futuro da agricultura

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futuro da agricultura
FUTURO DA AGRICULTURA
O surgimento do empreendedor agrícola
FUTURO DA AGRICULTURA
O surgimento do empreendedor agrícola
O SURGIMENTO DO EMPREENDEDOR RURAL
O SURGIMENTO DO EMPREENDEDOR RURAL
SUMÁRIO
PREFÁCIO
6
5
CADEIA DE SUPRIMENTOS
Introdução
História inspiradora – Gerjan Snippe da Holanda
Fatos e números – cadeia de suprimentos
A perspectiva mais ampla
A perspectiva do agricultor
Cadeia de suprimentos – o futuro da agricultura
6
MÍDIA SOCIAL
Introdução
História inspiradora – Ricardo Rios do Chile
Fatos e números – mídia social
A perspectiva mais ampla
A perspectiva do agricultor
Mídia social – o futuro da Fazenda 2.0
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147
SOLUÇÕES
O surgimento do empreendedor rural
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97
8
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INTRODUÇÃO
100
106
16
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20
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32
35
38
SUCESSÃO
Introdução
História inspiradora – Cristina Kress do Paraguai
Fatos e números – sucessão agrícola
A perspectiva mais ampla
A perspectiva do agricultor
Sucessão – o futuro da agricultura
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126
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46
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54
60
66
68
71
74
79
83
88
91
4
SUSTENTABILIDADE
Introdução
História inspiradora – Dion Tuuta da Nova
Zelândia
Fatos e números – sustentabilidade
A perspectiva mais ampla
A perspectiva do agricultor
Sustentabilidade – o futuro da agricultura
132
152
AGRADECIMENTOS
CAPACITAÇÃO SOCIAL
Introdução
História inspiradora – Koos van der Merwe de
Moçambique
Fatos e números – capacitação social
A perspectiva mais ampla
A perspectiva do agricultor
Capacitação social – o futuro da agricultura
158
REFERÊNCIAS
138
142
144
O SURGIMENTO DO EMPREENDEDOR RURAL
Prefácio
Após a crise financeira global, uma nova ameaça de âmbito mundial
paira sobre o planeta: a crise mundial de alimentos. Este fenômeno e
o consequente aumento nos preços dos alimentos poderão lançar
milhões de pessoas a mais na pobreza, causando grande instabilidade
socioeconômica, já que a alimentação é uma necessidade básica.
Atualmente, mais de 840 milhões de pessoas já sofrem de fome crônica
e, a cada ano, nada menos do que três milhões de crianças morrem de
desnutrição.
Nos próximos 40 anos, a produção mundial de alimentos deverá quase
que dobrar. Esta crescente demanda é o resultado não só da taxa de
crescimento populacional prevista de 7 para 9 bilhões em 2050, mas
também do crescimento econômico, cabendo aos produtores rurais
atender tal necessidade. Diferentemente da época da revolução
verde, a produção agora deve crescer com a utilização de menos
água, fertilizantes e pesticidas. Este crescimento da produção poderá
ser alcançado com a expansão das terras cultiváveis, mas, de forma
muito limitada. Mesmo com um solo adequado e clima favorável, são
necessários elementos facilitadores, tais como infraestrutura, acesso ao
crédito e estabilidade política para explorar plenamente o potencial
deste solo.
Vários desafios se apresentam também aos produtores rurais, como a
importante questão sobre a sucessão empresarial, o desenvolvimento
sustentável, e os chamados “fatores sociais favoráveis” nos países
em desenvolvimento. Visto que os produtores rurais e horticultores
alimentam o mundo, o papel a eles imposto na questão mundial
da garantia alimentar é de fundamental importância. Para a troca de
conhecimento sobre tais desafios, nós, com base em nossas raízes
cooperativas e agrícolas, organizamos um workshop chamado “Global
Farmers Master Class” para 50 líderes da produção rural de 18 países,
em desenvolvimento e desenvolvidos.
sobre as lições aprendidas durante a Global Farmers Master Class em
relação aos problemas centrais e às possíveis soluções. Trata-se ainda
de um livro sobre a paixão pela atividade agrícola em que, com a devida
sobriedade dos profissionais do campo, saíram em busca de soluções
práticas e sustentáveis. Os produtores rurais e horticultores alimentam o
mundo e possuem a experiência e o conhecimento para superar muitos
dos desafios que nos esperam. No entanto, eles não podem resolver os
problemas da garantia alimentar sozinhos. Agricultores e horticultores,
consumidores, varejistas, fabricantes, empresas comerciais, autoridades
públicas, cientistas e instituições financeiras de todo o mundo são coresponsáveis.
O enorme entusiasmo e as perspectivas de âmbito mundial destes
produtores e horticultores no Global Farmers Master Class foram de
grande valor para a elaboração desta obra. Um dos participantes
escreveu em uma carta: “Posso dizer com segurança que esta foi a
semana mais inspiradora, educativa, profissional e divertida da minha
vida. O fato de possuir amigos agora em todo mundo, é absolutamente
incrível.”
Espero que o presente livro leve à reflexão de muitos produtores rurais
em todo o mundo. Acredito, no entanto, que esta obra não será valiosa
apenas para produtores rurais, mas para toda a cadeia, desde a fazenda
até a mesa do consumidor, que acredita em um futuro sustentável da
agricultura e horticultura, não só para nós e nossos filhos, mas também
para os filhos de nossos filhos. Como o renomado escritor australiano
Julian Cribb nos escreveu: “Este livro é relevante para todos que se
alimentam.”
Bons produtores alimentam o mundo e constroem o futuro.
Berry Marttin
Membro do Conselho do Rabobank Holanda
A presente obra dará a você, leitor, uma visão geral sobre os desafios
da segurança alimentar, com perspectivas macro, além de histórias
inspiradoras de produtores rurais e horticultores solidários. A partir
do ponto de vista do empresário agrícola, foi elaborado um relatório
6
7
INTRODUÇÃO
- A perspectiva do produtor
rural
INTRODUÇÃO
A perspectiva do produtor rural
Numa noite de sábado do mês de junho, 50 produtores rurais de 18
países diferentes e seis continentes se reúnem em uma bela e antiga
fazenda na Holanda para discutir, durante uma semana, o futuro da
atividade agrícola em um evento que foi chamado de Global Farmers
Master Class. O que se discute não é apenas o futuro desses agricultores,
mas o futuro do mundo todo, na medida em que nos dirigimos para uma
crise mundial de alimentos com consequências políticas, econômicas e
sociais em uma escala sem precedentes. Os 50 agricultores participantes
representam países em desenvolvimento, emergentes e desenvolvidos
e têm todas as idades, culturas e origens. Entre eles, há desde alguns
dos maiores produtores agrícolas do mundo (com terras do tamanho da
Holanda, por exemplo), até produtores orgânicos e jovens fazendeiros.
Qualquer que seja o ramo e origem cultural são todos inovadores e
líderes.
O desafio: a cada minuto, a população mundial cresce e ganha mais
158 bocas para serem alimentadas. A maior parte dessas pessoas
(154) integra populações em expansão em regiões emergentes e
em desenvolvimento. No total, a população mundial deve passar
dos 7 bilhões atuais para mais de 9 bilhões em 2050. Não apenas a
população mundial está aumentando, mas também está ficando mais
velha e mais rica – a renda média per capita mundial deve triplicar. O
crescimento econômico também será mais expressivo nas regiões em
desenvolvimento. Para alimentar números crescentes de pessoas mais
ricas e com maior expectativa de vida, os produtores rurais terão que
aumentar a produção mundial global em pelo menos 70%, ou até
dobrar.
“Nas próximas décadas, teremos que produzir mais alimentos do que
produzimos ao longo dos últimos 10.000 anos.”
À nossa frente, temos sérios desafios, que definimos como a “estrutura
dos 6 S do futuro da produção rural para a segurança alimentar” que é a
base deste livro (Nota: A “estrutura dos 6 ‘S’ se refere” aos itens em inglês:
Sucession, Sustainability, Social Enabling Factors, Supply Chain, Science, e
Social Media).
10
11
•
da produtividade das principais commodities caiu para 1,4% por ano,
quando deveria ser de pelo menos 1,75% para alimentar um mundo
de 9 bilhões de habitantes em 2050. Além disso, de acordo com o
World Wildlife Fund (WWF), hoje, nossa pegada de carbono excede
a capacidade mundial de se recuperar em 50%. Se continuarmos
consumindo como atualmente, vamos precisar do equivalente a dois
planetas Terra até meados de 2030. E só temos um. Então, a pergunta é:
como reduzir o desperdício e produzir mais alimentos com menos água,
defensivos e fertilizantes?
• Capacitação social: “Como os países em desenvolvimento podem sair
da agricultura de subsistência para a agricultura comercial?” Colocamos
nossa atenção no continente do futuro, a África, que abriga um sexto da
população mundial.
Sucessão: uma tendência de longo prazo observada no mundo em
desenvolvimento é o envelhecimento dos empresários agrícolas. A cada
20 anos, aproximadamente, dobra o número de pessoas que depende
de um único produtor. Nos EUA, para cada sete produtores rurais com
mais de 75 anos há apenas um com menos de 25 anos. De fato, há o
benefício da economia de escala, mas a questão é muito mais complexa
do que isso e o verdadeiro desafio é: como conquistar a próxima
geração de produtores rurais, quando a atividade rural está se tornando
um empreendimento cada vez mais complexo, de alto investimento,
de trabalho duro e de baixo retorno? Além disso, hoje em dia, tornar-se
um agricultor não é mais um direito de nascença, e sim uma escolha
consciente de empreendedores rurais.
• Sustentabilidade: hoje, os produtores rurais cultivam 1,5 bilhão de
hectares de terras aráveis no mundo todo. Ao mesmo tempo, desde a
virada do século, a quantidade de terra arável vem caindo em cerca de
1% ao ano devido à erosão e à urbanização, por exemplo.
A terra arável per capita caiu pela metade: de 1,5 hectare em 1960
para menos de 0,8 hectare hoje. Assim, a maior parte do adicional de
alimentos necessário até 2050 terá que vir do aumento da produtividade
por hectare. Entretanto, devido ao baixo investimento, o aumento
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O continente africano é aquele que tem o maior potencial para
balancear o desequilíbrio mundial entre a alta da demanda e a limitação
da oferta por alimentos. Afinal, é na África que ocorre a maior distância
entre a produtividade atual e a potencial, considerando a qualidade
dos solos e do clima. A capacitação social é crucial para a exploração
desse potencial. Em geral, as regiões de maior produtividade do
mundo (EUA, Europa) não são as de maior qualidade de solo (Ucrânia,
Argentina e o Meio-Oeste americano) e/ou de clima mais favorável
(por exemplo, o Leste da China, a Argentina, Europa Central, regiões da
África do Sul), e sim regiões com melhor ambiente para a capacitação
social, com condições econômicas e sociais estáveis, boa infraestrutura,
políticas de governo, acesso a mercados ativos, créditos financeiros,
saúde e educação, transmissão de conhecimento e investimentos em
pesquisa e desenvolvimento. Com um estudo de caso em Ruanda,
encontramos a forma de encarar esse cenário e avançar na perspectiva
do produtor.
• Cadeia de suprimentos: são elos contínuos que vão da “fazenda à
mesa do consumidor”, os quais garantem que os produtos agrícolas
alcancem os consumidores finais. Claramente, porém, essa cadeia tem
alguns elos fracos, o que resulta em desperdício, baixos investimentos
e ineficiência. Ou como diz um agricultor: “Até hoje não conheci um
agricultor que não aumentaria sua produtividade significativamente se
pudesse melhorar sua margem em 10%. A ironia é que, na maior parte do
mundo desenvolvido, o leite, por exemplo, é mais barato do que a água
no supermercado. A volatilidade de preços é muito mais preocupante
do que a capacidade dos produtores de produzir mais alimento. Com
margens maiores e distribuídas de forma mais justa pela cadeia de valor,
podemos fortemente promover a inovação e o aumento de oferta”.
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•Pesquisacientífica:significaprogredirnosentidodesoluçõesinovadoras.
Muitos esforços serão necessários para se produzir “mais com menos”,
mas é possível, há muitas oportunidades para avanços. Produtividade
e eficiência são pontos-chave. A intensificação sustentável é necessária.
De acordo com o WWF, os produtores que têm maior desempenho são
cerca de 100 vezes melhores do que seus colegas menos produtivos,
sendo estes responsáveis pela metade do impacto ambiental. Os
sistemas altamente produtivos usam menos insumos por quilograma
de produto final e têm menor emissão de gases de efeito estufa. Além
disso, usam menos terras, o que deixa mais espaço para a natureza, a
urbanização e a recreação. Há muitas oportunidades para avanços, como,
por exemplo: reprodução por genoma, maior eficiência e produtividade
das lavouras, cultivos com agricultura de precisão, melhores sistemas de
confinamento animal, alimentos enriquecidos e mais saudáveis, maior
tempo de prateleira dos produtos e menor desperdício usando técnicas
inteligentes de resfriamento, armazenagem e empacotamento, matériasprimas inovadoras e eficientes como algas e insetos (ver figuras) e novas
biotecnologias que permitem que o alimento, a ração e o combustível
sejam obtidos de uma única planta. Este é o futuro do mercado de
alimento. A ciência é uma área que sofreu com significativa falta de
investimento nos últimos anos, evidenciada pela redução dos ganhos
em produtividade mencionada anteriormente.
A pesquisa em si não é a meta ou o objetivo, mas está estreitamente
relacionada com cada um dos outros desafios. Portanto, introduzimos
uma perspectiva científica abrangente em cada capítulo deste livro, em
vez de dedicar-lhe um capítulo separado.
Uma coisa é identificar os problemas e desafios em torno da agricultura
e da questão da alimentação mundial. Procurar soluções, por sua
vez, é bastante desafiador. É evidente que a inovação e a transmissão
de conhecimento têm um papel central na resolução de cada uma
das questões anteriormente relacionadas. Por isso, adicionamos um
capítulo sobre mídia social, que oferece aos produtores rurais o acesso
ao conhecimento (fator crucial de sucesso na exploração agrícola) com
uma plataforma on-line para discussões, benchmarking e inovação.
Este livro não trata da segurança alimentar apenas por meio de uma
entediante enumeração de fatos e estatísticas ou pela ótica puramente
acadêmica. Ele trata do corpo e da alma, da essência da produção de
alimentos: os próprios produtores rurais. São eles que estão alimentando
o mundo e têm a experiência e o conhecimento para resolver muitos
dos desafios à nossa frente. É por isso que os colocamos no centro
deste livro. Ao contar algumas de suas histórias, verdadeiramente
14
Este livro é sobre o
corpo e a alma da
produção de alimentos:
os agricultores. São
eles que alimentam o
mundo.
inspiradoras, valorizamos sua forma de pensar e ressaltamos que bons
agricultores sempre terão sucesso no futuro.
Por fim, o aumento dos preços e a escassez de alimentos têm sido os
condutores significativos por trás da Primavera Árabe e de muitos outros
eventos históricos, guerras e revoluções. Oitocentas e setenta milhões
de pessoas sofrem de fome crônica, de acordo com a Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). As estatísticas da
ONU mostram que 2,5 milhões de crianças morrem de fome por ano.
Esses números absolutamente chocantes vão piorar se não lidarmos
de forma mais estrutural com as questões enfrentadas pela agricultura
mundial.
O capítulo final deste livro fornece algumas soluções pragmáticas que
foram propostas por líderes do ramo de todo o mundo. Entretanto, a
capacitação dos produtores para que possam alimentar a próxima
geração é uma responsabilidade compartilhada – que diz respeito
também aos consumidores, comerciantes, produtores, revendedores,
governos, acadêmicos e órgão de financiamento. É por isso que este
livro é relevante para qualquer um que respeite a questão alimentar ou
que produza alimento diariamente.
A produção de alimentos dentro do agronegócio representa quase 40%
da mão de obra mundial e contribui com um terço do Produto Interno
Bruto (PIB) global. Tudo isso começa nas fazendas, com os produtores
rurais alimentando o mundo. Se eles não acertarem, todos os outros
negócios serão inviabilizados.
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SUCESSÃO
- Introdução
- Uma história inspiradora
- Fatos e números
- A perspectiva mais ampla
- A perspectiva do agricultor
- O futuro da agricultura
SUCESSÃO
“A SUCESSÃO DA ATIVIDADE
AGRÍCOLA NÃO É SÓ UMA
QUESTÃO FAMILIAR, POIS TEM UM
IMPACTO DIRETO E DE LONGO
PRAZO NA PRODUÇÃO DE
ALIMENTOS.”
Introdução
Da Austrália à Zâmbia, a questão da sucessão da atividade agrícola, por
si só, já faz acelerar o coração da maioria dos agricultores. Embora cada
situação seja específica, existe um denominador comum. A sucessão
de uma fazenda é uma questão que, sobretudo, envolve emoção. Para
muitos, a atividade agrícola não significa somente trabalho e dinheiro,
mas uma paixão, um estilo de vida. Por isso, a importância de transferir
o trabalho de toda uma vida para a próxima geração.
Infelizmente, a realidade é que, em muitos processos de sucessão, as
famílias acabam se dividindo, deixando para trás uma fazenda menos
produtiva ou vendendo o terreno e desmanchando uma tradição que
perdurou por várias gerações. Portanto, a sucessão da atividade agrícola
não é só uma questão das famílias envolvidas, pois tem um impacto
direto e de longo prazo na produção de alimentos. Os produtores
rurais estão cada vez mais com dificuldade em encontrar sucessores.
Em muitos países desenvolvidos, a idade avançada dos agricultores
demonstra a gravidade do problema. A atividade agrícola tem se
mostrado economicamente pouco atrativa para as novas gerações de
agricultores. Grandes investimentos são necessários para aumentar o
tamanho do negócio, enquanto que os retornos são baixos e o valor
de aquisição de novas terras é exorbitante. Como a tendência é de
diminuir o número de agricultores, em um cenário de envelhecimento
de uma população rural que já cultiva menos terra arável, a sucessão
da atividade agrícola tem se tornado uma grande preocupação para a
segurança alimentar no mundo.
Neste capítulo, serão revisados três pontos-chave sobre sucessão:
• Por que o planejamento da sucessão da atividade agrícola é de
importância global?
• Por que a sucessão é um desafio atual?
• Como capacitar a próxima geração de agricultores?
Mas, antes apresentaremos uma história inspiradora, a de Cristina Kress,
uma fazendeira de 24 anos que herdou, no Paraguai, a responsabilidade de
cuidar de um vilarejo isolado com 3.500 crianças e trabalhadores, os quais
dependem da sua fazenda e de seu negócio como meio de vida. A história
de Cristina, embora não seja um exemplo típico de sucessão, demonstra
que bons agricultores sempre terão um futuro e que idade e gênero são
irrelevantes para quem tem a mente orientada para a agricultura.
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SUCESSÃO
Uma história inspiradora
Cristina Kress se tornou CEO de uma propriedade familiar de 20.000 ha
no Paraguai quando tinha 20 anos de idade. Ela assumiu a propriedade
com todos os seus equipamentos, uma planta de processamento e
toda a dívida dos empréstimos para manter em atividade os negócios
da família. Além disso, herdou a responsabilidade de cuidar de uma
vila rural isolada com 3.500 crianças e trabalhadores dependendo das
atividades da sua fazenda para viver.
GERENCIANDO UMA FAZENDA E UMA COMUNIDADE
“Meus pais vieram da Alemanha e chegaram ao Paraguai na década de
1970. Meu pai sempre teve a mente orientada para a agricultura e queria
ser fazendeiro por tempo integral durante o ano todo. Ele descobriu
que alguns dos solos mais férteis da America Latina se encontravam
no Paraguai. Tudo que se plantava naquela terra crescia. Então, ele
convenceu minha mãe a se mudar para o Paraguai e começar uma
vida nova. A fazenda da família começou simplesmente com poucas
culturas e um pomar de laranjeiras”, conta Cristina Kress.
INICIANDO UMA COMUNIDADE
Conforme as lavouras e o pomar de laranjeiras cresciam, surgia a
necessidade de se contratar mais trabalhadores. A propriedade ficava
longe da civilização, das cidades, das lojas. A melhor definição para o
local era “o meio do nada”. Então, para atrair e manter trabalhadores, os
pais de Cristina tiveram que construir moradias.
“Quando eu completei 6 anos de idade meus pais acharam que
eu precisava de estudo. Então, eles construíram uma escola para mim
e para as famílias que trabalhavam na propriedade. O que começou
com somente algumas casas e uma escola é hoje uma vila rural com
3.500 pessoas. Temos lojas, restaurantes e pousadas, e tudo começou
porque nossos trabalhadores e suas famílias precisavam de um local
para ficar.”
“Ela tinha construído
sua vida, uma fazenda
e uma comunidade
com meu pai e não
queria jogar fora todos
esses anos e esforço.”
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MANTENDO A FAZENDA
Em 1998, o pai de Cristina faleceu com apenas 49 anos em um
acidente na fazenda. A mãe de Cristina ficou, de repente, com toda a
responsabilidade da família, da fazenda e dos trabalhadores.
21
“Para que a fazenda
seja um negócio viável
e sustentável, Cristina,
paralelamente, gerencia
uma comunidade para
construir e manter uma
vila rural.”
“Minha mãe teve a opção de vender tudo, mas tinha vivido ali por 20
anos. Ela tinha construído sua vida, uma fazenda e uma comunidade
com o meu pai e não queria jogar fora todos esses anos e esforço.
Ela escolheu, então, ficar na fazenda, pagar as dívidas e cuidar dos
funcionários”, conta Cristina. “Ela era uma excelente mulher de negócios,
mas, como bióloga, sabia muito pouco sobre agricultura. Mas com sua
vontade de ir além, ela aprendeu muito com os funcionários e com
outros fazendeiros.”
Essa estória permaneceu por 10 anos. Então, quando Cristina deixou o
Paraguai para estudar na Suíça, sua mãe logo a chamou: “Ela não queria
mais fazer o trabalho sozinha e me perguntou se eu queria tomar conta
da fazenda. Se eu não o fizesse, ela tentaria encontrar alguém para
assumir o negócio ou então venderia a propriedade. Eu fiquei um tanto
chocada.”
Cristina tinha passado sua infância inteira na fazenda e crescido com as
pessoas na vila rural. “Meu pai deu a vida pela fazenda e, embora minha
mãe não tivesse nascido para a agricultura, ela se dedicou ao máximo.
Eu sabia que eu tinha paixão suficiente para fazer muito mais com a
terra que tínhamos.”
TORNANDO-SE CEO AOS 20 ANOS DE IDADE
Movida pela paixão pela agricultura e inspirada em seus pais, Cristina
resolveu voltar para aquele local remoto no Paraguai. Em 2008, ela
assumiu 20.000 ha de terra produtiva e todo o setor de processamento
de grãos, silagem, citrus e fabricação de suco. Cerca de 11.000 ha eram
cultivados com lavouras de trigo, milho, soja e girassol. Outros 2.000 ha
eram de citrus, 14 ha de goiaba e outras frutas exóticas, e mais 100 ha de
horticultura, com cultivo irrigado de hortaliças, cenoura, batata, cebola
e pimentão.
“Com 20 anos de idade me tornei CEO dos negócios da família. Em
um período de 4 ou 5 anos eu tive que conhecer todos os setores e
aprender tudo que eu pudesse sobre a fazenda e suas atividades.”
“Hoje, eu conheço o básico, consigo manter a atividade e continuar
crescendo. Porém, a fazenda não pode expandir mais, pois o preço
da terra, hoje em dia, está muito mais alto. A nova filosofia do negócio
é aumentar a produtividade por hectare. Todo o investimento é
direcionado à tecnologia e sementes melhores. Eu não pretendo deixar
o negócio”, diz Cristina.
CAPACITAÇÃO SOCIAL E PLANEJAMENTO PARA O CRESCIMENTO
O plano de crescimento também envolve o aumento da produção de
suco na planta de processamento da fazenda, por meio de parcerias
com fazendas menores e pequenos produtores do Paraguai. A planta
de processamento Frutika é um dos negócios da família Kress voltado à
produção de sucos prontos para consumo, sucos concentrados e óleos
para exportação.
“Nós precisamos de uma grande quantidade de frutas para fazer o suco
concentrado. No Paraguai, existe muita gente pobre que não sabe o que
fazer com a terra. Então, nós decidimos trabalhar com essas pequenas
propriedades e capacitar pequenos agricultores que possuem de 1 a 20
hectares”, conta Cristina.
“A ideia começou dando a essas pessoas uma árvore, duas árvores,
cem árvores, e então uma oportunidade para trabalhar com a
terra. Nós ensinamos a eles como cultivar, orientamos em relação
ao financiamento, e mostramos a eles como ganhar seu próprio
dinheiro. Nós ensinamos como usar a terra para ganhar dinheiro e ser
mais produtivo. Atualmente, estamos crescendo com 3.000 famílias
que trazem as frutas para a nossa fábrica. Isso tem sido uma grande
revolução no Paraguai e é uma ideia que pode funcionar em outros
países.”
DIRIGINDO A COMUNIDADE
Para que a fazenda seja um negócio viável e sustentável, Cristina,
paralelamente, gerencia uma comunidade para construir e manter a
vila rural. Ela está constantemente conversando com a comunidade e
em discussão com o governo.
“Estamos a uma longa distância de qualquer lugar e de qualquer coisa.
Eu quero que o Estado nos dê médicos, mais professores e uma estrada
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23
“Não importa se
você é jovem, velho,
homem ou mulher.
O importante é
ter orgulho de ser
agricultor. Produzir
alimento é algo
maravilhoso.”
com asfalto. Nossos trabalhadores precisam de casas, escola, um posto
policial e um hospital. Estamos lutando para conseguir um médico
morando aqui. Até agora só conseguimos um médico que atende em
três dias da semana. Se alguém ficar doente no quarto dia, temos um
problema e isso não pode continuar assim”, diz Cristina.
“Para os catadores de laranja que viajam às lavouras nas estações de
colheita, estamos em fase inicial para a construção de 200 quartos
em um hotel que terá mais 200 para a próxima fase do projeto. Nós já
construímos uma linda igreja e estamos nos tornando uma comunidade
oficial. Queremos que nossos impostos retornem para a comunidade e,
assim, continuar crescendo”, diz Cristina.
