opinião - Revista Rogate
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OPINIÃO OPINIÃO Bíblia: inspiração vocacional N a Liturgia da Igreja celebramos o mês de setembro como o mês da Bíblia. Esta é, sem sombra de dúvida, uma ótima oportunidade para pensarmos em nossa vocação de filhos e filhas de Deus, o qual nos chama para viver no seu amor. O vocacionado e a vocacionada encontram na Sagrada Escritura o modo como Deus se revela ao mundo, seja através de símbolos naturais ou teofanias, como no Antigo Testamento (exemplos: Ex 13,21ss; 19,16ss), ou por meio de seu Filho, Jesus Cristo (cf. Lc 17,30; 1Cor 1,7). Encontram, também, o modo como chama cada pessoa do meio do povo para ser enviada a todos, como discípulo e discípula de seu Filho, missionário e missionária de Jesus. Na autêntica escuta da Palavra de Deus observamos a origem e o fundamento da fé cristã. A acolhida desta Palavra nos possibilita responder o chamado que Deus faz a cada um de nós frente aos desafios e à realidade do mundo de hoje. Uma realidade na qual facilmente o ser humano se deixa corromper pelo mal e fecha seu coração para não ouvir a voz divina. A Palavra de Deus é o lugar onde podemos fazer a experiência do próprio Deus e cumprir a nossa missão na Igreja e no mundo, assim como fizeram tantos ícones da resposta vocacional, casos de Abraão, Moisés, os profetas; Pedro, André, Tiago e João; Maria, os evangelistas, Paulo... O que não falta na literatura bíblica são os inúmeros relatos vocacionais de homens e mulheres que encontraram na Palavra de Rogate 275 set/09 Deus inspiração para responder ao chamado divino e viverem sua vocação de modo livre e consciente, colocando seus dons a serviço da comunidade. E esta dinâmica se mantém. A Palavra de Deus continua a chamar discípulos e missionários, operários e operárias para a messe. Dentre tantos exemplos de santos e santas na caminhada da Igreja, destacamos o testemunho de Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927), considerado o “antecipador da moderna pastoral vocacional”, o apóstolo da oração pelas vocações. Ele que tão bem soube vivenciar e dedicar toda a sua vida a partir do mandamento de Jesus: “Rogai ao Senhor da messe para que envie operários à sua messe” (Mt 9,38; Lc 10,2). Assim como ele, inúmeras pessoas se inspiram na Palavra de Deus e respondem ao seu chamado. Busquemos, pois, na Palavra de Deus inspiração para viver o nosso batismo como fonte de todas as vocações, para encontrar um novo jeito de promover o serviço de animação vocacional. Por meio desta Palavra poderemos melhor compreender a verdade revelada, o plano da Trindade Santa, o sentido da nossa fé, caminhando em direção ao discipulado e à dimensão missionária de nossas vidas, frente a atual conjuntura da ação evangelizadora da Igreja na América Latina e no Caribe, testemunhando Jesus Cristo, o Bom Pastor, Palavra eterna do Pai por vocação. Dárcio Alves da Silva Religioso Rogacionista 1 EDITORIAL C NESTA EDIÇÃO ontagem regressiva para o 3º Congresso Vocacional do Brasil. Exatamente daqui a um ano estaremos celebrando a terceira edição deste grande evento, que reúne animadores vocacionais de todos os cantos do país. Capa e “Entrevista” retratam esta realidade. O congresso, na verdade, já começou! A mobilização vai aumentando pouco a pouco. Em breve teremos o Instrumento de Participação ou Texto-base, que ajudará na reflexão e preparação, além do cartaz e hino oficial. Conforme adiantado no “Editorial” da última edição, iniciamos a apresentação do documento preparado pela Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, um dos temas do 18º ENSAV - Encontro Nacional do Serviço de Animação Vocacional (cf. seção “Especial”). Está dividido em quatro partes e servirá para iluminar a caminhada das equipes vocacionais em sua missão específica. A seção “Opinião” nos recorda que estamos vivenciando o mês da Bíblia, importante fonte de inspiração vocacional. E a quarta capa lembra os 15 anos de “Grito dos Excluídos”, com um tema pertinente: “Vida em primeiro lugar; a força da transformação está na organização popular”. Entrevista 3º Congresso Vocacional do Brasil: contagem regressiva Animação Vocacional 1º Encontro Latino-americano de IPVs 09 Atualidades Carta faz balanço e destaca compromissos das CEBs Lançada em maio de 1982, a revista Rogate tem registro de matrícula em São Paulo, 01/10/87, no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Registros de Títulos e Documentos, sob o nº 98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da Lei Federal nº 5.250, de 1967. A revista é de propriedade dos Rogacionistas do Coração de Jesus, em colaboração com as revistas: Rogate Ergo e MondoVoc (ltália), Vocations and Prayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas). 2 Os artigos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Revista 11 Especial No caminho do “discipulado missionário” - 1ª parte 13 Animação Vocacional Jovens cristãos: promovidos em “educação sexual” 18 Informação 21 Leitor 23 Mística da Vocação Inácio de Loyola, evangelizador corajoso 24 ENCARTES A Turma do Triguito Celebração Vocacional Os mistérios da glória na ótica vocacional Capa: Cartaz do 3º Congresso Vocacional do Brasil, um dos destaques desta edição (cf. “Entrevista”). DIRETOR DE REDAÇÃO SEDE CENTRAL/CONTATOS Juarez Albino Destro Direção, Editoria, Secretaria e Administração: Tel./Fax: (11) 3932-1434 / 3931-3162 E-mail: [email protected] Http://www.rogate.org.br Rua Comandante Ferreira Carneiro, 99 02926-090 São Paulo SP Brasil EDITOR Ano XXVIII - nº 275 Setembro de 2009 03 Jefferson Silveira COLABORADORES Armando Del Mercato (capa), Guido Mottinelli (Animação Vocacional), Osmar Koxne (Triguito) e Patrício Sciadini CONSELHO EDITORIAL Izabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves da Silva, Dilson Brito da Rocha, Maria da Cruz Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres JORNALISTA RESPONSÁVEL Ângelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP IMPRESSÃO Gráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR) ASSINATURA ANUAL Nacional: 40 reais (10 edições ao ano) Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares América - 30 dólares Europa - 50 euros Pagamento por Cheque Nominal, Vale Postal (agência 72.300.159-SP) ou Depósito Bancário - Banco Bradesco, agência 117-1, conta número 92.423-7, Centro Rogate do Brasil (CNPJ: 83.660.225/0004-44). Neste caso, enviar o comprovante por fax, correio ou e-mail, com nome e endereço completos. Rogate 275 set/09 ENTREVISTA ENTREVISTA 3º Congresso Vocacional do Brasil: contagem regressiva Ângelo Mezzari, religioso Rogacionista e sacerdote há quase 25 anos, participou ativamente do processo de organização dos Congressos Vocacionais do Brasil de 1999 e 2005, e está também na equipe preparatória à terceira edição, que se realiza exatamente daqui a um ano Fotos: Arquivo Rogate C om um histórico amplo no serviço de animação vocacional, seja no âmbito de sua congregação ou da Igreja do Brasil, através da participação em comissões ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ou do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), o religioso Rogacionista, padre Ângelo Ademir Mezzari, 53 anos, é o entrevistado desta edição. E fala sobre o 3º Congresso Vocacional do Brasil, que será realizado exatamente daqui a um ano, de 03 a 07 de setembro de 2010, em Itaici, município de Indaiatuba (SP). O tema recorda a 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizado em Aparecida: “Discípulos missionários a serviço das vocações”. O lema escolhido vem do evangelista Mateus (28,19): “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações”. Pe. Ângelo já foi entrevistado outras duas vezes pela Rogate. Em dezembro de 2002 (edição 208) falou sobre as expectaRogate 275 set/09 tivas de seu governo, ao ser eleito Provincial dos Rogacionistas para a América Latina; em agosto do ano passado (edição 264) refletiu sobre os 15 anos do IPV, do qual participa ativamente desde sua fundação, em 1993. De fato, presidiu a diretoria executiva por nove anos (1993-2002) e atualmente, desde o ano 2002, preside o conselho superior, formado pelos provinciais dos institutos religiosos que compõe a entidade. É natural de Forquilhinha, cidade que na época de seu nascimento era um distrito de Criciúma (SC). Em dezembro deste ano celebra seus 25 anos de ministério presbiteral. Jornalista, foi um dos mentores da revista Rogate, da qual é o “responsável”. Mestre em Teologia Dogmática, assessora grupos e outros institutos, auxiliando também na Escola de Preparação para Animadores Vocacionais (ESPAV), do IPV. Pe. Ângelo faz parte da Comissão Executiva que está preparando o 3º Congresso Vocacional do Brasil. 