Faça o - Projeto Morcegos Brasileiros
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CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS EXTERNAS DISTITINTIVAS DE Myotis albescens, M. nigricans, M. simus E M. riparius (CHIROPTERA; VESPERTILIONIDAE) Eliane Cristina Vicente1, 2 Jorge Jim4 Valdir Antonio Taddei (in memorian)1, 3 1 Projeto Chiroptera da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal– UNIDERP 2 Coordenadora do Instituto de Pesquisa do Pantanal (IPPAN) – UNIDERP 3 Programa de Mestrado em meio Ambiente e Desenvolvimento Regional – UNIDERP. Rua Alexandre Herculano, 1400 – CEP 79037-280, Campo Grande, MS Endereço eletrônico: [email protected] 4 Universidade Estadual Paulista – UNESP. Departamento de Zoologia. [email protected] RESUMO A família Vespertilionidae, constituída por aproximadamente 35 gêneros e 318 espécies, é a mais diversificada e também a mais cosmopolita da ordem Chiroptera. Das 75 espécies que ocorrem nas Américas, 19 já foram registradas no Brasil. A sintopia é bastante comum entre as espécies do gênero Myotis. Alem disso, essas espécies apresentam muitas similaridades morfológicas e morfométricas. Deste modo, destacar características distintivas entre os taxa é de fundamental importância para a interpretação de dados biológicos gerais. Neste trabalho foram destacadas características morfológicas externas que permitem a identificação segura, em campo, das espécies de Myotis que ocorrem no Estado de mato Grosso do Sul, Brasil. O ponto de inserção do plagiopatágio nos pés, assim como a coloração da região plantar são características que permitem a distinção segura de M. albescens, M. nigricans, M. simus e M. riparius. Palavras-chave: Chiropterofauna, Conservação, Identificação, Morcego, Sistemática. Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 1 al. (1988), Baud; Menu (1993) e Anderson INTRODUÇÃO (1997). As mais completas destas revisões são Os Vespertilionidae constituem a maior as de La Val (1973) e Anderson (1997) para as família de Chiroptera, incluindo cerca de 35 espécies de Myotis, mas, mesmo neste caso, gêneros e 318 espécies, 75 de ocorrência não foi examinado material brasileiro suficiente conhecida nas Américas e 19 já registradas no para permitir critérios claros de separação das Brasil, distribuídas pelos principais biomas espécies e generalizações sobre a distribuição nacionais, conforme sumarizado por Marinho- geográfica e biologia reprodutiva das mesmas. Filho; algumas As espécies de Myotis demonstraram bastante família complexidade taxonômica e, portanto, de difícil verdadeiramente cosmopolita (MILLER, 1907; diagnóstico. Isto se deve ao fato de que estas ALLEN, 1939), com várias espécies atingindo espécies apresentam estreitas relações de as zonas temperadas mais frias (Koopman, similaridade 1970). O gênero Myotis inclui 97 espécies morfoanatômicos, amplamente distribuídas, das quais, cinco já comportamentais. foram registradas em território brasileiro (M. consideradas as relações de simpatria e albescens, M. nigricans, M. simus, M. riparius, sintopia, comuns, não só em espécies de M. ruber e M. Levis) e, a ocorrência de duas Myotis, mas em muitas outras de Chiroptera em delas (M. keaysi e M. oxyotus), se restringe em geral. Sazima atualizações. (1998), Trata-se com de uma quanto aos caracteres ecológicos Além disso, e devem ser Mediante a grande complexidade do registro marginais de localidades bolivianas processo de identificação das espécies de (NOWAK, 1991). a seleção de Vespertilionidae brasileiros são, em geral, morfológicas externas distintivas fragmentadas e, primordial para o reconhecimento dos taxa em possibilitam análises As informações existentes conseqüentemente, taxonômicas sobre não e Myotis, características torna-se campo. biogeográficas mais detalhadas das espécies. Este trabalho reuniu informações que Os espécimes disponíveis, de modo geral, permitem a distinção de M. albescens, M. foram obtidos em capturas casuais e as nigricans, M. simus e M. riparius com base em informações características morfológicas externas e deverá mostram geográfica é muito que a cobertura descontínua, com agrupamentos de amostras caracterizados, favorecer e viabilizar atividades