ii simpósio internacional de humanização da atenção obstétrica e

Transcrição

ii simpósio internacional de humanização da atenção obstétrica e
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
GRUPO DE PESQUISA VIVER MULHER
II SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE
HUMANIZAÇÃO DA
ATENÇÃO OBSTÉTRICA E
NEONATAL
II SIHATON
RIO GRANDE/2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Simone M. Firme, CRB 10/2323
S612a Simpósio Internacional de Humanização da Atenção Obstétrica e
Neonatal (2. : 2014 9. 12-15 : Rio Grande)
Anais [recursos eletrônicos]: II Seminário Internacional da
Atenção Obstétrica e Neonatal – SIHATON : 12 a 15 de
novembro de 2014 / [Organizado pelo Grupo de Pesquisa Viver
Mulher da Universidade Federal de Rio Grande]. – Dados
Eletrônicos. – Rio Grande: Ed. da FURG, 2014.
Organização do evento: Universidade Federal do Rio Grande
Modo de Acesso: http://www.sinsc.furg.br/site/sihaton/
ISBN 978-85-7566-365-3
1. Obstetrícia – Congressos. I. Universidade Federal do Rio Grande. II.
Título.
CDU, 2. ed. : 618.2(062.552)
Índice para o catálogo sistemático:
1.Obstetrícia- Congressos
618.2(062.552)
COORDENADORA: Nalú Pereira da Costa Kerber
EQUIPE ORGANIZADORA
COMISSÃO DE SECRETARIA
LUIZA ROCHA
MÁRCIA MARCOS DE LARA
VANESSA FRANCO DE CARVALHO
JACKELINE DA SILVA VIANA
FERNANDA RUAS MACHADO
ALINE RODRIGUES DO MONTE
JESSICA MEDEIROS MINASI
FRANCIELLE GARCIA SENA
CINTIA CAMILA SANTOS DE SOUZA COSTA
DIEGO VASCONCELOS RAMOS
ELOISA DA FONSECA RODRIGUES
RÚBIA GABRIELA FERNANDES SALGADO
COMISSÃO CIENTÍFICA
CATHARINE SILVA DE SOUZA
FLÁVIA CONCEIÇÃO POHLMANN
JAMILA VASQUEZ ROCKEMBACH
DAIANE BITTENCOURT DE LEMOS
TAIMARA MARTINS PINHEIRO
ALESSANDRA MENDES DE BARROS
MARIZA CRISTINA PORTO GONÇALVES
FABIANE FERREIRA FRANCIONI
HEITOR SILVA BIONDI
BRUNA GOULART GONÇALVES
ELIANA PINHO DE AZAMBUJA
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO
CÍNTIA DE SOUZA SANTANA
MARILICE MAGROSKI GOMES DA COSTA
SILVANA MONTEIRO COSTA
RICARDO CUNHA DOS SANTOS
CARLA VITOLA GONÇALVES
COMISSÃO DE INFRAESTRUTURA
LULIE ROSANE ODEH SUSIN
FRANCISCA PATRÍCIA FERREIRA GUELMO
LIANE RODRIGUES BORGES
CARMEN CARBALLO DOMINGUEZ
BRUNA RUOSO DA SILVA
CAROLINA COUTINHO COSTA
JESSICA DE CASSIA MARQUES DE ALMEIDA
JANAÍNA NEVES MACHADO
1. APRESENTAÇÃO
O Grupo de Pesquisa Viver Mulher, da Universidade Federal do Rio Grande –
FURG, pretendeu difundir os resultados de estudos da temática da atenção
obstétrica e neonatal no âmbito científico, acadêmico e profissional, e trazer o tema
à discussão de forma a contribuir com os serviços prestadores de assistência à
saúde do Sistema Único de Saúde. Objetivou, também, disseminar a proposta do
Ministério da Saúde sobre a humanização da atenção no pré-natal, parto e ao
recém-nascido, auxiliando e incentivando os municípios a aderir plenamente à
proposta do MS.
A atenção humanizada envolve um conjunto de práticas e atitudes que visam
à promoção do parto e nascimento saudável e a prevenção de morbimortalidade
materna e perinatal. Uma atenção de qualidade e humanizada são essenciais para
as ações de saúde na resolução de problemas, fortalecimento da capacidade da
mulher em reconhecer as dificuldades a serem enfrentadas e reivindicar seus
direitos, além de promover o autocuidado a fim de garantir a saúde integral e seu
bem-estar.
O II Simpósio Internacional de Humanização da Atenção Obstétrica e
Neonatal é visualizado como importante instrumento de difusão do conhecimento
específico. O evento se desenvolveu no período compreendido entre os dias 12 à 15
de novembro de 2014 na cidade do Rio Grande - RS.
SUMÁRIO
1.
APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 4
2.
TRABALHO COMPLETO ............................................................................. 14
1.2)
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À GESTAÇÃO GEMELAR COM
DIAGNÓSTICO DE SÍNDROME DA TRANSFUSÃO FETO- FETAL .................... 15
2.2)
EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA
FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA FETAL . 29
3.2)
UM OLHAR SOB A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO: A
APROXIMAÇÃO E O DISTANCIAMENTO NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014) .... 39
4.2)
DESVELANDO SIGNIFICADOS: A HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRÉNATAL NA VOZ DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE (2014) ................................. 53
5.2)
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PERCEPÇÃO DE GESTANTES
HOSPITALIZADAS COM PRÉ-ECLÂMPSIA ......................................................... 64
6.2)
TRAJETÓRIA DAS QUESTÕES DE GÊNERO E INFLUÊNCIAS NA
SAÚDE DA MULHER ............................................................................................. 79
7.2)
PROTAGONISMO DA MULHER NO PROCESSO PARTURITIVO:
VIVÊNCIAS DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS ........................................................ 87
8.2)
EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA
FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA FETAL¹ 96
9.2)
CUIDADO DE ENFERMAGEM NO TRABALHO DE PARTO E PARTO NA
ÓTICA DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS .............................................................. 106
10.2) GRUPO FOCAL COMO TÉCNICA DE PRODUÇÃO DE DADOS
QUALITATIVOS: A EXPERIÊNCIA COM MULHERES QUILOMBOLAS ............ 116
11.2) SENTIMENTOS DE MULHERES QUILOMBOLAS ACERCA DE SUA
IDENTIDADE E VIDA NO QUILOMBO ................................................................ 128
12.2) MELHORIA DA ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO NA UNIDADE
BÁSICA DE SAÚDE NEWTON AZEVEDO, MUNICIPIO DE RIO GRANDE-RS . 138
13.2) A IMPORTÂNCIA DO COMPANHEIRO DURANTE O PROCESSO
GESTACIONAL.................................................................................................... 143
14.2) RETRATO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO
MUNICÍPIO DO RIO GRANDE ............................................................................ 153
15.2) ASSOCIAÇÃO ENTRE O NASCIMENTO DE BEBÊS PRÉ-TERMOS
E/OU COM BAIXO PESO E A DOENÇA PERIODONTAL MATERNA: UM
ESTUDO CASO-CONTROLE NA CIDADE DE PELOTAS-RS. ........................... 166
16.2) MOTIVOS PARA O DESMAME PRECOCE IDENTIFICADOS PELOS
ENFERMEIROS DA REDE BÁSICA DE SAÚDE NO EXTREMO SUL DO
BRASIL.................................................................................................................178
17.2) ALEITAMENTO MATERNO: MANEJO DOS ENFERMEIROS NO
EXTREMO SUL DO BRASIL1 .............................................................................. 186
18.2) ITINERÁRIO DE UMA USUÁRIA DE CRACK DA GESTAÇÃO AO
TRATAMENTO E REINSERÇÃO SOCIAL (2014) ............................................... 195
19.2) PERCEPÇÕES DE PARTICIPANTES DE UM GRUPO DE
PLANEJAMENTO FAMILIAR SOBRE OS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS ...... 209
20.2) CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER NO CLIMATÉRIO: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ....................................................... 222
21.2) ESTUDO DE CASO: LACTAÇÃO ADOTIVA, PROPOSTA PARA O
CUIDADO DA ENFERMAGEM MÃE-BEBÊ......................................................... 238
22.2) A ADAPTAÇÃO EXTRAUTERINA E A HIPOTERMIA EM RECÉMNASCIDOS: UM ESTUDO DE CASO .................................................................. 249
23.2) FATORES QUE INTERFEREM NA ESCOLHA DOS METODOS
CONTRACEPTIVOS1........................................................................................... 260
24.2) IMPLEMENTAÇÃO DA CONSULTA PUERPERAL REALIZADA POR
RESIDENTE EM ENFERMAGEM OBSTETRICA EM UMA UNIDADE BÁSICA DE
SAÚDE..................................................................................................................272
25.2) PERCEPÇÃO DAS PARTURIENTES SOBRE O TRABALHO DE PARTO
E PARTO SOB A ÓTICA DA HUMANIZAÇÃO (2014) ......................................... 286
26.2) A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA UTI NEONATAL: UMA
COLABORAÇÃO NO CUIDADO DE ENFERMAGEM ......................................... 296
27.2) EMPODERAMENTO DA GESTANTE NO CENÁRIO DO PARTO POR
MEIO DO CUIDADO HUMANIZADO DE ENFERMAGEM (2014)¹ ...................... 311
28.2)
PÉ TORTO CONGÊNITO: UM ESTUDO DE CASO CLINICO ............... 320
29.2) A TEORIA DE OREM: CONTRIBUIÇÕES NA DESINTOXICAÇÃO
QUÍMICA DA GESTANTE USUARIA DE CRACK ............................................... 330
30.2) PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM
GESTANTES EM ACOMPANHAMENTO NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO DE
UM DISTRITO DOCENTE ASSISTENCIAL DE PORTO ALEGRE: dados
preliminares.......................................................................................................... 340
3.
RESUMOS ................................................................................................. 351
1.3)
PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA TOMADA DE DECISÃO DURANTE O
PROCESSO DE PARTURIÇÃO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ....................... 352
2.3)
INCENTIVO AO PARTO NORMAL EM GRUPOS DE GESTANTES E
PUÉRPERAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................................................ 358
3.3)
AÇÕES DE ENFERMAGEM NO PERÍODO GRAVÍDICO: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA ..................................................................................................... 363
4.3)
AMBIENTE HUMANIZADOR COMO
DESAFIO EM CENTRO
OBSTÉTRICO TRADICIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ....................... 369
5.3)
PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO
DE UM VÍDEO: RELATO DE EXPERIÊNCIA ...................................................... 374
6.3)
GRUPO DE BEBÊS: ARTICULAÇÃO MULTIPROFISSIONAL COMO
ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA ............ 379
7.3)
A PARTICIPAÇÃO DE ENFERMEIRAS NO PRÉ-NATAL DE BAIXO
RISCO E A QUALIDADE DESTE ATENDIMENTO ............................................. 385
8.3)
PROTAGONISMO
DA
ENFERMAGEM
NO
INCENTIVO
AO
ALEITAMENTO MATERNO E A REPERCUÇÃO PARA UMA ASSISTÊNCIA
HUMANIZADA ..................................................................................................... 390
9.3)
A DOR NO RECEM NASCIDO PREMATURO: MANEJOS E CUIDADOS:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA ........................................................................... 395
10.3) CUIDADOS PRESTADOS PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE À
FAMÍLIA DE UMA CRIANÇA QUE SOFREU ASFIXIA PERINATAL GRAVE...... 401
11.3) PRÁTICAS CLARAMENTE PREJUDICIAIS NA ASSITENCIA AO PARTO
DE ADOLESCENTES .......................................................................................... 406
12.3) REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ASFIXIA PERINATAL GRAVE À
FAMÍLIA ............................................................................................................... 412
13.3) REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A
GESTANTE E O RECÉM-NASCIDO (2014) ........................................................ 418
14.3) CONSUMO DE ÁLCOOL NA GESTAÇÃO E OS EFEITOS NO RECÉMNASCIDO (2014) ................................................................................................. 423
15.3) CARACTERIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL DE PUÉRPERAS EM UM
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO SUL DO BRASIL ............................................ 428
16.3) CUIDADO PRÉ-NATAL: TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL ........................................ 434
17.3)
MULHERES EM GESTAÇÃO DE ALTO RISCO .................................... 439
18.3) GESTAÇÃO DE ALTO RISCO E ENFERMAGEM: REVISÃO
INTEGRATIVA ..................................................................................................... 444
19.3) AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PUERICULTURA: ALEITAMENTO
MATERNO E ESTADO NUTRICIONAL DOS RECÉM-NASCIDOS DA EQUIPE DE
SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PELOTAS,
RS.........................................................................................................................450
20.3) MANEJO CLÍNICO DAS INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS DURANTE O
PROCESSO DE AMAMENTAÇÃO ...................................................................... 455
21.3) DIFICULDADES E FACILIDADES VIVENCIADAS PELO ENFERMEIRO
NO TRABALHO COM AS MULHERESNA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
(2014)...................................................................................................................460
23.3) ATENÇÃO AO PRÉ- NATAL DE GESTANTES ADOLESCENTES:
VIVÊNCIAS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NO PET-SAÚDE DA FAMÍLIA
(2014)...................................................................................................................466
24.3) A
PREMATURIDADE
E
AS
MORBIDADES
GESTACIONAIS
EVIDENCIADAS EM MATERNIDADES DE UM MUNICÍPIO DO SUL DO
BRASIL.................................................................................................................472
25.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO NACIONAL DA PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENFERMAGEM ACERCA DO CLIMATÉRIO ...................................................... 478
26.3)
A HUMANIZAÇÃO DO PARTO SOB A ÓTICA DE ENFERMEIRAS ...... 484
27.3) A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO EM AMAMENTAÇÃO EM UM
GRUPO OPERATIVO DE GESTANTES ............................................................. 489
28.3)
USO DAS DROGAS EM GESTANTES: AÇÕES EM SAÚDE (2014) ..... 494
29.3) INSTITUIÇÕES HOSPITALARES DO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS:
CRESCIMENTO NA TAXA DE CESARIANAS – 2009 a 2013 ............................ 499
30.3) GRUPO DE MÃES: ASSISTÊNCIA A GESTANTES E PUÉRPERAS
(2014)...................................................................................................................504
31.3) AÇÕES EDUCATIVAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE DA
MULHER...............................................................................................................509
32.3) CONHECIMENTO DE PUÉRPERAS DE UMA MATERNIDADE NO
INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE O TABAGISMO ........................ 515
33.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACERCA DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014) ..................................... 520
34.3) PRÁTICAS ASSISTÊNCIAS DESENVOLVIDAS PELO ENFERMEIRO NA
ATENÇÃO PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA (2014..................... 526
35.3) A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA GESTAÇÃO: DENÚNCIAS DE
VIVIDOS EM UMA DELEGACIA DE POLICIA PARA A MULHER ....................... 532
36.3) PERCEPÇÕES
DE
MULHERES
ACERCA
DO
EXAME
CITOPATOLÓGICO ............................................................................................. 537
37.3) PERCEPÇÕES DE PUÉRPERAS ACERCA DAS ORIENTAÇÕES SOBRE
ALEITAMENTO MATERNO ................................................................................. 542
38.3) A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE DE PREVENÇÃO E
CONTROLE DA MORBIMORTALIDADE MATERNA: SUBSÍDIOS PARA O
ENFERMEIRO ..................................................................................................... 546
39.3) A INSERÇÃO DE DOULAS NA ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE
PARTO E NASCIMENTO NO AMBIENTE HOSPITALAR ................................... 552
40.3) EDUCAÇÃO EM SAÚDE POR MEIO DE GRUPO DE GESTANTES:
RELATO DE EXPERIÊNCIA ................................................................................ 558
41.3) ATUAÇÃO ACADÊMICA EM PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO: RELATO
DE EXPERIÊNCIA ............................................................................................... 564
42.3) MORTE PERINATAL: PROFISSIONAIS E ACADÊMICOS DE
ENFERMAGEM ESTÃO EMOCIONALMENTE PREPARADOS? ........................ 569
43.3) TRABALHO ELABORADO A PARTIR DO TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO. IMPORTÂNCIA DAS ORIENTAÇÕES NO PRÉ-NATAL:
CONHECENDO A VISÃO DAS PUÉRPERAS APRESENTADO AO
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
PELOTAS (UFPEL). PELOTAS-RS, BRASIL 2011¹ ............................................ 575
44.3) EDUCAÇÃO CONTINUADA EM UMA UNIDADE OBSTÉTRICA:
CONTRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO ................................................................ 580
45.3) DADOS DE ENFERMAGEM PARA A PRÁTICA DO ALEITAMENTO
MATERNO, RELATO DE EXPERIÊNCIA ............................................................ 585
46.3) VIVÊNCIAS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM À ESTRATÉGIA
NACIONAL DE VACINAÇÃO CONTRA HPV (2014) ........................................... 590
47.3) A PRIMEIRA VISITA DOMICILIARIA AO RECÉM-NASCIDO E FAMÍLIA E
AS POSSIBILIDADES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM .................................. 596
48.3) A CONSULTA DE ENFERMAGEM COMO OPORTUNIDADE NA
PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO: RELATO DE
EXPERIÊNCIA......................................................................................................601
49.3) EPIDEMIOLOGIA
DA
SÍFILIS
CONGÊNITA:
UMA
REVISÃO
NARRATIVA..........................................................................................................606
50.3)
PRESERVATIVO FEMININO SOB A ÓTICA DA MULHER (2014)......... 612
51.3) A INFLUÊNCIA DO PARTO CIRÚRGICO NA PRÁTICA DA
AMAMENTAÇÃO, UMA REVISÃO DA LITERATURA ......................................... 617
52.3) ABORDAGEM DAS MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS PARA ALIVIO
DA DOR NO PARTO EM UM GRUPO DE GESTANTES E PUÉRPERAS ......... 622
53.3) PREVALÊNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E SUA
RELAÇÃO À SAÚDE MATERNO-INFANTIL (2014 ............................................. 627
54.3) ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DURANTE O TRABALHO DE
PARTO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................................................... 631
56.3) DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA EM PERÍODO GESTACIONAL:
A IMPORTANCIA DA ENFERMAGEM NESTE CONTEXTO............................... 636
57.3) ATUAÇÃO DA ENFERMEIRA EM UM CENTRO OBSTÉTRICO: RELATO
DE EXPERIÊNCIA ............................................................................................... 641
58.3) REFLEXÃO SOBRE O TRABALHO DA DOULA NA HUMANIZAÇÃO DO
PARTO..................................................................................................................647
59.3) ACOMPANHAMENTO DE ENFERMAGEM AO RECÉM-NASCIDO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA POR MEIO DA CONSULTA DE PUERICULTURA
(2014)....................................................................................................................652
60.3) A IMPORTANCIA DO ALEITAMENTO MATERNO PARA O RECÉMNASCIDO: UMA VISÃO HISTÓRICA E ATUAL 2014........................................ 6527
61.3) PRÉ-NATAL DAS PARTURIENTES DE RISCO HABITUAL DO
HOSPITAL CASA DE SAÚDE: NOTA PRÉVIA ................................................... 663
62.3)
PUÉRPERAS: O QUE SABEM ELAS ACERCA DA EPISIOTOMIA? ..... 668
63.3) A VIVÊNCIA DA AMAMENTAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO DO
COMPANHEIRO: CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM .......................... 674
64.3) A INFLUÊNCIA DO CICLO LUNAR NO PARTO E NASCIMENTO: NOTA
PRÉVIA ................................................................................................................ 680
65.3) A PRIMEIRA VISITA DOMICILIARIA AO RECÉM-NASCIDO E FAMÍLIA E
AS POSSIBILIDADES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM .................................. 685
66.3) A CONSULTA DE ENFERMAGEM COMO OPORTUNIDADE NA
PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO: RELATO DE
EXPERIÊNCIA......................................................................................................690
67.3) VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: REFLEXÃO A PARTIR DE INTERVENÇÕES
NO ESTÁGIO DE CONCLUSÃO DE CURSO (2014) .......................................... 695
69.3) CUIDADO INTEGRAL AO RECÉM–NASCIDO E A IMPORTÂNCIA DA
AVALIAÇÃO CLÍNICA DO ENFERMEIRO .......................................................... 700
70.3) ATENÇÃO A SAÚDE DA MULHER: A ENFERMAGEM NA EDUCAÇÃO
SOBRE O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ........................................................ 705
71.3) GESTANTE COM EXAME VDRL ALTERADO: UM ESTUDO DE CASO
(2014)....................................................................................................................710
72.3) A GESTAÇÃO E O SEU IMPACTO NAS RELAÇÕES FAMILIARES
(2014)....................................................................................................................716
73.3) ALOJAMENTO CONJUNTO: ESPAÇO OPORTUNO PARA O ESTÍMULO
A AMAMENTAÇÃO E CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO .......................... 721
74.3) O CUIDAR EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA POR MEIO DA
HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO A PARTURIENTE ............................................. 726
75.3) A PARTICIPAÇÃO PATERNA NA PRÁTICA DO ALEITAMENTO
MATERNO ........................................................................................................... 732
76.3) FORTALECENDO O CUIDADO AO NEONATO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
POR MEIO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM (2014) ..................................... 738
77.3) HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO: Uma
revisão narrativa................................................................................................... 743
78.3) CONSULTA DE PRÉ-NATAL: ENFERMAGEM COMO INSTRUMENTO
BÁSICO ............................................................................................................... 749
79.3) ALEITAMENTO MATERNO: REFLEXÃO SOBRE VANTAGENS PARA
MÃE - FILHO E O PAPEL DO ENFERMEIRO DE UMA ES ................................ 753
80.3) PROCESSO DO ALEITAMENTO MATERNO NO ÂMBITO
DO
1
ALOJAMENTO CONJUNTO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................ 758
81.3) A SAÚDE DAS MULHERES BRASILEIRAS EM SITUAÇÃO DE
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: UMA REVISÃO NARRATIVA ............................... 762
82.3)
GESTANTES EM CENA ......................................................................... 768
83.3) CICLO GRAVIDICO PUERPERAL E O USO DE CRACK: DESAFIOS
PARA A ENFERMAGEM OBSTÉTRICA ............................................................. 773
84.3) MANEJO CLÍNICO DA AMAMENTAÇÃO EM UNIDADE OBSTÉTRICA,
UM ENSAIO TEÓRICO ........................................................................................ 778
85.3) ATENÇÃO À SAÚDE NO PERÍODO GRAVÍDICO-PUERPERAL:
DISSERTAÇÕES DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS ................................................... 784
86.3) ACOMPANHANTE COMO PARTICIPANTE ATIVO E FACILITADOR NO
TRABALHO DE PARTO E PARTO ...................................................................... 788
87.3) DOULAS
NA
ASSISTÊNCIA
AO
PARTO:
UMA
REVISÃO
INTEGRATIVA......................................................................................................792
88.3)
DOAÇÃO DE LEITE HUMANO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ........... 797
89.3) ATUAÇÃO DA DOULA NO CENÁRIO DE HUMANIZAÇÃO DO PARTO E
NASCIMENTO (2014) .......................................................................................... 802
90.3) FOTOTERAPIA: NECESSIDADES E CUIDADOS COM ESTE
TRATAMENTO .................................................................................................... 807
91.3) DEPRESSÃO
PÓS-PARTO:
MANIFESTAÇÕES
E
CONSEQUÊNCIAS...............................................................................................812
92.3) CONSULTA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-NATAL: UM OLHAR DA
SAÚDE COLETIVA (2014 .................................................................................... 817
94.3) EXAME PREVENTIVO DE CÂNCER DE COLO UTERINO –
PERIODICIDADE E FREQUÊNCIA ..................................................................... 822
95.3)
QUALIDADE DE VIDA PÓS MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA ..... 827
96.3) IMPACTO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM
ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NA MATERNIDADE DO HOSPITAL CASA DE
SAÚDE - SANTA MARIA/RS: OPINIÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE
ATUAM NESTE CENÁRIO (2014) ....................................................................... 832
97.3) O PAPEL DO ENFERMEIRO ACERCA DAS DISFICULDADES NO
PUERPÉRIO ........................................................................................................ 836
98.3) A IMPORTÂNCIA DAS BOAS PRÁTICAS NA HUMANIZAÇÃO DO
NASCIMENTO ..................................................................................................... 842
99.3) VIVENCIAS DA FORMAÇÃO DE RESIDENTES EM ENFERMAGEM
OBSTÉTRICA: RELATO DE CASO ..................................................................... 846
100.3) O CUIDADO DE ENFERMAGEM NA VISÃO DE MULHERES PUÉRPERAS
EM UMA MATERNIDADE DA REGIÃO SUL DO BRASIL (2014) ...................... 851
101.3) PROMOÇÃO DA SAÚDE COM GESTANTES EM SALA DE ESPERA
(2014)...................................................................................................................856
2. TRABALHO COMPLETO
1.2)
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À GESTAÇÃO GEMELAR COM
DIAGNÓSTICO DE SÍNDROME DA TRANSFUSÃO FETO- FETAL 1
DA ROCHA, Bruna Dedavid2;
DONADUZZI, Daiany Saldanha da Silveira 3 ;
MARCHIORI, Mara Regina CainoTeixeira4;
MENEZES, Francislene Lopes5;
BORDIGNON, Juliana da Silveira 6;
GOMES, Iris Elizabete Messa7
RESUMO
Introdução: A gestação é considerada um fenômeno fisiológico que envolve
modificações fisiológicas, sociais e emocionais na mulher. Portanto, a assistência
pré-natal, por meio principalmente da educação em saúde, é considerada primordial,
pela carência de informações ou informações errôneas decorrentes dos mitos e
crenças estabelecidos pela própria sociedade, em relação ao período gestacional.
Em relação ao acompanhamento de gestações de alto risco no pré –natal, destacase neste relato a gestação gemelar com presença de Síndrome da Transfusão FetoFetal (STFF). Objetivo: Descrever a experiência vivenciada por enfermeira Residente
em Enfermagem Obstétrica, diante de um caso de gestação gemelar com síndrome
da transfusão feto – fetal. Metodologia: Relato de caso clínico, descritivo, realizado
1
Relato de caso clínico com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677).
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA).Membro do Núcleo de Estudos Mulheres, Gênero e Políticas
Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (NEMGeP/UFSM). Email:
[email protected]
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Enfermeira Concursada junto a Prefeitura
Municipal de Santa Maria (PMSM). Preceptora no Programa de Residência em Enfermagem
Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
4
Enfermeira. Mestre em Educação – Faculdades Franciscanas. Doutoranda DINTER Novas
Fronteiras UNIFESP/UFRJ/UFSM. Tutora do programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do
Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
5
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Residente do Programa de Residência em
Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email:
[email protected]
6
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
7
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
2
após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677), o qual tem
como cenário uma Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada na região centrooeste da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em
Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida desde
2013. Resultados e Discussões: Relata-se um caso clínico de uma gestante
GIIIPIIA0, 42 anos de idade, à qual foi diagnosticada gestação com STFF às 18
semanas e 4 dias de gestação. Foi submetido ao tratamento por cirurgia à laser de
ablasão das anastomoses arteriovenosas em 26/06. Gestação interrompida em
25/07, parto cesariana, com posterior óbito de ambos os fetos. Ressalta-se a
importância do acompanhamento pré-natal à gestante e sua família, realizado pelo
enfermeiro bem como, conhecimento clínico desse profissional para identificar
problemas e conduzir determinadas situações. Considerações finais: A enfermagem
necessita ter conhecimento sobre as principais complicações que podem surgir a
partir de uma gestação gemelar. Na STFF, mesmo o diagnóstico sendo
essencialmente clínico e a conduta e acompanhamento se restringir a assistência
médica, possui intervenções cabíveis à equipe de enfermagem.
Eixo Temático: Eixo 2 – Atenção ao pré - natal
Descritores: Assistência pré-natal; Enfermagem; Gravidez de Alto Risco; Gestação
Gemelar.
NURSING CARE WITH THE DIAGNOSIS OF PREGNANCY TWINTWIN TRANSFUSION SYNDROME
ABSTRACT
Introduction: Pregnancy is considered a physiological phenomenon involving
physiological, social and emotional changes in women. Therefore, the prenatal care,
mainly through health education, is considered paramount, by lack of information or
misinformation arising from myths and beliefs established by society itself, in relation
to the gestational period. In relation to the monitoring of high-risk pregnancies in the
prenatal, stands out in this report gestation car with presence of twin-twin transfusion
syndrome (TTTS). Purpose: Describe the experience lived by Resident Nurse in
Obstetric Nursing, facing a case of pregnancy with twin-twin transfusion syndrome.
Methodology: Reporting clinical, descriptive case, carried out after approval by the
ethics and Research Committee (opinion No. 758,677), which is set in a basic health
Unit (BHU) located in the Central-West region of the city of Santa Maria, Rio Grande
do Sul, in which the Residence in Obstetric Nursing of Centro Universitário
Franciscano is inserted from 2013. Results and discussions: Describes a clinical
case of a pregnant woman, GIIIPIIA0, 42 years old, which was diagnosed pregnancy
with TTTS, at 18 weeks and 4 days of gestation. Reference has been made to the
treatament with laser surgery in 26/06. Gestation interrupted in 25/07, cesarean birth,
with subsequent death of both fetuses. Emphasized the importance of prenatal care
to the pregnant woman and her family, performed by a nurse as well as clinical
knowledge of a trader to identify problems and conduct certain situations.
Conclusions: Nursing needs to have knowledge about the major complications that
can arise from a twin pregnancy. In the TTTS, even the clinical diagnosis being
essentially and conduct and follow-up if restrict medical care, has reasonable
interventions to nursing staff.
Main theme: 2 – Prenatal Care
Descriptors: Prenatal care; Nursing; High – risk pregnancy; Twin Pregnancy.
1. INTRODUÇÃO
A gestação é considerada um fenômeno fisiológico que contempla uma
experiência de vida saudável à mulher e sua família, na qual envolve modificações
fisiológicas, emocionais e sociais, que influenciam no contexto de vida da mulher.
Mas, ao mesmo tempo em que se caracteriza como um processo natural, pode
também implicar riscos para a mãe e para o bebê, uma vez que algumas gestantes,
por apresentarem determinadas características específicas, antes ou durante a
gestação, podem ter uma evolução desfavorável e, portanto, são denominadas de
“alto risco” (BRASIL, 2012).
Nesse contexto, uma gestação ou trabalho de parto, que ocorre dentro dos
limites da normalidade, pode em determinado momento, tornar-se de alto risco.
Portanto salienta-se a importância das consultas de pré-natal, da reclassificação de
risco a cada consulta e das orientações disponibilizadas à gestante. Destaca-se que
mesmo o fato de a gestante não realizar o acompanhamento de pré-natal ou não
fazê-lo de forma adequada, já caracteriza a gestação como de alto risco (BRASIL,
2012).
O acompanhamento pré-natal de gestantes classificadas como de baixo risco,
é realizado na Atenção Básica de saúde (AB), por meio de consultas que podem ser
realizadas tanto pelo médico como pelo enfermeiro, ou ambos profissionais da rede
básica de saúde. No momento em que a gestante é classificada como de alto risco,
a mesma é encaminhada para o acompanhamento no hospital de referência.
Contudo, salienta-se que a gestante, mesmo classificada como de alto risco, pode
continuar seu pré-natal também na AB, se assim desejar.
Com a implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
Mulher (PNAISM), o enfermeiro é estimulado a participar nas ações de saúde da
mulher, com ênfase na assistência pré-natal (RIOS; VIEIRA, 2007). Principalmente
porque, de acordo com a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, Decreto nº
94.406 de 1987, artigo 11, cabe ao enfermeiro, privativamente, a consulta de
enfermagem bem como assistência à gestante, parturiente e puérpera (BRASIL,
1986).
Por tratar-se de um processo de intensas modificações corporais e
emocionais, no qual os pensamentos da mulher são permeados de dúvidas, medos
e incertezas, a assistência de enfermagem no pré-natal é considerada primordial,
principalmente pela carência de informações ou informações errôneas decorrentes
dos mitos e crenças estabelecidos pela própria sociedade, que influenciam
negativamente durante a gestação e o parto. Portanto, o acolhimento da gestante e
sua família deve ser realizado na assistência pré-natal, inclusive por promover o
início do vínculo afetivo entre mãe-bebê, que tem início na gestação (RIOS; VIEIRA,
2007).
A educação em saúde direcionado à gestante durante o pré-natal, envolve a
construção de conhecimento e modificação do comportamento em relação ao
processo de saúde e doença vivenciado em uma gravidez de alto risco. Ao
enfermeiro cabe, portanto, habilidade de ir além do simples ato de realizar
orientações, mas instigar a gestante, companheiro e família a questionar e sair da
zona de passividade, na qual geralmente os pacientes são colocados pelos
profissionais (LUCIANO; SILVA; CECCHETTO, 2011).
Algumas estratégias de educação e saúde, que podem auxiliar na troca de
informações e experiências durante o pré-natal, são os grupos de gestantes,
principalmente por possibilitar às gestantes se relacionarem com outras mulheres
que também estão vivenciando o mesmo problema durante a gestação ou possuem
as mesmas dúvidas, medos e incertezas.
Em relação a uma determinada situação diagnosticada como de alto risco, em
nível mundial, a incidência de gestações gemelares, por exemplo, encontra-se
relativamente constante em diferentes países, por volta de 3,5 por 1.000
nascimentos. Portanto, corresponde a 1% das gestações, sendo que dois terços são
do tipo dizigótico e um terço do tipo monozigótico. Gestações gemelares dizigóticas,
resultam da fecundação de dois óvulos por dois espermatozoides, sendo
dicoriônicos e diamnióticos, podem ser ou não do mesmo sexo e possuir
características de irmãos não gêmeos (FREITAS, 2001; MARTINS, BARRA, FILHO,
2006).
Alguns fatores que influenciam a ocorrência de gestações gemelares
dizigóticas são: idade materna avançada, multiparidade, hereditariedade, raça, uso
de drogas indutoras da ovulação e fertilização em vitro. Mulheres com gestação
múltipla possuem maior risco de complicações durante a gravidez e parto,
comparadas às mulheres com gestação simples (FREITAS, 2001; MARTINS,
BARRA, FILHO, 2006;).
As complicações de uma gestação gemelar incluem transtornos por
compressão, aborto espontâneo, hiperêmese, anemia, pielonefrite, parto prematuro,
Crescimento Intra Uterino Retardado, polidrâmnio, mal formações congênitas,
síndrome da transfusão feto-fetal, apresentações anômalas (GAMA DA SILVA et al,
2003).
Considerando somente gestações gemelares monocoriônicas, uma das
complicações graves que podem ocorrer, é a síndrome da Transfusão feto-fetal
(STFF), variando a ocorrência de 4 a 34% (FREITAS, 2001; MARTINS, BARRA,
FILHO, 2006). Nesta condição clínica, existem anastomoses arteriovenosas entre a
circulação do tecido placentário, interligando as duas circulações fetais, nutrindo
cada um dos fetos. Isso tem por consequência a passagem desbalanceada de
sangue de um dos fetos (doador), para o outro denominado receptor. (FREITAS,
2001). O feto receptor tende a apresentar sobrecarga circulatória o que pode causar
insuficiência cardíaca e poliidrâmnio, causados pela hipovolemia. O gemelar
receptor também pode apresentar aumento da osmolaridade plasmática, aumento
da pressão oncótica e hidropsia (FREITAS, 2001; GAMA DA SILVA et. al, 2003)
O diagnóstico da STFF é realizado pelo médico na consulta pré-natal, e pode
ser clínico por meio da anamnese: inspeção da altura uterina maior (apresenta-se
maior que a esperada), tensão e desconforto abdominal, secundários ao
polidrâmnio. Também pode ser diagnosticado sequencialmente, por meio de
ultrassonografia obstétrica, no primeiro trimestre de gravidez, a qual pode revelar
presença de líquido amniótico discordante. A ecocardiografia fetal pode auxiliar pela
possibilidade de detectar alterações cardiovasculares (GAMA DA SILVA et al, 2003).
Portanto, para evitar complicações mais sérias e tratamento precoce, a
ultrassonografia deve ser realizada preferencialmente no primeiro trimestre
gestacional (BUONACORSO et al, 2006). Após ser diagnosticado a STFF, o
acompanhamento da gestação deve ser mais rigoroso, principalmente pela
avaliação da perda de líquido amniótico, o que pode acontecer principalmente de 16
a 26 semanas de gestação (LEWI et al, 2010). Sugere-se assim, que a paciente seja
encaminhada ao pré-natal de alto risco e com a possibilidade de internação para
melhor acompanhamento e controle de alterações.
2. OBJETIVOS
Descrever
a
experiência
vivenciada
por
enfermeira
Residente
em
Enfermagem Obstétrica, diante de um caso de gestação gemelar com síndrome da
transfusão feto – fetal.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de caso descritivo, o qual tem como cenário uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada na região centro-oeste da cidade de
Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica
do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013. Foi realizado no
referido cenário após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº
758.677).
A UBS possui atendimento por demanda espontânea e por sua
localização central, abrange usuários de todas as regiões da cidade. Na constituição
do corpo de trabalho, possui os seguintes profissionais: dois médicos pediatras, dois
médicos clínicos-geral, dois médicos ginecologista/obstetras, uma enfermeira e
coordenadora da unidade, três recepcionistas, quatro técnicos de enfermagem, uma
cirurgiã-dentista e uma Residente em Enfermagem Obstétrica. Em relação ao
espaço físico, possui sala de espera, recepção, farmácia, sala de vacinas, sala de
curativos, sala de materiais de limpeza, sala de procedimentos, sala de atuação dos
ginecologistas/obstetras com banheiro, duas salas de pediatria, uma sala de atuação
do clínico geral, sala de procedimentos odontológicos, sala da Residência em
Enfermagem Obstétrica, sala da enfermeira/coordenadora, dois banheiros (feminino
e masculino) localizados na sala de espera.
Na referida UBS, a Residente em Enfermagem Obstétrica realiza a primeira
consulta pré-natal das gestantes que acessam esse serviço de saúde, intercalando
as consultas subsequentes com os médicos ginecologistas /obstetras da unidade.
Quando a gestação é diagnosticada como de alto risco, a gestante é encaminhada
para realização do pré-natal no hospital de referência da cidade, mas pode manter o
acompanhamento também na UBS, com a enfermeira residente e com o médico, se
assim desejar.
No caso apresentado neste relato, a residente realizou apenas a primeira
consulta pré-natal, mas acompanhou a gestante quando a mesma procurava esse
serviço de saúde para a consulta médica e após o desfecho da gestação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
ET, 42 anos, G3P2A0, um parto normal e uma cesárea anterior, sem
intercorrências no pré-natal e no parto, sem patologias prévias ou doenças
sexualmente
transmissíveis
(DST’s).
DUM:12/02/14;
DPP:20/11/14.Iniciou
o
acompanhamento de pré-natal com 8 semanas de gestação, de acordo com a data
da última menstruação. A primeira consulta de pré-natal foi realizada pela enfermeira
residente em obstetrícia da UBS, na qual foram solicitados exames de rotina e
ultrassonografia obstétrica. A paciente relatou alguns sinais e sintomas da gravidez
tais como: atraso menstrual, náusea, dispneia, dor fraca em baixo ventre, dor
lombar, urgência urinária. Negou perdas vaginais (corrimento ou sangramento).
Referiu não fazer uso de álcool, cigarro ou drogas. Peso: 52.500; P.A: 90/60 mmhg;
Altura: 1,53 cm. Realizou o primeiro ultrassom em 07/04 ( 7 semanas de gestação) e
exames laboratoriais de 09/04 sem alterações. Segundo ultrassom em 10/06:
apresentação córnica, movimentos fetais presentes, batimentos cardíacos fetais
presentes, placenta grau zero, bolsão do 1º gemelar apresentando polidramnia, ILA
10, bexiga do 1º gemelar distendida; 2º gemelar oligodramnia, placenta dicoriônica,
diamniótica, compatível com 18 semanas e 2 dias. STFF interrogado. Em 16/06,
com 16 semanas de gestação, gestante começou a apresentar perda de líquido
amniótico e contrações uterinas. Realizou ecografia obstétrica gemelar em 11/06:
primeiro gemelar transverso, polo cefálico, dorso à esquerda; segundo gemelar
transverso, polo à direita. Peso 1º gemelar: 291 gramas; Peso 2º gemelar: 209
gramas. Placenta grau zero.1º gemelar polidrâmnio e L.A ausente no segundo
gemelar. Gestação compatível com 18 semanas e 4 dias. Síndrome da transfusão
feto-fetal. Em 26/06, foi realizar no Rio de Janeiro, fazer tratamento a laser o qual
tem por objetivo, interromper a troca sanguínea entre os dois bebês, em decorrência
que um dos fetos não estava se alimentando e portanto não estava ganhando peso
suficiente, pois havia uma única placenta para ambos os fetos. Na cirurgia foi
colocado um pessário, utilizado para prevenir um parto prematuro e funciona
diminuindo a pressão exercido pelo feto, à pelve da gestante. Depois de realizada a
cirurgia no RJ, paciente ficou em acompanhamento no HUSM, internada, pois suas
contrações só aumentavam. Foi orientada para fazer repouso absoluto no leito. Na
avaliação obstétrica realizada no hospital: BCF’S normais, pressão arterial normal,
realizado toque vaginal, logo após a placenta descolou e foi levada às pressas para
a sala de cirurgia (em 25/07). 1º gemelar nasceu com 675 gramas e foi a óbito com
35 minutos de vida e 2º gemelar ficou internado três dias na UTI neonatal e logo
após foi a óbito. Na avaliação anátomo-patológica: placenta monocoriônica,
diamniótica, com diversos coágulos, com anastomoses vasculares profundas.
Estudos demonstram que a gemelaridade por si só, é responsável por cerca
de 10% dos Trabalhos de Parto Prematuro e 25% de todas as mortes pré -termo. A
maior morbidade materna associada a gestações gemelares, é decorrente de
situações patológicas mais decorrentes, a citar a STFF (GAMA DA SILVA et al,
2003).
De acordo com estudo que objetivou avaliar a evolução de gestações
gemelares monocoriônicas diamnióticas com e sem síndrome de transfusão, não
houve diferença significativa de parto pré - termo entre os grupos com e sem STFF;
mas, observou-se maior ocorrência de parto pré -termo extremo nos casos de STFF
do que aqueles que não apresentavam a doença. Em relação ao óbito ao
nascimento, de um dos gemelares, presença de comprometimento neurológico em
pelo menos um dos neonatos e o comprometimento neurológico em ambos os
neonatos, foram mais frequentes em mulheres que apresentaram STFF na gestação
(PERALTA et al, 2009).
De acordo com a literatura o diagnóstico mais precoce, por meio de
ultrassonografia, se deu em 14 semanas de gestação. A partir de 14-16 semanas, já
é possível visualizar alterações de volume aminiótico e a partir do 2º e 3º trimestres
já pode ser detectada STFF instalada. Algumas características perceptíveis são a
quantidade de líquido amniótico e tamanho dos fetos – polidrâmnio e volume vesical
aumentado em um dos fetos, o outro com oligodrâmnio e bexiga vazia (BELDI;
ROZAES; FILHO, 2005).
O tratamento pode ser realizado por amniocentese seriada, rotura da
membrana que separa as cavidades amnióticas e da ablasão das anastomoses
vasculares com laser. A técnica que atualmente merece destaque por apresentar
melhores resultados é a ablasão à laser das anastomoses arteriovenosas
(CROMBLEHOME, 2003), método de escolha no caso clínico apresentado neste
relato. Em relação à esse procedimento, o mesmo visa inativar as anastomoses que
proporcionam o desenvolvimento e progressão da doença (PERALTA et al, 2009).
Em relação à conduta expectante, os poucos casos encontrados na literatura
os quais foram tratados conservadoramente, não se registraram fetos sobreviventes
(DOMINGUES et al, 2007). Estudo demonstrou que conduta expectante, em
gestação com STFF, gera maiores complicações perinatais, maior probabilidade de
prematuridade extrema, óbito de um ou ambos os gêmeos e danos neurológicos em
um ou ambos os fetos (PERALTA et al, 2009).
Em 2013 o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do
Adolescente- Fernandes Figueira (IFF/Fio Cruz) iniciou como proposta de tratamento
para a STFF a coagulação a laser por fetoscopia das anastomoses vasculares. O
Instituto Nacional de Saúde Fernandes Figueira é um centro de referência para
tratamento de risco fetal e possibilita que gestantes com esse diagnóstico tenham
acesso à esse tratamento (PORTAL FIOCRUZ, 2013).
Porém, em estudo realizado por Funayama et al, foram acompanhadas em 6
anos, 14 gestações gemelares com óbito de um dos fetos, sendo que 5 destas
apresentavam placenta monocoriônica; em todos estes casos a conduta foi
conservadora até no mínimo 32 semanas completas de gestação. Apenas um feto
apresentou distúrbio neurológico, relacionado à prematuridade (FUNAYAMA et al,
2002).
Além de alterações fisiológicas e de comportamento em gestantes
consideradas de alto risco, a família também vivencia modificações, principalmente
no cotidiano familiar. A mesma necessita adaptar-se em relação às recomendações
de cuidados à gestante como repouso no leito, mudança de hábitos alimentares,
controle das atividades diárias, maior frequência de consultas pré-natal e realização
de exames. Portanto, a família se insere cada vez mais no acompanhamento da
gestação, principalmente por meio do apoio emocional à gestante e auxílio nas
atividades diárias (PETRONI et al, 2012).
Dessa maneira, a família merece atenção dois profissionais de saúde e deve
participar ativamente das consultas de pré-natal. A consulta de enfermagem
proporciona, portanto, um espaço de escuta qualificada do profissional enfermeiro,
em relação às expectativas da gestante e de sua família no processo gestacional de
alto risco.
Em estudo que objetivou conhecer a percepção de acompanhantes sobre a
gestação de alto risco, os resultados apontam que a família reconhece a
necessidade de cuidados especiais à gestante e a importância do acompanhante
durante a gestação. Porém a família desconhece o risco gestacional e as
implicações para a mãe e para o feto. Cabe à enfermagem o compromisso de
sensibilizar sobre a importância das consultas de pré-natal, bem como orientar a
gestante e a família nas consultas (PETRONI et al, 2012).
Além da perspectiva ampliada e de considerar a família nesse contexto, o
conhecimento clínico de enfermagem sobre situações de risco gestacional, como a
STFF, é de suma importância. O mesmo tem se tornado cada vez mais necessário
na assistência pré-natal e deve ser cada vez mais estimulado, por possibilitar que o
enfermeiro saiba identificar problemas, bem como, manejo adequado de situações
como as de alto risco (PEREIRA; BACHION, 2005). Afinal, o acompanhamento da
gestação de alto risco é identificado principalmente na atenção básica e referenciado
para serviço hospitalar para gestações de alto risco, porém o acompanhamento
pode acontecer concomitante em ambos os serviços de saúde.
O que norteia a identificação de problemas, diagnóstico de enfermagem,
intervenções a serem realizadas, bem como a tomada de decisão do enfermeiro, é a
classificação de diagnósticos de enfermagem da North American Nursing Diagnosis
Association –NANDA (NANDA, 2002). Muitos diagnósticos de enfermagem no prénatal são negligenciados ou sequer são realizados pelos profissionais, o que
possibilitaria uma atenção pré-natal de qualidade, baseada em conhecimento clínico,
identificação de possíveis riscos ou a prevenção dos mesmos. A prática de
enfermagem deve ser valorizada, sendo que as consultas de pré-natal devem
contemplar além orientações básicas, diagnóstico, prescrição, evolução de
enfermagem, dentro das competências legais da profissão (PEREIRA; BACHION,
2005).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É de grande relevância que a enfermagem tenha conhecimento sobre as
principais complicações que podem surgir a partir de uma gestação gemelar. Na
STFF, mesmo o diagnóstico sendo essencialmente clínico e a conduta e
acompanhamento se restringir a assistência médica, possui intervenções cabíveis à
equipe de enfermagem. Para tanto, se faz necessária a captação precoce de
gestantes nas áreas abrangentes à Atenção Básica de Saúde, realização da
primeira consulta pré-natal precocemente, bem como, investigação de antecedentes
familiares de patologias e gemelaridade, antecedentes obstétricos e possíveis
fatores de risco gestacional. Ou seja, é necessária uma atenção pré - natal
humanizada e de qualidade, a qual pode ser explorada pelos enfermeiros.
À família que vivencia situação de gravidez gemelar com síndrome da
transfusão feto – fetal, deve ser oferecido suporte de uma equipe multidisciplinar,
principalmente para acompanhamento psicológico, pois se trata de uma situação de
grande estresse, sofrimento, medo e ansiedade relacionado ao desfecho da
gestação. É importante, portanto, atentar para alterações ultrassonográficas e
considerar as queixas da gestante, bem como avaliar sempre a mulher nas
consultas por meio do exame físico e ginecológico. Nesse sentido, a atuação de uma
equipe multiprofissional na atenção básica, auxiliaria na qualificada da assistência
em gestações de alto risco. A atuação multiprofissional se faz essencial, visto que,
após a alta hospitalar, muitas vezes não tem-se uma continuidade no cuidado à
mulher e sua família.
REFERÊNCIAS
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relato de dois casos. Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, São Paulo, v.7, n.2. p. 17 –
19, 2005.
BRASIL, M.S. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. 5ª
edição.Brasília, Distrito Federal, 2012.
BUONACORSO, R.; et al. Gestação gemelar com óbito de um dos fetos: relato de
caso. Arq. Med. Hosp. Fac Ciênc Med, Santa Casa São Paulo, v. 51, n. 3, p. 88-91,
2006.
PORTAL FIOCRUZ. Fundação Osvaldo Cruz. Tratamento para Síndrome da
Transfusão Feto-fetal começa a ser realizado no IFF. Notícia por Suely Amarante e
Aline Câmera. 30 jan. 2013. Disponível em: < http://portal.fiocruz.br/ptbr/content/tratamento-para-s%C3%ADndrome-de-transfus%C3%A3o-feto-fetalcome%C3%A7a-ser-realizado-no-iff >.
FREITAS, F. Rotinas em Obstetrícia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
FUNAYAMA, C. A. R. et al. Gravidez Gemelar com Morte Fetal de Um dos Gêmeos:
Avaliação Neurológica dos Gemelares Sobreviventes. Revista Brasileira de
Ginecologia e Obstetrícia, v. 24, n. 2, 2002.
GAMA DA SILVA, J.C.; et al Assistência à gestação e parto gemelar. Rev. Cienc.
Med., Campinas. 12(2):173-183, abr./jun., 2003.
MARTINS, W.P.; BARRA, D.A.; FILHO, F.M. Gestação Múltipla – aspectos clínicos.
Femina, v. 34, n. 6, p. 423 – 431, jun. 2006.
LEWI, L. et al. Monochorionic Diamniotic Twin Pregnancies: Natural History and Risk
Stratification. Fetal Diagn Ther, v.27, p.121-33, abr. 2010
LUCIANO, M.P.; SILVA, E.V.; CECCHETTO, F.H. Orientações de Enfermagem na
gestação de alto risco: percepções e perfil de gestantes. Rev Enferm UFPE online, v.
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Enfermagem da NANDA: Definições e classificação- 2001/2002. Tradução de Jane
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PETRONI, L.M. et al. Convivendo com a gestante de alto risco: a percepção do
familiar. Cienc Cuid Saúde, v. 11, n. 3, p. 535-541, jul. – set., 2012.
2.2)
EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA
FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA
FETAL1
AMTHAUER, Camila 2
VAN DER SAND, Isabel Cristina Pacheco 3
RESUMO
A gestação é considerada um momento de alegria, onde sonhos e expectativas são
depositados nessa vida que está por vir. Quando ocorre uma perda fetal, projetos e
expectativas são rompidos junto com a gravidez. Dessa vivência, sentimentos de
impotência e frustração tomam conta de quem experencia a perda, exigindo dos
profissionais de saúde uma sensibilidade para ajudar na elaboração da perda. Fazse necessário uma rede social de apoio à mulher/família enlutada, em que se
insiram os profissionais, destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de
Saúde da Família (ESF). O objetivo é relatar a experiência de profissionais da ESF
no atendimento às mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal. Trata-se de um
estudo descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do
Noroeste do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª Coordenadoria Regional de Saúde,
que conta com três equipes da ESF. Participaram doze profissionais (dois médicos,
duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitárias de
saúde).
Os
dados foram coletados em agosto
de
2010
por
entrevista
semiestruturada, gravadas e transcritas para fins de análise, segundo análise
temática proposta por Minayo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mediante o processo
1
Trabalho oriundo de Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de grau de Enfermeira pela
Universidade Federal de Santa Maria.
2
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Email: [email protected]
3
Enfermeira. Professora Assistente da Universidade Federal de Santa Maria. Doutora em Ciências.
Email: [email protected]
23081.011801/2010-23.Sobre suas experiências profissionais, a maioria dos sujeitos
mencionou ter experenciado para além do campo profissional, ou seja, relataram
suas próprias vivências pessoais. Outro dado refere-se ao estresse representado
pela necessidade de noticiar a morte fetal, devido a perda significar impotência e/ou
fracasso profissional. Alguns sujeitos relataram situações de perda neonatal,
salientando que essa representa uma experiência mais difícil para o profissional e
para a mulher enlutada. Os dados permitem reafirmar a importância da educação
permanente
para
que
os
profissionais
tenham
compreensão
acerca
da
representação da gestação, maternidade, perda e luto.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Gravidez; Morte Fetal; Saúde da Mulher; Estratégia Saúde da Família;
Profissional da Saúde.
ABSTRACT
Pregnancy is considered a time of joy, where hopes and dreams are deposited in this
life that is to come. When fetal loss occurs projects and expectations are broken
along with pregnancy. This experience, feelings of helplessness and frustration take
account of whom experience loss, requiring a sensitivity health professionals to assist
in the preparation of the loss. It is necessary a social support network for women /
bereaved family, which fall into professionals, especially members of the teams of the
Family Health Strategy (FHS). The goal is to report the experience of professionals in
FHS assistance to women and / or families bereaved by fetal loss. This is a
descriptive study with a qualitative approach, developed in a municipality the
Northwest Rio Grande do Sul attached to the 17th Regional Health, which has three
FHS teams. Participated in twelve professionals (two doctors, two nurses, four
nursing techniques and four community health workers). Data were collected in
August 2010 by semistructured, recorded and transcribed for analysis interview, as
proposed by Minayo thematic analysis. The project was approved by the Ethics
Committee of the Federal University of Santa Maria (UFSM) through the process
23081.011801/2010-23. About their professional experiences, most participants
mentioned having lightful beyond the professional field, or reported their own
personal experiences. Another data refers to the stress posed by the need to report
fetal death due to loss mean impotence and / or professional failure. Some subjects
reported cases of neonatal loss, stressing that this is a more difficult experience for
the professional and for the bereaved woman. The data allow reaffirm the importance
of continuing education for professionals to have understanding about the
representation of pregnancy, motherhood, loss and grief.
Descriptors: Pregnancy; Fetal Death; Woman’s Health; Family Health Strategy;
Health Professional.
1. INTRODUÇÃO
A gestação é uma fase na vida da mulher que implica em diversas
transformações relacionadas ao seu corpo, estilo de vida e seu novo papel social – o
de ser mãe. Essas mudanças exigem adaptações principalmente na vida da mulher,
mas também se estendem ao companheiro e à família que juntos vivenciam esse
momento. Entretanto, cada mulher vive a gravidez de forma única e individual,
dependendo do contexto cultural, social e familiar a qual está inserida, que vão
influenciar fortemente os aspectos físicos, emocionais e sociais no seu exercício da
maternidade. Para além dessas mudanças, novos papeis e responsabilidades
devem ser assumidos pelos novos pais, que reconhecem o filho como um ser frágil
que necessita de proteção e cuidado, o que requer uma construção ideológica de
ser mãe e ser pai (SILVA et al., 2013).
O nascimento de um bebê é considerado pela maioria das mães e suas
famílias como um momento de felicidade, alegria e até a realização de um sonho.
Desejos e expectativas são depositados nessa nova vida que está por vir. Ao saberse grávida, a mãe passa a imaginar como será o rostinho do bebê, seu nome e a
idealizar projetos para seu filho. Quando ocorre uma perda fetal, seus sonhos e
expectativas são rompidos junto com a gravidez (MONTERO et al., 2011).
Dessa vivência, sentimentos de impotência, incapacidade, frustração e culpa
tomam conta da mulher e família que experenciam a perda, o que demanda dos
profissionais da saúde uma sensibilidade para o oferecimento de apoio e conforto.
Este suporte é importante na elaboração da dor e sofrimento da perda, fazendo
parte do processo de cuidar. Nele, prioriza-se a expressão das diferentes questões
dessa gestante, buscando a satisfação de suas necessidades com base em sua
própria ótica (RODRIGUES; HOGA, 2006).
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de uma rede social de apoio à
mulher e à família enlutada, em que se insiram também os profissionais de saúde,
destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF).
2. OBJETIVOS
O presente estudo, recorte de outro de maior envergadura, tem como objetivo
relatar a experiência de profissionais da ESF no atendimento às mulheres e/ou
famílias que vivenciam uma perda fetal.
3. METODOLOGIA
Estudo descritivo, de natureza com abordagem qualitativa, desenvolvido em
um município do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª
Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com três equipes da ESF.
Como critério de inclusão foi definido que o profissional deveria ter
experenciado, no exercício de sua profissão, o atendimento à mulher e/ou família
enlutada em decorrência da perda fetal. Participaram doze profissionais (dois
médicos, duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes
comunitárias de saúde), atuantes em uma das três equipes de ESF, prezando-se
pela representatividade de todos os profissionais da equipe mínima de uma ESF.
Os dados foram coletados por entrevista do tipo semiestruturada, gravadas e,
posteriormente, transcritas para fins de análise e interpretação dos dados. As
entrevistas aconteceram durante o mês de agosto de 2010, segundo o local e
disponibilidade dos sujeitos do estudo.
Foram respeitados os preceitos éticos de pesquisa com seres humanos,
conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n° 196/96, com aprovação
do projeto por meio de Parecer Consubstanciado, emitido pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (CEP/UFSM), mediante o
processo 23081.011801/2010-23.
Os dados foram analisados pela análise de conteúdo da modalidade temática,
operacionalmente efetuada em três etapas: pré-análise, exploração do material e
tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Na pré-análise tomou-se contato
com o material produzido na transcrição das entrevistas, por meio de leitura
exaustiva, com vistas a uma impregnação das informações contidas; na exploração,
realizou-se a categorização dos dados, organizando-se as unidades de registro a
partir de suas afinidades temáticas; e na interpretação buscou-se a compreensão e
interpretação dos dados à luz do referencial (BERTOLANI; OLIVEIRA, 2010;
MINAYO, 2010).
4. RESULTADOS
Ao serem questionados acerca das experiências profissionais na ESF,
relativas à atenção a mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal, a maioria
dos sujeitos mencionou ter tido alguma experiência para além do campo profissional,
ou seja, relataram suas próprias vivências pessoais. Na medida em que descreviam
suas experiências, atribuíram motivos que ocasionaram a perda fetal, relacionando-a
há alguma situação e/ou ação por parte da mulher e/ou família.
Outro dado que emerge da investigação refere-se ao estresse representado
pela necessidade de noticiar à mulher/família a morte fetal, pois, além da dificuldade
cultural de lidar com as questões relativas à morte e ao morrer, a perda pode ter um
significado de impotência e/ou de fracasso profissional. Percebe-se que a perda
significa dificuldades para todos que participam desse evento, incluindo a equipe
que a acompanha. Destaca-se que, para os sujeitos do estudo, o profissional deve
permanecer incólume ao sofrimento, visto que cabe a ele prestar o suporte a essa
mulher e/ou família. Assim, para fazê-lo de modo eficiente, os sujeitos entendem que
o profissional não pode se envolver emocionalmente com a situação vivida pela
família.
Por fim, alguns sujeitos do estudo relataram situações de perda neonatal, e
de abortamento ou perda fetal, salientando, inclusive, que essa representa uma
experiência mais difícil tanto para o profissional quanto para a mulher enlutada.
Talvez o motivo para essa percepção esteja na materialidade possibilitada pelo
nascimento de uma criança viva.
5. DISCUSSÃO
Com base nos achados, considera-se pertinente trabalhar a questão da
promoção da saúde para equipes de ESF, além de atividades de educação
permanente que abordem por meio de metodologia crítico-reflexiva conteúdos
voltados à multidimensionalidade do ser humano em situação de perda, ou seja, que
considere os aspectos biopsicossociais e culturais relativos ao abortamento e perda
fetal. Assim, de posse de um maior domínio e clareza sobre as causas de um
abortamento ou de uma perda fetal, bem como de seus significados, os profissionais
transformariam suas práticas, conforme prevê a Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde, auxiliando as famílias no planejamento de suas gestações,
respeitando suas decisões e dando o suporte necessário na situação de luto fetal
(BRASIL, 2006).
A equipe deve estar preparada para lidar com os sentimentos e as emoções
das mulheres, além de saber a maneira mais adequada de abordá-las. Parte dos
profissionais de saúde prestar um cuidado às mulheres e famílias enlutadas pela
perda com responsabilidade e ética. Criar um espaço favorável para ofertar uma
palavra de conforto, sabendo ouvir e que as mulheres possam expressar seus
sentimentos, de modo que não se sintam culpadas pelo ocorrido faz parte do
cuidado que deve ser ofertado pelos profissionais (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER,
2009).
A comunicação das “más notícias” em saúde é outro fator a ser trabalhado
com os profissionais de saúde, pois constitui-se numa das problemáticas mais
difíceis e complexas no contexto das relações interpessoais. Ela representa uma
situação que gera perturbação tanto na pessoa que recebe a notícia, como na que a
transmite e, por isso, é uma tarefa penosa para quase todos os profissionais de
saúde. Cabe ressaltar que isso decorre não só do receio de enfrentar as reações
emocionais e físicas dos familiares, mas também pela dificuldade em administrar a
situação (PEREIRA, 2005). Ainda, os principais protagonistas das “más notícias” são
os prestadores de cuidados, que, para além de planejarem e gerenciarem estes
momentos, têm também de gerir os seus próprios medos e estar preparados para
aceitar as naturais hostilidades dos que recebem a notícia.
Com frequência os profissionais tendem a evitar falar sobre a perda e o luto,
passando a responsabilidade de suas atribuições, como orientar e dar suporte
emocional para outras categorias profissionais, os quais consideram estar mais
preparados para lidar com o assunto. Alguns profissionais, por sua vez, se
restringem em focar apenas os aspectos biológicos e procedimentos técnicos,
evitando abordar as questões emocionais e suas repercussões psicológicas que
afetam as mulheres e suas famílias (SANTOS et al., 2012).
Sofrer ao assistir o sofrimento do outro não é demérito, sendo, ao contrário,
uma demonstração de empatia, atributo vital para o desenvolvimento de uma relação
autêntica e terapêutica com o usuário (LUNARDI et al., 2001). No entanto, isso nem
sempre é reconhecido pelos profissionais de saúde, o que ocorre em razão da falta
de preparo para conviver com as manifestações somáticas e emocionais dos
enlutados e/ou numa tentativa de autoproteção. Assim, acreditam que sua postura
deva ser firme, fria ou indiferente diante do sofrimento, pois admitir que se
sensibilizam com a dor do outro pode macular a imagem social do profissional, que,
em razão da profissão escolhida, deve aceitar e viver sozinho essa dor (COSTA;
LIMA, 2005).
O processo da morte e o morrer encontram-se presentes em situações de
perda e luto fetal. Muitas pessoas, aí incluem-se não só os profissionais de saúde,
tem o pensamento de que este tipo de perda não provoca dor e sofrimento para
aquele que a vive, por ocorrer no início da gravidez. Esse pode ser um motivo para
que os profissionais da saúde tenham dificuldade em lidar com os sentimentos e as
reações emocionais dessas mulheres (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER, 2009). A
perda fetal se caracteriza como a mais solitária das perdas para a mãe que a
vivencia. Isso ocorre porque ela foi a única a conhecer e manter o relacionamento
com o bebê (AMPESE; PEROSA; HAAS, 2007).
Nessa perspectiva, os profissionais têm dificuldade em reconhecer o feto
como alguém concebido, aguardado e, por isso, existente para os pais, alguém que
é sujeito de uma história. Por isso, muitas vezes, banalizam essa perda e parecem
desconhecer que a construção de laços não depende do tempo ou do convívio do
dia-a-dia para acontecer, pois os vínculos entre mãe e filho são produzidos,
conforme estudos recentes, durante a gestação (ZIMERMAN, 2011). É importante
que o profissional se dê conta que não é o tempo que determina a intensidade do
amor e do afeto que liga o bebê à família, e sim os sonhos, as expectativas e o
mundo criado na imaginação familiar para a chegada e participação em sua história.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A morte de um filho mesmo antes de seu nascimento representa uma perda
marcada de muita dor e sofrimento na vida das mulheres e suas famílias que
vivenciam a perda fetal. O suporte emocional para essas pessoas vem com o
objetivo de aliviar um pouco do sofrimento vivido, de apoiar, confortar, escutar e
ajudar na assimilação da perda e elaboração do luto.
Tal apoio deve ser ofertado baseado no respeito, responsabilidade e
confiança entre aqueles que cuidam e quem é cuidado. A equipe de saúde, ao
ofertar a assistência à saúde, deve fazê-la sem julgamento de valor às mulheres que
sofreram uma perda fetal, seja ela espontânea ou não. O cuidar do outro está
presente na essência do ser humano e vai além de julgamento ou pré-conceitos.
Para tanto, é necessário que os profissionais de saúde estejam na busca constante
de conhecimento, qualificação e aprendizado.
REFERÊNCIAS
AMPESE, D; PEROSA, G.; HAAS, R. E. A influência da atuação da enfermagem aos
pais que vivenciam a morte do feto viável. Centro Universitário São Camilo, v. 1, n.
2, p. 70-77, 2007. Disponível em:
<https://www.scamilo.edu.br/pdf/bioethikos/57/A_influencia_da_atuacao_da_enferma
gem.pdf> Acesso em 13 set.2014.
BAZOTTI, K. D. V.; STUMM, E. M. F.; KIRCHNER, R. M. Ser cuidada por
profissionais da saúde: percepções e sentimentos de mulheres que sofreram
abortamento. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 147-154, 2009.
BERTOLANI, G. B. M.; OLIVEIRA, E. M. Mulheres em situação de abortamento:
estudo de caso. Saude Soc., v. 19, n. 2, p. 286-301, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde. Série Pactos pela Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde.
Brasília, 2006. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume9.pdf> Acesso em: 13 set.2014.
COSTA, J. C.; LIMA, R. A. G. Luto da equipe: revelações dos profissionais de
enfermagem sobre o cuidado à criança/adolescente no processo de morte e morrer.
Rev Latino-Am Enferm., v. 13, n. 2, p. 151-157, 2005.
LUNARDI, W. D. Filho et al. Percepções e condutas dos profissionais de
enfermagem frente ao processo de morte e morrer. Texto Contexto Enfermagem,
Florianópolis, v. 10, n. 3, p. 60-81, 2001.
Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª
ed. São Paulo: Hucitec; 2010.
MONTERO, S. M. P. et al. A experiência da perda perinatal a partir da perspectiva
dos profissionais de saúde. Rev Latino-Am Enferm., v. 19, n. 6, 08 telas, 2011.
PEREIRA, M. A. G. Má notícia em saúde: um olhar sobre as representações dos
profissionais de saúde e cidadãos. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 14, n.
1, p. 33-37, 2005.
RODRIGUES, M. M. L.; HOGA, L. A. K. Homens e abortamento espontâneo:
narrativas das experiências compartilhadas. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v.
39, n. 3, p. 258-267, 2005.
SANTOS, C. S. et al. Percepções de enfermeiras sobre a assistência prestada a
mulheres diante do óbito fetal. Esc Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 277284, 2012.
SILVA, M. R. C. et al. A percepção de gestantes de alto risco acerca do processo de
hospitalização. Rev Enferm UERJ, Rio de Janeiro, v. 21, esp. 2, p. 792-797, 2013.
ZIMERMAN, D. E. Os Quatro Vínculos: Amor, Ódio, Conhecimento e
Reconhecimento na Psicanálise e em Nossas Vidas. Artmed: Porto Alegre, 2011
3.2) UM OLHAR SOB A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO: A
APROXIMAÇÃO E O DISTANCIAMENTO NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014)1
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta2;
BARRETO, Camila Nunes3 ;
ALVES, Camila Neumaier4;
SCARTON, Juliane5;
BISOGNIN, Priscila6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
O estudo objetivou conhecer fatores/ações que promovem aproximação e
distanciamento dos pressupostos de humanização das políticas públicas e
programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde na atenção pré-natal de
risco habitual. Trata-se de um estudo de campo, de caráter descritivo exploratório,
com abordagem qualitativa e vertente antropológica. Participaram cinco enfermeiros
e três médicos que realizavam pré-natal em Estratégias de Saúde da Família. Os
dados foram coletados por meio das técnicas de observação participante e
entrevista semiestruturada enquanto a análise baseou-se na proposta operativa. Os
resultados indicaram como distanciamento da humanização no pré-natal: ambiência
inadequada, baixo incentivo a capacitação profissional, comunicação fragilizada
entre os serviços de saúde, demanda excessiva, dificuldades na comunicação e no
trabalho em equipe, formação fragmentada, falta de recursos humanos, questões
burocráticas e a supervalorização do ultrassom. Quanto à aproximação, relevou-se:
1
Trabalho de pesquisa derivado dos primeiros resultados de uma dissertação de Mestrado
denominada Humanização da atenção pré-natal na práxis dos profissionais de saúde.
2
Acadêmica do 7º semestre de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Email: [email protected]
3
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
4
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFSM. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
5
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
6
Enfermeira. Mestranda do Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM.
E-mail: [email protected]
7
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa
de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
aproximação com a gestante e seu contexto social, articulação de estratégias com
os agentes comunitários de saúde, atuação da Residência Multiprofissional
Integrada, adesão aos manuais do Ministério da Saúde, educação permanente por
parte dos profissionais de saúde, estímulo à participação do companheiro, facilidade
de acesso aos exames laboratoriais e preventivos, criação de vínculo entre a
gestante e o profissional enfermeiro, promoção de atividades de educação em saúde
e a utilização de tecnologias leves. Visualiza-se a necessidade de discutir
prioridades na atenção e gestão dos cuidados à gestante, destacando a importância
da corresponsabilização dos diferentes níveis de atenção e sujeitos na produção em
saúde. Espera-se que estudos como este oportunizem um espaço de reflexão
acerca da humanização, contribuindo na minimização/exclusão dos aspectos que
distanciam a concretização de um atendimento humanizado à gestante e sua família.
Eixo Temático: Atenção ao pré-natal
Descritores: Cuidado pré-natal; Humanização da assistência; atenção primária à
saúde; Enfermagem.
RESUMEN
El estudio tuvo como objetivo identificar factores/acciones que promuevan la
proximidad y la distancia supuestos humanización de las políticas de salud pública y
programas propuestos por el Ministerio de Salud en la atención prenatal de bajo
riesgo. Estudio de campo de enfoque exploratorio, descriptivo y cualitativo y enfoque
antropológico. Cinco enfermeras y tres médicos que realizaron estrategias
prenatales en Salud de la Familia participaron. Los datos fueron recolectados por
medio de las técnicas de la observación participante y la entrevista semiestructurada, el análisis se basó en la operativa propuesta. Los resultados indican la
distancia como la humanización en la atención prenatal: ambiente inadecuado,
pocos incentivos para la capacitación laboral, comunicación entre los servicios de
salud debilitada, demanda excesiva, dificultades en la comunicación y el trabajo en
equipo, formación fragmentada, falta de problemas de recursos humanos burocrático
y la sobrevaluación de la ecografía. En cuanto al enfoque ha revelado a sí mismo:
aproximación con la mujer embarazada y su contexto social, estrategias conjuntas
con los trabajadores comunitarios de la salud, el desempeño de la gestión integrada
multidisciplinaria Residency, adhesión a los manuales de la Secretaría de Salud,
formación continua por parte de los profesionales de la salud, compañero de
fomento de la participación, facilidad de acceso al laboratorio y exámenes
preventivos, creación de un vínculo entre la madre y la enfermera, promoción de
actividades de educación en salud y el uso de tecnologías de peso ligero. Visualiza
la necesidad de discutir las prioridades en el cuidado y manejo de la atención a las
mujeres embarazadas, destacando la importancia de la corresponsabilidad de los
diferentes niveles de atención y los sujetos que producen salud. Se espera que
estudios como este oportunizem un espacio de reflexión sobre la humanización, lo
que contribuye a la minimización/exclusión de las cuestiones que separan a la
implementación de la atención humanizada de las mujeres embarazadas y sus
familias.
Tema principal: La atención al prenatal
Descriptores: Atención Prenatal; Humanización de la Atención; Atención Primaria
de Salud; Enfermería.
1. INTRODUÇÃO
A humanização durante o período gravídico puerperal está protagonizando
debates no cenário atual, neles são reforçadas as discussões e reflexões acerca do
tema a partir da contextualização dos pressupostos das políticas públicas e
programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde. Uma atenção pré-natal e
puerperal qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas
acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, valorização dos sujeitos e sua
cultura, do fácil acesso aos serviços de saúde, com ações que integrem todos os
níveis da atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do
recém-nascido (BRASIL, 2006).
Em contraponto, a realidade dos serviços de saúde brasileiros apresenta uma
hegemonia biomédica, a qual prioriza que o cuidado à gestante seja pautado apenas
em procedimentos técnicos e rotineiros, sem oportunidades para compartilhar os
conhecimentos e experiências de vida da mulher (ZAMPIERI;ERDMANN, 2010).
Observa-se, na práxis do profissionais um desencontro, em que os profissionais de
saúde ditam as normas e regras, sem considerar o protagonismo e autonomia da
usuária, especialmente nas questões que dizem respeito à herança cultural e a sua
forma e percepção de cuidar (MULLER, ARAÚJO, BONILHA, 2007).
Objetivando mudanças neste contexto de atenção, as políticas públicas e
programas de saúde nacionais almejam transformações e renovações na assistência
à mulher no período gravídico puerperal, buscando uma atenção mais humana e
resolutiva. Destaca-se, no contexto deste estudo, o termo humanização da atenção.
Este traça um novo olhar sobre o cuidado prestado e indica novas diretrizes na
assistência em saúde. Com a finalidade de explanar a evolução destas propostas,
as políticas e programas que se sobressaem com seus respectivos anos de criação
são: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1984,
Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) em 2000, Política
Nacional de Humanização (PNH) em 2003, Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (PNAISM) em 2004, Manual Técnico Pré-natal e Puerpério:
atenção qualificada e humanizada atualizado em 2006 e finalmente em 2011 a
criação da Rede Cegonha.
Neste estudo foi utilizada como política norteadora dos pressupostos da
humanização na assistência pré-natal a Política Nacional de Humanização,
publicada em 2003, que define a humanização como a valorização dos diferentes
sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e
gestores. Os valores que norteiam esta política são a autonomia e o protagonismo
dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos
solidários e a participação coletiva no processo de gestão (BRASIL, 2003).
O Ministério da Saúde reafirma a humanização com uma política transversal
que percorre as distintas ações e instâncias do Sistema Único de Saúde,
considerando os diferentes níveis e dimensões de atenção e gestão (BRASIL, 2009).
Sendo o pré-natal o primeiro passo para a vivência de uma gestação saudável e a
atenção primária em saúde a porta de entrada das mulheres, entende-se a
essencialidade de conhecer a aproximação do que se preconiza na legislação com a
realidade dos serviços de saúde de risco habitual. A práxis dos profissionais de
saúde necessita de um olhar pautado nas propostas da humanização a fim de
compreender o contexto e ao destacar fragilidades e potencialidades, possibilita-se
compor estratégias para aproximação de um atendimento humanizado.
Apresenta-se neste trabalho o resultado derivado de uma dissertação de
mestrado, cuja questão norteadora compreende como ocorre a aproximação dos
pressupostos de humanização das políticas públicas e programas de saúde
propostos pelo Ministério da Saúde, na atenção pré-natal de risco habitual, na práxis
dos profissionais de saúde de Estratégias de Saúde da Família de um município do
Sul do Brasil? A partir desta linha norteadora, emanou-se o objetivo desta
produção, sendo este: conhecer os fatores/ações que promovem a aproximação e o
distanciamento dos pressupostos de humanização das políticas públicas e
programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde na práxis da atenção prénatal de risco habitual.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de campo, de caráter descritivo exploratório, com
abordagem qualitativa e vertente antropológica. O campo para realização do estudo
foi composto por quatro Estratégias de Saúde da Família da rede básica de saúde
de um município do Sul do Brasil. Destas, três apresentavam uma equipe de saúde
da família e uma contava com equipe dupla.
A escolha dos cenários ocorreu mediante sorteio. Conforme a ordem das ESF
sorteadas realizou-se contato prévio por meio dos telefones disponíveis no site da
prefeitura do município com os possíveis campos e participantes do estudo para
apresentação da proposta do projeto. Posteriormente, de acordo com disponibilidade
e interesse na participação do estudo, foi concordado em conjunto com os
participantes o cronograma e organização das atividades.
Os participantes do estudo foram cinco enfermeiros e três médicos que
atuavam em Estratégias de Saúde da Família da atenção básica de saúde e
desenvolviam ações na abrangência da atenção pré-natal. A atuação na assistência
pré-natal compreendeu o acompanhamento de diferentes ações, como: consulta
médica, consulta de enfermagem, reuniões de equipe e atividades educativas.
Destaca-se que os enfermeiros (cinco) das quatro ESF participaram do
estudo, sendo que uma destas contava com equipe dupla. Quanto aos profissionais
médicos, num dos serviços de saúde da família a coleta de dados ocorreu
concomitante a um processo de troca de profissional médico, respeitando o período
de adaptação do mesmo a pesquisadora optou por não convidá-lo. Na ESF com
equipe dupla um médico prestava o atendimento das duas equipes, correspondendo
ao número final de três médicos participantes.
A escolha dos participantes deste estudo baseou-se em orientações de
Minayo (2010), que afirma que o critério norteador para a amostra em pesquisas
qualitativas não é o numérico, pois uma amostra em estudo qualitativo, baliza-se
numa proposta em que os colaboradores componham um conjunto diversificado,
detenham os atributos que se pretende investigar e sejam em número suficiente que
permita a reincidência das informações, o que ela chama de saturação de dados.
Nesta direção, o número de participantes contemplou-se por meio da saturação de
dados e ao atingir o objetivo deste estudo.
Os critérios de inclusão dos sujeitos compreendem: profissionais enfermeiros
e médicos que desenvolvessem ações referentes à atenção pré-natal nas
Estratégias de Saúde da Família selecionadas para o estudo. Quanto aos critérios
de exclusão: enfermeiros e médicos que estivessem afastados do serviço no
momento da pesquisa.
A coleta de dados percorreu o período de fevereiro a junho de 2014, durante
as ações realizadas por enfermeiros e médicos nas ESF. Foram utilizadas as
técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada. A organização das
ações de pré-natal variava entre os serviços selecionados, muitas vezes ocorriam
em dias e horários diferenciados, o que possibilitou que a pesquisadora realizasse
concomitantemente em mais de uma ESF. O tempo de realização da observação
participante variou entre um mês a dois meses em cada serviço, totalizando 140
horas de observação, conforme eram acompanhadas as atividades a pesquisadora
regastava o objetivo do estudo e confirmava o momento em que já poderia afastarse do campo.
A observação participante percorreu três diferentes etapas, na primeira fase,
ocorreu a aproximação com o cenário do estudo, a fim de atenuar a distância entre
participantes e pesquisador, assim como aceitação da realização do estudo. A
segunda fase, diz respeito a visão do conjunto da comunidade e dos diferentes
fatores que compõem e influenciam as ações dos observados, a fim de compreender
o contexto vivenciado. A última e terceira fase, considera a mais delicada, enfatizase a importância da sistematização e organização dos dados para posterior análise.
Os dados devem garantir que na análise o pesquisador conheça a situação real do
grupo e suas percepções na temática escolhida (QUEIROZ et al, 2007).
A organização dos dados objetivou clarear aspectos relevantes e que
caracterizavam as ações desenvolvidas na atenção pré-natal dentro das
singularidades e realidade de cada serviço. O entendimento de cada contexto
vivenciado instigava na pesquisadora momentos de reflexão ao colocar-se no lugar
do outro, e questionar-se de como intervir frente às distintas possibilidades e
impossibilidades nas ações de atenção pré-natal visando um atendimento
humanizado.
Ressalta-se que ao acompanhar as ações de atenção pré-natal, que os
profissionais de saúde apresentavam às gestantes, a observadora reforçava a
importância de realização do estudo para aprimoramento das ações prestadas na
atenção pré-natal. A pesquisadora buscava aproximar-se das gestantes e realizava
um primeiro contato já na sala de espera a fim de que se sentissem a vontade
enquanto era realizada a observação durante as ações de pré-natal.
Os dados observados foram registrados no diário de campo da pesquisadora
que ocorriam no momento da observação e aprofundados posteriormente. Após a
observação dos cenários de estudo, optou-se pela finalização com a entrevista
semiestruturada com os profissionais de saúde observados, por meio de um
instrumento previamente elaborado, a fim de complementar e enriquecer a coleta de
dados. As entrevistas foram realizadas conforme disponibilidade dos entrevistados.
As mesmas eram previamente agendadas, realizadas na ESF, em turnos de menor
movimento escolhido pelos participantes. Os dados foram gravados, com
autorização dos entrevistados, e após transcritos para análise e interpretação do
pesquisador.
A análise dos dados foi fundamentada na proposta operativa de Minayo
(2010), caracterizada por dois níveis operacionais, exploratório e interpretativo. A
análise dos dados esteve aliada ao período de coleta de dados, a qual foi alicerçada
no diário de campo e nas entrevistas transcritas buscando um aprofundamento
denso na temática da pesquisa.
Toda a pesquisa amparou-se pela condução ética, sendo assegurado e
valorizado os aspectos éticos e legais no decorrer do estudo, seguindo os preceitos
da Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde que dispõe sobre
diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa envolvendo a participação de
seres humanos, foram seguidos durante todo o estudo (BRASIL, 2012). O estudo foi
aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, conforme parecer nº 513.040,
sob o número do CAAE 26467413.9.0000.5346.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A população estudada apresentou a faixa etária entre 25 a 55 anos. A
formação dos profissionais de saúde foi de 75% em instituições privadas. O tempo
de formação variou entre 5 a 33 anos. Quanto ao tempo de atuação na área de
saúde da mulher a variação foi entre 3 a 30 anos. Visualiza-se a busca por
aprimoramento profissional por parte dos participantes, os cinco enfermeiros
apresentavam especialização em saúde pública ou saúde da família. Os três
profissionais médicos eram especialistas em áreas específicas, um destes também
tinha especialização em saúde da família.
Quanto à organização da atenção pré-natal nas quatro ESF cenários deste
estudo, em três serviços as consultas de pré-natal eram centralizadas num único dia
da semana, ressaltado pelos profissionais a flexibilidade do atendimento quando
surge alguma demanda espontânea, sendo a gestante atendida independente do
dia. Ainda, um dos serviços disponibilizava a agenda livre, possibilitando a marcação
em qualquer dia da semana. O acompanhamento das marcações era registrado nas
agendas, um para o enfermeiro e outra para o médico. Os serviços de saúde
procuram intercalar as consultas entre estes profissionais.
Além da consulta, duas ESF contavam em sua programação com ações de
promoção em saúde e educativas, realizadas por meio de grupo de gestantes ou
rodas de conversas. As demais unidades conforme relato dos profissionais de saúde
quando questionadas sobre a realização de ações nesta linha, informaram estar
trabalhando em estratégias para viabilidade destas iniciativas. Os profissionais
consideram as mesmas importantes, porém revelam que a falta de recursos
humanos, demanda excessiva e falta tempo são fatores que dificultam a efetivação
das atividades educativas.
Os
resultados
encontrados
que
promoveram
o
distanciamento
da
humanização da atenção pré-natal no estudo compreenderam: a ambiência
inadequada, o baixo incentivo à capacitação profissional, a comunicação fragilizada
entre os serviços de saúde, a demanda excessiva, as dificuldades na comunicação e
no trabalho em equipe, a formação fragmentada, a falta de recursos humanos, as
questões burocráticas e a supervalorização do ultrassom.
O ambiente de trabalho influencia diretamente nas ações dos profissionais de
saúde. Em estudo relaciona-se a interdependência entre o ambiente de trabalho e
as práticas humanizadoras, sendo o ambiente fragilizado manifestam-se a
insatisfação com as condições de trabalho e o desestímulo a incorporação de novas
práticas em saúde (FONTANA, 2010). O baixo incentivo à capacitação profissional
por parte da gestão municipal é ressaltado pelos profissionais como entrave, pois
dificulta a atualização profissional e fragiliza o processo de educação continuada.
Enfatiza-se a importância de proporcionar espaços de discussões e
aprendizados acerca da humanização como política pautada na transversalidade e
integralidade, uma vez que estes atributos irão orientar as práticas e as relações dos
profissionais com os diferentes sujeitos envolvidos na produção em saúde
(TREVIZAN et al, 2010). A fragmentação do cuidado durante a atenção pré-natal
desvelou-se devido à quase inexistência de diálogo entre os profissionais, a
dificuldade de trabalhar em equipe e a falta de comunicação entre os serviços de
saúde. Estes aspectos somados à desvalorização profissional, às precariedades do
sistema e a falta de corresponsabilização são consideradas limitações neste
contexto de atenção (NARCHI, 2010).
Ainda, a formação fragmentada dos profissionais de saúde focada na área
hospitalar e com pouca ênfase nas diretrizes e princípios do SUS dificultam a
compreensão da humanização como política e distanciam esta da práxis no prénatal. Reforça-se a necessidade do compromisso das universidades brasileiras na
formação crítica e reflexiva dos profissionais de saúde, para que isto aconteça é
imprescindível a revisão dos currículos, contemplando conteúdos que superem o
campo biológico. Além disto, enfatiza-se a importância da inserção de estratégias
que garantam a autonomia e participação ativa do aluno no processo de ensino e
aprendizagem (CASATE; CORREA, 2012).
Quanto aos aspectos que promoveram a aproximação dos pressupostos das
legislações a práxis dos profissionais de saúde, destacaram-se: a aproximação com
a gestante e seu contexto social, a articulação de estratégias com os agentes
comunitários de saúde, a atuação da Residência Multiprofissional Integrada, a
adesão aos manuais do Ministério da Saúde, a educação permanente por parte dos
profissionais de saúde, o estímulo a participação do companheiro, a facilidade de
acesso aos exames laboratoriais e preventivos, a criação de vínculo entre a gestante
e o profissional enfermeiro, a promoção de atividades de educação em saúde e a
utilização de tecnologias leves.
Embora existam barreiras para efetivação do cuidado humanizado, é visível
nas ações dos profissionais de saúde a aproximação com um atendimento
alicerçado na humanização e nas necessidades das gestantes. A humanização
alicerça-se na valorização de práticas relacionais e subjetivas no cuidado à gestante
e sua família no período gravídico-puerperal. As tecnologias leves apresentam-se
como
fortes estratégias
que
podem contribuir positivamente
na
atenção,
aproximando os serviços de saúde das pessoas, tornando-os mais acolhedores e
resolutivos.
O novo modelo de atenção preconizado busca romper com o paradigma
biomédico perpetuado na práxis dos profissionais de saúde, transcendendo o saber
clínico. Assim possibilita-se uma atenção integral pautada na escuta qualificada, na
criação de vínculo e no acolhimento das gestantes (CABRAL et al, 2013). Ainda, o
estudo reconheceu a importância de compreender as questões socioculturais que
envolvem o contexto social de inserção da gestante. Visto que as significações
acerca da gestação, sua adesão ao pré-natal e os cuidados realizados são
influenciadas pela sua cultura e pessoas de sua referências, sendo destaque as
seguintes figuras, o companheiro, as amigas, os familiares e os próprios
profissionais de saúde (BARRETO et al, 2013).
Em estudo, apontam-se alguns aspectos essenciais na busca de um
atendimento qualificado e humanizado à gestante como, uma visão ampliada para
as necessidades da mulher, agir segundo os princípios éticos, respeitar o outro e
colocar-se no lugar do mesmo, garantir dignidade e autonomia, buscar estratégias
para facilitar o acesso aos serviços de saúde e diminuir o tempo de espera destas
usuárias (MARIN et al, 2010).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar o estudo percebe-se a importância da corresponsabilização das
diferentes esferas a nível municipal, estadual e federal para concretização da
humanização na atenção pré-natal. Também reforça-se a participação ativa de todos
os responsáveis pela produção em saúde, gestores, profissionais, usuários,
instituições de formação na atenção e gestão dos serviços.
Embora, seja possível reconhecer avanços na perspectiva da humanização,
percebe-se o quanto a política ainda encontra-se obscura na práxis dos profissionais
de saúde. Torna-se imprescindível a articulação das ações e o fortalecimento da
comunicação entre os diferentes níveis de atenção para continuidade do cuidado
durante o período gravídico puerperal.
Visualiza-se o reconhecimento das tecnologias leves como potentes
dispositivos para humanizar as ações, por meio de ações educativas que garantam o
protagonismo da gestante. Além disto, ressalta-se que para humanizar os cuidados
é necessário superar o modelo biomédico e reconhecer aspectos socioculturais que
influenciam diretamente nas percepções acerca da gravidez e na adesão aos
cuidados neste período singular da vida da mulher e sua família.
O papel das instituições de formação no rompimento destas barreiras é
necessário, uma vez que os currículos devem caminhar conjuntamente com as
propostas do Ministério da Saúde. Ainda, reforça-se a continuidade da educação
permanente para renovação das práticas assistenciais e na incorporação de novas
abordagens em saúde, promovendo um processo reflexivo e crítico do profissional
que atua diretamente no cuidado à gestante.
Ademais, o cuidado com quem cuida da gestante é referenciado como
essencial a um atendimento humanizado, destaca-se a importância do ambiente de
trabalho adequado, visto que a valorização do trabalhador de saúde reflete na
qualidade do atendimento pré-natal. Entende-se que esta transformação ocorre em
longo prazo, espera-se que estudos como este oportunizem um espaço de reflexão
e discussão frente à realidade dos serviços de saúde, neste caso em específico, a
atenção pré-natal de risco habitual e possam contribuir na minimização/exclusão dos
aspectos que distanciam a humanização durante o período do pré-natal.
REFERÊNCIAS
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on line. Pernambuco, v.7, n.5, p. 4354-63. jun. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução Nº466, de 12 de Dezembro de 2012.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 12 dez. 2012.
______. Ministério da Saúde. Caderno HumanizaSUS: atenção básica. Brasília:
Editora do Ministério da Saúde, 2009.
______. Ministério da Saúde. Manual Técnico Pré-natal e Puerpério: atenção
qualificada e humanizada. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.
______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasília: Editora
do Ministério da Saúde, 2003.
CABRAL, F.B. HIRT, L.M. VAN DER SAND, I.C.P. Atendimento pré-natal na ótica
de puérperas da medicalização à fragmentação do cuidado. Rev Esc Enferm USP.
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CASATE, J.C. CORRÊA, A.K. A humanização do cuidado na formação dos
profissionais de saúde nos cursos de graduação. Rev Esc Enferm USP. São Paulo,
v. 46, n.1, p. 219-26. fev. 2012.
FONTANA, R.T. Humanização no processo de trabalho em enfermagem: uma
reflexão. Rev Rene. Fortaleza, v.11 n.1, p. 200-7. jan-mar. 2010.
MARIN, M.J.S, STORNILO, L.V, MORAVCIK, M.Y. A humanização do cuidado na
ótica das equipes de saúde da família de um município do interior paulista, Brasil.
Rev Latino-Am Enferm. Ribeirão Preto, v. 18, n.4, p. [7 telas]. jul-ago. 2010.
MINAYO, M.C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo: Hucitec-Abrasco, 2010.
MÜLLER, C.P.; ARAUJO, V.E.; BONILHA, A.L. Possibilidade de inserção do cuidado
cultural congruente nas práticas de humanização na atenção à saúde. Revista
Eletrônica de Enfermagem. Goiânia, v. 09, n. 03, p. 858–865, set-dez. 2007.
Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n3/pdf/v9n3a24.pdf >. Acesso em:
15 set. 2013.
NARCHI, N.Z. Atenção pré-natal por enfermeiros na Zona Leste da cidade de São
Paulo - Brasil. Rev Esc Enferm USP. São Paulo, v. 44, n.2, p. 266-73. jun. 2010.
QUEIROZ, D.T. et al. Observação participante na pesquisa qualitativa: conceitos e
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TREVIZAN, M.A. et al. Investimento em ativos humanos da enfermagem: educação
e mentes do futuro. Rev Latino-Am Enfermagem. Ribeirão Preto, v.18, n.3, p. [06
telas]. maio-jun. 2010.
ZAMPIERI, M.F; ERDMANN, A.L. Cuidado humanizado no pré-natal: um olhar para
além das divergências e convergências. Rev. Bras. Saúde Matern. Recife, v. 10, n.
3, p. 359-367, jul-set. 2010
4.2)
DESVELANDO SIGNIFICADOS: A HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRÉNATAL NA VOZ DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE (2014)1
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta2;
BARRETO, Camila Nunes3;
POSSATI, Andrêssa Batista4;
BORTOLI, Cleunir De Fátima Cândido5;
CREMONESE, Luiza6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
O objetivo do trabalho é conhecer os significados atribuídos à humanização da
atenção pré-natal a partir das percepções dos profissionais de saúde que atuam em
Estratégias de Saúde da Família. A trajetória metodológica percorreu um estudo de
campo, de caráter descritivo exploratório, com abordagem qualitativa e vertente
antropológica. Participaram da pesquisa cinco enfermeiros e três médicos. A etapa
de coleta de dados percorreu a utilização das técnicas de observação participante e
entrevista semiestruturada. A coleta compreendeu o período de fevereiro a junho de
2014. A análise dos dados foi fundamentada na proposta operativa. Os significados
atribuídos a humanização da atenção pré-natal foram, a aproximação com a
gestante, o cuidado ao acolher a usuária, o planejamento de ações resolutivas, a
importância de atender as demandas expressas pela gestante, o cuidado com o
trabalhador de saúde, a humanização compreendida como inerente ao ser humano
e implícita na formação. São reforçados pelos profissionais a importância das
1
Trabalho de pesquisa derivado dos primeiros resultados de uma dissertação de Mestrado
denominada Humanização da atenção pré-natal na práxis dos profissionais de saúde.
2
Acadêmica do 7º semestre de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Email: [email protected]
3
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
4
Acadêmica do 8º semestre de Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
5
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
6
Acadêmica do 8º semestre de Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
7
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa
de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
tecnologias relacionais para aproximação do cuidado humanizado, pautadas na
escuta qualificada e na criação de vínculo com a gestante. Embora, as ações e
depoimentos dos participantes demonstrem aproximação com a Política Nacional de
Humanização, visualiza-se a essencialidade de aprofundamento da temática para
que realmente a política torna-se mais clara na práxis dos profissionais.
Eixo Temático: Atenção ao pré-natal
Descritores: Cuidado pré-natal; Humanização da assistência; atenção primária à
saúde; Enfermagem.
RESUMEN
El objetivo es conocer los significados atribuidos a la humanización de la atención
prenatal de las percepciones de los profesionales de la salud que trabajan en la
Estrategia Salud de la Familia. La metodología ha llegado un estudio de campo de
enfoque exploratorio, descriptivo y cualitativo y enfoque antropológico. Participó en
la encuesta cinco enfermeras y tres médicos. La etapa de recolección de datos
cubre el uso de la observación participante y la entrevista semi-estructurada. La
colección abarcó desde febrero hasta junio, 2014 El análisis de datos se basa en la
operativa propuesta. Los significados atribuidos humanización de la atención
prenatal fueron el enfoque con el embarazo, el cuidado de acomodar el usuario, la
resolución de las acciones de planificación, la importancia de satisfacer las
demandas expresadas por la mujer embarazada, la atención del personal de salud,
los humanización entendida como algo inherente al ser humano y la formación
implícita. Son reforzados por los profesionales de la importancia de las tecnologías
relacionales para acercarse a la atención humanizada, guiada por el escucha
calificada y la creación de un vínculo con la madre. Aunque, las acciones y
declaraciones de los participantes demuestran un acercamiento con la Política
Nacional de Humanización, visualizamos la esencialidad de profundizar el tema que
realmente la política se vuelve más claro en la práctica de los profesionales.
Tema principal: La atención al prenatal
Descriptores: Atención Prenatal; Humanización de la Atención; Atención Primaria
de Salud; Enfermería.
1. INTRODUÇÃO
A atenção pré-natal é uma experiência singular na vida da mulher,
influenciada pelo conjunto familiar e social da gestante e também a partir da atuação
dos profissionais de saúde. As referências e relações desta usuária não podem ser
desconsideradas, pois refletem diretamente na adesão ao pré-natal e aos cuidados
realizados durante a gestação (BARRETO et al, 2013). O cuidado prestado neste
período tem merecido especial atenção na saúde materno-fetal, em vista da
persistência de índices desfavoráveis, tais como os coeficientes de mortalidade
materna e infantil. Devido a esses indicadores, emergem políticas para qualificação
da assistência ao ciclo gestacional e puerperal (DUARTE, 2012).
No Brasil, sobressaem-se algumas propostas por meio de políticas sociais e
programas de saúde que visam modificar o cenário de atenção à saúde da mulher,
buscando um cuidado integral, o qual supera uma visão verticalizada da atenção e
considera a multidimensionalidade do ser humano. São destaques as seguintes
iniciativas: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1984,
Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) em 2000, Política
Nacional de Humanização (PNH) em 2003, Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (PNAISM) em 2004, Manual Técnico Pré-natal e Puerpério:
atenção qualificada e humanizada atualizado em 2006 e finalmente em 2011 a
criação da Rede Cegonha.
Nesta direção, destaca-se a criação da Política Nacional de Humanização
(PNH) em 2003, esta torna-se um marco histórico uma vez que a humanização da
assistência, é pautada como uma política transversal, alicerçada nos princípios do
Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, corresponde as diferentes ações e
instâncias gestoras do SUS (BRASIL, 2003). Conforme a PNH, a operacionalização
da política ocorre por meio da troca e construção de saberes, do trabalho em rede
com apoio de equipe multiprofissional, da identificação das necessidades, desejos e
interesses dos diferentes sujeitos nos campos de saúde, pelo pacto de gestão entre
as distintas esferas (federal, estadual e municipal), pacto entre as instâncias de
atenção e gestão, assim como gestores, profissionais de saúde e usuários.
Além disso, a humanização regasta as práticas de saúde do SUS
reconhecendo os sujeitos como ativos e protagonistas nas ações em saúde, estes
devem buscar construir redes solidárias e interativas que contribuam para a
participação e protagonismo nas ações (BRASIL, 2003). Em contraponto, Andreucci
e Cecatti (2011) apontam fragilidades na implementação destas estratégias
revelando que a abrangência esperada está muito aquém do desejado. Reafirmam a
existência de uma dicotomia entre as legislações e as ações dos profissionais de
saúde, cuja práxis promove um distanciamento dos pressupostos das políticas e
programas acerca da humanização do período gravídico-puerperal.
Visualiza-se que o processo de humanização do cuidado pré-natal e o
exercício do profissional de saúde estão intensamente associados, a fim de exercer
tais princípios que irão proporcionar maior qualidade na assistência, sendo seu
papel fundamental para implementação dessa perspectiva de cuidado. Soma-se a
isto, a compreensão acerca da humanização da atenção, caracterizada por autores
como polissêmica, pois há uma falta de consenso acerca da definição dos termos
“humanização” e “cuidado humanizado”, são atribuídos aos mesmos diferentes
significados (ZAMPIERI; ERDMANN, 2010).
Ainda não há uma concordância quanto aos contornos teóricos e mesmo
operacionais referentes à humanização, logo sua abrangência e aplicabilidade não
estão demarcadas, dificultando a compreensão e a concretização na prática
assistencial (DESLANDES, 2004). Alicerçado nestas reflexões, entende-se a
importância de compreender as percepções dos profissionais de saúde acerca da
humanização e como buscam aproximar esta política de sua práxis. Concorda-se
com Deslandes (2004), que ao refletir a temática da humanização não objetiva-se
produzir consensos, mas possibilitar um debate rico e intenso, contribuindo no
fortalecimento de bases fortes que possam efetividade trazer resultados na práxis
dos profissionais de saúde, a fim de promover cuidados dignos, atentos à
intersubjetividade e comprometidos com a vida.
A partir destas considerações, apresenta-se o resultado derivado de uma
dissertação de mestrado, cuja questão norteadora compreende como ocorre a
aproximação dos pressupostos de humanização das políticas públicas e programas
de saúde propostos pelo Ministério da Saúde, na atenção pré-natal de risco habitual,
na práxis dos profissionais de saúde de Estratégias de Saúde da Família de um
município do Sul do Brasil? Sendo assim o objetivo deste artigo é conhecer os
significados atribuídos à humanização da atenção pré-natal a partir das percepções
dos profissionais de saúde que atuam em Estratégias de Saúde da Família.
2. METODOLOGIA
A trajetória metodológica percorreu um estudo de campo, de caráter descritivo
exploratório, com abordagem qualitativa e vertente antropológica. O cenário para
realização do estudo foi composto por quatro Estratégias de Saúde da Família da
rede básica de saúde de um município do Sul do Brasil. Destas, três apresentavam
uma equipe de saúde da família e uma contava com equipe dupla.
A seleção dos campos aconteceu por meio de um sorteio. Conforme a ordem
das ESF sorteadas realizou-se contato prévio telefônico, após foi agendado encontro
para a apresentação do projeto e finalmente com a confirmação da participação
combinou-se as atividades que seriam acompanhadas pela pesquisadora. Nestes
serviços os profissionais de saúde, enfermeiros e médicos, atuavam diretamente nas
ações de abrangência da atenção pré-natal, a pesquisadora acompanhou a
realização das seguintes atividades: consulta de enfermagem, consulta médica,
reuniões de equipe e atividades educativas.
Os participantes do estudo compreenderam cinco enfermeiros e três médicos,
que atuavam nas Estratégias de Saúde da Família e desenvolviam ações na
abrangência da atenção pré-natal. Para escolha dos participantes seguiu-se as
orientações de Minayo (2010), as quais apontam como norteadores, o critério de
saturação de dados e o momento em que a pesquisadora confirma que atingiu os
objetivos propostos pelo estudo.
Ressalta-se que os enfermeiros (cinco) das quatro ESF participaram do
estudo, sendo que uma destas contava com equipe dupla. Quanto aos profissionais
médicos, num dos serviços de saúde da família a coleta de dados ocorreu
concomitante a um processo de troca de profissional médico, respeitando o período
de adaptação do mesmo a pesquisadora optou por não convidá-lo. Na ESF com
equipe dupla um médico prestava o atendimento das duas equipes, assim
correspondendo ao número final de três médicos participantes.
Quanto aos critérios de inclusão envolveram enfermeiros e médicos que
desenvolvessem ações referentes à atenção pré-natal nas Estratégias de Saúde da
Família selecionadas para o estudo. E como de exclusão, enfermeiros e médicos
que estivessem afastados do serviço no momento da pesquisa.
A coleta de dados ocorreu por meio das técnicas de observação participante e
entrevista semiestruturada. O período percorreu fevereiro a junho de 2014, durante
as atividades realizadas por enfermeiros e médicos nas ESF, totalizando 140 horas
de observação. O tempo de realização da observação participante variou entre um
mês a dois meses em cada serviço.
A técnica de observação participante respeitou as recomendações dos
autores que dividem o percurso trilhado em três etapas. No primeiro momento,
ocorre a aproximação com o campo de estudo e a busca pela minimização do
distanciamento entre participantes e pesquisador. A segunda fase, diz respeito a
compreensão da visão do conjunto da comunidade e dos diferentes fatores que
compõem e influenciam as ações dos participantes, a fim de conhecer o contexto
observado. A última e terceira fase é considera a mais delicada e enfatiza-se a
importância da sistematização e organização dos dados para posterior análise.
Os dados devem garantir que na análise o pesquisador conheça a situação
real do grupo e suas percepções na temática escolhida (QUEIROZ et al, 2007). Os
dados observados foram registrados no diário de campo da pesquisadora, o registro
ocorria no momento da observação e aprofundados posteriormente. O diário de
campo possui como finalidade documentar os acontecimentos vivenciados de forma
mais aprofundada. Segundo Minayo (2010), são descritas nesse espaço impressões
pessoais que podem sofrer mudanças com o tempo, observação de comportamento,
resultados de conversas informais, entre diferentes aspectos que podem enriquecer
o estudo.
Ainda,
complementou-se
a
observação,
a
técnica
da
entrevista
semiestruturada. As entrevistas foram realizadas conforme disponibilidade dos
entrevistados. As mesmas eram previamente agendadas, realizadas na ESF. Os
dados foram gravados, com autorização dos entrevistados, e após transcritos para
análise e interpretação do pesquisador.
A análise dos dados foi baseada na proposta operativa de Minayo (2010),
caracterizada por dois níveis operacionais. O primeiro nível, denominado fase
exploratória, é marcado pela compreensão do contexto sociocultural e histórico do
grupo pesquisado. Em seguida, percorre-se o segundo nível operacional,
denominado de interpretativo definido pela autora como o ponto de partida e de
chegada de qualquer investigação, nesta etapa há o encontro com os fatos
empíricos. Este ainda compreende duas outras etapas ordenação e classificação
dos dados, seguidas rigorosamente para garantia da confiabilidade dos dados.
Foram respeitados durante todo o estudo, os preceitos da Resolução nº.
466/12 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, que dispõe sobre
diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa envolvendo a participação de
seres humanos. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM,
conforme parecer nº 513.040, sob o número do CAAE 26467413.9.0000.5346.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os participantes do estudo apresentavam entre 25 e 55 anos. As instituições
de formação dos profissionais, na sua maioria eram privadas. Quanto ao tempo de
atuação na área de saúde da mulher variou entre 3 a 30 anos. As ações de pré-natal
eram realizadas pelos profissionais enfermeiros e médicos. O acompanhamento das
marcações era registrado nas agendas, um para o enfermeiro e outra para o médico.
Os serviços de saúde procuram intercalar as consultas entre estes profissionais.
Além da realização de consultas individuais, duas ESF contavam em sua
programação com ações de promoção em saúde e educativas.
Por meio das observações e entrevistas com os profissionais de saúde
desvelaram-se significações associadas à humanização da atenção prestada
durante o pré-natal, destacam-se: a aproximação e a criação de vínculos solidários
com a gestante; o acolhimento nos serviços de saúde; a importância da
resolutividade e da atenção às demandas da gestante; o cuidar de quem cuida e a
humanização implícita ao ser humano e na formação profissional. Os profissionais
de saúde entendem o atendimento humanizado quando pautado na aproximação do
contexto social da gestante e no reconhecimento de sua história de vida.
A sensibilidade de valorizar a cultura e crença do outro, oportunizam a criação
de vínculo entre profissional e gestante. Em estudo realizado com profissionais da
enfermagem ao caracterizar o conceito de humanização reafirmam os achados
deste estudo, ao referenciarem a relação existente entre usuário e profissional,
pautada nas singularidades pessoais, no olhar para as necessidades, escuta ativa,
visão holística, empatia, respeito aos valores morais e éticos (CHERNICHARO et al,
2014).
Outro aspecto evidenciado, diz respeito à maneira de acolher as gestantes
nos serviços de saúde, o acolhimento releva-se como importante estratégia de
adesão ao pré-natal e continuidade no cuidado. Ressalta-se que este deve ser
pautado no escuta qualificada e na facilidade de acesso aos serviços. A garantia de
um acolhimento digno às gestantes apresenta resultados positivos na melhora do
atendimento, visto que possibilita a criação de um laço entre usuária e serviço de
saúde.
Ainda, otimiza-se as ações voltadas a atenção pré-natal priorizando as
necessidades da gestante e assegurando um atendimento de qualidade e contínuo
(GONÇALVES et al, 2013). A compreensão de uma atenção humanizada no prénatal esteve aliada a ações resolutivas que venham ao encontro das demandas da
gestante. A partir dos conhecimentos técnicos científicos dos profissionais avaliam-
se situações que necessitam de cuidados, mas sem desconsiderar as demandas
trazidas pela gestante. Busca-se compartilhar os saberes e oportunizar um espaço
de trocas de conhecimentos. Sendo imprescindível, a comunicação por meio do
diálogo e a escuta das mulheres e seus acompanhantes, buscando analisar a
história da gestante e a partir disto, buscar aliar condutas e abordagens de saúde
que contemplem as necessidades demandadas (HOFFMANN et al, 2010).
Ainda relevado no estudo, a humanização com quem cuida da gestante, o
trabalhador de saúde. O reconhecimento profissional, a valorização da voz dos
profissionais nas diferentes esferas de gestão e a garantia de condições de trabalho
adequadas devem ser priorizadas, uma vez que as condições recebidas pelos
profissionais de saúde poderão ser reproduzidas aos usuários do serviço, sendo
estas positivas ou negativas (ROSA; FONTANA, 2010).
Percebe-se nos depoimentos dos profissionais a percepção da humanização
como inerente ao ser humano e implícita na formação profissional, estas concepções
podem minimizar a compreensão acerca da humanização. Torna-se essencial a
compreensão desta como política transversal pelas instituições formadoras. Ainda,
enfatiza-se que a formação não pode ser alicerçada apenas procedimentos e
técnicas, mas numa construção reflexiva, ética e promotora de cidadania para que
isto reflita diretamente humanização do ciclo gravídico puerperal. (CASATE;
CORREA, 2012).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão dos profissionais de saúde acerca de uma atenção
humanizada no pré-natal perpassa os seguintes aspectos: a aproximação com a
gestante, o cuidado ao acolher a usuária, o planejamento de ações resolutivas, a
importância de atender as demandas expressas pela gestante, o cuidado com o
trabalhador de saúde, a humanização compreendida como inerente ao ser humano
e implícita na formação.
Observa-se nos resultados a associação das tecnologias leves com a
humanização da atenção. O cuidado humanizado conforme as percepções dos
profissionais pauta-se na escuta qualificada, na criação de vínculo e na interação
com o contexto social da gestante. O reconhecimento dos aspectos socioculturais
também é referenciado, ao transcender os aspectos clínicos e alicerçar o cuidado da
gestante de maneira multidimensional, aproxima-se da humanização da atenção.
O trabalhador de saúde relacionou o seu ambiente de trabalho com a
qualificação do atendimento à gestante, destacam o quanto o ambiente de trabalho
interfere nas ações realizadas. Outro compromisso evidenciado, diz respeito à
formação dos profissionais de saúde, é necessário que desde a graduação exista
aproximação com as políticas sociais e programas de saúde, a fim de que possam
aplicar estes pressupostos na sua prática de forma crítica e reflexiva.
Embora, as ações e depoimentos dos profissionais demonstrem aproximação
com a Política Nacional de Humanização, visualiza-se a essencialidade de
aprofundamento da temática para que realmente a política torna-se mais clara na
práxis dos profissionais. A banalização do termo humanização deve ser evitada, e ao
ser compreendida e aplicada como política transversal espera-se mudanças
significativas quanto à qualificação do atendimento prestado a gestante nos serviços
de saúde.
REFERÊNCIAS
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programa de humanização do pré-natal e nascimento no Brasil: uma revisão
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3, p. 359-367, jul-set. 2010
5.2)
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PERCEPÇÃO DE GESTANTES
HOSPITALIZADAS COM PRÉ-ECLÂMPSIA1
TEIXEIRA, Joice Ane 2;
SILVA, Taiane Sampaio3;
SOARES, Tatiane Machado da Silva4;
JACOBSEN, Maria Suelen5
RESUMO
Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa, tendo
como objetivo conhecer a assistência de enfermagem a partir da percepção de
gestantes com pré-eclâmpsia durante o período de internação, e, dessa forma,
contribuir para a assistência prestada às gestantes no período de hospitalização. A
coleta dos dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada, tendo sido
entrevistadas nove gestantes com diagnóstico de pré-eclâmpsia. As informações
originadas dos depoimentos foram transcritas e analisadas, conforme o método de
análise de conteúdo, na modalidade de análise temática. Desse processo,
emergiram as seguintes categorias: falta de conhecimento e ausência de
informações referentes à patologia; percepção das especificidades do cuidado; e
percepção do processo de interação e o vínculo com os profissionais de
enfermagem.
Os
resultados
evidenciaram
que
as
gestantes
detinham
conhecimentos limitados acerca da patologia e que consideram ter um bom
relacionamento com os profissionais de enfermagem no que diz respeito às suas
necessidades biológicas. No entanto, sobre o processo de interação, as mesmas
referiram tal processo como fragmentado, pois não ocorreu na sua efetividade, de
1
Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso, Graduação em Enfermagem, Universidade
Federal de Pelotas.
2
Joice Ane Teixeira, Acadêmica de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas,
[email protected]
3
Taiane Sampaio da Silva, Enfermeira, [email protected]
4
Tatiane Machado da Silva Soares, Mestre em Enfermagem, Enfermeira Técnicoadministrativa Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
5
Maria Suelen Jacobsen, Acadêmica de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas,
[email protected]
acordo com os relatos, ficando condicionados ao momento da realização dos
procedimentos. Além disso, com base nos resultados encontrados em relação ao
conhecimento e informações prestadas às gestantes e à percepção da assistência
de enfermagem prestada às mesmas, constatou-se a necessidade de os
profissionais se envolverem na prestação de uma assistência integral e humanizada.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Enfermagem; Assistência de enfermagem; Pré-eclâmpsia.
ABSTRACT
This is an exploratory descriptive study with a qualitative approach aiming to know
the nursing assistance under the pregnant with pre-eclampsia during the
hospitalization period, and, this way, contribute to the assistance given to the
pregnant during this period. The data collection was performed through a semistructured interview, being nine pre-eclampsia diagnosed pregnant interviewed. The
information generated from them was transcript and analyzed, according to a content
analysis method, on the thematic analysis model. From this process, the following
categories have emerged: a knowledge lack and an information absence about the
pathology; care specifications perception and the interaction and link with the nursing
staff process. The results have shown that the pregnant women had limited
knowledge about the pathology and considered to have a good relationship with the
nursing professionals in relation to their biological needs. However, in relation to the
interaction process, they accessed the process as fragmented once has not occurred
on its effectiveness, according to heir reports, being hem closely related to the
procedures. Furthermore, based on the results related to knowledge and information
given to the pregnant and their perception about the nursing care given to them, it
was noticed the necessity of a higher nursing staff evolvement aiming to an integral
and humanized assistance.
