O que VOCÊ espera da VIDA?
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O que VOCÊ espera da VIDA?
SOBRE O AUTOR Descobri minha missão pessoal e profissional ao trabalhar com o desenvolvimento do capital humano. Sou psicólogo e graduado em Filosofia. Estes saberes compõe a base deste e-book e de todos os projetos que participo. Trabalho como professor de Filosofia e Psicólogo Clínico e Organizacional. Criador da CH Mentoring – Academia do Capital Humano e sócio fundador da S/A Consultoria. Contatos: (whatsapp) 35 – 9 9166 7050 35 – 9 8708 1471 Instagram: @samuelbuenopsicologia Twitter: @psisamuelbueno Email: [email protected] Site: www.meudesenvolvimentopessoal.wordpress.com “A vida é muito curta para ser pequena” (Benjamin Disraeli) O desenvolvimento do capital humano engrandece o existir AGRADECIMENTOS Agradeço à Causa Perfeita das coisas imperfeitas. Aos meus professores e mestres que me contagiaram com a escrita. Aos meus pacientes, clientes e alunos que me ensinam poderosas lições. Aos meus pais, amigos, amores e colegas pelo carinho e possibilidade de crescimento pessoal e profissional. DEDICATÓRIA Aos que ainda se encantam com o ineditismo da vida PREFÁCIO (ou primeira provocação) Há muito tempo estas linhas aguardam o momento de ganhar asas. Gosto das palavras e do que elas conseguem transmitir. Seu poder de batizar sentimentos e gerar ideias fez com que eu, em sinal de respeito, vivesse o tempo de amadurecimento necessário que estes textos precisavam. O título deste e-book traduz o que este projeto significa: são provocações e pensatas originadas em meus encontros com o mundo, temperadas com conceitos da Filosofia e Psicologia. Entre os temas estão o Tempo, inveja, procrastinação, frustração, vida e morte. Tudo alinhado ao desenvolvimento do capital humano. Apesar de versar sobre o desenvolvimento do capital humano, este e-book não tem a pretensão de ser um “manual sobre como viver melhor”. Ao contrário! Não acredito que existam fórmulas para a vida. Caso você conheça alguém que lhe ofereça fórmulas sobre como ter a vida perfeita, atente-se! A lógica das exatas nem sempre se aplica à vida. Fórmulas são para conceitos exatos e na vida não existe exatidão. É o ineditismo do mundo que tinge a existência, e encarar este ineditismo de peito aberto é o que dá sentido à vida. Agradeço aos que me apresentaram ao mundo das letras. Contudo, não me considero um escritor. Como bom mineiro que sou, estou mais para “escrevinhador de ideias que me surgem”. Assim, convido você a ler o que escrevinhei ao longo de muito tempo! ÍNDICE PROVOCATIVO O TEMPO não cura nada! 5 O que VOCÊ espera da VIDA? 6 50 tons de PRETO no BRANCO 8 A CAIXA de PANDORA nossa de cada dia! 10 Inveja, Beijinho no Ombro e Recalque 12 Você está no CORREDOR da MORTE 14 Não LEIA HOJE. Deixe para amanhã! 16 Manual do Manifestante (ou Panelaço por si mesmo) 18 A lição de SUZANE 19 Fiquei frustrado. E agora? 21 A PRIMEIRA IMPRESSÃO é a que fica? 23 Síndrome de Gabriela 25 Adeus ano velho. Feliz ano novo! Será? 27 MAIS UMA CANÇÃO (ou, simplesmente Ode aos Hermanos) 29 Retalhos de um FUTURO EPITÁFIO 31 Sobre encarar o SOL 32 Sobre FUTOROLOGIA 34 Sobre TEMPO RUIM 35 Sobre o MENINO que VOAVA 36 Sobre PROCURAS 37 O DIA mais IMPORTANTE! 38 1 O TEMPO não cura nada! Uma das características da vida que mais me chama atenção é o fato dela ser dinâmica. Um dia se está “voando baixo” no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, e no outro as coisas confluem para que sua vida desestabilize. É a famosa lei do pêndulo aplicada na vida! Demissão, reprovação escolar, fracassos pessoais e profissionais, desilusão amorosa, perda de pessoas queridas…. situações que podem te levar à sensação de que o mundo desabou nas suas costas. O ser humano, que não é de ferro (ainda bem), sente as feridas que a vida lhe apresenta. Cada qual a seu modo. Quando estamos bem, quase nunca voltamos para nós mesmos e refletimos sobre o momento. Infelizmente, na quase totalidade das vezes, só paramos para refletir sobre nós quando as coisas não estão muito bem. Por vezes tentamos encontrar a culpa ou responsabilidade pelos maus momentos da vida. As razões para esse movimento das coisas nem sempre são fáceis de se encontrar. Fruto das nossas escolhas, fruto das escolhas do outro, ou simplesmente por falta de sorte. Contudo, o que quero tratar nestas linhas é o movimento que muitos fazem para lidar com situações como essa, que é recorrer à falácia do Tempo: “o tempo cura”…. “O tempo é o senhor do destino”… “O tempo revela a verdade!”…. É comum pessoas dizerem que é o tempo que cura as feridas! Não é verdade! O tempo não cura nada! Se essa premissa fosse real, indivíduos na velhice não se queixariam de alguma desilusão ocorrida na juventude. O que cura realmente é o debruçar-se sobre si mesmo, tentar entender o que realmente aconteceu, chorar, sentir raiva, frustração, medo, rir de si mesmo. Elaborar os sentimentos. Extrair desse instante, em que o mundo parece ter vindo abaixo, a lição e o ânimo suficientes para continuar a caminhada. O tempo é o nosso maior aliado nessas circunstâncias, e possui as melhores ferramentas de que o ser humano pode precisar: ele te oferece a oportunidade de elaborar o passado, viver o presente e planejar um futuro. 5 Por isso, ouso dizer que a vida não é dinâmica, apenas. Ela é dialética. Um momento é superado por outro, que, por sua vez, também será superado, e assim sucessivamente, como uma espiral. O tempo é uma categoria que existe independente de nós. Nascemos com infinitas possibilidades! Não deixe o seu processo de desenvolvimento nas mãos do tempo ou acredite em uma obra do destino. Não deposite na conta do Tempo responsabilidades que são suas! O tempo ajuda a esquecer, criar distância. A superação da dificuldade só vem com trabalho pessoal, voltar o olhar para dentro de si mesmo, lidar com seus anjos e demônios. Crescer! (E nessa tarefa um psicólogo pode te ajudar!). Quando a transformação ocorre e o momento difícil é superado, não veja como mérito do Tempo. O mérito é todo seu, que utilizou das suas possibilidades e do Tempo como um aliado para seu crescimento pessoal! 