Ação e Movimento 2006 - Faculdade Montenegro

Transcrição

Ação e Movimento 2006 - Faculdade Montenegro
ação
ISSN 1806-9436
&
movimento
educação física e desportos • vol. 3 • nº 1 • janeiro/fevereiro 2006
ação & movimento - Volume 3 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006
FISIOLOGIA
• VO2max de atletas
veteranos
• Efeitos do treinamento
resistido para terceira
idade
• Tempo de reação
e atividade física
VOLEIBOL
• Análise do jogo Brasil x
Itália nos Jogos Olímpicos
2004
FILOSOFIA
• A contribuição de Aristóteles
para a Educação Física
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Capa_v3n1_FIM.indd 1
20/4/2006 14:42:42
ação
ISSN 1806-9436
&
movimento
educação física e desportos • vol. 3 • nº 2 • março/abril 2006
ação & movimento - Volume 3 - Número 2 - março/abril de 2006
FISIOLOGIA
• Dinâmica da marcha de
praticantes de caminhada
NATAÇÃO
• Avaliação de nadadores
masters competitivos
GINÁSTICA
• Flexibilidade e ginástica
olímpica
• Efeitos do treinamento
de ginástica localizada e
hidroginástica
EDUCAÇÃO
• Relações de gênero nas
aulas de Educação Física
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10/8/2006 17:28:22
educação física e desportos
Índice
Volume 3 número 1 - janeiro/fevereiro de 2006
EDITORIAL
Intencionalidade pedagógica, Luiz Alberto Batista ........................................................................... 3
ARTIGO ORIGINAL
VO2max de atletas veteranos. Estudo comparativo entre especialistas
de orientação, corrida de fundo e sedentários, José Augusto Rodrigues dos Santos,
Domingos José Lopes da Silva, Filipe Marques ................................................................................. 4
Validação do PIMCQ (parent-initiated motivational climate questionnaire)
para a lingua portuguesa, Cláudia Goulart, Hiram Valdés ................................................................ 10
Análise de saltos e rally no confronto entre Brasil e Itália
nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, Marcelo de Castro Haiachi, José Fernandes Filho ........................... 16
Cenários e práticas da psicomotricidade, Atos Prinz Falkenbach,
Fernando Edi Chaves, Vanessa Nascimento Flores, Dileni Penna Nunes ................................................ 21
REVISÃO
Efeitos do treinamento resistido para terceira idade, Bruno Gonzaga Teodoro,
Pedro Vieira Sarmet Moreira, Nathália Maria Resende,
Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, Foued Salmen Espindola, ......................................................... 27
ATUALIZAÇÃO
Tempo de reação e atividade física, Daniel das Virgens Chagas, Luiz Alberto Batista ............................... 32
Uma breve reflexão sobre a ética de Aristóteles e sua contribuição para
a Educação Física, Rafael da Silva Mattos, Ana Luiza Paulino ............................................................ 43
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ....................................................................................... 47
EVENTOS ....................................................................................................................... 49
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2
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
ISSN 1806-9436
educação física e desportos
Editor
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João Ricardo Moderno (UERJ)
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(Universidade do Porto – Portugal)
(Universidade do Porto – Portugal)
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(Universidade de Coimbra – Portugal)
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
EDITORIAL
Intencionalidade pedagógica
Luiz Alberto Batista
Editor científico
Dentre as variáveis com as quais o professor de
Educação Física tem que lidar, no decurso de sua atuação educativa, o movimento corporal ocupa lugar de
destaque, sendo que nossa relação com ele se estabelece
de diferentes maneiras. Em alguns momentos o tomamos
como meio, em outros, como fim e ainda, não raramente,
como meio e fim.
Constitui, portanto, procedimento corriqueiro
em nossa prática profissional, fazermos com que as pessoas realizem movimentos corporais específicos, com a
perspectiva de que venham a obter desenvolvimentos
corporais e orgânicos diversos. Procedimento este, que
dado a natureza educacional inerente à nossa profissão,
aqui classificaremos de cinesiopedagógico. A escolha
pela opção de utilizarmos o movimento corporal como
estratégia de intervenção se deve, provavelmente, ao fato
de conhecermos abundantes evidências, tanto empíricas
quanto científicas, de que as condutas motoras, em certa
medida, possuem a capacidade de estimular processos
adaptativos diversos no ser humano, desde aqueles de
natureza fisiológica até os psicológicos e sociológicos.
Já não temos dúvidas, por exemplo, de que uma
pessoa saudável e sedentária, ao exercitar-se motoricamente, vencendo, certo número de vezes, uma carga
resistiva significativa para ela, por um período de tempo
suficiente, terá grande probabilidade de apresentar, ao
final do processo, alterações positivas no status da atividade funcional dos músculos trabalhados. Um resultado
específico, determinado por um movimento corporal
específico, realizado segundo uma organização também
específica.
Não obstante reconhecermos o poder de estimulação imanente às condutas motoras, freqüentemente nos
questionamos sobre o quanto conhecemos acerca dos
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movimentos corporais que utilizamos como exercícios.
Note-se que a dúvida não é relativa ao processo e sim à
conformação do movimento.
Diferentes campos do conhecimento científico têm
nos possibilitado criticar os exercícios físicos, questionando a qualidade dos movimentos corporais utilizados, a
qual, em alguns casos, é avaliada em função da relação
entre a especificidade dos movimentos e os objetivos
pretendidos. Infelizmente é fácil constatar que, até o
presente momento, alguns poucos foram avaliados.
A relevância deste tema esta no fato de que estas
são dúvidas intimamente relacionadas com a efetivação
de nossa intencionalidade pedagógica, ou seja, ao caráter da consciência de nossos procedimentos de ensino
tender para aquilo que realmente perspectivamos como
resultado de sua utilização.
Diante disto e dado à carga de responsabilidade
técnico-profissional que repousa sobre os ombros de um
professor de Educação Física, é importante mantermonos preocupados em eliminar, em todos os níveis de
nossa prática pedagógica, a casualidade. Para que isto
aconteça é preciso que coloquemos em cheque, e cobremos, diligente e criticamente, de nós mesmos as razões
que nos levam a escolher um determinado conjunto de
movimento para utilizá-lo como exercício físico.
Iniciamos, portanto, este ano de publicações convidando a todos, autores e leitores, ao exercício de um
contínuo e permanente exame de nossas ações pedagógicas, de forma a tentarmos compreender acontecimentos
passados e orientarmos futuras decisões e ações. Tal tipo
de ação, temos certeza, tem o mérito de contribuir para a
dinamização de um processo, caracterizado por uma prática cinesiopedagógica conduzida sob a cobertura de uma
constante, e rigorosa, intencionalidade pedagógica.
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
ARTIGO ORIGINAL
VO2max de atletas veteranos. Estudo
comparativo entre especialistas de orientação,
corrida de fundo e sedentários
VO2max of Masters Athletes. Comparative study among
orienteers, long distance runners and sedentary subjects
José Augusto Rodrigues dos Santos*, Domingos José Lopes da Silva**, Filipe Marques, M.Sc.***
*Professor Associado da FCDEF-UP, **Professor Auxiliar da FCDEF-UP, ***Ciência do Desporto
Resumo
Sendo a corrida de orientação uma modalidade praticada ao ar livre e predominantemente aeróbia, decidimos comparar o
consumo máximo de oxigénio (VO2max), a potência máxima aeróbia (vVO2max) e a frequência cardíaca máxima de prova (FCmáx), de praticantes de corrida de orientação (CO) com corredores de estrada (CE) e sedentários (SE). A amostra foi formada por
27 sujeitos (CO = 11; CE = 9; SE = 7), com idades compreendidas entre os 50 a 55 anos. Todos os sujeitos realizaram um teste
laboratorial em tapete rolante, realizando uma prova de esforço máximo até à exaustão. Foram analisados os seguintes indicadores:
VO2max (L.min-1), VO2max (ml.kg-1.min-1), vVO2max, quociente respiratório (QR) e a frequência cardíaca (FC). Também foram
estudados o tempo máximo de prova e a distância percorrida. Verificamos que os CO e CE apresentam valores significativamente
diferentes (p < 0,001), e mais favoráveis do que os SE, em relação a todos os indicadores estudados com excepção do QR e FCmáx.
O grupo CO também se diferencia do grupo CE apresentando valores significativamente inferiores (p < 0,05) de VO2max relativo,
vVO2max, distância percorrida e tempo de prova. Concluímos que os CO apresentam um perfil aeróbio ajustado às exigências
aeróbias da competição, mas no entanto inferior aos CE. Pensamos que as razões das diferenças verificadas se prendem quer com a
especificidade adaptativa quer com as diferenças verificadas ao nível do treino. Outros estudos são necessários para confirmar esta
asserção.
Palavras-chave: veteranos, corrida de orientação, corrida de fundo, VO2max, vVO2max, FCmáx.
Artigo recebido em 09 de março de 2006; aceito em 13 de março de 2006.
Endereço para correspondência: José Augusto Rodrigues dos Santos, Rua Plácido Costa, 91, 4200-450 Porto, Portugal,
Tel: (22.5074700)E-mail: [email protected]
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Abstract
Competitive orienteering is an outdoor sportive modality appealing, predominantly, to aerobic capacity. So, we decide to
compare the maximum oxygen consumption (VO2max), maximum aerobic power (vVO2max) and the maximum cardiac frequency
of test (FCmáx), of orienteers (CO) with long distance runners (CE) and sedentary (SE). The sample was formed by 27 subjects
(CO=11; CE=9; SE=7), whose ages varying between 50 and 55 years. The subjects underwent a treadmill test till exhaustion. The
following indicators had been analyzed: VO2max (L.min-1), VO2max (ml.kg-1.min-1), vVO2max, respiratory quotient (QR) and the
cardiac frequency (FC). The maximum time of test and the distance covered were also studied. We verified that CO e CE present
better and significantly different (p<0.001) values than SE in relation to all the indicators studied with exception of QR and FCmáx.
The CO aerobic profile is worst than CE, presenting significantly lower values (p<0.05) of relative VO2max, vVO2max, distance
covered and test time. We conclude that the CO present an aerobic profile adjusted to the aerobic requirements of the competition,
but however lower than CE. We think that the differences between the two groups derived from the specificity of the adaptations
of each modality and different levels of training. Other studies are necessary to confirm this assertion.
Key-words: masters, orienteering, long distance running, VO2max, vVO2max, maximum heart rate.
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Introdução
Material e métodos
O aumento da esperança de vida e da população
idosa é uma das características das sociedades ocidentais
hodiernas. Tal facto faz emergir novos problemas sociais
e biológicos, entre os quais se salienta a promoção da
qualidade de vida incontornavelmente ligada à saúde.
Saúde mental, afectiva e fisiológica expressa esta
pela eficácia funcional dos vários sistemas orgânicos. O
aumento e/ou manutenção da funcionalidade corporal
está ligada, como vários estudos confirmam, à taxa de
actividade física.
Os efeitos positivos do exercício físico no idoso
reflectem-se a vários níveis, entre os quais se salientam:
melhoria das funções respiratória, cardíaca e vascular,
controlo ponderal, aumento da tolerância à glucose,
melhoria do perfil lipidémico, melhoria da mobilidade,
aumento da resistência osteo-articular que se reflectem
positivamente nas expressões afectivas e psicológicas do
idoso [1-5].
As perdas funcionais induzidas pelo envelhecimento, normalmente acentuadas pelo sedentarismo
do idoso, podem ser atenuadas pela prática regular de
exercícios físicos reduzindo as taxas de morbilidade e
mortalidade.
A capacidade aeróbia é um parâmetro físico que
declina com a idade a partir dos 30 anos [6,7], declínio
esse que pode ser combatido pela prática de actividades
de endurance entre as quais se salienta a corrida de
orientação, que se caracteriza por aliar o esforço físico a
uma componente mental de decisão que é fundamental
[8].
Com este estudo, tivemos como objectivo a avaliação da capacidade aeróbia de corredores veteranos de
orientação, comparando-as com veteranos especialistas
de corridas de duração e com sujeitos sedentários.
A amostra foi constituída por 27 sujeitos do sexo
masculino com idades compreendidas entre os 50 e os
55 anos. A participação foi voluntária e as normas de
consentimento obedeceram às directrizes internacionalmente estabelecidas.
Foram formados três grupos: sedentários (SE), n =
7; corredores de fundo de estrada (CE), n = 9; corredores
de orientação pedestre (CO), n = 11.
Todos os sujeitos do grupo SE foram submetidos,
numa clínica médica, ao Exame Médico-Desportivo,
homologado pelo Instituto do Desporto de Portugal.
Realizaram análises à urina, radiografia torácica e electrocardiograma. Todos ficaram aptos, embora um deles
apresentasse bronquite asmática derivada do tabagismo,
mas sem constrangimento médico para o estudo.
Os sujeitos do grupo CE foram recrutados através
do Inatel de Coimbra, tendo em conta, por um lado,
a idade e a participação destes em provas de fundo de
âmbito regional e/ou nacional, e por outro, por uma
questão de conveniência logística e financeira.
Os sujeitos do grupo CO foram seleccionados de
acordo com a classificação individual no primeiro terço
do ranking nacional de corrida de orientação pedestre da
Federação Portuguesa de Orientação.
Os procedimentos pré-teste foram os recomendados por Heyward [9]:
• Equipamento desportivo: calções, t-shirt, meias e sapatilhas de corrida confortáveis, material de higiene;
• Reforçar a ingestão de líquidos 24 horas antes;
• Diminuir ou abster-se de: fumar, ingerir bebidas alcoólicas e cafeína, pelo menos três horas antes do teste;
• Evitar a actividade física intensa no dia anterior;
• Repousar adequadamente na noite anterior (6 a 8
horas).
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Registaram-se algumas informações complementares relativas aos anos de treino, dias de treino/semana
e quilómetros/semana.
Avaliação da frequência cardíaca
• Foi determinada por cárdio-frequencímetro da marca
Polar modelo S810TM.
Avaliação da capacidade aeróbia
Procedimentos estatísticos
No sentido de haver uma maior correspondência
entre a actividade física específica dos desportistas e o
teste a realizar, optamos pela avaliação da capacidade
aeróbia em tapete rolante. Para tal, utilizámos o modelo
HP Cosmos – Quasar, segundo uma adaptação do protocolo de Rodrigues dos Santos [10], no qual os sujeitos
realizam um teste máximo progressivo e contínuo, com
uma inclinação estabilizada de 2%, a partir da velocidade
inicial de 6 km/hora e com um incremento de carga (2
km/hora) em cada 2 minutos, respeitando os critérios de
alcance do VO2max para adultos não idosos.
Os parâmetros respiratórios foram recolhidos
através do analisador de gases Metamax – Cortex da
Biophysik Gmbh, e analisados num computador PC
HP vectra 5/1000 .
Analisámos os seguintes indicadores respiratórios:
• Consumo máximo de oxigénio: absoluto (L.min-1)
e relativo (ml.kg-1.min-1);
• Velocidade correspondente ao patamar do consumo
máximo de oxigénio (vVO2max);
• Quociente respiratório (QR).
Foram utilizadas as medidas descritivas básicas:
média (ξ), desvio-padrão (DP). O teste de ShapiroWilk foi utilizado para análise do perfil de normalidade das distribuições. A One-Way Anova, com
post-hoc de LSD (least significant difference) ou de
Tamhane’s T2, consoante as variâncias homogéneas
ou não-homogéneas (analisadas pelo teste de Levene
statistics), respectivamente, para as comparações
múltiplas inter-grupos, nas variáveis com distribuição normal. O teste t de medidas independentes para
apurar as diferenças entre os grupos de praticantes de
CO vs CE, nas variáveis onde apenas se observou a
participação destes grupos. A medição da intensidade
das associações entre variáveis foi efectuada pelo coeficiente de correlação produto-momento de Pearson
ou de Spearman (r), nas variáveis com distribuição
normal ou não-normal, respectivamente. O nível de
significância estatístico foi mantido em 5% (p ≤ 0,05).
Todos os cálculos foram efectuados no programa
estatístico SPSS 12.0.
Resultados
Tabela I – Dados relativos aos sujeitos da amostra: biométricos, desportivos e fisiológicos.
Sedentários
Variáveis
Idade (anos)
Peso (kg)
Estatura (cm)
Anos de treino
Treinos/sem
Km/sem
Duração prova (min)
Dist. percorrida (m)
VO2max (L.min-1)
VO2max (ml.kg-1.min-1)
vVO2max
QR
FCmáx prova (bpm)
ξ
52,3
79,3
167,9
4,3
549,2
2,84
35,66
9,4
1,08
174
DP
1,8
13,8
3,1
1,1
180,4
0,41
4,72
1,5
0,04
7,5
Da análise do quadro 1 salienta-se a similitude das
idades entre todos os grupos. Em relação ao peso corporal,
os SE são os que registam o valor médio mais elevado e os
CE o mais baixo. Parte da diferença ponderal entre CE e CO
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Corrida de Estrada
ξ
DP
51,3
1,7
64,3
8,0
165,4
6,7
21,7
10,3
4,6
1,1
48,7
16,7
10,7
1,3
1932,4
338,1
3,93
0,43
61,39
4,95
15,8
1,2
1,05
0,06
169
8,4
Corrida de Orientação
ξ
DP
51,0
1,4
73,5
12,8
171,9
5,8
15,9
13,7
2,8
1,1
20,9
12,3
9,0
2,4
1519,4
530,8
3,86
0,66
53,58
12,55
14,0
2,7
1,08
0,05
176
12,6
pode radicar nos superiores valores de estatura dos CO. Os
CE apresentam valores superiores aos CO no que concerne
aos anos de prática, ao número de treinos/semana, aos km/
semana, à duração da prova e à distância percorrida.
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Ao nível da capacidade aeróbia, os CE apresentam
os mais elevados valores médios do VO2max absoluto (L.min-1) e relativo (ml.kg-1.min-1.), bem como a
vVO2max. Por sua vez, os valores mais reduzidos são
registados pelo grupo dos SE. Relativamente ao QR, os
atletas de CE apresentam o valor médio mais baixo, sendo
equilibrados os registos de SE e praticantes de CO.
Tabela II – Comparação inter-grupos.
Comparação inter-grupos
(p)
SE vs CE SE vs CO CE vs CO
Tempo de prova
<0,001
<0,001
0,043
Distância percorrida
<0,001
<0,001
0,032
Vo2max (L.min-1)
0,001
<0,001
0,784
Vo2max (ml.kg-1.min-1)<0,001
<0,001
0,046
vVO2max
<0,001
<0,001
0,049
Quociente Respiratório 0,287
0,769
0,136
FCmáx (bpm)
0,347
0,636
0,125
Anos de treino
0,29
Treinos/semana
0,004
Km/semana
<0,001
O grupo SE diferencia-se dos outros dois em todos
os indicadores com excepção do QR e a FCmáx. Os grupos Co e CE diferenciam-se, entre si, pelos indicadores
de performance, pelo VO2max relativo e pelo perfil de
treino.
Discussão
A corrida de orientação exige uma boa capacidade
aeróbia, não só para cumprir com eficácia as exigências
físicas da prova mas, também, para manter uma situação
de despertar mental essencial para correctas leitura do
mapa, atenuando os efeitos deletérios da fadiga quanto
à capacidade de decisão.
Os estudos fisiológicos referentes aos especialistas
de corrida de orientação são escassos. Em relação a atletas
de elite encontramos um estudo [11]; em relação a atletas
veteranos não encontramos nenhum.
O VO2max dos CO do presente estudo é muito inferior ao encontrado por Rolf et al. [11], o que se poderá
justificar quer pela diferença de nível das amostras, pelo
efeito deletério da idade no potencial máximo aeróbio
ou por condicionantes de índole genética.
Esgotada a capacidade de comparar a nossa amostra de CO com outras amostras idênticas, resta-nos a
possibilidade de compulsar os valores dos CO, com os
valores dos CE e dos SE deste estudo, bem como com
atletas veteranos de corrida de outros estudos.
Uma constatação óbvia e sobejamente corroborada
prende-se com as diferenças significativas (p < 0,001)
verificadas, neste estudo, entre o grupo SE e o grupo CO
em relação ao VO2max. A inactividade, acentuada pela
idade, reduz a massa mitocondrial muscular, a capilarização e a eficácia das trocas de oxigénio [12] reduzindo
de forma clara o VO2max. O Quociente Respiratório
(QR), que é idêntico em todos os sujeitos quando se
atinge um patamar de esforço máximo, e a FCmáx, mais
sensível à idade que ao nível de treino, não apresentam
diferenças estatisticamente significativas entre SE e CO.
Os indicadores ergonómicos (distância percorrida e
vVO2max) e fisiológicos (VO2max) relacionados com
a prova de esforço apresentam diferenças significativas
(p < 0,001) entre estes dois grupos. O quadro 3 compulsa os CO com grupos de corrida de fundo, deste e
de outros estudos.
Tabela III – Valores médios e desvio-padrão de praticantes de corrida de orientação e de atletismo de fundo
deste e doutros estudos, quanto a algumas variáveis biométricas, do treino e fisiológicas.
Variáveis
Idade (anos)
Peso (kg)
Estatura (cm)
Anos de treino
Km.sem-1
FCmax
VO2max (L.min-1)
VO2max (ml.kg-1.min-1)
CO*
CE*
n=11
51,0 ± 1,4
73,5 ± 12,8
171,9 ± 5,8
15,9 ± 13,7
20,9 ± 12,3
176 ± 12,6
3,86 ± 0,66
53,6 ± 12,6
n= 9
51,3 ± 1,7
64,3 ± 8,0
165,4 ± 6,7
21,7 ± 10,3
48,7 ± 16,7
169 ± 8,4
3,93 ± 0,43
61,4 ± 5,0
Atletismo
Fundo [12]
n= 34
56,5 ± 10,2
73,7 ± 9,2
176,3 ± 6,7
>5
>15
–
3,78 ± 0,70
50,4 ± 9,2
Atletismo
Fundo [14]
n= 34
53,9 ± 0,5
75,4 ± 1,2
178,3 ± 0,3
14,4 ± 1,5
56,2 ± 5,2
170,7 ± 2,1
4,00 ± 0,09
53,4 ± 1,4
Atletismo
Fundo [15]
n= 19
54,2 ± 0,8
76,0 ± 1,8
–
19,6 ± 1,7
54,7 ± 7,7
–
3,99 ± 0,14
53,2 ± 1,7
* presente estudo
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20/4/2006 11:27:10
8
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Comparando os CO com os CE deste estudo,
verificamos diferenças com significado estatístico (p
< 0,05) em relação ao VO2max relativo à vVO2max,
ao tempo de prova e à distância percorrida. A melhor
capacidade aeróbia dos CE em relação aos CO, quer
em termos ergonómicos quer em termos fisiológicos,
poderá estar relacionada com o volume de treino que
também diferencia significativamente os dois grupos (p
= 0,004 para o factor treinos/semana e p < 0.001 para
os km/semana). Também será de aceitar a hipótese de
que o perfil de treino mais intenso dos CE em relação
aos CO poderá induzir as diferenças verificadas, já que
a importância da orientação atenua a importância da
corrida na consecução da performance [16].
O VO2max dos CO é semelhante aos valores
encontrados em outros estudos referentes a especialistas
de meio-fundo do atletismo [14,15,13], o que pode significar duas coisas: (i) acção deletéria da idade na função
aeróbia, já que os sujeitos dos estudos referidos são ligeiramente mais idosos que os CO, ou (ii) diferentes níveis de
rendimento. Pensamos que esta segunda hipótese é mais
lógica, já que os CO treinam menos quilometragem por
semana e as adaptações induzidas pela modalidade estão
condicionadas pelos aspectos decisórios fraccionando o
esforço competitivo. Reforçando a nossa posição, alguns
estudos encontram, em sujeitos com idade avançada, elevados níveis de capacidade aeróbia induzidos e mantidos
pelo treino [17,18].
Embora, segundo os critérios estabelecidos por
Morrow et al. [19] os valores de VO2max relativo dos CO
deste estudo sejam considerados excelentes, tal ficar-se-á
a dever mais à qualidade fisiológica relativa destes atletas
que ao nível de treino, já que é moderada (r = 0,58) a
correlação encontrada entre os quilómetros de treino por
semana e o VO2max.
Os valores médios do quociente respiratório (QR=
1.08) dos CO são inferiores aos encontrados por Wiswell
et al. [20] (QR = 1,12) e Hawkins et al. [14] (QR = 1,10).
As razões das diferenças podem radicar nos protocolos
utilizados ou no menor empenho dos sujeitos da nossa
amostra. Em sujeitos sedentários com mais de 60 anos,
Aitken & Thompson [21] encontraram QR ao VO2max
de 1,06, mas em sujeitos treinados em endurance esse ratio subia para 1,11. Como a nossa amostra de CE também
atingiu um valor médio relativamente baixo (QR = 1,05)
quer-nos parecer que as diferenças verificadas se prendem
com o tipo de protocolo utilizado, eventualmente indutor
de claudicação muscular que impossibilitou o patamar de
esforço máximo, como comprovamos em alguns sujeitos
em estudo que realizamos [10].
A frequência cardíaca aumenta linearmente durante
o exercício em função da intensidade [10]. À mesma
intensidade relativa de trabalho a FC parece estar mais
Acao_v3n1.indb 8
dependente da idade que do nível de treino [22], embora
em especialistas de CO, a FC média de prova de sujeitos
com idade superior a 45 anos parece não ser diferente
da encontrada para atletas mais jovens [23], o que se
poderá ficar a dever ao carácter intervalado do esforço
típico da CO ou a eventuais diferenças de qualidade
performativa.
Embora, em relação à FCmáx de prova não se
verifiquem diferenças com significado estatístico entre
os três grupos da nossa amostra, os resultados tendencialmente apontam para uma redução da FCmáx nos
CE, eventualmente induzida pelo treino sistemático de
endurance que se reflecte na redução da densidade dos
receptores beta-adrenérgicos atenuando a responsividade simpática [24]. Tal facto, também foi comprovado
pelo estudo de Rodrigues dos Santos [25] o que coloca
em causa o consenso geral de que a FCmáx está pouco
condicionada pelo nível de treino. A idade promove o
declínio do controle parassimpático que pode ser atenuado pelo exercício regular de endurance. Pensamos
que a melhoria do controle parassimpático induzida
pelo exercício prolongado e responsável pela bradicardia de repouso pode, também, ter um efeito positivo
no esforço máximo atenuando a descarga adrenérgica
e atenuando o stresse provocado pelo esforço máximo,
reduzindo a FCmáx. Esta hipótese necessita de estudos mais aprofundados já que em octogenários muito
fragilizados a melhoria da função aeróbia estava ligada
ao aumento da frequência cardíaca durante o esforço
máximo [26].
Pensamos que o treino dos CO tem uma menor
participação anaeróbia que o treino dos CE, o que está
de acordo com o perfil competitivo de cada uma das
modalidades. Enquanto na CO a frequência cardíaca
média é de 88.7% da FCmáx, nas corridas de estrada
e corta-mato esse valor sobe para 93.1 a 95% [27].
Se esta caracterização é indutora de um menor stresse
cardíaco em esforço máximo é algo que não podemos
dizer com segurança, embora possamos levantar essa
hipótese.
Conclusão
Podemos concluir que os nossos especialistas de
corrida de orientação apresentam um perfil aeróbio
ajustado ao perfil competitivo da modalidade, significativamente superior a sujeitos sedentários, mas inferior
ao de sujeitos praticantes de corrida. Pensamos que tais
diferenças radicam quer da especificidade adaptativa
quer do menor nível de treino dos atletas de CO. No
entanto, a exiguidade da amostra não nos permite ser
muito assertivos quanto ao comportamento dos vários
indicadores fisiológicos por nós estudados.
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9
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
ARTIGO ORIGINAL
Validação do PIMCQ (parent-initiated
motivational climate questionnaire)
para a língua portuguesa
Parent initiated motivational climate questionnaire, the validity
into brazilian portuguese language
Cláudia Goulart*, Hiram Valdés **
*Professora e membro da Rede CENESP da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília,
**Psicólogo, Pesquisador Associado da Faculdade de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu da
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília.
Resumo
O objetivo deste estudo é apresentar a validação do instrumento PIMCQ (parent-initiated sports questionnaire), elaborado
por Duda, White & Hart e adaptado para a língua portuguesa. Trata-se de um instrumento que avalia a percepção dos atletas em
relação ao clima motivacional de seu pai e mãe em relação a sua ação como atleta de esporte competitivo. A versão inicial parte
de 14 itens que foram adaptados de três escalas do teste de Papaioannou – Learning and Performance-Oriented Physical Education
Climate Questionnaire (LAPOPECQ) –, em que as variáveis são: promoção do aprendizado pelo professor, preocupação dos estudantes em errar na execução da tarefa, resultado da orientação para objetivo sem a utilização de esforço. Como trabalhamos com
duas variáveis, seguindo a teoria de clima motivacional, as variáveis promoção do aprendizado se refere à variável orientação para
a tarefa; as variáveis preocupação e orientação para objetivo sem a utilização de esforço de orientação para o ego. Estes itens são
utilizados com referência aos pais dos jogadores e as mesmas perguntas em relação à mãe. Nenhum estudo de utilização deste teste
no Brasil foi encontrado. Participou do estudo um total de 226 atletas da cidade do Rio de Janeiro e Distrito Federal que participam
de campeonatos de federações e confederações dos esportes: voleibol, judô, natação, handebol, basquetebol, tênis de mesa, futebol
e atletismo. A análise dos dados foi realizada utilizando o programa SPSS 10.0 para Windows. Os instrumentos foram analisados
na forma de dois questionários: um referente ao clima motivacional dos pais e outro referente ao clima motivacional das mães. Os
resultados demonstram que nos dois instrumentos a matriz preenche os requisitos mínimos de fatorabilidade.
Palavras-chave: clima motivacional, orientação para o aprendizado, clima de preocupação.
Artigo recebido em 20 de março de 2006; aceito em 5 de abril de 2006.
Endereço para correspondência: Cláudia Goulart, SQN 206 bloco F apto 104 , 70844-060, Brasília DF,
[email protected]
Acao_v3n1.indb 10
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Abstract
The purpose of this study is the validation of PIMCQ (parent-initiated climate questionnaire) adaptation for the Portuguese
Language. The development of the initial version of the PIMCQ, 14 items were adapted from three scales of the Learning and
Performance-Oriented Physical Education Climate Questionnaire (LAPOPECQ) (i.e., Teacher’s Promotion of Learning, Students’
Worries About Mistakes, Outcome Orientation Without Effort; Papaioannou) and written with reference to fathers, and the same
to mothers. One factor (Learning-Oriented Climate) reflected a task-involving situational goal structure, and two factors (Worry
Conductive Climate and Success Without Effort) reflected an ego-involving structure. Not any study of the using of this test in Brazil
was found only its application by White, Duda and Hart. In addition, not any analysis of the validation of this instrument was found,
only its means and standard deviations. This study was applied in Rio de Janeiro city and Distrito Federal to 226 athletes who play
in federations and confederations championships of volleyball, handball, basketball, table tennis, soccer, running and swimming.
The data’s analysis was made using the SPSS 10.0 program for windows. The instrument was analyzed as two questionnaires: one
referring to father’s motivational climate and another referring to the mother’s motivational climate. Exploratory factor analysis
showed (principal components followed by orthogonal rotation which method used was varimax) that the matrix predominate the
requisites minimum of factorability.
Key-words: motivational climate, learning-oriented climate, worry conductive climate.
Introdução
O primeiro ponto a ser analisado dentro desta
pesquisa será a importância do meio ambiente familiar em
que o atleta está inserido e como ocorre esta influência dos
pais na sua escolha de orientação para objetivo, sendo ela
para a tarefa ou para o ego. Com isso descrevemos alguns
pesquisadores que afirmam a importância da influência,
do ambiente social e dos pais em relação à orientação para
objetivo de seus filhos e a necessidade de mais pesquisas serem
realizadas nesta área. Sendo assim, Nicholls [1,2] afirma que:
“as diferenças individuais na orientação para objetivo estão
na disposição de experiências sociais dentro de um contexto;
as interações sociais têm significativa participação na escolha
da orientação para objetivo onde outros influenciarão no
clima motivacional, como por exemplo: colegas, técnicos e
família e, baseado nestas interações, o indivíduo terá uma
tendência para se orientar para seus objetivos”. Locke [3]
acrescenta, “os motivos das orientações para o objetivo são
realizados num conceito de organização de um ambiente”.
Além disso, outro autor Cratty [4] afirma que: ‘acentuadas
discrepâncias familiares, desde a mais tenra idade, tendem
a modelar as energias infantis’. Cratty citando Rosen e
D’Andrade (1959) acrescenta ‘que a forma como os pais
estimulam ou restringem as crianças podem conduzir a
atitudes que visam ao sucesso’. Ames [5], afirma que a
orientação parte do princípio de que o ambiente esportivo
influencia diretamente nas ações dos jogadores, e estas
ações são motivadas pelos técnicos, pais, torcida, mídia e
amigos. O ambiente em que o jogador está inserido poderá
ser motivado para eles se superarem tecnicamente ou para
vencerem a qualquer custo.
Com relação a esta linha de investigação, Carole
Ames, tem enfatizado a influência das estruturas de re-
Acao_v3n1.indb 11
compensa sobre as diferentes orientações para objetivo,
no esporte. Ela propõe três estruturas de recompensa:
uma estrutura denominada competitiva, na qual o fato
de uns ganharem, a recompensa implicará que outros a
percam; uma estrutura cooperativa, a qual implica que,
para ganhar uma recompensa todos deverão cooperar para
isto e, conseqüentemente, todos ganharão a recompensa;
e uma estrutura individualista que supõe que o ganho da
recompensa é individual, tendo o jogador que atingir um
objetivo, numa partida individualmente, sem depender
dos seus companheiros de equipe, mesmo se tratando de
um esporte coletivo. Clima competitivo existe em esportes
de competição quando ganhar é o critério de sucesso, mas
auto-superação através da orientação para a tarefa pode ser
também o clima motivacional dos jogadores quando autosuperar-se é o critério do sucesso. O clima motivacional
dos jogadores pode ser orientado para a tarefa ou para o
ego, e isto será definido basicamente por técnicos e pais
[6,7]. Para Roberts, mais pesquisas na área dos esportes deveriam ser realizadas, para saber como as interações sociais
influenciam jogadores nas suas escolhas de orientações para
objetivo: sejam elas competitivas ou para auto-superação,
ou seja, sejam elas para o ego ou para a tarefa.
Pesquisadores concluíram em seus estudos que jogadores orientados para o ego são carentes de conceito de
justiça e honestidade, tanto quanto não se preocupam com
o bem-estar do seu oponente. Com isto, podem ter atitudes
intencionais de agressividade para com eles, violam as regras
do jogo e cometem trapaças, caso seja necessário para atingir seu objetivo: a vitória a qualquer custo. Por outro lado,
orientação para a tarefa, os jogadores são orientados para a
auto-superação, para o conceito de honestidade, com meta
para aprendizado, meta para o domínio, envolvimento com
tarefas e estrutura de recompensa cooperativa [6].
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Estaremos analisando com este trabalho, qual o
clima motivacional em que os atletas estão sendo influenciados em seu contexto familiar, no caso, a influência de
seu pai e de sua mãe, se estão orientando o seu filho para
a alta competitividade, orientação para o ego, ou orientando para a auto-superação, orientação para a tarefa.
Metodologia
A amostra incluiu 220 sujeitos, sendo estes atletas
da cidade do Rio de Janeiro e Distrito Federal que participam de campeonatos de federações e confederações dos
esportes: voleibol, judô, natação, handebol, basquetebol,
tênis de mesa, futebol e atletismo.
A versão inicial parte de 14 itens que foram adaptados de três escalas do teste de Papaioannou [8] Learning
and Performance-Oriented Physical Education Climate
Questionnaire (LAPOPECQ), que são: promoção do
aprendizado pelo professor, preocupação dos estudantes
em errar na execução da tarefa, resultado da orientação
para objetivo sem a utilização de esforço. Estes itens são
utilizados com referência aos pais dos jogadores, sendo
que 14 itens se referem a perguntas em relação ao pai e as
mesmas 14 perguntas em relação à mãe. Estas perguntas
são referenciadas a 3 fatores: orientação para o aprendizado (com 5 itens), clima de preocupação (com 5 itens)
e sucesso sem esforço (com 4 itens). O fator orientação
para o aprendizado está relacionado com a orientação para
a tarefa, os fatores clima de preocupação e sucesso sem
esforço, à orientação para o ego [9]. A pontuação utilizada
é a escala 5-pontos Likert, a partir de concordo totalmente
(1) até descordo totalmente (5). A tradução foi realizada
através de dois profissionais da área da educação física,
formados em inglês e posteriormente a isso, tradutores de
inglês realizaram o translation back, ou seja, a tradução para
o inglês do instrumento já traduzido anteriormente para
o português, com o objetivo de validar a tradução. Este
processo não mostrou nenhuma diferença na tradução.
Quadro 2 – Tradução do original PIMCQ (parent-initiated motivacional climate questionnaire)
Eu sinto que minha mãe/pai ...
1. Fica satisfeita(o) quando eu melhoro por meio de muito treino.
2. Fica satisfeita(o) quando eu aprendo algo novo.
3. Presta atenção se eu estou aperfeiçoando minhas técnicas.
4. Vê os erros como parte de um aprendizado.
5. Valoriza meu aprendizado antes de me ensinar algo novo.
6. Se preocupa com meus fracassos.
7. Se preocupa com meus fracassos porque isso é algo negativo.
8. Me faz sentir medo de cometer erros.
9. Se sente mal quando eu não consigo fazer tão bem quanto os outros.
10. Se preocupa comigo, fazendo coisas nas quais não sou bom.
11. Fica satisfeita(o) quando consigo algo sem grande esforço.
12. Fica satisfeita(o) quando eu venço sem grande esforço.
13. Acredita que eu deveria conseguir muito sem grande esforço.
14. Pensa ser importante para mim, ganhar sem precisar me esforçar muito.
A validação envolveu a fatorabilidade da matriz de
correlações e o método de rotação ortogonal dos fatores
utilizados foi o Varimax. Os resultados foram discutidos
tendo como foco as implicações do estudo de teorias
motivacionais e suas implicações nas orientações para
objetivos destes jovens atletas.
Análise e discussão dos resultados
PIMCQ aplicado aos pais
As análises sobre a fatorabilidade da Matriz de Correlações e números de fatores apresentaram os seguintes
índices para o PIMCQ referente aos pais:
Acao_v3n1.indb 12
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
• KMO de 0,767, considerado como moderado, acima
de 0,70;
• Teste de Bartlett de Esfericidade com índice de
1007,447 e significância 0,00, qualificado como
significante;
• Eigenvalues maiores que 1 indicam 3 fatores, no caso
utilizamos 2, sem alterar a amostra;
• Segundo o critério de 3% da variância explicada,
temos na amostra um total de 40,1%;
• Scree Plot aponta no máximo 3 fatores, no caso
utilizamos 2.
Como mostram os dados apresentados anteriormente, a matriz preenche os requisitos mínimos de
fatorabilidade. O alpha de Cronbach atingiu o índice
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de 0,85 (fator 1) e 0,76 (fator 2) satisfatório, ou seja,
acima de 0,70.
O método de rotação ortogonal dos dois fatores
utilizado foi o Varimax. O ponto de corte para inclusão
no fator foram cargas fatoriais acima de 0,30. Portanto,
foram extraídos dois fatores para o instrumento, o item
7 e o item 10, por terem cargas acima de 0,30 em relação
aos dois fatores. Ou seja, foi compreendido por alguns
atletas que se tratava de orientação para o ego e por outros, orientação para a tarefa. Sendo que no caso, estes
itens referem-se no instrumento à orientação para o ego
como pode ser visto na Tabela I.
Rotated Factor Matrix
Tabela I – Matriz Pattern da escala PIMCQ dos
pais.
• Segundo o critério de 3% da variância explicada,
teríamos 31,9% neste instrumento, qualificado como
satisfatório;
• Scree Plot aponta no máximo 3 fatores.
Os dados apresentados anteriormente, validam a
matriz, pois preenche os requisitos mínimos de fatorabilidade. O alpha Cronbach atingiu no fator 1 o índice de
0,79, satisfatório, mas no fator 2 atingiu um índice abaixo
de 0,70 (0,69 no caso), que não é o mais satisfatório, mas
está muito próximo do valor necessário.
O método de rotação ortogonal utilizado foi o
Varimax. O ponto de corte para inclusão no fator foram
cargas fatoriais acima de 0,30. Abaixo desse índice, os
itens foram retirados, no caso os itens 10 e 14, que estão
relacionados com o clima de sucesso sem esforço, orientação para o ego como pode ser visto na Tabela II.
Rotated Factor Matrix
Variáveis
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
pai
Alfa
Variância explicada
Fator
1
,748
,794
,711
,483
,689
,659
,325
,301
0,85
22,6
2
,396
,527
,448
,352
,627
,619
,620
,643
0,76
17,5
Comunalidades
Extração
,569
,646
,512
,291
,483
,456
,263
,278
,202
,215
,418
,383
,420
,487
Total= 40,1
PIMCQ aplicado às mães
As análises sobre a fatorabilidade da Matriz de Correlações e números de fatores apresentaram os seguintes
índices para o PIMCQ referente às mães:
• KMO de 0,739, considerável como moderado;
• Teste de Bartlett de Esfericidade com índice de
691,353, com significância 0,00, qualificado como
significante;
• Eigenvalues maiores que 1 indicam 3 fatores, no caso
utilizamos 2 sem alterar a amostra;
Acao_v3n1.indb 13
Tabela II – Matriz Pattern da escala do PIMCQ das
mães.
Variáveis
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
mãe
alfa
VariâncIa explicada
Fator
1
,710
,789
,653
,506
,518
,590
0,79
18,6
,411
,639
,510
Comunalidades
Extração*
,512
,624
,478
,309
,271
,372
,253
,419
,260
,438
,519
,608
,217
,279
,389
0,69
13,3
Total = 31,9
2
Interpretação dos componentes
Os itens que representam os componentes de
orientação para a tarefa e orientação para o ego, tanto
no instrumento aplicado aos pais quanto às mães estão
presentes nos Quadros 3, 4 e 5 que estão a seguir:
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14
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Quadro 3 – Itens que representam o clima de aprendizagem e orientação para tarefa dos pais e das mães no
PIMCQ.