3 3º Congresso Vocacional do Brasil ENTREVISTA Data: 03 a 07 de setembro de 2010 Rogate: Vamos começar nossa conversa perguntando por que realizar uma terceira edição do Congresso Vocacional do Brasil... Ângelo: Esta é uma pergunta comum que fazemos neste tempo em que se divulga e se organiza o 3º Congresso Vocacional do Brasil. O novo evento propõe-se a celebrar a caminhada do serviço de animação vocacional, a aprofundar a teologia das vocações na perspectiva do discipulado e da missionariedade, a consolidar a identidade do animador e da animadora, e do próprio serviço de animação vocacional. Também quer oferecer pistas de ação para o trabalho vocacional. De um lado temos a realidade que nos provoca, de uma multidão cansada e abatida, “o rosto humilhado de tantos homens e mulheres de nossos povos”, como afirma o Documento de Aparecida (n. 32), também por falta de pastores, de ministros, de lideranças. De outro, escutamos o apelo da fidelidade ao mandato de Jesus, de anunciar o Reino, de evangelizar, de pedir ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe (cf. Mt 9,32-35; Lc 10,2). Deseja-se dar continuidade ao processo de realização dos congressos vocacionais, o que tem acontecido a cada cinco anos aproximadamente. Neste sentido, é importante a fidelidade ao que se fez e viveu, mas também a novidade, capaz de gerar um novo espírito e um novo coração. Pois é sempre tempo para construir o novo na Igreja e no serviço de animação vocacional, tempo de avançar e de planejar, pois todos os “discípulos missionários” são responsáveis e estão a serviço das vocações. Tema: “Discípulos missionários” a serviço das vocações Lema: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (cf. Mt 28,19) Objetivo geral: Aprofundar o tema do “discípulo missionário” a serviço das vocações, em uma Igreja ministerial, na construção do Reino de Deus. Objetivos específicos: a) celebrar a caminhada do serviço de animação vocacional; b) aprofundar a teologia das vocações na perspectiva do discipulado e da missionariedade, à luz de Aparecida; c) consolidar a identidade do animador e do serviço de animação vocacional na fonte da Palavra de Deus; d) oferecer pistas de ação para o serviço de animação vocacional, insistindo particularmente no itinerário e no planejamento vocacional. Justificativa: Realizar o 3º Congresso Vocacional como expressão da caminhada vocacional da Igreja no Brasil, no processo de continuidade de realização dos congressos, acolhendo as orientações do Sínodo sobre a Palavra de Deus e da Conferência de Aparecida, com seus referenciais para a vida (discipulado) e para o serviço das vocações (missão). Estratégias: a) cronograma das principais ações (antes, durante e depois); b) Instrumento de Participação, como subsídio de reflexão para as Igrejas Particulares, equipes e seus animadores vocacionais; c) motivar e divulgar o evento. Responsáveis: CMOVC-CNBB (Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e Comissão Executiva do Congresso. 4 Rogate: No tema do congresso se percebe o “respiro” de Aparecida. Qual a importância desta ligação? Rogate 275 set/09 ENTREVISTA Ângelo: De fato, nesta fase de prepavemos realizar, o de despertar, discernir, ração ao congresso pretende-se acolher, cultivar e acompanhar a vocação dos baticomo horizonte e referência, não apenas zados para que sejam verdadeiramente o Documento de Aparecida, com todas as “discípulos missionários” de Jesus Cristo. suas indicações, mas também o Sínodo Esta tarefa protetora e alimentadora da fé, dos Bispos sobre a Palavra de Deus na e de memorial, também é nossa, e querevida e na missão da Igreja. Temos as promos cada vez mais assumi-la integralmenposições aprovadas pelos padres sinodais te. A ordem de Jesus é explícita, objetiva, e estamos na expectativa de uma Carta é ir, e fazer discípulos. O Documento de Encíclica do papa Bento XVI Aparecida, em seu número sobre a temática. Aparecida e 100, recorda que entre tantos o Sínodo darão importantes desafios enfrentados pela referenciais teológicos e pasIgreja, constata-se também o torais para a vida - o discipunúmero insuficiente de sacerlado - e o serviço das vocadotes e sua não equitativa disções - a missão. Soma-se a estribuição, e a relativa escastes dois eventos, a sintonia sez de vocações ao ministépara com o Ano Sacerdotal, rio e à vida consagrada. Cerconvocado recentemente pelo tamente esta carência pode papa Bento XVI, com o tema: ser estendida aos demais mi“Fidelidade de Cristo, fidelinistérios, somos testemunhas dade do sacerdote”, com o obe temos consciência disso. À jetivo de fazer perceber semescassez, ao número insuficipre mais a importância do ente e a uma não justa distriserviço e da missão do sacerbuição, mais do que ninguém, Deseja-se dar dote na Igreja e na sociedade na Igreja, deve se interessar continuidade contemporânea. o serviço de animação vocaao processo de cional. Rogate: Podemos afirmar realização dos que todo o Documento de ApaRogate: A dinâmica uticongressos recida é vocacional? lizada nesta terceira edição vocacionais Ângelo: O próprio tema será a mesma dos dois eventos refletido na Conferência indiprecedentes? ca isso, e também o conteúdo Ângelo: O 3º Congresso, do Documento Final aponta nesta direção. a exemplo dos anteriores, pela sua metoE nós, da animação e da pastoral vocaciodologia organizativa, vai permitir uma parnal, nos propomos à “grande tarefa de proticipação diversificada e qualificada de aniteger e alimentar a fé do povo de Deus e madores e animadoras vocacionais, nas recordar aos fiéis deste Continente que, suas diversas fases. O simples fato de esem virtude de seu batismo, são chamados tar juntos e se encontrar, de refletir e para ser discípulos e missionários de Jesus tilhar as próprias práticas, de celebrar e Cristo” (Documento de Aparecida, 10). Trapropor metas e diretrizes, favorecem uma ta-se de um mandato, uma missão que deconvergência nas prioridades e nas ações, Rogate 275 set/09 5 ENTREVISTA nos princípios e valores, garantindo a uninovo evento, isolado de todo o processo dade no caminho e a riqueza das vocações até aqui feito, com suas riquezas e tampara a vida e a missão da Igreja no mundo. bém limites. As condições favoráveis para O congresso é sempre fruto de um proa realização do 3º Congresso e o seu placesso profundo do serviço de animação nejamento, feito com antecedência, devevocacional, sua identidade e missão. Os rão envolver certamente todas as instânanteriores se abriram para as questões da cias e os setores eclesiais, fazendo chegar antropologia e da cultura vocacional, da às comunidades, aos grupos, às equipes e inculturação e da evangelização, da oração coordenações vocacionais, aos vocacionae da espiritualidade, da integração das pasdos, a reflexão proposta, favorecendo e torais, da pedagogia e do planejamento, do estimulando a