Panorama do Cooperativismo Brasileiro: História, cenários e
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Panorama do Cooperativismo Brasileiro: História, cenários e
Panorama do Cooperativismo Brasileiro: História, cenários e tendências Março de 2003 Rede de Universidades das Américas para Estudos Cooperativos e Associativos – UNIRCOOP – Regional Brasil Panorama do Cooperativismo Brasileiro: História, cenários e tendências Trabalho de Pesquisa desenvolvida pelas: Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Universidade Federal do Paraná (UFPR) Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS) Março de 2003 2 Rede de Universidades das Américas para Estudos Cooperativos e Associativos – UNIRCOOP – Regional Brasil Panorama do Cooperativismo Brasileiro: história, cenários e tendências Equipe Técnica Universidade Federal Rural de Pernambuco ( coordenação) Emanuel Sampaio Silva Jimmy Peixe McIntyre Maria Luiza Lins e Silva Pires Universidade Federal do Paraná Sandra S.S Bergonsi Sidney da Conceição Vaz Universidade Federal do Rio de Janeiro João Guerreiro Inessa L. Salomão Universidade do Vale dos Sinos Paulo Peixoto Albuquerque 3 SUMÁRIO Apresentação 05 1. Antecedentes e evolução do cooperativismo brasileiro 06 2. Especificidades regionais do movimento cooperativo 08 2.1 A região Norte 08 2.2 A região Nordeste 08 2.3 A região Centro Oeste 10 2.4 A região Sudeste 11 2.5 A região Sul 13 3. Identidade social e jurídica do cooperativismo brasileiro 17 4. As cooperativas existentes no Brasil 18 4.1 Distribuição das cooperativas 19 4.2 Perfil do quadro social e administrativo 21 4.3 Relações com o Estado 22 4.4 Ramos cooperativos 23 4.4.1 O cooperativismo agrícola 23 4.4.2 O cooperativismo de consumo 27 4.4.3 O cooperativismo de crédito 29 4.4.4 O cooperativismo de educação 33 4.4.5 O cooperativismo de habitação 35 4.4.6 O cooperativismo de infra-estrutura 36 4.4.7 O cooperativismo de saúde 38 4.4.8 O cooperativismo de trabalho 42 4.4.9 Outros ramos do cooperativismo 44 4.4.9.1 Cooperativa Especial 44 4.4.9.2 Cooperativa de Turismo e de Transporte 44 5. Educação cooperativa: processos e inovações 45 6. Tendências e desafios do cooperativismo brasileiro 48 Anexos 49 Referências bibliográficas 51 4 Apresentação Este trabalho tem como objetivo proporcionar uma visão geral do movimento cooperativo, a partir de três dimensões: A primeira consiste na contextualização do movimento cooperativo brasileiro, tomando como referência os principais fatos históricos responsáveis pela sua evolução. Em seguida, descreve-se o quadro atual do cooperativismo nacional, a partir de uma análise quantitativa e qualitativa. Por fim, identifica-se as perspectivas e tendências do cooperativismo no Brasil. A pesquisa é resultado de um trabalho conjunto desenvolvido por pesquisadores de quatro instituições de ensino superior do Brasil: • Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE (coordenadora da pesquisa) • Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ • Universidade Federal do Paraná – UFPR • Universidade Vale dos Sinos – UNISINOS. Em decorrência da grande extensão territorial do Brasil e das especificidades regionais, optou-se por estruturar a pesquisa a partir da divisão geopolítica: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Para isso, foram pesquisados acervos bibliográficos, documentos públicos e privados e consultas a Internet. A pesquisa contou ainda com um conjunto de dados secundários, coletados em organizações representativas do setor. Esses dados foram sistematizados, tendo como referência a discussão teórica sobre o assunto. Tendo em vista a incipiente e fragmentada fonte de dados sobre o cooperativismo brasileiro, a importância maior deste trabalho reside exatamente no esforço de sistematização desses dados, por uma equipe de pesquisadores que tem no cooperativismo a sua fonte principal de investigação teórica. Ademais, estima-se que os resultados aqui discutidos possam trazer subsídios ao movimento cooperativo e às instâncias políticas, revitalizando as práticas sociais e, dentro do possível, assegurando o êxito do movimento cooperativo brasileiro. 5 1. Antecedentes e evolução do cooperativismo brasileiro As primeiras experiências do cooperativismo brasileiro remontam ao século XIX. A Colônia Tereza Cristina, fundada em 1847 no Paraná pelo médico francês Jean Maurice Faivre, sob influência das idéias de Fourier, inaugura o cooperativismo no Brasil. Outras iniciativas ainda no século XIX foram, a criação Cooperativa dos Empregados da Companhia Telefônica em 1891, na cidade de Limeira-SP, e da Cooperativa do Proletariado Industrial de Camaragibe - Estado de Pernambuco, em 18941. A partir de 1902, surgem as primeiras experiências das caixas rurais do modelo Raiffeisen, no Rio Grande do Sul e, em 1907, são criadas as primeiras cooperativas agropecuárias no Estado de Minas Gerais (OCB, 1996). A literatura acusa um florescimento da prática cooperativa brasileira a partir de 1932, motivada por dois pontos principais: a) o estímulo do Poder Público ao cooperativismo identificando-o como um instrumento de reestruturação das atividades agrícolas; b) promulgação da lei básica do cooperativismo brasileiro, de 1932, passando a definir melhor as especificidades daquele movimento diante de outras formas de associação (Pinho, 1996). No ano de 1971 houve a promulgação da Lei n. 5.764, a qual permitiu uma maior definição das especificidades das cooperativas no Brasil, embora tenha perpetuado a ingerência do Estado no funcionamento destas organizações. Neste ínterim, foi criado um órgão de representação, ao nível nacional - a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) - e as Organizações Estaduais de Cooperativas (OCEs), como representação em cada Unidade da Federação. Com a aprovação da Constituição de 1988, ficou vetada a interferência do Estado à atividade cooperativa e, desde então, vários projetos de lei tramitam no Congresso Nacional com o propósito de alterar a referida Lei 5.764/71. Observa-se que a legislação cooperativa vem sendo modificada no mundo inteiro como forma de atender às novas expectativas econômico-produtivas, de modo a permitir maior flexibilidade do movimento frente às novas conjunturas de mercado (Zevi & Campos, 1995; Pires, 1999). No caso brasileiro, há também a preocupação com a diminuição das “brechas legais”, de forma a inibir práticas fraudulentas, como as chamadas “cooperativas de fachada”. Com efeito, no Brasil, os esforços de moralização das práticas cooperativas se inscrevem dentro de um movimento mais amplo de modernização das atividades e de ampliação da democracia, e ganha ressonância com as discussões sobre economia solidária / terceiro setor. Estas, aliás, vêm sendo a tônica dos discursos da academia e dos órgãos de representação do cooperativismo. Tal perspectiva se distancia daquela observada nos anos 80 quando a literatura foi pródiga em denunciar o movimento cooperativista do país dentro das diretrizes de uma “modernização conservadora” em que o Estado atuava de forma autoritária e centralizada2. Esse modelo de modernização conservadora era acusado de favorecer médios e grandes agricultores voltados à cultura de exportação, em detrimento de uma agricultura de subsistência desenvolvida pela agricultura de base familiar 1 MAURIER Apud FARIA, 2000;38. As obras de Schneider, 1981; Fernandez et al, 1981; Loureiro, org. 1981; Coradini & Fredericq, 1982, Araújo, 1982 constituem referências importantes nesse sentido. 2 6 (Schneider,1981). O modelo adotado no Brasil, à semelhança de outras experiências na América Latina, utilizou o cooperativismo como instrumento de controle social e político. Eis a razão pela qual, como observa com muita propriedade Develtere (1998:11), muitas dessas experiências representaram "grandes esperanças e lamentáveis fracassos". No Brasil, dada a sua grande extensão territorial e uma política que acentuou as desigualdades regionais, não se pode falar de um único cooperativismo. Assim sendo, como assinala Schneider (1981; 19), a distribuição desigual da presença e do peso econômico do cooperativismo no país expressa a “dinâmica do modelo de acumulação de capital vigente no país, cuja característica fundamental é o desenvolvimento desigual da sociedade brasileira”. Há de se salientar, entretanto, que a diferença regional do cooperativismo brasileiro foi motivada, dentre outros fatores, pela forte influência de imigrantes – alemães, italianos e japoneses – instalados nas regiões Sul e Sudeste, muitos dos quais já traziam algumas experiências no campo do associativismo, servindo de base para a estruturação do cooperativismo em bases competitivas. Além das diferenças regionais, constata-se também no Brasil uma diferença quanto a sua estrutura de representação: uma está atrelada à estrutura formal de representação, ligada a OCB, outra, de base popular, ligada ao MST, está ligada à Confederação das Cooperativas Brasileiras de Reforma Agrária - CONCRAB. Finalmente, mesmo que as práticas cooperativas brasileiras ainda expressem algumas discrepâncias - resultado de um modelo implementado de “cima para baixo”, desvinculado das necessidades de amplos segmentos sociais - observa-se que o cooperativismo, enquanto idéia força, está ganhando amplitude através de uma perspectiva positiva – sinalizando seu caráter de inclusão social - e não mais negativa (que foi a ótica do passado recente) que ressaltava o caráter excludente daquele modelo. Os números e as informações que se seguem são elucidativos nesses sentido porque descrevem e caracterizam as especificidades regionais, o modo como o cooperativismo se objetivou em cada região e, principalmente, porque apontam para uma trilha, um sentido. A história e o cenário do cooperativismo no Brasil sugerem que a discussão não é apenas técnica. A questão que se apresenta ao cooperativismo não exige um virtuosismo técnico para a sua compreensão, mas uma discussão substantiva do que aconteceu e do que está acontecendo no interior de cada Região, nas nossas cidades. E, no nosso entender, uma discussão substantiva significa identificar o arranjo social que possibilitou a construção deste tipo de associativismo e cooperativismo que hoje temos. 7 2. Especificidades regionais do movimento cooperativo O Brasil se caracteriza por uma vasta extensão territorial, estando subdivido em cinco regiões que apresentam perfis diferenciados no que diz respeito ao processo histórico de organização e estruturação do cooperativismo. 2.1 Região Norte A região Norte do Brasil se caracteriza por uma vasta extensão territorial, ocupando cerca de 45% do território nacional coberto na sua totalidade por densa floresta tropical. A ocupação territorial e a atividade econômica dessa região foram condicionadas ao extrativismo vegetal e mineral ao longo da bacia do rio Amazonas. Neste contexto, no início do século XX, o movimento cooperativo vai se expandir através das cooperativas extrativistas, sobretudo voltadas para a exploração da borracha. No entanto, apesar dessas cooperativas explorarem um produto de boa aceitação no mercado internacional, elas vão se deparar com uma série de empecilhos para se desenvolverem. As grandes distâncias, a dificuldade de deslocamento, a insuficiência dos meios de transporte e a escassez de mercados consumidores provocada pelo pouco povoamento da região e pela falta de uma política governamental para o setor constituem alguns desses entraves. Somente a partir da década de 70, com a política governamental de integração e povoamento da Amazônia, começa a surgir uma infra-estrutura na região Norte. Este fato provocou o surgimento de novas atividades econômicas, possibilitando, concomitantemente, o surgimento de novas cooperativas agrícolas- de mineração e de trabalho. Neste mesmo período, podemos ainda destacar a política de apoio das organizações não governamentais aos povos indígenas do norte brasileiro, no sentido da organização em cooperativas. Com efeito, surge, neste período, a cooperativa de borracha dos índios seringueiros Kaxinauá (população indígena mais numerosa do Estado), fundada em 1983, como uma iniciativa da Comissão Pró-Índio do Acre juntamente com outras organizações. Em 1989, os índios Ashaninka também foram estimulados a formar uma cooperativa, desta vez voltada para a comercialização de mudas de plantas, óleo de murmuru e copaíba, artesanato e instrumentos musicais, para serem comercializados no mercado brasileiro e no exterior. 2.2 Região Nordeste O Nordeste brasileiro abrange nove estados, correspondendo a 20% do território brasileiro e 29% da população do país. É também no Nordeste onde reside o maior contingente da população rural do país. A região nordestina caracteriza-se por ser uma região de contrastes, marcado por forte heterogeneidade e complexidade não somente em termos de clima, vegetação, tipografia, cultura, mas especialmente em termos econômicos. Essa região convive, simultaneamente, com situações de extrema pobreza - típicas de países subdesenvolvidos e com níveis de produção e consumo semelhantes aos dos países de capitalismo avançado (Garcia, 1984; Araújo, 1997). 