CONGRESSO INTERNO “ATUALIZANDO RUMOS”

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CONGRESSO INTERNO “ATUALIZANDO RUMOS”
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CONGRESSO INTERNO “ATUALIZANDO RUMOS”
Relatora: Raquel Andreucci Pereira Gomes
No dia 20/06/2010 houve a continuação da apresentação dos trabalhos no Congresso Interno:
“Atualizando Rumos” . O tema sugerido foi : “Currículo, Formação Continuada e Avaliação”.
A mesa era composta por dois coordenadores, João França e Magda G.Khouri, que deram início à
apresentação dos trabalhos de Cibele M. B. Brandão e Homero Vettorazzo Filho. Para facilitar a
leitura, foram constados nos relatos os resumos dos dois trabalhos.
Cibele Brandão iniciou a apresentação do seu trabalho “Questão de Formação e Questão de
Projeção”, e em seguida, realizou uma projeção de gráficos a respeito dos seminários que se
formaram nos últimos três semestres, como mais um estímulo para reflexões.
(Resumo da autora)
“Considerando a metáfora de um estilingue puxado para trás, ganhando força propulsora, podemos
pensar que o enquadramento de processo analítico inclui a possibilidade potencial de retomar
pontos que em alguma época ficaram prejudicados no desenvolvimento. Voltar ao ponto critico da
gênese dos conflitos traz a possibilidade de reconsiderar no plano analítico os elementos que os
determinam e pode-se a partir de então adotar uma outra solução. Isso acontece quando há
introjeção de um modelo forte e gradualmente construído na formação. È preciso que haja ponto de
estabilidade e invariância que ofereçam a possibilidade de retorno e novas elaborações, sustentado
por um conhecimento que traz criatividade.
Essas colocações talvez possam contemplar o que vem sendo requerido da atual formação de um
Psicanalista, ou seja, a possibilidade de reflexão entre a demanda da formação e suas vicissitudes, e
a adaptação necessária a novos fatores para o estabelecimento do trabalho psicanalítico na clinica
atual ”.
Em relação à projeção de gráficos, foram demonstrados os seminários formados durante os dois
semestres de 2009 e o primeiro semestre de 2010. Foram realizadas análises comparativas quanto às
escolhas de seminários obrigatórios e eletivos durante esses três semestres.
Posteriormente, compreendendo o mesmo período, Cibele nos mostrou no seu estudo, como
ocorreram as modificações dessas escolhas em cada um dos seminários (obrigatórios e eletivos).
Por exemplo, nos seminários obrigatórios, analisando as mudanças referentes aos cursos de Freud,
Klein, Bion, técnica e seminários clínicos; e nos seminários eletivos, as mudanças nas escolhas de
Freud, Bion, Klein e os demais cursos.
Seguiu-se à apresentação do trabalho “Pensando a fundamentação conceitual do currículo e da
avaliação no processo de formação psicanalítica”, de Homero Vettorazzo Filho.
(Resumo do autor)
A função do Currículo no processo de Formação psicanalítica é pensada levando-se em
consideração princípios conceituais que a fundamentam.
Parto da proposta de Sonia Azambuja de que: “pensar em formação em psicanálise é pensar,
primeiramente, na formação de subjetividade”.
Considerando a tradição como “prática que incessantemente vai escavando, maturando, violando,
descartando, e reinscrevendo o passado”, portanto não como mera transmissão das teorias
psicanalíticas clássicas, enfatizo como função do Currículo: a de um ensino da teoria que possibilite
ao membro filiado “escavar, maturar, violar, descartar e reinscrever as teorias” que está estudando
ao mesmo tempo em que se reinscreve como analista a partir de suas próprias teorizações. Os
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membros em formação, portanto, “devem ser instigados a questionarem e desenvolverem sua
própria capacidade de teorização a partir de sua clinica, para descobrirem como se criam teorias;
o melhor instrutor só pode ser a própria experiência de teorização”.
Um Currículo, com tal prática, tem os módulos eletivos como estímulo à autonomia do membro
em formação na constituição do próprio percurso através de temáticas ou de autores que
estejam abrindo frentes de interesse em suas próprias teorizações. Ressalto ainda que o objetivo
deste ideário com um campo pluralista de autores e temáticas “não é modelar um certo tipo de
analista, mas o de criar, em um ambiente da maior liberdade, um pensador aberto ao
multifacetado na psicanálise”.
