vida só vale se for por prazer - Beija-Flor

Transcrição

vida só vale se for por prazer - Beija-Flor
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan
VIDA SÓ VALE SE FOR
POR PRAZER
Life is only worthwhile
if lived with pleasure
2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21.
Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a
chegada do século 21?.
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.
Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um
ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta
sobre o que temos feito de
nossas vidas.
Quantos de nós podemos
olhar para trás e dizer: no
novo século, fiz tantas coisas
novas e diferentes, construí e
realizei novos sonhos, deixei
o que não prestava para trás
e avancei em busca de novas
conquistas e alegrias.
Quantos de nós?
O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes
mudanças de comportamento
- pode ser o estímulo para a
construção de anos cada vez
melhores, aproveitando cada
minuto e cada momento com
prazer.
O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de
ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir...
Hoje é carnaval.
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,
cantar....
E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para
nos oferecer alegres e descontraídos momentos de
alegria e prazer.
Então não perca essa oportunidade!
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só
vale se for por prazer”.
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year
of the first decade of the twenty-first century. How many of
us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life,
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,
smiles not shared.
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How
many of us can look back and say: in the new century
Neide Tamborim
I’ve done many new things, constructed and realized new
dreams, left behind the bad and advanced in search of new
conquests and happiness. How many of us can say this?
The year that has already started – marking the end of a
decade that was filled with important changes in behavior
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,
smiling ....
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing
and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.
Fevereiro 2010
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan
VIDA SÓ VALE SE FOR
POR PRAZER
Life is only worthwhile
if lived with pleasure
2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21.
Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a
chegada do século 21?.
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.
Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um
ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta
sobre o que temos feito de
nossas vidas.
Quantos de nós podemos
olhar para trás e dizer: no
novo século, fiz tantas coisas
novas e diferentes, construí e
realizei novos sonhos, deixei
o que não prestava para trás
e avancei em busca de novas
conquistas e alegrias.
Quantos de nós?
O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes
mudanças de comportamento
- pode ser o estímulo para a
construção de anos cada vez
melhores, aproveitando cada
minuto e cada momento com
prazer.
O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de
ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir...
Hoje é carnaval.
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,
cantar....
E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para
nos oferecer alegres e descontraídos momentos de
alegria e prazer.
Então não perca essa oportunidade!
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só
vale se for por prazer”.
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year
of the first decade of the twenty-first century. How many of
us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life,
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,
smiles not shared.
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How
many of us can look back and say: in the new century
Neide Tamborim
I’ve done many new things, constructed and realized new
dreams, left behind the bad and advanced in search of new
conquests and happiness. How many of us can say this?
The year that has already started – marking the end of a
decade that was filled with important changes in behavior
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,
smiling ....
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing
and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.
Fevereiro 2010
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan
VIDA SÓ VALE SE FOR
POR PRAZER
Life is only worthwhile
if lived with pleasure
2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21.
Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a
chegada do século 21?.
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.
Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um
ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta
sobre o que temos feito de
nossas vidas.
Quantos de nós podemos
olhar para trás e dizer: no
novo século, fiz tantas coisas
novas e diferentes, construí e
realizei novos sonhos, deixei
o que não prestava para trás
e avancei em busca de novas
conquistas e alegrias.
Quantos de nós?
O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes
mudanças de comportamento
- pode ser o estímulo para a
construção de anos cada vez
melhores, aproveitando cada
minuto e cada momento com
prazer.
O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de
ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir...
Hoje é carnaval.
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,
cantar....
E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para
nos oferecer alegres e descontraídos momentos de
alegria e prazer.
Então não perca essa oportunidade!
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só
vale se for por prazer”.
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year
of the first decade of the twenty-first century. How many of
us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life,
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,
smiles not shared.
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How
many of us can look back and say: in the new century
Neide Tamborim
I’ve done many new things, constructed and realized new
dreams, left behind the bad and advanced in search of new
conquests and happiness. How many of us can say this?
The year that has already started – marking the end of a
decade that was filled with important changes in behavior
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,
smiling ....
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing
and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.
Fevereiro 2010
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2010
A ALMA DO
BRASIL
ANIZIO ABRÃO DAVID
Uma escola de samba não é um agrupamento de
pessoas isolado da sociedade.
Ao contrário: seu movimento de vida é realizado
por pessoas que, com seus sonhos, observações
e motivações, interagem com a sociedade, no trabalho, junto à família, e nos momentos de lazer e
entretenimento, trocando informações, influenciando e sendo influenciado a cada momento de suas
vidas.
Nesse sentido, cabe à administração da escola de
samba entender seus integrantes e o que esperam
da agremiação a qual fazem parte, para que haja
uma identificação de propósitos que culminem em
um convívio pacífico e produtivo.
Além do cuidado que a diretoria da Beija-Flor de
Nilópolis dedica a cada componente - uma das marcas da nossa escola -, a definição de enredos que
se identifiquem com o pensamento de seus integrantes é uma importante receita para uma convivência harmônica.
Nesse sentido, se voltarmos o olhar para o passado
da azul e branco de Nilópolis, vamos observar uma
forte tendência em desenvolver enredos que retratam a força e capacidade do país e do seu povo.
“Riquezas áureas do Brasil”, “Café, riqueza do Brasil”, “Exaltação a José de Alencar”, “Rio, quatro séculos de glória”, “O Gigante em Berço Esplendido”,
“Bidu Sayão e o Canto de Cristal”, “Aurora do Povo
Brasileiro”, “Macapaba” e, agora, “Brasília”, entre
tantos outros enredos inesquecíveis, é a constatação dessa afirmação.
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Uma escola de samba não é um agrupamento de
pessoas isolado da sociedade.
Somos uma célula viva, atuante e atenta.
Por essa razão, a escolha desses enredos: porque
acreditamos verdadeiramente - diretoria e componentes - na força do povo brasileiro e no seu potencial de realização.
Recentemente, após a crise financeira que abalou
o mercado mundial, os olhos dos especialistas se
voltaram para o Brasil.
O desafio, temperado com pitadas de surpresa, era
entender porque nosso país não ruiu com a crise.
Mais ainda, como foi possível o Brasil sair da crise
com tanta rapidez.
Naturalmente, existem as explicações acadêmicas,
dadas por sociólogos, economistas, jornalistas, e
outros “istas”. Cada um deles, no entanto, apesar
de dar ênfase à sua especialidade de conhecimento, são unânimes em afirmar que o elemento primordial dessa realidade foi o papel exercido por
cada brasileiro.
A grande descoberta desses experts é um segredo
já desvendado pela Beija-Flor de Nilópolis há muito
tempo: a força de um país reside no seu povo.
Daí porque, desde os nossos primeiros desfiles retratamos a força e capacidade do Brasil e do seu
povo.
E é em homenagem a esse povo, que fez e faz o Brasil que desejamos a todos um ótimo espetáculo.
www.beija-flor.com.br
THE SOUL
OF
BRAZIL
A samba school isn’t a group of people isolated from
society.
On the contrary: it’s a living organism made up of people
that, with their dreams, observations and motivations,
interact with society, at work, with their families and in
their moments of leisure and entertainment, exchanging
information, influencing and being influenced by others at
each moment of their lives.
In this sense, the directors of a samba school must understand its members and what they want, so there will
be unity of purpose culminating in a harmonious and
productive effort.
Besides the care that the directors of Beija-Flor dedicate to each member – one of Beija-Flor’s
“registered trademarks” – the definition of
carnival themes that are in line with the
members’ thinking is an important ingredient
for a harmonious effort.
Recently, after the financial crisis that rocked the international market, the eyes of specialists have returned to
Brazil.
The challenge, tempered with a pinch of surprise, was to
understand why our country weathered the crisis so well,
and emerged from it so quickly.
Naturally there are academic explanations, given by sociologists, economists, journalists and other “ists”. All of
them – though each focusing on his or her own specialized
knowledge – are unanimous that the basic reason for this
was the role exercised by the Brazilian people.
The great discovery of these experts is a secret long ago
realized by Beija-Flor: a country’s strength resides in its
people.
This is why since our first carnival parades we’ve depicted
the strength and capability of Brazil and its people.
And in homage to these people, who make Brazil what it
is, we dedicate our efforts to put on another in a long line
of spectacular shows.
We need only take a backward look at the blue and white
crew from Nilópolis to find a pronounced tendency to
develop themes that reflect the strength and capability of
Brazil and its people.
“Golden Riches of Brazil”, “Coffee, Wealth of Brazil”, “Exaltation to José de Alencar”, “Rio, Four Centuries of Glory”,
“A Giant in a Splendid Cradle”, “Bidu Sayão and the Voice
of Crystal”, “Aurora of the Brazilian People”, “Macapaba”
and now “Brasília”, among so many other unforgettable
carnival themes, serve as proof to this claim.
A samba school isn’t a group of people isolated from society.
We’re a living cell, active and aware.
This explains the choice of these themes: because we really
believe – the directors and members – in the force of the
Brazilian people and their potential for achievement.
Fevereiro 2010
A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN
1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola
de Samba Beija-Flor de Nilópolis e produzido pela WideBrasil Comunicação Integrada.
As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo,
necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação.
É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que
citada a fonte.
Fevereiro de 2010 - Tiragem: 60 mil exemplares
www.widebrasil.com
e-mail: [email protected]
Produção
WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO E EDITORA
www.widebrasil.com
Editores
Ricardo Da Fonseca
Hilton Abi-Rihan
Jornalista Responsável
Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR
Redação
Ana Caroline Chaves, Débora Zampier, Hilton Abi-Rihan,
Íris Ágatha, Miro Lopes, Renata Leal, Thais Medeiros,
Ricardo Da Fonseca e Vicente Dattoli.
Transcrição de áudio
Macarena Iranzo
Thais Medeiros
Projeto Gráfico
R. Gatto
Edição e Tratamento de Imagens
Francisco Ragna Junior
Recorte de Imagens
Francisco Ragna Junior
Ramon Gonzaga
Agradecimentos
Álvaro Caetano (Alvinho), Ana Saraiva, Augusto Ivan,
Bianca Behrends, Djalma Sabiá, Elmo José dos Santos,
Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Hiram Araújo, Jorge Coutinho, Luciana Luz, Márcia Sant’Anna, Maria Augusta
Rodrigues, Moacyr Luz, Monarco, Perfeito Fortuna, Plínio Fróes, Rubem Confete, Ubiratan Silva e Vó Nadyr.
Capa
Brasília e Beija-Flor de Nilópolis:
Dois Gigantes na Avenida.
Criação da capa:
R. Gatto
Fotos: Carnaval (Henrique Matos
e Augusto Pedoni) e Brasília (Luiz
Trazzi Martins)
SUMÁRIO
Hoje é o nosso dia
Samba carioca - Patrimônio Cultural Brasileiro
Entrevista com Márcia Sant’Anna, Iphan
Revisão de Texto
Anizio, o amigo do samba
Marco Antonio Nicolau
Será o fim da ala das baianas?
Versão para o Inglês
Guy Fulkerson
Brasília: uma jovem senhora com muita história para
Versão para o Francês (digital)
contar
Melina Lobo
Carnaval 2010. Recriando a capital federal
Versão para o Japonês (digital)
Carnaval 2010
Naomi Kumamoto
Laíla: 50 anos de carnaval
Fotografia
Augusto Pedoni, Edgar Rocha, Henrique Matos, Irapuã Gabriel David: sangue bom nas pistas e na avenida
Jeferson, Luiz Pinheiro, Luiz Santos, Luiz Trazzi Martins, Ricardo Da Fonseca e Robson Barreto.
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84
Ilustração Moacyr Luz
Amorim
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
VOCAÇÕES
Novamente nossos corações aceleram e ganham
o mesmo ritmo dos pés e a força de nossos tambores. Voltar à Sapucaí é, para a Beija-Flor, reencontrar sua maior vocação, que é transformar suor,
trabalho e dedicação em arte, cultura e folia.
Cada membro da grande família Beija-Flor trabalhou muito para tornar possível esse momento, de
significado tão grandioso.
Quando os mestres Rodney, Plínio e Binho sacudirem a passarela do samba com nossa bateria, teremos a certeza de que cada ritmista estará apresentando seu maior talento, como em um momento
único em sua vida.
Ser uma família é algo muito maior do que ser uma
equipe ou uma torcida, e por isso a Beija-Flor é
grandiosa e estende-se por toda a nação.
Este ano nosso encantamento é ainda mais especial, pois vamos homenagear o cinquentenário do
coração desse país. Nossa capital, de arquitetura
arrojada e cultura tão extensa, dá o norte de nosso
desfile em 2010. Recebemos o apoio do poder público em suas três esferas, como também a representação de nossa comunidade, unida pela realização de um espetáculo de qualidade, que fortalece
e consolida, principalmente, a vocação do Brasil de
realizar e sediar eventos de grande porte.
O país, que será o foco da atenção de olhos do
mundo inteiro na realização da Copa do Mundo de
Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016,
demonstra sua capacidade de organização e profissionalismo na perfeição do maior espetáculo cultural da Terra: O Desfile das Escolas de Samba do
Rio de Janeiro.
Temos a convicção de que continuaremos conquistando novos espaços no cenário mundial, pois esta
é também nossa aptidão.
Por isso, a Beija-Flor de Nilópolis agradece a todos
os seus membros por lutar com afinco por sua verdadeira vocação, por se empenhar em transformar
todas as adversidades em conquistas e todos os
desafios em vitórias.
Tenho muito orgulho de, ao lado de meu irmão e
nosso grande Patrono Anizio, ser mais um elemento nessa massa que carrega nas veias o DNA da
família Beija-Flor.
VOCATIONS
Once again our hearts speed up, beating with the same
rhythm as our feet and force of our drums. For Beija-Flor,
returning to Sapucaí Avenue is like reencountering its
greatest vocation, which is to transform sweat, work and
dedication into art, culture and merrymaking.
Each member of the great Beija-Flor family has worked hard
to make such a significant moment as this possible.
When masters Rodney, Plínio and Binho vibrate the Sambadrome with our percussion unit, we’re sure that each member
will be presenting his best talent,
as if his life depended on it.
Being a family is much more
than being a team or a group of
fans. This is why Beija-Flor is so
grand and extends throughout
the nation.
This year, our enchantment
is even more special, because
we’re going to pay homage to
the fiftieth anniversary of our
nation’s heart: Our Capital, with
its daring architecture and varied
culture, is our parade theme in
2010.
We’ve received support from the
public sector at all three levels, but
particularly from the efforts of our
community, which is united in
putting on this spectacular show,
one that strengthens and consolidates Brazil’s vocation of producing and hosting big events.
The country on which the world’s
eyes will focus during the 2014
World Cup and 2016 Olympic
Games already demonstrates its capacity for organization Farid Abrão
and professionalism with the perfection of the greatest cultural spectacle on earth: The Parade of the Samba Schools
of Rio de Janeiro.
We know we will continue conquering new space on the
global stage, because it’s in our blood.
For this reason, Beija-Flor of Nilópolis thanks all its members
and fans for their dedication to our true vocation, transforming adversities into conquests and challenges into victories.
I’m proud to be, along with my brother and our great patron,
Anísio, one more element in this mass that carries in its
veins the DNA of the Beija-Flor family.
Fevereiro 2010
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
ANA CAROLINE CHAVES
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor
de Nilópolis é a prova de que uma escola de samba pode fazer mais do que música pela comunidade. Seus projetos sociais auxiliam na formação de
crianças e jovens, na busca de um futuro melhor e
ajudam-nos a acreditar no potencial que existe em
cada um deles. Concebidos e estruturados por Anizio Abrão David, presidente de honra da Beija-Flor,
eles encontram no patrono a força necessária para
servirem de exemplo para todo o Brasil.
CRECHE JÚLIA ABRÃO DAVID
Inaugurada em 09 de maio de 1980, a Creche Júlia Abrão David completa mais um ano de ótimos
resultados. O projeto educacional que começou
com 60 crianças hoje possui cerca de 280 alunos
matriculados. A escola foi planejada para ter toda
a infraestrutura necessária visando oferecer o melhor aos pequenos e contribuir com eles no seu desenvolvimento para que se tornem cidadãos mais
aptos a aproveitar as oportunidades que a sociedade oferece. Nomeada em homenagem à matriarca
da Família Abrão David – D. Júlia, mãe dos irmãos
Nelson, Anizio e Farid –, a creche encontra em Anizio um porto seguro para sua existência.
Para participar do projeto educacional da Beija-Flor
de Nilópolis a família das crianças deve comprovar
uma renda de até três salários mínimos e as crianças devem ter entre seis meses e seis anos de idade. Para Maria de Lourdes Goulart, diretora geral
desde a inauguração, a proposta da creche é ser
uma extensão do lar dessas famílias: “A partir do
momento que uma mãe entrega essa criança aqui
na creche, ela tem que ter o melhor. Tratamos delas
com muito carinho e amor, e seus pais sabem disso”, afirma a diretora.
A creche funciona em regime de semi-internato e
os alunos são divididos em três turmas: Berçário
(dos seis meses aos 3 anos), Jardim I (dos três aos
quatro anos) e Jardim II (dos quatro aos seis anos).
Para que todos tenham conforto, as atividades das
crianças são divididas em turnos. Enquanto parte
dos alunos estuda pela manhã, os outros participam de atividades no pátio. Depois as turmas se invertem. Na creche, as crianças também encontram
o suporte que necessitam para manterem uma vida
saudável: são quatro refeições diárias, além de assistência médica e odontológica – essa realizada no
consultório odontológico instalado no local.
A sede da creche conta, ainda, com berçário, salas
de aula, salas de atividades e de vídeo, dormitórios,
TODAY
is our day!
ANA CAROLINE CHAVES
Beija-Flor (or Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor
de Nilópolis, as it is officially known) does more than make
music for the community. Its social projects help provide
a better future for children and youths by giving them a
chance to realize their potential. Conceived and structured
by Anízio Abrão David, Beija-Flor’s president of honor, these
projects find in their patron the force necessary to serve as
examples for all of Brazil.
Júlia Abrão David Daycare Center
Opened on May 9, 1980, the Júlia Abrão David Daycare
Center has completed another year of outstanding results. An
educational project that started with 60 children now has
some 280 kids enrolled. The center was planned with the
full infrastructure necessary to help the little ones develop
into useful citizens more able to seize the opportunities that
society offers. Named in honor of the Abrão David family
matriarch – the mother of Nelson, Anízio and Farid – the
center finds safe harbor in the hands of Anízio.
To participate in this educational project of Beija-Flor, the
children must be between six months and six years old and
their families must have an income of no more than three
times the minimum monthly wage. For Maria de Lourdes
Goulart, general director since the start, the idea is to make
the center an extension of home for these families: “From the
moment mothers deliver their children here, the little ones
receive the best we can give. We treat them with tenderness
and love, and their parents know this,” she says.
The center functions all day and the children are divided into
three groups: “Nursery” (from six months to three years old),
Kindergarten I (three and four years old) and Kindergarten II
(from four to six years old). The kids’ activities are divided
into two schedules. While part of them study in the morning,
others participate in activities in the play yard. Afterward the
activities invert. Besides learning and play, the kids find the
support they need for healthy lives: there are three meals and a
snack every day and medical and dental assistance, the latter
provided in a dental office on site.
Fevereiro 2010
refeitórios, cozinha industrial e um espaço verde.
Tudo para oferecer às crianças e às famílias uma
oportunidade de crescer e se desenvolver em um
ambiente de cooperação e incentivo. Também participam da creche alunos de municípios vizinhos,
como Queimados, São João de Meriti, Anchieta,
dentre outros. O importante é dar o suporte necessário para que as crianças cresçam em um ambiente saudável e estimulador.
Na equipe de profissionais, babás, psicólogos, assistentes sociais, dentistas, faxineiros, cozinheiros,
auxiliares de cozinha, secretárias, porteiros, todos
por uma infraestrutura impecável. “Existe uma
união entre todos que trabalham no projeto para
que as crianças recebam o que merecem. E isso
é inovador. E sempre foi inovador, desde que fundamos a casa. Aqui todos trabalham com amor e
comprometimento”, conta a diretora. A paixão pela
creche transparece ainda mais em Maria de Lourdes
quando fala de seus alunos: “Ninguém é mais verdadeiro que uma criança. Eles não mascaram seus
sentimentos, nem suas intenções. São verdadeiras
e diretas. Fazem questão de escrever ou dizer ‘eu
te amo’ quando sentem isso. É comum chegarmos
à creche e sermos abordados por alguma criança
10
Revista Beija-Flor de Nilópolis
The daycare building also contains a nursery, classrooms,
activity and video rooms, a nap room, cafeteria and kitchen,
and there’s a grassed courtyard outside – everything to offer
the children and their families an opportunity to grow and
develop in a setting of cooperation and encouragement.
Besides Nilópolis, the
center takes kids from
adjacent municipalities,
such as Queimados, São
João de Meriti and Anchieta, among others. The
important point is to give
the support necessary
for the kids to grow in a
healthful and stimulating
environment.
There’s a full staff of
babysitters, psychologists,
social assistants, dentists,
cooks, kitchen helpers,
secretaries and doormen,
to serve all the kids’ needs
in an impeccable facility.
“Everyone who works in
the project is united so
that the kids receive what
they deserve. And this is
innovative. It always has
been innovative, since we
founded the center. Here
everyone works with love
and commitment,” explains the director. Maria de Lourdes’
passion for the center shines even more when she speaks
of her young charges: “Nobody is truer than a child. They
don’t mask their feelings or intentions. They’re truthful and
direct: they make a point of writing or saying ‘I love you’
when they feel this way. We often are greeted by a smiling
child saying ‘hi teacher, I missed you.’ Little things like this
that we experience daily have no price,” she concludes.
Abrão David School
Children grow and projects evolve with them. When they
reach the age of seven, the students from the Júlia Abrão
David Daycare Center are automatically transferred to the
Abrão David School. Opened on February 19, 1987, the facility is intended to complete the crèche’s work by continuing
the pedagogic concepts, in a rich educational environment
where the students not only learn in classroom subjects, but
www.beija-flor.com.br
que, sorridente, nos dirige a palavra dizendo: ‘oi tia,
senti saudade’. Acontecimentos como esse, que
vivenciamos no nosso dia a dia, não tem preço”,
conclui emocionada.
EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID
As crianças crescem e os projetos evoluem. Ao
completarem seis anos, todos os alunos da Creche
Júlia Abrão David são transferidos automaticamente para o Educandário Abrão David. Inaugurado em 19 de fevereiro de 1987, o projeto veio
para complementar o trabalho da creche e resgatar
conceitos pedagógicos, como continuidade da vida
acadêmica dentro e fora da escola, compreensão
profunda dos assuntos abordados em sala, autodesenvolvimento e entendimento dos diferentes
perfis de cada um.
Do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental,
os alunos recebem aulas de matemática e português, e até informática e civilidade. A proposta do
educandário é ter um ensino de qualidade que prepare os jovens para o mercado de trabalho. Alunos
de outras comunidades também podem entrar na
escola e buscar lá um caminho de aprendizagem.
Maria de Lourdes Goulart, também diretora geral, ressalta que o apoio e orientação às famílias
continuam no educandário, além de todos os
serviços prestados na creche.
A escola não se fixa apenas ao ensino formal e
oficial; funciona também como incentivadora de cultura e comportamentos. Em datas comemorativas,
apresentações,
pesquisas e trabalhos
são fornecidos para que
a comunidade se integre.
“No desfile de escolas
de sete de setembro,
tivemos o maior contingente de alunos desfilando,
mais de 1.700, pois juntamos
as crianças da creche e os jovens
do educandário. As autoridades
nos aplaudiram de pé. Não podia ficar mais feliz”, diz Maria de
Lourdes.
Com uma biblioteca variada e um
laboratório de informática, o educandário oferece uma estrutura
para que seus alunos aprendam
a viver com dignidade e construam uma personalidade responsável
e com conhecimento para terem um
also learn how to develop themselves and understand their
individual profiles.
From the first through the ninth grades, the students are
schooled in the full range of subjects, such as math, Portuguese, civics and informatics. The proposal is to provide
an excellent education to prepare young people for the job
market. Students from other communities can also attend
the school. Maria de Lourdes Goulart, the general director
of the school as well, stresses that support and orientation
to the families continues at the school, along with all the
other services provided at the daycare center.
The school offers more than just the required basic curriculum. It also encourages culture and good citizenship. On
commemorative dates, the studies and works are formulated
so the whole community can interact. “In the school parade
on September Seventh [Independence Day], we have the
largest contingent marching, over 1,700, because we combine
the kids from the daycare center with the pupils from the
school. The authorities give us a standing ovation, and I
couldn’t be happier,” says Maria de Lourdes.
With a varied library and computer room, the
school offers a structure so its students can
learn to live with dignity and become responsible adults,
with the knowledge
necessary
for a brighter
future.
This is why
professionals like Maria de Lourdes
have worked so
many years on the
project. “The students are a large
Fevereiro 2010
11
futuro melhor. É por isso e para isso que profissionais como Maria de Lourdes trabalham tantos
anos no projeto. “Os alunos são muito da minha
razão de viver. Eles me fortalecem e me confortam. Enchem-me de esperança quando vejo aqueles olhinhos vidrados no aprendizado, esperançosos para construir uma vida feliz para eles e seus
familiares... Estar aqui é uma verdadeira lição de
vida”, afirma a diretora.
CENTRO DE ATENDIMENTO COMUNITÁRIO
NELSON ABRÃO DAVID
Os projetos do Grêmio Recreativo de Nilópolis
não param por aí. O Centro de Atendimento Comunitário (CAC) Nelson Abrão David surgiu em
3 de agosto de 1991 para dar uma especialização aos jovens da comunidade e de adjacências.
Anizio pode com este projeto ajudar centenas de
adolescentes a saírem das ruas e terem a chance de um futuro melhor. Aroldo Carlos da Silva,
coordenador do projeto desde sua abertura, reconhece o valor que a família Abrão David dá
para o trabalho: “Em todos os lugares do Brasil,
vamos encontrar necessidades a serem tratadas.
Infelizmente, nem todos serão atendidos pelo
poder público, principal responsável por dar aos
nossos jovens as oportunidades que necessitam.
Por outro lado, existem pessoas, como o Anizio,
que está atento a essa questão, e se vê em condições de fazer alguma coisa. Anizio e a família
Abrão David nos ajudam de diversas maneiras a
fazer e dar continuidade a um trabalho sério que
tem dado bons resultados desde que foi criado.”
Com cursos gratuitos, o CAC tem uma diversidade de cursos profissionalizantes nos horários da
manhã ou da tarde. Para ingressar neles, os alunos devem ter mais de 16 anos de idade e comprovar que estudam na rede pública. O processo de
seleção é específico de cada curso, uma vez que
cada curso tem como foco atender as demandas
do mercado de trabalho, uma demanda que é específica de cada atividade: umas precisam de um
determinado nível de escolaridade mínimo para a
participação, outros não... Cada caso é um caso.
No entanto, o ponto em comum dos cursos é que
todos são ministrados por profissionais altamente
qualificados. Alguns cursos funcionam em parceria com grandes empresas e instituições. O CAC
possui, por exemplo, convênio com o SENAC (Serviço de Aprendizagem Comercial) para cursos de
qualificação comercial (informática, telemarketing,
atendimento ao cliente, administração) e cursos
voltados para a área carnavalesca (adereços, fan-
12
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
part of my reason for living. They strengthen and comfort
me. I fill with pride when I see those attentive little eyes,
looking forward to building a happy future for themselves
and their families…Being here is a veritable lesson in life,”
she states.
Nelson Abrão David Community Center
The projects of Beija-Flor of Nilópolis don’t end there.
The Nelson Abrão David Community Service Center was
opened on August 3, 1991 to provide specialized job training for youths from the community and surrounding areas.
Through this project, Anízio helps hundreds of teens and
young adults to have a chance for a brighter future. Aroldo
Carlos da Silva, coordinator of the project since its founding, recognizes the value the Abrão David family attaches to
the work: “Everywhere in Brazil there are needs to be dealt
with. Unfortunately, not all of them are met by the public
authorities, despite the main role that government plays in
giving our young people the opportunities they need. On the
other hand, there are people like Anízio who are aware of
this need, and have the means to do something. Anízio and
the Abrão David family help us, in various ways, to give
continuity to a serious effort that has been producing good
results from the outset.”
The community center has a variety of free job training
courses, in the mornings and afternoons. To attend, the
students must be 16 years old and prove they study in a
public school. The selection process is specific for each
course, since each one has a different focus depending on
the profession taught: some require a certain level of schooling and others don’t.
All the courses are taught by highly qualified instructors.
Some of the courses are given in partnership with large
companies and training institutions. For example, the community center has a working arrangement with the Commercial Training Service (SENAC) to give certain commercial courses (informatics, telemarketing, customer service,
administration) and courses focused on carnival (regalia
and costume making, metalworking and woodworking).
Besides these, in 2010 Tigre, a company that makes pipes
and connections, will join the project, sponsoring industrial
qualification courses (plumbing and basic sanitation, among
others). Another important aspect is that many students
can’t afford the cost of transportation and eating outside
the home. For this reason, the Nelson Abrão David Community Center offers a meal and bus coupons to enable the
Fevereiro 2010
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tasias, serralheria e marcenaria). Além desses, está
previsto que, em 2010, a Tigre, empresa de tubos e
conexões, também se filiará ao projeto com cursos
de qualificação industrial (hidráulica e saneamento
básico, dentre outros). Outro aspecto importante da
relação do CAC com os alunos é que a administração
entende que muitos alunos não possuem condições
para arcarem com os custos de uma alimentação fora
de casa ou para o transporte até o CAC. Por isso,
o Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão
David oferece para os alunos inscritos nos seus cursos refeição e transporte, tudo para lhes fornecer o
necessário para se manterem nos cursos. Ele conta
que o projeto vai além: pesquisa e realiza contatos
com diversas empresas buscando algum tipo de
apoio a esses futuros profissionais, auxiliando, assim,
os estudantes a ingressarem no mercado de trabalho.
“Muitos dos nossos alunos – especificamente os que
fizeram os cursos de adereços, fantasias, serralheria
e marcenaria - são aproveitados pela própria BeijaFlor de Nilópolis”, confidencia.
“Todo esse trabalho tem efeitos transformadores.
Um jovem orientado, capacitado profissionalmente
e com um emprego está em condições de dar início
à sua vida econômica, podendo comprar um presentinho para a namorada ou para a mãe, além de poder
investir em si mesmo, comprando um livro, fazendo
outros cursos fora do CAC. Além disso, empregados, esses jovens que ainda não precisam sustentar
uma nova família, em boa parte das vezes acabam
ajudando seus familiares na divisão das despesas
de casa... Todos esses benefícios – os diretos e os
indiretos – são bem compreendidos pelo nosso povo
de Nilópolis e da baixada. Eles reconhecem nosso
trabalho e muitos dos alunos – até mesmo seus pais
– depois dos cursos voltam ao CAC para agradecer
a ajuda que tiveram”, conclui Anizio.
PROJETO “O SONHO DE UM BEIJA-FLOR”
Transformar sonhos em realidade é a expressão que
define o objetivo do projeto “O Sonho de um BeijaFlor”. Também é uma atividade de inserção social e
educativa realizada pela escola de samba, onde os
alunos recebem aulas de Jiu-Jitsu, tênis de mesa,
futebol, natação, dança, dentre outras. Atualmente,
700 crianças participam do projeto, que espera alcançar dois mil alunos até o final de 2010. Com as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e a parceria com
a Petrobras, novos cursos serão implantados como
vôlei, basquete, handball, karatê e judô. O que o projeto propõe é valorizar o potencial dessas crianças e
jovens, reconhecendo seus talentos e fazer que eles
acreditem que seus sonhos são possíveis de se tornarem realidade, desde que se empenhem nisso.
students to attend. The center’s administration also makes
regular contacts with companies to learn the specific skills
in demand and the latest job market trends, and to help
place the graduates in good jobs. “Many of our students
– specifically those who complete the courses in regalia and
costume making, metalworking and woodworking – are
hired by Beija-Flor itself,” says Aroldo.
“All this work has transforming effects: a young person
with the proper guidance, professional skills and a job
is ready to start his economic life, can afford to buy a
present for his girlfriend or mother, besides being able to
invest in himself, by buying a book or taking other courses
elsewhere. Even though most of these youths don’t yet need
to support a new family, they often help their parents by
sharing household expenses.... All these benefits – the
direct and indirect ones – are understood by our people in
Nilópolis and surrounding communities. They recognize
our work and many of the students – and even their parents
– return to the center afterward to thank us for the help,”
concludes Anizio.
The “O Sonho de um Beija-Flor” Project
Transforming dreams into reality is the motto that defines the objective of the project called “O Sonho de um
Beija-Flor” (“A Hummingbird’s Dream” – beija-flor means
hummingbird). It’s also an activity for education and
social inclusion carried out by the samba school, where
the students take classes in jiu-jitsu, table tennis, soccer,
swimming and dance, among others. Currently 700 children take part in the project, which is planned to expand
to 2,000 kids by the end of 2010. With Rio de Janeiro
having been chosen to host the 2016 Olympics, Petrobras
has provided funding for new classes, such as volleyball,
basketball, handball, karate and judo. The project proposes
to enhance the potential of these kids and teens, recognizing their talents and making them believe their dreams can
come true if they work for it.
Jiu-Jitsu
The jiu-jitsu classes have been given since 2006 in the
multi-sports court of Beija-Flor. They are taught by black belt
Elan Santiago, who has worked with teams from the United
States and Korea: “The jiu-jitsu classes are given in two
periods, so the kids and youths can participate depending
on each one’s school schedule. Today we have around 200
JIU-JITSU
As aulas de Jiu-Jitsu são realizadas desde 2006
na quadra de esportes da agremiação de Nilópolis, e ministradas pelo faixa preta Elan Santiago, que já trabalhou com equipes dos EUA e
da Coreia: “As aulas de Jiu-Jitsu são realizadas
em dois turnos, para poder atender o contingente de crianças e jovens que nos procuram e de
acordo com o horário escolar de cada aluno. Hoje
estamos com cerca de 200 alunos matriculados.
