Soroprevalência da Hepatite A n0 Munícipio de Duque de Caxias

Transcrição

Soroprevalência da Hepatite A n0 Munícipio de Duque de Caxias
soRopREvALÉNcIn on HEpATITE ¡, No uuNrcÍplo DE
DUQUE DE CAXIAS, RIO DE JANEIRO, BRASIL
Liz Marir de Almeida*r; Ma a do Carmo [6t€ves da Co.tari Roni. RaSg¡o Luizi¡ P¡ulo Edu¡rdo Coletty'i Rsymundo
So¡f¡s d€ Azer€dor¡ victo. Ar.újo Machado'i Cláudia M€dina Coeli' & Eduá.do M¡usad¡
tNtuleo.le Est4¿os ¿e Saú¿e Coletbi ¿a U\be^i¿u¿e Fe¿erol ¿o Rio ¿e Janei ,
Av. Rtiq.üein Thtrytowski s/n. E¿lítit' ¿D Hospitul Uñire^itritio Cl¿n¿nti¡o Fnrqa Filha,
5"¿'t¿aú. Alu Sul. ha ¿o Fundio. R1.' ¿!.lnn¿itu, RJ. CEP:2t9.11-059
* E. na it :
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At. h Andl¿¡t 455. C¿ú.tu¿ir¿ C¿s.r Sno Püub. SP
FinaÍ(hnentD: Fündaúo de Aivtn' ¿ Pes¡tuis! ¿o hta¿o ¿o R¡o ¿e Jnnein(FAPERJ)/ Uiivtsi¿a¿e Fe¿etul¿o
RESUMO
O objeiivo deste estudo foi estimar a soroprevaléncia de hepatite A em mo¡adores de uma
área de intervengáo ambiental do Programa de Despoluigáo da Bafa de Guanabara. O municlpio
escolhido foi Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janei¡o, Brasil. Populagáo de estudo: indivíduos a partir de I ano de idade. distribuídos em 13 faixas etárias. As amostras de sangue foram
colhidas por pungáo digital, nos domicflios, e armazenadas em papel de filtro com áreas de impregnagáo marcadas. Os anticorpos totais contra o vfrus da hepatite A foram determinados pela
técnica ELISA. O estudo se completou com entrevistas domiciliares cujo objetivo foi levantar
informaQóes sobre as condiqóes físicas e sanitárias dos domicílios e peridomicílios e condigóes
sócio-económicas das famílias. Foram realizados 3271 exames e 2289 enbevistas domiciliafes.
Resultados da soroprevalCncia da hepatite A: I ano: 5,17¿; 2 anos. 6,7Vo, 3 anos: 13,ó7¿: 4 anos:
26,69,':5anos.33,L;6anos:39,8Ío:7anos:43,27o;8anos:46,67¿;9anos:58,5%il0-14anos:
57,6%; 15-19 anos: 72.89o:20-29 anos:87.3 %130 e mais anos:84,8%. Esses resultados se¡viráo
de base para comparagáo com futuros inquéritos que seráo realizados após o término das intervengóes, visando a mensuraqáo dos efeitos do Programa sobre a saúde.
Palavras-chaves: Soroprevalencia de hepatite A; saúde e meio-ambiente; indicador epidemiológico
ABSTRACT
The goal of this study was to estimate the seroprevalence of Hepatitis A in dwellers of the
Guanabara Bay Decontamination Program (CBDP) intervention area: Duque de Caxias in Rio de
Janeiro, Brazil. Population study: people of I year ofage and over, distributed in 13 age groups.