de pesquisa que exigem a soltura dos exemplares. muitas vezes, por grande heterogeneidade geográfica. As revisões de gêneros são 2 MATERIAL E MÉTODOS pontuais, e incluem pouco material obtido no Brasil. Entre os vários trabalhos de revisão de Foram analisados 66 exemplares de M. ser albescens (38 fêmeas, 28 machos), 425 de M. destacados os de Thomas (1916, 1920), Davis nigricans (277 fêmeas, 148 machos), 18 de M. (1966), La Val (1973), Williams (1978), Baker et simus (cinco fêmeas e 13 machos) e oito gêneros de Vespertilionidae podem Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 fêmeas de M. riparius, totalizando 517 Os espécimes foram comparados à morfologia externa, indivíduos amostrados. O material é constituído quanto por espécimes reunidos e depositados nas craniana, coleções diagnóstico taxonômico. Foram reunidos dados do Museu de Zoologia da visando Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, morfométricos SP de destacar algumas dentária caracteres e de características Chiroptera da externas e cranianas (Antebraço – Ant. e Desenvolvimento do Largura pós-orbitária – Lp). Todas as medidas Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, estão expressas em mm e foram efetuadas Campo Grande, Mato Grosso do Sul. com e do Laboratório Universidade para o de Os espécimes foram coletados com o a utilização aproximação de de paquímetro 0,05mm. Os uso de redes de neblina ("mist nets") armadas morfométricos foram junto estatisticamente, determinando-se aos abrigos explorados pelas diurnos, espécies geralmente “internas”, em com dados analisados as freqüências relativa e absoluta. supostos locais de vôo, de forrageamento e nas proximidades de pequenos lagos geralmente freqüentados por estes animais. Os animais foram transportados para o laboratório em sacos com numeração individual, onde foram anestesiados e mortos em recipiente fechado, contendo algodão embebido com éter. Após a morte a boca dos animais foi mantida aberta por meio da utilização de pedaços de cortiça dispostos de modo a manter afastados os maxilares, permitindo, assim, o exame da dentição, e a facilidade de retirada do crânio. A fixação foi efetuada com o uso de formol a 10% injetado na cavidade geral e na 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Myotis albescens (E. Geoffroy) Vesp. (ertilio) albescens E. Geoffroy, 1809, Annales Mus. Hist. Nat., Paris, vol. 8, pp. 204-205. Myotis nigricans (Schinz) Vesp. (ertilio) nigricans Schinz, Thierreich, vol. 1, pp. 179-180. 1821, Das Myotis simus Thomas Myotis simus Thomas, 1901. Ann. Mag. Nat. Hist., ser. 7, vol. 8, p. 541. Myotis riparius Handley Myotis simus riparius Handley, 1960. Proc. U. S. Nat. Mus. 112: 466-468. Tacarcuna Village, Rio Pucro, Darien, Panamá. Myotis guaycuru Proença, 1943. Ver. Brasileira Biol. 3:313-315. Salobra, Mato Grosso, Brasil. região cervical dos animais. Em seguida, os posição Neste estudo, quatro espécies de Myotis adequada, de modo a facilitar a realização de foram colecionadas de diferentes regiões do medidas Pantanal exemplares foram externas. montados Para a em preservação definitiva os animais são mergulhados em o sul-mato-grossense: Myotis albescens, M. nigricans, M. riparius e M. simus. G.L., em frascos de vidro. Cada Foi registrado ainda que essas quatro espécies exemplar foi devidamente numerado (RG de podem ser observadas em coabitação, em coleção) foram diferentes combinações, envolvendo inclusive anotados no catálogo geral da coleção e em outros gêneros de Vespertilionidae e espécies fichas complementares. Os espécimes que já de outras famílias (Noctilionidae, Molossidae), se encontravam em coleções foram preparados quando basicamente com os mesmos critérios. extremamente favoráveis, como é o caso de álcool 70 e os respectivos dados, as condições ambientais são Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 alguns refúgios estudados no Pantanal de M. riparius, notadamente as fêmeas. Em Miranda, município de Miranda, MS. algumas circunstâncias e dependendo das López-González et al. (2001) fases de desenvolvimento e do sexo registraram cinco espécies deste gênero no (exemplares jovens, juvenis e fêmeas) existem Paraguai e, em acréscimo as coligidas