A Prática da Responsabilidade Social pelas Cooperativas

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A Prática da Responsabilidade Social pelas Cooperativas
A Prática da Responsabilidade Social pelas Cooperativas Paranaenses
Amanda Pegorini Gimenes1
Carla Zago de Caccia2
Fernanda Maria Zarelli3
Fátima Maria Pegorini Gimenes4
Resumo: Neste estudo o enfoque dado tem em vista os princípios que norteiam as
cooperativas no Estado do Paraná atribuindo à responsabilidade social dessas
empresas o papel de ajudar a suprir, na sociedade na qual se inserem, as
necessidades básicas para o desenvolvimento humano com qualidade de vida. Ao
interagir no seu entorno as cooperativas têm o poder de beneficiar não somente
seus funcionários e associados, mas também suas famílias e comunidade como um
todo. Tendo a ética como princípio balizador das ações, as cooperativas atuam onde
o poder público deixa lacunas tais como educação, saúde, lazer, proteção ambiental
e estímulo à produtividade com responsabilidade. Empresas cuja responsabilidade
social esteja voltada ao bem comum tornam-se modelos de organizações bem
sucedidas.
Palavras-chave: Cooperativismo; responsabilidade social; ética empresarial.
Abstract: In this study the given focus has in sight the principles that guide the
cooperatives in the State of the Paraná attributing to the social responsibility of these
companies the paper to help to supply, in the society in which if they insert, the basic
necessities for the human development with quality of life. When interacting in it’s
around the cooperatives have the power to not only benefit to its employees and
associates, but also its families and the community as a whole. Having the ethics as
principle maker of the actions, the cooperatives act where the public power leaves
gaps such as education, health, leisure, ambient protection and stimulaton to the
productivity with responsibility. Companies whose social responsibility is come back
to the common good become models of successful organizations.
Key-Words: cooperativismo - social responsibility - ethical enterprise
Área I – Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente Paranaense
1
Universidade Paranaense (UNIPAR). Endereço eletrônico: [email protected].
Universidade Paranaense (UNIPAR). Endereço eletrônico: [email protected].
3
Universidade Paranaense (UNIPAR). Endereço eletrônico: [email protected].
4
Universidade Paranaense (UNIPAR). Endereço eletrônico: [email protected].
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1 – Introdução
O cooperativismo foi idealizado no ano de 1844, quando 28 tecelões do
bairro de Rochdale, em Manchester na Inglaterra, criaram uma associação que,
mais tarde, seria chamada de Cooperativa.
Conforme definição da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras)
cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente,
para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns,
por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida.
Embora o conceito de responsabilidade social seja relativamente novo para
a maioria das empresas, com surgimento apenas na década de 80 com a introdução
da globalização, para as cooperativas, este conceito advém dos próprios princípios e
valores do cooperativismo, que fazem parte da filosofia de atuação das cooperativas
que remonta ao ano de 1844.
Os princípios cooperativistas são as linhas orientadoras por meio das quais
as cooperativas levam os seus valores à prática. Preconiza o sétimo e último
princípio, a responsabilidade social cooperativa nos seguintes termos: "as
cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades
através de políticas aprovadas pelos membros".
Atualmente as organizações realizam enormes investimentos para se
consolidarem como empresas socialmente responsáveis e não medem esforços ao
incluírem a responsabilidade corporativa como um elemento presente em suas
estratégias empresariais. Oliveira (2002, p. 5) explica que: “O conceito de
Responsabilidade Social é amplo, referindo-se à ética como princípio balizador das
ações e relações com todos os públicos com os quais a empresa interage:
acionistas, empregados, consumidores, rede de fornecedores, meio ambiente,
governo, mercado e comunidade”.
Cumpre observar, preliminarmente, que as cooperativas paranaenses em
observância à legislação vigente e aos princípios cooperativistas desenvolvem
práticas sustentáveis. Neste estudo, pretende-se delinear a responsabilidade social
empresarial e cooperativa. Em “stricto sensu”, a responsabilidade social nas
cooperativas paranaenses dando-se ênfase à qualidade de vida no trabalho e
preservação ambiental.
Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se análise bibliográfica.
2
2 – A responsabilidade social no Brasil e sua definição
A partir da década de 80, com a globalização, aumentaram a insegurança, a
concentração de renda e a competitividade no mercado de trabalho. As políticas
econômicas liberais tendem a reduzir o poder do Estado, que deixa de ter o
monopólio das decisões. Todavia, são de extrema importância políticas públicas de
proteção, como o seguro-desemprego, controle da jornada de trabalho, proteção
ambiental, acesso à educação e à saúde.
No Brasil, o governo não tem cumprido a contento a sua obrigação de
garantir o bem-estar social. Existe uma grande distância entre o crescimento
econômico e a situação social. Existe uma grande distância entre o desenvolvimento
econômico e a situação social. De acordo com Soares e Spitz (2006) dados
divulgados pelo FMI – Fundo Monetário Internacional indicam que o PIB – Produto
Interno Bruto brasileiro alcançou US$ 796 bilhões, em 2005, fato que garante ao
país a 11ª posição mundial em um ranking de 155 países, mas se considerado o PIB
per capita a posição do Brasil, cai para a 72ª no ranking mundial. Ainda conforme
Pereira (2005) tomando-se apenas os dados do IDH – Índice de Desenvolvimento
Humano, em 2005, verifica- se que o Brasil encontra-se na 63ª colocação entre 177
países. A desigualdade social interna é contrastante.
Nesse contexto, para que se possa chegar à justiça social, surge uma
alternativa, a responsabilidade social empresarial. Percebe-se que o Estado é
incapaz de solucionar os sérios problemas existentes em um curto período de
tempo. Como as empresas não conseguem subsistirem sozinhas, isto é, elas estão
ligadas com o público interno e com a comunidade onde atuam, o único caminho
para a sobrevivência das organizações é através da responsabilidade social. Dessa
forma, o setor privado, através do exercício da responsabilidade social, passa a
tomar decisões e praticar ações visando superar os conflitos sociais que hoje
atingem a todos. O Estado deixa de ser o único propulsor do bem-estar coletivo e
passa a dividir essa responsabilidade com a iniciativa privada e com a sociedade
civil organizada.
Convém notar, outrossim, que nas duas últimas décadas, as empresas têm
exercido grande influência nos rumos da sociedade. Por isso, devem comprometerse na busca por uma sociedade mais justa e humanizada e desvincular-se de
decisões que causem conseqüências maléficas à coletividade, como a poluição do
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meio-ambiente, a negligência para com o consumidor, a ausência de condições
adequadas de trabalho e de equipamentos de segurança aos empregados.
Neste aspecto, afirma Souza (2006, p. A3), “a responsabilidade social pode
se traduzir em ações internas das empresas em relação a seus colaboradores, ou
extrapolar seus muros, atingindo a comunidade que a cerca ou numa perspectiva
mais ampla, atender a determinados segmentos da sociedade”.
Logo, a responsabilidade social, também chamada de cidadania corporativa,
é uma forma de atuar com ética na relação entre a empresa e os fornecedores,
clientes, funcionários, meio-ambiente, governo, comunidade e toda a sociedade
envolvida nessa relação. Para que isso ocorra, a empresa deve ouvir o interesse de
todas as partes, atendendo às suas demandas e não somente a dos proprietários ou
acionistas.
Em 1998, na Holanda, no Conselho Empresarial Mundial para o
Desenvolvimento
Sustentável
(WBCSD),
foi
aprimorado
o
conceito
de
responsabilidade social. Assim, Werlang (2006, p. 7, apud NETO & FROES, 1999),
explica que responsabilidade social é “o comprometimento permanente dos
empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento
econômico melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados
e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo”. Assim, são
consideradas
tanto
as
ações
internas
como
externas
e
o
conceito
de
responsabilidade social passa a ser um elemento de uma noção mais ampla que é o
desenvolvimento sustentável. Uma empresa cidadã respeita os direitos de todos e
recebe o crédito, a consideração e simpatia dos consumidores.