Eu sinto que meu pai ...
Eu sinto que minha mãe ...
1. Fica satisfeito(a) quando eu melhoro após um grande esforço
2. Fica satisfeito(a) quando eu aprendo algo novo
3. Presta atenção se eu estou melhorando tecnicamente
4. Acredita que as falhas fazem parte da aprendizagem
5. Valoriza a minha aprendizagem de algo, antes de me ensinar outra
Este fator descrito anteriormente, segundo as autoras Duda, White e Hart [10] está relacionado ao clima
de orientação para a aprendizagem, que corresponde a
orientação para a tarefa. Os resultados apresentaram
que tanto no instrumento referente às mães, como no
instrumento referente aos pais, todos os itens foram validados, com carga acima de 0,30 no fator 1. Ou seja, foi
compreendido pelos atletas como sendo itens referentes
à orientação para a tarefa.
Quadro 4 – Itens que representam o clima de preocupação e orientação para o ego dos pais e das mães no
PIMCQ.
Eu sinto que meu pai ...
Eu sinto que minha mãe ...
6. Se preocupa com as minhas falhas
7. Se preocupa com as minhas falhas pois tê-las é negativo
8. Faz com que eu tenha medo de cometer erros
9. Sente-se mal quando eu não realizo algo tão bem quanto os outros
10. Se preocupa com a minha performance quando eu não as executo bem
Este fator descrito acima, segundo as autoras [10],
refere-se ao clima de preocupação que o pai ou mãe
exerce sobre o filho e está relacionado com a orientação
para o ego. O item 6 apresentou carga acima de 0,30
referente à orientação para a tarefa e não para o ego,
como foi proposto pelas autoras – se preocupa com as
minhas falhas – tanto no instrumento aplicado aos pais,
quanto no aplicado às mães. Ou seja, para estes atletas
a preocupação é vista como uma orientação para a tarefa
e não para o ego como é visto pelos norte-americanos.
Os itens 7 e 10 ficaram com carga abaixo de 0,30 no
instrumento referente às mães: se preocupa com minhas
falhas, pois tê-las é negativo (item 7); se preocupa com a
minha performance quando eu não as executo muito bem
(item 10). No questionário referente aos pais, o item 10
apresentou carga acima de 0,30 tanto para a orientação
para a tarefa quanto para o ego.
Quadro 5 – Itens que representam o clima sucesso sem esforço e orientação para o ego dos pais e das mães
no PIMCQ.
Eu sinto que meu pai ...
Eu sinto que minha mãe ...
11. Fica satisfeito(a) quando eu tenho êxito sem ter precisado me esforçar muito
12. Fica satisfeito(a) quando eu ganho sem ter me esforçado
13. Acredita que eu deveria chegar ao sucesso sem precisar me esforçar muito
14. Pensa ser importante para mim, ganhar sem precisar me esforçar
Este fator descrito anteriormente, segundo as
autoras [10] refere-se ao clima de sucesso sem esforço
que corresponde à orientação para o ego. Os resultados
mostraram que o item 14, apresentou carga no questionário referente aos pais com carga acima de 0,30 tanto
na orientação para a tarefa, quanto na orientação para o
ego: pensa ser importante para mim, ganhar sem precisar
Acao_v3n1.indb 14
me esforçar. É interessante, pois alguns atletas vêem que
esta afirmativa, em relação aos seus pais poderá orientálos duas direções diferenciadas. Além disso, este item
apresentou carga abaixo de 0,30 no instrumento referente
às mães dos atletas. Abaixo, descrevemos as variáveis
dependentes de jovens atletas brasileiros, seguido dos
atletas norte-americanos.
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15
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Variáveis dependentes e suas respectivas médias e
desvio-padrão:
Tabela III – Estatísticas descritivas das variáveis
dependentes de jovens atletas brasileiros [11].
Variáveis
Tarefa mãe
Ego mãe
Tarefa pai
Ego pai
Tarefa pais
Ego pais
Casos Válidos
n
216
215
201
200
218
217
197
Média
2,0477
3,3070
3,9960
2,8014
2,9593
3,0686
dv
,6489
,7774
,6969
,6350
,4351
,3650
Tabela IV – Estatísticas descritivas das variáveis dependentes de jovens atletas norte-americanos [10].
Variáveis
n
Tarefa pais
210
Ego pais (preocupação) 210
Ego pais (sucesso sem esforço)
210
Média
3,81
2,29
dv
-
2,15
-
Neste instrumento optamos em analisar os resultados do pai e da mãe separadamente. Entendemos que
uma análise de como o pai está orientado o seu filho
em separado da mãe, nos fornecerá uma noção melhor
das diferenças nesta orientação. Além disso, analisamos
posteriormente, como seria esta orientação em conjunto
quando pai e mãe pensam na orientação para objetivo de
seus filhos. Também optamos por seguir os conceitos da
teoria motivacional da orientação pra objetivo que define
a orientação para objetivo, como orientação para a tarefa
e para o ego. Portanto, seguimos a própria orientação das
autoras que definem a orientação para o aprendizado como
orientação para a tarefa e orientação para a preocupação e
sucesso sem esforço como orientação para o ego.
Conclusão
Analisando os resultados do PIMCQ aplicado aos
jovens desportistas brasileiros e aplicado aos jovens desportistas norte-americanos, concluiu-se que na orientação para a
tarefa dos pais brasileiros (somente o pai – 3,99 – Tabela III),
apresentaram a maior média desta orientação. Sendo que,
quando está em conjunto com a mãe, esta variável apresentase abaixo (2,95 – Tabela III) da média norte-americana (3,81
– Tabela IV). Em se tratando da orientação para o ego, as
médias brasileiras superam as médias norte-americanas (ver
tabelas III e IV). Concluímos também que as mães brasileiras apresentaram uma média acima do ponto médio da
gradação da escala (3,30) e abaixo do ponto médio da escala
Acao_v3n1.indb 15
na orientação para a tarefa (2,04). Como estas médias não
caracterizam as mães brasileiras, por terem sido realizadas em
apenas duas cidades, trata-se apenas do resultado de algumas
destas mães, pois para saber este resultado, um outro estudo
deveria ser realizado.
Em relação ao instrumento aplicado às mães, os
itens: 6, 10 e 14 não foram validados. O item 6 por estar
com carga na orientação para o ego e não para a tarefa,
como foi definido no instrumento original; e os itens
10 e 14 por não apresentarem carga satisfatória, isto é,
abaixo de 0,30.
Em relação ao instrumento aplicado aos pais, os
itens: 6, 7 e 10, não foram validados. O item 6 por estar
com carga na orientação para o ego e não para a tarefa,
como foi definido no instrumento original; e os itens
7 e 10 por terem carga tanto na orientação para o ego,
quanto na orientação para o ego.
Sendo a primeira vez que se realiza a validação deste
instrumento no Brasil, acreditamos que, modificações na
tradução deverão ser realizadas para que todos os itens
possam futuramente ser validados.
Referências
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education. Cambridge: Harvard University Press, 1989.
2. NICHOLLS, J. G. The general and the specific in the development and expression of achievement motivation. In: G.
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Human Kinetics, 1992. p. 31-56.
3. LOCKE, E. A. Toward a theory of task motivation and incentives. Organ Behav Hum Perform, v. 3, n. 1, p.157-89, 1968.
4. CRATTY, B. – Psicologia no Esporte. Rio de Janeiro:
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C. Ames (Eds.). Research on motivation in education: Student
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6. ROBERTS, G. Motivation in sport and exercise. Champaign:
Human Kinetics, 1992.
7. VEALEY, R. Coaching for the inner edge. Morgantown:
Fitness Information Technology, 2005.
8. PAPAIOANNOU, A. Development of a questionnaire to
measure achievement orientations in physical education.
Res Q Exerc Sport, v. 65, n. 1, p.11-20, 1994.
9. DUDA, J. L. (Ed.) Advances in sport and exercise psychology measurement. Morgantown: Fitness Information Technology, 1988.
10. WHITE, S. A.; DUDA, J. L.; HART, S. An exploratory
examination of the parent-initiated motivational climate questionnaire. Percept Mot Skills, v. 75, n. 3, p. 875-80, 1992.
11. GOULART, C. Orientação para objetivo e clima motivacional
dos jovens desportistas brasileiros. Brasília, 2001. Dissertação
(Mestrado) – Universidade de Brasília.
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
ARTIGO ORIGINAL
Análise de saltos e rally no confronto entre Brasil
e Itália nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004
Analysis of jumps and rally in the confrontation between Brazil
and Italy in Athens Olympic games
Marcelo de Castro Haiachi, M.Sc.*, José Fernandes Filho, D.Sc.**
* Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH – UCB / RJ, Treinador das equipes de base do Fluminense Football Club RJ,
**Educação Física pelo Instituto de Investigação Científica de Cultura Física e Esportes da Rússia – IICCFER (Rússia),
Professor da EEFD – Universidade Federal do Rio de Janeiro, PROCIMH – UCB / RJ
Resumo
O objetivo deste estudo foi identificar a quantidade de saltos e o tempo de duração dos rallies no duelo entre as duas melhores
equipes das Olimpíadas de Atenas 2004. Foi desenvolvida uma estatística descritiva de tipologia de levantamento de dados tendo
como objeto de estudo a seleção brasileira masculina de voleibol nos dois confrontos com a seleção italiana (classificatória e final).
A média de saltos encontrada em cada jogo foi de 225 ações de salto, sendo o bloqueio o fundamento com maior percentual (36%
e 39%). O tempo médio de rally variou muito de uma partida para outra apresentando valores de 0,59 segundos (mínimo) e de
32,84 segundos (máximo). Já o tempo médio de ação ficou em 4,95 segundos com um tempo de intervalo de 25,85 segundos. Estes
resultados descrevem a necessidade de treinamentos com o máximo de velocidade e intensidade baseando em indicadores qualitativos
e não quantitativos priorizando a melhor amplitude, técnica e eficiência reduzindo a ocorrência de lesões.
Palavras-chave: voleibol, saltos, rally.
Abstract
The purpose of this study was to identify the quantity of jumps and the duration time of the rallies in the confrontation
between the two best teams in Athens Olympic Games, 2004. Descriptive statistics with data survey typology has been applied,
in order to observe the Volleyball Male Brazilian Team in both games against Italian Team (classificatory and final). In each game,
the mean of jumps observed was 225 jump actions, with block being the element of greater percentage (36 e 39%). Rally’s mean
time has suffered large variation from one match to another, presenting values from 0,59 seconds (minimum) to 32,84 seconds
(maximum). Action mean time was 4,95 seconds, with an interval time of 25,85 seconds. These findings describe the necessity
of maximum velocity and maximum intensity trainings based upon qualitative indicators, not quantitative ones, priorizing better
amplitudes, technique and efficiency as well as reducing injuries occurrence.
Key-words: volleyball, jumps, rally.
Artigo recebido em 10 de março de 2006; aceito em 3 de abril de 2006.
Endereço para correspondência: Marcelo de Castro Haiachi, Rua Perseverança 57 apto. 304, Riachuelo, 20961-030
Rio de Janeiro RJ, Tel: 2581-4184, E-mail: [email protected]
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Introdução
O voleibol possui várias escolas que segundo
Bizzocchi [1] apresentam características bem peculiares.
A soviética caracteriza-se pela força, a Tcheca pela técnica,
a Asiática pela velocidade e agilidade, a Americana pela
especialização das funções e a Brasileira pela versatilidade
e força ofensiva dos seus jogadores. Em Jogos Olímpicos
(JO), evento esportivo mais importante no calendário
internacional, a URSS, atual Rússia, apresenta-se como
a maior vencedora, com 3 medalhas de ouro, 3 de prata e
2 de bronze, seguida do Brasil com 2 medalhas de ouro e
1 de prata e dos Estados Unidos com 2 medalhas de ouro
e 1 de bronze nestes 44 anos de Olimpíadas1.
A tradicional seleção Italiana dominou o voleibol
na década de 1990, sendo considerada a melhor equipe
do século XX2, mas sempre apresentou dificuldade nesta
competição. Após as medalha olímpicas conquistadas pelo
Brasil 1984 (prata) e 1992 (ouro), o voleibol brasileiro passa
a figurar no cenário internacional como uma das grandes
potências no voleibol [2]. O duelo entre estas duas escolas
foi marcado pela hegemonia da seleção italiana sobre a brasileira, fato este que fez com que os italianos minimizassem
a conquista brasileira em 1992, já que as duas seleções não se
cruzaram. Em Atenas 2004, surge a grande oportunidade do
confronto entre as duas seleções que personificam o melhor
do voleibol na atualidade. A seleção italiana com características de especialização das funções dos seus jogadores contra
a seleção brasileira com a versatilidade e a variação ofensiva
dos seus jogadores. Lembramos que as duas seleções nunca
se encontraram em JO até Atenas 2004.
Métodos
Foi realizado um estudo descritivo de tipologia de
levantamento de dados usando como objeto de estudo
a seleção brasileira adulta masculina de voleibol em duas
partidas contra a seleção italiana nos Jogos Olímpicos de
Atenas 2004. O 1º jogo foi na fase classificatória enquanto o 2º aconteceu na final. Os itens analisados foram: a
quantidade de saltos por set, por jogo, por posição de
jogo, por fundamento, o tempo de bola em jogo e o
tempo de ação e intervalo durante a partida. Os jogos
foram filmados em vídeo para facilitar a coleta dos dados,
que consistia em registrar o número de saltos e a duração
de cada rally. Os dados foram tratados através de uma
estatística descritiva utilizando os valores de tendência
central e derivados além e uma escala de freqüência. O
programa estatístico adotado para a tabulação dos dados
foi o Microsoft Excel XP, baseando-se na planilha de
controle de saltos elaborada por Haiachi [3-5].
Resultados
Foram encontrados os seguintes resultados:
Tabela I – Quantidade de saltos.
Jogo
1º
2º
Total
média
dp
cv
1º Set
108
134
242
121
18,38
15%
2º Set
117
153
270
135
25,46
19%
3º Set
135
123
258
129
8,49
7%
4º Set
120
152
272
136
22,63
17%
5º Set
195
195
TT
675
562
1237
619
79,90
13%
média
225
225
dp
34,92
14,57
cv
16%
6%
Tabela II – Total de saltos por fundamento.
Jogo
1º
2º
1
2
Acao_v3n1.indb 17
Saque
118
17%
99
18%
Levantamento
112
17%
90
16%
Ataque
199
29%
153
27%
Bloqueio
246
36%
220
39%
TT
675
100%
562
100%
O voleibol iniciou sua participação em Olimpíadas a partir da Olimpíada de Tókio no Japão em 1964 [1,2]. Os
resultados de todos as edições dos JO com seus respectivos vencedores estão disponíveis em: <http://www.volei.org.
br/newcbv/seleções/resultados.asp>, acessado em 22 de agosto de 2005.
A FIVB elegeu a seleção italiana como a melhor equipe do século XX pela série de conquistas obtidas: três títulos
mundiais, dois títulos europeus e cinco liga mundial [1].
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Tabela III – Total de saltos por posição de jogo.
Jogo
1º
Levantador
158
23%
116
21%
2º
Oposto
94
14%
72
13%
Ponta
168
25%
161
29%
Meio
249
37%
206
37%
Líbero
6
1%
7
1%
TT
675
100%
562
100%
Tabela IV – Tempo de bola em jogo*.
Jogo
1º
1º Set
171,82
2º Set
189,84
3º Set
220,93
4º Set
221,24
5º Set
343,20
TT
1147,03
2º
15,34
total
média*
Dp
Cv
média**
217,14
243,08
209,95
250,17
-
920,34
388,96
194,48
32,05
16%
3,24
432,92
216,46
37,65
17%
3,61
430,88
215,44
7,76
4%
3,59
471,41
235,71
20,46
9%
3,93
5,72
2067,37
1033,69
160,29
16%
Total
12840
419
2067,37
9,90
51,70
média
6420
209,5
1033,69
4,95
25,85
Mediana
221
média
230
cv
29%
dp
19,54
média **
19,12
cv
8%
* tempo em segundos.
** tempo em minutos.
Tabela V – Tempo de ação x Tempo de intervalo*.
Jogo
duração da partida
total de rallies
tempo de bola em jogo
tempo de ação
tempo de intervalo
tempo máximo de rally
tempo mínimo de rally
1º
7020
237
1147,03
4,84
24,78
30,25
0,66
2º
5820
182
920,34
5,06
26,92
32,84
0,59
dp
848,53
38,89
160,29
0,15
1,51
cv
13%
19%
16%
3%
6%
*tempo em segundos.
Discussão
Inicialmente, os dados apresentaram uma diferença
em relação à quantidade de saltos, já que na partida classificatória foram disputados cinco (05) sets e na partida
final apenas quatro (04) sets (tabela I). Percentualmente
a diferença de ações de salto entre o 1º e o 2º jogo foi de
17%, valor este que pode ser considerado baixo, já que
a diferença de 113 ações de saltos, quando comparada
com outros estudos, Haiachi et. al. [3,4], mostram uma
grande proximidade entre as médias de ações de salto em
equipes que disputaram a final da Superliga – BRA (114
ações de salto) e do campeonato Italiano (106 ações de
salto). Os valores são bem próximos, a diferença é que
em um jogo estão relacionados os melhores jogadores de
um país enquanto no outro estão os melhores jogadores
de diferentes países.
Art_3_Marcelo.indd 18
O estudo comprova dados anteriores de Haiachi
et. al [5] e Esper [6] que mostram o bloqueio como
fundamento responsável pelo maior número de ações de
salto (tabela II) e os atacantes de meio como os jogadores
que efetuam o maior número de ações de salto (tabela
III). A força explosiva (força rápida) ganha uma grande
importância no treinamento já que está diretamente
associada à capacidade neuromuscular de recrutar o
máximo de unidades motoras com a máxima velocidade
e intensidade [7-10].
Focamos nosso estudo na freqüência dos saltos e não
na intensidade dos mesmos. Vários fatores influenciam nas
ações de salto como o adversário, a situação da partida, a
importância da partida, a motivação, a torcida, o clima, o
treinamento, a quantidade de sets jogados dentre outros.
Estes fatores intrínsecos e extrínsecos podem prejudicar o
rendimento do atleta e conseqüentemente da equipe.
25/4/2006 13:21:52
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
O tempo de bola em jogo pode ser caracterizado
como o tempo em que a bola permanece no “alto”, ou
seja, o tempo de duração de um rally. Este nome apareceu devido à mudança ocorrida na regra, em 1998, que
modificou o sistema de pontuação do jogo de sistema
de vantagem para sistema de pontos corridos (rally point
system) [2,11].
Diferente da quantidade de saltos, o tempo de
bola em jogo variou muito de uma partida para outra. A
utilização da mediana no 1º jogo confirma esta afirmação
(tabela IV). Por apresentar valores entre 0,59 segundos
(mínimo) e 32,84 segundos (máximo) de ação, chegase à conclusão que a disputa por cada ponto deverá ser
curta, intensa e intercalada com períodos de repouso
[12]. Segundo Platonov [13] e Verkhoshanski [14], para
atividades de duração máxima entre 6 a 10 segundos,
utilizam-se predominantemente o sistema energético
anaeróbico alático, creatina-fosfato. Para Bompa [15] o
tempo de atividade máxima varia entre 8 a 10 segundos.
A predominância do sistema anaeróbico para o voleibol
pode ser confirmada na tabela V que mostra o tempo de
ação e intervalo, além dos valores máximos e mínimos
de duração de rally. Estes dados são muito importantes
para o aprimoramento do voleibol, principalmente com
relação ao tempo de atividade utilizada durante as sessões
de treinamento.
O estudo apresenta um tempo médio de ação de
4,95 segundos com um tempo de intervalo de 25,85
segundos. Estes dados mostram uma revolução da modalidade já que em estudos como o de Stanganélli [12] apud
Kunstlinger et al. [16], apenas 10% dos rallies duravam
10 segundos apresentando um tempo de 9 segundos
de atividade máxima com 12 segundos de intervalo.
Seguindo a mesma linha, o autor apud Viitasalo et al.
apresenta um tempo de 7,6 segundos de atividade com
14,1 segundos de intervalo. A diminuição do tempo de
ação deve-se a modificação no sistema de pontuação do
jogo, enquanto que o aumento no tempo de intervalo
deve-se ao fato do estudo observar como tempo de
intervalo todas as interrupções regulamentares do set:
tempo técnico, tempo de descanso e o tempo decorrido
das substituições.
Durante este tempo de intervalo (25,85), segundo Künstlinger et al. [16], ocorre o restabelecimento
oxidativo da fonte energética (ATP) utilizada em ações
anteriores. Segundo Bompa [15] após 30 segundos
ocorre 70% da restauração dos fosfagênios. Pode-se
dizer então que a recuperação no voleibol acontece de
forma ativa, já que o jogo é caracterizado por ações
intensas e de curta duração seguidas por pausas ou
movimentos menos intensos possibilitando a recuperação [17].
Art_3_Marcelo.indd 19
Conclusão
Vários estudos estão sendo feitos atualmente, no
intuito de aprimorar cada vez mais o treinamento do
voleibol. Estes estudos têm relação direta com a mudança
promovida na regra do jogo (1998). Com o sistema de
pontuação com vantagem, o jogo era mais lento e prolongado, hoje com o sistema de pontos corridos o jogo
ganha mais dinâmica por reduzir o tempo de bola em
jogo. Assim, cada ação dever ser feita com o máximo de
intensidade e velocidade no intuito de superar a equipe
adversária. Apesar da necessidade da utilização de várias
qualidades físicas em uma partida de voleibol, o estudo
comprova a importância da força explosiva já que pela
quantidade média de ações de salto (225), deixa claro a
necessidade por um treinamento específico para que os
jogadores suportem o alto volume de saltos, que pode
se elevar com o aumento do número de sets jogados ou
com o aumento do tempo de bola em jogo.
A utilização do tempo de ação e de intervalo é de
extrema importância para a periodização do treinamento,
já que sabendo que o tempo médio de duração de cada
rally varia de 5 a 35 segundos, não devendo submeter
atletas a treinamentos prolongados e extenuantes com
altos níveis de intensidade. Se para cada jogada é necessária a máxima velocidade e intensidade a prescrição do
treinamento deve ser baseada em indicadores qualitativos
e não quantitativos, ou seja, o volume de treinamento
prioriza o movimento com melhor amplitude, técnica
e eficiência. Na busca pela qualidade do movimento,
a intensidade e a quantidade de ações de salto podem
elevar o risco de lesões no treinamento, fato este que o
estudo procura amenizar através da percepção do tempo
de ação em jogos de alto rendimento.
Recomendamos mais estudos para formação de
massa crítica procurando aprimorar cada vez mais o
treinamento do voleibol, baseando o estudo em competições estaduais, nacionais e internacionais em diferentes
estágios da competição fase classificatória e fase final; com
jogos na regra antiga e em equipes femininas.
Referências
1. BIZZOCCHI, C. O voleibol de alto nível: da iniciação à
competição. 2. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2004.
2. KOCH, R. Tie-Break: a saga dourada do vôlei masculino do
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3. HAIACHI, M. C.; ALVES, J. L. P.; GONÇALVES, S. S.;
LUCERO, F.; FERNANDES FILHO, J. Estudo quantitativo dos saltos em uma partida da superliga masculina de
voleibol. In: 10ª Jornada de Educación Física del Mercosur
2005. Córdoba: Fiep Argentina, 2005a.
25/4/2006 13:21:55
20
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ARTIGO ORIGINAL
Cenários e práticas da psicomotricidade
Settings and practices in psychomotricity
Atos Prinz Falkenbach, D.Sc.*, Fernando Edi Chaves, M.Sc.**, Vanessa Nascimento Flores***,
Dileni Penna Nunes***
*Ciências do Movimento Humano/UFRGS, Coordenador do Curso de Educação Física – UNIVATES,
Professor do Curso de Educação Física Centro Universitário IPA, **Professor do Curso de Educação Física Centro Universitário IPA,
***Bolsista de Iniciação Científica – Centro Universitário IPA,
Resumo
O presente estudo se dedica ao tema da psicomotricidade e a sua caracterização na cidade de Porto Alegre. A idéia surge a
partir da problematização inicial que dá destaque à psicomotricidade como uma área multifacetada, subsidiada por diversas áreas
do conhecimento, bem como pluralizada pela ação de profissionais com formações diversas. Os objetivos do estudo buscam caracterizar: a) os locais em que a prática da psicomotricidade é desenvolvida; b) formação inicial e continuada dos psicomotricistas; c)
fundamentos teóricos do psicomotricista; e d) páginas eletrônicas dedicadas à área da psicomotricidade. A metodologia do estudo
fez uso de entrevistas e de questionários utilizados com os participantes da investigação, assim como análise de documentos. A
coleta de informações permitiu constatar que as áreas nucleares são educativas e terapêuticas. O universo de áreas que atuam com a
psicomotricidade, bem como sua caracterização interdisciplinar de atuar permite o uso da psicomotricidade como um recurso para
ações do profissional da saúde e da educação.
Palavras-chave: psicomotricidade, formação profissional, Educação Física.
Abstract
This paper is dedicated to the study of psychomotricity and its characterization in data collected in Porto Alegre city. Psychomotricity is considered as a multifaceted area, what can be attested by different areas of knowledge and by the performance of several
professionals. This study has sought to characterize: a) places where psychomotricity is used; b) initial and continuous formation of
people who work as psychomotricists; c) psychomotricity theoretical background; and d) websites dedicated to psychomotricity. The
data are composed by interviews and questionnaires, some documents were also analyzed. The results allowed us to identify that the
main fields to the psychomotricists are therapeutical and educational. The universe of areas that work with psychomotricity, as well
its multidisciplinar action permits the use of psychomotricity as a resource to the professionals of health and education.
Key-words: psychomotricity, professional formation, Physical Education.
Artigo recebido em 30 de novembro de 2005; aceito em 9 de março de 2006.
Endereço para correspondência: Atos Prinz Falkenbach, Rua Cristiano Grün, 205/404, 95900-000 Lajeado RS, Tel:
(51) 3714-4754 [email protected]
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Introdução
O presente estudo se dedica ao tema da psicomotricidade e a sua caracterização no cenário da cidade de
Porto Alegre. A idéia surge a partir da problematização
inicial que dá destaque a psicomotricidade como uma
área multifacetada, subsidiada por diversas áreas do
conhecimento, bem como pluralizada pela ação de profissionais oriundos de formações diversas, estabelece-se
uma busca no sentido caracterizar a prática da psicomotricidade em Porto Alegre. Os aspectos escolhidos
para serem investigados são: a) locais em que a prática
da psicomotricidade é desenvolvida e sua respectiva
temporalidade; b) formação inicial e continuada dos
psicomotricistas; c) o tempo de prática do psicomotricista
na área; c) fundamentos teóricos do psicomotricista; d)
corrente da psicomotricidade que é praticada; e e) páginas
eletrônicas dedicadas à área da psicomotricidade.
O estudo utiliza instrumentos para a coleta de
informações como as entrevistas e os questionários com
os participantes da investigação, bem como a análise
de documentos. Para o desenvolvimento do estudo é
necessário a busca e a identificação prévia dos diversos
locais em que há uma prática psicomotora regular, tanto
ao atendimento não-formal como formal (escolas de
educação básica) na cidade de Porto Alegre.
Justificativa
Com a finalidade de justificar o desenvolvimento do estudo sobre as práticas da psicomotricidade é
importante compreender o histórico da atividade da
psicomotricidade, isto é, de onde se origina e em que
perspectivas evolui. Outro aspecto a ser destacado trata
da diversidade desta área. Uma vez que não há cursos de
formação inicial específicos nessa área no estado do Rio
Grande do Sul. O MEC registra apenas um Curso de
Psicomotricidade reconhecido em território nacional,
trata-se da Faculdade de Ciências da Saúde e Sociais
– FACIS do Rio de Janeiro. A curiosidade fica por conta
do título do referido curso que habilita um licenciado
em Psicomotricidade. Os profissionais que atuam com
a psicomotricidade são oriundos de cursos diversos.
Nesse sentido a justificativa vai percorrer dois aspectos
relacionados entre si: a) o histórico da psicomotricidade;
e b) a pluralização da área.
O termo psicomotricidade originou-se na França, no
final do século XIX e no início do século XX [1]. A história
da psicomotricidade se origina nos estudos de neuropsiquiatria infantil do médico Ernest Dupré. Tal histórico
permite compreender as bases biomédicas e racionalistas
sobre a análise do movimento humano. Significa dizer
que a psicomotricidade fundamentou-se inicialmente no
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dualismo cartesiano, tratando o ser humano de forma
fragmentada. Identificou que o corpo é um segmento externo que não pensa, e que a alma, não participa de nada
daquilo que pertence ao corpo. Posteriormente passou-se
a considerá-lo em sua totalidade, isto é, o corpo começa
a ser visto como uma unidade que expressa sentimentos e
emoções que movem suas ações [2].
Os antecessores do campo psicomotor são a ginástica terapêutica e a psicodinamia. A ginástica terapêutica
descreve sistemas de exercícios e técnicas de ginástica
com o objetivo de obter e atingir a harmonia do espírito
e do corpo. Outro antecessor do campo psicomotor é a
Psicodinamia que se opõe à educação física militarizada
e propõe uma educação pelo movimento [3].
Outro marco na história da psicomotricidade é os
estudos de Edouard Guilmain em 1935. Este médico
inicia um novo método que chama de Reeducação
Psicomotora, consistindo na aplicação de baterias de
testes psicomotores para a avaliação do perfil da criança.
Estabelece-se, então, um exame psicomotor padrão e um
programa de sessões de acordo com as características dos
distúrbios motores que o indivíduo apresenta, orientando
as modalidades de intervenção do psicomotricista.
A psicomotricidade recebeu influências diversas
como os autores: J. Bergès, R. Diatkine, B. Jolivet, C.
Launay e S. Lebovici que definem a psicomotricidade
como “uma motricidade em relação” [3]. Esta concepção
começa a delimitar uma diferença na postura do psicomotricista em relação às bases racionalistas. A relação afetiva
e emocional da postura terapêutica inicia a dar os primeiros contornos da vertente da terapia psicomotora.
Os psicomotricistas, agora preocupados com a vida
emotiva de seus pacientes, começam a visitar os autores
da psicanálise, como S. Freud, M. Klein, D. Winnicott,
W. Reich, P. Schilder, J. Lacan, M. Manoni, F. Dolto e
Samí Ali [3].
O histórico apresentado permite compreender a
diversidade de conceitos e de realidades da prática psicomotora. Este fato em si é o que favorece a pluralização
dos profissionais da área da Psicomotricidade. Nesse
sentido algumas indagações são pertinentes como: Qual
a formação dos profissionais que atuam com a psicomotricidade? Que histórico possuem com a área? Em
que locais a prática da psicomotricidade é desenvolvida?
Quais as vertentes psicomotoras que fundamentam a
prática do psicomotricista? Que autores são estudados?
Como o psicomotricista dá continuidade a sua formação,
ou seja, como se mantém qualificado? Qual a clientela
que faz parte da ação da psicomotricidade e em que
vertentes ela se situa?
Este grupo de questionamentos é oriundo desta
pluralização identificada na área. Buscar a literatura da
área da psicomotricidade é se deparar com uma infini-
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dade de títulos originários de diferentes estudos e concepções. A organização dos questionamentos permite a
formulação de um problema que busca investigar como
se caracteriza a prática da psicomotricidade na cidade de
Porto Alegre, que locais, que profissionais, que formação
e que fundamentos caracteriza?
Argumentação teórica
Com o intuito de facilitar a compreensão das características das principais vertentes da psicomotricidade,
destacamos: a) finalidade: o propósito da prática; b) área
do conhecimento; e c) autores de base.
Iniciamos com a vertente denominada Reeducação
Psicomotora que se destina a crianças que apresentam
déficit em seu funcionamento motor [4]. A finalidade
é ajudar a criança em reaprender determinadas funções
motoras. Para isso, avalia-se o perfil psicomotor da criança, utilizando métodos que consistem na aplicação de
baterias de testes psicomotores [5]. Após o diagnóstico,
a criança é submetida a um programa de sessões que tem
como objetivo suprir as dificuldades aparentes [1].
Esta abordagem tem como base estudos da neuropsiquiatria infantil. Com abordagem centrada no
desenvolvimento motor e entende o ser humano como
um corpo instrumental, isto é, uma “máquina de movimento”, que, caso não estiver funcionando, deve ser
reparada [6].
A principal mudança na evolução da reeducação
psicomotora está na compreensão do corpo como uma
unidade e cujo movimento possui significado. Com isso a
postura do reeducador frente à criança toma outra direção:
ele passa a entendê-la como um ser de expressividade psicomotora. Sua relação com a criança passa a ser de empatia,
de escuta, de interação e de ajustamento constante [7].
Outro aspecto importante que é citado nesta nova
fase da reeducação psicomotora é que a formação do
reeducador é composta por uma trilogia efetuada simultaneamente: a formação pessoal, a formação teórica e a
formação prática. Ambas completam-se e enriquecem-se
umas às outras [7].
A formação pessoal tem como objetivo melhorar a
disponibilidade corporal do adulto a partir de vivências
corporais. Mobiliza as áreas da afetividade, da sexualidade
e dos “fantasmas”, proporcionando mudanças de atitude
e de tomadas de consciência. A formação teórica surge
da necessidade que o psicomotricista tem em justificar,
analisar e refletir sobre as principais teorias que baseiam
seus procedimentos. E a formação prática oportuniza a
vivência concreta de seus estudos com as crianças [7].
A evolução que a reeducação psicomotora passou
foi o primeiro passo de uma trajetória que a psicomotricidade ainda percorre, isto é, o desenvolvimento de
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uma abordagem cada vez mais preocupada com o ser
humano em sua totalidade inserido em um contexto
sócio-cultural.
A vertente chamada de terapia psicomotora é um
desdobramento da vertente da reeducação psicomotora.
Originou-se da compreensão de que o movimento é
linguagem e, portanto, expressa os sentimentos, emoções, desejos e demandas do ser humano. É destinada
às crianças “normais” e com necessidades especiais que
apresentam dificuldades de comunicação, de expressão
corporal e de vivência simbólica [1].
A terapia psicomotora centra o seu olhar a partir da
comunicação e da expressão do corpo, no intercâmbio e
no vínculo corporal, na relação corporal entre a pessoa do
terapeuta e a criança em diálogo de empatia tônica [6].
A vertente denominada educação psicomotora
surge embalada pela dinâmica evolução das vertentes
reeducativa e terapêutica. Ocupa os espaços educativos
com grupos de crianças. Os psicomotricistas perceberam
que esta vertente poderia se constituir no processo inicial
da educação da criança, justamente por compreender o
período da infância como aquele que constitui e alicerça
as bases emocionais e afetivas do ser humano.
As bases educativas empreendidas pela educação
psicomotora são as mais diversas, porém apresentamos duas concepções contemporâneas que ilustram o
desdobramento que se seguiu nesta vertente. De um
lado há explicações de que a educação psicomotora é
formadora de uma base indispensável a toda criança,
assegura o desenvolvimento funcional [8], de outro lado
há compreensões de que a educação psicomotora como
o meio lúdico-educativo para a criança expressar-se por
intermédio do jogo, do exercício e da comunicação entre
crianças por intermédio da expressividade motriz [1].
A educação psicomotora atualmente se divide em
dois eixos: a psicomotricidade funcional e a psicomotricidade relacional. O aspecto que diferencia as duas
práticas, é elucidado a partir do ponto fundamental da
passagem da psicomotricidade funcional à relacional que
é a utilização do jogo (brincar da criança) como elemento
pedagógico [1].
A psicomotricidade funcional compreende o desenvolvimento psicomotriz a partir de bases teóricas de
neuroanatomia funcional. Tal fundamento se situa na
concepção de que o processo de desenvolvimento humano é decorrente dos processos de maturação. Sustenta
os diagnósticos do perfil psicomotriz e a prescrição de
exercícios para sanar possíveis descompassos do desenvolvimento motriz. A estratégia pedagógica baseia-se na
repetição de exercícios funcionais, criados e classificados
constituindo as famílias de exercícios para as finalidades
de equilíbrios estáticos e dinâmicos, de flexibilidade,
agilidade, destreza e outras funções psicomotoras [1].
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Obras clássicas da psicomotricidade explicam que
a organização espaço-gráfica, necessária para a aquisição
da leitura e da escrita, necessitava da prévia organização
do espaço de modo geral e inicialmente corporal, com
isso determinam como objeto de sua prática, crianças com algum grau de dificuldade de aprendizagem,
traçando o perfil psicomotor da criança para, depois,
apresentar tabelas de exercícios com o objetivo de sanar
os problemas [9].
São contemporâneos os autores que estudam e
aplicam a psicomotricidade funcional, tais como: Le
Boulch, Picq, Vayer, Costallat, Velasco e outros. Este
eixo da educação psicomotora é seguido por professores
de Educação Física, mas o desenvolvimento dessa prática
se assemelha muito a forma tradicional de uma aula de
ginástica.
Na origem da psicomotricidade relacional sua
abordagem se fundamentou particularmente nos aspectos
psicanalíticos da relação do adulto com a criança. Tal
fundamento se baseia na relação primária, da mãe com
a criança, temática tão bem explorada pelos psicanalistas
Winnicott, Dolto, Mahler, Klein, Spitz para citar aqueles
que a influenciaram [3].
A psicomotricidade relacional utiliza-se da ação
do brincar como elemento motivador para provocar a
exteriorização corporal da criança, pois entende que a
ação de brincar impulsiona processos de desenvolvimento e de aprendizagem. Essas estratégias de intervenções
pedagógicas criam, também, condições favoráveis para
a construção de um vocabulário psicomotor amplo e
diversificado e servem como meio de melhora das relações
da criança com o adulto, com os iguais, com os objetos
e consigo mesma [1].
Metodologia do estudo
Com a finalidade de iniciar o desenvolvimento
do estudo foi necessário realizar um levantamento dos
possíveis locais em que há a prática da psicomotricidade
realizada de forma sistemática e regular, o que significa
identificar a história e a periodicidade desta prática. Os
participantes do estudo foram profissionais ligados à área
da psicomotricidade, que utilizam as distintas vertentes
da prática psicomotora com uma clientela regular. Pelo
motivo de constituir parte integrante do estudo, o projeto de pesquisa não pode nominar os locais que serão
investigados. Tal ação faz parte do processo do estudo
que primou por identificar os diferentes contextos em
que a prática se desenvolve.
O processo de coleta das informações se desenvolveu em dois momentos distintos e inter- relacionados
que foram: a) a identificação dos locais em que há o
desenvolvimento regular da prática psicomotora; e b)
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aplicação dos instrumentos para a coleta de informações
dos objetivos propostos. Foram utilizados os seguintes
procedimentos para a primeira etapa do estudo que foi
a identificação dos locais e dos participantes:
• buscas eletrônicas a partir de palavras-chaves na
internet;
• contato com as escolas da rede de ensino particular
e pública;
• contato com as instituições de ensino superior.
As buscas em páginas eletrônicas da internet e os
contatos mantidos com estas instituições possibilitaram
enriquecer o cerco sobre o conhecimento e identificação
dos locais das práticas regulares da psicomotricidade.
Com base na identificação de locais da prática
organizamos contatos com profissionais que atuam com
a psicomotricidade. Para essa finalidade foram desenvolvidas entrevistas semi-estruturadas, com perguntas
abertas que facilitaram o desenvolvimento do conteúdo
dos participantes.
A partir da coleta das informações procedemos ao
desenvolvimento da tarefa de triangulação, prática que
possibilita aos investigadores organizar as informações,
confrontar as distintas origens, bem como as possibilidades para análises e interpretações que permitiram
categorizar unidades de análise.
Resultados
A prática da psicomotricidade é desenvolvida em
cenários diversos como atividades em Escolas nos níveis
de ensino da Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio, bem como na Educação
Especial (APAEs) e, também, em clínicas multidisciplinares, bem como atendimentos individuais a partir de
contatos particulares para desenvolvimento de práticas
em domicílio.
A prática da psicomotricidade na escola é desenvolvida em aulas de educação física, nas aulas de Pedagogia
Anos Iniciais e em Educação Especial. Com as crianças
na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental a prática segue os pressupostos pedagógicos
da prática psicomotriz educativa [1]. É como relata um
participante da pesquisa:
“A sessão é dividida em três momentos: a entrada,
onde as crianças falam como estão se sentindo naquele
momento, as brincadeiras, e um momento final, onde elas
salientam o que gostaram de fazer e como se sentem” (Ent.
n3 em 07/07/2005).
Nas escolas investigadas há um momento inicial
da aula de psicomotricidade onde a professora explica
para as crianças o que irão fazer no desenvolvimento
da aula, mas não há um momento final, as crianças são
liberadas para brincar livremente. Aspecto que favorece
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entender que se trata da psicomotricidade educativa. A
prática psicomotriz educativa possui os três momentos:
rito de entrada, momento de brincar e rito de saída. As
rotinas auxiliam no desenvolvimento da organização
mental da criança [1].
Outro nível de ensino que a psicomotricidade
aparece como prática educativa na escola é nas aulas de
Educação Física do Ensino Médio, com os adolescentes,
tanto meninos como meninas. A sua ação é desenvolvida
como prática corporal para os adolescentes. Trata-se da
formação pessoa do psicomoticista que envolve uma
infinidade de vivências corporais. O professor entrevistado comenta:
“Ministro aulas de educação física para os primeiros
anos do ensino médio. Com eles faço uma aula, a cada quinze dias, de formação pessoal. No início foi meio complicado,
por motivos de dificuldades dos alunos em se adaptarem à
prática, hoje está fluindo bem melhor. Com a prática da
formação pessoal, a turma está mais integrada, eles mesmos
relatam isso em seus memoriais descritivos, começam a
falar com colegas que antes não falavam” (Ent. n11 em
16/09/2005).
