pressbook - Cinebrasil

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pressbook - Cinebrasil
IMAGEM FILMES e TELECINE
apresentam:
Uma produção LAGOA CULTURAL E MAGA FILMES
Lançamento nacional 14 de Outubro de 2011
Uma distribuição IMAGEM FILMES
Site oficial do filme: www.capitaesdaareia.com.br
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APRESENTAÇÃO
As aventuras de Pedro Bala e seu bando povoam o imaginário popular desde 1937
quando Jorge Amado lançou o livro “Capitães da Areia”. Desde então, o romance se
tornou um “best-seller”, foram mais de 5 milhões de exemplares vendidos, sendo 600
mil só nos últimos dois anos.
Leitura obrigatória nas escolas de ensino médio em todo país, exames de vestibular e
cursos universitários, a história dos Capitães da Areia é um divisor de águas na vida
dos jovens estudantes brasileiros a cada geração.
No momento em que se comemora o centenário de Jorge Amado, CAPITÃES DA
AREIA ganha as telas de cinema através das lentes da neta do escritor, a cineasta
Cecília Amado.
Cecília que começou a fazer cinema em 1995, junto com o período da “retomada” do
cinema nacional e fez carreira nos sets de grandes cineastas como Cacá Diegues,
Sérgio Resende, Cao Hamburger, entre tantos, trouxe um olhar próprio pautado na
formação humanista que herdou do avô.
No filme, o motor da história é a liberdade em contraponto ao abandono. O tema da
infância carente, um drama tão atual e característico da questão social no Brasil, é
abordado na adaptação com uma visão mais universal, trazendo a tona questões
como superação, amizade e lealdade.
Ao adaptar as histórias do livro para o roteiro, Cecília optou por narrar um ano na vida
dos Capitães da Areia, marcado por festejos do dia de Iemanjá, data fixa no
calendário baiano. Um ano emblemático, em que esses meninos deixam de ser
crianças e se tornam homens com todos os conflitos e descobertas da adolescência.
As filmagens duraram nove semanas, distribuídas ao longo de nove meses, para
contemplar o amadurecimento físico dos atores-personagens.
O cenário não poderia ser mais convidativo: a cidade de Salvador, com os encantos e
mistérios narrados por Jorge Amado, é retratada com magia no filme através da
direção de arte de Adrian Cooper (Quincas Berro d’Água, Batismo de Sangue) e
da fotografia de Guy Gonçalves (Orquestra de meninos, Onde Anda Você).
A diversidade de cores, sons e ritmos baianos, também está presente na trilha sonora
original composta por Carlinhos Brown, outro parceiro do projeto desde o primeiro
momento. O resultado é o clássico conceito de baianidade que Jorge Amado levou
para o mundo, revisitado com uma linguagem contemporânea, vigorosa e jovem em
todos os aspectos.
Para coroar o projeto, a produção investiu intensamente na formação do elenco, onde
todos os atores adolescentes foram selecionados em ONGs e preparados por
Christian Durvoort (Ensaio Sobre a Cegueira, Cidade dos Homens) durante quatro
meses de oficinas na Bahia. O maior desafio do filme se tornou um de seus maiores
trunfos, jovens talentos vindos das mesmas escolas de Lázaro Ramos e Wagner
Moura, se preparam para estampar as telas dos cinemas a partir deste rito de
passagem chamado “Capitães da Areia”.
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SINOPSE
Os “Capitães da Areia”- Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e
Dora são personagens que Jorge Amado um dia criou para habitarem eternamente na
memória de seus leitores. Abandonados por suas famílias, eles são obrigados a lutar
para sobreviver pelas ruas de Salvador. Mais atual do que nunca, a história destes
personagens imortais da literatura mundial nos emociona e inspira de forma profunda.
SINOPSE LONGA
Bahia de Todos os Santos, 1950. Uma explosão de alegria, fogos, bandeirinhas e
muitas rosas brancas anuncia a festa de Iemanjá. Saveiros enfeitados se preparam para
acompanhar em procissão marítima o barco que leva a imagem da Rainha do Mar. Centenas
de pessoas trazem oferendas, barquinhos com flores, pentes, pequenos espelhos. No meio
da multidão, saltando de barco em barco, encontramos um menino aloirado, um molecote nos
seus 15 anos, que vem homenagear a mãe maior e única.
O menino louro é Pedro Bala, o temido líder dos Capitães da Areia, que na verdade,
não passa de um adolescente livre nas ruas. Ele é o herói de seu bando, quase uma centena
de meninos, que juntos vivem incríveis aventuras nas ruas e becos da cidade; planejam
desde pequenos furtos a golpes mais sofisticados como assaltos a ricas mansões. Nos bares
do cais do porto, trapaceiam os marujos em mesas de jogatina e jogam olho comprido sobre
os fartos decotes das mulatas. Vivem nas feiras populares e nas festas de rua, atrás de
comida e divertimento.
Os jornais trazem com alarde matérias sobre o novo bando de meninos que vivem
pelas ruas e incomodam a sociedade. São chamados “Capitães da Areia”, porque o cais é o
seu quartel general. Os Capitães se refugiam em um velho trapiche abandonado, em meio a
um areal que invadiu o antigo cais, se escondem da polícia e evitam os reformatórios, para
muitos um pesadelo, uma passagem pelo inferno. No Trapiche, tomam aulas de capoeira com
o amigo Querido-de-Deus, aprendem a usar a luta para se defender, arma na mão só a
navalha. Assim, tentam sobreviver ao abandono, à falta de uma mãe, de um pai. Juntos se
transformaram numa grande família. Às vezes explodem, gritam de raiva, perdem a cabeça,
mas resistem bravamente aos piores obstáculos.
Uma epidemia de varíola invade a cidade e alcança o Trapiche. Os Capitães da Areia
se deparam com o conflito da morte, têm que tomar decisões de adulto, decisões impossíveis
para a cabeça dessas crianças. Enquanto isso, nos bairros populares, a epidemia destrói
famílias, fazendo novos órfãos. A menina Dora, de apenas 14 anos, perdeu pai e mãe, e se
vê só nas ruas de Salvador. Pela primeira vez experimenta a dor de dormir ao relento, de
passar fome o dia inteiro, a semana inteira, de chorar até não ter mais lágrimas. Mas quis o
destino que os Capitães da Areia cruzassem o seu caminho: Professor, braço direito de Pedro
Bala, se encanta com o jeito ao mesmo tempo doce e forte da menina e toma uma decisão
arriscada, leva Dora para o Trapiche.
