oncologia clínica
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ONCOLOGIA CLÍNICA ANO 7 • NÚMERO 21 • JUL - SET de 2010 REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLÍNICA ISSN 1806-6054 Editor Chefe Daniel L. Gimenes Comissão executiva Daniel Luiz Gimenes, MD José Augusto Rinck Junior, MD Conselho Editorial Adriana Scheliga, MD Auro Del Giglio, MD. PhD. Ademar Lopes, MD Abrão Rapoport,MD, PhD, LD Célia Regina Soares, MD Fernando Augusto Soares, MD Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva, MD. PhD. José Claudio Casali da Rocha, MD. PhD. Carlos Gil Ferreira, MD. PhD. Luis Paulo Kovalski, MD. Silvia Rogatto, PhD. Sidnei Epelman, MD. Iúri Drumond Louro, MD, PhD Marileila Varella-Garcia, PhD Gestão Editorial Sandra Galeotti VGS Produção Editorial Ltda. Jornalista Responsável Daniele Merola MTB 30494 Tiragem 2.000 exemplares Distribuição Território nacional Periodicidade Trimestral Público Alvo Médicos oncologistas, bibliotecas de hospitais de câncer, escolas de medicina, institutos de pesquisa de cãncer, centros de estudos de hospitais públicos e privados. Projeto Gráfico e Diagramação Rachel Gomes Magalhães Communicatio Design Conteúdo/ Content EDITORIAL Daniel L. Gimenes .............................................................................. 05 ARTIGOS ORIGINAIS / Original Reports and reactions 07 of the Polymorphic Genes GSTM1, GSTT1 and GSTP1 in a Sample of Colorectal Cancer Patients from the South of Brazil 12 Nefrectomia Radical para Câncer de Células Renais: experiência de um centro secundário do nordeste brasileiro / Radical Nephrectomy for Cancer of Renal Cells; experience of a câncer center of North-East of Brazil Djalma Ribeiro Costa Jeany Borges e Silva José Marconi Tavares Jerônimo de Paula Rebouças Chagas .............................................................................. José de Felippe Junior .............................................................................. 24 Bruno Koplewski de Castro Fernanda Lima Kröger Wanderson Tassi de Paula .............................................................................. 31 Neoplasia Maligna Gigante de Ovário: Relato de caso / Giant ovarian malignancy: Case report Análise dos Polimorfismos dos Genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 em Amostra de Pacientes com Carcinoma Colorretal do sul do Brasil / Analysis Poliana L. Ansolin Daniel C. Damin Cláudio O. P. Alexandre .............................................................................. Carcinoma Neuroendócrino Metastático do Pâncreas – Relato de Caso e Revisão da Literatura para uma Nova Abordagem Terapêutica / Metastatic Neuroendocrine Carcinoma of the Pancreas – Case Report and Literature Review for a New Therapeutic Approach Amputação Peniana: sentimentos e reações do homem / Penis Amputation: man’s feelings Aleksandra Pereira Costa Roberta Liliane Fernandes Leila Alcina Correia Vaz Bustorff Verbena Santos Araújo Cláudia Maria Medeiros Ramos Souto Maria Djair .............................................................................. RELATOS DE CASO / Case Reports 18 Síndrome de Claude Bernard-Horner como Apresentação de Carcinoma de Esôfago / Claude Bernard-Horner Syndrome as Esophagus Carcinoma Presentation Bruno Carvalho Oliveira Viviani Bastos Lima Anderson Arantes Silvestrini .............................................................................. FICHA DE AFILIAÇÃO / Application Form .............................................................................. NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / Publishing Instructions .............................................................................. 34 35 36 EDITOR IAL Prezados Leitores, O tratamento do câncer de mama sempre foi basicamente fundamentado em características do tumor primário, tamanho da neoplasia, presença de metástases em linfonodos axilares, expressão de receptores hormonais, grau histológico e nuclear, embolização vascular e linfática e, mais recentemente, se inicia a sofisticação das assinaturas genéticas. Entretanto, nos últimos anos, vem crescendo um novo conceito terapêutico e prognóstico que considera características do “hospedeiro” da neoplasia. Dentro deste contexto, destacam-se duas linhas de pesquisa: o índice de massa corpórea do paciente e o status de metabolizador do tamoxifeno. O citocromo P450 2D6 (CYP2D6) é responsável pelo metabolismo do tamoxifeno onde há evidências na literatura de que existem polimorfismos genéticos que caracterizam perfis metabólicos diferenciados entre os pacientes para o tamoxifeno, a saber, metabolizadores ultra-rápidos, metabolizadores extensivos (ou normais) e metabolizadores lentos ou pobres. Aqueles com perfil de metabolismo extensivo ou normal apresentam uma redução no risco de recorrência e melhores taxas de sobrevida quando utilizam o tamoxifeno para o tratamento adjuvante do câncer de mama. No último consenso de St. Gallen, que ocorreu no ano de 2009, o painel de especialistas considerou ainda que a pesquisa do polimorfismo do CYP2D6, embora disponível no mercado, ainda não deve ser considerada na decisão terapêutica, quanto a favorecer o uso de inibidores da aromatase em pacientes metabolizadores pobres do tamoxifeno. Sem dúvida, estudos prospectivos devem ser elaborados para validar este novo fator preditivo de atividade do tamoxifeno, bem como o seu valor prognóstico no câncer de mama.1,2 Outra informação muito interessante é o índice de massa corpórea (IMC), outra característica do hospedeiro associada à outra hormonioterapia utilizada no tratamento adjuvante do câncer de mama: os inibidores da aromatase. No congresso americano de oncologia clínica deste ano, Pfeiler et al. apresentaram os dados do estudo ABCSG-12 que avaliou a eficácia do uso de goserelina em combinação com anastrozol ou tamoxifeno associado ou não ao ácido zoledrônico, em pacientes pré-menopausa com câncer de mama hormônio-responsivo3. Em uma análise não planejada, observou-se que o IMC influenciou no resultado da hormonioterapia adjuvante. Os pacientes que utilizaram tamoxifeno não apresentaram nenhuma diferença estatística em termos de taxas de sobrevida livre de doença quando analisados sob a ótica do IMC. Entretanto, no grupo dos pacientes que receberam anastrozol/ goserelina com um IMC > 25 Kg/m2 apresentaram um impacto negativo com um risco aumentado de recorrência metastática como também uma menor sobrevida global. Desta forma sugerindo que a obesidade pode configurar uma possível resistência aos inibidores da aromatase periférica. Novamente, este dado merece validação com análises prospectivas. De qualquer forma, me arrisco a postular que, em um futuro próximo, os estudos prospectivos de hormonioterapia adjuvante não somente considerem como critérios de inclusão o perfil de expressão dos receptores hormonais, como também, além das características prognósticas tradicionais, deva levar em consideração a importância de que todos os grupos a serem analisados tenham proporções muito semelhantes de pacientes com o mesmo perfil de metabolização do tamoxifeno e IMC. Caso contrário, os resultados poderão ser influenciados por eventuais desproporções entre grupos de pacientes com diferentes características incluídos. Daniel Luiz Gimenes Editor – Chefe Referências bibliográficas: 1. Abraham JE, Maranian MJ, Driver KE, et al. CYP2D6 gene variants: association with breast cancer specific survival in a cohort of breast cancer patients from the United Kingdom treated with adjuvant tamoxifen. Breast Cancer Res. 2010 Aug 23;12(4):R64. [Epub ahead of print] 2. Higgins MJ, Stearns V. CYP2D6 polymorphisms and tamoxifen metabolism: clinical relevance. Curr Oncol Rep. 2010 Jan;12(1):7-15. Review. 3. G. Pfeiler, R. Königsberg, C. F. Singer, Impact of body mass index (BMI) on endocrine therapy in premenopausal breast cancer patients: An analysis of the ABCSG-12 trial. J Clin Oncol 28:15s, 2010 (suppl; abstr 512) EDITORIAL | 5 6 | Amputação Peniana: sentimentos e reações do homem ARTIGO / Article Penis Amputation: man’s feelings and reactions Costa AP1, Fernandes RS2, Bustorff LACV3, Araújo VS4, Souto CMMR5, Djair M6. Grupo de Estudo Saúde, Mulher e Gênero – GEPSAM, Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Resumo Objetivos: apreender os sentimentos vivenciados por pacientes submetidos à amputacao peniana, em um hospital filantropico da cidade de Campina Grande, Paraiba - Brasil. Metodologia: A pesquisa e qualitativa de inspiracao fenomenologica, realizada no periodo de fevereiro a maio de 2009. Resultados: Os resultados foram trabalhados atraves da analise das descricoes, proposta por Martins. Observa-se atraves dos resultados que o significado psicologico da retirada do penis pode estar ligado as manifestações psicossexuais onde o orgao genital masculino e rotulado como procriacao, atracao, que reflete masculinidade e objeto sexual. Sua ausência acarreta baixa estima. Conclusão: Neste contexto, percebe-se que é necessário auxiliar os pacientes no que se refere ao auto-cuidado, e uma atenção direcionada e sensata que envolva as necessidades dos homens penectomizados, influenciando na qualidade do tratamento e no acompanhamento. Unitermos Saúde do homem, neoplasias penianas, amputação. Abstract Objective: To understand feelings of the patients undergoing penile amputation who were treated at a philanthropic hospital in the city of Campina Grande, Paraiba , Brazil. Methodology: Qualitative and phenomenological study, carried out from February to May 2009. Results: The results were processed through analysis of the descriptions as proposed by Martins. The psychological meaning of penis amputation may be associated to psycho-sexual manifestations wherein the male genital organ is perceived as a symbol of procreation, attraction, reflecting manhood and sexual appeal whereas its absence leads to low self-esteem. Conclusion: In such context, it becomes clear that these patients require guidance regarding self-care and attention directed to the needs of patients undergoing penile amputation, which can influence the quality of treatment and the follow up. Key Words Men’s health, penile neoplasms, amputation, emotions. INTRODUÇÃO No Brasil, mais de 7 milhões de pessoas morrem devido ao câncer anualmente, o que corresponde a mais de 12% Aleksandra Pereira Costa - Enfermeira, especialista em obstetrícia, membro do grupo de estudos Saúde, Mulher e Gênero – GEPSAM – UFPB (Univ. Federal da Paraíba). E-mail:[email protected]. 2 Roberta Liliane Fernandes - Graduada em enfermagem pelas Faculdade de Ciências Médicas. Enfermeira do Hospital João XXIII. 3 Leila Alcina Correia Vaz Bustorff – Fisioterapeuta, mestranda em Enfermagem – UFPB. Integrante do Grupo de Estudo Saúde, Mulher e Gênero – GEPSAM – UFPB, bolsista REUNI. 4 Verbena Santos Araújo – Enfermeira, mestranda pelo programa de pósgraduação em Enfermagem da UFPB(Universidade Federal da Paraíba), João Pessoa - PB. Integrante do Grupo de Estudo Saúde, Mulher e Gênero. E-mail: verbena.bio.enf @hotmail.com; 5 Cláudia Maria Medeiros Ramos Souto – Enfermeira, Doutora em enfermagem. Docente do programa d epos-graduação em enfermagem. Vice-líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde, Mulher e Gênero – GEPSAM – UFPB. E-mail:[email protected] 6 Maria Djair – Enfermeira. Doutora em enfermagem. Docente do programa de pós-graduação em Enfermagem, líder do Grupo de Estudo e Pesq. em Saúde, Mulher e Gênero – GEPSAM – UFPB. E-mail: [email protected]. CORRESPONDÊNCIA: Aleksandra Pereira Costa. R. Antônio Bezerra Paz, 20 – Alto Branco – Campina Grande – PB. CEP 58401-654. Tel: 083-91480909. e-mail: [email protected] ou [email protected] 1 de todas as causas de óbito no mundo. Como a esperança de vida tem melhorado gradativamente, a incidência de câncer, estimada em 2002 em 11 milhões de casos novos, alcançará quase 20 milhões em 2020. Segundo a União Internacional Contra o Câncer (UICC), logo o câncer constitui problema de saúde pública para o mundo e nas nações em desenvolvimento1. A soma de casos novos diagnosticados a cada ano atinge mais de 50% do total observado nos cinco continentes. No Brasil, a distribuição de diferentes tipos de câncer sugere uma transição epidemiológica em andamento1. Com o recente e exponencial envelhecimento da população, é possível identificar um aumento expressivo na prevalência do câncer, que demanda dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) a atenção adequada aos doentes. Destaca-se entre os casos de câncer as neoplasias penianas que atingem cerca de 3 mil homens ao ano no país, Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 7-11 | 7 8 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 7-11 principalmente indivíduos de baixa renda e pouca escolaridade. Esse tipo de câncer é raro, com maior incidência em indivíduos a partir dos 50 anos de idade, porém, pequenos tumores malignos, se não tratados, evoluem de forma acelerada, destruindo o órgão genital e provocando metástase. Está diretamente relacionado às baixas condições sócio-econômicas e de instrução, à má higiene íntima e a indivíduos não circuncidados.2 A escassez de publicações reflete a baixa incidência da doença em países ricos e, consequentemente, a maioria dos trabalhos é proveniente de instituições isoladas e com pequena casuística.3 Considerada por muitos estudiosos como neoplasia rara, mas séria e pouco combatida, o Câncer de Pênis é descoberto na maioria das vezes em estágio avançado, quando o único tratamento possível é a amputação. Tudo isso é agravado pelo preconceito e a falta de informação sobre a doença, contribuindo fortemente para que os homens posterguem a visita ao urologista, tornando, com isso, os diagnósticos tardios e os tumores mais agressivos. Cerca de 50% dos pacientes diagnosticados convivem um ano com a lesão até decidirem fazer a primeira visita ao médico.4 Sendo assim, quando detectado inicialmente, o câncer de pênis tem tratamento e é facilmente curado. É importante, ao fazer a higiene íntima, realizar o auto-exame do pênis. A nova política de atenção à saúde do homem, que foi implantada recentemente pelo Sistema Único de Saúde tem por objetivo facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde, aumentando o acesso e a adesão dos 40 milhões de homens com idade entre 25 e 59 anos na rede de saúde envolvendo todos os níveis de atenção, visando em especial, promover a saúde e prevenir os agravos, visto que, pacientes do sexo masculino em geral, só procuram os profissionais de saúde quando já apresentam sintomas de uma doença. Enquanto as mulheres somaram 16 milhões de consultas ao ginecologista em 2007, os homens fizeram apenas 2 milhões de visitas ao urologista.5 No processo de amputação o paciente sofre com a limitação em suas atividades diárias, com a alteração da sua imagem corporal em virtude da mutilação de parte de seu corpo e, com isso, manifesta reações psicológicas como forma de enfrentar questões e lidar melhor com a situação. 6 A amputação peniana, reveste-se de inigualável e indescritível peso, em função dos desdobramentos que tal ocorrência acarreta para a vida do usuário no tocante à sua masculinidade e posicionamento na sociedade. Em uma sociedade em que o homem é considerado o “chefe”, o falo é o símbolo maior desta masculinidade e a perda C O S TA E T A L do pênis é a absoluta negação desta característica, do poder viril, em que sua auto-afirmação máscula se esvai e certamente é assimilada como uma castração. 7 A amputação pode acontecer em qualquer fase do desenvolvimento do sujeito e resultar em conseqüências específicas de perda, dependendo da fase em que ele se encontra. Nesse momento é comum o aparecimento do luto, da não aceitação, do medo frente à nova realidade que se instituiu, da depressão, da dor e da revolta, refletindo num auto-conceito e numa auto-estima negativa.6 Com base nas reflexões acerca dos significados atribuídos ao pênis enquanto órgão masculino representativo de masculinidade, questiona-se: Que sentimentos masculinos emergem mediante o enfrentamento da amputação peniana? Buscando os significados dessas vivências este estudo tem como objetivo apreender os sentimentos vivenciados por pacientes que vivenciam a amputação peniana. MATERIAIS E MÉTODOS Devido à subjetividade do tema optou-se pela metodologia de abordagem qualitativa com inspiração fenomenológica, pois esta possui a capacidade de lidar com o significado atribuído pelos sujeitos aos fatos, relações, práticas e fenômenos sociais, bem como permite maior inter-relação entre pesquisador e o que é estudado. 