A formação pessoal é uma terceira via de formação
do psicomotricista [7]. A prática viabiliza o autoconhecimento pessoal pela via corporal. Em uma investigação
anterior tivemos o privilégio de investigar a prática da
Biodança como recurso pedagógico para as aulas de
educação física no Ensino Médio [10].
A psicomotricidade como prática educativa localizada nas escolas não desenvolve ações com crianças
com necessidades especiais, essa prática está localizada
nas clínicas multidisciplinares. Podemos entender que
a ação educativa também da psicomotricidade segue o
modelo de segregação e de não inclusão de crianças com
necessidades especiais na ação pedagógica.
A ação da psicomotricidade com as crianças com
necessidades especiais é desenvolvida nas escolas de
educação especial. As APAEs são as instituições citadas
pelos entrevistados em que a psicomotricidade é desenvolvida com grupos com menor número de participantes
ou mesmo individualizado. A professora entrevistada
comenta:
“Trabalho sem rotinas pré-estabelecidas. Não sigo
rotinas terapêuticas. Procuro atender o interesse da criança.
Proponho, mas não direciono. O atendimento é individual.
Tenho objetivos a serem perseguidos, mas não olho os resultados e sim o processo. Atendo crianças de bebês até a terceira
idade” (Ent. n6 em 10/08/2005).
Os profissionais que atuam com a Psicomotricidade
possuem formação inicial na área da saúde e fazem curso
de especialização Lato Sensu na área da psicomotricidade.
A formação inicial do psicomotricista está em coerência
com a ação pedagógica da psicomotricidade: o fisiotera-
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peuta utiliza com fins reeducativos; o professor de educação física com a finalidade de ampliação do repertório
de movimentos; o pedagogo com fins educacionais e de
aprendizagem dos conteúdos básicos da leitura, escrita
e cálculo; o terapeuta ocupacional com fins sociais e de
reabilitação do indivíduo.
Os professores investigados mantêm sua atualização
com leituras da área da psicomotricidade e destacam
referenciais como: a história da psicomotricidade e suas
abordagens teóricas, vertentes psicomotoras e escolas de
formação [1,3]; bases psicanalíticas, psicopedagógicas e
antropológicas da psicomotricidade [11-13]; a reeducação psicomotora, a clínica psicomotora e a educação
psicomotora [7,6,14 e 1] e a relação teoria e prática no
processo formativo [15].
Apesar da diversidade de opções de leituras na área
da psicomotricidade, pudemos perceber que os professores entrevistados citam com significativa freqüência
os livros da trilogia “Aprendizagem e desenvolvimento
infantil” do Professor Aírton Negrine.
Os psicomotricistas entrevistados possuem uma
média que varia de três anos a vinte e dois anos de atividade na área da psicomotricidade. A evolução pedagógica
dos entrevistados na prática que desempenham com a
psicomotricidade é um consenso entre os participantes
da pesquisa. Uma professora descreve:
“Meu crescimento pessoal e profissional com a psicomotricidade é constante. Estou sempre estudando os casos
que atendo em orientação pedagógica. A psicomotricidade é
uma área ampla e me permitiu relacionar esse conhecimento
para colaborar nas dificuldades das crianças dos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental que faço atendimentos” (Ent. n10
em 10/09/2005).
A prática da psicomotricidade e os seus estudos
permitem aos professores em suas diversas áreas um
conhecimento que os faz compreender o processo de
aprendizagem e de desenvolvimento em sua totalidade.
O movimento é compreendido como uma totalidade
o que permite visualizar e entender a subjetividade do
movimento da criança.
Os professores entrevistados destacam aspectos
que são potenciados em suas práticas utilizando a psicomotricidade como: a valorização da estima pessoal
da criança por intermédio do brincar; o despertar as
potencialidades e as descobertas pessoais da criança por
intermédio do corpo e movimento; o favorecimento
das relações da criança com os colegas do grupo e os
diferentes materiais.
O processo contínuo de qualificação dos professores
e suas leituras diversificadas na área da psicomotricidade
permitem reconhecer esse profissional com competências
interdisciplinares em sua ação pedagógica. Trata-se de
uma ampliação da idéia tradicional da psicomotricidade
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vinculada ao movimento funcional, isto é, o desenvolvimento das funções do movimento. O psicomotricista
reconhece a totalidade do ser humano e busca práticas
que possibilitam esse reconhecimento.
Finalmente podemos descrever acerca das buscas
realizadas sobre as páginas eletrônicas na internet. As
páginas eletrônicas – sites – encontrados com auxílio de
buscadores tradicionais na rede da web, que abordam o
tema da psicomotricidade em Porto Alegre são escassas e
de difícil identificação. A busca direta pela palavra-chave
“psicomotricidade” não permite sequer a identificação de
uma página voltada para esse tema. Há páginas que citam
a psicomotricidade como recurso pedagógico para práticas educativas e outros com abordagens terapêuticas. Não
foi identificado nenhum site da cidade de Porto Alegre
voltado para o tema específico da psicomotricidade.
Conclusões
O percurso percorrido pelo estudo procurou
responder algumas questões de investigação acerca da
abrangência da área e sua caracterização como: qual a
formação dos profissionais que atuam com a psicomotricidade? Que histórico possuem com a área? Em que locais
a prática da psicomotricidade é desenvolvida? Quais as
vertentes psicomotoras que fundamentam a prática do
psicomotricista? Que autores são estudados? Como o
psicomotricista dá continuidade a sua formação, ou seja,
como se mantém qualificado? Qual a clientela que faz
parte da ação da psicomotricidade e em que vertentes
ela se situa?
O processo refletido com base nos resultados permite compreender a abrangência da área da psicomotricidade. Esta abrangência está relacionada à formação dos
profissionais e a sua atuação profissional. O profissional
da saúde ainda é o que mais procura a área da psicomotricidade para qualificar sua ação pedagógica ou terapêutica.
É fato que há profissionais de outras áreas como das
ciências jurídicas e ainda das ciências sociais que realizam
cursos de especialização em psicocomotricidade, mas são
situações pontuais. Os profissionais que atuam com a
psicomotricidade são fundamentalmente os professores
de educação física, pedagogos, orientadores educacionais,
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Pudemos perceber que se trata de uma ampliação
da formação inicial. Tal característica permite perceber o
processo de atuação com características de um profissional que reúne conhecimentos de áreas como a psicologia,
psicanálise, fisiologia, anatomia, antropologia, pedagogia,
filosofia e áreas afins. Nessa perspectiva estamos diante de
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um profissional que compreende o movimento humano
em sua totalidade.
Finalmente pudemos constatar que a característica
predominante do profissional que atua com a psicomotricidade também é a clareza do espaço que atua,
ou seja, possui discernimento para entender como vai
atuar na escola com práticas educativas e como vai atuar
nas clínicas com características terapêuticas. Tal aspecto
possibilita uma atuação que auxilia a definir os espaços
e as competências do psicomotricista.
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REVISÃO
Efeitos do treinamento resistido
para terceira idade
Effects of resisted training in elderly people
Bruno Gonzaga Teodoro*, Pedro Vieira Sarmet Moreira*, Nathália Maria Resende*,
Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, M.Sc.**, Foued Salmen Espindola, D. Sc.***
*Acadêmicos da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia, **Universidade Católica
de Brasília/DF, Aluno do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Genética e Bioquímica da Universidade Federal
de Uberlândia /MG, *** Prof. Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Genética e Bioquímica
da Universidade Federal de Uberlândia /MG.
Resumo
O envelhecimento normal é um processo pelo qual há uma diminuição gradativa das capacidades dos vários sistemas orgânicos, o que limita a capacidade funcional dos indivíduos da terceira idade. O crescimento relevante dessas pessoas tem chamado a
atenção de pesquisadores sobre a questão da melhoria da capacidade de execução das tarefas da vida diária. O treinamento resistido
tem sido indicado para melhoria dessas capacidades e apresenta um efeito benéfico na saúde de tal população. A perda das massas
óssea (osteopenia e osteoporose) e muscular (sarcopenia), assim como da força e potência muscular, todas comuns à terceira idade,
podem ser atenuadas ou até mesmo revertidas com a prática regular dos exercícios resistidos, provocando assim uma velhice mais
ativa e saudável.
Palavras-chave: envelhecimento, capacidade funcional, terceira idade, exercício resistido.
Abstract
Regular aging is a process in which there is a gradual reduction in the capacities of several organic systems, which limits the
functional capacity of elderly people. The relevant growth of these people has getting the attention of researchers, concerning the
improvement of the capacity of performing daily tasks. The resisted training has been indicated to improve such capacities and
shows a beneficial effect to their health. The loss of bone mass (osteopenia and osteoporosis) and muscular mass (sarcopenia), as well
as the loss of the strength and muscular power, all common at the elderly age, may be softened or even revested with the regular
practice of resisted exercises, resulting then in a more active and healthier oldness.
Key-words: aging, functional capacity, elderly age, resisted exercise.
Artigo recebido em 09 de março de 2006; aceito em 15 de março de 2006.
Endereço para correspondência: Bruno Gonzaga Teodoro, Rua Professora Maria Alves Castilho nº 991, Bairro Sta
Mônica, 38408260 Uberlândia MG, E-mail: [email protected]
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Introdução
O envelhecimento é um processo pelo qual todos
os indivíduos e organismos passam e é caracterizado pela
diminuição gradativa das capacidades dos vários sistemas
orgânicos em conseguir realizar suas funções de maneira
eficaz [1]. Estas alterações ocorrem em ritmo e momentos
diferentes [2]. Assim, é possível encontrar idade cronológica (extensão do tempo na qual o indivíduo tem
existido) e idade biológica (caracterizada pelos estágios de
envelhecimento biológico) [3]. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) tem o seguinte sistema de classificação
de idade cronológica: meia idade (45-59 anos), idoso (6074 anos), velho (75-90anos) e muito velho (acima de 90
anos). O envelhecimento biológico normal está associado
com um declínio da capacidade funcional dos sistemas
neuromuscular e neuroendócrino [4] e, isso leva a algumas implicações funcionais que podem levar o idoso à
perda de autonomia e uma conseqüente dependência de
parentes e amigos [5]. Porém, esta dependência está mais
ligada à inatividade física do que as próprias mudanças
ocasionadas pelo envelhecimento [6].
O aumento da expectativa de vida e o crescimento
relevante da população idosa [7] chamaram a atenção de
pesquisadores para a questão das melhorias das capacidades funcionais dos idosos.
Para o American College of Sport Medicine
(ACMS) [7], a participação em programas de atividade
física regular provoca um número de respostas favoráveis
que contribuem para um envelhecimento saudável, por
isso a procura dos idosos por atividade física tem aumentado de maneira significativa, inclusive a participação
deles em programas de treinamento de força [8]. Por isso,
nesta revisão, daremos enfoque na influência benéfica do
treinamento resistido em idosos.
Osteopenia, osteoporose associadas com o
envelhecimento
A osteopenia, perda de massa óssea (densidade mineral óssea entre os desvio padrões -1,5 e -2,5 da média
de adultos jovens) e osteoporose, perda acentuada de
massa óssea (densidade mineral óssea abaixo de 2,5 do
desvio padrão da média de adultos jovens) são importantes fatores para as quedas e fraturas em pessoas idosas
[9]. A lenta, mas progressiva perda de osso com a idade
tem sido ligada à inatividade física e a fatores genéticos,
hormonais, nutricionais e, mecânicos [10].
O treinamento de força tem um efeito positivo na
saúde óssea em homens e mulheres mais velhos [11,12].
Um estudo realizado demonstrou que, em mulheres mais
velhas (54,5 +/- 3,3), a densidade mineral óssea da coluna
lombar (L2 e L4), do fêmur (colo e quadril total) e radio
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ultra-distal do ante-braço teve um aumento significativo
em relação à mulheres da mesma idade sedentárias [13].
Em um outro estudo, houve aumento significativo da
massa óssea (1,96%) em idosos (60-83 anos) praticantes
de exercícios resistidos de alta intensidade [14].
Além disso, esse tipo de treinamento pode também
reduzir o risco de fraturas por osteoporose, incrementando o equilíbrio, massa muscular e nível global de
atividade física [9].
Um estudo comprovou que exercícios resistidos
progressivos podem trazer uma melhor função física após
uma fratura do fêmur [15]. Esses exercícios se mostraram
de melhor eficácia na recuperação pós-cirúrgica de fraturas do que eletroestimulação e fisioterapia tradicional em
idosos de 60-85 anos [16]. Existe ainda um outro estudo
comprovando que este treinamento juntamente com o
de agilidade, reduz o risco de quedas em mulheres idosas
(75-85anos) com pouca massa óssea [17].
Sarcopenia e o envelhecimento
Sarcopenia é definido como a perda de massa muscular [9] que é visível a partir dos 25 anos [18], em que há
uma perda progressiva da massa muscular, que decresce
aproximadamente 50% entre as idades de 20 e 90 anos
[19]. Essa perda representa o resultado combinado de
processos neuromotores progressivos e de uma queda no
nível diário de sobrecarga muscular [20] e, ela ocorre no
tamanho ou número de fibras, especialmente as do tipo
IIb (rápidas), levando à diminuição na capacidade de um
músculo gerar potência [11, 21, 22].
Apesar de algumas evidências contrárias, os exercícios resistidos parecem ter um efeito benéfico no ganho
e/ou manutenção de massa muscular do idoso. A participação regular em um programa de treinamento de força
parece ter profundos efeitos anabólicos em populações
mais velhas [23, 24, 25]. A tomografia computadorizada
e a biopsia muscular mostraram evidências de hipertrofia
muscular em homens mais velhos que participaram de
programas de treinamento de força de alta intensidade.
[25]. Em um estudo feito com idosos (60-72 anos) de
12 semanas de treinamento resistido houve significativa
hipertrofia [26]. Segundo Poter & Vandervoort houve
aumento das áreas de fibras musculares tipo I e tipo II de
14% a 62% em idosos após treinamento de força [8].
Estudos recentes mostram também comprovações
do ganho de massa na terceira idade, segundo Borst [27]
o treinamento resistido é o modo mais efetivo de ganhar
massa muscular em populações mais velhas. Um estudo
feito em homens de 65 a 80 anos com DPOC (Doença
Pulmonar Obstrutiva Coronariana) durante 12 semanas
de treinamento resistido de alta intensidade mostrou uma
melhora significativa (4% da área de secção transversal)
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no tamanho do músculo quadríceps [28]. Outro estudo
mostrou, que treinamentos resistidos de alta e moderada
intensidades com 12 semanas de duração em participantes iniciantes (60-74anos) obteve melhoras na massa
muscular, sendo que os de alta intensidade obtiveram
melhores resultados [29]. Existe ainda, mais um estudo
em que se diz que com o treino resistido obtém-se considerável hipertrofia e reversão das alterações da arquitetura
muscular provocada pelo envelhecimento [30].
Toda sarcopenia induzida aumenta a taxa de fraturas e quedas, ambas levam à hospitalização que traz
uma sarcopenia novamente [31], ou seja, o desuso da
musculatura nos idosos, provoca uma atrofia muscular o
que deixa o idoso mais propício à quedas e conseqüentes
fraturas, o que pode levá-lo a uma hospitalização que
deixara sua musculatura com um novo desuso. Provando
assim, a importância da prática de exercícios resistidos,
que evitariam a repetição sucessiva deste ciclo.
Perda de força muscular associada com a velhice
A força é um fator importante para a capacidade
funcional (capacidade de realizar atividades diárias de
forma independente). Sob condições normais, falando
do desempenho de força, esta apresenta seu pico entre 20
e 30 anos, a partir daí diminui lentamente nas próximas
duas décadas [22] A força muscular diminui 3% e 5% ao
ano depois dos 60 anos em homens e mulheres respectivamente [32]. Essa perda é de aproximadamente 15% por
década durante a sexta e sétima década e, depois aproximadamente 30% [32]. A perda de força é maior em membros
inferiores do que em membros superiores [22].
Essa perda faz com que realização das atividades diárias se torne mais difícil e aumente, desta forma, o risco
de quedas e conseqüentes fraturas [33] e, os principais
fatores que contribuem com a fraqueza muscular são:
alterações músculo-esquelética da senilidade, acúmulo
de doenças crônicas, medicamentos necessários para o
tratamento de doenças, alterações do sistema nervoso,
redução das secreções hormonais, desnutrição e, atrofia
muscular por desuso [34].
É sabido que o treinamento resistido aumenta a
força muscular em adultos mais velhos. Fiatarone e colaboradores [24] mostraram que até mesmo indivíduos
acima de 90 anos podem conseguir ganhos de força com
treinamento resistido de 8 semanas [32]. Em um outro
estudo, realizado durante 12 meses, mulheres idosas
tiveram um ganho de força durante todo o período de
treinamento [35].
Estudos recentes mostram com riqueza de dados
essas comprovações. Um estudo feito por Marin et al. [1],
verificou-se que com o simples acréscimo de caneleiras de
1Kg nos membros inferiores e superiores em 10 semanas
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de treinamento em 93 mulheres de 50 a 79 anos, houve
um aumento de 23,7% na força muscular dos membros
inferiores e 9,8% dos membros superiores. Outro estudo
mostrou ganho de força de 14% na extensão isocinética do
joelho com 12 semanas de treinamento resistido em homens
(65 a 80anos) com DPOC [28]. Suetta [16], mostrou um
aumento ainda maior (24%) na força de contração máxima
isométrica em idosos de 60 a 85anos. Um estudo mais abrangente mostrou ganhos de força durante todo período (24
meses) de treinamento resistido de intensidade moderada
em 13 homens e 41 mulheres idosas [36]. E finalmente, há
um estudo que fala sobre ganho de força nas mais variadas
intensidades de treinamento resistido [37].
A perda de potência muscular associada com a
velhice
Potência muscular é definido como a capacidade
que o músculo possui de exercer força no menor intervalo
de tempo possível [11].
Com o avanço progressivo da idade, há, como já citamos, uma perda das fibras musculares mais rápidas (tipo
II) [11] e também uma diminuição da atividade miosina
ATPase [32] . Esses dois fatores proporcionam uma base
bioquímica estrutural para perda muscular de força [6] e
potência no envelhecimento. Isso pode ser um dos principais fatores que contribuem para perda das capacidades
funcionais e dos mecanismos de segurança relacionado à
prevenção de lesões devido à queda em idosos [16,32].
Os efeitos básicos nos componentes elásticos
contráteis no músculo podem ser afetados pela idade e
podem afetar o desempenho da potência [32]. Além disso, com o envelhecimento, capacidade de produzir força
muscular explosiva (potência), cai mais drasticamente do
que a força muscular máxima [38,39]. Foi estimado que
a capacidade de potência em membros inferiores podem
ser perdidas em uma proporção de 3,5% ao ano a partir
de 65 até 84 anos [40].
Evidências recentes mostraram ganhos de potência em exercícios resistidos, como em um estudo de 12
semanas deste treinamento onde houve um ganho de
19% na potência de extensão da perna em idosos 65
a 80 anos, com COPD [28]. Outro estudo feito com
18 idosos (75 a 94 anos) mostrou melhora na potência
média excêntrica (44%) e concêntrica (66%) em 10 semanas de treinamento resistido [41]. Existe também, um
estudo com 16 idosos (acima de 70 anos), que mostrou
melhora de 40% em média, na potência muscular com
24 semanas de treinamento [42]. E ainda, um estudo
feito com mulheres idosas (61 a 75 anos) mostrou melhora na potência da extensão das pernas nas velocidades
média (3.14rad/s) e alta (5.24rad/s) em 12 semanas de
treinamento de força [43].
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Dessa forma, o treinamento de potência em idosos
pode ser mais importante do que o próprio treinamento
de força, pelo fato de atividades diárias tais como, velocidade da caminhada, subir escadas, levantar-se de cadeiras,
exigem um certo grau de potência muscular [32].
Conclusão
A deterioração normal da função fisiológica com
a idade pode atenuar ou reverter com a prática regular
de exercícios resistidos, pois ele melhora a capacidade de
movimento funcional em adultos mais velhos [44], melhorando até a capacidade de caminhar [45]. Esses exercícios melhoram a força, potência muscular e reduzem a
dificuldade de executar as tarefas diárias em idosos [46]. É
possível encontrar profundo efeito sobre a independência
funcional de idosos com a idade superior a 100 anos que
se submetem ao treinamento resistido [47].
Além disso, resultam em uma melhora da flexibilidade, da agilidade, e fatores neurais [47] e ainda levam
à diminuição das lesões causadas por quedas e possui
um efeito benéfico na postura geral [47], tendo também
efeito positivo na saúde do tendão [48] e no aumento de
massa muscular e densidade mineral óssea [11].
O treinamento resistido melhora, ainda, a capacidade muscular submáxima (resistência muscular) em
idosos [8].
Por esses motivos, para que se atenue as conseqüências do processo de envelhecimento e garantir uma vida
independente na terceira idade, é imprescindível que os
idosos possuam uma vida ativa com participação em um
programa regular do treinamento de força, assegurando
a capacidade funcional para a realização de atividades do
cotidiano, ocupacionais e recreativas.
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
ATUALIZAÇÃO
Tempo de reação e atividade física
Reaction time and physical activity
Daniel das Virgens Chagas*, Luiz Alberto Batista, D.Sc.**
*Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Instituto de Educação Física e Desportos – Laboratório
de Biomecânica & Núcleo de Pedagogia do Movimento Humano, **Coordenador de Pós-graduação do IEFD/UERJ,
Coordenador do Laboratório de Biomecânica do IEFD/UERJ
Resumo
O tempo de reação é um componente mensurável importante de nossa integração sensório-motora para o desempenho de
distintas tarefas, sejam elas esportivas, profissionais ou atividades da vida diária. Um tempo de reação prolongado pode comprometer
totalmente a ação do sujeito caso a tarefa motora exija dele uma resposta imediata ao estímulo que lhe foi apresentado. Qualquer fator
que prejudique ou beneficie a velocidade de processamento da informação, ainda que em milésimos de segundo, pode ser determinante
desempenho da tarefa motora. O objetivo do presente estudo foi realizar uma compilação de dados que reportem a relação entre exercício e tempo de reação. Foi realizada uma busca por computadores e uma busca manual dos documentos que abordassem este tema.
O material gnosiológico foi submetido a uma análise exploratória estruturada com base na proposta de Batista (2001). Os achados
indicam que, apesar da concentração de estudos nesta linha, o efeito crônico da atividade física sobre o tempo de reação ainda não está
bem definido, tampouco o efeito agudo do exercício sobre o mesmo. Há uma escassez de estudos que investiguem o efeito agudo do
exercício no tempo de reação, bem como uma carência de pesquisas longitudinais entre exercício e tempo de reação.
Palavras-chave: exercício, velocidade de reação, efeito crônico, efeito agudo.
Abstract
Reaction time is a measurable important component of our sensory motor integration to performance different tasks, as sports,
as professionals or diary life activities. A prolonged reaction time may damage completely the subject action if the task requires him
an immediate answer to stimulus that it has been introduced. Anything comes to damage or to improve the information processing
speed, although being short time, may be determinant on motor task performance. The purpose of this study was to realize a
compilation of data that have reported exercise and reaction time relationship. A search through computers was done and a manual
search for documents related to this theme. Knowledge material was submitted to exploratory analysis based on Batista proposal
(2001). The findings show that, although the concentration of researches on this line, the chronic physical activity effect on reaction
time is not well established yet, neither the acute exercise effect on it. There is a limited researches that have investigated the acute
exercise effect on reaction time, as well as limited longitudinal researches between exercise and reaction time too.
Key-words: exercise, reaction speed, chronic effect, acute effect.
Artigo recebido em 10 de abril de 2006; aceito em 12 de abril de 2006.
Endereço para correspondência: Daniel das Virgens Chagas, Laboratório de Biomecânica, Instituto de Educação Física
e Desportos, Pavilhão João Lyra Filho, bloco F, sala 8122, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã – 20550-900 Rio de
Janeiro – RJ.
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Introdução
Terminologia
A velocidade de reação é um fator importante em
diversas tarefas motoras, em especial naquelas em que é
necessário reagir prontamente a um evento ou estímulo.
É sabido que nas saídas de provas de velocidade, qualquer atraso adicional pode comprometer o resultado
total do atleta, visto que a disputa se dá por milésimos
de segundo. Do mesmo modo, o goleiro no futebol,
para realizar sua defesa com sucesso, deve reagir o mais
rápido possível quando a bola muda repentinamente de
trajetória ao se aproximar da meta. Ambos os exemplos
confirmam, ainda que sucintamente, a importância da
velocidade de reação nas tarefas motoras presentes em
atividades esportivas.
Assim como nas atividades esportivas, o tempo
de reação também é um componente mensurável de
nossa integração sensório-motora para o desempenho
de atividades da vida diária, seja para evitar uma queda,
agarrar um objeto ou dirigir um automóvel. Qualquer
atraso adicional, ocorrido nas distintas situações acima
citadas, pode comprometer totalmente a ação motora
do sujeito, por muitas vezes inviabilizando a eficácia
da resposta.
No caso da atividade física, suspeitamos que ainda
se busca acumular evidências que corroborem ou refutem
a hipótese de que o exercício acarreta benefícios para a
velocidade de processamento da informação, pois que
ainda não se tem bem estabelecida a relação entre exercício e tempo de reação.
Nesta relação entre atividade física e velocidade
de reação, o status do tempo de reação logo após a
prática de um exercício físico rigoroso, aparece como
uma variável importante. Ao que parece um atraso
adicional, induzido pela prática de atividade física,
pode comprometer o desempenho de tarefas motoras
que dependem desse mecanismo e que venham a ser
realizadas imediatamente após o término da prática,
como por exemplo, aquelas que se apresentam quando
da condução de um veículo.
Diante disto, o conhecimento sobre o comportamento do tempo de reação imediatamente após a atividade física parece ser tema relevante, sendo necessário
identificarmos de que forma, com que abrangência
e profundidade ele vem sendo tratado pela literatura
pertinente.
Sendo assim, este estudo foi realizado com o objetivo de promover a compilação de dados que reportem
a relação entre atividade física e tempo de reação, como
forma de estimarmos o estado da arte no que tange as
investigações sobre o efeito crônico e agudo do exercício
no tempo de reação das pessoas.
Para Marteniuk [1], o tempo de reação é definido
como o atraso ocorrido entre a apresentação de algum
evento ou estímulo a um indivíduo e a iniciação do movimento. Harrow [2] define tempo de reação como sendo
o tempo que decorre entre o início de um estímulo e o
início da resposta ao mesmo. Para Schmidt [3], tempo de
reação é o intervalo de tempo ocorrido entre um estímulo
não-antecipado, e repentinamente apresentado, e o início
da resposta. Segundo Magill [4], tempo de reação é o
intervalo de tempo entre o disparo de um sinal (estímulo)
e o início de uma resposta de movimento.
Classificações do tempo de reação
Em situações mais simples de reação, como na
largada de 100 metros rasos em uma prova de atletismo,
geralmente os indivíduos apresentam menores valores no
tempo de reação. Tais situações de reação são caracterizadas como tempo de reação simples, o qual, segundo
Schmidt [3], é o intervalo de tempo que decorre da
apresentação de um estímulo não-antecipado ao início
da resposta. A largada de uma prova de velocidade no
atletismo e na natação são exemplos de situações de
tempo de reação simples. A opção de estímulo é única
(sinal sonoro de largada) e os atletas já sabem qual movimento fazer.
Existem, também, situações em que há mais de uma
alternativa e, portanto, mais de uma opção de resposta.
Tais situações são classificadas como tempo de reação de
escolha. Segundo Schmidt [3], tempo de reação de escolha é o intervalo de tempo entre a apresentação de um dos
vários estímulos possíveis e o começo, não-antecipado,
de uma das várias respostas possíveis. Como ilustração de
situações de tempo de reação de escolha, temos o tempo
que um goleiro de futsal leva para identificar o estímulo
(chute), selecionar a resposta (defesa do chute) e programar a resposta (programar a defesa) e, assim, iniciar o
movimento de resposta. No exemplo citado, existe mais
de uma possibilidade de direção do chute, logo, mais de
um estímulo possível. Conseqüentemente, existe mais
de uma opção de resposta. Assim pode ser caracterizado
o tempo de reação de escolha.
Tempo de reação é o intervalo de tempo entre um
estímulo não-antecipado e o início da resposta. Diferente, portanto, de tempo de movimento, que se refere ao
tempo que o indivíduo leva para executar o movimento
completo. Tempo de movimento é o intervalo de tempo
entre o início da resposta (movimento) e o seu fim [4].
Logo, o tempo de movimento começa quando o tempo
de reação termina.
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Recepção do estímulo
O estímulo pode ser qualquer tipo de energia
dissipada no meio ambiente. Os receptores sensoriais
detectam a energia, caso esta tenha intensidade suficiente
para sensibilizá-los, e a transformam em potenciais bioelétricos, que são alterações lentas da voltagem da membrana que podem ser transformadas posteriormente em
potenciais de ação, a unidade digital de código do sistema
nervoso [5]. “A função primordial dos sistemas sensoriais
é realizar a tradução da informação contida nos estímulos
ambientais para a linguagem do sistema nervoso” [5]. Os
receptores sensoriais convertem energia de uma forma
em outra por meio de um processo conhecido como
transdução [6]. Segundo Bear, Connors e Paradiso [7],
transdução (do latim transducere, que significa “conduzir
de um lugar para o outro”) é o processo pelo qual um
estímulo ambiental causa uma resposta elétrica em um
receptor sensorial. “A tradução da energia incidente em
potenciais receptores é chamada transdução, e a conversão
análogo-digital destes para potencial de ação é denominada
codificação” [5].
Os receptores sensoriais são específicos na detecção
do estímulo, isto é, são discriminatórios quanto à natureza dos estímulos. Eles podem ser mecanorreceptores
(energia mecânica), termorreceptores (energia térmica),
fotorreceptores (energia luminosa), quimiorreceptores
(energia química) e nociceptores, que detectam a dor,
através de mecanorreceptores, termorreceptores e quimiorreceptores [8-10, 5, 7]. Na maior parte dos casos, em
estudos sobre tempo de reação, as fontes de estímulo são
visuais ou sonoras. O disparo do tiro na largada das provas
de atletismo e natação, uma nota musical, o disparo de
uma buzina, o apito de um professor ou de um árbitro, e
muitos outros possíveis exemplos, são tipos de estímulos
sonoros. Figuras, luzes e ações mecânicas humanas podem ser utilizadas como fontes de estímulo visual.
O tempo de reação é mais curto quando são apresentados estímulos sonoros do que quando são apresentados estímulos visuais devido às diferenças neuroanatômicas no fluxo do processo que serão explanadas mais
à frente. Entretanto, existem outras fontes de estímulo
que nossos receptores sensoriais são capazes de captar,
dentre as quais, as principais são: temperatura, tato, dor,
propriocepção, olfato e gustação, além de outros sistemas
de detecção química [5,7-10].
O estudo sobre os sentidos pode ser dividido,
metodologicamente, em 4 partes:
• Os sentidos do corpo (somestesia): o tato, a termossensibilidade, a propriocepção e a dor;
• O sistema auditivo;
• O sistema visual;
• Os sentidos químicos (olfatório, gustatório e outros
sistemas de detecção química, como a detecção de
substâncias irritantes e poluentes nas mucosas faciais).
Tabela I – Os sistemas sensoriais humanos e seus receptores.
Modalidade
Visão
Audição
Submodalidade
Todas
Todas
Tato
Sensibilidade
térmica
Dor
Somestesia
Propriocepção
Olfato
Paladar
Todas
Todas
Estímulo específico
Luz
Vibrações mecânicas do ar
Estímulos mecânicos
Calor e frio
Órgão Receptor
Olho
Ouvido
_
_
Tipo Funcional
Fotorreceptores
Mecanoceptores auditivos
Mecanoceptores
Termoceptores
Estímulos mecânicos, tér- _
micos e químicos intensos
Nociceptores
Movimentos e posição
estática do corpo
Substâncias químicas
Substâncias químicas
_
Mecanoceptores
Nariz
Boca
Quimioceptores
Quimioceptores
Fonte [5]
Cada divisão sensorial apresentada possui uma
área correspondente no sistema nervoso central. O
lobo parietal agrupa funções de sensibilidade corporal,
o lobo temporal representa a audição e o lobo occipital
concentra as funções relacionadas à visão [9,10,5]. O
olfato está representado pelo bulbo olfatório e pelo
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córtex piriforme. Os quimiorreceptores gustatórios e
fibras aferentes de três nervos cranianos se conectam ao
núcleo do trato solitário, no tronco encefálico, onde será
distribuída a informação (gustatória) para o tálamo e o
córtex, ou para regiões de controle da digestão e outras
funções orgânicas [5].
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Freqüentemente, tanto em situações desportivas
quanto em atividades da vida diária, as pessoas efetuam
uma reação motora a partir de um estímulo apresentado.
Em uma aula de Educação Física, os alunos são orientados a correr o mais rápido possível após o disparo do
apito. No handebol, o goleiro tem que reagir rapidamente
após o “chute” do jogador adversário. No ônibus, quando
o motorista freia repentinamente o veículo, os passageiros
também têm que reagir o mais rápido possível, segurando
em algum apoio fixo que os cercam, para evitar uma
queda. Tais situações descritas são exemplos da relação
estímulo-resposta.
O fluxo do processo
O tempo que um indivíduo leva para reagir está
relacionado com a preparação do movimento. Segundo
Marteniuk [1], quando um indivíduo apresenta uma
habilidade perceptiva-motora, há numerosas operações
do sistema nervoso central que precedem o movimento.
Para Enoka [6], a preparação envolve a conversão de
uma idéia para a apropriada força e padrão da atividade
muscular necessária para um movimento desejado. Magill [4] salienta que “o movimento planejado não ocorre
instantaneamente”.
Em situações desportivas, como na resposta a uma
jogada do tenista que ataca, na resposta de um defensor
contra um driblador e tantos outros momentos, é necessária uma preparação do movimento antes da execução.
De maneira semelhante, a preparação do movimento
ocorre nas atividades da vida diária, quando uma dona
de casa reage para pegar um copo que caiu da prateleira
ou quando o indivíduo reage a uma situação inesperada
emergente no trânsito. A preparação do movimento
ocorre antes do movimento propriamente dito. É enviada
uma ordem a partir do córtex cerebral, em cuja região
estão representadas as funções neurais e psíquicas mais
complexas [5], chegando, através de neurônios motores,
à musculatura que vai promover o movimento. Portanto,
para todos os movimentos corporais conscientes, existe a
fase de preparação do movimento [1,9,3-6,11] diferente
do que acontece com os movimentos reflexos. Os movimentos corporais mais simples são os reflexos, pois esses
não atingem nossa consciência. A partir de um estímulo
sensorial, o sinal se propaga pelos neurônios aferentes
até chegar à medula ou ao tronco encefálico, de onde
é emitido o sinal de resposta [5], não alcançando, portanto, nossa consciência. O reflexo de retirada, quando
encostamos em algo muito quente, é um bom exemplo
desse mecanismo. Logo, o movimento construído conscientemente (como acontece no tempo de reação) é bem
diferente do movimento involuntário (como acontece no
movimento reflexo).
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É importante considerarmos que, em algumas
vezes, o indivíduo antecipa o disparo do estímulo, ou
seja, inicia seu movimento antes mesmo que o sinal seja
dissipado. No contexto desportivo, é comum acontecer
esse tipo de antecipação. No futebol, por exemplo,
quando o goleiro inicia seu movimento de defesa antes
que seu adversário chute a bola, ele está fazendo uma
antecipação. Portanto, quando o indivíduo antecipa o
estímulo ele não está reagindo ao mesmo.
Os pesquisadores costumam adotar medidas para
evitar que a antecipação falseie os resultados. Uma delas é
a explicação categórica do protocolo, através da qual fica
nítida a importância de não se iniciar o movimento antes
que o estímulo seja disparado. Outra medida também
utilizada por alguns pesquisadores é a determinação de
um limite inferior para os valores do tempo de reação.
Audiffren, Brisswalter, Bosquet e Brandet [12], por
exemplo, determinaram 130 milisegundos (ms) como
o valor mínimo para o tempo de reação simples no experimento. Valores para o tempo de reação abaixo dessa
marca são considerados como antecipação para esses
autores. Weineck [13] afirma que mesmo para a situação
mais simples de reação (tempo de reação simples) não
é possível obter um tempo inferior a 100 ms, o que vai
de encontro à determinação de Audiffren, Brisswalter,
Bosquet e Brandet [12] na pesquisa supracitada.
Desconsiderando a antecipação, para que haja
uma resposta motora, no contexto do tempo de reação,
um estímulo é apresentado anteriormente à mesma. A
partir desse estímulo começa a ocorrer o processamento
da informação em nosso sistema de controle motor, cujo
primeiro estágio é a identificação do estímulo [3,11].
Quando o estímulo é visual, a conversão das ondas
luminosas em impulsos neuronais é realizada na retina e,
então, conduzida ao cérebro [13]. “A informação visual
codificada pelo sistema visual percorre vias paralelas da retina
ao tálamo e deste ao córtex, especializados no processamento
de aspectos visuais da cena visual” [5]. Quando o estímulo é
sonoro ele percorre as vias do sistema auditivo, através dos
receptores sensoriais localizados na cóclea (órgão receptor
do sistema auditivo), que transmitem a informação sonora
traduzida para neurônios de segunda ordem, encarregados
de realizar a codificação. Esses neurônios constituem o
nervo auditivo, que é um dos componentes do oitavo nervo
craniano. Daí em diante a informação auditiva entrará no
sistema nervoso central, passando através de sucessivas
sinapses, por uma série de núcleos, até chegar ao córtex
cerebral [5]. Os autores são unânimes ao afirmarem que o
tempo de reação acústico é mais rápido do que o tempo de
reação ótico. Esse fato acontece em função das diferenças
anatômicas previamente mencionadas.
Portanto, em situações que envolvam movimento
corporal consciente, como na reação motora de um indi-
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víduo após um estímulo lhe ser apresentado, é necessário
um tempo de preparação para o mesmo. Logo, o atraso
que o indivíduo tem para iniciar uma resposta, depois
de apresentado o estímulo, está vinculado ao tempo que
o indivíduo leva para preparar o movimento.
Schmidt [3] relaciona essa fase preparatória, no
contexto do tempo de reação, ao processamento da informação, e o classifica nas seguintes fases: identificação do
estímulo – seleção da resposta – programação da resposta.
Para Marteniuk [1], o tempo de reação inclui o tempo demorado: a) para o estímulo ativar um receptor sensorial;
b) para o sinal resultante (através da transdução) chegar
ao cérebro; c) para o sinal ser processado pelo cérebro; e
d) para um comando ser enviado do cérebro para algum
músculo ou grupo de músculos.
Portanto, antes que se inicie o movimento de reação, o nosso esquema de controle motor primeiro identifica o estímulo, depois seleciona a resposta e programa
o movimento. Segundo Weineck [13], a velocidade de
reação é determinada pela rapidez de análise da situação,
pelo processamento das informações obtidas e execução
de uma ação motora adequada.
Os efeitos da treinabilidade
Segundo Schmidt [3], a quantidade de prática é
um dos principais fatores que afetam o tempo de reação
de escolha. À medida que se aumenta a quantidade de
prática, a velocidade de reação se altera de maneira diretamente proporcional. Portanto, para um dado número
de alternativas estímulo-resposta, o tempo de reação
diminui com a prática [3,4,11,13,14].
A compatibilidade estímulo-resposta, que geralmente é definida como o grau com que o estímulo e
sua resposta resultante são conectados de uma maneira
natural [11], também pode ser influenciado pela treinabilidade. O efeito da treinabilidade em situações de baixa
compatibilidade estímulo-resposta foi corroborado por
alguns autores [3,11], os quais concluem que o efeito
da baixa compatibilidade (ou incompatibilidade) estímulo-resposta, no tempo de reação, pode ser reduzido
praticando a condição incompatível, até que a reação se
torne comparável ao de uma situação compatível nãopraticada. Nessa ocasião, ao que parece, a treinabilidade
diminui o tempo de reação devido ao processamento mais
rápido no estágio de seleção da resposta [11].
Schmidt [3] considera que, acima de tudo, a prática
reduz a progressão do aumento no tempo de reação, à
medida que o número de alternativas estímulo-resposta
aumenta. Isso significa que existe somente um pequeno
efeito da prática sobre o tempo de reação simples, mas
efeitos bastante grandes da prática sobre o tempo de
reação de escolha, especialmente quando o número de
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alternativas estímulo-resposta é grande ou a compatibilidade estímulo-resposta é baixa [3,13].
O desportista mais experiente tem maior capacidade em responder as informações que chegam até ele
(input) do que o novato [1]. Schmidt e Wrisberg [11],
também afirmam que os indivíduos mais experientes têm
mais habilidade para tratar as informações que chegam
até eles que indivíduos menos experientes. Isso significa
que, durante a prática esportiva, os indivíduos mais
experientes utilizam sua organização de conhecimento
específico da tarefa para extrair a informação que mais
contribui para uma resposta rápida e precisa para cada
tipo de situação [15,11]. Segundo Marteniuk [1], para
determinar a eficiência, tão bem quanto a capacidade,
da transmissão de informação de um indivíduo, o grau
de correspondência entre input (estímulo, informação)
e output (resposta motora) deve ser determinado. Logo,
um jogador de defesa com dez anos de prática de futebol,
apresenta um menor tempo de reação, em uma situação
de jogo, do que um jogador de defesa iniciante. Além de
apresentar um tempo de reação reduzido, a vivência do
indivíduo na atividade, ou seja, sua experiência, segundo
Meinel et al. [15] e Weineck [13], permite que ele realize
com mais facilidade e qualidade a antecipação.
