Cooperativas de Agrícolas de Pernambuco: Competências e
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Cooperativas de Agrícolas de Pernambuco: Competências e
Cooperativas de Agrícolas de Pernambuco: Competências e Inovação Organizacional Jimmy Peixe Mc Inytre Ph.D1 Emanuel Sampaio Silva Dr. 2 Paul Prévost Ph.D 3 Resumo O processo de inovação nas cooperativas é um fenômeno complexo devido a sua dupla missão, econômica e social. Uma vez que as cooperativas apresentam uma visão de trabalho diferente das outras organizações, particularmente quando se trata de cooperativa agrícola, o objetivo do estudo foi estudar as inovações organizacionais em duas cooperativas agrícolas do Estado de Pernambuco. A partir de um quadro conceitual, das entrevistas aprofundadas com dirigentes, da observação direta e da análise dos resultados a partir da categorização, foi possível identificar os processos e as competências que contribuem para inovação organizacional das cooperativas agrícolas, mesmo em um contexto adverso de clima, característico da região Nordeste do Brasil. Resumen El proceso de innovación de cooperativas es un fenómeno complejo, en virtud de su doble misión económica y social. Teniendo en cuenta que las cooperativas tienen una visión de trabajo diferente de otras organizaciones, el tema de la innovación no se establece en la estructura de la literatura brasileña, sobre todo si se trata de cooperativas agrícolas. Por lo tanto, el objetivo de este estudio es conocer cómo dos cooperativas agrícolas en el estado de Pernambuco, Brasil, se arreglan para innovar. A partir de un marco conceptual, de entrevistas en profundidad con los líderes, la observación directa y el análisis de los resultados a través de la categorización fumos capazes de identificar los procesos y las habilidades que contribuyen a la innovación organizativa de estos cooperativas agrícolas, incluso en un contexto adverso de clima característico de la región nordeste de Brasil. Palavras chaves Inovação – Mudança organizacional - Competências Processo de inovação nas organizações A compreensão do fenômeno da inovação apresenta uma diversidade de enfoques, de modo que a relação sujeito e objeto têm sido objeto de vários estudos. A perspectiva que enfoca o objeto é a que se baseia no conteúdo da inovação classificando em dois tipos: a) inovações de produto que correspondem à criação de novos produtos com certas características que diferem dos demais existentes no mercado, e; b) inovações de processo que correspondem à reformulação dos métodos de gestão e produção (Lefebvre,1990). Outra perspectiva apresentada por Julien, Carrieres e Hébert, (1988), vincula as inovações ao grau de conhecimento do sujeito, sendo: a) entendido como dependendo da percepção e das atitudes daqueles que o utilizam, neste caso as decisões são tomadas em função do custo e da rentabilidade provocada pela inovação; b) aquela que dependente das características ambientais, onde a tomada de decisão é feita em função do meio ambiente setorial da organização, geralmente ligado ao setor de atividade econômica, ou; c) aquela depende das características gerais, gerenciais e organizacionais, onde a tomada de decisão, geralmente, é feita em função de vários fatores como: nível de crescimento, disponibilidade de informações, tamanho da organização, etc. 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco – Brasil Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO - Brasil 3 Université de Sherbrooke – Québec-Canadá 2 2 Podemos ainda remarcar a abordagem apresentada por Boltanski e Thévenot (1991), que partindo de uma análise de processos, vincula inovação organizacional a dinâmica social e ao contexto de trabalho. Essa abordagem tem como foco dois ambientes organizacionais: tradicional e inovador. No contexto de trabalho das organizações tradicionais, a maneira de operar é caracterizada por ser estática e resistente para se adaptar as mudanças. Enquanto que, nas organizações inovadoras, a maneira de operar é caracterizada por uma receptividade para atualizar seus processos de trabalho, com vista a promover mudanças que permitam modificações de práticas de trabalho através da aprendizagem de novos conhecimentos e do desenvolvimento de competências. Por sua vez, Bianchi (2004) assinala que o estudo dos processos inovadores deve centrar-se em como a organização desenvolve sua capacidade de inovação. Assim, a construção dinâmica de capacidades, é específica de cada organização, e ela surge a partir da acumulação de aprendizagens para encontrar solução aos novos problemas de produção, de bens e de serviços. Essa aprendizagem não é facilmente replicável por outras organizações, na