ORGULHO DE SER PRODUTORA RURAL
Agora, com 24 anos, Cristina já tem alguns anos de agricultura e
experiência com os negócios e ainda uma comunidade inteira que
depende de suas decisões. O que ela diz para as pessoas que lhe
perguntam se uma jovem como ela não deveria estar fazendo outra
coisa da vida do que ser fazendeira?
“Eu não tenho que ficar no campo dirigindo tratores. Fazendeiros são
também homens e mulheres de negócio que precisam gerenciar
atividades lucrativas e sustentáveis. Para mim, é importante tentar
manter a propriedade na família, agregar valor, ser mais intensa, criativa
e, sobretudo, continuar crescendo”, diz Cristina.
“Não importa se você é jovem, velho, homem ou mulher. O importante
é ter orgulho de ser agricultor. Produzir alimento é algo maravilhoso. É a
primeira necessidade humana. É um grande trabalho. Para as próximas
décadas, eu espero continuar crescendo e podendo dar às pessoas um
lugar para morar e trabalhar.”
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SUCESSÃO
Fatos e números
ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL
Atualmente, 50% da população do mundo vive em zonas rurais e esse
percentual está previsto para cair para cerca de 30% até 2050. Uma
tendência de longo prazo, também observada, é o envelhecimento
dos trabalhadores rurais. Por exemplo, a idade média dos agricultores
nos Estados Unidos, em 1974, era de 45 anos e cresceu para 58 anos em
2007. Atualmente, para cada seis fazendeiros com idade acima de 75
anos, há um fazendeiro com menos de 25 anos. Para cada 350 pessoas
em Nova Iorque, há somente um fazendeiro para fornecer alimento. E
a cada 20 anos, o número de pessoas dependente de um fazendeiro
vai dobrar.
Na Austrália, observa-se a mesma tendência de envelhecimento dos
agricultores, um declínio na população rural e uma redução das terras
cultiváveis caindo em 3% para um valor de 399 milhões de hectares. Ao
longo dos últimos 30 anos, a idade média do agricultor foi aumentando
de 44 a 56 anos até os dias de hoje.
65 +
60 - 64
55 - 59
50 - 54
45 - 49
40 - 44
35 - 39
30 - 34
25 - 29
20 - 24
15 - 19
0
10.000
20.000
30.000
NÚMERO DE FAZENDAS NA AUSTRÁLIA
DINÂMICA DA FORÇA DE TRABALHO
A população mundial está envelhecendo. No ano 1000, a expectativa
média de vida era de 24 anos. No ano de 1970, a expectativa de vida
ao nascimento crescia para 57 anos e hoje é de 68 anos. Até 2050, a
expectativa de vida no mundo deve alcançar 76 anos. Entretanto,
a população rural parece estar envelhecendo mais rápido do que a
média mundial.
26
09
27
ECONOMIA AGRÍCOLA POUCO EXPRESSIVA
Em regiões desenvolvidas como a Europa, Austrália e Estados Unidos, as
fazendas têm aumentado de tamanho. Propriedades familiares muito
grandes, com rendimentos anuais ultrapassando USD 1.000.000, quase
que dobraram sua representatividade em produção nos EUA, passando
de 21% em 1991 para 39% em 20096,7. As mesmas tendências são
observadas na Europa e Oceania.
Agricultores com mais de 55 anos
20% - 39%
40% - 49%
>50%
Nenhum dado
estatístico
Percentual de agricultores com mais de 55 anos (Relatórios de Censo Global de 2006 a 2010)3
Em países mais produtivos, com os setores alimentício e agrícola mais
desenvolvidos, mais da metade dos agricultores tem idade acima de 55
anos (veja acima).
Por exemplo, 25% da população total da Austrália tem mais que 55
anos. Nos Estados Unidos, o número de fazendeiros com idade maior
ou igual a 65 anos aumentou em 20% ao longo dos últimos cinco
anos, enquanto que a categoria dos mais jovens, com idade igual ou
abaixo de 45 anos, diminuiu em 14%, em parte por causa do menor
número de profissionais formados na área agrícola. Uma vez que a crise
de alimentos de 2008 colocou as questões de segurança alimentar e
produção agrícola novamente em destaque, essa tendência parece
agora se reverter. Na Holanda, o número de estudantes de áreas
agrícolas tem aumentado 10% ultimamente, e, no Brasil, o número mais
que dobrou ao longo da última década.
“Em negócios familiares,
a ‘família’ pode ser a
fonte de sua maior força
ou o potencial de sua
maior queda”.
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A AGRICULTURA FAMILIAR É, DE LONGE, O MODELO DOMINANTE
A maioria das fazendas é de propriedade familiar, gerenciada pelos
próprios membros da família, e tradicionalmente passada de geração
para geração. Por exemplo, 98%5 das fazendas dos Estados Unidos são
dirigidas por famílias e quase o mesmo número se aplica à Austrália,
onde mais de 95% do total de fazendas são gerenciadas por famílias.
Entretanto, a sucessão de uma fazenda familiar se estende a uma
dimensão econômico-empresarial complicada e frequentemente
envolvendo aspectos emocionais muito mais complexos.
Em negócios familiares, a “família” pode ser a fonte de sua maior força ou
o potencial de sua maior queda.
No entanto, na Holanda, na última década, apenas a renda média da
produção agrícola para a carne de porco apresentou-se (um pouco)
viável na porteira das fazendas. Considerando que a Holanda possui
umas das mais produtivas áreas do mundo, isso demonstra a dificuldade
que a agricultura tem encontrado nos anos recentes. Obviamente, há
muita diferença em termos de retorno dentro de um setor. Analisando
a Austrália e a Nova Zelândia, sob a perspectiva do desempenho
agrícola, é particularmente interessante observar como esses países
têm pouco apoio do governo (os menores níveis), e, comparados à
Holanda, suas fazendas produzem significantemente em maior escala.
Entretanto, dados da ABARE (Australian Bureau of Agricultural and
Resource Economics and Science – Agência Australiana de Agricultura,
Recursos Econômicos e Ciência) demonstram que os retornos médios
de produção na Austrália foram somente (pouco) positivos no decorrer
da última década. Embora tenha havido um bom aumento no valor das
terras na Austrália e em outros países nos últimos 10 anos (valorização
de capital), o baixo retorno produtivo tem dificultado novos agricultores
a iniciar a atividade.
Mesmo após uma década de grande valorização da terra, precisamos
manter em mente que no passado houve grandes períodos de baixa
valorização e até de grandes correções no valor da terra, como ocorreu
nos EUA e na Austrália na década de 1980.
O QUE OCORRE EM GRANDES FAZENDAS COM ECONOMIA DE
ESCALA?
Um estudo feito pelo Rabobank na Austrália sobre o desempenho
das grandes fazendas ao longo de oito anos (2002-2010) indica que
aproximadamente 80% das grandes fazendas com ativos acima de
AUD 5.000.000 têm um EBIT (LAJIR) médio de oito anos de menos de
5% e um EBIT médio de aproximadamente 2,5%, tal como ilustrado no
gráfico apresentado anteriormente.
Apesar de melhores do que a média da indústria de todas as fazendas,
os resultados não refletem um crescimento sustentável do negócio.
Uma tendência semelhante é vista na Nova Zelândia, onde os retornos
29
médios ponderados foram apenas 1,8% para as grandes fazendas
enquanto que a maioria dos agricultores estava na faixa de 0-2,5%.
O gráfico abaixo apresenta o tamanho em ativos dos principais atuantes,
os quais representam 20% do total de produtores. É interessante notar
que aqueles com os melhores retornos são os de porte médio, onde
nenhum dos 30 milhões + fazendas tiveram um EBIT superior à média
de 7,5%. Um resultado semelhante foi visto após análise dos dados
da Nova Zelândia. Portanto, tamanho pode ser importante, mas não
significa que o negócio seja melhor ou mais rentável.
45%
40%
35%
“Eu não quero trabalhar
duro, assumir riscos
e depois ter que
compartilhar a fazenda
com meus irmãos que
tem bons empregos
na cidade.”
e o pai estiverem vivos, provavelmente tomarão conta da fazenda
e receberão uma “pequena aposentadoria” vinda do rendimento da
fazenda. No entanto, mesmo excluindo as questões fiscais, como essa
situação poderia ser conciliada? Para a filha ir ao banco e pegar um
empréstimo de USD 2 milhões para pagar os irmãos não seria factível.
Tal empréstimo a levaria a níveis de até 75% e ela ainda teria que assumir
um EBIT típico de 1-2%. Vender a fazenda seria economicamente
racional se mais alguém pudesse garantir os retornos econômicos
necessários ou pudesse especular valores futuros da terra. Entretanto,
numa propriedade familiar há, provavelmente, muitos laços emocionais
entre os membros da família e a propriedade. Vender a fazenda pode
ser uma opção economicamente racional, mas ainda não é a alternativa
emocionalmente viável para a família.
30%
Além de economicamente racional, a resposta típica de um fazendeiro
para a questão acima seria: “Eu não quero trabalhar duro, assumir riscos
e depois ter que compartilhar a fazenda com meus irmãos que têm
bons empregos na cidade.”
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Inferior a
-5%
Entre
-5% e
-2.5%
Entre
0% e
-2.5%
Entre
0% e
+2.5%
Entre
+2.5% e
+5%
Entre
+5% e
+7.5%
Entre
+7.5% e
+10%
Mais de
10%
EBIT das fazendas australianas com ativos
acima de AUD 5.000.000
100%
90%
80%
70%
60%
Tamanho
da fazenda
em ativos
50%
BOAS FAZENDAS TÊM FUTURO
Obviamente, fazendas com boas perspectivas econômicas têm, no
geral, menores problemas com sucessão. Embora haja enormes
diferenças entre países e setores, as médias e grandes fazendas têm,
no geral, maior lucratividade, nível de modernização, mão de obra
produtiva e melhor perspectiva de sucessão. Por exemplo, um estudo
holandês (CBS 20129) demonstra que 71% das grandes fazendas de
proprietários com mais de 55 anos já têm um sucessor preparado. O
mesmo se observa para 56% das fazendas de porte médio e para 34%
do total de fazendas.
40%
30 mins+
30%
20-30 min
20%
15-20 min
10%
10-15 min
0%
A. Mais de
10%
B. Entre 7.5%
e 10%
C. Entre +5%
e +7,5%
Desempenho das grandes fazendas em um período de oito anos (2002-20108)
UM EXEMPLO TÍPICO DE SUCESSÃO
Quais são as consequências de uma economia agrícola pobre para o
processo de sucessão? Pegue o exemplo de uma fazenda familiar típica,
com três filhos, um total de ativos de USD 4 milhões e uma dívida de
empréstimo de USD 1 milhão. Dois dos filhos estão deixando a atividade
e uma filha concordou em ficar e cuidar da fazenda. Enquanto a mãe
30
31
SUCESSÃO
estabelecer objetivos claros para crescimento e mudanças. Reuniões
regulares e formais girando o papel do líder podem promover uma
distribuição justa de poder, garantindo o sentimento de segurança de
cada membro da família.
A perspectiva mais ampla
A agricultura é predominantemente um negócio familiar, o que dá
uma dimensão especial ao plano de sucessão. O negócio familiar tem
pontos fortes e pontos fracos que são específicos. Geralmente, são de
longo prazo, com grande comprometimento, lealdade e flexibilidade,
são não convencionais, de rápidas decisões, requerem poucos laudos
e, portanto, menores custos organizacionais. Em contrapartida, a pouca
exigência por laudos, processos muito autônomos e informais, e o
acúmulo de informações pouco estruturadas nas mãos de um ou de
poucos dificulta um processo de sucessão ameno. Frequentemente,
não existe muita clareza com respeito à comunicação, expectativa de
emprego, controle e poder na tomada de decisão. A falta de regras de
negócio e transparência pode concentrar o poder nas mãos de poucos.
É melhor estar ciente das armadilhas e tirar proveito dos pontos fortes
de se trabalhar com os filhos e tomar suas próprias decisões.
“Os filhos não
podem caminhar
segundo os passos
dos pais... mas,
sim, fazendo suas
próprias pegadas.”
Uma formação completa e alguma experiência fora da fazenda dá
ao filho do produtor algo a oferecer, a negociar, a equilibrar o poder.
É sensato ter um plano de independência ou até um plano de saída.
Além disso, em um verdadeiro negócio de família, o sucessor não está
sozinho. O que pode manter a próxima geração de sucessão é o papel
do cônjuge e o seu relacionamento com o negócio. O cônjuge estará
envolvido nos negócios ou estará procurando trabalho em outras
áreas remotas? No caso de irmãos, as oportunidades e justas partes
no planejamento sucessório devem ser também bem esclarecidas e
tratadas.
Passar para a próxima geração significa “entregar o controle”. Isso pode
não ser fácil. Portanto, passar pelo menos um pouco do controle desde
cedo é bom para que o futuro sucessor aprenda a gerenciar riscos e
tomar decisões. Pesquisas apontam que se alguém esperar muito e
não passar por um processo educacional poderá perder o gosto por
Cada família e cada fazenda são diferentes, portanto não existe uma
única solução que sirva para todas as situações de sucessão. No entanto,
há alguns fatores universais relacionados ao sucesso no processo de
sucessão de uma propriedade familiar. O segredo é começar cedo,
dedicando tempo e recursos para educar a família sobre a “influência da
família no negócio agrícola”, especialmente com relação à comunicação,
negociação e processos de tomada de decisão. O processo de sucessão
pode ser difícil e emocionalmente desconfortável. Porém, uma
mudança planejada e controlada torna o processo mais gratificante do
que uma mudança inesperada ou mal planejada.
Três fases críticas podem ser consideradas em um processo de sucessão:
(1) Entrar no negócio agrícola ou escolher outra carreira;
(2) Trabalhar no negócio ou dirigir o negócio;
(3) Sair definitivamente do negócio ou ter flexibilidade para voltar.
O processo de sucessão começa encontrando um sucessor, um filho ou
uma filha que considere a escolha de uma carreira agrícola dentro do
negócio familiar. Uma comunicação clara, aberta, contínua, oportuna
e planejamento são fundamentais desde o início. É frequentemente
útil envolver uma pessoa que esteja de fora do negócio, que não esteja
emocionalmente envolvida, e que seja profissional e experiente. Esse
profissional consegue separar as questões de negócios das questões
familiares, ajudar a delegar poder, percorrer questões delicadas e
32
33
SUCESSÃO
assumir riscos em idade mais avançada.
Finalmente, quando a saída do negócio for temporária, é importante
especificar para a família o tempo de ausência, o quanto continuará
envolvido, e as necessidades de suporte financeiro.
A perspectiva da família
Em resumo, sucessão significa começar cedo. Diz respeito à
comunicação aberta, planejamento com antecedência, formalizar o
processo e ter uma estratégia de saída para equilibrar poder na família.
É como um velho dizendo sobre o ovo que se tornará pássaro: “Por
mais difícil que seja para um ovo se transformar em um pássaro, é ainda
mais difícil de aprender a voar permanecendo um ovo. Não podemos ser
apenas um ovo comum para sempre: temos que chocar ou vamos mal.”
Durante o evento Global Farmers Master Class, a questão da sucessão
foi discutida com 50 fazendeiros de 18 países e culturas diferentes ao
redor do mundo. Muitos pensamentos e ideias surgiram para lidar com
as diversas questões de sucessão. Apesar das diferenças, houve muito
mais semelhanças em pensamentos e perspectivas além das muitas
lições aprendidas com vários países.
“Talvez o que faça a sucessão ser um grande desafio é o confronto do
velho agricultor com o fato de que sua trajetória profissional está chegando
ao fim.”
A AGRICULTURA FAMILIAR É SUSTENTÁVEL?
Apesar dos desafios econômicos, há um consenso entre os produtores
rurais de que a agricultura familiar é o melhor caminho a seguir.
Agricultura familiar implica planejar em longo prazo, pensando numa
próxima geração. Cada geração precisa repensar seu modo de dirigir
o negócio e modernizá-lo. Sustentabilidade será o ponto-chave
para as próximas gerações. A diferença entre o valor de mercado e o
dinheiro que os jovens agricultores podem pagar aumenta conforme
a urbanização em áreas densamente povoadas, bem como a
especulação e a capitalização de subsídios que impulsiona os preços
para cima. Os agricultores precisam encontrar caminhos inovativos para
a sucessão, como, por exemplo, descontar o valor da família dividindo
entre operação e gestão, etc.
Painel de discussão sobre planejamento de sucessão
durante o evento Global Farmers Master Class
“Muitas são as
discussões sobre
interesses individuais,
no entanto, o
interesse coletivo
deve ser sustentado
como um todo e
não o interesse do
indivíduo”.
34
A agricultura empresarial já ocupa um espaço, mas, como vimos,
os retornos são baixos e não há lugar para gastos adicionais. Além
disso, a agricultura é uma atividade de longo prazo, que melhor se
encaixa em estruturas familiares ou cooperativas. Esta última pode ser
ilustrada por um agricultor gerenciando interesses cooperativos de
um povo indígena na Nova Zelândia. Ele diz: “Muitas são as discussões
sobre interesses individuais, no entanto, o interesse coletivo deve ser
sustentado como um todo e não o interesse do indivíduo.”
IMAGEM E FORMAÇÃO
Iniciativas de bancos e outros órgãos para apoiar jovens fazendeiros,
como, por exemplo, “young farmer master class” ou “dias de campo
para jovens fazendeiros” do Rabobank são ótimas iniciativas, porém
35
há muito mais o que se fazer. “O maior interesse não é a terra, mas “O maior interesse
sim a transferência de conhecimento”, diz Ricardo Rios Pohl, do Chile. não é a terra, mas sim
a transferência de
Educação e formação é uma responsabilidade a ser dividida entre todas
conhecimento.”
as partes interessadas.
A história de Ricardo será abordada mais adiante neste livro, mas um fato
interessante é que ele não é filho de fazendeiro, e sim um cientista da
computação. Como alguém pode envolver e motivar crianças ávidas e
inteligentes, de origem não rural, a iniciar uma carreira na agricultura? O
primeiro desafio a superar é restaurar a imagem da agricultura e elucidar
as pessoas sobre os conceitos equivocados da agricultura na sociedade.
A agricultura é algo do qual se deve orgulhar, é uma atividade que tem
muito a oferecer a empreendedores rurais. O aumento da demanda por
alimentos no mundo combinado com inovação dá à agricultura uma
perspectiva brilhante.
DIVERSIDADE DE GÊNERO
Empreendedores familiares têm estimulado suas filhas a irem às
fazendas? A história de Cristina Kress é um excelente exemplo, mas
parece que ainda há um longo caminho a percorrer. A captação de
mulheres para a formação agrícola tem melhorado significantemente, o
que é um bom começo, mas há ainda muito que fazer. Na propriedade
familiar, a mulher não está mais somente voltada para o lar, mas
atuando mais amplamente no setor agrícola. Isso é um reflexo geral
da sociedade, e seria bom para estimular ainda mais o equilíbrio entre
gênero na agricultura, pelo menos em um país desenvolvido.
ASPECTOS FINANCEIROS
Muito da discussão sobre capacitar a próxima geração de agricultores foi
sobre meios de obter suporte financeiro para jovens empreendedores
e fazer a atividade agrícola ser mais economicamente atrativa. A
percepção geral é de que os agricultores não recebem a porção justa
dos retornos na cadeia de valor de alimentos. Contudo, em uma era
de baixa oferta, os agricultores não deveriam mais ser os tomadores
de preços. Além do mais, o uso da mídia social ajudará os agricultores
a construir uma imagem e trabalhar de maneira mais cooperativa,
tomando parte do poder de precificação das grandes corporações. Esse
importante desenvolvimento será revisado no capítulo sobre cadeia de
suprimentos e mídia social.
36
37
SUCESSÃO
O futuro da agricultura – o caminho a seguir
QUESTÃO-CHAVE:
COMO CAPACITAR A PRÓXIMA GERAÇÃO DE AGRICULTORES!
1. FORMAR A PRÓXIMA GERAÇÃO EM AGRICULTURA
Estabelecer com todas as partes interessadas um bom plano de
educação para preparar a próxima geração de empreendedores rurais.
2. MELHORAR A ECONOMIA DA ATIVIDADE AGRÍCOLA
É necessária uma maior cooperação dentro da cadeia produtiva para
obter um ganho mais equilibrado para o lado do agricultor. Em longo
prazo, isso irá beneficiar todos os agentes da cadeia e resultará numa
produção de alimentos mais eficiente. Em nível individual, observamos
que os melhores desempenhos e as explorações mais viáveis vêm,
em 70% dos casos, com um potencial sucessor. Então, de acordo com
o esperado, o negócio economicamente expressivo favorecerá uma
sucessão amena.
3. EXPLORAR INOVAÇÃO E INVESTIMENTOS
Novos modelos de negócio devem ser explorados dentro do conceito
de agricultura familiar.
4. PREPARAR A FAZENDA PARA A SUCESSÃO EM VEZ DE PREPARAR
UM SUCESSOR PARA A FAZENDA
Formalizar o processo de sucessão, garantir uma comunicação
transparente, repensar a estrutura de gestão e contratar um especialista
para facilitar o processo de sucessão com antecedência.
5. RESTAURAR A IMAGEM DA AGRICULTURA FAZENDO DELA UMA
OCUPAÇÃO MUITO MAIS RESPEITADA E DESEJADA
38
39
SUSTENTABILIDADE
- Introdução
- História inspiradora
- Fatos e números
- A perspectiva mais ampla
- A perspectiva do agricultor
- O futuro da agricultura
SUSTENTABILIDADE
Introdução
“Sustentabilidade é como o amor. Reconhecemos a ideia vagamente, mas
não sabemos exatamente o que é.”
Professora Louise O. Fresco, Universidade de Amsterdã.
A atividade agrícola, ao redor do mundo, teve um bom desempenho nos
últimos 50 anos. Desde a década de 1960, a agricultura tem conseguido
fornecer alimento a preços mais baixos para uma população que
dobrou de tamanho, de 3 para 7 bilhões. O fornecimento de alimento
per capita aumentou em 30%1 no mundo.
Entretanto, esse sucesso de produtividade foi acompanhado por
desafios ambientais. A produção animal em todo o mundo responde
por 18%i das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) induzidas pelo
homem, responsáveis por causar aquecimento global. A agricultura
primária é acusada de consumir 70% da água doce do planeta, e – de
acordo com a WWF – polui pelo menos a metade disso. Mais de um
terço da produção global de alimentos é perdido ou desperdiçado em
algum ponto ao longo da cadeia entre produtor e consumidor; uma
quantidade grande o suficiente para alimentar 2 bilhões de pessoas.
Desde 1970, a biodiversidade global diminuiu em aproximadamente
30%; em 60% nos trópicos. A demanda por recursos naturais quase
dobrou desde então. Atualmente, utilizamos o equivalente a 1,5 planeta
para suportar as nossas atividades globais; excedendo a capacidade de
regeneração do mundo em 50%. Se nós continuarmos nesse ritmo até
2030, o equivalente a dois planetas Terra não será suficiente. Se cada
um fosse viver como um cidadão médio dos Estados Unidos (EUA),
seria necessário um total de quatro planetas para regenerar a demanda
anual da humanidade pela natureza2. Existe somente um mundo. Nós
precisamos produzir mais com menos.
“Atualmente, nós
estamos usando o
equivalente a 1,5
planeta Terra”
“Existe somente
um mundo. Nós
precisamos produzir
mais com menos.”
42
De acordo com a Comissão Bundtland (1987), sustentabilidade referese a: “Satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer a
habilidade das gerações futuras de satisfazer as suas necessidades.”
Sustentabilidade significa produzir mais com menos. Ser mais
produtivo e eficiente, com menos insumos, menos emissões e menos
desperdício. Significa capacitar a próxima geração de agricultores
para alimentar o mundo de maneira sustentável com conhecimento,
adotando tecnologias existentes e novas tecnologias com colaboração
43
e treinamento dentro da cadeia de suprimentos, assegurando que as
melhores práticas serão compartilhadas globalmente.
“A definição de sustentabilidade apresenta vários significados, mas existe
somente um significado que importa: o significado comum. Minha
liberdade termina quando eu afeto a liberdade do outro.”
Ricardo Rios Pohl, Chile. Especialista em computação que se tornou
produtor de leite e deu o nome de Chilterra ao seu sistema de produção,
um sistema de pastagem adaptado ao Chile, baseado em um grande
líder e exemplo da Nova Zelândia.
44
“SUSTENTABILIDADE É COMO O
AMOR. RECONHECEMOS A IDEIA
VAGAMENTE, MAS NÃO SABEMOS
EXATAMENTE O QUE É.”
LOUISE O. FRESCO
45
SUSTENTABILIDADE
“Nossa organização PKW inclui 9.000 proprietários individuais Maori, “PKW tem 8.000 vacas
cada um com uma área em 20.000 hectares de terra total. Essa terra e é o maior fornecedor
da Fonterra em
foi herdada dos nossos ancestrais Maori. Nós não a compramos. Não é Taranaki, ocupando
um investimento comercial. Ela veio para nós dos nossos pais, avós e somente 10% da
bisavós. Nós a estamos mantendo e preservando para os nossos filhos, nossa terra.”
nossos netos e os filhos deles. Em um sentido de continuidade, isso
é o que sustentabilidade significa para mim. Eu tenho ouvido muitos
agricultores dizerem que querem passar a terra para os seus filhos em
uma condição melhor do que aquela em que receberam. Esta é a nossa
herança cultural,” disse Dion. “Sustentabilidade significa uma porção de
coisas distintas para diferentes pessoas, mas basicamente eu diria que
eu só quero que meus filhos, netos e bisnetos aproveitem o ambiente
assim como eu aproveitei quando eu era criança. Eu não quero que as
nossas atividades rurais comprometam os rios e o ambiente dos quais
nós dependemos para o nosso bem-estar.”
História inspiradora
Parininihi ki Waitotara Incorporation (PKW)
Grupo Maori com sede em Taranaki, Aotearoa,
Nova Zelândia.
Dion Tuuta é chefe executivo da PKW, grupo Maori que possui 14
fazendas de produção de leite na região de Taranaki, Nova Zelândia.
Como membro da tribo Maori, Dion lida com o desafio de aumentar
crescimento, produtividade e lucros sem impactar negativamente a
terra que ele herdou e deverá passar para a próxima geração Maori.
