Universidade de São Paulo

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Universidade de São Paulo
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Departamento de Antropologia
Relatório da Pesquisa:
O gato tecladista e a polêmica dos mamilos:
Um estudo acerca dos virais da internet.
Disciplina: Pesquisa de campo e Antropologia
Período: Vespertino
Autor: Vinicius Santucci Rossini
Data: 18.outubro.2011
São Paulo – SP
Agradecimentos: Agradeço a presente pesquisa a todos que me ajudaram, indiretamente ou
diretamente em sua realização. Em especial aos membros do Núcleo de Antropologia Urbana da
USP (NAU) e o professor e orientador José Guilherme Magnani, por me oferecerem oportunidade e
apoio à pesquisa.
“Dê a uma pessoa um peixe e ela estará alimentada por um dia; ensine-a a
usar a internet e ela não encherá o seu saco por semanas.”
(Autor Desconhecido)
Resumo: O surgimento de novas tecnologias comunicativas possibilitam novos métodos de
interações sociais. A expansão e popularização da internet trazem consigo, não apenas novas
maneiras de aprendizado e negócios, mas também novas formas de lazer e sociabilidade. Ocupando
a cada dia, um papel mais central no cotidiano social. Procura-se, nesta pesquisa, entender as
normas e regularidades na utilização dos meios cibernéticos para fins de entretenimento e
sociabilidade.
Palavras chaves: Antropologia urbana; cyber-etnografia; cultura da internet; ciberespaço; virais da internet.
Índice:
Parte I. Introdução
1. A internet como espaço de interação
5
2. A internet sob foco científico
6
3. Definição do objeto de estudo
8
4. A importância de estudar virais
9
Parte II. Quadro de referências
1. Quadro teórico
13
2. Procedimentos metodológicos
17
Parte III. Descrição e Análise
1. Cenários
1.1 Blogosfera
18
1.2 Twitter
19
1.3 Orkut, Facebook e Google plus
20
1.4 Youtube
21
1.5 A produção do espaço
21
2. Atores
Autores ou Atores?
23
3. Regras
3.1 Netiqueta
24
3.2 Trollagem
27
3.3 Tiopês
28
4.Virais
4.1 Tipologia viral
30
4.2 A construção do sentido: O caso dos memes
36
4.3 Virais como capital simbólico: O caso de Luiza
41
Parte IV. Conclusão
47
Parte V. Bibliografia
49
5
Parte I. Introdução:
1. A internet como espaço de interação:
Além de uma notória imaginação e habilidade literária, Isaac Asimov , famoso romancista
de ficção científica, parece também possuir um incomum senso tecnológico. Em entrevista
concedida em 1988 - alguns anos antes da popularização da Internet - para Bill Moyers, no
programa de TV World of Ideas, Asimov parece prever, com grande aproximação, os impactos da
Internet sobre sociedade:
“Uma vez que tenhamos canais, computadores em cada casa. Cada um deles ligados a “bibliotecas” enormes,
onde qualquer pessoa possa fazer perguntas e obter respostas. Obter material de referência sobre qualquer
assunto em que esteja interessado em saber, desde a sua infância. Por mais bobo que pareça para alguém, é o
que você está interessado, e você pode perguntar, descobrir e seguir o assunto. Você pode fazê-lo em sua
própria casa, no seu ritmo, na direção em que quiser e a seu próprio tempo. Então todos gostarão de aprender.”
(Asimov)1
Mundos paralelos e realidades “virtuais” sempre nortearam o imaginário social moderno,
sobretudo a literatura ficcional surgida a partir do século XIX, apesar de parecer provir diretamente
de livros de ficção científica, a internet idealizada por Asimov, remete sua origem a um fim,
digamos, menos nobre. Criada em meio à guerra fria na década de 60, caracterizando a princípio
uma ferramenta militar comunicativa de descentralização e proteção informacional, a Internet
começou seu processo de abertura para fins civis e comerciais apenas em 1988.
Asimov previu o desenvolvimento de imensas enciclopédias online e milhões de páginas de
informações - que de fato ocorreram, e ainda ocorrem - mas algo parece ter-lhe escapado à
previsão: As pessoas não apenas fariam perguntas, como também poderiam realizar suas próprias
respostas. O surgimento de redes sociais; da blogosfera e de enciclopédias de edição aberta, como a
Wikipédia, possibilitaram que usuários não apenas coletem informações, mas também as criem. O
fluxo de informação na internet se dá, na realidade, por ambos os sentidos. As primeiras
ferramentas criadas para a interação na internet correspondiam, de maneira geral, à agilização e
segurança nas comunicações e nas trocas de informações, utilização que remete à sua própria
origem. Como por exemplo os correios eletrônicos que apenas pretendiam reproduzir, de maneira
mais ágil e segura, o sistema de correspondência “física”; ou ainda, as grandes enciclopédias
“virtuais” que facilitavam o acesso à informação. À partir da popularização e expansão da internet possibilitada sobretudo pelo desenvolvimento do World Wide Web2 – em 1990, a utilidade das novas
1
2
Entrevista disponível no endereço eletrônico: youtube.com/watch?v=CI5NKP1y6Ng
Sistema de interface gráfica da internet , que a tornou acessível ao público leito em geral.
6
ferramentas parece ter-se alterado. Da simples “virtualização” de serviços físicos, os novos
desenvolvimentos e softwares3 introduziam um novo carácter: a possibilidade de interação com
pessoas desconhecidas num espaço em comum.
A criação do protocolo de comunicação IRC (Internet Relay Chat)4 em 1993, foi talvez o
marco inicial dessa mudança. Posteriormente, com o desenvolvimento do mIRC (um cliente para
gerenciamento e criação de chats em protocolo IRC), facilitou-se não apenas a união de estranhos
num mesmo espaço, mas a customização dos mesmos: os canais do mIRC. O espaço da internet se
tornou passível de criação coletiva, não dependendo mais do acaso e sorte para encontrar
determinada pessoa num determinado local. Mas talvez o principal avanço para a interação
cibernética se deu pelo desenvolvimento das redes sociais: Sites que permitem a criação de um
perfil virtual; um espaço particular e individual, onde se expõem os gostos; fotos; pensamentos e
características pessoais. Substituindo assim os nicknames5, como a principal ferramenta de
identificação on-line.
Tal evolução técnica da internet caminhou ao lado de uma popularização e expansão de seu
uso. O aumento do poder de consumo de classes inferiores, aliado a novas técnicas que baratearam
o custeio da internet, fizeram a demanda crescer. Segundo dados do IBGE em apenas um ano (entre
2008 e 2009) o percentual de pessoas com acesso à rede cresceu 21,5%, totalizando 41,7% ou
quase 70 milhões de brasileiros, dos quais, segundo o Ibope Nielsen Online, 35,5 milhões ativos, ou
seja, que a utilizam regularmente, permanecendo conectados em média 66 horas e 24 minutos por
mês. Tempo superior a 2 horas diárias.
2. A internet sob o foco científico:
A internet, a cada ano, parece ocupar um papel mais central na vida social. Despende-se
mais tempo em sua utilização, mais lares se conectam à rede e mais interesses ela atrai. Desde o
óbvio interesse econômico até estudos científicos ligados à comunicação, sociedade e tecnologia:
Investigam-se as possíveis mudanças e impactos causados por essa nova ferramenta, trazendo
consigo, algumas preocupações sobre seu uso. Quem nunca foi vítima, ou ao menos ouviu falar das
(talvez exageradas) preocupações maternas à respeito do uso em excesso da internet? “ficar o dia
todo em frente à uma tela”, “ficar trancado quarto”; parecem se caracterizar como sintomas dessas
novas práticas dos jovens de classe média. Mas no que estariam elas (as preocupações) apoiadas?
Recentemente uma série de estudos psicológicos se debruçam sobre a problemática: “Uso
3
4
5
Sinônimo de “programa” em português. A parte lógica e “virtual” dos computadores. Se opondo ao hardware que
representa a parte física, placas e circuitos eletrônicos.
Criado pelo Finlandês Jarkko Oikarinen
Nome fictício (ou não) que se remete à persona “virtual” do internauta.
7
compulsivo pela internet”. Estaria a internet contribuindo para, como talvez Marx denominasse,
uma auto alienação? Endeusamento da ferramenta, que se coloca não só externa, mas superior ao
próprio homem? Estaria ela isolando cada internauta em seu quarto? Espaços privados; isolados e
solitários, contribuindo assim para a quebra, ou ao menos um enfraquecimento, da coesão social?
Indaguemos também: Seria toda navegação na internet, necessariamente, um ato individual e
solitário?6
Voltando à Isaac Asimov que - mais uma vez - parece ter uma pertinente resposta ao assunto.
Ao ser indagado por Moyers, se a expansão dos computadores não exerceria uma desumanização
no processo de aprendizagem, Asimov é enfático:
“Bem, na verdade, é justamente o contrário. Parece-me que é através desta máquina que, pela primeira vez ,
vamos ser capazes de ter uma relação “um-para-um” entre a fonte de informação e os consumidores de
informação (…). Enquanto o ensino por tutores, era uma relação “um-para-muitos.” Todos podem ter um
professor, sob a forma de acesso de conhecimentos acumulados da espécie humana .” (Asimov)
Enquanto alguns psicólogos pesquisadores (além de outras mães preocupadas) interpretam a
internet como um ato em abstrato: a entrada na rede de computadores, Asimov parece se preocupar
com o conteúdo de tal ação. Ora, assim como a prática da leitura não se caracteriza em olhar,
durante horas, uma folha de celulose; o uso da internet também não se caracterizaria como a
simples observação de uma tela de monitor, como indagaria Pierre Levy em seu livro
“Cibercultura”. De tal forma Asimov credita à internet, uma função quase emancipadora do
pensamento humano, uma ferramenta que liga de maneira direta o internauta à uma fonte de
informação, uma ferramenta universalizadora do conhecimento.
Não pretende-se aqui a adesão de uma ou outra visão, mas sim, a exposição das
particularidades presentes neste campo em formação. Ao tentar englobar todos os processos ligados
à rede, os agrupando numa mesma categoria de análise: “a internet”, ambas as visões falham em
seus objetivos. Criando-se um termo que nada deixa escapar, nada pode-se analisar. Ao se dizer “A
internet vicia” pouco podemos compreender. É viciante usar chats, fóruns ou simplesmente mandar
e-mail? Vicia ver vídeos, conversar com outrem ou numa hipótese um tanto quanto absurda,
ligar/desligar o modem do computador? Não podemos compreender a internet como uma categoria
dada por natureza, tão obvia à ponto de autodefinir-se. Ela é, antes de tudo, uma abstração da união
de vários conceitos em agrupamento. Cabe ao pesquisador, principalmente a um pesquisador social,
a construção de seu objeto de estudo.
6
Mais informações sobre as pesquisas psicológicas podem ser encontradas no artigo “ Compulsão à Internet, Mito ou
Realidade”, referenciada na bibliografia, ao fim do projeto.
8
3. Definição do objeto de estudo:
Para superar a excessiva generalidade e abstração que norteiam as recentes pesquisas sobre
a internet, propõe-se aqui a saída que nos parece, além da mais simples, a mais antropológica
possível: Não empregar a internet em seu todo, como uma categoria dada e definitiva. Mas sim,
realizar dentro dos processos os quais ela engloba, algumas delimitações. Recortes de objeto para
afunilar a temática, isolando variáveis, nos tornando-as úteis para comparações, adições e reduções
em equações também montadas pelo pesquisador. O termo “internet” será empregado, daqui para
frente, como a união de todos os processos que ocorram na web - isto é, na rede conectada de
computadores. Entendido como um campo, uma área e não como um objeto.
