Azeite `batizado` Azeite `batizado`

Transcrição

Azeite `batizado` Azeite `batizado`
www.proteste.org.br
Ano I – Nº 8 – Outubro de 2002
Azeite
‘batizado’
Das 15 marcas
que testamos,
5 estavam
fraudadas
Ferros de passar
Quatro aparelhos
foram eliminados
porque tinham
falhas na
segurança das
partes elétricas
Aluguel
Dicas do começo ao fim
Ações
Como investir na bolsa
Sinais cutâneos
Aprenda a ler a sua pele
ALIMENTOS
Fotos Glória Flügel
Pro Teste
Cuidado com o azeite
que você leva para sua mesa
Em nossa avaliação descobrimos bons produtos, mas existem
algumas marcas que fraudam o conteúdo e prejudicam o consumidor.
N
osso teste de alimentos deste
mês traz más notícias para o
consumidor. Encontramos cinco
marcas (um terço do total) de azeite
de oliva que apresentavam indícios
de fraude, pela adição de óleo de
bagaço de oliva ou de óleo vegetal
de outras sementes, principalmente
soja. Alguns dos azeites analisados
apresentavam problemas de oxidação e frescor, e o sabor deixava a
desejar. Esse resultado é um alerta
importante, pois trata-se de um ingrediente muito apreciado na
gastronomia brasileira, apesar do
preço salgado.
Portanto, é preciso ter cuidado ao
escolher o seu azeite – um produto
que, além de tudo, é bastante sensível e pode se deteriorar com facilidade se não forem tomados os devidos cuidados em todas as fases da
sua produção, armazenamento e
comercialização.
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PRO TESTE nº 8 – outubro 2002
Testamos 15 marcas vendidas no
Brasil como azeite de oliva (veja os
diversos tipos existentes no mercado no quadro da página ao lado). A
maioria dos produtos era importada de Portugal e da Argentina.
Um aliado da saúde
O consumo de azeite de oliva tem
demonstrado efeitos benéficos sobre a saúde. Pesquisas realizadas na
década de 1950 já mostravam a relação entre dietas e o surgimento das
doenças cardiovasculares. Esses estudos mostravam que, enquanto os
habitantes da ilha de Creta, no mar
Mediterrâneo (cuja alimentação é
baseada em trigo, peixes, legumes,
frutas, vinho e azeite), tinham uma
incidência de mortes por doenças
cardiovasculares de 38 para cada 10
mil, nos Estados Unidos a incidência era de 773 e, na Finlândia, de
1.202 para cada 10 mil habitantes.
Estudos complementares mostraram que o azeite de oliva ajuda de
fato a prevenir doenças cardiovasculares porque atua sobre a pressão
arterial e nos mecanismos de formação de coágulos. Além disso, um regime alimentar que inclua o azeite
de oliva contribui para reduzir o nível de colesterol total no sangue, diminuindo o mau (LDL) e subindo ligeiramente o bom colesterol (HDL)
– o que ajuda a proteger o coração.
E contribui ainda para prevenir
tromboses, ao evitar a agregação das
plaquetas sanguíneas e facilitar a dilatação dos vasos.
O azeite de oliva também favorece a digestão: facilita a assimilação
dos nutrientes, estimula a secreção
da bílis e o funcionamento do pâncreas, o que melhora a digestão das
gorduras.
Outra boa atuação do azeite é
ALIMENTOS
Pro Teste
Da azeitona à sua mesa
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Marcelo Hardt
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quanto à prevenção de algumas doenças, principalmente as úlceras (ao
aumentar a secreção mucosa do estômago) e os cálculos biliares (por
impedir a acumulação de cristais).
Além disso, devido ao seu papel
antioxidante, alguns estudos relacionam o consumo do azeite de oliva
à menor incidência de vários tipos
de câncer. Outros estudos mostram
também que esses antioxidantes,
principalmente a vitamina E, previnem a oxidação e o envelhecimento
celular.
É ainda um produto recomendado
para diabéticos, pois melhora a assimilação de açúcar e a tolerância à
glicose, reduzindo a quantidade de
insulina necessária ao corpo humano.
Por fim, quanto aos ossos, como o
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Como são fabricados os vários tipos de azeite encontrados no mercado.
1 A azeitona é sucessivamente lavada, moída e batida.
2 Resulta daí uma massa oleosa, que é submetida a prensagem.
3 A parte sólida resultante, o bagaço, é processada e transformada em
óleo de bagaço e/ou caroço de oliva.
