Biodiversidade no contexto da gestão de florestas públicas
Transcrição
Biodiversidade no contexto da gestão de florestas públicas
Biodiversidade no contexto da gestão de florestas públicas ... quando “compensa” valorar ? Luiz Carlos Estraviz Rodriguez [email protected] LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (1) Permissão de uso de um bem público O que devemos considerar e porque? Como encaminhar a questão? Qual a proposta do Serviço Florestal Brasileiro? LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (2) Biodiversidade ... qual a pergunta mesmo? “Compensa” ou “não compensa”? Debate: “untouched wildernesses have a value beyond the resources and other utility that can be extracted from them” http://www.economist.com/debate/archive LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (3) Desenvolvimento x conservação ... dilema? Desenvolvimento, Conservação, Combustíveis, Alimentos e Fibras A afirmação de que desenvolvimento e conservação irão se equilibrar em um futuro próximo é a tônica desta opinião. E o argumento que justifica essa afirmativa se baseia na hipótese de que combustíveis, alimentos e fibras dependerão cada vez mais de fontes renováveis de energia. Nesse contexto, desenvolvimento passa a ser resultado da ação de forças motrizes que tecem a trama sócioeconômica das relações humanas com os recursos naturais. A questão principal, então, passa a ser: se essas forças condicionam os mecanismos de produção, o que condiciona essas forças? Minha resposta é: uma maior ou menor percepção de segurança. Mas antes de avançarmos no tema segurança, é importante definir força motriz como o empurrão que define a intensidade com que exploramos os recursos naturais. Também importa deixar claro que essas forças motrizes podem ser dominadas. Como? Via consolidação de mecanismos de pagamentos por serviços ambientais e via governança pública, ou seja, via aumento da participação cidadã, simplificação do marco legal e regulatório, consolidação das instituições públicas, e modernização da infra-estrutura e dos mecanismos de fomento econômico. Voltando ao tema da segurança. Entenda-se segurança como o oposto à sensação coletiva de medo. Medo de nos tornarmos reféns de processos ambientalmente insustentáveis e emissores de gases de efeito estufa, por exemplo. No momento em que a insegurança se torna coletiva, procuramos remediar os efeitos das mudanças climáticas para obter maior segurança ambiental; precavemo-nos contra eventuais aumentos dos preços de combustíveis fósseis para garantir segurança econômica; adaptamo-nos às mudanças nas relações diplomáticas que regem as alianças entre consumidores e produtores de combustíveis e energia para manter a segurança nacional; e nos adequamos ao processo de urbanização e ao simultâneo aumento do uso da tecnologia no meio rural e no agronegócio com sutis mudanças na composição das bases que geram estabilidade política e conseqüentemente a segurança institucional. Mas o maior de todos os medos é aquele que nos levará a melhorar a sensação de segurança alimentar em escala global. E é através dessa ação que mudaremos a forma como ocupamos e usamos a terra no Brasil. Ou seja, são as questões de segurança nacional, econômica, institucional, ambiental e alimentar que balizarão o nosso desenvolvimento. Por isso, acredito que somente manteremos níveis aceitáveis de segurança em todas essas dimensões se desenvolvimento e conservação caminharem juntos! Como brasileiro ciente das já citadas questões internas de segurança, reflita cuidadosamente sobre os riscos que corremos quando, num futuro próximo, o mundo constituído por 9 bilhões de habitantes, em sua grande maioria membros de famílias africanas, indianas e chinesas, recém atraídos para o consumo globalizado, quiser garantir a mais básica das questões humanas: a segurança alimentar de (4) LCF577 ESALQ / todos. – Gestão da Biodiversidade Propostas para debate ... Ao olharmos as estatísticas, vemos tantas vantagens e oportunidades no Brasil que, com entusiasmo, somos apontados como o país onde o superávit de alimentos, fibras e combustíveis resolverá a escassez preconizada por teorias malthusianas. Afinal a simples expansão da fronteira já seria suficiente, pois, segundo o IBGE e a CONAB, o Brasil usa apenas 34% do seu território nacional para manter 64 milhões de hectares com atividades agrícolas e 220 milhões com pecuária; tem 445 milhões de hectares com florestas, das quais apenas 6 milhões são plantadas; e sobram, depois de deduzidas as áreas inacessíveis e destinadas a unidades de conservação, 71 milhões de hectares para novas atividades agrícolas. Esse entusiasmo é procedente. A nossa matriz energética é basicamente renovável. Temos uma sólida indústria de bio-combustíveis. Temos a possibilidade da re-incorporar áreas antes degradadas. Temos espaço para aumentos significativos de produtividade, graças à disseminação de melhorias tecnológicas