“Longcat is looooooonnnngggg”: foi com essa legenda que a imagem
ao lado -denominada no meio cibernético como longcat (gato longo
em inglês) - se popularizou em toda rede no ano de 2006. O gato de
proporções pouco convencionais ganhou, ao longo dos quatros anos
em que circula na internet, diversas paródias: Montagens, tirinhas,
desenhos e músicas em sua homenagem, as quais, também se
propagaram numa forma viral. Poucas horas após o surgimento,
qualquer referência ao Longcat, se espalhava entre a blogosfera
humorística. O que acarretava, por sua vez, em novas criações. De tal
maneira que, em 2010, a imagem ao lado e suas paródias ainda eram
bastante populares. Sendo também, percursor duma categorias
específicas de virias: os LOLcats, imagens ou vídeos de gatos que se
Longcat: imagem viral
de 2006
propagam pela rede. O longcat serve-nos, aqui, como um bom exemplo
daquilo que podemos entender como viral da internet. Nosso objeto
empírico de pesquisa.
Paródias do Longcat.
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Virais da internet é aqui definido como qualquer conteúdo sem uma função utilitarista, que
se propague pela Internet - independentemente de sua natureza – num esquema de distribuição
viral. Ou seja, se espalhando numa razão de progressão aritmética ou geométrica pela blogosfera
e/ou usuários da rede de computadores. Possuindo um tom humorístico na maioria dos casos, criam
juntamente com suas paródias, um todo de significado próprio; que se reproduz e reinventa-se à
cada nova utilização. A natureza de um viral é diversa, desde imagens curiosas à filmagens de um
gato tocando teclados, ou ainda uma garoto seminu dialogando sobre mamilos para uma câmera.
É este fenômeno que utilizaremos como o objeto a ser analisado.
4. A importância de estudar virais:
A principio, o estudo a respeito de um humor tão banal, pouca relevância apresentaria.
Longe de transitar em importantes questões antropológicas como religião; gênero; política ou
corporalidade, os virais da internet se apresentam, de imediato, como simples passatempos. Um
entretenimento cotidiano, que talvez nada acrescente na vida dos internautas ou na sociabilidade em
geral. Qual justificativa podemos evocar então para a realização da pesquisa?
Como anteriormente dito, o interesse não reside necessariamente nos virais em si, mas eles
nos servirão de porta de entrada num interesse de maior magnitude: Formas de lazer e sociabilidade
na internet. Pois acredito que os virais se apresentem como uma forma mais tangível,
empiricamente analisáveis, tornando-se o melhor objeto para entender o fenômeno. Mas resta-nos
ainda, justificar o interesse da temática em si.
Muitas pesquisas se desenvolveram, desde a popularização da internet em meados dos anos
90. Muitas apontam para o caráter revolucionário da internet à respeito dos meios de comunicação.
Democracia e internet; ativismo na rede; bussines online e conhecimento coletivo, são bom
exemplos.7 Outro segmento de pesquisas interpretam a internet em sua manifestação, digamos, mais
patológica: A internet como um vício. Pesquisas ligadas à psicologia e psiquiatria abordam, duma
maneira geral, os desvios de conduta e aspectos negativos ligados à rede. Exclusão social,
dependência e impaciência são temas comumente presentes em tais pesquisas. Ambas as visões
talvez possuam sua legitimidade empírica, porém, totalizam de forma teórica a internet, em
conceitos vazios e amplos. Jogos eletrônicos, redes sociais e blogs, assim como qualquer atividade,
pode ser praticada de uma forma compulsiva. Contudo, nem toda forma de utilização na internet é
uma atividade solitária. Muitas também, possivelmente a maioria, abrangem a própria noção de
sociabilidade. Tomando-se a internet como objeto da pesquisa , necessita-se não apenas dum recorte
preciso – que é falho nesse caso – mas também de uma rigorosa pesquisa de campo. Erram as
7
Algumas pesquisas encontram-se brevemente expostas no próximo tópico.
10
pesquisas psicológicas ao ignorarem as próprias noções internas da rede, à tomar o objeto como
qualquer outro sem atentar-se à particularidades do próprio campo.
As pesquisas voltadas à comunicação, por sua vez, pecam ao exacerbarem as características
próprias e novas trazidas pela internet. Seria difícil negar o carácter revolucionário da rede de
computadores, novas formas de relacionamentos; de exposição de pensamentos; comunicação e
aprendizado, impactos provavelmente maiores que o telefone, telégrafo e televisão. Entretanto, o
desenvolvimento da internet é parte de um processo técnico-científico, sofrendo a influência do
pensamento pelo qual é norteado. Para se efetivar como uma atividade social, a internet é tomada
pela cultura vigente. Podemos entender os processos em rede como um novo campo em construção,
trazendo consigo novas formas de relacionamentos e novos conceitos, entretanto partindo duma
base social já estabelecida. A linguagem; o humor e a forma de sociabilidade, apesar de possuírem
características próprias8, só fazem total sentido se tomado seu significado num contexto sociocultural mais amplo. Antes de exemplificar os processos revolucionários da internet e suas
características que rompem com a sociedade “real”, é necessário especificar como a mesma
incorpora os novos elementos cibernéticos em sua lógica. E posteriormente, como esta lógica,
reproduz ou modifica essa cultura. Método ignorado, em sua maioria, pelas pesquisas na área de
comunicação.
É necessário dar à internet uma dimensão justa, nem um processo revolucionário que
romperá todas as noções sociais, nem uma regalia da classe média que se caracteriza como um
simples vicio ou compulsão. Apenas uma análise do campo “internet”, uma análise partindo de
dentro, poderá dimensionar a relevância de tais processos. A utilização dos virais da internet como
objetos parece-nos como ideal para medir esse caráter ambíguo da rede, ele traz consigo
características próprias tanto do campo da internet como da “vida real”; evocando elementos de
ambos os sentidos para criar sua significação, acrescentando assim, um viés antropológico na
análise do processo, fenômeno ainda raro. Não pretende-se aqui, portanto, a conclusão daquilo que
seria a internet, muito menos partir de um conceito já pronto; mas sim, a investigação minuciosa
dos processos de sociabilidade que ocorrem em seu interior.
Ainda são escassas, ou quase nulas, pesquisas com abordagens mais “cotidianas” - se assim
podemos dizer - da internet como uma ferramenta de diversão, entretenimento e sociabilidade. Se as
ciências ligadas à comunicação e aos negócios, desde muito tempo, voltam suas atenções para as
inovações trazidas pela internet, as ciências sociais parecem um tanto quanto desinteressadas.
Quando utilizada, principalmente pela Antropologia, a internet entra quase unicamente como uma
8
O dialeto da internet possui até uma denominação característica: o “tiopês”. Forma de escrita propositalmente errada
ou empobrecida, ausentando-se pontuações e determinados tempos verbais.
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ferramenta de campo. A facilidade e baixo custo em se analisar na internet, comumente, implicam
em seu uso como campo inicial. Pesquisam-se comunidades, fóruns e agrupamentos de determinado
grupo ou fenômeno objetificados. A internet adquire aí, um caráter quase duplicador da vida “real”;
um “outro lugar”, o qual podemos encontrar representações “virtuais” do espaço “real”. Tal
tendência parece se intensificar com o passar do tempo, mas a pesquisa dos processos próprios da
web, a internet – ou parte dela – como uma objeto e não como uma ferramenta, ainda é muito raro.
São as pesquisas do filósofo e sociólogo da informação Pierre Lévy - sobretudo em seu livro
“Cibercultura” - e as de Manuel Castells, sociólogo espanhol, em sua trilogia “Sociedade em
Rede“, que chegam mais perto de tomar a internet como um objeto, dentro das ciências sociais.
Abordando as relações existentes entre internet e sociedade, apontam como os novos mecanismos
de comunicação influenciam na dinâmica social, sobretudo em aspectos educacionais e
democráticos. Ambos realizam o exercício de reflexão sobre as relações de uma estrutura
socioeconômica e as novas ferramentas produzidas pelo avanço cibernético, porém optam por
realizarem um caminho contrário do aqui sugerido. Trabalhos de mapeamento do novo campo,
expondo os termos, uma metodologia de trabalho, descrevendo os agentes e cenários também foram
realizados nos últimos anos. Contudo, ainda é raro uma pesquisa dos moldes aqui proposta, a
internet objetificada e problematizada internamente.
Já esta clara a justificativa da abordagem da internet que pretende essa pesquisa, sua
contraposição à outras visões metodológicas e problematização empírica. Resta ainda a justificativa
da escolha da internet como um fenômeno antropológico relevante em si.
A antropologia, em seus mais diversificados segmentos, possui uma certa tradição em focar
objetos liminares, normalmente excluídos do centro econômico e/ou social. Como o estudo em
reservas indígenas - ou da própria cultura indígena -; estudos em comunidades de periferia;
religiões minoritárias na sociedade brasileira; grupos de minoria ou excêntricos. Todas essas
pesquisas possuem uma razão mais do que justificada, mas a tendência gera uma falta de pesquisas
de objetos “mais centrais”. O estudo do uso da internet, e mais ainda, o uso como entretenimento;
corresponde - principalmente no Brasil – à uma atividade majoritariamente jovem de classe média
urbana, segmentos os quais faltam pesquisas antropológicas. Recentemente a empresa comScore
divulgou dados sobre o uso da internet no Brasil, segundo ela 65% dos usuários possuem entre 15 e
34 anos e 81% entre 15- 44 anos. Se observarmos o uso da internet por regiões, Sudeste lidera com
68% do total de internautas, seguido do Sul com 13% e Nordeste com 11%, Centroeste e Norte
possuem apenas 6 e 2% respectivamente; evidenciando assim uma possível relação socioeconômica
e o uso da rede.9
9
Esta e outras estatísticas se fazem presente no endereço eletrônico: comscore.com/por/
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Por fim, ao entendermos a internet como um novo campo em construção, teremos a
oportunidade ao estudá-la, de compreender os fenômenos presentes no processo de criação de um
campo ou estrutura própria do pensamento. Isto é, segundo a visão de Pierre Bourdieu, um conjunto
de relações de forças, que se organizam e competem por um capital específico. A criação de um
novo habitus, uma estrutura que orienta a percepção e ação dos agentes no interior do campo em
particular. Ou seja, o surgimento de uma nova estrutura de pensamento, com suas regularidades e
regras próprias. Um tema útil, não apenas aos estudos cibernéticos, mas também para temas
clássicos da antropologia.
Definimos então o objetivo da pesquisa como: Investigar o uso de virais da internet como
uma forma de entretenimento e sociabilidade em meio cibernético. Procurando padrões,
ordenamentos e regras específicas, que evidenciariam uma lógica de construção social própria, a
partir da apropriação de elementos culturais externos ao meio. Procurando responder: Faz sentido
denominar esse tipo de interação na rede como uma “cultura própria da internet”?
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Parte II. Quadro de referências
1. Quadro teórico
Em 1984, antes mesmo da abertura da internet para o grande público, Willian Gibson pública
seu livro “Neuromancer”, um romance de ficção científica, no qual introduz o conceito de
“ciberespaço”. Segundo ele Ciberespaço é:
“Uma alucinação consensual diariamente experimentada por bilhões de operadores legítimos em cada país, por
crianças a quem são ensinados conceitos matemáticos... Uma representação gráficas de dados extraídos de
bancos de cada computador do sistema humano. Complexidade impensável. Linhas de luz alinhada no nãoespaço da mente, clusters e constelações de dados . Como luzes da cidade, afastando-se...” Willian Gibson
(Neuromancer, 1984).
Foi Pierre Lévy quem melhor adaptou, não só esse, mas os vários conceitos já populares no
meio técnico, numa linguagem sociológica. Em seu livro Cibercultura Levy nos apresenta seu
conceito, derivado daquele inventado por Gibson, de ciberespaço: “Meio de comunicação que surge
da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura
material da comunicação digital (os denominando de ciberestradas), mas também o universo de
informações que ela abriga, assim como seres humanos que navegam e alimentam esse
universo”(Cibercultura, pág 17). Logo em seguida nos apresenta sua definição daquilo que entende
como cibercultura: “Conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), práticas, atitudes, modo de
pensamento e valores que se desenvolvem com crescimento do ciberespaço.” (idem).
