01B História da Tipografia.cdr

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01B História da Tipografia.cdr
HISTÓRIA DA TIPOGRAFIA - 02
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Extraído de: Clair, Kate. Manual de tipografia. Porto Alegre, Bookman, 2009.
As Letras Durante o Império Romano e a
Idade Média
As letras que utilizamos de forma comum no mundo ocidental
desenvolveram-se desde o Império Romano e ao longo de seu declínio, entrando na Idade Média e indo até a Renascença. Os estilos de
letras celtas carolíngeos, românicos e góticos formaram uma ponte
para as formas de letras que conhecemos hoje.
Por terem predominado em determinadas áreas e em determinadas épocas, cada uma das diferenças nos estilos de letras e de iluminuras proporciona aos pesquisadores de hoje as pistas necessárias
para identificar a localização geográfica e o período de tempo onde
determinado manuscrito medieval originou-se.
Durante a Idade Média, as letras se desenvolveram em duas
direções gerais. A primeira incluía vários estilos similares que mostravam influência celta, seguidos pelo estilo consistente introduzido no
reinado de Carlos Magno. Este período terminou com variações em
estilo românico. A segunda direção é caracterizada pelo sabor gótico,
ramificando-se simultaneamente nas letras rotunda, textura, bastarda
e vários estilos humanísticos.
O Impacto do Império Romano
Começando em 185 a.C., durante cerca de 40 anos, o Império Romano empreendeu guerras intermitentes contra os gregos. Suas metas eram estender o império pela
conquista das terras vizinhas. Em 146 a.C., os romanos finalmente foram bem sucedidos no seu esforço de invadir a Grécia.
O alfabeto romano, considerado como a mais antiga versão conhecida de nosso
próprio alfabeto moderno, derivou do alfabeto grego via os etruscos, que haviam se
instalado ao norte de Roma. Durante a ocupação militar e a expansão do império, o
alfabeto de 21 letras foi espalhado pela Inglaterra, Espanha, pelo Egito e Golfo Persa.
Os arcos do triunfo romanos
Os romanos conquistaram terras estrangeiras e escravizaram seus povos.
Enormes arcos triunfais foram construídos ao longo das principais vias públicas das
cidades conquistadas, uma lembrança constante do poderio e da conquista dos romanos. Os povos conquistados viam diariamente as inscrições comemorativas, enfeitadas com brasões, nos imensos arcos. Os romanos também construíram engenhosamente (com trabalho escravo) muitas das primeiras estradas e pontes que conectavam
as cidades de seu império de forma a movimentar com facilidade as tropas e o suprimento para as novas localidades.
Um belo exemplo da estrutura e força das letras romanas, compostas somente de
capitais ou maiúsculas, é a inscrição na base da Coluna de Trajano em Roma, gravada
por volta de 114 d.C. Esta inscrição é considerada o mais belo exemplo existente das
letras gravadas a cinzel. Ela mostra a introdução das serifas (extensões horizontais na
extremidade do traço de uma letra), que não eram vistas em exemplos anteriores.
Aproximadamente no ano 100 a.C. o Império Romano estava no auge de seu po-
Detalhe do Arco de Titus, em Roma
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O Codex Romano
der, dominando as áreas que atualmente são referidas como conhecidos como uma
escolha prática entre os cristãos eruditos, devido à sua facilidade de uso. Ao contrário
dos rolos compridos, o códex de pergaminho utilizava menos material, ocupava menos espaço para guardar e era menos complicado quando se procurava uma área específica do texto.
A forma dos primeiros livros evoluiu do códex, com uma página esquerda (verso)
e uma página direita (recto). Embora tanto os rolos como os códices tenham sobrevivido lado a lado de aproximadamente 1 d.C. até 400, a praticabilidade do formato
códex acabou dominando.
O manuscrito romano
As transações comerciais, a contabilidade e a correspondência dos anos 400 d.C.
eram escritas em estilo script ou manuscrito. Esse estilo popular de escrever à mão era
mais rápido do que as letras capitais, ou maiúsculas, e requeria menor espaço e menos
material para comunicar idéias. Era mais fácil de ler e muitas vezes é identificado com
o início das letras em caixa-baixa como as conhecemos hoje.
Essas formas de letras, inteiramente diferentes das letras capitais romanas originais, eram caracterizadas por grandes volteios floreados. Os tribunais locais e os escribas
oficiais desenvolveram variações individuais no estilo trivial cursivo, introduzindo as
ligaturas, ascendentes e descendentes.
