Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives
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Volume 6n. 1 – Jan/Abr 2014 ISSN 2175‐2338 www.fatesa.edu.br Expediente ISSN 2175-2338 Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives - EURP Publicação oficial FATESA - EURP Faculdade de Tecnologia em Saúde Diretor Administrativo Diretor Científico Francisco Mauad Neto Wellington de Paula Martins Presidente do Departamento Científico Diretor de Pesquisa Fernando Marum Mauad Fernando Marum Mauad Bibliotecária Secretária Geral Adileuza Cordeiro Souza Almeida Janete Cristina Parreira de Freitas Diretor Responsável pelo Setor Gráfico Presidente Michel da Silva Francisco Mauad Filho Professores Adilson Cunha Ferreira Fernando Marum Mauad Francisco Mauad Filho Jorge Garcia Procópio de Freitas Carlos César Montesino Nogueira Gerson Claudio Crott Jorge Rene Garcia Arevalo José Augusto Sisson de Castro José Eduardo Chúfalo João Francisco Jordão Luís Guilherme Carvalho Nicolau Simone Helena Caixe Wellington de Paula Martins EURP Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Editor Científico Francisco Mauad Filho Editor Executivo Francisco Mauad Filho Conselho Editorial Adilson Cunha Ferreira Jorge Rene Garcia Arevalo Carlos César Montesino Nogueira José Eduardo Chúfalo Carolina Oliveira Nastri Luis Guilherme Nicolau Fernando Marum Mauad Procópio de Freitas Gerson Cláudio Crott Simone Helena Caixe João Francisco Jordão Secretária Executiva Adileuza Cordeiro Souza Almeida Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014 SUMÁRIO EURP v. 6, n. 1, p 01-39 ISSN 2175-2338 Jan/Abr 2014 Síndrome dos ovários policísticos: ultrassonografia Doppler 01 Polycystic ovary syndrome: Doppler ultrasound Marcelo Barra de Castro Uso do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimestre da gestação como teste de rastreamento da pré-eclâmpsia 08 Use of uterine artery Doppler in the first trimester of pregnancy as screening test for preeclampsia Talita Andrea Junta Campos Contribuição do Doppler para o diagnóstico de patologias endometriais e de cavidade uterina 12 The contribution of Doppler in the diagnosis of endometrial and uterine cavity pathologies Victor Paranaiba Campos Aneurisma de artéria esplênica, uma revisão da literatura e critérios ecográficos 17 Splenic artery aneurysm, a literature review and ultrasound criteria Eduardo Átila Soares , Francisco Roberto Oliveira Cavalcante Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014 21 Uso do ultrassom para aumento da qualidade e segurança no acesso venoso central Use of ultrasound for increased quality and safety in central venous access Francisco Juarez Filho Diagnóstico ultrassonográfico de urolitíase: a importância do uso do Doppler 25 Urolithiasis sonographic diagnosis: the importance of using Doppler Ariádny Rodrigues Nunes Avaliação por imagem do colangiocarcinoma 29 Imaging of cholangiocarcinoma Fábio de Sousa Lessa, Francisco Roberto Oliveira Cavalcante Ultrassonografia na estenose aórtica 36 Ultrasonography in aortic stenosis Sérgio Vinícius Perez Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014 Artigo de Revisão Síndrome dos ovários policísticos: ultrassonografia Doppler Polycystic ovary syndrome: Doppler ultrasound Marcelo Barra de Castro 1 Resumo A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma patologia endócrina complexa, que afeta mulheres em idade fértil. O diagnóstico da SOP baseia-se na história clínica e em exames laboratoriais, sendo um diagnóstico de exclusão. O estudo ecográfico possui critérios definidos, porém considerados inespecíficos, tornando o método ainda controverso como ferramenta diagnóstica definitiva, embora amplamente utilizado. Com o advento do Doppler colorido, novas fronteiras de possibilidade diagnósticas se abriram. Assim, diversos estudos vêm buscando definir novos critérios diagnósticos na SOP, utilizando os parâmetros da dopplerfluxometria. Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura, analisar os critérios ecográficos estabelecidos, bem como avaliar as novas concepções e parâmetros encontrados nos mais recentes estudos sobre utilização da dopplerfluxometria na avaliação diagnóstica da síndrome dos ovários policísticos. Palavras-chave: Síndrome dos Ovários Policísticos; Ultrassonografia; Doppler. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 16/07/2013, aceito para publicação em 10/03/2014. Correspondências: Marcelo Barra de Castro Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Abstract The polycystic ovary syndrome (PCOS) is a complex endocrine disorder that affects many women of reproductive age. The diagnosis of PCOS is based on clinical history and laboratory tests, and it is a diagnosis of exclusion. The echographic study has defined criteria, considered nonspecific, making the method controversial as adefinitive diagnostic tool, although widely used. With the advent of color Doppler, new diagnostic possibilities were opened. Thus, several studies have been searching to define new diagnostic criteria of SOP, using the Doppler parameters. This paper aims to review the literature, analyzing the established ultrasound criteria, as well as evaluating new concepts and parameters found in the most recent studies on the use of Doppler ultrasound in the diagnosis of polycystic ovary syndrome. . Keywords: Polycystic Ovary Syndrome; Ultrasound; Doppler. EURP 2014; 6(1): 01-07 2 Castro – Ultrassonografia Doppler na SOP Introdução A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um dos distúrbios endócrinos mais comuns que atingem o sexo feminino. SOP é um distúrbio complexo e heterogêneo de etiologia desconhecida e que atinge aproximadamente 5% a 10% das mulheres em idade fértil (GOLDEBNBERG et al, 2008). É considerada uma das principais causas de infertilidade feminina e o problema endócrino mais frequente em mulheres em idade fértil (BOOMSMA et al, 2008). As características principais são anovulação, resultando em amenorréia ou menstruação irregular, anovulação relacionada com a infertilidade, e ovários policísticos; quantidades excessivas ou efeitos de hormônios androgênicos, resultando em acne e hirsutismo e resistência à insulina, muitas vezes associada com o tipo de obesidade, diabetes tipo 2 e níveis elevados de colesterol (AZZIZ et al, 2004). Os sintomas e gravidade da síndrome variam muito entre as mulheres afetadas (JUNQUEIRA et al, 2002). Nos últimos anos a ecografia bidimensional foi utilizada como um dos critérios diagnósticos da SOP, o que veio a ser questionado, principalmente pelo fato de que a presença de ovários polimicrocísticos, sinal mais evidente da síndrome ao exame ecográfico, é um dado inespecífico, pois cerca de 25% das pacientes com este achado não desenvolvem a SOP (RICHARD et al, 2011). Os estudos atuais vêm sendo feitos a fim de se tentar demonstrar que a dopplerfluxometria pode se tornar uma importante ferramenta no auxílio diagnóstico da SOP, juntamente com os dados da ecografia bidimensional, podendo ser utilizada como ferramenta adicional ao diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos (ÁVILA et al, 2001). Etiologia A SOP é um distúrbio complexo e heterogêneo cuja etiologia ainda é desconhecida. Suspeita-se que tanto genes quanto o ambiente contribuam para a SOP, sendo a obesidade um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento da síndrome (CROSIGNANI et al, 2001). Existe uma forte evidência de que haja um componente genético. Esta evidência inclui a Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives agregação familiar de casos, maior concordância em gêmeos monozigóticos em comparação com gêmeos dizigóticos e herança de características endócrinas e metabólicas da SOP (AZZIZ et al, 2004). O componente genético parece ser herdado de forma autossômica dominante, com alta penetrância genética, mas expressividade variável em mulheres, o que significa que cada criança tem uma chance de 50% de herdar a variante de predisposição genética de um dos pais, e se uma filha recebe a variante, então a filha terá a doença, em certa medida. O alelo manifesta-se, pelo menos parcialmente, através dos elevados níveis de androgênio secretado pelas células da teca do ovário de mulheres com o alelo. O gene exato afetado ainda não foi identificado (CROSIGNANI et al, 2001). Fisiopatologia A SOP ocorre quando os ovários são estimulados a produzir quantidades excessivas de hormônios masculinos (andrógenos), especialmente de testosterona, por qualquer uma das seguintes combinações (quase certamente combinado com susceptibilidade genética) (BONILLA-MUSSOLES et al, 2004): • liberação excessiva de hormônio luteinizante (LH) pela glândula pituitária anterior; • Através de níveis elevados de insulina no sangue (hiperinsulinemia) em mulheres cujos ovários são sensíveis a este estímulo. O nome da síndrome se deve ao sinal mais comum ao exame ecográfico, cuja imagem retrata a presença de múltiplos (poli) cistos no ovário. Estes “cistos" são, na verdade, folículos imaturos. Os folículos foram desenvolvidos a partir de folículos primordiais, mas o desenvolvimento foi interrompido em uma fase precoce devido à alteração da função ovariana. Os folículos podem estar orientados ao longo da periferia do ovário, aparecendo como um "colar de pérolas" ao exame. Também há um aumento do volume do ovário, especialmente devido ao aumento do estroma (CARMINA et al, 2004). A maioria das pacientes com SOP têm resistência à insulina ou são obesas. Seus níveis elevados de insulina contribuem para as EURP 2014; 6(1): 01-07 3 Castro – Ultrassonografia Doppler na SOP anormalidades observadas no eixo hipotalâmicopituitário-ovariano, que levam a SOP. A hiperinsulinemia aumenta a freqüência de pulsos de GnRH, aumenta a produção de androgênios ovarianos, diminui a maturação folicular e a ligação da SHBG (hormônio sexual globulina). Todos estes passos contribuem para o desenvolvimento da SOP. Em muitos casos a SOP é caracterizada por um ciclo de feedback positivo complexo de resistência à insulina e hiperandrogenismo (NAFIYE et al, 2010). Na maioria dos casos não é possível determinar qual (se algum) dos dois deve ser considerado como causa. As mulheres com SOP têm maior produção de GnRH, que por sua vez resulta em um aumento na proporção de LH / FSH (POLSON et al, 1988). O tecido adiposo possui aromatase, uma enzima que converte androstenediona em estrona e testosterona em estradiol. O excesso de tecido adiposo em pacientes obesas cria o paradoxo de que tem ambos os andrógenos em excesso – o qual é responsável por hirsutismo e virilização – e estrogênios – que inibe a via de feedback negativo do FSH (PEDERSEN et al, 2007). • Síndrome metabólica – Aparece como uma tendência para a obesidade central e outros sintomas associados à resistência à insulina. Os principais sinais e sintomas e suas respectivas freqüências de ocorrência na SOP podem ser observados conforme a Tabela 1. Tabela 1. Sinais e sintomas clínicos associados à SOP (HUANG et al 2010): Sinais Frequência Oligomenorréia 29-52% Amenorréia 19-51% Hirsurtismo 64-69% Obesidade 35-41% Acne 27-35% Alopécia 3-6% Acantose nigricans 1-3% Infertilidade 20-74% LH elevado 40-51% Testosterona 29-50% Quadro Clínico A SOP inclui uma coleção heterogênea de sinais e sintomas com vários graus de suavidade e gravidade, podendo afetar os sistemas endócrino, reprodutivo e funções metabólicas. A tríade clássica da doença inclui hirsutismo, disfunção menstrual e obesidade. Alguns dos sintomas comuns da SOP são (HART et al, 2004): • Distúrbios menstruais – SOP produz principalmente oligomenorréia ou amenorréia, mas outros tipos de distúrbios menstruais também podem ocorrer; Diagnóstico O diagnóstico da SOP é eminentemente clínico e se baseia no diagnóstico de exclusão. Há suspeita quando os seguintes critérios são encontrados (The Rotterdam Sponsored PCOS Consensus Workshop Group, 2004): • Irregularidade menstrual/anovulação crônica; • Algum sinal clínico hiperandrogenismo; ou laboratorial de • Exclusão de outras causas de anovulação ou hiperandrogenismo; • Infertilidade – Geralmente resulta diretamente de anovulação crônica; • Critérios abaixo. ecográficos, conforme descrição • Hiperandrogenismo – Os sinais mais comunssão acne e hirsutismo, mas poderá produzir hipermenorréia; A resistência à insulina, a hiperinsulinemia, a relação LH/FSH e a imagem ecográfica de microcistos não são imprescindíveis para o diagnóstico. Os níveis de LH geralmente encontram-se elevados e os níveis de FSH geralmente normais Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 01-07 4 Castro – Ultrassonografia Doppler na SOP ou baixos, embora 20% a 40% destas pacientes não apresentem estes achados. O diagnóstico laboratorial da anovulação não está indicado, devendo ser eminentemente clínico. A maioria das mulheres com SOP apresentam resistência à insulina e hiperinsulinemia compensatória, a qual interfere no mecanismo da ovulação. Não existe um método satisfatório para o diagnóstico da resistência periférica à insulina (DUNAIF et al, 1995). Dosagens de prolactina e TSH são fundamentais para exclusão do diagnóstico de hiperprolactinemia ou hipotireoidismo, condições que propiciam o desenvolvimento de um quadro clínico semelhante ao da SOP. Entretanto, níveis elevados de prolactina estão presentes em até 35% dos casos de SOP. Já as pacientes com hipotireoidismo também apresentam sangramento menstrual irregular, mas geralmente acompanhado de outros sintomas que podem sugerir o diagnóstico. Considera-se importante o diagnóstico da hiperplasia supra-renal congênita de instalação tardia, cujo quadro clínico pode ser indistinguível ao da SOP.A exclusão de tumores produtores de androgênios do ovário ou da supra-renal é realizada através das dosagens de testosterona e sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEA-S) (HUANG et al 2010). Critérios Ecográficos Para a suspeita diagnóstica por meio da ultrasonografia, os achados ecográficos devem ser baseados no chamado “aspecto policístico” do ovário, devendo estar presente pelo menos um dos seguintes critérios: • 12 ou mais folículos periféricos de 2-9 mm • Volume ovariano maior do que 10cm³ O exame ecográfico deve ser preferencialmente realizado entre o 3⁰ e o 5⁰ dia do ciclo, uma vez que neste período há menor chance de influência do desenvolvimento folicular na medida e avaliação do estroma e volume ovariano total. Caso se constate a presença de um folículo dominante (> 10 mm) ou de corpo lúteo, o ultrasom (US) deverá ser repetido no próximo ciclo. Rotina do exame ecográfico O equipamento deve ser de alta resolução, com transdutor convexo setorial, com freqüência de 6,0 MHz ou superior, sendo conveniente a utilização de transdutores acima de 8,0 MHz. A paciente deve esvaziar a bexiga antes do exame e deitar-se confortavelmente em posição ginecológica. O transdutor deverá ser envolto com um protetor lubrificado para facilitar a introdução e o contato com a cavidade vaginal, sendo introduzido na vagina pelo médico ultrassonografista. O papel da ultrassonografia A ultrassonografia, embora bastante solicitada para avaliação da Síndrome dos Ovários Policísticos, ainda possui algumas contradições na sua utilização, devido, principalmente, ao fato de que a presença de ovários polimicrocísticos ao exame ecográfico sugere um dado inespecífico, pois cerca de 25% das pacientes com este achado são assintomáticas (PACHE et al, 1993). Ainda assim, sua avaliação continua de grande valia, particularmente ao considerar a associação das imagens ecográficas com os dados e sintomas clínicos, bem como para exclusão de diagnósticos diferenciais. Alem disto, novas técnicas e parâmetros de análise estão sendo desenvolvidos constantemente, como a utilização da razão entre a área do estroma e a área ovariana total e a recentemente a utilização da análise Doppler. