Il Restauro, la Conservazione e la Protezione dei

Transcrição

Il Restauro, la Conservazione e la Protezione dei
Scuola per
Artigiani Restauratori
Maria Luisa Rossi
Madeira de Eucalipto
Aplicação sustentável no mundo do Restauro
Ivan Fernando Sargenti Sbrana
Ano 2012-2014
Torino - Itália
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como
exigência parcial para obtenção do título de “Técnico
em Restauro de Obras em Madeiras Antigas”.
Local: Scuola Artigiani Restauratori Maria Luisa Rossi.
Torino/Itália
Nível de Qualificação: Especialização
Avaliação/nota: 89/100
Duração do Curso: 2.000 horas
Duração do Estágio: 602 horas
Ano Acadêmico: 2012/2014
Curso número: B – 155 2 – 2013 – 0
Apresentado em Torino/Itália, 19 de Junho de 2014.
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Dedico este trabalho a Edi Angelina Sargenti minha mãe - que me ensinou desde pequeno a caminhar
nas estradas da fé, da verdade e da esperança, mesmo que
muitas vezes, tenhamos recomeçado do zero ou diminuído
nossa marcha. A meu sobrinho Gabriel, minha irmã e
cunhado, tios, primos e a todos aqueles amigos que se
aproximaram para entender o que era um curso de
restauro em madeiras.
Estes dois anos de trabalho, estudo e experiência
dedico também ao amigo Gianfranco Mellino, exemplo de
fé, simplicidade e caridade, trabalhador que não para
nunca e que leva consigo (24 horas por dia) um sorriso e a
vontade de sempre fazer algo pelos outros. Junto dele,
Giovanni Holanda, Joselito Severo e a todos os amigos da
fraternidade e do Arsenal da Esperança de São Paulo.
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Indice
1
- Árvores na Província de São Paulo - ano 1560............................................................ página 07
2
- Tecnologia e Madeiras ..................................................................................................... página 08
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- Pesquisa..............................................................................................................................
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- Matéria prima..................................................................................................................... página 11
5
- Eucaliptos: as árvores mais altas do mundo................................................................
página 12
6
- Brasil: do século XIX ao século XXI............................................................................
página 14
7
- Características por espécie................................................................................................ pagina 16
8
- Utilização da Madeira........................................................................................................ página 17
9
- Limitações............................................................................................................................ página 18
10
- A casca.................................................................................................................................. página 19
11
- Cor dos Eucaliptos.............................................................................................................. página 20
11.1
- Acabamentos e vernizes.................................................................................................
página 21
12
- Origem da técnica de “impiallacciatura” ou folhas de madeira................................
página 22
12.1
- Tipos de cortes.................................................................................................................
página 24
12.2
- Os ebanistas....................................................................................................................... página 25
página 10
- Considerações.................................................................................................................... página 26
- Agradecimentos................................................................................................................. página 28
- À Jesus, José e Maria......................................................................................................... página 30
- Bibliografia.......................................................................................................................... página 31
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1 - Árvores na Província de São Paulo - ano 1560
Do irmão José de Anchieta ao General Padre Diogo Laines - Roma
(carta sobre coisas naturais de São Vicente - SP)
A paz esteja convosco
…quanto a ervas e árvores, parece digna de menção uma (Copaiba - Copaifera Officinalis Lin) - embora haja
outras que destilam líquidos semelhantes à resina, úteis para remêdios - que da um suco suavíssimo, que querem seja
bálsamo. Escorre a princípio como óleo por orifícios abertos pelo caruncho ou também por incisuras feitas por facas e
machados e depois coalhada parece tomar a forma de bálsamo. Exala cheiro, não demasiado, mas suavíssimo, e è
muitíssimo próprio para curar feridas, de maneiras que em pouco tempo nem sinal fica da cicatriz (como dizem estar
comprovado pela experiência).
Há outras árvores (Rhizophora Mangle Lin rhizophoraceae) que enchem por toda parte os estreitos
do mar, onde se criam, cujas raízes, nascidas umas quase no meio do tronco, outras nos pontos que brotam e se erguem
os ramos, do comprimento de lanças, se inclinam pouco a pouco para o chão, até que passados muitos dias o tocam. Na
povoação, que chamam Espírito Santo, há uma árvore bastante comum, altíssima (Sapucaia - lecythes pisonis
Camb, lecythidaceae). O seu fruto admirável, é semelhante à uma panela. A tampa, como que trabalhada a
torno, apresenta dentro muitos frutos, semelhantes a castanhas separadas por delgadas tiras como sebes intermediárias,
agradabilíssimos ao paladar. O recipiente ou panela, onde se encerram, não é de menor dureza que a pedra; e pode-se
facilmente calcular o seu tamanho pelas castanhas que contém - que passam de cincoenta. Além disto, há pinheiros
(Pinho do Paraná) de altura estupenda, que se multiplicam profusamente, enchendo o espaço de seis ou sete milhas.
Ao seu fruto dão os índios por antonomasia o nome particular (que é comum a todos os demais frutos) de iba, que quer
dizer “fruto”: são compridos à feição dos (pinhões) da nossa terra, mas muito maiores, de casca tenra, semelhantes ao
miolo das castanhas. As terras do norte não produzem estas árvores.
…há uma árvore (Gameleira - Ficus doliaria Mart., moraceae), da qual cortando-se a casca com a faca ou
quebrando-se um ramo, sai um líquido branco, parecido ao leite, mas mais espesso, o qual, se se beber pouco,
desembaraça os intestinos e limpa o estômago com um vômito de grande violência; mas, se houver demasia na porção, por
pouco que seja, mata…
São Vicente - Brasil, 31 de Maio de 1560
o último da Companhia de Jesus, José.
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2 - Tecnologia e Madeiras
Imagine que você está na China ou Índia e coloca na calçada, próximo a uma caçamba de lixo,
partes de um computador. Pouquíssimos minutos mais tarde aqueles objetos desaparecerão, para
reaparecerem na garupa de uma bicicleta que recolhe “objetos estranhos”.
É isso que acontece com os resíduos eletrônicos. Esta é uma reciclagem diferenciada informal,
silenciosa, tolerada pelos governos por que é útil e garante trabalho a uma parte da população que de
outra forma não haveria com o que se sustentar. Ou pior, uma população que não pode mais retornar
às atividades agrícolas, em zonas contaminadas por esse lixo.
Porém, voltando alguns séculos atrás, na “trilha” da tecnologia daquele período, encontramos
um dos materiais mais importantes, desde o princípio do mundo: a madeira (seja para o
desenvolvimento da vida cotidiana, seja para indústria). Importante fonte de renda, motor da
revolução industrial e artística, que hoje vive um momento particular, pois as novas tecnologias não
tem mais necessidade de materiais, que como ela, não se degradam com a ação do tempo e que não
modificam sensivelmente as próprias características de resistência. O mundo “moderno” encontrou o
ferro, o tecido, o plástico... e um mar de opções baratas (mas nem sempre), produzidas pela natureza
ou pelas mãos dos homens.
A céu aberto ou fechados nas favelas, a viagem dos resíduos “modernos” entope, por
exemplo, uma parte da Ásia. Estradinhas estreitas entre telas sem vidros; movimento pouco comuns
em portas suspeitas; minúsculas lojas das quais surgem teclados e cabos eletrônicos, este é o mundo
contemporâneo ao contrário, aquele feito de tecnologia, símbolo do mundo ocidental que sem olhar e
sem saber, a maioria das vezes, deixa morrer os próprios vícios nos lugares que são conhecidos apenas
por quem ali vai. Ou por quem ali trabalha o que é ainda pior. São na maioria das vezes, lugares
iluminados pela própria feiura, desolação e perigo (não social, mas ambiental): são lugares onde a
tecnologia vai morrer - principalmente aquela usada no Ocidente e que se mistura com aquela
consumida no Oriente.
De qualquer forma, trata-se de negócios ilegais, por que da avançada Europa, justamente no
século do smartphone e da possibilidade de controlar tudo através da tecnologia, 75% dos resíduos de
aparelhos eletroeletrônicos não se sabe, que fim leva.
Questão de retórica, por que crianças indianas que separam os teclados, idosos que entre fios e
cabos desmontam no colo os monitores, sabem perfeitamente onde vai parar a tecnologia. E sabem
também as organizações de um mundo ilegal de resíduos que sobre esse tráfico fazem uma montanha
de dinheiro, oferecendo trocados e doenças àqueles que desse trabalho sobrevivem. São materiais em
desuso, por que olhando pelas estradas desses lugares, alguns equipamentos estão em perfeito estado,
mas não estão mais na “moda”. É difícil e perigoso para saúde, mas ainda assim é um trabalho.
Na China não é muito diferente: o desmanche dos resíduos eletrônicos, oferece muitas
oportunidades de trabalho para a população local, por que o lixo eletrônico cria expectativas,
sobretudo em um país sedento por recursos naturais. Da outra parte, o efeito negativo desses resíduos
é enorme: alguns metais são muito venenosos e tóxicos aumentando a poluição do ar, dos rios locais e
do solo.
