Acidente nupcial
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Acidente nupcial
do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo CARTA A UM AMIGO Acidente nupcial Fotos arquivo Geraldo Sica Meu caro Minor Harada Pois é: aquele casamento - o seu - estava fadado a dar o que falar lá pelo final dos anos de 60. Foi em 1966? Para a colônia japonesa bastava a notícia de que estavam se casando dois de seus mais queridos patrícios. Para o pessoal da Cidade tinha, além do fato de estar se casando o vereador Minor Harada, a notícia de que seus padrinhos eram Carlos Lacerda e esposa. E muitos esperavam a presença de Roberto de Abreu Sodré, presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo e candidato escolhido pela Arena para assumir o Governo de São Paulo. Sodré não veio; enviou para representá-lo o fiel escudeiro, então apenas um estudante de Direito, Marco Antônio Castelo Branco. Marquito se elegeria, anos depois, deputado estadual. Antes disso, entretanto, cuidou de salvar a coleção de cachimbos do governador Sodré, ameaçada pelo incêndio que destruiu uma ala da então residência oficial, o Palácio dos Campos Elíseos. A última notícia de que tenho dele é o cargo de secretario executivo de Turismo do Governo de São Paulo. Pois ao seu casamento, Minor, não faltou Carlos Lacerda. Nem ele, nem a esposa e a filha Cristina O governador da Guanabara chegou a Mogi e foi direito para o sítio de Minor, onde deixava o tempo passar falando de política, de seus planos de se candidatar à Presidência da República na sucessão do general Castelo Branco e da idéia de lançar uma Frente Ampla com Juscelino e João Goulart. Foi no começo da tarde que todos se assustaram com a notícia que alguém trouxe correndo: o noivo Minor -tinha sofrido um acidente na estrada de acesso ao sítio e não havia outros detalhes. A expectativa durou pouco: alguns minutos depois apareceu um assustado Minor, de sorriso mais amarelo que o normal, desculpando-se pelo susto imprevisto. Casou-se algumas horas depois sem outros transtornos. Quando desistiu de ser vereador, Minor incorporou o papel de secretário vitalício de Waldemar Costa Filho. Acompanha-o onde quer que seja, na Prefeitura de Mogi ou na Se- Telefone foifeito para ouvir Tancredo de Almeida Neves sabia tudo de política. De política e da vida. O matreiro político mineiro que foi deputado, governador, primeiro ministro e presidente eleito, não gostava de telefone. E Tancredo era do tempo do telefone a manivela. Nem pensar em celular na época em que havia sempre uma moça do outro lado da linha a pedir "número por favor". E a informar que uma ligação entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro demoraria, no mínimo, duas horas. Isso, para ele, que era importante. Nos tempos atoais, mais especificamente em Mogi das Cruzes, tem Lacerda com os noivos e convidados no casamento de Minor Harada. gente lamentando-se de não seguir a Entre eles, Nenê Sica e esposa, Geraldo Sica, Diogo Nomura, Padreorientação Godinho do velho e saudoso Tancredo. Lamentando-se muito. Não apenas quando se trata de infelizes coincidências técnicas mas, principalmente, pela operação de equipamentos rastreadores espalhados pela Cidade. Em alguns casos, linhas cruzadas são detectadas de pronto. Em outros casos, curiosos que têm linhas celulares fazem a programação elementar de "pescar" conversas. Nestes, tudo corre por conta da coincidência. Em outros, entretanto, a situação é bem diferente. Há aparelhos elementares - e baratos - capazes de sintonizar linhas celulares específicas. Sabe-se de alguns cidadãos mogianos que se divertem com essa situação. Houve quem já utilizou a informação obtida na conversa para interesses pessoais. Nem sempre confessáveis. Nunca moralmente corretos. Em outros casos, o que tem ocorcretaria do Abastecimento. Foi nes- de cristal. Não é que você, ao servir- re em Mogi das Cruzes é o grampo sa condição que, certa noite, compa- se, usou mais força que o recomen- puro e simples. Uma gambiarra no receu à residência do hoje deputado dável... A taça trincou. Minor não li- poste e pronto. Um gravador de R$ Valdemar Costa Neto para uma reu- gou: qual um faquir, serviu-se até o fim. 50,00 mais a remuneração - cerca nião social. Era um jantar de amigos, Tudo isto, meu caro, voltou-me à de R$ 150,00/dia - do especialista na ampla sala da casa mandada cons- mente há alguns dias, quando nosso completam a cena. Há alguns