8 A investigação fenomenológica fundamenta-se em três princípios: o olhar atento ao fenômeno quando e como ele se mostra; o descrever, sem explicar o fenômeno; o não se iludir pela crença sobre a realidade, mas colocar os fenômenos no mesmo horizonte.9 a) Local do estudo e sujeitos da pesquisa A pesquisa teve como cenário um Hospital Filantrópico e de Referência ao tratamento oncológico no município de Campina Grande no estado da Paraíba. Como colaboradores do estudo tivemos 04 usuários portadores de câncer peniano que foram submetidos à amputação e estavam em tratamento na instituição, durante a coleta dos dados, estando na faixa etária compreendida entre 39 a 79 anos. b) Coleta de dados Como instrumento de coleta de dados, foi elaborado um formulário de entrevista, onde utilizou-se a técnica da entrevista aberta e informal, onde os pesquisadores realizaram as entrevistas diretamente. A mesma foi dividida em duas etapas, onde a primeira parte do formulário continha perguntas para caracterização dos participantes do estudo, com variáveis do tipo: idade, estado civil, escolaridade, renda familiar e categoria pro-fissional e a segunda parte do questionário perguntas direcionadas ao objetivo do mesmo, cujas variáveis estavam relacionadas aos sentimentos e reações do AMPUTAÇÃO PENIANA: SENTIMENTOS E REAÇÕES DO HOMEM homem após informação da amputação peniana e já amputado. O formulário de entrevista consistiu em levantar os dados. Para realizar o procedimento para coleta dos dados utilizou-se como referência Martins, esta técnica consiste na descrição da experiência vivida (fenômeno) do sujeito, através de entrevistas, relatando seu real pensamento e sentimento sobre o assunto, objetivando assim uma melhor forma de apresentação; redução fenomenológica e compreensão.10 c) Procedimentos éticos Para o desenvolvimento do estudo seguiram-se as normas da Declaração de Helsinki, de 1975, na versão de 2000,11 e as diretrizes emanadas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde 12 - que regulamenta as normas aplicadas a pesquisas que envolvem Seres Humanos. O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do CESED, só sendo operacionalizado após anuência desse órgão (CAAE 0353.0.000.405-09). Durante todo o processo de execução da pesquisa, os participantes foram deixados livres para decidirem sobre sua participação no estudo, estando cientes do objetivo proposto e do direito de interromper sua participação no momento que lhes conviesse. RESULTADOS No primeiro momento, identificaram-se os sujeitos da pesquisa, preservando seu anonimato e ilustrando os depoimentos, atribuindo a eles a simples designação de “entrevistado” seguida de uma numeração. Na caracterização dos entrevistados abordamos sua idade, estado civil, escolaridade, renda salarial e profissão. Portanto ficaram assim designados: - Entrevistado 1(E1): 39 anos, solteiro, sem instrução de escolaridade, renda salarial de 1 a 2 salários mínimos, aposentado. - Entrevistado 2 (E2): 50 anos, casado (6 filhos), ensino médio completo, renda salarial 1 salário mínimo, agricultor. - Entrevistado 3 (E3): 79 anos, casado (2 filhos), sem instrução de escolaridade, renda salarial de 1 a 2 salários mínimos, aposentado. - Entrevistado 4 (E4): 60 anos, casado (5 filhos), sem instrução de escolaridade, renda salarial de 1 a 2 salários mínimos, agricultor. No segundo momento foram ouvidos os relatos dos pacientes que se submeteram à amputação peniana (penectomia ou falectomia) por entender que os mesmos são capazes de manifestar a realidade, pois vivenciam o fenômeno. A falta de informação sobre uso de preser- Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 7-11 | 9 vativo, higienização adequada, a falta de procura aos serviços de saúde, coloca o próprio indivíduo como ser passivo diante do controle de qualquer patologia. O que pode ser observado nas seguintes falas: E1 - (...) percebi uma ferida pequena no local, que com o tempo foi se aumentando, com muita dor, coceira e bastante catinga (...) E2 - (...) lembro que naquele tempo atrás eu tinha naquele local uma pele grande que o povo chama de fimose, que não incomodava. E3 - (...) o local não doía, mas coçava muito e apareceu um ferimento que foi crescendo até chegar nisso...eu nunca tive nenhuma doença e também nunca tinha ido pro doutor (...) E4 - (...) foi um ferida que surgiu e eu deixe pra lá, com muita coceira e dor (...) A compreensão do fenômeno: “Sentimentos e reações do homem após a informação da amputação peniana”. Ao entrevistar os homens que iam submeter-se à amputação peniana, estes demonstraram em vários momentos, certo desconforto em falar sobre o assunto, dentre eles: tristeza, baixa auto-estima, receio do avanço da doença em outro local, vergonha em viver em sociedade, impotência tanto na vida conjugal como familiar para manter a casa e criar os filhos, incertezas sobre a vida sexual, revolta e por outros muita fé. Envolvidos nos sentimentos vividos pelos entrevistados, observou-se que cada entrevistado tem uma característica marcante. E1 - (...) fiquei muito triste, mas agora não me importo com a amputação... E2 - (...) fiquei desesperado, triste, sem chão, não sabia o que fazer, pedi a Deus muita proteção e ajuda para enfrentar a situação. E4 - (...) Durante o momento fiquei com raiva e inconformado, não queria acreditar que era verdade... A compreensão do fenômeno: “Sentimentos e reações do homem já amputado (penectomizado) O indivíduo que venha a perder qualquer parte do corpo se sente inválido, incapaz, angustiado, sendo que todos esses sentimentos convergem para uma característica comum, ou seja, a de um indivíduo que na relação social com os demais, pode afastar uma atenção positiva para si. Nas falas dos discursos abaixo, esses fatos podem ser observados. E1 – (...) No início senti muita revolta 10 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 7-11 E2 – (...) Senti revolta, medo, frustração, desespero sem saber como iria alimentar a minha família. (..) fiquei totalmente paralisado, pois preconizo o homem como dono da casa. E3 – (...) muitas alterações foram surgindo, perdi o melhor da vida, sentia-se muito humilhado diante da sociedade e pego trabalhos pequenos para ganha um dinheirinho para manter a casa. C O S TA E T A L quando a vontade bate rezo e peço para esquecer. Apesar da minha sexualidade comprometida, sinto prazer e ejaculo normalmente só não satisfaço minha mulher como deveria, porém não deixo de usar o mundo da imaginação. (...) infelizmente não satisfaço como deveria, sinto muito pela minha mulher. E3 – (...) Não mudou muita coisa, pois, fiz a cirurgia quando idoso e aposentado. E4 – (...) Ainda sou muito revoltado e frustrado, fiquei mal humorado. E4 – (...) deixei de trabalhar e não vivo bem com a mulher na cama (...) A compreensão do fenômeno: “Enfatizando a participação da família após a amputação peniana” A ausência do conhecimento, o descuido e a despreocupação com a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e falta de higienização dos entrevistados, aliado à falta de procura dos usuários do gênero masculino por Serviços de Saúde, são fatores que determinam à abrangência da incidência desta tão complexa enfermidade, amputação peniana câncer de pênis A amputação peniana pode impedir o homem a viver situações comuns, com seus familiares e a sociedade. Os significados sociais, familiares e culturais do paciente amputado possibilitam aos profissionais maior aproximação com a realidade do sujeito, a fim de informar as práticas em saúde no levantamento das reais necessidades de saúde superando as limitações do tratamento bio-psico-social. O apoio oferecido pela companheira foi fundamental na recuperação após cirurgia e na vida sexual, como se observa nos discursos abaixo: E1 – (...) e minha família ajuda quando pode, pois apresentam alguns problemas como: minha mãe idosa com surdez, meu pai idoso apresentando muitas doenças e um irmão bêbado. E tenho problema na cabeça, bebo e fumo, e vivia com muitas mulheres... E2 – (...) tenho muito apoio da família incluindo esposa e filhos. (...) Minha filha mais velha deixou de estudar para trabalhar e a esposa ajuda em casa de famílias para colaborar nas despesas de casa. E3 – (...) Evito pegar em peso e a família colabora muito no tratamento... E4 - (...) mas, a família compreende o problema e ajuda sempre que necessário. Evito falar sobre isso... As mudanças provocadas pela doença indicam que a pessoa precisará se adaptar e descobrir novos caminhos para dar e receber prazer sexual, ao menos temporariamente. No entanto, não há como vivenciar uma experiência traumática como o câncer sem afetar o relacionamento pessoal dos pacientes.7 Na falas dos discursos abaixo esse fato pode ser observado: E1 – (...) Surgiram algumas mudanças na minha vida, mas o principal foi usar essa mangueirinha para o resto da vida. (...) minha vida sexual está bastante abalada. E2 - (...) peço muito a Deus para resolver esse problema, DISCUSSÃO O câncer de pênis é um tumor raro, com maior incidência em indivíduos a partir dos 50 anos de idade, muito embora tumores malignos do pênis possam ser encontrados em indivíduos jovens. Este tipo de câncer está relacionado às baixas condições sócio-econômicas e de instrução, à má higiene íntima, a DSTs não tratadas e a indivíduos não circuncidados.13 O relato do E4 ratifica o comentário acima, afirmando que o câncer de pênis está muito ligado às condições de higiene íntima do indivíduo. Ao falar sobre a doença e o tratamento submetido, o homem mantém uma postura de vergonha, insegurança, mas também de certeza diante da patologia e do tratamento, além de estar ciente das possíveis causalidades tardias que o câncer pode predispor e de toda trajetória traumatizante e severa que viveu. Indivíduos jovens também podem ser afetados, uma vez que aproximadamente 22% dos casos são registrados em pacientes com idades inferiores a 40 anos. Os principais sintomas da doença segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, são ferimentos que não cicatrizam mesmo após tratamento médico, nódulos que não desaparecem e que apresentam secreções e mau cheiro, vermelhidão ou prurido duradouros na glande de portadores de fimose, manchas esbranquiçadas ou perda de pigmentação e surgimento de tumores no pênis ou na virilha. Esses e muitos outros fatores contribuem para o diagnóstico de câncer de pênis. O câncer hoje ainda é considerado como uma enfermidade silenciosa e cheia de tabús. Muitos, diante dessa AMPUTAÇÃO PENIANA: SENTIMENTOS E REAÇÕES DO HOMEM problemática tendem a apresentar inúmeras reações físicas e psicológicas, sendo estas particularmente mais intensas neste grupo de pacientes. A demora na procura de atendimento médico, também decorrente do baixo nível cultural dos pacientes, é uma variável que prejudica o resultado do tratamento. Uma grande parcela dos casos de câncer peniano em estágio avançado necessita de tratamento cirúrgico mutilante que resulta em repercussões psicológicas e funcionais desfavoráveis, situação que dificulta a reabilitação e a reintegração social.3 Os usuários submetidos à penectomia por câncer apresentam funcionamento sexual moderado ou precário, onde o interesse e a satisfação sexual ficaram reduzidos após a cirurgia, e a freqüência das relações sexuais diminuiu ou foi drasticamente afetada.16 CONCLUSÕES Ao término desse estudo, evidenciou-se que os sentimentos, de medo, revolta, raiva e frustração, afloraram em todos os homens penectomizados abordados. Destarte, os profissionais de saúde de forma multidisciplinar devem proporcionar possibilidades de uma ação não só educativa, mas também, compreender a perspectiva do homem penectomizado, no que diz respeito a suas emoções e sentimentos. Destacou-se também o comportamento de individualidade e isolamento masculino vivenciado no período de tormento e aceitação da mutilação. Baseado nessas circunstâncias, urge-se a necessidade de desenvolver estratégias que resgatem a autoestima, visando melhoria na qualidade de vida desse grupo de pacientes, bem como propiciar um ambiente favorável e acolhedor. Além de instigar os profisionais a desenvolverem atividades educativas de sensibilização e busca precoce de possíveis casos de câncer peniano. Essa pesquisa nos fez perceber que são necessários estudos que enfatizem a temática abordada, implementando ações que favoreçam atividades voltadas à saúde masculina, tendo em vista a criação da política nacional de saúde do homem, oferecendo desta forma uma adequada promoção, prevenção, detecção, intervenção e manutenção da saúde masculina, objetivando práticas efetivas, incluindo controle e prevenção do câncer peniano. Conflito de interesses: Nada a declarar. Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 7-11 REFERÊNCIAS | 11 1. Ministério da Saúde. Departamento de Ciência e Tecnologia, Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos. Integração de informações dos registros de câncer brasileiros. Rev. Saúde Pública 2007;41(5):865-68. 2. Vinhal M. Câncer de pênis: problema é raro, sério e pouco discutido no Brasil, 2007. Disponível em: <http://www.revistavigor.com.br/2007/05/18/cancer-depenisproblema-e-raro -serio -e-pouco -discutido -no brasil/>.Acessado em 20 de novembro de 2008. 3. Peclat De Paula AA, et al. Carcinoma epidermóide do pênis: considerações epidemiológicas, histopatológicas, influência viral e tratamento cirúrgico. Revista Brasileira de Cancerologia. 2005; 51(3): 243-252 4. Instituto Nacional do Câncer; Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Câncer de pênis. Rio de Janeiro (Brasil): INCA 2009. Disponível em : http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=338 Acessado em 10 maio de 2009. 5. GOMES R. 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Os genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 são polimórficos em humanos e suas variantes têm sido associadas, em algumas populações, ao aumento dos riscos de neoplasia, entre elas o carcinoma colorretal. Neste estudo caso-controle, analisamos os polimorfismos nos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 por PCR multiplex e RFLP, em biópsias de carcinoma colorretal (CCR) obtidas de pacientes do Rio Grande do Sul. Não houve associação entre a presença do polimorfismo nos genes GSTM1, (0/0), GSTT1 (0/0) e GSTP1 (Ile/Val; Val/Val) e o aumento no desenvolvimento de Câncer colorretal (OR=1,94 IC: 0,86-4,3), (OR=1,0 IC=0,40-2,4) e (OR=0,69 IC: 0,3-1,6; OR=0,58 IC: 0,16-2,0) respectivamente. Nossos resultados não confirmam a ocorrência de associação específica entre os polimorfismos GSTM1, GSTT1 e GSTP1 analisados de modo independente como em conjunto, com o desenvolvimento do carcinoma colorretal numa amostra da população do Rio Grande do Sul. Unitermos GSTs, câncer colorretal, polimorfismo, susceptibilidade genética. Abstract The glutathione S-Transferases GSTM1, GSTT1 and GSTP1 are enzymes of the second phase II of cell-metabolism which work in the detoxification pathways of a wide range of exogenous agents including carcinogens. The GSTM1, GSTT1 and GSTP1 genes are polymorphic in humans and their variants have been related in some populations with an increased risk for neoplasia, including colorectal cancer. In this case-control study, we analysed the polymorphisms present in GSTM1, GSTT1 and GSTP1 by multiplex PCR and RFLP, in biopsies of colorectal cancer obtained from patients in South of Brazil. There was no association between the GSTM1, (0/0), GSTT1 (0/0) and GSTP1 (Ile/Val; Val/Val) polymorphisms and an increase in the colorectal cancer development (OR=1,94 IC: 0,86-4,3), (OR=1,0 IC=0,40-2,4) and (OR=0,69 IC: 0,3-1,6; OR=0,58 IC:0,16-2,0) respectively. Our results did not support an involvement of these specific GSTM1, GSTT1 and GSTP1 genes polymorphisms, either independently or in combination, in susceptibility to CCR in the tested South Brazilian population. Key Words GSTs, colorectal cancer, polymorphism, genetic susceptibility. Poliana L. Ansolin - Laboratório de Biologia Molecular da Pós-graduação, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Apoio Financeiro: CAPES. 1 Cláudio O. P. Alexandre - Laboratório de Biologia Molecular da Pós-graduação, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Apoio Financeiro: CAPES. Departamento de Ciências Básicas da Saúde, Univ. Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre UFCSPA. Porto Alegre, 90050-170, RS, Brasil. Email: [email protected]. 3 Daniel C. Damin - Divisão de Coloproctologia, Departamento de Cirurgia, Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. 1 12 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 12-17 INTRODUÇÃO As neoplasias no cólon e no reto são responsáveis por uma grande mortalidade em todo o mundo, constituindo a terceira causa de morte por câncer e a segunda em países desenvolvidos21. Estudos epidemiológicos sugerem que até 80% dos cânceres humanos surgem como consequência da exposição ambiental12. A variabilidade ANÁLISE DOS POLIMORFISMOS DOS GENES GSTM1, GSTT1 E GSTP1 EM AMOSTRA DE PACIENTES COM CARCINOMA COLORRETAL DO SUL DO BRASIL dos comportamentos clínicos e biológicos do carcinoma colorretal (CCR) tem suscitado grande interesse, visando o estudo de fatores que possam estar associados à progressão da neoplasia. A evolução das células epiteliais normais para adenoma benigno e carcinoma envolve múltiplas etapas com alterações histológicas e mudanças genéticas13. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA). A incidência deste carcinoma estimada para o Brasil em 2008 foi de 12.490 casos em homens e de 14.500 em mulheres. Estes valores correspondem a um risco estimado de 13 novos casos a cada 100 mil homens e 15 para cada 100 mil mulheres. Em relação à mortalidade, no Brasil, este tipo de neoplasia situa-se na quinta posição entre as causas de óbitos mais frequentes para ambos os sexos. De acordo com o Ministério da Saúde (2003), este tumor é responsável por 13,4% da mortalidade para todas as idades e 21% para a faixa entre 60 e 64 anos. É importante salientar que todas as regiões do Brasil apresentaram tendência de aumento das taxas de mortalidade durante o período de 1979 a 2005 (DATASUS – Ministério da Saúde, 2003). A estimativa de risco nas populações para CCR podem ser classificadas em: (1) população de baixo risco: pacientes com idade superior a 50 anos e sem outros fatores de risco para CCR; (2) população de risco moderado: pacientes com história familiar de CCR em um ou mais parentes de primeiro grau, história pessoal de pólipo maior do que 1 cm ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e os indivíduos com antecedente pessoal de CCR tratado com intenção curativa; e (3) população de alto risco: indivíduos com história familiar de CCR hereditário na forma de PAF (polipose adenomatosa familiar) ou HNPCC (câncer colorretal hereditário sem polipose), ou com diagnóstico de doença inflamatória intestinal na forma de pancolite ou colite esquerda. Desta forma, a alta incidência do CCR e a diferença nos resultados do tratamento, de acordo com o estádio da doença, justificam os esforços para detecção precoce e de seu rastreamento em populações consideradas de risco para a doença28. Os biomarcadores moleculares precoces da carcinogênese fornecem informações diagnósticas associada com o desenvolvimento do câncer antes mesmo do aparecimento do tumor e até mesmo dos pólipos. A expressão de um biomarcador para ser utilizado no diagnóstico precoce de câncer deve ser diferentemente expressa em condições normais, pré-malignas e malignas, entretanto, atualmente poucos são os biomarcadores que mostram um diferencial padrão de expressão. Vários biomarcadores têm sido proposto na carcinogênese do CCR entre eles destacam-se a família GSTs por atuarem no início da etapa de carcinogênese, impedindo a acumulação de danos no DNA através da detoxificação dos compostos carcinogênicos citados anteriormente, evitando desta maneira Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 12-17 | 13 a indução de mutações em protooncogenes, genes supressores tumorais e possivelmente genes que regulam a apoptose. Existem ainda outros biomarcadores, um muito utilizado é a mutação do gene APC, mas, ao contrário da GSTs, quando detectado indica que a célula colorretal está em progressão maligna. Assim, cada vez mais vem se dando importância para estudos que visem genes que possam servir como biomarcadores nas etapas precoces da carcinogênese15. Vários genes polimórficos que codificam enzimas envolvidas na biotransformação de carcinógenos têm sido associados ao desenvolvimento do câncer24. Três genes em particular, GSTM1, GSTT1 e GSTP1 que codificam enzimas da fase II pertencentes à família da glutationa S-transferase (GSTs), parecem relevantes para a suscetibilidade ao câncer27, 29, 31 e 36, pois atuam na detoxificação de metabólitos reativos de substâncias carcinogênicas presentes no ambiente. Além dos polimorfismos herdados nas GSTs, os indivíduos podem diferir na atividade da enzima por causa da exposição diferencial aos compostos bioativos.10 A carcinogênese química é a transformação neoplásica produzida por substâncias químicas e pode ser dividido em dois estágios: A iniciação refere-se á indução de determinada alteração irreversível (mutações) no genoma das células. As células iniciadas não são células transformadas; não possuem autonomia para seu crescimento. Todavia , ao contrário das células normais, dão origem a tumores quando apropriadamente estimuladas com agentes promotores. A segunda etapa é a promoção e refere-se ao processo de indução de um tumor em células previamente iniciadas por substâncias químicas denominadas promotores. Os promotores não afetam o DNA e não são tumorogênicos32. Os genes, GSTM1, GSTT1 e GSTP1 são polimórficos na população humana6. Indivíduos portadores da deleção do alelo GSTM1 e/ou do GSTT1 em homozigose podem apresentar suscetibilidade para desenvolver alguns tipos de neoplasias, principalmente os tumores etiologicamente relacionados aos modos e hábitos de vida devido à redução nos processos de detoxificação14. O polimorfismo de um único nucleotídeo (SNP) do gene GSTP1 é caracterizado pela transição de adenina (A) para guanina (G), resultando a substituição na substituição Isoleucina → Valina (códon 105). Essa substituição não-sinônima resulta em uma alteração da atividade catalítica do produto do gene GSTP1. Devido ao fato da mudança do aminoácido1 ocorrer perto do sítio de ligação hidrofóbico de eletrófilos tanto o genótipo homozigoto (GSTP1 Ile/Ile) e heterozigoto (GSTP1 Ile/Val) podem resultar em uma diminuição específica da atividade e afinidade por compostos eletrofílicos, podendo ser um fator de risco para o desenvolvimento de neoplasias20,35. O presente estudo teve como objetivo investigar a relação entre a presença dos polimorfismos dos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 e o desenvolvimento 14 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 12-17 de carcinoma colorretal em uma amostra de pacientes do Rio Grande do Sul. MÉTODOS Este é um estudo caso-controle, realizado na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). A amostra foi constituída por 50 biópsias de pacientes com carcinoma colorretal, obtidas no período de 2003 a 2005 junto ao Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), sendo que dessas, 43,3% eram pertencentes do sexo masculino com média de idade entre (65,2 ±13,2 anos). Foram incluídas somente as biópsias com diagnóstico confirmado de carcinoma colorretal por meio da análise anatomopatológica. Após a coleta, as amostras foram armazenadas em formalina 10% e, logo após, congeladas à - 20ºC. O grupo controle foi constituído por amostras de sangue periférico de indivíduos sem história prévia ou atual de neoplasia, sendo 56,7% eram pertencentes do sexo masculino com média de idade entre (51,0±6,8 anos). Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFCSPA (CEP-UFCSPA) e todos os pacientes envolvidos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O DNA genômico foi extraído dos tecidos utilizando o kit de extração “PureLink™ Genomic DNA Mini Kit” (Invitrogen®) de acordo com o procedimento descrito pelo fabricante (Manual Kit Invitrogen). O DNA genômico das amostras foi amplificado utilizando-se primers específicos para os genes GSTM1 (5’ GAA CTC CCT GAA AAG CTA AAG C 3’ e 5’ GTT GGG CTC AAA TAT ACG GTG G3’)5 GSTT1 (5’TTC CTT ACT GGT CCT CAC ATC TC 3’ e 5’TCA CCG GAT CAT GGC CAG CA 3’)30 e GSTP1 (5’ ACC CCA GGG CTC TAT GGG AA 3’ e 5’TGA GGG CAC AAG AAG CCC CT 3’)19. A análise dos genes GSTM1 e GSTT1 foram realizadas simultaneamente pela reação multiplex em cadeia da polimerase (PCR)16 com algumas modificações. Cada reação consistiu em uma mistura contendo 100ng de DNA, 5uL de 10 x Tampão de PCR (10 x 500mM KCl, 100 mM Tris-HCl, pH 9.0), 15pmol de cada um dos primers específicos, 0,3mM dNTPs e 1U de Platinum Taq DNA Polymerase High Fidelity (Invitrogen®) em um volume total de 50µL. A análise do polimorfismo do gene GSTP1 foi feita pela técnica PCR-RFLP19. Os produtos de amplificação foram analisados em gel de agarose 3% corado com brometo de etídeo (10mg/ml) e visualizados sob luz ultravioleta. A presença ou a ausência dos genes GSTM1 e GSTT1 foi detectada pela presença ou ausência de uma banda de 215 pb e uma banda 480 pb respectivamente. O gene GSTP1 serviu como controle interno de amplificação, apresentando uma banda de 176pb, visto que o tipo de polimorfismo em ambos os genes analisados (GSTM1 e GSTT1) é do tipo deleção. ANSOLIN ET AL Para a análise estatística das frequências dos genótipos obtidos, utilizou-se o teste Qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 5%. Foram calculados também Odds ratios (OR) e o intervalo de confiança foi de IC=95%. Os dados foram analisados com auxílio dos programas SPSS (Statistical Package for the Social Sciences Program for Windows-versão 13). RESULTADOS Nossos resultados não mostraram associação entre os genótipos GSTM1 (0/0) nulo (OR=1,94 IC: 0,86-4,3); GSTP1 (Ile/Val e Val/Val ) (OR=0,69 IC:0,3-1,6 e OR=0,58 IC:0,16-2,0) e GSTT1(0/0) nulo (OR=1,0 IC=0,40-2,4) e o desenvolvimento de carcinoma colorretal (Tabela 1). Foram observadas frequências similares para esses genótipos (34% e 50% para GSTM1 (0/0), (26% e 26% para GSTT1 (0/0), (36% e 42% para GSTP1 Ile/Val) e (10% e 14% para GSTP1 Val/Val) entre casos e controles respectivamente. Quando foi realizada a combinação genotípica para GSTM1, GSTT1 e GSTP1 verificamos que o risco de CCR não aumentou significativamente na presença da combinação dos genótipos GSTM1 (0/0), GSTT1 (0/0) e GSTP1 Ile/Val ou GSTP1 Val/Val (p=0,57) (Tabela 2). DISCUSSÃO O papel do polimorfismo das principais isoenzimas da GSTs no carcinoma colorretal foi investigado em um delineamento longitudinal do tipo caso-controle. Estudos caso-controles anteriores realizados no carcinoma colorretal na investigação dos polimorfismos GSTM1, GSTP1 e GSTT1 apresentaram resultados contraditórios. Vários autores demonstraram uma associação com o genótipo nulo GSTM1(0/0)23, 34 e 37, e o aumento do risco de desenvolvimento do carcinoma colorretal enquanto outros não 7, 11 e 18. Para o genótipo nulo GSTT1 (0/0) também foi demonstrada uma relação em alguns estudos 7 e 11 e ausência da mesma em outros 9, 18, 23 e 25. A combinação destes genótipos nulos GSTM1 (0/0) /GSTT1 (0/0) também foi investigada quanto ao aumento da predisposição do CCR. Foi observado ser mais comum em indivíduos saudáveis quando comparado aos com câncer colorretal9. Entretanto, o risco aumentado para este tipo de carcinoma também já foi observado em indivíduos portadores da combinação genótipo nulo desses genes 3 e 26. Com relação ao gene GSTP18, Chen K et al (2005)8 não encontraram nenhuma associação significativa com o polimorfismo Ile105→Val e o risco do desenvolvimento deste tumor. Por outro lado, Ates AN et al (2005)3 demonstram que o risco de CCR aumenta significativamente na presença da combinação dos genótipos GSTM1 (0/0), GSTT1 (0/0) e GSTP1 Ile/Val ou GSTP1 Val/Val (OR =2,69 95% CI: 1,02-7,11). Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 12-17 ANÁLISE DOS POLIMORFISMOS DOS GENES GSTM1, GSTT1 E GSTP1 EM AMOSTRA DE PACIENTES COM CARCINOMA COLORRETAL DO SUL DO BRASIL Neste estudo não foi possível estabelecer uma associação entre os genótipos nulos GSTT1, GSTM1 e GSTP1 (Ile/Val e Val/Val), separados ou combinados e o desenvolvimento do câncer colorretal. Esses resultados podem ter sido influenciados pelo número reduzido de biópsias analisadas e/ou pelo fato de não haver pareamento entre casos e controles com relação à idade. Entre os indivíduos com carcinoma colorretal a média etária foi de 65,2 ±13,2 anos, quando entre os indivíduos controles foi de 51,0±6,8 anos (p=0, 001). Esse fato deve ser considerado importante, visto que, a idade de início de rastreamento para CCR na população de baixo risco é iniciada acima dos 50 anos, portanto, poderia existir nesse estudo indivíduos que compõem os casos que ainda não foram diagnosticados para CCR. Além disso, é importante ressaltar que os casos e controles não foram agrupados no que se referem ao grupo étnico, alguns trabalhos mostraram diferenças significativas na frequência do polimorfismo do gene GSTM1(0/0) entre AfroBrasileiros e brasileiros com decendência européia 2, 33, 17 e 22. Ainda Rossini et al., (2002) constataram que o genótipo GSTP1 (Val/Val) é mais freqüente em indivíduos etnicamente brancos do que em indivíduos não brancos. Entretanto, a freqüência dos genótipos nulos GSTM1 e GSTT1 para amostras afro-brasileiras de Porto Alegre foi semelhante à aquelas descritas para outras po- | 15 Figura 1 . PCR Multiplex analisado em gel de agarose 3%. Canaleta1, marcador de peso molecular de 100pb; canaleta 2, 3 e 8, indivíduo sem deleção GSTM1 (+) /GSTT1 (+); canaleta 4, indivíduo com deleção do GSTM1(0/0); canaleta 5 e 7, indivíduo com deleção GSTT1 (0/0); canaleta 6, indivíduo com deleção GSTM1 (0/0) /GSTT1 (0/0). pulações afro-brasileiras2 e 17, as quais são semelhantes às frequência descritas para outras populações afrodescendentes não brasileiras.4 e 19. CONCLUSÃO Em nosso estudo não foi possível estabelecer a influência dos polimorfismos dos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 Tabela 1 Estimativa de odds ratio (OR) para os polimorfismos investigados nos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 e o desenvolvimento de Carcinoma Colorretal Genótipo (n=50) GSTM1(+) GSTM1(-) GSTT1(+) GSTT1(-) GSTP1 Ile/Ile GSTP1 Ile/Val GSTP1 Val/Val Casos(Tumor) (n=50) 33 17 37 13 *Genótipos nulo(-) e não nulo(+) Controle 25 25 37 13 22 21 7 27 18 5 OR IC(95%) 1,94 0,86-4,3 1,00 0,40-2,4 1,00 0,69 0,58 0,3-1,6 0,16-2,0 Tabela 2 Distribuição da combinação genotípica para os genes GSTM1 , GSTT1 e GSTP1 em indivíduos com carcinoma colorretal e controles utilizando o teste Qui-quadrado Genótipo GSTM1 GSTT1 GSTP1 GSTM1 (+) GSTT1 (+) GSTP1 Ile/Ile GSTM1 (+) GSTT1 (-) GSTP1 Ile/Ile GSTM1 (-) GSTT1 (+) GSTP1 Ile/Ile GSTM1 (-) GSTT1 (-) GSTP1 Ile/Ile GSTM1 (+) GSTT1 (+) GSTP1 Ile/Val GSTM1 (+) GSTT1 (-) GSTP1 Ile/Val GSTM1 (-) GSTT1 (+) GSTP1 Ile/Val GSTM1 (-) GSTT1 (-) GSTP1 Ile/Val GSTM1 (+) GSTT1 (+) GSTP1 Val/Val GSTM1 (+) GSTT1 (-) GSTP1Val/Val GSTM1 (-) GSTT1 (+) GSTP1Val/Val GSTM1 (-) GSTT1 (-) GSTP1Val/Val *Genótipos nulo(-) e não nulo(+) Casos(Tumor) (n=50) 16(32%) 3(6%) 5(10%) 3(6%) 9(18%) 2(4%) 5(10%) 2(4%) 2(4%) 1(2%) 0(0%) 2(4%) Controle (n=50) 11(22%) 1(2%) 6(12%) 4(8%) 4(8%) 5(10%) 10(20%) 2(4%) 3(6%) 1(2%) 2(4%) 1(2%) P 0,57 16 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 12-17 na carcinogênese colorretal. Desta forma, o papel do polimorfismo destas isoenzimas ainda é controverso no que se refere à sua importância como fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma colorretal, reforçando a necessidade de estudos adicionais para o possível uso destes genes como biomarcador para o prognóstico do câncer colorretal. Conflito de interesses: Nada a declarar. REFERÊNCIAS 1. Ali-Osman, F., Akande, O., Antoun, G., Mao, J. X., and Buolamwini, J. Molecular cloning, characterization, and expression in Escherichia coli of full-length cDNAs of three human glutathione S-transferase Pi gene variants. Evidence for differential catalytic activity of the encoded proteins. J. Biol. Chem,1997; 272:10004–100012. 2. Amorim LMFA, Rossini A, Mendonça GAS, Lotsch PF, Simão TA, Gallo CVM and Pinto LFR CYP1A1, GSTM1, and GSTT1 polymorphisms and breast cancer risk in Brazilian women. Cancer Lett , 2002; 181:179-186. 3. 