8 A história do cooperativismo nordestino, nesse contexto, evidencia os mesmos contrastes, reproduzindo um modelo concentrador e excludente que teve numa estrutura agrária voltada para o latifúndio e para o setor agro-exportador a sua base de sustentação. Esse contexto estimulou, por outro lado, a criação de muitas cooperativas como fonte de poder e influência de uma classe dominante, mantendo em seus quadros dirigentes um grupo de poder local, em detrimento dos interesses da ampla maioria dos cooperados que, em função de um nível sócioeconômico desfavorecido, se reservavam a acatar as determinações do grupo mais forte economicamente. Assim sendo, constata-se que, no caso das cooperativas do Nordeste, a autoridade e o poder foram exercidos historicamente pelos dirigentes e não pelos seus associados nas assembléias (Mc Intyre, 1997). Nesse sentido, a grande parte das cooperativas rurais no Nordeste esteve organizada a partir de uma estrutura de classes, na qual os postos de comando sempre estiveram preenchidos pelos grandes proprietários e pelas lideranças políticas locais e regionais, atendendo a benefícios de pessoas e de grupos específicos, desvinculando-se do interesse da grande maioria dos seus membros (Rios, 1979). Eis a razão pela qual, muitas vezes, o cooperativismo nordestino foi mais identificado como instrumento de controle do que de mudança social (Idem), tendo servido, muitas vezes, como instrumento de transferência de recursos financeiros para os produtores (Mc Intyre, 1997). Tais questões trouxeram repercussão direta para o campo da gestão das cooperativas agrícolas nordestinas.. A carência de planejamento a curto e médio prazo, associado a uma fraca capacidade de investimento de capital, utilização de mão-de-obra sem qualificação e controle financeiro-contábil condicionou um baixo nível de competitividade e conseqüentemente de capitalização das cooperativas, notadamente nas de pequeno porte (Vienney, 1980; Schneider, 1981; Mc Intyre, 1997; Silva, 2000). Todavia, estudos recentes minimizam o peso do contexto sócio-políticoinstitucional, sinalizando a capacidade de capitalização e de concorrência das cooperativas em contextos de pouca tradição das práticas cooperativas (Pires, 1999). Isso é particularmente possível a partir da adoção de um estilo de governança e de vários arranjos empresariais possíveis como: introdução de novas tecnologias, ampliação de oferta do produto no mercado e adequação às exigências ditadas por clientes internacionais, via aprimoramento nos processos de qualidade e sanidade dos produtos. Ainda segundo Pires (1999), o tipo de gestão do empreendimento e nível de tecnologia adotado, a de participação dos associados, bem como seus compromissos em relação à empresa parecem ser os fatores mais decisivos no sucesso do empreendimento. Assim, os seus estudos revelaram que o cooperativismo agrícola tem servido como instrumento importante de integração produtiva às cadeias de alimentos numa economia globalizada4. Ainda para a autora, isso evidencia que o dinamismo de uma dada cooperativa, independentemente de onde ela se localize, vai ser definida a partir da capacidade de organização da produção e do jogo de relações expresso entre as imposições produtivas globais e a capacidade de respostas em nível local (Idem). Isso acontece, conforme observa, “mesmo quando sobressaem, no caso do Nordeste do Brasil, uma incipiente tradição das práticas 3 Segundo Tessier et Teller, (1991) « o poder se define como a influência máxima que uma pessoa poder exercer sobre outra num determinado assunto ». Podemos ainda acrescentar que a autoridade é refletida pela propriedade, pela hierarquia e pela competência (Mc Intyre, 1997). 4 A autora fez um estudo comparativo entre cooperativas agrícolas no Nordeste do Brasil e do Leste (Québec) do Canadá, tomando como referência, no caso nordestino, a Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia, situada num importante pólo de fruticultura do país – o Vale do São Francisco. 9 cooperativas, a rarefação de cooperativas ligadas ao mercado internacional e um volume pouco expressivo na região” (Idem:239); o que, como ressalta, não implica em desprezar o peso do aparato institucional, da legislação cooperativa e da cultura organizacional sobre a repercussão do cooperativismo. Conclui-se que a disparidade regional do Nordeste tende a ser reproduzido nas práticas cooperativas nordestinas. Apesar disso, constata-se um esforço, através dos diversos fóruns realizados em vários estados, na sua grande maioria promovidos pelas universidades e entidades representativas do cooperativismo, na formação do seu quadro social, na capacitação dos seus dirigentes. Assim, cada vez mais, as cooperativas, independentemente de onde estejam localizadas, terão que se capacitar e reformular suas práticas democráticas no processo de auto-gestão, passando pela apropriação de ferramentas adequadas de gestão organizacional que lhes permitam ocupar um espaço de destaque no mercado local, regional e nacional. 2.3 Região Centro-Oeste A região Centro-Oeste, após um período de ocupação que se baseou na exploração do ouro, apresentou um grande período de estagnação, tendo por atividade econômica principal a agricultura extensiva. Após a criação de Brasília e a transferência da Capital Federal na década de 50, teve início uma nova fase de desenvolvimento regional, sobretudo na década de 80 com o surgimento do Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado – PRODECER. Este programa impulsiona, na região Centro-Oeste, o surgimento de uma série de iniciativas cooperativas, não somente na área rural, mas também na área urbana. Assim, neste mesmo período cresce a demanda por habitações na nova capital federal e apoiada por uma política governamental específica começa a surgir um grande número de cooperativas habitacionais. O crescimento sócio-econômico vai provocar também o surgimento das cooperativas dos segmentos educação e agrícola. Este último foi muito estimulado por políticas públicas voltadas para a ocupação do cerrado da região Centro-Oeste. Ademais, a formação de cooperativas agrícolas foi também resultado da estratégia de pequenos e médios agricultores da região Sul e Sudeste, com vista a aumentar a produção de commodities como soja e milho, através do aumento da área cultivada. Finalmente, outro motivo condicionou a organização em cooperativas dos pequenos produtores da região, particularmente as populações indígenas, a ação do Programa e Desenvolvimento Agro-ambiental do Estado de Mato Grosso (PRODEAGRO). Vale ressaltar ainda que em alguns estados do Centro-Oeste, dentre os quais o de Mato Grosso, foram estabelecidas políticas específicas para o cooperativismo, Nesse sentido, foi no Distrito Federal onde mais se legislou em prol do estabelecimento de normas legais de apoio ao cooperativismo. Por fim, a discussão em relação ao papel do cooperativismo como agente promotor do desenvolvimento regional tem resvalado na questão da coesão e interação entre as cooperativas, aumentando sua participação nas economias locais. 10 2.4. Região Sudeste A Região Sudeste é formada pelos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo representando 10,85% da área do país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os dados do último levantamento populacional brasileiro apontou para a concentração de, aproximadamente, 43% da população nacional nesta área. Apesar de concentrar a maior densidade populacional entre as cinco regiões brasileiras com 78 habitantes por km2, a distribuição populacional não é homogênea entre os Estados que conformam a Região: enquanto nas capitais dos Estados a densidade supera 2 mil habitantes por km2, outras áreas, como o Pontal do Paranapanema (oeste de São Paulo) ou o noroeste de Minas Gerais têm menos de 10 habitantes por km2. Acompanhando a tendência de concentração populacional e econômica, a Região Sudeste possui, atualmente, mais de 44% do total de cooperativas brasileiras registradas no Sistema convencional - OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Se, nesta Região o cooperativismo surge atrelado às propriedades agrícolas e ao capital originário da acumulação primitiva relacionada à atividade cafeeira no Estado de São Paulo, atualmente o ramo de atividade predominante na Região é o de Trabalho com destaque para a participação deste ramo no Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, apesar da liderança relativa do Estado do Rio de Janeiro, cabe ressaltar que dados da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (JUCERJA) para os anos 2000, 2001 e 2002 apontam para pouca representatividade da atividade cooperativista no Estado. Em todos estes anos, a abertura de novas cooperativas registradas na JUCERJA foi um pouco acima de 1% do total de empresas abertas no Estado. Esta situação não se difere nos outros Estados, apontando para algumas dificuldades locais para instalação de novas cooperativas e uma maior preferência pela abertura de empresas de capital limitado. A guisa de exemplo, do total de novos empreendimentos econômicos do Estado de Minas Gerais em 2002, apenas 0,3% eram de cooperativas, segundo a JUCEMG (Junta Comercial do Estado de Minas Gerais). De acordo com os dados obtidos junto aos representantes do cooperativismo convencional nas unidades da federação do Sudeste (as OCEs), o principal ramo na Região, por número de cooperativas registradas é o do Trabalho. O segundo mais importante em relação ao número de cooperativas é de Crédito, seguido pelo de Saúde. Entretanto, em relação ao faturamento e à adoção de práticas capitalistas de gestão e eficiência econômica se destacam as cooperativas agropecuárias, principalmente nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Já em relação ao número de associados, o ramo de atividade mais significativo é o Consumo, pela própria característica de funcionamento destes empreendimentos. Se, entre as décadas de 1900 e 1970, o cooperativismo agrícola e/ou agropecuário atrelado à exportação foi o ramo de atividade de maior destaque na Região Sudeste, a partir dos anos 1980, o cooperativismo urbano representado, principalmente pelo ramo do Trabalho se fortalece e se torna o mais expressivo na Região. Entretanto, este fenômeno não está apenas relacionado ao Sudeste. Ao nível nacional, também ocorre esta inversão. As principais hipóteses explicativas são: a modificação do perfil demográfico no Brasil (em 1970, há uma inflexão na preponderância da população rural sobre a população urbana nacional, principalmente atrelado ao forte fluxo migratório campo-cidade); a crise econômica que perpassa toda a década de 1980 e 1990 e; o processo de reestruturação 11 produtiva que via impactar fortemente a base operária/trabalhadora da Região Sudeste gerando uma taxa de desemprego até então nunca vista na Região. Cabe, ainda, sublinhar nesta visão panorâmica do cooperativismo na Região Sudeste do Brasil, um movimento que se inicia em meados da década de 1990 no Rio de Janeiro e alcança o país em menos de seis anos. Em 1995, teve início o programa de extensão universitária da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), originário da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/ UFRJ). O objetivo desta iniciativa é utilizar os recursos humanos e conhecimento da universidade na formação, qualificação e assessoria de trabalhadores para a construção de atividades autogestionárias cooperativas visando sua inclusão no mercado de trabalho. A experiência iniciada no Rio de Janeiro é adotada em outras universidades do país e busca assessorar, principalmente, a população de baixa renda no objetivo de construir uma alternativa de geração de trabalho e renda, através do cooperativismo popular. O programa está intimamente relacionado a uma busca de resposta aos efeitos socioeconômicos gerados pelo movimento de financeirização da economia e pela reestruturação produtiva, somados à privatização das empresas públicas brasileiras. Ou seja, conforme apresentado anteriormente sob o ponto de vista do Cooperativismo convencional, as ações das ITCPs visam dar uma resposta aos trabalhadores desempregados e aos que nunca conseguiram ser incluídos deste mercado de trabalho – os informais. Dado o público-alvo do projeto ITCPs - trabalhadores historicamente excluídos do mercado formal de trabalho; populações marginalizadas e de baixa renda e; trabalhadores que perderam seus empregos no processo de privatização ou reestruturação produtiva – o perfil das cooperativas fomentadas nas 24 universidades que compõe o universo desta pesquisa ao nível do Brasil é muito próximo das cooperativas incubadas nas 9 ITCPs ou projetos universitário de extensão da Região Sudeste5. Apesar de sob o ponto de vista da divisão por ramo de atividade as cooperativas incubadas pelas ITCPs ser igual das do cooperativismo convencional, cabe salientar algumas especificidades observadas. As Cooperativas de Agropecuária referem-se, principalmente, às cooperativas de pesca, criação de frutos do mar (mexilhões) e de agricultura orgânica. No caso das Cooperativas de Produção, estão relacionadas as cooperativas de confecção de vestuário e as de reciclagem. A discussão sobre as cooperativas populares se faz em separado porque a maior parte das cooperativas incubadas pelas ITCPs não reconhece as OCE´s como órgão representativo do tipo de cooperativismo por elas praticadas: cooperativismo popular e autogestionário. Portanto, os dados do Sistema OCB não contêm informações sobre as principais cooperativas populares. Feita esta ressalva, cabe reforçar o fato das cooperativas do ramo do Trabalho serem as que mais são incubadas pelas Incubadoras Universitárias. Isto ocorre, principalmente, pelo fato do público-alvo não possuir capital inicial para constituir outro 5 As ITCPs e grupos universitários de extensão pesquisados na Região Sudeste são: Universidade Federal São João del Rei, Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ), Universidade de São Paulo (SP), Universidade do Estado de São Paulo (SP), Universidade Estadual de Campinas (SP), Universidade Federal de São Carlos (SP), Universidade Metodista de Piracicaba (SP), Universidade de Sorocaba (SP), 12 tipo de cooperativa e pela falta de um sistema de crédito para cooperativas, seja para capital de giro, seja para capital fixo. A falta de acesso ao crédito inviabiliza, em um primeiro momento, a formação de cooperativas de produção com significativos acréscimos de valor agregado ao produto utilizado. Ao se analisar o perfil das cooperativas populares incubadas por Estados no Sudeste não se observou diferenciação relevante. As cooperativas populares incubadas do ramo do Trabalho, apresentam a seguinte sub-divisão por ramo de atividade: limpeza geral; asseio e conservação; manutenção predial; construção civil e; artesanato. Com relação à questão de gênero, observou-se uma distribuição uniforme nas cooperativas incubadas, tanto ao nível nacional como no Sudeste: 50% homens e 50% mulheres. Entretanto, no caso das lideranças nas cooperativas, as mulheres continuam em desvantagem: 70% homens e 30% mulheres nas diretorias das cooperativas. Se, em termos econômicos, o número de cooperativas incubadas é baixo (138 cooperativas em todo o país e 69 no Sudeste), pode-se avaliar do levantamento efetuado o papel de efeito demonstração deste programa. 