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Análise Doppler (Dopplerfluxometria) A análise Doppler tem sido usada por vários anos para estudar o padrão de fluxo sanguíneo nos vasos fetais e maternos. Recentemente, o Doppler colorido e o Doppler de potência 3D foram utilizados para diagnosticar várias doenças ginecológicas. A análise da vascularização dos ovários, através da dopplerfluxometria não faz parte dos critérios ecográficos. Há evidências de que as características da análise Doppler podem ser diferentes em pacientes com SOP comparado a mulheres normais, no entanto, os relatórios têm sido conflitantes. A monitorização dos índices velocimétricos nas artérias uterinas e ovarinas têm relação direta com a fase do ciclo menstrual e a esteroidogênese. Fisiologicamente, há uma demonstrada variação velocimétrica uterina e ovariana, sensível, cíclica EURP 2014; 6(1): 01-07 5 Castro – Ultrassonografia Doppler na SOP e hormônio dependente, diretamente relacionada da sensibilidade dos vasos uterinos e ovarianos a fatores de crescimentos como o do fator de crescimento endotelial. Esse padrão cíclico vascular é diretamente dependente da integridade endotelial, estrogênio dependente (CHIEN et al, 2002). A presença da síndrome metabólica desequilibra a função endotelial e facilita a produção de vasoconstritores e pró-coagulantes. Paralelamente, está associada uma redução na produção de óxido nítrico e produção excessiva de superóxido endotelial. Tal desequilíbrio alcança os tecidos adjacentes e o superóxido promove o desequilíbrio metabólico e aumento da resistência periférica local. Essa cascata fisiopatológica está presente na doença coronariana e também na SOP, resistência à insulina e no diabetes insulino-independente (BONILLA-MUSOLES et al, 2000). Dentre as causas conhecidas, a SOP é a causa mais freqüente de falha vascular uterina. A SOP cursa com disfunção endotelial, desequilíbrio no sistema de óxido nítrico, presença de vasoconstrictores, mas também cursa com ciclo monofásico estrogênico no qual, provavelmente, por um mecanismo de esgotamento de receptores, não exerça seu potencial vasodilador. Da mesma forma, a SOP promove alterações de fluxo detectáveis através de velocimetria Doppler no estroma ovariano. A inadequada interação dos receptores do fator de crescimento similar à insulina (IGF) e do estrógeno cursam com o aumento da vascularização do estroma ovariano. Tal situação pode ser detectada pelo aumento do mapa vascular do estroma e a presença de fluxo estromal de baixa impedância vascular durante todo o ciclo. Esse aumento de fluxo estromal não cíclico pode ser o responsável pela resposta exacerbada ovariana em ciclos estimulados em pacientes com SOP (ZAIDI, 2000). A ultrassonografia tridimensional Doppler se apresenta como uma ferramenta importante do estudo volumétrico do estroma ovariano ou no estudo da relação do mesmo com o volume total do ovário e no estudo morfológico e velocimétrico dos vasos do estroma ovariano e uterino (JOKUBKIENE et al, 2006). Alguns estudos realizados descobriram um aumento da velocidade do pico sistólico, redução Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives do índice de pulsatilidade (IP) e no índice re resistência (IR) nas artérias ovarianas, comparado ao valores observados em mulheres que não desenvolveram a síndrome, porém estes mesmos achados não foram observados nas artérias do estroma ovariano, que mantiveram os índices de resistência e pulsatilidade, bem como a velocidade sistólica semelhantes aos comparados aos controles (SEBINA et al, 2007). Em alguns outros estudos, nos quais o Doppler colorido foi feito na fase folicular precoce do ciclo menstrual, o índice de pulsatilidade e o índice de resistência, IP e IR, foram significativamente maior no com SOP comparado ao grupo controle (BATTAGLIA et al, 2003). Estes estudos também demonstraram uma correlação positiva da relação LH/FSH, mas nenhuma correlação significativa foi encontrada entre o IP da artéria uterina e morfologia ovariana (ADALI et al, 2009) (OZKAN et al, 2007). O índice de resistência (IR) foi correlacionado a níveis elevados de androstenediona nas artérias uterinas. Alguns autores também observaram o IP significativamente elevado na artéria uterina associado à diminuição do IR no ovário em pacientes com SOP (ADALI et al, 2009) (MALA et al, 2009). Com isso, o IP foi positivamente correlacionado com a relação LH/FSH, eo IR foi negativamente correlacionado. O alto IP e IR nas artérias uterinas podem ser devido a baixos níveis séricos níveis de estrogênio (MALA et al, 2009). Foi demonstrado que há diminuição da perfusão uterina e aumento da vascularização do ovário em pacientes com SOP. Além de fornecer dados que podem contribuir para uma melhor compreensão da fisiopatologia de complexo desta doença, o exame ecográfico com Doppler pode ser útil para a avaliação de pacientes com SOP, além de determinar novos parâmetros hormonais e bioquímicos em conjuntura com as alterações vasculares Considerações finais A SOP é uma doença metabólica complexa, sendo uma das patologias endócrinas que mais afetam mulheres em idade fértil. Seu diagnóstico clínico dá-se por exclusão, o que torna sua avaliação bastante complicada. Nestes casos os EURP 2014; 6(1): 01-07 6 Castro – Ultrassonografia Doppler na SOP estudos por imagem podem ser úteis. A ultrassonografia é um exame de baixo custo e fácil acesso, porém a sua utilização para o diagnóstico ainda é controversa, necessitando de parâmetros mais confiáveis para sua validação. Neste sentido, a possibilidade da utilização do Doppler colorido poderá fornecer melhores parâmetros para a definição diagnóstica da síndrome, bem como prover subsídios para o melhor entendimento da fisiopatologia desta síndrome. No entanto, estudos em larga escala são necessários para definir melhor os parâmetros e os valores normais de corte. Assim, a dopplerfluxometria poderá também auxiliar na definição da gravidade, da progressão, ou na avaliação da regressão da doença. BONILLA-MUSSOLES et al. The Rotterdan ESHRE/ASRMSponsored PCOS Consensus Workshop Group: Revised, 2004 Dessa forma, a ecografia tornar-se-á o método de imagem de primeira escolha nos casos suspeitos de síndrome dos ovários policísticos e o ultrassonografista deverá estar preparado para a compreensão e interpretação do exame utilizando os dados da ecografia bidimensional bem como avaliação dos parâmetros da dopplerfluxometria. DUNAIF A. “Hyperandrogenic anovulation (PCOS): a unique disorder of insulin action associated with increase risk of non-insulindependent diabetes mellitus”. Am J Med 1995; 98:33S-39S. Referências ADALI E, KOLUSARI A, ADALI F, YILDIZHAN R, KURDOGLU M, SAHIN HG. “Doppler analysis of uterine perfusion and ovarian stromal blood flow in polycystic ovary syndrome.”Int J Gynaecol Obstet. 2009 May;105(2):154-7. doi: 10.1016/j.ijgo.2008.12.023. Epub 2009 Feb 20. 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EURP 2014; 6(1): 01-07 Artigo de Revisão Uso do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimestre da gestação como teste de rastreamento da pré-eclâmpsia Use of uterine artery Doppler in the first trimester of pregnancy as screening test for preeclampsia Talita Andrea Junta Campos 1 Resumo Objetivo: Avaliar o uso do Doppler das artérias uterinas (DAU) no primeiro trimestre de gestação como método de rastreamento de pacientes com risco de desenvolver pré-eclâmpsia. Métodos: Revisão de textos da literatura que avaliaram o uso do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimestre de gestação, isoladamente ou associado a outros marcadores. Resultados: O uso do DAU apresenta resultados favoráveis como método de rastreamento da pré-eclâmpsia, com elevado índice de especificidade, mas baixa sensibilidade. Associado a outros métodos como marcadores séricos, história clínica, e medida da pressão arterial média, os resultados tornam-se mais encorajadores, principalmente para a pré-eclâmpsia precoce. Conclusão: Os resultados favoráveis ao DAU, isoladamente ou associado a marcadores, para predizer principalmente a pré-eclâmpsia precoce, traz a possibilidade do uso de medidas preventivas durante o pré-natal e um melhor acompanhamento da gestação. Palavras-chave: Primeiro trimestre; pré-eclâmpsia, gravidez; rastreamento; Doppler das artérias uterinas; pressão arterial; marcadores séricos bioquímicos. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 04/04/2014, aceito para publicação em 15/05/2014. Correspondências: Talita Andrea Junta Campos Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Abstract Objective: Evaluate the use of uterine artery Doppler (UAD) in the first trimester of pregnancy as a method of screnning patients at risk of developing preeclampsia. Methods: Review of the literature texts that evaluated the use of uterine artery Doppler in the first trimester of pregnancy, alone or in combination with other markers. Results: The use of the UAD has favorable results as a screnning method for preeclampsia. It features high degree of specificity but low sensitivity. Associated with other methods such as serum markers, clinical history, and mean blood pressure, the results become more encouraging, particularly for early preeclampsia. Conclusion: The favorable results to the UAD, alone or associated with markers, mostly to predict early preeclampsia, brings the possibility of the use of preventive measures during the prenatal and better monitoring of pregnancy. Keywords: First trimester; preeclampsia; pregnancy; screnning; uterine artery Doppler; blood pressure; biochemical serum markers. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 08-11 9 Campos – Rastreamento da pré-eclâmpsia Introdução A pré-eclâmpsia atinge cerca de 2-3% das gestações, sendo uma das patologias mais frequentes (World Health Organization, 2005). É considerada a maior causa de mortalidade e morbidade perinatal e está associada a diversas complicações (Steegers EA et al. 2010). Dentre as complicações maternas estão coagulopatia, edema agudo pulmonar, eclâmpsia, complicações renais e hepáticas. Dentre as complicações fetais estão a restrição do crescimento intra-uterino e o parto pré-termo (Sibai B et al. 2005). A etiologia da pré-eclâmpsia está associada a invasão inadequada do trofoblasto endovascular das artérias espiraladas. Consequentemente há uma diminuição do fluxo utero-placentário, e aumento da resistência dos vasos (Crispi F et al. 2006). Outros fatores são associados como predisposição materna, história familiar, idade, paridade (Poon LC et al. 2010). O Doppler das artérias uterinas tem sido muito estudado como teste de rastreamento para préeclâmpsia (Bujold E et al. 2009). É um método não invasivo, capaz de identificar anormalidades na resistência dos vasos. Seu uso no primeiro trimestre da gestação é investigado, principalmente para predizer as gestantes que podem desenvolver pré-eclâmpsia (Khalil A et al. 2013). A identificação dessas pacientes, principalmente as que podem apresentar a forma mais precoce da doença e consequentemente cursar com mais complicações, tornam possíveis medidas preventivas e um acompanhamento melhor da gestação. Esse trabalho tem como objetivo avaliar o uso do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimestre de gestação como método de rastramento de pacientes com risco de desenvolver pré-eclâmpsia, principalmente a forma mais severa da doença. Métodos Trata-se de um estudo no qual foi realizada revisão de textos publicados na literatura, pertinentes ao uso do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimeste de gestação como método de rastreamento da pré-eclâmpsia (Cnossen JS et al. 2008). Além deste, uma análise de outros métodos complementares juntamente com o Doppler também foi realizada, como a utilização de marcadores séricos ( PAPP-A, AFP, Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives hCG, inibina-A), a alteração da pressão arterial média (MAP) e história materna ( Giguère Y et al. 2010). Os estudos selecionados usaram critérios bem definidos de hipertensão arterial e pré-eclâmpsia. Além da descrição adequada da medição do Doppler. Resultados Uma revisão da literatura de recentes metaanálises