participação e co-responsaitinerário vocacional. Este vai enfocar a bilidade. Fundamental é a preparação, a oratemática do “discipulado ção persistente, o aprofunmissionário” no serviço damento temático, a articudas vocações, iluminando lação, o estabelecimento de todas as questões anterioprioridades, e uma prograres já tratadas e apontanmação que incida após o do os novos desafios a secongresso nos planos e prorem enfrentados. Certajetos da própria conferênmente o uso do método cia episcopal e comissão es“ver, julgar e agir” poderá pecífica, dos Regionais, das colaborar para que vivadioceses e suas comunidamos mais intensamente des. O que se deseja é que nossa vocação e missão na na Igreja, povo de Deus, por Igreja. Recordamos que o sua graça e benignidade, 2º Congresso Vocacional haja um novo florescimentambém abordou a temátito de vocações, como exca metodológica, sugerinpressão da riqueza, multido no serviço de animação plicidade e complementari“O 3º Congresso Vocacional do Bravocacional uma metodolo- sil será um espaço propício para pro- dade de dons, carismas e gia de planejamento parti- vocar e estimular no serviço de ani- ministérios. cipativo, contemplando mação vocacional uma conversão uma análise da realidade pastoral e renovação missionária” Rogate: “Ide, pois, fa(marco situacional), a iluzer discípulos entre todas as minação da fé (marco doutrinal) e a ação e nações”, é o lema do congresso. Faz parte programação (marco operacional). dos últimos versículos do evangelho de Mateus, que se conclui exatamente afirmando Rogate: Garantir a unidade no camique Jesus estará conosco todos os dias, até o nho vocacional da Igreja no Brasil, de fato, final dos tempos. Espera-se dos discípulos é um grande desafio. Como acontece isso na que partam em missão. E quem ainda não é prática? discípulo? Ângelo: Sabemos que no caminho da Ângelo: O 3º Congresso se propõe, e evangelização não é suficiente realizar um certamente dele se espera, do ponto de 6 Rogate 275 set/09 ENTREVISTA vista temático e pastoral, que na animação vocacional e no trabalho de seus agentes, se garanta a centralidade do encontro com a pessoa de Jesus Cristo e a conversão pastoral. De fato, na missão evangelizadora, o serviço de animação vocacional, como um instrumento do Espírito de Deus, terá como tarefa fundamental fazer com que os vocacionados tenham um “encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”, como afirma o Documento de Aparecida (n. 12). Neste sentido podemos falar da necessidade de promover a “pedagogia do encontro” com Jesus Cristo, que desperte e forme autênticos “discípulos missionários”. Pois, como se vê no mesmo Documento de Aparecida, “conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas; e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (n. 29). Rogate: O senhor falava de conversão pastoral... Ângelo: Exato. O 3º Congresso Vocacional do Brasil será um espaço propício para provocar e estimular no serviço de animação vocacional uma conversão pastoral e renovação missionária, que deve “impregnar todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja”, conforme o Documento de Aparecida (n. 365). A conversão implica em escutar com atenção e discernir “o que o Espírito está dizendo às Igrejas” (Ap 2,29) através dos sinais dos tempos, onde Deus se manifesta. Para tanto, se exigem atitudes de abertura, diálogo e disponibilidade para promover a corresponsabilidade e a participação efetiva de todos. Urgência Rogate 275 set/09 pastoral na animação vocacional é o testemunho de comunhão eclesial e de santidade de vida. Rogate: O que diria para as comunidades de base que estão começando agora a se preparar para o congresso? Ângelo: Neste processo preparatório ao Congresso Vocacional é preciso ter confiança no Senhor da messe, manter viva a esperança, prodigalizar-se no amor compassivo e misericordioso. “Não tenham medo” (Mt 28,5), pois o que nos define é o amor recebido do Pai graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. Confiança significa superar a apatia e o desânimo, vencer a passividade e empenhar-se, pois o que nos impele é o amor de Jesus Cristo. Como Igreja e na Igreja, no serviço de animação vocacional, queremos assumir cada vez mais o desafio de promover e formar discípulos e missionários que respondam à vocação recebida. O melhor serviço que a animação vocacional pode prestar, como ação evangelizadora e atividade eclesial da fé, é que “Jesus Cristo seja encontrado, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos”, conforme bem definiu o Documento de Aparecida (n. 14). O 3º Congresso, cuja preparação já iniciamos, será um espaço apropriado para proclamar que a própria vocação, a própria liberdade e a própria originalidade são dons de Deus para a plenitude e o serviço do mundo. Não só! Será ocasião também para participar e contribuir com o despertar missionário, seguros de que a Providência de Deus nos proporcionará grandes surpresas, citando Aparecida (n. 551). Rogate: O senhor participou recentemente do 1º Encontro dos Institutos de Pastoral Vocacional da América Latina e do Caribe. Como foi a experiência? 7 Divulgação Oração do 3º Congresso Vocacional do Brasil Logomarca Trindade Santa, Deus da vida e do amor, somos seguidoras e seguidores de Jesus, discípulos missionários a serviço das vocações. Como animadores da pastoral vocacional, queremos responder ao mandato de Jesus de fazer discípulos entre todas as nações, incentivando a vocação dos cristãos leigos e leigas, à vida consagrada e aos ministérios ordenados, construindo uma Igreja corresponsável e ministerial. Buscamos uma Igreja fiel aos sinais dos tempos, samaritana, missionária, ecumênica e libertadora, que responda ao clamor do povo, em suas lutas e esperanças; e que testemunhe a Boa Nova do Reino, com a Palavra e com a vida. Que Maria, a mãe de Jesus, e tantas testemunhas fiéis até o martírio, intercedam a benção para o 3º Congresso Vocacional do Brasil. ENTREVISTA Ângelo: Foi bastante interessante conhecer e partilhar os nossos serviços na área das vocações e dos ministérios com outros organismos afins de nosso continente. O enfoque principal acabou sendo a preparação ao 2º Congresso Vocacional Latino-americano, marcado para fevereiro de 2011, na Costa Rica. Os responsáveis pelos IPVs (Institutos de Pastoral Vocacional) assumiram o compromisso, junto com o DEVYM-CELAM (Departamento de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal L atino-americano) e a CLAR (Confederação Latino-americana de Religiosos e Religiosas), de preparar o evento. O Instrumento de Participação, por exemplo, foi esquematizado durante este 1º Encontro dos IPVs. Rogate: Uma mensagem final aos nossos animadores vocacionais... Ângelo: Somos chamados, como “discípulos missionários”, a servir mais plena e intensamente as vocações na Igreja. E convocados a colaborar, onde for possível e nas instâncias em que estamos envolvidos, com a preparação, realização e concretização das deliberações do 3º Congresso Vocacional do Brasil, para que todos os seus objetivos sejam atingidos. Neste caminho, contamos com o auxílio da Virgem Maria, a “discípula missionária”. Pedimos que nos ensine a responder como fez ela no mistério da anunciação e encarnação. Somos chamados a permanecer na sua escola, mantendo vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. Com Maria podemos aprender a sair de nós mesmos e a acolher o mandato de Jesus: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações”! Amém. 8 Rogate 275 set/09 ANIMAÇÃO VOCACIONAL VOCACIONAL 1º Encontro Latino-americano de IPVs Institutos de Pastoral Vocacional (IPVs) de diversos países da América Latina estiveram reunidos em São Paulo, Brasil, numa experiência inédita E ntre os dias 07 e 11 de agosto, na Casa Lareira São