O bando nunca teve uma figura feminina e a chegada de Dora vem mexer com a vida
dos Capitães da Areia. Ela é guerreira e resolve se vestir de homem para participar das ações
junto com os meninos. Pedro Bala logo se apaixona por ela. Professor, mais tímido e
inexperiente, apenas sonha com sua pele macia, com seus seios que despontam, seu jeito de
que vai virar mulher a qualquer instante. O triângulo amoroso torna-se inevitável, os três estão
mais adolescentes do que nunca, e como adolescentes descobrem o amor.
Mas o destino trágico das ruas não será assim tão doce com os Capitães da Areia
nessa história de superação e amadurecimento.
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ELENCO
PEDRO BALA
DORA
PROFESSOR
SEM-PERNAS
GATO
BOA VIDA
JOÃO GRANDE
PIRULITO
VOLTA SECA
ALMIRO
BARANDÃO
EZEQUIEL
ZÉ FUINHA
DALVA
QUERIDO-DE-DEUS
DONA ESTHER
PADRE JOSÉ PEDRO
MÃE ANINHA
Jean Luis Amorim
Ana Graciela Conceição
Robério Lima
Israel Gouveia de Souza
Paulo Abade
Jordan Mateus
Elielson Santos da Conceição
Evaldo Maurício Silva
Heder Jesus dos Santos
Elcian Gabriel Conceição
Jamaclei Conceição Pinho
Edelvan de Jesus Santos
Felipe Duarte
Ana Cecília Costa
Marinho Gonçalves
Jussilene Santana
Diogo Lopes Filho
Arany Santana
FICHA TÉCNICA
Direção
Co-direção
Produtores
Produtores Associados
Produção Executiva
Roteiro
Produção de elenco
Preparação de elenco
Direção de fotografia
Direção de arte
Figurino
Som direto
Desenho de som
Montagem
Trilha Sonora
CECÍLIA AMADO
GUY GONÇALVES
BERNARDO STROPPIANA, CECÍLIA AMADO
SOLANGE LIMA
PALOMA JORGE AMADO, JOÃO JORGE AMADO,
BRUNO STROPPIANA, BILL FOGTMAN,
PIMENTA JR. ,CAMILA MEDINA
CECÍLIA AMADO, HILTON LACERDA
LAMARTINE FERREIRA
CHRISTIAN DURVOORT
GUY GONÇALVES, ABC
ADRIAN COOPER, ABC
MARJORIE GUELLER
GEORGE SALDANHA
SIMONE PETRILLO
EDUARDO HARTUNG
CARLINHOS BROWN
Produção LAGOA CULTURAL e MAGA FILMES
Co-produção Freeway Entertainment KFT., LABOCINE do BRASIL
ARAÇA AZUL , MGN FILMES
Distribuição IMAGEM FILMES
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PERFIL DOS PERSONAGENS
PEDRO BALA (Jean Luis Amorim): Pedro Bala é o temido líder dos Capitães da
Areia. Desde cedo foi chamado assim, desde os seus cinco anos, quando começou a
vagabundear nas ruas da Bahia. Hoje tem 15 anos e conhece todas as ruas e becos
da cidade. Bala é considerado um herói por seu bando, traz nos olhos e na voz a
autoridade de chefe. Muitas vezes ele tem que tomar decisões difíceis, se arrisca no
que for preciso para lutar pelos meninos. Vai descobrir o amor ao lado de Dora.
PROFESSOR (Robério Lima): Professor é quem toma conta do Trapiche quando
Pedro Bala se ausenta. O braço direito de Bala é também o “intelectual” do bando:
coleciona uma pequena biblioteca de livros e revistas roubadas que lê com grande
dificuldade. Ele se tornou uma espécie de irmão mais velho para todos, aquele que
conta histórias incríveis, aventuras mirabolantes, enriquecidas por sua imaginação.
DORA (Ana Graciela): com apenas 14 anos, Dora perdeu pai e mãe, vítimas da
epidemia de varíola que se espalhou pela cidade. Ficou só, nas ruas de Salvador,
levando pela mão o irmão Zé Fuinha. Foi nas ruas que conheceu Professor que se
encantou com seu jeito e decidiu levá-la para o Trapiche. Os meninos a adotaram,
para muitos ela virou uma mãezinha, uma irmã, para Pedro Bala virou sua noiva.
Guerreira, vestida de homem, ela decide lutar ao lado do amado como se fosse um do
bando.
SEM-PERNAS (Israel Gouveia): Sem-Pernas ficou aleijado de tanto apanhar da
polícia. Coxo de uma perna e pouco desenvolvido, logo ganhou o apelido. Explora o
aleijão para se infiltrar em casas de famílias ricas conquistando a piedade de
senhoras caridosas e em seguida “abre as portas” para o bando saquear. Para ele o
sonho de ter uma família, sonho de todo menino de rua, às vezes parece tão próximo
e, ao mesmo tempo tão inatingível, que sua revolta só cresce.
GATO (Paulo Abade): O Gato sempre foi o mais malandro, excelente capoeirista,
discreto, ágil, desbanca qualquer um nas mesas de jogo. Elegante e vaidoso investiu
todo seu charme em conquistar sua grande paixão, Dalva, mulher de verdade, mulher
da vida, mulher da sua vida. Desde que se ajeitou com a rapariga sonha em partir
com ela para Ilhéus e enriquecer como gigolô.
BOA VIDA (Jordan Mateus): Como o nome diz, Boa Vida é o típico baiano
preguiçoso e acomodado. Gaiato, vive provocando a todos com seu humor cortante.
Como bom malandro, adora música e mulheres (no fundo queria ser o Gato ) e
garante boas risadas à dura vida dos Capitães da Areia.
DALVA (Ana Cecília Costa): a prostituta Dalva se encontra em decadência quando
Gato entra em sua vida. Ela se apega ao menino que lhe devolve vitalidade e
juventude. Mais uma típica mulher de Jorge Amado, sensual e forte.
QUERIDO DE DEUS (Marinho Gonçalves): é o mais célebre capoeirista da cidade,
35 anos de muita malandragem, mas também de trabalho pesado no mar, a bordo de
seu saveiro. Virou uma referência para os Capitães da Areia, juntos passaram por
várias aventuras. Foi ele quem apresentou o candomblé aos meninos e também a
capoeira.
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ENTREVISTA com CECILIA AMADO (diretora)
- Como surgiu a idéia de filmar “Capitães da Areia”?