medida em que se baseia em um forte componente de conhecimento tácito, não comunicável e nem codificável. Já Carvalho (2009), com base na ciência da engenharia, vem privilegiar as inovações a partir de sistemas de treinamento técnico especializado, de universidades e de apoio à pesquisa básica. Nesta direção, os sistemas de treinamento têm por objetivo fornecer conhecimento científico voltado para eficácia dos modelos de aprendizagem, numa perspectiva de análise dos elos formais e informais, relacionando como seu sistema de valores. Para Lefebvre (1990), entretanto, a inovação é resultado da associação de vários fatores: a) aqueles associados ao tamanho, desempenho financeiro e esforço para inovar; b) os relacionados às estratégias organizacionais de concorrência; c) os ligados aos processos de decisão, e; d) os relacionados a custos e grau de viabilidade econômica. A mais, o autor identifica 06 fatores considerados como determinantes ao processo de inovação nas organizações: 1º - Os determinados pela influência do grupo de engenharia de produção e pelo grupo de marketing; 2º - Os associados à influência dos dirigentes que visualizam um melhor serviço à clientela; 3º - Os relacionados ao tamanho e desempenho financeiro da organização; 4º - Os de custo visando economizar mão-de-obra que adota tecnologia como uma das principais estratégias de inovação e redução da força de trabalho; 5 º - Os de influência externa a organização como a concorrência, fornecedores de tecnologia e consultores externos, e finalmente; 6º - Os fatores que são determinados pela imagem da empresa que busca se projetar a partir de novas tecnologias. Neste caso os clientes exercem uma influência importante. Outro aspecto a ser considerado se refere à relação entre as inovações tecnológicas e o grau de escolaridade. As organizações portadoras de uma tecnologia de ponta são aquelas que seus dirigentes apresentam uma boa escolaridade de nível superior, de formação técnica, voltada para o meio ambiente e bem informada sobre as tecnologias disponíveis (D’Iribarne, 1989). Segundo o autor, as equipes de trabalho têm o desafio de integrar as capacidades teóricas com as capacidades de “saber-fazer”, combinando conhecimento tecnológico e geral, de modo que possa se instalar a aprendizagem renovável no contexto de trabalho das organizações inovadoras. Nessa direção, Rosanvallon (1990), ressalta que no processo de inovação cada ator deve desenvolver suas “competências” com o objetivo de assegurar a equipe uma “capacidade coletiva de pilotar” as inovações, colocando a disposição suas competências excepcionais diante dos problemas que são desconhecidos. Neste contexto de formação e aprendizagem, 3 ocorre na organização uma destruição das bases pré-construidas do trabalho para dar lugar a uma nova ordem alicerçada na regulação social e na autonomia das equipes de trabalho nos processos de produção. Contudo, segundo Collerette, Delisle e Perron, (2000), esta passagem necessita de contexto cultural favorável às mudanças para inovar. As mudanças num contexto inovador preconizam modificações que devem ser observadas tanto na cultura, como na estrutura do sistema organizacional. A inovação tende a provocar dois fenômenos que se apresentam claramente durante o processo de mudança organizacional: O primeiro marcado pelo abandono de comportamentos e atitudes habituais já consolidadas no contexto de relação de trabalho da organização, e; um segundo fenômeno, marcado por um período de comportamentos e atitudes pouco estáveis e confusos que tende a se consolidar a partir da aquisição de novos conhecimentos, atitudes e comportamentos. Usualmente, o processo de mudança se depara com alguns componentes ligados à psicologia social e levam os atores a descristalizar percepções, hábitos, comportamentos individuais e coletivos. Esse processo compreende a fase onde os envolvidos começam a formar um juízo de valor sobre seus sistemas de representações, a partir da análise do que é adaptável e o que não é para as práticas inovadoras. Nesta fase, procede-se um exame, se questiona e se julga a pertinência dos sistemas de representações em relação à adaptabilidade e a realidade vivenciada pela organização. Por outro lado, a descristalização nem sempre conduz a organização para as mudanças, uma vez que, os atores tendem a desenvolver um comportamento analítico em relação às propostas de mudança e eles poderão ser receptivos ou refratários às mudanças. Ainda, Collerette, Delisle e Perron (2000), acrescentam que a segunda fase do processo de mudança esta caracterizada por um período de transição ou reconstrução das mudanças inovadoras pretendidas. É nessa fase que se