6 O que VOCÊ espera da VIDA? Questionamentos existenciais como esse são muito importantes para o autoconhecimento e, consequentemente, para o nosso desenvolvimento enquanto indivíduos. Pensar a partir de problemáticas relacionadas à nossa existência pode parecer (às vezes) clichê de autoajuda ou psicologismos. Concordo que existe muito material por aí que busca trilhar estes caminhos. Todavia, acredito que inquietações como a que dá título a este texto podem ter efeito terapêutico quando tomadas com mais profundidade pela nossa capacidade de compreensão. Tudo depende do modo como tomamos para nós a angústia provocada por perguntas assim. O que você espera da vida? Possivelmente você já se deparou com essa provocação em algum momento da sua história, seja buscando ou criando algum sentido para a mesma. Ademais, esta é uma pergunta muito pertinente na conjuntura capitalista em que vivemos, onde a busca por méritos sempre está presente nas nossas relações. Mas o que esperar da vida, realmente? Acredito que a resposta seja: NADA. Isso mesmo, não podemos esperar NADA da vida. Não temos esse direito! Me justifico dizendo que esperar algo da vida traz a noção de uma postura passiva diante dos acontecimentos e das nossas escolhas. Percebendo constituição da nossa subjetividade, marcada pelas inúmeras possibilidades que temos para construir a nossa história, enxergo como pequenez esperar algo da vida. Podemos ir além! Podemos mais! Podemos utilizar a nossa capacidade de seres humanos e edificar a nossa individualidade. Nesse sentido, uma postura mais ativa nas nossas escolhas e no nosso agir inverte a provocação: O QUE A VIDA PODE ESPERAR DE VOCÊ? O seu trabalho, o seu casamento, o seu relacionamento, as suas amizades… o que eles podem esperar de você? Torço seriamente que esta nova provocação desperte angústia em você, meu caro amigo leitor. 7 50 tons de PRETO no BRANCO Me atrevi a escrever sobre o relacionamento que está dando o que falar entre Anastasia Steele e Christian Grey. O filme “50 tons de cinza”, que vem batendo recordes de bilheteria nos cinemas, é uma adaptação do best-seller mundial Fifty Shades of Grey. Lançado em 2011, o livro vem colecionando polêmicas e, com isso, enorme repercussão em todas as mídias desde então. O envolvimento da jovem estudante com o executivo milionário que possuía fantasias sexuais “excêntricas”, eu diria, acumula fãs em todo o mundo. Há quem o recomende! Há também quem odeie e condene toda a trilogia a qual esta história pertence. Respeito a todos, não venho aqui fazer apologia a nenhum dos grupos, apesar deste texto ser uma propaganda implícita para o livro/filme (sem ganhar nenhum centavo, ainda por cima!). Sadismo, masoquismo, amor, dinheiro… são os temas principais do enredo. Amor, paixão, entrega e ingenuidade orbitam ao redor como coadjuvantes. O filme lançado propositalmente no Valentine’s Day, o dia dos namorados para os americanos, pode levantar algumas questões pertinentes. Este é o motivo deste texto. Quando li o livro (sim, eu li o livro!) fiquei me questionando sobre alguns aspectos que o best-seller apresenta. Trago aqui estes questionamentos em forma de provocação: Quais os limites do amor? Até que ponto a submissão emocional e sexual à outra pessoa é prova de amor? Onde a paixão acaba e começa o amor? Acaba a paixão? Começa o amor? O que é saudável e o que é destrutivo em um relacionamento marcado pela submissão? Será mesmo que existe submissão ou é uma manifestação da liberdade pessoal? Quais os limites entre a fantasia e doença? Onde termina a sanidade e começa a patologia na área sexual? Há prazer na dor? Há dor no prazer? 8 O filme traz a nuance do acinzentado. Por si só, o cinza já revela um simbolismo muito interessante. Algo acinzentado é costumeiramente ligado à falta de vida e estabilidade. Cinza é o produto de algo que foi incinerado. É pra se pensar, não é? Curiosa também é a tradução para nosso país, pois o original remete a algo como “50 sombras de Grey”, um título mais apropriado para um texto que revela as obscuridades do ser humano. Mas ainda bem que estamos falando de uma obra fictícia (ou será realidade?). A vida real é bem diferente! (Será mesmo?). Mas, e aí, o que o livro/filme tem a ver com desenvolvimento pessoal? Simples: Entre um conto de fadas cinzento ou a vida real no preto e no branco, o que escolher? A vida é a soma das nossas escolhas. P.S.: Não assisti ao filme. Fidelidade entre o livro e o filme é algo dúbio. 9 9 A caixa de PANDORA nossa de cada dia! Terra, água! Frio, quente! Outono, primavera! Líquido, sólido! Saúde, doença! Esse é o movimento dialético da vida! Há algo e o seu respectivo contrário. A roda da vida é tocada por um dinamismo de contrários. E como isso se aplica a tudo, nós, meros mortais, também somos feito pela síntese dos opostos. Há tristeza porque se viveu a alegria. Há coragem porque outrora o medo foi experimentado. Há sentido na vida pela estreiteza da mesma com a morte. Essencialmente também somos marcados pela contradição. Luz e sombra. A luz pode ser identificada naquilo que mais gostamos em nós, no que mais mostramos aos outros, no que mais agrada e faz sorrir. Sombra se faz presença por aquilo que, por vezes, nos envergonha, nos enraivece, nos neurotiza, nos faz perder a razão. Aquilo que pode trazer instabilidade ao existir. Na sombra, geralmente, estão os nossos segredos cuja revelação implicaria em reconhecer a nossa imperfeição. (E como isso é dolorido!). Como pavimento da nossa obscuridade estão nossas mentiras existenciais, raízes de inveja e ciúme, sementes do medo e todos os nossos equívocos que teimam em manchar nossa pretensiosa humanidade imaculada. É uma cena divertida quando a criança ainda sem a capacidade de assimilação abstrata tenta desfazer-se da sua sombra correndo dela. Todavia, também quando adultos tentamos desesperadamente fugir da nossa sombra, como aquela criança que outrora já fomos. Mera ilusão. Não é possível nos desfazermos de algo que está na nossa constituição. (síntese dos opostos, lembra?). 10 Muitos não tem conhecimento desta parte de si mesmo. Outros a conhecem e preferem ignorá-la. E é compreensível quem prefere não reconhecê-la como parte de si, já que a sombra nos faz entrar em contato com as nossas misérias. Carl Gustav Jung, o pai da Psicologia Analítica, em sua obra Os arquétipos e o inconsciente coletivo, diz: Se formos capazes de ver nossa própria sombra, e suportá-la, sabendo que existe, só teríamos resolvido uma pequena parte do problema. Teríamos, pelo menos, trazido à tona o inconsciente pessoal. A sombra, porém, é uma parte viva da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. Este problema é extremamente difícil, pois não desafia apenas o homem total, mas também o adverte acerca do seu desamparo e impotência. O encontro consigo mesmo significa, antes de mais nada, o encontro com a própria sombra! Uma das ações da psicoterapia na dinâmica do indivíduo é integrar à luz do consciente esses conteúdos que permeiam a nossa sombra, tingindo a obscuridade do ser. NÃO EXISTE