“Capitães da Areia” foi um livro que marcou a minha adolescência, acho que a
adolescência de várias gerações de brasileiros. Eu li o livro com 14, 15 anos e fiquei
apaixonada pela liberdade daqueles meninos, pelo drama deles, mas, principalmente,
pelo Pedro Bala, por aquele herói que era o Pedro Bala, um menino dos sonhos. E
isso ficou marcado ali dentro de mim.
Eu tinha a memória afetiva do “Capitães” dessa primeira leitura ainda
adolescente comigo e um dia, já trabalhando há bastante tempo com cinema e com
televisão, fui ver um ensaio de uma montagem teatral do “Capitães da Areia” no Rio
de Janeiro, dirigido por um diretor carioca com jovens atores adolescentes de classe
média, de cursos de teatro do Rio e fiquei tão surpresa, tão emocionada com a
dedicação que eles tinham a estes personagens, pela paixão que eles tinham pelos
“Capitães da Areia” e a emoção que eles passavam com isso, que acreditei que no
cinema, com a possibilidade que o audiovisual tem de ampliar a poesia do livro, e
interpretado por atores baianos, por jovens baianos do universo dos “Capitães da
Areia”, seria arrebatador. A partir desse momento, me dediquei a conhecer esse
universo e a buscá-lo para fazer o filme, para fazer essa adaptação.
Como era a sua relação com o seu avô?
Eu comecei a fazer cinema com 18 anos e eu me lembro que naquela época o
meu avô me chamou num canto, achei que ele ia cobrar que eu fosse para o ramo da
literatura e não do cinema e eu estava realmente dedicada a seguir carreira, estava
apaixonada pelo cinema. Ele então me surpreendeu em dizer que eu estaria
realizando o seu grande sonho, porque ele, apesar da longa jornada como escritor
tinha esse sonho íntimo de ter sido cineasta. Não é a toa que era amigo de muitos
cineastas. Jorge Amado foi amigo e parceiro de vários diretores e os seus livros
também são extremamente cinematográficos. É uma literatura muito imagética que
traz esse universo da Bahia para dentro do livro e a gente consegue visualizar esse
universo. Isso me inspirou muito no “Capitães da Areia” em buscar esse universo
lírico que estava ali narrado nas páginas do Jorge Amado.
Vocês optaram por situar o filme na década de 50 mas com uma
linguagem/estética mais pop. Como você concebeu essa ideia?
Quando eu comecei a frequentar o “Projeto Axé” para pesquisa, logo entendi
que a história dos “Capitães da Areia” é muito próxima da história desses meninos
que estão nas ruas, que estão nas comunidades nos dias de hoje. Pouquíssima coisa
mudou na essência desse problema. Por que eles foram parar na rua? Como é que
eles se organizam? Como é a relação deles com a família, com as mulheres? Como
que é um grupo essencialmente masculino? Como eles viam o preconceito? Isso não
mudou dos anos 30 quando o romance foi escrito para os dias de hoje. O que mudou
foi a violência bárbara, o tráfico de drogas, o crack que entrou muito pesado. E eu não
poderia fazer um filme totalmente contemporâneo sem passar por esses temas. Ao
mesmo tempo, falar desses assuntos seria mascarar o drama e a intimidade dessa
questão dos meninos de rua que não mudou.
A gente resolveu criar um universo que se afastasse desse tipo de violência
"superficial" e que a gente embarcasse no drama, mas também no romantismo, na
aventura, na liberdade que conta essa história. Então, fizemos um filme baseado nos
anos 50, mas a partir daí, com uma leitura própria, contemporânea, pela fotografia,
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pela direção de arte, seja pela trilha sonora do Carlinhos Brown. Eu brinco que a
gente construiu em cima de um leito de época, que é o Jorge Amado, que é o Pierre
Verger com as suas fotografias, que foi o Dorival Caymmi. A gente construiu uma
nova baianidade que é mais do século 21, mais contemporânea. Daí veio essa Cecília
Amado, que sou eu, com esse filme, o Carlinhos Brown fazendo uma releitura do
Caymmi, um novo vigor da música baiana atual, uma fotografia inspirada também no
Mario Cravo Neto, que era uma releitura, por sua vez, do Verger, mas com contrastes,
com cores, com vibração. Essa vibração, essa energia que os meninos trouxeram
para mim, eu queria que tivesse no filme e é muito contemporânea. Daí esse
conceito, essa linguagem de um filme de época, mas com uma leitura pop,
contemporânea, vigorosa.
- Dentro da preparação do filme como foi o processo de pesquisa de elenco e
quais os critérios de seleção?
O maior desafio de transpor a história dos “Capitães da Areia”, que é um bando
de meninos adolescentes de Salvador, para o cinema, era justamente a formação do
elenco. Acho que foi o nosso maior investimento e talvez um dos maiores valores hoje
do filme, aonde a gente conseguiu chegar com essa formação de elenco. A gente
queria trabalhar com não atores para ter essa organicidade, a verdade que o ator
fresco traz. Por outro lado, nessa idade de adolescente de 14, 15, 16 anos, são raros
os atores de fato profissionais, com uma boa formação. Em geral, são meninos de
classe media que tiveram acesso a grandes escolas de teatro. Então procuramos o
caminho que vários filmes já percorreram, desde “Pixote”, passando por “Cidade de
Deus”, com muito sucesso, de trabalhar com jovens de comunidades, mas a gente
queria ir além. A gente tinha a grande preocupação do que aconteceria com esses
meninos depois que acabasse o filme, depois que eles tivessem a fama, a
celebridade instantânea, como é que continuaria a vida deles com esse trator que é
um filme, que é o cinema, no meio do percurso.
Por isso, a gente foi procurar o elenco em organizações que trabalham com
arte-educação. Eu frequentei durante 2 ou 3 anos o “Projeto Axé”, que trabalha com
crianças realmente em situação de risco, para entender como é que funcionam essas
organizações, para entender o universo hoje dos meninos. E em seguida a gente
abriu uma pesquisa para 22 organizações que trabalham com diversas formas de arte
diferentes, seja capoeira, dança, teatro eventualmente, muitas que trabalham com
música e que já davam um preparo para esses meninos do palco, de pequenos
momentos de estar em público, de estar mostrando o seu trabalho e, ao mesmo
tempo, do trabalho diário, que tivesse acompanhamento diário, tanto do trabalho
artístico, quanto do trabalho social com esses meninos depois do término do filme. E
eu acho que o grande ganho foi nessa parceria com as organizações. O projeto
“Capitães da Areia” vai além do cinema de entretenimento, ele tem também uma
responsabilidade social que é de chamar a atenção para esse trabalho positivo das
ONGs, o que para mim é muito importante.