instala uma nova maneira de operar a organização a partir da experimentação de “novas formas de se fazer às coisas”. Neste contexto, as modificações propostas somente serão materializadas quando a organização superar os obstáculos e entrar na terceira fase denomina de recristalização das mudanças. Portanto, logo que as novas significações e comportamentos se estabilizem, a recristalização de comportamento se instalará gradualmente. Ela corresponde à busca do sistema social pelos ajustes de concepções e práticas, a partir de uma relação dialética para a nova reconstrução da dinâmica de relação de trabalho na organização. Neste aspecto, Zogbi (2008) vem corroborar com o autor, quando afirma que a organização para mergulhar no processo de inovação precisa esclarecer algumas questões como: “Até onde deve ir à mudança? Que amplitude ela deve tomar? O que é que ela deve envolver?” Por que inova? O que é inovação? Quem irá cuida da inovação? Como inovar? Quando inovar? Onde inovação?” Finalmente, a verdadeira mudança nas organizações se opera a partir de um processo contínuo de “desconstrução” e de “reconstrução” do sistema social que provocam modificações nas representações e atitudes dos atores que participam do contexto organizacional. Esses processos não devem ser operados numa perspectiva cronológica, mais, sobretudo, numa perspectiva dialética e sistêmica, de maneira não linear e não mecanicista. Neste aspecto podemos concluir que a inovação, seja tecnológica ou organizacional, vai “destruir o sistema de referência vigente”. Essa “destruição” geralmente passa pela assimilação de novas tecnologias, pela adoção de novos procedimentos e pela elevação dos níveis de competências. Este fenômeno nas organizações irá se consolidar, fundamentalmente, a partir da substituição dos “saberes” e do “saber fazer” no contexto organizacional. Inovação e competência 4 A incorporação de competência para inovar tem sua relação direta com processos de aprendizagem de novos valores, novas ferramentas, novas lógicas e novas formas de trabalhar. Atualmente, os modelos de desenvolvimento de competências encontram-se voltados para flexibilidade, transferência e poli-valência no trabalho. Esses modelos passam a exigir do trabalhador flexibilidade para lidar com mudanças no processo produtivo, capacidade de enfrentar imprevistos, poli-valência no desempenho de suas atividades e constante atualização de suas competências. Neste sentido, a organização ao definir sua estratégia competitiva passa a identificar competências essenciais que respondam à composição de custo, inovação do produto e orientação dos serviços aos clientes (Serón, 1984). Assim, o controle da força de trabalho se expressa a partir da socialização e da identificação empresarial que resulta na autogestão, onde o controle passa a ser exercido pelo individuo e por seus próprios colegas no trabalho em equipe. Ao contrário do conceito de qualificação que só valorizava a educação formal e técnica. No modelo de competências o importante não é somente o saber disciplinar de formação técnico-profissional, mas, sobretudo, a capacidade que cada indivíduo tem para mobilizar conhecimentos e habilidades na resolução de problemas complexos em situação de trabalho (Lasnier, 2000). Na nossa pesquisa estudamos competência voltada para a resolução de problemas e a formação de conhecimento, onde o saber- fazer e o saber-ser dos trabalhadores assumem um papel preponderante no que diz respeito à eficácia organizacional. Neste aspecto, o trabalhador passa a assumir no desempenho de suas atividades, tarefas mais intelectualizadas, menos prescritivas, que exigem domínios cognitivos que estão além da dimensão técnica. Também, se agrega a estes saberes o saber em ação que consiste numa maior poli-valência no desempenho de suas atividades, e passa a exigir uma maior capacidade de construir competências coletivas a partir do trabalho em equipe, da comunicação, da participação e da autonomia para o planejamento, execução e o controle dos processos produtivos (Lasnier, 2000). Segundo Ruas (2001, 2006), existem vários tipos de competências, no entanto ele classifica em quatro categorias que estão imbricadas de uma maneira complexa, são elas: as competências de interação que englobam as competências interpessoais e de liderança; as competências para a resolução de problemas que inclui as capacidades de percepção, planejamento, organização e decisão; as competências de capacitação a partir do reconhecimento dos gestores sobre a necessidade de mudar a forma de operar a organização, e; as competências de comunicação relacionada à capacidade dos dirigentes de se comunicar com sua equipe de forma