José, em São Paulo (SP), foi realizado o 1º Encontro de Institutos de Pastoral Vocacional da América Latina e do Caribe. Promovido pelo Departamento de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino-americano (DEVYM-CELAM), o encontro teve como objetivo principal refletir sobre o tema das vocações à luz da Conferência de Aparecida, visando a realização do 2º Congresso Vocacional Latino-americano, que ocorrerá em 2011. Para tanto os representantes apresentaram um panorama das atividades de seus institutos, bem como incluíram nos seus planos de trabalho a colaboração na preparação do 2º Congresso Continental. Participaram do encontro o secretário executivo do DEVYM, Pe. Alexis Rodríguez Vargas, e o secretário geral da Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR), Pe. Gabriel Naranjo, ambos da Colômbia; Pe. Reginaldo de Lima, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CMOVC-CNBB); Pe. Ricardo Morales, representando o Instituto de Pastoral Vo- Rogate 275 set/09 cacional (IPV) da Argentina; Pe. Johans Leon Borrome, do IPV da Venezuela; Pe. Cristian Rivera, coordenador diocesano de Pastoral Vocacional, da Costa Rica; Pe. Carlos Silva Guillama, do Uruguai; e, do IPV brasileiro, os sacerdotes Rogacionistas, Ângelo Ademir Mezzari e Gilson Luiz Maia. Pe. Gilson, que hoje trabalha como pároco na cidade de Bauru (SP), foi o secretário executivo do DEVYM-CELAM na gestão anterior, quando se sugeriu e planejou a realização deste encontro inédito. Os Institutos de Pastoral Vocacional apresentaram um histórico de suas caminhadas, promovendo uma rica troca de experiências. Algumas ações foram assumidas pelos responsáveis dos respectivos IPVs: a) ajudar na preparação do 2º Congresso Vocacional Latino-americano, juntamente com o DEVYM e a CLAR; b) divulgar o 2º Congresso Vocacional Latino-americano nos meios de comunicação de seus países; c) manter um intercâmbio e partilha de subsídios e produções elaboradas; d) colocar-se à disposição dos organismos eclesiais locais, como referência e apoio no serviço de animação vocacional; e) realizar um 2º Encontro dos IPVs da América Latina e do Caribe, após o Con9 2º Congresso Vocacional Latino-americano VOCACIONAL Data: 08 a 12 de fevereiro de 2011 gresso Latino-americano. Neste sentido, a CLAR, como estratégia, convocaria as congregações e os institutos de vida consagrada com carisma vocacional para uma reunião prévia. O encontro também discutiu a forma de colaboração imediata à preparação do 2º Congresso Vocacional Latino-americano (ver box ao lado). Planejou-se a elaboração do Documento de Participação, no método “ver, julgar, agir”. A primeira parte (ver), que será trabalhada pelo sacerdote uruguaio, Carlos Silva Guillama, Doutor em Teologia, terá o título “Escutar a voz da Palavra”. Na segunda parte (julgar), “Descobrir o rosto da Palavra”, colaborarão o Pe. Gabriel Naranjo, da CLAR, e o Pe. Gilson Maia, do Brasil, especialista em exegese. O “agir” terá dois capítulos: “Construir a casa da Palavra” e “Percorrer o caminho da Palavra”. Ambos serão elaborados pelo Mestre em Teologia, Pe. Ângelo Mezzari. Os participantes do 1º Encontro dos IPVs Latino-americanos (foto abaixo) realizaram uma visita ao IPV do Brasil, também sede da revista Rogate, no dia 09 de agosto, mesmo dia em que puderam fazer um passeio cultural por São Paulo. Local: Costa Rica Tema: Chamados a lançar as redes para alcançar vida plena em Cristo Lema: “Mestre, em teu nome lançarei as redes” (cf. Lc 5,5) Objetivo geral: Fortalecer a cultura vocacional, para que os batizados assumam seu chamado de serem discípulos e missionários de Cristo nas circunstâncias atuais da América Latina e do Caribe. Objetivos específicos: a) destacar os principais aspectos da realidade da América Latina e do Caribe que incidem na dinâmica vocacional; b) analisar a consciência que os batizados possuem a respeito da cultura vocacional; c) refletir o projeto do Pai ao ser humano nas circunstâncias atuais da América Latina e do Caribe; d) apresentar a vocação batismal como eixo transversal de toda ação pastoral da Igreja; e) elaborar pistas concretas de evangelização e animação vocacional para a missão do Continente; f) elaborar critérios para os processos do itinerário vocacional, que respondam às circunstâncias atuais da América Latina e do Caribe. Metodologia: Tanto na preparação, quanto no próprio Congresso, será usado o método “ver, julgar, agir” (cf. Documento de Aparecida, 19). Participantes: Serão convocados delegados de cada Conferência Episcopal que compõe o Continente, além de convidados e grupo de apoio, totalizando 375 participantes. Inscrições: Até outubro de 2010. A listagem dos delegados do Brasil será coordenada pela comissão específica da CNBB (CMOVC). 10 Foto: Arquivo Rogate Da Redação Rogate 275 set/09 ATUALIDADES ATUALIDADES Carta faz balanço e destaca compromissos das CEBs A revista Rogate apresenta extrato da mensagem final do 12º Intereclesial das CEBs, realizado em Porto Velho (RO), de 21 a 25 de julho N ós, participantes do 12º Intereclesial das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser Igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação! Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho (RO), para nos debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a preparação do Intereclesial em nossas comunidades e Regionais: “CEBs: Ecologia e Missão - Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis Rogate 275 set/09 dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico de nossa assembleia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações. N as diferenças, o mesmo Deus que nos convoca para a Justiça e a Paz. Juntos, representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afro-brasileiros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de mulheres e homens de boa vontade e de todas as crenças, no diálogo e respeito à diversidade da teia da vida, acolhemos os gritos da Amazônia e de todos os biomas, e reafirmamos nossa solidariedade e compromisso com a justiça geradora da paz. Caminhamos como povo de Deus que conquista a Terra Prometida e a torna espaço de fartura e fraternura, acolhendo todas as expressões da vida. 11 ATUALIDADES Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e respeito por suas culturas; as dos afro-descendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua dignidade e igualdade e avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra equivalente, restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e indenização por suas benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos movimentos ecológicos, contra a devastação da natureza, pela defesa das águas e dos animais. Queremos defender e apoiar o movimento “Florestania”, no respeito à agrobiodiversidade e aos valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia. Assumimos também o compromisso de respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura, na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o desemprego, com especial atenção à juventude. Convocamos a todos nós para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para 12 tomar parte nos conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º de Maio e das Semanas Sociais. Comprometemo-nos ainda a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a educação ambiental em todos os espaços de sua atuação; fortalecendo a formação bíblica; incentivando uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos; assumindo seu protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; fortalecendo o diálogo ecumênico e interreligioso, e superando a intolerância religiosa e os preconceitos. Queremos, a partir das CEBs, repensar a pastoral urbana, como um dos grandes desafios eclesiais, assumir o testemunho e a