Thematic axis: Woman Health Attention
Descriptors: Nursing; Nursing Assistance; Pre-eclampsia.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com o Ministério da Saúde, a gestação é um fenômeno fisiológico
e, por isso, deve ser vista pela gestante e equipe de saúde como parte de uma
experiência de vida saudável, que implica mudanças no comportamento social,
emocional e transformações fisiológicas (BRASIL, 2010).
Existem fatores diversos que podem induzir uma gestação de alto risco. As
causas mais comuns estão classificadas em quatro grupos, que são: características
individuais e condições sociodemográficas; história reprodutiva anterior; doenças
obstétricas na gestação atual; e intercorrências clínicas. Assim sendo, a préeclâmpsia pode ser classificada como uma doença obstétrica da gravidez e pode
estar ou não presente na gestação (BRASIL, 2006).
Barros (2006) define a síndrome hipertensiva gestacional (SHG) através de
manifestações persistentes dos níveis pressóricos iguais ou superiores de 140/60
mmHg para sistólica e/ou diastólica, como também é considerada hipertensão
arterial a elevação no mínimo de 30 mmHg na pressão sistólica e/ou de 15 mmHg na
diastólica, e para ser constatada devem ser realizadas duas aferições com intervalo
de quatro horas.
A pré-eclâmpsia, denominada também como Doença Hipertensiva Específica
da Gestação (DHEG), ocorre em geral após a 20ª semana de gravidez, é definida
pelo aumento da pressão arterial acima dos valores considerados normais, ou seja,
140/90 mmHg, associada à proteinúria e ao edema que não cede com repouso, e
apresenta início súbito, ou ainda quando há um ganho de peso igual ou maior de
500 g por semana, sendo que tais valores caracterizam a pré-eclâmpsia leve
(ZANOTTI; ZAMBOM; CRUZ, 2009).
A pré-eclâmpsia grave, conforme Figueiredo (2005), é caracterizada pela
pressão arterial igual ou maior que 160/110 mmHg, ou qualquer outro sinal, como
proteinúria de 3 g ou mais nas 24 horas, edema pulmonar e outras manifestações
como: dor epigástrica, torpor, cefaleia, diplopia e turvação.
O Ministério da Saúde considera que gestantes com pré-eclâmpsia leve
devem ser hospitalizadas preferencialmente, a fim de uma avaliação diagnóstica
inicial e manter com dieta normossódica e repouso relativo. Na pré-eclâmpsia grave
a internação é obrigatoriamente necessária, a gestante será monitorada com intuito
de avaliar as condições materno-fetais, como também serão solicitados exames
laboratoriais de rotina (BRASIL, 2010).
Este trabalho teve como objetivo: Conhecer a assistência de enfermagem a
partir da percepção de gestantes com pré-eclâmpsia durante o período de
internação.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa.
O estudo foi realizado em uma unidade obstétrica de um hospital de ensino
no Município de Pelotas, sendo que tal instituição é referência para gestação de alto
risco da Região Sul, conveniada apenas com o SUS. A maternidade possui 16 leitos,
sendo, destes, oito destinados a intercorrências gestacionais. Os sujeitos do estudo
foram as gestantes internadas por pré-eclâmpsia no mês de novembro de 2012,
totalizando nove participantes. Os sujeitos foram identificados pela nomenclatura:
G1, G2 e assim sucessivamente, seguida de idade.
Os sujeitos escolhidos respeitaram os seguintes critérios: Ser gestante de alto
risco com diagnóstico de pré-eclâmpsia; Manifestar interesse em participar do
estudo e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; Ter idade igual ou
superior a 18 anos; Concordar com o uso de gravador durante a entrevista; Permitir
a divulgação e apresentação dos resultados obtidos, em publicações e meios
científicos.
Em atenção às normas da pesquisa envolvendo os seres humanos, o projeto
foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa para avaliação e aprovado pelo
parecer nº 82/2012. Além disso, foi apresentado e entregue aos sujeitos do estudo o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, sendo o mesmo
assinado pelos participantes, ficando uma cópia para o pesquisador e outra com o
sujeito.
Os dados foram coletados no ambiente hospitalar, em uma sala reservada.
Utilizou-se um instrumento semiestruturado juntamente com gravador. O instrumento
foi direcionado à entrevista entre a entrevistadora e o sujeito, constituído de temas
que descrevem as percepções sobre a assistência de enfermagem prestada às
participantes no período de hospitalização.
Os dados obtidos nas entrevistas através do instrumento semiestruturado e
das gravações foram transcritos e analisados após sucessivas leituras, sendo
classificados e agrupados em diferentes temas, a fim de qualificar a análise das
informações coletadas.
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Perante os dados analisados emergiram as seguintes temáticas: Falta de
conhecimento e ausência de informações referente à patologia; Percepção das
especificidades do cuidado; e Percepção do processo de interação e o vínculo com
os profissionais de enfermagem.
Participaram do estudo nove gestantes acometidas por pré-eclâmpsia, sendo
que uma destas apresentava também diabetes gestacional. Em relação à idade, ela
variou entre 20 e 39 anos, sendo que três tinham mais de 35 anos. Referindo-se à
escolaridade, três respondentes possuíam o ensino fundamental incompleto; quatro,
o ensino médio incompleto; e duas, o ensino médio completo. No que se referem ao
estado civil, três das mulheres estavam solteiras, três encontravam-se em união
estável e três eram casadas. Assim sendo, as solteiras e essas em união estável
constituem um total de seis. A grande maioria das participantes residia na cidade de
Pelotas, num total de seis, e três eram provenientes da cidade de Capão do Leão.
Sobre a realização do pré-natal e o número de consultas na gestação atual,
verificou-se que o número máximo de consultas realizadas pelas participantes foi de
10, e o mínimo foi de quatro consultas, sendo que três haviam realizado oito
consultas, e duas, nove consultas.
Quanto ao grau de paridade, três das nove entrevistadas eram primigestas e
as demais variaram entre um a quatro filhos, sendo que duas tiveram um aborto e
uma afirmou gestação anterior com pré-eclâmpsia. Sobre o tipo de parto das
gestações anteriores, quatro foram partos cesáreos e uma teve parto vaginal.
Referente à idade gestacional, as participantes encontravam-se entre a 21ª e 41ª
semanas gestacionais, predominando aquelas com 37 e 38 semanas, confirmando
assim o encontrado na literatura, conforme prevê o Manual de Gestação de Alto
Risco, a sintomatologia da pré-eclâmpsia ocorre após a 20ª semana gestacional.
No que se refere ao número de internações na gestação atual, três
participantes haviam sido hospitalizadas por hipertensão gestacional anteriormente e
seis participantes nunca haviam sido hospitalizadas.
3.1 FALTA DE CONHECIMENTO E AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES
REFERENTES À PATOLOGIA
As falas das depoentes demonstram a ausência de informações acerca da
patologia que ocasionou a sua hospitalização:
Porque eu tava inchada, com dor de cabeça, aí na consulta me falaram que a minha pressão
tava alta e que eu tinha que ficar no hospital. (G4, 24 anos)
Por causa da pressão [...] eu acho que a minha é emocional, eu já tinha cortado tudo isso,
alimentação, cortando sal a maioria das coisas, fui na nutricionista pra alimentação. Sei que pode
causar essas coisas o AVC. (G6, 22 anos)
Por causa do inchaço das pernas aí fui ver o que era, aí eles falaram que era a minha
pressão tava alta, que era uma gravidez de alto risco, que era pra mim baixar. (G9, 31 anos)
Nota-se que as pacientes expressam a carência de conhecimento acerca do
desenvolvimento da doença e a falta de informações que deveriam ser fornecidas
pela equipe multiprofissional no momento do acolhimento/internação e no decorrer
da hospitalização como demonstra o relato da G6, 22 anos:
Eu fiquei braba, porque o fulano foi examinar agente ali, fez procedimento [...] só que ele
deixou as estagiárias ali [...] eu perguntei se tinha previsão pra de tarde, eu fiz os exames e não tem
resultado, eu até tinha ultrassom e não sabia [...] (G6, 22 anos)
A partir desses relatos fica visível a falta de informações prestadas às
gestantes por parte da equipe. Esse fato torna-se uma importante questão a ser
repensada pela equipe em geral, pois, em se tratando de um hospital de ensino,
existem estagiários dentro das equipes (médica, enfermagem, nutrição, assistente
social), o que torna necessário o repasse e disponibilização das informações
referentes ao pacientes entre os integrantes das equipes e de equipe para equipe de
uma forma integral, a fim de que o profissional esteja ciente em relação ao
tratamento dos pacientes, para assim prestar as informações adequadas quando
exigidas por eles acerca de seu tratamento.
Vale salientar que, através de uma explicação clara e concisa, em
conformidade com a capacidade de entendimento da gestante, se pode minimizar o
sofrimento emocional, oriundo da patologia e do processo de hospitalização,
consequentemente contribuindo em seu tratamento (SILVA, 2008). Como pode ser
observado nos relatos de G1, 35 anos e G5, 21 anos:
São muito carinhosos, o que eles podem fazem pela gente eles fazem [...] eles chegam e
conversam, explicam, tiram as dúvidas. (G1, 35 anos)
São bastante atenciosos com a gente, sabe [...] assim, sempre que eu precisei ou perguntei
algo, na mesma hora me respondiam, explicavam bem direitinho tudo. (G5, 21 anos)
No entanto, alguns profissionais não informam corretamente as condições de
saúde aos pacientes, como afirma Santos, Rosenburg e Buralli (2004); na maioria
das vezes, esse fato acontece devido aos mesmos terem a concepção de que os
pacientes, por terem baixa escolaridade ou pertenceram a uma classe de baixa
renda, não são capazes de informar corretamente seus sintomas, como também não
conseguirão entender os esclarecimentos quanto ao diagnóstico e ao tratamento.
Esta falta de informação pode ser identificada nas falas a seguir:
[...] é tem alguns que responde bem, mas tem outros que não. [...] eu pergunto e eles
respondem, mas já tem uns que falam bem explicado, tem outros que falam o necessário e olhe lá.
(G3, 39 anos)
Bom, mas quando quero saber alguma coisa demora um pouquinho, tem resposta, mas às
vezes tem que insistir. (G6, 22 anos)
Pode-se perceber nestes relatos que as depoentes desejam estar envolvidas
em seu tratamento, obter informações mais detalhadas. Isso leva-nos a crer que as
explicações fornecidas são superficiais, além disso, demonstra que alguns
profissionais desenvolvem apenas tarefas, quer dizer, cumprem com a sua
obrigação de trabalho, como uma atividade remunerada, um meio de sobrevivência.
Às vezes, os profissionais prestam cuidados eficientes, responsáveis, mas
demonstram um comportamento indiferente, frio, interpessoal com os pacientes
(WALDOW, 1998), como menciona G6, 22 anos:
Bem. Mas tem a suas carrascas. É que tem umas estúpidas, mas quase todas são uns
amores. Parecem que tão fazendo um favor pra ti, e outras não são maravilhosas. (Como assim?)
Quando pergunta alguma coisa e elas não tão a fim de responder, vêm com quatro pedra na
mão, eu acho que não deveria acontecer porque a gente não tá aqui porque quer, porque precisa.
(G6, 22 anos)
O depoimento anterior demonstra dois extremos: o profissional que realiza
tarefas e o profissional que presta o cuidado humanizado. Considerando o contexto
da humanização, existe a necessidade de que seja prestada uma assistência
personalizada que focalize o ser humano na sua individualidade, através de
informações, diálogo e interesse por parte dos profissionais (SILVA, 2008). Assim,
enfatizamos a importância de que os pacientes devem ser tratados com equidade e
qualidade, porém respeitando-se as diferenças individuais, no momento da
internação e durante todo período de hospitalização.
1.2)
PERCEPÇÃO DAS ESPECIFICIDADES DO CUIDADO
No decorrer das entrevistas, ao serem questionadas sobre as necessidades
de uma gestante hospitalizada por pré-eclâmpsia, notou-se nas falas das
participantes a referência aos sintomas característicos da pré-eclâmpsia, conforme
os relatos a seguir:
Pelo que eu sei, tem que cuidar a alimentação, fazer repouso por causa do inchaço e ver a
pressão quase todo o tempo, porque a minha tá sempre alta e depois baixa, tá sempre assim. (G5, 21
anos)
Ter cuidado, tem que controlar a pressão diariamente, tem que ter o controle, tomar os
medicamentos, fazer repouso e controlar a alimentação. (G7, 35 anos)
Eu acho que tem que cuidar da pressão e fazer repouso. Ah[,] e também diminuir o sal. (G8,
20 anos)
Pelos relatos acima, observa-se que as pacientes detectam os sinais da
doença através dos cuidados mencionados. Entre os sintomas da tríade
característica da pré-eclâmpsia estão a pressão arterial igual ou acima de 140/90
mmHg, acompanhada ou não de proteinúria e edema que não sede com repouso, e
apresenta início súbito, ou ainda quando há um ganho de peso igual ou maior de
500 g por semana (CUNHA; OLIVEIRA; NERY, 2007).
Constatou-se nas falas das participantes a referência às necessidades
biológicas refletida nas ações dos profissionais de enfermagem, mediante indagação
acerca das necessidades de uma gestante hospitalizada por pré-eclâmpsia, como
expressam as falas de G1, 35 anos e G9, 31 anos:
Mas cuidado né, tem que ficar monitorando, por exemplo, a minha pressão hoje de manhã
tava 110/90 mmHg. Agora foi medir e tá 140/100 mmHg [...] e rapidinho assim, entendesse, então tem
que tá de olho vivo, (e tu acha que tão fazendo isso?) Tão, tão sim, tanto que todos aqui estão em
volta. (G1, 35 anos)
Ah, eles chegam direito, perguntam, “Dá o bracinho aqui, vamos verificar a tua pressão pra
ver se baixou...”. Quando a pressão tá alta demais verificam toda hora. (G9, 31 anos)
Observa-se nesses depoimentos que, apesar dos profissionais estarem
atentos ao quadro clínico das gestantes, não expressam atenção ao seu estado
emocional. É indispensável que os profissionais, principalmente os de enfermagem,
disponham não só de recursos técnicos, mas realizem um cuidado humanizado,
sendo fundamental que ocorra um diálogo que propicie o bem-estar do paciente,
como também o auxílio ao indivíduo e seus familiares na prevenção e no
enfrentamento da doença (BELTRÁN, 2006).
O sentimento de angústia pode ser visto nos seguintes depoimentos, quando
questionadas sobre como elas se sentiam estando internadas:
Eu me sinto bem, mas tô louca pra ir embora casa, tô ansiosa. (G3, 39 anos)
Ninguém gosta de estar no hospital, tu sabe, né, mas é pro meu bem e do bebê [...] (G5, 21 anos)
Eu não gosto muito, mas é melhor do que tá em casa, tem que tá internada por causa da
pressão, né. (G7, 35 anos)
Por isso o acolhimento no ambiente hospitalar também é indispensável, pois
adquire um caráter especial, como Sá (2002) relata que a gestante de alto risco
necessita de terapêutica e cuidados mais complexos, o que a torna vulnerável tanto
ao nível físico quanto emocional.
Nesse sentido, Cunha, Oliveira e Nery (2007) enfatizam que se faz necessário
estabelecer traços de confiança entre o profissional e o paciente para a eficácia da
terapêutica, pois, a partir do momento em que se estabeleça o vínculo, a gestante
demonstra-se mais à vontade para expressar sentimento e queixas. Tal fato pode
ser observado nas falas de G1, 35 anos e G4, 24 anos:
Que tudo ocorra bem, com a minha gravidez, por eu tá aqui, eu acho que estou em boas
mãos, né [...] todo mundo daqui é bom. (G1, 35 anos)
O pessoal é muito querido, chegam no quarto brincando, são atenciosos, estão sempre
dispostas a ajudar, sabe. Se tu pergunta, sempre te dizem qual é a medicação e pra que serve, gosto
muito do jeito que eles atendem. (G4, 24 anos)
Considerando o contexto da humanização, o depoimento de G6, 22 anos
demonstra a necessidade de que as ações sejam mais focalizadas no ser humano
na sua individualidade, através de informações, diálogo e o interesse por parte dos
profissionais.
São muito atenciosos [...] é, mas às vezes eu acho que poderiam falar mais, explicar o que
acontece, a gente fica sem saber, sabe. (G6, 22 anos)
Destacando a conversa, nota-se que o momento do diálogo, durante os
cuidados prestados pela enfermagem, é a oportunidade ideal para os pacientes
expressarem suas angústias, medos, preocupações e alegrias, estes itens são
fundamentais para a interação entre a equipe e o paciente. Esses momentos de
diálogo, via de regra, convertem-se em um foco de atenção nas reais necessidades
do paciente, não só a terapêutica, mas também a emocional (FERREIRA, 2006).
2.2)
PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE INTERAÇÃO E O VÍNCULO COM
OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
Sobre esta temática, pode-se dizer que as participantes demonstraram
reconhecer a atenção e o cuidado dos profissionais de enfermagem, entretanto
sentiam falta do envolvimento pessoal, como pode ser observado nas falas a seguir,
sobre as diversas atitudes dos profissionais percebidas como ações de interação
pelas pacientes.
Sempre fui bem tratada, sempre que eu pedi alguma coisa, eles sempre vieram. (G2, 23
anos)
Acho que cuidam bem da gente, eles têm o maior cuidado, sempre pergunta se tá doendo a
medicação, tão sempre entrando no quarto pra ver se a pressão baixou, quase toda hora tão aqui [...]
são bastante atenciosos com a gente. (G5, 21 anos)
Fazem muito bem os procedimentos, fui muito bem atendida pela equipe de enfermagem, até
falei pro meus familiares que fui bem tratada aqui [...] não tem o que me queixar, sempre me
informam direitinho, quando pergunto [...] eles conversam, não ficam só naquela parte de
procedimento, até pra descontrair um pouco, passar o tempo. (G3, 39 anos)
Nota-se nessas falas que as participantes salientam ações interativas, como,
por exemplo, a conversa, as perguntas, as explicações, as brincadeiras, no entanto,
observa-se que essas ações ocorrem prioritariamente durante a realização dos
procedimentos. Isso induz a pensar que as ações interativas são propositais ao
período de duração dos procedimentos e não uma ação que vise suscitar o
conhecimento daquela mulher acerca de seu estado saúde e da terapêutica.
Na perspectiva de compreender a percepção das depoentes, quanto ao
processo interativo entre elas e a equipe de enfermagem, questionando-as acerca
dos seus sentimentos em relação ao fato de estarem hospitalizadas e as
expectativas em relação ao tratamento, obteve-se os seguintes depoimentos:
Tem risco pra mãe e pro bebê, eu sei que pode causar até morte nos bebezinho [...] precisa
ser cuidada pelos médicos, enfermeiros, pela equipe do hospital, sabe, porque eu acredito que não
dá pra relaxar, tem que cuidar dos medicamentos, da pressão, o sal [...] tô me sentido melhor, que
tudo dê certo. (G3, 39 anos)
Sei que causa morte, me disseram que é uma gestação de risco [...] espero que tudo ocorra
bem, com a minha gravidez, por eu tá aqui, eu acho que estou em boas mãos, né [...] (G1, 35 anos)
Espero poder ganhar logo pra poder ir pra casa, pois já tá melhorando, tô menos inchada, as pernas,
já a pressão tá sempre lonqueando, uma hora alta, outra baixa, aí fico preocupada. (G5, 21 anos)
As falas anteriores expressam, de um modo em geral, que as mulheres
possuem um sentimento do medo e preocupação pelo fato de estarem
hospitalizadas em um setor de alto risco, relacionando-o ao agravamento do seu
estado de saúde e à possibilidade da morte.
Dentre os sentimentos relatados pelas pacientes, o mais evidenciado por elas
foi o medo, o que lhes causou um certo grau de ansiedade, pois, diante da
necessidade da hospitalização, veio consigo a confirmação do agravamento do
quadro e o risco de morte sua e do seu filho.
Em vista disso, se faz necessário por parte dos profissionais de enfermagem
a capacidade de perceber a fragilidade em que esta paciente se encontra, buscando
interagir, com o intuito de proporcionar o conforto emocional, através do olhar, de
gestos, da escuta e de alguma palavra que aponte as potencialidades com
responsabilidade, tentar abranger de uma forma geral as necessidades física e
emocional da maneira que esta mulher necessita (SILVA, 2008).
Em síntese, os depoimentos levam-nos a conceber que houve interação entre
as gestantes e os profissionais de enfermagem, no entanto essa interação ficou
condicionada à realização dos procedimentos. Entretanto, de acordo com os relatos
das gestantes, elas consideraram ter um bom relacionamento com os profissionais
no que diz respeito ao atendimento de suas necessidades, através dos cuidados
prestados as elas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Perante os depoimentos das participantes deste estudo e na análise de suas
falas observou que as mesmas detinham conhecimentos limitados acerca da
patologia, porém consideravam um bom relacionamento com os profissionais de
enfermagem no que diz respeito às suas necessidades, através do cuidado com as
condições clínicas e o tratamento dos sintomas apresentados. Não obstante,
expressaram haver pouco envolvimento pessoal, demonstrando que deveria existir
mais interesse pela sua situação.
Referente ao modo como as gestantes perceberam a interação com a equipe
de enfermagem, os resultados demonstram que elas estavam cientes de que
clinicamente estavam assistidas, porém expressaram que sentiam falta de
informações acerca da patologia. Ademais, vivenciavam sentimento de medo e
insegurança, como também perceberam a carência no processo de interação com
os profissionais.
Dessa forma, enfatizamos que uma boa interação entre a equipe de
enfermagem e a gestante possibilita ao profissional se inteirar das reais
necessidades desta mulher, ao vivenciar uma gestação de alto risco. Por isso,
salientamos a importância de uma assistência de enfermagem humanizada e
qualificada, livre de intervenções desnecessárias, coerente com os preceitos
normatizados pelos programas atuais direcionados à saúde da mulher, nos quais a
integralidade é referenciada como a grande aliada na qualidade da assistência
prestada, tanto no nível hospitalar quanto na atenção básica.
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FERREIRA. M. A. A comunicação no cuidado: uma questão fundamental na
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WALDOW, V. R. Cogitando sobre o cuidado humano. Cogitare Enfermagem. v. 3, n.
2, p. 7-10. Jul./Dez., 1998.
6.2)
TRAJETÓRIA DAS QUESTÕES DE GÊNERO E INFLUÊNCIAS NA SAÚDE
DA MULHER
DINIZ EBLING, Sandra Beatris1;
ZANINI MARIN, Fabiana 2;
OLIVEIRA SILVA, Silvana3;
MACHADO PIESZAK, Greice4;
MOREIRA DA SILVA, Marciele5;
MARCHESAN JÚNIOR, Antonio Carlos6
RESUMO
Este artigo objetiva refletir quanto à trajetória do movimento feminista, bem como
das questões de gênero e suas implicações na saúde da mulher. Trata-se de uma
reflexão teórica fundamentada em referenciais de saúde e gênero. Na qual, verificase a relevância em amenizar ações em saúde da mulher focadas no biológico.
Contudo, faz-se necessário considerar o contexto de gênero como um dos
determinantes do processo saúde-doença da mulher, sendo imprescindível fortalecer
o debate na formação e suas implicações na saúde da mulher.
1
Enfermeira. Mestre em Educação pela UNIJUÍ. Docente na Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões URI Campus de Santiago/RS. Endereço: Silveira Martins n° 2391. Fone:
(55) 9631-3931. E-mail: [email protected]
2
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões –
Campus Santiago, RS, Brasil. Bolsista do projeto de extensão intitulado Mulheres em ação pela
saúde e cidadania: um espaço delas. Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde
e Enfermagem) E-mail: [email protected].
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria. Coordenadora do
Curso de Graduação em Enfermagem da URI-Santiago. Endereço:Rua Mário Fáveron° - 118
Fone:99359297. E-mail: [email protected].
4
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de pós-graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Maria. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI - Campus Santiago, RS. Email: [email protected].
5
Enfermeira. Mestre em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf)
da UFSM. Docente na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI Campus
de Santiago/RS. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. Endereço:
Rua vinte de setembro 2410 Centro. Fone: 99285986. E-mail: [email protected].
6
Enfermeiro supervisor de estágio da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões URI Campus de Santiago/RS.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Gênero e saúde; Saúde da mulher; Identidade de gênero; Feminismo.
1. INTRODUÇÃO
A reflexão sobre as questões de gênero aqui esboçadas principia por um
sobrevôo histórico sobre o Movimento Feminista, no qual, teve e continua tendo
amplos objetivos, mas fundada, com maior ênfase, no desejo de “tornar visível
aquelas (as mulheres) que foram ocultadas”(LOURO,2010). Frente a essas
considerações, surge a necessidade de refletir acerca da história do movimento
feminista, bem como das questões de gênero e suas implicações na saúde da
mulher.
Nesse anseio recorremos a alguns referenciais e interrogamos: Como
entender essa invisibilidade e como tudo isso iniciou? Olhando para a história da
humanidade a partir de alguns autores, compreendemos que as relações entre
homens e mulheres nem sempre foram relações de domínio de um sujeito para com
o outro. Ainda que muito pouco da história seja conhecida e contada, pode-se dizer
que, no período denominado “comunismo primitivo” as relações não eram marcadas
pelo domínio dos homens sobre as mulheres, o que prevalecia era a “solidariedade
e o poder era um serviço”, não um privilégio (LOPES; MEYER; WALDOW, 1996).
Assim, a trajetória da constituição das relações desiguais, desde a sociedade
escravista, passando pelo sistema feudal, até chegar à sociedade capitalista dos
dias atuais. Em todos esses períodos históricos, as relações de poder subjugaram a
mulher, colocando-a sob a tutela dos pais e, depois, dos esposos(PALUDO E
DARON, 2001).
Em se tratando das relações de poder, cabe mencionar que as características
que apresentam historicamente são móveis, hierárquicas e assimétricas, situando a
mulher em uma posição de subalternidade, como se esta fosse menos capaz,
menos competente emenos relevante que o homem. Seu saber e sua participação
são considerados menos significativos do que os de seus companheiros e
progenitores(PAECHTER,2009).
Diferentes perspectivas reforçam isso: a religiosa, identificando a mulher
como subproduto do homem, “já que foi construída da costela de Adão”; a biológica,
definindo a mulher como inferior ao homem do ponto de vista da força física e das
diferenças sexuais; a econômica, que confere ao homem o espaço da produção e o
papel de responsável pela sustentação da família (provedor) e à mulher o espaço
familiar com o papel de reprodução cultural, biológica e da força de trabalho; e a
cultural, definindo características e hábitos, costumes e valores próprios das
mulheres e dos homens (LOPES; MEYER; WALDOW, 1996).
Assim, (Scott,1995) enfatizavasua preocupação, frente à falta de consistência
dos estudos sobre mulheres, em geral realizados de maneira estreita e separados,
posicionamento reforçado por Natalie Davis, que afirma: “penso que deveríamos nos
interessar pela história tanto dos homens como das mulheres, e que não deveríamos
tratar somente do sexo sujeitado”, tendo por objetivo compreender a importância dos
sexos e a configuração cultural dos grupos de gênero no passado histórico.
É imprescindível que as pesquisas e estudos possibilitem descobrir o leque
de posições e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e períodos,
procurando identificar sentidos e significados e distinguir formas de funcionamento
da ordem social e dos movimentos voltados à transformação das relações
estabelecidas.
No entanto, em meio a essa trajetória, pensamos ser conveniente explicitar
que o movimento social organizado, que se configura como feminismo, caminha em
uma diversidade de vertentes. Então, se para algumas as teorizações marxistas
representarão uma referência fundamental, para outras as expectativas construídas
a partir da psicanálise poderão parecer mais produtivas. Existirão também aquelas
que alegarão a impossibilidade de ancorar tais análises em mapas teóricos
organizados e que buscarão produzir explicações e teorias propriamente feministas,
originando o “feminismo radical” ( LOURO,2010).
Em cada uma dessas vertentes, podemos constatar que é sugerido um
“princípio”, um “motivo”, que encobre a visibilidade, norteando, de maneira obscura e
tácita, a mulher enquanto presença no trabalho, na família, na saúde e na
sociedade. Contudo, no coletivo de tais vertentes, independente do ponto de vista
orientador das diferentes linhas do movimento feminista, há objetivos que pouco se
diferenciam, sendo que todas as linhas almejam um propósito: a desconstrução de
condições que levam à invisibilidade das mulheres. No todo há, portanto,
aproximações e distanciamentos.
As diferentes vertentes, com um olhar na história, procuram caminhos para
amenizar fatores que sustentam a invisibilidade das mulheres, porém pensam e
agem de formas diferentes; possuem diferentes leituras do processo, mas existe
clareza nos aspectos relacionados aos principais objetivos: o desejo e a motivação
em torno de um ideal em comum: a libertação e a emancipação da mulher.
Freire indica caminhos para a emancipação em que cada ser humano
aprende a dizer a sua palavra, a exercitar sua capacidade de expressar-se, de
dialogar, movimentos individuais e coletivos essenciais à humanização. A
multiplicidade de expressões possibilita a construção intersubjetiva de uma
sociedade em que objetivos e vivências sejam conjugados e se estabeleçam
relações igualitárias (FREIRE,2003).
Dessa forma, a luta, enfatizando a temática de gênero, necessita envolver
ações direcionadas aos sujeitos, tanto mulheres como homens, buscando-se a
construção de um projeto de sociedade em que prevaleça a igualdade entre homens
e mulheres, possibilitando-lhes o exercício “de palavras e ação”, em constante
processo de emancipação e humanização (LOPES; MEYER; WALDOW, 1996).
2. OBJETIVO
Este estudo visa aprofundar o entendimento sobre a questão de gênero,
reconhecendo as conquistas obtidas até o presente e problematizando as relações
vigentes em nossa sociedade, indicando ações a serem empreendidas para que
possamos avançar ainda mais em termos de racionalidade, respeito, saúde e
solidariedade.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo reflexão, balizado nas questões de
gênero e sua relação com a saúde da mulher. A discussão baseia-se na revisão de
literatura.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Inicialmente, no século XIX, as manifestações tomaram rumo contra a
discriminação feminina, adquirindo visibilidade e expressividade acentuadas no
chamado “sufragismo”, ou seja, movimento voltado para estender o direito de voto
às mulheres, oportunidades de estudo e acesso a determinadas profissões
(LOPES,2010).
No período denominado de “segunda onda”, contemplado pelo fervor de
acontecimentos em meados de 1960, os estudos feministas, “além das
preocupações sociais e políticas, se voltaram para as construções propriamente
teóricas” (LOPES,2010). Nesse âmbito de acontecimentos, nascem as discussões
acerca de gênero.
As questões de gênero possibilitam uma compreensão aprofundada do ser
humano, desmistificando a ênfase ao biologicismo, dirigindo um olhar sobre o sujeito
muito além das diferenças sexuais, mas sim a partir de suas vivências sociais,
culturais e linguísticas, transcendendo o “biológico (sexo) para o gênero (social)”
(SAFFIOTI, 1992).
Gênero articula-se a partir da trama de quatro elementos que clarificam o
efeito do gênero nas relações sociais e institucionais. Tal enfoque permite conceber
as questões de gênero para além das identidades subjetivas e, igualmente,
compreendê-las como imersas e impregnadas por toda a ordem social na qual se
inserem (PALUDO,2001).
Com base nos posicionamentos, constatamos que, em sua constituição, o
conceito de gênero é constituído por quatro elementos – símbolos, conceitos
normativos, instituições e organizações sociais e, ainda, identidade subjetiva – que,
embora distinguíveis, entrelaçam-se entre si, e atuam inter-relacionados uns com os
outros de forma complementar e integrante, porém não ao mesmo tempo
(SCOTT,1995).
Primeiramente, em se tratando do elemento denominado de símbolos,cabe
destacar que estes são evidenciados pelas questões culturais que invocam
representações simbólicas frequentemente distorcidas – ex: Eva e Maria como
simbologia da mulher – mitos de luz e escuridão, purificação e poluição, inocência e
corrupção (SCOTT.1995).
Quanto ao segundo elemento apontado pela autora, temos os conceitos
normativos,os quais determinam a ordem social depositando de forma intensa os
limites dos sentidos dos símbolos, sendo expressos nas doutrinas religiosas,
educativas, científicas e políticas. Eles são articulados de maneira fixa: puro-impuro;
inocente-pecador; forte-delicado; dentre outros. Essas oposições desenham de
forma categórica o que significa o ser homem, o ser mulher, assim como o
masculino e o feminino ( SCOTT,1995).
O terceiro elemento envolve as instituições e organizações sociais,
relacionando-se às “comunidades de prática”, tais como a família, o trabalho, a
política, a educação e o sistema de saúde, uma vez que essas são fundamentais na
constituição do conceito de gênero, posto que este não está apartado das
especificidades dos distintos grupos que configuram a trama social em que tal
conceito é produzido (SCOTT,1995).
Nesse sentido, é relevante compreendermos que as diferentes instituições e
práticas sociais são constituídas pelos gêneros.Estas práticas e instituições
“fabricam” os sujeitos. Dessa forma busca-se compreender que a justiça, a igreja, as
práticas educativas ou de governo, a política, etc. são atravessadas pelos gêneros “engendram-se”, a partir das relações de gênero (LOURO,2010).
Por último, é pertinente dialogar sobre identidade subjetiva. Esse componente
refere-se ao próprio sujeito, homem ou mulher, que está em um processo contínuo
de construção, a partir das “comunidades de prática”. A questão central aqui é como
os homens e mulheres em construção reagem ao que lhes é apresentado como
roteiro de vida, a partir das comunidades (SCOTT,1995).
Desse modo, contribui para o esclarecimento do significado de gênero,
definindo-o como maneiras de nos “fazermos” homem ou mulher e implica dizer que
não é algo dado de vez ou pré-determinado, mas algo que é constantemente
mostrado, ou encenado, pelo social (PAECHTER,2009).
Constatamos, assim, a “urgência” de atenuarmos a centralidade no biológico
que envolve a saúde da mulher, referindo-nos às ações em saúde, as quais
tradicionalmente enfatizam a questão da reprodução, do parir e do gestar, enquanto
o contexto de gênero fica “esquecido”. Todavia, não temos a pretensão de negar
radicalmente o biológico. Pelo contrário, o que privilegiamos e almejamos é a
pluralidade do todo, mais especificamente na saúde da mulher.
Nesse sentido, adverte-se que “o discurso normativo encerra as mulheres na
condição de mãe, seus destinos estavam ligados às amarras biológicas de um
corpo”. É partindo desse olhar que queremos avançar no sentido de que a saúde da
mulher não pode ser resumidamente concentrada no estado de parir e gestar e, sim,
precisa ser analisada, também na perspectiva de gênero (SCHWENGBER,2006).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim acredita-se ser indispensável essas reflexões acerca de gênero e
saúde para uma visão clara e profunda, que nos permita compreender a questão da
saúde da mulher para além do aspecto biológico. Isso porque, quando tratamos de
saúde – cuidado (enfermagem), estão implicados os fatores sociais, mentais,
afetivos e culturais, dentre outros. Portanto, é imprescindível um olhar global que
envolve a saúde da mulher e fortalecer o debate na formação em saúde acerca das
questões de gênero e suas implicações na saúde da mulher.
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Uma
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perspectiva
pós-
masculinidades
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Schwengber M.S.V. Dona de Si? A educação de corpos grávidos no contexto
dos Pais e Filhos [tese]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do
Sul; 2006.
Scott J.W. Gênero:uma categoria útil de análise histórica.Educação e
Realidade.1995; 20 (2), 1995.
7.2) PROTAGONISMO DA MULHER NO PROCESSO PARTURITIVO:
VIVÊNCIAS DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS1
SCARTON, Juliane2;
PRATES, Lisie Alende3;
BARRETO, Camila Nunes4;
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta5;
POMPEU, Kelen da Costa6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
Objetivo: Conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de
enfermagem prestado no trabalho de parto e parto. Método: Pesquisa de abordagem
qualitativa, com enfoque descritivo-exploratório, tendo como cenário de estudo a
maternidade de um hospital do interior do Estado do Rio Grande do Sul, e como
participantes dez puérperas primíparas. Os dados foram coletados por meio de
entrevista individual semiestruturada gravada em MP3 e após transcritas e
analisadas por meio da proposta operativa de Minayo. O projeto de pesquisa que
culminou nesse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da
Universidade
1
Federal
de
Santa
Maria
sob
CAEE
26452313.8.0000.5346.
Trabalho oriundo da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), intitulado “o cuidado de
enfermagem no trabalho de parto e parto: Vivências de puérperas primíparas”.
2
Relatora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
(PPGEnf) da (UFSM). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS,
Brasil. E-mail: [email protected]
3
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo
de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail:
[email protected]
4
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo
de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail:
[email protected]
5
Acadêmica de enfermagem da UFSM. Bolsista PIBIC. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
6
Enfermeira. Egressa da UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
7
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem e do
PPGEnf da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. Santa Maria, RS,
Brasil. E-mail: [email protected]
Resultados: O profissional acolhe a parturiente, fornece orientações, esclarece
dúvidas, se coloca à disposição, promove uma escuta ativa, inclui o companheiro no
cuidado e demonstra interesse pela usuária. Considerações finais: Por meio do
cuidado centrado na parturiente que vise o relacionamento interpessoal, ético e que
respeite os direitos da mulher de ser cuidada digna e individualmente, é possivel ir
ao encontro do que preconiza a política de humanização no parto e nascimento
demontrastrando mudanças do contexto atual da assistência ao parto.
ABSTRAT
Objective: To learn the experiences of primiparous postpartum women in relation to
nursing care provided during labor and childbirth. Method: This was a qualitative
approach with descriptive exploratory approach, and the study of a maternity hospital
in the state of Rio Grande do Sul scenario, and how participants ten primiparous
postpartum women. Data were collected through semi-structured individual
interviews recorded in MP3 and after transcribed and analyzed using the proposed
operative Minayo. The research project that culminated in this study was approved by
the Research Ethics Committee of the Federal University of Santa Maria in CAEE
26452313.8.0000.5346. Results: The professional hosts the mother, provides
guidance, answers questions, make themselves available, promotes active listening,
includes companion care and demonstrates the interest by the user. Final
considerations: Through the laboring woman centered care aimed at the
interpersonal, and ethical relationship that respects the rights of women to be cared
for and worthy individual, it is possible to meet the policy that advocates the
humanization of labor and birth demonstrating changes current context of childbirth
care.
Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto.
Descritores: Cuidados de Enfermagem; Parto; Trabalho de Parto; Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
O parto é uma experiência única no universo da mulher e de seus familiares.
Esse evento, na maioria das vezes, é motivo de alegria para a futura mãe e para
família. Ao mesmo tempo, é uma fase cercada de dúvidas e insegurança (ALVEZ,
2007), especialmente quando se tratam de mulheres primíparas, pelo fato de
estarem vivenciando essa experiência pela primeira vez.
Os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental no
cuidado a essas mulheres, devendo prestar orientações, esclarecer dúvidas, bem
como acolher e auxiliar em todo esse processo (MERIGHI; CARVALHO;
SULETRONI, 2007). Nesse contexto, o cuidado de enfermagem é compreendido no
sentido de acolher o ser humano como um ser único, envolvendo este em um
cuidado integral, humanizado e diferenciado, colocando-o no centro da atenção
(GRAÇA; SANTOS, 2009).
O cuidado de enfermagem dispensado à mulher no processo parturitivo
configura-se na busca de um relacionamento mais humano e próximo à parturiente.
Além disso, deve possibilitar que a mulher detenha o controle sobre seu corpo, de
modo a compreender o que acontece em cada fase do processo parturitivo. Também
deve oportunizar a escolha pela posição no parto e pelo uso de métodos para o
alívio da dor.
Ademais, entende-se que o cuidado deve ocorrer de forma a respeitar a
dignidade, autonomia e tomada de decisão das mulheres (SEIBERT et al, 2005), a
partir de um relacionamento mais humano e integral, que considere a singularidade
de cada mulher. Nesse sentido, é fundamental a garantia de um local adequado
para que as mulheres e seus familiares sejam acolhidos, ouvidos, orientados,
respeitados e livres para se manifestarem (VELHO et al, 2012).
Sendo assim, as mulheres devem ter o direito de escolha, de escuta e de
orientações para que possam conduzir o seu trabalho de parto, pois as mesmas são
peças primordiais do processo de parturição (MACEDO et al, 2008). Para isso, é
necessário que os profissionais de saúde que atuam durante o trabalho de parto e
parto estejam sensibilizados quanto ao seu papel nesse processo, pois a mulher e o
bebê devem ser o principal foco de atenção (SEIBERT et al, 2005) e não as
técnicas.
Desse modo, tem-se como questão norteadora do estudo: “como foi a
vivência de puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado
no trabalho de parto e parto em uma instituição hospitalar do interior do Estado do
Rio Grande do Sul?”
2. OBJETIVO
Conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de
enfermagem prestado no trabalho de parto e parto.
3. METODOLOGIA
Estudo de abordagem qualitativa, com enfoque descritivo-exploratório. O
cenário para realização do estudo foi a maternidade de um hospital localizado no
interior do Estado do Rio Grande do Sul. As participantes do estudo foram 10
puérperas primíparas. Elencaram-se como critérios de inclusão: puérperas
primíparas que realizaram o parto vaginal nesta instituição, internadas na
maternidade no período da coleta de dados; que apresentavam condições
psíquico-cognitivas para participar do estudo; puérperas primíparas que foram
submetidas ao parto com idade gestacional equivalente a termo, e com recémnascidos vivos.
Entre os critérios de exclusão: puérperas primíparas que tiveram o parto em
outra instituição ou domiciliar. A coleta de dados foi realizada por meio de
entrevista individual semiestruturada, nos meses de fevereiro, março e abril de
2014. O tamanho da amostra foi definido quando foram atingidos os objetivos
propostos na pesquisa e também pela saturação dos dados. Os dados foram
analisados por meio da proposta operativa (MINAYO, 2010).
Os cuidados éticos foram observados, conforme Resolução nº 466/2012,
do Conselho Nacional da Saúde (BRASIL, 2012). Este projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa/UFSM em 14 de janeiro de 2014, sob o número do
processo CAEE 26452313.8.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este estudo encontra-se na fase inicial de análise e interpretação dos
dados, sendo assim, neste trabalho serão apresentados os resultados parciais do
estudo. Logo, a partir da ordenação dos dados, criação do mapa horizontal das
descobertas no trabalho em campo e classificação dos dados, foram identificadas
algumas unidades de sentido, das quais uma delas deu origem a este trabalho e
foi denominada como “o protagonismo da mulher no processo parturitivo:
vivências de puérperas primíparas”.
Nessa perspectiva, sabe-se que a assistência ao parto vem sofrendo
modificações, desde que este deixou de ser realizado no domicílio por parteiras,
em um ambiente calmo e aconchegante, junto ao convívio da família. Nesse
contexto, as mulheres sentiam-se seguras e eram tratadas com respeito, sendo
as principais protagonistas no processo. Contudo, com o passar dos anos, o
parto passou a configurar-se em um evento institucionalizado e hospitalocêntrico,
em que a mulher deixou de ser um sujeito ativo e participante, passando a tornarse uma mera espectadora, não participando na maioria das vezes das decisões
que envolvem seu corpo. Apesar dessas mudanças no cenário no partejar,
acredita-se que o protagonismo da mulher deve ser estimulado, utilizando de
dispositivos como o diálogo, em linguagem compatível com o nível de
escolaridade, visando garantir o direito da parturiente em ouvir e ser ouvida
(FREIRE et al, 2011).
Nesse sentido, as participantes deste estudo destacaram, ao longo das
entrevistas, que o protagonismo da mulher pode e deve ser reforçado pelo
profissional de saúde, e que este deve utilizar de ferramentas, como a atenção,
escuta atenta, orientação e deve incluir o acompanhante no cuidado, pois este é
o cuidado idealizado por elas, conforme evidenciam-se as falas a seguir: “sempre
foram bem atenciosas comigo, com meu marido, qualquer dúvida que nós tinha,
elas vinham atenciosamente atender” [E5]. “Perguntaram se eu tinha alguma
dúvida, pra elas explicar se eu quisesse saber alguma coisa” [E3].
Dessa forma, reconhece-se que as parturientes, durante o trabalho de parto
e parto, necessitam de uma atenção contínua e qualificada, que atenda as suas
demandas de cuidados e de informações sobre todo o processo parturitivo
(FREIRE et al, 2011).
As participantes também revelaram que diante de uma postura de cuidado,
atenção e acolhimento dos profissionais de enfermagem, elas sentem-se mais
confiantes e seguras, pois, na percepção destas, os profissionais compreendem
o momento único que estão vivenciando, momento esse de alegria, mas também
cercado de insegurança e medo pelo desconhecido:
“Eu cheguei aqui apavorada [...] achei que não iria aguentar [...] dai elas
conversaram comigo, me aconselharam [...] eu estava ansiosa, nervosa,
preocupada, tudo misturado sabe, dai teve duas (técnicas de enfermagem) que
sentaram e conversaram comigo, disseram: não é normal, toda mulher que tem o
primeiro filho passa por isso! [...]” [E3].
Tanto o trabalho de parto como o parto são fenômenos que envolvem um
conjunto de incertezas e preocupações. Essas preocupações permanecem
latentes, aflorando-se no momento do parto. No entanto, quando os profissionais
se mostram sensibilizados com a situação e se solidarizam com as expressões
de dor, medo, insegurança a mulher reage com segurança, compreendendo o
momento vivenciado e sua capacidade fisiológica de parir (OLIVEIRA et al,
2010).
A fim de tornar a mulher protagonista na cena do parto, percebe-se, nas
falas das participantes, que os profissionais de saúde que as assistiram
desempenharam um cuidado pautado nas explicações e orientações de como
proceder no momento da dor e na fase expulsiva do parto, demonstrando, assim,
a importância na colaboração da parturiente para a boa evolução do parto e o
próprio conhecimento do seu corpo.
“Me explicar tipo ali, quando o nenê vai nascer, as contrações que irão vir
das costas, que a barriga vai começar endurecer [...] essas são as dores da
contração” [E5]. “Falavam pra respirar para aproveitar as contrações e fazer força
bem forte para o nenê vir, não ficar nervosa [...]” [E10].
Neste sentido, verifica-se que o simples fato de ouvi-las, orientá-las e
encorajá-las é o diferencial nesse momento. As mulheres podem resgatar sua
autonomia e protagonismo no contexto parturitivo, quando compreendem o que
ocorre com seus corpos. Logo, ao prestar o cuidado à parturiente, o profissional
de saúde deve propor ações criativas que auxiliem na distração, que reduzam a
ansiedade e forneçam informações sobre a evolução do parto (SILVA;
BARBIERI; FUSTINONI, 2011).
Portanto, para que a mulher desempenhe seu papel ativamente com
autonomia e protagonismo, é necessário que o profissional de saúde,
inicialmente, respeite a fisiologia do parto, a privacidade, singularidade e
particularidades de cada mulher, forneça orientações que contribuam para que
esta possa atuar nesse processo. Mais do que isso, é fundamental considerar e
respeitar as necessidades, os desejos, as expectativas e as escolhas da mulher.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo, embora ainda preliminares, já permitem
perceber que os profissionais de enfermagem, que assistiram as mulheres
entrevistadas, desempenharam um cuidado centrado no bem estar da
parturiente. Desse modo, quando o profissional acolhe a parturiente, fornece
orientações, esclarece dúvidas, se coloca à disposição, promove uma escuta
ativa, inclui o companheiro no cuidado e demonstra interesse pela usuária, esses
aspectos auxiliam na minimização de sentimentos, como o medo, a angústia e a
insegurança.
Logo, entende-se que o cuidado centrado na parturiente vai ao encontro do
que preconiza a política de humanização do parto, tão idealizada pelas mulheres.
Para isso, é imprescindível uma postura profissional atenta e preocupada com o
bem estar da parturiente, por meio de um relacionamento interpessoal ético, que
respeite os direitos da mulher de ser cuidada digna e individualmente, de acordo
com suas necessidades.
REFERÊNCIAS
ALVES, A.M.; Et al. A enfermagem e puérperas primigestas: desvendando o
processo de transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem, v. 12, n. 4, p. 41627, 2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do
Conselho Nacional de Saúde. Dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos.
Brasília (DF): Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP); 2012
FREIRE, N.C.; Et al. Parto normal ou cesárea? a decisão na voz das mulheres.
Revista Baiana de Enfermagem, v. 25, n. 3, p. 237-47, 2011
GRAÇA, E.M.; SANTOS, G.F. Metodologia do cuidar em enfermagem na abordagem
fenomenológica. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 43, n. 1, p. 200-7,
2009.
MACEDO, P.O.; Et al. As tecnologias de cuidado de enfermagem obstétrica
fundamentadas pela teoria ambientalista de Florence Nightingale. Escola Anna
Nery Revista de Enfermagem, v.12, n. 2, p. 341-7, 2008.
MERIGHI, M.A.B.; CARVALHO, G.M.; SULETRONI, V.P. O processo de parto e
nascimento: visão das mulheres que possuem convênio de saúde na perspectiva da
fenomenologia social. Acta Paulista de Enfermagem, v. 20, n. 4, p. 434-40, 2007.
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo: Hucitec, 2010.
OLIVEIRA, A.S.S.; Et al. Percepção de mulheres sobre a vivência do trabalho de
parto e parto. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 11, n. esp.,p. 3241, 2010.
SEIBERT, S.L. Et al. Medicalização x humanização: o cuidado ao parto na história.
Revista de Enfermagem da UERJ, v. 13, p. 245-51, 2005.
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parturição em um modelo assistencial humanizado. Revista Brasileira de
Enfermagem, v. 64, n. 1, p. 60-5, 2011.
VELHO, M.B.; Et al. Vivência do parto normal ou cesáreo: revisão integrativa sobre a
percepção de mulheres. Texto & Contexto - Enfermagem, v. 21, n. 2, p. 458-66,
8.2)
EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA
FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA
FETAL¹
AMTHAUER, Camila²
VAN DER SAND, Isabel Cristina Pacheco³
RESUMO
A gestação é considerada um momento de alegria, onde sonhos e expectativas são
depositados nessa vida que está por vir. Quando ocorre uma perda fetal, projetos e
expectativas são rompidos junto com a gravidez. Dessa vivência, sentimentos de
impotência e frustração tomam conta de quem experencia a perda, exigindo dos
profissionais de saúde uma sensibilidade para ajudar na elaboração da perda. Fazse necessário uma rede social de apoio à mulher/família enlutada, em que se
insiram os profissionais, destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de
Saúde da Família (ESF). O objetivo é relatar a experiência de profissionais da ESF
no atendimento às mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal. Trata-se de um
estudo descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do
Noroeste do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª Coordenadoria Regional de Saúde,
que conta com três equipes da ESF. Participaram doze profissionais (dois médicos,
duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitárias de
saúde).
Os
dados foram coletados em agosto
de
2010
por
entrevista
semiestruturada, gravadas e transcritas para fins de análise, segundo análise
temática proposta por Minayo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mediante o processo
23081.011801/2010-23.Sobre suas experiências profissionais, a maioria dos sujeitos
__________________________
¹ Trabalho oriundo de Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de grau de Enfermeira pela
Universidade Federal de Santa Maria.
² Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Email: [email protected]
³ Enfermeira. Professora Assistente da Universidade Federal de Santa Maria. Doutora em Ciências.
Email: [email protected]
96
mencionou ter experenciado para além do campo profissional, ou seja, relataram
suas próprias vivências pessoais. Outro dado refere-se ao estresse representado
pela necessidade de noticiar a morte fetal, devido a perda significar impotência e/ou
fracasso profissional. Alguns sujeitos relataram situações de perda neonatal,
salientando que essa representa uma experiência mais difícil para o profissional e
para a mulher enlutada. Os dados permitem reafirmar a importância da educação
permanente
para
que
os
profissionais
tenham
compreensão
acerca
da
representação da gestação, maternidade, perda e luto.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Gravidez; Morte Fetal; Saúde da Mulher; Estratégia Saúde da Família;
Profissional da Saúde.
ABSTRACT
Pregnancy is considered a time of joy, where hopes and dreams are deposited in this
life that is to come. When fetal loss occurs projects and expectations are broken
along with pregnancy. This experience, feelings of helplessness and frustration take
account of whom experience loss, requiring a sensitivity health professionals to assist
in the preparation of the loss. It is necessary a social support network for women /
bereaved family, which fall into professionals, especially members of the teams of the
Family Health Strategy (FHS). The goal is to report the experience of professionals in
FHS assistance to women and / or families bereaved by fetal loss. This is a
descriptive study with a qualitative approach, developed in a municipality the
Northwest Rio Grande do Sul attached to the 17th Regional Health, which has three
FHS teams. Participated in twelve professionals (two doctors, two nurses, four
nursing techniques and four community health workers). Data were collected in
August 2010 by semistructured, recorded and transcribed for analysis interview, as
proposed by Minayo thematic analysis. The project was approved by the Ethics
Committee of the Federal University of Santa Maria (UFSM) through the process
23081.011801/2010-23. About their professional experiences, most participants
97
mentioned having lightful beyond the professional field, or reported their own
personal experiences. Another data refers to the stress posed by the need to report
fetal death due to loss mean impotence and / or professional failure. Some subjects
reported cases of neonatal loss, stressing that this is a more difficult experience for
the professional and for the bereaved woman. The data allow reaffirm the importance
of continuing education for professionals to have understanding about the
representation of pregnancy, motherhood, loss and grief.
Descriptors: Pregnancy; Fetal Death; Woman’s Health; Family Health Strategy;
Health Professional.
1. INTRODUÇÃO
A gestação é uma fase na vida da mulher que implica em diversas
transformações relacionadas ao seu corpo, estilo de vida e seu novo papel social – o
de ser mãe. Essas mudanças exigem adaptações principalmente na vida da mulher,
mas também se estendem ao companheiro e à família que juntos vivenciam esse
momento. Entretanto, cada mulher vive a gravidez de forma única e individual,
dependendo do contexto cultural, social e familiar a qual está inserida, que vão
influenciar fortemente os aspectos físicos, emocionais e sociais no seu exercício da
maternidade. Para além dessas mudanças, novos papeis e responsabilidades
devem ser assumidos pelos novos pais, que reconhecem o filho como um ser frágil
que necessita de proteção e cuidado, o que requer uma construção ideológica de
ser mãe e ser pai (SILVA et al., 2013).
O nascimento de um bebê é considerado pela maioria das mães e suas
famílias como um momento de felicidade, alegria e até a realização de um sonho.
Desejos e expectativas são depositados nessa nova vida que está por vir. Ao saberse grávida, a mãe passa a imaginar como será o rostinho do bebê, seu nome e a
idealizar projetos para seu filho. Quando ocorre uma perda fetal, seus sonhos e
expectativas são rompidos junto com a gravidez (MONTERO et al., 2011).
98
Dessa vivência, sentimentos de impotência, incapacidade, frustração e culpa
tomam conta da mulher e família que experenciam a perda, o que demanda dos
profissionais da saúde uma sensibilidade para o oferecimento de apoio e conforto.
Este suporte é importante na elaboração da dor e sofrimento da perda, fazendo
parte do processo de cuidar. Nele, prioriza-se a expressão das diferentes questões
dessa gestante, buscando a satisfação de suas necessidades com base em sua
própria ótica (RODRIGUES; HOGA, 2006).
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de uma rede social de apoio à
mulher e à família enlutada, em que se insiram também os profissionais de saúde,
destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF).
2. OBJETIVOS
O presente estudo, recorte de outro de maior envergadura, tem como objetivo
relatar a experiência de profissionais da ESF no atendimento às mulheres e/ou
famílias que vivenciam uma perda fetal.
3. METODOLOGIA
Estudo descritivo, de natureza com abordagem qualitativa, desenvolvido em
um município do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª
Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com três equipes da ESF.
Como critério de inclusão foi definido que o profissional deveria ter
experenciado, no exercício de sua profissão, o atendimento à mulher e/ou família
enlutada em decorrência da perda fetal. Participaram doze profissionais (dois
médicos, duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes
comunitárias de saúde), atuantes em uma das três equipes de ESF, prezando-se
pela representatividade de todos os profissionais da equipe mínima de uma ESF.
Os dados foram coletados por entrevista do tipo semiestruturada, gravadas e,
posteriormente, transcritas para fins de análise e interpretação dos dados. As
99
entrevistas aconteceram durante o mês de agosto de 2010, segundo o local e
disponibilidade dos sujeitos do estudo.
Foram respeitados os preceitos éticos de pesquisa com seres humanos,
conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n° 196/96, com aprovação
do projeto por meio de Parecer Consubstanciado, emitido pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (CEP/UFSM), mediante o
processo 23081.011801/2010-23.
Os dados foram analisados pela análise de conteúdo da modalidade temática,
operacionalmente efetuada em três etapas: pré-análise, exploração do material e
tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Na pré-análise tomou-se contato
com o material produzido na transcrição das entrevistas, por meio de leitura
exaustiva, com vistas a uma impregnação das informações contidas; na exploração,
realizou-se a categorização dos dados, organizando-se as unidades de registro a
partir de suas afinidades temáticas; e na interpretação buscou-se a compreensão e
interpretação dos dados à luz do referencial (BERTOLANI; OLIVEIRA, 2010;
MINAYO, 2010).
4. RESULTADOS
Ao serem questionados acerca das experiências profissionais na ESF,
relativas à atenção a mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal, a maioria
dos sujeitos mencionou ter tido alguma experiência para além do campo profissional,
ou seja, relataram suas próprias vivências pessoais. Na medida em que descreviam
suas experiências, atribuíram motivos que ocasionaram a perda fetal, relacionando-a
há alguma situação e/ou ação por parte da mulher e/ou família.
Outro dado que emerge da investigação refere-se ao estresse representado
pela necessidade de noticiar à mulher/família a morte fetal, pois, além da dificuldade
cultural de lidar com as questões relativas à morte e ao morrer, a perda pode ter um
significado de impotência e/ou de fracasso profissional. Percebe-se que a perda
significa dificuldades para todos que participam desse evento, incluindo a equipe
100
que a acompanha. Destaca-se que, para os sujeitos do estudo, o profissional deve
permanecer incólume ao sofrimento, visto que cabe a ele prestar o suporte a essa
mulher e/ou família. Assim, para fazê-lo de modo eficiente, os sujeitos entendem que
o profissional não pode se envolver emocionalmente com a situação vivida pela
família.
Por fim, alguns sujeitos do estudo relataram situações de perda neonatal, e
de abortamento ou perda fetal, salientando, inclusive, que essa representa uma
experiência mais difícil tanto para o profissional quanto para a mulher enlutada.
Talvez o motivo para essa percepção esteja na materialidade possibilitada pelo
nascimento de uma criança viva.
5. DISCUSSÃO
Com base nos achados, considera-se pertinente trabalhar a questão da
promoção da saúde para equipes de ESF, além de atividades de educação
permanente que abordem por meio de metodologia crítico-reflexiva conteúdos
voltados à multidimensionalidade do ser humano em situação de perda, ou seja, que
considere os aspectos biopsicossociais e culturais relativos ao abortamento e perda
fetal. Assim, de posse de um maior domínio e clareza sobre as causas de um
abortamento ou de uma perda fetal, bem como de seus significados, os profissionais
transformariam suas práticas, conforme prevê a Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde, auxiliando as famílias no planejamento de suas gestações,
respeitando suas decisões e dando o suporte necessário na situação de luto fetal
(BRASIL, 2006).
A equipe deve estar preparada para lidar com os sentimentos e as emoções
das mulheres, além de saber a maneira mais adequada de abordá-las. Parte dos
profissionais de saúde prestar um cuidado às mulheres e famílias enlutadas pela
perda com responsabilidade e ética. Criar um espaço favorável para ofertar uma
palavra de conforto, sabendo ouvir e que as mulheres possam expressar seus
sentimentos, de modo que não se sintam culpadas pelo ocorrido faz parte do
101
cuidado que deve ser ofertado pelos profissionais (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER,
2009).
A comunicação das “más notícias” em saúde é outro fator a ser trabalhado
com os profissionais de saúde, pois constitui-se numa das problemáticas mais
difíceis e complexas no contexto das relações interpessoais. Ela representa uma
situação que gera perturbação tanto na pessoa que recebe a notícia, como na que a
transmite e, por isso, é uma tarefa penosa para quase todos os profissionais de
saúde. Cabe ressaltar que isso decorre não só do receio de enfrentar as reações
emocionais e físicas dos familiares, mas também pela dificuldade em administrar a
situação (PEREIRA, 2005). Ainda, os principais protagonistas das “más notícias” são
os prestadores de cuidados, que, para além de planejarem e gerenciarem estes
momentos, têm também de gerir os seus próprios medos e estar preparados para
aceitar as naturais hostilidades dos que recebem a notícia.
Com frequência os profissionais tendem a evitar falar sobre a perda e o luto,
passando a responsabilidade de suas atribuições, como orientar e dar suporte
emocional para outras categorias profissionais, os quais consideram estar mais
preparados para lidar com o assunto. Alguns profissionais, por sua vez, se
restringem em focar apenas os aspectos biológicos e procedimentos técnicos,
evitando abordar as questões emocionais e suas repercussões psicológicas que
afetam as mulheres e suas famílias (SANTOS et al., 2012).
Sofrer ao assistir o sofrimento do outro não é demérito, sendo, ao contrário,
uma demonstração de empatia, atributo vital para o desenvolvimento de uma relação
autêntica e terapêutica com o usuário (LUNARDI et al., 2001). No entanto, isso nem
sempre é reconhecido pelos profissionais de saúde, o que ocorre em razão da falta
de preparo para conviver com as manifestações somáticas e emocionais dos
enlutados e/ou numa tentativa de autoproteção. Assim, acreditam que sua postura
deva ser firme, fria ou indiferente diante do sofrimento, pois admitir que se
sensibilizam com a dor do outro pode macular a imagem social do profissional, que,
em razão da profissão escolhida, deve aceitar e viver sozinho essa dor (COSTA;
LIMA, 2005).
102
O processo da morte e o morrer encontram-se presentes em situações de
perda e luto fetal. Muitas pessoas, aí incluem-se não só os profissionais de saúde,
tem o pensamento de que este tipo de perda não provoca dor e sofrimento para
aquele que a vive, por ocorrer no início da gravidez. Esse pode ser um motivo para
que os profissionais da saúde tenham dificuldade em lidar com os sentimentos e as
reações emocionais dessas mulheres (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER, 2009). A
perda fetal se caracteriza como a mais solitária das perdas para a mãe que a
vivencia. Isso ocorre porque ela foi a única a conhecer e manter o relacionamento
com o bebê (AMPESE; PEROSA; HAAS, 2007).
Nessa perspectiva, os profissionais têm dificuldade em reconhecer o feto
como alguém concebido, aguardado e, por isso, existente para os pais, alguém que
é sujeito de uma história. Por isso, muitas vezes, banalizam essa perda e parecem
desconhecer que a construção de laços não depende do tempo ou do convívio do
dia-a-dia para acontecer, pois os vínculos entre mãe e filho são produzidos,
conforme estudos recentes, durante a gestação (ZIMERMAN, 2011). É importante
que o profissional se dê conta que não é o tempo que determina a intensidade do
amor e do afeto que liga o bebê à família, e sim os sonhos, as expectativas e o
mundo criado na imaginação familiar para a chegada e participação em sua história.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A morte de um filho mesmo antes de seu nascimento representa uma perda
marcada de muita dor e sofrimento na vida das mulheres e suas famílias que
vivenciam a perda fetal. O suporte emocional para essas pessoas vem com o
objetivo de aliviar um pouco do sofrimento vivido, de apoiar, confortar, escutar e
ajudar na assimilação da perda e elaboração do luto.
Tal apoio deve ser ofertado baseado no respeito, responsabilidade e
confiança entre aqueles que cuidam e quem é cuidado. A equipe de saúde, ao
ofertar a assistência à saúde, deve fazê-la sem julgamento de valor às mulheres que
sofreram uma perda fetal, seja ela espontânea ou não. O cuidar do outro está
103
presente na essência do ser humano e vai além de julgamento ou pré-conceitos.
Para tanto, é necessário que os profissionais de saúde estejam na busca constante
de conhecimento, qualificação e aprendizado.
REFERÊNCIAS
AMPESE, D; PEROSA, G.; HAAS, R. E. A influência da atuação da enfermagem aos
pais que vivenciam a morte do feto viável. Centro Universitário São Camilo, v. 1, n.
2, p. 70-77, 2007. Disponível em:
<https://www.scamilo.edu.br/pdf/bioethikos/57/A_influencia_da_atuacao_da_enferma
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BAZOTTI, K. D. V.; STUMM, E. M. F.; KIRCHNER, R. M. Ser cuidada por
profissionais da saúde: percepções e sentimentos de mulheres que sofreram
abortamento. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 147-154, 2009.
BERTOLANI, G. B. M.; OLIVEIRA, E. M. Mulheres em situação de abortamento:
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde. Série Pactos pela Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde.
Brasília, 2006. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume9.pdf> Acesso em: 13 set.2014.
COSTA, J. C.; LIMA, R. A. G. Luto da equipe: revelações dos profissionais de
enfermagem sobre o cuidado à criança/adolescente no processo de morte e morrer.
Rev Latino-Am Enferm., v. 13, n. 2, p. 151-157, 2005.
LUNARDI, W. D. Filho et al. Percepções e condutas dos profissionais de
enfermagem frente ao processo de morte e morrer. Texto Contexto Enfermagem,
Florianópolis, v. 10, n. 3, p. 60-81, 2001.
Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª
ed. São Paulo: Hucitec; 2010.
MONTERO, S. M. P. et al. A experiência da perda perinatal a partir da perspectiva
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PEREIRA, M. A. G. Má notícia em saúde: um olhar sobre as representações dos
profissionais de saúde e cidadãos. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 14, n.
1, p. 33-37, 2005.
104
RODRIGUES, M. M. L.; HOGA, L. A. K. Homens e abortamento espontâneo:
narrativas das experiências compartilhadas. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v.
39, n. 3, p. 258-267, 2005.
SANTOS, C. S. et al. Percepções de enfermeiras sobre a assistência prestada a
mulheres diante do óbito fetal. Esc Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 277284, 2012.
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hospitalização. Rev Enferm UERJ, Rio de Janeiro, v. 21, esp. 2, p. 792-797, 2013.
ZIMERMAN, D. E. Os Quatro Vínculos: Amor, Ódio, Conhecimento e
Reconhecimento na Psicanálise e em Nossas Vidas. Artmed: Porto Alegre, 2011
105
9.2) CUIDADO DE ENFERMAGEM NO TRABALHO DE PARTO E PARTO NA
ÓTICA DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS1
SCARTON, Juliane2;
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta3;
CREMONESE, Luiza 4;
ALVES, Camila Neumaier5;
WILHELM, Laís Antunes 6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
Objetivo: conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de
enfermagem prestado no trabalho de parto e parto. Método: pesquisa qualitativa,
com enfoque descritivo-exploratório, desenvolvida com dez puérperas primíparas. O
cenário do estudo foi uma maternidade de um hospital do interior do Estado do Rio
Grande do Sul. Os dados foram coletados por meio de entrevista individual
semiestruturada e analisados por meio da proposta operativa. O projeto de pesquisa
foi
aprovado
pelo
Comitê
de
Ética
em
Pesquisa,
sob
o
CAEE
26452313.8.0000.5346. Resultados: entre as práticas desenvolvidas pela equipe de
enfermagem durante o trabalho de parto e parto, prevaleceu o uso de métodos não
farmacológicos e a presença de acompanhante no momento do parto. Entretanto,
1
Trabalho oriundo da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), intitulado “o cuidado de
enfermagem no trabalho de parto e parto: Vivências de puérperas primíparas”.
2
Relatora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Bolsista da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
3
Acadêmica de enfermagem da UFSM. Bolsista PIBIC. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
4
Acadêmica de enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET. Membro do
Grupo e Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail:
[email protected]
5
Doutoranda do PPGEnf da Universidade Federal de Pelotas/RS. Membro do Grupo e Pesquisa
Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Pelotas, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
6
Enfermeira. Doutoranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo e Pesquisa
Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
7
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do curso de graduação em Enfermagem e do
PPGEnf da UFSM. Tutora do PET Enfermagem da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Cuidado,
Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
106
ainda verificou-se a realização de um cuidado centrado em práticas rotineiras e
desnecessárias. Considerações finais: evidencia-se a necessidade de rever o uso
rotineiro e indevido de algumas práticas de cuidado que não trazem benefícios
maternos e neonatais e, ao mesmo tempo, estimular a adoção de práticas que
contribuam para o protagonismo da parturiente.
ABSTRACT
Objective: to know the experiences of mothers who have recently given birth in
relation to the nursing care provided in labour and delivery. Method: qualitative
research, with descriptive-exploratory approach, developed with ten mothers who
have recently given birth. The study scenario was a maternity hospital in the State of
Rio Grande do Sul. The data were collected through semi-structured interview and
analyzed by means of operative proposal. The research project has been approved
by the Research Ethics Committee, under the CAEE 26452313.8.0000.5346.
Results: among the practices developed by the nursing staff during labour and
delivery, prevailed not pharmacological methods and the presence of an escort at
time of delivery. However, still there was the realization of a care routine practicescentric and unnecessary. Conclusion: shows if the need to revise the routine use and
misuse of some practices of care that doesn't benefit maternal and neonatal diseases
and, at the same time, encourage the adoption of practices that contribute to the
leading role of parturient.
Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto
Descritores: Cuidados de Enfermagem; Parto; Trabalho de Parto; Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
O parto representa um acontecimento transcendental na vida das mulheres e
o tipo de atenção prestada pelos profissionais tem efeitos importantes, tanto físicos
quanto emocionais, em curto e a longo prazo (OPAS, 2013). Além disso, o parto
107
também constitui uma fase cercada de dúvidas e insegurança (ALVES, 2007),
especialmente quando se tratam de mulheres primíparas, ou seja, mulheres que
vivenciam o parto pela primeira vez, pelo fato de estarem passando por uma
experiência que até então era desconhecida.
Nesse contexto, os profissionais de enfermagem desempenham um papel
fundamental no cuidado a essas mulheres, devendo prestar orientações, esclarecer
dúvidas, bem como acolher e auxiliar no processo parturitivo (MERIGHI;
CARVALHO; SULETRONI, 2007). O cuidado de enfermagem é compreendido no
sentido de acolher o ser humano como um ser único, envolvendo este em um
cuidado integral, humanizado e diferenciado, colocando-o no centro da atenção.
Sendo assim, o enfermeiro deve oferecer informações amplas e detalhadas,
garantir o bem-estar físico e emocional, mostrar-se disponível, demonstrar
compreensão, apoio e respeito, para poder contribuir decisivamente para uma
experiência positiva no parto (OPAS, 2013). O cuidado de enfermagem também
deve envolver a elucidação sobre as práticas cabíveis em cada caso, as condutas
prejudiciais e ineficazes e uma escuta atenta e sensível, com vistas a auxiliar à
parturiente nesse processo (FRELLO; CARRARO; BERNARDI, 2011).
No entanto, com a hospitalização do parto, esses cuidados acabaram
ocupando
um
segundo
plano,
prevalecendo
o
abuso
de
intervenções
desnecessárias com a perda do protagonismo da mulher (FREIRE et al, 2011). Além
disso, o contexto atual tem revelado lacunas no atendimento prestado às mulheres
durante o partejar.
A parturiente está cada vez mais longe de ser a personagem principal na
cena do parto, uma vez que se sente insegura, amedrontada e, muitas vezes, se
submete a ordens sem ao menos compreender o que está acontecendo. Assim, ao
invés da mulher ser a protagonista desse evento, esta passa a mera espectadora
(BRASI, 2001).
Nesse modelo de atenção ao parto, prevalece o uso rotineiro e inadequado de
técnicas, como tricotomia, enema (enteroclisma), episiotomia, medicalização e o alto
índice de partos cesáreos. Procedimentos esses, que são realizados de forma
108
indevida, sem justificativas plausíveis e, muitas vezes, sem a conscientização e
consentimento da parturiente, ferindo os preceitos éticos (OMS, 1996; BRASIL,
2001).
Nesse sentido, a vigência desse modelo de atenção à saúde excessivamente
medicalizado e tecnicista no parto, vem sendo criticado mundialmente, tendo em
vista os riscos e malefícios atribuídos ao uso indiscriminado de tais técnicas
no cuidado à mulher (GOMES; MOURA; SOUZA, 2013). Com isso e com o objetivo
de estabelecer práticas adequadas e seguras para a assistência ao parto, a
Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1996, elaborou um guia prático com
recomendações fundamentadas em evidências científicas de práticas no parto
normal.
Entre elas, estão as práticas comprovadamente benéficas que devem ser
estimuladas, métodos prejudiciais ou ineficazes que devem ser eliminados,
procedimentos que não possuem evidências científicas que apoiem sua prática e
que, portanto, devem ser utilizadas com cautela até que sejam realizadas novas
pesquisas e, por fim, condutas frequentemente utilizadas de modo inadequado
(OMS,1996).
Nesse intuito, o Ministério da Saúde (MS) passou a incorporar essas práticas
criadas pela OMS em programas de atenção em saúde voltadas para o processo de
parturição. Entre esses, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento
(PHPN), cujo objetivo principal é reorganizar a assistência, vinculando formalmente
todo o ciclo gravídico-puerperal, ampliando o acesso das mulheres e garantindo a
qualidade da assistência (BRASIL, 2001).
O cuidado prestado à parturiente deve ir ao encontro de práticas
humanizadas que atendam as reais necessidades desse público, incluindo a
presença de um acompanhante como um suporte emocional, a qualidade na relação
entre os profissionais e as mulheres, o fornecimento de informações durante a
assistência, a maior participação das mulheres no controle decisório sobre os
cuidados que envolvem seu corpo e, uma assistência voltada à mulher e sua família,
109
visando à humanização da atenção ao parto e condições seguras no parto e
nascimento (VELHO, 2012).
Sendo assim, é necessário o envolvimento e a sensibilização dos
profissionais de saúde, especialmente a enfermagem, como mediadores na
mudança das rotinas institucionais, com vistas ao atendimento das necessidades da
mulher e de sua família, propiciando um ambiente favorável às condutas educativas
e humanizadas baseadas no diálogo, acolhimento e da comunicação com a
parturiente (FRELLO; CARRARO; BERNARDI, 2011; MATOS et al, 2013).
Desse modo, a questão que norteou este estudo foi “como foi a vivência de
puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado no
trabalho de parto e parto em uma instituição hospitalar do interior do Estado do Rio
Grande do Sul?”.
2. OBJETIVO
Conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de
enfermagem prestado no trabalho de parto e parto.
3. METODOLOGIA
Desenvolveu-se um estudo de abordagem qualitativa com enfoque descritivoexploratório. O cenário para realização do presente estudo foi a unidade da
maternidade de um hospital localizado no interior do Estado do Rio Grande do Sul e
teve como participantes dez puérperas primíparas.
Elencaram-se como critérios de inclusão, puérperas primíparas que
realizaram parto vaginal nesta instituição e que estivessem internadas na
maternidade no período da coleta de dados; que apresentassem condições
psíquico-cognitivas para participar do estudo; puérperas primíparas que foram
submetidas ao parto com idade gestacional equivalente a termo e com recémnascidos vivos. Entre os critérios de exclusão, puérperas primíparas que tiveram o
parto em outra instituição ou domiciliar.
110
A coleta de dados foi realizada, nos meses de fevereiro, março e abril de
2014, por meio de entrevista individual semiestruturada, gravada em MP3 e, após,
transcrita na íntegra. Os dados foram analisados por meio da proposta operativa de
Minayo (2010).
Os cuidados éticos foram observados, conforme os preceitos estabelecidos
na Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional da Saúde, que estabelece
parâmetros para pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL, 2012). Este
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da UFSM, em 14 de janeiro
de 2014, sob o número do processo CAEE 26452313.8.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As participantes do estudo constituíram-se de dez puérperas primíparas, que
se situavam na faixa etária entre 15 a 29 anos de idade. A maioria das mulheres
vivia com o companheiro em regime de união consensual. O nível de escolaridade
predominante foi ensino médio completo. A maioria informou ter renda familiar igual
a um salário mínimo, sendo que a maior parte trabalhava no comércio lojista. O
tempo de permanência em trabalho de parto, após admissão na maternidade, variou
entre 1 hora e 30 minutos a 13 horas.
Em relação aos cuidados prestados no trabalho de parto e no parto, em mais
da metade das participantes foi indicado algum tipo de método não farmacológico
para alívio da dor, prevalecendo a caminhada e o banho morno. A maioria teve a
presença de um acompanhante no trabalho de parto, parto e período pós-parto.
Ainda, prevaleceu o uso de medicamentos para indução no parto como ocitocina e a
prática de procedimentos como tricotomia, enema e episiotomia.
Concernente aos resultados encontrados neste estudo, destaca-se que a
enfermagem assume grande importância na prestação de cuidado à parturiente e
aos familiares envolvidos nesse evento. Sendo assim, práticas humanizadas no
parto, como a presença do acompanhante, consistem em um direito garantido por lei
e de livre escolha da parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e
111
pós-parto imediato, nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), rede
própria ou conveniada (BRASIL, 2005).
Nesse sentido, é necessário que as mulheres conheçam tanto a importância
do papel do acompanhante, assim como, sentirem-se livres para a escolha desse
(OPAS, 2013). No momento do parto, o acompanhante vive essa experiência
juntamente com a parturiente. Sendo esta experiência cercada de alegria pelo
companheiro ou qualquer outra pessoa que possui vínculo afetivo com a mulher,
pelo fato de participar dos primeiros minutos de vida do recém-nascido.
Ainda, no mesmo sentido, ao que se referem às boas práticas no parto, os
cuidados não farmacológicos tornam-se uma opção adequada, capaz de diminuir a
dor e substituir, na medida do possível, a medicalização e intervenções durante o
trabalho de parto e parto. A dor no parto pode ser interpretada de diferentes formas
pelas mulheres, sendo influenciada por fatores, como cultura, historia familiar,
ansiedade, medo.
Assim, uma importante contribuição que a equipe de saúde pode garantir à
parturiente é a promoção de condições para que esta possa suportar a dor e o
desconforto gerado pelas contrações uterinas durante o processo da parturição
(BARBIERI et al, 2013). Nesse sentido, os métodos não farmacológicos são
essenciais e devem ser incentivados, por representarem alternativas seguras e
acarretarem em menores intervenções. Os cuidados não farmacológicos para alívio
da dor no parto representam também uma prática necessária nos dias atuais, devido
aos altos índices de intervenções que, na maioria das vezes, são desnecessárias
(SESCATO; SOUZA; WALL, 2008).
Ainda, percebe-se nos resultados encontrados nesse estudo, que práticas
rotineiras e desnecessárias continuam sendo implementadas nas maternidades,
mesmo diante de estudos que apontam que tais práticas são obsoletas e que
precisam ser reformuladas nos serviços de saúde. Desse modo, procedimentos
como enema, tricotomia e episiotomia são realizados de forma indevida, rotineira,
sem justificativas plausíveis e, muitas vezes, sem a conscientização e consentimento
da parturiente (OMS, 1996; BRASIL, 2001; SEIBERT et al, 2005).
112
Além disso, destaca-se que estes procedimentos aumentam a dor durante o
trabalho de parto, a carga de trabalho da equipe, os custos e tem pouca
probabilidade de proporcionar benefícios maternos ou neonatais. Portanto, seu uso
sistemático não é recomendado e deve ser desestimulado nas maternidades (OPAS,
2013). No processo de nascimento atual, o uso de tecnologias e o crescente número
de intervenções não favorecem a evolução fisiológica do parto. Esses recursos só
devem ser utilizados quando há real necessidade e, portanto, a banalização das
intervenções deve ser evitada (FRELO; CARRARO; BERNARDI, 2010).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Práticas de cuidado que favorecem e respeitam a fisiologia do parto, como o
uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor, bem como práticas que se
aproximam dos pressupostos das políticas de humanização do parto, como a
presença do acompanhante no parto, são consideradas boas práticas de cuidado.
Visto que respeitam as expectativas, necessidades e desejos das mulheres, sendo
percebidas de forma positiva pelas protagonistas desse evento e, portanto, devem
ser estimuladas nas maternidades de forma continuada.
De modo contrário, práticas de cuidado desenvolvidas de maneira
desnecessária e sem evidências científicas, como a realização de tricotomia e
enema, precisam ser repensadas quanto a sua utilização rotineira, da mesma forma
como o uso indevido e desnecessário de ocitocina exógena e a prática da
episiotomia em partos vaginais que progridam normalmente.
A literatura tem demonstrado que tais práticas não acarretam em melhorias e
necessitam ser reconsideradas, de modo a serem usadas a partir das necessidades
individuais de cada mulher, levando em consideração a usuária, dona do seu corpo,
do direito da escolha, pautada no esclarecimento e diálogo com os profissionais, os
quais devem esclarecer os benefícios e riscos de cada intervenção e em que
momento essas se tornam necessárias ou não.
113
REFERÊNCIAS
ALVES, A.M.; Et al. A enfermagem e puérperas primigestas: desvendando o
processo de transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem, v. 12, n. 4, p. 41627, 2007.
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suíça e dor no trabalho de parto. Acta Paulista de Enfermagem, v.26, n. 5, p.47884, 2013.
BRASIL. Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei no 8.080, de 19 de
setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de
acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do
Sistema Único de Saúde - SUS. Diário Oficial. Brasília; 2005.
Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da
Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília:
Ministério da Saúde, 2001.
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MERIGHI, M.A.B.; CARVALHO, G.M.; SULETRONI, V.P. O processo de parto e
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MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo: Hucitec, 2010.
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prático. Relatório de um grupo técnico. Genebra: OMS; 1996.
114
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Publicaciones. Guia de prática clínica sobre cuidados com o parto normal.
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Cogitare Enfermagem, v. 13, n. 4, p. 585-90, 2008.
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percepção de mulheres. Texto & Contexto - Enfermagem, v. 21, n. 2, pp. 458-66,
2012.
115
10.2) GRUPO FOCAL COMO TÉCNICA DE PRODUÇÃO DE DADOS
QUALITATIVOS: A EXPERIÊNCIA COM MULHERES QUILOMBOLAS1
PRATES, Lisie Alende2;
CREMONESE, Luiza 3;
BORTOLI, Cleunir de Fátima Candido de4;
ASTARITA, Kelen de Barcelos5;
ALVES, Camila Neumaier6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
Objetivo: refletir sobre a experiência de utilização do grupo focal como técnica de
produção de dados qualitativos em um estudo com mulheres quilombolas. Método:
estudo de campo qualitativo descritivo, desenvolvido com treze mulheres de uma
comunidade quilombola, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul.
Resultados: a técnica de grupo focal proporcionou um clima agradável e de
integração entre as participantes e os pesquisadores. As mulheres puderam
manifestar seus sentimentos, opiniões, saberes e experiências. Considera-se que,
com a técnica, as participantes sentiram-se valorizadas e ouvidas em todas as suas
necessidades, particularidades e singularidades. Conclusão: a técnica constituiu-se
1
Trabalho oriundo da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), intitulado “O olhar feminino
sobre o cuidado à saúde da mulher quilombola”.
2
Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Pós-graduanda do Curso de Especialização em
Enfermagem em cuidado pré-natal pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de
Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
3
Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET).
Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
4
Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado,
Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
5
Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do PET. Integrante do Grupo de Pesquisa
em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
6
Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pós-graduanda do
Curso de Especialização em Enfermagem em cuidado pré-natal pela UNIFESP. Integrante do Grupo
de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
7
Doutora em Enfermagem. Professora do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da
UFSM. Tutora do PET Enfermagem da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e
Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
116
em uma estratégia de intervenção, que propiciou o debate, a reflexão e a
transformação do contexto de vida dos sujeitos, contribuindo não só cientificamente,
mas também social e politicamente com a população estudada.
ABSTRACT
Objective: reflect on the experience of use of the focal group technique of production
of qualitative data in a study with quilombola women. Method: descriptive qualitative
field study, developed with thirteen women in a maroon community, located within the
State of Rio Grande do Sul. Results: the focal group technique provided a pleasant
climate and integration among the participants and researchers. Women were able to
express their feelings, opinions, knowledge and experiences. It is considered that,
with the technique, the participants felt valued and heard in all their needs,
particularities and singularities. Conclusion: the technique consisted in an
intervention strategy, that prompted the debate, reflection and transformation of life
context of the subjects, contributing not only scientifically but also socially and
politically with the population studied.
Eixo Temático: eixo 1 – Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: enfermagem; saúde da mulher; grupo com ancestrais do continente
africano.
1. INTRODUÇÃO
Apesar do grande progresso e da ampliação da assistência à saúde da
mulher, trazidos pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, fazse necessário questionar a real implementação dos princípios e diretrizes
estabelecidos por esta Política, visto que ainda persistem lacunas no atendimento a
alguns grupos populacionais, tais como as mulheres negras, as quais representam
um grupo extremamente vulnerável a várias doenças e agravos.
Nesse contexto, o universo feminino negro vivencia desigualdades no acesso
117
aos serviços de saúde frente a um racismo velado de instituições e profissionais de
saúde. Ao longo da história, a mulher negra foi discriminada na sociedade brasileira,
devido ao seu gênero, sua raça e condição financeira (RISCADO; OLIVEIRA;
BRITO, 2010). Ademais, quando estas mulheres pertencem a grupos populacionais
minoritários, localizados em regiões de difícil acesso aos serviços de saúde, como
as
comunidades
quilombolas,
as
iniquidades
intensificam-se,
revelando
a
complexidade e a gravidade das condições de saúde desses sujeitos (BRASIL,
2010; BEZERRA et al, 2014).
As comunidades quilombolas consistem em grupos étnico-raciais, com
presunção de ancestralidade negra, dotados de relações territoriais específicas.
Estas comunidades situam-se em quase todos os estados do Brasil e, nestas, a
cultura foi perpetuada de maneira intergeracional, influenciando no cotidiano dos
indivíduos e na forma como desenvolvem os cuidados com a saúde (INCRA, 2013;
BEZERRA et al, 2014). Nestes espaços, assim como em outros, a mulher assumiu a
função de cuidadora principal da família (SCHIER; GONÇALVES; LIMA, 2003;
ANDRADE et al, 2009).
Com isso, a maior parte do conhecimento científico produzido em relação ao
cuidado envolve a mulher na perspectiva de cuidadora de familiares e demais
membros da comunidade. Em contraponto, são escassos os estudos envolvendo a
ótica da mulher enquanto cuidadoras de si, especialmente, quando estas mulheres
são quilombolas. Nesse ínterim, destaca-se também a expressiva invisibilidade da
população quilombola nos estudos acadêmicos, especialmente na área da saúde e,
consequentemente, a escassa informação sobre as condições de saúde deste grupo
(BEZERRA et al, 2014).
Assim, evidencia-se a importância de realização de estudos desenvolvidos a
partir do olhar de mulheres quilombolas em relação aos cuidados com a própria
saúde, visando subsidiar a implantação de um cuidado construído e validado por
estas (HOGA, 2004), assim como a elaboração de políticas públicas de saúde que
respondam às reais necessidades desse segmento (BRASIL, 2004).
Ressalta-se também que ao não considerar as mulheres negras quilombolas
118
nos estudos científicos, perde-se a possibilidade de torná-las visíveis aos olhos dos
próprios profissionais de saúde, contribuindo, assim para o comprometimento da
saúde desses sujeitos, ao desconsiderar que compõem um grupo com suas
particularidades
e
condições
socioculturais
específicas,
que
precisam
ser
valorizadas (XAVIER, 2012).
2. OBJETIVO
Refletir sobre a experiência de utilização do grupo focal como técnica de
produção de dados qualitativos em um estudo com mulheres quilombolas.
3. METODOLOGIA
Pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, do tipo descritiva. O estudo
de campo geralmente é desenvolvido no próprio local, no qual ocorrem os
fenômenos, como em grupos ou comunidades, buscando entender profundamente
determinadas práticas, comportamentos, crenças e atitudes (GIL, 2010).
Da mesma forma, as pesquisas descritivas também tem o intuito de identificar
opiniões, atitudes e crenças grupais, além de descrever as principais características
dos sujeitos estudados (GIL, 2010). Pode-se, também, observar, registrar, analisar e
correlacionar fatos ou fenômenos existentes na comunidade, grupo ou realidade
estudada (CERVO, 2007). Optou-se pela abordagem qualitativa por considerar que
ela privilegia os valores e crenças dos indivíduos, em seus contextos históricocultural, explicando as causas, relações e consequências dos fenômenos estudados
(MINAYO, 2010).
A pesquisa foi realizada com treze mulheres, residentes em uma comunidade
quilombola do interior do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Como critérios de
inclusão no estudo, elencaram-se as mulheres quilombolas, que residiam no cenário
de estudo, com idade mínima de 12 anos (idade considerada como início da
adolescência) (BRASIL, 1990). Como critérios de exclusão estavam as mulheres
119
com limitações psicocognitivas, que as impossibilitassem de compreender e
participar do estudo.
A produção dos dados foi realizada em fevereiro de 2014, por meio da técnica
de produção dos dados denominada Grupo Focal (GF). Essa técnica permite o
aprofundamento
acerca
do
significado
de
tópicos específicos e
diretivos
determinados pelo pesquisador, assim como a manifestação de uma multiplicidade
de pontos de vista e processos emocionais, por meio da aproximação, integração e
envolvimento com grupos pequenos e homogêneos (IERVOLINO; PELICIONI, 2001;
GATTI, 2005; MINAYO, 2009).
Para operacionalizar a técnica, foi elaborado um roteiro com um guia de
temas, o qual norteou e sistematizou as questões e os objetivos de cada um dos três
encontros. Nesse sentido, no primeiro encontro, o tema foco foi o “cuidado”, na
tentativa de investigar e interpretar os símbolos, percepções e significados sobre o
cuidado; discutir a construção cultural do cuidado de cada mulher; e construir
coletivamente um conceito de cuidado.
No segundo encontro, o tema foco foi o “ser mulher quilombola: sentimentos e
práticas de cuidado”, com os objetivos de investigar a prática de cuidados de saúde
de mulheres quilombolas; e desvelar os sentimentos que emergem em relação à
condição de quilombola no seu cuidado. No terceiro e último dia de encontro, focouse nas “percepções de cuidado à mulher nos diversos contextos”, com o intuito de
identificar as percepções de cuidado que envolvem o contexto de vida das mulheres
quilombolas; e investigar como se construiu, socioculturalmente, a prática do
cuidado na comunidade quilombola.
Os encontros foram realizados em cinco momentos, os quais incluíram:
apresentação individual das participantes no primeiro encontro (nos demais
encontros, foram retomadas as ideias do último encontro); apresentação dos
objetivos do encontro; desenvolvimento de dinâmica para estimular o debate; debate
propriamente dito; e apresentação da síntese e validação coletiva do encontro.
O tempo médio de cada encontro foi de uma hora e trinta minutos, e todos
foram gravados. Complementarmente à técnica de GF, também foi utilizado o diário
120
de campo e uma entrevista semiestruturada, com cada uma das participantes, para
caracterização de dados socioculturais e de saúde.
As falas das participantes durante os encontros foram transcritas e estão
sendo analisadas a partir da proposta operativa (MINAYO, 2010). Para realização
desta técnica, inicialmente, realizou-se o conhecimento do contexto sócio histórico
do grupo de mulheres estudado. Para tanto, buscou-se compreender a história do
grupo, a comunidade, as condições socioeconômicas das participantes, a
participação e inserção na sociedade, entre outros.
A seguir, passou-se para a interpretação das falas das participantes. Essa
fase dividiu-se em duas etapas: na primeira, foi feita a ordenação dos dados, o que
envolveu a transcrição e organização dos depoimentos através de um mapa
horizontal. No presente momento, está sendo realizada a segunda fase, a qual
denomina-se classificação dos dados, e abrange a leitura horizontal e exaustiva dos
textos, a leitura transversal, a análise final e o relatório de apresentação dos
resultados.
Foram respeitados os dispositivos legais da Resolução 466/2012 (BRASIL,
2012), sendo o estudo aprovado pela Secretaria Municipal de Saúde, do município
em que foi desenvolvido o estudo, e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade
Federal
de
Santa
Maria,
sob
o
número
do
processo
25345113.7.0000.5346. As participantes maiores de 18 anos, que aceitaram
participar do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). As menores de 18 anos assinaram o Termo de Assentimento, e suas
responsáveis assinaram o TCLE.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As treze participantes do estudo apresentavam faixa etária entre os 14 e 56
anos de idade. Quanto à situação conjugal, cinco afirmaram que eram solteiras,
cinco casadas, duas possuíam relação consensual e uma era divorciada. Em relação
ao nível de escolaridade, predominou o ensino fundamental incompleto. A maior
121
parte se declarou como católica. Entre as profissões/ocupações desenvolvidas,
prevaleceram as atividades “do lar”, sendo que apenas duas realizavam atividade
remunerada na própria comunidade quilombola (atividades artesanais e trabalho na
padaria da comunidade). A renda familiar das participantes variou entre R$ 70,00 e
R$ 800,00 reais.
Reconhece-se que a coordenação de um grupo nem sempre é uma tarefa
fácil, visto que em sua composição, ele pode abranger indivíduos com inúmeras
singularidades
e
particularidades,
que
apresentam
uma
multiplicidade
de
concepções, atitudes, crenças, valores e experiências, que, geralmente, se
desvelam durante a utilização do GF (CARDOSO, DALL’AGNOL, 2011; DAMICO,
2006).
Portanto, no tocante à utilização da técnica de GF, pode-se verificar que,
inicialmente, as participantes apresentavam-se introvertidas. Entretanto, na medida
em que se desenvolviam as dinâmicas, elas começavam a interagir e manifestar
suas percepções em relação à temática proposta. Dessa forma, enquanto, no
primeiro dia, apresentavam timidez e, até mesmo, desconfiança. No segundo e
terceiro encontros, pronunciavam-se quase que ao mesmo tempo, exigindo da
moderadora e do observador do GF, uma atenção redobrada aos relatos e
manifestações.
Considera-se que o comportamento inicial das mulheres pode ser explicado
pela posição reprimida assumida pela mulher na sociedade, especialmente àquela
que vive no meio rural, que culturalmente tem como valores, a simplicidade, o
conformismo, a passividade e a obediência (RISCADO, OLIVEIRA, BRITO, 2010;
CAMBRUZZI; RUBIM, 2012). Nesse sentido, muitas vezes, estas mulheres possuem
uma trajetória marcada por uma dominação simbólica, devendo apresentar
comportamentos de submissão, subserviência ou repressão (COSTA, 2012;
GREGOLETI, MACEDO, 2011). Com isso, suas vidas, geralmente, têm como
elementos centrais basicamente o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos
(BONOMO et al, 2008).
122
Além disso, considera-se que o comportamento das mulheres também possa
estar ligado ao fato de que nunca haviam tido oportunidade de ponderar sobre as
temáticas propostas nos encontros. Logo, diante da possibilidade de refletirem e
serem ouvidas, elas necessitavam de tempo para organizar suas ideias e, portanto,
mostravam-se mais silenciosas e introvertidas.
Em relação às dinâmicas, percebeu-se que estas apresentaram boa
aceitação entre as participantes e foram ao encontro dos objetivos de cada encontro.
Destaca-se que, na operacionalização do GF, a utilização de dinâmicas visa
provocar e sustentar debates grupais, que possibilitem o intercâmbio de
conhecimentos e vivências entre os participantes (BARBOUR, 2009; RESSEL et al.,
2010; RESSEL et al., 2008). Nesse sentido, a escolha da dinâmica deve ser feita
considerando o propósito da pesquisa e deve possibilitar, entre outros aspectos, a
expressão de diferenças e semelhanças entre os participantes (GATTI, 2005).
A partir do desenvolvimento das dinâmicas e debates, as mulheres podiam se
expressar livremente, sentiam-se ouvidas e participavam como protagonistas, pois
podiam dialogar, refletir, aprender e participar da construção dos resultados do
estudo. Desse modo, considera-se que o GF ultrapassou a condição de técnica de
produção de dados qualitativos, constituindo-se em uma estratégia de intervenção,
que permitiu o debate e a reflexão das mulheres envolvidas.
Contudo, ressalta-se que, para realização da técnica, algumas adaptações
precisaram ser feitas, tendo em vista as possibilidades das participantes e do próprio
cenário de estudo. Dentre elas, destacam-se a mudança na data dos encontros
previamente agendados com as participantes; a escolha do local para realização da
técnica; a inclusão de mulheres que não fariam parte da população do estudo, mas
que se excluídas explicitamente, poderiam comprometer a participação das demais;
entre outros aspectos, que não estavam previstos, mas que foram resolvidos pelos
coordenadores da técnica com sensibilidade e flexibilidade.
Apesar destas adaptações, foi possível verificar que o GF permitiu as
mulheres momentos de interação, nos quais estas puderam manifestar seus
sentimentos, opiniões e saberes. Além disso, ao final do último encontro, foi
123
questionada a opinião das participantes quanto à metodologia, dinâmicas e debates.
Na ocasião, as mulheres relevaram-se satisfeitas em participar do estudo,
destacando que não haviam participado de nenhuma atividade semelhante na
comunidade. Ademais, considera-se que a utilização desta técnica possibilitou às
participantes a sensação de valorização e de que podiam ser ouvidas em todas as
suas necessidades e singularidades.
Diante dessas considerações, depreende-se que a utilização da técnica de
GF proporcionou um espaço integrador e de compartilhamento de concepções,
sentimentos e significados sobre o tema em foco (RESSEL et al, 2008).
Diferentemente de outras técnicas convencionais de produção dos dados, o GF
permite a reflexão dos envolvidos e a manifestação de dimensões de entendimento
pouco exploradas em outras opções metodológicas (BACKES et al, 2011).
Com isso, é uma técnica que propicia a compreensão sobre como são
construídos os contextos de vida, práticas de cuidado, ações, reações e
comportamentos diante de determinadas situações, entre outros (GATTI, 2005).
Mais do que isso, o GF auxilia no autoconhecimento, na reflexão acerca de
comportamentos, percepções, práticas e políticas sociais, na potencialização,
revisão, reformulação ou substituição de conceitos, bem como na elaboração de
novas modalidades de cuidado e de autocuidado, que podem interferir na saúde e
na qualidade de vida dos indivíduos (SEVERO, FONSECA, GOMES, 2007; RESSEL
et al, 2008; BACKES et al, 2011).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de um ambiente diferenciado, estimulante e facilitador para a
interação e o intercâmbio de ideias, a técnica de GF permitiu revelar todas as
singularidades e particularidades das participantes. Neste estudo, o GF mostrou-se
como uma técnica dinâmica, dialógica e reflexiva, que possibilitou as mulheres
reverem seus pontos de vista, práticas e ações, e também refletirem sobre as
políticas públicas de saúde que envolvem os grupos quilombolas.
124
Entretanto, destaca-se que àqueles que pretendem utilizar essa técnica em
estudos qualitativos, devem possuir criatividade para planejar e organizar os
encontros; sensibilidade, atenção e respeito para escutar todos os relatos e
manifestações do público-alvo; flexibilidade para adaptar-se às demandas e
possibilidades dos participantes; além de conhecimento da técnica e dos temas para
conduzir os encontros. Se considerados estes aspectos, o GF pode permitir a
interação, o debate e a reflexão, bem como pode auxiliar na identificação das
necessidades dos indivíduos e contribuir não só cientificamente, mas também social
e politicamente com a população estudada.
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127
11.2) SENTIMENTOS DE MULHERES QUILOMBOLAS ACERCA DE SUA
IDENTIDADE E VIDA NO QUILOMBO 1
PRATES, Lisie Alende2;
BISOGNIN, Priscila3;
POMPEU, Kelen da Costa4;
WILHELM, Laís Antunes 5;
POSSATI, Andrêssa Batista6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
Objetivo: desvelar os sentimentos que emergem, em um grupo de mulheres, em
relação à identidade quilombola e a sua vida no quilombo. Método: trata-se de uma
pesquisa qualitativa descritiva. O cenário do estudo foi uma comunidade
remanescente quilombola e as participantes foram treze mulheres residentes nesta
comunidade. Utilizou-se o grupo focal como técnica principal para a produção dos
dados. De forma complementar, foi realizada uma entrevista semiestruturada. Para
registro dos dados, utilizou-se gravadores digitais e diários de campo. Os dados
foram analisados por meio da análise de conteúdo da proposta operativa.
Resultados: foram identificados os sentimentos de felicidade e orgulho, mesclados
1
Trabalho originado da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) intitulado “O olhar feminino
sobre o cuidado à saúde da mulher quilombola”.
2
Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Pós-graduanda do Curso de Especialização em
Enfermagem em cuidado pré-natal pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de
Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
3
Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e
Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
5
Doutoranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Pós-graduanda do Curso de Especialização
em Enfermagem em cuidado pré-natal pela UNIFESP. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e
Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
6
Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET).
Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
7
Doutora em Enfermagem. Professora do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da
UFSM. Tutora do PET Enfermagem da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e
Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
128
com as sensações de impotência, frustação, insegurança e esperança. Conclusão:
espera-se que os dados produzidos possam contribuir para a reflexão da sociedade,
como também na elaboração de estratégias, que produzam transformações no
contexto de vida destas mulheres.
ABSTRACT
Objective: to unveiling the feelings that emerge, in a group of women, regarding the
quilombola identity and their life in the quilombo. Method: it is a descriptive qualitative
research. The scenario of the study was a remnant quilombola community and the
participants were thirteen women residing in this community. Focal group was used
as main technique for the production of the data. Supplementary shaped, was
conducted a semi-structured interview. To record the data, we used digital recorders
and field journals. Data were analyzed by means of the analysis of operative content
of the proposal. Results: were identified the feelings of happiness and pride, merged
with the feelings of helplessness, frustration, insecurity and hope. Conclusion: it is
expected that the data produced may contribute to the reflection of society, as well as
in the elaboration of strategies, producing transformations in the context of life of
these women.
Eixo Temático: eixo 1 – Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: enfermagem; saúde da mulher; grupo com ancestrais do continente
africano.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, historicamente, as mulheres negras sempre foram triplamente
discriminadas pelo fato de serem mulheres, serem negras e também devido a sua
condição financeira (RISCADO, OLIVEIRA, BRITO, 2010). Estas mulheres trazem,
em sua trajetória, marcas de uma construção social do que é ser mulher, como
sendo alguém subordinado, associado ao mito da inferioridade de sua raça,
129
condições que se acentuam quando estas apresentam uma situação econômica
vulnerável (FERREIRA, CAMARGO, 2011).
Nessa perspectiva, o significado de ser mulher negra abrange aspectos como
a discriminação, o racismo e o sexismo (WERNECK, 2010). Visto que as
construções históricas, sociais e culturais em torno da mulher negra têm
reproduzido, ao longo dos tempos, preconceitos e estereótipos negativos
relacionados a esta. Ademais, destaca-se que estas construções são internalizadas
nos indivíduos, desde a sua infância, a partir da socialização primária, podendo ser
capazes de interferir na identidade, personalidade e autoestima da menina-mulher
negra (BASTOS, 2010).
Por conseguinte, quando estas mulheres pertencem a grupos, tais como as
comunidades quilombolas, a história de luta e resistência de seus antepassados
também pode contribuir para a construção de identidades pessoais e coletivas entre
as mulheres negras (BASTOS, 2009). Frente ao exposto, apresenta-se nesse
trabalho um recorte da dissertação de mestrado, intitulada: “O olhar feminino sobre o
cuidado à saúde da mulher quilombola”.
2. OBJETIVO
Desvelar os sentimentos que emergem, em grupo de mulheres, em relação à
identidade quilombola e a sua vida no quilombo.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo descritiva. O cenário para
realização do estudo foi uma comunidade remanescente quilombola no interior do
Estado do Rio Grande do Sul.
As comunidades quilombolas consistem em espaços organizados por sujeitos
que, ao longo dos tempos, resistiram a exclusão social e lutaram pela liberdade e
pela vida. Mais do que isso, representa um grupo que busca pela expressão de sua
cultura, com base na ancestralidade escrava e africana (SANTOS et al, 2014).
130
As participantes do estudo foram treze mulheres quilombolas. Foram incluídas
somente as mulheres quilombolas, que residiam na comunidade supracitada, que
possuíam idade mínima de 12 anos. Destaca-se que esta faixa etária foi
determinada por representar o início da adolescência (BRASIL, 1990). Ademais, não
foi elencada uma faixa etária máxima para o estudo.
Dessa forma, buscou-se abranger entre as participantes do estudo, mulheres
que estivessem vivenciando períodos de vida entre a adolescência até a velhice.
Considera-se que ao abranger esses períodos, a pesquisa poderia permitir o
aprofundamento, a abrangência e a diversidade no processo de compressão dessa
comunidade, já que estas mulheres possuíam, ao mesmo tempo, características
homogêneas por pertencerem a um mesmo grupo e também poderiam apresentar
opiniões divergentes por se encontrarem em fases distintas de vida, enriquecendo,
assim, o estudo (DALL´AGNOL; TRENCH, 1999; RESSEL et al, 2008; MINAYO,
2010).
Por conseguinte, como critérios de exclusão, elencou-se as mulheres que
apresentavam limitações psicocognitivas, que
pudessem interferir em sua
participação na pesquisa. Destaca-se que, a partir desse critério, foi identificado que
uma participante não poderia compor a população de estudo. Entretanto, permitiu-se
sua presença, durante o período de produção de dados, pois esta pouco
comunicava-se e as vezes que o fez foram desconsideradas durante o processo de
análise dos dados.
Como técnica principal para produção dos dados foi utilizado o Grupo Focal
(GF). Complementarmente, foi realizada uma entrevista semiestruturada para
caracterização dos dados socioculturais e de saúde e, por fim, para registro dos
dados foram utilizados, além de gravadores digitais, diários de campo.
Foram desenvolvidos três encontros, utilizando a técnica de GF, sendo que
estes ocorreram durante o mês de fevereiro de 2014. Cada encontro foi planejado a
partir de uma temática específica e, para incitar o debate sobre a mesma, foram
propostas algumas dinâmicas. Sendo assim, no primeiro encontro, foram debatidas
questões vinculadas aos cuidados na saúde da mulher. No segundo, foram
131
discutidos os sentimentos relacionados ao ser mulher quilombola e viver em uma
comunidade quilombola, e no terceiro encontro discutiu-se as percepções das
participantes sobre o cuidado à mulher, em diferentes contextos.
Os dados produzidos no estudo estão sendo analisadas por meio da análise de
conteúdo temática da proposta operativa (MINAYO, 2010). Assim, ressalta-se que
este trabalho foi construído a partir das primeiras análises acerca dos dados
produzidos no segundo encontro.
Frente a isso, destaca-se que o segundo encontro do GF foi desenvolvido em
cinco etapas: 1) revisão acerca dos principais pontos discutidos no primeiro
encontro; 2) apresentação dos objetivos do segundo encontro; 3) desenvolvimento
de dinâmica para estimular o debate; 4) debate e; 5) apresentação da síntese e
validação coletiva do encontro.
Assim, o objetivo do segundo encontro foi desvelar os sentimentos que
emergem, entre as participantes, em relação à condição de quilombola. Para tanto,
foi proposta a realização da técnica de desenho,
a partir do seguinte
questionamento: “Como você se sente mulher quilombola vivendo nessa
comunidade?”. Após a realização da técnica, as participantes apresentaram seus
desenhos e expressaram a partir de demonstrações verbais ou não verbais como se
sentiam enquanto quilombolas e como se sentiam vivendo na comunidade.
Alguns trechos das falas das participantes foram extraídos, a fim de
exemplificar os depoimentos mais significativos e evidenciar as interpretações feitas.
Para identificar as participantes, utilizou-se o sistema alfanumérico na sequência, por
meio da letra “Q” (de quilombola), seguida de um número, ou seja, Q1, Q2, Q3, e
assim, sucessivamente.
Além do anonimato das participantes, foram respeitados os demais aspectos
éticos, a que se refere à Resolução Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de
Saúde do Brasil (BRASIL, 2012). Também ressalta-se que o estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Universidade Federal de Santa Maria, sob o
número do processo 25345113.7.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
132
Mediante a apresentação dos desenhos produzidos pelas participantes, foram
identificados os sentimentos de felicidade e orgulho, mesclados com as sensações
de impotência, frustação, insegurança e esperança. O sentimento de felicidade
emanou em várias respostas, visto que as mulheres relataram que se sentiam felizes
por sua identidade ou por viver no local, como confirmam as falas a seguir.
“Eu sou muito feliz aqui”. (Q1).
“Me sinto feliz. [...]. Agradeço a Deus, por a gente tá aqui. Aqui é bom”. (Q2)
“Eu sou feliz aqui nos quilombos. Agradeço a Deus por morar aqui, com
minha família”. (Q3).
“Aqui [no desenho] é eu, feliz [...]”. (Q4)
“Sou feliz sendo uma mulher quilombola. Muito feliz”. (Q5)
Estas falas demonstram que “ser quilombola” e viver neste espaço possui um
significado positivo. Dentro dessa mesma perspectiva, em seu estudo, Santos e
Chaves (2007) também identificaram representações positivas acerca da identidade
quilombola e da vida na comunidade.
Os mesmos autores ainda destacaram que os participantes de seu estudo
consideravam a comunidade como um lugar maravilhoso e tranquilo, onde conviviam
com seus familiares e a união manifestava-se em todas as relações interpessoais.
Destaca-se que as mesmas características foram observadas nas falas das
mulheres quilombolas do presente estudo.
“Eu gosto da comunidade, porque aqui todo mundo é parente”. (Q6)
“Aqui a gente não se sente isolada, porque a gente tem uns aos outros, a
gente tá bem pertinho sempre um do outro”. (Q7)
Ser quilombola, para as participantes, também foi associado ao sentimento de
orgulho. A partir dos depoimentos, foi possível verificar que as mulheres têm
consciência do que é pertencer a este grupo, como se observa a seguir.
“Eu acho que aqui, para nós, é um orgulho. Eu me sinto orgulhosa”. (Q8)
“Gosto de ser dos quilombolas”. (Q3)
133
Foi possível perceber que ser quilombola possui um significado especial na
trajetória dessas mulheres, e isto se justifica pelo fato de que o quilombo representa
a liberdade conquistada pelos antepassados (FREITAS et al, 2011). Assim, o termo
“quilombo” pode ser entendido como uma das formas encontradas pelos escravos
para resistir à escravidão e à opressão, representando, atualmente, a luta pela
desigualdade racial, preconceito e discriminação (SOUZA, GUSMÃO, 2011).
O sentimento de orgulho também foi manifestado no estudo de Santos e
Chaves (2007), no qual os participantes vincularam este sentimento à raça negra e o
lugar onde moravam. No estudo de Santos et al (2014), a identidade quilombola
também foi destacada com orgulho.
Em relação à comunidade, destaca-se que as participantes do presente
estudo ainda referiram o orgulho pelo reconhecimento do local, visto que sabiam que
outras localidades ainda não haviam recebido a titulação e o reconhecimento como
comunidade quilombola. Tal aspecto gerava muita satisfação entre as entrevistadas.
De maneira geral, foi possível constatar que os sentimentos positivos em
relação à identidade e à vida na comunidade predominaram sobre os negativos.
Entretanto, uma das participantes desvelou alguns aspectos negativos em relação à
vida na comunidade. Ela declarou-se como feliz e orgulhosa por sua identidade
quilombola, porém, afirmou que a localização da comunidade acarretava em
diversas dificuldades, dentre as quais, predominava as queixas em relação ao difícil
acesso à saúde e educação, assim como, falta de oportunidades de emprego.
Frente a esse contexto, desvelaram-se as sensações de impotência,
frustação e insegurança. Estas sensações associaram-se, principalmente, à
ausência de perspectivas para o futuro, à falta de oportunidades, à inexistência de
capacitações/cursos de aperfeiçoamento voltados para a população quilombola,
entre outros.
Dessa forma, uma das mulheres manifestou como acreditava que,
principalmente, as jovens sentiam-se frente a essas problemáticas:
“[...] Ela não tem o sonho de dizer assim: ‘daqui um ano, eu vou montar a
minha casa, vou sair da casa dos meus pais’. [...] Ela não vai poder fazer isso.” (Q7)
134
Diante disso, a solução encontrada pela maioria dos jovens quilombolas é
abandonar a comunidade em busca de oportunidades na zona urbana, conforme
declara a participante.
“Muitos jovens a gente tá perdendo daqui, porque tão indo para lá [zona
urbana]. E aí, a comunidade vai terminando, né?”. (Q1)
Corroborando com isso, Santos e Chaves (2007) também identificaram que
os jovens participantes de seu estudo preocupavam-se com o futuro, visto que
apresentavam poucas oportunidades de emprego e de profissionalização dentro da
comunidade. Para modificar essa situação, estes jovens também se afastaram do
quilombo.
As mulheres que não optam por esta alternativa, passam a depender dos pais
ou do companheiro e não têm expectativas positivas quanto ao futuro. Além disso,
uma das participantes que fez considerações negativas a respeito da vida no
quilombo justificou sua percepção:
“Eu acho que deixa um pouco a gente, sei lá... não sei como explicar...
desanimada também. Porque, tipo, tu passa o dia inteiro ali, tu, se tu tem outras
coisas para ti fazer, tu faz, tu para, depois tu não tem mais o que fazer. [...] Eu
mesmo, ali em casa, eu não nego, eu fico, vou na casa da minha vó, vou na casa da
minha mãe, vou na casa dela. [risos] Eu passo o dia inteiro assim. Então, isso te
deixa um pouco desanimada, sabe? Porque tu pensa assim: ‘ah, tô perdendo
praticamente um tempo que tu poderia tá praticamente fazendo uma coisa útil para a
tua vida, né?’”. (Q9)
Apesar disso, ainda foi possível constatar, em algumas participantes, o
sentimento de esperança, movido pela fé de um amanhã, que possa ser melhor.
“Tudo vai melhorar para nós todos, se Deus quiser. Eu tenho certeza disso”.
(Q10)
Nesse sentido, apesar das adversidades enfrentadas no presente, as
mulheres ainda acreditam que, no futuro, suas condições de vida podem melhorar e
procuram despertar essa esperança nos jovens.
135
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a identidade quilombola desvela-se, entre as mulheres, como
algo especial, que gera sentimentos positivos, entre eles, o orgulho por pertencer a
este grupo e viver em uma comunidade quilombola. Considera-se que os
sentimentos manifestados são influenciados por fatores psicológicos, sociais e
culturais construídos historicamente nesta comunidade.
Em contraponto, as condições adversas de vida, manifestadas pelas
mulheres, também apontaram sensações negativas, como a frustação, insegurança
e impotência. Diante disso, a fé e a religião sobressaem como estratégias para
auxiliar as mulheres a superarem os obstáculos encontrados.