Qual foi o critério para a escolha do elenco principal?
Para formar esse grupo principal dos “Capitães da Areia”, que são na realidade
12 personagens importantes do livro que a gente transpôs para o filme, cada um com
a sua história e suas características, a gente começou fazendo uma pesquisa nessas
ONGs com 1200 jovens que foram entrevistados e fizeram improvisações. Esses
1200 passaram por uma triagem e nós chegamos a 90 jovens para os quais a gente
ofereceu uma oficina ampla de cinema durante 2 meses completos. Oficina diária
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onde eles tinham formação de atores com o preparador Christian Durvoort e aulas de
capoeira-angola para trazer um pouco o movimento, o ritmo, mais dentro da época do
universo do filme. Também era um modo de observar diariamente o quão eles eram
dirigíveis, quais as características de cada um, o que eles poderiam aportar de íntimo
para os personagens. Através dessas observações, a gente chegou a 2 grupos de 12
ou 13 jovens. E é aí quando partimos para o grupo, quer dizer, esse Bala tem que ser
legal com essa Dora, tem que ter química com esse Professor, como é que esse
triângulo funciona. Como é a relação do menino que faz o Bala com o menino que faz
o Gato, eles têm que ter uma intimidade, uma amizade e um olhar para as mulheres
que é diferente, que é íntimo dos dois. E assim os atores, por essas características,
muito mais do que pelas características físicas, foram ganhando esses personagens,
buscando esses personagens para si.
Adaptar um romance como esse é muito difícil porque os personagens existem
na cabeça de cada leitor e aí era importante que eles tomassem o corpo e o corpo
veio dos próprios atores. Os atores vestiram os personagens.
Qual foi seu método para dirigir o elenco jovem?
A preparação no filme foi um processo importante para chegar na organicidade
que a gente queria. Trabalhar com não atores, com jovens, adolescentes, homens na
maior parte, 14, 15, 16 anos, quando junta um grupo grande, é complicado como ser
professor mesmo de uma ‘turmona’ de meninos da comunidade, da rua, porque eles
tem muita energia, eles chegam num grau de excitação, de repente ficam cansados, a
energia cai, variação de humor. Então eu tive que aprender a ser um pouco amiga
deles. No processo de preparação a gente tinha não só os ensaios das cenas como
também roda de samba, roda de capoeira onde a gente dançava junto, cantava,
brincava e essa intimidade foi o que nos permitiu ter um pouco mais de controle e
conseguir dirigir eles com serenidade na hora do set.
Eu precisava que os outros personagens, os personagens adultos do filme que
contracenassem com eles, fossem atores muito experientes e, ao mesmo tempo, que
tivessem segurança e uma generosidade para com esses meninos. E por outro lado,
que não fossem caras muito conhecidas e que fossem brigar, destoar deles. Todos os
atores que vieram, se entregaram e se fizeram permear pelo universo dos meninos
para que não chamassem mais atenção e sim estivessem integrados e em harmonia
com eles. E nos ajudaram muito.
A gente trabalhava muito com música no set, colocava música no momento de
filmar para recuperar a energia deles e aí a trilha sonora que já vinha fazendo parte
do filme entrava para aquecer o universo. A música é uma peça de comunicação
muito forte com esses jovens, então a gente recorria a ela para achar o tom certo,
para chegar em um clima mais romântico, um clima mais festivo ou mais violento,
mais agressivo.
Cinema é síntese. Como foi adaptar o livro para o filme? Como foi a escolha do
que do livro ia para o filme?
Trabalhar com um livro tão conhecido como o “Capitães da Areia” era um
grande desafio no momento da adaptação. Tem esse fantasma do ser fiel ao autor, e
talvez uma expectativa por eu ser neta de Jorge Amado, como é que eu seria fiel a
ele. E são tantas histórias na realidade que são contadas no romance “Capitães da
Areia”, conta a história de vários personagens, por vários caminhos, então eu resolvi
ser fiel ao espírito do livro, ao seu lirismo e quais os sentimentos que o Jorge Amado
queria contar ali com aquela história. Muitas vezes a gente teve que resumir histórias
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e sintetizar dentro do personagem. Às vezes, o próprio personagem, em 10 segundos,
traz uma história inteira do livro e está ali contando com uma dramaturgia que o
cinema pede. A dramaturgia para o cinema é diferente da literatura, tem que ter um fio
condutor muito mais forte. Então, para isso, muitas histórias foram transformadas e
embutidas umas nas outras, um exercício muito interessante e curioso.
Na realidade, o audiovisual vai aonde a literatura não alcança. Muitas vezes o
leitor não dá conta, no seu universo cultural, de imaginar músicas, imaginar locações,
imagens, planos de pontos de vista, de ângulos diferentes que o leitor pela própria
leitura não consegue contemplar com a sua imaginação. E aí que é o barato do
audiovisual, no filme você pode ir além, sempre bebendo nessa poesia, sempre
bebendo nesse drama que o Jorge Amado traz no “Capitães da Areia”, no humor
também que tem, na alegria dos meninos da Bahia. Isso era o essencial, o
antagonismo entre o abandono e a liberdade, que é tão forte no livro, que isso tinha
que estar presente no filme e não necessariamente todos os detalhes, todas as
histórias. O filme tem vida própria.
Como foi a concepção e a escolha da trilha sonora do filme?
A partir da intenção de fazer do filme uma leitura contemporânea, vigorosa da
Bahia e da obra de Jorge Amado com o “Capitães da Areia”, um dos primeiros
parceiros que eu fui buscar foi o Carlinhos Brown na trilha sonora. Ele é um cara que
bebe nas raízes, na fonte da música baiana, da música Africana, da música da
América Latina, porque a gente acredita que o filme tem uma temática bem universal,
ao mesmo tempo particular e universal.
O Carlinhos entrou no início do processo do filme porque ele é um cara com
uma sensibilidade incrível para os jovens, conhece esse universo dos “Capitães da
Areia” e do elenco do filme muito bem. Ele mesmo fundou no Candeal uma
organização que trabalha com arte-educação através da música que é a “Pracatum”.
Era importante, conhecer esse universo para transformar isso em música, conhecer
essa Bahia que a gente queria mostrar para transformar isso em música e ele trouxe
um conceito desde o início de que a trilha sonora tinha que ser uma luva para o
Capitães, que é um filme de aventura mas é, ao mesmo tempo, um drama romântico
e a música dá conta de todas essas nuances que ele atravessa.
