Pró-Reitoria de Graduação Curso de Letras Trabalho de Conclusão

Transcrição

Pró-Reitoria de Graduação Curso de Letras Trabalho de Conclusão
Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Letras
Trabalho de Conclusão de Curso
LEIA ESSA CANÇÃO - UMA ANÁLISE DA DUBLAGEM E DA
LEGENDAGEM DE CANÇÕES DE FILMES INFANTIS
Autor: Gláucia Jeane Gomes Barreto
Orientador: Prof. MSc. Virgílio Pereira de Almeida
Brasília - DF
2007
GLÁUCIA JEANE GOMES BARRETO
LEIA ESSA CANÇÃO - UMA ANÁLISE DA DUBLAGEM E DA LEGENDAGEM
DE CANÇÕES DE FILMES INFANTIS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso
de Letras da Universidade Católica de Brasília, como
requisito para a obtenção de título de licenciado em
Letras com Habilitação em Português, Inglês e
Respectivas Literaturas
Orientador: Virgílio Pereira de Almeida
Brasília
2007
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. MSc. Virgílio Pereira de Almeida
______________________________________________
Profª. MSc. Andréa Márcia Mercadante A. Coutinho
______________________________________________
Profª. MSc. Maria Fernanda Rodrigues
Dedico este trabalho às pessoas que buscam
compreender um pouco mais sobre o fascinante
universo da tradução.
Agradeço aos meus familiares, que dedicaram apoio
incondicional em toda minha trajetória de vida. Ao
meu professor orientador, que caminhou ao meu
lado na construção deste trabalho. À todos os
professores, amigos e colegas, que contribuíram para
o meu crescimento.
“A satisfação está no esforço, e não apenas na
realização final. Esforço total é vitória total.”
(Gandhi)
Resumo
O presente trabalho faz um estudo comparativo entre a legenda e a dublagem de canções de
filmes infantis. Após um breve relato sobre características do ato tradutório ao longo dos
anos, o primeiro capítulo resgata a teoria de tradução que, mais do que ditar parâmetros de
trabalho, indica meios que auxiliam o tradutor a evitar algumas das ciladas que a tarefa lhe
apresenta. Em seqüência apresentamos as características específicas da tradução para a
dublagem e para a legendagem, destacando as particularidades das versões para canções em
filmes infantis. A escolha deste gênero se deveu ao fato de ser rara a presença de dublagem
em canções para filmes do público adulto, quando a legendagem é freqüentemente usada
mesmo em filmes dublados. Analisamos várias canções e identificamos dois grandes grupos
de filmes: um onde as versões para a dublagem e para a legendagem são idênticas ou bastante
semelhantes, e o segundo onde as versões possuem diferenças significativas. De uma maneira
geral, em ambos os grupos privilegia-se a correspondência formal das canções, condição
imperativa para que o dublador possa cantar a letra seguindo a mesma melodia da canção. A
legenda, quando diferente, busca uma aproximação maior ao significado do texto original. O
trabalho termina com algumas sugestões para estudos posteriores.
Palavras-chave: tradução, legendagem, dublagem.
Abstract
This paper presents a comparative study of dubbing and subtitles of songs in animated films.
After a brief account of attributes of translation throughout the years, the first chapter
retrieves translation theory which, more than establishing norms, works as guidelines for the
translator to avoid tricks frequently found in his undertaking. Then we present the specificities
of translating for dubbing and subtitling, highlighting the particularities of the work of
translating songs in animated films. This genre was chosen since it is rare to find dubbed
songs in other kinds of movies, at which subtitles are used even if the rest of the film is
dubbed. We have analyzed various songs and identified two major grouping of films: one at
which the subtitles and the dubbing are identical, or very similar, and another at which the
versions differ considerably. In general, in both groups there is a tendency to maintain the
formal correspondence of songs, condition which is imperative for the singer to keep the
rhythm of the song in the dubbed language. The subtitles, when different, are closer to the
meaning expressed by the original text. Our work ends with some suggestions for further
study.
Keywords: translation, subtitling, dubbing.
Sumário
Resumo ___________________________________________________________________ 7
Abstract___________________________________________________________________ 8
Introdução ________________________________________________________________ 10
Capítulo 1 - Percalços na tradução _____________________________________________ 13
Capítulo 2 - A legendagem e a dublagem________________________________________ 16
Legenda__________________________________________________________ 16
Dublagem ________________________________________________________ 19
Canção é poesia?___________________________________________________ 21
Capítulo 3 - Traduzindo canções de filmes ______________________________________ 24
Capítulo 4 - Análise das canções ______________________________________________ 27
Dublagem e legenda com textos semelhantes ____________________________ 27
Dublagem e legenda com textos diferentes ______________________________ 31
Conclusão ________________________________________________________________ 34
Referências Bibliográficas ___________________________________________________ 36
Anexos __________________________________________________________________ 38
Introdução
Não há como precisar de fato qual foi o primeiro ato tradutório da história do homem.
Entretanto, tomando o mito bíblico como base, pode-se considerar que a tradução não poderia
ter existido senão depois da queda da Torre de Babel, quando Deus, irado com a ousadia
humana, decide “confundir o idioma de toda a terra”, espalhando línguas diferentes, de forma
a dividir os homens para que a construção da torre fosse interrompida.
Dados mais concretos sobre a tradução surgem com mais freqüência após a primeira
tradução da bíblia, por volta de 382 d.C do hebraico para o latim. O Papa São Dâmaso I
designou seu secretário, Pe. Jerônimo, que mais tarde tornou-se São Jerônimo, para executar
esta tarefa. Para difundir o texto bíblico a um número maior de pessoas, São Jerônimo
escolheu o latim vulgar para a versão traduzida da bíblia, e por esta razão, o alto clero romano
mostrou-se contrariado, uma vez que tinha interesse de manter o texto bíblico o mais erudito
possível, de forma a assegurar a hegemonia do conhecimento da palavra de Deus apenas à
igreja, por motivações mais políticas do que religiosas. Além de santo, Jerônimo tornou-se o
padroeiro dos tradutores, não apenas pelo seu feito histórico, mas por mostrar-se o primeiro
profissional que dedicou atenção especial à tarefa que lhe foi entregue. Magalhães Jr. (2007)
comenta que a tradução “lhe consumiu cerca de 20 anos, não só na interpretação do sentido
das escrituras, mas também no árduo esforço para dominar o hebraico e o aramaico, a fim de
traduzir direto dos originais, sem a ponte do grego.” (p. 168).
A preocupação de Jerônimo em privilegiar a tradução direta sobre a indireta, séculos
antes da teoria da tradução cunhar tais definições, resultou em uma nova versão da bíblia, que
ficou conhecida como Vulgata, que por sua vez possibilitou o crescimento de um novo
público leitor, o que conseqüentemente incentivou a tradução de mais textos religiosos.
Provavelmente a Vulgata foi o primeiro passo para a popularização da tradução, que só
ganharia novamente um impulso de semelhante destaque com a invenção da prensa por
Johannes Gutemberg mais de dez séculos mais tarde.
Após ficar restrita aos textos religiosos, a tradução ganhou espaço, adquirindo
proporções significativas no período Elizabetano (séc. XVI), uma vez que o número de
leitores que dominavam outras línguas, que não a materna, era ínfimo. Na Inglaterra dos séc.
XVII e XVIII, a tradução era feita de forma a manter ao máximo a fidelidade ao texto, mesmo
quando a língua para qual se traduzia não possuísse termos semelhantes ao original. Nestes
11
casos, os tradutores utilizavam alguns artifícios pouco louváveis hoje em dia, como é possível
perceber em Gambier (1998, p. 214):
Os tradutores podiam expandir o vocabulário da língua-meta, usando palavras
emprestadas, ou então identificar na cultura-meta termos equivalentes, de modo a
expressar os fenômenos culturais estrangeiros. A preferência pelo segundo método
resultou em uma significativa naturalização dos textos-fontes.
Paralelamente, na França era permitido fazer alterações nos textos, de forma a tornálos mais suaves, claros, e atraentes aos leitores. No séc. XX Ezra Pound quebrou os padrões
de tradução da época, difundindo o “make it new”, que consistia em encarar a tradução como
uma ferramenta maleável, que permitia a interação entre obra original e leitor, não da forma
rígida de fidelidade, mas sim por meio da criatividade e do desenvolvimento da língua.
Ao desavisado, o que advogava Pound pode até parecer uma heresia. Entretanto, até os
dias de hoje, a ciência da tradução não dita padrões fixos, uma vez que a própria definição do
que é traduzir é polêmica e multifacetada. De acordo com Hargreaves (2002, p.63):
As opiniões sobre o que significa tradução são várias, e será necessário definir o que se
espera de uma tradução antes de estabelecer se essa é possível ou não. Há quem diga que
traduzir significa simplesmente transferir para outra língua os conceitos expressos na
língua original, ou língua fonte.
O certo é que, graças à globalização e a outros fatores, a tradução continua
demonstrando sua importância, crescendo e respondendo às necessidades de cada tipo de
objeto de trabalho. Cada vez mais teorias e estudos estão sendo realizados, e, ainda que não
consigam atender às expectativas das pessoas envolvidas nessa área, já estão ajudando a
derrubar alguns mitos, além de auxiliarem os que se aventuram a traduzir.
Além de toda a polêmica que envolveu, e ainda envolve, o resultado de qualquer
processo tradutório, existem outros fatores internos, não menos polêmicos, a serem discutidos
e estudados. Existem diversas formas de linguagem a serem traduzidas, que vão desde textos
(técnicos, poéticos, em prosa, etc.) até as atividades de interpretação simultâneas ou
consecutivas (em conferências, palestras, programas televisivos ao vivo). Estas diferentes
mídias possuem especificidades únicas, e, como qualquer outro profissional, o tradutor
necessita especializar-se. Assim como um médico tem que conhecer o corpo humano de
forma geral, mas se especializa de forma profunda em determinada parte do corpo, o tradutor
também tem que compreender bem os processos necessários à tradução, além de buscar
entender os problemas e as exigências do tipo de tradução com a qual se propõe trabalhar.
12
Dentro das grandes áreas do universo da tradução, a dublagem e a legendagem se
destacam por desempenharem o importante papel de possibilitar a circulação mundial da
produção cultural, particularmente a cinematográfica e a televisiva. De forma indireta, elas
têm o poder de movimentar desde culturas até economias, uma vez que o cinema e a televisão
(cada vez mais associada à Internet) constituem partes integrantes e atuantes dentro de todas
as sociedades minimamente desenvolvidas hoje em dia.
