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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2014
RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA
RENATA CAMILA DE TOLEDO
INICIAÇÃO CIENTÍFICA – VOLUNTÁRIA/ EDITAL IC 2014
PLANO DE TRABALHO:
Surgimento e Evolução da Habitação Unifamiliar na América
do Norte
Relatório final apresentado ao Grupo de
Pesquisa em T EORIA E HISTÓRIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO – THAC da UNIVERSIDADE FEDERAL
DO
PARANÁ – UFPR por ocasião do
desenvolvimento das atividades voluntárias de
Iniciação Científica – Edital 2014.
NOME DO ORIENTADOR:
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
T ÍTULO DO PROJETO:
História da Habitação no Continente Americano
BANPESQ/THALES: 2014015431
CURITIBA PR
2014
1
1
TÍTULO
Surgimento e Evolução da Habitação Unifamiliar na América do Norte
2
RESUMO
Esta pesquisa em iniciação científica faz parte do projeto intitulado “História da Habitação
no Continente Americano”, abordando especificamente a América Anglo-Saxônica; e objetiva
traçar um panorama do surgimento e evolução do espaço de moradia nessa região. Pretende-se
analisar a arquitetura da habitação vernacular desenvolvida no continente norte-americano nos
períodos antecessores à colonização europeia, ocorrida entre os séculos XVI e XVII. Busca-se, de
maneira preliminar, abordar as soluções primitivas produzidas pelos povos nativos e as influências
recebidas, identificando traços originais e as características que permitem relacioná-las ao
contexto em que foram concebidas.
Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e cunho
teórico-conceitual, baseada nas estratégias de seleção de fontes, revisão web e bibliográfica e
estudo de casos, no intuito de exemplificar o espaço doméstico vernacular, caracterizando-o
quanto aos aspectos históricos, estéticos, funcionais e técnicos.
Como resultado percebe-se que, sendo o continente norte-americano bastante
heterogêneo, tanto em relação a seus variados climas e topografias em decorrência de sua
grande extensão, como dos distintos agentes e processos de sua efetiva ocupação, há a
ocorrência de uma diversidade de tipologias arquitetônicas, as quais podem ser agrupadas em
categorias que mantêm alguns pontos comuns. A partir dos estudos realizados, conclui-se que
esse fato, em conjunto com a multiplicidade de culturas preexistentes à colonização, deu origem a
habitações que apresentam variados materiais, formas e técnicas construtivas, aqui reunidos de
modo esquemático e ilustrativo.
3
OBJETIVOS
Quando os primeiros conquistadores europeus chegaram à América do Norte,
encontraram cerca de oito milhões de pessoas, as quais possuíam suas próprias sociedades,
tradições, religiões, arte e rivalidades. O principal objetivo da presente pesquisa de iniciação
científica é o de iniciar um estudo exploratório sobre a arquitetura habitacional característica
desses povos, de valor essencialmente vernáculo, através de uma revisão web e bibliográfica
seguida do estudo dos casos específicos da região ártica, do nordeste e das grandes planícies da
América do Norte. Procura-se assim fazer uma leitura crítica das soluções arquitetônicas
resultantes da adaptação desses indivíduos ao ambiente em que estavam inseridos por meio da
descrição, ilustração e análise de casos documentados por pesquisadores, abarcando aspectos
funcionais, tecnológicos, formais e estéticos.
2
4
INTRODUÇÃO
Embora se considere a “descoberta” das Américas ocorrida em 12 de outubro de 1492,
quando o explorador genovês Cristóvão Colombo (1451-1506) navegou para o Caribe e encontrou
o “Novo Mundo”, mais do que um descobrimento, o que houve de fato foi o início da exploração
colonial europeia do continente, a qual perduraria por séculos.
Ao custo de muito sofrimento, doença, escravidão e profunda crueldade, as
Américas foram recompensadas com bela arquitetura e belas cidades, que
florescerem reagindo a climas de trópicos, montanhas e florestas pluviais
(GLANCEY, 2001, p.98).
Entretanto, já existiam aqui manifestações arquitetônicas de valor, as quais foram por
muito tempo menosprezadas – logo, desrespeitadas e descaracterizadas –, mas que passaram a
ser estudadas como testemunhos vernaculares da identidade e do espírito americano. Acredita-se
que a América no Norte tenha sido habitada desde muito antes de 10.000 a.C. (NATIONAL
GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972), levantando-se algumas hipóteses acerca da origem de seus
primeiros habitantes e de suas rotas através do continente. Segundo alguns estudiosos1, uma das
mais viáveis seria a de que ocorreram duas migrações vindas da Sibéria através do Estreito de
Bering, que, naquele período, constituiria uma conexão de gelo e terra entre a Ásia e as Américas
(Fig. 01 – Prováveis rotas do ser humano para a América). Essas migrações teriam sido
empreendidas por caçadores que, em poucos milênios, difundiram-se pela América do Norte,
América Central e, posteriormente, América do Sul, estabelecendo diversos estilos de vida.
FIGURA 01
Na América do Norte, entre 8000 e 1000 a.C., de acordo com Asikinack et Scarborough
(1996), alguns grupos abandonaram a vida nômade e começaram a fixar-se, iniciando aldeias e
domesticando animais. Este período coincide com a extinção dos grandes mamíferos que
1
Entre os autores consultados, vários apresentam a hipótese de que a América do Norte teria sido primeiramente visitada através do
Estreito de Bering, entre os quais: João Boltshauser, em seu livro História da Arquitetura; Bill Aisinack e Kate Scarborough, no livro À
Descoberta da América; John Haywood em Living History: What life was like in ancient times; e, finalmente, Tom Dillehay, no artigo
Probing deeper into first American studies (N. autora).
3
originalmente existiam em abundância no continente e caracteriza o surgimento de um novo estilo
de vida, baseado na caça de animais de pequeno porte e na coleta de vegetais. Segundo esses
autores, a agricultura veio a desenvolver-se na região leste somente a partir de 1000 a.C..
A arquitetura primitiva possui, para várias culturas, questões recorrentes que têm relação
principalmente com o estilo de vida da comunidade em questão. O processo que levou ao
sedentarismo de grande parte dos habitantes do continente norte-americano esteve acompanhado
de uma transformação profunda na elaboração das habitações. Esta, pode-se dizer, tem aspectos
recorrentes na história de várias sociedades, mas se desenvolve diferentemente em cada cultura,
por meio da influência dos fatores que vão além do estilo de vida de cada tribo. Na América do
Norte, os estágios não ocorreram simultaneamente em todas as tribos e, em alguns casos, nem
todos os estágios ocorreram dentro do período estudado, uma vez que algumas tribos
permaneceram nômades ou seminômades até a colonização.
Ainda assim, é possível traçar uma linha de evolução geral que se inicia com o uso de
cavernas e outros abrigos naturais – compatível com o estilo de vida dos primeiros imigrantes – e
que passa pela construção de abrigos provisórios, abrigos portáteis na fase de seminomadismo e,
finalmente, abrigos fixos, com o sedentarismo de grande parte das populações. Os grupos
oriundos da Ásia, inicialmente sem capacidade de construir seu abrigo e sem conhecimentos
sobre o ambiente e os materiais disponíveis, dependiam dos abrigos que a natureza fornecia.
Esses grupos – que os antropólogos nomeiam de paleoíndios – estavam em constante busca por
caça – em geral, animais de grande porte como bisontes, mastodontes, mamutes, castores e
preguiças gigantes (ASIKINACK; SCARBOROUGH, 1996).
Nesse estágio, as cavernas costumavam ser ao mesmo tempo mais convenientes e mais
seguras e, ao se analisar a geografia do continente, observa-se que eram mais abundantes na
região oeste, em quase toda extensão das Montanhas Rochosas. Alguns exemplos daquelas que
foram utilizadas como abrigos nos primórdios americanos são a Sandia Cave e a Burnet Cave, no
Estado do Novo México, além da Graham Cave no Missouri e a Friesenhahn Cave no Texas
(NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972). Além disso, escavações feitas na Gruta de Wilson
Butte, no Estado do Idaho, revelam a presença humana desde aproximadamente 14.500 anos
atrás a partir de medições a radiocarbono em ossos associados a artefatos de pedra (COE et
SNOW, 1997).
Após o ano 8000 a.C., conforme Coe et Snow (1997), inicia-se o chamado Período
Arcaico, caracterizado por grandes mudanças climáticas e, consequentemente, comportamentais.
Nessa época, o continente como um todo passa por reajustamentos ambientais que no começo
foram rápidos, mas depois abrandaram com o decorrer do tempo. Esse ambiente mutável levou os
aborígenes a produzirem adaptações não especializadas, estas amplamente exemplificadas pelos
restos arqueológicos encontrados. A produção de uma vasta gama de artefatos nesse momento
demonstra a aquisição de conhecimentos acerca do ambiente por parte do homem, comprovando
4
que, de acordo com o respeitado pesquisador norte-americano Barr Ferree (1862-1924), quando o
homem torna-se mais acostumado ao seu entorno, as suas ideias ficam mais fortes e mais
definidas e ele assim começa a construir seu próprio abrigo.