AUTOCONHECIMENTO SEM O CONTATO MADURO COM A NOSSA SOMBRA. Não obstante, este contato é demasiadamente frutífero ao nosso desenvolvimento e crescimento enquanto indivíduos. Essa nossa caixa de pandora existencial precisa ser (cuidadosamente) aberta. Tomar consciência dela é o primeiro passo para a convivência harmoniosa (porém, não sem conflitos) entre luz e sombra. Não deixe a sua caixa de pandora acumulando pó num canto do armário à mercê de naftalina. Reconhecer a imperfeição e incompletude humana é o primeiro passo da autenticidade. Aceitar que o medo, a comparação com o outro, o desânimo, a frustração e tantos outros atributos humanos fazem parte de algo maior chamado EXISTIR acalenta o processo de crescimento. Negar a nossa sombra é rejeitar uma parte de nós. É viver de modo inautêntico. É estar não estando por inteiro. Abrace-a. 11 Inveja, Beijinho no Ombro e Recalque! Considerada um dos sete pecados capitais e muito presente nas nossas relações interpessoais, a inveja sempre foi vista como algo negativo e digno de repúdio. Vivemos em uma cultura marcada pelo capitalismo, concorrência e alta exposição da vida através das redes sociais, elementos que contribuem para despertar o sentimento de inveja. Todavia, a inveja é um aspecto natural ao ser humano. E, por isso, pode tornar-se um sentimento positivo ou negativo. Inveja é o oposto da admiração. Cabe aqui falar sobre a admiração, cuja etimologia remete a mirar algo para além de mim mesmo, algo que é interessante, mas que eu não quero possuir. Por exemplo: eu admiro muito quem consegue pintar quadros, reconheço que é um talento muito nobre, mas não quero tentar ser um pintor de quadros; não quero isso para mim. Não quero ser igual a esse pintor, apesar de apreciar o seu talento. Como já mencionei acima, a inveja pode se tornar um sentimento perigoso. Alguém mal intencionado, com um grande sentimento de inferioridade ou com desvios de caráter, quando tomado pelo sentimento de inveja pode cometer atos terríveis para consigo mesmo e para com o outro. Esse é o lado negativo da inveja, ou seja, quando eu me deprecio, amargando em mim mesmo. A inveja seria então uma espécie de admiração negativa, quando eu me rebaixo, me considero pouco, ou até fico com pretensões de tirar do outro. Nós não temos habilidade ou competências suficientes para sermos bons em tudo (afirmação que deveríamos aceitar com mais facilidade). Eis o terreno propício para o surgimento da inveja. Ao invés de aprimorar as minhas competências, me apropriar do que eu realmente sou, eu quero tirar do outro aquilo que ele tem, fazendo por vezes um movimento de autodepreciação ou vitimismo. E isso pode se tornar um problema, pois quando eu não tenho uma identidade ou não estou seguro dela (baixa autoestima) eu me apoio na identidade do outro. 12 Se você sente ou sentiu inveja do seu irmão que ganha mais presentes, do seu companheiro de trabalho que foi promovido utilize isto como uma oportunidade de autoanálise: Como dito acima, a inveja tem conotação negativa entre nós, seres humanos. Porém, ela tem um lado positivo. Ela sinaliza que há alguma coisa ocorrendo que precisa ser aperfeiçoada, como por exemplo a confiança, responsabilização, autoestima. Descobrir isso pode não ser a coisa mais prazerosa dentro do seu processo de desenvolvimento pessoal, mas use a inveja como um sentimento a seu favor, um indício de que você precisa cuidar mais de si, aumentar sua autoestima, ter mais amor próprio, confiar nas suas atitudes. Mais importante talvez do que evitar a inveja é usá-la a favor do seu desenvolvimento. A maior competição que existe (se existe) no seu desenvolvimento pessoal não é com o outro, mas consigo mesmo. Ademais, um pouco de reconhecimento de que o outro foi ou é melhor do que você em alguma coisa, não faz de ti a pior pessoa que existe na face da terra. Se eu consigo ver o belo fora de mim, tenho a capacidade de ver o belo dentro de mim. A inveja, se bem compreendida, pode contribuir para o seu crescimento pessoal, pode te inspirar a ser uma pessoa melhor! 13 Você está no corredor da morte Sim, você não leu errado! Você está no “corredor da morte”. Somos limitados por circunstâncias do nosso mundo. A nossa limitação enquanto homens passa pela questão da mortalidade. Somos mortais. Ao nascermos, o ato do médico cortar nosso cordão umbilical é simbólico na medida em que nos lança para o mundo. Existir é também estar no mundo. Não se pode separar o homem do mundo onde vive. Logo, criamos uma unidade com o mundo que vivemos. Ao sermos chamados para existir no mundo, temos que criar nosso projeto de vida em função das circunstâncias deste ambiente que nos recebe. E uma dessas circunstâncias é a mortalidade. Haverá um momento em que nossa existência irá se deparar com o seu findar. Por mais que isso nos desagrade e angustie, a morte faz parte do existir humano. Aí é que reside a parte interessante! Este texto que (petulantemente) traduz uma concepção existencialista sobre a vida nada tem de desanimador, depressivo ou melancólico. Pelo contrário, ao compreendermos a essência da nossa vida e, por consequência da nossa mortalidade, que somos seres-para-amorte, somos impelidos a nos projetar para a vida. A morte ainda não é. A vida, pelo contrário, sim! A VIDA É! Só somos serespara-a-morte porque também somos e estamos como seres-para-a-vida. Aqui cabe a provocação de Benjamin Disrael: “A vida é muito curta para ser pequena”. A mortalidade faz parte da humanidade. Por isso, um existir autêntico não se faz esperando a morte, mas construindo uma existência, um projeto de vida. Sempre será muito cedo para morrer. Esse existir autêntico não está relacionado a um modo de vista hedonista, apenas voltado aos prazeres mundanos. Ao contrário, é um viver com responsabilidade para honrar a mortalidade e tantos outros aspectos que constituem a vida. 14 Diante da morte, temos duas escolhas: ou encará-la e viver de modo autêntico ou ignorá-la tendo um viver superficial. Você escolhe entre estar num corredor de vida que um dia findará, ou esperar bovinamente pelo fim do existir. E aí, diz a VIDA, vai encarar? 