memória dos nossos mártires e empenhar-nos na Missão Continental proposta pela 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida. Rumo ao 13º Intereclesial Escolhida a Igreja do Crato, que irá acolher, nas terras do Padre Cícero, o 13º Intereclesial, recolocamos nos trilhos o trem das CEBs, rumo ao Ceará, enviando a vocês, irmãos e irmãs das comunidades, nosso abraço fraterno, e cheio de revigorada esperança. Amém! Axé! Auerê! Aleluia! Mensagem completa em: www.cebs12.org.br Da Redação Rogate 275 set/09 ESPECIAL ESPECIAL No caminho do “discipulado missionário” - parte 1 - Os eixos fundamentais do serviço de animação vocacional são refletidos neste documento elaborado pela CMOVC, da CNBB D urante o 18º Encontro Nacional do Serviço de Animação Vocacional (ENSAV), realizado no Centro Rogate do Brasil, em São Paulo (SP), dias 08 e 09 de junho, os representantes dos Regionais presentes foram motivados pela Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CMOVC-CNBB), representada por Pe. Reginaldo de Lima e Ir. Maria do Carmo Silva Santiago, respectivamente assessor e secretária da comissão, a refletirem sobre dois textos. Um deles foi oferecido pelas Pontifícias Obras das Vocações (da Congregação para a Educação Católica) e o outro tratava-se de um documento da CMOVC, com a indicação dos eixos fundamentais do serviço de animação vocacional (cf. Rogate 274, ago/09, p. 15-17). Um extrato do primeiro texto foi apresentado no último número da revista Rogate. A partir desta edição, e até o mês de dezembro, a Rogate apresentará as quatro partes do documento da CMOVC, intitulado “No caminho do discipulado missionário”, na certeza de que este será um ótimo subsídio para o trabalho dos animadores e animadoras vocacionais. Rogate 275 set/09 Introdução Para a vida de cada cristão e para a vida da Igreja, é de grande importância a convicção de que é Deus mesmo quem toma a iniciativa para vir ao nosso encontro. Nele está a fonte do chamado para o seguimento a Jesus Cristo; para a vivência da missão; e a vivência em comunhão. A CMOVC, à luz do Documento de Aparecida (DA) e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), deseja aprofundar, em seu âmbito de atuação, esses eixos fundamentais. A vivência desse caminho na Igreja e na sociedade só é possível pela ação do Espírito Santo, que dinamiza a vida da comunidade e a consolida com vocações específicas, sempre a serviço da edificação do Povo de Deus. Para tanto, precisamos dar atenção à formação como necessidade e desafio. “A condição do discípulo brota de Jesus Cristo como de sua fonte, pela fé e pelo batismo, e cresce na Igreja, comunidade onde todos os seus membros adquirem igual dignidade e participam de diversos ministérios e carismas. Desse modo, realiza-se na Igreja a forma própria e específica de viver a santidade batismal a serviço do Reino de Deus” (DA 184). 13 Quando cada pessoa toma consciência de que é chamada por Deus para seguir Jesus Cristo, fazendo parte da comunidade, e de que o mesmo Deus lhe concede a graça do Espírito Santo para testemunhar essa experiência de fé na família, na comunidade e na sociedade, ela sabe que não se trata de missão por conta própria, mas da comunhão com Jesus Cristo. Esta graça precisa ser continuamente cultivada de modo pessoal e na comunhão com a comunidade. As pessoas que têm vocação e missão específicas necessitam ainda mais encontrar meios para esse cultivo e aprofundamento, pois se trata de fazer, como "discípulo missionário", a experiência do encontro com Jesus Cristo nessa realidade em constante transformação e tão desafiadora. “Cada uma das vocações tem um modo concreto e diferente de viver a espiritualidade, que dá profundidade e entusiasmo para o exercício concreto de suas tarefas. Dessa forma, a vida no Espírito não nos fecha em intimidade cômoda e fechada, mas sim nos torna pessoas generosas e criativas, felizes no anúncio e no serviço missionário.Torna-nos comprometidos com os reclamos da realidade e capazes de encontrar nela profundo significado em tudo o que nos cabe fazer pela Igreja e pelo mundo” (DA 285). Chamados ao seguimento de Jesus Cristo: “Segue-me” (Mc 2,14) 1. Jesus Cristo sempre toma a iniciativa para chamar os discípulos, para escolher os doze, para formá-los e para enviálos. Assim, vai acontecendo um profundo relacionamento entre os discípulos e o 14 Ilustrações: Arquivo Rogate ESPECIAL Mestre; pois ele “constituiu doze para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, e terem autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3,14-15). 2. Os discípulos vão descobrindo toda a beleza da vida do Mestre a partir do encontro com ele e sentem entusiasmo em segui-lo. Mesmo que tudo ainda não seja claro para eles, a experiência da vivência com Jesus Cristo lhes indica que ele é o Mestre missionário, amigo dos publicanos e pecadores, que está sempre saindo ao encontro: “Jesus percorria todas as cidades e povoados ensinando em suas sinagogas e pregando o evangelho do Reino, enquanto curava toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9,35). 3. Mas Jesus percebe a fragilidade na vida deles e os prepara para que possam abraçar a missão que passa pela renúncia de si mesmos, pelo sofrimento (cf. Mc 8,34), pela entrega da vida: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). No processo de formação, Jesus está sempre dirigindo-lhes a palavra, dando-lhes particular atenção (cf. Rogate 275 set/09 ESPECIAL Mc 4,10.34; 8,31; 9,30-31; 10,32-33.42; 14,17.28; 16,14), para que estejam vivenciando a comunhão com o Mestre: “Deivos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais [...]. Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo 13,15.17). 4. Ele sabe que veio para reunir e guiar aqueles que são atraídos pelo Pai e lhe são entregues: “Por eles eu rogo; não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste, porque são teus” (Jo 17,9). 5. Depois de ressuscitado, Jesus continua saindo ao encontro dos discípulos. Em primeiro lugar daqueles dois na estrada de Emaús e, em seguida, da comunidade toda, como encontramos no evangelho de Lucas (cf. Lc 24,13ss). A experiência do encontro torna-se fundamental para que a motivação seja renovada. Nesse encontro, Jesus parte da situação de desencanto que está sendo vivenciada pelos discípulos. Percebendo que veem a realidade a partir de si mesmos, Jesus pergunta e deixa que falem. 6. Depois de escutá-los, Jesus faz observações quanto à visão que expressam e os questiona: “E, começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretoulhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito” (Lc 24,27). Mostra-lhes o significado profundo do que estava acontecendo. Esse tempo que Jesus dedica para clarear a visão deles é muito importante, mas não foi suficiente. Um outro passo aconteceu na celebração da partilha do pão. Aí, os seus olhos se abriram. E mesmo assim, houve necessidade da confirmação da experiência na comunidade dos discípulos. Foi então que “abriu-lhes a mente para que entendessem as Rogate 275 set/09 Escrituras” (Lc 24,45) e explicou-lhes o sentido do seu sofrimento, da entrega de sua vida. No acompanhamento que Jesus faz há um destaque especial para a Palavra e para “a partilha do pão”, que ele abençoa e distribui, como lugares de encontro com o Ressuscitado. 7. Porém, não basta caminhar com Jesus, escutá-lo, ver suas obras. Muitos estavam com ele, mas não haviam descoberto a pessoa e a missão de Jesus a partir dele. A visão que predominava em seus corações era aquela de um Messias glorioso que libertaria o povo, traria vantagens e privilégios para seus adeptos e reinaria sem passar pelo sofrimento, ainda mais pela morte na cruz. Por isso não o acolhem logo como ele é: aquele que sofreu, foi crucificado e os acompanhava vivo. 8. Na verdade, vemos como há todo um processo na vida dos discípulos. Antes seus olhos estavam impedidos de reconhecê-lo. Agora eles o reconhecem na ceia, mas Jesus se torna invisível diante deles (cf. Lc 24,31). Então, o que é fundamental na experiência do seguimento a Jesus Cristo, o que precisa marcar o caminho espiritual do discípulo? 