anos truir na Vila Oliveira por Manoel Be- amigo Geraldo Sica mostrou-me algu- um grampo desses provocou sérios zerra de Melo e que, então, Boy ha- mas fotos do casório, que pubüco hoje. distúrbios em bem consumida família via adquirido. O jantar transcorreu Eu próprio tinha outras fotos, mas as da Cidade. O incidente de percurso sem maiores incidentes, até que che- troquei, quase 40 anos atrás. Dei a foi vencido. Ficaram as cicatrizes. gou a hora da sobremesa. Marquito Castelo Branco em troca de Há tempos repetiu-se a cena. Serviu-se sorvete com calda quen- uma entrevista exclusiva com Sodré. Técnicos descobriram um grampo e chamaram a polícia. Foram todos te; aquele chocolate derretido que, em Um grande abraço do para a delegacia: técnicos, assinante contato com o sorvete, endurece forgrampeado. Mais os equipamentos. mando uma película. Tudo em taças Chico Ornellas Na polícia, delegado presente, ouviram as fitas. Eram duas, registrando diálogos comprometedores de cidadãos que se tinha como nunca comprometidos. O Boletim de Ocorrência foi usado como prova em um processo litigioso de separação. A defesa tentou impugnar provas obtidas de forma ilícita. Aviso aos navegantes: dois dos mogianos que tinham avançados equipamentos de escuta j á faleceram. Desconhece-se a quem legaram tal patrimônio. Razão tinha Tancredo de Almeida Neves. Que não gostava de telefone. 1 A filosofia de um certo dr. Roberto Roberto Campos foi, de longe, uma das inteligências mais perspica-. zes deste País. Em tempos de regime militar, ao qual serviu como ministro do Planejamento, seus críticos mais ferozes o chamavam de "Bob Fields", numa clara ação ideológica. Posições ideológicas de lado, a verdade é que, à inteligência de Roberto Campos ninguém opunha reparos. Foi antológico o debate que ele teve, anos passados, com o líder comunista Luís Carlos Prestes, este também uma das cabeças «mais articuladas do País, transmitido pela T V Cultura de São Paulo. Prestes se foi - relegou-nos uma das melhores biografias brasileiras , mas Campos continuou por um tempo na ativa, então como deputado pelo Rio de Janeiro. Pois dia qualquer de 1996, em debate na poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em meio a discussões sobre as novas técnicas de a d m i n i s t r a ç ã o , Roberto Campos saiu com mais uma de suas primorosas tiradas: "Esse negócio de parceria me parece coisa de homossexual; terceirização, para mim, pode resultar em chifre e, de cliente, quem entende é prostituta." Lugares inesquecíveis Existe em São Paulo, na Estrada de Santa Inês, um lugar que merece ser visto. É O Velhão. Mistura de antiquário com depósito de materiais de demolição, ele é tudo isso e muito mais. Por uma construção enorme, que imita castelos medievais, os proprietários circulam sempre dispostos a achar aquilo que o freguês procura. A l i eles juntam de portas antigas, do início do século, a janelas enormes de vitrais bizotados. Fontes, estatuetas, vigas, pórticos. Tudo é possível achar em algum canto. Para os mais abusados, têm até bonde, jardineira e equipos dentários com mais de 50 anos. Vale a pena uma passada. Mais concorridas são as tardes de sábado. E, com o pessoal de Mogi, os proprietários têm deferências especiais: Moacyr, o idealizar do local - já falecido - se formou em Engenharia na Universidade Braz Cubas e passava sempre por aqui quando ia para a Riviera de São Lourenço. Trabalhar ou divertir-se com os netos. Legou o lugar ao filho Ubiratan, que antes teve bem sucedidas passagens pela publicidade. A Estrada de Santa Inês fica na Serra da Cantareira. Olhando de frente para o portão de acesso do Horto Florestal, siga pela esquerda. Cinco ou sete quilômetros depois, está O Velhão. Basta atentar para as placas que indicam a estrada. ELHOR DE MOG Fotos Divulgação A Vila Residencial da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, com acesso pela cancela da Rua Dr. Deodato Wertheimer. É um passeio pelo passado. Com a privatização da ferrovia, bem que mereceria um projeto próprio. Que tal um centro cultural? OPIOR DE MOG " : , .... wÊÈÈÊL Massas Doces Festas & Recepções S 7 ROSTICCERIA Solo Grano / 11 Rua Galdino Alves #88 Pq. Monte Líbano 4726.5668 A infecta passarela sobre os trilhos da > " ÇPTM na Praça , Sacadura Cabral. É a campeã de citações na Cidade. Por enquanto, sem perspectivas de uma solução. Ninguém a usa e ninguém fala em removê-la. Um mastodonte que deprecia Mogi.