Entretanto, assim como qualquer gênero de tradução, a dublagem e a legendagem
carregam em si problemas e dificuldades para o tradutor. Naturalmente, o script do texto a ser
traduzido é o ponto de partida tanto para a dublagem quanto para a legenda, mas a dinâmica
de cada um dos ofícios toma direções distintas devido a critérios e exigências particulares. A
legenda exige espaço na tela e, por várias vezes, não consegue comportar toda a informação
expressa no original necessitando de redução em seu conteúdo, além de ter de ser produzida
de forma a ocupar o mínimo de tempo necessário a sua leitura. Já a dublagem não disputa
espaço com a imagem, mas deve obedecer às características da personagem, incluindo
articulações, entonações, além de ter sempre de obedecer, talvez de forma mais rigorosa que a
legenda, ao tempo de fala.
No universo dos filmes cinematográficos existem diferentes tipos de linguagem: a
escrita (placas, sinais, avisos e até o próprio título do filme), as narrações, as conversas dos
personagens e as canções. Este trabalho se propõe a analisar a tradução destas últimas, pois a
presença de canções em filmes é bastante freqüente, e, talvez pela complexidade de se
traduzir letras de músicas, não existe consenso entre os tradutores se as músicas devem ser
traduzidas ou não, o que pode ser uma das justificativas da manutenção da língua fonte em
trechos onde há canções, mesmo quando o restante do filme é dublado. As exceções a esta
norma encontram-se nos desenhos animados para o público infantil, que exigem a tradução de
todo e qualquer evento lingüístico, seja ele escrito em placas, falado ou cantado, uma vez que
seu principal público alvo são crianças. É fácil notar essa diferença porque nos filmes
destinados a um público mais adulto é praticamente inexistente a dublagem das canções,
observando-se que as letras só são traduzidas se tratarem de assuntos muito importantes para
o contexto dos filmes.
13
Capítulo 1 - Percalços na tradução
As línguas de cada cultura, apesar de possuírem características únicas, moldadas
dentro das particularidades de cada povo, possuem alguns aspectos que podem ser
considerados comuns. Um destes aspectos é o da continuidade, que é o que mantém as
propriedades intrínsecas que fazem da língua um instrumento de comunicação que não se
deteriora com o tempo. Um outro aspecto seria o da mutabilidade, efeito do próprio tempo e
dos próprios usuários, que agem de forma unitária, sobre a língua. Como afirma Saussure
(1994, p.89):
O tempo, que assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, em aparência
contraditório com o primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos
lingüísticos e, em certo sentido, pode-se falar, ao mesmo tempo, da imutabilidade e
mutabilidade do signo.
Dentro desta perspectiva, a tradução, naturalmente, acompanha estes processos, além
de possuir os seus próprios mecanismos e critérios, que também têm se alterado desde o início
de sua prática. Desta forma, para o tradutor realizar seu trabalho, ele deve conhecer não só as
línguas com as quais pretende trabalhar, mas deve buscar conhecer também os problemas, os
erros comuns, as contradições e os procedimentos mais adequados existentes dentro da teoria
da tradução. Alem destas informações, o tradutor deve também se manter atualizado quanto às
transformações das línguas e das culturas com as quais interage, não de forma a conhecer tudo
sobre elas, pois isso seria um empreendimento inalcançável, mas sim de manter-se mais
próximo do seu objeto de estudo. Em outras palavras, emprestando o conceito apresentado por
Saussure, o tradutor deve se familiarizar com o que há de mutabilidade do signo.
Ao analisar o ato tradutório de maneira superficial, é comum ter a falsa idéia de que
para cada palavra de uma língua devem existir correspondentes em outras línguas, e que,
portanto, o ato tradutório resume-se a simplesmente substituir a palavra de uma língua pela
sua correspondente em outra língua. Tal pensamento, entretanto, está muito longe da
realidade, porque cada palavra só assume sua significação completa quando acompanhada de
outros elementos criadores de um contexto. É o contexto que dá sentido semântico a uma
palavra, e sem o contexto, as palavras não encerram, em si somente, significação clara. São
Jerônimo já dizia, em sua Carta a Pamáquio que o que importa é a transferência de “sentido
por sentido, e não de palavra por palavra” (Knight, 2007).
Além deste fator, existem outros tantos, motivados, em sua grande maioria, pelas
características exclusivas de cada língua, que são construídas, por sua vez, de acordo com os
14
costumes e a história de cada povo. Paulo Rónai define estes aspectos característicos de
“armadilhas da tradução” (1981), pois é justamente neste ponto onde surgem as grandes
probabilidades de tradutores cometerem enganos.
Graças às experiências de vários tradutores, existem hoje algumas regras que norteiam
o trabalho do tradutor em relação a alguns problemas. Porém ainda há situações, e, dada as
características diversificadas de cada língua, sempre haverá situações, nas quais o tradutor vai
se deparar com problemas mais complexos, por vezes insolúveis.
Duas destas situações possuem conceitos teóricos já solidificados no campo da
tradução. São elas a intraduzibilidade lingüística e a intraduzibilidade não-lingüística. A
primeira diz respeito aos termos lexicais existentes apenas em uma só língua, ou seja, não há
termo correspondente na língua meta, fazendo com que sua tradução resulte, na melhor das
hipóteses, em um conjunto de palavras ou expressões que transmitirão a mensagem de
maneira relativamente próxima. Com este processo de adaptação, perde-se parte do conteúdo
original, mas não o suficiente para prejudicar o resultado final da tradução. Tais termos
podem ser típicos, como a palavra “feijoada”, como também termos comuns, mas
curiosamente únicos, como o conhecido termo “saudade”.
A intraduzibilidade não-lingüística, por sua vez, refere-se aos termos que possuem
equivalentes nas línguas fonte e meta, porém a correspondência destes equivalentes não
carrega a mesma relação de significado. Pode-se perceber esta intraduzibilidade quando
comparamos os envolvidos em cerimônias de casamento no Brasil com países falantes de
língua inglesa.
Em um tradicional casamento nos Estados Unidos da América, por exemplo, a entrada
da noiva é sempre precedida por um grupo de amigas, as bridesmaids, que possuem vestidos
idênticos. Uma destas mulheres, que geralmente se destaca com algum adereço maior em sua
vestimenta, é a maid of honor. Esta é a melhor amiga da noiva, e provavelmente acompanhoua desde a escolha do vestido de casamento até a seleção dos salgadinhos a serem oferecidos
na recepção. Esta amiga organiza a despedida de solteira e o chá-de-panela, quando houver e
também acompanha a noiva durante as vinte-e-quatro horas que antecedem a cerimônia
religiosa. Geralmente tanto as bridesmaids quanto a maid of honor recebem, em português, a
denominação de “madrinhas”, muito embora as atribuições delas sejam bastante
dessemelhantes.
O noivo está no altar, sempre acompanhado de seu melhor amigo, que faz o papel do
bestman na cerimônia. O bestman acompanha o noivo durante todo o dia do casamento, e é
ele o responsável por portar as alianças e as entregar ao sacerdote durante a cerimônia. Em
15
nossa cultura não há figura semelhante, mas o termo bestman é comumente traduzido por
“padrinho”. Mais uma vez, há uma discrepância entre as funções desempenhadas pelo
padrinho, no Brasil, e pelo bestman, nos EUA. Repare que verter bestman para “padrinho”,
não se trata de erro de tradução, mas a imagem criada na mente do leitor da obra traduzida
não será semelhante à imagem na mente do leitor da obra original.
Além destes dois conceitos já estabelecidos em teoria de tradução, Almeida (2004)
acrescenta o conceito de intraduzibilidade circunstancial, que “acontece quando o tradutor
sabe qual deveria ser a tradução adequada, mas algo no contexto circunvizinho ao material
traduzido impede que ele a utilize.”
A intraduzibilidade circunstancial só ocorrerá quando o texto a ser traduzido estiver
acompanhado de uma imagem, como histórias em quadrinhos, filmes, desenhos, etc.
Tomemos como exemplo a expressão get off my back, que literalmente quer dizer “saia das
minhas costas”, mas tem como a tradução mais correta o “saia/largue do meu pé”. Então, se
houver a ocorrência de uma imagem associada a “get off my back” em determinado filme, na
qual a personagem, ao dizer esta expressão, realiza algum movimento indicando as costas,
não ficaria compreensível se o tradutor ignorasse a cena e simplesmente traduzisse como
“saia/largue do meu pé”. Neste caso, há que se adaptar, buscando uma outra expressão que
cause menos estranheza.
Além das situações mencionadas acima, o tradutor pode estar certo de que vai
encontrar outras dificuldades mais específicas, que tomam corpo de acordo com as
características do original a ser traduzido.
16
Capítulo 2 - A legendagem e a dublagem
A legendagem e a dublagem são recursos usados há bastante tempo pelas empresas
filmográficas para que suas produções possam ser divulgadas em outros mercados, além do
seu país de origem. A construção de ambas as técnicas sofreu transformações ao longo do
tempo, de forma a adaptar-se às tecnologias desenvolvidas e a buscar reduzir, ao máximo
possível, os inconvenientes inerentes a sua incorporação aos filmes. Ao analisar melhor cada
uma das técnicas, pode-se compreender melhor os aspectos positivos e negativos de ambas.
Legenda
A legenda é o recurso que permite inserir pequenos quadros de texto de forma
sincrônica à fala do personagem. A princípio pode parecer um trabalho simples, mas sua
execução demonstra que o processo é bastante complexo.
Para que possa transmitir de forma eficaz a mensagem original, a legenda deve estar
moldada, primeiramente, dentro de alguns padrões, que variam pouco de um programa para
outro. Atualmente a criação das legendas é feita através de software próprio para este fim.
Estes programas possuem os parâmetros padrões da normatização de legendagem. Existem
tradutores que optam por não utilizar estes recursos; entretanto, eles trabalham sempre
observando certas limitações e características das legendas.
A primeira destas restrições é o limite máximo de duas linhas por vez, sendo que cada
linha não pode abarcar mais do que 35 caracteres. Desta forma o tradutor tem que lidar com a
freqüente necessidade de condensar a mensagem de forma a fazer com que caiba nesses 35
caracteres, tendo de construir um texto correto e claro. A restrição é tão inelástica que, se o
resultado da tradução de uma fala resultar em uma frase de 36 caracteres, mesmo que tenha
um significado extremante próximo ao original, o tradutor terá de reconstruir esta frase, de
forma a encontrar novamente este significado em um novo texto. Se não conseguir encontrálo, o profissional terá de aceitar a perda de parte da mensagem, devendo optar por excluir a
que significará uma perda menor em relação ao todo do conteúdo original.
