Março/Abril - Eu Sou Famecos

Transcrição

Março/Abril - Eu Sou Famecos
História
Maria Joana Avellar/Hiper
Jango foi
envenenado
no exílio?
Página 5
Henry Corrêa/Hiper
ditadura
Os Flávios
venceram
a repressão
Tavares, Schilling e Koutzii
Página 4
Ela venceu as prévias
eleições
literatura
PT vai de
Maria do
Rosário
Machado
supera
a morte
Página 3
Página 9
hipertexto
Ano
dez
Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril de 2008 – Ano 10 – Nº 62
Camila Domingues/Hiper
Uma Porto Alegre de 236 anos
As linhas
do tempo
Página 7
Tibete usa
Olimpíada
na luta pela
libertação
Protestos reforçam debate
sobre a falta de liberdade
de imprensa na China
Página 8
Vinícius Carvalho/Hiper
Ousadia, charme e sedução em um desfile de modas na capital
Passarela em ensaio fotográfico
Página 6
2 abertura
Porto Alegre, março-abril 2008
Conto de fadas às avessas
Editorial
O macro e o micro
Está na essência do jornalismo o caráter internacional. O desejo por informações e notícias do
que ocorre em outras nações guia
os profissionais da comunicação
e também os consumidores dos
produtos midiáticos. No Hipertexto não é diferente. Na edição
de abril, há duas matérias sobre
o conflito no Tibete. Na primeira,
o repórter Luciano Verelmann
contextualizou a luta do povo
tibetano pela independência. Na
segunda, Rafael Codonho escutou
um alemão morador de Pequim e
uma chinesa para mostrar como
os protestos na província são veiculados na mídia estrangeira. As
duas matérias complementam-se.
Mais do que isso: fazem refletir
sobre a censura na China.
A falta de liberdade de imprensa já foi enfrentada no Brasil
e países da América Latina em
períodos de ditadura. Maiara
Andrade escreveu sobre a home-
nagem que a Assembléia Legislativa prestou para os três flavios
que foram vítimas da repressão.
A professora universitária Flávia
Schilling, o ex-deputado Flávio
Koutzii e o jornalista Flávio Tavares. No Uruguai, a imprensa também sofreu com o governo militar. O jornal El Popular teve seu
fechamento decretado. Para não
perder os registros fotográficos da
época, Aurélio González, chefe do
setor de fotografia, procurou um
lugar seguro para escondê-las. A
repórter Thais Silveira descreve
como as fotos foram encontradas
mais de 30 anos depois.
Também está na essência do
jornalismo a proximidade. A candidata à prefeitura de Porto Alegre, Maria do Rosário (PT), concedeu entrevista falando da conjuntura política, da disputa e da
administração atual. Boa leitura!
Paula Sperb, editora
hipertexto
Por Maurício Círio
Era uma vez, na pátria verdeamarela, um misterioso saco de
dinheiro. Ali, em posse privada
(de alguns) estaria o que antes
havia pertencido a muitos. As
notas emboladas eram suspeitas,
algumas mais novas, outras mais
antigas. Então, eis que num súbito ato de verdade, alguém resolve
abrir os laços do saco e passar a
limpo todas as falcatruas do lendário país da malandragem.
No recheio, aparece de tudo.
Mensalão calculado e esperto;
dinheiro usado para comprar
políticos que não valem um
centavo. Impostos geram lucros
infindáveis ao governo que parece não saber ao certo o que fazer
com tanta grana. Uma justiça
lerda e dolorosa realiza processos
que demoram anos para serem
concretizados, e enquanto isso,
famílias continuam desabriga-
das, vítimas da má construção de
suas moradias próprias. Reitores
moram em apartamentos milionários, com lixeiras que valem
ouro. Bancos debitam centavos,
gerando milhões para seus cofres. Há uso desenfreado e sem
limites dos cartões de crédito
corporativos.
Um acidente aéreo em pleno
local de pouso; aeroportos mal
confeccionados e sem estrutura.
No chão, estradas esburacadas,
mesmo diante de pedágios que
cobram o olho da cara. A licença
para carteira de motorista a custos altíssimos e alunos freqüentemente rodam nos exames da
habilitação. Por baixo do pano,
R$ 44 milhões desviados.
Brinquedos caríssimos são
vendidos sem qualidade, o bastante para serem perigosos às
crianças e sem graça nenhuma
aos pais aflitos. Carros de luxo,
com dispositivos que cortam o
dedo dos consumidores que não
se tocaram de comprar a tal da
“borrachinha” para proteção.
Embalagens que não informam
claramente os atributos do produto, vindo a desrespeitar e ainda
pôr em risco a saúde dos usuários das marcas ditas confiáveis.
Produtos de prateleira descaradamente vencidos. A fraude do
leite que gerou alta desconfiança
nas principais marcas de um dos
mais importantes alimentos para
o ser humano. E o Inmetro sempre apontando erros que nunca
são corrigidos.
As lambanças são tão incontáveis quanto o dinheiro perdido.
Nessa idéia de “infinito” que está
o motivo de tanta preocupação.
O clichê “até quando?” nunca foi
tão pertinente e amedrontador.
Enquanto isso, nesse absurdo
conto de fadas, cada personagem
vai tentando encontrar seu próprio conceito de “final feliz”.
Crônicas da China
Um brinde à amizade em mesa de padaria
Por Rafael Codonho
Já era rotina. Eu ia para a padaria
perto do meu condomínio e lá ficava por
horas. No início, levava um notebook
emprestado, enviava uns e-mails, lia as
notícias do Brasil e as crônicas do Lucas
Mendes e Ivan Lessa. Yellow Submarine
era tocada todos os dias. Eram quatro
mesas, duas altas e a outra metade baixa.
Eu tinha preferência por uma, bem no
cantinho, refugiada; atrás de mim, separados por apenas uma vitrine, um dos
funcionários fazia bolos. Eles eram lindos, confeccionados com uma habilidade
de artesão e poderiam ser selecionados
entre dois cadernos com diversas opções.
Saí de lá graduado. A decepção vinha
quando percebia que por dentro os bolos
eram sempre iguais: a mesma massa, o
mesmo creme; só mudava a cobertura.
Não que eu tenha preferido me abster de
comer um bolo da gloriosa padaria. Comi,
sim, e foi num aniversário de uma pessoa
muito querida. No entanto, obviamente,
sem muitas expectativas. Tinha aparência de chocolate e foi entregue à porta de
meu apartamento no horário combinado,
com uma coroa de papel para o agraciado
pelo presente. Não nego que era bem
simpático.
Aquela padaria era minha segunda
casa. A família que mantinha o local
me tratava de maneira muito amigável,
diferente dos outros estabelecimentos
da cidade. Vez ou outra ensaiava um
mandarim, no começo mal-falado e tímido, depois apenas mal-falado. O dono
sorria e corrigia minha pronúncia. Por
lá, encontrava outros moradores, meus
melhores amigos, Michael e Natalie.
Comíamos bolachas, pães, salgados e
uma torta de nata, portuguesa de nome
apenas. Quando comecei a trabalhar,
era lá que eu montava meu escritório:
computador, mouse, fone de ouvido e um
chá com leite, sabor de batata rosa. Eu era
figura freqüente lá, quase uma caricatura.
Hipertexto
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,
Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane
Dominava meu ponto como um mendigo
acompanhado de seu cão se apodera de
uma esquina coberta.
Terminado o expediente, íamos para
o restaurante de sempre, um chinêsárabe que servia espetinhos de carne de
ovelha apimentados, um tipo de pão assado, além de uma variedade de massas.
Na primeira vez que passei por aquele
restaurante, dei uma risada para uma
amiga e falei: “Temos que avisar aqueles
estrangeiros que este lugar é muito sujo,
que eles podem ficar doentes aqui”. Eram
Mike e Naty, na época desconhecidos.
Depois se tornaram meus guias em tudo
que se relacionava a China e mandarim.
Moravam no país há 3 anos e tinham
passado por tudo que um estrangeiro
recém-chegado se assusta: infecção alimentar, ser enganado nas situações mais
incomuns e a incomunicabilidade. Foram
eles que me apresentaram também os
restaurantes que eu temia e evitava com
uma teimosia infantil. Cedi.
Michael era de Las Vegas, mantinha
uma barba que o envelhecia 10 anos. Natalie nasceu no Alaska e tinha uma pela
branca que contrastava com seus olhos
também claros, azuis. Não mantinham
luxos, moravam num apartamento simples e alegavam que a qualidade de vida
na China era melhor do que nos EUA.
Em Pequim, eles achavam emprego fácil,
lecionando inglês, ganhavam bem e trabalhavam pouco. Ao Mike eu perguntava
sobre os republicanos e democratas. Eu
provocava Naty, falando que Alaska
não era parte dos Estados Unidos e
que ninguém morava lá. Ela respondia,
fingindo ter raiva: “You *#@*%# south
american!”. Mas, a gargalhada veio meio
mesmo quando ele me ensinou como se
falava ginecologista em mandarim: fuke
yisheng (pronúncia: fucã).
Eles voltaram para os Estados Unidos
poucos dias antes de eu retornar ao Brasil
e Pequim já não tinha a mesma graça.
Eles eram incondicionais.
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Finger
Produção dos Laboratórios de Jornalismo
Gráfico e de Fotografia.
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Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação
e edição), Celso Schröder (arte e editoração
eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
ESTAGIÁRIOS:
Gerente de produção: Thais Silveira
Editores: Paula Sperb e Sérgio Giacomel
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Lima, Paula Letícia Nunes da Silva, Raphael Ferreira, Rodrigo Nunes e Tamara
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Redação: Bernhard Schlee, Bruna Weis
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Callai, Júlia Timm, Leonardo Serafim,
Luciano Valermann, Maiara Andrade,
Maurício Círio, Pamilli Braga, Patrícia
Repórteres Fotográficos: Amanda
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Cristiano Lima, Fernanda Botta, Guilherme Santos, Henry Corrêa, Isadora
Neumann, Júlia Otero, Laura Fraga,
Luísa Kiefer, Maria Joana Avellar, Pedro
Belo Garcia e Pedro Revillion.
hipertexto
capital 3
Porto Alegre, março-abril 2008
Por Fernando Rotta Weigert
Após quatro anos longe do comando da cidade que foi símbolo
para o partido, o PT pode voltar à
prefeitura com Maria do Rosário,
escolhida pelos seus filiados para
tentar retomar o poder. A candidata avalia que hoje o partido
está mais maduro. Nesta campanha, Rosário quer o “PT de cara
nova”, porém sem esquecer de
tudo que já fez por Porto Alegre.