Podemos interpretar a construção dos dois conceitos, como uma espécie de representação
“virtual”, respectivamente, do espaço social e da cultura. O ciberespaço se constituiria numa
migração do espaço social em meio “virtual”, no qual a desmaterialização do espaço-tempo
resultaria numa estrutura particular. Pierre Lévy ainda nos diz que o ciberespaço se caracterizaria
numa universalidade sem totalidade. Universalidade por não necessitar mais de uma co-presença,
estando a informação passível de acesso, fora de seu contexto de criação. Porém não totalizante,
pois, a união de toda informação do ciberespaço não resultaria numa unidade informacional, sendo
um “caos de tudo” (idem, pág 113), características tais, nunca visto antes em meios
comunicacionais. A cibercultura também pode ser vista como um resultado de “virtualização”; em
que representaria os processos e os fenômenos culturais numa forma “virtualizada”.
Os conceitos expostos de Pierre Lévy só fariam sentido, dentro de sua lógica do conceito de
“virtualização”, cabendo-se aqui a definição de tal termo: Empregando uma visão filosófica, vinda
14
principalmente de Deleuze, Pierre Lévy opõe a virtualidade não à realidade, mas sim à atualidade.
Aquilo que é virtual não é irreal, ele existe em forma de potência se opondo ao atual. Uma semente,
por exemplo, é a forma virtual de uma árvore. É virtual aquilo que se manifesta concretamente em
diversos momentos e lugares, sem estar preso à um tempo ou lugar em particular. Assim como uma
palavra ou a própria cultura, que não se prendem numa temporalidade específica, mas atualizam-se
ao serem evocadas; a internet (repartida entre ciberespaço e cibercultura pelo autor) também se
realiza em termos virtuais. Não devemos portanto, confundir o virtual (conceito filosófico) com o
“virtual”, utilizado, pelo senso comum, quase como um sinônimo de digital: Uma representação
gráfica de um código binário (0 e 1).10
Uma das principais implicações da virtualidade da internet, segundo Pierre Lévy, seriam os
hipertexto. Um texto virtualizado que, existindo apenas em forma de potência, não responde à uma
lógica linear, facilitando a busca por informação e a ligação à outros textos à partir de um hiperlink.
Um atalho virtualizado e interativo que permite a ligação de um hipertexto à outro, a migração de
uma página da rede à outra, enfim, o transitar não linear no ciberespaço.
Mas talvez seja - o apenas citado uma vez durante a obra – conceito de “netiqueta”, a
principal contribuição de Pierre Lévy para esse projeto. Netiqueta constitui-se como um trocadilho
de “net” (sufixo da palavra internet), mais “etiqueta”, ou seja, é uma etiqueta da cibercultura. Um
conjunto de práticas recompensadas pela reputação, que delimitam as ações ditas como “boas” ou
“corretas” no ambiente virtual. Faria parte da netiqueta, por exemplo, o devido crédito da fonte do
conteúdo usado; comentários uteis em postagens alheias; não utilização do anonimato para
conturbar o ambiente; não fazer propaganda descabida de seu site; não realizar spam (mensagens
seguidas de forma desnecessária, que atrapalham a interação dos demais internautas) entre outras
práticas.
Outro autor já citado que também explora os processos da internet é Manuel Castells,
sobretudo em sua trilogia “sociedade em rede”. Diferentemente de Pierre Lévy, para ele o
diferencial e inovação da internet não estão na virtualização, pois, segundo ele a realidade vivida já
se configura como um meio virtual, de potências. Símbolos que formam nossa cultura, partindo da
própria linguagem, se apresentam como potências que remetem à uma semântica, que nos escapa de
um sentido imediato. Aquilo que caracterizaria o novo modelo de comunicação seria sua
abrangência de todas as expressões culturais:
“O novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da
vida humana. Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, historio e geográfico e reintegram-se em
redes funcionais ou em colagens de imagens (...). O tempo é apagado no novo sistema de comunicação já que
10
Linguagem pela qual é feita a programação lógica, se utilizando apenas de dois caracteres : 0 e 1
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passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de
fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade
dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai
se tornando realidade.” (p.398)
Apesar de um foco mais marxista, apontando os processos de produção, sobretudo
empresarial e as relações de trabalho, que se modificam nesse processo, a pesquisa de Manuel
Castells ainda nos é útil por apresentar, de forma mais elaborada, uma cultura da internet, apesar do
viés marxista de produção e classes. Segundo ele a cultura da internet é formada por quatro
camadas ou níveis: A cultura tecnomeritocrática, aquela que beneficia e congratula gratuitamente o
bem prestado ao desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, uma representação da
cultura acadêmica em ambiente digital. A cultura Hacker, que produz propriamente dito, a internet e
suas soluções, ou ainda as destroem. A cultura das comunidades virtuais, que usufruem as soluções
e as facilidades da internet (os usuários propriamente dito). E por fim a cultura empresarial, a qual
une a indústria, comércio e os serviços para a rede. A cultura na internet é capaz, portanto, de
compreender todos os segmentos culturais.
Afastando-se da excessiva abrangência do conceito de “cibercultura” elaborado por Pierre
Lévy, que a entende como toda prática humana na rede; e do materialista conceito de “cultura da
internet” de Manuel Castells, que a liga aos processos de produção, definimos aqui a cultura da
internet aquela desenvolvida na (e para a) rede; se utilizando de determinados símbolos e normas,
que só encontrariam total sentido no meio cibernético. Como já exposto, será objetivo dessa
pesquisa analisar, se tal conceito pode ser empiricamente verificado.
A complexidade dos fenômenos cibernéticos é tanta que não apenas pesquisas modernas se
encaixam no campo, mas também e principalmente, temas consagrados das ciências sociais.
Em 2003 Cory Doctorow, em seu livro de ficção “Down and out in the magic kingdom”,
cria o termo Whuffie, coincidentemente - ou quem sabe não - muito semelhante ao conceito de
“capital simbólico” de Pierre Bourdieu.
Ao longe de suas obras - e em particular na “A distinção” - Pierre Bourdieu desenvolve a
noção de “Espaço social”, como uma forma de estratificação social que se opõe à “hierarquia
social” por não ser piramidal. O espaço ocupado por um grupo ou agente no espaço social é
definido, não unicamente pelo capital econômico, mas também pelo cultural, social e simbólico,
conforme a quantidade e composição do conjunto dos capitais. Quando se trata de um campo em
particular – um conjunto de relações objetivas e históricas – denominamos o capital que organiza a
hierarquia no interior do campo de “capital específico”.
16
Assim como o capital social de Pierre Bourdieu, o termo Whuffie é a denominação do
conjunto de relações sociais de um indivíduo. Adquirido mediante colaborações, doações e
interações da maneira definida como “correta” pelo campo em particular, pode ser utilizado para
realizar interesses, ganhar favores e enfim, ser acumulado e gerenciado - igualmente todo tido de
capital. O Whuffie é uma espécie de capital específico da cultura da internet, quem o possui em
abundância, possui um status e uma boa colocação na hierarquia cibernética.
Uma vez que um dos objetivos da pesquisa foi definido como a busca por regularidades nas
interações social, é de grande utilidade alguns conceitos da antropologia urbana criados para tal fim.
José Guilherme Magnani, ao longo de sua obra, sobretudo em “Festa no pedaço”, nos
apresenta diversas categorias criadas para descrever a regularidade na interação em meio urbano.
“Pedaço” seria um espaço intermediário entre as noções de “casa” e “rua”, público e privado; um
local com uma simbologia e normatividade específica, compartilhadas pelos que ali se conhecem e
se relacionam. Fazer parte de um pedaço é ter a licença e o direito de transitar por tal local,
conhecer seus membros e compartilhar das mesmas regras. Uma derivação de tal conceito é o de
“mancha”. No pedaço você conhece cada membro, numa mancha você tem noção do “tipo” de
pessoa que ali transita, reconhece a caracterização simbólica que a evidencia como membro e ali se
sente acolhido e seguro. Uma mancha pode ser compostas por diversos e distintos pedaços, que
acabam, de uma maneira ou outra, negociando a própria distribuição e regras do espaço. Outra
categoria possivelmente útil para a pesquisa é a de “circuito”. Uma união de equipamentos por no
qual se dá a relação, que, diferentemente da mancha não se encontram numa contiguidade de
espaço. São os indivíduos, consumidores, membros, que se deslocam de um ponto à outro do
circuito. Esse deslocar é definido como o “trajeto”, uma espécie de regra ou norma que dão
regularidade na interação, seja num pedaço, mancha ou circuito.
A reflexão acerca de tais categorias se torna ainda mais interessante caso pensemos que a
própria noção de “espaço” é reformulado num ciberespaço. Quão tão próximo estaria um blog de
outro ? A priori todas as paginas da internet estariam igualmente distanciadas: um simples clique.
Seriam as interações, via rede, capazes de criarem uma noção espacial num meio, aparentemente,
sem espaço físico ?
Por fim, cabe aqui uma breve exposição da noção de sistema, tal qual exposta por Claude
Levi-Strauss em seu livro “O pensamento selvagem”. Segundo ele a “exigência de ordem”
caracteriza não só a base do pensamento selvagem, mas de todo tipo de conhecimento; sendo assim
um pressuposto do pensamento humano. Tal exigência de pensamento faz com que a humanidade
ordene, de forma coerente, todos os elementos observáveis empiricamente. Tal lógica criada pela
ordenação dos elementos é denominada por ele como “sistema”. Os fonemas só apresentariam um
17
sentido dentro de um sistema de sons; assim como um determinado viral da internet, só apresentaria
um sentido dentro de um sistema mais amplo da “cultura cibernética”. O sistema é a lógica da
classificação dos elementos, é ele que define o sentido das partes integrantes, é um todo sobre as
partes. Caracterizando-se assim, como uma boa ferramenta para o estudo proposto.
2. Procedimentos metodológicos
Defendemos aqui, o uso de um termo mais restrito em relação ao “internet” - empregado de
maneira abstrata - justamente no intuito de criarmos uma categoria científica. Categoria essa,
passível de análise empírica.
Uma vez tendo definido (criado) nosso objeto, os “virais da internet”, utilizaremos tal
categoria para realizar uma etnografia do campo “internet”. Apenas um método etnográfico seria
capaz de atribuir uma característica empírica ao objeto. De nada adiantaria criarmos um conceito, o
qual foge da abstração do conceito naturalizado, para depois não ligá-lo à uma realidade observável
e analisável.
Em princípio o método proposto por Malinowski parecia muito útil como parâmetro para a
análise. As etapas descritas por ele em “Argonautas do pacífico ocidental” nos serviriam de base
para uma etnografia cibernética. O estudo do esqueleto social, a anatomia cultural, a rotina
cristalizada dos costumes, nos revelados à partir de diagramas, estatísticas e descrições físicas, seria
adaptada ao estudo dos layouts das paginas, o circuito de circulação dos virais. A segunda etapa, a
carne social, a rotina vivida, seria analisada pelo comportamento dos internautas, os comentários e
postagens nos blogs. Por fim, a alma da cultura, representada pela maneira de pensar dos nativos,
seria acessada mediante análise das ideias propriamente ditas, do pensar do internauta.
Apesar de simples, a proposta se mostrou difícil de ser aplicada no campo investigado. As
noções de espacialidade parecem distorcidas no ciberespaço, seria difícil definir um espaço físico na
qual todas as páginas estariam, a principio, numa mesma distancia entre si. Os costumes parecem
menos “cristalizados” no campo cibernético do que no “real”, as mudanças no padrão de interação
se transformam num ritmo tão acelerado que seria difícil dizer numa normatividade fixa. Tanto a
noção de espaço, quanto aos costumes e a rotina, nos meios cibernéticos, parecem mais sujeitos à
ação dos indivíduos que a todo momento, parecem reivindicar uma produção de distanciamento e
normatização do campo. As noções de Malinowski parece estarem ligadas e sendo produzidas, pela
relação social entre os agentes no campo cibernético, dificultando seu entendimento por uma visão
exterior ao campo. Para entender a espacialidade, circulação dos virais e as normas, foi necessário o
entendimento das relações, as rotinas, as praticas cotidianas, enfim, aquilo que Malinowski
denomina “imponderáveis da vida real”; além do modo de pensar dos internautas.