Observando esse cenário, com todo esse desenvolvimento ainda é possível nos dias de
hoje encontrar madeiras para produzir alguma coisa ou quem sabe, restaurar obras feitas de
madeira?
Imaginem na Europa, quantas pontes, igrejas, palácios foram feitos com essa matéria prima.
Obras primas que encontram no restauro da madeira uma das poucas estradas para contar às futuras
gerações a história da humanidade.
Porém hoje existe a necessidade de usar a madeira de forma consciente, não predatória, já que
mais cedo ou mais tarde o nosso solo, o ar, nossos rios se tornarão mais poluídos, contaminados. A
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madeira nos países industrializados conseguiu nos últimos anos recuperar uma importante fatia do
mercado, seja por suas propriedades e características típicas (toque, qualidade, beleza e perfume) seja
porque já se transformaram em materiais raros. Atualmente, lugares onde a madeira é pouco
trabalhada (ou mesmo inexistente) possuir um móvel, um objeto, ou um simples elemento decorativo
de madeira tornou-se símbolo de prestígio e riqueza.
É comum escutarmos que a madeira é um material renovável, mas onde plantaremos
as novas árvores ou em que parte do mundo poderemos encontrar florestas para cultivá-las?
Até este momento, a América Latina não aparece na “rota” mundial de desmanche de lixo
tecnológico. Mas isso não quer dizer que a terra dessa parte do mundo permanecerá fértil para sempre.
As florestas continuarão a produzir matérias primas, mas não sabemos ainda como as novas gerações
aprenderão a gerir “os frutos da natureza”, já que aos poucos técnicas artesanais de trabalho estão se
perdendo, estão sendo esquecidas.
Justamente no Brasil - que possui uma posição geográfica privilegiada, numerosas espécies de
madeira e um vasto espaço para plantações - há alguns anos atrás foram criados sistemas de
“reflorestamento sustentável”, reconhecidos internacionalmente. Isso quer dizer que encontramos,
junto às “zonas originais”, espaços onde as árvores foram plantas pelos homens. Não podemos nos
esquecer que em outras regiões da América Latina, existem países com restrições de uso da madeira devido a questões culturais, extrações predatórias, pouca informação. Tudo isso não ajuda no
desenvolvimento desse tipo de “reflorestamento”.
Saindo das “florestas” e voltando às cidades, dados do Greenpeace dizem que não sabemos o
destino de 75% dos resíduos tecnológicos produzidos na União Europeia e 80% dos resíduos
produzidos nos Estados Unidos. Isso por que uma parte desses resíduos ainda está esquecida em
garagens, galpões, depósitos e provavelmente serão depositadas em aterros clandestinos ou caçambas
comuns. Certo mesmo é que grande parte desse lixo, será exportada (ilegalmente) para uma região
muito pobre do mundo, recomeçando todo ciclo.
Para não deixar que nesse nosso tempo de vasta tecnologia (ainda que não saibamos até
quando durará) nossas reservas naturais desapareçam ou morram contaminadas pelos resíduos
eletrônicos, devemos encontrar soluções para manter as obras feitas de madeira, devemos encontrar a
estradas justa para não desperdiçar ainda mais o pouco que resta da natureza.
É tempo de nos perguntar, quando utilizamos matérias primas naturais:
- A madeira que estou trabalhando, que comprei, qual a sua procedência?
- Por acaso, faz parte de um “esquema clandestino” de comércio?
- Será que essa madeira foi produzida respeitando sistemas sustentáveis?
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3 - Pesquisa
Em 2013 tive o prazer de conhecer a Doutora Sandra Florsheim (pesquisadora científica do
IFSP - Instituto Florestal do Estado de São Paulo, Brasil). Ela me explicou a possibilidade de utilizar a
madeira de eucalipto em vários segmentos do mercado, como a produção de móveis, estruturas
internas e externas entre outras aplicações. Tais experimentações já foram realizadas com grande
sucesso em outras partes do mundo, mas também no Brasil.
Fiquei surpreso quando a Dra. Florsheim me apresentou amostras de madeira de eucalipto,
cada uma com cores particulares, partindo do mais claro chegando a tonalidades mais escuras.
Impossível não se surpreender. E duas perguntas surgiram...
- Como é possível existir essa variedade de cores?
- Porque o eucalipto é pouco conhecido no mundo de restauro de móveis?
A justificativa para variedade cromática vem do fato que em uma plantação de sementes, não
se derruba a árvore mais alta, mais bonita, mais forte. Ela continua ali e se torna a “matriz” para as
outras que virão. Após um período de produção, essa matriz é cortada, mas não poderá ser usada para
os fins mais comuns (o mercado mais importante atualmente desse setor é a produção de papel), pois
já está fora das medidas estabelecidas.
Os pesquisadores do IFSP encontraram árvores de 15, 20, 30 anos, que não foram cortadas, se
tornaram velhas e não produziam mais “sementes boas”. Esse longo período de “espera” fez com que
algumas espécies produzissem madeiras com cores variadas e muito diferentes entre si.
Amostra de Eucalipto - Xiloteca do IFSP (Brasil)
Após dois anos de experiência, estudando e trabalhando madeiras, conhecendo quais são suas
caracerísticas, cores, propriedades e aplicações, posso dizer que existe a possibilidade de usar essa
fascimante “matéria prima” para realizar trabalhos de restauro, sem agredir a natureza ou sem
estinguir as fontes naturais desse material.
Nessa pesquisa, temos como objetivo falar da história e da possibilidade de trabalhar a madeira
de Eucalipto - proveniente de reservas confiáveis - de entender onde se escontra, qual a sua
resistência, quais são as espécies mais conhecidas e onde podem ser empregadas. Falaremos também
de uma técnica muito difundida no século XVII e que ainda hoje ocupa um lugar privilegiado no
mundo do restauro.
Este pode ser um exemplo de como trabalhar com tecnologia e materiais naturias, em um
mundo sempre com pressa para crescer.
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4 - Matéria prima
Após a guerra dos trinta anos (1618-1648), é a França que assume na Europa o “posto” de
ditar as tendências no campo das artes - posição que anteriormente pertencia a Roma. O pais que Luis
XIV (1638-1715) encontrou quando se tornou rei (1661) tinha sido preparado para acolher um novo
desenho: o absolutismo. Este perído que depois será chamado de “barroco”, teve inicialmente uma
referência iconográfica exclusivamente religiosa. Pouco tempo depois, o contexto foi se tornando mais
laico, as obras de arte deixaram de ser persuasivas transformando-se em comuicativas. O problema
não era convencer o povo que apenas a Igreja poderia triunfar sobre as misérias do mundo, mas
convencê-lo a identificar um só homem como o poder, que não deveria ser discutido, mas imposto e
“demonstrado” em todas as ocasiões e com todos os instrumentos possíveis: legislativo, militar e
também artístico. A estrutura linguística do barroco não mudou, mas variou o sujeito, que não era
mais Deus, mas o rei. E esse rei era Luis XIV.
Várias personagens se aproximaram do rei da França para construir esse desenho. Tais
homens além do rei, criaram o estilo Luis XVI e assim nasceram diversas “indústrias reais” (a primeira
delas os Gobelins), nas quais se realizaram trabalhos de tapeçaria, tecidos e objetos de incrível beleza.
Como por exemplo trabalhos de Saint-Gobain para fabricação de vidros e espelhos.
Devido o longuíssimo período do reinado do Rei Sol, é possível subdividir o gosto e o estilo
Luis XVI em três grandes grupos. O primeiro indica os anos da juventude do rei (entre 1643 e 1661).
O gosto era ainda muito influenciado pela arte italiana. O segundo grupo é aquele dos motivos
ornamentais derivados da antiguidade clássica e o terceiro é aquele das linhas dos móveis que se
“suavisam” com a introdução da linha curva.
Por esses motivos, podemos dizer que após 1650 (aproximadamente), Paris se transforma por
excelência na cidade do bom gosto. Todas as tendências para a moda, móveis e gastronomia foram
criadas a partir dessa cidade. Ainda hoje, em um mundo globalizado é fácil encontrar referências com
raízes em um dos vários estilos franceses.
Somente após 1960, a Itália se tornará novamente a referência para estilo de móveis, quando a
cidade de Milão se transforma na capital do móvel. Mas esse intervalo, fez com que a Itália lentamente
esquecesse dos artesãos, dos restauradores, das técnicas de trabalho, das escolas de belas artes. Ainda
hoje, na França - mas não apelas ali - encontramos pequenas oficinas, escolas, mão de obra
especializada e lojas que vendem materiais, colas e ferramentas, como se fazia a mais de cem anos
atrás.