A cristianização da Irlanda e as letras celtas
Logo após a queda de Roma, por volta de 430 d.C., o missionário São Patrício
instalou-se na Irlanda com manuscritos da Bíblia, determinado a converter o país.
Talvez porque a Irlanda estivesse geograficamente afastada do território continental
europeu, não foi submetida com tanta freqüência às invasões das tribos e dos guerreiros nômades. Isso permitiu que manuscritos e design de letras celtas (pertencentes ou
relacionados com os povos galeses, cornualhos ou escoceses gaélicos) florescessem
sem uma influência externa acentuada.
As inovações das letras e das decorações celtas marcaram novas direções na forma
das letras e nos estilos das ilustrações, com extraordinária variação e ornamentação
geométrica. As páginas de introdução para cada um dos evangelhos usam a página
inteira para ilustrar uma só palavra ou frase de forma magnífica. O entrelaçamento
complexo do trabalho minucioso nos pergaminhos celtas é dotado de animais e criaturas sobrenaturais executadas cuidadosamente dando especial atenção aos mínimos
detalhes. As cores, brilhantes e intensas, são colocadas adjacentes umas às outras para
intensificar a textura acentuada da ornamentação distorcida, acentuadas com aplicação de ouro laminado. As letras arredondadas, com a caixa-baixa e caixa-alta claramente definidas, são minuciosamente espacejadas entre letras e entre palavras para
melhorar a legibilidade.
O império que desmorona leva ao feudalismo
Roma foi saqueada por uma sucessão de invasores, começando por volta de 410
d.C. - primeiro pelos visigodos, seguindo-se os borgonheses, vândalos, francos, ostrogodos e lombardos. Seguindo a sua participação na conquista do Império Romano
Ocidental, essas tribos germânicas instalaram-se pela Europa e Península Ibérica,
fundando reinados. Com exceção dos francos, todos desapareceram. Roma foi devastada mais uma vez em 533 d.C. quando os exércitos do imperador bizantino (romano
oriental) Justiniano tentaram retomar o controle da cidade. À medida que a cidade
tornou-se menos segura, a população mudou-se para as propriedades dos nobres
senhores de terra nas regiões rurais, trocando a sua liberdade pela proteção dos donos
da terra. Esses vassalos, ou povo que recebia terra e proteção de um senhor feudal em
troca de obediência e lealdade, eram requisitados para garantir serviços militares defensivos em caso de ataque.
Seguindo-se à queda do Império Romano em 476 a.C., os centros da civilização
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foram saqueados, e a sociedade ocidental caiu no que fui chamado de Idade das
Trevas. Foi instituído o feudalismo, um sistema econômico em que os servos ou escravos trabalhavam para enriquecer o senhor em troca de proteção.
Cada senhor feudal instalou uma pequena comunidade auto-sustentável, portanto
a necessidade de interagir com outras comunidades e até mesmo as viagens eram limitadas. Geralmente as comunidades medievais eram cercadas por uma muralha de
proteção ou instaladas no alto de uma elevação de terra. Desde que a maioria das pessoas estava instalada dentro dessas comunidades enclausuradas, não mais havia a ânsia
de conquistar novas terras nem construir novos impérios. Por outro lado, a vida cultural era prejudicada porque não havia fórum para a interação das idéias, filosofias ou
influências.
A igreja cristã romana emergiu como uma força unificadora na Europa, com o
inquestionável poder do clero. A noção de um Deus-Pai todo poderoso era proeminente em todas as facetas da vida diária. Ao mesmo tempo, havia entre a população
uma grande crença nos espíritos do mal, uma herança dos dias das crenças e cultos
pagãos.
Foram estabelecidos mosteiros isolados para ordens religiosas, assim o aprendizado e as cópias de textos religiosos eram limitados a determinadas áreas geográficas.
Para a alimentação, os monges criavam seus próprios animais e cultivavam suas colheitas; eles viviam uma vida pacífica de tranqüila prática religiosa e de silenciosos estudos.
Nos mosteiros eram copiados muitos dos antigos textos. Alguns dos manuscritos
produzidos pelos monges eram vendidos para levantar dinheiro para as necessidades
que não podiam prover por si mesmos, enquanto outros eram destinados às próprias
bibliotecas dos mosteiros. São essas cópias em pergaminho, em vez dos originais em
papiro, que sobrevivem hoje, ainda que em pequeno número. Esses manuscritos em
pergaminho revelam os diferentes estilos regionais de letras que se desenvolveram na
era medieval.