Responsabilidade social não é o mesmo que filantropia. Filantropia significa
caridade, humanitarismo e está voltada para a cooperação em situações individuais
de carência ou para ações sociais que lidam com entidades específicas.
As ações voluntárias podem ser de diversas formas, como treinamentos,
preparação de trabalhos específicos, obtenção de recursos para a execução de
projetos, prática de trabalhos auto-sustentáveis, participação em campanhas que
visem o atendimento de situações específicas. Através de atividades voluntárias, as
empresas têm a oportunidade de melhorar seu vínculo com a comunidade e também
de treinar os seus empregados, que desenvolvem habilidades além de aumentar a
sua motivação. Empresas como Wal Mart, Carrefour, IBM e muitas outras,
estimulam os funcionários através de folgas e premiações às instituições. Estima-se
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que um terço das empresas brasileiras se envolvem com projetos sociais e em
empresas que possuem mais de cem funcionários, o índice é de 40% (GARÇON,
2006).
As empresas passam, assim, a adotar um comportamento ético e político e
assumem um compromisso maior com a sociedade, ajudando na diminuição das
desigualdades, dando apoio a projetos sociais ou ambientais, tornando-se parceiras
e co-responsáveis pelo desenvolvimento social. Várias empresas têm desenvolvido
parcerias com o governo, concentrando-se principalmente na área da educação. Há
diversas formas de abrangência, como o estímulo através de prêmios às melhores
práticas, desenvolvimento de métodos de leitura e aprendizagem, treinamento de
professores e diretores, obtendo-se grandes melhorias na qualidade do ensino.
3 – A realização da responsabilidade social pelas empresas
A responsabilidade social realiza-se através de ações internas e externas.
As ações externas são todos os atos da empresa cujo intuito seja o de melhorar a
comunidade. Para que isso ocorra, o apoio dos funcionários é indispensável, pois
essas ações atingem diretamente o ambiente de trabalho. Através dessa prática,
observaram-se mudanças de comportamento benéficas dos empregados que se
tornaram mais engajados, cooperativos, motivados, comprometidos, sociáveis, além
da possibilidade de desenvolvimento de novos talentos e potenciais. Os funcionários
se sentem valorizados e realizados, repercutindo em um aumento da produtividade e
do lucro da empresa.
Já as ações internas de responsabilidade social abrangem programas
voltados para a qualificação dos funcionários, como treinamento e cursos externos,
além de programas de benefícios, como a assistência médica, odontológica e
alimentar e, até mesmo a participação nos resultados da empresa. Ao investir para
melhorar a qualidade de vida dos funcionários, dando-lhes atendimento com
qualidade superior, as empresas poupam um tempo precioso dispendido no
atendimento médico público e, consequentemente, aumenta a produtividade da
empresa. O funcionário é visto como pessoa, como profissional e como cidadão,
com a plenitude de seus direitos e deveres.
Antes as empresas estavam sujeitas apenas às obrigações legais, hoje a
obrigação é moral. Se uma obrigação legal é descumprida há uma sanção imposta
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pelo Estado, já em relação à obrigação moral, se os anseios da sociedade não são
atendidos há uma punição no mercado, com o decréscimo de vendas e da
reputação. A gestão da empresa deve dar importância tanto às obrigações legais
como as morais. “As empresas precisam entender quais são as expectativas e as
preocupações econômicas, sociais e ambientais que se relacionam com elas. Em
vez de atacar, a sociedade pode ajudar a empresa a resolver seus dilemas” (LYE,
2005, p.28).
Graças ao aumento do setor terciário, na quantidade de recursos financeiros
e também com sua profissionalização, as recentes técnicas de gestão dos negócios
passaram a ser aplicadas em conjunto com a área social. A sociedade cobra ações
efetivas das empresas. Ao adquirir o caráter de ser socialmente responsável diante
do público, a empresa atrai vantagem competitiva e um valor diferencial para a
marca, e a opinião pública conta com a efetivação de condutas éticas por parte das
organizações. Além do mais, a empresa que respeita os seus empregados promove
um ambiente de trabalho mais agradável, aumentando-lhes a motivação e as
habilidades. Com a melhoria de sua imagem, ocorre o crescimento das vendas e
torna-se mais acessível a aquisição de recursos de fundos de investimentos.