Umas das primeiras estradas que escolhemos para entender a história da madeira de eucalipto
no mundo do restauro, foi uma pesquisa (via internet) em uma dessas lojas centenárias de Paris.
A tradicional loja familiar, Les fils di J. George - Bois di placage toutes essences há quatro
gerações especializou-se na produção de folheados1 de madeiras raras ou preciosas. Desde o século XIX
eles possuem um estoque com mais de 170 espécies de madeira.
Educadamente, perguntei a eles, se existia alguma notícia histórica sobre trabalhos ou restauros
com a madeira de eucalipto. A resposta....
Paris, 28 de novembre de 2013
Sr. Ivan, obrigado por sua mensagem.
Não temos nenhum conhecimento que dentre nossos muitos clientes se utilize madeira de eucalipto, seja para restauro de móveis, seja para
produção dos mesmos.
Desejamos boa sorte em sua pesquisa.
Cordiais saudações. Frederick GEORGE
Naquele momento, compreendemos que toda tradição francesa, de nada nos serviria. Tivemos
então que fazer uma outra viagem, até um país um pouco abaixo da linha do equador.
1 - Folheados: ver página 22
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5 - Eucalipto: as árvores mais altas do mundo
Specie: E. pilularis
Specie: E. grandis
Specie: E. regnans
Specie: E. tereticornis
Specie: E. globulus
Specie: E. robusta
Specie: E. maculata
Specie: E. rostrata
Specie: E. resinifera
Specie: E.
saligna
Eucalyptus deriva do grego: eu = bem, kalyptos = esconder (esconde um bem), pois suas pétalas
escondem o fruto. É um gênero de plantas sempre verde que pertence à família das Mirtacee, com mais
de 600 espécies diferentes e muito difusas nos países de clima temperando, justamente pela fama di
poder purificar zonas com malária, espantando insetos nocivos e deixando o ar mais puro. Sempre foi
conhecido por seus numerosos usos farmacológicos e fitoterápicos
Gênero: Eucalyptus
Família: Myrtaceae
Ordem: Myrtales
Classe: Magnoliopsida
Divisão: Magnoliophyta
Domínio: Eukaryota
Suddivisão Tassonomica: Acúmulo progressivo e ininterrupto de
modificações sucessivas, até a manifestação (após amplo intervalo
de tempo) de significativa mudança nos organismo vivos.
Originário da Oceania (Austrália, N.Zelândia, Tasmânia e Nova Guiné) são as árvores mais
altas do mundo, mais altas do que as sequóias da Califórnia. A espécie E.globulus é uma árvore de
consideráveis dimensões: nas zonas de origem pode atingir de 70/80 metros, mas normalmente sua
altura é de 40/55 metros e o tronco pode chegar a 2 metros de diametro.
Desde tempos remotos, os aborigenes autralianos conheciam e faziam uso do óleo de
eucalipto para curar feridas e baixar a febre. O koala passa quase toda sua vida nas árvores de
eucalipto, se alimentando com as folhas; justamente por isso, o koala esala um agradável perfume. Seu
metabolismo é muito lento o que o obriga a permanecer imóvel grande parte do dia.
Foi um botânico frances do século XVIII que difundiu na Provença (França) as maravilhas
médicas do eucalipto. Rapidamente a planta se difunde em toda Europa por sua beleza e seu agradável
perfume. Na Itália, encontramos as espécies E.corymbosa, E.citriodora, E.camaldulensis, que são usadas
para reflorestamento de bosques, graças a seu rápido crescimento e poucas exigências.
No decorrer dos anos, a fama dessa madeira difundiu-se em todo mundo. Várias espécies são
cultivadas abundantemente nos países quentes e temperados-quentes. Em geral é uma madeira dura,
resinosa, durável. De uma árvore, usa-se tudo: das folhas são extraidos óleos essenciais utilizados no
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mercado alimentício, farmacéutico, perfumaria e também produtos de limpeza. Na casca encontramos
o tanino2 , o tronco oferece madeira para postes, estrutura, dormentes, cruzetas além de móveis e
embarcações. Hoje, das fibras e polpa é produzida energia, mas atualmente a madeira de eucalipto está
sendo usada principalmente para produção de papel.
A introdução dos eucaliptos na Itália no final do século XVIII é contemporâneo ao resto da
Europa. As primeiras notícias deste gênero na Itália são fornecidas por G. A. Graefer. Em seu catálogo
- publicado em 1803 para os jardins reais de Caserta - encontramos uma planta de E. robusta; pouco
depois acontece a identificação de um E. capitellata (Villa del Principe di Bisignano, Barra). Em 1809, no
Horto Botânico de Napoli, existiam oito espécies de eucaliptos citadas por Graefer em seu catálogo,
entre elas o E. Camaldulensis (dedicato ao Duque de Camaldoli que em seu jardim cultivava uma
importante coleção de plantas). Naqueles anos, o eucalipto difundiu-se em muitas partes da Itália,
decorando muitas propriedades reais (Monte Argentario, Porto Empedocle, Pegli na Liguria).
Uma ampla obra de difusão na Itália aconteceu graças aos Monges Trapistas da Abazia di Tre
Fontane em Roma (1869) que enxergaram os eucaliptos como uma fonte econômica e iniciaram as
primeiras plantações, criando as primeiras formações monoespecíficas. O abade Franchino, enviado ao
Ministério da Agricultura, mostrava que no decorrer de um ano foram plantados 28.500 eucaliptos e
que a saúde dos monges das Tre Fontane melhorou consideravelmente.
Os perfumes dos eucaliptos convenceram o governo de Roma a pressionar os proprietários do
Agro Romano a plantarem essa espécie, entendendo que poderiam melhorar o ar e acabar com a
malária; alguns resultados foram obtidos, mas a diminuição da doença foi atribuida ao absorvimento
das águas paradas pelas plantas. As espécies italianas se demonstraram resistentes seja à neve, seja à
seca, possibilitando sua difusão por todo pais.
Sabemos que os eucaliptos eram usados há muitos tempo em todo o mundo e futuramente se
transformará na base para a maioria dos produtos de madeira. A diferença (grande) que existe hoje
entre oferta e procura nos mercados internos e externos ajudaria no processo de substituição de
madeira nativas, por madeiras de eucalipto.
Mapa mundial do cultivo de eucaliptos em 2008. GIT Forestry Consulting Eucalyptologics
2 - Tanino: Substância química presente nos vegetais capazes de - combinados com proteinas da pele animal - auxiliar na putrefação,
tranformando tais peles em couro.
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6 - Brasil: Do século XIX ao século XXI
Segundo escritos de Edmundo Navarro de Andrade 3 é provável que tenha
sido o Chile a receber (deixados por um veleiro inglês) os primeiros eucaliptos
na América do Sul em 1823. Uma citação histórica importante diz que existem
sinais de exemplares di E. globulus, provavelmente plantados no jardim botânico
do Rio de Janeiro em 1825. Outra fonte diz que árvores de eucalipto foram
encontradas no interior de São Paulo no início de 1860 (aproximadamente).
Falando do Brasil, é muito difícil dizer com esatidão como, quando e
onde esta espécie se desenvolveu. Pode-se dizer que foi na cidade do Rio de
Janeiro, ou na província do Rio Grande do Sul. Qualquer data ou estado, todas
as informações podem ser reais.
Independentemente de tudo isso, segundo E. de Andrade pode-se dizer
Eucalipto globulus
que o eucalipto chegou no Brasil entre 1825 e 1868. As primeiras plantas eram
usadas para decoração, como “para vento”, ou ainda para extração de óleos essenciais. Neste período,
em outros países o eucalipto já se distinguia pela produção da madeira, uma vez que crescia muito
mais rápido que outras árvores.
No final do século XIX, superada a substituição da mão de obra escrava pela imigrante
(europeus em sua maioria), São Paulo vivia um novo perído de crescimento: tinha mão de obra mais
especializada (com relação a outras cidades); crescia o consumo de mercadorias produzidas
internamente; estados vizinhos começavam a mostrar interesse em todo tipo de mercadoria produzida.
Do cultivo de cana de açúcar ao café, passando pelo algodão e todos os gêneros alimentícios, o
setor agrícola e junto dele todos os outros setores, precisavam mudar o antigo método de distribuição
da produção: a distribuição precisava ser mais rápida, superando as grandes distâncias para garantir a
qualidade.
A solução encontrada era utilizar o trem - meio de transporte seguro que porém impunha
maciços investimentos financeiros, criações de novos destinos... Apenas assim seria possível
transformar a velha malha ferroviaria em um grande instrumento de desenvolvimento. Justamente
nesse período a vegetação nativa tornou-se a “solução” para o progresso.
Com o crescimento do mercado, as fábricas da cidade produziam sempre mais móvies, mesas,
janelas, portas (mas não apenas isso) utilizando diferentes madeiras. Para manter toda essa demanda,
novas florestas nativas eram cortadas. Lentamente, as reservas naturais começaram a diminuir,
afastandos-se das cidades.
