a percepção ambiental da população do baixo paraíba do sul sobre

Transcrição

a percepção ambiental da população do baixo paraíba do sul sobre
A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DO BAIXO
PARAÍBA DO SUL SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA E ESTRATÉGIA DE
RECUPERAÇÃO: RESULTADOS PRELIMINARES.
Karla Aguiar Kury1; Rackel Martins Alves da Costa2; Carlos Eduardo Rezende3;Laurence Eaton4;
James Randal Kahn5 & Alexandre Rivas6
RESUMO - O Rio Paraíba do Sul (RPS) tem sofrido historicamente um processo de poluição de origem
agrícola, esgotos domésticos e resíduos industriais. Estas múltiplas fontes de poluição têm provocado
mudanças ambientais contínuas ao longo do tempo e espaço, comprometendo a saúde do meio ambiente e
da população, que faz uso direto e/ou indireto destas águas. Seus serviços ecossistêmicos são os bens
públicos de alta importância para a sociedade e embora normalmente não sejam valorados economicamente
pelo mercado, agora, com sua degradação agravada, e a sociedade tem que decidir em incorrer em um custo
para restaurá-lo. O propósito dessa pesquisa foi coletar dados sobre a importância associada à melhoria da
qualidade das águas deste rio e aumentar o entendimento acerca de assuntos e interesses comuns entre as
comunidades do baixo Paraíba do Sul. Os resultados parciais obtidos revelaram a percepção da população
entrevistada sobre a qualidade das águas do rio e sobre a disposição delas em pagar por uma melhoria da
qualidade dessas águas.
ABSTRACT – Historically, the Paraiba do Sul River has suffered pollution originating from agricultural
runoff, domestic waste and industrial waste. The combination of these effects continue to contribute to
environmental degradation and public health risks in populations directly and indirectly along the length of
the river. Environmental services provided by the river are known as public goods, though they are
traditionally not exchanged in conventional markets. In the case of the Paraiba do Sul River, one option is
to solicit the public contributions to restoration. The objective of this research is to collect information
associated with public perception of increasing environmental quality and provide educational extention
opportunities for the communities along the drainage basin of the Paraiba do Sul River. Prelimary analysis
of the population sample reveal understanding of the condition of the river and general willingness to
contribute to projects to increase water quality and overall environmental health of the river ecosystem.
PALAVRAS-CHAVE – Rio Paraíba do Sul, Valoração Econômica, Poluição das Águas.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Ambiental pelo CEFET-Campos (E-mail: [email protected])
2
Graduada em Licenciatura em Ciências Biológica pela Universidade Salgado de Oliveira (E-mail: [email protected]).
3
Professor Titular (E-mail: [email protected]). Universidade Estadual do Norte Fluminense, Centro de biociências e biotecnologia/
Laboratório de Ciências Ambientais, Avenida Alberto Lamego 2000, 28013-602, Campos dos Goytacazes – RJ. CER também é
Professor Colaborador do Programa de Estudos Ambientais da Washington and Lee University e Pesquisador Afiliado do Programa
de Estudos para América Latina e Caribe da Fairfield University; 4Doutorando ([email protected]) do Department of
Economics College of Business Administration 505A Stokely Management Center The University of Tennessee Knoxville,
Tennessee 37996-0550; 5Doutor em Economia Ambiental (E-mail: [email protected]) Washington and Lee University Lexington,
Environmental Studies Program, John F. Hendon Professor of Economics Science AG-15 Virginia 24450 & 6Doutor em Economia
Ambiental (E-mail: [email protected]) Universidade Federal do Amazonas Av. General Rodrigo Otávio Jordão Ramos, 3000
Minicampus - Prédio Projeto PIATAM, Coroado CEP: 69.077-000 Manaus - Amazonas.
1.
INTRODUÇÃO
Embora o dinheiro seja algo que as pessoas necessitam para obter bens materiais, este não é o
único motivo pelo qual elas se sacrificam. Bens como tempo, saúde e felicidade não podem ser
valorados monetariamente e apresentam grande importância na vida das pessoas, por isso são
chamados de valores não comerciais. A qualidade dos recursos naturais são bens não comerciais que
a sociedade usufrui, pois apresentam vários serviços ecossistêmicos e trazem qualidade de vida. No
entanto, o entendimento individual e coletivo sobre o que representa um bem não comercial, pode
envolver uma série de conceitos subjetivos e objetivos que estão diretamente e indiretamente
relacionados à expressão de uma determinada sociedade.