2.5 Região Sul O cooperativismo na Região Sul deve ser entendido como um processo descontínuo fundado na pluralidade de práticas sociais datadas e localizadas historicamente (alemães, italianos e experiências cooperativas derivadas dos nossos grupos étnicos) que ao propor a autonomia do "nós", qualificou um tipo de relação social - a cooperação entre pessoas -, porque o sentido destas práticas sociais tinha por base a reciprocidade, a confiança, o respeito ao outro. Convém salientar que a repertorização e a volta no tempo é muito mais que um movimento, mas um artifício metodológico de resignificação do presente. Os fundamentos de uma sociedade solidária baseada no trabalho coletivo onde o bem-estar individual e da comunidade esta acima do interesse econômico da produção não é resultado do acaso. No Brasil e em especial na Região Sul este tipo de ação associativa qualificada a tem seus fundamentos nas práticas da comunidade indígena (mutirão), na ação dos jesuítas e no seu projeto civilizatório (1610) e principalmente na ação do médico francês e Jean Maurice Fauvre que, em 1847, no Paraná, fundou a colônia Tereza Cristina, organizada em bases cooperativas « fourerianas ». Na região Sul este processo associativo do cooperativismo traduz-se em um movimento de duas vertentes : a primeira resultado de uma ação coletiva mais plural e uma segunda de origem estatal e vinculada a uma política de governo que pode ser visualizado em três momentos, descritos a seguir. O primeiro momento ocorreu no início do século XX e constituiu-se nas bases do cooperativismo. Não se pode descolar a emergência do movimento cooperativo que inicia no Rio Grande do Sul em 1902 com Theodor Amstadt, que organiza a primeira caixa rural cooperativa do Brasil e da América latina (Linha Imperial Nova Petrópolis) das pressões da economia internacional aliadas aos processos de organização dos Estados-nação na América, instaurando uma forma de atuar do Estado em que a questão social das áreas rurais e de colonização passa a ser elemento tangencial e secundário nas propostas e projetos de desenvolvimento. 13 Este cenário concorre para que no interior do Brasil, em especial na Região Sul, se desenhe uma configuração social fragmentada e imensamente diversificada, seja pela emergência de grupos demandantes de múltiplos interesses e de múltiplas identidades, seja pela diferenciação que se apresenta nas novas formas de organização do processo produtivo (pequena propriedade) e no agir político e no comportamento da sociedade civil isolada e não participativa, porque estrangeira e/ou minoritária. Evidentemente, que nestas primeiras três décadas do cooperativismo do século XX os imigrantes tiveram um papel de destaque porque tiveram a capacidade de desenvolver suas próprias soluções para questões de fundo; tal fato marca o cooperativismo de forma singular porque o associativismo se evidencia como alternativa concreta para evitar a dissociação crescente da vida cotidiana (universo instrumental da economia) dos valores e sentidos que pautavam o comportamento das pessoas (universo simbólico das culturas) e o vazio social e político das áreas/regiões de colonização. Neste período o cooperativismo traduz ações estratégicas individuais e coletivas cuja meta não é criar uma outra ordem social, mas acelerar as mudanças, o movimento, a circulação de capitais, bens, serviços, informações ; atuou como substituto do Estado e promotor do desenvolvimento nas áreas rurais. O quadro dissociação crescente dos grupos interioranos de seus valores e o vazio social indica que as dificuldades de constituição de sujeitos sociais foi a primeira realidade enfrentada na região sul, principalmente porque nos início do século 20 no interior das áreas rurais a questão do sujeito social (coletivo) só era entendida a partir do modelo institucional e representativo (que tinha nas associações políticas seu modelo mais significativo) e, por isso mesmo, as demandas eram elaboradas e delineadas institucionalmente de forma compartimentada a partir da divisão de temáticas que valorizavam as lutas na ótica da cidade. Os anos de emergência do cooperativismo se caracterizaram na região sul principalmente pela existência de articulações plurais nas quais os indivíduos buscam no coletivo construir estratégias de sobrevivência de um mundo estranho e em transformação. Percebe-se que na afirmação dos princípios cooperativos o "Sujeito Coletivo" construído pelos imigrantes adquiriu um sentido social mais amplo na medida em que transforma uma estratégia de sobrevivência em um movimento social; esse esforço por ser ator não deve ser confundido com um conjunto de experiências orientado por um princípio superior, e sim no desejo que todo indivíduo e/ou grupo social tem de resistir ao seu próprio desmembramento num universo em movimento, sem ordem ou equilíbrio. Cada movimento de “resistência” organizados pelo cooperativismo daquela época deve ser entendido como um movimento de mudança, na medida em que na cooperativa o grupo de associados tinha que inventar e diferenciar-se daquilo que já existia (carências e demandas não atendidas) para construir um outro futuro: o desenvolvimento daquilo que antes se encontrava envolvido numa coexistência indiferenciada e de precariedade. O segundo momento pode ser delineado como os anos da Tutela e do controle, estando situados entre as décadas de 40 e 70. Neste período essa nova configuração do comportamento social se consolida na Região Sul, ficando raízes na ação social e no próprio processo social. Do surgimento de cooperativas de eletrificação rural e telefonia (1941), das primeiras federações de cooperativas (1952) e do desdobramento acentuado das 14 cooperativas de produção (madeira, tritícolas) (1956), percebe-se a complexificação do movimento na emergência de empreendimentos tão diversificados quanto complementares. Por outro lado, a nova configuração da economia marcada pelo cenário internacional de pós-guerra concorre para uma política governamental de incentivo das cooperativas de produção que desenha a partir do setor produtivo rural (mais significativo economicamente) um cooperativismo crescente, mas cada vez mais dependente das políticas do Estado. Face às políticas do Governo Federal concedendo isenções tributárias e facilidades crédito há um crescimento significativo de um movimento cooperativismo passivo que reage apenas aos estímulos de um modelo econômico determinado pelo Estado. É neste período que surgem as cooperativas habitacionais (1963), ocorre o declínio das cooperativas de crédito rural, motivado pela lei de Reforma Bancária de 1964, causando o desaparecimento de quase todas cooperativas. Neste período o cooperativismo deixa de ser um espaço plural e democrático para transformar-se num instrumento das políticas governamentais e de apoio ao modelo econômico agro-exportador. Por fim, o terceiro momento pode ser denominado de reafirmação de um espaço plural, tendo sido iniciado na década de 80. A nova configuração da economia marcada pelas transformações tecnológicas da informática e da microeletrônica concorre para que o contexto social deste período se caracterize por uma crescente e cada vez maior interdependência nas relações mundiais. Interdependência que - associada à valorização excessiva do liberalismo - configura, não só em nosso país, uma profunda crise social representada por índices crescentes de desemprego, miséria, desigualdades e exclusão social. Nesse sentido, os anos 80/90 concorreram para um esforço de releitura do movimento cooperativista na Região Sul, principalmente porque a realidade do associativismo nesta região se apresenta como uma combinação de movimento social e do sujeito aparentemente contraditórios e excludentes, mas que na verdade traduzem um processo social que articula atores diferenciados e introduz a noção mutação no agir cooperativo. Não é a crise, mas as novas formas de organização econômica e da produção que estão dissolvendo os contornos da sociedade industrial. A mutabilidade das ações sociais se expressa e é sinalizada pela horizontabilidade das relações sociais, na formação de redes favorece ao modo diferenciado de pensar a economia a partir da cooperação. Se até recentemente, o cooperativismo, enquanto sistema, proporcionava uma forma de organização da produção e social no qual o conceito de cooperação designava um estágio da modernidade e desenvolvimento nas áreas rurais cuja meta não era criar uma outra ordem social, mas acelerar as mudanças, o movimento, a circulação de capitais, bens, serviços, informações, hoje ele aparece como uma alternativa de pensar o econômico a partir de uma pluralidade. Pluralidade necessária nas sociedades contemporâneas cujas bases se vêem confrontadas com os limites do modelo proposto pela sociedade industrial. Modelo este que não tem capacidade ou condições internas para modificar suas política ou refletir sobre os efeitos perversos que modelaram o futuro que evidencia uma crise institucional profunda da própria sociedade industrial. 15 Nesse sentido o cooperativismo, como sistema, pode dar um salto qualitativo, porque a emergência de novas cooperativas (educacionais, saúde, trabalho, turismo e lazer, infra-estrutura, especial) de caráter essencialmente urbanos muito mais que uma estratégia de sobrevivência em uma sociedade de risco apontam para a ruptura de uma política de continuidade e no pensar o econômico sob outras perspectivas. O crescimento do cooperativismo na Região sul dificilmente pode ser passível de compreensão sem a idéia de descoberta, de avanço das formas organizativas nas áreas urbanas que se dão de forma dispersa e longe dos processos de controle ou monitoramento promovidos pelas OCES (organizações cooperativas dos Estados), é por isso que as causas do fenômeno associativo e cooperativo na Região Sul já não parecem encontrar-se no passado, mas no futuro. Os dados que seguem, mesmo sinópticos, buscam desenhar como o cenário cooperativo se apresenta na Região Sul. Ante ao exposto pode-se tecer algumas conclusões a respeito do cooperativismo na região, a saber: a) Afirma-se como um modo do agir coletivo segundo o qual os princípios da ação social se formam na experiência concreta concorrendo historicamente por um lado para a formação de diferentes setores produtivos (é expressivo os indicadores de crescimento no segmento trabalho e crédito) e de outro para a consolidação de uma estratégia de defesa de grupos sociais marginalizados pelas políticas macroeconômicos (a emergência de cooperativas de produção, infra-estrutura traduzem este movimento); b) Resulta de um conjunto de ações realizadas por pessoas mobilizadas a partir de um projeto, que busca superar dificuldades em função de um interesse comum e que, na maior parte das vezes, mesmo revelando-se sem fins lucrativos, consegue ser gerador de trabalho e renda (é expressivo como os valores do capital social conseguem alavancar o crescimento dos empreendimentos cooperativos); O sistema cooperativista na região sul, assim como no país, mesmo atuando sob os limites das políticas de Estado governamentais se evidencia como um espaço socioeconômico capaz de qualificar a cooperação pelo ato imediato de reunir pessoas e/ou forças de cada um para produzir uma força maior. O volume de capital social dos empreendimentos cooperativos aponta não só para o aproveitamento das potencialidades atuais das comunidades de modo a não comprometer o desenvolvimento da região. Muito mais do que PIB cooperativo (valor de faturamento) os dados apontam para um capital social existente na Região que pode ser compreendido como define Puttnan (1996) como uma amálgama de elementos como confiança, coesão social, civismo, lutas e projetos conjuntos que facilitam a cooperarão para o benefício mútuo em uma sociedade. Nesse sentido, o cooperativismo, como sistema, vai além da celebração de um contrato mútuo que estabelece obrigações visando objetivos comuns. A essência desta sociedade civil ao estar fundada na repartição do ganho, na união de esforços e no estabelecimento de um outro tipo de agir coletivo possibilita a implementação de um outro tipo de ação social, porque recusa a lógica economicista que reduz o fazer humano a busca racional do interesse próprio; e a prática cooperativa a ter como objetivo final o lucro máximo e, não se deixando seduzir, abre possibilidades de pensar a cooperação como um espaço social plural e não instrumentalizante. 16 3. Identidade social e jurídica do cooperativismo brasileiro O cooperativismo brasileiro é amparado pela Lei n. 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que exige um número mínimo de 20 sócios para a sua constituição e é representado, formalmente, pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em nível nacional e da Organização Estadual de Cooperativas (OCE), em nível de cada Unidade da Federação. Desde a aprovação da Constituição de 1988, quando a prática cooperativa se desvincula do Estado, vários projetos de lei tramitam pelo Congresso Nacional com o propósito de alterar a referida Lei6. Pretende-se, com isso, ampliar as margens de ação diante de um mercado globalizado e diminuir “brechas legais”, de forma a inibir práticas fraudulentas das chamadas “cooperativas de fachada”. Um outro aspecto legal a ser destacado diz respeito a Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999, que criou e normatizou as cooperativas especiais, as quais são destinadas a auxiliar pessoas em situação de desvantagem7 a se inserirem no mercado. Discute-se, hoje, na literatura que a legislação cooperativa vem sendo modificada no mundo inteiro como forma de atender às novas expectativas econômico-produtivas, de modo a permitir maior flexibilidade do movimento frente às novas conjunturas de mercado (Pires, 1999). No caso brasileiro, enquanto a nova lei do cooperativismo estará sendo votada, as cooperativas, por sua natureza de sociedade civil, já sofrerão algumas alterações através do Novo Código Civil Brasileiro (NCC), que entrou em vigor a partir de 11 de janeiro de 2003. Através dele, são contemplados os seguintes pontos: 1) As cooperativas não mais têm estatutos, passando a ser regidas por contrato; 2) A possibilidade das cooperativas não constituírem capital social, representando uma aproximação das cooperativas às associações; 3) A diminuição do número de associados – contemplando apenas um número de sócios para compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo; 4) As modificações no contrato somente podem ser feitas com a aprovação unânime dos sócios. Para facilitar a compreensão da dinâmica do movimento cooperativo brasileiro fazse necessário observar o número de organizações existentes, o volume de negócios, sua distribuição nas regiões do país, o perfil do quadro social e os ramos de maior representatividade, dentre outras variáveis. Essas questões serão analisadas detalhadamente nos próximos capítulos. 6 Art. 5º., inciso XVIII do texto constitucional: “A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada interferência estatal em seu funcionamento”. Apesar disso, o poder público ainda assegura um programa de apoio às associações, e mais particularmente às cooperativas, através do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MA). 