“Eu irei me apresentar do jeito Maori: Ko Taranaki te Maunga, Ko Urenui te
Awa, Ko Ngati Mutunga te Iwi, Ko Dion Tuuta ahau. Que significa: Taranaki
é a minha montanha ancestral, Urenui é o meu rio ancestral e Ngati
Mutunga é a minha tribo. Eu sou Dion Tuuta.”
46
OLHOS ATENTOS NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS
“PKW tem 8.000 vacas e é o maior fornecedor da nossa cooperativa
Fonterra em Taranaki, ocupando somente 10% da nossa terra. Nós
temos planos para aumentar, com o tempo, a produção e o número de
vacas para 50.000, com uma maior retomada de controle da nossa terra.
Nós precisamos ser cuidadosos e conscientes na maneira como nós
fazemos isso. Nós precisamos considerar o impacto da intensidade da
atividade agrícola no nosso ambiente,” disse Dion.
Nos últimos anos, os governos estadual e local e as grandes corporações
de produção de leite assumiram maior responsabilidade pela limpeza
do ambiente na Nova Zelândia. De forma semelhante, o povo Maori e
as tribos locais também mantiveram olhos atentos nas atividades da
propriedade e no impacto nocivo e potencial nas suas terras e recursos
hídricos.
“Nós estamos muito conscientes de que somos uma entidade
corporativa Maori, mas também somos membros da tribo Iwi. Nosso
povo colhe alimentos vindos dos rios e os rios fluem para o oceano,
de onde nós também colhemos peixes e alimentos marinhos. Nós
queremos ter certeza de que nossa atividade em terra não compromete
os outros recursos culturais. Nosso povo mantém atenção naquilo que
estamos fazendo. Se eles sentem que as nossas atividades agrícolas estão
impactando outras áreas da nossa vida cultural, eles ficarão chateados e
irão nos dizer,” disse Dion. “O segredo é ter certeza de que nós estamos
alinhados com o que o nosso povo quer.”
47
UMA IDEIA SIMPLES SOBRE SUSTENTABILIDADE
“No passado, as práticas agrícolas da Nova Zelândia não eram tão boas
quanto são hoje. As regulamentações não eram tão restringentes”,
admitiu Dion.
“Há poucas décadas, os resíduos das fazendas de leite eram
despejados no rio. Não podíamos mais nadar com frequência e
segurança no rio e isso era uma das minhas brincadeiras favoritas
quando eu era criança.”
Nos últimos 25 anos, a Nova Zelândia mudou os seus métodos agrícolas,
e fixou a sustentabilidade ambiental como prioridade. O governo local
tem sido muito efetivo em colocar em operação regulamentações que
garantem que os agricultores isolem os corpos d’água com cercas e
façam tratamento adequado dos efluentes, disse Dion.
“Nós temos removido a sujeira dos rios com sucesso. Agora, eu posso
puxar uma cadeira e observar minhas crianças balançarem na árvore,
apreciando nossos cursos d’água. Esse é o entendimento que eu tenho
de sustentabilidade,” disse Dion.
PKW certifica-se de que cursos d’água conectados a terras agrícolas são
protegidos por cercas, as quais suportam também plantios tutorados
ao longo do rio. “Nossa cooperativa Fonterra escreveu um acordo
chamado Clean Streams Accord (Acordo dos Córregos Limpos). Até
2015, todos os agricultores fornecedores da Fonterra deverão ter seus
cursos de água cercados. As nossas propriedades alcançarão essa meta
em 2013,” disse Dion.
A PRÓXIMA GERAÇÃO DE PRODUTORES DE LEITE
Parte do papel de Dion como chefe executivo é garantir que a próxima
geração de produtores de leite Maori e os administradores de terra
Taranaki sejam orientados para as oportunidades da propriedade e o
que pode ser obtido com a terra deles.
“A nossa gente esteve separada de sua terra por muitos anos. Muitos
perderam a memória da prática agrícola e perderam o capital cultural
de serem administradores de terras. Nós tentamos encontrar caminhos
para orientar as pessoas e reconectá-las à sua terra,” disse Dion.
“Nós investimos em iniciativas educacionais e sociais e em fazer
parcerias com instituições educacionais voltadas à agricultura. Nós
vamos a escolas primárias e encontramos maneiras de conectar
crianças bem novas com o ambiente e plantamos as sementes de um
futuro em agronegócio e manejo da terra. Nós convidamos estudantes
48
“Nós investimos
em iniciativas
educacionais e sociais
e em fazer parcerias
com instituições
educacionais voltadas
à agricultura.”
para visitar a fazenda e experimentar a vida em nossas propriedades.
Muitas pessoas do nosso povo se tornaram urbanas e nós estamos
tentando fazer crescer nelas um amor pela terra, ainda em uma idade
bem jovem,” disse Dion.
“Quando as nossas crianças crescerem, não haverá garantia de que
desejarão retornar e trabalhar em suas terras. Mas uma das minhas
tarefas é encontrar pessoas que irão me substituir quando eu for para
frente. Eu planto e cultivo ideias nas pessoas. Este é o tipo de coisa que
eu faço,” disse Dion. Como chefe executivo, ele é o responsável pelo
negócio e por preservar, prosperar e preparar o negócio para a geração
seguinte.
O FUTURO PARA A TERRA E O POVO MAORI
PKW também promove oportunidades para envolver os descendentes
da sua terra no negócio.
“A Nova Zelândia é muito distante de tudo. O povo Maori está
começando a se reposicionar com confiança na economia
neozelandesa e no cenário global. Nós estamos muito orgulhosos do
fato que, apesar de muitos desafios, nossa cultura sobreviveu, sucedeu
e cresceu,” disse Dion.
“Nós acreditamos na comunidade, na força da comunidade, e em nossas
conexões uns com os outros,” disse Dion. “Eu conheço agricultores de
49
SUSTENTABILIDADE
Fatos e números
O relatório marco de 2006 da FAO Livestock’s Long Shadow3 (A Longa
Sombra da Produção Animal) indica que a produção animal global é
a mais responsável por gerar emissão de GEE induzida pelo homem
– 18%i – do que o transporte. Aproximadamente dois terços disso
(13%) vêm dos sistemas extensivos de produção animal, como gado de
pasto, enquanto um terço (aproximadamente 5%) vem dos sistemas
intensivos como suinocultura e avicultura.
todo o mundo e, embora tenhamos diferenças, compartilhamos
dos mesmos valores e do estilo de vida que nossos pais e ancestrais
deixaram para nós.” Para ilustrar a conexão, Dion traduziu um velho
dizer Maori: “He aha te mea nui ki te ao, he tangata, he tangata, he
tangata.” (“Qual é a coisa mais importante no mundo? São as pessoas.
São as pessoas. São as pessoas.”)
“A promessa do futuro para o povo Maori é o agronegócio que é real
e significante. Eu estava entre 50 agricultores de diferentes países
discutindo questões sobre aumentar a segurança alimentar e ao mesmo
tempo gerenciar questões de sustentabilidade, sucessão e estabilidade
social. Se eu pudesse teria trazido uma sala cheia de jovens a este fórum
para que eles pudessem ouvir o potencial que o futuro guarda para
aqueles que podem alimentar o mundo – sustentavelmente.”
50
Estimativas mostram que aproximadamente 80% dos minerais
consumidos na cadeia de suprimentos são excretados novamente.
Mais de um terço do alimento produzido ao redor do globo é perdido
ou desperdiçado; uma quantidade grande o suficiente para alimentar
dois bilhões de pessoas. Enquanto em regiões desenvolvidas, uma
parte significante do desperdício de alimentos resulta do consumidor,
em regiões em desenvolvimento a perda de alimentos usualmente
ocorre em decorrência das infraestruturas (armazenamento e
resfriamento) subótimas, antes mesmo de o alimento chegar ao
consumidor. Todo ano, os consumidores em países ricos desperdiçam
quase a mesma quantidade de alimentos (222 milhões de toneladas)
da cadeia completa de produção de alimentos da África Subsaariana
(230 milhões de toneladas).4 Uma análise inicial de 1.600 produtos da
Unilever, os quais representam mais de 70% das suas vendas em 14
países, mostrou que 68% dos GEE oriundos dos produtos da Unilever
foram originados pelo consumidor, demonstrando a grande influência
destes no mundo ocidental.
Enquanto a agricultura usa 70% da água doce do mundo, outras
indústrias criam 70 vezes mais valor por gota de água usada.
Os requerimentos diários de água potável de uma pessoa são
aproximadamente três litros, enquanto se consomem 2.000–5.000
litros de água para produzir o alimento ingerido diariamente por essa
mesma pessoa. Já há, nos dias de hoje, aproximadamente 1,2 bilhão
de pessoas que vivem em áreas com escassez de água. Esse número
deverá crescer para 1,8 bilhão até 2025. Enquanto isso, os cenários
de mudanças climáticas existentes projetam que quase a metade da
população mundial poderá estar vivendo em áreas de grande falta de
água até 2025.6
Fato:
O mundo possui
estimados 1.400
milhões de quilômetros
cúbicos de água.
Somente 0,003% dessa
enorme quantidade
são “recursos de água
doce” – água que
teoricamente pode
ser usada para bebida,
higiene, agricultura e
indústria. Mas essa água
não é toda acessível.
Na verdade, somente
entre 9.000 e 14.000
quilômetros cúbicos
são economicamente
disponíveis para uso
humano5.
51
1,6
4.9000,00
1,4
4.8000,00
1,2
4.7000,00
1
4.6000,00
0,8
4.5000,00
0,6
4.4000,00
0,4
4.3000,00
0,2
4.2000,00
0
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009
5.0000,00
Área de terra agrícola
Área de terra agrícola por capital
Terra agrícola (1.000 ha)
Desde a virada do século, a quantidade de terra arável tem decrescido
em aproximadamente 1% por ano devido à por exemplo, erosão e
urbanização. Por habitante, a terra arável diminuiu pela metade, de 1,5
ha em 1960 para menos do que 0,8 ha hoje em dia (como mostrado
na figura a seguir). Portanto, o suprimento de alimento tem que crescer
em pelo menos 70% até 2050 com somente metade da terra atual e
das fontes disponíveis de água e minerais por habitante. A mudança na
dieta definida pelo salário com maior consumo de proteínas animais
acelerará a demanda por recursos naturais como terra e água ainda
mais. Enquanto atualmente se consome aproximadamente 1.500
litros de água para produzir 1kg de trigo, estima-se que se consumirá
aproximadamente 10 vezes mais, isto é 15.000 litros, para produzir 1kg
de carne de vaca alimentada com grãos.7
O crescimento mais forte é esperado para o consumo de peixe criado
em tanque e frango. Por uma feliz coincidência, estas também parecem
ser as fontes de proteína animal com a menor pegada ecológica.8
Oportunidades para solucionar o problema da água residem em uma
melhor gestão dos recursos hídricos, irrigação mais eficiente, seleção de
culturas baseada no clima e desenvolvimento de variedades vegetais
eficientes no uso da água. Por exemplo, a irrigação pode aumentar a
produção de muitas culturas de 100 a 400%. Agricultores que mudarem
de irrigação superficial para irrigação localizada poderão cortar o seu
uso de água em 30 a 60%9. A agricultura irrigada representa, ao redor do
globo, 20% do total de terra cultivada, mas contribui com 40% do total
de alimento produzido.
52
Fato:
com 0,03% de CO₂
na atmosfera da
Terra a temperatura
média mundial
é 15ºC. Sem CO₂
(0%, portanto), a
temperatura média
seria 33 graus mais
baixa, −18ºC.
53
SUSTENTABILIDADE
A perspectiva mais ampla
“Negócio que produz nada além de dinheiro é negócio pobre.”
Henry Ford.
EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE, CHAVE PARA A SUSTENTABILIDADE
Produzir “mais com menos” irá requerer um esforço enorme, mas é
possível; existem muitas oportunidades. Produtividade e eficiência são
chaves. Precisamos de uma intensificação sustentável. Sistemas de alta
produção e eficientes usam menos insumos por kg de produto final
e apresentam menores emissões de GEE. Além disso, o uso da terra é
menor, deixando mais espaço para natureza, urbanização e recreação.
“A Terra, com certeza, não ficará maior. Nós temos que aumentar produção
por ha com menos insumos e menos emissões: mais com menos. Maior
produtividade e eficiência são chaves para a sustentabilidade.”
Aalt Dijkhuizen, presidente do Conselho Executivo da Universidade e
Centro de Pesquisa de Wageningen.
PROGRESSO NO PASSADO
Um significativo progresso na sustentabilidade já foi observado em
levantamentos em que, por exemplo, a emissão de carbono em fazendas
de leite foi reduzida em 63% nos últimos 60 anos por meio da eficiência
na produção de ração e manejo da nutrição, enquanto o uso de energia
no processamento da produção de leite diminuiu 25%. Comparado
aos anos 1940, a produção de leite de hoje requer somente 10% da
utilização da terra, 23% da nutrição e 35% da água por kg de leite10.
Tendências e resultados semelhantes foram encontrados para outros
sistemas de produção de alimentos. Comparada à realidade de 1970,
a pegada de carbono por kg do porco e ave consumidos hoje em dia
diminuiu 31% e 43%, respectivamente, ou aproximadamente 0,8% a 1%
por ano. Novamente, isso foi principalmente devido às eficiências dos
sistemas de produção. O aumento geral no consumo desses produtos,
nesse mesmo período, foi (mais que) compensado por essa redução na
produção por unidade de carbono.11
PROGRESSO POTENCIAL – COBRINDO AS LACUNAS GLOBAIS
“Maior produtividade
EXISTENTES EM EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE
e eficiência são
Grandes variações em produtividade existem nas fazendas com chaves para a
respeito à terra e água. As estimativas são de que, na média global, sustentabilidade.”
54
a produtividade animal é de 30 a 40% abaixo do potencial genético
deles. Acredita-se que muitas culturas têm desempenho 50% abaixo
do que poderiam. Enquanto a média mundial de produção de cereais
é aproximadamente três toneladas por ha, os 10 países com as mais
extensas áreas de cereais apresentam produtividades variando de mais
de seis toneladas por ha nos Estados Unidos, e aproximadamente uma
tonelada por ha na Nigéria e no Cazaquistão. Para melhor comparação,
as maiores produções de cereais são de 8 a 10 toneladas por ha.
Mas mesmo dentro de um único país, em condições semelhantes,
uma variação significante pode ser encontrada. Por exemplo, os
produtores de suínos com melhor desempenho na Holanda, os quais
somam 20% do total de produtores, são capazes de produzir mais
do que cinco filhotes por ninhada por ano a mais do que os de mais
baixo desempenho, os quais representam também 20% do total de
produtores. Enquanto a média holandesa de produção de leite por
vaca é aproximadamente três vezes mais alta que a média mundial, os
25% maiores produtores de leite da Holanda são capazes de alcançar
uma quantidade de leite por vaca aproximadamente 45% mais alta (isto
é, aproximadamente 3.000kg a mais) do que os seus colegas menos
produtivos que representam 25% do total. Baseado no alto grau de
produtividade e eficiência holandesa seriam necessários 40% menos
porcos ao redor do mundo para produzir o mesmo volume atualmente
produzido no globo. De acordo com a WWF, os produtores mundiais
55
com melhor desempenho são aproximadamente 100 vezes melhores
do que seus colegas menos produtivos, os quais são, por sua vez,
responsáveis por metade do impacto ambiental.
PROGRESSO POTENCIAL – NOVAS SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS
Mesmo para os melhores agricultores, existe espaço para melhorias
significativas. A ciência está progredindo na direção de muitas soluções
sustentáveis inovadoras. Oportunidades de melhorias incluem
progresso na reprodução acelerada usando a genômica, produção mais
alta e mais eficiente de culturas e animais com o uso de agricultura de
precisão, instalações animais melhoradas para maior bem-estar animal,
alimentos enriquecidos mais saudáveis, com vida de prateleira mais
longa e desperdício reduzido por resfriamento inteligente, técnicas de
empacotamento e armazenamento, novas matérias-primas eficientes,
como algas e insetos, e novas técnicas baseadas em biotecnologia
para obtenção de alimento, alimentação animal e combustível de uma
única planta.
Hoje em dia, o sequenciamento de DNA pode ocorrer 25.000 vezes
mais rápido do que há 15 anos, o que significa que hoje nós podemos
desvendar o genoma humano em uma tarde, algo que teria levado
15 anos uma década atrás. Usando a genômica, as características
mais desejáveis de plantas e animais podem ser selecionadas sem
manipulação de genes e sem triagens práticas demoradas, o que
resultaria em um progresso mais efetivo e acelerado do melhoramento.
As estimativas indicam que, usando a genômica, o progresso genético
poderia dobrar.
A agricultura de precisão explora as diferenças que existem nas culturas
e nos animais, em vez de tentar eliminá-las. Tudo gira em torno de
tomar uma ação correta e específica no tempo certo e no lugar certo.
Em vez de uma ação genérica para todo o campo de produção, o
objetivo é adaptar, por exemplo, o uso de fertilizantes, herbicidas ou
água para cada metro quadrado específico do campo de produção.
Desse modo, áreas deficientes podem receber mais tratamento do que
áreas sem deficiência, aumentando significativamente a produção total
e, ao mesmo tempo, reduzindo os insumos. Com o uso de modelos de
computadores capazes de levar em conta a quantidade de fosfato que
permanece no solo após a colheita de uma cultura fertilizada, é possível
calcular mais precisamente a quantidade de fosfato requerido para as
culturas subsequentes. Os pesquisadores calculam que, dessa forma, a
produção de alimentos em 2050 irá requerer 40% menos fosfato (um
recurso natural esgotável) do que foi previamente pensado12. Este é o
futuro do alimento; um futuro muito viável para a produção agrícola.
56
“Existe espaço para o aperfeiçoamento, um grande potencial a ser “Durante as duas
conquistado. O teto não foi alcançado, nem de longe, nem mesmo pelos décadas passadas,
atuais agricultores de melhor desempenho. Com o uso de novas tecnologias, os setores de RSC
das empresas
como genômica, agricultura de precisão e tecnologias baseadas na deixaram, ao longo
biotecnologia, novos avanços serão alcançados.”
da cadeia de valor,
de mitigar riscos ou
Aalt Dijkhuizen.
OS DRIVERS DE SUSTENTABILIDADE MOVEM-SE DA CONFORMIDADE
PARA A CRIAÇÃO DE VALORES13
A integração de questões ambientais e sociais, por meio da
Responsabilidade Social Corporativa (RSC), é uma alternativa que as
empresas têm no gerenciamento dos seus negócios para produzir
um impacto positivo na sociedade por meio de ações econômicas,
ambientais e sociais. Durante as duas décadas passadas, os setores de
RSC das empresas deixaram, ao longo da cadeia de valor, de mitigar
riscos ou de se orientar na conformidade de custos para propor uma
plataforma de crescimento sustentável e criação de valor. Em outras
palavras, os direcionadores de RSC moveram-se do gerenciamento de
reputação e risco para a adição de valor a partir dos ganhos de eficiência
e criação de (novo) valor.
de se orientar na
observância de custos
para propor uma
plataforma de
crescimento
sustentável e
criação de valor.”
No início, as empresas se envolvem com RSC porque se sentem forçadas
a fazer isso. Obedecer às regulamentações locais e globais dá a eles a
licença para produzir, enquanto que a falta de cumprimento pode
destruir as marcas e as reputações do negócio. Entretanto, consumidores
e agentes da cadeia estão se transformando em comedores ávidos
de informação. Hoje, a informação requerida vai muito além do
comportamento legal das empresas com relação ao fornecimento,
CURVA DE VALOR
Plataforma de
crescimento
Valores com
base em autorregulação
Filantropia
estratégica
Legais e de
conformidade
Adesão à lei nos países
de produção, operação
e distribuição.
Alinhamento das
atividades de
caridade com as
questões sociais que
apoiam os objetivos
de negócios.
Incorporam um
sistema de valor
da empresa e/ou
código de conduta
para orientar o
comportamento
das empresas
Eficiência
Redução de custos
mensuráveis por
meio de cenários
eficientes e
vantajosos para
todos
Acesso a novos
mercados, novas
parcerias ou
inovações de
produtos/serviços
que geram receita.
Fonte: Institute for Business Value (IBM)14
57
composição e impacto dos produtos e sistemas de produção. Para
responder a essa crescente visibilidade, empresas aumentam sua
abordagem em RSC para se defenderem de reais ou eventuais desafios
das partes envolvidas ou alegações de ONGs. As atividades de caridade
e RSC são focadas em questões sociais e ambientais que suportam
objetivos de negócios para mitigar riscos colocados por questões atuais
e pontuais de sustentabilidade. Para aprender com essas experiências,
as empresas subsequentemente reconhecem a importância do
verdadeiro negócio e o impacto de uma linha de fundo. Por exemplo,
economizar energia reduzindo as emissões de gases de efeito estufa
também minimiza custos. Otimizar cadeias de suprimento reduzindo o
desperdício e a negligência irá simultaneamente aumentar a eficiência
e a produtividade. Então, na próxima fase da curva de valor, a RSC irá
agregar valor por meio da economia de custos, mensurável, dada pela
presença de cenários mais eficientes em que todos saem ganhando.
Finalmente, para sair do risco para o lucro, empresas reconhecem que a
RSC pode trazer vantagens competitivas por acionar inovação e a criação
de novos produtos, novos mercados e novos modelos de negócio com
novos parceiros, fortalecendo sua posição na briga por talentos. Desse
modo, a sustentabilidade vale a pena, pois seus esforços podem acionar
todas as alavancas para a criação de valor pelas empresas (veja abaixo
uma visão geral das alavancas de criação de valor em sustentabilidade).
aumentar a fidelidade e diminuir a rotatividade de clientes e, portanto,
aumentar a representatividade no mercado. Isso alimenta a inovação
criando novos mercados e aumentando as vendas. Pode diminuir os
prêmios de riscos reduzindo os riscos legais, operacionais, de reputação
e de mercado, e, então proporcionar um menor custo de capital, e,
assim, melhorar os múltiplos de avaliação dos negócios. De todos esses
modos, a sustentabilidade pode aumentar os retornos aos investidores.
Por exemplo, um estudo16 demonstrou que empresas com um
comprometimento ambiental proativo pagam juros mais baixos em
seus empréstimos e, assim, diminuem o valor da dívida.
Ações de sustentabilidade podem aumentar a eficiência e economia
de custo, enquanto que o fortalecimento das marcas permite um maior
poder de precificação, contratação, desenvolvimento e retenção de
empregados – tudo resultando em melhoria das margens. Isso pode
ALAVANCAS DE CRIAÇÃO DE VALOR EM SUSTENTABILIDADE
Potenciais
Impactos dos
esforços de
sustentabilidade
Alavancas de
criação de
valor
• Marca mais • Maior eficiência • Maior capacidade de
forte e maior
operacional
atrair, reter e motivar os
poder de
• uso mais
funcionários
precificação
eficiente de
• Maior produtividade
recursos
dos funcionários
• Otimização
da cadeia de
suprimentos
• Custos e
impostos mais
baixos
Poder de
precificação
Recrutamento
de funcionários e
comprometimento
economia de
custos
Melhoria da margem
• Maior
fidelização
do cliente,
menor
taxa de
rotatividade
• Maior
capacidade
de entrar
em novos
mercados
• Mais fontes
potenciais de
receita
• Menores
riscos
operacionais,
de mercado e
de balanço
• Menor custo
do capital e
maior acesso
ao capital,
financiamento
e seguro
Representação
no mercado
Entrada em um
novo mercado
Os prêmios de
risco
Custo de
capital
Crescimento da renda
Lucros
Fluxo de caixa livre
Variação múltipla
Retorno total ao acionista
Fonte: MIT – Sloan Management Review 2009
15
58
59
SUSTENTABILIDADE
hábitos naturais. O uso da terra não pode crescer seis vezes, ele pode ser
expandido somente em acerca de 15%. Ninguém deveria fazer tabus
com fertilizantes, pesticidas e nem com agricultura orgânica. Em vez
disso, cada um deveria aprender as lições de cada tipo de agricultura, de
cada sistema. Os sistemas de agricultura intensiva também aprenderam
com o passado, com os excedentes de estercos e minerais que resultaram
em excesso de nitrogênio/nitrato e fosfato poluindo a água e o solo,
diminuindo o bem-estar animal e aumentando as crises de doenças
animais.
A perspectiva do agricultor
“Quanto mais eficiente é a produção, isto é, mais produtos por unidade de
insumo, melhor. Entretanto, para a classe média urbana de economias
ricas, eficiência tem se tornado cada vez mais um conceito negativo. O ideal
dessa classe é uma visão romântica da produção agrícola passada dos avós.
Entretanto, nós não podemos alimentar o mundo de hoje com a agricultura
de ontem.”
Louise O. Fresco
“Nós, como agricultores, sabemos que temos que trabalhar com a “Nós, como
natureza em vez de trabalhar contra ela, mas, de alguma forma, parece agricultores,
sabemos que temos
que não temos conseguido convencer os governos e a sociedade a
que trabalhar com
pensar assim”.
a natureza ao em
“A fita vermelha está se tornando verde.”
Rod Fenwick, Austrália.
Especialista em produção, processamento e gerenciamento de negócio
avícola e vencedor do prêmio Indústria Avícola Victorian.
Ser verde não é fácil. Entretanto, alguns critérios de sustentabilidade
são conflitantes. Por exemplo, enquanto o sistema de produção de
ovos ao ar livre favorece o bem-estar das poedeiras, esses sistemas em
geral emitem 20% mais CO₂ e usam 25% mais terra por kg de produto17.
Semelhantemente, sistemas de produção orgânica, em geral, parecem
ter um maior potencial de aquecimento global por kg de produto do
que os convencionais. Embora a agricultura orgânica seja apreciável,
ela não pode por si só alimentar o mundo. Mudar massivamente o
principal sistema de produção para agricultura orgânica requeriria seis
vezes mais terra para alimentar a população mundial atual, ao custo de
60
vez de trabalhar
contra ela, mas,
de alguma forma,
parece que não
temos conseguido
convencer
os governos
e a sociedade
a pensar assim.”
O dogmatismo ecológico é contraproducente. A educação ecológica é
necessária. Permaneça com a mente aberta; mantenha eficiência, mas
implemente melhorias de base ecológica, aprendidas da agricultura
orgânica, como, por exemplo, uso de insetos predadores para controle
biológico de pragas ou aperfeiçoamento das práticas agrícolas que o
torne capaz de trabalhar sem o emprego de hormônios e com menos
antibióticos.