15 ESPECIAL 9. Jesus se dá a conhecer na comunidade reunida. A experiência dos dois não os isola da comunidade; ao contrário, motiva-os para que voltem à comunidade. Mas, mesmo depois de contarem e escutarem as experiências do encontro, ainda há dúvidas em seus corações. Assim, não reconheceram Jesus quando se apresentou no meio deles e disse: “A paz esteja convosco!” (Lc 24,36). É o próprio Jesus que vai apresentar-lhes as mãos e os pés e comer um pedaço de peixe para fazer-lhes ver que se trata dele mesmo. “Então, abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras, e disse-lhes: ‘Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém’” (Lc 24,45-47). É na comunidade dos discípulos que se confirma a experiência do encontro feita anteriormente de modo pessoal e em pequenos grupos. Jesus, outra vez, toma a iniciativa de ir ao encontro dos seus discí- pulos, agora reunidos. Ele sabe da importância da comunidade dos discípulos para a missão. Por isso lhe dá atenção, explicando o significado de tudo o que havia acontecido com ele. É necessário que a comunidade seja realmente comunidade de testemunhas do Ressuscitado; pois se trata de vivenciar, celebrar e anunciar o que na verdade aconteceu e que faz parte da experiência pessoal e comunitária: “Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos” (1Jo 1,3). Sem esta experiência constante da presença do Mestre, sem estar nessa comunhão profunda com aquele que chama e envia, a comunidade não será comunidade de "discípulos missionários". É Jesus mesmo quem afirma: “Vós sois as testemunhas dessas coisas” (Lc 24,48). Para levar adiante a missão, a comunidade dos discípulos vai acolher como graça a convicção de que não estará sozinha e irá aprofundá-la a cada momento, pois contará com a força do Espírito de Deus: “Eu enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do Alto” (Lc 24,49). Aquele mesmo que consagrou Jesus para a missão, também consagra os discípulos dele para que continuem a obra que é de Deus. Sem a experiência da presença do Mestre, sem estar em comunhão com aquele que chama e envia, a comunidade não será de “discípulos missionários” 16 Rogate 275 set/09 ESPECIAL 10. A comunidade, no caminho de Jesus Cristo, precisa aprender a sair ao encontro das pessoas, de grupos e de outras comunidades; a sair em missão, a se reunir e celebrar, a ser testemunha e dar testemunho. Em 1975 o papa Paulo VI já considerava que é importante realçar: “para a Igreja, o testemunho de uma vida autenticamente cristã, entregue nas mãos de Deus, numa comunhão que nada deverá interromper, e dedicada ao próximo com um zelo sem limites, é o primeiro meio de evangelização. ‘O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres – dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos – ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas’. [...] Será, pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar o mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade” (EN 41). 11. Na vivência do seu testemunho, a comunidade é chamada a reconhecer as chagas vivas de Cristo na vida das pessoas, das famílias, dos jovens, das comunidades, de todos os excluídos. Guiada pelo Espírito Santo, a comunidade se deixará interpelar pelos que sofrem, e será iluminada para que seus membros sejam "discípulos missionários", obedecendo ao evangelho: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10,37). 12. Mergulhando no Mistério da Páscoa de Jesus Cristo, o discípulo encontra a força de Deus que o faz entrar na realidade em que vive para descobrir que já foi redimido pela entrega da vida de Jesus. O que lhe falta é abrir, sem reservas, sua vida Rogate 275 set/09 para acolher a graça que lhe é concedida no encontro com aquele que morreu e ressuscitou, e que continua saindo ao encontro dos filhos e filhas amados de Deus para reunir o que está disperso (cf. Jo 11,52). 13. O Documento de Aparecida, ressaltando a importância da experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, mostra que a vivência da fé pede necessariamente a ligação-pertença a uma comunidade de fé: “Também hoje o encontro dos discípulos com Jesus na intimidade é indispensável para alimentar a vida comunitária e a atividade missionária. Os discípulos de Jesus são chamados a viver em comunhão com o Pai (1Jo 1,3) e com seu Filho morto e ressuscitado, na ‘comunhão do Espírito Santo’ (2Cor 13,13). [...] A vocação ao discipulado missionário é con-vocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da tentação, muito presente na cultura atual, de ser cristãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela ‘nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão’ (DI 3). Isso significa que uma dimensão constitutiva do acontecimento cristão é o fato de pertencer a uma comunidade concreta na qual podemos viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão com os sucessores dos apóstolos e com o papa” (DA 154.155.156). Sendo assim, a dimensão comunitária não é uma dimensão entre outras, mas precisa acompanhar e perpassar todas as dimensões da formação humana. Continua na próxima edição CMOVC-CNBB 17 ANIMAÇÃO VOCACIONAL VOCACIONAL Jovens cristãos: promovidos em “educação sexual” Uma das belezas da vida cristã é a valorização do “você”, sinal de que é possível deixar de lado o “eu” para compreender o “outro” Foto: www.sxc.hu V amos procurar compreender porque a escolha cristã se diferencia das demais escolhas. Uma pessoa que tem fé não pode escolher como um ateu, mesmo quando é forte a tentação de ratificar a mentalidade comum. Exatamente no momento da decisão torna-se evidente a diferença, e a fé aparece com toda sua força discriminante. Tomamos, como exemplo, a escolha que um adolescente ou jovem é convidado a fazer, frequentemente, diante da própria sexualidade, com suas pretensões e seu mistério. “É assim que todos fazem...” Um adolescente, animal mimético (afeito a imitações), é fortemente induzido a agir, a respeito da conduta sexual, como fazem os outros, os que parecem mais astutos e líderes no grupo, os que parecem ter solucionado todas as dúvidas no assunto e não conhecem os pudores e as vergonhas do passado, os que podem exibir, como um troféu, o número de meninas “conquistadas”, e besteiras realizadas. Os que “não sabem fazer isso”, pelo 18 contrário, são inexoravelmente excluídos. Eles chegam ao ponto de inventar algo sobre o assunto para não receberem o desprezo dos outros. O tema do sexo é o mais frágil e, ao mesmo tempo, o mais sutil dos conformismos. Prevalece a lei - única - da manada: todos os animais, obedientes, fazem as mesmas escolhas. Aliás, as sofrem. E julgam-se como livres. A pessoa que tem fé baseia sua escolha em pontos de referência que vão além da lógica do “é assim que todos fazem”: o evangelho do amor, por exemplo, ou o respeito pela mulher e por sua beleza, ou o corpo como templo de Deus, ou o mistério da sexualidade... Em todo caso, muito além da decisão que vai tomar, ela acredita na possibilidade de fazer uma escolha, e não de sofrê-la. “Conquistei aquela menina...” A linguagem usual é muito expressiva: “Ontem conquistei aquela menina, e com ela já cheguei a oito”. Isto é, o sujeito ativo é o “eu”, colecionador de conquistas; o “você” desaparece na sua individualidade Rogate 275 set/09 ANIMAÇÃO VOCACIONAL e dignidade, ou se torna somente um número para redigir a classificação especial dos forçados ao sexo, algo passivo. Assim, como um adolescente “bebe” uma cerveja ou algo forte, “conquista” também a menina (ou as meninas) e fala disso com a linguagem “narcisista” de quem pensa que o mundo gira ao redor da sua potência sexual. Quem tem o dom da fé deveria conseguir não entrar neste delírio de simbiose, aonde existe somente o “eu”. O cristianismo é a religião do “você”, do rosto do outro como fonte de responsabilidade para o “eu”, de encontrar sempre uma abertura para o outro. A sexualidade encontra na religião toda a sua dimensão profundamente relacional. “Se a outra topa...” Mais uma vez a linguagem serve para entender as intenções escondidas (e nem tanto): “se a outra topa... é sinal de que ela gosta de mim e eu não faço nada de mal...”