(ilhabela, sp) de 2007 a 2011: subsídios - Ecopere-se
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(ilhabela, sp) de 2007 a 2011: subsídios - Ecopere-se
Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA RECIFAL POR FOTOIDENTIFICAÇÃO NA UCM DE ILHA DAS CABRAS (ILHABELA, SP) DE 2007 A 2011: SUBSÍDIOS PARA A CONSERVAÇÃO Jodir Pereira da Silva1,2 ; Raquel Sorvilo1,3 1 [email protected] (ECOPERE-SE - Projeto Ecologia de Peixes Recifais da Região Sudeste do Brasil, Rua Herculano Couto, 430, Jd. Chapadão - Campinas – SP, CEP: 13070-123) 2 [email protected] (COTUCA - UNICAMP Rua Culto à Ciência, 177 - Bairro Botafogo - CEP:13020-060 Campinas – SP) 3 [email protected] (Centro de APTA do Pescado Marinho, Instituto de Pesca, APTA, SAA, SP. Avenida Bartolomeu de Gusmão, 192, Ponta da Praia, Santos – SP, CEP: 11030-906) ABSTRACT The Brazilian coast comprises many marine reserves, which started to become a management option for marine conservation, fisheries, and other human uses of the oceans. One of these marine reserves is the Ecological Sanctuary of Ilha das Cabras located in Ilhabela, São Paulo State. Since 2005 there is an ongoing monitoring program in this reserve developed by a research group called ECOPERE-SE. Here, we report a study on the reef fish community composition of Ilha das Cabras from 2007 to 2011. A relatively diverse fish community (123 species from 47 families) was found at this place, where Scaridae (N=13), Serranidae (N=10), Pomacanthidae (N=8), Labridae (N=6), Haemulidae (N=6) and Carangidae (N=6) were the most representative families. Richness variations related to seasonality and to time are discussed. The observed species decrease in 2009 suggests severe environmental impact and exhorts the authorities to improve this marine protected area through the developing of a consistent management plan. The problems related to this decrease in richness are discussed and some solutions are proposed. Keywords: marine protected areas, conservation, richness, marine fish ecology. INTRODUÇÃO Ecossistemas tropicais costeiros são muito complexos e pobremente estudados. Sobretudo quando se trata de estudos ictiofaunísticos, quando se concentram esforços em espécies de interesse comercial que ocupam ambientes mais facilmente exploráveis. Recifes rochosos são considerados ecossistemas altamente diversificados, ricos em recursos naturais e que apresentam uma grande importância ecológica, econômica e social (Chaves & Monteiro-Neto, 2009). No Brasil o grande número destes ambientes são costeiros e estão sujeitos a todos os impactos provenientes do crescimento populacional, além da pesca. No entanto, pouco se sabe sobre os seus efeitos na estrutura da comunidade de peixes (Floeter et al., 2007). Áreas de reservas marinhas são fundamentais para a preservação da biodiversidade e manejo pesqueiro. No país a importância da conservação da biodiversidade apresenta uma grande influência na sua economia (IBGE, 2004). A necessidade de conservação de recursos naturais tem levado ao interesse na formação de Unidades de Conservação Marinhas (UCMs). Halpern (2003) realizou um trabalho com levantamento de 89 estudos realizados em UCMs e constatou que o impacto relativo de tais reservas para a densidade ou biomassa independe do tamanho da UCM, e que a criação e gerenciamento de tais unidades levam ao aumento dos valores de densidade e de biomassa nestas. Em face do exposto, justificam-se os estudos em ambientes produtivos como os da Ilha das Cabras, que está localizada no Arquipélago de Ilhabela e que pelo Decreto no 9.414 de 20 de janeiro de 1977, passou a pertencer ao Parque Estadual de Ilhabela. Este decreto tem a finalidade de assegurar proteção integral a biota e à paisagem das ilhas que constituem o Município de Ilhabela. Além disso, a Ilha das Cabras passou a ser considerada como Parque Municipal Marinho da Ilha das Cabras sob o Decreto Municipal de Ilhabela no 1011/92, o qual abrange proteção às áreas submersas proibindo a Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 1893 1 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ pesca em escala comercial e admitindo somente a pesca artesanal com total favorecimento às atividades de pesquisa científica regularmente autorizada. A área de estudos fica muito próxima do Terminal Marítimo Almirante Barroso (TEBAR), especializado na carga e descarga de granéis líquidos (petróleo e derivados), sendo uma região crítica para a ocorrência de poluição por petróleo e derivados. Assim, este estudo tem como proposta contribuir com informações que venham a auxiliar na tomada de decisões para o estabelecimento de novas áreas marinhas protegidas, e quais áreas devem ser prioritariamente destinadas à conservação, possibilitando a manutenção da biodiversidade local e aumento de produtividade pesqueira. MATERIAL E MÉTODOS O estudo da ocorrência da ictiofauna recifal no entorno da Ilha das Cabras foi realizado