15 Não LEIA HOJE. Deixe para amanhã! Caso a procrastinação faça parte da sua vida, esta provocação pode te ajudar. Não deixe pra amanhã… Procrastinar é um comportamento muito comum na nossa cultura. É a atitude de adiar uma tarefa que precisa ser feita. É uma tendência de deixar pra depois, “para amanhã” atividades do cotidiano. A raiz desse comportamento pode ser diversa. Há os que acreditam que sempre vai dar certo no final (às vezes não dá!) e por isso adiam ao máximo a realização de um trabalho de faculdade, por exemplo. Outros retardam suas ações pelo medo de dar/agir errado, o que pode estar associado a uma mania de perfeição. Tarefas muito tediosas sobre as quais o indivíduo não consegue encontrar ou criar sentido dentro da sua área profissional também podem conduzir pessoas a evitar e/ou protelar tarefas. Atividades consideradas fáceis comumente são adiadas para o último momento por procrastinadores. Todavia, existe uma questão que considero mais profunda no hábito de procrastinar: o desejo; o que impele a pergunta: será que eu estou procrastinando porque na verdade eu não quero realizar isso? Eu realmente preciso fazer isso? Na essência, eu realmente quero/desejo fazer isso? A minha procrastinação diária não tem sido uma forma de autossabotagem? Ainda nessa esteira, ocorre em muitos casos de procrastinação uma certa relação com o prazer. A busca por prazer imediato, diga-se de passagem. Pois geralmente eu adio a tarefa a ser feita porque é prazeroso, demonstrando uma distorção no mecanismo de recompensa do indivíduo. Contudo, a procrastinação pode destruir a nossa vida como um todo. Atividade profissional, estudos, relações conjugais são as vítimas mais comuns deste comportamento. Os efeitos disso podem ser o aumento do nível de ansiedade e estresse em razão do crescente volume de trabalho e redução do tempo hábil para fazê-lo, diminuição efetiva da produtividade. Sintomas consequentes da procrastinação podem ser arrependimento, diminuição da autoestima e instalação 16 de sentimento de culpa (quando o resultado da procrastinação é o fracasso ou não-êxito) que, quando elevados e intensos, pode conduzir a uma situação mais aguda como tristeza prolongada, depressão e despersonalização. Se você é um procrastinador crônico atente para como estão organizadas as atividades do seu cotidiano. Faça um checklist das suas tarefas a curto, médio e longo prazos e estabeleça prazos objetivos para a realização dos mesmos. Desenvolva tarefas que desafiem a você mesmo. Organize-se. Reconstrua a sua capacidade de concentração! Permita se conhecer melhor. Encarar de frente o funcionamento do seu mecanismo de recompensa. Faça um exercício de introspecção e perceba se você tem como característica maior de gostar de ter tudo à mão do que construir a sua existência. Aceite que se existe procrastinação é porque o seu ócio precisa ser melhor vivido. Eliminar distrações também é fundamental. Facebook, Twitter, Instagram, Whatsapp pordem se tornar vilões da sua produtividade quando não usados de forma racional. (Uma pergunta: na relação entre você e seu smartphone/gadgets quem manda em quem?). Use a sua rede de suporte. A procrastinação quando compartilhada com amigos, colegas e familiares tende a ser melhor compreendida e as chances de ir além desse comportamento potencializam-se. Por mais precisas e pontuais que sejam as sacadas acima para lidar com a procrastinação, sem dúvida a melhor só você pode encontrar. O processo de autoconhecimento e desenvolvimento do seu capital humano são as bases para descobrir as raízes deste hábito e desenvolver competências para conviver/superar o mesmo! E nisso, um psicólogo pode ser um importante companheiro de jornada. Deixar para amanhã custa caro. A vida cobra. E geralmente, com juros. Não espere pelo momento perfeito. Construa o momento perfeito! 17 Manual do Manifestante (ou Panelaço por si mesmo) As manifestações públicas recentemente circularam as pautas de discussões. Um dos pilares da democracia é o legítimo direito de expressar o seu contentamento ou descontentamento em relação aos caminhos ditados nas urnas. Manifeste pelo seu país, pelas seus ideais, pelas suas indignações. Não esqueça, contudo, de manifestar por si mesmo: Manifeste sua alegria por ocasião das conquistas pessoais e daqueles que lhe são próximos. Manifeste a sua dor por ocasião das travessias sinuosas da existência. Manifeste o seu desejo por ocasião do despertar das vontades. Manifeste o seu perdão quando a ofensa acinzentar o dia. Manifeste a sua tristeza por ocasião das perdas e das mortes diárias. Manifeste o seu luto quando a separação for inevitável. Manifeste seu amor próprio quando do outro somente receber migalhas de afeto. Manifeste (prudentemente) sua raiva quando a indignação fizer parte do cardápio. Elimine os seus efeitos corrosivos. Manifeste sua dignidade quando o valor recebido estiver aquém do real. Manifeste seu medo quando o novo ainda estiver intocado. Manifeste a sua ânsia por liberdade interior antes que os seus próprios grilhões acorrentem os seus sonhos! Manifeste a si mesmo, por fim, antes que o si mesmo deixe de existir levando consigo todas as possibilidades de realização. P.s. Não marque uma data. A vida não espera por manifestações assim! 18 A lição de SUZANE A televisão brasileira teve um dos seus momentos mais memoráveis este ano: a entrevista de Suzane Von Richtofen concedida ao apresentador Gugu Liberato. Para quem não se recorda do nome ou não assistiu à reportagem, Suzane Von Richtofen foi condenada a 39 anos de prisão por matar os pais com a ajuda do namorado e do cunhado, os irmãos Cravinhos, no ano de 2002. Após dez anos de silêncio, a parricida abre o seu coração ida e fala sobre quase todos os aspectos da sua vida dentro do presídio. Com cabelos e pele bem cuidados, unha feita e com uma aparência que certamente deu inveja a muitas mulheres, Suzane respondeu a perguntas que muitos de nós gostaríamos de fazer. Marco jornalístico a parte, como psicólogo tenho que mencionar a aula de psicopatologia dada por Suzane durante a entrevista de mais de uma hora. Navegando pelas redes sociais durante e após a entrevista notei que grande parte dos telespectadores estava indignado com a postura da assassina. Em nenhum dos momentos ela demonstrou com atitudes remorso ou qualquer outra espécie de sentimento. Nenhuma lágrima escorreu pelos seus olhos em mais de uma hora de entrevista. Quando ela falou do irmão que conheceu a orfandade por sua culpa e do plano perversamente arquitetado para matar os pais a pauladas enquanto dormiam e da falta que sente dos mesmos o que se viu foi frieza e racionalidade. Não houve expressão emocional. Ao contrário, o que se percebia era uma menina com traços meigos, esboçando sorrisos. Somos de origem latina e a questão afetiva é importante para a nossa cultura. Esperar uma comoção de quem comete uma barbárie como essa é natural da nossa civilização. Contudo, não me espantei com a postura de Suzane pelo seguinte motivo: ninguém dá o que não tem. A maioria de nós queria ver ali sentada diante do entrevistador uma pessoa comovida, chorando a morte dos pais, demonstrando seu arrependimento em cada lágrima. Porém, isso não ocorreu porque ela não tem isso para mostrar, devido talvez às características da sua personalidade. A lágrima de Suzane não rolou pelo seu rosto porque talvez ela nem exista. 