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Realizaram-se estatística descritiva, curva de sobrevida de Kaplan-Meier e regressão linear para avaliar fatores prognósticos. Resultados: histiótipo células claras, grau 2 e pT1/pT2 foram os mais freqüentes. Cinco pacientes apresentaram complicações, sendo as infecções as mais freqüentes. A sobrevida global foi 75% em seguimento mínimo de 07 meses. A análise de regressão linear não revelou fatores prognósticos significativos. Conclusões: a taxa de sobrevida foi 75%. Não houve fator prognóstico associado. Unitermos Carcinoma de células renais, complicações e sobrevida. Abstract Purpose: to analyze morbidity, mortality and survival rates of patients with renal cells carcinoma, which have undergone radical nephrectomy. Methods: a series of 09 cases of radical nephrectomy. Methods: Descriptive statistics, survival curve through KaplanMeier's method, and regression analysis to evaluate prognosis were performed. Results: Clear-cells renal carcinoma, grade 2 and pT1/pT2 were the most frequent conditions. Five patients presented complications, the most frequent being infection. Global survival rate was 75 percent, within at least seven months of follow-up. Regression analysis didn’t detect any significant prognosis factor. Conclusions: the survival rate was 75 percent. No associated prognostic factor has been found. Key Words Renal cells carcinoma, complications, survival. INTRODUÇÃO O câncer renal parenquimatoso em adultos corresponde de 2% a 3% de todas as neoplasias malignas. No Brasil, a incidência desta neoplasia varia de 7 a 10 casos por 100.000 habitantes/ano, sendo duas vezes mais freqüente em homens, sendo mais prevalente dos 50 aos 70 anos1. O termo carcinoma de células renais (CCR) designa cinco tipos histológicos de neoplasias renais de origem epiteDjalma Ribeiro Costa - Médico residente de Cirurgia Geral do Hospital Geral Waldemar de Alcântara (HGWA). 2 Jeany Borges e Silva - Médica residente de Cirurgia Geral do Hospital Geral Waldemar de Alcântara (HGWA). 3 José Marconi Tavares - Médico urologista e chefe do programa de Residência Médica em Cirurgia Geral no HGWA. 4 Jerônimo de Paula Rebouças Chagas - Médico urologista do HGWA. CORRESPONDÊNCIA: Djalma Ribeiro Costa. Rua Homem de Melo, 933. Bloco I 02 - Karnak Condominium - Cambeba - Fortaleza - Ceará - CEP 60822-345.Telefone: (85) 9616-1914 . E-mail: [email protected] 1 18 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 18-23 lial com potencial maligno com frequências diversas, a saber: o histiótipo clássico (Células Claras), com freqüência de 70% a 80%; o Papilífero (Cromófilo) e o Cromófobo, com 10% a 15% e 4% a 5%, respectivamente, e os histiótipos Ducto Coletor (Bellini) e Medular (Traço Falciforme), ambos com < 1% de freqüência2. Os sinais e sintomas mais comuns são hematúria, dor lombar ou no flanco e massa palpável, associados ou não a outros menos específicos, como emagrecimento, febre, sudorese noturna, hipertensão e varicocele 1,3. A maior disponibilidade e aperfeiçoamento dos métodos de imagem, aliados à tardia e inespecífica instalação de sintomas levaram a um grande aumento na porcentagem de tumores renais incidentais. Atualmente, até 50% dos CCR são achados incidentais1. A ultrassonografia (US) é o método de imagem mais co- Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 18-23 NEFRECTOMIA RADICAL PARA CÂNCER DE CÉLULAS RENAIS: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO SECUNDÁRIO DO NORDESTE BRASILEIRO mumente empregado para rastreamento de doenças renais, e a tomografia computadorizada (TC), em virtude de sua capacidade de acessar a densidade tecidual e vascularização de massas renais, possibilita a diferenciação entre cistos e nódulos sólidos, assumindo papel no estadiamento clínico (Tabela 1) e programação cirúrgica. Na presença de contra-indicações à realização da TC, a Ressonância Magnética (RM) é o método de escolha1. A cintilografia óssea é indicada nos casos de tumores localmente avançados (estádio clínico/tomográfico > T3b), escala de desempenho do The Eastern Collaborative Oncology Group (ECOG) > 1, presença de dor óssea, hipercalcemia ou elevação de fosfatase alcalina1. Além do estadiamento tumoral, que denota o grau de extensão anatômica e o envolvimento de órgãos pela doença, outros fatores prognósticos, como estado clínico, anormalidades laboratoriais, grau e padrão histológicos, são utilizados como variáveis independentes, podendo atribuir significado prognóstico ao paciente com CCR4-7. OBJETIVO PRIMÁRIO Analisar complicações, morbidade, mortalidade e sobrevida num grupo de pacientes com câncer de células renais submetidos à nefrectomia radical aberta em um serviço de cirurgia geral de um hospital secundário. MÉTODOS Estudo retrospectivo de uma série de 09 casos de nefrectomia radical em um serviço de cirurgia geral de um hospital geral de nível secundário para tratamento de carcinoma de células renais no período de 2003 a 2009. Os dados foram obtidos dos prontuários dos pacientes submetidos àquele procedimento nesta instituição. Os fatores prognósticos considerados foram anemia (hemoglobina menor de 12 mg/dL para homem e menor de | 19 10 mg/dL para mulher) e hipercalcemia (cálcio iônico maior de 1,30 mEq/dL) pré-operatórias, sintomas (perda de peso, anorexia, hematúria com ou sem dor lombar e fadiga), tamanho tumoral, estadiamento TNM, histologia, grau de Fuhrman e performance status segundo o ECOG. A condição motivadora (diagnóstico incidental ou sindrômico), a técnica operatória, a duração da cirurgia, as complicações trans- e pós-operatórias, o cirurgião, a realização de hemotransfusão, a reabordagem cirúrgica, o tempo de internação, tromboprofilaxias pós-operatórias, o seguimento ambulatorial, o tempo de sobrevida e o desfecho óbito também foram observados e analisados. Todos os pacientes foram avaliados pré-operatoriamente com exame clínico, tomografia de abdome, telerradiografia de tórax, hemograma e bioquímica. A ressecabiladade do tumor foi avaliada pela tomografia de abdome. A abordagem cirúrgica foi transperitoneal, com manobra de Cattel-Braasch e ligadura precoce de artéria e veia renais. Adrenalectomia foi realizada em cinco casos, sendo que em quatro deles o critério de realização do procedimento foi a localização em polo superior da tumoração. Noutro, o tumor era em polo inferior, não havendo explicação para sua realização. Linfadenectomia hilar padrão foi descrita para todos os casos, sendo estendida a retroperitôneo para quatro pacientes devido a alterações macroscópicas de linfonodos retroperitoneais. Todos os pacientes foram operados sob anestesia geral. Tromboprofilaxia pós-operatória foi realizada em oito casos (8/9) (5000U de heparina não fracionada SC duas vezes ao dia em cinco e três vezes ao dia em dois casos e enoxaparina 40mg ao dia em um só caso). Foram realizadas estatística descritiva e inferencial através do teste exato de Fisher, curva de sobrevida pelo método de Kaplan-Meyer e análise de regressão linear com os fatores prognósticos e demais variáveis acima mencionados. Tabela 1 Características clínico-laboratoriais dos pacientes submetidos a nefrectomia radical Característica Sexo Idade Sintomas Diagnóstico Hemoglobina Cálcio iônico Performance status ECOG Homem (H) Mulher (M) Sim Não Incidental Sindrômico M <10mg/dL, H <12mg/dL Normal >1,30 mEq/dL 1,10 – 1,30 mEq/dL 0 1 2 3 4 Média±DP Intervalo 63,66±12,62 - 41-75 anos - - - - DP: desvio padrão. N: número de indivíduos. ECOG: The Eastern Collaborative Oncology Group. (Costa DR, 2010) - N 08 01 09 06 03 03 06 05 04 02 07 03 03 02 01 - % 88,8 11,1 100 66,6 33,3 33,3 66,6 55,5 44,4 22,2 77,7 33,3 33,3 22,2 11,1 - 20 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 18-23 C O S TA E T A L Os dados foram agrupados no programa Microsoft Office Excel 2007TM e todas as análises foram realizadas pelo Medcalc v8.0. O nível de significância considerado foi p<0,05. RESULTADOS No período de estudo, 2003 a 2009, realizaram-se 39 nefrectomias totais para diferentes doenças, elegendo-se para este trabalho apenas nove, oito homens e uma mulher, de 41 a 75 anos, média de 63,66 anos (Tabela 1). Todos relataram perda subjetiva de peso, porém sem estimativa de perda registrada. Anorexia e fadiga foram somente registradas aos pacientes com hipercalcemia. Hematúria foi a queixa mais freqüente (cinco pacientes). Dor lombar e hematúria, com ou sem massa palpável, foram registrados para três pacientes. Predominou o bom estado geral representado por 66,6% dos pacientes terem performance status (PS) 0 ou 1 (Tabela 1). Não houve relação estatisticamente significativa entre PS e grau de Fuhrman, ou presença de sintomas, ou ocorrência de complicações trans- e pósoperatórias. Cinco tinham anemia ao diagnóstico de carcinoma de células renais, e somente dois tinham hipercalcemia pré-operatória, sendo francamente sintomáticos com constipação intestinal, astenia e anorexia. Um desses dois teve confirmação de metástase óssea (Tabela 1). O diagnóstico incidental se deu em três dos nove casos (33,3%) (Tabela 1). Nestes três casos os maiores diâmetros tumorais foram 6,5, 8,0 e 9,0 cm. Abordagem transperitoneal foi a única técnica empregada tendo uma duração mediana de 180 min (65 a 270 min) e uma média de 171,66±71,10 min (Tabela 2). Nenhum paciente teve linfonodo comprometido. Três pacientes tiveram descrição cirúrgica de extensão retroperitoneal da dissecção linfonodal. Houve predomínio de doença confinada ao rim (T1 e T2) e apenas um apresentava metástase e quatro pacientes (44,4%) apresentaram acometimento de gordura perirrenal (T3a). Nenhum teve acometimento de adrenal ou vascular (Tabela 3). O histiótipo clássico ou de células claras foi o mais frequente (sete casos – 77,7%), seguido pelo histiótipo papilífero (dois casos – 22,2%), enquanto que o grau de diferenciação de Fuhrman mais frequente foi o 2 (cinco casos – 55,5%), seguido pelo grau 3 (quatro casos – 44,4%) (Tabela 3). Cinco pacientes (55,5%) tiveram alguma complicação trans- ou pós-operatória. Infecção foi a complicação mais frequente, e a esplenectomia por iatrogenia também ganha destaque (Tabela 4). Não se encontrou nenhum fator prognóstico associado a essas complicações. Não houve registro de fenômenos tromboembólicos. Nenhum paciente submeteu-se à imunoterapia segundo registro de prontuário. Um paciente se submeteu à Tabela 2 Parâmetros cirúrgicos dos 09 pacientes submetidos à nefrectomia radical Parâmetros Duração da cirurgia Hemotransfusão Linfonodos dissecados Número de linfonodos comprometidos Permanência hospitalar N: número de indivíduos. (Costa DR, 2010). Mediana 180 min 0 mL 01 31 N 09 02 06 09 Intervalo 65-270 min 0-600 mL 0-20 4-88 dias % 100 22,2 66,6 100 Tabela 3 Características histopatológicas após análise das peças pós-nefrectomia dos 09 pacientes Características Tipo histológico Grau de Fuhrman T – Tumor N – Linfonodo M – Metástase Maior diâmetro tumoral N: número de indivíduos. (Costa DR, 2010). Células claras Papilífero II III T1b T2 T3a Nx N0 N1 Mx M0 M1 ≥7 cm <7 cm N 07 02 05 04 02 03 04 03 06 08 01 07 02 % 77,7 22,2 55,5 44,4 22,2 33,3 44,4 33,3 66,6 88,8 11,1 77,7 22,2 Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 18-23 NEFRECTOMIA RADICAL PARA CÂNCER DE CÉLULAS RENAIS: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO SECUNDÁRIO DO NORDESTE BRASILEIRO radioterapia antiálgica para controle de dor óssea. Reoperação foi indicada a apenas um paciente devido à evisceração. Este paciente tinha como comorbidade a doença pulmonar obstrutiva crônica e piora da tosse foi queixa prévia à evisceração registrada em prontuário. A permanência hospitalar na internação correspondente ao tratamento cirúrgico variou de quatro a 88 dias, com mediana de 31 dias. Não houve significância estatística na associação entre idade, ou dosagem de hemoglobina, ou duração de cirurgia e permanência hospitalar (p: 0,386; 0,526; 0,325, respectivamente). O único óbito registrado ocorreu em homem de 46 anos com CCR histiótipo clássico grau 2 de Fuhrman com metástase óssea que deu entrada no serviço com anemia, hipercalcemia, sintomático (lombalgia crônica e limitação do movimento) e com PS 2. Evoluiu com hemorragia transoperatória com repercussão hemodinâmica, sendo transfundidas 02 unidades de concentrado de hemácias no período transoperatório e mais 02 no pós-operatório. Ocorreram sepse e insuficiência renal aguda no pós-operatório. Evoluiu com melhora de infecção, realizou radioterapia antiálgica e foi a óbito quatro meses após alta hospitalar por infecção (foco não registrado). Sua permanência hospitalar (88 dias) foi a maior desta casuística. O seguimento variou de 01 a 29 meses, com mediana de 05 meses. Sendo padrão do serviço um retorno ambulatorial precoce (um a dois meses após alta hospitalar) e depois a cada seis meses com realização anual de US de abdome e telerradiografia de tórax segundo registro em prontuário. Não houve registro de metástase à distância ao longo desses seguimentos. A sobrevida global dos pacientes em sete meses de seguimento, à curva de sobrevida de Kaplan-Meier, foi de 75%, de modo que nenhum fator prognóstico foi estatisticamente significativo relacionado à sobrevida dos pacientes. DISCUSSÃO Nesta série de casos, predominou o carcinoma de células renais histiótipo células claras, grau 2 de Fuhrman e doença confinada ao rim (T1 ou T2). Em grande estudo retrospectivo sobre a sobrevida global de pacientes tratados cirurgicamente de CCR, apesar de não ter sido estatisticamente significativo, o CCR células claras foi o mais freqüente (72% de 697 casos) seguido do papilífero (16%)8. Igualmente, porém com casuística muito superior, o trabalho de Patard demonstrou que os CCR células claras, papilífero e cromófobo contavam com 3.564 (87.7%), 396 (9,7%) e 103 (2,5%) casos, e concluíram que a estratificação em três subtipos principais de CCR segundo o consenso de 1997 da UICC-American Joint Committee on Cancer não deveria ser considerado uma variável prognóstica principal comparável ao estádio TNM, ao grau de Fuhrman e ao PS ECOG9. O sistema de classificação histológica mais utilizado é o de Fuhrman et al. que, conjuntamente com o estádio da doença, tem valor prognóstico e pode influenciar a sobrevida dos pacientes10. Em uma série de 388 casos de CCR com seguimento médio de 73 meses, trinta e um tumores puderam ser classificados, segundo Fuhrman, como grau 01 (8%), 167 como grau 02 (43%), 152 como grau 03 (39,2%) e 38 como grau 04 (9,8%), sendo os graus 02 e 03 mais freqüentes, perfazendo juntos 82,2%11. Apesar de alguns estudos demonstrarem que o maior determinante da sobrevida dos pacientes com CCR é a extensão anatômica do tumor, 77,7% dos pacientes apresentaram tumor maior ou igual a 07 cm (T2 ou superior) e uma sobrevida de 75% com um seguimento de pelo menos sete meses à curva de sobrevida de KaplanMeyer. Ao compararem tumores restritos ao rim (T1/T2) e invasão da gordura perirrenal, este se associou à diminuição de sobrevida câncer-específico, em cinco anos, em 15 a 20 pontos percentuais 2,12. Adrenalectomia devido à infiltração neoplásica está associada a uma sobrevida de 20% após seguimento mediano de 26 meses2. Pacientes com linfonodos envolvidos, quase sempre, apresentam prognóstico sombrio e menos de 1/3 deles sobrevivem cinco anos2. O valor prognóstico da linfadenectomia é controverso, de modo que a linfadenectomia regional ou ampliada é Tabela 4 Desfechos associados à nefrectomia em 09 pacientes com carcinoma de células renais Desfechos Infecção urinária Hemorragia no perioperatório Deiscência da ferida Atelectasia pulmonar Sepse Choque com necessidade de droga vasoativa Esplenectomia Síndrome de derrame pleural Óbito | 21 N 02 02 01 01 01 01 01 01 01 % 22,2 22,2 11,1 11,1 11,1 11,1 11,1 11,1 11,1 22 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 18-23 normalmente realizada em pacientes com comprometimento linfonodal macroscópico e, nos demais casos, a linfadenectomia hilar é suficiente 2. As evidências clínicas demonstram que pacientes com trombo tumoral na veia cava e que não apresentam linfonodos comprometidos, cujo trombo é cirurgicamente extraído, apresentam sobrevida semelhante àquela encontrada nos pacientes com tumores que somente comprometem a gordura perirrenal2. Os locais mais freqüentes de metástases à distância são pulmão, osso, fígado e cérebro. A sobrevida em cinco anos para pacientes portadores de CCR com lesões metastáticas não ressecadas está entre 2,7% e 9% 2,13. Na presença de doença metastática, o prognóstico dos pacientes tratados por nefrectomia seguida de imunoterapia mostrou-se superior à imunoterapia isolada 2. A