utilizando técnicas de fotoidentificação no entorno da Ilha das Cabras, diuturnamente nas quatro estações nos anos de 2007 (Jan/Verão; Abr/Outono; Jul/Inverno; Nov/Primavera), 2008 (Jan/Verão; Abr/Outono; Jul/Inverno; Nov/Primavera), 2009 (Jan/Verão; Abr/Outono; Jun/Inverno; Nov/Primavera), 2010 (Jan/Verão; Abr/Outono; Jul/Inverno; Nov/Primavera) e 2011 (Setembro/08, Dezembro/08, Março/09 e Junho/09). Os registros de imagem foram efetuados por dois mergulhadores com busca ativa de peixes, percorrendo toda a área cabeada no entorno da Ilha das Cabras entre a face oeste e leste da mesma, utilizando-se para tanto uma câmera Canon G9 operada em caixa estanque Ikelite #6147.09 e com dois flashes Sea & Sea YS-110 e uma câmera SONY W5 operada em caixa estanque SONY MPK-WA. Foram realizados 40 mergulhos, sendo um diurno e um noturno a cada estação amostrada, com tempo de mergulho entre 40 e 60 minutos, dependendo de condições de corrente e visibilidade, mas sempre com varredura de toda a área de entorno cabeada entre a face oeste e leste da Ilha das Cabras. As espécies foram identificadas com uso dos trabalhos de Figueiredo (1977), Figueiredo & Menezes (1978; 1980; 2000), Menezes & Figueiredo (1980; 1985), Robins & Ray (1986), Burgess et al. (2000), Hostim-Silva et al. (2006) e a base de dados Fishbase, disponível no sítio da Internet www.fishbase.org. Os dados foram agrupados por estações e por anos e comparados para avaliar se existem variações significativas de riqueza (estimada pelo número absoluto de diferentes espécies registradas). As riquezas foram submetidas à análise de variância (ANOVA one way; p<0,05) e as respectivas médias foram submetidas ao teste de Tukey (p<0,05). Para análise de ocorrência, os agrupamentos por estações (N=20) foram considerados como de espécies ocasionais (ocorrências em até 20% dos registros estacionais), pouco frequentes (entre 20 e 40% dos registros estacionais), frequentes (entre 40 e 60% dos registros estacionais), muito frequentes (entre 60 e 80% dos registros estacionais) e comuns (acima de 80% dos registros estacionais). RESULTADOS E DISCUSSÕES Nos 40 mergulhos, sendo 20 diurnos e 20 noturnos, registramos a ocorrência de 123 espécies de peixes, pertencentes a 47 famílias. As famílias com maior número de espécies foram Scaridae (N=13), Serranidae (N=10), Pomacanthidae (N=8), Labridae (N=6), Haemulidae (N=6) e Carangidae (N=6). Note-se que foram encontradas 51 espécies ocasionais, 19 pouco frequentes, 19 frequentes, 8 muito frequentes e 26 comuns, que foram registradas em todas as estações dos anos estudados (ver figuras 1 e 2). Quando restringimos a análise de ocorrência por estação, ocorrendo pelo menos nas estações ao longo dos 5 anos de estudo, 23 espécies ocorreram em apenas uma estação, tendo dentre estas 5 ocorrido apenas em estações de verão, 14 apenas em outono, 2 em inverno e 2 em primavera. Ao contabilizarmos a ocorrência em duas estações, encontramos 18 espécies. Foram encontradas em três estações 16 espécies e 66 espécies tiveram seu registro nas quatro estações. Quanto ao hábito diurno e/ou noturno, 9 espécies foram registradas exclusivamente à noite, 25 exclusivamente no período diurno e 89 espécies foram registradas tanto durante o dia quanto à noite. Destacam-se, para fins de conservação, a ocorrência do mero, Epinephelus itajara, espécie criticamente ameaçada de extinção segundo a IUCN (“International Union for Conservation of Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 1894 2 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ Nature”) e a raia manteiga, Gymnura altavela, espécie considerada vulnerável pela mesma instituição e da qual foram registradas fêmeas grávidas na UCM de Ilha das Cabras. É importante ressaltar que estudos de identificação visual de peixes recifais geralmente não contemplam amostragens no período noturno, por dificuldades operacionais e de treinamento dos profissionais que executam as técnicas de mergulho científico. Assim, este trabalho traz importante contribuição para o conhecimento de espécies de hábito noturno em ambientes recifais. Nós constatamos diferenças expressivas no número total de peixes recifais na Ilha das Cabras (123spp.) em relação a outras localidades do Brasil, como nas Ilhas Cagarras (99 spp./Rangel et al., 2007), na Ilha do Arvoredo, SC (157 spp./Hostim-Silva et al., 2006), na Baía da Ilha Grande, RJ (204 spp./Bizerril & Costa, 2001; Ferreira et al., 2007), no Arraial do Cabo, RJ (91 spp./Ferreira et al., 2001), nas Três Ilhas, ES (174 spp./Floeter & Gasparini, 2000), na Risca do Zumbi, PB (154 spp./Feitoza, 2001), e em Tamandaré, PE (185 spp./Ferreira et al., 2001), mas tais diferenças provavelmente são devidas a variações latitudinais de biodiversidade, metodologias de amostragem, área varrida, esforço de amostragem e período de estudos (diurno/noturno). A análise de ocorrência anual das espécies revelou queda significativa de riqueza