sobre o uso apenas do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimestre de gestação, como rastramento de pré-eclâmpsia, mostrou como resultado 26,4% de sensibilidade e 93,4% de especificidade em qualquer gestação. Outra avaliação foi o uso do Doppler para identicar gestações que cursam com préeclâmpsia mais precoce sendo o resultado da sensibilidade 47,8% e especificidade de 92,1%. Outros dados encontrados foram o ratreamento da restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) através do Doppler, sendo o resultado da sensibilidade 39,2% e a especificidade de 93,1% em gestações com pré-eclâmpsia e 15,4% e 93,3% respectivamente em qualquer gestação ( Dugoff L et al. 2005, Fratelli et al. 2008). A revisão da aplicação do Doppler das arterias uterinas associado a outros marcadores como hCG, AFP, PAPP-A, história materna, MAP entre outros, mostrou ótimos resultados como teste de ratreamento para pré-eclâmpsia. Dentre esses marcadores os que apresentaram resultados melhores foram PAPP-A, história materna, PIGF e MAP. No segundo trimestre, o rastreamento da pré-eclâmpsia requer poucos marcadores. O Doppler apenas tem maior acurácia neste trimestre. Os trabalhos que utilizaram a associação do Doppler com marcadores apresentaram melhores resultados para o rastreamento da pré-eclâmpsia precoce (Khalil A et al. 2010, Spencer K et al. 2008) Dentre os trabalhos revisados muitos demonstraram que MAP e IP-Ut podem predizer mulheres que irão desenvolver pré-eclâmpsia durante a gestação (Poon LC et al. 2008, Pleasencia W et al. 2007). Um desses trabalhos apresentou um estudo prospectivo longitudinal com 245 mulheres, com gestação única, onde foram feitas aferições da pressão arterial média (MAP) e o índice de pulsatilidade das artérias EURP 2014; 6(1): 08-11 10 Campos – Rastreamento da pré-eclâmpsia uterinas (IP-Ut) durante toda a gestação, sendo o rastreamento inicial entre 11º-13+6. Essas medidas posteriormente foram comparadas entre as gestações que apresentaram pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional com as gestações normotensivas. O grupo com pré-eclâmpsia foi dividido em parto pré-termo, antes de 37 semanas de gestação, e a termo. Os resultados posteriormente apresentados mostraram que o IP-Ut em gestantes sem alterações da pressão diminui com o avançar da gestação e a MAP diminui entre 12 e 24 semanas para então aumentar novamente (Poon LC et al. 2009). Nas gestantes hipertensas sem préeclâmpsia não há uma diferença significativa no IP-Ut em comparação as normotensivas, já a MAP é mais alta a partir de 12 semanas. Outro dado deste trabalho mostra que em gestantes com préeclâmpsia e parto pré-termo o IP-Ut e a MAP são mais elevados no início da gestação e aumentam mais com o avançar da gestação, em comparação as normotensivas. E finalmente nas gestantes com pré-eclâmpsia mas parto a termo o IP-Ut é mais elevado a partir de 33 semanas, mas o MAP é maior desde 12 semanas de gestação. Cocnlusões Finalmente, o Doppler das artérias uterinas é um método que não eleva muito o custo final do exame e o tempo de realização deste, em média cinco minutos (Meads CA et al. 2008, Roberts T et al. 2002). A pré-eclâmpsia é uma patologia heterogênea e mais estudos são necessários para sua melhor elucidação, mas no momento já existem bons testes de rastreamento, principalmente para a forma mais grave da doença.. Referências Bujold E, Morency AM, Roberge S, Lacasse Y, Forest JC, Gigue`re Y. Acetylsalicylic acid for the prevention of preeclampsia and intra-uterine growth restriction in women with abnormal uterine artery Doppler: a systematic review and meta-analysis. J Obstet Gynaecol Can. 2009;31:818–26. Can Med Assoc J. 2008;178:701–11. Cnossen JS, Morris RK, ter Riet G, Mol BW, van der Post JA, Coomarasamy A, et al. Use of uterine artery Doppler ultrasonography to predict pre-eclampsia and intrauterine growth restriction: a systematic review and bivariable metaanalysis. Crispi F, Domı´nguez C, Llurba E, Martı´n-Galla´n P, Cabero L, Grataco´s E.Placental angiogenic growth factors and uterine artery Doppler findings for characterization of different subsets in preeclampsia and in isolated intrauterine growth restriction. Am J Obstet Gynecol. 2006; 195:201–7. A revisão de trabalhos tem mostrado resultados importantes do uso do Doppler das artérias uterinas no primeiro trimestre da gestação. É um método que apresenta uma sensibilidade baixa, mas uma alta especificidade para pré-eclâmpsia, comprovada principalmente no ratreamento da pré-eclâmpsia precoce. A associação de outros marcadores tornam esses resultados melhores. Dentre os marcadores a história materna e a aferição da MAP são métodos fáceis e sem custo adicional que auxiliam no rastreamento. Dugoff L, Lynch AM, Cioffi-Ragan D, Hobbins JC, Schultz LK, Malone FD, D'Alton ME, FASTER Trial Research Consortium. First trimester uterine artery Doppler abnormalities predict subsequent intrauterine growth restriction. Am J Obstet Gynecol 2005; 193 : 1208-1212 A pré-eclâmpsia precoce é a condição que mais traz complicações maternas e fetais, como RCIU, parto pré-termo, internações prolongadas dentre outras. O rastreamento desta condição torna-se fundamental. Clinicamente, a identificação dessas pacientes torna possível o uso de medidas preventivas, como o uso da aspirina, e monitoração mais detalhada da gestação. A recomendação atual da utilização de aspirina é para pacientes com um fator clínico de alto risco para a doença ou dois fatores de risco moderado ( Napolitano R et al. 2011). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Khalil A, Cowans NJ, Spencer K, Goichman S, Meiri H, Harrington K. First- trimester markers for the prediction of preeclampsia in women with a-priori high risk. Ultrasound Obstet Gynecol. 2010;35: 671–9. Fratelli N, Rampello S, Guala M, Platto C, Frusca T. 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Ultrasound Obstet Gynecol 2011; 37 : 534-537. Plasencia W, Maiz N, Bonino S, Kaihura C, Nicolaides KH. Uterine artery Doppler at 11 + 0 to 13 + 6 weeks in the prediction of pre-eclampsia. Ultrasound Obstet Gynecol 2007; 30:742–749. Poon LC, Kametas NA, Chelemen T, Leal A, Nicolaides KH. Maternal risk factors for hypertensive disorders in pregnancy: a multivariate approach. J Hum Hypertens. 2010;24: 104–10. Poon LC, Staboulidou I, Maiz N, Plasencia W, Nicolaides KH. Hypertensive disorders pregnancy: screening by uterine artery Doppler at 11-13 weeks. Ultrasound Obstet Gynecol 2009; 34:142-148. Roberts T, Henderson J, Mugford M, Bricker L, Neilson J, Garcia J. Antenatal ultrasound screening for fetal abnormalities: a systematic review of studies of cost and cost effectiveness. BJOG 2002; 109 : 44-56. Sibai B, Dekker G, Kupferminc M. Pre-eclampsia. Lancet. 2005;365: 785–99. Poon LC, Kametas NA, Chelemen T, Leal A, Nicolaides KH. 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EURP 2014; 6(1): 08-11 Artigo de Revisão Contribuição do Doppler para o diagnóstico de patologias endometriais e de cavidade uterina The contribution of Doppler in the diagnosis of endometrial and uterine cavity pathologies Victor Paranaiba Campos 1 Resumo Objetivo: Avaliar a contribuição do Doppler no diagnóstico das patologias endometriais e de cavidade uterina. Métodos: Revisão de artigos da literatura médica que versam sobre a utilização do Doppler como ferramenta no diagnóstico de alterações endometriais. Resultados: A utilização do Doppler no endométrio e cavidade uterina apresenta boa performance ao diferenciar lesões benignas de malignas. As alterações apresentam vascularização diferente entre si, o que valoriza o uso do Doppler durante a ultrassonografia convencional. Houve melhor reprodutibilidade quando se descreveu o padrão vascular das lesões, se comparado à aplicação do score de cores. Conclusão: A contribuição do Doppler na análise do endométrio pode melhorar sobremaneira a precisão diagnóstica da ultrassonografia. É uma ferramenta não invasiva, com boa reprodutibilidade, embora ainda haja necessidade de padronizar a descrição de seus achados. Palavras-chave: Doppler; endométrio; sangramento uterino; pólipo; hiperplasia; cavidade uterina. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 05/04/2014, aceito para publicação em 10/06/2014. Correspondências: Victor Paranaiba Campos Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Abstract Objective: Evaluate the contribution of Doppler in the diagnosis of endometrial and uterine cavity pathologies. Methods: Review of literature, which deal with the use of Doppler as a tool in the diagnosis of endometrial pathologies. Results: The use of Doppler in the endometrium and uterine cavity shows good performance in differentiating benign from malignant lesions. The pathologies are different in its vascularization, what emphasizes the use of Doppler during a conventional ultrasound examination. The results were better when the vascular pattern of the lesions were described, compared to the application of color score. Conclusion: The contribution of Doppler analysis of the endometrium can greatly improve the diagnostic accuracy of ultrasound. It is a non-invasive tool, with good reproducibility, although there is still a need to standardize the description of their findings. Keywords: Doppler; endometrium; uterine bleeding; polyp; hyperplasia; uterine cavity. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 12-16 13 Campos – Doppler do corpo do útero Introdução O sangramento uterino anormal é uma das queixas mais prevalentes em atendimentos ginecológicos, sendo de fundamental importância o acesso a métodos eficazes de diagnóstico (Kucur et al. 2013). Mesmo mulheres assintomáticas podem ser portadoras de lesões no trato genital, benignas ou malignas, cuja identificação pode trazer benefícios no alívio de sintomas indesejados ou melhorar a sobrevida de um grande grupo de pacientes. Embora haja notório avanço em termos de recursos disponíveis para rastreamento e tratamento destas lesões, diferenciá-las ainda é um desafio na prática clínica, sobretudo precocemente e com boa reprodutibilidade. Dentre as patologias que mais frequentemente acometem a cavidade endometrial estão o pólipo e o mioma submucoso. Responsáveis pelo surgimento de irregularidade menstrual, ambas as condições são identificáveis à ultrassonografia (Timmerman et al. 2003). Outra alteração cujo diagnóstico é de extrema importância é o carcinoma de endométrio e suas diferentes variantes, incluindo as hiperplasias, em especial as atípicas. A incidência deste tipo de neoplasia ocupa preocupante papel de destaque, e acomete mulheres desde o menacme até a menopausa, com prevalência entre a quinta e a sexta décadas de vida (Opolskiene et al. 2011). O principal sintoma da maioria de mulheres com câncer de endométrio é o sangramento uterino anormal, entretanto as causas mais frequentes deste tipo de sangramento são atrofia endometrial e lesões benignas do endométrio (De Kroon et al. 2010). A ultrassonografia transvaginal é ferramenta essencial na identificação de todas estas patologias, sendo utilizada desde a década de 1980 (Van Den Bosh et al. 2003). A constante melhora na qualidade dos aparelhos e resolução das imagens obtidas tem recebido especial incremento de imagens tridimensionais, infusão de solução fisiológica (histerossonografia) e uso do Doppler, colorido e de amplitude. A espessura endometrial, como dado isolado, é amplamente utilizada para definir a necessidade de investigação, embora as características ecográficas do endométrio na escala de cinzas também já tenha papel relevante no tratamento de diversas condições. O Doppler pode ser usado para melhorar a acurácia do método, e oferece a vantagem de não ser invasivo. É uma técnica que Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives torna mais evidente a vascularização na área estudada, permitindo diferenciar as alterações encontradas (Timmerman et al. 2003). O objetivo da presente revisão é analisar o impacto da utilização deste recurso e sua contribuição para a interpretação morfológica das variadas lesões que acometem a cavidade uterina, em especial o endométrio. Métodos Foi feita seleção na literatura médica de artigos que versam sobre a utilização do Doppler como ferramenta no diagnóstico de alterações endometriais. A revisão contemplou trabalhos publicados em revistas indexadas, com relevante fator de impacto. O consenso publicado pelo grupo International Endometrial Tumor Analysis (IETA), composto por profissionais com especiais interesse e experiência em ultrassonografia do endométrio, também foi analisado durante o presente estudo. As informações encontradas ao estudo Doppler e o resultado de biópsias de endométrio foram comparadas em determinado trabalho, bem como traçou-se um paralelo entre estes achados e o método de classificação proposto pelo grupo IETA. Uma análise do Doppler antes e após infusão de gel (histerossonografia) para o diagnóstico de pólipos endometriais também foi feita. Os trabalhos mencionam a utilização de cálculos de valor estatístico durante interprtação dos dados obtidos. Resultados O estudo anátomo-patológico da cavidade uterina pode ser feito através de curetagem ou histeroscopia, não sem antes uma análise ultrassonográfica (Kucur et al. 2013). Com a utilização de diferentes terminologias e formas de realizar o estudo ecográfico do endométrio, patologias distintas são descritas da mesma forma, bem como a mesma alteração pode ter descrições diferentes de acordo com cada examinador. O advento do Doppler tem se mostrado eficaz na tentativa de individualizar estas lesões, uma vez que tem a habilidade de expor a vascularização da topografia estudada, realçando sua morfologia (Van Den Bosh et al. 2003). EURP 2014; 6(1): 12-16 14 Campos – Doppler do corpo do útero Um estudo selecionou 97 pacientes com sangramento uterino anormal, que seriam submetidas a biópsia de endométrio, e aplicou o Doppler às imagens obtidas, no dia anterior ao procedimento. Os critérios para a diferenciação