Diversas empresas e entidades apostam em programas de aprendizagem
para jovens carentes, sendo a tendência atual o aprendizado em tecnologia. De
acordo com Garçon (2006), os programas de aprendizagem envolviam profissões
que já estavam saturadas no mercado de trabalho. Na década de 90, no entanto,
houve uma grande mudança, as novas organizações não-governamentais e
fundações privadas passaram a investir no desenvolvimento pessoal das pessoas e
também em profissões mais atualizadas as quais o mercado pode absorver melhor.
Para implantar um projeto, a empresa deve constituir um comitê de
investimento social que irá orientar o planejamento da ação e determinar funções e
integrantes. O comitê deve possuir um conhecimento multidisciplinar, ser capacitado
para o negócio, saber ouvir as pessoas, compreender suas necessidades, bem
como ter bom senso. O segundo passo é fazer um levantamento interno para saber
a opinião dos funcionários sobre a iniciativa. É importante a empresa estabelecer um
foco de atuação, isto é: o tema, o alcance geográfico e a população beneficiada.
Deve também definir a estrutura do investimento e propiciar a formação de uma
pessoa jurídica (associação ou fundação). O próximo passo é determinar a maneira
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que irá atuar e verificar os recursos disponíveis. E, por fim, introduzir o programa de
aprendizagem que será monitorado pelo comitê.
As motivações primeiras de uma empresa ao iniciar um projeto de
responsabilidade social podem ser resultados financeiros e princípios éticos, mas há
uma outra forte causa que leva a empresa a adotar uma postura de socialmente
responsável, a sustentabilidade a longo prazo. Através da construção de uma
sociedade saudável, a empresa se sustenta e desenvolve-se, aumentando a sua
expectativa de vida e ampliando os lucros.
Só o governo e as organizações não-governamentais não fornecem apoio
suficiente para o desenvolvimento saudável da sociedade, que é a base das
empresas, e assim, não há como estas se prolongarem ao longo dos anos. Para que
isso aconteça as empresas devem atuar com responsabilidade social e, assim,
garantir a sua própria sustentabilidade ao longo do tempo.
Existem três níveis de responsabilidade social. O primeiro destina-se ao
desenvolvimento de uma atuação regular responsável, como por exemplo, garantir
aos empregados um ambiente de trabalho seguro demonstrando-lhes os valores da
empresa e seus objetivos.
O segundo nível destaca-se em evitar conseqüências negativas como a
poluição do meio ambiente, o esgotamento de recursos naturais não-renováveis. Já
no terceiro, a empresa realiza ações benéficas à comunidade, voltadas à educação,
nutrição, lazer e saúde.
A empresa que toma decisões envolvendo questões de longo prazo, como
por exemplo, evitar problemas ambientais tem uma participação social muito maior
em relação à empresa que possui um comportamento reativo, pagando multas por
desastres ambientais, indenização aos seus funcionários, etc. O comportamento
ativo envolve ações que buscam soluções aos problemas que afligem a sociedade
como ações voluntárias, programas educativos, ajuda emergencial após desastres e
participações em campanhas especiais.
4 – Responsabilidade Social e as Cooperativas
A responsabilidade social é inerente às ações desenvolvidas pelas
cooperativas, todo o cooperativismo destina totalmente sua atividade e capital para
esse propósito. Um exemplo são as cooperativas de reciclagem. Elas empregam
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500 mil catadores, aumentam o processamento de lixo reciclável e reduzem os
lixões poluidores. Conforme Balbi (2006), em 1990, o volume do material recuperado
era apenas 0,5%, sendo que hoje, esse percentual atinge 10%. Grandes
multinacionais como a Coca-Cola, Nestlé, Kraft Foods Brasil querem adotar o
modelo brasileiro em países como a Tailândia, China, Índia e Rússia. Com o projeto
Cempre, a Nestlé tem incentivado cinco cooperativas de catadores. No Rio de
Janeiro, uma das cooperativas com ganho visível é a RioCoop. Lá a legislação
estadual impõe que as empresas devem recolher 25% das embalagens lançadas no
mercado.