“Sistemas intensivos de produção agrícola como também preservação dos
ecossistemas ao redor deles requerem uma aplicação racional de princípios
ecológicos. Entretanto, isso não é a mesma coisa do que agricultura orgânica.”
Louise O. Fresco
Uma parte significante da sustentabilidade está na fazenda,
especialmente para produção animal. O cultivo de espécies agrícolas
e a produção animal representam a maior parte das emissões de GEE
enquanto o transporte e o processamento industrial, especialmente
para produto fresco, são bem menos importantes no âmbito global.
Ao longo de toda a cadeia de alimentos lácteos, as emissões dentro
da fazenda representam aproximadamente 80% das emissões de GEE
em países industrializados. A principal fonte de emissão de GEE é a
fermentação entérica. Ela é responsável pela maior parte da pontuação
de GEE dos produtos de carne, especialmente para ruminantes em “Uma parte significante
da sustentabilidade
sistemas extensivos de criação com uma baixa taxa de crescimento e uma
está na fazenda,
alta taxa de conversão alimentar. Os principais fatores que determinam especialmente para
a pontuação de GEE para os outros animais (monogástricos), que são produção animal.”
61
na maior parte mantidos em sistemas intensivos de criação, são taxa
de conversão alimentar, armazenamento do esterco e aplicação do
esterco. Além disso, o que mais influencia o bem-estar animal é o seu
manuseio, suas instalações e o modo de gestão da fazenda.
“Nós podemos fazer mais. Nós temos que fazer mais. Ponto. Ponto-final.”
Kees Schoenmaker, Brasil.
SUSTENTABILIDADE VENDE?
“Você pode ser um capitalista verde hoje em dia.”
Sjouke Bruinsma, Tanzânia.
Agricultores podem hesitar na hora de investir em práticas mais
sustentáveis, uma vez que as margens da fazenda são geralmente
pequenas e os preços voláteis. Enquanto algumas medidas aumentarão
os custos da fazenda, outras podem levar a economias ou preços
premium. Como discutido anteriormente, economias de energia,
redução de resíduos e ganhos de eficiência, incluindo produções mais
altas e menos insumos necessários por kg (por exemplo) e melhores
taxas de conversão alimentar, beneficiarão tanto a economia da fazenda
quanto o desempenho da sustentabilidade. Um projeto da Unilever,
com pequenos agricultores cultivadores de chá no Quênia, mostrou
que a implementação de práticas mais sustentáveis poderia resultar
em ganhos de 5–15% de produção, melhorias na qualidade do chá,
custos de operação reduzidos como também em preços mais altos para
o chá. Talvez tão importante quanto – ou até mais importante que – o
ganho econômico, e isso foi o fortalecimento pessoal dos agricultores
quenianos: estar apto para criar uma propriedade saudável que pode ser
passada para as gerações futuras.
“Um negócio de prestação de serviços pode ir à falência dentro de um ano.
Como o solo pode levar 20 anos para tornar-se esgotado, a falência da
fazenda pode levar mais tempo. Se você é um bom agricultor, você saberá o
que é bom para os seus solos e você protegerá a sua principal riqueza: a terra
e a água com as quais você trabalha e de onde você ganha a sua vida. Cuide
delas e passe-as para frente corretamente para as gerações futuras.”
DILEMAS DIFÍCEIS
Sustentabilidade é como amor; ninguém é contra ele, mas
não existe nenhum consenso sobre o que ele significa, sobre
a sua específica interpretação e implementação. Os cientistas
discordam – parece não existir consenso sobre aquecimento
global e as suas possíveis causas. Sustentabilidade é complicada.
Pontos de vistas e focos variam ao redor do mundo. Gases de
62
efeito estufa e mudanças climáticas tornaram-se preocupações “Nós podemos fazer
mais. Nós temos que
universais.
Entretanto, questões como bem-estar animal e organismos
geneticamente modificados são preocupações mais dominantes
em regiões desenvolvidas, particularmente no Noroeste da Europa,
enquanto escassez de água, poluição e segurança alimentar parecem
preocupações mais aparentes na África e na Ásia. Enquanto obesidade
é alta prioridade na agenda desde a América do Norte até o Oriente
Médio, simultaneamente, desnutrição, fome e redução da pobreza
prevalecem na África e na Ásia. Dessa forma, diferentes sociedades
parecem ter diferentes preocupações com sustentabilidade ao longo
do tempo. Além disso, mesmo dentro das sociedades, especialmente
nas desenvolvidas, ocorrem variações entre o que os consumidores
falam e o que eles de fato fazem; uma lacuna entre o chamado cidadão
consciente e o consumidor sensível a preço, entre o comportamento
real ou imposto de compra. Por exemplo, a porção de respondentes
que mostrou intenção positiva de comprar alimento orgânico variou
de 30% a mais de 80% em estudos feitos em alguns países, como
Alemanha a China, enquanto que as porções dos mercados locais
foram bem menores do que 5%.18 Embora o alimento orgânico tenha
fazer mais. Ponto.
Ponto-final.”
63
mostrado aumento de dígito duplo nos últimos anos, a porção de
mercado holandês igualou meramente 2% enquanto que a porção de
mercado americano (EUA) ultrapassou somente um pouco os 3%.
“Portanto, quem diz o que é sustentável? Não é somente o que nós pensamos
dos nossos agricultores. É também a percepção de sustentabilidade
do consumidor. Sustentabilidade representa diferentes percepções,
ideias, parâmetros. A única coisa que você não pode fazer é ignorá-la.
Sustentabilidade é aspecto central.”
Portanto, sustentabilidade pode causar confusão, como o amor. Vários
critérios de sustentabilidade podem ser conflitantes, as opiniões
de investidores ou mesmo um critério podem divergir. Cientistas
não concordam, sociedades diferem em pontos de vista e foco,
consumidores enviam mensagens confusas. Os agricultores não
podem esperar, entretanto. Agricultores precisam tomar decisões de
longo prazo. Com horizontes de investimentos e esquemas de rotação
de culturas se estendendo sobre diversos anos, algumas vezes, décadas,
os produtores rurais alimentam o futuro. Quando as opiniões mudam,
eles não podem simplesmente pegar de volta uma cultura no campo,
um rebanho animal, um tanque de peixes, uma casa de vegetação ou
um prédio na fazenda. Os agricultores semeiam hoje para colher bem
amanhã. Nós temos que agir agora.
“Se você é um bom
agricultor, você
saberá o que é bom
para os seus solos e
você protegerá a sua
principal riqueza:
a terra e a água
com as quais você
trabalha e de onde
você ganha a sua
vida. Cuide delas e
passe-as para frente
corretamente para
as gerações futuras.”
com a sociedade o que deve ser monitorado e quais incentivos devem
ser usados para um progresso sustentável. As externalidades como
excesso de água e nitrogênio deveriam ser incluídas nos preços dos
alimentos? São questões complicadas que ninguém consegue resolver
sozinho. Entretanto, quando nós unimos as forças, nós podemos fazer
a diferença. O governo sozinho não pode fazer isso, a ciência sozinha
também não pode – para o negócio, é árduo – mas, juntos, nós
podemos vencer. Esse ‘triângulo dourado’ fez os agricultores de um país
pequeno como a Holanda tornarem-se o segundo maior exportador
de flores e alimentos. Agricultores de quem podemos nos orgulhar.
Bons agricultores têm o futuro.
“Sustentabilidade em cinco palavras: Reduza, Recicle, Reuse, Substitua,
Redesenhe... e Retribua. Em resumo: Repense!”
PARA CHEGAR LÁ JUNTOS
As oportunidades para aumentar sustentavelmente a segurança
alimentar ao redor do mundo são muitas. Elas estão na redução da
distância entre os sistemas menos e os mais produtivos; no aprendizado
e na aplicação do melhor dos diferentes sistemas; na economia
de energia e alimento pela redução das perdas e do desperdício;
na implementação de ambos, no conhecimento e nas melhores
práticas existentes e na adoção de novas tecnologias (por exemplo, a
genômica), agricultura de precisão e técnicas baseadas em sistemas
biotecnológicos. As oportunidades estão disponíveis em todas as
opções e nós não podemos deixar nenhuma fora da mesa.
Os agricultores não podem fazer isso sozinhos. Confiança e
transparência, respeito e debate recorrente são importantes
precondições, mas o desenvolvimento sustentável precisa de mais. Ele
precisa de eficiência, produtividade, investimento, inovação e medição.
É preciso que todos os agentes se envolvam e se comprometam. Os
agricultores trabalham em um mundo onde a maioria das pessoas
não é agricultor. Existe a necessidade de construir um entendimento
comum. Agricultores, compradores e fornecedores precisam combinar
64
65
SUSTENTABILIDADE
O futuro da agricultura
Sustentabilidade sempre será uma questão de definição. Como um
dos participantes do Master Class disse: “Sustentabilidade significa uma
porção de coisas diferentes para uma porção de pessoas diferentes”.
Talvez nós devêssemos simplesmente aceitá-la, lidar com ela de fato,
traduzi-la para todas as nossas próprias realidades diárias e manter o
senso comum como possivelmente podemos. Alguns sensos comuns
para manter em mente:
1. EFICIÊNCIA E ALTA PRODUTIVIDADE SÃO OS
PONTOS-CHAVE
Fatos indiscutíveis são que a população mundial está crescendo e
ficando mais velha. Além disso, como a prosperidade média está
também aumentando, uma mudança massiva para dietas mais
intensivas está ocorrendo. Como Aalt Dijkhuizen afirmou: “A Terra,
com certeza, não aumentará de tamanho”, portanto, eficiência e alta
produtividade são pontos-chave. Entretanto, nós precisamos estar
conscientes do bem-estar animal, qualidade do solo, entre outros, ao
mesmo tempo. Portanto, precisamos produzir mais com menos. É tudo
uma questão de um equilíbrio saudável.
2. PERMANEÇA COM A MENTE ABERTA
Aprenda e compartilhe as melhores práticas de todo sistema de
produção agrícola, mas também adapte as melhores práticas do
mundo externo à indústria. Como Gerjan Snippe afirmou no capítulo
Cadeia de Suprimentos: “Nós podemos aprender uns com os outros.”
Além disso, precisamos permanecer com a mente aberta para novas
tecnologias. Isso está fortemente relacionado com o aumento de
produtividade e eficiência. Para conseguir produzir mais com menos,
inovação é um ponto crítico. E existem grandes e diversas promessas de
inovação: agricultura de precisão, genômica, resfriamento inteligente,
armazenamento e técnicas de embalagem, entre outras.
3. PROCURE POR OPORTUNIDADES
EM SUSTENTABILIDADE
Abraçar a sustentabilidade não significa ter um fardo, pois existem
muitas oportunidades a serem ponderadas e isso pode trazer uma
considerável diferenciação competitiva em termos de reputação,
lealdade do consumidor, desenvolvimento de produtos, etc.
4. EDUCAÇÃO
Preencha a lacuna entre os sistemas menos e mais produtivos, reduza
o desperdício, o lixo, e ensine as crianças. Dissemine o conhecimento
existente de “como fazer” para os agricultores de todo o mundo. Além
disso, nós precisamos educar melhor as pessoas, ensinar melhor as
crianças, incluir algo como “alimento, agricultura, ambiente e saúde”
no currículo da escola. Algo que é tão vital para a nossa sobrevivência
precisa ser bem refletido. Em adição, precisamos fechar a lacuna entre
sentimentos e fatos por meio de mensagens simples e consistentes.
Obtenha consumo e produção conectados, deixe consumidores e
cidadãos mais próximos da agricultura moderna novamente. Ou, como
um dos participantes do fórum Master Class colocou pertinentemente:
“Nós, como agricultores, sabemos que precisamos trabalhar com a
natureza, ao invés de contra ela, mas parece que não conseguimos
convencer o governo e a sociedade a pensar assim.”
5. COOPERE – JUNTOS CHEGAREMOS LÁ
Forme parcerias público-privado envolvendo ciência, negócio,
governos, ONGs e, o mais importante, aqueles que de fato alimentam o
mundo: produtores rurais.
66
67
CAPACITAÇÃO SOCIAL
- Introdução
- Uma história inspiradora
- Fatos e números
- A perspectiva mais ampla
- A perspectiva do agricultor
- O futuro da agricultura
CAPACITAÇÃO SOCIAL
“VISTO QUE A DESIGUALDADE
SOCIAL PAROU DE PROGREDIR,
A CAPACITAÇÃO SOCIAL É A
CHAVE QUE ABRE O POTENCIAL
DA AGRICULTURA PARA O
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.”
Introdução
Em geral, as áreas com as maiores lavouras do mundo não são as mesmas
com os melhores climas e solos, mas são aquelas com um melhor
ambiente para a capacitação social. Exemplos destes tão chamados
fatores de capacitação social que determinam se um agricultor consegue
explorar o potencial máximo de seu solo, clima, e suas habilidades em
agricultura são: políticas governamentais, o funcionamento e o acesso
aos mercados agrícolas, financiamentos, e acesso ao conhecimento e
aos investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento agrícola.
Visto que a desigualdade social parou de progredir, a capacitação
social é a chave que abre o potencial agrícola para o desenvolvimento
econômico. De acordo com a FAO, uma análise cruzada de países
mostra que o crescimento do PIB oriundo da agricultura é, em média,
pelo menos duas vezes mais eficaz em beneficiar a porção mais pobre
da população de um país do que o crescimento gerado por setores
não agrícolas1. O aumento necessário na produção de alimentos tanto
quanto sua distribuição para suprir o mundo em 2050 só podem ser
atingidos em ambiente bem preparado para tal. Portanto, fatores de
capacitação são a base para o futuro da segurança alimentar no mundo.
A agricultura é vital para a prosperidade econômica. De acordo com o
relatório do Banco Mundial, quase nenhum país se levanta do estado
de pobreza sem aumentar a sua produtividade agrícola. Entretanto,
não existe uma fórmula mágica, ou seja, é improvável que uma única
solução funcione globalmente. Temos que considerar, além de outros
fatores, as diferenças culturais e o estágio de desenvolvimento de cada
país. Um processo de mais de 100 anos de desenvolvimento agrícola,
que experimentou um país desenvolvido, não é algo que se programa
da noite para o dia para países em desenvolvimento. Existem histórias
de sucesso como a do Brasil, que se desenvolveu graças a fortes
investimentos em pesquisa e a um ambiente favorável à capacitação.
Nas últimas décadas, passou de importador para um dos maiores
exportadores de alimentos do mundo. Em contraste, no mesmo
período, o continente africano passou da condição de exportador para
importador de alimentos. Então, fazendo uma análise de prioridades, é
difícil de entender por que a África, que já exportava energia, transformou
seus campos de produção de alimentos em campos de produção de
etanol para biocombustível.
70
71
PLANTANDO SEMENTES PARA O FUTURO DA ÁFRICA
Mas há também boas notícias. O jornal The Economist relatou que seis das
dez economias de mais rápido crescimento no mundo estão na África
Subsaariana. O continente africano combina uma grande necessidade
com um grande potencial. Devido à vasta área de terra que pode ser
convertida em produção, com possibilidade de uma produtividade
aumentada em cinco vezes, existe um tremendo potencial na África.
Para capturar esse potencial, muitas questões relacionadas devem ser
abordadas, incluindo: transmissão de conhecimento para melhorar
produtividade, economia de escala, preços justos, aspectos sociais,
infraestrutura, acesso a mercados, e, por último, mas não menos
importante, o acesso a financiamentos. Que nas palavras do agricultor
significa: “sem dinheiro, não há safra”.
Discutir fatores de capacitação social como se a África fosse um único
país é errado, pois, desse modo, não se consideram as grandes diferenças
culturais, sociais e locais existentes entre os 54 países do continente. Nós,
então, iremos focar em uma perspectiva mais ampla, num estudo de
caso de um país específico: Ruanda, o qual tem demonstrado um claro
progresso na África. Nós analisaremos profundamente a perspectiva
do agricultor na produção de arroz em Ruanda e depois daremos a
perspectiva do produtor para o futuro da agricultura.
Mas, antes, apresentaremos a história de Koos van der Merwe, que é
agricultor em Moçambique. Sua abordagem da agricultura ilustra como
um indivíduo pode fazer uma real diferença para um futuro melhor no
campo.
72
73
CAPACITAÇÃO SOCIAL
“Nós pesquisamos a receita e desenvolvemos o mercado. Eu não posso
pedir para alguém me desenvolver um produto se eu não tiver uma
chance razoável de sucesso. Nós identificamos as pessoas certas, as
treinamos, damos os insumos certos, e eventualmente compramos suas
produções”, diz Koos.
A ideia do negócio com orgânicos em Moçambique é baseada em
pequenos nichos de mercado para produtos de alto valor, priorizando
as culturas de mão de obra intensiva e variedades bem testadas, tais
como milho baby e pimenta malagueta vermelha. “Cerca de 40% do
nosso mercado externo é suprido por pequenos produtores. Havendo
iniciativas do governo, esses fazendeiros poderão se desenvolver, crescer,
ganhar mais habilidades, e, então, em parceria com novos produtores,
poderão fornecer 80% da nossa produção”, diz Koos.
FORNECENDO INSUMOS E IRRIGAÇÃO
A fazenda experimental não é de larga escala, não é empresarial
e também não recebe financiamento de terceiros. “Nós estamos
plantando 150 ha de horticultura por ano e pretendemos expandir para
400 a 500 ha. Nós temos muitas ideias e modelos, e o potencial para esse
mercado existe”, diz Koos.
Moçambique tem um bom potencial agrícola, um clima muito favorável,
mas precisa ter irrigação. Obter água para as culturas é caro. A irrigação
por gotejamento custa USD 3.000 por hectare, o que normalmente é
muito mais do que aquilo que um pequeno agricultor iniciante pode
pagar.
Uma história inspiradora
UMA ATIVIDADE DE PEQUENA ESCALA EM UM PEQUENO CANTO
DO MUNDO
Koos van der Merwe tem usado seus 25 anos de experiência em
agricultura e proteção ambiental para tocar um negócio próprio
em uma fazenda experimental do governo em Moçambique. Koos
frequentemente tira de seu próprio bolso recursos para ajudar pequenos
agricultores com treinamento, assistência agronômica e acesso ao
mercado. Por meio da educação financeira, ele também tem ajudado a
desenvolver cada vez mais empresários agrícolas em Moçambique.
FAZENDA EXPERIMENTAL
“Em primeiro lugar, eu não possuo uma fazenda. Temos um contrato de
10 anos para o arrendamento de terras do governo de Moçambique. Há
três anos, iniciamos nossas operações em uma fazenda experimental do
governo na província de Inhambane. Nós queremos demonstrar o que é
possível quando você tem as variedades certas, os métodos apropriados
de produção e as misturas líquidas corretas”, diz Koos.
74
“Inicialmente, nós fornecemos irrigação para os primeiros poucos
produtores só para mostrar como o modelo funciona. Também
bancamos todo o custo dos insumos, porém você só consegue pagar
o investimento quatro ou cinco meses depois de colocar seu dinheiro
no negócio. É uma atividade encharcada de capital para uma pequena
entidade que está apenas começando. “Tudo que entra na fazenda
vem do meu dinheiro e do dinheiro da minha esposa. Nós tivemos que
fazer um plano de balanço para tudo o que entra e sai da fazenda. Cada
investimento tem que dar retorno o mais rápido possível. E isso também
é uma necessidade para o pequeno produtor, pois ele não tem outras
fontes de renda ou meios para se apoiar”, diz Koos.
“Nós estamos
plantando 150 ha de
horticultura por ano e
pretendemos expandir
para 400 a 500 ha.”
CONSTRUINDO CONFIANÇA
Construir confiança com os agricultores e trabalhadores da região tem
sido uma jornada muito difícil. Moçambique tem muitas histórias de
agriculturas falidas, coisas que deram errado e desapontaram muito as
75
pessoas. Forasteiros já tinham chegado antes e prometido o mundo e
no mês seguinte desapareciam, conta Koos.
“A maioria das pessoas da região nunca tinha visto um campo de milho
verde comercial”, conta Koos. ”Ao redor da província não havia nenhum
bom exemplo de agricultura comercial. No primeiro ano, nenhum
pequeno produtor se voluntariou a iniciar a agricultura conosco.”
“Parte da nossa função foi abrir a mente das pessoas, criar uma história
positiva e ser um exemplo positivo. Então, de repente, na mente dos
pequenos produtores havia uma nova imagem de agricultura”. Eles
puderam ver dessa maneira: “Eu posso ter muito mais plantas de milho e
posso colher muito mais espigas delas”, conta Koos.
“Hoje, temos pessoas que chegam à fazenda todos os dias querendo
que eu forneça irrigação e dizendo: ‘Vamos crescer juntos’. Infelizmente
nossos meios financeiros não permitem isso. Nós somos dependentes
do governo e outras instituições, as quais poderiam financiar todos
esses pequenos produtores com o básico para crescer. Desse modo,
estaríamos aptos para desenvolver o negócio”, diz Koos.
TRABALHANDO COM MULHERES
Devido ao fato de a horticultura ser uma atividade de mão de obra
intensiva, a fazenda experimental está oferecendo empregos e
treinamentos, que é exatamente o que um país como Moçambique
precisa. “Existem muitas pessoas desempregadas e nenhuma ética de
trabalho estabelecida. Eles são, entretanto, muito diligentes, esforçados
e ávidos por aprendizado. A maioria das pessoas empregadas na
nossa fazenda está trabalhando pela primeira vez em suas vidas. Nós
tivemos que registrá-las para terem documento de identidade, seguro
desemprego e conta bancária”, diz Koos.
A fazenda experimental tem sido especialmente de grande valor para as
mulheres da região, as quais agora possuem uma fonte de renda e uma
conta bancária. Para essas mulheres, uma conta bancária significa ter o
controle das finanças da família, ou, pelo menos, da parte que ganham.
“As mulheres estão ansiosas por crescimento, seja em qualquer pequeno
aspecto, como, por exemplo, fazer aulas de inglês. Elas estão realmente
interessadas em aprender cada vez mais, de pouquinho em pouquinho”,
diz Koos.
FORNECENDO ORIENTAÇÃO FINANCEIRA
Na tentativa de fornecer melhor orientação financeira, Koos estabeleceu
com contadores e consultores locais treinamentos e consultorias. O
76
contador, junto com sua esposa, fornece treinamento financeiro para
trabalhadores e pequenos agricultores.
“Eles ensinam nossos trabalhadores como administrar uma conta
bancária, o que é uma conta bancária, o que é lucro e prejuízo, e como
elaborar um orçamento.”
“A maioria das
pessoas da região
nunca tinha visto um
campo de milho verde
comercial.”
“São noções muito básicas de contabilidade, mas significam muito para
pessoas que nunca tiveram um orçamento e uma contabilidade antes.
Com formação financeira, esperamos criar melhores empresários para a
área”, diz Koos.
MAIOR EXPOSIÇÃO PARA MOÇAMBIQUE
O negócio possui técnica de produção biológica, adaptável e inovativa,
que reduz altamente o custo de produção. Em um ambiente de
agricultura moderna, a competição vem das grandes fazendas, suas
produções em massa, mecanização e alta quantidade de insumos
químicos. O que esperamos então para essa pequena fazenda
experimental, seu pessoal e Moçambique?
“Estamos numa remota parte do mundo. A maioria das pessoas não
tem ideia do que fazemos. Estamos muito longe de acessar os meios
modernos de agricultura. Somos pequenos e precisamos de uma maior
audiência para discutir e compartilhar nossas preocupações e interesses
com relação à água, área, população e nosso modelo de negócio.”
“Este modelo está dando à população de Moçambique uma
oportunidade de melhorar seus estilos de vida, valorizando sua própria
77
CAPACITAÇÃO SOCIAL
Fatos e números
Fatores de capacitação social ajudam a atingir um maior potencial de
colheita. Esse potencial é determinado pela interação entre a qualidade
do solo e o clima local.
terra. Nós nunca tentaremos comprar a terra. Nós não queremos a terra.
Nós queremos a produção da terra”, diz Koos.
QUALIDADE DO SOLO
Considerando primeiramente a qualidade dos solos disponíveis, o mapa
abaixo (fonte USDA)2 mostra que existe no globo três áreas onde a
qualidade do solo é melhor: a região Centro-Oeste dos EUA, a Ucrânia
e algumas áreas da América do Sul (especialmente a Argentina). Além
disso, observa-se que a qualidade do solo em algumas partes da Europa
e da China não é ideal.
“Se pudermos ajudar as pessoas a se beneficiarem da produção das suas
próprias terras, então nós chegaremos a um modelo mais sustentável. O
mundo precisa saber mais dos benefícios desse modelo de agricultura
aplicado a esse pequeno canto do mundo em Moçambique”.
CLIMA
Além da qualidade do solo, o clima é também importante para o
potencial de colheita. O mapa de clima na próxima página (classificação
Köppen) mostra o clima que prevalece nas diferentes regiões do globo.
Os melhores climas para a produção agrícola são encontrados na região
Centro-Oeste dos EUA, Argentina, regiões da África Subsaariana, China
Oriental, Europa do Sul e Central, e regiões da Austrália e Nova Zelândia.
Há claramente áreas de sobreposição de solos de alta qualidade e clima
78
79
favorável, como, por exemplo, observa-se na Argentina e no CentroOeste dos EUA.
POTENCIAL DE COLHEITA
O potencial de colheita é determinado pela combinação de qualidade
do solo e clima prevalecente. As colheitas realizadas são determinadas
por esses fatores, e também por fatores de capacitação, que deixam
os fazendeiros aptos para explorarem o máximo potencial de
colheita. Portanto, a diferença que existe em termos de rendimento é
determinada pelos fatores de capacitação ou falta deles, disponíveis ou
não nas diferentes regiões.