Na busca de um vice, a prioridade é alguém de outra legenda.
“Mas sem essa de unir quem não
tem nada a ver, não dá para unir
quem está no governo Lula com
quem esteve no governo Britto”,
ressalta a candidata e deputada
federal. Os projetos políticos
devem ser parecidos, inclusive o
Partido dos Trabalhadores ainda
não apresentou um plano para a
cidade porque deseja desenvolvêlo junto ao possível aliado.
Maria do Rosário é natural
de Veranópolis, nasceu em 22
de novembro de 1966, formada
em pedagogia pela UFRGS com
especializaçao na USP. Em 1992,
foi eleita vereadora pelo PC do
B e repetiu o feito em 1996, já
no PT. Foi deputada estadual
(1999-2002) e federal (20032006). Nas últimas eleições, foi
reeleita deputada federal, cargo
que deixará se for eleita prefeita
de Porto Alegre.
A primeira mulher a concorrer à prefeitura da capital gaúcha
pelo PT vê no quadro estabelecido, em que mais duas mulheres
concorrem, uma qualificação do
pleito. Entretanto, frisa que as
mulheres não debaterão sozinhas, visto que outras candidaturas estão em formação. Hoje,
Maria do Rosário quer vice de
outra legenda próxima ao PT
Candidata defende alianças, critica adversários e o prefeito Fogaça
Hnery Corrêa/ Hiper
além de Rosário, estão na disputa
pela prefeitura, as candidatas e
também deputadas federais Luciana Genro (PSol), e Manuela
D’Ávila (PCdoB).
Entre as rivais, Rosário observa que Luciana Genro segue a
linha de alianças, como seu partido faz em nível nacional. Manuela
D’Ávila tem uma política de alianças que causa certa estranheza à
candidata petista, “não se pode
ter um pé no governo Lula e outro
no governo Yeda, são projetos totalmente diferentes”. Para Rosário, a candidata do PCdoB, como
teve uma experiência de dois anos
na Câmara Municipal de Vereadores, deve tornar o debate mais
rico. Manuela tem buscado apoio
de partidos que não têm a mesma
linha do PCdoB, por exemplo, o
PPS, legenda do ex-governador
do Estado Antônio Britto.
Prévia interna
As prévias do partido foram
acirradas, Maria do Rosário saiu
vitoriosa, com apenas 56 votos
frente seu concorrente, Miguel
Rosseto. O ex-ministro de Desenvolvimento Agrário, era apoiado
por grandes forças da política
gaúcha, como ex-governador
Olívio Dutra e os ministros da
Justiça, Tarso Genro, e da Casa
Civil, Dilma Rousseff. Mesmo
assim Maria do Rosário foi a mais
votada nas urnas. “Eu sempre
afirmei que cada filiado era um
voto. O voto do Tarso ou do Olívio
não são mais importantes que o
do filiado que mora na Bom Jesus
ou em Ipanema”, posiciona-se.
Mesmo não sendo apoiada pelas
correntes mais fortes dentro do
Rio Grande do Sul, ela crê que o
diálogo, agora, é com a populaçao
e não mais dentro do partido. “A
esquerda hoje está desafiada a ter
menos dogmas e mais abertura ao
diálogo”. Crítica a Fogaça
A administração José Fogaça
mudou de forma brusca algumas culturas da cidade de Porto
Alegre. Entre as mudanças, são
citadas a alteração no plano diretor do município, autorizando
a construção de prédios mais
altos em bairros antigos; proibiu
estabelecimentos comerciais de
manter mesas na rua após a meia
noite; troca de terceirizadora de
serviço no projeto de saúde da família, deixando a população mais
carente de atendimento médico
por um mês e o projeto portais da
cidade, que prevê o deslocamento
dos terminais de ônibus do centro
para a periferia. Para a candidata
A deputada federal derrotou nas prévias a cúpula do partido
petista, o município retrocedeu
dez anos. “Voltou-se ao tempo
do clientilismo político”. Para
Rosário, o projeto Portais da
Cidade mais parece a famigerada
baldeação, porque a população
terá que descer de um ônibus
e subir em outro, além de não
resolver o problema do trânsito
na capital.
Todos os serviços da Capital
foram reduzidos durante essa
gestão, reclama Rosário. Isto
deve ser combatido com uma
administração eficiente, que
define prioridades. Na questão
do trânsito, o projeto petista
prevê a criaçao de um metrô, em
parceria com o governo federal,
que deve ir da Avenida Bento
Gonçalves até o Campus do Vale
(UFRGS), passando pela PUC, e
estender-se à Zona Norte. Além
disso, todos os novos projetos,
explica a candidata do Partido
dos Trabalhadores, voltarão a ter
ampla participação da sociedade
em seu desenvolvimento.
Implantação do cartão eletrônico nos ônibus gera filas e reclamações
Por Edmar Gomes
A cantilena do “vale-vale” praticamente desapareceu no centro
de Porto Alegre, mas a fichinha
verde do vale-transporte continua em uso e não há data certa
para sua substituição pelo cartão
eletrônico. A Empresa Pública
de Transporte Coletivo (EPTC)
informa apenas que o prazo máximo para a comercialização do vale
não deve passar desse ano.
A implantação do Sistema
Guilherme Santos/ Hiper
Ficha verde continua em uso no transporte coletivo da Capital
de Bilhetagem Eletrônica (SBE)
na Capital se realiza em etapas
e a expectativa inicial da EPTC
de que, as fichas de ônibus começassem a ser substituídas
em abril de 2008 ficou apenas
na intenção. Enquanto isso os
usuários reclamam das filas que
se formam na porta de acesso aos
coletivos, devido à lentidão do validador na leitura dos dados dos
cartões em uso por estudantes e
aposentados.
A instalação da aparelhagem
técnica e a adequação dos coletivos estão concluídas desde
janeiro deste ano, dentro do
prazo previsto. Porém, a parte
prática de adoção do sistema parece longe da realidade, conforme
opinião de usuários. Passageiros
reclamam das filas ocasionadas
pela demora da leitura dos cartões, falta de treinamento dos
cobradores e erros apresentados
pela máquina. O estudante de
medicina Rafael Lessa reconhece
que o sistema aumenta a segurança em razão da diminuição da
circulação de dinheiro dentro do
ônibus, porém a demora na fila e a
falta de paciência dos cobradores
causam desconforto.
O uso dos cartões já é experimentado pelos estudantes desde
fevereiro de 2008, enquanto
os de vale-transporte e de usuários avulsos foram entregues
em março. A frota de ônibus de
Porto Alegre foi devidamente
adequada na parte interna, com
alteração na posição da roleta.
O cobrador está mais perto do
motorista e os assentos especiais
estão situados no meio do carro.
O assessor de imprensa da EPTC,
Cláudio Furtado, alega que a
demora, em comparação com a
de quando eram usados somente
vale transportes, é mínima. “O
projeto garante mais segurança
no interior dos ônibus e mais
conforto”, garante.Para ele, o
costume virá com o tempo. “No
início, as mudanças são mais
lentas, a própria agilidade dos
cobradores auxiliará na rapidez
do processo”, conclui.
A demora, no caso de Porto
Alegre, deveu-se a necessidade
de encontrar uma fórmula de
financiamento que fosse aceita
pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Sendo a EPTC órgão
gestor do projeto e a operacionalização de responsabilidade a
cargo da Associação de Transportadores de Passageiros de Porto
Alegre (ATP), o financiamento
foi liberado pelo Banrisul, agente
financeiro repassador de recursos
do BNDES. O empréstimo está
orçado em R$ 27,7 milhões. O
apoio técnico-científico ao projeto
é da PUCRS. Estima-se que todo
o investimento para implantação
do TRI seja compensado pelas
vantagens que a bilhetagem trará
para o sistema, não causando repercussões extras na tarifa.
4 memória
Porto Alegre, março-abril 2008
hipertexto
Os Flávios
Ditadura: lembrar para não reviver
Por Maiara Andrade
Há 60 anos, a Organização
das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Depois disso,
o Brasil foi submetido à ditadura por 20 anos. Os brasileiros
foram privados de liberdade de
expressão e alvos de violência
física e humilhações. Os direitos
humanos foram postos de lado.
Nos países vizinhos a situação
não foi diferente nas décadas de
70 e 80. No chamado Cone Sul,
termo que se refere aos países
do extremo sul da América do
Sul, Brasil, Uruguai, Argentina,
Chile e Paraguai tiveram regime
ditatorial no período.
Para que a sociedade não
esqueça os momentos de repressão, o deputado Adão Villaverde
(PT) reuniu, em 25 de março, na
Assembléia Legislativa, algumas
figuras que foram vítimas da
repressão como os três flávios,
isto é, a professora universitária
Flávia Schilling, o ex-deputado
Flávio Koutzii e o jornalista Flávio
Tavares. Villaverde, em seu discurso, destacou a importância dos
movimentos populares da época e
dos grupos de defesa dos direitos
humanos. Para ele, a oposição
à ditadura apareceu de diversas formas, através de setores
populares, grupos da sociedade
civil, instituições democráticas,
estudantis, e partidos políticos,
que foram fortemente reprimidos
pela censura, cassação de direitos
políticos, prisões e até mortes. Foi
o que aconteceu com o estudante
de 18 anos, Edson Luiz, morto em
conflito com a polícia militar em
frente ao restaurante universitário Calabouço, em 1968, no Rio, e
com o jornalista Vladimir Herzog,
em 1975, em São Paulo.
Também foi lembrada a anistia, ocorrida em junho de 1979,
fundamental para o processo
de redemocratização do Brasil.
Muitos brasileiros exilados ganharam o direito de retornar ao
país, enquanto eram conhecidos
aqueles dados como desaparecidos ou mortos. O período da
ditadura deixou seqüelas para
os que sofreram diretamente e
para nação em si. Nem tudo foi
esclarecido. Por isso, Villaverde
disse ser necessária a abertura
completa dos arquivos do regime
arbitrário.
