O Egito - Artur Bruno

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O Egito - Artur Bruno
O Egito
01. ASPECTOS GEOGRÁFICOS
A República Árabe do Egito é um país de 1.001.449 km² de área, situado em dois continentes: a maior parte encontra-se no nordeste da África; na Ásia, fica a península do Sinai. As
duas partes estão separadas pelo Mar Vermelho e pelo canal de Suez. Cerca de 10% da superfície
do Egito é ocupada pelo vale e pelo delta do Nilo, que entra no país vindo do Sudão. As margens
do rio são altamente férteis, devido ao lodo ali depositado pela corrente de água. O curso se
alarga em direção ao norte, acabando por formar um delta de 240 quilômetros de largura por 160
de comprimento no Mar Mediterrâneo.
Os 90% restantes do território são essencialmente constituídos por desertos. No leste,
entre o Nilo e o mar Vermelho, encontra-se o deserto Oriental, uma meseta de areia e granito
cortada por wadis - riachos formados pelas chuvas. No oeste, constituindo um planalto, estendese pelo deserto Ocidental, que possui alguns oásis na região norte. Ele abriga a depressão salina de
Qattara, situada 133 metros abaixo do nível do No sul fica o deserto da Núbia, composto de dunas
e planícies arenosa.
A península do Sinai é um deserto arenoso no norte e montanhoso no sul. Ali se ergue o
Jabal Katrina, ponto culminante do país, 2.642 metros de altitude. Nele, segundo a tradição
bíblica, Moisés teria recebido de Deus os Dez Mandamentos.
A flora egípcia prospera basicamente no vale e no delta do Nilo. Encontram-se tamareiras,
sicômoros, acácias, tamargueiras, lótus, jasmins e rosas. Além disso, foram introduzidos
artificialmente ciprestes, olmos, eucaliptos, mimosas e murtas. No sul, no leito do rio, crescem
também papiros. Nos desertos só sobrevivem algumas ervas e arbustos espinhosos.
Quanto ao clima, é geralmente de tipo saariano. Na costa mediterrânea, os invernos
registram chuvas moderadas e temperaturas mais suaves que no resto do país. Conforme
se
avança em direção ao sul, o nível de precipitações vai diminuindo. Nos desertos, as temperaturas
são sufocantes durante o dia e muito baixas à noite. Na primavera costumam ocorrer
tempestades de areia.
02. ASPECTOS ECONÔMICOS E HUMANOS
Menos de 4% do território egípcio é propício à agricultura. Os principais produtos agrícolas
cultivados no país são algodão, milho, cana-de-açúcar, trigo, arroz, girassol, uva, azeitona,
hortaliças, tâmaras e outras frutas. A pecuária inclui a criação de bovinos, ovinos, caprinos,
equinos, aves e camelos. Outra atividade de destaque do setor primário é a pesca, praticada nos
mares Mediterrâneo e Vermelho, nos lagos e nas lagunas do delta do Nilo.
As maiores riquezas minerais egípcias são petróleo, gás natural, ferro, fosfatos, manganês,
gesso, mármore e sal. A indústria emprega um quinto da mão-de-obra e responde por um terço
do PIB (PIB total de US$ 218,9 bilhões). O setor se destaca no refino de petróleo e na fabricação
de produtos químicos, açúcar, cimento, automóveis, máquinas, papel, alimentos e tecidos de
algodão, lã e juta. A maior parte da eletricidade é gerada em usinas termelétricas.
A população de 82,5 milhões de habitantes é composta em 98% por árabes egípcios. Os
2% restantes são formados pelos beduínos, que vivem nos desertos, e pelos núbios, antiga etnia
do sul. A maioria dos habitantes, 57%, mora em zonas rurais. O islamismo sunita é a religião
amplamente majoritária. Há uma minoria significativa de cristãos, com destaque para os
ortodoxos. O árabe é a língua oficial. Nos oásis do deserto Ocidental se utiliza o berbere.
A importância da cidade do Cairo, como centro industrial, turístico e cultural torna a capital
egípcia uma das principais cidades da África. Com 10,9 milhões de habitantes, é a maior
aglomeração urbana do continente. Fundada em 969, por ordem do califa al-Mu'izz, Cairo é um
importante elo no sistema de transportes do Egito, interligando a região do canal de Suez, o vale e
o delta do Nilo. O impressionante patrimônio artístico e cultural da cidade e de seu entorno atrai
milhões de turistas todos os anos.
03. ASPECTOS HISTÓRICOS
a) Evolução política e organização econômica
O problema da água sempre foi vital para os povos do Oriente Médio, onde predominam
planaltos e montanhas, o clima é seco e, em algumas partes, desértico.