Outra limitação refere-se ao tempo de permanência da legenda na tela, que
normalmente varia de um a cinco segundos, e é calculado de acordo com o tamanho da
mensagem a ser transmitida e com a sincronia entre texto, imagem e fala. Nesta fase, além das
perdas resultantes do limite de caracteres, pode ser necessária a supressão de outras partes da
mensagem original. Quando se tem uma personagem que além de falar muito, ainda o faz de
17
forma rápida, vai haver, inevitavelmente, a perda de expressões ou termos. Esta perda deve
ser minimizada com a construção de períodos que transmitam a mensagem com suficiente
concisão para não ultrapassar nem o limite de caracteres, nem o tempo destinado à exibição
da legenda na tela.
Além da padronização de legenda que o tradutor deve seguir, há ainda que se observar
mais um aspecto que está ligado de forma mais direta ao ato tradutório, e que tem importância
tanto na legenda como na dublagem. Referimo-nos à necessidade de adaptação do texto ao
público alvo do programa, para melhor direcionar as opções de tradução, quando estas
existirem, de forma a adequá-las de acordo com o mais apropriado para cada grupo de
espectadores. Apesar de a legendagem primar pela utilização de períodos simples, na ordem
direta do discurso, isso não vai significar que as legendas serão compreensíveis a todos, pois
há também a variante do grau de complexidade dos significados. Existem termos que
possuem correspondentes em várias línguas, com significação semelhante, mas com valores,
entretanto, diferentes. A cultura indiana, por exemplo, tem por tradição a adoração de vacas,
ratos e serpentes, então se é necessário traduzir para o hindi um trecho onde alguém faz uso
de um desses três substantivos para ofender alguém, o tradutor deve buscar outros termos para
substituir o utilizado no original. Neste caso, a existência do termo equivalente pode não
resultar em uma boa tradução.
Há aqui a observação a respeito da necessidade da utilização da norma culta, mesmo
que a linguagem predominante seja coloquial. Na fala, é comum a supressão de termos, letras,
sílabas e/ou palavras, tanto que é em função destas supressões que as línguas se modificam e
se transformam, como aconteceu no português com a expressão “vossa mercê” que se
transformou até chegar na palavra “você”, que na fala é dito quase sempre apenas como “cê”.
Na tradução para dublagem, estas supressões devem ser mantidas, pois são elas que conferem
naturalidade ao discurso oral, porém na legenda o tradutor deve construir o texto ignorando
estas características da fala. Se um diálogo entre personagens é iniciado pela gíria whazzup?,
agregação da expressão what’s up, o tradutor da legenda é obrigado a utilizar o
correspondente da expressão original, e não da variante oral utilizada pelo personagem. Em
outras palavras, a legenda deverá exibir algo como ‘E aí?’ ou ‘Qual é a boa?’. Já a dublagem,
por sua vez, pode optar por algo mais próximo à oralidade da língua, utilizando expressões
como ‘Qualé?’ ou ‘Beleza?’. Há exceções para esta regra, pois existem situações onde certas
palavras coloquiais, ou com erros, ou com gírias, fazem parte de características específicas de
uma personagem, de tal forma que influencia diretamente o contexto do filme. Nestes casos o
18
tradutor deve assinalar estas características, procurando, ou criando, palavras que tragam uma
idéia semelhante a que se quer transmitir no original.
A utilização de legendas, apesar de toda a dificuldade mencionada acima, preserva
certas propriedades do filme original que são perdidas quando se utiliza a dublagem. Com um
filme legendado, o espectador pode apreciar a obra com as vozes e interpretações dos atores
originais, que na maioria das ocasiões são mais talentosos do que os dubladores. O espectador
pode também perceber outras características das personagens, que podem ser encobertas pela
dublagem, como sotaques ou dificuldades na fala. A legenda tem ainda a vantagem de
oferecer menos custos às empresas de distribuição, pois requer um número menor de
profissionais envolvidos no trabalho.
Apesar das vantagens apresentadas, a legendagem também possui alguns aspectos
tidos como negativos, o que, conseqüentemente, atrai críticas por parte de alguns
espectadores. Não é possível evitar o embate pela atenção existente entre legenda e imagem,
isto é, a atenção dos espectadores é dividida entre a leitura das legendas e a visão do filme, de
forma que há a exigência de uma atenção maior para quem assiste, e, além disso, a perda de
alguns segundos de imagem, para cada leitura.
Além de dividir a atenção do espectador a legenda também divide espaço na tela, de
forma a gerar inconvenientes, como encobrir uma parte da imagem, impossibilitando ao
espectador visualizar algo fundamental para o contexto do filme. A legenda pode também se
confundir com a própria imagem, pois apesar de serem apresentadas na cor branca ou
amarela, vão existir cenas onde a predominância da cor das imagens é igual às da legenda, ou
possui nuances que tornarão a resolução das letras menos visíveis, dificultando, ou até
impossibilitando a leitura.
Juntamente com estes problemas, há também outro causado pela necessidade de
concisão ao produzir as legendas. Ao perceber que a personagem transmitiu uma longa
mensagem que foi expressa por poucas palavras na legenda, o espectador pode se sentir
“enganado”, vítima da preguiça do tradutor, pois por desconhecer a outra língua e a
necessidade de concisão, não sabe o que foi dito de fato e não entende que a mensagem pode
ser reduzida o suficiente para adaptar-se a legenda sem perder quantidade significativa de
conteúdo. Há ainda um outro tipo de espectador, que é aquele que detém algum conhecimento
da língua, e, por conseguinte, é capaz de perceber que a legenda não corresponde exatamente
ao que foi dito, mas igualmente por desconhecer as dificuldades, os limites e a realidade da
tradução para legendas, passa, então, a condená-las, condenando também o tradutor.
19
Dublagem
A dublagem consiste na reconstrução da sonorização da língua de origem para uma
outra, devendo manter, da melhor maneira possível, as características apresentadas pelo
original. Esta reconstrução exige padrões diferenciados, o que acarreta também problemas
diferentes dos apresentados na legendagem. A princípio, o esforço por parte do tradutor é
semelhante: ele deve conhecer o material a ser traduzido, bem como o público ao qual se
destina, para então se dedicar à tradução propriamente dita. Uma diferença inicial marcante é
que a dublagem deve ser feita em linguagem coloquial, em proporção à utilizada no original,
de forma a imprimir a mesma naturalidade existente no texto original. Um cuidado maior com
as características intrínsecas do contexto, como aspectos lingüísticos (saber reconhecer
diferenças entre a fala de uma pessoa que vive no interior, e a fala de alguém que vive nas
grandes metrópoles, por exemplo), e saber como adequá-las a situações próximas na outra
língua, garante uma maior fidelidade ao texto da dublagem.
As técnicas utilizadas na dublagem possuem normas menos fixas que as de
legendagem, uma vez que cada produção traz consigo contextos próprios. Este fator,
entretanto, não significa que o tradutor é livre para adaptar as mensagens de acordo com sua
vontade. As normas de dublagem vão ser estabelecidas, na verdade, dentro de cada situação a
ser traduzida, pois se uma personagem fala demais e muito rapidamente, o tradutor deve
construir um texto com estas características, aplicando-se a proporção inversa se uma outra
personagem fala pouco e pausadamente. Entretanto, tal tarefa não é tão simples, pois uma fala
extensa não implica necessariamente que a mensagem a ser transmitida exige, de fato, o
mesmo número de palavras para a outra língua. Da mesma forma que uma pequena expressão
pode estar carregada de uma grande carga semântica que exige um grande número de palavras
em outra língua. Na legendagem este fator não apresenta o mesmo peso que para a dublagem,
pois o texto exibido na legenda não necessita de sincronização tão fina com a voz da
personagem. A diferença está no fato de que enquanto a legendagem é limitada pelo número
de linhas e tempo de exibição do texto, a dublagem é limitada pelo movimento labial da
personagem, se esta é visível durante a fala. O trabalho de dublagem é alvo de críticas se não
há sincronia entre a fala e o movimento labial.
A dublagem apresenta maior vantagem para alguns públicos, como o infantil, pois
como dito anteriormente, a legenda exige a leitura rápida, faculdade, possivelmente, ainda não
desenvolvida por parte deste público. Mesmo as crianças que já foram alfabetizadas precisam
20
se concentrar de maneira integral à imagem da tela, impossibilitando assim a leitura
simultânea da legenda, caso contrário perderiam muito da trama do filme.
Além das crianças, a dublagem também democratiza o entretenimento para a
população semi- ou não-alfabetizada, razão pela qual vez por outra surgem debates políticos
acerca da obrigatoriedade de dublagem de filmes estrangeiros no Brasil.
Como acontece com a legendagem, a dublagem também possui algumas desvantagens.
Uma destas desvantagens é a necessidade de uma gama maior de profissionais. Além do
tradutor, a dublagem exige a contratação de dubladores, que podem ser profissionais
especializados ou mesmo atores profissionais, que emprestam suas vozes e talentos para
abrilhantar as produções. A técnica também exige equipamentos específicos e o uso de um
estúdio de gravação. Tudo isso torna o processo de dublagem mais dispendioso e moroso.
Eventualmente, um profissional imprime certas características ao trabalho que casam
muito bem com o personagem ou ator que está sendo dublado, o que o credencia a fazer novas
dublagens para aquele mesmo ator ou personagem em novas produções. Isto pode se tornar
um problema, pois nem sempre o profissional, seja ele dublador ou ator, está disponível para
fazer novos trabalhos de dublagem, quando for necessário. Para ilustrar este ponto,
analisemos o caso do notável humorista Cláudio Besserman Viana, mais conhecido como
Bussunda, que foi o dublador da personagem Shrek em suas duas primeiras aventuras no
cinema. Sua voz imprimiu características à personagem, como ocorre em toda dublagem, que
não serão facilmente esquecidas. Com a morte do artista em 2006, um novo profissional teve
que fazer a dublagem do terceiro filme da série. Como era de se esperar, este novo dublador
não conseguiu apagar por completo os traços deixados por Bussunda nas edições anteriores.
Parte do público infantil, a quem o filme se dirige, percebeu a diferença do timbre de voz da
personagem. Há quem diga que estes detalhes não são realmente relevantes, mas há muito se
sabe o quão exigente é o público infantil.
Tais desvantagens não dizem respeito ao tradutor diretamente, porém contribuem para
uma visão negativa da dublagem em geral, afetando também o próprio tradutor, pois
infelizmente a produção de uma excelente tradução não garante que a dublagem em si terá
qualidade, pois esta depende também da habilidade de quem dá, de fato, voz ao texto. Não há
que se negar, entretanto, o alcance maior do filme dublado, a despeito das desvantagens desta
forma de tradução.
Percebe-se, então, que os desafios da dublagem e da legendagem devem ser abordados
de forma distinta, e o resultado destas duas formas de transposição lingüística será
21
diferenciado e limitado por suas características intrínsecas. A preferência por uma ou outra
forma de adaptação é, em grande escala, fruto do gosto pessoal do público.