Na homenagem da Assembléia Legislativa, foi relembrada
a história dos três convidados que
como vítimas testemunharam
a atuação conjunta das forças
repressivas dos países do Cone
Sul que combatiam duramente os
movimentos que ousam discordar
da sua orientação política.
A educadora
Gaúcha, Flávia Schilling foi
morar no Uruguai aos dez anos,
com o pai, o historiador Paulo
Schilling, que havia se exilado
devido ao golpe militar no Brasil
de 1964. Ela foi presa em 24 de
novembro de 1972, com 18 anos.
Maria Joana Avellar/Hiper
seguinte, depois de uma campanha internacional liderada pelos
jornais Excelcior e Estadão. Foi
para Lisboa e só voltou ao Brasil
em outubro de 1979, após a anistia política. Hoje, Flávio Tavares
é colunista do jornal Zero Hora
e autor dos livros “Memórias do
Esquecimento” e “O dia em que
Getúlio matou Allende”. Flávio
Tavares garante que mantém todas as suas posições da época. “O
que mudou foi a época”, mas admite: “Hoje sou mais maduro.”
O político
Schilling, Koutzzi e Tavares, ex-presos políticos, foram hoemnageados no RS
Natural de Santa Cruz do Sul, foi
detida em Montevidéu, acusada
de ser militante do grupo político
Tupamaros. Depois de passar
por diversos quartéis, viver sem
comunicação alguma, sofrer humilhações e castigos corporais, foi
libertada em 14 de abril de 1980,
após intensa campanha feita no
Brasil e na Europa. “Finalmente
esse país, mesmo com defasagem
de 50 anos em relação a outros
países, começa a universalizar
o acesso à educação, isso é um
avanço, é muito bom”, disse
Flávia. Formada em pedagogia
pela PUC de São Paulo, hoje ela
é professora de educação na USP.
Escreveu dois livros que retratam
seu tempo de prisão: “Querida
Liberdade” e “Querida Família”.
O jornalista
Flávio Tavares nasceu em
Lajeado, Rio Grande do Sul, em
1934. Foi preso em 1964, pela
primeira vez, em Brasília. Em
1967, foi acusado de ser o mentor
de uma guerrilha no triângulo
mineiro e de ser o personagem
“doutor Falcão”. Foi preso novamente dois anos depois, por
participar de uma operação no
Rio de Janeiro que libertou nove
presos da penitenciária Lemos
Brito. Libertado em 1969, em
troca do embaixador dos Estados
Unidos no Brasil que havia sido
seqüestrado, foi para o exílio no
México e depois se transferiu para
a Argentina. Detido em Montevidéu, em 1977, ganhou novamente
a liberdade em janeiro do ano
Em 20 de março de 1943, Flávio Koutzii nasceu em Porto Alegre, onde estudou economia na
UFRGS. Já militante político, em
1970, deixou o Brasil por causa de
perseguição política. Foi preso em
1975, na Argentina, onde ficou até
1979. Depois de livre, exilou-se
na França, e só voltou ao Brasil
em 1984. “Na época da ditadura,
sem liberdade de imprensa, sem
habeas corpus, a esquerda era
massacrada: pau, prisão, exílio ou
morte. Hoje é um novo tempo”,
respira. Eleito deputado estadual
pelo PT três vezes, Koutzzii foi
secretário de estado no governo
Olívio Dutra. Escreveu o livro
“Pedaços de Morte no Coração”,
relato sobre sua experiência nas
prisões da Argentina. Nas últimas
eleições parlamentares de 2006,
resolveu não concorrer a mais
uma reeleição, mostrando-se
desiludido com rumos da política
brasileira.
Henry Corrêa/Hiper
Fotógrafo resgata filmes da repressão uruguaia
Por Thais Silveira
Imagine fotografar um período muito importante da história
do seu país e, devido à ditadura
vigente na nação, ter de esconder
o material para evitar que essa
parte da história se perca? Isso
aconteceu com Aurélio González, fotógrafo marroquino que,
durante mais de 30 anos, teve
de conviver com a incerteza da
existência de suas imagens.
Aurélio González trabalhava
no diário El Popular, de Montevidéu, como chefe do setor de
fotografia. Em 1973, quando o
governo militar uruguaio decretou o fechamento do jornal,
Gonzáles foi incumbido de encontrar algum lugar seguro para
que fossem guardadas todas as
imagens que registrou durante
um dos momentos mais tensos
da ditadura do Uruguai. No dia 6
de julho de 1973, às 2h, González
escondeu o arquivo fotográfico
dentro de latas de alumínio na
garagem do prédio onde funcionava o jornal.
O fotógrafo, na época com
56 anos, foi preso. Partiu para o
exílio e só retornou ao Uruguai
em 1985. Não teve mais notícia,
nenhum comentário sobre as
imagens, ou sobre alguém que
pudesse ter encontrado o material. “Não queria crer. Era impossível que tudo aquilo tivesse desaparecido”, conta. Mas González
sentia que poderia haver uma
esperança. “Eu sabia que ainda
existiam, mas não sabia aonde”,
relata emocionado.
O local onde foram escondidos os negativos passou por
várias reformas e o material só
foi reencontrado em 31 de janei-
ro 2006, por intermédio de um
jovem que trabalhava no edifício
e que possuía algumas das latas
onde foram guardados os negativos. Como González e seus
ajudantes no resgate não tinham
autorização, invadiram o prédio à
noite e, com o auxílio de ímãs, retiraram das tubulações as latas de
alumínio contendo mais de 50 mil
fotogramas. Imagens das décadas
de 60 e 70 da história uruguaia.
São fotografias do cotidiano dos
trabalhadores, a movimentação
política na capital e a reação às
mudanças do regime político durante as décadas de 60 e 70.
Devido aos mais de 30 anos
que permaneceram fechadas, as
latas estavam soldadas e não era
possível abri-las. Mas, uma força
mágica e estranha, como definiu
González, criou uma proteção.
A umidade excessiva as salvou.
Emoção: González recuperou os negativos, 36 anos depois
“Quando abri uma das latas,
quase fui ao chão. Ver o rosto de
antigos companheiros de muitos
anos foi muito emocionante.
Sinto que a vida me premiou”,
disse na sua passagem por Porto
Alegre, no início de abril.
Os negativos estão sendo
recuperados e digitalizados pelo
Centro Municipal de Fotografia de
Montevidéu e tem a ajuda de dois
personagens que foram vítimas
da Operação Condor, Universindo Diaz e Lilian Celiberti. Os dois
foram seqüestrados, em 1978, em
Porto Alegre, e levados ao Uruguai, por policiais brasileiros que
atuavam em conjunto com órgãos
de repressão de países do Cone
Sul. Até o final do ano, deverá
ser publicado um livro sobre o
resgate dos negativos.
hipertexto
política 5
Porto Alegre, março-abril 2008
Só exumação pode comprovar
assassinato de Jango no exílio
Mas não há garantia de que o veneno continua na ossada 31 anos depois
Por Gonçalo Valduga
A única possibilidade de confirmação da causa da morte do
ex-presidente João Goulart no
exílio, em uma de suas fazendas
na Argentina, em 1976, é a exumação do cadáver, segundo dois
especialistas em medicina legal
ouvidos pelo Hipertexto. Mesmo
assim, dependendo da substância
e do estado de conservação da
ossada, pode não haver certeza,
como exige a legislação para a
emissão de um laudo conclusivo.
O tema morte de Jango ressurgiu com a declaração de Mário
Neira Barreiro, 54 anos, ex-agente
do serviço secreto uruguaio, de
que os frascos do remédio que
o ex-presidente tomava para o
coração teriam sido trocados por
veneno. Barreiro afirmou que
integrava a operação Centauro,
responsável pelo monitoramento
diário de João Goulart em sua
fazenda no Uruguai. Atualmente,
ele cumpre pena de 11 anos no
Presídio de Segurança Máxima
de Charqueadas (RS) por crimes
de assalto a banco, porte ilegal de
armas e contrabando.
O perito do Instituto Médico
Legal de Porto Alegre (IML/RS),
Manoel Constant Neto, especialista em antropologia forense (ciência de análise de restos humanos
há muito enterrados), afirma que
existe a possibilidade de se descobrir a causa da morte de Jango
através de perícia, mas que o
procedimento depende de alguns
outros fatores, como o estado de
conservação da ossada e o tipo
de substâncias que teriam sido
usadas. Manoel foi um dos dois
peritos gaúchos chamados para
ajudar com depoimentos técnicos
a comissão externa da Câmara
dos Deputados que investigou a
causa da morte do ex-presidente,
no ano 2000.
“É possível descobrir a causa
da morte em um corpo enterrado
há longo tempo, mas isso não
quer dizer que ocorra em todas
as exumações”, destaca. O perito observa que a investigação
“pode chegar apenas a resultados
parciais”, além de ser também
necessário um aprofundamento
na busca de indícios externos. Ele
acredita que a perícia depende de
dados específicos previamente
levantados, para definição do que
exatamente se está procurando.
Caso se defina a busca, um mecanismo de pesquisa, chamado
de teste de screening, é capaz
de identificar a presença de uma
determinada substância. No caso
de um corpo enterrado há muitos
anos, seria preciso existir a suspeita de algum veneno específico
para facilitar a confirmação.
Memória/ Fundação Getúlio Vargas
O presidente Goulart com a esposa Maria Teresa e o filho João Vicente
Governo
americano
é acusado
No último dia 18 de março, os
ministros do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) Aldir Passarinho
Junior, Nancy Andrighi e Sidnei
Beneti analisaram o recurso
solicitado pela família de Jango.
A família pede indenização aos
Estados Unidos por suposta
participação no golpe militar
de 1964. Segundo a assessoria
de imprensa do STJ, o ministro
Beneti exigiu um pedido de vista
do processo para o órgão poder
analisar melhor o caso. Ainda não
há data para novo julgamento.
O STJ decidirá se a suposta
participação dos EUA no golpe foi
um ato de império ou de gestão.
Se for ato de gestão, motivado
por interesses particulares, o
processo seguirá sendo analisado
pela Justiça brasileira. Caso seja
ato de império, a ação não poderá
prosseguir devido à imunidade
jurisdicional.