escrita, oral e simbólica. No que se refere à gestão do empreendimento cooperativo, a temática competência assume a mesma importância que tem para qualquer outro tipo de organização. Neste caso, torna-se necessário que as cooperativas pensem modelos para desenvolver e gerenciar suas competências, voltadas para conjugar processos de trabalho com competências gerenciais, a partir da capacidade de mobilizar, integrar e colocar em ação os conhecimentos e habilidades (RUAS, 2001, P.249). Assim, uma atuação gerencial adequada deve demandar alguns atributos que são pouco explorados no mundo dos negócios, tais como: percepção, improvisação, criatividade e empatia, dentre outros (RUAS 2006). Finalmente, foi a partir dos fundamentos Mc Intyre (2005), sobre as 04 dimensões da inovação organizacional que pautamos nossa estratégia metodológica, e a análise do nosso estudo, sobre as cooperativas agrícolas inovadoras de Pernambuco (Figura 01). Figura 01 – Dimensões de sistemas organizacionais nos quais emergem as competências inovadoras nas cooperativas. 5 Político Administrativ o Comunicação COOPERATIVA INOVADORA Relações Articulação Fonte: Mc Intyre, 2005. • Sistema político administrativo – são informações relacionadas às estratégicas para inovar, a partir da apropriação de competências necessárias para que se instalasse o processo de inovação na cooperativa; • Sistema de comunicação – diz respeito às mudanças ocorridas nas comunicações, na tomada de decisão, nas relações de trabalho e, na formação de competências para propiciar as modificações no processo de comunicação da cooperativa; • Sistema de relações – relacionadas a competências relacionais do contexto de relações de trabalho, no que se refere às atitudes e comportamentos que facilitam procedimentos inovadores; • Sistema de articulação e coordenação – foca competências que podem contribuir para as modificações estruturais, de articulação, de coordenação, de ações coletivas e de habilidades de trabalho, no sentido de promover as inovações na cooperativa (Figura 1). Portanto, o processo de inovação nas cooperativas está associado a sistemas organizacionais, aos quais está vinculado um conjunto de competências, que possibilitam uma reconfiguração da organização, sem desvencilhar-se dos princípios e valores do cooperativismo. Metodologia A nossa pesquisa foi qualitativa, optamos por um estudo de caso do tipo exploratório interpretativo para verificar as competências para inovação em duas cooperativas agrícola de Pernambuco-Brasil. Para a seleção da amostra utilizamos o método de escolha intencional, com o objetivo de elevar a qualidade das informações. A população investigada foi composta por 02 dirigentes ligados ao nível de decisão da cooperativa agrícolas, diretamente implicadas no projeto de inovação. A coleta dos dados nos permitiu uma análise sobre o contexto da cooperativa agrícola inovadora (Yin, 2005; Mucchielli, 1996). A pesquisa foi realizada numa cooperativa de criadores de caprino e ovino, da Cidade Floresta, em Pernambuco-Brasil, com o apoio da Universidade Federal Rural de Pernambuco e o SECOOP-PE – Serviço de aprendizagem cooperativa de PE. Para a seleção das duas cooperativas inovadoras e realização da coleta dos dados, foi utilizado a base de dados do SESCOOP-PE. Os entrevistados foram os dirigentes ligados ao nível de decisão da cooperativa, diretamente implicados na gestão e operacionalização das inovações nas cooperativas. (Yin, 1984/1994). Para tanto, em um primeiro momento contextualizou-se cada cooperativa, e, em seguida, estabeleceu-se uma estratégia de triangulação dos dados a partir de várias fontes de 6 informações como observação em campo, entrevista registrada e questionário. Durante a escolha das cooperativas utilizou-se alguns critérios que identificasse a organização como inovadora, entre eles: que tivesse acesso à tecnologia; fosse economicamente estável; que demonstrasse relação com organismos de pesquisa, de apoio, centros tecnológicos e P&D, e; que estivesse investindo em aprendizagem e formação para inovar processos de trabalho. No que diz respeito às competências, procuramos selecionar 31 competências, todas elas a partir dos estudos realizados por Dutra, Fleury e Lima (2008) e Morin (2009). Após a seleção, listamos e tomamos como base as quatro dimensões da figura 01 do referencial teórico para formular o questionário: politico administrativa, comunicação, relação e articulação. Por fim, construímos um questionário e estabelecemos ume escore 01 a 04 para ser respondido pelos cooperados atribuindo 01 para a competência não importante; 02 para aquela competência pouco importante; 03 para a competência importante, e, 04 