Por outro lado, mas no mesmo contexto, o Currículo, dentro do tripé clássico da formação analítica
faz parte do contexto público no contraponto com a Análise de formação e Supervisão individual
que se constituem no plano do privado. Nestas circunstâncias, um Currículo que tem a ênfase de
seus fundamentos no desenvolvimento da capacidade teorizante e, portanto na autonomia de seus
membros em formação, pode exercer seu caráter interpretante das transferências privadas –
uma vez que constitui na interface pública da Instituição. Condição importantíssima discutida por
Marcio Giovannetti pela sua função desmobilzadora de cristalizações transferenciais não-resolvidas
que contaminam o ambiente Institucional, quarto-pé da Formação.
Para pensar a questão das Avaliações considerei dois posicionamentos diferentes da Instituição no
que diz respeito ao processo de Formação. Se a Formação for concebida tendo sua ressonância
maior com a “formatação do tipo de analista que queremos formar”, o papel do controle
Institucional ganha ênfase. Se a Formação for concebida dentro do propósito “do analista que
queremos evocar”, a ênfase vai recair sobre o ambiente Institucional e na autonomia do
membro em Formação em relação ao seu percurso. Faço menção, ainda neste contexto, à
instigante diferenciação feita por Luís Carlos Junqueira, durante o Congresso, entre as posturas “de
transfusão e de infusão” que podem ser adotadas na supervisão.
Ressalto a importância em uma Sociedade pluralista a necessidade de se desenvolver a capacidade
de tolerância e continência às diferenças, condição na qual a flexibilidade ganha, a meu ver, o
caráter de ideário.
Encerro propondo que: o cuidado para que a flexibilização não incorra em arbitrariedades, no
ambiente institucional, exige que alterações ou novas proposições que impliquem em mudanças
no tripé do processo de formação – visto não terem o caráter burocrático –devem ser
cuidadosamente pensadas em sua fundamentação conceitual e explicitadas no que diz respeito
ao novo ideário de formação proposto, para serem discutidas e votadas em assembléia
societária.
Encerrada a última apresentação, Magda salientou a importância dos quatro trabalhos do Congresso
(trabalhos de: Marcio Giovanetti, Paulo Duarte, Cibele Brandão e Homero Vettorazzo), destacando
os seguintes pontos importantes: “transmissão”, “formação”, “tradição”.
Posteriormente, João França finalizou o trabalho da mesa, propondo que a discussão fosse realizada
diretamente na plenária e não nos grupos, antes da mesma. Plínio sugeriu que se fizesse uma
votação de todos os participantes presentes. E o resultado foi que a discussão se desse diretamente
na plenária. (Foram 47 pessoas a favor da discussão direta na plenária contra 17 pessoas a favor da
discussão prévia nos grupos).
PLENÁRIA
Coordenadores da mesa: Plínio Montagna , João França e Alfredo Collucci.
Plínio iniciou a discussão da plenária chamando os inscritos para se manifestarem:
1)Ana Maria Stucchi Vannucchi
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Ana destacou dois pontos importantes:
a)
a importância do clima institucional trazido por Homero, na qual estava de acordo;
b)
a idéia do “estilingue”, trazida no trabalho de Cibele, de que a tensão é necessária para que
lance a pedra mais longe possível. Ana acrescentou dizendo que a tensão fazia parte do ambiente,
prosseguindo seu comentário dizendo que na discussão de grupos grandes, a dificuldade de
conversar aumentava, pois podiam surgir desconfianças, acusações mútuas, facções; ou seja,
situações que não nos ajudariam no clima institucional a lidar com as diferenças.
Ana prosseguiu seus comentários dizendo que a avaliação de membro efetivo e as várias
experiências clínicas, têm lhe demonstrado a idéia de que para haver um bom clima institucional,
deveria manter a conversa em pequenos grupos. Ana disse também ter sido um equívoco à votação
na reunião do dia anterior, pois não ajudou a conversa transparente como estava fazendo naquele
momento.
2) Homero Vettorazzo Filho
Homero questionou o comentário de Ana, dizendo que as divergências que ocorrem em um
ambiente institucional transpassam nele próprio; e que talvez, estas estavam criando resistências de
trazê-la na reunião.
3) Julio Hirschhorn Gheller
Julio trouxe uma idéia do texto de Homero ao pinçar a seguinte frase do seu trabalho: “rigor não é
controle”. Iniciou sua fala ao comentar que João França pensa não ser desejável a demora na
realização dos relatórios. Julio não concordou com essa posição, pois partindo da sua experiência
pessoal, cada um devia escolher seu percurso na sociedade. Atualmente, segundo Julio, ainda há
colegas seus que são membros filiados e que faziam importantes contribuições para a sociedade.