7 Os deficientes psíquicos e mentais, os dependentes químicos, os egressos de prisões, os condenados a penas alternativas à detenção e os adolescentes em idade adequada ao trabalho e situação familiar difícil do ponto de vista econômico, social ou afetivo 17 4 As cooperativas existentes no Brasil A partir da década de 90, cooperativismo brasileiro vem apresentando um crescimento efetivo no número de organizações se acentuando ainda mais essa tendência a partir da metade dessa mesma década. Assim, em 1990, podemos constatar a existência de 4.666 cooperativas registradas no Departamento Nacional de Registro Comercial(DNCR), saltando para 20.579 cooperativas em 2001. Isso equivale a um crescimento de 331% no número de cooperativas no Brasil em uma década. Esta mesma tendência de crescimento também pode ser verificada quando analisamos os números de cooperativas filiadas a maior entidade representativa do cooperativismo brasileiro - a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). No ano de 1990, a OCB possuía 3.440 cooperativas afiliadas, número que saltou para 7.026 cooperativas em 2001, apresentando um crescimento de 104% ao longo da década de 90 (Gráfico 1). Gráfico 1 - Evolução do número de cooperativas no registradas no DNCR e no sistema OCB entre 1990 e 2001 25000 20579 20000 18309 16377 15000 14108 10000 5000 0 OCB 11897 9559 4666 3440 5108 3529 5550 3548 6905 6281 3608 3701 Juntas Comerciais 7768 3928 4316 4851 5102 5652 6082 7026 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Fonte: OCB, 2002 e DNCR, 2002 Tal constatação sobre o grande número de cooperativas registradas no DNCR deve-se ao fato do governo condicionar o seu funcionamento ao registro neste órgão oficial do governo. Quanto a OCB não existe nenhuma exigência legal que condicione a sua filiação e registro para poder funcionar. Ademais, outros fatores também contribuem para que o DNCR apresente estatísticas sobre o número de cooperativas bem superiores ao da OCB como, a não oficialização do enceramento das atividades das cooperativas. Assim, podemos constatar um intenso fenômeno de criação e constituição de cooperativas no Brasil a partir de 1996, onde se contabilizou uma média de 2.193 novas cooperativas por ano, superior à média de crescimento entre 1990 e 1995, que era da ordem de 615 novas organizações por ano (Tabela 1). Este fato, quando analisado, pode-se atribuir ao novo cenário econômico brasileiro que se instalou no Brasil a partir de 1994 com o processo de estabilização monetária (Plano Real). Também, podemos atribuir, ao processo massivo de terceirização das atividades públicas e privadas que favoreceram as cooperativas através de um dispositivo legal. 18 Por outro lado, a taxa de encerramento formal de atividades das cooperativas apresentou também uma alta taxa de crescimento em termos percentuais. Todavia, em termos absolutos, verifica-se que este número ainda é bastante inferior ao número de novas que surgem no Brasil. No período de 1990 e 1995, uma média de 18 cooperativas encerrava oficialmente suas atividades por ano, enquanto que, a partir de 1996, esta média subiu para 58 cooperativas fechadas durante todo ano (Tabela 1). Tabela 1 – Evolução da constituição e do fechamento formal das Cooperativas no Brasil, entre 1990 e 2001 Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Média 1990-1995 Média 1996-2001 Fonte: DNCR, 2002 Constituição Fechamento por ano por ano 438 10 447 5 515 19 757 26 657 33 879 16 1.821 30 2.386 48 2.258 47 2.330 61 2.020 88 2.344 74 615,5 18,2 2.193 58 Saldo por ano 428 442 496 731 624 863 1.791 2.338 2.211 2.269 1.932 2.270 597,3 2.135 4.1 Distribuição geográfica O Brasil está dividido em cinco grandes regiões geográficas, caracterizadas por diferentes níveis de concentração demográfica e desenvolvimento socioeconômicos. Faz-se necessário, assim, analisar a distribuição das cooperativas brasileiras segundo a divisão geopolítica regional. Assim, tomando por base os anos de 2000 e 2001, constata-se que a distribuição das cooperativas nas regiões do Brasil apresenta uma relação estreita com o tamanho da população e com as atividades econômicas avaliadas através do PIB. A maior concentração de cooperativas ocorre na região Sudeste do país - 42,6% dos 176 milhões de habitantes - coincidindo, portanto, com o maior contingente populacional do país, e onde foram gerados 57,9% do PIB do país, aproximadamente 500 milhões de dólares. A Região Sudeste, de acordo com os registros no DNCR, concentrou, no ano de 2001, 41,5% das cooperativas do Brasil, enquanto os registros da OCB indicavam que nesta região estavam situadas 45% do total das cooperativas brasileiras (Gráfico 2). Segundo dados do DNCR, na região Sudeste, entre 1990 e 1995 eram constituídas, em média, 234 cooperativas por ano. A partir de 1996 esta média foi de 1.014 novas cooperativas constituídas por ano. Isto representou um aumento de 433% na média entre os dois períodos considerados. Ainda considerando esses mesmos períodos, observou-se que o número de cooperativas fechadas deu-se em proporções semelhantes àquelas constituídas (DNCR, 2002). 19 A segunda região que apresentou uma maior concentração de cooperativas foi a Região Nordeste, onde estavam situados 28,1% do total de habitantes do país e na qual era gerado 13,1% do PIB (Gráfico 2). No ano de 2001, conforme registros no DNCR, esta região concentrava 23% do total de cooperativas brasileiras, enquanto os registros da OCB indicavam 21,8 % do total de cooperativas (Gráfico 2). A média de surgimento de novas cooperativas na Região Nordeste passou de 143 cooperativas por ano entre 1990 e 1995 para 433 novas cooperativas por ano a partir de 1996. Já as que encerraram suas atividades neste período, apresentou em termos percentuais um crescimento similar àquelas constituídas (DNCR, 2002). A região Sul foi a terceira de maior concentração de cooperativas. Nesta região estava concentrada 14,8% da população brasileira e gerava 17,5% do PIB brasileiro. Em 2001, na região Sul, segundo dados do DNCR, estavam situadas 16,8% do total das cooperativas do Brasil, enquanto os dados da OCB apontavam que nesta região estavam estabelecidas 18,3% cooperativas brasileiras (Gráfico 2). De modo análogo à tendência apresentada por outras regiões, no período de 1990 a 1995, foram constituídas em média 86 novas cooperativas por ano, enquanto que entre 1996 e 2001, foram constituídas em média 366 novas cooperativas por ano. O encerramento de cooperativas também cresceu entre os dois períodos analisados, em termos percentuais e absolutos (DNCR, 2002). A regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil concentravam, respectivamente, os menores números de cooperativas no Brasil, sendo também as áreas de menor contingente populacional e menor participação no PIB. A região Centro-Oeste possuía 6,9% do contingente populacional brasileiro e uma participação 6,9% na geração do PIB. A OCB computava 7,5% do total de cooperativas e 10,3% no número de cooperativas brasileiras (Gráfico 2). Entre 1990 e 1995 houve em média o surgimento de 88 novas cooperativas por ano, saltando para uma média de 179 novas cooperativas entre 1996 e 2001 (Juntas Comerciais, 2002). Por fim, na Região Norte estavam situadas 8,2% das cooperativas brasileiras, segundo os dados do DNCR, no ano 2001, e 8,4% de acordo com os dados da OCB. Esta região concentrava 7,6% da população do país, sendo gerados na sua área de abrangência 4,6% do PIB nacional (Gráfico 2). A média de fundação de novas cooperativas na região Norte do Brasil passou de 63 cooperativas por ano, no período entre 1990 e 1995, para 167 por ano, no período entre 1996 e 2001 (DNCR, 2002). Finalmente, estes dados são ilustrativos para evidenciar o dinamismo, potencial latente e tendência de crescimento dos empreendimentos cooperativos no Brasil. Todavia, a tendência de crescimento do cooperativismo em áreas de intenso dinamismo econômico constitui um indicativo importante no condicionamento da dinâmica cooperativa, acenando para futuros estudos sobre o movimento cooperativo brasileiro. 20 Gráfico 2 – Distribuição do número de cooperativas, da população e do PIB nas cinco regiões geográficas do Brasil no ano 2000 / 2001. Cooperativas Juntas Comerciais Norte Cooperativas OCB Nordeste Centro-Oeste Sudeste População Sul PIB 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Fonte: OCB, 2002; IBGE, 2002 e 2003 4.2 Perfil do quadro social e administrativo8 De acordo com a OCB, em 2001, as cooperativas brasileiras possuíam nos seus quadros 4.779.174 cooperados. Contudo, se considerarmos os registros das Juntas Comerciais este número se eleva para mais de 17 mil cooperativas. Assim, podemos concluir que existe um número bem superior de cooperados no Brasil. Todos os demais itens tratados a partir dos dados da OCB recém, portanto, a mesma ressalva. No que concerne a questões de gênero no quadro social, constatou-se que menos 10% dos presidentes de todas as cooperativas do Brasil são do sexo feminino, denotando uma pequena participação feminina na direção das cooperativas até o ano de 2001. Apenas 696 cooperativas do Brasil são dirigidas por mulheres, sendo que em sua maioria, ou seja, 50,7% do total, estão situadas na região Sudeste (OCB, 2002). A região Nordeste por sua vez concentrava 28 % do total de dirigentes femininas do Brasil, enquanto que a região Sudeste possuía 10,5 do total de dirigentes femininas (Gráfico 3). No que concerne ao número de empregos gerados as cooperativas foram responsáveis por um total de 175.412 postos de trabalho no ano de 2001 (OCB, 2002). Contudo, é na região Sul, e não na Sudeste, que se concentrava o maior número de postos de trabalho gerados pelas cooperativas no país. As cooperativas desta região, em 2001, foram responsáveis pelo emprego de 43% de toda a mão-de-obra contratada diretamente pelo setor cooperativo brasileiro, ao passo que na região Sudeste as cooperativas geravam 40,9% dos postos de trabalho (Gráfico 3). 8 Nesta pesquisa, convencionou-se tomar os dados da OCB como fonte principal de análise por congregar o maior conjunto de dados sobre o perfil do cooperativismo brasileiro. 21 Gráfico 3 – Freqüência de cooperativas, cooperados, presidentes do sexo feminino e empregados nas regiões do Brasil, no ano de 2001 100% 90% 80% SUL 70% SUDESTE 60% NORTE 50% NORDESTE 40% CENTRO OESTE 30% 20% 10% Fonte: 0% OCB, 2002 COOPERATIVAS Fonte: OCB, 2001 COOPERADOS EM PREGADOS DIRIGENTES FEM ININAS 4.3 Relações com o Estado Os maiores ramos do cooperativismo brasileiro até a década de 80 - o agrícola e o de crédito - tinham por principal fonte de financiamento externo os recursos governamentais. A redução dos recursos orçamentários governamentais face à crise que abateu o Estado Brasileiro a partir de então, aliado ao processo inflacionário crescente, fez com que os recursos financeiros destinados as cooperativas minguassem e o endividamento aumentasse (Silva, 2001) . Ao mesmo tempo, o fechamento do Banco Nacional de Crédito Cooperativo – BNCC, a redução contínua do preço das “commodities” agrícolas, além de graves problemas administrativos desencadearam uma grande crise financeira nas cooperativas agrícolas, resultando no fechamento de muitas delas (Panzutti, 2000; Silva, 2001). Para mitigar os efeitos do processo de endividamento contínuo e crescente, o Governo Federal, no final da década de 90, lançou o Programa de Revitalização das Cooperativas Agropecuárias Brasileiras (RECOOP), visando à reestruturação das cooperativas endividadas. O RECOOP engloba além de aspectos tradicionais para soerguimento do empreendimento - como os de ordem técnica e econômico-financeira - uma proposta inovadora que contempla a capitalização continuada da cooperativa, inclusive prevendo a fusão, desmembramento, incorporação ou associação a empresas não cooperativas, além da profissionalização da gestão cooperativa, organização e profissionalização dos cooperados. Ante ao conjunto de exigências demandas pelo Governo Federal para o enquadramento no RECOOP até o ano 2001, apenas um pequeno número de organizações, situado em sua grande maioria na região Sul e Sudeste do país, foi contemplado por este programa. O Governo (federal, estaduais e municipais), de maneira geral, tem tratado as cooperativas de modo análogo ao das empresas mercantis, sendo as cooperativas do ramo de trabalho e saúde as mais afetadas, ante a quantidade de tributos e o seu impacto sobre o faturamento bruto, acarretando graves problemas de competitividade para as organizações. Assim, uma das grandes dificuldades com que se depara as cooperativas brasileiras são os elevados percentuais de tributos, federais, estaduais e municipais. 22 4.4. Ramos cooperativos O cooperativismo brasileiro foi estruturado em treze ramos pela OCB, a saber: agropecuário, consumo, crédito, educação, especiais, habitação, mineral, produção, infraestrutura, trabalho, saúde, turismo e lazer, transporte de cargas e passageiros (OCB, 2002). Com efeito, a divisão por ramo facilita a visualização de peculiaridades referentes a grupos específicos de cooperativas, de modo a propiciar um melhor entendimento da formação, estrutura, composição e participação nos diversos setores econômicos. A composição por ramo vem sofrendo, ao longo do tempo, significativas alterações. A partir da década de 40 até a década de 60, por exemplo, alguns ramos ou setores do cooperativismo destacaram-se ante a sua participação, em termos percentuais, no total de cooperativas (Gráfico 4). Nesse período supracitado, o ramo das cooperativas agropecuárias constituiu-se como principal representante do cooperativismo brasileiro, tendo em vista que a própria estrutura econômica do país, era eminentemente agrícola. Contudo, o processo de modernização e industrialização da agricultura, fez emergir outros setores do cooperativismo nacional, como as cooperativas de crédito e o de saúde, na década de 70 e 80. Neste ínterim, o setor industrial e de serviços passam a ser os principais responsáveis pelo PIB brasileiro, incrementando a participação, em termos percentuais, das cooperativas de trabalho no setor cooperativo brasileiro. Gráfico 4 – Evolução dos empreendimentos cooperativos no Brasil, por segmento de atuação e em percentual entre a década de 40 e a década de 90. DEC90 AGROPECUÁRIO DEC80 CONSUMO CRÉDITO DEC70 EDUCACIONAL DEC60 HABITACIONAL DEC50 SAÚDE TRABALHO DEC40 0% Demais setores 20% 40% 60% 80% 100% Fonte: OCB, 2001 4.4.1 - Cooperativismo agrícola No Brasil, as cooperativas agrícolas, ao longo da primeira metade do século XX, não apenas se mostraram como as mais importantes em termos de volume de negócio como também foram as principais responsáveis pela difusão do ideário cooperativista no país. Ademais, a literatura acusa que o referido ideário cooperativista ou conjunto teórico doutrinário do movimento foi utilizado como instrumento ideológico do Estado, a serviço de um Estado conservador e autoritário9. 9 Sobre o assunto ver Corandini & Fredericq (1982), Araújo(1982) apud Pires, (1999). 