O perfil atual dos alunos é formado por crianças
e jovens da região que possuem de seis até 17
anos, mas que comprovem estar estudando. Não
abrimos mão disso; afinal, nossa proposta é que
esses pequenos beija-flores voem alto, para alcançarem todos os sonhos de conquista e felicidade. E o estudo, na escola, é tão importante
quanto o esporte aqui na Beija-Flor para esse
grande voo“, reflete Elan.
Considerada uma das “meninas dos olhos” do patrono da escola, Anizio Abrão David, de todas as
atividades esportivas da Beija-Flor de Nilópolis o
Jiu-Jitsu é a que mais tem se empenhado em participar e disputar competições. É, por isso, a que
mais tem trazido medalhas e títulos para casa.
Desde o início das atividades foram mais de 150
medalhas, entre ouro, prata e bronze: “Em 2009
participamos de diversas disputas fora de casa.
As mais importantes foram o campeonato brasileiro e o estadual de Jiu-Jitsu, além da competição organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No
campeonato brasileiro, a equipe da Beija-Flor de
Nilópolis foi representada por 24 atletas, que conquistaram sete medalhas de ouro, doze de prata e
uma de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. No campeonato estadual, 26 atletas nossos
participaram, levando para casa nove medalhas
de ouro, três de prata e três de bronze, e conquistando o 3º lugar por equipe. Na competição organizada pelo Raphael, filho do nosso amigo Hilton
Abi-Rihan, conquistamos doze medalhas de ouro,
oito de prata e cinco de bronze, com a participação
de 38 atletas. Nesse campeonato, onde todas as
grandes academias de Jiu-Jitsu do Rio de Janeiro
participam, conquistamos o 5º lugar por equipe”,
conta orgulhoso o mestre Elan.
Mas se engana quem acha que essa garotada e
seus instrutores estão exclusivamente pensando
em títulos e medalhas. Segundo Elan, “a proposta
será sempre passar para essa criançada que eles
devem enfrentar seus desafios e lutar, com respeito e equilíbrio, para alcançar os resultados que querem obter, seja onde for.”
students enrolled. The current profile is kids from the region
aged six to seventeen years old. They also must prove they
have good school attendance. We don’t overlook this point,
because our aim is for these young ‘hummingbirds’ to fly
high, to realize their dreams and be happy. And studying
in school is just as important for this flight as sports here
at Beija-Flor,” says Elan.
Considered one of the “apples of the eye” of the BeijaFlor’s patron, Anizio Abrão David, of all the sports
activities, jiu-jitsu is the one where the students most
participate in competitions. For this reason, it’s the sport
in which the program’s students have brought home the
most medals and titles: since its start, over 150 gold,
silver and bronze medals. “In 2009 we took part in various competitions. The most important were the national
and state jiu-jitsu championships and the competition
organized by the athlete Raphael Abi-Rihan. In the Brazilian championship, Beija-Flor’s team consisted of 24
athletes and they won seven gold medals, twelve silvers
and one bronze, putting the team in third place. In the
state championship, 26 of our athletes participated,
bringing home nine gold, three silver and three bronze
medals, again putting the team in third place. And in
the meet organized by Raphael, the son of our longtime
friend Hilton Abi-Rihan, our 38 athletes won twelve gold,
eight silver and five bronze medals. All the large jiu-jitsu
schools in Rio de Janeiro participated at this meet, and
we placed fifth,” Elan proudly recalls.
But the students and their instructors are not only thinking
of medals. According to Elan, “the idea is always to convey
to these young people that they have to face their challenges
and fight, with respect and equilibrium, to attain the results
they want, no matter in what facet of life.”
The work is bearing such fruit that the Beija-Flor jiu-jitsu
team this year will host the first Brazilian Social Projects
Championship, with the official sanction of the Brazilian
Jiu-Jitsu Confederation and the support of Petrobras, “an
important partner,” according to Elan.
Table Tennis
In its third year, the table tennis program teaches some 80
children one of the world’s most popular sports in terms
of number of players, but still one in its development stage
in Brazil. According to the instructor, Pablo Ribeiro, vicepresident for the eastern region of the Brazilian Table Tennis
Elan Santiago
e Mário Dias com
alunos do Jiu-jitsu da Beija-Flor de
Nilópolis, após conquista de medalhas.
E o trabalho desenvolvido pela agremiação de Nilópolis está oferecendo tantos resultados que a equipe
de Jiu-Jitsu da Beija-Flor de Nilópolis estará organizando, neste ano, a primeira edição do Campeonato Brasileiro de Projetos Sociais, com a chancela da
Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu e o apoio da
“Petrobras, uma importante parceria”, segundo Elan.
TÊNIS DE MESA
Em seu terceiro ano de existência, o curso de Tênis de Mesa ajuda cerca de 80 crianças a conhecer
melhor um dos esportes mais populares do mundo
em termos de número de jogadores, mas ainda em
desenvolvimento no Brasil. Ministrado pelo presidente da confederação da modalidade na região
leste, Pablo Ribeiro, a prática desse esporte contribui para os jovens terem um raciocínio mais rápido
e maior nível de concentração. De acordo com Pablo, “todos os esportes são importantes meios de
desenvolvimento pessoal e social. Quando um aluno pratica um esporte com dedicação, ele conquista não apenas qualidades dentro do esporte. Por
isso é que considero a prática esportiva essencial
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Confederation, playing the sport helps develop faster reasoning and better concentration. He goes on to say: “All sports
are important means of personal and social development.
When students practice a sport with dedication, they gain
more than just the qualities offered by that particular sport.
For this reason, I think playing sports is essential in the
formation of good citizens. And what we do at Beija-Flor
is give young people in the region an important instrument
of independence. When we show a path to youths without
bearings, they latch onto it because they see in sports an
opportunity to build a better life. But not everyone who
comes to us is adrift in life. Many understand from a young
age how to take advantage of opportunities, often with the
support of their parents. In table tennis these opportunities
start here at Beija-Flor and open up wider paths. This year,
for example, our students will compete in the state championships. As their visibility increases, so do their chances to
improve their lives. Besides this, table tennis is an Olympic
sport, so it’s natural that many of these young people dream
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na formação do cidadão. E o que realizamos aqui
na Beija-Flor de Nilópolis é isso: dar aos jovens da
região esse importante instrumento de libertação.
Quando damos aos jovens sem rumo um caminho,
eles se agarram com afinco, pois veem no esporte
uma oportunidade de construírem uma vida melhor.
Mas nem todos que procuram a prática do esporte
são jovens sem um rumo definido. Muitos, desde
cedo e com o apoio dos seus pais, sabem o que podem fazer se aproveitarem as oportunidades. Essas oportunidades no Tênis de Mesa começam aqui
na Beija-Flor e avançam para caminhos maiores.
Esse ano, por exemplo, nossos alunos vão competir
nos campeonatos estaduais. O nível de visibilidade
aumenta, e as chances de melhorarem suas vidas
também. Além disso, o Tênis de Mesa é um esporte
olímpico, e por isso é natural que muitos desses jovens pretendam se preparar e competir para participarem das Olimpíadas de 2016. E nós estaremos
aqui para dar todo o suporte para eles”, conclui.
Assim como o Jiu-Jitsu, as aulas funcionam nos turnos da manhã e da tarde, de acordo com o horário
de estudo de cada um. Para se inscrever basta ter
entre 10 e 17 anos e comprovar estar estudando.
Tênis de mesa na quadra da Beija-Flor de Nilópolis.
of competing for Brazil in the 2016 Games in Rio. We’re
here to give them all the support we can.”
As with jiu-jitsu, the classes are given in the mornings and
afternoons, so students can participate who attend school
in either the morning or afternoon session. The classes are
open to all between 10 and 17 years of age who are regularly
enrolled in school.
Soccer
The project directed by Mário Dias, coordinator of sports
activities for Beija-Flor, unites Brazil’s two greatest national
passions: soccer (or futebol, if you please) and samba. The
roughly 150 students enrolled learn the fundamentals of both
regular soccer and “society” soccer (played on a smaller field
with only 7 players to a side). As Mário puts it: “Here at BeijaFlor the problem is there are so many activities that I run the
risk the kids will prefer to take jiu-jitsu or table tennis classes
(chuckles). Just joking. We have plenty of kids for all sports
activities. It’s logical that Brazilian culture concentrates on
soccer. Most other sports arrived here more recently. But one
day I’m sure we’ll have greater demand for all sports. The fact
is that today soccer excites the kids’ imaginations the most,
especially because they believe – justifiably so – that soccer is
Fevereiro 2010
19
FUTEBOL
O projeto ministrado por Mário Dias, coordenador
das atividades esportivas da Beija-Flor de Nilópolis,
une as duas maiores paixões dos brasileiros: o futebol
e o samba. Com aproximadamente 150 alunos matriculados no ano de 2009, a comunidade tem acesso à
aulas de futebol society e de campo. “Aqui na BeijaFlor de Nilópolis o problema acaba sendo que existem
tantas atividades que eu corro o risco das crianças
preferirem entrar para as aulas de jiu-jitsu ou de tênis
de mesa (risos). Estou brincando. Sabemos que há
alunos para todas as atividades esportivas. É lógico
que a cultura do brasileiro privilegiará o futebol. Até
porque as demais atividades são ainda recentes no
próprio país. Mas um dia, tenho certeza de que teremos todas as atividades com procura cada vez maior.
O fato é que hoje o futebol desperta o interesse da
molecada, inclusive porque eles acreditam – e devem
continuar acreditando – que o futebol é um dos esportes que melhor paga aos seus atletas. Além disso,
o futebol está no sangue desses meninos. Eles não
têm praticamente que aprender nada. Eles precisam
mais é treinar jogadas, corrigir fundamentos e outros
pequenos detalhes, porque saber jogar, todos sabem.
É do brasileiro”, comenta o professor Mário.
among the sports with the highest professional salaries. In the
final analysis, soccer is in their blood. They hardly need any
explanation of the rules. All they need is to practice plays,
correct fundamentals and other details, because they already
know how to play. It’s part of being Brazilian.”
Dance
The social project of Beija-Flor includes more than just sports.
For the past nine years, Ghislaine Cavalcanti, a professional
choreographer, has headed the “learning through dance” program, which includes classical ballet and jazz dance, and in
2010 will be expanded to include tap dancing as well. Around
150 students between 5 and 17 learn a little of the history of
dance and by participating acquire discipline and concentration. “I have an intense relationship with the Nilópolis
community and I observed that people need to expand some
of their artistic horizons. Art is a human manifestation that
should always be encouraged. Artists – whether painters,
musicians or dancers – need to challenge themselves at every
moment. In an environment where samba has such wide
acceptance, it’s only natural that everyone plays or dances
samba. This is great. But since Anízio’s proposal for Beija-
DANÇA
Não só de esportes é feito o projeto social da BeijaFlor de Nilópolis. Há nove anos, Ghislaine Cavalcanti,
coreógrafa profissional, coordena o “aprendendo com
o balé”, que inclui as aulas de balé clássico, jazz e sapateado, nova modalidade que integrará o curso em
2010. Cerca de 150 alunos, entre 5 e 17 anos, conhecem um pouco mais sobre a história da dança e com
a prática adquirem disciplina e concentração. “Convivi intensamente com a comunidade de Nilópolis e
observei que eles careciam de ampliar algumas das
suas condições artísticas. A arte é uma manifestação
humana que deve estar sempre sendo provocada.
Um artista, seja da pintura, da música ou da dança
precisa estar a todo momento se auto desafiando.
Em um ambiente onde o samba é um gênero de grande aceitação, nada mais natural que todos toquem e
dancem samba. E isso é ótimo. Mas se a proposta do
Anizio e da Beija-Flor de Nilópolis é contribuir para a
formação de um ser humano mais integral, nada mais
natural que busquemos ultrapassar os limites de cada
um. Vi, então, nos cursos de balé clássico e jazz um
importante meio para que essas crianças e jovens,
que possuem uma enorme veia artística, pudessem
alçar voos mais altos.”, explica Ghislaine.
Hoje, já com algumas turmas bastante avançadas, a
coreógrafa já pode até aproveitar algumas de suas
20
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Turma de balé, com a ilustre visita de Haroldo Costa
www.beija-flor.com.br
Alunos da escolinha de futebol.
alunas para compor a Comissão de Frente da agremiação de Nilópolis. E é isso que, há alguns anos,
Ghislaine tem feito: “Os resultados são ótimos, porque além delas já terem a disciplina que é preciso
para ensaiar e decorar as coreografias, elas têm o
total envolvimento afetivo com a Beija-Flor de Nilópolis, o que é muito importante na avenida”.
PASSISTA MIRIM, MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Ainda atenta à importância da arte e sua preservação, a agremiação de Nilópolis não perde tempo:
sabe que seu futuro está nas mãos, ou melhor, nos
pés das novas gerações que crescem na região.
Por isso, não abre mão das aulas para formação de
passistas, mestres-sala e porta-bandeiras.
Os alunos do curso de passista mirim recebem semanalmente informações sobre conceitos e fundamentos dessa arte de sambar. Na prática, exercitam passos, coreografias e gingas, se igualando,
em beleza e emoção, aos grandes passistas da
agremiação, que fizeram história no carnaval.
Com aproximadamente 120 matriculados de diversas idades, os alunos precisam estudar e passar de
ano para permanecer na atividade. Selminha Sorriso, ex-passista e coordenadora do projeto, passa
sua experiência para as crianças: “Espero que através da minha experiência de vida eu possa colaborar
com a formação do futuro dos meus pequeninos”.
Os alunos das aulas de mestre-sala e porta-bandeira
também podem comemorar a dedicação que recebem do Mestre-Sala Claudinho e da Porta-Bandeira Selminha Sorriso. Iniciadas em julho de 2006, as
aulas para formação de novos casais de mestre-sala
e porta-bandeira são uma importante iniciativa para
a preservação da mais importante figura do desfile
de carnaval, e responsável por conduzir pela avenida, com graça e beleza, o pavilhão da agremiação.
A partir dos três anos de idade, os alunos podem
aprender com o casal a dançar e muito mais. “Eles
aprendem a interagir, a dividir, aprendem a viver em
comunidade, ou seja, em sociedade, aprendem a ter
disciplina, respeitar hierarquia, respeitar os amiguinhos”, afirma Selminha. Com as aulas, essas crianças e jovens aproveitam a oportunidade de despertar
o potencial artístico que carregam e, melhor ainda,
de crescer dentro da própria agremiação, perpetuando essa arte tão mágica, expressa no bailado do
casal de mestre-sala e a porta-bandeira.
22
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Flor is to contribute to the formation of a complete person,
it’s equally natural for us to try to expand horizons for all. I
see in the ballet and jazz dance classes an important way for
these children and teens, who have huge latent artistic talent,
to be able to fly higher,” explains Ghislaine.
Today, with some of the groups quite advanced, the choreographer can use some of her students to participate in BeijaFlor’s front unit of dancers during carnival. In fact, she’s
been doing this for several years. “The results are excellent
because besides the fact they have the discipline needed to
rehearse the routines, they have total affective involvement
with Beija-Flor, which is very important on the avenue.”
Junior Pace Dancers, Masters of Ceremonies and
Standard Bearers
Looking ahead, the group from Nilópolis knows its future is
in the hands – or better put, the feet – of the new generations
growing up in the region. For this reason, it provides classes
to train pace dancers, masters of ceremonies and standard
bearers, the key components of the carnival parade.
The students of the junior pace dancer course receive information on the concepts and fundamentals of this particular
samba art, besides practicing the steps and movements so
they can reproduce the beauty and emotion of the group’s great
pace dancers who have marked the history of carnival.
All of the 120 students of various ages must be making normal
school progress to remain eligible. Selminha Sorriso, a former
pace dancer and coordinator of the project, passes her experience to the children: “I hope that through my experience in
life I can help mold a good future for my little ones.”
The students in the master of ceremonies and standard bearer
classes also can commemorate the dedication they receive from
Beija-Flor’s current master of ceremonies, Claudinho, and standard bearer, Selminha Sorriso. Started in 2006, the classes to
train new master of ceremonies-standard bearer couples are an
important initiative to preserve the most important figures of the
carnival parade, responsible for leading the group on the avenue
with grace and beauty. Starting at the age of three, the students
get a chance to learn to dance, and much more, with the couple.
“They learn to interact, share, live in a community, that is, in
society, they learn to have discipline, respect hierarchy, respect
their friends,” states Selminha. With the classes, these children
and teens have an opportunity to discover and develop their
artistic potential, and to grow within the group, to perpetuate
this magic art, expressed in the dancing of the carnival couple
formed by the master of ceremonies and standard bearer.
www.beija-flor.com.br
Beija-Flor de Nilópolis
Uma Escola de samba sem fronteiras
Uma revista sem fronteiras
RICARDO DA FONSECA
A Beija-Flor de Nilópolis nos últimos quarenta
anos vem se consolidando como a principal e mais
bonita escola de samba do
Brasil – e do mundo.
Os resultados alcançados nos
desfiles de carnaval, expressos
no Ranking da Liesa no período
2005/2009, são claros: a agremiação de Nilópolis mantém a primeira
colocação, com 83 pontos, mais de vinte pontos além do segundo colocado.
Por levar para a avenida há muitos anos
consecutivos um desfile bonito, bem cuidado, empolgante e de qualidade, é natural que a legião de
torcedores da agremiação aumente a cada ano.
Paralelo a esse crescente interesse, o surgimento
de novos instrumentos eletrônicos e de transmissão de dados tem levado as imagens com os desfiles e ensaios da agremiação para os mais diversos
pontos do planeta.
Hoje, a Beija-Flor de Nilópolis não é mais um patrimônio exclusivo de Nilópolis. Ela ganhou o mundo.
Por essa razão, nada mais natural do que serem
pensadas formas de retribuir o carinho e a atenção
desses milhares de torcedores estrangeiros com
ações específicas voltadas para eles.
E a equipe de editores da revista BeijaFlor de Nilópolis – uma escola de vida, considerada atualmente a principal publicação impressa
de escola de samba e carnaval, não poderia pensar
e agir de outra maneira.
Em homenagem e respeito a essa nação Beija-Flor,
que nasce e cresce a cada dia nas Américas, Europa, Ásia, África e Oceania – e dando mais uma evidente demonstração de comprometimento com a
valorização e difusão da cultura brasileira em nível
mundial –, a revista Beija-Flor de Nilópolis – uma
escola de vida lança a sua versão eletrônica da edição nº 9 em dois importantes idiomas: francês e
japonês.
Para conhecer a edição, acesse:
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Fevereiro 2010
23
24
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25
UM PATRIMÔNIO BRASILEIRO PEDE PASSAGEM:
O SAMBA CARIOCA
ÍRIS ÁGATHA
RICARDO DA FONSECA
26
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Apesar dos preconceitos, discriminações e prisões,
o som e a poesia do samba carioca convenceram o
país de que um violão, um cavaquinho, e um pandeiro nas mãos de negros pobres geniais fazem mais
do que simplesmente música; compõem uma obra
que em qualquer parte do planeta é reverenciada
como o retrato do Brasil.
Portanto, não foi à toa que o Iphan – Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - reconheceu as matrizes do samba carioca (samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo) como Patrimônio
Cultural do Brasil.
No dia 27 de novembro de 2007, Márcia Genésia
de Sant’Anna, Diretora do Departamento
do Patrimônio Imaterial do Iphan, sacramentou o que, empiricamente, muitos já
supunham: o samba
carioca foi e é fonte
onde compositores de
outras regiões bebem
para criar subgêneros
desse ritmo. E tem
mais: “As matrizes do
samba carioca são
referências culturais
importantes para a
identidade de um segmento social extremamente relevante na
história do Estado do
Rio de Janeiro. É um
passo fundamental em
Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos
Muitos não se lembram ... outros nem eram nascidos, mas houve uma época em que o samba carioca foi chamado de barulho. Mas a genialidade de
compositores e a cadência desse gênero musical
foram ecoando e envolvendo de tal maneira cada
canto da cidade, que o samba tornou-se um símbolo cultural de um povo apreciado nos mais diversos
pontos do planeta.
Originário das reuniões de escravizados, que em
torno de batuques, cantos e danças manifestavam
crenças e lembranças de suas regiões de origem, o
samba no Rio de Janeiro foi sendo moldado a partir
do crescimento da população negra, vinda das mais
variadas regiões do país
para a lavoura de café, e
que trouxeram consigo,
além de uma potente mão
de obra, diversos ritmos e
hábitos que foram sendo
incorporados ao longo do
tempo pelo carioca.
Mas essa aceitação por
parte da população carioca não se deu de modo
simples e sem sofrimento.
De acordo com o historiador e diretor cultural
da Liesa, Hiram Araújo,
“nos primórdios do samba
no Rio de Janeiro, quem
fosse pego com um violão
ia para a cadeia. João da
Baiana foi preso porque
estava com um pandeiro
na mão”.
www.beija-flor.com.br
uma política de patrimonialização inclusiva”, diz
Márcia Sant’Anna.
Trocando em miúdos: O Iphan reconhece que o samba une pessoas de uma comunidade, une comunidades de áreas populares, e essas às chamadas áreas
nobres da cidade, do país e do mundo. Já repararam quanta gente que reside na Zona Sul vai para
as quadras localizadas no subúrbio e na baixada fluminense participar das festas, feijoadas e ensaios
das escolas de samba? E tem os turistas nacionais e
internacionais que amam rodas de samba.
UMA ARTE QUE UNE PESSOAS
A vocação do samba carioca para unir pessoas é
inegável.
Segundo o radialista Hilton Abi-Rihan, assessor
do presidente de honra da agremiação de Nilópolis Anizio Abrão David, “além dos nossos grandes
sambistas, como Monarco, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Alcione, Beth Carvalho, levarem aos quatro cantos do planeta essa música envolvente que
é o samba, as escolas de samba, como a Beija-Flor
de Nilópolis, voam em turnês mundo afora, levando
além das fronteiras do país o samba e a cultura do
carioca e do fluminense, contagiando muitos ‘gringos’ com esse gênero musical, nos quais desperta,
a partir desse momento, uma paixão pela nossa
música e pela nossa cultura, fazendo com que na
primeira oportunidade venham conhecer o país e,
especialmente, a cidade maravilhosa. É inegável
que a magia e o envolvimento do samba carioca
despertam o interesse do turista em se aproximar
do nosso país e do nosso povo, que é, aliás, muito
hospitaleiro.”
Acostumado a fazer shows no exterior, o escritor e
produtor Haroldo Costa atesta: ”O samba tem sido
a carteira de identidade do brasileiro.”
Monarco excursiona muito com a Velha Guarda da
Portela e relata: “Fomos à França, ao Japão, à Itália... e nos emocionamos. Na França, crianças cantaram em português ‘Foi um Rio que passou em Minha Vida’ com a Velha Guarda, num teatro lindo.”
Além de agregar pessoas de diferentes posições
sociais, intelectuais e culturais – incluindo de nacionalidades diferentes –, o samba carioca faz outros
prodígios, lembra Abi-Rihan: ”Conduzo programas
de rádio há mais de quatro décadas, sempre prestigiando as manifestações artísticas do povo brasileiro. E uma coisa que vi, entre tantas, e que me
emocionou muito, foi o que as escolas de samba
fizeram em suas comunidades, como por exemplo
a Beija-Flor de Nilópolis, investindo na melhoria da
qualidade de vida das pessoas do entorno, com a
instalação de escola de ensino fundamental e médio,
cursos profissionalizantes, cursos de arte, dança e
música, além de outras importantes ações sociais.
Tudo isso faz do samba sim, um instrumento de desenvolvimento artístico, social e pessoal”, conclui.
GRANDES BATALHAS PELA DIFUSÃO DO SAMBA
O respeito que o samba conquistou é resultado de
uma luta em várias frentes.
Além da dedicação desinteressada dos artistas,
compositores e intérpretes, que persistiram na manutenção dos sambas em seus repertórios, muitas
vezes pagando um preço alto – como o do preconceito e da discriminação – o empenho de comunicadores, especialmente nos veículos de massa como
as rádios, foi fundamental para a consolidação e
sobrevivência desse gênero musical.
Hilton Abi-Rihan foi um desses importantes amigos
do samba.
Como diretor da Rádio Continental, ele concebeu e
criou diversos programas de samba, que valorizavam os mais variados estilos do samba, resgatando
verdadeiras obras de arte e apresentando aos ouvintes novidades e tendências musicais do gênero.
Além disso, Abi-Rihan tinha um diferencial que o
tornou querido em todo o mundo do samba: ele sabia dar valor não só às músicas que apresentava,
mas também aos sambistas que as compuseram
e as interpretaram. “O Abi-Rihan foi um dos primeiros radialistas, que me lembre, que davam uma
atenção especial ao sambista, como intérprete e
como compositor. Era muito comum as rádios darem atenção às músicas que tocavam sem destacar seus compositores. Lembro que essa sua forma
de tratar os compositores e intérpretes de samba
foi uma das coisas que muito agradou meu irmão
Nelson David, que se tornou um grande amigo do
Abi-Rihan.”, confidencia Anizio Abrão David, presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis, e um dos
mais dedicados defensores do samba.
Outra importante trincheira em favor do samba foi
montada pelo ator e produtor Jorge Coutinho, que
influenciou uma considerável parcela dos futuros
formadores de opinião residentes na Zona Sul carioca: ”Eu achava que os universitários tinham que
conhecer o samba. Por isso eu promovia shows que
misturavam diversos gêneros, como por exemplo
músicas do Milton Nascimento, do Som Imaginário
e de Cartola. Também levava sambistas para cantar
na PUC (Pontifícia Universidade Católica) – que na
época só tinha alunos da classe A”.
Além disso, Jorge Coutinho, junto com Leonides
Bayer, idealizou, na década de 70, um interessante
Fevereiro 2010
27
projeto chamado “Noitadas de Samba”, que era realizado todas as segundas-feiras no Teatro Opinião,
em Copacabana. Nas “Noitadas de Samba”, artistas dos morros e do subúrbio carioca, como Cartola, Guilherme de Brito, Nelson Cavaquinho, Martinho da Vila, Rosinha de Valença, Paulinho da Viola,
Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da
Mangueira, Clara Nunes, entre tantos outros, se
apresentavam para um público formado por moradores da Zona Sul carioca.
ANIZIO E O SAMBA
Se o samba resistia ao preconceito e o sambista
sobrevivia a duras penas era porque, longe da zona
sul carioca, importantes redutos de samba abrigavam e acolhiam os representantes da arte negra
brasileira.
Eram os Grêmios Recreativos, ou melhor, as escolas de samba, que valorizavam o sambista como se
fosse um integrante de sua família.
Eram nas agremiações que os sambistas entregavam parte do seu tempo. Lá eles compunham,
cantavam, sonhavam... criavam. Era o genuíno espírito do sambista do Rio de Janeiro,
estereotipado, depois, nos meios de
comunicação pelo mundo. Era um
tempo em que grande parte dos
sambistas e compositores era
ligada
a
alg u m a
agremiação:
Mangueira,
Salgueiro, Portela,
Império Serrano... e
tantas outras.
Mas, se as agremiações
eram redutos de samba, elas
também enfrentavam dificuldades para sobreviver.
Subjugadas por uma cultura de exploração da força
de trabalho, os sambistas
continuavam à margem,
explorados, mal remunerados, largados de mão.
Entretanto, as escolas
de samba foram se fortalecendo, ganhando respeito, prestígio e espaço,
resultando também no fortalecimento, no ganho de
prestígio e espaço para o
sambista.
28
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Esse capítulo da história do samba é muito bem
lembrado pelo radialista Hilton Abi-Rihan: “O samba vivia um momento muito difícil porque saía da
clandestinidade para se tornar um produto de consumo cultural. No entanto, os agentes que promoviam essa mudança faziam por questões financeiras. Não entendiam o samba como manifestação
cultural de força, mas sim como um negócio. Com
isso, os sambistas ganhavam muito mal, tanto nas
apresentações em público, como quando tinham
suas músicas gravadas por intérpretes de sucesso.
O sambista mal podia contar com o dinheiro que
ganharia como sambista... Felizmente, essa realidade estava mudando. Considero, no entanto, que
um dos fatores mais importantes para essa mudança foi a criação e o fortalecimento da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), quando,
então, muita coisa pode ser feita pelo samba e pelo
sambista. E o Anizio tem um papel de destaque em
toda essa história. Foi ele que encarou as gravadoras para que os compositores não ficassem de
‘pires na mão’, se humilhando para receber o que
era de direito deles.”, recorda o radialista.
“Além de toda a importância que o Anizio tem para o
samba e para o carnaval do Rio de Janeiro e para as
escolas de samba, ele tem uma importância especial
para os compositores de samba. Sou compositor, e
quero destacar que foi através das ideias e ações
tomadas por ele que os compositores das escolas de
samba passaram a ser reconhecidos e a ser pagos
dignamente pelo trabalho que desenvolviam. Gosto
de enfatizar isso, porque eu e minha família sentimos
no nosso dia a dia os benefícios dessa e de outras
posições tomadas pelo Anizio em favor do samba e
do sambista. Além disso, é bom que se saiba como o
Anizio é um homem justo: apesar do amor todo que
ele tem pela Beija-Flor de Nilópolis, durante o período que esteve na presidência da Liesa, a sua escola
- a Beija-Flor de Nilópolis - não ganhou nenhum título. Isso prova o carinho e o respeito que ele tem pelo
carnaval e por todas as escolas de samba.”, enfatiza
o ex-presidente da Estação Primeira de Mangueira,
Álvaro Caetano, o Alvinho.
E em razão desse respeito que Anizio manifesta ao
sambista e ao público que, quando presidente da Liesa, implantou diversas melhorias. É ainda seu amigo e
radialista Hilton Abi-Rihan que destaca: “Foi o Anizio
que botou pé firme para que o espetáculo tivesse hora
certa para iniciar e para acabar. Lembro-me que na
época o Anizio me contou que essa questão do horário
do desfile havia sido uma das suas principais vitórias
como presidente da Liesa. E é verdade! Lembro-me que
ninguém acreditava que ele conseguiria impor esse ní-
www.beija-flor.com.br
Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos
vel de organização. A própria
imprensa especializada não
acreditava. Mas ele conseguiu. Ele conseguiu manter o
horário do desfile, do começo
ao fim, o que valorizou ainda
mais o espetáculo, além de
ser uma importante decisão
em respeito aos sambistas e
ao público presente. Foi ele,
também, o Anizio, que com
seu temperamento guerreiro
conquistou o direito de arena
para as escolas de samba.”.
Sobre isso, é o próprio Anizio quem relata: “Lutamos
muito, mas consegui que a
televisão pagasse o direito de arena às escolas de
samba. (direito de arena é
o direito que as escolas têm
de negociar, autorizar ou não a fixação, transmissão
ou retransmissão de imagem de espetáculos de que
participem). Na época, eu consegui 33 %, para ajudar as escolas a fazer um carnaval melhor. Hoje a
Liesa recebe 51%, e foi uma grande melhoria. Mas
eu consegui 33% na época, quando não se ganhava
nada. Era quase impossível fazer um espetáculo de
qualidade. Se não fosse o esforço de algumas pessoas, inclusive da comunidade, seria impossível levar
ao público um espetáculo como o que levávamos! E
hoje não! Hoje você tem condições de dar um cachê
para o mestre-sala e para a porta-bandeira. Você
tem condições de dar um cachê para uma comissão
de frente, para a bateria. Então, hoje as escolas têm
condições de fazer um espetáculo que é divulgado
em todo o mundo e atrair turistas dos mais diversos
países.”, conclui.
Mas a atuação de Anizio em defesa do samba não se
limitou às ações como presidente da Liesa. Segundo
Elmo José dos Santos, ex-presidente da Estação Primeira de Mangueira e atual diretor da Liesa, “se hoje
as escolas de samba são reconhecidas, elas têm que
agradecer muito ao Anizio. Porque, na realidade, as
autoridades não respeitavam o sambista. E o Anizio
sempre disse: ‘Eu não vim aqui para vender pessoas,
eu vim aqui para vender artista’. E a partir disso, e das
iniciativas que ele promoveu, o samba passou a ser
valorizado, acabou aquele negócio de livro de ouro.
Acabou aquela história das escolas de samba fazendo seus carnavais embaixo do viaduto. E eu tenho um
depoimento muito forte para dar, porque quando eu
assumi a presidência da Mangueira, ela devia meio
milhão de reais na praça. As lojas não vendiam para mim nem
um prego, nem um prego! Para
você ter uma ideia, a Mangueira tinha 20 cadeiras! O Anizio
chegou e falou para mim: ‘Elmo,
o que você precisa?’ Anizio me
deu crédito na praça, quero dizer, ele foi o meu avalista para
que as lojas pudessem voltar a
vender para a Mangueira, porque eu tinha que fazer carnaval.
Como é que eu ia fazer carnaval
se não tinha nem som, não tinha nada? E o Anizio, além disso, me deu carpinteiro, me deu
ferreiro, e me deu um dos melhores homens do barracão dele
que era o Torim, que até hoje
está no carnaval. E eu consegui
erguer a nossa querida Estação
Primeira de Mangueira. Eu só tenho a agradecer a
papai do céu e agradecer ao Anizio, que em nenhum
momento me deixou na chuva. Em todos os momentos me ajudou a levantar a Estação Primeira de Mangueira. E dentro de três anos a Mangueira já andava
com as suas próprias pernas. E o Anizio, em nenhum
momento, deixou que a disputa na avenida interferisse na sua decisão. E me lembro de uma coisa que
ele falou: ‘Elmo, trate todo mundo com carinho, com
amor e com respeito. Nada de valentia. Eu acho que
você tem uma grande escola e o desfile das escolas
de samba tem que ter uma Mangueira forte! ’. Então,
eu só tenho a agradecer ao Anizio. O Anizio é meu
padrinho, é meu pai, é meu irmão, é uma pessoa que,
na verdade, é um grande ídolo que eu tenho no carnaval”, conclui com emoção.