As características do eucalipto - até o momento pouco utilizadas - tinham levado E. de Andrade
a considerá-lo uma importante fonte para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro que consumia muita
lenha para as locomotivas, para os postes de luz, dormentes e cercas. Após alguns anos, outras
sociedades ferroviárias como: Mogiana, Sorocabana, Noroeste, Bragantina, Central do Brasil e Santos-Jundiaí
também precisavam de uma quantidade infinita de madeira para se manter.
Neste período, eram estraidos das florestas tudo que a cidade precisava. Mas até quando essa
prática seria possível?
Quando E. de Andrade propos a substituição de madeiras provenientes de florestas, por
madeira de eucalipto, não encontrou - num primeiro momento - confiança da parte das pessoas. Para
vencer este preconceito, teve ainda que demonstrar que o eucalipto crescia muito mais rápido que
outras espécies e respondia muito bem às pesquisas genéticas.
3 - Edmundo Navarro de Andrade (São Paulo, 1881/1941): Político brasileiro. Ministro da Agricultura (1933/1934), fundador
dos Hortos Botânicos da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Formado em Engenharia Agronômica na Escola Nacional de Agricultura de
Coimbra
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Nome científico
nome comum
Dalbergia nigra
Hymenaea courbaril
Eucalipto grandis
Jacaranda
Jatoba
Eucalipto
idade 6 anos
idade 12 anos
idade 30 anos
diametro
altura
diametro
altura
diametro altura
0,02
1,32
0,06
2,4
0,23 17,88
0,06
3,82
0,08
5,02
0,15
14
0,13
13,6
0,21
21,1
0,45
37,3
Superada esta primeira barreira, o eucalipto começará a viver um momento aureo, tornando-se
um produto importatne para economia brasileira, até os nossos dias.
Pouco tempo depois, em 1909 foi criado o Horto Florestal de Rio Claro - SP. Em 1924, E. de
Andrade realiza a primeira viagem para Austrália com a finalidade de conhecer ainda mais as várias
espécies desse importante árvore. Voltando ao Brasil, trouxe consigo 166 plantas e assim em Jundiaí,
graças a ele foram plantadas com sucesso árvores de eucalipto e toda essa região que se transformou
no “berço” da silvicultura e da eucaliptocultura para todo o Brasil.
As primeiras espécies plantadas que tiveram sucesso foram: E. botryoides, E. viminalis, E. grandis,
E. urophylla ("E. alba" de Rio Claro), Corymbia citriodora, E. camaldulensis, E. triantha, Corymbia maculata, E.
paniculata, E. pilularis, E. propinqua, E. microcorys, E. punctata, E. saligna, E. robusta, E. tereticornis.
Eucalipito tereticornis
Eucalipito saligna
Eucalipito robusta
E. de Andrade conseguiu plantar tanto nas terras da Cia Paulista de Estradas de Ferro, quanto nas
pequenas propriedades agrícolas trornando-se respensóvel pela plantação de aproximadamente 24 mil
árvores no estado de São Paulo, transformando-se no “pai da eucaliptocultura do Brasil”.
As plantações de São Paulo foram exemplo para outros estados como Rio Grande do Sul,
Minas Gerias e Rio de Janeiro. Neste período, encontrava-se eucaliptos em todo território brasileiro.
Depois de um período de sucesso - principalmente no campo da pesquisa científica - o horto
botânico de Rio Claro vive um momento de declínio devido - entre outras coisas - às controvérsias
políticas, filosóficas e administrativas... uma parte da sua área total foi desapropriada ou vendida; das
espécies plantadas por E. de Andrade restaram atualmente pouco mais de 60.
Em 1916 o antigo horto é transformado em “F.E.E.NA” (Floresta Estadual Edmundo Navarro de
Andreade), possibilitando a conservação ambiental de grande parte das espécies ali plantadas e
“acolhendo” também exemplos de aplicações práticas da biodiversidade local mas não apenas isso.
Assim, dentro da F.E.E.N.A nasce o Museu do Eucalipto, lugar onde é possível encontrar
diversos tipos de documentos, livros, materiais industriais e comerciais. O museu foi pensado por E.
de Andrade com o objetivo de apresentar à sociedade brasileira as maravilhas desta madeira. A casa
princiapal do antigo horto possue uma infinidade de produtos feitos com essa madeira: tábuas do
pavimento, janelas, tetos, portas, mastros, móveis, sofás, mesas e obviamente papel.
4 - Silvicultura: Método com o qual as árvores são cultivadas como qualquer outra cultura anual, tendo como objetivo a produção de madeira
e a seleção da melhor “população” para produzir sementes. A silvicultura intensiva rompe com os métodos de regeneração natural, prepara o solo
e estabelece plantações com caracteristicas específicas. Malinovski, J.R, Camargo C.M.S. Depto. Ciências Florestais - U F P
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7 - Características por espécie
Os eucaliptos crescem rapidamente também em solo duro, se adequam a terrenos secos ou
molhados. Possuem flores que atraem abelhas, folhas cheias de essências medicinais e madeira versátil
para muitos trabalhos.
Em geral, todas essas madeiras apresentam deformações com a variação da umidade e
temperatura. A mesma coisa ocorre com várias espécies de eucalipto, principalmente no processo de
secagem. Sofrem ataques de cupins, seja pela maior ou menor presença de alburno, seja por suas
características próprias por espécie.
Nome científico
Nome comum
Origem
Eucalyptus grandis
Toobur, Flooded gun, Rose gum
Austrália, cultivado no Brasil e África do Sul
Muito utilizado na construção, o E. grandis é um dos mais disponíveis no mercado. Apresenta
densidade5 média e baixas propriedades mecânicas.
Pode ser usada para: assoalho, estruturas externas, paletts, móveis, placas, postes, caixas, casas.
Nome científico
Nome comum
Eucalyptus citriodora
Lemon-scented gum
Origem
Austrália cultivado na África do Sul, América e Ásia
Indicato para produçaõ de caibros, traves... o E. citriodora apresenta resistência média,
elasticidade e estabilidade dimensional elevada.
Esta madeira pode ser usada para: estruras internas e externas, assoalhos, móveis, utensílios, barcos.
Nome científico
Nome comum
Origem
Eucalyptus saligna
Sydney blue gum
Austrália, cultivado no Brasil e África do Sul
A madeira de E. saligna é indicada na produção de móveis como cadeiras, mesas. Apresenta
notável resistência mecânica e densidade média.
Esta madeira pode ser usada para: estruturas internas, assoalhos, móvies, placas e caixas
Nome científico
Nome comum
Origem
Eucalyptus pilularis
Blackbutt
Austrália, cultivado no Brasil
Muito difundido na construção civil, com densidade elevada e modesta resitência, a madeira do
E. pilularis apresenta baixa permeabilidade e baixa presença de alburno.
Esta madeira pode ser usada para: leves estruturas internas, assoalhos, cosntruções civis.
Nome científico
Nome comum
Origem
Eucalyptus paniculata
Grey Ironbark
Austrália, cultivado no Brasil
A madeira de E. paniculata em contato com o solo apresenta grande resistência aos ataques de
cupins pois, a quantidade elevada de alburno, garante uma maior proteção para essa madeira.
Esta madeira pode ser usada para: construções civis, serrarias e marcenaria em geral
Nome científico
Eucalyptus tereticornis
Nome comum
Origem
Forest red gum
Austrália, cultivado no Brasil
Com uma boa resistência e elasticidade, a madeira de E. tereticornis apresenta uma longa
durabilidade natural, sua resistência é média e a densidade é elevada.
Esta madeira pode ser usada para: estruturas interans e teto.
5 - Densidade: É a relação entra massa x volume de uma madeira.
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8 - Utilização da madeira
Ainda que se trate de uma árvore de crescimento rápido, o eucalipto é bem estruturado e de
belo aspecto e recebe vernizes e com ótimos resultados. Encontra utilização seja como tábuas, seja
como peça maciças na confecção de móveis de valor, objetos decorativos e ainda como postes e
construções destinadas a permanecer embaixo d’água.
Normalmente ao trabalhar o eucalipto encontramos vários problemas devidos à utilização
pouco correta desta madeira e a falta de ferramentas e processos específicos.
Depois de alguns testes, podemos dizer que (semelhante a outras madeiras) cada um se adpta a
um tipo específico de aplicação. Os parâmetros de qualidade já foram definidos. Uma ótima notícia
principalmente para construção civil e de móveis, é que encontramos melhores e evidentes
perspecitivas de crescimento e a possibilidade de utilizar de forma intensiva uma materia prima
originária de plantações sustentáveis com resuldatos muito satisfatórios. Tudo isso foi possível, graças
à produção de florestas jovens, ciclos curtos e de rápido crescimento. São esses processos especiais
que tornam a madeira de eucalipto mais valorizada pela indústria.