Frente aos resultados encontrados, neste estudo, percebe-se a importância
de dar voz, ouvir e divulgar a percepção destas mulheres que, historicamente, não
tiveram chance para tal. Com isso, espera-se que os dados produzidos possam
contribuir para a reflexão da sociedade, como também na elaboração de estratégias,
que produzam transformações no contexto de vida destas mulheres.
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12.2) MELHORIA DA ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO NA UNIDADE
BÁSICA DE SAÚDE NEWTON AZEVEDO, MUNICIPIO DE RIO GRANDE-RS
Olívia Wyse Faria1
Daniela Alves Pereira Coutinho
2
Eixo temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Saúde da Família; Saúde da Mulher; Cuidado Pré-natal; Período Pósparto.
1. INTRODUÇÃO
Conforme Ministério da Saúde (BRASIL, 2006), o principal objetivo da
atenção pré-natal e puerperal é acolher a mulher desde o início da gravidez,
assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e o bemestar materno e neonatal.
Uma atenção pré-natal e puerperal qualificada e
humanizada requer condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias; fácil
acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações em todos os níveis da
atenção. Essa ação programática é importante a fim de diminuir a mortalidade
materna por causas obstétricas e prevenir doenças durante a gestação. No contexto
da Atenção Primária à Saúde, pensar no pré-natal como uma ação programática
prioritária é fundamental, tendo em vista a proximidade deste nível de atenção com a
comunidade, além da possibilidade de abordagem integral e resolutiva. A escolha da
intervenção com foco no pré-natal e puerpério deveu-se ao aumento do número de
gestantes na área e à necessidade de ampliar a cobertura, com garantia da
qualidade do acompanhamento prestado.
2. OBJETIVO
138
2.1. OBJETIVO GERAL
Melhorar a atenção ao pré-natal e puerpério no Centro de Saúde Newton
Azevedo.
2.2.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Ampliar a cobertura do pré-natal na área de abrangência da unidade,
favorecer a adesão das gestantes ao programa de pré-natal e puerpério, melhorar a
qualidade do acompanhamento prestado, realizar mapeamento das gestantes de
risco, melhorar a qualidade dos registros e promover a saúde no pré-natal.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho se trata de uma intervenção desenvolvida nos meses de
outubro de 2013 a janeiro de 2014, como uma das unidades do curso de
especialização em Saúde da Família modalidade à distância da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel) /Universidade Aberta do SUS (UNASUS), com a
participação das gestantes e puérperas pertencentes à área de abrangência do
Centro de Saúde Newton Azevedo, cadastradas na unidade. Para nortear a
organização do programa de pré-natal e puerpério na unidade, a intervenção
baseou-se no Protocolo de atenção à Saúde da Mulher, criado em 2007, no
município de Rio Grande. Para sistematização dos registros, avaliação e
monitoramento das ações, utilizou-se fichas-espelho e planilha eletrônica de coleta
de dados. Foram planejadas ações em quatro eixos – Organização e Gestão do
Serviço, Avaliação e Monitoramento, Engajamento Público e Qualificação da Prática
Clínica. As ações desenvolvidas na intervenção já faziam parte da ação
programática "pré-natal e puerpério" desenvolvida na unidade, sendo que a
intervenção buscou sistematizá-las e qualificar o processo de trabalho. Assim, sendo
ações que fazem parte da rotina do serviço e sendo uma ação típica da equipe, os
dados foram coletados apenas com finalidade de organização, monitoramento e
139
avaliação do próprio serviço. Trabalhou-se basicamente com a sistematização de
ações de rotina, não sendo necessária, portanto, aprovação por comitê de ética.
Ainda assim, há um projeto que cobre as questões éticas dos projetos de
intervenção relacionadas com o curso da UFPel/UNASUS.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao final de quatro meses, a cobertura do pré-natal foi ampliada de 3,2% (13
gestantes) para 15, 2% (61 gestantes), atingindo a meta estimada inicialmente para
esse período. Para alcançarmos esse resultado, tivemos a colaboração de toda a
equipe da unidade de saúde, desde a recepcionista, que agendava as primeiras
consultas; técnicos de enfermagem, que realizaram as orientações necessárias a
esse grupo; dentista, que participava tanto na orientação à equipe como também às
gestantes, além de realizar o tratamento das doenças bucais; médicos clínicos
gerais, que nos auxiliaram várias vezes em tratamentos e encaminhamentos das
gestantes aos hospitais; obstetra, que, sempre otimista, realizava suas consultas e
colaborava ativamente; e também pela motivação da gestão, que sempre depositou
confiança na equipe e nos forneceu materiais necessários para atuarmos. Houve
melhoria significativa na qualidade do acompanhamento das gestantes e puérperas,
incluindo a adesão das usuárias ao programa, adequação e melhora nos registros
(100%). Foram encontrados inicialmente alguns obstáculos visto que não tínhamos o
hábito da realização dos registros de enfermagem. Como enfermeiras, realizávamos
os sinais vitais da gestante, registrávamos no SIASUS e na folha de evolução e o
médico realizava o restante. Na verdade, não existia o trabalho em equipe. Hoje,
conseguimos trabalhar em conjunto, organizando nossos registros e deixando mais
completos possíveis. Começamos a utilizar também um caderno para o registro das
imunizações realizadas. A princípio, das quarenta e oito gestantes, dezessete
(35,4%) tiveram os registros em dia. Muitas vezes, tivemos que entrar em contato
telefônico para nos fornecerem as informações que faltavam nos prontuários e
outras fomos registrando conforme as consultas. No mês seguinte, das quarenta e
140
cinco, para três houve pendência nos registros em ficha-espelho, e no terceiro mês,
uma delas estavam sem registros adequados. No último mês, conseguimos
completar o registro de todas as gestantes acompanhadas, chegando a 100%.
Durante a intervenção, realizamos os acompanhamentos das fichas-espelho das
gestantes avaliando o número de atualizações como os registros de batimentos
cardíacos fetais (BCF), altura uterina, pressão arterial, vacinas, medicamentos e
exames laboratoriais assim como os registros das vacinas. Esclarecemos a todas as
gestantes sobre o seu direito de manutenção dos registros de saúde no serviço,
inclusive sobre a possibilidade de solicitação de segunda via se necessário. Em
relação à ficha-espelho da carteira da gestante, essa não foi implantada devido à
falta de carteiras no município. Todos os registros das gestantes (ficha-espelho e
folha de evolução) são agrupadas em um arquivo somente para as gestantes e
puérperas separados por letra e mantidas durante esse período atualizadas e de
fácil acesso para os profissionais. Também, foi realizado o mapeamento das
gestantes de risco (100%). Felizmente, tivemos poucas com alto risco gestacional.
Antes da intervenção, realizávamos o registro nas folhas de evolução e com a
implantação das fichas-espelho ficou mais fácil a identificação das gestantes de alto
risco, pois realizávamos sinalizações em vermelho e também o motivo dessa
classificação. Em cada trimestre, revisamos a ficha-espelho e de evolução para
verificar se estava sendo realizada a avaliação do risco gestacional, assim nos
organizamos mais e mantemos os registros atuais. No final tínhamos somente 05
gestantes de alto risco e todas as consultas foram realizadas na unidade pelo
obstetra. Procuramos nesse período manter um bom vínculo e sempre tivemos o
acesso facilitado com o hospital de referência e todas as gestantes que
encaminhamos, realizamos contato telefônico para facilitar o processo de trabalho
(uma de alto risco e as outras em trabalho de parto). Ainda, foi realizada a promoção
da saúde no pré-natal (100%), solicitação de exames de rotina e atualização de
vacinas (100%), ampliação da cobertura da primeira consulta odontológica, com
plano de tratamento para 47,5%, realização da busca ativa para as gestantes
faltosas as consultas de pré-natal e odontológicas (100%).
141
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As principais dificuldades vivenciadas foram o caráter misto da unidade, que
também atua como Pronto Atendimento (PA), a falta de Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) e a inexistência de um espaço próprio na unidade para a realização de
atividades educativas coletivas. Por outro lado, contamos com apoio da gestão,
motivação dos profissionais envolvidos e reconhecimento da comunidade pelo
trabalho que estava sendo desenvolvido. Alguns avanços foram muito significativos,
como a ampliação dos turnos de atendimento pré-natal e a expansão de algumas
ações incorporadas na rotina de pré-natal para o cuidado a outros grupos assistidos
na unidade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual técnico Pré-natal e puerpério Atenção qualificada e humanizada. 3. ed. Brasília-DF: Caderno número 5,
2006.163p
142
13.2) A IMPORTÂNCIA DO COMPANHEIRO DURANTE O PROCESSO
GESTACIONAL 1
CREMONESE, Luiza 2;
MARTELLO, Naiashy Vanuzzi 3 ;
WILHELM, Laís Antunes 4;
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta5;
BISOGNIN, Priscila6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
RESUMO
O presente estudo trata-se de um recorte de uma pesquisa intitulada “A participação
do companheiro na gestação: percepções de gestantes”. Objetiva-se apresentar a
importância do companheiro durante o processo gestacional. É caracterizado como
uma pesquisa de campo do tipo descritiva com abordagem qualitativa. A coleta de
dados se deu por meio uso da técnica de entrevista semiestruturada e a análise dos
mesmos foi feita através da análise de conteúdo temática de Minayo. Os resultados
apontam que a gestação é um evento fisiológico, porém envolve uma infinidade de
sentimos, que são vivenciados de maneira distinta pelas gestantes. No enfrentando
desse processo a família e principalmente o companheiro, se fazem essencial,
devendo ser estimulada a participação do segundo, uma vez que ainda possuem
ideias pré-concebidas da gestação ser uma vivencia da mulher. A participação do
companheiro durante a gestação contribui para que a mulher vivencie a mesma de
maneira positiva, promove a saúde materna, e ainda permite a aproximação e
interação pai-filho antes do nascimento. Concluiu-se a partir do estudo que a
gestação muitas vezes é desafiadora, principalmente para a mulher, fazendo com
1
Recorte do trabalho de conclusão de curso: A participação do companheiro na gestação:
percepções de gestantes.
2
Autora. Acadêmica do 8º semestre de Enfermagem. Bolsista do Programa de Educação Tutorial
(PET). Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). [email protected]
3
Coautora. Enfermeira. Residente em Enfermagem. UFSM. [email protected]
4
Coautora. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. UFSM. [email protected]
5
Coautora. Acadêmica do 7º semestre de Enfermagem. Bolsista de iniciação Científica PIBIC/CNPq.
UFSM. [email protected]
6
Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected]
7
Coautora. Doutora em Enfermagem. Docente. UFSM. [email protected]
143
que seja necessária uma rede de apoio para a mesma, sobretudo do companheiro.
O pré-natal é um momento ideal para que os profissionais de saúde ofereçam um
suporte emocional para as gestantes nesse período de transições, onde deve-se
estimular a participação do companheiro. A inclusão do companheiro durante a
gestação permite que ela seja vivenciada pela mulher de maneira mais positiva, uma
vez que se sente amparada, tranquila e segura. Desta maneira, cabe aos
profissionais de saúde promover a aproximação destes companheiros ao processo
gestacional.
ABSTRACT
The present study is a part of a study entitled "The participation of the companion in
pregnancy: perceptions of pregnant women". Aims to present the importance of
companion during the gestational process. It is characterized as a field research of
descriptive type with a qualitative approach. The data collection took place through
use of the technique of semi-structured interviews and the analysis of the data was
done through the thematic content analysis of Minayo. The results indicate that the
pregnancy is a physiological event, but involves a multitude of felt that are
experienced differently by pregnant women. In experiencing this process the family
and especially the companion, are essential, and should be encouraged to
participate in the second report, which still have preconceived ideas of pregnancy be
a experience of women. The participation of the companion during pregnancy
contributes to that women experience the same positive manner, promotes maternal
health, and still allows the approximation and interaction parent-child before birth. It
was concluded from the study that the pregnancy is often challenging, especially for
the woman, making it required a support network for the same, especially the
companion. The prenatal care is an ideal time for health professionals to provide
emotional support for pregnant women in this period of transition, where you should
stimulate the participation of the companion. The inclusion of the companion during
pregnancy allows it to be experienced by the woman more positively, a time that feels
supported, quiet and safe. In this way, health-care professionals should promote the
approximation of these companions to gestational process.
144
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Gravidez; Paternidade; Bem-Estar Materno.
1. INTRODUÇÃO
A gestação é um evento natural e fisiológico que comumente ocorre sem
intercorrências, no entanto trata-se de uma experiência repleta de desafios e
mudanças que envolvem a mulher e a sua família (STUMM, 2013). O pré-natal se
faz muito importante durante todo o período gestacional, tendo como objetivo
principal acolher e acompanhar a mulher durante esta fase caracterizada por
mudanças físicas e emocionais, vivenciada de forma distinta pelas gestantes
(BRASIL, 2001).
Apesar de a gestação ser um processo vivenciado fisicamente pela mulher,
ela necessita da participação do companheiro e demais familiares (BRASIL, 2006).
Segundo White, Small, Frederic et al. (2006) a inclusão da família é fundamental,
principalmente para que a gestante possa adquirir mais segurança e conhecimentos
para praticar o autocuidado e o cuidado ao recém-nascido. Pesamosca, Fonseca e
Gomes (2008) trazem que a mulher precisa do apoio de todas as pessoas que a
rodeiam, mas que o companheiro aparece como destaque, devendo este ser
incentivado a compartilhar com a mulher todo o processo gestacional e toda a
assistência recebida pela mesma.
Um estudo de Brito (2001) revela o quanto é importante à participação do
companheiro, desde o início da gravidez frequentando as consultas de pré-natal,
uma vez que isso contribui de forma positiva na gestação, parto, puerpério e também
no sucesso do aleitamento materno. A participação ativa do pai no ciclo gravídico
também contribui para a interação pai-filho, onde o primeiro deve ser inserido na
gravidez também para que construa vínculos de afeto e sinta-se pai antes da
chegada do novo ser, estando mais preparado para interagir com o filho logo após o
nascimento.
O relacionamento afetuoso do bebê com a mãe e/ou com o pai é fundamental
para que todos encontrem prazer e satisfação (BARBOSA, MACHADO, SOUZA et
145
al., 2010). A gestante que é apoiada pelo parceiro, torna-se mais confiante,
promovendo assim atitudes de apoio e cuidados mútuos na relação (SILVA e
BRITO, 2011). Desta maneira, conforme um estudo de Piccinini, Silva, Gonçalves et
al. (2004) entende-se que os profissionais de saúde apresentam um papel muito
importante, onde devem trabalhar para desenvolver a interação entre os serviços de
saúde, a família, e as gestantes, promovendo a participação do companheiro nas
consultas conforme preconiza o Ministério da Saúde em seu manual de atenção prénatal (BRASIL, 2012).
2. OBJETIVO
Apresentar a importância do companheiro durante o processo gestacional.
3. METODOLOGIA
Trata-se do recorte de um trabalho de conclusão de curso (MARTELLO,
2013) intitulado “A participação do companheiro na gestação: percepções de
gestantes”, apresentado ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Maria – UFSM, sendo este uma pesquisa de campo do tipo
descritiva com abordagem qualitativa.
A pesquisa teve como cenário uma Estratégia de Saúde da Família (ESF),
localizada na região leste do município de Santa Maria/RS. Os sujeitos do estudo
foram treze gestantes, que estavam realizando o pré-natal na ESF. Os critérios de
inclusão foram gestantes que realizaram acompanhamento pré-natal na ESF, que
tiveram vontade e disponibilidade para participar da pesquisa, que estivessem
convivendo com seus companheiros, e que possuíssem condições cognitivas de
participar do estudo. O critério de exclusão foram mulheres caracterizadas como
gestantes de alto risco.
A coleta de dados aconteceu entre os meses de abril e maio de 2013, por
meio do uso da técnica de entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi feita
através da análise de conteúdo temática de Minayo (2010). O projeto foi
146
implementado somente após autorização da Secretaria Municipal de Saúde do
Município de Santa Maria, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM
(CEP) CAAE: 14351413.0.0000.5346, via plataforma Brasil Online, e seguiu as
recomendações da Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, referente à pesquisa
com seres humanos (BRASIL, 1996).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A descoberta da gravidez normalmente gera diversos tipos de sentimentos,
tais como surpresa, alegria e até medo. Ela envolve também fatores como o
planejamento pessoal e o desejo, ou não, da mulher em relação à maternidade.
Quando a gestação é desejada ela contribui para a vivência de sentimentos
positivos, no entanto quando ocorre o contrário, o apoio do companheiro ou da
família se faz necessário para evitar a insegurança e o sentimento de solidão
(SHIMIZU e LIMA, 2009).
Os lugares pré-concebidos para homens e mulheres, envolvendo questões
socioculturais de gênero, influenciam a participação dos pais no período gravídico de
suas companheiras. Segundo Brito (2001), as compreensões sobre a paternidade
giram em torno de ser o pai o responsável e provedor da família. Justificando assim
as dificuldades de interação que alguns homens possuem. Eles acreditam ainda que
a gestação é um período vivenciado pela mulher e não associam os familiares neste
processo.
O conjunto de ações realizadas durante o período gestacional, deve visar um
atendimento global, individualizado, procurando qualidade e resolubilidade, além de
promover um resgate do potencial feminino na compreensão do processo de
gestação, respeitando os limites, valorizando o momento da gravidez, e
conscientizando a mulher da importância da participação ativa do companheiro no
mesmo (BRASIL, 2001). A gestação é um processo de viver tanto da mulher quanto
do homem e o envolvimento do pai no período gestacional, é importante não só
147
como apoio emocional à gestante, mas também para a criação de vínculo afetivo
com o bebê (PESAMOSCA, FONSECA e GOMES, 2008).
A participação do companheiro pode se dar durante todo o processo com
atividades relativas às gestantes, com os preparativos para a chegada do bebê, com
apoio emocional proporcionado à mãe, com busca de contato com o bebê, e
também com as preocupações e ansiedades destes pais (PICCININI, SILVA,
GONÇALVES et al., 2004). Martello (2013) também destaca o quanto é importante
para as mulheres poder contar com a presença do pai durante o período
gestacional, principalmente por que passam a ter mais tranquilidade e segurança,
além de poder compartilhar as informações referentes ao pré-natal, e a rotina nas
consultas, sendo incentivadas a realizar o acompanhamento.
Desta maneira faz-se importante orientação do homem/pai quanto ao seu
direito de acompanhar a gestante/companheira nas consultas pré-natal, no momento
do parto e pós-parto, favorecendo um maior vínculo dessa paternidade,
proporcionando a ele condições de entender as mudanças que acontecem nesse
período, atreladas ao seu papel na sociedade e na família (OLIVEIRA, FERREIRA E
SILVA et al., 2009). Neste sentido os profissionais que realizam o pré-natal precisam
estar preparados para promover a inclusão da família nas ações voltadas ao cuidado
com a gestante estando cientes da importância do acolhimento e do vínculo,
envolvendo a gestante e o companheiro, consolidando as ações de educação em
saúde neste período (STUMM, SANTOS e RESSEL, 2012).
Incluir os homens nas consultas pode ser uma maneira de colaborar com uma
melhor aceitação da gestação. A participação paterna durante todo o processo
gestacional rompe barreiras nas dificuldades de adaptação e nos cuidados ao filho e
à puérpera, contribuindo no manejo da amamentação, evitando o desmame precoce,
motivado inclusive por desconforto materno e falta de incentivo às mães (PAULA,
SARTORI e MARTINS, 2010). Quando conseguem acompanhar o crescimento e
desenvolvimento fetal, escutar o coração do nenê bater e recebem informações
sobre os cuidados com a gestante, eles se sentem corresponsáveis com o processo
gestacional (FREITAS, SILVA, COELHO et al., 2009).
148
Entende-se assim que os profissionais de saúde precisam fortalecer o
envolvimento dos homens durante o pré-natal, incluindo-os e fazendo com que
participem ativamente, fortalecendo vínculo de paternidade (FERREIRA, ALMEIDA,
BRITO et al., 2014).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo gestacional envolve muitas mudanças, entre essas, físicas,
sociais e emocionais, que refletem no comportamento e na vida da gestante e de
sua família. Muitas vezes estar frente ao nascimento de um novo membro é uma
tarefa desafiadora para quem está vivenciando este processo, principalmente para a
mulher. Neste sentido a mulher gestante precisa de uma atenção especial e de uma
rede apoio, incluindo principalmente o companheiro e familiares.
A assistência pré-natal além de acompanhar a evolução da gestação e
identificar riscos gestacionais, também é o momento ideal para acolher, escutar e
orientar as gestantes, oferecendo suporte emocional e apoio nesse período de
transições. O cuidado às gestantes deve se dar de maneira singular, e deve priorizar
o envolvimento do companheiro nas atividades de cuidado de saúde. A gestação
deve ser considerada do casal, e não somente da mulher como se tem préestabelecido.
Incluir o companheiro no cuidado à gestante facilita o entendimento do
período gestacional e preparar o casal conjuntamente, para futuramente receberem
o bebê. A participação e a inclusão do companheiro durante a gestação permite que
ela seja vivenciada pela mulher de maneira mais positiva, uma vez que se sente
amparada, tranquila e segura.
O cuidado focalizado na família, mais precisamente no companheiro, deve ser
assumido pelos enfermeiros e demais profissionais da saúde. As pessoas que
recebem nossos cuidados, neste caso, se tratando de gestantes, não podem ser
vistas como isoladas, desagregadas de sua família, pois elas são dependentes e
interligadas a uma dinâmica familiar.
149
Desta forma conclui-se que os profissionais da saúde que realizam o pré-natal
precisam deixar de focar somente no útero da gestante e no feto, entendendo que,
além disso, elas possuem sentimentos, e dinâmicas sociais e culturais envolvidos. O
companheiro deve ser instigado pelos profissionais, e principalmente pela mulher
gestante, a participar junto com ela de todo o processo gestacional. Essa
participação fará com que se sinta melhor preparado para compartilhar saberes e
cuidados com a gestante, repercutindo diretamente no bem-estar materno, fetal e na
ligação pai-filho.
REFERÊNCIAS
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2006.
152
14.2) RETRATO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO
MUNICÍPIO DO RIO GRANDE8
MATTOS, Marina Bisio9;
ACOSTA, Daniele Ferreira 10;
ACOSTA, Daiane Ferreira 11
GOMES, Vera Lúcia de Oliveira12
RESUMO
Trata-se de um estudo documental com o objetivo de apresentar a face pública da
violência doméstica contra a mulher, em Rio Grande, por meio de noticiários de um
jornal de circulação local. Para a realização do estudo foi pedida autorização verbal
ao diretor do Jornal. As matérias foram coletados, entre setembro/2013 e
janeiro/2014, diretamente dos arquivos guardados no acervo do jornal. Incluiram-se
todas as publicadas entre 2006 e 2013, cujas vítimas eram mulheres com mais de
18 anos de idade. Foram excluídas as notícias em que não constava o parentesco
do agressor com a vítima ou que deixavam dúvidas sobre a identificação da
violência doméstica contra a mulher. Percebe-se que no município a violência
doméstica contra a mulher apresenta um perfil semelhante ao restante do país. Os
casos revelam a gravidade do fenômeno e a associação de diferentes expressões
da violência. O principal agressor é o próprio parceiro íntimo, que exerce o poder por
meio da humilhação, ameaças, do cárcere privado, da agressão física e sexual.
Familiares das vítimas também são atingidas direta ou indiretamente. Diante disso,
há necessidade de uma equipe de saúde preparada e capacitada para acolher as
vítimas, uma rede de apoio coesa, para garantir a proteção e acompanhamento
dessa população. Além disso, de modo geral, suscita-se a necessidade de
problematizar as questões de gênero na sociedade com foco na igualdade e respeito
entre homens e mulheres.
9
Acadêmica de Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande(FURG). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Enfermagem, Gênero e Sociedade
GEPEGS. Email: [email protected]
10
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da
FURG.– Membro do GEPEGS. Bolsista Fapergs. Email: [email protected]
11
Acadêmica de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Pelotas. Email:
[email protected]
4
Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem da FURG. Líder do
GEPEGS. Email: [email protected]
153
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: violência doméstica contra a mulher; saúde da mulher; assistência à
saúde; equipe interdisciplinar de saúde.
ABSTRACT
This is a documentary study with the aim of presenting the public face of domestic
violence against women, in Rio Grande, through the news from a newspaper of local
circulation. To conduct the study was sought verbal permission to the director of the
Journal. The materials were collected between September / 2013 and January / 2014
directly from the files stored in the collection of the newspaper. Included is all
published between 2006 and 2013, whose victims were women over 18 years old.
The news that did not include the kinship of the perpetrator to the victim or that left no
doubt about the identification of domestic violence against women were excluded. It
is noticed that the municipality domestic violence against women shows a similar
profile to the rest of the country. The cases reveal the severity of the phenomenon
and the association of different expressions of violence. The main offender is an
intimate partner himself, who wields power through humiliation, threats of false
imprisonment, physical and sexual assault. Relatives of the victims are also affected
directly or indirectly. Therefore, there is need for a health team prepared and able to
accommodate the victims, a network of cohesive support to ensure the protection
and monitoring of this population. Moreover, in general, raises the need to
problematize gender issues in society focused on equality and respect between men
and women.
Descriptors: violence against women ; women's health ; delivery of health care ;
patient care team.
1. INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher está presente na sociedade há longo tempo.
Apresenta uma trajetória marcada pelas esferas histórico-cultural, econômica e
religiosa. O fenômeno atinge mulheres de diferentes raças, idade, escolaridade,
classe econômica, porém mantém uma característica muito semelhante. A literatura
mostra que, quando se trata da violencia doméstica contra a mulher, o principal
agressor é o parceiro íntimo. Mundialmente cerca de um terço das mulheres já
sofreu violência ou abuso sexual do namorado, marido ou companheiro (WHO,
2013).
154
Essa problemática ganhou visibilidade, no Brasil, em meados dos anos
oitenta através de protestos feministas que expressavam a conscientização da
sociedade sobre o papel da mulher, seus direitos ou espaços de atuação, bem como
sobre o descaso do poder judiciário frente a essa forma de violência. Naquela
época, foi adotado o slogan “Quem Ama não Mata” perante os assassinatos de
mulheres, geralmente, praticados por companheiros ou ex-companheiros, absolvidos
pelos tribunais com a justificativa de “legítima defesa da honra” (MEDEIROS, 2011).
Somente em 2006, com a Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha
(LMP), a violência doméstica contra a mulher foi reconhecida. Configura violência
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. Com a lei houve aumento do rigor na punição dos agressores e a
implementação de medidas protetivas de urgência à vítima (BRASIL, 2006).
A LMP é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma das três
melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres. No
entanto, sua promulgação não causou impacto significativo no número de
feminicídios no país. Antes da promulgação da LMP, ou seja, de 2001 a 2006 esse
índice foi de 5,28 por 100 mil mulheres e de 2007 a 2011 foi de 5,22, o que
representa uma redução de apenas 0,06 por cem mil mulheres. (IPEA, 2013).
No Rio Grande do Sul, em 2013, 93 mulheres perderam a vida, vitimadas por
companheiros ou ex-companheiros. Porto Alegre e Rio Grande apresentaram os
maiores índices, com 32 e 11 casos respectivamente. Já as tentativas de homicídio
somaram 241 casos (RIO GRANDE DO SUL, 2013). No mesmo ano, 402.683
gaúchas foram beneficiadas com a LMP.
Na cidade do Rio Grande estudo realizado na Delegacia Especializada
revelou a revitimização de mulheres por meio da reincidência de denúncias
realizadas pela mesma vítima. Na referida pesquisa também foi observado o
descumprimento de ordem judicial, caracterizando uma nova forma de violência
(ACOSTA, GOMES, BARLEM, 2013).
155
O ônus da violência doméstica contra a mulher se expressa por faltas ao
trabalho, perdas salariais devido a essa abstenção, além de tempo e dinheiro gastos
com divórcios, medicamentos e meios suplementares de diagnóstico, consultas de
saúde e internações (MANUEL; BARROS; CEREJO, 2008). Essas constatações
revelam a gravidade do fenômeno e incitam a necessidade de problematizá-lo entre
os diversos setores da sociedade.
Assim, não basta a existência de leis que coibam as agressões, é necessário
que os profissionais dos campos jurídicos e policiais estejam preparados para as
implementarem com eficácia. É preciso que a legislaçao seja divulgada na mídia e
que sirva de ferramenta para as mulheres romperem o ciclo da violência. Aos
profissionais da saúde cabe a identificação dos sinais e sintomas da violência, o
acolhimento das vítimas, a orientação, a escuta ativa, o acompanhamento e
encaminhamento para a rede de apoio.
Reconhecendo que os serviços de saúde constituem a porta de entrada das
mulheres vitimadas é preciso que os profissionais encarem o fenômeno, não
somente como um problema social, mas também como um problema que afeta o
processo de saúde-doença das mulheres e suas famílias. Nesse sentido, objetivase, neste trabalho, apresentar a face pública da violência doméstica contra a mulher,
em Rio Grande, por meio de noticiários de um jornal de circulação local.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo documental realizado por meio do levantamento de
casos de violência doméstica contra a mulher, noticiados no Agora, jornal de
circulação local.
Para a realização do estudo foi pedida autorização verbal ao diretor do Jornal.
As matérias foram coletados diretamente dos arquivos guardados no acervo do
jornal. Incluiram-se todas aquelas publicadas entre 2006 e 2013, cujas as vítimas
eram mulheres com mais de 18 anos de idade. Escolheu-se essa data com base na
implementação da LMP. Foram excluídas as notícias que não constavam o
156
parentesco do agressor com a vítima ou que deixavam dúvidas sobre a identificação
da violência doméstica contra a mulher.
Todas as reportagens referentes à VDCM foram xerografadas, para posterior
análise de conteúdo. A análise de documentos é considerada importante na
pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por outros métodos,
seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema (CELLARD, 2008).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram noticiados 82 casos de violência doméstica contra a mulher. A maioria
referia-se a violência cometida por parceiro íntimo. Desses, 31 foram praticados pelo
cônjuge e 28 por ex-parceiros. Entre aqueles houve predomínio da violência física e
entre os últimos a violência psicológica. Também houve associação de mais de um
tipo de violência, como descrito na tabela 1. Destacam-se, ainda, 14 tentativas de
homicídio, classificadas como violência física, além de sete casos de homicídio
consumado. Em dois casos, as agressões foram cometidas pelo cunhado e pelo
irmão da vítima (Tab 1).
Tab. 1. Descrição dos casos de violência doméstica contra a mulher noticiados no Jornal Agora, entre
2006 e 2013. Rio Grande/RS. 2014.
Tipo de violência
Violência Física
Violência Física e Psicológica
Violência Física e Patrimonial
Violência Física e Sexual
Violência Psicológica
Violência Psicológica e Sexual
Tipo de Violência
Violência Física
Parceiro (n)
16
08
02
01
03
01
Ex-Parceiro (n)
10
03
00
00
14
01
Cunhado
1
Irmão
1
Tab. 2. Descrição dos casos de homicídio praticados por parceiro íntimo noticiados no Jornal Agora,
entre 2006 e 2013. Rio Grande/RS. 2014.
157
Homicídio
Tentativa de homicídio
Parceiro
06
04
Ex-Parceiro
01
10
Para retratar o cenário da violência doméstica contra a mulher na cidade do
Rio Grande, escolheram-se, propositalmente, quatro casos que exemplificam
diferentes expressões desse fenômeno bem como chamam atenção dos
profissionais da saúde diante da gravidade dos traumas às vítimas.
Embora a Lei Maria da Penha tenha uma definição para as diversas formas
de violência; sabe-se que elas se entrelaçam de várias maneiras, repercutindo na
saúde das mulheres e na sua qualidade de vida (BRASIL, 2006; ANDRADE E
FONSCECA, 2008). Tais notícias mostram relações baseadas na força, na opressão
e dominação de homens em relação às mulheres.
Fig 1. Violência física
A violência física, segundo a LMP, é entendida como qualquer conduta que
cause dano na integridade ou saúde corporal da vítima. Esta forma de violência tem
sido apontada como a principal agressão exercida contra a mulher. Nas agressões
158
os socos, tapas, chutes, espancamentos, queimaduras, estrangulamentos e
ferimentos com armas brancas fazem com que as vítimas procurem com maior
frequência os serviços de saúde (ANDRADE E FONSECA, 2008; SANTOS E
MORÉ, 2011). Estudo de Silva et al (2012) que buscou descrever as formas de
enfrentamento à violência física adotados por mulheres vitimadas, revelou que
78,8% das mulheres entrevistadas já haviam sofrido essa forma de agressão.
A violência doméstica contra as mulheres ocorre também com frequência
durante a gestação, tal como evidenciado na figura 1. Dados mostram que de 4 a
25% das gestantes já sofreram algum tipo de violência. De acordo com a litaratura, a
gravidez pode funcionar como agravante ou como fator de proteção contra a
violência. Naqueles casos, o ciúme do agressor, em relação ao concepto e mesmo a
recusa da gestante em manter relação sexual, podem tornar-se desencadeadores
da violência. Além dos danos diretos à vítima, outros podem ser decorrentes como o
abortamento e natimortalidade, o baixo peso ao nascer, o trabalho de parto
prematuro, hemorragias e morte materna (ANDRADE E FONSECA, 2008; BOMFIM,
LOPES E PERETTO, 2010).
Diante desse e de outros achados é preciso que os profissionais da saúde
estejam atentos para queixas vagas durante o pré-natal. O alerta para essa
problemática pode ser lançado frente as queixas de dor baixo ventre, sangramentos
sem explicação, solicitação de prescrição para a recusa da relação sexual, entre
outros (WHO, 2013).
Fig 2. Violência Física
159
Na figura 2 observa-se que a violência doméstica contra a mulher atinge,
também, a família da vítima e as pessoas com quem busca refúgio. Segundo Silva et
al (2012) a reduzida busca das mulheres por serviços sugere que a VPI seja
resolvida na esfera privada. Indica também a falta de credibilidade nos serviços de
apoio às mulheres (SILVA et al, 2012). Muitos casos de violência ocorrem por que o
agressor não aceita a separação, tal como evidenciado; por ciúmes ou pelo uso de
álcool e outras drogas.
As questões de gênero buscam explicar essa forma de violência. Com base
nas diferenças entre os sexos foi legitimado ao homem o poder e a força. Assim, o
homem acredita ter o direito de dominar a mulher, muitas vezes, como forma de
demostrar a sua “masculinidade”.
Fig. 3 Violência sexual
160
A violência sexual é entendida como qualquer ato que obrigue a mulher a
participar, presenciar ou manter relações sexuais não desejadas (BRASIL, 2006).
Geralmente é a menos relatada, porém, na maioria das vezes, está conjugada a
outro tipo de violência. Normalmente, os agressores usam a força física para manter
relações sexuais e por medo do que possa acontecer, as vítimas submetem-se ao
companheiro (SANTOS et al, 2014).
Cabe destacar, que a violência sexual dentro das relações estáveis é de difícil
reconhecimento e delimitação. Isso ocorre associado ao fato da prática sexual não
consensual ser considerada, por muitas mulheres, como dever da esposa
(SCHRAIBER et al, 2007). Esta pode acarretar diversos problemas à saúde da
mulher, dentre eles, queixas físicas ou sintomas psicológicos e comportamentais.
Tais sintomas são manifestados pela disfunção sexual, ansiedade, depressão,
161
transtornos alimentares e uso abusivo de drogas (VILELLA E LAGO, 2007; WHO,
2013). Essas queixas vagas, dificultam a identificação do fenômeno da violência,
pois os profissionais de saúde ainda estão muito voltados para o modelo biomédico,
ou seja, o tratamento de sinais e sintomas.
Geralmente, os profissionais não questionam e as vítimas não revelam a
violência sofrida, por vergonha, medo ou por dependerem do agressor, criando um
impasse comunicacional e, assim, abertura para a revitimização.
No caso acima percebe-se a associação de diferentes expressões da
violência: a sexual junto à psicologica. O cárcere privado é uma forma de tortura
mental que inclui a privação do direito de ir e vir, de comunicação com outras
pessoas, o que também acaba reforçando o ciclo da violência.
Fig 4. Violência psicológica
A LMP define violência psicológica como qualquer conduta que cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento; que vise degradar ou controlar ações, comportamentos e
decisões,
mediante
ameaça,
constrangimento,
humilhação,
manipulação,
isolamento, vigilância constante e limitação do direito de ir e vir (BRASIL, 2006).
Este tipo de violência é considerado pelas mulheres tão grave quanto a
violência física, pelas ofensas constantes, tirania e pelo abalo que causa na autoestima, confiança e segurança. Conviver com a tortura mental, o medo e o terror
tornam esse tipo de volência um agravo à saúde (SILVA, COELHO E CAPONI,
162
2007). Segundo dados empíricos a saída do lar está associada a casos graves como
diante de ameça de morte pelo parceiro, do espancamento extremo ou como forma
de proteger os filhos (SILVA et al, 2012)
Essa expressão da violência é velada, pois geralmente o reconhecimento dos
atos agressivos ocorre diante das marcas físicas. É uma violência silenciosa, que se
manifesta no choro contido, na depressão, no isolamento, na ilusão de que não irá
acontecer outra vez e que o agressor irá mudar. Considera-se que essa seja a
primeira forma de violência entre parceiros íntimos tendendo a outras expressões da
violência (SILVA, COELHO E CAPONI, 2007; FERREIRA E PIMENTEL, 2008).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante desses dados, percebe-se que, no município do Rio Grande, o cenário
não é diferente do resto do país. Portanto, revela-se a necessidade do preparo dos
profissionais de saúde para acolher as vítimas bem como para encaminhar para a
rede de apoio da cidade.
A violência contra mulher ainda é um fenômeno expressivo, apesar da
existência de medidas para o seu controle. A problematização sobre a temática, a
quebra de preconceitos por parte dos profissionais da saúde bem como o
desenvolvimento de educação permanente a todos os setores que integram a rede
de apoio, são fundamentais tanto para dar visibilidade ao fenômeno, quanto para
solucioná-lo.
Geralmente, as vítimas buscam serviços de saúde quando são violentadas,
mesmo que não verbalizem o ocorrido. Portanto, o enfermeiro que, frequentemente,
acolhe os sujeitos, precisa estar apto para o reconhecimento de sinais que podem
indicar a ocorrência da violência. Para isso, é necessário qualificação, por meio do
embasamento teórico para que essa forma de violência seja enfrentada como um
problema de saúde complexo, que requer abordagem multidisciplinar e intersetorial.
Além da identificação da violência, tratamento e reabilitação, é preciso
enfocar na prevenção do fenômeno. É importante acolher as mulheres e oferecer
meios para que consigam romper com ciclo da violência. A orientação sobre os
163
direitos, sobre a rede de apoio permitem que a vítima faça as escolhas de forma
consciente. Além disso, de modo geral, suscita-se a necessidade de problematizar
as questões de gênero na sociedade com foco na igualdade e respeito entre
homens e mulheres.
REFERÊNCIAS
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164
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health effects of intimate partner violence and nonpartner sexual violence. WHO
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http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/85239/1/9789241564625_eng.pdf?ua=1.
Acesso em: 5 set. 2014.
165
15.2) ASSOCIAÇÃO ENTRE O NASCIMENTO DE BEBÊS PRÉ-TERMOS E/OU
COM BAIXO PESO E A DOENÇA PERIODONTAL MATERNA: UM ESTUDO
CASO-CONTROLE NA CIDADE DE PELOTAS-RS.1
KRÜGER, Marta Silveira da Mota2;
CASARIN, Renata Picanço3 ;
PINTO, Gabriela dos Santos4;
CORRÊA, Fernanda de Oliveira Bello5;
ROMANO, Ana Regina6.
RESUMO
A associação entre doença periodontal materna e desfechos perinatais adversos
mantêm-se controversa. O objetivo desse trabalho foi avaliar, a partir de estudo
caso-controle, conduzido em três hospitais da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul,
Brasil, a associação entre o nascimento pré-termo e/ou com baixo peso (NPT e/ou
BP) e os parâmetros clínicos da doença periodontal materna. Os dados foram
colhidos através do prontuário médico (identificação, medicação, nascimento do
bebê), de entrevista (idade, cor da pele, escolaridade, renda, situação conjugal,
ocupação, peso e altura antes da gestação, tabagismo, alcoolismo, número de
consultas pré-natal, hábitos de higiene bucal), e do exame clínico (lesão de cárie
ativa, índice de placa bacteriana-simplificado, profundidade de sondagem (PS), nível
de inserção (NI)). Foi realizada análise bivariada para avaliar a proporção de NPT
e/ou BP com relação às variáveis independentes e análise de regressão logística
múltipla para avaliar a associação entre desfechos perinatais adversos e variáveis
independentes. A amostra foi composta por 140 casos e 276 controles. A presença
de periodontite generalizada não esteve associada a nenhum dos desfechos
perinatais adversos. O NPT e/ou BP esteve associado, significativamente, com
renda entre 1,5-2,9 e ≥ 3 salários mínimos (OR=1,84(1,09 – 3,09); OR=1,89(1,07 –
3,35), respectivamente), adequado número de consultas pré-natal (OR=0,26(0,13 –
0,50)), antecedente de NPT e/ou BP (OR=2,16(1,27 – 3,65)), doença sistêmica
(OR=1,70(0,88 – 3,29)), parto do tipo cesárea (OR=1,83(1,20 – 2,77)) e com préeclâmpsia (OR= 5,26 (2,43 – 11,4)). As puérperas com maior renda, mais velhas e
com antecedente de NPT e/ou BP tiveram maior risco a NPT. A presença de doença
sistêmica prévia esteve associada com NPT e/ou BP, NPT e com NPTBP. Concluise que, nessa amostra, os parâmetros clínicos da periodontite não foram
considerados fatores de risco para os desfechos perinatais adversos estudados.
Descritores: parto pré-termo; baixo peso ao nascer; doença periodontal;
periodontite.
2
Doutoranda em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
Mestranda em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas
4
Doutoranda em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas
5
Profa. Doutora em Periodontia, Univeridade Federal de Juiz de Fora
6
Profa. Doutora em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
3
166
ABSTRACT
The association between maternal periodontal disease and adverse perinatal
outcomes remain controversial. The aim of this study was to evaluate, from a casecontrol study, conducted in three hospitals in Pelotas, Rio Grande do Sul, Brazil, the
association between preterm birth and/or low birth weight (PTB and/or LBW) and
clinical parameters of maternal periodontal disease. Data were collected through
medical record (identification, medication, baby birth), interview (age, ethnicity,
education, income, marital status, occupation, height and weight before pregnancy,
smoking, alcohol consumption, number of prenatal care appointments, oral hygiene
habits) and clinical examination (caries active, simplified bacterial plaque index,
probing depth (PD), attachment level (NI)). Bivariate analysis was performed to
evaluate the proportion of PTB and/or LBW with the independent variables and
multivariate logistic regression to assess the association between adverse perinatal
outcomes and independent variables. The sample consisted of 140 cases and 276
controls. The presence of generalized periodontitis was not associated with any
adverse perinatal outcomes. The PTB and/or LBW was associated significantly with
income between 1.5-2.9 and ≥ 3 minimum wage (OR = 1.84 (1.09 to 3.09), OR =
1.89 (1, 07 to 3.35), respectively), adequate number of prenatal visits (OR = 0.26
(0.13 to 0.50)), history of PTB and/or LBW (OR = 2.16 (1, 27 to 3.65)), systemic
disease (OR = 1.70 (0.88 to 3.29)), cesarean delivery (OR = 1.83 (1.20 to 2.77)) and
pre-eclâmpsia (OR = 5.26 (2.43 to 11.4)). Postpartum women with larger income,
older and with a history of PTB and/or LBW had higher risk PTB. A history of
systemic disease was associated with PTB and/or LBW, NPT and PTBLBW. We
conclude that, in this sample, the clinical parameters of periodontitis were not
considered risk factors for adverse perinatal outcomes studied.
KEYWORDS: preterm birth; low birth weight; periodontal disease; periodontitis.
1. INTRODUÇÃO
Desfechos perinatais adversos é um termo amplo que abrange implicações
distintas como o nascimento de bebês pré-termos e/ou com baixo, pré-eclâmpsia,
aborto ou bebê natimorto (IDE; PAPAPANOU, 2013). Por definição o nascimento
pré-termo é aquele que ocorre antes da 37ª semana gestacional, e bebê com baixo
peso ao nascer é aquele com peso inferior a 2.500 gramas (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1977).
Estima-se que, no ano de 2010, cerca de 14,9 milhões (11,1%) de bebês,
entre os nascidos vivos de todo o mundo, nasceram pré-termo, resultando em mais
do que um em cada dez nascimentos (BLENCOWE et al., 2012). No Brasil, ano de
167
2011, os nascidos vivos com menos de 37 semanas gestacionais foram 9,8%
(285.592) e os com peso ao nascer inferior a 2.500g foram 8,5% (248.217) do total
(BRASIL, 2014).
Na cidade Pelotas, os dados oficiais de 2012, mostraram que
14,0% (596) dos nascidos vivos foram pré-termo e 10,8% (463) portadores de baixo
peso (RIO GRANDE DO SUL, 2013). Em relação ao baixo peso ao nascimento, a
estatística mundial evidencia que mais de 20,0 milhões (15,5%) de bebês sofrem
com esse importante indicador de saúde pública (WARDLAW et al., 2004).
McGraw (2002) estudando a etiologia da prematuridade e do baixo peso ao
nascimento descreveu que em 25% dos casos a causa permanecia desconhecida.
Buscando ampliar o conhecimento sobre as causas dos desfechos perinatais
adversos, desde o início dos anos 90 tem sido proposto que infecções bucais, tais
como a periodontite, devido à similaridade na patogênese das infecções à distância
causadas por microrganismos gram-negativos, poderiam atuar como um reservatório
infeccioso e, à distância, interferir nos resultados gestacionais (NABET et al., 2010).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar, a partir de estudo de casocontrole dos nascimentos na cidade de Pelotas-RS, a associação entre o
nascimento pré-termo e/ou com baixo peso e os parâmetros clínicos da doença
periodontal
materna,
considerando
ajuste
para
fatores
demográficos,
socioeconômicos, físicos e ambientais.
2. METODOLOGIA
Foi conduzido um estudo caso-controle retrospectivo de base hospitalar,
pareado pelo local de nascimento, no setor de ginecologia e obstetrícia de três
hospitais (Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, Santa Casa de
Misericórdia e São Francisco de Paula) na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul,
Brasil, no período de abril a dezembro de 2013. Este estudo foi avaliado e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Pelotas, parecer n° 80/2012.
168
Os registros hospitalares foram examinados três vezes por semana. No grupo
caso foram incluídas puérperas que deram à luz a um recém-nascido vivo, único,
pré-termo (entre 22 e 37 semanas gestacionais) e/ou com baixo peso (< 2.500g). No
grupo controle foram incluídas as puérperas, na mesma maternidade, que tivessem
dado à luz a um recém-nascido vivo, único, a termo (≥ 37 semanas) e com peso ≥
2.500g. A inclusão das puérperas na amostra foi orientada pelos seguintes critérios
de elegibilidade: idade entre 18 e 35 anos; presença de, no mínimo, seis dentes em
boca; não infectada por HIV; não diabética; sem necessidade de profilaxia
antibiótica; e bebê sem malformação congênita severa.
Os dados foram colhidos através do prontuário médico (identificação,
medicação, nascimento do bebê), de entrevista (idade, cor da pele, escolaridade,
renda, situação conjugal, ocupação, peso e altura antes da gestação, tabagismo,
alcoolismo, número de consultas pré-natal, hábitos de higiene bucal), e do exame
clínico (lesão de cárie ativa, índice de placa bacteriana-simplificado, profundidade de
sondagem (PS), nível de inserção (NI)).
Foi realizada análise bivariada para avaliar a proporção de nascimentos prétermo e/ou baixo peso (NPT e/ou BP) com relação às variáveis independentes e
análise de regressão logística múltipla para avaliar a associação entre desfechos
perinatais adversos e variáveis independentes.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Distribuição da amostra
Um total de 637 puérperas foram convidadas a participar do estudo, dessas
71 se recusaram e 146 foram excluídas por não atenderem a algum dos critérios de
inclusão. A tabela 1 mostra a frequência de distribuição de diferentes variáveis
demográficas e socioeconômicas dos grupos de caso e controle, evidenciando uma
paridade entre os grupos, exceto para renda familiar (P=0,042).
Tabela 1 - Distribuição de frequência de diferentes variáveis demográficas e socioeconômicas dos grupos caso e
controle, Pelotas, RS, 2014. (n= 416)
169
Variável (n)
Grupo (%)
Caso
Valor de P*
Controle
Idade (anos)
18 a 24
25 a 35
56 (40,0)
84 (60,0)
133 (48,2)
143 (51,8)
0,113
Cor da pele
Branca
Preta/parda
100 (71,4)
40 (28,6)
188 (68,1)
88 (31,9)
Escolaridade
≤ 8 anos de estudo
> 8 anos de estudo
57 (40,7)
83 (59,3)
132 (47,8)
144 (52,2)
Renda (salários mínimos) (409#)
≤1
1,5- 2,9
≥3
28 (20,3)
68 (49,3)
42 (30,4)
87 (32,1)
115 (42,4)
69 (25,5)
Ocupação
Do lar
Trabalha fora
72 (51,4)
68 (48,6)
143 (51,8)
133 (48,2)
Situação conjugal
Casada ou união estável
Solteira/separada
# n menor por ausência do dado
104 (74,3)
204 (73,9)
36 (25,7)
72 (26,1)
*Teste Qui-quadrado
0,489
0,168
0,042
0,941
0,935
1.2) Desfechos perinatais adversos: fatores associados
A tabela 3 mostra a análise de regressão logística múltipla da associação dos
diferentes desfechos perinatais adversos: nascimento pré-termo e/ou baixo peso
(NPT e/ou BP), nascimento pré-termo (NPT), baixo peso ao nascer (BPN) e
nascimento pré-termo e baixo peso ao nascer (NPTBP), com diferentes variáveis e
níveis.
Dados da Organização Mundial da Saúde evidenciam que a baixa renda
familiar é um fator de risco para desfechos perinatais adversos na população
mundial (HOWSON; KINNEY; LAWN, 2012). Na cidade de Pelotas, estudos como o
de Horta et al. (1996), de base populacional, mostraram uma associação inversa
entre a renda familiar e BPN, porém não com NPT, entretanto, Silveira et al. (2010)
investigando fatores de risco para prematuridade na coorte de nascimentos de 2004
de Pelotas, mostraram associação entre baixa renda e NPT, no entanto os fatores de
risco não variaram entre nos diferentes tercis socioeconômicos.
170
Os achados contrários desse estudo, em que a maior renda esteve associada
com os desfechos NPT e/o BPN e NPT e sem qualquer associação com BPN e
NPTBP, podem ser devido a maior idade também estar associada NPT. Embora,
tenham sido previamente excluídas da amostra as puérperas com idades
reconhecidamente de risco para o nascimento pré-termo e/ou com baixo peso, a
idade materna de 25 a 35 anos esteve associada com NPT. De acordo com
Assunção et al. (2012), a maior renda per capita está nas famílias cujas mães são
mais velhas, e portanto tem melhores condições de vida, ou em outros termos, renda
maior.
Conforme demonstrado por outros estudos (BASSANI et al., 2007; IAMS et
al., 2008; GUIMARÃES et al., 2010; SILVEIRA et al. 2010), estes achados reforçam
a importância de receber assistência pré-natal na redução da incidência de
desfechos perinatais adversos. A gravidez e o parto representam uma janela crítica
de oportunidade para a prestação de intervenções eficazes para prevenir
nascimentos pré-termos e/ou com baixo peso.
Os serviços prestados visam gerenciar o trabalho de parto prematuro e
fornecer informações para a melhoria dos comportamentos de risco e do
conhecimento acerca dos sinais de alerta para o início de complicações na gravidez
(HOWSON; KINNEY; LAWN, 2012).
Embora Silveira et al. (2010), estudando os dados da coorte de nascimentos
do ano de 2004 de Pelotas, não tenham encontrado associação entre o parto
cesáreo e prematuridade, neste estudo, conduzido nove anos após, houve uma
associação entre o parto cesariano com todos os desfechos estudados. Capra et al.
(2013) buscando verificou que nos Estados Unidos da América dentre os fatores
mais importantes para as elevadas taxas de nascimento pré-termo estão a indução
do trabalho de parto e o parto cesárea sem indicação médica. Também, Hirano et al.
(2012), em estudo caso-controle, verificaram que as gestantes com pré-eclâmpsia
realizaram significativamente mais parto cesariano. Uma explicação para estes
dados pode estar relacionada à situação de risco tanto para a mãe quanto para o
bebê. Entretanto, não existem evidências que demonstrem as vantagens do
171
planejamento de um parto cesariano em relação ao parto normal para o nascimento
de bebês pré-termos e/ou com baixo peso (ALFIREVIC; MILAN; LIVIO, 2013).
Embora Alfirevic, Milan e Livio (2013) não descartem que a cesariana planejada para
gestantes em trabalho de parto pré-termo possa ter uma função protetora para o
bebê, evitando uma cirurgia de emergência durante o parto e suas complicações,
entendem também que essa pode ser traumática para a mãe e para o bebê.
No entanto, uma cesariana planejada pode não acontecer porque o trabalho
progride muito rapidamente e, outras vezes, mesmo que o parto vaginal tenha sido
planejado, surgem complicações que podem fazer necessário uma cesariana. Na
maioria das vezes, as gestantes em trabalho de parto prematuro programavam o
nascimento para mais tarde, muitas vezes a termo. Há, portanto, uma possibilidade
real de que uma política de cesariana planejada possa aumentar o número de bebês
nascidos pré-termo (ALFIREVIC et al., 2013).
A história materna de nascimento pré-termo e/ou com baixo peso ao nascer
foi um fator de risco para NPT e/ou BP (OR= 2,16 (IC=1,27-3,65) e para NPT
(OR=2,17 (IC=1,27-3,72)) assim como estudos prévios (CONDE-AGUDELO;
ROSAS-BERMÚDEZ;
KAFURY-GOETA,
2006;
SILVEIRA
et
al.,
2010).
Provavelmente, impulsionada pela interação de risco genéticos, epigenéticos e
fatores ambientais (PLUNKETT; MUGLIA, 2008). O BPN e o NPTBP embora não
tenham mostrado associação nesse estudo, em outro de caso-controle conduzido
por Bassani et al. (2007) em Porto Alegre evidenciou OR=1,97 (IC=1,35-2,87) e
OR=2,30 (IC=1,43- 3,71), respectivamente.
Considerando a presença de doenças sistêmicas pré-existentes, pode-se
inferir que a associação dessas com NPT e/ou BP e com NPT advêm do fato de que,
muitas vezes, esse resultado gestacional se dá por indicação médica devido às
complicações maternas. Desordens sistêmicas, tais como doenças da tireóide,
asma, diabetes, hipertensão e depressão são associados com aumento dos
nascimento pré-termos (HOLMES et al., 2001; ERTEL et al., 2010; BASKARADOSS;
GEEVARGHESE; AL DOSARI, 2012; CAPRA et al., 2013). A depressão, segundo
Capra et al. (2013) também está associada com um aumento no hábito de fumar,
172
consumir bebidas alcoólicas e utilizar drogas, portanto, a relação entre depressão e
nascimento pode ser mediada por estes comportamentos.
Além da história prévia, os problemas durante a gestação, anemia e préeclâmpsia estiveram fortemente associados com desfechos perinatais adversos. A
maior presença de anemia materna nas puérperas do grupo controle pode ser
explicada pela maior idade gestacional, devido a ligeira variação que os níveis
férricos podem sofrer ao longo da gestação, com o aumento da demanda de ferro, a
fim de cobrir os requisitos do aumento dos glóbulos vermelhos em massa, da
expansão do volume de plasma e para permitir o crescimento da unidade fetoplacentária (SCHOLL, 2005). É necessário esclarecer que a anemia não representa
um fator de proteção para desfechos perinatais adversos e deve ser investigada e
tratada durante todas as fases da gravidez, pois a deficiência de ferro e a hipóxia
resultantes da anemia podem induzir estresse materno e fetal (ALLEN, 2001).
O risco relativo, no mínimo, maior que 4 vezes das puérperas com préeclâmpsia terem desfechos perinatais adversos foi também determinado em outros
estudos caso-controle (NABET et al., 2010; HIRANO et al., 2013). Durante a
gravidez, a pressão arterial da gestante diminui nas primeiras semanas, em seguida,
sobe lentamente em torno da metade da gravidez. As gestantes com pressão arterial
muito alta (sistólica superior a 160 mmHg, diastólica de 110 mmHg ou mais) estão
em risco de desenvolver pré-eclâmpsia (LEEMAN; FONTAINE, 2008). Esta é uma
doença vascular materna multissistêmica com disfunção endotelial, que causa
hipertensão, proteinúria e disfunções de órgãos principais (LEEMAN; FONTAINE,
2008), como insuficiência renal e está associada ao risco de parto prematuro e
acidente vascular cerebral (DULEY; MEHER; JONE, 2013).
Durante a gravidez, com a elevação dos níveis de estrógeno e progesterona,
há um aumento na permeabilidade vascular, facilitando a entrada de patógenos
periodontais e/ou seus subprodutos na corrente sanguínea e a translocação
(deslocamento de bactérias e/ou subprodutos para sítios estéreis) para a placenta
(MADIANOS; BOBETSIS; OFFENBACHER, 2013). Provavelmente, a via biológica
mais importante em determinar um resultado gestacional negativo a partir da
173
presença de doença periodontal materna é o estabelecimento de infecção na
unidade feto placentária por patógenos periodontais e/ou seus subprodutos
(MADIANOS; BOBETSIS; OFFENBACHER, 2013).
Offenbacher (2013),
Para Madianos, Bobetsis e
apesar de reconhecida a importância da bacteremia nesse
processo, ainda não há clareza sobre quais são as condições e os parâmetros
clínicos que permitem que periodontopatógenos tenham acesso sistêmico e
exponham a unidade feto placentária. Possivelmente, os parâmetros clínicos que
determinam a severidade da doença periodontal, como profundidade de sondagem e
nível clínico de inserção não, necessariamente, correspondem a um incremento
linear na bacteremia.
Os dados da análise bruta da tabela 3 mostraram, ausência de associação
exceto para BPN que evidenciou uma relação de “proteção” com a periodontite
localizada. Na análise ajustada para todas as variáveis, embora sem significância,
houve um maior valor OR para gengivite no desfecho NPT e/ou BP e NPT, sendo de
1,69 e 1,86, respectivamente. No entanto, houve uma contradição entre os valores
de P e o intervalo de confiança para os desfechos BPN e NPTBP, provavelmente
devido ao baixo número de casos dos mesmos, 93 e 72, respectivamente. Cabe
salientar que dos 140 casos de NPT e/ou BP, 119 eram de NPT, valor superior ao
cálculo amostral inicial que era de 116 casos.
Estes achados apontam para que novos estudos, além do descrito por Ide e
Papapanou (2013) de que empreguem avaliações contínuas e categóricas de
condição periodontal e não trabalhem com desfecho composto (NPT e/ou e BP),
incluam a condição de gengivite nos parâmetros clínicos.
Além disso, parece
importante incluir abordagens sobre o potencial de virulência sistêmica da microbiota
oral e da resposta imune individual nos desfechos perinatais adversos (MADIANOS;
BOBETSIS; OFFENBACHER, 2013).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na metodologia utilizada neste estudo caso-controle,
conclui-se que:
174
4.1 Os parâmetros clínicos da periodontite não foram considerados fatores de
risco para os desfechos perinatais adversos estudados;
4.2 As puérperas mais velhas tiveram maior risco relativo a NPT, enquanto a
maior renda e o antecedente de parto pré-termo e/ou baixo peso estiveram
associadas tanto com o NPT com o NPT e/ou BP;
4.3 A presença de doença sistêmica prévia esteve associada com NPT e/ou
BP, NPT e com NPTBP;
4.5 O número inadequado de consultas pré-natal, parto do tipo cesárea e a
pré-eclâmpsia estiveram associados a todos os desfechos perinatais adversos.
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177
16.2) MOTIVOS PARA O DESMAME PRECOCE IDENTIFICADOS PELOS
ENFERMEIROS DA REDE BÁSICA DE SAÚDE NO EXTREMO SUL DO
BRASIL1
ESTEVES, Isabel de Abreu2;
ROCKEMBACH, Jamila Vasquez3;
LINDEMANN, Ivana Loraine4;
PINHEIRO, Taimara Martins5;
SOUZA, Catharine Silva de6;
SUSIN, Lulie Rosane Odeh7
RESUMO
Este estudo teve o objetivo de conhecer os motivos para o desmame precoce
identificados pelas enfermeiras da rede básica de saúde em uma cidade no extremo
sul do Brasil. Estudo transversal, realizado em 2012, com todos os enfermeiros das
Unidades Básicas de Saúde da zona urbana do município, totalizando 46
profissionais. Foi aplicado aos sujeitos um questionário semiestruturado por
entrevistadores previamente treinados. Como desfecho foram considerados os
motivos para o desmame precoce identificados pelos enfermeiros na sua prática
diária. Cerca de 60% dos profissionais identificaram algum motivo para o desmame
precoce. A falta de desejo da mãe em amamentar (19,2%), a falta de apoio da
família (15,2%) e o relato das mães de que o leite é fraco (13%) foram os motivos
mais citados. Os resultados deste estudo indicam que os motivos das mães para o
desmame precoce, identificados pelos profissionais, diferem, na sua maioria, dos
referidos pelas próprias lactantes conforme demonstra a literatura. Por isso, é
importante atentarmos para esses achados com o intuito de contemplarmos todos os
aspectos relacionados ao desmame precoce, somente dessa forma, as ações
programadas para a promoção do aleitamento materno terão mais êxito.
ABSTRACT
This study aimed to ascertain the reasons for early weaning identified by nurses in
primary health care in a city in southern Brazil. Cross-sectional study, conducted in
2012, with all the nurses of Basic Health Units urban area, totaling 46 professionals.
Was applied to the subjects semistructured questionnaire by trained interviewers.
Outcome were considered as the reasons for early weaning identified by nurses in
their daily practice. About 60% of professionals reported some reason for early
weaning. The lack of the mother's desire to breastfeed (19.2%), lack of family support
(15.2%) and mothers reporting that milk is weak (13%) were the most cited reasons.
The results of this study indicate that the reasons for mothers to early weaning,
identified by professionals differ, mostly referred to by the lactating own as shown in
the literature. Therefore, it is important to pay attention to these findings in order to
contemplate all aspects related to early weaning, only in this way, scheduled for
breastfeeding promotion actions will be more successful.
178
Eixo Temático: Eixo 5 - Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde
da Mulher e ao Recém-nascido.
DECS: aleitamento materno; avaliação em saúde; atenção primária à saúde;
enfermagem em saúde comunitária; desmame.
1. INTRODUÇÃO
A lactação é uma das maneiras mais eficientes de atender aos aspectos
nutricionais, imunológicos e psicológicos relativos ao desenvolvimento de uma
criança no seu primeiro ano de vida (ICHIATO; SHIMO, 2001; RAMOS; ALMEIDA,
2003).
Considera-se o aleitamento o primeiro cuidado prestado pela mãe ao recémnascido e seguramente um fator fundamental para a formação de vínculo entre mãe
e filho. Além de ser o mais completo alimento para o bebê, o leite materno atua
como agente imunizador, prevenindo várias doenças como a obesidade infantil,
enterocolite, problemas respiratórios e diminui a chance de alergias, além de
acalentar
a
criança
no
aspecto
psicológico,
influenciar
positivamente
o
desenvolvimento das crianças e reduzir a mortalidade infantil. Tem a vantagem
técnica de ser operacionalmente simples, é de baixo custo financeiro, protege a
mulher contra câncer mamário e ovariano, auxilia na involução uterina, contribui para
o retorno ao peso normal, reduz o risco de hemorragia, retarda a volta da fertilidade
e proporciona confiança a mulher em seu papel de mãe (BRASIL, 2012a; HALPERN;
FIGUEIRAS, 2004; RICCO, 1995; SIMON; SOUZA; SOUZA, 2009).
Apesar das abundantes evidências científicas da superioridade do leite
materno sobre outros tipos de leite, ainda é baixo o número de mulheres que
amamentam os seus filhos de acordo com as atuais recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS), que é amamentação exclusiva até o sexto mês e
aleitamento materno (AM) com alimentos complementares até dois anos ou mais de
idade (BRASIL, 2009). Como fatores associados ao desmame precoce, estudos
apontam o uso de chupeta pelos lactentes, a presença de fissura mamilar nas
179
lactantes (VIEIRA et al., 2010), práticas hospitalares inadequadas, mudança da
estrutura social acarretando o trabalho materno fora do lar (VENANCIO, 2003;
VIANNA et al., 2007), ausência da mulher ao pré-natal (DEMETRIO; PINTO; AMO,
2012), além do nível de escolaridade da mãe que influencia na obtenção de
esclarecimentos sobre a amamentação (PEREIRA et al., 2010).
A rede básica de saúde (RBS) é a principal responsável pela assistência
antes e depois do parto. As informações oferecidas no pré-natal, assim como o
apoio à amamentação depois da saída da maternidade, dependem da atuação da
RBS. Mesmo que um hospital seja Amigo da Criança, sua atuação é limitada, uma
vez que a maioria das mulheres permanece pouco tempo internada depois do parto.
Dessa forma, a RBS é indispensável na estratégia de promoção, proteção e apoio
ao aleitamento materno exclusivo (AME) até seis meses e continuado até os dois
anos ou mais (IBFAN, 2007).
Estimativas recentes quanto a diversas formas de ação e suas consequências
para a saúde da criança mostraram que a promoção do AME é a intervenção na
área da saúde pública que isoladamente tem o maior potencial para diminuir a
mortalidade infantil (TOMA; REA, 2008).
Para melhoria destes índices, faz-se necessário a adoção de medidas
preventivas ou curativas evitando sofrimento físico e psíquico às puéperas com
futuro abandono da amamentação. Para isso, o profissional de saúde deve estar
preparado tanto em relação aos aspectos técnicos da lactação quanto à promoção e
ao apoio ao AM com olhar abrangente que contemple os aspectos emocionais,
culturais e a rede social de apoio à mulher. O profissional necessita encorajar a
mulher nesse ato, valorizando-a, escutando-a e reconhecendo-a como protagonista
desse processo. Avaliar o conhecimento desses profissionais representa uma
estratégia de reconhecimento do cenário de apoio à prática da amamentação
(BRASIL, 2009).
Há que se destacar a importância de identificar e compreender os fatores
determinantes da interrupção do AM na percepção dos profissionais, tendo em vista
o importante papel que esses desenvolvem na promoção do AM.
180
2. OBJETIVO
Conhecer os motivos para o desmame precoce identificados pelos
enfermeiros da RBS em uma cidade no extremo sul do Brasil.
3. MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido em Rio Grande, cidade
localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul, cuja RBS é constituída de 24
unidades básicas de saúde (UBS), das quais 13 com estratégia saúde da família
(ESF).
Foram convidados a participar do estudo todos os enfermeiros da RBS da
zona urbana do Rio Grande, sendo excluídos os profissionais em licença
maternidade ou licença saúde. Foi realizada uma visita em cada uma das unidades
com o escopo de explicar aos responsáveis os objetivos da pesquisa e agendar as
entrevistas, que consistiam na aplicação de um questionário semiestruturado. As
entrevistas foram realizadas de junho a outubro de 2012 por entrevistadores
previamente treinados. Como desfecho foram considerados os motivos para o
desmame precoce identificados pelos enfermeiros na sua prática diária.
Os dados foram duplamente digitados no Programa Epi Info, versão 6.04 e as
análises estatísticas realizadas no Stata, versão 11.0. O protocolo de pesquisa foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade
Federal do Rio Grande, conforme parecer nº 184/2011 e pelo Núcleo Municipal de
Educação Permanente em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio Grande.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Do total de 46 enfermeiros, todos aceitaram participar da pesquisa. Observouse que os principais motivos das mães para o desmame precoce, identificados pelos
enfermeiros em sua prática cotidiana são a falta de desejo da mãe em amamentar
181
(19,6%), falta de apoio da família (15,2%) e o relato das mães de que o é leite fraco
(13,0%). Também foram mencionados como causas: a introdução precoce de outros
alimentos (6,5%), relato das mães de pouco leite (4,3%) e impaciência materna
(2,2%) (Tabela 1).
Pouco mais de um terço dos enfermeiros (39,2%) relatou que não
identificaram nenhum motivo para o desmame precoce na sua prática diária.
Tabela 1 - Principais dificuldades no manejo do aleitamento materno identificadas pelos enfermeiros da rede
básica de saúde da cidade do Rio Grande, 2012 (n=46).
Principais Dificuldades
Enfermeiros
n (%)
Mãe não quer amamentar
9 (19,6)
Falta de apoio da família
7 (15,2)
Mãe acha que o leite é fraco
6 (13,0)
Introdução precoce de outros alimentos
3 (6,5)
Relato de pouco leite
2 (4,3)
Impaciência materna
1 (2,2)
De acordo com os profissionais que participaram deste estudo muitos são os
fatores que contribuem para o desmame precoce. A falta de desejo das mães em
amamentar
relatada
pelos
profissionais
demonstra
que
é
momento
de
transcendermos nossas ações educativas até agora voltadas para as vantagens que
a amamentação traz, principalmente para a criança, e atentarmo-nos para a
realidade da experiência vivida pela mulher, que se constitui também de momentos
negativos, possibilitando, assim, uma outra dimensão no ato de educar. É
necessário abandonarmos o ideal e contemplarmos o real na abordagem com a
mulher (ARANTES, 1995).
A falta de desejo das mulheres em amamentar não é um momento isolado,
pois fundamenta- se na história de vida de cada uma. A opção de amamentar ou
não amamentar é da mulher, mas é determinada por momentos pelos quais passam
o seu biológico, o seu psicológico e o seu contexto social (ARANTES, 1995).
Quando os profissionais percebem a falta de desejo da mãe em iniciar ou
manter a lactação, devem buscar compartilhar esses momentos com a mulher,
182
ajudando-as
a
lidar
com
possíveis
conflitos
inerentes
desse
processo.
Evidentemente os bebês expressam, através do choro, a necessidade de alimentarse, porém sabemos que a criança chora por inúmeros outros motivos. Diante do
choro, muitas mães e familiares acreditam que o leite materno está sendo
insuficiente para o bebê. Estudo realizado em Porto Alegre, em 2005 (SUSIN;
GIUGLIANI; KUMMER, 2005) demonstrou que as avós podem influenciar
negativamente tanto na sua duração quanto na sua exclusividade, já que em alguns
momentos aconselham o uso de água, chás ou outros tipos de leite. E necessário
que os profissionais estejam atentos desde o pré-natal, com o objetivo de conhecer
a rede de apoio da mulher visando identificar possíveis influencias que venham a
dificultar o sucesso da amamentação.
Os relatos de “leite fraco” pelas lactantes também foram bastante citados
pelos enfermeiros como motivos para o desmame precoce. Essa queixa deve ser
acolhida com atenção. O profissional deve ser perspicaz ao ouvir os argumentos da
mãe e verificar as condições da criança, avaliando, durante toda a mamada, pega,
sucção, ingesta, quantidade e coloração de urina e fezes. Normalmente, essa queixa
é reflexo de insegurança materna quanto a sua capacidade de nutrir plenamente o
seu bebê. A suplementação com leite artificial é bastante comum nesses casos
afetando negativamente a produção de leite materno, pois a criança passa a sugar
menos o peito. A má pega é a principal causa de remoção ineficiente do leite, uma
vez que, não há o esvaziamento completo da mama, assim, o bebê perde
principalmente o leite posterior, mais rico em energia. Ao lidarmos com mães
preocupadas e inseguras, é necessário ressaltar que se o bebê está ganhando peso
e crescendo é porque está recebendo leite em quantidade e qualidade adequada
(BRASIL, 2009; GIUGLIANI, 2004).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo indicam que os motivos das mães para o
desmame precoce, identificados pelos profissionais, diferem, na sua maioria, dos
183
referidos pelas próprias lactantes conforme demonstra a literatura. Diante disso, se
as práticas realizadas por profissionais da atenção básica, com o intuito de
promoção da amamentação, estiverem baseadas apenas nos motivos evidenciados
por estudos realizados com lactantes, os demais aspectos, por eles percebidos, não
serão contemplados, diminuindo dessa forma a chance de êxito do AM, conforme as
recomendações do Ministério da Saúde.
REFERÊNCIAS
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Rio de Janeiro, v. 71, n. 4, p. 195-202, dez. 1995.
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185
17.2) ALEITAMENTO MATERNO: MANEJO DOS ENFERMEIROS NO EXTREMO
SUL DO BRASIL1
ROCKEMBACH, Jamila Vasquez2;
ESTEVES, Isabel de Abreu3;
MONTE, Aline Rodrigues do4
NOGARIO, Aline Carniato Dalle5;
COSTA, Lisandra Duarte6;
SUSIN, Lulie Rosane Odeh7;
RESUMO
Este estudo teve o objetivo de avaliar o manejo do aleitamento materno dos
enfermeiros da rede básica de saúde do município do Rio Grande no Rio Grande do
Sul, comparando o modelo tradicional com a Estratégia Saúde da Família. Estudo
transversal, realizado em 2012, com todos os enfermeiros das Unidades Básicas de
Saúde da zona urbana do município, totalizando 46 profissionais. Foi aplicado aos
sujeitos um questionário, baseado no Guia de Nutrição Infantil do Ministério da
Saúde, para avaliar o manejo do aleitamento materno através de um escore. Os
enfermeiros da Estratégia Saúde da Família apresentaram melhores desempenhos
quando comparados aos profissionais do modelo tradicional. Conclui-se que a
expansão dessa estratégia permitiria maior incentivo, apoio e promoção da
amamentação.
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the management of breastfeeding nurses the primary
health care of Rio Grande in Rio Grande do Sul, comparing with the traditional model
of the Family Health Strategy. A Cross-sectional study, conducted in 2012, with all
the nurses of Basic Health Units urban area, totaling 46 professionals. Was applied
to the subjects a questionnaire, based on the Guide to Children's Nutrition of the
Ministry of Health to evaluate the management of breastfeeding through a score. The
nurses of the Family Health Strategy presented better performances when compared
to the traditional model professional. We conclude that the expansion of this strategy
would allow greater encouragement, support and promotion of breastfeeding.
Eixo Temático: Eixo 5 - Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde
da Mulher e ao Recém-nascido.
DECS: aleitamento materno; avaliação em saúde; atenção primária à saúde;
enfermagem em saúde comunitária.
186
1. INTRODUÇÃO
O leite materno é considerado o alimento mais completo para o bebê, pois
possui inúmeras vantagens psicológicas, nutricionais e imunológicas, além de ser
apontado como a intervenção na área da saúde pública que isoladamente tem o
maior potencial para diminuir a mortalidade infantil (TOMA; REA, 2008; ICHIATO;
SHIMO, 2001; RAMOS; ALMEIDA, 2003).
Apesar das abundantes evidências
científicas da superioridade do leite materno sobre outros tipos de leite, ainda é
baixo o número de mulheres que amamentam os seus filhos de acordo com as
atuais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é
amamentação exclusiva até o sexto mês e aleitamento materno (AM) com alimentos
complementares até dois anos ou mais de idade (BRASIL, 2009).
Para melhoria destes índices, faz-se necessário a adoção de medidas
preventivas ou curativas evitando sofrimento físico e psíquico às puéperas com
futuro abandono da amamentação. Para isso, o profissional de saúde deve estar
preparado tanto em relação aos aspectos técnicos da lactação quanto à promoção e
ao apoio ao AM com olhar abrangente que contemple os aspectos emocionais,
culturais e a rede social de apoio à mulher. O profissional necessita encorajar a
mulher nesse ato, valorizando-a, escutando-a e reconhecendo-a como protagonista
desse processo. Avaliar o conhecimento desses profissionais representa uma
estratégia de reconhecimento do cenário de apoio à prática da amamentação
(BRASIL, 2009).
Há que se destacar a importância de identificar e compreender os fatores
determinantes da interrupção do AM na percepção dos profissionais, tendo em vista
o importante papel que esses desenvolvem na promoção do AM. É necessário que
os profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família se capacitem para
orientar as gestantes e puérperas em relação ao AM. Os profissionais devem ajudar
a mulher a tomar decisões de forma empática, saber ouvir e aprender, desenvolver a
confiança e dar apoio. É importante que as mães sintam o interesse do enfermeiro e
dos demais profissionais para adquirirem confiança e se sentirem apoiadas
(GIUGLIANI, 2000).
187
2. OBJETIVO
Avaliar e comparar o manejo em AM dos profissionais das Unidades Básicas
de Saúde (UBS) com ESF e sem ESF do município do Rio Grande.
3. MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido em Rio Grande, cidade
localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul, cuja rede básica de saúde (RBS) é
constituída de 24 unidades básicas de saúde, das quais 13 com ESF. Foram
convidados a participar do estudo todos os enfermeiros da RBS da zona urbana do
Rio Grande, sendo excluídos os profissionais em licença maternidade ou licença
saúde. Foi realizada uma visita em cada uma das unidades com o escopo de
explicar aos responsáveis os objetivos da pesquisa e agendar as entrevistas, que
consistiam na aplicação de um questionário semiestruturado baseado no Manual do
Ministério da Saúde que aborda o AM (BRASIL, 2009). As entrevistas foram
realizadas de junho a outubro de 2012 por entrevistadores previamente treinados.
Os profissionais foram caracterizados quanto à idade (média/desvio padrão),
sexo, ter filhos (sim/não), se os filhos foram amamentados (sim/não), tempo de
profissão (em anos completos), modelo de atenção em que trabalhavam
(tradicional/ESF), tempo de atuação na atenção básica e na ESF (em anos
completos), capacitação em AM (sim/não) e leitura do Guia de Nutrição Infantil do
Ministério da Saúde que aborda o AM (sim/não) (BRASIL, 2009).
O desfecho manejo do AM foi medido através de questões abertas e
fechadas, que permitiram a construção de um escore baseado nas recomendações
do Guia de Nutrição Infantil (BRASIL, 2009). Nas questões objetivas, a codificação
foi feita da seguinte forma: dois (resposta correta) ou zero (resposta incorreta). Nas
perguntas abertas, a codificação foi: dois (resposta correta), um (resposta
parcialmente correta) ou zero (resposta incorreta). Foi considerado manejo
188
satisfatório escores acima de 80%, regular entre 79,9% e 50% e insatisfatório
escores abaixo de 50% (SILVESTRE et al., 2009).
Foi utilizado o Programa Epi Info, versão 6.04, para dupla digitação dos
questionários. Após, os dados foram transferidos ao pacote estatístico Stata, versão
11.0, onde foram realizadas as análises. As perguntas abertas foram transformadas
em variáveis categóricas. A comparação das proporções foi realizada através do
teste exato de Fisher. Na interpretação dos resultados do escore de manejo, foi
utilizado o teste t de Student para comparação das médias. Foi realizada uma
análise de mediação controlando o efeito do modelo de atenção para a realização de
capacitação em AM e a leitura do manual do MS. Além disso, testou-se se havia
interação entre as variáveis analisadas com o modelo de atenção, não sendo
verificado modificação significativa (p<0,10) nos resultados. Em vista disso, as
análises não foram estratificadas pelo modelo de atenção. O nível de significância
adotado foi de 5% para testes bicaudais.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da
Saúde da Universidade Federal do Rio Grande, conforme parecer nº 184/2011, em
conformidade com as recomendações para pesquisa envolvendo seres humanos,
além de ser aprovado no Núcleo Municipal de Educação Permanente em Saúde
(NEPES) da Secretaria Municipal de Saúde para autorização da coleta de dados na
RBS do Rio Grande. Foi garantido a todos os profissionais confidencialidade dos
dados coletados, participação voluntária e possibilidade de deixar o estudo quando
desejassem, sem necessidade de justificativa. Esta pesquisa não recebeu nenhum
tipo de financiamento para sua realização.
4. RESULTADOS
Do total de 46 enfermeiros, todos aceitaram participar da pesquisa. A
maioria dos enfermeiros era do sexo feminino (93,5%), tinha filhos (69,6%) e
experiência com aleitamento materno (93,8%). Houve predomínio de tempo de
profissão entre 10 e 20 anos (52,2%), vínculo com o modelo tradicional (60,9%),
189
tempo de trabalho na atenção básica entre 10 e 20 anos (47,8%) e de 5 a 10 anos
de trabalho na ESF (60%). A maior parte (52,2%) realizou capacitação em AM e
metade leu o Manual. A média de idade foi de 43 anos (DP 9,0).
Na tabela 1 verifica-se que a metade dos enfermeiros apresentou
desempenho regular no manejo do AM. Ao analisarmos o desempenho de acordo
com o modelo de atenção em que trabalhavam observou-se que nenhum
profissional da ESF apresentou desempenho insatisfatório, enquanto (72,2%)
apresentou desempenho regular e 28,6% teve desempenho satisfatório. Em relação
ao modelo tradicional a maior parte (39,3%) obteve desempenho insatisfatório,
enquanto 35,7% apresentou desempenho regular e 25% satisfatório.
A tabela 2 demontra que a diferença entre as médias do escore de manejo
em AM foram significativamente associadas ao sexo, ao modelo de atenção, à
realização de capacitação em AM e à leitura do Manual do MS que aborda o AM.
Para este escore, o efeito do modelo de atenção foi mediado pela realização de
capacitação em AM.
Tabela 1 - Escores de manejo em aleitamento materno dos enfermeiros, segundo modelo de atenção, da rede
básica de saúde da cidade do Rio Grande/RS, 2012 (n=46).
MODELO DE
ATENÇÃO
Enfermeiro
ESF
Tradicional
MANEJO
Valor p
Insatisfatório
n(%)
Regular
n (%)
Satisfatório
n (%)
11 (23,9)
0 (0,0)
11 (39,3)
23 (50,0)
13 (72,2)
10 (35,7)
12 (26,1)
5 (27,8)
7 (25,0)
190
0,004
Tabelas 2 - Médias do escore de manejo em aleitamento materno de acordo com as características dos
enfermeiros das unidades básicas de saúde da cidade do Rio Grande/RS, 2012 (n=46).
ESCORE DE
VARIÁVEIS
n (%)
MANEJO
Valor p
(DP)
Sexo
Masculino
Feminino
Filhos
Não
Sim
Experiência com aleitamento materno dos
filhos
Não
Sim
Modelo de atenção
UBS com ESF
UBS Tradicional
Realização de capacitação em aleitamento
materno
Não
Sim
Leitura do Manual do Ministério da Saúde
sobre Nutrição Infantil que aborda o
aleitamento materno
Não
Sim
0,01
3 (6,5)
43 (93,5)
31,5 (8,9)
65,1 (20,6)
14 (30,4)
32 (69,6)
55 (23,8)
66,2 (21,0)
0,11
0,75
2 (6,3)
30 (93,8)
70,8 (2,0)
65,9 (20,8)
18 (39,1)
28 (60,9)
73,9 (10,3)
55,8 (24,1)
22 (47,8)
24 (52,2)
49,7 (22,5)
74,9 (11,9)
0,001
<0,001
0,02
23 (50,0)
23 (50,0)
55,4 (24,0)
70,3 (16,4)
5. DISCUSSÃO
A análise de desempenho no teste de manejo do AM demonstra que os
profissionais em sua maioria obtiveram desempenho regular. A baixa porcentagem
de profissionais com desempenho adequado é preocupante. Considerando que
esses profissionais atendem gestantes e puérperas oferecendo orientações e
esclarecimentos quanto à técnica correta da amamentação, bem como a resolução
de problemas que podem ocorrer durante a lactação, esta porcentagem está aquém
do esperado. Ao interpretar os dados deste estudo, é preciso destacar que se trata
de um estudo transversal, logo os resultados aqui apresentados refletem
estritamente o período em que os dados foram coletados. Os enfermeiros que atuam
na ESF apresentaram melhores escores de manejo do AM quando comparados aos
profissionais do modelo tradicional. Estudo transversal realizado por Cruz et al.
(2010) observou que todas as proporções de orientações sobre amamentação foram
191
significativamente mais referidas por moradoras de áreas de ESF do que por
moradoras de áreas de UBS tradicional, demonstrando que o modelo de atenção
tem forte associação com as informações fornecidas pelos profissionais. É relevante
salientar que o crescimento dos recursos financeiros destinados à Atenção Básica,
tem enfatizado o crescimento de recursos para a ESF, já que o governo federal
considera essa estratégia a alternativa ideal para a conversão do modelo tradicional
ainda existente (MARQUES; MENDES, 2003).
O sexo feminino demonstrou médias maiores que o sexo masculino no escore
de manejo do AM. Este resultado vai ao encontro dos achados de Ciconi et al.
(2004), em estudo realizado em Francisco Morato, SP, cujo objetivo foi avaliar os
conhecimentos e a capacitação de equipes do Programa de Saúde da Família para
o desenvolvimento de ações de incentivo
Ter filhos ou a experiência prévia dos profissionais com a amamentação
destes não se associaram significativamente com o escore de manejo do AM. Os
enfermeiros que não tiveram experiência prévia com a amamentação dos filhos
demonstraram médias mais elevadas do que aqueles que tiveram experiência. Isso
demontra a importância do conhecimento técnico para manejar adequadamente a
amamentação, bem como resolver os problemas advindos dessa prática.
Os profissionais que realizaram capacitação em AM obtiveram as maiores
médias de acertos comparados com aqueles que não realizaram. Averiguou-se que
a realização de capacitação em AM tem forte efeito sobre o modelo de atenção, ou
seja, o efeito do modelo de atenção perpassa pela realização de capacitação em
AM.
O Manual do MS sobre nutrição infantil que aborda o AM é uma excelente
ferramenta que proporciona conhecimento amplo sobre a teoria e a prática da
amamentação. A leitura do manual proporcionou diferenças entre as médias de
manejo do AM sendo esta diferença estatisticamente significativa com médias mais
elevadas para os profissionais que realizaram a leitura.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
192
Os resultados deste estudo indicam que o melhor desempenho dos
profissionais da ESF quando comparados aos enfermeiros do modelo tradicional, no
manejo do AM, está relacionado à realização de capacitação em aleitamento
materno.
Este novo modelo promove a ampliação e a qualificação da atenção
básica através da realização de diversas atividades incluindo a educação
continuada. Conclui-se que a expansão dessa estratégia permitiria maior incentivo,
apoio e promoção da amamentação, devendo-se buscar isso junto aos gestores de
saúde.
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Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil, aleitamento materno e nutrição
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193
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aleitamento materno em serviços públicos de saúde. Rev. Latino-Am Enfermagem.
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Pública, Rio de Janeiro, v. 24, p.235-246, 2008.
194
18.2) ITINERÁRIO DE UMA USUÁRIA DE CRACK DA GESTAÇÃO AO
TRATAMENTO E REINSERÇÃO SOCIAL (2014)1
PEREIRA , Simone Barbosa2;
BACKES, Dirce Stein3;
MELO, Andressa A. 4;
REIS, Thamiza L. da Rosa dos5
QUADROS, Jacqueline Silveira de6
GRASEL, Jéssica T.7
RESUMO
A presente pesquisa teve como metodologia a pesquisa etnográfica, a qual permite
a leitura de determinado cenário sem preocupar-se com julgamentos, pré-conceitos
ou busca de certezas. Esta pesquisa ocorreu em um hospital de médio porte de uma
cidade do interior do RS entre o mês de setembro do ano de 2010 a novembro do
ano de 2012. O objetivo do estudo foi acompanhar o itinerário da internação para
dependência química pelo uso do crack a reinserção social de uma mulher com 25
anos de idade gestando seu quinto filho. Esta foi internada primeiramente na
maternidade do hospital e posteriormente internada compulsoriamente em uma
unidade de desintoxicação química. Ocorreram sucessões de acompanhamentos e
encaminhamentos com vistas a transcender o cuidado estritamente pontual para a
singularidade e subjetividade que envolve o ser humano. Com os resultados
apresentados foi possível observar que necessita-se de maior conhecimento acerca
1
Trabalho Final de Graduação de Bacharel em Enfermagem-Centro Universitário FranciscanoUNIFRA- Santa Maria. RS
2
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário
Franciscano.Email: [email protected]
3
Professora Ms, Dra. Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected]
4
Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected]
5
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário
Franciscano.Email: [email protected]
6
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário
Franciscano. Email: [email protected]
7
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário
Franciscano. Email: [email protected]
195
do “fenômeno” do uso do crack por parte dos profissionais que atuam nos cenários
de desintoxicação química, além de políticas públicas efetivas e legislações
específicas que favoreçam e estimulem a reinserção social de dependentes
químicos após o tratamento. Esse estudo foi aprovado pelo comitê de ética e
pesquisa do Centro Universitário Franciscano sob o nº 279/2009.
ABSTRACT
This research was ethnographic research methodology, which allows the reading of a
particular scenario without worrying about judgments, preconceptions or search for
certainty. This research took place in a medium-sized hospital in a city in the RS
between September of 2010 and November of 2012. The aim of the study was to
follow the route of admission to drug addiction by the use of crack social reintegration
of a woman with 25 years old pregnant with her fifth child. This was first admitted in
the maternity ward of the hospital and subsequently admitted compulsorily in a
chemical detoxification unit. Occurred successions of accompaniments and referrals
in order to transcend the strictly punctual care for uniqueness and subjectivity that
involves humans. With the presented results it was observed that will need more
knowledge about the "phenomenon" of crack use by professionals who work in
chemical detoxification scenarios and effective public policies and specific laws that
favor and encourage social reintegration after treatment chemical addicts. This study
was approved by the Ethics Committee of Franciscan University and Research
Centre under No. 279/2009.
Eixo Temático 1: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Políticas Públicas; Equipe de enfermagem, Usuários de drogas.
1. INTRODUÇÃO
No atual contexto, mesmo em um mundo globalizado, com acesso à Internet
e informações chegando a todo instante, por meios de comunicação, torna-se
196
perceptível que adultos, jovens e crianças vêm se envolvendo cada vez mais com o
uso de drogas, na maioria das vezes de forma impulsiva, por prazer ou até mesmo
para desafiar as suas próprias forças.
O uso de drogas vem sendo palco de discussões por várias décadas. No
entanto, se agravou com o surgimento das drogas mais potentes e altamente
devastadoras, destacando-se aí o crack, foco deste trabalho. Para melhor
compreender a entrada desta droga no Brasil e seus efeitos será realizada uma
breve retomada histórica.
O crack entrou no país em meados de 1988, mais especificamente nas
periferias da cidade de São Paulo. Essa droga, um subproduto da cocaína,
disseminou-se rapidamente em vista de seu baixo custo, além de produzir efeitos
mais intensos do que a cocaína (RIBEIRO, SANCHEZ; NAPPO, 2010).
Em 1989 houve o primeiro relato de uso do crack no Brasil, mas somente
em1991 ocorreu sua primeira apreensão, com a disseminação dessa droga surgiram
as cracolândias em vários estados brasileiros. Em 2005, uma pesquisa revelou que
pelo menos 0,7% dos adultos já havia usado crack, em 2006 foi publicada a lei
sancionando o uso e o tráfico de drogas ilícitas, penalizando de forma mais efetiva
os traficantes destas drogas ilícitas. Em 2010, o crack tornou-se alvo de discussões
dos candidatos à presidência da república em suas campanhas eleitorais
e em
2011, surge a polêmica da internação compulsória de dependentes químicos
(SANCHES; PAGGI, 2011).
O crack é um forte estimulante em nível de sistema nervoso central (SNC),
visto que a sua ação está em bloquear a ação dos neurotransmissores ou tentar
impedi-las, entre eles estão a norepinefrina, dopamina, serotonina, acetilcolina e o
gaba (TIBA, 1999).
As consequências do uso do crack estão atreladas a dificuldades
respiratórias, desmaios, emagrecimento, dilatação das pupilas, bem como
queimaduras nos lábios, dedos e face devido à proximidade da chama do isqueiro
quando é queimada a pedra de crack. Este nome é advindo da mistura de
197
bicarbonato de sódio e pasta de cocaína, o qual endurece formando as chamadas
“pedras”. Com essa mistura, a droga leva de cinco a dez segundos para atingir
pulmões e o SNC, neste último agindo diretamente nos neurônios, tendo seu pico
máximo de ação entre dois e três minutos (TIBA, 1999).
Essa forte relação com os neurotransmissores está atrelada à dependência
química (DQ), a qual é caracterizada como o impulso pelo uso da droga em busca
da sensação de prazer e até o alívio de sensações desagradáveis e/ou medo
(CEBRID). Vale lembrar, também, que o uso de drogas normalmente está associado
às atividades ilícitas, como: furtos, roubos, tráfico, latrocínios, atitudes violentas e
vulnerabilidade social (RIBEIRO, SANCHEZ; NAPPO, 2010).
Uma vez identificada a dependência química, faz-se necessária a intervenção
em busca de tratamento dentre eles tem-se clínicas de reabilitação e fazendas
terapêuticas, ainda observa-se nesse processo, a importância do apoio familiar visto
que em grande parte a DQ está atrelada a fatores psicológicos, sociais e espirituais
(ARAGÃO; MILAGRES; FRIGLIE, 2009).
Frente a essa problemática e com toda a informação que atualmente se tem a
respeito das drogas, observa-se que as opiniões divergem quanto ao tipo de
tratamento: de um lado questiona-se a liberdade de ir e vir, negando a internação
compulsória, por outro lado, encontra-se a ansiedade por solucionar esta
problemática, hoje caracterizada como problema de saúde pública.
Com tudo, a internação compulsória irá depender da efetividade do
acompanhamento após o tratamento, bem como a reinserção social dessas
pessoas. Entre os depoimentos de dependentes químicos à revista Época, um deles
chama atenção ao afirmar que a voluntariedade é o primeiro “passo” a efetividade
do tratamento (SANCHES; PAGGI, 2011).
Sob esta ótica observa-se que aliado ao tratamento do dependente químico,
atitudes de inclusão social precisam estar atreladas, entendendo-se esta por
reconhecimento e dignidade humana, deslocando o foco exclusivo da doença,
trazendo-o para condição de cidadão (SARACENO, 2001). Objetiva-se com este
198
estudo etnografar o itinerário e as intervenções realizadas com uma gestante,
usuária de crack desde o processo de desintoxicação química a reinserção social.
2. METODOLOGIA
Para a presente pesquisa foi utilizada a etnografia, por esta ter como
característica permitir ao autor descrever e interpretar determinada realidade, sem
que com isso haja a pretensão de revelar verdades, mas procurar desvelar
significados de determinados sujeitos e/ou relações vivenciadas (GEERTZ, 1989).
Aliada à etnografia foi utilizada a pesquisa exploratória ou ensaística. Esse
tipo de pesquisa permite a investigação de situações complexas pouco conhecidas,
podendo ser em caráter teórico, histórico, cultural, etc. Para a realização desse
estudo tornam-se necessários prazos mais longos e caminhos incertos, e isso se
justifica por ele envolver a subjetividade, que possui em sua essência forte caráter
descritivo (VASCONCELOS, 2007).
A fim de atender os critérios éticos, foram respeitadas rigorosamente as
recomendações da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196/96, a
qual preconiza a ética na pesquisa com seres humanos, levando em consideração o
desenvolvimento da pesquisa e solicitação de autorização ao Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA, sob o número 279/2009.
O estudo trata-se do itinerário de uma usuária de crack, gestante de
aproximadamente 20 semanas, desde a internação em um hospital de médio porte
em uma cidade do interior do RS até a reinserção social. Este itinerário ocorreu do
mês de setembro do ano de 2010 ao mês de novembro do ano de 2012. A fim de
preservar sua identidade foi utilizado o pseudônimo Pérola.
A participante da pesquisa foi devidamente esclarecida quanto aos objetivos
e o método do estudo, bem como teve assegurado o direito de livre acesso aos seus
dados e à desistência de participação a qualquer momento, sem lhe acarretar danos
ou prejuízos. O consentimento para este estudo foi por meio da leitura detalhada e,
199
posteriormente, a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) garantido o sigilo quanto sua identidade.
3. DA INFÂNCIA AO USO DE CRACK
Para melhor entendimento de algumas situações descritas torna-se válido
conhecer parte da infância de Pérola, seus caminhos e descaminhos desde a
infância, adolescência, juventude a vida adulta.
Pérola nasceu na cidade de Porto Alegre/RS. Foi abandonada por sua mãe,
nos primeiros anos de vida, sem possuir explicações, sendo criada por seu pai até
os 7 anos de idade. Referiu que, por vezes, seu pai ficava ausente de casa por dias,
sobrecaindo sobre seus ombros a responsabilidade por seus irmãos menores, os
quais segundo Pérola requeriam cuidados especiais. Pérola aos poucos foi
crescendo e muitas perguntas a inquietavam, começou a questionar seu pai quanto
ao paradeiro de sua mãe, e ele sempre desconversava, porém dizia que um dia
iriam se encontrar.
O tempo foi passando e com ele se aproximando a fase escolar, Pérola
lembra que seus colegas não interagiam com ela, pois não raras vezes estava com
escabiose, se vestia “diferente” dos outros colegas. Seus calçados eram utilizados
até o momento em que os dedos dos pés começavam a desacomodar-se dentro do
sapato, consequentemente, criando lesões às quais a impossibilitavam de caminhar.
“as crianças não brincavam comigo, ficavam no canto assim, eu brincava
sozinha, pra mim foi bem difícil, sabe, mas eu era criança, né. Criança é
criança,esquece, né, as coisas. Meu pai não comprava tênis, até hoje eu
tenho marcas, porque meu pai não comprava calçado pra mim, então eu
usava um calçado no meus pé, e ia pro colégio assim, oh! Depois, quando
não aguentava mais de dor nos pés, ele abriu assim a ponta dos calçado,
então, ah, no colégio eles riam de mim, me chamavam de piolhenta, de
pobretona, aí faziam horrores comigo!” (Pérola)
Aos 07 anos de idade Pérola foi levada para morar com sua mãe, esta já com
filhos oriundos de outros relacionamentos. Em seguida sua mãe iniciou um novo
relacionamento, que segundo Pérola, se tratava de um homem violento e agressivo,
200
tanto com ela quanto com sua mãe, quanto com seus irmãos. Pérola em algumas
ocasiões refere que tentava intervir na violência que ocorria dentro de casa porém,
nada que fizesse diminuia a violência física sofrida .
“ele era ruim, ruim mesmo... ele bebia e chegava em casa e quebrava tudo,
sabe....e minha mãe fazia tudo por ele” (Pérola)
Dentre idas e vindas, em torno dos 13 e 14 anos de idade Pérola engravidou
de seu primo, o qual não assumiu a paternidade, a criança nasceu com problemas
de saúde sendo necessário internação em terapia intensiva. Pérola lembra que
nessa época, conheceu uma amiga e começaram a sair juntas, faziam uso de “loló”
e maconha. Em uma dessas saídas em grupos de interesse, Pérola começou a se
envolver com um rapaz do grupo, o qual, até a época deste estudo, faz parte de sua
vida.
“... e eu comecei a cheirar loló junto com ela... tudo que ela fazia eu fazia...
tudo que ela fazia pra mim era bom... nós saía tudo pra rua.” (Pérola)
O rapaz que Pérola se envolveu também tinha uma infância marcada por
violência e além disto o uso de drogas na família, drogas estas que também
utilizava. Entre separações e reconciliações tiveram três filhos, Pérola salienta que
utilizava drogas com seu companheiro, deixavam seus filhos em casa para consumir
drogas. A partir de então iniciaram os furtos do casal, a fim de sustentar o vício,
conforme relato a seguir:
“no beco eu fumava direto, direto com ele, eu grávida do... Tinha um
caminhão chamado... porque todo mundo que ia pra lá saía chapadão, né.
E eu me enfiava naquele carro para fumar com o (companheiro). Foi quando
o... me ensinou a roubar nos mercados... só que ele me ensinou isso no
intuito de me usar, isso nunca me passou pela cabeça, hoje passa.” (Pérola)
Passado alguns anos, o casal e dois filhos vieram morar na cidade onde
ocorreu a pesquisa, segundo Pérola devido a promessas de melhoria de vida, a filha
mais velha ficou com uma tia materna. A tão esperada mudança não ocorreu, seus
filhos foram retirados de sua tutela pelo Conselho Tutelar local após denúncias.
“eu nunca me esqueço, pareciam uns bichinhos, os pobrezinho, parecia uns
bichinho, botava eles num canto, botava um pano no chão, botava eles num
201
canto e botava tudo as comida ali, sabe? Eles comiam ali felizes da vida.”
(Pérola).
“eles (CT) se apavoraram, até hoje eles dizem que nunca viram coisa
parecida com aquilo. Quando eles entraram pela janelinha, meu filhos me
viram e vieram correndo, porque eles sabiam que eu ia levar comida
né.Vieram correndo assim na janela. E eles viram a situação, né. Minha filha
tava pelada, sem roupa, o... todo sujo sabe? Eu dava banho nos meus filho
numa torneira, eu botava eles embaixo ali e dava banho neles... Bah!, tudo
uma sujeira, comida pelo chão, bem coisa assim, sub-humana.” (Pérola)
Pérola na época da pesquisa, com 25 anos de idade, gestando seu quinto
filho, com uma intensa ficha criminal por pequenos delitos, chegou ao hospital
bastante debilitada, sua aparência enfraquecida apontava para a necessidade de
cuidados específicos. Primeiamente
foi encaminhada a
maternidade onde
permaneceu por cerca de 5 dias, após esse período foi encaminhada a unidade de
desintoxicação química. No primeiro instante houve certa resistência à internação,
logo chegou via judicial a internação compulsória, mas aos poucos Pérola foi
compreendendo a proposta e consequentemente aceitando melhor o tratamento.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com intuito de acolher Pérola, a equipe de colaboradores do hospital exerceu
com seriedade o acolhimento, conforme preconiza a Política Nacional de
Humanização (PNH). Com escuta atentiva a equipe interveio sabiamente,
articulando redes internas e externas, garantindo-lhe a atenção integralizada
(POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO, 2003).
O cuidado de enfermagem deve estar atrelado às necessidades do ser
humano, como ser integral, imbuído de crenças, valores e culturas, deslocando o
foco exclusivo da doença, para o ser humano que a abriga (LEOPARDI, 1999).
Com este pensamento foram realizadas algumas ações em prol do resgate da
importância do autocuidado, da autonomia e do ser cidadão . Foi realizado um chá
de bebê onde toda equipe e as pessoas internadas na unidade de desintoxicação se
envolveram no evento, Pérola parecia não acreditar no que estava acontecendo. Por
202
sua inciativa começou participar de oficinas de espiritualidade onde fazia questão de
participar em todos momentos, sempre articulava-se muito bem com toda equipe de
colaboradores e pessoas internadas na unidade.
Durante sua internação soube que tão logo nascesse seu filho este seria
entregue a adoção, mesmo assim Pérola acreditava que conseguiria sua guarda, era
o que manifestava em suas falas e a equipe acreditou e começou buscar formas de
tentar resgatar o que ela havia perdido no decorrer de sua vida, quem sabe uma
chance de cuidar deste filho. Foram sucessões de audiências afim de considerar a
possibilidade de deixar Pérola cuidar deste filho, até a concessão da guarda.
“A Pérola, ela... esse foi o quarto filho, se não me engano, terceiro ou quarto
filho, e os outros filhos... os outros filhos dela,eles já haviam sido destituídos
do poder familiar, retirados dos pais em função de uma série de
negligências e violências que os filhos sofriam com a mãe e o pai, visto que
também eram dependentes químicos, né. Tanto a Pérola como o... eram de
dependentes químicos. Neste caso dessa criança que nasceu, com certeza
foi determinante para que eu deferisse a guarda para que o bebê
permanecesse com ela, foi o fato de ela ter se submetido ao tratamento de
desintoxicação química na unidade... durante ao período de gestação ainda,
né. Ela não aceitava, foi internada compulsoriamente, mas ela acabou
ficando e foi de fundamental importância a preparação que os profissionais
da casa de saúde realizaram no intuito de programar, planejar o futuro da
Pérola, com o bebê, após a saída dela do tratamento. ...poderia resumir
dizendo que o fato dos dois terem se submetido ao tratamento pra
dependência química foi de crucial importância pro deferimento da guarda.”
(Juíza da Infância e Adolescência)
Deu-se início em outra fase, o resgate dos documentos de Pérola
primeiramente, a certidão de nascimento, o que ocorreu por via judicial e
posteriormente, foi encaminhada sua carteira de identidade. Conforme o relato a
seguir, é possível observar a percepção do “ser cidadão” sob a ótica de Pérola.
“Eu achei muito engraçado um dia, porque ela não tinha documento
nenhum, não tinha certidão de nascimento, não tinha nada. E aí, quando a
gente conseguiu a certidão de nascimento dela, via judicial, lá em Porto
Alegre, e a gente foi fazer a documentação dela, ela ria e beijava o
documento, e dizia ‘Agora eu existo... agora tenho identidade, tenho
203
certidão, tenho CPF, agora eu existo, até carteira de trabalho...”. Eu digo:
sim, agora tu existe, porque antes eu não existia. Aí eu digo, não no
papel,tu não existia. Interessante isso da forma como...’ Tu nem pensa nisso
de que a pessoa tenha aquela questão de entender que não é formal
perante a lei a existência dela, né? E foi bem bacana assim.” (Assistente
Social)
Em meio ao que ocorria, seu companheiro veio a procura de Pérola na
unidade de internação para DQ, por vezes chegava nas visitas exalando álcool, a
equipe mais uma vez interveio, por diversas vezes conversaram sobre uma possível
internação, após várias tentativas foi possível interná-lo em uma Fazenda
Terapêutica, pois compreendia-se o quanto Pérola e seu companheiro ainda
estavam ligados.
Em 23 de janeiro de 2011, Pérola deu a luz, mas as incertezas assolavam os
pensamentos da equipe. Onde Pérola e seu filho iriam morar? Quem ofereceria a
chance de Pérola se reinserir na sociedade?
Após conversas com a administração do hospital, Pérola e seu filho foram
autorizados a permanecer no local até conseguir moradia. Ficaram por 03 meses
neste local, Pérola encaminhou sua carteira de trabalho e título eleitoral,
documentos que ainda lhe faltavam. Sua primeira moradia foi no albergue municipal
e a partir daí foram sucessões de mudanças de residências, até conseguir locar
algumas peças onde foram morar.
Por meio da subjetividade do ser humano torna-se possível perceber que o
profissional enfermeiro deve aguçar não somente e exclusivamente a rotina do “fazer
por fazer”, mas entender que o cuidado que é prestado permeia a técnica das
relações interpessoais, as quais envolvem acolhimento e vínculo (PIRES;
LEOPARDI, 1999).
Percebendo a vontade de mudança de vida dessa família, a administração do
hospital ofereceu uma oportunidade de emprego a Pérola em outro estabelecimento,
também sob a sua administração.
“bom, a Pérola ficou praticamente oito meses internada, né? E eu relutei
muito com a atenção que estavam dando a ela, porque eu sabia que estava
chegando a hora de dar alta e ela não teria para onde ir. Então me senti
204
corresponsável nesse momento, de achar uma forma dessa criatura poder
sobreviver, e a forma que eu encontrei foi dar a oportunidade de emprego,
tinha essa possibilidade então a gente apostou...” (Administradora do
hospital)
Observa-se, portanto, que a administração hospitalar agiu responsavelmente
no sentido de promover a cidadania de Pérola. Vale lembrar, ainda, que empreender
socialmente significa trazer a possibilidade de mudança na vida das pessoas,
trazendo-as à condição de atores principais de sua história (MELO NETO; FROES,
2001).
“A Pérola foi uma que... ela não tinha família, ela não tinha meio, porque ela
tava totalmente perdida assim de apoio, né. E aí, quem foi o apoio dela?
Foram as pessoas aqui de dentro. Se tu tem uma família desestruturada,
mas tem uma pessoa que tem essa vontade que vai se esforçar, eu acredito
que tenha chance de se recuperar. Agora, a maioria dos casos o que
impede a recuperação é a posição da família, é uma coisa que eu acredito.”
(enfermeira, responsável técnica do hospital)
Morin (2000), salienta que conhecer determinada situação não traz nenhuma
verdade com veemência, apenas dialoga-se com as incertezas. E mais uma vez as
incertezas traziam desassossego, não havia a direção certa a seguir, apenas na
desorganização dos pensamentos buscava-se uma nova organização.
Era perceptível a vontade de mudança de vida que Pérola buscava, mas
sabia que haviam situações com a justiça as quais deveria enfrentar. Entra-se
portanto em um novo dilena: de um lado o Estado oferta o tratamento, de outro o
mesmo pode levar o dependente ao cárcere tão logo complete seu tempo de
internação. Sob essa ótica seria premente avaliar caso a caso, uma vez que se trata
de seres humanos e, como tais, são únicos, dentro de uma esfera onde parece não
haver distinção entre eles.
”Assim, oh! dependentes químicos eventualmente se envolvem com
crime,né. Pra manter o vício, por uma série de situações, ou até em função
de cometerem delitos, se envolverem em brigas no período que eles estão
sobre efeito do crack, ficarem um pouco mais agressivos.Em algumas
ocasiões, quando eles se envolvem com esse tipo de delito, eles precisam
pagar uma pena para depois se submeterem a um tratamento. É super
205
complexo essa questão porque, nossa legislação, ela não entende que o
dependente químico é incapaz de compreender o ilícito dos atos que ele
pratica. Então ela não autoriza, por exemplo, que um dependente químico
com um laudo médico nos autos dizendo que ele é dependente químico,
que por isso ele deixe de, por exemplo, de cumprir uma pena de prisão né.
Então ele terá que cumprir uma pena de prisão. Não acho que essa é a
melhor forma, né. Até porque se sabe que nos presídios do mundo, do
Brasil mais especialmente, em muitos casos as pessoas continuam
consumindo drogas dentro do presídio, como nós sabemos que é o caso
aqui de Santa Maria, né. Então o dependente químico entra no presídio e
ele continua usando drogas, não está tratando o foco do problema, que é a
dependência química. Ele vai sair, ele vai continuar estando dependente
químico e muito provavelmente. se ele não se submeter a um tratamento,
ele vai praticar novos delitos. Então eu acho que há um despreparo, assim,
por parte da nossa legislação,e de modo geral há um despreparo no Brasil
pra o atendimentos de dependentes químicos, né. Se pensa sempre que a
repressão sozinha vai resolver o problema, mas são três eixos de trabalho e
eles não podem se separar nunca. A repressão ao tráfico, ao tráfico, e não
dos usuários. né. O tratamento pra os usuários e pra suas famílias, que
ficam doentes junto com eles, e a prevenção, que é o antes de entrar no
consumo. Se não tiver um trabalho intenso, no mesmo nível de intensidade
nos três eixos, não me parece que vá haver uma solução adequada.” (Juíza
da Infância e Juventude).
No intuito de mudar uma cultura, torna-se necessário que instituições
formadoras possam estimular seus acadêmicos a mudar essa realidade da “hiperespecialização”. Caso contrário, corre-se o risco de fragmentar o saber, ao invés de
articulá-lo, compreendendo que o todo faz parte do indivíduo, assim como o
indivíduo faz parte de um todo (MORIN, 2007). Com isso faz-se necessário uma
reforma em nível de legislação assim como no preparo profissional para que o
tratamento e a reinserção social possam andar juntos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
206
Existe alguma certeza em relação aos métodos utilizados no que diz respeito
a dependência química? Que tipo de tratamento é o ideal? Como essas pessoas
poderão se reinserir na sociedade? Quem haverá de oportunizar o primeiro ou a
volta ao emprego? Em relação a formação profissional, o que pensam nossos
formadores, nossas universidades e escolas a respeito da temática? E ainda, o que
estão fazendo concretamente para avançar na formação de profissionais capazes de
fazer frente a tamanha complexidade social?
Abordar a complexidade do “fenônemo do crack” significa transcorrer em
redes de interseções e mergulhar no mais profundo desconhecido em busca de
compreensão, sem com isso buscar verdades absolutas, significa transcender o
cuidado pontual com foco exclusivo na doença e visualizar o ser humano dentro de
um contexto, trazendo-o como co-responsável tanto pelo tatamento quanto pela sua
reinserção social. Para tanto torna-se imprescindível, qualificação profissional além
de legislação e políticas públicas efetivas que possam abranger a complexidade
deste fenômeno.
REFERÊNCIAS
A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e
Outras Drogas/Ministério da Saúde. Secretaria Executiva, secretaria de Atenção a
Saúde, CN-DST/AIDS. – Brasília,1º ed. –: Ministério da Saúde, 2003.
ARAGAO, AntonioTeulberto Mesquita; MILAGRES, Elizabete; FIGLIE, NelianaBuzi.
Qualidade de vida e desesperança em familiares de dependentes químicos.Itatiba,
v. 14, n. 1,Apr. 2009. Disponívelem: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 19
Ago. 2011.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
LEOPARDI, M.T. Teorias da Enfermagem: Instrumentos para a prática: Ed. PapaLivros; p. 80-84.Florianópolis, 1999.
MORIN, E. Ciência com Consciência.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
NETO, Francisco P. de Melo; FROES, César. Gestão da Responsabilidade Social
Corporativa: O caso Brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.
207
PIRES, D.E.P. A estrutura objetiva do trabalho em saúde. In:Leopardi MT. Processo
de trabalho em saúde: organização e subjetividade. Florianópolis: Papa-Livros; p.
64-75.1999.
RIBEIRO, Luciana Abeid; SANCHEZ, Zila M.; NAPPO, Solange Aparecida.
Estratégias desenvolvidas por usuários de crack para lidar com os riscos
decorrentes do consumo da droga.J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 59, n. 3,
2010.
SANCHES, M.; PAGGI, M. Internar À força Resolve? REVISTA ÉPOCA; Ed. Globo,
p. 104-109, Agosto,2011.
SARACENO, B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania
possível. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Te Corá Editora/Instituto Franco Basaglia,
2001.
TIBA, I. ANJOS CAÍDOS: como prevenir e eliminar as drogas na vida do
adolescente. São Paulo: Gente, 1999.
VASCONCELOS,Eduardo Mourão. Complexidade e pesquisa interdisciplinar:
epistemologia e metodologia operativa. 3.ed. Petropolis, RJ: Vozes,2007.
208
19.2) PERCEPÇÕES DE PARTICIPANTES DE UM GRUPO DE PLANEJAMENTO
FAMILIAR SOBRE OS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS¹
RAMOS, Francine Carpes2;
MORTOLA, Luana Amaral 3;
MORRUDO, Eduarda de Quadros4;
SILVA, Jéssica Gama da5;
COSTA, Aline Rodrigues6;
GOMES, Vera Lúcia de Oliveira7.