metastasectomia, em contrapartida, tem indicações limitadas a lesões solitárias ou únicas sintomáticas2. No trabalho de Ghaffar, o tempo médio cirúrgico foi de 129,44 min, levando cerca de 73 min para controlar o pedículo renal. Duração semelhante ocorre em trabalhos que comparam a abordagem aberta com a videolaparoscópica. Em nossa série a duração média foi de 171,66 ±71,10 min. Possível explicação está no fato de aquelas séries serem em serviços especializados de urologia diferentemente do nosso que é de cirurgia geral14,15. O CCR é o único entre os cânceres geniturinários em que cerca de um terço dos pacientes afetados mostram sinais e sintomas de síndrome paraneoplásica. As síndromes paraneoplásicas associadas ao CCR podem ser desde síndrome constitucional (i.e., febre, caquexia e perda de peso) até aqueles que resultam em anormalidades metabólicas e bioquímicas específicas (i.e., hipercalcemia, disfunção hepática não-metastática, amiloidose, etc)16. A perda de peso, anemia, anorexia, fadiga e PS ECOG > 1, estão relacionados à pior sobrevida, independentemente do estádio tumoral. Zisman et. al. demonstraram que o PS ECOG predizia a sobrevida global, enquanto o estádio e a gradação de Fuhrman não o faziam em pacientes tratados com nefrectomia radical ou parcial de CCR não-metastatizado 2,17. As síndromes paraneoplásicas podem ser divididas em endócrinas (hipercalcemia, hipertensão, policitemia, etc) e não-endócrinas (anemia, amiloidose, neuromiopatias, etc). Entretanto, a presença de síndrome paraneoplásica em um paciente com CCR nem é um marcador de doença metastática nem necessariamente um indicador de mal prognóstico16. Hipercalcemia, a mais comum daquelas paraneoplasias, pode ser identificada em pelo menos 20% dos pacientes com câncer, afetando de 13 a 20% dos pacientes. Destes, aproximadamente 75% têm lesões em estádio avançado. Nem a presença nem o grau da hipercalcemia demonstraram correlação significativa com o grau do tumor ou com a sobrevida. A hipercalcemia na CCR pode ser C O S TA E T A L separada em duas categorias: metastática e nãometastática secundária à doença metastática óssea16. O tratamento clínico na forma de hidratação intravenosa, diuréticos de alça e bisfosfonados pode ser benéfico no manejo dos distúrbios sistêmicos associados com a hipercalcemia. A pesar de todas as formas de tratamento clínico, a nefrectomia é o meio mais efetivo de tratar a hipercalcemia não-metastática na CCR. Além do mais, radioterapia local às lesões ósseas é frequentemente muito efetiva em aliviar a dor16. Além disso, o diagnóstico incidental pode ser realizado em 82,4%, 78,9% e 56,7% das massas renais de 1-4 cm, 4–6 cm e maior que 06 cm, respectivamente. Apesar de menos freqüente, em nossa casuística, o diagnóstico incidental se deu neste terceiro grupo18. Não muito diferente de nossas complicações, num grande estudo retrospectivo que avaliou as nefrectomias realizadas entre 1970 e 2005 no serviço de urologia da Universidade de Genoa, observou-se que nenhum óbito pós-operatório ocorreu devido a complicações técnicas, porém 15 de 825 pacientes (1,8%) morreram em trinta dias de seguimento pós-operatório devido a infarto miocárdico, embolia pulmonar ou sepse. Oitenta e um pacientes (9,8%) requereram transfusão de sangue devida a sangramento intra-operatório ou pós-operatório com nível de hemoglobina <8g/dL. A esplenectomia foi realizada em 33 pacientes (13.2%) antes do uso de um polirretrator abdominal e somente em dois (1,8%) entre 1994 e 2005. Quatro pacientes (0,5%) necessitaram reexploração devido à obstrução de intestino delgado, 12 pacientes (1,4%) requereram drenagem percutânea de pneumotórax no pós-operatório e 17 pacientes (2%) tiveram doença tromboembólica19. Atualmente, discute-se sobre o seguimento pós-operatório dos pacientes nefrectomizados devido a CCR, pois se entendia que todos os pacientes com CCR deveriam ser submetidos ao mesmo padrão de seguimento. Recentemente, esquemas diferenciados têm sido propostos em função dos diversos fatores prognósticos, da opção cirúrgica utilizada (nefrectomia com preservação de nefrons – NPN - ou nefrectomia radical) e eventual influência genética2. Rotineiramente, a primeira avaliação é indicada em 4 a 6 semanas após a cirurgia e sugerem-se os seguintes exames: exame físico; creatinina sérica e hemoglobina. Se a dosagem da fosfatase alcalina estiver elevada no pré-operatório, recomenda-se sua reavaliação, podendo ser necessária em algum momento a realização de cintilografia óssea2. Radiografias de tórax são úteis para definir possíveis metástases pulmonares, as quais ocorrem mais freqüentemente dentro de três anos após a cirurgia2. CONCLUSÃO Entre os pacientes com CCR submetidos à nefrectomia radical nesse serviço a sobrevida global foi de 75% sete meses de seguimento e, apesar de complicações e óbito, NEFRECTOMIA RADICAL PARA CÂNCER DE CÉLULAS RENAIS: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO SECUNDÁRIO DO NORDESTE BRASILEIRO não foi possível demonstrar relevância prognóstica dos fatores estudados, provavelmente, por tratar-se de amostra muito pequena. Conflito de interesses: Nada a declarar. REFERÊNCIAS 1. Pompeo ACL, Martins ACP, Souza Jr AEP, Abrantes AS et al. Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento. Projeto Diretrizes. Sociedade Brasileira de Urologia 2006: 1-16. 2. 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Resumo O objetivo deste trabalho é relatar um caso clínico de paciente com carcinoma neuroendócrino hemorrágico de pâncreas e múltiplas metástases – o qual demonstrou uma notável resposta clínica quando submetido a uma nova estratégia terapêutica – e demonstrar, com base em farta literatura, que no citoplasma das células normais predomina a água de baixa densidade com pH tendendo a ácido e interstício com o mesmo pH do sangue. Nas células neoplásicas predomina a água de alta densidade com pH alcalino e interstício ácido. A compreensão dos mecanismos bioquímicos subjacentes a essas alterações físico-químicas intra e peri-celulares pode indicar uma nova e promissora estratégia adjuvante no tratamento do câncer. O principal fator responsável por este contraste é o antiporter NHE1. O pH intracelular alcalino ativa um conjunto de enzimas do ciclo de Embeden-Meyerof, acelera o ciclo celular, diminui a apoptose e facilita a proliferação mitótica. O pH intersticial ácido ativa as matrix-metaloproteinases que facilitam a invasividade e as metástases ao lado de promover a neoangiogênese e a inibição dos linfócitos T citotóxicos e das células “natural killer”. A estratégia de acidificação intracelular e alcalinização intersticial pode ser útil no tratamento de pacientes que não estão respon-dendo à quimioterapia, além de outras possibilidades. Unitermos biologia celular, glicolise aeróbica, água estruturada, intra-celular pH, acidificação intracelular, proliferação celular, pH ácido, microambiente tumoral, regulação intracelular do pH, osmólitos citoplasmaticos. Abstract This paper reports a case of a patient with hemorrhagic neuroendocrine carcinoma in the pancreas and multiple metastases, who presented a remarkable clinical response to a new therapeutic strategy. It is our aim as well to demonstrate, through extensive review of the literature, that in the cytoplasm of normal cells predominates low-density water with pH tending to acid and interstitium with the same pH found in the blood. In contrast, in neoplastic cells predominates high-density water with alkaline pH and interstitial acidity.The understanding of the biochemical mechanisms underlying these intra and peri-cellular changes may point to a promising new adjuvant strategy for cancer treatment and advanced disease control. The main factor responsible for this contrast is the antiport NHE1. Metabolic alkalosis with alkaline pH activates a set of enzymes that triggers cell cycle, inhibits apoptosis and facilitates mitotic proliferation. The acidic pH activates matrix-metalloproteinases, which facilitate invasiveness and metastasis and promote fast neo-angiogenesis, the inhibition of cytotoxic T lymphocytes and of natural killers (NKs). The strategy of intracellular acidification and intertitial alkalinization may be useful in patients who are not responding to chemotherapy, among other possibilities. Key Words cell biology, aerobic glycolysis, structured water, intracellular pH, intracellular acidification, cell proliferation, acid pH, tumor microenvironment, pH intracellular regulation, cytoplasm osmolites. RELATO DE CASO Em março de 2008, paciente do sexo masculino, 50 anos de idade, foi admitido no Pronto Socorro de Hospital 1 José de Felippe Junior - Médico, Livre-Docente em Medicina Intensiva pela UERJ, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, Clínica Médica, Nutrologia, Coordenador do Curso de Pós-Graduação de Bioquímica Aplicada à Medicina da Universidade Fernando Pessoa, Coimbra, Portugal. Diretor da Associação Brasileira de Medicina Biomolecular e Nutrigenômica. CORRESPONDÊNCIA: Rua Conde de Porto Alegre, 1985 – C. Belo – S. Paulo – SP – CEP 04608-003. Tels: (11) 5543-8833 / 5536-0433. 24 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 24-30 Público com abdome agudo hemorrágico traumático. Na laparotomia encontrou-se neoplasia hemorrágica de corpo e cauda de pâncreas, invadindo o colo transverso e hilo esplênico. Foi realizada a pancreatectomia parcial, esplenectomia e ressecção de intestino com colostomia. A biópsia mostrou carcinoma neuroendócrino do pâncreas e o ultrasom de fígado revelou múltiplas metástases, sendo a maior com 52 x 44 mm. No final de 2008, já havia feito quimioterapia, radioterapia e 3 sessões de somatostatina, quando registrou-se pequena diminuição dos nódulos hepáticos. ORNELAS ET AL C A R C I N O M A N E U R O E N D Ó C R I N O M E TA S T Á T I C O D O P Â N C R E A S – R E L AT O D E C A S O E R E V I S Ã O D A L I T E R AT U R A PA R A U M A N O VA A B O R D A G E M T E R A P Ê U T I C A Em março de 2009, procurou o autor no consultório com os resultados de exames laboratoriais e de imagem de 2008 e foram solicitados novos exames. O Ultrasom de abdome mostrou nódulo sólido hepático medindo 43,4x32,5 mm no lobo direito, CA-19-9: 9,7 U/ml, GamaGT: 24U/ml, TGP:29U/ml, TGO:33U/ml, creatinina:0,90 mg%, sódio:139mEq/l; potássio:4,5mEq/l, hemoglobina:13,3g%, leucócitos: 3800/ml, linfócitos:1395/ml, monócitos:270/ml, CD4:477/ml, CD8:377/ml, IGF-1: 129 nanog/ml, 1,25dihidroxi-VitaminaD3,32,2picog/ml, glicemia;102mg%, insulinemia:2,0 microUI/ml, ferritina:83 nanog/ml. O oncologista já havia encerrado o uso da quimioterapia habitual e aguardava tratamento experimental. O paciente assinou consentimento informado e foi iniciado o tratamento descrito a seguir. Começou tratamento em 10/01/09 com infusões de sódio hipertônico 5,8% e estratégias por via oral para acidificar o intracelular e alcalinizar o interstício, realizadas como descrito a seguir. A acidificação intracelular com alcalinização extracelular foi obtida empregando: (amiloride-150mg, acetazolamida200mg, 1x ao dia); 200ml 3x ao dia de água com osmólitos cosmotropos inorgânicos (mEq por litro de solução: Magnésio 2,71; Cálcio 1,55; Sódio 0,32; Potássio 2,0; Silício1,0; Bicarbonato 2,23; Sulfato 1,42; Cloreto 0,87; Fosfato 0,625; Hipossulfito 0,32; Carbonato 0,31); 2 cápsulas 3x ao dia de osmólitos cosmotropos orgânicos (Trimetilglicina 300mg , L-taurina 300mg, Myo-inositol 100mg), acrescido de 20 aplicações intravenosas de solução de cloreto de sódio hipertônico (5,8%) alcalinizado com bicarbonato de sódio (3%). Após 4 meses desse tratamento, foi realizado novo ultrasom do fígado e do pâncreas, o qual não mais revelou a metástase hepática e registrou redução do tumor pancreático. O paciente continua em seguimento sob tratamento por via oral e se encontra em excelente estado geral, bom apetite, ganhou 3 kg de peso e não sente fadiga após 24 meses do diagnóstico. REVISÃO DA LITERATURA Nas células normais no estado quiescente (G0) predomina a água de baixa densidade, osmoticamente inativa e viscosa ou água estruturada ou água tipo B (Wiggins1972). Os íons H+ ou mais precisamente H3O+ são de importância fundamental na fisiologia e bioquímica da célula. Eles possuem a propriedade de construir pontes de hidrogênio entre as moléculas de água produzindo o que chamamos de água tipo B. Pelo fato de funcionar como agente que estrutura a água os íons H+ são chamados de kosmotropos sendo considerado kosmotropo forte. Nas células neoplásicas predomina a água de alta densidade, ativa osmoticamente e fluída, com escassas pontes de hidrogênio e que chamamos de água desestruturada Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 24-30 | 25 ou água tipo A e o pH da célula transformada ou maligna é alcalino (Wiggins-1972). De fato, os íons hidroxila OH- são agentes que destroem as pontes de hidrogênio e são chamados de íons caotropos sendo considerados caotropos forte. O citoplasma de todas as células contém dois tipos de água: tipo A e tipo B. Nas células normais predomina a água tipo B e nas células neoplásicas a água tipo A. No citoplasma das células normais o pH é ácido e a é água estruturada e nas células neoplásicas o pH é alcalino e a água é desestruturada (Felippe-2008). O presente trabalho é uma revisão dos fatores químicos que interferem na concentração de H+ no citoplasma das células neoplásicas, assim como as vias e mecanismos que foram descobertos recentemente. Este conhecimento nos permitirá entender melhor a estratégia que podemos utilizar em clínica nos pacientes com a doença chamada câncer. A fisiologia nos ensina que o pH do sangue normal está entre 7.38 e 7.42. No intracelular das células normais em estado quiescente, isto é sem proliferação o pH é levemente ácido, estando o extracelular ao redor de 7,38 e 7,42. Entretanto nas células em proliferação neoplásica ou não neoplásica, o extracelular é muito ácido, em geral com pH de 6.9 a 7.0, encontrando-se até valores de 6.0. O pH intracelular de células normais gira em torno de 7.2 e das células em proliferação o pH é francamente alcalino, acima de 7,5. A maior fonte de ácidos é a respiração celular, onde a glicólise anaeróbia gera ácido lático e a fosforilação oxidativa gera CO2 que no meio aquoso forma ácido carbônico. Na célula normal o acido lático segue a via da fosforilação oxidativa mitocondrial com a formação de CO2 que acidifica levemente o citoplasma. A leve acidificação estrutura a água intracelular e as pontes de hidrogênio construídas permitem a perfeita função das enzimas e das macromoléculas; mantém a estrutura terciária e quaternária das proteínas e mantém em posição as hélices do RNA e do DNA. Entretanto, quando acontece excesso de acidificação a função celular é impedida. Neste momento com a finalidade de sobreviver as células aumentam a expressão das bombas de extrusão de H+, a principal delas o antiporter NHE1. Quando as células vão iniciar o processo de proliferação celular seja de uma forma fisiológica para repor células, seja na proliferação celular neoplásica, caracteristicamente o pH citoplasmático torna-se alcalino. O primeiro trabalho da literatura que implicou o pH citoplasmático na mitose foi escrito por Johnson e Epel em 1976: “O pH intracelular do embrião do ouriço do mar aumenta 0.3 unidades de pH entre 1 e 4 minutos 26 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 24-30 FELIPPE JUNIOR Figura 1 . Laudos das Ultrassonografias, realizadas antes e após o tratamento. após a fertilização. O aumento do pH é requerido para o desenvolvimento inicial. O aumento resulta da troca de Na+ extracelular por H+ intracelular”. O aumento de 0.3 u de pH intracelular significa 30 nanomoles a mais de íons alcalinos OH- no citoplasma. O início da proliferação celular por indução da mitose quase sempre é precedido pela alcalinização do citoplasma usualmente desencadeada pela estimulação dos canais de Na+ / H+ (Tannock -1989) e vários autores já verificaram que o pH na zona alcalina ou melhor a alcalose metabólica intracelular com pH alcalino é elemento chave na indução e na manutenção do processo neoplásico (Harguindey-1995, Reshkin-2000). Nestas condições geralmente o pH extracelular dos tumores é cerca de 0.5 unidade de pH mais ácido que o tecido não neoplásico correspondente; o que significa aumento de 50 nanomoles de H+ no interstício peri-tumoral (Yamagata-1996). Demonstrou-se que o pH no citoplasma é alcalino tanto nas células