Nas férteis planícies do Egito e da Mesopotâmia, desenvolveram-se civilizações agrícolas.
Nas faixas costeiras do Mediterrâneo, predominaram civilizações marítimo-mercantis. A vida era
mais difícil para os habitantes dos planaltos e das depressões que, entre Síria e Palestina, ligavam
a Mesopotâmia ao Egito.
A população misturava diferentes povos, com predominância do povo hamítico. Mais tarde
chegaram outros, de origem semítica e núbia. Os primeiros povoadores apareceram no Período
Paleolítico, quando o clima era muito úmido. Os primeiros núcleos populacionais formaram-se
com a estabilização do clima, no Neolítico.
A história do povo egípcio era pouco conhecida até o início do século XIX, porque ainda
não tinham sido decifrados os caracteres de sua escrita, os hieróglifos. Em 1798, um oficial de
Napoleão encontrou a pedra de Roseta, na cidade egípcia de mesmo nome. Era um fragmento de
basalto com inscrições em hieróglifos, grego e outras duas linguagens egípcias mais conhecidas.
Comparando os sinais, o arqueólogo francês Jean-François Champollion decifrou os hieróglifos
em 1822.
Uma das características da civilização egípcia foi seu isolamento, graças à localização do
território, cercado de desertos. O isolamento permitiu o desenvolvimento de traços culturais
razoavelmente homogêneos.
- O Antigo Império (3200 - 2200 a.c.)
A história do Egito começa quando as populações que viviam às margens do Nilo tornamse sedentárias, formando comunidades dedicadas mais à agricultura que à caça ou à pesca. No IV
milênio a.C., esses aglomerados evoluem para pequenas unidades políticas, chamadas nomos .
Da unificação dos 22 nomos existentes, formaram-se dois reinos, um no norte e outro no
sul. Por volta de 3200 a.C., o faraó Menés (ou Narmer) unificou os dois reinos, com capital em
Tínis, daí o período chamar-se tinita. Durou até 2800 a.C.
Os sucessores de Menés organizaram uma monarquia poderosa, atribuindo-lhe origem
divina. O soberano governava com poder absoluto, auxiliado por altos funcionários que
administravam os nomos, agora em número de 42.
Havia um funcionário responsável pelo controle das inundações do Nilo e um arquiteto
real. Foi a fase de maior prosperidade do Antigo Império. Entre 2700 e 2600 a.C., foram
construídas as célebres pirâmides de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos,
da terceira dinastia, fundada por Djoser em cerca de 2850 a.c. A nova capital era Mênfis.
- O Médio Império (2000 - 1750 a.C.)
Depois de uma crise de autoridade, com a ascensão dos nomarcas, apoiados pela nobreza,
os faraós reconquistaram o poder. Permitiram o ingresso de elementos das camadas inferiores no
exército e, com isso, submeteram a Palestina, onde descobriram minas de cobre, e a Núbia, onde
encontraram ouro. Os metais fortaleceram o Estado.
Entre 1800 e 1700 a.C., chegam os hebreus, mas são os hicsos, vindos da Ásia, que vão
criar as maiores dificuldades. Usam o cavalo e carros de combate, que os egípcios desconhecem.
Dominaram o país e instalaram-se no delta de 1750 a 1580 a.C.
- O Novo Império (1580 - 1085 a.C.)
A expulsão dos hicsos marca nova fase. de enorme desenvolvimento militar, a ponto de
transformar o Egito em potência imperialista. O período começou sob o reinado de Amósis I e
continuou com Tutmés I e Hatshepsut, regente durante a menoridade de Tutmés III. Hatshepsut
foi a primeira egípcia a atribuir-se poderes de faraó. Mas foi Tutmés III que estendeu a dominação
até o Rio Eufrates.
No apogeu, Amenófis IV, casado com a rainha Nefertiti, empreendeu uma revolução.
Substituiu o deus tradicional Amon-Rá por Áton, simbolizado pelo disco solar. A medida tinha
também caráter político, pois Amenófis queria livrar-se dos sacerdotes. Amenófis os expulsou,
construiu um templo em Hermópolis e passou a chamar-se Aquenáton: supremo sacerdote do
novo deus.
O sucessor, Tutancáton, restaurou o deus Amon e pôs fim à revolução. Mudou, inclusive, o
próprio nome para Tutancámon.
Os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) enfrentaram novos obstáculos, como a
invasão dos hititas, vindos da Ásia Menor. O Império entrava em declínio. Inimigos ameaçavam as
fronteiras. Internamente, a resistência enfraquecia com a rivalidade entre o faraó e grandes
senhores enriquecidos pela guerra.