O RECONHECIMENTO DO IPHAN
Se as conquistas desse gênero musical são resultado dos esforços de artistas, comunicadores, veículos de mídia e do público – que prestigia seus
artistas e suas obras –, é inegável que o registro
concedido pelo Iphan cria novas possibilidades de
conquistas, não só para essa arte carioca como
para a cultura brasileira de um modo geral.
A partir de agora, os próprios sambistas e demais
integrantes desse segmento social poderão propor,
negociar e executar ações para salvaguardar esse
novo patrimônio do Brasil, dialogando com o Poder
Público a implementação de ações que proporcionem a produção, reprodução, reconhecimento, valorização e divulgação desse bem cultural.
Fevereiro 2010
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Em defesa da identidade cultural
O Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – criado em 13 de janeiro de 1930,
é uma instituição ligada ao Ministério da Cultura e responsável por identificar, documentar, proteger
e promover o patrimônio cultural brasileiro, desde construções arquitetônicas até ao modo de viver
de comunidades do território nacional.
Além disso, o Iphan também é responsável pela implantação do Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial, que viabiliza projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão
imaterial do patrimônio cultural.
A revista Beija-Flor de Nilópolis foi a Brasília, na sede do Iphan, para conversar com a diretora do
Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna.
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília, Mestre em conservação e restauro,
e Doutora em Urbanismo, ambos os títulos pela Universidade Federal da Bahia, Márcia Sant’Anna
trabalha há mais de duas décadas junto a organismos governamentais de preservação do patrimônio
cultural. Entre 1998 e 2000, coordenou o grupo de trabalho criado pelo Ministério da Cultura que
realizou os estudos para a implantação do Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial.
Ricardo Da Fonseca – O que significa “tombar” um bem imaterial?
Márcia Sant’Anna – No caso de um bem imaterial, utilizamos
um instrumento parecido com o tombamento, mas que é mais
específico, que é o registro.
O instrumento registro foi criado para dar conta da dimensão
imaterial da cultura. Isto é, aos processos culturais, saberes e
práticas que vão além da dimensão material (edificações, obras
de arte, sítios urbanos, sítios arqueológicos...). Os processos de
registro são fundamentados em interlocução do Estado com as
bases sociais concretas, grupos, comunidades e segmentos sociais
que produzem e reproduzem os fatos culturais, no sentido de
construir um consenso sobre o que se pretende reconhecer como
patrimônio e os motivos para isso.
É realizada uma ampla pesquisa para a identificação e entendimento do universo cultural em questão, a identificação dos segmentos
sociais envolvidos e as ações de salvaguarda necessárias para que
o fato cultural em questão tenha condições de permanência. É
importante destacar que o registro contempla transformações no
bem cultural registrado, pois leva em conta a dinâmica cultural
inerente a qualquer sociedade.
Os livros do registro são: Saberes, Formas de Expressão, Lugares
e Celebrações.
tombada dessas construções, fica passível de punição. Existirão
punições ou regras de controle do Iphan para o samba, como
bem imaterial?
Márcia Sant’Anna – O registro não engessa, congela ou cria
normas ou parâmetros para a prática. Não há punição, nem
fiscalização, posto que toda cultura se modifica conforme os
interesses da sociedade...e a política para o patrimônio imaterial
pressupõe isso.
O registro abre a possibilidade do segmento social envolvido
desenvolver o diálogo com o Estado no sentido de implementar
ações que proporcionem a produção, reprodução, reconhecimento,
valorização e divulgação do bem cultural em questão. Mesmo que
para essa continuidade sejam necessárias modificações.
No caso do samba-enredo, por exemplo, desde a criação do gênero
musical muitas mudanças ocorreram... e ocorrerão. O Registro
proporcionou um conhecimento dos processos de transformações
de modo que seja possível conhecer e reproduzir cada momento;
e assim ampliar as possibilidades de criação.
No limite, o maior patrimônio cultural que se tem é a criatividade
humana, que não pode ser tolhida desde que não fira os direitos humanos. Nesse sentido, a política é voltada para dar as condições dos
segmentos sociais fazerem a gestão de seu patrimônio em parceria
com o Estado; com liberdade e movidos pelo interesse coletivo.
Ricardo Da Fonseca – E por que com o samba carioca? Qual sua
importância na cultura brasileira e na cultura mundial?
Márcia Sant’Anna – As matrizes do samba carioca (partido-alto,
samba-enredo e samba de quadra) são referências culturais importantes para a identidade de segmento social extremamente relevante na história do Estado do Rio de Janeiro. E o reconhecimento,
pelo Estado, da história e legado cultural deste segmento é passo
fundamental em uma política de patrimonialização inclusiva. Além
do mais, trata-se de um fato cultural cuja relevância transcende o
Estado do Rio, posto que é senso comum tratar-se de um signo da
identidade nacional, tanto externa, quanto internamente.
Ricardo Da Fonseca – Quais outros benefícios e/ou facilidades o
samba passa a ter a partir da aquisição do título de “Patrimônio
Cultural do Brasil”?
Márcia Sant’Anna – Há recursos disponibilizados pelo Estado
por um tempo determinado, os quais são geridos por instituição
oriunda do universo cultural em questão. Eles são utilizados no
sentido de realizar ações definidas previamente junto com a base
social e, sobretudo, no sentido de dar condições de sustentabilidade para a gestão do patrimônio de maneira autônoma em
relação ao Estado.
Além disso, o registro é uma espécie de credenciamento para a
captação de recursos junto a parceiros.
Ricardo Da Fonseca – Que tipo de proteção o samba tem a partir
desse título? Os bem materiais tombados são obrigados a manterem a sua aparência e outras qualidades especificas. Se alguém ou
alguma instituição infringe essa norma e modifica alguma parte
30
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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Que paraíso é este de
águas cristalinas?
A
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(
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Fevereiro 2010
31
CARIOCA SAMBA:
A KEY PART OF BRAZIL’S
HERITAGE
ÍRIS ÁGATHA
RICARDO DA FONSECA
Many years ago in the Rio de Janeiro neighborhood of
Estácio, a school principal complained of the “mischief” of
sambistas, as samba musicians are called. One of them, the
clever Ismael Silva (later to become one of the most celebrated
samba composers) is said to have retorted, “Deixa falar”
(“Let us speak”).
The phrase became the name of the first samba “school”:
“We’re leading this school. You teach the students to read
and write, but we’re teachers too. We’re a school...a samba
school.” And so goes the story of why carnival groups are
called escolas de samba, or “samba schools”.
Many don’t remember... Others weren’t even born. But there
was a time when samba in Rio was looked down on as just
so much noise.
Fortunately, driven by the ingenuity of its composers, the
cadence of this musical genre caught on and spread so
thoroughly to every corner of the city, and then the country, that samba has become a cultural icon of the entire
nation, besides being appreciated by listeners throughout
the world.
Samba traces it roots to gatherings of slaves, who would
express their beliefs and recollections of their origins in
song and dance, accompanied by drumming. Rio de Janeiro,
as an important entry port of slaves and a coffee-growing
region that demanded labor, was a concentration point for
Africans and their descendants from many places in Africa
and Brazil itself. Besides their labor, they brought their various rhythms and dances, which were gradually absorbed by
all Cariocas (as Rio’s residents are called).
But this acceptance by the Carioca population at large was
not easy and without suffering. According to the historian
and cultural director of Rio’s League of Samba Schools
(LIESA), Hiram Araújo, “in the early days of samba in Rio
de Janeiro, a poor black person with a guitar was subject
32
Revista Beija-Flor de Nilópolis
to arrest. João da Baiana was jailed just because he had a
tambourine in his hand.”
Despite the prejudice, discrimination and even jailing, the
sound and poetry of Carioca samba finally managed to
convince the country that a guitar, ukulele and tambourine
in the hands of poor blacks represented more than just
music. From such humble beginnings, samba has become
a trademark of Brazil, recognized and appreciated around
the world.
So it was no accident that the National Institute of Historic
and Artistic Heritage (IPHAN) recognized Carioca samba
and its roots elements (samba de terreiro, partido alto
and samba enredo) with the Brazilian Cultural Heritage
designation.
On November 27, 2007, Márcia Genésia de Sant’Anna,
head of IPHAN’s Department of Intangible Heritage, made
official what was already empirically established: Carioca
samba is the wellspring from which composers from other
regions drink to create the various sub-genres of this musical genre. As she declared: “The roots elements of Carioca
samba are important cultural references for the identity of
an extremely important social segment in the history of
Rio de Janeiro. This is a fundamental step in a policy of
preserving heritage.”
IPHAN further recognizes that samba unites people within
communities, unites working-class and upper-class communities, unites the entire country and even the world. It has
become de rigueur for people residing in the more “chic” areas
of the city’s South Zone to go to the carnival school rehearsal
grounds in the suburbs and outlying municipalities of the
Baixada Fluminense region, not only to prepare to parade
during carnival, but also for parties and feijoada feasts. The
same goes for tourists looking to experience more than just
the city’s deservedly famous landmarks and beaches.
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AN ART THAT UNITES PEOPLE
The vocation of Carioca samba to unite people is unquestionable.
According to radio commentator Hilton Abi-Rihan, also
an aide to the president of honor of Beija-Flor of Nilópolis,
Anizio Abrão David, “besides Brazil’s great samba artists,
such as Monarco, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Alcione and
Beth Carvalho, who have taken this music to the four corners
of the world, samba schools like Beija-Flor make frequent
foreign tours to perform their carnival dance and music,
taking samba and Carioca and Fluminense culture to the rest
of the world, attracting overseas fans to this musical genre
and instilling a passion for our music and culture, making
people yearn to visit our country, especially the “marvelous
city”. There’s no question that the magic and magnetism of
Carioca samba whets this interest to experience our country
and its people’s hospitality first hand.”
GREAT BATTLES FOR THE DIFFUSION OF SAMBA
The respect achieved by samba is the result of a struggle
on various fronts.
Besides the selfless dedication of the performers, composers
and interpreters, who insisted on keeping sambas in their
repertoires, often paying a high price for this – such as
prejudice and discrimination – the efforts of communicators,
especially in the mass media such as radio, was fundamental
to the survival and consolidation of this musical genre.
Hilton Abi-Rihan was and is one of these important friends
of samba.
As the programming director of Rádio Continental, he
created many programs that featured the varied samba
styles, rescuing veritable works of art and presenting to
listeners the latest trends of the style. Besides this, Abi-
Monarco travels frequently performing
with the group Velha
Guarda da Portela and
relates: “We’ve been to
France, Japan, Italy...
and the people’s reaction has been touching.
In France, kids in the
audience sang along with
us in Portuguese, ‘Foi
um Rio que passou em
Minha Vida’.”
Foto: Acervo Iphan / Edgar Rocha
Accustomed to putting on
shows abroad, the writer
and producer Haroldo
Costa attests: “Samba
has become a Brazilian
calling card.”
Besides bringing together
people of different social,
intellectual and cultural
positions – including
different nationalities
– Carioca samba can be credited for other achievements, as
recalled by Abi-Rihan: ”I’ve hosted radio programs for over
four decades, always featuring the artistic manifestations of
the Brazilian people. And among the many things I’ve seen,
one that really impresses me is what the samba schools do in
their communities, as Beija-Flor does in Nilópolis, investing
to improve people’s quality of life, establishing the elementary and high school, job training programs, art, dance and
music classes, besides other important social actions. All this
means that samba is an important instrument for artistic,
social and personal development.”
Rihan had a quality that made him beloved throughout
the world of samba: he not only played the songs, he
also gave proper credit to the artists who composed and
interpreted them. “Abi-Rihan was one of the first deejays,
from what I remember, who gave special attention to the
samba interpreters and composers. It was very common
for the radio stations only to play the music without giving the composers’ names. I remember that his way of
treating samba composers and interpreters was one of
the things that pleased my brother, Nelson David, who
became a close friend of Abi-Rihan,” says Anizio Abrão
Fevereiro 2010
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David, Beija-Flor’s president of honor and one of the most
dedicated supporters of samba.
Another important advance for samba was achieved by actor
and producer Jorge Coutinho, who influenced a considerable
contingent of future trendsetters living in the city’s South Zone
(Leme, Copacabana, Ipanema and Leblon): “I thought that college students had to experience samba. So I promoted shows
that mixed various styles, such as songs by Milton Nascimento,
Som Imaginário and Cartola. I also took sambistas to sing at
Pontifical Catholic University, whose student body at the time
was almost exclusively drawn from wealthy families.”
Besides this, in the 1970s Jorge Coutinho, together with
Leonides Bayer, created an interesting social project called
“Noitadas de Samba” (“Samba Nights”). These were held
every Monday at the Teatro Opinião in Copacabana. At these
events, performers from Rio’s hillside slums and suburbs,
such as Cartola, Guilherme de Brito, Nelson Cavaquinho,
Martinho da Vila, Rosinha de Valença, Paulinho da Viola,
Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da Mangueira
and Clara Nunes, among many others, played for audiences
from the South Zone.
ANIZIO AND SAMBA
But if samba resisted prejudice and the samba singers and
musicians (sambistas) survived, with great difficulty, it was
because far from Rio’s middle class South Zone, important
samba redoubts sheltered and welcomed these representatives of this important Afro-Brazilian art form.
It was the carnival associations, or the samba schools, that
valued the sambistas as if they were part of the family. It
was at the samba schools where the sambistas spent a good
deal of their time, where they composed, sang, dreamed …
created. This was the genuine spirit of the sambista from
Rio de Janeiro, later stereotyped in the global media. It was
a time when most sambistas and composers were linked
to a samba school: Mangueira, Salgueiro, Portela, Império
Serrano... and so many others.
But if the carnival associations were redoubts of samba,
the sambistas still faced difficulties to survive. Subjugated
by a native culture of exploitation of the work force, the
sambistas continued at the margin, exploited, poorly paid,
with no security.
But as the samba schools became stronger and gained respect, prestige and space, the same thing happened to the
sambistas as well.
This chapter in the history of samba is clearly recalled by radio
host Hilton Abi-Rihan: “Samba was going through a difficult
moment even though it was moving from the margins to the
mainstream. The problem was that the agents promoting this
change were doing so for financial questions. They didn’t
34
Revista Beija-Flor de Nilópolis
understand samba’s importance as a cultural manifestation.
To them it was just a business. The upshot was that the
sambistas still were poorly paid, both for public presentations
and when their songs were recorded by mainstream singers.
It was hard to make a living as a sambista. Fortunately, this
reality was changing, due to various factors. But I believe one
of the most important factors for this change was the creation
of the Independent League of Samba Schools (LIESA). This
allowed a lot of things to be done for samba and sambistas.
And Anízio has a leading role in all this history. He was the
one who confronted the record companies so the composers
didn’t have to go with hat in hand, humiliating themselves
to try to receive their proper royalties.
Besides the importance Anízio has for samba, carnival in Rio
de Janeiro and samba schools, he has a special importance for
samba composers. I’m a composer myself, and I want to highlight that it was through his ideas and actions that the samba
schools’ composers became recognized and paid properly for
their work. I want to emphasize this, because my family and
I feel in our daily lives the benefits of this and other positions
take by Anízio in favor of samba and sambistas. Besides this,
Anízio is a fair man: despite his great love for Beija-Flor, during
the entire period he was president of LIESA, his school didn’t
win a single title. This proves his love and respect for carnival
and all samba schools,” says former president of Mangueira,
Álvaro Caetano, or Alvinho as he’s better known.
And because of this respect that Anízio expresses for sambistas and the public, when he was president of LIESA, he
implemented various improvements. His friend the radio
announcer Hilton Abi-Rihan points points out: “It was Anízio
who took a firm stance and insisted that the parades have a
definite time to start and finish. I remember that at the time
Anízio told me this question of the parade timetable was one
of his main accomplishments as president of LIESA. And it’s
true! I remember that nobody believed he’d manage to impose
this level of organization. The press certainly didn’t believe it.
But he did it. He managed to keep all the schools’ parades on
time, from the start to the finish, which really added to the
spectacle’s value, besides being an important decision showing
respect for the sambistas and spectators. It was Anízio also
who, with his strong-willed temperament, won the arena
rights [the rights to transmit television images of the parades]
for the samba schools,” recalls Abi-Rihan.
Anízio himself remembers: “It was a hard fight, but we
managed to get the TV networks to pay the arena rights
to the samba schools. At the time I managed to get 33%
to help the samba schools put on a better carnival. Today
LIESA receives 51%, a big improvement. But I managed to
get 33% at the time. Before that it was zero. It was almost
impossible to put on a good show. Without the effort of some
people, including from the community, it would have been
impossible to produce the spectacular show we do today!
www.beija-flor.com.br
Today you can pay something to the master of ceremonies
and the standard bearer. You can pay something to the
comissão de frente (lead dancers), to the bateria (percussion unit). So, today the samba schools have the money to
put on a show that is transmitted all over the world and
attracts tourists from many countries,” says Anízio.
But Anízio’s efforts in support of samba weren’t limited to
his actions as president of LIESA. According to Elmo José
dos Santos, past president of Mangueira and current director
of LIESA, “the recognition the samba schools enjoy today
owes a lot to Anízio. Because in reality the authorities didn’t
respect the sambistas. And Anísio always said: ‘I didn’t come
here to sell a coon show; I came here to sell an art form.’
And this was the starting point of the valorization of samba,
it ended the old practice of asking for donations from local
businesses. It ended the old practice of the samba schools
putting on their parades on a shoestring. And I can attest
to this, because when I became president of Mangueira, it
had debts adding to a half million reais. Stores wouldn’t sell
me a nail, not a single nail. To give you an idea, Mangueira
had 20 chairs! Anízio arrived and said: ‘Elmo, what do you
need?’ Anízio gave me credit, I mean, he was my guarantor
so the stores would resume selling to Mangueira, because I
had to put on a carnival show. How could I do this without
even having a sound system, without anything? And besides
this, Anízio sent me a woodworker, a metalworker, one of
his best craftsmen, Torim, who is still working on carnival
today. And I managed to rebuild our dear Estação Primeira
de Mangueira. I only have Our Father in Heaven and Anísio
to thank. He never left me out in the cold. He helped me in
every way to resurrect Mangueira. And within three years,
Mangueira was back on its own two feet. And Anísio never
let the dispute on the avenue interfere in his decision. I recall one thing he said: ‘Elmo, treat everyone with love and
respect. Don’t look down on anyone. I think you have a great
samba school and carnival needs a strong Mangueira.’ So, I
can only thank Anísio. He was my godfather, my father, my
brother. He’s one of my carnival idols,” he concludes.
RECOGNITION BY IPHAN
While the conquests of this musical genre are the result
of the considerable efforts of composers and performers,
and of the communicators and media outlets that gave
exposure to their works, the Brazilian Cultural Heritage
designation granted by IPHAN certainly has created new
possibilities, not only for this Carioca art, but for Brazilian
culture in general.
This recognition provides more opportunities for sambistas
and other members of this social segment to carry out actions with government support to protect and promote this
important heritage.
Fevereiro 2010
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O AMIGO DO SAMBA
Ricardo Da Fonseca – Hoje o samba
está nas ruas: na Lapa, Zona Sul, baixada
fluminense. E em todo o mundo. Houve,
no entanto, uma época na qual o samba
não era valorizado. Como era a vida do
sambista no passado?
Anizio Abrão David – Durante muitos
anos, a vida do sambista não era fácil. Ele
não podia sobreviver com dignidade, nem
sustentar sua família com o samba. Ele
passava era fome e morava mal. Quando
conseguia alguma coisa, como ganhar um
samba para carnaval ou ter uma cantora
de sucesso gravando uma composição sua
em um disco, não recebia quase nada.
Ricardo Da Fonseca – Muitas pessoas que
viveram nessa época dizem que você é o
grande amigo do samba. Por quê?
Anizio Abrão David – Eu acredito que seja porque, quando
pude, fiz alguma coisa pelos sambistas e pelo samba. Quando
fui presidente da Liesa, já assumi brigando com a ECAD (órgão
responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das obras musicais) porque para mim eles não tinham
direito a intermediar o pagamento dos sambistas. E fomos
para a briga, fomos à Justiça e ganhamos! Nessa época os
compositores e seus herdeiros suavam a camisa para receber
o dinheirinho que tinham direito! Você imagina que naquela
época, com inflação de até 70%, o que era para ser recebido
em fevereiro só era pago em setembro. O que recebiam não
dava para nada! E a maioria dos compositores naquela época
não sabia nem como assinar um documento para receber
seu dinheiro. Então, chegavam lá, assinavam qualquer papel
e levavam o que lhes dessem. Hoje não. Hoje o compositor
recebe valores mais justos e diretamente da Liesa, e sabe
antecipadamente quanto que tem direito a receber.
Ricardo Da Fonseca – Tudo o que você falou está relacionado aos sambas-enredo. Mas existem sambistas que
não disputavam sambas-enredo. Como era a vida desses
sambistas... Inclusive os sambistas da baixada fluminense?
Anizio Abrão David – A vida deles também era muito
difícil. O sambista no Brasil nunca teve nada. Se a gente
não ajudasse, acho que nem samba tinha mais no Rio de
Janeiro e no Brasil afora, porque o sambista sempre passou
necessidade. Você tinha que ajudar um pouquinho para ele
ter ânimo de continuar no samba.
36
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Ricardo Da Fonseca – Mas como
você ajudava esses sambistas?
Anizio Abrão David – Eu patrocinei
a gravação em estúdio e a impressão
de discos (LPs) de diversos sambistas que vinham me procurar. Se
você não bancasse, eles não teriam
como gravar. Não havia de onde
eles tirarem dinheiro para custear
essa produção. Não existiam leis do
governo para incentivar empresas
a patrocinar esses discos... Então as
empresas não patrocinavam cultura.
Você tinha que bancar um LP para
eles. Nessa época era muito comum
o “livro de ouro”, que era passado
pelos sambistas para conseguir
Anizio e Jamelão.
um dinheirinho. Lembro-me que o
Cabana, nosso querido compositor,
fez um samba - usando a ideia do samba do crioulo doido
- que falava assim:
“Nem todo crioulo é doido.
Nem todo crioulo é doido.
Presta atenção pessoal
O crioulo só endoida
quando chega o carnaval.
Quando chega o carnaval
O crioulo sai,
com o livro de ouro na mão
passa o dia inteiro,
sem arranjar um tostão.”...
Ricardo Da Fonseca – Como você se sente sabendo que fez
muitas coisas importantes para o sambista e o samba?
Anizio Abrão David – Sinceramente, quem me conhece
sabe que não fiz nada que não fosse motivado pelo meu
desejo sincero de ajudar. Papai do céu sempre me deu muito
e seria natural que eu fizesse alguma coisa pelas pessoas
que precisam. Se fico feliz de ver hoje que ajudei muitos
homens a poderem sustentar seus filhos, colocá-los em
uma boa escola, comprar um bom presente para a mulher,
ter uma casa boa para morar? Sim, eu fico feliz. Mas quem
não ficaria?
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Fevereiro 2010
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SERÁ O FIM
DA ALA DE BAIANAS?
FELIPE FERREIRA
Um dos momentos mais sublimes do desfile de uma
escola de samba é a passagem da ala de baianas.
Aquelas lindas senhoras com suas grandes saias rodadas são verdadeiros reservatórios de emoção e
amor capazes de dar legitimidade a qualquer agremiação. Uma escola de samba sem ala de baianas
não é uma escola de samba. Fica-lhe faltando a
alma, a essência, a raiz e a verdade.
Presentes desde os primeiros momentos das escolas, as baianas têm passado, durante todos estes
anos, por muitas modificações, tanto em suas fantasias quanto na forma como se apresentam. Inicialmente desfilando em filas laterais, passaram a se
reunir em grupos cada vez maiores formando verdadeiras massas de grande destaque nos desfiles.
Sua musicalidade sempre foi louvada como uma expressão fundamental da alma brasileira, ecoando os
cantos negros, os sons do interior do país e a essência musical popular. Em seus movimentos de braços
e giros acumulavam-se devoções, procissões, cultos
africanos, católicos, cortejos e danças religiosas traduzidas em apresentações únicas, soberbas, sempre
louvadas pela intelectualidade e aplaudidas pelo público mesmerizado por uma “coreografia” popular e
espontânea. Sua fantasia – baseada nas indumentárias tradicionais das baianas quituteiras que ocupavam as ruas do Rio de Janeiro desde finais do século
XVIII – reunia itens tradicionais – como os panos da
costa, os torsos, as saias rodadas e o balangandãs
– a elementos singelos – como cestinhas de flores,
pequenas bandeiras, aviões de plástico, réplicas de
planetas – que ajudavam a contar o “enredo” apresentado pela escolas. Em suma, os grupos de baianas eram como verdadeiros traços de união entre
Vó Nadyr (a mais antiga baiana em atividade da Beija-Flor de Nilópolis), Felipe Ferreira (pesquisador de cultura brasileira) e Laíla (diretor de Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis)
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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a tradição mais profunda e a modernidade
velhas senhoras
possível das escolas de samba na expressão
que guardam,
mais popular de seus primeiros anos.
em seus moviAs modificações por que passaram os desfimentos e em
les – crescendo em importância e tamanho e
seu cantar, boa
transformando-se na principal expressão do
parte da história
carnaval brasileiro na década de 60 – tiveram
e da memória
reflexos na ala de baianas que cresceu em
das escolas de
tamanho, em organização e em imponência.
samba.
Pouco a pouco, suas indumentárias tornaA pergunta que
vam-se iguais em cada detalhe, impedindo
fizemos no títuque cada baiana utilizasse suas pulseiras e
lo deste artigo
colares pessoais. As fantasias ampliavammarca,
desse
se com a incorporação dos grandes aros
modo, uma predos miniaques (em substituição às antigas
ocupação, cada
anáguas engomadas) capazes de sustentar
vez mais presaias cada vez mais rodadas e decoradas.
sente, daqueles
Permaneciam, entretanto, as peculiaridades
que
amamos
das baianas de cada escola, representadas,
os desfiles das
principalmente pelos gestos e movimentos
escolas. Como
de sua dança, nos quais, um olhar atento,
equilibrar a neainda podia perceber ecos de um passado Vó Nadyr, em Desfile pela agremiação de Nilópolis (dé- cessidade
de
cada de 70)
não tão remoto.
engrandecimenEntretanto, a transformação dos desfiles
to do espetáculo
em espetáculos audiovisuais, no final do século XX, com a preservação do sentido mais profundo de uma
iria encontrar na ala de baianas uma espécie de de- ala tão representativa de uma escola de samba? O
safio. Como adaptar aquele grupo de senhoras às caminho da grandiosidade parece ter chegado a um
necessidades de um espetáculo que se queria cada beco sem saída na medida em que força o afastavez mais grandioso e internacional? Como traduzir mento exatamente daquelas senhoras que mais
a respeitabilidade e a importância daquela ala sem amamos ver desfilar e das quais nenhuma escola
perturbar a unidade de um desfile cada vez mais im- pode prescindir. Outras soluções precisam ser desponente?
cobertas pela criatividade e engenhosidade de nosA “solução” encontrada foi a valorização visual da sos carnavalescos. Novas regulamentações talvez
ala, ampliando suas fantasias – que adquiriam rodas possam ser pensadas no sentido de limitar tamanho
cada vez mais gigantescas – incorporando esplendo- e peso das fantasias. Soluções inesperadas podem
res, golas, adereços de mão e decorações suntuosas sair do diálogo entre a inovação dos criadores e a
associados a temáticas que a afastavam cada vez sabedoria das próprias baianas. As possibilidades
mais da baiana tradicional. O sucesso deste novo são muitas. O importante é percebermos a tempo
formato, entretanto, vem cobrando seu preço às es- que um caminho diferente precisa ser descoberto
colas. O deslumbrante visual das grandes fantasias com urgência. Com isto, poderemos ter a certeza de
criou a necessidade de um desfile cada vez mais or- que, ao contrário do que poderíamos temer, estareganizado, em filas e colunas, e com lugares prede- mos presenciando o renascimento da ala que reúne
terminados para cada baiana. A grandiosidade das e representa tudo que mais amamos no carnaval das
indumentárias passou a impedir os movimentos es- escolas de samba: nossas “mães” baianas.
pontâneos individuais, que se transformaram em coreografias ensaiadas nas quais todas as baianas só
podem girar num determinado momento e para um ______________
mesmo lado, por exemplo. Além disso, o peso exces- Felipe Ferreira é professor do Instituto de Artes da
sivo das fantasias, que chegam a atingir mais de 30 Uerj, coordenador do Centro de Referência do Carquilos, acaba por afastar aquelas que deveriam ser naval e Membro do Estandarte de Ouro de O Globo.
as mais importantes personagens do desfile, as mais
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BRASÍLIA
uma jovem senhora
com muita história para contar
DÉBORA ZAMPIER
Amada ou odiada, Brasília só não desperta um sentimento: indiferença. A cidade, que completa 50
anos no próximo dia 21 de abril, foi concebida com
o objetivo de chamar atenção para uma região até
então esquecida do interior do país. E cumpriu sua
missão: desde os primeiros discursos apaixonados
sobre sua criação até a imponência política e econômica ostentada atualmente, Brasília rompeu com
o Brasil costumeiro. Um rompimento salutar na definição de nossa própria identidade, embora, parafraseando Caetano Veloso, muitos narcisos ainda
achem feio o que não é espelho e ainda torçam o
nariz para a capital federal.
Brasília já habitava mentes e corações muito antes de existir no papel. Foi em 1893 que se pensou
criar uma cidade longe do abarrotado litoral, ideia
passada para o Pequeno Atlas do Brasil em 1922.
A região era conhecida como Quadrilátero Cruls,
referência ao grupo do astrônomo belga Luiz Cruls,
que liderou a Comissão Exploradora do Planalto
Central entre 1892 e 1893. Já em 1927, um documento registrado em um cartório de Planaltina,
hoje cidade-satélite do Distrito Federal, mostrava
os primeiros traços simples e despojados pelos
quais a nova capital seria conhecida.
Seria ingênuo imaginar que Brasília surgiu por meio
de uma vocação natural, muitas vezes respaldada
em argumentos que sugerem o sobrenatural, como
o sonho de Dom Bosco. Entretanto, não há brasiliense que desconheça a passagem referente ao
padre italiano Giovani Bosco, que falava sobre um
“leito muito largo, que partia de um ponto onde se
formava um lago, situado entre os paralelos 15 e 20
graus de latitude sul”, uma “terra prometida, donde
correrá leite e mel”. O devaneio onírico é datado de
40
Revista Beija-Flor de Nilópolis
meados do século XIX e Bosco jamais havia visitado a região.
Apesar da importância histórica, Bosco e Cruls
chegam a ser coadjuvantes se comparados a um
nome definitivo para o surgimento da nova capital:
Juscelino Kubitschek. JK e Brasília são quase sinônimos, em uma anomalia sintática que aproxima
criador e criatura. Antes de chegar à presidência, o
político mineiro já havia se destacado no Executivo
como prefeito de Belo Horizonte e governador de
Minas Gerais. Como presidente, fez de Brasília a
meta-síntese de seu governo. A cidade no coração
do Brasil atenderia vários propósitos e marcaria
tanto a trajetória de JK quanto o destino do país.
O momento histórico do surgimento de Brasília era
de extrema falta de governabilidade no Rio de Janeiro devido a pressões político-militares. A gravidade assustava a ponto de JK se imaginar deposto
antes de seu mandato terminar. Era preciso pensar
em uma saída estratégica. A solução vinha de uma
tese que surgiu um século antes, defendida sucessivamente por várias gerações: o desbravamento
do “sertão” brasileiro para levar desenvolvimento
e integração ao Brasil. A ideia era substituir o bandeirante passageiro pelo pioneiro perene, conforme
defendido pelo próprio JK em seu livro de memórias Por que construí Brasília.
Foi assim que JK e seus aliados lutaram pela transferência da capital na Câmara dos Deputados ainda
na década de 40, conquistando a aprovação do projeto de lei para a construção de cidade em meados
de 1956. Segundo historiadores, a casa só aprovou
a matéria por acreditar que Juscelino não conseguiria cumprir o prazo, o que resultaria na cova política
do presidente visionário. Para surpresa geral, até
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calçadas e esquinas, causando tanto estranhamento aos visitantes. Se ainda hoje Brasília surpreende
por ser “diferente”, imagine o impacto que causou
há 50 anos. O impacto também foi financeiro: a
construção da cidade consumiu nada menos que
1,5 bilhões de dólares – cerca de 19,5 bilhões com
correção monetária atual - coincidindo com a explosão da inflação e da dívida externa do país.
Relatos veiculados nos principais jornais da época
- um deles do ilustre dramaturgo Nelson Rodrigues
para o Última Hora - mostravam ao Brasil que a
nova capital era ao mesmo tempo possível, mas
irreal. Em quatro anos, foram erguidos Congresso
Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal
Federal, onze edifícios ministeriais e Palácio da
no uso dos materiais. O aço ganhou destaque pela
facilidade com que dava forma aos prédios imaginados por Niemeyer, além de possibilitar ousadias,
a exemplo das colunas da entrada do Alvorada, “leves como penas pousando no chão”, segundo as
palavras do próprio arquiteto.
Nome injustamente esquecido pelos menos avisados, o urbanista Lúcio Costa deu a forma de
“avião” a Brasília. É dele o projeto que acumula poder na área central, espalha residências entre asas,
amplia o horizonte com a abolição de arranha-céus,
divide a cidade por setores temáticos e a despe de
Alvorada. Seus habitantes já disporiam de serviço
de eletricidade, de água e de esgoto; mais de 3000
moradias; hospital público com 500 leitos; escolas
e estação rodoviária. Sua estreia atraiu entre 150
mil e 250 mil visitantes, inclusive aqueles que torciam o nariz para o sucesso do empreendimento de
JK.
Um ditado diz que os pioneiros que ergueram a cidade trabalhavam 36 horas por dia: 12 horas durante
o dia, 12 a noite e 12 pelo entusiasmo. Entretanto, esses mesmos pioneiros, que chegaram a dar a
vida pela conclusão da urbe, foram excluídos de seu
Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins
mesmo dos oposicionistas mais ferrenhos, Brasília
foi erguida em quatro anos, um verdadeiro oásis em
meio ao cerrado praticamente intocado.