Os princípios cooperativistas: adesão livre, gestão democrática, distribuição
das sobras líquidas, taxa limitada de juros ao capital social, estabelecimento de um
fundo de assistência técnica, social e de educação para os sócios e a sociedade, e,
finalmente, cooperação entre as cooperativas demonstram claramente como as
cooperativas estão voltadas para o lado social.
Em
organização,
virtude
de
educação,
características
formação
e
específicas
informação,
das
seus
cooperativas,
integrantes
como
têm
a
oportunidade de agir de maneira mais racional e produtiva. Dessa maneira,
conseguem atingir suas metas, podem redistribuir parte da riqueza para os
cooperados e dão retorno à sociedade onde atuam.
Koslovski (2006, p. 03) afirma que “as ações de responsabilidade social das
cooperativas não são esporádicas e nem têm por objetivo o marketing para alcançar
maior credibilidade, mas fazem parte do seu DNA”.
Por ser uma associação que tem como um de seus princípios a
solidariedade, o comprometimento com indicadores sociais está relacionado à sua
própria natureza. Assim, as cooperativas reservam quinhão expressivo de seus
ganhos à educação, saúde, meio-ambiente, buscando enriquecer de forma social,
cultural e econômica a sociedade na qual se inserem.
“O
crescimento
cooperativismo.
Para
econômico
ocorrer
excludente
contraria
desenvolvimento
os
sustentável
princípios
é
do
preciso
comprometimento com uma visão responsável que busca o equilíbrio social e a
interação ética com a comunidade” (RICKEN, 2006, p. 11).
Apesar do progresso e dinamismo, o mercado apresenta-se centralizado e
desequilibrado, e a expectativa de associação de recursos através da cooperação e
gestão
compartilhadas,
mostra-se
como
uma
solução
aos
trabalhadores,
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empreendedores, poupadores e consumidores. A responsabilidade social é uma
solução moderna aos problemas econômicos e sociais que surgiram com a
globalização e oferece às cooperativas uma nova maneira de melhorar sua
responsabilidade em relação aos seus membros.
As ações de responsabilidade social se tornam visíveis ao serem
observadas às mudanças benéficas geradas na comunidade ou entre os
profissionais que fazem parte de uma cooperativa.
De acordo com a OCEPAR - Organização das Cooperativas do Paraná
(2006, p.11), o faturamento bruto do sistema cooperativista em 2005 fechou em R$
16,5 bilhões, o que equivale a 18% do PIB - Produto Interno Bruto - do Paraná,
sendo que as cooperativas destinam R$ 2,1 bilhões para o social, que corresponde
a 13% da receita líquida total ao ano.
Recentemente, no Fórum Futuro 10 Paraná, foram discutidas importantes
propostas, tais como: a profissionalização do serviço público, investimentos na
educação, recolhimento de resíduos sólidos urbanos, concessão de incentivos
fiscais para empresas que realizam ações de responsabilidade social e ambiental,
ampliação de investimentos no agronegócio.
Para obter tantos avanços e agregar renda aos cooperados, as
cooperativas sabem que devem investir nas pessoas. Para tanto, é necessário um
planejamento estratégico das cooperativas, que é feito pelo Sescoop. O Sescoop é
responsável pelo estímulo do sistema cooperativista, que compreende 228
cooperativas no Estado, com 407.312 cooperados e cerca de 2,1 milhões de
pessoas, conforme destaca a OCEPAR (2006, p.30).
No estado do Paraná, as cooperativas desenvolvem inúmeros projetos de
responsabilidade social. O Sicoob, por exemplo, proporciona à população de
Maringá uma biblioteca digital e a Cocamar, com o apoio da Unimed e do Sicredi,
realiza programas assistenciais como a arrecadação de alimentos, brinquedos e
fornece cursos à comunidade.