4 A parte líquida é depurada e pode dar origem a vários produtos,
entre os quais destacamos o azeite virgem de oliva, que tem aroma
e sabor intensos, muito agradáveis, mas que é também o mais
caro. É recomendado para tempero e para todos os pratos em
que é consumido cru. No mercado, podemos encontrar dois
tipos de azeite virgem, que se distinguem conforme a acidez.
5 O azeite de oliva virgem extra não pode ter acidez
maior que 1%.
4
6 O azeite de oliva virgem fino não pode ter
acidez maior que 2%.
7 Outros subprodutos da depuração do
óleo são o azeite virgem comum ou
semifino ou corrente e o azeite vir7
gem lampante (além dos resíduos).
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Nenhum deles é vendido diretamente ao consumidor. Eles são submetidos a refinação.
8 O produto resultante é o azeite refinado, com acidez máxima de 0,5%,
que também não é vendido direta9
mente ao consumidor.
9 O azeite refinado é misturado aos
tipos virgens extra, fino ou comum. Surge daí o chamado azeite de oliva, com
acidez máxima de 1,5%, um produto mais acessível,
mas com sabor menos intenso. É este tipo que avaliamos nesta edição.
Pode-se encontrar no mercado, ainda, o óleo composto de soja e oliva,
que deve ter pelo menos 15% de azeite de oliva em sua composição.
azeite de oliva favorece a fixação de
minerais no organismo, estimula o
crescimento e a absorção do cálcio.
É também recomendado na alimentação infantil, por conter ácido
oléico, que ajuda no desenvolvimento das crianças.
Acidez e qualidade
Em nossos testes, fizemos várias
análises para determinar os diferentes aspectos dos azeites de oliva –
veja mais no quadro da próxima página. A primeira delas, claro, é determinar sua qualidade. Um dos fatores que influenciam a qualidade
do azeite é a sua acidez. Essa característica depende de vários fatores:
das pragas a que a oliveira esteve
exposta, do clima e da manipulação
das azeitonas, entre outros. Qualquer golpe produzido na azeitona
(durante a colheita, por exemplo)
origina feridas que facilitam a ação
das lipases – enzimas produzidas por
bactérias que, ao degradar a gordura, fazem aumentar a acidez.
No entanto, uma acidez baixa não
é tudo. Outros aspectos vão influenciar a qualidade do azeite de oliva,
como o sabor, o aroma etc. E mesmo
um teor maior de acidez, dependendo do tipo do azeite, pode ser aceitável. Por exemplo, um produto do tipo
comercial azeite de oliva (mistura de
azeite virgem com refinado) pode ter
acidez de 0,5% e a sua qualidade ser
inferior a de um azeite de acidez maior mas de categoria mais nobre,
como um azeite de oliva virgem.
PRO TESTE nº 8 – outubro 2002
9
Pro Teste
ALIMENTOS
ANDORINHA
ARISCO
Neste quesito, como você pode ver
na tabela da pág. 12, todos os produtos testados revelaram uma acidez
igual ou inferior à exigida para a categoria analisada. No entanto, como
a acidez tende a aumentar com o passar do tempo, as marcas Serrata e
Arisco tiveram classificação regular
(–), pois já apresentavam o valor
máximo de acidez permitido para
esta categoria (1,5%) e o vencimento
do prazo de validade desses produtos ainda estava distante (em 2004).
No tubo
de ensaio
A norma que regulamenta a produção e
a comercialização do azeite de oliva no
Brasil (Resolução nº 482 da Anvisa/MS) é
relativamente completa, até nas análises
necessárias para detectar fraudes. Por
isso, foi nela que nos baseamos para classificar os produtos em teste.
No laboratório, realizamos várias análises que nos permitiram avaliar qualidade, frescor e pureza do azeite de oliva:
= Para determinar a qualidade e o frescor, verificamos a acidez (em porcentagem de ácido oléico), o índice de
peróxidos e a absorção ultravioleta.
= Testamos a presença de contaminantes,
determinando a umidade e as impurezas
que podem estar presentes no azeite. Em
excesso, elas alteram a qualidade do produto e podem denunciar uma fraude ao
bolso do consumidor.
= Também fizemos diversos testes para
detectar eventuais fraudes: análise da absorção ultravioleta (para detectar a presença de óleos refinados), da quantidade de
ceras e demais produtos que identifiquem
outros óleos ou gorduras vegetais, e a composição de ácidos graxos.
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PRO TESTE nº 8 – outubro 2002
BEIRA ALTA
Azeites mal conservados
No laboratório analisamos a absorção de luz ultravioleta, que é um bom
indicador da qualidade dos azeites,
pois representa sua oxidação e seu
estado geral de conservação.