Se não bastassem as dificuldades inerentes do trabalho do tradutor de legenda ou de
dublagem, a lide de quem tem que criar legendas ou dublagem para canções é ainda mais
quimérica.
Canção é poesia?
Para prosseguir com a análise da tradução de canções dentro do cinema, é necessária
uma observação relativa à estrutura das canções. A importância desta observação reside no
fato de que, além de existir uma discussão antiga acerca das diferenças e semelhanças entre a
poesia e a canção, não há embasamento teórico significativo para a tradução de canções.
Vemo-nos com a possibilidade de nos voltarmos para as teorias existentes acerca da tradução
de poesia, que encerra em si aspectos semelhantes à tradução de canções.
A canção possui origens anteriores às da poesia, e foi considerada um meio de
preparação mental, pois como afirmou Sócrates “para o corpo temos a ginástica e para a
alma, a música.” (SOCRATES, Apud Platão, ano 2000 p. 72). A música a que Sócrates
referia-se era aquela que deveria possuir em sua letra um discurso capaz de representar a
verdade, alem de ter o papel de “representar Deus sempre tal como é, quer seja representado
na epopéia, na poesia lírica ou na tragédia.” (SOCRATES, Apud Platão, ano 2000 p. 73).
Desta forma as músicas atuavam como “formadoras” na educação dos homens. De acordo
com Galindo (2006, p.03):
(...)o termo grego “mousiké” englobava uma unidade integrada de melodia e verso e
representava o principal canal de formação dos homens, bem como de manifestação de
uma cultura predominantemente oral. Era desta forma, pelo discurso oral, em
performance, que se concretizava uma voz coletiva.
Tal discurso oral manteve-se presente com semelhante força também na Idade Média,
período no qual as poesias eram produzidas para serem cantadas. Em canções, portanto, se
encontra a origem da poesia, pois a escrita estabeleceu-se gradativamente transformando as
canções em textos poéticos escritos, para não mais serem cantados, e sim lidos ou
declamados.
Apesar destas raízes históricas, pode-se perceber que a pergunta do subtítulo acima
tem mais importância em países como o Brasil que no exterior. Em países de tradição cultural
milenar, como a França, por exemplo, graças a uma rigorosa tradição normativa, a posição
dessas duas artes é bem definida e apenas a poesia escrita é considerada arte literária, sendo
22
vista como mais nobre do que a letra de música. Tal acepção era a vigente em nosso país até o
apogeu da música popular brasileira, que trouxe consigo disputas ideológicas acerca do que
era arte ou não. Mesmo depois de décadas de discussões, não há um consenso se canção pode
ser considerada poesia, mas a comparação entre ambas é pertinente, como podemos observar
neste excerto de Ascher (2007):
Tais dilemas já deveriam, a essa altura, ser história. São raros os que negariam atualmente
o valor das melhores canções produzidas no país e, inclusive entre os críticos e
especialistas, poucos relutam em admitir que o texto delas pode ser tão poético (seja na
acepção de conscientemente elaborado de acordo com regras exigentes, seja na de
portadores de sentidos concentrados) quanto o da melhor poesia escrita. Ainda assim, tão
logo a questão do valor desliza rumo à confusão conceitual, perde-se clareza.
Quem compare dois textos, um tão bom quanto o outro, sem saber que um provém de um
livro e o outro, de uma canção, achará difícil entender ou explicar tanto diferenças
importantes entre ambos como o uso corriqueiro em um de recursos que mal se
apresentam no outro. Caso, em vez de dois textos individuais, ele justaponha uma
quantidade generosa de poemas e letras (cem, digamos, de cada qual), as diferenças
acima se tornarão explícitas demais para serem negadas.
Neste ponto convém imaginar que seja colocado um tradutor para fazer a observação
de dois textos: uma poesia e a letra de uma canção, levando em consideração que ambas
exigem, na tradução, não só a transmissão do conteúdo da mensagem, mas também da forma,
que é o diferencial dos textos incluídos nestas duas categorias. Parece-nos óbvio que a
distinção entre poesia e canção é irrelevante para o tradutor, já que ambas as formas possuem
suas especificidades no que diz respeito ao conteúdo, às rimas e à métrica, mas no
concernente ao trabalho final da tradução, o resultado é que ambas devem manter, ao máximo
possível, a proximidade entre forma e conteúdo como os apresentados no original.
Geir Campos (1987, p.48) estabelece a existência de “duas pernas, que se completam”
na tradução: a equivalência textual e a correspondência formal. Segundo este autor,
O que se quer dizer com “equivalência textual” é que o texto traduzido deve transmitir ao
seu leitor uma informação semelhante à que o texto original transmitiu ao seu primeiro
leitor em sua língua de origem. A correspondência formal quer dizer que a forma do texto
original deve ser seguida pelo tradutor com a máxima fidelidade possível, muito embora
em alguns casos essa fidelidade se reduza ao mínimo. (grifo nosso)
São com estes dois aspectos que o tradutor de poesias e canções tem de trabalhar, mais
que os tradutores de outros textos, como os de textos técnicos, que naturalmente, devem dar
prioridade ao conteúdo, já que a forma é irrelevante. Para a poesia e a canção, especialmente a
utilizada em filmes e desenhos, a forma costuma ter prioridade sobre o conteúdo. Entretanto
não se pode dizer que isso acontece de forma obrigatória ou fixa, porque a realidade de cada
23
canção, de cada imagem, de cada texto, varia enormemente, cabendo ao tradutor lidar com
elas da melhor maneira possível, sendo necessário, por vezes, que o profissional tenha
inspirações de poeta, além de imaginação e criatividade, para encontrar a solução mais
apropriada para a tradução.
24
Capítulo 3 - Traduzindo canções de filmes
Cada material a ser traduzido possui especificidades, que podem resultar em
problemas para o tradutor. A tradução de canções de filmes não foge a essa regra; pelo
contrário, esse tipo de tradução apresenta um grande número de limitações.
Traduzir uma canção significa adicionar mais limites a atividade de produzir legendas
e principalmente de produzir dublagens, pois associados ao tempo de fala, à imagem, à
sincronia, teremos também o ritmo, a rima e a musicalidade inerentes às canções. Estas
características também são refletidas na tradução de poemas, como afirma Horta (2004, p.12):
“É algo diferente a tradução do poema, em que o som – e, pois, a palavra – costuma
desempenhar papel relevantíssimo.”
A tradução de canções, então, revela-se como tarefa complexa, por vezes árdua, na
qual o tradutor deve possuir uma gama extensa de conhecimento das línguas com as quais
trabalha, de forma a conseguir construir variações da mensagem a ser traduzida. Como já
destacamos, essa gama de conhecimento é necessária a qualquer tradutor, para a tradução de
qualquer conteúdo. Entretanto, para o tradutor de canções, este conhecimento terá outros usos,
pois se alguém, ao traduzir um livro, encontra o equivalente para determinado texto e este
possui um número maior de sílabas do que o original, não há problemas, pois os limites de
tradução não são rígidos quanto a limitações de extensão. Já para a tradução das canções não
existe a possibilidade de aceitação de um texto equivalente quanto ao conteúdo e diferente
quanto à forma, bem como para a construção de uma forma correspondente com conteúdo
muito diverso do original. Portanto, nestes aspectos, o conhecimento que o tradutor tem é que
o auxiliará a buscar a solução para as dificuldades da tradução, para encontrar o equilíbrio
ideal entre forma e conteúdo.
Analisando o trabalho a ser feito na tradução de um texto com ritmo e métrica, chegase então a seguinte conclusão, como afirma Horta (2004, p.13) “(...) [em textos onde] importa
antes o clima que a informação, a sugestão que o conceito, e em que a música e a imagem
sobrelevam a lógica, é preciso não apenas traduzir (ou verter): é preciso, sobretudo, recriar;
ou transcriar (...)”.
Deste modo, cabe ao tradutor desempenhar o papel, por vezes, de compositor e poeta,
pois, como afirma Rónai (1976, p.28):
Mais de uma vez o tradutor tem sido comparado a artistas: ao cantor que canta uma
canção escrita por outro, ao músico que num instrumento toca uma música escrita para
outro instrumento (...) ou que decifra e “reescreve” toda a partitura, ao maestro que rege
25
composições alheias, ao escultor que tem de executar noutro material qualquer cópia de
uma estátua de mármore (...), ao pintor que copia em óleo um pastel, ao ilustrador de um
livro, ao ator que encarna os mais diversos papéis (...), ao fotógrafo que de um quadro de
museu tira uma foto colorida (...) ou bate uma chapa de uma estátua (...) e, fazendo
entrever a dificuldade de sua tarefa, a um artista plástico que tivesse de transmutar uma
música em quadro ou em estátua (...).
Este papel é prestado, entretanto, quase que de maneira velada, pois a tradução não
resultará em uma obra de quem a traduziu, mas sim na versão traduzida de uma composição
de outrem.
A visão romântica do trabalho do tradutor apresentada acima não é partilhada por
todos. Há também a existência de comparações menos favoráveis, como a observação feita
pelo irreverente Goethe, e analisado por Rónai, neste mesmo texto (1976, p.29). Diz o
professor que o escritor alemão comparava tradutores a “alcoviteiros que nos elogiam uma
beldade meio velada como altamente digna de amor e que excitam em nós uma curiosidade
irresistível para conhecermos o original.”
Este comentário de Goethe pode ser estendido às canções de cinema, quando se
observa que algumas das músicas dos desenhos infantis tidos como clássicos são amplamente
difundidas no original. Temos como exemplos a Can You Feel The Love Tonight, traduzida
para Nesta Noite o Amor Chegou do filme O Rei Leão, ou a A Whole New World, na versão
traduzida Um Mundo Ideal presente em Aladdin, entre outras. Tais difusões, feitas em rádios
e disponíveis para aquisição nas trilhas sonoras, podem ser interpretadas como estratégia de
marketing, pois têm como objetivo impulsionar a divulgação de seu produto, satisfazendo a
eventual curiosidade, como define Goethe, que o espectador tenha pelas versões das canções
originais, e incutindo as características dos filmes na memória dos espectadores, fazendo com
que estes perdurem no tempo.
Verter canções de uma língua a outra, depois de se analisar as limitações que a tarefa
oferece, adicionadas às dificuldades presentes na dublagem e na legendagem, pode ser
considerado um trabalho quase impossível. Entretanto, a realização desta em diversos filmes
comprova que esta acepção não é correta. Trata-se de um trabalho necessário, pois não é
válida a opção de restringir a divulgação de realizações culturais (filmes, livros, poesias, etc.)
pelo mundo apenas porque não estão em língua compreendida por todos. Horta (2004, p.14)
assinala este aspecto na seguinte afirmação:
(...) a alegada intraduzibilidade do poema não deve ser aceita como absoluta. Não é fácil,
mas é possível recriar (...) de modo que, na língua destino, [a obra] soe como original e
suscite um conjunto de sensações-emoções-sentimentos-idéias que se assemelhe ao da
matriz.