Os bens não comerciais podem ter valores diretos e/ou indiretos. Os primeiros são associados
a usos tangíveis de recursos naturais tal como a água limpa, que é utilizada em processos
manufaturados ou qualidade ambiental, e por fim atua positivamente na saúde humana. Valores
indiretos estão associados a usos intangíveis do meio ambiente, tal como benefícios estéticos ou
satisfação derivada da existência de um recurso natural. Estes são também conhecidos como valores
passivos ou não utilizados e compreendem valores existenciais, altruístas, de herança, de opinião e
dos serviços ecossistêmicos, tal como purificação da água, controle de erosão e habitat para a vida
silvestre, que por sua vez são bens públicos apresentando valor para sociedade, no entanto, não
apresentando valores que podem ser expressos no mercado (Zhongmin et al, 2002).
O Rio Paraíba do Sul é um bem público e seu uso é de direito a qualquer cidadão, tanto para
consumo, pesca quanto para fins recreacionais. Entretanto, a qualidade de sua água encontra-se
comprometida como decorrência do intenso desenvolvimento industrial e demográfico ocorrido nas
últimas décadas na Região Sudeste e da falta de medidas preventivas de poluição pelo governo
(Lacerda et al., 1993; Araújo, 1998).
As fontes poluidoras mais significativas, segundo a Fundação Estadual de Engenharia do
Meio Ambiente - FEEMA são as de origens industriais, decorrentes muitas vezes de acidentes
químicos em sua bacia, doméstica e da agropecuária. De acordo com o Comitê para Integração da
Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), o lançamento desses rejeitos tem provocado
mudanças ambientais contínuas ao longo do tempo e espaço, comprometendo a saúde do meio
ambiente e da população, que faz uso direto e/ou indireto destas águas. O rio tem importância
incomensurável na vida das pessoas, por ser um ecossistema, que sustenta inúmeras vidas e nichos e
de onde provém de inúmeros serviços ecossistêmicos para a sociedade. Pelo exposto torna-se difícil
atribuir um valor monetário para a sua restauração e conseqüente melhoria na qualidade de suas
águas, entretanto, estudos têm buscado alternativas sustentáveis de valoração direta ou indireta de
bens e serviços ecológicos que previamente não obtinham preço no mercado (Loomis et al, 2000;
Wang & Wittingon, 2000; Johnston et al, 2005).
Assim, uma alternativa de valoração ambiental a fim de se criar um mercado hipotético seria
a opinião das pessoas sobre questões relativas à qualidade dos recursos naturais e qual a disposição
em pagar para que houvesse uma reparação deste recurso. Todavia, destaca-se que, valorar os
recursos naturais às vezes é bastante controverso e duvidoso, visto que podem apresentar baixa
validade e representatividade dos resultados, além de depender de quão eloqüente é a importância dos
serviços ecossistêmicos dispostos no questionário e de quão bem compreendido e convencido o
respondente será após ler o questionário (Bulte et al; 2005; Kahn, 2005).
2.
OBJETIVOS
Aumentar o entendimento acerca de assuntos e interesses comuns entre a comunidade
acadêmica e não-acadêmica de uma amostra da população do baixo Paraíba do Sul relativos à
avaliação do estado atual da qualidade da água no Rio Paraíba do Sul e atribuir um valor que a
população estaria disposta a pagar para que houvesse a restauração do ecossistema fluvial.
3.
ÁREA DE ESTUDO
A bacia do Rio Paraíba Sul é uma das mais importantes do Brasil. Localiza-se entre a latitude
20°26’ e 23°39’S, longitude 41° e 46°30’W, possuindo uma área de 57.000 km². Formado pela
confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna, o rio Paraíba do Sul nasce na Serra da Bocaina, no
Estado de São Paulo, fazendo um percurso total de 1.120 km, até a foz em Atafona e em Gargaú, no
Norte Fluminense. Seus principais afluentes são o Jaguari, o Buquira, o Paraibuna, o Preto, o Pomba e
o Muriaé. Esses dois últimos são os maiores e deságuam, respectivamente, a 140 e a 50 km da foz
(SEMADS, 2001; FEEMA on line).