The blood samples were collected by lancing a fingertip with an automatic device and stored onto
filter-paper strip. Total antibodies against hepatitis A virus were determined by the ELISA technique. The study included household interviews in order to obtain information about physical and
sanitary conditions of household as well as household perimeter and socioeconomic status. 3271
exams and 2289 household interviews were done. Results of seroprevalenc€ of hepatitis A: I year
old: s,lqoi 2 years old: 6,77¿; 3 yea¡s old: 13,67o; 4 years old: 26,670; -5 years old: 33,1Ea; 6 years
old: 39,87¿; 7 years old: 43.27ot 8 years old: 46,6Eo; 9 yea:.s old: 58,-5E¿; l0- 14 years old: 5'l ,67o:
15- 19 years old: 72,8%; 20-29 years old: 87,3 %; 30 and more: 84.87o. These results will provide
the baseline figures for future comparisons with other surveys that will be conducted after the
progÍammed interventions are concluded, in order to assess the effects of GBDP on health.
Key words: hepatitis A seroprevalence; health and environmentl epidemiological indicator
.¡9
Cad. Saúde Colet. 6(SupL
l).
1998
INTRODUEÁO
A hepatite A é uma doenQa infecciosa de transmissáo fecal-oral cuja freqüencia va¡ia inversamente com condigóes sócio-económicas e de saneamento e com padróes de higiene de uma
comunidade (Feinstone, 1996). Quanto melhores as condigóes de vida de um local, mais tardiamente os indivíduos entram em co¡tato com o vírus da hepatite A, quer através de ingestáo de
água contaminada, de alimentos lavados ou inigados com água contaminada ou através do contato pessoa a pessoa. Existem ainda relatos de transmissáo menos freqüentes através de hemoderivados (Johnson et aI.,1995), entre usuários de drogas injetáveis (Crinde et aI.,1997; Stene-Johansen et aI.,1998), e entre indivíduos com práticas sexuais d(' risco lLeentvaar-Kuijpers et al.,l995i
Henning et a1.,1995).
Em geral, quanto ma¡s cedo ocorrer a infecgáo na vida de um indivíduo, menos provável
é a apresentagáo da tb¡ma clínica clássica da doenga. Cerca de 857¡ das crianqas apresentam
quadros clínicos inespecíficos e o diagnóstico da doenqa raramente é estabelecido. O curso da
doenga é geralmente benigno e a imunidade parece ser permanente. Os quadros gravgs com desl¿cho fatal sáo raros e alguns autores os associam á ocorréncia da intecgáo sobre um indivíduo
com hepatite crónica ativa ou cirrose hepática ou ainda com idade avaneada (Keeffe,l995; Manns
&
Schü|er,1998; Lemon,l997).
A associaEAo da freqüCncia da hepatite A com condiqóes sanitá.ias de um ambiente fez com que ela fosse incluída pela Organizaeáo Mundial de Saúde na lista de indicadores de
morbidade por causa específica em avaliaqóes de risco á saúde (WHO,l997). O estudo da hepat¡te A como um indicador epidemiológico, faz parte de um conjunto de pesquisas que estáo sendo
realizadas pclo Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ com o objetivo de monitorar os
efeitos do Programa da Despoluiqáo da Baía de Cuanabara (PDBG) sobre as condiEóes de saúde
e qualidade de vida.
A hepatite A está sendo monitorada através de dados primários e dados secundários. Nesta publicaEáo apresentamos os resultados obtidos na etapa inicial do estudo da hepatite A através
de dados primários, no período que antecede o término das intervenqóes do Programa de Despoluigáo, no município de Duque de Caxias. O obietivo é caracter¡zar a situagáo endémica da hepatite A na populaEáo residente na área sob intervengáo deste município, através de inquéritos sorológicos repetidos, que nos permitirá analisar as tendencias das curvas de soroprevaléncia por
idade e ainda estimar a incidencia da hepatite a partir de dados de prevaléncia da doenga.
MA1ERIAL E MÉTODOS
Área de esrudo
A opgáo de desenho de estudo da hepatite A aqui é o inquérito sorológico. Um dos locais
escolhidos para o desenvolvimento dos trabalhos de campo foi o município onde se conceritra boa
parte das intervenQóes do PDBC, situado no entorno da Baía de Cuanabara: Duque de Caxias.