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ENTREVISTA com GUY GONÇALVES (co-diretor e diretor de fotografia)
Fale sobre a conceituação visual do filme.
Para mim, pensar em Jorge Amado é pensar em Salvador, me remonta à
primeira vez que eu fui a Salvador. Me causou um impacto enorme a luz de Salvador,
o mar de Salvador, o Mercado Modelo, a igreja do Bonfim, referências visuais e
humanas que marcaram profundamente. A presença africana também me marcou
muito, a questão das cores nas vestimentas, a questão da religiosidade, do branco e
das cores primárias fortes, os vermelhos, os azuis, os verdes, os amarelos,
incorporando a este contraste entre a luz do sol e a sombra, os negros e essas cores,
de repente, você começa a trazer essas memórias. No “Capitães” eu achava
importante incorporar o lirismo, a poesia e o humor, porque apesar dos meninos que
são retratados nos “Capitães da Areia”, eles vivem no limite da miséria e da
marginalidade, eles tem felicidade, eles tem amor, eles querem aventura, eles estão
descobrindo a vida, estão abertos para descobrir essa vida. Essa energia da
juventude foi um norte na escolha cromática desse filme.
Como você lidou com a luz típica da Bahia?
Um dos maiores conflitos que o diretor de fotografia tem, às vezes, filmar no
norte e nordeste do Brasil é o contraste. O sol sobe muito rápido e permanece alto ao
longo do dia. Na Bahia, além desta questão da posição do sol, a gente tem a
presença maciça do negro com roupas brancas e o sol impiedoso. Eu percebi logo
que eu não podia combater isso. Então eu fui na direção de surfar essa onda. É
contraste? Então, vamos aumentar este contraste, investindo nas texturas e,
principalmente indo em direção a dramaturgia do filme.
Como foi a opção de linguagem de câmera para esse filme? Como a câmera se
comportou ao filmar com não-atores?
Primeiro a gente definiu o nosso formato. A gente resolveu fazer o filme em
35mm, embora a gente quisesse uma textura não clean. Então investimos e fiz vários
testes para que a gente conseguisse esse objetivo. A linguagem de câmeras veio
junto com as decisões de fotografia no sentido de aproximar o espectador desses
personagens e ajudar a contar essa história da forma mais orgânica possível. Eu
fotografei muito na preparação eles dançando, eles fazendo capoeira e fui me
aproximando e conquisando esse espaço ao ponto que eu achava que a câmera não
deveria ser nenhum empecilho para a movimentação desses atores e nem que fosse
perceptível, que eles se acostumassem com a minha presença e com a presença da
câmera. E logo eu percebi que, na verdade, o caminho talvez mais próprio para isso
fosse tratar a câmera como mais um personagem, um outro personagem.
Em contrapartida a essa movimentação da câmera que fosse a mais fluida
possível, mais próxima deles, tinham planos gerais e planos de suavidade, de um
valor estético e documental grande para contextualizar essa história.Tem a festa de
Iemanjá, o carrossel, os planos do trapiche, a grandiosidade e a proximidade desses
meninos que dormiam entre caixas de sapato e foguinhos e o mar batendo muito
próximo. Era muito importante contextualizar isso visualmente e os planos abertos e
mais poéticos eram fundamentais para fazer o contraponto.
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Como co-diretor do filme, qual foi o seu papel junto ao elenco jovem?
Era um grande desafio e a gente não podia fazer por menos porque os
personagens, por si só, eram apaixonantes, eram muito ricos. Os meninos trouxeram
elementos da história de vida deles já fantásticos.
O meu contato com os meninos desde a preparação foi muito importante para
mim como diretor de fotografia e como co-diretor do filme, porque eu precisava
entrender eles, a história de vida deles para poder me relacionar com eles de uma
forma franca. O conceito de câmera de estar próximo e de ser mais um personagem
para mim era importantíssimo de sentir como é que eles se movimentavam, como é
que eles sentiam aquilo ali e a relação deles comigo, porque eu tinha, da mesma
forma que os outros companheiros, que ser aceito ali naquele grupo. Eu tinha que me
movimentar próximo deles sem que eu me fizesse, me causasse estranheza a minha
presença.
Eu, também na figura de um cara mais velho, de diretor, de co-diretor, de
fotógrafo, eu tinha que ter um aspecto lúdico que eu fui criando esse espaço com eles
e, ao mesmo tempo, ter autoridade, porque eles pedem. Eles pediam, como todo
adolescente pede autoridade. Então, não podia existir mentira e eles são muito
verdadeiros, eles impuseram essa questão. Não fui eu quem impôs, foram eles quem
impuseram. E isso foi muito legal, porque ao mesmo tempo, eu tinha que ter um papo
reto com eles. É papo reto. Com eles funcionava dessa forma. Eles criaram uma
intimidade comigo e eu com eles, mas essa relação foi se construindo, se tornando
uma relação de profundo carinho e amizade, mas na hora da filmagem, eles sabiam
que a coisa era séria, que tinha que ter uma disciplina e que tinha que ter uma ordem,
tinha que ter uma hierarquia.
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ENTREVISTA com CARLINHOS BROWN (Trilha sonora)
Como foi o convite para fazer o filme?
Foi surpreendente. Quando Cecilia me chamou para fazer a trilha eu fiquei
primeiro emocionado, por gostar de Jorge, por ter uma relação, não só de ser baiano,
mas por ter familiares que sempre trabalharam com Jorge Amado e com Dona Zélia,
e aquilo para mim era inusitado.
Eu tinha uma compreensão oral dessa lenda dos Capitães da Areia, mas
nunca tinha lido o livro e o filme terminou me contando essa história de Jorge.
Quando eu vi inclusive o primeiro corte, puxa, como eu me identifiquei. Primeiro, logo
fui às lágrimas, porque é emocionante da forma que tudo é tratado: a religiosidade, a
educação, trabalho infantil, prostituição, abuso policial. Meu Deus, tantos temas que
são corriqueiros e que continuam atuais nos dias de hoje.
Como você vê a relação do filme a Bahia dos dias de hoje?
A relação do filme com esses temas da marginalidade na Bahia, condiz muito
com uma ação universal. Muito pouca coisa mudou desde quando o Seu Jorge
escreveu esse livro maravilhoso que é “Capitães da Areia”. Eu vejo que não mudou a
exploração do trabalho infantil, que não mudou esse tratamento que se tem com a
prostituição, com a figura da mulher, que não mudou o cuidado que a gente não tem
ou perdeu com a arquitetura e que a beleza também não mudou dentro de tudo isso.