leucêmicas como nos tumores sólidos do endoderma, mesoderma e endoderma. Em nenhuma outra moléstia humana encontra-se este tipo de anomalia. Hoje sabemos que as células neoplásicas em proliferação tipicamente apresentam no intracelular alcalose metabólica com pH alcalino e no meio intersticial que a circunda, acidose metabólica com pH ácido. O pH alcalino intracelular promove as condições ideais de proliferação mitótica com ativação da fosfofrutoquinase e da G6PD e o pH ácido intersticial as condições ideais de invasividade tumoral e de migração (metástase) por inibir as MMPs ou matrix metaloproteinases do interstício ao lado de diminuir a inibição por contato. A acidose intersticial interfere também no sistema imunológico de um modo facilitador da proliferação celular. De um lado promove a neoangiogênese tumoral ativando os macrófagos e de outro impede a ação das células “natural killer” e dos linfócitos T citotóxicos (Crowther2001, Vermeeulen-2004). A acidose intersticial inibe a quimiotaxia, a capacidade bactericida e a atividade respiratória dos neutrófilos ao lado de diminuir a citotoxicidade e a proliferação dos linfócitos T (Lardner-2001). Quando o pH intracelular se desloca para a zona alcalina invariavelmente acontecem os seguintes eventos: ativação da fosfofrutoquinase e outras enzimas que promovem o aumento da glicólise anaeróbia, que é o motor da proliferação mitótica, pois fornece ATP para o núcleo; ativação da G6PD enzima inicial do ciclo das pentoses que aumenta a síntese de DNA e RNA; inibição da fosforilação oxidativa e do ciclo de Krebs; ativação das fases S e G2/M do ciclo celular; diminuição da apoptose; facilitação da transformação maligna; aumento da proliferação celular neoplásica; aumento da expressão de oncogenes; aumento da atividade de fatores de crescimento e aumento da resistência à quimioterapia e à radioterapia. Quando o pH intersticial se desloca para a zona ácida invariavelmente acontecem os seguintes eventos: ativação C A R C I N O M A N E U R O E N D Ó C R I N O M E TA S T Á T I C O D O P Â N C R E A S – R E L AT O D E C A S O E R E V I S Ã O D A L I T E R AT U R A PA R A U M A N O VA A B O R D A G E M T E R A P Ê U T I C A das matrix-metaloproteinases (MMPs) com aumento da invasividade e aumento da migração celular – metástases; diminui a inibição por contato; aumenta a ativação dos macrófagos com aumento da neoangiogênese e acontece inibição das células “natural killer” e dos linfócitos T citotóxicos. Se um fator externo provocar contínua alcalinização citoplasmática em um grupo de células este aumento de íons OH- no citoplasma aumenta a água tipo A, desestruturada, a qual diminui o grau de ordem-informação do sistema termodinâmico aberto (que é a célula), provocando um estado de aumento de entropia que em seu ponto máximo suportável atinge o “estado de quase morte”. Neste instante as células ativam fatores muito antigos de sobrevivência e, para não morrer, começam a proliferar. No cerne da alcalinização citoplasmática das células neoplásicas está a bomba Na+ / H+ uma estrutura de membrana que troca H+ intracelular por Na+ extracelular, alcalinizando o citoplasma e acidificando o interstício: bomba NHE1. Nos mamíferos as NHE (existem 9 isoformas) se localizam na membrana celular e na membrana interna da mitocôndria. Além de interferir na concentração de H+ no intracelular elas regulam o volume celular e a reabsorção de NaCl nos rins, intestinos e outros epitélios. PH INTRACELULAR (PHI) E PH EXTRACELULAR (PHE) DOS TUMORES SÓLIDOS Uma das razões da resistência dos tumores à quimioterapia é a falha destas drogas em provocar acidificação do citoplasma da célula neoplásica (Torigoe-2002). De fato, drogas usadas na quimioterapia como a adriamicina, cisplatina, paclitaxel e camptotecina são incapazes de funcionar quando o citoplasma não está acidificado (Murakami-2001). Este gradiente de pH da célula cancerosa – alcalino dentro e ácido fora – parece ser uma característica fundamental de todas as células neoplásicas. Alguns autores acreditam que se encontrarmos métodos que acidifiquem o intracelular e alcalinizem o extracelular possivelmente estaremos resolvendo o problema câncer. Existem vários sistemas de transporte que provocam a alcalinização citoplasmática por extrusão do H+, ao lado do antiporter NHE1: anidrases carbônicas, vacuolar H+-ATPases, simporter H+/Cl-, simporter lactato/H+ e bomba Na+/K+ ATPase (estimula a NHE1). Sparks mostrou pela primeira vez na literatura que nas células transformadas a ativação da bomba Na+/K+ ATPase induz um ciclo vicioso de ativação da NHE1 (Sparks-1983). Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 24-30 | 27 Como mecanismo de sobrevida as células malignas aumentam a expressão das anidrases carbônicas de membrana CAIX e CAXII, as quais transportam para o meio extracelular o excesso de íons H+ acidificando o interstício e alcalinizando o intracelular. A acetazolamida forte inibidor das anidrases carbônicas IX e XII possui efeitos anti tumorais (Felippe-2007). Para Zavadova a expressão da anidrase carbônica CAIX se restringe à mucosa do trato alimentar, porém, ela está presente em alta porcentagem de cânceres humanos, tecidos que normalmente não é encontrada (Zavadova2005). Nestes tecidos ela é induzida pela acidose intracelular e a hipoxia. É interessante assinalar que vários agentes carcinogênicos são capazes de ativar a bomba NHE1, provocando alcalose intracelular, acidose intersticial e despolarização da membrana celular: forbol ester, diacil-glicerol, pglicoproteína, tirosina-kinase, proteína kinase C, TGFalfa, IGF-II, vários fatores de crescimento com o EGF, PDGF, etc., oncogenes, vanadato, flúor, cloreto de alumínio (AlCl3) e várias drogas e agentes químicos considerados carcinogênicos. Os seguintes fatores são capazes de ativar o antiporter NHE1 provocando neoangiogênese: IL-1, IL-8, EGF, PDGF, G-CSF, GM-CSF, TNF-alfa, HGF/SF, TGF-alfa, IGF-I, angiotensina II, insulina e PGE2. Tanto o EGF como o PDGF, fatores de crescimento no câncer, ativam a fosforilação da proteína tirosino-kinase (PTK), alcalinizam o intracelular e promovem aumento passageiro do cálcio por liberação das reservas do intracelular o que ativa a glicose-6-fosfato-dehidrogenase (G6PD) do ciclo das pentoses desencadeando a síntese de DNA, RNA e o aumento da proliferação celular. Por outro caminho a PTK promove a hidrólise do fosfatidilinositol-bifosfato produzindo diacil-glicerol e inositoltrifosfato (IP3). O diacil-glicerol estimula a proteínakinase C que estimula o antiporter NHE1, alcaliniza o citoplasma e no final aumenta a síntese de DNA . O IP3 mobiliza cálcio das reservas do intracelular que ativa a G6PD (Moolenaar-1986). Algumas drogas ativam o NHE1 e alcalinizam o citoplasma, porém não induzem a proliferação celular. O motivo é que tais efeitos são de pouca intensidade e principalmente de curta duração: catecolaminas, bradicinina, cafeína, teína, fatores quimiotáticos, ceruleina, ferricianide e ácido retinóico. Em resumo podemos escrever que as evidências experimentais mostram que: todos fatores de crescimento potencialmente induzem a ativação do NHE1, na au- 28 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 24-30 sência de fatores de crescimento a proliferação celular pode ser induzida pela alcalinização citoplasmática, a resposta proliferativa é dependente de sódio extracelular, inibidores específicos da NHE1 bloqueiam a resposta proliferativa induzida pelos fatores de crescimento e células que não possuem NHE1 apresentam divisão celular de baixa velocidade. MEDICAMENTOS E MOLÉCULAS INIBIDORAS DE NHE1 Várias drogas e moléculas funcionam inibindo o NHE1. Elas acidificam o intracelular e provocam diversos efeitos anti-carcinogênicos como, diminuição da proliferação celular, indução da apoptose, inibição da angiogênese e diminuição da invasividade tumoral e das metástases: • squalamina diminui a proliferação celular e a angiogênese (Moore-1993); • sulindac induz a apoptose e diminui a angiogênese tumoral, • genisteína inibe a tirosina-kinase, a proteína tirosinokinase, a proliferação das células endoteliais, a migração celular, a transcetolase e a G6PD do ciclo das pentoses e inibe a ativação da plasminogênio; • urokinase, captopril diminui a angiogênese (Vogt-1997), • amiloride diminui a atividade da plasminogênio-urokinase, • edelfosine diminui a angiogênese, • Somatostatina aumenta a Bax e a p53 provocando apoptose (Thangaraju-1999); além da progesterona nativa, mas não a sintética, 20 alfa-hidroxiprogesterona (Chien-2007), cimetidine, clonidine e harmaline. A somatostatina inibe o NHE1 e a bomba H+-ATPase provocando acidificação intracelular e induzindo a p53 e o Bax que são fatores apoptóticos. A somatostatina também inibe a G6PD e a transcetolase e assim dificulta a produção de DNA e RNA no ciclo das pentoses. A progesterona natural, mas não a 20 alfa-hidroxiprogesterona provoca inibição não genômica da bomba NHE1, acidifica o citoplasma e suprime a resposta celular a mitógenos. A progesterona nativa é um imunomodulador que suprime a ativação das células T durante a gestação. Este é o primeiro trabalho da literatura mostrando que a progesterona inibe o antiporter NHE1 (Chien-2007). Outras drogas acidificam o intracelular por mecanismo diferente da inibição da NHE1 e provocam o mesmo tipo FELIPPE JUNIOR de efeitos anti-carcinogênicos: warfarin diminui a síntese de prostaglandinas, acidifica o citoplasma e diminui a angiogênese tumoral; suramin inibe a H+-ATPase e diminui a angiogênese e a proliferação tumoral; staurosporina induz acidificação intracelular por mecanismo desconhecido e diminui a angiogênese; lovastatina induz acidificação intracelular e provoca apoptose (Pérez-Sala-1999); acetazolamida inibe a anidrase carbônica e digitálicos inibe a bomba Na+K+-ATPase. A lovastatina diminui a isoprenilação das proteínas, acidifica o citoplasma, aumenta a degradação do DNA e provoca finalmente a apoptose celular. O pH citoplasmático chega a decrescer 0.9 unidades (aumento de 90 nanomoles de H+) e o efeito é dose dependente, quanto maior a dose de lovastatina maior a indução de apoptose. Um perigo para as células normais. A apoptose promovida pela lovastatina é inibida pela suplementação com mevalonato, pela ativação da proteínakinase C e pela inibição da síntese protéica fatores que promovem a alcalinização do meio intracelular (PérezSala-1999). Já vimos que a acidificação do intracelular por ex., inibindo o antiporter NHE1, abole uma série de fatores de crescimento, aumenta a apoptose e induz a parada do ciclo celular mitótico. Do lado oposto a alcalinização do intracelular por ex., por drogas que ativam o antiporter NHE1 facilita a ação dos fatores de crescimento, diminui a apoptose e acelera o ciclo celular e assim induzem o insucesso do tratamento do câncer, sendo portanto formalmente contra-indicadas nos pacientes com câncer (Terradez-1993) : imidazol, cloroquina, glutationa, mevalonato e fatores que ativam a proteína-kinase C. ACIDOSE INTRACELULAR POR INIBIÇÃO DA EXTRUSÃO DO ÁCIDO LÁTICO PELOS BIOFLAVONOIDES Os bioflavonoides são potentes inibidores da extrusão de ácido lático nas células do tumor de Ehrlich. Os mais potentes são aqueles que possuem de 4 a 5 grupos hidroxila como a quercetina que é capaz de inibir até 50% do efluxo de lactato na dose de 0,1 microgramas. Nota-se também diminuição parcial da produção de lactato que é secundário à acidificação das enzimas glicolíticas, principalmente da fosfofrutoquinase que necessita de um pH alcalino ideal para o seu integral funcionamento. Alguns bioflavonoides inibem a glicólise anaeróbia interferindo no ADP e no fosfato inorgânico que são requeridos na glicólise. Os bioflavonoides e principalmente a quercetina inibem também a bomba Na+/K+-ATPase. A quercetina inibe a proliferação de C A R C I N O M A N E U R O E N D Ó C R I N O M E TA S T Á T I C O D O P Â N C R E A S – R E L AT O D E C A S O E R E V I S Ã O D A L I T E R AT U R A PA R A U M A N O VA A B O R D A G E M T E R A P Ê U T I C A vários tipos de células tumorais em cultura em doses muito pequenas, da ordem de 5 a 20 microgramas por ml de meio de cultura (Soulinna-1975). ACIDOSE METABÓLICA NO CÂNCER Conhecemos muitos relatos na literatura de regressão espontânea do câncer relacionadas com a acidificação do organismo tanto em animais como em seres humanos. O primeiro trabalho da literatura mostrando os efeitos curativos da acidose no câncer talvez tenha sido escrito por Ana Goldfeder em seu livro “ O tratamento acidótico das neoplasias” (Goldfeder-1933). Em 1931 Meyer associou a indução de acidose metabólica local ou sistêmica com as regressões do câncer provocadas palas toxinas do soro de Coley e outros processos que provocavam febre. Anghlieri usando o cloreto de amônio, Selawry o ácido lático, Harguindey o ácido clorídrico e Mori o ácido acético, repetidamente observaram regressões completas de vários tipos de tumores implantados em animais. Entretanto, os estudos em animais são de curto prazo e os autores não mostram as estatísticas de sobrevivência. A acidose metabólica prolongada e acentuada aumenta o índice de caquexia e provoca arritmias ventriculares incluindo parada cardíaca. Existem muitos relatos de regressões tumorais em pacientes submetidos a uretero-sigmoidostomia, procedimento que provoca acidose metabólica importante e constante (Harguindey-1975). Gatenby em 2002 considerou a azotemia com moderada acidose metabólica a responsável pelo aumento de sobrevida e redução das metástases nos pacientes com câncer que se submeteram a nefrectomias. A moderada acidose metabólica proporciona estruturação da água citoplasmática e provoca a regressão do tumor com aumento da sobrevida. Entretanto, se a acidose for intensa e de longa duração ela facilita a invasividade tumoral e as metástases por ativar as metaloproteinases da matrix extracelular, assim como impede a ação do sistema de defesa do hospedeiro inibindo os linfócitos T citotóxicos e as células “natural killer”. Cruelmente a acidose intersticial peri-tumoral ativa os macrófagos os quais aumentam a produção de fatores que promovem a neoangiogênese tumoral (Vermeeulen2004). Quando o pH se reduz no interstício acontece inibição da quimiotaxia, da capacidade bactericida e da atividade respiratória dos polimorfonuclear leucócitos ao lado da diminuição da citotoxicidade e da proliferação dos linfócitos T (Lardner-2001). Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 24-30 | 29 ALCALOSE METABÓLICA NO CÂNCER Quando um típico fibroblasto humano diplóide cresce em tampão bicarbonato com pH variando de 6.9 a 8.0 o crescimento é limitado por um mecanismo chamado inibição por contato. Este fato independe do tipo de tampão, sendo crucial o nível do pH do meio que circunda a célula. Quando o meio é ácido ocorre diminuição da inibição por contato e a proliferação celular é maior. Tudo indica que a inibição do crescimento por contato é fortemente dependente do pH. As células neoplásicas crescem muito bem em pH ácido e portanto são menos susceptíveis à inibição por contato, e o bicarbonato quando colocado no meio de cultura provoca um declínio no crescimento destas células (Ceccarini-1971). CONCLUSÃO Não é difícil em clínica acidificar o intracelular e alcalinizar o extracelular com medicações seguras e eficazes, sendo estratégias que podemos adotar no traamento de pacientes que não estão respondendo à quimioterapia – ou utilizar essa abordagem em adjuvância ao tratamento quimioterápico. Estudos clínicos podem ser de grande valor para o estabelecimento de protocolos para a utilização dessas estratégias de forma a otimizar a resposta clínica a diversos regimes de quimioterapia. Agradecimento: Estamos em débito com a Sra. Sandra Galeotti pela revisão do texto, sugestões e modificações que o tornaram mais claro e objetivo. Conflito de interesses: Nada a declarar. REFERÊNCIAS 1. Anghlieri L.J., Tumor growth inhibition by ammonium chloride induced acidosis, Int. J. Pharmacol. Biopharm 1975; 12 320-326; 1975. 2. Ceccarini C; Eagle H. Induction and reversal of contact inhibition of growth by pH modification. Nature New Biology ; vol 233, 1971 . 3. Chien EJ, Liao CF, Chang CP, Pu HF, et al . The non-genomic effects on Na+/H+ -exchange 1 by progesterone and 20 alphahydroxyprogesterone in human T cells. J. Cell Physiol 2007; 211(2): 544-50. 4. Crowther M, Brown NJ, Bishop ET, Lewis CE. 