19 Agora trazendo para a realidade cotidiana: As nossas relações interpessoais, profissionais e relacionamentos amorosos sempre esperamos algo do outro. Seria hipocrisia negar isso. A relação eu e tu se dá por meio de reciprocidade de afetos e ações. Esperamos do outro com quem nos relacionamos nem que seja o mínimo inconsciente. É cultural do ser humano. Contudo, em certos momentos esperamos que o outro corresponda às nossas expectativas pessoais e profissionais e não somos atendidos, o que gera frustração. O outro pode não atender aos nossos desejos porque não quer ou porque não tem. Quando o outro não quer, a responsabilidade é partilhada. Já quando ele não dispõe, a responsabilidade é minha. A lição de Suzane é que, por vezes, esperamos algo do outro e este outro não tem esse “algo” para oferecer. Reveja como tem sido a dinâmica das suas relações pessoais e profissionais. Não devemos esperar de alguém o que ele não tem. Ninguém dá o que não tem. Esperar algo que não existe é o primeiro passo para a frustração. P.s.: Sou humano e nada que é humano me é estranho. Mas que nunca percamos a sensibilidade diante das atrocidades que a vida por vezes nos apresenta. 20 Fiquei frustrado. E agora? O ser humano é repleto de possibilidades de realização das suas potencialidades. Tudo depende da sua coragem em assumir um projeto de vida, um projeto de desenvolvimento pessoal. A tradição remete ao filósofo Sócrates a frase: “Uma vida sem busca não é digna de ser vivida!”. Uma premissa muito instigante dada a repercussão que isso traz ao nosso viver. Se você quer progredir em alguma dimensão da sua vida, quer se tornar uma pessoa melhor, atingir seus objetivos ou alcançar a tão buscada realização pessoal e profissional, certamente irá se deparar com a frustração, cedo ou tarde, pois a frustração faz parte do caminho de quem quer crescer. Estudar muito para um concurso e não passar… Preparar-se para a entrevista do tão sonhado emprego e ter um desempenho aquém das expectativas… Fazer um investimento financeiro, psíquico ou emocional e “quebrar a cara”… Estas são algumas das situações em que o sentimento de frustração pode invadir a nossa vida. Acima eu disse que a frustração é um sentimento que faz parte do caminho de quem quer crescer. Concordo que dizer isso pode soar estranho. Mas, a frustração é parte do processo daquele que busca algo a mais para si mesmo. Não existe frustração sem vontade. Por trás de toda frustração tem que haver um desejo, um sonho, um objetivo a ser alcançado. O sentimento de frustração pode surgir quando não conseguirmos superar um obstáculo (desafio) que porventura surja e venha a impedir a realização de alguma meta pessoal. É comum a frustração vir acompanhada do desânimo, sentimento de incapacidade e anseio de desistir do sonho. Todavia, diante disso há duas opções: Superar esse sentimento ou deixar a frustração vencer você e todos os seus sonhos. Cabe a você decidir qual caminho seguir. Caso opte por tentar superar a frustração, posso te sugerir algumas sacadas para te ajudar a trabalhar esse sentimento. 21 Passada a fase do abatimento ou desânimo que a frustração traga, procure fazer uma avaliação da situação de maneira mais objetiva possível. Compreenda o que realmente aconteceu. Faça uma autoanálise e entenda qual a sua responsabilidade (caso haja) no ocorrido. Foi descuido? Agi tarde demais ou antecipadamente? Estou despreparado? Excesso de autoconfiança? Preciso me preparar melhor? Caso seja necessário, corrija seus passos e desenvolva suas habilidades para evitar novos equívocos. Procure inspirar-se novamente. Renove o comprometimento para com o seu sonho! Não existe outra pessoa que deva acreditar mais nos seus sonhos do que você mesmo. Clichês motivacionais à parte, você não pode desistir dos seus sonhos! Restabeleça suas metas, caso seja necessário. Muitas frustrações surgem devido a metas irrealistas que estabelecemos para nós mesmos. Já tratei desse assunto neste post. Trabalho pessoal com ajuda psicoterápica também é eficaz na elaboração desses sentimentos. É sempre bom lembrar que não tenho a pretensão de ser guru aqui nesse blog, dando a receita para superar as dificuldades e ser feliz. O que quero aqui é lançar luz, trazer questionamentos para que você mesmo possa encontrar o seu caminho para superar a frustração e as outras adversidades que possam surgir no decorrer da vida. Acima de tudo, VOCÊ é o maior especialista em VOCÊ! A frustração não é algo de todo ruim. Pode tornar-se um sinal de que estamos em processo de crescimento e amadurecimento pessoal diante de situações desconfortáveis e doloridas. Isto só depende de você! Só corre o risco de se frustrar aquele que dá movimento ao seu existir. O que é maior? A frustração ou a sua vontade? 22 A PRIMEIRA IMPRESSÃO é a que fica? Somos seres sociais, e por isso sempre estamos a estabelecer novos contatos, criando novas conexões profissionais e gerando relacionamentos pessoais. Conhecemos várias pessoas e também nos damos a ser conhecidos. Em meio a essa rede de relacionamentos diários, quando você conhece alguém, a primeira impressão é a que fica? Sim ou não? Isto depende, e muito, do contexto. Em uma entrevista de emprego a impressão inicial que você passa é determinante dentro de um processo seletivo. Já em um relacionamento amoroso talvez esta premissa não tenha tanto valor, já que é aos poucos que vamos conhecendo o outro. Porém, você teria um segundo encontro com alguém que passou uma impressão negativa no primeiro contato? Este é o meu ponto. A impressão que passamos no primeiro contato pode não ser a que fica, mas é a mais marcante. Pode não ser a determinante, mas abre portas para próximos contatos. Nesse momento, você que lê pode pensar em outro ditado muito comum: “Não devemos julgar um livro pela capa!”