. E assim uma pessoa se justifica, aliás, tenta apropriar-se da bondade de uma escolha, apropriar-se da liberdade dos outros. Nenhum sinal para um possível amor: é só questão de “gostar-se”. Significa toda outra coisa e desvirtua o encontro sexual, levando-o a uma simples troca entre corpos, não conscientes um do outro, mas cada um por si, e que leva a uma satisfação que passa por acaso pelo corpo do outro, através de um encontro fechado “no espaço limitado e pegajoso que corre entre dois orifícios destinados ao desafogo fisiológico” (T. Zanni). Também Freud, nesta altura, teria algo a dizer. Para o cristão, o corpo não é somente e nem essencialmente fonte de prazer, mas instrumento do dom de si; e a outra pessoa não é uma “dançarina ousada”, ou “alguém que topou”, mas é a companheira de Rogate 275 set/09 uma aventura inédita, que vai levar os dois a descobrirem o mistério do ser humano e a maravilha do relacionamento íntimo. A sexualidade é parte deste mistério, e a alegria do relacionamento é a felicidade de conhecer (o você) e reconhecer-se (em você). O namoro ilícito de uma noite Continuemos ainda analisando o problema central: a ideia do outro. Muitas vezes o relacionamento sexual é um monólogo, uma ginástica, que para ser praticada corretamente precisa de um outro corpo. É o chamado “namoro ilícito de uma noite”, rápido e sem história, uma ocasião para não perder e consumar com quem - outra gíria popular -, “topa fazer sexo”. Trata-se do sexo “usa e joga fora”, aquele da falsa liberação sexual de algumas dezenas de anos atrás, o sexo da ousadia que depois cria anorexia, ou de quem, coitadinho, fica contente em fazer sexo, mas depois não goza ou não sabe e nem pode gozar, porque perdeu o contato com os seus sentimentos (imagina com os sentimentos dos outros), porque a sua sexualidade tem a mesma autenticidade das flores artificiais. Para quem está livre em Cristo, o relacionamento sexual é como a celebração final de um relacionamento que passou por várias etapas. É o momento do máximo entendimento com uma pessoa com a qual o acordo cresceu pouco a pouco, entre esforços, renúncias e escolhas corajosas, com uma pessoa que agora ninguém trocaria por todo o ouro do mundo... a mais linda de todas, para uma felicidade imensa... Obsessão e êxtase, risco e esperança Que tormento e que aborrecimento esta invasão do sexo em todos os níveis, e 19 A mãe de todos os pecados: o egocentrismo O s velhos ascetas diziam que “o maior de todos os pecados é o esquecimento”; o maior e também não tão raro, como parece. [...] E é interessante, tristemente interessante, observar que do esquecimento vem a idolatria, que quer dizer o bezerro de ouro no lugar de Deus, o ídolo mudo e inanimado em meu poder, portanto, o eu, em última análise, que pretende tirar Deus do centro, tornando inócuo todo projeto de integração em torno da cruz de Jesus. O egocentrismo, segundo os Padres, “é a mãe de todos os pecados”, e é isto que se opõe, explicitamente, a um projeto de integração. Essa passagem, do maior dos pecados (o esquecimento) à mãe de todos os pecados (o egocentrismo), marca, também, a passagem da ingratidão esquecida e irresponsável, que esquece aquilo que Deus fez por mim, de onde deveriam nascer confiança e responsabilidade, para a preocupação excessiva por mim mesmo. Daí, o afã crescente, aquele afã que complica terrivelmente a vida, pois torna superpreocupado de si, como se estivesse sozinho no deserto, filho de ninguém ou de um passado hostil, ou abandonado a um destino cego e sinistro. Agora, tal preocupação é pagã, pode têla somente aquele que não crê, ou crê e não confia, ou não recorda mais que Deus é aquela Vontade boa que cuida de cada vivente, que já cuidou de cada um, em cada dia da vida. Por isso o esquecimento é o maior de todos os pecados, exatamente porque leva à “mãe de todos os pecados”, o egocentrismo, ou à maior estupidez que o ser humano pode cometer: colocar-se no centro da vida, usurpando aquele lugar que cabe a Deus e que é todo interesse do ser humano deixar nas grandes mãos divinas, porque somente Deus e o seu amor lhe permitem reunir toda a sua existência sem envergonhar-se dela, mas, ao contrário, reconhecendo nela os traços daquele amor. CENCINI, A. “A árvore da vida”. São Paulo, Paulinas, 2007, p. 232-233 20 VOCACIONAL colocado em todos os temperos para estimular o apetite por alguma coisa, qualquer coisa: os nossos sapatos, os alimentos, a marca da gasolina... Essas coisas o exibem como um símbolo, os programas de TV o repetem com uma frequência até monótona, e nós, manada de consumidores teledependentes (talvez com alguma exceção no setor), de uma maneira ordenada, o aceitamos e nos esforçamos para rir diante de uma estúpida piada sobre o sexo, contada muitas vezes. Assim, o sexo acabou de ser um mistério, tornou-se uma coisa banal e achatada, a ser entregue ao psicanalista e ao sexólogo. Estas pessoas, com toda certeza, nos convidarão a nos libertar de todo obstáculo e reticência, para experimentar a inebriante (?) liberdade dos sentidos. Agora, se é verdade que a capacidade de escolha do ser humano se engrandece diante do mistério e dos múltiplos e inéditos caminhos que se abrem para a liberdade humana, não é difícil entender o papel estratégico e precioso da dimensão sexual. O risco, então, será de que a perda do mistério da sexualidade determine também a perda da capacidade da escolha. A esperança está em nossos jovens, ou naqueles que, nesta geração, finalmente abram os olhos e se rebelem contra esta imposição (de alguns adultos?) que os tornam escravos e deprimidos. Esses jovens terão sorte se, educados no sentido da beleza misteriosa da sexualidade, tiverem a coragem de fazer escolhas coerentes, especialmente se nelas descobrirem a alegria prometida por Jesus: “bem-aventurados os puros de coração”! Amedeo Cencini Religioso Canossiano e sacerdote Trad. Guido Mottinelli Religioso Rogacionista e sacerdote Rogate 275 set/09 IN FORMAÇÃO IN FORMAÇÃO Divulgaçã o A Bíblia e o desafio da interpretação sociológica C om uma linguagem simples, clara e didática, o livro A Bíblia e o desafio da interpretação sociológica, novo lançamento da Paulus Editora, possibilita o aprofundamento da compreensão da Bíblia por pessoas que não são especialistas no assunto, mas são apaixonados pelo tema. Mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor de Bíblia, Teologia, Filosofia, Ética e Estudo do Homem Contemporâneo na Universidade São Francisco, em São Paulo (SP), o autor Valter Luiz Lara faz um estudo sociológico dos textos bíblicos do Antigo Testamento buscando compreender o contexto histórico e social no qual eles foram elaborados, o que permite desfazer certos preconceitos dogmáticos, sem negar os dogmas. O autor também ressalta o papel feminino na Bíblia, especialmente nos livros Cântico dos Cânticos, Ester, Judite e Rute. É uma obra que convida o leitor a um olhar crítico da Bíblia, e que pode auxiliar os animadores e animadoras vocacionais a esclarecerem alguns mitos que dificultam a caminhada. Páginas: 160 Formato: 16 x 23 cm Preço: R$ 