23 Funcionando como unidades de comercialização de produtos dos associados, revendas de insumos e assistência técnica, as cooperativas do setor agrícolas englobavam tanto os produtores rurais do setor agrícola quanto do setor pecuário. Com a proliferação de cooperativas singulares e ante a modernização e industrialização do setor agrícola na década de 70 e 80 surgiram, então, várias centrais de cooperativas (federações) nos estados brasileiros, as quais tinham por finalidade ter um maior ganho de escala nas atividades, com a horizontalização e verticalização das atividades de produção, beneficiamento e industrialização de produtos agropecuários. As centrais de cooperativas atuavam na cadeia produtiva do algodão, soja, leite, frango, dentre outros produtos. Um fato a destacar é que estas centrais não conseguiram estabelecer um processo capaz de originar uma confederação regional ou nacional. Registra-se apenas uma única confederação de cooperativas no Brasil ligada ao setor lácteo. No que tange as cooperativas de pesca, observa-se que, embora o Brasil tenha um extenso litoral e um grande manancial de água doce, o número de cooperativas deste tipo é bastante reduzido. Este fato é derivado da política pública desenvolvida para o setor pesqueiro, onde os pescadores foram induzidos, ante a ingerência governamental, a constituírem outras formas de organização coletiva (Brás, 1994). É importante sublinhar que, durante a década de 90, verificou-se que o número de cooperativas agrícolas apresentou bastante estabilidade, tendo havido um crescimento de apenas 13,3% no número destas organizações ao longo do período considerado. Há que se considerar, inclusive, que, entre 1993 e 1995, observou-se uma involução no número das cooperativas agrícolas no Brasil. Somente a partir de 1999 constatou-se um discreto aumento no número de cooperativas do setor agrícola (Gráfico 5). Tal fato provocou uma queda na participação deste ramo no cooperativismo nacional. Em 1990 havia 1400 cooperativas agrícolas, as quais representavam 39,2% das cooperativas do Brasil, sendo que em 2001 registrou-se 1.587 cooperativas, as quais correspondiam a 22,6% do total de cooperativas do Brasil (OCB, 2002). Gráfico 5 – Evolução do Número de Cooperativas Agropecuárias no Brasil entre 1990 e 2002 1.800 1.600 1.400 1.438 1.402 1.393 1992 1993 1.400 1.334 1.378 1.403 1995 1996 1.449 1.408 1.437 1.448 1998 1999 2000 1.587 1.624 2001 2002* 1.200 1.000 1990 1991 1994 1997 Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002 Por sua vez, o número de associados às cooperativas agrícolas em 2001 era de 822.292 cooperados, os quais representavam 17,2 % do total de cooperados brasileiros (OCB, 2002). Apesar desta estabilização, as cooperativas do setor agrícola detiveram, no ano 2000, uma importante parcela de atuação nas cadeias produtivas, tornando-as responsáveis pela produção de 62% do trigo, 44% da cevada e 28% da soja do Brasil 24 (Gráfico 6). Como estas commodities necessitam de locais para serem armazenadas, dos 13.911 armazéns existentes no Brasil em 2000, um total de 2.567 armazéns pertencia as cooperativas. Logo, se a capacidade de armazenamento de grãos do Brasil era de 89,5 milhões de toneladas, os armazéns das cooperativas possuíam capacidade para estocar 21,2 milhões de toneladas, ou seja, 23,6% do total (OCB, 2002). Gráfico 6 – Percentual da Participação das Cooperativas Agropecuárias na Produção Nacional no ano 2000 100% 90% 80% 70% 60% 50% Outros 40% Cooperativa 30% 20% 10% U va M i lh o Ar ro z Fe ij ã o Tr ig o C ev ad a Av e Al ia go dã o Su ín os So ja C af é Al ho 0% Fonte: OCB, 2002 Uma vez que as cooperativas agrícolas atuam no mercado de commodities, este ramo apresentou-se dentre os demais como aquele que mais exportou, tendo, entretanto o montante oriundo destas exportações, assim como o número de cooperativas exportadoras tem variado bastante. Quanto aos principais produtos da pauta de exportação destas cooperativas em ordem decrescente são: açúcar, café, soja e carne, o que denota o baixo valor agregado das exportações das cooperativas do setor (Gráfico 7). Já o volume de exportações apresentou um crescimento de 72,3% entre 1990 e 2001, passando de U$ 657 mil dólares para U$1.132 no referido período (Gráfico 8). Não obstante o aumento do faturamento com exportação houve uma tendência na diminuição do número de cooperativas exportadores neste período (OCB, 2002). No que diz respeito a variação do volume de exportações observada ao longo da década de 90 decorreu de vários fatores internos e externos à organização, envolvendo aspectos relativos ao tamanho da safra nacional e internacional, política de preços internacional, políticas de estímulo à exportação e diferença cambial, entre outros aspectos (FGV, 2000; OCB, 2001 e 2002). Ante ao exposto, observou-se que as grandes cooperativas do setor agrícola se encontravam ligadas ao agronegócio de açúcar e grãos especialmente o açúcar, a soja e o café, embora cooperativas relacionadas ao agronegócio de leite também se apresentassem em lugar de destaque. 25 A COOPERSUCAR, por exemplo, que atua no agronegócio de açúcar e está situada na região Sudeste do Brasil, foi classificada como a primeira no ranking nacional das cooperativas elaborado pela Getúlio Vargas. A COAMO, segunda maior cooperativa do país, atua no agronegócio da soja e localiza-se na região Sul. Em terceiro lugar, está a ITAMBÉ no agronegócio do leite, também situada na região Sudeste (FGV, 2002). Há de se salientar que estas cooperativas agropecuárias estavam enquadradas no ano de 2001 na relação das 500 maiores empresas do Brasil (Gazeta Mercantil, 2002). Juntas, as cooperativas do setor agrícola empregavam, no Brasil, um contingente de 108.273 trabalhadores, o que representava 61,2% do total de postos de trabalho gerados por todas as cooperativas brasileiras. Contudo, deve-se atentar para o fato que estes postos de trabalho são gerados principalmente pelas grandes cooperativas localizadas na região Sul e Sudeste do Brasil. No que diz respeito à distribuição das cooperativas agrícolas no território brasileiro, é na região Sudeste que se encontrava a maior quantidade de cooperativas deste ramo, ou seja, 32,9% do total, sendo que a região Nordeste apresentava a segunda maior concentração de cooperativas agrícolas do país, ou seja, 30,9% das cooperativas do país. Já na região Sul estava situada 22,7% das cooperativas agrícolas do Brasil, enquanto na região Centro-Oeste apenas 8,3 % do total destas cooperativas (Gráfico 9). Embora a região Nordeste apresente um grande número de cooperativas agrícolas, se verificou que são nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste onde estão concentradas as maiores cooperativas agrícolas do Brasil em termos de faturamento (Anexo). Gráfico 7– Exportações brasileiras das cooperativas por grupos de produtos em 1999. 28,0% Açúcar 49,0% Carnes Café 17,0% Soja 6,0% Fonte: OCB, 2001b 26 Gráfico 8 - Evolução das exportações das cooperativas do setor agrícola entre 1990 e 2001 em U$ Milhões (FOB) 1200 1000 917 800 600 993 686 657 604 562 1132 1059 877 858 1000 759 637 400 200 Fonte: OCB, 2002 20 01 20 02 * 20 00 19 99 19 98 19 97 19 96 19 95 19 94 19 93 19 92 19 91 19 90 0 * previsão para 2002 Gráfico 9 – Distribuição das cooperativas agrícolas nas regiões do Brasil em 2001 22,7% 5,2% Norte 30,9% Nordeste Centro-Oeste Sudeste 32,9% 8,3% Sul Fonte: OCB, 2002 4.4.2 Cooperativismo de Consumo As cooperativas de consumo guardam, no Brasil, uma importância histórica, haja vista ter sido uma cooperativa de consumo a primeira experiência registrada no cooperativismo nacional, no Estado de Minas Gerais, em 1889 (OCB, 2002). Este ramo agrupa todas as cooperativas que têm por finalidade efetuarem compra de bens de consumo final, como alimentos, vestuário, eletrodomésticos, combustíveis, para os seus associados. Estas cooperativas usualmente são constituídas por grupos de funcionários de empresas públicas ou privadas. Eis o motivo pelo qual o surgimento destas cooperativas esteve, em grande parte, atrelado ao processo de instalação e expansão de grandes empresas a partir da década de 50, a exemplo da Rhodia e Volkswagem, localizadas em regiões como a do ACB, no Estado de São Paulo, na Região Sudeste do Brasil (OCB, 2001 e 2002, COOP, 2003). Vale ressaltar que as cooperativas deste setor, não conseguiram estruturar uma Confederação, fato que pode ser identificado como um entrave no desenvolvimento de ações integradas, capazes de proporcionar benefícios de 27 uma economia de escala. Existe apenas uma Federação, a qual agrupa apenas as Cooperativas de Consumo dos Funcionários do Banco do Brasil. Desta forma, mesmo estando concentradas nas regiões mais desenvolvidas do país, as cooperativas de consumo sentiram os efeitos das mudanças no setor varejista de bens não duráveis iniciados a partir da década de 70, resultantes de transformações sócioeconômicas no Brasil (Machado & Jayo, 1995). Estes fatos levaram essas cooperativas a adotar novas estratégias, como abertura de seus quadros para pessoas que não eram funcionários das empresas, culminando, na década de 90, com um processo de fusão de cooperativas (COOP, 2003). Entre 1990 e 2001 houve uma redução de 39% no número de cooperativas de consumo no Brasil, passando de 331 cooperativas de consumo em 1990 para 189 cooperativas em 2001. Se em 1990 as cooperativas de consumo representavam 8,8% das cooperativas do Brasil, em 2001 sua participação ficou reduzida a apenas 2,7% do total de cooperativas brasileiras. Todavia, o ano de 2002 representou uma mudança de tendência neste ramo, observando-se o surgimento de novas cooperativas de consumo. Vale ressaltar que as 214 cooperativas correspondam a 2,8% do total de cooperativas do Brasil (Gráfico 10). Gráfico 10 – Evolução do Número de Cooperativas de Consumo no Brasil entre 1990 e 2002 350 311 336 336 292 300 261 256 250 241 233 200 193 191 184 189 1998 1999 2000 2001 214 150 100 1990 1991 Fonte: OCB, 2002 1992 1993 1994 1995 1996 1997 2002* * dados de junho de 2002 Contudo, esta redução no número de cooperativas não implicou em uma redução de associados, haja vista que são as cooperativas de consumo as que possuem o maior quadro de associados do país, 1.468 milhões de pessoas, ou seja, 29,6% do total cooperados do Brasil (OCB, 2002). Porém, estes associados estão concentrados em apenas duas cooperativas, as quais estão localizadas no município de Santo André, Estado de São Paulo: a) Cooperativa de Consumo (COOP_SP) a qual conta com um quadro social de 932.934 pessoas, ou seja, 63,5% do total de cooperados do setor de consumo no Brasil (OCB, 2002). b) Cooperativa de Consumo dos Empregados da Volkswagem (Coopervolks), a qual possui 349.570 associados, ou seja, 23,8% do total de cooperados do setor de consumo no Brasil (OCB 2002) Quando se analisa a participação das cooperativas no setor de supermercados do Brasil, verifica-se que a COOP_SP está posicionada como a 10ª maior empresa do setor, com 0,9% de market share (Abras, 2003). Esta cooperativa possui uma estrutura composta por várias empresas, dentre as quais 19 supermercados, 8 farmácias e uma corretora de 28 seguros (COOP, 2003b). Outras cooperativas de consumo como a Cooperativa de Consumo de Inúbia Paulista e Cooperativa de Consumo dos Funcionários da Usiminas, ocupam o 89ª e 90ª posição no ranking das maiores empresas de supermercado do Brasil (Abras, 2003). Quanto ao número de empregados, o ramo de cooperativas de consumo empregava aproximadamente 7.676, embora haja uma concentração do quadro funcional nas duas cooperativas relatadas anteriormente (OCB, 2001). Esta constatação pode ser verificada quando se analisa o quadro funcional da Cooperativa de Consumo (Coop-sp), a qual empregava sozinha 42% dos funcionários deste ramo ( COOP, 2003b). Ante aos motivos expostos ocorreu uma concentração das cooperativas de consumo principalmente na região Sudeste do País, onde no ano 2002 estavam instaladas 54% deste tipo de cooperativa no Brasil (Gráfico 11). Na região Sudeste é o estado de São Paulo que apresenta o maior número de cooperativas de consumo, bem como as maiores cooperativas em número de associados e em volume de negócios (OCB, 2002; Abras, 2003). Gráfico 11 – Distribuição das cooperativas de consumo nas regiões do Brasil em 2001 7,0% 5,1% 7,4% 53,0% Norte Nordeste Centro-Oeste 27,4% Sul Sudeste Fonte: OCB, 2002 4.4.3 Cooperativismo de Crédito As cooperativas de crédito surgiram no Brasil como entidades coletivas e mutualísticas de gestão dos recursos financeiros dos seus associados, sendo a primeira cooperativa do Brasil e da América Latina instalada em 1902 no município de Nova Petrópolis, Estado do Rio Grande do Sul (OCB, 2002). A estruturação deste ramo cooperativo fez surgir três tipos de cooperativas de crédito no Brasil, Luzzati, Crédito Rural e Crédito Mútuo. O que caracteriza a diferenciação entre estes três tipos de cooperativas é a natureza do quadro social. Enquanto nas Cooperativas Luzzati os associados são pessoas físicas em geral, nos outros dois tipos os associados devem estar vinculados a alguma categoria ou atividade profissional. Nas Cooperativas de Crédito Rural somente podem ser associados às pessoas físicas que desenvolverem, na área de atuação da cooperativa, atividade agrícola, pecuária ou extração de pescados. Nas Cooperativas de Crédito Mútuo somente podem se associar grupos de profissionais autônomos, funcionários de uma mesma empresa ou comerciantes de uma mesma atividade profissional (OCB, 2002; BANCOOB, 2002). Embora o cooperativismo de crédito tenha tido um grande crescimento entre a década de 50 e 60, especialmente na categoria crédito agrícola, a reforma bancária (Lei 4595/64) e a institucionalização do crédito rural (Lei 4829/65) trouxeram restrições 29 normativas e conseqüentemente perda de competitividade para as cooperativas do setor rural. Isto fez com que desaparecessem dezenas de cooperativas entre 1970 e 1980, fato que levou as cooperativas de crédito a se reunirem sob a forma de federações (centrais), constituindo em 1996, o primeiro banco cooperativo do Brasil – BANSICREDI e, mais tarde, se agruparem em uma confederação interestadual (BANSICREDI, 2003). No ano de 1997, fruto da articulação de um grupo de cooperativas singulares, federações (centrais) e uma confederação, surge um outro banco cooperativo, o BANCOOB (BANCOOB, 2002b). Com a fundação destes dois bancos cooperativos, o Governo Federal, através Conselho Monetário Nacional –CMN passou a regulamentar a atividade das cooperativas de crédito através de resolução 2771, de 30/08/2000, cabendo ao Banco Central do Brasil a autorização do funcionamento e fiscalização de suas atividades. Nesta resolução, passou a ser proibida a autorização de criação de Cooperativas Luzzati no Brasil, se mantendo, entretanto as já existentes (OCB, 2002; BANCOOB, 2002). O dispositivo institucional acima mencionado fez com que o ramo de cooperativas de crédito no Brasil ficasse configurado em cooperativas singulares, em federações (centrais), e duas confederações que operam dois