para aquela muito importante. Na análise das entrevistas adotamos o método de tematização para permitir identificar às categorias. Em seguida, reagrupamos, fusionamos e hierarquizamos em temas centrais para chegamos a uma síntese dos resultados. (YIN, 2005; PAILLÉ, 1996; 1997). No que diz respeito aos questionários sobre as competências, após sua aplicação com cooperados e gestores, procedemos à consolidação dos escores atribuídos pelos pesquisados para podermos chegar aos resultados. Em fim, o método de estudo de caso é aquele que assegura a validade interna da pesquisa a partir de uma estratégia explicativa que permite aprofundar a análise do caso em estudo. No nosso caso estudamos duas cooperativas, numa lógica de replicação e repetição para se chegar aos resultados. (Yin, 2005). No que se refere ao limite de validade externa, podemos remarcar a homogeneidade na escolha do objeto de pesquisa, tanto na escolha das unidades de análise, como pelo domínio do sujeito de pesquisa por parte do pesquisador. Essa homogeneidade tem seus limites, uma vez que não podemos generalizar os resultados (Contandriopoulos et al.1994). No entanto, a homogeneidade das unidades de pesquisa na coleta dos dados, nos pemitiu de fazer associações explicativas dos resultados. (Guba e Lincoln, 1989 et Yin, 1984/1994). Também, privilegiamos os critérios de credibilidade a partir da observação, da imersão, da possibilidade de transferência e do potencial afirmativo do estudo, para chegarmos aos resultados que respondessem a questão de pesquisa sobre as inovações nas organizações cooperativas (Guba e Lincoln, 1984/1994). Resultados e Análise No caso das cooperativas estudadas podemos concluir que o processo de inovação quando bem construído e incorporado pela organização vão se articular através do contexto de trabalho para desenvolver novas competências, e forma um clima inovado na organização cooperativa. Também foi possível verificar que a formação de um clima inovador por parte do contexto organizacional não se apresenta de uma única forma, por conta de suas características e peculiaridades próprias na busca de um caminho de transformação. Nesse aspecto, temos que concorda Carvalho (2009), quando afirma que aprendizagem não é facilmente replicável uma vez que se pauta no conhecimento tácito, não comunicável e não codificável. Nessa busca de saber, um dos elementos mais presente nas cooperativas tem relação como a transformações de saberes pelos atores, presente no discurso dos entrevistados e nas quatro dimensões estudadas: politico administrativa, comunicação, relações e articulações. “Somente com conhecimento poderemos fazer a diferença. A proposta da cooperativa é fazer inovação através do conhecimento. Somente através da formação é que podemos sair da 7 situação que estamos. Temos que ter educação em todas as dimensões: econômica, social, ambiental, etc.” Neste aspecto, somente através da transformação de conhecimento é que as cooperativas agrícolas de Pernambuco poderão promover as mudanças de procedimentos, de métodos e de rotina de trabalho. O domínio das competências por essas organizações é resultante do processo de avaliação das rotinas de trabalho e dos conhecimentos já previsíveis, enquanto que a inovação fez parte de um processo mutante e imprevisível. Portanto, o saber, o saber fazer e o saber ser, se imbricaram durante o processo de aprendizagem, conjugando diferentes competências para responder positivamente as mutações e as imprevisibilidades do contexto de trabalho. Segundo Boterf (2000, 2001, 2003), « o desenvolvimento de competência resulta também da visão dos gestores no sentido de associar conhecimentos com a sua capacidade de mobilizar recursos internos e assim, poder inovar as práticas de gestão». No caso das duas cooperativas, a competência de abertura ao risco é compartilhada como o conselho de administração, no sentido de promover mudanças para fazer o novo e o diferente, com o objetivo de superar os desafios que são impostos pelo mercado. Nesta perspectiva, os dirigentes mobilizaram o conselho de administração e cooperados para reformularem e incorporarem novas competências, com o objetivo de promover mudanças no contexto da organização. Nesta perspectiva, os dirigentes e cooperados, passam a incorporar procedimentos inovadores que provocaram mudanças no contexto de trabalho a partir da formação continuada e da assimilação de novos conhecimentos voltados para técnica de trabalho e gestão da organização, como podemos verificar no depoimento abaixo dos dirigentes e cooperados: “É importante à qualificação dos dirigentes em tecnologia cooperativas, em pósgraduação...Estamos buscando parcerias porque é