80
Os resultados mostrados no gráfico abaixo indicam um alto rendimento
na Europa apesar da baixa qualidade do solo comparada com a das
Américas. Isso pode ser explicado pelo ambiente de capacitação, por
exemplo, pelas políticas de pesquisa e desenvolvimento e a abrangência
de um planejamento agrícola comum (The Common Agricultural
Programme). No Leste da Ásia, grandes colheitas são realizadas, apesar da
baixa qualidade dos solos, devido ao clima favorável e a grande utilização
de fertilizantes subsidiados. Porém, com respeito à sustentabilidade das
colheitas, vale lembrar que o uso intensivo de fertilizantes poderá com o
tempo reduzir a qualidade desses solos. A América Latina, em particular
a Argentina, possui os melhores solos e condições climáticas, porém não
consegue explorar ao máximo o potencial devido ao impacto negativo
das políticas agrícolas, como, por exemplos, as taxas de exportação. Na
América Latina, o Brasil está se destacando mais que a Argentina mesmo
com clima e solos parecidos com os da África Subsaariana. Isso acontece,
além de outros fatores, devido a um alto investimento em pesquisa e
desenvolvimento, o que tem capacitado os agricultores para um maior
rendimento.
100%
90%
80%
70%
60%
Em um mundo perfeito, a qualidade do solo somada a um clima ideal e
a um ambiente ideal para capacitação cria um rendimento que se iguala
a 100%, ou seja, o potencial máximo de colheita.
50%
Com base nos cálculos feitos em um conjunto de dados que incluem
índices do Economist Global Food Security, da FAO, Banco Mundial e
Mapas Climáticos (classificação Köppen) foi feito um ranking que ilustra
o real rendimento de colheita em função dos fatores de capacitação, do
clima e da qualidade dos solos.
30%
Os critérios usados para definir capacitação social nessa análise incluem
o acesso a financiamento, estabilidade política, infraestrutura agrícola,
e gastos públicos com pesquisa e desenvolvimento no setor agrícola.
Considere que há algumas limitações estatísticas devido às variações na
classificação de diferentes fontes de dados, entre outras.
0%
40%
20%
10%
Norte e Oeste
da Europa
Leste da Ásia
ambiente de capacitação
social Barra azul clara
América do Norte Austrália + Nova
Zelândia
qualidade do solo e clima
Todos os países
Sul da Ásia
rendimento real
Linha azul
América Latina
África-subsaariana
rendimento potencial
Fonte: Análise feita a partir de dados do Banco Mundial, FAO, jornal The Economist, e mapas climáticos (classificação Köppen)2-5
81
CAPACITAÇÃO SOCIAL
A perspectiva mais ampla:
O setor de arroz em Ruanda – Estudo de Caso
De uma perspectiva puramente tecnológica, e com base nas diferenças
significativas em potenciais de rendimento, a superfície terrestre tem
habilidade para produzir uma dieta europeia para o dobro da população
mundial esperada em 2050. Isso ilustra a enorme oportunidade que a
capacitação social oferece para resolver a questão global da segurança
alimentar.
82
INTRODUÇÃO
Claramente, criar um ambiente de capacitação social é uma tarefa
delicada onde não há uma única solução que resolva todas as situações.
Para mostrar algumas das complexidades e a necessidade por fatores de
capacitação social, um estudo de caso foi utilizado. Esse estudo de caso
irá focar no setor de arroz em Ruanda, porém as lições aprendidas,podem
ser aproveitadas para outros setores do país e, ainda, em outros países.
Ruanda é um país pequeno da região da África Subsaariana que
tem um clima favorável para a produção agrícola. É o país com a
maior densidade populacional da África, com mais de 300 pessoas
por hectare. Cerca de 80% da população de Ruanda está diretamente
ou indiretamente trabalhando no setor agrícola. Em 1994, o genocídio
destruiu a base econômica do país e empobreceu severamente
a
população
na
época.
Entretanto,
passadas
as
últimas décadas, Ruanda mostrou um considerável
progresso
na
África
que
foi
reconhecido
pelo Banco Mundial, o qual apontou Ruanda como o país de
reconstituição mais rápida do mundo. Lá, iniciar um novo negócio
é mais rápido e mais eficiente que em muitos países da Europa.
Entretanto, há ainda muitos desafios a serem superados em Ruanda.
83
A pobreza continua espalhada pelo país. Aproximadamente, 50%
da população vive com menos de USD 1,25 por dia.
Considerando fatores de capacitação social específicos, já discutidos
anteriormente, observa-se que existe ainda muita melhoria a ser feita
para ajudar os agricultores de Ruanda (veja a tabela abaixo). Os fatores
são classificados numa escala de 1-5, onde 5 indica os fatores que
permitem uma maior capacitação.
Esse estudo de caso irá agora considerar o setor de arroz de Ruanda.
A abordagem específica permite investigar fatores de capacitação ou a
ausência deles, no país em análise.
O SETOR DE ARROZ
O arroz é a cultura foco do governo de Ruanda, considerando a forte
e crescente demanda por arroz pela sua população. No entanto, a
produção nacional não consegue suprir a demanda interna, tendo o país,
assim, que importar arroz. Essa deficiência produtiva está relacionada
ao pobre desenvolvimento de fatores de capacitação em Ruanda,
resultando muito mais em baixos rendimentos e baixa qualidade do
arroz do que atingindo o que é potencialmente possível.
A estratégia de desenvolvimento nacional do setor de arroz de Ruanda
prevê uma autossuficiência na produção de arroz até 2018. O plano
reconhece os muitos obstáculos a serem superados. Por exemplo, falta
de mecanização, de organização cooperativa com acesso a financiamento,
e falta de conhecimento transmitido ao longo da cadeia de valor.
Há aproximadamente 62.000 produtores de arroz ativos em Ruanda,
cada um com uma porção de terra inferior a 0,1 ha por propriedade. Isso
já ilustra uma das questões importantes do setor: não existe economia
de escala e o nível de mecanização é muito baixo. O processo produtivo
é muito mais caro que nos países do Sul da Ásia, os quais apresentam as
mesmas condições de clima e solo.
Os agricultores estão organizados em 52 cooperativas que estão
divididas em seis sindicatos. Essa estrutura fragmentada é caracterizada
por uma gestão muito pouco profissional das cooperativas e sindicatos.
Tal fragmentação resulta em perdas de economia de escala e trabalho
Ruanda
84
Acesso a financiamento
pelos agricultores
Gastos públicos com pesquisa e desenvolvimento
Infraestrutura
agrícola
Estabilidade
política
3
1
1
2
85
62.000 agricultores
52 cooperativas
6 sindicatos
desnecessariamente duplicado por meio da cadeia de valor. Junto com
isso, muitas das cooperativas perdem o acesso a financiamento; o que
significa que os produtores não recebem pagamento imediato pela sua
produção (arroz na casca). Isso implica grande informalidade na cadeia
de valor, a qual é dominada por comerciantes ilegais de produção de
baixa escala. São esses intermediários que processam o arroz, resultando
num produto final de baixa qualidade. A falta de acesso a financiamento
das cooperativas e produtores também resulta em um sistema de
produção onde quase nenhum fertilizante é utilizado, pois não há
recursos para comprá-los.
Quase não existem investidores ativamente envolvidos com a
infraestrutura agrícola para tornar a cadeia de valor do arroz competitiva,
como, por exemplo, com instalações para armazenamento pós-colheita.
Junto com isso, a transferência de conhecimento para os agricultores é
ainda um problema, embora o governo tenha anunciado que o arroz é a
cultura foco para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Porém,
além de investir em pesquisa e desenvolvimento, é necessária uma
estratégia de comunicação bem trabalhada para que os agricultores
obtenham e adotem conhecimento.
já estar autossuficiente na produção de arroz até 2018. Junto a isso, a “Quase não existem
situação do setor de arroz representa também o desenvolvimento de investidores
ativamente envolvidos
outros setores agrícolas de Ruanda. Uma reestruturação bem-sucedida
com a infraestrutura
do setor arrozeiro serviria como modelo para o desenvolvimento de agrícola para tornar
outros setores, como café, feijão e outras culturas.
a cadeia de valor do
arroz competitiva.”
Os muitos problemas na cadeia de valor do arroz, desde a disseminação
de conhecimento até a questão da informalidade, levam ao
enfraquecimento do sistema de crédito em dinheiro, o qual poderia
estimular um ambiente propício para os produtores de arroz. Esses
problemas resultam em um baixo rendimento do arrozal e uma baixa
qualidade da produção. Consequentemente, há necessidade de
importar arroz.
É necessário resolver o problema da carência de um ambiente de
capacitação para alcançar a meta do governo de Ruanda para 2020,6 de
86
87
CAPACITAÇÃO SOCIAL
A perspectiva do agricultor
O estudo de caso apresentado anteriormente foi discutido durante o
evento Global Farmers Master Class com 50 agricultores vindos de todos
os continentes. Durante a discussão, pediu-se que eles dessem sua
perspectiva sobre os fatores de capacitação social e sua opinião sobre
como criá-los. Perguntar isso a um grupo diverso de agricultores que
representam países emergentes, desenvolvidos e em desenvolvimento
é algo inestimável. Muitos desses produtores vivem em países que
experimentaram a transição de uma agricultura tipicamente de
subsistência para uma agricultura comercial – transição que ainda está
acontecendo em Ruanda.
Todos os participantes concordaram que a criação de um ambiente
de capacitação social envolve aspectos complexos e multifacetados
e requer a ação de um conjunto de diferentes agentes. Deliberou-se
e então se identificaram os papéis dos agricultores, da cadeia de valor
como um todo, e do governo.
Primeiramente, considerando o agricultor individualmente, uma
consolidação de parcelas agrícolas seria a solução para criar economia
de escala e aumentar as possibilidades de mecanização. Isso também
poderia ser feito em esquemas de agricultura organizada em grupos,
onde produtores juntariam suas terras, decidiriam coletivamente e
gerenciariam o negócio por meio de uma pequena cooperativa. Após a
colheita, as receitas seriam divididas entre os membros do grupo. Com
esse esquema, as receitas divididas provavelmente seriam maiores do
que aquelas conseguidas individualmente.
Em seguida, a cadeia de valor precisaria de ajustes para capacitar cada
agricultor individualmente para atingir seu potencial. De acordo com os
agricultores em debate, um gerenciamento profissional das cooperativas
e sindicatos seria o ponto crucial. É o que permitiria as cooperativas e
sindicatos ganharem acesso a créditos que poderiam ser usados para
pagar imediatamente seus membros após a colheita e fornecer a eles os
insumos necessários para a próxima safra, como fertilizantes e sementes
de qualidade. Junto a isso, os agricultores participantes sugerem que os
sindicatos se integrem às plantas de processamento para aumentar a
eficiência das operações na cadeia de valor. Além disso, a comunicação
e a transparência da cooperativa com seus membros precisam
88
Grant Ludemann - um grande produtor de leite da NZ, um dos idealizadores de uma iniciativa para
ajudar agricultores iniciantes em países em desenvolvimento - retratado durante sua estadia em uma
fazenda na Holanda para compartilhar sua experiência com um fazendeiro holandês.
melhorar. A disseminação do conhecimento deveria ser feita dentro
dessas cooperativas, porém o conhecimento disponível dificilmente é
transferido.
Finalmente, o governo também deve ter um papel a cumprir. Em
primeiro lugar, deve ter certeza de que os direitos de propriedade de terra
e regulamentos tributários estão criando incentivos para os agricultores
e as cooperativas poderem investir em seus próprios negócios. Tais
políticas devem ser suportadas por normas jurídicas capazes de fazê-las
89
CAPACITAÇÃO SOCIAL
cumprir. Junto a isso, além de investir em pesquisa e desenvolvimento “Além de investir
agrícola, o governo deve garantir que o conhecimento adquirido seja em pesquisa e
desenvolvimento
transferido para agentes importantes na cadeia de valor. Sem essa agrícola, o governo
transferência, o conhecimento gerado será inútil.
deve garantir que
A alta representação do governo de Ruanda destaca que as soluções
sugeridas pelos agricultores podem contribuir para alcançar a
autossuficiência no setor de arroz. “As recomendações foram
encaminhadas para o Conselho de Agricultura de Ruanda. Nós
solicitamos que as ideias dos agricultores de todo o mundo fossem
incorporadas nas estratégias para o desenvolvimento nacional do arroz
em Ruanda (Rwanda´s National Rice Developement Strategies – NRDS)
com o propósito de aumentar a competitividade local e regional do
setor em Ruanda por meio de avanços significativos em qualidade e
produção.”
Inspirados nas lições aprendidas, em aspectos sociais do caso de
Ruanda, e reconhecendo oportunidades de desenvolvimento, alguns
agricultores decidiram se unir e juntar recursos e conhecimento. Esse
grupo tentará ajudar a construir um ambiente de agricultura sustentável
para desenvolver países, trabalhando com agentes locais que, de
algum modo, tenham interesse no desenvolvimento. Isso novamente
enfatiza o poder da transferência do conhecimento global e do
empreendedorismo, fruto da mentalidade cooperativa de um grupo de
agricultores que estão significantemente fazendo a diferença.
Hamish Alexander, um novo fazendeiro da Nova Zelândia, se perguntou:
“Quantos fazendeiros de Ruanda seriam tão bem-sucedidos quanto nós
se tivessem as mesmas condições sociais que nós temos?”
90
o conhecimento
adquirido seja
transferido para
agentes importantes
na cadeia de valor.”
O futuro da agricultura
Primeiramente e de modo pouco formal, uma nota previdente sobre o
ciclo de vida da agricultura ao redor do mundo trouxe um sorriso para
o Global Farmers Master Class: “Como intensificar a agricultura em países
em desenvolvimento?” Inicialmente, trazendo as pessoas do Paraguai
para estabelecer um sistema. Em seguida, pedindo aos “Kiwis e Aussies”
que o tornasse mais eficiente. Então, o pessoal dos EUA entraria para
dimensioná-lo e fazer a produção em escala. Por último, os europeus
fariam a regulamentação do sistema e “passariam a fita vermelha/verde”.
Então, começaria um novo ciclo para um novo setor.
Obviamente que a nota acima não deve ser levada tão a sério, pois trata
a questão da capacitação de modo muito geral. A realidade é que os
fazendeiros, governos e outros agentes ao redor do mundo podem
aprender muito uns com os outros como criar o ambiente propício de
capacitação em diferentes estágios do ciclo de vida da agricultura. Mas,
muitas vezes, questões de agricultura são discutidas sem envolver os
agricultores.
1. PERMITIR O ACESSO AO FINANCIAMENTO –
SEM DINHEIRO NÃO HÁ SAFRA.
• “Sem dinheiro não há safra”. Mundialmente, quatro bilhões de
pessoas não têm acesso a serviços de financiamento, incluindo
a porção que representa a maioria dos pequenos agricultores
africanos – as mulheres. O microfinanciamento, como é
oferecido, por exemplo, pelo kiva.org, é um dos caminhos que
conecta diretamente o mundo desenvolvido com o mundo em
desenvolvimento pela internet. Outro caminho é reproduzir os
modelos de agricultura e bancos cooperativos em países em
desenvolvimento por meio do investimento em conhecimento,
recursos financeiros e infraestrutura. Por exemplo, o banco
cooperativo holandês Rabobank, fundado há 100 anos por
agricultores e para agricultores (pobres). Este tem sido ativo por
muitos anos na África, em parceria com bancos locais, para construir
uma infraestrutura financeira baseada em princípios cooperativos,
permitindo a pequenos produtores o acesso ao financiamento.
91
2. VISÃO EM LONGO PRAZO E REFORMAS DO GOVERNO
• Trocar experiências sobre as melhores práticas envolvendo
agricultores locais e estrangeiros “na mesa da cozinha” com
funcionários do governo.
3. APRENDER UNS COM OS OUTROS – TRANSFERÊNCIA DE
CONHECIMENTO
• Unir recursos para criar um portal do conhecimento ou uma
fazenda virtual para troca de experiência.
• Investir em educação financeira.
• Ultrapassar as fronteiras. A reunião na fazenda oferecida no início
do Global Farmers Master Class possibilitou os agricultores a
compartilharem ideias e a aprender com os colegas.
4. CONSTRUIR UMA INFRAESTRUTURA AGRÍCOLA SUFICIENTE
• Construir silos para reduzir o desperdício, melhorar o rendimento e
sair da condição de tomador de preço.
• Construir estradas, melhorar o manuseio pós-colheita e o acesso
ao mercado local, e, em caso de excesso de oferta, acessar os
mercados externos.
5. COMUNICAÇÃO ENTRE TODOS OS AGENTES DA CADEIA
• A cooperação dentro da cadeia de valor é a chave.
• Criar uma plataforma de comunicação eficiente.
Enquanto 75% dos pobres do mundo vivem em zonas rurais dos
países em desenvolvimento, apenas 4% da ajuda oficial para o seu
desenvolvimento vai para a agricultura. A agricultura pode realmente
fazer a diferença para a população mais pobre do mundo. Vamos à busca
do equilíbrio e investir no futuro certo para garantir nossa alimentação.
92
93
CADEIA DE
SUPRIMENTOS
- Introdução
- Uma história inspiradora
- Fatos e números
- A perspectiva mais ampla
- A perspectiva do agricultor
- O futuro da agricultura
CADEIA DE SUPRIMENTOS
“EM UMA CADEIA EFICIENTE,
INSUMOS AGRÍCOLAS, COMO
SEMENTES, RAÇÃO E
FERTILIZANTES, SÃO CONVERTIDOS
EM ALIMENTOS BÁSICOS E
SEGUROS PELO AGRICULTOR,
OS QUAIS SÃO PROCESSADOS
E DISTRIBUÍDOS PARA OS
CONSUMIDORES FINAIS.”
Introdução
CADEIA DE SUPRIMENTOS
Sem agricultores toda a cadeia ficaria estagnada. Porém, assim como os
agricultores, toda a cadeia de suprimentos (da semente à carne) é “tão
forte quanto o seu elo mais fraco”. Em uma cadeia eficiente, insumos
agrícolas, como sementes, ração e fertilizantes, são convertidos em
alimentos básicos e seguros pelo agricultor, os quais são processados e
distribuídos para os consumidores finais.
EXPANDINDO O GLOBO – PRODUÇÃO E CONSUMO ALÉM DAS
FRONTEIRAS
Em apenas dois ou três séculos atrás, éramos todos fazendeiros
produzindo nossos próprios alimentos. Até a Revolução Industrial, a
grande maioria da população do mundo trabalhava na agricultura.
Nos dias de hoje, especialmente em regiões desenvolvidas, produção
e consumo se dão em locais separados, divididos em diversas fases
de desenvolvimento e regiões geográficas. Prevê-se que produção e
consumo ainda se dividirão mais, uma vez que uma porção significativa
da população do mundo se encontra e se encontrará na Ásia, um
continente limitado em terra agricultável. Por exemplo, a China e a Índia,
juntas, hospedam cerca de 40% da população global, enquanto que
possuem apenas 20% das terras aráveis do mundo; 40% do crescimento
da população global até 2050 será na Ásia. Para contrabalancear esse
crescente desequilíbrio entre local de produção e local de consumo, o
comércio global de matérias-primas agrícolas vai crescer.
A MUDANÇA ACONTECE – ENTRANDO NUMA ERA DE ESCASSEZ DE
SUPRIMENTOS E DE PREÇOS MAIS ELEVADOS E VOLÁTEIS
A forte demanda (asiática), combinada com as alterações nas políticas
de biocombustível, atraso nas colheitas e estoques menores, resultou
em preços muito mais altos e mais voláteis nesses últimos anos. Foi
uma quebra significativa que ocorreu a partir da segunda metade do
século 20, quando os preços reais das commodities caíram a uma taxa
de 1-2% ao ano. O sistema global de alimentos foi levado a um ponto
de inflexão e a batalha por commodities agrícolas só tende a aumentar.
Nós entramos em uma era de escassez com preços mais elevados e
aumento da volatilidade, conforme o novo padrão para uma indústria
de alimentos globalizada.
96
97
Então, os preços mais elevados indicam que os agricultores estão “Nós entramos em
“nadando em ouro”? Não, muito pelo contrário, de uma maneira geral uma era de escassez
com preços mais
os agricultores têm experimentado margens baixas. Como tomadores
elevados e aumento
de preço, eles tendem a ficar espremidos entre seus fornecedores da volatilidade,
altamente concentrados e seus compradores. Os agricultores têm conforme o novo
que agir equilibrando sua liberdade com cooperação na cadeia. Que padrão estabelecido
para uma indústria
opções eles têm de uma estratégia contínua entre redução de custos e
de alimentos
comakership para captar uma maior porção de valor na cadeia?
globalizada.”
Primeiramente, vamos apresentar a noção de “agricultura de senso
comum”, de Gerjan Snippe, cujo negócio com orgânicos ilustra o ciclo
completo de uma cadeia de suprimentos.
98
99
CADEIA DE SUPRIMENTOS
Uma história inspiradora
GERJAN SNIPPE DA HOLANDA
A NOÇÃO DE “AGRICULTURA DE SENSO COMUM”
Na província de Flevoland na Holanda, uma empresa chamada Bio Brass
produz uma grande variedade de brássicas nos solos jovens e férteis
dos pôlderes e as fornece diretamente aos varejistas e processadores
de alimentos da Europa. A empresa combina antigas práticas agrícolas
(com eficiência comprovada) com tecnologia moderna. Ou, nas
palavras do seu diretor e acionista, Gerjan Snippe, “agricultura de senso
comum”.
Gerjan cresceu na fazenda de leite da sua família, “mas, como não
gosta de gado de leite”, sentiu que agricultura simplesmente não era
para ele. “Eu queria estudar economia na universidade de Roterdam”,
conta Gerjan. Porém, suas raízes agrícolas o chamaram de volta ao
compromisso. Ele estudou economia agrícola. “Eu percebi que muitos
dos meus colegas viviam como que numa ilha. Eu fazia as coisas mais
preto no branco do que eles, porém as conversas, na maioria da vezes,
giravam em torno de nossos próprios tratores. Para mim, isso deixava
claro que nós, como futuros agricultores, estávamos muito mais
preocupados com nossos próprios assuntos do que com os mercados
consumidores que deveríamos atingir.”
Depois de concluir um curso subsequente na universidade de
Wageningen, Gerjan entrou em contato com a agricultura orgânica.
“Arrumei um emprego comercializando orgânicos da Áustria para
o Reino Unido. Naquela época, minhas ideias sobre orgânicos não
eram totalmente positivas – “idealista”, “pouco profissional”, “meia boca”,
“baixa qualidade”, “muita doença” era o que vinha a minha mente.” No
entanto, ele viu oportunidades. Ele descobriu que varejistas tradicionais
consideravam incluir produtos orgânicos em suas ofertas. “Varejistas
precisavam de produtos orgânicos bons e profissionais, o que naquela “A empresa
época era muito difícil de encontrar. Na mesma época, conheci combina antigas
práticas agrícolas
produtores de orgânicos realmente bons, e contrariamente do que
(com eficiência
sempre pensei, percebi que agricultura orgânica fazia sentido e que era comprovada) com
algo realmente muito simples.”
tecnologia moderna.”
100
“Na mesma época,
conheci produtores de
orgânicos realmente
bons, e, ao contrário
do que sempre
pensei, percebi que
agricultura orgânica
fazia sentido e que era
algo realmente muito
simples.”
Acompanhando o desenvolvimento dos negócios da sua família,
Gerjan iniciou suas atividades com agricultura orgânica. “Começamos a
operar em um esquema misto com agricultura orgânica. Um dos meus
irmãos assumiu os negócios de leite da fazenda, o outro irmão as terras
aráveis; e eu comecei a produzir hortaliças, todas orgânicas.”
Ao explicar seu ponto de vista com relação a orgânicos, Gerjan faz
menção ao seu avô, que também adotava um sistema misto: “Ele não
tinha o mesmo maquinário que temos hoje, mas tinham vacas, vários
tipos de culturas aráveis e pastagem. Sem a ajuda de defensivos e
fertilizantes, conseguia colher o bastante para alimentar o mundo
nesse momento”. Porém, passados 50, 70 anos, a demanda por
produtos primários aumentou e a agricultura se tornou mais intensiva,
principalmente na Holanda. “A agricultura tem focado cada vez mais
em alta produtividade e adota cada vez mais o uso de defensivos e
fertilizantes para atingi-la”, diz Gerjan. “Compare isso ao corpo humano:
você pode trabalhar 80 horas por semana tomando Red Bull, porém,
mais cedo ou mais tarde, entrará em colapso”.
101
“A agricultura tem
focado cada vez mais
em alta produtividade
e adota cada vez mais
o uso de defensivos
e fertilizantes para
atingi-la.”
Adotar o velho sistema de rotação de culturas, porém, com uma
tecnologia melhor, é o que Gerjan chama de “senso comum”: “Fazendo
isso você não precisará de aditivos, conseguirá manter sua lavoura
saudável e poderá atingir um rendimento justo.” O rendimento de
Gerjan é comparável com o dos métodos convencionais, porém ele
é muito realista com relação ao sucesso da agricultura orgânica em
todo o mundo; ela é quase impossível. Gerjan: “Orgânico é para todo
mundo? Não, nós somos sortudos aqui, especialmente nessa parte da
Holanda: os solos são férteis e as indústrias e mercados estão presentes”.
DO NICHO PARA A TENDÊNCIA ATUAL
De acordo com Gerjan, nichos são ineficientes por definição, e orgânicos
não são uma exceção. Tradicionalmente, a cadeia de suprimentos
para produtos orgânicos compreende muitos elos: os agricultores
produzem e colhem produtos, os armazenam, finalmente os vendem,
os empacotam e os transportam para um varejista que os embalam
novamente. Gerjan diz: “Você não pode culpar os consumidores de não
102
comprá-los. Por causa de uma cadeia de suprimentos ineficiente, eles
não têm uma boa aparência e se tornam cada vez mais caros. Assim,
pessoas vão concluir que orgânicos não são sustentáveis.”
Embora sempre estivesse consciente sobre o significado de uma cadeia
de suprimentos, Gerjan sempre teve os olhos bem abertos quando
iniciou seus negócios com uma grande mercearia multinacional e com
um varejista que decidiu conceder espaço em suas prateleiras para
produtos orgânicos premium. A partir dos resultados de um teste, que
demonstraram 40% de aumento nas vendas de produtos orgânicos,
esse varejista passou a procurar bons produtores de orgânicos.
O aumento da escala permitiu que a cadeia de suprimentos
melhorasse sua eficiência. Gerjan inovou seu sistema de embalagem,
e, então, reduziu o número de operações na cadeia, tanto quanto suas
instalações de armazenamento, prevenindo desperdício.