bancos, o BANSICREDI e o BANCOOB (Figura 1). Porém, a década de 90, especialmente a partir de 1993, constatou-se um aumento do número de cooperativas de crédito motivado, sobretudo, pela criação de novas cooperativas de crédito mútuo, notadamente as que agrupavam profissionais da área de saúde, como as UNICREDs (OCB, 2001; UNICRED, 2002). Em 1990, havia 741 cooperativas de crédito, as quais representavam 20,8% do total das cooperativas brasileiras. Em 2001 esse número subiu para 1.038 cooperativas de crédito, equivalente a 14,7% do total de cooperativas do Brasil. Esta tendência de evolução do número de cooperativas de crédito também foi verificada em dados preliminares do ano 2002, embora em termos percentuais tenha sido reduzida a sua representatividade no total geral de cooperativas existentes no Brasil (Gráfico 12). Figura 1 - Estrutura do Cooperativismo Brasileiro de Crédito Cooperativas de Crédito Luzzati Crédito Rural Crédito Mútuo Federações (Centrais) BANCOOB BANSICREDI Confederação SICOOB Brasil Confederação SICREDI 30 Gráfico 12 – Evolução do Número de Cooperativas de Crédito no Brasil entre 1990 e 2002 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 400 741 763 1990 1991 859 920 834 890 809 882 788 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 966 1038 1082 665 1992 Fonte: OCB, 2002 2000 2001 2002* * dados de junho de 2002 As cooperativas de crédito mútuo, por sua vez, representam 66% das cooperativas de crédito no Brasil, ou seja, 714 cooperativas, enquanto que as cooperativas de crédito rural representam 33% deste total, equivalentes a 357 cooperativas (Gráfico 13). Juntas, estes dois tipos somam 1.071 cooperativas, sendo que 70,5% deste total, equivalentes a 755 cooperativas, estão filiadas, através de suas 15 federações(centrais), a confederação SISCOOB (BANCOB, 2002c). As cooperativas do tipo Luzzati representam apenas 1% do total de cooperativas de crédito, com uma tendência de diminuição ainda maior de sua participação no ramo, em virtude do crescimento dos outros dois tipos de cooperativas, anteriormente descritos, e da proibição da criação de novas cooperativas do gênero (Gráfico 13). Os três tipos de cooperativas de crédito possuem juntas um total de 1.059.369 associados, fazendo com que no ramo de crédito esteja a segunda maior concentração em número de associados no Brasil. Porém, dentre essas, são as cooperativas de crédito mútuo que agrupam um maior número de associados, cerca de 55% do total, enquanto que as cooperativas de crédito rural congregam 42% do total cooperados deste ramo (Gráfico 13). Gráfico 13 - Freqüência de cooperativas e associados no ramo de crédito no Brasil em 2001 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Rural Mútuo Luzzati Cooperativas Associados Fonte: OCB, 2002 31 Por sua vez, 86% dos associados das cooperativas de crédito no Brasil estão vinculados ao Sistema SISCOOB, o qual controla o BANCOOB, totalizando 913 mil associados, o que representa 86% dos cooperados do ramo de crédito no Brasil. Mesmo contando com um grande número de associados, a participação das cooperativas no mercado financeiro brasileiro está situada no patamar de 1% para as operações de crédito e nos depósitos a prazo realizadas no país (Tabela 2). Este fato pode ser atribuído a uma série de fatores dentre os quais se destacam os encargos fiscais que recaem sobre as cooperativas de crédito, exigibilidade mínima de capital superior a dos demais agentes financeiros e dificuldade de acesso aos recursos oficiais para custeio (Cotias, 2003). Como muitas cooperativas de crédito funcionam como postos de atendimentos de serviços bancários há uma geração de muitos postos de trabalho, fazendo com que este ramo seja o terceiro maior empregador no cooperativismo brasileiro. Assim, as cooperativas de crédito respondem por 20.680 postos de trabalho, equivalente a 11,8% do total de empregos gerados pelas cooperativas no Brasil. No que concerne a distribuição das cooperativas no território brasileiro, verifica-se uma maior concentração nas regiões de maior renda per capita, Sul e Sudeste, possivelmente favorecido pela maior quantidade de recursos financeiros disponível e pela maior quantidade de funcionários, públicos ou privados (IBGE, 2002). A região Sudeste concentra 64% do total de cooperativas de crédito, destacando-se os estados de Minas Gerais e São Paulo que possuem uma maior número de cooperativas de crédito. Na região Sul concentra-se 17% das cooperativas de crédito e na região Centro-Oeste 8% destas cooperativas (Gráfico 14). Tabela 2 – Participação do sistema bancário e do sistema cooperativo de crédito no Brasil por produto no ano 2001 ( em R$ milhões ) Produto Sistema Sistema Bancário Cooperativo Crédito Operações de Crédito 4.225 371.572 Patrimônio Líquido 2.301 104.075 Depósitos a prazo 2.063 202.132 Depósitos a vista 2.657 63.174 Fonte: Cotias apud BC / SICOOB, set 2002 Sistema Financeiro Brasileiro 375.797 106.376 204.195 65.831 % Participação das Cooperativas 1,12 2,16 1,01 4,04 Gráfico 14 – Distribuição das cooperativas do setor de crédito no Brasil em 2001 16,8% 4,3% 7,1% 7,6% Norte Nordeste Centro-Oeste Sul 64,2% Sudeste Fonte: OCB, 2002 32 4.4.4 Cooperativismo de educação No intuito de proporcionar uma experiência prática de cooperativismo para os alunos do ensino técnico agrícola, o Governo Federal estimulou a criação de cooperativas nas Escolas Agrotécnicas Federais. Contudo, o processo de autogestão nestas experiências sofrer com a descontinuidade do quadro social por conta do afastamento do aluno da cooperativa após a conclusão do curso. Este fato tem favorecido a ingerência na organização cooperativa a partir da cessão administrativa aos funcionários da escola. Na década de 80, com as transformações sócio-políticas e econômicas no Brasil, estimulou-se a criação de escolas cooperativas a partir da iniciativa dos pais de alunos como uma alternativa de educação de qualidade a um custo reduzido. O crescimento do número de cooperativas desse gênero permitiu, em 1987, o surgimento do ramo de cooperativas educacionais, estruturado e baseado em duas experiências (OCB, 2002). Uma a partir da mobilização de pais de alunos que se organizaram em cooperativa e uma outra a partir da associação de alunos de escola agrícola (Figura 2). Figura 2 - Estrutura do Cooperativismo Brasileiro de Educação Cooperativas de Educacionais Alunos de Escolas Agrícolas Pais de Alunos O ramo de cooperativas educacionais passou a ter um crescimento maior somente a partir da metade da década de 90, haja vista que entre 1990 e 1995 o número de cooperativas permaneceu praticamente o mesmo. A partir de 1996 até 2001 houve um crescimento expressivo, tendência esta que continuou no ano de 2002. O número de cooperativas cresceu 175% entre 1990 e 2001, passando de 101 cooperativas em 1990 para 292 cooperativas em 2001 (Gráfico 15). Com isto, a participação das cooperativas de educação no total de cooperativas brasileiras passou de 2,8% em 1990 para 3,9% em 2001. Gráfico 15–Evolução do Número de Cooperativas Educacionais entre 1990 e 2002 320 278 280 240 200 160 120 101 107 112 1990 1991 1992 100 105 106 1993 1994 1995 176 187 193 1996 1997 1998 210 292 225 80 1999 2000 2001 2002* Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002 33 Nesta análise, vale ressaltar a estagnação do crescimento das cooperativas de alunos das escolas agrícolas que foi acompanhada de uma maior participação das cooperativas de pais de alunos passando a representar 69,5% das cooperativas deste ramo (Gráfico 16). As cooperativas do ramo de educação possuem um total de 73.258 cooperados, o que representa 1,5% do total dos associados às cooperativas brasileiras. As cooperativas de pais de alunos concentram 59,8% dos associados deste ramo, enquanto as cooperativas de alunos das escolas técnicas possuem 40,2% dos associados do ramo educacional. Gráfico 16 – Freqüência de tipos de cooperativas e associados no ramo educacional no Brasil em 2001 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Pais de Alunos Alunos Escola Técnica Cooperativas Associados Fonte: OCB, 2002 Mesmo havendo mais de duas centenas de cooperativas educacionais, o número de empregos gerados diretamente é de 2.720 postos de trabalho, correspondendo a uma média de 9,8 empregados por cooperativa (OCB, 2002). Tal indicativo sugere que essas cooperativas são, em sua grande maioria, empreendimentos de pequeno porte. Com relação à distribuição geográfica, as cooperativas de educação estão concentradas na região Sudeste do Brasil, onde se situam 44% do total das cooperativas deste ramo, destacando os estados de São Paulo e Minas gerais. A região Nordeste, por sua vez, concentra 23% das cooperativas educacionais do Brasil, com uma maior concentração nos estados do Ceará e Piauí (Gráfico 17). Gráfico 17 – Distribuição das cooperativas do ramo educacional nas regiões do Brasil em 2001 15,5% 5,5% Norte 23,1% Nordeste Centro-Oeste 45,2% 10,7% Sudeste Sul Fonte: OCB, 2002 34 4.4.5 Cooperativismo habitacional Na década de 60, o Governo Federal, dentre as políticas de ampliação da moradia implementadas, estimulou a formação de cooperativas habitacionais. Estas cooperativas destinavam-se à construção, manutenção e administração de conjuntos habitacionais (OCB, 2002). No início da década de 80, com a diminuição dos financiamentos governamentais para o setor, as cooperativas passaram a desenvolver suas atividades contando principalmente com os recursos de seus associados. Estes fatores, aliados ao processo inflacionário crescente dentre outros motivos, provocaram uma estagnação no surgimento de novas cooperativas habitacionais no Brasil até a metade dos anos 90, quando novamente estas cooperativas voltaram a ser constituídas em conseqüência do aumento do déficit habitacional no país e do processo de estabilização da inflação ocorrido após 1994. Atualmente, este ramo está estruturado em cooperativas singulares, federações e uma confederação - a Confederação Brasileira das Cooperativas Habitacionais (CONFHAB) (OCB, 2002) Diante do exposto, o número de cooperativas habitacionais apresentou um crescimento de aproximadamente 66% entre 1990 e 2001, com o período de maior aumento a partir de 1996. Em 1990 existiam 179 cooperativas; o equivalente a 5% do total de cooperativas brasileiras contra as 297 cooperativas existentes em 2001 (Gráfico 18). O ano de 2002 acusa o crescimento no número destas cooperativas,sugerindo estudos mais aprofundados sobre esse fenômeno. Gráfico 18 –Evolução do Número de Cooperativas Habitacionais no Brasil entre 1990 e 2002 332 350 297 300 231 250 200 179 182 177 187 1990 1991 1992 1993 176 174 1994 1995 202 190 216 222 1999 2000 150 100 Fonte: OCB, 2002 1996 1997 1998 2001 2002* * dados de junho de 2002 A maior concentração das cooperativas habitacionais, 38% do total, encontra-se na Região Centro-Oeste do país, sendo no Distrito Federal onde estão situadas a maior parte das cooperativas desta região. Embora a Região Sudeste seja a que concentra o maior percentual da população brasileira, e, portanto, onde ocorre uma maior demanda por habitação, ali encontra-se localizada apenas 31% do total de cooperativas habitacionais do Brasil (Gráfico 19). Juntas, as cooperativas habitacionais têm um canteiro de obras de aproximadamente 10.000 unidades habitacionais e empregam diretamente um contingente de 69.668 35 trabalhadores. Desta forma, as cooperativas habitacionais são responsáveis por apenas 1,5% do total de postos de trabalho gerados pelas cooperativas do Brasil (OCB, 2002). Gráfico 19 – Distribuição das cooperativas do ramo habitacional nas regiões do Brasil em 2001 18,8% Norte 3,9% 8,2% Nordeste Centro -Oeste 30,9% 38,3% Sudeste Sul Fonte: OCB, 2002 4.4.6. Cooperativismo de infra-estrutura Na década de 60, o Brasil, com o intuito de estimular o processo de eletrificação rural, desenvolveu políticas específicas para o desenvolvimento de cooperativas de eletrificação. Induzidas pelas concessionárias de energia, as cooperativas se constituíram como forma de captar recursos oriundos de vários organismos internacionais e viabilizar o acesso à energia elétrica no campo, favorecendo a modernização e industrialização do setor rural (Fecoerpe, 2002). Isto fez com que as linhas de transmissão da rede elétrica rural instaladas pelas cooperativas elétricas fossem alimentadas financeiramente pelas concessionárias de energia elétrica; o que proporcionou as cooperativas do setor uma relativa estabilidade financeira (OCB, 2002). Contudo, ante a desestatização das distribuidoras de energia elétrica entre 19961998, o principal parceiro do setor passou a ser o setor privado, e não mais o setor público, obrigando as cooperativas a estabelecerem uma nova estratégia de atuação. Como resultado, estas cooperativas ampliaram o seu leque de ação, incorporando também outras atividades como comunicação, limpeza urbana, bem como a própria geração de energia, passando a incorporar na sua natureza jurídica tais atribuições (OCB, 2000 e 2003). Outro resultado desta estratégia foi um novo arranjo das áreas de atuação das cooperativas, as quais, no intuito de obter vantagens competitivas, ampliaram suas áreas de atuação quer por fusão ou por aumento da área de abrangência, se agrupando em federações estaduais e confederações nacionais (OCB, 2003, Fecoerpe, 2002). Além das cooperativas singulares o ramo de cooperativas de infra-estrutura apresenta 8 Federações estaduais, além de duas confederações: a Confederação Nacional das Cooperativas de Infra-Estrutura (INFRACOOP), que congrega 6 associados e está situada no Estado do Rio Grande Sul, região Sul do Brasil; a Confederação Brasileira das 36 Cooperativas de Infra-Estrutura (CONBRAC), composta por 20 associados e situada no Distrito Federal, região Centro-Oeste do Brasil ( Figura 3). Figura 3 – Estrutura do Cooperativismo Brasileiro de Infra-Estrutura Cooperativas Singulares Federações Estaduais Confederação (CONBRAC) Confederação (INFRACOOP) Constatou-se pouca alteração no número de cooperativas de infra-estrutura ao longo da década de 90, registrando-se apenas uma incipiente redução do número de cooperativas (cerca de 4%). Enquanto em 1990 havia 195 cooperativas de infra-estrutura, correspondendo a 5,5% do total de cooperativas no Brasil, no ano 2001 havia 187 cooperativas, equivalentes a 2,7% do total de cooperativas brasileiras. Já no ano de 2002 observou-se uma ligeira tendência de elevação no número de cooperativas (Gráfico 20). Gráfico 20 – Evolução do Número de Cooperativas de Infra-Estrutura no Brasil entre 1990 e 2002 215 210 205 200 195 190 185 180 175 170 206 209 202 195 1990 194 1991 Fonte: OCB, 2002 1992 1993 191 1994 206 194 193 187 1995 1996 1997 1998 184 1999 188 187 2000 2001 2002* * dados de junho de 2002 Com relação aos associados, as cooperativas de infra-estrutura agregam 576.299 de sócios, representando 12,9% do total de cooperados do Brasil. Estas cooperativas são responsáveis pela geração de 5.431 postos de trabalho, ou seja, 3,1% dos postos de trabalho gerados pelas cooperativas brasileiras (OCB, 2001). Apesar da existência de um grande número de produtores rurais situados em extensas áreas carecendo de eletrificação rural, especialmente no Centro-Oeste e Norte do país, é ainda reduzido o número de cooperativas nessa área. Observa-se uma maior concentração destas cooperativas na região Nordeste e Sudeste do Brasil, cada qual concentrando 27% do total das cooperativas de eletrificação (Gráfico 21). 