Fatores intervenientes no tempo de reação
Existem diversos fatores que influem no tempo de
reação de um indivíduo. O álcool, por exemplo, é um
deles. Maylor, Rabbitt, James, Kerr [14] constataram
que doses moderadas de álcool (0.8 e 1.0 ml/kg peso
corporal) prejudicam a performance de uma variedade
de respostas de processamento da informação. Além
de valores de tempo de reação aumentados, o número
de erros aumentou com a presença do álcool. Krull,
Smith, Sinha e Parksons [16] constataram aumentos nos
tempos de reação de indivíduos sob efeito da ingestão
de álcool e da privação de sono (por um período de 30
horas). A temperatura muscular também parece ter um
efeito sobre o tempo de reação. Weineck [13] relata que
o trabalho prévio de aquecimento muscular aumenta a
freqüência de estimulação e a velocidade de condução
nervosa a partir do sistema nervoso central. Assim como
o álcool, a privação de sono e a temperatura muscular,
o meio ambiente também parece interferir no tempo
de reação. Millot, Brand e Morand [17] apontam uma
diminuição significativa no tempo de reação em ambiente
sob a condição de odores, comparada com ambiente sem
essa condição. Friedmann e Haber [18] relataram um
aumento no tempo de reação com a inclusão de íons
negativos no ambiente.
Além destes fatores, podemos destacar ainda outros
que influenciam diretamente o tempo de reação. Segue
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adiante uma síntese de alguns dos fatores que influenciam o tempo de reação:
Tabela II – Fatores que influenciam o tempo de reação.
Nº de opções de resposta
Quanto maior forem as possibilidades de estímulo, maior será o
tempo de reação.
Compatibilidade estímulo-resposta
Quanto menor for a compatibilidade estímulo-resposta, maior será o
tempo de reação.
Previsibilidade da opção de resposta estar correta À medida que aumenta a previsibilidade de uma das possíveis
opções, o tempo de reação diminui.
Regularidade do período prévio
Caso o período que anteceda o disparo do estímulo seja constante,
entre 2 e 4 segundos, o tempo de reação será menor do que em
outras situações de período prévio.
Complexidade do movimento
Quanto mais complexo for o movimento, maior será o tempo de
reação.
Estado de treinamento
Indivíduos sedentários apresentam um maior tempo de reação do
que indivíduos ativos, praticantes de alguma atividade física.
Experiência do praticante
Quanto mais experiente o praticante, em especial o desportista,
menor será seu tempo de reação.
Precisão do movimento
Quanto mais preciso for o movimento, maior será o tempo de reação.
Disparo de diferentes sinais dentro de um
Se o indivíduo tiver que responder a dois estímulos diferentes, em
determinado espaço de tempo
um intervalo de tempo de 40 a 150 ms entre um estímulo e outro, o
tempo de reação motora ao segundo estímulo será maior do que se
o mesmo estímulo tivesse sido apresentado sozinho.
Atenção
A atenção focada no sinal proporciona um tempo de reação menor
do que a atenção focada no movimento.
Prática
A prática diminui o tempo de reação.
Álcool
Doses de álcool em torno de 1g por kg de peso corporal já são sufi
cientes para que o indivíduo tenha um tempo de reação motora
mais lento.
Tempo de reação sob uma perspectiva holística
Considerando o tempo de reação apenas como o
intervalo de tempo compreendido entre o disparo de um
estímulo e o início de uma resposta motora, já seria de
grande importância para as pesquisas e a sociedade. No
entanto, quando tratamos desse assunto, não devemos
nos restringir meramente ao seu termo conceitual, pois
há um complexo cognitivo que sustenta a discussão.
Quando analisamos as etapas compreendidas para
que o movimento voluntário se inicie, deparamo-nos
com os sistemas nervosos central e periférico. Após a
liberação do estímulo, estamos sujeitos à recepção do
mesmo através de nossos receptores sensoriais, que fazem
parte do sistema nervoso periférico. A partir disso, podem
ser iniciadas diversas discussões sobre nossas sensações
corporais.
Nem tudo que é sentido é percebido, mas tudo que
é percebido foi sentido [5]. Logo, nota-se que o estímulo
pode atingir nossos receptores sensoriais sem alcançar
nossa consciência. A intensidade do estímulo pode,
portanto, ser outra fonte de discussão. A quantidade de
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informação (estímulos) pode, também, sustentar estudos
e pesquisas na área de controle motor, em assuntos como
tempo de reação, atenção, aprendizagem motora e outros
temas e áreas de conhecimento.
Quando analisamos a percepção do estímulo e a
programação da resposta no tempo de reação, estamos
discutindo aspectos do sistema nervoso central. Logo, a
relevância de pesquisas que abordem o tempo de reação
é muito mais importante do que possa parecer à primeira
vista. Ao se analisar a percepção dos estímulos, necessária
para o desencadeamento da resposta motora, podemos
deflagrar discussões sobre movimentos reflexos, propriocepção, cinestesia e outros.
A atividade física e o tempo de reação
Histórico na atividade física
Baylor e Spirduso [19] pesquisaram sobre a influência do nível de aptidão física em mulheres idosas,
considerando a regularidade da atividade aeróbia sobre
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
os componentes do tempo de reação. Os achados deste
estudo revelam que o nível de aptidão física, neste grupo,
é um importante fator a ser considerado, pois influencia
a velocidade de suas reações simples e discriminatórias
positivamente. Em um outro estudo, Fourth e Salmoni
[20] encontraram correlações significativas entre potência
aeróbia e tempo de reação, mas somente no grupo mais
velho de sua amostra (10-11 anos, 17-18 anos, 23-24
anos). Clarkson-Smith e Hartley [21] investigaram a
relação entre o exercício físico e as habilidades cognitivas
em 62 idosos. Indivíduos ativos fisicamente e sedentários
foram testados na pesquisa, cujo escopo possuía o tempo
de reação como uma das medidas do teste de habilidades
cognitivas. O grupo fisicamente ativo apresentou menores
valores no tempo de reação do que o grupo sedentário.
Posteriormente, novamente Clarkson-Smith e Hartley [22]
apresentaram evidências de que o exercício contribui para
o desempenho cognitivo. Desta vez, os estudiosos exploraram uma amostra de 300 sujeitos, homens e mulheres, com
a idade entre 55 a 91 anos. Os sujeitos fisicamente ativos
apresentaram, mais uma vez, os menores valores no tempo
de reação. Recentemente, Hatta, Nishihira, Kim, Kaneda,
Kida, Kamijo, Sasahara e Haga [23] e Tsang e Hui-Chan
[24] ao realizarem estudos comparando o tempo de reação
de idosos que se exercitam regularmente e idosos sedentários, constataram que o primeiro grupo apresentou um
tempo de reação mais curto que o segundo.
Efeito crônico da atividade física
Blumenthal e Madden [25] investigaram o efeito
do exercício sobre o desempenho da memória, onde
o tempo de reação foi medido na tarefa. Dois grupos
foram submetidos a um programa de exercícios, sendo
que um grupo (13 homens) se exercitou com corridas
leves (jogging) e o outro (13 homens) se exercitou com
treinamento de força, ambos durante 12 semanas, 3 vezes
ao dia. Nenhum dos grupos apresentou melhora significativa na tarefa de reação em função do treinamento com
exercícios. Logo, embora tenham ocorrido mudanças na
aptidão física após 12 semanas de treinamento, alterações de magnitude correspondentes não ocorreram na
velocidade de reação dos sujeitos. Em outra pesquisa,
Madden, Blumenthal, Allen e Emery [26] constataram
que o aumento da aptidão aeróbia não melhorou o tempo
de reação de idosos, após um período de treinamento
de 16 semanas. Os autores sugerem que mudanças na
capacidade cognitiva relatadas ao exercício, em idosos,
são devido a períodos extensos de exercício ou quando
comparadas diferenças entre sujeitos fisicamente ativos
e sedentários.
Panton, Graves, Pollock, Hagberg e Chen [27]
pesquisaram sobre o efeito do treinamento aeróbio e do
Acao_v3n1.indb 38
treinamento contra-resistência no tempo de reação fracionado e na velocidade de movimento em idosos. Seus
achados indicam que seis meses de treinamento de força
ou de treinamento aeróbio não induziram mudanças
significativas no tempo de reação ou velocidade de movimento neste grupo. Similarmente, Sothmann, Hart e
Horn [28] investigaram o efeito de um curto período de
treinamento aeróbio (16 semanas) no comportamento
do processamento central em homens de meia-idade.
Não foram encontradas diferenças significativas no
tempo de reação de escolha (pré-motor e motor).
Posteriormente, Paillard, Sablayrolles, Costes-Salon,
Lafont, Dupui and Rivièrev [29], estudaram o efeito
de um programa de marcha nas habilidades perceptivo-motoras em idosos ativos e saudáveis. Nove sujeitos
tiveram 12 semanas de treinamento de marcha: uma vez
por dia, cinco vezes por semana, com a intensidade de
treinamento no limiar anaeróbico. Mensurações diretas
das habilidades perceptivo-motoras (tempo de reação,
ajuste postural, destreza motora) dos sujeitos foram
apresentadas antes e imediatamente após o programa
de treinamento. Os achados desse estudo indicam
que não há diferença significativa para as habilidades
medidas após 12 semanas de treinamento aeróbio
para este grupo. Recentemente, Harada, Okagawa e
Kubota [30] e Marigold, Eng, Dawnson, Inglis, Harris e
Gylfadottir [31] ao investigarem a relação entre exercício e desempenho neuromotor, constataram que o
tempo de reação permaneceu inalterado após 12 e 4
semanas de treinamento, respectivamente. Do mesmo
modo, Whitehurst [32] constatou que o tempo de
reação permanece inalterado em mulheres idosas após
8 semanas de treinamento aeróbio na bicicleta estacionária, com uma freqüência de 3 sessões por semana e
duração de 35 a 40 minutos por sessão. Segundo o autor,
“contrário a alguns outros estudos, os dados indicam que
o tempo de reação pode ser independente do treinamento
aeróbio em mulheres idosas saudáveis”.
Efeito agudo da atividade física
Kroll [33] investigou o efeito do exercício isotônico
fatigante sobre o tempo de reação simples e o tempo de
reflexo, em estudantes universitários, na própria musculatura exercitada. Não ocorreram alterações significativas
nos componentes do tempo de reação fracionado, mas
o tempo total de reflexo e o tempo motor aumentaram
linearmente após cada etapa do exercício isotônico. O
autor sugere que possa existir um processo compensatório
do sistema nervoso central no qual o desempenho volitivo (tempo de reação) permanece não afetado, embora
tenha ocorrido significativa perda de força e aumentado
o tempo de reflexo.
20/4/2006 11:27:23
39
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Brisswalter, Arcelin, Audiffren e Delignières [34]
pesquisaram sobre a influência do exercício físico no
tempo de reação simples. Dois grupos de 10 sujeitos
(estudantes com atividade física irregular e corredores
de meia distância) foram testados. Os sujeitos foram
testados enquanto pedalavam (20%, 40%, 60% e 80%
do VO2 máx.) e imediatamente após o exercício. Durante o exercício, houve uma diminuição no desempenho
cognitivo em ambos os grupos, porém imediatamente
após a atividade não houve o mesmo efeito da atividade
no tempo de reação. Em um outro estudo conduzido
por Audiffren, Brisswalter, Brandet e Bosquet [12]
verificou-se o comportamento do tempo de reação
simples durante o exercício sob diferentes intensidades de trabalho. O tempo de reação simples durante o
exercício foi mais alto do que no repouso, porém não
variou significativamente de acordo com alterações nas
cargas de trabalho. Posteriormente, Arcelin e Brisswalter
[35] tornaram a mensurar o tempo de reação durante
a atividade física. Os sujeitos foram submetidos a 10
minutos de exercício em um cicloergômetro, a 60%
do VO2 máx. Não foram encontradas diferenças significativas no tempo de reação, cuja medida foi realizada
no terceiro minuto de atividade. Os autores sugerem
que se quantifique mais apuradamente as diferenças
intraindividuais na medida do tempo de reação para a
interpretação de mudanças no funcionamento cognitivo
durante o exercício. Ernwein e Keller [36], pesquisaram
sobre o comportamento do tempo de reação antes,
durante e após a atividade física, em desportistas. O
tempo de reação de escolha foi mensurado durante 90
minutos, com intervalo de 10 minutos entre cada medida. A partir do trigésimo minuto, os sujeitos iniciaram
a atividade física (ciclismo estacionário, a 50% ou 80%
do consumo máximo de oxigênio) e se exercitaram até
o sexagésimo minuto. O tempo de reação dos sujeitos
se degradou, isto é, aumentou durante os primeiros 10
minutos de atividade. A partir desse ponto, o tempo de
reação se estabilizou, ou seja, não continuou aumentando de maneira significativa até o final do exercício. Dez
minutos após o término do exercício, quando então foi
medido novamente, o tempo de reação reassumiu os
valores pré-exercício. Os autores constataram também
que há um maior atraso no processamento central
a 80% do VO2 máximo. Similarmente, Collardeau,
Brisswalter e Audiffren [37] também detectaram uma
degradação no tempo de reação apenas nos primeiros
minutos da atividade.
A seguir, a síntese de alguns dos estudos analisados
neste trabalho.
Tabela III – Análise dos estudos.
Art_6_Daniel.indd 39
Autor
Problema
Sujeitos
Hatta et al.
[23]
Efeito do exercício
moderado habitual
no processamento da
resposta em idosos
40 sujeitos
Marigold et al.
[31]
Relação entre exercício 61 idosos vítimas de
e desempenho neuro- AVC
motor
Tsang et al.
[24]
Efeitos do exercício na
sensibilidade articular
e equilíbrio em idosos:
Tai Chi vs Golf
47 idosos
Procedimento e delineamento
Comparação do tempo
de reação entre idosos
que se exercitam
regularmente (n=20) e
idosos inativos (n=20)
Participantes foram
randomicamente designados para um grupo
de agilidade (n=30)
ou alongamento e
levantamento de pesos
(n=31); os sujeitos
foram avaliados antes,
imediatamente após e
1 mês depois da intervenção das atividades
Comparação entre os
grupos: Tai Chi (n=12),
Golf (n=11), controle
(n=12) e universitários
(n=12)
Descobertas
O tempo de reação foi
mais rápido no grupo ativo
do que no grupo inativo.
O grupo de exercícios com
pesos e alongamento
não apresentou melhoras
significativas no tempo de
reação
Os praticantes de Tai Chi
e Golf tiveram um tempo
de reação mais rápido do
que os idosos do grupo
controle.
25/4/2006 14:28:07
40
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Harada, Okagawa e Efeito da corrida no
Kubota
desempenho do lobo
[30]
frontal
Paillard, Sablayrolles, Costes-Salon,
Lafont, Dupui e
Rivièrev
[29]
Sothmann, Hart e
Horn
[28]
Whitehurst
[32]
12 semanas, 30 minutos, 2.6 vezes/semana;
grupo de corrida (n=7)
e grupo controle (n=7)
12 semanas de marcha, 5x/semana
A resposta ao teste de reação permaneceu inalterada após o treinamento
24 homens
16 semanas
14 idosas
8 semanas
49 idosos
6 meses de treino (17)
aeróbio e de força (20
sujeitos)
300 sujeitos (55 a
91 anos)
Classificação dos
sujeitos de acordo com
seus diferentes relatos
na prática de atividade
física
Classificação dos
sujeitos em ativos e
sedentários
Sem diferenças significativas no tempo de reação
(escolha)
Não houve diferença
significativa no tempo de
reação pré e pós-treino
6 meses de treinamento
aeróbio ou de força não
provocaram melhorias no
tempo de reação
Exercício contribui para
desempenho cognitivo:
sujeitos ativos apresentaram menores valores no
tempo de reação
Grupo fisicamente ativo
apresentou menor tempo
de reação que o grupo
sedentário
O aumento na aptidão
aeróbia não aumentou a
velocidade de reação dos
sujeitos
Nenhum dos grupos apresentou melhora
significativa no tempo de
reação
em função do treinamento com exercícios
Correlação positiva, mas
somente no grupo mais
velho da amostra (23-24
anos)
O treinamento aeróbio
não teve impacto no desempenho motor (tempo
de reação de escolha)
14 sujeitos
Efeito de um programa 9 idosos
de treinamento nas
habilidades perceptivomotoras
Panton, Graves,
Pollock, Hagberg e
Chen
[27]
Clarkson-Smith e
Kartley
[21]
Efeito do treinamento
aeróbio no processamento central
Efeito do exercício
aeróbio no tempo de
reação
Influência do treinamento aeróbio e de
força no tempo de
reação
Relação entre exercício e desempenho
cognitivo
Clarkson-Smith e
Hartley
[22]
Relação entre exercício 124 idosos
e habilidades cognitivas
Blumenthal e
Madden
[25]
Influência do exercício no desempenho
cognitivo
26 homens
16 semanas de treino
aeróbio
Madden, Blumenthal, Allen e Emery
[26]
Influência do exercício no desempenho
cognitivo
26 homens
12 semanas, 3x/dia;
corridas leves (13
sujeitos) e treinamento com pesos (13
sujeitos)
Fourth e Salmoni
[20]
30 sujeitos
Correlação entre potência aeróbia e tempo
de reação
3 grupos de diferentes
faixas etárias: 10-11;
17-18; 23-24 anos
Normand, Kerr e
Mètivier
[38]
Relação entre exercício, envelhecimento e
desempenho motor
3 meses de treinamento aeróbio (12 sujeitos)
24 sujeitos (57 a 74
anos)
Afinal, em que a atividade física influencia o
tempo de reação?
Centros de pesquisa de várias partes do mundo
vêm desenvolvendo estudos acerca desse tema. Entretanto, conforme bibliografia examinada, a literatura
Art_6_Daniel.indd 40
Sem alterações significativas na velocidade de
reação
ainda não está bem definida em alguns pontos do
assunto. Ora pesquisadores ratificam o efeito benéfico da atividade física sobre o tempo de reação, ora o
desmistificam. Esta controvérsia fomenta as discussões
sobre o efeito crônico da atividade física sobre o tempo
de reação. Afinal, o exercício provoca, a médio e longo
25/4/2006 14:28:07
41
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
prazo, aumento na velocidade de processamento da
informação ou não?
Insistentemente são levantados estudos para verificar
o efeito crônico do exercício sobre o tempo de reação.
Como se pode observar, vários trabalhos aqui examinados
realizaram pesquisas nas quais os sujeitos foram submetidos
a dois, quatro ou seis meses de treinamento físico, seja de
exercício aeróbio, contra-resistência ou ambos. As investigações realizadas com esse intervalo de tempo não apresentaram evidências de que a atividade física pode render
benefícios para a velocidade de reação. Entrementes, outros
estudos também analisados neste trabalho apresentaram
evidências de que a atividade física exerce uma influência
positiva sobre o tempo de reação motora.
À primeira vista, os achados podem parecer conflitantes, tanto que Whitehurst [32] considera que,
“contrário a alguns estudos”, o tempo de reação pode ser
independente do treinamento com exercícios. Esse autor
se refere aos estudos que encontraram correlação positiva
entre atividade física e velocidade de processamento da
informação, relatando o benefício da prática de exercícios
sobre o tempo de reação. Ao que parece, o ponto crucial
causador da divergência é a quantidade de tempo necessária para a atividade física render melhorias ao tempo
de reação. Os autores que relacionaram a aptidão física
em idosos ao tempo de reação não realizaram testes pré e
pós-treino [19, 20, 38]. Através de seus protocolos, esses
pesquisadores avaliaram o nível de atividade física dos
sujeitos e os mais ativos apresentaram um menor tempo
de reação do que os menos ativos. Esses dados nos indicam que os grupos estudados mantêm essa regularidade
na aptidão física ao longo dos anos, não apenas durante
um período de 8 semanas ou 6 meses, por exemplo. Essa
discussão vai de encontro aos estudos de Normand, Kerr
e Mètivier [38] e Madden, Blumenthal, Allen e Emery
[26]. Em revisão de literatura, Normand, Kerr e Mètivier
[38] constataram que os trabalhos envolvendo idosos
que estiveram fisicamente ativos a maior parte de suas
vidas apresentaram tempos de reação significativamente
mais rápidos do que seus congêneres inativos. Madden,
Blumenthal, Allen e Emery [26], consideraram que
mudanças na capacidade cognitiva relatadas ao exercício,
em idosos, são devido a períodos extensos de exercício ou
quando comparadas diferenças entre sujeitos fisicamente
ativos e sedentários.
Talvez por essa divergência de achados e conclusões,
as pesquisas sobre tempo de reação e exercício não têm seguido novos horizontes. Estudos longitudinais poderiam
ser conduzidos com o objetivo de verificar após quanto
tempo um programa de exercícios renderia benefícios ao
tempo de reação, pois ainda não se sabe qual o intervalo
de tempo de exercitação física necessária para se obter
benefícios no tempo de reação, caso estes ocorram.
Acao_v3n1.indb 41
Um outro ponto importante que merece destaque
é a escassez de estudos sobre o efeito agudo da atividade
física no tempo de reação. Por conta disso, não se sabe
quais conseqüências o exercício físico pode trazer para a
velocidade de processamento da informação imediatamente após a sua prática. Em outras palavras, ainda não
se tem bem definido o comportamento do tempo de
reação logo após a prática da atividade física.
Conclusão
Com base na compilação de dados realizada neste
estudo, é possível perceber que há uma carência de
investigações longitudinais acerca do efeito crônico da
atividade física sobre o tempo de reação. Verifica-se que
os objetos de estudo neste ramo do conhecimento têm
se repetido ao longo dos anos, sem ainda alcançar uma
consistência de discurso adequada para a exploração de
novos horizontes de descobertas.
Nota-se, também, a existência de um desequilíbrio
quantitativo na produção acerca do tempo de reação e
exercício, no qual o efeito crônico da atividade física sobre
o tempo de reação tem sido objeto de estudo mais explorado do que o efeito agudo do exercício na velocidade
de processamento da informação. Isto é devido, provavelmente, ao fato de existir uma carência de trabalhos
que investiguem o comportamento do tempo de reação
imediatamente após a prática de exercícios vigorosos.
Diante deste quadro, sugerimos, para futuras
pesquisas, que sejam realizados estudos longitudinais
que investiguem o efeito crônico do exercício sobre o
tempo de reação. Deste modo, evidências sobre a relação
entre essa variáveis, serão acumuladas, propiciando uma
melhor compreensão do fenômeno em causa.
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20/4/2006 11:27:25
43
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
ATUALIZAÇÃO
Uma breve reflexão sobre a ética de Aristóteles
e sua contribuição para a Educação Física
A brief reflection about Aristotle’s ethics and his contribution
for the Physical Education
Rafael da Silva Mattos*, Ana Luiza Paulino**
*Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ** Instituto de Filosofia
e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Resumo
Este artigo pretende discorrer sobre a ética na escola e na formação dos professores de Educação Física na perspectiva de
Aristóteles. Para tanto discutir-se-á, brevemente, o conceito de ética e sua relevância para a prática pedagógica dos professores de
Educação Física. Defendendo o ensino ético fundamentado no respeito mútuo, na justiça, no diálogo e na solidariedade, ressalta-se
a relevância desta disciplina para a formação dos professores. A ética junto à educação se torna elemento central da ação sociopolítica
em favor de atitudes de tolerância e respeito às diferenças existentes no meio educacional e profissional.
Palavras-chave: ética, educação física, formação profissional.
Abstract
This paper intends to discourse on the ethics in the school and in the teachers’ of Physical Education formation in Aristotle’s
perspective. For so much it will be discussed, shortly, the ethics concept and his relevance for the teachers’ of Physical Education
pedagogic practice. Defending the ethical teaching based in the mutual respect, in the justice, in the dialogue and in the solidarity,
the relevance of this subject is emphasized for the teachers’ formation. The ethics close to the education becomes central element of
the sociopolitical action in favor of attitudes of tolerance and respect to the existent differences in the education and professional
way.
Key-words: ethical, physical education, professional formation.
Artigo recebido em 09 de março de 2006; aceito em 13 de março de 2006.
Endereço para correspondência: Rafael da Silva Mattos, Rua Pouso Alto 441, Jacarepaguá, 22735-220 Rio de Janeiro
RJ, Tel: 21-33921224, E-mail: [email protected]
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44
ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
Introdução
Aristóteles (384-322 a.C) nasceu na cidade de
Estagira, ao norte da Grécia. Ao se dirigir para Atenas,
tornou-se discípulo de Platão, tendo permanecido cerca
de 20 anos na Academia. Mais tarde fundou sua própria
escola, o Liceu, no ginásio de Apolo Lício, onde dava aulas
nos jardins da escola enquanto passeava. Como filho de
um médico, Aristóteles possuía um estilo científico rigoroso, era um detetive epistemológico. Toda sua filosofia
parte de uma perspectiva crítica de Platão.
Para Platão, mestre de Aristóteles, as coisas concretas eram simples aparências, sombras da verdadeira
realidade do mundo das Idéias. Vivemos no mundo que
nos engana, que é limitado pelos nossos sentidos. Platão
sempre quis encontrar o belo e imutável em meio a todas
as mudanças que ocorrem em nosso cotidiano. Dessa
forma, ele chegou ao seu conceito de Mundo das Idéias.
Ele considerava as idéias mais reais do que os próprios
fenômenos concretos da natureza [1].
Aristóteles critica os pensamentos de Platão e desenvolve uma teoria realista, distante dos idealismos de seu
mestre. Para Aristóteles as coisas deveriam ser explicadas
a partir delas mesmas, e não a partir do mundo ilusório
das Idéias. Considerava Platão um prisioneiro de uma
visão mítico-espiritual de mundo e confundia aquilo
que é concreto e verdadeiro com a idéia abstrata e transcendente. Para Aristóteles, não fazia sentido entender o
mundo a partir da ascese platônica, na qual o homem
busca a verdade, a luz, a libertação. Constrói-se então
uma nova visão de mundo a partir de um homem que
deseja o conhecimento racional, distante do idealismo
platônico. O homem que buscava a libertação, agora busca o conhecimento, a ciência, as causas, o entendimento
das coisas pelas próprias coisas.
Não há mais parteiros de almas, muito menos idéias
de outro mundo, mas sim um conhecimento sensível,
uma empiria, e conseqüentemente a capacidade de
superação do que foi apreendido pelos sentidos, com a
organização do conhecimento armazenado na memória.
O homem passa a ser construtor das coisas novas a partir
daquelas informações armazenadas na memória e, não
do mundo das Idéias. Aristóteles entendia a Filosofia
como a ciência das últimas causas. Pensar é descobrir o
porquê das causas [2].
Ao explicar o ser, Aristóteles utiliza os conceitos de
matéria e forma. A matéria seria a pura passividade, contendo as virtualidades da forma em potência. Enquanto a
forma, seria a essência comum aos indivíduos, pela qual
cada um é o que é. Baseado nesses conceitos, ele explica
o devir (movimento), na medida em que todo ser tende a
atualizar a forma que tem em si como potência, tendendo
a atingir a perfeição que lhe é própria e o fim a que se
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destina. Essa reflexão sobre o devir nos leva a distinção
entre as causas existentes para os diversos seres [3].
A pedagogia de Aristóteles leva em consideração
este devir, o fato de o homem estar em constante movimento. A educação tem como finalidade ajudar o homem
a alcançar a plenitude e a realização do ser, a atualizar as
forças que tem em potência. A educação pretende levar
o homem a tornar-se o que deve ser: deve levar o homem
a sua possibilidade extrema, a excelência (
). Esta é
a realização máxima da possibilidade que todas as coisas
têm para executar determinado trabalho [4].
Para entender o que o homem deve ser, é necessário
explorar o campo da ética. O fim de toda relação ética
para Aristóteles é a felicidade (
). O homem feliz desenvolve suas faculdades físicas, morais e
intelectuais. A partir da idéia que a razão é o que distingue o homem dos outros seres, Aristóteles concebe
que o bem supremo, a felicidade, tem de estar ligada à
capacidade humana de pensar. Tudo que existe tem uma
finalidade, e a excelência (ou em inglês o termo goodness, que denomina a qualidade de algo bom) é a plena
realização dessa função. Na concepção aristotélica, uma
árvore “virtuosa”, digamos, é aquela que faz boa sombra
e produz bons frutos, uma faca “virtuosa”, aquela que
corta bem, etc. E a felicidade humana está ligada ao desenvolvimento e ao bom uso da razão, e isso só é possível
através da educação, da formação do caráter, sendo essa
não um fim, mas condição indispensável para se alcançar
a felicidade [5-7].
A questão central das preocupações éticas é a justiça entendida como inspirada nos valores de igualdade,
visto que as reflexões sobre as diversas condutas humanas
devem ser partes dos conteúdos escolares. A ética nas
escolas traz a possibilidade da reflexão filosófica contínua
sobre a moral.
Beresford [8] nos alerta para a diferença entre a
ética e a moral. A palavra moral é relacionada aos costumes, valores e normas de conduta específicas de uma
determinada sociedade ou cultura, enquanto a ética leva
em consideração o agir humano, do seu ponto de vista
valorativo e normativo.
Castilho e Kalil [9] afirmam que a ética é um termo
genérico para várias formas de se entender e analisar a vida
moral, enquanto a moralidade é uma teoria sobre o certo
e o errado. O termo moralidade se refere ao conjunto
de convenções sociais sobre o comportamento humano
certo ou errado, convenções tão largamente partilhadas
que formam um consenso comum. Uma teoria ética bem
desenvolvida é aquela que em seu interior proporciona a
reflexão sobre a aceitabilidade das ações e a avaliação do
caráter moral da ação.
Assim sendo, a moral corresponde ao conjunto de
normas e condutas que uma determinada comunidade,
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
num determinado tempo e circunstância assume como
válidas. Já a ética, estaria relacionada com uma reflexão
teórica acerca da moral.
Para Aranha [1] a finalidade da educação aristotélica é o bem moral, no qual consiste a felicidade. Não
basta adquirir idéias morais, mas é necessário reparti-las
e vivenciá-las em sociedade. A questão central das preocupações éticas é a justiça entendida como inspirada
nos valores de igualdade, visto que as reflexões sobre as
diversas condutas humanas devem ser parte dos conteúdos escolares. A ética nas escolas traz a possibilidade da
reflexão filosófica contínua sobre a moral.
A Ética Aristotélica e a Educação Física
A ética é uma ciência prática que se constitui de um
saber que tem por objeto a ação, enquanto a metafísica e a
filosofia são ciências teóricas, que não criam seus objetos,
mas apenas os contemplam. Toda escolha, que se diz ética, tende para algum bem, por isso que um bem é aquilo
a que todas as coisas tendem. Como todas as atividades
humanas tendem para um bem, a ética, inicialmente, tem
o objetivo de preparar o indivíduo para viver o bem junto
com os outros na pólis grega. Nesse sentido, o professor
de educação física deve ser capaz de compreender o cotidiano escolar como um espaço público, democrático e
solidário, onde os alunos precisam aprender a viver para
um bem em sociedade [10,11].
Lastória [12] afirma que a ética de Aristóteles
deixará de ser vista como uma ontologia do Bem, como
afirmava Platão, mas adquirindo o estatuto de disciplina
própria que possui um fim. O fim a que todas as coisas
tendem é sempre o bem. É esse bem que procuramos nos
professores de Educação Física e pode-se perceber que a
formação universitária e pós-universitária é responsável
por manter acesa essa busca pelo bem. Aristóteles elabora
seus conceitos tentando compreender uma finalidade
última e a encontra ao estudar política. Se a ética pertence
à política, esta última deve possuir alguma coisa que o
homem deseja. Aristóteles responde a essa problemática
explicando o desejo de felicidade da alma. A felicidade
é considerada o fim último da experiência humana.
Vivemos para sermos felizes.
A ética deve determinar a essência do fim a ser alcançado, a essência do agente e das ações, assim como os
meios para realizá-las. Tais ações humanas não são como
as ações dos animais e da natureza, pois estes seguem as
exigências impostas pela sua matéria e por sua forma. Eles
possuem sempre os mesmos efeitos, as mesmas causas, as
mesmas circunstâncias. Em qualquer lugar do mundo o
passarinho joão-de-barro fará suas casas da mesma forma,
da mesma forma que os esquilos continuarão a construir
suas barragens sem concreto e cimento. No entanto, as
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ações humanas decorrem de escolhas voluntárias entre
diversas alternativas, de forma que o antagonismo das
ações se faz presente a todo momento [10,11].
Para Oliveira [13,14] a formação moral e ética do
aluno, futuro cidadão, só pode ser concebida a partir da
tolerância em relação às diferenças do outro. Toda ação
ética consistiria em não fazer ao outro aquilo que não gostaríamos que fizessem a nós. Sendo assim, a reflexão ética
é caracterizada pelo eterno pensar e pela construção de
formas valorativas do outro. É na escola que os professores
de Educação Física devem exercer seu comportamento
ético se querem ensinar Ética a alguém.
Aristóteles [5,6] afirma que a virtude humana que
provém da alma é também uma felicidade da alma. Esta
virtude se concretiza nas relações com os outros homens,
na medida em que tornamos nossas atitudes justas e injustas, certas e corretas. É através dos atos que praticamos
que percebemos o que nós somos. Em virtude disto, precisamos prestar atenção em nossas escolhas e não avaliar
prematuramente nossos próprios julgamentos.
Através das práticas de atos justos, o homem se
torna um ser justo e pelas práticas corretas ele se torna
correto. As virtudes só podem ser aprendidas na prática,
na medida em que vivemos de forma correta e tornamos
a realidade humana uma experiência de respeito mútuo e
solidariedade. A construção ética na escola e na trajetória
profissional docente deve ser vista como um processo
inacabado que carece de reflexões profundas no plano
teórico e medidas genuínas no plano prático [15,16].
Para Lastória [12] a educação aristotélica consiste
na formação dos indivíduos desde a infância. Tal formação é necessária para a o desenvolvimento do caráter dos
indivíduos, que quando adulto, terão ação relevante na
política da pólis grega. Tanto a família como a escola se
completam para educar o indivíduo, a fim de possibilitar
a convergência de seus atos para idéias de felicidade.
O Código de Ética do Profissional de Educação
Física (disponível em www.confef.org.br) veio assumir
uma postura de referências aos deveres e direitos do
Profissional de Educação Física. O que se tem observado
ao longo destes anos é que a atuação pedagógica dos profissionais de Educação Física tem se comprometido com
a preservação da saúde dos alunos e com as responsabilidades sociais e legais da profissão. Na sua competência
profissional, o professor ganhou um grande instrumento
que legitima e protege suas ações profissionais.
Conclusões
Segundo Rodrigues [17], a formação humana resulta de um ato intencional de transformar uma criatura
biológica em um novo ser, um ser pensante, um ser que
desenvolve cultura. Nesse sentido, a Educação é a forma
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de ajustar os indivíduos à vida social, compreendendo
a possibilidade do educando de acionar os seus meios
intelectuais e fazer uso de suas potencialidades. A Educação permite que cada indivíduo conduza seu próprio
caminho durante a vida. Enquanto o ser humano não se
constituir num ser completo, ele necessitará da Educação.
Na medida em que compreendemos o sujeito como um
ente inacabado, em construção contínua, a Educação
sempre se fará necessária.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental [18] afirmam que a escola, ao transmitir
o conhecimento cultural e histórico acumulado pela sociedade, vai ao encontro das questões éticas. As relações
sociais que ocorrem na escola são pautadas em valores
morais que orientam o agir do professor diante do aluno.
Cabe ao professor desenvolver o diálogo respeitoso com
os demais profissionais da área de educação que estão
inseridos no meio escolar.
Para Mussak [19] a ética é condição indispensável
sempre que se pensa em construir um ambiente profissional. Os interesses individuais devem ser sempre respeitados, desde que não ameacem os interesses coletivos. Nesse
sentido, não há razão para atribuirmos graus quantitativos e qualitativos de ética, pois ou o profissional é ético
ou não é. Não é possível ser ético demais ou pouco ético.
Através do comportamento ético cotidiano estabelecemos nossa conduta ética de vida. Esse comportamento
diário dignifica o ser humano, organizando-o e tornando
possível o convívio em sociedade. A ética com sua base
na justiça aperfeiçoa a competência dos profissionais de
Educação Física.
A educação ética como processo de formação
humana coopera para a constituição da identidade dos
educandos como sujeitos histórico-sociais e aprimora a
capacidade de entendimento e aceitação das diferenças
existentes em qualquer meio social. A ação do educador
não poderá ser executada de qualquer jeito, como se toda
e qualquer forma fosse suficiente para que ela possa ser
realizada. Ela só será bem realizada se houver um compromisso político e ético que a direcione. Através de um
comportamento ético o professor de Educação Física será
capaz de julgar com mais equidade as ações promovidas
por seus alunos e pelos próprios colegas de profissão.
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Referências
1. ARANHA, M. L. A. História da Educação. 2. ed. São Paulo:
Moderna, 1996.
2. LUZIRIAGA, L. História da Educação e da Pedagogia. 19.
ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.
3. MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos
pré-socráticos a Wittgenstein. 8. ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004.
4. CAEIRO, A. A areté como possibilidade extrema do humano.
Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002.
5. ARISTÓTELES. Retórica das paixões. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
6. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultura, 1987.
7. SMITH, J. A. The Ethics of Aristotle. London: J.M.Dent
& Sons,1942.
8. BERESFORD, H. A Ética e a moral social através do esporte.
Rio de Janeiro: Sprint, 1994.
9. CASTILHO, E. A.; KALIL, J. Ética e pesquisa médica:
princípios, diretrizes e regulamentações. Rev. Soc. Bras.
Med. Trop, Uberlândia, v. 38, n. 4, 2005.
10. CHAUÍ, M. Introdução da história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Compahia das Letras,
2002. 1v.
11. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
12. LASTORIA, L.A.C.N. Impasses éticos na educação hoje.
Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 24, n. 83, p.
429-440, 2003.
13. OLIVEIRA, R. J. Ética na Escola: (Re) Acendendo uma
polêmica. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 22,
n. 76, p. 212-231, 2001.
14. OLIVEIRA, M. N. A educação na ética Kantiana. Revista
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 447-460,
2004.
15. BOTO, C. Ética e Educação Clássica: Virtude e felicidade
no justo meio. Revista Educação & Sociedade, Campinas,
v. 22, n. 76, 2001.
16. MENIN, M. S. D. S. Valores na escola. Revista Educação
e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 91-100, 2002.
17. RODRIGUES, N. Educação: da formação humana à
construção do sujeito ético. Revista Educação & Sociedade,
Campinas, v. 22, n. 76, 2001.
18. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais: Ética. 2. ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000.
19. MUSSAK, E. Metacompetência: Uma nova visão do trabalho
e da realização pessoal. 4. ed. São Paulo: Gente, 2003.
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ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1)
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do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto,
local da edição, dois pontos, editora, vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplos:
Livro:
MAY, M. The facial nerve. New-York:Thieme, 1986.
Capítulo ou parte de livro:
PHILLIPS, S. J. Hypertension and Stroke. In: LARAGH J.
H., (Ed.). Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2. ed. New-York: Raven press, 1995. p. 465-78.
Artigos - Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalho, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de vírgula, número do volume, número do fascículo,
páginas inicial e final, data e ponto. Não utilizar maiúsculas ou
itálicos. Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando
mais de 6, colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
ALMEIDA, C.; MONTEIRO, M. Descrição de duas novas
espécies (Homoptera). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v.
9, n. 1/2, p. 55-62, mar./jun. 1992.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
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Atlantica Editora
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educação física e desportos
Índice
Volume 3 número 2 - março/abril de 2006
EDITORIAL
Ensinar esportes, Luiz Alberto Batista ......................................................................................... 51
ARTIGO ORIGINAL
As relações de gênero nas aulas de Educação Física na Educação Infantil
em duas realidades socioeconômicas, Simone Carillo Martins,
Elaine Romero, Luiz Alberto Batista ............................................................................................ 52
Avaliação antropométrica de crianças praticantes de atividades físicas
de um clube de São Paulo, Carolina Borges Duarte, Fernanda Dias de Souza,
Márcia de Araújo Leite Nacif ..................................................................................................... 59
Efeitos do treinamento de ginástica localizada e hidroginástica nos níveis de força e no VO2
de praticantes de academia, Simone de Assumpção Belém,
Ana Cristina Lopes y Glória Barreto, Roberto de Carvalho Pável, Jefferson da Silva Novaes ......................... 64
Avaliação antropométrica e qualitativa da ingestão alimentar de nadadores
masters competitivos, Fernanda Andrade Patara, Danielle Lopes Russo, Luciana Rossi ............................. 70
Índice geral de flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica não-competitiva,
Raquel Petry, Elirez Silva, Úrsula Müller, Diego Wink Esteves ............................................................ 75
Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada de ambos os sexos
em diferentes velocidades, Sebastião Iberes Lopes Melo, Juliane de Oliveira,
Raquel Pinheiro Gomes, Mário César Andrade, Roberta Pires ............................................................ 80
Treinamento com pesos para iniciantes: comparação de esforço entre três modelos
de treinamento, Ricardo Yukio Asano ......................................................................................... 87
COMUNICAÇÃO BREVE
Subsídios para propostas de treinamento em natação para crianças em fase puberal,
Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro ............................................................................................. 94
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ..................................................................................... 102
EVENTOS ..................................................................................................................... 104
Acao Mov_.indb 49
10/8/2006 16:27:08
50
ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
ISSN 1806-9436
educação física e desportos
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Conselho editorial
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(Universidade do Porto – Portugal)
Antônio Carlos Stringhini Guimarães (UFRGS)
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EDITORIAL
Ensinar esportes
Luiz Alberto Batista
Editor científico
Um amigo perguntou-me se valeria a pena
colocar o filho dele para aprender um determinado
esporte com uma pessoa que foi um atleta campeão e
internacionalmente reconhecido. Eu lhe respondi com
outra pergunta: “Se acometido por uma moléstia você
se sujeitaria a ser tratado por alguém que, reconhecidamente, por anos padeceu de idêntico problema de
saúde e conseguiu sobrepujá-lo?”. Ele, sem hesitar,
respondeu-me que não.
Continuei a provocá-lo argumentando que o
ex-paciente poderia lhe dar informações importantes,
tais como: que médicos procurar, que sensações foram
sentidas no decorrer dos tratamentos e que clínicas reúnem as melhores condições tecnológicas e de pessoal.
Ele, novamente sem pestanejar, contra-argumentou que
somente isto não bastava, que não entregaria os cuidados
de sua saúde a alguém que não estivesse devidamente
preparado.