As letras celtas unciais redondas
Nas terras celtas surgiu uma forma mais arredondada de alfabeto romano denominada uncial. Acredita-se que as unciais (do larim uncia, significando a décimasegunda parte, referindo-se à medida de uma polegada) foram as precursoras das nossas letras de caixa-alta e caixa-baixa. Muitos eruditos pensam que as unciais surgiram
de um desejo por letras menores em escritos bíblicos pela razão pragmática de economizar pergaminho. Essas novas formas de letras eram mais rápidas para escrever,
comparadas com os estilos anteriores de escrita, e davam a oportunidade para os monges e escribas de desenvolverem belos desenhos de letras para os textos sagrados.
As letras unciais celtas se distinguiam por serem arredondadas, por suas diminutas
serifas e pela sutileza das ascendentes e descendentes. Para poupar tempo, os cantos
eram arredondados. As unciais se parecem com letras caixa-baixa, porém muitas vezes
as sentenças começam com os mesmos caracteres unciais usados no resto do texto.
Desde o desenvolvimento do alfabeto fenício até o aparecimento das unciais, todas as letras romanas anteriores tinham sido caixa-alta. A introdução das meia-unciais
proporcionou a base das letras caixa-baixa ou minúsculas. Essas meia-unciais começaram a aparecer em documentos por volta do ano 600. Mais tarde as ascendentes e
descendentes foram aumentadas, evoluindo na forma das letras que conhecemos
hoje. As letras desenvolveram variações estilísticas regionais. A prática de ler para si
mesmo influenciou o aumento do uso de letras pequenas porque livros de tamanho
menor eram mais fáceis de transportar e de inspirar a meditação e reflexão. Além disso, as diferenças entre letras caixa-alta e caixa-baixa tornavam as palavras mais legíveis.
As letras como declaração de fé
A ornamentação dos primitivos rolos de papiro era limitada às gravações nos bastões de suporte aos quais o rolo era preso. Com o aumento da demanda por Bíblias no
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formato de códex, foi dada maior importância à criação de cópias mais belas da palavra sagrada. Os monges copistas começaram a se tornar mais imaginativos e competitivos e assumiram o compromisso de desenhar Bíblias mais belas para exaltar o seu
Deus. A referência a Deus como a "luz" levou ao uso do ouro laminado na "iluminura"
das palavras. As letras capitulares iniciais, que identificavam o início de uma nova seção, tornaram-se altamente estilizadas, incluindo imagens dos personagens descritos
na história (chamadas capitulares histriônicas), enquanto as capas das Bíblias eram
cobertas de jóias.
O conceito de iluminura tinha um sentido duplo, porque significava tornar mais
claras as histórias da Bíblia como também abrilhantar a página com acentuações coloridas e reflexos de ouro e prata. A pessoa comum dessa época não sabia ler, pois essa
habilidade estava reservada para os nobres ricos e para os que participavam da comunidade da igreja. A maioria dos plebeus fiava-se nas gravuras pictóricas e nas pinturas
das igrejas para recordar as cenas da Bíblia, assim como nas histórias e lições que as
acompanhavam.
Escrita Carolíngea. Carolíngeo quer dizer “do período
de Carlos Magno”.
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A força unificadora das letras
Durante o início da Idade Média (anos 500 a 750), as terras do Império Romano
haviam se desintegrado em comunidades feudais independentes, fazendo com que o
idioma latino evoluísse em dialetos regionais. Líderes militares poderosos continuaram seus intentos em conquistar grandes territórios e consolidá-Ios como reinados.
Por volta de 768, o líder dos gauleses, Carlos Magno, ficou conhecido como poderoso líder militar e como um soberano que favorecia a educação e as artes.
Um estilo padronizado de letras foi decretado para ser utilizado pelo império, que
se estendia pela maior parte da área que compreende a Europa dos dias modernos.
Carlos Magno nomeou um monge erudito inglês, Alcuin de York, para supervisionar a
cópia de muitos manuscritos antigos. De acordo com muitos pesquisadores, Alcuin
era um monge treinado pelos celtas que no ano de 789 reuniu um grande número de
letristas na corte de Carlos Magno em Aaschen. Para a padronização dos textos no
império, ele escolheu um estilo que era similar às unciais celtas. Alcuin tem o crédito de
ser o introdutor do estilo de letras carolíngio (significando "durante o reino de Carlos
Magno") que foi determinado como a letra padrão para copiar textos.