O RPS foi alvo de grande expansão demográfica e industrial principalmente entre as cidades
de Volta Redonda e Resende, onde a maior parte de sua população não dispõe de sistema de
tratamento de esgoto. Diariamente a região de toda a bacia recebe 1 bilhão de litros de esgoto sem
tratamento, além dos lançamentos de rejeitos tóxicos industriais e resíduos sólidos (Weber, 2001)
No Estado do Rio de Janeiro, o rio Paraíba do Sul percorre 37 municípios, numa extensão de
500 km, praticamente quase a metade do território do Estado. Sua importância estratégica para a
população fluminense pode ser avaliada pelo fato de que o rio Paraíba do Sul é a única fonte de
abastecimento de água para mais de 12 milhões de pessoas, incluindo 85% dos habitantes da região
metropolitana, localizada fora da bacia, seja por meio de captação direta para as localidades
ribeirinhas, seja por meio do rio Guandu, que recebe o desvio das águas do rio Paraíba para
aproveitamento hidrelétrico (SEMADS, 2001; FEEMA on line).
Na porção inferior do rio Paraíba do Sul estão localizados 5 (cinco) municípios, sendo eles:
Itaocara, São Fidélis, Campos dos Goytacazes, São Francisco do Itabapoana e São João da Barra. No
entanto, neste estudo estaremos apresentando apenas os resultados obtidos nos três primeiros
municípios. Os municípios de Itaocara, São Fidélis e Campos dos Goytacazes possuem
respectivamente uma área de 428, 1.028 e 4.032 km², uma população de 22.069, 37.477 e 426.154 pessoas (IBGE, 2007); apresentam IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,771; 0,741 e
0,752 estando em posições muito desfavoráveis no sistema de classificação nacional (1296°, 2124° e
1818° respectivamente), (IBGE, 2000).
4.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia aplicada para a valoração do RPS, na sua porção inferior, foi o de análise
conjunta (MAC - Metodologia de Análise Conjunta) que é baseado em um questionário que aborda os
problemas ambientais em que o entrevistador levanta uma série de perguntas nas quais se avalia a
preocupação do respondente em relação a algum problema ambiental e, ao final, o quanto ele estaria
disposto a pagar para que solucione ou minimize tal problema. No MAC, vários cenários com
diferentes níveis e tempo de restauração e diferentes valores monetários são conferidos a cada
atributo e misturados randomicamente, onde o respondente escolhe qual é seu melhor cenário (Kahn,
2005).
Foram aplicados 240 questionários em cada um dos três municípios, Campos dos Goytacazes,
São Fidélis e Itaocara num período de seis meses. Cada questionário era formado por três perguntas
iniciais sobre a qualidade da água do RPS: “Como você avalia a qualidade da água do Rio Paraíba do
Sul?”, “Como está a qualidade da água do Rio Paraíba do Sul?”, e “Qual tipo de poluição provoca a
maior ameaça ao Rio Paraíba do Sul?”; seguidas por um texto informativo da real situação do objeto
de estudo e da explicação de três tipos de restaurações possíveis de serem feitas no RPS,
posteriormente eram formados seis quadros com três opções cada, onde se aplicou o MAC e, por fim,
dez perguntas socioeconômicas, tudo em oito páginas.
No que diz respeito aos quadros onde se aplicou o MAC as opções de cenários conjugam, nas
duas primeiras, o tipo de restauração a ser feito (mínima, moderada ou completa), o tempo de duração
para essa restauração (de 0 - 20 anos, de 21 - 40 anos ou de 41 – 60 anos) e por fim quanto que
aumentaria no valor pago por produtos manufaturados e alimentos (R$ 8,00, R$ 16,00 ou R$ 24,00);
enquanto a última opção sempre seria de não fazer nada, não levando tempo nenhum e não tendo
aumento.
5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1.
Análise Sócio-Econômica
A maior parte dos 240 entrevistados em cada município é representada pelo sexo masculino,
variando entre 51% em São Fidélis a 55% em Itaocara (Figura 1). Estes resultados contrastam
levemente com os valores obtidos pelo IBGE (2000), onde, tanto no Brasil quanto no Estado do Rio
de Janeiro a maioria da população é composta pelo sexo feminino, entretanto, este pequena diferença
percentual não pode ser considerada como significativa uma vez que o perfil do país é de 50,7% de
pessoas do sexo feminino e o do estado é de 52%.