Primeiramente, o ser humano preocupa-se com o conforto e empilha folhas e ramos.
Depois, volta-se para o clima que, segundo Ferree (1889; 1890), tem um papel determinante entre
os povos primitivos – muito mais do que entre os desenvolvidos. Constantemente, o primeiro
elemento climático a ser considerado é o vento e, com a intenção de proteger-se, o homem
primitivo constrói barreiras de terra, galhos ou peles, geralmente circulares ou semicirculares, com
uma fogueira próxima a entrada. Neste sentido, as mais de 600 casas parcialmente subterrâneas
encontradas no sítio arqueológico Ipiutak, na região Ártica, condizem temporal e culturalmente
com o afirmado pelo pesquisador, pois foram construídas no início da Era Comum; período em
que os esquimós pré-históricos que ali habitavam tinham os conhecimentos e as ideias mais
estabelecidas, como se nota pelas elaboradas esculturas entalhadas em marfim.
Foi portanto no Período Arcaico, quando ocorreu um momento de transição entre a etapa
de caça de grandes animais e a de cultivo de plantas em grande escala – que não
necessariamente significaria uma sedentarização imediata – que teve início a civilização
americana. Para Coe et Snow (1997), os grupos que então estavam inseridos em áreas de clima
propício para o crescimento de culturas de origem tropical, acabaram por otimizar a utilização de
um número cada vez maior de espécies de plantas e animais, aperfeiçoando seus utensílios, o
que inclui a produção de seus abrigos (dwellings). Nestes termos, pode-se dizer que foi com essas
primeiras manifestações que nasceu a arquitetura vernácula norte-americana e, assim, sua
história e desenvolvimento até a chegada dos primeiros europeus no final do século XV e
sua decorrente influência.
5
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com Coe et Snow (1997), quando os ambientes tornaram-se mais estáveis, as
comunidades americanas primitivas puderam arriscar-se em adaptações mais especializadas,
estas apropriadas para as atividades de subsistência mais previsíveis. Nos primórdios da América,
a coleta de alimentos pôde permitir residência fixa em alguns casos, porém os movimentos
sazonais ainda eram necessários para a aquisição de recursos. Houve, porém, mudanças quando
os indivíduos passaram de nômades livres para restritos, em que os grupos se deslocavam ano
após ano para os mesmos locais de acordo com as estações. Tal passagem estava diretamente
ligada ao aumento populacional daquele momento de estabilidade, o que fazia com que os
territórios fossem reduzidos e o deslocamento em busca de recursos fosse quase impossibilitado.
Após a fase de nomadismo, o indígena norte-americano se tornou sedentário, uma vez
que a produção de alimentos exigia residência permanente. Segundo esses autores, para isto
também contribuía o fato de que para manter-se equilibrado o sistema de caça e coleta precisava
5
de grandes áreas e de baixa densidade populacional; e, mesmo assim, teria grande estabilidade
somente se houvesse variação na quantidade de recursos obtidos ao longo dos meses, estações
e até mesmo anos. Ainda que a agricultura também trouxesse riscos de perda da colheita, a faixa
e a possibilidade de variações eram menores e, de certo modo, superadas pela população, pois
as vantagens de variedade e volume de obtenção tornaram-se maiores que as desvantagens
nesse momento de disputas territoriais e aumento populacional devido à nova estabilidade.
Foi nesse estágio de maior avanço técnico que a proteção arquitetônica anterior, ainda
rudimentar, foi modificada: uniu-se o topo de galhos com o intuito de proteger-se de outras
intempéries e, a partir da adição de galhos diagonais para a estrutura, apareceu a hut ou cabana
primitiva2 – muitas vezes transportada de acordo com as expedições de caça. O uso dessa
estrutura foi muito comum entre os aborígenes da América do Norte, sendo o teepee ou tipi da
tribo Blackfoot a forma mais divulgada: uma espécie de tenda em formato de cone recoberta por
peles de animais. Além deste povo, algumas tribos Ojibwa e Paiute também fizeram uso desse
princípio. Porém, enquanto os paiutes utilizavam a forma cônica semelhante aos blackfeet –
embora de execução menos cuidadosa –, as habitações dos ojibwas tinham um formato de cúpula
(SANDERS, 1971).
Desde 3000 a.C., diversas e diferentes sociedades tribais desenvolveram-se no norte da
América, desde os apaches na região sul até os inuits próximos ao Ártico. Segundo Haywood
(2007), essas tribos podiam ser compostas desde dez famílias até milhares de indivíduos, que
frequentemente se encontravam em estado de guerra ou, ao contrário, confraternizavam-se por
meio de cerimoniais ou através do comércio, inclusive possibilitando a formação de associações.
Os índios algonquianos, que viviam na região nordeste, por exemplo, formaram a Confederação
de Powhatan, originalmente constituída por seis tribos e que dominou todo o atual Estado da
Virgínia. No sudeste, por sua vez, as tribos Creek, Seminole, Cherokee, Choktaw e Chickasaw
ficaram conhecidas entre os europeus como as “Cinco Tribos Civilizadas” da América, devido ao
seu sofisticado sistema de leis judiciais e direitos territoriais, desenvolvido por influência europeia.
Várias autoridades estimam que quando Colombo chegou ao Novo Mundo, entre seis e
60 milhões de pessoas, falando cerca de 550 línguas, habitavam toda a área que atualmente
compreende a América do Norte, sendo que de uma a oito milhões falavam metade desses
idiomas e viviam ao norte do que hoje é o México (Fig. 2 – Línguas indígenas da América do
Norte). Quando esse mundo e aquele dos europeus encontraram-se, um longo e difícil conflito
tornou-se inevitável. Na Nova Espanha, os conquistadores exploraram os índios brutalmente, além
de se apossarem de suas terras e conduzirem a maioria das tribos do Atlântico e da Costa do
2
Os barracos (schacks) estão inseridos no mesmo estágio das cabanas primitivas, mas se desenvolveram de maneira diferenciada. A
escolha entre um tipo ou outro era feita geralmente a partir dos materiais disponíveis e técnicas conhecidas. Entre as tribos nativas
que utilizavam as estruturas em barracos estão os da tribo Seminole – cujas habitações são denominadas chickee –; os Haidas, que
construíam barracos feitos de enormes pranchas e toras de cedro; os Hurons e os Iroqueses, estes últimos com a sua chamada
longhouse ou “casa comprida” (COE et SNOW, 1997).
6
Golfo para o interior, apesar das vãs tentativas de resistência (NATIONAL GEOGRAPHIC
MAGAZINE, 1972).
FIGURA 02
Embora,
séculos XVIII
entre
os
e XIX, tenha
havido iniciativas de proteção
das áreas indígenas3, em 1830,
por
exemplo,
o
Andrew Jackson
presidente
(1767-1845)
assinou uma lei providenciando
a retirada das “Cinco Tribos
Civilizadas”
de
suas
terras
ancestrais no sudeste. Exceto
por alguns pequenos grupos
que fugiram, membros dessas
tribos foram todos movidos para
o Estado contemporâneo de
Oklahoma, na época o Indian
Territory (“Território Indígena”).
Segundo a mesma fonte, marchas forçadas para o oeste ao longo da chamada "Trilha das
Lágrimas" deixaram um quarto dos cherokees ─ entre 11.000 e 13.000 indivíduos ─ mortos por
doenças, exposição e fome, apesar de que, oficialmente, não terem ocorrido problemas4.
Infelizmente, os tratados garantindo as terras ocidentais ad infinitum para os indígenas
não duraram. Em meados do século XIX, segundo a National Geographic Magazine (1972),
colonos brancos começaram invadindo as planícies de área tribal, trazendo confrontos sangrentos
que continuaram através das últimas décadas dos oitocentos até que, enfim, os indígenas fossem
"pacificados" e deixados com pouco, exceto sua angústia5. Em 1900, os sobreviventes das
Guerras Indígenas haviam sido confinados em reservas totalizando somente 4% de todas as
terras dentro das fronteiras dos EUA. Hoje, reservas indígenas compreendem apenas 2% dos 48
Estados norte-americanos contíguos; e, no Canadá, as reservas ocupam somente 0,25% de todas
as províncias.
3
Isto pode ser demonstrado, segundo a National Geographic Magazine (1972), por uma declaração do Congresso dos EUA de 1789,
segundo a qual, em tradução livre: “A máxima boa-fé deve sempre ser mantida para com os indígenas; suas terras e propriedades
nunca devem ser tomadas deles sem seu consentimento; e, em sua propriedade, direito e liberdade, eles nunca devem ser invadidos
ou perturbados, a não ser em guerras justas e legítimas autorizadas pelo Congresso [...]”.
4
Ainda conforme a mesma fonte, em seu pronunciamento de 1838, o presidente Martin Van Buren (1782-1862), 1830, alegava: “Dáme sincero prazer ser capaz de informá-los da completa retirada da Nação de Índios Cherokee para suas novas casas ao oeste do
Mississipi [...] Sua retirada tem sido majoritariamente feita sob comando de seus próprios chefes, e eles emigraram sem qualquer
relutância aparente" (Tradução livre).