Mais uma vez criador e criatura se aproximam.
Desta vez, a referência está nos prédios e na arquitetura da cidade que reluz de tão nova. Impossível
falar de Brasília e não lembrar do arquiteto Oscar
Niemeyer, responsável por obras de fama e reconhecimento mundial, como o Congresso Nacional
e o Palácio da Alvorada. A ideia era que a cidade
parecesse moderna mesmo sem estar completa ou
densamente povoada.
O objetivo foi atingido com o uso de traços que desafiavam os padrões vigentes, resultando em inovações na concepção das estruturas e na proporção
Fevereiro 2010
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Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins
convívio. Acabaram levados para as cidades-satélites, uma vez que não se encaixavam no modo de
vida moderno e requintado exigido pela Brasília que
acabaram de conceber com as próprias mãos. Hoje
há um bolsão de pobreza que cerca o Plano Piloto e
lagos Sul e Norte. Seus habitantes vivem das sobras
da pujança financeira das áreas mais ricas.
No início, a nova capital causou ciumeira generalizada na cidade que a abrigou por tantos anos: o Rio
de Janeiro. Os cariocas sabiam que uma perda irreversível se abatia sob a Cidade Maravilhosa, embora muitos tenham comprado o discurso desenvolvimentista de JK, acreditando que a transferência da
capital seria benéfica para o Brasil. Ainda assim,
a doce vida à beira mar dos funcionários públicos
federais seria trocada pelo calor seco revestido de
poeira do cerrado, que cobria de tons amarronzados a fina vestimenta de seus novos e ilustres habitantes.
Apesar do esforço hercúleo para disponibilizar de
recursos de infraestrutura e lazer, a cidade ainda
estava a milhas do desenvolvimento urbano de sua
antecessora fluminense. Os poucos hotéis e restaurantes ficavam lotados, faltavam artigos básicos, como cabides e travesseiros, que chegavam
às pressas de avião. As pessoas reclamavam da
falta do que fazer e do enorme silêncio e solidão
que pairavam sob o Planalto Central após o frenesi
da inauguração. Essa sensação atingiu até mesmo
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
a escritora Clarice Lispector, que, em uma crônica
publicada em 1962, clamou: “Cadê as girafas de
Brasília? É urgente. Se não for povoada, ou melhor, superpovoada, uma outra coisa vai habitá-la. E
se acontecer, será tarde demais: não haverá lugar
para pessoas”.
Para alívio dos solitários, as pessoas começaram
a chegar. A cidade foi sendo ocupada por burocratas que chegavam para assumir seus postos no
funcionalismo público, trazendo família e o estilo
de vida da classe média e média alta. Moravam
nos prédios de seis andares, todos iguais ao molde de grandes pombais; mas as ruas, essas continuavam vazias. As enormes distâncias impediam
a locomoção a pé (como ainda fazem hoje), e os
pontos de encontro possíveis eram restaurantes,
clubes ou salas de cinema. Pessoas vinham de
todo o país em busca de trabalho e de enriquecimento, ninguém estava ali para brincadeira. Daí
a fama de “formal” que até hoje caracteriza a
cidade e seus ocupantes.
Tanta formalidade acabou criando um movimento
diametralmente oposto na década de 80: o rock
brasiliense. Filhos de pais abastados começaram
a se revoltar contra uma vida boa demais, que não
dava brechas para contestação. Surgiram bandas
como Capital Inicial, Plebe Rude, Detrito Federal,
e a mais famosa expoente do movimento, Legião
Urbana. O poeta Renato Russo conseguiu sintetizar em suas músicas o pensamento dos jovens
que já estavam “cheios de se sentirem vazios”,
como diz a letra de Baader-Meinhof Blues. Acabou extrapolando os limites do Plano Piloto e arrebatando toda uma geração, que passou a olhar
a pulsante capital federal com curiosidade e inquietação.
Os escândalos políticos, a farra com o dinheiro
público, os altos salários e uma geração criada sem
muitos limites financeiros e éticos acabaram mostrando um lado repulsivo da cidade, dando a falsa
impressão que na ilha da fantasia tudo pode. Mas
Brasília é muito mais que um estereótipo, habitada
e impulsionada por milhares de pessoas de bem.
De fato, está mais para um Brasil em miniatura,
com suas maravilhas e seus problemas. Também
está longe de não ter uma identidade, embora essa
seja a avaliação de nove entre dez observadores.
Assim como nosso país, que se caracteriza pela
união e mescla de vários povos e culturas nos últimos cinco séculos, a identidade de Brasília está no
mosaico de cada pedacinho do Brasil reunido aqui
nas últimas cinco décadas. E como ele, avança para
um futuro promissor.
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Foto: Luiz Trazzi
Brasília está comemorando 50 anos. E nada melhor que uma cidade em festa para receber o
seu evento. O Centro de Convenções Ulysses Guimarães, localizado no centro da capital, conta
com infraestrutura completa e capacidade para mais de nove mil pessoas. Além disso, você
também vai se surpreender com os monumentos do arquiteto Oscar Niemeyer e com as obras
de renomados artistas brasileiros que fizeram da capital Patrimônio Cultural da Humanidade.
Brasília é muito mais do que você imagina.
CENTRO DE CONVENÇÕES
ULYSSES GUIMARÃES – BRASÍLIA
NO CENTRO DAS ATENÇÕES,
ASSIM COMO O SEU EVENTO.
Foto: Aparecido Pinto
Foto: Luiz Trazzi
Foto: Luiz Trazzi
Para mais informações, ligue 61 3214-2756.
Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Monumental como Brasília.
[email protected]
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CARNAVAL 2010
Recriando
a capital federal
Empenhada em conquistar mais um título de campeã do carnaval carioca – o sexto nesse
novo século –, a Beija-Flor de Nilópolis apresentará ao público o enredo “Brilhante ao sol do
novo mundo, Brasília: do sonho a realidade, a capital da esperança”.
Esse sonho teve início quando a Comissão multidisciplinar do governo do Distrito Federal,
responsável pelo planejamento dos diversos eventos que serão realizados em 2010 em comemoração aos 50 anos da Capital Federal, decidiu incluir nos festejos a participação de
uma escola de samba do Rio de Janeiro homenageando a data.
Depois de muita negociação, a Comissão do GDF (Governo do Distrito Federal), em parceria
com a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), definiu que estariam habilitadas
para essa iniciativa as cinco primeiras colocadas no ranking da Liesa.
O resultado foi o melhor para Brasília: a escola nº 1 do ranking ficou com a responsabilidade
de levar para a avenida um desfile à altura dessa que é a maior obra arquitetônica e administrativa planejada do século 20.
THAÍS MEDEIROS
Iluminando o carnaval carioca com grandes shows
de criatividade e elegância, a Beija-Flor de Nilópolis prepara para 2010 um desfile cheio de surpresas
e emoções que promete despertar em seu público
sonhos e paixões. Com esse enredo, a azul e branco de Nilópolis tem como principal objetivo apresentar uma Brasília diferente do que conhecemos,
desmistificando a associação da cidade à política
do país.
O enredo é uma comemoração à Capital Federal
que fora sonhada já por Tiradentes na época da Inconfidência e tornada realidade por Juscelino Kubitschek anos mais tarde, através do trabalho árduo
dos candangos, aqueles que partiram de diferentes
partes do país rumo a Brasília para a construção
da terra idealizada, criando a grande miscigenação
que há hoje na cidade e que fez dela uma região de
grande mistura racial e cultural.
De olho no título, a Beija-Flor de Nilópolis prepara para a avenida um desfile diferente de tudo que
já foi feito pela escola. Para isso, ela conta com o
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
talento de sua competente comissão de carnavalescos, formada por Alexandre Louzada, Ubiratan
Silva, Fran Sérgio e pelo diretor geral de carnaval
da agremiação, Laíla, que juntos desafiaram a lógica popular, pensando numa nova forma de se apresentar Brasília. “Eu procurei traçar uma história
que iria além das expectativas de todos, ou seja,
falar um pouco da pré-história de Brasília, falar de
todas as coincidências, as inspirações que levaram
as cabeças que pensaram no projeto da cidade e
na sua realização, e que ela é um resultado dessas
suposições ou dessas inspirações, que remontam
até 3.000 anos antes de cristo”, conta Louzada.
ESTUDANDO O CAMINHO PERCORRIDO
É inegável que a Beija-Flor de Nilópolis tem se tornado cada vez mais exuberante na avenida; daí o
apelido de “princesinha da passarela”. Mas para
manter esta fama é necessário muito trabalho duro
e muita dedicação também, já que não é qualquer
uma que consegue se manter como a escola número um no ranking da Liesa, posição mais do que
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merecida, já que nos últimos sete carnavais ela foi
campeã por cinco vezes.
Neste sentido, o primeiro grande desafio da agremiação de Nilópolis para o carnaval de 2010 será
superar a si mesma. Para alcançar esse objetivo
a escola está empenhada em corrigir seus erros,
a fim de atingir algo o mais próximo da perfeição.
“Estamos investindo em vários pontos que a escola
falhou no carnaval 2009. Nós verificamos a justificativa dos jurados, e vimos o que era coerente e o
que não era, o que a gente achava que eles estavam certos, e o que não concordávamos. Achamos
realmente que havíamos errado em alguns pontos,
os quais nesse ano buscamos aprimorar e corrigir,
para que não cometêssemos os mesmos erros que
cometemos no carnaval de 2009.”, relata Ubiratan
Silva, o Bira.
Por essa razão, a participação do Laíla na direção
de carnaval da escola para esse desfile foi e é muito
mais efetiva, e tem que ser destacada. Esse é um
carnaval que o Laíla está dirigindo minuciosamente, verificando cada detalhe, discutindo cada ponto,
sendo muito exigente com ele mesmo e com todos
os integrantes da comissão de carnavalescos e do
Barracão, para que cada um realize o melhor.
Segundo Fran Sérgio, a direção e os componentes
da agremiação de Nilópolis são muito exigentes uns
com os outros, no bom sentido. “Temos um respeitável histórico como campeões do carnaval carioca.
Respeitando nossas coirmãs, sabemos que podemos vencer sempre, se nos preparamos bem para
isso. Temos uma grande experiência, boas ideias,
bons sambas, ótimos profissionais e muito, muito
coração. Todos nós temos uma autocrítica muito
grande, e é isso que torna a nossa escola cada vez
melhor, cada ano mais bonita. E o envolvimento e
as orientações do Laíla são essenciais nesse processo, porque despertam em cada componente o
desejo de realizar seu trabalho da melhor maneira,
buscando o melhor de si”, revela.
O resultado disso nos bastidores da azul e branco
é um clima bastante harmônico, e de muito ensaio
também. Além da correção dos erros identificados,
a escola está investindo em grandes surpresas.
Segundo Alexandre Louzada, “a Beija-Flor de Nilópolis sempre prepara surpresas para a avenida.
Nada assim de muito tecnológico não. Queremos
surpreender pela própria riqueza desse enredo, que
a primeira vista pode parecer banal, uma simples
homenagem, um enredo puramente patrocinado,
mais é uma história muito bonita para ser contada. Uma das surpresas pode acontecer nos teatros
que o Hilton Castro fará no chão. Mas a grande
surpresa, do meu ponto de vista, será a realização
de um carnaval totalmente diferente do que foi preparado até hoje. Bastante diferente, porque o Laíla
não quer nada parecido com algo que já tenha sido
feito. Acho que a grande surpresa é essa mudança:
as fantasias mais leves, os carros mais trabalhados,
porque nós estamos falando de algumas obras de
arquitetura mundialmente conhecidas, e temos que
respeitar esse traço, o traço de Oscar Niemeyer;
Alexandre Louzada, Laíla, Bira e Fran-Sérgio, integrantes da
Comissão de Carnavalescos da agremiação.
Fevereiro 2010
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isso tem que ser colocado
de uma forma bastante
correta, porque ele é um
dos ícones da arquitetura
mundial”, conclui.
E não dá para contar a
história da capital da esperança sem lembrar desses grandes nomes que
estão envolvidos, de forma direta ou indireta, em
sua construção, nomes de
grande importância não só
para a construção de Brasília como também para a
construção do Brasil: Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, autores do projeto do
Plano Piloto.
Mas para fugir dos padrões esperados, foram feitas muitas pesquisas para se achar o caminho de
como se fazer um desfile à altura da tradição da
Beija-Flor de Nilópolis e da importância de Brasília.
Assim, colocando para fora toda a sua experiência
e competência, a agremiação conseguiu desenvolver o enredo de uma maneira que foge totalmente
do que as pessoas costumam pensar a respeito da
Capital Federal. A azul e branco levará para a avenida uma cidade planejada, uma verdadeira obra de
arte arquitetada pelo homem, localizada no centro
de nosso país, e que é hoje um Patrimônio da Humanidade e também nossa Capital Federal. O in-
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
tuito é despertar no povo o
carinho e respeito por esta
metrópole.
Por fim, a escola conta ainda com o apoio da comunidade, sua marca registrada, para dar um toque
a mais no seu desfile, abrilhantando sua apresentação, fazendo com que seu
enredo ecoe como uma
melodia suave aos ouvidos
do público. Segundo Laíla,
esse é na verdade o grande
trunfo da Beija-Flor de Nilópolis: “temos uma comunidade muito forte, e isso
está servindo de exemplo
para muitas escolas. O futuro das escolas de samba será com comunidades,
porque se não acaba.”
Com todos esses ingredientes, podemos esperar
para 2010 um desfile com muita garra, emoção,
alegria e confiança na busca de mais um título de
campeã, mostrando mais uma vez ao seu público
que a Beija-Flor de Nilópolis é uma escola que vai
à luta e que não desiste de seus objetivos. “As expectativas são as melhores. Acho que a escola vem
mais forte do que nunca, o espírito dela é de união,
um espírito que tem tudo para dar certo. Nós vamos fazer um belo carnaval... Beija-Flor 2010 campeã”, encerra Anizio Abrão David.
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CARNIVAL 2010
BRASÍLIA
Recreating the Capital
Committed to winning another Carioca carnival title – the sixth of this new century – Beija-Flor of Nilópolis will
present the theme “Shining in the New World Sun, Brasília: From dream to reality, the capital of hope”.
This dream started when the multidisciplinary committee of the Federal District government, responsible
for planning the various events that will be part of the commemorations of the 50th anniversary of Brazil’s
capital city, decided to include the participation of a carnival association, or samba school, from Rio de
Janeiro to mark the date.
After extensive negotiations, the government committee, in partnership with the Independent League of
Samba Schools (LEISA), decided that one of the top five samba schools in the LEISA ranking would be
eligible to make the construction of Brasília its carnival theme in 2010.
The result couldn’t have been better for Brasília: none other than Beja-Flor, the top-ranked school, accepted the challenge and will take to the avenue the theme of the greatest architectural and administrative
undertaking of the twentieth century.
To light up Carioca carnival with a truly creative and elegant
show, Beija-Flor’s parade in 2010 will be full of surprises
and emotions that promise to whip spectators into a frenzy
of dreams and passions. With this theme, the blue and
white crew from Nilópolis will present a Brasília different
than we know, demystifying the city’s association with the
country’s politics.
The theme is a commemoration of the federal capital that
was a dream even of Brazil’s independence movement hero
Tiradentes at the time of the Inconfidência uprising in the
eighteenth century, and that finally became reality under
President Juscelino Kubitscheck so many years later, through
the arduous work of the candangos, the laborers who came
from all over the country to build the idealized city, creating
as well the miscegenation that still marks the city today,
making it a great racial and cultural melting pot.
With its eye on another title, Beija-Flor has prepared a different parade from anything it has ever done. To do this, it
called on the multiple talents of its carnival committee, formed
of Alexandre Louzada, Ubiratan Silva, Fran Sérgio and the
group’s general director, Laila. Together their challenge was
to find a new way to present Brasília. “We tried to trace out
Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins
THAÍS MEDEIROS
Fevereiro 2010
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a history that goes beyond everyone’s expectations, that is,
to present something of the region’s prehistory, and then to
depict all the coincidences and inspirations that entered the
heads of those who idealized and built the city, and show that
today it is a result of these inspirations, in a history that goes
back 3,000 years before Christ,” says Louzada.
STUDYING THE PATH FOLLOWED
Beija-Flor has unquestionably been growing ever more
exuberant on the avenue, earning it the endearing nickname
of the “princess of the parade”, but to live up to this fame
takes plenty of hard work and dedication. After all, it’s no
mean feat to stay atop the LEISA ranking, an honor gained
for being champion in five of the past seven carnivals.
The first big challenge for the group from Nilópolis for the
2010 carnival will be to surpass its own past performances.
To achieve this, the school is focusing on its own errors, to
be as perfect as possible. “We’re investing to correct various
points where we fell short in last year’s carnival. We examined
the reasoning of the jury members and saw what was coherent and what wasn’t, where they were right and where we
disagreed. And we realized that we really had erred in some
aspects, and this year we intend to correct and improve these,
so we won’t make the same mistakes this year as we did in
2009,” states Ubiratan Silva, or Bira as he’s better known.
For this reason, this year Laila has been even more engaged
as carnival director and he deserves to be highlighted for this.
Laila has overseen the preparations for this year’s carnival
meticulously, checking every detail, discussing every point,
being more demanding of himself and all the other members
of the carnival committee and the work crew, so that each
can achieve his or her best.
According to Fran Sérgio, the leaders and the rest of the
group from Nilópolis are very demanding of each other, in
the positive sense of the word. “We have a notable history of
winning Carioca carnival championships. While respecting
our peers, we know we always have a chance of winning
if we prepare properly. We’ve got unmatched experience,
good ideas, good sambas, excellent staff and lots and lots
of heart. All of us are severe self-critics, and this is what
makes our school get better and more beautiful every year.
And Laíla’s involvement and guidance are essential in this
process, because they instill in each of us the desire to work
better, to do our best,” he reveals.
The result of this is a backstage climate of harmonious effort and dedicated rehearsal among the blue and white crew.
Besides correcting the errors identified, the group is investing
in big surprises. According to Alexandre Louzada, “Beija-Flor
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
always prepares surprises for the avenue. This doesn’t necessarily mean something high-tech. We want to surprise people
with the richness of this theme, which at first glance might
appear banal, a simple homage, a purely sponsored theme.
But there’s a beautiful story to be told. One of the surprises can
occur with the theaters that Hilton Castro will create on the
ground. But the big surprise, in my point of view, will be the
realization of a totally different carnival parade from anything
seen so far. Very different because Laila doesn’t want anything
like what’s been done before. I think the big surprise will be this
change: lighter costumes, more elaborate floats, because we’re
talking about architectural works that are world renowned,
and we have to respect what Oscar Niemeyer sketched out.
This has to be in the forefront and with no mistakes because
Brasília is one of the world’s architectural icons.”
And no story of this capital of hope would be complete
without remembering the great visionaries who were involved, directly or indirectly, in its construction, names of
great importance not only for Brasília’s construction, but
for Brazil’s as well, particularly Oscar Niemeyer and Lúcio
Costa, the creators of the Pilot Project.
But to surpass expectations, extensive research was done to
create a parade worthy of Beija-Flor’s great tradition and
Brasília’s huge importance. With all their experience and
skill, the staff members managed to develop parade motifs
and theme music that go beyond what people usually think
about the country’s capital. The blue and white will take to
the avenue a planned city, a veritable work of art, located
in our country’s heartland, recognized today as a World
Heritage Site, but also our working capital. The aim is to
impart love and respect for this metropolis.
And in this effort, the school as always counts on the support of the Nilópolis community, its trademark, to give that
extra boost to its parade. The public will see this difference
in a shining parade and hear it in a smooth and melodious
theme samba. According to Laila, this is Beija-Flor’s real
trump card: “We’ve got a really strong community, and this
is serving as an example to many other schools. The future
of samba schools rests with the communities, because they’ll
never cease being a wellspring of inspiration.”
With all these ingredients, Beija-Flor’s 2010 carnival parade
will be a truly joyous and emotional experience, based on the
hard work and confidence of everyone involved in seeking
one more in a long line of championships, showing once
again that Beija-Flor is a carnival group that faces its challenges and never deviates from its goals. “The expectations
are for the best. I think we’re stronger than we’ve ever been,
our spirit of working in harmony will assure that everything
goes right. We’re going to put on a beautiful carnival... BeijaFlor, 2010 champion,” predicts Anizio Abrão David.
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Brilhante ao Sol do
Novo Mundo
BRASÍLIA
Do Sonho à Realidade, a
Capital da Esperança
Fevereiro 2010
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ABERTURA
Dádivas
Concedidas
pelo Criador
num Sonho
Divinal
Ala: Comissão de
Frente
Presidente: Ghislaine Cavalcante
Número de Componentes: 15
O beija-flor, símbolo vivo
do G.R.E.S. Beija-Flor de
Nilópolis voa velozmente, ultrapassando as fronteiras do tempo,
materializando o vislumbre que apontava
para o local onde deveria ser construída a
futura capital do Brasil, então representada
por um de seus mais suntuosos monumentos, a
Catedral de Brasília.
O pequenino pássaro baila entre a legião de arautos que conduziram o espírito celestial que fez,
através de um sonho, a grande anunciação para o
padre Dom Bosco.
“... quando vierem explorar as riquezas prometidas
neste planalto, surgirá aqui a Grande Civilização, a
Terra Prometida, onde jorrará leite e mel...”
O Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial
vem se tornando, a cada ano, uma arena de arte
e competição. As agremiações, comprometidas
com resultados que as levem a brigar pelo título
de campeã, investem cada vez mais em inovação
e criatividade.
Na Beija-Flor de Nilópolis as surpresas já iniciam
no formato da comissão de frente, agora integrada
por rapazes mais jovens que nos anos anteriores
– uma média de 20 anos de idade. Segundo a core-
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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ógrafa Ghislaine Cavalcanti, “o enredo desse ano
é muito especial. Ele permitiu que concebêssemos
movimentos bem interessantes que, tenho certeza,
agradarão ao público. Esses movimentos, no entanto, vão exigir mais agilidade e dinâmica de cada
um deles, o que justificou a mudança na formação
da equipe. Para o carnaval de 2010, vamos entrar
na avenida com 14 homens – todos eles jovens – e
apenas uma mulher.”
Mas as surpresas não param por aí. Abusando de
um belo figurino, concebido especialmente pelo designer Henrique Filho, a comissão de frente promete empolgar o público do primeiro setor com muita
alegria, beleza e criatividade.
Criatividade que, aliás, é uma marca imposta
pela Coreógrafa Ghislaine Cavalcanti, que comemora com muita alegria 14 anos na direção da
comissão de frente da agremiação de Nilópolis.
“Quatorze anos é um tempo considerável dentro
de uma escola de samba. E o que me deixa muito
O Brilhante Olhar de Jaci
Ala: 1o Casal MS e PB
Presidente: Selmynha SorrisoZ & Claudinho
Número de Componentes: 2
Jaci (do Tupi îasy, “lua”), na mitologia Tupi, é a deusa da Lua, protetora dos amantes e da reprodução.
Segundo o Mito Goyás, uma versão indígena para
a formação geográfica da capital Brasília, por contrariar os desígnios do supremo Deus Tupã, a deusa
foi condenada a ficar eternamente no céu, sob a
forma de lua. O romântico brilho do luar tornou-se
seu único elo com Paranoá, através de seu reflexo
nas águas do lago Paranoá.
A Futura Capital Presencia
a Quimera de sua Geografia
Ala: Força Negra
Presidente: Alessandra Oliveira
Número de Componentes: 15
A Fascinante
Ira de Tupã
Ala: Primavera
Presidente: Aroldo Carlos
Número de Componentes:
100
Consoante o Mito Goyás,
Tupã, o Deus supremo,
fica irado e enciumado da
paixão de Jaci, a Deusa
Lua, pelo índio Paranoá e,
em meio à raios e trovões,
retira o encanto de Jaci, a
condenando a ser somente lua, e transformando
Paranoá em um lago..
Gislaine Cavalcanti.
feliz e realizada é saber que pude dar a minha
contribuição – pelo meu conhecimento e pela
minha experiência como bailarina – a essa escola de samba que tem como marca a vanguarda.
Acredito que ajudei a construir um capítulo dessa
história vitoriosa, que é a história da Beija-Flor
de Nilópolis. E isso me deixa muito realizada”,
confidencia a coreógrafa.
Alegoria Abre-Alas
“O Nascer do Mito Goyás
- O Reflexo do Amor nas
Águas do Paranoá”
Harmonia do Setor:
Anízio, Laíla & Marcos Aurélio
Fevereiro 2010
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SAGRAÇÃO NEGRA
NA SAPUCAÍ
Selminha e Claudinho celebram 15
anos de realeza na Deusa da Passarela
MIGUEL SANTA BRIGIDA
Dunga Tara Singuerê: Salve o grande Senhor! O verso
deste samba-enredo, herança da riqueza do imaginário africano diversas vezes cantado pela Beija-Flor de
Nilópolis, certamente formaria um emocionado coro
de canto e reza do país do carnaval em agradecimento e louvor a Selminha Sorriso e Claudinho, primeiro
casal de mestre-sala e porta-bandeira da azul e branco, cujo bailado nobre é signo de consagração ritualística de beleza, sedução, magia e religiosidade.
O moderno e luxuoso desfile das escolas de samba
do Rio de Janeiro, em sua complexa e apaixonante
unidade estética e dramática, entrou no terceiro milênio reafirmando a força das culturas populares brasileiras em intercorrência com as novas mídias, tecnologias e sua peculiar capacidade de atualização de
seu caráter ritualístico que o consagrou como o maior
espetáculo da terra dentre os diversos
eventos desta natureza no planeta.
É, sem dúvida, esse denso ritual de canto e dança herdado
de nossa mãe África, cujos
ancestrais
tambores
são
matrizes do espetáculo
do samba carioca
e m
forma
de
cortejo
dançado
que instaura
o sentido
d e
reencantamento
do
mundo contemporâneo.
Na diversidade de
modalidades
coreográficas revelada na
Sapucaí, encontramos a
singular dança do casal
mestre-sala e porta-bandeira, que concilia e sintetiza a um só tempo aspectos
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
das linguagens dramática, teatral, coreográfica e
performática, dentre outras, além dos códigos e
passos característicos desta dança que definem a
sua tradição. É no rico universo desses casais de
dançarinos, espécie de constelação de estrelas negras, que brilha de maneira especial e reluzente, há
quinze anos - o sorriso de Selminha e a alegria de
Claudinho - fazendo o céu nilopolitano iluminar de
azul e prata o nosso país.
Dançando juntos na escola há quinze anos, o casal se
consagrou com todas as honras e glórias que todos
os casais ambicionam: receberam notas máximas dos
jurados em quase todos os desfiles, diversos estandartes de ouro, além de uma infinidade de prêmios
que, a cada ano, enriquecem suas galerias sublinhando suas trajetórias de excelência coreográfica.
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Para além do domínio técnico e expressivo de sua
dança, que contempla de forma ilustre todas as responsabilidades, deveres e predicados que um primeiro casal requer, Selminha e Claudinho brindam
o país com momentos de rara beleza e poética ao
atravessarem com enorme arrebatamento e sentido ritualístico o mar de emoção e paixão que se
configura o rio-rito mágico da cena sapucainiana.
Num traço personalizado de suas criações, o casal
é responsável por suas próprias coreografias, numa
assinatura autoral de suas performances que a
cada enredo apresenta um vocabulário gestual em
consonância com o imaginário e contexto do tema
e do samba escolhido pela escola. Esta dança autoral é vital para a originalidade da cena coreográfica
do casal, que dispensa coreógrafos profissionais,
hábito cada vez mais comum nas grandes escolas e
que tem gerado alguns equívocos na compreensão
e realização desta dança.
Nesses anos de parceria no mundo do samba nasceu uma bonita amizade, construída com afeto e
respeito. Em sua generosidade de doação e beleza,
Selminha e Claudinho multiplicam-se em cumplicidade também em outra profissão, ao integrarem
o Corpo de Bombeiros, onde o casal faz de seus
gestos a delicada e corajosa arte de contribuir para
salvar vidas.
Mas é na passarela do samba que, ao dançarem
eles rezam, celebram, louvam, agradecem, seduzem e, sobretudo, enamoram-se. É quando Claudinho, simbolicamente alado, incorpora sua escola,
tornando-se um beija-flor encantado e seduzido
pelo belo sorriso e
beleza de
sua flor, Selminha.
Ele então a beija e a oferece ao mundo, brindando
mais uma vez o amor e
a vida.
É nesta contracena de
poesia que eles elevam nossas almas
pelo poder
mágico de
seus corpos em
estado de
amor
ao samba e a escola. Seus corpos aprenderam a
dançar nas escolas de samba, em suas vivências e
experiências de construírem juntos sua dança no
estar - junto com a comunidade e o no sentido da
experiência coletiva que o samba promove. Não
são corpos moldados em academias de dança, e
sim desenhados na cadência e ritmo do tambor. E
é sob o signo da paixão que sua dança revela uma
profunda sintonia espiritual, artística e espetacular.
E os deuses africanos os abençoam do alto do panteão, e tudo neles é sagrado.
Como legítimos filhos da deusa nilopolitana, o casal,
em sua iluminada trajetória no carnaval brasileiro,
avançou sua dança para outros espaços de transmissão de sua arte, sabedoria e respeito às escolas
de samba e à cultura brasileira. Eles sistematicamente ministram cursos no país inteiro e no exterior.
Selminha criou e coordena a escola de mestre-sala
e porta-bandeira da Beija-flor, devolvendo e comungando saber e sabedoria com a comunidade.
Ao comemorarem quinze anos conduzindo o pavilhão da escola, Selminha e Claudinho merecem
todas as homenagens da comunidade nilopolitana,
e em especial do país, que se reconhece na brasilidade de sua dança. E a deusa da passarela continuará abençoando o rei e a rainha de seus desfiles, ofertando ao mundo a força mítica, mística e
miscigenada de seu bailado. E assim, o samba e
os deuses permitirão que se diga então: “são eles
maravilhosos e soberanos enamorados desse meu
país.” Salve o Grande Senhor!
______________
Miguel Santa Brigida é doutor em Artes Cênicas e Pesquisador de Carnaval.
Fevereiro 2010
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SETOR 01
Deus Nekhebet – O Vôo do
Pássaro Sagrado e o Plano
Piloto
Ala: Karisma
Presidente: Cleber Moura
Número de Componentes: 70
Nekhebet, a Deusa-Abutre, é uma divindade da antiga religião egípcia. Deusa de todo o Alto Egito
e uma das protetoras da realeza egípcia, protegia
ainda os nascimentos, em especial o nascimento
dos reis. Era representada como um abutre, como
uma mulher com cabeça ou toucador em forma de
abutre, ou ainda como uma mulher com a coroa
branca do Alto Egito. Entre os epítetos utilizados
para se referir à deusa, encontram-se “Senhora
dos Céus” e “Regente das Duas Terras” (o Alto e
o Baixo Egito), daí ser considerada o elo entre os
dois Egitos.
Akhenaton - O Revolucionário Faraônico
Ala: Dos Cem
Presidente: Terezinha Simões
Número de Componentes: 70
Ala: Amar é Viver
Presidente: Teresinha Alves
O faraó Akhenaton, visionário, revolucionário e
idealista, fundou uma nova capital, batizada com o
seu nome – que significa “o horizonte de Aton”. O
faraó impulsionou o monoteísmo, instituindo o deus
Aton como a única divindade a ser cultuada, sendo
o próprio faraó o único representante e mediador
dessa divindade. A cidade de Akhenaton apresenta
muitas semelhanças com Brasília, no que diz respeito à construção e ao traçado da cidade.
Os Templos do Deus Sol e
as Cidades Satélites
Ala: Jovem Flu
Presidente: Sérgio Ayub
Número de Componentes: 70
O deus egípcio Aton, uma manifestação do deus
solar, era representado fisicamente pelo disco solar. Aton surgiu a partir do monte Benben, e iniciou
a criação do mundo. O faraó Akhenaton era devoto
de Aton, e mandou construir vários templos em
homenagem ao deus solar, além de ter criado um
hino e fundado a nova capital do Egito para celebrá-lo.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Nefertiti – A Beleza Feminina
Como Fonte de Inspiração
Ala: As Guerreiras
Presidente: Norma Pereira & Carlos Dantas
Número de Componentes: 70
Nefertiti, também chamada de Nefertiit ou Nefronete,
foi rainha do Egito. A união com Akhenaton fez com
que Nefertiti alcançasse um protagonismo político
sem antecedentes entre as esposas reais. Adepta
fervorosa do culto atoniano, desempenhava um papel
central nas concepções religiosas de Akhenaton. Seu
nome significa “a bela que chegou”.
Sumo Sacerdote - A Imponência da Arquitetura
Religiosa
Ala: Camaleão Dourado
Presidente: Waltemir Valle
Ala: Uni-Rio
Presidente: André Porfírio
Número de Componentes: 70
No Antigo Egito o rei ou faraó era o elo entre o mundo
dos homens e o mundo dos deuses. Como não era
possível o rei estar presente fisicamente em todos os
templos egípcios para celebrar os cultos, ele delegava o seu poder religioso aos sumos sacerdotes, que
conduziam as cerimônias em seu nome. Os Sumos
Sacerdotes eram os Servidores de Deus, que realizavam o culto diário representando o faraó. Tinham
enorme poder e prestígio, tanto espiritual como material, pois administravam as riquezas e os bens dos
grandes e ricos templos. Eram também os sábios do
Egito, guardadores dos segredos das ciências e dos
mistérios religiosos com seus inúmeros deuses.