103
soluções para manter seu nível de eficiência sem exaurir a terra. Nós “Na medida em que
conseguimos aprender uns com os outros. Há uma boa história por trás os orgânicos vão se
tornando mais do
da agricultura orgânica da qual eu me beneficio por ter construído meu que um negócio, as
próprio nicho de mercado. Porém a história real é sobre uma agricultura empresas de insumos
de senso comum. No fim, eu penso que a agricultura convencional irá agrícolas ficam mais
crescer juntamente com a orgânica, então eu sempre terei que contar a interessadas, o que
nos ajuda a adotar
minha história focando em diferenciação”.
novas técnicas e fazer
Graças a um sistema inteligente de pedidos do varejista, Gerjan sabe
de antemão a demanda da próxima semana. “Com o nosso novo
sistema de empacotamento, nós conseguimos embalar os produtos
no campo”, explica Gerjan. “Nós melhoramos nossas instalações
de armazenamento e conseguimos fazer entregas diariamente,
diminuindo também o tempo de estoque. Consequentemente, a
validade dos produtos na prateleira também aumentou e aparência
deles melhorou.” Quando Gerjan visitou uma das filiais do varejista,
ele teve, em primeira mão, a experiência do consumidor: “Eu pude ver
os consumidores selecionando as nossas couves-flores, nem sempre
porque eram orgânicas, mas porque elas eram boas.” Desde então, a
parceria de Gerjan com os varejistas se intensificou. Juntos, analisam
as estatísticas de venda das safras passadas, determinam e planejam a
variedade de ofertas e desenvolvem novos produtos, sempre com uma
posição na prateleira em mente.
AGRICULTURA ORGÂNICA E CONVENCIONAL – APRENDENDO UMA
COM A OUTRA
Os produtos orgânicos começaram como um nicho e hoje são uma
tendência atual especialmente em países desenvolvidos. “Na medida
em que os orgânicos vão se tornando mais do que um negócio, as
empresas de insumos agrícolas ficam mais interessadas, o que nos
ajuda a adotar novas técnicas e fazer uma agricultura mais eficiente.”
Gerjan espera que a agricultura orgânica e a convencional continuem
crescendo juntas: “Agricultores orgânicos precisam encontrar meios de
serem mais eficientes. Agricultores convencionais precisam encontrar
104
A CADEIA DE SUPRIMENTOS FECHA UM CÍRCULO COMPLETO
Gerjan sempre teve muita habilidade para conectar seu ambiente com
o consumidor final. Uma das iniciativas que ele adotou foi construir uma
minifazenda para demonstrar como a rotação de culturas funciona.
Um grande número de crianças e escolas visita essa minifazenda
para aprender sobre a origem dos alimentos e como cultivá-los. Mais
recentemente, Gerjan tem se conectado ao consumidor final em outro
nível. “Nós temos desenvolvido uma nova marca. Consumidores querem
voltar às origens. Eles estão interessados em fazendas e agricultura. Os
agricultores precisam trabalhar com esse interesse. Precisamos contar
nossas histórias cada vez mais e melhor, na internet, por exemplo. Desse
modo, os consumidores não irão comprar somente uma couve-flor,
mas a couve-flor de uma fazenda especial, de um meio de produção
com o qual se identificam. E é isso que nossa marca oferece. É uma
nova maneira de tentar conectar consumidores com nossos produtos.
A questão é: será que a cadeia de suprimentos trabalha dessa maneira?
Isso é um novo e ótimo desafio para nós, ao lado do bom negócio que
atualmente temos.”
uma agricultura mais
eficiente.”
Em sua atuação como produtor rural, Gerjan adotou com sucesso um
tipo circular e recorrente de método de cultivo: rotação de culturas.
E esse pensamento “circular” parece ser imitado dentro de sua cadeia
de suprimentos, onde o começo de um ciclo cultural está conectado
com o final do outro; da mesma maneira que o produtor se conecta
ao consumidor final. Assim, Gerjan amarra as extremidades da cadeia
e fecha um círculo. Para ele, a cadeia de suprimentos fecha um círculo
completo.
105
CADEIA DE SUPRIMENTOS
18
16
Fatos e números
14
Sobre os
preços médios
mais altos e
mais voláteis
Ao contrário da revolução verde nos anos 1960 e 1970, nós agora
lidamos com recursos naturais limitados e superexplorados, o que
implica que essa alta demanda por alimentos deve ser suprida com
uma expansão menor da fronteira agrícola, menos insumos (água,
fertilizantes, defensivos, etc.) e menor emissão de poluentes e resíduos.
A FAO estima que somente 10-15% do crescimento em abastecimento
deverá vir da expansão das terras agrícolas. Entretanto, os ganhos em
produtividade têm caído a uma taxa de 1,4% por ano, enquanto que
deveria chegar a no mínimo, 1,75% em 2050, para que a agricultura
consiga abastecer um planeta com nove bilhões de habitantes. No
período de 1960-1990, o rendimento do trigo no campo aumentou em
1,3% ao ano; nos últimos 20 anos, o crescimento em produtividade do
trigo foi de 0,5% ao ano. A mesma tendência foi observada para o arroz;
então, as duas culturas mais importantes do mundo tiveram quase
nenhum aumento em rendimento durante as duas décadas passadas
devido à falta de investimentos.
Sem ganhos suficientes em rendimento e novas terras aráveis para
aumentar a produção, o suprimento não acompanha a velocidade
10
8
6
4
2
Percentage Change in Yields
Percentage Change in Yields
Percentage Change in Yields
4,00%
4,00% 4,00%
3,00%
3,00% 3,00%
2,00%
2,00% 2,00%
1,00%
1,00% 1,00%
1966
1966
1968
1968
1970
1970
1966
1972
1972
1968
1974
1974
1970
1976
1976
1972
1978
1978
1974
1980
1980
1976
1982
1982
1978
1984
1984
1980
1986
1986
1982
1988
1988
1984
1990
1990
1986
1992
1992
1988
1994
1994
1990
1996
1996
1992
1998
1998
1994
2000
2000
1996
2002
2002
1998
2004
2004
2000
2006
2006
2002
2008
2008
2004
2010
2010
2006
2008
2010
0,00%
0,00% 0,00%
-1,00%
-1,00%-1,00%
Wheat
WheatWheat Linear
Linear
(Wheat)
(Wheat)
Trigo
Curva
de tendência
Linear
(Wheat) linear (trigo)
DiferençaPercentage
de rendimentos
em
porcentagem
Change
in in
Yields
Percentage
Change
Yields
1966
1968
1970
1966
1966
1972
1968
1968
1974
1970
1970
1976
1972
1972
1978
1974
1974
1980
1976
1976
1982
1978
1978
1984
1980
1980
1986
1982
1982
1988
1984
1984
1990
1986
1986
1992
1988
1988
1994
1990
1990
1996
1992
1992
1998
1994
1994
2000
1996
1996
2002
1998
1998
2004
2000
2000
2006
2002
2002
2008
2004
2004
2010
2006
2006
2008
2008
2010
2010
Diferença
de rendimentos
porcentagem
Percentage
Change em
in Yields
6
2
7
2
8
2
9
2
0
2
1
01
2
01
5
01
2
00
4
00
2
2
2
Soja
Milho
Fonte: Bloomberg, Rabobank FAR
da demanda e os estoques globais caem. Entramos, então, na era
da escassez com preços maiores e mais voláteis, onde a luta por
commodities agrícolas só tende a se intensificar.
AGRICULTORES - ATOLADOS NO MEIO DA CADEIA?
As margens dos agricultores têm subido menos do que o que o preço
das commodities agrícolas sugere e o preço dos insumos cresceu tanto
quanto ou mais do que o das commodities. Enquanto que as margens
dos fornecedores de insumos, processadores e varejistas foi de 15-23%
durante a última década, agricultores holandeses obtiveram retornos
negativos ou muito pouco positivos (veja tabela abaixo). O valor criado
parece estar distribuído desigualmente na cadeia de suprimentos com
as maiores porções capturadas no início e no final da cadeia.
Média do retorno sobre o patrimônio (ROE) no período 2005-2009 em quatro cadeias de
suprimento agrícolas da Holanda1
frutas
carne suína
laticínios
hortaliças
Ração/nutrição
15,5
15,5
24,7
Agricultura
-2,9
0,3
-5,5
-2,4
Processamento
17,2
18,8
22,3
16,0
Varejo
22,2
22,2
22,2
22,2
6,00% 4,50%
6,00%
5,00%
5,00% 5,00%
106
3
Trigo
(%)
6,00%
6,00% 6,00%
2
00
2
00
2
00
1
00
2
00
0
00
2
00
0
00
A COLONIZAÇÃO DA COMMODITY – O ATRASO NOS GANHOS EM
RENDIMENTO MOVE UMA BATALHA POR MATÉRIA-PRIMA
Ciclos de escassez e fartura não é são fenômeno novos. A história do
mundo está repleta de exemplos de ciclos de abundância e escassez
de commodities agrícolas e seus impactos no sistema de distribuição
de alimentos e nas civilizações. Mas, mesmo com uma perspectiva
histórica, os acontecimentos dos últimos anos demonstram fortemente
que dessa vez as coisas estão diferentes.
USD/bushel
12
4,00%
5,00% 5,00%
3,50%
4,00% 3,00%
4,00%
3,00% 2,50%
3,00%
2,00%
2,00% 1,50%
2,00%
1,00% 1,00%
1,00%
0,50%
0,00% 0,00%
0,00%
-1,00% -1,00%
Wheat
Wheat
Linear
arroz
irrigado
Curva(Wheat)
de tendência
Rice,
paddyLinear (Wheat)
Linear
(Rice,
paddy) (arroz irrigado)
107
A cadeia alimentar da UE-27 gerou um total de 751.008 milhões de
euros em valor agregado em 2008. A distribuição desse valor foi muito
desigual, dado que a importância relativa das atividades não agrícolas
foi consideravelmente maior. Por exemplo, embora os fabricantes
de bebidas e alimentos representassem apenas 1,6% dos agentes
ativos da cadeia de suprimentos da UE-27, eles retiveram 26% do
total do valor agregado em toda a cadeia2. O que isso tem a ver com
poder de mercado? No geral, a concentração de valor na atividade
agrícola é consideravelmente menor do que nas atividades do início
(fornecimento de insumos) e do final (varejo) da cadeia de suprimentos.
A CONCENTRAÇÃO PROSSEGUE
A concentração de valor no sistema de abastecimento prossegue em
dois níveis: na cadeia de suprimentos e na quantidade e variedade
de alimentos que comemos. Se, por um lado, isso traz benefícios de
economia de escala, por outro isso aumenta os riscos (volatilidade).
De modo geral, desde a década de 1980, a concentração de valor tem
aumentado em todos os níveis da cadeia de suprimentos dos principais
setores agrícolas. Nos Estados Unidos, no nível da agricultura, menos
que 2% das fazendas representaram 50% das vendas totais em 2007.
A nutrição animal em larga escala (confinamento) representou quase
dois terços da produção de frango, 50% da produção de ovos e 42%
da produção de carne suína nos EUA. No setor de processamento,
por exemplo, a porção do mercado para as quatro maiores empresas
de processamento de carne aumentou de 36% em 1982 a 63% em
2006. No setor do varejo, a porção do mercado para os quatro maiores
varejistas mais que dobrou – de 16% em 1982 foi para 36% em 20053.
108
Fato:
Embora existam mais
que 50.000 espécies
de plantas comestíveis
no mundo, apenas
15 delas representam
90% da nossa dieta
alimentar. Além disso,
cerca de dois terços
dos alimentos do
mundo derivam de
somente três plantas:
arroz, milho e trigo.4
CADEIA DE SUPRIMENTOS
A perspectiva mais ampla
A mudança é constante – lidando com volatilidade5
QUAIS ESTRATÉGIAS AS EMPRESAS DE AGRONEGÓCIO TÊM
ADOTADO PARA LIDAR COM O AUMENTO DA VOLATILIDADE?
Em época de escassez, com preços mais elevados e maior
volatilidade, estratégias tradicionais na cadeia como “just-in-time” para
gerenciamento de inventário e integração horizontal estão sendo
revistas. Elas fazem muito sentido em uma situação de abundância, de
baixa de preços das commodities e pouca volatilidade. Nessa nova era
de escassez, estratégias de armazenamento e de integração vertical
fazem mais sentido. Hoje, empresas de contabilidade e financiamento
estão adotando novas estratégias para lidar com preços mais altos e
mais voláteis. Os grandes países e atores corporativos estão tentando
garantir sua porção no mercado contrabalanceando os riscos de oferta
com os riscos de negócio dentro de uma grande continuidade de
estratégias de fornecimento.
“Atualmente a questão-chave que faz os CEOs das grandes empresas dos
setores alimentícios e agronegócio perderem o sono é: como eu posso
garantir o fornecimento?”
Carel van der Hamsvoort, Chefe Global, Rabo Food & Agribusiness
Research and Advisory (FAR).
Grosso modo, as estratégias de fornecimento podem ser agrupadas em
três categorias distintas:
RISCOS DE NEGÓCIO
RISCOS DE OFERTA
Continuidade das estratégias de suprimento
NENHUMA AÇÃO TOMADA
110
CONTROLE FÍSICO
SOBRE A OFERTA
PODER DE MERCADO
ADAPTAR ORGANIZAÇÃO
• investir em terras
• integração para trás
• prioridade para o agricultor
• diversificação (regional)
• oferta e contratação
• parcerias horizontais
• risco com base no mercado
• ferramentas de gerenciamento
• confiança no poder da marca
• integração para frente
• encontrar nichos de mercado
• substituição
• cobrança (reembolso) por serviços
especializados
(1) aumentar o controle físico sobre a oferta;
(2) focar no poder de mercado;
(3) adaptar estratégias internas de negócio para reduzir ou lograr riscos
de oferta.
Dentro da primeira categoria para aumentar o controle físico sobre a
oferta, estratégias individuais de fornecimento incluem investimentos
em terras, integração de programas que dão prioridade ao agricultor
e diversificação regional. Especialmente nos segmentos de cerveja e
cacau, programas que priorizam o agricultor são usados para garantir
a qualidade do produto e a sua oferta, por oferecer assistência ativa
no processo de produção em trabalho direto com os agricultores.
Usualmente esses programas são acompanhados por investimentos
em infraestrutura local. Exemplos específicos incluem serviços de
extensão e treinamento para agricultores, negociação de insumos
agrícolas (para aumentar o rendimento), financiamento de capital
de giro, e entrega das commodities agrícolas que saem da fazenda
(logística). As estratégias de diversificação regional se tornaram cada
vez mais importantes para empresas de grãos e sementes oleaginosas.
Outro meio de aumentar o controle e mitigar os riscos de oferta é focar
nas estratégias de poder de mercado. Estas incluem as estratégias
individuais de oferta e contratação, parceria horizontal, integração à
frente na cadeia, confiança no poder da marca para passar preços mais
altos para o próximo elo da cadeia ou para os consumidores, e adoção de
ferramentas de gestão de risco com base no mercado, como contratos
futuros ou outras variações financeiras para cobrir o risco de variação
de preços. Dentro da terceira categoria de estratégias adaptáveis,
empresas adaptam sua estrutura interna para mitigar riscos de oferta
com o descobrimento de novos nichos de mercado, ingredientes
substitutos, ou por oferta de serviços especializados. Esta última consiste
em oferecer serviço em alguma etapa do processamento com contrato
de reembolso de despesas sem lucro direto e sem perder a exposição
ao fluxo de matéria-prima.
Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, é improvável
que uma única estratégia de fornecimento funcione em todas as
circunstâncias e para todas as empresas. É fundamental entender que
há muitas opções de estratégias de fornecimento disponíveis para as
diretorias das empresas de financiamento e contabilidade. É esperado,
de um modo geral, que as diversas formas de integração vertical e
cooperação aumentem para garantir o fornecimento em época de
escassez e assegurem uma gestão de risco.
111
O QUE ISSO SIGNIFICA PARA OS AGRICULTORES?
Os produtores estão claramente vulneráveis a essas mudanças.
Comumente, eles são os tomadores de preço lá no início da cadeia
de suprimentos e ficam com a margem disponível pela diferença dos
preços pagos pelos seus produtos e dos custos dos insumos comprados.
A boa notícia é que as empresas de financiamento e contabilidade
estão mais dispostas a dar apoio e a trabalhar com agricultores, afinal de
contas, sem a produção primária, não há mercado para essas empresas.
Fazendas familiares maiores estão mais bem localizadas e o movimento
para a grande produção continua progredindo. Os agricultores maiores
terão o poder de conseguir melhores ofertas de clientes e fornecedores;
terão a capacidade de investir no crescimento da sua produtividade, e
terão economia de escala para trabalhar com margens mais baixas e
volumes mais altos.
Um bom exemplo pode ser dado pela cadeia de suprimentos de
laticínios na Holanda. Durante a década passada, a média do tamanho
de uma fazenda de leite na Holanda cresceu em cerca de 50%. Embora
em outros níveis, tendências parecidas foram observadas na Nova
Zelândia (+55%), Estados Unidos (+61%) e Argentina (+34%). Na
próxima década, a média do tamanho das fazendas de leite na Holanda
é prevista para dobrar, simulação feita para o sistema de abolição das
cotas leiteiras da Europa em 2015. Com relação à estrutura da cadeia de
suprimentos, 90% de todo leite produzido é entregue a cooperativas,
entre as quais a Royal Friesland Campina recebe a maior porção (cerca
de 80%). Essa estrutura de cooperativas forte e consolidada têm
beneficiado produtores de leite na Holanda. Comparado com outros
setores agrícolas na Holanda, os retornos do negócio com leite tem
sido maiores e positivos. Enquanto que a oferta de leite da Holanda
representa menos que 10% da oferta total de leite na Europa, ela ainda
responde por 20% do total das exportações de laticínios da Europa para
o mercado mundial. A Europa é o maior exportador de derivados do
leite do mundo e o produtor mais inovador, representando cerca de
60% das inovações presentes no mercado mundial de leite e alimentos.
A significativa consolidação do mercado de leite holandês resultou
numa poderosa cadeia de suprimentos “desde a grama até a garrafa”
com uma forte posição internacional e foco no consumidor para
inovação, sustentabilidade e desenvolvimento de marcas.
112
113
CADEIA DE SUPRIMENTOS
Estratégias de continuidade para agricultores
O LADO RUIM
Por outro lado, os agricultores ainda continuam sendo os tomadores de
preço. Suas margens têm aumentado muito menos do que o que os
preços crescentes das commodities sugerem. Por quê? Porque os preços
dos insumos sobem tanto quanto ou mais do que os das commodities;
uma nova terra não pode ser convertida à agricultura da noite para o
dia; e a concentração do poder de mercado está nas extremidades da
cadeia de valor. Os agricultores ficam espremidos entre os fornecedores
de insumos (sementes, fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas),
os quais são altamente consolidados no mercado e buscam aumentar
seus lucros por meio de investimentos em alta produtividade, e entre
as empresas de processamento e traders, que buscam aproveitar a forte
demanda forçando para baixo a margem do agricultor. Os produtores,
sem o poder de mercado de uma economia de escala e sem a força
de um balanço patrimonial adequado, ficam mais vulneráveis. Além
disso, os preços mais altos resultam em um aumento da valorização dos
ativos, o que resulta em um aumento no custo de produção, deixando
a atividade difícil de ser iniciada pela próxima geração de agricultores.
AS ESCOLHAS – EM QUE CADEIA OPERAR?
Para lidar com essas mudanças, os agricultores precisam agir. Existe
um amplo espectro de opções que equilibram liberdade com
cooperação no canal, e também possibilidades de estratégias com foco
no balanço entre custo de produção e eficiência de distribuição. Em
continuidade, opções de estratégias variam de redução de custo e risco
de gerenciamento (alta liberdade) até comakership (alta cooperação no
canal).
114
LIBERDADE
O LADO BOM
Então, a boa notícia é que o crescimento mínimo geral de 70% da
demanda por alimentos a partir de recursos limitados faz com que os
agricultores se tornem fornecedores de produtos mais escassos e com
preços maiores. Isso estimula mais gastos com P&D para aumentar a
produtividade e melhorar as práticas agrícolas. Além disso, as empresas
de finanças estão cada vez mais reconhecendo a importância de se
trabalhar com agricultores, dando a eles suporte para créditos, acesso a
mercados, melhores práticas, etc.
COOPERAÇÃO
O agricultor perspectiva
PRODUTO A GRANEL COMPETITIVO
• gerenciamento de risco de preço
• Redução de custos
• Diversificação
• Contratos de longo prazo
• Cooperativas de comércio
• Especialização
PRODUTOS ESPECIAIS
SOB ENCOMENDA
• Cooperativas de processamento
• Cobrança (reembolso) por serviços
especializados
• Comaking
ADAPTAR ORGANIZAÇÃO
• Desenvolver novas fontes de renda
Em uma extremidade do espectro, aumentar a liberdade significa
focar a estratégia agrícola em diminuir os custos e melhorar a gestão
de risco, por vezes através da diversificação. Opções de redução de
custos incluem aumentar a escala de produção da fazenda e terceirizar
atividades não essenciais. Por exemplo, na Argentina, surgiu o sistema de
arrendamento, onde terras são arrendadas a terceiros e as atividades de
plantio, pulverização e colheita são terceirizadas. Redes especializadas
de serviço otimizam o uso de bens capitais prestando serviços durante
o ano todo em diferentes regiões. É como uma agricultura sem ativos.
Opções de gestão de risco incluem bloqueio das margens por meio de
cobertura de preços e distribuição de risco por meio da diversificação.
“Faça o que sabe fazer de melhor e terceirize o resto.”
Carel van der Hamsvoort
Maximizar a cooperação dentro da cadeia pode consistir em adaptar
produção às necessidades de cadeias de valor específicas. Nessa
extremidade do espectro, as opções incluem abastecer as cooperativas
que processam e vendem produtos, comaking e oferta de serviços,
por exemplo, para processos de produção específicos de produtos
especiais. Em vez de focar em baixar os custos para vender commodities
em mercados abertos, essa estratégia foca em um maior valor agregado
para um produto diferenciado que será vendido a compradores
específicos em cadeias verticalmente estruturadas. Por exemplo, a
otimização da cadeia por meio do uso de medidas para reduzir a
presença de resíduos alimentares nos intestinos de porcos no abate e
aumentar a uniformidade da carcaça. Isso resultou em uma economia
de cinco centavos de euro por kg de carcaça na cadeia de carne suína
na Holanda, ou seja, três centavos para o agricultor e dois centavos para
o processador de carne.
115
O que escolher?
Prêmio por
eficiência na
cadeia
2. Cooperação
COMERCIANTES
PROCESSADORES
S
RE
TO
UL
RIC
AG
VAREJISTAS
e
ad
erd
b
i
1. L
privilégio, pois o problema de escassez está cada vez maior e a agricultura
de subsistência ainda é fortemente presente ao redor do mundo.
Além do mais, a sociedade está confusa e assustada com a questão
da segurança alimentar e da sustentabilidade. Precisamos reconectar
a grande distância que existe entre consumidores e agricultores e
restabelecer confiança. Precisamos nos unir... para chegar lá.
“Entre todos os “6 S” o da cadeia de suprimentos parece ser o mais desafiador.
A cadeia de suprimentos é frequentemente desconectada e há pouco
diálogo por meio dela, o que é assustador. Precisamos unir todas as partes
interessadas dentro da cadeia para atingirmos o progresso e o sucesso.”
Prêmio por redução de custo na fazenda
“Não venda o que você pode fazer, mas faça o que você pode vender.”
Entre liberdade e otimização da cadeia, as opções vão desde contratos
diretos com consumidores, venda conjunta de produtos (por
exemplo, cooperativas), rateio dos riscos de preço, até o firmamento
de relações comerciais de longo prazo com fornecedores de insumos
ou consumidores mais seletivos. A especialização também considera
“abrir um pouco mão da liberdade” por reduzir custos para manter-se
competitiva. Por exemplo, produtores de batata da Holanda trocam
e alugam suas terras anualmente para poderem produzir somente
batatas em todos os anos, respeitando as normas de rotação de culturas.
A especialização em uma única cultura dá melhores rendimentos e
vantagens de custo para maquinário, armazenamento, compra de
insumos e negociação de preço (no caso, para batata).
Na próxima década, os agricultores terão que escolher em qual cadeia
operar.
“Apresse-se enquanto tem tempo, e então terá tempo quando tiver que se
apressar.”
Carel van der Hamsvoort
UNINDO FORÇAS – EM DIREÇÃO DA COOPERAÇÃO NA CADEIA
Todos nós fazemos parte do sistema alimentar. Há cerca de três séculos
foi considerado um luxo servir 200 pratos em um dia para o “Sun” do
Rei Luis XIV da França. Hoje, pelo menos no mundo desenvolvido, todos
nós podemos escolher entre mais de 2.000 opções de refeições em
supermercados locais. O sistema de abastecimento de alimentos atingiu
esse sucesso. Entretanto, isso não deve ser considerado como um
116
117
CADEIA DE SUPRIMENTOS
O futuro da agricultura
A cadeia de suprimentos é fundamental para resolver a questão da
segurança alimentar. Um clichê, porém, verdadeiro: “uma corrente
é tão forte quanto o seu elo mais fraco”. É crucial que a cadeia seja
consolidada fortalecendo a posição do agricultor. Concluímos que
os agricultores se encontram espremidos entre os fornecedores de
insumos altamente consolidados e querendo aumentar os seus lucros,
e os clientes compradores querendo aproveitar a forte demanda. Isso
impacta negativamente a economia da agricultura, faz com que a
atividade não seja atrativa para as próximas gerações de agricultores e
não favorece a inovação; todos os desafios interligados.
Então, como resolver isso? Não pode ser somente uma questão de
“trabalho duro” como Gerjan Snippe caracteriza parte da comercialização
da agricultura em sua abordagem de senso comum. Porém, Gerjan já
tomou uma iniciativa pensando no futuro: ele começou a cooperar
com outros agentes da cadeia.
suprimento. Assim, terão mais recursos para investir em uma maior
produtividade e aumentar a lucratividade.
4. INOVAR
Considerar os processos de melhoria contínua. Fazer revisões contínuas
de seus processos e negócios, conectar-se com seus colegas e aprender
com eles as melhores práticas, trabalhar com outros agentes da cadeia,
informar-se sobre descobertas recentes na agricultura para inovar e
aumentar a produtividade.