em 2009. Não houve variação significativa de riqueza entre as diferentes estações do ano amostradas (ver figuras 3 e 4). Os resultados apresentados indicam a necessidade da elaboração de um plano de manejo para a UCM de Ilha das Cabras a fim de ordenar atividades que impactam a ictiofauna recifal e que podem justificar quedas significativas, como a constatada em 2009. Dentre tais atividades, encontramse: 1-Exploração desordenada de atividades de mergulho: a) parte da instrução de mergulhadores recreativos é realizada com os mergulhadores apoiados em pé sobre corais moles e rochas colonizadas por algas; b) ocorre grande número de mergulhadores recreativos por unidade de tempo na UCM; c) os mergulhadores não tem treinamento e/ou acompanhamento adequado por guias subaquáticos para frequentar a UCM. 2- Necessidade de restrição à pesca: a) pescadores amadores realizam rotineiramente pesca na UCM; b) pescadores profissionais realizam pesca com redes de emalhe na UCM, já tendo havido ocorrência policial de emalhe de mergulhadores durante a noite (durante os levantamentos utilizados neste trabalho). A elaboração de uma legislação que venha a ordenar a exploração dos recursos naturais desta UCM, bem como determinar limites mais claros de exploração da pesca são fundamentais para a manutenção da biodiversidade local e podem trazer contribuição às áreas de pesca próximas, pois, em média, a densidade de peixes-alvo da pesca aumenta de 10% a até 5 vezes mais em áreas protegidas. Além disso, quando se consideram predadores de topo, como badejos e garoupas, encontram-se densidades e tamanhos maiores de peixes nas áreas protegidas de pesca, em comparação com áreas menos protegidas ou sem nenhuma proteção. Por outro lado, peixes coletados para a venda no comércio de espécies ornamentais marinhas ficam mais suscetíveis quanto maior a facilidade de acesso ao local em que vivem (Floeter et al., 2007). Essa informação deixa clara a necessidade de maior fiscalização em áreas de conservação de fácil acesso. CONCLUSÕES À luz dos dados obtidos, concluímos que, para o estabelecimento de novas Áreas Marinhas Protegidas, bem como de áreas de exclusão e restrição à exploração de recursos naturais em ambientes marinhos, particularmente da ictiofauna recifal, devem ser obtidos dados por identificação visual durante o dia e à noite. Além disso, destacamos a importância de controle de impactos à pesca e elaboração de propostas para desenvolvimento sustentado e manejo na região, que devem incluir uma boa fiscalização em áreas de fácil acesso. Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 1895 3 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ REFERÊNCIAS Bizerril, C. R. S. F. & Costa, P. A. 2001. Peixes Marinhos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação de Estudos do Mar (FEMAR) Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio de Janeiro. 233pp. Chaves, L. C. T. & Monteiro-Neto, C. 2009. 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B.; Machado, L. F.; Gerhardinger, L. C.; Daros, F. A.; Barreiros, J. P.; Godoy, E. A. S. 2006. Peixes de Costão Rochoso de Santa Catarina: I. arvoredo. Editora da UNIVALI. Itajaí. 135p. Menezes, N. A. & Figueiredo, J. L. 1980. Manual de peixes marinhos do Sudeste do Brasil. IV. Teleostei (3). São Paulo: MZUSP. 96pp. Menezes, N. A. & Figueiredo, J. L. 1985. Manual de peixes marinhos do Sudeste do Brasil. V. Teleostei (4). São Paulo: MZUSP. 105pp. Rangel, C.A.; Chaves, L. C. T., Monteiro-Neto, C. 2007. Baseline assessment of the reef fish assemblage from Cagarras Archipelago, Rio de Janeiro, Southeastern Brazil. Braz. J. Oceanog. 55: 717. Robins, C. R. & Ray, G. C. 1986. A Field Guide to Atlantic Coast Fishes. Houghton Mifflin. New York. 354pp. Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 1896 4 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ Figura 1 - Ocorrência da ictiofauna recifal da UC Marinha da Ilha das Cabras. Os números representam a frequência do número de espécies por categoria de ocorrência. Figura 2 - Ocorrência da ictiofauna recifal da UC Marinha da Ilha das Cabras. As barras representam a frequência do número de espécies registrado em relação ao número de estações avaliadas. Note que nenhuma espécie foi registrada em 15 das estações amostradas. Figura 3 – Variação da riqueza entre os anos de 2007 e 2011. As barras representam valores médios e as linhas o intervalo de confiança (95%). As médias foram significativamente diferentes (p=0,0106) e o teste de Tukey revelou diferença significativa entre 2008 e 2009, assim como entre 2009 e 2010 (p<0,05). Figura 4 – Variação da riqueza entre as estações do ano. As barras representam valores médios e as linhas o intervalo de confiança (95%). As médias não foram significativamente diferentes (p=0,5423) e o teste de Tukey não revelou diferença significativa entre as estações (p<0,05). Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 1897 5