reinserção de um servidor público na equipe após diagnóstico de

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reinserção de um servidor público na equipe após diagnóstico de
REINSERÇÃO DE UM SERVIDOR PÚBLICO NA EQUIPE APÓS
DIAGNÓSTICO DE ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE
(Imagem "O grito" de Munch)
Wallace Medeiros Xavier (XAVIER, W. M.)
Instituição: Hospital Municipal Odilon Behrens
Endereço: Rua Formiga, n.º 50 – bairro: São Cristovão
CEP: 31210-690 – telefone: (31)32776248
E-mail: [email protected]
Cidade: Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil
INTRODUÇÃO
Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que a esquizofrenia afeta 1%
das pessoas durante a sua vida. A esquizofrenia está presente em todo o mundo, sendo a
prevalência da doença muito semelhante entre os diferentes países. Os primeiros
sintomas da doença geralmente surgem entre os 16 e os 25 anos no sexo masculino e
entre os 25 e os 30 anos no sexo feminino. De acordo com Giacon e Galera (2006), a
esquizofrenia é um transtorno causado por fatores biopsicossociais, que apresentam
longa duração, e períodos de crise e remissão, o que causa diversos danos e perdas, o
que causa diversos danos e perdas, onde o paciente geralmente apresenta
comportamentos típicos, porém seu curso não é típico, por apresentar vários episódios
ao longo do tempo. A esquizofrenia é um distúrbio que afeta as emoções, o pensamento,
as percepções e o comportamento. Os sintomas são: alterações do pensamento,
alucinações (sobretudo auditivas), delírios e perda de contato com a realidade.
Caracteriza-se essencialmente por uma fragmentação da estrutura básica dos processos
de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre
experiências internas e externas.
TIPOS DE ESQUIZOFRENIA
O termo esquizofrenia foi criado por Eugen Bleuler, em 1911 que determinou que a
desorganização de pensamento era o principal sintoma da patologia, e o nome usado
significa: mente fendida ou dividida. Os estudiosos concordam que, a esquizofrenia é
basicamente dividida em 5 tipos (Desorganizada ou Hebefrênica, Catatônica, Paranóide,
Residual e Indiferenciada), e estes são diferenciados através dos sinais, sintomas e
comportamento.
De acordo com Nogueira et al. (2002, p. 58), a Esquizofrenia Desorganizada ou
Hebefrênica, é o tipo de esquizofrenia que possui maior chance de deterioração inicial,
pois apresenta regressão acentuada a um comportamento primitivo. É caracterizado
pelos sintomas de desorganização e transtorno de pensamento, incoerência e
dissociação, afetividade e respostas sócio-emocionais inadequadas, aparência pessoal,
contato com a realidade precária, comportamento hilário e bizarro, maneirismo e
retraimento social. Existe nesse tipo de esquizofrenia um risco de heteroagressividade,
distúrbios eróticos acentuados e geralmente vem seguido de um grau maior de
deterioração. O paciente portador de Esquizofrenia Catatônica deve estar sob atenta
supervisão, pois podem apresentar agressividade a ponto de se ferirem e ferirem a
outros, além de apresentar maior risco de desnutrição, exaustão e hiperpirexia. É
caracterizada pelas alterações psicomotoras como: esturpor, rigidez, excitação,
negativismo ou posturas bizarras, acompanhadas de estereotipias, maneirismos,
mutismo e flexibilidades cérea. (CAETANO, PESSOA E BECHELLI, 1993, p. 12). A
Esquizofrenia Paranóide é o tipo mais ameno de evolução da esquizofrenia e de
acordo com Caetano, Pessoa e Bechelli (1993, p.12 - 13), apresenta como características
associadas, a ansiedade, querência, violência, alucinações auditivas, delírios
sistematizados e alterações das interações pessoais. Entretanto Nogueira et al (2002, p.
56), afirma que as principais características estão ligadas ao pensamento de grandeza e
perseguição, acompanhadas de delírios e alucinações auditivas, surto agudo, ausência de
sintomas catatônicos desorganizados, menor embotamento afetivo e completa que o
portador apresenta grande risco suicida e de agressão devido aos delírios, alucinações e
agitação. A Esquizofrenia Residual caracteriza-se pela permanência de manifestações
sintomáticas negativas após os surtos, afastamento social, comportamento excêntrico,
embotamento emocional, pensamento ilógico, inadequação afetiva, apragmatismo,
dissociação do pensamento e história anterior de pelo menos um surto de esquizofrenia
que geralmente se torna crônico. (CAETANO, PESSOA E BECHELLI, 1993, p. 13).
De acordo com Caetano, Pessoa e Bechelli (1993, p. 13 - 14), a Esquizofrenia
Indiferenciada é caracterizada pelos sintomas de delírios, alucinações, incoerência ou
comportamento desorganizado. Entretanto Nogueira et al. (2002, p. 59), afirma que esse
tipo é caracterizado pelos sintomas negativos evidenciados, e os dois concordam que a
esquizofrenia indiferenciada apresenta ausência de outros sintomas que possam ser
classificados em qualquer outro tipo de esquizofrenia.
Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de um indivíduo para o outro,
podendo aparecer de forma insidiosa e gradual ou, pelo contrário, manifestar-se de
forma explosiva e instantânea. Estes podem ser divididos em duas grandes categorias:
Sintomas positivos e sintomas negativos. Os sintomas positivos estão presentes com
maior visibilidade na fase aguda do transtorno e são as perturbações mentais muito fora
do normal, como que acrescentadas às funções psicológicas do indivíduo. Entende-se
como sintomas positivos os delírios – idéias delirantes, pensamentos irreais, idéias
individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo, por exemplo, um
indivíduo que acha que está a sendo perseguido pela polícia; as alucinações, percepções
irreais – ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais freqüente as
alucinações auditivo-visuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem
qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento, ansiedade,
impulsos, agressividade. Os sintomas negativos são o resultado da perda ou diminuição
das capacidades mentais, acompanham a evolução da doença e refletem um estado
deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das
relações interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento
social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento.
ESTUDO DE CASO DE UM SERVIDOR PÚBLICO DIAGNOSTICADO COM
ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE
O objetivo deste trabalho é relatar o caso de Rafael (nome fictício) que aos 20
anos de idade apresentou a sua primeira crise. Em 2009, Rafael foi aprovado em
concurso público para agente administrativo (nível médio) de um hospital público. Seis
meses após tomar posse, Rafael apresentou comportamentos que causaram estranheza
na equipe de trabalho, como perda de memória, alucinações e delírios persecutórios.
Falava que os pacientes internados no hospital zombavam dele e que alguns o estavam
perseguindo. A equipe, preocupada com estes comportamentos, encaminhou Rafael
para avaliação pela Gerência de Recursos Humanos. Submetido à perícia médica, ele foi
afastado por 15 dias. Quando retornou ao trabalho, Rafael estava com restrições quanto
o atendimento ao público. A Gerência de Recursos Humanos encaminhou Rafael para
readaptação no serviço gerenciado pelo psicólogo e autor deste trabalho. No primeiro
dia na unidade, foi realizada uma reunião com a equipe para apresentá-lo e Rafael falou
do seu quadro de esquizofrenia, mas que não precisavam se preocupar, pois não era
louco e também não “iria atacar ninguém”. Durante a execução das atividades no setor,
Rafael parava o serviço e ficava olhando para o computador ou ficava em pé, parado
com um braço erguido. Os servidores ficaram com medo e procuraram o gerente para
dizer que ele “não era normal”, ficava igual a uma estátua e estavam com receio que ele
fizesse algo contra eles. A intervenção da gerência aconteceu por meio de uma escuta
atenta de Rafael, o que possibilitou conhecer os seus hábitos e verificar a adesão ao
tratamento psicológico e psiquiátrico. Rafael contou que quando se sentia bem,
abandonava o tratamento. Para intervir com maior eficácia, foi feito contato com a sua
mãe que disse não ver problema dele abandonar o tratamento, pois “ele já estava
crescido”. Em contato com o Centro de Saúde que o acompanhava, foi relatada a
psiquiatra e a psicóloga, que tinha dias que Rafael não usava a medicação corretamente
e quando tomava ficava impregnado. Foi relatada também a fala da mãe e sugerido
intervenções familiares, visto que Rafael era um excelente servidor e, quando
estabilizado, mantinha bom relacionamento com a equipe e desempenhava as suas
funções com zelo e presteza. A Psiquiatra reavaliou a medicação, envolvemos a equipe
no processo de readaptação, a sua família e a equipe do Centro de Saúde (atendentes,
porteiros e equipe de enfermagem). Conversamos com ele sobre o seu comportamento,
da importância de dar continuidade ao tratamento. A equipe no local de trabalho
começou a envolvê-lo nas rotinas, sendo paciente, respeitando o seu tempo para
desenvolver as atividades. A família ficou mais presente e atenta ao tratamento de
Rafael. Seis meses depois, Rafael estava adaptado ao setor e passou a realizar outras
atividades depois do trabalho. Foi incentivado a fazer cursinho pré-vestibular,
matriculou-se em um curso de inglês e de dança de salão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho nos mostra a importância do local de trabalho como
promotor da saúde mental do trabalhador e destaca que o envolvimento da equipe
juntamente com os familiares é essencial para o processo de reinserção social do
servidor com quadro de doença mental. Dentre os recursos encontrados nas referências
teóricas utilizadas, que podem ajudar no tratamento da esquizofrenia estão: o
medicamentoso, a psicoterapia individual, a psicoterapia de grupo, intervenção familiar
e tratamento hospitalar. Neste sentido, um dos grandes desafios para as equipes de
Saúde Mental é envolver todos os atores (família, trabalho e equipe) no processo
terapêutico, levando em consideração as particularidades de cada sujeito, enxergando o
paciente em seus aspectos biopsicossociais.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Internet,
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DEJOURS C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo:
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GIACON, Bianca Cristina Ciccone; GALERA, Sueli Aparecida Frari. Primeiro
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