60
Campos dos Goytacazes
São Fidélis
Itaocara
Distribuição por Sexo (%)
50
40
30
20
10
0
Masculino
Feminino
Figura 1 – Representação em porcentagem do sexo dos entrevistados.
A classe etária mais abundante está representada na faixa entre 20 e 30 anos de idade,
apresentando a seguinte distribuição nos municípios estudados: Campos dos Goytacazes com 36%,
Itaocara com 30% e São Fidélis com 28% (Figura 2). Esse padrão foi confirmado a nível nacional
onde em média 18% da população nacional está representada dentro dessa faixa (IBGE, 2000) da
mesma forma que o Estado do Rio de Janeiro com uma representatividade de 19% (IBGE, 2007),
ressaltando que nesse estudo não foram entrevistadas crianças, que traduzem um maior número nos
dados do Nacional e do Estado. Apenas 4% dos entrevistados de Campos dos Goytacazes apresentam
mais de 60 anos e nos municípios de Itaocara e São Fidélis essa porcentagem se eleva, chegando a
15% e 16% respectivamente, enquanto no Brasil esse valor chega a 9% (IBGE, 2000) e 10% no Rio
de Janeiro (IBGE, 2007). De uma maneira geral, a distribuição das faixas etárias apresentou um
padrão de distribuição similar em todos os municípios com pequenas variações pontuais como na
faixa acima de 60 anos.
40
Campos dos Goytacazes
35
São Fidélis
Itaocara
Faixa Etária (%)
30
25
20
15
10
5
0
Menos de 20
De 20 a 30
De 31 a 40
De 41 a 50
De 51 a 60
Mais de 60
Não Respondeu
Figura 2 – Representação em porcentagem da faixa etária dos entrevistados.
De acordo com os resultados, grande parte dos entrevistados recebe salário abaixo de
1.500,00 reais mensais, sendo 79% em Campos dos Goytacazes, 93% em São Fidélis, 92% em
Itaocara. Segundo o IBGE (2005-2006) no Brasil a maior parte da população, 51%, recebe entre
190,00 a 760,00 reais (dados calculados com base no salário mínimo de R$ 380,00) e nos municípios
estudados 46%, 53% e 65% respectivamente, recebem de 201,00 a 800,00 reais mensais,
demonstrando que apenas Itaocara não apresenta um padrão similar ao descrito para o país (Figura 3).
40
Campos dos Goytacazes
Salário Mensal Individual (%)
35
São Fidélis
Itaocara
30
25
20
15
10
5
e
D
de
u
es
po
n
R
ão
N
6.
00
1
4.
00
1
a
a
10
.0
00
6.
00
0
4.
00
0
e
D
e
D
D
e
2.
50
1
3.
00
1
a
a
3.
00
0
2.
50
0
a
2.
00
0
2.
00
1
a
e
D
D
e
D
e
1.
10
1
80
1
e
D
1.
50
1
a
a
a
60
1
e
D
1.
50
0
1.
10
0
80
0
60
0
a
e
D
D
e
Ab
ai
x
o
20
1
40
1
a
de
40
0
20
0
0
Figura 3 – Distribuição do salário mensal dos entrevistados.
O total dos salários da família dos entrevistados, no entanto, tem uma maior variação entre os
municípios. Em Campos dos Goytacazes a distribuição em classes é mais uniforme até os valores de
10.000,00 reais mensais, apresentando maior incidência na faixa de 800,00 a 2.000,00 reais mensais
(33%) sendo que 13% das famílias recebem de 1.001,00 a 1500,00 reais mensais; em São Fidélis 23%
dos entrevistados estão concentrados entre 201,00 e 400,00 reais mensais; em Itaocara os índices são
próximos nos valores que vão de R$ 201,00 a R$ 2.000,00, apresentando 81% do total, sendo que
15% está entre R$1.501 a R$2.000 reais mensais. Em relação ao Estado do Rio de Janeiro de 2004
(IBGE-PNAD), utilizando-se como base de cálculo o salário mínimo de R$ 380,00 e aproximando as
faixas salariais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) às desse estudo, destaca-se
que as residências que recebiam até 380,00 reais concentravam apenas 7% . No entanto, nossos
resultados demonstram que São Fidélis (26%) não está de acordo com o padrão estadual, seguido por
Itaocara (18%). Utilizando-se esta base de cálculo, apenas Campos dos Goytacazes foi o único
município que apresentou a mesma porcentagem do Estado (7%). O Estado possui a maior
concentração de domicílios com renda de 1.140,00 a 1.900,00 reais (22%) e esse parâmetro é seguido
quando se trata do Município de Campos dos Goytacazes (22%), sendo um pouco maior em Itaocara
(29%) e menor em São Fidélis (17%).