Família quer resgatar imagem do ex-presidente
Metais pesados
O perito do IML de São Paulo,
Jorge Mário Tsuchya, que liderou
a equipe que trabalhou na identificação dos corpos no acidente
com o avião A-320 da TAM, também acredita que a identificação
da causa mortis seria possível
somente para determinados tipos
de venenos. “A perícia depende
muito das condições em que a
ossada se encontra, mas isso só
poderemos comprovar se for autorizada a abertura do túmulo”,
analisa Tsuchya. Para um corpo
enterrado há tanto tempo é grande a possibilidade do esqueleto
não estar bem preservado, dificultando o caminho até prováveis
indícios. O perito informa que os
venenos com maior probabilidade de identificação são aqueles
que contêm metais pesados,
como chumbo, cádmio, cromo e
mercúrio, ou semimetais, como
o arsênico.
A família do ex-presidente não
estabelece a exumação do corpo
como prioridade na investigação,
mesmo não tendo sido feita autópsia após a morte, ocorrida há
31 anos. Um neto de Jango, João
Alexandre (filho do João Vicente),
que estuda no curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade de
Comunicação Social da PUCRS
(Famecos), afirma que a família
acha difícil que algum laboratório possa identificar as causas ou
vestígios de algum veneno nos
restos mortais. “A questão que nós
precisamos levantar não gira em
torno de fazer ou não a exumação.
O momento é propício para ser
contada a verdade da história
brasileira e quem foi realmente João Goulart”, avalia. “Caso
apareça algum laboratório capaz
de realizar a investigação, daí,
sim, iremos pensar no que fazer,
mas por enquanto essa hipótese
está descartada”, confirmou. Ele
acredita que o mais importante
é resgatar a imagem do avô porque “todos os brasileiros têm o
direito de saber o que realmente
aconteceu no regime militar, por
mais vergonhosa que essa história
tenha sido”.
Para o conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos
Humanos do Rio Grande do Sul,
Jair Krischke, antes de exumar
é necessário investigar o tema
exaustivamente em busca de dados mais consistentes, para que
os peritos possam focar o trabalho
científico com mais objetividade.
“Se exumarmos o corpo agora,
e dermos o azar da perícia não
identificar a causa da morte, o
tema pode perder força e cair no
esquecimento”, afirma. Segundo
ele, pelo apelo político que tem,
é importante para a história do
País que as investigações pros-
sigam, pois “a morte de Jango é
altamente suspeita”.
O advogado José Roberto Batochio, ex-presidente da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB)
nacional e da secção de São Paulo,
informou que no caso de sair uma
determinação judicial que autorize a exumação, não há nada que
possa descumpri-la. “Do ponto
de vista legal, se existir uma determinação judicial no processo,
a família teria que acatar a decisão, embora a Justiça coloque em
primeiro plano o direito sagrado
que os familiares têm de preservar
a intocabilidade dos restos mortais”, analisa. Segudo ele, surgiria
um conflito poderoso entre dois
interesses que se contrapõem,
pois de um lado, a história do País
quer saber a verdade, e de outro,
há o lado sensível que mexe com
os sentimentos da família do expresidente.
Última hora
Ex-padre da Teologia da Libertação vence eleições no Paraguai
Por Pamilli Braga
O ex-bispo adepto da Teologia
da Libertação, Fernando Lugo, de
56 anos, é o presidente eleito do
Paraguai que tomará posse em 15
de agosto. O candidato da Aliança
Patriótica pela Mudança venceu a
eleição presidencial de 20 de abril
com 41% dos votos, contra 31% do
Partido Colorado que estava há
mais de 60 anos no poder.
Em 2 de abril, 18 dias antes
das eleições, o paraguaio veio
ao país para conversar com o
presidente Lula, o motivo seria
trocar idéias sobre o Mercosul. A
pauta que gerou maior polêmica e
medo nos brasileiros que moram
no lado estrangeiro da fronteira
foi inevitavelmente citada. O
esquerdista garantiu aos “brasi-
guaios”, como são chamados os
imigrantes no local, que não havia
motivos para se preocupar. “É um
medo infundado, sem nenhuma
argumentação, trata-se de uma
propaganda do Partido Colorado”,
esclareceu em entrevista à Folha
de São Paulo. Para os brasileiros
resta saber se, depois de eleito, o
futuro presidente vai cumprir a
promessa.
O caso de Itaipu promete
gerar discussões entre as nações
vizinhas. Durante toda a campanha, Lugo prometeu reivindicar
do Brasil os direitos que acredita
ter sobre os recursos naturais
utilizados pela hidrelétrica. Um
dia após o resultado da votação,
Lula disse em entrevista coletiva
que não vai mudar o que já foi tratado e minimizou a importância
das negociações, afirmando que
Itaipu não é o principal assunto
a ser discutido: “São muitos os
temas; não é só a questão de Itaipu. A nossa fronteira, que é muito
grande e envolve vários estados,
também a questão da Ciudad Del
Leste, de investimentos… Temos
muito para continuar conversando com o Paraguai”, minimizou o
presidente Lula.
6 fotografia
Porto Alegre, março-abril 2008
Ensaio de estilo
hipertexto
Pedro Revillion/ Hiper
Camila Domingues/ Hiper
Vinícius Carvalho/ Hiper
Vinícius Carvalho/ Hiper
Por Andressa Foresti
Pedro Revillion/ Hiper
Alexandre Herchcovitch trouxe muito preto à passarela do Donna Fashion Iguatemi
2008. A cor que já predominava nas vitrines
do país inteiro favorece os cortes e formatos das roupas. O estilista paulistano evidenciou, ainda, sua inspiração geométrica.
Looks de caubóis urbanizados e golas de
veludo devorê completam a coleção.
A Lua apresentou as principais tendências
do inverno inspirada no folk nas costuras
das jaquetas acinturadas e de veludo cotelê. A Zoomp mostrou, no desfile, peças
com cintura alta. A tendência da calça lá em
cima, lançada no verão, continua forte na
próxima estação. Agora, vem acompanhada
de trench-coats de lã grossa, além dos minivestidos de jeans, outra opção.
O público também aprovou as novas disposições apresentadas pela Renner. A rede
gaúcha trouxe de volta o estilo anos 80 que
chega com força através das calças largas.
Quem também segue a moda das pantalonas
é a Dopping, que usou e abusou da cintura
alta.
A Studio Mix, especializada em vestidos de
festa, resolveu substituir o brilho das lantejoulas por bordados com tachas e pedrarias.
Outra idéia da marca para sair do tradicional foram os casacos de xantung violeta.
hipertexto
especial 7
Porto Alegre, março-abril 2008
Um passeio pelas formas de Porto Alegre
Aos 236 anos, Capital dos gaúchos tem uma história arquitetônica a ser preservada
Fernando Correa/Hiper
Camila Domingues/Hiper
Por Bruna Weis Scirea
Uma cidade é a junção de
costumes, sentimentos e atitudes;
é o espelho de uma população.
Molda-se à imagem de seus habitantes, mesmo quando resiste ao
que tentam lhe impor. No campo
artístico e cultural, forma-se um
verdadeiro mosaico. Opiniões e
gostos encontram espaço para
a divergência. Há sempre lugar
para uma idéia nova, um terceiro
olhar. Porto Alegre é assim, aos
236 anos: um palco eclético de
expressões artísticas que tomam
forma pelas ruas e avenidas.
A Capital é conhecida pela
Bienal do Mercosul Sul, Feira do
Livro e Brique da Redenção – alguns dos reflexos da diversidade
cultural. Como habitat do homem
civilizado, a cidade também se
revela nas construções históricas,
que, além de embelezar, se complementam e reproduzem estilos
quase antagônicos. Porém, há
uma diferença: enquanto as exposições ficam apenas na memória,
a arquitetura não foge aos olhares
cotidianos.
No início do século 20, traumatizados pela a 1ª Guerra Mundial, muitos alemães resolveram
tentar a vida fora de sua terra natal. Porto Alegre recebia navios de
imigrantes, e assim, a arquitetura
germânica se fez sentir na arquitetura gaúcha dos anos 30. Caracterizada pela simplificação formal
das construções, obras como o
Edifício Ely (Tumelero), Hotel
Majestic (Casa de Cultura Mario
Quintana), entre tantas outras,
exemplificam o princípio crucial
das obras alemãs: a imitação de
diversas tendências artísticas em
um mesmo prédio.
Theodor Wiederspahn é o
grande nome da arquitetura em
Porto Alegre. Partindo da Ale-
Antiga Delegacia Fiscal, contrastes arquitetônicos no centro da cidade
Fernando Correa/Hiper
Casa de Cultura Mario Quintana, o antigo Hotel Majestic
manha, chegou para trabalhar
no Brasil em 1908, dedicando-se
a projetar as obras de maior notoriedade na cidade. A imponência
de seus detalhes pode ser vista
na fachada de importantes construções, como a que hoje abriga
o Museu de Arte do Rio Grande
do Sul (Margs), antigo prédio da
Delegacia Fiscal; o Santander
Cultural, que abrigou o Banco
do Comércio, revela traços neoclassicistas; e o Memorial do Rio
Grande do Sul (antigamente dos
Correios e Telégrafos), em estilo
barroco, que exibe profunda ornamentação.
Em meados da década de
40, o Modernismo tomou conta
das formas artísticas. “Devido à
concepção modernista de que o
melhor era colocar tudo a baixo
e começar do zero, foi perdida
muita coisa importante”, explica
o arquiteto e professor da PUCRS,
Günter Weimer, autor de livros e
artigos sobre arquitetura. Antes
da 2ª Guerra, Porto Alegre era
uma cidade harmônica, com ruas
proporcionais e que atendiam
bem à demanda reduzida da
população, e que no âmbito da
arquitetura, correspondia a prédios de dois ou três pisos. “Com
o Modernismo, a construção em
altura e a avassaladora aquisição
de automóveis quebraram esta
harmonia, fazendo com que a
A Igreja das Dores
Camila Domingues/Hiper
Memorial do RS ocupa o prédio dos Correios
cidade perdesse suas qualidades
espaciais”, lamenta Weimer.