26
Tal afirmativa pode ser comprovada pela existência de traduções de poemas bemsucedidas, bem como a existência de traduções de canções em filmes que mantém as
estruturas necessárias à boa interpretação de seus contextos, como veremos nas canções
extraídas de animações infantis.
27
Capítulo 4 - Análise das canções
Como os desenhos e animações analisadas pertencem ao gênero infantil, é necessário
observar primeiramente as características gerais presentes na maior parte das canções. A
linguagem presente nestas produções é construída, normalmente, com o objetivo de reter a
atenção das crianças, utilizando, entre outros artifícios, um humor simples, baseado, na
maioria das vezes, em trocadilhos, chistes e imagens nas quais as personagens sofrem
acidentes inusitados, como quando um vilão escorrega e cai ao perseguir o herói. As canções
constituem, em si, um recurso a mais para captar a atenção das crianças, além de
incorporarem em seus textos os recursos mencionados acima.
Dentro deste contexto, cabe ao tradutor buscar os mesmos efeitos ao verter os diálogos
e as canções, pois mesmo com todas as diferenças entre as culturas existentes no planeta, as
crianças costumam manter a curiosidade e o interesse por canções em qualquer cultura.
Com a análise da tradução para dublagem e legenda das canções extraídas de desenhos
e animações infantis, é possível perceber tanto as ocorrências destes recursos, bem como os
problemas que podem surgir para o tradutor e as soluções encontradas para tais problemas.
Após a análise das canções selecionadas para este estudo, identificamos dois grandes
grupos relacionados ao texto final das versões para a legendagem e para a dublagem. Em um
grupo, estão as canções que possuem o texto da legenda e da dublagem semelhantes, ou
bastante próximos, diferindo apenas em pequenos detalhes irrelevantes para o sentido geral do
texto. Em um segundo grupo estão as canções cujas versões para legendagem e dublagem se
diferem consideravelmente.
Dublagem e legenda com textos semelhantes
Considerando que é mais comum e natural a ocorrência de textos de dublagem e de
legendas, em sentido amplo, diferentes entre si, as análises feitas neste grupo buscaram
observar se, ao optar por apresentar os textos semelhantes para a dublagem e legenda, o
tradutor conseguiu manter uma equivalência textual satisfatória, ou maior do que uma
eventual diferenciação na tradução destes dois tipos de texto.
Inicialmente notamos que ao manter um só texto para os dois recursos em questão, o
tradutor primou por sustentar as estruturas obrigatórias à tradução para dublagem de canções,
ou seja, procurou construir o texto preservando, ao máximo possível, a correspondência
formal e, sempre que possível, a equivalência textual. Em um primeiro momento poder-se-ia
28
considerar, então, que o tradutor optou por manter só um texto para as duas formas de
tradução porque o resultado da tradução para a dublagem culminou em um trabalho que
corresponde de forma satisfatória ao original, de forma que produzir uma nova tradução para
legenda, sem necessitar levar em consideração os limites impostos pelas canções, seria uma
tarefa desnecessária. Em alguns trechos de algumas canções foi possível, de fato, constatar
esta observação, como na canção Belle, do desenho A Bela e a Fera:
Look there she goes
that girl is strange, no question
Dazed and distracted, can't you tell?
Never part of any crowd
'Cause her head's up on some cloud
No denying
she's a funny girl that Belle
Temos aqui
uma garota estranha
Tão distraída lá vai ela...
Não se dá com o pessoal
Pensa que é especial
Chega a ser
Muito engraçada a nossa Bela
Neste trecho, a correspondência formal entre um texto e outro foi mantida de forma
bastante satisfatória, pois, como o tradutor conseguiu manter a mesma proporção do número
de silabas existentes na versão original no texto traduzido, obedecendo, inclusive, à
tonicidade, a métrica existente na letra foi fielmente observada. Pode-se afirmar o mesmo para
as rimas, que foram mantidas nos mesmos versos, como nas palavras: crowd – cloud, que na
dublagem mantiveram, respectivamente: pessoal – especial, e também nas palavras tell –
Belle que foram substituídas por: ela-bela. Já a equivalência textual sofreu pequenas perdas
de conteúdo, mas que absolutamente não prejudicam o entendimento do significado.
Embora tenham sido constatadas algumas canções, em outros filmes, que possuem
grau de correspondência formal e equivalência textual semelhantes ao do trecho descrito
acima, observou-se uma ocorrência muito maior de situações nas quais uma tradução livre das
imposições da dublagem, alcançaria uma melhor exposição das mensagens originais, como na
seguinte canção Cruella De Vil, do desenho 101 Dalmatas:
Cruella De Vil
Cruella De Vil
If she doesn't scare you
No evil thing will
To see her is to
Take a sudden chill
Cruella, Cruella
She’s like a spider waiting for the kill
Cruella, Cruella Deville
Cruella Cruel
Cruella Cruel
É mais traiçoeira
que uma cascavel
Em suas veias
Só circula fel
Cruella, Cruella
Em suas veias só circula fel
Cruella, Cruella Cruel
As características presentes na melodia, na rima e na métrica desta canção fizeram
com que sua tradução para dublagem obrigasse o tradutor a construir um texto novo, no qual
29
todas as mensagens, de forma isolada, foram transpostas com significados totalmente
diversos, com exceção do nome da personagem. Neste texto de dublagem então, só manteve a
equivalência na mensagem principal da canção: a de que Cruella De Vil, como o próprio
nome sugere, é uma pessoa má. O que não indica que o tradutor cometeu erros na dublagem,
pois as restrições do contexto sintático-semântico desta canção não permitiram que as
mensagens originais fossem mantidas. Entretanto, ao se analisar as possibilidades de tradução
para legendagem, percebe-se que seria possível construir um texto com mais equivalência
textual que a contida no texto da dublagem, pois se forem consideradas apenas as limitações
inerentes à legenda, pode-se obter uma tradução para esta canção próxima a esta:
Cruella Cruel
Se ela não te assusta
nada mais o assustará
Vê-la é o mesmo que sentir
um arrepio repentino.
Ela é como uma aranha
que espera pela sua presa.
Ao optar por um só texto, mais apropriado para dublagem, além de perder informações
importantes, o tradutor também perdeu uma associação com as imagens, porque no momento
em que o personagem está cantando os versos: “Em suas veias/ Só circula fel” ele desliza os
dedos pelas costas de sua esposa, fazendo com que ela se assuste e sinta “um arrepio
repentino”, ou seja, há na imagem algo diverso do texto utilizado para legenda, e isso poderia
ter sido evitado se a versão para a legenda tivesse obedecido a equivalência textual.
No desenho Dumbo temos canções com trechos em situação semelhante a da música
Cruella De Vil, como na canção Baby Mine:
Baby mine
don't you cry
Baby mine,
dry your eyes
Rest your head
close to my heart
Never to part
baby of mine
Filho meu
meu bebê
Filho do
coração
Fique assim
perto de mim
para ouvir
essa canção
Neste excerto também foi necessária a total reconstrução das mensagens, de forma que
somente a idéia principal foi mantida: a de que esta é uma canção de ninar. Novamente, não
há que se falar em erros de tradução, pois as estruturas originais de melodia e da métrica
foram obedecidas, quanto às rimas pode-se avaliar que não foram todas mantidas, porém estas
30
alterações não prejudicaram a naturalidade da versão dublada, ou seja, não interferiram na
harmonia da canção. A utilização deste texto para legendagem, entretanto, não explica as
perdas textuais, pois uma possível legenda mais próxima da mensagem original deste trecho
seria:
Meu bebê
Não chore
Meu bebê
Seque suas lágrimas
Encoste sua cabeça
Perto do meu coração
Para sempre
Meu bebê
Não há referência neste trecho, nem no restante da música, ao verso “para ouvir esta
canção”, ou seja, não existe essa mensagem no texto original, tendo ela sido incluída na
dublagem para fazer com que esta mantivesse sua correspondência formal. Em uma legenda
não existiria a necessidade de adicionar e/ou excluir informações relevantes.
Na canção You Can Fly, de Peter Pan, a mensagem principal é que para voar basta
apenas pensar em coisas boas, sendo que no texto original são mencionadas vários exemplos
de “pensamentos bons”. Repare no seguinte trecho como estas mensagens foram
transformadas:
When there's a smile in your heart
There's no better time to start
Think of all the joy you'll find
When you leave the world behind!
And bid your cares goodbye!
You can fly! You can fly! You can fly!
Muito você vai gostar
Quando se sentir levar
Lindos castelos no ar
Estrelinhas a brilhar
Você vai encontrar
Vai voar! Vai voar! Vai voar!
Na letra original, há a referência a estrelas, mas são feitas na estrofe anterior a esta, e o
contexto é diverso do demonstrado neste trecho da dublagem. Em uma tradução mais próxima
da equivalência textual poderia se obter o seguinte texto:
Quando há um sorriso em seu coração
Não há melhor momento para começar
Pense na alegria que encontrará
Quando deixar o mundo para trás
E disser adeus à suas preocupações
Você pode voar!
31
As linhas acima obedecem às restrições da legenda e apresentam maior
correspondência ao conteúdo do texto original. Como nas outras canções observadas, a
manutenção da forma foi bastante respeitada: tanto métricas, quanto rimas e melodias são
preservadas, o que confere às versões dubladas bastante naturalidade e harmonia.
A análise destas e de outras canções que não possuem distinção entre o texto da
dublagem e da legendagem indicou que são poucos os momentos nos quais a equivalência
textual do texto apropriado para dublagem possui capacidade suficiente para transmitir com
mais fidelidade a mensagem contida nos textos originais. Desta forma, para a maior parte das
canções que apresentaram dublagem e legendas iguais, é possível notar, como foi ilustrado
nas canções Cruella De Vill, Baby Mine e You Can Fly, que o texto utilizado atenderá mais às
necessidades da dublagem, ou seja, o tradutor opta por traduzir o texto da canção em uma só
versão, e esta versão favorece a dublagem, mesmo que um outro texto para legenda fosse mais
fiel. As perdas da equivalência textual no texto produzido para dublagem são justificáveis,
como afirma Horta (2004, p.20):
Entendo (...) que o conteúdo propriamente semântico de um poema, ou de partes dele, é
algumas vezes mero suporte para sua função encantatória, isto é sua essência mesma...
Em tal hipótese (...) penso que pode (ou deve!) o tradutor sacrificar o sentido aparente ou
ostensivo para tentar recriar na língua-meta a música, o clima, a magia do artefato
original, que são seu verdadeiro sentido.