O “Capitães da Areia” renova e retrata, por mais que tenha uma ideia que foi filmado
nos anos 40, anos 50, ele é novo porque essa Bahia ainda está lá, essa Bahia está
adormecida e tem muitos propósitos destes que precisam ser revistos.
Como é o seu processo criativo em termos de trilha sonora?
Primeira coisa, eu não tenho muita experiência em trilha sonora, embora já
tenha feito algumas. Quando eu falo experiência é quando você faz todo dia. Eu não
faço todo dia. Já participei de algumas trilhas, como “Speed 2” lá atrás, “Cidade
Baixa”, “Rio”, “Capitães da Areia”. Para mim, é sempre surpreendente. A melhor
forma para mim hoje e eu aprendi bastante com o “Capitães”, porque Cecília Amado
foi mais rígida, foi ela quem deu toda a condução, eu acho que, inclusive, ela fez duas
direções: a direção do filme e a direção da trilha e isso não é a direção musical, é um
encaixe. A minha conversa com ela, inicialmente, eu dizia que eu não queria fazer
uma música, eu queria que a música servisse ao filme, porque eu acho que o músico
que tem que acompanhar.
Qual foi a sua primeira fonte de inspiração na criação da trilha sonora do filme?
Eu acho que Jorge Amado. Ele é tão inspirador que não precisa ter enredo ou
tema. Quando você fala em Jorge Amado quase a palavra Bahia vem junto, porque
ele é a maior referência da Bahia. Ele é muito competente em tudo o que ele fez e
escreveu, mas ele tem um carisma… não sei se essa palavra “amor” que tem no
nome… Quando eu vejo falar de Jorge Amado, parece o homem que amou a todos e
que todos se revelaram para ele, porque ele revela a Bahia com muita forma.
Como é fazer um filme e uma trilha que passam por músicas que tem a energia
baiana da percussão e ao mesmo tempo tem uma vertente romântica?
O cinema em si dá uma possibilidade de sonho e sonhar, além de não custar
nada, não tem limites. Vamos dizer que ele terminou me dando oportunidade como
percussionista de trazer esse verdadeiro valor que a percussão no Brasil tem, esse
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barroquismo e essa primitividade que tem na percussão. Isso formata a percussão da
rua na Bahia. E eu toquei muito nesse filme. Uma das coisas que eu mais fiz foi botar
a mão, não foi passar a inspiração e a responsabilidade para outro.
Por outro lado, eu nasci num ambiente muito romântico, o bairro do Candeal,
aqui quando os casais brigavam eles subiam no chafariz e para se refazer cantavam,
faziam serestas. E pelo fato do bairro ser uma roça de terreiro, então as festas
sempre terminavam, mesmo as serestas, muito rítmicas e alegres e o beijo era
duradouro. Vamos dizer que eu não tenho essa dificuldade para essa comunicação
romântica por isso. Agora, o filme em si é muito romântico, um prato cheio.
Como a capoeira aparece no filme?
O filme dá uma oportunidade única para instrumentalizar, tocar, fazer coisas
positivas. Dentro da sua linguagem, ele cobra o futuro nas coisas, ele cobra um
futuro da Bahia, um futuro que preserva, um futuro que respeita, um futuro
ambientalmente respeitado. Jorge Amado, por si, me cobrava que eu fizesse uma
música de capoeira mais inovadora, diferente. A música “Capoeira Futuro” tem uma
base de capoeira de cavalaria, uma adaptação do toque de berimbau, e eu canto
como uma embolada que é uma vertente para o hip hop americano. A capoeira surgiu
como luta de autodefesa mas ela termina nos ensinando que a luta não se faz valia
da vitória ou da violência, mas talvez de chegar junto.
Como foi o seu encontro com os meninos e a sua relação com eles?
Quando eu entrei ali, eu me vi naquelas crianças, no desejo, na curiosidade. O
encontro com eles me trouxe muito a minha infância, e eu tinha certeza de que eu
estaria entrando numa história que mais do que parecesse com a minha vida, era a
minha história também.
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ENTREVISTA com JEAN LUIS AMORIM (Pedro Bala)
Qual a temática do filme Capitães da Areia?
Capitães da Areia fala sobre meninos de rua que roubam pra sobreviver e se
ajudam, gostam de ajudar uns aos outros. Entre eles tem algumas leis básicas como
não roubar deles mesmo ou que não pode ter mulher dentro do trapiche, mas essas
leis são infringidas. Com a chegada de Dora rola muita mudança entre eles: o
Professor e o Pedro Bala acabam se distanciando pelo fato do Professor também
gostar da Dora e ela gostar do Bala .
Esse tema da amizade é muito presente, a amizade no filme ela é tratada de
uma forma bem esclarecida, porque eles tem a amizade entre eles e se respeitam, se
respeitam bastante e independente do que acontece entre eles, estarão sempre
unidos, juntos, pra enfrentar qualquer coisa.
Você interpreta o protagonista do filme, Pedro Bala, como é esse personagem?
Pedro bala é o chefe dos Capitães da Areia, eu vejo ele como um paizão, ele tá
sempre ali ligado no que é que os meninos precisam, ele quer sempre ajudar os
membros do grupo. Qualquer coisa que acontece até fora do trapiche, com mãe
Aninha ou com o Padre José. Pedro ele quer se arriscar para salvar, ajudar as
pessoas do meio deles.
Como foi o processo que você passou para ganhar o papel de Pedro Bala?
O processo foi um pouco tenso, eu não acreditava que eu fosse ser o Pedro
Bala. Porque eu via muitos meninos que eram de teatro e a minha formação era de
músico, eu nunca tinha feito teatro nem cinema, então não botava muita fé em mim,
mas depois com os tempos de oficina eu fui pegando mais a base e fui me
entregando, me jogando.
Quando foi anunciado que eu ia ser o Pedro Bala eu não acreditei, eu fiquei
meio assim, será que é verdade? Mas depois a ficha foi caindo e eu amei saber, ter a
notícia de que eu ia ser o protagonista, principalmente quando fomos pro set de
filmagem. Com o tempo de prática eu fui adquirindo e aprendendo muito rápido as
coisas. A diretora, Cecília Amado, estava sempre ali, se a gente tinha alguma
dificuldade ela parava atentamente com a gente, conversava e procurava entender o
que era que tava se passando com a gente pra poder nos ajudar naquele momento
de dificuldade nas cenas.