A cooperativa Agrária (Cocamar) tem feito um grande trabalho social ao criar
o Projeto social Projeção que beneficia 350 crianças carentes, proporcionando-lhes
uma oficina educativa, que conta com biblioteca, melhorando sua qualidade de vida.
As cooperativas têm em foco grandes investimentos na formação
profissional e isto resulta em incentivo e motivação, gera qualidade e produtividade,
propiciando um retorno benéfico a elas próprias. Isto melhora sua imagem e resulta
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em crescimento da competitividade. Mesmo porque a educação é uma forma eficaz
de combater a desigualdade social e, consequentemente, promover uma melhor
distribuição de renda obtendo-se desenvolvimento.
O agronegócio estimula cada vez mais a economia no Brasil. Conforme a
FAO (Food and Agriculture Organization, 2006), o agronegócio colabora na
formação do PIB com 33%, além de garantir 40% das exportações e 37% dos
empregos no Brasil. Estima-se que o Brasil venha a ser o primeiro lugar em
fornecimento de alimentos no mundo, sendo que já ocupa o primeiro lugar na
produção de café, açúcar, álcool e suco de laranja. Com esse alto índice de
produção e rentabilidade, é imprescindível que algo seja feito pela sociedade, pois
esse papel não cabe somente ao governo, que sozinho não é capaz de resolver
grande parte dos graves problemas sociais que incidem no país.
Através da entrevista de 13 membros de diferentes cooperativas agrícolas,
chegou-se às seguintes conclusões: O primeiro aspecto observado na relação da
cooperativa com a comunidade é que as doações não são vistas como caridade,
filantropia, mas sim como investimento. Ao investir em programas educacionais para
crianças da comunidade, há a expectativa de estar preparando futuros membros
assim como futuros líderes, isto é, está se investindo no futuro da organização
cooperativa. Outro aspecto analisado é que o dinheiro destinado para o apoio à
comunidade é visto como uma alternativa de ampliação de lucros, diferentemente do
que outras instituições fazem. Com a prosperidade da comunidade, a cooperativa
também prospera, uma vez que os membros são a razão de sua existência. Em
relação aos consumidores, as cooperativas demonstram características peculiares
que garantem a sua responsabilidade, como por exemplo, uma estrutura
democrática que dá liberdade aos membros de mudar algo dentro da organização
quando estão insatisfeitos, participando de assembléias ou elegendo o conselho de
administração. Além disso, os membros das cooperativas compreendem que ao
garantir uma excelente qualidade dos bens e serviços a serem oferecidos, estão
agindo de maneira responsável. Tendo em vista um ambiente de trabalho saudável,
as cooperativas fazem grandes investimentos em treinamento interno e educação
externa para que os empregados cheguem a uma graduação maior. Outra prática
observada é o reconhecimento pelos funcionários de que eles são diretamente
responsáveis pelo sucesso da associação e têm a possibilidade de crescer com ela.
Por fim, a comunicação possibilita aos empregados tomarem conhecimento do que
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está acontecendo e dos problemas a serem enfrentados, para poderem auxiliar na
solução destes (Barroso, 2006).
4.1 – Responsabilidade social e qualidade de vida no trabalho
Nessa nova ordem que o capitalismo está vivenciando, a sociedade surge
como detentora de um novo papel. Não só o de reivindicar, mas principalmente
realizar as ações que o Estado nesse novo modelo não mais realiza. Ou seja, ela
vem assumindo a responsabilidade social que caberia ao Estado e, dessa forma,
pode proporcionar cada vez mais qualidade de vida a seus membros.
A empresa moderna enfrenta, hoje, vários desafios para permanecer no
mercado e tem sido pressionada por todas as partes envolvidas no negócio para
adoção de uma postura mais responsável socialmente. Já é comum, nas grandes
organizações, que se destinem recursos para ações ligadas à qualidade de vida no
trabalho e responsabilidade social, e as cooperativas também devem aderir a esta
prática, eis que “a responsabilidade social no caso das cooperativas não é algo
suplementar como para as empresas, mas sim a sua própria razão de ser” (LOPES,
2007).