37 Gráfico 21 – Distribuição das cooperativas de consumo nas regiões do Brasil em 2001 19,6% Norte 6,5% 27,7% Nordeste Centro-Oeste Sudeste 27,2% 19,0% Sul Fonte: OCB, 2002 4.4.7 O cooperativismo de saúde Na década de 60, o sistema previdenciário brasileiro foi unificado, aprofundando uma crise nas condições de atendimento público de saúde e ampliando o espaço para atuação das empresas de medicina de grupo.Este fato levou médicos da cidade de Santos, Estado de São Paulo, a constituir a primeira cooperativa médica do Brasil, a União dos Médicos-UNIMED, em 1967 (UNIMED, 2003). As cooperativas de trabalho médico surgem na década de 70, com o intuito de alcançar maior competitividade e através de ações integradas constituíram as primeiras cooperativas de segundo grau - as Federações. Em 1975 fundaram uma Confederação Nacional das Cooperativas Médicas – UNIMED, fato que possibilitou o desenvolvimento de estratégias em âmbito nacional (UNIMED, 2003). Atraídos pelo êxito destas cooperativas, outros profissionais da área de saúde, a exemplo dos odontólogos, psicólogos e enfermeiros, passaram a constituir cooperativas singulares, federações e confederações. Este conjunto de cooperativas de profissionais de saúde que eram agrupados no ramo de trabalho, em virtude da sua crescente importância sócio-econômica, passou em 1996 a ser agrupado sob o ramo de cooperativas de saúde (OCB, 2003). Desta maneira, surge o ramo de cooperativas de saúde no Brasil, congregando cooperativas de médicos, de odontólogos, de psicólogos e de usuários. As cooperativas singulares passam a se agrupar em federações estaduais, sendo que estas federações vão se agrupar em três confederações: a UNIMED Brasil que reúne as federações e cooperativas UNIMEDs de 24 estados brasileiros; a UNIMED Mercosul que reúne as federações e cooperativas das UNIMEDs dos três estados da região Sudeste; e a UNIDONTO que reúne as federações e cooperativas de odontólogos de todo país (Figura 4). 38 Figura 4 - Estrutura do Cooperativismo Brasileiro de Saúde Cooperativas de Saúde Médicos (UNIMED) Odontólogos Psicólogos Usuários Federações Estaduais Confederação UNIMED Brasil Confederação UNIMED Mercosul Confederação UNIDONTO Em 1996, no ano da estruturação do ramo de saúde, existiam 486 cooperativas de saúde, as quais representavam 10,8% do total de cooperativas no Brasil. Já em 2001, esse número estava em 863, as quais representavam 12,8% do total de cooperativas existentes no Brasil. Assim, em pouco mais de 5 anos, o ramo de saúde apresentou um crescimento de 84% no número de cooperativas. Dados preliminares do ano 2002 vêm confirmar essa tendência de crescimento (Gráfico 22). Atualmente, as cooperativas médicas representam 65,5% das cooperativas de saúde no Brasil, dos odontólogos e psicólogos respondem por 30,5% do total e de usuários agrupam apenas 4% das cooperativas deste ramo (Gráfico 23). Gráfico 22 – Evolução do Número de Cooperativas de Saúde no Brasil - 1996 e 2002 1000 698 800 600 468 530 863 898 2001 2002* 757 585 400 200 1996 Fonte: OCB, 2002 1997 1998 1999 2000 * dados de junho de 2002 As cooperativas de usuários, estão subdivididas em dois tipos: as integrantes do Sistema UNIMED, caracterizada por agrupar médicos de diversas especialidades, e aquelas cooperativas de médicos especialistas que possuem médicos de uma mesma especialidade no seu quadro, a exemplo de cooperativas de anestesistas e cooperativas de cardiologistas. Assim, o sistema UNIMED totaliza 364 cooperativas, correspondendo a 40,5 % do total das cooperativas do ramo de saúde (OCB, 2002; UNIMED, 2002b). Já as cooperativas de especialistas médicos, representam 25% do total das cooperativas deste ramo (Gráfico 23). 39 Gráfico 23 – Freqüência do tipo de cooperativas de saúde no Brasil em 2001 Coop Usuários 30,5% 40,5% 65,5% Coop Odont/Psic Coop Médicos 24,9% 4,0% UNIMED Outros Médicos Fonte: OCB, 2002; UNIMED, 2002b No que diz respeito ao número de cooperados, as cooperativas de saúde agrupam um total de 327.191 cooperados, sendo que, deste total, aproximadamente 28% são associados às cooperativas do sistema UNIMED (OCB, 2002; UNIMED, 2002b). Os associados das cooperativas de saúde representam 6,84% do total de associados nas cooperativas do Brasil (OCB, 2002). Contudo, em alguns Estados do Brasil, há de se ressaltar a existência de duplicidade de participação de profissionais da área médica que participam ao mesmo tempo de uma cooperativa de especialidade médica e das UNIMEDs. Este fato se torna um obstáculo para obtenção de números exatos de cooperados do ramo de saúde e de suas subdivisões. No que se refere ao número de empregos gerados, as cooperativas do ramo de saúde é responsável por um total de 21.426 postos de trabalho, ou seja, 12% do total de empregos gerados pelas cooperativas brasileiras, sendo, portanto o segundo ramo de cooperativas que mais emprega no Brasil (OCB,2002). Neste aspecto, em virtude das UNIMEDs disporem de empresas e hospitais próprios, passam a responder por 74,5% da geração de postos de trabalho do setor de saúde, representando mais de 16 mil empregos (UNIMED, 2002c). Ante a amplitude das ações das UNIMEDs, convém destacar que estas cooperativas desenvolveram um sistema de intercooperação altamente estruturado, que resultou num complexo empresarial cooperativo, possibilitando que estas cooperativas alcançassem um notável desempenho no mercado brasileiro de assistência médica privada (Figura 5). Finalmente, hoje, as UNIMEDs, detêm 25% da participação de mercado nacional dos planos de saúde e possuindo 11 milhões de usuários resultante de um conjunto de estratégias de atuação e de intercooperação. Atualmente, seus usuários dispõem de uma rede de 63 hospitais próprios e 3.500 hospitais credenciados, onde são realizadas 42 milhões de consultas anuais, 1,2 milhões de internamentos por ano e 75 milhões de exames complementares anuais (UNIMED, 2002c). Embora as UNIMEDs estejam presentes em 80% do território brasileiro atingindo aproximadamente 4.000 municípios, existe uma maior concentração das UNIMEDs nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil (UNIMED, 2002b). 40 Na região Sudeste, estão concentradas 42% das cooperativas médicas, com destaque para os Estado de Minas Gerais e São Paulo, enquanto que na região Nordeste estão concentradas 25% das cooperativas de saúde (Gráfico 24). Figura 5 – Estrutura do Complexo Cooperativo da UNIMED Brasil Cooperativas de Trabalho Médico UNIMED (Singulares e Federações) Cooperativa de Usuários USIMED Cooperativa de Crédito UNICRED UNIMED Brasil Fundação UNIMED Empresas UNIMED Universidade UNIMED Virtual Universidade UNIMED UNIMED Adm. E Serviços Central Nacional UNIMED UNIMED Tecnologia UNIMED Seguradora Transporte Aeromédico UNIMED Participações UNIMED Corretora Fonte: UNIMED, 2002,c Gráfico 24 – Distribuição das cooperativas do setor médico nas regiões do Brasil em 2001 17,9% 6,1% 25,8% Norte Nordeste Centro-Oeste 40,6% 9,6% Sudeste Sul Fonte: OCB, 2002 41 42 4.4.8 Cooperativismo de trabalho A partir da década de 70 o setor de serviços começa a se destacar no cooperativismo brasileiro e passa a ter uma crescente participação no PIB. Como neste ramo estão agrupados diversos profissionais, das mais diferentes áreas de atividade, tornou-se necessário segmenta-los por grupos específicos de trabalho, a exemplo dos trabalhadores da área de saúde e de transporte, com vista a possibilitar o desenvolvimento de estratégias e políticas específicas para cada grupo de trabalho (OCB, 2001 e 2002). Assim, o ramo de cooperativas de trabalho passou a ser estruturado com base em três grandes grupos: o primeiro grupo foi o dos profissionais que trabalhavam com artesanato (1,8% do total das cooperativas); o segundo composto por profissionais das artes, educação e cultura (professores e instrutores técnicos) - 4% do total das cooperativas, e o terceiro composto por uma diversidade de profissionais dos mais diferentes níveis de escolaridade desenvolvendo serviços diversos (94,2 % do total). Atualmente, estas cooperativas estão agrupadas em Federações e uma Confederação (Figura 6). Figura 6 - Estrutura do Cooperativismo Brasileiro de Trabalho Cooperativas de Trabalho Artesanato Cultural Diversos Federações Estaduais Confederação Brasileira das Cooperativas de Trabalho COOTRABALHO Apesar do processo de desagregação de novos ramos do cooperativismo a partir do ramo trabalho, registrou-se um notável aumento das cooperativas de trabalho no Brasil. Entre 1990 e 2001 ele apresentou um crescimento de 280%, passando de 629 cooperativas em 1990 para 2391 cooperativas de trabalho em 2001 (Gráfico 25). Comparativamente, em 1990 as cooperativas de trabalho representavam 17,7% do total de cooperativas do Brasil e, em 2001, esta participação já tinha alcançado 34,4% do total de cooperativas (OCB, 2002). A mais, apesar de se registra um declínio no número de cooperativas em 1996 e em 2002, isto não representa uma quebra na tendência de crescimento. O que realmente ocorreu foi uma desvinculação das cooperativas de saúde e transporte do ramo trabalho para fortalecerem seu próprio ramo. 43 Um outro fato que pode ter uma relação com o crescimento do número de cooperativas durante a década de 90, esta relacionado com a elevação da taxa de desemprego e a aceleração do processo de terceirização que impeliram os trabalhadores a buscar novas formas de organização. Gráfico 25 – Evolução do Número de Cooperativas de Trabalho no Brasil-1990 a 2002 2600 2400 2200 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 2391 2100 1661 1661 1999 2000 1334 629 1990 531 618 705 1991 1992 1993 Fonte: OCB, 2002 825 1994 1025 986 699 1995 1996 1997 1998 2001 2002* * dados de junho de 2002 Embora o ramo de trabalho seja o que possui um maior número de cooperativas no Brasil, ele fica muito atrás quando se tratar de número de associados. Em número de cooperados o ramo trabalho ocupa o sexto lugar e possui somente 322.753 associados, ou seja, 6,7% do total de cooperados do Brasil (OCB, 2001). No entanto, quando aprofundamos a analisa sobre o quantitativo de associados nas cooperativas de trabalho podemos verifica-se que 48,1% das cooperativas possuem entre 20 e 40 associados, indicando, portanto que o quadro social da maioria destas organizações é bastante reduzido (OCB, 2001). No que diz respeito à distribuição geográfica, denota-se que as regiões de maior dinamismo econômico, como a Sul e a Sudeste, são as duas áreas onde estão concentradas quase 2/3 das cooperativas de trabalho brasileira. Na região Sudeste, estão situadas 49% das Cooperativas de Trabalho, com destaque para o Estado de São Paulo, enquanto que na região Sul encontram-se 20% das cooperativas de trabalho (Gráfico 26). Gráfico 26 – Distribuição das cooperativas do ramo de trabalho nas regiões do Brasil em 2001 19,7% Norte 2,9% 26,3% Nordeste Centro-Oeste 1,6% 49,5% Sudeste Sul Fonte: OCB, 2002 44 4.4.9 Outros ramos do cooperativismo No final da década de 90, com o avanço das discussões em torno da economia solidária, terceiro setor e a problemática de inserção dos excluídos no mercado de trabalho, começam a surgir novos ramos de cooperativas que começam a ocupar um espaço de destaque tanto no mercado como no movimento cooperativista. 4.4.9.1 Cooperativa Especial Esta categoria de cooperativas tem por objetivo atender pessoas em situação de desvantagem social a partir de uma perspectiva produtiva, a exemplo dos deficientes físicos, dependentes químicos e egressos do sistema penitenciário. Elas ainda desenvolvem serviços sócio-sanitários e educativos, e pode engajar no seu quadro social mais de uma categoria de sócio para prestar serviço gratuito – sócio voluntário. 4.4.9.2 Cooperativa de Turismo e de Transporte Surgem a partir de 2002, e estes novos ramos do cooperativismo passam a se constituir em mais uma nova alternativa econômica do cooperativismo brasileiro: As cooperativas de turismo surgem a partir de um mercado em franca expansão e como resultado de políticas governamentais para a atividade turística de hospedagem, entretenimento e lazer. Em relação às cooperativas de transporte se originaram, sobretudo nos grandes centros urbanos, em parte devido ao desemprego estrutural causado pela conjuntura econômica nacional, bem como pela fragilidade dos serviços de transporte coletivo das cidades brasileiras. 45 5. A educação cooperativa: processos e inovações Pode-se admitir que a política nacional para a educação e formação cooperativa nas últimas décadas não tem sido satisfatória. Apesar disso, constam-se alguns esforços na construção de uma nova política, sobretudo alavancados pelas instituições de ensino formal, pelas organizações não governamentais de apoio ao cooperativismo e por alguns órgãos fomentadores de pesquisa. Neste contexto, verificou-se que o processo de estruturação do modelo de educação cooperativa no Brasil abrange seis níveis educativos: a) Educação cooperativa na escola de ensino básico e fundamental - em muitos estados brasileiros tem contemplado na grade curricular das escolas públicas a disciplina e a prática cooperativista com seus alunos. Neste aspecto, merecem destaque as cooperativas instaladas nas escolas agrotécnicas por desenvolverem atividades ligadas ao setor rural. b) Educação cooperativa nos cursos de graduação - É no ensino superior que a educação cooperativa tem demonstrando grandes avanços, tendo em vista que muitas universidades brasileiras têm adotado o cooperativismo como disciplina transversal. Constata-se também um crescimento de interesse na área de pesquisa e extensão universitária, envolvendo professores e alunos. Assim, entre as universidades brasileiras que tem atividades voltadas para o cooperativismo, podemos destacar aquelas que fazem parte da UNIRCOOP.10 Podemos ainda ressaltar outras instituições de ensino superior situadas no Estado do Ceará, Paraíba e Minas Gerais, todas com programas que contemplam o cooperativismo nas suas atividades educacionais. c) Curso de pós-graduação em cooperativismo – Esta iniciativa tem como objetivo a formação de especialistas em cooperativismo. Neste contexto, se inserem os programas de algumas universidades brasileiras como a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na UNISINOS e na Universidade Federal do Paraná. d) Cursos de educação continuada – Estes cursos de pequena duração têm sido empreendidos por várias organizações governamentais e não governamentais no que podemos destacar como mais atuantes o DENACOOP – Departamento nacional de cooperativismo, organismo ligado ao Ministério da Agricultura, as universidades através de seus programas de extensão universitária, o SEBRAE - Serviço de apoio a micro e pequena empresa e o SESCOOP - Serviço de educação cooperativa. Este último foi fruto de uma reivindicação do setor cooperativo junto ao governo federal com o objetivo de organizar a 10 Estas universidades são: Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), situada na Região Nordeste do Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), situadas na Região Sudeste, e as Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Vale dos Sinos (UNISINOS), ambas situada na Região Sul do Brasil. 