A Divindade do Disco Solar
Ala: 1o Passista & Passista Destaque
Presidente: Cássio Dias & Jaqueline Faria
Número de Componentes: 2
Alegoria 01
“Akhetaton
Ergueu-se
no Egito a Fonte de Inspiração”
Harmonia do Setor:
Celso Bastos & Luis Cláudio
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SETOR 02
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A Subjugação dos Índios
Avás-Canoeiros
As Arrebatadas Minas de
Ouro dos Índios Goyazes
Ala: Foco de Luz
Presidente: Mariza dos Santos
Número de Componentes: 70
Os índios Avás-Canoeiros, também conhecidos
como Canoeiros, Carijós, Índios Negros ou CarasPretas, compõem uma tribo indígena brasileira, a
qual localiza-se na região Centro-Oeste e fala uma
língua da família Tupi-Guarani. As marchas dos
desbravadores na direção do interior do Planalto
Central, rasgando o coração da mata, principalmente em busca de riquezas minerais e indígenas
para escravização, ocasionaram um choque cultural
para as tribos indígenas que habitavam a região e a
subjugação dos Avás-Canoeiros.
Ala: Baianas I
Presidente: Pai Jorge
Número de Componentes: 110
Os índios Goyazes, também denominados Goiases,
Guayazes, Guaiás, Guoyá, Goyá ou Goiá povoaram
as terras da nascente do rio Vermelho e a região
próxima à Serra Dourada, sendo considerados a
tribo ou nação aborígine do Centro-Oeste. Acredita-se que os silvícolas Goyazes tenham se extinguido com a chegada do desbravador Anhangüera,
dizimados pelo violento embate com os sertanistas,
ávidos por riquezas, principalmente o ouro encontrado nas minas Goyazes durante o processo de
ocupação e exploração.
O Desrespeito aos Índios
Javaes
AS BAIANAS DA BEIJA-FLOR
Ala: Bem Querer
Presidente: Osvaldo Luiz Corrêa & Wanda Mercedes
Número de Componentes: 70
A tribo dos índios Javaes, um dos três subgrupos
em que se dividem os índios Karajá, está localizada na região Centro-Oeste. Este povo fala a língua Javaé/Iny, além do português. As marchas dos
desbravadores na direção do interior do Planalto
Central, rasgando o coração da mata, principalmente em busca de riquezas minerais e indígenas
para escravização, desrespeitaram os índios Javaes e ocasionaram um choque cultural para as tribos
indígenas que habitavam a região.
As baianas foram incluídas nos desfiles das escolas
de samba nos anos 30, como uma homenagem às
“tias baianas” que abrigavam sambistas em suas
casas, marginalizados e perseguidos que eram, na
época, pela prática desse gênero musical.
Essas senhoras, cozinheiras de mão cheia, confeitavam deliciosos quitutes, que vendiam pelas ruas
do Rio de Janeiro.
Com suas vestimentas características - saia rodada,
pano da costa, roupa rendada - e seus colares e pulseiras, elas foram se integrando ao cenário cotidiano
da cidade para ganharem, então, a atenção e o respeito das classes dominantes cariocas.
Era ao redor dos tabuleiros com seus quitutes que
elas estabeleciam seus contatos sociais mais amplos, criando laços e se estabelecendo definitivamente no cenário cultural carioca.
Muito respeitadas pela comunidade negra, as “tias baianas” em
sua comunidade exerciam a função de mãe-de-santo de candomblé e, por essa razão, participavam ativamente do cotidiano dos
cidadãos negros e suas famílias
- formada por homens e mulheres
vindos principalmente da Bahia.
As casas dessas “tias” eram, então, pontos de reunião e resistência da comunidade negra. Lá, além
dos rituais e cultos afro-brasileiros,
que fortaleciam suas raízes religiosas, eram realizados encontros re-
Revista Beija-Flor de Nilópolis
(RENATA LEAL)
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gados ao samba na sua expressão mais original.
E por ser uma festa popular que representava e fortalecia os simbolismos do cotidiano do subúrbio da
cidade da Rio de Janeiro, o Desfile de carnaval e seus
blocos naturalmente inseriu a baiana nesse universo.
Para o diretor de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, Laíla, as baianas sempre foram figuras representativas das suas escolas. “É a mãezona! A ala
de maior respeito no desfile de carnaval. Seja onde
for. E a Beija-Flor de Nilópolis tem um carinho todo
especial por suas avós e tias baianas. Neste ano,
serão 170 mulheres brilhando, e entre elas estarão senhoras de garra e tradição como a Vó Odete,
71 anos, a Vó Maria, 75 anos e a Vó Ana Nízia,
69 anos. E fazemos questão de ter essas senhoras em nossa Ala das Baianas: somos uma escola
de samba tradicional e por isso não abrimos mão
de termos na ala das baianas as verdadeiras vovós
baianas. Somos a agremiação que mantém senhoras de faixa etária mais elevada representando a
comunidade na Avenida”, declara Laíla.
Senhoras como a Vó Nadyr, 93 anos, que desfilando
desde os 19 anos na ala de baianas da Beija-Flor,
fazem parte da história de tradição da escola e também daquelas baianas que começaram a participar
do carnaval na década de 30. Vó Nadyr é a baiana
mais antiga da comunidade e só parou de desfilar
na Ala das Baianas há 5 anos. Ela carrega o ideal de
ser baiana no peito: “Eu tenho o maior orgulho de ter
sido baiana, e tenho certeza que a nossa ala é muito
importante para o carnaval e para as escolas”.
Mas ela não deixou os desfiles, apesar da idade.
Vó Nadyr não consegue mais carregar as fantasias
de baiana, e agora sai no carro alegórico, representando o respeito que a Beija-Flor de Nilópolis tem
por suas baianas e por sua tradição. “Eu tenho um
orgulho imenso de ter sido baiana e vou continuar
sempre com esse entusiasmo no meu coração”.
Vó Nadyr viveu a época em que a saia não tinha
bambolê para ficar tão rodada, e as baianas tinham
que colocar goma misturada com farinha de trigo e
depois estender ao sol para secar. “Eu espero ser
um estímulo para novas baianas e também uma
fonte inspiração”, diz Vó Nadyr.
O PESO DE UMA RESPONSABILIDADE
A ala das baianas não é quesito de julgamento do
desfile, mas é indispensável para o carnaval carioca. Elas são as mulheres de raça e tradição da Avenida. “É o coração da escola”, declara o líder das
baianas da Beija-Flor, Humberto Martins, o Beto.
A ala das baianas é uma unanimidade entre os re-
presentantes da escola. Alexandre Louzada afirma
que as baianas são o xodó de qualquer carnavalesco. “Eu tenho uma estima especial pelas baianas,
pelo que elas representam, pelo que a Vó Nadyr
representa para a escola.” Para Laíla, a Vó Nadyr,
baiana mais antiga, é “a mãe das baianas da BeijaFlor e vai ser eternamente”.
O Aprisionamento dos Índios Carajás
Ala: É Show
Presidente: Rosimere Ezequiel & Carlos Roberto
Número de Componentes: 70
Os índios Carajás, cuja vida social baseia-se na
família extensa, vivem tradicionalmente da agricultura, da caça de animais da região, e principalmente da pesca. As marchas dos desbravadores na
direção do interior do Planalto Central, rasgando
o coração da mata, principalmente em busca de
riquezas minerais e indígenas para aprisionar e escravizar, ocasionaram um choque cultural para as
tribos indígenas que habitavam a região.
Os Bandeirantes e a Escravização Indígena
Ala: Pura Raça
Presidente: Edson Reis
Número de Componentes: 70
Denominam-se bandeirantes os sertanistas que,
a partir do século XVI, penetraram nos sertões
brasileiros buscando encontrar riquezas minerais
(sobretudo a prata), indígenas para escravizar, e
exterminar quilombos. A maioria dos bandeirantes
era composta por índios (escravos e aliados), caboclos (mestiços de índio com branco) e alguns brancos, que eram os capitães. Os caboclos eram os
principais elementos do grupo, pois eram a ligação
direta entre o branco-colonizador e o nativo que
conhecia as terras.
Alegoria 02
“Anhanguera - O Desbravador Rasga o Coração da
Mata”
Harmonia do Setor:
Gilvan Ribeiro & Eduardo Sumaré
Fevereiro 2010
57
SETOR 03
O Afã de Ver um Novo Amanhã
Ala: Comigo Ninguém Pode
Presidente: Maria Ignêz
Número de Componentes: 70
Na época do Império, surgiu no Brasil o emprego de
acendedor de lampião. Cotidianamente, iam caminhando pelas ruas a parodiar o sol, associandose à lua e iluminando toda a cidade. Acendiam os
lampiões ao cair da noite, voltando para apagá-los
ao amanhecer do novo dia. Executavam a função
de modo poético e incansável, tendo sido retratados nas telas pitorescas do famoso desenhista e
pintor francês Jean-Baptiste Debret, artista cujas
obras são exímia importância para a retratação da
História do Brasil.
Ala: Força Total
Presidente: Hilton Castro
Com o objetivo de dar um equilíbrio ao desfile da
agremiação de Nilópolis, nesse ano uma das mais
esperadas alas – as teatrais, compostas por 680
integrantes e dirigidas por Hilton Castro – não se
apresentará nos primeiros setores.
Sucesso nos últimos desfiles devido às inovações que apresentaram na Avenida, as alas
teatrais
iniciam no setor 3 com
a
ala
“Tiradentes
– um mártir da
conjuração mineira”.
No entanto, a
grande inovação
– marca dos trabalhos de Hilton
Castro – poderá
ser vista na ala
dos candangos:
“Essa ala, para
mim, é uma ala
muito especial.
Ressalto, no entanto, que todas as
alas que dirijo e cada
componente que ensaio são especiais
e dignos de meu
afeto e admiração. São pessoas comuns, mas todas vitoriosas. Não necessariamente a vitória que se alardeia aos quatro cantos,
mas a vitória cotidiana, de autossuperação, de dedicação às suas crenças, de envolvimento em cada
detalhe da vida... Tenho muito orgulho de trabalhar
com essas pessoas, que me ensinam muito. Mas
como dizia, a ala dos candangos é muito especial
para mim – e acredito que será para o público – por
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Inconfidência Mineira
- Em Busca de uma
Nova Capital
Ala: Tom & Jerry
Presidente:
Rogério
Coutinho
Número
de
Componentes:
70
A Inconfidência
Mineira foi uma
tentativa de revolta
de natureza separatista,
desencadeada contra a
execução da derrama e o domínio
português, a qual foi abortada, pela Coroa portuguesa,
na então capitania de Minas
Gerais. Os inconfidentes,
patriotas da Conjuração Mineira, de 1789, pretendiam
instalar a capital do país na
cidade de São João Del Rey
/
MG, e alertavam sobre as vantagens de a capital
se localizar no interior do país.
Tiradentes - Um Mártir da
Conjuração Mineira
58
Número de Componentes: 56
Joaquim José da Silva Xavier, denominado Tiradentes, foi preso no Rio de Janeiro, acusado de
crime de rebelião e alta traição contra a Coroa, de
que se constituiu chefe e cabeça na capitania de
Minas Gerais. Após um longo período de interrogatório, foi julgado e condenado, assumindo toda a
culpa pela Conjuração. Tiradentes foi enforcado no
Largo do Lampadário, no Rio de Janeiro, no dia 21
de Abril de 1792. Dos Inconfidentes, é o único que
foi executado, o que serviu de exemplo. Seu corpo
foi esquartejado e os pedaços foram espalhados ao
longo da estrada que segue para Vila Rica.
diversas razões. A primeira é porque o assunto
“candango” já é envolvente: foram homens anônimos que dedicaram sua vida na construção dessa
monumental obra de arte e que não puderam usufruí-la. Apesar disso, orgulham-se do que fizeram. E
é essa a marca do cidadão brasileiro, trabalhador.
O que importa para ele é fazer parte da construção
– fazer parte da engrenagem que eleva o país ou a
sua cidade. A segunda razão é porque nessa ala estarei aplicando um conceito novo dentro do desfile
de carnaval: Será a primeira vez que uma única ala
se apresentará com figurinos e performances diferentes. Isso porque a ala será subdividida em cenas,
cada uma com o seu figurino específico, para contar uma parte de uma bela história. Composta por
228 elementos, nessa ala vamos brincar com o cotidiano dos candangos. Vamos falar da grande ceia
depois do trabalho braçal do candango...”, conclui
Hilton Castro.
Guarda do Brasil-Império
– A Vinda da Família Real
Ala: Vento Forte
Presidente: Hilton Castro, Gisele & Renata
Número de Componentes: 70
Foi Dom João VI quem criou o 1º Regimento de
Cavalaria de Guardas, em 13 de maio de 1808.
Na época, o regimento tinha a função de fazer a
guarda da Família Real, que naquele ano havia se
refugiado no Brasil, devido à invasão de Portugal
pelo exército francês.
No início do século XIX, o regimento da tropa de elite
do exército brasileiro tinha a função de fazer a guarda
da família real, que havia se refugiado no Brasil
devido à invasão de Portugal pelo exército francês.
Eram os dragões (soldados da cavalaria) que acompanhavam
D. Pedro I
quando ele
declarou a
Independência
do
Brasil, em
7 de setembro de 1822;
momento
imortalizado
por Pedro
Américo
no famoso
quadro intitulado “O
Grito
do
Ipiranga”.
Tropa de Elite do Exército
Brasileiro
Ala: 1a Passista e Passistas Especiais
Presidente: Charlene Costa
Número de Componentes: 4
Ala: Diretora dos Passistas
Presidente: Aline Silva
Número de Componentes: 1
Ala: Passista
Presidente: Jade Barbosa
Número de Componentes: 1
Ala: Passistas
Presidente: Selminha Sorriso
Número de Componentes: 100
Fevereiro 2010
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O Grito do Ipiranga
Independência ou Morte!
Intérprete
Neguinho da Beija-Flor
Rainha de Bateria
Raíssa Oliveira
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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A Supremacia dos Dragões
da Independência
Bateria
Mestres Rodney & Plínio
Número de Componentes: 265
Dragões da Independência é a denominação oficial dada ao Primeiro Regimento de Cavalaria de
Guardas (1º RCG). É uma Unidade do Exército
Brasileiro, que foi criada em 1808, pelo Príncipe
Regente D. João VI. Os Dragões da Independência
usam um fardamento do século XIX, em branco e
vermelho, que são as cores tradicionais da cavalaria
desde a Idade Média. Em festas cívicas e algumas
competições esportivas de hipismo, os dragões se
apresentam e fazem demonstrações de agilidade e
destreza.
OS MOSQUETEIROS DO RITMO
Comissão da bateria da Beija-Flor
Atento às necessidades que a cada ano o regulamento do desfile, a competição e especialmente
as exigências do público impõem às escolas de
samba – isso sem falar na necessidade interna de
mudanças, que exige o aprimoramento do trabalho,
o aperfeiçoamento do produto e o enriquecimento
profissional da equipe visando resultados positivos
em todos os quesitos do desfile –, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis preparou-se para o grande enfrentamento do dia 14
de fevereiro com uma inovação. Depois
de criar a Comissão de Carnavalescos, o diretor Luiz Fernando
“Laíla” Ribeiro do Carmo criou
a Comissão da Bateria da BeijaFlor de Nilópolis.
O capa-e-espada de
Alexandre
Dumas,
Os Três Mosqueteiros, é o mote
para se reportar
a mais significativa mudança promovida na
estrutura
de Carnaval da Beija-Flor da Nilópolis – e de todas as escolas de samba da atualidade. Para tal, o
D’artagnan desta estória, que ficará na história do
Carnaval (e que, provavelmente, assim como a Comissão de Carnavalescos alcançará os resultados
esperados), ascendeu à condição efetiva do ofício
de mestre o músico e diretor Rodney José Ferreira
(seria ele Athos?), que passa a dividir essa função
com mestre Plínio de Moraes (possivelmente Porthos?). Uniu-se] à dupla uma cria da casa, o mestre
Binho (seria ele Aramis?) – Robson da Silva de Oliveira - que vem com uma experiência musical específica fora da bateria, e pontuada: supervisor. Não
é à toa que os mosqueteiros da bateria da BeijaFlor adotaram a epígrafe “Um por todos, todo por
um”. A referência foi endossada e adotada pelos
doze diretores que compõem o esquadrão rítmico
da escola nilopolitana. À trinca cabe a supervisão
do segmento, auxiliada pela diretoria de bateria
composta por Carlos Alberto Menezes (Carlinhos),
Anderson Miranda da Silva (Kombi), Renato Alves Gomes (Renato Azul), Márcio do Nascimento Andrade (Márcio da Frigideira), Celso Geraldo
Alves da Silva (Paduana), Alexander Braga (Orelha), Carlos Henrique da Cruz (Perninha), Adelino
Vieira Filho (Saul) e Walneir Ferreira Nascimento
(Estrela). Encabeçando essa diretoria-executiva,
mestre Rodney informa que todos têm uma função
determinada, mas insiste que o lema dumasiano é
que realmente move todo o esquema. O esquema é
simples, mas Rodney enfatiza: “Todo mundo trabalha em prol da
bateria. Todos trabalham pela
Beija-Flor
de Nilópolis”.
Integrantes da comissão
de Bateria: Mestres Plínio,
Binho e Rodney.
Fevereiro 2010
61
62
O comando do pelotão, que garante a pulsação da
escola (280 ritmistas) durante todo o desfile, foi assumido em maio passado. Na ocasião, Laíla apresentou a comissão e diretores de bateria à comunidade, numa noite que inaugurou uma nova era do
calendário de atividades da Beija-Flor de Nilópolis:
os ensaios técnicos da bateria, todas as segundasfeiras. A ideia de realizar ensaios práticos com todos
os ritmistas da escola, até mesmo aqueles ainda não
confirmados no grupo de elite que irá para a avenida, atraiu ao longo do ano – adentrando 2010 – os
poderem apresentar suas sugestões, propostas e,
principalmente, serem ouvidos. Nem sempre serão
atendidos. Mas isso é assim em qualquer segmento
da vida do homem. Porém, mesmo que suas ideias
não sejam aproveitadas integralmente, ou em parte, acreditam que sempre deixam uma importante
contribuição que poderá suprir lacunas inesperadas.
As reuniões são sempre fervorosas, mas o clamor
dos ânimos não supera a preocupação de reforçar
e buscar o que é melhor para a escola. Nesse ponto
todos comungam o mesmo ideal.
demais segmentos, comprovando que esses ensaios
são indispensáveis para uma maior sincronia entre
as diversas alas com o toque, com o andamento,
com o estilo da orquestra de percussão nilopolitana.
Se a antecipação do início dos ensaios técnicos
da bateria e a participação das alas interessadas
foram uma grande mudança revelada pela criação
da Comissão da Bateria, outra grande motivação
que os doze diretores encontraram para se dedicar
cada vez mais à escola, através de suas atuações
tanto burocráticas quanto artísticas, foi o fato de
QUEM É QUEM
Paduana – Descoberto em um bloco por mestre
Pelé, Paduana está na ala de ritmistas desde os 14
anos. Toca surdo de 3ª, o chamado “fofoqueiro”. Entre outras atribuições que lhe cabem como diretor de
bateria está a de fazer a manutenção dos instrumentos. Sua filha, ex-passista mirim, faz parte do naipe
de tamborins.
Kombi – Está na escola desde 97, integrando-se
imediatamente à bateria. Responsável direto pelos
assuntos administrativos do segmento vem coordenando a entrega do troféu “Ao mestre, com carinho”,
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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premiação criada pela nova comissão para homenagear os mestres de bateria das escolas coirmãs.
Marcinho da Frigideira - Desde criança é ligado à
escola na qual só ingressou definitivamente no ano
2000. Sua tia foi baiana da escola e o primo Albinho toca tan-tan na bateria. Mestre Pelé e vários
ritmistas da Beija-Flor são oriundos da escola do
seu avô. Ajudou a formar a Velha Guarda Musical da Beija-Flor. É responsável pelos naipes de
frigideiras (10), e agora da cuíca (12). Ambos os
instrumentos, que foram excluídos da bateria, vêm
agora dar um ‘molho especial’ ao conjunto rítmico.
Renato Azul – Ex-mestre-sala, Renato entrou na
ala mirim em 1988. Convidado pelo Laíla em 98,
passou a diretor de bateria. É responsável pela
marcação, com Kombi e Orelha, mais especificamente. Na parte administrativa, é responsável pelo setor de alimentos e bebidas do
grupo. Água gelada, cafezinho esperto, e
às vezes aquela cervejinha malandreada,
que ninguém é de ferro.
Carlinhos – Há doze anos acompanha a família Beija-Flor. Declarase feliz em participar mais
um ano da equipe. Uma
das suas atribuições é
fazer a manutenção dos
instrumentos. Promete
dar o melhor de si para
a “gente ser feliz na
avenida”.
Walneir
Estrela
– É o mais novo no
mundo do samba.
Está na Beija-Flor
desde 2000. Torna
pública sua gratidão ao
amigo Perninha ao enfatizar que “quem me ensinou a tocar tamborim foi
o Perninha.”
Perninha – Entrou na BeijaFlor em 92. É responsável pelo
naipe de tamborim. A humildade sobrepõe-se à gratidão
de Walneir: “Apenas passei
para ele o que aprendi”. Segundo Perninha, ele achou na
escola um cara, Daniel Colete, que teve paciência para
ensiná-lo a tocar tamborim.
Orelha - Considera-se o estilista Jacques Leclair,
personagem de novela, pois é responsável por providenciar a roupa dos ritmistas, especialmente da
diretoria de bateria, que veste modelo exclusivo. É
ele quem trata de todo o vestuário do dia do desfile, além das roupas que o grupo usa para apresentações em shows e festividades da escola.
Chegou à Beija-Flor em 96 pelas
mãos de Nei, ex-diretor.
Mestre Rodney – Com 35
anos de
pista,
Rodney
Fevereiro 2010
63
está na Beija-Flor de Nilópolis desde 98. O futebol
foi uma das estratégias que ele usou para aproximar
mais os ritmistas fora do período carnavalesco. Laíla
o convidou para participar das gravações dos sambas-enredo das escolas de samba. É um dos “afinadores” dos instrumentos e também faz a troca dos
“couros” das peças de percussão. Com Plínio, ele
forma a dupla de mestres de bateria.
Saul – É da comunidade e frequentador da quadra
desde criança. Foi se infiltrando na bateria durante
os ensaios até ser percebido por mestre Pelé, que o
efetivou na ala. Os filhos Sandro e Adriano seguiram
o pai e também são ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis. A filha Juliana é passista da escola.
Binho – A mãe, D. Sirinha, integrou a ala das baianas,
e o pai, Rubens, a bateria. Entrou para a ala mirim
em 1977, e participou da comissão de
frente. Aos 14 anos foi alçado por
mestre Pelé à condição de
ritmista.
Fez incursões
especiais
tocando
tumbadora nos
desfiles
de
tres Rodney e Plínio, e demais diretores de bateria.
Mestre Plínio – É ritmista da escola há 37 anos, atendendo o honroso chamado de Nelson Abrão David para
integrar a bateria regida pelo mestre Vicente, pai do intérprete Gilson Bacana. Em 1993, o então mestre Odilon o promoveu a categoria de diretor, dividindo com ele
a regência da bateria, funções que exerce até hoje.
NELSON DAVID
Apresentando a Rainha de Bateria ao grande público vem Nelson David, vice-presidente da agremiação nilopolitana e filho de Nelson Abrão David, um
dos baluartes da Beija-Flor de Nilópolis e irmão do
patrono Anizio Abrão David. Nelsinho, que é empresário do ramo de eventos, é pai de Julia (7 anos)
e de David (10 anos) e vive com a companheira,
segundo ele ‘de todas as horas’, Vanessa Pinheiro.
Nelsinho descobriu sua vocação junto à bateria
quando, ao decidir desfilar com o “coração da escola”, conduziu e apresentou pela primeira vez a
Rainha de Bateria. “A bateria transmite uma energia
muito forte, que não é somente sonora. É orgânica
também. O corpo da gente arrepia, o coração acelera... E quando apresento ao público a Rainha de Bateria, já com todo o envolvimento da bateria, cria-se
um momento único. O público delira. É um acontecimento muito emocionante e não consigo me ver em
outro lugar senão ao lado da Raíssa e da Bateria.
Esse ano, com a instalação da comissão de bateria,
muitas novidades estaremos levando para a avenida, e acho que isso tornará o desfile da Beija-Flor
de Nilópolis ainda mais mágico e emocionante.”
A Nobreza das Damas da
Corte Imperial
2000/20004.
Durante
dez
anos atuou como
percussionista da
banda de Neguinho
da Beija-Flor até se
agregar ao conjunto
Pique Novo. Há 21
anos atuando como
músico nas gravações
dos sambas-enredo,
recebeu o convite de
Laíla para supervisionar a atuação do segmento com os mes-
64
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Ala: 100% Mídia
Presidente: Luís Carlos & Léo Mídia
Número de Componentes: 70
D. João VI, ao embarcar com a Família Real Portuguesa para o Brasil, trouxe a companhia de diversas
Damas da Corte, que usavam vestes cujo aparato
e originalidade podiam ser observados através do
romantismo dos laços, babados, bordados e vidrilhos, tão usuais nos trajes característicos da moda
européia no século XIX. O racionamento de água
durante a precária e superlotada viagem dificultou
bastante a higiene à bordo, e um surto de piolhos fez
com que a muitas Damas da Corte Imperial tivessem
que raspar as cabeças a fim de evitar a propagação,
o que foi disfarçado com o uso de adereços.
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O Aclamado Imperador D.
Pedro I
Ala: Energia do Amor
Presidente: Aroldo Carlos
Número de Componentes: 120
Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos
Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, filho de D. João VI , Rei de Portugal, Brasil e
Algarves, e de Dona Carlota Joaquina, infanta da
Espanha, nasceu em Queluz, Portugal. Dom Pedro I
do Brasil e IV de Portugal, foi o primeiro imperador
do Brasil (de 1822 a 1831) e 28º rei de Portugal (durante sete dias de 1826). Em Portugal é conhecido
como O Rei-Soldado ou O Rei-Imperador; sendo
também conhecido, de ambos os lados do Oceano
Atlântico, como O Libertador — Libertador do Brasil
do domínio português e libertador de Portugal do
governo absolutista. Recebeu diversos títulos honoríficos; entretanto abdicou de ambas as coroas.
Um Clamor de Liberdade
Ala: Esperança
Presidente: Simone Sant´Anna
Número de Componentes: 70
Liberdade é a ausência de submissão, de servidão, aquilo que qualifica autonomia, independência. E foi D.
Pedro I que, às margens do rio Ipiranga, clamou pela
liberdade do Brasil com relação à Portugal, em 07 de
setembro de 1822, com sua frase histórica: “Viva a independência e a separação do Brasil! Pelo meu sangue,
pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a
liberdade do Brasil! Independência ou Morte!”.
Alegoria 03
“No Coração do Brasil - Revolta, Insurreições, Coroas e Brasões”
Harmonia do Setor:
Cleber Silva & Helinho
Fevereiro 2010
65
SETOR 04
Onça Pintada - O Perigo Noturno do Cerrado
Brilhantes Jazigos de Preciosos Cristais
Ala: Cabulosos
Presidente: Luizinho Cabulosos
Número de Componentes: 70
A onça pintada, também chamada de jaguar ou jaguaretê, é um animal solitário, carnívoro e territorialista, com hábitos predominantemente noturnos.
Excelente caçadora e nadadora, é muito cautelosa
para atacar a vítima, aproximando-se silenciosamente para surpreender a presa, saltando sobre o seu dorso. Membro da família dos
felídeos, de tons mesclados de amarelo,
preto e branco, costuma ser encontrada
em reservas florestais e matas cerradas
do Brasil, mas infelizmente encontra-se
em extinção.
Ala: Baianas II
Presidente: Pai Jorge
Número de Componentes: 60
Os cristais são sólidos nos quais os constituintes
– átomos, moléculas ou íons –estão organizados
num padrão tridimensional bem definido, que se
repete no espaço, formando uma estrutura com
uma geometria específica. Durante a realização de
escavações no rico solo de Brasília, foram encontradas diversas jazidas de cristais, preciosas riquezas do Planalto Central; as quais inspiraram, inclusive, um projeto paisagístico
de Burle Marx.
Veado Campeiro
– A Força das
Galhadas
Ala: Sorrizo
Presidente:
Marcos
Gomes
Número
de
Componentes:
70
O veado-campeiro é um
veado campestre. Tais
cervídeos possuem pelagem
dorsal marrom, círculo branco
ao redor dos olhos e galhada
com três pontas e cerca de 30
cm de altura. São animais extremamente ágeis, podendo
correr a 70 km/h e pular obstáculos sem diminuir a velocidade. A hierarquia social
é determinada através de
disputas nas quais os machos
empurram seus adversários
com os chifres, numa prova
de força. Esta disputa não
tem por objetivo perfurar
o oponente e o dano mais
comum é a quebra de algumas pontas.
66
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Lobo Guará - O Avermelhado Solitário
Uivante
Ala: Ouro Negro
Presidente:
Cátia
Cristina
Sant´Ana
Número de Componentes: 70
O Lobo Guará é um animal selvagem típico dos
cerrados da região
Centro-Oeste. A
sua
pelagem
característica
é avermelhada
e, ao contrário
de outros lobos,
esta espécie não forma alcatéias, possuindo hábitos solitários, juntando-se apenas
em casais durante a época de reprodução.
Foi devido ao som dos seus uivos, interpretado pelos indígenas como “Gua-á gua-á”,
que essa espécie, única do gênero em toda
a América Latina, foi chamada, no Brasil, de
Lobo Guará. Está em extinção.De aspecto
elegante. Possui pernas compridas e ágeis, e
hábitos exclusivamente noturnos.
Tamanduá Bandeira - O
Peludo Caçador de Insetos
Ala: Sol Brilhante
Presidente: Rosinaldo Vieira
Número de Componentes: 70
O Tamanduá Bandeira, apelidado de
“papa-formigas”, é um mamífero quad-
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rúpede e desdentado, o qual apresenta uma
pelagem espessa, que se torna maior na cauda. É dotado de longas e fortes garras dianteiras, as quais utiliza para se defender dos
predadores e para escavar as resistentes
paredes dos formigueiros e cupinzeiros em
busca de comida. Se alimenta de insetos,
normalmente formigas, cupins, larvas e besouros.
A Poderosa Rainha
Cupim e seus Ninfos
Alados
Destaques de Chão
Kaíka Sabatella, Letícia e Thuãn
Soldados Cupins - Os Super Decompositores
Ala: Alegria, Alegria
Presidente: Hilton Castro
Número de Componentes: 158
Os cupins são insetos conhecidos por serem
pragas de madeira e de outros materiais celulósicos, e ainda pragas agrícolas. Entretanto, em termos de biomassa e abundância,
os cupins apresentam enorme significância,
podendo ser comprados, por exemplo, às
formigas e minhocas, estando entre os mais
abundantes invertebrados de solo em ecossistemas tropicais. Esta grande abundância
dos cupins nos ecossistemas, aliada à existência de diferentes simbiontes, confere a
estes insetos a possibilidade de desempenhar
papéis como o de “super decompositores” e
auxiliares no balanço Carbono-Nitrogênio.
Alegoria 04
“Missão Crulls - A Natureza em sua Essência
é Revelada”
Harmonia do Setor:
Leonardo Carvalho & Luiz Silva
Fevereiro 2010
67
SETOR 05
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Bossa Nova - A Trilha Sonora do Sertão
Ala: Vamos Nessa
Presidente: Tuninho
Número de Componentes: 70
Ala: 1001 Noites
Presidente: Luiz Figueira
Número de Componentes:
A Bossa Nova é um movimento da música popular
brasileira que surgiu no final da década de 1950 e
que, anos depois, se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos no mundo. Fruto
principalmente das reuniões casuais agendadas por
músicos da classe média carioca em apartamentos
da Zona Sul, a Bossa Nova foi o primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, o qual
abordava temáticas leves e descompromissadas.
O Movimento surgiu num momento em que o país
vivia uma profusão cultural singular, e ficou associado ao crescimento urbano brasileiro, impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência
de Juscelino Kubitschek (1955-1960). Os maiores
representantes deste movimento foram: Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto.
Revista Beija-Flor de Nilópolis
JK e Sarah Kubitschek - A
Visão do Amanhã nos Anos
Dourados
Ala: Ouro em Pó
Presidente: Hilton Castro
Número de Componentes: 72
O mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito
Presidente da República Federativa do Brasil – cargo que exerceu entre 1956 e 1961 – foi casado com
Sarah Kubitschek, com quem teve duas filhas, Márcia e Maria Estela Kubitschek.
Responsável direto pela construção de Brasília,
JK participou das muitas comemorações em homenagem à inauguração da nova capital, sendo pertinente destacar o Baile no Palácio do Planalto, onde
JK e Dona Sarah recepcionaram cerca de 3.000
convidados em farto evento, que se deu ao som de
música orquestral.
Durante o mandato de JK, o Brasil viveu um
período de grande desenvolvimento econômico e
estabilidade política, o qual ficou conhecido como
“Anos Dourados”, período em que evoluímos “50
anos em 5”.
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A Indústria Automobilística Ajuda a Traçar o Destino
Ala: Casarão das Artes
Presidente: Graça Oliveira
Número de Componentes: 70
Indústria automobilística, automotiva ou automóvel, é a indústria envolvida com o projeto, o desenvolvimento, a fabricação, a publicidade e a venda
de veículos automóveis que sirvam para auxiliar no
deslocamento e/ou transporte da população, bens
ou serviços. A prioridade dada pelo governo JK ao
crescimento e desenvolvimento econômico do país
foi fundamental para traçar o destino do Brasil, e
recebeu apoio de importantes setores da sociedade, incluindo empresários e industriais, como a
Indústria Automobilística, que se instalou no Brasil
em 1956.
O Desejo de Realizar
Ala: Casais de MS & PB
Presidente: Selminha SorrisoZ & Claudinho
Número de Componentes: 6
Candangos - O Sangue e o
Suor Deste País
Ala: Explosão Geral
Presidente: Hilton Castro
Número de Componentes: 194
Candango, é o termo dado aos trabalhadores que
migravam à futura capital para a sua construção,
embora comumente seja utilizado para designar os
brasilienses. Em sua maioria, eram nordestinos que
migraram para a região do cerrado Planalto Central
e trabalharam arduamente, dia e noite, para construir e concluir Brasília até a data prefixada de 21
de abril de 1960, em homenagem à Inconfidência
Mineira.