25
Campos dos Goytacazes
Salário Mensal por Residência (%)
São Fidélis
Itaocara
20
15
10
5
N
ão
R
a
es
po
nd
eu
20
.0
00
15
.0
00
15
.0
01
e
D
e
D
D
e
6.
00
1
10
.0
01
a
a
10
.0
00
6.
00
0
a
4.
00
0
4.
00
1
D
e
3.
00
1
e
D
D
e
2.
50
1
a
a
3.
00
0
2.
50
0
a
2.
00
0
2.
00
1
a
e
D
D
e
1.
10
1
D
e
e
D
1.
50
1
a
a
80
1
60
1
e
1.
50
0
1.
10
0
80
0
a
60
0
a
D
D
e
40
1
20
1
e
D
Ab
ai
xo
de
a
20
0
40
0
0
Figura 4 – Distribuição do salário mensal de todos da residência dos entrevistados.
Em Campos dos Goytacazes (55%) e São Fidélis (43%) a maior parte dos entrevistados é
solteira, seguidos de casados 29% e 40% respectivamente, em Itaocara esse quadro se inverte,
apresentando a maior parte de casados (45%), seguidos pelos solteiros (40%). Em Campos dos
Goytacazes foram apresentados maiores índices de pessoas Divorciadas (6%) e de Relacionamentos
Estáveis (5%), enquanto em São Fidélis houve maior incidência de viúvos (8%), classificados em
“outro” (Figura 5).
60
Campos dos Goytacazes
50
São Fidélis
Itaocara
Estado Civil (%)
40
30
20
10
0
Solteiro
Casado
Divorciado
Relação Estável
Outro
Figura 5 – Representação em porcentagem do estado civil dos entrevistados.
Em todos os municípios a maioria dos entrevistados mora em casa com apenas uma família,
variando de 67% em Campos dos Goytacazes a 89% em São Fidélis. Em Campos dos Goytacazes,
São Fidélis e Itaocara uma parcela entre 8 e 17% dos entrevistados relatou morar em apartamento. As
residências com mais de uma família mostraram uma variação entre 3 e 14%, São Fidelis e Campos
dos Goytacazes respectivamente e uma parcela inferior a 2% ainda reside nas fazendas das regiões
estudadas (Figura 6). No Brasil, a divisão feita apenas entre casa e apartamento demonstrou que a
maioria, 89% reside em casas e 11% moram em apartamentos, restando menos de 1% para a opção de
cômodo (IBGE, 2005-2006).
Tipo de Residência (%)
100
Campos dos Goytacazes
90
São Fidélis
80
Itaocara
70
60
50
40
30
20
10
0
Apartamento
Casa com uma família
Casa com mais de uma
família
Fazenda
Não Respondeu
Figura 6 – Representação em porcentagem do tipo de residência dos entrevistados.
Dos entrevistados neste estudo, a maioria possui residência própria, sendo 69% em São
Fidélis, 73% em Itaocara e chegando a 85% em Campos dos Goytacazes, nestes estão incluídos os
que não pagam aluguel, mas reside em casas emprestadas ou cedidas pelo empregador – fato que
ocorre principalmente no município de Itaocara (Figura 7). O município com maior índice de
residência alugada foi São Fidélis com 31%. No Brasil, segundo dados do IBGE apresentados na
Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) de 2005-2006, 73% das residências são
próprias e 16% alugadas, ressaltando que os domicílios cedidos são computados separadamente,
sendo de aproximadamente 10% e restando menos de 1% classificados como outros.