A área escolhida para o estudo principal em Duque de Caxias fbi denominada pelo PDBC
como Setor de Obras Parque Fluminense, localizada no distrito de Campos Elyseos. Sua delimitaqáo é definida pela á¡ea de influéncia de um reservató¡io de água planejado para o local e engloba 43 setores censitários (Fundaeáo IBCE,l99l). Os limites desta área sáo o Canal de lguagu, ao
norte, o Canal do Sarapuí, ao sui, o município de Belfo¡'t Roxo a oeste e a Bala de Cuanabara a
leste. Pelo Censo Denográfico de 1991 esta regiáo contabilizou 61.410 habitantes mo¡ando em
15.465 domicílios. O número médio de pessoas por domicílio era de 4 pessoas morando em casas
que em média tinham 4 córnodos, I dormitório e I banheiro. Em termos de servicos urbanos a
Cad. Suú¿e Colet.6(5
pl. 1),
1998
40
i,
'.
cobertura de abastecimento de água tratada era de 8 | ,6%, enquanto | 5,9% faziam uso de água de
pogo, exclusivamente. Náo havia rede de esgoto ligada a uma estagáo de tratamento, porém 48Eo
dos domicílios apresentavam fossas sépticas ligadas á rede pluvial, Apenas 43.6% do lixo doméstico era co¡etado di¡eta ou indiretamente. A renda média do chefe do domicílio em l99l era de
1,92 salários mínimos e a escolaridade deste chefe caía, em núme¡o de anos de estudo, numa faixa
entre 4 e 7 anos o que equivale ao primeiro grau incompleto.
Estudo
piloto
Na primeira €tapa foi realizado um estudo piloto em dois setores censitários da área com
o objetivo de conhecer as soroprevaléncias de hepatite A que serviram de base de cálculo para as
amostras, testaÍ os instrumentos e validar uma técnica alternativa de coleta de sangue pata o estudo: a pungáo digital. Os resultados estáo descritos em outro trabalho (Almeida,l997).
Desenho Amostral
Para o estudo principal forarn selecionados l9 setores censitários entre os 43 existentes,
situados na área de entorno do reservatório. Esta área reunia, em l99l , uma populagáo de 29.729
habitantes em 7.565 domicflios.
O plano amostral em questáo, em um único estágio, considerou a necessidade de selecionar tÍeze amostras independentes de pessoas, uma para cada grupo etário de interesse (1, 2, 3, 4,
5,6, 7, 8,9, l0-14, l5-19, 20-29,30 e mais anos), extraídas do universo da área a ser abrangida
pela pesquisa. O processo de seleqáo da populaqáo de estudo, em cada grupo de idade, foi feito
por amostra aleatória simples.
As amostras foram dimensionadas considerando as informagóes do número de moradores
em cada idade do Censo Demográfico de l99l e o percentual de soroprevaléncia de hepatite A
esperado (obtido através do tesfe piloto). Ao todo, as 13 amostras somaram 3582 pessoas.
O cálculo de pessoas nas l3 amostras, em cada setor censitário, foi proporcional ao núme-
ro de pessoas no respectivo grupo de idade, ainda levando-se em consideragáo a informaqáo do
Censo Demográfico de 1991.
A selegáo das pessoas exigiu, numa primeira etapa uma operagáo de vanedura ("sc¡eening") completa em todos os setores censitários. Foi feito um cadastro de domicflios parliculares
permanentes e de pessoas de cada subpopulagáo (definida pela idade) em cada setor, de modo a
permitir a seleqáo das amostras de pessoas de cada subpopulagáo, no sentido de garantir um desenho de amostra eficientg e com boa cobe¡tura.
Instrumentü, Foma1ao e Treíhañento de Equipe de Campo
Foram construídos instrumentos para registro das informagóes tais como ficha de cadastro
dos logradouros, ficha para cadastro dos moradores de cada domicílio. ficha de info¡maqóes individuais dos indivfduos examinados e questionário para info¡magóes domiciliares (características
e instalag6es sanitárias do domicílio, condiEáo sócio-económica da família e situagáo dos servigos
urbanos: água, esgoto e lixo).