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Oncol Rep 2005; 13(5): 977-82. Submetido em 04/11/2009. Aprovado para publicação em 10/06/2010. Neoplasia Maligna Gigante de Ovário: Relato de caso RELATO DE CASO / Case Report Giant ovarian malignancy: Case report de Castro BK1, Castro FL2, de Paula WT3. Instituto de pesquisa do Hospital Oncológico de Juiz de Fora – MG. Resumo O câncer de ovário tem baixa incidência mundial, entretanto, é o principal protagonista na mortalidade entre as neoplasias ginecológicas. O diagnóstico tardio e a escassez de sintomas nas fases iniciais da doença justificam, em parte, a baixa sobrevida e elevada mortalidade. Tumores gigantes são raros e apresentam um desafio cirúrgico. Patologia e tratamento são discutidos do caso de uma paciente de 45 anos que procurou assistência médica queixando-se de sangramento vaginal disfuncional, aumento progressivo do abdome e dor do tipo cólica. Ultrassom abdominal revelou grande massa cística e multilocular. Foi submetida à laparotomia, onde foi retirado um cistoadenocarcinoma papilífero seroso de ovário bilateral com invasão de útero de 13 kg. Unitermos Câncer de ovário; Cistadenocarcinoma seroso; Laparotomia. Abstract Ovarian cancer has a low incidence worldwide, however, is the main protagonist in mortality among gynecological malignancies. The late diagnosis and lack of symptoms in the early stages of the disease justified, in part, the low survival and high mortality. Giant tumors are rare and present a surgical challenge. Pathology and treatment are discussed in the case of a patient of 45 years who sought medical care complaining of vaginal bleeding dysfunctional, increase of abdominal pain and cramping. Abdominal ultrasound revealed a large multilocular cystic mass. She underwent laparotomya, which was removed a serous cystadenocarcinoma in both ovaries with invasion for the uterus with 13 kg. Key Words Ovarian neoplasms; Cystadenocarcinoma, Serous; Laparotomya. INTRODUÇÃO A incidência mundial do câncer de ovário é baixa, mas destaca-se por ser a sétima causa de óbito em mulheres. No Brasil a prevalência gira em torno de 2% e segue tendências mundiais de alta mortalidade. A sobrevida em cinco anos é 43%, inferior a outros cânceres ginecológicos como de colo de útero e endométrio, respectivamente, 72 e 83%. Em parte, explicados pelo diagnóstico tardio, cerca de 3/4 das neoplasias ovarianas apresentamse em estágio avançado no diagnóstico inicial, 65 a 70% escontram-se em estágio III e IV, tendo a sobrevida média inferior a 18 meses1-4. Os carcinomas epiteliais de ovário são tumores frequentes que correspondem 85 a 90% das neoplasias ovarianas, Bruno Koplewski de Castro - Acadêmico da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora da Univ. Presidente Antônio Carlos FAME-JF/UNIPAC - MG. Fernanda Lima Kröger - Acadêmico da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora da Univ. Presidente Antônio Carlos FAME-JF/UNIPAC - MG. 3 Wanderson Tassi de Paula - Médico Cirurgião do Hospital Oncológico de Juiz de Fora/MG, Docente da FAME-JF/UNIPAC, Coordenador da Liga de Clínica Cirúrgica da FAME-JF/UNIPAC. . CORRESPONDÊNCIA: Rua Odon de Cluny, 101 - CEP 05572-140 - Parque Ipê – São Paulo - SP. E-mail: [email protected] 1 2 dentre os quais, o cistadenocarcinomas serosos representam cerca de 40% dos tumores ovarianos malignos mais comuns. As neoplasias ovarianas possuem propagação por extensão direta podendo alcançar as tubas, o útero e a bexiga correspondendo de 10% a 15% dos casos5,6. O relato de tumores malignos gigantes é incomum na literatura. Nas décadas de setenta e oitenta foram relatados 20 casos de tumores ovarianos com mais de 20 Kg7. Tendo em vista a importância dos tumores ginecológicos será descrito o caso e o tratamento realizado. DESCRIÇÃO DO CASO Paciente do sexo feminino com 45 anos, parda, foi admitida no Instituto Oncológico/9 de Julho de Juiz de Fora – MG, queixando-se de sangramento vaginal disfuncional de grande volume há menos de 24 horas associado a dor abdominal do tipo cólica, difusa, deambulação prejudicada e constipação intestinal. Relatou aumento insidioso e progressivo do abdome nos últimos 6 meses, tratamento para Diabete Mellitus e hipertensão arterial Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 31-33 | 31 32 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 31-33 sistêmica. Ao exame físico estava hipocorada (+++/4+) e desidratada(+++/4+), tinha o abdome globoso com massa palpável de 30cm em hipogastro dolorosa, firme e móvel (Figura1). Ultrassom abdominal revelou grande tumoração mista, heterogênea, na qual se observou parte sólida ecogênica e parte multisseptada com pequenos cistos anecoicos de permeio, ocupando toda pelve até cicatriz umbilical. A paciente foi submetia a laparotomia mediana para elucidação diagnóstica, que apresentou ovários volumosos de cor pardo amarelado envolvendo útero de tamanho aumentado (Figura 2). Notou-se também tumoração irregular em parede abdominal. Realizou-se histerectomia total abdominal, salpingo-ooferectomia bilateral, omentectomia parcial, linfadenectomia retroperitoneal, retirada do tecido irregular em parede abdominal e lavado peritoneal para estudo histopatológico como preconizado5. A paciente teve evolução pós-operatória safisfatória, alimentado-se com 48 horas e alta no quarto dia de pós-operatório de boa evolução sem intercorrência. O exame histopatológico das peças cirúrgicas evidenciou na macroscopia: ovário esquerdo pesando 5475 gramas, medindo 28,0 x 21,0 x 14,0 cm, tendo uma cavidade cística com 9,0 cm no maior diâmetro, líquido seroso amarelado e massa sólida aderida com 44,0 cm de circunferência com invasão da tuba uterina. Ovário direito medindo 26,0 x 25,0 x 15,0 cm e pesando 7200 gramas, cavidade cística medindo 26,0 cm com área sólida medindo 11,5 e 16,5 cm de coloração avermelhada com consistência fibroelástica. O útero aumentado de tamanho 11,0 x 10,0 x 6,5 cm, pesando 580 gramas. Na microscopia foi encontrado infiltração no estroma subjacente pelo crescimento sólido, atipia celular e corpos de psamoma. O omento, parede abdominal, linfonodos e lavado peritoneal não apresentaram presença de células malignas nas amostras. A conclusão da histopatologia foi cistoadenocarcinoma papilífero seroso de ovário bilateral com invasão de trompas e útero. CASTRO ET AL DISCUSSÃO O câncer de ovário tem baixa incidência mundial, entretanto, é o principal protagonista na mortalidade entre as neoplasias ginecológicas. O diagnóstico tardio e a escassez de sintomas nas fases iniciais da doença são os principais responsáveis pela baixa sobrevida e elevada mortalidade1,8. Sabe-se que 70% dos tumores epiteliais são diagnosticados quando a doença já está avançada. Nesta fase, a sobrevida em cinco anos gira em torno de 25%. A paciente descrita teve estadiamento IIb, apesar do grande volume do tumor. Nestas fases, estadiamentos I e II, a taxa de sobrevida pode chegar a 95%4,9. A cirurgia tem sido utilizada como uma modalidade terapêutica mesmo em estágios mais avançados. O procedimento deve incluir a histerectomia total, salpingoooferectomia bilateral com omentectomia e redução do tumor se ultrapassar limites pélvicos. A cirurgia de citoredução primária deve-se retirar o máximo de tecido tumoral. Alguns trabalhos comparam mulheres que tiveram citoreduções ótimas (tecido residual ≤ 1cm) e aquelas que tinham citoreduções subótimas (tecido residual >1 cm), sendo extensão da doença resídual após a cirurgia inicial um fator determinante do resultado na maioria destas series. Para estadiamentos III e IV, alguns autores aconselham vários ciclos de quimioterapia antes da cirurgia. A partir disso, estão sendo realizados estudos randomizados para determinar se a quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia é tão eficaz quanto a citoredução primária em alguns ou todos os pacientes com estágios avançados da doença 10,11. A paciente teve evolução satisfatória, alimentando-se com 48 horas, não havendo intercorrências foi liberada no quarto dia de pós-operatório. Atualmente, a paciente realiza controle com CA 125 e ultrassom semestralmente. Não há método de triagem aplicável em toda população, entretanto, existem trabalhos que tentam demonstrar a eficácia na população com fatores de risco. Há uma tendência para a recomendação da dosagem do marcador de forma seriada, como primeira linha de abordagem, seguido de ultrassom se houver resultados anormais. Esse modelo reduz custos e exames de ultrassom, mas persistem dúvidas Figura 1 . Paciente com abdome globoso pelo grande volume tumoral. Figura 1 . Exérese de ovário esquerdo. N E O P L A S I A M A L I G N A G I G A N T E D E O V Á R I O : R E L AT O D E C A S O quanto à sensibilidade do CA 125. Neste aspecto, um estudo inglês (UKC-TOCS), visa solucionar em meados de 2012 12-15. Conflito de interesses: Nada a declarar. REFERÊNCIAS 1. Nossov V, Amneus M, Su F, et al.The early detection of ovarian câncer: from traditional methods to proteomics. Can we really do better than serum CA-125? Am J Obstet Gynecol 2008; 199 (3): 215-223. 2. Huang L, Cronin KA, Johnson KA, Mariotto AB, Feuer EJ. Improved survival time: what can survival cure models tell us about population-based survival improvements in latestage colorectal, ovarian, and testicular cancer? Cancer. 2008;112(10):2289-300. 3. Piver MS., DiCioccio RA. The etiology of ovarian cancer. In: Altchek A & De-ligdisch L. (eds.) Diagnosis and Management of Ovarian Disorders. 1996; 77-91. IgakuShoin, New York, US.1. 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Cursa clinicamente com uma ptose discreta a moderada da pálpebra superior, devida a uma paresia do músculo elevador palpebral superior ou de Müller. A pupila apresenta uma miose variável, que depende da localização, grau e cronicidade do déficit. A síndrome é considerada completa quando esses sintomas estão associados à anidrose da hemiface ipisilateral. Os fatores etiológicos da SCBH são múltiplos e podem ser iatrogênicos (cirurgias, procedimentos anestésicos, punções venosas), traumáticos ou associados a doenças sistêmicas (neoplasias, esclerose múltipla, tumores benignos, infecções como empiema pleural). O objetivo deste relato é apresentar um caso com associação desta síndrome e um tumor maligno de esôfago. RELATO DO CASO Paciente, PAM, 74 anos, fumante inveterado, com quadro de disfagia. dor ao longo da face medial do braço direito até a axila direita, regiões clavicular e escapular. Ao exame fisico apresentava ptose palpebral à direita, miose discreta e diminuição de sudorese em hemiface direita e massa cervical direita de 4,5x3,2cm. A endoscopia digestiva alta revelou lesão ulcerada a 25 cm da arcada dentária, cuja biopsia mostrou carcinoma espinocelular. O estadiamento apresentou metástases pulmonares e mediastinais. Iniciado quimioterapia paliativa com irinotecano e cisplatina e radioterapia anti-álgica em fossa supra clavicular direita. DISCUSSÃO Este caso ilustra o acometimento por invasão tumoral do gânglio estrelado levando a clássica síndrome de 1 2 3 Bruno Carvalho Oliveira - Oncologista Clínico Ceon. Responsável técnico e Coordenador da Unidade Ceon Anchieta. Viviani Bastos Lima - Farmacêutica Hemocentro de Brasília. Anderson Arantes Silvestrini - Oncologista Clínico do Ceon. 34 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) Figura 1 . Exérese de ovário esquerdo. Claude Bernard-Horner e seus sinais e sintomas. Também a síndrome de Déjerine-Klümpke (invasão de ramos inferiores do plexo braquial (nível de C8, T1 e T2) com dor característica (ao longo da face medial do braço que se estende ao oco axilar, região clavicular ou região escapular e interescápulo-vertebral) encontra-se presente. A síndrome Claude Bernard-Horner é mais freqüente em casos de câncer de pulmão e outras enfermidades e associada ao câncer de esôfago é mais rara ainda. (5-7) Conflito de interesses: Nada a declarar. REFERÊNCIAS 1. Salvesen R. Innervation of sweat glands in the forehead. A study in patients with Horner's syndrome. J Neurol Sci. 2001;183(1):39-42. 2. Pomeranz H. Isolated Horner syndrome and syrinx of the cervical spinal cord. Am J Ophthalmol. 2002;133(5): 702-4. 3. Okamoto T, Kase M, Yokoi M, Suzuki Y. Reversible Horner's syndrome and dysthyroid ocular myopathy associated with Hashimoto's disease. Jpn J Ophthalmol. 2003; 47(6):587-90. 4. Frigerio S, Bühler R, Hess CW, Sturzenegger M. 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P/ Corresp.: ____________________________________________________________________________________________________ Cidade: __________________________________________________ Estado: _______________________ CEP: ____________________ Telefone: (_______) _________________________ FAX: (_______) _________________________ E-MAIL: _______________________ CRM : ____________ Federação: _______ Ano de Graduação : ____________ Escola de Medicina : _______________________________ Residência Clínica Médica: _______________________ Ano: ______ Residência Oncologia Clínica: _____________________Ano: ______ Especialização: ________________________________ Ano: _______ Mestrado: _____________________________________ Ano: ______ Doutorado: ____________________________________ Ano: ______ Livre Docência: _________________________________ Ano: ______ Instituições onde atua : __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ Favor enviar em anexo Curriculum Vitae e carta de apresentação de dois membros titulares da SBOC. Endereço p/ correspondência Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica Av. dos Andradas, 2287 - sala 709 - Floresta 30120-010 - Belo Horizonte - MG Telefax: (31) 3241-2920 www.sboc.org.br [email protected] Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) | 35 Normas para Publicação Publishing Instructions A Revista Brasileira de Oncologia Clínica, órgão oficial da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, publica artigos espontaneamente enviados ou por solicitação dos editores, os quais são submetidos à revisão por pares para avaliação, aprovação ou rejeição. Revista Brasileira de Oncologia Clínica At. Dr. Daniel Gimenes - Editor Chefe e-mail: [email protected] cc. [email protected] Av. Dos Andradas 2287 - Floresta - Belo Horizonte Minas Gerais - CEP 30120-010 DADOS DA PUBLICAÇÃO NORMAS PARA ENVIO E REVISÃO Periodicidade: Quadrimestral até 2009 (inclusive) e Trimestral a partir de 2010 Tiragem: 1.500 exemplares Público Alvo: Médicos especializados em uma das áreas da Oncologia Médica e Bibliotecas Universitárias e de Hospitais de Clínicas, Santas Casas, Hospitais de Câncer, Centros de Estudo de Hospitais Privados com importante Serviço de Oncologia Médica, Institutos de Pesquisa Básica e Clínica. Área de Distribuição: Território Nacional Os artigos publicados expressam prioritariamente a produção científica na área médica e serão aceitos, preferencialmente, artigos originais, resumos de teses de pós-graduação e pós-doutorado, estudos retrospectivos e relatos de caso clínico. Revisões devem conter dados novos de resultados de pesquisa recentemente publicados na literatura internacional ou possuírem relevância quanto à discussão e esclarecimento de critérios clínicos, metodológicos ou epidemiológicos. Não serão aceitos trabalhos já publicados em outra revista ou por meio eletrônico. As afirmações contidas nos trabalhos são da responsabilidade dos autores e não constituem recomendação clínica endossada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, devendo ser submetidas ao critério profissional do médico leitor. Os trabalhos poderão ser enviados por correio eletrônico para o Editor Chefe ou impressos, após digitação no Microsoft Word, em papel branco, tamanho A4, espaço duplo, em apenas um lado da folha, mantendo-se uma margem de 25mm em todos os lados e enviados para o endereço acima – juntamente com cópia gravada em CD. As colaborações poderão ser submetidas em Português, Inglês ou Espanhol e deverão ser enviadas para: 3 6 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 36-39 Instruções Técnicas de Preparo do Artigo As instruções técnicas de preparo do artigo são baseadas nas recomendações do Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos. New Engl J Med 1997; 336(4); 309 - 315. 1. REVISÃO POR PARES Os revisores permanecerão anônimos e também não tomarão conhecimento do nome dos autores. Sugestões e correções indicadas pela revisão por pares serão enviadas ao autor, bem como outros comentários dos revisores. No caso de rejeição do trabalho, as justificativas para tal poderão ser enviadas aos autores, a critério dos editores. 