5
Nas palavras do Chefe Joseph, da tribo Nez Percé, ditas em 1877: “Estou cansado de lutar. Nossos chefes estão mortos [...] Está frio
e nós não temos cobertores. As crianças pequenas estão congelando até a morte [...] Ouçam-me, meus chefes, eu estou cansado;
meu coração está doente e triste. De onde o sol se encontra agora eu nunca mais lutarei" (NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE,
1972, em tradução livre).
7
O interesse da presente
pesquisa é justamente o período
que
antecede
a
formação
contemporânea do Estado norteamericano
México,
(EUA),
Canadá
compreendendo
e
assim
dos primórdios da América até o
século XIX. No intuito de facilitar
esse estudo, que visa abordar a
arquitetura
vernácula
norte-
americana no continente, de modo
a
encontrar
particularidades
características de cada cultura
anterior à colonização europeia, é
interessante dividir o território em
doze áreas (Fig. 03), a saber: (1)
Ártico
e
Ilhas
Aleutas,
(2)
FIGURA 03
Subártico, (3) Planícies, (4) Grande Bacia, (5) Planalto do Colorado, (6) Costa Noroeste, (7) Costa
da Califórnia, (8) Sudoeste, (9) Sudeste, (10) Nordeste, (11) Caribe e (12) Mesoamérica (Fig. 03 –
Regiões de cultura nativa da América do Norte).
1) Região do Ártico e Ilhas Aleutas:
Considerados como os únicos aborígenes não-indígenas na América do Norte quando os
exploradores europeus chegaram, os esquimós, que vivem na região próxima ao Círculo Polar
Ártico, no extremo norte do continente; e os aleutas, habitantes das ilhas de mesmo nome, que
formam um arquipélago, em forma de arco, no prolongamento da península do Alaska para o
sudoeste, são diferentes dos indígenas pela aparência, pela língua e pela cultura (Fig. 04).
Os esquimós seguiam um estilo de vida
FIGURA 04
surpreendentemente uniforme através de todo
continente, conseguindo sobreviver em um dos
ambientes mais severos da Terra por meio da
ingenuidade e grande adaptabilidade. Enquanto
os
polares
viviam
em
pequenos
bandos,
movendo-se sazonalmente para pescar e caçar
renas ou mamíferos marinhos, os habitantes mais
do interior continental dependiam quase inteiramente de renas. Havia ainda aqueles esquimós que
se diferenciavam dos povos árticos vizinhos pelo seu uso de ferramentas em metal,
principalmente cobre (NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972).
8
Em termos étnicos, os esquimós6 podem ser classificados em dois grupos: os inuits7, que
são os habitantes das regiões de tundra ártica no norte do Alasca, Canadá e Groelândia; e os
yupiks, os quais vivem ao sul do Alasca, cujo clima é subártico – que se subdividem nas tribos
Aluutip e Yu’pik –, assim como na península siberiana de Chukchi, os quais se agrupam nas tribos
dos chaplinos, naucanos e sirenikis (MALAURI, 1981). Hoje em dia, segundo Cordeiro (2014),
existem aproximadamente 150.000 esquimós, a maioria deles vivendo em uma faixa litorânea com
cerca de 3.000 km de extensão nos EUA, norte do Canadá e na Sibéria, ao noroeste da Ásia; local
que provavelmente foi o de sua origem.
Na região ártica, o solo fica escondido, na maior parte do ano, por um manto de neve,
que acaba sendo o material mais disponível para os esquimós construírem seus abrigos. Sua
construção vernácula mais conhecida é o iglu (igloo), cujo termo significa “casa”. Embora aquele
feito em gelo seja o mais divulgado, o mais comum é executado em madeira: cada um costuma ter
15m x 25m, com telhado inclinado para impedir desabamento por acúmulo de neve (CORDEIRO,
2014). No caso dos iglus feitos de gelo, a neve solidificada é cortada à faca em blocos levemente
encurvados, os quais são encaixados em espiral. A construção demora cerca de duas horas e,
para se conseguir maior claridade, encaixam-se nas paredes vidros de gelo feitos de água doce
(BOLTSHAUSER, 1965).
Por sua vez, os aleutas são os descendentes dos primeiros habitantes das Ilhas Aleutas
e, por falarem um idioma similar a dos esquimós, pressupõe-se que ambos os povos tenham igual
origem. Da mesma forma, também baseiam sua economia na caça de mamíferos marinhos.
Amplo conhecimento de anatomia, adquirido a partir do abate de leões marinhos, focas e morsas
─ e também através da dissecação de humanos mortos ─ permitiu aos aleutas formular práticas
sofisticadas de medicina e saúde. Segundo a National Geographic Magazine (1972), de 1741,
quando os russos descobriram as ilhas, até 1867, quando os EUA adquiriram o Alasca, houve
grande participação dos aleutas no comércio de peles, assim como a sua conversão para a Igreja
Russa Ortodoxa. Sua população, estimada em cerca de 20.000 no século XVIII, agora não deve
ultrapassar a casa de 6.000 pessoas.
2) Região Subártica:
A vasta floresta boreal situada ao sul da tundra ártica pouco fornecia para seus
habitantes. Em sua maioria formada por pescadores e caçadores nômades de renas e alces, a
comunidade dos indíos subárticos viajava pela costa usando tobogãs, canoas de casca de
vidoeiro ou mesmo raquetes de neves. As armas de fogo, introduzidas pelos franceses, trouxeram
facilidade na caça e fomentaram o comércio de peles em tribos como os Cree (Fig. 05) que são
6
Na verdade, o termo “esquimó” é pejorativo, pois significaria “comedor de carne crua”. Contudo, segundo Anna Berge, linguista da
Universidade do Alasca, “não é certo que essa seja a origem da palavra. Eles mesmos não se chamam de ‘esquimós’” (CORDEIRO,
2014, p.1).
7
De acordo com seus dialetos, o povo Inuit pode ser subdividido em 16 subgrupos, os quais são reunidos em 04 (quatro) grandes
grupos, a saber: os kalaallits, que vivem na Groelândia; os inupiats, que habitam o Alaska; os inuvialuits, que se situam na região
costeira do Golfo de Amundsen, no oeste do Canadá; e os inuits propriamente ditos, que se distribuem no leste canadense, nas
províncias de Nunavut, Nunavik (norte de Québec) e Nunatsiavut (norte de Labrador) (MALAURIE, 1981).
9
considerados o maior grupo indígena do Canadá, contando atualmente com cerca de 200.000
indivíduos –, mas também encorajaram a guerra. Vivendo das Montanhas Rochosas até o Oceano
Atlântico, sua construção típica é o tipi (teepee); a tenda cônica originalmente feita de peles de
bisões enroladas em madeira (NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972).
Na área compreendida entre as Montanhas Rochosas e a Baía de Hudson vive a tribo
nativa canadense denominada Chipewyan ou Tchipewyan, também conhecida por Dené Suliné.
Hoje, seus remanescentes habitam também as margens do Grande Lago dos Escravos, do lago
Athabasca e do rio Churchill, além do delta do rio Mackenzie, em reservas que hoje não totalizam
15.000 pessoas. Conforme a National Geographic Magazine (1972), nove décimos dos
chipewyans, em certo momento a maior tribo de língua Athapaskan no Subártico Central,
morreram de varíola em 1781. Eles eram os intermediários comerciais entre os inuit e os cree,
FIGURA 05
dedicando-se à caça e à pesca; e
morando
denominada
em
uma
wigwam
habitação
ou
wickiup;
termo também comum no oeste e
sudoeste americano, o qual se refere
a uma moradia cupular de um só
recinto, executada por uma armação
de galhos arqueados recoberta por
materiais disponíveis na região, tais
como: capim, junco, palha, couro ou
tecidos (OPLER, 1994).
3) Região das Planícies:
O cavalo, trazido para o Novo Mundo pelos espanhóis, começou a transformar a vida nas
planícies centrais da América no fim do século XVII e início do seguinte, quando a maioria das
tribos nas planícies mais ao norte – incluindo os blackfeet8, que viviam a oeste dos Grandes Lagos
e receberam este nome por pintarem seus calçados com motivos de cor negra; e os cheyennes,
conhecidos como o “povo belo”, que abandonou a agricultura ribeirinha para viver como caçadores
nômades de búfalos na grande região de Minnesota – havia adquirido uma nova vida, altamente
eficiente, a partir da caça montada. Grande parte das tribos estabeleceu rígidas leis de caça, estas
elaboradas para manter as grandes manadas de bisões intactas e as reservas de comida,
8
Os “pés-negros” atualmente fazem parte da chamada Blackfoot Nation, situada a noroeste de Montana e com a população, estimada
em não mais que 25.000 pessoas, concentrada na localidade de Browning. De acordo com o site oficial da província canadense de
Alberta (2014), esse termo relaciona-se com três tribos da região: a Siksiká, a Kainai (anteriormente, designada de os Bloods) e a
Pekuni (ou a dos Peigans). Enquanto os primeiros situama-se mais ao norte, às margens do rio Bow, a leste de Calgary; os Bloods
vivem ao sul, entre os rios Oldman, Belly e St. Mary, a oeste de Lethbridge. Ao leste destes, situam-se os Peigans, próximos ao rio
Oldman, os quais também podem ser encontrados próximos ao rio Missouri, no Estado norte-americano de Montana. Tal distribuição
reflete o resultado de uma série de tratados, mas que, ao longo dos últimos cem anos, vem se dirigindo mais para o sul. Essas tribos
eram independentes, mas falavam a mesma língua e tornaram-se aliadas quando estavam próximas à extinção, por volta de 1880.