90
Campos dos Goytacazes
80
São Fidélis
Situação Legal (%)
70
Itaocara
60
50
40
30
20
10
0
Própria
Alugada
Figura 7 – Representação em porcentagem da propriedade das residências.
Quanto ao número de pessoas por residência, a maior parte, entre 36 a 48% divide com 2 ou 3
pessoas, em todos os municípios estudados. Em Itaocara a segunda e a terceira classe foram mais
abundantes com pessoas que moram com 2 até 5 pessoas, enquanto as pessoas que moram sozinhas
ou com uma pessoa representam a terceira classe mais abundante. Em Campos dos Goytacazes se
apresenta maior distribuição dos índices em todas as alternativas de respostas (Figura 8). No Brasil e
no Estado do Rio de Janeiro esses valores são 39% e 45% para pessoas que moram com 2 ou 3
pessoas e 37% e 34% para pessoas que dividem residência com 4 ou 5 pessoas, respectivamente
(IBGE, 2000).
50
Campos dos Goytacazes
Número de Moradores pot Resiência (%)
45
São Fidélis
Itaocara
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 ou 1
2 ou 3
4 ou 5
6 ou 7
Mais de 7
Não Respondeu
Figura 8 – Representação do número de pessoas que os entrevistados dividem residência.
O nível de escolaridade varia muito de um município para outro. Enquanto em Campos dos
Goytacazes 62% possuem pelo menos o ensino médio completo e 21% graduação completa com ou
sem especialização e mestrado ou doutorado; em Itaocara esses índices caem para 46 e 6%
respectivamente; e caem ainda mais em São Fidélis com 33% e 5% (Figura 9). Segundo os dados do
IBGE (2005-2006) no Brasil o índice de pessoas com o ensino fundamental incompleto é de 55%,
nesse sentido demonstra-se que das cidades analisadas, todas possuem maior nível de escolaridade da
população, sendo São Fidélis a que mais se aproxima do índice nacional, com 45% dos entrevistados
possuindo até o ensino fundamental incompleto. Já ao tratar do estado do Rio de Janeiro, destaca-se
que o índice de analfabetismo é de 6,3%, resultado próximos aos obtidos em São Fidélis (5%) e
Itaocara (7%), bem abaixo desse índice está Campos dos Goytacazes com apenas 1% de
analfabetismo.
45
Campos dos Goytacazes
40
São Fidélis
Itaocara
35
Escolaridade (%)
30
25
20
15
10
5
0
Nenhuma
Ensino
Fundamental
Incompleto
Ensino
Fundamental
Completo
Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio Especialização
Completo
Técnica
Graduação
Incompleta
Graduação
Completa
Graduação
Completa e
Especialização
Mestrado
Figura 9 – Representação da escolaridade dos entrevistados.
5.2.
Avaliação da Qualidade da Água do Rio Paraíba do Sul e Valoração Para Sua
Restauração
Os resultados obtidos com as perguntas sobre a percepção dos entrevistados sobre qualidade
da água do Rio Paraíba do Sul, antes da explicação a respeito da real situação deste rio demonstrou
que a maior parte das pessoas entrevistadas considera a qualidade da água do Rio Paraíba do Sul
inaceitável. Entretanto, em Campos dos Goytacazes (64%) e Itaocara (65%) elas se mostraram mais
tolerantes se comparadas com o índice de 73% em São Fidélis. Em Campos dos Goytacazes, ainda
1% não respondeu a questão o que de certa forma sinaliza para a necessidade de termos uma política
mais intensa de divulgação de critérios de qualidade entre outras informações para que os usuários
possam estabelecer seus critérios de valores (Figura 10).
Avaliação da Qualidade da Água (%)
80
Campos dos Goytacazes
São Fidélis
70
Itaocara
60
50
40
30
20
10
0
Aceitavel
Inaceitavel
Não Respondeu
Figura 10 – Representação em porcentagem da avaliação da qualidade de água do Rio Paraíba do
Sul pelos entrevistados.
No município de Campos dos Goytacazes 20% considerou que o rio está Pior ou Piorando
seguido por 18% que o considerou Horrível; em São Fidélis 23% considerou o rio também está Pior
ou Piorando, seguido de 19% que o considerou com qualidade moderada e sem mudança; em
Itaocara, por fim, a maioria 23% disse que a qualidade do rio Paraíba é moderada, mas está piorando
(Figura 11).