Hoje, quando a gente vê o filme já pronto é muito gratificante.
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ENTREVISTA com ANA GRACIELA CONCEIÇÃO (Dora)
Como a Dora entra na história dos Capitães da Areia ?
Os “Capitães da Areia” são meninos que têm que roubar para sobreviver, mas
que têm amizade, que têm respeito, muito respeito entre eles e que, acima de tudo,
são muito unidos. Eles criam uma amizade como uma família.
Agora os meninos tem as suas leis e não aceitam mulher no bando. Com a
chegada de Dora eu acho que ela rompeu essa barreira de não ter mulher, de que é
proibido porque mulher vai atiçar os meninos e eu acho que, aos poucos, ela
conquistou a confiança de todos eles. Com o passar do tempo, eles foram vendo a
Dora como uma irmã, como uma amiga, como mãe, tendo uma referência.
E como é a sua personagem, a Dora?
Dora é uma menina que perdeu os pais muito cedo, tinha um irmão muito
pequenininho que ela teve que cuidar. Eu vejo Dora como uma menina-mulher, muito
guerreira, com atitude, com fibra, coragem, muito corajosa.
Fale um pouco sobre o triângulo amoroso Pedro Bala – Dora – Professor.
Quando Dora conheceu o Professor, acho que ela olhou para ele e viu um
amigo, um irmão, um companheiro que ela sabia que ela podia contar, porque ela
confiava. Já o Pedro Bala, quando ela olhou para ele eu acho que ela viu um herói ali
e pensou: “Pronto! É o amor da minha vida. É por ele que eu vou me apaixonar.”
Como foi a sua relação com os dois atores deste triângulo amoroso?
No início, eu não era muito chegada ao Jean (Jean Luis Amorim, o Pedro Bala)
não, a gente não tinha muita intimidade na época dos ensaios. Com o Robério
(Robério Lima, o Professor), eu fiz logo amizade, a gente sempre teve um chamego.
Com Jean foi com o tempo, com o trabalho, convivendo e a gente teve e tem uma
amizade muito forte até hoje.
Você era a única menina num grupo de um monte de homens. Como era lidar
com tantos meninos adolescentes?
Eu era a única menina entre vários meninos, mas é divertido porque os
meninos sempre fazem brincadeiras um com o outro e você se diverte, é bem mais
descontraído, é divertido e eles me respeitavam. Às vezes, chegava até ser
engraçado quando um falava qualquer besteirinha e o outro chegava e “Rapaz,
respeite Ana!”, era bem divertido.
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PALAVRA DE ROBÉRIO LIMA (Professor)
“O Professor é um dos garotos mais centrados do grupo, eu acho que ele é o
que tem a mente mais aberta para entender as coisas, é o único que sabe ler, gosta
muito de desenhar e ajuda o Pedro Bala a tramar os golpes. Além disso, ele é um
garoto que vive muito de sonhos, sonha muito. Às vezes, ele pensa no futuro, gosta
de prever as coisas, gosta de pensar no que vai ser e tem um grande sonho de ir para
o Rio de Janeiro e ser artista e poder trabalhar com a arte. Acho que é um pouco da
vida do Professor. “
“Eu acho que a cena mais difícil para mim, foi uma cena que se passa no fundo
de um restaurante, comendo resto de comida. Para mim essa cena foi muito tocante
porque traz um sentimento muito forte que é a fome. E aí eles estão comendo restos
de comida no fundo do restaurante, entre os cães, passando por uma humilhação.
Agora, foram tantas cenas que eu gostei de fazer! A do carrossel, por
exemplo, eu me diverti muito filmando, eu nunca tinha andado de carrossel e foi uma
experiência ótima!”
PALAVRA DE ISRAEL GOUVEIA (Sem Pernas)
“Os temas abordados no filme são a lealdade um pelos outros e o respeito que
todos tem pelo chefe, mas principalmente a liberdade que eles tem de poder fazer o
que quiserem a hora que quiserem porque não tem quem mande neles e é por isso
que eles moram na rua. Essa é a vontade dos garotos: ser livre. “
“A minha emoção quando eu soube que eu ia ser o Sem Pernas foi tão grande
que eu não consegui conter. Chorei muito. Acho que é uma coisa que eu sempre quis
na minha vida foi ser ator e eu estava conseguindo aquela oportunidade e agarrei
com toda a força.”
“Eu acho que preconceito não existiu no “Capitães da Areia”, não foi uma
palavra que postou no dicionário porque todo mundo ali sabe o que passa mesmo
tendo nossas preocupações em casa e eu estava passando por um momento feliz
com todo mundo, eles me aceitaram como qualquer outro.”
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PALAVRA DE PAULO ABADE (Gato)
“O meu personagem, o Gato, é um cara que pensa em ter algo, quer ter algo
grande na vida, quer ganhar dinheiro, ele não quer ficar por baixo. O Gato quer ser
alguém na vida, e sair daquela vida de ser menino de rua.”
“A paixão da vida do Gato é a Dalva. Ele é o mais vaidoso e gosta muito de
mulher...e eu também gosto.”
“O clima no set para mim era muito emocionante, porque, logo que a gente
chegou ali, praticamente não sabia exatamente o que a gente estava fazendo ali, só
sabia que a gente ia fazer o filme, mas a gente ainda não acreditava. Mas lá todo
mundo tratou a gente bem, cuidou da gente e mostrou o caminho. Então, para mim,
foi uma emoção e tanto!”
PALAVRA DE ANA CECÍLIA COSTA (Dalva)
“Quando a Cecília me chamou pra fazer o filme, eu achei linda a história do Capitães
da Areia, porque nos outros livros que eu havia lido do Jorge Amado as personagens
são personagens adultas, são mulheres, são pescadores. E esse não, são os
meninos, os meninos e a cidade de Salvador. O olhar dos meninos, a vivência deles
com aquela cidade, que é cidade em que eu fui criada, foi muito comovente para
mim.”
“A Dora é uma menina, mas mulher como símbolo é a Dalva, assim como beleza,
como sensualidade, a Dalva é a mulher de Jorge Amado, a brasileira, a mestiça, a
picardia, tudo isso ela traduz. É uma honra fazer uma personagem dessa.”