prioridade a formação em associativismo e cooperativismo, em técnica de produção e em manejo sanitário, produtivo, nutritivo; ambiental; de sistema de irrigação e no uso de agrotóxico.” Assim, segundo Rosanvallon (1990), as organizações inovadoras, geralmente, procuram « a formação construída em coerência com a organização do trabalho sob formas de ações explicitas e acompanhadas de medidas » para « transformar a organização cada vez mais pedagógica e formadora ». A formação tem por objetivo formar competências a partir do cotidiano de trabalho, numa busca contínua de novos conhecimentos4 (saber), de novas habilidades (saber fazer) e de novas atitudes comportamentais (saber ser). Nessa perspectiva, na coleta dos dados, foi possível constatar que a competência de aprendizagem para o saber fazer representou um elemento bastante presente no cotidiano da cooperativa. No entanto, essa afirmação não reduz a importância dos outros saberes, pois o tanto o saber, como o saber ser, se articularam ao saber fazer na execução das atividades. Os saberes se exprimem através das atitudes comportamentais dos participantes, e passam a desempenharem um papel preponderante no cotidiano de relações de trabalho, como um elemento integrador para a formação de um “comportamento homogêneo”, no que diz respeito a inovar procedimentos. Assim, de acordo com Collerette, Deslile e Perron (2000), a organização em processo de mudança tende a mergulhar num processo de inovação para esclarecer algumas questões que diz respeito ao até onde devemos ir com as mudanças. Portanto, quando se fala em mudanças com o objeto de inova, implica em introdução de novos conhecimentos na rotina de trabalho da cooperativa. Essas mudanças tende a promover experiências inovadoras para responder de maneira positiva as expectativas dos participantes, 4 L’Institut de recherches psychologiques clasifica três tipos de saberes (citado em Richard, 1002 In Rivard, 2001 p. 40. Saber – modificação da estrutura cognitiva; saber-fazer – modificação na maneira de fazer; Saber-ser – modificação no comportamente e na motivação. 8 e a influenciar diretamente na maneira de trabalhar e se de relacionar dos cooperados. Neste aspecto, a partir da valorização para a aquisição de novos conhecimentos, os cooperados passam a abandonar antigos procedimentos de trabalho para assimilar novas tecnologias, desenvolver novas competências e incorporar progressivamente, novas técnicas de trabalho. Nesta perspectiva, o risco deixa de ser uma ameaça e passa a ser visto como uma oportunidade para superar as dificuldades do dia-a-dia no ambiente de trabalho. O conhecimento técnico e a tecnologia assume um papel de destaque no processo de apropriação individual e coletiva, como se pode verificar nos depoimentos abaixo dos entrevistados: “Todos acreditam na proposta de inova porque nos trabalhamos com uma tecnologia moderna da EMBRAPA5. Nosso manejo é dentro da técnica de produção animal. Hoje produzimos animais com cinco meses e com 20 kilos. Nossa tecnologia é, sobretudo, na área de nutrição, forragem, produção e conservação.” Portanto, diante da necessidade de assimilar novas técnicas de trabalho, os participantes são levados a incorporarem novos procedimentos de trabalho, como também, a partilharem novos valores que possam modificar procedimentos. Assim, num processo inovador construído, em que é preciso superar as dificuldades naturais que são impostas diante do novo, a presença do sentimento de pertencimento e de participação, por parte dos cooperados, tende a desempenhar um papel importante para a consolidação das inovações. A competência para a formação de um sentimento de pertencimento é expressa nos extratos de entrevistas, como importante para que os atores possam superar os desafios de inovação, como podemos verificar no depoimento abaixo do dirigente e cooperados: “Somos todos do mesmo meio, da mesma comunidade, todos se conhecem, temos relações, somos iguais...No nosso conselho temos os representantes mais variados: da reforma agrária, das mulheres, dos jovens, dos índios, do negro, etc. Somos um mix de todas as origens. Todos se sentem dono da cooperativa tem igualdade de raça, religião, origem, etc, e não temos envolvimento político. A direção tem o respeito do cooperado, a confiança e somos todos parceiros.” Assim, independente do papel e da posição que o cooperado ocupa na cooperativa, faz-se necessário que seus participantes incorporem a missão da cooperativa e o seu projeto de inovação no cotidiano de trabalho. A formação de competência para o sentimento de pertencimento tende a favorecer a formação de valores compartilhados no contexto de trabalho. Ela se expressar pelo