Quando falamos de eucalipto no Brasil, não pensamos em sua utilização pelas carpintarias,
marcenarias, serrarias, muito menos na utlização de placas, cadeiras, portas. Essa era uma madeira
pouco utlizada. Apenas alguns anos para cá, é possível encontrar trabalhos diversificados com essa
espécie. Pelo fato de ainda encontrarmos no mercado algumas madeiras nativas, preferimos umas
destas do que aquelas de eucalipto. Tudo isso porque pouco se conhecia e pouca tecnologia se
empregava para descobrir a versatilidade e as grandes potencialidades dessa madeira. Na realidade,
grandes indústrias se concentraram na produção de celulose, esquecendo praticamente todos os
outros usos para essa madeira.
No estado do Rio Grande do Sul porém, a história nos leva para uma outra estrada.
Por muitos anos, como de costume, toda madeira usada era nativa, depois (lentamente) as
espécies foram desaparecendo e tornaram-se protegidas por leis ambientais. Até este ponto, o
eucalipto não encontrava espaço no mercado, mas graças ao trabalho de muitos, graças também a
incentivos fiscais, o eucalipto conseguiu se transformar em um produto de qualidade.
Utilizado inicialmente como estrutura interna de sofás, conquistou outros espaços nunca
imaginados. Desenvolvido para móvies de jardim, depois para terraços e finalmente móveis de
escritório conseguiu se transformar no substituto do mogno - que praticamente não existe mais na
Amazonia. Neste período, começaram as pesquisas científicas sobre eucaliptos, mesmo sendo
desconhecido pela maioria das pessoas. Assim, com um “pé” no mercado e um outro nos
laboratórios, o eucalipto tornou-se uma alternativa para indústrias de construção, móveis e paineis.
Podemos dizer que não existe eucalipto ideal para o mercado mobiliário, pois não existe um
controle da materia prima para esta finalidade. Grande parte da madeira usada até agora, chega de
plantações desenvolvidas para produzir papel ou combustível, com pouco atenção para utilização
desta madeira em outros setores do mercado.
Uma iniciativa no campo das serrarias (mas ainda pouco difundido para móveis) é o emprego
de um selo verde6 que identifica a proveniência da madeira, indicando se aquele material chega de uma
fonte conhecida; se não foi cortada de forma predatória, em áreas protegidas ou que sofrem ainda
qualquer tipo de degradação. Preocupados com a natureza, paises como EUA, Alemanha, Inglaterra
entre outros, trabalham com esse sistema de selo.
Em 1999, por excesso de materia prima proveniente de árvores com mais de 7 anos, a empresa
Aracruz Produtos de Madeira (no estato da Bahia) decide trabalhar com eucalipto como base para
móveis. A placa de madeira de eucalipto denominada Lyptus7 nasce no Brasil, seduzindo
definitivamente o mercado internacional.
6 - Selo verde: Certificação de qualidade ambiental para produtos de origem florestal, criada pela FSC (Forest Stewardship Council).
7 - Lyptus: madeira de eucalipto com mais de 14 anos.
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9 - Limitações
A madeira de eucalipto originária de árvores de idade avançada é muito mais estável e madura.
Por exemplo, na Austrália, a construção civil adotou a prática de não utilizar esta madeira com menos
de 25 anos. Eles identificaram que é um gênero maleável e responde bem ao desenvolvimento
genético, com novos horizontes de uso.
Em geral, o eucalipto - como outras madeiras - possue limitações própria, e por essa
complexidade as aplicações tem se diversificado. Atualmente já existe uma longa lista (conforme tabela
pág. 16) com a indicação e utilização específica para cada tipo de eucalipto, bem como as principais
dificuldades de aplicação para os vários mercados existentes.
A secagem é um dos maioires problemas para esta espécie. O processo deve ser feito com
muita atenção, independentemente da estação do ano. Para alcançar os melhores resultados, é preciso
levar em consideração a aplicação que se pretendo com o produto pronto, visto que o eucalipto pode
sofrer “torções” ou “rachar” depois dos primeiros processos. Esta madeira, ainda que seca pode
demonstrar umidade superior aos 30%, ou seja um valor considerável. O método natural é muito
lento, muito caro e por isso mesmo, não aconselhável. Podemos dizer que este sistema necessita de
grandes depósitos para a estocagem da matéria prima
Outro problema são os nós. Em um eucalipto normal, as dimensões dos nós aumenta com a
altura da planta. Os nós pequenos encontram-se na base e os maiores nas partes altas. Uma elevada
presença de nós produzirá quebras, pedaços deformados, variações dimensionais lineares e
volumétricas.
Existe uma tendência nos eucaliptos atribuindo as tensões de crecimento e suas consequências
às grandes taxas de crescimento, porém não é comprovado que taxas maiores de crescimento
demonstrem maiores tensões de crescimento. Isso não quer dizer que “tensão de crescimento” seja a
mesma coisa que “velocidade de crescimento
Estudos dizem que o eucalipto deve ser trabalhado enquanto apresenta índices de umidade
vizinho àqueles determinados, em outras palavras para garantir o bom êxito do processo não é
indicado trabalhar com a madeira após um longo período de “descanso”. É aconselhado deixar o
eucalipto descansando na própria floresta, pois ele é sucetível aos ataques de insetos e cupins.
Quando falamos da durabilidade natural do eucalipto devemos recordar que - diferentemente
de outras árvores - essa madeira apresenta um grande percentual de alburno, fator que influencia na
presença de organismos como fungos.
Entretanto existem ainda hoje, espécies de eucalipto praticamente desconhecidas. Tudo por
que trata-se de uma “materia prima” pouco apreciada, ainda jovem no mercado. Baixa disponibilidade,
máquinas não específicas e falta de informações fazem sim que a utilização seja ainda muito reduzida.
Estes fatores induzem o comprador final a escolhar um outro tipo de madeira.
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10 - A casca
O eucalipto também é conhecido por seu aspecto externo. As belíssimas cores provem de
centenas de cobinações e se revelam principalmente na casca da árvore, da qual se pode identificar a
espécie.
Feita de um “tecido” específico, a casca é o revestimento externo de todas as árvores que
transportam estratos orgânicos elaborados pelas folhas armazenando substâncias energéticas minerais
nutritivas. Partindo da raiz e chegando até troncos e ramos.
Dotada de compostos tóxicos, possui funções protetivas contra ataques de insetos, fungos e
pássaros. A casca evita que o xilema8 fique exposto e sujeito ao ressecamento.
Seu aspecto varia muito segundo a espécie e a idade da planta. Pode apresentar desenhos e
espessuras variadas na mesma árvore. Nas plantas jovens, a casca apresenta-se mais lisa, mas também
existem espécies com casca rugosa.
Vários exemplos de cascas de eucalipto
Enquanto a planta cresce é normal que pedaços da cascas se desprendam, e ao abrir-se
formam desenhos na superfíce da árvore.
Artesãos aborígenes das antigas civilizações (mais ainda hoje), utilizavam a casca como base
para pintura e desenhos, já que de algumas espécies é possível retirar um tipo de lâmina. Esses artistas
produzem também barras, potes, pratos, pequenos barcos, casas (parede e teto), objetos decorativos e
sacros.
Viajando pelo mundo, encontramos muitas árvores de eucalipto em jardins e praças, utilizados
como decorações graças as cascas multicoloridas e à sombra que produzem. Por esse motivo,
podemos dizer que é comum encontrar àrvores de eucalipto no campo e nos centros urbanos.
Algumas vezes se parecem a uma casca ou folhas lisas de papel. Podem apresentar estrias ou
fios grossos. Em todos esses casos, o contrate é fantástico. Tudo isso podemos encontrar em árvores
jovens como naquelas com mais de 4 anos, quando a espessura da casca é mais acentuada.
Madeira de eucalipto com casca - Museu da Madeira (São Paulo - Brasil)
Dependendo da época do ano, as cascas mortas se desprendem dos troncos. Isso ocorre mais
frequentemente nos meses quentes do verão. Essa substituiççao é gradual, por isso é possível ver o
contrate de cores entre a velha casca e o novo tecido que chega, cheio de vida.
8 - Xilema: é a madeira propriamente dita, dividida em alburno (parte nova, clara e mais externa) e durame (parte escura, mais interna).
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11 - Cores do eucalipto
As cores das madeiras derivam da composição química presente nas substâncias que
encontram-se no xilema. Entretanto esta não é uma característica estável, podendo variar com o
tempo (escurecendo) graças à oxidação provocada pela luz, que reage com os componentes químicos
presentes. São justamente as cores que classificam esteticamente uma madeira como aceitável ou não.
A maior parte das 600 espécies de eucalipto conhecidas possuem uma tonalidade marrom
avermelhada mais ou menos acentuadas. Existem porém variedade de cores que vão do amarelo palha
ao marrom claro, passando pelo marrom escuro chegando quase ao preto. Pode parecer estranho, mas
foram encontradas madeiras com cores do lilas até o laranja.