neste maiores dificuldades. trabalho, os autores incluem M. ruber, além de É necessário enfatizar que os padrões considerar M. Levis com grande possibilidade morfométricos valorados, mesmo considerando de ocorrência. Esta consideração se deve ao apenas material amostrado por Baud; Menu (1993) superposição cujos resultados ampliaram o registro de amostrais, principalmente os referentes à Lp e ocorrência de espécies de Myotis no Paraguai Ant., como pode se visto nas figuras 1 e 2. As e países adjacentes. principais características distintivas indivíduos adultos, apresentam interespecíficas dos valores de M. A distinção das espécies de Myotis aqui nigricans e M. albescens, até então utilizadas, estudadas foi feita a partir de características foram os valores morfométricos de Ant. e Lp morfológicas Foram que, conforme mencionado, além de não identificados como indivíduos representantes permitir a total distinção dos táxons é de pouca de M. albescens, os exemplares apresentando utilidade, mediante aos limites de aplicabilidade valores das medidas tomadas da largura pós- em campo. e morfométricas. orbitária (Lp) variando entre 3,8 e 4,2 mm, (Figuras 1 e 2), franja de pêlos bem distinta na borda distal da membrana % Antebraço (Ant) variando entre 33,3 e 37,2 interfemural observada por ampliação estereoscópica e, em acréscimo às informações da 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 3.0 - 3.2 literatura pertinente, mesmo a olho nu, a membrana da asa (lateral ao corpo – plagiopatágio) inserida em posição mediana-distal da região plantar M . albescens 3.3 - 3.5 M . nigricans 3.6 - 3.8 3.9 - 4.2 M . riparius M . simus Figura 1. Freqüência relativa dos indivíduos adultos quanto aos parâmetros morfométricos da largura pósorbitária, uma das principais características distintivas em nível de espécie utilizada até agora. dos pés e pêlos, ligeiramente dourados, bem evidentes na face dorsal dos artelhos dos pés descritas permitem, com boa margem de segurança, a identificação de indivíduos em campo. Muitas das características mencionadas por La Val (1973) podem ser utilizadas na identificação dessas espécies, mas Myotis nigricans apresenta uma extensa variação % (Figuras 3a, 3b e 5). As últimas características 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 29.2 - 31.2 M . albescens 31.3 - 33.2 33.3 - 35.2 M . nigricans 35.3 - 37.2 M . riparius 37.3 - 40.0 M . simus Figura 2. Freqüência relativa dos indivíduos adultos quanto aos parâmetros morfométricos do Antebraço, uma das principais características distintivas em nível de espécie utilizada até agora. geográfica, morfológica e morfométrica, sendo muitas vezes confundida com M. albescens e Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 De forma comparativa o tamanho dos membrana da asa (lateral ao corpo – pés e desenvolvimento de pelos nos mesmos, plagiopatágio) ocorre nos limites da articulação constituem de do artelho com a região plantar dos pés diferenciação entre M. nigricans (pés pequenos (Figuras 4a e 4b) e que a coloração da região com pelos curtos e pouco visíveis) e M. plantar, dos pés de M. nigricans, quando albescens uma boa (pés maiores característica com pelos bem visíveis). Além disso, foi observado neste comparado com M. riparius e M. simus, é mais escura (Figuras 5 e 6a). estudo que, em M. nigricans, a inserção da [a] [b] Figura 3. M. albescens em (A) vista parcial dos membros posteriores onde as setas indicam o ponto médio de inserção do plagiopatágio e os pêlos (melhor vistos na fig. 5) da face dorsal dos artelhos e (B) modelo esquemático que indica (pelas setas) o ponto médio de inserção do Plagiopatágio.Foto: Daniel De Granville / Ilustração: Larissa Figueiredo de Oliveira [b] [a] Figura 4. M. nigricans em (A) vista parcial dos membros posteriores, onde a seta indica o ponto médio de inserção do plagiopatágio na região de articulação dos artelhos com a planta do pé e (B) modelo esquemático que indica (pelas setas) o ponto médio de inserção do Plagiopatágio. Foto: Daniel De Granville / Ilustração: Larissa Figueiredo de Oliveira As características descritas para os pés favorecer ao processo de identificação de permitem, com boa margem de segurança, a filhotes, juvenis