das lesões foram os mesmos utilizados pelo grupo IETA, que leva em consideração o padrão vascular, citados a seguir: vaso único dominante com ou sem ramificação, múltiplos vasos com origem na junção miométrio-endométrio, focal ou multifocal, vasos desordenados e fluxo circular (Van Den Bosh et al. 2003). A comparação entre estas características e os resultados obtidos com o estudo anátomopatológico mostrou relação estatisticamente sigificativa para o diagnóstico através do Doppler, sobretudo para o mioma submucoso, única condição em que foi observado fluxo circular, não se associando este achado a nenhuma outra patologia endometrial (Espstein et al. 2006). Os pólipos endometriais foram mais frequentemente associados ao achado de vaso único dominante, com ou sem ramificação, cuja especificidade foi de 98,3% e valor preditivo positivo de 96,3%. Ambas as condições parecem produzir imagens características ao Doppler, reforçando o valor do método para o diagnóstico (Timmerman et al. 2003). A maioria dos pólipos endometriais é benigna, embora cerca de 1% tenha potencial de malignidade (Van Den Bosh et al. 2003). Diversos fatores estão relacionados ao surgimento de neoplasia de endométrio, tais como idade, sobrepeso, diabetes e hipertensão arterial. A presença de vaso único dominante ao estudo Doppler diminui o risco de lesão maligna, em sintonia com os dados da literatura, que mostram a forte relação entre este achado e o diagnóstico de pólipo (Timmerman et al. 2003). A neoangiogênese, típica de tumores, produz imagens coloridas ao Doppler que muito se diferenciam das encontradas em lesões benignas, quer seja o fluxo circular em miomas, ou a já citada dominância de pedículo vascular dos pólipos (Epstein et al. 2006). A hiperplasia endometrial surgiu como diagnóstico relacionado à descrição de vasos desordenados, enquanto que a presença de múltiplos vasos com origem focal foi associada ao câncer de endométrio. A progressão de hiperplasia atípica para o câncer endometrial pode ser observada em até 28% dos casos, o que Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives faz crescer a importância de sua detecção precoce (Lacey et al. 2010). A vascularização multifocal na junção endométrio-miométrio encontrou-se relacionada aos achados não específicos, que incluem endométrio atrófico, secretor, proliferativo e a endometrite. Observou-se a utilização do score de cores ao Doppler, também proposto pelo grupo IETA, que utiliza valores numéricos de 1 a 4 para distinguir os achados de acordo com escassez ou abundância de vasos presentes na imagem analisada. Ausência de cor ao Doppler recebe a classificação 1, o score 2 é dado à amostra com mínima quantidade de cores, 3 para um nivel moderado e 4 para a abundância de cores, denotando a presença de vasta vascularização na imagem adquirida. A conclusão foi que a padronização pelo score de cores não obteve significância estatística, enquanto que a descrição do padrão vascular dos achados apresentou relevância estatística e estava alinhada aos dados da literatura até então (Alcazar et al. 2003). A necessidade de padronizar a descrição dos achados ao estudo Doppler é importante para definir novos caminhos no campo diagnóstico. A presença de vaso único dominante é altamente sugestiva de pólipo endometrial, por exemplo, assim como a presença de fluxo circular em mioma submucoso, chegando a 100% de especificidade (Cil et al. 2010). Outra técnica que pode auxiliar a detecção destas lesões é a infusão de gel ou solução fisiológica (histerossonografia), com resultados bastante similares à histeroscopia (De Kroon et al. 2010). Para o diagnóstico de pólipo endometrial, a histerossonografia foi comparada à hiteroscopia, e apresentou excelente performance, embora alguns trabalhos tenham estabelecido relação entre a técnica de infusão líquida e uma supressão do Doppler (Epstein et al. 2006). Uma das explicações seria o rápido aumento do volume da cavidade uterina, e consequente contração miometrial, obliterando os vasos a serem estudados no Doppler, sobretudo vasos de menor calibre (Van Den Bosh et al. 2003). Na tentativa de associar este importante método ao Doppler, foi realizada uma criteriosa análise no Hospital Universitário de Leuven, na Bélgica. Seis experientes ecografistas foram escolhidos para realizar o estudo Doppler do endométrio antes e após infusão de gel, bem como o avaliar EURP 2014; 6(1): 12-16 15 Campos – Doppler do corpo do útero volume da cavidade uterina na imagem tridimensional de 111 mulheres que seriam submetidas à histeroscopia, 25 das quais foram selecionadas para o estudo, após a confirmação histológica de pólipo endometrial. O achado de vaso único dominante, intimemente relacionado ao pólipo endometrial, teve concordância estatística entre os observadores e, sobretudo, não houve diferença estatística do achado antes ou após a infusão de gel. O grupo utilizou gel a 37ºC por necessitar de menor volume infundido quando comparado à solução salina, que é menos viscosa, portando reflui com mais facilidade pelo canal cervical. Demais trabalhos que analisaram o comportamento do Doppler concluíram que, para o diagnóstico de malignidade, pacientes portadoras de sangramento uterino após a menopausa muito se beneficiarão do método, pois ele aumenta a performance diagnóstica (Opolskiene et al. 2011). O cálculo da porcentagem de área vascularizada foi utilizada por alguns autores, mostrando confirmação com dados da literatura para o diagnóstico de câncer (De Kroon et al, 2010). A análise do Doppler através desta porcentagem muito se assemelha ao score de cores, proposto pelo grupo IETA, que se mostrou inferior ao padrão vascular em determinados estudos (Van Den Bosh et al. 2003). Uma possível interpretação desta diferença é o viés populacional, uma vez que alguns estudos contemplaram apenas pacientes que já haviam atingido a menopausa, portanto mais expostas ao câncer de endométrio (Breijer et al. 2012). Alguns autores estudam inclusive aumentar o valor da espessura endometial considerada normal para o grupo populacional sem fatores de risco para o câncer, que hoje é de 5 mm, quando não é utilizado o Doppler para auxiliar na interpretação das imagens (Smith-Bindman et al. 2004) Conclusões A revisão da literatura mostra que a avaliação ultrassonográfica do endométrio e da cavidade uterina vai muito além de calcular a espessura endometrial na escala de cinzas. A utilização de métodos como o Doppler pode contribuir para a diferenciação entre patologias benignas e malignas, e fomenta a discussão sobre sua padronização na prática clínica. Uma vez que é evidente a melhora na qualidade dos aparelhos Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives utilizados para o exame de ultrassonografia, a análise do Doppler de endométrio irá beneficiar uma parcela significativa da população. A marcante diferença entre patologias benignas e malignas ao Doppler é um fato que chama atenção. A contribuição desta análise, que melhor demonstra a morfologia, ao mesmo tempo em que mostra a vascularização da topografia estudada, pode proporcionar mais agilidade nos diagnósticos de hiperplasia endometrial e câncer de endométrio. O sangramento uterino anormal causado por lesões benignas é mais precisamente diagnosticado quanto mais ampla for a utilização do Doppler nos estudos ecográficos na prática. O consenso publicado pelo International Endometrial Tumor Analysis (IETA) é a referência para a descrição dos achados ao Doppler, muito embora ainda haja dúvida sobre a melhor forma de transportar os dados para o relatório. A análise do padrão vascular se mostrou superior ao score de cores na presente revisão, porém ainda são necessários mais estudos para melhor atribuir o valor clínico de cada uma delas. 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Effect of gel-instillation sonography on Doppler ultrasound findings in endometrial polyps. Ultrasound Obstet Gynecol 2011; 38: 355-359. EURP 2014; 6(1): 12-16 Artigo de Revisão Aneurisma de artéria esplênica, uma revisão da literatura e critérios ecográficos Splenic artery aneurysm, a literature review and ultrasound criteria Eduardo Átila Soares 1, Francisco Roberto Oliveira Cavalcante2 Resumo Os aneurismas são dilatações segmentares causados por dilatações anormais da parede dos vasos, podendo assumir formatos variáveis e se apresentar com distribuição variável ao longo do corpo. Os aneurismas arteriais localizados nos ramos viscerais da aorta abdominal assumem significativa importância por se apresentarem como potencial ameaça a vida. O diagnóstico dos aneurismas de artérias periféricas é um desafio para os clínicos, pois na maioria dos casos os pacientes são assintomáticos e com nenhuma ou sutis alterações ao exame físico. São na maioria das vezes diagnosticados durante exames de rotina, em investigação de outras patologias abdominais ou em necropsias. A angiografia digital é considerada o padrão ouro. A ultrassonografia de alta resolução, no entanto, por ser um método amplamente difundido e de baixo custo assume importante papel no rastreamento desses casos. Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura e ressaltar a importância do método ultrassonográfico no diagnóstico dos aneurismas de artéria esplênica. Palavras-chave: Aneurisma; ultrassonografia; artéria esplênica. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 CLINIMAGEM - Clínica de Imagem da Região Central 2 Recebido em 16/04/2014, aceito para publicação em 10/06/2014. Correspondências: Eduardo Átila Soares Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Abstract Aneurysms are segmental dilatations caused by abnormal dilatation of the vessel wall. They can assume many forms and present with variable distribution throughout the body. Arterial aneurysms located in the visceral branches of the abdominal aorta have significant importance by presenting themselves as potential threat to life. The diagnosis of aneurysms of peripheral arteries is a challenge for clinicians because in most cases patients are asymptomatic with no or subtle changes on physical examination. They are most often diagnosed during routine examinations in the investigation of other abdominal pathology or necropsy. Angiography is considered the gold standard. The high-resolution ultrasonography, however, is a widespread and low-cost method plays an important role in tracking these cases. This paper aims to review the literature and highlight the importance of the ultrasound method in the diagnosis of splenic artery aneurysms. Keywords: Aneurysm; ultrasonography; splenic artery. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 17-20 18 Soares & Cavalcante - Aneurisma de artéria esplênica Introdução O aneurisma de artéria esplênica teve seu primeiro relato em um estudo de necropsia por Beaussier em 1770 (M 1770) e a primeira descrição em paciente vivo por Winkler em 1905, durante uma laparotomia exploradora (Winkler 1905). Os aneurismas de artéria esplênica são os mais prevalentes aneurismas de artérias viscerais, respondendo por 60% dos casos. São seguidos pelos aneurismas de artéria hepática 20% (Stanley et al. 1970; Busuttil and Brin 1980). Apresentam predomínio em mulheres 2:1 entre 20 a 30 anos. (Owens and Coffey 1953). A incidência encontrada varia de 0,01% a 0,2% em séries de autópsia, podendo chegar próximo a 10% se avaliados somente pacientes com hipertensão portal ou com idade igual ou superior a 60 anos.(Kreel 1972; Pomerantz et al. 1986) e há fortes indícios de correlação com a gravidez e gestações múltiplas (Selo-Ojeme and Welch 2003; Reardon et al. 2005; Richardson et al. 2006). Sua prevalência geral acaba sendo subestimada em decorrência da ausência de sinais ou sintomas na maioria dos casos. Quando presentes, os sintomas geralmente são vagos e inespecíficos. (Greene et al. 1988) A ultrassonografia vem se mostrando ao longo das décadas como principal meio diagnóstico, onde a doença aneurismática é geralmente um achado adicional a investigação de outras patologias abdominais. A angioressonância e a angiotomografia multislice corroboram o diagnóstico e delimitam melhor anatomicamente as lesões, servindo de base para a intervenção cirúrgica aberta ou endovascular. (Short et al. 1985; Nishida et al. 1986). A presente revisão tem por objetivo destacar a importância da ultrassonografia como método de rastreio no diagnóstico da doença aneurismática, em particular da artéria esplênica. Anatomia Aneurisma arterial é definido como uma dilatação permanente e localizada de pelo menos 50% do diâmetro normal esperado para a artéria em questão. Há, no entanto, diversas variáveis a se considerar para estabelecermos os parâmetros de normalidade como idade do paciente, sexo, pressão sanguínea, método de aferição. Por convenção, podemos ao considerar o diâmetro pré-aneurismático como normal e definir aneurisma como um incremento de 50% do vaso Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives em relação a esse valor. (Johnston et al. 1991; Mattar and Lumsden 1995) Etiologia No trabalho publicado por Owens e Coffey referente a um estudo de 204 pacientes com aneurismas de artéria esplênica foi evidenciado que 60% dos pacientes apresentavam alterações ateroscleróticas na referida artéria, sendo que em 23% o aneurisma foi associado a endocardite bacteriana com tromboembolização da artéria esplênica. Em 10% dos casos foi atribuído à alterações congênitas como ausência da membrana elástica interna desenvolvida na íntima ou áreas fibróticas na camada média. Também houve associação com trauma abdominal fechado em 3% dos casos e a hipertensão portal foi relacionada com 45% da série analisada (Owens and Coffey 1953). Outras amostras menores também foram analisadas e percebe-se a aterosclerose como fator principal, variando apenas as incidências encontradas (Trastek et al. 1982). A relação entre gravidez e os aneurismas de artéria esplênica também vem sendo estudada. A relação entre gestação e desenvolvimento ou a ruptura de um aneurisma pre-existente não está