Por volta do século VII a.C., os assírios invadem o país. Em 525 a.C., o rei persa Cambises
bate o faraó Psamético III. A independência acabou. Nos séculos seguintes, os povos do Nilo
seriam dominados pelos gregos e, finalmente, cairiam nas mãos do imperialismo romano, em 30
a.C.
O Nilo movia a economia. Alimentava milhares de pessoas numa área de 3.000
quilômetros de comprimento por 15 quilômetros de largura. Garantia unidade à civilização egípcia.
Mas dava trabalho, como a construção de diques e canais de irrigação, o que exigia um poder
forte e centralizado. Assim, o Egito pode ser visto mais como país agrícola que mercantil.
Funcionários mediam e demarcavam as propriedades. Impostos eram cobrados de acordo
com o tamanho delas. Havia descontos se a colheita fosse prejudicada por enchente excessiva.
Trigo, cevada, legumes, papiro e uvas eram as principais culturas. Também havia pomares. A
pesca, a caça e a criação de animais complementavam os trabalhos da terra.
As pirâmides permitem concluir que os egípcios dispunham de pedreiras bem organizadas.
Jazidas de ouro entre o Nilo e o Mar Vermelho deram origem a uma diversificada indústria de
ourivesaria. Fabricavam móveis, sarcófagos e carros de guerra de madeira. Armas de bronze.
O comércio conheceu certo dinamismo, apesar da rígida hierarquia da sociedade, que
dificultava a formação de uma classe mercantil. Do Mar Negro, da Núbia e da Síria vinham pedras
preciosas, marfim, perfumes e madeira. Pagavam exportando cereais, vinho, óleos vegetais e
papiro. Internamente, era possível realizar trocas. Por exemplo, pagar uma casa com móveis e
estofos; mas ouro e prata também funcionavam como moeda.
Podemos dizer que o sistema econômico era do tipo dirigido. O faraó encarregava-se de
fornecer alimentos a todos. Os agricultores consideravam a terra como propriedade do faraó e a si
mesmos como funcionários do Estado. Ficavam com uma parte muito pequena da produção.
O trabalho em minas, pedreiras, fabricação de móveis e objetos de ouro também era
dirigido por funcionários do faraó. Os trabalhadores, como os do campo, recebiam um pequeno
pagamento, sob a forma de produtos.
O dirigismo era consequência natural da geografia; o Estado precisava intervir para
regularizar o uso das águas do Nilo. O coletivismo na agricultura estendeu-se aos demais setores.
Em tal sistema, a iniciativa privada ficava prejudicada, dificultando o progresso técnico. O trabalho
humano era usado até o máximo de sua capacidade.
Pode-se enquadrar a economia egípcia no modo de produção asiático, em que coexistiam
comunidades caracterizadas pela propriedade coletiva do solo, e organizadas sobre as relações de
parentesco, e um poder estatal que representava a unidade verdadeira ou aparente dessas
comunidades. Uma característica marcante era a ausência de propriedade privada do solo. A
produção mais desenvolvida, no entanto, permitia que houvesse um excedente, o que implicava
maior divisão do trabalho e separação entre agricultura e artesanato. A produção não era
orientada para o mercado, o uso de moeda era limitado; noutras palavras, predominava a
economia natural.
O Estado, enquanto coordenava os trabalhos para o aproveitamento dos recursos naturais,
tomava posse das terras. O proprietário delas era o faraó; as comunidades ficavam apenas com a
posse e o direito de usufruto.
b) Organização social, religiosa e cultural
Isolados geograficamente, os egípcios criaram uma civilização original. A sociedade,
intensamente marcada pela religião, era hierarquizada em camadas. No campo das ciências, eles
se destacaram na Matemática, Astronomia e Medicina.
O faraó era considerado filho de Amon-Rá, o deus-sol, e encarnação de Hórus, o deusfalcão. Por isso, o governo do Egito antigo é chamado teocrático. Os egípcios julgavam que toda
felicidade dependia do faraó, diante de quem se prostravam em frequentes cerimônias. Ele
comandava o exército, distribuía justiça e organizava as atividades econômicas. Usava dupla
coroa, símbolo do Alto e Baixo Egito, e um cetro. Tinha várias mulheres, mas só a primeira podia
usar o título de rainha.
Parentes do faraó, altos funcionários do palácio, oficiais do exército, chefes
administrativos e sacerdotes formavam a nobreza. Os altos funcionários possuíam extensos
domínios e levavam vida luxuosa. Em tempo de guerra, combatiam em carros especiais.
A dignidade sacerdotal passava de pai para filho. Os sacerdotes, membros da mais elevada
camada social, administravam os bens oferecidos aos deuses. Recebiam do Estado grandes
propriedades. O mais importante de todos era o Profeta de Amon.