10
vestimentas e abrigos constantes, também sendo comuns as estruturas habitacionais em tipis.
Ainda que essa cultura, em sua maneira clássica, tenha florescido por menos de um século, a
imagem dos “Cavaleiros das Planícies” perdura como o estereotipo do índio norte-americano
(NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972).
Já
os
descendentes
dos
agricultores
que
migraram pelo rio Missouri no final dos tempos préhistóricos sãos os mandans, os quais ocuparam suas
margens e de seus afluentes, na região dos atuais
Estados norte-americanos de Dakota do Norte e
Dakota do Sul. Assim como outros povos estabelecidos
no centro das Grandes Planícies, construíram vilas
fortificadas de alojamentos em terra e cultivaram milho,
abóboras e girassóis. Seus assentamentos serviam
como centros mercantis de comércio entre brancos e
tribos nômades das planícies, mas devido a guerras
FIGURA 06
contra outros povos indígenas – como os arikarees,
que também eram conhecidos como povo Arikara, Sahnish ou Ree, que vivia entre os rios
Cheyenne e Fort Berthold; e os dakotas; uma subtribo do povo Sioux – assim como as tribos
Lakota, Yanktonal e Yankton (Fig. 06) –, que vivia em Wisconsin e Minnesota no século XVII e se
aliou aos mercadores franceses –, além de epidemias de varíola (a última em 1837), quase
dizimaram sua população, que hoje conta com cerca de 6.000 indivíduos (JOHNSON et SMITH,
2000; DILLEHAY, 2009).
4) Região da Grande Bacia:
A extensa área de altiplanos desérticos, de clima continental e seco, denominada Grande
Bacia – Great Basin, em inglês – está localizada na região oeste dos EUA, entre a Serra Nevada e
os Montes Wasatch, os quais constituem um ramo das Montanhas Rochosas. Formada por várias
cordilheiras menores paralelas que percorrem o território de norte a sul, tem uma área de cerca de
500.000 km², a qual apresenta diversos lagos salgados e muito alcalinos, além dos desertos de
Monjave e Sonora. Atualmente, abrange a maior parte do Estado norte-americano de Nevada,
mais da metade de Utah e partes da Califórnia, Idaho, Oregon e Wyoming.
Os indígenas da cultura desértica da Grande Bacia eram mestres na exploração de um
ambiente hostil, sendo que seu antigo estilo de vida baseado em pilhagens persistiu praticamente
intacto até finais do século XIX. Como outros povos dessa região árida de temperaturas extremas,
segundo a National Geographic Magazine (1972), os paiutes9 – cujo nome provém de pãh, que
9
O povo Paiute – também grafado como Piute – originou-se dos chamados índios Ute e divide-se atualmente em dois grupos: os
paiutes do norte, que incluem as tribos lohim e Paviotso (Norte da Califórnia, Nevada e Oregon; e os paiutes do sul, os quais incluem
os grupos Chemehuevi (Sul da Califórnia); Pahranagat, Panaca, Las Vegas, Moapa e Gunlock (Nevada); Kaibab, Shivwits, Vinkaret,
San Juan e St.George (Arizona); e Cedar, Beaver, Kaeprowits, Antiaranunts e Panguitey (Utah) (FRANKLIN et BUNTE, 1989).
11
significa “água” – viveram uma vida de nomadismo cíclico. Grupos de famílias construíam abrigos
de pele escovada, também estruturada em formato cônico como os tipis, situados em locais
estratégicos para tirarem vantagem da disponibilidade sazonal das sementes, raízes selvagens,
pequenos animais e insetos.
5) Planalto do Colorado:
Conhecida como Colorado Plateau, a região fisiográfica que constitui os chamados
“Quatro Cantos (Four Corners) situa-se no noroeste dos EUA e possui uma área de
aproximadamente 337.000 km², abrangendo oeste do Estado de Colorado, leste de Utah, noroeste
do Novo México e norte do Arizona. Tendo aproximadamente 90% de sua área drenada pelo rio
Colorado e seus principais afluentes (Little Colorado, San Juan e Green), trata-se de uma região
que abrange desde um semideserto até densas floretas e montanhas cobertas pela neve, a qual
abrigou grupos amplamente dispersos em tempos pré-históricos. Seus indígenas praticavam a
democracia e tranquilidade em suas aldeias vagamente organizadas, vivendo em harmonia com
as tribos vizinhas. Intensamente espiritual, o povo do planalto dedicava-se a longos períodos de
isolamento, meditação e jejum, na busca de visões sobrenaturais (NATIONAL GEOGRAPHIC
MAGAZINE, 1972).
FIGURA 07
As ocupações nativas dessa área deram-se
com os povos Hohokan, Mogollón e Anasazi (Fig. 07),
sendo esta última civilização a mais antiga, que viveu
ali por volta de 1200 a.C. e deixou diversos
monumentos classificados como Patrimônio Mundial
da Humanidade pela UNESCO, como o Cliff Palace
(Fig. 08), situado no Parque Nacional de Mesa Verde
(1100-1300). Conhecedores de cerâmica, tecelagem e
irrigação, seus membros também faziam observações
dos movimentos solares e construíam aldeias que, a
partir do século X, reuniam centenas de habitantes,
localizando-se em locais de difícil acesso, como em
Cañón
Chaco
(900-1100),
inclusive
debaixo
de
penhascos – situação que os protegia tanto da chuva e
neve do inverno, além do forte sol de verão, como do
ataque de inimigos. Porém, ainda restam dúvidas do
porquê dessas povoações estarem implantadas em um
local tão remoto, bem longe dos campos de cultivo, o
que dificultava o acesso inclusive de seus próprios
moradores.
FIGURA 08
12
As casas mais antigas dos anasazis eram muito pequenas e modestas, cujas paredes
eram feitas de uma espécie de adobe aplicado a uma grade de madeira (jacal). Já as construções
melhor conservadas tinham uma estrutura em pedra unida por argamassa. Há indícios que eles
também sabiam cozer o tijolo e, em várias aldeias, encontram-se vestígios de pintura decorativa
sobre um revestimento de gesso, argila ou diretamente sobre o adobe. O telhado era coberto por
camadas de argila e ramos. Inicialmente, as moradias possuíam um só nível, mas podiam elevarse em mais dois andares, sendo que várias salas retangulares no térreo eram reservadas para
armazenamento de alimentos. A vida quotidiana realizava-se sobretudo nos terraços das casas ou
em áreas abertas denominadas de plazas ou de kivas, que, a princípio reservadas para o
descanso, acabaram sendo usadas para cerimônias religiosas.
Para Grahame et Sik (2002), o colapso da população Anasaki, por volta do século XIV,
não significou seu desaparecimento. Com a colonização, os indígenas emigraram para outras
regiões, considerando-se como seus descendentes os índios denominados Pueblo – como os
zunis e os hopis –, que vivem em localidades próximas ao Rio Grande, mesmo que ainda se
questione se realmente houve uma continuidade étnica entre estes povos ou apenas continuidade
geográfica. Ainda de acordo com esses autores, outros povos do Planalto do Colorado incluem
tribos da cultura Pais, como os navasupasi, os hualapai e os paiutes, além de grupos que
acabaram dominado a região posteriormente, como os utes e os apaches ocidentais. Até a
chegada dos espanhóis, no início do século XVI, cerca de 100.000 nativos viviam em mais de 100
aldeamentos nas regiões norte e central do Novo México; população esta que foi praticamente
dizimada, tanto por doenças europeias como pela superioridade militar dos colonizadores.
No século XVIII, a tribo dos Nez Percé – termo que significa “narizes perfurados” –, a qual
vivia às margens do rio Columbia, além de outros grupos indígenas do Planalto ocidental, adotou
o estilo de vida das tribos vizinhas, transformando-se em cavaleiros e caçadores de búfalos. Em
1877, seus guerreiros renderam-se às tropas governamentais, depois de uma batalha
devastadora; e, hoje em dia, seus descendentes vivem em uma reserva no Estado de Idaho10
(WALKER JUNIOR et JONES, 1998).
Entre 1776 e 1847, segundo Grahame et Sik (2002), numerosos exploradores e
caçadores fizeram contato com os nativos dessa região, estabelecendo relações econômicas
limitadas com eles. Contudo, a chegada dos pioneiros mórmons de Utah e, posteriormente, a
abertura do oeste pelos colonos anglo-americanos trouxe fim à hegemonia indígena no Planalto.
Hoje, somente cerca de um quarto dos moradores do Colorado Plateau são nativos americanos,
porém graças à chegada tardia dos índios Navajo.