Ai então eu lhe respondi que a mesma certeza que
ele denotou ao apresentar uma negativa à minha questão eu possuía para apresentar a negativa em relação à
pergunta inicialmente feita por ele.
O ato de ensinar uma modalidade esportiva implica na posse de conhecimentos que ultrapassam a esfera
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da vivência, principalmente quando ele está voltado à
crianças e jovens, os quais ainda se encontram em franco
processo de maturação, crescimento. Podemos cobrar
este tipo de competência de um professor de Educação
Física, de qualquer outro não.
Atletas, principalmente os campeões, têm sua importância. Eles são mitos, atraem pessoas para a prática
de atividades e podem passar bons exemplos. Muitas
funções, no contexto esportivo, podem ser assumidas
por eles, porém o ato competente de ensinar demanda
formação específica, a qual ele precisa também adquirir
se quiser exercê-lo.
Exigir competência, neste caso, não consiste em
um mero resguardo de mercado de trabalho. Muito mais
que isto, diz respeito a garantir integridades e o bom
desenvolvimento de pessoas.
Por outro lado é preciso que o professor de Educação
Física faça, efetivamente, uso dos conhecimentos técnicos
científicos adquiridos durante sua formação, para que,
quando da comparação de sua práxis pedagógica com a
de leigos, fique evidente a importância da competência
manifesta. Isto, com certeza, lhe será cobrado.
Por assim dizer, tanto no que tange aos bônus
quanto aos ônus, a Cézar o que é de Cézar.
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ARTIGO ORIGINAL
As relações de gênero nas aulas
de Educação Física na Educação Infantil
em duas realidades socioeconômicas
Gender relations on Physical Education in Elementary Education
Classes in two different social-levels
Simone Carillo Martins, M.Sc.*, Elaine Romero, D.Sc.**, Luiz Alberto Batista, D.Sc.***
*Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco RJ, Colégio Cidade, ** Universidade de São Paulo, Laboratório
de Estudos de Gênero e Motricidade Humana – UFRJ, ***Coordenador do Laboratório de Biomecânica do IEFD/UERJ
Resumo
O objetivo foi identificar como se manifesta o processo de construção do gênero nas aulas de Educação Física Infantil. A
metodologia foi de cunho fenomenológico com caráter etnográfico. Participaram 44 crianças de ambos os sexos de 5 a 7 anos,
cursando a Classe de Alfabetização, de duas escolas distintas da Zona Sul do Rio de Janeiro. Os instrumentos foram a observação,
o diário de campo e uma entrevista estruturada. Foi também alvo de investigação, o professor de Educação Física de cada escola.
Os dados reportaram-se à análise de discurso e apontaram que as crianças apresentavam comportamentos generificados, entretanto
mais acentuadamente entre os alunos da escola particular. Esse aspecto foi evidenciado pela constatação de: a) maior resistência em
participar das aulas mistas; b) domínio dos meninos no espaço escolar; c) desprezo às meninas; d) atividades sexualmente estereotipadas. Concluímos que a prática pedagógica diferenciada dos dois professores foi o provável gerador das diferenças encontradas.
Palavras-chave: gênero, educação física, educação infantil, escola.
Abstract
The major goal of this study was to identify how gender affected progress in Physical Education. The methodology used was
the phenomenological paradigm of ethnologic character. For this study, 19 children of both sexes were chosen, between the ages of
5 to 7 years old, half from a public school and the other half from a private school. Both samples came from the south zone of
Rio de Janeiro. We used as tools, the observation, the field diary and structured interview. The data concerning the speech analysis
indicates that the children already showed generic behavior according to sex. However, the students of private school did reveal the
strongest elements of difference between boys and girls. These aspects were perceived through a) the resistance of these students to
Artigo recebido em 28 de março de 2006; aceito em 15 de maio de 2006.
Endereço para correspondência: Simone Carillo Martins, Av. Afonso Arinos de Melo Franco, 191/402, 22631-455 Rio
de Janeiro RJ, Tel: (21) 9856-5997, E-mail:[email protected]
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participating in mixed classes, b) by the masculine control by the boys of the school’s space, c) disdain of boys toward the feminine
group, d) stereotyped activities regarding the sex!. We have concluded that the distinct pedagogic practice of the two Physical Education teachers was the generator of the discovered differences.
Key-words: gender, physical education, elementary school.
Introdução
Na história da humanidade, observa-se a tendência geral de ver e explicar o ser humano como sendo
composto de duas partes deferentes e separadas: o corpo
(material) e a mente ou alma (espiritual, consciente). Manuel Sergio [1] cita Platão e Descartes como importantes
filósofos que reforçaram a idéia dualista corpo-mente, que
predominou durante séculos no pensamento ocidental.
Na idade Média, a Igreja adapta os fundamentos
racionais do pensamento de Platão à teologia cristã.
O corpo é sinal de pecado e degradação, devendo ser
controlado por meio de jejum, da abstinência, das flagelações.
Foucault [2] escreve que um corpo dócil pode ser
submetido, utilizado, transformado e aperfeiçoado. Assim sendo, mais fácil de ser dominado. Essa dominação
ocorreu através de vários processos. Os primeiros foram
impostos pela violência física, pois o corpo representava
a decadência e a irracionalidade do espírito.
A partir do Renascimento e Idade Moderna começa
a se transformar a concepção de corpo: o componente
religioso deixa de ser o elemento preponderante, e a
natureza física e biológica do corpo humano passa a ser
objeto da ciência.
Na atualidade, questionamos: qual o uso que
fazemos desse corpo? Cabe a nós, profissionais que
trabalhamos com o movimento humano, escolher que
enfoque daremos ao corpo. Seria um corpo a serviço da
estética, da saúde, da produção, de recordes?
Articulando os pressupostos da Ciência da Motricidade Humana (CMH) com as idéias expostas vemos
que esses vêm ao encontro dos anseios desse Homem do
novo milênio. Nesse sentido, Manuel Sergio [1] afirma
que: “o homem é a complexidade, no meu pensar: em
movimento incessante à transcendência”.
Para Beresford [3] o objetivo da CMH seria um
corpo que engloba toda a sua complexidade: sentimentos,
pensamentos, sociedade, cultura, distanciando-se assim,
do reducionismo biológico. No entanto, pelo fato de
vivermos em uma sociedade sexista marcada por padrões
segregacionistas, a motricidade humana, por meio de suas
condutas motoras, tem se manifestado de modo desigual
pelos dois sexos.
O corpo feminino é formado a partir de uma construção cultural, social e histórica diferente da construção
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do corpo masculino; portanto, são construções generificadas. Scott [4] esclarece que o termo “gênero” torna-se
uma forma de indicar “construções culturais” – a criação
inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados
aos homens e às mulheres. A expressão recomenda um
distanciamento das categorias homem/mulher determinadas por características biológicas, e enfatizava o aspecto
relacional das definições normativas das feminilidades e
masculinidades.
Além dos papéis sociais, identificamos também as
relações de poder entre os sexos. Esse poder foi exercido
pelos homens em diferentes organizações sociais: no
mercado de trabalho, na educação, no sistema político
e finalmente nas relações familiares.
Para Kunz [5], desde o seu nascimento meninos e
meninas são educados de maneiras diferentes de acordo
com padrões estereotipados. Essas diferenças emergem
em várias características do indivíduo, entre as quais,
os modelos de comunicação (diferenciadas formas de
expressão mímica e gestual, como a expressão da alegria,
tristeza etc.); o pertencimento a grupos; os objetos de
uso cultural (diferentes brinquedos, diferentes acessórios
e cuidados corporais); jogos e funções sociais, como a
profissão e as brincadeiras; capacidades e habilidades
diferenciadas.
Apesar de significativas conquistas, por um lado, a
maioria das meninas ainda é educada para ser mãe e dona
de casa, e, por conta do mito da feminilidade, dela são
exigidos comportamentos como passividade, elegância,
sensibilidade e meiguice. Por outro, os meninos têm
mais liberdade para brincar, seus jogos são mais ricos em
relação ao aspecto motor, jogam bola, sobem em árvores
etc. Deles, não lhes é exigida contribuição significativa
no trabalho doméstico, e, conseqüentemente, ficam com
mais tempo livre para suas brincadeiras [6-11].
Sobre o assunto, Brougère [12] ressalta que existe
uma adequação cultural do brinquedo em relação ao sexo
da criança, sendo que o universo do brinquedo feminino
privilegia o espaço familiar da casa, enquanto o do masculino, o espaço externo, com brincadeiras ao ar livre.
Essas experiências diferenciadas propiciam a construção
do corpo generificado [6-13-14], em um processo que
inicia na família e chega ao espaço escolar.
Na escola e nas aulas de Educação Física esse tipo
de vivência reducionista é reproduzida, e isso fica claro
quando percebemos alguns detalhes aparentemente sem
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importância; a divisão de espaço para as brincadeiras, por
exemplo, resultando em uma maior área para os meninos,
enquanto as meninas ficam restritas a espaços menores.
Tecendo uma crítica sobre essa situação, Louro [15] ressalta
que: “A escola delimita espaços. Servindo-se de símbolos e
códigos, ela afirma o que cada um pode (ou que não pode)
fazer, ela separa e institui. Informa o lugar dos pequenos e
dos grandes, dos meninos e das meninas”. A autora, com
esse importante dado, remete-nos às relações de poder existentes no espaço escolar. Essas assertivas foram confirmadas
em pesquisas realizadas no âmbito escolar.
Verbena [16] constatou entre alunos da 7a e 8a séries, que o sexo feminino se sente e se vê sem privilégios
frente à prática esportiva durante as aulas de Educação
Física. Dutra [10] trabalhando com crianças de 3a e 4a
séries verificou que no entender das mesmas ainda há
preconceitos quanto às meninas jogarem futebol, ou
seja, ocuparem um espaço maior, o mesmo acontecendo
em relação aos meninos – participarem de brinquedos e
brincadeiras considerado próprio para as meninas – em
um espaço físico menor.
Entendemos que esse modelo de comportamento
segregacionista ainda é encontrado nas escolas evidenciado na conduta dos professores de Educação Física,
que não possuem uma visão igualitária de seus alunos.
Esse ponto de vista encontra apoio em Romero [6]
que, ao estudar estereótipos masculinos e femininos em
professores de Educação Física, concluiu que esses demonstravam atitudes e idéias discriminatórias segundo
o sexo de seus alunos, gerando um reforço de padrões
motores diferenciados e prejudiciais tanto aos meninos
quanto às meninas. Apesar destes resultados remontarem
aos anos noventa, tudo indica que na virada do século a
situação permanece.
Duarte [9] observou que os professores continuam
separando a classe segundo o sexo dos alunos, e os objetivos almejados ainda centram-se no rendimento e na
competição; como conseqüência as meninas com menor
habilidade revelaram sentirem-se discriminadas.
Lopes [17] assinala que as distinções de identidade
que atravessam as pessoas podem fazê-las similares de
algumas maneiras – no que se refere à sexualidade, por
exemplo – e diferentes em outras – no que se refere ao
gênero e à classe social, por exemplo.
Sendo assim, torna-se imperioso a reflexão sobre
gênero, corpo e relações de poder em diferentes realidades
socioeconômicas. Trilhando por esse caminho, buscamos
identificar como se manifesta o processo de construção
do gênero durante as aulas de Educação Física Infantil,
em uma escola de gestão pública e uma escola de gestão
particular, averiguando como as crianças aceitam e vivenciam as atividades físicas diferenciadas para meninos
e meninas propostas pelo professor (a) de Educação
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Física, e, finalmente buscando identificar como classe
social se intercruza com gênero nas aulas de Educação
Física dessas crianças.
Material e método
Empregamos uma metodologia inserida no paradigma fenomenológico, que vê o objeto de estudo de uma
maneira interpretativa, naturalista, ou seja, o fenômeno
no seu ambiente natural.
Os participantes foram crianças cursando a Educação Infantil, de ambos os sexos, com aproximadamente
6 anos de idade, matriculados na Classe de Alfabetização
(CA) de uma escola de gestão particular (19 alunos) e de
uma escola de gestão municipal (25 alunos),situadas na
Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Observamos também os professores de Educação Física de cada escola em
questão, uma vez que mediante suas práticas, as crianças
executariam as atividades por eles propostas.
A escolha por escolas de gestões e realidades distintas teve como finalidade observar possíveis diferenças
no que tange às relações de gênero em classes sociais
diferentes.
O estudo seguiu as normas da Resolução 196, de
10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde
[18], e de posse das autorizações devidamente assinadas
(TCLE) pelos responsáveis passamos à fase de coleta
dos dados. As observações ocorreram durante as aulas
de Educação Física e o recreio; essas foram registradas
no diário de campo. Posteriormente, em um segundo
momento, aplicamos uma entrevista estruturada em 10
alunos da escola particular e 9 da escola pública, totalizando 19 crianças entrevistadas, cujos dados reportaram-se
à Análise de Discurso de Orlandi [19].
Resultados e discussão
Debruçadas nas respostas obtidas, e servindo-nos
das observações, pudemos identificar quatro categorias
nos discursos produzidos pelas crianças.
Aulas mistas. O que querem as crianças?
Percebemos que os alunos da escola particular
apresentavam mais resistência a este tipo de aulas, pois,
quando indagados se gostavam de fazer aulas de Educação
Física com o sexo oposto, a maioria respondeu “mais
ou menos”. Por outro lado, na escola pública a maioria
dos alunos respondeu que “sim”, ou seja, eles gostam de
fazer aula de Educação Física mista.Os exemplos desta
realidade ilustram nossa interpretação: “isso eu odeio,
porque é chato, é feminino.” (menino); “mais ou menos,
eu não gosto de menina.” (menino).
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Na seqüência da análise, quando perguntamos se na
aula de Educação Física eles preferiam brincar no grupo
formado por colegas do mesmo sexo ou do sexo oposto,
das dezenove crianças entrevistadas, dezoito responderam
que preferem ficar no grupo do mesmo sexo. Somente uma
menina da escola de gestão particular respondeu diferente
dos demais dizendo: “ah, não importa, né, é jogo, às vezes ele
(o professor) mistura, às vezes sou um pouco dos meninos, às
vezes sou das meninas, a brincadeira que a gente joga mais é
meninos e meninas.” (menina, escola particular).
As observações realizadas também nos levam para
esse caminho. Nas aulas da escola pública em nenhum
momento meninos ou meninas reclamaram das atividades propostas e realizadas. Os meninos brincaram de
roda, cantaram e pularam corda. Às vezes percebíamos
algum constrangimento, mas nunca a recusa.
Em contra partida, nas aulas da escola particular,
várias vezes as meninas, durante o jogo de futebol, encostavam-se na parede recusando-se a jogar. Elas sempre
eram a minoria nos times, e eram vistas como intrusas
em um jogo de meninos.
Relações de poder
Foucault [2] sublinha a importância de observarmos
com um olhar mais atento a normalização cotidiana, continuada, naturalizada, como formas de repetir e reforçar as
relações de poder entre os sexos. No caso da presente pesquisa, uma das maneiras de relação de poder demonstrada
pelos meninos foi o visível desrespeito por tudo que está
relacionado ao mundo feminino. Lopes [17] atribui esse
desprezo pelo mundo feminino a uma etapa da construção
da masculinidade, ou seja, os meninos procuram expelir a
feminilidade de dentro deles mesmos com a finalidade de
validar a sua masculinidade, que é construída por meio de
um processo permanente de embates e confirmação.
Essa idéia ganha consistência nas falas dos respondentes do sexo masculino, ambos da escola particular:
“isso eu odeio, porque é feminino [risadas].”, “sei lá, ficam
brincando de bonequinha, sei lá [risada].”.
Durante a observação, presenciamos um momento
em que a masculinidade de dois alunos estava sendo
avaliada. Em uma competição de cabo-de-guerra, uma
equipe masculina perdeu a disputa e os integrantes não se
conformaram com a derrota. Num primeiro momento,
acusaram o professor de ter beneficiado o outro time;
depois de muita discussão finalmente, ofereceram R$
1.000,00 ao mestre se ganhassem uma segunda chance.
A divisão do espaço escolar
O espaço físico e a restrição à sua utilização foi uma
subcategoria identificada, que mais uma reforça o poder
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exercido pelos meninos. Nas duas realidades pesquisadas,
pudemos averiguar que os espaços escolares são ocupados
obedecendo a regras não-oficiais, mas de difícil transposição. Meninos e meninas sabem exatamente onde podem
brincar na hora do recreio.
Conforme aponta Louro [15] a escola distribui os
espaços entre os pequenos e os grandes; entre os meninos
e meninas. Os resultados aqui encontrados indicam que
os maiores espaços ficam “naturalmente” designados aos
meninos, que os usam para brincadeiras como piques e
futebol, como denunciam duas meninas das diferentes
realidades escolares: “Eles sempre jogam bola.” (escola
particular), “[...] às vezes a gente vai brincar lá na quadra, mas não tem ninguém, só tem gente jogando futebol.”
(escola pública).
As meninas ficam restritas a pequenos espaços, ou
porque não enfrentam os meninos ou porque, como
aponta a literatura, suas brincadeiras são mais calmas e
acontecem no espaço familiar da casa [10-12,16].
As observações permitiram-nos verificar que, durante as brincadeiras não-conduzidas, as meninas ficam
agrupadas em seus pequenos “redutos” e, mesmo assim,
eventualmente são interrompidas pelos meninos, que
exigem mais espaço.
Durante as aulas de Educação Física, essa dominação do espaço físico pelos meninos é mais sutil. Nos
dois ambientes escolares, vimos que as aulas acontecem
com todas as crianças ocupando o mesmo espaço. Mas,
na escola de gestão particular, em que as meninas são
minoria, percebemos que em algumas ocasiões as meninas ficaram prejudicadas, pois enquanto os meninos se
apoderam da maior parte do espaço físico, as meninas
ficam restritas aos cantos do pátio.
Atividades estereotipadas
Outra categoria que emergiu no discurso dos
informantes, sendo reforçada pelas observações, foi a atividade física estereotipada. Há uma diferença na escolha
de brincadeiras e jogos quando falamos em Educação
Física e recreio. Desta categoria surgiram indicadores que
apontaram para duas subcategorias: atividade dirigida e
atividade espontânea.
Atividade dirigida
Ao questionarmos sobre as preferências por brincadeiras nas aulas de Educação Física, sete crianças da escola
de gestão particular responderam que gostam de brincar
de pique, brincadeira esta que, segundo Passini [8] e
Dutra [10], é considerada pelo senso comum adequada
para ambos os sexos. Somente um menino respondeu
futebol, que, de acordo com a autora, é, ainda nos dias
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de hoje, considerada uma brincadeira mais indicada para
o sexo masculino.
Na escola de gestão pública, seis crianças também
escolheram brincadeiras próprias aos dois sexos, duas responderam não ter predileção por nenhuma brincadeira e
um dos meninos respondeu que gosta de pular corda nas
aulas de Educação Física. Esse modelo de conduta é chamado por Louro [15] como “cruzamento de fronteiras”, ou
seja, situações em que as fronteiras ou os limites entre os
gêneros são atravessados, pois pular corda é culturalmente
uma atividade controlada pelas meninas.
Observamos que durante as aulas de Educação Física ainda existe alguma resistência por parte dos alunos em
participar de atividades que esses consideram apropriadas
para o sexo oposto. Este dado nos conduz a uma reflexão
direcionada à prática pedagógica, no que diz respeito
grande prejuízo motor que modelos de condutas estereotipados podem causar às crianças. Culturalmente, por
meio de padrões sexistas, algumas vezes nossos meninos
são limitados à prática de um único esporte - neste caso
o futebol. Com essa restrição perdem ambos, porque não
experimentam novas vivências motoras.
Atividades espontâneas
Perguntamos do que brincavam meninos e meninas
no recreio (atividade espontânea), e nesse momento, foram identificadas quase que na totalidade das respostas as
brincadeiras generificadas, nas quais um sexo não brinca
com o outro: “Brincadeira de agarrar e de futebol, a gente
fica trocando adesivo.” (menina – escola particular).
Estes dados nos permitem inferir que, no recreio,
quando a criança tem o poder de escolha, meninos e
meninas fazem opções generificadas a partir de modelos
sociais vigentes. No recreio já está estabelecido o local
em que cada criança pode brincar, qualquer “cruzamento
de fronteiras” torna-se difícil. As brincadeiras escolhidas
por meninos e meninas, na hora do recreio, obedecem ao
senso comum, o que encontra respaldo nos estudos de
Toscano, Passini, Dutra e Spinelli [7,8,10,11], quando
apontam que luta e futebol ainda aparecem como brincadeiras apropriadas para o sexo masculino, ao passo que
boneca e casinha, são para o sexo feminino.
As observações centradas na figura do professor de
Educação Física denotam sua participação e interferência
pedagógica nas relações de gênero, ou seja, o seu papel
na edificação dessas relações.
Quando falamos sobre transformação, transposição
e quebra de estereótipos dentro da escola, temos que
destacar o importante papel que o professor de Educação
Física pode desempenhar como agente transformador. No
presente estudo, o olhar atento aos dois professores de
Educação Física, em cada uma das realidades estudadas,
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instigou-nos a melhor avaliar a influência que cada um
deles exerce sobre seus alunos.
Nosso olhar sobre o professor da escola de gestão
pública estudada
O professor de Educação Física da escola pública,
observado em quatro meses, denotou uma visão mais
igualitária de seus alunos. Em nenhum momento durante as aulas ele separou meninos e meninas em grupos
distintos; ao contrário, procurava sempre formar duplas
ou grupos mistos.
Suas aulas eram direcionadas para toda a turma, e
não o observamos destacar um ou mais alunos para serem
capitães de jogos e brincadeiras. Percebemos também
que ele pouco usava da competição entre as crianças. Os
exercícios constituíam-se sempre de brincadeiras sem um
vencedor. Sobre o aspecto afetivo, apresentava-se sempre
muito carinhoso com as crianças; começava e terminava
as aulas cantando canções infantis, ou então finalizava
conversando com as crianças sobre o fim de semana ou
sobre as férias.
Esse perfil de professor pode ser a explicação de os
alunos da escola pública aceitarem melhor as aulas mistas
e não manifestarem desrespeito ao sexo feminino.
Nosso olhar sobre o professor da escola de gestão
particular estudada
Durante as observações das aulas de Educação
Física da escola de gestão particular, pudemos apurar
um perfil completamente diferente do profissional da
escola pública.
Em quase todos os momentos da aula, os meninos
e as meninas eram separados para as brincadeiras e jogos.
As aulas eram extremamente competitivas e sempre eram
escolhidos capitães para comandar o grupo.
Toda vez que eram realizadas competições individuais tais como corrida, saltos e arremessos, os meninos
competiam entre si, o mesmo acontecendo com as
meninas, havendo assim um campeão masculino e uma
campeã feminina.
Esse comportamento sexista e tecnicista pode ser
um dos motivos que fizeram com que os alunos da escola
particular apresentassem maior resistência à participação
das aulas de Educação Física com o sexo oposto.
Olhando esse pequeno núcleo em que foi centrado
este estudo, podemos inferir que ainda hoje existem
professores de Educação Física como os encontrados na
pesquisa de Romero [6]. A conformidade com a “naturalidade” parece ser o maior obstáculo para as mudanças de
conduta, pois isso implica disposição e capacidade para
interferirmos nos jogos de poder.
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Os professores aprendem esse modelo de conduta
no Ensino Superior, e o repetem posteriormente em toda
a sua vida docente, reforçando estereótipos adquiridos e
dando continuidade a dicotomias sexuais.
Avançando na análise dos dados, destacamos
outra categoria, que diz respeito à experiência corporal
generificada.
A experiência corporal generificada
A literatura apontou que vários modelos de corpos
foram construídos ao longo da história da humanidade.
Em diferentes épocas definiu-se o modelo corpóreo dos
indivíduos de acordo com os valores, as exigências e os
interesses de projetos elaborados pela classe dominante.
Nesse processo, homens e mulheres formaram e sofreram
o processo de generificação.
O senso comum aceitava melhor quando um menino apresentava-se violento, rebelde e indisciplinado. Nos
dias de hoje, apesar de alguma evolução, ainda encontramos corpos sendo moldados de acordo com padrões
sexistas apropriados para um e outro sexo.
Neste estudo pudemos captar esse procedimento
diferenciado entre meninos e meninas: o corpo feminino
é educado para que seus movimentos sejam contidos; aos
meninos é permitida uma atitude violenta e agressiva,
às vezes entendida como processo de construção da
masculinidade.
Mediante as observações, notamos que os meninos,
na sua maioria, estavam sempre empurrando, chutando,
batendo uns nos outros. Presenciamos algumas meninas
tendo a mesma conduta, mas esse fato era raro.
Tanto na escola pública quanto na particular, percebemos que a brincadeira de luta faz parte da rotina dos
meninos, como relatou uma das meninas:“eles brincam
de guerra.” (escola particular).
Nas respostas das crianças encontramos apoio
à idéia de que as meninas se apresentam mais dóceis,
delicadas e disciplinadas, o que foi observado também
por um dos participantes da escola pública: “[...] elas são
comportadas, boazinhas, emprestam as coisas pros outros.”
Os resultados estão de acordo com a literatura estudada
[6-13-14].
Conclusões
Nossa intenção foi identificar como se manifesta
o processo de construção do gênero durante as aulas de
Educação Física na Educação Infantil, em uma escola
de gestão pública e em uma escola de gestão particular.
Assim sendo, identificamos elementos generificados
que traduziram e clarificaram o processo de construção do gênero nas escolas pesquisadas. Partindo das
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observações das aulas de Educação Física e durante o
recreio, e com base na análise do discurso das crianças
entrevistadas, pudemos constatar que as relações de
gênero apareceram de maneiras diferentes nas duas
realidades estudadas.
Os dados desvelaram que os alunos da escola particular apresentaram maior resistência em participar das
aulas de Educação Física com os colegas do sexo oposto.
Quanto às relações de poder entre os sexos, pudemos
constatar que as crianças da escola particular apresentaram uma postura mais estereotipada. Este dado foi
confirmado quando presenciamos a restrição do espaço
escolar e o desrespeito ao grupo feminino por parte dos
meninos.
Comparando nosso estudo com pesquisas anteriores como as de Toscano, Duarte e Verbena [7,9,16],
constatamos um avanço, pois durante as aulas de Educação Física todas as atividades propostas pelos professores
eram dirigidas e realizadas por meninos e meninas no
mesmo tempo e espaço.
Nas aulas da escola particular, pudemos presenciar
que a postura do professor de Educação Física era introduzir conteúdos que privilegiassem o desempenho físico,
o que despertava mais desmotivação das crianças que
não se enquadravam no padrão motor desejado. Assim,
independente do sexo, algumas crianças se recusavam a
participar de tais atividades, pois eram rejeitadas pelos
colegas.
Pudemos inferir que, mesmo com a forte influência do meio em relação às atividades físicas, quando as
crianças são levadas obrigatoriamente a brincarem juntas,
como acontece nas aulas de Educação Física, elas acabam
por participar de brincadeiras consideradas adequadas
para ambos os sexos.
Esse dado tem estreita relação com o perfil diferenciado dos dois professores de Educação Física, que seguramente contribuíram para as diferenças encontradas.
O professor da escola particular separava as crianças por
sexo, estimulava a competição e direcionava as atividades
para atender os anseios dos meninos.
Vale destacar mais uma vez o grande papel do professor de Educação Física como agente de transformação
social, com a incumbência de desmistificar as diferenças
e não hierarquizar os alunos segundo o sexo biológico.
O professor deve permitir que ocorram situações de conflito nas aulas de Educação Física, para que as crianças
percebam que são diferentes; mas que essa diferença não
dê origem à discriminação.
Os dados aqui revelados sinalizam para a importância de se discutir o gênero em direção a uma
educação conjunta a serviço de um corpo que pensa
e constrói sua motricidade, um homem/mulher que
transcende!
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Referências
1. SERGIO, M. Um corte epistemológico: da educação física à
motricidade humana. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
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ARTIGO ORIGINAL
Avaliação antropométrica de crianças
praticantes de atividades físicas
de um clube de São Paulo
Anthropometric assessment of children performing physical
activities in a club of São Paulo
Carolina Borges Duarte*, Fernanda Dias de Souza*, Marcia de Araujo Leite Nacif**
*Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, ** Docente do Centro Universitário São Camilo –
Supervisora do Estágio em Instituições Diferenciadas – ATTENDE ESPORTES - São Paulo
Resumo
Objetivo: O estudo teve por objetivo realizar a avaliação antropométrica de crianças de 3 a 10 anos praticantes de atividade
física de uma Escola de Esportes de um clube de São Paulo. Métodos: Realizou-se a avaliação de peso, estatura, circunferência do
braço, dobra cutânea biciptal, triciptal e subescapular. O índice de massa corporal foi avaliado de acordo com as curvas propostas
pelo NCHS e a porcentagem de gordura (crianças maiores de 7 anos) foi calculada pela equação de Slaughter et al. e classificação de
Deuremberg et al., respectivamente. Resultados: Observou-se que 58,1% das crianças estavam eutróficas e 62% com a porcentagem de
gordura adequada. Conclusão: Como foram encontrados alguns casos de excesso de peso e gordura corporal, enfatiza-se a necessidade
de um diagnóstico nutricional mais aprofundado e implantação de um programa de educação nutricional para as crianças.
Palavras-chave: avaliação antropométrica, crianças, atividade física.
Abstract
Objective: To carry out an anthropometric assessment of children from 3 to 10 years old performing physical activity in a School
of Sports of a club of São Paulo. Methods: It was made the assessment of weight, stature, arm circumference, bicipital, tricipital and
subscapular skinfolds. The body mass index was evaluated according to NCHS standards and the fat percentage (children over 7
years old) was calculated by Slaughter et al. equations and Deuremberg et al. classification, respectively. Results: It was observed that
58,1% of children were eutrophics and 62% with adequate fat percentage. Conclusion: As it was found some cases of excess of weight
and fat mass, it is need a deeper nutritional diagnosis and implantation of a nutritional education program for the children.
Key-words: anthropometric assessment, children, physical activity.
Artigo recebido em 13 de abril de 2006; aceito em 15 de maio de 2006.
Endereço para correspondência: Carolina Borges Duarte, R. Resedá, 249, Jd das Flores, 06120-150 Osasco SP, Tel:
3683-7052/7416-8505, E.mail: [email protected]
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Introdução
A participação da criança em atividades esportivas
é parte importante do processo de crescimento e desenvolvimento. Além de prevenção de diversas enfermidades,
tais como obesidade, diabetes, hipertensão, o exercício
físico também oferece à criança a oportunidade para o
lazer, a integração social e o desenvolvimento de aptidões
que levam a uma maior auto-estima e confiança [1].
Estudos mostram que a prática de atividade física
pelas crianças está relacionada com a de seus pais, ou
seja, quando os pais são praticantes de atividade física, as
crianças apresentam índice de atividade 5,8 vezes maior
do que aquelas filhas de pais inativos, demonstrando a
grande influência que os pais tem no estilo de vida dos
filhos [2].
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
citados por Chaves e Camargo [3], já apontam para
uma prevalência de 27% de obesidade infantil nos países
desenvolvidos e subdesenvolvidos nos últimos 5 anos,
representando um problema de Saúde Pública. Um
estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística IBGE (1998) citado por Paiva [4] informa
que, dos 35 milhões de adolescentes brasileiros (10-19
anos), 30% encontra-se com obesidade.
Movidos por esses dados, especialistas da área da
saúde apresentaram uma proposta ao Ministério da Educação, Cultura e Desporto, para aumentar o tempo das
aulas semanais de educação física e reavaliar os lanches
vendidos nas escolas, que são à base de refrigerantes e
frituras [2]. Paiva [5], alerta o interesse dos jovens sobre a
preferência desenfreada pelo computador, videogame, controle remoto, automóvel e telefone sem fio, criando uma
geração de sedentários. O tempo utilizado pelas crianças
e adolescentes na frente da televisão é o principal fator de
aumento da quantidade de gordura corporal [2].
Uma das principais preocupações durante a infância
e a adolescência é garantir que o crescimento e o desenvolvimento esperados sejam alcançados. O treinamento
físico regular, ou mesmo o envolvimento em atividades
físicas relativamente moderadas do dia-a-dia, junto a outras variáveis ambientais, influi para obtenção do padrão
de crescimento geneticamente determinado [6-7].
Uma das formas de avaliar o crescimento e desenvolvimento de crianças é por meio da antropometria. A
antropometria é um método dinâmico, universalmente
aplicável, não invasivo e de baixo custo, através do qual
pode-se avaliar a saúde e a nutrição de um indivíduo ou
de um grupo populacional, prevendo o desempenho
desse grupo, refletindo em boas condições de saúde e
nutrição dessa população [8].
A avaliação antropométrica ocupa-se das dimensões
e proporções corporais do homem e envolve a avaliação
Acao Mov_.indb 60
do peso, estatura, dobras cutâneas, circunferências, perímetros e segmentos [9].
Assim, o presente estudo teve por objetivo realizar
a avaliação antropométrica de crianças de 3 a 10 anos
praticantes de atividade física de uma Escola de Esportes
de um clube de São Paulo.
Materiais e métodos
Foi realizado um estudo transversal em um clube
particular do município de São Paulo no período de
fevereiro a março de 2006. Foi avaliada uma amostra
composta por 84 crianças, com idade entre 3 e 10 anos, 49
do sexo masculino e 35 do sexo feminino, que praticavam
atividade física (jogos diversos) duas vezes por semana em
uma Escola de Esportes de um clube de São Paulo.
Foi realizada uma avaliação antropométrica, em que
foram coletados os dados de peso (Kg), estatura (cm),
circunferência do braço (cm), dobra cutânea tricipital
(mm), dobra cutânea bicipital (mm) e dobra cutânea
subescapular (mm).
Os avaliados foram pesados sem sapatos, com o uniforme de ginástica (camiseta e shorts), sem nada nos bolsos, em
balança eletrônica de marca Filizola. Foi verificada a estatura
através de uma fita inelástica da marca Lufkin, afixada a uma
tábua de madeira reta, lisa sem saliências; permanecendo os
avaliados em posição reta, com os pés juntos e cabeça posicionada em um ângulo de 90º com o pescoço.
As dobras cutâneas foram medidas com plicômetro
da marca Cescorf e a circunferência do braço foi medida
com uma fita métrica inelástica da mesma marca, sempre
do lado direito do corpo seguindo os padrões de Lohman
et al. [10].
O índice de massa corporal (IMC) foi calculado através
da fórmula peso corporal (kg)/estatura2(m). Neste estudo
foram estabelecidos como pontos de corte para determinação
de eutrofia valores de IMC > p5 e < p85, sobrepeso valores de
IMC ≥ percentil 85 e < percentil 95. Por outro lado, valores
de IMC ≥ percentil 95 foram utilizados como indicadores
de obesidade. Como padrão de referência foram adotadas as
curvas de crescimento do National Center for Health Statistics
(NCHS) [11], revisadas recentemente (http://www.cdc.
gov/growthcharts), de acordo com o sexo e a idade.
O percentual de gordura (% gordura) foi calculado
a partir das equações propostas por Slaughter et al. [12]
para as crianças maiores de 7 anos e avaliado de acordo
com a referência de Deuremberg et al. [13].
Os dados coletados foram analisados segundo as
medidas de tendência central (média, desvio padrão),
com o auxílio do programa Excel MS Office.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo por
meio do documento COEP 047/05.
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Resultados
Foram avaliadas 84 crianças, sendo 49 (58,3%) do
sexo masculino e 35 (41,7%) do sexo feminino. A média
de idade encontrada entre as crianças foi de 5,1 anos,
sendo 4,7 anos nos meninos e 5,1 anos nas meninas.
A Tabela I mostra detalhadamente os resultados
obtidos na avaliação antropométrica realizada com as
crianças.
Tabela I - Distribuição das medidas antropométricas das crianças de um clube do município de São
Paulo. São Paulo, 2006.
Masculino (49) Feminino (35)
Peso (Kg)
21,8 + 5,6
22,7 + 7,2
Estatura (cm)
113,1 + 9,6 114,1 + 11,9
IMC (Kg/m2)
16,8 + 2,0
17,0 + 2,4
Circunferência braço (cm) 18,0 + 2,1
18,3 + 2,7
Biceps (mm)
5,0 + 1,4
5,1
+ 1,5
Triceps (mm)
9,7 + 2,4
9,9
+ 2,7
Subescapular (mm)
5,3 + 2,8
5,7
+ 3,5
% Gord slaughter*
17,5 + 6,4
19,6 + 6,5
* Para crianças maiores de 7 anos
Média + desvio-padrão
A Figura 1 mostra a classificação do estado nutricional das crianças pelo IMC. Verificou-se a predominância
do estado nutricional de eutrofia (IMC ≥ p5 e < p85 da
curva do NCHS) em ambos os sexos. No sexo masculino verificou-se 59,2% (n = 29) de eutróficos e no sexo
feminino 60,0% (n = 21). Observou-se que de acordo
com o NCHS a maioria das crianças do sexo feminino
se concentrou entre os percentis p50-p75 e entre os
percentis p25-p50 no sexo masculino.
Figura 1 - Classificação do estado nutricional pelo
IMC, das crianças de um clube do município de
São Paulo. São Paulo, 2006.
Acao Mov_.indb 61
Verificou-se também uma certa porcentagem de
crianças com risco de excesso de peso, no sexo masculino
(22,4%, n = 11) e (16,3%, n = 8) e no sexo feminino
(22,9%, n = 8) e (14,3%, n = 5), respectivamente.
Tabela II - Distribuição das crianças maiores de
7 anos segundo a porcentagem de gordura. São
Paulo, 2006.
Classificação % Gordura Deurenberg
Masculino
N
%
Excessivamente baixa 0
0,0
Baixa
1
14,3
Adequada
5
71,4
Moderadamente alta 0
0,0
Alta
1
14,3
Excessivamente alta
0
0,0
Total
7
100,0
Feminino
N
%
0
0,0
0
0,0
3
50,0
2
33,3
1
16,7
0
0,0
6
100,0
A Tabela II mostra a distribuição das crianças
maiores de 7 anos segundo a porcentagem de gordura.
Observou-se que a maioria das crianças estava com a
porcentagem de gordura adequada segundo classificação
de Deuremberg et al. [13]. No sexo feminino verificou-se duas crianças com a porcentagem de gordura
moderadamente alta e uma com estes valores elevados.
No sexo masculino, apenas uma criança estava com alta
porcentagem de gordura.
Discussão
O peso e a estatura são as duas medidas mais
comumente usadas para a avaliação antropométrica
de crianças. O peso corporal é uma medida de massa
corporal, composta de tecidos de variações independentes. A estatura é uma mensuração linear da
distância do chão, ou superfície de apoio, até o topo
do crânio [14].
O cálculo indireto da composição corporal, por
meio da mensuração da gordura subcutânea das dobras
cutâneas, é o método mais utilizado em pesquisas devido
a sua praticidade. A base lógica para mensuração das dobras cutâneas, reside no fato de existir uma relação entre
a gordura localizada nos depósitos diretamente debaixo
da pele e tanto a gordura interna quanto a densidade
corporal [15-16].
Dados da Tabela II mostram que a maioria das
crianças estudadas, de ambos os sexos (62%), apresentara porcentagem de gordura adequada, porém algumas
crianças foram classificadas de acordo com Deuremberg
et al. [13] como tendo porcentagem de gordura moderadamente alta e alta.
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Estes indicadores de adiposidade, bem como as
taxas de prevalência de obesidade, como o avançar da
idade, tanto em meninos quanto em meninas, sugerem
que esse comportamento possa ainda ser mais agravado
na adolescência e na idade adulta. Esse fato fortalece a
hipótese de que um adolescente obeso possa ser identificado ainda na infância [17].
Segundo resultados visualizados na Figura 1, podese observar que a maioria das crianças estudadas de ambos
os sexos foi classificada como eutróficas em relação ao
IMC, segundo referência proposta pelo NCHS [11]. No
entanto, verificou-se 16,3 % de excesso de peso, no sexo
masculino e 14,3 % no sexo feminino.
Dados semelhantes aos do presente estudo foram
encontrados na pesquisa de Ronque [17] ao analisar
o estado nutricional de 511 escolares do município
de Londrina (PR). Verificou-se que a prevalência de
obesidade em meninos e meninas foi de 17,5% e 9,3%
respectivamente.
De acordo com o estudo de Silva et al. [18] a
prevalência de sobrepeso e obesidade é mais comum
nos indivíduos de melhor condição socioeconômica,
concentrando-se na infância e diminuindo à medida que
ocorre aumento da faixa etária.
Observa-se que mesmo nas crianças que praticam
atividade física, encontrou-se valores relacionados ao
excesso de peso. Estudos indicam que atualmente crianças
apresentam maior quantidade de gordura corporal do que
os seus pares de gerações passadas. Este fato pode estar
associado a inúmeras causas, dentre as quais se destaca
o aumento do balanço energético e hábitos alimentares
inadequados [18].
Conclusão
Os resultados deste estudo mostram que a maioria
das crianças tinha valores de normalidade quanto ao IMC
e porcentagem de gordura. Todavia vale ressaltar que
foram encontrados alguns casos de sobrepeso e excesso de
peso nas crianças avaliadas, embora fossem praticantes de
atividade física. Em virtude disso enfatiza-se a necessidade
de implementação de programas de reeducação alimentar
e de prática de atividade física relacionados à promoção
da saúde nesta faixa etária.