muito clara. A ruptura geralmente ocorre por volta do terceiro trimestre da gestação e a despeito da gravidez não ter sido implicada claramente com fator causal ou de desenvolvimento do aneurisma da artéria esplênica, há indícios de que possa desempenhar algum papel na ruptura de um aneurisma prévio. (Trastek et al. 1982; Kobori et al. 1997; Reardon et al. 2005) Fisiopatologia Os aneurismas de artéria esplênica formam-se a partir de dilatações das três camadas da parede arterial e estão localizados em 75% dos casos no terço distal e em 20% no terço médio da artéria esplênica. São predominantemente saculares (Trastek et al. 1982), ocorrendo geralmente em zonas tortuosas, bifurcações e zonas pós estenóticas, regiões que são submetidas a pressões mais elevadas. (Mattar and Lumsden 1995; Wagner et al. 1997; de Perrot et al. 1998) EURP 2014; 6(1): 17-20 19 Soares & Cavalcante - Aneurisma de artéria esplênica Quadro Clínico A maioria dos pacientes é assintomática e, quando presentes, os sintomas geralmente são inespecíficos. Dor abdominal difusa, mais intensa em região epigástrica ou em quadrante superior esquerdo, podendo irradiar-se para o dorso e estar associada a náuseas, vômitos ou sintomas dispépticos. Exercícios podem agravar a dor. Sinais que podem estar presentes são frêmitos, sopros arteriais e raramente massa pulsátil a palpação. (Shanley et al. 1996) A ultrassonografia assume extrema importância devido ao fato de ser um meio amplamente difundido, de fácil acesso e com boa relação custo-benefício. À ecografia, a lesão apresenta-se como uma imagem no hipocôndrio esquerdo cística, pulsátil, com fluxo ao doppler colorido e muitas vezes dotadas de calcificações em suas paredes. Apresenta boa sensibilidade para lesões acima de 0.3cm. (Simpson et al. 2013). Pode ser de difícil obtenção quando houver interposição de alças, conteúdo estomacal, em pacientes obesos ou com doença ateromatosa acentuada. (Saba et al. 2011) Diagnóstico O diagnóstico é geralmente incidental e realizado por exames de imagem, quando em investigação de outras patologias abdominais ou através de exames de rotina (Greene et al. 1988; Kahle et al. 1992). A radiografia simples de abdome raramente é capaz de evidenciar calcificações pré-vertebrais ou imagens de calcificação em anel no hilo esplênico, não devendo, portanto, ser utilizada para tal finalidade. (Saba et al. 2011) A angiografia digital por inserção direta de cateter arterial é considerada padrão ouro. Apresenta alta resolução espacial permitindo avaliação de pequenos vasos e tratamento concomitante. Tem um custo elevado e está sujeita a complicações inerentes a punção e cateterização arterial. (Agrawal et al. 2007). A angiografia por tomografia computadorizada (CTA) e a angiografia por tomografia computadorizada com multidetectores (MDCTA) tem sido método de escolha diagnóstica. Apresentam excelente resolução espacial, podendo ser utilizada para planejamento terapêutico e seguimento da maioria das doenças arteriais. Tem seu uso limitado por conta da radiação ionizante, uso de contraste e alto custo. (Saba et al. 2011) Para os casos contraindicados a CTA e a MDCTA temos disponível a angiografia por ressonância magnética também com ótima resolução, porém contraindicadas para pacientes portadores de marcapassos, clipes cirúrgicos, claustrofóbicos e aqueles incapazes de prender a respiração durante a realização do procedimento. (Agrawal et al. 2007; Saba et al. 2011) Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Conclusão Patologia pouco incidente na população, com sintomas inespecíficos à anamnese, porém com desfecho quase sempre fatal quando complicada com a rutura aneurismática. Os poucos dados na literatura não são suficientes para embasar um rastreamento específico na população geral. No entanto, em grupos específicos, como em pacientes portadores de hipertensão porta, gestantes, idosos, cabe sim a nossa atenção. Dentre os meios diagnósticos disponíveis a ultrassonografia merece atenção especial por ser procedimento amplamente difundido, de fácil acesso e utilizado rotineiramente na investigação de inúmeras patologias abdominais. Atentar para a anatomia das artérias viscerais durante a realização da ultrassonografia pode aumentar bastante o diagnóstico incidental da doença aneurismática e possibilitar tratamento eletivo, evitando a complicação maior que é a rutura do aneurisma. Referências Agrawal, G. A., P. T. Johnson, et al. (2007). "Splenic artery aneurysms and pseudoaneurysms: clinical distinctions and CT appearances." AJR Am J Roentgenol 188(4): 992-999. Busuttil, R. W. and B. J. Brin (1980). "The diagnosis and management of visceral artery aneurysms." 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Duas metanálises sugerem que o uso do ultrassom, na colocação de cateteres em veia jugular interna, tem sido associado a uma redução na taxa de complicação e um maior sucesso de primeira passagem. No entanto, a segurança de qualquer técnica depende da formação, experiência e habilidade do operador. Apesar da divulgação destas recomendações, estudos recentes mostram que o uso do ultrassom para acesso venoso central é ainda pouco frequente na prática diária. Palavras-chave: Ultrassonografia; acesso venoso central; terapia intensiva. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 16/04/2014, aceito para publicação em 10/06/2014. Correspondências: Francisco Juarez Filho Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Abstract More than five million central venous catheters are placed each year in the United States, with an associated complication rate of 15%. These complications are more common in obese and pediatric patients. Ultrasonography provides the exact location of the target vein and its relationship with artery and nerve structures, detecting anatomic variations. Two meta-analyses suggest the use of ultrasound has been associated with a reduction in complication rate and an improved first-pass success when placing catheters in internal jugular vein. However, the safety of any practical technique depends upon the training, experience, and skill of the operator. Despite the dissemination of these recommendations, recent studies show that the use of the ultrasound for central venous access is still infrequent in daily practice. Keywords: Ultrasonography; central venous catheter; intensive care. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 21-24 22 Juarez Filho – Ultrassonografia no acesso venoso central Introdução A ultrassonografia (USG) deixou de ter seu uso apenas como método diagnóstico e vem ganhando espaço como procedimento terapêutico. É capaz de guiar em tempo real procedimentos intervencionistas, incluindo biópsias e injeções. A primeira descrição do uso da ultrassonografia para auxílio na canulação da veia jugular interna foi descrito por Ullman et al, em 1978 (ULLMAN, STOELTING, 1978). A punção venosa percutânea constitui uma prática importante nos pacientes traumatizados, em emergências cirúrgicas e doentes críticos, não somente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) (JONHSON, HIATT 1996), como também no intra-operatório, permitindo monitorização da pressão venosa central (PVC), rápida infusão de drogas, líquidos e hemoderivados, nutrição parenteral total, implante de marca-passo e via de acesso para hemodiálise (TROIANOS,2012). Em 2002, o National Institute for Clinical Excellence (NICE) – órgão britânico voltado à excelência na prática clínica - passou a recomendar a utilização do auxílio ultrassonográfico nas punções venosas centrais. Essa recomendação baseou-se em uma metanálise, incluindo 18 ensaios clínicos e um total de 1646 pacientes (THOMAS et al, 2003). Apesar da divulgação dessas recomendações, estudos recentes demonstram que a utilização da USG para a obtenção de acesso venoso central ainda é pouco frequente na prática diária (KOPMAN, 2007; PARIENTI et al, 2008). A proposta desta revisão é mostrar as vantagens do uso do ultrassom na técnica de punção venosa central. Revisão de literatura O uso da USG para facilitar a canulação da veia jugular interna foi primeiramente descrito por Ullman e col. em 1978 (KOOPMAN, 2007). Atualmente no cenário do tratamento do paciente de médio e alto risco, em terapia intensiva, centro-cirúrgico e pronto atendimento, a inserção de cateter venoso central tornou-se um procedimento imprescindível no cuidado destes pacientes (FLATO, 2009). São passados mais de 5 milhões de cateteres venosos centrais anualmente nos USA, e que tem Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives uma taxa de complicação 15%(ELLIOTet al 1994). de mais de A técnica de passagem de cateter venoso central não é isenta de riscos e pode até levar ao óbito por pneumotórax. Anormalidades anatômicas podem levar a posicionar a agulha na direção errada, ou tentativa de puncionar uma veia trombosada (TROIANOS, 2012). A complicação mecânica mais frequente é a punção arterial, independentemente do local da punção. Outras complicações comuns são: hematomas, pneumotórax e hemotórax(FLATO, 2009). Uma parte dessas complicações pode ser atribuída às características de maior risco relacionadas ao perfil do paciente, como é o caso dos obesos mórbidos, pacientes com deformidades torácicas, pacientes hipovolêmicos, com coagulopatias ou sob ventilação mecânica (MERRER, 2001). Porém, boa parcela dos insucessos ocorre devido à variação anatômica entre as veias e as estruturas adjacentes, como observado no anexo 1(PETISCO et al, 2013). Segundo FLATO et al, 2009, a variação anatômica mais encontrada entre a veia jugular interna (VJI) e a artéria carótida (AC) foi o posicionamento anterior da VJI em relação a AC (54%). As técnicas clássicas para punção venosa central são realizadas com base em referências anatômicas de superfície e conhecimento da anatomia vascular da região em que se realizará a punção (DENNYS BG, 1993). O sucesso desta técnica baseia-se no conhecimento anatômico, inserção da agulha em uma presumida localização venosa, e sinais indiretos de acertos, como retorno de sangue pela seringa, cor do sangue e pressão do sangue pela agulha. O índice de complicações para técnicas realizadas dessa maneira podem chegar a 15%(KOOPMANN, 2007). Além disso, a relação entre a artéria e a veia possui caráter dinâmico, ou seja, quando o pescoço é submetido à rotação, a sobreposição dos vasos pode ocorrer, aumentando o risco de punção arterial acidental (SELEK, 1996). Um dado importante sobre a anatomia e posicionamento da veia jugular interna em relação à artéria carótida, demonstra que 50% das vezes, ela está posicionada anteriormente à artéria carótida. O problema existe quando a veia jugular interna está em uma posição diferente a habitual; nessa situação, somente com o uso do EURP 2014; 6(1): 21-24 23 Juarez Filho – Ultrassonografia no acesso venoso central USG, poderemos ver a mudança anatômica. (PETISCO et al, 2013) Baseado em duas meta-análises, a Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde, em 2001, e o Instituto Nacional de Excelência Clínica da Inglaterra, em 2004, publicaram uma recomendação de utilizar a punção guiada por USG. Esta prática, juntamente com outras dez principais práticas de segurança, melhora os cuidados ao paciente(SIGATUS, 2009). Com o uso do ultrassom pode-se avaliar a localização de uma veia central, assim como seu diâmetro e situações adversas, facilitando sua inserção e/ou escolha do sítio de punção DENNYS,1993). A diferenciação entre a imagem de uma artéria e veia central, pelo uso do ultrassom, é que as veias colabam quando se faz pressão com o transdutor, e as artérias não colabam. As artérias pulsam e as veias não pulsam. O uso do efeito Doppler ajuda a diferenciar as veias das artérias (TROIANOS ET AL 2012). A punção guiada por USG previne um acidente de punção para cada sete acessos centrais, e previne um caso de insucesso na inserção para cada cinco tentativas(McGEE,2003) O uso do ultrassom para acesso venoso central é classificado como nível de recomendação baseado em suporte da literatura (categoria A), com nível 1 de evidência(TROIANOS,2012). Inicialmente, a utilização da USG estava limitada aos profissionais médicos radiologistas e ecocardiografistas, porém, com a universalização do método e padronização de treinamento por algumas sociedades, por exemplo, a American College of Emergency Physicians (ACEP, 2001), European Federation of Societies for Ultrasound in Medicine and Biology e World Interactive Network Focused on Critical Ultrasound (WINFOCUS, 2008), possibilitou-se sua real implantação em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento, como o Brasil. Técnica de varredura e inspeção anatômica O transdutor para auxiliar a punção deve ser preferencialmente o linear retilíneo de 5-10 MHz. Quanto maior a frequência do transdutor, maior a resolução, porém, menor a profundidade (TROIANOS, 2012). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Existem duas técnicas de punção usando a USG. A primeira é chamada punção em plano, na qual a agulha segue o eixo longitudinal do transdutor no momento da punção, e mostra a imagem de todo o trajeto da agulha; e a segunda técnica é a fora de plano, em que a agulha entra transversalmente ao transdutor, e apresenta a imagem ultrassonográfica apenas da ponta da agulha (MANICKAM, 2008). Deve-se posicionar a veia jugular no centro da tela e realizar a inserção da agulha com 45° em relação ao transdutor e equidistante deste com a veia (GORDON, 1998). A Ultrassonografia é uma tecnologia disponível em nossa prática diária, associada a algumas vantagens, como ausência de exposição de radioatividade aos nossos pacientes, reprodutibilidade, baixo custo, praticidade, portabilidade, além de ser método não invasivo e que possibilita a obtenção de informações importantes à beira do leito. Discussão A ultrassonografia deixou de ter seu uso apenas como método diagnóstico, e vem ganhando espaço como método auxiliar em procedimentos terapêuticos, sendo eleito um dos 11 procedimentos que elevam a segurança do paciente, segundo a Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde em 2001(SIGATUS, 2009). A portabilidade e a diminuição do preço das máquinas de ultrassom fazem a técnica de acesso venoso central ter seu uso cada vez mais popular, levando qualidade e segurança para o procedimento. O acesso venoso central mesmo em mãos experientes, há risco que, em alguns casos, pode levar à morte (MERRER, 2001). A visão em tempo real da punção venosa, confirmação da localização da ponta da agulha e facilidade do método, estimulam o uso do método. Dados na literatura comprovam que o acesso venoso central com uso do ultrassom dá mais segurança ao paciente, com nível de evidência A, categoria 1 (TRIOANOS, 2012). EURP 2014; 6(1): 21-24 24 Juarez Filho – Ultrassonografia no acesso venoso central Conclusões O acesso venoso central é um procedimento muito frequente na prática médica em pacientes de média e alta complexidade. O uso de ultrassom veio para aumentar a segurança e qualidade da técnica. Diminui a taxa de complicações, melhora a taxa de sucesso de inserção de cateter, principalmente em pacientes com dificuldade de acesso vascular. A Ultrassonografia é uma tecnologia disponível em nossa prática diária, associada a algumas vantagens, como ausência de exposição de radioatividade aos nossos pacientes, reprodutibilidade, baixo custo, praticidade, portabilidade, além de ser método não invasivo e que possibilita a obtenção de informações importantes à beira do leito. As desvantagens do custo do equipamento, tempo de treinamento da equipe, representam pequenos obstáculos a serem contornados, já que temos grandes benefícios com o método. Diante do que foi exposto acima, percebemos que para a realização de punção venosa central, é necessário ter conhecimento de referências anatômicas de superfície e da anatomia vascular da região a ser puncionada. O uso do ultrassom permite a realização da punção sob visão direta das estruturas vasculares, peri vasculares e da agulha de punção. Assim, as diversas complicações relacionadas ao acesso venoso central são minimizadas e o procedimento é realizado com maior acurácia. Apesar das vantagens e comprovações da melhora da segurança e qualidade da técnica, estudos recentes demonstram que a utilização da USG para a obtenção de acesso venoso central ainda é pouco frequente na prática diária. A divulgação da técnica e a capacitação dos médicos, torna-se cada vez mais indispensável para a aumentar a segurança qualidade do atendimento. Referências Dennys BG, Uretsky BF, Reddy S: Ultrasound-assisted cannulation of the internal jugular vein a prospective comparison the external landmark guided technique. Circulation,87: 1557-1562.1993. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Flato U.A.P, Petisco G.M, Santos F.B. Punção Venosa Guiada Por Ultra-som em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Ter Intensiva, 21 (2): 190-196. 2009. Gordon AC, Saliken JC, Johns D, Owen R, Gray RR, USguided puncture of the internal jugular vein: complication and anatomic considerations. J Vasc Interv Radiol,9(2):333338. 1998. Johnson CL, Hiatt JR. 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O presente estudo visa demonstrar que, com o auxílio do Doppler, o ultrassom pode ser considerado um excelente método na identificação de cálculos renais, assim como no diagnóstico diferencial de anormalidades vasculares. Palavras-chave: Urolitíase, ultrassom, Doppler, twinkling. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 07/05/2014, aceito para publicação em 11/06/2014. Correspondências: Ariádny Rodrigues Nunes Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Abstract Urolithiasis is a disease that affects a significant portion of the population and has recurrent feature, what requires multiple imaging studies lifelong, becoming essential to improve the diagnostic methods that do not emit radiation and exhibit high sensitivity and specificity. This study aims to demonstrate that, with the assistance of Doppler, ultrasound can be considered an excellent method for identifying kidney stones, as well as in the differential diagnosis of vascular abnormalities. Keywords: Urolithiasis, ultrassound, Doppler, twinkling. EURP 2014; 6(1): 25-28 26 Nunes – Doppler na urolitíase Introdução Urolitíase é uma das doenças mais recorrentes e prevalentes no dia-a-dia dos urologistas. Seu diagnóstico é feito através de estudo de imagem que determine o número, a localização, o tamanho e a repercussão dos cálculos. Apesar do método de imagem padrão-ouro ser a tomografia computadorizada não contrastada (TCNC), por apresentar sensibilidade e especificidade mais altas na identificação de cálculo renal ou ureteral, como a urolitíase é uma afecção recorrente, o paciente acaba sendo exposto a grande quantidade de radiação durante sua vida. Por isso torna-se imperativo o uso de tecnologias que visem aumentar a sensibilidade do ultrassom (US) na detecção dos cálculos urinários, por ser este um método inócuo e mais barato. (FOWLER et al., 2002). A detecção de cálculos urinários ao US pode ser problemática quando estes são obscurecidos pela atenuação sonográfica causada pelos tecidos, como a gordura do seio renal, a gordura mesentérica ou o intestino, ou quando a sombra acústica posterior é fraca. O sinal twinkling é um artefato ultrassonográfico de fluxo em cores que surge mediante calcificações e se apresenta como uma codificação de cores aleatórias onde se esperaria uma sombra acústica na escala de cinzas (MITTERBERGER et al., 2009). O índice de resistência da artéria renal também incrementa a chance do diagnóstico correto. O presente estudo visa mostrar como o uso do Doppler na avaliação renal pode ser relevante para aumentar a sensibilidade de detecção de urolitíase pelo método. Incidência Urolitíase se desenvolve em mais de 12% da população ao longo da vida (SIERAKOWSKI et al., 1978). Um paciente com um único episódio de litíase tem 10 a 23% de chance de reincidência por ano que acumula para 50% em cinco anos (CHURCHIL, 1987; LJUNGHALL, 1987), o que resulta em múltiplos repetidos estudos na avaliação dos sintomas agudos. A Comissão Internacional em Protocolo de Radiação recomenda que a exposição não exceda 20 mSv por ano durante 5 anos ou 50 mSv em um único ano. A média de dose de radiação com uma Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives TCNC de abdome e pelve é 15 mSv (VIPRAKASIT et al., 2012). Os riscos da radiação ionizante são particularmente importantes nos pacientes jovens, que têm alto risco de recorrência e deverão ser submetidos a repetidos exames de imagem (MAGRILL et al., 2013). Daí a importância do aprimoramento do estudo ultrassonográfico da urolitíase. O uso do Doppler Muitos urologistas estão considerando o estudo ultrassonográfico como um importante e valioso estudo de imagem no cálculo renal. A detecção de cálculos ao US frequentemente necessita de sombra acústica e a falta dela pode ocorrer por intervenção de tecido com valor de impedância acústica diferente, preenchimento da sombra por reverberação ou seleção incorreta de configuração do transdutor. (KING et al., 1985). Identificação de cálculos menores que 4mm é muito limitada ao US. Apesar da significância clínica desse tamanho de cálculos ser questionada, a inabilidade em identificar cálculos pequenos prejudica a determinação da atividade metabólica em paciente formadores de cálculos recorrentes. (MILLER e KANE, 1999; MONGA, 2004) Embora a sensibilidade do US convencional seja relativamente baixa, ela pode ser aumentada significantemente através do uso do Doppler colorido, e o aparecimento do artefato twinkle é uma ferramenta importante no diagnóstico de urolitíase (WINKEL et al., 2012). No US convencional, achados relacionados a urolitíase podem não serem vistos em 50% dos pacientes com obstrução urinária aguda, e às vezes, mediante achados de dilatação de pelve renal, determinar se esta alteração foi causada por patologia obstrutiva nem sempre é uma tarefa fácil. O US com auxílio do Dopller pode aumentar a utilidade do método usando o índice de resistência (IR) para quantificar as mudanças nas ondas das artérias intrarrenais. O US Doppler pode ainda confirmar informações funcionais como fluxo sanguíneo alterado ou fluxo urinário em pacientes com obstrução urinária (KAVAKLI et al., 2011). Em estudo realizado por Kavakli et al em 2011, com 70 pacientes agrupados em 3 grupos (grupo 1: pacientes apresentando dor e urolitíase; grupo EURP 2014; 6(1): 25-28 27 Nunes – Doppler na urolitíase 2: pacientes apresentando dor sem urolítiase e grupo 3: pacientes sem dor e sem urolitíase), foi demonstrado IR maior em pacientes com dor aguda em flanco associada a urolitíase. As taxas de IR aumentaram significativamente em pacientes com hematúria. Não houve significância estatística no IR renal de acordo com o sexo e a idade. Um pequeno foco hiperecogênico (<5 mm) é comumente visto na imagem em escala de cinza. O diagnóstico diferencial inclui calcificação da artéria renal e pequenos cálculos renais, que possuem imagens ecográficas muito semelhantes. Para isso o US com Doppler colorido ajuda a distinguir uma artéria estenótica de um cálculo renal através do conhecido artefato “twinkling” (GAO et al., 2010). O sinal de twinkling é uma rápida mistura de cores vista posteriormente a uma estrutura calcificada, como um cálculo. É um importante artifício no diagnóstico de anormalidades vasculares intrarrenais, mas é principalmente benéfico na identificação de cálculos sem sombra acústica posterior na escala de cinzas (GAO et al., 2010). O aparecimento do efeito twinkling é mais sensível do que a sombra acústica vista na escala de cinzas. (SHABANA et al., 2009). Porém fluxos sanguíneos turbulentos associados a fístulas arteriovenosas intrarrenais tem imagem ecográfica semelhante, o que pode falsear o diagnóstico de nefrolitíase. Entretanto, a associação com o Doppler espectral desempenha papel importante na identificação de anormalidades vasculares intrarrenais (GAO et al., 2010). De acordo com Mitterberger et al., sempre que o sinal twinkling estiver presente, um estudo com Doppler espectral deverá ser obtido para excluir fluxo arterial ou venoso. Ajuste do aparelho Detecção de anormalidades renais utilizando o estudo Doppler é altamente dependente da configuração de cor Doppler. Um baixo PRF pode causar aliasing que sobrepõe um pequeno cálculo. Um PRF alto pode suprimir uma anormalidade das veias intrarrenais com fluxo de volume baixo (KAMAYA et al., 2003; SHABANA et al., 2009). No artefato twinkling do Doppler colorido, quanto Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives maior o PRF, melhor (RAHMOUNI et al., 1996) a sua produção. Conclusões O estudo urológico pelo US, por ser não invasivo, de fácil acesso e por não emitir radiação, é cada vez mais usado no diagnóstico da urolitíase, e considerado padrão-ouro em determinado grupo de pacientes (gestantes, pacientes alérgicos a contrastes ou com disfunção renal) (BUDE e RUBIN, 1999). Um foco hiperecogênico no rim estudado pela escala de cinza pode representar uma artéria calcificada ou um cálculo renal. Entender e usar o artefato twinkling pode resultar não apenas no seu melhor uso na detecção de pequenos cálculos renais como na diferenciação do diagnóstico das anormalidades vasculares (KAMAYA et al., 2003), desde que as configurações do aparelho estejam bem ajustadas. O uso do Doppler espectral aumenta ainda mais a especificidade do método, desempenhando importante papel na diferenciação entre artefato twinkling e anormalidades vasculares. Portanto, o US deve ser sempre considerado no diagnóstico da urolitíase.. Referências Bude, R. O., Rubin, J. M. Relationship between the resistive index and vascular compliance and resistance. Radiology, v.211, p. 411-17. 1999. Churchill, D. N. Medical treatment to prevent recurrent calcium urolithiasis. A guide to critical appraisal. Miner Electrolyte Metab, v. 13, p. 294-304. 1987. Fowler, K.A., Locken, J.A., et al. US for detecting renal calculi with nonenhanced CT as a standard reference. Radiology, v. 222, p.109-13. 2002. Gao, J., Amelia, N. 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A apresentação clinica inespecífica associada a achados de diagnóstico por imagem que podem ser detectados em diferentes etapas evolutivas da doença, torna a avaliação bastante variada e o diagnóstico desafiador. Por isso os métodos de diagnóstico por imagem destinados à avaliação desses tumores são diversos, sendo os principais a ultrassonografia, a tomografia computadorizada, a colangiografia endoscópica retrógrada e a ressonância magnética. Em virtude do desenvolvimento tecnológico, o papel desses exames tem crescido na rotina de investigação diagnóstica dessas lesões. Nessa revisão abordaremos a importância relativa de cada método, ressaltando a relevância da ultrassonografia como exame de primeira escolha em pacientes com quadro de dor abdominal inespecífica, perda de peso e icterícia. Palavras-chave: Colangiocarcinoma, métodos de diagnóstico por imagem, ultrassonografia. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 CLINIMAGEM - Clínica de Imagem da Região Central 2 Recebido em 21/05/2014, aceito para publicação em 11/06/2014. Correspondências: Fábio de Sousa Lessa Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Abstract Cholangiocarcinomas are tumors that arise from the biliary epithelium and are the second most common primary malignancy of the liver. The overall incidence of this rare disease is on the rise. There are several risk factors and pathophysiology of these tumors usually converges to chronic biliary stasis and inflammation of different origins. The nonspecific clinical presentation associated with imaging findings that can be detected at different developmental stages of the disease, makes quite varied and challenging diagnostic assessment. Therefore methods of diagnostic imaging for the assessment of these tumors are diverse, with major ultrasound, computed tomography, endoscopic retrograde cholangiography and magnetic resonance imaging. Because of technological development, the role of these tests has grown in routine diagnostic investigation of these lesions. In this review we discuss the relative importance of each method, emphasizing the importance of ultrasound examination as first choice in patients with nonspecific box abdominal pain, weight loss and jaundice. Keywords: Cholangiocarcinoma, methods of diagnostic imaging, ultrasonography. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 29-35 30 Lessa & Cavalcante - Colangiocarcinoma Introdução Os colangiocarcinomas (CCA) são adenocarcinomas originários do epitélio biliar com graus variáveis de desdiferenciação. Geralmente estão associados a um estroma conjuntivo abundante e constituem-se em variantes histopatológicas raras os adenocarcinomas papilares, em anel de sinete, tumores escamosos ou linfoepiteliomas (Maetani et al. 2001; Malhi and Gores 2006). Representam a segunda neoplasia maligna primária mais comum do fígado, correspondendo a cerca de 10 a 20% dos tumores hepáticos, sendo o carcinoma hepatocelular o mais frequente, podendo se desenvolver em qualquer lugar ao longo da árvore biliar e segundo a sua localização podem ser classificados em periféricos, hilares (tumor de Klatskin) e extra-hepáticos(Sainani et al. 2008). Os tumores hilares se desenvolvem na confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo e são os mais comuns, correspondendo cerca de 50 a 60% dos casos. Os tumores dos ductos extra-hepáticos representam em torno de 20 a 30% dos casos e os 10% restantes correspondem aos colangiocarcinomas com origem no epitélio dos ductos biliares intrahepáticos(Welzel et al. 2006). É um tumor relativamente raro e letal, apresentando uma incidência anual de 1-2 casos por 100 mil habitantes nos países ocidentais. Entretanto, parece existir uma tendência de aumento da incidência em todo o mundo ao longo das últimas décadas, especialmente da forma intra-hepática, associada a um declínio das formas extra-hepáticas(Welzel et al. 2006). Ocorre com maior frequência na sétima década, sendo um pouco mais comum no sexo masculino e é responsável por 1,3% a 2,6% das mortes causadas anualmente por tumores letais ao redor do mundo (Shaib and El-Serag 2004). A apresentação clínica é na maioria das vezes inespecífica e a icterícia pode inicialmente estar ausente. Por outro lado a avaliação por imagem é bastante variada, pois a lesão pode desenvolverse em qualquer ponto da árvore biliar, com o tumor apresentando-se em etapas evolutivas distintas, tornando desafiador o diagnóstico. Diversos métodos de diagnóstico por imagem podem ser destinados à investigação, sendo os principais a ultrassonografia (US), a colangiografia endoscópica retrógrada (CPRE), a Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM). No presente estudo iremos ressaltar o papel da ultrassonografia e dos demais métodos mencionados acima, fazendo uma abordagem comparativa, avaliando a importância relativa de cada um. Metodologia Foram pesquisados artigos nas bases de dados da BIREME, PUBMED e SCIELO, além de livros sobre o tema. Dos trabalhos encontrados na pesquisa, foram destacados os que faziam referência aos colangiocarcinomas relacionandoos com os métodos de diagnóstico por imagem abordados nesse trabalho. Classificação Anatomicamente, o CCA é classificado em intra-hepático, quando se desenvolve no fígado, em hilar quando surge na confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo, ocasião em que é chamado de tumor de Klatskin, e o extra-hepático distal. O tumor de Klatskin representa cerca de 50% a 60% de todos os colangiocarcinomas (Jarnagin and Shoup 2004). De acordo com o Liver Cancer Study Group of Japan os colangiocarcinomas foram classificados em três grupos distintos, levando-se em consideração o tipo de crescimento, comportamento biológico e prognóstico. Assim sendo, três tipos foram estabelecidos por essa classificação: a) formadores de massa; b) periductais infiltrantes; c)intraductal crescente (Yamamoto et al. 1998). Mais de 50% dos CCA intra-hepáticos são classificados como formadores de massa, e se apresentam com prognóstico geralmente desfavorável, em virtude da escassez de sintomas, ou quando presentes são inespecíficos, o que retarda o diagnóstico. Nesses pacientes, dor no hipocôndrio direito, sintomas gerais, assim como achados de imagens em pacientes assintomáticos ou rastreio em portadores de testes de função hepática alterada, são manifestações frequentes. Nos pacientes com lesões hilares, extra-hepáticas e intraductais, os sintomas associados à obstrução biliar prevalecem(Malhi and Gores 2006). Já os tumores papilíferos das vias biliares se caracterizam clinicamente por sintomas relacionados à obstrução biliar intermitente e estase. Pode haver EURP 2014; 6(1): 29-35 31 Lessa & Cavalcante - Colangiocarcinoma concomitância com cálculos biliares, cuja formação é favorecida pela estase. Estes tumores podem complicar com colangite e geralmente acomete com maior frequência o sexo masculino na faixa etária compreendida entre 50 a 60 anos(Lee et al. 2000; Suh et al. 2000; Lim et al. 2003). O sistema de estadiamento mais comumente utilizado para os colangiocarcinomas infiltrativos hilares é a classificação de Bismuth-Corlette, que divide o tipo perihilar em quatro subtipos: • Tipo I: Tumor no ducto hepático comum. • Tipo II: Tumor na confluência dos ductos hepáticos. • Tipo IIIa: Tumor na confluência com extensão para o ducto hepático direito. • Tipo IIIb: Tumor na confluência com extensão para o ducto hepático esquerdo. • Tipo IV: Tumor que acomete ambos os ductos hepáticos. Esse sistema, em alguns casos, não inclui informações importantes como o envolvimento vascular, comprometimento linfonodal e metástases à distância, mas é frequentemente utilizado para guiar a abordagem cirúrgica. O outro sistema de estadiamento utilizado para tumores extra-hepáticos (hilar e distal) é a classificação TNM da American Joint Committee on Cancer (AJCC), que fornece uma informação precisa sobre o câncer, assim como é considerado um teste patológico. A ressecção cirúrgica completa da lesão é a única forma de tratamento curativo do CCA. Infelizmente a maioria dos tumores são irresecáveis à apresentação, confirmando um prognóstico reservado e a completa ressecção cirúrgica com margens histológicas livres de tumor é difícil de executar (Bosma 1990). Os melhores preditores de sobrevida são ausência de acometimento linfonodal, margens cirúrgicas negativas e ausência de invasão vascular(Khan et al. 2005; Malhi and Gores 2006). É necessário, após a realização da hepatectomia parcial, um volume hepático remanescente capaz de manter a função hepática(Malhi and Gores 2006). As fases iniciais do CCA intra-hepático são geralmente assintomáticas, não existindo nenhum exame específico para o diagnóstico em fases precoces, o que associado ao crescimento rápido do tumor, à sua tendência a invadir órgãos adjacentes e a Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives metastatizar, encerram um prognóstico desfavorável da lesão. Até 70% dos pacientes desenvolvem recorrência local ou à distância após a cirurgia (Weber et al. 2001; Kamphues et al. 2010). Etiologia Os colangiocarcinomas correspondem a mais de 80% dos tumores biliares e sua etiologia ainda não está bem definida, contudo a fisiopatologia desse tumor está associada à estase crônica e a inflamação biliar de várias origens. Fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do colangiocarcinoma são inúmeros, contudo convergem para a inflamação crônica das vias biliares, sendo que nos países do ocidente a colangite esclerosante primária, cuja prevalência em pacientes com CCA é de 5% a 15%, representa o fator de risco mais comum, enquanto nos países do sudoeste da Ásia as origens infecciosas e litíase intra-hepática prevalecem(Chung et al. 2009). Pacientes com cálculos biliares intrahepáticos têm um risco de 10% para o desenvolvimento de CCA, já que a inflamação prolongada do epitélio biliar pelo cálculo, a estase biliar e as infecções bacterianas, podem predispor a doença maligna (Chen et al. 1999; Lesurtel et al. 2002). As malformações do trato biliar, como a doença de Caroli e a doença fibropolicística congênita apresentam de 10% a 15% de risco de malignidade (Chapman 1999). As infecções parasitárias hepáticas por Opisthorchis viverrini e Clonorchis sinensis também são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de CCA, particularmente no sudeste asiático (Kurathong et al. 1985; Watanapa and Watanapa 2002). A colelitíase é um fator de risco conhecido para CCA intra e extra-hepático, podendo apresentar um aumento duplo da incidência de CCA em pacientes que não realizaram uma colecistectomia. Outros fatores de risco para CCA, como pancreatite crônica, cirrose hepática não específica, exposição a toxinas ambientais, principalmente a dioxinas, consumo de álcool, diabetes, síndrome metabólica e aumento do índice de massa corpórea (IMC) podem estar associados ao aumento da prevalência de CCA (Hardell et al. 1984; Welzel et al. 2007). A hepatite B e hepatite C são fatores de risco que têm sido propostos para o desenvolvimento de CCA, pois estudos têm demonstrado um EURP 2014; 6(1): 29-35 32 Lessa & Cavalcante - Colangiocarcinoma aumento significativo de anticorpos contra essas hepatites. No caso específico da hepatite C, até 30% dos pacientes com CCA, apresentam anticorpos contra hepatite C (Kobayashi et al. 2000; Shaib et al. 2005). Avaliação por imagem variada, sendo os principais a ultrassonografia, tomografia computadorizada helicoidal ou com múltiplos detectores, a ressonância magnética e a PET-TC. A imagem participa das várias fases de abordagem da lesão que passa pelo diagnóstico, diagnósticos diferenciais, estadiamento, intervenção, orientação para tratamento e avaliação pós-procedimento. A avaliação dos tumores biliares por meio de métodos de diagnóstico por imagem é bastante Figura 1. Dilatação de vias biliares intra-hepáticas ocasionadas por colangiocarcinoma. Colangiocarcinoma periférico (intra-hepático) Os tumores são do tipo formador de massa e do ponto de vista macroscópico apresentam uma porção central composta por variáveis graus de fibrose e necrose de coagulação, com as células malignas predominando na periferia(Maetani et al. 2001). A TC apresenta-se como uma massa de contornos lobulados, hipodensa com impregnação periférica e irregular pelo meio de contraste nas fases iniciais e uma porção central que se impregna somente nas fases mais tardias, em virtude da porção central do colangiocarcinoma intra-hepático ser composta Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives principalmente por tecido fibroso, o que pode ser melhor evidenciado pela RM(Chung et al. 2009). Na ultrassonografia o colangiocarcinoma pode ser hipoecóico, isoecóico ou hiperecóico. O padrão mais frequente é hiperecóico e homogêneo, contudo pode ser heterogêneo a custa de calcificações que são decorrentes da produção de mucina, assim como degenerações císticas decorrentes da necrose tumoral. Dilatação de vias biliares ou atrofia do parênquima hepático adjacente à lesão podem ocorrer(Wibulpolprasert and Dhiensiri 1992; Lee et al. 1995). O diagnóstico diferencial com EURP 2014; 6(1): 29-35 33 Lessa & Cavalcante - Colangiocarcinoma metástases de origem colorretal pode ser difícil e a realização de estudos de imuno-histoquímica para confirmação diagnóstica necessária (Maetani et al. 2001). geralmente é Figura 2. Imagem de colangiocarcinoma na confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo. Colangiocarcinoma hilar (tumor de Klatskin) e extra-hepático. Esses tipos de colangiocarcinomas desenvolvem-se ao longo do trajeto dos ductos biliares, originando espessamento irregular de suas paredes com estreitamento súbito e dilatação da árvore biliar a montante. Geralmente tendem a ser do tipo ductal infiltrante e causas benignas de estenose das vias biliares tais como colangite esclerosante, colangiopatia por HIV, sídrome de Mirizzi e status pós-cirúrgico, devem ser consideradas como diagnóstico diferencial(Kloek et al. 2008; Menias et al. 2008; Chung et al. 2009). No sítio da obstrução, a lesão apresenta-se à TC como pequena lesão isodensa ou ainda como espessamento irregular das paredes das vias biliares. Em ambas as formas de apresentações, a lesão impregna-se menos do que o parênquima Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives hepático, tanto na fase arterial quanto portal, com realce mais intenso na fase tardia(Sainani et al. 2008). A ressonância magnética, em virtude de sua melhor capacidade de diferenciação tecidual, permite uma melhor avaliação dos colangiocarcinomas do tipo periductais infiltrantes, mormente se a colangiorressonância está associada, sendo que o padrão de impregnação da RM é semelhante ao da TC(Sainani et al. 2008). As estenoses ocasionadas pelos colangiocarcinomas são excêntricas, irregulares e mais longas quando comparadas as estenoses ocasionadas por lesões benignas, portanto o achado de estenose abrupta não é específico de malignidade e a acurácia da colangiorressonância mostrou-se tal qual a colangiografia endoscópica retrógada nessa caracterização(Park et al. 2004). O aspecto EURP 2014; 6(1): 29-35 34 Lessa & Cavalcante - Colangiocarcinoma ultrassonográfico mais indicativo deste tumor se constitui na dilatação isolada das vias biliares, com a lesão tumoral nem sempre sendo visibilizada prontamente ao exame (figura 1). Quando identificada, caracteriza-se por imagem sólida mais frequentemente hipoecóica e quando situada na confluência dos ductos hepáticos, observa-se dilatação das vias biliares na junção dos ductos hepáticos direito e esquerdo (figura 2). A análise por Doppler colorido poderá ser útil na identificação da invasão vascular (Wibulpolprasert and Dhiensiri 1992). Colangiocarcinoma intraductal (papilífero) Os tumores intraductais são tumores de prognóstico excelente após a exérese cirúrgica, pois