10
Em 1800, havia mais de 70 aldeias permanentes dos índios Nez Percé, as quais abrigavam de 30 a 200 indivíduos, dependendo da
estação e do grupo social. Em torno de 300 sítios foram identificados, incluindo tanto acampamentos quanto aldeias. Tratava-se de
uma das populações mais significativas daquela região, com um total de mais de 6.000 indivíduos. No início do século XX, devido
aos conflitos com colonos, epidemias e outros fatores, os Nez Percé declinaram para não mais que 1.800 pessoas (WALKER
JUNIOR et JONES, 1964).
13
6) Costa Noroeste:
A vida marinha abundante e uma sofisticada tecnologia para coletá-la e armazená-la
ajudaram a garantir a prosperidade e o lazer dos povos ameríndios da Costa Noroeste. Quando os
exploradores europeus encontraram-nos pela primeira vez no século XVIII, um desenvolvido
sistema de classes sociais e cerimonialismo já estavam bem estabelecidos. O trabalho com
madeira considerado um dos mais elaborados da América nativa – era o principal ofício entre os
povos Tlingit e Kwakiutl, além de outras tribos da região. Objetos festivos e utilidades eram
decorados com desenhos entalhados, porém, muita da sua arte e também do seu cerimonialismo
desapareceram com a colonização. Apesar disso, uma nova geração tem realizado esforços para
revivê-los, principalmente na região costeira da Colúmbia Britânica (Canadá). Vale destacar
também a tribo que melhor pescava baleias da Costa Noroeste, os nootkas, que cavaram abrigos
próximos ao oceano com toras de cedro (NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972).
FIGURA 09
7) Costa da Califórnia:
Entre
os
rios
do
Nordeste
do
Pacífico e a costa árida do México, os
colonizadores
europeus
do
século
XVI
encontraram uma terra ocupada por vários
povos que falavam mais de 100 idiomas
diferentes e viviam em pequenas vilas
independentes,
distribuídas
por
todo
o
território, os quais já o povoavam há cerca de
300.000 anos (Fig. 09). Contudo, quando o
navegador Juan Rodríguez Cabrillo (14991543) aportou na região em 1542, acreditou
que se tratava de uma ilha, batizando-a de
Califórnia em referência a um romance
espanhol do início daquele século intitulado Las Sergas de Esplanadían, o qual descrevia uma ilha
mítica transbordante de riquezas naturais e governada por uma rainha pagã chamada Calafía
(BAIRD, 1998).
Originários da região, os povos Pomo, assim como muitos outros grupos indígenas norteamericanos, eram pescadores, caçadores e coletores de castanha de carvalho, a qual moíam para
produzir refeições junto com cogumelos, insetos, pequenos roedores e coelhos, Eram
seminômades, migrando pelas grandes planícies californianas e adaptando-se de forma pacífica e
através da construção rudimentar de abrigos em forma de choças. Embora não praticassem a
agricultura, fabricavam vestimentas, em especial saias curtas e grossas feitas de pele de camurça
para as mulheres, além de roupas mais grossas para o inverno (WARRIORS, 2014).
14
Conhecidos como mestres da cestaria e fabricação de joias, estima-se que havia
aproximadamente 8.000 pomos em 1770, os quais praticamente foram extintos, conforme a
National Geographic Magazine (1972), pelos conflitos e doenças trazidos pela colonização branca,
restando atualmente pouco mais de 700 indivíduos, cuja maioria vive na reserva de Dry Creek, no
condado de Sonoma (Califórnia) e ainda fala cerca de doze dialetos pomo.
8) Região Sudoeste:
Em 1535, o conquistador espanhol Francisco Vázquez Coronado (c.1510-54) chegou à
Nueva España e tornou-se homem de confiança do então vice-rei, Antonio de Mendonza y
Pacheco (1490-1552), ascendendo rapidamente e tornando-se governador, o qual foi imbuído da
tarefa de apaziguar indígenas na região do atual Novo México. Para tanto, organizou uma
expedição com 340 espanhóis e outros tantos nativos aliados, que se dirigiu para aquele território
em 04 de maio de 1540. Procurando em vão pelas Sete Cidades de Cíbola11, os exploradores
percorreram todo o interior do Golfo da Califórnia até o norte, chegando a Yuma, no atual Estado
do Arizona. Nesse percurso, conquistaram Hawikuh12 e as cidades vizinhas do povo Pueblo13.
Os primeiros exploradores do sudoeste norte-americano usaram o termo pueblo – que
significa “povo; povoado” em espanhol – para designar as comunidades nativas ali encontradas
que se abrigavam em estruturas feitas de adobe, pedra ou material similar, as quais podiam ter
mais de um andar e eram geralmente agrupadas em torno de uma praça aberta. Tais construções
eram ocupadas por várias pessoas e somente eram acessíveis por escadas internas, evitando
assim intrusos. Acredita-se que seus ancestrais tenham chegado naquela região por volta de
2.300 anos atrás, basicamente provenientes de três povos: os Mogollon, os Hohokam e os
Anasazi, que viveram seu período áureo entre 1100 e 1300 d.C., quando construíram
comunidades como Pueblo Bonito14, um dos maiores assentamentos indígenas de Chaco Canyon,
ao noroeste do Novo México (HEWITT INSTITUTE, 2014).
11
Tratavam-se de cidades legendárias repletas de riquezas, as quais, durante a época colonial, supunha-se existir em algum lugar do
norte da Nueva España, ou seja, onde atualmente se localizam o norte do México e sudoeste dos EUA. A origem desse mito remonta
de 713 d.C., quando os mouros conquistaram Mérida, na Espanha. Segundo a lenda, sete bispos fugiram da cidade não somente para
salvar suas vidas, mas também para impedir que os infiéis muçulmanos se apropriassem de valiosas relíquias religiosas. Anos depois
surgiu o rumor de que estes haviam se instalado em um lugar remoto, mais além do mundo conhecido daquela época, onde teriam
fundado as Sete Cidades de Cíbola e Quivira. De algum modo, a lenda estava viva na época das explorações espanholas no Novo
Mundo, a qual foi alimentada por náufragos da fracassada expedição de Pánfilo de Narváez (1470-1528) na Flórida, em 1528, que,
quando regressados à Nueva España, disseram que haviam escutado da boca dos nativos histórias de cidades com grandes riquezas
(LEVERATTO, 2014).
12
Hawikuh ou Hawikuh constitui-se em um marco histórico nacional em ruínas, localizado há cerca de 12 km ao sudoeste de Zuni
Pueblo, Estado do Novo México (EUA); hoje uma reserva indígena e que outrora foi um dos maiores povoamentos da tribo Zuni –
também denominada Zuñi ou Ashiwi –, que sucumbiu durante a conquista pelos espanhóis em meados do século XVI. Embora
considera-se descendentes do antigo povo Pueblo, os zunis, que hoje perfazem de 10.000 a 12.000 indivíduos, falam uma língua
única, não relacionada a nenhum outro povo da região (ASHIWI, 2014).
13
De acordo com a National Geographic Magazine (1972), doença, fome, e a opressão religiosa de seus novos regentes fez com que
os índios Pueblo se revoltassem em 1680, acabando por expulsarem os espanhóis. Contudo, ganharam apenas mais doze anos de
liberdade até serem novamente conquistados e subjugados, sobrevivendo atualmente em algumas reservas indígenas.
14
Pueblo Bonito foi um antigo complexo habitacional que abrigou os índios pueblo entre 828 e 1126, onde atualmente se encontra o
Chaco Culture National Historical Park, no Novo México (EUA). Seu nome foi dado pelos conquistadores espanhóis devido à
magnificência de suas ruínas, ainda que não se conheça o nome original do lugar (ANNENBERGER LEANNER, 2014).
15
De acordo com a National Geographic Magazine (1972), os índios Pueblo dos dias de
hoje, incluindo as tribos Hopi e Navajo, são agricultores e pastores que, apesar das fortes
pressões da cultura branca, mantiveram muitos elementos da organização religiosa e social dos
anasazis, inclusive suas cidades adobe e pedra. Os hopis – que são formalmente conhecidos
como Moki ou Moqui (em espanhol) – vivem no nordeste do atual Estado do Arizona, às margens
do Deserto Pintado; e os navajos – que se autodenominam como Diné ou Naabeehó – também se
distribuíram em partes do Novo México e Utah, sendo ambos os povos pertencentes à família
linguística Athapaskan, o que comprova suas origens no Canadá ocidental.
Na passagem, do século XVIII para o seguinte, os navajos entraram em conflito com os
colonizadores espanhóis, mas foram estes que lhes apresentaram os cavalos, ovinos e caprinos,
o que deu grande impulso à sua economia indígena. Dos mexicanos, adotaram a arte de
ourivesaria e, em 1846, assinaram seu primeiro tratado com o governo dos EUA, mas mesmo
assim alguns conflitos mantiveram-se e perduraram até aproximadamente 1863, quando o
comandante Kit Carson (1809-68) empreendeu uma longa campanha contra os índios, capturando
cerca de 8.000 deles, os quais foram enviados a pé em um percurso de cerca de 600 km para a
reserva de Fort Summer, Novo México (EUA), em um episódio que ficou conhecido como “A
Grande Caminhada”. Nesta reserva, esse povo sofreu diversos males, de baixas colheitas até
doenças e ataque de outras tribos nativas da região. Um novo tratado foi assinado em 1868 e os
sobreviventes foram levados de volta para a antiga reserva, presenteados com ovelhas e gado,
aceitando viver em paz com os colonos americanos. Hoje em dia, estima-se que existam mais de
220.000 navajos vivendo naquela área (GIBSON, 2001).