A equipe de campo foi composta por professores da rede de ensino e técnicos de laboratórios do próprio município. Esse grupo de pessoas foi selecionado e treinado pela equipe de
supervisores de campo formada por enfermeiras e nuricionistas, e pela equipe de coordenaQáo
formada por psicólogo e médicas.
4l
CLul. Suú.I?
C"le!. 6(Supl.
l),
lqeg
Coleta e análise de material
Após a seleQáo aleatóría de indivíduos, os domicílios foram visitados pela equipe de coleta de material para análise laboratorial. O método de coleta utilizado foi a pungáo digital com
lanceta automática de ponteira descartável (Clucoletd - Bayer) e armazenado em papel de liltro
Whatman n"1, cortado em ¡etengulo e com área de impregnagáo previamente demarcada em dois
círculos de 2,5 cm de diámetro. Os exames foram realizados nos próprios domicílios, após esclarecimento dos objetivos da pesquisa e consentimento por escrito dos examinados ou de seus responsáveis (no caso de menores de 18 anos).
Os papéis de filtro foram convertidos em eluatos e estocados eñ freezer a - 2fC. Os
antico.pos totais contra a hepatite A fomm determinados pela técnica ELISA (ETI-AB-HAVK-3,
Sorin Bioméd¡ca Diagnostics S.p,A, Itaty).
Entrevislas donl¡cíl¡ttres e entega de etanres
Após os exames foram realizadas as entrevistas domiciliares. Os resultados dos exames
foram entregues aos examinados ou aos seus responsáveis no próprio domicílto.
Análise de datlos
A análise dos dados tbi realizada arravés dos softwarcs Excel97 (Microsoft Corporation),
Epi lnfo ó.04a (CDC/WHO, Julyl996) e Stara 5.0 (Stara Corporation). Calcuiou-se a média e
desvio-padráo das variáveis contínuas. As variáveis catego¡iais sáo apresentadas sob a forma de
proporgóes. Os resultados de soropreva¡éncia de hepatite A por idade seo aprcsentados com os
respectivos intervalos de confianqa.
RESULTADOS
Foram cadastrados 29914 moradores em 6988 domicílios. realizados 3271 exames sorológicos pa¡a detecEáo do anticorpo contra o antígeno da Hepatite A e 2289 entrevistas domiciliares.
A regiáo de estudo situa-se na Baixada Fluminense, uma planície com pequenas altitudes
(a mais alta tem 90 metros de altura). Como a altitude influencia diretamente na drenagem do
tereno e no abastecimento de água, procuramos rggistrar essa informagao. Na tabela I observamos que a maioria das casas situa-se nas ¡egióes baixas (71,770) e 537¿ dos domicílios apresentam
algum tipo de problema em peridomicílio, quer seja uma vala negra (227o), quer seja um lixáo
(5,7%), quer seja a vala e o lixáo (25,39o).
Os resultados das entrevistas domiciliares mostram que temos, em média,4,7 moradores
por domicflio (desvio-padráo= 1,8), casas com um número médio de cómodos=4,6 (desvio-padráo=|,6) e uma concentraqáo média de 3,4 moradores por dormitório (desvio-padráo= 1,6). Em
sua grande maio¡ia as casas sáo de alvenaria, com laje ou telhas de barro/amianto, com pelo menos
t banheiro (96,870) e uma cozinha (99,17a). A renda média familiar mensal registrada em nosso
estudo é de 3,96 salários mínimos e a escolaridade média da dona-de-casa, é de 5,8 anos de estudo (desvio-padráo=3,4), ou seja, primeiro grau incomplero.
No instrumento utilizado (questionário) foi possível detalha¡ um pouco mais as informagóes sobre o abastecimento de água e instalaqóes sanitárias domiciliares (Tabela 2). As respostas
mostram que 85,97a das casas tém encanamento interno de água e 't3,4Ea nfilizañ apenas água rla
Cud. Saúrle Colet. ó(Supl.