RESUMO
O estudo objetivou-se identificar o método contraceptivo usado com maior
freqüência e avaliar as principais dificuldades para a obtenção e para o uso do
mesmo. Trata-se de um recorte de caráter exploratório-descritivo da pesquisa
qualitativa intitulada “fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos
contraceptivos”. Participaram do estudo 14 Mulheres do município de Rio Grande
encaminhadas das Redes Básicas de Saúde de origem para o acompanhamento no
grupo de planejamento familiar de um hospital dosul do Rio Grande do Sul. A coleta
dos dados foi realizada através de entrevistasgravadas, guiadas através de um
roteiro contendo perguntas abertas divididas em três focos. Para análise dos dados
foi utilizado o software N Vivo 10. Após a inserção e codificação dos dados no
software, estes foram agrupados em quatro categorias: métodos contraceptivos
utilizados; determinantes na escolha e uso do método contraceptivo atual; métodos
contraceptivos almejados e determinantes na escolha do método contraceptivo
almejado. Grande parte das entrevistadas utilizavam adepoprovera® como
contraceptivo atual. Os principais determinantes da escolha e uso foram a forma e
as dificuldades de obtenção; forma de uso, orientações sobre o método, vantagens
e desvantagens encontradas no uso.
________________
1
Recorte do trabalho de conclusão do curso de enfermagem: Fatores que interferem na escolha e no
uso dos métodos contraceptivos
2
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
3
Enfermeira formada pela Universidade Federal do Rio Grande. E-mail:
[email protected]
4
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
209
5
Acadêmica de Enfermagem da Universade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
6
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
7
Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem da FURG. Tutora PET
Enfermagem. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Enfermagem, Gênero e Sociedade
(GEPEGS). Email: [email protected]
Os resultados evidenciaram que os fatores relacionados ao preço, a disponibilidade
e as características dos métodos contraceptivos foram as principais influencias na
escolha e no uso dos métodos. Portanto, é importante que os profissionais das
Unidades Básicas de Saúde discutam com as usuárias as peculiaridades de cada
método oferecido pelo sistema de saúde para que assim, realizem escolhas
conscientes.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Planejamento familiar; Anticoncepção; Enfermagem.
SUMMARY
The study aimed to identify the contraceptive method most frequently used and
evaluate the difficulties in obtaining and using the same. This is a clipping from
exploratory-descriptive nature of qualitative research entitled Factors that interfere in
the choice and use of contraceptive methods. The study included 14 women of Rio
Grande forwarded the Basic Health Networks of origin for monitoring family planning
group in a hospital in southern Rio Grande do Sul. Data collection was conducted
through recorded interviews, guided by a script containing open questions divided
into three focus. For data analysis, the 10 N Vivo software was used. After insertion,
and encoding the data in software, these were grouped into four categories: used
contraceptive methods; determinants in the choice and use of current contraceptive
method; the desired contraceptive methods; determinants in choosing the desired
method of contraception. Much of the participants used the depoprovera® as their
current contraceptive. The main determinants in the choice and use were the way of
obtainment, the difficulties of obtaining, the advantages, how to use, the guidance on
the method, of use and the disadvantages encountered in use. The results showed
that the factors related to price, availability and characteristics of contraceptive
methods were the main influences in the choice and use of methods. Therefore, it is
210
important that the Basic Health Units provide explanations to users about the
methods offered by the health system to that provided with information, accomplish
conscious choices.
Main Topic: Attention to Women's Health.
Keywords: Family Planning; Contraception; Nursing.
1. INTRODUÇÃO
O planejamento familiar contempla o conjunto de ações preventivas e
educativas e a garantia do acesso igualitário às informações, meios, métodos e
técnicas disponíveis para regulação da fecundidade (Lei 9.263/96). Esse tem como
finalidade contribuir para a saúde da mulher, do homem e da criança tendo como
princípio a paternidade responsável e o direito de livre escolha dos indivíduos e/ou
casais de ter ou não filhos (BRASIL, 2002).
Faz parte das ações da Política de Assistência Integral à Saúde da Mulher
(PAINS) preconizada pelo Ministério da Saúde. Essa ação do PAINS torna acessível
os meios de anticoncepção nos serviços públicos de saúde e regulamenta essas
práticas na rede privada, sob o controle do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo
que, a assistência pública é a mais atuante no país (BRASIL, 2002).
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o órgão responsável pela distribuição dos
métodos contraceptivos nas unidades básicas e hospitalares de saúde no Brasil.
Atualmente as ações de anticoncepção do planejamento familiar são mais difundidas
através das Unidades de Saúde da Família (USF). As USF têm um modelo de
política pública de saúde que traz a proposta de trabalho da equipe multiprofissional,
junto à comunidade e corresponde a uma das sete áreas prioritárias de intervenção
na atenção básica (MOURA, et al., 2007; BRASIL, 2010).
Para tornar mais eficiente o atendimento à população foi criado nas USF o
grupo de Planejamento Familiar, no qual profissionais orientam mulheres e homens
sobre a importância do mesmo e seus benefícios para a vida pessoal, social e
211
econômica do casal. A assistência à anticoncepção é uma das estratégias do SUS
ofertada na Rede Básica. Através do grupo de Planejamento Familiar a população
recebe os métodos contraceptivos disponíveis na unidade e a informação sobre as
características e o uso.
No entanto, nem todos estão disponíveis na Rede Básica de Saúde, por isso
são encaminhadas as mulheres que desejam outros métodos contraceptivos para
unidades de maior complexidade como hospitais e policlínicas públicas que
possuem grupos de Planejamento Familiar e contemplam as ações do programa.
2. OBJETIVOS
Identificar o método contraceptivo usado com maior freqüência por mulheres
que freqüentam o grupo de planejamento familiar de um hospital do sul do Rio
Grande do Sul.
Conhecer as vantagens e desvantagens referidas por elas sobre o uso dos métodos
contraceptivos usados e almejados.
3. METODOLOGIA
Este trabalho é um recorte da pesquisa qualitativa intitulada “fatores que
interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos”. Trata-se de um estudo
qualitativo com caráter exploratório-descritivo. Participaram 14 mulheres residentes
no município do Rio Grande encaminhadas pelas Unidades Básicas de Saúde de
origem para o acompanhamento no grupo de planejamento familiar de um hospital
do extremo sul do Rio Grande do Sul. A coleta dos dados foi realizada entre os
meses de maio e junho de 2014, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande (CEPAS/FURG) sob o parecer
032/2014. As entrevistas foram gravadas, guiadas através de um roteiro contendo
perguntas abertas divididas em três focos. O primeiro investigou os dados
demográficos, o segundo abordou os fatores que interferiram na escolha e no uso do
212
método contraceptivo atual e o terceiro enfocou nos fatores que interferiram na
escolha do método contraceptivo almejado pela cliente.
Adotou-se a técnica de análise de conteúdo para o tratamento dos dados , a
qual foi efetuada com a utilização do software N Vivo 10. Esse trabalha com os
chamados de nós que se igualam às mensagens extraídas das fontes de
informação/ emissores, assim são gerados durante o processo de análise as
categorias de informações que são armazenadas em um banco de dados
(BRINGER; JOHNSTON; BRACKNRIDGE, 2006).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados foram apresentados em duas etapas. Na primeira, procurouse caracterizar as participantes a partir dos atributos; idade, ocupação, situação
conjugal, renda familiar e a Unidade Básica de Saúde de origem. Na segunda etapa,
as categorias analíticas foram construídas a partir dessa análise, sendo estas:
“Métodos contraceptivos utilizados”; “Determinantes da escolha e uso do método
contraceptivo atual”; “Métodos contraceptivos almejados” e “Determinantes da
escolha do método contraceptivo almejado”. Para a identificação das entrevistadas,
com vistas a manter o anonimato, optou-se por atribuir para cada uma delas as
letras “UBS” e “USF” seguido do número referente à ordem cronológica da
entrevista.
A partir da codificação das respostas foram construídas categorias prévias
denominadas Free nós, após isso estes foram reagrupados dando origem às
categorias analíticas os Tree nós. A primeira categoria referiu-se ao método
atualmente utilizado pelas entrevistadas. A segunda foi formada através dos Free
nós; a forma de obtenção do método contraceptivo atual, dificuldades enfrentadas
no acesso ao método contraceptivo atual, vantagens e desvantagens do método
contraceptivo atual. Nesse trabalho foram apresentadas as categorias relacionadas
aos métodos contraceptivos utilizados
213
Um dos recursos do software NVivo 10 é a apresentação dos resultados sob
forma de nuvem. Essa dimensiona a palavra de acordo com sua frequência. Assim,
quanto maior o desenho gráfico da palavra, mais vezes ela foi citada. A nuvem a
seguir evidencia que o método mais citado foi a depoprovera.
Figura 1: Métodos contraceptivos utilizados pelas participantes deste estudo
Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. 2014.
O termo “Depoprovera®” apareceu em maior destaque na nuvem de
palavras em virtude de sua frequência apresentada pelo programa, que foi de (07)
50,00%. Observa-se, em menor destaque os termos pílula (contraceptivo hormonal
oral) com (04) 28,57% e o preservativo masculino com (03) 21,42% de escolha,
sendo que apenas (02) 14,30% das participantes utilizavam o preservativo
masculino em associação com outro método.
Diferentemente do resultado deste estudo, o Relatório Sociodemográfico
feminino que buscou investigar informações acerca da saúde social e reprodutiva
feminina, realizado no ano de 2011 com 195,2 milhões de pessoas, das quais 100
milhões eram mulheres, revelou que das 67,8% mulheres que utilizaram algum
método contraceptivo, 22,1% optaram pela pílula e apenas 7,7% preferiram o
contraceptivo hormonal injetável. Este estudo também revelou que o uso do
preservativo masculino teve apenas 13% de aceitabilidade, sendo considerado um
percentual baixo, tendo em vista que este evita gestações não-planejadas e previne
a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (BRASIL, 2013).
214
Em relação aos determinantes da escolha e uso do método contraceptivo
atual, foram mencionados a forma de obtenção, incluindo as dificuldades
encontradas para obtê-lo, as vantagens do mesmo, a orientação sobre o método e
as desvantagens encontradas no uso.
Quando indagadas acerca
das vantagens oferecidas pelo
método
contraceptivo atualmente utilizado, elas mencionaram desde a praticidade até a
proteção contra doenças sexualmente transmissíveis. A visualização pode ser feita
no esquema abaixo.
Figura 3: Vantagens do método contraceptivo atual
Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos
contraceptivos. 2014.
Quanto às vantagens proporcionadas pelo método contraceptivo atual, cinco
mencionaram que o injetável lhes trouxe maior segurança, por ser trimestral, o que
diminuiu o risco de esquecimento, além de produzir menos efeitos colaterais. Para
três participantes a facilidade do uso foi considerada uma vantagem.
“(...) tenho outro filho pequeno ficou mais fácil, porque eu sempre acabo
esquecendo de tomar a pílula, por isso eu engravidei tomando a pílula.” (USF05)
215
“O que me motivou a usar a depoprovera® é que ela não causa dor de
estomago nem dor de cabeça, eu tomava a pílula e vomitava, me sentia muito mal.”
(UBS10)
Outras quatro 28, 54% entrevistadas referiram que os contraceptivos orais
lhes causaram menos efeitos colaterais.
“A outra pílula que eu tomava me fazia mal. A que eu tomo agora não me
causa mal-estar” (USF04)
Em relação à proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, apenas
uma participante mencionou-a como vantagem conferida pelo preservativo
masculino.
“(...) a camisinha eu uso às vezes (...), acho que protege contra as doenças”
(USF 06)
A característica mais marcante dos métodos contraceptivos hormonais orais
é a facilidade de uso, embora o maior problema seja a necessidade de ingestão
diária que resulta em esquecimento freqüente, com aumento da taxa de falha
contraceptiva. Dessa forma o contraceptivo hormonal injetável torna-se mais
vantajoso, pois não necessita de uma rotina diária de aplicação, e sim mensal ou
trimestral ( BRASIL, 2010; OSIS, 2006).
A análise dos relatos das participantes revelou que aquelas que faziam uso
de
contraceptivos injetáveis mencionaram
menores efeitos adversos.
O
contraceptivo hormonal injetável é constituído apenas de progestagenos, por isso os
efeitos colaterais são reduzidos. Os contraceptivos hormonais tanto de uso oral
quanto na injetável são constituídos de estrogênio e progestogênio, podendo
provocar maiores efeitos colaterais na usuárias(TRUSSELL, 2007).
Em relação ao preservativo masculino e a proteção contra DST’s, Madureira,
Marques e Jardim (2010) referem que é fundamental o conhecimento sobre os
métodos contraceptivos e os riscos advindos de relações sexuais desprotegidas. A
informação possibilita o exercício da sexualidade, de forma consciente, prevenindo
uma gravidez não-planejada bem como doenças sexualmente transmissíveis
(BRASIL, 2013).
216
Quanto às desvantagens dos métodos contraceptivos atuais, foram citados
desde problemas de ordem pessoal até as escolhas do parceiro, como se pode
observar no esquema a seguir.
Figura 4: Desvantagens do método contraceptivo atual
Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos
contraceptivos 2014.
Dentre as desvantagens citadas, quatro participantes 28,57% referiram
dores de cabeça, mal-estar, náusea e vômito ao usarem a pílula, o que resultou em
inúmeras trocas de vezes o anticoncepcional. Percebe-se que, mais uma vez, os
efeitos colaterais constituíram fatores que dificultaram o uso e adaptação aos
contraceptivos.
“(...) É, não me faz bem. Quando eu vou engolir, parece que não desce...”
(USF02)
“(...) me adaptei super bem a esse anticoncepcional, mas de uns meses pra
cá começou a me dar muito enjoo, me disseram também que o cigarro junto ao
anticoncepcional podia me dar um derrame ou infarto”. (USF01)
217
A ausência de quaisquer efeitos secundários adversos seria a condição
ideal, mas ainda não é uma realidade comum a todos contraceptivos até os dias
atuais. No entanto, é também verdade que determinados métodos ocasionam mais
efeitos secundários adversos que outros, sendo direito das usuárias serem
corretamente
informadas
a
respeito
dessas
diferenças.
Nesse
caso,
os
contraceptivos hormonais orais, são os que resultam em mais efeitos colaterais.
(LUBIANCA e WANNMACHER, 2011).
Em uma investigação realizada nos Estados Unidos foi encontrado que 37%
das usuárias de contraceptivos orais descontinuaram o uso, referindo como motivo
os efeitos adversos;
mudanças menstruais, cefaléia,
náusea
e mal-estar
(CARVALHO; SCHOR (2005). Outro estudo desenvolvido em diversos países
mostrou que entre as usuárias de anticoncepcionais orais, as taxas de abandono ou
troca por outro método, no ano anterior à entrevista, foi de 81% e troca de método
por eventos adversos foi de 57% (PIERRE; CLAPIS, 2010).
Dados similares foram observados no Brasil onde 45% das usuárias de
anticoncepcionais hormonais orais descontinuaram o uso nos primeiros 12 meses,
sendo 12% por eventos adversos. Esta proporção é maior para injetáveis (64%)
(PIERRE; CLAPIS, 2010). Os anticoncepcionais orais com menor dose de
estrogênio foram desenvolvidos com o intuito de minimizar os efeitos adversos e
aumentar as taxas de continuidade no entanto, dados epidemiológicos recentes
evidenciam que isso não ocorreu (YAMAMOTTO, 2012). O esquecimento da
ingestão da pílula foi mencionado por outras duas mulheres, fato este que as
incomodava e dificultava o uso. Por esse motivo optaram pela troca de
contraceptivo.
Outro fator que influenciou negativamente no uso do contraceptivo foi a
aversão do parceiro sexual ao preservativo masculino que foi referida por duas
participantes, o que ocasionou o não uso desse método.
“(...) meu marido tem um problema com a camisinha, ele não gosta porque é
ruim de colocar e já estourou uma vês.” (USF06)
218
Segundo Schall, (2000) os casais geralmente não negociam o uso do
preservativo, já que isto estaria pondo em dúvida a fidelidade de ambos, além disso,
a mulher ainda está na posição reprimida e jamais deverá portar o preservativo
consigo, mantendo-se calada para não provocar desconfiança do companheiro.
Segundo Gilliam e McCarthy (2004) a rotina diária de ingestão do
contraceptivo hormonal oral exige atenção por parte da mulher que deve adotar um
esquema que, nas pílulas monofásicas, em geral é de 21 pílulas seguidas de sete
dias de descanso, devendo evitar o esquecimento da ingestão e também o dia de
reinício do ciclo de pílulas. Isto tem levado a taxas de falha maiores que as
esperadas, chegando a quase 8%, ao ano. Estudo transversal realizado em diversos
países, evidenciou que 67% das mulheres entrevistadas admitiram ter esquecido
alguma pílula ou usado o ciclo de forma errada nos três meses anteriores.
“Eu tentei tomar sempre no mesmo horário, mas nunca deu certo. Sempre
esqueço de tomar. As vezes tomo mais cedo ou mais tarde é bem complicado,
porque me confundo até com os remédios da pressão e me dá dor de estômago
também...” (USF 06)
“Tenho dificuldade para usar, porque já engravidei duas vezes com a pílula,
esqueço de tomar e tenho dor de cabeça.” (USF 13)
As dificuldades que as mulheres enfrentaram para o correto uso refletiu na
eficácia e na efetividade dos métodos contraceptivos., o que pode resultar por sua
vez em baixas taxas de continuação a longo prazo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do estudo pode-se observar que o método contraceptivo usado com
maior frequência é o Depoprovera®, seguido pelo anticoncepcional oral e camisinha
masculina. No entanto, foram relatadas dificuldades na obtenção de alguns
métodos, como o anticoncepcional oral e o injetável, o primeiro devido à exigência
de prescrição médica para adquiri-lo principalmente nas UBS e o segundo pela não
disponibilidade na unidade. Outras desvantagens citadas pelas participantes foram
219
os efeitos colaterais causados pela pílula, levando à escolha do contraceptivo
injetável.
Ressalta-se a importância do grupo de planejamento familiar nas USF, pois
através dele podem ser discutidas as indicações, contra-indicações, vantagens,
desvantagens e efeitos colaterais de cada método, para assim, direcionar à escolha
consciente das usuárias. Faz-se ainda necessária uma melhor estruturação nas
Unidades de Saúde, para que seja ampliada a disponibilização de métodos
contraceptivos e dos grupos de discussão, tornando as mulheres mais seguras na
escolha e uso dos mesmos, visando não só a prevenção de doenças como o bemestar da comunidade.
6. REFERÊNCIAS
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as Mulheres – Presidência da República. Brasília/DF, 2013.
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220
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interpretação e desafios na aplicação da Lei 9263. 2012. 202f. Tese. Pós graduação
em saúde pública. São Paulo.
221
20.2) CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER NO CLIMATÉRIO: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
VIANA, Jackeline da Silva1;
FERNANDES-SALGADO, Rúbia Gabriela2;
LIMA, Alessandra Oliveira de 3;
QUINTANA, Mery Hellen da Silva 4;
GAUTÉRIO-ABREU, Daiane Porto5;
KERBER, Nalú Pereira da Costa (Orientadora)6
RESUMO
OBJETIVO: Analisar a produção científica nacional da enfermagem acerca da
mulher no climatério. MÉTODO: estudo bibliográfico, descritivo usando o método da
revisão integrativa da literatura. Os dados foram coletados em setembro de 2014
utilizando as bases de dados LILACS e BDEnf, em conformidade com critérios de
inclusão previamente estabelecidos. RESULTADOS: a amostra final foi constituída
por dez estudos, que mostraram de forma geral dificuldades na assistência de
enfermagem
a
mulher
climatérica
nas
diferentes
alterações
vivenciadas.
CONCLUSÃO: Há necessidade de realizar novas pesquisas acerca do climatério
que servirão como base científica para a assistência a ser prestada.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Climatério; Cuidados de enfermagem; Saúde da mulher.
1
Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected]
2
Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected]@hotmail.com
3
Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected]
4
Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected]
5
Professora Doutora Enfermeira da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail:
[email protected]
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Universidade Federal do Rio Grande - FURG.
E-mail: [email protected]
222
ABSTRACT
OBJECTIVE: Analyze the national scientific production of nursing about the women
in menopause. METHOD: bibliographic, descriptive study using the method of
integrative literature review. Data were collected in September 2014 using the
LILACS and BDEnf data in accordance with previously established inclusion criteria.
RESULTS: The final sample consisted of ten studies, which showed generally
difficulties in nursing care in climacteric women experienced different changes.
CONCLUSION: There is a need to conduct further research about the menopause to
serve as scientific basis for the assistance to be provided.
Main Topic: Health Care of Women
Keywords: Climacteric; Nursing care; Women's health.
1. INTRODUÇÃO
A saúde da mulher, no Brasil, foi incorporada às políticas nacionais no início
do século XX e a atenção à saúde deste grupo populacional vem seguindo um
processo de evolução no qual os antecedentes podem ser considerados a partir da
década de 70. Neste período, o Ministério da Saúde adotava uma concepção mais
restrita da saúde da mulher, que se limitava à saúde materna ou à ausência de
agravos associados à reprodução biológica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
Na década de 1980 ocorreu o lançamento do documento “Assistência Integral
à Saúde da Mulher: bases de ação programática”, que serviu de apoio para o
Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, o PAISM, elaborado pelo
Ministério da Saúde em 1983 e publicado em 1984. Dentro dessa perspectiva
passaram a ser desenvolvidas, em diversos estados da federação, atividades de
capacitação em atenção integral à saúde da mulher e em alguns deles, ações de
saúde específicas direcionadas às mulheres no climatério. Nesse contexto, em 1994,
223
foi lançada pelo Ministério da Saúde a Norma de Assistência ao Climatério
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase
biológica da vida e não um processo patológico, que compreende a transição entre o
período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. A menopausa é um
marco dessa fase, correspondendo ao último ciclo menstrual, somente reconhecida
depois de passados 12 meses da sua ocorrência e acontece geralmente em torno
dos 48 aos 50 anos de idade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
Este período é caracterizado pelas mudanças hormonais (diminuição de
estrogênio e progesterona), alterações vaginais e pela menopausa. Há também
repercussões clínicas como a síndrome climatérica, que é o conjunto de sinais e
sintomas que provocam fogachos, suores, sufocações, vaginite atrófica, prurido
vulvar, dor na penetração peniana, alterações na libido, “nervosismo”, fadiga, choro
e medo, pele seca e pouco elástica, problemas com os cabelos, sensação de bexiga
cheia, alterações de memória, problemas osteomusculares e cardiovasculares
(SOUSA et al., 2011).
O climatério não é uma doença e sim uma fase natural da vida da mulher e
muitas passam por ela sem queixas ou necessidade de medicamentos. Outras têm
sintomas que variam na sua diversidade e intensidade. No entanto, em ambos os
casos, é fundamental que haja, nessa fase da vida, um acompanhamento
sistemático visando à promoção da saúde, o diagnóstico precoce, o tratamento
imediato dos agravos e a prevenção de danos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Por
esta razão é imprescindível que os profissionais tenham conhecimento suficiente
para lidar com esta clientela e auxiliá-las a passar por esse momento da melhor
forma possível.
Uma das intervenções consideradas como necessárias para orientar as
mulheres sobre essa nova etapa de suas vidas é a educação em saúde pensada
como sendo um dispositivo essencial para a promoção da saúde e a prevenção de
doenças (SILVA et al., 2012).
224
Nesse sentido, é imprescindível que a enfermagem, que tem sido considerada
ao longo de sua história, como uma arte e uma ciência (ORSHAN, 2010) domine
essa temática do climatério de forma a desenvolver educação em saúde com as
mulheres nesse período. O enfermeiro necessita de domínio científico para embasar
suas práticas e atuar como educador de saúde junto à mulher e aos seus familiares
e/ou cuidadores. Precisa estar atento à necessidade de cada uma e seu contexto, a
fim de manter e melhorar a sua saúde, pautado no conhecimento acerca das
transformações do ciclo de vida das mulheres para um atendimento de enfermagem
com competência e excelência.
Nesse contexto, se insere este estudo, que se justifica pela necessidade dos
profissionais estarem em atualização constante e construção de conhecimentos
visando prestar um melhor atendimento às mulheres, de acordo com os princípios e
diretrizes do Ministério da Saúde. A relevância do estudo para a enfermagem diz
respeito à capacidade de se conhecer melhor a temática proposta bem como prestar
uma melhor assistência com cuidados específicos voltados para o público estudado.
2. OBJETIVO
Analisar a produção científica nacional da enfermagem acerca da mulher no
climatério.
3. METODOLOGIA
Estudo bibliográfico de caráter descritivo utilizando o método da revisão
integrativa da literatura para coleta e análise dos dados. A revisão integrativa da
literatura tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um
delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o
aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Desde 1980 a revisão
integrativa é relatada na literatura como
método de pesquisa
(ROMAN,
FRIEDLANDER, 1998). Para tanto, foram observadas as seguintes etapas:
225
elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de
dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e
apresentação da revisão/síntese do conhecimento (SOUZA, SILVA, CARVALHO,
2010).
Os dados foram coletados em setembro de 2014 e para o levantamento dos
mesmos foi utilizada como bases de dados a base de dados Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Bases de Dados de
Enfermagem (BDENF). Como estratégias de busca, foram utilizados descritores de
assunto contidos nos Descritores em Ciências da Saúde – DeCS, a saber:
Climatério, Cuidados de Enfermagem, Saúde da mulher. Os descritores foram
combinados nas seguintes formas: Climatério AND Cuidados de Enfermagem;
Climatério AND Saúde da mulher; Cuidados de Enfermagem AND Saúde da mulher.
Delineou-se como critérios de elegibilidade: estudos completos publicados em
português, nos últimos dez anos, apresentando o cuidado de enfermagem direto
e/ou indireto à mulher no climatério como objeto de estudo. Foi excluída,
automaticamente, toda produção duplicada e não relacionada com o propósito do
estudo.
Buscando alcançar uma adequada captação e organização dos dados foi
elaborado um instrumento contendo as seguintes variáveis: ano, base de dados,
título, categoria profissional dos autores, tipo de estudo/abordagem, objetivo,
resultados e conclusão. Os estudos foram analisados criticamente por meio de
leitura na íntegra.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O presente estudo foi constituído por dez estudos que atenderam aos critérios
de inclusão previamente estabelecidos, sendo sete da BDENF e três da LILACS. A
apresentação dos dados e discussão dos resultados é feita de forma descritiva
embasada na literatura adequada ao assunto almejando atender ao objetivo do
estudo. A maioria das publicações é de autoria de enfermeiros e graduandos de
226
enfermagem posto que o objetivo do estudo esteja voltado à área da enfermagem.
Considera-se de suma importância o incentivo aos graduandos acerca da realização
de pesquisa na área e da ligação direta entre pesquisa e assistência. Quanto ao ano
de publicação, três estudos foram publicados no ano de 2008, quatro estudos foram
publicados em 2009, um em 2010, um em 2011 e, mais um em 2012. A maioria foi
de abordagem qualitativa, mas encontraram-se duas publicações com abordagem
quantitativa e uma de caráter quanti-qualitativo.
Entre os artigos estudados, há dados sobre a mortalidade em mulheres
brasileiras no climatério. O artigo foi construído através da coleta de dados de
mortalidade do Sistema de Informações de Mortalidade do Datasus, Ministério da
Saúde, no período de 1979 a 2004. Até o ano de 1995 as causas de morte foram
registradas de acordo com a 9ª. Revisão da Classificação Internacional das Doenças
- CID 9. A partir do ano de 1996, os dados foram registrados seguindo a 10ª.
Revisão da Classificação Internacional das Doenças - CID 10.10. As dez primeiras
causas de morte, segundo os capítulos da CID 9 e 10 no Brasil, para as mulheres
estudadas de 1979 a 2004 foram em ordem decrescente: doenças do aparelho
circulatório, neoplasias, afecções mal definidas, doenças do aparelho respiratório,
causas externas, doenças do aparelho digestivo, doenças infecciosas e parasitárias,
doenças endócrinas nutricionais e metabólicas, doenças do aparelho geniturinário e
sistema nervoso. Ao analisar os coeficientes de mortalidade segundo cada década
do climatério, todas as causas de morte aumentaram com o acréscimo de idade,
com maior evidência para as neoplasias e doenças do aparelho circulatório (LEITE
et al. 2012).
Através da leitura dos artigos foi possível encontrar fatores comuns e
correlacionados no que tange ao climatério e à assistência de enfermagem voltada
para as mulheres que vivenciam este período. O desconhecimento do conceito
verdadeiro de climatério se mostrou expressivo. O climatério é uma fase ancorada
em tabus e enigmas, sendo temida e estigmatizada pela sociedade e é escassa a
produção de conhecimento sobre as ações desenvolvidas por profissionais em
unidades básicas de saúde no que se refere ao tema.
227
Percebe-se, ainda, o desconhecimento sobre o assunto com deficiência de
informações – algumas mulheres relacionam climatério à menopausa e outras nunca
ouviram falar neste termo. Cefaléia, estresse, cansaço, secura vaginal e com ela a
dispaneuria, ondas de calor insuportáveis, tristeza e depressão podem ser
observados nessas mulheres. Mesmo com todas essas mudanças, a maioria das
mulheres aceita a fase do climatério como um processo natural, dispensando, desta
forma a medicalização. Segundo Lima et al. (2001), mesmo com esse conformismo,
a população feminina mostra-se desinformada em relação ao climatério, sendo que
as mesmas demonstram interesse em conhecer mais sobre esse novo momento na
fase de suas vidas para buscarem soluções e estratégias para seus problemas
potenciais, de saúde e o resgate da qualidade de vida.
O reconhecimento dos sintomas do climatério é presente na maioria das
falas de mulheres climatéricas, relacionando-os com este período da vida,
entretanto, a percepção da relação dos sintomas com as mudanças na qualidade de
vida nem sempre é percebida e compreendida. O climatério é, portanto, um
processo de mudanças físicas e emocionais para a mulher, que ainda recebe a
influência de múltiplos fatores: sua história de vida pessoal e familiar, seu ambiente,
cultura, costumes, as particularidades pessoais, psiquismo, dentre outros. Assim, o
climatério afeta cada uma das mulheres de modo diferente, repercutindo nos seus
sentimentos e na sua qualidade de vida (FREITAS, SILVA, SILVA, 2004).
A maioria dos sintomas causa sensações negativas e que contribuem para o
declínio da autoestima. Dentre as alterações que trazem incômodo, foi possível
destacar: a irregularidade menstrual; diminuição da libido; insônia; irritabilidade;
sensibilidade;
envelhecimento;
depressão;
incompreensão;
ondas
de
calor
(fogachos) (PEREIRA, SIQUEIRA, 2009). Entretanto, também foram identificados
fatores positivos presentes na vida das mulheres climatéricas. No período que se
segue à menopausa, em consequência da finitude natural do período fértil, muitas
mulheres afirmam ter muito mais prazer em sua vida sexual, porque não mais se
preocupam com a possibilidade de engravidar. O aumento da libido em algumas
climatéricas pode ser atribuído ao fato de se sentirem livres e valorizadas para
228
manter relações sexuais somente por prazer, pois a atividade sexual, nessa fase,
envolve exclusivamente a relação intima, e não mais a dimensão reprodutora
(LOUREIRO, 2004).
As
mudanças
fisiológicas
do
climatério
trazem
consigo
alterações
psicológicas não compreendidas e menosprezadas pelas mulheres, reduzindo a
busca por ajuda. No climatério, as mulheres tendem a atribuir indiscriminadamente à
menopausa tanto os sintomas relacionados à carência estrogênica, como as queixas
físicas ou emocionais decorrentes de eventuais estados mórbidos prévios,
confundindo-as (HUNTER,1993). As mulheres necessitam, além de esclarecimento
sobre o que acontece com o corpo em mudança, de oportunidades para discutir a
ambiguidade entre os estereótipos culturais da mulher climatérica e suas
experiências pessoais. (BERNI, LUZ, KOHLRAUSCH, 2007).
Nesse contexto, a sexualidade merece particular atenção no climatério. Esta é
reconhecida como um dos pilares da qualidade de vida, porém, a sua abordagem
nem sempre é feita adequadamente por constrangimento das mulheres ou
despreparo dos próprios profissionais de saúde em lidar com essa questão. Além
disso, conforme lembrado por Favarato (2000), a sexualidade teria um caráter
multidimensional, sendo influenciada por fatores psicossociais e culturais, em
especial por relacionamentos interpessoais e experiências de vida, não se
restringindo a fatores anatômicos e hormonais. Entre 25% e 33% das mulheres entre
35 e 59 anos apresentam disfunções sexuais, podendo chegar a 75% entre os 60 e
65 anos. Além das dificuldades decorrentes da atrofia urogenital, a mulher
climatérica tem de lidar com as mudanças físicas decorrentes do envelhecimento
simbolizadas pela menopausa, que podem comprometer a percepção da sua autoimagem corporal, diminuindo a sua autoestima e interferindo negativamente na sua
libido. Entre as mulheres que vivenciam mais positivamente o climatério, as
repercussões na esfera sexual parecem ser menos intensas (FAVARATO et al,
2000).
Outro fator de destaque é o aumento das comorbidades no período de
climatério e na posterior menopausa. O ganho ponderal excessivo é frequentemente
229
relatado pelas mulheres após a menopausa, o que merece atenção não apenas pela
questão estética, mas sim pelas implicações no risco cardiovascular e na gênese do
câncer de mama, endométrio e cólon. No climatério, o ganho ponderal chega a 0,8
Kg/ano; porém, após a menopausa, pode haver um aumento de 20% na gordura
corporal. A carência estrogênica contribuiria principalmente para o acúmulo de
gordura abdominal (DE LORENZI et al. 2005).
Das comorbidades associadas ao hipoestrogenismo climatérico, merece
destaque a osteoporose e a maior incidência de doenças cardiovasculares. Após a
menopausa, a velocidade de perda óssea pode chegar a 2% ao ano. Após a
menopausa, com a queda dos níveis de estradiol, o risco cardiovascular feminino
aumenta progressivamente (BASSAN, 1999). No Brasil, no ano de 2000, a doença
cardiovascular isquêmica levou ao óbito 32.936 mulheres, enquanto que o câncer de
mama foi responsável por 8.308 óbitos (DE LORENZI, BARACAT, 2005).
Cabe ressaltar que a presença de fatores de risco como tabagismo, etilismo,
sobrepeso, sedentarismo e também doenças crônicas, contribui para o aumento das
comorbidades. O exercício físico atuaria estimulando a secreção de substâncias que
promovem a sensação de bem estar e contribuem para a estabilização da
termorregulação hipotalâmica (LIAO, HUNTER 1998). De acordo com Ueda et. al.
(2000), a atividade física regular contribui também para a preservação da mobilidade
articular e o fortalecimento muscular, melhorando a coordenação motora. Além
disso, aumenta a densidade mineral óssea, melhora a capacidade respiratória e o
perfil lipídico, diminui a frequência cardíaca de repouso e a gordura corporal, além
de normalizar a pressão arterial, contribuindo assim para uma menor incidência de
comorbidades ósseas e cardiovasculares. Ademais, melhora a imagem corporal da
mulher, aumentando a sua autoestima e a disponibilidade para o exercício afetivosexual (DE LORENZI, BARACAT, 2005).
O tabagismo, em especial, tem se mostrado extremamente nocivo à mulher
climatérica, contribuindo para uma maior deterioração da sua qualidade de vida,
devendo ser combatido nessa fase. Os seus malefícios incluem a doença broncopulmonar obstrutiva crônica, o câncer de pulmão e o maior risco cardiovascular.
230
Corrêa et al. (2003), referem que a nicotina estimula ainda a secreção de serotina e
de dopamina, causando ansiedade e até euforia, além de interferir na globulina
carreadora de estrogênio, agravando os sintomas climatéricos e o risco de
osteoporose.
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é um tema fundamental trazido na
maioria dos artigos. As estimativas indicavam aumento do risco de doença
cardiovascular e de câncer de mama entre as usuárias de estrógenos com
progestágenos. Atualmente, existem diversas formulações de TRH que variam em
relação ao tipo de composto e via de administração. A escolha do composto mais
adequado deve ser individualizada, objetivando minimizar os possíveis riscos
associados à administração hormonal exógena. Em relação às contra indicações
absolutas, a TRH oral e transdérmica apresentam as mesmas características: câncer
de mama, ovário e endométrio; antecedentes de trombose arterial e venosa;
sangramento de origem uterina de causa desconhecida; hepatopatia em atividade;
lúpus eritematoso sistêmico em atividade; Diabetes melitus 2 (DM2) e Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS) descompensados (GRINGS, 2009).
Segundo De Lorenzi e Baracat (2009), até recentemente, a assistência à
mulher climatérica centrava-se principalmente na terapia hormonal. Entretanto, a
partir de 2002, a publicação dos resultados dos estudos conhecidos por WHI
(Women’s Health Initiative), houve uma sensível redução na sua prescrição (DE
LORENZI, BARACAT, 2005). Os achados do estudo WHI apontaram para um risco
significativo
maior
para
eventos
tromboembólicos
e
câncer
de
mama,
respectivamente, no final do primeiro e após o quinto ano do uso contínuo de
estrógenos conjugados equinos associados a acetato de medroxiprogesterona,
quando comparado com um grupo controle sem qualquer medicação hormonal.
As indicações da terapia hormonal tornaram-se restritas ao alívio dos
sintomas vasomotores e da atrofia urogenital e na prevenção da osteoporose. Uma
revisão do próprio estudo WHI demonstrou que a terapia hormonal teria um efeito de
proteção cardiovascular quando iniciada nos primeiros dez anos após a menopausa,
quando o processo de aterosclerose ainda é inicial (MEHDELSOHN, KARAS, 2007).
231
No entanto, a despeito destes estudos, até o momento a prescrição ampla de
estrógenos no climatério permanece não recomendada (SOBRAC, 2003).
Para as mulheres, a mudança de comportamento em relação à prescrição da
terapia hormonal tem sido difícil de compreender, gerando indagações e até
desconfianças acerca dos seus motivos. Anteriormente, a terapia hormonal
representava uma resposta aos anseios das mulheres em promover a sua saúde
nos anos que se seguiam a menopausa. Vale lembrar que nessa fase, são muitas as
fantasias e dúvidas femininas em relação às implicações da menopausa para a
saúde. O consenso atual é que a qualidade de vida seja o norteador de qualquer
intervenção no climatério (DE LORENZI, BARACAT, 2005).
A assistência à mulher climatérica demanda de conhecimentos sobre essa
fase, suas características, alterações e, fundamentalmente, é preciso haver
sensibilização por parte do profissional de enfermagem para realização do cuidado
de forma humanizada e integral, priorizando a educação em saúde para prevenção
de agravos e comorbidades. O material utilizado no estudo mostra que ainda há
carência de profissionais e de políticas com o foco na atenção à mulher na fase de
climatério. O principal objetivo na assistência, fundamentalmente, consiste na
manutenção das condições de saúde e na melhora na qualidade de vida das
mulheres no período climatérico (FERNANDES, MARQUES NETO, 2007).
Os profissionais de saúde podem encorajar as mulheres climatéricas a refletir
e questionar criticamente (BERNI, LUZ, KOHLRAUSCH, 2007). Esses profissionais,
em especial os que atuam nos programas de saúde da mulher, precisam ser mais
incentivados para atender as mulheres climatéricas porque é necessário desenvolver
ações de saúde que visem à socialização de informações e do bem-estar. Desta
forma, poderão contribuir para que elas possam lançar mão de mecanismos de
enfrentamento eficazes, a fim de superar as modificações e os conflitos causados
pela fase climatérica, porque a chegada do climatério traz consigo inúmeras
modificações e sintomas que ainda são desconhecidos pela maioria da população
feminina.
232
Portanto, o enfermeiro deve atuar, como membro de uma equipe
multidisciplinar, de forma a estabelecer uma relação autêntica, para que possa
compartilhar saberes, anseios, dúvidas, sentimentos e emoções, num processo de
coexistência que se dá numa relação horizontal em que o indivíduo é valorizado e
motivado a refletir sobre seu modo de vida e seus limites, permitindo, assim, que as
mulheres reflitam sobre as alternativas de novos caminhos em busca de uma
convivência melhor consigo mesmas e com seus pares.
A prática assistencial do enfermeiro pode ser vivenciada na consulta de
enfermagem, em que pode identificar as necessidades basais afetadas pela mulher
e, também, implementar medidas de enfermagem que visem à promoção e
reabilitação das mulheres no climatério. As pessoas que estão envolvidas
intimamente com a mulher podem participar também deste processo para que assim
contribua com a equipe para um bem-estar biopsicossocial da mulher. É muito
importante a transmissão de conhecimentos, pois há necessidade de discutir sobre o
assunto com as mulheres, permitindo-lhes manifestar suas percepções em relação a
essa etapa da vida, conhecer o próprio corpo e os aspectos culturais que envolvem
o tema, revelar suas necessidades de saúde e buscar caminhos que possibilitem
satisfazê-las (GONÇALVES, MERIGUI, 2005).
Entende-se que, se para os profissionais de saúde há uma carência acerca
de conhecimentos do climatério, para a população essa carência é ainda maior,
percebendo-se a necessidade de diálogos mais inclusivos, que possibilitem a fala
aberta e a busca por esclarecimentos. A carência de serviços e ações de saúde que
contemplem essa fase do processo de viver feminino é sentida pelas usuárias. É
preciso refletir sobre essa situação, criar uma consciência crítica, a fim de conseguir
mobilizar as usuárias climatéricas para reivindicar esse direito que possuem, e assim
conquistar a implementação de uma política social e de saúde capaz de atender as
suas necessidades.
Devido ao pouco conhecimento e informações acerca do climatério e
menopausa, torna-se difícil diferenciar um do outro, assim como também procurar
atendimento quando necessário. O pouco conhecimento acerca do assunto
233
influencia diretamente na vida das mulheres nessa fase, principalmente na qualidade
de vida. Dessa forma, é de suma importância um atendimento direcionado às
mulheres climatéricas, assim como também apoio e educação continuada, para que
as mesmas possam viver de forma mais saudável e adaptar-se a essa fase que
estão vivenciando (GONÇALVES, MERIGUI, 2005). Com uma assistência mais
específica, as mulheres climatéricas compreenderão as alterações trazidas pela
queda dos níveis de estrogênio, podendo assim aprimorar o autocuidado. Mulheres
esclarecidas tem melhores condições de enfrentamento das diferentes mudanças
vivenciadas.
A leitura dos artigos possibilitou a compreensão da necessidade de
desenvolvimento de um modelo de atenção às mulheres em fase de climatério,
baseado em políticas de assistência a saúde da mulher e no conhecimento científico
acerca das diferentes fases de vida das mulheres, considerando os fatores
fisiológicos, psicológicos, sociais e econômicos das mulheres no climatério.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É evidente a necessidade de realização e publicação de novos estudos
acerca do cuidado de enfermagem com foco na mulher climatérica, posto que há
pouca produção científica e que as publicações mostram desconhecimento e falta de
informação acerca do tema tanto para profissionais quanto para o público alvo,
porém há interesse no assunto por parte das mulheres. Tratam ainda sobre as
mudanças físicas e emocionais do período, bem como as comorbidades adivinda do
climatério e da menopausa. Outro assunto ressaltado é sobre a sexualidade das
mulheres neste período e por fim referencias em relação a terapia de reposição
hormonal que atualmente vem modificando e sendo substituida por hábitos de vida
saudável.
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237
21.2) ESTUDO DE CASO: LACTAÇÃO ADOTIVA, PROPOSTA PARA O
CUIDADO DA ENFERMAGEM MÃE-BEBÊ1
CORREA, Aline Medianeira Gomes2;
CRUZ, Kamilla Borges3 ;
FERREIRA, Carla Lizandra de Lima4;
RESUMO
A amamentação é mais do que a forma mais adequada de suprir as
necessidades nutricionais, pois cria laços afetivos mais intensos entre mãe e filho.
Apesar de comumente ser ato realizado entre mãe biológica e filho, a amamentação
pode ocorrer entre mãe adotiva e bebê, conhecida como lactação adotiva.
Amamentar é um ato que se aprende, sendo fundamental que os profissionais que
lidam com mulheres que desejam amamentar tenham conhecimentos adequados
para orientá-las e auxiliá-las, principalmente o enfermeiro, pois é quem convive nos
momentos iniciais e muitas vezes decisivos desse processo. Este estudo teve por
objetivo relatar o caso de uma proposta de lactação adotiva para o cuidado de
enfermagem mãe-bebê. Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade estudo de
caso, o qual tem como cenário uma Estratégia da Saúde da Família – ESF
localizada na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em
Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida. A
proposta da lactação adotiva para o cuidado de enfermagem mãe-bebê proporciona
vínculo, afeto, e favorece o gostoso desafio a mãe de amamentar o filho adotivo. Na
lactação
adotiva
necessita-se
de
medicamentos,
massagem
das
mamas,
movimentos de ordenha manual, sucção da boca do bebê, mas acima de tudo a
1
Estudo de caso proveniente do projeto de pesquisa “Ações de Cuidado Proporcionado Por
Enfermeiras, Residentes em Obstetrícia, nos Diferentes Cenários de Atuação”, autorizado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa CEP/UNIFRA sob o nº 34098014.3.0000.5306.
2
Enfermeira. Cursando o primeiro ano de Residência em Enfermagem Obstétrica pelo Centro
Universitário Franciscano. E-mail: [email protected]
3
Enfermeira de ESF da Prefeitura Municipal de Santa Maria. Especialização em Residência Integrada
em saúde pelo Grupo Hospitalar Conceição.
4
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Doutoranda pelo
DINTER UNIFESP/UFRJ/UFSM. E-mail: [email protected]
238
vontade de amamentar, pois por vezes esse processo é demorado, demandando
tempo e paciência. Acredita-se que mesmo não obtendo total êxito nas ações
prestadas, a experiência fora de grande valia, principalmente no que diz respeito a
formação profissional. Desta forma, ações a cerca da lactação adotiva devem ser
divulgadas, uma vez que estudos sobre a temática são necessários para aprofundar
as reflexões e melhorar a conduta profissional.
ABSTRACT
Breastfeeding is more than the most appropriate way to meet the nutritional
needs, as it creates more intense emotional ties between mother and son. Although
commonly act performed between birth mother and child, breastfeeding can occur
between mother and baby, known as foster lactation. Breastfeeding is an act that is
learned, being essential for professionals who deal with women who wish to
breastfeed have adequate knowledge to guide them and assist them, mainly the
nurse as it is who coexists in the early stages and often decisive in this process. This
study aimed to report the case of a proposal for lactation nursing care foster motherbaby. This is a descriptive study, case study mode, which is set in a family health
strategy – FSE located in the city of Santa Maria, Rio Grande do Sul, in which the
Residence in Obstetric Nursing of Centro Universitário Franciscano is inserted. The
proposal of lactation for adoptive care nursing mother-infant bond provides, affection,
and favors the tasty challenge the mother to breastfeed the adopted child. In
adoptive breastfeeding needs are medicinal products, breast massage, milking,
suction manual movements of the baby's mouth, but most of all the desire to breastfeed, because sometimes this process is time-consuming, requiring time and
patience. It is believed that even not getting total success in the actions provided the
out-of-body experience of great value, especially with regard to vocational training. In
this way, actions within lactation should be disclosed foster, since studies on the
subject are necessary to deepen the reflections and improve professional conduct.
239
Eixo 5: Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher e ao
Recém-nascido.
Descritores: Amamentação; Enfermagem; Lactação,
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, ações de promoção para o aleitamento materno
foram
implementadas desde os primórdios do Sistema Único de Saúde com o intuíto que
os índices de prevalência aumentassem, orienatado pela Rede Amamenta e
Alimenta Brasil, inserida na Rede Cegonha (BRASIL, 2012).
O Ministério da Saúde do Brasil recomenda o leite materno como alimento
exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança (BRASIL, 2009), uma vez que
é de extrema importância para que se obtenham bons resultados na saúde e
desenvolvimento dos lactentes (SILVA & SOUZA, 2005).
O aleitamento materno (AM) proporciona melhor qualidade de vida e proteção
à saúde da mãe e da criança (TOMA; REA, 2008). Contudo, a amamentação é mais
do que a forma mais adequada de suprir as necessidades nutricionais, pois acima de
tudo, cria laços afetivos mais intensos entre mãe e filho, crucial para a formação de
uma personalidade ajustada socialmente (REGO, 2006).
Apesar de comumente ser ato realizado entre mãe biológica e filho, a
amamentação pode ocorrer entre mãe adotiva e bebê, conhecida como lactação
adotiva. Esta, pode ser instaurada, mesmo sem o estímulo prévio da gestação, no
qual a mulher pode produzir leite por meio da técnina da relactação (CAIRES et al,
2011).
A relactação, que é a frequente sucção do peito pelo bebê, visa o aumento da
produção da prolactina e pode ser um método utilizado por mães adotivas que
desejam amamentar. Nesse processo, é necessário dar suporte emocional extra por
parte da equipe e familiares, para que caso insucesso, não traga frustrações à mãe
e à família (TERUYA & BUENO, 2004).
Embora muitos acreditem que a amamentação é um instinto de todos os
animais, amamentar é um ato que se aprende (REGO, 2006). Nesse sentido, é
240
fundamental que os profissionais que lidam com mulheres que desejam amamentar
tenham conhecimentos adequados para orientá-las e auxiliá-las.
Acredita-se que o sucesso das alternativas de fomento à amamentação é
reservado aos profissionais envolvidos, principalmente ao enfermeiro, pois é quem
convive nos momentos iniciais e muitas vezes decisivos do processo de amamentar.
O profissional de saúde deve ter conhecimentos e habilidades suficientes
para manejar adequadamente as inúmeras situações que podem servir de obstáculo
à amamentação bem-sucedida (GIUGLIANI & LAMOUNIER, 2004).
Desta forma, este estudo justifica-se pelo dever de ampliar os estudos na
temática da lactação adotiva, no sentido de divulgar os conhecimentos sobre o
assunto e refletir sobre possíveis condutas, pontualmente realizadas por
enfermeiros.
2. OBJETIVOS
Relatar o caso de uma proposta de lactação adotiva para o cuidado de
enfermagem mãe-bebê.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade estudo de caso, o qual tem
como cenário uma Estratégia da Saúde da Família – ESF localizada na cidade de
Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica
do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013 durante 40 horas
semanais. Este estudo fora aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa CEP/UNIFRA
sob o nº 34098014.3.0000.5306.
A ESF até o momento do estudo encontrava-se com apenas 03 Agentes
Comunitários de Saúde - ACS, em que muitas áreas estavam desassistidas. A
equipe é composta por uma enfermeira, uma médica, uma odontóloga, uma auxiliar
bucal, uma técnica de enfermagem.
241
O caso fora acompanhado ela enfermeira responsável da ESF e pela
residente atuante na unidade. A residente realiza consultas de pré-natal,
puericultura, puerpério, coleta de preventivo, consulta de enfermagem e consulta da
mulher. Durante o atendimento dialogaram residente e mãe adotiva sobre a
possibilidade da lactação adotiva, convidando-a para participar do estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A.M.D, 18 anos, negra, em união estável há 03 anos, vem à ESF com RN de
10 dias para orientações. Mora em região descoberta por agentes comunitários de
saúde. Paciente refere que adotou a criança, filho biológico da sua prima, usuária de
crack. Após primeiro contato foram dadas orientações, sanadas dúvidas e agendado
retorno para consulta de 30 dias.
Nesse primeiro encontro com a mãe já poderia ter sido informado e
incentivado o aleitamento, pois o leite materno, além de ser considerado o melhor
alimento para os bebês, é reconhecido por oferecer vantagens no fortalecimento do
vínculo mãe-filho (BECHE et al, 2009). Essa
vinculação não é inata e a
amamentação é uma oportunidade de se instalar esse vínculo ou de aprofundá-lo.
Após 30 dias A.M.D. trouxe o bebê acompanhado de seus avós. Nesta
consulta conseguiu-se aprofundar o histórico. Seus pais adotaram os outros 4 filhos
dessa mesma mãe e quando ela internou em trabalho de parto da quinta gestação, a
assistente social telefonou colocando-os a parte da situação e perguntando se não
teriam interesse em adotar também o recém-nascido. Como eles já são
responsáveis pelos outros, sendo a mais nova com menos de 2 anos, negaram a
possibilidade preocupados com suas condições. Diante desta situação, A.M.D.
conversou com seu marido e decidiram adotar.
A criança apresentava-se em ótimo estado geral, com ganho de peso
adequado, em uso de fórmula infantil alternada com leite integral diluído na
mamadeira (conforme orientado previamente). Durante a consulta a paciente
perguntou da possibilidade dela produzir leite e amamentar a criança, pois sabia dos
242
benefícios que traria ao bebê. Motivada pela sua mãe, disse que já havia posto o
bebê para sugar a mama algumas vezes. Ao discutirmos a possibilidade, o pai de
A.M.D, que acompanhava a consulta, surpreendeu-se com a ideia. A enfermeira da
ESF que conhecia histórias de sucesso na tentativa de amamentação adotiva,
explicou como se dá a produção de leite na mulher, motivando a família junto a
residente.
É possível perceber a dualidade da influência de familiares na amamentação
e que na maioria das vezes, são os mais velhos que influenciam na hora da
amamentação, onde o cuidado do filho é um ensinamento que passa de geração
para geração (FROTA et al, 2009).
Nesse sentido, os familiares também são peças importantes nesta
construção, repassando saberes, podendo exercer grande influência sobre a
amamentação nas mulheres. Por isso é importante ter uma aproximação entre a
mulher que vai amamentar, os familiares e os profissionais de saúde, no qual essa
inter-relaçãoé um fator consideravel para o sucesso do aleitamento materno
(FALEIROS, 2006).
A Lactação induzida não puerperal é a produção de leite na mulher que nunca
esteve grávida ( WALETSKY & HERMAN, 1976) e deve ser tratada em conjunto com
a técnica da relactação, por serem ambos processos induzidos.
A produção inicial do leite é endócrino, isto é, depende da presença de
hormônios. A partir disso, a sucção do bebê no peito, estimula as terminações
nervosas do mamilo e aréola, enviando impulsos via neuronal reflexa aferente para o
hipotálamo, estimulando a hipófise anterior a secretar o hormônio prolactina e a
hipófise posterior, ocitocina (NEME, 2000).
No entanto, para estimular a lactação numa mulher que nunca teve o seu
corpo preparado para uma gravidez é necessário maior empenho pessoal e
profissional, normalmente com ajuda medicamentosa (BROWN, 1978).
A partir deste momento formularam-se estratégias junto a família, como uso
de seringa para auxiliar a protusão do mamilo (possuí mamilo falso invertido) e
técnica da relactação para iniciar o processo o quanto antes. Elencaram algumas
243
mudanças que deveriam ser seguidas, tais como, a troca do anticoncepcional
injetável mensal por medroxiprogesterona 150mg, pois por ser a base de
progesterona, não influencia na produção de leite (ANVISA, 2013), suspender o uso
de mamadeira e se necessário ofertar leite por seringa, suspender a oferta de
chupeta, fazer uso da ocitocina spray nasal antes da relactação e contato pele a
pele sempre que possível, principalmente no momento da técnica. Solicitaram que a
paciente retornasse à ESF com leite diluído e toalha.
A ocitocina tem a função de ejeção do leite produzido pela prolactina. Cada
mL de solução spray nasal contém 40 UI de ocitocina sintética e é indicado para a
estimulação da secreção de leite em mulheres com dificuldades para amamentar ou
extrair o leite (NOVARTIS, 2014).
Assim que A.M.D. retornou, as enfermeiras buscaram na ESF os seguintes
materiais: Duas seringas de 20ml, um cateter
buterfly, tesoura e esparadrapo.
Iniciaram a técnica: Material pronto, bebê e mãe em posição confortável, contato
pele a pele, mamilo umedecido e sonda bem posicionada. A mãe pegava sua mama
em “C”, enquanto uma enfermeira auxiliava no posicionamento do bebê e pega
correta e a residente controlava a saída de leite na sonda.
Durante todo o processo, as enfermeiras foram ensinando a técnica para a
mãe do bebê, para que tentassem repetir em casa. Nas primeiras tentativas o bebê
acabava buscando a sonda para fazer sucção, talvez pela textura semelhante ao
bico da mamadeira, contudo, quando isso acontecia, a sonda era clampeada e solta
apenas quando o bebê sugava o peito, isso se repetiu até o bebê cansar e
adormecer.
Segundo autores, a principal dificuldade da relactação é fazer o bebê que já
está acostumado com outros bicos, voltar a sugar no peito, nesse caso, a mãe
precisa ter paciência e apoio da equipe de saúde e familiares (PROENÇA, 1994 &
REGO, 2006).
Um dos fatores determinantes, não é diretamente relacionado a idade da
criança e sim o tempo que ela permaneceu sem contato com o seio materno. Quanto
244
mais tempo o infante passa a sugar o seio materno, maiores são as chances de readaptação (MARIANO, 2011).
A.M.D demonstrou confiança, segurança com a equipe e estar muito feliz
frente a possibilidade de amamentar. As enfermeiras a encorajaram e solicitaram
que a mãe retornasse na unidade todos os dias, para auxiliar na sucção em ambas
as mamas, corrigir técnica e acompanhar o processo. Foi solicitado que trouxesse
um acompanhante para que aprendesse e se sentisse confortável para ajudá-la em
casa.
Durante a relactação encontrou-se algumas dificuldades como a mama muito
volumosa, o mamilo falso invertido e a falta de adaptação do bebê à textura da pele
da mãe adotiva. Contudo, buscou-se contornar a situação, como por exemplo antes
da técnica da relactação o mamilo falso invertido era estimulado via pressão com a
seringa de 20ml, no momento da oferta ao bebê a mama volumosa era manejada
pela mãe buscando pegá-la em “C”, além disso o contato pele a pele e o cessar do
uso de bicos e mamadeiras foram orientações reforçadas ao longo de todo o
processo.
Apesar do pedido ter partido de A.M.D, da felicidade frente a possibilidade de
amamentar, ela não retornou mais à ESF. Tentou-se fazer o acompanhamento via
telefone, mas AMD informava que o marido e sua mãe auxiliavam, mas que estava
com dificuldades. Foi realizada uma visita domiciliar para acompanhar o processo de
perto, mas não a encontramos em sua residência.
Em um dos últimos contatos, A.M.D. referiu que não conseguiu produzir leite
e se desmotivou a tentar, e que atualmente, ofertava leite em mamadeira. Neste
caso, sabe-se que para o objetivo ser alcançado, a mãe deveria estar motivada,
orientada e acompanhada por um profissional com dedicação suficiente para que as
dificuldades diárias sejam minimizadas de modo a potencializar seu desejo materno
(MARIANO, 2011).
Infelizmente,
o
acompanhamento
profissional
não
pode
se
dar
veementemente, uma vez que a falta de recursos humanos é consideravelmente
influenciador na cobertura da assistência a população.
245
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática do aleitamento materno deve ser amplamente difundida entre as
mulheres e famílias, pois conhecemos o quanto fortalece o sistema imunológico e
trás benefícios as crianças. Porém, no caso de mães adotivas, as quais não
produzem o hormônio prolactina (induz a produção do leite e precisa ser estimulado)
faz-se necessário que os profissionais que compõem a equipe de saúde estejam
preparados tecnicamente e cientificamente para auxiliar nesse processo mãe-bebê.
A proposta da lactação adotiva para o cuidado de enfermagem mãe-bebê
proporciona vínculo, afeto, e favorece o gostoso desafio a mãe de amamentar o filho
adotivo.
Na lactação adotiva necessita-se de medicamentos, massagem das mamas,
movimentos de ordenha manual, sucção da boca do bebê, mas acima de tudo a
vontade de amamentar, pois por vezes esse processo é demorado, demandando
tempo e paciência. Além disso, é importante ter um monitoramento do bebê quanto
ao crescimento para observar se a criança não esta perdendo peso.
No estudo de caso foi possível perceber que além da enfermagem estar
prontamente disposta e preparada para orientações é necessário que mãe e
familiares estejam disponíveis para ajudar essa mãe a enfrentar as dificuldades e
frustrações que fazem parte das demora na produção do leite.
Acredita-se que mesmo não obtendo total êxito nas ações prestadas, a
experiência fora de grande valia, principalmente no que diz respeito a formação
profissional. Desta forma, ações a cerca da lactação adotiva devem ser divulgadas,
uma vez que estudos sobre a temática são necessários para aprofundar as reflexões
e melhorar a conduta profissional.
Portanto, a cultura do aleitamento materno deve ser amplamente difundido
entre as mulheres e famílias, para isso faz-se necessário maiores campanhas e que
abordem as dificuldades da amamentação, esclarecendo dúvidas e reforçando
orientações, também aos profissionais.
246
REFERÊNCIAS
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WALETSKY, Lucy R.; HERMAN, E.C. Relactation. American Family Physician. Vol
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248
22.2) A ADAPTAÇÃO EXTRAUTERINA E A HIPOTERMIA EM RECÉMNASCIDOS: UM ESTUDO DE CASO 1
REIS, Thamiza L. da Rosa dos2;
QUADROS, Jacqueline Silveira de3;
PEREIRA, Simone Barbosa.4;
GRASEL, Jéssica Torres5;
MORO, Adriana Subeldia dos Santos6;
FREITAS, Hilda Maria Barbosa de7
RESUMO
Este estudo tem como objetivo identificar os Diagnósticos de Enfermagem
mais frequentes entre recém-nascidos com alterações termorreguladoras e
glicêmicas internados em uma maternidade-escola a fim de nortear o trabalho da
equipe de enfermagem que presta assistência a esses neonatos. Trata-se de um
estudo descritivo com uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, o mesmo
foi realizado em uma maternidade-escola, de uma cidade do interior do Rio Grande
do Sul. O sujeito de pesquisa foi constituído por um recém-nascido (RN), cujo parto
ocorreu na referida instituição. A coleta de dados procedeu por meio de consulta ao
prontuário do cliente, após esclarecimentos à mãe do RN quanto à finalidade da
pesquisa e obtenção de sua anuência. Houve uma correlação dos indicativos
diagnósticos com os dados encontrados, utilizando raciocínio clínico e definições
elucidadas na NANDA, para elaboração dos Diagnósticos de Enfermagem (DE).
1
Estudo de caso desenvolvido durante disciplina ministrada na Residência em Enfermagem
Obstétrica.
2
Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail:
[email protected]
3
Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail:
[email protected]
4
Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail:
[email protected]
5
Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail:
[email protected]
6
Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail:
[email protected]
7
Orientador: Enfermeira Professora Doutora em Enfermagem, Centro Universitário Franciscano, email: [email protected]
249
Com esta pesquisa tornou-se evidente a importância dos diagnósticos de
enfermagem bem como a função do profissional enfermeiro junto com sua equipe no
que tange o cuidado ao RN.
ABSTRACT
This study aims to identify the nursing diagnoses more frequent among
newborns with thermoregulation and glucose alterations hospitalized at a maternity
hospital in order to guide the work of the nursing team that provides assistance to
these neonates. This is a descriptive study with a qualitative approach, the case
study type, it was conducted in a maternity hospital, a city in the interior of Rio
Grande do Sul. Research subject consisted of a newborn (RN), whose birth occurred
in that institution. Data collection proceeded through consulting the records of the
client, after the mother of the newborns clarification as to the purpose of the research
and obtaining their consent. There was a correlation with diagnoses indicative of the
data found using clinical reasoning and definitions elucidated in NANDA, for
elaboration of Nursing Diagnoses (DE). With this research it became evident the
importance of nursing diagnoses and the role of the professional nurse with his team
regarding the care of the newborn.
Eixo Temático: Atenção à Saúde do recém-nascido.
Descritores: Saúde da criança; Recém-nascido; Diagnóstico de enfermagem;
Hipotermia; Hipoglicemia.
1. INTRODUÇÃO
A adaptação extrauterina envolve uma série de transformações anatômicas e
principalmente
fisiológicas
que,
quando
bem
sucedidas,
garantem
a
automanutenção do neonato ao término do período de suporte placentário. O recémnascido (RN) apresenta instabilidade importante em diversos sistemas de controles
hormonais e neurogênicos em função da imaturidade de diversos órgãos e em
resposta a transição da vida fetal à neonatal (VIVANCOS et al., 2010).
250
Dentre as adaptações ocorridas, destaca-se a termorregulação corporal. O
neonato é homeotérmico imperfeito, superaquecendo-se e esfriando-se com
facilidade. Ao nascimento, sua temperatura é idêntica à materna, havendo a seguir
uma diminuição de 1ºC a 3º C, voltando a subir logo em seguida, atingindo cerca de
37º C em 6 a 8 horas, se os cuidados forem adequados (BRASIL, 2011).
O cuidado à temperatura corporal do RN deve-se iniciar desde o nascimento,
ainda em sala de parto, estendendo-se a todos os ambientes que envolvem sua
permanência (BALBINO et al., 2013). Quando não controlado, o estresse provocado
pela exposição do RN ao frio ocasiona o aumento do metabolismo e uma maior
utilização de glicose, tornando o recém-nascido propenso à hipoglicemia, definida
como nível plasmático de glicose abaixo de 40 mg/dl (FREITAS; MATOS; KIMURA,
2009).
A hipoglicemia neonatal é uma anormalidade metabólica comum, que ocorre
no período pós-natal precoce, afetando 3% a 43% das gravidezes (OLIVEIRA;
SOUZA; SILVA, 2013). No entanto, o período neonatal é marcado por intensa
atividade metabólica, o cérebro do neonato se torna bastante sensível às reduções
glicêmicas, que podem ocasionar danos cerebrais graves. É importante atentar
precocemente, portanto, à hipoglicemia, avaliando os sintomas ou fatores de risco e
revertendo o quadro, a fim de evitar sequelas neurológicas no recém-nascido
(SANTOS; JORNADA JUNIOR, 2014).
Neste contexto, a Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE)
surge como um meio norteador das ações a serem executadas para o paciente, de
forma dinâmica e objetiva, contribuindo com a melhoria da assistência de
enfermagem e redução da morbidade e mortalidade dos neonatos com distúrbios
metabólicos, além de tornar possível a implementação do Processo de Enfermagem
(PE) (OLIVEIRA; SOUZA; SILVA, 2013).
O PE é um instrumento metodológico de prestação de cuidado constituído por
um conjunto de etapas que permitem identificar situações de saúde/doença do
indivíduo. As etapas realizadas sequencialmente embasam a seleção e a prática de
ações e o acompanhamento de seus resultados. É instituído pelas seguintes fases:
251
histórico
(investigação),
diagnóstico
de
enfermagem
(DE),
planejamento,
implementação e avaliação (COFEN, 2009).
Os cuidados relacionados à adaptação extrauterina do RN são um desafio
constante aos profissionais e requerem atenção especial da enfermagem por
predisporem a danos neurológicos, dependendo da sua gravidade. Baseado nisso,
este estudotem como objetivo identificar os Diagnósticos de Enfermagem mais
frequentes entre recém-nascidos com alterações termorreguladoras e glicêmicas
internados em uma maternidade-escola a fim de nortear o trabalho da equipe de
enfermagem que presta assistência a esses neonatos.
2. METODOLOGIA
Estudo descritivo com uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso,
objetivando capturar as circunstâncias e condições de uma situação do dia-a-dia,
utilizando o processo de enfermagem nas suas fases de histórico, diagnóstico de
enfermagem, planejamento, intervenção e avaliação dos resultados. Foram
utilizados a teoria NHB e o processo de enfermagem.
O estudo de caso pode ser definido como um estudo delimitado com a
exploração de um sistema, obtido a partir de uma coleta de dados detalhada. Estes
são apropriados para serem aplicados na assistência direta de enfermagem, com a
finalidade de realizar um estudo profundo dos problemas e necessidades do
paciente, família e comunidade, com a possibilidade de elaborar estratégias para
solucionar ou reverter os problemas encontrados (GALDEANO; ROSSI; ZAGO,
2003).
O mesmo foi realizado em uma maternidade-escola, de uma cidade do interior
do Rio Grande do Sul. A escolha dessa instituição deveu-se ao fato de ser um
campo de ensino universitário especializado no atendimento ao binômio mãe-bebê,
por ser um hospital de referência da região em atendimento de partos de risco
habitual e por apresentar o principal campo de prática da Residência em
Enfermagem Obstétrica.
252
A população de pesquisa foi constituída por um recém-nascido (RN), cujo
parto ocorreu na referida instituição, escolhido aleatoriamente por ser uma situação
cotidiana ocorrida na presença de um dos autores do estudo. A coleta de dados
procedeu por meio de consulta ao prontuário do cliente, através de leitura minuciosa,
após esclarecimentos à mãe do RN quanto à finalidade da pesquisa e obtenção de
sua anuência.
Após concluída a fase de coleta de dados, foi iniciado o trabalho de análise
das informações coletadas. Houve uma correlação dos indicativos diagnósticos com
os dados encontrados, utilizando raciocínio clínico e definições elucidadas na
NANDA, para elaboração dos Diagnósticos de Enfermagem (DE).
Os DE se baseiam no agrupamento de dados coletados para instituição de
uma informação diagnóstica sobre o paciente para o cuidado; contribuem para base
do conhecimento da profissão e o estabelecimento de cuidados específicos a uma
determinada situação ou indivíduo. Os DE permitem que o enfermeiro estabeleça
intervenções priorizando as situações de agravamento, risco ou predisponentes ao
comprometimento da saúde do paciente (NANDA, 2010).
Previamente à coleta, foi solicitada a assinatura de uma carta de
consentimento da mãe do RN autorizando sua participação no estudo, obedecendo,
assim, os preceitos éticos e legais para menores de 18 anos. Tornamos evidente à
participante do estudo, que lhe seria assegurado o anonimato.
Foram cumpridas todas as especificações da resolução 196/96, do Ministério
da Saúde, sobre pesquisas em seres humanos, sendo a pesquisa aprovada pelo
Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Franciscano, sob o número
758677/19.08.2014.
3. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO
Recém-nascido do sexo feminino; peso ao nascer: 2,930 gramas; Apgar no 1º
minuto: 9 e no 5º minuto: 10; Temperatura ao nascer: 36 graus; Perímetro cefálico:
253
33 centímetros; Perímetro torácico: 34 centímetros; Comprimento: 49 centímetros.
Filho de J.S.M., 31 anos, secudigesta, idade gestacional 40 semanas e 4 dias.
Parturiente foi admitida na maternidade para acompanhamento de trabalho de
parto no dia 20 de agosto de 2014, às 04 horas, apresentando dinâmica uterina
moderada, 4 cm de dilatação do colo uterino, apresentação cefálica, plano de De
Lee +2, bolsa amniótica íntegra. Trabalho de parto acompanhado pelas enfermeiras
residentes em enfermagem obstétrica. Parto vaginal com laceração grau I, ocorrido 7
horas após admissão na unidade, com período expulsivo de aproximadamente 27
minutos. Após o parto, RN foi encaminhado ao alojamento conjunto juntamente com
sua mãe, apresentando temperatura de 36,9 graus.
Após duas horas, puérpera refere que RN encontra-se sonolento e não aceita
aleitamento materno. Observou-se que a criança encontrava-se com vestimentas
inadequadas ao clima. Ao exame físico RN encontrava-se hipoativo, apresentando
temperatura axilar: 35,7 graus e glicemia capilar: 38 mg/dL.
Conduta da equipe de enfermagem: O recém-nascido foi mantido em berço
aquecido até atingir a temperatura de 36,9º. Após normalização da temperatura
axilar foi oferecido fórmula infantil com média aceitação. Após 30 minutos foi
realizado novamente glicemia capilar: 65 mg/dL. Realizadas orientações à puérpera
quanto a adaptação extrauterina e termorregulação do RN com boa compreensão.
Os
Diagnósticos
de
enfermagem
encontrados
foram:
Hipotermia;
Termorregulação ineficaz; Risco de desequilíbrio na temperatura corporal; Nutrição
desequilibrada menos que as necessidades corporais; Risco de glicemia instável;
Padrão ineficaz de alimentação do bebê; Risco de crescimento desproporcional;
Maternidade ou paternidade prejudicada; Amamentação ineficaz; Amamentação
interrompida; e risco de infecção (NANDA 2010).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A termorregulação é definida como o processo de manutenção da
temperatura corporal que compreende a relação entre a perda de calor e a produção
254
de calor é essenciais para os neonatos, uma vez que estes são vulneráveis tanto ao
calor excessivo quanto ao déficit de calor (RICCI, 2013).
Dentro do período neonatal, este compreendido como sendo os primeiros 28
dias de vida, inicia um processo de adaptação do RN para vida extrauterina, o que
ainda se torna mais marcante logo nas primeiras horas de vida. Normalmente esse
período de transição ocorre entre 6 a 10 horas do nascimento, este é um dos fatores
que torna imprescindível o acompanhamento da equipe de saúde a fim de
acompanhar essas adaptações para que se necessário possa intervir o mais breve
possível (RICCI, 2013).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que a faixa de temperatura
axilar (TA) adequada ao RN aquela entre 36,5ºC e 37ºC, e ainda classifica como
hipotermia leve: a TA entre 36,0 e 36,4°C, sendo esta associada ao estresse pelo
frio, hipotermia moderada: TA entre 32,0°C e 35,9°C e hipotermia grave TA menor
que 32,0°C.(BRASIL, 2011).
Para a manutenção da temperatura corporal do RN é necessário que o
ambiente esteja com a temperatura adequada para sua recepção, esta deve ser em
torno de 23,8 a 26,1 graus a fim de proporcionar uma transição adequada entre a
vida intrauterina para extrauterina, já que a primeira proporciona uma temperatura
em torno de 37,5 graus, o que imediatamente após o parto pode reduzir em 0,3°C
por minuto se acaso não houver medidas preventivas para perda de calor. Para que
o RN tenha menores riscos de apresentar hipotermia logo após o parto, torna-se
premente que ao final dos cuidados em sala de parto a TA do RN esteja em torno de
36,5ºC (BRASIL, 2011).
Para tanto existem alguns cuidados preventivos na perda de calor, como o
uso de gorro de algodão, uso de colchão térmico, contato pele a pele sendo que
este promove liberação de ocitocina materna a qual aumenta a temperatura da pele
da mãe, desta forma servindo como fonte de calor ao RN, além de estabelecer
vinculo para o binômio mãe-bebê e facilitar a amamentação (BRASIL, 2011).
Nesse sentido, um estudo desenvolvido em Guiné Bissau com objetivo de
examinar os efeitos em longo prazo da hipotermia neonatal, mostrou que a
255
hipotermia está associada à mortalidade para além do período perinatal, havendo
relação até dois meses de idade (BALBINO et al., 2013).
Ciente dos cuidados de enfermagem, a equipe, a qual presta o cuidado ao RN
precisa estar atenta ao quadro clínico da hipotermia que dentre os sintomas estão:
letargia, choro fraco, hipotonia, hipoglicemia, acidose metabólica, extremidades frias,
mudança na coloração da pele e outros (TAMEZ, 2013). Os cuidados da equipe de
enfermagem são realizados por meio da verificação dos sinais vitais, e a
manutenção da temperatura corporal e mantendo um ambiente térmico adequadros.
Dessa forma o enfermeiro precisa ter conhecimento científico para identificação de
alterações e tomada de decisão adequada para cada situação.
A termorregulação insatisfatória e a dispensação das reservas de glicose
existentes ocasionam a hipoglicemia, comprometendo o desenvolvimento adequado
dos neonatos. No ambiente intrauterino, a glicose fetal é fornecida pela circulação
materna, que mantém a concentração de glicose fetal, aproximadamente, dois terços
da glicemia materna. No nascimento, após a ligadura do cordão umbilical, a fonte de
glicose materna é interrompida. Para manter os níveis adequados de glicose, o
organismo do recém-nascido movimenta o processo de glicogenólise das reservas
hepáticas, induzindo à neoglicogênese, utilizando nutrientes provenientes da dieta
(FREITAS; MATOS; KIMURA, 2009).
Observa-se que concentrações de glicose no sangue próximas a 30mg/dl são
comuns em neonatos saudáveis de 1 a 2 horas após o nascimento, geralmente
essas concentrações são transitórias e assintomáticas, devendo ser consideradas
como parte da adaptação fisiológica para a vida extrauterina. Esses níveis tendem a
aumentar, acima de 45 mg/dl, 12 horas após o nascimento (SANTOS; JORNADA
JUNIOR, 2014).
Entretanto, durante a hipotermia aguda, ocorre vasoconstrição periférica,
causando aumento da necessidade de oxigênio (hipóxia dos tecidos), além disso, o
corpo tenta compensar, aumentando as taxas de metabolismo basal, sendo ativado
o mecanismo de termogênese química sem tremor, por meio da metabolização de
256
gordura marrom, levando a hipoglicemia e consequentemente acidose metabólica, o
que se não for revertido pode levar o RN a óbito (ARAUJO, 2012).
Nesse sentido, precisa-se que a equipe de enfermagem esteja preparada
para a realização de cuidados para prevenção da hipotermia aguda e
consequentemente hipoglicemia. Algumas intervenções como: adequação da
temperatura da sala de parto, aquecimento de campos para recepção do RN, não
realização de higiene corporal e retirada de vérnix precocemente, salvo em algumas
situações quando indicado. Além disso, monitorização dos sinais vitais, balanço
hídrico e quando necessário mater o RN em jejum até a normalização da
temperatura (ARAUJO, 2012).
Assim passa a existir a necessidade de um contínuo processso de
aprendizagem e reflexão sobre a assistência ao RN, pois o cuidar da enfermagem é
uma prática complexa e por isso não pode ser pensado como domínio de técnicas,
mas como um ato que envolve outro ser humano e precisa do conhecimento
científico do enfermeiro para prevenção de agravos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
desenvolvimento
desta
pesquisa
favoreceu
a
identificação
das
necessidades de cuidados aos RN com distúrbios glicêmicos e a atribuição
diagnóstica. O estudo mostrou que muitos fatores podem estar associados a
distúrbios metabólicos em neonatos. Desse modo, os DE devem atender às
necessidades de cuidado e intervenções voltadas ao estabelecimento e manutenção
dos padrões termorreguladores e glicêmicos bem como controlar as complicações
resultantes dos padrões alterados em RN.
Os diagnósticos: Amamentação interrompida, Amamentação ineficaz, Padrão
ineficaz de alimentação do bebê e Nutrição desequilibrada menos que as
necessidades corporais se fizeram presentes em muitos dos casos e indicam a
necessidade de atuação da enfermagem frente a orientações nutricionais e
vigilância no ato de amamentar. Neste ínterim os dados obtidos remetem à
257
importância da utilização da SAE nos serviços de saúde a ser utilizada pelo
enfermeiro com o intuito de planejar o cuidado e a assistência de enfermagem ao
RN.
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Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
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http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/view/34923/21677. Acessado em:
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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010321002010000400003&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 27 de agosto de 2014.
259
23.2) FATORES QUE INTERFEREM NA ESCOLHA DOS METODOS
CONTRACEPTIVOS1
AMARAL MORTOLA, Luana2;
OLIVEIRA GOMES, Vera Lúcia3;
LOPES AMARIJO, Cristiane4
RESUMO
As mulheres enfrentam sérias dificuldades no que diz respeito à saúde reprodutiva,
ao acesso as estratégias de anticoncepção e a adaptação aos métodos
contraceptivos que lhes são ofertados. Nesse sentido, objetivou-se conhecer os
fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. Trata-se de
uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa. Participaram do
estudo 14 mulheres do grupo de planejamento familiar de um hospital do extremo sul
do Rio Grande do Sul, que compareceram aos encontros realizados entre os meses
de maio e junho de 2014. Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade, sob o parecer 032/2014, os dados foram coletados por
meio de entrevista semi-estruturada que foram gravadas, transcritas, inseridas no
software Nvivo 10 e analisadas a partir da análise de conteúdo de Bardin. Os
resultados do presente estudo evidenciaram que os fatores relacionados ao custo, a
disponibilidade e as características dos métodos contraceptivos foram as principais
influências na escolha dos métodos contraceptivos. Acredita-se ser de fundamental
importância que as Unidades Básicas de Saúde proporcionem às usuárias
momentos de esclarecimentos acerca dos métodos oferecidos pelo sistema de
saúde para que, munidas de informações, possam realizar escolhas conscientes.
Eixo 1 : Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Planejamento familiar. Anticoncepção. Enfermagem.
ABSTRACT
260
Women face serious difficulties with regard to reproductive health, access to
contraception and strategies for adaptation to contraceptive methods that are offered
to them. In this sense, it was aimed to know the factors that interfere in the choice
and use of contraceptive methods. This is an exploratory-descriptive study with a
qualitative approach. Agreed to participate in the study 14 women's family planning
group of a hospital's southernmost Rio Grande do Sul between the months of May
and June 2014 data were collected after approval of the project by the University
Research Ethics Committee, under the opinion 032/2014 through semi-structure
interviews taped and transcribed. Data analysis was performed using the software
NVivo 10 The results of this study showed that the factors related to price, availability
and characteristics of contraceptive methods were the main influences on the choice
of contraceptive methods. Believed to be of fundamental importance that the Basic
Health Units provide users the moments clarification on the methods offered by the
health system to that provided with information, can make conscious choices.
Keywords: Family Planning. Contraception. Nursing.
Main Topic: Attention to Women's Health.
1. INTRODUÇÃO
O planejamento familiar contempla o conjunto de ações que têm como
finalidade contribuir para a saúde da mulher, do homem e da criança, que permitem
escolher quando ter filhos, quantos ter e o intervalo de tempo entre o nascimento
destes. O Planejamento Familiar faz parte das ações da Política de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (PAINS) preconizada pelo Ministério da Saúde. Essa
ação do PAINS democratiza o acesso aos meios de anticoncepção nos serviços
públicos de saúde, ao mesmo tempo em que regulamenta essas práticas na rede
privada, sob o controle do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste sentido, o
planejamento familiar deve ser tratado dentro do contexto dos direitos reprodutivos,
261
tendo como principal objetivo garantir às mulheres e homens o direito previsto na
Constituição Brasileira de ter filhos ou não (BRASIL, 2002, 2004).
A assistência para a anticoncepção no planejamento familiar é ofertada nas
redes privada e pública de saúde, sendo que, a segunda é mais atuante no país. O
Sistema Único de Saúde (SUS) é o órgão responsável pela distribuição dos métodos
contraceptivos nas unidades básicas públicas de saúde no Brasil. Atualmente as
ações de contracepção do planejamento familiar são mais atuantes através das
Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF). As UBSF têm um modelo de política
pública de saúde que traz a proposta de trabalho da equipe multiprofissional, junto à
comunidade e corresponde a uma das sete áreas prioritárias de intervenção na
atenção básica (MOURA, et al., 2007; BRASIL, 2010).
O município de Rio Grande conta com 32 Unidades Básicas de Saúde,
sendo que destas 19 fazem parte da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Compõe
o plano de assistência das UBSF’s a criação de grupos específicos para tornar mais
eficiente o atendimento prestado à população. Dentre esses grupos está o de
Planejamento Familiar no qual os profissionais orientam mulheres e homens sobre a
realização do mesmo e seus benefícios para a vida pessoal, social e econômica do
casal. A assistência a anticoncepção é uma das estratégias do programa através da
qual a população recebe os métodos contraceptivos disponíveis na unidade e a
informação sobre as características e uso. Para facilitar e rastrear a distribuição dos
métodos disponibilizados pelo SUS, eles são oferecidos nos grupos de
Planejamento Familiar. No entanto, nem todos os métodos estão disponíveis na
Rede Básica de Saúde, por isso as mulheres que desejam outros métodos
contraceptivos são encaminhadas para unidades de maior complexidade como
hospitais e policlínicas públicos que possuem grupos de planejamento familiar e
contemplam as demais ações do programa.
Através de um projeto de extensão promovido pela Universidade Federal do
Rio Grande, pude participar de um grupo de planejamento familiar de uma UBSF do
município do Rio Grande. Com isso foi possível perceber o grande desconhecimento
das mulheres acerca dos métodos contraceptivos. A maioria apresentava dúvidas
262
sobre a utilização do método, além do desconhecimento dos que não eram
ofertados pela Unidade. Diante desta realidade é notório que as mulheres continuam
enfrentando sérias dificuldades em relação à sua saúde reprodutiva. Quanto ao
planejamento familiar, as dificuldades não se limitam à falta de acesso aos meios
para regular a fertilidade, faltam-lhes também o saber sobre o seu corpo, sobre os
seus desejos e suas possibilidades para intervir no processo reprodutivo, para que
possam escolher, conscientemente, entre os diferentes métodos.
2. OBJETIVOS
Analisar os fatores que interferem na escolha dos métodos.
Identificar o método contraceptivo almejado pela cliente.
Conhecer as vantagens e desvantagens do método contraceptivo almejado.
3. METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de um recorte da pesquisa qualitativa intitulada
Fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. A mesma
teve caráter exploratório-descritivo. Participaram do estudo 14 Mulheres residentes
no município do Rio Grande encaminhadas pela Rede Básica de Saúde de origem
para realizarem acompanhamento no grupo de planejamento familiar de um hospital
do extremo sul do Rio Grande do Sul. A coleta dos dados ocorreu entre os meses de
maio e junho de 2014, após a aprovação do projeto sob o parecer 032/2014, pelo
Comitê de Ética em pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Rio
Grande (CEPAS/FURG). As entrevistas foram gravadas, guiadas através de um
roteiro contendo perguntas abertas divididas em três focos. O primeiro investigou os
dados demográficos, o segundo abordou os fatores que interferiram na escolha e no
uso do método contraceptivo atual e o terceiro enfocou nos fatores que interferem na
263
escolha do método contraceptivo almejado pela cliente. Nesse trabalho foram
abordadas as questões relacionadas ao terceiro foco.
Para análise dos dados utilizou-se o software NVivo 10, com base na técnica
de análise de conteúdo de Bardin (2011). O software NVivo trabalha com
mensagens extraídas das fontes de informação. Nele estas são chamadas de nós
gerados durante o processo de análise as categorias de informações que são
armazenadas em um banco de dados do programa (BRINGER; JOHNSTON;
BRACKNRIDGE, 2006).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os fatores determinantes na escolha do método contraceptivo almejado
relacionaram-se às vantagens, às desvantagens e às dificuldades na adesão ao
método.
Em relação à percepção das vantagens que o método contraceptivo
almejado poderá proporcionar às mulheres que escolheram a laqueadura (05)
35,71% referiram à segurança e a irreversibilidade da mesma como principal
vantagem, seguida pela diminuição ou a ausência de efeitos colaterais. Em relação
ao DIU (03) 21,42% das entrevistadas citaram como vantagem a não realização de
procedimento cirúrgico. Já o contraceptivo hormonal injetável foi considerado por
(03) 21,42% mulheres, como vantajoso pela maior facilidade de uso e menor risco
de esquecimento, isso pode ser evidenciado no esquema e nos relatos a seguir.
Figura 1: Vantagens do método contraceptivo almejado.
264
Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos
contraceptivos. 2014.
“A vantagem da depoprovera é que tu fica segura por três meses, (...)”
(UBSF09)
“A vantagem da pílula (...) é tu pode saber se está ou não grávida, porque
eu sei quando eu vou ficar menstruada.” (UBSF03)
“Eu não vejo desvantagem, só vejo vantagem na laqueadura, porque não vou
me preocupar pelo resto da vida, é irreversível”.(UBSF04)
Segundo o ministério da saúde nenhum método contraceptivo pode ser
considerado 100% eficaz, porém a laqueadura tubária tem um maior nível de
eficácia do que os demais métodos. Sua irreversibilidade a torna mais segura
tornando-se uma forma permanente de controle da natalidade. Além disso, após sua
realização não há necessidade de qualquer interferência química contraceptiva no
organismo das mulheres. Assim, há uma redução da preocupação sobre uma
gravidez-não-planejada (BRASIL, YAMAMOTTO, 2012).
De acordo com Halpern e colaboradores (2011)
a utilização de
anticoncepcional oral e/ou injetável tem suas vantagens, pois são de fácil ingestão
ou aplicação sendo totalmente reversíveis após a interrupção do uso. Outro
265
contraceptivo considerado pelo Ministério da Saúde como sendo um dos métodos
que apresenta eficácia significativa é o DIU, por não necessitar de procedimento
cirúrgico para sua colocação, reduzindo os temores
das mulheres sobre a
realização de cirurgia (BRASIL, 2010).
As participantes, ainda, foram questionadas acerca das desvantagens que o
método poderia apresentar. O efeitos colaterais do contraceptivo hormonal injetável,
a inserção do DIU e a recuperação do pós operatório da laqueadura, foram os
mencionados com maior freqüência, seguidos do medo do período peri-operatório
da laqueadura e o arrependimento por não poder ter mais filhos após a realização
do procedimento.
“Para mim pessoalmente eu nunca quis ter filho era uma opção minha. Mas
fiquei por acidente agora estou com medo de engravidar de novo e a laqueadura é
irreversível e segura posso ate me arrepender, mas vou ficar tranqüila.” (UBSF 05)
“(...) tenho medo de tomar anestesia, que é na espinha.” (UBSF 02)
“(...) Já tenho duas cesáreas não quero fazer laqueadura, o DIU é mais
seguro e não preciso fazer uma 3° 4 ° cirurgia.” (UBSF 06)
“(...) a desvantagem do DIU é que da hemorragia no útero se não for
colocado direito.” (UBSF13)
“(...) a minha pílula engorda (...) também tenho enjôo.” (UBS14)
Em relação às desvantagens dos métodos hormonais os autores versam
que apesar da reversibilidade e facilidade no uso, a ação no organismo proporciona
alguns efeitos que podem prejudicar as atividade das mulheres (RAMOS;
YAMAMOTTO, 2012). Segundo Minella (2005) a laqueadura também pode ter suas
desvantagens deixando consequências físicas e psíquicas nas mulheres usuárias do
procedimento. Como consequências físicas, a autora enumera alterações no ciclo
menstrual, alterações hormonais, dores em virtude da aderência, dores de cabeça e
abdominais, dores nos seios, síndrome pós-esterilização, que se caracteriza por
sintomas dolorosos endopélvicos, hemorragia genital uterina e sintomas de ordem
psíquica.
O DIU é considerado muito eficaz, porém seu uso pode acarretar efeitos
266
bastante indesejáveis em algumas mulheres (BRASIL, 2010). Barros (2006) cita que
os efeitos que podem ser apresentados consistem em perdas sanguíneas cíclicas,
menstruações prolongadas e profusas, corrimento e cólicas uterinas.
As participantes da pesquisa foram questionadas sobre as dificuldades de
adesão ao método contraceptivo almejado. As explanações versaram desde
sentimentos pessoais à demora da realização do procedimento, que podem ser
observados no esquema a seguir.
Figura 2: Dificuldades na adesão ao método contraceptivo almejado.
Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos
contraceptivos. 2014.
Metade
das
participantes
(50,00
%)
culpou
a
burocracia
dos
encaminhamentos realizados nas UBSs, tanto para a consulta ginecológica quanto
para a colocação do DIU e realização da laqueadura. Os efeitos colaterais causados
pelos contraceptivos hormonais injetáveis e orais foram considerados fatores que
dificultaram a utilização dos mesmos. Além disso, a pouca informação atuou como
barreira entre o desejo das mulheres de utilizar o método e concretização do uso.
“O que me impede de fazer a laqueadura é a espera do SUS, a demora dos
encaminhamentos para essa palestra de planejamento familiar.”(UBSF12)
267
“Fui encaminhada, para fazer a laqueadura, mas demorou cinco meses, só
para a consulta, eu não tinha dois filhos, por isso não quiseram fazer, eu engravidei
do segundo agora me encaminharam de novo, vamos ver se vou poder fazer agora.”
(UBSF05)
“Tenho medo de ter hemorragia e minha colega disse que não é bom”.
(UBS09)
“(...) nunca tinham me falado nada eu nem sabia o que era laqueadura e
que podia me ajudar, isso me impediu de fazer, porque era uma coisa que lá no
posto deviam ter falado.” (UBSF06)
A principal dificuldade na adesão a realização da laqueadura e a colocação
do DIU, é que estes métodos não estão disponíveis nas UBS, por isso são
realizados encaminhamentos das mulheres interessadas às unidades de saúde
referência nos municípios. Em Rio Grande, as mulheres que desejam utilizar tais
métodos são encaminhadas a Policlínica de Assistência Medica (PAM) Rio Grande
e/ou ao grupo de planejamento familiar do hospital universitário.
Os encaminhamentos podem demorar até dois anos para serem efetivados
nas unidades de saúde referentes e, assim, as mulheres poderem ter acesso aos
métodos desejados. A causa da demora na realização destes serviços é
consequência da quantidade insuficiente de insumos destinados ao programa de
planejamento família, além da má distribuição dos mesmos (YAMAMOTTO, 2012).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os
resultados do presente
estudo evidenciaram que
o
custo,
a
disponibilidade e às características dos métodos contraceptivos, foram os principais
fatores que influenciaram na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. A
disponibilidade e a facilidade de uso encontravam-se intimamente ligadas, pois
ambas dependeram da distribuição de insumos e de informação. O acesso gratuito
268
aos métodos anticoncepcionais apareceu como um ponto positivo para a
continuidade no uso.
Outro principal fator foi à dificuldade de adaptação a alguns contraceptivos, o
uso incorreto e a falta de informação sobre os mesmos. Por isso, o profissional de
saúde deve estar capacitado para informar as clientes acerca dos distintos métodos
e seus efeitos bem como a utilização correta destes.
Torna-se imprescindível desenvolver uma semiótica apropriada para avaliar
a existência de aspectos clínicos ou afecções presentes nas clientes que possam
atuar como fatores impeditivos ou dificultadores do uso de determinados métodos
contraceptivos. Se estes existirem, o profissional de saúde deve colocar os demais
métodos possíveis à disposição da pessoa interessada, explicando-lhe as suas
características, modo de uso, riscos e benefícios, bem como a eficácia.
Dessa forma, possibilitará à cliente condições de fazer novas opções e
comprometer-se com a escolha. Por isso é de extrema importância que as UBS’s
proporcionem às usuárias momentos de esclarecimentos acerca dos métodos
oferecidos pelo sistema de saúde para que, munidas de informações, possam
realizar escolhas conscientes
6. REFERÊNCIAS
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saúde
pública.
271
São
Paulo.
24.2) IMPLEMENTAÇÃO DA CONSULTA PUERPERAL REALIZADA POR
RESIDENTE EM ENFERMAGEM OBSTETRICA EM UMA UNIDADE BÁSICA
DE SAÚDE1
DA ROCHA, Bruna Dedavid2;
DONADUZZI, Daiany Saldanha da Silveira 3;
MARCHIORI, Mara Regina Caino Teixeira4;
CORREA, Aline Medianeira Gomes5;
PERLIN, Ana Paula Bicca6;
BORDIGNON, Juliana da Silveira 7
RESUMO
Introdução: A atenção à saúde da mulher e do neonato vem se constituindo em
estratégia prioritária. A qualificação do acolhimento da gestante no pré-natal, parto e
puerpério, se fazem extremamente necessária, com a forma de reduzir os índices de
mortalidade materna. A consulta puerperal, em especial se faz necessária, pois no
período pós-parto, a mulher também se depara com modificações fisiológicas, físicas
e psicológicas. A Consulta de Enfermagem Puerperal, respaldada por lei, deve ser
1
Relato de experiência com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677).
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA). Membro do Núcleo de Estudos Mulheres, Gênero e Políticas
Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (NEMGeP/UFSM). Email:
[email protected]
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Enfermeira Concursada junto a Prefeitura
Municipal de Santa Maria (PMSM). Preceptora no Programa de Residência em Enfermagem
Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
4
Enfermeira. Mestre em Educação. Doutoranda do DINTER Novas Fronteiras
UNIFESP/UFRJ/UFSM. Docente do Centro Universitário Franciscano. Tutora no Programa de
Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano. Integrante do Grupo e
Estudos e Pesquisa sobre Ensino de Enfermagem da EEAN/UFRJ. Integrante do Grupo de Estudos e
Pesquisa em Empreendedorismo Social na Enfermagem/Saúde (GEPESES). E-mail:
[email protected]
5
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
6
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA). Email:[email protected]
7
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected]
2
272
implementada por se constituir em um cuidado ampliado e humanizado à mulher e
sua família. Portanto, deve ser realizada pela educação em saúde, por meio da troca
de saberes e experiências entre profissional de saúde e a mulher e sua família.
Objetivo: Socializar a experiência da implementação da consulta puerperal de
Enfermagem, realizada por Residente em Enfermagem Obstétrica, em uma Unidade
Básica de Saúde localizada no interior do Rio Grande do Sul. Metodologia: Estudo
descritivo, na modalidade relato de experiência, o qual tem como cenário uma
Unidade Básica na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano está inserida desde 2013. Resultados e discussão: Por
meio da criação de vínculo, desenvolvido nas consultas de pré-natal, as mulheres
aderiram à consulta puerperal com a enfermeira residente. A consulta puerperal de
enfermagem também possibilitou uma primeira avaliação do recém-nascido, bem
como o retorno de alguns para a consulta de puericultura. Conclusão: A inserção
da Residência em Enfermagem Obstétrica na Atenção Básica de Saúde,
proporcionou grandes mudanças na assistência à saúde da mulher no pré –natal,
parto e puerpério. Além disso, tem possibilitado grandes movimentações na atenção
obstétrica e neonatal, visando a qualidade e humanização do cuidado.
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher;
Descritores: Saúde da Mulher; Período pós-parto; Educação em Saúde;
Enfermagem Obstétrica.
IMPLEMENTATION OF PUERPERAL QUERY PERFORMED BY
RESIDENT IN NURSING OBSTETRICA IN A BASIC HEALTH UNIT
ABSTRACT
Introduction: Attention to women's health and the neonate has been forming in
priority strategy. The qualification of the host of pregnant women in prenatal care,
childbirth and the puerperium, are extremely necessary, as a way to reduce the rates
273
of maternal mortality. The puerperal consultation, especially if is necessary, because
in the post-partum period, the woman also stumbles upon physiological, physical and
psychological changes. The Puerperal nursing Consultation, backed by law, must be
implemented by become extended care and humanized to the woman and her
Family. Therefore, must be carried out by health education, through the exchange of
knowledge and experiences between health professional and the woman and her
family. Objective: Socialize the experience of implementation of puerperal nursing
consultation, held by Resident in Obstetric Nursing in a basic health Unit located in
the interior of Rio Grande do Sul. Methodology: Descriptive study, in case studies,
which is set in a basic unit in which the Residence in Obstetric Nursing of Centro
Universitário Franciscano is inserted from 2013. Results and discussions: Through
the creation of bond, developed in prenatal consultations, women joined the
puerperal consultation with nurse residente. Puerperal nursing consultation also
enabled a first evaluation of the newborn, as well as the return of some childcare for
the query. Conclusions: The insertion of the Residence in Obstetric Nursing in basic
health Attention, resulted in major changes in the health care of women in prenatal,
childbirth and the puerperium. In addition, has allowed a large obstetric and neonatal
care, aiming at quality and humanization of care.
Mainda theme: 1 – Prenatal Care
Descritptors: Womens Health; Postpartum Period; Heath Education; Obstetric
Nursing.
1. INTRODUÇÃO
A atenção à saúde da mulher e do neonato, ao longo dos anos, vem se
constituindo em uma estratégia prioritária, e tem como principal característica, a
qualidade e a humanização da assistência prestada. Portanto, o acolhimento da
gestante no pré-natal, parto e puerpério, constitui um cuidado humanizado e integral
para a mãe e seu bebê (BRASIL, 2005).
274
Ao encontro da qualificação da assistência, em 2002, o Ministério da Saúde
(MS) instituiu o Programa de Humanização do Pré – Natal e Nascimento (PHPN), o
qual preconiza atendimento digno à mulher e ao recém-nascido, fazendo valer de
seus direitos, por meio do acesso e acolhimento no pré - natal, parto e puerpério,
bem como a incorporação de boas práticas no decorrer desse processo.
A assistência pré-natal se constitui de um conjunto de ações, que visam
realizar o acompanhamento da gestante, identificando possíveis fatores de risco
gestacionais. Trata-se de um momento de educação em saúde, no qual a mulher e
sua família recebem orientações sobre as mudanças fisiológicas na gestação bem
como preparo psicológico para o momento do trabalho de parto e parto, e para o
período pós - parto (LOPES et al, 2011). Portanto, possibilita uma atenção
integralizada, visando uma assistência de qualidade e o empoderamento da mulher
no momento do parto.
A atenção integral bem como o acesso e a qualidade do pré-natal, se
caracterizam como ações importantes para o controle da mortalidade materna,
principalmente em se tratando do parto e puerpério. A mortalidade materna é
considerada um importante indicativo de saúde da população feminina e as políticas
públicas de atenção à saúde da mulher estão voltadas para a diminuição dos
elevados índices que se apresentam.
Para uma significativa redução, os esforços devem se voltar às medidas de
prevenção,
planejamento
familiar,
assistência
pré-natal
adequada,
equipe
qualificada, principalmente para atendimento imediato às intercorrências obstétricas
e vigilância da mulher no período puerperal (VIANA; NOVAES; CALDERON, 2011).
De acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), o
Brasil reduziu a taxa de mortalidade materna em 43% de 1999 a 2013. Ainda assim,
está longe de alcançar a quinta meta dos Objetivos do Milênio, a qual preconiza a
redução de 75% na taxa de mortalidade materna até o ano de 2015. Ainda, de
acordo com o Segundo Relatório da OMS, aparece como a primeira causa de morte
materna, a hemorragia grave, principalmente durante e depois do parto (SAY et al,
2014).
275
Portanto, a consulta puerperal se faz necessária pois no período pós-parto, a
mulher se depara com algumas dificuldades, relacionadas à amamentação, aos
cuidados com o recém-nascido e às alterações fisiológicas, como as que podem
ocorrer nas mamas (ingurgitamento mamário, fissura mamilar), a eliminação dos
lóquios (secreção sanguinolenta), a involução uterina. Além disso, a mulher se
depara com grandes desafios e dificuldades, ao ter de conciliar o papel de ser mãe e
mulher, o qual necessita de apoio familiar e principalmente dos profissionais da
saúde.
Atualmente, existe grande preocupação em acolher não somente a mulher,
mas incluir também seu companheiro no processo gestacional e puerperal, o que
proporciona a construção da identidade paterna e materna. A consulta puerperal de
enfermagem permite esse acolhimento, uma vez que a assistência de enfermagem
contempla o cuidado à família em todo o seu ciclo de vida, sendo a participação de
todos os integrantes, fundamental para o bem estar de cada um nesse processo
(OLIVEIRA; BRITO, 2009).
De acordo com a Lei do exercício Profissional de Enfermagem,7498/86, no
seu artigo 11, cabe ao enfermeiro, privativamente, a consulta de enfermagem bem
como assistência à gestante, parturiente e puérpera (BRASIL, 1986). Portanto, ao
profissional de enfermagem é garantida por lei, a realização de consulta de
enfermagem, incluindo a consulta puerperal de enfermagem.
A consulta puerperal de enfermagem deve ser implementada, por possibilitar
a participação da puérpera, de sua família e do profissional, por meio da troca de
informações e experiências. Nesse sentido, a educação em saúde é considerada
uma prática que deve ser estimulada no contexto da enfermagem (RAVELLI, 2008).
Principalmente, por possibilitar orientação e esclarecimento à puérpera, valorizando
a experiência prévia da mulher e o contexto de vida em que está inserida.
Estudo demonstra que as puérperas valorizam a consulta realizada pela
enfermeira, principalmente se esta acontecer por meio de visitas domiciliares, as
quais são realizadas principalmente pelas Estratégias de Saúde da Família. As
mulheres se sentem valorizadas e importantes ao receber a visita do enfermeiro, e
276
se torna uma estratégia que possibilita continuidade do vínculo com o profissional
enfermeiro (PEREIRA; GRADIM, 2014).
Nesse sentido, por meio da Residência em enfermagem obstétrica do Centro
Universitário Franciscano, localizada na cidade de Santa Maria, Rio grande do Sul,
as consultas de pré-natal, puerpério, planejamento familiar e puericultura, foram
aperfeiçoadas em algumas Unidades Básicas de saúde e Estratégias de Saúde da
Família da cidade. Este relato terá como foco uma Unidade Básica de Saúde,
localizada na região central da cidade, campo de atuação em que uma das
Residentes em enfermagem obstétrica está inserida.
2. OBJETIVO
Este estudo tem por objetivo socializar a experiência da implementação da
consulta puerperal de enfermagem, realizada por Residente em enfermagem
obstétrica, em uma Unidade Básica de Saúde localizada no interior do Rio Grande
do Sul.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade relato de experiência, o qual
tem como cenário uma Unidade Básica de Saúde localizada na cidade de Santa
Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em enfermagem obstétrica do
Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013.
A residência em enfermagem obstétrica faz parte do Programa Nacional de
Residência em Enfermagem Obstétrica (PRONAENF) do Ministério da Saúde, que
objetiva promover a formação de enfermeiros obstetras para serem inseridos e
atuarem no Sistema único de Saúde (SUS). A residência possui como campos de
atuação as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Estratégias de Saúde da Família,
bem como a maternidade de um hospital de médio porte da cidade de Santa Maria.
Inicialmente, as residentes em enfermagem obstétrica, tem um primeiro
contato com a atenção básica de saúde, onde irão permanecer atuando no período
de um ano. As práticas ocorrem com foco na atenção à saúde da mulher e do recém
277
- nascido.
Na atenção básica, a atuação acontece por meio da realização de
consultas de pré-natal, puerpério, puericultura e planejamento familiar.
O presente relato tem como foco principal, a consulta puerperal de
enfermagem, realizada pela enfermeira residente em enfermagem obstétrica, no
período de março a agosto de 2014.
O processo de trabalho da referida UBS ocorre por meio do atendimento à
demanda espontânea, na qual pacientes de diferentes regiões sanitárias da cidade,
podem utilizar esse serviço de saúde. A demanda de gestantes atendidas nesse
serviço é elevada, principalmente pela procura por um acompanhamento de
qualidade e por ser uma unidade com localização central.
Todas as mulheres que procuram a Unidade de Saúde, com suspeita ou
certeza de gravidez são acolhidas, sendo que a primeira consulta de pré-natal já é
realizada nesse momento. As consultas de pré – natal possibilitam a criação de
vínculo com essas pacientes, o qual se perpetua até o retorno da mulher ao serviço
de saúde para a consulta puerperal e de puericultura.
O acompanhamento puerperal realizado por enfermeira residente em
obstetrícia, iniciou em março de 2014, sendo que anteriormente, as pacientes eram
atendidas apenas pelos médicos da unidade. Percebeu-se, a partir da inserção da
segunda turma de residentes, nesse espaço, a importância da implementação da
consulta puerperal para que se tenha uma continuidade do cuidado à mulher e seu
bebê. Também se faz de extrema relevância, por oportunizar que a mulher receba
as orientações necessárias sobre amamentação, cuidados com o bebê e
planejamento familiar.
As consultas, bem como as orientações de enfermagem, seguem um
instrumento previamente elaborado pelas residentes, baseado nos Cadernos de
Atenção Básica nº 32 – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco e nº 26 – Saúde
Sexual e Saúde Reprodutiva. As consultas são baseadas em orientações sobre
amamentação, cuidados com o recém – nascido, autocuidado, participação do
companheiro e da família no cuidado à criança, utilização de métodos contraceptivos
e relação sexual.
278
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a consulta puerperal de enfermagem desenvolvida por residente em
enfermagem obstétrica, a puérpera é acolhida juntamente com seu bebê,
companheiro e ou familiares que estiverem juntos. Em um primeiro momento da
consulta, são conferidos os dados de identificação da mulher (se a mesma realizou
acompanhamento na Unidade Básica) ou são coletados esses dados.
Em seguida, é realizada entrevista com a puérpera, com questionamentos
sobre o pré-natal, se apresentou intercorrências, quantas consultas foram
realizadas, quais as condutas realizadas. Além disso, são indagadas sobre a
maternidade, data do parto, tipo de parto, tempo de gestação em semanas
intercorrências durante o trabalho de parto e parto, intervenções da equipe de saúde
no pré-parto, parto e pós-parto, uso de medicações e tempo de internação. Outros
dados sobre a realização das vacinas preconizadas à gestante; o ambiente familiar;
aspectos
emocionais;
alimentação;
sono
e
repouso;
atividades;
uso
de
medicamentos.
Em um segundo momento, é realizado o exame físico da puérpera, onde a
mesma é avaliada em relação à coloração da pele/presença de anemia; avaliação
das mamas; avaliação da involução uterina; avaliação dos lóquios; se parto cesáreo,
avaliação da ferida operatória; se realizada episiotomia ou na ocorrência de
laceração no parto vaginal; É aferida a pressão arterial; controle do peso; presença
de edema.
Em um último momento, são realizadas orientações e troca de conhecimentos
relacionados ao aleitamento materno e/ou uso de leite artificial; higiene íntima;
eliminações fisiológicas, relação sexual; exames; planejamento familiar e método de
contracepção. Aproveita-se o momento da consulta puerperal para uma primeira
avaliação do recém - nascido, bem como agendamento da primeira consulta de
puericultura quando o bebê completar um mês de vida. ( orienta-se a primeira
consulta na 1º semana de vida, sendo a segunda ao completar 30 dias).
279
Percebeu-se que, por meio da criação de vínculo iniciada nas consultas de
pré-natal, as mulheres aderiram à consulta puerperal com a enfermeira residente,
visto que anteriormente estava muito atrelada ao profissional médico, principalmente
pela necessidade da prescrição do método contraceptivo.
Notava-se que a grande demanda de gestantes nas consultas médicas
impossibilitava a realização de orientações primordiais à puérpera e seu
companheiro. Portanto, as consultas acabavam por restringirem-se à prescrição
medicamentosa. Além disso, percebeu-se a inexistência de registros sobre a
realização da consulta puerperal no prontuário das mulheres, bem como o não
preenchimento do controle diário das gestantes e puérperas. A criação de um
instrumento de coleta de dados possibilitou que a consulta puerperal fosse anexada
pela enfermagem no prontuário, tendo assim um registro de que a consulta
realmente aconteceu e o prontuário pode ser arquivado.
A consulta puerperal de enfermagem também possibilitou uma primeira
avaliação do recém-nascido, bem como o retorno de alguns para a consulta de
puericultura. Ainda se apresenta como um desafio, visto que a presença de dois
pediatras na referida unidade, faz com que as mulheres acabem por procurar mais
esse profissional para a realização das consultas de puericultura.
Embora necessite de muitos avanços para que as mulheres procurem pela
assistência realizada por enfermeiros, muito já se conquistou na área maternoinfantil, sendo que todas as primeiras consultas de pré-natal são realizadas pela
enfermeira residente e as gestantes já procuram por esse atendimento.
Em relação às orientações realizadas, percebe-se nas consultas, que as
puérperas possuem dúvidas referentes principalmente à amamentação e métodos
contraceptivos. A importância da troca de saberes e experiências, da escuta
qualificada, possibilita que as mulheres exteriorizem duas dúvidas e dificuldades,
uma vez que se essa troca não acontece no momento em que apenas o profissional
expõe seu conhecimento. Percebe-se também, que apesar das orientações
realizadas no pré-natal, as mulheres demonstram muitas dificuldades no pós-parto e
280
necessitam de acompanhamento contínuo, principalmente em relação ao estímulo à
amamentação, que deve ser perpetuado nas consultas de puericultura.
A presença de familiar e/ou companheiro da puérpera na consulta também se
faz necessário e possibilita que o mesmo também se sinta como parte integrante,
principalmente da criação de seu filho. O que acontece, na maioria das vezes, é que
os pais não associam a paternidade aos cuidados com o recém-nascido, auxílio na
amamentação e contracepção. Isso ocorre desde o pré-natal, no qual muitos pais
não participam por não sentirem-se parte desse momento, já que é a mulher que
apresenta as modificações fisiológicas.
A importância da criação de vínculo durante a assistência pré-natal é
evidenciada em estudo que objetivou identificar motivos que favorecem o retorno
das mulheres à consulta de pós-parto com a enfermagem. Identificou-se que as
mulheres retornam ao serviço de saúde para a consulta puerperal por sentirem-se
acolhidas pelos profissionais e pelo acompanhamento iniciado desde o pré-natal.
Também destacam a preocupação com o bem estar do recém-nascido, o qual
também pode ser avaliado juntamente com a mãe na consulta (ANGELO; BRITO,
2012).
Reflexões acerca do preenchimento de dados, convergem com estudo
realizado em 5 Unidades Básicas de Saúde de Pelotas, Rio Grande do Sul, que
avaliou a qualidade dos registros no programa de pré-natal e da consulta puerperal.
O registro das atividades realizadas durante o pré-natal e consulta puerperal
apresentaram deficiência de dados, pois de 392 registros, 60% estavam sem
informação alguma. Portanto, faz-se necessário garantir o retorno da gestante ao
serviço de saúde, por meio de estratégias de captação como qualificação e
integração da equipe (LOPES et al, 2011).
Sobre as orientações realizadas pelo enfermeiro durante as consultas, só é
possível a troca de saberes e vivências, por meio de relação de confiança e diálogo
entre os sujeitos. Ao ouvir o outro e partindo de seus saberes e práticas, qualquer
processo educativo e de produção de conhecimentos pode acontecer. Portanto, para
adesão de mulheres às consultas, faz-se necessária estratégia e práticas de
281
educação e saúde, as quais devem ser baseadas na interação entre os sujeitos que
possuem diferentes saberes, em um processo de construção e desconstrução de
saberes e práticas (ACIOLI, 2007).
O puerpério é um momento em que a mulher vivencia alterações fisiológicas e
adaptações, principalmente referentes aos cuidados com o recém- nascido e a uma
nova rotina de vida que tem início. Portanto, trata-se de um momento em que a
mulher mais necessitará de apoio e, de acordo com estudo, as mulheres apontam a
família, amigos, companheiro e profissional da saúde, como fontes de suporte.
Destacam principalmente o apoio familiar financeiro e relacionado às adaptações do
papel de mãe (BARBOSA et al, 2005).
Em estudo que objetivou conhecer a visão de púerperas e enfermeiros sobre
a consulta puerperal, as falas das participantes demonstraram deficiência de
orientações sobre o cuidado integral à mulher que vivencia o período pós – parto. O
cuidado realizado durante todo o processo parturitivo não garante autoconfiança as
mulheres para que realizem o autocuidado. Questões relacionadas à sexualidade
também merecem atenção na consulta puerperal. Este mesmo estudo demosntrou
também, dificuldades e insegurança no retorno à vida sexual do casal, devido as
modificações fisiológicas, psicológicas e relacionadas aos cuidados ao recémnascido (PEREIRA; GRADIM, 2014).