geradas pela EMBRAPA, unidades estaduais de pesquisa e universidades. Entretanto, sob a ótica do princípio da precaução, e para acomodarmos níveis razoáveis de segurança nacional, ambiental e institucional, precisamos assegurar que os processos ecológicos naturais básicos permaneçam funcionais nos diferentes biomas brasileiros. De que adiantará a expansão da área agrícola nos biomas Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal se a redução em biodiversidade puser em risco a nossa segurança nacional, ambiental e institucional? De que valerão os aumentos de produtividade nos cultivos plantados nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, se o desmatamento na Amazônia e o contínuo lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera afetarem os regimes de chuva e tornarem mais comuns eventos catastróficos de seca e inundação? Precisamos de um esforço nacional de melhoria da infra-estrutura em regiões que hoje apresentam baixo nível de desenvolvimento, mas que já estão dentro dos limites da atual fronteira agrícola. Produtores de fibras, alimentos e bio-combustíveis que usassem fontes renováveis de energia deveriam receber incentivos especiais. Complementarmente, e em períodos de tendência de crescimento da taxa de desmatamento e da degradação dos nossos biomas, municípios que apresentam alta relação “desmatamento/PIB” deveriam ter seus repasses reduzidos em até 50%, e transferidos para municípios com desmatamento zero. Propriedades inteiras na Amazônia com suas áreas de reserva legal e áreas de preservação permanente intactas e bem conservadas poderiam ser averbadas para efeito de compensação, em razões de até 2:1, para compensar passivos de reserva legal em municípios com desmatamento zero. Essas alternativas têm seus prós e contras. Mas o importante é refletir e discutir os impactos que a busca de segurança nacional, ambiental, econômica, institucional e alimentar, em níveis planetários, terão sobre a ocupação e uso do solo no Brasil. Garantiremos um longo período de desenvolvimento e conservação se percebermos as cinco dimensões de segurança com equilíbrio. Geraremos assim mecanismos criativos de pagamentos por serviços ambientais, melhoraremos os mecanismos de governança e teremos mais controle (5) LCF577 Gestãoque da de Biodiversidade sobre as– forças fato regem a nossa relação com o meio ambiente. ESALQ / O que são florestas públicas? Lei de Gestão de Florestas Públicas (LGFP) – 11.284/2006 Florestas Públicas são as florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens sob domínio da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da administração indireta. LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / Art. 3º Inciso I (6) O que são florestas públicas? 51,4% terras indígenas, 15,6% uso sustentável e comunitário 15,1% unidades de proteção integral 12,1% terras arrecadadas pela União ainda não destinadas e 5,9% florestas estaduais nos estado do Acre, Amapá, Amazonas e Pará LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (7) Como destinar as florestas públicas? A Lei de Gestão de Florestas Públicas estabelece que as florestas públicas devem ser conservadas e utilizadas de forma sustentável por meio de três formas de gestão: 1. criação de unidades de conservação; 2. destinação para uso sustentável pelas comunidades locais; e 3. contratos de concessão florestal com empresas brasileiras por meio de processo de licitação. LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (8) O que é concessão? Concessão Florestal é uma delegação onerosa do direito de praticar o manejo florestal sustentável, feita pelo poder concedente, para a exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo mediante licitação a empresas brasileiras (em consórcio ou não). LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (9) Um leilão inovador ... A seleção de futuros concessionários é baseadas em um sistema de notas ponderadas pela qualidade técnica (60%) da proposta e preço (40%) Dois envelopes separados são submetidos ao SFB O envelope com a proposta técnica é avaliado primeiro Depois são abertas as propostas de preços dos proponentes tecnicamente qualificados LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (10) Um leilão inovador ... O preço por metro cúbico pago pelo futuro concessionário representa uma taxa paga pelo direito de manejar a floresta Preços mínimos são estabelecidos pelo SFB para cada grupo de espécies de acordo com o seu valor comercial A maior proposta vale 400 pontos As outras propostas são graduadas proporcionalmente LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (11) Um leilão inovador ... As propostas são tecnicamente avaliadas de acordo com seus impactos ambientais, sociais, eficiência e valor agregado Scoring of Concessioneers´ Proposals Criteria Environmental Social Efficiency Indicators Points Growth dynamics and regeneration 75 Logging impact reduction 75 Investment