I
),
1998
42
rede geral. Entretanto, em funqAo da situaqáo de iregularidade do fornecimento de água que predomina na regiáo (apenas 3'l,4Vo das casas recebem água diariame¡te), encontramos domicílios
que utilizam. concomitantemente, água da rede e água de poqo (18,17¿). Esta água é a¡mazenada
principalmente em caixas-d'água que sao limpas, em mais de 807o dos casos, dentro do prazo
mfnimo recomendável (de 6 em 6 meses). O número médio de pontos de água (incluindo torneiras, chuveiro, vaso sanitário), é de 4,4 (desvio-padráo=2.4). Esta água é ainda filtrada em 57,84o
dos domicflios, fervida em | 8.28 e tratada com clorc em I |,1Ea. Em relagáo aos aparelhos sanitários disponíveis no domicílio, encontramos apenas 66,17o das casas com banheiros completos
(vaso sanitário, pia e chuveiro). O destino do esgoto, na melhor situagáo. se dá através de redes
locais que desembocam em rede pluvial (48,27o). Finalmente, quanto ao lixo doméstico, a coleta,
de forma direta ou indireta, atinge 77,870 das casas entrevistadas com uma freqüéncia, em 797o
dos casos, de 3 vezes por semana.
Tabela
l:
Caractedsticas sócio-demosráficas e domiciliares n:2289
N
%
Loc¡llz¡Cio
B¿ixada
1642
Encosta
563
Platd
Ignorudo
83
I
Númcro dc b¡nhelros
71,7 0
24,6 I ou+
Ignorado
0,0
505
Lixáo próximo
130
Vala e lixáo próximos
Sem vala ou lixo
578
ts ¡
l0't6
47,0
Número de mor¡dore¡
4a5
6ou+
559
62
56E
:
2109
Sim
<1 Náo
22,1
180
Renda f¡miü¡r mens¡l
24,4 Até 2 salários-mínimos
50,8 3 a 5 salários-mínimos
24,8 6 a l0 saliários-mínimos
11
Número de c6modos
ou+
5ll
22,3
4a5
6ou+
t267
5l I
22.3
0,1
I
|21
2
897
268
t
7,9
39,7
36,9
12,4
3,4
7,3
Escolaridad€ da done-ds.c¡sa
I
Número de dormitórios
909
845
2E3
77
92,1
{(¿
Náo estudou
ou+
3,1
96,8
r1s
Ignorado
I a3
3
72
22ls
2
Cozinh¡ (c6modo exclusivo)
Condigdes peridomiciüares
Vala negra próxima
1a3
%
estudo
a 3 anos de
49.0 4 a 7 anos d€ estudo
39,2 E a l0 anos de estudo
tt.7 I I ou + arlos de €studo
193
347
9,^
t{ t
952
41,6
495
2t,6
278
t2,l
I
I
Fonte: PAISQUANESC ,FRJ, 1998
43
C,t.l. S,tudc C,'lct.6tSutl.
l).