20,00 Pedidos: www.paulus.com.br Tel. (11) 5087-3700 Curso de Formação Carmelitana debate tema vocacional C om o tema “Lançai vossas redes do outro lado e achareis” (Jo 21,6), a Família Carmelitana da América Latina esteve reunida entre os dias 02 e 15 de agosto, em Foto: Antonio Rock Oliveira Curitiba (PR), pensando a realidade vocacional numa perspectiva juvenil. Foi a 9ª edição do encontro de formação, chamado de “Focal Internacional dos Carmelitas”. Utilizou-se o método “ver, julgar, agir”. O religioso Rogacionista, Pe. Geraldo Tadeu Furtado, do departamento de assessoria do Centro Rogate do Brasil, e secretário do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), abordou sobre a fundamentação teológico-pastoral. Rogate 275 set/09 21 IN FORMAÇÃO Foto: Arquivo Rogate Assembleia do IPV Nos dias 13 e 14 de agosto, na sede do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), em São Paulo (SP), realizou-se a assembleia geral ampliada da entidade, reunindo os superiores maiores dos institutos que compõem o IPV, mais os membros dos respectivos conselhos. Na pauta, informações sobre os congressos vocacionais do Brasil, marcado para setembro de 2010, e Latino-americano, que se realizará em fevereiro de 2011. O regimento interno da entidade também foi tema de debate, em sua fase de elaboração e aprovação. Por fim, projetou-se a agenda vocacional Caminhos 2011, com o tema central: “Chamados a lançar as redes para alcançar vida plena em Cristo”. Curso em Itaici Foto: Arquivo Rogate Entre os dias 14 e 16 de agosto foi realizado na Vila Kostka, em Itaici, município de Indaituba (SP), o curso para animadores e animadoras vocacionais, com o tema “Discípulos missionários a serviço das vocações; rumo ao 3º Congresso Vocacional do Brasil”. Estiveram presentes 65 pessoas. O curso contou com a assessoria do Pe. Luís González-Quevedo, Jesuíta, responsável pelo Centro de Espiritualidade Inaciano (CEI) da Vila Kostka, e do Pe. Geraldo Tadeu Furtado, Rogacionista, membro da Comissão Executiva de preparação do 3º Congresso Vocacional do Brasil. Itaici também abrigará o congresso em 2010. 22 26º Encontro Rogate Já estão abertas as inscrições para a 26ª edição do Encontro Rogate, marcado para os dias 31 de outubro a 02 de novembro, no Centro Rogate do Brasil, em São Paulo (SP). O assessor, Pe. Ângelo Mezzari, estará trabalhando e aprofundando o Instrumento de Participação ou Texto-base do 3º Congresso Vocacional do Brasil (veja detalhes na terceira capa desta revista). Dia Mundial da Paz O papa Bento XVI divulgou o tema de sua mensagem para Dia Mundial da Paz de 2010: “Se quiser cultivar a paz, preserve a criação”. Segundo o Vaticano, o objetivo do papa ao abordar este tema é “promover a conscientização da estreita relação no mundo globalizado entre a proteção da criação e o bem da paz”. O Vaticano afirmou, ainda, que se a humanidade não souber enfrentar esta questão com renovado sentido de justiça, equidade social e solidariedade internacional “corre o risco de semear a violência entre os povos e entre as gerações presentes e futuras”. A mensagem apresentará indicações contidas em sua última encíclica, Caritas in veritate. Rogate 275 set/09 LEITOR LEITOR Nossa Senhora da Penna Por ser leitor e assinante da Rogate, e notar sempre a divulgação de eventos católicos importantes, venho comunicar que neste mês de setembro estão sendo realizados eventos festivos em louvor à Nossa Senhora da Penna, em nossa comunidade, Freguesia, Jacarepaguá. No dia 08, por exemplo, D. Orani João Tempesta, arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, estará presidindo a celebração na Solenidade de nossa Padroeira. As festividades vão até o dia 27 de setembro. Nelson Pereira Ribeiro Rio de Janeiro (RJ) Curso Vocacional Participei, com alegria, do curso vocacional assessorado pelos padres Luís González-Quevedo, Jesuíta, e Geraldo Tadeu Furtado, Rogacionista. O evento foi realizado de 14 a 16 de agosto, na Vila Kostka, em Itaci. Lembro que nossos olhos brilhavam, encantados pela própria pastoral vocacional e cheios de ânimo para nos im- pulsionar a dar testemunho de Jesus na vida da Igreja. Quero agradecer a revista Rogate, pois foi através dela que muitos de nós chegamos ao encontro. Esse meio de comunicação é fundamental para nossa Igreja. Aproveito para deixar, também, os parabéns pelo filme “A Competição”, da Turma do Triguito. Está um sucesso! Ir. Maria Cristiane, FB por e-mail Entrevista Recebi a Rogate e agradeço. Gostei muito da edição que fizeram de minha entrevista (“Arte e música como expressão da fé”, n. 274, ago/09, p. 3-7). Minhas coirmãs e outras pessoas que tiveram oportunidade de ler me apresentaram os parabéns e gostaram muito da revista. Ir. Juliana Tartas, FC Curitiba (PR) As mensagens enviadas poderão ser editadas pela equipe, favorecendo um melhor entendimento de seu conteúdo. Fabricação e restauração de artigos sacros em metal Rogate 275 set/09 23 MÍSTICA DA VOCAÇÃO MÍSTICA Inácio de Loyola, evangelizador corajoso N a vida dos santos encontramos aspectos que nos surpreendem pela coragem e pela ousadia. Santos não têm medo de nada e de ninguém, estão apaixonados por Jesus Cristo e pelo seu Reino, e por isso lançam-se corajosamente na batalha em defesa da fé e da Igreja. Inácio de Loyola é o fundador da Companhia de Jesus, mais conhecida como Ordem dos Jesuítas, um instituto religioso que já teve o maior número de religiosos na Igreja, considerada a Ordem mais obediente ao papa e decidida a levar a sério os compromissos evangelizadores em todos os campos. Encontramos jesuítas envolvidos na área da educação, da ciência, da missão. E nós, brasileiros, muito devemos aos jesuítas, que foram os primeiros desbravadores e souberam infundir no povo princípios de fé e coragem. Inácio era espanhol e nasceu em 1491, cem anos antes da morte do grande místico João da Cruz, contemporâneo de Martinho Lutero e contemporâneo da descoberta da América. A reforma protestante e a descoberta da América serão acontecimentos que influenciarão toda a vida deste santo. Homem batalhador e decidido a se coroar de fama militar, ao cair ferido em campo de batalha é levado a Loyola. Durante a sua recuperação, não sabendo como passar o tempo, começa a ler os livros “Vita Christi” e “Flos Sanctorum”, que mais tarde influenciarão a vida de Santa Teresa de Ávila. As leituras o convertem, e ele toma a decisão de ir à Terra Santa para expiar os pecados. Assume uma nova vida, e nos cír24 culos universitários encontra jovens desejosos de segui-lo e de ser de Cristo, entre os quais estava Francisco Xavier. Generoso na sua doação, não se poupa e, estando à frente da sua comunidade e Ordem, quer que todos se dediquem ao serviço de Deus e à defesa da Igreja católica. Inácio quer que seus religiosos sacerdotes sejam modelos dos seguidores de Jesus Cristo, totalmente disponíveis na evangelização e a serviço do papa, dando gratuitamente o que gratuitamente recebem. Inácio de Loyola continua vivo através de todos os jesuítas do mundo e através dos “Exercícios Espirituais”, os livros mais famosos que ele escreveu, com os quais ainda hoje milhares de pessoas encontramse com Deus, consigo mesmas e com os outros. A Ordem dos Jesuítas é rica de mártires e santos que souberam, com a própria vida, e sua específica missão e doutrina, dar um rosto de santidade a tantas pessoas. Inácio morreu em 31 de julho de 1556. Nada pode deter o dever do jesuíta de anunciar o evangelho em todos os lugares do mundo. Quer saber mais sobre este santo e sobre os jesuítas? São diversos caminhos para pesquisa, mas indicamos dois endereços interessantes: http://www.itaici.org.br Tel.: (19) 2107-8501 http://www.cpalsj.org Tel.: (21) 2537-8311 Patrício Sciadini Religioso Carmelita Descalço e Sacerdote Rogate 275 set/09