A percepção de que a arquitetura modernista havia causado
mais problemas que obras significativas, só ganhou consciência no
fim da ditadura militar. No Estado Novo, havia se implantado o
Serviço do Patrimônio. Devido
ao autoritarismo do período, o
órgão passou a ser temido e visto
como uma limitação do uso de
propriedade sem recompensa,
uma considerável perda para
o proprietário. As leis visando
compensar as limitações impostas pelo tombamento não foram
regularizadas. No entendimento
de Weimer, foram adotadas ape-
nas “soluções paliativas como
leis de incentivos fiscais para fins
de restauração e conservação de
prédios, muito tímidas e que
continuam não produzindo os
devidos efeitos”.
Outra solução encontrada foi
passar esse encargo para os estados e municípios que, muitas vezes, preferem aplicar seus recursos em outras áreas. Nas palavras
de Weimer: “Os prédios que estão
sendo colocados sob preservação
estatal são ridículos em número.
As decisões a respeito da inclusão
na lista dos protegidos depende
muito mais de ações casuais ou
interesseiras que de um programa lógico e técnico”.
O desafio: preservar a identidade, sem imobilizar a arquitetura
As perspectivas para preservação arquitetônica de Porto Alegre
são negativas, na visão do professor da PUCRS, Günter Weimer.
“As iniciativas de reciclar alguns
dos melhores prédios da cidade
são por demais tímidas para
produzir um efeito significativo.
Quanto aos prédios históricos, em
linhas gerais, ainda predomina a
lei do faroeste: índio bom é índio
morto. No caso, prédio velho só
é bom quando vem abaixo e dá
lugar para um estacionamento
de veículos”.
No entanto, há quem acredita
que a revitalização petrifica as cidades. Essa é a opinião do francês
Henri-Pierre Jeudy, autor do livro
“Espelhos das Cidades”. Para o
filósofo, o processo de conservação patrimonial tem provocado a
morte dos centros históricos, que
se transformaram em museus.
Em sua concepção, a museificação
urbana tem como origem uma
estratégia de marketing turístico,
que torna os centros urbanos mais
homogêneos e desinteressantes.
Em entrevista à Folha de São
Paulo, em junho de 2005, Jeudy
dizia que “uma utilidade da conservação patrimonial é proteger
os rituais, manter uma lembrança
simbólica do espaço. Na Europa,
as pessoas sentem culpa por
esquecer alguma coisa, o que
também é resultado das guerras
(pelas quais os países passaram).
Como é possível esquecer, se perguntam. Há muitos memoriais em
todos os lugares, porque é necessário lembrar, lembrar, lembrar.
Mas, assim é impossível viver o
presente”.
A restauração de centros históricos não impossibilita a vivência do presente, argumenta
a estudante Camila Biavatti, 19
anos, no quarto de arquitetura
na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. “Há vários edifícios antigos e restaurados que
ainda abrigam uma atividade
e, ao mesmo tempo, guardam a
história do lugar, da cidade”. Ela
considera a arquitetura porto-alegrense bastante rica, inclusive por
terem preservado parte dos edifícios antigos. “É uma cidade que
comporta construções feitas em
diversas épocas de estilos diferentes. Só acho uma pena que alguns
prédios não tiveram a valorização
necessária e hoje se encontram em
situações precárias”.
Assim como as formas se
misturam, as idéias e opiniões
sobre o que é melhor para manter
a riqueza arquitetônica também
divergem. São 236 anos e 470 quilômetros quadrados de história e
novos olhares que se entrelaçam
na concepção coletiva do que cada
um entende por “minha cidade”.
8 mundo
Porto Alegre, março-abril 2008
Conflito entre
China e Tibete
começou
no século VI
hipertexto
Prakash Mathema/AFP
Na era moderna, país só ficou
independente em curto período
Por Luciano Varelmann
Às vésperas do início dos Jogos Olímpicos de Pequim, uma
velha questão volta à tona. A luta
do povo tibetano pela independência ganha força midiática,
quando as atenções se dirigem
ao país mais populoso do planeta.
A história do Tibete se confunde
com sua luta pela independência.
Desde 1720, a China reivindica a
soberania sobre o território, mas o
início das investidas chinesas data
do longínquo século VI, durante a
dinastia Tang.
Os tibetanos só ficaram independentes em 1912, na queda da
dinastia Ching. Em 1913, firmaram um acordo, mediado pela
Inglaterra, oficializando a separação, mas nunca cumprido pela
China. Em 1918, uma intervenção
inglesa foi necessária para apaziguar outro forte conflito armado
entre ambos.
No início da década de 50,
a China comunista de Mao Tse
Tung invadiu o Tibete e a ocupação dura até hoje. Em 10 de março
de 1959, um grande levante na
capital Lhasa foi violentamente
combatido pelos chineses. O Dalai
Lama, líder político e religioso
do Tibete, deixou a região dias
depois e, até hoje, vive exilado
em Dharamsala, na Índia. Ele
viaja pelo mundo buscando apoio
diplomático à causa tibetana.
Anos atrás esteve, inclusive, na
PUCRS e lotou o salão de atos.
Assim como seu líder, milhares de
tibetanos se encontram exilados
em outros países.
Diferenças
religiosas
As diferenças religiosas não
são o principal motivo do conflito, diz Pedro Kunrath, professor
da Faculdade de Teologia da
PUCRS. “A questão não é puramente religiosa, embora chame a
atenção os monges liderarem um
movimento contra a intervenção
de uma potência como a China.
Apesar da diferença política e
cultural, o que está em jogo é
mais uma disputa econômica e
geográfica”, explica. Herança do
comunismo, o regime fechado
chinês restringiu o trabalho da
imprensa internacional na região,
tornando muito complicada a
repercussão dos anseios do povo
tibetano. A ocupação chinesa até
hoje é marcada por uma forte
repressão política e religiosa que
já fez milhares de vítimas.
“Há alguns anos, a China está
na vitrine como superpotência. A
Olimpíada e a questão do Tibete
acabaram revelando o que a China
tem de pior, como a repressão,
violação dos direitos humanos, a
censura à internet e aos meios de
comunicação”, afirma o jornalista Rodrigo Lopes, subeditor de
Mundo do jornal Zero Hora.
O Tibete também nunca obteve sucesso em suas reivindicações
junto à Organização das Nações
Unidas (ONU). A China é um dos
cinco países com poder de veto a
qualquer decisão da ONU. É razoável ponderar ainda que nenhum
outro país teria interesse em se
indispor com uma nação do potencial econômico e de mercado
como a China.
O governo de Pequim, por
sua vez, executa um plano de
desenvolvimento econômico que,
provavelmente, Dalai Lama e o
governo tibetano no exílio não
teriam conhecimento técnico
nem know-how para oferecer ao
Tibete. A quatro meses do início
da Olímpiada, a onda de protestos e manifestações contrárias à
ocupação constrangem o governo
chinês. “Acho perigoso quando a
política se mistura com o esporte
como tem acontecido agora e já
aconteceu nas Olimpíadas de
Moscou, Los Angeles e Seul. É
importante tentar preservar o
espírito olímpico, mas abre uma
discussão válida a respeito da
China, que demonstra ainda ter
um longo caminho a percorrer
até ser considerada uma nação
completamente democrática”,
pondera Rodrigo Lopes.
A exposição da China na imprensa mundial em razão das Olimpíadas desencadeou onda de protesto dos tibetanos
Protestos provocam guerra de versões
entre as mídias chinesa e internacional
Por Rafael Codonho
“Você acha razoável discutir
sobre isso na internet”, questiona Christoph Bley, morador de
Pequim desde agosto de 2006.
“O que posso dizer é que a propaganda funciona, pelo menos
deste lado da fronteira do Tibete”,
completa o alemão de 25 anos.
Christoph refere-se ao controle da
informação aplicado pelo governo
chinês sobre todos os meios de
comunicação, inclusive a rede
mundial de computadores
“Não é fácil para um país tão
grande como a China, que tem
tantas religiões e minorias étnicas. Questões étnicas e religiosas
não devem interferir na política”,
avalia a estudante chinesa Zhu
Gesha, intercambista na Irlanda.
Zhu lê os jornais locais e acompanha a questão do Tibete pela
BBC. “A mídia ocidental está afirmando que o governo chinês não
respeita os direitos humanos. Na
minha opinião, esta perspectiva
de direitos humanos é ocidental”,
conclui.
O Tibete esteve em evidência
desde os protestos ocorridos em
Lhasa, no mês de março. Os manifestantes iniciaram as demonstrações com o aniversário de 49 anos
do levante armado dos tibetanos
contra o governo comunista, que
ocupa a província desde 1951.
Com a repressão do Exército de
Libertação Nacional, o líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama,
seguiu em exílio para a Índia.
A imprensa oficial chinesa
justifica a invasão comunista,
denominada “libertação”, com o
fato de que o Tibete era dominado
por um regime feudal e escravocrata. O poder é legitimado pelo
atual crescimento econômico de
12% – acima da média nacional,
de 9,6% -, o aumento da qualidade de vida da população local e
investimentos em grande escala
do governo central. Entretanto,
a província ainda é a região mais
pobre da China..
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o professor Andrew Martin Fischer, da London
School of Economics, denunciou a
estratégia de assimilação do Partido Comunista Chinês: “O governo
reduz gradualmente a educação
média tibetana e introduz a educação média chinesa, minando as
maneiras pelas quais a educação
tibetana média poderia se desenvolver”. O pesquisador afirma
que as minorias étnicas chinesas
– no total, 55 – são forçadas a
se tornarem, num processo de
aculturação, semelhantes à etnia
predominante (han, 92% da população).
Durante os incidentes no mês
de março, jornalistas estrangeiros
foram proibidos de permanecer
na província. Para reprimir os
manifestantes, tropas foram colocadas nas ruas, ancoradas por
tanques, e a violência empregada
contou com o apoio da população
chinesa. Entre os esforços nos
meios de comunicação, o governo
bloqueou diversos sites de ONGs
sobre o Tibete e o YouTube, além
dos canais de televisão da BBC
e CNN.
Na televisão estatal do país
(CCTV), os tibetanos aparecem
apenas queimando bandeiras chinesas, quebrando lojas e carros.
Os soldados comunistas não são
os agressores que causaram mais
de uma centena de mortes: tornam-se vítima dos protestantes e
são filmados gravemente feridos.
Os servidores da união nacional
e os representantes da opinião
pública contrapõem-se aos “vândalos”, guiados pelo Dalai Lama
num “movimento subversivo e
articulado”.
Em campanha contra a cobertura estrangeira sobre as manifestações, o jornal China Daily
caracterizou a mídia internacional
de “desonesta e manipuladora”.