Os sacerdotes exerciam considerável influência política e, no período do Novo Império,
muitos deles tentaram tomar o poder.
Os escribas formavam-se nas escolas do palácio e aprendiam a traçar os complicados
caracteres da escrita, os hieróglifos. Graças à sua cultura, transformavam-se em magistrados,
inspetores, fiscais e coletores de impostos. Eram considerados os olhos e amidos do faraó.
Os soldados não eram muito estimados pela população. Viviam dos produtos recebidos
como pagamento e dos saques realizados durante as conquistas. Havia estrangeiros, como os
líbios. Antes da invasão dos hicsos, em 1750 a.C., não havia cavalaria e os soldados combatiam a
pé.
A camada inferior da sociedade era composta de camponeses e artesãos. Deles dependia a
prosperidade do país. Recebiam míseros pagamentos em forma de produtos, moravam em
cabanas, vestiam-se pobremente e comiam pouco. Aquilo que poupavam, guardavam para o
funeral, para garantir uma vida melhor após a morte.
Os escravos eram, em geral, bem tratados. Mais tolerantes que outros povos da mesma
época, os egípcios ofereciam certa segurança a seus escravos, numerosos em tempo de guerra.
- Religiosidade
Os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam vários deuses. E os deuses eram
antropozoomórficos: apresentavam forma de homem e animal. A dependência das cheias do Rio
Nilo explica a deificação da natureza.
Para explicar a origem de seus deuses, os egípcios contavam que, nos primeiros tempos do
Egito, Set (o vento quente do deserto) assassinou Osíris (o sol poente, o Nilo, deus da vegetação e
das sementes) e lançou o corpo ao rio. Ísis (deusa da vegetação) conseguiu encontrar o corpo.
Mas Set voltou a atacar Osíris e dividiu-lhe o corpo em 14 pedaços, que espalhou pelo Egito. Ísis,
pronunciando palavras mágicas, uniu os pedaços com a ajuda de Hórus (deus-falcão, o sol
levante).
A explicação está de acordo com os altos e baixos da vida dos egípcios, dependentes do Rio
Nilo. Todos os anos, viam as sementes morrer e ressuscitar: na natureza, aprenderam a noção de
imortalidade. Tais crenças foram substituídas por outras, introduzidas pelas classes mais cultas. Os
sacerdotes de Heliópolis impuseram o culto de Rá (o sol, criador de todos os deuses, que navegava
pelos céus em sua barca sagrada). Os faraós de Tebas, para livrar-se da hegemonia dos
sacerdotes, adotaram Amon como deus supremo. No fim, predominou uma combinação dos dois
deuses: Amon Rá, protetor dos faraós. Outros deuses eram Ptah, protetor dos artesãos; Thot,
deus da ciência e protetor dos escribas; Anúbis, deus-chacal, protetor do embalsamadores; e
Maat, deusa da justiça.
Em Tebas, os crocodilos mereciam culto especial. Sobeque, o deus-crocodilo, recebia até
recém-nascidos como oferendas. Em Mênfis, adoravam Ápis, o touro: sua morte era motivo de
luto em todo o país.
Os egípcios construíam templos grandiosos. Dentre os mais famosos estão o de Karnak,
erguido perto de Tebas em homenagem a Amon, e o de Luxor, erigido no reinado de Amenófis IV.
Também merecem destaque os templos de Hórus, em Edfu, e de Abu-Simbel, cavado na rocha e
em cuja entrada se encontra a estátua de Ramsés II.
Todas as manhãs, os sacerdotes faziam o trabalho de purificação e ofereciam alimentos
aos deuses. Em algumas ocasiões, levavam um dos deuses para passear pelo santuário ou para
visitar outros deuses, numa embarcação que percorria o Nilo. Os sacerdotes tinham a cabeça
raspada. Uma de suas atividades principais era transmitir as respostas dos deuses às perguntas
dos fiéis. Podiam casar e ter filhos.
Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma. A vida poderia durar
eternamente, desde que a alma encontrasse no túmulo o corpo destinado a servir-lhe de moradia.
Por isso, era preciso conservar o corpo. Com esta finalidade, os egípcios desenvolveram a técnica
da mumificação. Os especialistas nesse trabalho eram muito bem pagos. Eles extraíam as vísceras
e imergiam o corpo numa mistura de água e carbonato de sódio. Dentro do corpo, punham
substâncias aromáticas, que evitavam a deterioração, como mirra e canela. Envolviam o corpo em
faixas de pano, sobre as quais passavam uma cola especial para impedir o contato com o ar, e o
colocavam num sarcófago, para levá-lo a um túmulo.