5. RECONECTAR
Ao longo das décadas passadas, consumidores finais foram perdendo
de vista a beleza da agricultura e a origem dos produtos que compõem
diariamente as suas mesas. Procure, então, maneiras de reconectá-los.
Compartilhe sua história de modo autêntico, demonstre habilidade,
mostre sua paixão. O consumidor final com certeza estará receptivo e
você ajudará a restabelecer a imagem do setor agrícola ao longo do
caminho.
1. COOPERAR
Agricultores não conseguem resolver a questão de segurança
alimentar sozinhos. Outros agentes da cadeia terão que cooperar. Por
exemplo, agricultores e varejistas devem conhecer o comportamento
dos consumidores finais para determinar e planejar o que oferecer
nas prateleiras, descobrir nichos e explorar inovações. Os agricultores
precisam firmar colaboração dentro da cadeia para atingirem um maior
valor agregado, produzindo e vendendo produtos diferenciados para
compradores específicos em uma cadeia estruturada verticalmente, etc.
2. MAXIMIZAR LIBERDADE
Atingir eficiência de custo com foco em economia de escala e produção
a granel. Essa estratégia é especialmente relevante para grandes
fazendas corporativas, como, por exemplo, as da Austrália e do Brasil.
3. CONSOLIDAR E CONCENTRAR
Consolidação não é necessariamente o mesmo que concentração,
mas, de qualquer forma, os maiores agricultores e aqueles que juntaram
suas forças por meio de cooperativas podem aumentar seu poder de
compra e de barganha e, então, fortalecer sua posição na cadeia de
118
119
MÍDIAS SOCIAIS
- Introdução
- Trajetória inspiradora
- Fatos e números
- A perspectiva mais ampla
- A perspectiva do agricultor
- O futuro da Fazenda 2.0
MÍDIAS SOCIAIS
Introdução
A próxima década mostrará uma grande transferência de fazendas
para produtores rurais da próxima geração. Uma geração que é usuária
experiente de internet e usa cada vez mais a rede e seus dispositivos
móveis para pesquisa, atividades sociais e negócios. As mídias sociais
mudaram muitas indústrias e estão aqui para ficar, em ambos os
contextos, tanto pessoal quanto no de negócio.
Mas mídias sociais ou o conceito de Fazenda 2.0 são relevantes para a
produção agrícola e os desafios em torno de segurança alimentar? A
Apple parece ótima, mas você jamais tentaria consumi-la diretamente
do seu iPad, certo? Provavelmente não, mas muitos consumidores são
influenciados por revisões de outras pessoas na web sobre qual hotel
se hospedar, qual restaurante escolher ou qual comida cozinhar. Em
primeiro lugar, as redes sociais permitem que agricultores se conectem
diretamente com os seus consumidores. Inicialmente, isso pode ser
para informar o consumidor sobre uma marca ou produto, mas ao
longo do tempo isso pode resultar em transações on-line diretas entre
o agricultor e o consumidor por meio dessas redes. Comprar vinho
pela internet já é bastante comum em muitos países. Portanto, por
que não vender também frutas ou cestas de hortaliças on-line? Muitos
agricultores estão experimentando o conceito “on-line”, com um misto
de sucessos e claras lições aprendidas. Nós todos lembramos o impacto
da Amazon.com na indústria do livro. Com muita desconsideração
por parte das grandes lojas de livros no começo, porém, agora, com
seu reconhecimento. No final de 2012, a Amazon também começou
a vender vinho pela web; obviamente que não foi pioneira, mas isso
confirma claramente como a tendência on-line pode diversificar e obter
o feedback direto do consumidor.
“A mídia social mudou
muitas indústrias
e está aqui para
ficar, em ambos os
contextos, o pessoal e
o de negócio.”
122
Em segundo lugar, a mídia social permite acesso a financiamento por
agricultores por conectá-los a bancos on-line ou redes ponto a ponto
(peer-to-peer) como a Kiva.org. O relacionamento pessoal deve sempre
permanecer como chave, porém as conexões on-line com bancos em
áreas remotas podem facilitar muitas transações bancárias.
Terceiro, as mídias sociais permitem acesso ao conhecimento global.
Não há dúvidas de que existem muitos dados sem utilidade na web,
mas uma plataforma global para levar os agricultores a compartilharem
123
as inovações mais recentes ou a se conectarem com seus pares poderia “Que tal se nós
ser muito efetiva. Também, a plataforma de fazenda virtual para os pudéssemos
agricultores pobres da África, apoiada pelo escritor australiano Julian compartilhar as
melhores práticas
Cribb1, poderia fazer uma diferença real. Observe apenas o sucesso atual agrícolas com os
do mobile banking na África – que tal se nós pudéssemos compartilhar produtores rurais de
as melhores práticas agrícolas com os produtores rurais de subsistência subsistência através
através dos celulares deles ou organizar e conectar ainda mais as dos celulares deles
ou organizar e
cooperativas?
conectar ainda mais
as cooperativas?”
E, por último, mas não menos importante, as mídias sociais são
ferramentas importantes para gestão da percepção; existem muitos
grupos ativos de apoio na web tentando influenciar consumidores.
Muitos agricultores mostraram frustração com relação à forma com que
a produção agrícola foi desacreditada na web por conta de informações
duvidosas. Milhões de agricultores ao redor do mundo poderiam se
unir pela web e compartilhar a sua perspectiva com consumidores
e colegas, ajudando o consumidor a tomar decisões de forma bem
informada, e agricultores, a entenderem melhor as necessidades do
consumidor e aumentar a produção sustentavelmente.
Mas, antes de mergulhar a fundo na Fazenda 2.0, apresentaremos o
engenheiro de computação Ricardo Rios, o qual está gerenciando uma
das maiores propriedades de produção de leite do Chile.
124
“NÃO TENHA DÚVIDA DE QUE
EXISTEM MUITOS DADOS SEM
UTILIDADE NA WEB, MAS UMA
PLATAFORMA GLOBAL PARA
LEVAR OS AGRICULTORES A
COMPARTILHAREM AS INOVAÇÕES
MAIS RECENTES OU A SE
CONECTAREM COM SEUS COLEGAS
PODERIA SER MUITO EFETIVA.
TAMBÉM UMA PLATAFORMA
DE FAZENDA VIRTUAL PARA OS
AGRICULTORES POBRES DA ÁFRICA
PODERIA FAZER UMA DIFERENÇA
REAL.”
125
MÍDIAS SOCIAIS
Trajetória inspiradora
ENSINANDO A PRÓXIMA GERAÇÃO COMO FAZER AGRICULTURA
Ricardo Rios é um engenheiro de computação que se tornou produtor
de leite no Chile. Por uma década, Ricardo trabalhou na indústria da
computação, viajando para os Estados Unidos onde a tecnologia da
informação é pesquisada e desenvolvida. Entretanto, a sua educação,
treinamento e experiência como engenheiro de computação, embora
muito úteis, não foram necessários para tornar Ricardo um produtor de
leite no Chile.
“No começo da minha vida de casado, minha esposa sempre me
impulsionava para que eu me tornasse um produtor de leite. Ela queria
uma fazenda e eu não queria falhar com ela. Com a ajuda do meu irmão,
nós compramos um pedaço de terra e iniciamos o desenvolvimento de
nossa fazenda de produção de leite no sul do Chile. Depois de alguns
anos sem ir a lugar nenhum, e com um futuro duvidoso no negócio, eu
percebi que havia uma coisa que nós precisávamos e que ainda estava
faltando: conhecimento.”
FALTA DE CONHECIMENTO
“Todo agricultor tem um problema diferente. No meu país, a principal
questão é a falta de conhecimento para trabalhar com sistemas de
produção de leite de baixo custo. Com esse conhecimento, esse tipo
de produção pode ser muito lucrativo. Também, se todo mundo estiver
fazendo a mesma coisa, será muito mais fácil para aprender, para
compartilhar e para melhorar. Mas sem esse conhecimento e suporte é
quase impossível começar.”
126
“Enquanto eu estava na Holanda, um agricultor holandês disse para
mim, ‘conhecimento não é um problema para nós. Todo mundo sabe “Todo agricultor
como fazer. O problema que nós temos é que a terra é muito cara e os tem um problema
diferente. No meu país,
produtores rurais jovens não conseguem pagar para começar’.”
Ricardo admite que ele nunca tinha ouvido nada sobre a Nova Zelândia,
mas pensou, “se lá existe conhecimento de um sistema de baixo custo,
então nós precisamos descobrir como trazer esse conhecimento para
o Chile”.
A terra não era um problema para Ricardo. Ele tinha um pedaço invejável
de terra, mas pouco conhecimento de um sistema de produção de leite
de baixo custo que fosse eficiente. Um amigo contou para ele de um
país no meio do Oceano Pacífico que tinha um sistema de produção de
leite top no mesmo tipo de terra e clima do Chile.
TUTORIA DA NOVA ZELÂNDIA
Durante a sua vida de agricultor, Ricardo teve sorte suficiente para
encontrar dois mentores da Nova Zelândia com muita experiência em
produção leiteira. O seu atual mentor vem instruindo Ricardo há mais
de 10 anos. “Você tem que encontrar o que você precisa, para fazer o
a principal questão é
falta de conhecimento
sobre sistemas de
produção de leite
de baixo custo. Com
este conhecimento,
a produção pode ser
muito lucrativa.”
127
“Você tem que
encontrar o que você
precisa, para fazer
o que você gosta.
Se você precisa de
terra, você encontra
terra. Se você precisa
de conhecimento,
você vai em busca de
conhecimento.”
que você gosta. Se você precisa de terra, você encontra terra. Se você
precisa de conhecimento, você vai em busca de conhecimento”, disse
Ricardo. Sem a generosa transferência de conhecimento e a tutoria dos
produtores de leite da Nova Zelândia, Ricardo acredita que certamente
sua fazenda não teria sobrevivido.
CRESCIMENTO COM COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO
“Desde que nós começamos com o processo de treinamento da
Nova Zelândia, nossa companhia começou a crescer e crescer. Agora,
nós estamos alcançando do sistema de produção tanto quanto os
neozelandeses. Neste período, nós iremos ordenhar 4.700 vacas
alimentadas com pasto,” disse Ricardo. “Nós atingimos quase o mesmo
nível de produção de leite que a Nova Zelândia tem. Tudo baseado em
conhecimento, busca de um sonho e fazendo a minha esposa feliz.”
CONHECIMENTO E SUCESSÃO
Em sua vida, Ricardo gostaria de ver a região onde ele mora tornar-se
mais desenvolvida, começando pelas áreas rurais e, então, estendendo
para as áreas urbanas, como consequência do crescimento da
economia rural local, resultando em um sistema melhor de educação,
melhores oportunidades de emprego para os jovens locais e padrões
de vida mais altos.
“Eu gostaria de ver o sistema de produção que nós trouxemos para o
nosso país e para a nossa companhia, que nos ajudou a ter sucesso,
disponível para todo mundo. Eu gostaria de ver mais pessoas,
especialmente pessoas jovens, querendo aprender e se tornar
especialista. Eu quero que o Chile desenvolva uma indústria de laticínios
que tenha tanto sucesso quanto a da Holanda e a da Nova Zelândia,”
disse Ricardo.
“O que o nosso país precisa é promover e desenvolver um sistema
de produção de leite de baixo custo como existe na Nova Zelândia,
para trazer aquele conhecimento e compartilhá-lo em nossa região,
usando, por exemplo, as mídias sociais para ensinar a próxima geração
a produzir, a ser inovadora e a ter lucro. Nós precisamos passar para
a próxima geração o conhecimento e as habilidades para assumir a
fazenda, de tal forma que essa nova geração, e as próximas, possa ter
sucesso em um futuro sustentável e seguro,” disse Ricardo.
128
129
MÍDIAS SOCIAIS
•
Fatos e números
•
As mídias sociais estão mudando o modelo de comunicação de uma
via da internet para comunicação de duas vias, incluindo múltiplas
interações com usuários e comunicações dirigidas por conteúdo. Os
canais de mídias sociais oferecem aos consumidores a possibilidade de
moldar os meios de comunicação por eles mesmos. Os consumidores
são habilitados, conectam-se facilmente pela web e criam conteúdo em
conjunto. O consumo de conteúdo on-line está crescendo rapidamente.
É difícil de ignorar a quantidade de tempo que consumidores gastam
nas mídias sociais, começando nos mercados privados com os jovens e
passando agora pelo público sênior e comunidades de negócios.
Globalmente, existem mais de 1,5 bilhão de usuários de mídias sociais
e, em 2012, um bilhão esteve ativo no Facebook por, em média, 40
minutos por dia. Todo cliente de uma empresa está nas mídias sociais e
ela deveria querer estar onde os seus consumidores estão. Cerca de 72%
das companhias usam mídias sociais de alguma forma – comumente
para agrupar insights, vender ou comprar bens de mercado e serviços,
e para servir consumidores. Gerações jovens (futuros agricultores e
consumidores) estão todos em redes sociais. Tendências em serviço
ao consumidor indicam um crescimento acentuado do uso de canais
virtuais, um forte crescimento de possibilidades técnicas e uma
importância crescente de colegas influenciando na tomada de decisão.
300.000 usuários ajudaram a traduzir o Facebook para 70 línguas.
•
O YouTube tem 490 milhões de usuários únicos todo mês.
•
O espaço de redes sociais para compartilhamento de fotos Flickr.
com hospeda mais de 5 bilhões de imagens; algo como 3.000 imagens sendo carregadas a cada minuto.
•
O Twitter adiciona 500.000 usuários todos os dias.
•
O Google+ alcançou 10 milhões de usuários em 16 dias; o que o
Twitter gastou 780 dias e o Facebook 852 dias.
•
O LinkedIn dá as boas-vindas a 1 milhão de novos usuários toda
semana.
•
Usuários gastam 700 bilhões de minutos por mês no Facebook.
Mas existe mais: a casa do futuro terá uma cozinha interativa inteligente,
dispositivos de limpeza e outros que reagem às suas ações do celular
e emitem instruções de fora de casa. Como, por exemplo, avisos para
atualização de alimentos na geladeira, preparo de refeições prontas no
micro-ondas, e aspiração e aquecimento de sua casa pouco antes da
sua chegada. Produtores rurais usarão dados de satélite e GPS recebidos
nos aplicativos de seus smartphones ou enviados diretamente para seus
tratores inteligentes para melhor aproveitamento da terra e manejo
de culturas, como, por exemplo, aplicar a quantidade exata de água
e fertilizante em uma polegada, se necessário, e não em um hectare
ou em um campo todo. Depois da era industrial mecanizar nossos
hectares, a era da digitalização irá liderar a próxima revolução verde 2.0
nas fazendas.
•
Mais de 250 milhões de usuários acessam o Facebook através do
seu dispositivo móvel.
“Em uma população mundial de 6.976.120.288 habitantes, existem
1.663.632.361 usuários de internet.”
•
Mais de 2,5 milhões de endereços da web (websites) foram
integrados ao Facebook.
•
30 bilhões de conteúdos são compartilhados no Facebook a cada
mês.
“Com mais de 1 bilhão de usuários, o Facebook se tornou a terceira maior
população do mundo.”
Danny Mekic, empresário de internet. Em 2009, eleito o melhor
empresário holandês com menos de 25 anos.
FATOS CURIOSOS SOBRE MÍDIAS SOCIAIS
• A palavra ‘fazenda’ tem 5,2 bilhões de resultados no Google e
mostra 3,9 bilhões de figuras.
130
Atualmente, o Facebook é o maior banco da Austrália, com a “Em uma população
combinação única de uma licença de banco e aproximadamente mundial de
11 milhões de membros declarando 20% de sua receita por meio 6.976.120.288
habitantes, existem
de créditos do Facebook.
1.663.632.361 usuários
de internet.”
“Com mais de 1
bilhão de usuários,
o Facebook se tornou
a terceira maior
população do mundo.”
131
MÍDIAS SOCIAIS
Perspectiva mais ampla
Como se conectar, interagir e verdadeiramente se comunicar com
consumidores em um mundo virtual?
“O quanto seria legal, se um consumidor pudesse examinar, por meio de
um QR (código de referência rápida), uma maçã e começar a ver o pomar
de onde ela cresceu e qual agricultor a colheu?” Esse é um dos muitos
exemplos que o empreendedor de internet Danny Mekic mostrou ao
público de produtores rurais para exemplificar como conectá-los de volta
aos consumidores. Usar códigos QR é simples e barato, e as possibilidades
são muitas, conforme conseguimos os links. Por exemplo, um suéter de
lã com uma ovelha Merino em uma fazenda da Austrália, ou um suco de
fruta com um fazendeiro do Paraguai ou do Brasil. Porém, mais do que
apenas o envio de informações para educar ou entreter o mercado-alvo
com estrelas de classificação nos links permitidos entre websites por QR,
o uso desses códigos permite que agricultores obtenham uma resposta
direta dos consumidores sobre seus produtos. Como análises ponto a
ponto (P2P) são fundamentais no processo de tomada de decisão de
muitos consumidores, isso pode agregar valor extra para os produtores
de qualidade e suas marcas. Obviamente, isso abre um canal para o
feedback negativo, mas não é melhor estar ciente e agir sobre a questão,
em vez de ver uma redução nas vendas?
No Reino Unido, uma iniciativa da National Trust chamada MyFarm
pretende reconectar as pessoas com a origem dos alimentos2 (http://
www.nationaltrust.org.uk/what-we-do/big-issues/food-and-farming/
myfarm/). MyFarm é uma experiência on-line de agricultura e produção
de alimentos, com duração de 18 meses, e que permite que 10.000
participantes deem sua palavra para o gerenciamento de uma fazenda
real. Na plataforma MyFarm, agricultores juntam suas forças para discutir
e decidir cada aspecto da fazenda: as culturas que cultivam, a linhagem
dos animais que confinam, as novas instalações que investem e as
máquinas que usam. O objetivo da fazenda é ser lucrativa e manter altos
padrões de bem-estar e sustentabilidade. As pessoas que pagam 30
libras esterlinas podem se tornar agricultoras em 12 meses. Suas decisões
estão sendo realizadas por um agricultor de verdade. No outono de 2012,
a variedade de trigo escolhida pelos usuários esteve disponível na loja de
sementes. Os usuários escolheram e ainda decidiram como o produtor
rural deveria plantá-las.
132
Curiosidade:
Guinness World
Records declarou a
fazenda da família
Kraay como a
proprietária do
maior código QR do
mundo (309.570 pés
quadrados! Isso se
iguala a 29.000 metros
quadrados). Ligando
os telespectadores
para o site da
fazenda http://www.
kraayfamilyfarm.com/
COMO A FAZENDA 2.0 PERMITE O ACESSO AO CONHECIMENTO E
AO FINANCIAMENTO?
Conhecimento: disponível “a qualquer hora e em qualquer lugar”.
As mídia sociais, seu conceito e seu rápido desenvolvimento afetam o
agronegócio de diversas maneiras. A mídia on-line fez o mundo virar
uma vila global. Conhecimento, conexões e troca de experiências
acontecem aos cliques dos mouses. As pessoas podem aproveitar o
conhecimento combinado da massa instantaneamente. Férias, carros,
eletrônicos, dicas de tarefas domésticas, problemas com computador,
qualquer coisa que alguém pode querer saber virtualmente pode
ser encontrada no vasto mundo da web. “To Google” é o novo verbo
que o levará às opiniões dos consumidores, dicas e truques, os “sins”
133
Hoje, as cadeias de valor esticadas, longas e globalizadas, com diversas
fases entre a semente e o alimento na mesa, aumentaram a distância
entre produtores e consumidores finais, literalmente e figurativamente
falando. Isso faz a comunicação ficar mais difícil e dá espaço para
discordâncias. E os mal-entendidos que se espalham rapidamente são
difíceis de combater.
Felizmente, sempre onde há uma ameaça, há uma oportunidade. As
mídias on-line podem ajudar a fortalecer a reputação da agricultura:
para profissionais potenciais, empreendedores, ONGs, governos,
consumidores e a sociedade como um todo. Considerando que,
globalmente, um de cada três trabalhadores é contratado na
agricultura, esse grupo tem muito potencial para usar o poder da web
para ganhar voz.
e “nãos” de pessoas do mundo todo com apenas uma coisa em
comum: as mesmas necessidades por informação e por superação
de desafios semelhantes. Esse conceito pode ser facilmente aplicado
ao setor agrícola; produtores rurais profissionais do mundo todo, não
importando de onde são e suas diferenças, podem aprender uns com
os outros. Neste capítulo, você leu sobre o engenheiro de computação
chileno que se tornou fazendeiro, Ricardo Rios Pohl. Ele viajou o mundo
atrás do conhecimento que precisava para fazer o seu negócio suceder.
Na vila global de hoje, Ricardo, e todos os outros profissionais ansiosos
por aprendizado, pode ter uma alternativa para buscar conhecimento
de uma forma menos demorada e uma busca física.
Uma possível desvantagem do conceito e natureza das mídias sociais
é que há pouco espaço para nuances em áreas cinzentas. Questões
complexas são resumidas em uma linha com 140 caracteres. A
reputação das pessoas, marcas e empresas tem sido esmagada por
campanhas on-line. A indústria de alimentos e agronegócios também
pode ser e já é sujeita aos sentimentos do público on-line. Hoje, a ligação
entre produção e consumo não é tão estreita quanto era há poucas
centenas de anos. Naquele tempo, quase todos eram fazendeiros. A
comunicação e o entendimento sobre agricultura era simples e fácil.
134
Sem dúvida, as mídias sociais contribuíram para preencher as lacunas
de comunicação, visto que as regras da web são respeitadas e os
agricultores proativamente participam das conversas. Por exemplo, a
linguagem do Twitter já nos ensina como nos comunicar claramente e
efetivamente: de forma simples e concisa (da expressão em inglês Keep
it Short and Simple – KISS). Se você conseguir colocar sua mensagem em
um tweet, de forma curta e simples, é mais provável que as pessoas leiam
e repassem a informação (retweet). Uma estratégia de mídias sociais
bem definida e partilhada por organizações de fazendeiros pode ajudar
agricultores a contarem melhor as suas histórias distinguindo fatos de
sentimentos, ou conectando bons sentimentos aos fatos certos. Mas
além de postar, também é importante ouvir a voz do consumidor para
tornar o setor mais forte e orientado ao cliente.
O impacto das mídias sociais/novas mídias/internet nos celulares não
está limitado somente a países desenvolvidos. A cobertura de celular
tem crescido na África com uma velocidade impressionante nas últimas
décadas. Em 1999, somente 10% da população africana tinha cobertura
para celular, principalmente na África do Sul e do Norte. Até 2008, 60%
da população (477 milhões de pessoas) já tinha cobertura de celular,
e uma área de 11.2 milhões de quilômetros quadrados tinha serviço
de celular – o equivalente aos Estados Unidos mais a Argentina. Os
telefones celulares representam um enorme potencial econômico em
locais subdesenvolvidos da África. Um estudo conduzido pela London
Business School, em 2005, demonstra que, para cada 10 celulares
adquiridos entre 100 pessoas em um país em desenvolvimento, o
PIB sobe em 0,5%. Além de permitir a comunicação, redes celulares
também podem ser utilizadas para divulgar informações vitais sobre
agricultura e saúde em áreas rurais isoladas e vulneráveis a problemas
135
de seca e doenças. Além disso, podem ser utilizadas para movimentar “Uma estratégia de
dinheiro. Em diversos países africanos, soluções para obtenção de mídias sociais bem
definida e partilhada
dinheiro rápido foram introduzidas. Essas soluções permitem que os
por organizações
clientes transfiram dinheiro a partir do celular para saque em terminais de fazendeiros pode
de autoatendimento. Com simples mensagens de texto, os clientes ajudar agricultores a
podem transferir dinheiro para pessoas sem conta bancária. Esse contar melhor as suas
histórias distinguindo
serviço permite usuários obterem dinheiro de um caixa eletrônico sem
fatos de sentimentos,
o uso de um cartão bancário, um serviço que é baseado em códigos de ou conectando bons
sentimentos aos fatos
segurança enviados via SMS.
certos.”
Soluções para obtenção de dinheiro rápido, ou mobile banking, podem
facilitar o acesso ao financiamento em países em desenvolvimento.
Um exemplo de serviço de acesso ao conhecimento é o da Nokia Life
Tools, um serviço que custa USD 1,20 por mês e que dá informação
através de SMS sobre agricultura para pequenos produtores da Ásia. O
serviço atraiu aproximadamente 17 milhões de assinantes em menos
de três anos. O sucesso da Nokia é apenas um dos muitos exemplos de
como o uso do celular pode facilitar o acesso à informação. Acesso a
financiamento e conhecimento fazem parte dos fatores de capacitação
social identificados no capítulo 4. A falta de acesso impede os países
desenvolvidos de explorar seu completo potencial.
136
137
MÍDIAS SOCIAIS
A perspectiva do produtor rural
Durante o fórum Global Farmers Master Class foi discutido com os
participantes o potencial das mídias on-line e sociais. Foi realizada uma
rápida introdução às sociedades digitalizadas, na qual foi pontuado
que, nesse cenário, o Facebook, com mais de 1 bilhão de usuários,
tornou-se a terceira maior população do mundo, que o boca a boca se
tornou o meio de comunicação mais importante, que a internet móvel
permite a informação a qualquer hora, em qualquer lugar e a qualquer
um; e que o poder é transferido das corporações para o indivíduo, das
empresas para o consumidor. Consequentemente, produtores rurais
são desafiados a encontrar maneiras de utilizar os aplicativos on-line a
favor do seu próprio negócio.
UNINDO A COMUNIDADE AGRÍCOLA GLOBAL ON-LINE
Muitos viram valor agregado no potencial das mídias sociais em abrir
o conhecimento e compartilhar as melhores práticas, ponto a ponto
(P2P), em comunidades virtuais. Na Holanda, uma wiki foi desenvolvida
para esclarecer os meandros da agricultura de precisão. No LinkedIn,
o grupo Agriculture tem mais de 27.000 membros de todo o mundo
conectados, interagindo, discutindo temas relevantes e ainda fazendo
negócio. No Facebook, a página AgChatOz da Austrália (com mais de
1.000 usuários) discute como as questões atuais afetam a indústria.