e jovens, já que estes não estão identificação dentro de indivíduos em campo e, dos parâmetros morfométricos viabiliza os estudos que incluem a necessidade estabelecidos para indivíduos adultos. M. simus, de manutenção de espécimes vivos, além de assim como outras do gênero Myotis, deve ser Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 considerada de grande valor taxonômico. Isto se indivíduos que apresentem membrana da asa deve ao fato de que muitas das características (plagiopatágio) inserida no tornozelo, valores distintivas, em nível de espécie, apresentam das medidas tomadas do antebraço variando muitas entre 34,8 e 40,2 mm e com padrão de variações entre os táxons que constituem o gênero. Deve ser identificado como M. simus coloração do pêlo em tons de laranja (Figuras 2, 6a e 6b). [1] [3] [2] Figura 5. Pés de três das espécies de Myotis aqui estudadas. 1 = M. nigricans; 2 = M. riparius; 3 = M. albescens. Note a diferença do padrão de pigmentação e tamanho dos pés. Em 3 observe a ocorrência de pêlos, mais longos e visíveis, da face dorsal dos artelhos. Foto: Daniel De Granville [a] [b] Figura 6. Myotis simus em (A) note a coloração em tons de laranja e a membrana lateral (plagiopatágio) inserida na altura do tornozelo (cf. indicado pela seta) e em (B) o modelo esquemático que indica (pelas setas) o ponto médio de inserção do Plagiopatágio em M. simus. Foto: Eliane C. Vicente / Ilustração: Larissa Figueiredo de Oliveira Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 [b] [a] Obs: M. riparius (a) em tom de marrom avermelhado Figura 7. Myotis riparius (A) e M. nigricans (B) em vista geral. Note a diferença na coloração dos pés entre as duas espécies. M. riparius pode apresentar a pelagem com Tons de marrom idênticos a M. nigricans. Foto: (A) Daniel De Granville / (B) Neiva Guedes. Note o ponto de inserção do plagiopatagio indicado pela seta. Este espécime foi fotografado vivo e a região plantar do pé apresenta coloração avermelhada devido a vascularização que é visível por transparência da pele. Quando fixado o animal, esta estrutura apresenta-se esbranquiçada (clara). Figura 8. Vista geral do pé de M. riparius. Descrição de detalhes na legenda lateral. Foto: Daniel De Granville. Quanto a Myotis riparius pode-se dizer apresentam membrana da asa (plagiopatágio) que é um taxa pouco comum e, portanto muito inserida na região articular do artelho com o valiosa em coleções científicas. Isto se deve à metatarso (Figuras 7a e 8), pés com coloração grande similaridade, quanto à aparência, com clara ou, quando vivo, avermelhada (Figura 8), M. nigricans (Figura 7a e 7b) e às relações de valores das medidas tomadas do antebraço simpatria e sintopia entre as espécies que variando entre 34 e 36mm, Lp entre 3,2 e constituem 3,6mm (Figuras 1 e 2) e com padrão de o gênero. Os indivíduos que Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 coloração do pêlo em tons de marrom escuro a No quadro 1 são apresentadas as marrom avermelhado é, aqui, considerado M. características distintivas, aqui destacadas e riparius (Figura 7a). utilizadas, das espécies de Myotis ora Basicamente, utilizando características estudadas. Tais características são de total já mencionadas por LaVal (1973), Myers; aplicabilidade tanto em campo como em Wetzel (1983) e Anderson (1997) e, somando material de coleções. As características que as características destacadas e utilizadas, permitem durante o desenvolvimento deste trabalho, foi (características morfológicas externas) estão possível a elaboração de uma chave artificial em destaque (Negrito). a identificação em campo de identificação para as espécies de Myotis aqui estudadas (Quadro 1). Quadro 1: Chave artificial de Identificação de espécies de Myotis que ocorrem no Estado de Mato Grosso do Sul. 1. Membrana da asa (plagiopatágio) inserida no tornozelo; antebraço maior (Ant: 34,8 – 40,2); coloração geral alaranjada Myotis simus Membrana da asa (plagiopatágio) inserida na base do dedo do pé (artelho) ou um pouco mais deslocado em relação à região mediana da planta do pé; Antebraço geralmente menor que 36,0; coloração geral marrom, às vezes marrom avermelhado ou ferrugíneo 02 2. Crista sagital geralmente