“... Uma caravana parte, épica, qual êxodo caboclo,
epopéia de pioneiros, desterrados candangos, operários guerreiros, vários Brasis, num só Brasil que
se juntam a construir e a crescer...”
na planta do urbanista Lúcio Costa, foi o nome pelo
qual ficou conhecido o plano urbanístico da capital, Brasília. O Plano Piloto de Brasília, baseado em
quatro escalas – escala monumental, escala residencial, escala gregária e escala bucólica, é o único
projeto urbanístico contemporâneo reconhecido
pela Unesco como Mundial, Cultural e Natural da
Humanidade.
A Arte dos Mestres
Ala: Amigos do Rei
Presidente: Presidência
Número de Componentes:
120
A idealização e construção
de Brasília contaram com o
conhecimento, a dedicação e
o trabalho árduo de diversos arquitetos, engenheiros, técnicos, mestres
de obras e operários,
profissionais responsáveis pelo projeto,
supervisão e execução
das obras. A arte dos
mestres torna real as idéias
bem planejadas, definindo
o traçado básico da cidade
e a disposição dos principais
elementos da estrutura urbana,
considerando pontos relevantes
tais como o urbanismo, o paisagismo, e diversas formas de design, incluindo a edificação de
monumentos e praças.
Alegoria 05
“O Desabrochar da FlorCapital pelas Mãos de JK”
Harmonia do Setor:
Flávio , Sérgio Sá & Jorge Alexandre
Plano Piloto - Num Traço,
um Poema
Ala: Signus
Presidente: Débora Rosa
Número de Componentes: 70
Plano Piloto, inicialmente uma cruz riscada à lápis
Fevereiro 2010
69
SETOR 06
Palácio da Alvorada - A Morada Presidencial
Ala: 08 ou 80
Presidente: Ivone Farranha
Número de Componentes: 70
O Palácio da Alvorada é a residência oficial do
presidente da República Federativa do Brasil. Situa-se às margens do lago Paranoá, e foi o primeiro
edifício inaugurado em Brasília. Projetado por Oscar Niemeyer, foi símbolo do progresso cultural e
técnico do Brasil durante a década de 1950, tornando-se um dos ícones da arquitetura moderna brasileira. O formato diferenciado dos pilares brancos
da edificação deu origem ao símbolo e ao emblema
da cidade. A construção de Niemeyer foi batizada
por JK, que quando questionado sobre o porquê
do nome “Alvorada”, respondeu: “Que é Brasília,
senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?”.
Palácio do Planalto Central - Sede do Poder Executivo
Ala: Tudo por Amor
Presidente: Élcio Chaves
Ala: Colibri de Ouro
Presidente: Dinéia Amâncio
Número de Componentes: 70
Palácio do Planalto é o nome não oficial do Palácio
dos Despachos. É o local onde está localizado o
Gabinete Presidencial, a Casa Civil, a SecretariaGeral e o Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência da República. Sede do Poder Executivo do Governo Federal Brasileiro, o edifício, que
foi projetado por Oscar Niemeyer, está situado na
Praça dos Três Poderes, e foi o centro das festividades da inauguração de Brasília.
Catedral de Brasília - O
Templo Iluminado de Vidro
Ala: Damas do Samba
Presidente: Adilson Pedro & Rosângela
Número de Componentes: 100
A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida é mais conhecida como Catedral de Brasília. O
monumento, que é um projeto do arquiteto Oscar
Niemeyer, é composto por uma nave principal em
planta circular, executada em colunas de concreto
que surgem de um espelho d’água, e encimada por
70
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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uma cruz metálica, simbolizando mãos erguidas
em prece na direção do céu.
Palácio Itamaraty - O Elo
do Brasil com o Mundo
Ala: Borboletas
Presidente: Néia Nocciole
Número de Componentes: 70
Ala: Travessia
Presidente: Delano Sessim
O Palácio Itamaraty, também conhecido como
Palácio dos Arcos, foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer no estilo modernista. É onde está
localizado o Ministério das Relações Exteriores
do Brasil (MRE), um órgão do Poder Executivo,
responsável pelo assessoramento do Presidente
da República na formulação, desempenho e acompanhamento das relações do Brasil com outros
países e organismos internacionais. Atualmente
três edifícios compõem a sede do Ministério: o
Palácio, o Anexo I e o Anexo II, conhecido popularmente como “Bolo de Noiva”. É considerado um
dos monumentos mais representativos de Brasília
e parece flutuar sobre um espelho d’água.
Congresso Nacional do
Brasil - Sede do Senado e
Câmara dos Deputados
Ala: É Luxo Só
Presidente: Nádja Gomes
Número de Componentes: 70
O Congresso Nacional do Brasil é bicameral, constituído pelo Senado do Brasil (Câmara Alta) e pela
Câmara dos Deputados do Brasil (Câmara Baixa).
Tal como acontece com a maioria dos edifícios oficiais na cidade, foi projetado por Oscar Niemeyer,
seguindo o estilo da arquitetura moderna brasileira.
Vistas desde o Eixo Monumental, a calota à esquerda é a sede do Senado e a da direita é a sede da
Câmara dos Deputados; e entre elas há duas torres
de escritórios. O Congresso também ocupa em torno outros edifícios, alguns deles interligados por um
túnel. A excepcional luminosidade do céu de Brasília
proporciona uma visão deslumbrante do prédio.
A Luz da Alvorada Anuncia
a Capital da Esperança
Ala: Dá Mais Vida
Presidente: Ana Maria Mascarenhas
Número de Componentes: 70
Brasília passou a ser denominada “A Capital da Esperança” após um discurso feito pelo então Presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira, no dia 02 de outubro
de 1956, em campo aberto, quando da assinatura do
primeiro ato no local da futura capital, onde ele afirmava: “Deste planalto central, desta solidão que em
breve se transformará em cérebro das altas decisões
nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país
e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma
confiança sem limites no seu grande destino.”
Alegoria 06
“Capital da Esperança Orgulho e Patrimônio Mundial”
Harmonia do Setor:
Carlos Máximo & João
Fevereiro 2010
71
SETOR 07
Cavalhadas de Pirenópolis
- Os Mascarados e as Danças Eqüestres
Ala: Kurtisamba
Presidente: Marcus Vinícius
Número de Componentes: 70
o Brasil, as Cavalhadas foram introduzidas pelos jesuítas com autorização e recomendação da
Coroa, com o objetivo de catequizar os gentios
e escravos africanos, demonstrando o poder da
fé cristã. Reconhecida como uma das mais significativas Cavalhadas do Brasil, a Cavalhada de
Pirenópolis foi introduzida na cidade em 1826, pelo
Padre Manuel Amâncio da Luz, como um espetáculo chamado de “O Batalhão de Carlos Magno”. A
pompa, a garbosidade e a seriedade de tal manifestação envolve toda a população, que mantém
viva a infindável rixa entre mulçumanos e cristãos,
apresentando um belo espetáculo de prazer pela
montaria.
Bumba-meu-Boi do Seu Teodoro - O Misto Folclórico
se Fez Raiz
Ala: Arte Folia
Presidente: Valéria Britto
Número de Componentes: 97
O Bumba-meu-Boi, mistura
folclórica de dança
e tea-
72
Revista Beija-Flor de Nilópolis
tro, combina elementos de comédia, drama, sátira e
tragédia. Surgiu no século XVIII, e é um dos traços
culturais mais marcantes da cultura brasileira, principalmente no Nordeste. O maranhense Teodoro
Freire, um apaixonado pela tradição do Boi, mudouse para Brasília na década de 1960 e criou o Centro
de Tradições Populares, concretizando o sonho de
divulgar o folclore nordestino. O Bumba-meu-Boi
apresentado em Brasília, uma espécie de auto que
encena o rapto, a morte e a ressurreição do Boi,
deu popularidade à Seu Teodoro.
A Doutrina Espiritualista
Cristã do Vale do Amanhecer
Ala: Sambando na Beija-Flor
Presidente: Jorge Luiz Soares
Número de Componentes: 70
Ala: Amizade
Presidente: Cleide Alves
Número de Componentes:
O Vale do Amanhecer é uma comunidade criada
para abrigar a Doutrina do Amanhecer, doutrina
espiritualista
cristã, fundada em 1959,
pela médium clarividente
Neiva Chavez Zelaya,
a Tia Neiva. Localizada
a 45 km de Brasília, a
Doutrina do Amanhecer foi trazida, através
da clarividente, pelo
espírito de Francisco
de Assis, conhecido
neste meio como
“Pai Seta Branca”,
e por sua equipe
espiritual, contendo elementos de
várias outras religiões. A Doutrina do Amanhecer já conta
com mais de
600 templos em todo
o Brasil e
em outros
países.
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Sou Brasiliense! Sou Calango! Sou Artista!
Ala: Os Impossíveis
Presidente: Iara Mariano & Cosme
Número de Componentes: 70
Brasília é composta por nordestinos, paulistas,
cariocas, mineiros, nortistas, sulistas, estrangeiros
e brasileiros, formando um verdadeiro caldeirão de
culturas e biotipos. Calango, o nome do pequeno
lagarto que suporta altas temperaturas em lugares
secos e ensolarados, foi escolhido por artistas,
músicos e esportistas do cerrado para definir o seu
trabalho e representar a miscigenação cultural da
cidade. Justamente por estar presente em diversas
regiões do país, o nome tem algo que representa
Brasília e o som diversificado que está sendo feito
na capital, bastante influenciado pelo punk e pelo
rock. Brasília é candanga, é brasileira, é artista!
O Prestigiado Festival de
Cinema Brasileiro
Ala: Raízes da Flor
Presidente: Luciana Castro & Ivone Pinheiro
Número de Componentes: 70
O Festival de Brasília, que tem por nome oficial
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – FBCB,
existe desde 1965, e é promovido pelo Governo do
Distrito Federal. O festival, que nas duas primeiras
edições foi chamado de Semana do Cinema Brasileiro, deve apresentar filmes inéditos, tantos os
de curta, como os de longa metragem. Os vencedores recebem o Troféu Candango, em homenagem
aos brasilienses, bem como prêmios em dinheiro.
A Legião de Artistas Brasilienses – Velha Guarda
Ala: Velha Guarda
Presidente: Débora Rosa
Número de Componentes: 70
Brasília é um grande palco, que reúne uma legião
de artistas de variados segmentos. São artesãos,
atores, cantores, compositores, escultores, pintores, escritores, músicos e artistas diversos, que
misturam aptidões, dons, sons, ritmos e crenças,
caracterizando a identidade local. Brasília, cenário
artístico, caldeirão cultural!
Alegoria 07
“Brasília – A Esquina do
Brasil em um Caldeirão Cultural”
Harmonia do Setor:
Reinaldo Santos & Everaldo Araújo
Fevereiro 2010
73
Laíla
50 anos de carnaval
“Devíamos balançar a roseira
Dar um susto na Portela
No Império e na Mangueira
Se houvesse opinião
O Salgueiro apresentava
Uma só união
No meio de gente bamba
Frequentadores de samba
Iam conhecer o Salgueiro
Como primeiro em melodia
Acontece que chegou a academia”
Geraldo Babão
RICARDO DA FONSECA
O Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial pode ser considerado o mais importante evento cultural e turístico do Brasil e do mundo nesse
período. Destino certo de milhares de pessoas, o
Desfile de Carnaval, como é conhecido, conquista
a cada ano o interesse de brasileiros e estrangeiros, que encontram nesse espetáculo a céu aberto
emoções e divertimento que serão lembrados pelo
resto de suas vidas.
A evolução deste quase secular espetáculo se
deve, entre tantos fatores, à dedicação de alguns
personagens que conceberam caminhos, criaram
formas e inovaram expressões, tornando o Desfile
de Carnaval o que é hoje.
Esse ano, no dia 28 de fevereiro, um desses personagens comemora 50 anos de dedicação e serviços prestados ao samba e ao carnaval carioca:
Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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Se existem histórias que parecem ter sido prédeterminadas pela vida, em outra esfera além da
Humanidade, a de Laíla nos parece ser uma delas.
Em um cenário de pobreza e dignidade, essa história teve início na cidade do Rio de Janeiro. Mais
precisamente no Morro do Salgueiro, no bairro da
Tijuca.
Ali, debruçado na janela de uma pequena casa de
madeira e alvenaria, quase que diariamente o pequeno Laíla observava, no quintal vizinho, os diretores de uma escola de samba do Morro do Salgueiro discutindo, tomando decisões, festejando e
organizando a escola de samba. Com o olhar atento, o menino observava, percebia, ouvia tudo que
acontecia naquele quintal.
Moleque ainda – entre oito e nove anos –, o pequeno Laíla fundou no Morro do Salgueiro, onde nasceu e foi criado, uma agremiação mirim de samba
e carnaval, formada apenas por crianças do morro.
Era uma escola de samba mirim onde aproximadamente 40 crianças, no período de carnaval, saíam
do Morro do Salgueiro e, seguindo pela Rua General Roca, iam até a Praça Saens Peña, atraindo
a atenção das pessoas que passavam pelo bairro.
“Era o maior sucesso. As pessoas paravam e acompanhavam o nosso desfile até a Praça Saens Peña”,
relembra Laíla.
Era início da década de 50, e a “Independente da
ladeira” – esse era o nome da agremiação – já tinha
em sua formação um casal de mestre-sala e portabandeira mirim e uma imponente bateria, formada
de latões e latas coloridas. Os carros alegóricos,
feitos de caixotes de bacalhau, e os desfilantes,
fantasiados com muito papel crepom e muito brilho
– das pequenas lâmpadas que, por ideia do Laíla,
enfeitavam as fantasias – eram atração garantida.
A “Independente da ladeira”, tendo como grande
comandante o Laíla, que também criava os sambas-enredo e as alegorias com a ajuda do menino
Totonho, foi sucesso no bairro por mais de cinco
anos, tempo que durou a agremiação mirim.
Já naquela época, as suas ideias e iniciativas evidenciavam que aquele garoto tinha o talento para a
liderança e para a inovação.
E que vinha para fazer e contar uma história importante.
Sempre ao lado de D. Corina, sua mãe e primeiro
destaque da “Depois eu digo”, uma das tradicionais escolas de samba do Morro do Salgueiro, Laíla
acompanhava de perto as disputas de sambas-enredo no Morro do Salgueiro. Não demorou muito
para que fosse convidado a integrar uma das principais escolas de samba da época. “Era 1956. Eu
tinha 13 anos de idade e gostava de cantar, e cantava relativamente bem. Um dia, o Duduca (autor
de sambas-enredo da agremiação tijucana e presidente da Ala de Compositores) me procurou e me
convidou para defender no Salgueiro o samba que
ele havia composto. Muitos estranharam o convite do Duduca, porque era um garoto de 13 anos e
nunca tinha acontecido de uma pessoa tão jovem
defender um samba-enredo. Fiz o que tinha que ser
feito e o samba foi vice-campeão.”
Nesse ano D. Corina faleceu com 34 anos de idade,
e Laíla passou a ser criado por seu tio Adão e sua
tia Madalena. A perda de uma pessoa importante na sua vida foi compensada com o acolhimento
pelo casal de tios, figuras marcantes e de grande
importância na formação do caráter de Laíla: “Eu
tenho muita gratidão pela tia Madalena e pelo tio
Adão, que me criaram. Eles me deram educação.
Fizeram-me ser homem de verdade, pessoa correta, honesta, porque meu tio Adão era uma pessoa
muito trabalhadora e correta, que me ensinou o caminho. E eu sou muito grato a isso.”
Se em sua vida privada Laíla equilibrava perdas
e ganhos, na Acadêmicos do Salgueiro um novo
ciclo estava se iniciando. Sob o olhar atento dos
diretores da agremiação, em 1960 Laíla fez o seu
primeiro desfile, na Av. Rio Branco, em frente ao
Teatro Municipal: “Lembro-me muito bem. O ano
era 1960. Era um domingo, dia 28 de fevereiro. Entramos na Av. Rio Branco com o enredo que falava
do Quilombo dos Palmares, de autoria do Nelson
de Andrade. Eu era a pessoa da harmonia na avenida, que fazia o vai e vem. Minha função era circular
com o megafone entre as alas para não deixar o
samba atravessar. Na época, os sambas atravessavam muito, porque não tinha o apoio dos sons
que tem hoje...”
E na Avenida Laíla não decepcionou. Exercendo a
função com muita eficiência, a atenção dos mais
velhos da agremiação se voltou para o jovem sambista. Começava ali a trajetória do mais respeitado
e mais completo diretor de harmonia e de carnaval
da história das escolas de samba.
Desde sua primeira participação na avenida, em
1960, muita coisa aconteceu.
Foram 50 anos de carnaval, e neles Laíla não só
acompanhou todas as importantes mudanças ocorridas no carnaval e nas escolas de samba – na avenida e nos barracões – como foi o idealizador de
Fevereiro 2010
75
Na foto, alguns dos integrantes da Ala dos Compositores da Acadêmicos do Salgueiro: Zuzuca, Sílvio Pompeu, Carlinho
Pepé, Italianinho, Noel Rosa de Oliveira, Mário e Laíla.
muitas delas. Ele foi o primeiro diretor de harmonia
a sair da posição fixa tradicional, que era vir à frente da ala das baianas, para circular por todas as
alas da escola.
Foi ele também quem substituiu a figura central de
um carnavalesco por uma equipe de carnavalescos.
“A comissão de carnavalescos foi ideia minha. Com
a saída do carnavalesco da Beija-Flor de Nilópolis para outra escola, o Anizio me chamou e o Cid
Carvalho para uma conversa. Ele queria contratar um novo carnavalesco, mas era inviável para a
agremiação, porque estávamos com uma despesa
crescente devido ao investimento que estava sendo realizado na estruturação e fortalecimento das
alas de comunidade. Eu sugeri ao Anizio que não
contratasse nenhum carnavalesco de fora, porque
eu iria formar uma comissão de carnaval com as
pessoas talentosas que tínhamos dentro de nossa
casa.”
Laíla, que na Acadêmicos do Salgueiro já havia trabalhado com um modelo semelhante ao que planejava para a agremiação nilopolitana, sabia que os
resultados chegariam. “Eu participei, no Salgueiro,
de uma comissão que tinha Fernando Pamplona,
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda,
João 30 e Maria Augusta Rodrigues. Era uma grande comissão onde cada um tinha sua função, apesar de nenhum de nós usarmos o termo ‘comissão’.
Na época, ainda se valorizava muito um desfile que
tivesse a assinatura de um único carnavalesco, ou
de uma dupla de carnavalescos. No Salgueiro, os
nomes eram Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona, mas o nosso grupo de carnavalescos realizou
coisas fantásticas no Salgueiro.”
Montada a comissão de carnavalescos, com sucesso comprovado pelos resultados, Laíla lançou na
Beija-Flor de Nilópolis, para as outras áreas vitais
da escola, a proposta de substituir figuras centrais
por equipes de profissionais. Hoje, a agremiação de
Nilópolis conta com uma equipe de harmonia, uma
equipe de representantes de comunidade e uma
equipe de bateria – a comissão de bateria, integrada pelos Mestres Rodney, Binho e Plínio, além da
comissão de carnavalescos, formada por Alexandre Louzada, Fran Sérgio e Ubiratan Silva, e pelo
próprio Laíla. “Nas escolas de samba, cada área,
cada departamento é muito individualizado, centralizado em uma única pessoa. E, para mim, um bom
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Eu era diretor de patrimônio do Salgueiro, e reparava
que ele ficava da janela da casa dele observando as
nossas reuniões, que eram realizadas no quintal ao lado
da casa do Laíla. Ele ficava lá, moleque ainda, vendo os
diretores da escola decidirem as coisas do carnaval do
Salgueiro. E ele era um menino muito inteligente, muito
esperto. Sabia que ele ia conseguir conquistar alguma
coisa boa, porque ele era diferente dos outros meninos...
Ele chegou, inclusive, a fundar uma escola de samba.
Admiro muito o Laíla, por tudo que ele conseguiu conquistar no carnaval. E suas
conquistas não foram só para ele, foram para todos os que trabalham no carnaval.
Djalma Sabiá
carnaval é o resultado de um trabalho de base, de
equipe. Não dá mais para centralizar em uma única
pessoa, seja carnavalesco ou mestre de bateria.”
Durante esses anos, Laíla tem atuado dessa maneira; entra na escola, observa o que funciona bem
e o que não funciona como deveria. Líder nato,
Laíla comanda: briga, exige, pede, faz, aconselha,
incentiva, orienta, pune... Tudo para que a escola
possa fazer um carnaval com a qualidade que o espetáculo e o público exigem.
Temperamento ou vocação, o fato é que ele sabe
muito bem comandar. E por mais que pareça um
ato autoritário, comandar não é uma ação ditatorial. Comandar tem o significado de coordenar
esforços. E comandar exige um profundo conhecimento do que se faz para poder fazer de modo
mais eficaz. Comandar é identificar potencialidades e desenvolvê-las. É gritar, é avançar... E recuar,
se preciso for... Mas comandar é sempre, e acima
de tudo agir. E talvez seja essa a grande marca de
Laíla na história do carnaval: atitude. “Lembro-me
que em um determinado ano, durante uma terrível
crise financeira no Salgueiro, duas semanas antes
do carnaval os caras que mandavam na escola fizeram uma reunião dizendo que a Salgueiro não ia
ter condições de colocar o carnaval na rua. Eu fui o
único que peitei – moleque, garoto –, peitei e falei
assim: ’vai colocar o carnaval do Salgueiro na rua
sim, senão morre!’(risos), aquela coisa da ocasião...
Eu era um moleque meio brabo no morro. Ninguém
se metia comigo não. E tem horas que a gente tem
que partir para dentro, não dá para ficar olhando
calado, sentadinho. E o Salgueiro desfilou.”
Um homem de atitude, a despeito do que os outros
possam dar em troca.
Atitude de coragem, como a que teve na Unidos da
Tijuca, em 1981, quando a escola estava totalmente desfalcada de seus componentes, que ainda não
haviam chegado ao desfile. “Eu atrasei o desfile da
Unidos da Tijuca. Chamei o Quiro, presidente da
agremiação, e o Paulo César, que era o diretor de
carnaval, e falei: ‘não tem ninguém, não tem baiana, não tem bateria, não tem ninguém’. E o desfile iria começar às 18h. Aí tomei uma decisão, que
transmiti a eles: ‘Eu vou atrasar, eu vou arrumar
um jeito, mas vou atrasar. Assim como está a escola não entra na Avenida! ’ Os carros já estavam
lá perto da pista. Fui lá, tirei os carros, coloquei todos lá na área de concentração. A hora começou
a passar... Aquela coisa de entra, não entra, uma
confusão. A Unidos da Tijuca foi entrar às 21h45.
A escola fez um grande desfile e foi a sétima colocada geral. Tinha que ser feito algo, e eu fiz. Infelizmente, a escola perdeu cinco pontos e, para piorar,
as pessoas que me apoiaram na decisão, depois de
terminado o desfile, acovardaram-se e atribuíram
a mim a culpa pela perda dos pontos, acusando-me
de ter feito sem a autorização deles. Fiquei muito
decepcionado, mas não recuei e tomei a decisão
que tinha que ser tomada. É bem possível que, se
a escola entrasse na Avenida tão desfalcada como
estava, perderia mais pontos ainda. Mas isso ninguém quis ver”, desabafa Laíla.
Injustiças à parte, quem conhece Laíla sabe que a
lealdade dele é ao carnaval. Onde houver algo errado a ser identificado e corrigido, lá estará o olhar
atento e a língua afiada no carnavalesco.
Mas essa competência e capacidade que Laíla possui em identificar necessidades da escola de samba
não é um bem herdado; é fruto de uma vida inten-
Fevereiro 2010
77
samente dedicada ao samba e ao carnaval. “Dediquei minha vida ao samba em uma época em que
não se podia viver decentemente dele. As dificuldades eram muitas... Eu era moleque, não bandido.
Podia ter me desviado e não me desviei. Muitos
que foram criados comigo no Morro do Salgueiro
acabaram caindo no mundo do crime. Eu tinha preferência por duas coisas: Samba e Futebol. Eu jogava bem – tanto que eu fiz parte do time juvenil do
Vasco e do São Cristóvão. Mas eu tive que optar
entre o samba e o futebol, porque o samba me obrigava ficar acordado até de manhã. Não tinha como
eu ir treinar... Eu chegava ao treino muito cansado.
Eu tive que optar e optei pelo samba. No samba
como lixeiro, tudo para ganhar seu próprio dinheiro,
que o samba não lhe dava. “Depois que eu constituí família, ela sofreu junto comigo todas essas
privações. Eu era o Laíla do Salgueiro... e duro.
Não tinha dinheiro para comprar leite para os meus
filhos, nem pão... E minha família dividia isso comigo: minha esposa Marli e meus filhos Luís Cláudio e
Denise dividiram essas dificuldades comigo... Mas
eu nunca desisti. E encontrei na minha família muita força para persistir, correr atrás e chegar onde
chequei. Hoje, Marli, Luís Cláudio e Denise, e meus
três netos Amanda, Carol e Luís Antônio são a minha fortaleza. A Marli eu conheci na escola de samba mirim que eu fiz. Comecei a namorar ela com
“Laíla tem o samba na alma, nos pés e na cabeça desde os tempos de moleque no Morro
do Salgueiro. Herdeiro direto da sabedoria e
da paixão carnavalesca de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, ele fez da Beija-Flor
sua morada espiritual e lúdica. Exercendo a
liderança com firmeza e determinação, criou
os fatores que ajudaram a formar a história
do orgulho da comunidade de Nilópolis, estado de alegria, cuja capital é a Beija-Flor.”
Haroldo Costa
e no carnaval eu sempre buscava, desde moleque,
saber de tudo, entender tudo, fazer tudo. Sempre
observava para aprender. Nessa época de garoto,
eu tocava todos os instrumentos de percussão. Fui
mestre-sala, fui compositor, cantor... Eu tenho uma
trajetória sólida, eu não entrei pela janela. Foi essa
a minha opção de vida.”
Uma opção que o obrigava a viver com restrições.
Acusado de vagabundo por familiares por ter optado pelo samba, não faltaram críticas e conselhos
para Laíla procurar um emprego, seja em uma obra
ou em qualquer outra coisa. Eram tempos difíceis
para quem estava predestinado a realizar uma
grande missão transformadora no carnaval do Rio
de Janeiro. ”Eu passava dificuldades, mas sempre
me mantinha na minha. Eu persisti no samba.”
Nesses momentos difíceis, muitas vezes desempregado, sem abandonar o samba – que corria solto
nas suas veias –, Laíla trabalhou nas mais diversas
atividades. Ele foi faxineiro, trabalhou como pintor,
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
15 anos. Ela tinha 11 anos e desde aquela época a
Marli sempre esteve comigo em todos esses momentos de dureza. Ela é uma mulher forte que eu
admiro muito.”
O fato é que Laíla persistiu e hoje é reconhecido
pelo seu trabalho, pelo que realizou em favor do
carnaval carioca.
O mundo do samba e do carnaval – e o grande
público na avenida e nos lares ao redor do mundo
– agradecem felizes ao Laíla – o comandante do
carnaval – os serviços prestados em favor da arte,
do samba e da cultura brasileira.
Valeu Laíla!
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“Admiro muito a trajetória seguida pelo Laíla. Ele demonstra uma profunda inteligência, percepção e sensibilidade em relação à
vida como um todo. Ele criou e definiu o que
é o diretor de carnaval, uma figura decisiva para um bom desempenho
de uma escola de samba. Se
analisarmos hoje cada escola
que tem acertado, vamos ver
que elas têm um bom diretor
de carnaval, ainda que com
outra designação.
Laíla definiu, criou a função
de diretor de carnaval. Ele
fez isso com a sua atuação ao
longo da sua vida no carnaval.
É uma função que engloba a
atuação e o conhecimento do
diretor de harmonia, do diretor de quadra, do mestre de
bateria, do presidente da ala
dos compositores...
Vejo o carnaval com duas dimensões: a dimensão material, que engloba o aspecto
visual, ligado à fantasia, à
alegorias e adereços. E a dimensão imaterial, que envolve o ritmo da bateria, o andamento e a evolução da escola,
a tonalidade e qualidade do
samba-enredo e a relação do
samba-enredo com a bateria.
Ambas dimensões são vitais
para um bom desfile. E o Laíla conhece profundamente
todas essas dimensões, e por isso ele é
um diretor de carnaval e harmonia da qualidade que todos reconhecem. E com esse
conhecimento, e acima de tudo com essa
vivência, ele vai e faz. É uma pessoa que
eu nunca vi ficar satisfeito com o mais ou
menos. Ele sempre quer fazer o melhor.”
Maria Augusta Rodrigues
Fevereiro 2010
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BOAS PARCERIAS
MIRO LOPES
Uma nova parceria, feita de inspiração e talento, traçou em samba a trajetória dos 50 anos de Brasília,
que a Beija-Flor de Nilópolis mostrará na avenida. Todos sambistas da Azul e Branco, de pouco ou muito
tempo: Picolé, Samir, Sumaré, Sérgio, André e Marimba. O grupo foi se formando aos poucos: ao “quarteto” inicial Picolé, Samir, Sumaré e Serginho, uniu-se André e Marimba, vencedor da etapa brasiliense do
concurso de samba-enredo, formando assim a parceria vitoriosa do Carnaval 2010.
Amigo comum de todos eles, o compositor Pixulé apresentou Samir Trindade ao Picolé da Beija-Flor, que
recebeu convite de Sérgio Sumaré para disputar o novo enredo da Beija-Flor. Sumaré veio com o xará
Aguiar a reboque. Alguns até já haviam trabalhado juntos, e outros nunca tinham se cruzado. Portanto,
era uma parceria inédita; e tinha tudo para dar errado. Em um primeiro momento, o cavaquinista sumiu.
Felizmente alguém teve a ideia de sugerir o nome de André para integrar o grupo. A gravação do disco de
demonstração somente foi possível um mês após a data prevista. O refrão foi rejeitado quase às vésperas
da finalíssima. O intérprete que apresentaria o samba na quadra só pôde ser confirmado em cima da hora.
Entretanto, a determinação e a persistência foram maiores que os problemas e a nova parceria teve a
escolha do seu samba ratificado pela euforia da comunidade na grande final.
Parceiros, se reuniam diversas vezes por semana, conversavam por telefone todos os dias, construíam
poesia e harmonia, discutiam versos e rimas, sustenidos e bemóis, tudo por um único objetivo: levar sua
versão poética e melódica de “Brasília, 50 anos - Brasília do Sonho à Realidade, a Capital da Esperança”
para a Passarela do Samba, com toda a comunidade nilopolitana cantando e sambando com a alegria de
sempre rumo à conquista de mais um título de campeã do carnaval carioca.
Quem é quem?
Picolé da Beija-Flor. Escreveu seu nome na agremiação desde a primeira hora. Segundo ele, a escola
está “sempre de braços abertos para receber as pessoas”. Seus antecedentes têm tudo a ver com samba e Carnaval: participou dos blocos Deixa Comigo
e Embaixada do Sapo. Por orientação dos amigos
Sebastião Adilson e Isaias Chorão (da Mangueira),
e a convite do então presidente a Ala de Compositores, Aluisio Machado, ele entrou para Azul e Branco
em 1968. E nela logo venceu o concurso de sambas
de quadra de 1970, “Assim Você Mata, Papai”.
Em 1981, assinou sua primeira conquista: “Carnaval do Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo”, com Dicró. Uma fusão com o samba de Nego
e Neguinho da Beija-Flor, esses autores passam a
integrar a parceria. Diante do êxito com os atuais
companheiros, Picolé declara: “se eu soubesse que
fazer parceria era tão bom, eu já teria feito outras
vezes”. E se serve da mais exata das ciências para
resumir o processo de criação do grupo, que acredita tenha garantido a escolha do samba: “a gente soma, multiplica, divide e subtrai... isso é igual
a... essência do trabalho”. E arremata: “tivemos a
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
felicidade de fazer um trabalho que conquistou a
comunidade inteira”.
Filho de D. Antonieta e seu José, Hélio Nascimento
nasceu, sob o signo de Capricórnio, em Estância,
no Sergipe, há 66 anos. É fisioterapeuta com graduação em trauma-ortopedia. Ele também expressa sua criatividade e talento através da pintura.
André do Cavaco. Carioca de Anchieta, chegou
à Beija-Flor, com seu amigo Betinho, para contar
e cantar a sua história no enredo de “Saco vazio
não pára em pé”, com Bira e Havaí. A experiência
valeu: “Nosso samba tem um diferencial, que permitirá a galera expressar toda a emoção da letra e
da melodia”. André colocou todo seu conhecimento e percepção musical a serviço dessa parceria.
Para quem respira e vive unicamente de música
– e com ela sustenta a família –, André apostou
todas as fichas do seu talento e dedicação nessa
parceria. Formado em Harmonia pelo Centro de
Aperfeiçoamento Musical, André lapidou sua arte
como violonista, tecladista e também como cavaquinista acompanhando intérpretes bem conhecidos como Jorge Aragão. Agora é só expectativa e
ansiedade.
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Serginho Aguiar. Sérgio Luiz da Costa Aguiar. Nasceu e se criou na Vila Militar. Milita (sem trocadilho!) no meio do samba mais da metade dos anos
que já viveu.
O mundo do Carnaval tem seus mistérios. Serginho
conhece bem essas coisas. Os atabaques tocaram,
a parceria se confirmou e os caminhos da criação se
abriram para os poetas do samba. Tinham que molhar
a palavra na preciosa fonte da inspiração. Todos obedeceram às orientações de Ogã. E entre um e outro
gole, o samba foi fluindo. Um pitaco aqui, uma ideia
ali... todo mundo rezando pela mesma cartilha. Foram
alguns meses de trabalho. Hoje o samba está ai.