Publicado em 25 de março pela
agência de notícias Xinhua, o
editorial resume o ponto-devista oficial: “Não importa o que
a mídia chinesa veicule sobre
as atrocidades cometidas pelos
amotinadores em Lhasa, como
eles violam a lei, como impopular
eles são entre os residentes locais,
o roteiro de alguns veículos de
comunicação estrangeiros já está
pronto. A autoridade pública é
o mal e os protestantes são vulneráveis. Isto se adequa bem à
história ocidental e cristã de Davi
e Golias”.
A poucos meses das Olimpíadas de Pequim, a comunidade
internacional não sabe o que
esperar de algumas das condições impostas à China para que
fosse indicada como sede dos
Jogos Olímpicos. Os chineses se
comprometeram a promover a
livre circulação¬, liberdades de
expressão e imprensa para os
jornalistas estrangeiros.
hipertexto
cultura 9
Porto Alegre, março-abril 2008
Machado de Assis, renovador e atual
Cem anos depois da morte, o escritor brasileiro continua uma referência na literatura mundial
Por Bruna Silveira
Lembrado como um dos maiores literatos do Brasil, Machado
de Assis, advindo de família humilde, foi romancista, cronista
e poeta. As ações rotineiras do
homem eram sua maior inspiração. No ano de seu centenário de
morte, o fundador da cadeira 23
da Academia Brasileira de Letras
mostra-se, ainda, atual.
Joaquim Maria Machado de
Assis nasceu no dia 21 de junho de
1839, no Rio de Janeiro. Machadinho, como era conhecido por seus
amigos, dividia a ânsia de escrever com o trabalho burocrático
em um ministério, chegando em
1889 a diretor de Comércio.
Durante sua formação, Machadinho contou com o apoio de
Madamme Gallot, proprietária
de uma padaria. O forneiro do
local lhe forneceu as primeiras
lições de francês, tornando-se
mais tarde um poliglota. Assim,
o literato, durante sua trajetória,
traduziu obras do francês Victor
Hugo e do norte-americano Edgar
Allan Poe.
Machado de Assis, que iniciou
sua carreira trabalhando como
aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, aos 15 anos estreou na
literatura com a publicação do
poema Ela na revista Marmota
Fluminense e, em seguida, tinha
como amigo e admirador o romancista José de Alencar, principal escritor da época.
Como escritor de livros, sua
primeira obra publicada foi uma
reunião de poemas intitulado
Crisálidas, no ano de 1864. Com
a estabilidade financeira garantida pelo trabalho burocrático,
Machado de Assis inicia seu período romancista em 1872. Porém,
também é considerado hoje, além
de um dos maiores homens da
literatura do país, um escritor do
realismo.
Utilizando-se de introspecção, humor e pessimismo com
relação à essência humana e seu
relacionamento com o mundo,
Machado, segundo a professora
Dileta Silveira Martins, doutora
em Letras, o escritor definiu-se
como inovador não só na linguagem como na estrutura do romance. “Uma de suas qualidades era
subverter a ordem narrativa como
em Memórias Póstumas de Bras
Cubas”, comenta. Dileta explica,
também, que as cogitações filosóficas, o humor amargo, o tempo
e a memória transformaram o
romance do século XIX. “As personagens traduziram aquilo que
em Machado foi classificado como
o homem subterrâneo, buscando
no recôndito do ser humano suas
emoções e sentimentos.”
Dileta Silveira Martins também destaca que o escritor alagoano trabalhou com a intertextualidade. “É um recurso muito
utilizado por escritores que consiste em usar outro texto no seu
próprio texto”, explica a doutora
em Teoria Literária. “Machado se
utiliza de passagens da Bíblia,dos
escritores ingleses e franceses e
até textos coloquiais como frases
feitas . A intertextualidade pode
ser de temas, de linguagem e de
sentido”, conclui.
Por suas obras voltarem-se
para problemas relacionados com
o gosto da época, incluindo sua
relação com os modelos linguísticos, Machado apresentava em
suas obras também o estilo do
realismo visto em Quincas Borba,
seguida de Dom Casmurro. Considerado pelo norte-americano Harold Bloom um dos 100 maiores
gênios da literatura de todos os
tempos, ele mescla em suas obras
elegância e crueldade.
Machado de Assis, casado
35 anos com Carolina Augusta
Xavier de Morais, teve nela sua
maior inspiração. Carolina não
lhe deu filhos. Dois anos antes
de sua morte, o escritor perdeu
a esposa. Sua vida ficou em preto
e branco e fez declarações de que
gostaria que ela lhe esperasse
além tumulo. Neste período,
escreveu seu último romance,
Memorial de Aires, que conta o
drama de um viúvo solitário. Com
infecção intestinal e úlcera na
língua, Machado de Assis vai pela
ultima vez à Academia Brasileira
de Letras no mês de agosto. Em 29
de setembro de 1908, morre ucom
a certeza do reconhecimento do
público por sua literatura e suas
críticas.
Considerado o maior expoente
de todos os tempos da literatura
nacional, Machado de Assis ganha, no ano do seu centenário de
morte, uma programação especial
na Academia Brasileira de Letras
e, a Lei nº 11.522 que institui o
ano de 2008 como o Ano Nacional
de Machado de Assis. Além disso,
já foi lançada a obra Toda Poesia
de Machado de Assis, pela editora
Record. O livro organizado pelo
professor universitário e também
poeta Cláudio Murilo Leal trará
aos leitores toda a vertente da
poesia machadiana. Serão quase
200 poemas não só dos livros
publicados como também outros
dispersos em jornais e publicados
sob pseudônimo. Um funcionário
burocrata que se mostrou genial.
Pedro Belo Garcia/Hiper
Formado em Jornalismo, Henrique Perin se encantou por Machado de Assis durante umas férias, na infância
Ele o conheceu na biblioteca do avô
O estilo literário de Machado
de Assis é estudado nas escolas
de todo o Brasil e marca a vida de
muitas pessoas, justamente pelo
seu estilo realista. Mas, em alguns
casos, a paixão por Machado de
Assis nem sempre chega durante
o período escolar. Henrique Perin,
formando em jornalismo, deparou-se com as obras de Machado
de Assis aos nove anos de idade.
Sem muita opção do que fazer
durante as férias na casa dos avós
no interior do Rio Grande do Sul,
o refúgio do pequeno Henrique
eram os livros da biblioteca da
casa, nem sempre em português.
Dos raros de nossa língua nativa
estavam Érico Veríssimo, Euclydes da Cunha, Monteiro Lobato e
uma série completa de Machado
de Assis, edição luxo do ano de
1957.
“Os livros de Machado me
alucinavam pela forma com a
qual Machado de Assis fluía a
história”, lembra. “Memórias
Póstumas, por exemplo, além de
ser revolucionário para época em
que foi escrito, foi marcante pra
mim, simples leitor de histórias
em quadrinhos. A maneira como
estão descritos os personagens.
Nunca antes havia lido, em lugar
algum, que uma mulher pudesse
“ter olhos de cigana oblíqua e
dissimulada, olhos de ressaca”,
como em Dom Casmurro. Aquilo
pra mim foi quase uma revelação,
como quando uma pessoa recebe
a “visão” de um anjo, que lhe
revela sua missão, ou lhe designa
alguma tarefa”, explica.
Ao conversar com o avô sobre
as histórias lidas, Henrique descobriu que Machado de Assis era
jornalista e pensou ser este o seu
caminho. “Com a ingenuidade que
apenas uma criança de nove anos
pode ter, pensei seguir a carreira.
Essa é, talvez, a mais antiga lembrança de como escolhi minha
futura profissão. Queria ser igual
ao Machado, escrever como ele,
pensar do mesmo modo, enfim,
algumas vezes emocionado com
os livros”, comenta. A idéia de
Perin não era, como a da maioria
das crianças, ser os personagens
de histórias, e sim o criador deles.
“Fantasiava ser o próprio escritor.
Ter poderes sobre o destino, as
emoções e sensações dos personagens. E como eram reais esses
personagens!”, elucida o fã que
quando criança facilmente enxergava os personagens de tão reais
que lhe pareciam.
Porém, além dos romances
realistas de Machado, Perin também estreitou laços com o jornalista Machado de Assis e tem em
seu conceito o literato como um
jornalista político. Para ele, Machado “sempre será encontrado
debruçado sobre as enfastiadas
atas da Câmara de Deputados,
ou ouvindo os chatos e repetitivos
discursos proclamados para as
paredes, pelos deputados. Mas
com certeza, assim como para
Balzac, na Comédia Humana,
essas pessoas serviram de inspiração e molde na criação de seus
personagens, assim como os costumes e características do Rio de
Janeiro do século XIX”, elucida.
Agenda cultural
10 música
Porto Alegre, março-abril 2008
Daniela Cenci/Hiper
Porto Alegre: shows musicais
para todos os gostos em maio
Por Leonardo Serafim
Bandas independentes: somando forças para produzir um CD no Rio Grande do Sul com apoio da mídia e gravadora
A união faz o som
Coletânea Rock incentiva bandas independentes
Por Daniela Cenci
Foram mais de 90 horas de
gravação. Durante um mês, 15
bandas independentes – das 300
que se inscreveram no processo
seletivo – estiveram envolvidas na
produção do CD Coletânea Rock
Bandas Gaúchas, que foi lançado
em 12 de abril. O incentivo partiu
do Portal Bandas Gaúchas em
parceria com a gravadora ACIT.
A idéia da criação de um CD
que mostrasse as novas caras da
música tomaram forma durante
dois anos e meio. Mas só depois
de reunir “marcas boas” como
Kzuka, Rádio Atlântida, TVCom,
Zero Hora e ClicRBS, além do selo
mais conceituado de rock no Rio
Grande do Sul – a Antídoto – é
que os idealizadores Renato Laurino e Ricardo Noschang tiraram
o projeto do papel. “A gente prefere a credibilidade e confiança”,
afirma este último. O objetivo não
é apenas lançar um produto, mas
fazer com que os formadores de
opinião ouçam o trabalho dessas
bandas novas – algumas já inseridas, com CDs autônomos.