Assim como as unciais celtas, a mão carolíngia é um estilo de escrita no qual os
caracteres são redondos e cheios. Tem um gesto da pena que acompanha para baixo o
traço das ascendentes, dando às letras uma aparência levemente afunilada. Este estilo
padronizado causou um alfabeto romano uniforme de caixa-baixa. Nessa época (ano
800 d.C), o uso de iniciais maiores para iniciar uma sentença era prática comum; no
entanto, a pontuação padronizada e o espaçamento entre palavras eram inexistentes,
uma prática que não foi adotada antes da segunda metade dos anos 1400, seguindo a
invenção da imprensa.
Durante o reinado de Carlos Magno foi empregada uma classe especial de escribas
para copiar textos seculares. Esses letristas comerciais eram empregados por mercadores de livros que os pressionavam para escrever em velocidade máxima. Acredita-se
que esta prática de encorajar velocidade maior afetou o estilo da mão carolíngea que se
espalhou pela Europa. Esses escribas eram contratados para desenhar contratos,
documentos de empréstimos, acordos jurídicos e dívidas, além da cópia de textos para
a elite educada da época.
No dia de Natal do ano 800, o Papa Leão III coroou Carlos Magno como o imperador do Santo Império Romano, um gesto calculado para ganhar apoio militar contra
os invasores que queriam destruir Roma. No entanto, não foi muito antes que os vikings começassem suas incursões por terra e por mar, atacando a Europa intermitentemente desde cerca de 830. O Mosteiro de Lindisfarne foi saqueado em 793, a Irlanda
foi invadida em 835, a França, em 843, seguindo-se a Inglaterra, em 851. Esses invasores desrespeitaram completamente a cultura que estavam destruindo; roubaram e
fundiram o que era feito com metais preciosos. Como os mosteiros sabidamente eram
depositários de presentes elaborados, doados pelos patrocinadores ricos, foram o alvo
preferido para os ataques.
Pelo ano 1000, a mão carolíngea tinha evoluído em muitas variações e era amplamente usada pelos monges para a cópia de textos antigos. Isso compôs o cenário para
as fontes de impressão tipográfica da Renascença Italiana porque o carolíngeo foi
confundido pelos impressores como um estilo antigo dos tempos romanos. O desenvolvimento do design de letras diminuiu com o declínio do império de Carlos Magno
durante os ataques dos bárbaros. O império de Carlos Magno foi mais tarde dividido
entre seus três filhos, e os padrões visuais do império deterioraram-se mais uma vez
em variações regionais.
O estilo românico convida à inovação
O estilo românico de letras formulado entre os anos 800 e 1000 é caracterizado
pela grande manipulação de formas, que mostravam acréscimos inovativos aos traços.
Inspiradas pelas letras mais antigas celtas e rústica, o românico integra intercalações,
sobreposições e fusões de letras nos manuscritos e nas gravuras. Uma experimentação
geométrica inventiva e o truncamento de traços cruzados libertaram o desenho de
letras da austera padronização anterior, com resultados criativos. Formas múltiplas da
mesma letra eram usadas em um único manuscrito para exibir o talento e a criatividade
do escriba. As letras da era românica diferem de acordo com o local e é tão variada que
se torna difícil traçar as influências.
O desenvolvimento do estilo Gótico Textura
Existe pouca consistência nos poderes que reinaram durante os séculos VII e VIII,
embora o Papa tenha desempenhado um papel importante de tempos em tempos. O
isolacionismo das pequenas comunidades feudais continuou, e a época foi marcada
por grande devoção à religião. A peregrinação a terras distantes era uma homenagem
comum da fé, um meio de auto-purificação de pecados cometidos, prova de devoção
ou meio de ganhar a graça divina. Durante essa época, marcada pela importância dada
à honra, à pureza e ao cavalheirismo, as pessoas comuns não questionavam o clero.
O caractere gótico que evoluiu era angular e condensado; eram dominantes os
traços verticais pesados, fazendo com que as curvas desaparecessem. Essas letras
negras eram feitas com grande precisão e eram uniformemente espacejadas a tal ponto que tornavam a textura da página parecida com um tecido de pano; por esta razão
foi denominada de textura.
