O USO DE “CARTOONS” - Instituto Federal Farroupilha
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O USO DE “CARTOONS” - Instituto Federal Farroupilha
O USO DE “CARTOONS” COMO FONTE DE INSPIRAÇÃO PARA PRODUÇÃO TEXTUAL E CONTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS Paulo Admir Sanguinete Pires Sônia Regina Scheleski Professores do Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete Licenciado em Letras, Mestrando em Educação Ciências e Tecnologias – URI – Santo Ângelo Licenciada em Ciências – Matemática e Estatística, Mestranda em Educação Ciências e Tecnologias – URI – Santo Ângelo Introdução A produção de textos é extremamente fundamental para a questão de ensino e aprendizagem de nossos educandos, pois só assim a capacidade cognitiva dos aspectos comunicativos, através das diversas linguagens, poderá atingir domínio de conhecimentos, fixando, desse modo, o aprendizado e, até mesmo, o gosto pela leitura e pela escrita. De acordo com Silva (1988), “ninguém aprende a gostar de livros apenas ouvindo falar dos mesmos”. Neste sentido, ressaltamos que existe uma tremenda dificuldade dos professores em estimular o gosto pela leitura em todas as classes sociais de nosso país. O livro compete em condições desiguais com inúmeras fontes de pesquisa através da Internet, muitas confiáveis, outras nem tanto, o importante é que, nas últimas décadas, computadores, net books, notbooks, lep tops e outros tantos, ocuparam o lugar do livro e encontram-se presentes no dia a dia dos jovens e, também, dos adultos. Referindo-se à televisão como um instrumento de persuasão Goergen (2001, p.54) faz uma intervenção coerente na aquisição de conhecimentos: A informação televisiva veio acentuar os traços do hedonismo contemporâneo dos desejos individuais da cultura do corpo, do prazer, da ilimitada promoção da subjetividade. Tudo que acontece é apresentado em forma de notícia, rápido, neutro, sem comentários com ares de amoralidade. O primado dos fatos sobre os valores caracteriza um pós-moralismo midiático, sustentado por um mito de objetividade e sensacionalismo espetacularizante que não esconde os interesses comerciais. Vivenciamos, em nosso cotidiano social, uma multiplicidade de códigos visuais, ícones e símbolos não necessariamente verbais. O “cartoon” em especial é uma linguagem visual há muito utilizada para comunicar de forma muitas vezes divertida e satirizada, e, nas entrelinhas, expõe aquilo que se quer gritar e fazer ouvir na sociedade. Sendo assim é uma linguagem que não pode ser ignorada pela escola, uma vez que esta contribui para a formação do cidadão reflexivo e crítico. Essa linguagem deve ser explorada na sala de aula como recurso didático e trabalhada de forma mais sistemática com todas as suas potencialidades, não se relegando temas controversos importantes para o desenvolvimento de atitudes críticas no educando. Segundo Freire (1981), “ninguém educa a ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo”. Os “cartoons” constituem um registro social importante e, portanto, com inúmeras possibilidades de uso na educação. Podem ser tomados como fontes históricas e serem apropriados como textos visuais que se alimentam da realidade social para comporem seus quadros, através de uma rebeldia satirizada que aponta as injustiças sociais. Para Freire (1996), “não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos.” Nesse sentido, podemos, então, afirmar que nos educamos mediatizados pelo mundo. O gosto pela leitura torna-se totalmente indispensável para aquisição e apoderação do conhecimento. Com a facilidade de acesso a cursos de nível superior na última década, aqueles alunos que almejam um futuro promissor vêm a cada dia buscando através do conhecimento seu “lugar ao sol”, pois o mundo do trabalho exige profissionais capacitados. Em todo este contexto sócio-cultural, o avanço tecnológico pode trazer desenvolvimento, como também a destruição. Morin (2002, p. 72), assevera que: Vimos que o desenvolvimento industrial podia causar danos à cultura e poluições mortais; vimos que a civilização do bem-estar podia gerar ao mesmo tempo mal-estar. Se a modernidade é definida como fé incondicional no progresso, na tecnologia, na ciência, no desenvolvimento econômico, então esta modernidade está morta. Na escola, a criança encontra um lugar adequado na busca à prática de leitura e produção de textos, muitas têm somente esta opção, mesmo que bibliotecas públicas comecem a aparecer em grandes e pequenas cidades, mas ainda cabe à escola proporcionar ao aluno esta busca ao conhecimento. O que se põe como necessário para nós é o enfrentamento do real no intuito de formar alunos praticantes da cultura escrita. Para tanto é necessário redimensionar o ensino das práticas de leitura e escrita como práticas sociais. Precisamos formar uma comunidade de leitores e escritores. (LERNER, 2002, p. 37). As diversas hipóteses que o aluno, ao ter o contato com o “cartoon”, faz da imagem, leva-o a interpretar e repassar a sua produção, por isso, se este mesmo trabalho for aplicado individualmente ou coletivamente, o resultado final sempre será diferente, mesmo que a ideia principal, isto é, o tema controverso, seja a mesma. A arte de escrever precisa assentar numa atividade preliminar já radicada, que parte do ensino escolar e de um hábito