Em relação à participação e ao papel do pai no período puerperal, destaca-se
que o mesmo volta-se para o auxílio nos cuidados, principalmente contribuindo
financeiramente. Essa questão advém de uma identidade de gênero, na qual o
homem, detentor do poder social que exerce a mulher, é considerado o provedor do
lar; À mulher cabe o papel de subalternidade, detendo-se ao espaço privado, aos
cuidados da casa e dos filhos.
No entanto, percebe-se que o homem se encaminha para uma mudança de
papel, no momento em que se interessa pelos cuidados ao recém-nascido, às
tarefas domésticas e ao perceber que sua família precisa de auxílio no período
puerperal (OLIVEIRA; BRITO, 2009). Esse apoio deve ser estimulado pelos
profissionais da saúde na consulta puerperal.
282
Portanto, o papel do enfermeiro na realização da consulta puerperal tem se
mostrado eficaz e merece destaque no cenário da atenção ao ciclo gravídico
puerperal. A presença de residente em enfermagem obstétrica nesse cenário deve
ser vista como uma estratégia inovadora, que traz possibilidades no que tange à
educação em saúde no período puerperal.
O conhecimento específico na área obstétrica, possibilita um melhor
acolhimento
e
acompanhamento
a
essas
mulheres,
principalmente
pela
disponibilidade de tempo que pode ser investido nas dúvidas, medos e inseguranças
apresentados por essas mulheres. Além disso, o acompanhamento acontece desde
o pré-natal, o que possibilita a integralidade e continuidade da assistência.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inserção da Residência em Enfermagem Obstétrica na Atenção Básica de
Saúde, proporcionou grandes mudanças na assistência à saúde da mulher no pré –
natal, parto e puerpério. Isso pode ser visualizado na crescente demanda de
gestantes que procuram por esse serviço de saúde, e o retorno das mesmas nas
consultas de puerpério e também na consulta de acompanhamento do crescimento
e desenvolvimento infantil (puericultura).
A humanização da assistência obstétrica é um desafio diária dos
profissionais de enfermagem que atuam na área, e tem por objetivo a qualidade da
assistência a mulheres no período gravídico puerperal. As consultas de pré – natal
realizadas pela residência, possibilitaram a criação de vínculo entre profissional e
paciente, o qual se perpetua até a consulta puerperal e ao planejamento reprodutivo,
permitindo uma continuidade no cuidado.
Além disso, a participação da família também deve ser estimulada pelos
profissionais de enfermagem nas consultas. Principalmente pois o contexto de vida
dos indivíduos, influencia diretamente no processo de saúde. Incluir a família como
participante desse processo, requer profissionais qualificados e preparados para
atender a essa demanda.
283
Também ressalta-se a importância do companheiro em toda a gestação e
puerpério, de maneira a fazê-lo sentir-se participante ativo de todo o processo. Isso
pode ser influenciado nas consultas de pré-natal, no auxílio aos cuidados
relacionados a gestante, cuidados com o recém-nascido, apoio a mulher no trabalho
de parto e parto e participação no planejamento reprodutivo.
Percebe-se que a inserção da residência, tem possibilitado grandes
movimentações na atenção obstétrica e neonatal, estimulando o empoderamento da
mulher e seu protagonismo no processo parturitivo, bem como, fazendo valer seus
de seus direitos sexuais e reprodutivos. Afinal, toda a mulher tem direito à
assistência ao pré-natal, parto e puerpério de qualidade e humanizada, de acordo
com o preconizado pelas políticas públicas em saúde da mulher.
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15 ago. 2014.
285
25.2) PERCEPÇÃO DAS PARTURIENTES SOBRE O TRABALHO DE PARTO E
PARTO SOB A ÓTICA DA HUMANIZAÇÃO (2014) 1
MELO, Andressa A.2;
OLIVEIRA, Marcele P.3·;
KETTERMANN, Karoline O.4;
PEREIRA, Simone B.5;
BITTENCOURT, Mariana O.6;
DIAZ, Claudia M.G.7
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa descritivo-exploratória que tem por objetivo
conhecer a percepção das parturientes sobre o trabalho de parto e parto sob a ótica
da humanização. Participaram deste estudo, 10 puérperas internadas na
maternidade de um hospital público municipal, da cidade de Santa Maria - RS, no
período de outubro de 2013. A coleta dos dados ocorreu por meio de um
questionário. A partir dos depoimentos, foi realizada a leitura minuciosa e a
discussão teórica com a bibliografia sobre o assunto. Como resultado constatou-se
que as participantes do estudo, puérperas, com idade entre 17 e 28 anos, a maioria
casada, com número de gestações variando entre 1 e 7, que tiveram partos cesárea
e normal, com no mínimo 4 consultas pré-natal. Concluiu-se a necessidade de uma
educação continuada a fim de entender a essência do parto humanizado, sua
1
Pesquisa acadêmica realizada no decorrer da disciplina de Desenvolvimento Profissional V, Centro
Universitário Franciscano.
2
Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano
([email protected]).
3
Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano
([email protected]).
4
Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano
([email protected]).
5
Enfermeira Residente de Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano
([email protected]).
6
Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano
([email protected]).
7
Doutoranda, docente do Curso de Graduação em Enfermagem, Centro Universitário Franciscano
([email protected]).
286
importância e o cuidado humanizado, bem como as orientações, que fazem parte da
integralidade e do cuidar em sua essência.
ABSTRACT
This is qualitative research, descriptive- exploratory, that aims to meet the perception
of parturient women about the labor from the perspective of humanization.
Participated in this study, 10 recent mothers hospitalized in a hospital maternity
public hall, the city of Santa Maria- RS, in October 2013. The data collection realized
through a questionnaire. From the interviews, was through reading and discussion
with the theoretical literature about the theme. The result it was found that the
participants, who have recently given birth, aged between 17 and 28 years, mostly
married, with number of pregnancies ranging between 1 and 7, who had cesarean
births and normal, with at least 4 prenatal care. It was concluded the need for
continuing education in order to understand the essence of humanized delivery, its
importance and the humanized care, as well as the guidelines, which are part of the
completeness in its essence.
Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto.
Descritores: Enfermagem; Parto Humanizado; Humanização na assistência.
Descriptors: Nursing; Humanizing Delivery; Humanization of assistance
1. INTRODUÇÃO
O nascimento é o momento único que pode determinar algumas das mais
profundas características da nossa existência. Dar a luz é o que designa o ato de
parir, um momento sagrado e transcendental que pertence à mulher e ao seu filho. O
decorrer do parto por ser um momento único revelador, no sentido de que cada
mulher deveria ter a possibilidade de parir da maneira mais próxima daquilo que ela
é em essência, acolhendo suas expectativas e respeitando o seu tempo e do bebê,
tudo é um processo que requer respeito e apoio.
287
Existem hoje grandes discussões em relação à humanização do parto, e
como torná-lo um evento fisiologicamente normal com as mínimas intervenções
possíveis. A humanização nesta passagem de discussões, aceitações e alguns
paradigmas, vêm adquirindo espaços e se torna sinônimo de cuidar bem do outro,
de carinho e de atenção especial no momento do parto. Humanizar o parto não
significa
fazer
ou
não
o
parto
normal,
realizar
ou
não
procedimentos
intervencionistas, mas sim tornar a mulher protagonista desse evento e não mera
espectadora, dando-lhe liberdade de escolha nos processos decisórios (SEIBERT,
2005). Implica também em mudanças na atitude, filosofia de vida e percepção de si
e do outro como ser humano. A sensibilidade, a informação, a comunicação, a
decisão e a responsabilidade devem ser compartilhadas entre mãe-mulher, família e
profissionais de saúde (SILVA, 2005).
Largura (2000), afirma que humanizar o parto é respeitar e criar condições
para que todas as dimensões do ser multidimensional sejam atendidas: espirituais,
psicológicas e biológicas. Já Odent (2002) relata que a sua prática o fez entender
que o nascimento, distante de ser uma “questão médica”, é de fato uma parte
integral da vida sexual e emocional das mulheres, e assim a equipe deve ser mera
facilitadora cuja tarefa é a de intervir o mínimo possível.
Contudo, analisando os conceitos acima definidos e o contexto que permeia
esta realidade, podemos questionar o porquê da assistência ainda ocorrer de modo
contrário e desvinculada a estas propostas humanísticas.
Durante as atividades práticas curriculares da disciplina de Enfermagem em
Saúde Materna, desenvolvida em uma Maternidade, os acadêmicos vivenciaram
experiências pouco aproximadas do conceito ideal de parto humanizado. Assim,
identificando a necessidade de buscar respostas para este fato, entendendo e
conhecendo a percepção que os profissionais envolvidos com a assistência direta ao
parto têm sobre a humanização e o que isso poderá contribuir com a assistência à
mulher neste momento, sentiu-se o interesse em realizar este estudo.
288
2. OBJETIVO
Conhecer a percepção das parturientes sobre o trabalho de parto e parto sob
a ótica da humanização.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo exploratório, com abordagem qualitativa. A
abordagem qualitativa proporciona ao pesquisador a possibilidade de tentar
compreender a maneira como as pessoas pensam e reagem diante das questões
focalizadas, auxilia o investigador a conhecer a dinâmica e a estrutura da situação
estudada do ponto de vista de quem a vivencia (MERIGUI, PRAÇA, 2003).
Fizeram parte da pesquisa, puérperas internadas na unidade 300 do Hospital
Casa de Saúde (HCS) do município de Santa Maria, RS, e acadêmicos do curso de
enfermagem do Centro Universitário Franciscano, em campo prático na unidade. Os
critérios de inclusão foram: Ser puérpera, estar internada na unidade, aceitar
participar do estudo.
Foi garantido o sigilo dos dados fornecidos e informado que os resultados do
estudo serão apresentados em eventos e publicados em revistas científicas. A
identificação dos participantes será feita a partir das iniciais P (Puérpera) e do
número de entrada na ordem do texto (P1, P2,..., P16). A coleta dos dados foi
realizada no mês de outubro de 2013.
A coleta de dados foi realizada mediante a técnica de entrevista com
questões norteadoras, possibilitando a interação entre pesquisador e sujeitos
favorecendo
a
contextualização
de
experiências,
vivências,
sentidos
que
contribuíram para esclarecer a problemática da investigação (MINAYO, 2012).
A análise dos dados foi qualitativa, baseada nos dados coletados e na
literatura pesquisada. Para a análise e interpretação dos significados, foi utilizada a
Análise Temática que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem
289
uma comunicação cuja presença ou frequência tenham significado para o objetivo
proposto (MINAYO, 2012).
O atendimento às exigências éticas em pesquisa foi valorizado, tratando todos os
indivíduos envolvidos, independente de gênero, etnia ou faixa etária, com respeito e
justiça, minimizando riscos e maximizando benefícios. Todos os dados pessoais
fornecidos não foram divulgados.
As questões éticas são relevantes para desenvolver esse estudo, visando não
correr o risco de invalidar a pesquisa, com o consentimento dos indivíduos de
estarem cientes de que se trata de uma pesquisa científica, assegurando o sigilo e o
anonimato aos sujeitos, tomando cuidados para a não manipulação dos dados
(BRASIL, 2012). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Centro Universitário
Franciscano sob o nº: 0452010.2.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Participaram do estudo 10(dez) puérperas, com idade entre 17 e 28 anos, a
maioria casada, entre 1 e 7 gestações, com partos cesárea e normal, que fizeram no
mínimo 4 consultas pré-natal. A partir dos depoimentos, foi realizada leitura
minuciosa dos dados e os temas que emergiram do estudo, contrapondo com a
literatura existente sobre a temática.
4.1 Humanização do trabalho de parto e parto
A assistência obstétrica centrada nas necessidades das mulheres caracterizase pelo direito à autonomia da parturiente, em que a informação é fator relevante.
Tal autonomia é a base principal para que a mulher tenha a liberdade de escolher ou
recusar qualquer procedimento relacionado ao seu próprio corpo, e que esta escolha
seja pertinente e convergente ao seu bem-estar. Se não houver informação com
qualidade, o direito de decidir adequadamente torna-se inexistente (MACHADO,
2013).
290
Quando as mulheres demonstram a sua opinião, detêm o poder sobre o seu
próprio corpo, ressaltando o que sabem a respeito do processo de trabalho de parto
e parto. As informações ou orientações empoderam as mulheres e deixam explícitos
o seu desejo de serem protagonistas do seu próprio parto, conforme os relatos
provenientes do cotidiano dessas parturientes:
“Eu acho que quando a gente tem um parto normal... Claro que
tá todo mundo assessorando pra ver como que estão as
coisas, mas é a gente que faz todo o trabalho,... depois vem o
médico “costurar”; a médica bem dizer segurou e deu os
pontos” (P3).
Essa apropriação do corpo feminino é evidenciada pela postura corporal de
distanciamento, em que o toque se dá apenas de maneira instrumental, sem
informação ou permissão prévia, e pela total exclusão da mulher como sujeito
participante daqueles envolvidos no parto.
Para amenizar esta situação o acolhimento tem sido considerado, nos
serviços de saúde, como um processo de relações humanas, o qual deve ser
realizado por todos os profissionais nos diversos setores de atendimento. Assim, o
acolhimento não se limita ao ato de receber, mas também a uma sequência de
ações e modos que compõem o processo de trabalho em saúde (TORRES, 2008).
“A primeira vez que eu vim aqui a moça me levou em todos os
locais que eu ia passar na salinha de avaliação onde a Maitê
nasceu porque não deu pra esperar. Inclusive as salinhas, uma
de parto normal, berçário, todos os locais a gente fez um
passeio; depois na segunda vez, elas me deram exercícios
para eu fazer em casa, para ajudar” (P3).
291
Uma vez que a mulher é percebida apenas como um corpo, ou melhor, um
útero de onde deverá nascer um bebê saudável, não há necessidade de dialogar
com ela. Dessa maneira, os profissionais sentem-se com liberdade para, durante o
atendimento ao parto, conversar sobre assuntos pessoais e discutir sobre problemas
alheios à situação de parto. A indiferença e a impessoalidade nas relações
igualmente são percebidas no esforço dos profissionais em se manterem incógnitos,
através de vestimentas de bloco cirúrgico, máscaras, toucas e não identificação pelo
nome (ACIOLI, 2008).
As práticas educativas apontadas por essa autora como expressão do
cuidado referem-se ao diálogo, ao ouvir o outro, valorizar o saber anterior,
acreditando que todas as pessoas têm um conhecimento advindo de suas
experiências e vivências, e de suas condições concretas de existência. Nos registros
a seguir, nota-se a negação do direito à informação e à participação da mulher.
“Eu fui bem atendida por muitas enfermeiras né, e também
alguns não sei assim, mais desinteressados pela área da
saúde porque teve algumas informações que eu não recebi
né... eu tive um complicaçãozinha depois do parto, que eu não
recebi direito essas informações, daí né através de conhecidos
que eu consegui umas informações melhores, porque eu estou
no meu direito né, to aqui tomando sangue... Então, essa parte
eu achei ruim, ninguém explicava nada direito pra gente” (P2).
“Não recebi nenhuma orientação de como seria o trabalho de
parto.” (P1).
“Não lembro de orientação, acho que sim. Na hora do toque
recebi orientação não sei de quem.” (P10).
292
A necessidade e a importância da troca de conhecimentos entre o saber
técnico e o saber popular, pressupondo que os saberes são apenas diferentes e não
hierarquizados, valorizando não somente a teoria, mas sim a prática construída no
dia a dia (ACIOLI, 2008).
Assim, mesmo a parturiente não tendo conhecimento técnico sobre os
procedimentos a serem realizados, o profissional da saúde pode informar o passo a
passo e tudo que ele irá realizar, se for tudo bem explicado será bem compreendido.
“No posto que eu faço o pré-natal recebi as informações de
como ia ser o meu trabalho de parto, nas reuniões que as
meninas da enfermagem fazem, e aqui na hora que eu cheguei
que me colocaram o soro, me disseram “ah, mãe isso aqui vai
aumentar a tua dilatação, vai ajudar...” Deram essa informação
pra mim.” (P2).
“Orientaram como que eu posso me ajudar em casa, acho que
eram enfermeiras não sei, e eu comecei a fazer os exercícios,
fiz os exercícios em casa e tal e isso acho que deve ter
ajudado”. (P3)
Desse modo, mesmo a parturiente não tendo conhecimento técnico sobre os
procedimentos a serem realizados, mas o profissional da saúde pode informar o
passo a passo e tudo que ele irá realizar, pois explicando bem será compreendido.A
utilização consciente por parte da equipe de saúde da comunicação verbal e não
verbal possibilita maior qualidade à relação profissional-paciente, favorecendo um
ambiente acolhedor e proporcionando que a mulher vivencie de maneira positiva o
nascimento de seu filho.
O Ministério da Saúde afirma que existe a necessidade de modificações
profundas nas maternidades brasileiras, para prestar uma assistência mais
humanizada e de qualidade ao parto. Este processo inclui a adequação da estrutura
293
física e equipamentos dos hospitais, capacitação dos profissionais e mudanças de
postura e atitude dos profissionais de saúde e das gestantes (BRASIL, 2003).
Os resultados do estudo contribuíram com uma visão mais aprofundada sobre
a humanização do processo de nascimento e oferecem subsídios para esta
assistência, tendo em vista que apontam elementos que podem subsidiar mudanças
no cotidiano de trabalho dos profissionais, garantindo assim uma assistência segura
e de qualidade para o binômio mãe-filho.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa possibilitou ampliar conhecimento cotidiano e identificar falhas que
ainda necessitam de correções para que o parto humanizado possa ser praticado de
forma correta, eficaz e rotineira. Além disso, contribuiu para instigar questões que
podem nortear pesquisas, assim somando conhecimento e efetivando resultados.
Constata-se a necessidade de uma educação continuada para com
profissionais da área, a fim de entender a essência do parto humanizado e a sua
importância para as mulheres, que cada dia mais exige seus direitos, propiciando
autonomia e empoderamento.
Evidencia-se que o cuidado humanizado, que inclui as ações educativas, a
comunicação verbal e não verbal, que fazem parte da integralidade e do cuidar em
sua essência, indispensável nas redes de atenções de todas as instâncias do SUS e
da rede privada.
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approaches to research observation. Midwifery, v.26, p. 512-9, 2010.
294
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Nacional de Ética em Pesquisa.Resolução n° 466/12 de 12 de Dezembro de
2012.Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo
seres humanos.Brasília:Ministério da Saúde;2012.
_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de
Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.
Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
_______. Ministério da Saúde (BR). Parto, aborto e puerpério: assistência
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ODENT, Michel. A Cientificação do Amor. São Paulo, Terceira margem, 2000.
DAVIN, Rejane Marie Barbosa; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Acolhimento:
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GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. 12 reimpr. São Paulo: Atlas,
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MACHADO, Nilce Xavier de Souza; PRACA, Neide de Souza. Centro de parto
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MERIGUI, M. B; PRAÇA, N.S. Abordagens teórico-metodológicas qualitativas.
Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2003.
MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12º
ed. Rio de Janeiro (RJ): HUCITEC; 2012.
295
26.2) A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA UTI NEONATAL: UMA COLABORAÇÃO
NO CUIDADO DE ENFERMAGEM1
BORDIGNON, Juliana Silveira 2;
GEHLEN, Maria Helena 3 ;
GOMES, Iris E. Messa4;
RIZZI, Rodrigo5;
SCHIO, Flaviana6;
ROCHA, Bruna D. da7
RESUMO
O estudo teve por objetivo conhecer os saberes dos pais com os filhos recémnascidos internados em uma unidade de terapia intensiva neonatal de um hospital
universitário no interior do Rio Grande do Sul, Brasil, a fim da melhoria da promoção
do vínculo familiar e da participação no cuidado de enfermagem. Trata-se de uma
pesquisa descritiva-exploratória, qualitativa, onde foi utilizada entrevista semiestruturada e observação. Participaram do estudo seis (6) mães de recém-nascidos
internados. A análise dos dados revelou duas temáticas: “o cenário no ambiente de
UTI neonatal”; “promoção do cuidado ao recém-nascido dialogando saberes como
um estímulo à participação dos pais”. Concluiu-se, com este estudo, a extrema
relevância do aprimoramento dos conhecimentos teórico-conceituais, o que,
certamente, contribui à qualificação de profissionais de saúde frente à prestação de
cuidados e informações aos pais com os filhos internados em UTI neonatal.
1
Trabalho de pesquisa e extensão do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano e
do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde
(GEPESES/CNPq)
2
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano. Relatora. Email: [email protected]
3
Enfermeira. Docente do curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano.
Mestre em Educação Brasileira. Pesquisadora GEPESES/CNPq. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano. E-mail: [email protected]
5
Acadêmico do curso de enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Membro do
GEPESES/CNPq. E-mail: [email protected]
6
Acadêmico do curso de enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Membro do
GEPESES/CNPq. E-mail: [email protected]
7
Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro
Universitário Franciscano. E-mail: [email protected]
296
Eixo Temático: Atenção à Saúde do recém-nascido
Descritores: Unidade de Terapia Intensiva Neonatal; Recém-Nascido; Cuidados de
Enfermagem; Relações Pais-Filho.
RESÚMEN
El objetivo del estudio fue conocer el conocimiento de los padres con recién nacidos
ingresados en una unidad de cuidados intensivos neonatales de un hospital
universitario de Rio Grande do Sul, Brasil, para la mejora de la promoción de los
vínculos familiares y la participación en la atención de enfermería. Se trata de una
investigación cualitativa descriptiva-exploratoria, que se utilizó entrevistas semiestructuradas y observación. Los participantes fueron seis (6) las madres de los
recién nacidos admitidos. El análisis de datos reveló dos temas: "la escena en el
ambiente de la UCIN"; "Avanzar en el cuidado de los conocimientos dialogante
recién nacido como un estímulo a la participación de los padres." Se concluye de
este estudio, de gran relevancia para la mejora del conocimiento teórico y
conceptual, lo que sin duda contribuye a la capacitación de profesionales de la salud
a través de la atención y la información a los padres con hijos en las UCI neonatal.
1. INTRODUÇÃO
Conforme previsto pela Constituição Federal Brasileira de 1988, é dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão (BRASIL, 1988). Além disso, é assegurado pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente, que todos possuam os direitos fundamentais referentes à
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral, assegurados por lei e por outros
meios,
de
todas
as
oportunidades
e
297
facilidades
que
lhe
promovam
o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, bem como as condições de
liberdade e dignidade (BRASIL, 1990).
A família assume junto ao recém nascido, a criança e o adolescente um
vínculo de apoio e respeito de maneira a colaborar com o bem estar dos mesmos já
que o cuidado nasce do interesse, responsabilidade, preocupação e afeto, o qual,
em geral, implicitamente inclui o maternal o que, por sua vez, implica ajudar a
crescer. Essa conotação de cuidado inclui prover, além da atenção e do afeto, o
conforto e demais atividades que possibilitam o bem estar, a restauração do corpo e
da alma e a dignidade da pessoa como um ser singular (THOMAS, CARVALHO;
1999).
A assistência neonatal vem passando por muitas transformações e
proporcionando novas tecnologias num universo mais amplo de cuidado aos recémnascidos (RNs) de alto risco. Estes avanços da área neonatológica têm possibilitado
maior sobrevida aos RNs prematuros. Nos últimos anos, grandes mudanças vêm
ocorrendo no ambiente das unidades neonatais no Brasil, de certa forma
acompanhando a tendência mundial (COSTA, PADILHA, MONTICELLI; 2010).
Houve um aumento significativo da tecnologia dura, sendo que a tecnologia leve não
acompanhou de igual evolução, principalmente no que diz respeito ao manuseio
individualizado dos recém-nascidos, interferindo, assim, nos cuidados dispensados a
eles (RIBEIRO, 2007).
A participação dos pais no cuidado ao recém-nascido de risco tem sido
modificada em decorrência das transformações da assistência ao neonato. Em
meados do século XX, foram surgindo novas formas de cuidado desenvolvidas em
resposta aos questionamentos e estudos, abordando os prejuízos da separação do
binômio mãe-filho para o desenvolvimento do neonato e das relações familiares.
Apesar disso, o cuidado em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) ainda é
visto como mecânico e impessoal, centrado em técnicas e procedimentos
considerados capazes de garantir a sobrevivência do recém-nascido (DUARTE,
2012).
Compreende-se a relevância do vínculo entre o profissional de enfermagem e
298
os pais de maneira colaborativa já que ambos proporcionam o bem estar e
benefícios durante a internação do recém nascido (CONZ, 2008).
Cabe ressaltar que mais da metade das mortes de menores de um ano ocorre
nos primeiros seis dias, e isto pode ser evitado com uma assistência ao pré-natal e
ao parto, acesso da mãe à informação e controle social dos serviços públicos.
Porém, os cuidados não devem ser apenas durante a gestação. Após o nascimento,
a mãe deve continuar tendo toda atenção necessária (FONSECA, SCOCHI; 2005).
Os recém-nascidos de risco, separados abruptamente de suas famílias,
perdem o laço de união que os liga às mesmas, comprometendo o seu crescimento
e desenvolvimento, o que traz malefícios tanto ao bebê quanto aos pais, que pode
ter a sensação de ter perdido o seu filho, quebrando o vínculo que deveria existir
entre a eles e o recém-nascido (DANTAS, 2011).
Fonseca e Schochi (2005), ressaltam também que quando um bebê
prematuro nasce, a mãe pode se sentir culpada, angustiada e com medo por ser um
bebê pequeno e dependente de cuidados especiais. Por conta disso, muitas vezes a
mãe apresenta dificuldade de iniciar uma aproximação com seu filho prematuro. A
mãe não sente que o bebê seja seu, mas, sim, que ele pertence à equipe da UTIN.
Estes
bebês
precisam
muitas
vezes,
de
internação
prolongada,
acontecimento este que separa a família da criança, ocasionando grande estresse
nos familiares, uma vez que o ambiente da UTI pode originar medo, angústia e
inquietação aos pais, sendo a equipe de enfermagem promotora do vínculo para o
entendimento desta vivência (CONZ, 2008).
Com base no exposto, a pesquisa teve por objetivo conhecer os saberes dos
pais dos recém-nascidos internados na UTI Neonatal de um hospital de grande porte
na cidade de Santa Maria-RS, a fim da promoção do vínculo familiar e da
participação no cuidado de enfermagem.
299
2. METODOLOGIA
2.1 CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva-exploratória, a qual segundo Marconi e
Lakatos (2002) tem por objetivo descrever determinados fenômenos, como as
informações detalhadas obtidas por intermédio da observação participante, na qual
precede-se ao processo da sistematização.
2.2 LOCAL E SUJEITO DO ESTUDO
O estudo foi realizado num Hospital Universitário de grande porte, referência
para as pessoas residentes em Santa Maria e cidades abrangidas pela 4ª
Coordenadoria Regional de Saúde.
A equipe multidisciplinar de saúde que atua na referida unidade hospitalar é
composta por enfermeiras, médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e técnicos de
enfermagem. Além disso, a unidade conta também com a atuação de médicos
residentes.
Foram participantes do estudo seis mães dos recém nascidos internados na
UTI Neonatal no período de Abril a Maio de 2010, sendo que o desenvolvimento
deste estudo foi compreendido nos meses de Março a Junho de 2010.
A escolha dos participantes foi realizada aleatoriamente, e identificado por
codinomes de flores. Todas eram mães dos recém nascidos, no qual ao serem
abordadas para participarem do estudo, o período de hospitalização do bebê foi
compreendido entre dois dias a um mês e meio, no momento da entrevista. A média
de idade dos sujeitos foi de 24 anos, variando de 15 anos à 33 anos. Das
entrevistadas, quatro eram solteiras, e duas casadas. Quanto ao nível de
escolaridade, duas possuíam ensino fundamental completo e quatro possuíam o
ensino médio completo. Quatro das entrevistadas eram do lar, uma estudante e uma
doméstica. A renda familiar de duas era de um salário mínimo, três com dois salários
300
mínimos e uma com quatro salários mínimos. Cinco realizaram pré-natal e apenas
uma não realizou.
2.3 MÉTODO DE ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Para analisar os dados da pesquisa, realizou-se em um primeiro momento
uma análise frequencial dos depoimentos em que foi conhecido o saber dos pais
com os filhos recém nascidos e internados na UTI Neonatal do Hospital Universitário
de Santa Maria - HUSM, no intuito da sua participação no cuidado de enfermagem.
O segundo momento implicou na identificação das temáticas, técnica
proposta por Minayo (2004), onde surgiram os seguintes eixos: “O Cenário no
ambiente de UTI Neonatal” e “Promoção do Cuidado ao Recém-Nascido dialogando
saberes como um estímulo à participação dos pais”, que emergirão a partir dos
dados obtidos. Enfim, a terceira e última etapa consistiu na discussão dos resultados
da pesquisa.
2.4 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS
Os instrumentos usados para a coleta de dados foram: entrevista semi–
estruturada e observação. Para Gil (1999), a entrevista é a técnica em que o
investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o
objetivo de obtenção dos dados que interessam á investigação, portanto uma forma
de interação social. Já a observação apresenta os fatos como percebidos
diretamente, sem qualquer intermediação, desse modo, a subjetividade, que permeia
todo o processo de investigação social, tende a ser reduzida.
2.5 ASPECTOS ÉTICOS
Com base no que consta na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde (BRASIL, 1996), referente à pesquisa envolvendo seres humanos, o presente
301
estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
Franciscano - CEP/UNIFRA, e para o Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital
Universitário de Santa Maria, para a análise e aprovação, sendo também solicitado
autorização institucional.
Foi disponibilizado aos participantes do estudo o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, o qual apresentado em duas vias, ficando uma com o
participante e outra com a pesquisadora deste trabalho.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 O cenário no ambiente da UTI Neonatal
Todos os dias nascem crianças com problemas de saúde (prematuros, infecção
neonatal, mal formações congênitas, distúrbios endócrinos, distúrbios hematológicos
e outros), necessitando de atendimento em suas especificidades biológicas e
emocionais, através do cuidado de qualidade e dos avanços tecnológicos
(COSTENARO, 2001).
O ambiente de uma UTI Neonatal proporciona um cenário que poderá ser
compreendido como o mundo intra-uterino diferente, sendo distinto pela iluminação
contínua, interrupção frequente dos períodos de sono e repouso com procedimentos
e atividades diversas. O útero materno é o ideal para o crescimento e o
desenvolvimento fetal, permitindo ao feto repouso e sono profundo, o que colabora
para o crescimento cerebral, conforme as falas descritas:
“[...] tem um deles que tem que tirar O2, dão medicação.” (Margarida)
“[...] remédio, cuidando [pensou]” (Tulipa)
“Dos procedimentos que tão fazendo aqui na UTI, ontem que eu cheguei elas
‘tavam’ aspirando, trocando os tubos, daí eu peguei ela no colo.” (Lírio)
Durante a observação, pelas condições em que a mãe se encontrava, e os
dias de internação, era impossível que realizasse os cuidados com seu filho, pelas
condições em que o recém-nascido encontrava-se. Mas, mesmo assim, notou-se
302
que a mãe tinha muita atenção quanto aos cuidados em que a equipe de
enfermagem prestava ao seu filho.
Percebe-se, ao conhecer os saberes dos pais no ambiente da UTI, que os
recém-nascidos são manuseados com frequência, apresentando um período de
repouso diminuído por conta das interrupções.
Após o nascimento e a admissão na UTI Neonatal, o sono do recém-nascido
é interrompido uma média de 132 vezes em 24 horas, com períodos de descanso de
4 a 9 minutos consecutivos. Contudo, deve-se ter um cuidado maior com o recémnascido, diminuir ao máximo o manuseio, as interrupções do sono, a iluminação e
principalmente o barulho. (TAMEZ 2002).
No ambiente da UTI, os saberes dos pais promovem o vínculo com os
cuidados prestados junto à equipe de enfermagem, pois os procedimentos
necessários são realizados em comum acordo, de maneira participativa.
Por outro viés, os pais durante o período da gravidez criam expectativas de
um filho com características iguais às suas, com projeções e esperanças, de modo
que com o nascimento, é considerada uma perda se o recém-nascido ficar internado
em
uma
UTI
Neonatal,
desfazendo
desta
forma
os
sonhos,
trazendo
desapontamentos, sentimentos de incapacidade, culpa e medo da perda.
“Perdi o chão, tinha a intenção de levar ele pra casa e não poder, é um
sofrimento enorme.” (Rosa)
“É difícil né [...]” (Tulipa)
“É uma provação, um momento de superação, ela foi muito esperada, agora é
só dar tempo ao tempo, um dia após o outro e ver ela melhorando [...]” (Lírio)
Nesse sentido, as mães tem seu mundo mudado no momento em que
“perdem” seus recém-nascidos, sentem-se culpadas, impotentes pelo fato de terem
seus filhos internados na UTI Neonatal, sem ter o que fazer, apenas esperar para
vê-los bem, indo para casa.
Os pais devem compreender e saber sobre a situação de hospitalização do
filho e encontrar maneiras de adaptar suas expectativas e seus planos de acordo
303
com a realidade do ambiente da UTI. A equipe de enfermagem deverá estimular a
participação dos pais, aliviando o estresse, criando vínculo, desmistificando e
permitindo a visita sempre que for possível.
Na primeira visita, a equipe deve explicar todas as normas e rotinas da UTI,
como é possível obter informações por telefone, uso de avental, higienização das
mãos antes de entrar na UTI, os cuidados que se deve ter durante a visita,
descrevendo os equipamentos envolvidos no cuidado com o recém-nascido, bem
como orientar o estado em que se encontra no momento, o tratamento e as
condições para a alta do recém-nascido (KENNER 2001).
“[...] à pouco mesmo eu perguntei pra médica e ainda, que é muito bom, não
tenho o que reclamar [...]” (Girassol)
“Todos os procedimentos elas me passam né [...] eu pergunto, tiro as minhas
dúvidas e elas me explicam.” (Lírio)
“Pergunto para a enfermeira, residente, pediatra, os três juntos [...]”
(Margarida)
Compreende-se, ao conhecer os saberes dos pais que eles têm interesse em
entender o que e como fazem os cuidados com seus filhos, sanando as suas
dúvidas e orientando quanto aos procedimentos realizados. E o que ocorreu na
observação foi a atenção e a preocupação em que as mães têm quanto ao cuidado
e os procedimentos em que a equipe de enfermagem presta ao seu filho.
Na UTI Neonatal, como em qualquer outra unidade de um hospital, o cuidado
de enfermagem muitas vezes pode ser realizado sem levar em conta as
necessidades do sujeito, o que pode ser denominado como cuidado democrático,
pois mesmo que o cuidador manifeste a preocupação em não causar prejuízo ou
mal-estar a quem se cuida, é sempre realizado a partir do ponto de vista do cuidador
(KENNER, 2001).
Para que ocorra a participação dos pais, a organização do cuidado de
enfermagem deve permitir uma assistência voltada para as necessidades individuais
dos bebês e das dívidas de seus pais, na qual os cuidados promovam o vínculo
familiar, não vindo a causar danos na vida futura dessas crianças.
304
“[...] tiro as minhas dúvidas, e elas me explicam tudo” (Lírio)
“Quando não posso vir, ligo pra saber como ela ta, normalmente falo com a
médica, mas quando não dá falo com a enfermeira, [...] sempre me dão toda a
atenção.” (Girassol)
“Pergunto pra enfermeira e pro médico, sempre tiram minhas dúvidas, me
ajudam [...]” (Tulipa)
As mães têm seus medos e angústias tirados no momento em que perguntam
para a equipe quanto aos cuidados, procedimentos realizados, pois na observação
percebe-se a face aliviada, sem preocupação.
Cabe salientar que a equipe de enfermagem no ambiente de UTI Neonatal
deve conhecer além da tecnologia, mas a promoção do cuidado, de maneira
participativa com o perfil dos pais e a família, zelando pelos sentimentos, dominando
a ansiedade e as frustrações, se o objetivo for o de ajudar os recém-nascidos e seus
pais (COSTENARO 2001).
Notou-se que os pais tem o apoio da equipe de enfermagem, onde eles
procuram ajudar da melhor forma possível, colocando-se a disposição dos pais,
tirando suas dúvidas.
“Eu fiquei apavorada [se emocionou, chorou] elas são muito atenciosas..
fiquei confusa, tudo eu queria saber, elas me explicando.” (Lírio)
“[...] fico nervosa né, não sei como ele ta, mas elas me acalmam, sei que eles
vão embora logo se Deus quiser [...]” (Margarida)
Ao conhecer os saberes dos pais percebeu-se que eles fazem-se presentes
em todos os momentos da internação dos recém-nascidos, da forma mais positiva
possível.
O papel gerencial do enfermeiro no ambiente de uma UTI Neonatal é muito
específico
e
diversificado,
é
necessário
conhecimento
técnico-científico
especializado em promover assistência, fundamentado em tecnologias de alta
complexidade e em equipe de enfermagem qualificada, que o diálogo de saberes
305
com pais deve sustentar suas orientações de maneira a estimular a participação dos
mesmos.
3.2 Promoção do cuidado ao recém-nascido dialogando saberes como
um estímulo à participação dos pais
A perspectiva da integralidade na promoção do cuidado com a participação
dos pais faz-se necessário pensar em ações que além de recuperar a saúde do
recém-nascido priorizem também o atendimento de suas diversas necessidades,
dentre ela a convivência com os pais/família em uma UTI Neonatal.
Os pais vêm sendo inseridos aos poucos na promoção do cuidado ao recémnascido no cotidiano da maioria das UTIs Neonatais (GAÍVA, 2009). Mas esta
participação se relaciona com os seus saberes e muitas vezes são restringidas
apenas à mãe, ao pai e a membros importantes da família, e que muitas vezes ainda
há dificuldade de acesso a orientações, informações, e notícias quanto ao recémnascido.
“ Todos os dias, venho de manhã e vou a tarde, fico o tempo que posso, é
para o bem dele [...]” (Rosa)
“ O meu marido e eu estamos sempre aqui, todos os dias [...] dependendo
umas quatro ou cinco vezes, se pudesse ficaria toda hora.” (Cravo)
“[...] Eu venho três vezes por semana, eu e o pai dele.” (Girassol)
As mães ficam o tempo que julgam necessário para realizar os cuidados com
seu filho, sem pressa ou preocupação. Observou-se também o interesse com a
qualidade do tempo em que passam com eles.
Considera-se a necessidade de promover o cuidado de enfermagem
dialogando os saberes com os pais, pois não se restringe o “convívio” maior com o
recém-nascido, embora se compreenda a dificuldade de acesso do restante da
família, seja pela distância ou até mesmo a insegurança em ver o recém-nascido.
306
A inclusão e a participação da família no cotidiano nas UTIs Neonatais
implicou considerá-la protagonista do cuidado, estimulando sua autonomia e o seu
grau de responsabilização, já que a família ajuda de diversas formas, seja pelo
saber, pela fé, otimismo ou perseverança.
Durante a internação da criança na UTIN, a família, os amigos e os pai
encontram-se confusos e com medo, necessitando de uma equipe de enfermagem
que proporcione apoio, orientações, incentivo, pois a fé o amor que os mesmos
dispensam ao recém nascido é incondicional, ou seja, a família unida, frente ao
desconhecido aceita, compreende e assim colabora com o cuidado.
“[...] sempre que dá o pai vem, a minha irmã veio aqui também, pra conhecer
eles.” (Margarida)
“[...] já veio as duas avós, o pai, a tia, prima, bisavó, uma amiga minha [...],
ah, vem quem pode, quem quer ver ela.” (Tulipa)”
Salienta-se que a visitação do sujeito que prevaleceu durante a realização do
estudo foi a mãe, todavia os demais membros da família estão integrados aos
cuidados prestados ao recém-nascido, apoiando e colaborando no momento da
internação.
Quando a condição do recém-nascido permitir a equipe de enfermagem deve
estimular que os pais realizem os cuidados básicos, visitem sempre que possível,
participando da alimentação, da troca de fraldas, da aplicação de cremes e pomadas
obtendo um contato maior, sustentando o vinculo familiar ao conversarem com o
recém-nascido.
“Troco, dou mama, vejo a temperatura dela.” (Tulipa)
“[...] dou mama, troco fralda, ajudo no banho, sempre que dá ajudo elas.”
(Margarida)
“Cuidados [pensou] troco fralda, do mama.” (Girassol)
Nota-se que os cuidados prestados pelos pais
é realizado com amor,
atenção, cuidado, vontade de fazer a diferença perante o filho, se aproximando,
criando um vinculo maior, para quando forem para casa não sentirem-se perdidos,
sozinhos.
307
Apesar dos avanços obtidos em todas as áreas do cuidado junto ao recém
nascido na UTI Neonatal, particularmente no que se refere em métodos, o cuidado
dos pais junto ao recém nascido continua sendo um desafio, pois o fato de que os
pais tem medo, insegurança perante os cuidados prestados ao recém nascido. No
entanto, observou-se que as mães realizam cuidados com seus filhos, de forma que
isso aproxima-os cada vez mais, desfazendo o medo, angustias, frustrações que
elas possam ter tido em algum momento.
“Hoje eu mudei ela (risada alegre) primeira vez que eu mudei ela, elas me
ajudaram, explicaram” (Cravo)
“[...] querer sempre perto e não poder, é um sofrimento enorme, cuidando
dele eu fico mais perto.” (Rosa)
A equipe de enfermagem ao dialogar saberes com os pais estimula o
aleitamento materno observando a atitude perante o recém-nascido como uma
maneira de estimular a capacidade dos pais em participar do cuidado do seu recémnascido. São várias as formas de aproximação da família no cuidado com o recémnascido, dentre elas, estão o alojamento conjunto materno, o método Mãe Canguru,
a internação domiciliar, a liberação da visita de familiares e grupos de apoio (GAÍVA,
2009).
Estas iniciativas ainda não estão inseridas na UTI Neonatal onde se
desenvolveu o estudo, porem procura-se atender as necessidades dos neonatos as
quais a equipe de enfermagem, ofereceu apoio para que os familiares adquirindo
autonomia no cuidado do seu filho para o ambiente domiciliar.
Observou-se que os pais lutavam diariamente para não desanimar e construir
o vinculo com força e esperança; portanto, a participação dos pais significa inseri-los
na realidade de cuidados da UTI, pois são necessários para nutrir a fé no viver
saudável de seus filhos.
Além disso, a participação dos pais no espaço da UTI Neonatal envolveu o
compromisso da equipe de enfermagem na promoção do cuidado muito mais que o
ato de cuidar da saúde em si, pois implicou vislumbrar e cuidar do recém-nascido em
sua integralidade com um ser que pertence a uma família.
308
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao atender o objetivo do estudo, considerou-se que quando os pais e
familiares passam a conviver e a participar ativamente perante ao processo de viver
e de cura de seus filhos, e aceitam melhor todas as possibilidades de tratamento e
de cuidado, o diálogo de saberes e a troca de experiência é, sem dúvida,
fundamental perante as situações de crise nas quais os pais passam.
A realização desta pesquisa foi de extrema relevância para o aprimoramento
dos conhecimentos teórico-conceituais, e que, certamente contribui à qualificação de
profissionais de saúde, frente à prestação de cuidados e informações aos pais com
os filhos internados em UTI Neonatal.
A relevância deste tema evidenciou-se devido a atividades realizadas por
meio de bolsa acadêmica, o que foi muito importante, e o que pesa nesta questão é
a lacuna de experiência oportunizada durante a graduação, na vivência dentro do
ambiente de uma UTI Neonatal, com a equipe e com os pais.
Esta pesquisa contribuirá para a enfermagem para possíveis consultas quanto
à experiências do conhecimento dos pais para com a equipe de enfermagem.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília-DF, 1988.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Brasília-DF, 1990.
CONZ, C. A. A vivência da enfermeira no cuidado ao recém-nascido e aos seus
pais na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: uma abordagem da
fenomenologia social. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
309
COSTA, R.; PADILHA, M. I.; MONTICELLI, M. Produção de conhecimento sobre
o cuidado ao recém-nascido em UTI Neonatal: contribuição da enfermagem
brasileira. Rev. esc. enferm. USP vol.44 no.1 São Paulo Mar. 2010
COSTENARO, R. G. S. Ambiente Terapêutico de Cuidado ao Recém-Nascido
em UTI Neonatal. Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, RS. 2001.
DANTAS, A. L. B. O sentido do cuidado para mães no Método Canguru.
Teresina, 2011. 69 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade
Federal do Piauí, 2011.
FONSECA, Luciana M. Monti; SCOCHI, Carmen G. Silvan. Cuidados com o Bebê
Prematuro: Orientações para a Família. 2ª edição. Ribeirão Preto-SP: FIERP Fundação Instituto de Enfermagem de Ribeirão Preto, 2005.
GAÍVA, Maria A. Munhoz, RIBEIRO, Mara Regina R., In: Gestão do Serviço de
Enfermagem no Mundo Globalizado. Editora Rubio, Rio de Janeiro, 2009.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. Editora Atlas.
São Paulo, 1999.
KENNER, Carole. Enfermagem Neonatal. 2º ed. Editora Reichmann e Affonso. Rio
de Janeiro, 2001
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 5ª
ed. Editora Atlas. São Paulo, 2002.
RIBEIRO, J. M. Cuidado: experiência de um processo interativo-educativo com
a equipe de enfermagem neonatal, fundamentado no interacionalismo
simbólico. Florianópolis, 2007. 133 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
TAMEZ, Raquel N.; SILVA, Maria Jones P. Enfermagem na UTI Neonatal:
Assistência ao Recém-nascido de Alto Risco. 2º ed. Editora Guanabara Koogan.
Rio de Janeiro, 2002.
THOMAS, Claricia; CARVALHO, Vivina L. O Cuidado ao Término de uma
Caminhada. Editora Pallotti. Santa Maria – RS. 1999.
310
27.2) EMPODERAMENTO DA GESTANTE NO CENÁRIO DO PARTO POR
MEIO DO CUIDADO HUMANIZADO DE ENFERMAGEM (2014)¹
CALEGARO, Joceane Patias1;
DINIZ EBLING, Sandra Beatriz2;
PIESZAK, Greice Machado3;
RESUMO
O processo do parto apresenta muitas transformações no corpo da mulher,
envolvendo adaptações. O acompanhamento neste período possibilita o cuidado
integral à mulher e a família, além de permitir à enfermagem a atuação nas ações de
educação em saúde e o incentivo a autonomia da gestante para que a condução da
gestação e processo de parturição transcorra de forma mais efetiva e participativa.
Tem-se como objetivo Relatar a experiência de uma acadêmica de Enfermagem no
cuidado
humanizado
à
parturiente
e
refletir
empoderamento da mulher no cenário do parto.
acerca
da
importância
do
Trata-se de um relato de
experiência de uma acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Regional
Integrada do alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago, RS, acerca da
vivência no cuidar de uma parturiente em uma maternidade do Hospital de Caridade
de Santiago, durante o mês de junho de 2014. Nas aulas práticas da disciplina de
saúde da Mulher. Onde foi desenvolvida a prática humanizada, o acolhimento e a
escuta ativa, o que contribui muito para a criação do vínculo entre acadêmico e
gestante, técnicas e exercícios de relaxamento o que favoreceu o processo do parto
e o empoderamento da mulher. Deste modo, observou-se que estas medidas
contribuíram muito para o parto ocorrer de forma mais tranquila, vivida e sentida
2
Autora. Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santiago, RS. Integrante do Grupo GEPSE (Grupo de
Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected] E
3
Enfermeira. (Mestre em Enfermagem, Docente no curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santiago). Integrante do
Grupo de Pesquisa GEPSE. E-mail: [email protected]
4
Orientadora. Enfermeira (Mestre em Enfermagem, Docente no curso de Graduação em Enfermagem
da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante
do Grupo de Pesquisa GEPSE. E-mail: [email protected]
311
profundamente a cada momento o que tornou a mulher sentir-se protagonista do
seu parto.
ABSTRACT
The birthing process has many changes in a woman's body, involving adaptations.
Monitoring this period allows comprehensive care to women and the family, and allow
the nursing role in the actions of health education and encouraging the autonomy of
the pregnant woman for the conduct of pregnancy and parturition process elapses
more effectively and participatory. Has as objective to report the experience of an
academic nursing in humanized care to laboring women and reflect on the
importance of women's empowerment in the scene of childbirth. This is an
experience report of an academic course of Nursing Regional Integrated University of
High Uruguay and Missions, Campus de Santiago, RS, regarding their experience in
caring for a woman in labor in a maternity Charity Hospital of Santiago, during the
month of June 2014 during the practical lessons of the discipline of Women's health.
Where was developed humanized practice, acceptance and active listening, which
contributes greatly to the creation of the link between academic and pregnant,
techniques and relaxation exercises whichfavors the process of childbirth and
women's empowerment. Thus, it was observed that these measures contributed
greatly to the course delivery more smoothly, deeply felt and lived every moment
which makes the woman protagonist of his birth.
Eixo Temático: Atenção à saúde da mulher
Descritores: Saúde da Mulher; Parturiente; Enfermagem; Humanização do parto.
1. INTRODUÇÃO
A gravidez não deve ser tratada como doença e sim como expressão de
saúde, e o nascimento como processo fisiológico e natural. Intervenções
312
desnecessárias, sem embasamento científico, devem ser evitadas, já que existem às
evidências científicas demonstrando as vantagens de medidas humanizadas no
cenário de parto e nascimento. Sabe-se que o parto quando visualizado como um
processo natural e quando conduzido sem intervenções desnecessárias, pode
originar melhores resultados maternos e perinatais. (BRASIL, 2014).
O processo do parto apresenta muitas transformações no corpo da mulher,
envolvendo adaptações e cuidados, como por exemplo, mudanças fisiológicas
incluindo hormonais e físicas, interpessoais, comportamentais, emocionais, culturais
e sociais. Estas transformações ocorrem de forma gradativa indicando que esta
gestante é capaz de transcender esse período de sua vida, da forma mais natural
possível, tendo o apoio familiar e um bom suporte no Pré-Natal.
O
acompanhamento neste período demonstra o cuidado integral à mulher e família,
possibilita ao profissional trabalhar com as ações de educações em saúde e o
incentivo ao empoderamento da gestante para a condução da gestação e processo
de parturição de forma mais efetiva e participativa (PIESZAK, et al, 2013).
Com a escuta ativa das expressões verbais e não verbais da parturiente e
valorização dos sentimentos, medos e suas inquietações é possível aos poucos
realizar ações de encorajamento, no exercício da autonomia e do empoderamento
da mulher no parto e nascimento (CAMACHO, et al, 2013) Possibilita “melhora nas
orientações e segurança da mulher” por meio da disponibilização de uma
significativa quantidade de informações, desenvolvendo orientações que tornam a
mulher segura acerca das possibilidades de um parto mais adequado à sua escolha.
Isso ocorre principalmente se a mulher estiver sendo acompanhada durante todo
período gestacional, parto e puerpério (BRASIL, 2014).
Isso faz com que os profissionais de saúde, em especial os enfermeiro,
estejam capacitados para esta prática humanizadora voltadata ao respeito à mulher
e a fisiologia do parto. Neste contexto, o cuidado de enfermagem deve resgatar a
subjetividade, assegurar seus direitos e proporcionar a humanização no atendimento
(PIESZAK, et al, 2013). Neste sentido, sabe-se que há inúmeras possibilidades de
atuar da enfermagem, tornando o processo de hospitalização e parturição um
313
momento respeitoso e com a participação efetiva da mulher neste cenário,
garantindo-lhe a preservação da sua privacidade, segurança e autonomia.
2. OBJETIVO
Relatar a experiência de uma acadêmica de Enfermagem no cuidado
humanizado à parturiente e refletir acerca da importância do empoderamento da
mulher no cenário do parto.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência de uma acadêmica do curso de
Enfermagem da Universidade Regional Integrada do alto Uruguai e das Missões,
Campus de Santiago, RS, acerca da vivência ao cuidar de uma parturiente em uma
maternidade do Hospital de Caridade de Santiago. A referida da vivência foi
oportunizada pela disciplina de saúde da mulher, a qual é ministrada no sétimo
semestre do curso, durante o mês de junho de 2014 durante as aulas práticas da
disciplina de saúde da Mulher.
A mesma tem como objetivo fazer com que os graduandos compreendam a
mulher no seu ciclo vital, assim como planejar e emplementar ações de promoção e
prevenção da saúde da mulher na rede hospitalar como também na atenção básica.
O referido hospital é considerado referência para as cidades vizinnhas desta
região. A maternidade do mesmo possui infraestrutura adequada para o processo de
trabalho de parto, parto e recepção do Recém-Nascido (RN), além disso, possui três
encubadoras e sinco berços aquecidos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A realização desta vivência oportunizou a atuação no cuidado à gestante de
forma integral, desde a internação da gestante até o pós parto. Na admissão da
314
gestante no centro obstétrico foi possível realizar a entrevista, permitindo a
aproximação entre a mesma e a acadêmica, este primeiro contato tratou-se de um
momento acolhedor e permitiu a construção de um vínculo com a gestante. A
vinculação significa apoio e segurança para a mulher no momento do parto – apoio
ao processo fisiológico do trabalho de parto: se não assegurada, o medo, a
insegurança, a desinformação, as incertezas, as dúvida, a falta de apoio, as
situações de estresse que interferem na liberação de hormônios importantes do
processo do parto como a ocitocina endógena, ao contrário nessas situações há
maior liberação de adrenalina, hormônio do medo, que compete com esta,
dificultando todo o processo. (BRASIL, 2014).
Em seguida, realizou-se a avalição da caderneta da gestante contendo
informações importantes acerca do pré-natal e da gestanção.
Na sequência, o
exame físico preocupou-se com a preservação da sua privacidade e individualidade,
respeitando a sua subjetividade, explicando os procedimentos que seriam realizados
bem como é o processo de pré-parto, parto e pós-parto e os procedimentos
inerentes à admissão da gestante na matermidade. Já na sala de pré-parto realizouse às orientações acerca da necessidade da realização dos testes de triagem para
detectação de HIV. Além disso, explicou-se que a sua decisão seria respeitada do
aceite da realização do mesmo, esclarecendo os benefícios da realização deste
procedimento.
Cabe destacar que a gestante aceitou a realização do teste e informou que
havia recebido as orientações da sua importância ainda no pré-natal em
acompanhamento na atenção primária pela enfermeira do serviço. O Ministério da
Saúde (MS), assegura a vinculação da gestante à equipe de referência da Atenção
Básica, garantindo o local para o parto, acolhimento da gestante, puérpera e RN nas
práticas de produção de saúde nos diferentes níveis de atenção à saúde (BRASIL,
2009).
Além disso, sabe-se que os profissionais de saúde que atendem a gestante
devem classificar os riscos na gestação, realizar os encaminhamentos às
maternidades e a garantia de acompanhante para a gestante durante a internação
315
para o parto. Ainda, após a internação da gestante foi possível realizar as medidas
de conforto, diálogo, escuta constante sobre sua vida, família, medos e as
espectativas para seu novo filho identificando e as necessidades tanto físicas quanto
emocionais.
Destaca-se a realização das massagens de conforto e relaxamento,
musicoterapia proporcionando um ambiente calmo e agradável, exercícios na bola
de pilates favorecendo o encaixe a e descida do feto, movimentação ativa da
gestante entre a sala de pré-parto e a entrada da maternidade. Essas caminhadas
oportunizaram a gestante conhecer a sala de parto e como ocorreria o processo de
nascimento do seu bebê.
Estas medidas de conforto proporcinam a gestante confiança e tranquilidade,
pois relaxam a tensão, instrumentaliza a mulher sobre o processo do parto, tornando
a vivência do parto mais intensa e desejada a cada etapa.
Estudos científicos
trazem que com a implementação das práticas pautadas nos princípios da
humanização, como, por exemplo, o estímulo à presença do acompanhante no
processo do nascimento, a liberdade de deambulação e a possibilidade de ingerir
líquidos são resgatados aspectos fundamentais dos direitos reprodutivos e sexuais
que favorecem o andamento do parto e nascimento sem intervenções (CAMACHO,
et al, 2013).
Além disso, o acompanhamento no trabalho de parto oportunizou a realização
das orientações acerca da respiração adequada, movimentos corporais para o alívio
da dor, técnicas de relaxamento durante o intervalo das contrações, incentivo à
mulher para a condução do seu trabalho de parto. Está prática trouxe como
resultado a confiança da gestante em sí própria e na sua capacidade de parir. Cabe
destacar que o vínculo construído durante todo o processo de parturição, tornou-se
fundamental para que a mulher conduzisse adequadameente o seu parto, por meio
de um momento tranquilo e seguro.
O parto quando realizado no cenário hospitalar deve oferecer a parturiente o
cuidado humanizado que tenha como objetivo prestar uma assistência respeitosa,
transmitindo segurança e confiança, pois o ambiente hospitalar pode deixar a
316
gestante insegura e o seu desejo é que de este momento transcorra da melhor
maneira possível.
Para isso, cabe aos profissionais atuarem neste contexto de
valorização dos sujeitos envolvidos neste cenário. Além disso, a formação do vínculo
entre a mulher e os profissionais do serviço, oportuniza o diálogo efetivo e a
possibilidade de protagonismo do seu parto (NASCIMENTO,et al, 2010).
De
acordo
com
Nascimento
e
Progiant
(2010),
as
medidas
não
farmacológicas e tecnologias não invasivas são práticas utilizadas pela equipe de
enfermagem na valorização da parturiente e das suas necessidades. Dentro desse
contexto de utilização de práticas humanizadas, destacam-se alguns cuidados
desenvolvidos, como a oferta de livre movimentação corporal, o respeito às escolhas
de posição durante o trabalho de parto, o acompanhamento ao banho de imerssão,
a oferta de massagens e a realização de alguns exercícios físicos com o objetivo
oferecer à mulher o protagonismo do parto e a possibilidade de vivenciar a
experiência de parir como um evento fisiológico.
A enfermagem obstétrica vem ao encontro da possibilidade de resgatar o
parto fiológico como um fenômeno feminino onde a autonomia da mulher passa a
ser respeitada. Além disso, pode aliar o saber científico e prático possibilitando o
acontecimento do parto fisiológico e a mulher como protagonista neste momento tão
importante de sua vida (VARGNS, et al, 2008).
Destaca-se que no trabalho de parto ativo a parturiente apresentou-se
sensível, por vezes cansada e referindo muita dor. Neste sentido, ofertou-se
inúmeras medidas não farmacológicas para o alívio da dor, como, as massagens
corporais na região lombar, orientações acerca das técnicas de respiração entre as
contrações, o próprio toque e olhar carinhoso e a musicoterapia como estratégia de
relaxamento e conforto.
Estas ações de cuidado de enfermagem representam o respeito à
individualidade de cada mulher e a preocupação em atender as suas necessidades.
Sabe-se que a dor é subjetiva e deve ser valorizada de acordo com a sigularidade
da cada mulher em trabalho de parto.
317
A percepção da dor sentida pela mulher em trabalho de parto pode ser
influenciada por muitos fatores, incluindo suas expectativas, a complexidade do seu
trabalho de parto e a intensidade da sua dor (BRASIL, 2014). Neste contexto, o
enfermeiro deve garantir que a valorização das necessidades individuais da mulher,
estas devem ser reconhecidas por meio do respeito, do apoio e do diálogo. Para que
o cuidado seja efetivo e para que exista a comunicação efetiva, faz-se necessário a
criação do vínculo entre profissional e parturiente. Portanto, a abordagem carinhosa
reconhecida pode criar um vínculo entre o serviço e o usuário, o que atende a um
dos princípios do acolhimento essa concepção está fundamentada na idéia de
cuidado como um processo que envolve ações, atitudes e comportamentos que
buscam a promoção, manutenção e/ou recuperação da saúde, dignidade e
totalidade humana (NASCIMENTO, et al, 2010).
Dentro deste contexto, estudos comprovam que para muitas mulheres o alívio
da dor pode ser obtido apenas com um suporte físico e emocional adequado,
transmitindo segurança à parturiente, orientando sobre a evolução do parto,
sinalizando sobre seu direito ao acompanhante de sua escolha, contribuindo
sobremaneira para a redução da intensidade dolorosa (PIESZAK, et al, 2013). Neste
sentido, o trabalho da enfermagem passa a assumir uma importante função no
atendimento à parturiente, por meio da garantia dos seus direitos pautados na
humanização do parto e nascimento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste trabalho oportunizou uma reflexão acerca da importancia
da atuação do enfermeiro no cenário do parto, em especial no cuidar à gestante de
forma integral e respeitosa. A partir da descrição da vivência acadêmica acerca do
cuidado de enfermagem emerge a necessidade de repensar a prática obstétrica e a
necessidade de ações humanizadas pautadas em evidências científicas.
Conclui-se que o parto e nascimento é condiderado especial tanto para a
parturiente quando para sua família, portanto, a valorização dos profissionais de
318
enfermagem deste momento faz-se necessária. Além da necessidade das ações de
educação em saúde, em busca do empoderamento da mulher neste cenário. Para
isso, sabe-se da emergente necessidade de mudanças de paradigmas e adoção de
práticas não invasívas, que ofereçam o cuidado humanizado e o respeito a fisiologia
do parto e a singularidade da mulher.
REFERÊNCIAS
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Humanização. Caderno HumanizaSUS. Humanização do parto e Nascimento.
Brasília, Ministério da Saúde. 2014.
BRUGGEMANN OM, Oliveira ME, Martins HEL, Alves MC, Gayeski ME. A inserção
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319
28.2)
PÉ TORTO CONGÊNITO: UM ESTUDO DE CASO CLINICO 1
GOMES, Iris Elizabete Messa2;
BORDIGNON, Juliana Silveira 3 ;
ROCHA, Bruna Dedavid da4;
CORREA, Aline Medianeira Gomes5;
MENEZES, Francislene Lopes6;
BUENO, Patrícia Curti7
RESUMO
A implementação da sistematização da assistência de enfermagem continua sendo
no cotidiano da enfermagem um desafio, pois esta requer planejamento de ações e
resgate de conteúdos relacionados à Fisiologia, O cotidiano do enfermeiro que atua
na atenção básica de saúde o processo de enfermagem enseja caminhos,
permitindo uma qualificação de cuidados, visto que ela planejara ações, priorizando
as respostas humanas no processo saúde doença. Desta forma, o presente estudo,
tem como objetivos estabelecer um plano de cuidados para o paciente portador de
pé torto congênito, através do exame físico e de todo processo de enfermagem,
além de estabelecer medidas de enfrentamento da doença para a família.
Metodologicamente trata-se de um estudo de caso clinico que utilizou a
sistematização
da
assistência
de
enfermagem
nas
etapas
de
histórico,
planejamento, intervenção e avaliação. No preenchimento do histórico de
enfermagem foi realizado o levantamento dos dados através de exame físico,
2
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário
Franciscano, [email protected]
3
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário
Franciscano, [email protected]
4
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário
Franciscano, [email protected]
5
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário
Franciscano, [email protected]
6
Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Residente do Programa de Residência em Enfermagem
Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected]
7
Enfermeira, Especialista em Saúde Mental, Enfermeira na Prefeitura de Santa Maria,
[email protected]
320
evoluções de enfermagem do prontuário familiar. Para a elaboração dos
diagnósticos empregamos a North American Nursing Diagnosis Association
(NANDA). Após conhecimento dos diagnósticos de enfermagem, foram elaboradas
intervenções com o objetivo de auxiliar a família no cuidado ao paciente. O local de
implementação do estudo se deu no domicilio do paciente, morador da região Oeste
do Município de Santa Maria- RS. O sujeito da pesquisa é um RN, que em primeira
consulta puerperal estava com de 5 dias de vida, portador de pé torto congênito
(PTC). O presente estudo de caso foi aprovado pelo comitê de ética sob o numero
758.677, respeitando todos os preceitos éticos assim descritos na lei 466/2012. A
partir do presente estudo podemos perceber o quão importante se faz as ações que
a atenção primaria desenvolve, e ao mesmo tempo nos mostra a importância de se
implementar com maior efetividade a sistematização da assistência de enfermagem.
ABSTRACT
The implementation of the systematization of nursing care remains in daily nursing a
challenge, because it requires action planning and rescue related content
Physiology, The routine of nurses who work in primary health care the nursing
process entails paths, allowing a qualification in care since she planned actions,
prioritizing human responses in health-disease process. Thus, the present study aims
to establish a plan of care for the patient with clubfoot, through physical exam and
the entire nursing process, and establish measures to combat the disease for the
family. Methodologically it is a clinical case study that used the systematization of
nursing care in the steps of history, planning, intervention and evaluation. Fill in the
history of the nursing data collection was performed by physical examination, nursing
evolutions of family records. For the preparation of diagnostic employ the North
American Nursing Diagnosis Association (NANDA). After knowledge of nursing
diagnoses, interventions aiming to support families in patient care were developed.
Local implementation of the study took place in the home of the patient, a resident of
321
the western region of the municipality of Santa Maria-RS. The research subject is an
RN who first puerperal visit was 5 days of life, bearer of clubfoot (PTC). This case
study was approved by the ethics committee under the number 758 677, respecting
all ethical precepts so prescribed by law 466/2012. From this study we can realize
how important it is actions that develops primary care and simultaneously shows us
the importance of implementing more effectively the systematization of nursing care.
Eixo: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido.
Descritores: Pé torto, Enfermagem e Processo de Enfermagem.
Descriptors: clubfoot, Nursing and Nursing Process.
1. INTRODUÇÃO
A implementação da sistematização da assistência de enfermagem continua
sendo no cotidiano da enfermagem um desafio, pois esta requer planejamento de
ações e resgate de conteúdos relacionados à Fisiologia, Patologia e Farmacologia.
Em alguma situação, na demanda do serviço, requer sua efetivação. Faz-se
necessário a elaboração de um plano de cuidado que contemple as necessidades
do paciente que se encontram afetadas. O enfermeiro ao pensar no processo, deve
fazer uma abordagem centrada não apenas nas necessidades fisiológicas, mas nos
aspectos biopsicossocial, espiritual e cultural (ALVES et. al. 2007).
O cotidiano do enfermeiro que atua na atenção básica de saúde o processo
de enfermagem enseja caminhos, permitindo uma qualificação de cuidados, visto
que ela planejara ações, priorizando as respostas humanas no processo saúde
doença. Ela considera o ser humano a partir das suas necessidades básicas,
permitindo a elaboração de ações sistematizadas de enfermagem, fundamentando a
assistência prestada.
O PTC é definido como uma deformidade caracterizada por mau alinhamento
complexo do pé que envolve partes moles e partes ósseas, com deformidade em
322
arquino e varo do retropé, cavo e adução do médio e antepé, com incidência
aproximada de um para cada 1.000 nascidos vivos, predomina no gênero masculino,
na proporção de 2:1, e tem acometimento bilateral em 50% dos casos (Maranho e
Volpon, 2009)
Neste sentido, o enfermeiro atua na saúde integral da mulher, saúde do idoso,
saúde da criança e tantos outros aspectos da promoção e proteção da saúde.
Desta forma, o presente estudo, tem como objetivos estabelecer um plano
de cuidados para o paciente portador de pé torto congênito, através do exame físico
e de todo processo de enfermagem, além de estabelecer medidas de enfrentamento
da doença para a família.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caso clinico que utilizou a sistematização da
assistência de enfermagem nas etapas de histórico, planejamento, intervenção e
avaliação.
O estudo de caso pode ser definido como um estudo delimitado com a
exploração de um sistema, obtido a partir de uma coleta de dados detalhada,
envolvendo varias fontes de informação (LUDK, 1986). Estes são apropriados para
serem aplicados na assistência direta de enfermagem, com a finalidade de realizar
um estudo profundo dos problemas e necessidades do paciente, família e
comunidade, com a possibilidade de elaborar estratégias para solucionar ou reverter
os problemas encontrados.
De acordo com Becker (1994) e Goldenberg (1997), o estudo de caso tem
origem na pesquisa médica e na pesquisa psicológica, com a análise de modo
detalhado de um caso individual que explica a dinâmica e a patologia. Com este
procedimento se supõe que se pode adquirir conhecimento do fenômeno estudado a
partir da exploração intensa de um único caso.
No preenchimento do histórico de enfermagem foi realizado o levantamento
dos dados através de exame físico, evoluções de enfermagem do prontuário familiar,
323
contra referência do pediatra que recepcionou e prestou os primeiros cuidados ao
RN, além de entrevistas com a família, através de visita domiciliar.
Para a elaboração dos diagnósticos empregamos a North American Nursing
Diagnosis Association (NANDA, 2005), uma vez que estes representam a base para
seleção de intervenções e resultados terapêuticos.
Após conhecimento dos diagnósticos de enfermagem, foram elaboradas
intervenções com o objetivo de auxiliar a família no cuidado ao paciente.
O local de implementação do estudo se deu no domicilio do paciente, morador
da região Oeste do Município de Santa Maria- RS. O sujeito da pesquisa é um RN,
que em primeira consulta puerperal estava com de 5 dias de vida, portador de pé
torto congênito (PTC).
O presente estudo de caso foi aprovado pelo comitê de ética sob o numero
758.677, respeitando todos os preceitos éticos assim descritos na lei 466/2012.
3. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO
Histórico
RN L.C.V. do sexo masculino, nascido no dia 02/08/2014, de parto vaginal,
em um hospital público da cidade de Santa Maria.. Filho de H.C.V. 15 anos,
estudante e M.C.S.18 anos, Recepcionista. Reside em casa de alvenaria que possui
3 quartos, 1 sala, 1 cozinha e 1 área de serviço, juntamente com sua avó E.G.C. 36
anos, Auxiliar Administrativa, seu avô A.N.39anos encarregado administrativo, sua
tia A.C.N, 1 ano e sua mãe H.C.V.
HCV realizou sua 1° consulta de pré-natal no dia 17/04/2014 onde apresentou
seu primeiro e único ultrassom obstétrico realizado no dia ???, onde constatou: IG:
22 semanas e 2 dias, feto único, pélvico, liquido amniótico normal, sem demais
alterações. No total HCV realizou cinco consultas de pré-natal, onde no decorrer das
consultas foram solicitados exames de rotina que não contataram alterações
significativas.
324
Em primeira consulta de saúde da criança, realizada no dia 07/08/2014, RN
apresentava-se calmo, sonolento e corado. Em sua carteirinha de nascimento
apresentou os seguintes dados: PC: 34, Peso: 3.225, Apgar no 1° min. 09 e no 5°
min. 10, manobra de Ortolani: negativo, Teste do reflexo vermelho:normal, Vacinas:
Hepatite B e BCG: já administradas, estatura: 49.
Ao exame físico, durante a consulta, apresentou fontanelas normotensas,
mucosas coradas, pele integra, PC: 37, PT: 35, Peso: 3,250, estatura: 49, reflexo de
Moro positivo, responsivo a estímulos, coto umbilical com bom aspecto de
cicatrização, genitais íntegras, nasceu com pé torto congênito, ambos com reflexo de
Babinsk positivo.
Conforme contra referência recebida do Hospital de origem, RN apresenta pé
torto congênito. O mesmo foi encaminhado ao Hospital Universitário da cidade para
que seja realizada avaliação de especialista e inicie tratamento.
Com etiologia ainda desconhecida, foram propostas várias teorias para explicar
a origem do PTC, considerando-se causas intrínsecas ou extrínsecas, entre as
quais: posição intrauterina do feto, compressão mecânica ou aumento da pressão
hidráulica intrauterinas;
parada
no
desenvolvimento
fetal; infecções virais;
deficiências vasculares; alterações musculares; alterações neurológicas; defeito no
desenvolvimento das estruturas ósseas e defeitos genéticos.
constatação da
existência de tecido fibrótico nos músculos, fáscias, ligamentos e bainhas tendíneas
da região posteromedial do tornozelo e retropé corroboram a hipótese de defeito
primário de partes moles e unidades neuromusculares que levam às alterações
ósseas. (Maranho e Volpon, 2009)
Planejamento
RN foi encaminhado ao Hospital Universitário desta cidade para que se inicie
tratamento. O mesmo então iniciará tratamento com a técnica de Ponsett, a qual foi
prescrita pelo pediatra.
325
O método de Ponsett, composto, basicamente, por manipulações e trocas
gessadas seriadas, secção percutânea do tendão calcâneo e uso de órtese de
abdução. Ponsett, após estudos aprofundados sobre a anatomia patológica e
funcional do PTC, a partir da década de 40, desenvolveu e aprimorou método
próprio de tratamento, em vista dos maus resultados obtidos com tratamentos
cirúrgicos e não cirúrgicos, então em prática estabeleceu detalhes sobre as
manobras de manipulação e de confecção do gesso, bem como o seguimento após
secção do tendão calcâneo e estratégias de prevenção de recidivas, com base na
idade da criança e na cooperação dos pais. Além disso, identificou e divulgou os
erros mais comumente praticados. (Maranho e Volpon, 2009).
LCV no dia 15/08/2014 realizou o procedimento de colocação da prótese
gessada.
Em visita domiciliar no dia 21/08/2014, onde foram até o domicilio a agente
comunitária e a enfermeira residente da unidade, foi realizado junto a família uma
entrevista, onde se objetivou conhecer o sentimentos da família frente a doença do
RN e saber quais eram as dificuldades enfrentadas pela família no que diz respeito
ao cuidado com o mesmo.
Diante do que foi exposto pela família foi possível criar alguns diagnósticos de
enfermagem e em concordância com os mesmos realizar um plano de cuidados que
os auxilie no cuidado diário do RN.
Intervenção
Apresento a seguir os diagnósticos de enfermagem, bem como as
intervenções propostas pelo NIC e os resultados de acordo com a codificação do
NOC:

Disposição para aumento da COMPETÊNCIA COMPORTAMENTAL DO
BEBÊ evidenciado por respostas organizadas a estímulos sensoriais
326
Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema
-Realizar tarefas que estimulem a parte sensorial do bebê
-Estimular e ensinar a família a realizar tarefas motoras com bebê

Risco de COMPORTAMENTO desorganizado DO BEBÊ evidenciado por
problemas
motores;
procedimentos
dolorosos
e
procedimentos
invasivos.
Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema
-Controle do ambiente
-Promoção da mecânica corporal
-Posicionamento do bebê

Disposição
para
CONHECIMENTO
aumentado
evidenciado
por
demonstração de conhecimento do tópico; interesse em aprender.
Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema
-Proporcionar a família material interativo sobre o tema
-Estimular família a buscar mais sobre o tópico.

Risco de CRESCIMENTO desproporcional relacionado a distúrbio
congênito .
Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema:
-Aconselhamento
-Apoio ao cuidador
-Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento.
327
Disposição para ENFRETAMENTO familiar aumentado relacionado a
Indivíduo que expressa interesse em fazer contato com outra pessoa que
tenha vivido situação similar; evidenciado por Tarefas de adaptação
voltadas, com eficácia, a possibilitar o aforamento de metas de auto
realização.
Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema
-Orientação antecipada
-Aconselhamento
-Promoção do envolvimento familiar
-Suporte à família
Avaliação
No dia 01/09/2014 realizou-se nova visita domiciliar ao LCV, o mesmo
apresentava-se mamando em seio materno, corado, em bom estado geral, família
relata que o mesmo já passou pelo primeiro procedimento de troca do gesso. HCV,
mostrou-se confiante com o tratamento que esta sendo feito. A família mostrou-se
receptiva com os cuidados propostos pela equipe de saúde da família.
4. CONCLUSÃO
A partir do presente estudo podemos perceber o quão importante se faz as
ações que a atenção primaria desenvolve, e ao mesmo tempo nos mostra a
importância de se implementar com maior efetividade a sistematização da
assistência de enfermagem nas estratégias de saúde da família para que assim
possamos nos fortalecer fazendo com que nossa prática seja baseada em
evidências sólidas, com o objetivo de aprimorar o nosso cotidiano de cuidado.
Se faz necessário que ações como estas sejam incluídas no cotidiano
de trabalho de enfermeiros, onde os mesmos se motivem a buscar sempre mais
328
conhecimento para atender integralmente todos os clientes da sua área de
abrangência.
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estudo de caso com uma puérpera. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 60, n. 3, June
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http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672007000300019.
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North American Nursing Diagnoses Association (NANDA). Diagnósticos de
Enfermagem: definições e classificação 2003- 2004. Porto Alegre (RS): Artmed;
2005.
329
29.2) A TEORIA DE OREM: CONTRIBUIÇÕES NA DESINTOXICAÇÃO
QUÍMICA DA GESTANTE USUARIA DE CRACK 1
GOMES, Iris Elizabete Messa2;
BORDIGNON, Juliana Silveira 3 ;
NICOLLI, Thalissa4;
GEHLEN, Maria Helena 5;
CEOLIN, Cristiana 6;
RIZZI, Rodrigo7
RESUMO
Este estudo objetivou avaliar as contribuições da Teoria de Orem no autocuidado
das gestantes na desintoxicação química pelo uso do crack.Trata-se de uma
pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa. Os sujeitos da pesquisa
foram cinco gestantes internadas em uma unidade de desintoxicação química pelo
uso do crack em um hospital de médio porte no interior do RS no período de agosto
de 2012 a novembro de 2013. Os critérios éticos e bióticos foram atendidos pela
aprovação do estudo no comitê de ética. Foi realizada uma entrevista
semiestruturada com perguntas que norteavam as gestantes, a analise delas
emergem duas temáticas:A aplicabilidade da Teoria de Orem como um estímulo a
aceitação da desintoxicação química das gestantes usuárias de crack. E, a
aplicabilidade da Teoria de Orem um devir a ser operacionalizado pela equipe de
1
Trabalho de pesquisa e extensão do Curso de Enfermagem da UNIFRA e do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES/CNPq), intitulado “Acolhimento: uma estratégia
para o viver saudável na unidade de desintoxicação química, devido o uso do crack”
2
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário
Franciscano, [email protected]
3
Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário
Franciscano, [email protected]
4
Enfermeira. Pós em enfermagem do trabalho na [email protected]
5
Orientadora. Enfermeira docente do curso de enfermagem. UNIFRA. [email protected]
6
Acadêmica de enfermagem. UNIFRA. [email protected]
7 Acadêmica de enfermagem . UNIFRA. [email protected]
330
enfermagem e saúde como um estimulo a aceitação da desintoxicação química e
viver saudável no puerpério.
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the contributions of Orem's Theory in self-care of
pregnant women in the use of chemical detoxification crack.Trata is an exploratorydescriptive study with a qualitative approach. The subjects were five pregnant women
admitted in a unit of chemical detoxification by using crack on a medium-sized
hospital inside the RS from August 2012 to November 2013 Ethical and biotic criteria
were met for the approval of the study the ethics committee. One semi-structured
interview with questions that guided the pregnant women was conducted to analyze
these two themes emerge: The applicability of Orem's Theory as an incentive to
accept the chemical detoxification of pregnant users of crack. And the applicability of
Orem's Theory a becoming to be operated by nurses and health staff as a stimulus
acceptance of chemical detoxification and healthy living in the puerperium.
Eixo Temático: Atenção ao Pré-Natal
Descritores: Crack; Cuidados de Enfermagem; Gravidez
Descriptors: Crack; Nursing; pregnancy
1.
INTRODUÇÃO
A gravidez é um evento complexo e uma experiência repleta de sentimentos
intensos. É um momento em que ocorrem grandes alterações físicas e psicológicas
na mulher, as quais podem gerar variadas reações emocionais (Piccini e Gomes
2004 ; Oliveira 2005).
A associação da gravidez com o uso drogas é um fator que põe em risco a
maternidade, e a preocupação com esse fenômeno vem aumentando à medida que
temos o conhecimento sobre o aumento do uso de substancias psicoativas pela
população nas últimas décadas. Todavia, a prevalência do uso da cocaína tem
331
aumentado drasticamente na população de mulheres grávidas durante as ultimas
décadas (Yamaguchi ET. et al, 2008).
Nesse sentido, é premente a utilização metodológica do processo de
enfermagem no estímulo ao autocuidado dos indivíduos que buscam a promoção da
saúde, tratamento, recuperação, reabilitação e reinserção social dentre eles as
gestantes dependentes químicas devido ao uso do crack (Gehlen, 2012).
Em relação
ao
seu
efeito
teratogênico,
a
cocaína/crack atravessa
rapidamente a barreira placentária sem sofrer metabolização, agindo diretamente na
vascularização fetal, podendo ocorrer malformação urogenitais, cardiovasculares e
do sistema nervoso central (Yamaguchi ET. et al, 2012).
Para tal, a Teoria do Autocuidado de Orem fornece uma estrutura para uma
enfermagem com ampla visão nos aspectos relativos ao levantamento das
necessidades particulares das gestantes em situação de desintoxicação química
devido ao uso do crack. Além disso, é uma metodologia de processo de enfermagem
que facilita o planejamento do cuidado de enfermagem a gestante em situação de
desintoxicação química e mostra-se efetivo e eficaz, pois estimulado a participar de
forma ativa na reabilitação encorajando o paciente ao autocuidado proporcionando a
reinserção social e assim um viver saudável (Marriner-Tomey, 1994).
No entanto, acredita-se que quando se trata de gestante em situação de
drogadição, levando em conta a assistência à gestante, prestada pelo enfermeiro
durante o pré-natal, deve-se dar ênfase não só à inclusão de ações educativas que
se fazem sob forma de orientações, mas também à importância da desintoxicação
química para estas gestantes.
Assim, apresenta-se como questão da pesquisa: Quais as contribuições da
Teoria de Orem para o autocuidado das gestantes na desintoxicação química pelo
uso do Crack?
Dessa forma, apresenta-se o objetivo da pesquisa:Conhecer as contribuições
da Teoria de Orem para o autocuidado das gestantes na desintoxicação química
pelo uso do crack.
332
2.
METODOLOGIA
Este estudo vincula-se ao projeto de extensão do Curso de Enfermagem do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA) e do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES/CNPq), intitulado
“Acolhimento: uma estratégia para o viver saudável na unidade de desintoxicação
química, devido o uso do crack” e ao projeto de ensino, pesquisa e extensão
intitulado “Cuidado lúdico: estratégia educativa inovadora na promoção da saúde
integral”, aprovado no comitê de ética sob o número 72/2010/UNIFRA com
renovação bianual.
Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva (Leopardi, 2002). A
abordagem escolhida é qualitativa (Minayo, 2010). Foi realizado na unidade de
desintoxicação química, localizada em um hospital de médio porte, na cidade de
Santa Maria, RS, que destina, aproximadamente, 24 leitos, pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), para dependentes químicos. A amostra se constituiu de cinco sujeitos
que estavam realizando desintoxicação química na unidade que integra a rede de
atenção ao usuário do crack do ensino ao serviço de saúde, segundo descrição a
seguir: gestantes usuárias de crack e drogas associadas em situação de
desintoxicação química, entre 18 a 45 anos. Como critério de inclusão, adotou-se o
desejo de participar da pesquisa e ser maior de idade, como critérios de exclusão na
pesquisa consideraram-se: indivíduos que, durante a operacionalização da
pesquisa, estivessem hipersexualizados, com risco de agressão, fuga, homicídio,
suicídio, surtos psiquiátricos, mutilados, ou com agravos contagiosos como a
tuberculose. Na garantia de seus anonimatos, denominaram-se os sujeitos por nome
de flores. O período estabelecido foi de agosto de 2012 a novembro de 2013.
Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada (Triviños,
1992).
Individual com informações que emergiram durante uma conversa informal,
com as seguintes questões norteadoras: Que cuidados você realiza no seu dia a dia
para o seu bem estar aqui na unidade de desintoxicação? O que você sabe sobre os
333
efeitos do crack durante a sua gestação? Que cuidados você gostaria de receber ou
aprender aqui na unidade? Descreva sua rotina de cuidados dentro da unidade.
Não foi utilizado o método de gravação das respostas das depoentes, a
escrita foi realizada pela pesquisadora durante a coleta de dados.
Os dados após
coletados foram transcritos, organizados e analisados por meio da análise temática
de Minayo (Minayo, 2010).
3.
RESULTADOS
3.1A aplicabilidade da Teoria de Orem como um estimulo a aceitação da
desintoxicação química das gestantes usuárias de crack
Para as entrevistadas, os cuidados realizados no dia a dia durante a
desintoxicação no período de internação ajudam na reorganização da rotina de viver
sem o crack, embora sintam o desejo de consumir a droga.
“Eu costumo ler bastante para ocupar a cabeça, também faço
bastante palavras cruzadas,pena que não podemos usar caneta
aqui.” (Violeta)
As gestantes alegaram que os efeitos do crack durante a gestação não é
notório porque muitas desconheciam a sua condição de estarem grávidas durante o
período que estavam na rua em situação de drogadição,e, portanto não haviam
realizado o pré-natal.Todavia no período da desintoxicação após os quatro dias na
unidade consideraram que a droga deva trazer algum malefício para o bebe.
“Eu sei que não faz bem,não sei descrever quais os efeitos
específicos, tentei diminuir o uso durante a gestação, mas não parei
de usar...”(Azaleia)
O autocuidado realizado pelas gestantes na unidade de desintoxicação
química prepara para aceitação da condição de estar grávida bem como na
formação do vinculo e afeto pelo bebê. Além disso, auxilia no desenvolvimento
334
cognitivo e mudança de comportamento para a nova rotina após a alta hospitalar de
forma saudável.
“Eu acordo e vou direto pro banho e é a hora que mais gosto, pois é
a hora que ele se mexe bastante e depois do banho passo bastante
creme na barriga e converso com ele e parece q ele me entende e
dácada chute,coisa mais querida.”(Camélia)
A aplicabilidade da Teoria de Orem pela equipe de enfermagem na unidade
de desintoxicação química é promotora do autocuidado na aceitação da
desintoxicação, estimula para o viver saudável e proteção do concepto, porém
depende do indivíduo aceitar suas limitações com consciência de que sua
reabilitação e reinserção social poderão levar torno de cinco anos.
“Achei bom, aproveitei bastante, pois afinal a única coisa que tinha
era as atividades que foram educativas, aprendi varias coisas sobre
o que pode acontecer com meu filho e comigo, hoje sou mais
consciente.”(Azaleia)
Conferiu-se que o desejo de constituir família é despertado nas gestantes durante a
desintoxicação após o quarto dia de internação, principalmente quando estas iniciam as
atividades de autocuidado, embora haja muita dificuldade desconcentração para o cuidado
próprio. Isso acontece porque o crack e as outras drogas como álcool e cocaína usadas
anteriormente geram fissuras baixando assim a autoestima.
“Quando cheguei aqui não queria nada com nada, nos primeiros dias só
pensava em fugir, até que fui me acalmando, fui participando das atividades
e conversando com o pessoal e parece que agora as coisas certas estão
entrando na minha cabeça, quero fazer tudo certo para poder ter meu bebe
e meu marido de volta.” (Azaleia)
Percebe-se que estimular o autocuidado ajuda na aceitação da importância
da desintoxicação química principalmente durante a gestação, a qual requer cuidado
de enfermagem-saúde um manejo que valorize a essência e a história de vida do
335
indivíduo hospitalizado, para que o mesmo possa escolher conscientemente o viver
saudável.
3.2 A aplicabilidade da Teoria de Orem um devir a ser operacionalizado
pela equipe de enfermagem e saúde como um estimulo a aceitação da
desintoxicação química e viver saudável no puerpério
As pesquisadas consideraram que quando há ações desenvolvidas pela equipe
enfermagem-saúde que valorizam as suas condições de estarem gravidas, sem
atitudes preconceituosas, ajudam na melhor aceitação da desintoxicação.
“Eu gosto e me sinto estimulada a querer largar a pedra pra sempre,
quando tem atividades que tem a ver com meu bebe, aprendizados
relacionados a esse serzinho que está se formando aqui dentro de
mim, esses dias as gurias da enfermagem fizeram uma atividade
onde mostrava todas as fases do desenvolvimento do feto do
primeiro ao nono mês, foi muito emocionante.”(Camélia)
Para os sujeitos da pesquisa é notório que o cenário da desintoxicação é também
um espaço de aprendizagem no atendimento das necessidades educativas, pois
algumas desconheciam os efeitos do crack durante o período gestacional. Também
desconheciam os cuidados básicos do desenvolvimento para o desenvolvimento
saudável de seus bebês.
“Não sei muita coisa sobre isso, porque eu não queria engravidar
afinal nem sei quem é o pai dessa criança, não gosto de estar
gravida e não sou em quem vai cuidar dessa criança, vou dar pra
doção.”(Orquídea)
Vale destacar que para as gestantes há um imaginário sobre os efeitos do
crack no organismo do feto, e o reconhecimento que, durante o período de
internação o aprendizado sobre o autocuidado e o tratamento das lesões
neurológicas respiratórias oriundas da drogadição,poderiam contribuir para que as
mesmas pudessem vir a ter mais informações relacionadas ao feto e um puerpério
mais saudável.
336
“Eu sei que o crack não faz bem pro meu bebe por isso eu quero
parar, quero me tratar, sei que se eu continuasse usando ele podia
ficar aleijado ou doente da cabeça.”(Violeta)
Conferiu-se que as gestantes reconhecem que o cuidado de enfermagem
fornece um apoio,porém muitas vezes realiza ações principalmente com relação ao
manejo farmacológico. Considera-se, também, que o cuidado de enfermagem é
incentivador para que a rotina de cuidados básicos de higiene alimentação convívio
social seja reorganizada e cumprida.
“Eu acho que o cuidado de enfermagem aqui nos ajuda muito, e
incentiva porque muitas vezes só tenho vontade de dormir e daí
precisa de ajuda ate para levantar, para termos uma rotina, poislá
fora a minha rotina era só usar pedra.”(Azaleia)
Para as gestantes, dependentes químicas, elegerem autocuidado e o viver saudável,
durante a internação, e tornar isso como meta, após a hospitalização, a
potencialização de aplicabilidade da teoria de orem é relevante. Isso porque
considerados aspectos de valorização do ser humano como sendo capaz de
novamente se inserir na sociedade e reconstruir sua vida.
4.
DISCUSSÃO
O profissional enfermeiro que atua na área de reabilitação e reinserção
social pelo uso do crack deve ter, além do cuidado teórico-prático, uma atuação
humanizada. Isso se inicia já no momento da desintoxicação química e está
diretamente ligado ao paciente em um tratamento prolongado, onde o conhecimento
de seu agravo interfere diretamente em sua vida na sociedade (Gehlen, 2012).
A Teoria do autocuidado de Orem, utilizada na unidade de desintoxicação a
gestantes usuárias de crack, engloba o autocuidado, a atividade de autocuidado e a
exigência terapêutica de autocuidado. Nesse ínterim, relacionar a teoria do
337
autocuidado na situação de desintoxicação química à gestante é uma estratégia
metodológica de cuidado que auxilia também no contexto global da epidemia do uso
do crack.
Esse fato contextualiza uma problemática que chama atenção tanto do poder
público quanto dos órgãos de saúde, universidades e sociedade, na medida em que
há tendência ao crescimento insustentável do consumo de crack, com significativas
consequências educativas, físicas, emocionais, políticas, sanitárias e sociais
(Backes, 2010).
A assistência pré-natal não deve se restringir às ações clínico-obstétricas,
mas incluir as ações de educação em saúde na rotina da assistência integral, assim
como aspectos antropológicos, sociais, econômicos e culturais, que devem ser
conhecidos pelos profissionais que assistem as mulheres grávidas, buscando
entendê-las no contexto em que vivem, agem e regem.
O principal objetivo da atenção pré-natal e puerperal é acolher a mulher
desde o início da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma
criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal.
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avaliar as contribuições da Teoria de Orem para o autocuidado das gestantes
na desintoxicação química pelo uso do crack pode ajudar na descrição da relevância
do cuidado de enfermagem no manejo das necessidades clinicas, educativas e
humanas das mulheres.
A Teoria de Orem quando operacionalizada e efetivada,estimula à aceitação
da desintoxicação química e o viver saudável após a hospitalização. Reforçou-se o
pressuposto de que os efeitos do crack na gestação poderão ser percebidos logo
após o nascimento do bebê, ou poderão demorar anos para se manifestar, e de que
a mulher e a criança devem ser assegurados por meio das políticas publicas de
saúde e pela educação ate a puberdade de seus filhos, evitando assim as gravidez
indesejadas.
338
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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crianças e adolescentes internados e egressos de Unidade de Tratamento de
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Triviños A. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa
em educação. São Paulo: Atlas; 1992.
339
30.2) PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM GESTANTES
EM ACOMPANHAMENTO NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO DE UM
DISTRITO DOCENTE ASSISTENCIAL DE PORTO ALEGRE: dados
preliminares1
LOPES, Cristina Rita dos Santos 2;
GONÇALVES, Lisiane Brum3;
TIETZMANN, Daniela Cardoso 4;
COELHO, Débora Fernandes5;
RESUMO
Introdução: transtornos mentais comuns (TMC) são um conjunto de sintomas
depressivos e não-psicóticos. São frequentemente encontrados na comunidade e
representam alto custo social e econômico. Também são mais frequentes em
mulheres não brancas, população de baixo nível socioeconômico, nos indivíduos
com pouco suporte social e em períodos vitais geradores de estresse. O processo
de mudanças durante a gestação pode gerar estresse favorecendo o aumento de
sintomatologias e até mesmo desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.
Objetivos geral e específico: identificar a prevalência de TMC em gestantes em
acompanhamento no pré-natal de baixo risco e descrever características
sociodemográficas e obstétricas destas gestantes. Metodologia: estudo transversal
quantitativo realizado por meio de entrevistas com todas gestantes em atendimento
pré-natal nas doze Unidades de Saúde da Família do Distrito Docente Assistencial
Norte/Eixo Baltazar na cidade de Porto Alegre/RS. Critérios de inclusão: gestantes
entre décima sétima e trigésima segunda semana de gestação e estar em
acompanhamento pré-natal nas Unidades de Saúde da Família do distrito. Critérios
de exclusão: menores de 18 anos e/ou gestantes com prejuízo cognitivo grave. Foi
1
Este trabalho faz parte estudo realizado como trabalho de conclusão de curso para a obtenção do
título de bacharel em Enfermagem. Contou com recursos próprios e parte do financiamento do
PRÓ/PET - Saúde Redes de Atenção I - UFCSPA.
2
Graduanda de Enfermagem do 8° semestre na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre (UFCSPA), email: [email protected]
3
Graduanda de Psicologia do 4º semestre na UFCSPA, e-mail: [email protected]
4
Doutora em Epidemiologia, Professora adjunta UFCSPA, e-mail: [email protected]
5
Doutora em Enfermagem, Professora adjunta UFCSPA, e-mail: [email protected]
340
construído um instrumento semi-estruturado para os dados sociodemográficos e
obstétricos. Para o rastreamento de TMC utilizou-se o instrumento Self-Reporting
Questionnaire. Este projeto teve a aprovação dos comitês de ética em pesquisa.
Resultados: a prevalência de TMC foi de 52,6% na população estudada. O principal
achado foi que as mulheres sem companheiro apresentaram escores com maior
possibilidade de ter TMC. Conclusões: a alta prevalência de positividade no SRQ20 indica maior probabilidade de TMC nessas gestantes. As mulheres sem
companheiro apresentaram maiores escores no SRQ-20 demonstram a importância
do apoio social na gestação. Os escores altos no SRQ-20 em mulheres não brancas
corroboram que essa população está mais vulnerável. As limitações do estudo estão
relacionadas ao baixo número de gestantes participantes e a homogeneidade dos
dados das entrevistadas.
Eixo Temático 2: Atenção ao Pré-natal
Descritores: Cuidado pré-natal; Saúde mental; Gestantes.
ABSTRACT
Introduction: Common mental disorders (TMC) are a set of depressive symptoms
and nonpsychotic. Are often found in the community and represent high social and
economic cost. Are also more common in non-white women of low socioeconomic
level in individuals with little social support and generators vital periods of stress. The
process of changes during pregnancy can lead to stress favoring increased of
symptomatology and even development of psychiatric disorders. General and
specific objectives: to identify the prevalence of TMC in pregnant women in antenatal
monitoring in low-risk and describe sociodemographic and obstetric characteristics of
these pregnant women. Methodology: A quantitative cross-sectional study
conducted through interviews with all pregnant women in prenatal care in the twelve
units of the Family Health Care District Lecturer North / Baltazar Axis in Porto Alegre
/ RS. Inclusion criteria: pregnant women between the seventeenth and thirty-second
341
week of pregnancy and be in prenatal care in the Family Health Units in the district.
Exclusion criteria: under 18 and / or pregnant women with severe cognitive
impairment. A semi-structured for sociodemographic and obstetric data instrument
was built. For tracking TMC used the instrument Self-Reporting Questionnaire. This
project was approved by the research ethics committees.
Results: The prevalence of TMCs was 52.6% in the population studied. The main
finding was that women without partners had scores are most likely to have TMC.
Conclusions: The high prevalence of positivity in SRQ-20 indicates greater
likelihood of these TMC pregnant. Women without a partner had higher scores on the
SRQ-20 demonstrate the importance of social support during pregnancy. The high
scores on the SRQ-20 in non-white women corroborate that this population is more
vulnerable. Limitations of this study are related to the low number of participants
pregnant and homogeneity of the data of the intervieweer.
1. INTRODUÇÃO
A expressão “Transtornos Mentais Comuns” foi criada por Golberg e Huxley
(1992) para definir um conjunto de sintomas depressivos e não psicóticos como:
insônia, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, esquecimento, além de
outras queixas somáticas. Estes sintomas apesar de causarem grande sofrimento
psíquico não se configuram como uma patologia psiquiátrica clássica.
Os prejuízos oriundos de transtornos mentais afetam os indivíduos em várias
dimensões. Além do sofrimento psíquico e somático os sujeitos são frequentemente
isolados socialmente, discriminados, interrompem suas atividades laborais e
acadêmicas. Entre os fatores associados aos transtornos mentais estão o uso
abusivo de álcool e drogas, suicídios, homicídios, agressões, diminuição na
qualidade de vida e aumento da mortalidade. (ALMEIDA, 2010).
Os transtornos mentais são frequentemente encontrados na comunidade e
representam um alto custo social e econômico, uma vez que são causa de inúmeros
342
dias de afastamento do trabalho, além de elevarem a demanda de serviços de
saúde. (GOLBERG; HUXLEY, 1992).
Os TMC são mais frequentes nas mulheres, na raça negra/parda, na
população com baixo nível socioeconômico e nos indivíduos com pouco suporte
social. Também é mais frequente em períodos vitais geradores de estresse.
(COSTA; LUDERMIR, 2005).
Durante a gestação a mulher passa por uma série de mudanças, tanto
sociais, quanto familiares, psicológicas e hormonais. O processo de mudanças nesta
fase do ciclo vital pode ser gerador de estresse, favorecendo para o aumento de
sintomatologias e até mesmo para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.
Tais transtornos acabam influenciando negativamente a gestante, uma vez que
interferem no processo de autocuidado e na adesão ao tratamento. (SARMENTO;
SETÚBAL, 2003, FALCONE et al, 2005; BAPTISTA; BAPTISTA; TORRES, 2006).
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Identificar a prevalência de transtornos mentais comuns em gestantes em
acompanhamento no pré-natal de baixo risco de um Distrito Docente Assistencial de
Porto Alegre/RS.
2.2 Objetivo específico
Descrever características sociodemográficas e obstétricas das gestantes em
acompanhamento no pré-natal de baixo risco de um Distrito Docente Assistencial de
Porto Alegre/RS.
3. METODOLOGIA
343
Trata-se de um estudo transversal quantitativo realizado por meio de
entrevistas com todas as gestantes em atendimento pré-natal nas doze Unidades de
Saúde da Família do Distrito Docente Assistencial Norte Eixo Baltazar (DDA NEB)
na cidade de Porto Alegre/RS.
Os critérios de inclusão adotados foram: estar gestante entre a décima sétima
e a trigésima segunda semana de gestação e estar em acompanhamento pré-natal
nas Unidades de Saúde da Família (USF) do distrito. Como critérios de exclusão
optou-se por não participarem do estudo gestantes com idade inferior a 18 anos e/ou
gestantes com prejuízo cognitivo grave.
Foi construído um instrumento semi-estruturado para coleta de dados
sociodemográficos e obstétricos. Para o rastreamento de Trantornos Mentais
Comuns optou-se utilizar o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) já
validado no Brasil.
O SRQ-20 é composto por 20 questões onde se atribui valor zero para as
respostas negativas e valor um para as afirmativas. Quanto mais respostas
afirmativas, maior a probabilidade de que o sujeito tenha um TMC. O ponto de corte
é 7/8, o que permite a divisão em dois grupos, ou seja, escores menores que oito
tem menor probabilidade de apresentarem um TMC e escores iguais ou maiores do
que oito tem maior probabilidade de ter um TMC. O SRQ-20 parece muito adequado
a estudos de base populacional no nível de atenção primária à saúde, uma vez que
nestes serviços há uma alta concentração de pacientes com transtornos desta
natureza. (GONÇALVES et al, 2008).
O projeto foi submetido à apreciação ética via Plataforma Brasil tendo a
UFCSPA como instituição proponente e a Secretaria Municipal da Saúde de Porto
Alegre como instituição co-participante. Obteve aprovações das instituições
proponente
e
co-participante,
conforme
pareceres
621.028
e
672.039,
respectivamente.
Após a aprovação dos comitês de ética em pesquisa foram realizadas a
seleção e capacitação dos entrevistadores. Antes do início das entrevistas o projeto
foi apresentando aos coordenadores das USF durante reunião na Gerência Distrital.
344
Nesta ocasião foi solicitado aos coordenadores uma listagem atualizada das
gestantes em acompanhamento pré-natal nas suas respectivas unidades para que
fosse possível organizar a logística do estudo.
As entrevistas ocorreram nas USF e quando necessário em visitas
domiciliares. Antes de proceder as entrevistas os coletadores faziam o convite para
participação no estudo, liam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
esclareciam eventuais dúvidas. Somente após o aceite e assinatura do Termo, em
duas vias, iniciavam as entrevistas.
A coleta de dados ocorreu entre 22 de julho a 3 de setembro de 2014. Neste
período haviam 259 gestantes em atendimento pré-natal nas doze USF do DDA
NEB. Do total de gestantes apenas 63 atendiam os critérios de inclusão/exclusão,
destas 57 foram entrevistadas e 6 delas foram as perdas. Foram realizadas ainda
outras três entrevistas piloto com gestantes que não atendiam integralmente os
critérios de inclusão/exclusão, sendo posteriomente excluídas do banco de dados.
Foi construído um banco de dados no software EPIDATA 3.1 para
armazenamento dos mesmos. Os questionários foram duplamente digitados para
garantir a consistência das informações coletadas. Após a conclusão e limpeza do
banco foi realizada a análise dos dados utilizando o software estatístico SPSS 18.0.
Os dados serão armazenados por um período mínimo de cinco anos após o término
do estudo.
Neste estudo foram seguidas todas as normas éticas para o desenvolvimento
de pesquisas envolvendo seres humanos de acordo com a Resolução do Conselho
Nacional de Saúde n° 466/2012.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Das 63 gestantes que atendiam os critérios de inclusão/exclusão, foram
entrevistadas 57 e 6 delas foram as perdas. Os motivos das perdas foram gestantes
faltosas em consultas de pré-natal e/ou não encontradas em visitas domiciliares.
Conforme dados da tabela 1, em relação a cor 45% (n= 24) se auto
declararam como brancas. Negras pardas e indígenas representaram ao total 55%
345
(n= 33). As gestantes deste estudo informaram ter um companheiro representaram
82,5% (n= 47). Separadas/divorciadas, solteiras e viúvas representaram 17,5% (n=
10) desta população. Neste estudo 54,4% não trabalham fora. Trabalham com
carteira assinada, sem carteira assinada, encostada/aposentada, recebe pensão
representaram 45,6% das gestantes. A renda percapta menor ou igual a 400 reais
representou 50,9% (n= 29) destas gestantes. A idade média das gestantes
entrevistadas foi 24,72 (DP 5,077), a idade mínima foi 18 e a máxima 41 anos. A
primeira relação sexual ocorreu em média com 15,41 anos (DP 2,214), sendo a
idade mínima 9 e máxima 21 anos, uma das entrevistadas respondeu que não
lembrava. A idade média da primeira gestação foi 19,23 anos (DP 3,168), sendo a
idade mínima 15 e máxima 32 anos. Das 57 gestantes 21 eram primigestas, das 36
restantes 16 tinham história de 1 ou mais abortos. As participantes informaram ter
tido em média 1,7 (DP 2,220) parceiros sexuais no último ano, sendo 1 o número
mínimo de parceiros e 15 o número máximo. A média de idade gestacional na
primeira consulta foi de 9,6 semanas (DP 3,770), sendo a mínima de 4 e a máxima
24 semanas. As gestantes entrevistadas tiveram em média 3,82 consultas de prénatal (DP 1,638), sendo a mínima de 1 e máxima de 9 consultas. Na população
deste estudo a prevalência de escores iguais ou maiores a 8 pontos no SRQ-20, que
indicam maior probabilidade de transtornos mentais comuns, foi de 52,6% (n= 30),
sendo que o escore pontuado mínimo foi de 8 e o máximo 19. As gestantes que
obtiveram escores abaixo de 8 pontos são 47,4% (n= 27), sendo que o escore
mínimo foi de 0 e o máximo 7.
346
Tabela 1 - Dados descritivos das gestantes em acompanhamento pré-natal
Cor
N
%
Branco
33
57,9
Não branco
24
42,1
Estado civil
N
%
Sem companheiro
10
17,5
Com companheiro
47
82,5
Escolaridade
N
%
Igual ou menor que 8 anos
25
43,9
Maior que 8 anos
32
56,1
Renda per-capta
N
%
Igual ou menos que 400 reais
29
50,9
Maior que 400 reais
28
49,1
Ocupação
N
%
Não trabalha fora
31
54,4
Trabalha fora
26
45,6
Recebem bolsa família
7
12,3
N
Média
DP
Mínimo
Máximo
Idade da gestante
57
24,72
5,077
18
41
Idade da primeira relação sexual
57
15,41
2,214
9
21
Idade da primeira gestação
57
19,23
3,168
15
32
Número de abortos*
16
1,13
0,342
1
2
Número de parceiros(as) sexuais no último ano
57
1,7
2,22
1
15
Idade gestacional na primeira consulta
57
9,6
3,77
4
24
Número de consultas pré-natal realizadas
57
3,82
1,638
1
9
Escore no SRQ-20**
57
8,12
4,555
0
19
* Das 57 gestantes, apenas 16 sofreram 1 ou mais abortos.
** Valores iguais ou maiores que 8 indicam maior probabilidade de TMC.
Conforme tabela 2, as entrevistadas que referiram ter idade abaixo até 20
anos 12,3%(n= 7) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 14 % (n= 8)
obtiveram escores menores que 8. Já as que informaram ter acima de 20 anos de
idade 40,4% (n=23) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 33,3% (n=19)
tiveram escores menores que 8. As gestantes que se auto declararam brancas
26,3%(n= 15) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 31,6 % (n= 18)
obtiveram escores menores que 8. Já as que se declararam negras, pardas ou
347
indígenas representaram 26,3% (n=15) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e
15,8% (n=9) tiveram escores menores que 8. As entrevistadas possuem até 8 anos
de estudo 21,1%(n= 12) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 22,8
% (n= 13) obtiveram escores menores que 8. Já as que possuem mais de que 8
anos de estudo 31,6% (n= 18) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 24,6%
(n= 14) tiveram escores menores que 8. As participantes que referiram não ter
companheiro 14%(n= 8) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 3,5 %
(n= 2) obtiveram escores menores que 8. Já as que informaram ter companheiro
38,6% (n=22) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 43,9% (n=25) tiveram
escores menores que 8. As entrevistadas que possuem renda per capta até 400
reais 29,8%(n= 17) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 21,1 % (n=
8) obtiveram escores menores que 8. Já as que possuem renda maior de 400 reais
22,8% (n=13) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 26,3% (n=15) tiveram
escores menores que 8.
Tabela 2 - Escores do SRQ-20 por variável
Escore no SRQ-20
Igual ou maior
que 8
Menor que 8
Variável
N
%
N
%
p
Estado civil
Sem companheiro
8
14
2
3,5
Com companheiro
22
38,6
25
43,9
Total
30
52,6
27
47,4
0,812
Idade
Menores de 20 anos
0,056
7
12,3
8
14
Igual ou maior de 20 anos
23
40,4
19
33,3
Total
30
52,6
27
47,3
0,512
Renda per capta
Igual ou menor que 400 reais
17
29,8
12
21,1
Maior que 400 reais
13
22,8
15
26,3
Total
30
52,6
27
47,4
0,203
Cor
Não Branco
15
26,3
9
15,8
Branco
15
26,3
18
31,6
Total
30
52,6
27
47,4
0,725
Escolaridade
348
Igual ou menor a 8 anos de estudo
12
21,1
13
22,8
Maior que 8 anos de estudo
Total
18
30
31,6
52,6
14
27
24,6
47,4
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da aplicação do screening para TMC foi encontrada uma
prevalência de 52,6% na população estudada, demonstrando um alto número de
gestantes que podem estar sendo subdiagnosticadas, consequentemente, trazendo
repercursões no seu auto cuidado e com o bebê.
Esse resultado corrobora a alta prevalência de TMC encontrada em pesquisa
semelhante realizada por Silva et al (2010) com gestantes onde scores altos foram
encontrados em 41,4% das gestantes. Resultados como esses demonstram a
necessidade de investimento em mais pesquisas nessa área para subsidiar
programas de saúde pública nesta população.
Ocorreram diferenças importantes nos escores dos SRQ-20 entre as que não
possuem parceiros e das não brancas. As que não possuem parceiros e que
obtiveram escores acima de 8 representam 14%(n= 8) SRQ-20 e 3,5 % (n= 2)
obtiveram escores menores que 8. Esse dado indica que mulheres que relatam não
ter parceiro possuem maior probabilidade de ter TMC. Portanto, os achados neste
estudo corroboram com a associação de níveis elevados de suporte social, quer
sejam eles ofertados pela família ou pelo parceiro, com ausência de transtornos
mentais comuns encontrados em Rodrigues et al (2011).
Em relação as que se declararam negras, pardas ou indígenas 26,3% (n=15)
obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 15,8% (n=9) tiveram escores menores
que 8 demonstrando terem maior probabilidade de TMC. Esse achado também foi
encontrado em Costa e Ludermir (2005).
O presente estudo apresentou algumas limitações relacionadas ao baixo
número de gestantes participantes e a homogeneidade dos dados das entrevistadas.
349
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Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo
comparativo com o Structured Clinical Interview for DSM-IV-TR. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2. fev., 2008.
RODRIGUES, S M S. et al. Suporte familiar e transtornos mentais comuns em
adolescentes grávidas. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 29, n. 64, jan./mar.
2011.
SARMENTO, R.; SETÚBAL, M.S.V. Abordagem psicológica em obstetrícia: aspectos
emocionais da gravidez, parto e puerpério. Revista de Ciências Médicas,
Campinas, v.12, n. 3, jul./set., 2003.
350
3. RESUMOS
351
1.3)
PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA TOMADA DE DECISÃO DURANTE O
PROCESSO DE PARTURIÇÃO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
MATOS, Greice Carvalho de1;
SOARES, Marilu Correa2;
ESCOBAL, Ana Paula de Lima3;
SANTOS, Carolina Carbonell4;
BOETTCHER, Cassia Luíse5;
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Parto Normal; Parto Humanizado; Cesárea; Tomada de Decisões;
Pesquisa Qualitativa.
1. INTRODUÇÃO
O parto significa para a mulher um dos acontecimentos mais importantes de
sua vida, uma experiência marcante, na qual os sentimentos vivenciados serão
lembrados minuciosamente por toda sua vida. O processo de parturição é um evento
histórico, em que o cuidado dispensado às mulheres em trabalho de parto e no parto
ocorria no ambiente domiciliar, a parturiente era assistida por outra mulher,
geralmente uma parteira de sua confiança e apoiada pelos seus familiares. No
século XX, com o objetivo de reduzir as altas taxas de mortalidade materna e infantil,
1
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com
crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected]
2
Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública- EERP -USP -Profª
Adjunta IV da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do
Projeto de Extensão Prevenção e Promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas.- Líder do
Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL –
[email protected]
3
Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças,
adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL –[email protected]
4
Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças,
adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected]
5
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com
crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected]
352
ocorreu a institucionalização do parto, o domicílio da mulher foi trocado pela
hospitalização
e
consequente
medicalização
(LOPES
et
al.,2009).
A
institucionalização do parto trazia como pressuposto que os profissionais de saúde
que estivessem junto às mulheres prestassem cuidados humanizados. Contudo
estes avanços priorizaram a medicalização da parturiente durante o processo de
parto, tornando o processo de parturição médico-cirúrgico, tecnicista e não
humanista, resultando na quantidade excessiva de partos cesáreos e no abuso de
intervenções tecnológicas (CARRARO et al.,2007). Compete ao profissional de
saúde a responsabilidade de oferecer informações à parturiente referentes aos tipos
de parto, valorizando os benefícios do parto normal como um processo fisiológico,
bem como, esclarecer sobre as indicações do parto cesáreo, salientando que este
tipo de parto não deve ser um evento rotineiro para as mulheres, pois pode tornar-se
um procedimento de risco para mãe e para o recém-nascido. É também de
importância instrumentalizar a mulher para a tomada de decisões referentes a
vivencia de seu parto (MATOS,2013). Para isto é necessário valorizar as
experiências prévias da mulher, seus valores, suas crenças, seus medos e checar
as informações obtidas de outras fontes, pois estes fatores podem interferir na
tomada de decisão da mulher (PINHEIRO; BITTAR, 2013). Nesta perspectiva este
estudo apresenta a seguinte questão norteadora: Qual a participação da mulher na
tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado?
2. OBJETIVO
Conhecer a participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de
parto vivenciado.
3. METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A revisão
integrativa contempla a sinopse de vários estudos publicados e propicia
353
considerações gerais com relação a uma área delimitada de estudo (POLIT; BECK;
HUNGLER, 2004). Para realização do mesmo, foram percorridas as seguintes
etapas: 1) estabelecimento da hipótese e objetivos da revisão integrativa; 2)
estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra);
3) definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; 4) análise
dos resultados; 5) discussão e apresentação dos resultados e 6) apresentação da
revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Destaca-se que todo processo foi
permeado pela discussão coletiva e validação por pares das etapas percorridas.