. Mas, seja sincero: você compraria um livro com uma capa que não te atraia, não chame a sua atenção ou desperte o seu interesse pela leitura? (A propósito, editoras contratam pessoas só para confeccionar capas que atraiam os leitores. Até quem faz livros já atentou para isso!). Não pretendo ser radical aqui. O julgamento que fazemos do outro no primeiro contato pode ser desfeito. Mas isso a médio e longo prazo, sem falarmos do ônus que isso cobra, do investimento psíquico para refazermos uma má impressão. Como disse acima, a primeira impressão pode até não ser aquela que fica. Mas, certamente, é a mais marcante. Por isso, se você tem a oportunidade de causar uma boa impressão logo de cara, por que arriscar isso em uma segunda oportunidade já que pode ser que ela nem venha a existir? A possibilidade de um 23 segundo contato existirá na medida em que você deixou uma marca positiva primeiramente. A vida é dinâmica e as situações podem mudar. Sem esquecer que somos de carne e osso. Podemos julgar e sermos julgados equivocadamente. Um juízo de valor pode comprometer uma carreira ou abortar um relacionamento frutífero. Há ocasiões em que uma segunda chance ocorrerá, em outras, não. A provocação aqui é que a primeira impressão é a que marca o outro; a última impressão é a que fica. Então trabalhe para que a sua primeira impressão não seja a última! Crie nos outros a expectativa para que possam te conhecer mais a fundo. O seu dia está cheio de oportunidades para isso! 24 Síndrome de Gabriela “Eu sempre fiz desse jeito e vou continuar assim….” “Desculpe, mas eu sou assim…” “Eu prefiro fazer as coisas do jeito antigo…” Certamente você conhece ou já se deparou com pessoas que sempre apresentam um discurso parecido com esse, seja no trabalho, na escola, na família ou nos relacionamentos. Esse tipo de comportamento é popularmente conhecido como “Síndrome da Gabriela”. Essa condição não é uma doença, nem está nos manuais de medicina ou psiquiatria. Estamos falando aqui de uma maneira de compreender o mundo e se posicionar diante dele. Jorge Amado escreveu um romance no final dos anos 50 intitulado “Gabriela, cravo e canela”, que foi adaptado em forma de novela para a TV. A primeira versão foi um sucesso tendo a jovem atriz Sônia Braga como protagonista. Contudo, o nome da síndrome remete ao tema musical desta novela, interpretado por Gal Costa e cujo trecho mais marcante é: “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim…” (Não conhece ou quer ouvir novamente, clique aqui). Geralmente, os “portadores” desta síndrome demonstram em suas atitudes demasiado apego aos modelos antigos (excesso de romantismo?!), resistência a tudo que é novo (ideias, paradigmas, conceitos) e, por fim, acham que o termo reciclagem só se aplica a plástico, papelão, vidro e latinha de refrigerante. São pessoas que até possuem brilhantes conhecimentos, mas pouca abertura ao novo. Há um excesso de inflexibilidade na dinâmica pessoal! A rigidez faz com que a pessoa aninhe-se na zona de conforto, tendo, por conseguinte, os mesmos resultados sempre! Compreendo o fato de muitos exergarem a vida desta maneira. Respeito esta opinião, inclusive. Mudar não é algo fácil, e por isso, entendo a resistência de certas pessoas. Resistência que pode surgir de vários fatores, dos quais quero destacar dois: 25 Primeiro, o modelo de educação e formação pessoal recebido que pode ter sido voltado para uma vida limitante e/ou condicionada a sempre esperar as “coisas caírem do céu”. Em segundo e mais comum, o medo. Diante disso surge a oportunidade de pensarmos sobre o medo de errar, medo de tentar, medo do fracasso, medo das críticas negativas: crenças que, geralmente, estão por trás desta resistência ao que é novo. Vale ressaltar o que a Síndrome de Gabriela pode acarretar. As consequências de pensar, falar e agir desta maneira se refletem no não crescimento pessoal e profissional. Ademais, prejudica a todos os próximos do “portador” da síndrome, como os colegas de trabalho e estudo, cônjuges, familiares… Heráclito, um filósofo pré-socrático que viveu na região da atual Turquia por volta do século IV a.C., acreditava que nada que existe é estático, isto é, tudo é movimento, tudo flui. É remetida a ele a premissa de que não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, uma vez que ambos, o rio e nós, já não somos os mesmos de outrora. Isso permite questionar que prender-se demasiada e neuroticamente a conceitos é ir contra o que a vida tem de instigante: a sua fluidez. Não somos os mesmos de ontem e certamente não seremos os mesmos amanhã. A intenção destas linhas não é te convencer a mudar todos os teus paradigmas, muito menos te oferecer o traje da metamorfose ambulante. Ao contrário, é te provocar a refletir sobre os antigos e novos conceitos que sustentam o seu viver. Permita-se entrar em contato com a beleza das novidades do cotidiano, com as possibilidades ainda intocadas pela sua alma. Deixe-se contagiar pelo entusiasmo que renasce todos os dias com o nascer do Sol. Há algum tempo ouvi a seguinte pergunta: Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Pertinente, não? P.S.: Apropriando da ideia de Heráclito, você já não é a mesma pessoa que começou a ler este texto. Viu, às vezes as mudanças ocorrem sem muito esforço! 26 Adeus ano velho. Feliz ano novo! Será? 10…9…8…7…6…5…4…3…2…1…FELIZ ANO NOVO! “Adeus ano velho, feliz ano novo. Que tudo se realize no ano que vai nascer!”. O céu fica colorido com as luzes dos fogos, o estouro do champagne compete com as felicitações de prosperidade para o ano que se inicia. Comum também são as famosas resoluções para o ano novo, aquelas promessas que sempre fazemos para nós mesmos quando o ano está iniciando. Mudar de emprego, fazer uma viagem, sair do sedentarismo, emagrecer, encontrar um amor, estudar mais…. Esses são alguns exemplos. Contudo, na maioria das vezes, essa cena é a repetição do ano anterior. Muitas resoluções propostas se perdem à medida que os dias passam. A motivação para realizar os objetivos vai minguando até que aquele bom propósito é deixado de lado. Acredito que isso ocorre pois na maioria das vezes focamos muito no resultado e acabamos por deixar de lado ou esquecer mesmo do processo. Tomo por exemplo aqueles que se propõem a emagrecer. Muitos pensam apenas na “selfie” diante do espelho comparando os quilos perdidos e acabam por se esquecer de que para chegar nesta “selfie” é preciso uma mudança de hábitos, uma dieta mais saudável, a prática de exercícios físicos e o principal que isso demanda: motivação e disciplina. Assim, ao propor um objetivo de vida para o ano que se inicia, estabeleça para você mesmo uma tarefa que não seja nem muito fácil nem muito difícil. Comece com algo simples e vá aumentando a dificuldade da tarefa à medida que as pequenas realizações forem acontecendo. Ao propor algo muito difícil em relação ao modo como se viveu no ano anterior, corremos o risco de nos perder no caminho. Mudança de hábitos não acontece da noite para o dia. Mas, você pode estar se perguntando o que a promessa de final de ano tem a ver com o desenvolvimento pessoal. Tudo! Apenas na matemática é que a 27 distância entre dois pontos é uma simples reta. A vida é dinâmica, oscilante e por isso, ao propor um objetivo de vida, devemos sempre levar em conta o processo para se chegar até ele, sem deixar de mirar o sonho concretizado no final do horizonte. Einstein já dizia que é insanidade fazer as mesmas coisas e esperar por resultados diferentes. Quer uma boa resolução para o ano novo? Revise o modo como você faz as coisas no cotidiano! Adeus, ano velho. Feliz ano novo (?). Sim, ano novo. Novas possibilidades. 