compromisso direto dos seus participantes aos negócios da cooperativa, e leva seus participantes a dominar os processos de trabalho num ambiente inovador, bem como a se tornarem mais autônomos e mais confiantes diante dos riscos constantes. Segundo Prévost (1996), o sentimento de pertencimento corresponde à participação e o envolvimento de todas as pessoas em um projeto de desenvolvimento. A participação será mais fácil se já existir uma vocação e um meio favorável. Nas organizações inovadoras a abertura ao risco passa a ser um elemento preponderante, para que o pessoal possa desenvolver competências, que são necessárias aos processos inovadores. Por conta disso, as cooperativas estudadas estruturam programas de formação adaptados à realidade do contexto de trabalho, com vista a desenvolver competências e responder as inquietações de inovação. Na análise da comunicação, constarmos a presença de uma comunicação bidirecional nas diferentes dimensões de trabalho. Ela vem corroborar com as afirmações de Amesse, Avadikyan e Cohendet (2006), quando argumentam que as competências se instalam na organização a partir de um processo dialético de construção individual e coletiva. Portanto, podemos supor que a formação da competência para a comunicação bidirecional, tende a 5 EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 9 negligência alguns instrumentos e procedimentos formais de comunicação para socializar as informações, propiciando a construção de uma rede de informação, baseada na confiança e no respeito por parte dos atores. Ela se processa no cotidiano dos atores, a partir da tomada de consciência sobre a necessidade de incorporar e consolidar as inovações que estão sendo processadas (Mc Intyre, 2005). No contexto de relações das duas cooperativas estudadas, e talvez por se tratar de cooperativa, a cooperação encontra-se presente nas diferentes dimensões de atuação, na propriedade do produtor, na prática de gestão da cooperativa, na relação com o mercado e com a localidade. Na propriedade, podemos destacar a estratégia praticada por uma das cooperativas para transferir competências para o manejo dos animais nas propriedades dos cooperados, conforme declaração de um dos entrevistados. “Os cooperados seguem o modele que deu certo. Após testamos uma inovação em uma propriedade, multiplicamos de maneira geométrica a transferência de tecnologia. Um cooperado transfere para mais dois, aqueles dois transferem para quatro até todos se apropriarem da nova tecnologia”. A cooperação enquanto competência para inovar as práticas de trabalho, se expressa a partir das atitudes dos atores, no sentido de compreender as dificuldades de cada um diante dos desafios de inovação. A cooperação encontra-se presente de forma transversal na construção de novos procedimentos de trabalho, no respeito à vocação de cada cooperado, na direção de identificar a melhor maneira de proceder diante do novo. Ela vai se agregar a vocação e as habilidades de cada um, favorecendo a formação de uma identidade que tem como base o sentimento de pertencimento a cooperativa. Neste aspecto, temos que concordar com Mc Intyre (2005), quando afirmam que “a análise do processo de inovação nas organizações esta vinculado a uma dinâmica social nas relações de trabalho”. No caso da cooperação, podemos supor que ela se articula em função das atividades e das relações de trabalho, para que se possa encontrar soluções possíveis aos problemas de inovação. Ela geralmente encontram-se imbricadas no sistema de administração, de comunicação e de relação, se articulando no contexto de trabalho, para promover modificações comportamentais e propiciar as inovações desejadas. Um outro aspecto associado ao sistema de relações que contribuiu para as inovações, tem haver com o modelo de gestão de uma das cooperativas pesquisadas, no que se refere a incorporação do principio democrático de igualdade do cooperativismo no seu modelo de gestão. Os gestores assistem diariamente na sede da cooperativa, uma média de 40 a 50 cooperados, que buscam orientação técnica para a produção e comercialização dos seus produtos. No que diz respeito a dimensão de articulação com o meio ambiente local, as cooperativas tem participado e se articulado com diferentes organismos de desenvolvimento e de pesquisa local, estatual e federal, a exemplo do depoimento abaixo : “Paticipamos de todos os foruns na microregião e no território. Fazemos parte do conselho rural, de segurança alimentar, já estivemos na França e Austria participando de eventos. Temos parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco e com ela fizemos o primeiro trabalho com o Departamento de Veterinária. Temos