Ter fé é bom. Mesmo quando não se é mais marinheiro de primeira viagem. Serginho já é campeão:
venceu o concurso de samba-enredo na Vizinha Faladeira, em 2002, com Helinho 107, “Todo mundo tem
família, só muda o endereço”. Pagodeiro inveterado,
ele marca presença na roda de samba da Tia Doca
e no pagode do Cinema (Madureira). Integrou a ala
dos Compositores, em 2005, e concorreu ao samba
de “Poços de Caldas”. Diretor de harmonia do Salgueiro há três anos, Serginho dá um tempo para se
dedicar integralmente às homenagens a Brasília.
Samir Trindade. Samir é o mais jovem da turma. E
está em estado de graça. Além do samba ser escolhido para representar a Beija-Flor na avenida,
sua mulher espera mais um filho para janeiro. Dos
seus 26 anos, doze ele já consumiu nas noitadas de
samba, levado pelo avô Dom Beto, compositor da
Portela, quando defendeu “Olhos da Noite”, estreando como cantor aos 14 anos. Alma de sambista
e de intérprete, para Samir se tornar compositor
foi quase natural. Defendia as composições do avô,
mas logo mostrou que também sabia versejar. Nos
últimos oito anos, Samir participou das disputas de
samba-enredo na Azul e Branco nilopolitana. Defendeu o enredo “Levanta a poeira abala geral é o Boi
com a Beija-Flor no Carnaval”, com que o Bloco do
Boi homenageava a escola, e continua como intérprete oficial da Escola de Samba Arame de Ricardo
(grupo D). Já era parceiro de André, mas foi Pixulé
quem o aproximou dos atuais parceiros.
Serginho Sumaré. O mundo do samba é mesmo
envolvente. Paulo Sérgio Alves Teixeira, carioca do
Méier, que o diga. Tem samba na cabeça, nas mãos e
nos pés. Compositor, percussionista e mestre-sala.
Competiu diversas vezes, tanto no Bloco Carnavalesco União do Parque Vitória (Duque de Caxias),
quanto na Beija-Flor de Nilópolis. Em ambas sempre foi finalista, mas só em 2005, com o samba “Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani...” sentiu
o doce gosto da vitória. Agora, o repeteco. Sumaré
exulta: “Hoje eu me sinto um verdadeiro campeão.
Segui os conselhos do compositor portelense Beto
Sem Braço: tem que ler e que se aperfeiçoar”, comenta, agradecido pelas dicas. E completa: “a parceria esteve sempre unida”. Percussionista, é como
músico e autor que ele afirma que “o samba-enredo
está mudando harmonicamente”, e que ele considera isso muito bom, porque exige mais dos compositores. E tem no DNA a vocação adormecida do
mestre-sala; sua mãe, Vera Lúcia, foi a única mulher
da história do Carnaval que se tem notícia a exercer
oficialmente as funções de mestre-sala da União do
Parque Vitória e, de quebra, seu pai ser o Ébio Nota
Dez, mestre-sala da Flor da Mina do Andaraí.
Picolé e os compositores do samba enredo de 2010
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Gabriel David
sangue bom nas pistas e na avenida
HILTON ABI-RIHAN
Onde quer que estejam, os integrantes da família Beija-Flor de Nilópolis deixam a sua
marca de guerreiros dedicados. De Nilópolis à Copacabana, do Amapá ao Rio Grande do
Sul, de Kobe à Paris – em pequenas casas ou em grandes apartamentos – esses personagens da história do samba não renunciam ao seu direito de conquista e de felicidade.
E Gabriel David é um querido representante dessa família que empolga a Marquês de Sapucaí. Apesar da pouca idade - 12 anos - o jovem Gabriel sabe aproveitar as
oportunidades que tem, e não mede esforços para conquistar seus sonhos e seu espaço.
Abi-Rihan – Sua vida é um pouco diferente da vida dos
meninos da sua idade, não é? Essa relação tão intensa
com o Samba e o Carnaval que você tem... E agora
com o kart... Diga-me como você se relaciona com
essas diferenças?
Gabriel David – É verdade que tenho uma vida muito
diferente. Poucos meninos da minha idade estão ligados
ao Samba e ao Kart como eu estou. Mas eu não vejo
nenhum problema nisso. As pessoas devem procurar
desde cedo fazer as coisas que gostam. Além disso,
para mim, o importante é que tanto no samba, na BeijaFlor de Nilópolis, quanto na escola ou no kart eu faço
o que gosto e tenho muitos amigos.
Em cada um desses lugares venho aprendendo a agir
da maneira certa, entendendo e respeitando meus
amigos e as pessoas como elas são. Meu pai e minha
mãe sempre falam sobre isso para mim. Então, essas
diferenças acabam sendo uma coisa legal, pois estou
aprendendo a ser uma pessoa legal, que entende e que
vive bem com todas as pessoas, não importando onde
elas vivam ou o que fazem.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Abi-Rihan – Você toca
algum instrumento?
Gabriel David – Dos
instrumentos de percussão, eu sei um pouco de
alguns. Sei tocar caixa,
No pódium, os pilotos João Roberto
repique e surdo. Mas (4), Flavio Mateus (2), Gabriel David
não é a melhor coisa que (1) e Ketheryne Marques (3).
eu faço. No samba, o
que eu sei tocar mesmo
é o tamborim.
Abi-Rihan – Diversas vezes eu vi o seu pai, o Anizio,
com o olhar de orgulho quando vê você tocando tamborim ou conduzindo a Beija-Flor de Nilópolis. Como
você se sente?
Gabriel David – Sinto-me bem. Eu acho que meu pai
fica orgulhoso de mim porque samba é uma coisa que
ele conhece bem! E quando ele me vê tocando ou
conduzindo a escola, ele entende que estou fazendo
direito. Eu acho que é isso que todos os pais querem
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Abi-Rihan – E obteve bons resultados nesses campeonatos?
Equipe Power (da esquerda para a direita): em primeiro plano, os pilotos Gui Pessoa e Gabriel David.
Em segundo plano, os técnicos Alcindo Teixeira e
Jeison Teixeira. Em terceiro plano, os mecânicos
Alan, Walmir e Bolão.
Gabriel David – Meu primeiro campeonato foi o Serrano, no qual conquistei o título de campeão. É oficial,
da Federação Internacional de Automobilismo, com
oito etapas. Nas duas primeiras corridas eu fiquei em
segundo lugar, o que não foi um resultado ruim. Na
terceira eu já consegui ganhar. Foi a minha primeira
vitória em um campeonato. Mas, além da vitória, o que
foi muito importante nesse campeonato foram as coisas
que aprendi, principalmente com o Flávio Mateus, um
piloto de kart de São Paulo. Ele é um piloto muito bom,
com uma grande experiência em kart, que participa de
todos os campeonatos importantes do Brasil. Pilotar
perto dele, observando-o, foi um grande aprendizado.
Evoluí muito pilotando perto dele. Eu aprendi muito com
ele, um grande amigo meu.
para os seus filhos; que façam direito as coisas que
escolheram fazer. E gosto de saber que ele e minha
mãe querem o meu bem.
Abi-Rihan – E no kart é assim também? Conte como
começou a sua vida no kart?
Gabriel David - É assim também no kart, apesar de meus
pais não entenderem tão bem assim as estratégias que
envolvem uma corrida de kart. Mas eles sabem que é
um esporte que eu gosto e me dão a maior força.
Sobre o meu início, quando era pequeno eu brincava
muito de kart com meus primos e amigos. Nessa época
eu tinha uns seis anos. Com nove anos eu descobri
que tinha um kartódromo ‘indoor’ na Barra da Tijuca.
Comecei a ir muito com uns amigos lá. Aí fui gostando.
Eu ia para me divertir, porque é gostoso dirigir nas
pistas, mesmo sendo ‘indoor’. Aos poucos fui vendo
que levava jeito para corrida. Um dia falei para minha
mãe que eu queria fazer isso profissionalmente, que
eu estava gostando muito de kart. Ela e meu pai me
viram correndo, e gostaram. Eu, inclusive, ganhei a
corrida! Eles acabaram aceitando meu pedido. Então,
em 2008 comecei a pilotar um kart bem mais veloz, e
fazendo parte de uma equipe muito boa. No começo de
2009 eu já estava participando de campeonatos.
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Gabriel David, ao lado de Djalma Neves, presidente da Federação de Automobilismo do Estado
do Rio de Janeiro (FAERJ) e de Cleyton Pinteiro, presidente da Confederação Brasileira de
Automobilismo (CBA). À direita, sua mãe, Fabíola David, seu pai, Anizio Abrão David, sua irmã
Micaela David e sua prima Marina David.
Abi-Rihan – Quais os motivos dos seus bons resultados?
Gabriel David – Acho que levar jeito para uma coisa é
importante. Mas é muito importante também que você
treine bastante. Se você quer chegar a algum lugar, você
tem que treinar! Isso, tanto no kart como na escola de
samba e em qualquer coisa... Se não se esforçar não
consegue nada.
Abi-Rihan – Qual foi o momento de maior emoção
nessas corridas?
Gabriel David – Cada competição, cada corrida, tem a
sua emoção. É como no desfile de carnaval. Cada um tem
o seu significado. Mas a corrida que fiz em Guapimirim
foi emocionante. Eu tinha feito a pole position com um sol
muito forte. Saí na frente e, de repente, começou a chover! Na terceira volta eu rodei e fui para o último lugar.
Vi que os outros pilotos abriram três retas de vantagem
sobre mim. Podia até chegar em último, porque minha
colocação no campeonato era excelente. Mas aí pensei:
‘não estou aqui para assistir a corrida. Estou aqui para
ganhar!’ Aí fui pra cima deles, sempre respeitando meus
colegas, e fui tirando a diferença, até passar todos os
outros pilotos e ganhar a corrida. Para mim foi a melhor
corrida do ano! Acho que superei meus limites. E devo
isso aos meus pais, que me apóiam e me incentivam,
aos meus treinadores – o Jeison e o Alcindo – e aos
mecânicos da minha equipe, a Power Motorsport.
Abi-Rihan – Que lição ficou dessa corrida?
Gabriel David – Acho que é a certeza de que se queremos
vencer na vida, não importa a idade ou as dificuldades. Se
a gente tiver vontade e lutar vai conseguir o que quer.
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LIGA INDEPENDENTE
DAS ESCOLAS DE SAMBA
JORGE CASTANHEIRA
Hilton Abi-Rihan – Presidente Jorge Castanheira, como
será o Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial
em 2010?
Jorge Castanheira – No próximo carnaval nós vamos ter
12 agremiações, desfilando seis em cada dia. As escolas
de samba diversificaram bastante,
e estamos prevendo a apresentação de belos espetáculos e enredos
muito variados.
Hilton Abi-Rihan – Na Avenida, essa
variedade de enredos é promessa
de variedade de formatos e imagens, o que garante um espetáculo
de qualidade. E em termos de disputa, de regras, de avaliação de
quesitos. Há alguma alteração para
esse ano?
Jorge Castanheira – Sim. Algumas
mudanças técnicas foram introduzidas para esse ano, por decisão
da maioria do
plenário: ao invés
de 40 julgadores,
nós teremos 50
julgadores
para
analisar a apresentação das agremiações, sendo cinco
julgadores
para
cada um dos 10
quesitos. E desses
cinco julgadores,
as cinco notas
serão analisadas e
abertas no dia da
apuração, sendo
que a menor nota
e a maior nota dada
em cada quesito
para cada uma
das escolas será
eliminada. Então,
das cinco notas
num determinado
quesito, a menor e
a maior de cada escola será eliminada, valendo as três
notas intermediárias. Esse é um processo que já foi usado
pela Liesa, e que aplicaremos novamente este ano para
fazer um novo teste, e verificar a possibilidade de incrementar ainda mais a disputa.
Além disso, temos uma novidade para o Desfile: além do
limite de cinco a oito alegorias, as agremiações poderão
levar para a Avenida até, no máximo, seis tripés ou elementos cenográficos com até duas pessoas sobre eles.
Hilton Abi-Rihan – Então, deixe sua mensagem final...
Jorge Castanheira – Temos certeza e esperança de que
as escolas farão um grande carnaval, se superando em
criatividade e ousadia, realizando um grande espetáculo.
Então, a nossa mensagem é que todos tenham um excelente carnaval, que tudo transcorra num clima de muita
paz e de fraternidade. E que o carnaval seja mais um exemplo de reunião de todas as classes sociais em prol de
um objetivo comum que é realizar a maior festa popular
do mundo.
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UM OLHAR SOB BRASÍLIA
SIMÃO SESSIM
No ano em que a Capital Federal comemora 50 anos, a revista Beija-Flor
de Nilópolis foi ouvir um dos mais ilustres parlamentares do Estado, que
há 31 anos representa com honestidade e pragmatismo a população fluminense: o deputado federal Simão Sessim.
Ricardo Da Fonseca – Em que momento de sua vida surgiu
o desejo de se dedicar à política?
Simão Sessim – Foi na década de 60, quando eu lecionava
nos principais colégios de Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu.
No contato com os jovens, principalmente os mais carentes,
emergia sempre o desejo, o sonho permanente de ver um
Brasil grande, desenvolvido, democrático e com justiça social. Da mesma forma, eu imaginava uma forma de ajudar
a oferecer melhor qualidade de vida ao povo da cidade de
Nilópolis, que me viu nascer e crescer.
Ricardo Da Fonseca – Como foi o seu ingresso na carreira
política? Houve alguma dificuldade? Qual?
Simão Sessim – As condições precárias de Nilópolis, comum
a toda Baixada Fluminense, mostrava que só através da
política poderíamos concretizar o nosso sonho de ver chegar
o progresso, o desenvolvimento, a justiça social, enfim, o
respeito, a dignidade ao povo sofrido e abandonado. Assim,
formamos um grupo na família, aliado a grandes amigos, e
ingressamos nos partidos políticos dispostos a disputar as
eleições. Nesse grupo estavam Jorge David, Miguel Abrão,
Nelson Abrão, Anizio Abrão David, Luiz Cláudio de Azevedo
Viana, Farid Abrão, Nagib Sessim, Dr. Israel José de Melo, Dr.
Otadélio Magalhães e muitos outros. Tivemos dificuldades
para conseguir vagas nos partidos que eram dominados
pelos deputados estaduais da época, como Egídio Mendonça
Thurler, Lucas de Andrade Figueiras e Jarbas Lopes. O partido
que nos aceitou foi a UDN (União Democrática Nacional),
comandada pelo saudoso e inesquecível João de Moraes
Cardoso Junior, que foi o primeiro prefeito de Nilópolis.
Conquistamos cerca de 20 mil votos, derrotando grandes
políticos da época, como João Machado Barcelos, o Mangueira; o deputado estadual Gilberto Rodrigues; o suplente
de deputado federal Adauri Fernandes; o vereador Orlando
Hungria, que era apoiado pelo prefeito Sérgio Cardoso; e o
ex-prefeito Eracyoes Lima. É importante destacar que, já nas
eleições de 1962, conseguimos eleger Jorge David deputado
estadual, e os vereadores Israel José de Melo e Otadélio
Magalhães do Vabo, além de Miguel Abrão, pelo PTB.
Ricardo Da Fonseca – Que fato marcante o senhor destacaria
durante toda a sua trajetória política?
Simão Sessim – Sem dúvida alguma a minha eleição para prefeito em 1972. Jovem, com 37 anos, professor, primeiro diretor
do Colégio Aydano de Almeida, que acabara de ser fundado.
Recordo que tive uma campanha apoiada, principalmente,
pelos meus alunos dos colégios Olindense, Nilopolitano,
Filgueiras, José D´Alessandro e o próprio Aydano de Almeida.
Foi fundamental, sem dúvida alguma, o apoio da escola de
samba Beija-Flor de Nilópolis, presidida, na época, pelo saudoso Nelson Abrão David e o patrono Anizio Abrão David,
que ainda pertencia ao 2º Grupo, cujo enredo foi “Educação
Para o Desenvolvimento”, tema que tinha muito a ver com a
nossa campanha e o nosso projeto de governo. Esse enredo,
no Carnaval de 1973, levou a Beija-Flor de Nilópolis ao 1º
Grupo. Ainda no meu mandato de prefeito, no Carnaval de
1976, ela conquistou o seu primeiro título de campeã entre as
grandes escolas do Rio de Janeiro, com o antológico enredo
“Sonhar com o rei dá leão”, ocasião em que a cidade inteira
parou para homenagear Anizio, Nelsinho, Joãozinho Trinta
e todos os componentes da escola. Depois vieram o bi e o
tricampeonato, em 1977 e 1978.
Ricardo Da Fonseca – Como tem sido a sua vida em Brasília,
e como foi a sua adaptação?
Simão Sessim – Assumi o meu primeiro mandato como
deputado federal no dia 1º de fevereiro de 1979. Hoje,
já cumpro o meu oitavo mandato consecutivo. Mas, sem
dúvida alguma, me encheu de alegria, felicidade, emoção e
orgulho a minha chegada a Brasília como representante do
Rio de Janeiro no Congresso Nacional, mais precisamente
na Câmara dos Deputados. Já se vão 31 anos consecutivos,
ininterruptos, de minha participação no mais importante
cenário da política brasileira, militando com homens e
mulheres que ajudaram a construir este país ao longo desse
período. Na verdade, não tive problemas de adaptação, uma
vez que, logo no primeiro mandato, fui escolhido pelos meus
colegas da ARENA do Rio de Janeiro, meu partido político
na época, para exercer o cargo de coordenador da bancada
fluminense. Fiquei surpreso com a deferência, visto que a
nossa bancada, naquele tempo, era composta de renomados
e experientes parlamentares, como Célio Borja, Álvaro Valle,
Amaral Neto, Lígia Lessa Bastos, Alair Ferreira, Darcílio Ayres,
Hidekel de Freitas, entre outros. Entendo que o Congresso
Nacional é uma universidade, e você precisa se nivelar com
os principais políticos do país e ser participativo, criativo e
sensível aos grandes problemas e aos anseios da nação.
Ricardo Da Fonseca – Como legislador,
estando em Brasília, o senhor com
certeza deve ter participado e também
presenciado grandes fatos que, consequentemente, entraram ou entrarão para
a história do nosso país. Dentre esses
fatos, qual foi o que mais lhe marcou,
e por quê?
Simão Sessim – O primeiro grande fato, na
minha concepção, foi a anistia, que serviu
de transição do regime militar para a redemocratização do país. Votamos a anistia
debaixo do clamor de que ela deveria ser
ampla, geral e irrestrita. Valeu para os dois
lados, governo e oposição. Isto possibilitou
o retorno, ao Brasil, dos grandes líderes
que estavam exilados. Depois, sem dúvida
alguma, o orgulho de ter sido Constituinte
juntamente com Lula, José Serra, Fernando
Henrique Cardoso, e tantos outros grandes
líderes. A Assembléia Constituinte foi presidida pelo deputado Ulysses Guimarães,
que batizou a nova Lei Maior do país
como “Constituição Cidadã”, em 1988.
Outro grande episódio foi o afastamento
do presidente Collor. Votamos, nesse dia,
com a presença de mais de 200 mil pessoas na frente do Congresso Nacional e com todo o Brasil acompanhando a sessão
do Congresso Nacional através do rádio e da televisão. Uma
noite que também nos marcou muito foi a impossibilidade de
o presidente Tancredo Neves assumir a Presidência da República, por ter sido acometido de uma crise de diverticulite, que,
infelizmente, culminou com a sua morte. A decisão para que
José Sarney o substituísse foi tensa, complicada e negociada
entre líderes civis e militares. E nós acompanhamos de perto
todos os lances.
Ricardo Da Fonseca – Ainda como deputado federal, quais as
suas principais realizações em favor do cidadão da Baixada
Fluminense e de Nilópolis?
Simão Sessim – Ao longo de meus mandatos tenho ajudado
a resolver os problemas do país, do meu Estado do Rio de
Janeiro e, principalmente, da Baixada Fluminense. Cito
como obras marcantes a construção do Porto de Itaguaí
e a criação das Escolas Técnicas Federais de Nilópolis e de
Nova Iguaçu, o saneamento e asfaltamento das principais
estradas que interligam os municípios de Nova Iguaçu,
Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias. Levamos
também várias áreas de esporte e lazer para os municípios
da região; lutamos ainda pela melhoria da saúde, com a
implantação dos Hospitais da Posse e de Queimados, cuja
construção esteve paralisada por longos anos. Brigamos,
da mesma maneira, pelo Polo Gás-Químico de Duque de
Caxias e pelo Complexo Petroquímico de Itaboraí. Outra
importante reivindicação nossa foi o Anel Rodoviário (Arco
Metropolitano), ligando Xerém ao Porto de Itaguaí, e que,
sem dúvida alguma, vai representar a redenção econômica
da Baixada Fluminense. Em Nilópolis, de modo especial,
podemos garantir que ajudamos a construir toda a infraestrutura urbana da cidade, além da conquista de uma grande
área de Gericinó. Além disso, estamos presentes em todas as
reivindicações e liberações de recursos do Governo Federal
que estão sendo aplicados no novo viaduto de Nilópolis,
no novo reservatório de água no bairro do Cabral e na
revitalização do Centro da cidade.
Ricardo Da Fonseca – Que mensagem o senhor gostaria de
deixar para os nossos leitores?
Simão Sessim – Uma mensagem de esperança e de muita fé
para todos os brasileiros que acreditam e, por isso mesmo,
sonham com um país mais humano e justo. O futuro desta
nação depende de cada um de nós. E que no enredo de
nossas fantasias o Brasil maravilhoso faça um belo desfile
de campeão, com muito ritmo, cadência e empolgação. Até
porque o enredo sobre os 50 anos de Brasília, que a nossa
querida escola de samba Beija-Flor de Nilópolis está levando
para a avenida, fala exatamente de esperança, de sonhos e
inspirações para que o Brasil se torne grandioso e justo.
O
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J
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D
NO RIO
VICENTE DATTOLI
Quando a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro foi criada, em 24 de julho de
1984, suas dez agremiações fundadoras buscavam
um grito de independência. Beija-Flor de Nilópolis,
Salgueiro, Caprichosos de Pilares, Portela, Mangueira, Império Serrano, União da Ilha, Unidos de
Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade
Independente de Padre Miguel estavam cansadas
de ver suas propostas derrotadas pelos interesses,
menores, das demais agremiações que compunham
a Associação das Escolas de Samba.
Nesses pouco mais de 25 anos de história, muitas conquistas podem ser contabilizadas. Direitos
autorais pagos diretamente aos compositores que
têm seus sambas cantados durante os desfiles, valorização por parte do poder público, mais recursos
na comercialização do espetáculo – leia-se maior
interesse e investimento por parte das emissoras
de televisão – e, principalmente, um crescente aumento do interesse dos veículos de comunicação,
notadamente do exterior. A cada ano que passa
mais e mais jornais, revistas, sites e emissoras de
televisão querem falar e mostrar o nosso desfile do
Grupo Especial.
Nada disso teria acontecido se a organização não
fosse o ponto forte do espetáculo apresentado pelas 12 principais Escolas de Samba do Carnaval do
Rio de Janeiro. Se, hoje, aquele grupo de dez fundadoras sente a ausência de algumas agremiações,
momentaneamente em outros desfiles, não se
pode negar que as presenças de Unidos da Tijuca,
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Viradouro, Grande Rio e Porto da Pedra (para citar
as mais bem colocadas no ranking da Liga) servem
para dar mais brilho à apresentação que é feita nas
noites de domingo e segunda-feira de Carnaval.
Com a escolha do Rio de Janeiro para sede dos
Jogos Olímpicos de 2016, sente-se claramente que
uma boa parcela dos meios de comunicação, que
não via no lado sul do globo terrestre fatores maiores para mostrar a seu público, teve de alterar o seu
padrão. E, desde a vitória da Cidade Maravilhosa,
na primeira semana de outubro, quando derrotou
Tóquio, Madrid e Chicago, não há exagero em se
dizer que os olhos do mundo estão voltados para o
Rio de Janeiro.
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Antes do Carnaval tivemos o réveillon, manifestação
que atraiu cerca de 650 mil turistas para o Rio de Janeiro. Foi o primeiro grande evento internacional desde a escolha da sede olímpica. Um evento, porém,
que possui diversos parâmetros de comparação. Todas as emissoras de televisão mostram, no dia 31
de dezembro, as passagens de ano mais famosas no
mundo: Sidney, na Ponte Habour; Moscou, na Praça
Vermelha; Paris, na Avenida Champs Elysees; Londres, nas proximidades do parlamento...
Agora, em fevereiro, porém, seremos somente nós.
O mundo inteiro vai parar para ver o desfile das
Escolas de Samba do Grupo Especial, que pela 26ª
vez será organizado pela Liga. Não se pense, porém, que o padrão de excelência internacional exibido hoje foi conseguido de uma hora para outra, e
sem esforço. Nada disso. Foram necessários anos
de aprendizado. Cada erro cometido era um aviso
e um sinal do que precisava ser alterado, melhorado. Felizmente, ao longo de todo este tempo a
Liga soube olhar para trás e organizar-se – e, claro,
organizar ainda melhor o grande espetáculo.
Para os desfiles de 2010 algumas importantes novidades serão colocadas em prática. Sem alteração
do tempo máximo de apresentação (82 minutos),
cada Escola precisará exibir-se para mais um julgador – agora serão cinco, com as notas extremas
eliminadas. Também serão introduzidos seis novos
elementos cenográficos, que poderão conduzir até
duas pessoas. Tudo pensado para dar ainda mais brilho às performances das Escolas de Samba e manter
a atenção do mundo voltada para o Rio de Janeiro.
A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida presta aqui, uma homenagem em vida ao jornalista esportivo
e de carnaval Vicente Dattoli, que completa em 2010 dez anos ininterruptos de expressivos serviços ao carnaval carioca e à Liga Independente das Escolas de Samba - Liesa, exercendo a função de assessor de imprensa da Liesa.
Graduado pela UFF - Universidade Federal Fluminense, Vicente já trabalhou na redação de diversos importantes
veículos de comunicação, entre eles, Última Hora, Jornal do Brasil e O Dia e TV Globo, tendo iniciado sua atuação
na Liesa à convite do presidente Luiz Pacheco Drumond (2000) e permanecido na função até os dias atuais.
Parabéns, Vicente!
Fevereiro 2010
91
QUER ENCONTRAR
A ALMA CARIOCA?
VÁ À LAPA.
ÍRIS ÁGATHA
Pelos idos de
1751, havia uma
praia chamada
Areias de Espanha ao lado
de uma lagoa
– Lagoa do Boqueirão – tão insalubre e cheia
de mosquitos que o vice-rei mandou aterrar.
Assim surgiu a região conhecida como Lapa, na cidade do Rio de Janeiro.
Em volta de um seminário e uma capela erguida em
nome de Nossa Senhora da Lapa nasceu o bairro-síntese da alma carioca; da boemia, malandragem, travestis (antigamente bem mais discretos),
prostitutas e histórias trágicas ou hilariantes nessa
animadíssima região que se estende do Passeio
Público ao Bairro de Fátima.
Decadente entre as décadas de 40 e 80, a Lapa
está vigorosa, com as mais variadas tribos cariocas
e visitantes que curtem os diversos sons nas ruas e
que ecoam dos velhos casarões reformados. Samba, música eletrônica, choro, forró, salsa e merengue, rock, sinfonia; de tudo se ouve na Lapa.
UM PASSADO CHEIO DE MALANDRAGEM
O radialista Rubem Confete vivenciou o reduto entre os anos 50 e 60, onde “gente de bem” não pisava: “A Lapa era uma região da malandragem. Eu
estava no Juca Pato (Rua Visconde de Maranguape, junto ao Largo da Lapa) e Nelson Cavaquinho
também, com seu violão. Passou uma comitiva de
carros, e num deles estava o Vinícius de Moraes
(diplomata na época), de smoking. Ia ser paraninfo na Faculdade de Direito, na Praça da República.
92
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Quando viu o Nelson, saltou e bradou: ‘Não vou
fazer discurso pra reitor nenhum. A garotada que
venha pra cá’. Resultado: rapazes de smoking e
moças de soirée se formaram no bar.”
Confete conheceu também João Francisco dos Santos, o lendário Madame Satã, encarregado pelos
rufiões de cuidar e defender as “meninas” que moravam no atual Bairro de Fátima. Confete recorda
que, em 1972, Madame Satã, em má situação, recebeu ajuda de uma ex-meretriz viúva de um general.
Nos anos de 1920 e 1930 a vida noturna do bairro era tão intensa que ele foi chamado de “Montmartre Carioca” (alusão a um bairro de Paris, na
França). Havia residências e também cabarés, cassinos, bares e restaurantes. Mas a repressão do
Estado Novo, com o combate às atividades ilícitas,
e a concorrência de Copacabana levaram a Lapa à
decadência.
UM NOVO RUMO
Em 1982 aconteceu uma união em defesa da Lapa.
O Circo Voador fora expulso do Arpoador (Zona Sul
carioca) e a prefeitura da cidade apresentou como alternativa o terreno baldio do Largo da Lapa (que iria
ser uma extensão do estacionamento da Catedral).
Idealizador do Circo, o produtor cultural Perfeito Fortuna conta: “De positivo, o lugar tinha o caráter central, atraía uma variedade de público muito maior que
o Arpoador. O acesso era mais fácil. Só percebemos
isso depois que nos mudamos, e foi muito positivo. O
Circo jogou luz sobre a Lapa e valorizou a região”.
Mas o Circo Voador não só deu um novo rumo à Lapa,
como lançou, na cidade, sucessos como o Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do Sucesso, Lobão, Deborah
Colker e a Intrépida Trupe. Além de lançar, o Circo
Voador exibiu artistas de gerações passadas, como
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Ângela Maria, Cauby Peixoto, e a gafieira moderna
com a Orquestra Tabajara na Domingueira Voadora.
Augusto Ivan, arquiteto e urbanista, trabalhou no
projeto do Corredor Cultural – criado por decreto
pelo então prefeito Marcelo Alencar em 1984 – e na
reurbanização do entorno dos Arcos da Lapa. Segundo Augusto Ivan, que foi subprefeito do Centro e
Secretário Municipal de Urbanismo, ”os comerciantes da Rua do Lavradio vinham fazendo um trabalho
importantíssimo para reabilitar e recuperar a economia da área. Sem o trabalho deles nada teria sido
possível. A reabilitação da rua do Lavradio é um
exemplo para todo o país e mesmo para fora dele”.
Uma outra luta empreendida em favor da memória carioca e que resultou na criação de um ponto de importantes manifestações culturais foi protagonizada na
Fundição Progresso – de fogões e cofres –, localizada
ao lado do Circo Voador. A Fundição estava desativada em 1987 e começava a ser demolida. Os integrantes do Circo Voador, que tinham uma visão apurada
da importância da preservação e da valorização da
arte e da cultura carioca, não se conformaram com
essa situação e foram à luta: com o apoio de artistas
e personalidades cariocas, eles se puseram entre o
prédio antigo e os tratores e marretas, impedindo a
demolição enquanto parte do grupo ia buscar ajuda
para o embargo da demolição por ordem judicial.
O esforço não foi em vão.
Após o esforço do grupo e o apoio da sociedade
civil, o prédio da Fundição Progresso foi mantido de
pé e os governos municipal e estadual concederam
ao Circo Voador o uso do espaço físico da Fundição
para a realização de eventos culturais.
A Fundição surgiu, então, com capacidade de atender um público de cerca de 7000 pessoas, com
quatro teatros, três palcos para shows, uma arena,
o Palco São Sebastião (primeiro piso) e a choperia
Parada da Lapa, para shows.
Na Fundição, importantes grupos artísticos encontraram o espaço para desenvolver suas propostas, entre
eles a Intrépida Trupe, o Centro Interativo de Circo, o
Armazém Cia. de Teatro e o Teatro de Anônimo.
Hoje, a Fundição Progresso permanece um espaço
democrático de acesso à arte e à cultura brasileira,
bem no coração da Lapa.
UM BAIRRO DE MUITAS OFERTAS
Segundo informação da Associação Polo Novo Rio
Antigo existem atualmente cerca de 400 bares,
restaurantes, sebos, antiquários e casas de shows
na região.
Plínio Fróes, diretor da Associação, que liderou a
reabilitação, saiu de Copacabana e foi morar na
Rua do Lavradio. É sócio de três estabelecimentos: da casa noturna Rio Scenarium, da cachaçaria
Mangue Seco e do restaurante Santo Scenarium. A
dançante Rio Scenarium, que chega a receber dois
mil clientes em uma noite, tem novo espaço para
músicas líricas e de câmara.
Li hoje cedo no jornal que a borracharia que havia na Rua
Mem de Sá, na Lapa, enche seu último pneu só até o Natal, começando o ano com
cerveja gelada
e churrasquinho na farofa.
Aliás, tô muito atrasado.
Hoje, aquele cubículo
de graxa e aro 26 tá
sendo disputado por
franquias de barescom-estilo.
A verdade é que esse
bairro trouxe um
novo sol nessa
turma
não
bronzeada.
Através dos
Arcos, novas águas
passam
por cima
dessa ponte
chamada cultura carioca.
O samba acenou de vez pra
juventude, a escuridão de um centro abandonado deu luz
e emergentes boêmios que povoarão de história o futuro
próximo do Rio de Janeiro.
Hoje, não precisamos mais inventar novas ‘rabanadas’
nos pés do lendário Madame Satã, nem depositar aos
malandros punguistas a essência desse logradouro.
As sandálias da Carmem Miranda estão calçando a herdeira Teresa Cristina.
No mesmo chapéu do Geraldo Pereira, a cabeça de Moyses Marques.
O Capela berra a cada cabrito servido.
Do lado, O Bar Brasil põe mais gelo na serpentina pra ‘entulipar’ de chopp os novos e talentosos cariocas, alma de
Manuel Bandeira, sede de Albino Pinheiro.
Não será raro você encontrar alguém entusiasmado pela
Rua do Lavradio, desdenhando da Vieira Souto.
É capaz de frasear: - Lá só tem mar. A Lapa tem vida!!
Moacyr Luz
Santa Tereza, Rio de Janeiro, 22/12/2009
Fevereiro 2010
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DO YOU WANT TO FIND
THE CARIOCA HEART?
GO TO LAPA.
