Charlie Hebdo: a falácia do discurso jornalístico

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Charlie Hebdo: a falácia do discurso jornalístico
artigo
2ª quinzena de janeiro de 2015
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Charlie Hebdo:
a falácia do discurso jornalístico
waldemar rêgo
O
que é este artigo contra bilhões de mentes ajoelhadas
perante deus – um deus chamado
Mídia Formadora de Opinião?
Primeiro, a humanidade é
podre e é podre porque pimenta no c... dos outros é refresco.
Eu posso falar mal do outro
até que ele, nutrido de um ódio
profundo por mim, me ataque
e me mate. Então ele passa a
ser visto como terrorista e eu,
como vítima da intolerância.
Se para os ocidentais, Maomé
é passível de chacotas, o Jesus
católico não o seria? Que tal
uma charge de um Jesus “viado”
(da palavra desviado) beijando
outro viado? Ou a imagem de
uma santa sendo chutada por
um evangélico para desmerecer uma crença? Ou até mesmo
o repúdio da sociedade goiana
ao ver bonecos que representam figuras do candomblé espetadas no lago Vaca Brava?
Nossa hipocrisia não tem limites, principalmente quando se
trata do tal direito à liberdade de
imprensa. Essa liberdade seria
expor o outro ao ridículo até que,
tomado de ódio por mim, ele me
agrida? Insisto na pergunta.
Os valores ocidentais de nossa cultura judaico-cristã têm por
base a evolução de um espírito
cientificista que não aceita o arcaísmo muçulmano com sua teologia
pré-medieval em pleno século XXI,
não só o islamismo, mas qualquer
crença não conforme com nossa
“modernidade” liberticida. Não gostamos da religião do preto, do judeu,
do árabe e mais: não gostamos de
crentes, principalmente Testemunhas de Jeová. Rimos da suposta ignorância contida na fé islâmica como
se a nossa fosse superior, sendo que
a religião sempre foi, na história, a
desgraça da humanidade.
E a imprensa, com seu direito de
falar o que quiser sem ser punida?
Sim, se erramos, depois fazemos aí
uma notinha de reparo, coisa costumeira, para o desagravo desta ou
daquela figura pública.
O que se vê no Charlie Hebdo é
a irresponsabilidade como resultado
Divulgação / Chalie Hebdo.
de uma sociedade libertina como é
a francesa, na qual se espelhou, em
grande parte, o liberalismo ideológico dessa cultura ocidental chamada
de “nossa” e que se tornou aos poucos em libertinagem irresponsável
ao ponto de permitir o imiscuir-se no
foro íntimo da fé alheia para dela fazer chacota e sucesso como jornalismo irreverente, mas que na verdade
nunca passou de bullying midiático.
Lógico, nada justifica o terrorismo,
o assassínio de pessoas inocentes e a
violência, mas nada também justifica a
ofensa gratuita. Isso nos lembra o eterno 11 de setembro. E aí, toma outra
pergunta: por que o muçulmano mata?
É fácil pôr a culpa no petróleo,
mas o observável é que o “árabe”
é violento por natureza. Isso é o
que sempre nos mostrou o cinema
americano, a grande mídia, assim
como outras “nações inimigas” ou
potencialmente não conforme com
nossas diretrizes “democráticas
para o mundo”. Enfim, os grandes
formadores de opinião – os construtores dessa “cultura ocidental”.
Por aí vai a irrespondível pergunta.
O caso Charlie Hebdo suscita a
polêmica do direito a uma imprensa
livre que tem de tudo, menos ética.
Aqui vale lembrar que os meios de
comunicação possuem, de um modo
geral, duas éticas: uma para dentro e
outra para fora, e nesse caso, nenhuma, porque ao receptor da notícia é
dado saber apenas o que é interessante para um desses lados dessa “suposta ética”. A informação como subsídio da construção cultural é desviada
pelo canal da irresponsabilidade, da
ideologia, da questão financeira, das
rotinas de produção da notícia, e por
aí vai, coisa enormemente discutida
em qualquer escolinha de jornalismo.
Waldemar Rêgo é escritor, jornalista e artista plástico – [email protected]
Deus, Filho e Espírito Santo. O desrespeito aos valores humanos.

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