Após a definição da temática, determinou-se como descritores Parto Normal (natural
childbirth),Parto humanizado (humaizing delivery), Cesárea (cesarean section),
Tomada de Decisões (decision making) e Pesquisa Qualitativa (qualitative research)
consultados previamente no Decs (Descritores em Ciência e Saúde) e no Mesh
(Medical Subject Headings) sendo utilizado os operadores boleanos AND e OR
como ferramenta para o cruzamento destes. Utilizou-se a base de dados Lilacs
(Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), o
portal Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e o MEDLINE (Medical Literature
Analysis and Retrieval Sistem on-line). Determinou-se como critério de seleção dos
manuscritos nas línguas inglesa, português e espanhol que abordavam a
participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado
publicados nos últimos dez anos. A seleção da amostra foi realizada por meio de
leitura flutuante dos títulos e resumos seguida da leitura dos artigos na íntegra. Para
a análise e posterior síntese dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão foi
utilizado um quadro sinóptico especialmente construído para este fim, que
contemplou os seguintes aspectos: identificação do estudo; autores; revista;
objetivos; metodologia e resultados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na base de dados MEDLINE foram encontrados para o descritor Natural
Childbirth 2047 publicações, com o descritor Humanizing Delivery surgiram 24
354
resultados, o descritor Cesarean section apresentou 34690 publicações, Decision
making trouxe 180924 publicações, e Qualitative Research o resultado foi 86953
publicações. Após o cruzamento dos descritores foram encontradas 33 publicações,
sendo que 14 publicações contemplaram o objetivo do estudo, as demais
pontuavam aspectos que não se inseriam nos critérios de inclusão do estudo. Na
base de dados LILACS foram encontrados 311 publicações para o descritor Parto
normal, para o descritor Parto Humanizado 227 publicações, o descritor Cesárea
apresentou 2732 publicações, Tomada de Decisões trouxe 657 publicações, e
Pesquisa Qualitativa o resultado foi 2103 publicações. Após o cruzamento dos
descritores foi encontrada uma publicação. No Portal Scielo foram encontrados 65
publicações para o descritor Parto Humanizado, para o descritor Parto Normal 70
publicações, o descritor Cesárea apresentou 300 publicações, Tomada de Decisões
trouxe 25 publicações, e Pesquisa Qualitativa o resultado foi 498 publicações. Após
o cruzamento dos descritores foi encontrada uma publicação. Ao final da etapa de
seleção dos artigos, foram considerados relevantes à temática deste estudo 16
artigos. Durante a análise dos dados observou-se que em termos de evolução
temporal no período de 2009 a 2013 concentraram mais da metade dos estudos que
permeiam esta revisão. Quanto ao local de origem das publicações a Austrália
apresentou o maior quantitativo, com cinco estudos, seguida do Reino Unido com
quatro, enquanto o Brasil apresentou dois, e Canadá, Argentina, Suécia, Noruega, e
Taiwan com um estudo cada. Após a leitura na íntegra das publicações desta
revisão, foi realizado o agrupamento dos estudos em duas temáticas, considerando
a similaridade de conteúdos, a saber: Parto normal pós cesárea e Cesárea: Decisão
médica ou decisão materna? As publicações relacionadas à temática Parto normal
pós cesárea permitiram pressupor que a maioria das mulheres, mesmo após
vivenciarem uma cesariana anterior, demonstram interesse em experienciar o parto
normal, no entanto não encontram informações durante a gestação à respeito deste
tipo de parto, sendo assim acabaram sujeitando-se as cesarianas subsequentes,
pois sentem medo em vivenciar VBAC. Já a temática Cesárea: Decisão médica ou
decisão materna? evidenciou que as mulheres, muitas vezes desprovidas de
355
conhecimento prévio, acabam se submetendo à praticas medicalizadas e
intervencionistas, vivenciam cesarianas sem indicações adequadas e o saber
médico ainda possui domínio de decisão no processo de parturição.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta
revisão
integrativa
possibilitou
conhecer
produções acerca
da
participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado.
Evidenciou-se que o período de 2009 a 2013 concentrou o maior número de
publicações sobre a temática, sendo a Austrália e o Reino Unido os países com
maior número de pesquisas. Constatou-se a emergência dos profissionais de saúde
se conscientizarem da necessidade de realizar ações de educação em saúde no
decorrer da gestação em relação aos tipos de parto, seus benefícios e indicações. O
pré-natal é um espaço para praticas em prol da humanização do nascimento, pois
possibilita a troca de conhecimento entre a mulher e os profissionais de saúde, com
intuito de empoderar a mesma na tomada de decisão sobre o processo de
parturição. Nesta conjuntura salienta-se que os estudos analisados nesta revisão
permitiram perceber que é preciso persistir na busca pela humanização do processo
de parturição, pois o parto ainda continua alvo de ações padronizadas, intervenções
tecnológicas e medicalizadoras que desconsideram a mulher como protagonista do
processo de parturição. Diante deste cenário, acredita-se relevante a realização de
outros estudos para efetivação e consolidação da participação da mulher na tomada
de decisão sobre o parto, com o intuito de garantir a maternidade e o nascimento
tranquilo e seguro de acordo com a vontade da parturiente.
REFERÊNCIAS
CARRARO, T.E. et al.Cuidado e conforto durante o trabalho de parto e parto:na
busca pela opinião das mulheres.Texto Contexto Enferm,v.esp, n.15, p.97-104,
2007.
356
LOPES, C.V. et al. Experiências vivenciadas pela mulher no momento do parto e
nascimento de seu filho. Cogitare Enferm, v.14, n.3, p.484-90,2009.
MATOS, Greice Carvalho de. Grupos de gestantes: espaço de troca de saberes e
práticas na atenção ao parto. 2013. 73f. Trabalho acadêmico(Graduação em
Enfermagem)-Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas,
2013
MENDES, K.D.S.; SILVEIRA,R.C.C.P.; GALVÃO,C.M. Revisão integrativa: método
de pesquisa para a Incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto &
Contexto Enferm,v.17,n.4,p.758-64,2008.
PINHEIRO,B.C.;BITTAR,C.M.L. Expectativas, percepções e experiências sobre o
parto normal: relato de um grupo de mulheres. Rev. Psicol, v.25,n.3,p.585602,2013.
POLIT,D.F.; BECK, C.T.; HUNGLER,B.P. Fundamentos de Pesquisa em
Enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
357
2.3)
INCENTIVO AO PARTO NORMAL EM GRUPOS DE GESTANTES E
PUÉRPERAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA
OLIVEIRA, Thais Damasceno1;
PIRES, Bruna Madruga2;
BERGMANN, Martina Michaelis³
MATOS, Greice Carvalho4;
SOARES, Marilu Correa5;
BARBOZA, Rosana da Rosa6
Eixo temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Educação em Saúde; Gravidez; Parto Normal.
1. INTRODUÇÃO
O processo de parturição representa um evento muito importante na vida das
mulheres, sendo um momento único e especial, marcado por transformações, em
que a mulher tem um novo papel, o de ser mãe (VELHO et al., 2012). No processo
de parturição, o parto é uma experiência marcante para a mulher, podendo deixar
lembranças positivas ou negativas desencadeadas pelo sofrimento, assistência
desqualificada e o medo de engravidar novamente (SILVA; BARBIERI; FUSTINONI,
2011). A humanização do parto surge como alternativa para tornar a mulher
protagonista do processo de parturição, reduzindo as experiências negativas que a
assistência inadequada pode proporcionar. Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS) a humanização da assistência ao parto tem como objetivos promover
1
Aluna
do
Bacharelado
em
Enfermagem/UFPel,
bolsista
PROBEC/UFPel
([email protected]).
2
Aluna
do
Bacharelado
em
Enfermagem/UFPel,
bolsista
PROBEC/UFPel
([email protected]).
³ Aluna do Bacharelado em Enfermagem/UFPel, bolsista BIC. Projeto Redes de apoio à paternidade
na adolescência ([email protected]).
4
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES ([email protected]).
5
Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública- EERP -USP- Profª Adjunta IV da
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do Projeto de
Extensão Prevenção e Promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas
([email protected]).
6
Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas-Unidade Básica da Sanga Funda.
358
o parto e o nascimento saudáveis, prevenção da mortalidade materna e perinatal,
menor nível de intervenção compatível com a segurança e utilização dos recursos
tecnológicos disponíveis, evitando-se os excessos (OMS, 2009). Estudo comprova
os benefícios físicos e psicológicos à mulher que o modelo assistencial humanizado
proporciona. Humanizar o parto significa colocar a mulher no centro e no
protagonismo de suas ações, participando ativamente das decisões sobre seu
próprio corpo e cuidado (SILVA; BARBIERI; FUSTINONI, 2011).
2. OBJETIVO
Relatar a experiência de acadêmicos da graduação da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, que participam do projeto de
extensão “Prevenção e promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas”.
3. METODOLOGIA
O projeto “Prevenção e Promoção da Saúde em Grupos de Gestantes e
Puérperas” conta com a participação dos docentes, discentes da Faculdade de
Enfermagem da UFPEL e a Enfermeira da Unidade Básica de Saúde, localizada na
zona norte de Pelotas. Participam do grupo, gestantes e puérperas de todas as
faixas etárias, de diferentes estágios gestacionais e condições socioeconômicas. Os
encontros com as gestantes e puérperas acontecem mensalmente e são
desenvolvidas
atividades
sistematizadas
voltadas
para
os
interesses
das
participantes do grupo. Os assuntos são previamente acordados com as gestantes e
puérperas e desenvolvidos por meio de materiais lúdicos e criativos em oficinas,
rodas de conversa, treinamentos práticos. Após a apresentação do tema de cada
encontro as discussões e troca de experiências acontecem em roda de conversa
entre gestantes, puérperas e acadêmicas, as dúvidas são esclarecidas e o
empoderamento das mulheres em relação a sua vivência no processo de parturição
é estimulado.
359
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O encontro sobre o tema “Tipos de Parto” foi realizado em agosto de 2014,
estavam presentes nove gestantes, cujas faixas etárias variaram de 14 a 28 anos, a
idade gestacional predominante foi de 37 semanas. O grupo começou com uma
conversa descontraída a cerca do número de gestações de cada uma, quatro eram
primigestas e cinco eram secundigestas, destas três experenciaram o parto cesáreo
e duas o parto normal. Após foram feitas duas perguntas: Que tipo de parto você
prefere e por quê? O que você entende sobre parto humanizado? No depoimento
das participantes deste encontro, quatro gestantes preferiam o parto cesáreo,
justificaram que era mais prático, já tinham experenciado anteriormente e por não
sentirem dor durante o trabalho de parto. Cinco gestantes preferiram o parto normal,
pois segundo elas a recuperação era mais rápida e por terem medo da anestesia.
Sobre a segunda pergunta, cinco participantes não sabiam o que é o parto
humanizado, duas disseram que era não sentir dor no parto, uma afirmou que
considerava ser bem tratada durante o trabalho de parto e outra disse que parto
humanizado era não agredir o bebê. Após esta conversa foi apresentado a temática
do grupo “Tipos de parto”, explicando primeiramente que parto humanizado são
práticas e atitudes que favorecem o parto e o nascimento saudável. Concedendo à
mulher direitos à privacidade, escolha do acompanhante e da posição que deseja
parir seu filho. A humanização da parturição é entendida pela participação da
parturiente nas decisões sobre seu processo de parturição, está pautada no diálogo
com a mulher, na inclusão do pai no parto e na presença das doulas, além da busca
por melhoria na relação da instituição hospitalar e seus usuários (LONGO;
ANDRAUS; BARBOSA, 2010). Neste encontro também foi esclarecido sobre as
diferenças entre os tipos de parto, explicando que o parto vaginal é um processo
natural que permite à natureza seguir seu rumo, deixando o bebê nascer no tempo
certo, favorece a expulsão dos líquidos pulmonares do bebê, havendo menos risco
de desconforto pulmonar após o parto, o útero volta mais rápido ao tamanho normal,
diminui a possibilidade de hemorragias. A cesariana é um procedimento cirúrgico
360
realizado para salvar a vida da mãe e/ou da criança, quando ocorrem complicações
durante a gravidez ou o parto (FREITAS et al., 2006). Pesquisa realizada pela
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em parceria com instituições cientificas do
Brasil, o total de partos realizados em todo o Brasil, entre fevereiro de 2011 e
outubro de 2012, 52% foram cesarianas. No setor privado os índices chegam a 88%
dos nascimentos. No setor público, envolvendo os serviços do SUS e os contratados
do setor privado, o índice de cesarianas é de 46%, sendo que a OMS recomenda
que o índice máximo não ultrapasse os 15% dos nascimentos (FIOCRUZ, 2014).
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que os grupos de gestantes e puérperas são importante espaço
para sanar dúvidas e incentivo ao parto vaginal. Serve também para empoderar as
mulheres sobre a fisiologia de seu corpo incentivando-as a serem protagonistas do
seu próprio trabalho de parto, tomando decisões em conjunto com familiares e
equipe de saúde.
REFERÊNCIAS
LONGO, Cristiane Silva Mendonça; ANDRAUS, Lourdes Maria Silva; BARBOSA,
Maria Alves. Participação do acompanhante na humanização do parto e sua relação
com a equipe de saúde. Rev. Eletr. Enf. Goiânia, v. 12, n. 2, p. 387-391, 2010.
Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/fen_revista/v12/n2/pdf/v12n2a25.pdf> Acesso
em: 15 Ago. 2014.
OMS. Organização Mundial de Saúde. Maternidade Segura. Assistência ao Parto
Normal- OMS. Disponível em
<http://www.abcdoparto.com.br/Assistencia/AssistenciaPartoNormal-OMS.htm>
Acesso em: 15 Ago. 2014.
VELHO, Manuela Beatriz et AL. VIVÊNCIA DO PARTO NORMAL OU CESÁREO:
REVISÃO INTEGRATIVA SOBRE A PERCEPÇÃO DE MULHERES. Texto
Contexto Enferm. Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 458-466, 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/tce/v21n2/a26v21n2.pdf> Acesso em: 15 Ago. 2014.
361
SILVA, Larissa Mandarano da; BARBIERI, Márcia; FUSTINONI, Suzete Maria.
Vivenciando a experiência da parturição em um modelo assistencial humanizado.
Rev Bras Enferm, Brasília, v. 64, n. 1, p. 60-65, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n1/v64n1a09.pdf> Acesso em: 15 Ago. 2014.
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). ENSP - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE
PÚBLICA SERGIO AROUCA. Nascer é Normal. São Paulo, 2014.
FREITAS, Fernando et al. Rotinas em Obstetrícia. 5ªed., Porto Alegre: Artmed,
2006. 680p.
362
3.3) AÇÕES DE ENFERMAGEM NO PERÍODO GRAVÍDICO: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA1
BERGMANN, Martina Michaelis2;
ALVES, Camila Neumaier3;
WILHELM, Laís Antunes 4
RESSEL, Lúcia Beatriz5;
MEINCKE, Sonia Maria Konzgen6.
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Gravidez; Cuidados de Enfermagem; Saúde da Mulher.
1. INTRODUÇÃO
Durante muitos anos, os cuidados à saúde das mulheres foram voltados para
o período compreendido entre a gravidez e o nascimento, destacando estes eventos
como possibilidade de gerar uma população saudável com indivíduos aptos ao
trabalho. Nesse contexto, o Ministério da Saúde oficializou em 1984 o Programa de
Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), objetivando a busca de uma
assistência à saúde integral das mulheres. O PAISM foi um importante passo para
melhora da qualidade da atenção à gestante. O marco diferencial para outros
programas foi considerar o conhecimento prévio do sujeito, com o objetivo de
proporcionar uma reflexão sobre saúde e desta maneira promovendo o
autoconhecimento e a busca pela autoestima feminina, incorporando assim, a
mulher como sujeito ativo no cuidado à saúde. O Programa destaca que um dos
profissionais envolvido nos cuidados e ações educativas a essas mulheres é o
Enfermeiro (BRASIL, 2007). Frente ao exposto a questão que norteou o estudo foi:
1
Trabalho proveniente da Dissertação de Mestrado “Cuidado da enfermeira à gestante na perspectiva
cultural” apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de
Santa Maria, no ano de 2014.
2
Discente de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
3
Mestre em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
4
Mestre em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
5
Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
6
Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
363
quais as ações de enfermagem realizadas durante o período gravídico e como elas
repercutem na saúde das mulheres?
2. OBJETIVO
Identificar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre quais os
cuidados de enfermagem desenvolvidos durante a gravidez e como eles repercutem
na saúde das gestantes.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura (URSI; GALVÃO, 2006). A
seleção dos artigos foi realizada por meio de uma busca na base de dados
MEDLINE, LILACS e na BDENF. Os critérios de inclusão foram artigos com resumos
completos; disponíveis online, na íntegra, provenientes de pesquisas originais; nos
idiomas inglês, espanhol ou português; publicados entre 1984 e 2011; e artigos
avaliados com nível de evidência seis (provenientes de um único estudo qualitativo
ou descritivo). Os critérios de exclusão foram artigos que não se relacionassem a
temática estudada e não respondessem ao objetivo. Definiram-se os descritores
“gravidez” e “cuidados de enfermagem”. O marco temporal de 1984 foi escolhido
devido à oficialização do PAISM. A busca foi realizada em maio de 2012. Para a
coleta de dados, foi utilizado o instrumento proposto e validado por Ursi (2005), que
contempla os itens: identificação do artigo original, características metodológicas do
estudo, avaliação do rigor metodológico, das intervenções mensuradas e dos
resultados encontrados. A análise das evidências foi baseada nos sete níveis
apresentados na classificação de Melnyk e Fineout-Overholt (2005). Na busca
realizada encontrou-se 371 estudos nas três bases de dados (196 na MEDLINE, 97
na LILACS e 88 na BDENF), dos quais aplicando os critérios de inclusão, finalizouse com 14 artigos para análise. A análise dos artigos foi realizada utilizando o
quadro sinóptico proposto por Ursi e Galvão (2006), adaptado para este estudo, que
364
contemplou os seguintes aspectos: referência da pesquisa/código; intervenção
estudada; resultados; recomendações e/ou conclusões.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que as ações de enfermagem realizadas durante a gestação são
pautadas na humanização da assistência e apontam a necessidade dos enfermeiros
atuarem dessa forma (KENNEDY, 1995; CASTRO; CLAPIS, 2005; ROCHA;
FONSECA, 2010; OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; AGUIAR et al., 2010;
ALVES et al., 2007; RODRIGUES; SILVA; FERNANDES, 2006). Os cuidados de
enfermagem identificados nos estudos avaliados relacionam-se a aspectos de
educação em saúde (LIU; MOORE, 2000; CASTRO; CLAPIS, 2005; CARRARO et
al., 2006), orientações quanto aos aspectos da gravidez (CASTRO; CLAPIS, 2005;
OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; PÉREZ et al., 2009; ALVES et al., 2007),
sendo que o estudo de Castro e Clapis (2005), apresentou como estratégia de
cuidado os grupos com gestantes. Outros estudos elencaram o conforto (LIU;
MOORE, 2000; CASTRO; CLAPIS, 2005; CARRARO et al., 2006), o apoio
(CASTRO; CLAPIS, 2005; OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; ALVES et al.,
2007; RODRIGUES et al., 2007; RODRIGUES; SILVA; FERNANDES, 2006), o
ambiente calmo (CASTRO; CLAPIS, 2005), o toque (OLIVEIRA; RODRIGUES;
GUEDES, 2011), o carinho (PÉREZ et al., 2009) e a escuta (RODRIGUES et al.,
2007) como cuidados satisfatórios relatados pelas gestantes e que os enfermeiros
balizam sua atenção. As ações desenvolvidas pelos enfermeiros para o
desenvolvimento gestacional e para o parto, foram as relacionadas a inclusão da
família no processo (KENNEDY, 1995; CASTRO; CLAPIS, 2005), incentivar o
empoderamento dessas mulheres (KENNEDY, 1995; QUITETE; VARGENS, 2009),
atender com alegria (CARRARO et al., 2006), além de realizar prescrições de
enfermagem (AGUIAR et al., 2010), aplicando tecnologias de cuidado (ROCHA;
FONSECA, 2010) e evitando intervenções (CASTRO; CLAPIS, 2005; FIGUEIRÊDO
et al., 2004). A maioria dos resultados evidencia a importância do cuidado
365
humanizado e o engajamento dos profissionais da enfermagem que atuam na
atenção a gestante, como evidenciado na maioria dos estudos, especialmente em
Kennedy (1995) e Carraro et al. (2006), quando são demonstrados a satisfação no
atendimento, o incentivo do autocuidado (KENNEDY, 1995) e a segurança
proporcionada pelos profissionais no decorrer da gestação e trabalho de parto
(CARRARO et al., 2006). Referente aos cuidados com patologias especificas da
gestação, encontram-se dois estudos (PÉREZ et al., 2009; CUNHA; OLIVEIRA;
NERY, 2007), nos quais os enfermeiros realizaram a verificação de pressão arterial,
administração de medicação e orientações acerca dos cuidados com a saúde.
Configurando uma assistência mínima na saúde da gestante, porém muito
importante no que tange aos aspectos de prevenção e promoção da saúde frente as
patologias específicas na gestação (PÉREZ et al., 2009). Evidenciou-se que os
cuidados de enfermagem não foram considerados satisfatórios pela gestante
quando relatam a falta de apoio, de atenção e diálogo (CUNHA; OLIVEIRA; NERY,
2007). Observa-se que o cuidado deve perpassar a equipe de saúde, com o resgate
de ações humanísticas, de solidariedade, empatia e compromisso (ALVES et al.,
2007).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidencia-se que muitos são os cuidados de enfermagem desenvolvidos com
a mulher no período gravídico-puerperal, salientando-se a importância da atuação
do enfermeiro. Esta pesquisa permitiu identificar os estudos que tratam dos cuidados
com a saúde da gestante estão determinados em ações humanizadas, de caráter
integral, focando uma atenção às necessidades das mulheres, na busca de sua
autonomia e autocuidado.
REFERÊNCIAS
366
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literatura. 2005. 130 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005.
368
4.3) AMBIENTE HUMANIZADOR COMO DESAFIO EM CENTRO
OBSTÉTRICO TRADICIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
KIRST,Luiza Helena1
TELES,Jéssica Machado2
CAVALCANTI,Juliana Correia de Holanda3
Eixo temático 4: Atenção ao parto.
Descritores: parto humanizado; enfermagem obstétrica; enfermagem maternoinfantil
1. INTRODUÇÃO
A humanização do parto tem se mostrado um grande desafio no Brasil e no
mundo. Desde o final do século XIV, a obstetrícia vem sendo encarada como
disciplina técnica e científica e o nascimento comandado e dominado pelo homem,
predominando-se, assim, a concepção de que parir sem a presença de um médico
fora de um hospital é perigoso. Este paradigma perdura até a atualidade, o que
favoreceu o surgimento e a consolidação, ao longo do tempo, de práticas
intervencionistas, colocando a mulher como coadjuvante no cenário do nascimento.
Em virtude disso, atualmente, diversas políticas de saúde têm o objetivo de tornar o
nascimento um momento acolhedor, resgatando a individualidade e autonomia e
contemplando as necessidades da parturiente e sua família. A Organização Mundial
de Saúde (OMS), por meio de pesquisas com bases científicas, preconiza que a
1
Enfermeira graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aluna de
Especialização em Enfermagem Obstétrica (UNISINOS). [email protected]
2
Enfermeira Obstétrica. Enfermeira Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da UFRGS. Bolsista
CAPES/CNPQ. [email protected]
3
Enfermeira Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Enfermeira assistencial do
Instituto Municipal de Estratégia em Saúde da Família (IMESF). Aluna de Especialização em
Enfermagem Obstétrica (UNISINOS). [email protected]
369
assistência ao parto deve promover o mínimo de intervenções com segurança, a fim
de favorecer o processo fisiológico objetivando uma mãe e uma criança saudáveis.
Nos centros obstétricos tradicionais a implementação de políticas e ações de
humanização configuram-se como um desafio, principalmente para enfermagem
obstétrica.
2. OBJETIVO
Relatar as principais dificuldades em tornar o centro obstétrico tradicional um
ambiente humanizado.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência realizado a partir das vivências de
enfermeiras atuantes em centro obstétrico de hospital universitário da região sul do
Brasil.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os centros obstétricos tradicionais, em sua maioria, contam com a atuação
de profissionais que desconhecem as políticas de humanização e por consequência
não implementam estas ações no atendimento à gestante e parturiente. Em
hospitais universitários, observa-se que a formação dos profissionais permanece em
um modelo que pouco respeita as necessidades e desejos da parturiente e de sua
família. Embora grande parte dos profissionais atuantes nos principais centros
obstétricos do Rio Grande do Sul ainda não tenha adequado o seu atendimento às
políticas de humanização, há as enfermeiras obstétricas e aquelas que estão
procurando esta formação prestando assistência de enfermagem neste cenário. A
atuação das enfermeiras obstétricas ainda não ocorre no atendimento ao parto,
mesmo possuindo habilidades técnicas e que, conforme diversos estudos
internacionais, é o profissional mais indicada para este momento. Contudo, a
presença destas profissionais é um passo importante no desafio em implementar
370
práticas de humanização. Vale ressaltar que no Brasil, a consolidação da profissão
de enfermeiro, enfermeira obstétrica e demais profissionais da classe, ocorreu com a
Lei no 7.498/86, regulamentada pelo Decreto 94.406/87, que dispõe sobre o
exercício da enfermagem e dá outras providências. Dentre as atividades de
enfermagem descritas na Lei do Exercício Profissional, cabe ao enfermeiro obstetra
o encargo de assistir à parturiente e ao parto normal; identificar distócias obstétricas
e tomar providências até a chegada do médico; realizar episiotomia e episiorrafia e
aplicar anestesia local, quando necessária. No contexto de humanização do parto, o
Ministério da Saúde, na portaria 2.815 de 29 de maio de 1998, inclui na tabela do
Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) o
procedimento “parto normal sem distócia realizado por enfermeiro obstetra”, com a
finalidade de reconhecer e valorizar a assistência e o atendimento prestado por este
profissional. Em contrapartida, os centros obstétricos tradicionais possuem rotinas
que não contribuem para uma assistência voltada à mulher, sendo cenários, muitas
vezes, de práticas desumanizadoras, caracterizadas como violência obstétrica,
sobretudo por não se esclarecer as duvidas e entendimentos das parturientes. Neste
sentido, a atuação das enfermeiras obstétricas torna-se um facilitador, para adequar
tais rotinas para que se tornem menos rígidas e mais volúveis para atender cada
parturiente e família de acordo com as suas particularidades. As boas práticas de
atenção ao parto e nascimento (clampeamento tardio, contato pele a pele,
amamentação na primeira hora de vida, banho após 6 horas de vida) são grandes
desafios em centros obstétricos tradicionais. No caso do atendimento ao recémnascido imediatamente após o nascimento, a capacitação dos técnicos de
enfermagem poderá auxiliar para que o bebê seja primeiro colocado em contato com
a mãe (em casos de bebês vigorosos sem necessidade de manobras de
reanimação) e não se realize procedimentos que o separem da mesma. Momentos
de discussão e de reflexão com os profissionais médicos, tanto obstetras quanto
pediatras, também são importantes para a implementação de ações humanizadoras.
5. CONCLUSÃO
371
Vários são os desafios em centros obstétricos tradicionais, contudo, ações de
capacitação e de sensibilização das equipes são estratégias importantes neste
processo. A formação de enfermeiras obstétricas e a atuação destas nestes locais é
uma maneira de humanizar o atendimento ao parto e nascimento. Os enfermeiros
(as) devem estar trabalhando juntamente com os gestores e chefes de serviço para
que tais questões possam ser discutidas e repensadas. Deve-se pensar também em
criação de sala de atendimento exclusivo ao parto normal (conhecidas como PPP –
pré parto, parto e pós parto), para assim se dar uma atenção mais integral e focada
à gestante e, posteriormente, ao bebê. Acredita-se que as políticas de humanização
devem
ser
implementadas,
pois
essas
contemplam
as
necessidades
e
particularidades das famílias, e os profissionais de saúde devem ser facilitadores no
processo de nascimento.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Além da sobrevivência: práticas integradas de
atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças.
Secretaria de Atenção à Saúde. Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento
Materno. Brasília. 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os
profissionais de saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas e Estratégicas. Brasília. 2011.
BRASIL. Lei no 7.498 de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre o exercício da
enfermagem e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1986.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Mulher. Área Técnica de
Saúde da Mulher. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada.
Brasília: Ministério da Saúde. 2005.
BRASIL. Portaria N.º 2.815, de 29 de maio de 1998. Dispõe sobre a inclusão na
tabela do Sistema de Informações Hospitalares do SUS o procedimento "parto
normal sem distócia realizado por enfermeiro obstetra". Brasília: Diário Oficial da
União, 1998.
OSAVA, Ruth Hitomi; MAMEDE, Marli Vilella. A assistência ao parto ontem e hoje: a
representação social do parto. J Bras Ginecol, 1995; 05(1/2): 3-9.
372
SUÉCIA. Organização Mundial da Saúde. The World Health Report 1997:
Conquering suffering, enrichng humanity. Genebra. 1997.
373
5.3)
PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO
DE UM VÍDEO: RELATO DE EXPERIÊNCIA1
DALMOLIN, Indiara Sartori 2;
LOPES, Christiny Regina3;
PAES, Lucilene Gama 4;
SOUZA, Karina Fatima Kremer de5;
FRAGA, Mônica 6;
SIMA, Diana Porto7.
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido.
Descritores: Aleitamento Materno; Promoção da Saúde; Educação em Saúde;
Saúde da Família; Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
O aleitamento materno é um ato natural que proporciona afeto, nutrição e
proteção para a criança, além de ser uma intervenção eficaz e econômica para
reduzir a morbimortalidade infantil e promover a saúde integral do binômio mãe/bebê
e da sociedade como um todo (BRASIL, 2009). Conforme recomendação da
Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação deve ser exclusiva até os
seis meses de vida e complementada com alimentos de qualidade até dois anos ou
mais. Embora haja vários esforços nacionais e internacionais para a promoção da
1
Relato de experiência sobre a produção de um vídeo para a promoção do Aleitamento Materno em
um Centro de Saúde do município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil.
2
Enfermeira, Tutora da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), Residência Multiprofissional
em Saúde da Família (REMULTISF), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail:
[email protected].
3
Enfermeira, Tutora da EAAB, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected].
4
Enfermeira,
Tutora
da
EAAB,
Prefeitura
Municipal
de
Florianópolis.
E-mail:
[email protected].
5
Enfermeira, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected].
6
Técnica Administrativa, Prefeitura Municipal de Florianópolis. E-mail: [email protected].
7
Técnica Administrativa, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Acadêmica de Enfermagem, Estácio
de Sá. E-mail: [email protected].
374
amamentação e as evidências científicas apontem a sua superioridade em relação a
outras maneiras de alimentar a criança pequena, as taxas de aleitamento materno
no país estão muito aquém do preconizado, principalmente as de aleitamento
materno exclusivo. Dessa forma, nos últimos trinta anos, as políticas nacionais
referentes à amamentação incentivaram iniciativas de promoção, proteção e apoio
ao aleitamento materno no âmbito hospitalar, legal, e mais recentemente na atenção
básica (BRASIL, 2009). Com o intuito de promover a reflexão acerca da atenção à
saúde de crianças até dois anos de idade e a capacitação dos profissionais de
saúde para a construção do conhecimento pautada na realidade local, foram criadas
a Rede Amamenta Brasil e a Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação
Complementar Saudável (ENPACS) nos anos de 2008 e 2009, respectivamente. Em
2013, de modo a fortalecer essas ações complementares, houve a integração das
mesmas que culminou na Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), cujos
objetivos gerais são:
I - qualificar as ações de promoção do aleitamento materno e da
alimentação complementar saudável para crianças menores de dois (2)
anos de idade;
II - aprimorar as competências e habilidades dos profissionais de saúde
para a promoção do aleitamento materno e da alimentação complementar
como atividade de rotina das Unidades Básicas de Saúde (UBS). (BRASIL,
2013, p. 6).
Com essas iniciativas no âmbito da atenção básica, os profissionais podem ser
atores de políticas públicas que promovam a prática do aleitamento materno,
contando com o apoio da comunidade e articulação com diferentes setores da
sociedade, considerando as especificidades regionais, locais e culturais (BRASIL,
2010).
2. OBJETIVO
Descrever as contribuições para a promoção do Aleitamento Materno através
da produção de um vídeo.
375
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência dos atores envolvidos na elaboração e
divulgação de um vídeo para a promoção do Aleitamento Materno, processo esse
que passou por quatro etapas: 1. Concepção da Ideia – Em maio de 2014, houve o
1º Curso de Formação de Tutores da EAAB do município de Florianópolis, com
carga horária de 32 horas, sendo oferecido para alguns profissionais de saúde de
diferentes Centros de Saúde (CS) e Distritos Sanitários (DS), em que três das
autoras desse trabalho participaram. Em seu decorrer foram realizadas atividades de
sensibilização, atualização e capacitação acerca do Aleitamento Materno e
Alimentação Complementar Saudável. No encerramento, as tutoras se reuniram por
DS e pactuaram ações a serem implementadas para a promoção, proteção e apoio
ao Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável. Dentre as ações
previstas para o DS Centro, elencou-se a promoção do Aleitamento Materno durante
o movimento “Agosto Dourado”, com cronograma a ser definido pelas equipes de
saúde, estimulado e articulado pelas tutoras. Dessa forma, as tutoras do CS
Agronômica passaram a pensar em uma estratégia inovadora que promovesse o
Aleitamento Materno, então deu-se a concepção da ideia de produção de um vídeo
que
contasse
com
depoimentos
de
usuárias
do
referido
CS
que
amamentaram/amamentam e com depoimentos das enfermeiras tutoras da EAAB e
residentes acerca dos aspectos relacionados ao Aleitamento Materno; 2. Gravação
dos Depoimentos – Para a realização dessa etapa, primeiramente, identificamos
algumas
usuárias
que
amamentaram/amamentam
seus
filhos,
buscando
características diferenciadas nesse processo. Em seguida, fizemos contato
telefônico com essas mulheres para convidá-las a participar dessa ação por meio de
depoimentos sobre a sua experiência com a amamentação e a partir do aceite das
mesmas agendamos a data, horário e local da gravação. No momento da gravação
dos depoimentos foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) de Áudio e Vídeo com duas vias às mulheres. Após a formalização da
autorização foram iniciadas as gravações dos depoimentos, que contaram com um
376
roteiro de entrevista semi-estruturada. Posteriormente, também foram realizadas
gravações de depoimentos das enfermeiras autoras do trabalho acerca do contexto
histórico/atual e aspectos relacionados ao Aleitamento Materno que tiveram
destaque na fala das usuárias; 3. Estruturação do Vídeo – Nessa etapa, as autoras
assistiram a todos os depoimentos com vistas a organizar a ordem e
complementação dos mesmos ao longo do vídeo. Logo após, obteve-se o auxílio de
duas funcionárias do CS, igualmente autoras do trabalho, no que se refere à edição
do vídeo; 4. Divulgação do Vídeo – Assim que o vídeo ficou pronto, agendamos o
seu lançamento para as usuárias participantes e profissionais do CS e na semana
seguinte, o reproduzimos na sala de espera do CS à comunidade.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a produção de um vídeo que trouxe depoimentos de usuárias do CS que
amamentaram/amamentam seus filhos, bem como, depoimentos de algumas
enfermeiras do serviço acerca do Aleitamento Materno, percebemos que o mesmo
apresentou contribuições para a promoção do Aleitamento Materno ao considerar a
educação popular em saúde, cuja prática é detentora da coerência política da
participação social e dos recursos teórico-metodológicos para a transformação das
tradicionais ações educativas em saúde em ações pedagógicas que promovam a
superação das circunstâncias que restrinjam o viver com qualidade de vida (BRASIL,
2007). Os depoimentos das mulheres expressaram como foi o processo de
amamentação para elas, seus filhos e suas famílias, que aspectos positivos e
negativos estão envolvidos, que dificuldades surgiram e como elas foram
enfrentadas, que informações consideram relevantes para serem compartilhadas
com outras mulheres na mesma situação, etc. Enquanto os depoimentos das
enfermeiras resgataram o contexto histórico e atual do aleitamento materno e para
além disso, buscaram reforçar e/ou complementar os aspectos relacionados ao
Aleitamento Materno que foram citados pelas participantes. Esse conjunto
proporciona a valorização dessas mulheres, de seus conhecimentos e experiências,
377
servindo de incentivo e apoio às demais, valoriza e une o saber popular ao saber
científico, o que por sua vez torna as falas significativas por estarem pautadas na
realidade local e também fortalece o vínculo entre os profissionais do CS e a
comunidade. São necessárias práticas de educação em saúde desenvolvidas com
base na relação dialógica, participativa, libertadora e criativa, que oportunize a
autonomia dos indivíduos, considerando a sua condição de sujeito com direitos e
protagonistas de sua trajetória de saúde-doença; bem como, a emancipação dos
profissionais em relação à reinvenção de modos de cuidar mais humanizados,
integrais e compartilhados (BRASIL, 2007). Conclusão/considerações finais: A
produção do referido vídeo favoreceu a presença de elementos da educação popular
em saúde, como: valorização dos sujeitos, união do saber popular com o saber
científico, abordagem baseada na realidade local, o que contribui de maneira
positiva para a promoção do Aleitamento Materno pela própria comunidade e
serviço.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Educação Popular e Saúde. Brasília:
Ministério da Saúde, 2007.
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materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
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BRASIL. CONASS. Nota Técnica 26/2013. Institui a Estratégia Nacional para
Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no
Sistema Único de Saúde (SUS) - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil.
378
6.3) GRUPO DE BEBÊS: ARTICULAÇÃO MULTIPROFISSIONAL COMO
ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA1
DALMOLIN, Indiara Sartori 2;
LOPES, Christiny Regina3;
EGUES, Nathaliê Moraes4;
FUJII, Elisa da Cunha5;
SOUZA, Marina Leite 6;
PAES, Lucilene Gama 7
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido.
Descritores: Saúde da Família; Saúde da Criança; Promoção da Saúde; Cuidados
de Enfermagem; Assistência Odontológica.
1. INTRODUÇÃO
A atenção primária à saúde (APS) constitui a entrada no sistema para todas
as novas necessidades e problemas, fornece atenção sobre a pessoa, não
direcionada à enfermidade, no decorrer do tempo e coordena ou integra a atenção
fornecida em algum outro lugar ou por terceiros (STARFIELD, 2002). Ainda, segundo
Starfield (2002), as principais características da APS são: constituir a porta de
entrada do serviço; proporcionar continuidade do cuidado; prestar cuidado de acordo
com o referencial da integralidade; criação de vínculos com a comunidade; e
1
Relato de experiência das atividades grupais realizadas em um grupo de bebês com faixa etária de
zero a seis meses em um Centro de Saúde do município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina,
Brasil.
2
Enfermeira, Tutora da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), Residência Multiprofissional
em Saúde da Família (REMULTISF), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail:
[email protected].
3
Enfermeira, Tutora da EAAB, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected].
4
Cirurgiã-Dentista, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected].
5
Cirurgiã-Dentista, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected].
6
Cirurgiã-Dentista, Prefeitura Municipal de Florianópolis. E-mail: [email protected].
7
Enfermeira,
Tutora
da
EAAB,
Prefeitura
Municipal
de
Florianópolis.
E-mail:
[email protected].
379
coordenação do cuidado. Esse nível de atenção orienta-se pelos princípios da
universalidade,
acessibilidade,
responsabilização,
humanização,
equidade
e
participação social. A APS considera o sujeito em sua singularidade e inserção
sócio-cultural, buscando produzir uma atenção integral (BRASIL, 2006). Nesse
contexto e com o objetivo de reorientar o modelo tecno-assistencial de saúde foi
implantado em 1994 o Programa Saúde da Família (PSF), apostando na criação de
vínculos e laços de compromisso e co-responsabilidade entre profissionais e
população, como um facilitador para a concretização dos princípios e diretrizes do
Sistema Único de Saúde (SUS). Posteriormente, o Programa passou a ser chamado
de Estratégia Saúde da Família (ESF), por entender que a organização do trabalho
dentro das unidades deve-se pautar em uma construção mais horizontal e menos
prescritiva das ações de saúde (BRASIL, 2006). Na lógica da ESF há uma
reorganização das ações em saúde, inserindo as práticas de educação e promoção
da saúde (PS) visando a criticidade e reflexão nas abordagens (ALVES; AERTS,
2011). Assim, a Carta de Ottawa define essencialmente a PS como um processo
que consiste em proporcionar às pessoas os meios necessários para melhorar sua
saúde e exercer um maior controle sobre a mesma. Liss (2001) acrescenta que a PS
engloba o conjunto de atividades desenvolvidas com o propósito de melhorar um
estado de saúde positivo - cuidado ambiental, por exemplo. Nesse sentido, as
atividades coletivas desenvolvidas com a comunidade constituem uma importante
ferramenta de efetivação da ESF e reafirmação do SUS na APS. Compreende-se
que o grupo, como recurso para a assistência em saúde, é uma estratégia que
permite mudanças na maneira como o ser humano compreende e se responsabiliza
por sua saúde, melhorando a qualidade de vida e ampliando as relações entre os
usuários e os serviços de saúde (SILVA, et al; 2003). Um grupo pode ser descrito
como um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes e que se
reúne em torno de uma tarefa específica, com objetivo em comum, em que cada
participante é diferente e exercita sua fala, sua opinião, seu silêncio, defendendo seu
ponto de vista. Ainda, um grupo operativo se caracteriza pela relação que seus
integrantes mantêm com a tarefa, de cura ou aquisição de conhecimentos. As
380
finalidades e propósitos dos grupos operativos centram-se na solução de situações
estereotipadas, dificuldades de aprendizagem e comunicação, o que pode gerar
ansiedade em função de mudança (PICHON-REVIÉRE, 2005). A técnica de grupo
operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo objetivo é promover um
processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos. Aprender em grupo significa
uma leitura crítica da realidade, uma atividade investigadora, uma abertura para as
dúvidas e para as novas inquietações (ZIMERMAN, 2000). Diante dessa breve
contextualização, destaca-se que esse trabalho visa ressaltar as potencialidades
alcançadas com ações grupais de PS junto a crianças nos primeiros seis meses de
vida, como estratégia de minimizar as angústias e dúvidas dos pais e estimular
momentos de troca de experiências sob o enfoque do aleitamento materno e da
saúde bucal.
2. OBJETIVO
Relatar a vivência de profissionais enfermeiros e odontólogos com a criação e
desenvolvimento de um grupo operativo de bebês.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência das atividades realizadas em um grupo
de bebês com faixa etária de zero a seis meses e suas famílias em um Centro de
Saúde (CS), do município de Florianópolis, Santa Catarina. Os encontros do grupo
têm periodicidade mensal e não há limite de participantes. Acontecem no auditório
do CS, às terças-feiras, no período vespertino, com duração aproximada de 1 hora e
30 minutos, contando o tempo de organização (30 minutos) e execução da ação (1
hora). Os encontros do grupo geralmente iniciam com uma roda de conversa entre
as famílias e os profissionais, com temas norteadores como: amamentação, higiene,
entre outros. No segundo momento, os bebês e seus responsáveis recebem atenção
individual, com orientação sobre a higiene bucal, avaliação odontológica das
381
crianças e encaminhamento ao consultório caso necessário. Atualmente, o grupo é
coordenado pelas cirurgiãs-dentistas do CS e da Residência Multiprofissional em
Saúde da Família (REMULTISF) da Universidade Federal de Santa Catarina e conta
com a participação de enfermeiras do CS e da REMULTISF. Todos os envolvidos
participam ativamente no planejamento e organização dos encontros, o que
possibilita a troca de saberes e a construção coletiva das propostas norteadoras. O
grupo surgiu em 2012, em resposta à necessidade de realizar o primeiro
atendimento odontológico dos bebês no CS, encaminhados diretamente da
maternidade por meio do Programa Capital Criança. Ele foi criado a fim de orientar
as famílias sobre saúde bucal e amamentação e, com a articulação multiprofissional,
vem se efetivando como um espaço de promoção de saúde.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pode-se dividir os resultados em dois eixos: a) Benefícios para a comunidade,
famílias e criança; e b) Benefícios para o fortalecimento do trabalho multiprofissional
em saúde. Em relação ao primeiro eixo, percebe-se pela fala dos pais/familiares e
pela interação profissional que as ações desenvolvidas no grupo fortalecem e
estimulam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e complementado até
os dois anos de idade ou mais, bem como os cuidados e a importância da
saúde/higiene bucal. Além disso, o grupo otimiza o acesso à avaliação bucal
realizada pela odontologia, pois as crianças são examinadas individualmente ao final
dos encontros, permitindo um acompanhamento mais próximo, efetivo e menos
moroso. Quanto aos benefícios relacionados ao segundo eixo, ressalta-se que a
articulação multiprofissional, aproxima as áreas profissionais, ampliando a dimensão
da promoção da saúde e a rede interna da ESF. Os momentos grupais, em especial,
fortalecem a ação-reflexão-ação, na busca pela práxis no cuidado interdisciplinar em
saúde. Nessa perspectiva, Fortuna et al. (2005) julgam o trabalho de equipe como
estratégia de “recomposição” das ações de saúde num outro caminho, o da
interdisciplinaridade. Diante das experiências destacadas, percebe-se que há
382
ganhos positivos nas atividades grupais, porquanto que são espaços de construção
coletiva agregando o saber popular ao saber científico, considerando o sujeito na
sua integralidade e contexto.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O referido grupo de bebês permite o desenvolvimento de atividades de
promoção da saúde relacionadas à amamentação e à saúde bucal que aumentam a
qualidade de vida das crianças e das famílias, além de oportunizar a interação entre
os participantes, estimulando o desenvolvimento afetivo-social. Ademais, a
estratégia de abordagem no grupo evolui a cada encontro, indo além de uma prática
instrutiva, visando a participação dialógica e promoção da autonomia dos sujeitos
envolvidos.
REFERÊNCIAS
ALVES, G. G.; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da
Família. Ciência & Saúde Coletiva. v. 16, n. 1, p. 319-325, 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n1/v16n1a34.pdf. Acesso em: 05 set. 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Política nacional de atenção básica. Brasília: Ministério da
Saúde, 2006.
FORTUNA, C. M.; MISHIMA, S. M.; MATUMOTO, S. PEREIRA, M. J. B. O trabalho
de equipe no programa de saúde da família: reflexões a partir de conceitos do
processo grupal e de grupos operativos. Rev Latino-am Enfermagem. v. 13, n. 2, p.
262-268, 2005. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rlae/article/view/2023/2102.
Acesso em: 06 set. 2014.
LISS, P. Seminário: ética e saúde.Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina, 2001.
PICHON-REVIÉRE, E. O processo grupal. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
383
SILVA, A. L. A. C.; MUNARI, D. B.; LIMA, F. V.; SILVA, W. O. Atividades Grupais em
Saúde Coletiva: Características, Possibilidades e Limites. Rev Enferm UERJ. v. 11,
. 1, p. 18-24, 2003. Disponível em:
http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=01043552&lng=pt&nrm=is
o. Acesso em: 05 set. 2014.
STARFIELD, B. Atenção primária: Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços
e tecnologia. Brasília: Unesco, Ministério da Saúde, 2002. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/ulis/cgibin/ulis.pl?catno=130805&set=4BBCA640_1_386&
gp=1&mode=e&lin=1&ll=1. Acesso em: 05 set. 2014.
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupoterapias. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2000
384
7.3)
A PARTICIPAÇÃO DE ENFERMEIRAS NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO
E A QUALIDADE DESTE ATENDIMENTO1
ALVES, Camila Neumaier2
BISOGNIN, Priscila3
POSSATI, Andressa4
FERNANDES, Rita Fernanda Monteiro5
MEINCKE, Sonia Maria Konzgen6
RESSEL, Lúcia Beatriz7
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal
Descritores: Enfermagem; Cuidado Pré-natal; Gravidez.
1. INTRODUÇÃO
A principal finalidade da atenção pré-natal é acolher a mulher desde o início
da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança
saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal (BRASIL, 2006). Além deste
aspecto, o momento da atenção pré-natal permite a interação entre o profissional, a
gestante e sua família, permeando a criação do vínculo ao serviço, reduzindo os
riscos
de
intercorrências
e
caminhando
para
o
nascimento
humanizado
(LANDERDAHL et al, 2007). Na busca de um pré-natal de qualidade, é importante
que o serviço e os profissionais de saúde estejam preparados para receber as
gestantes e fornecer um cuidado completo, atentando para uma diversidade de
1
Trabalho extraído da Dissertação de Mestrado “Cuidado da enfermeira à gestante na perspectiva
cultural”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de
Santa Maria, no ano de 2014.
2
Autora/Apresentadora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
3
Coautora. Mestranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
[email protected]
4
Coautora. Acadêmica de Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
[email protected]
5
Coautora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
6
Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
7
Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
385
fatores biopsicossociais que podem influenciar na adesão da mulher ao
acompanhamento pré-natal (PEIXOTO et al, 2011). Assim, ressalta-se a importância
da participação dos enfermeiros, a fim de oferecer um atendimento qualificado na
atenção pré-natal e na redução nos índices de morbimortalidade materna e
neonatal.
2. OBJETIVO
Discutir acerca da participação de enfermeiras no pré-natal de baixo risco e
suas implicações para a qualidade deste atendimento.
3. MÉTODO
Tratou-se de uma etnoenfermagem, realizada em duas Estratégias Saúde da
Família e duas Unidades Básicas de Saúde, que pertencem à rede de Atenção
Básica de Saúde de um Município do Rio Grande do Sul. As informantes do estudo
foram cinco enfermeiras que atuavam nas unidades de saúde. Os critérios de
inclusão foram enfermeiras que desenvolvessem ações sistematizadas com
atendimento de enfermagem às gestantes, como consultas de pré-natal e grupos; e
enfermeiras que atuassem nas unidades situadas na região urbana. E como critérios
de exclusão enfermeiras que estivessem afastados do serviço no momento da
pesquisa. A coleta de dados foi realizada no período de março a agosto de 2013.
Como o estudo foi desenvolvido com base na proposta de etnoenfermagem de
Leininger (2006), para consolidá-lo utilizaram-se os “guias habilitadores”, os quais
auxiliam o pesquisador na entrada e permanência no campo de pesquisa, além de
nortear a reflexão acerca dos fenômenos estudados, estilos de vida e o cuidado de
enfermagem. Nessa direção, foi utilizado o modelo Observação-ParticipaçãoReflexão (O-P-R), e a entrevista semiestruturada. Para registrar as observações e
com o objetivo de documentar os acontecimentos utilizou-se o diário de campo. A
análise dos dados seguiu o guia de análise temática de padrões dos dados, o qual é
386
sugerido por Leininger (2006). Observaram-se as normas da Resolução nº 196/96
do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde, que vigorava no período
desta pesquisa e dispunha sobre diretrizes e normas regulamentares da pesquisa
envolvendo a participação de seres humanos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria sob o registro de número
CAAE 12161913.8.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados desta pesquisa demonstraram que as enfermeiras estão
envolvidas com o cuidado às gestantes e que sentem-se satisfeitas ao realizar esse
trabalho, além de ressaltarem que é importante atuar nessa área na busca de
melhoria na qualidade da atenção à gestante. As enfermeiras também destacaram o
entendimento de ser a gestação muito especial e requerer, portanto, uma atenção
especial. Entende-se, nessa linha de pensamento, que a participação de
enfermeiros tem fundamental importância para o fortalecimento do cuidado pré-natal
conforme (Cunha et al, (2009), uma vez que são eles os profissionais que estão
diretamente envolvidos com a comunidade. Pondera-se que a enfermagem tem se
tornado uma profissão empenhada em assistir o ser humano para além das práticas
curativas, promovendo a saúde e buscando a criação de vínculo e a interação com o
contexto do usuário. Assim, no contexto do cuidado à mulher no período gravídicopuerperal, pode colaborar com a redução dos índices de mortalidade materna e
proporcionar maior qualidade de vida na experiência da gravidez à mulher. As
enfermeiras deste estudo também consideraram que seu trabalho qualifica o prénatal, uma vez que o cuidado de enfermagem com as gestantes exige grande
responsabilidade e precisa ser balizada pelo respeito. Tal situação repercute na
geração de confiança e vínculo. O fato de a enfermagem ser reconhecida como a
profissão que tem por essência o cuidado, o contato direto com o outro, a realização
de consultas e grupos com orientações e criação de vínculo passou a ser reforçado
por estas informantes. Pensa-se que, no cuidado pré-natal, é fundamental superar
387
condutas tecnicistas que priorizem os procedimentos técnicos e dicotomizem a
integralidade da atenção (BARRETO et al, 2013). Para tanto, possibilitar espaços
para diálogo, ambiente limpo, arejado e confortável para as gestantes aguardarem
as consultas e serem atendidas, realizar atividades de cunho educativo e buscar a
interação entre profissional-paciente podem se tornar estratégias de cuidado que
permeiem as necessidades individuais de cada mulher e serem facilitadores para a
aproximação da gestante e sua família no serviço. Portanto, a compreensão do que
ele significa às enfermeiras corrobora para uma efetiva atuação junto a esta
população. O estudo de Hoffmann, Ressel e Budó (2010) observou que os
enfermeiros estão conquistando espaço no desenvolvimento de ações e autonomia
para atuar durante o pré-natal de baixo risco, o que os leva a serem considerados
como referência para as gestantes atendidas. O enfermeiro, ao receber a mulher
assume importante papel ao desenvolver a promoção, prevenção, proteção e
recuperação da saúde. Assim, pensa-se em consonância com Narchi (2010), acerca
da necessidade de garantir a adesão das gestantes aos cuidados pré-natais,
oferecidos por meio da consulta de enfermagem, principalmente valorizando seu
próprio conhecimento, suas principais necessidades, seu modo de vida e sua
cultura.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa permitem compreender que as enfermeiras,
informantes deste estudo, estavam envolvidas na atenção pré-natal de baixo risco e
sentiam-se responsáveis, bem como demonstraram satisfação em realizar esse
trabalho, e, acima de tudo, reconheciam a importância de atuar na busca de
melhoria na qualidade dos serviços. Pode-se perceber que as enfermeiras
salientaram a importância da enfermagem atuar dessa forma, a qual é permeada por
autonomia, responsabilidade e conhecimento científico. Espera-se, que o produto
desta pesquisa, instigue reflexões acerca das contribuições investigativas na
qualificação da atenção pré-natal.
388
REFERÊNCIAS
BARRETO, C.N. et al. Atenção pré-natal na voz das gestantes. Rev enferm UFPE
on line, v.7, n.5, p.4354-63, jun. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência pré-natal: manual técnico. Brasília:
Editora do Ministério da Saúde, 2006.
CUNHA, M.A. et al. Cuidado pré-natal: competências essenciais desempenhadas
por enfermeiros. Esc Anna Nery Rev Enferm, v.13, n.1, jan. 2009.
HOFFMANN, I.C., RESSEL, L.B., BUDÓ, M.L.D. Women’s pathway in prenatal care
at public sceneries. Rev enferm UFPE on line, v.4, n.3, p.1384-391, jul. 2010.
LANDERDAHL, M.C et al. A percepção de mulheres sobre atenção pré-natal em
uma unidade básica de saúde. Esc Anna Nery R Enferm, v.11, n.1, p.105-11, mar.
2007.
LEININGER, M. Culture Care diversity and universality theory and evolution of
the ethnonursing method. In: LEININGER, M.; MCFARLAND, M.R. Culture care
diversity and universality: a worldwide nursing theory. 2Edition. Jones and Bartlett:
Sudbury, 2006.
NARCHI, N.Z. Atenção pré-natal por enfermeiros na Zona Leste da cidade de São
Paulo - Brasil. Rev. esc. enferm. USP, v.44, n.2, p.266-273, jun. 2010.
PEIXOTO, C.R. et al. O pré-natal na atenção primária: o ponto de partida para
reorganização da assistência obstétrica. Rev. enferm. UERJ, v.19, n. 2, p.286-91,
abr. 2011.
389
8.3)
PROTAGONISMO DA ENFERMAGEM NO INCENTIVO AO ALEITAMENTO
MATERNO E A REPERCUÇÃO PARA UMA ASSISTÊNCIA HUMANIZADA
NASCIMENTO, Maria Licele1;
ZANINI MARIN, Fabiana 2;
DINIZ EBLING, Sandra Betriz 3;
PIESZAK, Greice 4;
Eixo Temático: Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher
e ao Recém-nascido.
Descritores: Recém-nascido; Enfermagem Obstétrica; Cuidados de Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
O ciclo gravídico-puerperal é um momento único na vida da mulher, uma
experiência singular,
especial, não comparável a qualquer outra vivência
(FRANCISQUINI, et al, 2010). Neste sentido, torna-se importante a garantia de uma
assistência adequada desde o pré-natal, onde é possível atuar na prevenção,
detecção e tratamento de eventos indesejáveis na gestação, visando ao bem-estar
da gestante e de seu concepto, além de orientar sobre determinados cuidados ao
Recém-Nascido (RN) (FRANCISQUINI, et al, 2010). Sendo assim, considera-se um
momento propício para a Enfermagem estimular e fortalecer o vínculo entre
binômios mãe e filho, uma vez que o pré-natal se entende pelo período adequado
para
o
preparo
físico
e
psicológico
1
para
o
parto,
o
nascimento
e
a
Autora. Acadêmica (Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional
do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do GEPSE (Grupo de
Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected]
2
Coautora. Acadêmica (Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do GEPSE
(Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected]
3
Orientadora. Enfermeira (Docente/Cordenadora no curso de graduação em Enfermagem da
Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do
GEPSE
(Grupo
de
Estudo
e
Pesquisa
em
Saúde
e
Enfermagem).
E-mail:
[email protected]
4
Orientadora. Enfermeira (Mestre em Enfermagem, Docente no curso de graduação em Enfermagem
da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante
do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem). E-mail:
[email protected]
390
maternidade/paternidade (OLIVEIRA, 2005). Neste contexto, vem ao encontro da
proposta do Alojamento Conjunto que tem como objetivo proporcionando um espaço
de cuidado integral e humanizado onde mãe e a criança fiquem juntos 24 horas por
dia até a alta hospitalar, tornando-se o segundo lugar e momento que também pode
ser estimulado o vínculo, pois mãe e bebê precisam de conforto e estarem junto um
do outro, para que se conheçam e com isso se dê inicio a amamentação. O contato
pele a pele imediatamente após o nascimento, em temperatura ambiente de 26ºC,
reduz o risco de hipotermia no RN a termo com respiração espontânea, sem
necessidade de ventilação, desde que cobertos com campos preaquecidos. Nesse
momento, pode-se iniciar a amamentação (BRASIL, 2014). Facilitando o vínculo
afetivo entre mãe e a criança. Neste contexto, o Enfermeiro atua como protagonista
de cuidados, pois suas ações podem estar pautadas na humanização da assistência
e na valorização da singularidade dos sujeitos envolvidos neste cuidado. O referido
profissional, precisa estar capacitado e preparado para trabalhar com o
empoderamento e o incentivo à criação da autonomia da puérpera ao realizar os
cuidados à criança de forma integral e amorosa.
2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo, relatar a vivência de uma acadêmica de
enfermagem na humanização da assistência junto à puérpera e Recém-Nascido.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência acerca da vivência de uma graduanda
de Enfermagem no Alojamento Conjunto junto à puérpera e RN no Hospital do
Município de Sanatiago, RS. A mesma ocorreu no período de 17 a 26 de junho de
2014 durante as aulas práticas da disciplina de Saúde da Mulher durante o sétimo
semestre do curso, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões – URI, Campus de Santiago, RS. Esta disciplina tem como objetivo fazer
391
com que os graduandos compreendam a mulher no seu ciclo vital, assim como
planejar e implementar ações de promoção e prevenção da saúde da mulher na
Rede hospitalar como também na Atenção básica. O graduando possui a
oportunidade de atuar junto a gestante no trabalho de parto, parto e nascimento,
após o nascimento da criança ainda é realizado o acompnhamento no AC do
referido hospital.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A realização dessa prática oportunizou ver a importância do profissional de
enfermagem no acompanhamento a puérpera e RN, no incentivo ao vínculo entre
binômio mãe/filho e familiares. A atuação do Enfermeiro no Alojamento Conjunto se
dá principalmente por meio do incentivo ao Aleitamento Materno Exclusivo (AME) e
também na orientação a cerca dos primeiros cuidados com RN e que estes cuidados
estejam permeados pela valorização da puérpera e do pai ou familiar que esteja
acompanhando-a neste momento. Sabe-se que o leite materno é o alimento
essencial e mais completo para a criança, pois é o único que oferece substâncias e
nutrientes que esta precisa para crescer e se desenvolver com saúde. O tempo
preconizado para o AME é de seis meses, podendo se prolongar até dois anos junto
com outros alimentos (SILVA, et al, 2013). Neste sentido, o incentivo aamamentação
precoce
torna-se
fundamental
para estabelecimento
do
contato
mãe-filho,
especialmente porque nas primeiras horas de vida a maioria dos bebês está em
estado de alerta e tem facilidade para encontrar o mamilo e iniciar a amamentação.
Com tudo, ainda há um baixo índice de amamentação precoce no Brasil que reflete,
em parte, a falta de preparo das equipes de saúde que conduzem o parto e
promovem o afastamento entre mãe e bebê (MOURA, et al, 2014). Ainda assim, as
puérperas devem ser membros ativos no processo de amamentar, devem ser
incentivadas e informadas quanto à importância do aleitamento materno, desde o
pré-natal. Para que assim, a mesma sinta-se apropriada dos conhecimentos
relacionados a ação de amamentação e os inúmeros benefícios do mesmo, além do
392
vínculo entre mãe e filho. Em consonância com o exposto, o aleitamento materno, o
qual é uma estratégia eficaz que proporciona vínculo, afeto, proteção e nutrição para
a criança, além de ser econômica e reduzir a morbimortalidade infantil, permitindo
intervenção na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e satisfazendo toda
a sociedade (SANTOS, et al, 2014).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do acopanhamento de puérpera e RN no alojamento conjunto
oportunizou a compreenção da atuação do profissional enfermeiro frente a criação
de vínculo entre binomio mãe e filho no alojamento conjunto, e a importância do
mesmo, pois torna-se um ambiente propício às ações educativas e também por ser
um momento em que as puérperas estão mais sensibilizadas, apesar de algumas
apresentarem um pouco de dificuldade de amamentar ainda no Alojamento
Conjunto. Compreende-se que neste momento torna-se opotuno a implementação
de ações humanizadas junto com essa puérpera e seus familiares, transmitindo
segurança, confiança, e também se trata de um momento de valorização dos
vínculos afetivos entre os membros da família. Conclui-se que cabe à Enfermagem
incluir o pai ou familiar neste cenário de cuidado e oportunizar sua participação. E
incentiar a puérpera neste momento, para que ela se torne protagonista no ato de
amamentar seu filho, sentindo-se capaz e empoderada, são essas ações que tornam
possível a criação e o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho e familiares.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Cadernos HumanizaSUS. Humanização do
parto e do nascimento. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. Volume 4.
FRANCISQUINI AR, et al. Orientações recebidas durante a gestação, parto e
pós-parto. Cienc Cuid Saude 2010 Out/Dez; 9(4):743-751.
393
MOURA, KCC, et al. Percepções de puérperas sobre os benefícios da
amamentação na primeira hora pós-parto. Cogitare Enferm. 2014 Jan/Mar;
19(1):123-8.
OLIVEIRA, D. L. (Org.) Enfermagem na gravidez, Parto e Puerpério: notas de
aula. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.
SILVA EP, et al. Diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação em
unidade de alojamento conjunto. Rev Bras Enferm, Brasília 2013 mar-abr; 66(2):
190-5.
394
9.3)
A DOR NO RECEM NASCIDO PREMATURO: MANEJOS E CUIDADOS:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA1
FREITAG, Vera Lucia²;
OLIVEIRA, Camila Madruga³;
MILBRATH, Viviane Marten4;
BARBOSA, Michele Cristiene Nachtigall5;
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido;
Descritores: Prematuro; Dor; Enfermagem;
1. INTRODUÇÃO
No mundo, nascem aproximadamente 15 milhões de prematuros a cada ano, o que
equivale a, mais de 1 em cada 10 nascidos vivos, destes mais de 1 milhão morrem,
devido a complicações relacionadas à prematuridade. Dos prematuros sobreviventes
muitos enfrentam uma vida de necessidades especiais, incluindo dificuldades de
aprendizagem e problemas visuais e auditivos (OMS, 2012). O Brasil está no décimo
colocado com o maior número de partos prematuros no mundo (BLENCOWE et.al.,
2010). Os bebês prematuros apresentam uma clínica que faz com que necessitem
de uma série de intervenções, as quais podem provocar dor no neonato. Souza
(2011) afirma que o desconforto desses procedimentos que variam entre 50 e 150
por dia pode ser diminuido com algumas medidas que merecem atenção especial
1
Trabalho de conclusão de curso. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia. Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). Pelotas 2014.
² Enfermeira, egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus de Palmeira das
Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFPel.
Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail:
[email protected]
³ Enfermeira, egressa da UFPel. Email: [email protected]
4
Doutora em Enfermagem do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Rio Grande do Sul,
Brasil. E-mail: [email protected]
5
Mestre em enfermagem pela FURG Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG),
Professora
Assistente
da
Faculdade
de
Enfermagem
UFPel.
E-mail:
[email protected]
395
das equipes de saúde. A busca de meios para enfraquecer e até evitar os
desconfortos é considerado um passo importante para a melhoria da qualidade de
vida do RN internado em UTIN. Através de uma atenção mais humanizada durante
os procedimentos dolorosos, pode-se passar a interferir de forma vigorosa, de modo
a serenar esse sofrimento, minimizando as decorrências da dor (CORDEIRO, 2012).
É vital a importância do reconhecimento e interpretação dos sinais oferecidos pelos
recém-nascidos pré-termo, depois do estímulo estressante ou doloroso, já que é por
demonstração de sinais como expressão facial, agitação corporal, choro e estado de
consciência, entre outros, os processos que os bebês estabelecem uma
comunicação interpessoal, que compõe a sua “linguagem” da dor (SOUZA, 2011).
2. OBJETIVO
Investigar a produção científica no manejo não farmacológico da dor em
prematuros, nos últimos onze anos.
3. METODOLOGIA
O estudo baseou-se em uma revisão integrativa da literatura (FALCÃO et. al.,
2012). Realizou-se busca on-line na biblioteca virtual em saúde (BVS) nas bases de
dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da saúde (LILACS),
Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE). Os descritores utilizados: “pain”, “premature”,
“care”. Os critérios de inclusão foram: estudos que responderam à pergunta de
pesquisa: Qual a produção científica referente ao manejo não farmacológico da dor
em prematuros, nos últimos dez anos? Ser periódico e estar disponível na íntegra
por meio on-line, nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados entre os
anos de 2003 a 2013. Os critérios de exclusão seguidos foram: não ter adesão ao
objetivo do estudo, teses, dissertações, monografias e resumos Não estar disponível
na íntegra, estar em outros idiomas com exceção português, inglês e espanhol.
396
Foram respeitados os preceitos do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, principalmente do capítulo IV, artigo 37. O levantamento dos dados foi
realizado no mês de março a maio de 2014. Dentre as formas de análise de dados,
optou-se por utilizar a análise de Conteúdo de Bardin (2008). Na base de dados do
LILACS encontrou-se 34 artigos, destes, 27 foram excluídos por não serem
compatíveis com o estudo e 1 não tinha acesso na íntegra, restando 6 com texto
completo; na SCIELO, encontrou-se 25 artigos, 19 foram excluídos, 5 foram iguais
aos encontrados no LILACS ficando 1 artigo; na MEDLINE encontrou-se 649, onde
497 foram excluídos pelo resumo por não serem compatíveis com o estudo, 1 foi
excluído por não se encaixar nos critérios de inclusão e 42 não possuíam texto
completo, 95 não se tinha acesso na íntegra sem antes efetuar o pagamento, 14
artigos inclusos por terem acesso na íntegra e que correspondiam com o procurado.
Desta forma, somaram-se 21 artigos com texto completo que contemplavam objetivo
da pesquisa, bem como, os critérios de inclusão.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O maior número de publicações foi encontrado na MEDLINE, 14 artigos. A
maioria das pesquisas foram feitas por enfermeiros, total de 13, 6 por médicos, 1 por
uma equipe multiprofissional e 1 por fisioterapeutas. O ano de maior publicações foi
2011 com 7 estudos, seguidos do ano de 2009 com 4. O método mais utilizado foi a
escala Premature Infant Pain Profile (PIPP) 7, no que diz respeito a amostra a
maioria é com prematuros, total de 20, sendo uma com profissionais de
enfermagem. Quanto aos objetivos, 10 estudos, tinham como alvo verificar se
método mãe canguru minimizava a dor, analisar e identificar o potencial de
analgesia. Já os demais deteram-se a outros métodos não farmacológicos que por
ordem decrescente de número de artigos foram: o uso da sacarose com 9 estudos,
glicose 4, contenção facilitada 4, leite materno 4, sucção não nutritiva 3, toque suave
2, posição 1, massagem 1, fisioterapia aquática 1. Conforme os estudos
apresentados pode-se perceber que o método mãe canguru pode auxiliar a
397
enfermagem e os profissionais na área de saúde a realizar procedimentos invasivos
com diminuição da dor nos RNs através do contato pele a pele com a mãe e assim,
se mantendo mais estáveis, diminuindo os níveis de stress sofridos pelos neonatos.
Outra forma analisada Segundo Livingston et al. (2007), como manejo não
farmacológico da dor em RNPT foi à massagem terapêutica, realizada pelos pais,
ensinados por enfermeiros ou massagistas terapeutas, evidenciando
níveis
moderados a altos de satisfação para os pais e viabilidade de implementação no
RN. O estudo de Herrington; Chiodo (2011) destaca a contenção facilitada como
uma forma de promover uma recuperação mais rápida da dor proveniente da punção
capilar em comparação a utilização do ninho. Além disso, o toque gentil também
pode diminuir o efeito traumático dos movimentos bruscos e dolorosos causados por
procedimentos. Também foi evidenciado que, proporcionar a sucção não nutritiva,
(mão enluvada, chupeta, sacarose e glicose), sucção nutritiva (amamentação) no
decurso do procedimento e posteriormente à manipulação (sugar a própria mão)
bloqueia a perturbação, impede a hiperatividade, modula o desconforto e abranda a
dor (SOUZA, 2011; BRASIL, 2013). A administração oral de sacarose ao RN reduz o
período de choro e comportamentos, como expressão de caretas, porém, a
utilização das soluções adocicadas no alívio da dor é contraindicada em RNPT que
se encontra com a dieta suspensa, estabelecendo assim que a equipe deve avaliar a
conduta não farmacológica a ser adotada. (ALVES et.al., 2011).
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi
apresentada
uma
revisão
integrativa
das
intervenções
não
farmacológicas, como as abordagens táteis (contenção facilitada, toque parado), a
posição canguru, massagens, soluções adocicadas (sacarose 24-25%, glicose 25%),
sucção não nutritiva e banho enrolado e de imersão objetivam, principalmente,
prevenir a intensificação de um processo doloroso, a desorganização do neonato, o
estresse e a agitação, ou seja, minimizar as repercussões aversivas. Foi possível
identificar que diversas áreas da saúde estão preocupadas no controle da dor em
398
prematuros, destacando-se a enfermagem, visto que, foram os profissionais que
mais publicaram estudos sobre a temática. Além disso, pode-se destacar que os
manejos não farmacológicos da dor no ambiente hospitalar ocorrem em sua maioria
antes de realizar os procedimentos específicos, em especial os perfuro-cortantes, ou
ainda durante os procedimentos dolorosos. Ressalta-se a importância e a relevância
da realização de pesquisas que abordem o manejo não farmacológico da dor
emprematuros, a fim de diminuir o estresse sofrido por estes pequenos seres.
REFERÊNCIAS
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Pinheiro.Lisboa/Portugal: Presses Universitaires de France, 2008.
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SOUZA, A. B. G. Enfermagem Neonatal cuidado integral ao recém-nascido/
Aspásia Basile Gesteira Souza, organizadora.- São Paulo: Martinari, 2011.
400
10.3) CUIDADOS PRESTADOS PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE À FAMÍLIA
DE UMA CRIANÇA QUE SOFREU ASFIXIA PERINATAL GRAVE 1
FREITAG, Vera Lucia2;
CANECO, Elaine de Oliveira Vieira3;
MILBRATH, Viviane Marten4;
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido;
Descritores: Família; Enfermagem.
1.
INTRODUÇÃO
De acordo com Waldow (2004) o cuidado deve ser percebido como uma
peculiaridade do ser humano, e, portanto condição primeira de sua existência. O
cuidado é uma condição para a sobrevivência humana, devendo este ser integral,
universal, existencial, relacional e sendo através do cuidado de si que surge a
possibilidade de então realmente cuidarmos de outrem (WALDOW, 2004). Ao
cuidarmos do outro não praticamos apenas uma ação técnica como também
sensível, que envolve o contato entre humanos, sujeito-sujeito, através do toque, do
olhar, do ouvir, do olfato, da fala. Esta ação envolve a sensibilidade própria dos
sentidos e também a liberdade, a subjetividade, a intuição e a comunicação
(FERREIRA, 2006). No que se refere ao cuidado à criança que sofreu uma asfixia
perinatal grave e a sua família, Telford e Sawrey (1988) e Milbrath (2008) sinalizam
que uma das funções dos profissionais de saúde é a de ajudar os pais a
compreenderem o diagnóstico da criança, auxiliando-os no entendimento da
1
Recorte de um Trabalho de conclusão de curso. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia.
Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas 2011.
2
Enfermeira, egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus de Palmeira das
Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) UFPel. Bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail:
[email protected]
3
Enfermeira, egressa da UFPel. Email: [email protected]
4
Doutora em Enfermagem do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected]
401
condição existencial da criança. Os autores salientam que os profissionais da saúde
necessitam de sensibilidade para perceber o momento em que os pais estejam
abertos para ouvir, respeitando seu período de sofrimento e negação. Faz parte de
todas essas funções transmitirem as informações diagnósticas de acordo com a
capacidade de compreensão e aceitação dos pais, sem utilizar linguagem técnica,
incompreensíveis que asseguram a distância entre família e profissional. A
aproximação entre ambos é de extrema importância para os pais sentirem-se
apoiados e à vontade para esclarecerem dúvidas, o que diminui a ansiedade e
impede que fiquem sobrecarregados pelos problemas da criança. Nesse sentido, é
necessário que, além de obter informações diagnósticas claras, os pais sejam
orientados quanto aos cuidados e procedimentos básicos em relação à criança e
informados sobre as oportunidades educacionais, os recursos de assistência
intelectual, emocional e financeira, bem como dos serviços de reabilitação
disponíveis na comunidade (BUSCÁGLIA, 2006).
2.
OBJETIVO
Conhecer o cuidado dispensado pelos profissionais de saúde aos pais de
uma criança que sofreu Asfixia Neonatal Grave ao fornecer a informação.
3.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória Gil (2002), com abordagem
qualitativa (MINAYO 2007). O estudo foi desenvolvido na Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal (UTIN) e na Pediatria de um Hospital Universitário, de médio
porte, localizado em uma cidade da região sul do Rio Grande do Sul. Os sujeitos da
pesquisa foram os profissionais da equipe de saúde, cinco enfermeiros, cinco
médicos pediatras e quatro técnicos de enfermagem que atuam nos locais do
estudo. Perfazendo um total de quatorze sujeitos, que foram identificados por
pseudônimos de E1...E5 para enfermeiro, M1...M5 para médico pediatra e TE1...TE4
402
para técnico de enfermagem, respectivamente conforme a ordem da entrevista. Os
critérios de inclusão foram: ser profissional de saúde, enfermeiro, médico pediatra e
técnico de enfermagem que trabalhassem num dos locais de estudo há no mínimo
um ano, e que permitiram a gravação da entrevista e divulgação dos resultados,
garantindo-se o anonimato. O estudo foi aprovado sob o nº 139/2011 pelo Comitê de
Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Sanda Casa de Misericórdia de Pelotas.
As informações foram coletadas no período de abril à maio de 2011, utilizando-se
uma entrevista semiestruturada, a qual foi gravada por meio de instrumento
eletrônico (MINAYO 2007). De modo que contemplasse o objetivo, as falas foram
transcritas para que fosse garantida a fidedignidade e, relação ao que os
participantes da pesquisa pretendiam expressar. As informações foram interpretadas
por meio da análise temática de Minayo (2007).
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao dialogar com os participantes do estudo sobre as orientações de cuidado
prestadas à família da criança, percebe-se que é focada a importância da equipe
multidisciplinar e que a família deve comemorar a cada conquista, pois a criança é
especial e única e terá o seu tempo para atingir as fazes de desenvolvimento de
acordo com seu potencial e o estímulo que receba. Os profissionais afirmam que
explicam aos pais que cada dia é um novo dia e que as conquistas devem ser
comemoradas, os pais são orientados procurar um pediatra entre 6 e 10 dias e se for
prematuro na mesma semana, além disso, devido a asfixia perinatal grave os RNs
recebem alta hospitalar com o encaminhamento para uma neurologista.
Os
participantes destaram a importância de se focar as orientações, tendo em vista que
a família deve saber o que fazer para prevenir possíveis intercorrências, além disso,
foi destacado a importância de orientar os pais quanto a necessidade de valorização
das conquistas diárias da criança, enfatiza para a família que essa criança é única e
muito especial, que ela não deve ser comparada com as outras crianças, que ela só
deve ser comparada consigo mesma, seus progressos diários devem ser
403
comemorados. Os profissionais também relataram explicar a família que a criança
vai precisar ser estimulada, e ter alguns cuidados diferenciados quando comparada
a uma outra criança que não sofreu asfixia perinatal grave. Foi salientado pelos
participantes que a família deve saber as consequências de uma asfixia neonatal
grave, que pode ter dificuldade na alimentação, deglutição, movimentação, atraso
para falar, firmar-se, sentar e caminhar. Afirmam também que pelo curto período de
internação fica difícil dar o apoio que que os pais necessitam e fornecer todas as
informações. Percebe-se a importância da orientação a cerca do estímulo e que a
família deve ser informada das implicações da não estimulação precoce. Quando a
criança é estimulada precocemente, seu desenvolvimento pode ser muito maior do
que o imaginável. Miranda (2003) afirma que a identificação e intervenção precoces
são
fundamentais
para
o
prognóstico
das
crianças
com
distúrbios
do
desenvolvimento.
5.
CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que cuidados básicos são passados à família, porém verificase a necessidade de que as crianças sejam acompanhadas em um local apropriado
para o seguimento, pois de acordo com o extraído das falas dos profissionais de
saúde, algumas informações a cerca do desenvolvimento devem ser pontuais, a
mediada em que surgem as dificuldades e os problemas. Verifica-se também a
necessidade da criação de um protocolo de alta, já que este possibilitaria aos
profissionais atuarem de forma consciente das necessidades da família e da criança.
Salienta-se que é responsabilidade dos profissionais de saúde orientar e informar a
família sobre o desenvolvimento da criança e sobre a estimulação precoce, além da
formação de vínculo como fator essencial para este desenvolvimento. A
interdisciplinaridade aparece como fator determinante no que concerne o cuidado,
onde profissionais de varias áreas de atuação trabalham em conjunto por um fim
comum.
404
REFERÊNCIAS
BUSCÁGLIA, LF. Os deficientes e seus pais: Um desafio ao aconselhamento.
(Tradução Raquel Mendes). 5ª edição; Rio de Janeiro; Record, 2006.
FERREIRA MA. A comunicação no cuidado: uma questão fundamental na
enfermagem. Rev Bras Enferm 2006, maio/jun; 59(3):327-30.
GIL, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed.São Paulo:Atlas.2002.171p.
MINAYO MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª ed.
São Paulo: Hucitec; 2007.
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no ambulatório de pediatria. J Pediatr. Rio de Janeiro. 2003;79 - Supl.1- S33-S42.
TELFORD, CW; SAWREY, JM. O indivíduo excepcional. Livros Técnicos e
Científicos. Editora Rio de Janeiro. 5ª Ed. 1988.
WALDOW, VR. As peculiaridades e contradições do cuidar. In:____. O cuidado na
saúde: as relações entre o eu, o outro e o cosmos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. P.
13058.
405
11.3) PRÁTICAS CLARAMENTE PREJUDICIAIS NA ASSITENCIA AO PARTO
DE ADOLESCENTES
ESCOBAL, Ana Paula de Lima1;
SOARES, Marilu Correa2;
MATOS, Greice Carvalho de3;
KERBER, Nalú da Costa4;
MOREIRA, Andressa da Silva 5;
Eixo Temático: Atenção ao Parto.
Descritores: Parto humanizado; Parto.
1. INTRODUÇÃO
A adolescência é um período de mudanças e que exige adaptação daqueles
que a vivenciam. A maternidade nesta fase torna-se mais complexa, pois, além da
adolescente estar se deparando com alterações no âmbito social, comportamental e
emocional, existem ainda os temores relacionados com o momento do parto. Nas
últimas décadas, o parto tem sido alvo de muitas discussões, principalmente no que
se refere à medicalização e à forma passiva como mulher tem vivenciado este
momento (NAGAHAMA e SANTIAGO, 2008). Na busca pelo resgate do parto como
um processo fisiológico e natural foi instituído pelo Ministério da Saúde, por meio da
1
Enfermaira.Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças,
adolescentes, mulheres e
2
Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública- EERP -USP -ProfªAdjunta IV da
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do
Projeto de Extensão Prevenção e Promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas.- Líder do
Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL –
[email protected]
3
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com
crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected]
Enfermeira.
4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem-UFSC -Profª Escola de Enfermagem da Universidade Federal
do Rio Grande.–FURG [email protected]
5
Enfermeira. Aluna especial do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas, Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e
famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected]
Trabalho extraido da dissertação, Práticas de Humanização no parto na perspectiva de puérperas
adolescentes apresentada em outubro de 2012, no Programa de Pós Graduação em Enfermaegem
da UFPEL.
406
Portaria/GM no 569, de 1º de junho de/2000 a política de humanização do pré natal
e nascimento que traz a proposta de substituir o modelo hegemônico focalizado nas
intervenções médicas e no uso abusivo de tecnologias por um paradigma humanista,
cujo foco é a mulher atendida por meio de ações que contemplem a multiplicidade
de diferenças sociais e culturais da população feminina (BRASIL, 2000). No contexto
do parto das adolescentes, estes ideais precisam estar presentes, pois, ao vivenciar
o processo de parturição, a adolescente se depara com sentimentos de angústia,
temor e medo, além daqueles específicos atribuídos à fase adolescente. Desta
forma, o cuidado no contexto do processo de parturição, não está atrelado somente
ao alívio da dor do parto, mas também a todas as ações que são realizadas em
benefício do bem-estar da parturiente e do nascimento de seu filho (SESCATO,
SOUZA E WALL, 2008).
2. OBJETIVO
Descrever as práticas de atenção ao parto consideradas claramente
prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas no atendimento ao parto em
adolescentes.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, recorte da pesquisa
multicêntrica Atenção Humanizada ao Parto de Adolescentes (KERBER, 2007). Teve
como contexto de investigação dois centros obstétricos de hospitais de ensino dos
municípios de Pelotas e Rio Grande, no Rio Grande do Sul. A amostra foi composta
por 414 puérperas adolescentes que tiveram seus partos nos referidos hospitais no
período de novembro de 2008 a outubro de 2009. Este estudo observou a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Área da Saúde da FURG com o
Parecer 031/2008. As variáveis deste estudo estão baseadas no Manual de
407
Assistência ao Parto Normal da Organização Mundial da Saúde e incorporado pelo
Ministério da Saúde(OMS,1996). Os dados foram digitados no Software Epi Info
(versão 6.04), com dupla entrada, para análise da consistência interna. Realizou-se
a estatística descritiva por meio de freqüências simples.
4. RESULTADOS
Quanto às Práticas de Atenção ao Parto Normal Claramente Prejudiciais ou
ineficazes e que devem ser eliminadas, o estudo apontou que para 98,7% das
puérperas adolescentes a posição no parto foi a de litotomia, 92,8% das parturientes
foram submetidas à infusão de ocitocina durante o trabalho de parto. O uso rotineiro
da episiotomia mostrou-se presente na população estudada, quando 80,3% das
entrevistadas mencionaram que sofreram esta prática em seus partos. A tricotomia
foi realizada em 22,6% dos partos. A prática do enteroclisma não foi mencionada
pelas puérperas adolescentes.
5. DISCUSSÃO
A humanização do atendimento à parturiente implica em programar ações que
propiciem a promoção do parto e nascimento saudáveis.Estas ações incluem o
respeito ao processo fisiológico e à dinâmica de cada nascimento; intervenções
cautelosas, evitando-se os excessos e utilizando-se criteriosamente os recursos
tecnológicos disponíveis (BRASIL, 2000). Observou-se que algumas práticas
consideradas claramente prejudiciais na atenção ao parto normal foram realizadas
nas instituições pesquisadas. A episiotomia foi originalmente sugerida para auxiliar
os partos vaginais complicados, porém com o passar do tempo tornou-se um dos
procedimentos mais rotineiros em obstetrícia (BRASIL,2004). Pesquisa realizada no
Estado de Minas Gerais para identificar a participação da mulher na decisão quanto
à prática da episiotomia no parto identificou que 83% das puérperas responderam
que não receberam qualquer tipo de informação em relação à intervenção durante
408
seu processo de parturição (SANTOS E SHIMO, 2008). Em consonância com os
estudos apresentados, nesta pesquisa também se evidenciou um número excessivo
de parturientes submetidas a prática da episiotomia. Outra prática contra-indiciada
pela OMS é a realização do enteroclisma. Uma abordagem realizada com
profissionais de um Centro Obstétrico na cidade de Rio Grande apontou que,
apenas 4,3% dos profissionais realizaram essa prática e justificaram que ela acelera
o trabalho de parto e promove o esvaziamento intestinal quando a mulher está
constipada(CARVALHO ET AL, 2010). No presente estudo, observou-se a
erradicação na utilização desta prática, pois nenhuma das mulheres referiu ter
realizado este procedimento anterior ao parto, pode-se perceber que quaqnto ao uso
do enteroclisma, as instituições têm atuado de acordo com o preconizado pela OMS.
O uso rotineiro da posição da litotomia no parto também é considerado prejudicial
para a parturiente. De acordo com OMS, a parturiente tem o direito de ser
esclarecida sobre as diferentes posições para o parto e optar pela posição que julgar
mais confortável (OMS,1996). No entanto, para a maior parte(98,7%) das puérperas
deste estudo, a posição do parto foi a de litotomia. Resultado semelhante foi
observado em pesquisa com trabalhadores de saúde que atuam nos mesmos
Centros Obstétricos, na qual 100% mencionaram a escolha da posição de litotomia
no parto (SILVA, 2011).O uso indiscriminado da ocitocina, além de interferir no curso
natural do parto e na movimentação da parturiente, está relacionado a uma
experiência mais dolorosa durante o trabalho de parto (OMS,1996). Em uma
maternidade localizada em Natal/RN, verificou-se que em 85% das parturientes foi
administrada alguma medicação durante a fase ativa do trabalho de parto, sendo a
ocitocina utilizada em 81%, seguida da escopolamina 5% e 15% não receberam
qualquer medicação durante o período de investigação (DAVIM, TORRES, DANTAS,
2009). Estes dados corroboram com os encontrados neste estudo que teve uma
porcentagem de 92,8% das participantes receberam infusão de ocitocina. Na prática
obstétrica é rotineiro o uso de ocitocina nas parturientes de forma desnecessária,
levando esta conduta muitas vezes as distócias no trabalho de parto.
409
6. CONCLUSÃO
O estudo pontuou que algumas práticas desconsideradas pela proposta do
Ministério da saúde como realização da tricotomia, o uso indiscriminado da ocitocina
e a posição da litotomia ainda fazem parte das rotinas das instituições pesquisadas
(OMS,1996). A implantação da proposta de humanização ao parto e nascimento tem
sido um processo lento e gradativo, pois exige mudança e sensibilização dos
profissionais. O parto ainda tem sido alvo de intervenções tecnológicas e
medicalizadoras que desconsideram a mulher como protagonista do processo de
parturição. Portanto, olhar para a puérpera adolescente como sujeito singular, com
vivências particulares e únicas, é compreender que cuidar deste universo requer a
construção de um saber aprimorado, muito mais do que ações padronizadas..
Assim, a importância de conhecer as práticas de atenção às parturientes, sejam elas
adolescentes ou não, e a maneira como elas vêm sendo efetivadas, no cotidiano das
instituições, para a produção do cuidado, são de relevância para a consolidação de
práticas de saúde pautadas na humanização e na busca da melhoria do cuidado à
saúde dispensado às mulheres no processo de parturição.
REFERÊNCIAS
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Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2011.
411
12.3) REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ASFIXIA PERINATAL GRAVE À
FAMÍLIA
1
MILBRATH, Viviane Marten²;
CANECO, Elaine de Oliveira Vieira³;
FREITAG, Vera Lucia4;
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido;
Descritores: Asfixia neonatal; Enfermagem.
1.
INTRODUÇÃO
A experiência de se ter um filho é considerada importante no ciclo de vida da
mulher e do homem, tendo em vista as repercussões que acarreta em suas vidas e
em seu ambiente familiar (MILBRATH, 2006). No entanto, essa experiência pode ser
resignificada quando a criança nasce com algum tipo de necessidades especiais. Os
pais ao serem notificados sobre a chegada de uma criança com uma síndrome ou
um possível déficit no processo de crescimento e desenvolvimento, enfrenta um
período difícil, especialmente no que tange às interações com o recém nascido
(MILBRATH et.al; 2009). As reações dos pais ao serem notificados que o filho
poderá não se desenvolver dentro dos padrões considerados “normais” são múltiplas
e dependem de vários fatores. Os pais irão necessitar de apoio e orientação dos
profissionais de saúde (HÖHER, WAGNER; 2006) para adaptarem-se a nova
situação e para conseguirem cuidar da criança de forma que proporcionem a ela
1
Recorte de um Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia.
Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas 2011.
²Doutora em Enfermagem do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Rio Grande do Sul,
Brasil. E-mail: [email protected]
³Enfermeira, egressa da UFPel. Email: [email protected]
4
Enfermeira, egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus de Palmeira das
Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel). Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). E-mail: [email protected]
412
possibilidade de desenvolver todo o seu potencial. Tendo em vista, a complexidade
que concerne o nascimento de uma criança com necessidades especiais salienta-se
que a revelação do diagnóstico a família é um momento delicado, que necessita ser
vislumbrado com cautela e por um profissional com preparo humano/emocional, o
qual possibilite que a família ao receber esta notícia sinta-se amparada, sustentada,
dessa forma a família criará um vínculo com esse profissional que lhe permita
questionar mais, procurar mais sobre a patologia e a melhor maneira de fornecer o
cuidado à criança, essa interação de confiança com o profissional da saúde também
facilitará a criação do vínculo. No entanto, as pesquisas tem demonstrado que
muitas vezes as famílias por não compreenderem o real significado, ou, até mesmo
por desconhecerem o diagnóstico da asfixia perinatal, em muitos casos, acabam
levando, tardiamente a criança para os serviços especializados, perdendo um
precioso tempo de estimulação do sistema nervoso central (MANCINI et al, 2002;
MILBRATH, 2008). Salienta-se que o sistema nervoso central apesar de não possuir
capacidade de regeneração, quanto mais precocemente for estimulado maior será
sua capacidade de adaptação, sendo assim, é fundamental a estimulação precoce
nos casos das crianças que sofrem asfixia perinatal grave (ROTTA, 2002). Sendo
assim, teve-se como
2.
OBJETIVO
Conhecer como a equipe de saúde revela a família que a criança sofreu uma
asfixia perinatal grave.
3.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória (GIL 2002), com
abordagem qualitativa (MINAYO 2007). O estudo foi desenvolvido na Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e na Pediatria de um Hospital Universitário, de
médio porte, localizado em uma cidade da região sul do Rio Grande do Sul. Os
413
sujeitos da pesquisa foram os profissionais da equipe de saúde, cinco enfermeiros,
cinco médicos pediatras e quatro técnicos de enfermagem que atuam nos locais do
estudo. Perfazendo um total de quatorze sujeitos, que foram identificados por
pseudônimos de E1...E5 para enfermeiro, M1...M5 para médico pediatra e TE1...TE4
para técnico de enfermagem, respectivamente conforme a ordem da entrevista. Os
critérios de inclusão foram ser profissional da saúde, enfermeiro, médico pediatra e
técnico de enfermagem que trabalhassem num dos locais de estudo há no mínimo
um ano, e que permitiram a gravação da entrevista e divulgação dos resultados,
garantindo-se o anonimato. O estudo foi aprovado sob o nº 139/2011 pelo Comitê de
Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Sanda Casa de Misericórdia de Pelotas.
As informações foram coletadas no período de abril à maio de 2011, utilizando-se
uma entrevista semiestruturada, a qual foi gravada por meio de instrumento
eletrônico (MINAYO 2007). De modo que contemplasse o objetivo, as falas foram
transcritas para que fosse garantida a fidedignidade e, relação ao que os
participantes da pesquisa pretendiam expressar. As informações foram interpretadas
por meio da análise temática de Minayo (2007).
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante da importância que engloba a revelação do diagnóstico à família dialogou-se
com os participantes da pesquisa acerca da maneira como revelam às famílias das
crianças que sofrem asfixia perinatal grave o diagnóstico, bem como, questionou-se
a qual integrante da família era dada essa informação, os participantes da pesquisa
referiram que explicam para à família que por problemas da gestação e parto houve
uma intercorrência no nascimento, a qual levou a falta de oxigênio e que as
consequências que a criança poderá apresentar são em função da deficiência de
oxigênio nos tecidos. Os pais (mãe e pai) da recém-nascido foram elencados como
as pessoas para as quais os profissionais relatam o acontecimento da asfixia
perinatal grave. Entretanto, os participantes referiram que por vezes o momento do
diagnóstico deixa os pais confusos e sem orientação adequada, influenciando na
vinculação com o bebê e, sobretudo, no que diz respeito às falsas expectativas,
414
interferindo no processo de aceitação ou rejeição do filho real (HÖHER, WAGNER;
2006). Provavelmente resida nesta afirmativa à dificuldade de fornecer o diagnóstico
de asfixia perinatal grave à família, pois o esperado é que uma criança a termo, no
peso certo, e que a mãe tenha feito o pré-natal, nasça bem. A não assimilação de
um diagnóstico, que acabará se tornando uma condição de vida, não é uma
responsabilidade da família, cabe ao informante utilizar estratégias de comunicação
capazes de serem compreendidas pelas pessoas que não compartilham da mesma
linguagem técnica dos profissionais da saúde. Os participantes referiram a
importância dos pais serem orientados sobre o acontecido desde o primeiro
momento, mesmo que não se tenha claro o prognóstico. Desta forma, reafirma-se a
dificuldade que os profissionais percebem na família para a compreensão do
diagnóstico. Segundo Wernet (2007) isso pode estar acontecendo devido a
utilização de uma linguagem muito técnica por parte dos profissionais da equipe de
saúde que se torna de difícil compreensão para as pessoas que não estão
habituadas com tal linguagem A família necessita passar por um processo de
adaptação a nova situação vivenciada. Os participantes também referiram que pais
ao receberem o diagnóstico passam um processo de negação, para depois
começarem a compreender a situação clínica da criança. Dessa forma, percebe que
a negação expressa pelos participantes faz parte do processo vivenciado pela
família. Salienta-se que é de vital importância que os profissionais da saúde
conheçam as fases do processo que a família se encontra para que assim possam
prestar o cuidado mais direcionado (BUSCÁGLIA, 2006).
5.
CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Salienta-se a importância da equipe como um todo na questão do
diagnóstico, principalmente para a família. A enfermagem pela proximidade pode
ajudar nesse processo de compreensão não apenas do diagnóstico como também
do prognóstico. As orientações do enfermeiro devem fluir na acepção de que a
família não apenas tome consciência de que algo aconteceu à criança, mas no
415
sentido de dirimir suas dúvidas e instigar que estas interrogações sejam expressas,
para que realmente sejam sanadas. Por conseguinte, outros profissionais como
assistente social, psicólogos e fisioterapeutas também se fazem importantes a partir
do momento que conseguirem o entendimento da família para a importância do
acompanhamento.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº196/96
sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: DF, 1996.
BUSCÁGLIA, LF. Os deficientes e seus pais: Um desafio ao aconselhamento.
(Tradução Raquel Mendes). 5ª edição; Rio de Janeiro; Record, 2006.
GIL, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed.São Paulo:Atlas.2002.171p.
HÖHER, SP; WAGNER, ADL. A transmissão do diagnóstico e de orientações a pais
de crianças com necessidades especiais: a questão da formação profissional.
Estudos de Psicologia, Campinas, 23(2): 113-125, abr/ jun. 2006.
MANCINI, CM et al. Comparação do desenvolvimento de atividades funcionais em
crianças com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral. Arq.
Neuro-Psiquiatr., v.60, n.2, p.409-415, jun. 2002.
MILBRATH, VM. Cuidado da família à criança portadora de paralisia cerebral
nos três primeiros anos de vida [dissertação]. Rio Grande: Escola de
Enfermagem, Fundação Universidade Federal de Rio Grande; 2008.
MILBRATH, VM et al. Mães vivenciando o diagnóstico da paralisia cerebral em seus
filhos. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2009 set;30(3):437-44.
MILBRATH, VM et al. Perfil dos recém-nascidos com asfixia perinatal grave na
cidade do Rio Grande/RS, no período de 2005-2007. Anais do Simpósio
Internacional de Humanização da Atenção Obstétrica e Neonatal. Rio Grande,
Brasil. 2010.
MINAYO MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª
ed. São Paulo: Hucitec; 2007.
ROTTA NT. Aspectos da relação médico-paciente em neuropediatria. Neurobiol
Recife 1983;46(3):301-8.
416
WERNET M. Experiência de tornar-se mãe na unidade de cuidados intensivos
neonatais [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2007.
417
14.3) REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A
GESTANTE E O RECÉM-NASCIDO (2014)1
PREVEDELLO, Bruna Pivetta2;
STOCHERO, Helena Moro3;
CONRADO, Amanda4;
BARCELOS, Louise Muniz5;
TIER, William Oliveira6;
RANGEL, Rosiane Filipin7;
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Pré-natal; Recém-nascido; Gestante.
1. INTRODUÇÃO
A assistência pré-natal tem sido foco de investigação no Brasil e no mundo
(NETO et al., 2012). Desde a medicalização do parto no século XVIII, as políticas
relacionadas à saúde materno-infantil intensificaram-se para abranger desfechos
positivos em saúde, da concepção até a gestação e o puerpério, que são fenômenos
fisiológicos naturalmente esperados no desenvolvimento da espécie humana, mas
sujeitos a intercorrências desfavoráveis (THEODORO, et al., 2008). Estudos
epidemiológicos permitem identificar que o cuidado com a saúde e possíveis
intervenções médicas, nesses momentos específicos do ciclo da vida humana,
podem minimizar as complicações e os óbitos do recém-nascido e da parturiente,
1
Pesquisa vinculada ao Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Saúde – GIPES.
Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected].
3
Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected]
4
Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected]
5
Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected]
6
Acadêmico do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada de Santa Maria – Fisma. Email:
[email protected]
7
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected]
2
418
além da redução de fatores de risco de mortalidade, como o baixo peso ao nascer e
prematuridade (NETO, et al., 2012). Evidências revelam que em países de média e
baixa renda o número reduzido de consultas de acompanhamento pré-natal é fator
de risco significante para aumento da mortalidade perinatal (NETO, et al., 2012).
Também, quando o pré-natal não é realizado adequadamente os riscos para o bebê
são maiores, como por exemplo, a necessidade de internação em Unidade de
Terapia Intensiva, tempo de permanência nessas e o uso de medicações com maior
potencialiadade de efeitos colaterais para o recém-nascido. Ressalta-se que o prénatal bem feito e de qualidade não pode ser avaliado somente pela quantidade de
consultas realizadas, mas sim, da qualidade dessas, das orientações dadas às
mães, que envolvem desde o planejamento e preparação para a gravidez, o período
de formação do feto, até os cuidados após o parto, em especial às primigestas.
Frente a esse contexto, o Ministério da Saúde instituiu o Programa de Humanização
no Pré-natal e Nascimento (PHPN) por meio da Portaria/GM nº. 569, de 01/06/2000,
com o intuito de reduzir as taxas de mortalidade materno-infantil. Esse programa
define como condição indispensável da assistência a realização da primeira consulta
de pré-natal até o quarto mês de gestação, bem como a realização de, no mínimo,
seis consultas de pré-natal e de, pelo menos, uma no puerpério (BRASIL, 2000).
Para isso, necessita-se de uma organização de rotinas com procedimentos
benéficos para gestante, entre eles, o estabelecimento de uma rede de relações
pautada em princípios éticos, os quais assegurem autonomia, privacidade, partilha
de conhecimento com a gestante e sua família (BRASIL, 2005).
2. OBJETIVO
Investigar na literatura a produção científica acerca da realização do pré-natal e sua
importância para a gestante e o recém-nascido.
3. METODOLOGIA
419
Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura. A busca dos dados foi
realizada no mês de Agosto de 2014, em periódicos, livros, teses e dissertações que
abordavam a temática. Não foi estabelecido recorte temporal.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se a partir dos resultados encontrados que o pré-natal configura-se
como um fator importante na redução da mortalidade materna e perinatal, visto que
muitas patologias do período gravídico-puerperal podem ser tratadas e/ou
controladas, evitando-se, assim, efeitos danosos a gestantes, puérperas e/ou ao
recém-nascido (TREVISAN et al., 2002). A atenção pré-natal adequada é
considerada uma das principais ações de promoção à saúde da gestante e do feto e
prevenção de eventos adversos da gestação no âmbito da atenção primária à
saúde. A melhoria do cuidado pré-natal pode ser considerada uma das mais
importantes metas em termos de saúde pública devido à possibilidade de redução
dos determinantes da morbimortalidade neonatal (VETTORE, DIAS, LEAL, 2013).
Mesmo com os esforços para melhorar a assistência ao pré-natal, ocorreu uma
tendência no aumento na prevalência da prematuridade no Brasil a partir da década
de 1990, que atingiu até 15% nas Regiões Sul e Sudeste e 10% no Nordeste
(SILVEIRA, et al., 2008). Sabe-se que a cobertura do pré-natal no país elevou-se,
mas não foi acompanhado da melhoria da qualidade da assistência às gestantes.
Um estudo evidenciou que 96% das puérperas haviam feito pré-natal, porém os
índices inadequados ou intermediários foram predominantes, correspondendo a
57%. Sabe-se que os partos prematuros são, no Brasil e no mundo, a principal
causa de morbimortalidade neonatal e pós-neonatal. Em função destes aspectos,
possíveis fatores de risco para a sua ocorrência têm sido investigados, e incluem
características demográficas e socioeconômicas, comportamentos inadequados
relacionados
à
saúde,
fatores
emocionais,
doenças
durante
a
gravidez,
gemelaridade, história obstétrica e cuidados pré-natais inadequados (VETTORE,
DIAS, LEAL, 2013).
420
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que o cuidado à assistência pré-natal vem sendo discutido no Brasil
e no mundo, frente a isso pode-se identificar redução nas complicações com o
recém-nascido, a parturiente, a prematuridade entre outros. Quando o número de
consultas de pré-natal é abaixo do preconizado, geralmente, evidencia-se um
aumento da mortalidade perinatal, internação em unidades intensivas, entre outros.
Sendo assim, reforça-se a importância do papel da enfermagem para a realização
do pré-natal adequado e acompanhamento do recém-nascido após o parto,
juntamente com a gestante, pai e familiares, pois isso promove à mãe e ao bebê, a
prevenção de eventos adversos e uma melhoria na sua qualidade de vida, à medida
que com a adoção de tais medidas, há uma maior propabilidade de se reduzir
eventuais problemas, entre os quais, estão os principais causadores de aumento na
taxa de morbimortalidade neonatal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e
humanizada – manual técnico. Brasília, DF, 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento
(PHPN). Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde, 2000a.
NETO, E. T.S.; LEAL, M.C.; OLIVEIRA, A. E.; ZANDONADE, E.; GAMA, S.G.N.
Concordância entre informações do Cartão da Gestante e da memória materna
sobre assistência pré-natal, Cad. Saúde Pública.; v.28, n.2, p.256-266, 2012.
SILVEIRA, M.F.; SANTOS, I.S.; BARROS, A.J.D, MATIJASEVICH, A.; BARROS,
F.C.; VICTORA, C.G. Aumento da prematuridade no Brasil: revisão de estudo de
base populacional. Rev Saúde Pública.; v.42, p.957-64, 2008.
THEODORO, E.S.N.; ALVES, K.C.G.; ZORZAL, M.; LIMA, R.C.D. Políticas de saúde
materna no Brasil: os nexos com indicadores de saúde materno-infantil. Saúde Soc.;
v.17, p.107-19, 2008.
421
TREVISAN, M.R.; DELORENZI, D.R.; ARAÚJO, N.M.; ÊSBER, K. Perfi l da
assistência pré natal entre usuárias do sistema único de saúde em Caxias do Sul.
Rev. Bras. Ginecol Obstet.; v.24, n.5, p.239-299, 2002.
VETTORE, M.V.; DIAS, M.; LEAL, M.C. Avaliação da qualidade da atenção pré-natal
dentre gestantes com e sem história de prematuridade no Sistema Único de Saúde
no Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife.; v. 13, n.2,
p.89-100, 2013.
422
15.3) CONSUMO DE ÁLCOOL NA GESTAÇÃO E OS EFEITOS NO RECÉMNASCIDO (2014)1
PREVEDELLO, Bruna Pivetta2;
STOCHERO, Helena Moro3;
CONRADO, Amanda4;
BARCELOS, Louise Muniz5;
TIER, William Oliveira6;
RANGEL, Rosiane Filipin7
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido.
Descritores: Gravidez; Etanol.
1. INTRODUÇÃO
O consumo do álcool durante a gestação é um tema que vem ganhando
espaço, principalmente pelos efeitos que são causados ao recém-nascido (RN).
Estima-se que aproximadamente 20% das mulheres façam uso de álcool durante a
gravidez. Esse hábito tem aumentado significativamente nos últimos anos, apesar de
ser uma causa evitável de defeitos congênitos e de alterações no desenvolvimento
da criança (SANTOS, SANTOS, 2009). Tal fato é preocupante, principalmente
quando se sabe que o consumo de álcool durante a gestação envolve grande risco,
devido à embriotoxicidade e teratogenicidade fetal que a ele estão relacionadas,
transformando-se em sério problema de saúde pública, com repercussões físicas,
cognitivas e comportamentais. A síndrome pode manifestar-se por um quadro clínico
1
Pesquisa vinculada ao Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Saúde – GIPES.
Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected].
3
Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected]
4
Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected]
5
Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano.
Email:[email protected]
6
Acadêmico do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada de Santa Maria – Fisma. Email:
[email protected]
7
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Franciscano. Email:
[email protected]
2
423
completo, denominado Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), ou um incompleto,
conhecido como Efeito Alcoólico Fetal (EAF) (SANTOS, SANTOS, 2009). A SAF
caracteriza-se por danos ao sistema nervoso central, que causam anomalias
neurológicas, craniofaciais, deficiência no crescimento pré e pós-natal, disfunções
comportamentais e malformações associadas (FREIRE, PADILHA, SAUNDERS,
2009). O risco é cada vez maior em cada gestação subsequente, uma vez que tende
só aumentar esse vício, sendo que bebidas destiladas de alto teor alcóolico
consumido elevam o número da SAF. Estudos apontam que a exposição ao álcool
durante a gestação aumenta o risco de mortalidade e incidência de diferentes
agravos à saúde da mulher, como doença coronariana, hipertensão arterial,
neoplasia de mama, distúrbios neurológicos, depressão e outras desordens afetivas
(MORAES, REICHENHEIM, 2007). O uso de álcool pela gestante parece contribuir
também para o ganho de peso gestacional insuficiente, menor frequência aos
serviços de pré-natal e maior utilização de outras drogas. As repercussões diretas do
problema para o feto e recém-nascido também são variadas. A literatura mostra
maior risco de malformações, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer,
prematuridade, asfixia e mortalidade perinatal, além de diversos problemas físicos e
mentais decorrentes da SAF (MORAES, REICHENHEIM, 2007). Também, pode-se
perceber que o consumo de drogas, como o álcool estão presentes em grande
quantidade no leite materno, fazendo com que o mesmo não contenha mais as
substâncias nutritivas adequadas para o bebê, causando assim, danos ao RN.
2. OBJETIVO
Investigar na literatura a produção científica acerca do uso do álcool durante a
gestação e os efeitos no recém-nascido.
3. METODOLOGIA
424
Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura. A busca dos dados foi
realizada no mês de Julho a Agosto de 2014, em periódicos, livros, teses e
dissertações que abordavam a temática. Não foi estabelecido recorte temporal.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A mortalidade infantil constitui um importante indicador de saúde de um país,
já que é um reflexo da qualidade e acesso a serviços de saúde, das condições
sócio-econômicas, das práticas de saúde pública, bem como da própria saúde da
mulher. Analisando as causas de mortalidade infantil, observa-se, nos últimos anos,
uma diminuição da taxa total de óbitos por causas infecciosas e, em contrapartida,
aumento da proporção de mortes atribuíveis às malformações congênitas (ROCHA,
et al., 2013). Entre os possíveis causadores dessas malformações, além de fatores
ambientais, encontram-se algumas medicações e outras drogas como álcool e fumo.
O peso ao nascer é um importante parâmetro relacionado com a morbimortalidade
perinatal e infantil (MORAES, REICHENHEIM, 2007). O baixo peso ao nascer é
definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como todo nascido vivo com
peso ao nascer inferior a 2.500 gramas, (SILVA, et al., 2011) sendo este um dos
fatores determinantes da mortalidade neonatal, maior risco de infecções, maior
propensão ao retardo de crescimento e déficit neuropsicológico pós-natal, podendo
repercutir nas condições de saúde do adulto (GUIMARÃES, VELASQUEZMELÉNDEZ, 2002). As taxas são muito variáveis nas diversas regiões do mundo,
com evidentes desvantagens para os países menos desenvolvidos, pois estão
associadas a condições socioeconômicas desfavoráveis (SILVA, et al., 2011).
Dentre os efeitos relacionados com hábitos maternos durante a gestação, e que
afetam o recém-nascido, como a ingestão de álcool, estão: baixo peso,
prematuridade, problemas neurológicos e mentais, déficit de atenção, entre outros.
O álcool que a mãe ingere durante a gestação atravessa a barreira placentária e o
feto fica exposto a essa substância presente no sangue materno. A exposição fetal é
maior, devido ao seu metabolismo e sistema de eliminação mais lentos, de modo
425
que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool não modificado (etanol) e
acetaldeído (metabólito do etanol) (FREIRE, et al., 2005).
Entretanto, a
suscetibilidade fetal ao álcool é modulada por quantidade ingerida, época da
exposição, estado nutricional e capacidade de metabolização materna e fetal. A
quantidade segura de álcool que uma gestante pode consumir não está definida na
literatura, por isto recomenda-se abstinência total durante toda a gravidez. Estudos
comprovam que o consumo de 20 gramas de álcool já é suficiente para provocar
supressão da respiração e dos movimentos fetais, observados por meio de ultrasonografia (FREIRE, et al., 2005). Além disto, o consumo de álcool na gestação está
relacionado ao aumento do número de abortos e a fatores comprometedores do
parto, como risco de infecções, descolamento prematuro de placenta, hipertonia
uterina, prematuridade do trabalho de parto e líquido amniótico meconial (FREIRE, et
al., 2005).
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O consumo do álcool durante a gestação vem sendo discutido pelos inúmeros
problemas que são causados à mãe, mas, principalmente ao recém-nascido. É uma
fator de muita preocupação pelos efeitos teratogênicos que são provocados ao RN,
como, prematuridade, baixo peso ao nascer, retardo no crescimento, problemas
neurológicos que possivelmente irão aparecer quando adultos, entre outros.
Considera-se que, muitas vezes, à gestante acaba ingerindo a bebida alcóolica por
desconhecer os efeitos que a mesma pode causar ao seu bebê, o que acontece com
mães que não frequentam às consultas de pré-natal adequadamente e que
apresentam condições socioeconômica desfavorável. Portanto, o papel da
enfermagem é imprescindível desde o pré-natal até o momento do parto e puerpério,
para dar um suporte para à mãe de como ela deve agir para ter uma melhor
qualidade de vida.
426
REFERÊNCIAS
FREIRE, K.; PADILHA, P.C.; SAUNDERS, C. Fatores associados ao uso de álcool e
cigarro na gestação. Rev Bras Ginecol Obstet.; v.31, n.7, p.335-41, 2009.
FREIRE, T.M.; MACHADO, J.C.; MELO, E.V.; MELO, D.G. Efeitos do consumo de
bebida alcoólica sobre o feto. Rev Bras Ginecol Obstet.; v.27, n.7, p.376-81, 2005.
GUIMARÃES, E.A.A.; VELASQUEZ-MELÉNDEZ, G. Determinantes do baixo peso
ao nascer a partir do sistema de informação sobre nascidos vivos em Itaúna, Minas
Gerais. Rev Bras Saude Matern Infant.; v.2, n.3, p.283-90, 2002.
MORAES, C.L.; REICHENHEIM. Rastreamento de uso de álcool por gestantes de
serviços públicos de saúde do Rio de Janeiro. Rev Saúde Pública.; v.41, n.5, p.695703, 2007.
ROCHA, R.S.; BEZERRA, S.C.; LIMA, J.W.O.; COSTA, F.S. Consumo de
medicamentos, álcool e fumo na gestação e avaliação dos riscos teratogênicos. Rev
Gaúcha Enferm., v.34, n.2, p.37-45, 2013.
SANTOS, E.S.; SANTOS, A.M.G. Síndrome Alcóolica Fetal – recorrência em duas
gerações de uma família. Scientia Medica.; v.19, n. 4, p.182-185, 2009.
SILVA, I.; QUEVEDO, L.A.; SILVA, R.A.; OLIVEIRA, S.S.; PINHEIRO, R.T.
Associação entre abuso de álcool durante a gestação e o peso ao nascer. Rev
Saúde Pública.; v.45, n.5, p.864-9, 2011.
SANTOS, E.S.; SANTOS, A.M.G. Síndrome Alcóolica Fetal – recorrência em duas
gerações de uma família. Scientia Medica.; v.19, n. 4, p.182-185, 2009.
427
16.3) CARACTERIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL DE PUÉRPERAS EM UM HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO NO SUL DO BRASIL1;
PILOTI, Dácio Franco Weiler2;
ZUCATTI, Ana Regina Espindola3;
ARMELLINI, Cláudia Junqueira 4;
GONÇALVES, Annelise de Carvalho5;
GOUVEIA, Helga Geremias6;
MORETTO, Virgínia Leismann7
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal
Descritores: Cuidado Pré-Natal. Enfermagem Obstétrica. Gestantes. Saúde da
Mulher.