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10/8/2006 16:27:34
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ARTIGO ORIGINAL
Efeitos do treinamento de ginástica localizada
e hidroginástica nos níveis de força
e no VO2 de praticantes de academia
Effects of workout and aquatic gymnastic training
in muscle strength and VO2 levels of those who
practice gym at a fitness center
Simone de Assumpção Belém*, Ana Cristina Lopes y Glória Barreto **, Roberto de Carvalho Pável,
D.Sc.*** Jefferson da Silva Novaes, D.Sc.****
*
Mestrado em Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH-UCB-RJ, ** Laboratório de Biociências da Motricidade Humana
– LABIMH-UCB-RJ, ***Universidade Gama Filho-UGF-RJ*** Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Bolsista da
FUNADESP
Resumo
O treinamento em hidroginástica e ginástica localizada tem atraído cada vez mais adeptos nas academias de ginástica. No
entanto, pouco se sabe sobre seus efeitos nos níveis de força e resistência aeróbica de seus praticantes. Sendo assim, este estudo
objetivou comparar os níveis de força e de VO2 entre mulheres não atletas praticantes de Ginástica Localizada e Hidroginástica. A
amostra foi composta por 34 mulheres voluntárias, praticantes de ginástica localizada (GL n = 17) e hidroginástica (GH n = 17)
com idades entre 46,29 ± 4,67 e 49,53 ± 4,69 anos respectivamente, em academias da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Os
sujeitos deveriam estar em treinamento a não menos que seis meses e não poderiam praticar os dois tipos de atividade simultaneamente. Foram utilizados os testes de dinamometria lombar e de membros superiores (mão) para a mensuração da força, além do
teste em cicloergômetro com análise direta de gases para a mensuração do VO2. Os resultados obtidos na dinamometria lombar e
de membros superiores apresentaram valores médios maiores no grupo GL. Em relação aos resultados obtidos no teste de VO2, o
grupo GH apresentou valores médios superiores. No entanto, em ambos os testes, os valores não foram estatisticamente significativos.
Os dados sugerem que programas de treinamento em ginástica localizada e hidroginástica parecem apresentar efeitos semelhantes
sobre a força e a resistência aeróbica.
Palavras-chave: ginástica localizada, hidroginástica, força, resistência aeróbica.
Artigo recebido em 29 de junho de 2006; aceito em 03 de julho de 2006.
Endereço para correspondência: Luiz Alberto Batista, Laboratório de Biomêcanica, Instituto de Educação Física e
Desportos, Pavilhão João Lyra Filho, bloco F, sala 8122, Rua Francisco Xavier, 524, Maracanã – 20550-900 Rio de Janeiro
RJ
Acao Mov_.indb 64
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Abstract
This study aims to verify the effects of workout and aquatic gymnastic training in muscle strength and VO2 levels of those
who practice gym at a fitness center. A 34 adult women sample was studied, being 17 of them who practiced workout (GL) and
17 who practiced aquatic gym (GH). They aged between 46,29 ± 4,67 and 49,53 ± 4,69 respectively, all of them located in the
east zone of the Rio de Janeiro city. The participants had to be in, at least, six months of training and also should not be training
both activities simultaneously. The instruments used for the muscle strength measure were hand dynamometer and lumbar dynamometer. The VO2 was determined by use of a cycle ergometer exercise protocol. The results indicate that the medium values for
hand dynamometer and lumbar dynamometer were higher for the workout group, while for VO2 the medium values were related
higher for the aquatic gym group. However, even though the differences existed, those were not statistically significant. The results
were taken as providing evidence for the notion that both, workout and aquatic gymnastic programs can promote similar effects
in muscle strength and aerobic resistance.
Key-words: workout, aquatic gymnastic, strength, aerobic resistance.
Introdução
A aptidão física e a qualidade de vida dos indivíduos têm sido uma das grandes questões do mundo
contemporâneo. Os índices de boa saúde e boa qualidade
de vida envolvem o controle dos parâmetros de aptidão
física como condicionamento cardiopulmonar, flexibilidade, percentual de gordura corporal, força e resistência
muscular localizada [1-3].
Força é a quantidade de força que um músculo ou
que um grupo muscular consegue gerar. Seu treinamento
melhora o desempenho tanto do atleta profissional como
o amador, quando aumenta o volume muscular (hipertrofia) e a densidade mineral óssea, além de influenciar
positivamente na manutenção do metabolismo basal
ajudando a controlar o peso corporal do indivíduo e na
manutenção da saúde integral tanto na juventude quanto
em idades mais avançadas [4-6].
Resistência aeróbica (VO2) é a capacidade de absorver, em um ritmo rápido, o oxigênio dos pulmões e
transportá-lo na maior quantidade possível por unidade
de tempo, até chegar aos grupos musculares envolvidos
na atividade física em execução, assegurando as trocas
gasosas e nível celular. Cada pessoa tem uma possibilidade máxima de aproveitar o oxigênio, sendo esta uma
capacidade genética, habitualmente não aproveitada ao
máximo, mas que o treinamento contribui para o alcance
do seu limite [5,7-9].
A busca por um estilo de vida mais saudável e por
um corpo mais bonito tem levado uma grande parcela da
sociedade a procurar as academias de ginástica. Nelas se
recebe orientações a respeito do condicionamento físico
e da prática sistemática das atividades físicas [1].
Dentre as atividades praticadas nas academias estão
a Ginástica Localizada, caracterizada por uma atividade
gímnica composta preferencialmente por exercícios localizados – analíticos [10], e a Hidroginástica, que tem
como definição uma atividade física espontânea e cons-
Acao Mov_.indb 65
ciente executada na água, aproveitando suas qualidades
e propriedades, visando complementar e aperfeiçoar o
homem em todas as suas dimensões [11].
No entanto, a idéia que se tem é a de que exercícios
dentro d’água não promoveriam a resistência necessária
para o desenvolvimento da força muscular devido à carência de equipamentos apropriados e a dificuldade na
determinação da sobrecarga, dentre outras variáveis [1215]. Além disso, pouco se sabe sobre o desenvolvimento
da resistência aeróbica na prática da ginástica localizada.
Devido aos seus exercícios mais localizados, tende-se a
concluir que esta qualidade física pouco se desenvolve
com este treinamento [16].
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar
os efeitos do treinamento da ginástica localizada e da
hidroginástica nos níveis de força e de VO2 em praticantes de academia do sexo feminino com idades entre
40 e 55 anos.
Material e métodos
O estudo, do tipo descritivo, selecionou 34 mulheres voluntárias praticantes de atividades em academias
da cidade do Rio de Janeiro, sendo n = 17 de ginástica
localizada (GL = 46,29 ± 4,67 anos) e n = 17 de hidroginástica (GH = 49,53 ± 4,69 anos). Para o desenvolvimento dessa investigação, utilizou-se como critério de
inclusão a prática regular nas atividades por, no mínimo,
seis meses, não podendo os sujeitos estarem praticando
os dois tipos de atividade simultaneamente ou qualquer
outra atividade que envolvesse o desenvolvimento da
força e/ou da resistência aeróbica.
Foi realizada uma anamnese onde foram verificadas
as variáveis idade, estatura e IMC, como também o tipo
de atividade e o tempo de prática nesta atividade. Foi
utilizada uma balança da marca Filizola (Brasil), com
precisão de 100 gramas, para aferir a massa corporal.
Para a obtenção dos valores de força de lombar
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66
ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
foi utilizado um dinamômetro da marca Cardiomed e
adotado o protocolo descrito por Carnaval [17]. Para a
obtenção dos valores de força de membros superiores
(preensão palmar) foi utilizado um dinamômetro da
marca Takei Scientific Instruments CO e também adotado o mesmo protocolo descrito acima.
Para verificar a resistência aeróbica (VO2), foi realizado um teste submáximo em bicicleta ergométrica da
marca Technogym Eletromagnética, e analisador de gases
modelo VO2000 para a medida direta do VO2.
O procedimento estatístico foi realizado por meio
de análise descritiva com: média, mediana, desvio-padrão, erro-padrão e coeficiente de variação. As variáveis
qualitativas foram analisadas pela análise de freqüência.
A análise inferencial foi feita pelo teste de normalidade de Shapiro-Wilk (SW) tendo por hipóteses:
H0: A variável i aproxima-se da Distribuição Normal.
H1: A variável i não se aproxima da Distribuição Normal.
∀i ∈ I = {Idade; Variáveis Antropométricas, Somatotipo}
Através do teste t-Student independente determinou-se a diferença entre as médias das variáveis de-
pendentes nos grupos de Hidroginástica e de Ginástica
Localizada.
O estudo admitiu o nível de significância α = 0,05,
portanto a rejeição de H0 se deu sempre que p-valor <
α.
Resultados
A amostra foi constituída por trinta e quatro (n =
34) indivíduos divididos em dois grupos, um praticante
de Hidroginástica (GH n = 17) e outro praticante de
ginástica localizada (GL n = 17).
Na Tabela I estão os resultados descritivos referentes às variáveis: idade, estatura; IMC; RCQ, além da
verificação da Normalidade dos grupos através do teste
de Shapiro-Wilk do grupo de Hidroginástica (GH).
Os resultados mostram que as variáveis apresentaram
uma baixa dispersão (CV < 25%) tendo a media como
a melhor medida de tendência central. Observa-se que
o grupo apresentou proximidade com a Distribuição
Normal em relação às variáveis analisadas (p-valor >
0,05).
Tabela I - Estatística descritiva do GH (n = 17).
Variáveis
Idade
Estatura
IMC
RCQ
x/s
49,53 ± 4,69
161,58 ± 4,43
25,35 ± 3,09
0,76 ± 0,05
Md
49,00
162,00
24,80
0,77
CV
9,47
2,74
12,19
6,33
ε
1,14
1,08
0,75
0,01
SW
0.92
0,95
0,91
0,96
p-valor
0,18
0,51
0,11
0,70
x = média; s = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; ε = erro padrão; IMC = Índice de Massa Corporal; RCQ =
Relação Cintura Quadril;p-<0,05.
Na Tabela II estão os resultados descritivos referentes às variáveis: idade, estatura e variáveis da composição corporal, além da verificação da Normalidade
dos grupos através do teste de Shapiro-Wilk do grupo
de Ginástica Localizada (GL). Os resultados mostram
que todas as variáveis apresentaram uma baixa dispersão
(CV < 25%) tendo a média como a melhor medida de
tendência central. Observa-se que o grupo apresentou
proximidade com a Distribuição Normal em relação às
variáveis analisadas (p-valor >0,05).
Tabela II - Estatística descritiva do GL (n = 17).
Variáveis
Idade
Estatura
IMC
RCQ
x/s
46,29 ± 4,67
160,47 ± 4,97
22,74 ± 1,87
0,76 ± 0,05
Md
45,00
160,60
22,50
0,77
CV
10,10
3,10
8,23
6,33
ε
1,13
1,21
0,45
0,01
SW
0.90
0,91
0,94
0,91
p-valor
0,07
0,10
0,33
0,10
x = média; s = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; ε = erro padrão; MASSSA C. massa corporal; PGORDO =
peso gordo; PMAGRO = peso magro; %G = percentual de gordura; IMC = Índice de Massa Corporal ; RCQ = Relação
Cintura Quadril.
No gráfico 1 observam-se os valores médios das
variáveis de composição corporal nos grupos de hidroginástica e ginástica localizada. Neste, constata-se que
Acao Mov_.indb 66
as médias da variável massa corporal foram similares
(66,26 ± 8,83; 58,08 ± 5,98 kg). As demais variáveis,
peso gordo (22,07 ± 6,03; 15,33 ± 4,08); peso magro
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
(44,42 ± 4,90; 42,74 ± 4,00) e percentual de gordura
(32,63 ± 4,91; 26,16 ± 5,29) também apresentaram
valores médios próximos nos grupos hidroginástica e
ginástica localizada respectivamente.
Gráfico 3 - Resultado do teste de dinamometria.
Gráfico 1 - Composição corporal.
Análise inferencial
No gráfico 2 verificam-se as médias da variável do
estudo consumo de oxigênio (VO2) e, então constata-se
que a mesma apresentou valores (37,00 ± 4,86 e 36,88 ±
4,99) próximos nos grupos GH e GL, respectivamente.
A partir destes dados, verificou-se que os grupos foram
classificados como bem acima da média, segundo os
padrões internacionais [3].
Gráfico 2 - Resultado do teste VO2.
No gráfico 4 estão os resultados da estatística inferencial relativa ao teste t-Student independente, realizado
entre as variáveis consumo de oxigênio (VO2), dinamometria lombar (DL) e dinamometria do braço direito e
braço esquerdo, respectivamente (DBRD e DBRE) nos
grupos GL e GH. A partir dos valores expostos abaixo,
nota-se que em nenhuma das variáveis analisadas no estudo os grupos apresentaram diferenças estatisticamente
significativas (p > 0,05).
Gráfico 4 - Resultado Teste-t.
Discussão
No gráfico 3 verificam-se as médias das variáveis
relativas à dinamometria. Neste, verifica-se que no teste
de dinamometria Lombar o GL (63,99 ± 17,50) demonstrou um valor médio ligeiramente superior ao grupo GH
(57,74 ± 16,39). Quanto ao teste de Dinamometria de
Membros Superiores os escores para os grupos GL e GH
foram (BD = 27,75 ± 4,75; 28,09 ± 4,38; BE = 26,42 ±
5,62; 25,91 ± 5,62), respectivamente, sendo os mesmos
bem próximos.
Acao Mov_.indb 67
A hipótese do estudo era que haveria diferença
significativa nas variáveis dependentes estabelecidas
nesta pesquisa. Contudo, a partir da comparação entre
os grupos GH e GL a hipótese nula foi aceita. Portanto,
não foram encontradas diferenças significativas entre os
grupos quanto ao consumo de oxigênio e quanto à força
de membros superiores ou lombar.
Malta e Dantas [18] verificaram o efeito de ginástica localizada sobre o consumo de oxigênio, encontrando
valores médios de 14,73 ml.kg.min-1 (0,95 l.min-1);
12,54 ml.kg.min-1 (0,81 l.min-1); 8,56ml.kg.min-1 (0,55
l.min-1), e 14,82 ml.kg.min-1 (0,96 l.min-1) para as aulas
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Localizada Lente (LL), Localizada Convencional (LC),
tipo Body Pump (BP) e Localizada Rápida (LR), respectivamente. No entanto, encontrou valor de 34,80 ml.kg.
min-1 para o consumo máximo relativo de oxigênio.
Constata-se que o resultado no grupo GL da presente
pesquisa foi superior, mas não estatisticamente significativo. A partir dessa comparação, pode-se sugerir, portanto,
que a ginástica localizada, independente da metodologia
utilizada nas aulas, é facilitadora do desenvolvimento da
resistência aeróbica no momento em que promove um
consumo de oxigênio considerado bom para os padrões
internacionais [2,3].
Scartoni et al. [19] ao verificarem a influencia
dos diversos tipos de estratégia utilizada nas aulas de
hidroginástica nos parâmetros fisiológicos do praticante,
encontraram na variável VO2 valores médios de 1,22
± 0,32 (l.min-1); 1,24 ± 0,76 (l.min-1) e 1,02 ± 0,41
(l.min-1) para as aulas HA, HI e GA respectivamente.
Em valores absolutos de VO2, a atual pesquisa verificou
2,15 l.min-1 para o grupo GL e 2,45 l.min-1 para o GH,
constatando, então, valores superiores no estudo atual.
Metodologias diferentes na mensuração do consumo de
oxigênio poderiam explicar tal fato.
Nagashima et al. [20] ao compararem indivíduos
realizando exercícios máximos em cicloergômetro dentro
e fora d’água, encontraram diferenças estatisticamente
significativas no VO2 entre os grupos de fora d’água
(35ml.kg.min-1) e de dentro d’água (36ml.kg.min-1). Tais
valores se aproximam aos da pesquisa atual. No entanto,
apesar de resultados parecidos, no presente estudo não
apresentam diferenças estatisticamente significativas.
Poderíamos, então, sugerir que este fato possa ser explicado devido ao tipo de atividades comparadas, já que no
estudo atual as atividades são acíclicas.
Takeshima et al. [21] verificaram os efeitos dos
exercícios executados dentro d’água sobre o consumo de
oxigênio. Em relação ao grupo controle, o grupo treinado
obteve valores de VO2 12% superiores nos pós-testes,
chegando ao valor de 1,3 l.min-1, constatando haver
diferença estatisticamente significativa, o que nos leva a
concluir que tais exercícios promovem o desenvolvimento da resistência aeróbica. Alves et al. [8] verificaram a
influência da hidroginástica na aptidão física relacionada à saúde de idosos mensurando a variável resistência
aeróbica através de caminhada durante seis minutos e
constatando ganhos entre 10 e 40%. Os resultados da
atual pesquisa corroboram com estes estudos quando
mostram que atividades dentro d’água permitem ganhos
no consumo de oxigênio.
Fernandes e col.[22] compararam o efeito do
treinamento de ginástica localizada e musculação nos
níveis de força máxima de membros inferiores, superiores
e lombar de adultos não atletas. Os resultados do teste
Acao Mov_.indb 68
de dinamometria de membros superiores para os braços
direito e esquerdo foram (25,12 ± 6,15 kg e 24,71 ±
5,20 kg, respectivamente). Estes foram inferiores aos
encontrados para ambos os grupos do atual estudo,
o que permite inferir que os exercícios propostos nas
aulas de hidroginástica foram tão eficientes quanto as
atividades de ginástica localizada e musculação para o
desenvolvimento da qualidade física força de lombar e
de membros superiores.
Novaes e col. [23] em seu estudo sobre a comparação dos efeitos da ginástica localizada na zona alvo de
treinamento de forma contínua e intervalada encontrou
valores para a dinamometria de mão de 93,6 ± 13,4 kg
e 98,7 ± 12,8 kg para os métodos contínuo e intervalado respectivamente. Percebe-se que tais valores estão
muito acima dos valores encontrados nesta pesquisa.
No entanto, o perfil de sua amostra explica diferença
tão exacerbada, já que esta foi constituída de militares
homens com idade média de 20.4 anos.
Takeshima et al. [21] verificaram os efeitos dos
exercícios resistidos executados dentro d’água sobre a
força muscular. Em relação ao grupo controle, o grupo
treinado obteve valores superiores nos pós-testes, constatando haver diferença estatisticamente significativa.
Os autores sugerem que tais exercícios promovem o
desenvolvimento da força muscular.
Muller et al. [24,25] em seu estudo sobre a treinabilidade da força muscular em idosas praticantes de
hidroginástica constatou, através de teste de 1RM, haver
aumentos de 10,89% da força máxima dinâmica em
relação ao pré-teste. Neste estudo, os autores verificaram
valores de 16,52 ± 2,97 kg para o pré-teste e 18,32 ± 3,15
kg para o pós-teste. Puhlmann et al. [26] compararam
a força muscular nos flexores horizontais de ombros em
idosas praticantes de hidroginástica e em idosas praticantes de outras atividades (caminhada e ginástica). Os
valores médios encontrados nos testes de 1RM foram
25,05 ± 2,79kg e 17,85 ± 5,04kg para os grupos de hidroginástica e outras atividades respectivamente. Embora
os testes de força aplicados tenham sido diferentes dos
usados no presente trabalho, todos os estudos mostram
que, independente da metodologia proposta, ocorre uma
melhoria significativa nos níveis de força.
Conclusão
Considerando as limitações do estudo, entre as
quais destaca-se a não realização de um tratamento experimental, os resultados sugerem que a prática regular
de ginástica localizada e de hidroginástica exerceu uma
influência semelhante nos níveis de VO2 e de força de
membros superiores e de lombar nos grupos estudados.
Observa-se, também, que ao contrário do que se espera-
10/8/2006 16:27:37
69
ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
va, é possível a promoção do desenvolvimento da força
muscular através da prática da hidroginástica assim como
a promoção do desenvolvimento da resistência aeróbica
através da prática da ginástica localizada, uma vez que
os grupos apresentaram valores médios superiores aos
padrões internacionais.
No entanto, se faz recomendável novos estudos
investigando novas populações com faixas etárias e gênero
diferenciados do atual, no intuito de comparar resultados,
considerando todas as variáveis.
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
ARTIGO ORIGINAL
Avaliação antropométrica e qualitativa
da ingestão alimentar de nadadores
masters competitivos
Anthropometric and qualitative assessment of the food intake
of competitive swimmers masters
Fernanda Andrade Patara*, Danielle Lopes Russo, Luciana Rossi, M.Sc.**
*ATTENDE Esporte do Centro Universitário São Camilo, **Nutrição Experimental FCF-USP, Professora do Curso de
Graduação em Nutrição Esportiva, de Pós Graduação em Nutrição Clínica e Supervisora do estágio em Nutrição Esportiva do
Centro Universitário São Camilo
Resumo
Introdução: O objetivo foi analisar variáveis antropométricas e avaliar qualitativamente a ingestão alimentar de nadadores
masters competitivos de um clube de São Paulo. Materiais e métodos: Foram estudados 19 nadadores com idade entre 20 e
75 anos (média de 41,5 ± 15,2). Juntamente com as medidas antropométricas (dobras cutâneas e circunferências corporais) e
cálculo do percentual de gordura por Faulkner (1968) foi realizado o recordatório de 24 horas e a avaliação do conhecimento
nutricional. Resultados: As variáveis antropométricas mostraram-se superiores quando comparadas a estudo anterior realizado
nesta mesma população em atletas brasileiros. A análise qualitativa da ingestão alimentar apresentou alimentos como, carne
bovina e frango, leite, hortaliças, banana e cereais em geral como os mais consumidos. Em relação às refeições, as mais realizadas foram café da manhã, almoço e jantar, apresentando a última uma pior qualidade nutricional e menor varialibilidade
dos alimentos. Conclusão: Conclui-se que esta é uma população que necessita de um maior acompanhamento nutricional
através de programas de orientação para melhora na qualidade da alimentação com o objetivo de aumentar o rendimento e
conseqüentemente a qualidade de vida.
Palavras-chave: natação, recomendações, antropometria, nutrição, percentual de gordura.
Abstract
Introduction: We aimed to analyze anthropometric variables and evaluate qualitatively the food ingestion of competitive masters
swimmers of a club at São Paulo. Materials and methods: 19 swimmers with age between 20 and 75 years (mean 41.5 ± 15.2) have
been studied. Together with the anthropometric measures (skinfold thickness and body circumferences) and calculation of the body
fat percentage by Faulkner (1968) it was carried out the 24-hours recall and the evaluation of the nutritional knowledge. Results: The
Artigo recebido em 4 de maio de 2006; aceito em 15 de maio de 2006.
Endereço para correspondência: Profa. Luciana Rossi, ATTENDE Esporte – Centro Universitário São Camilo, R. Raul
Pompéia 144, Bairro Pompéia, 05025 – 010 São Paulo SP, Tel: (11) 3861-3449, E-mail: [email protected]
Acao Mov_.indb 70
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
anthropometric variables revealed superior when compared with the previous study carried out in this same population of Brazilian
athletes. The qualitative analysis of the food intake presented foods as, red meat and chicken, milk, vegetables, banana and cereals
as the most consumed. In relation to meals, the most consumed were breakfast, lunch and supper, with the last one presenting the
lowest nutritional quality and lesser variability of foods. Conclusion: One concludes that this is a population that needs a better
nutritional follow-up through programs of orientation in order to improve feeding quality aiming at increasing performance and
consequently in life quality.
Key-words: swimming, recommendations, anthropometry, nutrition, body fat percentage.
Introdução
O homem aprendeu a sustentar-se sobre a água por
instinto e observando o comportamento dos animais,
por isso podemos concluir que a natação é tão antiga
quanto o homem. Hoje a natação é um dos esportes mais
interessantes das competições olímpicas e tem tal valor
que é utilizada até como tratamento terapêutico [1]. No
Brasil o esporte teve início no século passado, com provas
realizadas em rios e hoje possui atletas que representam
o país em competições nacionais e mundiais. Por ter se
tornado um esporte tão praticado e com volumes de
treinos cada vez maiores, notou-se a importância de
uma maior atenção a esses atletas, ao que se refere aos
hábitos alimentares, rendimento esportivo e as condições
físicas em que estes se encontram [2]. Em relação aos
nadadores muito se tem divulgado sobre as necessidades
nutricionais aumentadas devido a grande energia que o
nadador dispende para manter a flutuação e vencer as
forças de atrito corporal, eficiência mecânica e captação
global de oxigênio [3,4]. Mas é importante conhecer
um pouco mais sobre esses atletas, o que consomem e
o seu perfil antropométrico a fim de atingir a meta de
uma orientação nutricional personalizada visando o
rendimento esportivo [5].
A falta de atenção à alimentação pode interferir no
rendimento gerando fadiga durante uma competição [6]
e o que é mais grave, causar problemas à saúde. A alimentação deve ser equilibrada e diversificada, contendo
todos os grupos alimentares [7].
O presente trabalho tem como objetivo analisar
as variáveis antropométricas e avaliar qualitativamente
a ingestão alimentar de nadadores da equipe master
de um clube da região metropolitana de São Paulo,
com a intenção de verificar as principais necessidades e
desenvolver/orientar futuros programas de orientação e
reeducação alimentar para esta população específica.
Materiais e métodos
População: o estudo foi realizado com 19 atletas do sexo masculino, idades entre 20 e 75 anos,
Acao Mov_.indb 71
integrantes da equipe master de natação de um
clube da região metropolitana de São Paulo. Estes
estavam divididos entre as três equipes que treinam
no período da manhã e com treinos de duração de
uma hora e meia.
Medidas antropométricas: o peso foi obtido
com balança digital da marca Tanita (TBF – 515),
com divisões de 100 gramas. A altura foi registrada
através de um antropômetro, com divisões em centímetros.
Para a realização do registro das circunferências
foi utilizada fita métrica inelástica, tipo fiber glass, com
divisões em centímetros, sendo registradas as circunferências de punho (CP), braço (CB), cintura (CC),
abdômen (CAb), quadril (CQ) e coxa (CCx). Também foram obtidas 5 pregas cutâneas, tríceps (PCT),
bíceps (PCB), subescapular (PCSE), suprailíaca (PCSI)
e abdominal (PCA), utilizando o compasso Lange.
Foi avaliado o lado direito do corpo, em triplicata,
registrando o valor médio. As medidas foram obtidas
segundo Petroski [8].
Percentual de gordura: determinou-se o percentual
de gordura, através da equação de Faulkner (1968): 5,793
+ 0,153 x Σ (PCT, PCB, PCSE, PCSI, PCA).
Avaliação nutricional: para o estudo dietético foi realizado o recordatório de 24 horas e uma lista de questões
que abordavam assuntos como: número de refeições, tipo
de preparações, horário e local das refeições e ausência
de algum grupo alimentar. Ambos foram preenchidos
pelo próprio atleta após instrução dos pesquisadores.
Finalmente todos os nadadores estudados receberam no
dia de sua avaliação um questionário do conhecimento
nutricional.
Resultados
Os dados coletados referentes às variações
antropométricas podem ser observados na tabela
I, onde os valores obtidos são comparados com o
estudo de Soares et al. [9] que analisou nadadores
de ambos os sexos filiados a clubes de São Paulo e
Rio de Janeiro.
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Tabela I - Comparação das variáveis antropométricas avaliadas em nadadores do sexo masculino
pertencentes à equipe master de um clube. São
Paulo.
Variáveis
Presente estudo
Antropométricas
Altura (cm)
179,2 ± 10,0
Peso (kg)
83,7 ± 9,0
Idade (anos)
41,5 ± 15,2
PCB (mm)
9,3 ± 3,9
PCT (mm)
14,8 ± 5,1
PCSE (mm)
17,3 ± 5,7
PCSI (mm)
22,1 ± 6,6
PCA (mm)
23,3 ± 7,6
% gordura
15,7 ± 4,7
CB (cm)
34,0 ± 2,4
CCx (cm)
59,8 ± 4,1
CP (cm)
17,7 ±1,04
CC (cm)
90,1 ± 8,2
CAb (cm)
98,8 ± 8,8
CQ (cm)
93,8 ± 7,3
Soares et al.,
1994
181,1 ± 5,3
74,0 ± 5,4
--------3,8 ± ,07
6,8 ± 2,0
9,3 ± 2,1
7,4 ± 2,0
9,8 ± 3,5
10,9 ± 1,3
33,0 ± 1,6
36,7 ± 1,7
---------------------------------
PCB = prega cutânea bicipital, PCT = prega cutânea tricipital, PCSE = prega cutânea subescapular, PCSI = prega cutânea suprailíaca, PCA = prega cutânea abdominal,
CB = circunferência de braquial, CCx = circunferência de
coxa, CP = circunferência de punho, CC = circunferência
de cintura, CAb = circunferência de abdomem, CQ =
circunferência de quadril.
Comparando os dados obtidos no presente estudo
com o estudo de Soares et al. [9], observou-se que os
valores das variáveis antropométricas no que diz respeito
às pregas, foram todos superiores, exceto ao que se diz
respeito à altura, pois se obteve como média neste estudo
de 179,2 ± 10 cm em contraposição a altura obtida no
estudo de comparação que foi de 181,1 ± 5,3 cm. Quanto
ao percentual de gordura (equação), encontramos valores
maiores do que os do estudo de comparação (15,7 +
4,7% versus 10,9 + 1,3%). As circunferências mostraram
uma concordância (CB) e uma discrepância (CCx) em
relação ao estudo comparativo. As outras medidas que
estão apresentadas na tabela I são para fins de registro,
uma vez que dados comparativos nacionais não foram
encontrados.
Fazendo a análise qualitativa da alimentação dos
nadadores obteve-se que entre os grupos de alimentos
a carne bovina e a de frango eram as que estavam mais
presentes na alimentação dessa população. O leite como
o alimento mais prevalente dentre as opções do grupo
de leite e derivados. No que diz respeito às hortaliças, as
folhosas foram citadas como as mais consumidas. Das
frutas a banana juntamente com o mamão. No grupo
dos cereais houve uma maior variação dentre as opções
consumidas, sendo o arroz e o pão mais citados. No grupo
dos doces, o chocolate se mostrou como preferência e
em relação às bebidas o café preto. Podemos analisar de
forma mais clara a preferência dos nadadores observando
a tabela II.
Tabela II - Alimentos mais prevalentes na alimentação diária de nadadores do sexo masculino. São Paulo.
Grupos
Carnes
Leite e produtos lácteos
Ovos
Hortaliças
Leguminosas
Frutas
Cereais
Gorduras
Doces
Líquidos
Tipos em ordem de preferência
Bovina, frango e peixe
Leite, requeijão, queijo branco, iogurte natural, tipo polenguinho
Galinha
Alface lisa, alface crespa, rúcula e almeirão, cenoura, beterraba, abobrinha e berinjela.
Feijão
Banana, mamão, laranja, maçã, melancia, manga, pêra e mexerica.
Arroz, pão de forma, pão de queijo, pão francês, macarrão com molho de tomate,
pão integral, bolacha de água e sal, batata frita, torradas, granola e barra de cereal.
Manteiga, margarina e azeite
Chocolate, sorvete, goiabada, adoçante, açúcar refinado.
Café preto puro, sucos de frutas naturais, chás claros, água
Ao analisar a preferência quanto ao tipo de preparação (Gráfico I) dos nadadores, observou-se que mais
da metade, ou seja, 55,5% têm mais comumente os
grelhados sendo referidos como uma boa opção por ser
mais saudável e ter menor quantidade de gordura.
Acao Mov_.indb 72
Quanto ao tipo de refeições diária, 100% dos nadadores referiram que fazem o almoço e jantar; 94,7%
faziam o café da manhã; 47,4% o lanche da tarde e 21,1%
faziam o lanche da manhã e ceia (Gráfico II).
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Gráfico I - Preferência alimentar quanto ao tipo de
preparação dos nadadores master.
Gráfico II - Principais refeições realizadas pelos
nadadores master.
Discussão
Pudemos observar que há grande diferença nas medidas de dobras cutâneas e percentual de gordura, sendo
que os nadadores do presente estudo apresentam valores
maiores do que uma mesma amostra realizada com nadadores de São Paulo e Rio de Janeiro. Um fato que poderia
explicar tal discrepância seria a diferença de idade entre
nossos nadadores (41,5 + 15,2 anos) contra > 18 anos do
outro estudo. A equação de Faulkner foi desenvolvida a
partir de uma amostra de nadadores competitivos americanos [10] e sua validação para a população brasileira
ainda não foi realizada. Para determinação mais precisa
do percentual de gordura, uma validação destas equações
(método duplamente indireto), com um método indireto
(pesagem hidrostática), se faz necessária.
O estudo dietético, visando a avaliação qualitativa
da ingestão alimentar utilizou o recordatório de 24
horas sendo a principal crítica para este método a de
que o dado de um único dia não representa o consumo
dietético habitual desse indivíduo [9]. Por isso utilizou-se
Acao Mov_.indb 73
paralelamente o questionário do conhecimento alimentar, como um instrumento complementar para a análise
dietética. Obtivemos como resultado que a maioria desses
nadadores fazem de 3 a 4 refeições diárias, permanecendo
assim tempos prolongados em jejum. Analisando este fato
com o horário dos treinos, que se concentram na parte
da manhã e na hora do almoço, observamos que por não
fazerem o lanche da manhã não haveria a reposição adequada do que foi despendido durante o treino. A ingestão
adequada de nutrientes se faz necessária não somente
antes como também após treino, pois independente da
faixa etária há um grande gasto energético total envolvido
nesta modalidade [11]. A meta dietética busca promover
energia adequada e carboidratos para manter a glicose
sangüínea e repor o glicogênio muscular, assegurando
uma recuperação rápida [12,13].
As refeições principais são realizadas pela maioria
dos atletas, porém nem sempre contém todos os grupos
alimentares de forma a manter uma boa qualidade na
alimentação. O jantar é uma das refeições que sofrem
maior prejuízo na questão de qualidade e variedade de
alimentos. Durante a coleta dos dados, muitos dos nadadores referiram que o jantar diversas vezes é substituído
por lanches e que a falta de tempo e o cansaço acabam
prejudicando na qualidade desta refeição. Mesmo se tratando de nadadores master competitivos, estes possuem
outras profissões que ocupam o seu dia e que muitas
vezes, pela escassez de tempo, os fazem abrir mão de
uma alimentação balanceada. O que é um grande erro
uma vez que como destacamos, se trata de nadadores
competitivos. Ainda, segundo mostrou uma das questões
do formulário de avaliação do conhecimento nutricional,
apenas 3, ou seja, 15,8% dos 19 nadadores estudados
acertaram que o carboidrato é menos energético que
os lipídeos. Comparando esses dados com observações
feitas pelos atletas durante a coleta de dados, como “os
carboidratos não devem ser consumidos à noite”, e ainda
artigos que relatam uma baixa ingestão de carboidratos na
dieta dos atletas como um todo [13,14], constatamos que
o mito em relação a esse macronutriente se faz presente
também entre os nadadores, prejudicando ainda mais
uma adequação nutricional.
Ao final deste estudo percebeu-se que ainda há
um longo caminho a ser percorrido com essa população
específica, tanto em termos de conhecimento nutricional como de mitos alimentares. A continuidade das
pesquisas é extremamente importante a fim de realizar
orientação nutricional cada vez mais específica para esse
tipo de esporte, enfatizado que uma dieta balanceada
pode fornecer os nutrientes necessários, dispensando a
suplementação, para uma vida saudável e melhorara no
rendimento durante treinos e competições.
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século. Revista Nutrição Profissional, v. 1, n. 6, p. 25-30,
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física: indispensáveis ou um excesso necessário? Nutrição em Pauta, v. 8, n.44, p.49-52, 2000.
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ARTIGO ORIGINAL
Índice geral de flexibilidade em crianças
praticantes de ginástica olímpica
não-competitiva
The general index of flexibility in non-competitive olympic
gymnastics’ children
Raquel Petry*, Elirez Silva, D.Sc.**, Úrsula Müller, M.Sc.***, Diego Wink Esteves****
*Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Esportiva, Ciências do Movimento Humano/Biomecânica, Universidade do Estado
de Santa Catarina Florianópolis/SC, **Fisioterapeuta, Professor de Educação Física, Diretor da Graduação e Pós-Graduação
do Departamento de Fisioterapia; Coordenador do Laboratório de Pesquisas em Fisioterapia, Universidade Gama Filho, Rio
de Janeiro RJ, ***Professora de Educação Física, Docente da Disciplina de Ginástica Olímpica e Coordenadora do Projeto de
Ginástica Olímpica - Universidade de Santa Cruz do Sul/RS,****Acadêmico de Educação Física e integrante do Projeto de
Ginástica Olímpica, - Universidade de Santa Cruz do Sul – RS)
Resumo
Este estudo tem como objetivo verificar o Índice Geral de Flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica nãocompetitiva no início e ao final de nove meses de treinamento. Participaram deste estudo, 27 crianças, de ambos os sexos, com idade
entre 9 e 12 anos, integrantes do Projeto de Extensão de Ginástica Olímpica da UNISC. A flexibilidade foi avaliada pelo Flexiteste.
Após nove meses de treinamento, o Índice Geral de Flexibilidade aumentou significativamente de 44,2 ± 8,9 para 49,1 ± 6,5 pontos (t= -4,19; p= 0,000). Concluiu-se que o grau de flexibilidade das crianças que praticaram ginástica olímpica não-competitiva
apresentou um aumento significativo após nove meses de treinamento.
Palavras-chave: Flexiteste, amplitude de movimento, atividade física.
Abstract
The purpose of this study is to verify the General Index of Flexibility in non-competitive olympic gymnastics’ children at the
beginning and end of nine months of training. Twenty-seven children members of the UNISC’s Olympic Gymnastics Project, of both
sexes, between nine and 12 years old, participated in this study. The flexibility was evaluated by the Flexitest. The General Index of
Flexibility, after nine months of training, increased significantly from 44,2 ± 8,9 to 49,1 ± 6,5 points (t= -4,19; p= 0,000). We conclude
that non-competitive olympic gymnastics’ children show a significantly increase in flexibility after nine months of training.
Key-words: Flexitest, range of motion, physical activity.
Artigo recebido em 27 de junho de 2006; aceito em 26 de julho de 2006.
Endereço para correspondência: Raquel Petry, Rua Deputado Antônio Edu Vieira, 376/ apto 502, Pantanal,
Florianópolis/SC, Tel: (48)3322-3447, E-mail: [email protected]
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Introdução
A Ginástica Olímpica (GO) é um dos esportes
olímpicos mais populares, devido à beleza e complexidade dos exercícios que são realizados [1]. Este esporte
proporciona aos seus praticantes um trabalho corporal
completo, com o desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento de capacidades físicas que podem contribuir para o
desenvolvimento equilibrado dos sistemas muscular e
nervoso, bem como para a manutenção da eficiência
fisiológica [2].
Vários autores apontam a flexibilidade como uma
habilidade física imprescindível para a prática de Ginástica Olímpica, devido à característica dos movimentos
realizados pelos ginastas [1,3-5].
A importância da flexibilidade no cotidiano de
treinamentos de Ginástica Olímpica torna sua mensuração quase que indispensável [1-3,5,6]. O Flexiteste tem
sido sugerido por alguns autores [6-8,10-12] como um
meio eficiente de quantificar e graduar a flexibilidade dos
indivíduos, sejam eles atletas ou não [5-12].
Este estudo tem como objetivo verificar o Índice
Geral de Flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica não-competitiva no início e ao final de nove
meses de treinamento.
da Universidade (de março a dezembro). Os treinamentos
ocorreram no período matutino no ginásio pedagógico
da Universidade, duas vezes na semana, com duração de
duas horas cada aula.
Foram realizados os exercícios básicos para a
iniciação no esporte, como: espacat (flexão associada à
extensão do quadril); ponte (hiperextensão da coluna
vertebral com os pés e as mãos apoiados no solo); vela
(apoio estático do corpo no solo sobre a coluna cervical
e os membros superiores em extensão); estrela (passagem
ativa do corpo pelo plano frontal com apoio das mãos no
chão e impulso dos pés); parada de mão (apoio estático
do corpo sobre as mãos no chão); equilíbrios (elevação e
sustentação de um membro inferior em flexão, abdução
ou extensão do quadril); saltos (estendido: corpo em
extensão e elevação dos membros superiores; grupado:
flexão dos joelhos e quadril acima de 90°; afastado: abdução do quadril e extensão dos joelhos; carpado: abdução
e flexão de quadril, com joelhos estendidos e flexão de
tronco sobre membros inferiores; ½ pirueta: rotação de
180° do corpo no eixo longitudinal; pirueta: rotação de
360° do corpo no eixo longitudinal).
O Projeto funcionou na modalidade de escolinha
e, por isso, as aulas não apresentaram um caráter de
treinamento desportivo propriamente dito.
Método
Flexibilidade
Sujeitos
A medida da flexibilidade foi realizada no Ginásio Pedagógico da Universidade de Santa Cruz do Sul
– UNISC, antes da aula, no início e final do período
de treinamento, em março e dezembro de 2004. Para
medir o grau de flexibilidade das crianças, foi utilizado
o Flexiteste.
O Flexiteste foi aplicado individualmente a cada
criança sem nenhum tipo de aquecimento ou preparação
prévia. Foi determinado previamente que o lado testado
seria o lado direito, independente de este ser ou não o
lado dominante.
O Flexiteste foi realizado passivamente em 20 movimentos articulares, distribuídos em sete articulações:
tornozelo (plantiflexão e dorsiflexão), joelho (flexão e
extensão), quadril (flexão, extensão, adução e abdução),
tronco (flexão, extensão e flexão lateral), ombro (adução
escapular extensão+adução escapular, extensão, rotação
lateral e rotação medial), cotovelo (flexão e extensão) e
punho (flexão e extensão).
Todas as medidas foram realizadas pelo mesmo
avaliador, o qual não usou força muscular para conduzir
o segmento ou conseguir maior alcance de movimento
da criança que foi testada. O segmento foi conduzido
lentamente, a partir da posição inicial até o ponto onde
houve indicação de dor por parte da criança ou grande
Participaram do estudo 27 crianças, de ambos os
sexos, com idade entre 9 e 12 anos, praticantes de ginástica olímpica não-competitiva, integrantes do Projeto
de Extensão de Ginástica Olímpica da Universidade de
Santa Cruz do Sul - UNISC.
Foram incluídas no estudo as crianças que praticaram ativamente ginástica olímpica não-competitiva
no Projeto da Universidade durante todo ano letivo de
2004 (de março a dezembro) e que nunca praticaram
este esporte com fins competitivos. As crianças que não
se enquadraram nestas exigências foram excluídas e não
fizeram parte deste estudo.
O estudo obedeceu à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (aprovado por Comissão de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos). Os pais das
crianças tiveram conhecimento do estudo e colaboraram
voluntariamente, assinando um termo de consentimento
livre e esclarecido.