Quando se observa o texto utilizado na legenda, entretanto, não se pode aplicar as
mesmas justificativas, pois na legenda é mais comum a utilização de técnicas de tradução que
otimizem o texto, de forma que este traga a mensagem da maneira mais completa e mais
simples, com a intenção final de possibilitar ao expectador uma leitura rápida e objetiva.
Desta forma, pode-se supor que o tradutor tenha optado por verter a canção original para um
só texto em busca de economia de tempo, que é bastante escasso. Uma outra hipótese seria
por escolha da própria distribuidora, que ao optar por um só texto economiza, além de tempo,
recursos financeiros, pois paga por apenas uma versão e não duas.
Dublagem e legenda com textos diferentes
Dentro deste grupo observou-se a relação de equivalência textual que dublagem e
legendagem mantiveram com as canções originais. Foi predominante a existência de legendas
com o texto mais equivalente que a dublagem, ou seja, o tradutor preocupou-se em construir
textos distintos que se propunham a manter na dublagem a melodia, a rima e a métrica; e na
legendagem o máximo de proximidade às mensagens das canções. O seguinte excerto da
canção The Gospel Truth III, do Desenho Hércules ilustra estas conclusões:
32
Original
Though Hades horrid plan
Was hatched before Herc cut
his first tooth
The boy grew stronger ev'ry
day and
That's the gospel truth
Legenda
Embora o plano hediondo de
Hades
Tinha sido traçado antes do
primeiro dente de Hércules
O menino crescia fortemente
Dublagem
Mas apesar de ser
Cruel o plano que Hades
bolou
O jovem ganha mais vigor
Essa é a pura verdade
E foi o que passou
É interessante perceber que a legenda segue normalmente, ou seja, não é possível
perceber as variações entre esta legenda e uma legenda de um diálogo não-musicado.
Em um trecho de uma outra canção, a Poor Unfortunate Souls de A Pequena Sereia,
pode-se perceber traços semelhantes em ambos os textos traduzidos:
Original
The men up there don’t like a
lot of blabber
They think a girl who
gossips is a bore
Yes, on land it’s much
preferred
For ladies not to say a word
And after all, dear, what is
idle prattle for?
Legenda
Os homens lá em cima
Não gostam de muita
conversa
Acham que garotas tagarelas
são chatas
Em terra firme eles preferem
Dublagem
O homem abomina tagarela
Garotas que não dizem nada
Afinal, minha querida
De que serve fofocar?
o dia inteiro fofocando
o homem se zanga, diz adeus
e vai embora
Garota caladinha ele adora
Se a mulher ficar falando
Estas características repetem-se na maior parte das canções, sendo que os textos de
dublagem sempre observam e mantêm todas as características que dizem respeito à
correspondência formal, e as legendas trazem textos mais ricos em informação.
No entanto destacaram-se também algumas situações nas quais a legenda, apesar de
ser uma versão diferente da dublagem, não apresenta uma grande equivalência textual. Repare
a estrofe inicial da canção Arabian Nights do desenho Aladdin:
Original
Where it's flat and immense
And the heat is intense
It's barbaric, but hey, it's
home
Legenda
Vão cortar sua orelha
para mostrar para você
Como é bárbaro o nosso lar
Dublagem
É uma imensidão,
um calor e exaustão
Como é bárbaro o nosso lar
Nos dois primeiros versos da legenda o tradutor simplesmente suprimiu as idéias de
imensidão e calor intenso, para adicionar ao texto um costume típico do povo retratado no
33
desenho, mas que não estava expresso em nenhum dos versos originais. No último verso, há
também um distanciamento do original.
O mesmo ocorre no seguinte excerto da canção Part of Your World de A Pequena
Sereia:
Original
I’ve got gadgets and gizmos
a-plenty
I’ve got oozits and whatzits
galore
You want thingamabobs?
I’ve got twenty
But who cares,
no big deal,
I want more
Legenda
Temos muitas coisas, muitos
bibelôs
Tenho trecos e cacarecos a
valer
Se quer quinquilharias,
tenho mais de 20
Mas não interessa,
não me serve para nada
Eu quero mais
Dublagem
Essas coisas estranhas,
curiosas
para mim são bonitas demais
olhe essas aqui:
preciosas
mas pra mim
ainda é pouco
quero mais
Pode-se perceber que aparecem várias palavras de difícil tradução, pois algumas delas
constituem intraduzibilidades lingüísticas, e, além disso, há as que estão vinculadas às
imagens. No momento em que Ariel, a personagem principal, fala a palavra thingamabobs
(esta palavra se refere a objetos para os quais não se lembra ou não se conhece o nome, não
possuímos equivalente na língua portuguesa) ela abre uma caixa com vários abridores de
garrafas, que o tradutor chama de quinquilharias. Porém o que se destaca aqui é que mesmo
depois de conseguir substituir palavras complexas, o tradutor constrói uma colocação
incoerente, e até oposta às idéias da canção, no verso “não me serve para nada”, porque na
expressão “no big deal” não está contida a informação de que os objetos não têm serventia, e
sim de que não importa quantos objetos Ariel tenha ela sempre quer mais. A oposição se
caracteriza porque os objetos têm valor sentimental para a personagem, de forma que dizer
que não servem para nada é o mesmo que anular esse valor sentimental.
Parece-nos correto condenar estes últimos exemplos como erros de tradução. O estudo
mostrou que é permissível um afastamento do sentido original na versão da dublagem, quando
o tradutor tem o seu trabalho regido por regras de métrica, ritmo e musicalidade. A versão
para a legendagem, entretanto, deve sempre seguir o original, sendo restringida apenas pelo
limite de caracteres em cada linha de texto exibido. Quando um tradutor deixa de utilizar uma
versão com equivalência textual, e que obedece aos limites impostos pela técnica, não nos
parece uma escolha justificável. Felizmente, foram poucos os exemplos nos quais
encontramos tais situações.
34
Conclusão
No campo da tradução específica para o cinema, a dublagem e a legendagem de
canções demonstram ser tipos de traduções que oferecem grandes desafios ao tradutor, pois
pôde-se perceber pela análise destas canções que, apesar de estarem sujeitas às mesmas
limitações inerentes à legenda e a dublagem presentes em situações de fala, há outros aspectos
limitadores a serem observados pelo tradutor. Tais aspectos estão diretamente ligados às
características intrínsecas que o “gênero” canção traz consigo, sendo os principais a rima, a
métrica e a melodia. Quando se traduz uma canção de um desenho ou filme, o desafio lançado
ao tradutor não é mais de transmitir a mensagem da maneira mais fiel possível, mas sim de
transmitir os efeitos buscados na canção original, e estes efeitos encontram-se não só na letra
da canção, mas em sua métrica, em sua melodia.
Nas situações em que legenda e dublagem possuíam o mesmo texto foi possível
perceber que o texto em questão era sempre o mais apropriado para a dublagem, uma vez que
o tradutor optou por sacrificar parte do conteúdo textual e manter de forma bastante fiel à
correspondência formal. Para estas situações era possível perceber que o tradutor só alterava a
legenda quando surgia algum verso que por alguma razão não se encaixava nos limites
obrigatórios dos caracteres.
Já para as versões diferentes e específicas para dublagem e legendagem, pôde-se
perceber que os textos exclusivos para legenda primavam pela transmissão da mensagem da
maneira mais próxima ao original possível, sem levar em consideração rima ou métrica.
Nestas legendas, a transcrição foi feita da mesma forma que são feitas as traduções para
legendas de diálogos comuns. E, de fato, sem se preocupar com melodia e ritmo, legendas
transmitem com maior precisão o conteúdo textual das canções. O texto de dublagem dessas
canções, apesar de não possuir tanta equivalência textual quanto a legenda, manteve a
correspondência formal bastante próxima à do original.
Entre a legenda e a dublagem verificou-se, então, que a primeira , quando diferente,
busca manter as características correspondentes à equivalência textual, transmitindo mais
conteúdo que forma. Já o texto para dublagem obriga o tradutor a priorizar a correspondência
formal em detrimento da equivalência textual, apresentado letras que mantêm mais a estrutura
formal que a textual, chegando à situações extremas nas quais toda métrica e rimas são
mantidas, mas os significados são consideravelmente alterados, sustentando apenas a
mensagem principal da canção.
35
Na dublagem, especificamente, verificou-se que traduzir uma canção para ser cantada,
e não apenas lida, é tarefa que exige, além de muito conhecimento, imaginação, criatividade e
versatilidade. Aqui, o tradutor, além de ter que possuir inspiração e todos os outros elementos
necessários à tradução de canção ou poesia, tem de “re-compor” uma letra que já foi
composta por outrem e que será cantada por uma terceira pessoa, que dependendo da sua
interpretação pode conferir mais ou menos qualidade à nova versão. De uma maneira geral,
podemos dizer que na maioria das canções analisadas não houve erro de tradução. As
alterações encontradas nas versões em língua portuguesa foram, geralmente, fruto das
limitações impostas pelas características da legenda ou da dublagem. Esta pesquisa indica o
nível de maturidade do mercado de tradução de filmes no Brasil, já que em um passado
recente a área era vítima freqüente de críticas relacionadas ao trabalho dos profissionais da
tradução.
Esta pesquisa não se encerra aqui. São várias as possibilidades de continuidade de
estudos relacionados ao trabalho aqui iniciado. Uma possibilidade seria a comparação entre a
tradução de canções dos filmes atuais, como os aqui comentados, com filmes mais antigos,
das décadas de 1940 e 1950. Tal estudo poderia, de certa forma, legitimar a evolução do
mercado de tradução de filmes no Brasil.
36
Referências Bibliográficas
101 DÁLMATAS. Produção de Walt Disney. Manaus: 1961. 1 DVD (79 min) NTSC, son.
color.
A BELA e a Fera. Produção de Walt Disney. Manaus: 1991. 1 DVD (84 min) NTSC, son.
color.
ALADDIN. Produção de Walt Disney. Manaus: 1992. 1 DVD (90 min) NTSC, son. color.
A PEQUENA Sereia. Produção de Walt Disney. Manaus: 1989. 1 DVD (83 min) NTSC, son.
color.
ALMEIDA, Virgílio P. As dificuldades do mau e do bom tradutor. Humanitates, Brasília, DF,
v. 1, n. 1, setembro 2004. Disponível em: <http//:www.humanitates.ucb.br/1/tradução.htm>.
Acesso em: 8 mar. 2007.
ASCHER, Nelson. Poesia e letra de canção. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 mar. 2007.
Ilustrada, Página E10.