Segundo acreditavam os egípcios, agora Anúbis conduziria o morto até Osíris. Ele seria
julgado na presença de 42 deuses. Seu coração, posto numa balança, deveria pesar menos que
uma pena. Se fosse condenado, sua alma seria devorada por uma deusa com cabeça de crocodilo.
Os túmulos variavam de simples covas a imensas pirâmides. Nobres e sacerdotes importantes eram sepultados nas mastabas, construções com câmaras subterrâneas. Os faraós tinham
lugar reservado numa câmara secreta dentro das pirâmides.
- Artes e ciências
As grandes manifestações da arquitetura egípcia foram os templos, as pirâmides, as
mastabas e os hipogeus, túmulos subterrâneos cavados nas barrancas do Nilo, como no Vale dos
Reis.
A escultura também era predominantemente religiosa e atingiu o auge com os sarcófagos,
de pedra ou madeira. Os artistas procuravam reproduzir as feições dos mortos, para ajudar a alma
a encontrar o corpo. Chegavam a incrustar, nos olhos, pupilas de cristal ou esmalte branco. A
pintura tinha função decorativa e retratava cenas do dia-a-dia, o que permite reconstituir o gênero
de vida dos egípcios.
Os estudos de Matemática e Geometria tinham finalidade prática: a construção civil. Os
egípcios conheciam a raiz quadrada e as frações e chegaram a calcular a área do círculo e a do
trapézio.
A preocupação com as cheias e vazantes do Nilo e com a natureza estimulou-os a estudar
Astronomia. Localizaram alguns planetas e constelações. Construíram um relógio de água e
organizaram um calendário solar. Dividiram o dia em 24 horas e a hora em minutos, segundos e
terços de segundo. Tinham semana de dez dias e mês de três semanas. O ano, de 365 dias, dividiase em estações agrárias: Cheia, Inverno e Verão.
Na Medicina, os egípcios realizaram progressos razoáveis. Os médicos faziam operações
até no crânio. Conheciam a circulação do sangue e as infecções dos olhos e dentes.
Tantos conhecimentos chegaram a nós por meio da escrita egípcia. Havia três modalidades
básicas: hieroglífica, a escrita sagrada dos túmulos e templos; hierática, uma simplificação da
anterior; e demótica, a escrita popular, usada nos contratos redigidos pelos escribas.
Em geral, os escritos se inspiravam em temas morais, poéticos ou religiosos, como o Texto
das Pirâmides e o Livro dos Mortos. Conhecem-se também alguns contos e uma literatura
maliciosa, como A Sátira das Profissões, que mostra os inconvenientes de cada profissão.
A cultura egípcia pouco tomou emprestada, mas pouco contribuiu para a evolução de
outras. Condicionada pela singular situação geográfica em que se desenvolveu a civilização do Nilo
não podia ajustar-se ao meio ambiente de outras regiões. Foi uma cultura profundamente original.
- Egito Ptolemaico
Em 333 a.C., Alexandre Magno derrotou os Persas na Batalha de Issus, e, no Outono do
ano seguinte, ocupou o Egito, onde foi recebido como libertador pelo povo. Antes de partir para
novas campanhas militares no oriente, Alexandre fundou na região ocidental do delta do Nilo a
cidade de Alexandria, que seria nos séculos seguintes a metrópole cultural e econômica do
Mediterrâneo e capital da dinastia.
Alexandre morreu em 323 a.C., mas sua sucessão não ficou assegurada. Nos anos seguintes
os seus generais dividiram entre si o império criado por Alexandre. Um destes generais, Ptolemeu,
que já estava instalado como governador do Egito, pegou em 305 a.C. o título de basileus (rei),
fundando a dinastia ptolemaica que governou o Edito até 30 a.C..
A última representante da dinastia ptolemaica foi a famosa rainha Cleópatra, que tentou
recuperar a glória do reino anterior, tornando-se aliada dos romanos Júlio César e Marco Antônio.
Os seus esforços mostraram-se inúteis, sendo vencida pelas forças romanas de Octaviano na
Batalha de Ácio.
- O Egito romano e bizantino
Após a derrota de Cleópatra, o Edito é agregado no Império Romano como uma província
administrada por um prefeito de origem da cavalaria que era diretamente responsável pelo
imperador. Augusto decretou o fechamento da entrada de senadores ou de cônsules no território,
já que tinha medo que eles tomassem posse do local. O primeiro prefeito que o Egito conheceu foi
Caio Cornélio Galo, que acabaria caindo em desgraça.