Julio Gheller disse que não cabe no espírito analítico cobrar, ser rigoroso ou controlador, para fazer
o relatório num prazo fixo. Pois cada pessoa deve ter um ritmo ou interesse em como se deve fazer
a sua formação.
4) Cícero José Campos Brasiliano
Cícero mencionou que nos gráficos apresentados pela Cibele, havia nos cursos eletivos uma
quantidade muito grande denominada como “outros cursos”. Cícero questionou a necessidade de se
ter tantos “outros” cursos, pois isso não atenderia às demandas solicitadas da clínica.
Plínio esclareceu que “outros” seria tudo que não se referisse a Freud, Klein e Bion; como o curso
“Observação de Bebê”, “Aquisição de Símbolos”, “Winnicott”, “Ogden”, “Meltzer”. Todos esses
“outros” cursos, segundo Plínio, são essencialmente ligados à psicanálise e não “outros” culturais,
contestando, pois a posição de Cícero.
5) Elias Mallet da Rocha Barros
Elias questionou o tema do congresso “atualizar”, pois o que considera mais importante não é
“atualizar”, comparando nossa sociedade com as outras; e sim, aprofundar o que acontece com a
nossa sociedade. Finalizou esse primeiro comentário ao dizer que concorda com o termo “infusão”
citado por Junqueira na reunião anterior e que se não aprofundarmos nas eventuais e possíveis
discordâncias, ficaríamos no genérico.
Para Elias, deveríamos nos preocupar com uma questão metodológica em como estariam sendo
dados os cursos eletivos. Não é mais importante, segundo ele, a quantidade ou as respostas que
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temos ao aprendermos as teorias; e sim, a problemática que elas criam. Defendeu, portanto, a idéia
que se deve ensinar Freud, Bion, Klein de uma forma cercada de problematizações.
Discordou com o gráfico de Cibele ao nomear os cursos como Freud/ Bion/ outros. Pois segundo
Elias, Freud não corresponderia a mais uma voz; e sim, um criador de uma problemática.
Mencionou também sobre a pluralidade das sociedades ao dizer que nossa sociedade era também
pluralista – e que todas eram, de alguma forma. E colocou que o esteio que nos mantém nessa
pluralidade é o currículo optativo.
Sugeriu também a idéia que deveria substituir o primeiro relatório descritivo do caso clínico por
uma discussão clínica com quatro ou cinco membros da sociedade, sem o objetivo de dar nota; mas
que permitisse ao membro filiado saber como ele está no trabalho clínico. Citou que isso já é feito
no curso de crianças. Defendeu, porém, que no segundo relatório, deveria ser avaliada a capacidade
de teorização do membro filiado.
Elias propôs a idéia de supervisão coletiva, a qual foi introduzida na sociedade francesa. Ela
consiste na formação de um grupo de três ou quatro pessoas, seguidas por um supervisor, sendo que
cada um desse grupo tenha a responsabilidade de trazer um caso prolongado por pelo menos dois
anos de análise. O número de pessoas permitiria uma maior interlocução de conversas clínicas e
discussões de diversas abordagens teóricas, incluindo um processo de maturação no próprio grupo.
Elias também colocou que plebiscito não seria um bom conceito de avaliação. E que plebiscito e
democracia não eram sinônimos. Sugeriu, então, que deveríamos pensar institucionalmente, o
conceito de representação na sociedade.
Em relação ao tema controle x controvérsia e espaço crítico, Elias sugeriu dois ou três sistemas de
formação para que depois avaliássemos os resultados, desde que fossem justificados
metapsicologicamente. (Deu o exemplo da idéia de serem três ou quatro sessões semanais de
análise e que a escolha seja feita desde que tenha uma estrutura que acompanhe a proposta).
Para finalizar, relembrou o trabalho de Carmem Mion que nos fala sobre um método de se pensar a
instituição. Elias enfatizou a importância de considerar a “atualização” como algo que possibilitasse
a reformulação do clima institucional, num exercício crítico, com um aprofundamento de idéias.
6) Ligia Todescan Lessa Mattos
Ligia validou as propostas do Elias para a Comissão Científica, juntamente com a Diretoria do
Instituto, para uma eventual modificação do regulamento.