CAMPOS, Geir. O que é tradução. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
GAMBIER, Yves. Os tradutores e a transmissão dos valores culturais. In: DELISLE, Jean;
WOODSWORTH, Judith. (Orgs.) Os tradutores na história. São Paulo: Editora Ática, 1998.
Cap. 7, p. 201-237.
DUMBO. Produção de Walt Disney. Manaus: 1941. 1 DVD (64 min) NTSC, son. color.
GALINDO, Cláudia Sabbag Ozawa. Da Grécia à MPB: Poesia, Música e Oralidade. Revista
Boitatá V. 1, n. 2, jul - dez 2006. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/boitata/?content
=volume_2_2006.htm > Acesso em: 25 jun. 2007.
HARGREAVES, Luiz Eduardo S. Os limites da traduzibilidade. In: Horizontes de Lingüística
Aplicada. LET/Unb. Brasília, a. 1, n. 1, p. 63-78, nov. 2002.
HÉRCULES. Produção de Walt Disney. Manaus: 1997. 1 DVD (93 min) NTSC, son. color.
HORTA, Anderson B. Traduzir poesia. Brasília: Thesaurus Editora, 2004.
KNIGHT, Kevin. Letter to Pammachius on the Best Method of Translating. Disponível em
<http://www.newadvent.org/fathers/3001057.htm>. Acesso em 02 jun. 2007.
MAGALHÃES JÚNIOR, Evandro. Sua majestade, o intérprete: O fascinante mundo da
tradução simultânea. São Paulo: Parábola, 2007.
PETER Pan. Produção de Walt Disney. Manaus: 1953. 1 DVD (77 min) NTSC, son. color.
PLATÃO. A República. São Paulo: Editora Escala, 2000.
RÓNAI, Paulo. A tradução vivida. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1981.
37
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1994.
38
Anexos
101 Dálmatas
Cruella De Vil
Cruella De Vil
Cruella De Vil
If she doesn't scare you
No evil thing will
To see her is to
Take a sudden chill
Cruella, Cruella
She’s like a spider waiting for the kill
Cruella, Cruella De Vil
Cruella Cruel
Cruella Cruel
É mais traiçoeira
que uma cascavel
Em suas veias
Só circula fel
Cruella, Cruella
Em suas veias só circula fel
Cruella, Cruella Cruel
A Bela e A Fera
Belle
Little town
It's a quiet village
Ev'ry day
Like the one before
Little town
Full of little people
Waking up to say:
Bela: Tudo é igual
Nesta minha aldeia
Sempre está
Nesta mesma paz
De manhã,
Todos se levantam
Prontos pra dizer:
Bonjour!
Bonjour!
Bonjour! Bonjour! Bonjour!
Bonjour!
Bonjour!
Bonjour! Bonjour Bonjour!
There goes the baker with his tray, like
always
The same old bread and rolls to sell
Ev'ry morning just the same
Since the morning that we came
To this poor provincial town
Vem o padeiro com seu tabuleiro
Look there she goes that girl is strange, no
question
Dazed and distracted, can't you tell?
Never part of any crowd
'Cause her head's up on some cloud
No denying she's a funny girl that Belle
Temos aqui uma garota estranha
Tão distraída lá vai ela
Não se da com o pessoal
Pensa que é muito especial
Chega a ser muito engraçada a nossa Bela
Bonjour
Good day
How is your fam'ly?
Bonjour
Bom dia
Como vão todos?
Bonjour
Good day
How is your wife?
Bonjour
Bom dia
Como vai sua esposa?
Com pães e bolos pra ofertar
Tudo aqui é sempre assim
Desde o dia em que eu vim
Pra essa aldeia do interior
39
I need six eggs
That's too expensive
Eu quero seis ovos
São muito caros
There must be more than this provincial life
Bela: Eu quero mais que a vida no interior
Look there she goes that girl is so peculiar
I wonder if she's feeling well
With a dreamy far-off look
And her nose stuck in a book
What a puzzle to the rest of us is Belle
Homem:Esta garota é tão esquisita
O que será que há com ela?
Sonhadora criatura
Tem mania de leitura
É um enigma para nós a nossa Bela.
Oh, isn't this amazing?
It's my fav'rite part because you'll see
Here's where she meets Prince Charming
But she won't discover that it's him 'til
chapter three
Oh...Mais que lindo quadro
quando os dois se encontram no jardim
É o príncipe encantado
e ela só descobre quem ele é
quase no fim
Now it's no wonder that her name means
"beauty"
Her looks have got no parallel
But behind that fair facade
I'm afraid she's rather odd
Very diff'rent from the rest of us
She's nothing like the rest of us
Yes, diff'rent from the rest of us is Belle
O nome dela quer dizer
beleza
Não há melhor nome para ela.
Mas por trás desta fachada
ela é muito fechada
Ela é metida a inteligente
Não se parece com a gente
Se há uma moça diferente é Bela
Right from the moment when I met her,
saw her
I said she's gorgeous and I fell
Here in town there's only she
Who is beautiful as me
So I'm making plans to woo and marry Belle
Desde o momento em que eu a vi
eu disse
Não há ninguém igual a ela
Eu vi logo que ela tinha
a beleza igual a minha
e é por isso que eu quero casar com ela
Look there he goes
Isn't he dreamy?
Monsieur Gaston
Oh he's so cute
Be still my heart
I'm hardly breathing
He's such a tall, dark, strong and handsome
brute
Lá vaiGaston
Vive sonhando
Monsier Gaston
é bonitão
Quando ele passa
eu fico arfando
É forte é bruto
é um solteirão!
Bonjour
Pardon
Good day
Mais oui!
You call this bacon?
What lovely grapes!
Some cheese
Bonjour
Bom dia
Mas isso
é bacon
Que belas
uvas.
Um queijo,
40
Ten yards
one pound
'scuse me!
I'll get the knife
Please let me through!
This bread Those fish it's stale!
they smell!
Madame's mistaken.
um quilo
Eu pego
a faca
Quero passar
O pão
Está velho!
Estão enganados!
There must be more than this provincial life!
Just watch, I'm going to make Belle my wife!
A vida aqui nunca vai mudar!
Eu quero levar Bela para o altar!
Look there she goes a girl who's strange but
special
A most peculiar mad'moiselle
It's a pity and a sin
She doesn't quite fit in
'Cause she really is a funny girl
A beauty but a funny girl
She really is a funny girl
That Belle
Nós nunca vimos moça tão estranha
É especial esta donzela
Nem parece que é daqui
Pois não se adapta aqui
Todo mundo acha que ela
É filha de um matusquela
Mas todo mundo diz que ela
É Bela
A Pequena Sereia
Part of Your World
Original
Look at this stuff,
isn’t it neat?
Wouldn’t you think my
collection’s complete?
Wouldn’t you think I’m the
girl, the girl who has
everything?
Legenda
Olhem para tudo isso, tanta
coisa bonita
Qualquer um diria que minha
coleção está completa
Diria que sou a garota, a
garota que tem
tudo
Dublagem
Tenho aqui
uma porção
de coisas lindas
nesta coleção
Posso dizer que eu sou
alguém que tem
quase tudo.
Look at this trove,
treasures untold
How many wonders can one
cavern hold?
Lookin’ around here you’d
think,
sure, she’s got everything.
Olhe para esta fortuna,
tesouros nunca vistos
Quantas maravilhas em uma
só gruta
Se olhar ao redor, você vai
pensar, é claro que ela tem
tudo
O meu tesouro
é tão precioso
Tudo que eu tenho é
maravilhoso
Por isso eu posso dizer
I’ve got gadgets and gizmos
a-plenty
I’ve got oozits and whatzits
galore
You want thingamabobs?
I’ve got twenty
Temos muitas coisas, muitos
bibelôs
Tenho trecos e cacarecos a
valer
Se quer quinquilharias, tenho
mais de 20
Essas coisas humanas,
curiosas
para mim são bonitas
demais
Olhe essas aqui,
preciosas
Sim! Tenho tudo aqui
41
But who cares, no big deal, I
want more.
I want to be where the people
are
I wanna see, wanna see ‘em
dancing
Walkin’ around on those –
what do you call them again?
Oh, feet
Flippin’ your fins, you don’t
get too far
Legs are required for
jumping, dancing
Strolling along down a –
what’s that word again?
Street.
Mas não interessa, não me
serve para nada
Eu quero mais
Eu quero estar onde o povo
está
Eu quero ver, quero vê-los
dançar
E passeando com os seus...
Como é que eles chamam?
Pés
Com barbatanas não se vai
longe
Com pernas poderia pular e
dançar
E passear lá na...
Como é que eles chamam?
Rua
Onde eles andam,
Mas pra mim ainda é pouco
quero mais
Eu quero estar onde o povo
está
Eu quero ver um casal
dançando
e caminhando em seus, como
eles chamam?
Ah, pés!
As barbatanas não
ajudam não
pernas são feitas pra andar
dançar e
passear pela, como eles
chamam?
rua...
Up where they walk
Up where they run
Up where they stay all day in
the sun
Wandering free
Wish I could be
Part of that world
onde eles correm
Passando o dia sob o sol
Passeando livres,
eu queria ser
Ser desse mundo
Poder andar,
poder correr
ver todo dia o sol
nascer
eu quero ver,
eu quero ser
Ser desse mundo
What would I give if
I could live out of these
waters
What would I pay to spend a
day warm on the sand
Betcha on land they
understand
Bet they don’t reprimand
their daughters
Bright young women,
sick of swimmin’
Ready to stand.
Daria tudo para viver lá
Não queria ser mais deste
mar
Daria tudo para passar um dia
Na areia quente
Aposto que em terra firme
eles entendem
Aposto que não brigam com
as filhas
E todas as jovens cansadas de
nadar
E prontas para saber
O que eu daria
pela magia de ser
humana
Eu pagaria por um só dia
poder viver
Com aquela gente
ir conviver
e ficar fora
dessas águas
Eu desejo,
eu almejo
este prazer.
And ready to know what the
people know
Ask ‘em my questions and
get some answers
What’s a fire and why does it
– what’s the word?
Burn
Eu quero saber o que os
humanos sabem
Fazer perguntas e receber
respostas
E que é o fogo? e por que...
Qual é a palavra?
Queima?
Eu quero saber o
que sabem lá
Fazer perguntas
e ouvir respostas
O que é o fogo, o que é
queimar?
Lá eu vou ver
When’s it my turn
Wouldn’t I love
Love to explore
Quando será minha vez?
Eu adoraria
Adoraria explorar o mundo lá
Quero saber,
quero morar
naquele mundo
42
that shore up above
Out of the sea
Wish I could be
Part of that world.
em cima
Longe do mar
Eu gostaria de ser
Ser desse mundo
cheio de ar
Quero viver,
não quero ser
mais deste mar.