Por sua vez, os apaches (Fig. 10) consistem em outro grupo indígena que se distribuíam
ao leste do Arizona, Novo México, Texas e noroeste do México, principalmente nos Estados de
Sonora, Chiuahua e Coahuila. Proveniente de uma imigração de quase cinco séculos do Canadá,
foi uma tribo poderosa e guerreira, que permaneceu em conflito constante com os brancos
colonizadores – o termo apachu, de origem zuñi, significa “inimigo”; daí o nome que os espanhóis
lhe deram, pois para si mesmos eram o povo Ndee (“a gente”). Seus membros eram pescadores,
caçadores
e
agricultores,
que
viviam
em
pequenos grupos baseados na família, de caráter
matriarcal. Sua rendição deu-se em 1886, quando
alguns
de
seus
líderes
foram
capturas
e
deportados para a Flórida e Alabama, sendo
mantidos em confinamento militar. Atualmente, há
de 5.500 a 6.000 apaches vivendo em reservas
em Oklahoma, Arizona e Novo México, além dos
estados mexicanos já citados (ROBERTS et
FIGURA 10
ROBERTS, 1998).
16
9) Região Sudeste:
Narrativas da expedição do conquistador e explorador espanhol Hernando de Soto
(c.1497-1542) através do sudeste norte-americano, entre 1539 e 1542, descrevem cidades
indígenas ali existentes, além do povo camponês que as construiu: havia inúmeras etnias que
ocupavam um vasto território que se estendia da Flórida até o interior do continente15. Entretanto,
as sucessivas invasões e, por fim, o processo de colonização levou a um rápido rompimento,
declínio e extinção. Alguns dos índios foram levados para o sistema de missões espanholas,
outros transformados em escravos, principalmente nos século XVI e XVII; e mais alguns tiveram
apenas um contato esporádico com os colonizadores, mas que foi suficiente para o aparecimento
de epidemias causadas pela exposição a doenças infecciosas da Eurásia, como a varíola e o
sarampo, para as quais não tinham imunidade. Logo, muitos morreram dessas enfermidades, em
meados do século XVIII; ou mesmo devido a guerras travadas com os invasores, fossem esses
espanhóis ou ingleses das Carolinas, junto a seus aliados indígenas (MILANICH, 1995).
Conforme Hann (1988), os poucos sobreviventes migraram para fora de seu território,
principalmente para Cuba e México, especialmente após a Guerra Franco-Indígena (1754/63) –
conflito entre os britânicos e os franceses em relação às suas posses na América, com apoio de
povos nativos em ambos os lados: os iroqueses aliados aos primeiros e os algonquianos e
huronianos aos segundos –, quando a Flórida foi cedida à Grã-Bretanha. Ao mesmo tempo,
alguns apalachees atingiriam a Louisiana, onde seus descendentes vivem até hoje.
Um dos povos indígenas que se aliou aos colonizadores e contribuiu para o extermínio
dos nativos do sudeste norte-americano foram os creeks16, que, com o encorajamento inglês,
destruiu a população indígena da Flórida Espanhola. Contudo, segundo a National Geographic
Magazine (1972), em 1814, esses índios também foram derrotados pelos estrangeiros, sendo
obrigados a se deslocar e juntar-se a seus conterrâneos anteriores, formando a tribo Seminole17.
15
Entre os grupos indígenas encontrados na região sudeste dos EUA, nos séculos XVI e XVII, podem ser citadas as seguintes tribos:
Amacano, Apalachee, Apalachicola, Calusa, Chacato, Chine, Guale, Jaega, Mayaca, Mayaimi, Mocoso, Muspa, Pacara, Pensacola,
Pohoy, Tequesta, Timucua, Tocobaga e Uzita. De todos esses povos, o maior grupo foi o Timucua, que viveu no centro e noroeste da
Flórida e sudeste da Georgia, sendo a maioria de seus membros captados para as Missiones. Faziam parte de sua família as etnias
de Acuera, Arapaha, Ibi, Mocama, Ocali, Potano, Utina e Yufera, entre varias outras (HANN, 2003).
16
Originário do século XV, a partir de remanescentes de tribos menores espalhadas em vales dos rios da Georgia, tais como Ocmulgee
e Chattahoochee, o povo Creek – que recebeu essa alcunha dos britânicos, como abreviatura de “índios que vivem no riacho
Ochese” (Indians living on Ochese Creek) – formou-se a partir dos sobreviventes a doenças e guerras trazidas pelos brancos em
meados do século XVII, construindo uma aliança política complexa com povos nativos da região que ia do oeste do rio Ocmulgee até
os rios Coosa e Tallapoosa, no Alabama. Embora não houvesse uma unidade de idiomas, já que envolviam diferentes etnias – entre
as quais, Muskogee, Hitchiti e Alabama –, os índios estavam unidos pelo desejo de paz. Entretanto, com a chegada do general
James E. Oglethorpe (1693-1785), fundador do Estado de Georgia, os laços com os brancos foram estreitados, principalmente
graças ao comércio de peles – em especial, de veados de cauda branca –, mas que logo foi ampliado ao de escravos; prática esta
que os creeks já desenvolviam desde a formação da Carolina do Sul, em 1670. Mesmo evitando a todo custo a Revolução Americana
(1775/83), o povo Creek foi fatalmente atingido, tanto pelo declínio do negócio de peles como pelo estabelecimento da Georgia. Aos
poucos, foi perdendo as suas terras, através dos Tratados de Nova York (1790), Fort Wilkinson (1802), Washington (1805) e,
finalmente, Fort Jackson (1814), que destituíram de sua posse cerca de 22 milhões de acres (SAUNT, 1999; 2002).
17
A tribo indígena dos seminoles originou-se dos remanescentes creek, ocupando originalmente o norte da península da Flórida e
tendo, no início do século XIX, cerca de 20.000 indivíduos. Da família linguística Moccosukee ou Moccosuqui, de acordo com
Garbarino (1989), tem sua designação oriunda da palavra simano-li, que significa “desertores” ou “meridionais”, embora alguns
historiadores consideram-na proveniente do termo espanhol cimarrón, já que é dela que deriva a designação francesa para esses
povos: os marrons. Por sua vez, eles mesmos se autodenominam Ikaniuksalgi, que significa “gente de la península”. Hoje em dia,
seus descendentes dividem-se principalmente em dois grupos: o mais numeroso, com cerca de 7.000 indivíduos que vivem em
Wevoka, no Condado de Seminole (Oklahoma); e o restante que ainda permanece na Flórida, nas reservas de Big Cypress Swamp,
17
Outros, em 1832, foram removidos e reunidos no recém-criado Indian Territory (“Território
Indígena”), situado na região oeste do Mississipi e que se tornaria o Estado de Oklahoma. Para
este destino também foram os cherokees ou cheroquis, que, até meados do século XVI,
habitavam a região leste dos EUA, mas acabaram expulsos, em 1839, para o Planalto de Ozark –
cordilheira localizada nos Estados do Missouri, Arkansas, Oklahoma e Kansas, entre os rios
Arkansas e Missouri. Vários desses índios removidos passaram a ser conhecidos como tribo
Chickamauga e atualmente conformam um grupo com mais de 370.000 indivíduos, os quais vivem
em várias regiões norte-americanas, tais como Oklahoma, Carolina do Norte, Georgia, Missouri e
Alabama – Estados que os reconhessem como a Cherokee Nation, o que não acontece em
lugares como Arkansas e Tennessee, entre outros (CHEROKEE NATION, 2014).
10) Região Nordeste:
Diversas tribos da floresta de língua algonquia continuaram a tradição pré-histórica de
pequenos assentamentos sustentados pela caça e pela pesca no nordeste norte-americano,
embora também passassem a cultivar o milho em substituição à coleta de arroz selvagem,
especialmente em volta dos Grandes Lagos. Entre os povos algonquianos, algoquinos ou
algoquins (algokins), podem ser citados, além daqueles da própria etnia, os índios Mississauguas,
Odawa, Ojibwa e Potawatomi. Seus domínios estendiam-se da região do Estado da Virginia às
Montanhas Rochosas e ao norte da baía de Hudson. Atualmente, concentram-se na Província de
Quebec, no Canadá, onde se estima haver cerca de 11.000 indivíduos.
Os algoquianos18 (Fig. 11) viviam em
FIGURA 11
moradias denominadas wigwam, que eram
feitas com árvores da seguinte maneira:
primeiramente,
fileiras
de
estacas
eram
fincadas na terra e suas pontas eram
inclinadas e atadas com uma corda, deixando
uma abertura no topo para permitir a saída de
fumaça, já que não se havia janelas. Depois,
toda a estrutura era coberta com largas peças
de
casca.
Não
existia
mobiliário,
como
cadeiras, mesas ou camas, usando-se nichos
escavados ou peles de animais sobre o solo
(CLÉMENT, 1996).