Os temas Qualidade de Vida no Trabalho e Responsabilidade Social
Empresarial guardam uma proximidade, posto que são essenciais nos trabalhos
desenvolvidos pelas cooperativas, e havendo uma melhor qualidade no trabalho dos
cooperados e de seus familiares, a responsabilidade social é realizada de forma
mais eficaz.
Além disso, a preocupação das empresas com a qualidade de vida do
trabalhador não se restringe ao ambiente de trabalho em si, mas também aos
aspectos biopsicossociais, pois o bem-estar envolve o ser humano no seu conjunto
de características. Esta preocupação iniciou-se a partir das convenções da OIT –
Organização
Internacional
do
Trabalho,
em
que
os
países
membros
convencionaram adequar a legislação em seus países para a melhoria do trabalho,
principalmente no que concerne à saúde, higiene e segurança do trabalhador
(MANCINI et al, 2007).
A busca e consolidação de uma imagem de empresa socialmente
responsável faz com que o meio empresarial busque formas de melhorar seu
relacionamento com o meio ambiente e a sociedade, de modo a contribuir para o
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desenvolvimento social e econômico, do qual depende para sua sobrevivência.
Essas características são inerentes às cooperativas, que buscam, ao menos na sua
filosofia, uma forma de melhorar a vida de seus cooperados e da sociedade em si.
A cooperativa possui a singularidade de promover uma forma de cidadania
econômica ao permitir que os trabalhadores possam prover a si próprios dos
mecanismos de produção e distribuição da riqueza, que de outro modo
permaneceriam concentrados em poucas mãos. Isso demonstra que dentro da
responsabilidade social das empresas/cooperativas, a qualidade de vida está
presente, ao menos no seu planejamento como instituição (LOPES, 2007).
Segundo definição de Albuquerque e Limongi-França (apud Albuquerque e
Cirino, 2007, p. 2) QVT - qualidade de vida no trabalho - é: “Um conjunto de ações
de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações
gerenciais, tecnológicas e estruturais dentro e fora do ambiente de trabalho, visando
propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização
do trabalho”.
Albuquerque
e
Cirino
(2007),
referindo-se
a
Walton
(1973)
apud
Vasconcelos (2001), afirma que a Qualidade de Vida deve ser analisada através das
seguintes dimensões:
1 - Compensação justa e adequada: equidade interna e externa, partilha de
ganhos de produtividade;
2 - Condições de trabalho: jornada de trabalho adequada, ambiente seguro e
saudável;
3 - Uso e desenvolvimento de capacidades: autonomia, qualidades múltiplas;
4 - Oportunidade de crescimento e segurança: crescimento pessoal,
perspectiva de avanço salarial, segurança de emprego;
5 - Integração Social na Organização: ausência de preconceito, igualdade,
senso comunitário;
6 - Constitucionalismo: direitos de proteção ao trabalhador, privacidade
pessoal, liberdade de expressão, tratamentos imparciais e direitos trabalhistas;
7 - O trabalho e o espaço total de vida: papel balanceado no trabalho,
estabilidade de horários, poucas mudanças geográficas e tempo para lazer da
família.
Disso se observa que se a organização está preocupada com a
responsabilidade social ela estará também preocupada com a qualidade de vida de
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seus trabalhadores, dando melhores condições para a sua realização pessoal e
profissional.
Albuquerque e Cirino (2007) afirmam que a coesão grupal é um dos fatores
decisivos no êxito ou fracasso das cooperativas, e deve estar sedimentada nos
objetivos da cooperativa e no comprometimento dos membros com as atividades da
mesma, sendo que quanto mais representado o associado se sente pela diretoria,
maior será a sua participação e comprometimento com as atividades da cooperativa.
Assim, o comprometimento dos membros associados também permite que haja uma
melhor qualidade de vida no trabalho.