A oxidação pode surgir devido a
uma má manipulação da azeitona ou
do próprio azeite (uma vez produzido, a luz e o calor podem danificálo). O tipo comercial testado é mais
sensível à oxidação do que o virgem,
pois, ao ser refinado, perde parte
das substâncias antioxidantes que
contém naturalmente. A única conseqüência de um azeite de oliva
mais oxidado é um sabor mais forte
que, em alguns casos, chega a ser
desagradável e, no pior dos casos,
tem sabor rançoso.
O estado de conservação geral das
marcas Faisão, Torre de Belém e
Otoyan mostrou problemas e, por
isso, essas marcas foram classificadas negativamente. Não por acaso,
essa característica confirmou-se na
degustação realizada. No entanto,
mesmo azeites mais bem conservados não agradaram ao paladar, o que
mostra que um bom estado de conservação nem sempre é sinônimo de
um azeite com boas características.
Já com relação a contaminantes
(água e outras impurezas), nenhuma
das marcas apresentou problemas.
Assim, todas foram bem classificadas.
Adulteração é crime
Quando um produto se denomina
“azeite de oliva”, significa que não
pode ter outros componentes. No
entanto, fraudar o azeite pode ser
uma tentação para algumas empre-
BERTOLLI
CARBONELL
sas, uma vez que o seu preço é mais
elevado do que o de outros óleos
vegetais. A legislação prevê, portanto, várias análises que permitem detectar a existência de adulterações
ou a venda de “gato por lebre”. Nas análises realizadas detectamos
várias irregularidades. As marcas
Arisco, Otoyan e Torre de Belém
apresentavam indícios nítidos da
adição de óleo de bagaço de oliva –
uma fraude contrária à legislação
brasileira. As marcas Faisão e Minha
Quinta mostravam adição de outro
óleo vegetal, principalmente de soja.
A marca Otoyan apresentava tam-
Mais critérios para o
controle da qualidade
Um produto tão nobre como o azeite de
oliva, que comprovadamente ajuda a reduzir a taxa de colesterol no sangue, diminuindo a incidência de doenças
cardiovasculares, merecia uma fiscalização mais efetiva – uma responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). Sabemos que esta não
é a primeiro vez em que azeites examinados se apresentam “batizados”. Mas
e quanto à punição das empresas?
O que o consumidor deve fazer? Em primeiro lugar, boicotar os azeites fraudados – não comprar e alertar outros consumidores para não comprarem produtos enganadores.
Não é possível, porém, que apenas
quando são realizados testes independentes, como o nosso, o alerta contra as
fraudes chegue até os consumidores. A
legitimidade do azeite de oliva deve ser
uma garantia e não mera suposição. É
urgente, portanto, que haja uma fiscalização mais rigorosa e uma punição efetiva aos fraudadores.
ALIMENTOS
FAISÃO
GALLO
bém (além do óleo de bagaço de
oliva) adição de outro óleo de semente, que não foi possível identificar.
Por enganarem o consumidor e
descumprirem a lei, esses óleos foram eliminados da avaliação final.
Rótulos incompletos
Um rótulo completo é sempre importante para que o consumidor possa se orientar e saber o que está escolhendo. No caso do azeite de oliva, há
alguns elementos que deverão obrigatoriamente figurar nas embalagens (o
tipo do produto, prazo de validade,
identificação da origem, código do lote,
conteúdo líquido, lista de ingredientes
e grau de acidez).
Encontramos, porém, algumas falhas. A maioria das marcas não especifica o grau de acidez do produto, por
exemplo. A denominação correta –
azeite de oliva – não foi seguida por
muitas marcas, que preferiam usar
apenas “azeite”. E pior: marcas que
fraudam os consumidores, adicionando outros óleos não permitidos, ainda
estampam rótulos com adjetivos como
“puro” (Arisco) ou “100% azeite de
oliva” (Torre de Belém) – o que se torna mais enganador ao consumidor.
Já o modo de conservação do produto, embora não obrigatória, é informação importante ao consumidor que
algumas marcas estampam. No entanto, nenhuma delas explica como conservar o produto depois de aberta a
lata – veja nossas recomendações no
quadro à direita.
Decepção no sabor
O azeite de oliva é ingrediente indispensável da cozinha mediterrâ-
LA ESPAÑOLA
MALAGUEÑA
nea, com base em massas, peixes, legumes e saladas, graças ao sabor especial que confere aos alimentos.
Muitos consumidores preferem o
azeite de oliva para temperar saladas, consumindo-o cru. Portanto,
nada mais natural que submeter os
azeites de oliva analisados a uma prova de degustação – afinal, de nada
serve um azeite de oliva com boas
características físico-químicas e sem
adulterações, mas de sabor desagradável. Por lei, é exigido que o produto apresente um aspecto líquido
límpido, cor amarela clara ou verde,
e sabor e odor característico.