Para escolher os participantes
do primeiro volume, o principal
critério adotado pelo portal foi
a qualidade do material enviado
pelos grupos, além daquilo que
Noschang chamou de “vestir a
camisa do projeto”. Também foi
pesquisado o que esses músicos
estavam produzindo, como clipes no Youtube, shows nas suas
respectivas cidades, a quantidade
de fãs no site de relacionamento
Orkut e no hotsite do Portal.
A obra reúne grupos com características musicais marcantes
do rock and roll das décadas de
80 e 90, bem como o hard rock,
o pop rock e o metal. A maioria
deles começou em garagens, primeiro com covers, e por fim com
som próprio. As influências nos
arranjos e letras reproduzem o
cotidiano – situações que aconteceram na vida dos integrantes ou
de amigos, pensamentos e sentimentos, angústias e imperfeições
do ser humano.
Em clima de confraternização,
produtores e músicos comemoraram o resultado do projeto na
festa de lançamento. “Ficamos
muito satisfeitos quando recebemos o convite para participar do
Coletânea, já que a Pentagrama
existe há dois anos e sempre teve
como maior objetivo a divulgação
das músicas próprias. Este projeto
veio para intensificar o nosso trabalho”, declara o vocalista João
Maria Mendonça, da banda Pentagrama, de Alegrete. “Depois do
lançamento do CD, aumentaram
os acessos no nosso site, nos perfis e comunidades relacionadas à
banda no Orkut”, revela.
O vocalista Vinícius Savi, da
Lee Jhones, de Passo Fundo,
destaca a importância da oportunidade. “A Coletânea Rock
Bandas Gaúchas marcou uma
nova perspectiva para a banda.
É mais um sonho – dentre os
milhares que temos – tornandose realidade”,enfatiza. Para ele, o
CD está coeso, harmonioso, tem
início, meio e fim. “O encarte e a
produção estão ‘gringos’. Enfim,
não é preciso tantas palavras para
explicar: basta escutar, deixar a
música entrar e medir os decibéis da ressonância”, assegura o
músico.
Para essas bandas, a internet
é o principal meio de publicação
dos trabalhos. O contato com os
fãs acontece através da rede, como
o próprio Portal Bandas Gaúchas,
além de sites oficiais, de relacionamento, fotologs, entre outros.
Um exemplo disso é a Calibre, de
Porto Alegre, que abre o projeto
com a faixa “Dois Corpos”. São
os próprios integrantes que se
responsabilizam pela exposição
na web. Nas palavras do baterista Gustavo Szuster, “hoje em
dia, tudo acontece primeiro na
internet. A divulgação nas grandes mídias como TV e rádios
acontecem na segunda etapa. A
banda se fortalece com a internet,
conquista um público e se aproxima dele”.
Desde o começo a intenção
da obra foi de somar forças. “As
bandas tem que fazer intercâmbio
entre elas”, explicou Noschang,
referindo-se às parcerias e à exposição dos sons. Ele aproveita para
avaliar o resultado: “Não houve
falha em parte alguma do processo. Todas se envolveram”. Diante
do sucesso, a perspectiva não
poderia ser outra: até o final do
ano, há chances de sair do forno
outro disco – o segundo volume
de rock, ou então em outra linha,
como reggae ou pagode. Material
para isso não será problema, já
que são mais de 3500 grupos
inscritos no Portal.
hipertexto
Se o mês de março foi um
marco histórico para Porto Alegre, devido à passagem da maior
banda de metal, o Iron Maiden,
abril e maio chegam com atrações
mais modestas, mas que prometem agradar todos os gêneros musicais. Do rock pesado da baiana
Pitty, ao samba de Leci Brandão.
Do rap social de MV BILL ao som
farofa do Whiteskane. Da MPB
delicosa de Vanessa da Mata ao
coroas punk´s do Misfits. Todos
dão uma paradinha na capital
gaúcha para a alegria dos diferentes públicos.
Depois da banda alemã Halloween, outra grande expressão do
rock internacional, com show no
Pepsi On Stage, dia 22 de abril,
é a vez de conferir a boa música
nacional de Maria Rita. A filha
da diva Elis Regina mostra novamente, em Porto Alegre, todo
seu talento. Ano passado ela já
havia estado em dezembro, divulgando seu terceiro trabalho,
Samba Meu. Agora, no final de
abril, estará no Teatro do Bourbon Country. Vanessa da Mata,
no dia 25, e as consagradas Mária
Bethânia e Miúcha, em maio,
completam a lista de cantoras de
MPB a desfilar por aqui.
A roqueira Pitty é outro destaque do Atlântida
���������� Festival���������
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. Depois
de fazer o show de encerramento
do BBB 8, o reality show da Rede
Globo, a banda baiana tenta se
redimir com uma turne nacional.
Fresno, Charlie Brown Jr e Marcelo D2 também comparecem no
evento, no teatro do Sesi, em 1º de
maio. Nove dias depois, é a vez da
Pop Rock promover sua festa, no
Pepsi On Stage. A grande atração
da noite será o norte-americano
Zach Ashton. O cantor que se encantou com os ritmos brasileiros
em suas diversas passagens por
aqui, aderiu ao samba e a bossa
nova em suas trilhas sonoras e,
em 2004, gravou o álbum Mellow
dia, em solo nacional.
O Whitesnake fecha sua turne no Brasil, no Teatro Bourbon
Country, no dia 11 de maio. O
grupo liderado pelo vocalista
David Coverdale vem ao país para
lançar o CD -, último disco com
músicas inéditas em 11 anos.
Seguindo na linha do rock,
os tiozinhos do Misfits também
apresentarão seu repertótrio na
cidade. A vinda deles para cá não
é novidade para os porto-alegrenses, já que eles aparecem tantas
vezes no Brasil quanto a Sheila
Mello na revista Playboy. Suas
músicas e suas rugas poderão
ser conferidas no Bar Opinião,
em 18 de maio, dia histórico para
o rock devido ao suícido de Ian
Curtis, vocalista do Joy Division,e
do nascimento do cantor Jack
Johnson.
De todas as apresentaçãos
marcadas para Porto Alegre, a
mais aguardada é do cantor Charles Aznavour. Freqüentemente
descrito como o Frank Sinatra
da França, Aznavour faz turne de
despedida dos palcos. Dentro do
setlist, estão garantidos sucessos
como �������������������������
Venecia Sin Ti e����������
She, música depois regravada por Elvis
Costello para o filme Um Lugar
Chamado Nothing Hill. Além de
grande cantor, o farancês também deixou sua marca no mundo
do cinema. Aznavour participou
de mais de 60 longas metragens,
incluindo A Bateria Tim, ganhador do Oscar de melhor filme
estrangeiro, em 1980. As apresentaçãos acontecerão no Teatro
Sesi, nos dias 28 e 29 de abril.
agenda
24 Abril - Ivone Lara e Leci
Brandão. Teatro do Sesi
25 Abril - Vanessa da Mata.
Teatro Bourbon Country
26 Abril - Maria Rita.
Teatro Bourbon Country
Virginie Lefour/AFP
28 e 29 Abril - Charles Aznavour. Teatro do Sesi
10 Maio - Zach Ashton.Pepsi
On Stage
Maria Bethânia. Teatro do
Sesi
11 Maio - Fábio Júnior.Teatro do Sesi
Whiteskane. Teatro Bourbon Country
14 Maio - João Bosco.
Teatro do Sesi
15 Maio - MV Bill. Bar Opinião
Miúcha e Galo Preto.
Teatro do Sesi
18 de Maio - Misfits.
hipertexto
universidade 11
Porto Alegre, março-abril 2008
Por Cristiano Hoppe Navarro
Nos nove andares do prédio
poliesportivo da PUCRS, como na
Torre de Babel, são faladas várias
línguas – dialetos esportivos
dominados por seus praticantes
específicos e compreendidos por
uma categoria humana que habita o edifício em toda sua extensão:
o estudante de Educação Física.
Embora onipresente, o aluno
da faculdade divide espaço com
usuários dos diversos espaços de
atividade física (quadras, piscina,
tatame), saídos em grande parte
da comunidade universitária, que
tem descontos no aluguel.
O nono e último andar do
edifício comporta quadras de
squash, uma modalidade que é
uma variação daquela praticada
logo um andar abaixo, no oitavo
nível – onde três quadras de tênis
de piso de concreto revestido, o
mais rápido, viabilizam praticar
o esporte na altitude, com toda a
vista da Ipiranga e do estacionamento da PUCRS. A reportagem
do Hipertexto esteve lá numa sexta à tarde, e encontrou uma turma
de cerca de 20 alunos provenientes da Vila Fátima. Tratava-se de
um dos seis núcleos do projeto
social da Fundação Tênis que, em
junho do ano passado, promoveu
ali um campeonato de integração
com o sugestivo nome de Rolando
Garra, parafraseando o torneio
francês em que Guga foi tri.
No sétimo andar, ao emergir
do elevador, o transeunte vê, de
cima, um amplo espaço com os
diversos aparelhos dedicados à
ginástica olímpica, além de um
tatame para as artes marciais
– nos quais se pode entrar descendo até o sexto andar, que
concentra também a secretaria
do curso de Educação Física. O
tatame, emprestado pelo Parque
todas as noites para a Faculdade
de Letras (Fale), une as palavras
- o curso de japonês da Fale - aos
gestos motores - aulas de kendo
(espadas), aikido, shorinji kempo
(defesa pessoal) e karatê.
Ao se aproximar do quinto
andar, ouvia-se um crescente
burburinho. Eram cerca de 50
pessoas no coffee-break de um
evento organizado pela Faculdade de Serviço Social no auditório
que ali está instalado. Freqüentemente ociosa (naquela sexta,
as seis quadras poliesportivas do
Parque estavam vazias), a estrutura parece ser grande demais
para somente as atividades da
Educação Física.
No quarto andar, três quadras
poliesportivas possibilitam aos
alunos e a comunidade praticar
e estudar futsal, vôlei, basquete
e handebol. O espaço já foi utilizado até para um campeonato
de basquete em cadeira de rodas,
ocorrido em 2006. O estudante
de Educação Física na UFRGS
Josias Góis Soares que, em 2006,
foi vice dos Jogos Universitários
A Torre
dos Esportes
Fotos Cristiano Lima/Hiper
A piscina olímpica tem utilização permanente
As quadras poliesportivas no térreo
Complexo Esportivo da PUCRS tem nove andares para exercícios físicos
(Jugs) ali defendendo sua universidade no vôlei, diz que “o piso é
muito bom”, mas critica o teto
baixo e marcações da quadra não
muito claras.