1. INTRODUÇÃO
O
acompanhamento
pré-natal
objetiva
assegurar
o
desenvolvimento
gestacional abordando aspectos psicossociais e promovendo atividades educativas
e preventivas que resulte em um parto de um recém-nascido saudável, sem
prejuízos à saúde materna (BRASIL, 2012a). Segundo o Programa de Humanização
no Pré-natal e Nascimento, a mulher grávida tem direito ao acesso e atendimento
digno, de qualidade, humanizado e seguro durante a gestação, parto e puerpério
(BRASIL, 2002).
1
Pesquisa produzida a partir de Trabalho de Conclusão de Curso, apoio financeiro FIPE/HCPA.
Acadêmico de Enfermagem, bolsista de iniciação científica BICI/UFRGS, relator.
[email protected]
3
Enfermeira. [email protected].
4
Dra. em Ciências. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Brasil.
[email protected]
5
Dra. em Saúde Pública. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul/Brasil. [email protected]
6
Dra. em Ciências da Saúde. Escola de Enfermagem da Universidade FederaI do Rio Grande do
Sul/Brasil. [email protected]
7
Dra. em Enfermagem. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Brasil.
[email protected]
2
428
2. OBJETIVOS
Conhecer o acompanhamento pré-natal de mulheres que vivenciaram o
processo de parturição em um hospital universitário da cidade de Porto Alegre/RS;
caracterizar as mulheres quanto a: idade, escolaridade, situação marital, ocupação,
número de gestações, paridade e tipo de parto; identificar o número de consultas de
pré-natal, os profissionais que prestaram atendimento, as orientações recebidas no
acompanhamento pré-natal; identificar a participação das mulheres em grupo de
gestantes e as orientações recebidas durante esta atividade.
3. METODOLOGIA
Trata-se de estudo quantitativo transversal, do tipo descritivo, realizado em
um hospital universitário de Porto Alegre/RS, Brasil. Os dados do estudo foram
obtidos a partir do banco de dados de um projeto de pesquisa maior intitulado
“Práticas de atendimento implementadas no processo de parturição”, aprovado pela
Comissão de Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição, sob o protocolo n°
66852. Todas as puérperas selecionadas para integrarem o estudo maior, após o
aceite verbal, assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido em duas vias
iguais. Os dados primários foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada,
consultas a prontuários maternos e neonatais, no período de agosto a novembro de
2012 e foram incluídas 385 puérperas e seus recém-nascidos com idade gestacional
igual ou superior a 37 semanas, calculado pelo método de Capurro. Foram excluídas
aquelas que foram submetidas à cesariana eletiva ou urgência, com óbito fetal ou
malformação e com nascimento de gemelares.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
429
Verificou-se que a média de idade das mulheres foi 24,94 anos. Observou-se
percentual de 10,9% de mulheres incluídas na classificação de risco gestacional
segundo a idade, ou seja, aquelas que conforme o Ministério da Saúde são menores
de 15 anos e maiores de 35 anos (BRASIL, 2012a). Relativo à escolaridade, 57,9%
possuíam nove ou mais anos de estudo. O Ministério da Saúde considera como fator
de risco gestacional a baixa escolaridade, caracterizada por menos de cinco anos de
estudo (BRASIL, 2012a), cujo percentual nesta amostra foi de 5,2%. Quanto à
situação marital das mulheres, constatou-se que 90,1% tinham companheiro. Em
relação à ocupação das mulheres, 47,0% possuiam ocupação remunerada, e 50,4%
eram do lar ou estudantes. Referente à paridade, 52,9% eram primíparas, 53,1%
teve no mínimo duas gestações prévias. Quando analisado o tipo de parto, verificouse que 79,0% das mulheres tiveram parto vaginal. Em relação ao número de
consultas de pré-natal, a maioria das mulheres (70,0%) frequentou sete ou mais
consultas, contemplando o número mínimo de seis consultas de pré-natal
preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a). Esse percentual mostrou-se
inferior a 71,9% encontrado na cidade de Porto Alegre e a 73,2%, no estado do Rio
Grande do Sul, no ano de 2010, porém o percentual foi superior a 61,1%
evidenciado no Brasil nesse mesmo ano (BRASIL, 2010). A média do número de
consultas frequentado pelas mulheres foi de 8,06 (DP 3,08) consultas, enquanto o
número mínimo foi de uma e o máximo de 30, sendo que 69,8% das mulheres
consultaram apenas com médicos. O percentual de consultas compartilhadas entre
médicos e enfermeiros foi de 29,4%. Esse percentual mostrou-se inferior a 45,4%
encontrado por Costa et al. (2013). A consulta de enfermagem é garantida pela Lei
do Exercício Profissional, regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87 (BRASIL, 1987),
podendo o enfermeiro acompanhar integralmente o pré-natal de baixo risco na rede
básica de saúde. Nesse estudo, apenas 0,8% (n=2) das mulheres foram
acompanhadas, exclusivamente, por enfermeiro, mas esse percentual aumenta
quando o acompanhamento foi também compartilhado com o médico. No entanto,
não foi possível identificar o número de consultas sob-responsabilidade de cada
profissional quando as consultas foram compartilhadas. Observa-se que, na prática,
430
em alguns serviços públicos, a participação do enfermeiro nas consultas de pré-natal
também se resume à realização da primeira consulta, com atividades burocráticas,
fato que corrobora com o estudo de Moretto (2010). Referente às orientações
recebidas pelas mulheres, durante as consultas de pré-natal, a média foi de 3,83
(DP 2,01), sendo que houve um percentual de 7,5% de mulheres que não recebeu
nenhuma orientação. Entre as 29 mulheres que não receberam qualquer orientação,
55,2% (n=16) frequentaram seis ou mais consultas, verificando-se então, que
embora o número adequado de consultas tenha sido respeitado, as orientações
preconizadas não foram fornecidas. Quando analisado o número de orientações em
relação aos profissionais que realizaram as consultas, verificou-se que a média de
orientações foi maior quando o enfermeiro compartilhou as consultas de pré-natal
com o médico. Portanto, caso o percentual de mulheres atendidas pelos
profissionais
médico
e
enfermeiro
tivesse
sido
superior
ao
evidenciado,
possivelmente o número de orientações recebidas pelas mulheres também seria
maior ao encontrado. O percentual de mulheres que participou do grupo de
gestantes foi de 11,7%, sendo 5,36 (DP 2,20) a média do número de orientações
recebidas entre as mulheres que participaram dessa atividade. Os sinais de alerta
foram orientados para 86,4% das mulheres, sendo essa orientação importante para
que a gestante fique atenta às alterações que podem colocar em risco a sua
gestação. O percentual de gestantes que recebeu orientações sobre o trabalho de
parto foi de 69,3%. Cabe lembrar que mais da metade das gestantes estudadas
(52,9%) era primípara, portanto, não possuía a experiência prévia de parturição.
5. CONCLUSÕES
Embora o número de consultas de pré-natal tenha sido igual ou superior a
sete para a maioria das mulheres, ainda é pequeno o número de orientações
recebidas durante essas consultas. Percebe-se que um número adequado de
consultas não está vinculado à qualidade da assistência pré-natal e às orientações
fornecidas para a gestante. Salienta-se o baixo percentual de mulheres que
431
frequentou grupos de gestantes, contudo a média de orientações recebida por essas
mulheres foi superior àquelas recebidas durante as consultas de pré-natal,
demonstrando ser uma alternativa importante para complementar ações educativas.
Anseia-se que os resultados desse estudo contribuam para que os profissionais da
Instituição
onde
o
estudo
foi
realizado
conheçam
a
caracterização
do
acompanhamento pré-natal das mulheres a quem eles prestam a assistência ao
parto, visando suprir de alguma forma as deficiências constatadas. Espera-se que os
gestores proponham e implementem estratégias para melhor qualificação do
acompanhamento pré-natal, com recomendações para a inclusão de atividades e
ações educativas, além de propiciar maior inserção do enfermeiro no pré-natal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 94.406/87 regulamenta Lei nº 7.498 de 25 de junho de 1986,
que dispõe sobre o exercício de enfermagem, e dá outras providências. Brasília, 08
de junho de 1987.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa humanização do
parto: humanização no pré-natal e nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Informações de saúde [tabnet].
Indicadores e dados básicos – indicadores de cobertura. Cobertura das consultas
de pré-natal. Brasília (DF): 2010. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2011/Grupo_F.xlsx>. Acesso em: 02 nov. 2013.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da
Saúde, 2012a. 318 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção
Básica, n° 32).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Análise de Situação de Saúde.
Saúde Brasil 2011: uma análise da situação de saúde e a vigilância da saúde da
mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2012b. 444 p.
432
COSTA, Christina Souto Cavalcante et al. Características do atendimento pré-natal
na Rede Básica de Saúde. Rev. Eletr. Enf., v. 15, n. 2, p. 516-522, abr./jun. 2013.
Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v15/n2/pdf/v15n2a26.pdf>. Acesso em:
30 nov. 2013.
MORETTO, Virgínia Leismann. A capacitação participativa de pré-natalistas em
uma unidade básica de saúde: um estudo de caso. 2010. 104 f. Tese (Doutorado
em Enfermagem)- Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2010.
433
16.3) CUIDADO PRÉ-NATAL: TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL1
CORRÊA, Ana Cândida Lopes2;
ALVES, Camila Neumaier3;
BORTOLLI, Cleunir4;
ASTARITA, Kélen5;
MEINCKE, Sonia Maria Konzgen6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7.
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Enfermagem; Cuidado Pré-Natal; Saúde da Mulher.
1. INTRODUÇÃO
A atenção no pré-natal é o conjunto de ações realizadas durante o período
gestacional da mulher, visando um atendimento global da sua saúde, de maneira
individualizada, procurando sempre qualidade e resolubilidade desse processo.
Ainda, deve promover um resgate do potencial feminino na compreensão do
processo da gestação, respeitando os limites e valorizando o momento da gravidez e
a sensibilização da importância da participação ativa das famílias no mesmo
(BRASIL, 2001). Além disso, permite a interação entre o profissional, a gestante e
sua família, facilitando a manutenção do vínculo com o serviço de saúde ao longo de
1
Trabalho apresentado na Disciplina “Construção do Conhecimento em Saúde e Enfermagem”, do
Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2012.
2
Apresentadora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
3
Autora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
4
Coautora. Mestranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
[email protected]
5
Coautora. Acadêmica de enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
[email protected]
6
Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
7
Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
434
sua gestação, reduzindo os riscos de intercorrências, permeando, dessa maneira, o
caminho para o nascimento humanizado (LANDERDAHL et al, 2007). Neste
contexto, insere-se o enfermeiro, apto a realizar consulta de enfermagem em prénatal de baixo risco, visitas domiciliares e ações educativas individuais e coletivas,
onde, além de realizar o acompanhamento da saúde da gestante, também exerce
promoção de saúde e estimula sua autonomia, promovendo a atenção pré-natal.
Assim, a assistência de enfermagem na atenção ao pré-natal busca estabelecer a
prática da comunicação e a escuta ativa com as gestantes, promovendo o
intercâmbio
de
informações
e
experiências,
disponibilizando
informações
adequadas, democratizando o saber e estimulando a busca da autonomia nas
mulheres envolvidas, uma vez que, ser informada sobre sua saúde e participar das
decisões referentes à sua vida, é entendido como um direito da gestante (RESSEL
et al, 2008). Dessa forma, como questão norteadora deste estudo vislumbra-se
“quais as tendências das produções acadêmicas de teses e dissertações da
enfermagem brasileira referente a temática do cuidado pré-natal?”.
2. OBJETIVO
Identificar as tendências de teses e dissertações nacionais acerca da temática
sobre cuidado pré-natal da enfermagem no Brasil.
3. MÉTODO
Trata de uma pesquisa bibliográfica do tipo descritiva, acerca das tendências
das pesquisas sobre o cuidado de enfermagem no pré-natal. Para a obtenção das
publicações, foi realizada uma busca no Banco de Teses e Dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no dia 06
de novembro de 2012. Utilizaram-se as palavras-chave: “cuidado pré-natal” e
“enfermagem” com a opção de busca por “todas as palavras”. Foram encontradas no
total 89 teses/dissertações. Para a escolha dos trabalhos, foi realizada uma leitura
435
do título e dos resumos. Como critérios de inclusão definiu-se que seriam
apresentadas as produções acadêmicas nacionais, proveniente de Programas de
Pós-graduação em Enfermagem, que tratem sobre a temática cuidados à saúde da
gestante no pré-natal, em forma de dissertações e teses. Como critérios de exclusão
foram retirados trabalhos que não respondessem à questão norteadora, sem
resumos
completos
e
que
se
tratavam
de
pesquisas
de
mestrados
profissionalizantes. Assim, o corpus de análise foi composto por resumos de vinte
(20) estudos, desses, dezessete (17) dissertações e três (3) teses. Para a
organização dos dados foi elaborado um quadro sinóptico contendo: a referência da
publicação, o ano de apresentação, o PPGEnf de origem da pesquisa, o nível
acadêmico, os sujeitos, cenários, objetivos e resultados identificados a partir do
resumo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados são provenientes do cálculo da frequência
relativa, mediante leitura dos resumos dos vinte estudos selecionados. Relacionado
ao tipo de produção observa-se que 17 (85%) são dissertações e três (15%) são
teses. Quanto ao ano de publicação, obteve-se que nos anos de 1996, 2002, 2005,
2007 e 2010 foram uma (5%) publicação por cada ano; encontrou-se duas (10%)
publicações por ano em 2001, 2006 e 2008; e três (15%) publicações nos anos de
2003, 2004 e 2011. Dessas pesquisas, 19 (95%) foram apresentadas em Programas
de
Pós-Graduação
em
Enfermagem
de
Universidades
Federais,
sendo
respectivamente, 6 (30%) da Universidade Federal do Ceará, 3 (15%) da
Universidade Federal de Santa Catarina, 2 (10%) da Universidade de São Paulo –
Campus Ribeirão Preto e 1 (5%) das Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Universidade de São Paulo, Universidade de Brasília, Universidade Federal da
Bahia, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de Pernambuco e 1
(5%) apresentada em Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Rio
436
de Janeiro. A respeito da abordagem das pesquisas encontradas, 17 (85%) são de
natureza qualitativa, 2 (10%) quantitativas e 1 (5%) quali-quantitativa. Tratando-se
dos sujeitos envolvidos nos estudos 8 (40%) eram gestantes, 4 (20%) profissionais
da saúde e gestantes, 3 (15%) os profissionais da saúde, 2 (10%) mães, 1 (5%) a
gestante e sua família, e 2 (10%) não apresentavam os sujeitos nos resumos.
Quanto ao cenário de realização dos estudos, 6 (30%) foram realizados em
Estratégias de Saúde, 6 (30%) em hospitais, 4 (20%) em Centros de Saúde, 2 (10%)
em Centros de Parto, 1 (5%) em domicílio e em 2 (10%) não foi possível identificar o
cenário. Ao observar os assuntos tratados nos resumos, com relação ao cuidado prénatal, pode-se inferir que os estudos abrangem diversificadas perspectivas de
cuidado, tanto na visão dos profissionais da saúde, entre eles o enfermeiro, quanto as
próprias gestantes e mães que experenciaram os cuidados durante a fase
gestacional. Dessa forma, obteve-se 4 (20%) estudos que buscavam conhecer o
atendimento de pré-natal e as ações desenvolvidas; 2 (10%) que desenvolveram um
plano de cuidados à gestantes, baseados na Teoria do Autocuidado de Orem, para
identificar a competência para autocuidado da gestante; 3 (15%) que tratam de
cuidados de enfermagem à gestante soropositiva; 2 (10%) a respeito das percepções
das gestantes sobre o atendimento recebido no pré-natal; 2 (10%) que buscavam
verificar a eficácia do cuidado de enfermagem conforme o Modelo de Vida de Roger,
Logan e Tierney; 2 (10%) tratam sobre o uso de tecnologias não invasivas no cuidado
de enfermagem à gestante; 1 (5%) buscou conhecer quais as necessidades de
cuidado das gestante para o pré-natal; 1 (5%) apresenta os significados do pré-natal
conferidos pelas gestantes e por profissionais da saúde que atuam nessa área; 1 (5%)
trata da aplicação de terapias complementares de cuidado durante o atendimento prénatal; 1(5%) sobre as representações sociais de gestantes a respeito das consultas
de enfermagem no pré-natal; e o último (5%) sobre o cuidado nutricional na consulta
de enfermagem.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
437
Percebe-se uma tendência na produção dos PPGEnf brasileiros sobre a
temática do cuidado pré-natal de estudos provenientes de Dissertações de
Mestrado, em que a maioria localiza-se na região nordeste. Quanto aos anos de
publicação, pode-se notar que a partir de 2001 apenas em 2009 não foram
encontradas publicações, nos demais ao menos um estudo foi realizado nessa área.
Quanto a abordagem dos estudos a tendência refere-se a pesquisas qualitativas,
realizadas em hospitais e estratégias saúde da família, tendo como os principais
sujeitos dos estudos gestantes e profissionais da saúde, dentre os quais encontra-se
o enfermeiro. Além disso, estudos que buscam conhecer a assistência pré-natal na
perspectiva de gestantes destacam-se entre os demais. Para tanto, nota-se a
importância das produções de enfermagem na área do cuidado pré-natal uma vez
que elas permitem o reconhecimento das necessidades de saúde das mulheres e
trazem reflexões acerca de diferentes cenários de atuação.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica da
Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2001.
LANDERDAHL, M.C et al. A percepção de mulheres sobre atenção pré-natal em
uma unidade básica de saúde. Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; v.11, n.1, p.
105-11, mar 2007.
RESSEL, L.B et al. Consulta de enfermagem no pré-natal: perfil epidemiológico de
mulheres assistidas numa unidade básica de saúde. 2008. Projeto de pesquisa –
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2008.
438
17.3) MULHERES EM GESTAÇÃO DE ALTO RISCO1
WILHELM, Laís Antunes2;
SCARTON, Juliane3;
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta 4;
BARRETO, Camila Nunes5;
POSSATI, Andressa6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Saúde da Mulher; Gravidez
de Alto Risco.
1. INTRODUÇÃO
A gestação consiste em um fenômeno fisiológico que acontece no corpo da
mulher, e na maior parte dos casos tem sua evolução sem intercorrências. Porém,
uma pequena parcela das gestações constitui o grupo denominado de gestação de
alto risco, em que as gestantes são portadoras de alguma doença, sofreram algum
agravo ou desenvolveram problemas durante a gestação, apresentando maiores
probabilidades de uma evolução desfavorável ao binômio materno-fetal (BRASIL,
2010). Compreendem uma série ampla de condições clínicas ou clínico-obstétricas
que complicam a gestação, consideradas como risco potencial, requerendo assim
adaptações físicas e psicológicas e atenção especializada (BARROS, 2009). Os
aspectos emocionais da gravidez, do parto e do puerpério são reconhecidos, e boa
parte das pesquisas convergem para a opinião de que esse período é um tempo de
1
Recorte da dissertação intitulada como “Mulheres em gestação de alto risco: sentimentos, práticas
de cuidado e superação das dificuldades enfrentadas”
2
Autora. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). [email protected]
3
Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected]
4
Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM. [email protected]
5
Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected]
6
Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM. [email protected]
7
Coautora. Doutora em Enfermagem. Docente. UFSM. [email protected]
439
grandes transformações psíquicas (BRASIL, 2013), sendo, na maioria das vezes,
intensificadas na gestação de alto risco. De acordo com o Ministério da Saúde - MS
(2013) os aspectos emocionais, tais como a ansiedade, o medo, a preocupação e a
mudança nos vínculos afetivos, são facilmente percebidos na gestação. Eles devem
ser abordados no espaço de interação do profissional com
a gestante, principalmente para aliviar os problemas mais emergentes.
2. OBJETIVO
Conhecer a vivência de mulheres que experienciaram uma gestação de alto risco.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo realizado em um
Hospital Universitário do Sul do Brasil. A seleção das participantes ocorreu a partir
da relação de prontuários de mulheres atendidas no ambulatório de pré-natal de alto
risco. Para a definição da população do estudo, considerou-se como critério de
inclusão mulheres que tivessem idade superior a 18 anos, que tivessem sido
consideradas gestantes de alto risco e que o parto tivesse ocorrido no máximo há
dois anos. As participantes da pesquisa foram dez mulheres, as quais foram
contatas por telefone, sendo convidadas a participar do estudo e agendado encontro
em seus domicílios A coleta de dados deu-se por meio de entrevista
semiestruturada, a qual possui questões fechadas, relativas à caracterização do
grupo em estudo, e questões abertas, norteadoras da temática em questão. A
entrevista é utilizada no processo de trabalho de campo, no sentido amplo de
comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre
determinado tema científico (MINAYO, 2010). A análise de dados foi fundamentada
na análise de conteúdo temática da proposta operativa de Minayo (2010), a qual se
caracteriza por dois momentos operacionas. O primeiro abrange as determinações
basais do estudo, sendo delineado na fase exploratória da investigação. Já o
440
segundo momento é a fase de interpretação, estando subdividida em mais duas
fases, a de ordenação dos dados e a classificação dos dados. Esta última permite
ao pesquisador entender as estruturas de relevância e as ideias centrais, com a
elaboração de uma síntese para construção de um relatório final (MINAYO, 2010). A
pesquisa atendeu os princípios éticos propostos pela Resolução nº 196/96, e seguiu
aos trâmites necessários para o andamento de pesquisa com seres humanos
(BRASIL, 1996). Foi registrada pelo Comitê de Ética da universidade vinculada ao
projeto,
sob
Certificado
de
Apresentação
para
Apreciação
Ética
nº
13178713.3.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os fatores que as caracterizaram como gestantes de alto risco foram:
diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, número elevado de
cesáreas, pielonefrite, pré-eclâmpsia, deslocamento de placenta, placenta marginal,
trabalho prematuro de parto, diabetes mellitus gestacional e aborto habitual.
Destaca-se que os fatores de risco de maior ocorrência foram diabetes mellitus
gestacional (três mulheres) e hipertensão arterial sistêmica (cinco mulheres). Além
disso, pode-se perceber sobre a multiparidade que os números de gestações que
predominaram foram cinco (três mulheres) e duas (três mulheres). No que se refere
a abortamento, quatro mulheres vivenciaram esta situação, sendo que uma delas
também vivenciou a ocorrência de um natimorto. Em relação à última gestação que
as caracterizou como gestante de alto risco, oito mulheres conseguiram ter seus
bebês com saúde; uma mulher teve uma criança prematura, a qual após 20 dias do
seu nascimento foi a óbito com o diagnóstico de pneumonia e choque séptico e uma
mulher teve um natimorto com 37 semanas de gestação. A realização desta
pesquisa permitiu conhecer os sentimentos vivenciados por mulheres que
experienciaram uma gestação de alto risco, sendo relatados o medo, a ansiedade, a
tristeza e a felicidade. Na atenção pré-natal a avaliação de cada gestante deve
observar sua individualidade, e o preparo físico e emocionalmente sendo condição
441
de excelência nos cuidados do profissional de saúde, exigindo deste uma visão
integral que considere a história de vida, os sentimentos e o contexto sociocultural
delas, e valorize cada gestante como única (BRASIL, 2012). Isso implica em uma
abordagem não apenas dos conteúdos clínicos e obstétricos, como também dos
aspectos emocionais envolvidos no processo reprodutivo, uma vez que as
alterações físicas interferem no psiquismo e as emocionais podem interferir no curso
fisiológico da gravidez (BRIQUET e GUARIENTO, 2011). Também foi possível
conhecer como essas mulheres superaram as dificuldades enfrentadas durante a
gestação de alto risco, por meio do apoio da família; dos profissionais de saúde; da
religião e da fé; e da vivência com pensamento positivo. A gestação de alto risco é
um processo fisiológico caracterizado por intensas transformações, onde cada
gestante lida com essas mudanças de um modo muito particular. Entretanto, essas
transformações, que geram mudanças físicas e emocionais, demandam um
acompanhamento contínuo por parte dos profissionais de saúde, dentre eles o
enfermeiro, e envolvem, também, o apoio dos familiares (REZENDE, 2012).
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destaca-se, que quando são considerados os valores e os sentimentos
dessas mulheres, o cuidado caracteriza-se como humanizado e proporciona maior
qualidade. Logo, espera-se que este estudo contribua para formação de
profissionais de saúde, dentre eles o enfermeiro, e que os sensibilize e instigue-os a
praticarem o diálogo e a escuta ativa, buscando compreender a perspectiva de
superação de cada gestante de alto risco, suas possibilidades e realizações.
Ademais, estes cuidados possibilitam a construção de uma relação horizontal, de
apoio e motivação para com essas mulheres, de forma que se sintam seguras para
vivenciar este período crítico em sua vida.
REFERÊNCIAS
442
BARROS, S. M. O. de. Enfermagem Obstétrica e Ginecológica: guia para a prática
assistencial. São Paulo: Roca, 2009. 464 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196/96:
Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996.
______.Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações
Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Gestação de alto
risco – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
______.Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Departamento de
Gestão de Políticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Gestação de
alto risco – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Editora do Ministério
da Saúde; 2013.
BRIQUET R, GUARIENTO A. Obstetrícia Normal. São Paulo: Manole, 2011.
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo, Hucitec, 2010.
REZENDE, C.L.; SOUZA, J.C. The quality of life of high-risk pregnant women
assisted at a center for women assistance. Psicólogo in Formação. 2012; 16 (16).
443
18.3) GESTAÇÃO DE ALTO RISCO E ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA1
WILHELM, Laís Antunes 2;
ASTARITA, Kelen3;
CREMONESE, Luiza 4;
POMPEU, Kelen5;
PRATES, Lisie Alende6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Gravidez de alto risco; Emoções.
1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que a vivência da gestação de alto risco caracteriza-se por um
processo extremamente complexo, dinâmico, subjetivo e diversificado podendo ser
individual e social. É uma experiência única, na qual toda família a vivencia
juntamente com a gestante. A gestação de alto risco não deve ser reduzida apenas
ao aspecto biológico, ao tratamento das intercorrências, centrando-se apenas nos
riscos e na sobrevivência do bebê. A visão deve ser ampliada, não esquecendo que
a mulher e familiares também estão vivenciando o processo da gravidez e as crises
ligadas a ele (ZAMPIERI, 2001). Devido a toda a complexidade que envolve a
gestação de alto risco faz-se necessário conhecer os aspectos emocionais
presentes em estudos já realizados, os quais poderão auxiliar para um planejamento
integral da assistência a gestante e seus familiares, buscando minimizar sentimentos
negativos, como angústias, medo, tensão, ansiedade, preocupação, entre outros.
1
Revisão integrativa
Autora. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). [email protected]
3
Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM [email protected]
4
Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM [email protected]
5
Coautora. Enfermeira. UFSM. [email protected]
6
Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected]
7
Coautora. Doutora em Enfermagem. Docente. UFSM. [email protected]
2
444
2. OBJETIVO
Conhecer a tendência da produção bibliográfica dos programas de pósgraduação em enfermagem acerca da gestação de alto risco e enfermagem.
3. METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão integrativa para busca de estudos que abordam os
aspectos emocionais na gestação de alto risco. A revisão integrativa da literatura
possibilita a síntese e a análise do conhecimento científico já produzido sobre o
tema investigado; permitindo aos profissionais de saúde o acesso a resultados
relevantes de pesquisas para fundamentar a prática profissional a partir de um saber
crítico (URSI, GALVÃO, 2006; MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Para a
elaboração da revisão integrativa as seguintes fases foram percorridas: identificação
do tema, estabelecimento da questão de pesquisa, estabelecimento de critérios de
inclusão e exclusão de artigos, amostragem ou busca na literatura, categorização
dos estudos, avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e a síntese do
conhecimento evidenciado nos artigos analisados ou apresentação da revisão
integrativa (URSI; GALVÃO, 2006). Para guiar a pesquisa, formulou-se a seguinte
questão: Qual a influência da gestação de alto risco nos aspectos emocionais das
gestantes? A seleção dos artigos foi realizada por meio de uma busca na base de
dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e na
BDENF (Base de Dados de Enfermagem). Dessa forma, procurou-se expandir o
âmbito da pesquisa, minimizando possíveis vieses nessa etapa do processo de
elaboração da revisão integrativa (URSI; GALVÃO, 2006). Os critérios de inclusão
para seleção dos artigos foram: artigos publicados em português, inglês ou
espanhol; com resumos disponíveis nas bases de dados; artigos publicados no
período de 1984 a 2011; que abordassem sobre gravidez de alto risco, adaptações
psicológicas e sentimentos; provenientes de pesquisas originais; disponíveis online
de forma gratuita; na íntegra e finalizando com artigos avaliados com nível de
445
evidência seis. Optou-se por utilizar os artigos desse nível (evidências provenientes
de um único estudo descritivo ou qualitativo), por acreditar-se que respondem de
maneira mais próxima aos objetivos desta pesquisa e por totalizarem a maioria dos
achados. A análise das evidências determina a confiança no uso de seus resultados
e fortalece as conclusões que geram o estado do conhecimento atual do tema
investigado. A classificação foi realizada baseada nos sete níveis apresentados na
classificação de Melnyk e Fineout-Overholt (2005). Os critérios de exclusão foram
artigos que não se relacionassem a temática estudada e não respondessem à
pergunta de pesquisa. Definiram-se os descritores “gravidez de alto risco”, “aspectos
emocionais” e “sentimento” para realizar a busca. O marco temporal de 1984 foi
escolhido devido à oficialização do PAISM. Para a coleta de dados dos artigos que
foram incluídos na revisão integrativa, foi utilizado o instrumento proposto e validado
por Ursi (2005), que contempla os seguintes itens: identificação do artigo original,
características metodológicas do estudo, avaliação do rigor metodológico, das
intervenções mensuradas e dos resultados encontrados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da busca realizada encontrou-se um total de 1109 estudos nas duas
bases de dados (827 na LILACS e 282 na BDENF), dos quais dois não eram artigos;
1099 não respondiam à temática; dois estavam indisponíveis online na íntegra e um
não era nível de evidência 6. Finalizando a busca com cinco artigos para análise.
Dentre os artigos incluídos na revisão integrativa, três são de autoria de enfermeiros
e dois não referiam autoria. Dos artigos avaliados, quatro tem origem no Brasil e um
no México. Em relação ao tipo de revista nas quais foram publicados os artigos
incluídos na revisão, três foram publicados em revistas de enfermagem, um em
revista de psicologia e um em revista de saúde pública. Em relação ao ano, um foi
publicado no ano de 2010, dois no ano de 2009, um no ano de 2004 e um no ano de
2001. Dos artigos avaliados, quatro foram desenvolvidos em hospitais e um não foi
possível identificar o local. Quanto ao tipo de delineamento de pesquisa dos artigos
446
avaliados, evidenciou-se, na amostra: três estudos qualitativos e dois estudos
descritivos, todos com nível de evidência 6. Referente ao objetivo desta revisão
pode-se evidenciar no que concerne à influência da gestação de alto risco nos
aspectos emocionais das gestantes que elas descreveram esta experiência como
um período difícil, de muito sofrimento e medo de perder o filho. A mulher fica na
expectativa, aguardando o desfecho da gravidez, da hospitalização de seu filho,
numa espera quase sempre angustiante, fundada em suposições, probabilidades,
promessas e esperanças. Percebem a gravidade e alguns riscos aos quais estão
expostas, porém muitas vezes conhecem pouco sobre a patologia e suas
consequências, uma vez que são pouco informadas pelos profissionais de saúde
que as acompanham. Assim, vivencia nessa fase, uma situação de constante tensão
e vulnerabilidade e, embora tenda a esperar pelo que deseja, sente medo do
inesperado (morrer, perder o bebê). Outros temores da maternidade se
expressaram, com frequência, em sonhos e fantasias. Situações de superação de
todos os problemas emergem, morbidade materna grave é representada como algo
que pode terminar bem (CARVALHEIRA, 2010; AZEVEDO, 2009). Pode-se notar
quanto aos sentimentos, entre outros, que as gestantes sentiram medo, ansiedade,
preocupação, tristeza, depressão, apavoramento, sofrimento e abalamento.
Sentimentos em relação ao bebê relataram medo que o bebê nascesse com a
doença ou com algum defeito físico (SALOMON, 2004; BEZERRA, 2001). Outro
aspecto que emergiu foi o de que a gravidez de alto risco não só afeta o estado
emocional da mulher, mas também a de seu parceiro. Portanto, muitas das
preocupações e conflitos de mulheres grávidas giram em torno da relação com seu
parceiro e do papel desta nova criança em seu conjunto dinâmico (LÓPES, 2009).
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a gestação de alto risco somada a pouca informação recebida
intensifica os sentimentos de medo, preocupação, ansiedade entre outros. Também
acarreta
em um período
de
crise
emocional
447
e
insegurança
devido
ao
desconhecimento e aos problemas que possam ocorrer neste período. A gravidez de
alto risco também afeta a dinâmica de relacionamento do casal, o que pode causar
conflitos na mesma. Uma vez que a possível perda na gravidez pode ser tão
estressante, os pais podem não conseguir superar o pesar, adaptar-se a perda ou
manter sua autoestima, o que também interfere em gestações subsequentes. Frente
a tudo isso é importante dar atenção aos aspectos emocionais durante a gestação,
uma vez que a gravidez pode ser vivenciada sem distúrbios emocionais. Nesta
direção, o profissional de saúde que atua junto às gestantes de alto risco pode
promover maior humanização do pré-natal de alto risco, em especial em relação com
uma abordagem que considere a dimensão emocional das gestantes durante as
consultas.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, D. V de; ARAÚJO, A. C. P F. de; COSTA, Í. C. C.; JÚNIOR, A.M.
Percepções e Sentimentos de Gestantes e Puérperas sobre a Pré-Eclâmpsia. Rev.
salud pública. v.11, n. 3, p. 347-358, 2009.
BEZERRA, M. G. A.; CARVALHO, F. A. M.; SOBREIRA, T. T. Sentimentos das
gestantes diabéticas. Rev. RENE. v. 2, n. 1, p. 95-100, Fortaleza, 2001.
CARVALHEIRA, A.P.P.; TONETE, V.L.P.; PARADA, C.M.G. L. Sentimentos e
percepções de mulheres no ciclo gravídico puerperal que sobreviveram à morbidade
materna grave. Rev. Latino – am. Enfermagem. v. 18, n. 6: 8 telas, 2010.
MELNYK B.M, Fineout-Overholt E. Making the case for evidence-based practice.In:
Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidencebased practice in nursing & healthcare. A
guide to best practice. Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkins; p.3-24, 2005.
MENDES K.D.S.; SILVEIRA R.C.C.P.; GALVÃO C.M. Revisão Integrativa: método de
pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto
Contexto Enferm, Florianópolis, v.17, n.4, p.758-64, 2008.
SALOMON, I. M. M.; SOARES, S. M. Compreendendo o impacto do diagnóstico de
diabetes gestacional.Rev. Min. Enf - REME, v. 8, n. 3, p. 349-357, Minas Gerais,
2004.
URSI E.S.; GALVÃO C.M. Prevenção de pele no perioperatório: revisão integrativa
da literatura. Rev. Lat. Am. Enferm., v.14, n. 1, p. 124-31, 2006.
448
ZAMPIERI, M. de F. M. Vivenciando o processo educativo em enfermagem com
gestantes de alto risco e seus acompanhantes. Rev. gaúcha Enferm. v. 22, n. 1, p.
140-166, Porto Alegre, 2001
449
19.3) AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PUERICULTURA: ALEITAMENTO
MATERNO E ESTADO NUTRICIONAL DOS RECÉM-NASCIDOS DA EQUIPE
DE SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE
PELOTAS, RS 1
SILVA, Itana2;
CASTRO,Taiane3;
BARRETO, Camila4;
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido;
Descritores: aleitamento materno; saúde da criança, estado nutricional.
1. INTRODUÇÃO
A puericultuta é um grande pilar para a promoção da saúde infantil, pois
engloba um conjunto de ações preventivas através das suas atividades de promoção
da saúde e do bem estar, alem de possibilitar a resolução de problemas que afetam
as crianças (FRANCO et al; 2007). Tem por objetivo promover o crescimento e o
desenvolvimento adequado no primeiro ano de vida. De forma contínua monitora o
peso, perímeto cefálico e torácico da criança, além de atividades de promoção em
aleitamento materno, imunização e dieta adequada (BRASIL, 2002). O Ministério da
Saúde (MS), a partir de 1984, priorizou nos serviços de atenção à saúde da criança
cinco ações básicas como a promoção do aleitamento materno, imunizações,
prevenção e controle das doenças respiratórias e diarréicas, além do crescimento e
desenvolvimento da criança (BRASIL, 2002). Para que tais ações básicas possam
contemplar os resultados esperados, preconiza-se um número mínimo de 7
consultas no primeiro ano de vida, sendo a primeira até o 15º dia de vida da criança,
após no 1º mês, 4º, 6º, 9º e 12º meses de idade (BRASIL, 2012). Dentre as ações
1
Resumo expandido sobre o Programa de Puericultura da equipe de saúde de uma Unidade Básica
de Saúde
2
Acadêmica de Enfermagem do 10º semestre da Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL) – [email protected]
3
Enfermeira da Unidade Básica de Saúde Dunas – [email protected]
4
Acadêmica de Enfermagem do 7º semestre da Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL) – [email protected]
450
citadas à cima, a promoção do aleitamento materno é considerada uma estratégia
de saúde com maior custo – benefício, pois proporciona a criança sobrevivência com
qualidade de vida sob a perspectiva nutricional, imunológica, metabólica, afetiva,
ortodôntica, fonoaudióloga, econômica e social (SANTIAGO et al, 2013). Essa
qualidade de vida será vivenciada de forma plena se a prática da amamentação for
estabelecida conforme o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS,
2003) e o Ministério da Saúde (MS), os quais recomendam a amamentação
exclusiva para os recém-nascidos até os seis meses de vida e complementada por
dois anos ou mais. O leite materno é rico em células imunologicamente ativas,
anticorpos e proteínas protetoras, que irão prevenir a criança de várias infecções e a
ajudará no amadurecimento do sistema imunológico. Estudos mostram que as
crianças amamentadas exclusivamente com o leite materno possuem menor
chanches de internação por diarreias e doenças respiratórias (CESAR et al, 1999).
Em relação aos benefícios nutricionais, o leite humano é essencial para o
crescimento e desenvolvimento da criança, pois possui todos os nutrientes
necessários, além de ser bem digerido, se comparado com outros leites
(BRASIL,2009).
2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo trazer os resultados da avaliação do
Programa de Puericultura através da análise das fichas de acompanhamento dos
recém-nascidos até a primeira consulta, com ênfase no estado nutricional do recémnascido e a relação com o tipo de aliementação do Programa de Puericultura da
equipe de saúde de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada na zona
urbana do município de Pelotas, RS.
3. METODOLOGIA
451
O trabalho foi realizado pela acadêmica da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), durante o estágio curricular obrigatório,
supervisionado pela enfermeira responsável da equipe de saúde. Fizeram parte da
amostra 48 crianças de 0 a 12 meses, nascidas entre agosto de 2013 e agosto de
2014 e registradas no Programa de Puericultura. Os dados foram abtidos através da
análise das fichas de acompanhamento e depois foram transferidos para o programa
Word. Levou-se em conta o estado nutricional da criança e a sua relação com o tipo
de alimentação durante até a primeira consulta.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De todos recém-nascidos participantes do estudo 52% eram do sexo
masculino. Em relação ao tipo de parto, teve-se uma prevalência de 56% no parto do
tipo cesáreo em comparação ao parto vaginal. No que se refere as informações
sobre o tipo de alimentação, o Aleitamento Materno Exclusivo teve uma prevalência
de 63% entre os recém-nascidos na primeira consulta. O mesmo é definido quando
a criança recebe somente o leite materno, sem adição de outros líquidos, sólidos,
suplementos minerais ou medicamentos (BRASIL, 2009); Já o Leite Materno
Predominante o qual é definido pela oferta do leite materno mais adição de água,
sucos de frutas e fluidos rituais (BRASIL, 2009), obeve-se uma pravalência de 16%;
A categoria dita como “Outro” é classificada pela não oferta do leite materno, sendo
oferecido à criança outro tipo de alimentação, tal categoria obteve uma prevalência
de 21% entre as participantes. Em relação ao estado nutricional, 67% obteve
classifcação de “ótimo” estado nutricional e 29% se encontrava abaixo do peso ideal.
Nenhuma criança apresentou índice de sobrepeso. Dentre as que apresentaram
baixo peso (29%), 88% não eram alimentadas com o leite materno exclusivo. Diante
do exposto, constata-se que a prática do aleitamento materno exclusivo até a
realização da primeira consulta está presente em mais da metade das crianças
acompanhadas pelo programa, tal dado é de grande relevância para indicadores
positivos de saúde da criança e da mulher na área de abrangência. Nota-se também
452
a relação do baixo peso com a adição de outros alimentos à dieta da criança antes
dos seis meses de vida. Assim, a não oferta do leite materno de forma exclusiva até
os seis meses não traz nenhum benefício nutricional à criança, além de promover
custos finaceiros desnecessários para a família.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo proporcionou a visualização do Programa de Puericultura da equipe
de saúde de uma UBS a qual tem como modelo de trabalho a Estratégia de Saúde
da Família, dando ênfase à prática do aleitamento materno e ao estado nutricional
dos recém-nascidos durante a primira consulta. Através dos resultados, espera-se
que prática do aleitamento materno exclusivo continue a predominar na área de
abragência, fazendo com que os seus benefícios possam ser identificados através
de resultados positivos como o ótimo estado nutricional dos recém-nascidos.
Espera-se também que atividades de educação em saúde com ênfase no
aconselhamento em aleitamento materno e a sua relação com o desenvolvimento da
criança sejam praticadas de forma assídua desde o pré-natal, promovendo assim, a
prevenção de intercorrências com a mama puerperal que por muitas vezes são a
principal razão para o desmame precoce; e o entendimento por parte das mães que
o leite materno é o melhor alimento a ser ofertado à criança.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e
alimentação complementar. Cadernos de Atenção Básica, n. 23. Brasília, DF,
2009. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_ali
mentacao.pdf >. Acessado em 20 de Agosto de 2014.
453
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf >.
Acessado em 28 de Agosto de 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil. Cadernos de Atenção Básica, n. 33. Brasília, DF, 2012.
Disponível em: <
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/caderno_33.pdf> .
Acessado em 03 de Setembro de 2009.
CESAR, J.A., VICTORA, C.G., BARROS, F.C.; SANTOS, I.S., FLORES, J.A.,
Impactof breast feeding on admission for pneumonia during post – neonatal period in
brazil: nested cases - control study. Brmed J, 318: 1316 – 1320, 1999.
SANTIGO et al, L. B. Manual de Aleitamento Materno. Sociedade Brasileira de
Pediatria. Barueri, SP: Manole, 2013. Cap. 03, pags. 31-114
454
20.3) MANEJO CLÍNICO DAS INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS DURANTE O
PROCESSO DE AMAMENTAÇÃO 1
SILVA, Itana2;
DARTORA, Denise Dalmora 3;
VIEIRA, Ana Claúdia4;
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: aleitamento materno; saúde da criança.
1. INTRODUÇÃO
Os benefícios que o aleitamento materno oferece são de grande relevância
para a saúde da criança e da mulher, pois proporciona sobrevivência a criança com
qualidade de vida sob a perspectiva nutricional, imunológica, metabólica, afetiva,
econômica e social. Além de prevenir, na mãe, o câncer de mama e ovário, a
involução uterina ser mais rápida e de aumentar o espaçamento entre as gestações
pelo efeito contraceptivo da lactação (GIUGLIANI, 2000). No Brasil as taxas de
Aleitamento materno estão em ascensão, porém continuam abaixo do preconizado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) (BRASIL,
2009). Ainda que pesquisas mostrem aumento na prevalência de aleitamento
materno, o desmame precoce continua a ocorrer de forma predominante. Em muitos
casos, as crianças são desmamadas precocemente por mães que queriam e
poderiam amamentar (SANTIAGO, 2013). Um estudo qualitativo, desenvolvido por
Ramos e Almeida (2003), mostrou que um dos principais fatores para a interrupção
da amamentação foi a intercorrência com a mama puerperal durante o período de
lactação. Outro estudo desenvolvido por NAKANO (2003), mostrou que dentre os
problemas apontados com a mama puerperal, os traumas mamilares/fissuras
1
Relato de experiência da vivência do projeto de extensão Promotores do Aleitamento Materno
Acadêmica de Enfermagem do 10º semestre da Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL) – [email protected]
3
Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
2
455
constituíram uma grande dificuldade que acaba sendo fator para o desmame
precoce. Outros fatores acabam influenciando são o ingurgitamento mamário,
infecções mamárias, o bloqueio dos ductos lactíferos com presença de nódulos nas
mamas e a baixa produção de leite. Muitas vezes, esses fatores estão relacionados
com outras dificuldades que impedem que o esvaziamento adequado das mamas
ocorra (GIUGLIANI, 2004). Assim, os profissionais de saúde exercem uma função
importante no que concerne a prevenção e manejo das intercorrências vivenciadas
com as mamas durante o período puerperal, pois o ato de amamentar precisa ser
aprendido entre a dupla mãe e bebê.
2. OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo descrever o manejo clínico das
dificuldades iniciais decorrentes do processo de amamentação vivenciadas pelas
puérperas na maternidade.
3. METODOLOGIA
O trabalho foi realizado na unidade de internação obstétrica do Hospital de
Ensino da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), por meio do desenvolvimento
do projeto de extensão: Promotores do Aleitamento materno com aprovação no
COCEPE número 53654023, coordenado pela Prof.ª Drª Ana Claudia Vieira. As
puérperas com dificuldades em amamentação são acompanhadas pelas bolsistas do
projeto e acadêmicas de enfermagem participantes do mesmo. É realizado
aconselhamento em amamentação com escuta terapêutica, oferecimento de ajuda
para dúvidas, bem como o manejo clínico adequado para cada tipo de situação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
456
Para o presente estudo foram escolhidas as intercorrências mamárias mais
prevalentes em um período de 20 semanas. As puérperas são provenientes de
Pelotas e toda a região sul do estado, uma vez que a unidade é referência de alto
risco para Pelotas e todos os 22 municípios que compõe tal região. Possui 22 leitos
de alojamento conjunto e conta com o suporte da UTI neonatal a qual também é
referência para o alto risco. As intercorrências mamárias mais manejadas foram a
fissura/trauma mamilar e o ingurgitamento mamário, sendo este, presente em
puérperas cujo seus recém nascidos estavam internados na UTI neonatal. Os
traumas mamilares, também traduzidos por fissuras, são lesões nos mamilos
causadas principalmente pela técnica inadequada - posicionamento e pega do
recém-nascido, causando dor extrema e desconforto ao amamentar ( GIUGLIANI,
2004). As puérperas foram orientadas a utilizarem o próprio leite materno no mamilo,
pois o leite forma uma camada úmida que impede a desidratação das camadas mais
profundas da derme, facilitando a cicatrização (GIUGLIANI, 2004). A mesma autora
afirma que essa prática ajuda também na prevenção da mastite por suas
propriedades anti-infecciosas, pois as fissuras acabam sendo porta de entrada para
infecções. Já o ingurgitamento mamário é caracterizado pela estase láctea
justificada pelo não esvaziamento das mamas, resultando em congestão vascular
e/ou linfática, gerando edema, nódulos dolorosos, vermelhidão, mama de aspecto
lustroso da mama, perda dos bordos das aréolas e dificuldade de sucção pela
criança (SANTIAGO et al, 2013). Nesse grupo de mães a ordenha mamária foi
realizada afim de prevenir o abcesso mamário e de garantir a produção adequada
de leite. No momento que antecede a ordenha foi realizada massagem prévia das
mamas em movimentos circulares e após, as mesmas foram sacudidas até que o
leite viscoso saisse de forma líquida, para então, realizar a ordenha. Essa técnica
promoveu alívio imediato do ingurgitamento e dor reduzida em relação a ordenha
realizada de maneira direta.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
457
O empoderamento das mulheres frente as dificuldades vivenciadas durante o
processo de amamentação pode ser promovida através da realização de atividades
de prevenção e manejo clínico das intercorrências mamárias. Assim, espera-se que
o estabelecimento da lactação seja realizada de forma plena no domicílido, fazendo
com que os benefícios do aleitamento materno sejam aproveitados de forma plena
pela dupla, promovendo incremento com qualidade de vida materno-infantil em
todos os aspectos de saúde. Ressalta-se, portanto a necessidade dos profissionais
de saúde em estarem capacitados para exercer as habilidades concernentes em
aconselhamento
e
manejo
clínico
da lactação.
Assim,
espera-se
que
o
desenvolvimento deste trabalho possa contribuir para o conhecimento dos
profissionais de saúde que atuam nessa área, além de colaborar como fonte de
novas pesquisas, formação de recursos humanos em aleitamento materno e na
proteção e promoção ao aleitamento.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e
alimentação complementar. Cadernos de Atenção Básica, n. 23. Brasília, DF,
2009.
Disponível
em:
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http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_ali
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GIUGLIANI, E.R.J, Problemas comuns na lactação e seu manejo. Jornal de
Pediatria.
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Janeiro,
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Supl).
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http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a06.pdf >. Acessado em 20 de Agosto
de 2014.
458
GIUGLIANI, E. R. J. O aleitamento materno na prática clínica. Jornal de Pediatria.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: <
http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-s238/port.pdf >. Acessado em 20 de Agosto
de 2014.
NAKANO, M.A.S., As vivências a amamentação para um grupo de mulheres: nos
limites de ser “corpo para o filho” e de ser “corpo para si”. Caderno de Saúde
Pública.
Rio
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Janeiro,
2003.
Vol
19
(sul
02).
Disponível
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<
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2003000800017&script=sci_arttext
>. Acessado em: 30 de maio de 2014.
RAMOS, C.V., ALMEIDA, J.A.G., Alegações maternas para o desmame precoce: um
estudo qualitativo. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, 2003. Vol 75, n.5. Disponível
em: < http://www.scielo.br/pdf/jped/v79n5/v79n5a04.pdf >. Acessado em 25 de maio
de 2014.
SANTIGO et al, L. B. Manual de Aleitamento Materno. Sociedade Brasileira de
Pediatria.
Barueri,
SP:
Manole,
2013.
459
Cap.
03,
pags.
31-114
21.3) DIFICULDADES E FACILIDADES VIVENCIADAS PELO ENFERMEIRO NO
TRABALHO COM AS MULHERESNA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
(2014)1
MENEZES, Francislene Lopes2;
LIMA, Suzinara Beatriz Soares de3;
WEILLER, Teresinha Heck4;
KERBER, Nalú Pereira da Costa5;
GOMES, Iris Elizabete Messa6;
BORDIGNON, Juliana Silveira 7
Eixo Temático:Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores:Saúde da Mulher; Enfermagem; Trabalho; Estratégia Saúde da Família.
1. INTRODUÇÃO
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988 pela Constituição
Brasileira, para oferecer atendimento igualitário, cuidar e promover a saúde da
população. O Sistema se materializa por meio de ações de promoção, prevenção e
assistência à saúde dos brasileiros. Entre as ações mais reconhecidas doSUSestão
à criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Políticas Nacionais
de Atenção Integral à Saúdeda Mulher, de Humanização doSUSe de Saúdedo
Trabalhador, além deprogramas de vacinação em crianças e idososem todo o país
eda realização de transplantes pela rede pública. Em 1994, foi implantado o
Programa Saúde da Família (PSF) possuindo como seus principais propósitos a
família e o indivíduo, e não mais a doença, substituindo o modelo tradicional
assistencialista centrado no médico. O PSF nasceu por meio de uma parceria entre
1
Trabalho é uma parte da dissertação de mestrado intitulada “O Trabalho dos Enfermeiros com
Mulheres na Estratégia Saúde da Família”, vinculada institucionalmente ao Programa de Pósgraduação em Enfermagem (PPGEnf-UFSM)
2
Mestre em Enfermagem; Centro Universitário Franciscano/ UNIFRA; [email protected]
3
Doutora em Enfermagem; Universidade Federal de Santa Maria/UFSM; [email protected]
4
Doutora em Enfermagem; Universidade Federal de Santa Maria/UFSM; [email protected]
5
Doutora em Enfermagem; Universidade Federal do Rio Grande/FURG; [email protected]
6
Enfermeira; Centro Universitário Franciscano/ UNIFRA; [email protected]
7
Enfermeira; Centro Universitário Franciscano/ UNIFRA; [email protected]
460
Ministério da Saúde (MS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),
atualmente é denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 1997). O
termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e
finalização. O Programa Saúde da Família é uma estratégia de reorganização da
atenção primária e não prevê um tempo para finalizar esta reorganização (COSTA;
TRINDADE; PEREIRA, 2010). Em meio a diversas áreas de atuação do enfermeiro,
a ESF, revela um local de diversas dificuldades normalmente expressadas em nível
institucional e outros níveis, mas também demonstra mais autonomia ao enfermeiro,
visibilidade e valorização no seu trabalho. Os enfermeiros da ESF devem
desenvolver seu processo de trabalho, na unidade de saúde e na comunidade, junto
com a equipe, supervisionando e ampliando o trabalho dos agentes comunitários de
saúde (ACS) e auxiliares de enfermagem, realizando ações que promovam saúde,
bem como assistindo às pessoas que necessitem de assistência de enfermagem,
ampliando a atenção e o cuidado às famílias (SILVA; MOTTA; ZEITONE, 2010).Os
enfermeiros têm sido estimulados a participar no cuidado às mulheres no período
reprodutivo, por meio das políticas e ações do MS, as quais promovem a atenção
básica e a mudança no modelo assistencial visando à humanização do pré-natal,
parto e nascimento no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Atenção à Saúde da
Mulher é um dos principais programas da ESF, tendo como ações o pré-natal; o
planejamento familiar; prevenção do câncer de colo do útero, e prevenção de
problemas odontológicos. As políticas nacionais de atenção à Saúde da Mulher
foram introduzidas nas primeiras décadas do século XX, determinando às demandas
relativas à gravidez e ao parto. Em 1994, o MS elaborou a Política Nacional de
Atenção Integral (PAISM) a qual possui o programa de “Assistência Integral à Saúde
da Mulher: bases de ação programática”. O PAISM propõe que a assistência seja
prestada em todas as fases da vida, clínica ginecológica, reprodução (planejamento
reprodutivo, gestação, parto e puerpério) como nos casos de doenças crônicas ou
agudas. Reconhece a assistência como cuidado médico e de toda a equipe de
saúde, priorizando práticas educativas, que compreendem a capacidade crítica e a
autonomia das mulheres (BRASIL, 2011a). Em 2011, instituí-seo programa nacional
461
intitulado Rede Cegonha, que tem por objetivo implementar um modelo pioneiro de
atenção à saúde da mulher e à criança, focando na atenção ao pré-natal, parto e
puérpério; nascimento e desenvolvimento até os dois anos de vida da criança. A
saúde da mulher é prioridade no contexto da gestão federal do SUS, sendo que as
mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais usuárias do
SUS, elas buscam atendimento para si própria, mas especialmente, acompanham as
crianças, companheiro e outros familiares (BRASIL, 2011b).
2. OBJETIVO
Identificar as facilidades e dificuldades do trabalho dos enfermeiros com
mulheres nas Unidades de ESF de Santa Maria/RS.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa do tipo relato de
pesquisa de campo, realizada durante a realização do Mestrado Acadêmico em
Enfermagem. Os sujeitos da pesquisa foram doze enfermeiros que trabalham nas
Unidades de ESF, entre maio e julho de 2013. Para a coleta e anaílise dos dados,
utilizou-se a entrevista semiestruturada e análise temática. Após aprovação de
parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Santa Maria, sob parecer nº 250.564, sob a CAAE 14651313.9.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante este estudo, várias situações de dificuldades vivenciadas pelos
enfermeiros, no que diz respeito ao trabalho direcionado às mulheres, foram
relatadas: falta de materiais, especialmente de materiais de expediente; problemas
de estrutura física e recursos financeiros;a dificuldade de acesso tem atingido o
deslocamento tanto dos usuários até ao profissional de saúde, quanto do
462
profissional de saúde até aos usuários. A falta de transporte foi lembrada pelos
enfermeiros, pois a sua ausência inviabiliza a adequada realização das atividades,
por exemplo, atendimentos domiciliares, que requerem a sua utilização devido à
distância das casas à Unidade. Já as dificuldades dos usuários estão associadas à
dificuldade geográfica de localização da Unidade, a qual fica longe de suas
residências, à precariedade de horários de ônibus e à infraestrutura das estradas,
que impossibilitam de acessar os serviços.A baixa assiduidadedas mulheres na
realização dos exames preventivos, falta de apoio da gestão e dos gestores, horário
de funcionamento da Unidade incompatível para mulheres que trabalham; os tipos
de anticoncepcionais oferecidos para as mulheres; famílias nômades; atendimento a
áreas desterritorializadas e sem agentes de saúde; falta de medicamento (ácido
fólico); mulheres faltosas nas consultas; dificuldade das mulheres entenderem o uso
do anticoncepcional; também foram lembradas como situações dificultadoras do
trabalho. Na realização de ações junto às mulheres, nas Unidades de ESF, os
enfermeiros referiram algumas facilidades encontradas no trabalho, tais como: à
consulta de enfermagem como uma atividade que facilita a construção do vínculo. A
consulta de enfermagem é uma atividade privativa do enfermeiro, a qual faz parte de
uma série de atribuições do profissional que atua nas Unidades de ESF. Ela está
respaldada pela atual legislação do Exercício Profissional de Enfermagem (Lei nº
7498/86) e assegurada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Resolução nº
358/2009), que dispõem sobre a sistematização da assistência de enfermagem e a
implementação do processo de enfermagem, em ambientes públicos e privados, nos
quais ocorre o cuidado profissional de enfermagem (BRASIL, 1986; BRASIL,
2009).O apoio prestado pelos ACS foi lembrado pelos enfermeiros como crucial para
o desenvolvimento do trabalho, devido o contato com a comunidade; e a questão de
gênero foi pontuada como aspecto facilitador na formação de vínculo e na realização
dos exames preventivos, pois, muitas vezes, elas buscam não só a consulta, mas
um profissional com o qual possam ficar mais à vontade, para relatarem suas
dificuldades, dúvidas, problemas, entre outros.
463
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desse modo, os enfermeiros apoderam-se de uma sériede estratégias para
atender à saúde da mulher, sendo elas:busca ativa, atendimento em Grupo,
acompanhamento, envolvimento, parcerias com as universidades, facilitação do
acesso ao serviço, reunião de equipe, deixar a porta aberta do serviço para hora que
for necessário e sala de espera. Acredita-se com isso, visar à promoção e prevenção
de saúde com uma oferta de assistência melhor qualificada. Tendo assim, mulheres
buscando o serviço e saindo mais satisfeitas com a qualidade do trabalho e
atendimentos oferecidos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do
exercício da enfermagem e dá outras providências.Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 jun. 1986. Disponível em: < http://www.planalt
o.gov.br/ccivil_03/leis/L7498.htm>. Acesso em: 16 ago. 2014.
______. Portaria GM nº 1.186, de 18 de dezembro de 1997. Aprova as Normas e
Di-retrizes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e do Programa de
Saúde da Família. Ministério da Saúde, Brasília, DF, 18 dez. 1997. Disponível em:
<http://189.28.128.100/dab/docs/legislacao/portaria1886_18_12_97.pdf>. Acesso
em: 10jul. 2014.
______. Resolução número 358, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de
Enfermagem, e dá outras providências. Conselho Federal de Enfermagem.
Brasília,2009. Disponível em: <http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen3582009_4384. html>. Acesso em: 18 ago. 2014.
______. Rede Cegonha dará atendimento à mulher da gravidez até o segundo ano
do bebê. Blog do Planalto. 2011a. Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/redecegonha-dara-atendimento-a-mulher-da-gravidez-ate-o-segundo-ano-do-bebe/>. Acesso em: 28 ago. 2014.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
464
da Mulher: Princípios e Diretrizes. 1. ed., 2. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde.
2011b. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional
_mulher_principios_diretrizes.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2014.
COSTA, F. B. da; TRINDADE, M. A. do N.; PEREIRA, M. L. A Inserção do Biomédico no Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica Novo Enfoque, v. 11, n.
11, p. 27-33, 2010. Disponível em: <http://www.castelobranco.br/sistema/novoenfoq
ue/files/11/artigos/04.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2014.
SILVA, V.Z; MOTTA, M.C.S.; ZEITONE; R.C.G. A prática do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família: o caso do município de Vitória/ES. Revista Eletrônica de
Enfermagem,v. 12, n.3, p.441-448, 2010. Disponivel em: <http://www.fen.ufg.br/fen
_revista/v12/n3/pdf/v12n3a04.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2014.
465
23.3) ATENÇÃO AO PRÉ- NATAL DE GESTANTES ADOLESCENTES:
VIVÊNCIAS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NO PET-SAÚDE DA
FAMÍLIA (2014)1
VAZ, Jessica2;
BARRETO, Camila3;
JUNG, Carmen4;
CASARIN, Sidnéia 5;
ZILLMER, Juliana 6.
Eixo Temático: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Pré- Natal; Adolescentes; Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
A adolescência corresponde ao período entre os 10 e 19 anos, é
caracterizada por mudanças comportamentais e sexuais. A gravidez neste grupo
populacional é considerada em alguns países problema de saúde pública, uma vez
que pode acarretar problemas de saúde para a mãe e o recém-nascido, bem como
problemas psicossociais e econômicos (YAZLLE, 2006). A baixa escolaridade,
abandono escolar, repetição do modelo familiar, início precoce da atividade sexual
são alguns fatores predisponentes da gravidez na adolescência (RODRIGUES,
2010). O pré-natal busca acompanhar mãe e filho em todos os contextos, retirar
dúvidas e trazer conforto durante a gestação até o parto. Conforme Trevisan;
Lorenzi; Araújo; et al (2002) Apesar de ser um processo fisiológico a gestação
produz alterações no organismo materno que o coloca no limite patológico, sendo
assim se a gestante não for acompanhada adequadamente o processo reprodutivo
1
Relato de Experiência (Relacionado ao Programa de Educação pelo Trabalho – PET Saúde da
Família).
2
Aluna de Enfermagem/UFPEL, voluntária do PET Saúde da Família/[email protected];
3
Aluna de Enfermagem/UFPEL, bolsista do PET Saúde da Família/[email protected];
4
Enfermeira da Prefeitura Municipal de Pelotas, preceptora do PET Saúde da Família/UFPEL
5
Tutora do Pet- Saúde da Família e do Pet- Gestão /UFPel – [email protected]
6
Tutora do Pet- Saúde da Família e do Pet- Gestão UFPel, Orientadora – [email protected]
466
transforma-se em situação de risco para a mãe e o feto. Objetivo: O objetivo é
relatar as experiências de acadêmicos de enfermagem ao participar da assistência
ao pré-natal de adolescentes em uma Unidade Básica de Saúde (UBS de Pelotas).
2. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência resultante da participação de
acadêmicos do Programa de Educação pelo Trabalho para a saúde “PET – Saúde
da Família da UFPel”. No projeto estão inseridos acadêmicos de diferentes cursos
de graduação. O PET Saúde da Família tem como objetivo ações intersetoriais
direcionadas para o fortalecimento de áreas estratégicas para o Sistema Único de
Saúde (SUS), de acordo com seus princípios e necessidades, sendo regulamentado
pela Portaria Interministerial n° 421, de 03 de março de 2010, disponibilizando
bolsas como incentivo ao estudo e produção científica (BRASIL, 2011). Diante disto,
tem-se a oportunidade de vivenciar e realizar atividades no contexto da atenção
primária a saúde com vistas à formação profissional voltada para os princípios do
SUS. Faz parte da experiência das acadêmicas de enfermagem desenvolver
atividades relacionadas ao programa saúde da mulher, com ênfase na assistência
ao pré-natal das adolescentes. A Unidade básica, onde o estágio é realizado, está
localizada em uma comunidade da periferia de Pelotas, com baixo nível
socioeconômico e com registros elevados de violência. Nesta comunidade, o número
de gravidez na adolescência é considerado alto, comparado a outros bairros, e no
ano de 2013 foram atendidas 25 gestantes, sendo que 14 eram adolescentes.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A assistência ao pré-natal às adolescentes na UBS é realizada às tardes,
previamente agendada conforme a necessidade e o andamento da gestação. A
primeira consulta é agendada pelo agente comuniário de saúde que informa a
equipe sobre a data escolhida pela gestante. As gestantes são atendidas pela
467
equipe de enfermagem, em que é verificado os sinais vitais, e fornecida orientações
quanto à gestação. Há a oportunidade de se analisar os exames realizados, assim
como a necessidade de solicitação de outros. As gestantes são ouvidas e acolhidas
de acordo com suas necessidades, é o momento em que podem se expressar e
manifestar seu desejos, medos e anseios. Porém, é possível observar que algumas
delas se sentem envergonhadas e com muitas dúvidas, mas com o passar do tempo
a confiança entre elas e a equipe é estabelecida o que permite um atendimento
integral. A consulta médica acontece posteriormente, de forma individual, pois as
adolescentes vão ao serviço sem acompanhantes, mesmo que a ida dos mesmos
seja permitida e estimulada para que se possa ter uma interação com a família.
Caso o andamento da gestação esteja dentro da normalidade é programado o
retorno conforme o período de gestação que ela se encontra, variando de 7, 15 ou
30 dias. As orientações proporcionadas às adolescentes: Geralmente as atividades
de educações em saúde, ocorrem de forma coletiva, com a apresentação de vídeos
educativos, sobre temas variados (trabalho de parto, cuidados com o bebê,
alimentação...) e outros solicitados pelas próprias gestantes; além da entrega de
material informativo como folderes sobre os temas. Os assuntos mais abordados são
relacionados a amamentação, como dar o banho no bebê e a posição correta para
dormir. Apesar disso, de alguma maneira parece que nem todas conseguem
compreender as informações que recebem, pois há a ‘’timidez’’ que parece ser uma
barreira que impede de tentarmos ter maior aproximação. Informações sobre as
diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de
saúde, este intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor
forma de promover a compreensão da gestação. Dificuldades ao realizar a
assistência:
Percebe-se
que
muitas
adolescentes
não
aparecem
ao
acompanhamento, pois sentem o preconceito da família, equipe e comunidade e isto
dificulta ter êxito o pré-natal. Além disso, algumas delas, não percebem a
importância que o acompanhamento profissional traz a ela e ao filho. Como a
adolescência é uma fase em que a pessoa passa por transformações e no senso
comum, é tida como uma fase de rebeldia, algumas das orientações fornecidas,
468
parecem serem rejeitadas. Outra dificuldade encontrada é a comunicação, não impor
comportamentos (“mediar às palavras”) no discurso profissional, para elas não se
sentirem ameaçadas, além de não utilizar termos técnicos ou vocabulário
profissional, são estratégias utilizadas para garantir a proximidade. Facilitadores na
assistência: A igreja que em parceria com a unidade de saúde disponibilizou neste
semestre um enxoval para as gestantes. É notável que essa pequena ajuda as
deixaram felizes e motivadas, uma vez que trata-se de uma comunidade pobre. Os
acadêmicos de enfermagem, nutrição, odontologia, medicina também contribuem
para que todo o suporte as gestantes sejam dados e realizam todas as avaliações
cabíveis. Propostas futuras: com o objetivo de qualificar a assistência as gestantes
adolescentes, considerando suas singularidades, tem-se como proposta a criação de
um grupo de gestantes extramuros da UBS. O grupo poderia ser o elo entre as
adolescentes, e a equipe de saúde, em que poderia haver trocas de experiências e
de construção de seu espaço enquanto sujeitos constituintes de um território.
Acredita-se que as gestantes se sentiriam mais a vontade por que além de terem
idades aproximadas, também compartilham a experiência de vivenciar a gravidez na
adolescência. Outros fatores a serem levados em consideração são as atividades de
educação permanente. Esta seria uma forma de conduzir a abordagem aos
usuários, e mostrar à equipe a importância de saber lidar com quaisquer situações
sem interferir na decisão do mesmo para com o desejo de ser mãe. A realização do
pré-natal representa papel fundamental em termos de prevenção e/ou detecção
precoce de patologias tanto maternas quanto fetais, desta forma reduzindo os riscos
da gestante e desenvolvimento saudável do bebê (BRASIL, 2005). Sendo o número
de consultas, de no mínimo, seis e sempre que possível devem ser realizadas até
28ª semana de gestação sendo mensalmente; Da 28ª a 36ª semana sendo
quinzenalmente; Da 36ª até a 41ª semana sendo semanalmente (BRASIL, 2012).
Garantir o bom andamento das gestações de baixo risco e também o de identificar
adequada e precocemente quais as pacientes com mais chance de apresentar uma
evolução desfavorável (Machado, 2012).
469
4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os acadêmicos de enfermagem, enquanto participantes do PET Saúde da
Família, tem um papel importante frente à UBS, pois proporcionam promoção e
prevenção a saúde. É possível observar o quanto a equipe de enfermagem se
mobiliza para atender a demanda de adolescentes gestantes e realizar um
atendimento de qualidade, mesmo com as dificuldades. Como acadêmicas inseridas
na unidade, foi possível atuar junto as gestantes adolescentes e compreender o
desafio que é para as adolescentes que vêm a serem mães nesta fase da vida. Esta
experiência nos trouxe vivências singulares e nos preparou de modo significativo e
importante para a vida profissional.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção ao Pré Natal de Baixo Risco. Cadernos de
Atenção Básica. Brasília, 2012. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.
pdf> Acesso em: 24 Jul. 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Importância do Pré- Natal. Brasília, 2005. Disponível
em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/90prenatal.html > Acesso em: 16 Jul.
2014.
BRASIL. Pet-Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=35306
>. Acessado em: 17 Jul. de 2014.
MACHADO, L.M. Saúde Materno Infantil. Centro Universitário Franciscano. Santa
Maria, 2012.
RODRIGUES, R.M. Gravidez na Adolescência. Revista do Hospital de Crianças
Maria Pia. v. 19, n.3, s.p. 2010.
TREVISAN, M.R.; LORENZI, D.R.S.; ARAUJO, N.M.; ESBER, K. Perfil da
Assistência Pré- Natal entre Usuárias do Sistema Único de Saúde em Caxias do Sul.
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. v. 24, n. 5, p. 293-299, 2002.
470
YAZLLE, M.E.H.D. Gravidez na Adolescência. Revista Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia. Rio de Janeiro, v. 28, n.8, s.p. 2006.
471
24.3) A PREMATURIDADE E AS MORBIDADES GESTACIONAIS
EVIDENCIADAS EM MATERNIDADES DE UM MUNICÍPIO DO SUL DO
BRASIL1
MACHADO, Fernanda Ruas 2
FRANCIONI, Fabiane Ferreira3
KERBER, Nalú Pereira da Costa4
CARVALHO, Vanessa Franco de5
POHLMANN, Flávia Conceição6
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Enfermagem; Trabalho de Parto Prematuro; Gestação de Alto Risco.
1. INTRODUÇÃO
Trabalhar com a temática da prematuridade relacionada à ocorrência de
morbidades gestacionais tem sido contribuído para a enfermagem qualificar sua
assistência e prevenção à saúde da mulher, através de consultas do pré-natal de
alto risco. O Ministério da Saúde (MS) conceitua gravidez pré-termo aquela cuja
idade gestacional encontra-se entre 22 e 37 semanas. (BRASIL, 2010). Já para
Montenegro (2008) a característica mais utilizada para classificar um nascimento
pré-termo é de ordem cronológica, ou seja, nascimento antes de 37 semanas de
gestação, contadas à partir do primeiro dia do último período menstrual. Sabe-se da
multicausalidade que desencadeiam o trabalho de parto prematuro (TPP), entre elas:
raça, idade da mãe, fumo, estado civil, tipo de ocupação são propulsores para a
1
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado. Universidade Federal do Rio Grande. 2014. Trata-se de um
recorte do macro projeto, financiado pelo CNPq, intitulado “Parto Prematuro: Estudo dos Fatores Associados
para Construção de Estratégias de Prevenção”.
2
Enfermeira. Autora do Trabalho. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. E-mail: [email protected]
3
Doutora em Enfermagem. Orientadora do Trabalho. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola
de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. E-mail: [email protected]
4
Doutora em Enfermagem. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. E-mail: [email protected]
5
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem. PPGENF/FURG. Integrante do Grupo de
Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. Enfermeira da
Secretaria Municipal de Saúde de Rio Grande. SMS/PMRG. E-mail: [email protected]
6
Enfermeira Mestre em Enfermagem. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. Enfermeira da Santa Casa de Rio Grande/RS. E-mail:
[email protected]
472
ocorrência do trabalho de parto prematuro. (CORRÊA; CORRÊA, 2005). Outras
causas de ordem genética, exposição a substâncias tóxicas e assistência pré-natal
ausente ou tardia são citadas por Cascaes et al (2008), coadunando com o estudo
anterior. Dentro desse contexto, outras prováveis causas têm sido bastante
pesquisadas, principalmente aquelas de origem ginecológica e obstétrica, como é o
caso do sangramento vaginal persistente durante a gestação, prematuridade
anterior, infecção urinária, vaginose bacteriana, mioma uterino, cirurgia ginecológica
prévia, entre outras. (BEZERRA; OLIVEIRA; LATORRE, 2006). Conforme Ramos;
Cuman (2009) apud Fonseca (2013), a prematuridade pode ser classificada,
conforme sua evolução clínica, em eletiva ou espontânea. Na prematuridade eletiva,
a gestação é interrompida em virtude de complicações maternas (doença
hipertensiva, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, etc.) e/ou fetais
(restrição do crescimento fetal ou sofrimento fetal), em que o fator de risco é,
geralmente, conhecido e corresponde a 25% dos nascimentos prematuros. A
prematuridade espontânea corresponde a 75% dos casos e decorre do trabalho de
parto prematuro (TPP). Nesse grupo, a etiologia é complexa e multifatorial ou
desconhecida. (FONSECA, 2013). (BITTAR; ZUGAIB, 2009).
2. OBJETIVO
Associar morbidades ocorridas durante o período gestacional com a
ocorrência de parto prematuro.
3. METODOLOGIA
Pesquisa quantitativa, do tipo descritivo simples. Os dados foram analisados
através de análise de frequências absoluta e relativa. Teve aprovação do CEPAS
sob o Nº 134/2013, conforme a Resolução 466/2012 do CNS.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
473
A situação de prematuridade é similar ao que ocorre em outras regiões do
Brasil, tendo a Infecção do Trato Urinário como a intercorrência mais evidenciada na
gestação. As maiores intercorrências gestacionais foram as infecções do trato
urinário. Silva (2009) encontrou resultados parecidos ao realizar estudos no
município catarinense de Tubarão demonstrando que gestantes com infecção
urinária ou pielonefrite tiveram um risco aumentado prematuridade. No que tange a
estas infecções, Duarte (2008) explica que o desenvolvimento de ITU se dá por meio
de transformações anatômicas e fisiológicas que ocorrem no trato urinário durante a
gravidez, propiciando a colonização e a contaminação da via urinária. Já o início do
trabalho de parto prematuro ocorre em consequência à resposta inflamatória, ou
pela colonização do fluido amniótico por bactérias do foco infeccioso que
desencadearão a mesma resposta. Salcedo et al (2010) afirmam que a
prematuridade está associada à ITU na gestação, por isso se torna importante
discutir o tratamento mais adequado. Segundo o Ministério da Saúde (2012), o
tratamento das pacientes grávidas com ITU é iniciado antes mesmo de se obter o
resultado da cultura. A segunda intercorrência refere-se ao corrimento vaginal,
convergindo nossos estudos aos achados de Silva et al (2009) que trouxe a
vaginose bacteriana como patologia intimamente ligada ao parto pré-termo. Diante
do exposto, entendemos ser necessário uma atenção mais voltada para as
gestantes, visto que a infecção gonocócica na gestação pode estar associada à
maior risco de prematuridade, ruptura prematura de membrana, perdas fetais,
restrição de crescimento intrauterino e febre puerperal, tal como preconiza o
Ministério da Saúde (2011). A terceira intercorrência refere-se ao sangramento
vaginal (SV), que converge com um estudo em Imperatriz (MA) que revelou a
ocorrência de sangramento vaginal está entre as principais intercorrências clínicas
ocorridas durante a gestação de mulheres em situação de prematuridade,
observando-se que a maior parte das mulheres não realizaram qualquer tratamento
para sangramento vaginal, mesmo sabendo que toda gestante com algum tipo de
sangramento vaginal no 1º trimestre de gestação deve ser submetida a exame
474
abdominal, exame especular e toque(ALMEIDA et al, 2012). Em caso de o colo estar
fechado ou houver quaisquer duvida no diagnostico, indica-se a realização de uma
ultrassonografia para avaliação das condições do saco gestacional e do bebê
(BRASIL, 2010). Outra intercorrência evidenciada foi a Ameaça de Parto Prematuro
(APP) e a maioria das mulheres apenas mantiveram repouso como tratamento para
APP. Os dados apresentados por este estudo podem apontar a falta de
conhecimento destas mulheres acerca do assunto fazendo-as equivocar-se em
relação ao dignóstico (ameaça de parto prematuro versus falso trabalho de parto
prematuro). Para isso cabe destacar que, segundo o Ministério da Saúde (2010), o
falso trabalho de parto prematuro é caracterizado por contrações uterinas rítmicas e
regulares, sem modificação cervical e a terapêutica de apenas o repouso; e a
ameaça de parto prematuro com sintomatologia idêntica mas com alteração cervical
e a terapêutica implementada inclui medicações inibidoras do trabalho de parto,
internação hospitalar e observação da evolução do quadro. Outrossim, evidenciamos
consonância com o que preconiza o Ministério da Saúde (2011), no que tange a
assistência ao pré-natal de alto risco. Através deste estudo, novas ações contribuem
na qualificação da assistência de enfermagem.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que as intercorrências que mais evidentem foram as do Trato
Urinário, o Corrimento Vaginal e o Sangramento Vaginal contribuindo para a
prematuridade. Observou-se um de internação hospitalar em mulheres hipertensas,
assim como um grande número de tratamento medicamentoso domiciliar para
Infecção do Trato Urinário e Corrimento Vaginal. Por meio destes dados, foi possível
refletir acerca de estratégias que a enfermagem pode implementar na atenção à
gestante, contribuindo para o conhecimento, prevenção e auto cuidado durante o
período pré e trans gestacional. Acreditamos que uma boa estratégia de
Enfermagem que contribui na qualificação da assistência gestacional sejam os
trabalhos com grupos de gestantes e a consulta de enfermagem no pré-natal,
475
atuando de forma humanizada voltada para a promoção da saúde, disseminado o
conhecimento científico e interagindo com o
conhecimento leigo. Esclarecer as
dúvidas destas mulheres e de seus parceiros, é também uma forma inteligente de
orientar e incentivar a prevenção de intercorrências. Acreditamos que este trabalho
coadune com estudos já realizados acerca da temática e possa ser propulsor no
desenvolvimento de novas pesquisas, reforçando os conhecimentos de qualificação
da assistência de enfermagem à saúde da mulher, propondo um olhar ainda mais
humanizado. Este trabalho propõe um olhar diferenciado para as mulheres em
situação de prematuridade.
REFERÊNCIAS
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maternidade pública em Imperatriz-MA. Rev. Gaúcha Enferm. v. 33, n. 2. Porto
Alegre. Jun/2012Duarte (2008)
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Prático para Implementação da Rede
Cegonha. Brasília, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Mulher: Princípios e Diretrizes. MS, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 1. ed., Brasília: Editora do
Ministério da Saúde. 82 p., 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
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Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações
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476
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Catarina, Brasil, no ano de 2005: análise dos dados do Sistema de Informações
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referência de Santa Catarina. Revista AMRIGS. v. 53, n. 4, pág. 354-360. Porto
Alegre.
Dez./2009.
477
25.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO NACIONAL DA PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENFERMAGEM ACERCA DO CLIMATÉRIO 1
POSSATI, Andrêssa Batista2;
BISOGNIN, Priscila3;
PRATES, Lisie Alende4;
POMPEU, Kelen da Costa5;
SCARTON, Juliane6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
Eixo Temático: 1 - Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Climatério; Menopausa; Saúde da mulher; Cuidados de enfermagem
1. INTRODUÇÃO
A longevidade é uma realidade mundial e tem apresentado como uma de
suas características o quantitativo superior de mulheres em comparação ao número
de homens. Dados do Departamento de Informática do SUS demonstram que a
população
feminina
brasileira
compreende
mais
de
98
milhões.
Destas,
aproximadamente 30 milhões se encontram na faixa etária em que ocorre o
climatério (IBGE, 2004), o qual compreende o período que a mulher vivencia entre
os seus 40 e 65 anos de idade (BRASIL, 2008), e é representado como uma
1
Pesquisa desenvolvida na disciplina de “Construção do Conhecimento em Saúde e Enfermagem” no
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
2
Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET
Enfermagem – UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. E-mail:
[email protected]
3
Arte-Educadora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa
Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
5
Enfermeira. Doula. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
6
Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa
Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
7
Orientadora. Docente do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do
Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
478
experiência existencial no âmbito das relações sociais, vida conjugal, profissional e
espiritual (ZANOTELLI, 2012). Neste período, também está presente a menopausa,
a qual é caracterizada como a última menstruação (BRASIL, 2008). Durante essa
fase, ocorrem muitas modificações e estas resultam tanto da deficiência hormonal,
como dos fatores socioculturais e psicológicos decorrentes do processo de
envelhecimento feminino (LEITE, et al 2012). Nesse contexto, apesar de o climatério
ser uma fase fisiológica da vida da mulher, o mesmo vem sendo compreendido
como um problema de saúde pública, que como tal necessita ser estudado,
principalmente, pelas pesquisas biomédicas e farmacêuticas, as quais enfatizam a
Síndrome Climatérica (ARAÚJO, et al 2013). Contudo, ressalta-se a necessidade de
compreender o climatério em uma dimensão ampliada e enquanto estado natural do
ciclo vital feminino.
2. OBJETIVO
Conhecer a tendência da produção nacional da pós-graduação em
enfermagem acerca do climatério.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, realizada no mês de maio de 2014, no
banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) e nos catálogos da Associação Brasileira de Enfermagem
(ABEn). A questão que norteou o estudo foi: quais as tendências da produção
científica dos programas de Pós-Graduação em Enfermagem acerca do climatério?
No portal da CAPES, elencaram-se duas estratégias de busca, a primeira estratégia
consistia em utilizar a palavra “climatério” na opção de busca “resumo” e a palavra
“enfermagem” na opção “área do conhecimento”. Já a segunda, envolveu a
utilização da palavra “menopausa” na opção de busca “resumo” e a palavra
“enfermagem” na opção “área do conhecimento”. Foram excluídos os resumos
479
repetidos e aqueles que não respondiam a questão de pesquisa. Ao reunir as
buscas realizadas no portal da CAPES e nos catálogos da ABEn, foram
selecionadas 26 publicações, das quais 23 eram dissertações e três eram teses. Os
dados quantitativos foram submetidos à análise estatística de frequência absoluta e
frequência relativa e os dados qualitativos à análise temática (MINAYO, 2013). Para
organizar os dados, foi elaborado um roteiro sistematizado contendo: título, ano,
instituição de origem, objetivo e principais resultados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Prevaleceram os anos de 2012 e 2011, as regiões sudeste e nordeste e
estudos qualitativos. Como sujeitos dos estudos predominaram as mulheres e como
cenários identificou-se Estratégias de Saúde da Família, academias, Centro de
Atenção Psicossocial, ambulatórios de ginecologia, clínica privada e Hospital
Universitário.
Identificaram-se
quatro
categorias:
1-Climatério/menopausa:
manifestações sintomáticas. Embora, no Brasil, haja uma tendência pelas
sociedades científicas em considerar o climatério como uma endocrinopatia, a
Organização Mundial da Saúde define-o como uma fase biológica da vida da mulher
e não como um processo patológico (BRASIL, 2008). Dessa forma, a depleção
hormonal está inserida em um processo fisiológico, que possui uma gama de
sintomas e sinais, que necessitam de adaptação. Em estudo (PITOMBEIRA, et al
2011), foram destacados sintomas, como fogachos, sudorese, palpitação, tontura,
ansiedade, irritabilidade, cefaléia, depressão e insônia, os quais geram impactos na
vida da mulher. As queixas são relatadas pelas mulheres como desagradáveis em
função da intensidade como ocorrem e também por interferirem no seu cotidiano.
Nesse sentido, é imprescindível conhecer a sintomatologia manifestada no período
do climatério, a evolução dos diversos sintomas, as mudanças na rotina e o
surgimento de outros transtornos, de modo que o profissional de saúde,
especialmente o enfermeiro, possa oferecer um cuidado de qualidade à mulher,
auxiliando-a no enfrentamento das adversidades que surgem neste período. 2-
480
Políticas públicas de atenção às mulheres no climatério e a atuação do enfermeiro.
No contexto histórico de implantação das políticas públicas de atenção à saúde da
mulher, percebe-se que sempre foi dada ênfase na área materno-infantil. Nesse
sentido, autores (LOPES, et al 2013), salientam que a atenção à saúde da mulher
somente é prioridade nas políticas públicas de saúde, quando esta se encontra na
fase reprodutiva, perdendo essa atenção ao entrar no climatério. Entretanto, da
mesma forma como em outras fases, no climatério a mulher também deve ser
assistida em sua integralidade, de modo que ao acessar o serviço de saúde, a
mesma possa receber orientações e/ou ações de promoção, prevenção e
recuperação, de acordo com as suas necessidades. Nesse sentido, o enfermeiro,
principalmente por se ocupar das ações de educação em saúde, deve construir um
cuidado diferenciado, estimulando o autocuidado e considerando os conhecimentos
obtidos não somente no meio social, mas também àqueles imbricados com outras
fontes de saber (BELTRAMINI, et al 2010). 3-Influências socioculturais na vivência
do climatério. Sabe-se que o climatério é um evento fisiológico, que envolve
mudanças físicas e emocionais, mas que também abrange um período, no qual a
vivência e a percepção da mulher sofrem a influência de múltiplos fatores, tais como
a história de vida pessoal e familiar, o ambiente, a cultura, os costumes, as
particularidades pessoais, o psiquismo, dentre outros (BELTRAMINI, et al 2010).
Logo, ao acolher a mulher climatérica deve-se levar em consideração o contexto
sociocultural, no qual a mesma está inserida, e os diversos aspectos que influenciam
a sua forma de vivenciar esse período. É importante assegurar que o climatério seja
encarado como um processo natural e não como doença. 4-Climatério: corpo e
sexualidade. Reconhece-se que as principais fases ou momentos da vida da mulher,
como a adolescência, a menarca, a gestação e o climatério, tendo como evento a
menopausa, refletem no corpo da mulher. No que se refere ao climatério, pode-se
observar transformações no seu corpo, com sintomas diversos, estranhos,
incompreensíveis e, muitas vezes, difíceis de serem verbalizados, destacando-se as
ondas de calor, suores “frios”, insônia, tristeza, instabilidade emocional, modificações
nos hábitos sexuais, na pele e na distribuição da gordura corporal (BRASIL, 2008).
481
Nesse ínterim, a vivência sexual e a sexualidade são aspectos que repercutem no
cotidiano destas mulheres, de modo que algumas destas expressam preocupação e
desgosto com a falta de desejo sexual, referindo que esta mudança na vivência da
sexualidade repercute na relação com o parceiro e consigo mesmas (ZANOTELLI,
2012).Corroborando com isso, ARAÚJO, et al 2013, referem que a vida sexual,
nesta fase, assim como em todas as outras, precisa ser entendida, em um contexto
amplo, que considere a vivência, o contexto histórico, social, econômico e cultural.
Além disso, é preciso reconhecer que as transformações corporais previstas nessa
fase podem causar impacto na autoimagem e na vida da mulher, podendo
desencadear em sofrimento psíquico que repercutirá na vivência da sexualidade.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo possibilitou visualizar que há uma ênfase em relação à
sintomatologia e suas repercussões na vida da mulher. Em contraponto, há poucas
publicações voltadas para as práticas de cuidado que as mulheres realizam e as
ações do enfermeiro na atenção à saúde destas. Nesse sentido, vislumbra-se que as
mulheres climatéricas precisam ser acolhidas nos serviços de saúde, para que
possam receber informações sobre esta fase, mas também para compartilhar
conhecimentos e construir saberes a partir das trocas com outras mulheres e com os
próprios profissionais de saúde.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, I.A. et al. Representações sociais da vida sexual de mulheres no
climatério atendidas em serviços públicos de saúde. Texto & Contexto
Enfermagem, v. 22, n. 1, p. 114-22, 2013.
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2008.
482
BELTRAMINI, A.C.S. et al. Atuação do enfermeiro diante da importância da
assistência à saúde da mulher no climatério. Revista Mineira de Enfermagem, v.
14, n. 2, p. 166-174, 2010.
IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tábua de vida: tábua completa
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Disponível emhttp://www.ibge.gov.br/ibge/estatistica/populacao/tabuadevida/
LEITE, E.S. et al. perspectivas de mulheres sobre o climatério: conceitos e impactos
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LOPES, M.E.L. et al. Assistência à mulher no climatério: discurso de enfermeiras.
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MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo: Hucitec, 2013.
PITOMBEIRA, R. et al. Sintomatologia e modificações no cotidiano das mulheres no
período do climatério. Cogitare Enfermagem, v. 16, n. 3, p. 517-23, 2011.
ZANOTELLI, S.S. et al. Vivências de mulheres acerca do climatério em uma unidade
de saúde da família. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 4,
n. 1, p. 2800-11, 2012.
483
26.3) A HUMANIZAÇÃO DO PARTO SOB A ÓTICA DE ENFERMEIRAS1
POSSATI, Andrêssa Batista2;
PRATES, Lisie Alende3;
BORTOLI, Cleunir de Fátima Candido de4;
POMPEU, Kelen da Costa 5;
Wilhelm, Laís Antunes6;
RESSEL, Lúcia Beatriz7
Eixo Temático: 4 - Atenção ao Parto
Descritores: Parto; Parto humanizado; Enfermagem
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos tempos, o cuidado à mulher durante o processo de parturição sofreu
inúmeras modificações (SEIBERT et al, 2005). Inicialmente, o partejar era
considerado uma atividade exclusivamente feminina, realizado pelas parteiras que,
além de cuidar das mulheres, também cuidavam dos recém-nascidos (PROGIANTI;
BARREIRA, 2001). Com o desenvolvimento da medicina como instituição social
representativa de poder sobre a saúde das pessoas, as parteiras passaram a ser
submetidas a determinadas exigências, entre elas, capacitações para se tornarem
profissionais corporativas. Com isso, aos poucos, a figura masculina começou a
1
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem - UFSM
Acadêmica de enfermagem. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Enfermagem –
UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. E-mail:
[email protected]
3
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade
Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e
Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade
Federal de Santa Maria. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. Email: [email protected]
5
Enfermeira. Doula. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail:
[email protected]
6
Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. Membro do
Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
7
Orientadora. Docente do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do
Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected]
2
484
surgir no cenário de parturição, com a inserção de parteiros-sacerdotes, que
auxiliavam as parteiras em partos mais difíceis (CARNEIRO, 2003).
Nessa perspectiva, o parto doméstico foi sendo substituído pelo parto hospitalar, o
qual envolvia a adoção de novos cuidados e rotinas na vida da mulher. Desse modo,
passou-se a incentivar o uso de medicamentos, a realização de consultas com
médicos obstetras e pediatras, e a institucionalização do cuidado, priorizando-se a
realização de partos hospitalares (SEIBERT et al, 2005). Verifica-se que tais
mudanças no cenário do processo de parturição culminaram com a medicalização
excessiva do corpo feminino por meio do uso abusivo de procedimentos invasivos e
a despersonificação da mulher durante o cuidado prestado (SEIBERT et al, 2005).
Ademais, percebe-se a supremacia dos profissionais de saúde frente às decisões
sobre a vida da mulher/bebê/família, influenciando em todas as etapas do processo
de parturição e, até mesmo, no comportamento dos sujeitos envolvidos nesse
processo (GAÍVA; TAVARES, 2002). Diante disso, a Organização Mundial de Saúde,
o Ministério da Saúde e outros órgãos não governamentais, têm proposto mudanças
no cuidado prestado durante o partejar, incluindo o resgate ao parto natural, com
estímulo à atuação de uma equipe ética e tecnicamente qualificada e, se possível,
especializada no cuidado à gestação e ao parto. Nessa direção, a humanização do
cuidado à saúde tem ocupado um lugar de destaque nas atuais propostas de
reconstrução das práticas de saúde no Brasil, objetivando alcançar maior
integralidade, efetividade, acesso e qualidade nos serviços de saúde (GOULART;
CHIARI, 2010). Nesse contexto, entre os profissionais envolvidos diretamente no
processo de parturição, tem-se o enfermeiro, o qual, ao longo dos anos, tem
enfrentado desafios para garantir a humanização do cuidado preconizada nas
políticas públicas e programas de saúde. Conforme Rodrigues, Fernandes e Pereira
(2006) o papel do enfermeiro, nesta perspectiva, consiste na prestação de cuidados
necessários à saúde da mulher e da criança; realizando orientações de educação
em saúde, dialogando sobre o parto, puerpério e puericultura e, assim, tornando o
processo de parto mais tranquilo, menos duvidoso e promovendo um ambiente
saudável para a mulher conforme sua condição de gestante para a nova condição
485
de puérpera. Contudo, ao longo dos anos, o enfermeiro tem enfrentado desafios
para garantir a humanização, preconizada nas políticas públicas e programas de
saúde, em seu cotidiano profissional. Portanto, conhecer a percepção de
enfermeiras sobre as facilidades e dificuldades encontradas para garantir a
humanização do parto é fundamental para assegurarmos um cuidado integral, com
qualidade e respeito à mulher e sua família. Com base nessas considerações, a
questão que norteará essa pesquisa será: “Quais as facilidades e as dificuldades
encontradas pela enfermeira para garantir a humanização do parto?”, a qual
direcionou ao objetivo que é conhecer as facilidades e as dificuldades encontradas
por enfermeiras de um centro obstétrico para garantir a humanização do parto.
2. OBJETIVO
Conhecer as facilidades e as dificuldades encontradas por enfermeiras de um
centro obstétrico para garantir a humanização do parto.
3. METODOLOGIA
Prevê-se a realização de um estudo de campo, do tipo exploratório-descritivo,
com abordagem qualitativa. O estudo de campo consiste na focalização deum grupo,
por meio de entrevistas com indivíduos informantes para captar suas explicações e
interpretações do que ocorre no grupo (GIL, 2009). Quanto ao estudo descritivo,
este permite conhecer as distintas relações que ocorrem na vida social, política,
econômica
e
nos
diferentes
aspectos do
comportamento
humano,
tanto
isoladamente quanto em grupos e comunidades complexas (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007). A abordagem qualitativa foi escolhida como sendo a mais adequada
para este estudo, pois dará mais sustentação ao estudo, já que considera o
significado das ações, motivações, aspirações, crenças, valores, atitudes e relações
humanas. Na pesquisa qualitativa, a ênfase está em compreender e analisar a
dinâmica das relações sociais estabelecidas com a vivência e experiência no
486
cotidiano, compreendidas dentro de estruturas e instituições (MINAYO, 2010).
Quanto ao cenário do estudo, o campo para a realização da pesquisa será o Centro
Obstétrico (CO) de um hospital de ensino do sul do país. As participantes do estudo
serão enfermeiras que atuam diretamente no atendimento às mulheres durante o
trabalho de parto e parto. Os critérios de inclusão serão: profissionais que possuam
curso de graduação em Enfermagem e que atuam no cenário de estudo. Como
critérios de exclusão têm-se profissionais que estejam afastadas por licença médica,
licença maternidade ou de férias no período da realização da coleta de dados. Como
instrumento para a coleta dos dados, será utilizada uma entrevista semiestruturada
(MINAYO, 2010). Os dados serão analisados por meio da proposta operativa
(MINAYO, 2010). Serão respeitados os dispositivos legais da Resolução do
Conselho Nacional de Saúde de nº 466/2012 (BRASIL, 2012). Este projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, em 15 de julho de 2014, sob o número
do CAAE 32803114.3.0000.5346.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Espera-se que este estudo possa promover a discussão e a reflexão sobre as
facilidades e as dificuldades encontradas por enfermeiras atuantes em um centro
obstétrico para garantir a humanização do parto e, com isso, oferecer subsídios para
a qualificação da assistência prestada no processo parturitivo. Ademais, busca-se
contribuir na construção de conhecimento na área da Enfermagem e nas demais
profissões que assistem aos processos de trabalho de parto e parto, possibilitando a
compreensão dos pressupostos preconizados pela humanização do parto e sua
aplicação na prática.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que este estudo permitirá o conhecimento acerca dos desafios
enfrentados pelas enfermeiras para garantir a humanização, preconizada nas
487
políticas públicas e programas de saúde, em seu cotidiano profissional. Sendo que
tal conhecimento é fundamental para assegurarmos um cuidado integral, com
qualidade e respeito à mulher e sua família.
REFERÊNCIAS
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formação (século XV – 1975) [tese]. Faculdade de Psicologia e Ciências da
Educação. Universidade do Porto. Porto, 2003.
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Pearson Pratice Hall, 2007.
GAÍVA, M.A.M; TAVARES, C.M.A. O nascimento: um ato de violência ao recémnascido? Revista gaúcha de enfermagem. 2002; 23(1): 132-45.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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SEIBERT, S.L; BARBOSA, J.L.S.; Santos, J.M.; Vargens, O.M.C. Medicalização X
Humanização: o cuidado ao parto na história. Revista de enfermagem UERJ. 2005;
13(2): 245-51.
488
27.3) A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO EM AMAMENTAÇÃO EM UM
GRUPO OPERATIVO DE GESTANTES 1
GOMES, Joseila Sonego2;
DREHER, Daniela Zeni3;
WIELENS, Tamires Nowaczyk4;
STUMM, Eniva Miladi Fernandes5;
BENETTI, Eliane Raquel Rieth6;
CAMPOS, Iris Fátima Alves 7
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal.
Descritores: Pessoal de saúde. Aleitamento materno. Aconselhamento
1. INTRODUÇÃO
Na década de 1970, os grupos denominados operativos ganharam a atenção
dos profissionais de saúde pelo seu grande potencial de aplicabilidade e pela
sistematização que traziam para o processo grupal (FERNANDES, 2006). Grupo é o
contexto em que se pode reconstruir e criar significados, vivenciar e resignificar
questões pela troca de informações, do insight, da identificação e outros processos,
1
Estudo realizado a partir de vivências no projeto de extensão universitária Grupo Operativo de
Suporte a Gestantes e Familiares
2
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela EERP (USP). Docente da Universidade. Docente da
Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Email:
[email protected]
3
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Curso de Fisioterapia da Universidade Regional do Noroeste
de Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Mestre em Engenharia de Produção pela UFSM. E-mail:
[email protected]
4
Acadêmica do nono semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Email: [email protected]
5
Enfermeira. Doutora em Ciências pela UNIFESP. Docente do curso de Enfermagem da
Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Email:
[email protected]
6
Enfermeira. Mestre em enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Docente da
UNIJUI e enfermeira do HUSM. Email: [email protected]
7
Psicóloga. Docente assistente do Departamento de Humanidades e Educação da UNIJUI. Mestre
em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
[email protected]
489
funciona como um campo de referência cognitiva e afetiva, e o sujeito se integra e se
reconhece, podendo tanto bloquear quanto estimular processos criativos e críticos
(AFONSO; SILVA; ABADE, 2009). A partir desses pressupostos a metodologia de
grupos operativos pode trazer inúmeros benefícios às gestantes, e configura-se em
estratégia de trabalho com este público. Assim, operacionaliza-se o grupo operativo
de suporte a gestantes e familiares da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI. Dentre as temáticas tratadas no grupo está a
amamentação que é abordada de forma singular para cada grupo a depender das
especificidades do mesmo. Aconselhamento é uma forma de atuação do profissional
com a mulher em que ele a escuta, procura compreendê-la e, com seus
conhecimentos, oferece ajuda para propiciar que a mãe planeje, tome decisões e se
fortaleça para lidar com pressões, aumentando sua autoconfiança e autoestima. O
contato pessoal e o apoio contribuem para o sucesso do aleitamento materno.
Profissionais da saúde, amigos, familiares e outras mulheres devem fazer parte
dessa rede de apoio ao aleitamento natural (KING, 2001). Objetivo: descrever e
discutir as técnicas de aconselhamento em amamentação empregadas em grupo
operativo de suporte a gestantes e familiares.
2. METODOLOGIA
O projeto Grupo operativo de suporte a gestantes e familiares configura-se
em uma proposta interdisciplinar. Trabalha sistematicamente com gestantes,
puérperas e seus familiares. É coordenado e implementado por professores e
estudantes dos cursos de Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Psicologia.
Trabalha de forma a oferecer suporte as gestantes e promover sua autoconfiança
preparando-as para a tomada de decisões. A base teórica do grupo de gestantes e
familiares é fundamentada na atividade de grupo operativo que se caracteriza por
ser um espaço onde se desenvolvem atitudes e comunicam-se conhecimentos, é
interdisciplinar, cumulativa, interdepartamental e de ensino orientado, baseia-se na
pré-experiência de cada indivíduo do grupo, constituindo-se numa estratégia para
490
assistir as pessoas (PICHON-RIVIÈRE, 2000). A atividade tem ação pela conexão
de dois grupos diferentes: o grupo coordenador (G1) e o grupo com as gestantes e
seus familiares (G2). O G1 composto por professores e acadêmicos, reúne-se
visando organizar a logística para receber as gestantes e familiares, preocupa-se em
escutar o resultando grupal procedente em cada encontro realizado com o G2, para
intervir propriamente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo central dos encontros com o G2 é trabalhar operativamente com as
gestantes e seus familiares. A amamentação, juntamente com as demandas
manifestadas ou subentendidas de cada participante e do grupo como um todo são
escutadas e devolvidas ao grupo. A intercessão juntamente ao G2 não tem por
objetivo ensinar a ser mãe ser pai, ou ensinar o jeito certo de amamentar, mas sim
que as pessoas trabalhem com as informações recebidas e percebam quais
recursos possuem. Nessa visão a informação passa a ser fator que contribui para
que o trabalho do grupo operativo tenha caráter terapêutico, de aprendizagem, para
seus participantes. Para desenvolver o trabalho, a cada encontro realizado com o
G2, a equipe de professores e estudantes (G1) lança mão de uma temática a partir
de um disparador. Esse disparador é, na maioria das vezes, apresentado com jogos
que tem a finalidade de permitir que circulem no grupo as questões geradoras de
dúvidas para as famílias. Desta forma a atividade de extensão que busca no
referencial pichoniano a metodologia empregada em um grupo, também faz uso das
técnicas de aconselhamento, as mesmas são adaptadas para um grupo. É
pertinente compreender as técnicas descritas por Giugliani (2000) quanto ao
aconselhamento, o mesmo refere que é fundamental realizar a comunicação não
verbal, mostrando interesse (balançando a cabeça em sinal afirmativo, sorrindo,
dedicando tempo para ouvir), oferecer liberdade de expressão, demonstrar
compreensão e não utilizar palavras que soem como julgamentos (certo, errado,
bem e mal), aceitar sentimentos e opiniões, sem necessariamente concordar ou
491
discordar, reconhecer e elogiar as atitudes corretas,
de
modo
a aumentar a
confiança, encorajar práticas saudáveis, fornecer informações necessárias com uma
linguagem simples, sem impor ordens. Na comunicação não verbal emerge
comportamentos que o profissional precisa manter para demonstrar a gestante que
tem interesse no que ela traz. Para Leite, Silva, Scochi (2004) deve-se manter a
cabeça do profissional ao mesmo nível, manter contato visual prestando atenção no
que ela esta falando, removendo barreiras que possam causar desinteresse das
gestantes. A comunicação entre o profissional e a mulher pode ocorrer sem
expressão verbal, mas por meio de expressão corporal que este é uma linguagem
que não mente. Com forte convicção, de modo natural e por uma representação
corporal, a seguinte mensagem deve ser passada para a mãe: eu estou interessado
em recebê-la e em escutar o que você quer contar para mim (BUENO; TERUYA,
2004). Em situações de dúvidas sobre determinado assunto deixar que a gestante
tome decisão e mostrar que ela é capaz de optar sobre o que é melhor para ela e
seu filho, e cabe ao profissional dar sugestões e informações relevantes, com
evidências científicas, numa linguagem simples e clara. A mulher sempre tem o seu
saber, e o profissional compartilhar com ela seus conhecimentos (BUENO, TERUYA,
2004).
4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grupo operativo tem dentre seus objetivos escutar as dúvidas das gestantes
e ampará-las quanto aos receios. Neste processo, as técnicas de aconselhamento
podem auxiliar na dinâmica grupal, pois implica em desenvolver a habilidade do
profissional em escutar. Estas técnicas potencializam a compreensão dos
profissionais e auxiliam os participantes no reconhecimento da autoconfiança e
autoestima preparando-os para a tomada de decisões. Gestantes apoiadas por seus
familiares podem fazer suas escolhas com base no aprendizado construído no
grupo, de forma que eles sejam os protagonistas da sua história e o grupo seja
efetivo em seu objetivo central que é oferecer suporte.
492
REFERÊNCIAS
AFONSO, M.L.M; SILVA, M.V; ABADE, F.L. O processo grupal e a educação de
jovens e adultos. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 4, p. 707-715, out./dez.
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FERNANDES, M.T. O trabalho com grupos na Saúde da Família: concepções e
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World Health Organization/UNICEF. Breastfeeding counselling: A training course.
Geneva: World Health Organization/UNICEF; 1993.
493
28.3) USO DAS DROGAS EM GESTANTES: AÇÕES EM SAÚDE (2014) 1
MENEZES, Cleusa de F. de 2;
BASSAN, Lissara3;
RODRIGUES, Natacha E.4;
GELHEN, Maria Helena 5;
VENTURA, Jeferson6;
Eixo Temático: Atenção ao Parto.
Descritores: Cocaína; Crack; Gestação.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente o uso de drogas, é uma realidade no cenário da saúde, sendo
uma preocupação crescente na saúde pública, a cada ano as estatísticas
evidenciam que o uso indiscriminado destas substâncas, alêm de todo o mal que
causa a saúde, vem causando conflitos familiares, envolvendo a violência verbal e
física (BALLANI,OLIVEIRA, 2007). O consumo desenfreado das drogas psicoativas
como álcool, cocaína, crack e merla, sendo que estas substâncias podem ser
utilizadas de diversas formas, o crack é usado com auxilio de um cachimbo, além de
atingir todos os sexos, as mulheres em idade fértil cada vez mais se tornam usuárias
desta substância, sendo um dos desafios para as equipes de saúde realizar o
atendimento, dos gravos à mãe, ao feto e à sua família (ZILBERMAN HOCHGRAF,
ANDRADE 2003). As mulheres usuárias de drogas em especial o crack, podem vir a
se prostituir para conseguir a droga e ter exposição ao sexo inseguro, que por vez
ocorre à gravidez indesejada acompanhada ou não das doenças sexualmente
1
Gepeses/cnpq
Acadêmica de Enfermagem (Centro Universitário Franciscano, [email protected] )
3
Acadêmica de Enfermagem (Centro Universitário Franciscano, [email protected] )
4
Acadêmica de Enfermagem (Centro Universitário Franciscano, [email protected] )
5
Docente ( Mestre, Centro Universitário Franciscano, [email protected])
6
Enfermeiro mestrando PPGEnf-FURG (Universidade Federal do Rio Grande,
[email protected] )
2
494
transmissíveis. E devido a isso o feto acaba se tornando um ser vulnerável a
diversos problemas em sua formação e desenvolvimento podendo aumentar os
riscos deproblemas neurológicos e/ou psicológicos (NAPPO, 2011). O consumo do
crack na gestação pode levar ao abortamento espontâneo e deslocamento
prematuro da placenta devido os efeitos vasoconstritores da droga (GOMELLA,
2006). A gestante ao inalar o crack pode ter diversas consequências psicológicas e
sociais podendo levar ao suicídio, a ruptura traumática de relacionamentos,
descumprimento de obrigações sociais, depressão pós-parto, descuidando da sua
aparência e higiene, violência, abandono da criança e maus-tratos (RUOTI et al
2009). O uso do crack na gestação não acarreta problemas apenas à gestante, mas
também ao concepto, pois a maioria dessas drogas ultrapassa a barreira placentária
e hematoencefálica sem metabolização prévia, atuando principalmente sobre o
sistema nervoso central do feto, causando má formação, déficit cognitivo e síndrome
de abstinência (YAMAGUCHI, et al, 2008 ). A negação do uso das drogas na
gestação tem sido um desafio, as gestantes apresentam medo de serem julgadas
pelas atitudes, não relatando a família e equipes de saúde suas condições,
resultando nas dificuldades no acolhimento e acompanhamento adequado as suas
necessidades cognitivas, nutricionais, educativas, neurológicas e psiquiátricas na
desintoxicação química, reabilitação e reinserção social. (ZILBERMAN HOCHGRAF,
ANDRADE 2003). As dificuldades no acolhimento dessas pacientes gestantes
usuárias de drogas, necessitam de mudanças, no contexto sociocultural no qual o
individuo
esta
inserido,
(MARANGONI,
OLIVEIRA
2012),
havendo
assim
necessidade de novas abordagens no cuidado da saúde da mulher gestantes
usuárias de crack, principalmente no campo da educação em saúde. Isto se da pelo
fato que as temáticas as quais os profissionais enfermeiros interferem apresentamse complexos, exigindo dos profissionais um maior esforço para evitarmos
simplificações reducionistas (BRASIL, 2004).
2. OBJETIVO
495
Conhecer a importância do cuidado oferecido a usuárias de crack na
gestação.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que sintetiza estudos realizados sobre
um tema especifico, com o objetivo de conhecer qual a importância do cuidado
oferecido, a usuárias de drogas na gestação. A pesquisa foi realizada nas bases de
dados Lilacs e Bireme, os critérios de inclusão foram artigos publicados em
Periódicos nacionais, em português, disponível na integra. Os critérios de exclusão:
pesquisas internacionais.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso de drogas, sendo elas lícitas ou ilícitas, na gestação pode ser
percebido com o sentimento de culpa por parte das gestantes, que muitas vezes a
equipe de enfermagem necessita estar apta para orientar e escutar essas gestantes,
procurando encaminhar para os serviços de orientações, para que elas reconhecam
a sua condição de drogadição e eleja viver sem o uso da droga. As gestantes com
dependência química, muitas vezes tem a menor assistência ao pré-natal,
participação aos grupos de gestantes, apresentam maior risco de intercorrência
obstétricas e fetais. Muitas dessas gestações são de alto riscos, tendo também
problemas
emocionais
sentindo-se
culpadas
e
reprimidas
pela
sociedade
(KASSADA, et al 2013). Nesse contexto, o acolhimento deve ser prioridade a essas
gestantes, sendo de fundamental importância o foco voltado à atenção famíliar,
destas usuárias de crack. Os profissionais da saúde são capazes de desenvolver
métodos funcionais e traçar planos de ação em busca de resultados positivos na
recuperação e reestruturação física e emocional destas gestantes amenizando os
agravos recorrentes da gestação e garantindo um melhor parto a mãe e bebê
(SILVA, 2002; MAGALHÂES, 2010). Vale ressaltar que o pré- natal é um meio
496
seguro do profissional da saúde identificar e interferir nos problemas que as drogas
causam nas gestantes, buscando impedir ou minimizar os agravos (RODRIGUES E
NAKNO 2007). E fundamental a criação de órgão que possam receber essas
gestantes antes e pós parto, E para desenvolver ações de acompanhamento
psicológicas, para que a mesma possa ser inserida em programas para desintoxicar
visando a reabilitação por meio de terapias, que venha valorizar essa mulher que
procurou assistência, que esse mesma ação desenvolva trabalhos com a família e
que todos possam reatar os laços, e para que o tratamento seja mais eficaz.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a assistência aos altos índices de gestantes usuárias
necessita receber atendimentos especializados para serem encaminhadas para
receber atendimentos específicos, quanto antes começarem a receber o
atendimento, mais informações estas gestantes recebem, evitando complicações
para a mesma e para criança. A dedicação e acolhimento da equipe de saúde é de
extrema importância para que haja a reabilitação dessas usuárias, e reinserção
asociedade.
REFERÊNCIAS
BALLANI, T.D.S; OLIVEIRA, M.L.F.D. Uso de drogas de abuso e evento sentinela:
construindo uma proposta para avaliação de políticas públicas. Texto & Contexto
Enferm. 2007;16(3):488-94.
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Álcool e outras Drogas. 2° edição. Brasília – DF: 2004.
GOMELLA, T.L. Neonatologia:manejo, procedimentos problemas no plantão,
doenças e farmacologia neonatal. 5. ed.Artmed. V.1. Rio de Janeiro, RJ, 2006.
KASSADA, S. D; MARCON; S.S; PAGLIARIN; M. A ; ROSSI, R.M. Prevalência do
uso de drogas de abuso por gestantes Universidade Estadual de Maringá, Maringá,
PR, Brasil, 2013.
497
MAGALHÂES; D. E;F; SILVA, M.R.S.D. Cuidados requeridos por usuários de crack
internados em uma instituição hospitalar. Rev.Min. Enferm. V. 14(3), P. 408-415,
jul./set.Minas Gerais, MG,2010.
MARGANGONI,S.R; OLIVEIRA,M.L.F.D. Uso de crackpor multípara em
vulnerabilidade social: historia de vida. Cienc Cuif Saúde. 2012; 11(1): 166-72.
NAPPO, S. Mulheres e crack. Departamento de psicologia. Universidade Federal de
São Paulo (UNIFESP). Anais. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas. São Paulo, SP,2011.
RODRIGUES, D.; NAKANO; A. M. Violência e abuso de drogas na gestação.
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Disponivelem:http://www.scielo.br/pdf/reben/v60n1/a 14v60n1.pdfAcesso em:13
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treatment-seeking brazilian drug-dependent individuals. Substance Abuse. 2003;
24(1): 17-25.
498
29.3) INSTITUIÇÕES HOSPITALARES DO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS:
CRESCIMENTO NA TAXA DE CESARIANAS – 2009 a 20131
MORAES, C. Fabrício2;
SILVA, S. L. Vera3;
AZEVEDO, L. S. Ana4;
GUERREIRO, O. Patricia5;
VETROMILA, T. Cristina6;
PRIMO, S. Luciene7
Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto.
Descritores: Parto; Cesárea; Obstetrícia; Estatística & dados numéricos.