18
Parte III. Descrição e análise
1.Cenários:
É possível encontrar virais da internet por uma simples busca em sites de pesquisas mas, de
forma geral, é a blogosfera a responsável pela principal divulgação de virais. Os blogs, em sua
maioria, reservam espaço para comentários de internautas, além de botões que migram diretamente
o post para as redes sociais, criando assim, hiperlinks que levam ao acesso direto ao blog. Podemos
ainda, citar outras ferramentas úteis para a divulgação de virais, como o Twitter e Facebook. De
maneira geral, o cenário resume-se em qualquer página da internet que possibilite a divulgação em
um processo viral, de fácil acessibilidade e dinamismo. Ou ainda, no caso de apenas utilização e
não divulgação, podemos encontrar virais em qualquer página que ocorra interação entre
internautas.
1.1 Blogosfera:
Cabe-nos aqui, uma breve definição de blog e blogosfera. Blog é um serviço prestado por
diversos servidos, como Blogger e Wordpress, que oferecem ferramentas e um endereço próprio,
possibilitando a publicação de textos, imagens e vídeos por internautas, sem a necessidade de
conhecimento técnico. O usuário de um blog recebe a denominação de “Blogueiro(a)” . A prática de
disponibilizar na rede experiências, acontecimentos e pensamentos, rendeu ao blog o apelido de
“diário online”. Com o desenvolvimento de novas ferramentas de blogs o uso para tal fim diminuiu
e o apelido quase não é mais utilizado. Por ser um serviço gratuito em sua maioria, as opções de
customização e preferências são limitadas, padronizando a grande maioria dos blogs. Possibilitando
uma análise descritiva desse padrão de layout.
Tomaremos como material empírico os layout dos seguintes blogs: Não Intendo; Caixa
Pretta; Não Salvo; Ah Negão; Google Boys; Bobagento; O Macho alfa; Fail Wars; Le Ninja e
Viralizou.
Observando todos os layouts é fácil perceber uma grande regularidade: A parte superior, o
cabeçalho da página, fica destinada ao logotipo do Blog dentro de um banner. A lateral direita se
destina à mini-banners dos blogs parceiros, que funcionam como hiperlinks. Por fim, na área
central, são postados os conteúdos em forma cronológica, possuindo em sua base botões para
compartilhamento em redes sociais e a opção de comentários.
Apesar de seguir um determinado padrão, os layouts não são exatamente iguais,
diferenciam-se segundo a temática proposta pelo blog, alterando as cores e as figuras no cabeçalho
19
por exemplo. O blog “O macho alfa” propõe uma temática “rustica”, apresentando a figura de um
lenhador dentro do logo do blog, que por sua vez assemelha-se ao logo de uma cerveja. As cores
verdes musgo e amarelo predominam no layout, que apresenta uma arte simples e clean. O blog “Le
ninja”, “Viralizou” e “Não intendo”, por sua vez, focam a temática dos virais, apresentando em seu
cabeçalho figuras mais carregadas com várias referências à virais famosos. O exemplo mais
interessante talvez seja do blog “Não salvo”. Com uma temática que remete à religiosidade, o blog
não só apresenta um cabeçalho com nuvens e um santo, “mascote” do blog, como também substitui
a palavra “comentários” por “orações”. Pratica também realizada pelo blog “Google boys”, que a
substitui por “Trolladas”. Mas é à partir dos botões de parceria que uma blogosfera de fato se
forma, de hiperlink à hiperlinks, blogs se tornam vizinhos, próximos e relacionam-se, constituindo
assim, uma rede de conexões, a blogosfera. O próprio Layout, dando foco aos parceiros e botões de
compartilhamento rápido da postagem, privilegia o caráter viral das postagens; facilitando assim
sua divulgação entre os diversos blogs e servições on-lines.
Blogosfera é a denominação do conjunto de Blogs. Normalmente é dividida em vários tipos:
Blogosfera de humor, a totalidade dos blogs humorístico; Blogosfera jornalística; totalidade de
blogs de jornalismo; Blogosfera crítica e assim por diante. Recortaremos nossa análise na
blogosfera humorística que concentram os virais da internet.
Ultimamente o posto de centralidade da Blogosfera, em relação à produção e distribuição de
virais, vem sendo ameaçado pela súbita popularização do Facebook e Twitter, a atividade se tornou
mais dinâmica Um modo de combate, encontrada pelos blogueiros, é remeter seus próprios
conteúdos para a rede social, criando um hiperlink que migra o internauta que clicar, para seu
domínio.
1.2 Twitter:
Popularizada nos últimos anos com a proposta “diga à seus amigos o que esta fazendo”, o
Twitter11 vem sofrendo grandes modificações para acompanhar as mudanças impostas pelas demais
redes sociais. Aos poucos, novos recursos de compartilhamento, procura e acesso à informação
foram implantadas, dotando o twitter de ótimas ferramentas para a distribuição de informação,
inclusive, virais.
A lógica do twitter, apesar de simples, se mostra bastante eficaz: Ao se criar um perfil, se
tem o direito de criar “twitters”, mensagens de até 140 caracteres, que serão vistas por todos os
perfis que lhe “seguem”, além da possibilidade de seguir demais perfis. Ou seja, aquilo que você
twitta será visto por todos seus seguidores e você receberá em sua “Linha do tempo” tudo aquilo
11
https://www.twitter.com
20
que seus seguidos twitarem, em ordem cronológica. Mas a ferramenta que possibilita a utilização
do twitter para a divulgação de virais é o “Retweeter”. Retweetar alguém, nada mais é que criar
uma citação, uma cópia dum tweeter que é enviada à seus seguidores, mesmo que estes não sigam o
criador do twitter em questão. A cada retweeter o conteúdo é distribuído de forma viral.
Outra forma de divulgar e utilizar virais no Twitter são os perfis humorísticos e fakes.
Muitos perfis se tornam famosos por twittarem frases engraçadas, muitas das quais são relacionadas
à virais. Outros se tornam famosos por fingirem ser alguma celebridade, como Kleber Machado,
Geraldo Alckmin e Xuxa.
Além de uma ótima ferramenta de comunicabilidade e divulgação informacional, o Twitter
se apresenta para nós, como uma eficaz ferramenta de análise sociológica. Trend Topics (TT), ou
“Assuntos do momento” - como é denominado na versão em português -são estatísticas dos termos
mais utilizados no Twitter, as palavras mais citadas, possuindo inclusive, um filtro de análise
segundo localidades. Uma forma de incentivar que tal termo seja divulgado é através da criação
duma HashTag, palavras chaves antecedidas pelo símbolo '#'. Ao ser escrita num Twitter a HashTag
recebe um destaque especial, adquirindo uma coloração própria. Comumente são utilizadas na
realização de campanhas, com a utilização de palavras de ordem como #ForaSarney;
#ForaRicardoTeixeira ou ainda campanhas comerciais. A posição das HashTag, ou das demais
palavras nos Trend Topics, nos evidencia a relevância e profundidade de determinado assunto
dentro do Twitter e uma possível relevância dentro da internet em si.
1.3 Orkut, Facebook e Google plus
As redes sociais Orkut12, Facebook13 e Google plus14, apesar de não serem exatamente
idênticas, funcionam através da mesma lógica: a criação de um perfil virtual abrangente, que tenta
reunir e exibir para os demais perfis, seus interesses, gostos e forma de pensar. Ao se criar uma
conta no serviço da rede social, se adquire o direito de criar um perfil com informações sobre seus
gostos, opiniões e atividades que realiza. O perfil, além de ser um espaço 'privado' e 'endereçado'
dentro do complicado emaranhado de informações da rede, também serve como um representante
de sua personalidade na internet. Configuram-se portanto, como a melhor maneira de se conhecer
alguém na internet, observando seu estilo de vida e elementos particulares.
Além da criação do perfil, tais serviços ainda disponibilizam outras ferramentas, como a
criação de comunidades, grupos e círculos. Tais ferramentas, apesar de suas particularidades,
funcionam através de um mesmo objetivo: permitir a comunicação de determinado grupo de
12
13
14
http://www.orkut.com.br
http://www.facebook.com/
https://plus.google.com/
21
pessoas, em torno de um interesse em comum. Facilmente se encontra nas redes sociais
comunidades ou grupos destinadas à fotografia; literatura; cinema; artes; jogos e etc... Funcionando
não só como um local de discussão e interação, mas também, um banco de conhecimento de
determinada área, surgindo nos últimos anos, novas redes sociais à partir desta lógica. Focadas em
num interesse em comum, apresentam ferramentas que facilitam a interação em torno deste
interesse. Podemos observar como exemplo o Skoob, uma rede social voltada à literatura, que
possui a ferramenta de criação de resenhas, marcação de livros lidos e ainda um sistema de troca de
livros; ou ainda, o Filmow, que funcionando de fomra similar ao Skoob, porém, focada em filmes.
Apesar de não serem o espaço propicio para a divulgação de virais, tais redes sociais
também permitem uma interação direta e o envio de mensagens para todos os usuários; permitindo
a propagação dos mesmos. Atualmente, muitas páginas (perfis de caráter jurídico e não físico)
focadas na postagem de virais, vem surgindo no facebook. Evidenciando que, onde existe interação
entre pessoas, poderá existir a divulgação e uso de virais. Por terem uma divulgação relativamente
restrita ao círculo social, tais recursos poucos foram utilizados para a coleta de material empírico
para a realização da pesquisa.
1.4 Youtube:
Mesmo não sendo um espaço muito propicio ou utilizado para interações, o site de
armazenamento de vídeos 'youtube'15, apresenta uma grande importância para o estudo. Com uma
interface intuitiva e uma grande facilidade para a postagem de vídeos, o Youtube se apresenta como
principal “armazenador” de virais de vídeo. Apesar da grande maioria dos vídeos serem postados
em blogs, eles são hospedados na página do site, permitindo assim, a utilização das ferramentas dos
mesmos pelos usuários. Apesar de como dito anteriormente, o site dar suporte para interações via
comentários e certas postagens conterem grande discussões sobre o tema, a ferramenta nos
apresenta maior interessa são os números de “views” e a aprovação “gostei” e “não gostei”. Através
de tais ferramentas é possível ver a popularidade e aprovação de determinado vídeo dentro do
Youtube, observando a quantidade de vezes que o vídeo foi visto e o número de pessoas que o
aprovaram ou não.
1.5 A produção da espacialidade:
Todo conteúdo da internet, apesar de existir de maneira física em algum servidor, se
apresenta na forma de “nuvem”. Ou seja, não responde à um espaço físico, mas orbita numa nuvem
de informação que pode ser acessada em qualquer momento à partir de hiperlinks e/ou endereços
15
http://www.youtube.com/
22
eletrônicos. Se cada página possui seu endereço - único indicio “físico” da espacialidade - o qual
remete seu conteúdo hospedado na nuvem; do ponto de vista físico, cada uma esta igualmente
distante das demais. A distância entre dois pontos da nuvem de informação é, em teoria, o mesmo.