25
Avaliação da Qualidade da Água (%)
Campos dos Goytacazes
São Fidélis
20
Itaocara
15
10
5
0
Horrível
Pior e
Piorando
Pior e Sem
Mudança
Pior e
Melhorando
Moderada e
Piorando
Moderada e
Sem
Mudança
Moderada e
Melhorando
Boa, mas
Piorando
Boa, sem
Mudança
Boa, mas
Melhorando
ainda
Excelente
Figura 11 – Representação da avaliação da qualidade de água do Rio Paraíba do Sul pelos
entrevistados.
Quando perguntados sobre qual o tipo de poluição mais ameaça o rio Paraíba do Sul, apenas
3% em Campos dos Goytacazes e 1% em Itaocara não têm opinião e dos 3 municípios estudados a
opção de despejos das atividades pecuárias e agrícolas foi a menos significativa variando de 2 a 3%,
ditos normalmente por pessoas ligadas a essas áreas de produção. O esgoto doméstico foi o tipo de
poluição mais apontado tendo de 44 a 55% das respostas, com exceção de Campos dos Goytacazes
onde apenas 35% o selecionaram como principal tipo de poluição, perdendo para Despejo dos
Processos Industriais que teve 44% das respostas. Esse ponto de vista da população pode está
relacionado com as suas condições locais, pois em Campos podemos observar uma maior
concentração de indústrias que nas outras cidades. Em geral o Lixo Jogado no rio foi classificado
como o terceiro pior tipo de poluição, exceto por Itaocara, que com 29% das respostas foi o segundo
pior (Figura 12).
Campos dos Goytacazes
60
São Fidélis
Itaocara
Tipo de Poluição (%)
50
40
30
20
10
0
Lixo Jogado no Rio
Despejos dos processos
Industriais
Esgoto doméstico
Despejos das atividades
pecuárias e agrícolas
Eu não tenho opinião
Figura 12 – Representação em porcentagem do tipo de poluição que mais ameaça o Rio Paraíba do
Sul considerado pelos entrevistados.
Ao serem informados da atual situação pela qual passa o rio Paraíba do Sul os entrevistados
eram questionados se estariam dispostos a pagar preços mais elevados por produtos manufaturados e
alimentos para que ocorresse a restauração do rio. A maior parte dos entrevistados disse que
contribuiria de alguma forma, visto que o valor do aumento variava de acordo com o tempo e a
qualidade da restauração a ser feita no RPS. Os níveis de aceitação dos entrevistados das três cidades
em pagar preços mais elevados por produtos manufaturados e alimentos se estes recursos
aumentassem a qualidade das águas no rio Paraíba do Sul foi de 87% em Campos dos Goytacazes,
81% em São Fidélis, 74% em Itaocara. Mesmo sendo a maior parte da população, destaca-se que a
porcentagem de pessoas que não estariam dispostas a colaborar em nenhum valor para a melhoria da
qualidade da água do rio Paraíba do Sul foi significativa, chegando a 26% em Itaocara, 19% de São
Fidélis e 13% de Campos do Goytacazes (Figura 13).
100
Campos dos Goytacazes
90
São Fidélis
Disponibilidade para Pagar (%)
80
Itaocara
70
60
50
40
30
20
10
0
Sim
Não
Figura 13 – Representação em porcentagem da disposição dos entrevistados a pagar pela
restauração do Rio Paraíba do Sul.
De uma maneira geral, podemos atribuir que a maior disponibilidade de pagar para restaurar
as condições ambientais do rio está associada ao grau de instrução da população. Portanto, o
entendimento a cerca das necessidades do rio, obtidos por meio formal ou pela vivência pessoal, pode
ser levado em consideração na hora de julgar sua restauração. Várias pessoas demonstraram
claramente que não confiam suficientemente no governo e assim acharam que esse recurso seria
desviado para outras finalidades. Muitos acreditam que já pagam impostos suficientes e que é função
do governo arcar com todas as despesas envolvidas no processo de restauração.
6.