1. INTRODUÇÃO
A gravidez e o trabalho de parto são momentos únicos na vida de uma
mulher, estão diretamente ligados a fertilidade, ao desenvolvimento de uma vida e a
continuação ao cuidado de outro ser vivo. Essas são etapas de incertezas, dúvidas e
inseguranças, principalmente para as primigestas que não tem experiência com essa
nova fase (COSTA, 2014). A opção pelo tipo de parto é de total importância para a
mulher e para o bebê, pois, todas as decisões têm influência no desenvolvimento do
recém-nascido (RN) e na saúde da mulher. Frequentemente as mulheres não têm
confirmados seus desejos prévios em virtude do seu estado de saúde ou do bebê,
inerentes ao procedimento e a instituição hospitalar, ou aos profissionais de saúde
(MANDARINO, 2009; DIAS, 2008).
__________________________
1
Pesquisa com dados finais realizada por docentes, acadêmicos da UCPel e profissionais da
Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas através do Programa de Ensino para o Trabalho, PET.
2
Fabrício da Cunha Moraes (Acadêmico de Enfermagem - Universidade Católica de Pelotas; E-mail:
fabrí[email protected])
3
Vera Lucia Schmidt da Silva (Enfermeira; Mestre em Saúde Pública Baseada em Evidências –
Universidade Federal de Pelotas; Doutoranda em Epidemiologia - Universidade Federal de Pelotas;
E-mail:[email protected] )
4
Ana Lucia Soares de Azevedo (Enfermeira; Mestre em Saúde e Comportamento - Universidade
Católica de Pelotas; E-mail: [email protected])
5
Patricia Osório Guerreiro (Dentista; Mestre em Saúde em Comportamento pela Universidade
Católica de Pelotas; E-mail: [email protected])
499
6
Cristina Toledo Vetromilla (Assistente Social - Universidade Católica de Pelotas; E-mail: [email protected])
7
Luciene Smiths Primo (Enfermeira; Mestre em Saúde e Comportamento - Universidade Católica de
Pelotas; E-mail: [email protected])
Sabe-se da importância de informar os benefícios, riscos e complicações do tipo de
parto. A cesariana quando comparada ao parto vaginal tem maior risco de
morbidade materna. A cesariana intraparto e cesariana eletiva aumenta o risco de
morbidade materna em 2,0 e 2,3 vezes respectivamente, além disso, está associada
à maior morbidade e mortalidade após alta e aumento da permanência hospitalar
(COSTA, 2014; REIS, 2014). Segundo Gonçalves (2014), há uma pressão crescente
pelos profissionais médicos para o desencorajamento do parto por via vaginal,
tornando-se melhor aos olhos destes profissionais um parto seguro igual a um parto
instrumentado². A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza uma taxa de
cesariana de 15%, para o atendimento a gestante de alto risco aceita-se uma taxa
de no máximo 25%. No entanto, uma taxa inferior a 5% pode estar refletindo uma
dificuldade de acesso ao tratamento (ALMEIDA, 2008). Em Portugal, no período de
2007 a 2009, a taxa de cesariana foi de 41%, em virtude disso foi criado uma
Comissão para a Redução da Proporção de Cesarianas da Administração Regional
de Saúde (ARS) do Norte, propondo um conjunto de medidas a serem divulgadas e
implementadas nos hospitais. Com estas medidas, as cesarianas eletivas passaram
a ser discutidas em reuniões, com exceção daquelas com indicação por
apresentação pélvica ou história de duas ou mais cesarianas prévias (GONÇALVES,
2014). Este aumento mundial de cesarianas afeta também o Brasil, que é líder nas
estatísticas, em 2010 apresentou uma taxa de 52% (GONCALVES, 2014; REIS,
2014). Portanto, pesquisou-se as taxas de parto vaginal e parto cesárea no
município de Pelotas/RS no período de 2009 a 2013.
2. OBJETIVO
Analisar as taxas de partos cesárea e vaginal no município de Pelotas/RS no
período de 2009 a 2013.
500
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem quantitativa com dados
obtidos através do sistema DATASUS/Ministério da Saúde. Os dados foram
coletados de três instituições hospitalares de saúde que realizam partos pelo
Sistema Único de Saúde no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2013. O
estudo foi realizado por acadêmico/bolsista do Programa de Educação pelo Trabalho
(PET-Gestão) da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) junto à Secretaria
Municipal de Saúde de Pelotas, no mês de agosto de 2014.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que a instituição A nos anos de 2009 e 2013 teve uma taxa de
cesariana de 48,3% e 50,5%, respectivamente, apresentando um aumento de 4,3%
no período. Na instituição B, a taxa de cesariana no ano de 2009 foi de 41,0% e
52,8% no ano de 2013, demonstrando aumento de 22,3% na taxa de cesariana e a
instituição C no mesmos anos, teve uma taxa de 37,9% e 54,1% e um aumento de
29,9% no período. As instituições A e B são hospitais de ensino referência para
gestantes de alto risco, portanto aceitaria-se uma taxa maior de cesariana, porém,
observou-se uma taxa 2 vezes maior do que a recomendação da OMS. Já na
instituição C observou-se uma taxa 3,5 vezes maior que a recomendação
preconizada. Ao realizar a pesquisa, encontrou-se dificuldades para a busca dos
dados, pois, informações como raça/cor, escolaridade, nível socioeconômico entre
outras, não estavam completas, impedindo uma avaliação mais consistente dos
dados.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que houve um aumento gradativo nas taxas de cesariana no
período estudado, e com isso uma redução inversamente proporcional das taxas de
501
parto vaginal. Dessa forma, é importante valorizar o ensino para a formação de
profissionais voltados ao parto natural e atualizar os profissionais existentes para
realizar um pré-natal qualificado com discussões de forma horizontal, expandindo a
chance de escolhas da gestante, esclarecendo sobre os medos e dúvidas e
auxiliando na melhor decisão do tipo de parto. Tem-se observado que a cesariana
tornou-se uma decisão cultural, os medos e as incertezas não tem deixado o parto
vaginal como uma decisão primária, tornado-se descartável durante a gestação
(COSTA, 2014; GONÇALVES, 2014; PATAH, 2011).
REFERÊNCIAS
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cesáreo: estudo de caso em duas unidades do sistema de saúde suplementar do
estado do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13(5), p.
1521-1534, 2008.
GONÇALVES, I. S.; LOPES, S.; CASANOVA, J. ; FORTUNA, J. ; SILVA, P. T.
Impact of strategies in reducing cesarean section rate Impacto de estratégias com
vista à redução da proporção de cesarianas. Acta Obstet Ginecol Port, Portugal v.
8(1), p. 29-35, 2014.
MANDARINO, N. R., CHEIN, M. B. D. C., MONTEIRO JUNIOR, F. C. M., BRITO, L.
M. O., LAMY, Z. C., NINA, V. J. D. S., FIGUEIREDO NETO, J. A. D.. Aspectos
relacionados à escolha do tipo de parto: um estudo comparativo entre uma
maternidade pública e outra privada em São Luís, Maranhão, Brasil. Cad Saúde
pública, Rio de Janeiro, v. 25(7), p. 1587-96, 2009.
502
PATAH, L. E. M.; MALIK, A. M. Modelos de assistência ao parto e taxa de cesárea
em diferentes países. Rev Saude Publica, São Paulo v. 45(1), p. 185-194, 2011.
REIS, Z. S. N. et al. Associação entre risco gestacional e tipo de parto com as
repercussões maternas e neonatais. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro
[online], vol.36, n.2, pp. 65-71, 2014.
503
30.3) GRUPO DE MÃES: ASSISTÊNCIA A GESTANTES E PUÉRPERAS (2014)4
COSTA, Melissa1;
FAZIO, Ihana 2;
AQUINO, Deise3;
Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido.
Descritores: Enfermagem. Gestantes. Mães.
1. INTRODUÇÃO
A maternidade é uma vivência humana que traz mudanças significativas no
estado de saúde das pessoas. Para que essas adaptações não interfiram
negativamente na qualidade de vida do bebê e sua família, precisam ser
estabelecidas de forma orientada. O ato do nascimento de um novo ser exige muitos
cuidados maternos e neonatais. Os primeiros são fundamentais à sua sobrevivência:
aquecimento, oxigenação e alimentação do recém-nascido. Os demais cuidados
como higiene, continuidade da amamentação, sono, conforto, entre outros são
igualmente fundamentais. Entretanto sabe-se que muitas famílias não sabem como
fazê-los ou fazem de forma instintiva e/ou empírica, sem o conhecimento científico
desenvolvido ao longo de pesquisas. Assim, entende-se que as mulheres e suas
famílias precisam ser potencializadas em relação aos cuidados com elas e o bebê.
Isto pode ocorrer através de consultas individuais com orientação direcionada aos
problemas evidenciados pelas mães ou por grupos de convivência.
O grupo de
mães proporciona às mesmas acolhimento em suas dificuldades diárias com o bebê,
seja em relação ao choro, amamentação, sono ou qualquer outro assunto trazido
1
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande –
[email protected]
2
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande –
[email protected]
3
Orientadora, Coordenadora do Projeto, Professora da Graduação em Enfermagem
Federal do Rio Grande – FURG, e-mail: [email protected]
4
Projeto de extensão universitária da FURG, com atividades iniciadas em junho
número de incrição no Sigproj 135888.711.156992.23052013.
504
FURG. E-mail:
FURG. E-mail:
da Universidade
de 2013, sob o
pelo grupo. Ao perceberem que as suas dificuldades são comuns a outras mulheres,
elas sentem-se confortadas e compreendidas, além de poder experienciar uma
diversidade de soluções encontradas para o mesmo problema. Percebe-se que as
mães tem pouca ou nenhuma informação, ou ainda informação errada acerca da
amamentação, de como fazer o desmame do bebê, de como introduzir alimentos
com qualidade na dieta do bebê durante o desmame. As mães não conhecem a
importância da educação para o sono, usam cama compartilhada com a criança e
ainda adotam mamadeiras e chupetas.
Enfim uma gama de temas que já tem
comprovação científica mas não são de conhecimento da maioria da população.
Segundo Wall (2001) ajudar o ser humano a buscar experiências de aprendizagem
em eventos transicionais de vida é uma forma de cuidar em enfermagem. Para a
autora, a educação em saúde desenvolvida com o suporte das tecnologias
educativas capacita o ser humano para vivenciar de forma mais saudável as fases
da vida. Ao desenvolvermos educação em saúde tendo como suporte as tecnologias
educativas com grupos de pessoas, devemos estar atentos para perceber o grupo,
respeitando suas características. O Grupo de Mães reforça que as informações
acerca do cuidado com o bebê são fatores determinantes para a qualidade de saúde
das crianças. É comprovado que a falta ou inadequação desses cuidados geram
sérios agravos à saúde do binômio mãe-filho. Sabe-se que as fontes de informação
técnica das mulheres são muito limitadas, uma vez que no momento da alta existe
um número muito grande de informações que as mães recebem. Após o parto a mãe
pode buscar informações nas consultas de acompanhamento, porém normalmente
tem um tempo limitado de discussão. A formação de um grupo é importante já que
no momento da alta a maioria das mães ainda não está interessada em saber sobre
os problemas que poderão acontecer. As mulheres precisam vivenciar as
dificuldades e serem confrontadas com as diversas situações que surgem somente
após o convívio com o bebê na sua adaptação em casa e na família. No dia do
encontro grupal poderão trazer essas dúvidas e receberem orientação técnica, além
do apoio das demais integrantes.
505
2. OBJETIVOS
Orientar gestantes e puérperas sobre o cuidado com seus filhos; Esclarecer
dúvidas e dificuldades do processo de vivência da maternidade, através de um
grupo de convívio e discussão.
3. METODOLOGIA.
Trata-se de um relato de experiência sobre o grupo de mães, um projeto de
extensão universitária da FURG, que iniciou suas atividades em junho de 2013, sob
o número de incrição no Sigproj 135888.711.156992.23052013. As puérperas e
gestantes são convidadas pessoalmente na maternidade do Hospital Universitário
da Universidade Federal do Rio Grande. Elas recebem um folder explicativo com a
proposta. As equipes de saúde das unidades básicas e ambulatórios também são
informadas sobre o projeto para que possam convidar as mulheres. Outra forma de
divulgação usada é através da imprensa local, nos jornais escritos e sites.
As
interessadas inscrevem-se por telefone ou pessoalmente no Banco de Leite do
referido hospital. São disponibilizadas até 10 vagas. Foram realizados dois ciclos de
oito encontros cada. Cada encontro tem duração de até 120 minutos Os temas préestabelecidos são: amamentação, desmame, inclusão de alimentos na dieta do
bebê, sono do bebê, choro, cuidados de higiene, segurança, cuidados de saúde e
desenvolvimento psicomotor, imposição de limites na infância. Se houver algum
problema de saúde que seja de competência de outros profissionais, a mãe é
orientada sobre os serviços de saúde disponíveis para procurar atendimento.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao término do primeiro ciclo de encontros notou-se a participação e aceitação
das mulheres que participaram. Elas relatam ter sido de suma importância para esta
fase das suas vidas, pois muitas coisas mudam e ter alguém para conversar e sanar
506
as dúvidas foi algo que as ajudou bastante. Algumas declaram que nem se quer
teriam conseguido amamentar o bebê sem as instruções. O Grupo de Mães trouxe
para a comunidade Rio Grandinha mais um meio de comunicação, orientação e
educação em saúde. Sem custos, o principal foco tornou-se a qualidade de vida das
mulheres que passam por inúmeras transformações físicas e muito mais emocionais,
além das crianças que recebem os cuidados adequados desde o início de suas
vidas tendendo a ter mais saúde e bem estar. Durante a assistência dada às mães,
ainda prevalece a falta de informação técnica acerca do cuidado do bebê. Muitos
temas científicos são desconhecidos pelas gestantes e puérperas e cuidados
continuam sendo de forma empírica ou oportuno à vivência prática no domicílio com
a família e com os seus afazeres. Preferem utilizar outros métodos definidos por elas
como eficientes, como a utilização de mamadeiras, sem reconhecer o dano causado
à saúde dos seus filhos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, o Grupo de Mães trouxe uma nova visão do ser mãe e da
importância do manejo com a criança que, naquele momento, é completamente
dependente de cuidados para ter uma vida saudável.
Foi possível observar o
interesse e disponibilidade das mães em querer uma maior qualidade de vida à elas
e seus bebês. Elas prometem pôr em práticas as orientações fornecidas e mostramse ansiosas para os próximos encontros. As puérperas ficaram satisfeitas e
conseguiram passar por todos os desafios da maternidade com tranquilidade e plena
certeza que prestaram o melhor cuidado que puderam aos seus filhos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança - nutrição infantil: aleitamento
materno e alimentação complementar. (Cadernos de Atenção Básica, n. 23)
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 112 p.
507
ORSHAN, Susan A. Enfermagem na saúde das mulheres, das mães e dos
recém-nascidos: o cuidado ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2010. 1152p.
TENENBOJM, Eduardina Telles. Eficácia adaptativa, padrão de sono e
depressão em mães de crianças de 3 a 24 meses com insônia. São Paulo. USP,
2008, 159 p. Tese (doutorado). Faculdade de Medicina. Universidade Federal de
São Paulo, 2008.
WALL, Marilene Loewen. Tecnologias educativas: subsídios para a assistência
de enfermagem a grupos. Goiânia: AB, 2001.
508
31.3) AÇÕES EDUCATIVAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE DA MULHER
ZANINI MARIN, Fabiana1;
NASCIMENTO, Maria Licele2;
DINIZ EBLING, Sandra Betriz 3;
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Saúde da Mulher; Educação em Saúde; Enfermagem
1. INTRODUÇÃO
Historicamente as politicas publicas de saúde no Brasil limitavam-se as
demandas relativas à reprodução e ao binômio mãe- filho, um modelo caracterizado
no enfoque biomédico e\ou curativista de atenção, o qual apresentava aspectos
reducionistas da assistência a saúde da mulher (FREITAS et al, 2009). Devido ao
crescente desenvolvimento do perfil socioeconomico, da complexidade dos
atendimentos destinados a saúde da população feminina, o modelo biomédico de
assistência à saúde foi demonstrando sinais de fragilidade, assim na década de 60 o
movimento feminista insatisfeito com as desigualdades de gênero e com o enfoque
reducionista no qual a saúde da mulher era percebida, reivindicou a igualdade social
entre homens e mulheres, tendo em vista a necessidade de praticas mais
humanizadas, envolvendo aspectos como a qualidade de vida, promoção da saúde,
e reconhecimento quanto aos seus direitos humanos, contribuindo desta forma para
a garantia de bem-estar e saúde integral (BRASIL, 2011). Esse engajamento das
mulheres na luta pelos seus direitos e por melhores condições de vida impulsionou a
1
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões –
Campus Santiago, RS, Brasil. Bolsista do projeto de extensão intitulado Mulheres em ação pela
saúde e cidadania: um espaço delas. Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde
e Enfermagem) E-mail: [email protected].
2
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões –
Campus Santiago, RS, Brasil. Bolsista do laboratório de praticas do curso de enfermagem. E-mail:
[email protected]
3
Enfermeira Mestre em Educação nas ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul- Uniijui. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
509
adoção das primeiras medidas oficiais do Ministério da Saúde, voltadas para a
assistência integral à saúde da mulher. Neste sentido a educação em saúde vêm
fomentando novos olhares acerca da promoção da saúde, sendo apontada como um
importante instrumento de construção e veiculação de conhecimentos de forma
conjunta, no qual acadêmicos, profissionais da saúde e comunidade articulam seus
conhecimentos e trocam experiências, estimulando a co-responsabilização pela
qualidade de vida (SOUZA et al, 2013). Sabe-se ainda que a aproximação e
construção de vínculos com os sujeitos envolvidos nestas ações possibilitam
identificar possíveis agravos a saúde, oferecendo subsídios para a observação e
intervenção frente às reais necessidades dos sujeitos. Sendo assim, a educação em
saúde às mulheres, pode ser compreendida como uma prática intencional e
planejada, no qual as mesmas possam atuar e contribuir para o desenvolvimento de
uma melhor qualidade de vida.
2. OBJETIVO
Para tanto têm-se como objetivo deste estudo, relatar as ações de educação
em saúde realizadas com mulheres a partir de atividades extensionistas
universitária.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência dos acadêmicos do curso de
Enfermagem do VIII e X semestre da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões (URI), acerca das ações de educação em saúde às mulheres
participantes de uma atividade extensionista. A referida universidade é pertencente
ao campus de Santiago, Rio Grande do Sul e traz como missão formar pessoal ético
e competente, inserido na comunidade regional, capaz de construir conhecimento,
promover a cultura, o intercâmbio, a fim de desenvolver a consciência coletiva na
busca contínua da valorização e solidariedade humana (PROJETO POLÍTICO
510
PEDAGÓGICO, 2013). Nestes espaços é possível articular as ações de Educação
em Saúde entre docentes, discentes e trabalhadores de saúde, contribuindo para a
mudança no perfil das práticas de saúde, tornando-as mais dinâmicas e efetivas
quanto ao conceito ampliado de saúde. É nesse contexto de “saúde ampliado” que
nasce a proposta do Projeto de Extensão intitulado “Mulheres em ação pela saúde e
cidadania: um espaço delas, que teve como ponto de partida a aproximação com a
comunidade do Distrito Geosanitário Itú/São Vicente do município de Santiago, a
partir de atividades educativas desenvolvidas pelos docentes e discentes integrantes
do Núcleo Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão (NIEPE). Nessas
vivências, foi possível perceber os anseios das mulheres da referida comunidade em
desejar um espaço “delas”, justificando assim o interesse em desenvolver atividades
que possam instigar a cidadania, melhor qualidade de vida e emancipação desta
população. As atividades de educação em saúde ocorrem no espaço do Núcleo
Interdisciplinar de Ensino Pesquisa e Extensão (NIEPE), espaço este, de formação
profissional e integração entre Universidade e Serviço de Saúde. Os encontros
acontecem semanalmente, com duração de aproximadamente uma hora. Os sujeitos
envolvidos são mulheres na faixa etária de 50 a 76 anos, as atividades e temáticas
ocorrem de maneira diversificada, atendendo as necessidades das usuárias, de
forma dialógica - reflexiva, em forma de rodas de conversas, permeadas pela escuta
ativa no qual tem-se como intuito a transformação de saberes já existentes criando
possibilidades para que as mulheres, através de suas próprias reflexões possam
estar construindo estratégias apropriadas para promoção e recuperação da saúde
promovendo ainda a troca de experiências entre as participantes.Nesse momento,
apresentaremos a dinâmica intitulada “Como eu acredito ser vista como mulher
perante a sociedade? E como eu gostaria de ser percebida? A dinâmica foi
planejada com o propósito de sensibilizar as participantes quanto construção da
identidade de homens e mulheres, valorizando a idéia das relações de gênero como
estruturantes das relações humanas e sociais. A metodologia grupal empregada
para o desenvolvimento da dinâmica com as participantes do projeto constituiu-se
primeiramente de uma discussão no qual através dos relatos das próprias
511
participantes pode-se perceber o quanto o sujeito feminino é baseado em
estereótipos de inferioridade, e fragilidades. Após este momento, utilizando de um
quadro branco, e canecas coloridas, foi dividido o mesmo ao meio de um lado
apresentava a pergunta “Como você percebe que a mulher é vista pela sociedade?
e do outro lado “Como você gostaria de ser percebida?. Os depoimentos das
participantes no transcorrer da dinâmica, evidenciaram o quanto à sociedade e
família interfere no processo de construção dos sujeitos, vindo a intensificar a
vulnerabilidade da mulher frente aos condicionantes de saúde e doença. Nos relatos
as participantes descreveram ser vistas como mulheres frágeis, sem voz ativa, mãe,
dona de casa, evidenciando um modelo tradicional. Quando questionadas como elas
gostariam de ser vistas, quase que grande maioria respondeu como mulheres fortes,
independentes, vaidosas, charmosas, mulheres de direitos e deveres, cidadãs que
buscam a sua autonomia e que participam da sociedade na procura por uma maior
igualdade de direitos. Ao termino da dinâmica foi evidenciado que a atividade
possibilitou as mulheres aprendizado mutuo, instigando as mesmas quanto ao
fortalecimento da auto-estima, e autonomia, ampliando conhecimentos e visão critica
frente às relações de gênero. Esse tema representou um desafio a ser trabalhado,
uma vez que representa a noção das participantes sobre os aspectos sociais
relacionados a diferenças entre as relações de gênero acabando por abranger
diversos significados que refletem experiências, saberes e valores dos sujeitos
envolvidos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As atividades com as mulheres participantes do projeto extensionista foram
realizadas com o intuito de sensibilizá-las quanto à adesão aos hábitos saudáveis e
quanto à promoção a saúde, buscando promover a emancipação dos sujeitos
através da construção de conhecimentos sobre si mesmos e sobre aspectos
relevantes da saúde. As praticas de educação em saúde foram fundamentadas na
educação problematizadora que consiste na relação dialógica entre profissionais e
512
comunidade, ainda possibilita a ambos aprenderem juntos, socializar-se por meio de
um processo emancipatório de trabalho na construção de conhecimentos a partir da
vivência de experiências significativas .A
partir
da
realização
das
atividades
educativas evidenciou-se que as ações buscam romper com o modelo tradicional de
atenção a saúde, valorizando os sujeitos na sua integralidade, incluindo-os como
protagonistas de seu próprio auto cuidado, resgatando a independência e cidadania
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, pode-se perceber que o espaço de educação em saúde
proporcionado a estas mulheres através de modalidades grupais proporcionou
relações de confiança, troca de experiências, alivio de ansiedades reflexão e
aprendizado conjunto, reduzindo as situações de isolamento social sofridas, uma vez
que este momento foi exclusivo para elas.
Sendo assim, a contribuição das
ações de educação em saúde, partem do principio da integralidade da assistência,
criando espaços e possibilidades para atuação frente às principais necessidades
destas participantes. Desse modo ao se pensar em saúde como qualidade de vida,
destaca-se que as praticas de educação em saúde precisam englobar a visão
integral do indivíduo, família e comunidade, respeitado suas especificidades e
particularidades.
REFERÊNCIAS
ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública. Rev
Bras Enferm, Brasília. V.61, N.1, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
Mulher. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011.
FREITAS, G. L. et al. Discutindo a Politica de Atenção a Saúde da Mulher no
contexto da promoção da saúde. Rev Eletrônica de Enferm. 2009.
513
SILVA, S.O et al. Projeto Político Pedagógico de Graduação no Curso de
Enfermagem. Departamento de Ciências da Saúde. Santiago, 2013.
SOUZA, I.V.B. et al. Educação em saúde e enfermagem: revisão integrativa da
literatura. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança, v.11, n.1, 2013.
514
32.3) CONHECIMENTO DE PUÉRPERAS DE UMA MATERNIDADE NO
INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE O TABAGISMO 1
ALDRIGUI, Laíne Bertinetti 1
PADILHA, Daniela da Silva 2
COSTA, Ana Paula Ferreira 3
SOARES, Tatiane Machado da Silva 4
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Gestação, Tabagismo, Pré-natal.
1. INTRODUÇÃO
O hábito de fumar durante a gestação oferece sérios riscos para mãe e filho,
podendo ocorrer: abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo
peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios
de hemorragia (BRASIL, 2010). Essas consequências se devem, principalmente, aos
efeitos do monóxido de carbono e da nicotina exercidos sobre o feto, após a
absorção pelo organismo materno (BRASIL, 2005; GALÃO et al, 2009). É preciso
dar importância ao sentimento expressado pelas fumantes ao decidirem acabar com
o hábito ou vício de fumar, prestando assistência de forma integral. (ECKERDT E
CORRADI-WEBSTER,
2010).Entende-se
que
o
pré-natal
é
uma
grande
oportunidade para oferecer a essas mulheres orientações a respeito do fumo e
proporcionar apoio às que demonstrarem desejo de parar. Diante de tantos fatos,
penso que a gestante que for bem informada terá muitos motivos para pensar em
abandonar o cigarro, sendo que os benefícios do abandono seriam inúmeros.
Objetivo(s): Conhecer os motivos que levaram a puérpera a permanecer ou a parar
de fumar durante a gestação.
___________________________
1
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Email:
[email protected]
515
2
Enfermeira. Autora do trabalho de conclusão de curso “ O conhecimento de puérperas de uma
maternidade no interior do rio grande do sul sobre o tabagismo”. Email: [email protected]
3
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Email:
[email protected]
4
Enfermeira. Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de
Pelotas- UFPel. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e
famílias- NUPECAMF, da Universidade Federal de Pelotas.Email: [email protected]
2. METODOLOGIA
O estudo teve abordagem qualitativa de caráter descritivo e exploratório. A
pesquisa foi realizada na unidade obstétrica de um hospital de ensino no interior do
Rio Grande do Sul. Os sujeitos do estudo foram 3 puérperas tabagistas e 1 puérpera
que abandonou o vício no momento em que descobriu que estava grávida. Todas
estavam internadas no hospital de ensino citado anteriormente no período de
setembro a outubro de 2011. O anonimato dos sujeitos foi garantido, sendo atribuído
às participantes nomes de frutas escolhidos por elas, seguido da idade das mesmas.
Para a seleção foram estabelecidos os seguintes critérios: Ser puérpera e tabagista
ou ter parado de fumar durante a gestação; estar internada no período de setembro
a outubro de 2011 na unidade escolhida para o estudo; aceitar que a entrevista seja
gravada; permitir que os dados sejam divulgados em eventos científicos; solicitar
autorização aos responsáveis no caso de puérpera menor de 18 anos idade. O
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do departamento de
Enfermagem da UFPEL parecer nº 303/2011.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análise das falas os temas obtidos com o resultado de leitura das
puérperas entrevistadas foram: A importância das orientações no pré-natal e o
conhecimento das puérperas a respeito do tabagismo. Costa, Guilherme e Walter
(2005) pensam que o vínculo estabelecido entre a mulher e o profissional é um fator
importante para a humanização da atenção, para a adesão e a permanência das
gestantes no serviço de pré-natal. Ao questionar a puérpera sobre a realização do
516
pré-natal e a relação com o profissional a mesma respondeu não ter se acertado
muito com a médica que atendeu ela em todas as consultas. Acredita-se que não
ocorreu vínculo visto que a puérpera compareceu apenas a duas consultas de prénatal. Porém, percebe-se que esta atenção não tem sido efetiva, já que mesmo as
mulheres que freqüentam o pré-natal e passam por uma gestação sem
complicações, chegam ao final da gravidez demonstrando ainda falta de
conhecimentos sobre as modificações sofridas e despreparadas para vivenciar o
parto (RIOS E VIEIRA, 2007). Em relação a falta de qualidade na consulta de prénatal em relato puérpera relata que não recebeu nenhuma orientação que era só
pesar e medir. É difícil estimular a gestante a sair de sua casa para procurar o
serviço de saúde com todas as dificuldades que o Sistema Único de Saúde (SUS)
apresenta, a gestante muitas vezes enfrenta filas e falta de profissionais, e quando
consegue atendimento, é apenas para pesar e medir. De acordo com Corleta et al
(2008) e Brasil (2001) o tratamento eficaz contra o tabagismo inicia com uma
importante avaliação por parte do profissional, determinando o nível de
dependência, o grau de motivação para deixar de fumar, condições e tempo de
exposição ao cigarro. A abordagem ao paciente deve seguir cinco passos:
perguntar, avaliar, aconselhar, preparar e acompanhar. Maçã 19, diz ter começado a
fumar escondido dos pais aos 12 anos de idade e que não conseguiu diminuir o
consumo diário de cigarros na gestação. Uma puérpera ao ser questionada sobre a
influência do cigarro em sua gestação relata que sua filha nasceu com problema,
toda amarela, ter defecado e ingerido mecônio o que complicou ao nascer. Ainda
informou que a médica disse que o amarelo era consequência do cigarro. O fumo na
gestação aumenta os riscos de complicações como placenta prévia, descolamento
prematuro da placenta, ruptura prematura das membranas, hemorragia pré-parto,
parto prematuro, aborto espontâneo, gestação ectópica, crescimento uterino restrito,
baixo peso ao nascer, morte súbita do recém nascido, além de comprometer o
desenvolvimento físico da criança (ARAÚJO, 2004 e BRASIL, 2004). No estudo as
entrevistadas foram unanimes ao declarar que a ansiedade ou o nervosismo são a
principal causa que as levam a fumar. Morango 16, conta que parou de fumar no
517
início da gestação e diz que foi informada no pré-natal que o cigarro fazia mal para o
bebê. Motta, Echer e Lucena (2010) pensam que o período gestacional é o momento
ideal para a mulher deixar de fumar, que além de estar preocupada em proporcionar
um ambiente seguro e saudável para o desenvolvimento de seu bebê, está
diretamente ligada ao serviço de saúde pelo acompanhamento pré-natal.
4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que a gestação é uma fase de intensas mudanças para a
gestante, e por isso, o período gestacional é o momento ideal para adquirir
conhecimentos que ajudem a gestante a viver este período de forma tranquila e
saudável para ela e o filho. Por ser a gestação um período de inúmeras mudanças,
acaba tornando a mulher fragilizada, susceptível ansiedade, e assim como relatado
pela maioria das puérperas, o cigarro acaba tornando-se um aliado, um
companheiro, o que acaba dificultando o abandono durante a gravidez. Pensa-se
que falta muito para que o pré-natal seja considerado um aliado na luta contra o
tabagismo e que o profissional de saúde ofereça informações específicas que
estimule o abandono do vício.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, A.J. et al. Diretrizes para Cessação do Tabagismo. Jornal Brasileiro de
Pneumologia, v. 30, n.2 , São Paulo, 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v30s2/a02v30s2.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Gestação de alto
risco. Manual, 5. ed, Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 302 p. Acesso
em:
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/gestacao_alto_risco.pdf >. Acesso em:
23 abr. 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Assistência a saúde. Instituto Nacional
do Câncer. Abordagem e tratamento do fumante:consenso 2001. Rio de Janeiro:
INCA, 2001. Disponível em: <
http://www.inca.gov.br/tabagismo/parar/tratamento_consenso.pdf>. Acesso em: 26
abr. 2011.
518
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de
Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2006: Incidência de
câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2005.
Disponível em:
http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=jovem&link=namira.htm
Acesso em: 01 mai. 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade e
Nascidos Vivos para os profissionais do Programa Saúde da Família.SINASC.
Brasília, 2004. Disponível em:<
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/importancia_sim_sinasc.pdf>.
Acesso em: 25 abr. 2011.
CORLETA, H. E et al. Considerações sobre a abordagem da mulher fumante pelo
profissional de saúde. Revista de Ciências Médicas, Campinas, v. 17, n. 6, p.193199, mai-dez, 2008.
COSTA, A. M.; GUILHEM, D.; WALTER, M. I. M.T. Atendimento a gestantes no
Sistema Único de Saúde. Revista Saúde Pública, v.39, n.5, p. 768-774,2005.
Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/reben/v62n3/09.pdf>
ECKERDT, N. S.; CORRADI-WEBSTER, C. M. Sentidos sobre o hábito de fumar
para mulheres participantes de grupo de tabagistas. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, 2010. Disponível em:<
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18nspe/a22v18nspe.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2011.
GALÃO, A. O. et al. Efeitos do Fumo Materno Durante a Gestação e complicações
perinatais. Revista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, v. 29, n.3, p. 218-22,
2009. Disponível em: < http://seer.ufrgs.br/index.php/hcpa/article/view/10669/7002>.
Acesso em: 28 abr. 2011.
MOTTA, G.C.P.; ECHER, I.C.; LUCENA, A.F. Fatores Associados ao Tabagismo na
Gestação. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.18, n.4, 08 f, jul-ago,
2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n4/pt_21.pdf.
RIOS, C. T. F.; VIEIRA, N. F. C. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a
consulta de enfermagem como um espaço para educação em saúde. Ciências
saúde coletiva, v.12, n.2, p. 477-486, 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n2/a24v12n2.pdf.Acesso em: 12 abr. 2011.
519
33.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACERCA DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014)1
DE BORTOLI, Cleunir de Fátima Candido2;
RESSEL, Lúcia Beatriz3;
BARRETO, Camila Nunes4;
ASTARITA, Kelen 5;
SCARTON, Juliane 6;
CASTIGLIONI, Críslen Malavolta7
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal;
Descritores: Saúde da Mulher; Cuidado Pré-Natal; Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
A saúde da mulher no Brasil passou a ser contemplada nas políticas
nacionais de saúde em meados dos anos 30. Até os anos 70, limitava-se à
assistência relacionada à gravidez e ao parto (BRASIL, 2004). Em 1984 teve a
implantação do PAISM – Programa de Atenção Integral Saúde da Mulher e em 2000
o Ministério da Saúde instituiu Programa Nacional de Humanização do Parto e
Nascimento (PHPN), garantindo o acesso das gestantes e recém-nascidos a
atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto, puerpério e
período neonatal (BRASIL, 2000). Em 2011 o Ministério da Saúde instituiu a Rede
Cegonha, visando a realização de pré-natal na Unidade Básica de Saúde, captando
1
Estudo de Tendência.
Apresentadora. Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf)
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e
Enfermagem/UFSM e-mail: [email protected]
3
Orientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP).
Professora Associada do Curso de Graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do
Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. Email: [email protected]
4
Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
5
Co-autora. Acadêmica do Curso de Enfermagem da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa
Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
6
Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
7
Co-autora. Acadêmica do Curso de Enfermagem da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa
Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
2
520
precocemente a gestante com atenção qualificada ao pré-natal, com acolhimento às
intercorrências e avaliação do risco gestacional e vulnerabilidade da gestante
(BRASIL, 2011). O acompanhamento pré-natal tem por objetivo permitir o
desenvolvimento gestacional e o nascimento do recém-nascido saudável. Prevê
nenhum impacto na saúde da mulher, além de abordar aspectos psicossociais e
atividades de educação em saúde (BRASIL, 2012). A atenção Pré-Natal não deve
ser entendida somente pelo aspecto biológico da mulher, pois tal conduta torna-se
uma barreira, impedindo o estabelecimento do vínculo de acolhimento, confiança e
segurança na relação entre o Enfermeiro e a gestante (DUARTE, ANDRADE, 2006).
2. OBJETIVO
Conhecer a tendência da produção cientifica dos Programas de PósGraduação em Enfermagem no Brasil, acerca da assistência de Enfermagem no
Pré-Natal.
3. METODOLOGIA
Caracterizou-se por uma pesquisa bibliográfica no banco de teses e
dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), no dia 05 de junho de 2014, acerca da temática da assistência de
Enfermagem no Pré-Natal. Para a busca das publicações foram utilizadas as
palavras-chave: “cuidado pré-natal” e “Enfermagem”. No total foram encontradas 4
produções, sendo todas de origem de dissertações de mestrado acadêmicos. O
período disponível no banco na data da busca, foram publicações realizadas nos
anos de 2011 e 2012, em virtude disso realizou-se outra busca no catálogo da
ABEN. A busca no Catálogo da ABEN foi realizada com a palavra “cuidado prénatal”, localizando 17 publicações, sendo 4 duplicadas. Inicialmente, procedeu-se a
leitura atenta dos títulos e resumos e organizou-se os dados em um instrumento
elaborado pela própria pesquisadora, contendo: título, ano de publicação, tipo de
521
produção, instituição de origem, abordagem metodológica, sujeitos da pesquisa,
cenário, objetivo do estudo. Utilizou-se como critérios de inclusão estudos de teses e
dissertações nacionais, que abordassem a temática da Assistência de Enfermagem
no pré-natal e como critérios de exclusão, publicações com resumos incompletos ou
que não respondessem a questão de pesquisa. Os dados quantitativos foram
analisados pela frequência simples e apresentados na forma descritiva e os dados
qualitativos foram analisados através da Proposta Operativa de Minayo (2014).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No total foram selecionados 17 publicações, sendo 13 dissertações e 4 teses.
As publicações tiveram início em 2002, segundo ano após o Ministério da Saúde
instituir o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, visando subsidiar a
assistência à gestante e ao recém-nascido (BRASIL, 2002). Ainda, quanto ao ano de
publicação, destacam-se os anos de 2008 e 2012 com 4 publicações em cada ano,
na sequencia os anos de 2003, 2011 2013 com 2 publicações em cada ano. Em
relação aos cursos de Pós graduação, as publicações encontram-se em instituições
públicas, a maioria delas nas Universidade federal do Rio de Janeiro e Universidade
de São Paulo, totalizando quatro publicações cada. Na sequência, 2 publicações na
Universidade Federal do Ceará. Com uma publicação estão, Universidade Federal
de Santa Maria, Universidade Federal de Rio Grande do Norte, Universidade
Estadual de Londrina, Universidade do Pará, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Universidade Federal da Bahia e um estudo publicado em conjunto com a
Universidade Federal do Ceará e a Universidade Federal do Maranhã. Em relação a
abordagem metodológica, há uma prevalência maior de estudos qualitativos,
caracterizando 9 publicações, na sequencia os estudos quantitativos com 7
publicações e apenas um estudo caracterizado com quanti-qualitativo. Quanto aos
participantes dos estudos, apresentou uma frequência maior nos profissionais
Enfermeiros (as) com 7 publicações. Estudos pesquisando os profissionais de
Enfermagem foram 4 publicações, Gestantes 4 publicações e como participante
522
Enfermeiros (as) e gestantes penas 2 estudos. Quanto aos cenários dos estudos,
predominou o âmbito da Atenção Básica, sendo 11 estudos realizados em equipes
de Estratégia Saúde da Família (ESF) e Unidades Básicas de Saúde (UBS), 2
estudos em Centros de Saúde, 1 estudo pesquisando ESF e Centros de Saúde, 1
estudo pesquisou ESF e Maternidade de atenção ao parto. Ainda, Ambulatório
Hospitalar e Maternidade apenas 1 estudo em cada. A análise dos resumos emergiu
as seguintes categorias: Perfil dos profissionais e avaliação das ações na
assistência Pré-Natal: Nos estudos que obtiveram a caracterização do perfil dos
profissionais, apresentam resultados referentes a idade dos profissionais, dados
socioeconômicos, assim como a respeito da formação dos mesmos. Ainda, alguns
estudos optaram por caracterizar a equipe de Enfermagem envolvida nas ações de
assistência Pré-Natal. Quanto a avaliação das ações na assistência, identifica-se um
grande desafio, tanto na estrutura física e de recursos humanos. Os resultados
revelam que os profissionais possuem conhecimento, porém não na sua totalidade.
As fragilidades encontram-se na estratificação de risco e exame físico obstétrico.
Possuem participação discreta na assistência pré-natal e as competências
necessárias são realizadas, no entanto com baixa frequência. As habilidades
desenvolvidas emergem da própria atuação na Atenção Básica sem evidências de
políticas de Educação continuada na formação dos profissionais. Entretanto, em
uma minoria dos estudos estão as Necessidades, expectativas e percepção das
gestantes: Propõe que a atenção à Saúde da Mulher ocorra além da abordagem
clínica. Aponta a relevância do conhecimento do contexto cultural da gestante, como
subsidio para a prática de assistência. Revelam a necessidade de uma atenção
humanizada, compreendendo e atendendo as necessidades individuais. Ainda, as
usuárias identificam as atividades de Enfermagem nas consultas mensais, ações de
educação em Saúde em grupos e visitas domiciliares. Há uma valorização, por parte
das gestantes, para com as ações de Enfermagem, expressando sentimentos de
segurança, destacando a interação Enfermeira-Gestante e orientações sobre os
cuidados em saúde.
523
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise demonstra que a tendência dos estudos está mais direcionada as
questões de avaliação da Assistência de Enfermagem no Pré-Natal. Faz-se
necessário compreender as dificuldades enfrentadas pelos profissionais Enfermeiros
na Assistência ao Pré-Natal. Ainda, identificou-se uma lacuna na produção cientifica
na perspectiva da práxis dos profissionais na assistência ao Pré-Natal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Assistência integral à saúde da mulher: bases da ação programática.
Brasília DF: Ministério da Saúde, 1984.
BRASIL. Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000. Programa Nacional de
Humanização do Parto e Nascimento. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2000.
BRASIL. Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000. Programa Nacional de
Humanização do Parto e Nascimento. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2000.
BRASIL. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS:
acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma éticoestético no fazer em saúde. 1. Ed. Brasília DF: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL. Portaria GM/MS n.º 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito
so Sistema Único de Saúde – SUS a Rede Cegonha. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Atenção ao prénatal de baixo risco – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
DUARTE, Sebastião Junior Henrique; ANDRADE, Sônia Maria Oliveira de.
Assistência pré-natal no Programa Saúde da Família. Esc. Anna Nery. Rio de
Janeiro , v. 10, n. 1, Apr. 2006 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452006000100016&lng=en&nrm=iso>. access on 15 June 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452006000100016.
524
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde.
São Paulo, Hucitec, 2014.
525
34.3) PRÁTICAS ASSISTÊNCIAS DESENVOLVIDAS PELO ENFERMEIRO NA
ATENÇÃO PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA (2014)1
DE BORTOLI, Cleunir De Fátima Candido2;
RESSEL, Lúcia Beatriz3;
ALVES, Camila Neumaier 4;
BISOGNIN, Priscila5;
PRATES, Lisie Alende6;
BARRETO, Camila Nunes7
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal
Descritores: Cuidado Pré-Natal; Cuidados de Enfermagem; Gravidez;
1. INTRODUÇÃO
A atenção à saúde da mulher no Brasil, passou fazer parte das Políticas
Nacionais em meados das primeiras décadas do século XX. Os programas de
assistência materno-infantis, existentes nas décadas de 30, 50 e 70, contemplavam
a mulher no seu aspecto biológico e papel social (BRASIL, 2004). A Atenção à
Saúde da mulher, teve inicio com a implantação do Programa de Atenção Integral a
Saúde da Mulher (PAISM), no período de 1984 a 1989. Na década de 1990 obteve
maior amplitude em sua execução, sofrendo influências a partir da proposição do
1
Estado da Arte
Apresentadora. Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf)
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e
Enfermagem/UFSM e-mail: [email protected]
3
Orientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP).
Professora Associada do Curso de Graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do
Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. Email: [email protected]
4
Co-autora. Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas/RS. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e
Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
5
Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
6
Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
7
Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado,
Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected]
2
526
SUS. Apresentava características da nova política de saúde, pelo processo de
municipalização e principalmente pela reorganização da atenção básica, por meio da
Estratégia
Programa
preventivas, de
Saúde
diagnóstico,
da
Família.
tratamento
Contemplando
e
recuperação,
ações
educativas,
compreendendo
a
assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no
climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além
de outras necessidades de acordo com o perfil populacional (BRASIL, 1984). O
Ministério da Saúde, através da Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000,
instituiu o Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN),
garantindo o acesso das gestantes e recém-nascidos a atendimento digno e de
qualidade no decorrer da gestação, parto, puerpério e período neonatal (BRASIL,
2000). Em 2011 o Ministério da Saúde instituiu a Rede Cegonha, visando a
reorganização da da rede de atenção à mulher, propondo a realização de pré-natal
na Unidade Básica de Saúde, com a captanção precocemente a gestante e
qualificação da Atenção Pré-Natal (BRASIL, 2011).
2. OBJETIVO
Conhecer as ações desenvolvidas pelo Enfermeiro na atenção pré-natal.
3. METODOLOGIA
Caracterizou-se por um estudo de revisão. No desenvolvimento do mesmo
foram percorridas as seguintes etapas: estabelecimento da questão de pesquisa;
estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos; categorização dos
estudos; avaliação dos estudos; interpretação dos resultados; e a síntese do
conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Para orientar a busca dos
estudos, utilizou-se da seguinte questão de pesquisa: quais as ações desenvolvidas
pelos enfermeiros durante a assistência pré-natal e como elas refletem na saúde das
mulheres? A seleção dos estudos foi realizada em junho de 2014. Utilizou-se como
527
critérios de inclusão, artigos que estivessem apresentados com resumos completos
nas bases de dados; disponíveis online, na integra e de forma gratuita, sendo
pesquisas originais; nos idiomas inglês, espanhol ou português; publicados entre
1984 e 2013. Os critérios de exclusão foram aqueles que não se relacionassem a
temática estudada e não respondessem à pergunta de pesquisa. A busca dos
artigos foi realizada na base de dados eletrônica Public Medline (PubMed) utilizando
os MeSH Terms “prenatal care” and “nursing”, na base de dados MEDLINE (Medical
Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line) e LILACS (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde) com os descritores de assunto
“cuidado pré-natal” e “enfermagem”. Determinou-se como recorte temporal o ano de
1984, quando ocorreu a implantação oficial do PAISM, marco importante nas
políticas públicas em relação a assistência na saúde de mulher. Entretanto, este
recorte possibilita 29 anos de publicações, não causando limitações na busca por
estudos publicados em outros países e encontrados indexados na MEDLINE. A
partir da busca encontrou-se um total de 430 estudos na PUBMED, sendo aplicado
filtro de disponível gratuitamente resultando em 12 estudos, sendo que somente 5
responderam a temática. Na base de dados da LILACS foram encontrados 18
estudos, onde 1 estava indisponível, 12 não responderam a temática e 5
selecionados. Na MEDLINE, localizou-se 116 estudos, 113 estavam indisponíveis, 2
não responderam a temática e 1 selecionado, no entanto o mesmo estava repetido.
Finalizando a busca com 10 artigos para análise.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a presente revisão, realizou-se a análise de dez artigos, todos
atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos para realização deste estudo. A
seguir apresenta-se uma caracterização dos estudos selecionados e analisados na
presente revisão. Quanto ao local do estudo, observou-se que oito foram realizados
no Brasil, um em Portugal e um na Colômbia. Sobre a abordagem metodológica dos
estudos, foram cinco quantitativos e cinco qualitativos. Quanto ao cenário,
528
predominou estudos desenvolvidos no âmbito da Atenção Básica totalizando seis
estudos, em menor proporção, com dois estudos identificou-se Hospitais e
maternidades. E na frequência de apenas um estudo cada, foram identificados:
Hospital Universitário e Hospital e centro de saúde concomitante. Considerando os
participantes do estudo foram realizados com enfermeiras um total de cinco artigos e
usuárias, sendo gestantes e puérperas envolvendo também cinco estudos. Em
relação aos anos de publicação dos estudos identificou-se: um artigo em 2004,
2007, 2008 e 2009; dois em 2006, 2010 e 2011. A seguir, apresenta-se a síntese
dos artigos incluídos nesta revisão. Em relação aos resultados desses estudos,
observa-se que existem dificuldades na prestação da assistência, onde as
competências dos enfermeiros não são desenvolvidas na sua totalidade,
comprometendo a qualificação das atividades desenvolvidas. As dificuldades mais
frequentes são as que exigem saber e habilidades, o saber fazer. A graduação
reflete na atenção pré-natal, tanto nos aspectos teóricos quanto atividades práticas
(DOTTO, MOULIN, MAMEDE; 2006). Entre as ações desenvolvidas pelos
enfermeiros no cuidado pré-natal, encontram-se as atividades de educação em
saúde,
consulta
de
pré-natal,
preparação
para
o
parto,
assistências as
intercorrências, acolhimento e humanização do cuidado prestado, sendo que um
estudo apresentou indicadores de gênero e da assistência de enfermagem. A ação
educativa é realizada de rotina pelo enfermeiro, durante a consulta de pré-natal, no
entanto com pouca participação da mulher, sendo as questões estruturais e os
modelos organizacionais os obstáculos da educação em saúde libertadora.
Atividades como visitas domiciliares, possibilita a detecção e a prevenção de
problemas frequentes na gestação, atividade essa nem sempre possível de ser
realizada durante as consultas de pré-natal (NARCHI NZ, 2010). Os estudos
evidenciam a necessidade de reorganizar a assistência de enfermagem no pré-natal,
com revisão das políticas públicas e envolvimento dos profissionais, instituições e
gestores.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
529
Conclui-se com o presente a amplitude da atuação dos profissionais de
Enfermagem na assistência pré-natal. O cuidado se faz presente desde o início da
gestação até o momento do parto. Possibilitou identificar que os estudos abordam o
caráter avaliativo do cuidado pré-natal, assim como a qualidade e satisfação na
perspectiva das usuárias assistidas pelo enfermeiro. Em relação a proposta desta
revisão, observa-se uma lacuna no que concerne ao desenvolvimento de estudos
com os profissionais enfermeiros, que enfoquem os limites e possibilidades do
profissional nas ações de cuidado pré-natal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Assistência integral à saúde da mulher: bases da ação programática.
Brasília DF: Ministério da Saúde, 1984.
BRASIL. Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000. Programa Nacional de
Humanização do Parto e Nascimento. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2000.
BRASIL. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS:
acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma éticoestético no fazer em saúde. 1. Ed. Brasília DF: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL. Portaria GM/MS n.º 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito
so Sistema Único de Saúde – SUS a Rede Cegonha. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2011.
DOTTO, Leila Maria Geromel; MOULIN, Nelly de Mendonça; MAMEDE, Marli Villela.
Assistência pré-natal: dificuldades vivenciadas pelas enfermeiras. Rev. Latino-Am.
Enfermagem, Ribeirão Preto , v. 14, n. 5, Oct. 2006 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692006000500007&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Mai. 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692006000500007.
MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira;
GALVAO, Cristina Maria. Revisão integrativa: método de pesquisa para a
incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm.,
530
Florianópolis , v. 17, n. 4, Dec. 2008 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010407072008000400018&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Mai. 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072008000400018.
NARCHI, Nádia Zanon. Atenção pré-natal por enfermeiros na Zona Leste da cidade
de São Paulo - Brasil. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 44, n. 2, June 2010 .
Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342010000200004&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Mai. 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342010000200004.
531
35.3) A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA GESTAÇÃO: DENÚNCIAS DE
VIVIDOS EM UMA DELEGACIA DE POLICIA PARA A MULHER 1
BECKER VIEIRA, Letícia2;
DE MELLO PADOIN, Stela3;
DE OLIVEIRA SOUZA, Ivis Emília 4;
ROMIJN TOCANTINS, Florence5;
LANDERDAHL, Maria Celeste6.
Eixo Temático:: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Violência contra a mulher; Gravidez; Maus-Tratos Conjugais; Fatores
de risco.
1. INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher é definida como qualquer ação ou comportamento
baseado no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico à mulher, tanto no âmbito público como na esfera privada(BRASIL,
1994). A violência ocorre também em um período específico da vida das mulheres: o
período gestacional. Durante a gestação a mulher enfrenta mudanças físicas e
psicológicas que a tornam mais sensíveis ou fragilizadas merecendo, assim, uma
maior atenção por parte do companheiro e da família. No entanto, a violência é uma
realidade da vida de muitas dessas mulheres, desencadeando prejuízos, muitas
vezes, irreparáveis ao binômio mãe-filho (SANTOS et al., 2010). Assim a gravidez é
1
Estudo qualitativo, que se constituiu de uma releitura em banco de dados da Dissertação de
Mestrado: “Perspectivas de mulheres que denunciam o vivido da violência: cuidado de Enfermagem à
luz de Alfred Schütz” e da Tese de Doutorado intitulada: “A mulher que vivencia a denúncia da
violência e a relação com sua rede social: perspectivas para cuidar em saúde” cujos protocolos foram
aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) sob os respectivos número: 0283.0.243.000-09 (2010) e nº19004/20012 (2012).
2
Doutora em Enfermagem, Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul EE/UFRGS. E-mail: [email protected]
3
Doutora em Enfermagem, Graduação e Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected]
4
Doutora em Enfermagem. Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de
Janeiro – EEAN/UFRJ. E-mail: [email protected]
5
Doutora em Enfermagem. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro – EEAP/UNIRIO.
6
Doutoranda em Enfermagem. Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria –
UFSM. E-mail: [email protected]
532
configura-se como um fator de risco e também de proteção para a violência
perpetrada contra o companheiro, alterando o padrão quanto à frequência e
gravidade dessas agressões durante o período (DURAND, SCHRAIBER; 2007;
MEDINA, PENNA, 2008). Segundo o Informe Mundial sobre a Violência e a Saúde a
prevalência de violência física e sexual durante a gravidez oscila entre 1% e 20%,
com índices altos nos primeiros seis meses após o parto (25%). Destaca-se ainda
que a violência pode ser mais comum para a gestante do que a pré-eclâmpsia, o
diabetes gestacional ou a placenta prévia (OMS, 2002). Nesse contexto, além dos
danos resultantes da violência em si, nos diversos ciclos da vida, outros podem
resultar da violência nessa fase, tais como: retardo em iniciar o pré-natal,
abortamento e natimortalidade, baixo peso ao nascer, trabalho de parto prematuro,
perdas fetais, infecções vaginais, uterinas, hemorragias, traumas abdominais,
ruptura prematura de membranas e morte materna (BONFIM, LOPES, PERETTO,
2010). Assim, objetivou-se analisar o vivido de mulheres que denunciam situações
de violência na gestação em uma Delegacia de Polícia para Mulher.
2. METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa qualitativa tendo como participantes 32 mulheres que
realizaram o registro da violência na Delegacia de Polícia para a Mulher de um
município do interior do Rio Grande do Sul das quais cinco relataram terem sido
agredidas durante a gestação. As entrevistas semi estruturadas foram realizadas em
março a abril de 2010, e posteriormente em maio a novembro de 2012.
Desenvolveu-se a análise de conteúdo temática, composta pelas fases de préanálise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos. Os preceitos
éticos foram observados conforme Resolução 466/12 (BRASIL, 2012).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
533
A idade das mulheres entrevistadas foi entre 19 e 33 anos. O número de
filhos variou de um a quatro filhos. Média de 02 denúncias realizadas contra o
companheiro. No que diz respeito à situação marital predomínio de relação estável.
A maioria das mulheres possui ensino médio incompleto. A literatura ressalta que o
risco de agressão é significativamente maior para os níveis mais baixos de
escolaridade. Observa-se também aumento do risco para as mulheres com união
consensual, em relação às casadas (MENEZES et al., 2003). As falas abaixo
ilustram a categoria empírica emergida no estudo: VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
NA GESTAÇÃO - DENÚNCIAS DE VIVIDOS: “Cada vez mais agressivo
(companheiro), em todos os sentidos. Mas fisicamente, principalmente... e ai se tu
esta nessa situação minha, grávida não é? Vai fazer o quê?” M3(D); “As pessoas
não entendem essa situação da Maria da Penha, dizem: tu não tens vergonha e
volta com ele (marido). Não é que tu queiras voltar com a pessoa, é a situação que
não te deixa sair disso, sabe? No caso, grávida! Vai trabalhar? Não! Quem vai pegar
uma grávida pra trabalhar! Tu vai pra onde grávida? Não é? As pessoas não
entendem porque tu volta. Dizem: ah voltou! Muitas vezes dizem: ai retirou a
denúncia! Julgam mas não sabe que a mágoa vai ficando M10 (D)
“Ele
(companheiro) sempre me bateu e me abandonou e ainda grávida de sete meses,
me deixando naquela situação, sozinha com três filho e um na barriga. Foi difícil
pedir ajuda, muita vergonha ... M3(T) “A primeira denúncia eu fiz quando estava
grávida.... Agora é a segunda denúncia... Meu filho presencia isso tudo desde a
gestação, desde quando estava na minha barriga, por isso esta assim agressivo,
chorão, não fica na creche ...” M7(T). As mulheres descrevem que os episódios de
agressões físicas, verbais, psicológicas, sexuais e ameaças de morte comentidas
pelo companheiro/marido aconteciam anteriores a gestação, e que o fato de estarem
gestando um filho do mesmo não se configurou como um fator de proteção ou
cessação das agressões. Neste vivido revelam ainda que os filhos vivenciam tais
situações desde sua concepção e que seguem a presenciá-la o que gera
repercussões psicológicas e sociais nos mesmos. A gestação é marcada ora pelo
abandono do companheiro, ora pelos questionamentos em seguir ou romper com a
534
relação conjugal. No entanto, o contexto social e econômico as imobiliza a romper
com a relação violenta, aliado a isso expõe a fragilidade e a vulnerabilidade própria
da fase gestacional. As mulheres manifestam que buscaram ajuda para enfrentar a
situação principalmente nos membros de sua família, mas que a vergonha,
preconceito e julgamento tornam a busca de ajuda limitada. Torna-se de
fundamental importância associar ao cuidado à mulher em situação de violência e
sua família, avaliando seu contexto sociocultural, envolvendo a abordagem das
relações entre os seus integrantes e o entendimento de que a existência de
condições particulares individuais, familiares e coletivas aumenta o risco de
ocorrência da violência no âmbito doméstico (BRASIL, 2001).
4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se o importante papel dos profissionais da saúde e em especial da
Enfermagem na detecção dos casos de violência contra a mulher na gestação, na
proposição de ações de prevenção e combate deste vivido no atendimento e
acompanhamento das situações de violência. Portanto, é de fundamental
importância à abordagem do tema, no âmbito assistencial, seja na oportunidade de
uma consulta pré- natal e até mesmo incorporando o tema nos currículos
universitários e nas discussões no fazer cotidiano das unidades de saúde, voltadas
para a análise e acompanhamento dos casos atendidos com vistas a sensibilização
e a atenção para a temática da violência na gravidez.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
Contra a Mulher, Belém do Pará. Brasil: 1994.
BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática
em serviço. 1ª ed. Brasília (DF); 2001
535
BONFIM E.G., LOPES M.J.M., PERETTO M. Os registros profissionais do
atendimento pré-natal e a (in)visibilidade da violência doméstica contra a mulher.
Esc Anna Nery Rev Enferm. 2010; 14(1):97-104.
DURAND J.G., SCHRAIBER L.B. Violência na gestação entre usuárias de serviços
públicos de saúde da Grande São Paulo: prevalência e fatores associados. Rev.
bras. epidemiol. 2007; 10(3).
MEDINA A.B.C., PENNA L.H.G. Violência na gestação: um estudo da produção
científica de 2000 a 2005. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008; 12 (4): 793-98.
MENEZES T.C., AMORIM M.M.R., SANTOS L.C., FAGÚNDES A.L. Violência física
doméstica e gestação: resultados de um inquérito no puerpério. Rev. Bras.
Ginecol. Obstet. 2003; 25(5): 303- 316.
MEDINA, A. B. C.; PENNA, L. H. G. A percepção de enfermeiras obstétricas acerca
da violência intrafamiliar em mulheres grávidas. Texto Contexto Enfermagem,
2008; 17(3):466-73.
SANTOS A.G., NERY I.S., RODRIGUES D.C., MELO A.S. Violência contra
gestantes em delegacias especializadas no atendimento à mulher de Teresina-PI.
Rev. Rene, 2010; 1 (Número Especial): 109-16.
536
36.3) PERCEPÇÕES DE MULHERES ACERCA DO EXAME CITOPATOLÓGICO1
BROCH, Daiane2;
ZUGNO, Rochele Maria3;
GODINHO, Maria Luzia4;
BANDEIRA, Eliel de Oliveira5;
LIMA, Juliana Piveta de6;
GOMES, Vera Lúcia de Oliveira7
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Enfermagem. Exame Papanicolau. Prevenção de câncer de colo
uterino
1. INTRODUÇÃO
O câncer do colo do útero é caracterizado pela replicação desordenada do
epitélio de revestimento desse órgão, podendo comprometer o tecido subjacente e
invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. É uma doença de
desenvolvimento lento, que pode evoluir sem sintomas em fase inicial e avançar
para quadros de sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual,
secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou
intestinais nos casos mais avançados (BRASIL, 2011). O exame preventivo, também
chamado de citopatológico ou Papanicolau, envolve uma avaliação morfológica
celular decisiva para a detecção de uma pré-malignidade, que quando associada a
1
Trata-se do recorte de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo grupo PET/Enfermagem.
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
3
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
4
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
5
Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected]
6
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista CNPq. E-mail:
[email protected]
7
Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande. Líder do
Grupo GEPEGS. Tutora do Grupo PET Enfermagem. E-mail: [email protected]
2
537
um determinado quadro clínico, permite o direcionamento do tratamento específico.
Trata-se de um exame rápido, de baixo custo operacional e, se realizado com
técnicas adequadas e por profissionais devidamente treinados, é de grande
confiabilidade (BRASIL, 2008). A realização do exame é vivenciada pelas mulheres
de forma individualizada. Muitos dos sentimentos desencadeados decorrem da
necessária exposição da intimidade feminina. O exame em si representa uma
ameaça e causa medo, provocando reações que muitas vezes podem não ser
expressas na fala. (FERREIRA, 2009).
Cada mulher possui sua própria
singularidade e compreensão sobre o contexto que envolve o exame citopatológico.
Um procedimento, a princípio simples aos olhos do profissional, pode ser percebido
pela mulher como uma experiência agressiva, tanto física quanto psicológicamente,
pois a mulher que busca o serviço traz consigo uma bagagem sociail, cultural,
familiar e religiosa (JORGE, 2011). Por isso é necessária a implementação de
medidas que atraiam as mulheres às Unidades Básicas de Saúde, para a realização
do exame preventivo, visando à obtenção do diagnóstico precoce de lesões
precursoras do câncer do colo uterino. Sabe-se que na fase inicial da doença, as
chances de cura podem chegar a 100% e, em grande número de vezes, a resolução
ocorre em nível ambulatorial, diminuindo assim, os índices de morbimortalidade
(BRASIL, 2008).
2. OBJETIVO
Conhecer a percepção acerca do exame citopatológico, entre mulheres
agendadas para a realização do mesmo em uma UBSF do município do Rio Grande.
3. METODOLOGIA
Trata-se
de
um
estudo
exploratório-descritivo
com
abordagem
qualitativa,realizado por meio de evocações. Para colhê-las se fez o seguinte
questionamento: quais as três primeiras palavras ou expressões que você lembra ao
538
ouvir o termo “exame papanicolau”?
Participaram como informantes mulheres,
agendades para coleta de citopatológico nos meses novembro e dezembro de 2013,
em uma USF da periferia do município do Rio Grande. Os dados foram coletados
por meio de entrevista com registro manual, em sala destinada para essa finalidade,
na própria unidade de saúde. Utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin (2011),
que se configura como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que
utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens. Cada palavra ou expressão citada constituiu uma unidade de registro
que posteriomente foi categorizada. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
CEPAS/FURG sob o parecer nº 040/2013.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Participaram dessa pesquisa dez mulheres. Diante do termo indutor “exame
papanicolau” evocaram 30 palavras. Analisando-se a conotação das palavras
evocadas percebeu-se que algumas tinham a conotação negativa, outras positiva e
raras neutra. Houve o predomínio de palavras com conotação negativa 17 (56,7%),
sendo as mais citadas “doenças” 4 (13,3%), “desconforto” 4 (13,3%) e “vergonha” 4
(13,3%), seguidas por “câncer” 2 (6,7%), “medo” 2 (6,7%) e “desconhecimento” 1
(3,3%). Das 11 (36,7%) positivas a palavra predominante foi prevenção 7 (23,3%),
seguida por saúde 2 (6,7%) e higiene 2 (6,7%) e as 2 (6,7%) palavras neutras
citadas foram “privacidade” e “necessidade”. Esses achados podem demonstrar que
as mulheres têm percepção negativa acerca do exame papanicolau, o que justificaria
sua baixa adesão. Segundo os dados colhidos juntos às fichas cadastrais dos
Agentes Comunitários de Saúde na UBSF pesquisada, em 2012 haviam 778
mulheres na faixa etária de 15 a 59 anos de idade, dessas apenas 108 realizaram o
exame preventivo de câncer do colo do útero (DANTAS, 2014). Nesse sentido,
Pelloso; Carvalho e Higashi (2004) mencionam que o sentimento de vergonha pode
estar associado à impessoalidade da realização do exame. Além disso, relacionam a
exposição do corpo, com a questão da sexualidade e dos tabus atrelados a esse
539
tema, da mesma forma que mencionam o fato da mulher perceber que seu corpo
será visto e compreendido como objeto, o que deixa de lado sua condição humana.
A palavra prevenção foi a mais evocada entre as com conotação positiva. Tal
constatação pode ser justificada pelo fato das muheres reconhecerem a importância
da realização do exame como medida preventiva. No entanto, Pelloso, Carvalho, e
Higarashi (2004) advertem que embora as mulheres reconheçam a importância da
realização do papanicolau, sua prática fica prejudicada em função do medo, da
insegurança e da tensão.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que o exame Papanicolau é visto pela maioria das mulheres como
algo negativo, assim, considera-se de extrema importância que os profissionais de
saúde o problematizem junto às clientes, com informações qualificadas, que
possibilitem tanto a desmitificação dos fatores negativos, quanto valorizem a
aplicabilidade dos resultados na prevenção e tratamento de patologia quando
detectadas. Considerando-se que dentre as palavras negativas “vergonha” foi uma
das mais citadas, a equipe deve rever as rotinas de atendimento valorizando a
privacidade da cliente, proporcionar o mínimo de desconforto possível e priorizar o
atendimento por profissional do sexo feminino. Deve ainda, manter um controle
acerca da periodicidade da realização do exame efetuando, sempre que possivel,
busca ativa das mulheres faltosas.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção e Controle do Câncer do Colo do útero:
protocolo de Atenção a saúde da mulher. Secretaria Municipal de Saúde. Belo
Horizonte (BH): Ministério da saúde, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo
do Útero. Brasília (DF): INCA 2011.
540
DANTAS, T. S. O exame citopatológico na percepção de usuárias da Unidade
Básica da Estratégia de Saúde da Família Dr José Salomão. Trabalho de Conclusão
de Curso. Curso de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, Rio
Grande/RS, 2014.
FERREIRA, M.L.S.M. Motivos que influenciam a não-realização do exame de
papanicolaou segundo a percepção de mulheres. Esc Anna Nery Rev Enferm, abrjun; v13, n.2, p.378-84, 2009.
JORGE, R.J.B. Exame Papanicolaou: sentimentos relatados por profissionais de
enfermagem ao se submeterem a esse exame. Ciência & Saúde Coletiva, v.16,
n.5, p.2443-2451, 2011.
PELLOSO, S. M.; CARVALHO, M. D. B.; HIGARASHI, L. H. Conhecimento das
mulheres sobre o câncer cérvico-uterino. Acta Scientiarum. Health Sciences,
Maringá, v.26, n.2, p.319 - 324, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHealthSci/article/viewFile/15
82/935>. Acesso em: 22 set. 2014.
541
37.3) PERCEPÇÕES DE PUÉRPERAS ACERCA DAS ORIENTAÇÕES SOBRE
ALEITAMENTO MATERNO1
BATISTA, Marina Ramos2;
VELEDA, Aline Alves 3
Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher.
Descritores: Aleitamento materno; Educação em Saúde; Saúde materno-infantil.
1. INTRODUÇÃO
O aleitamento materno é uma prática de benefícios reconhecidos e
amplamente recomendada. Recomenda-se o aleitamento materno exclusivo até os
seis meses de vida da criança. Para tanto, considera-se aleitamento materno
exclusivo a alimentação da criança apenas com leite humano, seja ele da própria
mama materna, ordenhado ou de outra fonte (BRASIL, 2009a). No Brasil, com o
intuito de promover a prática do aleitamento materno, existem diversas políticas e
estratégias de incentivo à amamentação. Destas, é possível citar a Rede Cegonha, a
Rede Amamenta Brasil, e a Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Entretanto, apesar
de um progresso no índice de aleitamento materno, esta prática ainda está longe do
ideal, pois o aleitamento materno exclusivo é pouco frequente (BRASIL, 2009b;
VENANCIO et al., 2010).
2. OBJETIVO
Conhecer as percepções das puérperas em relação às orientações sobre
aleitamento materno.
1
Trabalho de conclusão do curso de Bacharelado em Enfermagem apresentado ao Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
2
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
([email protected])
3
Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da
Saúde de Porto Alegre (Mestre em Enfermagem pela Fundação Universidade Federal de Rio Grande,
[email protected])
542
3. METODOLOGIA
Trara-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo realizado nas
Unidades de Saúde da Família do Distrito Docente Assistencial Norte/Eixo Baltazar
do município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram do estudo
puérperas, em puerpério tardio, residentes no município, cujos partos foram
realizados em um Hospital Amigo da Criança e que já haviam realizado a primeira
consulta de puericultura na sua unidade de saúde de referência. Foram excluídas
mulheres cujos recém-nascidos permaneceram internados em Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal por qualquer período de tempo, mulheres que permaneceram
internadas em Unidade de Terapia Intensiva após o parto, aquelas cujos recémnascidos tivessem qualquer má formação congênita que dificultasse o processo de
amamentação e aquelas com contra-indicação absoluta para amamentar. A coleta
de dados se deu através de uma entrevista semi-estruturada, com roteiro norteador
e ocorreu através do contato com as Unidade de Saúde da Família para indicação
de uma puérpera e posterior visita domiciliar para realização da entrevista.
O
término da coleta deu-se pelo critério de saturação dos dados. Os dados foram
analisados pela Análise Temática proposta por Minayo (2010). Conforme a
resolução nº466 do Conselho Nacional de Saúde de 12 de dezembro de 2012, o
projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (parecer nº565.848) e pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (parecer nº638.224).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistas um total de seis mulheres, puérperas, em seus domicilios,
entre o 11º e o 42º dia após o parto. A partir de seus depoimentos podemos chegar
a algumas conclusões preliminares deste estudo: 1) as orientações sobre
aleitamento materno são fornecidas em forma de ensino-aprendizagem, onde a
mulher escuta e o profissional ensina as técnicas mais adequadas, sem considerar a
543
questão sensível da amamentação; 2) as orientações são realizadas de maneira
tecnicista e são focadas nos problemas que podem ocorrer durante o processo de
amamentação; 3) as orientações foram fornecidas somente durante o puerpério, não
sendo referidas nas consultas e encontros no pré-natal; 4) algumas mulheres não
receberam apoio para amamentar logo após o parto, recebendo auxílio apenas
quando percebeu-se alguma dificuldade;
5) na fala de algumas participantes é
possível perceber a visão do aleitamento materno como uma obrigação da mulher e
a responsabilidade em seguir as orientações dos profissionais da saúde; 6) mesmo
recebendo poucas orientações ou elas sendo realizadas somente com foco em
questões técnicas, quando receberam auxílio as mulherese consideraram importante
para o período pós-parto. Estes resultados vem de encontro aos de outros autores
(OLIVEIRA et al., 2010) que trazem que muitas mulheres referem não ter recebido
apoio ao amamentar, ou que receberam apenas quando ocorreram problemas. E,
ainda, que a prática de orientações sobre amamentação resume-se a questão
biológica, refletindo o modelo biomédico e mecanicista, não atendendo às
necessidades das mulheres (MARQUES et al., 2009), reforçando a necessidade de
ouvi-las e abranger questões sociais e culturais nas orientações sobre aleitamento
materno (OLIVEIRA et al., 2010; MARQUES et al., 2009).
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das informações coletadas pudemos considerar que as mulheres
estão sendo atendidas de maneira parcial em suas necessidades relativas à
amamentação, visto que os profissionais que as estão assistindo continuam
reproduzindo em seus cuidados a maneira tradicional, tecnicista e biomédica que
prioriza o foco em problemas e não na prevenção e na educação em saúde. Além
disso, nas falas das mulheres ficou evidente a necessidade de uma escuta
qualificada, de um acolhimento e de um tempo maior para as orientações e ao apoio
ao aleitamento materno. Acreditamos que a amamentação vai além de técnicas
corretas, boa pega e posicionamento adequado, é um momento de encontro entre
544
mãe e filho regado não apenas por leite materno, mas por carinho, vínculo, contato,
troca e sensibilidade e que precisa assim ser visto e cuidado pelos profissionais da
saúde, em especial pelos profissionais da Enfermagem, profissão preocupada
essencialmente com um cuidado de qualidade.
REFERÊNCIAS
BRASILa. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica - Saúde da Criança:
Nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Departamento
de atenção básica – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009.
BRASILb. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da
Criança e da Mulher – PNDS 2006: dimensões do processo reprodutivo e da saúde
da criança. Brasília, DF, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466 de 12
de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisa
envolvendo seres humanos. Brasília: CNS; 2012.
MARQUES, Emanuele Souza; COTTA et al. Práticas e percepções acerca do
aleitamento materno: consensos e dissensos no cotidiano de cuidado numa Unidade
de Saúde da Família. Rev. de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.19, v.2, 2009.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde./ Maria Cecília de Souza Minayo. – 12 ed. – São Paulo:
Hucitec, 2010. 407 p.; 21 cm. - (Saúde em Debate; 46).
OLIVEIRA, Maria Inês Couto de et al. Avaliação do apoio recebido para amamentar:
significado de mulheres usuárias de unidades básicas de saúde do Estado do Rio de
Janeiro. Rev. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.15, v.2, 2010.
VENANCIO, Sonia I et al. Breastfeeding practice in the Brazilian capital cities and the
Federal District: current status and advances. Journal of Pediatrics, vol. 86, n. 4,
2010.
545
38.3) A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE DE PREVENÇÃO E
CONTROLE DA MORBIMORTALIDADE MATERNA: SUBSÍDIOS PARA O
ENFERMEIRO
VIEIRA, Letícia Becker1;
AMORIM, Thaís Vasconselos2;
SOUZA, Ívis Emília de Oliveira3;
MOURA, Maria Aparecida Vasconcelos4;
QUEIROZ, Ana Beatriz Azevedo5;
SALIMENA, Anna Maria de Oliveira 6
Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher
Descritores: Saúde da Mulher. Política de Saúde. Mortalidade Materna.
1. INTRODUÇÃO
O contexto da assistência à saúde da mulher se revela ao longo da história
em uma série de movimentos sociais, culturais e políticos. Atentos à questão do ciclo
gravídico-puerperal, os responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas
tiveram de incrementar ações que contemplassem as necessidades integrais da
mulher, especialmente após o ano 2000 em virtude do compromisso com a redução
da morbimortalidade materna (BRASIL, 2009).
2. OBJETIVO
1
Enfermeira. Doutora em Enfermage. Professora Adjunta, Escola de Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. [email protected]
2
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós Graduação da Escola de
Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected]
3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular, Escola de Enfermagem Anna Nery,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. [email protected]
4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada, Escola de Enfermagem Anna Nery,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. [email protected]
5
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada, Escola de Enfermagem Anna Nery,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. [email protected]
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada, Universidade Federal de Juiz de Fora,
Brasil. [email protected]
546
Traçar
um
panorama
das
políticas
de
prevenção
e
controle
da
morbimortalidade materna.
3. METODOLOGIA
Revisão de literatura com busca direcionada às portarias e programas do
Ministério da Saúde em bases de dados virtuais ministeriais, BVS/BDENF/LILACS
com recorte temporal de 1984-2013. Após leitura para aproximação temática
conveniente, consideraram-se inerentes treze referências.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir de 1984, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
inaugura a valorização de novas diretrizes assistenciais por meio das atividades
educativas que contemplavam o autoconhecimento do corpo feminino, bem como de
outras questões relativas à sexualidade e a saúde da mulher (BRASIL, 1984). Nesta
década, no âmbito dos investimentos políticos para a redução da morbimortalidade
materna, merece destaque a criação dos Comitês de Mortalidade Materna. Estes
contavam com o suporte ministerial no planejamento das ações, direção dos
recursos orçamentários e disseminação dos preceitos de prevenção aos óbitos
maternos junto às autoridades sanitárias. Dentre os representantes que os
integravam à época e ainda nos dias atuais, estão o Conselho Regional de
Enfermagem e a Enfermagem Obstétrica (BRASIL, 2007a). A razão de mortalidade
materna permaneceu constante entre 1988-1997, com discreto aumento por causas
obstétricas indiretas. Preocupado com tal questão, o Ministério da Saúde reforçou as
políticas em torno dos processos investigativos das ocorrências letais, inserindo na
declaração de óbito questões específicas da gravidez em mulheres de 10-49 anos
(BRASIL, 2007a). Em paralelo, o acompanhamento pré-natal de qualidade levou, na
década de 90, à elaboração dos manuais técnicos que normatizavam procedimentos
de ordem clínica e educativa. Assim, com o intuito de regulamentar diversas ações,
547
a Portaria MS/GM 569 de 01 de junho de 2000, instituiu o Programa de
Humanização no Pré-natal e Nascimento, articulando o Ministério e as Secretarias
de Saúde. Apoiada pelas Portarias 570-571-572, apresentava como escopo: o
desenvolvimento de ações promocionais, preventivas e assistenciais, considerando
o acesso ampliado e a capacitação profissional; a organização de recursos
necessários e regulação no SUS ; e a sistematização de pagamento da assistência
ao parto (BRASIL, 2000a; BRASIL, 2000b; BRASIL, 2000c; BRASIL 2000d). Dentre
as prioridades elencadas pelo programa encontrava-se a valorização dos registros
mínimos dos indicadores de processo e resultado nas esferas estaduais e
municipais. Estas deveriam refletir a qualidade assistencial no ciclo gravídicopuerperal, o que já pôde ser notado entre 1999-2001, período em que as taxas de
mortalidade materna apresentaram um declínio relacionado ao aumento da
qualidade assistencial nos âmbitos obstétricos e de planejamento familiar (BRASIL,
2000; BRASIL, 2007). Dois anos mais tarde, em 2003, registrava-se a Razão de
Mortalidade Materna de 51,7 com as maiores concentrações de óbitos nas regiões
Nordeste
e
Centro-Oeste.
Ademais,
ainda
observavam-se
dificuldades
no
preenchimento correto da declaração de óbito, relacionando a causa de morte à
gestação, parto, puerpério (subinformação), além da ausência de registro do óbito
em cartório (sub-registro) (BRASIL, 2007). Face a isto, o Pacto Nacional pela
Redução da Mortalidade Materna e Neonatal ocupou-se da qualificação dos
profissionais na detecção precoce das gestações de risco, fornecendo para tal o
apoio técnico e financeiro para a formação especializada em Enfermagem obstétrica
(BRASIL, 2004). Já os Planos Nacionais de Políticas para as mulheres, reforçavam a
motivação governamental e registravam o aumento das consultas pré-natal. O II
Plano em especial, ratificou a inquietação quanto à falta de identificação das
gestantes que manifestavam maior possibilidade de evolução desfavorável, o grupo
cognominado de “gestantes de alto rico” (BRASIL, 2005; BRASIL, 2008c). Por
conseguinte, foi regulamentada pela Portaria GM nº 1119 de 5 de junho de 2008, a
Vigilância Epidemiológica da Morte Materna que instaurou fluxos e limites de tempo
para a disponibilização das informações no Sistema de Informação sobre
548
Mortalidade, definindo a logística sobre a qual se apoiou o grupo técnico
responsável pela investigação das mortes, envolvendo as secretarias municipais de
saúde, a equipe da atenção básica, os comitês hospitalares e demais profissionais
de saúde indicados pelas autoridades da referida vigilância nas três esferas
governamentais. Pela Portaria, com base na análise da causa do óbito, poder-se-iam
eleger critérios que evitassem novas ocorrências letais, dentre os quais se
apontavam a negligência, imperícia e imprudência profissionais na detecção dos
fatores de risco gestacionais (BRASIL, 2009a). O reforço desta situação foi abordado
na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Segundo as evidências
ministeriais, apesar do quantitativo de consultas pré-natal atender ao preconizado, o
mesmo não se pode dizer da qualidade assistencial, pois aumentaram os casos de
sífilis congênita, hipertensão gestacional e de falhas na cobertura vacinal durante a
gestação. Outro senão reside na alta incidência de cesariana e intensa
medicalização durante o parto e nascimento. Relativo ao puerpério, também se
revelam insatisfatórios os aspectos quantiqualitativos dos retornos por centrarem no
recém-nascido os enfoques da consulta (BRASIL, 2009). Nesse contexto, a Rede
Cegonha surge como um “programa-resposta” que objetivou estender os cuidados à
mulher até os dois primeiros anos de vida do bebê. Sob esta ótica, adotou o acesso
em menor tempo ao pré-natal de alto risco a fim de minimizar as possíveis
intercorrências, dada a condição de vulnerabilidade materno-fetal (BRASIL, 2011).
Alicerçado por todas as políticas instituídas, entre os anos de 2000 a 2010, o
Ministério da Saúde registrou uma queda na razão de mortalidade materna (RMM)
em cerca de 7%, número considerado ainda insuficiente para atingir a meta da OMS,
que consiste em reduzi-la anualmente em 5,5% (BRASIL, 2012).
5. CONCLUSÃO
Atualmente, em virtude dos avanços técnico-científicos na área da saúde,
torna-se inaceitável o fato de ainda ocorrerem tantas mortes, que em sua grande
maioria são passíveis de prevenção. Apesar do esforço governamental, os índices
549
de morbimortalidade materna ainda são crescentes em nosso país, apontando
muitos desfechos preveníveis. A rede de atendimento às gestantes apresenta falhas
estruturais importantes e falta capacitação aos recursos humanos que a compõem.
No tocante ao enfermeiro, como partícipe ativo da equipe de saúde que assiste a
mulher nos diversos níveis de atenção, cabe considerar que respostas têm conferido
às políticas e programas instituídos, uma vez que deve ser capaz de arregimentar
práticas mais complexas e interativas que incrementem e melhorem a qualidade
assistencial.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da mulher: bases de
ação programática. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1984.
27p.
_______, Ministério da Saúde. Programa de humanização no pré-natal e
nascimento. 2000. Disponível em:
http://dtr2001.saude.gov.br/sps/areastecnicas/mulher/Cartilha.htm. Acesso em: 14 de
set. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 569, de 01 de junho de 2000. Institui
o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento no âmbito do Sistema
Único de Saúde. Brasília: 2000a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 570, de 01 de junho de 2000. Institui
o componente I do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento –
incentivo a assistência pré-natal no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Brasília: 2000b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 571, de 01 de junho de 2000. Viabiliza
a estruturação de Centrais de Regulação Obstétrica, a implantação de
sistemas de atendimento móvel às gestantes, nas modalidades pré e interhospitalares e a capacitação de recursos humanos que irão operar estes
dispositivos. Brasília: 2000c.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 572, de 01 de junho de 2000.
Estabelece novos mecanismos de custeio da assistência ao parto que
permitam o incremento da qualidade do acompanhamento integral e integrado
da gestante durante o pré-natal, o parto, o puerpério e a adequada assistência
ao recém-nascido. Brasília: 2000d.
550
_______, Ministério da Saúde. Pacto nacional pela redução da mortalidade
materna e neonatal, 2004. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/informes/psfinfo22.pdf . Acesso em: 14
de set. 2013.
______, Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.
Plano Nacional de Políticas para Mulheres. Brasília, 2005. 26p.
_________, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento
de Ações Programáticas e Estratégicas. Manual dos Comitês de Mortalidade
Materna/ 3. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde (DF), 2007a.
______, Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. II
Plano Nacional de Políticas para Mulheres. Brasília, 2008c. 205p.
_________, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento
de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher: princípios e diretrizes/ 1. ed. – Brasília: Editora do Ministério da
Saúde (DF), 2009.
_________, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento
de Análise de Situação em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito
Materno / 1. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde (DF), 2009a.
_______, Ministério da Saúde. Diretrizes gerais e operacionais da Rede
Cegonha. 2011. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=37082.
Acesso em: 28 de fev. 2013.
_______, Ministério da Saúde. Boletim 1/2012 – Mortalidade materna no Brasil,
2012. Disponível em:
http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm?portal=pagina.visualizarTexto
&codConteudo=6403&codModuloArea=783&chamada=boletim-1/2012-mortalidadematerna-no-%20%20brasil. Acesso em: 14 de set. 2013.
551
39.3) A INSERÇÃO DE DOULAS NA ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO
E NASCIMENTO NO AMBIENTE HOSPITALAR 1
COELHO, Fabiula2;
SILVA, Eduína3;
DIAS, Jennifer 4;
CARVALHO, Karen 5
Eixo Temático: Atenção ao Parto.
Descritores: Trabalho de parto; Parto Obstétrico; Parto Humanizado; Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
A história do parto e nascimento vem sendo transformada de maneira
progressiva ao longo da história, o parto foi adquirindo outro significado e passou a
ser considerado um procedimento cirúrgico, que deve ser realizado por médicos, em
ambiente hospitalar (MALHEIROS, 2012). Conforme o parto foi passando para a
esfera médica e as famílias foram ficando cada vez menores, o contato com as
mulheres mais experientes foi se perdendo. Dentro de hospitais e maternidades, a
assistência passou para as mãos de uma equipe especializada: o médico obstetra, a
enfermeira obstétrica, a auxiliar de enfermagem, o pediatra. Cada um com sua
função bastante definida no cenário do parto. Apesar de toda a especialização, ficou
uma lacuna: quem cuida especificamente do bem estar físico e emocional daquela
mãe que está dando à luz? Essa lacuna pode e deve ser preenchida pela Doula ou
acompanhante do parto (DOULAS DO BRASIL, 2014). Um atendimento adequado
às gestantes no momento do parto e puérperio é uma das prioridades do Programa
1
Revisão Bibliográfica
Fabiula Ferreira Coelho (Acadêmica de Graduação em Enfermagem, Universidade Católica de
Pelotas e [email protected])
3
Eduína Fonseca da Silva (Acadêmica de Graduação em Enfermagem, Universidade Católica de
Pelotas e [email protected])
4
Jennifer Specht Dias (Enfermeira, Hospital Universitário São Francisco de Paula e
[email protected])
5
Karen Knopp de Carvalho (Doutora em Enfermagem, Universidade Católica de Pelotas e
[email protected])
2
552
de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), do Ministério da Saúde, onde é
fundamentada os preceitos de que a humanização da Assistência Obstétrica e
Neonatal é condição primeira para o adequado acompanhamento do parto e do
puerpério. O governo está discutindo cada vez mais as práticas obstetricas
realizadas no Brasil, a fim de melhorar a qualidade do serviço (PHPN, 2002). Ações
governamentais foram constituídas para que esse cenário mudasse, dentre essas, a
lei do acompanhante, criada em 07 de abril de 2005 garante a parturiente o direito a
um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. O
acompanhante em questão é de livre escolha da mulher, podendo ser, por exemplo,
o marido, um familiar, enfermeiros ou uma doula (LEI N° 11.108, 2005). A palavra
"doula" vem do grego "mulher que serve". Nos dias de hoje, aplica-se às mulheres
que dão suporte físico e emocional a outras mulheres antes, durante e após o parto.
Qualquer mulher com mais de 18 anos pode ser doula, inclusive quem não é
profissional da saúde. A experiência da maternidade com certeza traz um
componente especial à relação doula-gestante, essas mulheres são capacitadas
através de um curso para promover o conforto e alivio da dor com métodos não
farmacológicos, empoderando a mulher no seu trabalho de parto. No Brasil quem
realiza os cursos de formação é a Associação Nacional de Doulas (ANDO) ou o
Grupo de Apoio a Maternidade Ativa (GAMA), os cursos são disponibilizados em
todo território nacional (DOULAS DO BRASIL, 2014). É considerada uma ocupação
complementar pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sendo classificado
conforme registro 3221-35 (CBO, ACESSO EM 11 SET. 2014).
2. OBJETIVO
Devido à participação de acadêmicas do Curso de Graduação em
Enfermagem em um projeto de extensão, Promoção da Amamentação: Uma
iniciativa global, vinculado a Universidade Católica de Pelotas, que atua em uma
maternidade e centro obstétrico do Sistema Único de Saúde (SUS) e Redes
Conveniadas, objetivou-se analisar a produção científica brasileira acerca da
553
atuação das doulas, discutir o tema e aprofundar conhecimentos sobre a importância
e o benefício das doulas no momento do nascimento.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliografica, sendo a fonte de extração dos materiais
de carater secundário. Optamos pela base de dados LILACS (Base de dados da
literatura Latino Americana, em Ciencia da Saúde) e SCIELO (Biblioteca Eletrônica
Científica Online) para busca de artigos, utilizando como critério de inclusão os
descritores, o idioma Português/Brasil e período de 2001 a 2014. Foram encontrados
5 artigos. O processo de seleção dos materiais para a pesquisa sofreu limitações
devido ao número reduzido de publicações no tema e idioma escolhidos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados encontrados mostraram que o papel da doula é realizado
preferencialmente por mulheres, devido ser menos constrangedor compartilhar a
intimidade do momento com uma pessoa do mesmo sexo, diante de outra mulher a
parturiente inibi-se menos facilitando o seu trabalho de parto. Os estudos mostraram
também a diferença de atuação da doula brasileira em comparação a atuação das
doulas estrangeiras mostrando o deficit de interação da doula no Brasil com o
restante da equipe multiprofissional. A carência de conhecimento sobre o papel da
doula entre os profissionais de saúde acarreta a falta de acolhimento na inserção da
mesma no ambiente hospitalar, sendo considerada uma espiã em busca de erros no
momento do parto e nascimento, a doula é uma mulher mais experiente e resolvida
com assuntos relacionados a maternidade, é diferente de um acompanhante, ela
está ali para se somar a equipe. As Doulas têm sido associadas a diversos
resultados positivos para a área Obstétrica, especialmente por meio de alterações
na percepção do parto, estendendo-o e restituindo-o como evento social e não como
doença, restituindo a dimensão social que envolve o processo de parir. Encontrou-se
554
também que as parturientes acompanhadas por doulas durante todo o processo de
nascimento saem mais satisfeitas e realizadas com a experiência do parto, pois
contam com o apoio físico, emocional e com a garantia de respeito por parte das
doulas, que ás defendem de uma possível violência obstétrica, além disso, a
incidência de parto por via vaginal e sem analgesias são maiores. Os benefícios
ultrapassam a mulher chegando no Recém Nascido (RN) trazendo à ele um
processo de nascimento natural, com menores chances de doenças respiratórias,
início precoce do amamentação, melhores índices de vitalidade fetal e bons
resultados no escore de apgar.
5. CONCLUSÃO
Constatou-se em todas referências utilizadas que a presença da doula no
trabalho de parto, parto e pós-parto é fundamental para o relaxamento, confiança,
conforto físico, suporte psicosocial, diminuição do estresse e apoio a decisões da
mulher. Assim, por meio do envolvimento da mulher na protagonização do parto e
estando ela acompanhada pela equipe de saúde, mas também por seus familiares e
comunidade, aumenta-se a sensação de sua segurança e dos seus familiares em
relação ao processo gravídico. O Hospital Filantrópico Sofia Feldman se tornou
referência nacional, devido ao seu projeto Doulas Comunitárias, onde oferece
acompanhante para as parturientes que são atendidas no local e que estão sem
acompanhante, os profissionais contam com as doulas voluntárias como parte da
equipe, facilitando o trabalho multiprofissional. Apesar de nem todos hospitais do
Brasil permitirem a presença das doulas seria significativo a inserção das mesmas
para um atendimento mais acolhedor e humanizado. A limitação da inserção das
doulas no ambiente hospitalar está claramente relacionada com a resistência dos
profissionais, principalmente de enfermagem, que encontram dificuldades em
acolhe-la na equipe juntamente com os demais profissionais. Uma questão que
envolve não só os profissionais que atuam na assistência como também os
profissionais da gerência materno-infantil, responsáveis pela educação dos mesmos,
555
com isso deve-se, se possível, realizar um plano de ação e políticas direcionadas a
aceitação das doulas na equipe, explicando os benefícios e o papel dessa mulher
que veio exclusivamente para auxiliar a parturiente e acrescentar na equipe, para
que o trabalho seja efetuado de maneira a priorizar as necessidades da mulher e
recém nascido do modo mais natural e humanizado que estiver ao alcance da
equipe.
REFERÊNCIAS
Associação Nacional de Doulas. Disponível em: http://www.doulas.org.br/. Acesso
em 04 set. 2014.
BRASIL. Decreto-lei n° 11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei no 8.080, de 19 de
setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de
acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do
Sistema Único de Saúde - SUS. 184o da Independência e 117o da República.
Poder executivo, Brasília, 7abr. 2005.
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da
Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 465
p. : il. – (Cadernos HumanizaSUS ; v. 4)
Brasil. Ministério da Saúde. Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento –
Brasilia: Ministério da Saúde, 2002.
Doulas do Brasil. Disponível em: http://doulas.com.br/index.php. Acesso em 02 set.
2014.Classificação Brasileira de Ocupação. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf. Acesso em 11 set. 2014.
Doulas.org. Disponível em: http://www.doulas.org/. Acesso em 04 set. 2014.
LEÃO, M. R. C; BASTOS, M. A. R. Doulas apoiando mulheres durante o trabalho de
parto: experiência do hospital Sofia Feldman. Rev Latino-am Enfermagem.
Ribeirão Preto, v.9, n.3, p.90-94, 2001.
LEÃO, V. M; OLIVEIRA, SM. J.V. de. O papel da doula na assistência à parturiente.
Rev. Min. Enf. São Paulo, v.10, n.1, p.24-29, 2006.
MALHEIROS, P. A. et al. Parto e Nascimento: Saberes e Práticas Humanizadas.
Texto Contexto Enferm. Florianópolis, v.21, n.2, p.329-337, 2012.
556
SANTOS, D. S; NUNES, I. M. Doulas na assistência ao parto: concepção de
profissionais de enfermagem. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. Rio de Janeiro, v.13,
n.3, p.582-589, 2009.
SILVA, R. M. da. et al. Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas
no trabalho de parto e no parto. Ciênc. saúde coletiva. Rio de Janeiro, v.17, n.10,
p.2783-2794, 2012.
557
40.3) EDUCAÇÃO EM SAÚDE POR MEIO DE GRUPO DE GESTANTES:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
STOCHERO, Helena Moro1;
PREVEDELLO, Bruna Pivetta2;
LOPRESTI, Juliana Corrêa3;
RESSEL ,Lúcia Beatriz4;
CONRADO, Amanda5;
RANGEL, Rosiane Filipin6
Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal
Descritores: gestantes; educação em saúde; pré-natal
1. INTRODUÇÃO
A educação em saúde é considerada um recurso por meio do qual o
conhecimento científico na área da saúde atinge a vida cotidiana das pessoas, uma
vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece
subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde (CANDEIAS 1997
apud RODRIGUES et al. 2012). Segundo Nora, Mânica e Germani (2009), além de
promover espaços para a interação entre usuários e equipe de saúde, a educação
em saúde relaciona-se intimamente com a promoção da saúde, pois a mesma se
constitui em um instrumento de empoderamento dos indivíduos para aumentar o
controle dos mesmos sobre suas vidas que, consequentemente, refletirão no
processo saúde-doença. Nesse sentido, sabe-se que são competências do
enfermeiro a promoção e prevenção da saúde, destacando-se assim, a importância
da promoção do trabalho grupal como estratégia do processo educativo, por meio de
1
Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. E-mail:
[email protected]
3
Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Doutora em enfermagem pela Universidade de São Paulo. Docente da Universidade
Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
5
Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. E-mail:
[email protected]
6
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande. Docente do Centro
Universitário Franciscano. E-mail: [email protected]
2
558
espaços de troca de experiências, discussão, escuta e esclarecimento de dúvidas
nos serviços de saúde que assistam as mulheres gestantes e as ajudem a entender
e a viver de forma saudável este período (CREMONESE, 2012). De modo geral, os
grupos são desenvolvidos com a finalidade de complementar o atendimento
realizado nas consultas de pré-natal, promover o conhecimento de hábitos de saúde
considerados mais adequados, diminuir a ansiedade e compreender os sentimentos
que surgem neste período, além de permitirem maior aproximação entre os
profissionais e as gestantes, contribuíndo assim, para o oferecimento de assistência
humanizada (HOGA; REBERTE, 2007; COURTOIS, et al., 2008).
2. OBJETIVO
Relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem em um grupo de
gestantes realizado numa Unidade Básica de Saúde no município de Santa Maria –
RS.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência vivenciado por acadêmicos de
enfermagem em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Santa MariaRS. Os acadêmicos frequentaram o grupo de gestantes, o qual se realiza nas
quintas-feiras a tarde, juntamente com a presença de uma enfermeira docente. Além
disso, para subsidiar conhecimentos téoricos acerca de aspectos relacionados com
a saúde da gestante e do bebê, realizou-se uma revisão bibliográfica não
sistemática na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE
(Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) e SCIELO (Scientific
Electronic Library Online).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
559
Os grupos de gestantes eram realizados em forma de roda de conversa,
sendo abordados temas livres, onde cada acadêmico compartilhava seus
conhecimentos específicos para determinado tema, levantando as principais dúvidas
das mulheres e estimulando a participação ativa na conversa. Durante os grupos,
por meio dos relatos de experiências das gestantes, foram identificados contextos de
vida: envolvendo crenças, culturas, valores e costumes. Percebeu-se também que
cada gestante vivencia essa nossa fase de forma diferente, com diferentes tempos
para se adequar aos novos hábitos de vida e rotina, embora todas tenham o mesmo
objetivo: a saúde do seu filho (OLIVEIRA, 2010). Segundo Brasil (2005), uma
atenção pré-natal e puerperal humanizada e qualificada é aquela em que durante a
gravidez e o pós-parto houve ações de prevenção e promoção da saúde, incluindo
um diagnóstico e um tratamento adequado dos problemas que ocorreram neste
período, além da incorporação de condutas acolhedoras. Segundo Oliveira (2010), o
principal objetivo desse tipo de atenção é acolher a mulher desde o início da
gravidez, assegurando, ao fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável
e a garantia do bem-estar materno e neonatal. Para Benigna, Nascimento e Martins
(2004), uma assistência pré-natal adequada e sua interação com os serviços de
assistência ao parto são fundamentais para obtenção de bons resultados da
gestação. Ademais, a implementação de grupos de gestantes é fundamental para
garantir uma abordagem integral e, ao mesmo tempo, específica à assistência no
período gestacional (REBERTE; HOGA, 2005). Portanto, é importante que se
estimule as mulheres a realizarem o pré-natal e a participarem de grupos de
gestantes. Também, conforme Brasil (2005) a melhor forma de promover a
compreensão do processo gestacional é por meio de ações educativas durante o
pré-natal. O grupo de gestantes é uma complementação a atenção pré-natal com
intuito de preparar a gestante para vivenciar o processo gestacional e promover o
diálogo e a troca de informações entre as mesmas e os profissionais de saúde, na
forma de um espaço para expressarem suas dúvidas, medos e angústias. Durante
os grupos foram tratados temas e dúvidas relatadas pelas participantes, tais como:
560
desenvolvimento
fetal,
alterações
fisiológicas
e
principais
sintomas/queixas
apresentadas durante a gestação, sinais e sintomas do trabalho de parto, os tipos de
partos, importância do aleitamento materno, cuidados com o recém-nascido e os
direitos humanos na gestação, parto e puerpério. Além disso, o período gestacional
é uma fase em que a mulher, o companheiro e a família, passam por uma série de
mudanças em suas vidas (CREMONESE, 2010), necessitando, às vezes, de preparo
psicológico para receber o bebê. Dessa forma, também foram discutidos no
encontro, fatores importantes relacionados aos cuidados com o recém-nascido e
orientações sobre o puerpério. Além dos grupos de gestantes proporcionarem maior
criação de vínculo entre as gestantes e seus familiares com a equipe de saúde, a
participação no grupo permite à gestante ser multiplicadora de saúde no seu coletivo
(DELFINO, 2003), compartilhando saberes e aprendizagens.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os grupos de gestante tem um papel fundamental como estratégia de
empoderamento e autonomia às gestantes e familiares, uma vez que oportuniza a
troca de experiência entre os participantes, e a viabilização de possibilidades num
contexto próprio onde os mesmos vivem. Deve-se considerar nesta atividade, como
um elemento fundamental, o conhecimento prévio e as experiências de cada
participante do grupo. Nesse sentido, acrescenta-se que os grupos de gestante,
como instrumento de educação em saúde, são mais um espaço de informação a fim
de prevenir danos nas diversas situações relacionadas com a gestação, e que
podem levar a complicações obstétricas/neonatais para mãe e filho e, ainda
aperfeiçoa o processo de trabalho na atenção pré-natal. Destaca-se, nesta direção a
importância dos grupos de gestantes como ferramenta do processo educativo do
enfermeiro. Em relação à experiência aqui relatada, pode-se observar que o trabalho
com o grupo de gestantes atingiu bons resultados, servindo como uma forma de
suporte assistencial ao pré-natal e como estratégia de maior aproximação entre
profissionais da saúde e as gestantes, além de contribuírem para o oferecimento de
561
assistência humanizada, com apoio e atenção as necessidades básicas durante a
gestação podendo assim, gerar uma maior segurança nesta fase de vida.
REFERÊNCIAS
BENIGNA, M. J. C.; NASCIMENTO, W. G.; MARTINS, J. L. Pré-natal no Programa
Saúde da Família (PSF): com a palavra, os enfermeiros. Revista Cogitare
Enfermagem. v.9, n. 2, p.23-31, jul-dez, 2004.
BRASIL. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada - manual técnico.
Brasília, 2005.
CANDEIAS, N.M.F. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças
individuais e mudanças organizacionais. Rev. Saúde Pública [Internet]. v.31, n.2,
p.209-213, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v31n2/2249.pdf>.
CREMONESE, L.; RESSEL, L.B.; WILHELM, L.A.; RODRIGUES, B.O.C.;
SCARAMUSSA, S.C.; BARRETO, C.N.; SILVA, S.C.; STUMM, K.E. Grupo de
gestantes como estratégia para educação em saúde. Dissertação de mestrado.
UNIFRA, Santa Maria (RS). 2012.
COURTOIS, M.C., et al. Experiencia grupal de mujeres embarazadas y en etapa
posparto, y su relación com la depresión y algunos factores sociales. Rev Perinatol
Reprod Hum. v.22, n.4, p.270-278, 2008.
DELFINO, M. R. R. O processo de cuidar participante com um grupo de
gestantes: repercussões na saúde integral individual coletiva. 2003.
Dissertação de mestrado. Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão (SC).
2003.
HOGA, L.A.K.; REBERTE, L.M.R. Pesquisa-ação como estratégia para desenvolver
grupo de gestantes: a percepção dos participantes. Rev Esc da Enferm USP. v.41,
n.4, p.559-66, 2007.
NORA, C.R.D.; MÂNICA, F.; GERMANI, A.R.M. Sala de Espera uma ferramenta
para efetivar a Educação em Saúde.Rev Saúde Pesquisa. v.2, n.3, p.397-402,
2009.
OLIVEIRA, M.C. Grupo de gestante: relato de experiência. 2010. Monografia
(Graduação em Enfermagem) – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul,
Dourados (MS). 2010.
562
REBERTE L. M.; HOGA, L. A. K. O desenvolvimento de um grupo de gestantes com
a utilização da abordagem corporal. Texto Contexto Enfermagem. São Paulo,
v.14, n. 2, p. 186-92, mar/abr, 2005.
RODRIGUES, B. C. et al. Educação em Saúde para a Prevenção do Câncer
Cérvico-uterino. Revista Brasileira de Educação Médica. v.36, n.1, p.149-154,
2012.
563
41.3) ATUAÇÃO ACADÊMICA EM PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO: RELATO DE
EXPERIÊNCIA1
LOPRESTI, Juliana Corrêa2;
SANTOS, Juniara Dias3;
STOCHERO, Helena Moro4;
TIER, William Oliveira5;
Eixo Temático 2: Atenção ao Pré-Natal
Descritores: Cuidado pré-natal; Consulta de enfermagem; Aprendizado baseado na
experiência.
1. INTRODUÇÃO
A realização de um pré-natal humanizado e de qualidade é fundamental para
a saúde materna e neonatal do bebê. Sendo assim, o enfermeiro tem um importante
papel no pré-natal, pois deve oferecer à gestante e seus familiares suporte
emocional e troca de experiências e de conhecimentos, a fim de proporcionar uma
compreensão dessa nova vivência, que é o período gestacional (STUMM; SANTOS;
RESSEL, 2012). Nessa perspectiva, a consulta de enfermagem, contemplada como
atividade privativa do enfermeiro na lei do exercício profissional nº 7.498/862, é
considerada um instrumento importante visto que tem como finalidade a garantia da
extensão da cobertura e aprimoramento no atendimento à saúde. Esta ferramenta
permite o favorecimento de medidas intervencionais, estruturando formas de cuidado
eficazes e compatíveis com as necessidades dos sujeitos e da comunidade, a partir
de ações de prevenção e promoção da saúde, possibilitando uma maior autonomia
dos sujeitos (FONSECA; PARCIANELLO; ZAMBERLAN, 2011). Entende-se que a
consulta de enfermagem no pré-natal consiste em um processo metodológico de
sistematização de conhecimentos configurado em método aplicado na perspectiva
educativa e assistencial, e que, deve ser um espaço em que a mulher possa
1
Relato de experiência.
Enfermeira. Apresentadora. Email: [email protected]
3
Enfermeira. Email: [email protected]
4
Enfermeira. Email: [email protected]
5
Enfermeiro. Email: [email protected]
2
564
compartilhar as suas percepções em relação à gestação, compreender as
transformações fisiológicas, da saúde e sexualidade, e adquirir maior autonomia
sobre o seu corpo (BEUTER et. al, 2009). Partindo destas premissas, este trabalho
tem como objetivo relatar a vivência acadêmica, de quatro alunos, durante as
consultas de enfermagem em pré-natal de baixo risco desenvolvidas em uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Santa Maria-RS, por meio das
aulas teórico-práticas da disciplina Enfermagem no Cuidado à Saúde da Mulher, do
Adolescente e da Criança do 6º semestre do Curso de Graduação em Enfermagem
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
2. OBJETIVO
Relatar a experiência de quatro acadêmicos do curso de enfermagem a cerca
da realização da consulta de enfermagem em pré-natal de baixo risco.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência, oportunizado por meio da
aulas práticas de quatro graduandos do Curso de Enfermagem da UFSM em uma
UBS do município de Santa Maria-RS. Esta experiência pôde ser desenvolvida por
meio das aulas práticas da disciplina Enfermagem no Cuidado à Saúde da Mulher,
do Adolescente e da Criança, o qual objetiva ofertar vivências aos acadêmicos no
intuito de promover competências e desenvolver habilidades técnicas, científicas,
éticas, políticas, sociais e educativas do profissional enfermeiro, por meio da troca
de experiências entre ensino e serviços de saúde (BEUTER et. al, 2009) As
atividades foram realizadas no mês de maio de 2013, três dias por semana em
turnos alternados. Os alunos foram acompanhadas, em tempo integral, por duas
mestrandas do PPGENF UFSM e, ainda com a supervisão de uma enfermeira
docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSM.
565
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da trajetória vivenciada, evidenciou-se que profissionais da saúde
devem acolher a gestante e a sua família de maneira integral, considerando o
ambiente sociocultural e físico em que vivem. Na tentativa de possibilitar essa
atenção diferenciada o Ministério da Saúde criou, em junho de 2000, o Programa de
Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN), que apresenta como um de seus
fundamentos a humanização da assistência obstétrica e neonatal. O enfermeiro, por
sua vez, deve qualificar a atenção à saúde da gestante a fim de obter maior adesão
ao pré-natal, garantindo qualidade na assistência e melhores resultados obstétricos
e perinatais tanto para a mãe quanto para o recém-nascido (STUMM; SANTOS;
RESSEL, 2012). Na primeira consulta de pré-natal, realizava-se o levantamento da
história clínica da gestante, verificação dos antecedentes familiares, ginecológicos e
obstétricos, dados sobre sexualidade, levantamento de informações da gestação
atual, exame físico geral e específico, e solicitação dos exames laboratoriais
preconizados. Nesse sentido, as ações convergiam para a criação de vínculo entre
os acadêmicos e a gestante, inferindo-se, ainda, que havia a preocupação das
mesmas em relação às ações educativas, com vistas a buscar uma comunicação
efetiva como meio de contribuir para o entendimento da mulher sobre sua condição
de saúde, ao mesmo tempo em que buscou-se identificar suas potencialidades,
limitações e possibilidades de mudanças. Destaca-se que, no decorrer das consultas
de enfermagem, os acadêmicos questionavam as gestantes quanto a existência do
planejamento, ou não, da gravidez atual, o que permitia um diálogo sobre a
importância do planejamento familiar. Esse momento ocorreu de maneira a permitir
um diálogo franco e escuta aberta, livre de julgamentos ou preconceitos. Ainda, em
relação ao atendimento oferecido à gestante, incluiu-se revisão da ficha pré-natal,
realização da anamnese sucinta e verificação do calendário de vacina. Além disso,
era realizado o controle materno: cálculo da idade gestacional, verificação da
pressão arterial, palpação obstétrica para medir altura uterina, e avaliação dos
resultados dos exames laboratoriais. Os alunos puderam ainda realizar controle
566
fetal, como por exemplo: ausculta de batimentos cardíacos e avaliação dos
movimentos fetais. É valido salientar que toda a assistência prestada às gestantes
esteve sob supervisão de uma enfermeira docente, como forma de avaliação da
disciplina. Partindo das vivências acadêmicas durante as consultas de enfermagem
na UBS, observa-se que há necessidade de compreender os múltiplos fatores que
influenciam a consulta de enfermagem a fim de se superar os aspectos limitantes,
bem como valorizar os aspectos facilitadores. Consequentemente, tal fato ampliará a
visibilidade do trabalho deste profissional (BARBOSA; GOMES; DIAS, 2011). Assim
sendo,
infere-se
conhecimentos,
que
atitudes,
a
consulta
habilidades
de
e
enfermagem
requer
responsabilidade,
competências,
condições
estas
necessárias para conferir credibilidade e visibilidade social ao trabalho do
enfermeiro.
5. CONCLUSÃO
Em síntese, destaca-se que as aulas práticas realizadas nas consultas de
enfermagem de pré-natal de baixo risco contribuíram para a formação profissional e
pessoal dos acadêmicos e oportunizaram a interação ensino-serviço, possibilitando
aos acadêmicos relacionar a teoria e a prática em um mesmo eixo, fortalecendo o
aprendizado em sala de aula e aprimorando a visão crítico-reflexiva diante da
realidade vivenciada. Além disso, foi possível compreender a consulta de
enfermagem como um subsídio para a conquista da autonomia do enfermeiro.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, T.L.A.; GOMES, L.M.X.; DIAS, O.V. O pré-natal realizado pelo
enfermeiro: a satisfação das gestantes. Cogitare Enfermagem (UFPR). 2011; 16:2935.
BEUTER, M.; NEVES, E.T.; MAGNAGO, T.S.B.S.; WEILLER, T.H. Programa de
Formação Complementar em Enfermagem-PROFCEN. Universidade Federal de
Santa Maria. Santa Maria; 2009.
BRASIL. Lei n. 7498 de 25 de julho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do
exercício da enfermagem e da outras providências. [internet]. 1986 jul 25.. 5 p.
567
Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/leis. Acessado em 20 de setembro de
2014.
FONSECA, G.P.G.P.; PARCIANELLO, M.K.; ZAMBERLAN, C. O enfermeiro
conquistando autonomia por meio da consulta de enfermagem. In: I Jornada
Internacional de Enfermagem da Unifra; 2011; Santa Maria; Unifra; 2011. Disponível
em: http://www.unifra.br/eventos/ enfermagem2011/Trabalhos/518.pdf.
SHIMIZU, H.E.; LIMA, M.G.. As dimensões do cuidado pré-natal na consulta de
enfermagem. Rev Bras Enferm. 2009 maio-jun; 62(3):387-92.
STUMM, K.E.; SANTOS, C.C. dos; RESSEL, L.B. Tendência de estudos a cerca do
cuidado pré-natal na enfermagem no Brasil. Rev Enferm UFSM 2012
Jan/Abr;2(1):165-173
568
42.3) MORTE PERINATAL: PROFISSIONAIS E ACADÊMICOS DE
ENFERMAGEM ESTÃO EMOCIONALMENTE PREPARADOS?
Fernanda Hannah da Silva Copelli1
Alessandra Mendes de Barros2
Tiago Jorge Anderson3
Eixo temático: 5 - Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da
Mulher e ao Recém-nascido.
Descritores: Neonatologia; Enfermagem Neonatal; Atitude Frente à Morte.
1. INTRODUÇÃO
O nascimento, assim como a morte, perfazem o processo de vida do ser
humano. Portanto, é algo extremamente natural do ponto de vista biológico.
Entretanto, o ser humano se caracteriza também, pelos aspectos simbólicos, ou
seja, pelo significado ou pelos valores que ele imprime aos acontecimentos. Por
isso, o significado da morte varia necessariamente no decorrer da história e entre as
diferentes culturas humanas (SILVA; ALVES; CONCEIÇÃO; et al, 2013). Para o
homem ocidental moderno, a morte passou a ser sinônimo de fracasso, impotência e
vergonha (SILVA; ALVES; CONCEIÇÃO; et al, 2013). Tenta-se vencê-la a qualquer
custo e, quando tal êxito não é atingido, é escondida e negada. A morte perinatal é
um evento indesejável em saúde pública, pois é precoce, geralmente pode ser
evitada e 

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