de leitura inteligentemente conduzido; depende muito, portanto, de nós mesmos, de uma disciplina mental adquirida pela autocrítica e pela observação cuidadosa do que outros com bom resultado escreveram. (CAMARA Jr.,1983, p. 19). Sob cada ótica, as mesmas questões importantes poderão sofrer um impacto maior ou menor e isso, com certeza, influenciará no produto final, tratando-se de uma produção distinta. Características como visão de mundo, conhecimento prévio, domínio da língua e linguagens terão um papel imprescindível e de destaque, como já ficou explícito neste artigo. O desenvolvimento do trabalho com “cartoons” Para desenvolver o trabalho proposto, foram disponibilizados aos alunos do ensino médio, do Instituto Federal Farroupilha - Câmpus Alegrete, “cartoons” sobre temas controversos e atuais. O principal critério de seleção desses “cartoons” era que fossem atrativos pelo desenho e pela mensagem lúdica ou satirizada, divertida ou ainda impactante, mas que tivessem o potencial de instigá-los à reflexão, ao debate e pesquisa, na busca de conhecimentos e possíveis soluções do problema apresentado. Nós podemos descartar que em um mundo globalizado, todo tipo de informação chega até nós e, consequentemente, aos nossos jovens de maneira extremamente rápida. Por isso, cabe ao educador buscar o direcionamento, procurando evitar que informações deturpadas sejam assimiladas pelos mesmos, como estamos tratando de “cartoons”, não podemos esquecer que os desenhos animados, que um dia todos nós tivemos e ainda temos acesso, também podem ser um rico recurso para o desenvolvimento do senso crítico do aluno. Ao educando coube analisar o material entregue pelo professor, “cartoons” e questionário, anotar individualmente ou dentro de pequenos grupos ideias e impressões sobre o material. O “cartoon” foi, em um primeiro momento, o único material a ser usado, pois a partir dali é que se obtiveram as primeiras noções do tema e seu cunho social. Dentro dos grupos, foram analisados, discutidos e anotados aspectos relevantes. Com a ajuda do professor, o trabalho foi direcionado com o objetivo de acrescentar maiores conhecimentos aos alunos sobre o tema. As ideias foram ordenadas a partir da discussão no pequeno grupo e, a partir daí, o aluno pode começar sua produção textual individual, com o propósito de se obter trabalhos diferentes dentro do mesmo grupo. A diferença foi debatida dentro do grupo e foram anotadas as ideias principais. A socialização de todos os materiais no grande grupo teve o professor como mediador, que anotou no quadro alguns tópicos relevantes. Resultados e discussões Os resultados ainda não foram definitivos. O trabalho encontra-se em fase inicial, mas encaminha-se conforme o planejado pelos professores envolvidos. Ao observarmos os resultados iniciais, estamos otimistas porque a turma demonstrou um grande interesse até agora, não só pelos temas propostos, mas também com os debates iniciais, socializados entre eles e mediados pelos professores em um trabalho interdisciplinar. Com relação aos “cartoons”, sua aceitação pode independer da faixa etária, o que pode variar é a temática que envolve o trabalho. Essa prerrogativa condiz com o comentário do professor Mauro César Bandeira, concluinte do curso de Artes Plásticas da UnB (Universidade de Brasília), apresentando um trabalho sobre importância das histórias na educação, em que ele afirma que as histórias em quadrinhos possuem diferentes possibilidades pedagógicas, entretanto professores e pais têm restrições com essa arte. Considerações finais A aplicação de “cartoons”, como forma de criação e aquisição de conhecimentos, vem ganhando espaço em nossas escolas, pois além de ser uma maneira dinâmica e prática, estimula e direciona o aluno à busca pelo saber de uma maneira lúdica e flexível. A quebra da monotonia faz com que o rendimento, muitas vezes, seja mais elevado comparado às aulas tradicionais. O quadro e o giz tornamse objetos usados mais para auxiliar e sanar dúvidas da classe, muitas vezes junto ao livro didático, ocupando um papel secundário no ensino e aprendizagem da turma. Nas Produções Textuais, o “cartoon” é uma ferramenta importantíssima, pois além do cunho social, muitas vezes a crítica implícita não é expressa por vocábulos, mas sim usando uma linguagem alternativa, e isso pode ser representado por símbolos ou desenhos. Referências BANDEIRA, Mauro César. Importância das histórias na educação. UnB.2009. CAMARA Jr. Manual de expressão oral e escrita. 7 ed. Petrópolis: Vozes,1983. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 9 ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra. 1981. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 5ed. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra. 1996. p.87. ___. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1981. GOERGEN. Pedro. Pós-modernidade: ética e educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. LERNER, Delia. Ler e escrever na escola. O real, o possível e o necessário. Porto Alegre: ARTMED, 2002. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 6 ed. Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice S. Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler. Fundamentos Psicológicos para uma Nova Pedagogia da Leitura. São Paulo: Cortez Editora, 2002, 104 páginas.