CONCLUSÃO
Os resultados descritos demonstram que o padrão socioeconômico das cidades estudadas está
dentro das médias nacionais e estaduais. A maioria dos entrevistados não está satisfeita com a atual
situação do rio Paraíba do Sul e acreditam que a atividade industrial e o esgoto doméstico são seus
principais agentes poluidores, estando disposta a contribuir com algum aumento no valor de produtos
manufaturados e alimentos para melhorias na qualidade de suas águas.
Uma pequena, mas
significativa, parcela que não demonstrou disposição a contribuir foi motivada pela descredibilidade
no governo e não por acharem desnecessária a restauração do rio Paraíba do Sul.
Nas próximas etapas desse estudo será realizado o tratamento estatístico dos dados obtidos
com relação à valoração dessas três cidades e ainda de todos os dados resultantes da pesquisa nas
cidades de São João da Barra e de São Francisco do Itabapoana.
7.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho faz parte do Instituto do Milênio Estuários: Transferência de materiais na
interface continente – oceano (CNPq Proc. 420050/2005-1) e da Cooperação Brasil – Alemanha
POLCAMAR; O impacto de poluentes da monocultura da cana-de-açúcar em estuários e águas
costeiras do NE-E do Brasil: Transporte, Destino e Estratégias de Gerenciamento Sustentável
(CNPq/BMBF, Proc. 590002/2005-8) e CER é Pesquisador do CNPq (Proc. 306.188/2004-0). Os
autores são gratos a vários alunos de graduação e pós-graduação da UENF, WLU e FFU que tem
atuado conjuntamente nos projetos de pesquisa do Rio Paraíba do Sul.
8.
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, F.G.; “Adaptação do índice de integridade biótica usando a comunidade de peixes
para o Rio Paraíba do Sul”; Rev. Bras. Biol. v.58 n.4 São Carlos,1998.
BULTE, E.; GERKING, S.; LIST, J. A.; ZEERW, A.; “The effect of varying the causes of
environmental problems on stated WTP values: evidence from a field study”; In: Journal of
Environmental Economics and Management Vol. 49; 330–342, 2005.
COMITÊ PARA INTEGRAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO
SUL (CEIVAP). Disponível em: www.ceipav.org.br. Data de acesso: 30 de janeiro de 2008.
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE (FEEMA). Disponível
em: www.feema.rj.gov.br . Data de acesso: 31 de janeiro de 2008.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). CENSO
Demográfico 2000.
_____________________________________. Contagem da População 2007. Rio de Janeiro:
IBGE, 2007.
______________________________________Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e
Rendimento; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004.
_____________________________________Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e
Rendimento; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005-2006.
JOHNSTON, R.J.; BESEDIN, E.Y.; IOVANNA, R.; MILLER, C.J.; WARDWELL, R. F;,
RANSON, M. H.; “Systematic Variation in Willingness to Pay for Aquatic Resource Improvements
and Implications for Benefit Transfer: A Meta-Analysis”; In: Canadian Journal of Agricultural
Economics 53; 221–248, 2005.
KAHN, J. R.; The Economic Approach to Environmental and Natural Resource, 3º Ed. South
Western, Thomson, p. 92 – 128; 2005.
LACERDA, L;D.; CARVALHO, C.E.V.; REZENDE, C.E.; PFEIFFER, W.C.; “Mercury in
Sediments from the Paraiba do Sul River continental Shelf”; Marine Pollution Bulletin MPNBAZ;
Vol. 26, No. 4, p 220-222, 1993.
LOOMIS, J.; KENT, P; STRANGE, L; FAUSCH, K; COVICH, A.; “Measuring the total
economic value of restoring ecosystem services in an impaired river basin: results of a contingent
valuation survey”; In: Ecological Economics, Vol 33; 103–117; 2000 .
SEMADS; Bacias Hidrográficas e Rios Fluminenses: Síntese Informativa da Macro Região
Ambiental. Rio de Janeiro: SEMADS, 2001.
WANG, H.; WHITTINGON, D.; “Willingness to pay for air quality improvements in Sofia,
Bulgaria”; In: Policy Research Working Paper 2280, 2000.
WEBER, W (coord.). Ambiente das Águas no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
SEMADS, 2001.
ZHONGMIN X.; GUODONG C.; ZHIQIANG Z.; ZHIYONG S.; LOOMIS J. “Applying
contingent valuation in China to measure the total economic value of restoring ecosystem services in
Ejina region”; Ecological Economics 44, 345 – 358, 2003.