Iniciou seus comentários fazendo um breve histórico sobre o motivo do tema desse congresso.
Contou que desde o início da atual Diretoria do Instituto e da Comissão de Ensino, havia a idéia de
fazer uma jornada de formação, para se pensar como ela estava sendo feita, junto com o corpo
societário. Isto, segundo Lígia, uniu-se posteriormente ao interesse da Diretoria da Sociedade, de se
fazer um exame mais amplo da formação, o qual deu o nome, inclusive, ao congresso, de
“Atualizando Rumos”.
Ligia considerou ser difícil ter um clima institucional quando os membros não levam em conta os
fóruns adequados de manifestação. Disse que tem 18 pessoas na Comissão de Ensino e que esta é,
sim, representativa (pois são votados pelo corpo societário); e além disso, comentou que há a
reunião de docentes e a Diretoria do Instituto, para se discutir a organização do currículo. Pensou
também ser complicado fazer uma assembléia para modificar cada coisa, pois já existe um fórum
para isso; e que esse é o canal adequado institucional, para que essas discussões sejam feitas.
Outro ponto colocado é a necessidade de se fazer uma pesquisa no trabalho da Cibele para saber
quais são “outros” cursos eletivos, para não ter confusão de que sejam “outros culturais”.
Falou que os docentes deveriam se dispor a vir nas reuniões para se pensar a forma como os cursos
estão sendo dados, pensando também nos objetivos e problematizações que os mesmos propõe.
Ligia acrescentou que a Diretoria do Instituto fez várias reuniões e que pouquíssimos
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compareceram. Criticou que muitos docentes não funcionam nos caminhos da instituição e sim, de
uma forma narcísica.
6) Paulo Duarte Guimarães Filho
Paulo Duarte propôs a idéia de se criar um “Fórum Permanente de Novas Iniciativas Curriculares” e
propôs também que pudéssemos criar institucionalmente “colegiados”, com diferentes grupos de
opiniões que se encontrassem para desenvolver melhores instrumentos teórico-clínicos.
Disse que seria preciso desenvolver formas institucionais para lidar com embates grupais,
juntamente com formas cooperativas, para ver quais questões estariam surgindo entre os grupos,
nos grupos, na psicanálise, e quais seriam as prioridades a serem pensadas.
Propôs que a comissão organizadora deva dar continuidade ao tentar levar essa sugestão adiante.
7) Elizabeth Lima da Rocha Barros
Beth iniciou sua fala comentando a entrevista que Beth Joseph deu para a Revista Id em que ela
disse que tinham pessoas que nasciam analistas (citando Hanna Segal) e outras que se tornavam
analistas com árduo trabalho (referindo-se a ela mesma, Beth Joseph). Acrescentou que seria,
portanto, responsabilidade do instituto cuidar desses dois tipos de pessoas.
Beth observou que durante a época em que fazia entrevistas na Comissão de Ensino, o Instituto
tinha uma estrutura muito boa para lidar com as pessoas que estavam tendo dificuldades na
formação. Porém deparou-se com pessoas que estavam há anos no Instituto e que não tinham a
menor idéia do que era um processo psicanalítico. Isso a fez questionar aonde estaria a falha no
Instituto, pois sentiu o ônus da responsabilidade do Instituto de não ter ajudado essas pessoas com
feedback a se formarem melhor.
Beth propôs criar uma “comissão de feedback” que pudesse ajudar os membros filiados a pensarem
em como estava se dando a escuta psicanalítica deles no processo de aprendizagem. Para Beth,
seria interessante colocar essa idéia como fazendo parte de um primeiro relatório, substituindo o
que está proposto atualmente, pois, segundo ela, a conversa ao vivo seria um espaço
público/privado, onde haveria uma modificação.
Considerou que o Instituto tem uma responsabilidade psicanalítica de confrontar a pessoa com
aquilo que está sendo difícil para ela se desenvolver, para poder, como por exemplo, ajudá-la a
mudar de análise, ou de supervisor, ou fazer qualquer outra mudança necessária, em que ela sinta
que é melhor para sua formação. Disse que teve essa experiência nos cursos de formação com
crianças e que ajudou muitas pessoas a repensarem seu próprio percurso, redundando em mudanças
e progressos na formação pessoal.
Finalizando, Beth propôs que se tenha uma comissão que auxilie e faça a experiência de fazermos
alguns cursos a mais com o propósito de ajudar os membros filiados a repensarem sua formação.