Abaixo listamos 16 diferentes amostras de eucalipto, colhidas nos hortos que o estado de São
Paulo mantém para realizar suas pesquisas científicas, desenvolver análises e conhecer melhor as
variações (inclusive as cores) dos vários tipos dessa madeira.
E. cloeziana: durame de cor marrom avermelhado, alburno marrom claro. Não brilhante e sem odor.
E. resinifera
E. saligna: tons bege
avermelhado. Lume assente
E. citriodora: tons
esverdeados
E. propinqua
E. pilularis: tons
amarelados
E. paniculata
E. umbra
E. tereticornis:
tons avermelhados
E. maculata: tons
avermelhados
E. robusta: tons
avermelhados
E. dunni: tons
amarelados
E. microcorys
E. punctata
E. urophylla
E. grandis: durame rosa, alburno cinza
claro. Lume moderato e odor ausente
Amostra de madeira - xiloteca do IFSP (Brasil).
Os sistemas de plantações em grande escala não foram ainda modificados para produzir uma
madeira adaptada aos vários mercados (por exemplo aquele de móveis). Tudo isso gera uma materia
prima muito diferente entre si. As variações como cor, densidade, rentabilidade, torções....
comprometem os processos de trabalho e a qualidade dos produtos finais.
Estes dados são importantíssimos para indústria de celulose, mas até agora não foram
descobertos como fonte de informações pelos produtores de móveis.
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11.1 - Acabamentos e vernizes
Quando recebe uma camada de acabamento ou verniz, o eucalipto torna-se muito refinado e
algumas vezes diferente do que era inicialmente. Quando utilizamos a goma laca - segundo a espécie e o
processo de acabamento - a cor se altera visivelmente.
Abaixo, encontramos para a mesma espécie de eucalipto, um tipo diferente de acabamento.
As amostras de número 1 são pedaços rústicos de madeira; as amostras de número 2 são pedaços sem
seladora9; as amostras de número 3 são pedaços com seladora.
Especie
amostra 1
amostra 2
amostra 3
E. cloeziana
spsf * 3424
E. dunni
spsf * 3423
E. grandis
spsf * 3425
E. microcorys
spsf * 3427
E. pilularis
spsf * 3426
E. propinqua
spsf * 3430
E. punctata
spsf * 3431
E. robusta
spsf * 3432
E. saligna
spsf * 3433
Amostras de cor de eucalipto - xiloteca do IFSP (Brasil)
O eucalipto se apresenta com alburno menor e coloração clara (amarelo claro). Já o durame
com cores amarelo/bege chegando a um marrom avermelhado. Em grande parte das espécies, o
eucalipto utilizado em áreas abertas escurece com o tempo, porém conserva sempre a mesma
tonalidade.
As cores de uma madeira são importantíssimas por que são uma das características que
classificam esteticamente como aceitáveis ou não. É normal encontrar neste tipo de madeira, pouco
brilho (o que a caracteriza como uma madeira refinamenta).
9 - Seladora: tipo de acabamento que fecha os poros da madeira, antes da aplicação de um produto definitivo.
* SPSF - número da amostra, segundo a norma da xiloteca do IFSP (Brasil) e da regra internacional do INDEX XILARIORUM.
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12 - Origem da técnica de ‘‘impiallacciatura” ou folhas de madeira
O intársio (ou impiallacciatura) é uma arte muito antiga. Parece que é originária da Ásia Menor
em Alicarnasso no palácio do rei Mausoleo, 350 anos antes de Cristo.
O tratado L’arte del falegname ebanista editado em 1774, por A. Roubo10 diferencia três métodos
para obter decorações mediante a aplicação da impiallacciatura: aquela que utiliza lâminas, isto é folhas
de madeira cortada em espessuras sutis, que serão coladas em um suporte de madeira maciço e que
defini-se normalmente ebanisteria da “impiallacciatura” ou intársio; aquela que representa flores,
frutos, animais ou figuras humanas usando madeira tingida ou de cor natural, que serão aplicadas seja
em um fundo de madeira maciço encrustrado ou em outra madeira de valor constituindo um mosaico
ou uma pintura com a madeira; e por último aquela que juntamente com outras madeiras de valor
aplica casco de tartaruga, marfim, metal, pedras preciosas, etc...
O processo principal para realizar um intársio é:
Tarsia certosina: é a primeira técnica utilizada e trata-se de um procedimento misto derivado da
escultura e consiste em escavar pequenos espaços em um painel maciço para inserir pedaços sutis de
madeira cortada. A espessura destes pedaços pode variar muito, chegando até a 5 milímetros.
painel
escavado
folha de madeira
madeira maciça
intársio
tarsia certosina
Este antigo procedimento ainda hoje é utilizado unicamente no restauro de objetos que
receberam tais técnicas. O trabalho é feito com formão para escavar os espaços, enquanto se prefere
cortar os elementos a serem inseridos, com uma serrinha muito fina.
Até o Império Romano, esta técnica permaneceu praticamente esquecida. Apenas no século
XIV na Toscana começaram a utilizar um novo procedimento denominado tarsia geométrica que
consiste no encaixe de elementos no interior de uma superfície decorada. A tarsia geométrica também
é conhecida como frisage. O corte da “impiallacciatura” é executado, muito frequentemente, através de
um procedimento mecânico, utilizando uma serra circular ou com uma espécie de estilete.
encaixe de elementos
na superfície da madeira
madeira maciça
tarsia geométrica
No século XV praticava-se o intársio em várias cidades italianas, particularmente em Firenze.
Na escola fiorentina de Francesco di Giovanni di Matteo encontramos Benedetto da Maiano (1444-1496) que
é considerado o verdadeiro inventor do intársio. Ele aperfeiçoou os procedimentos da tarsia
geométrica criando a arte dos efeitos pictóricos e prospectivos.
10 - Andre-Jacog Roubo: (1739/1791). Ebanista de uma familia de carpinteiro/marceneiros, autores de livros.
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Maiano e seu irmão deram seu sobrenome a um estilo: o damaianesco, que é caracterizado em
particular pela composição geométrica formando feiches decorativas nas superfícies. Vasari11 sobre
eles comenta: “O mestre se distinguiu nas imitações das perspectivas, nas folhagens e em outras fantasias com a ajuda
de madeira tingidas”.
De fato, durante este período começaram a tingir as madeiras com óleos impregnados e com
cores solúveis em água. Os artistas podiam executar verdadeiros quadros em relação a quando se
utilizava apenas as madeiras com suas cores naturais.
As formas do Renascimento foram acentuadas no século XVI com a tarsia geométrica. Os
elementos de “impiallacciatura” foram cortados com o formão e os vários pedaços de mosaico foram
compostos por quadrados, retângulos, triângulos, polígonos, etc. A repetitividades destas composições
pela utilização de peçalos muito pequenos dificultava o trabalhos dos artistas italianos, que criaram um
sistema que permitia acelerar as operações e assegurar uma regularidade. A este trabalho repetitivo
deu-se o nome de tarsia a toppo que consiste em colar vários feiches de madeira. Estes feiches tinham
formas geométricas variadas e a estremidade reproduzia o motivo desejado. Era também conhecida
como intarsio a blocco.
folhas de madeira
feiches de madeira
colada
tarsia a topo ou intársio a blocco
tarsia de encaixe ou técnica Boulle
O bloco obtido será cortado em lâminas sutís reproduzindo o mesmo motivo em todas as
peças. Com estes elementos “pré-fabricados”, as composições de intársio tornam-se mais fáceis e
rápidas de se executar. No Ocidente a técnica se desenvolve na segunda metade do século XVI. O
corte das “impiallacciature” é feito com serras, e isso possibilita um nítido melhoramento na qualidade
do trabalho pois também é possível seguir traçados sinuosos com maior precisão, e consequentemente
recortar com mais esatidão os motivos mais complexos.
Por volta do século XVII, o intársio reaparece com uma decoração de origem italiana, os
motivos são normalmente arabescos e o corte das “impiallacciature” é mais delicado. Nasce na
Alemanha a tarsia de encaixe - chamada também técnica Boulle 12. Coloca-se duas ou três folhas de
“impiallacciature” uma sobre a outra e corta-se tudo junto com uma lâmina bem afiada, seguindo o
traçado do desenho. Incrustra-se por fim os pedaços recortados, alternando os pedaços claros com os
escuros de modo a se obter efeitos decorativos seja no positivo como no negativo.
O intársio volta a ser destaque e muitos intarsiadores se estabelecem na França pois justamente
neste período o palácio de Versailles está sendo decorado. As composições (assoalhos, paineis e
móveis, nos quais o intársio é aplicado) são decorados com madeiras proveniente das “ilhas” que as
produzem: amaranto da Guiana; êbano de Madagascar; madeiras coloridas das ilhas do vento; bois de
rose do Brasil; oliveira da Síria; sândalo e palissandro da Índia.