1998
Tabela 2: Características sanitárias dos domicílios e de serviqos urbanos n:2289
C¡r¡ct€rlsticas
Ácu¡
Encanamento hterno
Sim
Náo
t967
322
tr'ervem a água
Sim
85,9 Náo
l4,l Ignorado
Fotrte de ógua
Rede geral
1453
63,5
389
426
2t
Pogo
Rede geral e pogo
Outros
575
2503
I
Tf¡t¿mento químico
Com cloro
r7,0 Com outros produtos
18,6 Neo fatam
0,9 Ignorado
Regul¡ridsde do fornecimento (1879)
Água usada para beber
Náo tem recebido
t,7 Rede geral
Regular
37,4 Pogo
Irregular
58,6 Rede e pogo
a7
)\ Outros
Ignorado
Ignorado
Número de pontos de água
32
702
|02
178
322
0
la2
3
5
5'19
a4
16
301
2
7ou+
Ignorado
OuÍos (tonéis, baldes, etc)
Ignorado
160
l8l4
133
430
541
1
1,3
0,0
36'1
374
2336
2
1t,9
t2,l
7
5,9
0,1
2269
73,7%
562
18,30/0
204
43
I
6,6%
r,4%
o,oyo
7,8 ESGOTO
25,3 Barheiro completo
sanitrá,rio,
l3,l
0,1
Banheiro
(Yaso 1514
pia e chuveiro)
incompleto
686
66,1
30,0
(vaso, pia ou chuveiro)
Ignorado
Neo armaz eDa
Caixa d'água
Cistema
Caixa e cistema
18,7
E
t4,l Ap¡relhos sanitários
Banheiro sem
Armazen¡mento de água
N
aparelhos 84
5
s,2 Destino do esgoto
58,9 Rede pluvial
4,3 Out¡os
14,0 Sem ba¡heiro
t7,6 Ignorado
I
104
8
40
7
I 13
3,'7
0,2
48,2
49,',1
t,7
0,3
0,0
LIXO
Us¿m liltro
Sim
Náo
Ignorado
1749
t329
I
Destino do li¡o doméstico
Coleta direta ou indireta
56,8 Jogado em ter¡eno baldio
43,2 Queimado
1780
8,7
25E
I1,3
0,0 Outros
2,O
5
PATSQUA/NESC IFRJ, 1998
Cod. Saúde Colet. ó(Supl.
l).
1998
44
'77,8
r99
RESULTADOS DOS EXAMES PARA IIEPATITE A:
Foram examinados 148ó (48.37¡) indivíduos do sexo masculino e 1593 ( 5 | .77o) indivíduos do sexo feminino. Os resultados da soroprevalencia da hepatite A e respectivos intervalos de
confianQa a 95% foram os seguintes: I ano (n=373): 5,1Va (3,1 - 1,8):2 anos (n=389): 6,77o (4'4
- 9.6); 3 anos (n=345 )t 13.6E (10,2 - | 7,7): 4 anos (n=304): 26.69c (21 .7 - 32,0):5 anos (n=254):
33.17¡ \27.3 - 39,2)1 6 anos (n=256): 39.87. (33,8 - 46,1);7 anos (n=220):43,27¿ (36,5 - 50'0):
8 anos (n=189): 46,6sa (39.3 - 53,9);9 anos (n=164): 58,570 (50,6 - 66.2): l0-14 anos (n=262):
5'7,6% (51,4 - 63,'1): l5- 19 anos (n=18,1): 72,89o (65,8 - 79,l): 20-29 anos ( 166): 87,3 7¡ (81,3 92.0); 30 e mais anos (n=165): 84.87o (78.4 - 89,9). Estes resultados podem ser melhor visualizados na fisura l.
Figura
I
Soroprevaloncia do hepatlte A por grupo Gtário e intervalo do confianga
(95%). Duque de Cax¡*, RJ, Bras¡|, 1997. n=3271
Grupo otárlo
PERDAS
O total de exames realizados correspondeu a 91.3%, da amostra prevista. As perdas por
exames foram devidas, sobretudo. ir dificuldade de localizagáo do indivíduo sotteado (morador
ausgnte em até 3 visitas) ou por recusa
Das 327¡ pessoas examinadas foram obtidas informaEóes domiciliares para 3079, o que
corresponde a 94.17ó. Foram realizadas 2289 entrevistas domiciliares, com perda de 140 casas.
As perdas de entrevistas foram devidas, principalmente a mudanqa de endereEo dos examinados,
moradores ausentes em até 3 visitas ou recusa.
DrscussÁo
Em relaeáo aos dados do Censo de 1991. os resultados obtidos nos queslionários mostram
um pequeno aumento no número médio de pessoas por domicílio (de 3,98 para 4,7). Entretanto
45
Ctd. S ú¿e Colet. ó(Supl.
l),
1998
encontramos o mesmo número médio de cdmodos, de dormitórios e de banheiros. mosranoo eue.
possivelfnente, temos mais pessoas concentradas num mesmo espago.