não desenvolvida; largura pós-orbitária geralmente maior que 3.6; pés com a região plantar mais escura 03 Crista sagital geralmente desenvolvida; largura pós-orbitária geralmente menor que 3,6; plagiopatágio inserido na base do dedo do pé (artelho); pelos dos pés pouco desenvolvidos e pouco visíveis a olho nu; pés com a região plantar mais clara (Figura 7) 3. Borda distal da membrana interfemural sem franja de pelos, mesmo quando observada com ampliação; largura pós-orbitária geralmente menor que 3,8; plagiopatágio inserido na base do dedo do pé (artelho); dedos dos pé providos de pelos curtos e pouco visíveis (Figura 4) Borda distal da membrana interfemural com franja de pelos bem distinta quando observada com ampliação; largura pós-orbitária geralmente maior que 3,8 (3.8 – 4,2); plagiopatágio inserido abaixo da base do dedo do pé (artelho), ligeiramente deslocado em direção à região mediana plantar; dedos dos pé providos de pelos longos e bem visíveis, sobretudo por ampliação (Figura 5) Myotis riparius Myotis nigricans Myotis albescens As políticas de manejo de quirópteros, espécies. Os resultados, aqui discutidos, não muitas vezes, incluem estratégias de controle só fornecem importantes subsídios para a populacional frente às importantes implicações aplicabilidade das informações taxonômicas em médico-sanitárias (TADDEI, 1999). A aplicação campo. de tais políticas é fundamentada em informações referentes à biologia básica das Muitas vezes as características utilizadas como distintivas, entre espécies Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 cogenéricas, demonstram, quanto a sua espécies de duas famílias, entre elas Histiotus Estes dados mostram que a utilização, reservas e se isolam nos limites das velatus. coleções científicas. Isto se deve ao fato de que antropização os valores morfométricos mais precisos e simplificação na estrutura das taxocenoses de estabelecidos como funcionais para o processo morcegos (AGUIAR, 1994; PEDRO et al., de 1995). identificação, são, em sua maioria, referentes a estruturas cranianas. Deste modo, dos habitats gera uma De modo geral estudos que visam à a utilização destes parâmetros só é possível obtenção por meio do sacrifício do espécime e estudos reprodução, exploração de refúgios, assim que envolvem a soltura de animais acabam como quaisquer outros aspectos da biologia permeados de pouca fidelidade taxonômica. animal, só serão, de fato, reconhecidos e Implicações desta ordem permearam por muito validados, tempo e foram sistemático seguro. O levantamento de dados tratadas por Taddei; Vicente-Tranjan (1998), precisos e específicos é possível apenas a Vicente (2000) e Vicente et al. (2005). Estas partir da diferenciação taxonômica correta. Isto publicações aqui se deve ao fato de que muitas espécies discutidos e defendidos, de utilização de apresentam estreitas relações de similaridade características morfológicas destacadas como quanto principal meio de identificação em campo. Tais ecológicos e comportamentais. Além disso, características, muitas vezes são referentes a devem morfologia dentária, como é o caso de distinção simpatria e sintopia, comuns, não só em entre P. lineatus, P. helleri e P. recifinus. espécies de Myotis, mas em muitas outras, Contudo, para maior segurança e precisão do sobretudo, de Chiroptera. espécies de Platyrrhinus seguem os critérios, trabalho de reconhecimento e identificação, os critérios morfométricos de características externas são imprescindíveis. de informações frente aos ser a relacionadas um caracteres consideradas à embasamento morfoanatômicos, as relações de Seguindo as características distintivas sugeridas por LaVal (1973), Myers; Wetzel (1983), Anderson (1997) e López-González et Com atividades desenvolvidas em uma al. (2001) que de fato somam as melhores área mais ampla do Cerrado brasileiro foram referências registradas 80 espécies distribuídas por 42 identificação destas espécies em campo é, em gêneros e entre estas 11 de Vespertilionidae muitos casos, impraticável, já que se baseiam (MARINHO-FILHO, 1996). Neste estudo foram principalmente em diferenciação morfométrica obtidos exemplares de três espécies de Myotis cujos (M. albescens, M. nigricans