Sem dúvida, como afirma Lopes (2007), as cooperativas representam hoje
uma alternativa à retração de postos e rendimentos do trabalho, atuando em favor
de um desenvolvimento baseado na desconcentração do capital e distribuição de
renda, bem como favorecendo os seus membros em relação a uma melhoria na sua
qualidade de vida e atuando com responsabilidade social. Contudo, em meio aos
constrangimentos do mercado, as cooperativas não estão imunes a desvirtuamentos
em seus princípios democráticos e distributivos e devem sempre seguir de acordo
com a ética a que se propõem.
4.2 – Preservação ambiental cooperativa e sustentabilidade
A
necessidade
homem/natureza
de
impulsionou
se
estabelecer
a
uma
consolidação
de
relação
uma
harmônica
nova
visão
entre
de
desenvolvimento que envolve o meio ambiente natural e os aspectos socioculturais,
revelando que a qualidade de vida dos seres humanos passa a ser condição para o
progresso (DIAS, 2006).
Nesse diapasão, a Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento cunhou, em 1987, o conceito de desenvolvimento
sustentável, como aquele que responde às necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias
necessidades (BARRAL; PIMENTEL (org.), 2006).
Estabelece a Magna Carta de 1988, em seu artigo 225, que todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, por se tratar de bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Determina ainda, que compete ao
13
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
Anteriormente, a Lei 6.938 que define a Política Nacional do Meio Ambiente,
sancionada em 1981, estatuiu a responsabilidade civil objetiva ambiental em seu art.
4º, VII, imputando a quem danificar o meio ambiente o dever jurídico de reparar.
Pondera MACHADO, que o Direito Ambiental engloba as duas funções da
responsabilidade civil objetiva: a função preventiva, que, por meios eficazes deve
procurar evitar o dano e a função reparadora, para assim, reconstituir e/ou indenizar
os prejuízos ocorridos. Adverte-se que além da existência do prejuízo é necessário
estabelecer-se a ligação entre a sua ocorrência e a fonte causadora, o nexo de
causalidade que estabelece um liame entre a empresa e o dano.
No sentido de preservar o meio ambiente e evitar danos, as cooperativas
paranaenses, em observância à legislação ambiental vigente e ao sétimo princípio
cooperativista que estabelece a responsabilidade social cooperativa, no ano de
2005, conforme Balanço Social divulgado pela Ocepar, foram investidos 14,4
milhões de reais em preservação ambiental, correspondendo a um aumento de
30,3% em relação ao ano de 2001.
Ressalta-se que no ano de 2005 as cooperativas paranaenses produziram e
distribuíram um total de 1.230.793 mudas e reflorestaram 3.715 alqueires, além de
investir em outras práticas sociais, totalizando 2,1 bilhões de reais destinados a
ações classificadas como de responsabilidade social (OCEPAR, 2006).
5 – Considerações finais
Diante do exposto, pode-se afirmar que para que uma empresa seja
socialmente responsável não basta cumprir plenamente obrigações jurídicas, mas
investir também no capital humano, no entorno e nas relações com os interlocutores
(DIAS, 2006).
Mister se faz novamente ressaltar que no ano de 2006 o Estado do Paraná
contou um total de 228 cooperativas e um número de 407.312 associados, investiuse 919,3 milhões de reais com funcionários, representando 5,6% da receita bruta
(OCEPAR).
Convém notar, outrossim, que conforme divulgação da Ocepar, a receita das
cooperativas em 2005 foi de R$16,5 bilhões, correspondendo a 18% do PIB do
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Estado do Paraná. Assim, não se pode olvidar a significativa contribuição das
cooperativas para o desenvolvimento do estado e da sociedade, eis que neste
mesmo ano foram recolhidos R$693,5 milhões em tributos.
No que se refere à prática social, cumpre reforçar que ainda em 2005, o
cooperativismo paranaense destinou R$2,1 bilhões em ações sociais, distribuídos
entre investimentos com funcionários e cooperados (qualidade de vida no trabalho),
contribuições com a sociedade e para com o meio ambiente.
Por fim, aludindo a visão do Instituto Ethos, a responsabilidade social está se
tornando cada vez mais fator de sucesso empresarial, o que cria novas perspectivas
para a construção de um mundo economicamente mais próspero e socialmente mais
justo.
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