28 MAIS UMA CANÇÃO (ou, simplesmente Ode aos Hermanos) Ele era um Cara estranho, tentando achar um lugar entre os quarteirões. Estava com um olhar de quem havia feito de tudo. Um olhar que parecia dizer adeus ao que restou de quem um dia foi feliz... Assim como todo Carnaval tem seu fim, havia desistido do seu Último romance.... Abandonou Anna Julia... Só ele sabia a dor de ter e perder alguém... E nessa dor, nessa solidão que deixa o coração num leva e traz, ele teve que arrumar alguém pra passar os dias ruins. Foi pro lado de lá, levando tudo de si... Agora só tinha olhos pra uma morena, a bela Lisbela. Até quem o via lendo jornal na fila do pão sabia que ele tinha encontrado alguém. Sentia-se como um Pierrot apaixonado pela colombina... Amá-la era um doce, todavia o amargo era querê-la para ele. Não sabia se esse era realmente seu destino. Ele se considerava sentimental demais. Talvez por isso sofresse um pouco mais.. Via nela uma Primavera, uma nova oportunidade da vida florescer. Levoulhe uma Flor. Linda, vívida, porém que murchou todas suas esperanças. Ela pensou ser de outro rapaz e se entregou. Aquela flor serviu para que ela achasse outro alguém... (Veja você. Onde é que o barco foi desaguar... Ele só queria um amor... Deus parece às vezes se esquecer)... Ele sofria por saber que não seria ele quem a convenceria. Sofria por cada dia que passava ser um a menos pro encontro acontecer. Não sabia por onde guiar o olhar que nada mais enxergava... A colombina trocou o Pierrot pelo arlequim. E mais uma vez, ficou sozinho, esperando pelo seu bem querer... Caminhou... Sentou na beira do cais. Ouviu o vento passar... Assistiu a onda bater.... Lançou-se a Palo seco no seu destino... Sem dúvidas, sem medo... Decidiu esquecer-se do passado vivido no Sétimo andar daquela Casa pré- 29 fabricada em que o que mais chamava a atenção era uma moldura clara e simples em que a gente é aquilo que se vê... E agora o que sobrou: um filme no close pro fim. Acima de tudo, ele queria ser só um Vencedor. Essa era sua sina... Levava a vida devagar, pra não faltar amor! 30 RETALHOS PARA UM FUTURO EPITÁFIO Em um vilarejo encravado entre as montanhas morava um velho sábio. De cabelos ralos, barbas longas. Todas as manhãs sentava à beira de uma cachoeira para contemplar a vida e seus mistérios. Certa manhã um garoto lhe perguntou o que ele considerava como o mais valioso para o homem. O velho, ainda observando a cachoeira, disse: "Posso perder tudo... Amigos... Amores... Felicidades... Dinheiro... Paz... Até a fé eu posso perder... Só não perco a Esperança!" O garoto saiu e foi procurar a sua esperança. O velho, fitando a natureza, continuou ali a esperançar. E sentiu-se em paz consigo mesmo! 31 SOBRE ENCARAR O SOL Um velho de barbas longas caminhava! Caminhava um caminho que lhe pertencia, um caminho que era só seu. Um caminho que sempre foi levado a sério, um caminho que se fez caminhando. Quase no final desse caminho ele parou... A vista dali era emblemática, típica paisagem que os poetas tão bem descrevem. Pela primeira vez sentiu-se narcoseado. O velho tinha diante de si a montanha onde o Sol se escondia (e o Sol estava para se esconder...). Deslumbrado ele olhou para trás. Percebeu que o caminho percorrido até ali era longo, cheio de idas e vindas, paradas e correrias. Apesar de ter-se mostrado longo, ele conseguiu enxergar onde o caminho começava. Mirando para trás vivenciou por pequenos instantes cada passo dado, percebendo que em cada um deles havia um sentido. Ele sabia que seus passos foram bem dados, que seus rastros haviam sido “bem pisados”, sua marcas eram firmes. Tinha consigo que a vida era esse jogo de ser e estar e que tudo o que já havia caminhado foi perfeito. Mesmo com as rugas que o tempo lhe presenteou e a candidez dos fios no seu rosto, um sorriso lhe dava a sensação de que ele havia caminhado bem. Ademais, que havia apostado bem (como este velho seguia à risca o aforismo da aposta de Pascal). Houve amigos e inimigos. Paixões e Rusgas. Mas naquele momento do caminho ele estava sozinho, assim como no início do caminhar, lá no primeiro passo dado há algumas dezenas de anos. E esse momento solitário não o entristecia. É solitário para todos os que ali chegam. 32 Virando-se, pegou um cantil que carregou sempre na sua cumbuca. Tomou um bom gole de água fresca. Seu último gole. O gole final. Encarou o Sol e foi encontrar-se com ele atrás da montanha onde ambos se encontrariam e, possivelmente, se esconderiam juntos. 33 SOBRE FUTOROLOGIA Se fosse diretor de alguma faculdade ou de qualquer outra escola, uma disciplina que não iria faltar no currículo seria a futurologia. Sim, a Futurologia. Que não tem nada a ver com previsões astrais, muito menos com conjugação de verbos. Etimologicamente seria o estudo do futuro. Aqui o futuro é visto como logos, como razão. Como algo a ser conhecido. Costumo imaginar o futuro o como lugar onde o horizonte se deita. É lá o reino das possibilidades, a morada de todas as escolhas e, por isso, felicidades e sofrimentos também se encontram por lá. É lá onde o eu ideal repousa à sombra de uma árvore, na beira de um lago esperando o encontro (ou desencontro)com o eu real. O passado já foi. O presente só existe enquanto agir, pois quando penso nele, o presente já foi, já passou, adentrou às portas do reino do passado. O futuro é o que sobra de melhor para a existência humana. Ele está la intocado, pronto para ser criado, esperançado, sonhado ou desprezado, tingido com as cores da vida. Eis, implicitamente, a ementa da Futurologia 34 SOBRE TEMPO RUIM Ele continuava a viver sua sina de palhaço, homem da alegria e do fazer rir. Já havia se acostumado a despertar com os primeiros raios do sol. Contudo, o amanhecer daquele dia foi banhado pelas gotas de chuva. Então ele acordou e ansioso colocou o resto da cortina de lado e viu que tudo era cinza. Não se preocupou, afinal havia acompanhado a previsão na noite anterior em que o homem do radio anunciava “tempo ruim” para aquele dia. Estático frente à janela do seu mundo se questionou sobre o que era o “tempo ruim”, e percebeu que não havia nada de ruim ali. Nada de errado, nem de mal. Era a natureza. Somente a natureza agindo conforme a sua “natureza”. Ainda diante daquela paisagem tingida de cinza pela chuva ela começou a pensar em si, no seu peregrinar de palhaço pelos picadeiros. Feliz, ele possuía um trabalho que lhe realizava, poucos e bons amigos (que eram o que ele chamava por família), tinha um amor para amar e ser amado. E, abrindo seu estojo de tintas e perequetecos que todo palhaço tem, ele se deu conta que carregava consigo os bens que iam de encontro ao sentido da vida. Ao sentido da sua vida. Não era o “tempo ruim” que transformaria seu dia em drama. Seguiu com seu dia. Seguiu com sua vida. Afinal, assim como a natureza agiu naquela manhã, também ele agiria: seria quem ele era e foi palhaçar entre os seus! (P.S.: E quem o viu sair de sua tenda percebeu que o seu sorriso alegre destoava do cinza da paisagem). 