A renda f'amiliar mensal náo ultrapassa, em média,4 salários-mínimos e a escolaridade da
dona-de-casa náo difere da escolaridade do chele do domicílio levantada Delo IBGE em 1991.
Nossa opqáo em escolher o nível educacional da dona-dc-casa <jr'veu-se ao aato de que, em geral,
é ela a encarregada dos cuidados com a higiene doméstica, preparaEáo dos alimentos e cuidados
com a alimentagáo e higiene das crianeas. E importante observar que 8.4./o dessas mulheres náo
foram alfabetizadas e 15,29o ¡áo completaram o primeiro segmento do primeiro grau (os 4 primeiros anos de estudo básico). Este fato poderia ter duas implicaeóes: restringir o acesso ¡s informagóes sobre cuidados básicos de saúde e ao mercado de trabalho, com impacto negativo sob¡e a
renda
familiar
Os resultados mostram que a regiáo de estudo apresenta problemas de infm-estrutura urbana importantes. Foi possível observa¡ durante o trabalho de campo, que a maioria das ruas náo
está ast'altada, a iluminag¿o pública é precária e os loteamenlos, em alguns pontos, é bastante
desorganizado. Em dias de chuva o acesso a dgterminadas ruas se torna impraticável e, mesmo
dontro do terrgno das casas, a quantidade de água acumulada dificulta a passagem das pessoas.
Também foi possível observar o esgoto doméstico comendo livremenfe pelas ruas e o acúmulo de
lixo em vários pontos da regiáo de estudo. Mais da metade das casas apresentam ou uma vala
¡egra á sua porta, ou um lixáo ou ambos os problemas.
Em relagáo á água náo encontramos grandes variaQóes ¡a cobertura da ¡ede oñcial de
abastecimento, de l99l a 1997, ou na proporqáo de casas com gncanamento intemo de água ou
ainda na proporgáo de casas com instalagóes sanitárias ligadas a uma rede pluvial.
A cobertura de coleta de lixo parecc ser o único servigo urbano que apresenta resultado
significativamente dif'erente em relagáo a l99l \de 43,6o/a para 77,87o). Apesar da coberrura ter
tido um aumento considerável, houve fegistros de moradores que, mesmo tendo acesso ao servieo
urbano, lanqam seus lixos domésticos em terTeno baldio ou os queimam, mostrando talvez uma
certa diñculdade da populagáo em aderir e usuf¡uir do serviQo de coleta de lixo.
Esses.esultados mostram que a regiáo apresenta uma ce¡ta estabilidade, nestes últimos 6
anos, para a ma¡o¡ia das caracteísticas que fbram levantadas, caracterizando-sc como uma regiáo
de baixa renda e com problemas de infia-estrutura urbana.
Os resültados das análises sorológicas de amostras de sangue contra o antígeno da hepa-
tite A mostram que a soroprevaléncia aumenta com a idade de uma fbrma bastante rápida na regiáo do inquérito, atingindo uma proporgáo acima de 507¿ de infectados já aos nove anos de idade. Esse crescimento, porém, náo se dá de fbrma constante. Náo existe, praticamente, diferenqa
nos dois primeiros anos de vida, quando a crianga fica mais restrita ao ambiente domiciliar. Aos
3 anos de idade, inicia-se a fase de socializaEáo da crianqa e é nesta etapa também que observamos um rápido aumento da propor!áo de inllctados que se mantém, com intensidades variáveis,
até os 29 anos. Quase 907o da populagáo já se apresenta soropositiva a partir dos 30 anos. embora
ainda seja possível encontrar indivíduos soronegativos até 66 anos de idade.