cooperação com o Ministério da Agricultura, Ciências e Tecnologia, Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Desenvolvmento, etc.” No caso da organização cooperativa não podemos deixar de considerar a relação existente entre as competências « adquiridas » e os setes princípios doutrinários do cooperativismo: adesão livre e voluntária, controle democrático, participação econômica, autonomia e independência, educação-formação-informação, cooperação entre cooperados, e, preocupação 10 com a comunidade. Esses princípios, quando bem trabalhado pelos gestores das cooperativas tendem a favorece a formulação de um pacto coletivo por parte dos atores, no sentido de fortalecimento do sentimento de pertencimento para alcançarem as mudanças pretendidas. Esse fortalecimento tem suas bases no respeito aos processos de trabalho, na incorporação de novos saberes e ferramentas inovadoras e na sua prática de trabalho. O tempo de aprendizagem é variável de pessoa para pessoa, de grupo de trabalho para grupo de trabalho e de processo de trabalho tradicional para outro inovador. Nos diferentes processos de trabalho cada individuo deverá abandonar antigos procedimentos, manipular novas tecnologias, modificar comportamentos, incorporar novos valores e assimilar, progressivamente, novas técnicas de trabalho. Considerações finais A inovação na cooperativa agrícola de Pernambuco é mais que uma simples pressão do mercado, ou mais que a vontade do dirigente de adotar novas tecnologias. Ela é, sobretudo, resultado da aprendizagem que passa pelo contexto de trabalho, pela assimilação de novas formas de fazer as coisas, pela descristalização de velhos conceitos e procedimentos para serem recristalizados, a partir do envolvimento de todos os participantes da organização. No nosso estudo o processo de descritalização para a recristalização das inovações das cooperativas agrícolas, obrigatoriamente passa por um processo de transição, onde os envolvidos procuram respostas e soluções aos problemas e que emergem do contato com o novo na propriedade e no contexto da cooperativa. Portanto, varias competências, no processo de inovação, iram se articularem de diferentes maneiras nos diferentes cenários de trabalho como: na formação continuada, no sentimento de pertencimento, na comunicação bidirecional, na intercooperação, na assimilação de novas tecnologias e nas relações internas e externas da cooperativa. Também não podemos deixar de remarcar, o desenvolvimento de competência para a abertura ao risco, pois sem essa abertura, os atores não se determinam a inovar (Mc Intyre, 2005). A mais, salientamos ainda a importância da formação continuada presente no processo de inovação das cooperativas estudadas. A formação desempenha um papel importante para o aprendizado da inovação e na reconfiguração de novos processos de trabalho. Ela modifica atitudes e leva os atores a buscarem constante o conhecimento para aprender o novo e pesquisar soluções concretas aos problemas de inovação. Neste contexto, os atores renunciam outros saberes adquiridos ao longo da sua vida profissional, para aprenderem novas formas e métodos de trabalho, a partir da incorporação de novos saberes. Portanto, a aprendizagem das inovações pelo contexto de trabalho de uma cooperativa inovadora, é fruto de acordos e consensos por parte dos atores, como forma de adquirir e consolidar novos conhecimentos (saber), novas habilidade (saber fazer) e novas atitudes (saber ser). Na nossa pesquisa, por se tratar de um estudo de caso em duas cooperativas agrícolas inovadoras do Estado de Pernambuco-Brasil, não podemos generalizar os resultados, uma vez que, estudamos em um determinado momento do processo de inovação. No entanto, isso não invalida os resultados e o estudo sobre inovação e competências nos transporta para outras reflexões e questionamentos, que poderão servir de pistas para outras pesquisas, no sentido de conhecer como as competências se organizam e se articulam no interior das organizações inovadoras, como elas se materializaram nos procedimentos e contexto de trabalho e, como os saberes se articulam para formar um conhecimento inovador aplicado ao cotidiano de trabalho das cooperativas. Finalmente, o esperado na pesquisa é que esses conhecimentos possam contribuir para os processos de inovação de outras cooperativas agrícolas, para o estudo das competências inovadoras, para a construção de estratégias de gestão, para a formulação de instrumentos de 11 gestão e para as práticas inovadoras na gestão das cooperativas, enquanto organização social e econômica. Referencias AMESSE, F., AVDUKYAN, A. ET COHENDET, P. 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