46 execução de uma política de formação profissional cooperativista em todo o território nacional. e) Rede de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas (Rede de ITCPs) – Surgidas a partir da década de 90 nas universidades federais brasileiras é resultante de iniciativas da sociedade brasileira para a formação de novos empreendimentos cooperativos.As incubadoras atuam numa perspectiva de empreendedorismo, desenvolvimento local e empoderamento. Estas incubadoras apóiam empreendimentos populares autogestionários, particularmente as cooperativas denominadas populares, que são compostas por grupos de pessoas que vivenciam uma situação de desemprego, trabalho informal e oriundas de comunidades de baixa renda e de exclusão social. f) Mestrados e Doutorados - No meio acadêmico tem sido crescente o interesse pelo cooperativismo, fato denotado pelo aumento do número de teses de doutorado e dissertações de mestrado. Na década de 90 foram realizados 297 trabalhos sobre o tema cooperativismo nos mestrados e doutorados das universidades públicas e privadas do Brasil. Enquanto que, em 1990, ocorreram apenas 5 trabalhos sobre cooperativismo nos mestrados e 1 no doutorado, em 2001, foram apresentados 43 trabalhos nos mestrados e 9 nos doutorados (Tabela 3). Entre as pesquisas já realizadas, o ramo agropecuário destaca-se como o mais estudado no meio acadêmico. Assim, entre 1990 e 2001, foram desenvolvidas 32 teses de doutorado e 117 dissertações de mestrado (Tabelas 4 e 5). Mais recentemente se observa um interesse pelo cooperativismo de trabalho, de produção e de saúde, tanto pelos cursos de doutorado como pelos cursos de mestrado no que pode ser visualizado como resposta do meio acadêmico às mudanças ocorridas no movimento cooperativo nacional (Tabela 4 e 5). Tabela 3 - Evolução do número de teses e dissertações no Brasil sobre cooperativas Ano M D Total 2001 2000 1999 1998 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 Fonte: CAPES, 2002 43 9 52 36 13 49 29 7 36 27 9 36 12 1 13 16 2 18 11 0 11 15 3 18 14 1 15 19 2 21 10 0 10 12 0 12 5 1 6 47 Tabela 4 - Evolução do número de teses de doutorado no Brasil sobre cooperativas, segundo ramos do cooperativismo Total 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 9 13 7 9 1 2 3 1 2 Agropecuária 4 9 6 7 1 2 Saúde 1 Educação Produção 2 1 2 InfraTrabalho Crédito Outros Estrutura 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 Fonte: CAPES, 2002 Tabela 5 - Evolução do número de dissertações de mestrado no Brasil sobre cooperativas, segundo ramos do cooperativismo 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 Total Agropec 43 16 36 14 29 11 27 11 12 4 16 9 11 9 15 7 14 8 19 14 10 6 12 8 Fonte: CAPES, 2002 Saúde 3 5 3 3 Educa 1 1 2 2 1 1 1 2 3 Produ 3 Inf.Estr 1 1 1 3 1 1 Trab 11 6 6 4 2 Cred 2 1 1 1 Outros 7 8 5 5 2 4 1 2 2 2 3 4 2 2 1 2 1 1 48 6. Tendências e desafios do cooperativismo brasileiro Os dados da presente pesquisa, "Panorama do Cooperativismo Brasileiro: história, cenários e tendências", indicam que o "ser cooperativista" traduz não apenas um critério meramente econômico, mas vem junto com um "código" apreendido continuamente na prática cotidiana e que se reproduz em efeitos culturais presentes nas formas de ajuda mútua, do associativismo cidadão e da busca de autonomia na promoção do desenvolvimento local. Esta percepção começa na constatação do bom senso e se objetiva com mais ênfase na "realidade" das especificidades regionais, remetendo posteriormente a uma compreensão do associativismo cooperativismo como alternativa possível para as pessoas conseguirem alavancar processos de geração de renda e trabalho através de alianças e parcerias. A pesquisa sinalizou que o desmanche da sociedade industrial, principalmente nas regiões rurais/interior, independe da localização da região. A fragilidade dos mercados de trabalho, serviços de saúde e educação são dados concretos que remetem a necessidade de re-pensar a lógica de desenvolvimento que se fez vigente no País até o presente. A análise das informações sobre os diferentes ramos do cooperativismo demonstra e confirma que está nas comunidades a possibilidade de construção de estratégias que sejam, ao mesmo tempo, disputa hegemônica de um fazer econômico e de resistência propositiva; disputa hegemônica no sentido superar os enfoques reducionistas e assistencialistas e de resistência propositiva pela articulação de ações coletivas e intermunicipais. A pesquisa, de certo modo, reiterou que, nas diferentes regiões, o cooperativismo é entendido como um instrumento que assegura os direitos básicos do cidadão; esta perspectiva positiva parece contribuir para uma concepção de ação cidadã bilateral no qual direito do cidadão e dever do estado na prestação direta de serviços e/ou bens se apresentam de forma complementar. Esta mudança de perspectiva promove: a) a revitalização dos conceitos e da prática cooperativa a partir de um balanço em relação às práticas do passado; b) o crescimento de práticas cooperativas e a proliferação de organizações de economia solidária para fazer frente ao desemprego estrutural; c) práticas cooperativas inovadoras cuja performance empresarial pode dar conta e fazer frente ao caráter competitivo proposto pela globalização; d) trabalho; práticas autogestionárias, diferenciadas e complementares nas relações de e) a ampliação das discussões em torno dos conceitos de desenvolvimento local e de idéia de economia social e terceiro setor. Assim, a literatura brasileira atual desliga-se de uma tendência de denúncia do insucesso de um modelo de implementação de cooperativismo e revela as preocupações em torno dos desafios impostos pela globalização, destacando a necessidade de adoção de modernização das práticas, da adoção de novos estilos de governança e de uma maior 49 participação dos associados na dinâmica da cooperativa para permitir um inserção mais efetiva das cooperativas nos mercados globais. Todos esses fatores tendem a oxigenar as discussões sobre o cooperativismo apontando os seus limites na atualidade enquanto projeto e prática de mudança social. A presente pesquisa, ao anexar uma visão do cooperativismo regional e o diagnóstico setorial, qualificou a "convergência" existente entre as diferentes regiões, podendo então ser traduzidos em olhares e desafios. No concernente aos olhares, aprouve objetivar os seguintes pontos : 1°. A participação em um projeto de sociedade se evidencia no crescimento de determinados ramos do cooperativismo. O atendimento de determinadas necessidades de trabalho (como emprego e como processos de geração de renda), de educação e saúde sinalizam que o “estado do bem-estar” perseguido no Brasil ficou aquém do desejado nas diferentes regiões. O crescimento expressivo das cooperativas de trabalho, por exemplo, certamente pode ser forte reflexo da diminuição da participação do Estado nas áreas tradicionais. 2°. O crescimento de determinados segmentos ou ramos do cooperativismo indica que a exclusão social precisa ser entendida como um processo que cada vez mais atinge a um número não negligenciável de pesssoas presas a engrenagem da pobreza em meio a uma crescente abundância. Nesta perspectiva questiona-se se as cooperativas têm abrigado ou não os excluídos. Ao se ter presente que os empreendimentos associativos e cooperativistas acontecem cada vez mais nos espaços da chamada economia solidária, se observará que o crescimento esta acontecendo exatamente por causa do "lumpen" (categoria que os primeiros cooperativistas Proudhon, Sebastian Fauvre, queriam incorporar). Esta relação cooperativismo com exclusão denota que no Brasil o paradoxo carência/abundância existe e que nele o cooperativismo aparece como uma das alternativas para dar conta das carências. 3°) O refinamento das dicotomias exploradores x explorados ou opressores x oprimidos nos espaços cooperativistas, agora são percebidas a partir de uma nova cisão que opõe incluídos x excluídos. A base para a construção de um sistema cooperativo, no longo prazo, deve estar fundado na justiça social, na solidariedade, como centro da economia voltada para o ser humano e não apenas para o mercado. Nas cooperativas a democracia e a inclusão social tem que ser a base para a gestão econômica. 4°) As cooperativas são detentoras de uma “lucidez” e pertinência, visto que suas práticas apontaram para a necessidade de realizar parcerias como condição para ampliar o conhecimento e a capacidade de ação do grupo. O crescimento de determinados ramos cooperativos apontam para uma efetiva mobilização e participação das pessoas em organizações do tipo associativo e cooperativo. Assim como a institucionalização desta participação, cabe lembrar a importância do crescente número de cooperativas e a integração econômica no sentido vertical (federações, confederações, etc). Essa tendência forte vem sendo gerada pelo sistema e pode ser considerada um base para o fortalecimento do sistema. 50 5°. A Co-responsabilidade cidadã é resultado de um processo social que vai além da idéia de representatividade do sujeito perante o Estado. A participação cooperativista evidencia diferenças, singularidades que concorrem para a afirmação do sujeito perante outros sujeitos 6°. A busca de melhores condições de vida para as regiões, apresentadas no histórico do cooperativismo brasileiro sugere uma nova prática social - de cidadania emancipada - que implica em reconhecer que nos processos de inovação política a solidariedade é o fator fundante que concorre para neutralizar a exclusão social. À luz do exposto, pensar o desenvolvimento do cooperativismo no Brasil implica em desafios, a serem encarados pelas organizações cooperativas, bem como pelo movimento cooperativista nacional. Nesse sentido, pensar o desenvolvimento sustentável, é um desafio do cooperativismo brasileiro, haja vista que atualmente um visto que nossos modelos de desenvolvimento estão baseados no uso pródigo de recursos não-renováveis que ameaçam o bem estar das gerações futuras. Contribuir para atenuação da pobreza e exclusão social, vem a ser um outro desafio do sistema cooperativo nas diferentes regiões que compõem o Brasil. Não obstante, a busca de uma maior integração cooperativa continental representa uma dinâmica a ser perseguida com maior afinco. Por fim, para o núcleo da UNIRCOOP no Brasil, construir este cenário sobre o cooperativismo representou mais do que um mero exercício baseado em critérios econômicos ou em categorias sociológicas, mas a possibilidade de revisão de conceitos e idéias, vislumbrando uma nova compreensão do cooperativismo a partir dos seus limites e de suas possibilidades concretas. A discussão do "Panorama do Cooperativismo Brasileiro" passou a ser tarefa necessária para propor uma nova pedagogia política que busque alternativas de superação do desequilíbrio sociopolítico nas diferentes regiões do País, mesmo porque no repensar o sistema cooperativista se objetiva o efetivo respeito ao pluralismo, a tolerância e ao diálogo, valores chaves e fundantes da proposta associativa e cooperativista. 51 ANEXO Ranking das 25 maiores cooperativas ligadas ao agronegócio brasileiro em 2001, tomando o exercício contábil 2000 Class. Nome UF Ativo Total Patrimônio Rec. Op. Líquido Líquida Lucro Líquido (em R$ mil) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Coop. de Prods. de Cana, Açúcar e Álcool do Est. de São Paulo 2 Ltda. - Copersucar SP 2.727.803 269.434 2.704.919 613.752 Coop. Agropecuária Mourãoense Ltda. – Coamo Coop. Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda. – Itambé PR 759.225 385.755 1.103.089 40.046 MG 372.338 165.914 627.777 -8.237 Coop. Central Oeste Catarinense Ltda. - Coopercentral SC 271.990 126.507 717.408 3.473 Coop. Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda. - Cooxupé MG 291.223 81.782 527.901 11.749 Coop. Central de Laticínios do Estado de São Paulo - CCL-SP SP 297.993 126.413 380.952 89.898 Coop. dos Agricultores da Região de Orlândia Ltda. - Carol SP Coop. de Cafeicultores e Agropecuaristas de São Paulo Ltda. – Coopercitrus SP 358.862 93.726 350.592 -1.388 362.696 139.957 282.481 4.118 Coop. Agrícola Mista Vale Piquiri Ltda. - Coopervale PR 242.027 77.960 374.695 5.510 Coop. Tritícola Erechim Ltda. – Cotrel RS 263.897 161.514 316.765 6.575 Coop. Agrária Mista Entre Rios Ltda. - Agrária PR 282.373 16.334 285.963 -549 Coop. Agropecuária Cascavel Ltda. - Coopavel PR Coop. Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. – Comigo GO 207.135 83.691 317.005 9.900 209.826 92.049 295.745 1.094 Coop. Agrícola Consolata Ltda. – Copacol 128.455 51.447 327.504 3.526 PR Coop. Agropecuária Três Fronteiras Ltda. - Cotrefal PR 197.867 86.719 245.727 2.431 Coop. Agro-Pecuária Holambra Ltda. SP 261.533 52.339 191.752 140 Coop. Agro-Pecuária Batavo Ltda. PR 151.344 50.312 219.703 1.914 Coop. Regional Alfa Ltda. – Cooperalfa SC 95.903 49.428 262.191 2.763 Coop. Central Agropecuária Sudoeste - Sudcoop PR 99.879 34.765 241.236 978 Coop. Agropecuária Rolândia Ltda. - Corol PR 101.943 46.739 191.915 1.253 Coop. Agropecuária Castrolanda Ltda. Coop. Regl. dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso Ltda. – Cooparaíso PR 125.639 44.353 179.833 4.133 MG 110.214 22.984 136.632 389 PR 80.056 22.835 203.084 3.042 RS 86.781 51.924 178.782 8.458 RS 81.178 63.900 146.789 6.470 22 23 Coop. Agropecuária de Produção Integrada do Paraná Ltda. 24 Coop. Trtícola Mista Alto Jacuí Ltda. - Cotrijal 1 25 Coop. Trtícola Panambi Ltda. – Cotripal Fonte: FGV, 2002 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, Tânia Bacelar. Herança de diferenciação e futuro de fragmentação. 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