Podemos pensar a espacialidade urbana, evocando conceitos como “pedaço”, “mancha” e
“circuito”, como uma reconfiguração social do espaço físico. A estação de metrô Butantã da linha 4
amarela, da cidade de São Paulo, por exemplo, se encontra em termos de acessibilidade mais
próxima da Av. Paulista, do que da Favela São Remo, apesar de fisicamente estar mais próxima
desta última. Num ambiente feito a internet, onde os espaços se tornam nulos por serem iguais, as
configurações de acessibilidade, definidas socialmente, se tornam essenciais para se pensar na
espacialidade. Os termos de pedaço, macha e circuito, não poderia ser definidos por uma
contiguidade física ou tamanho espacial, mas sim, pela forma em que a espacialidade é produzida e
os agentes interagem em seu interior. Podemos pensar o pedaço cibernético como um local de
interação onde os agentes são reconhecidos e previamente definidos, como canais de chat que
exigem senhas, salas de jogos on-lines privadas, softwares de comunicação e etc. A dificuldade de
mapeamento da internet se dá na diferenciação de mancha e circuito. Apesar de ser possível
estabelecer um caminho entre blogs e sites, por meio de hiperlinks, não existe necessariamente um
percurso a ser seguido, ou ainda, uma única linha de relação, cada endereço eletrônico abre uma
vasta ramificação para outros diversos endereços, dificultando assim a classificação como circuito.
Apesar de parecer mais adequado, a definição de macha também apresenta alguns problemas, não
existe necessariamente uma contiguidade espacial entre alguns blogs e sites que propõe a mesma
forma de conteúdo. Dispositivos com características semelhantes, no caso do ciberespaço, se
encontram muito mais dispersos do que os dispositivos que definem uma mancha na antropologia
urbana.
Utilizaremos, para fins metodológicos, o termo “esfera”, mais como uma generalização para
contornar o problema do que uma criação de um termo novo. Esfera seriam repartições da internet
baseadas mais na temática e normatividade semelhante do que uma contiguidade espacial, em
outras palavras, uma repartição que parte da diferenciação socialmente construída, do espaço
produzido. De tal modo, existem a esfera “humorística-viral”, com seu conjunto espacial de blogs e
sites, suas próprias regras e formas de interação. O entendimento à partir dessa criação
metodológica também possibilita a observação do cruzamento de esferas e áreas que correspondem
à duas esferas distintas.
23
2. Atores:
Autores ou Atores ?
Um dos principais motivos para a popularização e criação da internet é o anonimato. Baixar
e postar conteúdo, além de fazer comentários, de maneira anonima é uma grande facilidade na rede.
À principio poderíamos pensar que a internet favorece uma “consciência coletiva”, termo de Pierre
Levy, a individualidade perderia importância em meio cibernético. Nos últimos anos diversos
grupos de hacker ativismo surgiram em fóruns cibernéticos, utilizando o anonimato como principal
ferramenta, se autodenominam como uma unidade grupal. Em contra corrente a esse movimento
esta a popularização de rede sociais como o Facebook, que prioriza o compartilhamento de
informações individuais, diferenciando do quase em desuso Orkut, que privilegiava a troca de ideias
em micro fóruns, contando inclusive, com opção de anonimato.
Mesmo que a primeira visão se demonstre correta, é necessário a diferenciação entre a
existência de atores e autores. A postagem em anonimato não se caracteriza como uma ação grupal,
efeito da circunstância. Um anônimo ainda é um ator, apenas abdica sua assinatura de autor.
As interações ocorridas no ciberespaço correspondem à uma cultura previamente
estabelecida, apesar de oferecerem ferramentas ilimitadas, o limite se encontra no sistema de
pensamento vigente.
Uma análise individualista de atores anônimos seria um grande desafio,
beirando a impossibilidade, porém a analise de atores como um grupo ainda se faz possível. É
necessário a diferenciação entre atores e autores. Portanto, podemos diferenciar os atores, nessa
pesquisa, em dois grandes grupos: os blogueiros que postam conteúdo e os comentaristas, que
comentam as postagens, independentemente da existência, ou não, da autoria. Certamente a posição
ocupada pelos agentes variam, blogueiros comentam em outros blogs, assim como comentaristas
possuem sua própria criação de conteúdo. A distinção se mostra válida apenas para a análise
“formal” da organização de certo blog ou rede social.
24
3. Regras:
A internet comumente é descrita como um espaço sem regulação, “um mundo sem lei” no
qual podemos, não apenas fazer o que bem entendermos, como fingirmos ser quer quisermos. No
entanto, ao observarmos mais atentamente, podemos notar uma certa normatividade , não sendo
unicamente presente, mas também amplamente aceita. Não existe, é verdade, um conjunto de regras
burocráticas que rejam o ciberespaço como um todo, mas podemos encontrar em cada segmento
cibernético um certo conjunto de regras. Cada “pedaço” ou “esfera” de sociabilidade apresentam
um conjunto de “modo de agir” dito como correto, essa normatividade do comportamento
determina muitas vezes quem pode, ou não, fazer parte do espaço. A sociabilidade na rede segue o
mesmo padrão, para ser aceito num “pedaço” ou que possa frequentar um grupo, é necessário
aceitar e seguir um certo conjunto de regras. De tal modo, tais regras seriam úteis para a
diferenciação de esferas cibernéticas, caracterizando a atitude esperada do internauta.
Além de regras, as interações no espaço cibernético são norteadas de regularidades. Não
servindo exatamente como regras, no sentido de obrigatoriedade, as regularidades se comportam
como padrões normativos, características facilmente encontradas em toda a esfera cibernética. Os
tópicos a seguir tratam de algumas dessas regras e regularidades.
3.1 Netiqueta:
Pierre Levy em seu livro “Cibercultura” utiliza o termo “Netiqueta” - um trocadilho entre
palavras “etiqueta” e internet - para definir esse conjunto de normas cobradas do internauta. Cada
esfera de relacionamento da internet apresenta uma netiqueta especifica, focaremos aqui a netiqueta
humorística-viral. Em junho um viral de autoria do blog “Vida de Suporte”, que rapidamente se
popularizou, descrevia de maneira humorística os tipos de “comentaristas” em blogs (próxima
página). Não é um livro de etiqueta no ciberespaço, mas podemos ter uma noção dos “tipos”
comportamentais detestados pelos blogueiros. Ao analisar as figuras podemos perceber algumas
regularidades, no geral não é bem recebido comentários:
- Políticos, que criticam e “levam à sério” postagens humorísticas.
- Que se atentam à pormenores, como erros gramaticais e de digitação, ou a veracidade, ou
não, do conteúdo compartilhado, ou ainda, qualquer tipo de comentário que desvie do objetivo
da postagem.
- Spamers e propagandistas, que se aproveitam do espaço para divulgarem seu próprio
blog.Que tumultuem a caixa de comentários, ofensas diretas, reclamações sem fundamentos e
desvios de assuntos.
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- Inúteis, que não acrescentem nada ao tópico, como a prática do “first”: Ser o primeiro a
comentar em alguma postagem de maneira proposital, postando apenas um “first”. Assim
como as sucessivas postagem subsequentes de xingamento ao “first”, como por exemplo, “pau
no cu do first”, “comi o first”.
- Arrogantes, no qual o comentarista faz questão de demonstrar que já viu o conteúdo,
postando a palavra “old”. Ou se gabando de algum feito, conhecimento ou posse material.
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Apesar de não existirem leis claras que regulem o uso da internet, a própria interação num
processo social, cria suas próprias normas. Descumprir a netiqueta não lhe faz um criminoso, mas,
assim como o descuido da etiqueta e normas comportamentais, lhe faz uma pessoa – nesse caso um
internauta – desagradável, perdendo a legitimidade de pertence à determinados grupos. A lógica
inversa também é válido, seguir a netiqueta lhe faz um bom internauta, adquirindo aquilo que Cory
Doctorow, em seu livro “Down and out in the magic kingdom” denomina de Whuffie, uma espécie
de capital simbólico da internet. Possuir Whuffie's, significa ter prestigio em meio cibernético, ser
reconhecido como um bom internauta, receber apoio e atenção. Interessante observar a semelhança
entre a noção de Whuffie e a de capital simbólico na obra de Pierre Bourdieu.
Capital simbólico é uma tipologia especial de capital, definidora da posição dos indivíduos
na hierarquia de certo campo, cada campo em particular possui um capital simbólico específico.
Podemos entender os Whuffies como capitais específicos do campo cibernético, e o cumprimento
da netiqueta como uma forma de obtenção de whuffies. No caso de blogueiros, outros métodos
também seriam possíveis, como não copiar conteúdo sem dar os devidos créditos, não difamar
outros blogs entre outras condutas, tratadas à seguir.
Em meio a blogosfera humorística brasileira um blog se difere dos demais, não só por
receber uma quantidade relativamente maior de visitas, mas por praticar uma conduta criticada entre
os demais blogueiros. O blog “Kibe loco” por muito tempo preferiu uma politica de distanciamento,
não realizando muitas parcerias, além disto, segundo críticas, praticava o “roubo de conteúdo”, isto
é, postar um conteúdo produzido ou postado inicialmente em outro blog sem citar fontes, fazendose passar por conteúdo exclusivo do blog. Esta prática acabou sendo apelidada de “kibar” em
referência ao nome do blog. “Kibar um post” portanto seria uma prática que feriria as normas de
etiqueta entre blogueiros.
As normas entre blogs talvez seja o mais próximo de uma regra mais burocrática. A grande
maioria de blogs apresentam termos de parceria, regras que os interessados em parceria devem
cumprir. A parceria normalmente é feita pela troca de banners, segue àbaixo os termos de parceria
do blog “Ah Negão”, que segue o padrão da maioria dos blogs.
“Se seu blog enviar um número X de visitas, aparecerá na página principal, em uma das
categorias abaixo:
•Parceiros Destaque: Banners de 145×145.
•Parceiros Top: Banners de 300×50.
•Parceiros: Banners de 50×50.
- As atualizações ocorrem quinzenalmente.
27
- Mesmo se seu blog não se manter entre os que mandam mais vistas, ainda sim permanecerá na Blogoteca.
- Quanto mais visitas seu blog enviar, mais alto o seu banner estará.
- Os blogs que utilizarem “iframe”, pop-up, pop-under ou outras formas ilícitas de enviar visitas falsas terão seu banner
removido sem prévio aviso.”
Mas a netiqueta e os acordos entre blogueiros não são as únicas formas de regularidade
encontradas pelo ciberespaço. Ja foram citadas algumas noções surgidas dentro da rete, como
“old”, “first” e “troll”, trataremos mais atentamente delas no próximo item.
3.2 Trollagem:
O termo nativo de maior evidência hoje em dia, é a “Trollagem”, o termo vem se
popularizando tanto que, não raramente, o escutamos em ocasiões fora da rede. Trollagem é, de
maneira resumida, agir feito um troll. Originário da mitologia nórdica, trolls são criaturas
humanóides semelhantes à ogros, de habitus estranhos vivem em cavernas; são descritos como
intelectualmente limitados e violentos. Agir feito um troll na internet, seria agir estupidamente,
xingar sem motivos, não entender argumentos e se utilizar de falácias na discussão. Porém, o termo
vem sofrendo uma grande mudança de significado nos últimos tempos, com a popularização do
viral trollface (explicado no próximo item), criou-se uma dicotomia entre “agir como um troll” e
“trollar”. Ao tentar elaborar uma boa definição de “trollagem”, comentei em alguns blogs “pessoal,
o que seria trollagem?”, ao receber respostas absurdas como “um tipo de artesanato” percebi que a
melhor definição seria essa: induzir ao engano. Trollar não é agir como Troll, xingar ou
desrespeitar, mas sim enganar, ludibriar, “sacanear”. Atos dos quais poderiam significar uma
quebra de netiqueta, após a popularização da trollagem, se tornaram comuns e aceitáveis, tidos
como engraçados. Praticar uma trollagem é mandar um hiperlink com um conteúdo diferente do
anunciado por exemplo, ou apagar o fim de um vídeo retirando o sentido do mesmo e fazendo o
telespectador perder seu tempo, além, de como foi no meu caso, responder uma pergunta de
maneira errada, fazendo a pessoa se confundir.
Outra definição comum ao termo “trollar” é
“sacanear” tirar sarro, como o exemplo ao lado,
pego no “yahoo! Respostas”, a utilização da
“trollface” como imagem de exibição deixa
claro a intenção de “trollar” do internauta.