são lesões de baixo grau, geralmente limitados à mucosa, com invasão apenas tardiamente da parede do ducto. Os tumores papilíferos intraductais, via de regra, são lesões fixas, contudo apresentam projeções frondosas múltiplas e friáveis, que frequentemente se desprendem promovendo obstrução intermitente das vias biliares, simulando cálculos, tanto do ponto de vista clínico, como nos métodos de diagnóstico por imagem, sendo que alguns adenocarcinomas papilares podem produzir mucina favorecendo a estase e a dilatação das vias biliares (Lee et al. 2000; Lim 2003; Lim et al. 2003). Na TC os adenocarcinomas papilíferos aparecem como lesões intraductais que se impregnam pelo contraste somente quando se apresentam aderidas a parede ductal (Lee et al. 2000; Lim 2003; Lim et al. 2003). Já na RM os tumores papilíferos mostram-se como massas intraductais de superfície lobulada e com hipossinal em T1 e leve hipersinal em T2. Na colangioressonância apresentam-se como falhas de enchimento(Kim et al. ; Lee et al. 2008). Os tumores papilíferos à ultrassonografia mostramse como massas ecogênicas no interior dos ductos, sem acarretar atenuação do feixe sonoro (Lim 2003; Lim et al. 2003). Conclusões O CCA é uma neoplasia rara que apresenta um prognóstico sombrio, cuja única forma de tratamento curativo é a intervenção cirúrgica com ressecção completa da lesão. O diagnóstico continua a representar um desafio, pois a maioria Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives dos pacientes apresenta-se com quadro clínico inespecífico e a avaliação por imagem mostra-se bastante variada considerando que o tumor pode manifestar-se em diferentes topografias na árvore biliar assim como ser caracterizado em etapas evolutivas distintas. Os métodos de diagnóstico por imagem utilizados para avaliar os tumores da árvore biliar também são diversos, destacando-se a TC, RM, CPRE e US. Contudo como ficou exposto nesse trabalho, os achados obtidos por esses métodos são achados inespecíficos, sendo uma das principais vantagens a de determinar o nível de obstrução da árvore biliar, assim como avaliar os preditores de sobrevida. Métodos como a TC, CPRE e a RM, principalmente quando acompanhada de colangioressonância, podem fornecer maiores detalhes anatômicos da árvore biliar, assim como avaliar o comportamento tumoral relacionado à impregnação pelo contraste. A ultrassonografia assume papel relevante na abordagem dos CCA, pois pode determinar a lesão propriamente dita, assim como dilatações da árvore biliar associada. Trata-se de um método inócuo, de fácil acesso e excelente relação custo-benefício, constituindo-se no primeiro exame a ser solicitado em pacientes com queixas abdominais inespecíficas. Referências Bosma, A. 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A ecocardiografia é de suma importância para a quantificação da gravidade da estenose valvar aórtica, sendo que os principais métodos para isso são: determinação dos gradientes do fluxo sanguíneo através da valva aórtica (gradientes médio e máximo); medida das velocidades dos jatos pré (V1) e pós-valvar (V2) e da relação entre essas duas velocidades; aferição da área valvar aórtica. Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura e determinar evidências ecocardiográficas importantes na avaliação da estenose da valva aórtica. Palavras-chave: Estenose valvar aórtica; ecocardiografia; valva; ultrassonografia. Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) 1 Recebido em 30/06/2014, aceito para publicação em 15/07/2014. Correspondências: Sérgio Vinícius Perez Departamento de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. Fone: (16) 3636-0311 Fax: (16) 3625-1555 Email: [email protected] Abstract The aortic valve stenosis is a condition characterized by obstruction of the passage of blood flow through the outlet of the left ventricle to the aorta. Diagnosis of the disease is based on clinical history, physical examination and echocardiographic studies. The classic symptoms are: dyspnea, angina and syncope induced stress, and the onset of symptoms is a marker of disease severity and survival of patients. Echocardiography is of paramount importance for quantifying the severity of aortic valve stenosis, and the main methods for this are: determining the gradients of blood flow through the aortic valve (mean and peak gradients); measuring the velocities of pre (V1) and post-jet valve (V2) and the relationship between these two speeds; measurement of aortic valve area. This paper aims to review the literature and determine important echocardiographic evidence in the assessment of aortic valve stenosis. Keywords: Aortic valve stenosis; echocardiography; valve; ultrasonography. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2014; 6(1): 36-39 37 Perez - Ultrassonografia na estenose aórtica Introdução A estenose da valva aórtica é uma patologia caracterizada pela obstrução da passagem do fluxo sanguíneo da via de saída do ventrículo esquerdo para a aorta. As principais etiologias são a doença reumática, degenerativa e a congênita (Carabello, 2002). Em países desenvolvidos a estenose aórtica degenerativa e congênita são mais prevalentes, enquanto em paises em desenvolvimento, a etiologia mais frequente é a reumática (Soler-Soler, 2000). A gravidade da estenose aórtica está intimamente relacionada ao envelhecimento populacional. Estima-se que aproximadamente 3% da população acima de 75 anos de idade possua estenose aórtica grave com etiologia degenerativa (Lindroos, 1993). A alta prevalência de estenose aórtica em idosos, somada ao envelhecimento da população mundial, faz com que tal patologia se torne uma questão de saúde publica. Anatomia da valva aórtica A valva aórtica é a valva semilunar esquerda e possui três válvulas, que estão em continuidade com o septo membranoso e o folheto mitral anterior. Os folhetos se juntam no centro ao longo de uma linha de coaptação, onde os espessamentos centrais são chamados de nódulos de Arantus. Os seios aórticos são três dilatações da raiz da aorta de onde surgem os três folhetos. Dois dos três seios aórticos dão origem ás artérias coronárias, que são designados como direito e esquerdo, o terceiro é chamado de seio não coronariano. A comissura entre os folhetos não coronariano e coronariano esquerdo está posicionada ao longo da área de continuidade com o folheto anterior da valva mitral. A comissura entre os folhetos não coronariano e coronariano direito está diretamente acima da porção do septo atrial que contém o nó atrioventricular, acima do feixe atrioventricular penetrante e do septo ventricular membranoso (Sutton, 1995). Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Fisiopatologia da estenose valvar aórtica Independente da etiologia, a calcificação dos folhetos da valva e a redução de seu orifício serão sempre a via final do processo evolutivo. A hipertrofia do ventrículo esquerdo é o principal mecanismo de adaptação do miocárdio frente à sobrecarga hemodinâmica da estenose aórtica. Essa hipertrofia do ventrículo esquerdo faz com que o paciente seja assintomático por algum período, impedindo que haja aumento da tensão sistólica e diastólica na parede do ventrículo, mesmo com a resistência imposta pela estenose valvar aórtica. Entretanto, com o tempo esses mecanismos de adaptação atingem seu limite, causando o desequilíbrio entre os compartimentos muscular, intersticial e vascular, levando a isquemia e dano do músculo cardíaco. Há progressiva disfunção ventricular, inicialmente diastólica. Na fase final, observa-se disfunção sistólica (Pellikka, 2005). O inicio da sintomatologia na maioria das vezes esta associado à mudança da fase adaptada para a fase desadaptada da doença, não necessariamente representada pela disfunção ventricular sistólica. Na realidade, a maioria dos pacientes com estenose aórtica que desenvolvem sintomas apresentam função ventricular normal e disfunção diastólica evidente (Pellikka, 2005). Quadro clínico O paciente com estenose aórtica normalmente fica assintomático por um longo período, sendo que os sintomas costumam aparecer na fase avançada da doença. Os sintomas clássicos: dispneia, angina e sincope induzida pelo esforço, sendo que o surgimento dos sintomas é um marcador de gravidade da doença e sobrevida dos pacientes. A sobrevida dos pacientes que desenvolvem angina é de 50% em cinco anos; aqueles que desenvolvem sincope têm sobrevida media de 50% em três anos, já os pacientes que apresentam sintomas de insuficiência cardíaca apresentam sobrevida ainda menor, sendo de 50% em dois anos (Rossd, 1968). O exame físico revela rude, de intensidade dita durante a fase de sístole. do sopro para a região sopro sistólico ejetivo, crescendo-decrescendo Pode haver irradiação da fúrcula esternal e EURP 2014; 6(1): 36-39 38 Perez - Ultrassonografia na estenose aórtica região carotídea. Quando a valva aórtica é muito calcificada, pode ocorrer o fenômeno de Gallavardin, que é um sopro sistólico de alta frequência audível na região do ápice cardiaco, e ainda pode existir a presença de frêmito, que indica maior gravidade da lesão da valva aórtica (Angelo, 2012). O ecocardiograma na avaliação da estenose valvar aórtica Na avaliação complementar da estenose aórtica, o ecocardiograma com Doppler tem papel fundamental (Carabello, 2009). A quantificação da gravidade da estenose valvar aórtica pode ser realizada pela analise dos seguintes aspectos ecocardiograficos: determinação dos gradientes do fluxo sanguíneo através da valva aórtica (gradientes médio e máximo), medida das velocidades dos jatos pré (V1) e pós-valvar (V2) e da relação entre essas duas velocidades; aferição da área valvar aórtica (pelo método da equação da continuidade ou pela planimetria direta). Outros fatores devem ser avaliados, como a função contrátil do ventrículo esquerdo, o grau de hipertrofia ventricular, a função diastólica, a associação de insuficiência aórtica, a presença de hipertensão arterial e o diâmetro da aorta. A ecocardiografia transesofágica deve ser empregada na análise da valva aórtica quando a imagem ecocardiográfica transtorácica for subótima ou quando o alinhamento do fluxo transvalvar for inadequado (Bonow, 2008). Na presença de disfunção do ventrículo esquerdo de grau significativo e gradientes baixos através da valva aórtica, o ecocardiograma de estresse farmacológico pode ser usado para distinção de pacientes com estenose valvar aórtica grave e estenose valvar aórtica leve (Bonow, 2008). Critérios ecocardiográficos A estenose aórtica é classificada como leve, moderada ou grave, de acordo com a avaliação dos critérios ecocardiográficos supracitados. A estenose aórtica de acordo com a medida da área valvar pode ser classificada como leve, quando a área valvar é de 1,5 cm², moderada quando a medida está entre 1,0-1,5 cm² e grave quando a área valvar é menor que 1,0 cm². Um gradiente Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives médio menor que 25 mmHg classifica a estenose aórtica como leve, entre 25-40 mmHg classifica como moderada e um gradiente médio maior que 40 mmHg é considerado como estenose valvar aórtica grave. Já a velocidade de jato menor que 3 m/s caracteriza uma estenose aórtica leve, velocidades entre 3,0-4,0 m/s é considerada estenose moderada e velocidades de jato acima de 4,0 m/s é uma estenose aórtica grave. Vale lembrar que apesar da medida da área valvar menor que 1,0 cm² ser o preconizado nas diretrizes do ACC/AHA para definição de estenose grave, existem evidências, de que um gradiente médio maoir que 40 mmHg se associa a uma área valvar menor que 0,8 cm² e, portanto, vários especialistas acham que a definição de estenose aórtica grave deva ser área valvar aórtica menor que 0,8 cm² (Jander, 2011). Conclusões A estenose aórtica é uma doença frequente que acomete todas as faixas etárias, sendo comum após os 75 anos com quadro clínico variável e muitas vezes progressivo, podendo causar sintomas e influenciando severamente na sobrevida dos pacientes portadores de tal patologia. A ecocardiografia é a principal ferramenta de diagnostico e acompanhamento dos pacientes acometidos, os critérios e evidências ecocardiograficas são de grande valia no segmento, tomadas de decisões em casos de tratamento clínicos ou cirúrgicos, proporcionando assim melhor qualidade de vida e sobrevida aos pacientes portadores da estenose valvar aórtica. Referências Angelo A. V. de Paola, Marcia M. Barbosa, Jorge Ilha Guimarães. Livro-texto da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2012; p 1264. Manole 2012. Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr, AC, Faxon DP, Freed MD et al. 2008 focused update incorporated into the ACC/AHA 2006 Guidelines for the management of Patients with valvular heart disease. A report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (writing commit-tee to revise the 1998 guidelines for the management of patientes with valvular heart disease). Circulation. 2008;118:e523-e661. EURP 2014; 6(1): 36-39 39 Perez - Ultrassonografia na estenose aórtica Carabello BA, Paulus WJ. Aortic stenosis. Lancet. 2009;373(9667):956-66. Carabello BA. Clinical practice. Aortic stenosis. N Engl J Med.2002;346(9):677-82. Jander N, Minners J, Holme I, Gerdts E, Boman K, Brudi P, et al. Outcome of patients with low-gradient `severe´ aortic stenosisa and preserved ejection fraction. Circulation. 2011;123(8):887-95. Epub 2011 Feb 14. Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives Pellikka PA, Sarano ME, Nishimura RA, Malouf JF, Bailey KR, Scott cally significant aortic stenosis during prolonged follw-up. Circulation. 2005;111(24):3290-5. Ross J Jr., Braunwald E. aortic stenosis. Ciculation. 1968;38 (1 suppl):61-7. Soler-Soler J, Galve E. Worldwide perspective of valve disease. Heart. 2000;83(6):721-5. Sutton JP III, Ho SY, Anderson RH. The forgotten interleaflet triangles: a review of the surgical anatomy of the aortic valve. Ann thorac Surg. 1995;59:419-27. EURP 2014; 6(1): 36-39
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