e M. riparius), que, superposição e variação geográfica (LOPEZ- com exceção de M. simus, constituem as GONZALEZ, 2001). Não obstante quando mesmas aqui estudadas. A estrutura de uma acrescidas características de fácil observação taxocenose à externa, como as dos pés, que foram sugeridas fragmentação de hábitat em São Paulo, foi neste trabalho, o processo de identificação estudada por Pedro et al. (1995). Foram torna-se bastante seguro e, de certo modo, de capturados 117 exemplares pertencentes à seis simples execução. A garantia do quão precisa de morcegos, frente taxonômicas valores apresentam para Myotis, alto índice a de Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 são estas informações está, obviamente, no for safe field identification of Myotis species occurring in the state of Mato Grosso do Sul, Brazil. The point of número de indivíduos ora examinados. insertion of the plagiopatagium as well as the color of the plantar region are characteristics which allow for secure 4 distinction between M. albescens, M. nigricans, M. simus CONCLUSÃO and M. riparius. Este estudo permite afirmar que a partir da análise morfológica é possível solucionar problemas quanto à identificação de Myotis albescens, M. nigricans, M. simus e M. riparius. Entretanto foi necessário reunir um número considerável de informações morfométricas externas e cranianas. Em reserva, é prudente considerar a necessidade de coleção de maior número de exemplares de M. riparius e outras espécies do gênero. Não obstante, foi possível demonstrar que a expressão morfológica existe mesmo em espécies muito similares. Os dados morfométricos não constituem um meio restrito, objetivo e eficaz para a identificação segura das espécies de Myotis. Todavia a morfometria constitui um importante subsídio da taxonomia numérica, seja em qual grupo for considerada. EXTERNAL DISTINCTIVE MORPHOLOGIC CHARACTERISTICS OF Myotis albescens, M. nigricans, M. simus E M. riparius (CHIROPTERA; VESPERTILIONIDAE) ABSTRATC The family Vespertilionidae is composed of about 35 genus and 318 species and is considered one of the most diversified and cosmopolitan order of Chiroptera. Of the 75 species which occurs in the American Continent, 19 were already registered for Brazil. Syntopy is a quite commom feature among species of Myotis. Also, the species show various morphometric and morphological similarities. Therefore, it is important to define distinct characteristics among the taxa in order to provide sound interpretation to general biological data. In this paper, Keywords: Chiropterofauna, Identification, Bat, Sistematics. Conservation, REFERÊNCIAS AGUIAR, L. M. S. Comunidades de Chiroptera em três áreas da Mata Atlântica em diferentes estádios de sucessão – Estação Ecológica de Caratinga, Minas Gerais. M. Sc. Thesis, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, M.G. 1994. ALLEN, G.M. Bats. Cambridge, Masschusetts: Harvard Univ. Press. 1939, 368 p. ANDERSON, S. Mammals of Bolivia. Taxonomy and distribution. Bull. Amer. Mus. Nat. Hist., [S.I.], v. 231, p. 1-652, 785, 1997. BAKER, R. J., PATTON, J. C., GENOWAYS, H.H. & BICKHAM, J.W. Genic studies of Lasiurus (Chiroptera: Vespertilionidae). Occas. Pap., Mus. Texas Tech Univ., v.117, p. 1-15, 1988. BAUD, F. J.; MENU, H. Paraguayan bats of the genus Myotis, with a redefinition of M. simus (Thomas, 1901). Rev. 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AGRADECIMENTOS Agradeço a Fundação Manoel de Barros (FMB), a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), FUNDECT, Capes e CNPq pelo apoio financeiro. A Neiva Guedes e ao Prof. Dr. Erich Fischer (UFMS) e equipe pelo apoio e testes realizados com a chave artificial proposta neste trabalho. Aos Profs. Drs. Cleber Alho, Silvio Fávero, Reginaldo Donatelli, Wagner André Pedro e Rosemary Matias pela leitura cuidadosa (e valiosas contribuições) de meu trabalho de doutorado, do qual foi extraído este artigo. A Eveline Guedes, Larissa F. Oliveira, Marilize Duarte, e Luciene Andrade pelo auxilio na organização dos dados. Em especial ao Prof. Dr. Valdir Taddei, pela orientação, apoio, companheirismo e incentivo sempre prestados. Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005