35 SOBRE O MENINO QUE VOAVA Em toda a infância, aquele garoto havia convivido com seres de asas. Pássaros sempre vinham lhe visitar trazendo consigo aquilo que só as aves possuem e têm a capacidade de entender e vivenciar na plenitude: voar. Voar! Um dom invejado pelos homens (Ícaro que o diga!), muito mal copiado pelos inventores com ânsia de traduzir o alado para o mecânico. O bater das asas lhe encantava! Trazia-lhe brilho aos olhos! Muito mais do que a sensação de liberdade, o que chamava a atenção naqueles pássaros tão frágeis era o modo como viam o mundo. Enxergavam tudo a partir de uma posição privilegiada. Enxergavam tudo do alto. Mesmo com rasantes e pousos no chão, não pertenciam à terra. Com as aves que adotou para a vida aprendeu que, apesar de não ter asas, podia também voar. Não do modo como fez Ícaro, mas de um modo humano. Transcendental. Quando se deu conta disso passou a ter medo do chão. Não que fosse algo patogênico, pelo contrário, era o que lhe motivava a sempre pensar a partir do alto. Tinha os pés fincados na terra, mas com a cabeça nas areias celestes. Não se prendia às coisas daqui, que sempre são efêmeras. Sempre Aquele que apreende a magia das asas continua terrestre, preso ao chão, mas com espírito livre, pertencente às alturas! 36 SOBRE PROCURAS Era final de inverno. A primavera já mostrava ao mundo os seus primeiros sinais, para deleite dos olhares humanos. Num caminhar pela costa, ele viu um bilhete, um escrito num papel já gasto e molhado pela maresia. Em letras simples - com uma caligrafia mediana sem pretensões artísticas - a inquietação de alguém ganhou a linguagem da escrita. “O que se espera?”. Era o que o bilhete carregava consigo. Ele leu, releu... Caminhou um pouco observando o movimento das gaivotas e ruminando sobre o conteúdo que havia lido, pronunciou ao vento que serenamente refrescava seu rosto: “Procuro por mim mesmo. Procuro por um lugar aquecido, mas não distante das misérias – para eu não me esquecer de quem realmente fui e sou. Procuro pela melodia simples, mas que toca no fundo da alma humana. Procuro pela letra que traduz sentimentos e batiza momentos de dores e alegrias. Procuro pelo beijo singelo e sincero, na chuva, nos lábios da mulher que é amada. Procuro textos simplesmente complexos. Procuro por entrelinhas. Procuro o amanhecer. A luz do sol invadindo o universo. O escorregar da gota de orvalho. Procuro a sinfonia do dia se esvaindo... o crepúsculo. O sol cedendo lugar à sombra da noite e ao véu do luar. Procuro pelo SIM, mas sem esquecer que no NÃO a verdade também se revela.” Dito isso, ele virou-se. Olhou ao redor e, ao longe, avistou outros como ele. E num gesto de coragem, jogou o bilhete na areia da praia, para que esses outros também pudessem experimentar a aventura contida naquele pedaço de papel úmido pela brisa do mar. 37 O DIA mais IMPORTANTE! Diante da pergunta “Qual o dia mais importante da sua vida?”, o que você responderia? Alguns responderiam que foi o dia do nascimento ou da formatura. Outros lembrariam a data do casamento ou do nascimento do filho. Outros afirmariam que foi quando conseguiu realizar o sonho da casa própria. Várias respostas surgiriam. Compreendo que essas datas têm para certas pessoas um valor diferente, o que fazem delas datas significativas ao longo da vida, datas especiais. Por falar em dias, faça um raciocínio: Se a expectativa de vida de uma pessoa é de 75 anos, então ela viverá em média pouco mais de 27 mil dias. Parece muito ou parece pouco? Continuando o raciocínio: Se você já completou vinte anos, viveu mais de 7.300 dias; se já está na casa dos trinta anos, certamente já viveu quase 11 mil dias; se já chegou nos quarenta viveu no mínimo 14.600 dias e pôde constatar que a vida, pelo menos aqui, não começa aos quarenta. Quando completamos cinquenta anos de idade, ultrapassamos a marca de 18.250 dias de vida. Esse raciocínio serve para ilustrar a importância de cada dia ao longo da vida. Por isso, ouso dizer que o dia mais importante da sua vida é o HOJE. Logicamente, o passado já “passou” e dele só podemos extrair lições. O futuro, ainda não é, não chegou. A reflexão aqui proposta não vem indicar uma postura hedonista para com o viver, ou seja, de querer aproveitar tudo sem pensar nas consequências, ao melhor estilo “como se não houvesse amanhã”, muito menos sinalizar que os seus objetivos, projetos e sonhos devam ser esquecidos diante da incerteza do futuro. Não, não é isso. Isso seria inconsequente da minha parte. O que esta reflexão propõe é uma maior atenção para o presente, já que na relação com o Tempo é a única coisa que possuímos. O presente que nos separa do passado e do futuro está cheio de encantamentos e possibilidades ainda não descobertas. Como está a sua relação com o dia de HOJE? Na sua casa, no seu 38 trabalho, nos seus relacionamentos…em tudo há um presente que clama por ser vivido, mesmo em época de ansiedades e depressões! Viva o HOJE! A ansiedade pelo futuro pode cegar! Corra menos risco de lamentar o passado no futuro! A única coisa que pode te ligar a um futuro com mais realizações é um presente bem vivido. Não há futuro sem a realização do presente! “Viva hoje! Arrisque hoje! Faça hoje! Não se deixe morrer lentamente”, poetizou Neruda. O dia mais importante da sua vida é HOJE. E você, vai vivê-lo ou deixar que ele escorra pelas suas mãos? 39 Criação, Autoria, Edição e Formatação SAMUEL BUENO Revisão CLIMENE CRISTINA DIAS DE SIQUEIRA Revisão Final SAMUEL BUENO REALIZAÇÃO www.meudesenvolvimentopessoal.wordpress.com ALFENAS – MG 2015 A reprodução total ou parcial desta obra é permitida, desde que citada a fonte. Direitos Autorais pertencentes a Samuel José Bueno Alves 40