Culturas e Imagens - Laboratório Educação Imagem
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Culturas e Imagens - Laboratório Educação Imagem
Culturas e Imagens Maria Aparecida Padilha Ribeiro A IMAGEM OU O SENTIDO DA GLOBALIZAÇÃO? Desde meados da década de 90, precisamente pelos idos de 1994 (não faz tanto tempo assim), ouvia falar em globalização. Estudei o conceito nos livros de História, discuti seus impactos na aula de Geografia, li notícias sobre tal assunto nos jornais e revistas (das quatro capas semanais da revista Veja, três o tinham como matéria principal), ouvi falar dos impactos da economia global (dólar cai, dólar sobe, euro alto, câmbio), ouvi, mais do que nunca, diferentes línguas pelas ruas (até chinês!), tudo representando a "tal" globalização. Terminei o Ensino Médio, fui estudar Pedagogia, na Universidade Federal Fluminense (UFF), e lá estava a tal globalização presente em praticamente todas as disciplinas; em Políticas Educacionais estudei os impactos da globalização no sistema de ensino; em Trabalho e Educação estudei a formação dos trabalhadores em tempos de globalização, a mudança na base microeletrônica. Depois, no mestrado, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), qual não foi meu objeto de estudo? Educação e Comunicação, especificamente os blogs dos jovens, que vivem imersos sobre a influência da tecnologia, com fundamento na globalização e na pós-modernidade, uma interface entre tecnologia, educação e formação da identidade. Enfim, depois de tanta leitura e discussão confesso que o verdadeiro sentido da globalização só me foi percebido quando mudei de país, do Brasil para Noruega. Em um dos meus solitários almoços caseiros, observei meu prato, em um estalo vi a imagem que representava o conceito de globalização. Reparei que ele era composto por um arroz norueguês, um feijão chileno, uma carne de porco norueguesa, um espinafre sul-africano, mais pimentão australiano e, como sobremesa, um kiwi da Nova Zelândia. Fiquei pasma! Logo o conceito me veio à tona. Corri para cozinha, abri o armário e olhei os outros produtos, li os rótulos: café francês, leite condensado turco, azeite português, feijão americano e norueguês, chá inglês e chinês, macarrão italiano... Abri a geladeira e encontrei maçã argentina e norueguesa (uma delícia!), melão brasileiro, pêra norueguesa (em um formato totalmente diferente do que eu conhecia), espinafre australiano, alho coreano... Liguei a televisão e mudei os canais para conferir, os quais eram: inglês (BBC e Euro News), americano (CNN), francês (TV5), norueguês (NR 1, NR 2, NR 3) e ainda um canal americano (Disney Chanel) com tradução norueguesa. Olhei ao redor, os móveis eram noruegueses (mas, dizem que boa parte da madeira vem do Brasil) e os adereços "made in China" ou "made in Corea"; os sapatos produzidos em Zimbabue; as flores holandesas e muitas outras coisas que representavam, em imagens concretas, o sentindo da globalização. Fiquei com sensação de nunca ter olhado ao redor, percebido o meu próprio cotidiano. E, ainda eu, professora formada em Miracema, cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, perdida em um canto gelado do mundo. Fico me perguntando se em tempos de crise era melhor perder “tal” sentido. Mas, achei melhor continuar questionando qual é o verdadeiro sentido da globalização e como ele está representado no nosso cotidiano. Uma reflexão necessária aos pais, professores e demais profissionais envolvidos com o processo educativo, seja em qualquer parte do mundo. ........... Sobre o (a) autor (a): √ Maria Aparecida Padilha Ribeiro: Mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde pelo Núcleo de Tecnologia Educacional nas Ciências e na Saúde (NUTES), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil. Pedagoga pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Brasil.