2. TRABALHOS ENVIADOS VIA CORREIOS Deverão ser enviados o original e uma cópia em CD, em um envelope grosso, sem dobras. Recomenda-se a proteção de papelão, sobretudo para fotografias. As páginas deverão ser numeradas no canto superior direito a começar pela página-título, organizadas na seguinte ordem: página-título (título em Português e Inglês), página da sinopse e do abstract (incluindo unitermos), texto, página de agradecimentos, declaração de Conflito de Interesse (ou da inexistência de conflito) e referências bibliográficas. 3. NORMAS PARA TRABALHOS ENVIADOS POR MEIO ELETRÔNICO OU VIA CORREIOS Revista Brasileira de Oncologia Clínica está apta a receber artigos por meio eletrônico. Entretanto, devem seguir as normas abaixo estipuladas e deverão ser enviados como anexo para o endereço: e-mail: [email protected]. Os Editores se resguardam o direito de requisitar uma fotografia original, no caso do trabalho ser aceito para publicação definitiva. 3.1 Carta aos Editores: Os manuscritos devem estar acompanhados por uma carta de apresentação assinada NORMAS EDITORIAIS pelo autor principal. Esta carta deve incluir (a) declaração de tratar-se de trabalho inédito ou informação sobre publicação anterior ou duplicata, ou submissão a qualquer outro lugar de qualquer parte do trabalho; (b) uma declaração de relações financeiras ou de outro tipo que pudesse levar a conflito de interesse ou da inexistência de conflito de interesse; (c) o nome, endereço, e-mail e número de telefone do autor responsável pela correspondência, responsável por comunicar aos outros autores sobre revisões e a aprovação final dos rascunhos. A carta deve conter qualquer informação adicional que possa ser de ajuda ao editor, como o tipo de artigo na revista que o manuscrito representa (i.e., Revisão, Relato de Caso, Estudo Retrospectivo, etc.) e se o autor estaria disposto a cobrir o custo de reproduzir ilustrações coloridas. O manuscrito deve estar acompanhado por cópias de todas as autorizações para reproduzir material já publicado. 3.2 Tabelas, gráficos e figuras: devem ser enviadas separadamente do corpo do texto, conforme instruções abaixo: a. Tabelas – tabelas feitas em Word devem ser incluídas com suas respectivas legendas, após as Referências Bibliográficas, no próprio documento do Word e em ordem seqüencial para inclusão no texto (Tabela 1, Tabela 2, etc.), conforme nele indicado; b. Figuras, micrografias, fotos - devem ser copiadas em scanner e salvas em alta definição, em arquivo apropriado para imagens, tal como JPG (300 dpi ) ou TIF (700 Kb), incluir legendas e estarem devidamente identificadas (Figura 1, Figura 2, Gráfico 1, etc.). No caso de envio de fotos via Correios, para melhor nitidez, tamanho mínimo de 14 x 8 cms) e legendas. Atrás de cada foto deve constar a lápis ou em etiqueta adesiva o nome do autor correspondente, o título reduzido do original, indicação correta do lado superior da figura e seu número no texto. Cada uma das seções deverá ser iniciada em página separada. Os trabalhos que não se ajustarem a estas diretrizes não serão aceitos. c. Os autores devem manter cópias de todo o material enviado. 4. ESTRUTURA DO TÍTULO Deverá conter as seguintes informações: um título conciso e informativo em Inglês e em Português; nome e sobrenome, por extenso, dos autores; cargo/status institucional, nome da instituição onde se realizou o trabalho; principal titulação dos autores; nome de um autor com endereço e telefone para correspondência e para pedido de separatas. 5. RESUMO E ABSTRACT Resumo (Português) e Abstract (Inglês) são exigidos para todos os tipos de trabalhos submetidos. Deve conter Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 36-39 | 37 não mais de 150 palavras para resumos não estruturados ou 250 palavras para resumos estruturados. A sinopse deverá ser informativa, trazendo, nos artigos originais, o objetivo, a metodologia, os resultados e as conclusões, enfatizando aspectos novos e importantes do estudo (resumo estruturado). O abstract deverá ser uma versão correta da sinopse para a língua Inglesa, devendo trazer também o título do trabalho e os unitermos em Inglês. 6. UNITERMOS /KEY WORDS Ao final do resumo e do abstract deverá ser fornecida uma lista de 3 a 10 palavras ou frases curtas, que identifiquem os temas, com vistas à indexação. Deverão ser usados termos da lista de cabeçalhos de temas no M e SH e expressões de uso conhecido. 7. ESTRUTURA DE ARTIGO ORIGINAL A organização de artigos sobre resultados de pesquisa clínica ou básica (artigos originais) deve incluir as seções: introdução, materiais e métodos, resultados e discussão. A introdução deve apresentar os motivos que levaram os autores a realizar a pesquisa, dentro do contexto da situação atual do tema na literatura. No parágrafo final da introdução, o objetivo do trabalho deve ser claramente apresentado. A seção de material e métodos deve descrever precisamente a população ou a amostra estudada, materiais e quantidades utilizadas e métodos, de forma a que eles possam ser reproduzidos. Se utilizados métodos já descritos na literatura, citar a referência original e descrever sumariamente o procedimento realizado. Os métodos estatísticos adotados devem ser citados no último parágrafo da seção. Os resultados devem ser apresentados com a utilização de figuras ou gráficos e tabelas, sem repetição de informação em formas diferentes de apresentação. A discussão é a parte mais importante do texto, devendo apresentar a comparação dos resultados com os de outros autores, as limitações do estudo, os aspectos originais do trabalho e suas implicações clínicas. No último parágrafo da discussão, as conclusões podem ser apresentadas, procurando sempre responder ao objetivo definido na introdução. 8. ESTRUTURA DE ARTIGO DE REVISÃO A organização de artigo de revisão inclui uma Introdução retrospectiva, Discussão da literatura citada e as Conclusões do autor da Revisão. A introdução deverá conter a apresentação do tema e os objetivos do artigo. O desenvolvimento do tema deverá tratar dos diversos aspectos do assunto, buscando achados controvertidos na literatura, evitando a descrição pura e simples de resultados. É recomendável a análise crítica da metodologia dos trabalhos e a apresentação de opiniões, quando apropriado. Deverão ser indicados subtítulos que identifiquem as diversas áreas ou assuntos revisados. As conclusões deverão apresentar sinteticamente 3 8 | Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 36-39 os achados mais importantes da revisão, ressaltando os aspectos de aplicação prática para o grupo de leitores para o qual o trabalho foi escrito. Os achados mais importantes da revisão devem ser apresentados. 9. ESTRUTURA DE RELATOS DE CASO O texto de um Relato de Caso deverá ser sucinto, mas estruturado, contendo Sumário em Português e Abstract em Inglês, Unitermos (e Key Words), Introdução, Relato, Discussão sobre sua relevância e Referências Bibliográficas. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Referências bibliográficas devem obedecer os seguintes critérios de inclusão e normas de citação: 10.1 Critérios para Inclusão de Referências: Os trabalhos consultados como referência deverão ser referidos no texto por meio de números em sobrescrito e sem parênteses (uma referência bibliográfica para cada número) e numericamente ordenados conforme a ordem de aparecimento no texto. Todas as referências citadas na bibliografia deverão estar numeradas no texto. Citações como "comunicação pessoal", "dados não publicados" deverão ser evitadas ao máximo e não serão incluídas na lista de referências. Também deverá ser evitada a citação de resumos publicados, a menos que sejam muito recentes e constituam a única fonte de referência sobre o assunto. Palestras e trabalhos apresentados em congressos, mas não publicados, não deverão ser citados. Artigos aceitos para publicação em outros periódicos, mas ainda não publicados, poderão ser citados, colocando-se, entre parênteses, a expressão "no prelo" ou “in printing”, conforme o caso. Informações de artigos submetidos à publicação, mas ainda não aceitos, deverão ser citadas no corpo do texto como "observações não publicadas" (entre parênteses). Todas as informações objetivas incluídas no artigo deverão ser acompanhadas da referência original correspondente. Os modelos de citação adotados são os que seguem. 10.2 O padrão adotado para citação de referências bibliográficas ao final do artigo segue as seguintes normas, para diferentes fontes de consulta: a. Periódicos: Donnell RM, Rosen PP, Lieberman PH, et al. Angiosarcoma and the other vascular tumors of the breast. Am J Surg Pathol 1981; (56):29-42. (Sublinhado apenas para ênfase nossa, não reproduzir na bibliografia) b. Livros e Manuais: (nomes dos autores como consta na capa do livro, seguido do nome/título do capítulo, IN: [título do Livro], edição, Nome da Editora, ano de publicação; páginas). Exs. Warren Levinson, Ernest Jawetz. Immunity, IN; Medical Microbiology & Immunology, 7th Ed. McGraw Hill, 2002; 353-362. OU Buzaid AC: Manual de Oncologia Clínica. 3a. ed., NORMAS EDITORIAIS Hospital Sírio Libanês, Reichmann & Autores Editores, São Paulo; 2005; 455p. c. Internet: Instituto Nacional de Câncer; Ministério da Saúde. Estimativa 2008: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2007. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2008 OU Xiang Gao, Feiran Lu, Lijun Zhou, Shangyu Dang, Linfeng Sun, Xiaochun Li, Jiawei Wang, Yigong Shi. Structure and Mechanism of an Amino Acid Antiporter. Science 28 May 2009 Published online at http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/1173654/DC 1 DOI: 10.1126/ science.1173654. 11. TABELAS Colocar cada tabela em espaço duplo em uma folha separada, após a bibliografia. Não enviar as tabelas em formato de fotografia ou como arquivo de imagem. Numerar as tabelas em ordem consecutiva, de acordo com a primeira citação no texto e dar um título curto a cada uma. Definir para cada coluna um cabeçalho abreviado ou curto. Colocar as explicações em rodapés da respectiva tabela, não no cabeçalho. Explicar em notas de rodapé todas as abreviações não-padronizadas usadas em cada tabela. Identificar medidas estatísticas de variações, tais como desvio padrão e erro padrão. Não usar linhas internas, horizontais ou verticais. Constatar que cada tabela esteja citada no texto. Se forem usados dados de outra fonte, publicada ou não, obter autorização e agradecer por extenso. 12. ILUSTRAÇÕES Enviar o número requerido de ilustrações ou "figuras", de acordo com as seguintes especificações: 12.1 Ilustrações: devem ser desenhadas profissionalmente e salvas em alta definição em arquivo de imagem (JPG 300 dpi ou TIF 700 Kb), devidamente identificadas e em arquivos individuais. As legendas, se enviadas em separado das imagens, devem estar devidamente identificadas (Figutra 1, Figura 2, etc.) No caso em submissão via Correios, enviar cópias fotográficas em papel acetinado, em branco e preto, dimensão mínima de 127 x 173 mm (5x7) pol.) e máxima de 203x254 mm (8x 10 pol.). 12.2 Imagens: Fazer scanner de imagens tomográficas, micrografias, fotos e radiografias e salvá-las em alta definição em JPG 300 dpi ou TIF 700 Kb, identificar cada uma (Figura 1, Figura 2, etc.) e acrescentar legendas ou proceder como indicado no item 12.1. 12.3 Observações: • NÃO enviar imagens, fotos ou figuras em Word ou no texto do artigo. • As letras, os números e símbolos devem ser claros e de tamanho suficiente, de tal forma que quando reduzidos para a publicação, ainda sejam legíveis. Colocar NORMAS EDITORIAIS os títulos e explicações abaixo das legendas e não nas próprias ilustrações. • As micrografias devem ter marcadores de escala internos. Os símbolos, setas ou letras usadas nestas fotografias devem contrastar com o fundo. • Se forem usadas fotografias de pessoas, os sujeitos não devem ser identificáveis ou suas fotografias devem estar acompanhadas por consentimento escrito para publicação (Proteção dos Direitos de Privacidade dos Pacientes). • Recomenda-se usar meio eletrônico para enviar as fotos. • As figuras devem ser numeradas de acordo com a ordem em que foram citadas no texto. • Se uma figura já foi publicada, agradecer à fonte original e enviar a autorização escrita do detentor dos direitos autorais para reproduzir o material. • A autorização é requerida, seja do autor ou da companhia editora, com exceção de documentos de domínio público. 12.4 Legenda das ilustrações: Digitar as legendas para ilustrações em espaço duplo, começando numa página separada, com algarismos arábicos que correspondam às ilustrações. Quando símbolos, setas, números ou letras forem usados para identificar as partes de uma ilustração, identificar e explicar cada uma claramente na legenda. Explicar a escala interna. 13. UNIDADES DE MEDIDA Unidades de medida utilizadas no texto e/ou ilustrações devem seguir as seguintes normas: 13.1 Medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser escritas em unidades métricas (metro, quilograma, litro, etc.) ou seus múltiplos decimais. 13.2 As temperaturas devem ser fornecidas em graus Celsius. 13.3 As Pressões Arteriais devem ser dadas em milímetros de mercúrio. 13.4 Todas as medidas hematológicas e de química médica devem ser relatadas no sistema métrico, nos termos do Sistema Internacional de Unidades (SI). 13.5 Os editores podem, antes da publicação, solicitar ou incluir unidades distintas do SI. 14. ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS Usar somente abreviaturas padrão. Evitar abreviaturas no título e no resumo. O termo completo ao qual a abreviatura se refere deve preceder seu primeiro uso no texto, a menos que seja uma unidade padrão de medida. Rev. Bras. Oncologia Clínica 2010 . Vol. 7 . N.º 21 (Jul/Set) 36-39 | 39 15. ENVIO DO MANUSCRITO À REVISTA VIA CORREIOS (OPCIONAL) Enviar 3 (três) cópias do manuscrito num envelope de material resistente, com as cópias e ilustrações juntas a uma cartolina, se for necessário, para prevenir que as fotografias se dobrem. Colocar as fotografias num envelope resistente, em separado. Os manuscritos devem estar acompanhados por uma carta de apresentação assinada pelo autor principal. Esta carta deve incluir (a) informação sobre publicação anterior ou duplicata, ou submissão a qualquer outro lugar de qualquer parte do trabalho, como já foi definido acima, neste documento; (b) uma declaração de relações financeiras ou de outro tipo que pudessem levar a conflito de interesse; (c) o nome, endereço, e número de telefone do autor responsável pela correspondência, responsável por comunicar aos outros autores sobre revisões e a aprovação final dos rascunhos. A carta deve conter qualquer informação adicional que possa ser de ajuda ao editor, como o tipo de artigo na revista que o manuscrito representa (i.e., revisão, original, relato de caso ou residência médica, etc.). O manuscrito deve estar acompanhado por cópias de todas as autorizações para reprodução de ilustrações ou outro material já publicado e/ou de autoria de terceiros. 16. DIREITOS AUTORAIS Os autores cederão à Revista Brasileira de Oncologia Clínica os direitos de publicação das colaborações aceitas. Os autores poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações desde que indiquem claramente esta Revista como o veículo da publicação original. 17. PROVAS Os autores receberão as provas diagramadas e salvas em PDF para revisão/aprovação antes da publicação. Apenas modificações mínimas serão aceitas nesta fase, para correção de erros de impressão (03 dias úteis para revisar). 18. SEPARATAS Os autores receberão 05 (cinco) exemplares do número da Revista em que seu artigo for publicado. Se o autor desejar receber um número maior de exemplares ou desejar receber separatas, o editor da Revista deverá ser notificado no momento da aceitação do artigo. As despesas de impressão, neste caso, correrão por conta do autor. 19. CARTAS AO EDITOR Será dada a oportunidade ao leitor se manifestar a respeito de um artigo publicado, manifestando de forma sucinta a sua opinião e eventualmente, expondo o contraditório, com um número máximo de 1.200 palavras (aproximadamente uma página de texto) e com número de referências bibliográficas não superior a 5 (cinco). O(s) autor(es) terão o direito de réplica, seguindo as mesmas normas.