A obra mais majestosa do
prédio, porém, é aquela existente
no terceiro e segundo andares. A
piscina olímpica com arquibancada já sediou a final nacional da
Copa Petrobrás, entre os trabalhadores da empresa, e possibilita
a muitos praticar um dos esportes
mais completos em termos de
articulações movimentadas: a
natação. O chinês Chen, 20, da
Universidade de Comunicação
em Nanying, que no Brasil adotou
o nome Abranches e se divide
entre a Fale e a Famecos, é um
desses praticantes. Ele diz que
na China todas as universidades
tem prática esportiva semanal
(basquete, futebol e natação,
principalmente) e que algumas
têm parques esportivos, mas piores e não tão modernos quanto o
da PUC, até porque “em geral, as
instalações da universidade são
abertas apenas para os alunos”,
revela o intercambista. Lá, a
comunidade não-universitária
desfruta de Centros de Saúde e
Centros de Atividade.
Uma oportunidade rara no
Estado disponível na piscina do
Parque é o pólo aquático, que em
março deste ano abriu uma nova
turma para adultos iniciantes:
“O desgaste físico é enorme, portanto o condicionamento físico é
muito exigido desde o início da
aprendizagem”, afirma o professor Alexandre Pinho. Condicionamento para a saúde, assim como
desenvolvimento da massa muscular, é o objetivo mais comum
dos 1080 alunos matriculados na
academia de ginástica do Parque,
orientados por 18 professores no
mesmo andar.
Aterrissando finalmente no
andar térreo, é possível conhecer
Antônio Cézar da Silva Oliveira.
Funcionário no Parque desde
1981, ele é um dos responsáveis
pelo setor de materiais – bolas,
bambolês, cordas, entre outros
– essencial nas aulas dos estudantes de Educação Física.
O estádio de futebol fica em cima de um estacionamento
São fundamentais também para
quem vai bater uma bolinha nas
três quadras poliesportivas em
frente, que abrigam projetos sociais (Show de Bola), escolinhas
esportivas para crianças e adolescentes e eventos escolares.
Os arredores do prédio de
nove andares com a cobertura
em forma de arco trazem quadras de tênis de saibro, circuito
de caminhada ou corrida e pista
atlética oval de oito raias, mas se
destacam mais pelos espaços para
o futebol. Há gramado sintético,
quadra de fut-7 e de areia e o
estádio projetado sobre o estacionamento, impecável. Ali, em março, a seleção brasileira feminina
sub-20 venceu o Sul-Americano
e seguidamente ocorrem eventos como os Jugs ou os Jogos da
Primavera, dos quais participou
o bixo de Psicologia da PUCRS
Vinicius Fischer. “No estádio da
PUC vivi a grande emoção de jogar naquele excepcional gramado
e me sagrar vice-campeão dos
Jogos da Primavera em 2006”,
conta o jovem calouro.
A Copa DCE
Em 5 de abril, sábado à tarde, o Boca Fischer, time organizado por um aluno do Direito
e composto majoritariamente
por estudantes de Educação
Física, venceu a Copa DCE de
futsal, organizada pelo Diretório Central dos Estudantes.
Na final, a equipe azul e
amarela definiu a partida no
primeiro tempo ao aplicar um
três a zero no Samba Futebol
Clube (Administração e Educação Física). Após uma contusão
do goleiro, um jogador de linha
o substituiu e o time acabou
goleado por 8 a 2.
Na decisão de terceiro lugar,
entre duas equipes com a maioria dos alunos das Engenharias,
uma polêmica: após receber o
vermelho, um jogador xingou
o juiz e, diferente do que é
comum, o árbitro não deixou
por isso e partiu para cima do
expulso, mas foi segurado.
12 ponto final
Porto Alegre, março-abril 2008
O lado mulher
do futebol no País
hipertexto
Pedro Revillion/Hiper
Faltam incentivo e apoio ao esporte feminino
Por Rodrigo Nunes
O Brasil se tornou campeão sul-americano da categoria sub-20 em março. Essa
seria apenas mais uma conquista, superando as equipes da Argentina, Colômbia,
Chile, Peru, Paraguai, Bolívia e Equador,
se não fosse um detalhe: as jogadoras eram
mulheres. No país do futebol, onde o futebol feminino ainda não tem reconhecimento oficial, as mulheres deram espetáculo
outra vez. Os jogos foram disputados no
Complexo Esportivo da PUCRS.
As jovens atletas, comandadas pelo
técnico Kleiton Lima, terminaram a competição com uma campanha invejável: sete
vitórias, 30 gols marcados e nenhum sofrido. O resultado garantiu a participação das
meninas no Mundial feminino Sub-20, que
vai acontecer em novembro, no Chile.
O título confirma o bom momento da
modalidade no Brasil. Os resultados são
os melhores possíveis, a começar pelo
título pan-americano de 2003, em Santo
Domingo, na República Dominicana. De-
pois, veio um surpreendente segundo lugar
no Torneio Olímpico de 2004, em Atenas,
na Grécia. Ninguém apostava muito nas
brasileiras, mas elas derrubaram adversárias poderosas e só foram paradas na final,
diante da forte seleção dos Estados Unidos.
O troco foi dado no ano passado, quando as
norte-americanas levaram cinco a zero na
final do torneio do Pan, no Rio de Janeiro.
Ainda em 2007, a seleção foi vice-campeã
do Mundial, sendo derrotada pela Alemanha, país sede.
O maior destaque nacional é a alagoense
Marta Vieira da Silva. Ela liderou a equipe
em todos os campeonatos importantes, fez
bonitos gols e foi eleita a melhor jogadora
do mundo pela FIFA, em 2006 e 2007. Sem
apoio na sua terra natal, Marta foi tentar
a sorte no exterior. Hoje, atua na Liga da
Suécia. Outras importantes jogadoras do
plantel principal atuam nos Estados Unidos, na Espanha e Dinamarca. A Seleção
Brasileira principal também vai em busca
de seus objetivos e tenta a classificação para
as Olimpíadas de Pequim, na China.
Brasil e Peru disputaram o Sul-Americano Sub-20, no Parque Esportivo da PUCRS, em março
Camila Domingues/Hiper
Um show de elasticidade e plástica: jogadora da Seleção Brasileira cobra uma lateral no estilo de ginástica olímpica
Escolinhas abrem espaço em Porto Alegre
O sucesso internacional do futebol
feminino brasileiro não esconde uma
constrangedora realidade: meninas interessadas em jogar futebol no País só podem
fazer isso em escolinhas. Uma das mais
conhecidas é a Galvão Esportes (Avenida
Ipiranga 549). O local é administrado por
Eduarda Luizielli, a Duda. Ex-jogadora do
Inter e da Seleção, seu trabalho é pioneiro
no Estado. Muitas atletas que passaram por
lá se tornaram profissionais.
“A coisa cresceu bastante e está mais
próspera e madura. As escolinhas preparam as meninas, treinam de forma séria e
aparecem profissionais capacitados, que se
preocupam com o condicionamento dessas
jovens desde cedo”, destaca Ronaldo Lopes,
professor da escolinha, oito anos de experiência com futebol feminino. Na Galvão
Esportes, existem seis categorias de turmas
(baby-foot, pré-mirim, mirim, infantil,
infanto-juvenil e adulto). Os treinamentos
ocorrem de segunda a sexta-feira. Familiares estão sempre presentes para apoiar
as filhas. Até mães mais corajosas entram
em campo.
“Faz muito tempo que eu jogo bola, eu
realmente amo o futebol. Atuo para poder
manter a minha saúde, serve como lazer
também. Mas eu sempre me cuido, nunca
cheguei a me machucar. Prefiro jogar do
que só assistir”, afirma Genoveva Zimmer,
de 48 anos. Sempre que possível, ela joga
ao lado da filha Liziê, de 18 anos. Liziê en-
trou na escolinha aos seis anos. “Eu penso
mesmo em seguir uma carreira. Acho que
os grandes clubes vão mudar a postura, até
por causa dos resultados da Seleção Brasileira. Tenho confiança de que, aos poucos,
mais portas vão se abrir para nós.”
Alunas de Educação Física da PUCRS
estão tentando formar uma equipe de
competição. “Criamos com a ajuda do professor de futebol, um projeto de extensão.
A coisa demorou a engrenar, mas agora
criamos a cadeira Tópicos Especiais em
Futebol. O legal é que os próprios alunos
de Educação Física dão aula. É aberto para
qualquer guria treinar. Queremos fazer um
time forte”, diz a estudante Giedre Costa,
integrante do projeto.
Inter e Juventude
são exceções no Sul
Os principais clubes do país não formaram ainda equipes femininas. No Rio
Grande do Sul, apenas Internacional e
Juventude possuem departamentos de
futebol feminino. Questionada sobre o
assunto, a Assessoria de Imprensa do
Grêmio se manifestou da seguinte forma:
“Em nome da direção, gostaríamos de dizer
que o Grêmio não tem equipe feminina no
momento devido à falta de apoio que este
esporte recebe no Brasil. Porém, a direção
estuda uma possibilidade para o futuro.”
A Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) organizou no ano passado uma Copa
do Brasil de Futebol Feminino. Foi a mais
séria tentativa de se criar uma liga nacional.
O Inter eliminou o Juventude na primeira
fase, mas foi desclassificado na seqüência
pelo São José, de São José dos Pinhais.
Muitas das garotas que defenderam as
cores do Inter eram gremistas dispostas a
tudo, independente da rivalidade.
Sem muito apoio da imprensa, o torneio encerrou-se em dezembro, com o
título conquistado por um combinado de
jogadoras do Mato Grosso do Sul. A CBF
não confirma uma segunda edição do certame para 2008.
“O maior problema é o fato de não haver a profissionalização. O futebol feminino
ainda é encarado como algo amador, apesar
de algumas equipes no Brasil oferecerem
espaço. Quem quer efetivamente se tornar
jogadora, almejar algo maior, precisa se
sobressair. Preocupar-se não só com jogar
bem, mas em ter bom comportamento.
Vale lembrar que futebol é igual pra todos,
não importa se masculino ou feminino”,
lembra o professor Ronaldo Lopes.

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