on local communities infrastructure and services 100 Employment generation 100 Products diversity 60 Species diversity 60 Services diversity 30 Value Adding Level of value aggregation 100 Total: 150 200 150 100 600 Average number of species harvested annually in the forest to generate the maximum allowed harvestable volume (30 m3/ha) LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (12) METHODOLOGY The problem can be stated as: M Max Z = ∑ ( pi X i ) i =1 subject to The search for Xi representing harvested volume of species i; and Yi, a binary variable that tells whether the species i must be harvested (1) or not (0). M (i ) ∑ (X ) ≤ 30 i i =1 M (ii ) ∑ (Y ) = k i i =1 (iii ) X i − vi Yi ≤ 0 {i = 1,2, ..., M } (iv) wYi − aX i ≤ 0 {i = 1,2, ..., M } where: pi = value of a cubic meter of the ith species (R$/m3) k = number of harvested species in the forest management unit vi = available volume of species i in the forest management unit (m3/ha) w = volume necessary to complete one truck load a = area of the forest management unit (hectares) M = total number of commercial species identified in the forest inventory i = 1, 2, ..., M LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (13) METHODOLOGY Study case LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (14) METHODOLOGY Study case Estimated annual production area (APA) available in each forest management unit (FMU) in the Saraca-Taquera National Forest FMU Total available area1 Area in the APA2 1 90.000 3.000 2 30.000 1.000 3 18.600 620 1 According to data published in the webpage of the Brazilian Forest Service, with area rounded to the closest hundred 2 Considering a 30 year rotation LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (15) METHODOLOGY The forest inventory assessment identified 97 species available for harvesting Species were grouped in four categories according to four price-fees: Group 1: Group 2: Group 3: Group 4: R$ 120 R$ 90 R$ 50 R$ 25 The problem was solved using the solver available in MS Excel 2007 LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (16) RESULTS Example of a simulation for FMU 3 involving 15 species in the harvestable list and a minimum truck load of 30m3 3 Max. harvestable volume (m /ha), V*: 30,00 APA area (ha): 620 Harvestable number of species, S*: 15 30 Total Average Revenue (R$/ha): 3.391,26 Minimum truck load (m3): Average number of species and volume harvested per hectare: Species Cumaru Massaranduba Maparajuba Jatobá Louro-preto Pequiarana Jutaí-pororoca Sucupira-amarela Muiracatiara Tauari-vermelho Angelim-Vermelho Ripeiro Louro-canela Andiroba Pequiá LCF577 – Gestão da Biodiversidade % harvested of available volume 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 71,84% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 1,58% % of total harvested volume 27,36% 25,96% 10,36% 7,02% 5,07% 3,84% 3,63% 3,51% 3,09% 3,07% 2,80% 2,73% 1,19% 0,21% 0,16% 15 spp Volume 3 (m /ha) 8,21 7,79 3,11 2,11 1,52 1,15 1,09 1,05 0,93 0,92 0,84 0,82 0,36 0,06 0,05 3 30 m Value 3 (R$/m ) 120 120 120 120 90 90 90 90 120 90 120 90 90 120 90 ESALQ / (17) RESULTS Max. harvestable volume (m3/ha), V*: 30,00 APA area (ha): 620 Harvestable number of species, S*: 40 30 Total Average Revenue (R$/ha): 3.391,26 Minimum truck load (m3): Average number of species and volume harvested per hectare: Species Cumaru Massaranduba Maparajuba Jatobá Pequiarana Sucupira-amarela Muiracatiara Angelim-Vermelho Ripeiro Marupá Itaúba Louro-aritú Cumarurana Louro-amarelo Andiroba Sucupira-preta Tauari-branco Louro-canela Louro Preciosa Quarubarana Louro-gamela Jutaí-pororoca Louro-preto Angelim-pedra Louro-fofo Tauari-vermelho Ucuúba Ucuúba-branca Violeta Virola Cumaru-do-brejo Louro-porco Cupiúba Angelim Jutaí Pequiá Cubarana Mata-mata-branco LCF577 – Gestão Jarana da % harvested of available volume 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 11,87% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 41,07% 15,54% 13,56% 57,53% 30,81% 92,24% 20,93% 4,44% 2,29% 1,10% 53,69% 5,25% 18,36% 33,08% 53,69% 38,21% 16,49% 75,55% 0,91% 41,31% 19,02% 1,58% 27,18% 31,73% Biodiversidade 21,65% % of total harvested volume 27,36% 25,96% 10,36% 7,02% 3,84% 3,51% 3,09% 2,80% 2,73% 2,50% 2,41% 2,25% 1,30% 0,64% 0,21% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 0,16% 40 spp Volume 3 (m /ha) 8,21 7,79 3,11 2,11 1,15 1,05 0,93 0,84 0,82 0,75 0,72 0,68 0,39 0,19 0,06 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 3 30 m Value 3 (R$/m ) 120 120 120 120 90 90 120 120 90 90 90 90 90 90 120 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 90 50 50 50 Example of a simulation for FMU 3 involving 40 species in the harvestable list and a minimum truck load of 30m3 ESALQ / (18) RESULTS LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (19) RESULTS LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (20) RESULTS LCF577 – Gestão da Biodiversidade ESALQ / (21)