Agentes da cadeia de alimentos estão buscando melhorar seus serviços
considerando possibilidades on-line. O Rabobank, por exemplo, está
desenvolvendo uma comunidade virtual, Virtual Farm Club, com – e
para – seus clientes rurais. Este conceito favorecerá esta geração de
produtores rurais e a próxima a compartilhar conhecimento e melhores
práticas em uma mesa de cozinha virtual. Essa plataforma possibilitará
o compartilhamento de informações ponto a ponto, o benchmarking e
oportunidades de inovação com agricultores, independentemente da
localização, mas com base em suas reais necessidades. Isso permite que
os produtores rurais se tornem membros de uma comunidade global
de agricultura, onde podem facilmente encontrar levantamentos
feitos pelos departamentos de pesquisa do banco, discutir com outros
membros locais ou globais, trocar ideias ou pedir orientação. Webinars,
blogs com feedback direto e opções de enquetes aumentam a interação
e diálogo entre agricultores.
138
“No LinkedIn, o
grupo Agriculture
tem mais de 27.000
membros de todo o
mundo conectados,
interagindo,
discutindo temas
relevantes e ainda
fazendo negócio.”
OS “DEFENSORES” DAS MÍDIAS SOCIAIS
Durante o Global Farmers Master Class, uma série de palestrantes
abordou a importância da opinião pública e da forma como ela afeta a
imagem e a reputação dos agricultores e da agroindústria em geral. Os
palestrantes ressaltaram como os produtores rurais e a agroindústria, em
geral, podem aprender com a forma como grupos ativistas levantam
questões, selecionando e ampliando um assunto e colocando-o de
modo fácil de compreender, focando na comunicação da mensagem
central, acompanhada de um ponto de vista cristalino. O conselho
deles é: expressar uma opinião divergente e fazê-lo de modo “muito
simples” (KISS = Keep It Short and Simple).
Os fazendeiros participantes do evento estavam muito conscientes da
importância da opinião pública e da maneira como isso afeta seu setor,
tanto diretamente quanto indiretamente por agentes do início ao fim
da cadeia. A opinião pública faz com que varejistas e processadores
repensem suas políticas de aquisição, as quais, por sua vez, afetam
o negócio dos agricultores. Também, a opinião pública negativa com
relação ao setor agrícola, seus produtos e métodos de produção reflete
na imagem e na reputação do setor, o que, por sua vez, influenciará o
interesse na educação agrícola e questões de sucessão. Muitos agricultores
reconhecem que a massa crítica ou alguma forma de cooperação no setor
é necessária para expressar melhor a perspectiva do produtor rural.
139
produtores rurais operam e melhoram seu desempenho sustentável
na cadeia de suprimento de carne vermelha. Como zeladores da terra,
são responsáveis por deixá-la em melhor estado do que a encontraram.
Estão convencidos que podem melhorar a eficiência e reduzir recursos.
Para isso, esboçaram 100 iniciativas para pesquisa, desenvolvimento e
extensão para serem financiadas pela indústria.
O mundo da web está
cheio de verdadeiros
“defensores”.
O Target 100 quer criar uma discussão aberta entre pecuaristas e a
comunidade. Quer saber das preocupações, opiniões e sugestões
de como deveriam continuar a produzir alimentos de qualidade de
maneira ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável.
Os membros da comunidade podem postar suas perguntas sobre
carne vermelha e ambiente, ou sobre como a comida é produzida,
em um dos seus fóruns. Pecuaristas com um exemplo sustentável
são convidados a apresentar um miniestudo de caso para mostrar o
que estão fazendo e entrar em discussão no fórum. O target 100 dá
a todos os pecuaristas a oportunidade de se relacionarem com uma
comunidade e vice-versa; um grande espaço para construir uma ponte
entre o urbano e o rural por meio das mídias sociais. Esta é só a ponta do
iceberg. O vasto mundo da web está cheio de verdadeiros “defensores”.
Embora a aparente falta de conexão organizacional dos agricultores, “Target 100 tem o
o número de iniciativas para redes sociais voltadas à agricultura tem compromisso de
tomar medidas
crescido. São iniciativas que têm como objetivo formar uma ponte entre
positivas, tanto
o “urbano” e o “rural”. No Facebook, o jogo World Food Game foi cocriado pequenas quanto
por jovens. O jogo aborda o possível valor agregado de cooperativas grandes, para
para produção de alimentos. A intenção é fazer com que jovens (16 a continuamente
melhorar a maneira
20 anos) sejam conscientes sobre a questão da segurança alimentar e
com que os
o papel do produtor rural. Jogadores podem cultivar culturas e manter produtores rurais
uma produção de animais virtuais. O objetivo é alimentar a maior operam e melhoram
quantidade de pessoas possível. A antecipação aos perigos e aos riscos, seu desempenho
sustentável na cadeia
assim como uma boa e inteligente cooperação, é elemento-chave.
de suprimento de
O AgChatOz da Austrália, embora discuta questões relacionadas aos carne vermelha.”
tópicos que afetam suas indústrias, também visa a unir australianos
dos meios rurais e urbanos. Também da Austrália vem o The Target
100 (http://www.target.100.com.au)3, iniciado por criadores de gado
e ovelhas que, com uma indústria mais ampla, tem como objetivo
distribuir uma pecuária sustentável de gado e ovelha até 2020. O target
100 tem o compromisso de tomar medidas positivas, tanto pequenas
quanto grandes, para continuamente melhorar a maneira com que os
140
141
MÍDIAS SOCIAIS
O Futuro da Fazenda 2.0
Como separar o joio do trigo e fazer com que as mídias sociais sejam
relevantes para a agricultura? Este é provavelmente o maior desafio
também para a agricultura, num mundo movimentado pelas mídias
sociais, em que essa nova realidade deve ser abraçada em vez de
ignorada. Abaixo, cinco sugestões importantes para reflexão:
sempre fundamental na agricultura, mas, sem dúvida, as mídias
sociais valorizarão o relacionamento com fornecedores e trará uma
maior transparência na cadeia. Transparência não somente nas taxas e
impostos, mas o que é mais importante: saber que os prestadores de
serviços financeiros oferecem reais soluções para o longo prazo, e não
um dinheirinho rápido quando a época é boa.
5. INOVAÇÃO
Escrever um livro sobre inovação não vale a pena, pois no momento de
sua impressão já pode estar desatualizado. Porém, compartilhar a inovação
e as fontes de financiamento agrícola, e conectar agricultores e ciência
são claramente um benefício da fazenda virtual ou da Fazenda 2.0.
1. A MUDANÇA DE PODER
Dentro da nova realidade da web 2.0, o poder de comunicação está com
os seus usuários, e da web, e não mais com as grandes corporações. Dar
voz aos interesses dos agricultores globais será mais forte se forem por
meio da cooperação e organização de comunidades on-line. Se bem
executadas, as mídias sociais têm o poder de reinventar ou, pelo menos,
melhor equilibrar os interesses dos produtores rurais dentro da cadeia
de suprimentos.
2. INOVAR A CONEXÃO COM OS CONSUMIDORES (FINAIS)
A web abre muitas novas possibilidades de desenvolvimento de marcas
e distribuição para produtores rurais fortalecerem o relacionamento
com os consumidores finais. Existem muitas ferramentas simples
on-line que não necessitam de consultoria cara, mas de uma simples e
inovadora mentalidade: “eu posso fazer isso”.
3. MAIOR ACESSO AO CONHECIMENTO
Para produtores rurais ao redor do mundo, isso aumentará a
produtividade, o que contribuirá para a segurança alimentar. Os
diversos conceitos de construir, expandir e promover vão, sem dúvida,
fazer uma diferença positiva para a agricultura. Por exemplo, fazendas
virtuais do tipo plataforma de grupos agrícolas, empresas de celular
como a Nokia, bancos como Rabobank, ou pessoas como Julian Cribb
e muitos outros. Também, na Fazenda 2.0, precisamos semear hoje para
colher amanhã.
4. ACESSO AO FINANCIAMENTO
As mídias sociais, conforme mostrado pelo Kiva.org, por exemplo,
favorecem o microfinanciamento através de empréstimos ponto
a ponto. Os modelos de financiamento público e de Cooperativa
2.0 também apresentam um claro potencial de fornecer fundos
para agricultores. Consideramos que o relacionamento pessoal será
142
143
SOLUÇÕES
- O surgimento do
empreendedor rural
SOLUÇÕES
“NAS PRÓXIMAS DÉCADAS,
OS AGRICULTORES TERÃO QUE
GERENCIAR A ESCASSEZ DE TERRA
E DE ÁGUA, A QUALIDADE DO
SOLO, A SUSTENTABILIDADE, A
SUCESSÃO AGRÍCOLA, A CADEIA
DE SUPRIMENTOS, A CIÊNCIA E
O DESENVOLVIMENTO, ENTRE
OUTRAS QUESTÕES. NÃO HÁ
DÚVIDAS DE QUE A AGRICULTURA
HOJE É ALGO QUE VAI ALÉM DE
PLANTAR UMA SEMENTE NO CHÃO.”
O surgimento do empreendedor rural
Neste livro, abordamos muitos desafios e oportunidades relacionadas
aos 6 S fundamentais para o futuro da agricultura na segurança
alimentar (Nota: a estrutura dos 6 S diz respeito aos itens em inglês:
Sucession, Sustainability, Social Enabling Factors, Supply Chain, Science,
e Social Media). Nas próximas décadas, os agricultores terão que
gerenciar a escassez de terra e de água, a qualidade do solo, a
sustentabilidade, a sucessão agrícola, a cadeia de suprimentos, a ciência
e o desenvolvimento, entre outras questões.
Não há dúvidas de que a agricultura hoje é algo que vai além de
plantar uma semente no chão. Além dos desafios macroeconômicos
discutidos anteriormente, os agricultores têm que lidar com várias
tarefas desafiadoras em campos altamente diversos, incluindo
produção e nutrição animal, produção de culturas, tributações e
regulamentos, inovação, marketing, financiamento, gerenciamento de
riscos e muito mais. Sem dúvida, a agricultura é um negócio complexo
e, numa situação crítica de demanda crescente, difícil oferta e atmosfera
de tensão, surge o empreendedor rural. Esses novos empreendedores
rurais, homens e mulheres da Austrália até a Zâmbia, são as
peças-chave para a segurança alimentar. Porém, conforme já ressaltado
neste livro, os agricultores não conseguem resolver as questões de
segurança alimentar sozinhos. Esta é uma responsabilidade que deve
Sucessão
Cadeia de
suprimento
O surgimento do
empreendedor rural
Sustentabilidade
Ambiente de
capacitação social
Qualidade
do solo e clima
146
Reduzir desperdício
147
ser dividida globalmente com consumidores, revendedores, produtores,
comerciantes, governos, acadêmicos, bancos e fazendeiros. Países
deveriam usar o “Triângulo Dourado”; uma contínua cooperação entre
ciência, governo e todos os agentes da cadeia de valor para encontrar
soluções e melhorar a eficiência e a produtividade.
“Durante a reunião do fórum econômico e Mundial e do G8, empresários,
especialistas públicos e acadêmicos discutiram a questão da segurança
alimentar. Porém, ao invés de falarmos sobre agricultores, deveríamos falar
com agricultores, já que são eles que estão alimentando o mundo e não os
banqueiros, os políticos e os cientistas.”
Berry Marttin, membro do Conselho Executivo do Rabobank na
Holanda.
Sem dúvidas, é necessário mais diálogo na cadeia de valor e mais
conversa com os agricultores ao invés de sobre os agricultores. Não há
melhor lugar do que a mesa da cozinha de uma fazenda, com tortas de
maçãs frescas, para reunir produtores de alimentos e conversar sobre
o futuro da agricultura. Quantos cientistas, CEOs ou políticos visitaram
uma fazenda recentemente? Em um real envolvimento e diálogo, sobre
a mesa da cozinha, percebe-se que a economia agrícola, na perspectiva
do campo, não anda expressiva. Embora os preços estejam subindo,
as margens dos produtores estão muito menores do que o sugerido
pelo preço das commodities agrícolas. Os agricultores estão, de um lado,
pressionados pelos fornecedores de insumos, altamente consolidados
no mercado, que buscam maximizar seus retornos; e, por outro lado,
pelos consumidores finais que usam a força da demanda. A escassez
de alimentos irá forçar as empresas a desenvolverem novas estratégias
de suprimento para as próximas décadas. Isso resultará em um grande
momento para os agricultores obterem uma margem mais justa, o que
já era em tempo crucial para investimentos em sustentabilidade e maior
rendimento. Claro que isso não será fácil e somente o empreendedor
rural de verdade irá se beneficiar e crescer. Precisamos aumentar a
expressividade da economia agrícola no campo para atrair a próxima
geração de fazendeiros. Conforme ilustrado no capítulo sobre sucessão,
além de melhorar a economia e criar novos modelos, é fundamental
melhorar a imagem da agricultura. Por último, mas não menos
importante, planejar a fazenda e preparar o sucessor com antecedência.
No capítulo sobre sustentabilidade, discutimos que quanto maior for a
demanda por alimentos, menor será a disponibilidade de terra arável,
água, fertilizantes, defensivos, entre outros, e menor será, também, a
produção com menos emissões de poluentes. Colocando de modo
mais simples, há somente um mundo para se viver e precisamos
148
“A escassez de
alimentos irá forçar
as empresas a
desenvolverem
novas estratégias de
suprimento para as
próximas décadas.”
produzir mais com menos. O ganho em produtividade das principais
commodities tem caído a uma taxa de 1,4% por ano. Para atender a
uma demanda crescente, essa taxa deveria ser de pelo menos 1,75%
até 2050. O crescimento da produtividade na cultura do trigo, nos
últimos 20 anos, decresceu a uma taxa de 0,5% ao ano. Tendência
parecida foi observada para o arroz, de modo que os dois alimentos
básicos mais importantes do mundo apresentaram quase nenhum
aumento em rendimento devido à insuficiência de investimentos.
Troca de experiência e investimento em P&D serão fundamentais para
aumentar os ganhos em produtividade. É preciso, também, diminuir
o grande desperdício que há ao longo da cadeia de valor, visto que,
atualmente, um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido,
uma quantidade grande o suficiente para alimentar dois bilhões de
pessoas.
Porém, mesmo trabalhando com os melhores agricultores, solos e
climas, tudo desmorona se não houver ambiente de capacitação social
apropriado. Conforme discutido no capítulo sobre capacitação social, a
agricultura é vital para o progresso. É o principal setor do crescimento
econômico. Nenhum país conseguiu sair da pobreza sem aumentar a
sua produtividade agrícola. Isso é especialmente verdadeiro na África,
que combina grande necessidade com grande potencial. Devido à
vasta área que pode ser convertida em produção de alimentos, com
possibilidade de crescente aumento de produção, identifica-se um
enorme potencial na África. Para capturar esse potencial, muitos
pontos devem ser trabalhados simultaneamente, como melhorar
a produtividade, consolidar a atividade, melhorar a infraestrutura, o
acesso ao mercado e ao microcrédito. Educação e capacitação são
fundamentais. Não somente a capacitação técnica, mas também a
financeira, que começa por ter em mãos o primeiro montante para
iniciar a atividade: dinheiro para a lavoura.
Neste livro nós apresentamos cinco histórias inspiradoras, exemplos
reais e pragmáticos de sucesso na agricultura ao redor do mundo. Nós
poderíamos ter contado as 50 histórias de todos os participantes do The
Global Farmers Master Class, visto que cada uma é única e inspiradora
ao seu modo. São histórias de empreendedores de verdade que,
independentemente das suas diferenças culturais, apresentam questões
comuns a serem trabalhadas. Porém, além dessas questões, há muita
inspiração e conhecimento a ser dividido com colegas agricultores do
mundo todo. Aprender uns com os outros e transferir conhecimento
foi fundamental para levantar todas as soluções apresentadas em
cada capítulo. O The Global Farmers Master Class foi um meio de se
conseguir isso, assim como a fazenda virtual, apresentada no capítulo
“Educação e
capacitação são
fundamentais. Não
somente a capacitação
técnica, mas também
a financeira, que
começa por ter em
mãos o primeiro
montante para iniciar
a atividade: dinheiro
para a lavoura.”
149
sobre mídias sociais. Não somente para a porção mais expressiva do
mercado, mas também para os agricultores de subsistência nos países
em desenvolvimento com o uso de celular.
“Estórias, muitas vezes, dizem mais do que gráficos e números. Por exemplo,
a história de um homem que conheci durante uma visita em Ruanda. Ele
é cliente do Banco Popular de Ruanda (BPR) e conseguiu comprar uma
vaca graças a um microcrédito. Sua vida melhorou muito depois disso. Ele
foi capaz de sustentar sua família, construir sua própria casa e, mais tarde,
enviar seu filho à universidade. Perguntei-lhe o que mais estava faltando
em sua vida. Ele me disse que não precisava de mais nada e que agora seu
único desejo era que nós continuássemos acreditando nele. Acreditar em
agricultores em países em desenvolvimento foi, é e sempre será a nossa
missão.”
Sua Alteza Real, a Princesa Máxima da Holanda1.
No estudo de caso de Ruanda, discutimos o importante papel das
cooperativas. Certamente, o modelo cooperativo apresenta desafios,
porém acreditamos fortemente que é uma boa opção para reduzir a
pobreza e aumentar a produtividade agrícola. Podemos dizer que há um
terreno comum entre o cooperativismo e a agricultura: ambos são de
planejamento para longo prazo e visam ao fortalecimento comunitário.
Trata-se de plantar uma semente hoje, para colher amanhã, para um
futuro sustentável, autossuficiente para nós, nossos filhos e os filhos
dos outros. O cooperativismo ajuda a desenvolver bons agricultores.
Bons agricultores alimentam o futuro. Bons agricultores têm o futuro
nas mãos.
150
151
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
INSPIRAÇÃO
O livro O Futuro da Agricultura e o Surgimento do Empreendedor Rural
é inspirado nos participantes e apresentadores do Rabobank Global
Farmers Master Class. Nós apreciamos muito o apoio e a contribuição
de todos em fazer desse evento um sucesso e traduzir o resultado
desse sucesso para este livro e também para os filmes de apoio. Um
grande “obrigado” a todos os produtores rurais e apresentadores globais
participantes!
Gostaríamos também de agradecer aos 50 agricultores holandeses que
participaram do programa oferecendo estadia em suas fazendas para os
participantes globais.
AS SEGUINTES PESSOAS REVISARAM A SELEÇÃO DE CAPÍTULOS
PERTINENTES À SUA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO. OBRIGADO POR
TODAS AS SUGESTÕES!
Um número de agricultores e as seguintes pessoas: Julian Cribb,
Neil Dobbin, Carel van der Hamsvoort, Harry Smit, Ruud Huirne, Aalt
Dijkhuizen, Kim Lee, Danny Mekic, Rens Dinkhuijsen, Bruce Dick, Ben
Russell, Thos Gieskes, Rob van Zadelhoff, Peter Knoblanche, Suzanne
Buchwaldt, Hans Loth, Lydia Koopmans, Anke van der Zanden, Hans
Bogaard, Sylvie Lamborelle, Martha van den Berg, Sisca Plinck, Sanne van
Bemmel (estagiário).
E por último, mas não menos importante, gostaria de agradecer Berry
Marttin por seu contínuo apoio na realização deste livro e do evento
Global Farmers Master Class. Sua perspicácia, inspiração e visão sobre o
futuro da agricultura combinados com a sua paixão e raízes agrícolas
foram fundamentais para a realização deste livro e do Global Farmers
Master Class.
Além destes, gostaríamos de fazer um agradecimento especial à Cristina,
Dion, Gerjan, Koos e Ricardo, por compartilharem conosco suas histórias
verdadeiras e inspiradoras de vida, mostrando como a agricultura é,
acima de tudo, sobre pessoas que têm paixão pela atividade agrícola e
fazem a diferença dando o seu melhor.
APRESENTADORES E/OU VISITANTES DO GFMC
Peer Ederer (moderador), Aalt Dijkhuizen, Kim Lee, Joris Baecke, Danny
Mekic, Ruud Huirne, Justin Sherrard, Louise Fresco, Berry Marttin, Emmo
Meijer, Hans Bogaard, Rob Hansen, Paul Naar, Bruce Dick, Hans van der
Loo, Wim Verzijlenberg, David Pendlington, Carel van der Hamsvoort,
Renske Landeweert, Nan-Dirk Mulder, Albert Vernooij, Kevin Bellamy, Dirk
Jan Kennes, Arnoud Leerling, Wim Bastiaanssen, Ad Bastiaansen, Paul
Buisman, Erwin Houtzager, Reinier Smit, Gerard en Jeannet Brandsen,
Johan Verbon, Erwin Bommersom, Hans van der Ster, Bart en Marco
Boon, Dick Hak, Mrs Mbabazi (Embaixada da Ruanda).
Um agradecimento especial também à Universidade de Wageningen,
EFAS, equipe RAG EDP, Rabobank Desenvolvimento de Bancos Parceiros,
Rabobank Internacional, e à rede bancária holandesa pelo acesso à sua
pesquisa abrangente e apoio.
154
PRINCIPAIS AUTORES POR CAPÍTULO
Prefácio
Piet Moerland
Introdução
Edwin van Raalte, Marjan van Riel
Sucessão
Edwin van Raalte, Bart IJntema, Rene Kester (trainee)
Sustentabilidade
Edwin van Raalte, Marjan van Riel, Bart IJntema
Capacitação Social
Edwin van Raalte, Tim Nieman (estagiário), Jacob Dankert
(estagiário), Bart IJntema
Cadeia de Suprimento
Bart IJntema, Marjan van Riel, Edwin van Raalte, Tim Nieman
(estagiário)
Mídia Social
Edwin van Raalte, Camille van de Sande
Soluções
Edwin van Raalte
Estórias Inspiradoras
Edwin van Raalte, Tammie Nolte
155
156
Exceto para cadeia de suprimentos
Bart IJntema, Camille van de Sande, Edwin van Raalte
Ideia, conceito e estrutura
Berry Marttin, Edwin van Raalte
À EQUIPE GLOBAL FARMERS MASTER CLASS
Edwin van Raalte, Bart IJntema, Camille van de Sande, Marinda Verbakel,
Iris Wortel, Marjan van Riel (Wageningen University, EFAS), Peer Ederer
(EFAS moderador), Rene Kester (estagiário) e Jacob Dankert (estagiário)
QR VÍDEOS
Vídeo sobre segurança alimentar
Tim Coomber (www.wordstructure.com), Ashley Roan
(www.page2.com.au), Edwin van Raalte, Camille van de
Sande, Global Farmers Master Class visão geral e entrevistas
Ashley Roan (www.page2.com.au), Edwin van Raalte, Camille
van der Sande.
Obrigado à nossa excelente equipe de suporte para o Global Farmers
Master Class: Marinda Verbakel e Iris Wortel
FOTOGRAFIAS
Agradecimento às seguintes pessoas:
Introdução
Cristina Kress (p. 12) and Bart IJntema (p. 12)
Edwin van Raalte (p. 15)
Sucessão
Cristina Kress (p. 21, 23, 24, 25)
Edwin van Raalte (p. 34)
Sanne van Bemmel (p. 38)
Sustentabilidade
Paul van Oss (c) (p. 41) http://paulvanoss.zenfolio.com
Dion Tuuta (p. 46)
Cristina Kress (p. 53)
Edwin van Raalte (p. 63)
Capacitação Social
Koos van der Merwe (p. 74, 77, 78)
Edwin van Raalte (p. 89)
Cadeia de Suprimentos
Edwin van Raalte (p. 94, 101, 102, 103, 104)
Mídia Social
Paul van Oss (c) (p. 120, 127, 129, 143)
http://paulvanoss.zenfolio.com
Kraay Family Farm, Rachel Kraay (p. 133)
Edwin van Raalte (p. 134)
Maarten Korz (p. 140)
Agradecimentos
Ashley Roan (p. 144)
CONTATO
[email protected]
DIREÇÃO DE ARTE E DESIGN
Obrigado Tim Buckley e Mairead Gleeson da AB Publishing pelo seu
excelente apoio como editora e pelas obras de arte e design. AB, 24-26
Grande Suffolk Street, London SE1 0UE. www.abcomm.co.uk.
DIREITOS AUTORAIS
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, em qualquer
forma, por impressão, foto, microfilme ou qualquer outro meio sem
permissão por escrito.
AVISO LEGAL
A AB Publishing, o Rabobank e os demais autores se isentam da
obrigação de aceitar qualquer responsabilidade por qualquer dano
direto ou consequência que possam advir de qualquer utilização deste
documento, do seu conteúdo ou de outros que tenham conexão com
este. Este livro foi escrito a partir da perspectiva mais ampla do agricultor e
de contribuições combinadas e, por conseguinte, não necessariamente
reflete os pontos de vistas individuais de cada agricultor, organização ou
palestrante envolvido.
157
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
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Disponível em: www.ifpri.org/sites/default/files/publications/bp018.pdf
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SUCESSÃO
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www.agcensus.usda.gov/Publications/2007/Online_Highlights/Fact_Sheets/
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NOTAS DE RODAPÉ:
i. Novos cálculos da FAO baseados em LCA, que deverão ser publicados em 2013,
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CAPACITAÇÃO SOCIAL
1. FAO, 2009, Global Agriculture Towards 2050 [online]. Disponível em:
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agricultural price volatility on sourcing strategies, Rabobank FAR, 46 pp
MÍDIA SOCIAL
1. Cribb, J., 2011, Virtual farm project [online]. Available at:
www.asc.asn.au/blog/2011/11/25/virtual-farm-project/
(Acessado em Novembro de 2012).
2. National Trust, 2012 [online]. Available at:
www.nationaltrust.org.uk/what-we-do/big-issues/food-and-farming/myfarm/
(Acessado em Dezembro de 2012).
3. Target 100, 2012 [online]. Available at: www.target100.com.au
(Acessado em Novembro de 2012).
SOLUÇÕES
1. Sua Alteza Real, a Princesa Máxima da Holanda, no seu discurso de abertura
durante a conferência “Trabalhando juntos para a estabilidade internacional de
alimentos”, realizada em
01 de novembro de 2012, em Haia (The Hague) [online]. Disponível (em holandês) em:
www.koninklijkhuis.nl/nieuws/toespraken/2012/november/toespraak-vanprinsesmaximaop-het-congres-‘samenwerken-aan-internationale-voedselstabiliteit’-ridderzaal-te-denhaag/
E o vídeo: http://foodandcooperatives.com/archives/2038
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FUTURO DA AGRICULTURA
O surgimento do empreendedor agrícola