Brighton, Dania, Seminole e Tamiami Trail , perfazendo pouco mais que 3.500 pessoas. Há ainda aproximadamente 700 seminoles
negros, os quais estão distribuídos em Oklahoma, Texas, Bahamas e Coahuila (México).
18
Os algonquinos foram os primeiros povos a vive ronde se localiza atualmente a cidade de Nova York, constituindo um grande grupo
que falava a mesma língua e que ocupa toda a costa leste da América do Norte. Estavam divididos em muitos grupos familiares,
sendo que cada um deles se denominava segundo o lugar ou área geográfica onde viviam. Assim, enquanto os Canarsies viviam no
Brooklyn, os Rockaways, Manhassets e Massapequas viviam onde hoje estão os bairros do Queens e Long Island (BRIGHT, 2004).
18
Por sua vez, a tribo dos senecas e outras próximas de língua iroquesa formaram uma ilha
linguística dentro da vasta área algonquiana. Nos séculos XV e XVI, seus membros constituíram a
Liga do Iroqueses (Iroquois League), junto aos cayugas, oneidas, onondagas e mohawks, além
dos tuscaroras, que se juntaram à aliança no início do século XVIII. Por volta de 1750, na tentativa
de sobreviver aos ataques europeus, essas tribos formaram a Liga da Seis Nações, a qual,
durante o período colonial, atuou como mediadora entre as terras estabelecidas pelos europeus.
Desentendimentos internos sobre que lado apoiar na Revolução Americana (1775/83) – o dos
ingleses ou dos franceses – acabaram por destruir a aliança e, hoje em dia, os esforços para
reviver esse poder político falharam (NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972).
11) Região Caribenha:
Quando da sua chegada ao Novo Mundo, em 1492, Colombo encontrou canibais
guerreadores, os caribs, habitando as Pequenas Antilhas. Recém-chegado do norte da América
do Sul, esse povo indígena havia derrotado e substituído grande parte dos numerosos e
difundidos arawaks daquelas ilhas. Esses agricultores pacíficos, por sua vez, de acordo com a
National Geographic Magazine (1972), tinham forçado habitantes anteriores das ilhas, os
ciboneys, a irem das Pequenas Antilhas para o oeste do Haiti e de Cuba. Entretanto, sob a
escravidão espanhola, todos os povos nativos daquela região foram rapidamente reduzidos,
sendo aos poucos substituídos por escravos africanos já a partir de 150019.
12) América Central ou Mesoamérica:
Por fim, descendentes de um estilo de vida pré-hispânico, o qual incluía o cultivo de
milho, um sistema mercantil desenvolvido, um sofisticado calendário e uma religião complexa, os
indígenas mesoamericanos dos dias de hoje ainda refletem, em diferentes graus, mais de 400
anos de influência europeia. Aqueles do coração da América Central – astecas, zapotecas, maias
e outros – descendem de povos que deram origem a algumas das maiores civilização do Novo
Mundo, habitando ainda o local onde seus antepassados viveram nos tempos da conquista
espanhola. Enquanto alguns indígenas são moradores da cidade que foram absorvidos pela
expansão da classe média latino-americana, a maioria ainda vive em áreas rurais e seguem as
tradições de seus ancestrais. Os costumes locais – assim como a variedade regional da cerâmica
e tecelagem – refletem combinações de cultura antiga e moderna, inclusive havendo certo
sincretismo religioso, no qual, frequentemente, as deidades nativas são equiparadas aos santos
católicos e as cerimônias empregam orações da missa católica intercaladas com cânticos em
língua nativa (NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE, 1972).
19
Hoje notáveis por suas artes têxteis e com uma população estimada em cerca de 50.000 indivíduos, os kunas ou cunas do Panamá –
também conhecidos popularmente como índios San Blas, que é o nome das ilhas pertencentes ao arquipélago das Mulatas –
também sentiram o fardo de estarem sob cativeiro espanhol. Pescadores, caçadores e agricultores (milho e mandioca) que adoravam
o Sol e a Lua, eles fazem parte do tronco linguístico chibcha e possuíam um sistema de classes bem desenvolvido, vivendo em vilas
confederadas submetidas ao poder dos caciques, mas que, com a chegada dos europeus, tiveram sua antiga cultura e estrutura
sociopolítica completamente destruídas (BARTOLOMÉ et BARABAS, 2004).
19
FIGURA 12
6
MATERIAIS E MÉTODOS
De caráter descritivo e cunho exploratório, esta pesquisa teve como base a tradução e
interpretação de um mapa-poster (Fig. 12) publicado pela National Geographic Magazine (1972)
sobre as civilizações pré-colombianas da América Norte e suas principais manifestações
arquitetônicas vernaculares. A partir desta fonte, foi feita a complementação web e bibliográfica,
por meio da investigação, seleção e coleta de fontes impressas, tais como artigos, periódicos e
livros, nacionais e internacionais; ou ainda publicadas on line, que tratavam direta ou
20
indiretamente sobre esse tema. Isto foi feito em paralelo às atividades de monitoria da disciplina
“Fundamentos da Arquitetura”, de modo a contribuir com o assunto tratado no primeiro ano do
curso de graduação em arquitetura e urbanismo da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR.
Na sequência, faz-se o estudo de 03 (três) exemplos de habitação vernácula existente na América
do Norte, procurando ilustrá-los, descrevê-los e analisá-los em seus aspectos estruturais,
funcionais e estéticos. Concluiu-se a pesquisa com algumas observações finais relacionadas ao
tema e a preparação da apresentação dos resultados no 22º EVINCI (Evento de Iniciação
Científica) da UFPR, previsto para ocorrer em outubro de 2014.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
A arquitetura própria de um povo – dita vernácula ou vernacular – está
impregnada dos aspectos inerentes ao clima, topografia, crenças e costumes, entre
outros, sendo produto direto da situação histórica, política, econômica e social em que
está inserida. Ela é considerada primitiva, especificamente, quando é executada com
base nos recursos e técnicas que o próprio meio oferece, sem muitas vezes contar com a
divisão social do trabalho ou mesmo a noção de propriedade privada, o que faz com que
esta seja uma arquitetura produzida coletivamente e bastante consciente de suas raízes,
suas limitações e suas posturas diante da natureza. Dessa maneira, as soluções
encontradas no sentido de se produzir uma habitação vernácula são as mais variadas,
devendo ser analisadas com base no contexto em que foram ou ainda são concebidas.
Ainda que a América do Norte seja apenas uma fração das massas de terra da
Eurásia e África combinadas, o que poderia significar uma população menor e situações
ambientais e culturais menos diversificadas, este continente tem uma vasta área que se
estende desde o gélido Círculo Polar Ártico até quase ao Equador; e abrange
características geofísicas e climáticas das mais variadas. Além disso, chegou a abrigar,
no período estudado, aproximadamente 8 milhões de pessoas, falando mais de 200
línguas diferentes. Com o intuito de exemplificar essa pluralidade físico-cultural, optou-se
por selecionar 03 (três) habitações vernaculares de três áreas com climas e topografias
muito diferentes. A seguir, apresenta-se, sinteticamente e na forma de fichas de estudos,
estes casos selecionados, acompanhados de ilustrações e descrição de características
fundamentais.
Os casos selecionados foram: os iglus, típicos da região ártica; os tipis,
encontrados nas planícies norte-americanas; e as longhouses, que se desenvolveram na
região nordeste, onde primeiramente ocorreu a colonização inglesa.
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ESTUDO CASO I
Iglu
Região do Ártico e Ilhas Aleutas
A habitação utilizada pelos esquimós em períodos de caças invernais é popularmente denominada
por iglu (igloo); termo que é usado para descrever qualquer tipo de casa. O nome por eles dado ao tipo de
construção aqui descrita é iglugaq; tratando-se de uma habitação cupular (Fig. 13), feita com blocos
cortados diretamente do gelo. Esses blocos são colocados em forma espiralada, o que garante resistência
frente a tempestades da região. Essa é uma habitação essencialmente temporária, utilizada somente nas
expedições de caça realizadas no auge do inverno, quando o gelo e a neve são os únicos materiais
disponíveis. O uso desse material e a precisão da aplicação mostram a engenhosidade deste povo, que se
adaptava com o que lhes era disponível, sabendo lidar com a limitações dos materiais tradicionais (ART
STUDIUM, 1972).
Os esquimós eram uma comunidade, o que
se acentuava nos meses de inverno, já que facilitava a
vida em ambientes hostis como o extremo norte. Além
disso, tal fato se refletia no grande cuidado na
construção das casas, uma vez que mais pessoas
trabalhavam para sua elaboração. Os iglus podiam ser
agrupados com outros menores, que serviam de
depósitos ou banheiros. Como resultado de todo
cuidado e da grande adaptabilidade dos esquimós na
feitura desses abrigos, a temperatura interna chega a
5°C enquanto a externa pode atingir -45°C (ART STUDIUM, 1972).