De acordo com a tradição, o cristianismo teria sido introduzido no Egito por São Marcos,
mas esta afirmação não é sustentada pelas fontes históricas. No final do século III, o Egito já tinha
se cristianizado. Em 325 o Concílio de Nicéia institui o Patriarcado de Alexandria, que era o
segundo mais importante após o Patriarcado de Roma, exercendo a sua autoridade sobre o Egito
e a Líbia. Em 451 o Concílio de Calcedônia condenaria a doutrina do monofisismo (segundo a qual
Jesus depois da encarnação tinha apenas uma natureza, a humana), gerando a dúvida que separou
a cristandade egípcia (adepta do monofisismo) dos outros cristãos da época.
Em 395 o Império Romano dividiu-se em duas partes, ficando o Egito inserido no Império
Romano do Oriente, que mais tarde se chamaria Império Bizantino.
- O domínio islâmico
A conquista do Egito pelos árabes insere-se no movimento de expansão destas populações
que se iniciou após a morte do profeta Muhammad (Maomé). Em 639, Amr ibn al As, lugartenente do califa Omar, liderou uma expedição militar ao Egito da qual resultou a expulsão
definitiva do poder bizantino por volta de 642. Amr instalou a capital do Edito em Al Fustat, onde
tinha existido uma fortaleza romana chamada Babilônia.
Ao longo dos séculos seguintes a população que habitava o Egito acabaria por se converter
ao islã e por adotar como língua o árabe. Para a arabização do Edito contribuiu a instalação no
território de tribos oriundas da Península Arábica.
O Egito tornou-se uma província do califado omíada até 750, ano em que este foi
derrubado e substituído pelo califado abássida. Os abássidas transferiram a capital do califado de
Damasco para Bagdá, tendo o seu poder entrado em decadência em meados do século IX, o que
permitiu a ascensão de dinastias locais em várias partes do império.
- O Egito otomano (1517-1798)
Em 1516 e 1517, o sultão Selim I derrotou os Mamelucos e o Egito transformou-se numa
província do Império Otomano, governada por um novo paxá nomeado a cada ano. A autoridade
do Império Otomano era pouca e os paxás tomavam frequentemente decisões à margem dos
desejos do sultão, que se alegrava em receber o tributo, apenas exigindo que as fronteiras fossem
vigiadas para evitar qualquer tipo de invasão. As antigas elites mamelucas conseguiram burlar as
estruturas administrativas e continuar a governar o Egito. Embora colaborassem com os otomanos
muitas vezes desafiavam o seu poder. Este período corresponde a um declínio econômico e
cultural.
No século XVII desenvolveu-se uma elite de mamelucos que usava o título de "bey", ao
mesmo tempo que as guerras entre duas facções de mamelucos acabavam com o país. No século
XVIII, Ali Bey e o seu sucessor, Muhammad Bey, conseguiram fazer do Egito um território
independente do Império Otomano. Por outro lado, a situação econômica do Egito decaiu e a
população conheceu um período de penúria e fome.
- Domínio do Ocidente e independência
Neste contexto de um Egito fraco, a França e a Inglaterra começaram a alimentar ambições
em relação ao território. Em 1798 o general Napoleão Bonaparte invadiu o país para tentar abalar
o comércio inglês na região.
Forças britânicas e turcas expulsam os franceses em 1805. O marco da influência
europeia é a construção do Canal Suez – concluída em 1869 -, mais tarde reforçada com a
ocupação britânica, em 1882. Em 1922, o Egito proclama a independência e adota a
monarquia, sob o reinado de Fuad I. A presença militar do Reino Unido se estende até 1936,
quando a potência passa a manter tropas apenas na Zona do Canal.
O rei Fuad I morre em 1936 e é sucedido por seu filho Farouk. As batalhas da II Guerra
Mundial atingem o território egípcio, palco de combates que opõem britânicos a alemães e
italianos. A difícil situação econômica do pós-guerra e a derrota para os israelenses, em
1948 e 1949, no conflito contra a criação do Estado de Israel, provocam protestos
antimonarquistas e anticolonialistas. Em 1952, oficiais liderados pelo coronel Gamal Abdel
Nasser depõem Farouk e, em 1953, proclamam a República. Nasser torna-se presidente em
1954 e promove a reforma agrária e a industrialização. Em 1956 nacionaliza o canal e impede
navios israelenses de cruzá-Io. Em reacão, Israel invade e ocupa a península do Sinai, apoiado
por tropas francesas e britânicas. A União Soviética (URSS) apoia o Egito, e o governo norteamericano força o cessar-fogo e a devolução do Sinai aos egipcios, estabelecendo sua
soberania sobre o canal.