Apesar de algumas boas classificações obtidas, seis das marcas analisadas (40%) receberam uma avaliação
negativa. As piores classificadas foram as marcas Malagueña, Torre de
Belém e Otoyan. Os produtos com classificações negativas apresentaram sabor e cheiro desagradáveis, que se
deve ao azeite obtido a partir de azeitonas em estado de fermentação avançado. Apresentavam também odor e
sabor de mofo. Apesar de desagradável, esse sabor não tem conseqüências para a saúde, constituindo, porém,
um desrespeito ao consumidor.
Do outro lado, destacou-se positivamente o Beira Alta ( +), que foi bastante apreciado pelo seu sabor, odor
e cor.
O custo desse prazer
Para saber quanto pesa no bolso
manter à mesa o azeite de oliva, fizemos levantamento de preços
com as 15 marcas testadas – todas
com capacidade de 500 mililitros.
De todas, a única que não dispõe
da embalagem em lata é a Bertolli,
Pro Teste
MINHA QUINTA
que compareceu com a versão em
garrafa.
Em média, uma embalagem com
500 mililitros de azeite custa cerca
de R$ 7. Contudo, a média não diz
tudo: percebemos claramente três
Como
conservar
Muitos dos azeites encontrados nos mercados são apresentados em latas. E vários deles não têm uma abertura fácil –
embora algumas marcas já tragam um
fecho plástico que veda adequadamente
a lata em uso, muitos consumidores reclamam que a abertura é grande demais
(veja a foto). A dúvida que surge é: como
guardar o azeite para que ele se mantenha adequado ao consumo?
É importante que o
azeite seja mantido
num local fresco e
ao abrigo da luz, de
forma que não se
degrade devido a
um aumento de
temperatura, e longe de cheiros intensos (estes podem
passar para o produto, dando-lhe um sabor estranho). Mantenha-o sempre vedado para que o azeite
não se oxide rapidamente em contato com
o ar. A prática de tampar o furinho da lata
com um palito não é adequada, pois a
vedação não é completa.
Assim, depois de aberta a lata, o azeite
de oliva deve ser guardado em recipientes de vidro (de preferência escuro),
ou de aço inox, para que não haja migração de elementos do recipiente para
o produto (o que poderá acontecer
com o plástico).
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Pro Teste
OLIVEIRA
ALIMENTOS
OTOYAN
PIC-NIC
SERRATA
TORRE DE BELÉM
O sabor de seis marcas não agradou
Representantes
ANDORINHA – (11) 227-7177
ARISCO/BEIRA ALTA/GALLO/
MALAGUEÑA – 0800-7013000
BERTOLLI – (11) 4612-2440
CARBONELL – (11) 5573-7911
FAISÃO – 0800-191105
LA ESPAÑOLA – 0800-118000
MINHA QUINTA – 0800-556306
OLIVEIRA – (21) 2584-3592
OTOYAN – 0800-161164
PIC-NIC – (11) 6721-1469
SERRATA – (21) 2775-8986
TORRE DE BELÉM – 0800-118211
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PRO TESTE nº 8 – outubro 2002
marcas Minha Quinta e Faisão, pelo
contrário, apresentam os preços
mais baixos da amostra (preço entre R$ 2,45 e R$ 3,99). Mas esta não
é uma vantagem pois trata-se de azeites “batizados”. Verificamos, ainda,
que embora as marcas mais caras
apresentassem também maior qualidade que as mais baratas – que inclusive apresentavam fraude –, três
marcas na faixa de preço intermediária também fraudam o consumidor.
A ESCOLHA CERTA
Como se pode ver na tabela, a avaliação
total dos azeites não é nada animadora:
um terço das marcas foi eliminado devido à detecção de fraudes – adição de
óleo de bagaço de oliva e de outros óleos vegetais.
Outra má notícia é o estado precário de
conservação de algumas marcas, o que
se confirmou em alguns casos no teste de
degustação. Nesta prova foram encontra-
dos problemas no sabor e no aroma de
seis marcas testadas.
Quanto à rotulagem encontramos falhas nas
denominações comerciais e na discriminação do grau de acidez dos produtos.
Assim, o título de o melhor do teste foi
para a marca Carbonell. Considerando
também o preço, o título de a escolha certa vai para a marca Beira Alta, que surpreendeu no teste de degustação.
A ESCOLHA CERTA
grupos de preços entre as marcas
analisadas. As marcas Bertolli,
Carbonell e Gallo são as mais caras
(preço entre R$ 7,19 e R$ 14,35); as

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