
Ando mais devagar que o habitual por causa de minhas costas.
Por causa de minhas costas eu não estou fazendo nenhum dos meus trabalhos que
geralmente faço em casa.
Por causa de minhas costas, eu uso o corrimão para subir escadas.
Por causa de minhas costas, eu me deito para descansar mais freqüentemente.
Por causa de minhas costas, eu tenho que me apoiar em alguma coisa para me levantar
de uma cadeira normal.
Por causa de minhas costas, tento conseguir com que outras pessoas façam as coisas por
mim.
Eu me visto mais lentamente que o habitual por causa de minhas costas.
Eu somente fico em pé por períodos curtos de tempo por causa de minhas costas.
Por causa de minhas costas evito me abaixar ou me ajoelhar.
Encontro dificuldades em me levantar de uma cadeira por causa de minhas costas.
As minhas costas doem quase que o tempo todo.
Tenho dificuldade em me virar na cama por causa das minhas costas.
Meu apetite não é muito bom por causa das dores em minhas costas.
Tenho problemas para colocar minhas meias (ou meia calça) por causa das dores em
minhas costas.
Caminho apenas curtas distâncias por causa de minhas dores nas costas.
Não durmo tão bem por causa de minhas costas.
Por causa de minhas dores nas costas, eu me visto com ajuda de outras pessoas.
Fico sentado a maior parte do dia por causa de minhas costas.
Evito trabalhos pesados em casa por causa de minhas costas.
Por causa das dores em minhas costas, fico mais irritado e mal humorado com as
pessoas do que o habitual.
Por causa de minhas costas, eu subo escadas mais vagarosamente do que o habitual.
Fico na cama a maior parte do tempo por causa de minhas costas.
Fonte: DUTTON, 2006.
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