Nasser procura aglutinar os países árabes em torno de sua liderança nacionalista. Em
1958, Egito e Síria formam um só Estado, a República Árabe Unida, tendo Nasser como
presidente. A união fracassa, e, em 1961, a Síria rompe com o Egito. O presidente egípcio
aprofunda laços com a URSS, que lhe dá apoio militar e financia a hidrelétrica de Assuã, no
rio Nilo. Em 1967, o Egito perde a península do Sinai e a Faixa de Gaza para Israel na Guerra dos
Seis Dias. Nasser morre três anos depois, e o vice, Anuar Sadat, assume. Em 1973, no feriado
judaico do Yom Kippur, Egito e Síria atacam Israel e são derrotados. Sadat inicia a "infitah",
política de abertura ao Ocidente.
gito e Israel assinam acordos de paz em Camp David, nos EUA, em 1978 e 1979, com a
mediação do presidente Jimmy Carter. Os israelenses, então, devolvem o Sinai ao Egito. Em 1981,
Sadat é assassinado por fundamentalistas muçulmanos. O sucessor, general Hosni Mubarak,
mantém sua política, apesar da pressão de governos árabes contrários à conciliação com Israel.
Desde o início do governo, Mubarak reprime grupos extremistas islâmicos. Nos anos 1980,
com o agravamento da crise econômica, os fundamentalistas se fortalecem. Em dez anos, a
organização islâmica Gammaati-Islami mata 1,3 mil pessoas. Em 1999, abandona as ações
armadas. No ano seguinte, a Jihad Islâmica também anuncia o fim da atividade terrorista. Nos
anos 1990, o Egito desempenha importante papel nas negociações entre israelenses e palestinos.
Um referendo em 1999 ratifica, com 94% dos votos, a permanência de Mubarak na Presidência
por mais seis anos.
04. ATUALIDADES
Em 2001, o Egito acerta com a União Européia a redução gradual de barreiras comerciais
em 12 anos. Em maio de 2005, é aprovada, no Parlamento e em referendo popular, emenda
constitucional que propõe a eleição presidencial por voto direto. Em setembro, Mubarak é reeleito
para o quinto mandato. A Irmandade Muçulmana torna-se o maior bloco de oposição na casa.
Desde 2005, o terrorismo se agrava no Egito. Em um ano, mais de 100 pessoas morrem em
ataques. Em maio de 2006, Mubarak prorroga a Lei de Emergência, que permite ao governo
prender e manter detida uma pessoa sem necessidade de acusação judicial. Em agosto, o grupo
islâmico Gammaati-Islami se junta à rede Al Qaeda, depois de anos de cessar-fogo.
O diplomata Mohamed El Baradei, que, na chefia da agência nuclear da ONU, recebe o
Prêmio Nobel da paz em 2005, volta ao Egito em fevereiro de 2010. Ele faz pressão por reformas
democráticas e ganha popularidade.
Antes da eleição parlamentar de novembro/dezembro, o governo prende mais de mil
membros da Irmandade Muçulmana e desqualifica dezenas de candidatos. O NDP obtém vitória
esmagadora ao conquistar 419 dos 518 assentos no Parlamento. A Irmandade Muçulmana, que
elege apenas um representante (independente), denuncia a campanha de intimidação e a fraude
generalizada e realiza protestos.
Primavera Árabe na Praça Tahir
A revolução que derruba a ditadura na Tunísia chega rapidamente ao Egito. Em 25 de
janeiro de 2011, dezenas de milhares de egípcios tomam a Praça Tahir, no centro do Cairo, para
pedir a renúncia de Mubarak e protestar contra a corrupção, a pobreza, o desemprego e os
abusos das forças de segurança. Os ativistas organizam o ato por meio do Facebook e de telefones
celulares. Nos dias seguintes, enfrentam a polícia, que tenta dispersar a multidão em Tahir. O
governo decreta toque de recolher e bloqueia o acesso à internet e à telefonia celular. Em 1º de
fevereiro, Mubarak anuncia que não será candidato na eleição de setembro. A Marcha do Milhão,
em Tahir, pede a sua saída imediata. Bandos armados pró-Mubarak invadem a praça montados
em camelos. Em 11 de fevereiro, é anunciada a renúncia de Mubarak.
O comando da nação é transferido para o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA),
liderado pelo general Field Marshal Muhammad Hussein Tantawi, que dissolve o Parlamento,
suspende a Constituição e anuncia que vai entregar o poder para os civis após as eleições. Em
março, 77,3% da população aprova em referendo emendas na Constituição referentes ao processo
eleitoral - entre as quais o limite de dois mandatos presidenciais consecutivos e medidas que
ampliam o acesso às candidaturas para presidente. A Irmandade Muçulmana funda o Partido
Liberdade e Justiça, agremiação islâmica que defende os princípios democráticos e um papel de
maior destaque para o islamismo no país. A principal agência do aparato de segurança de
Mubarak é dissolvida em março e o NDP, em abril. O estado de emergência não é levantado vigente há décadas, a lei dá poderes quase ilimitados à polícia para que reprima a oposição.