FIGURA 13
A construção de um iglu, segundo Cordeiro (2014), inicia-se com a escolha do local, que deve ser,
preferencialmente, onde o gelo estiver menos espesso como lagos ou em superfícies congeladas do mar,
por considerarem o local menos gelado do que em terra firme. É necessário, então, analisar a consistência
da neve, que deve estar compacta o suficiente para permitir o corte dos blocos de gelo em forma de
paralelepípedos. Antes do conhecimento do metal, o corte era feito com ossos de foca ou baleia afiados. A
primeira fileira de blocos é disposta formando um círculo de aproximadamente 3 m de diâmetro, de maneira
que parte dela fique ligeiramente enterrada. Essa e as próximas fileiras são serradas para formar uma
rampa ascendente e inclinada para dentro, para que, ao final, tenha-se o formato de domo. No topo é
deixada uma pequena abertura para a saída da fumaça. Os vãos entre os blocos são preenchidos com neve
fofa. O calor da fogueira derrete parte dos blocos, fazendo com que a água escorra e volte a congelar,
reforçando a vedação das paredes. A entrada é um pequeno túnel escavado, para barrar a entrada do vento
gelado. Dentro, as camas são colocadas o mais alto possível e um tapete de pele de rena pode ser
utilizado. A iluminação é feita através de uma janela com um bloco de gelo menos espesso ou com pele de
foca (Fig. 14).
FIGURA 14
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ESTUDO CASO II
Tipi
Região das Planícies
FIGURA 15
FIGURA 16
1 Entrada
2 Fogueira
3 Altar
4 Camas
5 Lenha
6 Estacas
FIGURA 17
O tipi (teepee) consiste em uma tenda cônica
que foi largamente utilizada pelas tribos indígenas
habitantes das grandes planícies norte-americanas,
principalmente como habitação de verão, sendo a
palavra de origem Sioux, o que significa “morar” (Fig.
15). Juntamente com os indígenas que nele
habitavam, o tipi é o exemplar mais popularizado pela
literatura, pelo cinema e pela televisão, tendo muitos
registros posteriores à chegada dos espanhóis,
quando estes introduziram o cavalo nos hábitos dos
índios das planícies. Essas tribos tinham, em sua
maioria, uma vida de caçadores e estavam em
constante movimento. Suas habitações, portanto,
precisavam ser práticas, possibilitando serem
montadas e desmontadas (MATHEWS, 1983; 1984).
O búfalo era o centro da vida econômica
desses povos, fornecendo matérias-primas para
inúmeros artefatos, inclusive suas habitações. Para
construir um tipi, eram necessárias aproximadamente
12 peles de búfalo e 12 estacas de madeira (Fig. 16).
As estacas deveriam ser aproximadamente 90 cm
maiores do que a manta de cobertura. A manta era
cortada em um semicírculo, com duas abas perto do
centro para a chaminé. As mulheres eram as
responsáveis pela construção e conservação dos tipis,
iniciando a construção por um tripé que devia ser
atado com cordas um pouco acima do limite em que se
pretendia atar a cobertura. As outras estacas deviam
ser atadas ao tripé formando a armação para a tenda.
A última estaca a ser colocada tinha a cobertura presa
a ela e deveria ser colocada no lado oposto à porta
(WHITE, 1969; ART STUDIUM, 1972).
A cobertura era então esticada em volta da
armação e tinha suas bordas sobrepostas atadas com
pinos de aproximadamente 30 cm. A manta que de
piso era fixada com cavilhas ao chão – principalmente
em períodos de vento – e as estacas internas, puxadas
a fim de esticar bem a cobertura. Duas estacas
adicionais eram posicionadas externamente para
estruturar a chaminé, que poderia ser direcionada de
acordo com o vento (Fig. 17).
Em tempos de migração, o tipi era
desmontado pelas mulheres que o transformavam em
uma espécie de trenó (travois), que era levado por
cavalos ou cães. Um tipi comportava confortavelmente
cinco pessoas, com exceção do tipi do chefe da tribo,
que era usado para reuniões tribais e podia abrigar 12
pessoas ou mais (NATIONAL GEOGRAPHIC
MAGAZINE, 1991; SOLA, 1995).
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ESTUDO CASO III
Longhouses
Região Nordeste
Os Iroqueses habitavam uma área de floresta
temperada, no nordeste do continente; e eram
conhecidos por suas habilidades de guerra. Praticavam
a caça e a agricultura, com destaque para a produção
de milho. As longhouses ou “casas compridas” (Fig.
18) eram as habitações utilizadas pelas suas tribos,
sendo feitas exclusivamente de madeira, visto que era
o material abundante na região (RAMIREZ, 1977).
Assim como outras tribos norte-americanas,
formavam uma comunidade em razão das inúmeras
facilidades, tais como a proteção e a obtenção de
alimentos. Essa condição tem reflexos claros na
construção das suas próprias habitações. Como tribos
guerreadoras, a união de várias famílias garantia maior
facilidade na defesa da aldeia. Para isso, eram
construídas extensas paliçadas em volta da aldeia,
formando verdadeiras fortalezas (Fig. 19). A
quantidade de habitantes refletia diretamente no
tamanho das habitações, que, no caso dos iroqueses,
chegavam a medir 12 m de largura e 60 m de
comprimento, chegando ainda a 6 m de altura afim de
abrigar, às vezes, mais de 50 famílias. Juntamente
com o tamanho, crescia a qualidade na elaboração das
mesmas, além do material a ser utilizado, que podia
ser também empregado em pedaços maiores
(JAEGER, 1992; UPTOWN, 1998).
FIGURA 18
FIGURA 19
As longhouses eram feitas a partir da inserção de estacas – estas talhadas em troncos de árvores
– no solo, que eram curvadas no topo para formar a cobertura, mais comumente em arco, embora tenha
havido a construção de formas triangulares. A
compartimentação e a utilização de circulações
diretas eram também resultado da necessidade de
abrigar tantas pessoas em uma única estrutura. Um
corredor atravessava-as de uma ponta a outra, sendo
ladeado por compartimentos elevados estruturados
com madeira e de tetos rebaixados. O compartimento
superior era usado para armazenar alimentos
enquanto o inferior constituía plataformas de dormir
(Fig. 20). Cada plataforma abrigava 5 ou 6 pessoas
de um núcleo familiar (NATIONAL GEOGRAPHIC
FIGURA 20
MAGAZINE, 1991).
Estas eram casas bem adaptadas ao calor, frequente nos meses da metade do ano; e ao frio, que
era intenso nos meses de inverno. As paredes eram duplas, feitas a partir da casca de árvores e
preenchidas com ervas e ramos de plantas, que atuavam como excelente isolante térmico. O corredor era
ainda pontuado com lareiras a aproximadamente cada 6 m, de maneira que cada lareira servia de
aquecimento para quatro plataformas. No inverno, o fogo era mantido aceso dia e noite. No teto, acima de
cada lareira, havia um buraco para permitir a saída da fumaça (ART STUDIUM, 1972; MATHEWS, 1983;
1984).
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CONCLUSÃO
Entendendo que o continente norte-americano é constituído por uma diversidade enorme
em todos os aspectos, seria inconcebível que a arquitetura dos seus nativos, assim como
qualquer outra manifestação, fosse uniforme e estável. Ainda que a arquitetura vernacular seja
considerada uma constante – principalmente quando se trata de arquitetura primitiva –, as
mudanças climáticas, políticas e econômicas ocorridas neste continente foram tantas em um
espaço relativamente pequeno de tempo, que aquela tomou formas extremamente diversificadas.
De qualquer forma, é possível perceber a frequente relação entre condições geográficas (clima,
topografia, vegetação, etc.) e a adoção de partidos distintos, resultando na organização de
plantas, escolha de materiais e aplicação de técnicas diferenciadas.
A análise de três áreas bastante diferentes entre si, se não completamente, ilustra essa
diversidade e confirma que cada habitação foi elaborada como uma resposta fiel ao ambiente e
realmente adequada aos usos que lhe foram impostos, usando o melhor material conhecido por
seus criadores e usando-o da melhor maneira possível. Este é, de fato, um dos grandes princípios
que constituem a arquitetura, seja ela primitiva ou "civilizada", ainda que infelizmente isso muitas
vezes fique melhor apresentado nas construções de nossos antepassados que nas nossas, as
quais são mais derivadas de inovações e avanços tecnológicos do que da tradição.
Esta pesquisa, embora bastante introdutória ao tema, pôde abrir caminhos para novas
abordagens que deem continuidade ao estudo das habitações no continente americano, ou ainda
que contemplem as tantas outras manifestações presentes dentro dessas culturas e aqui não
discutidas. As habitações desenvolvidas pelos nativos americanos podem – e deveriam –
constituir uma base fundamental para a história da arquitetura residencial americana como um
todo, visto que este é um tema pouco abordado na bibliografia. Além disso, esse pode ainda ser
um estudo pertinente aos envolvidos no desenvolvimento das habitações contemporâneas, de
maneira que sirvam de exemplo para o desenvolvimento de projetos com preocupações
ambientais, tão necessárias hoje em dia, quando se discute sobre sustentabilidade socioambiental
da arquitetura; ou ainda como inspiração para a elaboração de projetos enquadrados na realidade
do continente, e não mais embasados nas formas europeias, principalmente quando se queira
enfocar as bases contextualistas de reafirmação de nossa identidade cultural e memória histórica.
9
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