Em out¡o estudo por nós realizado na mesma regiáo (estudo-piloto), investigamos dois
setores censitários com condiQóes ambientais e sócio-econdmicas diferentes e observamos que,
enquanto na área com condigóes gerais mais precárias a soroprevaléncia da hepatite A por idade
apresentava um pert'il semelhante ao deste estudo, no setor onde as condigóes eram melhores a
velocidade com que indjvíduos suscetíveis se int-ectaram fbi significativamenie menor. Aos nove
anos de idade, por exemplo, encontramos 587. das criangas int'ectadas no primeiro setor, enquanto quet na mesma faixa de idade. apenas 2lq(, de criangas eram soropositivas no segundo setor
(Almeida,l997). De uma forma geral, o conjunto de setores censitários investigados no presente
Cd.l. Saúde Colet. ótsupL
l),
1998
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estudo apresenta-se homogéneo para as condigóes mencionadas e com uma situaeáo próxima ao
primeiro setor censitário do estudo piloto, com condigóes ambientais precárias e sócio-econdmicas baixas.
A falta de um abastecimento de água regular, a ausCncia de uma rede fechada de esgotos
e a cobenura incompleta de coleta de lixo, (que contribui para o assoreamento das valas de escoamento de águas pluviais), contribuem para o comprometimento da qualidade da água de consumo na regiáo e da higiene pessoal e doméstica. Acrgscem-se as ligagóes clandestinas na rede oñcial de abastecimento de água. Nos perlodos de chuva, algumas ruas, nas quais extstem valas por
onde o esgoto escoa, se alagam, e podemos observar que os canos de água que atravessam essas
valas, ficam encobertos pelo esgoto. Estes fatores associados contribuem para o comprometimenio do padráo de higiene pessoal e doméstica e da qualidade da água de consumo, que, por sua vez,
favorecem a tÍansmissAo de doengas infecciosas, entre as quais a hepatite A.
Foram ¡ealizados exames de amostras de água de consumo provenientes da rede de abas-
tecimento oficial ou do pogo de domicílios da área de estudo, durante o pe.íodo de outubro de
1996 a setembro de 1998. As amostras seriadas de pontos fixos de água da rede apresentaram um
percentuaf global de contaminagáo da ordefi de 6,5qa (torneira de entrada). Já entre as amostras
de água de pogo encontramos 55% de contaminagáo global para os padróes exigidos. O consumo
de água de pogo, portanto, pode ser um dos fatores de transmissáo da doengas infecciosas na área.
Com a inegularidade do fornecimento, uma parte dos moradores que recebe água da rede oficial
passa a utilizar, concomitantemente, a água de pogo, expondo-se a um risco maior de infecqáo por
doenQas de veiculagáo hídrica (F eitas et a|.,1998).
'.
Neste trabalho procuramos caracteriza¡ a situaeáo atual de uma regiáo que está sofrendo
interveneóes ambientais pelo PDBG do tipo saneamento básico. Os ¡esultados aqui obtidos poderáo ser comparados com estudos futuros que utilizem metodologia semelhante para mensura.r os
efeitos do programa sobre as condigóes de saúde e qualidade de vida dessa populagáo. Estudos
mais detalhados da dinamica de infecAáo da hepatite A, a partir de dados sorológicos, serAo objetos de trabalhos posteriores. Para a análise das associagóes entre a soroprevalCncia da hepatite A
por idade e as demais variáveis do estudo está sendo construído um modelo que leve em consideraqáo os dife¡entes níveis de exposigáo (individual, domiciliar e de vizinhanqa) cujos resultados
seráo objeto de outra publicaqáo.
AGRADECIMENTOS
Sem o apoio da populagáo, das instituiqóes de saúde e das entidades representativas da
comunidade de Duque de Caxias este trabalho náo teria sido realizado. A equipe de trabalho de
campo e de esc¡itório, pelo seu empenho na condugáo da tarefa, aos demais participantes, nosso
gtemo agradecimento e a esperanga de que esta pesquisa possa contribuir para a melhoria das
condigóes de saúde e qualidade de vida da populaEáo.
Este estudo insere-se no "Projeto de Avaliagáo dos Impactos do Programa de Despoluigáo
da Baía de Cuanabara sob as Condiqóes de Saúde e Qualidade de Vida - PAISQUA" financiado
pela Fundagáo de Amparo A Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
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