Ginástica olímpica não-competitiva
A prática de ginástica olímpica oferecida pelo Projeto da UNISC foi realizada durante o ano letivo de 2004
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restrição mecânica ao movimento. Foi neste ângulo articular que o avaliador cessou o movimento e a posição
final alcançada foi comparada ao mapa de referência do
Flexiteste (Figura 1). Cada um dos 20 movimentos foi
classificado de zero a quatro, de acordo com a posição
final alcançada pelo movimento articular, sendo: zero
(muito fraco); um (fraco); dois (médio); três (bom) e
quatro (excelente).
A partir da quantificação de cada articulação testada, foi realizado o somatório total dos graus, a fim de
obter um índice geral de flexibilidade da criança. Este
índice variou de zero a 80, sendo: menor que 20 (muito
fraco); 20-30 (fraco); 31-40 (médio -); 41-50 (médio+),
51-60 (boa) e maior que 60 (excelente).
Figura 1 - Mapa de avaliação do Flexiteste.
Fonte: Carvalho, Paula e Nóbrega [10]
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Análise dos dados
Resultados
Os valores de flexibilidade foram analisados pela
estatística teste “t” pareado para o nível de significância
de 0,05. O teste pertencia ao pacote estatístico Primer
of Biostatistics 4.0, Stanton A Glantz, McGraw Hill,
1996.
O grupo de crianças avaliadas tinha 11,07 ± 3,32
anos de idade e estava participando do projeto há 17,30
± 4,15 meses.
Tabela I - Índice de flexibilidade total e por região anatômica de crianças antes e depois de nove meses de
prática de ginástica olímpica não-competitiva.
Região anatômica
Membros inferiores
Membros superiores
Tronco
t
17,7 ± 4,0
19,1 ± 3,8
Ginástica olímpica não-competitiva
p
Antes
19,8 ± 2,8
-3,25
19,7 ± 3,3
-1,99
Depois
0,003
0,057
8,6 ± 2,3
9,7 ± 1,6
-3,05
0,005
44,2 ± 8,9
49,1 ± 6,5
-4,19
0,000
Total
Discussão
O Índice Geral de Flexibilidade das crianças
praticantes de ginástica olímpica não-competitiva teve
um incremento de aproximadamente cinco pontos
durante nove meses de treinamento (para t = -4,19 e p
= 0,000).
A flexibilidade mensurada estaticamente (como realizada pelo Flexiteste) pode não estabelecer com exatidão
as necessidades das habilidades atléticas dinâmicas [6-8].
Porém, este tipo de mensuração possibilita boa correlação
interindividual por independer dos efeitos do treino e da
coordenação, possibilitando, assim, uma visão geral das
condições de flexibilidade do indivíduo [6-8]. A confiabilidade do Flexiteste foi determinada anteriormente,
obtendo-se coeficiente de correlação intraclasse médios
de 0,94 e 0,89 para a confiabilidade intra e inter-observadores, respectivamente, onde coeficientes de correlação
intraclasse superiores a 0,75 são considerados excelentes
índices de fidedignidade [13-14].
A tendência central para cada um dos testes realizados nas articulações determinadas é o valor dois [9,12].
Isto sugere que o Índice Geral de Flexibilidade esperado
seja 40 (médio-) [9]. Todavia, o Índice Geral de Flexibilidade apresentado pelas crianças nas avaliações ficou
classificado em médio+ (44,2 ± 8,9 em março e 49,1 ±
6,5 em dezembro).
Embora a flexibilidade tenda a diminuir com a
idade, a perda parece ser minimizada naqueles indivíduos
que permanecem ativos [5,15-18]. Durante a infância
e início da adolescência é esperada uma redução da flexibilidade devido a um período de crescimento rápido
e estruturas ainda imaturas estarem sofrendo constante
Acao Mov_.indb 78
processo de modelagem [5,9,15]. Entretanto, um programa de intervenção planejada, objetivando um aumento
na flexibilidade nesta fase pode melhorar a amplitude de
movimento (ADM) e minimizar ou anular essa tendência
fisiológica de redução da flexibilidade [5,6,16,17].
As crianças que participaram do estudo tinham
11,07 ± 32 anos de idade. Mesmo estando em pleno
período de crescimento e conseqüente redução fisiológica da flexibilidade, apresentaram, após nove meses
de treinamento de ginástica olímpica, um aumento
significativo no Índice Geral de Flexibilidade (Tabela
I). Pode-se observar ainda (Tabela I) que as regiões anatômicas mais estimuladas com a prática deste esporte
(membros inferiores e tronco) tiveram um aumento
maior. Isto se deve, em parte, ao tipo de treinamento
realizado nas turmas de iniciação, enfatizando exercícios
com os membros inferiores (espacat, equilíbrios, saltos,
etc.) e o tronco (ponte, exercícios com o tronco grupado
e carpado, etc) [1,19].
Esta tendência fisiológica de redução da flexibilidade com o avanço da idade, mostra a importância dos
exercícios físicos como meio de manutenção desta habilidade física [2,6,14,21]. Atividades que enfatizam o trabalho da flexibilidade, como a ginástica olímpica, podem
trazer resultados ainda mais significativos [2,4,16,17,22].
Alguns autores [1,14,19] afirmam, ainda, que a prática
da Ginástica Olímpica durante a infância podem trazer
vários benefícios para a criança, como: desenvolvimento
de força, resistência, agilidade, além de ganhos no domínio motor e cognitivo [1,2,19,20].
Este trabalho apresentou como limitação a confiabilidade do Flexiteste como instrumento de medida da
flexibilidade, bem como a falta de um grupo controle,
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composto por crianças que não praticavam ginástica
olímpica. Apesar de um aumento evidente no Índice
Geral de Flexibilidade nas crianças praticantes de ginástica olímpica, a falta de um grupo controle não nos
permite afirmar que este aumento seja exclusivamente
pela prática deste esporte. Em virtude disto, sugere-se
que este teste seja aplicado também em crianças que
praticam outros esportes que não enfatizem o treino da
flexibilidade bem como em crianças que não praticam
nenhum esporte ativamente.
Conclusão
Da análise dos resultados obtidos, concluiu-se que
houve um aumento significativo no Índice Geral de Flexibilidade das crianças, após um período de nove meses
de treinamento de ginástica olímpica não-competitiva.
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80
ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
ARTIGO ORIGINAL
Dinâmica da marcha de praticantes
de caminhada de ambos os sexos
em diferentes velocidades
Dynamics of walking practitioners gait of both
sexes in different speeds
Sebastião Iberes Lopes Melo, D. Sc.*, Juliane de Oliveira**, Raquel Pinheiro Gomes**,
Mário César Andrade***, Roberta Pires****
*Professor do Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), **Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de
Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ***Coordenador do
Laboratório de Biomecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ****Educadora Físca formada pelo
Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi comparar as características dinâmicas e espaços-temporais em praticantes de caminhada, considerando gênero e velocidade. Participaram deste estudo 49 sujeitos, de ambos os sexos (46,94% mulheres e 53,06% homens), com
idade média de 28,32 (± 10,63) anos, tempo médio de prática de 28,11 (± 30,32) meses e freqüência média de prática semanal
de 3,39 vezes por semana. O dados foram coletados em uma esteira ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, nas velocidades
de 4 Km/h, 5Km/h e 6 Km/h. Os resultados apontaram diferenças significantes (p < 0,05) nas características cinéticas da marcha
entre homens e mulheres nas variáveis TRP, CP, CAD e TDA. As variáveis PPF, SPF, TAP, TRP, CP e CAD sofreram aumento
significativo de seus valores médios em pelo menos um dos ingressos de velocidade. O oposto ocorreu com as variáveis TDA e TAS,
que reduziram seus valores médios.
Palavras-chave: biomecânica, marcha, gênero, velocidade.
Abstract
The purpose of this research was to compare the dynamic and space-storms characteristics of walking practitioners gait
considering gender and speed. Have participated of this study 49 subjects, of both sexes (46.94% women and 53.06% men), with
average age of 28.32 (± 10.63) years, medium time of practice of 28.11 (± 30.32) months and practice frequency weekly average
of 3.39 times a week. The data was collected in a ergometric mat Kistler Gaitway model 9810SI, at speeds of 4 Km/h, 5Km/h and
6 Km/h. The results pointed significant differences (p ≤ 0,05) in the kinetics characteristics of the gait among men and women in
Artigo recebido em 11 de julho de 2006; aceito em 26 de julho de 2006.
Endereço para correspondência: Sebastião Iberes Lopes Melo, Laboratório de Biomecânica CEFID-UDESC, Rua Pascoal
Simone, nº 149, Coqueiros 88080-350 Florianópolis SC, Tel: (48) 32449451, E-mail: [email protected]/julifisioterapia@
gmail.com
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the TRP, CP, CAD and TDA variables. The PPF, SPF, TAP, TRP, CP and CAD variables had suffered significant increase from its
medium values at least one of the speed tickets. The opposite happened with TDA and TAS variables, that they had its medium
values reduced.
Key-words: biomechanics, gait, gender, speed.
Introdução
A caminhada é uma atividade fisica popular de
baixo custo e fácil acessibilidade, o que a torna uma alternativa para o controle do peso corporal e manutenção
da saúde, comumente praticada por ambos os sexos em
diferentes faixas etárias. Entretanto, apesar dos indiscutíveis benefícios promovidos por essa modalidade de
exercício físico, a prática inadequada pode levar a prejuízo
de diversos sistemas, inclusive no aparelho locomotor.
Especula-se que as diferenças nas estruturas
corporais entre os gêneros possam influenciar nas características biomecânicas da marcha. Neste sentido, o
estudo de Kerrigan; Todd & Croce [1] encontrou uma
maior cadência e comprimento de passada normalizada
em mulheres. Chui & Wang e Waters & Mulroy [2,3]
acrescentam que a velocidade da marcha dos homens é
maior que das mulheres. Ferber, McClay & Williams [4]
afirmam que as mulheres possuem uma alta velocidade
angular e aumento da rotação interna do quadril durante
a marcha. Cho, Park & Kwon [5] atribuem as diferenças
do padrão da marcha entre os gêneros a fatores anatômicos e hábitos. Chui & Wang [2] sugerem que algumas
características intrínsecas como alinhamento esquelético,
força muscular e parâmetros antropométricos podem
contribuir para as diferenças da performance da marcha
entre os gêneros.
No entanto, a influência destas variáveis nas características biomecânicas do movimento humano e as
diferenças das características cinéticas da marcha entre
homens e mulheres praticantes de caminhada têm sido
pouco investigadas.
Para a análise destas características utiliza-se a
descrição quantitativa de diferentes aspectos mecânicos
da marcha que estão ligadas às forças que causam o movimento observado e seu papel no fenômeno analisado
[6]. As variáveis cinéticas incluem parâmetros como a
força de reação do solo, a força transmitida através das
articulações, a potência transferida entre os segmentos
corporais e a energia mecânica dos segmentos [6],
estas variáveis são diferentes nos indivíduos, seja pelas
características físicas, individualidade na maneira de
caminhar ou de acordo com a velocidade da execução
do movimento, entretanto, existem certas características
que permitem uma padronização [7]. Diante do que foi
exposto, esse estudo tem como objetivo geral avaliar as
Acao Mov_.indb 81
características dinâmicas e espaços-temporais da marcha
de praticantes de caminhada considerando o gênero e a
velocidade e, como objetivos específicos, comparar as
características dinâmicas e espaços-temporais da marcha
entre homens e mulheres nas velocidades de 4km/h, 5
km/h e 6 km/h e comparar estas características entre as
diferentes velocidades.
Materiais e métodos
Participaram deste estudo descritivo do tipo exploratório, 49 sujeitos praticantes de caminhada, de ambos
os sexos (49,94% mulheres e 53,06% de homens), com
média de idade de 28,32 (±10,63) anos, tempo médio
de prática de 28,11 (±30,32) meses e freqüência semanal
média de 3,39 vezes por semana. As médias de estatura
e massa corporal encontradas foram de respectivamente,
1,62 m e 58,2 Kg para as mulheres e 1,74 m e 72,7 Kg
para os homens. Os indivíduos foram selecionados pelo
processo casual sistemático, através de abordagem direta
e por apresentarem os critérios para inclusão: praticantes
de caminhada de forma regular (indivíduo que realiza a
caminhada na forma de atividade física por pelo menos
duas vezes por semana e no mínimo de três meses) e idade
igual ou superior a 20 anos. Após aprovação pelo Comitê
de Ética de Pesquisa do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), iniciou-se a coleta de dados, onde se
utilizou como instrumentos de medida: a) Questionário
auto aplicável, padronizado, com índices de confiabilidade: clareza 0,927, validade 0,934 e fidedignidade 0,86,
contendo 16 questões relacionadas ao gênero, idade,
dados referentes à prática de caminhada e campos para
o preenchimento das medidas antropométricas. b)Esteira
ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, com duas
plataformas de forças com sensores de carga de cristais
piezoelétricos acoplada à sua base. c) Balança da marca
Filizola com precisão de 100 gramas. d) Estadiômetro de
madeira com escala de medida de 0,1 cm. Para a aquisição
dos dados adotaram-se os seguintes procedimentos: a)
Aplicação do questionário; b) Pesagem dos sujeitos na
balança e obtenção da estatura para o cálculo do IMC; c)
Pesagem em uma das plataformas do equipamento com
aquisição de 2 segundos, para posterior normalização
dos dados pelo peso corporal; d) Instrução dos sujeitos
sobre o correto posicionamento na esteira durante todo o
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teste, bem como do funcionamento da mesma; e) Tempo
referente à adaptação dos indivíduos ao equipamento,
caminhando em velocidade confortável; f ) Aquisição dos
dados nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h, sendo
que o sujeito permanecia em cada velocidade por dois
minutos. O tempo de aquisição foi de 12 segundos a uma
freqüência de amostragem de 600 Hz. O processamento
dos dados foi realizado no programa GAITWAY MD for
WINDOWS versão 1.08.
Foram selecionados como parâmetros da análise
da marcha as variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força
(PPF), Segundo Pico de Força (SPF), Taxa de Aceitação
do Peso (TAP) e Taxa de Retirada do Peso (TRP) e, as
variáveis espaços-temporais: Comprimento do Passo
(CP), Cadência (CAD), Tempo de Duplo Apoio (TDA)
e Tempo de Apoio Simples (TAS).
Para tratamento na caracterização dos dados utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e
coeficiente de variação); para comparar as características
das variáveis, entre homens e mulheres, nas diferentes ve-
locidades utilizou-se o teste “t” de Student. Para comparar
o comportamento das variáveis com o incremento da
velocidade utilizou-se análise de variância ANOVA oneway, e para detectar em quais passagens de velocidades
houve diferenças utilizou o teste post hoc de Tukey. Em
todas as comparações adotou-se p ≤ 0,05.
Resultados
Os resultados estão apresentados segundo os objetivos específicos do trabalho. Na Tabela I, estão dispostos
os resultados da comparação das características dinâmicas
e espaços-temporais da marcha entre homens e mulheres
nas velocidades de 4Km/h, 5 Km/h e 6 Km/h.
Os resultados da comparação das variáveis dinâmicas e espaços-temporais da marcha para os três grupos
(sexo masculino (M), sexo feminino (F) e ambos os sexos
(A)) entre as diferentes passagens de velocidade estão
dispostos na Tabela II.
Tabela I - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaços-temporais entre homens e mulheres
nas velocidades de 4 km/h, 5km/h e 6km/h.
VAR
PPF
F
SPF
F
TAP
F
TRP
F
CP
F
CAD
F
TDA
F
TAS
F
S
M
1.08
M
1.07
M
6.78
M
4.96
M
0.61
M
108.40
M
0.27
M
0.40
4 km/h
X
1.08
9.82
1.05
3.86
7.05
16.23
6.29
16.78
0.65
6.39
103.83
5.04
0.30
11.01
0.41
10.28
CV %
4.60
3.77
13.75
16.05
5.63
4.27
14.47
7.54
P
0.526
1.11
0.179
1,11
0.359
10.09
0.000*
6.03
0.002*
0.70
0.002*
117,73
0.019*
0.22
0.515
0.39
5 km /h
X
1.12
5.83
1.10
4.64
9.26
32.77
7.49
18.15
0,74
5.49
112,88
4.95
0.25
9.38
0,41
4.91
CV %
4.65
7.46
13.04
13.28
3.63
3.78
14.24
12.75
6 km /h
P
X
0.284
1.20
1.22
6.12
0.927
1.14
1.15
7.64
0.238 13.33
15.54 40.64
0.000* 8.46
6.85
18.97
0.000* 0.82
0.78
5.98
0.001* 120.41
126.69 5.49
0.000* 0.22
0.18
12.09
0,149
0.38
0.38
7.06
CV%
9.63
P
0.498
5.06
0.490
15.32
0.212
15.13
0.000*
3.80
0.001*
3.21
0.000*
14.33
0,000*
4.43
0.619
* Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos.
Analisando a Tabela I, constataram-se diferenças
estatisticamente significativas entre algumas características dinâmicas da marcha de homens e mulheres. A
variável cinética Taxa de Retirada do Peso e as variáveis
espaços-temporais, Comprimento do Passo e Tempo
de Duplo Apoio foram significantemente maior para o
sexo masculino nas três velocidades. A variável espaço-
Acao Mov_.indb 82
temporal Cadência foi significativamente maior para as
mulheres nas três velocidades.
A variável Primeiro Pico de Força apresentou o
mesmo valor médio entre os sexos na velocidade de 4
km/h. Com valores não significativos, o valor médio
desta variável foi maior na velocidade de 5 km/h para os
homens e na velocidade de 6km/h nas mulheres.
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
A variável Segundo Pico de Força foi maior no sexo
masculino nas três velocidades, entretanto, estas diferenças não foram estatisticamente significativas. A variável
Tempo de Apoio Simples, de forma não significativa,
foram maiores para os homens nas velocidades de 4 km/h
e 6 km/h, entretanto, seus valores médios foram iguais
em ambos os sexos na velocidade de 6 km/h.
A Variável Taxa de Aceitação de Peso apresentou
valores médios maiores no sexo masculino na velocidade
de 4 km/h, entretanto, com o aumento da velocidade,
as mulheres apresentaram valores médios maiores. Estas
diferenças não foram estatisticamente significativas.
Prosseguindo com a análise dos resultados da
tabela I, constatou-se que o coeficiente de variação
das variáveis Primeiro Pico de Força, Segundo Pico
de Força, Comprimento do Passo e Cadência mostraram-se homogêneos (CV% < 10%) em todas as
velocidades em ambos os sexos. O Tempo de Duplo
Apoio e Taxa Retirada do Peso apresentaram média
variabilidade (11< CV% < 20). A variável Taxa de
Aceitação de Peso de modo geral mostraram média
variabilidade, entretanto, apresentou-se bastante heterogênea (CV% >30) nas velocidades de 5 km/h e 6
km/h no sexo feminino.
Na continuidade do estudo, fez-se a comparação de
diferentes variáveis dinâmicas e espaço-temporais entre
as velocidades de 4km/h, 5km/h e 6km/h, conforme
apresentadas na tabela II, a seguir.
Tabela II - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaços-temporais entre as diferentes velocidades.
VAR
PPF
SPF
TAP
TRP
CP
CAD
TODA
TAS
Sexo
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
X
4km/h
1.06
1.07
1.06
1.05
1.07
1.06
7.05
6.78
6.92
6.29
4.96
5.67
0.65
0.61
0.63
103.8
108.4
105.9
0.30
0.27
0.29
0.41
0.40
0.41
X
5km/h
1.12
1.11
1.11
1.10
1.11
1.10
9.26
10.09
9.65
7.49
6.03
6.81
0.74
0.70
0.72
112.8
117.3
115.1
0.25
0.22
0.24
0.40
0.39
0.40
X
6km/h
1.20
1.22
1.21
1.14
1.15
1.14
12.18
15.55
13.76
8.46
6.85
7.70
0.82
0.78
0.80
120.4
126.6
123.3
0.22
0.18
0.20
0.38
0.38
0.38
P
(P1)
0.016*
0.273
0.005*
0.008*
0.097
0.000*
0.000*
0.023*
0.000*
0.000*
0.004*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.837
0.166
0.253
P
(P2)
0.001*
0.000*
0.000*
0.171
0.054
0.008*
0.000*
0.000*
0.000*
0.006*
0.036*
0.002*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.002*
0.000*
0.000*
0.071
0.653
0.056
P
(P3)
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.017*
0.022*
0.000*
* Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos.
P1 – Passagem de 4km/h para 5km/h; P2 – Passagem de 5km/h para 6km/h; P3 – Passagem de 4km/h para 6km/h.
Através dos resultados apresentados na Tabela
II, identificou-se que a velocidade produziu alterações
significativas para os níveis pré-estabelecidos em todas
as variáveis analisadas.
Para verificar em que passagens de velocidade ocorreram estas diferenças, aplicou-se a análise de post-hoc de
Acao Mov_.indb 83
Tukey, onde se constatou: a) Nas variáveis Taxa de Aceitação do Peso, Taxa de Retirada do Peso, Comprimento
do Passo, Cadência e Tempo de Duplo Apoio houve
diferenças significativas nas três passagens de velocidade
no grupo dos homens, das mulheres e de ambos os sexos;
b) Na variável Primeiro Pico de Força identificou-se
10/8/2006 16:27:47
84
ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
diferença significativa em quase todas as passagens de
velocidade, com exceção do grupo feminino na passagem
de 4km/h para 5km/h; c) Na variável Segundo Pico de
Força observou-se diferença significativa nas três passagens de velocidade quando considerado o grupo misto.
Porém, não houve diferença significativa para o sexo
masculino na passagem de 5 km/h para 6 km/h e para
o sexo feminino nas passagens de 4 km/h para 5 km/h
e 5 km/h para 6 km/h; d) No Tempo de Apoio Simples
ocorreram diferenças significativas para os três grupos
apenas na passagem de 4 km/h para 6km/h.
Discussão
No que se refere à comparação dos valores das diferentes variáveis analisadas entre homens e mulheres, de
um modo geral, os homens apresentaram maiores valores
nas variáveis Taxa de Retirada do Peso, Comprimento
do Passo, Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio
Simples, enquanto que as mulheres apresentaram maiores
valores de Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do
Peso e Cadência.
A ausência de diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres nas variáveis Primeiro
Pico de Força, Segundo Pico de Força e Taxa de Aceitação do Peso, em todas as velocidades analisadas, aponta
que homens e mulheres responderam ao teste aplicado
de forma semelhante, possivelmente pelo fato de que a
velocidade foi controlada e induzida pela esteira.
Na variável Taxa de Retirada do Peso, observa-se
que os homens apresentam maiores valores, fato que pode
ser justificado pelo predomínio de massa magra no sexo
masculino. Segundo Fernandes [8], a diferença hormonal
é a justificativa mais evidente da diferença de força muscular em homens e mulheres, visto que a testosterona tem
características anabólicas e androgênicas. Além disso, Viel
[9] afirma que os músculos glúteos e isquiotibiais estão
fortemente ligados à fase de pré-oscilação dos membros
inferiores durante a marcha. Uma vez que esta fase tem
ligação direta com a força dos músculos extensores, e
conseqüentemente, com uma maior força de impulsão,
justifica-se o fato dos homens apresentarem maiores
médias para esta variável.
O Comprimento do Passo na velocidade de 4km/h
apresentou maiores valores para os homens, mostrando-se semelhante aos valores encontrados por Alencar,
Pereira & Holanda [10], com 0,65 m para os homens
e 0,62 m para as mulheres em uma velocidade habitual
de aproximadamente 4km/h. Cho, Park & Kwon [5]
também encontraram valores menores de comprimento
de passo nas mulheres. Entretanto, estes dados vão de
encontro com o estudo de Ferber, McClay & Willians
[4] que encontraram um aumento do comprimento do
Acao Mov_.indb 84
passo nas mulheres e atribui este aumento a necessidade
de manter a velocidade da marcha pré-determinada.
Além da variável Comprimento do Passo, o Tempo de
Duplo Apoio apresentou valores maiores para o sexo
masculino, o que pode ser explicado pela existência de
diferenças antropométricas relacionadas ao comprimento
dos membros inferiores entre homens e mulheres.
A variável Cadência apresentou-se significativamente diferente entre homens e mulheres, sendo maior
para o sexo feminino nas três velocidades analisadas.
Estes resultados concordam com os obtidos por Tommy,
[11]; Alencar, Pereira & Holanda [10]; Cho, Park,
Know [5] que também encontraram valores de Cadência
maior para este grupo. Tal fenômeno pode indicar uma
forma de compensação de alguns fatores antropométricos. As características da marcha são dependentes de
múltiplos fatores como o limite mecânico imposto pelo
comprimento dos membros inferiores, massa corporal,
momento da inércia e o nível de carga tolerado pelo
sistema músculo esquelético [12]. Sacco [13] acrescenta
ainda, que os fatores extrínsecos são determinantes para
as características da marcha. Para este autor, características antropométricas, tais como estatura do indivíduo e
comprimento dos membros inferiores, correlacionam e
influenciam parâmetros desta tarefa motora. Em adição,
Lima [14] destaca que o passo é uma característica individual, estando relacionada com as dimensões corpóreas,
principalmente com o comprimento dos membros inferiores e a capacidade de alongamento dos músculos.
Em relação ao coeficiente de variação este é definido como o desvio-padrão expresso em porcentagem
de média, é a medida mais utilizada para medir a instabilidade relativa de variável, considera-se que quanto
menor o CV, maior será a homogeneidade dos dados.
Melo [15] considerou valores do CV% até 10% como
de baixa variabilidade, de 11 a 20% como de média
variabilidade, de 21 a 30% como de alta variabilidade
e maior que 30% como de variabilidade muito alta. De
forma geral, os coeficientes de variação mostraram-se
homogêneos, entretanto, as variavéis Tempo de Duplo
Apoio, Taxa Retirada de Peso e Taxa de Aceitação do
Peso apresentaram-se com média variabilidade, Melo et
al. [7] em um estudo sobre as características da marcha,
relacionaram, a elevação nos índices de heterogeneidade
ao piso móvel da esteira. A variável Taxa de Aceitação de
Peso apresentou-se com alta variabilidade no sexo feminino nas velocidades de 5 km/h e 6km/h. Vários estudos
utilizam esta variável como medida de estabilidade e
equilíbrio [16,6], entretanto, não possuímos dados para
aprofundar esta relação.
Analisando o comportamento das variáveis cinéticas da marcha, sob influência do incremento da
velocidade, observou-se um aumento para os valores
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médios das variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força,
Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Taxa
de Retirada do Peso; e variáveis espaciais: Comprimento
do Passo e Cadência. Entretanto, as variáveis temporais
Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples
tiveram redução dos seus valores.
Pode-se dizer que os valores das variáveis dinâmicas
sofreram um aumento obedecendo a 2ª Lei de Newton,
a qual estabelece que a resultante das forças aplicadas
a um ponto material é igual ao produto de sua massa
pela aceleração adquirida. Desta forma, a aceleração é
diretamente proporcional à força aplicada.
O comportamento da variável Primeiro Pico de
Força que aumentou com o incremento da velocidade, é
semelhante aos resultados apresentados por Melo et al. [7]
que verificaram um aumento dos valores desta variável,
também nas passagens de velocidade de 4km/h para 5km/
h, 5km/h para 6km/h e de 4km/h para 6km/h, indicando
que os praticantes de caminhada enfatizam a utilização
do calcanhar na fase de apoio. Estes resultados também
concordam com os apresentados por Simon apud Sacco
[13] o qual afirma que os picos de força variam de 0,5 a
1,5 vezes o peso corporal, além de ter relação direta com
a velocidade do movimento. Observou-se ainda que, na
passagem de 4km/h para 5km/h, não houve diferença
estatisticamente significava na variável Primeiro Pico de
Força para o grupo feminino.
Para a variável Segundo Pico de Força, os resultados
vão de encontro aos apresentados por Melo et al. [7] e
White [17], que registraram a diminuição dos valores
desta variável linearmente com o aumento da velocidade. Contudo, o grupo masculino não indicou diferença
estatisticamente significativa na passagem de 5km/h para
6km/h e o grupo feminino nas passagens de 4km/h para
5km/h e 5km/h para 6km/h. Admite-se que tal resultado
possa ser obtido por uma maior capacidade de adaptação
apresentada por estes grupos.
A Taxa de Aceitação de Peso é um indicador de uma
série de características relacionadas ao recebimento da
carga pelos membros inferiores. Costa, Duarte e Amadio
[18] afirmam que a força de reação do solo não é medida
direta de sobrecarga, mas apenas um indicador de níveis
de solicitação mecânica externa. Hennig [19], por sua
vez, relaciona a acomodação do peso como o choque do
impacto e afirma que esta é influenciada pela velocidade.
Com o incremento da velocidade, há um aumento dos
valores médios dos picos de força, e simultaneamente,
uma redução do tempo para atingir estes picos.
A variável Taxa de Retirada do Peso pode ser definida como a fase final de impulsão dos pés no solo, que é
dada principalmente pela força dos músculos extensores
do tornozelo. Sendo o impulso diretamente proporcional a força aplicada [20], pode-se dizer que a TRP é
Acao Mov_.indb 85
igualmente proporcional à mesma força. Desta forma,
justifica-se o comportamento desta variável quando influenciada pela velocidade, uma vez que a força aumenta
para a aceleração.
Os resultados encontrados para a variável Cadência,
que teve seus valores aumentados, e para as variáveis
Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples que
sofreram uma redução de seus valores médios, concordam com Murray apud Brunieira [21]. O autor afirma
que o incremento da velocidade produz o aumento dos
valores de CAD e a redução dos valores de TDA e TAS.
Contudo, apesar da diminuição dos valores médios da
variável TAS, com o incremento da velocidade, estas
diferenças só foram estatisticamente significativas, em
nosso estudo, das três passagens analisadas, somente a
de 4Km/h para 6Km/h.
Sendo assim, tanto a variável Taxa de Aceitação
do Peso, quanto a variável Taxa de Retirada do Peso
aumentaram com o incremento da velocidade, na tentativa de cumprir as solicitações do aumento da cadência,
induzidas pelo piso móvel.
E por fim, identificou-se um aumento estatisticamente significativo dos valores médios da variável
Comprimento do Passo. Este fenômeno é explicado por
Andrade, Melo, Ávila & Kraeski [22] que afirmam que
o comprimento do passo deve apresentar um comportamento contrário ao apresentado na cadência, a fim
de ajustar a freqüência de passos à velocidade induzida.
Desta forma, o comportamento normal para esta variável,
quando submetida a um incremento de velocidade, é
aumentar sua amplitude na tentativa de acompanhar o
ritmo imposto pela esteira.
Conclusão
Diante dos resultados apresentados e com base
no referencial teórico consultado, concluiu-se que: a)
Homens e mulheres demonstram diferenças em algumas
características da marcha, sendo que as variáveis Taxa de
Retirada do Peso, Comprimento do Passo e Tempo de
Duplo Apoio apresentaram diferenças nas três velocidades; Primeiro Pico de Força na velocidade de 5km/h;
Taxa de Aceitação do Peso a 4km/h e Tempo de Apoio
Simples nas velocidades de 4km/h e 5km/h maiores
para os homens. b) As variáveis Segundo Pico de Força
e Cadência foram maiores para as mulheres nas três velocidades, enquanto que a variável Primeiro Pico de Força
foi maior apenas na velocidade de 6Km/h e a Taxa de
Aceitação do Peso foi maior nas velocidades de 5Km/h e
6Km/h. c) As variáveis Primeiro Pico de Força e Tempo
de Apoio Simples apresentaram valores semelhantes para
homens e mulheres, respectivamente, nas velocidades
de 4Km/h e 6Km/h. d) As variáveis dinâmicas Primeiro
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Pico de Força, Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação
do Peso e Taxa de Retirada do Peso e as variáveis espaçotemporal Comprimento do Passo e Cadência sofreram
aumento significativo de sua magnitude em pelo menos
uma das passagens de velocidade, indicando que estas
variáveis estão diretamente relacionas ao fator velocidade;
e) Variáveis temporais como Tempo de Duplo Apoio e
Tempo de Apoio Simples tiveram seus valores reduzidos
significativamente em pelo menos uma das passagens de
velocidade, sugerindo relação inversamente proporcional
a este fator; g) Em síntese, existem algumas diferenças
no padrão da marcha de homens e mulheres, porém não
muito discrepantes. Além disso, o aumento da velocidade
influencia o comportamento de variáveis dinâmicas e
espaço-temporal da marcha de indivíduos sadios, ora
aumentado, ora diminuindo seus valores médios.
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ARTIGO ORIGINAL
Treinamento com pesos para iniciantes:
comparação de esforço entre três modelos
de treinamento
Weight training for beginners: comparison of strength between
three training models
Ricardo Yukio Asano
Professor de Educação Física – ESEF-Jundiaí, Pós-graduação em fisiologia do exercício – FMU e Mestrado em Educação Física
– Performance Humana – UNIMEP, atualmente Coordenador do curso de Educação Física da UNIRG-TO
Resumo
O treinamento com pesos é comumente utilizado em programas de atividade física. Pesquisas relatam efeitos positivos na
saúde e performance de praticantes nesse treinamento. Porém em iniciantes no programa ocorrem algumas alterações fisiológicas
muitas vezes drásticas em seu organismo. O American College of Sports Medicine (ACSM) publicou diretrizes para o treinamento
direcionado a alunos iniciantes no programa. As variáveis intensidade, volume, recuperação, velocidade de contração muscular,
seqüência dos exercícios, ordem dos exercícios e utilização de pesos livres ou máquinas de musculação foram relatadas em protocolos visando treinamento de força, hipertrofia e resistência muscular localizada. O presente estudo objetivou a determinação do
esforço realizado pelo iniciante nos três modelos de treinamento do ACSM. Participaram do estudo dez indivíduos sedentários.
Utilizou-se para determinação do esforço: freqüência cardíaca, percepção subjetiva do esforço, concentração de lactato e atividade de
creatina kinase. Houve aumento significativo na atividade de creatina kinase (564 ± 145 U.I), lactato plasmático (5,7 ± 0,8 mmol.
l) e freqüência cardíaca (123,7 ± 4,5 bpm) no protocolo de hipertrofia, quando comparado com os protocolos de força e RML (p
< 0,05). Os resultados sugerem que o protocolo de hipertrofia parece ser o mais estressante para o aluno iniciante em programa de
treinamento com peso em relação a microlesão muscular e esforço quando comparado com protocolo de força e resistência muscular
localizada do ACSM.
Palavras-chave: iniciantes, microlesão, lactato, treinamento de força.
Abstract
Weight training is very common in physical activity programs. Researches report positive effects in health and performance
of practitioners. However, beginners of weight training program suffer some physiological alterations in their body, the majority
drastic. The American College of Sports Medicine (ACSM) published guidelines for beginner’s weight training program. The variable
Artigo recebido em 16 de maio de 2006; aceito em 01 de agosto de 2006.
Endereço para correspondência: Ricardo Yukio Asano, UNIRG – Campus II, AV. Rio de Janeiro, Setor Central, Gurupi TO,
Tel: (63) 3612-7626, (63) 8411-3887, E-mail: [email protected]
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intensity, volume, recovery, speed of muscular contraction, sequence of exercises, and order of the exercises during workout and
use of free weights or muscle machines were reported in protocols aiming at training strength, hypertrophy and located muscular
resistance. The present study aims at determinating strength carried out by the beginner in the three training models of ACSM.
The study was composed by ten sedentary individuals. To determinate strength it was used: heart rate, subjective perception of
strength, lactate concentration and activity of creatine kinase. There has been a significant increase in the creatine kinase activity
(564 ± 145 U.I), lactate (5.7 ± 0.8 mmol.l) and heart rate (123,7 ± 4,5 bpm) in the hypertrophy protocol, when compared with the
protocols of strength and RML (p < 0,05). The results suggest that the hypertrophy protocol seems to be stressful for the beginners
in a weight training program in relation to a muscle microinjury and effort when compared with strength protocol and located
muscular resistance of the ACSM.
Key-words: beginners, microinjury, lactate, strength training.
Introdução
O treinamento com pesos tornou-se uma das
formas mais conhecidas de exercício para o condicionamento de atletas e não-atletas. O termo treinamento com
pesos, normalmente refere-se ao treinamento que utiliza
pesos livres ou equipamentos com peso. O exercício com
sobrecarga tornou-se popular nos últimos 70 anos, no entanto, estima-se que esportes utilizando força possam ter
surgido há cerca de 1800 anos. As investigações científicas
do treinamento com pesos não evoluíram até o trabalho
de Delore e Watkins em 1948, após a Segunda guerra
mundial. Esses autores demonstraram a importância
do exercício de força progressivo, no aumento da força
e hipertrofia muscular para a reabilitação de militares.
Desde os anos de 1950 e 1960, o treinamento de força
é um tópico de interesse científico [1].
Sabe-se que o treinamento com pesos aumenta o
tamanho e a massa do músculo esquelético. O aumento
do diâmetro de fibras musculares existentes ocorre com a
adição de novas miofibrilas e proteínas sarcoplasmáticas
dentro dessas fibras [2].O aumento no tamanho do músculo em resposta ao treinamento com pesos foi observado
em estudos realizados em animais e seres humanos. Esse
aumento dos músculos em atletas treinados em força
tem sido atribuído à hipertrofia das fibras musculares
já existentes [3].
Um ótimo programa de treinamento com pesos
deve seguir algumas especificações, tais como o estado
inicial de aptidão física e saúde do individuo, o seu
objetivo principal e limitações com a prática do treinamento. É muito importante ter conhecimento dos efeitos
agudos de protocolos de treinamento com pesos, para a
implantação dos modelos ao decorrer do programa de
treinamento [4]. Além disso, a combinação das variáveis
do treinamento com pesos como; a escolha dos exercícios,
a ordem de execução, o volume, a intensidade, os intervalos entre as séries e a freqüência dos exercícios, podem
causar diferentes efeitos no organismo [5]. Efeitos agudos
Acao Mov_.indb 88
como aumento da concentração de lactato sanguíneo,
microlesão muscular, alteração na glicemia, alteração da
pressão arterial são comuns em iniciantes em programas
de treinamento com pesos [3,6,7,8].
O American College Sports Medicine (ACSM)
publicou, em fevereiro de 2002, diretrizes para treinamento com pesos de protocolos utilizados comumente
nos programas de musculação para alunos iniciantes
no treinamento com pesos. No artigo foram publicados modelos de treinamento para resistência muscular
localizada, diretrizes para hipertrofia e diretrizes para
treinamento visando aumento da força muscular. Esse
artigo publicado na revista Medicine and Science in
Sports and Exercise por Kraemer et al. [1], relatou que,
para se atingir uma meta específica (força, hipertrofia,
resistência, potência, entre outros.) com o treinamento
com pesos, é necessário seguir o tipo de protocolo
ideal para alcançar as adaptações esperadas. As características de um ótimo programa de treinamento
com pesos incluem o uso de contrações musculares
concêntricas e excêntricas e realização de exercícios
que recrutem simples e múltiplas articulações. É recomendado que, na seqüência dos exercícios se utilize
primeiro exercícios de múltiplas articulações e depois
exercícios de articulações simples, grandes grupos
musculares antes dos pequenos grupos musculares e
exercícios de alta intensidade antes dos exercícios de
baixa intensidade.
Para treinamento de força muscular para alunos
iniciantes é recomendado que cargas correspondentes
de oito a doze repetições máximas sejam utilizadas.
Recomenda-se para alunos intermediários e avançados
a utilização de cargas de um a doze repetições máximas,
nas fases de periodização do treinamento, com eventual
ênfase para uma a seis repetições máximas e período de
recuperação de três minutos entre uma série e outra com
velocidades de contração moderada (um a dois segundos
de duração da contração concêntrica e um a dois minutos
contração excêntricas). Alunos iniciantes devem treinar
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de dois a três dias por semana e quatro a cinco dias para
alunos intermediários e avançados.
As recomendações para treinamento de hipertrofia
muscular para escolha dos tipos e freqüência dos exercícios são similares ao treinamento de força. A sobrecarga
para esse treinamento corresponde uma a doze repetições
máximas com ênfase entre seis a doze repetições, usando
um a dois minutos de recuperação e velocidades moderadas de contração. Alto volume de treinamento e múltiplas
séries são recomendados para maximizar hipertrofia.
Para o treinamento de resistência muscular localizada recomendam-se cargas leves a moderadas entre
40 e 60% de uma repetição máxima realizadas com alto
volume, acima de 15 repetições e períodos curtos de
recuperação, menor que 90 segundos. Na interpretação e
utilização dessas diretrizes nos programas de treinamento
com pesos, devem levar em consideração os objetivos
específicos dos alunos assim como sua aptidão física e
o estado de treinamento. A utilização apropriada das
variáveis do exercício com pesos (escolha de resistência,
seleção e ordem dos exercícios, número de séries e repetições, extensão do período de repouso), capacitam alunos
a adquirir altos níveis de aptidão muscular. Características
de aptidão física incluem força muscular, potência, hipertrofia e resistência muscular localizada. Outras variáveis
como velocidade, equilíbrio, coordenação, habilidade
em saltos, flexibilidade e outros testes de performance
motora podem também ser positivamente acentuadas
pelo treinamento de força [1].
Uma das mais respeitadas comunidades cientificas
que produzem conhecimento na área da Educação Física
e Medicina Esportiva é o ACSM. Essa entidade publica
diretrizes a serem seguidas por alunos iniciantes, intermediários e avançados para a realização de programas
de treinamento com pesos, por isso profissionais da
Educação Física responsáveis pela elaboração de programas de treinamentos com pesos as têm como princípios
básicos. As diretrizes do ACSM são sustentadas por
pesquisa recentes e fidedignas, podendo ser tomadas
como referências e ponto de partida para futuros estudos
sobre o assunto.
A elaboração das sessões de treino constitui uma
análise minuciosa, o qual prevê perspectivas possíveis a
curto, médio e longo prazo. Além da elaboração do treino
visando um objetivo específico a médio e longo prazo,
necessita-se preservar a integridade do aluno, principalmente os iniciantes no programa de treinamento com
pesos, no que diz respeito aos efeitos agudos do treino.