Não havia espaços maiores entre as palavras, e o texto se estendia da margem esquerda para a direita em duas colunas verticais, sem exceção. Esse uso completo da
página é difícil de ser decifrado pelo leitor contemporâneo, uma vez que não havia
qualquer indicação do início e do fim das palavras e sentenças. Umas poucas variações
de letras em caixa-baixa evoluíram para ajudar os leitores na diferenciação entre as
formas das letras, tais como um ponto sobre a caixa-baixa do i, o traço de um n, m ou
u. A altura de ascendentes e descendentes foi encurtada, e o espaço vertical entre as
linhas de texto foi reduzido para economizar pergaminho, resultando em um texto
difícil de ser lido.
Como os textos religiosos eram os mais comumente reproduzidos nessa época, e
como esse estilo gótico de letras foi usado no mesmo período de tempo, as associações entre essas duas causas foram inevitáveis. O estilo de letras negras góticas ainda
manifesta um sentido religioso centenas de anos depois. Muitos historiadores comparam esse estilo forte, vertical e angular com as agulhas da arquitetura gótica da mesma
época.
Gótico antigo e Gótico Textura
A expansão muçulmana no Mediterrâneo
Os árabes muçulmanos expandiram-se através da Pérsia, Arábia e pela costa norte
do Mediterrâneo em uma rapidez sem precedentes entre 620 e 730, trazendo a estabilidade política e sua religião, o islamismo, às terras que conquistaram. Por volta de 650,
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The Catalan Atlas - primeiro mapa mediterraneo Majorca, 1375.
os muçulmanos estavam governando a Arábia, a Palestina, partes da antiga Pérsia e o
Egito.
Sua expansão incluiu o norte da África e em 711 cruzaram de Marrocos para a
Espanha pelo Estreito de Gibraltar. Continuaram, tomando a Espanha, e não pararam até 732, quando alcançaram os Pirineus, que proporcionavam à França uma barreira natural. A Sicília foi invadida em 827, e Roma foi atacada cerca de 20 anos mais
tarde, em 846. A Catedral de São Pedro foi saqueada porque não estava dentro das
muralhas de proteção de Roma. Com essa grande conquista dos árabes veio a oportunidade de controlar toda a navegação através do Mar Mediterrâneo.
Começando em 1096 e continuando até cerca de 1291, as Cruzadas, ou Guerras
Santas, foram empreendidas em batalhas pelos cristãos desde a Europa Central contra
o Oriente Médio. Turquia, Síria e Arábia foram atacadas, como também a Terra Santa
(uma vez que a área que circunda Jerusalém é considerada sagrada por três religiões
diferentes, continua hoje como uma área de disputa).
Desenvolvimento do papel na Europa
Os livros tornaram-se mais baratos durante a Idade Média quando foi descoberto
que o papel poderia ser fabricado com trapos de panos e fibras de plantas, criando
uma alternativa para o dispendioso pergaminho. O baixo custo do papel permitiu a
produção mais rápida e mais econômica dos livros. A crescente classe média dos membros das guildas estava se tornando mais letrada e podia agora adquirir livros. Logo o
papel feito de trapos se tornou disponível em toda a Europa.
Por volta de 1100 a fabricação do papel foi introduzida na Sicília e pelo final dos
anos 1200 uma pequena usina de papel foi estabelecida em Fabriano, na Itália. As
usinas de papel cresceram rapidamente ao longo dos rios porque a força da água corrente era usada para girar as grandes rodas d'água para a produção e também porque o
processo de fazer o papel requeria enormes quantidades d'água. Seguiu-se a França,
que dentro de 50 anos estava também produzindo papel. Essas diferentes usinas começaram a usar marcas d'água para se identificarem e se diferenciarem entre si. Uma
marca d'água é um design embossado em uma peça de papel durante a sua produção,
usado para identificar o papel e o seu fabricante. A marca d'água é visível quando o
papel é iluminado por trás.
O período gótico tardio (a alta Idade Média)
As sociedades feudais da Idade Média transformaram-se em cidades estabelecidas
à medida que os senhores terra locais começaram a estabelecer leis razoáveis que reduziram em muito a criminalidade, permitindo o desenvolvimento do comércio. A agricultura cresceu, apoiada pelo comércio internacional, e o dinheiro começou a substituir a terra como medida de riqueza.
Universidades foram fundadas nas cidades, e um espectro mais amplo da sociedade passou a receber educação formal. As universidades precisavam dos livros em
maiores quantidades, assim a demanda por artesãos envolvidos na produção de livros
também cresceu. As guildas de artesãos organizaram-se e começaram a treinar aprendizes para a força de trabalho em muitas áreas, porém aquelas especializadas no desenho de letras, ornamentação e encadernação de livros eram particularmente populares. Uma vez que várias das universidades eram seculares, acabou o monopólio religioso na educação e na produção de livros; além das tradicionais traduções latinas clericais, textos clássicos gregos e romanos entraram em popularidade no final dessa época.