28
3.3 Tiopês:
As interações realizadas em ambientes cibernéticos, quando não restritas à um grupo
fechado, permitem a participação de curiosos, estranhos e pessoas inconvenientes. A intensificação
de grupos de interação, em particular as comunidades do Orkut, proporcionou o desenvolvimento
de um dialeto próprio, o tiopês. Pessoas de fora pouco poderiam entender as conversas e o sentido
do humor realizado na comunidade; compreender o tiopês é entender um pouco o “pensamento” do
grupo.
O tiopês, surgido no meado dos anos 2000, é uma escrita onde ocorre a supressão de
conjunções, a flexão errada de verbos e ausência de pontuação, além da inversão de letras dando a
entender erros de digitação. Vejamos um exemplo de pequeno guia criado pelo blog “Ah Negão”:
“Termos comuns:
•TUINTER: O mesmo que Twitter. Sinônimos: TUINTO, TUISTO, TUIST, etc. Exemplo: MEU TUINTER TÁ
DEMAIS HOJE GALERO.
•FÁCIO: O mesmo que “fácil”, porém escrito de forma zuada. Sinônimos: FÁSSIO, FÁCEL. Exemplo: TÁ FÁCIO
PA NGM!
•COS: O mesmo que “com os”. As vezes utilizado em conjunto com outras palavras. Exemplo: VOU SAIR
COSAMIGO.
•NGM: O mesmo que “ninguém”. Essa não tem exemplo. Porque eu não quero.
•BÁTIMA: O mesmo que Batman. O cavaleiro das trevas. Exemplo: ME ABRAÇA FORTE BÁTIMA!
•JENT: O mesmo que “gente”, porém utilizado apenas em início de frase. Exemplo: JENT, HOJE EU TO MAIS
LOCO QUE O GORO TOCANDO BATERIA.
•KD: Mesmo que “cadê” ou “onde está”. Exemplo: CHEGUEI KD GATAS???
•TOCO: Mesmo que “estou com”. Muito utilizado com o termo SDDS (saudades). Exemplo: TOCO SDDS DO
JÁCSO DO PANDERO.
•BULE: Do inglês “bullying”. Melhor utilizado com o til. Exemplo: TO SOFRENO ~BULE~ GALERO.
•DAORA: Versão alternativa da gíria “da hora”. Exemplo: FUI PEIDAR E ME CAGUEI, DAORA A VIDA.
Frases e concordâncias:
•PEGÁ AS VADIA TUDO: Refere-se ao ato de pegar as vadias em sua totalidade. Não é necessário plural nem
concordância.
•AS VADIA FICA TUDO LOCA: Quase o mesmo que acima, então não vou explicar.
•THIS ONLY CAN BE ZUERA: “Isto só pode ser zoeira”, em inglês de Portugal.
•TODOS CHORA/RI/COMEMORA: A concordância nestes casos não se aplica. Estas frases já estão em vias de
extinção, porque tá acabando a modinha.
Outros:
•Uso do til: Utilizado para dar um ar místico à frase, ou quando utilizamos uma palavra legal. Exemplo:HOJE
CAGUEI ~~DURINHO~~
•Gerúndio: Não é necessário colocar a letra “D”. Exemplo: TO FAZENO COCÔ ME LIMPA BÁTIMA.
•Pontuação: Totalmente dispensável. Exemplo: TO AQUI DEPILANDO A BUNDA MAS QUEM NUNCA NÉ
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•Gênero: algumas coisas podem mudar de gênero conforme necessidade. Exemplo: COISA/COISO,
GALERA/GALERO, SHOW/SHOM.
Espero que este pequeno dicionário tenha ajudado a evitar mais momentos constrangedores nas redes sociais.”
Além de dificultarem o entendimento para pessoas “fora” do grupo e fazerem os membros
se reconhecerem, tais técnicas também funcionam como mecanismos de criação de sentido próprio.
Apesar de confuso, o dialeto ainda é português, a “estrutura” da escrita portuguesa é alterada para
corresponder à um sistema próprio da cibercultura.
Após uma baixa de popularidade no meio dos anos 2000, o tiopês parece ter voltado “à
moda”, sobretudo com a popularidade de novas redes sociais como o Twitter. Expressar
conhecimento de um dialeto utilizado no começo do século demostra certa experiência na rede,
diferenciando-se assim de uma nova geração de internautas. Foi através desta visão nostálgica de
amadorismo e “tosquice” dos tempos remotos das redes sociais, que o blog “cersibon” ganhou
popularidade. Com tirinhas com desenhos extremamente amadores e escrita tiopês, o blog foi um
dos responsáveis pela volta do dialeto no ciberespaço.
30
4. Virais:
Aparentemente qualquer imagem, vídeo ou música podem tornar-se um viral da internet.
Cenas curiosas, fatos bizarros e esdrúxulos parecem caracterizarem a preferência para tal. Mas
numa análise mais atenta percebemos que até mesmo a formação de um viral responde a certa
regularidades e regras.
4.1 Tipologia viral
O “gato tecladista”, famoso viral da internet que gerou diversas paródias, parece um achado
aleatório da internet, mas seu sucesso pode ser entendido se observarmos sua posição dentro duma
categoria específicas de virais os “LOLcats”. Imagens de gatos em situações “fofas” ou curiosas,
normalmente seguidas por uma legenda, ou ainda, vídeos de gatos brincando, brigando, dormindo
entre outras atividades, fazem sucesso no ciberespaço. Um gato vestido de azul, tocando uma
musica simples e de fácil memorização, ao estilo “jingle”, se apresenta como um ótimo material
candidato à viral.
O gato tecladista se insere dentro de um
sistema
de
significado
ciberhumoristica,
os
próprio
“LOLcats”.
da
Uma
esfera
vez
caracterizado como viral, o gato tecladista não
apenas reforça o universo o qual se insere, mas
também o modifica. Assim como palavras, os virais
existem num ambiente “digital”, existindo como
O gato tecladista
potência, tornam-se ato ao serem evocadas no uso
social, reforçando e modificando seu próprio carácter, uma criação que se recria. Assim como
outros virais, a popularização do gato tecladista trouxe consigo diversas paródias e modificações,
entrando para um grupo simbólico de construção de significado dentro dos relacionamentos na rede.
Tanto sua aparência, como o som de sua música ou ainda seu nome, entraram para o imaginário
coletivo cibernético, servindo como parâmetro e simbolo comunicativo entre os internautas.
Outro gato tecladista
Tatuagem do famoso
gato
PaperToy
31
É difícil justificar a fixação por gatos que ocorre entre internautas, diversos outros gatos se
tornaram virais, seja em vídeos fotos e até mesmo textos. Em sua maioria os virais tratam de duas
características ditas como felinas: a esperteza, frieza das ações e a fofura (muitas vezes esta última
interpretada como arma ao combate contra os humanos); comumente os gatos são apresentados num
misto de admiração e medo de uma rebelião felina, sendo possuidores de características humanas.
Obviamente as teorias conspiratórias envolvendo os gatos não são levadas realmente à sério, mas
ela própria se configura como uma “história viral”, ajudando na construção de um sentido próprio
dos LOLcats.
Além dos “LOLcats” existem diversos outros tipos de virais, cada qual com sua estrutura
própria de humor. Podemos citar os “desmotivacionais”, uma paródia das imagens motivacionais
que circularam pela internet. Compostas por uma imagem centralizada num fundo preto,apresenta
um título e uma legenda logo abaixo, vejamos alguns exemplos:
32
Mas não apenas imagens se tornam virais, ao longo dos anos muitos vídeos e até mesmo
textos se tornaram virais. Um bom exemplo é o vídeo “polêmica dos mamilos”, no qual um rapaz
sem camiseta expõe seus mamilos para a câmera dizendo que são polêmicos. Vídeos com conteúdo
bizarro e “falhas” humanas comumente circulam pela rede em forma de viral, como um dos
primeiros virais nacionais “a mulher do sanduiche iche iche”, uma nutricionista que gagueja ao dar
entrevista, ou ainda o “Lindomar: o Subzero brasileiro”, no qual um garoto acerta uma voadora
numa babá acusada de maltratar crianças, lembrando o personagem “Subzero” do jogo de videogame “Mortal Kombat”, ou ainda, a categoria conhecida como “pastores super poderosos”, um
conjunto de pastores realizando cultos pouco ortodoxos.
A propagação dos virais também fazem parte do processo, a icônica frase “mamilos são
polêmicos” gerou a expressão “mais polêmico que mamilos”, utilizada até mesmo fora da internet.
Recentemente o garoto do vídeo fez participações em programas televisivos e sua frase foi utilizada
em diversos outros programas humorísticos. Várias outras frases não apenas entraram no dialeto
comum da internet, como também romperam os limites cibernéticos, entre elas podemos citar
“maldito, mal posso ver seus movimentos”, “cacete de agulha”, “calma, esta tudo bem agora”, “puta
falta de sacanagem”, “vou xingar muito no twitter hoje”, “as arvores somos nozes”, “aham claudia,
senta lá”; “morre deabo” e a mais atual “as mina pira” para citar apenas as nacionais. Tais frases
foram – algumas ainda são – utilizadas largamente por internautas. Vistas isoladamente pouco, ou
nada, dizem, mas se analisadas dentro do contexto elas adquirem sentido. Sendo os virais a
principal produção de conteúdo da esfera humorística viral, referências a eles na interação social,
seriam formas de distinção e produção de uma norma particular. Falar utilizando termos vindos de
virais caracteriza o internauta como pertencente à determinado grupo, juntamente com o dialeto
próprio do ciberespaço, ajuda a distinção dos demais.
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A manipulação dos elementos constitutivos de um viral para a criação de um novo viral,
ganhar radicalidade num certo tipo de viral: a manipulação de fotografias. Fotos de famosos ou
desconhecidos em poses estranhas são sugeridas à serem manipuladas, a figura é então recortada e
colada numa fota de outro contexto. “Keanu Reeves triste” talvez seja o melhor e mais conhecido
exemplo deste tipo de viral:
A foto original:
Algumas manipulações:
34
Esse tipo de manipulação também é comum com cenas de filmes formatadas em GIF e
intercaladas com cenas de outro contexto, como fazer Anakin Skywalker da triologia Star Wars
utilizar sua força para derrubar um cachorro da escada, ou ainda Peter Parker, o Homem-Aranha
utilizar sua teia para puxar um sujeito que andava sobre o gelo. A manipulação de imagens não
apenas radicaliza a ideia de propagação mas também a da interação entre os agentes. Ideia central
para os virais do estilo “imagem com frases”.
Com uma estrutura minimalista, tais virais são compostos por uma imagem simples
(normalmente, mas não sempre, raios coloridos e um imagem padrão localizada ao centro) com
frases acima e abaixo da região central. Cada qual leva em seu centro uma alegoria própria,
representada por uma figura de pessoa ou animal acrescida de uma características, por exemplo: A
arara paranóica; O gato secretário; O cão da depressão; O gordo nerd e assim por diante. Cada um
deles apresenta frases ditas pela alegoria, que seguem o padrão proposto pela característica. Deste
modo, frases de casos deprimentes são escritas na imagem do cão da depressão; enquanto frases
sobre o dia a dia nerd são expostas
na imagem do gordo nerd. Apesar da estrutura fixa, a
simplicidade da criação permite uma grande variação de imagens; tornando este tio de viral um dos
mais acessíveis e dinâmicos do ciberespaço. Alguns exemplos para melhor ilustrar:
A arara paranóica:
O cão da depressão:
35
Em 2009 a interação viral no ciberespaço ganhou elementos da “vida real”. Um projeto viral
lançado em blogs americanos pediam para internautas tirarem fotos colocando a cabeça dentro do
freezer, a postando posteriormente com o nome “241543903”. De tal modo, ao se pesquisar a
sequencia aleatória de números se encontraria, aparentemente sem explicação, fotos de pessoas com
a cabeça dentro do Freezer. Apesar de não chegar a fazer grande sucesso, ficando restrito ao
território americano, além de conseguirem realizar o objetivo proposto, o viral abriu espaço para
outras práticas virais que juntavam elementos de flashmob em espaços públicos e virais
cibernéticos, como é o caso do Planking.