Os tipos de “impiallacciature” utilizados em uma obra antiga podem ajudar a definir a idade do
intársio. É possível definir como primeira coisa, a espessura da “impiallacciatura”. Depois, se for
possível, analisando uma amostra da “impiallacciatura” em um exame da parte colada é possível
determinar se foi obtida através de serra manual ou mecânica.
11 - Giorgio Vasari: (Arezzo 1511/Firenze 1574). Pintor, arquiteto e históriador de arte italiana, influenciado por Michelangelo.
12 - Boulle, André-Charles: ver página 25.
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12.1 - Tipos de corte
Até o século XVIII, a “impiallacciatura” era obtida através de corte com serra manual. O
tronco era colocado verticalmente dentro de uma morsa e dois operários o cortavam, folha após folha,
com uma lâmina de serra larga. No decorrer dos anos, as ferramentas foram aperfeiçoadas,
diminuindo a espessura das lâminas e proporcionado a menor quantidade possível de sobras entre
uma folha e outra, sobretudo quando eram cortadas as madeiras mais raras. Apesar da habilidade era
possível encontrar uma certa irregularidade na espessura das folhas e isso apresentava um pouco de
asperesa às peças, mas visto que normalmente essas “impiallaciature” eram grossas de 3 a 5 mm, o
ebanista poderia aplaina-las quando fossem coladas sobre o móvel/objeto. Entretando, a maior parte
das obras mais finamente trabalhadas é composta por “impiallacciaute” que não apresentavam mais de
1 ou 2 mm de espessura.
Cortar com serra uma madeira fixada, apresentava boa regularidade na espessura escolhida, e
qualidade melhor, sobretudo quando as várias madeiras são cortadas sem uma prévia preparação (ver
prancha). A vantagem é visível: as fibras e a coloração natural da madeira não se alteram.
Para o intársio foram empregadas madeiras de forma circular e eliptica (eram utilizados o
desenho formado pelas “veias” da madeira concêntricas e que variavam em função do ângulo do
corte), para dois tipos de aplicações: corte di testa - corta-se um tronco (espessura mínima 12/10 mm)
de forma perpendicular a largura. As folhas de madeira são redondas e os anéis de crescimento
formam círculos muito compactos; corte a fetta di salame - podem ser feitos apenas com cortes
obliquos. Segundo o ângulo do corte, as folhas apresentam uma forma oval na qual os anéis de
crescimento concentricos se apresentam com aspecto compacto, ou elipticos com desenhos mais
alongados que seguem os contornos da folha. Esta “impiallacciatura” mais resistente que a madeira
cortada com corte a fetta di salame - não podem ser feitos com corte oblíquo. Segundo o ângulo do
corte, as folhas apresentam uma forma oval na qual os anéis de crescimento concêntricos se
apresentam com aspecto compacto, ou elipticos com um desenho mais longo que segue os contornos
da folha. Essa “impiallacciatura” - mais resistente que a madeira cortada a testa – apresenta uma
espessura mínima de 10/10 mm.
corte perpendicular
di testa
corte a fetta di salame
ou obliquo
corte a fetta di salame unido ao corte
ala di farfalla
O corte mecânica surge em 1799. O tronco era fixado em um tipo de escada (com catraca) que
descia em um fosso profundo mais de 4 metros. Durante o corte, o tronco subia verticalmente na
estrutura que trabalhava na mesma velocidade da penetração da lâmina. As folhas cortadas
mecanicamente eram mais adaptadas para compor os motivos de intársio.
Toda madeira deveria passar por uma preparação complessa
(as madeira mais duras eram submetidas a cozimento). O corte
através de pranchas era feito atraves de um maquinário horizontal
ou vertical que trabalhava contra as fibras.
impiallacciatura
lâmina
barra de
pressão
tronco
Esquema de corte com madeira em prancha
Corte com madeira fixa
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12.2 - Os Ebanistas
André-Charles Boulle (1642-1732) não inventou a técnica que leva o seu nome, pois este
procedimento chamado tarsia de encaixe já era conhecido, mas ele lhe conferirá um estilo pessoal, e
introduzirá no intársio materiais novos. Boulle realizava pessoalmente os seus desenhos, era também
uma exelente escultor. Em suas composições inseria elementos de tartaruaga, cobre, estanho e bronze
(aplicação da qual é o inventor).
Os simples recortes geométricos foram definidos como menuiserie en placage enquanto os
intársios com elementos recortados das “impiallacciature” naturais ou tingidas eram definidas peinture
en bois. Estes resistem melhor às condições metereológicas e em particular às variações higrométricas.
Boulle, que conhecia perfeitamente as técnicas do intársio com madeiras coloridas, adota este
procedimento por volta de 1720 e abandona o intársio com tartaruga e cobre.
Este artista seguramente levou à decoração a uma riqueza e um refinamento proporcionado
pelo Rei Sol, e seguiu por meio século as esplêndidas obras realizadas sejam na decoração de Versailles
seja nos trabalhos aos príncipes reais e para todos os grandes personagens de toda Europa. São
numerosos os “intarsiadores” que utilizaram a técnica Boulle entre os século XVIII e o século XIX.
Os títulos de André-Charles Boulle são: Directeur des meubles à la Manufacture des Gobelins, Architecte,
Peintre et Sculpteur en mosaiques, Graveur, Ciseleur, Marqueteur ordinaire du Roi et Premier ébéniste de sa maison.
Pietro Piffetti, filho de um simples garçon astigiano migrante em Torino, nasceu em 1701. Foi o
único da família a receber uma educação “sofisticada” para época: não aquela de um simples
“minusiere” (marceneiro) muito menos de um ebanista de nível médio. Pifetti foi um artista para todos
os efeitos, atento a cultura artística do seu tempo.
Certamente na juventude em Torino frequentou um atelier de um meste ebanista e ali
aprendeu as técnicas e se fez notar por seu talento.
Provavelmente Luigi Prinotto (consagrado ebanista e uma geração mais velha) juntamente com
Filippo Juvarra contribuem ao decidirem enviar Pifetti para estudar em Roma. Em 1730 foi chamado
novamente a Torino - por vontade do rei Carlo Emanuele III - que o denomina ebanista da casa dos
Savoia.
A técnica construtiva usada em todos os móveis de Pifetti é sempre a mesma: a aplicação de
madeiras raras ou materiais preciosos de espessuras inferiores a 2mm, fixados em um pedaço de
madeira maciça com cola de origem animal, aplicada quente.
No âmbito da vasta produação de Pietro Pifetti, existe um notável número de objetos e móvies
destinados a fins religiosos: genuflexório, portas para capelas, monumentáis crucifixo. Dedicou ainda
uma consistente parte da sua arte à elaboração de grandes e monumentais tabernáculos.
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Considerações
A teoria de que uma plantação de árvores de eucalipto, consome muito mais água do que uma
plantação de Ipê Amarelo (Tabebuia spp) não foi comprovada cientificamente.
Uma das várias explicações pode ser esta: não se plantam tantas árvores de Tabebuia spp para
produzir madeira, já que são árvores conhecidas por suas flores amarelas. Da mesma forma não é tão
comum plantar árvores de eucalipto para embelezar um campo.
Tomando muito cuidado com o mundo das teorias e o mundo real, os produtores de madeira
(especialmente no Brasil) são conscientes que empregar dinheiro e esforços em uma floresta de
eucalipto equivale a fazer um investimento a longo prazo. Mesmo por que, a lista de madeira
protegidas cresce a cada dia.
Quando um produtor de papel planta uma floresta sustentável de eucaliptos, seu interesse é na
alta produção nas madeira do tronco (quanto maior melhor), com pouca madeira descartada, casca e
raiz. Ao contrário, um produtor que pretende estrair óleos essenciais, tem interesse na máxima
produção de folhas, sem considerar se aquela árvore produz pouca ou muita madeira. Resumo, cada
produtor observando a própria floresta, sonha com um produto diferente.
Vivemos um período no qual frequentemente se fala e se le que as matérias primas
proveniente de “florestas sustentáveis” são importantes. Mas devemos prestar atenção àquilo que
sobrou das florestas nativas. Não podemos nos esquecer que sempre foram as florestas que
controlaram o clima, o solo, mantendo a fauna e a flora. Infelizmente apenas um pequeno percentual
destes produtores se preocupam com o meio ambiente.
O conflito entre ambientalistas e produtores de eucalipto existe ha muitos anos e não será fácil
resolver esta questão. Atraves de estudos, sabemos que hoje é possível produzir madeira (que depois
se transformarão em papel, combustível, móveis) e folhas (que depois se transformarão em essência)
de modo a proteger as florestas (seja aquela nativa, seja aquela sustentável).
O uso do eucalipto na produção de móveis ainda não é relevante. Quando falamos em
restauro que utiliza esta madeira, a situação é ainda pior: faltam informações e conhecimento.