O estudo de textos antigos romanos e gregos desenvolveu um movimento filosófico
conhecido como humanismo. Essa escola de pensamento colocava os humanos no
centro do universo, sem a intervenção divina.
De cerca de 1200 até 1400 a estética na arte e na arquitetura estava no seu auge na
Europa. Apoiadas por arcos botantes, as agulhas das catedrais elevavam-se cada vez
mais altas em seu intento de alcançar o céu. Vastos espaços de vitrais retratavam as
histórias da Bíblia, tornando mais fácil para os clérigos que pensavam e rezavam para
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ilustrar os conceitos que pregavam. O monasticismo estava no seu auge, com muitas
ordens diferentes. Igrejas eram construídas nas pequenas cidades ao longo das rotas
de peregrinação.
Nos trinta anos entre 1347 e 1377, mais de 40% da população - isto é, mais de 25
milhões de pessoas - morreu quando a peste bubônica atingiu a Europa. Refere-se
freqüentemente a ela como a Peste Negra, porque as pessoas ficavam escuras com a
praga. A praga foi espalhada por pulgas que viviam em ratos vindos em navios cargueiros que traziam alimentos do Oriente. A doença espalhou-se rapidamente devido à
inexistência de condições sanitárias na época, e para a maioria das vítimas a morte
chegava dentro de quatro dias do aparecimento dos sintomas.
Os historiadores acreditam que muitos monumentos foram construídos nessa
época como um símbolo de celebração e agradecimentos pelos sobreviventes. Muitas
ilustrações, gravuras de livros e letras capitulares iniciais representam a praga como
um esqueleto que chega inesperadamente para ceifar as vidas.
Iluminura retratando
a Peste Negra.
Rotunda comparada com as letras góticas
No início do século XV, tinham surgido a letra negra gótica, conhecida como
Textura, e a letra Rotunda. Rotunda (também referida como Mão Humanística ou
Littera Antiqua) era um estilo mais aberto e redondo que foi preferido na França e na
Itália. A letra negra gótica continuou popular nas áreas germânicas até os anos 1900.
Esses estilos tornaram-se modelos com as primeiras experimentações com os tipos
móveis e a imprensa.
A Littera Antiqua foi inspirada pela escrita carolíngea que tinha 600 anos de idade e
combinava as letras capitais romanas quadradas com letras curvas, arredondadas de
caixa-baixa. Alguns estudiosos que analisaram antigos manuscritos romanos copiados durante o período carolíngeo pensavam que estavam lendo textos copiados no
estilo de escrita desenvolvido nos tempos da antiga Roma, daí o nome de Littera
Antiqua, que significa "letras antigas". Littera Antiqua foi o estilo formal de letras
usado para manuscritos seculares, desta forma serviram para diferenciar os textos
leigos dos textos religiosos em muitas áreas da Europa.
Preparando o palco para a Renascença
As cidades começaram a crescer em tamanho e importância por volta de 1450,
logo antes da Renascença (que refere-se ao "renascimento do conhecimento”) causando ocasionais conflitos e confusões políticas. A arte cresceu com o apoio de senhores abastados, políticos e líderes religiosos. A família dos Médici em Florença, na
Itália, era conhecida pelo patrocínio de grandes obras de arte e de arquitetura durante
a Renascença, como o fizeram vários Papas, que encomendavam escultura religiosa,
arquitetura e afrescos.
Quando os turcos fecharam as rotas terrestres para a Índia e para o Extremo
Oriente, as nações que precisavam de especiarias e sedas começaram a patrocinar
exploradores na busca por rotas alternativas. Isto levou à viagem de Cristóvão
Colombo para a América em 1492 e à bem sucedida viagem de Vasco da Gama para a
Índia em 1497, navegando ao redor da ponta meridional da África. Os humanos começaram a conhecer bastante a geografia e as energias da terra para explicá-Ias em termos naturais em vez de em termos sobrenaturais. O humanismo floresceu durante a
Renascença.
Da família De Medici: Lorenzo, Piero (Ghirlandaio),
Giovanni (Bronzino) e Maria (Rubens). Entre parenteses, os nomes dos pintores dos retratos.
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