A prática do Planking se caracteriza por deitar de maneira plana, estendida, em alguma
superfície estranha, de preferencia em local público; tirar uma foto e postar na internet. Um bom
Planking é aquele realizado em locais de difícil acesso, públicos e movimentados e de alta duração.
Apesar de ser considerado um esporte pelos praticantes, a proposta do Planking surge, não apenas
de um forum de material viral, mas seguindo a mesma lógica viral de propagação, interação e
utilização dos meios exteriores para caracterização grupal.
O Planking gerou polêmica após um jovem morrer ao tentar praticar num parapeito da
sacada de um apartamento, virando noticia nacional e questão de segurança pública. Atualmente
muitas variações do Planking ainda são praticadas como Plumbking (plantar bananeira com a
cabeça) e o owling (imitar a postura de uma coruja).
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4.2 A construção do sentido: O caso dos memes
A tomada de símbolos e elementos externos da internet, numa lógica cibernética, é melhor
exemplificado pelo caso dos virais “memes”. Assim como o termo criado por Richard Dawkins em
seu livro “O gene egoísta”(1976), os memes da internet são unidades minimas de significado, que
podem ser repassadas de maneira autônoma. São figuras “rascunhadas”, que representam
sentimentos, ações, ideias e “tipos” sociais. Apesar de retirados de fotos e cenas de filmes, ao serem
“rascunhadas”, os memes perdem sua ligação com o “mundo real”, ganhando um significado
apenas compreendido em meio cibernético.
Ao lado alguns exemplos de “memeficação” de cenas de
filmes e fotos. Hoje existem centenas de memes, e a
simplicidade, característica de origem dos virais vem se
perdendo pouco a pouco.
“True Story” primeiro exemplo, traz consigo um
sentido de evidenciar a veracidade de um fato. A foto de J.
Jonah Jameson, o chefe de Peter Parker, no filme HomemAranha, em sua versão meme, é utilizada para conotar extrema
satisfação por metas alcançadas. O rosto de David Silverman,
apresentador do programa American Atheists, serviu de base
para o meme “Seriously ?”, empregado para simbolizar
perplexidade perante um ato estúpido. A foto de
Obama,
presidente norte-americano, é utilizada como representação
gráfica do termo “nada mal”. O rascunho do rosto de Yao
Ming, famoso jogador de basquete chinês, por sua vez, é a
representação da expressão “foda-se essa merda”, um desleixe
para a resolução da situação. Por fim o meme do Freddy
Mercury com o braço estendido numa posição simbolizando
“vitória”. Nem todos os memes são criados a partir de cenas
reais,
muitos
são
feitos
diretamente
em
desenhos,
apresentando uma característica mais cartunesca e infantil, ao
estilo “homem de palito”. Outros importantes memes são o
“okay” um rosto de resignação com a situação, o “trollface”
que representa a trollagem, o “forever alone”, que evoca a
ideia de solidão, o “fuck yeah” que representa alguém “se achando” e o percursos dos memes o
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“rage”, simbolizando a extrema fúria.
Apesar de possuírem um sentido autônomo, os memes são unidos em formato de estória em
quadrinhos, num processo parecido com a descrição da construção do mito por Levi-Strauss em sua
obra “O pensamento selvagem”. Como um mitema, os memes se arranjam na construção de um
sentido mais amplo e coerente, são formas de relacionamento e diálogo entre agentes sociais.
A tirinha acima foi encontrada no blog “Le ninja”, assim como a maioria dos virais memes,
ela é formada unicamente por imagens memes e frases curtas. É possível perceber uma forte
característica desse tipo de humor, a adaptação. A mãe do garoto é representada por um trollface, já
que sua intenção é trollar o filho, mas adaptado com uma peruca de velha, para indicar que é uma
mãe. No segundo quadro, ao ver suas intenções frustradas, o trollface é substituido pelo meme failtrollface, uma modificação que indica um erro ou frustração. Interessante analisar que os
personagens não se caracterizam numa forma única de representação gráfica, nem necessariamente
num único meme, cada momento da estória é descrito com o meme que melhor se adapte à situação
vivenciada: de uma situação de aceitação e resignação com o meme “okay”, o protagonista passa
para o “victory”, por causa da recusa da oferenda pelo amigo.
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Numa análise externa ao sentido proposto pela cibercultura, pouco poderíamos entender, já
que não existem referências suficientes na tirinha para compreendermos que a figura do Freddy
Mercury não representa ele próprio, mas sim, uma situação e sensação vivenciada pelo garoto.
É possível encontrar regularidades nas tirinhas memes, o uso de tios “(~)” para isolar
palavras chaves ou descrições – como proposto no manual de tiopês – o uso da palavra “le” como
um pronome indicativo, a mistura de inglês com português e a construção tosca das tiras, simples
colagens de memes com desenhos e legendas simplórias. O uso de nomes também são padrões,
sendo o mais comum “Derp” ou “Herp”, sofrendo apenas algumas modificações como “Derpson”,
“Derpino” ou “Herpson”; ou ao se tratar de uma garota, “Derpina”ou “Herpina”. Outra regularidade
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é o sentido do humor, a grande maioria das tiras de memes são representações de situações
cotidianas dramatizadas. O meme “fuck yeah” no terceiro quadro indica um exagero dramático de
excesso de cavalheirismo, assim como o meme da garota chorando de emoção. Nos dois últimos
quadros, ao se deparar com uma rua “wild escura do inferno” Derpson desiste de seu cavalheirismo
e com o meme “foda-se essa merda”, resolve ligar para sua mãe.
A tira acima torna mais claro o sentido do humor, exagero na dramaticidade de fatos
cotidianos, como a simples tentativa de jogar uma papel na lata de lixo, no qual o personagem tenta
o suicídio ao errar consecutivamente seu arremesso. Apesar de se utilizar de símbolos que remetem
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sentido à um sistema próprio de significado, as tirinhas partem de sentidos “externos” como os
acontecimentos cotidianos. É possível encontrar, ainda, características mais gerais da sociedade nas
tirinhas, como o machismo, na qual raramente a mulher é a protagonista das tiras, só sendo utilizada
para representar namorada, burras ou “vadias”, sempre um papel passivo, como o exemplo
abaixo.Outros personagens também se apresentam como padrões: o pai trollador – existindo um
meme só para ele – a mãe controladora e o sogro rigoroso.
41
4.3 Virais como capital simbólico: O caso de Luiza
O paraibano e colunista social Gerardo Rabello, mal poderia imaginar que sua participação
num comercial televisivo, sobre um empreendimento residencial, daria origem à um dos maiores
virais nacionais. Ao expor a excelência do residencial, comenta ter convocado toda a família para
desfrutar do bom ambiente, “menos Luíza, que está no Canadá”, referindo-se a sua filha, que fazia
intercâmbio no exterior.
Apontar os motivos exatos pelos quais a frase se popularizou, assim como em outros virais,
é uma tarefa difícil. Ao explicar o fenômeno muitos culpam a irrelevância da informação contida no
comercial, outros ainda dizem ser uma arrogância expor as condições financeiras privilegiadas. Fato
é, em pouco menos de vinte e quatro horas após a publicação do comercial a hashtag
#LuizaEstanoCanada já estava entre os 10 principais assuntos comentados no Twitter. A repercussão
do fato cresceu gradativamente nos dias que se seguiram. Frases terminadas em “menos Luíza, que
está no Canadá” inundaram as redes sociais no Brasil, assim como versões de imagens e vídeos, em
sua maioria, satirizando a importância da informação.
Apesar da grande repercussão é curioso o fato do comercial, propriamente dito, não ter se
tornado de um viral e sim a famosa frase nele contido. Boa quantia dos comentários sobre o tema,
foram compostos por pessoas que não entendiam a piada, questionando as demais do que se tratava.
Outra grande quantia dos comentários eram justamente para causar estranheza ao publico leigo ao
assunto. O vídeo do comercial apenas era evocado para fins explicativos, enquanto as piadas
orbitavam em torno da já famosa frase “menos Luíza, que está no Canadá”, posteriormente
substituída por “Luíza, que voltou do Canadá”.
A repercussão foi tanta que o viral saiu do meio cibernético, sendo comentado, inclusive,
em meio artístico. Lenine, em um show realizado em João Pessoa – cidade de Luíza- comentou
para a platéia: “Que maravilha, está todo mundo aqui rapaz, só não está a Luíza que está lá no
Canadá”.
Chegando até a assessoria da presidência, que postou em seu twitter oficial, o
42
@imprensaPR, uma provocação ao adversário político José Serra, se aproveitando da popularidade
do viral: “com a volta da Luíza, quem tá indo para o Canadá é o Serra", logo após a publicação foi
excluída e o responsável pela “brincadeira” demitido. Um evento criado no Facebook, intitulado
“Recepção à Luíza que vem do Canadá”, contou com mais de 25000 participantes confirmados.
Toda agitação em cima de sua filha, causou preocupação à Gerardo, que antecipou a vinda de Luíza
por razões de segurança.
Se aproveitando da visibilidade concebida em meios virtuais, o residencial aproveitou-se da
imagem de Luíza para a gravação de um novo comercial, desta vez com a própria destacando o
empreendimento. Até mesmo a rede Globo, maior rede televisiva do Brasil, se aproveitou dos
ocorridos para criação de matérias. No dia 19 de Janeiro de 2012 foi ao ar, na TV e também em sua
página virtual, a matéria “Sete minutos de fama com Luíza”, na qual disponibilizava um entrevista
de Luíza concedida ao repórter Global, juntamente com opiniões de especialista sobre os virais da
internet e bordões humorísticos. Além de diversos outros programas e ações de marketing que
envolveram a garota em sua programação. Boninho, diretor do programa “Big Brother Brasil”,
postou em seu Twitter, que Luíza seria a nova participante do reality show, noticia desmentida pela
própria. Luíza virou, inclusive, tema de uma pergunta em um concurso público em jaboticabal:
um fato pitoresco que aconteceu, recentemente, nas redes sociais da internet, foi o meme extraído de
um filme de publicidade. O meme 'menos a Luiza, que está no Canadá', fez tanto sucesso, que a autora
do nome, a jovem Luiza, de apenas 17 anos, acabou retornando para o Brasil, depois de inúmeros
convites para fazer comerciais. A garota, motivo de toda a reviravolta nas redes sociais, reside em qual
estado brasileiro?
A migração do espaço cibernético para a realidade parece ter modificado algumas das
características iniciais do viral. Se distanciando do círculo humorísticos e das ferramentas de
sociabilidade on-line, o assunto ganhou em relevância, principalmente ao tratamento dado pela
mídia televisiva. O carácter puramente lúdico e “trollador” do assunto deu espaço à discussões
sobre a segurança e privacidade de Luíza, além da capacidade de um assunto “fútil” se tornar uma
das noticias mais comentadas da época. Foi apostando nesse último caminho que que Carlos
Nascimento, âncora do jornal do SBT, iniciou a edição do dia 20 de Janeiro questionando a
relevância das noticias transmitidas pela mídia, encerrando com a frase: “Luíza já voltou do Canadá
e nós já fomos mais inteligentes”. Apesar de provavelmente ser uma indireta à emissora
concorrente, a frase revoltou muitos usuários da internet, que rapidamente, criaram novos virais
como forma de protesto às declarações. O Blog “Não Salvo” postou, após a exibição do vídeo de
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trechos do jornal do SBT:
Por hora, acho que devemos fazer a nossa parte e mostrar pro jenial jornalista que nós somos isso tudo mesmo
que ele disse e muito mais! uhahuahuahu Por que vcs sabem né….todos nós ja fomos mais inteligentes e claro
que NUUUUUUUUUUUUUUUUUNCA iriamos zuar o Carlos Nascimento….. ou seria Carlos Nascimeme?