No Brasil (que possui uma das florestas mais importantes do mundo) grande parte da indústria
de madeira utiliza matéria prima proveniente de florestas sustentáveis - em outras palavras, utilizam
eucalipto ou pino. Mas é justamente nas poucas florestas nativas brasileira (e não apenas nelas) que
continuam a sair todo ano, milhares e milhares de toneladas de madeira para restaurar em todo mundo
móveis, igrejas, palácios....
O pais que encontrou a melhor tecnologia no mundo para produzir florestas sustentáveis, ano
após ano, perde um pedaço do que resta das suas florestas nativas.
Tantas restrições ambientais como outras limitações causadas pela mentalidade comum,
fizeram crescer novas oportunidades e isso pode ter a força de fazer que a madeira de eucalipto possa
transformar-se no substituto legal das madeiras tropicais.
Esta tese demonstra que a madeira de eucalipto produz uma infinidade de cores e desenho e
que isso não serve para produzir papel ou essência. O eucalipto também tem uma resistência e
densidade que devem ser levadas em conta.
Todo esse potencial até o momento ainda não foi utilizado para o restauro.
O objetivo dessa discussão não é propor uma simples substituição das madeiras originais (de
um móvel, por exemplo) por uma madeira sustentável. Essa não é a estrada a percorrer. Também é
errado pensar que podemos “consumir” madeira nativa, até quando elas existirem. Quando elas não
existirem mais, será muito tarde para nos preocuparmos.
Ainda que poucas pessoas no mundo saibam reconhecer qual a diferença entre uma madeira
mais ou menos valiosa, existem hoje normas criadas para realizar e avaliar obras de arte, e tais normas
devem ser seguidas. Não basta fazer uma simples substituição. Também é sempre bom lembrar, que
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as “regras” que hoje vigoram, não proibem a utilização de madeiras diferentes, no restauro de uma
obra feita com madeiras exóticas.
Nos parece justo dizer que é preferivel - para fazer um restauro - usar uma madeira “menos
nobre” como o eucalipto, do que deixar um objeto de arte (com o decorrer dos anos) se transformar
num amontoado de serragem.
Em 2008 a cultivação de eucalipto (segundo a GIT Forestry Consulting Eucalyptologics)
apresentava-se da seguinto forma: África 2,2 milhões de hectares; América 6,4 milhões de hectares;
Ásia 8,3 milhões de hectares; Europa 1,3 milhões de hectares; Oceania 0,9 milhões de hectares. O
cultivo total de eucaliptos hoje em dia, ultrapassa os 20 milhões de hectares.
Encontramos madeira de eucalipto no mundo inteiro. Isso nos mostra, que para fazer um
trabalho ordinário ou extraordinário, não é mais necessário comprarmos matéria prima de paises
distantes, de uma floresta que nem sabemos se ainda existe ou se já foi destruida.
Vimos também que a técnica da “impiallacciatura” continua utilizando sutís folhas de madeira,
considerando principalmente suas cores e desenho. Unir essa técnica com as características do
eucalipto pode ser uma nova estrada a ser percorrida.
Tudo isso será possível quando superarmos um dos argumentos mais antigos: a troca de
informações. As empresas de celulose e laminados absorvem quase todos os esforços dos institutos de
pesquisas. Até este momento, grande parte da tecnologia desenvolvida não foi distribuida para
favorecer o mercado de móveis e artefatos em geral.
Provavelmente num futuro próximo, com o distanciamento das fontes de matérias primas, o
aumento dos custos de transporte, a extinção de grande parte das espécies de madeira e o consequente
aumento dos preços, acontecerá uma mudança generalizada nas médias e grandes serrarias que pouco
a pouco começarão a trabalhar também com o eucalipto. Isso determinará a necessidade de
informações sobre como trabalhar esta nova madeira velha.
O desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades*.
* Frase da primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, estraida do Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro Comum
(Our Common Future) publicado em 1987 para a ONU.
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Agradecimentos
Na pessoa dos mestres Gian Franco Ponzio e Gabriella Barletta agradeço a todos os professores e
o diretor da “Scuola per Artigiani Restauratori Maria Luísa Rossi”. Com eles estudei e aprendi não apenas
as várias disciplinas, mas também tive contato com um pouco de cultura italiana e cozinha italiana.
Para concluir não me esquecerei nunca das “lições” de política italiana, muito parecida (para não dizer
a mesma) que encontramos atualmente no Brasil. Infelizmente.
Como único estrangeiro do grupo e com todas as complicações de não falar bem o italiano,
nunca encontrei dificuldades para esprimir minhas dúvidas nem para dizer aquilo que pensava.
Obrigado de “coração” aos amigos e companheiros do curso de restauro em madeira....
Alice Chevalley
Andrea Loiero
Cristina Cipriano
Davide Fransozo
Francesco Marchi
Jacopo Cherubini
Lorenza Garbero
Maria Giovanna Basile
Serena Ricauda
Muito obrigado também a Ernesto Olivero fundador do SERMIG e a todos os amigos do
Arsenal da Paz em Torino, que com o sonho de acabar com a fome no mundo, iniciaram nos duros
anos 60 a oferecer mil possibilidades a todos aqueles que (como eu, em 2006) se aproximaram deste
grupo.
Recordarei sempre o exemplo do “grande irmão artesão” Mone (Simone Pagliarani) - da
fraternidade da esperança de Torino - que todos os dias do ano, com uma “simplicidade desarmante “
consegue unir trabalho e oração.
Essa experiência também foi possível, graças a amizade e a vontade de viver de Massimo Tonetta
e a todos os jovens da cidade de Mori (provincia de Trento).
Agradeço a Dra. Sandra M. B. Florsheim (pesquisadora científica do IFSP, responsável pela
seção de Madeira e Produtos Florestais) que foi o meu primeiro contato no Brasil e após alguns emails me levou a conhecer seu escritório/laboratório, possibilitando conhecer que seu trabalho e o
que, na medida do impossível faz hoje para “salvar” aquilo que resta das florestas do nosso pais.
Entendi, desde o nosso primeiro encontro, que a Dra. Sandra apaixonadamente trabalha ‘com’
e ‘para’ a madeira, superando as distâncias, a burocracia e a falta de investimentos. Ela também me fez
descobrir que as respostas às velhas perguntas, se encontram nas coisas simples da vida.
Lembro-me ainda que em uma visita guiada pela sra. Roselaine Barros (diretora do Museu Octávio
Vecchi - Museu da Madeira de São Paulo) encontrei novas motivações para fazer com que essa tese, falasse
também da arte que existe dentro da madeira.
Obrigado a Sérgio R. Christofoletti, pesquisador científico do Instituto Florestal do Estado de São
Paulo – entre outras coisas.
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Argumentação
Berenice Diniz (Brasil)
Carmem Victor (Brasil)
Arte
Grazia Testa (Italia)
Colaboração
Giovanni, Alberto R, Gianni,
Paolo, Daniele, Marco G,
Alessandro, Mattia,
Andrea, Marco M, Thais D.
Correção ortográfica Italiana
Diego Gotta (Cavallermaggiore - It)
Guido Canella (Torino)
Alberto Brigato (Torino)
Pesquisa em Frances
Carol Romão (Brasil)
Pré produção de Capa
Gianfranco Mellino (Brasil)
Antenor Rovida (Brasil)
Apoio
Alfonsina (Itália)
Stefano Ristagno (Itália)
Diagramação
Mone (Itália)
Revisão Final
Andrea Loiero (Italia)
Carol Romão (Brasil)
Richard Zanutto (Italia)
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À Jesus, José e Maria
Jesus Cristo não limitou-se a proclamar a dignidade do trabalho. Pelo contrário, o divinizou.
Aquelas mãos que traçaram o curso dos planetas e disseminaram milhões de estrelas na Via Lactea,
ganharam calos no manejo do martelo e da plaina. Os braços que sustentaram o mundo cansaram-se,
trabalhando a madeira. O rosto que guardava os segredos da inteligência divina, molhou-se com o
suor do trabalho.
O mundo ainda não aprendeu essa lição.
Sempre considerou o trabalho como alguma coisa venenosa. Chegou o tempo no qual o
mundo deve ser reeducado. É tempo de ensinar aquilo que Cristo convincentemente ensinou.
O redendor do mundo foi um trabalhador, um simples artesão como qualquer outro....*
* Tre frati ribelli - precursori dei trappisti, Marcele Raymond, Edições SãoPaulo
Livro do amigo Alessandro.
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Bibliografia
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A utilização da matéria-prima eucalipto na indústria moveleira - estratégia para o desenvolvimento sustentável
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Madeira Serrada de Eucalipto: desafios e perspectivas
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Materiale Informativo: Laboratori Restauro Manufatti Lignei - Dispensa n.1
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Materiale Informativo: Storia dell’arte e degli stili - Dispensa n.2 - Il Settecento
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Michaelis Minidicionário Italiano - Italiano/Português, Português/Italiano
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