Poor Unfortunate Souls
Original
I admit that in the past I’ve
been a nasty
They weren’t kidding when
they called me, well,
a witch
But you’ll find that
nowadays, I’ve mended all
my ways
Repented, seen the light and
made a switch
True? Yes
Legenda
Confesso que no passado
Eu fui malvada
Não estavam brincando
Quando me chamavam de
bruxa
Mas vai ver que hoje em dia
Eu me corrigi
Eu me arrependi
Vi a luz e a acendi
Verdade? Sim.
Dublagem
Eu confesso que já fui muito
malvada
Era pouco me
chamarem só
de 'bruxa'
Mas depois
arrependida, fiquei mais
comedida
e até mais generosa e
gorducha
Pode crer.
Felizmente sei um pouco de
magia
É um talento
Que sempre tive
Ultimamente, sem
brincadeira,
Uso a magia para ajudar
Os miseráveis,
solitários e deprimidos
Que patético.
Corações infelizes
Sofrendo, passando
necessidade
Esta aqui queria ser mais
magra
Este aqui desejava a
namorada
Se resolvi?
Claro que sim!
Esses corações infelizes
É triste, mas é verdade
São atraídos ao meu caldeirão
"Um feitiço, Úrsula, por
favor"
Eu os ajudo
Ajudo, sim
Felizmente eu conheço uma
magia
É um talento que eu sempre
possuí
E hoje é este o meu ofício,
que eu uso em benefício
do infeliz e o sofredor que
vem aqui
(patéticos)
And I fortunately know a
little magic
It’s a talent that I always have
possessed
And dear lady, please don’t
laugh, I use it on behalf
Of the miserable, the lonely
and depressed
(pathetic)
Poor unfortunate souls
In pain, in need
This one longing to be
thinner
That one wants to get the girl
And do I help them?
Yes, indeed
Those poor unfortunate souls
So sad, so true
They come flocking to my
cauldron
Crying "spells, Ursula
please!"
And I help them?
Yes, I do
Now it’s happened once or
twice
Mas algumas vezes
Alguns não pagaram meu
Corações infelizes
precisam de mim
Uma quer ser mais magrinha
O outro quer
a namorada
Eu resolvo,
claro que sim.
São corações infelizes
em busca de tudo
Todos eles chegam
implorando
"faça-me um feitiço"
Que é que eu faço?
Eu ajudo.
Mas me lembro
no começo
43
Someone couldn’t pay the
price
And I’m afraid I had to rake
‘em across the coals
Yes, I’ve had the odd
complaint
But on the whole I’ve been a
saint
To those poor unfortunate
souls
preço
Eu infelizmente
Tive de castigar os infelizes
Sim, recebi algumas
reclamações
Na maior parte do tempo, fui
uma santa
Para os corações infelizes
Alguns não pagaram o preço
e fui forçada
a castigar
os infelizes
Se reclamam
não adianta
Pois em geral eu sou uma
santa.
Para os corações
infelizes.
The men up there don’t like a
lot of blabber
They think a girl who gossips
is a bore
Yes, on land it’s much
preferred
For ladies not to say a word
And after all, dear, what is
idle prattle for?
Os homens lá em cima
Não gostam de muita
conversa
Acham que garotas tagarelas
são chatas
Em terra firme eles preferem
Garotas que não dizem nada
Afinal, minha querida
De que serve fofocar?
O homem abomina
tagarela
Garota caladinha
ele adora
Se a mulher
ficar falando
o dia inteiro fofocando
o homem se zanga, diz adeus
e vai embora
Come on then
They’re not all that
impressed with conversation
True gentlemen avoid it
when they can
But they dote and swoon and
fawn
On the lady who’s withdrawn
And she who holds her
tongue’ll get her man
Vamos
Eles não se impressionarão
Se você quiser falar
Cavalheiros evitam conversar
Mas eles adoram, admiram
Uma moça que é discreta
A mulher que segura a língua
Segura o homem
Não!
Não vá querer jogar conversa
fora
Disso, homens fazem tudo
pra evitar
Sabe quem é mais
querida?
É a garota retraída
e só as bem quietinhas
vão casar.
Come on, you poor
unfortunate soul
Go ahead, make your choice
I’m a very busy woman and I
haven’t got all day
It won’t cost much,
just your voice
Vamos
Pobre coração infeliz
Vamos logo, faça sua escolha
Sou uma mulher ocupada
E não tenho o dia todo
Não vai custar muito
Apenas sua voz
É hora
de resolver
o negócio entre nós
Eu sou muito ocupada e não
tenho o dia inteiro
O meu preço
é sua voz
You poor unfortunate soul
It’s sad, but true
If you want to cross the
bridge, my sweet
You’ve to pay the toll
Take a gulp and take a breath
And go ahead and sign the
scroll
Flotsam, Jetsam, now I’ve
Você que é tão infeliz
Não vai ser mais!
Pobre coração infeliz
É triste, mas é verdade
Para cruzar a ponte
Precisa pagar o pedágio
Tome um gole e respire
fundo
Tome coragem e assine o
Se quiser atravessar
a ponte
existe um pagamento
Vamos lá, tome coragem
Assine
o documento!
A sereia
44
got her boys
The boss in on a roll
This poor unfortunate soul
contrato
Pedro, Juca
Agora, ela é minha, garotos
A patroa está contente
está no papo!
É dia de alegria
Ganhei o que eu queria
Pobre coração infeliz
Beluga, sevruga
Come winds of the Caspian
sea
Larynxes, glossitis
Et max laryngitis
La voce to me
Now, sing...
Beluga, sevruga
Vamos ventos do Mar Cáspio
Laringe Glossite
Et max laryngitis
La voce to me
Beluga, sevruga
Eu quero um vento
assim
Laringo, lalingua
E a lara laringe
E a voz para mim
Agora, cante...
Original
Oh I come from a land
From a faraway place
Where the caravan camels
roam
Where it's flat and immense
And the heat is intense
It's barbaric, but hey, it's
home
Legenda
Venho de um lugar
Onde sempre se vê
uma caravana
passar
Vão cortar sua orelha
para mostrar para você
Como é bárbaro o nosso
lar
Dublagem
Venho de um lugar
Onde sempre se vê
uma caravana
passar
É uma imensidão,
um calor e exaustão
Como é bárbaro o nosso
lar
When the wind's from the
east
And the sun's from the west
And the sand in the
glass is right
Come on down
Stop on by
Hop a carpet and fly
To another Arabian night
Sopram os ventos do
leste
O Sol vem do oeste
Seu camelo quer
descansar
Pode vir e pular,
no tapete voar
Noite Árabe
vai chegar
Sopram os ventos do
leste
O Sol vem do oeste
Seu camelo quer
descansar
Pode vir e pular,
no tapete voar
Noite Árabe
vai chegar
Arabian nights
Like Arabian days
More often than not
Are hotter than hot
In a lot of good ways
A noite da Arábia
E o dia também
É sempre tão quente
Mas faz com que a gente
se sinta tão bem
A noite da Arábia
E o dia também
É sempre tão quente
que faz com que a gente
se sinta tão bem
Arabian nights
'Neath Arabian moons
A fool off his guard
Could fall and fall hard
Out there on the dunes
Tem um belo luar
E orgias de mais
Quem se distrair
Pode até cair
Ficar para trás
Tem um belo luar
E orgias de mais
Quem se distrair
Pode até cair
Ficar para trás
Aladdin
Arabian Nights
45
Dumbo
Baby Mine
Baby mine, don't you cry
Baby mine, dry your eyes
Rest your head close to my heart
Never to part, baby of mine
Filho meu,meu bebê
Filho do coração,
Fique assim perto de mim,
Para ouvir essa canção
Little one when you play
Don't you mind what they say
Let those eyes sparkle and shine
Never a tear, baby of mine
Se você vai dormir
Ao seu lado eu estarei
Pode sonhar, que toda noite
eu velarei
From your head to your toes
(Baby mine)
You're so sweet, goodness knows
(baby mine)
But you are so precious to me
(baby, baby, baby)
Cute as can be,
Razão do meu viver
baby of mine
Não irá mais sofrer
Você é tudo para mim
Não há um bebê tão lindo assim
(filho meu)
Meu bebê
(filho do coração)
Hércules
The Gospel Truth III
Original
Young Herc was mortal now
Dublagem
E assim virou mortal
But since he did not drink the
last drop
He still retained his godlike
strength
So thank his lucky star
Legenda
Agora o jovem Hércules era
mortal
Mas como ele não tomou a
última gota
Conseguiu manter sua força
divina
Graças às estrelas da sorte
But Zeus and Hera wept
Because their son could never
come home
They'd have to watch their
precious baby
Grow up from afar
Mas Zeus e Hera choraram
Porque seu filho jamais
voltaria para casa
Eles teriam de ver o lindo
filhinho
Crescer à distância
Choraram Hera e Zeus
Seu filho pode não
voltar mais
Tiveram que
olhar de longe
O bebê crescer
Though Hades horrid plan
Was hatched before Herc cut
his first tooth
The boy grew stronger ev'ry
day and
That's the gospel truth
Embora o plano hediondo de
Hades
Tinha sido traçado antes do
primeiro dente de Hércules
O menino crescia fortemente
Essa é a pura verdade
Mas apesar de ser cruel
O plano que
Hades bolou
O jovem ganha
mais vigor
E foi o que passou
Mas não bebeu
a gota final
Mantendo a força
de um deus
Que sorte do bebê!
46
Peter Pan
You Can Fly
Think of a wonderful thought
Any merry little thought
Think of Christmas, think of snow
Think of sleigh bells-Off you go!
Like a reindeer in the sky
You can fly! You can fly! You can fly!
Pense em uma coisa bem boa
E num instante você voa
Lembre do natal a chegar
Pense em nuvens a passar
E logo pelo ar
Vai voar, vai voar, vai voar
Think of the happiest things
It's the same as having wings
Take the path that moonbeams make
If the moon is still awake
You'll see him wink his eye
You can fly! You can fly! You can fly!
Pense uma coisa bem linda
Se você não voar ainda
Quando a lua despontar
Siga um raio de luar
E quando ela pairar
Vai voar, vai voar, vai voar
Up you go with a high and ho to the stars
Beyond the blue!
There's a Never land waiting for you
Where all your happy dreams come true
Every dream that you dream will come true
When there's a smile in your heart
There's no better time to start
Think of all the joy you'll find
When you leave the world behind! And bid
your cares goodbye!
You can fly! You can fly! You can fly!
Você cai, cai bem longe vai
Até onde não se vê
A uma terra encantada do além
Com tudo de bom e de bem
A esperar por você
Muito você vai gostar
Quando se sentir levar
Lindos castelos no ar
Estrelinha a brilhar
Você vai encontrar
Vai voar, vai voar, vai voar

Documentos relacionados