Num tom mais sério, o blog “TRETA” publicou um texto intitulado: “A era da piada interna
global”, onde discorre sobre o alcance da internet. Em determinado parágrafo, ao se referir ao
comentário de Carlos Nascimento escreve:
Infelizmente não está óbvio para todo mundo que o “fenômeno” aqui não é uma garota
chamada Luiza que está no Canadá, mas a evocação de uma petulância característica das aspirações
pretensiosamente aristocráticas da classe-média brasileira. E, claro, a vastidão de reações que um
pequeno detalhe como este pode ocasionar, se jogado no ventilador das redes sociais.
Pessoas que não conseguem entender “como uma coisa tão idiota pode virar mania nacional” são as
mesmas que insistem em esmurrar o faqueiro das modernidades, quase sempre acreditando que “algo
deve ser feito para frear o caos”. Nos Estados Unidos, agora todos já sabem, este “freio” recebeu o
nome Stop Online Piracy Act e foi rechaçado categoricamente pela comunidade online por contemplar
dispositivos que possibilitariam o controle subjetivo da comunicação na internet.(nota do texto)
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Me parece evidente a incompatibilidade de um ambiente de sociabilidade - que se utiliza de
tais ferramentas para criar elementos em comum ao grupo - como é o caso da internet, com um
campo midiático que se preocupa em divulgar a informação pensando em seu retorno de audiência,
ou seja, com seu faturamento. Até mesmo essa notícia de pouca, ou nenhuma relevância, ganha
características sensacionalistas aos olhos da mídia.
Em pouco mais de vinte dias, a frase “Menos Luíza, que está no Canadá” passou de um
viral da internet, para um caso de ampla repercussão nacional, fazendo o termo quase desaparecer
em meio cibernético. Menos de um mês depois, o assunto ainda parece uma grande novidade em
jornais e sites da imprensa, mas pouco é utilizado no meio em que surgiu. Me parece que ao se
popularizar fora da internet e ao ser mal compreendido pelo “senso comum”, o viral perdeu seu
propósito de elemento de união e distinção de um grupo cibernético, ou como diria Bourdieu,
perdeu sua posição como capital específico do campo. Afinal, se um “bordão” (para adotar o termo
empregado pela rede Globo) ou uma “piada interna” é de conhecimento de todos, pouco sentido
seria utilizá-la como um código de reconhecimento e diferenciação. Ao perder sua função social o
viral, aparentemente, também perde sua classificação como “viral” e seu uso é deslegitimado pelo
meio. O caso da jovem Luíza talvez nos sirva de bom exemplo, mas ainda podemos citar outros.
Muitos são os que alcançam o status de “celebridade” no meio cibernético, seja de maneira
intencional, como o no vídeo “ColoCola Diet e Mentos” ou de uma forma mais inusitada, seja uma
gafe filmada ou um deslize no português. Outros ainda apostam pelo ramo musical, esse é o caso de
Stefanny, hoje nacionalmente conhecida ou Vitinho, com seu funk “Sou Foda”, recentemente
regravado ao estilo sertanejo universitário.
Com um ritmo simples, rimas forçadas e letras ditas como toscas, Vitinho e Stefanny são
bons exemplos de artistas que dificilmente fariam sucesso na indústria musical. Mas a internet
parece possuir regras distintas desse meio musical, o “amadorismo” e senso estético duvidoso de
ambos, parece ter cativado os internautas, que os aclamaram como net-stras (estrelas da internet).
Sou foda – Os Avassaladores (Vitinho)
Sou foda na cama eu te esculacho
Na sala ou no quarto
No beco ou no carro
Eu... eu sou sinistro
Melhor que seu marido
Esculacho seu amigo
No escuro eu sou um perigo...
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Avassalador, um cara interessante
Esculacho seu amante
Até o seu ficante
Mas... mas não se esqueça
Que eu sou vagabundo
Depois que a putaria começou rolar no mundo (No mundo)
Pra... Pra te enlouquecer
Pra te enlouquecer
Todas, todas que provaram não
Conseguem esquecer. (2x)
Sou foda
Eu sou sinistro
Com esta letra, uma melodia simples e um clipe esteticamente bizarro, Vitinho e sua banda
“Os avassaladores” se tornaram celebridades na internet e sua música um dos maiores virais
nacionais da passagem de 2010 para 2011. Versões alternativas da música (alterando o estilo),
covers e sátiras, também se propagaram como virais. Após o estou na internet, Vitinho retorna com
um novo clipe. Com um padrão mais profissional, melhores efeitos e qualidades sonoras evidenciando um investimento de capital - o clipe foi amplamente repudiado no ciberespaço. Ao
mesmo em que seu primeiro sucesso “Sou Foda” foi regravado pela dupla de sertanejo universitário
“Carlos e Jader”.
Ainda gozando de certa popularidade na internet, Vitinho é lembrado em algumas situações,
porém, após seu sucesso extrapolar as barreiras virtuais, seus novos trabalhos pouco, ou nenhum
impacto, causam entre os internautas. A música “Sou foda” anteriormente elevada à quase um hino
da blogosfera brasileira, hoje, é tocada mais nas rádios em sua versão sertanejo do que lembrada em
seu ambiente de origem.
Caminho semelhante percorreu Stefanny. Alcançando o título de diva da internet, com seu
clipe “Eu sou Stefanny” em 2008, teve sua autenticidade questionada ao surgirem boatos que sua
música foi encomendada pela montadora de veículos Wolksvagem, por repetir diversas vezes no
refrão da música “CrossFox” um modelo de carro. Apesar de negar o boato, a montadora
reconheceu, que mesmo indiretamente, Stefanny criou um viral de marketing para a empresa; a
presenteando com um modelo em questão.
A capacidade de comunicação viral da internet, até então pouco conhecida, chamou a
atenção da grande mídia. Steffany fez participações em vários programas, inclusive o Caldeirão do
Huck onde foi nacionalmente lançada. Mas como explicariam a popularidade de um clipe amador,
com uma letra contendo erros de concordância, atuações ruins e baixa qualidade sonora ? A força de
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vontade e a capacidade comunicativa de Stefanny chamaram a atenção de investidores, dando início
à um processo de profissionalização de sua carreira. Participando inclusive de um rpograma
televisivo que se propõe “modificar sua aparência”.
Assim como Vitinho, Stefanny apareceu com novos clipes, de qualidade superior, tanto
estética quanto sonora. Apesar de alcançar relativo sucesso, particularmente em seu estado de
origem Piauí, Stefanny perdeu seu posto de diva da internet brasileira, não conseguindo tornar seus
novos clipes em virais.
Não são exemplos isolados, poderíamos citar diversos outros artistas que ficaram famosos
na internet duma maneira, digamos, sem querer ou merecer. Ao enfim, terem recursos e qualidades
para alcançarem o sucesso, são friamente ignorados. A fórmula parece ser irônica: quanto pior, mais
amador, vergonhoso e mal feito, maior a probabilidade de se transformar num viral da internet e
alcançar sua popularidade on-line.
Entendendo os virais como uma simbologia utilizada na criação duma identidade cultural, a
ironia da fórmula acima descrita, parece ganhar mais sentido. Clipes, músicas, apresentações, ditas
como ruins ou ridículas, não só seriam rejeitadas pela lógica de mercado e pela sociedade em geral,
como também se oporiam a tal lógica. Ou seja, transformar tais clipes em virais e elevar seus
autores no patamar de ídolos, criaria não só uma simbologia própria do grupo, mas também uma
que seja contrária a vigente fora dele. Quando, entretanto, seus autores são englobados pela
industria midiática, seus produtos não se tornam apenas acessíveis ao público de fora, mas também,
perdem seu amadorismo característico, deixando enfim, de serem virais.
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Parte IV. Conclusão
Apesar da pesquisa ainda estar em processo, faltando a exposições de alguns dados
coletados e a coleta de outros, é possível apontar algumas conclusões. Analisando os dados
expostos, é possível perceber que a internet não funciona unicamente como uma ferramenta de
subversão ou revolução da forma de comunicação; menos ainda, como uma “anomia” da sociedade,
acarretando o isolamento e reclusão individual. A internet se apresenta como um espaço, um outro
meio, o qual recebe interações e normas já estabelecidas em “vida real”, mas também oferece a
oportunidade para a criação de uma normatividade própria.
Os virais da internet nos serviu como porta de entrada para a análise deste problema. Ao
contrário do que se evidencia num primeiro momento, o universo dos virais, suas postagens,
comentários e paródias, são norteados por uma regularidade e normatividade própria. Encontramos
regularidades em diversos níveis, a estrutura do layout dos blogs, a forma de comentários, a forma
em que os blogs dialogam, o modo pelo qual o blogueiro deve agir. A normatividade existente não
apenas criam restrições às ações, mas também, abrem espaço para a diferenciação e customização
válidas. À partir da estrutura da esfera humorística na internet , é possível a mobilização de
símbolos diversos para a criação de um significado próprio. Desta maneira é possível que blogs se
diferenciem entre si e diversos virais sejam criados dentro de uma mesma lógica. Desmotivacionais,
LOLcats, vídeos bizarros, memes e outras formas de virais foram possibilitadas por esse diálogo
entre noções externas e internas da internet.
Ao mesmo tempo que se utiliza de noções externas aos da rede, como o cotidiano,
machismo e imagens comuns à cultura popular, os virais da internet funcionam como ferramentas
para a criação de uma cultura interna ao ciberespaço. Os virais propagam não apenas símbolos
comuns para a formação de um grupo, como os memes, mas também um dialeto próprio, modo de
comunicação e principalmente uma forma de compreensão distinta. O tiopês e as frases icônicas da
rede funcionam como marcas de distinção, ferramentas utilizadas para a criação de uma identidade
cultural, sem a qual, a interação entre indivíduos seria impossibilitada. O conteúdo dos virais
portanto, apesar de parecerem inúteis, são essenciais para pensar a espacialidade e distinção dentro
do ciberespaço, transformando-o em um espaço social. A propagação rápida dos virais, o súbito
sucesso de uma determinada foto ou vídeo e o surgimento de suas réplicas,
são eficientes
ferramentas de tomada de um espaço caótico e atemporal num ambiente regido por normas e regras
próprias. O estudo à partir dos virais nos oferece, além de porta de entrada para esse espaço social
em formação, um conjunto de materiais empiricamente verificáveis.
Evidente que a pesquisa em execução foca num determinado grupo da internet, mas cumpre
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seu objetivo de mostrar uma certa regularidade na interação. O aprofundamento em tal tema nos
trará, quem sabe, respostas sobre o funcionamento da sociedade como um todo. Resta aqui um
apelo por uma abordagem mais antropológica da internet, assim como a utilização de temas
cibernéticos pelas ciências sociais como um todo.
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Parte V. Bibliografia
Citadas:
CASTELLS, Manuel. (2001), A galáxia da internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade.
Cap. 2 pp. 34 – 54. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Paulo Vaz – Rio de Janeiro. Editora Jorge Zahar.
GIBSON, Willian. (1984), Neuromancer. Tradução de Fábio Fernandes. São Paulo, Editora Aleph
LÉVY, Pierre. (1999), Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 3a edição, São Paulo, Editora 34.
Referenciadas:
BALLONE, Moura E.C. (2008), “Compulsão à Internet, Mito ou Realidade”. PsiqWeb, Internet, disponível em
<http://www.psiqweb.med.br/> atualizado em 2008.
BOURDIEU, Pierre. (1979), A distinção. Tradução de Daniela Kern e Guilherme J. F. Teixeira. São Paulo,
Edusp/Zouk
CABRAL, Fátima; VIDOTI, Silvana Ap.; OLIVEIRA, Walter Cleyton. (2005), “Notas sobre a dinâmica da
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