Mubarak é posto em prisão domiciliar em março. Durante interrogatório, em abril, ele sofre um
ataque cardíaco e é hospitalizado em Sharm-el-Sheikh.
A junta militar declara que vai observar o acordo de paz com Israel. Ao mesmo tempo, fala
em normalizar relações com o Irã. Em fevereiro, o Irã envia navios de guerra para o Canal de Suez
pela primeira vez desde 1979, e o governo autoriza a passagem - contrariando Israel. A junta
militar também se aproxima do Hamas - reabre a fronteira com a Faixa de Gaza em maio e
patrocina um acordo de união do grupo com a Fatah.
Após a queda de Mubarak, aumenta a ação de grupos criminosos e de extremistas
islâmicos na península do Sinai, que faz fronteira com Israel. Entre março e novembro de 2011,
supostos sabotadores realizam nove ataques na região contra o gasoduto que interliga Egito,
Israel e Jordânia, levando a interrupções no fornecimento de gás natural do Egito para os dois
países.
Em agosto, Israel mata cinco policiais egípcios quando perseguia supostos militantes
palestinos de Gaza na fronteira, provocando grave crise diplomática. O governo do Egito convoca
o embaixador em Israel e exige um pedido oficial de desculpa. As mortes fazem aumentar o
sentimento anti-Israel no país. Grandes protestos no Cairo levam, no início de setembro, à
violenta invasão da embaixada israelense. Os choques com a polícia deixam três mortos.
Julgamento de Mubarak
Outra demanda-chave dos manifestantes é o julgamento de Mubarak, que começa em
agosto. O ex-ditador é responsabilizado pela morte de 846 pessoas durante os protestos. Também
é acusado, com seus dois filhos, de enriquecimento ilícito. Caso seja considerado culpado, a
sentença poderá ser a pena de morte. Em maio, outros três ex-ministros são condenados por
corrupção, com penas que variam de cinco a 12 anos de prisão.
No começo de outubro de 2011, mais de 25 pessoas morrem em choques com as forças de
segurança durante uma manifestação de cristãos coptas no Cairo contra o extremismo islâmico.
Ataques de radicais islâmicos a igrejas coptas na capital deixam 12 mortos em março e 13 em
maio. Novo ataque, na província de Aswan, é o estopim dos protestos. Os cristãos são a principal
minoria do Egito, sentem-se discriminados e temem o seu futuro no Egito da era pós- Mubarak.
Eles acusam o novo governo de fazer pouco para coibir a crescente hostilidade dos grupos
muçulmanos ultraconservadores à sua comunidade.
A frustração dos egípcios com o ritmo lento das reformas democráticas é motivo de
protestos periódicos no decorrer do ano. No fim de novembro, às vésperas do início da eleição
parlamentar, os ativistas retornam em grande número à Praça Tahir para exigir a saída dos
militares e a transferência imediata do poder para um governo civil. Os choques com a polícia
deixam mais de 40 mortos, na pior onda de violência desde a queda de Mubarak. Procurando
acalmar a população, Tantawi nomeia um novo gabinete e antecipa as eleições presidenciais para
junho de 2012 – elas estavam marcadas para o fim de 2012 ou possivelmente 2013.
Eleições Livres
A eleição presidencial do Egito de 2012 foi realizada em duas etapas: primeiro turno em
23 e 24 de maio; e segundo turno em 16 e 17 de junho. De acordo com o sistema eleitoral, se
nenhum dos candidatos obtivesse a maioria absoluta dos votos (50%+1), um segundo turno seria
realizado em 16 e 17 de junho, sendo de fato realizado, com a não confirmação de resultado
conclusivo no primeiro turno. Esta eleição é considerada histórica por ser a primeira eleição livre
do país, já que nas outras não havia oposição de forma que o vencedor era óbvio.
O segundo turno confirmou a vitória dos islamitas, representados pelo Partido da
Liberdade e da Justiça, conquistando 51,7%, tendo Morsi como primeiro presidente eleito em
eleições livres na era pós-Mubarak.
______________________
* Compilação feita a partir de:
- Almanaque Abril 2012, 38ª ed. São Paulo: Ed. Abril, 2012.
- Arruda, J. e Piletti, N. Toda a História, 4ª ed. São Paulo: Ática, 1996.
- Atlas National Geografic, Vol.10: África II. São Paulo: Ed. Abril, 2008.
- www.wikipedia.org

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