“A Dalva e o Gato são bichos da mesma espécie, são animais que se reconhecem,
são criaturas que se olham e que tem uma semelhança entre eles da vaidade, são
personagens bonitos no termo clássico da beleza, são personagens que querem estar
bonitos, que querem estar vaidosos, uma pedra que brilha mais chama a atenção
dela, é uma mulher, é o feminino e, ao mesmo tempo, dentro dessa condição mais
frágil”
“Eu tinha que ser muito sensível para jogar o jogo deles, não impor nada. Claro que
eu venho de uma outra formação, eu trabalho nessa profissão há mais tempo, eu
tenho mais idade, eu venho de um outro lugar, mas eu tenho que colocar tudo isso a
serviço, a dispor, de contar essa história que é a história deles. Então, se o meu
parceiro era o Paulo, o meu parceiro era o Gato, no caso desse filme e dessa história
em particular, era dele o jogo que eu tinha que jogar.”
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CECILIA AMADO (diretora)
A diretora carioca Cecília Amado iniciou sua carreira no cinema em 1995, ano
da “retomada” do cinema nacional, como assistente de continuidade no longametragem Tieta do Agreste, de Carlos Diegues, e ainda nessa função fez O que é
isso, companheiro? de Bruno Barreto, e Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende.
Foi com Rezende que ela estreou como assistente de direção no filme Mauá – O
Imperador e o Rei (1998). Na seqüência trabalhou como assistente de diretores
consagrados como Cao Hamburger, Helvécio Raton e Walter Avancini, tanto no
cinema (Onde Anda Você?, Jogo Subterrâneo, Batismo de Sangue,...) como na
Televisão em novelas e seriados (A Muralha, Cidade dos Homens, Mulheres
Apaixonadas, da Cor do Pecado, entre outros).
Em 2008 dirigiu o curta-metragem Minha Rainha e iniciou a produção do filme
Capitães da Areia, que marcará sua estréia na direção de filmes de longa-metragem.
Junto com Guy Gonçalves, Cecília é sócia da produtora Maga Filmes.
LAGOA CULTURAL (Produtora)
A Lagoa Cultural e Esportiva é uma produtora carioca atuante no mercado há
mais de dez anos, responsável por filmes como “O Veneno da Madrugada” de Ruy
Guerra (2005), e “Maúa – O Imperador e o Rei” de Sergio Rezende (1999), entre
outros. A filmografia combinada dos produtores executivos contratados pela Lagoa
Cultural para executarem o projeto “Capitães da Areia” conta com filmes expressivos
como Tieta do Agreste de Carlos Diegues (1996), For All, O Trampolim da Vitória
de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz (1998), Estorvo de Ruy Guerra (2000), Xangô
de Baker Street de Miguel Faria Jr. (2001), Brasileirinho de Mika Kaurismäki (2004).
ARAÇA AZUL (Co-produtora Bahia)
A Araçá Azul foi criada em 1996, desde então tem produzem vários filmes na
Bahia., dentre eles: Lotação de Paulo Alcântara, Cega Seca, Caçadores de Saci e
Vermelho Rubro de Sofia Federico, Preto no Branco, Hansem Bahia e Xisto Bahia
– Isto é Bom de Joel de Almeida, Na Terra do Sol de Lula Oliveira, O Anjo
Daltônico de Fábio Rocha. Em 2005 a produtora foi contemplada com o longametragem “Estranhos”, de Paulo Alcântara. Além de Capitães da Areia, a Araçá
Azul lançará em 2011 o longa-metragem Jardim das Folhas Sagradas de Pola
Ribeiro.
IMAGEM FILMES (Distribuidora)
A Imagem Filmes vem se consolidando cada vez mais no mercado de
entretenimento do país como uma distribuidora de filmes independentes que oferece
uma variedade de produções com qualidade, vindas dos quatro cantos do mundo.
Empresa nacional, atua nos segmentos de cinema, vídeo e televisão.
Atuando desde 1998, a Imagem Filmes lançou grandes produções, como Cidade
de Deus, Chicago, Chocolate, Kill Bill, Crash - No Limite, Os Normais 2, Sempre
ao Seu Lado, A Arvore da Vida, entre outros.
Sua carteira de filmes nacionais ampla e diversificada, contemplou em 2011 o
lançamento de filmes como Bruna Surfistinha, Estamos Juntos e Não Se
Preocupe, Nada Vai Dar Certo.
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DESDOBRAMENTOS SOCIAIS
A temática do filme Capitães da Areia chama a atenção para o
comprometimento social do projeto ao retratar com um olhar poético e
extremamente humano o drama da infância carente. Através da sua abordagem
moderna o filme pretende aproximar o público de um problema que pouco mudou
na sua essência, apenas se agravou, e muito, no risco e no comprometimento da
vida dessas crianças, em função da propagação do consumo e do tráfico de
drogas, além do aumento absurdo da violência, principalmente nas camadas
populares de onde são oriundas.
Ao olharmos por outro angulo, no entanto, percebemos que algo evoluiu
positivamente neste setor: a proliferação de entidades que, usando como
instrumento a arte-educação, se dedicam a resgatar crianças das ruas ou mesmo
prevenir que outras crianças acabem se envolvendo na marginalidade, representa
um respiro, uma ponta de esperança, em uma questão de tamanha gravidade. Por
isso decidimos que o projeto Capitães da Areia deve iluminar a ação dessas
entidades e dar espaço ao talento, ao frescor e à energia dessas crianças, heróis
na vida real, assim como no romance.
Nossa responsabilidade social vai além do conteúdo do filme. Todo o processo
de realização está voltado para a questão dos menores carentes. Começamos
estabelecendo parcerias com inúmeras ONGs que atuam em Salvador neste
setor, como o Projeto Axé, o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, o Circo Picolino, o
C.R.I.A., entre outras. Todo o elenco infanto-juvenil do filme, aí incluídos seus
protagonistas, será escolhido nessas ONGs. Através de oficinas preparatórias
traçamos com nossos meninos um paralelo entre a história dos Capitães da Areia
e suas próprias histórias.
Nos comprometemos ainda em levar um pouco do ofício do cinema a essas
organizações. Para isso vamos realizamos palestras ministradas por alguns dos
profissionais de nossa equipe e posteriormente selecionamos jovens para
trabalhar como estagiários nos diversos departamentos técnicos e artísticos do
filme.
Uma vez o filme Capitães da Areia concluído e distribuído no Brasil,
montaremos um “circuito” de exibição não comercial em parceria com as
secretarias de educação de diversos estados do Brasil incluindo um ciclo de
debates sempre voltados para essas organizações e comunidades carentes .
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