ÍRIS ÁGATHA
Until 1751 there was a beach called Areias de Espanha
nearby a lagoon – Lagoa do Boqueirão – that was so miasmic
and full of mosquitoes that the viceroy ordered it filled in.
This is how the region known as Lapa in the city of Rio de
Janeiro was born.
Around a seminary and chapel built in honor Our Lady of
Lapa grew the neighborhood that’s the essence of the Carioca
soul – filled with Bohemians, rascals, transvestites (more
discreet in the old days), prostitutes and tragic or hilarious
stories. That’s an apt description of this animated region that
stretches from Passeio Público in the downtown Cinelândia
district to the Fátima district.
Decadent between the 1940s and 80s, Lapa is now reinvigorated, attracting the most varied Carioca tribes and visitors
seeking to enjoy the many sounds that echo in the streets
and waft from remodeled buildings turned into nightspots.
Samba, electronic music, choro, forró, salsa and merengue,
rock, even chamber music. Lapa has it all and more.
A PAST FULL OF LOWLIFE
The radio host Ruben Confeti experienced the redoubt in the
1950s and 60s, when “decent folk” dared not enter: “Lapa
was filled with lowlife. I was in Juca Pato (Visconde de
Maranguape Street where it meets Lapa Square) along with
Nelson Cavaquinho, who was holding his guitar. A procession of cars passed by, one of them carrying Vinícius de
Moraes (a diplomat at the time, later one of Brazil’s greatest
composers), wearing an elegant tux. He was going to give a
keynote speech at the School of Law in Praça da República.
When he saw Nelson, he hopped out and shouted: ‘I’m not
going to give a speech to any dean. Let’s go everybody’. The
result: young men in tuxedos and ladies in soirées lined up
at the bar.”
94
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Confeti also was an acquaintance of João Francisco dos
Santos, the legendary drag queen “Madam Satan”, put in
charge by the local ruffians to defend the “girls” who lived
in the Fátima district. Confeti remembers that in 1972,
Madam Satan, having fallen on hard times, received help
from a former call girl, widow of a general.
In the 1920s and 30s the district’s nightlife was so intense
it was called the “Carioca Montmartre” (alluding to the
district in Paris). There were residences along with cabarets,
casinos, bars and restaurants. But the repression during
the Estado Novo dictatorship years (1937-1945), with the
crackdown on illicit activities, along with competition from
newer and more chic nightspots in Copacabana, caused Lapa
to enter a long decline.
A NEW LIFE
A key event in Lapa’s revival happened in 1982.
The Circo Voador (“Flying Circus”) show venue lost its zoning permit in Arpoador (between Copacabana and Ipanema
in Rio’s South Zone) and city officials presented as an alternative a vacant lot across from Lapa Square (which had
been earmarked as additional parking for the Metropolitan
Cathedral). The head of Circo Voador, the producer Perfeito
Fortuna, recounts: “On the plus side, the place was centrally
located and attracted a much more varied public than Arpoador. The access was easier. We only realized this after
the move, and it turned out very positively. Circo Voador
put a spotlight on Lapa and triggered the region’s revival.”
But Circo Voador not only gave a new life to Lapa, it also
provided a stage in the city to launch successful bands
and performers like Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do
Sucesso, Lobão, Déborah Colker and Intrépida Trupe. Besides
new stars, Circo Voador has always also booked old-guard
performers like Ângela Maria and Cauby Peixoto, as well as
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offering modern ballroom dancing to the tunes of Orquestra
Tabajara on Domingueira Voadora (“Flying Sundays”).
governments to use the Progresso Foundry building as a
space to hold cultural events.
Augusto Ivan, an architect and urban expert, worked on the
Cultural Corridor project – created in 1984 by then mayor Marcello Alencar – and on the reurbanization of the area around the
Lapa Arches. According to Augusto, who has been sub-mayor
for downtown and municipal secretary of urbanism, “the merchants on Lavradio Street have been doing important work to
revitalize the area and its economy. Without them none of this
would have been possible. The recuperation of Lavradio Street
is an example for the entire country and even abroad.”
The building has now been remade into a venue that can
hold nearly 7,000 people, with four theaters, three stages for
shows, an arena (the ground-floor Palco São Sebastião) and
the Parada da Lapa beer hall.
Another struggle in favor of preserving Rio’s heritage, one that
resulted in the creation of a venue for important cultural manifestations, was experienced by Progresso Foundry, a maker of
stoves and safes, located alongside Circo Voador. The foundry
was deactivated in 1987 and started to be demolished. The
members of Circo Voador, who had a sharp insight into the
importance of preserving and valuing Carioca art and culture,
refused to stand for this. They joined with performers and
personalities and formed a cordon between the old building
and the bulldozers and wrecking balls, preventing its demolition while their lawyers sought a court order to halt it.
The effort was not in vain.
After this effort, Circo Voador, with the help of civil society
organizations, obtained permission from the city and state
Important artistic groups find a place to develop their projects, among them Intrépida Trupe, Centro Interativo de Circo,
Armazém Cia. de Teatro and Teatro de Anônimo.
Today Progresso Foundry remains a space for democratic
access to Brazilian art and culture in the heart of Lapa.
A DISTRICT WITH MUCH TO OFFER
According to the Associação Pólo Novo Rio Antigo, there
are around 400 bars, restaurants, used bookstores, antique
shops and show venues in Lapa.
Plínio Fróes, the association’s director, led the revitalization effort and moved from Copacabana to an apartment
on Lavradio Street. He’s a partner in three establishments:
Rio Scenarium nightclub, Mangue Seco bar (specialized in
cachaça, Brazil’s homegrown cane liquor) and Santo Scenarium restaurant. The swinging Rio Scenarium, which can
hold two thousand people, even has a new space for lyrical
and chamber music concerts.
Fevereiro 2010
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AMOR PELO
SAMBA
SE APRENDE EM CASA
THAÍS MEDEIROS
– de tantas outras – de muita fibra e determinação.
A primeira delas é a tão conhecida Pinah Ayoub,
Já dizia o velho ditado: “De casa vai à praça”, ou que começou sua história na arte do samba através
ainda “filho de peixe, peixinho é”. Ambas as ex- do Luiz Carlos Ribeiro, decorador com quem partipressões podem ser vistas por muitos apenas como cipava de concursos de fantasias nos teatros cafamosos ditos populares, mas ilustram de forma riocas e que a convidou para desfilar no GRES Em
quase perfeita a realidade de muitas pessoas. Isso Cima da Hora, em 1974. Embora tenha começado
em outra escola de samba, Pinah
porque tem sido muito comum encarrega a Beija-Flor de Nilópolis
contrarmos filhos que por motivos
no coração, e dedica os méritos
diversos acabam seguindo pelo
do que é hoje tão somente ao
mesmo caminho que seus pais. E
samba: “O samba é uma parte
assim como os motivos, as expliessencial na minha vida, ele me
cações para o fato também são
fez quem eu sou, e eu devo honmúltiplas: uma das mais comuns
ras a ele”.
encontra-se na tão conhecida
A segunda é a aderecista Márcia
curiosidade, já que é mais do que
Medeiros, que sempre sonhou em
normal que um filho se interesse
Pináh
e
Cláudia
Ayoub
fazer parte do mundo do carnaval,
pelo trabalho de seus pais.
façanha que conseguiu no ano de
A grande passarela do samba carioca, tablado da alegria e assembléia multirracial, 2003, quando criou coragem e saiu batendo de pornão poderia deixar de ser palco dessa grande “reu- ta em porta nos barracões. A iniciativa rendeu uma
vaga para trabalhar no GRES São Clemente com
nião familiar trabalhista”.
E a Beija-Flor de Nilópolis, fazendo jus ao apelido Milton Cunha, então carnavalesco da escola, e descarinhoso de “princesinha da passarela”, integra-se de o carnaval de 2008 permanece na agremiação niao cenário dessa confraternização servindo como lopolitana. O trabalho é bastante agitado, mas Mársede para essa agregação de famílias e abrindo alas cia está feliz e garante que isso tudo já faz parte de
para essa grande família pelas mãos duas mulheres sua vida: “No momento, o carnaval é uma coisa que
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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eu
já
não
consigo mais ficar
sem. Eu me identifico muito
com o trabalho de carnaval”.
Já Neguinho da Beija-Flor conhece bem a avenida.
Ele começou sua história com o samba de uma forma bem arriscada, já que, seguindo um conselho
de seu comandante, largou sua farda e deixou tudo
para trás para construir sua carreira no mundo da
música, mais especificamente do samba. Sua decisão final foi no quartel, mas seu histórico no samba
já existia desde pequeno: aos dez anos, Neguinho
ganhou o seu primeiro prêmio musical, que ocorreu
em um parque de diversões, onde arrebatou a terceira colocação cantando a música do saudoso Jamelão: “Se acaso você chegasse no meu ‘chateau’
e encontrasse aquela mulher que você gostou...”.
Luís Antônio Feliciano
Marcondes, seu nome
verdadeiro,
tornou-se
peça tão importante na
história da agremiação
de Nilópolis que hoje
é difícil imaginar BeijaFlor nem Neguinho, e
vice-versa.
E assim, como em coração de mãe, a agremiação nilopolitana sempre
abre espaço para mais
alguém. O auxiliar de
almoxarifado Jorginho
Leite começou em meio a
uma forte rivalidade protagonizada pelos então
blocos de carnaval BeijaFlor de Nilópolis e Unidos de Nilópolis. Porém, sua mãe sempre
o incentivou a ir para
a Azul e Branco, escola que aprendeu a
amar e respeitar e
de onde hoje tira
o seu sustento:
“Através do samba, eu estou aqui
trabalhando, criei meus filhos e sempre trabalhei na Beija-Flor.
Quer dizer, o samba é a minha vida e o meu ganha pão”.
E se os filhos são mesmo a luz da casa, como muitos
acreditam por aí, a Beija-Flor está bem representada nesse quesito. Tem filhos para todos os gostos e
estilos. Filhos agitados, filhos calmos, filhos dóceis,
filhos não tão dóceis assim, enfim... filhos. Cláudia Ayoub, filha da ex-destaque Pinah, aceitou com
carinho o incentivo de sua mãe e ingressou nesse
mundo do samba carregando-o como uma herança a ser cuidada e preservada com muito respeito.
História não muito diferente da do aderecista Thiago Medeiros, filho da também aderecista Márcia,
que o trouxe para esse universo carnavalesco como
uma espécie de terapia ocupacional, o qual Thiago
encara também como uma forma de diversão, já
que garante que faz seu trabalho com muito prazer.
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Outro filho, digamos que um tanto quanto dedicado, é o Luís Antônio, mais conhecido como JR que,
embora estivesse esbanjando desejo, não herdou o
dom de seu pai, Neguinho da Beija-Flor. Mas, apesar de não cantar, JR acredita que não teria muito
como fugir desse destino do samba, já que por ter
sempre acompanhado o trabalho de seu pai acabou
conhecendo de A a Z essa profissão. Mas o troféu
de filho “rebelde” foi mesmo para Daniele Leite, filha da Jorginho Leite, que tentou de todas as formas
não “cair no samba”. Mas não teve jeito; o incentivo da família foi mais forte e ela acabou entrando
também para a arte do carnaval. Outro filho muito
“rebelde” é o aderecista Fábio Santos, que seguiu
os caminhos do irmão Fabiano
Santos emprestando sua arte
ao carnaval. É a primeira vez
que os irmãos trabalham juntos
e, embora não estejam juntos
o tempo todo, estão achando
muito boa a ideia de trabalharem no mesmo ramo e na Beija-Flor de Nilópolis. Quem também adora trabalhar em família
é a aderecista Leide Jane dos
Santos, que divide a bancada
com sua irmã Marisa dos Santos há cerca de cinco anos. Elas
garantem que mesmo que não
houvesse um incentivo mútuo,
ainda assim buscariam esse
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
mundo do samba.
Ainda no setor adereço, os irmãos Rogério Madruga e
Dora começaram
com o pé direito.
Isso porque Dora,
ainda lá no interior,
na de cidadezinha de São
Fidélis, onde moravam, ganhou o concurso
para rainha do carnaval. Mas a faísca reacendeu
mesmo quando, já no Rio de Janeiro, visitou o seu
irmão no barracão da Beija-Flor de Nilópolis.
A defensora do pavilhão da escola Selminha Sorriso aparece fechando com chave de ouro esse time
de irmãos. Seu irmão, Celso Matos, atribui o seu
ingresso ao carnaval não só ao seu interesse por
essa arte, mas principalmente à admiração pelo
trabalho de sua irmã e sua força de vontade. E dando aquela forcinha para o samba, define-o como a
“cultura do mundo”.
Contudo, essa grande família não se encerra por aqui,
já que toda família feliz conta também com os tios,
que aqui estão representados pela chefe de ateliê
Bete Leite, irmã de Jorginho Leite. E, coincidência
à parte, também teve um pai compositor, que come-
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çou
levando-a
para a quadra da Beija-Flor,
e logo depois carregou o seu irmão também,
e a partir daí desenvolveu-se a paixão por essa
arte. E já que tem tia, não poderia faltar o famoso
primo. Alex Marcondes, sobrinho do também patriarca Neguinho da Beija-Flor, começou sua vida
na arte do carnaval devido ao forte interesse que
possuía por arte em geral, e acredita que samba
se aprende sim em casa, já que no seu caso foi de
onde veio o incentivo maior.
Neste sentido, os protagonistas, além de serem
grandes profissionais, são provas de que o incentivo familiar é essencial para a valorização por parte
dos mais jovens dessa arte divina que é o samba.
A reunião termina aqui; porém, as cortinas desse
espetáculo permanecerão abertas para sempre,
oferecendo ao público os próximos espetáculos
protagonizados pelos herdeiros das nossas histórias, que farão do samba uma eterna e maravilhosa arte de ser feliz.
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EXPRESSÃO DO SAMBA
Instituído pela revista Beija-Flor de Nilópolis – uma escola de vida, o título de “Expressão do Samba”
reconhece o talento e a dedicação que personalidades das artes e da cultura brasileiras devotaram ao
samba e ao Carnaval. A homenagem é realizada durante o coquetel de lançamento da revista, quando o
presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis, Anizio Abrão David, recebe os indicados, amigos e convidados, numa cerimônia de congraçamento animada e fraternal. A indicação dos homenageados é feita pelo
conselho editorial da RBFN, liderado por Hilton Abi-Rihan e Ricardo Da Fonseca (editores) e por Anizio,
o anfitrião da grande noite, que acontece no Clube Monte Líbano, no Rio de Janeiro. Eleitos na edição
passada, Alcione, Jorge Goulart, Zé-Di, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão e Délcio Carvalho tiveram seus
nomes confirmados como os homenageados este ano.
MIRO LOPES
Alcione é música do Brasil
Acesa, atenta e perfeccionista, a cantora (e trompetista) sabe detectar mais do que as sutilezas de
uma letra e a força de uma melodia, que se enriquece com seu talento e interpretação. Disso ninguém
discorda. E sua trajetória e sucessos confirmam.
Em 1972, Alcione gravou pela primeira vez um
compacto simples com os sambas “O sonho acabou” (Gilberto Gil) e “Figa-de-Guiné” (Nei Lopes
e Reginaldo Bessa). No ano seguinte gravou “Tem
dendê”, outro samba da dupla. Reginaldo declara
que “é um orgulho que vou sempre levar comigo,
o de ter participado da alvorada deste sol maravilhoso que é a voz de Alcione”. E sacramenta: “não
existe prazer maior para um autor do que ver sua
obra bem interpretada”.
Assim, a Marrom ultrapassa pouco mais de três
décadas pontificando nas paradas com sucessos
memoráveis – “Não deixe o samba morrer”, “O
surdo”, “Meu ébano”, “Você me vira a cabeça” – e
ganhando prêmios como o Sharp, Tim e Grammy
Latino. Atenta e acesa, Alcione homenageou Jamelão em “Pedra 90”. Acesa e atenta Alcione dedicou “Faz uma loucura por mim” ao radialista Luiz
Carlos Paladino. Atenta e acesa, Alcione faz justiça
as suas origens e grava artistas de sua terra: Carlinhos Veloz (“Jóia rara”) e Raimundo Makarra (“Boi
de lágrimas”). Acesa e atenta, Alcione lança novos
autores e cantores, como Telma Tavares, autora da
música título do atual CD da Marrom. E recebe no
100
Revista Beija-Flor de Nilópolis
show
Áurea
Martins, sua
amiga desde
os tempos do
Beco das Garrafas,
onde
começaram
suas carreiras.
Lançado ano
passado, “Acesa” é mais uma
comprovação
desnecessária e inevitável de que Alcione é uma
expressão maior do samba.
Considero Alcione a mais carioca de todos os maranhenses. A mais mangueirense também. E a mais
sambista (por que não?) de todas as cantoras não
cariocas. Há 38 anos vivendo na Cidade Maravilhosa, ela ratifica seu amor à capital: “O Rio sempre
foi pra mim uma cidade sem defeitos”, disse ao repórter global que pedia a opinião da cantora sobre
os problemas sociais que assolam a cidade. Porém,
Alcione faz uma ressalva: “mas eu acho que precisa
fazer uma ocupação cultural nos morros”.
Sem sombras de dúvidas, Alcione adotou o Rio
como sua segunda terra natal e fez também da
Estação Primeira sua segunda casa. Ela prestigia
todos os eventos e projetos da Verde e Rosa. É madrinha dos meninos da Mangueira da escola mirim
e da Orquestra de Violinos. Enfim, o coração de
Alcione é verde e rosa.
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Jorge Goulart, o dono da voz
Quando se fala de Jorge Goulart, a memória sempre nos remete às marchinhas que ele tornou inesquecíveis, por mais que nos sonegem esse delicioso
entretenimento momesco. Alguém imaginaria que
um cantor criado em Vila Isabel, que coleciona marchinhas de sucessos como “Cabeleira do Zezé”,
“Joga a chave meu Amor”, de João Roberto Kelly,
“Miss Mangueira” de Antônio Almeida e “Balzaqueana”, de Antônio Nássara, entre outras, seja um
inveterado imperiano e por isso tenha por escolha
e admiração uma estreita e importante relação com
o mundo do samba? Pois é, foi ele quem cantou
pela primeira vez um samba-enredo no rádio. Quer
mais ainda: acompanhado pela Orquestra Sinfônica
da Rádio Nacional de São Paulo. O samba era de
Elton Medeiros.
Bastava isso para ele se inscrever na história do
samba, mas tem mais: Jorge Goulart foi o primeiro
cantor profissional a puxar um samba-enredo, justamente “O Último Baile da Monarquia”, de autoria
de Silas de Oliveira. Por seis anos puxou sambas
do Império Serrano, no megafone, dispensando
qualquer pagamento, pois seu objetivo era contribuir para a divulgação dos compositores do morro.
Fez o mesmo na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos de Vila Isabel.
Primogênito do jornalista Iberê Bastos e da cant o
ra Arlete Neves Bastos, foi registrado
como Jorge Neves Bastos. O nome
artístico foi sugerido pela notável
rádio-atriz Heloísa Helena, inspirada numa marca de elixir ( Inhame
Goulart ) e na potência do vozeirão
do cantor, que recebeu de César de Alencar o epíteto
de “Gogó de Ouro”,
por suas interpretações de “Dominó”, “Smile”,
“Laura”
e
“Jezebel”.
Paralelamente,
Jorge
Goul a r t
participava
dos filmes da
Atlântida, como “Carnaval de fogo”, “Aviso aos
Navegantes”, entre outros. Durante dois anos
foi figura destacada do
espetáculo teatral “Um
Milhão de Mulheres”.
Mas Jorge começou a
cantar ainda menino, no
programa “Escada de
Jacó”, do professor Zé
Bacurau, ganhando o
1º prêmio. Antes dos 18
anos,já atuava em circos
e “dancings”, aumentando a idade para isso.
Estudou no Colégio Pedro II, onde começou sua
participação política. Como militante, Jorge Goulart sofreu as agruras impostas pelo golpe militar
de 1964. Em 1983, extraiu a laringe e, mesmo sem
seu principal instrumento de trabalho, se apresenta
dublando seus sucessos. Até se expressando por
gestos, o gogó de ouro está sempre cantando.
Dona Ivone Lara, a senhora do samba
Negra, pobre e mulher, Yvonne Lara da Costa viveu
todas as mazelas de gênero, raça e desigualdade social ao longo de quase nove décadas de vida. Nasceu em Botafogo, passou a infância num internato,
aprendeu a tocar cavaquinho e se formou em enfermagem trabalhando no tratamento para doentes
mentais com a Drª Nise da Silveira (que introduziu
a psicologia junguiana no Brasil). Depois exerceu as
atividades de assistente social nessa área até se
consagrar como, simplesmente, Dona Ivone Lara,
nome artístico sugerido pelo radialista e apresentador Oswaldo Sargentelli, o rei do ziriguidum.
Mudou-se para Madureira nos anos 40, passou a
compor para a Prazer da Serrinha, participou de
rodas de samba e conviveu com as mais significativas expressões do samba, do jongo e do choro,
até consolidar sua carreira com determinação e trabalho, mas, principalmente, com seu talento para
fazer melodias.
Embora sua vocação já se tivesse manifestado aos
12 anos, quando compôs “Tiê, tiê”, os mais de 70
anos de carreira de Dona Ivone Lara se contabilizam a partir do momento em que, oficialmente, ela
faz da música sua ocupação definitiva. Até então,
a seu pedido, o tio Fuleiro (um dos fundadores do
Império Serrano e seu parceiro no samba-enredo
Fevereiro 2010
101
“Não me Perguntes”) cantava as composições da
sobrinha como se suas fossem, devido ao machismo da época. Quando Fuleiro revela a autoria das
canções, Dona Ivone se torna a primeira mulher a
integrar a ala de compositores de uma escola de
samba, consagrada como parceira ‘intrometida’ de
Bacalhau e Silas de Oliveira em “Os Cinco Bailes
da História do Rio”(1965). No livro “Nasci para
Sonhar e Cantar”, Mila Burns conta como se deu
a parceria: “Silas e Bacalhau não conseguiam escrever o hino do Império. Haviam bebido demais.
Quando Dona Ivone os encontrou e soube da dificuldade, cantarolou parte de uma melodia, que logo
ganharia os inspirados versos da dupla. E a obra
estava completa.”
Participou das rodas de samba do Teatro Opinião
nos anos 60, vindo a gravar o primeiro disco apenas
em 1978. Nesse mesmo ano, seu maior sucesso,
“Sonho Meu”, em parceria com Délcio Carvalho, é
gravado por Gal Costa e Maria Bethânia. A música
foi premiada como a melhor do ano.
Aos 93 anos, Dona Ivone agradece a Deus e diz
que não pensa em parar de cantar e compor: “Desde que Ele e Nossa Senhora das Cabeças conservem minha cuca direita.” Assim seja!
Zé Di e o “xamêgo” premiado
Paulista de nascimento - afinal “sambista não pede
lugar pra nascer” - o salgueirense de coração Zé
Di (nova grafia
para o nome artístico, com
o qual o poeta-cantador Luiz Vieira
batizou José
Dias) está se preparando “para
quando o Carnaval
chegar ”.
Cultivado desde
o
início
de carreira, seu
v a s t o
e
respeitável
bigode
não chega para
esconder um sor-
riso largo pela satisfação que sentiu ao receber o
convite para desfilar com seu “Salgueiro chorão”.
Zé Di já pensa numa nova roupa vermelho e branco, além de programar o descanso da garganta e
tranquilidade da alma, tudo isso para seu regresso
à Passarela do Samba dez anos depois. Assim vai
comemorar seu retornou à ala de compositores do
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, escola que lhe
deu o campeonato de 1974, com o enredo “Rei da
França na Ilha da Assombração”, samba dele e Luiz
Malandro.
Como autor, Zé Di sempre encontrou abrigo no repertório de intérpretes dos mais variados gêneros
musicais. De Wanderley Cardoso a Sérgio Reis,
do internacional Cauby Peixoto a Benvienindo
Granda, de Marlene à Emilinha Borba, de Waldick
Soriano a Sílvio Mazurca e sua orquestra, de Luiz
Vieira (é claro!) à Alaíde Costa, muitos cantores
fizeram suas composições, como “Samba Sem
Viola”, “Perdoe meu amor”, “Salgueiro Chorão”,
“Último Verão”,”Caminhos do Amor”, chegar ao
grande público. Jair Rodrigues é quem registra o
maior número de gravações assinadas por Zé Di.
E a louruda Hebe Camargo fez o seu lançamento
fonográfico, com a gravação de Catira (dele e Luiz
Vieira) vencedora do 1º Festival da Música Sertaneja, em 1966.
Até o então sisudo e radical José Ramos Tinhorão –
crítico musical temido por cantores e compositores
– se rendeu ao talento de Zé Di,: “de fato (...), dois
sambas do próprio Zé Di, os intitulados ‘Meu Recado’ e ‘Não Me Atire Pedra’ - recomendam por si
só a compra do LP”. Em “Meu Recado”, observou
Timborão, Zé Di conta e canta maravilhosamente
a sua própria experiência de criador das camadas
humildes, confessando seu deslumbramento diante
do sucesso, e aproveitando para responder aos que
estranhavam o fato de um paulista ser capaz de se
revelar bom compositor de sambas.
Jorge Aragão, um sambista de respeito
Quem nasceu no Rio, já nasceu com um pé no samba, canta Aragão, que nasceu em Padre Miguel,
num dia 1º de março, data do aniversário da Cidade Maravilhosa. Cria do subúrbio carioca, Jorge
foi educado nas rodas de samba de fundo de
quintais, sem grana, sem glória, enfrentando
preconceitos e desdém até chegar onde
chegou. Está tudo isso aí escrito no
autobiográfico e inspirado samba
102
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
“Moleque Atrevido”, que
fez com Flávio Cardoso e
Paulinho Rezende. Em tom
de ressentimento, Aragão
responde, com apurada afinação, alguns atrevimentos
que julga ter sido vítima.
Susto o coração já lhe deu,
mas continua em estado de
graça com a vida. Entretanto, não faz mais sentindo o
‘moleque atrevido’ versejar
“procure primeiro saber
quem eu sou”.
Depois de ter gravado dezenas de discos, CDs e
vídeos, vendido milhões
de cópias desses produtos e com eles colecionado
muitos sucessos e prêmios, hoje todo mundo sabe
quem é Jorge Aragão. A nova geração pode não
saber que Aragão fez parte da formação original do
Fundo de Quintal, mas jamais pode afirmar que não
sabia que “Coisinha do pai” (uma parceria Dida e
Neoci Dias) serviu para acordar ‘Mars Pathfinder’,
robô da Nasa que fez pesquisas em Marte e, muito menos, que desconhece esse samba. Além da
interplanetária “Coisinha do pai” (composta com
Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila), quem já não
sacudiu o corpo com a comemorativa “Vou festejar”?! Ambas foram gravadas por Beth Carvalho,
madrinha dos pagodeiros do Fundo de
Quintal, onde Aragão ganhou fama de
bamba, como músico e compositor.
Com o projeto “Samba de bambas”, apresentado no Canecão,
Jorge Aragão lançou, em 2005, a
Velha Guarda Musical da Beija-Flor
de Nilópolis. E mais recentemente,
compartilha seu interesse pela
gastronomia com os fãs
que frequentam o restaurante Bossa Nossa, na Barra da Tijuca
(onde Jorge Perlingeiro grava o programa “Samba de
Primeira”). Não dá
para não concordar
com o ‘moleque
atrevido’; tem que
se respeitar quem
soube chegar onde a
‘gente’ chegou.
Délcio Carvalho, poeta, sambista e cidadão
carioca
Carioca, como diria Fernando Sabino, é alguém
que, tendo nascido em qualquer parte do Brasil (ou
do mundo) mora no Rio de Janeiro e enche de vida
as ruas da cidade. Délcio Carvalho deixou Campos
dos Goytacazes, no norte fluminense, onde nasceu
e veio para o Rio cantar nos bailes da vida e exercer
sua profissão de compositor. Daí, Délcio encheu as
ruas, os botecos, os clubes da cidade, o radinho lá
de casa com samba e poesia. Batizado na roda de
samba por uma casta rara de bambas de primeira linha, como Carlos Cachaça, Monarco, Nelson
Sargento, Zé Kéti , Aluisio da Mangueira , Jorge
FP (parceiro de Candeia) e Silas de Oliveira, que
certamente abençoou a parceria Délcio-Dona Ivone Lara, já que o primeiro sucesso da dupla, “Alvorada”, nasceu durante as exéquias do baluarte do
imperiano. E tempos depois, a carioquice de Délcio
é sacramentada pela Medalha Pedro Ernesto, que
oficializa sua cidadania carioca.
Dona Ivone é uma parceira constante (“Acreditar”,
“Liberdade”, “Minha Verdade” e “Sonho meu” - gravado por Maria Bethânia, Gal Costa e Clementina
de Jesus,). Assim também foi Ivor Lancelloti (“Havia festa”, “Clarão”, “Velha cicatriz”, “Quando essa
paixão me dominar”, etc.) e seguindo o rastro, vem o
compositor Mário Lago Filho (“A voz que ficará” - uma
homenagem a Mário Lago, “Arma da paixão”, “Cara
ou coroa”, “Estranho”, “Apertamento”, “Coisa feia”
e “Eu estou sofrendo”). A parceria com Francis Hime
aconteceu. Compuseram “De repente”, que Peri Ribeiro gravou para a minissérie sobre a vida de seus
pais, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.
A rotina de gravar e regravar dá margem a equívocos, como não dar crédito aos autores das
composições, principalmente quando não são as
do próprio. O MPB-4 cometeu a omissão em “Nasci para cantar e sambar”, mas não titubeou na hora
de fazer o reparo publicamente
com uma carta aberta distribuída para a imprensa. E Aquiles,
Dalmo, Magro e Miltinho, integrantes do MPB4, não exageram quando afirmam: “E
estamos certos de que o
samba e a música brasileira muito devem a Délcio
Carvalho”.
Fevereiro 2010
103
Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília: do
sonho à realidade, a capital da esperança
Dádivas o Criador concedeu
Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal
Lágrimas, fascinante foi a ira de Tupã
Diz a lenda que o mito Goyás nasceu
O brilho em Jaci vem do olhar
Pra sempre refletido em suas águas
A força que fluiu desse amor é Paranoá... Paranoá
Óh! Deus sol em sua devoção
Ergueu-se no Egito fonte de inspiração
Pássaro sagrado voa no infinito azul
Abre as asas bordando o cerrado de Norte a Sul
Ah! Terra tão rica é o sertão
Rasga o coração da mata desbravador!
Finca a bandeira nesse chão
Pra desabrochar a linda flor
No coração do Brasil, o afã de quem viu um novo amanhã
Revolta, insurreições, coroas e brasões
Batismo num clamor de liberdade!
Segue a missão a caravana em jornada
Enfim a natureza em sua essência revelada
Firmando o desejo de realizar
A flor desabrochou nas mãos de JK
A miscigenação se fez raiz
Com sangue e o suor deste país
Vem ver... A arte do mestre num traço um poema
Nossa Capital vem ver ...
Legião de artistas, caldeirão cultural!
Orgulho, patrimônio mundial
Sou candango, calango e Beija-Flor!
Traçando o destino ainda criança
A luz da alvorada anuncia!
Brasília
capital da esperança
104
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan
VIDA SÓ VALE SE FOR
POR PRAZER
Life is only worthwhile
if lived with pleasure
2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21.
Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a
chegada do século 21?.
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.
Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um
ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta
sobre o que temos feito de
nossas vidas.
Quantos de nós podemos
olhar para trás e dizer: no
novo século, fiz tantas coisas
novas e diferentes, construí e
realizei novos sonhos, deixei
o que não prestava para trás
e avancei em busca de novas
conquistas e alegrias.
Quantos de nós?
O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes
mudanças de comportamento
- pode ser o estímulo para a
construção de anos cada vez
melhores, aproveitando cada
minuto e cada momento com
prazer.
O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de
ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir...
Hoje é carnaval.
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,
cantar....
E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para
nos oferecer alegres e descontraídos momentos de
alegria e prazer.
Então não perca essa oportunidade!
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só
vale se for por prazer”.
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year
of the first decade of the twenty-first century. How many of
us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life,
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,
smiles not shared.
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How
many of us can look back and say: in the new century
Neide Tamborim
I’ve done many new things, constructed and realized new
dreams, left behind the bad and advanced in search of new
conquests and happiness. How many of us can say this?
The year that has already started – marking the end of a
decade that was filled with important changes in behavior
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,
smiling ....
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing
and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.
Fevereiro 2010
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan
VIDA SÓ VALE SE FOR
POR PRAZER
Life is only worthwhile
if lived with pleasure
2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21.
Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a
chegada do século 21?.
Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere,
indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos
não buscados, aos sorrisos não compartilhados.
Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um
ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta
sobre o que temos feito de
nossas vidas.
Quantos de nós podemos
olhar para trás e dizer: no
novo século, fiz tantas coisas
novas e diferentes, construí e
realizei novos sonhos, deixei
o que não prestava para trás
e avancei em busca de novas
conquistas e alegrias.
Quantos de nós?
O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes
mudanças de comportamento
- pode ser o estímulo para a
construção de anos cada vez
melhores, aproveitando cada
minuto e cada momento com
prazer.
O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de
ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir...
Hoje é carnaval.
Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar,
cantar....
E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para
nos oferecer alegres e descontraídos momentos de
alegria e prazer.
Então não perca essa oportunidade!
Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite!
Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz
o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só
vale se for por prazer”.
2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year
of the first decade of the twenty-first century. How many of
us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would
bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life,
indifferent to plans not materialized, dreams not pursued,
smiles not shared.
For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year
for reflection on what we’ve been doing with our lives. How
many of us can look back and say: in the new century
Neide Tamborim
I’ve done many new things, constructed and realized new
dreams, left behind the bad and advanced in search of new
conquests and happiness. How many of us can say this?
The year that has already started – marking the end of a
decade that was filled with important changes in behavior
– can stimulate us to build better lives, by taking advantage
of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure
of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming,
smiling ....
Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing
and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are
here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss
this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet
said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”.
Fevereiro 2010

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