Uma sessão de treinamento com pesos causa efeitos, em
certos momentos até drásticos, em muitos sistemas fisiológicos de um indivíduo iniciante ao treinamento com
pesos, como, por exemplo, alterações neuromusculares,
endócrinos, hemodinâmicos, imunológicos, mobilização
Acao Mov_.indb 89
de substratos, produção de energia, cardiorespiratório,
cardiovascular entre outros sistemas. O foco do estudo
é gerar conhecimento sobre os modelos de treinamento
com pesos sugeridos pela ACSM em relação ao esforço
despendido pelos iniciantes, em uma comparação entre
os três modelos citados (força, hipertrofia e RML). O
conhecimento dos efeitos do esforço em diferentes protocolos de treinamento com pesos se torna fundamental
para planejamento, elaboração e aplicação do programa
de treinamento, principalmente na população de iniciantes sedentários.
Materiais e métodos
Este estudo se caracteriza como ensaio experimental, para obtenção das respostas agudas de esforço de
uma sessão de treinamento com pesos em três modelos
de treinamento com pesos para iniciantes. Utilizamos
determinação da freqüência cardíaca, percepção subjetiva de esforço, concentração de lactato, e atividade
de creatina kinase, em adultos saudáveis destreinados,
objetivando determinar e comparar esforço e respostas
fisiológicas agudas, entre os protocolos de treinamento
recomendados para alunos iniciantes em programa de
treinamento com pesos.
Selecionamos dez homens, saudáveis, com idade
24,5 ± 8 anos, peso 70,4 ± 8,1kg, estatura 171,2 ± 5,1cm,
índice de massa corpórea (IMC) 23,9 ± 1,9, porcentagem
de gordura 15,3±3,6%. A seleção dos sujeitos incluiu indivíduos normotensos, não-diabéticos, não-atletas e que
não praticaram nenhum treinamento físico regular nos
últimos doze meses. Todos os sujeitos foram informados
dos procedimentos e riscos do estudo, assinando um
termo de consentimento aceitando por livre e espontânea
vontade realizar o processo experimental.
Os aparelhos de musculação utilizados foram da
marca Righetto High Tech.
1ª fase - Protocolo de RML
Antes de iniciar o protocolo de RML, os sujeitos
passaram por uma bateria de testes, que foram classificados como amostra de controle.
Os sujeitos foram instruídos a ficar na posição
sentada durante três minutos. Após esse tempo, foram
determinadas a freqüência cardíaca por freqüencímetro
da marca Polar Favor e a concentração de lactato através
da perfuração do dedo indicador da mão direita utilizando uma lanceta. Após a perfuração, coletou-se sangue do
plasma por uma tira teste posicionada dentro do aparelho
portátil lactímetro para determinação da concentração de
lactato plasmático. A análise da concentração do lactato
foi realizada pelo lactímetro Accusport Accutrend. E
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finalizando as coletas iniciais, ainda na mesma posição
sentada foi coletada 5 ml de sangue através do tubo
Vacutainer, em tubos BD Vacutainer (K3 EDTA 5ml),
da veia basílica, as amostras foram congeladas em local
com temperatura de -20º, para análise posterior. A coleta
de sangue foi realizada por especialista em enfermagem
devidamente autorizada para coleta de sangue humano.
Para todas as coletas evasivas foram tomadas as devidas
precauções e condutas de higiene e infecções orientadas
por especialista em coleta de sangue. Todos os materiais
utilizados nessas coletas eram de natureza descartável e
foram eliminados em recipientes próprios.
O protocolo de RML consistia em realização de
contrações musculares concêntricas e excêntricas a 60%
de 1 RM, três séries de quinze repetições, com um minuto
de recuperação entre as séries e velocidades moderadas
de contração muscular, a seleção e ordem dos exercícios
foram de grandes grupos musculares antes dos pequenos
grupos e exercícios de múltiplas articulações antes dos
exercícios de articulações simples como recomendado
pelo ACSM, para treinamento de RML para iniciantes.
A seguir, está descrita a ficha de treino do protocolo de
RML que foi realizado pelo grupo experimental.
Ficha de treino de protocolo RML
Os sujeitos realizaram os exercícios do protocolo de
RML a 60% de 1-RM, três séries de quinze repetições,
velocidade de contração moderada, recuperação de um
minuto entre as séries.
Tabela I - Ficha de treino para exercícios do protocolo de RML
Máquina
Descrição do movimento
1
Supino vertical
Sentado em banco com apoio para as costas, cotovelos flexionados, realizando flexão dos ombros e extensão do tríceps no plano horizontal.
2
Fly máquina
Deitado sobre banco horizontal segurando uma barra na altura do peitoral,
cotovelos flexionados, mãos em pronação, realizando extensão do tríceps e
flexão dos ombros no plano vertical, elevando uma barra com pesos.
3
Pulley
Sentado, braços estendidos, segurando uma barra presa a uma roldana,
acima da cabeça, realizando flexão do cotovelo e flexão dos ombros no plano
vertical.
4
Voador
Sentado em bando com apoio nas costas, braços na posição horizontal,
realizando flexão dos ombros no plano horizontal.
5
Hack horizontal
Deitado em banco horizontal, pés apoiados em uma plataforma, realizando
extensão do joelho e quadril no plano horizontal.
6
Flexão de perna
Deitado em decúbito ventral realizando flexão do joelho no.
7
Extensão de perna
Sentado em banco com apoio nas costas realizando extensão do joelho.
8
Panturrilha máquina
Sentado realizando extensão do tornozelo.
9
Máquina bíceps
Sentado, axila apoiada realizando flexão do cotovelo.
10
Máquina tríceps
Sentado, braços apoiados na posição horizontal na altura dos ombros, realizando extensão do cotovelo.
Logo após o último exercício da ficha de treino, os
sujeitos foram levados para a sala de avaliação, onde realizamos minuciosamente os mesmos procedimentos das
mensurações nas coletas de amostras em estado de repouso.
Ao final do treino, acrescentamos mais uma mensuração:
a percepção subjetiva do esforço (escala de Borg).
Período de intervalo entre as fases de coleta
Após o término do protocolo e coletas do treino de
RML, os sujeitos do grupo experimental foram instruídos a não praticar nenhum exercício físico regular, de
qualquer natureza no período de duas semanas (período
de intervalo entre uma fase de coleta e outra).
Acao Mov_.indb 90
2ª fase - Treinamento para hipertrofia
O protocolo de hipertrofia consistia em realização
de contrações musculares concêntricas e excêntricas a 70%
de 1-RM, três séries de 12 repetições, com um minuto e
trinta segundos de recuperação entre as séries e velocidades
moderadas de contração muscular, a seleção e ordem dos
exercícios foram de grandes grupos musculares antes dos
pequenos grupos e exercícios de múltiplas articulações antes
dos exercícios de articulações simples como recomendado
pelo ACSM, para treinamento de hipertrofia para iniciantes.
A seleção e a ordem dos exercícios do treino para hipertrofia
seguiu rigorosamente os mesmos do treino de RML. - Coleta
de amostras no protocolo de hipertrofia
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91
ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Os mesmos procedimentos de coleta de amostras
realizados no protocolo de RML foram repetidos no
protocolo de hipertrofia. Período de intervalo entre a 2ª
e 3ª fase de coleta
Assim como no intervalo entre a 1ª e 2ª fase, neste
intervalo os sujeitos do grupo experimental foram instruídos a não praticar nenhum exercício físico regular, de
qualquer natureza, no período de duas semanas (período
de intervalo entre uma fase de coleta e outra).
3ª fase - Treinamento de força
O protocolo de força consistia em realização de
contrações musculares concêntricas e excêntricas a 75%
de 1-RM, três séries de 8 repetições, com dois minutos
e trinta segundos de recuperação entre as séries a velocidades moderadas de contração muscular, a seleção e
ordem dos exercícios foram de grandes grupos musculares
antes dos pequenos grupos e exercícios de múltiplas
articulações antes dos exercícios de articulações simples
como recomendado pelo ACSM, para treinamento de
força para iniciantes. A seleção e a ordem dos exercícios
do treino para força seguiram rigorosamente o mesmo
do treino de RML e hipertrofia.
Coleta de amostras no protocolo de força
Os mesmos procedimentos de coleta de amostras
realizados no protocolo de RML e hipertrofia, também
foram repetidos no protocolo de força.
Análise das amostras coletadas
As determinações de freqüência cardíaca (Polar
Favor), lactato (Accusport Accutrend) e esforço subjetivo (escala de Borg) foram analisados por equipamentos
portáteis que analisaram a amostra no mesmo local e
hora da coleta. Já a análise da atividade de creatina kinase
(Bio Diagnóstica, CK-MB NAC), o sangue coletado (5
ml) pelas especialistas em enfermagem, foi centrifugado,
coletado o soro e congelado em local com temperatura a
- 20º, para análise posterior.
riormente realizou-se análise de variância ANOVA com
teste F e verificou-se a diferença significativa p < 0,05.
A comparação da medias dos variantes independentes
foi realizada através do Teste de comparação de medias
LSD (mínima significativa) de Fisher.
Resultado e discussões
Constatou-se que o protocolo de hipertrofia é mais
estressante ao organismo de sujeitos destreinados em relação aos protocolos de força e RML, nas variáveis: freqüência cardíaca, concentração de lactato plasmático e atividade
da creatina Kinase Na variável percepção subjetiva de
esforço, os resultados apontam protocolo de baixo volume
e alta intensidade (força), como menor esforço subjetivo
que alto volume e baixa intensidade (RML) e moderada
intensidade e moderado volume (hipertrofia).
O protocolo de hipertrofia causou maior microlesão no tecido muscular esquelético em relação aos
protocolos de RML e força (Figura 1). A alta intensidade
do protocolo de hipertrofia apresentou-se com maior
probabilidade de provocar microlesão do que alto volume
(protocolo de RML), uma das hipóteses seria a necessidade da utilização de fibras inativas no esforço diário
do sujeito destreinado. Porém, alta
Figura 1 - concentração creatina quinase, de
sujeitos destreinados em treinamento com pesos,
determinada logo após o último exercício dos protocolos de RML, hipertrofia e força recomendados
pelo American College Sport Medicine para alunos
iniciantes no treinamento com pesos. Os resultados
estão expressos como média ± desvio padrão, (n =
10), utilizando o nível de significância de p < 0,05,
em comparação entre os protocolos.
Plano analítico e técnica estatística
Para a análise das variáveis dependentes (freqüência,
pressão arterial, percepção de esforço, glicemia, lactato
e creatina quinase) e comparação de resultados entre as
variáveis independentes (força, hipertrofia e RML) utilizou-se do método estatístico ANOVA. Com significância
das comparações múltiplas realizadas através do teste LSD
de Fisher ao nível de 5% de significância.
Primeiramente foi verificada a homogeneidade das
variâncias através do teste Levene (p = 0,118). Poste-
Acao Mov_.indb 91
# - diferença significativa (p < 0,05), entre o protocolo e
repouso.
* - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de
hipertrofia e protocolo força.
∆ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de
hipertrofia e protocolo de RML..
[ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de
força e protocolo de RML.
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
intensidade de exercício parece não ser a única
variável a provocar lesão no tecido esquelético, já que
a intensidade do protocolo de força utilizado em nosso
trabalho foi maior que o protocolo de hipertrofia (força
75% de 1-RM e hipertrofia 70% de 1-RM) e o protocolo de hipertrofia demonstrou aumento significativo
da atividade da creatina kinase em relação ao protocolo
de força. Sendo assim, parece que intensidade moderada
para alta, conjugado com volume moderado (protocolo
de hipertrofia), causa maior lesão que alta intensidade e
baixo volume (protocolo de força) e alto volume e baixa
intensidade (protocolo de RML).
Almeida [9] comparou, em dois protocolos, os
efeitos da uma sessão de treinamento com pesos em
sujeitos destreinados. Um grupo realizou o protocolo
de múltiplas-séries, que consistia em três séries com
carga de 15-RM, com dois minutos de intervalo entre
as séries, em oito exercícios com pesos. O segundo grupo executou os mesmos exercícios que o primeiro, mas
diferenciou-se pelo fato de utilizar o treinamento na
forma de circuito, onde as séries de exercícios de cada
grupo muscular foram alternadas por grupos musculares
diferentes, e os intervalos entre as séries foram de trinta
segundos. O autor determinou nível de microlesão
utilizando atividade de creatina quinase após 24, 48 e
72 horas após esforço. Os valores para múltipla-série
foram de 371 ± 597,50, 800 ± 609,10 e 1300 ± 631,40
respectivamente. E 190 ± 248,35, 219 ± 495,85 e 145 ±
631 no protocolo em forma de circuito. O autor concluiu
que para alunos iniciantes em treinamento com pesos,
recomenda-se aumentar o volume do esforço em vez da
intensidade, evitando assim lesão excessiva do tecido
muscular esquelético.
Segundo Verkochansky [10], a atividade muscular
intensa está vinculada ao acúmulo de substratos metabólicos, não oxidados totalmente no organismo, em
particular do lactato e ácido pirúvico que influenciam
negativamente a contração do músculo, provocando a
fadiga muscular. Em pessoas destreinadas, à medida que
aumenta o esforço, a concentração do lactato no sangue
varia pouco até esforços de 50 a 60% do volume de
oxigênio máximo (VO²max), em seguida eleva-se bruscamente. O protocolo de hipertrofia utilizado em nosso
estudo apresentou elevada concentração de lactato plasmático após o esforço. A elevação do lactato plasmático
do protocolo de hipertrofia mostrou-se significantemente
elevado quando comparado com os protocolos de força e
RML (Figura 2). Já quando comparamos os protocolos
de força e RML, não encontramos diferença significativa.
Certamente as variáveis intensidade (70%), volume (10
repetições) e período de recuperação (1’30’’) conjugadas,
representam elevado esforço para sujeitos destreinados.
Acao Mov_.indb 92
Figura 2 - Concentração de lactato plasmático, em
milimol por litros (mmol/l -¹), de sujeitos destreinados em treinamento com pesos, determinada logo
após o último exercício dos protocolos de RML,
hipertrofia e força recomendados pelo American
College Sport Medicine para alunos iniciantes
no treinamento com pesos. Os resultados estão
expressos como, média ± desvio padrão, (n = 10),
utilizando o nível de significância de p < 0,05, em
comparação entre os protocolos.
# - diferença significativa (p < 0,05), entre o protocolo e
repouso.
* - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de
hipertrofia e protocolo força.
∆ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de
hipertrofia e protocolo de RML..
[ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de
força e protocolo de RML.
De acordo, Frey [11] relata que exercícios de alta
intensidade elevam mais a concentração de lactato em
relação ao alto volume de treinamento.
Os resultados do presente estudo mostraram que,
em uma população de homens destreinados, iniciando
um treinamento com pesos, o protocolo de hipertrofia
recomendado pelo ACSM parece ser o que causa maior impacto ao organismo, quando comparado com protocolo de
força ou RML. Principalmente em relação à microlesão do
tecido esquelético e concentração de lactato plasmático.
Conclusões
Comparando os resultados obtidos nas variáveis freqüência cardíaca, creatina kinase, lactato e percepção de
esforço subjetivo, entre os modelos testados, constatou-se
que o protocolo de hipertrofia parece ser o que mais causa
alterações drásticas ao organismo do aluno iniciante em
programa de treinamento com peso, em comparação com
protocolos de força e RML. Conclui-se que o esforço
produzido no protocolo de hipertrofia recomendado
pelo ACSM é mais estressante ao organismo do iniciante
em treinamento com pesos quando comparado com os
valores de esforço de RML e força.
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COMUNICAÇÃO BREVE
Subsídios para propostas de treinamento em
natação para crianças em fase puberal
Subsidies for swimming training sessions for children at puberty
Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro
Professor de Educação Física, Universidade Federal do Paraná; Fisioterapeuta, Universidade Tuiuti do Paraná; Especialista em
Traumato Ortopédica Funcional, Coffito
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar uma pesquisa bibliográfica baseada em trabalhos científicos de alguns autores da área
do treinamento desportivo, que foi realizada com a finalidade de subsidiar, técnica e cientificamente, propostas de treinamentos
em natação para crianças em fase puberal. Em seqüência, apresenta inicialmente as características das crianças em fase puberal, as
conseqüências do treinamento, e os princípios do treinamento desportivo. A seguir relata o treinamento enfocando aspectos como
resistência geral, efeitos fisiológicos, sistemas aeróbicos, treinamento de força durante a puberdade e treinamento de velocidade.
Finaliza apresentando um planejamento das sessões de treino diário, metragem diária e semanal adaptada às crianças em fase puberal
junto com os sistemas fisiológicos do treinamento de natação. Concluindo-se que o treinamento para crianças em fase puberal possui
estrutura própria e está baseado em princípios científicos relacionados ao crescimento e desenvolvimento do indivíduo.
Palavras-chave: treinamento, natação, puberal.
Abstract
The aim of this study is to present a bibliographical research based on the scientific studies pertaining to sport, aiming at
subsidizing both technically and scientifically swimming training sessions for children at puberty. The study is divided into three
parts. The first one presents the characteristics of pubescent children, the consequences of training, and the principles of sporting
training. The second one analyzes training focusing on aspects such as general resistance, physiological effects, aerobic systems,
strength training during puberty and speed training. And the last part presents a plan for daily training sessions, daily and weekly
length adapted to pubescent children together with the physiological systems of swimming training. In conclusion we are able to
say that pubescent-children training has its own structure which is based on scientific principles related to the growth and development of the individual.
Key-words: training, swimming, puberty.
Artigo recebido em 02 de junho de 2006; aceito em 25 de julho de 2006.
Endereço para correspondência: Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro, Rua Alferes Angelo Sampaio, 1715/09, Batel,
80420-160 Curitiba PR, E-mail: [email protected]
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Introdução
Material e métodos
Considerando a escassez de propostas de treinamento em natação para crianças em fase puberal, 11-12
anos meninos e 12-13 anos meninas, que se preocupem
com um desenvolvimento integral e harmonioso, este
trabalho pretende subsidiar uma programação sistematizada para nadadores petiz II 11 anos, infantil 12 anos
e juvenil 13 e 14 anos, baseada nos princípios científicos
do treinamento desportivo e nas características fisiológicas e próprias desta fase. Esta proposta encontra sua
justificativa quando procura enfatizar um treinamento
para crianças em fase puberal, que sirva de base para
futuras performances. A falta de embasamento científico
em pontos importantes no desenvolvimento de treinamentos em natação para crianças em fase puberal tem
originado ausência de propostas de treinamentos, o que
conseqüentemente acarreta a operacionalização de uma
“práxis” inadequada, baseada em treinos utilizados para
adultos. Isto origina um trabalho de alta intensidade,
anaeróbico lático, incompatível às crianças, ocasionando
seqüelas diversificadas e levando ao abandono da prática
da natação.Com base nos princípios do treinamento
desportivo, sugere-se conteúdos para um planejamento
do desporto natação voltado às crianças em fase puberal,
atendendo suas características, respeitando suas possibilidades, não agredindo seus organismos e ferindo sua
integridade como ser humano. Pretende-se também citar
os princípios do treinamento desportivo, adaptando-os e
compatibilizando-os às crianças em fase puberal, especificando as características de desenvolvimento das crianças
nesta fase. Segundo Fiorese “começar cedo no esporte,
não significa especialização precoce” [1]. Argumentações
citadas anteriormente não invalidam a prática de atividade física para crianças; ao contrário, ela é importantíssima
desde que praticada adequadamente.
A partir da constatação da importância de propostas
de treinamento em natação para crianças em fase puberal,
sistematizada, para um trabalho específico para cada faixa
etária, observa-se o grande significado do assunto e, para
tanto, sentiu-se a necessidade de investigar bibliograficamente o tema através de referências teórico-científicas
em revistas e em obras inéditas, livros, trabalhos e documentos não publicados e artigos.
Revisão de literatura
A atividade física quando realizada adequadamente
de forma compatível com a possibilidade e necessidade fisiológica exigida nos estágios de crescimento e desenvolvimento físico é extremamente importante. Considerando
que tudo tem seu momento certo, implica a necessidade
de um planejamento adequado para que não ocorram
graves conseqüências fisiológicas, psicológicas gerando o
abandono do desporto. Segundo Weineck [2], as características das crianças em fase puberal estão qualificadas
como ‘’A segunda mutação morfológica”, começando
aos 11-12 anos nas meninas e nos meninos aos 12-13
anos tendo a duração de um ano em cada um. Nessa fase
surgem algumas modificações como aparição da sexualidade, desaparecimento das estruturas infantis, marcantes
mudanças nas proporções do crescimento anual – até 10
cm na altura e no peso de 9,5 Kg –, instabilidade psíquica
pela instabilidade hormonal [2]. Estas suposições exigem
correspondente ajuste do treinamento na primeira e segunda fase da puberdade melhorando prioritariamente
as qualidades físicas como a capacidade de coordenação.
No quadro I podemos observar os desenvolvimento das
qualidades motoras na fase puberal.
Quadro I- Desenvolvimento das qualidades motoras na fase puberal.
Fase
Característica
Adolescência
Pré-Puberal
(10 a 12-14 anos)
Fase de melhor aprendizagem. Interesse pela
atividade desportiva.
Adolescência
Puberal
(12-14 a 14-16 anos)
Adolescência
Pós-Puberal
(14-16 a 18-20 anos)
Desenvolvimento das
Qualidades Motoras
Modalidades
Esportivas Indicadas
Os jovens dominam bem a flexibi- A iniciação esportiva especializada
lidade e o ritmo. Desenvolvimen- é bem recebida.
to da força e da velocidade em Deve haver avaliação de evolução
regime de resistência.
orgânico-funcional.
Fase de reestruturação
Os exercícios de força e resistên- Ginástica
Esporte em geral.
das habilidades e capaci- cia têm plena aplicação.
dades motoras.
Desenvolvimento neuro-psicomotor é completo.
Fase de estabilização, da Praticamente não há nenhuma Algumas modalidades desportivas
individualização acentu- limitação para prática intensa no se adaptam melhor ao organismo
ada e da diferenciação
esporte.
jovem.
específica dos sexos.
Observar seu biótipo.
Fonte: Fiorese [1]
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Segundo Weineck [2], algumas modificações morfológicas estruturais acarretam algumas modificações na
parte motora desta fase do crescimento, algumas dentre
outras estão citadas no quadro II.
Quadro II
Conseqüências do treinamento
01
O forte aumento da altura e peso que algumas vezes produz uma deteriorização da relação força-peso, determina
freqüentemente uma diminuição das coordenações especializadas;
02
A precisão de controle de gesto deixa a desejar, e os movimentos bruscos são típicos nesta idade;
03
A fase puberal representa a idade de máxima capacidade e treinamento e dos determinantes da condição física.
Fonte: Weineck [2]
Estudos feitos por Maglischo [3] com nadadores, faixa etária entre 11 e 12 anos (fase puberal), que
participam de treinamentos cinco dias por semana,
tendo a duração de 1 a 2 horas por dia, sugerem que
as atividades destes nadadores devem “ assemelhar-se”
muito aos nadadores adultos, porém mais breve e com
menor metragem, dando ênfase em tentativas para vencer
desafios. Os treinadores devem ver a competição não
como conquistas, mas como concretização de esforços.
O treinamento fora da água com elásticos, banco de natação e calistenia são de grande valia. Já na faixa dos 13
e 14 anos o treinamento deve dar um salto quantitativo,
tudo que foi trabalhado na faixa de 11 e 12 anos será
feito com maior intensidade. O volume e intensidade
de treino devem ser semelhantes aos nadadores adultos,
mas com o número de séries menor por semana, deve
ter duração de 2 a 2 ½ horas por série tendo a oportunidade de nadar seis dias por semana, sendo sugerido que
atletas “fora de série” possam treinar com os adultos.
Segundo Bompa [4], esta fase é conhecida como fase da
formação atlética que vai dos 11 aos 14 anos. Algumas
diretrizes específicas para os programas de treinamento
são indicadas: execução de exercícios específicos de um
esporte e de outros para um enriquecimento motor,
elevar progressivamente o volume e a intensidade de
treinamento, exercícios que introduzam bases de tática
e estratégia, exercícios para a melhora da flexibilidade,
coordenação e equilíbrio, evitar colocar atletas em situações potencialmente humilhantes, introduzir exercícios
de força geral para desenvolvimento de tronco, membros
inferiores, coluna lombar e abdome, uso de materiais
como medicine ball, tubos de borracha, puxadores e pesos de mão, treinamento de força com pesos com cargas
baixas e um alto número de repetições auxiliará no desenvolvimento da força. O desenvolvimento da capacidade
aeróbica deve continuar sendo desenvolvido, introduzir
um treinamento anaeróbio moderado para a adaptação
do treinamento de alta intensidade, introduzir exercícios
para melhorar a concentração e treinamento mental.
Estas indicações de Bompa [4] não se adaptam a outros
Acao Mov_.indb 96
autores que separam as fases do crescimento em duas,
especificando o treinamento das fases de crescimento, o
autor cita como a fase puberal como formação atlética
que vai dos 11 aos 14 anos. Para uma programação eficaz
do treinamento para crianças em fase puberal, Tubino
[5] cita os princípios do treinamento desportivo como
ponto de partida a serem respeitados para uma programação eficiente. Estes princípios são o da individualidade
biológica, respeitando o ser humano individualmente
e especificando o seu treinamento, pois as pessoas não
são iguais entre si; o princípio da continuidade que tem
como objetivo não permitir as interrupções durante o
período de treinamento, para que nadadores não percam
etapas importantes na formação atlética; o princípio da
sobrecarga que nesta fase é de vital importância pelo fato
de ter dois objetivos que são da sobrecarga em volume
e intensidade – é muito importante dar atenção a este
princípio para esta fase, pois estudos científicos prescrevem para esta faixa etária mais volume de treino que
intensidade sendo mais quantidade que qualidade. A
utilização deste principio necessita um tempo em horas
dependendo do esforço para uma recuperação fisiológica,
conforme citado na tabela I.
Tabela I - Sistemas fisiológicos e seus intervalos de
recuperação.
Sistemas
Regenerativo
Sub-Aeróbico
Super Aeróbico
VO² Máximo
Velocidade
Recuperação
36 horas
24/48 horas
Fonte: Mazza [6]
Para a programação dos mesociclos para crianças
na fase puberal nas cargas aeróbicas, segundo Tubino
[5] poderemos utilizar volumes ondulares citados no
gráfico I. Neste gráfico as cargas nas metragens, quer
dizer no volume de treinamento, devem ser aumentadas
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
na terceira semana do mês, dividindo o mesociclo em
quatro semanas, com elevação da distância nadada a
cada mesociclo.
Segundo Erichsen e Costa [7], a tabela II nos
mostra um planejamento para a formação de base, treinamento de base e treinamento de elite que ajusta-se a
fase puberal.
Grafico I
Tabela II - Formação de base, planejamento de base e treinamento de elite para crianças em fase puberal.
Formação de Base
Treinamento de Base
Treinamento de Elite
Fem. 7 a 10 anos
Fem. 9 a 13 anos
Fem. 13 em diante
Masc. 7 a 11 anos
Masc. 10 a 16 anos
Masc. 15 em diante
Velocistas
Meio
fundo
Fundo
Técnicas de Nado
50%
20-10%
10%
10%
10%
Sistema Aeróbico
45%
50-35%
40%
55%
70%
Sistema Anaeróbico
Lático
-
10-30%
30%
20%
10%
Sistema Anaeróbico
Alático
5%
15-10%
15%
10%
5%
Força
-
5-15%
15%
5%
5%
Fonte: Costa [7]
Com relação ao princípio do volume e intensidade
em pesquisas feitas por Tubino [5], observou-se melhora
do treinamento em meio fundistas, constatando o autor
da pesquisa que o aumento da capacidade dos atletas
investigados devia-se a maiores quantidades de trabalho
e também ao aumento substancial na intensidade do
estímulo de treinamento, de acordo com o gráfico abaixo
que relaciona o volume e a intensidade como deve ser
programada nas atividades na temporada especificamente
para fase puberal.
Acao Mov_.indb 97
Gráfico II - Relação entre volume e intensidade
para a temporada de treinamento nas crianças em
fase puberal.
10/8/2006 16:27:55
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
Tubino [5] cita, em seus estudos, que em um
período específico e de competição os atletas apresentam melhores resultados quando direcionam os treinos
principalmente para capacidades anaeróbicas Láticas e
Aláticas, que é uma forma de intensificação da preparação, mas afirmações do treinamento anaeróbico lático
não são compatíveis às crianças em fase puberal e sim,
para adultos; já o treinamento anaeróbico alático deve
ser trabalhado nesta fase de crescimento. No princípio
da adaptação, o programa de treinamento em natação,
para crianças em fase puberal, deve ser cauteloso, principalmente na fase básica por ser a fase que haverá uma
melhora na resistência geral. A planificação das sessões
de treinamentos dependem do estado físico em que se
encontram os atletas. É importante estabelecer que será
a fase de adaptação que levará as melhores formas de
treinamento a serem impostas.
Para um planejamento de acordo com a faixa etária
puberal, Maglischo [3] planeja, conforme citado na tabela
IV, a metragem diária e semanal adaptada para a criança
em fase puberal.
Tabela IV - Metragem diária e semanal adaptada para a criança na fase puberal
Grupo
Etário
(11 – 12)
(13 – 14)
Novatos
Experientes
Diário
Semanal
Diário
Semanal
1.000 – 2.000
2.000 – 4.000
5.000 – 10.000
10.000 – 20.000
4.500 – 5.000
6.000 – 12.000
20.000 – 25.000
30.000 – 50.000
Fonte: Maglischo [3]
Resistência geral
Força
Fiorese [1] define como resistência “a capacidade de
efetuar durante um longo tempo uma atividade qualquer
sem reduzir sua eficácia’’. Ou por outro lado, Negrão [8]
cita que o treinamento de resistência geral na criança, em
fase puberal, provoca acentuado aumento da capacidade
aeróbica máxima que não tem proporções iguais em fases
no crescimento, proporcionando sobrecargas maiores
nos treinamentos futuros. É importante também em
termos preventivos na fase puberal treinamentos com
pouco acumulo de ácido lático que permite a liberação
de cateocolaminas – hormônio liberado da glândula supra renal –, pois sabe-se que este aspecto em resposta ao
stress emocional é um dos fatores de risco de distúrbios
coronarianos provocando vasoconstricção da circulação
coronariana. A vasoconstricção do sistema vascular solicita um aumento da força de contração da musculatura
cardíaca, para que o sangue possa vencer a resistência
vascular periférica aumentada pela liberação das cateocolaminas. Fiorese [1], comenta que normalmente as
crianças são resistentes, deve-se deixar que elas mesmas
marquem seu ritmo, pratiquem uma espécie de treinamento com intervalos, alternando o esforço e o descanso,
por exemplo; correr, parar e voltar a correr. Weineck [2]
por sua vez com relação ao treinamento de resistência
geral na 1ª e 2ª fase da puberdade, considera que o treinamento máximo se dá nas crianças principalmente nos
períodos de aceleração do crescimento [2].
Fiorese divide a resistência em:
• Aeróbica
• Anaeróbica
A autora supra mencionada define que a força é
uma das mais importantes qualidades de que dispõem o
organismo humano. O seu inadequado desenvolvimento
tornará impossível a formação dos hábitos motores. A
força é a qualidade que permite ao músculo ou grupo de
músculos vencer uma resistência ao movimento do qual
ele é o agente motor. Segundo Rocha citado por Fiorese
[1], alguns fatores influenciam no desenvolvimento da
força sem os quais não haverá o aprimoramento desejado:
• Sistema nervoso
• Sexo
• Raça
• Tipos de fibras (vermelhas ou brancas)
• Freqüência das sessões de treinamento.
Gaya et al. citados por Fiorese [1] afirmam que
exercícios cujos pesos são “adequados” as possibilidades
do organismo influem, favoravelmente, na constituição
física e melhoram a capacidade dos órgãos e sistemas do
organismo jovem. Estes autores são de opinião que a
retenção do crescimento não é conseqüência dos exercícios com peso; é importante saber a correspondência das
cargas utilizadas com a possibilidade da idade, mais do
que saber em que idade começar o trabalho com pesos.
Afirmam que não se aplicam exercícios de força em termos máximos, quer na carga ou na intensidade antes da
formação plena do esqueleto, ou seja, antes dos dezessete
anos. Por esta razão, na fase puberal será preciso desenvolver uma musculatura robusta, com a recomendação
expressa de não sobrecarregar a coluna vertebral.
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Resistência anaeróbica
Fiorese relata que a resistência anaeróbica é definida
como a qualidade física que permite um atleta sustentar
o maior tempo possível uma atividade física em uma
situação em débito de oxigênio. Algumas investigações,
em jovens Romenos, não atletas, do sexo masculino e
feminino, com aplicação de um teste anaeróbico chegou
as seguintes conclusões:
• A capacidade Anaeróbica em jovens do sexo masculino aumenta continuamente até os dezoito anos e
depois permanece próxima dos valores alcançados até
os vinte e um anos;
• A relação entre a resistência anaeróbica e o peso
corporal nos homens é significativa até os quatorze
anos. A explicação encontrada para o crescimento da
resistência anaeróbica nos homens até os dezesseis
anos e nas mulheres até os quatorze anos está fundamentada no desenvolvimento da massa muscular;
• Não existem diferenças significativas do desenvolvimento natural anaeróbico, entre os sexos, até os doze
anos. Após esta idade as mulheres apresentam um
percentual menor que os homens da mesma idade.
• No que diz respeito ao treinamento anaeróbico lático
os valores em m/mol, citados na tabela fisiológica
devem considerar a individualidade biológica de cada
atleta.
Velocidade
A mesma autora define a velocidade como uma
qualidade física particular do músculo e das coordenações neuro-musculares que permite a execução rápida de
gestos que em seu encadeamento constituem uma só e
mesma ação, de uma intensidade máxima e de duração
breve ou muito breve. Além disso, define velocidade
como a qualidade corporal que permite desenvolver
uma ação em um tempo mínimo. Para este autora, parte
dessa qualidade se deve ao dom natural, individual e
hereditário, porém a outra parte pode-se adquirir com o
treinamento. Comenta que há condições particularmente
favoráveis para a formação de velocidade, na infância e
na adolescência. Alguns autores deduzem que, na faixa
de oito a onze anos, a formação de velocidade deve ser
procedida, sobretudo através da qualidade da educação
corporal, que deve levar a um aumento da freqüência de
movimentos. Dos doze até os quinze anos, as capacidades
de velocidade deverão ser formadas, em sua maior parte
por meio de exercícios de esforço da velocidade e de força.
No treinamento da velocidade, durante o final da puberdade, os tempos de reação alcançam valores idênticos aos
tempos dos adultos, e a freqüência dos movimentos que
será modificada posteriormente terá seu alcance máximo
Acao Mov_.indb 99
dos 13 aos 15 anos, segundo dados relatados por Weineck
[2]. Segundo estudos de alguns autores, o treinamento
de velocidade é de grande importância nesta faixa etária
puberal, o desenvolvimento dos sistemas anaeróbicos
Aláticos que melhoram a parte neuromuscular e a velocidade, com esforços que chegam de 10 a 15 segundos
em alta intensidade chegando a 100% da capacidade
de rendimento de cada atleta, não acumula altas taxas
de ácido lático no sangue e no músculo, isto é, um dos
fatores que indica o desenvolvimento desta atividade na
fase de crescimento onde a criança se encontra.
Treinamento Aeróbico específico por áreas
funcionais
Desde o ano de 1986, o Dr. Juan Carlos Mazza [6],
que estuda a fisiologia da natação através de um grupo
de estudo, vem insistindo em diferenciar as atividades
aeróbicas pelas áreas funcionais identificando-as por
uma nomenclatura específica diferenciada por outros
autores.
Treinamento funcional regenerativo
São treinamentos de 20’ a 30’ de duração, de intensidade baixa de 60 a 80% em natação e 35 a 50% do
volume de treino, utilizados no aquecimento e na volta
a calma. A função específica é remover o ácido lático
residual e ativar o sistema aeróbico e Cardiorespiratório,
para a execução do treinamento.
Treinamento funcional sub-aeróbico
São treinamentos de 50’ a 60’ de duração, 30% da
sessão de treinamento de fundo, com uma intensidade
moderadamente baixa com 2-3 mmol/l de lactato; de 77 a
82% em intensidade de treino e 45 a 60% do volume do
treino. A função específica do treinamento é gerar mais
velocidade de remoção de ácido lático residual acumulado. É uma atividade que protege o gasto de glicogênio,
mantém a base aeróbica, aumenta a taxa de síntese de
glicogênio favorecendo a supercompensação, permite
treinar mais volumes de treinos; os treinamentos podem
ser contínuos ou intervalados de velocidade constante
com pausas nos treinos de pequena duração.
Treinamento funcional super aeróbico (limiar
anaeróbico)
São treinamentos de duração de 30’ a 40’ sendo
trabalho mais pausa, com intensidade moderada com
acúmulo de 4-7 mmol/l de ácido lático, sendo 80 a 85%
em intensidade e 55 a 75% em volume de treino O efeito
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fisiológico é o aumento dos mecanismos de produção e
remoção de ácido lático em estado de equilíbrio metabólico de treinamento (steady-state do ácido lático). Este tipo
de treinamento é essencial para treinos de meio fundo e
fundo, e é imprescindível para os processos de recuperação pós-competições e pós-treinamentos para garantir a
remoção de acido lático nas pausas ativas nos trabalhos
de alta intensidade, esta atividade é a única que permite
a conservação da qualidade do treinamento. Aumenta a
capacidade aeróbica, elevando o estado de equilíbrio entre
o aeróbico e o anaeróbico. Os treinamentos devem ser
intervalados com velocidades constantes com pausas de
duração moderadas com intervalos de 45’’ a 1’30’’ para
permitir forçar a remoção e garantir a velocidade moderadamente elevada, que estimule um fluxo de produção
e remoção em equilíbrio.
Treinamento funcional de consumo máximo de
oxigênio (VO2 máx)
São treinos de duração de 15’ a 25’, sendo trabalho
mais intervalo com uma intensidade máxima para estimular o VO2 e acúmulo de ácido lático que vai de 7 a 10
mmol/l com 83% a 90% de intensidade de treinamento
e de 75% a 85% do volume de treino, cujos benefícios
são estimular a máxima absorção de oxigênio a nível mitocondrial, fortalecer os mecanismos cardiorrespiratórios
centrais e periféricos de transporte e difusão de gases,
acrescentar o número e densidade das mitocôndrias,
aumentando a velocidade enzimática do ciclo de Krebs
e a cadeia respiratória. Treinamentos devem ser exclusivamente intervalados com velocidades constantes, com
intervalos curtos com duração de 1’ a 3’ .
Treinamento de velocidade de aceleração e lançada
• Incrementa a velocidade de ruptura e liberação de
energia a partir do ATP;
• Estímula a ressíntese de ATP-CP
Conclusão
A natação com crianças assume proporções cada
vez maiores, papel de inegável importância na tarefa da
Educação Física e do Desporto. Reconhecido este fato,
procurou-se incrementar estudos para o enriquecimento
técnico dos treinadores que atuam na área, em especial
às em fase puberal.
Neste trabalho intencionou-se reunir um conjunto de
elementos visando favorecer o desenvolvimento adequado
da natação para crianças em fase puberal, para evitar problemas futuros e possíveis seqüelas, e incentivar o desporto da
natação, além de difundir aspectos técnicos científicos.
Espera-se realmente que esta pesquisa sirva de base
para um trabalho adequado em natação infantil e permita
uma prática específica para crianças, compatível às suas
idades e possibilidades físicas.
Concluiu-se que a prática dos sistemas anaeróbicos
láticos para crianças em fase puberal não são compatíveis no planejamento do volume e intensidade de
treinamento. Deve-se trabalhar e levar em conta o nível
de experiência de cada nadador. Por este motivo, fez-se
necessário um planejamento teórico-prático através de
uma tabela fisiológica padronizada, em estudos feitos por
fisiologistas desportivos para uso nas atividades diárias de
treinamentos para fase puberal compatível com a faixa
etária em que se encontram estas crianças.
Sistemas fisiológicos do treinamento em natação adaptado a crianças na fase puberal
Tabela reelaborada com adaptação dos conteúdos extraídos dos autores (Mazza [ 6] e Maglischo [ 3 ]).
Nível de
Duração do
Ácido
Combustível
esforço
Lático
Gordura,
Regenerativo (0-2)
Ácido Lático 15’- 30’
Residual
Gordura,
Sub-Aeróbico (2-4)
Ácido Lático 45’- 1h 15’
Residual
Glicogênio,
25’- 45’
Super Aeróbico (4-6)
Gordura
Glicogênio,
12’- 20’
VO2 Máximo (6-9)
Gordura
Velocidade
(0-2)
A.T.P.
10`` 15``
Aceleração
Sistemas
Velocidade
Lançada
Acao Mov_.indb 100
(0-3)
A.T.P.
10`` 15``
% de volume
Recuperação Estímulos
Intervalos
Intensidade do
de Treina(hrs)
por Semana na Série
Treinamento
mento
Abaixo do Sub17 – 20%
Aeróbico
6 – 8 hrs
(8 – 12)
contínuo
90 – 95%
70 – 75%
50%
12 hrs
(4-6)
10”-15”20”
85 – 90%
75 – 80%
18 – 20%
24 hrs
(3-5)
30”- 45”
85 – 95%
5 – 7%
36 hrs
(2-3)
1’- 1’ 30”
99 – 100%
2 – 3%
24 – 48 hrs
(2-3)
98 – 100%
2 – 3%
24 – 48 hrs
(2-3)
1’- 1’ 30”
micro
Micro1’2 Macro
4’- 5’
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Referências
1. FIORESE, L. Os efeitos do treinamento precoce em
crianças e adolescentes. Revista da Fundação do Esporte e
Turismo do Paraná, Curitiba, v.10, n. 2, p. 23-31, 1989.
2. WEINECK, J. Entrenamiento óptimo. Barcelona: Hispano
Europea, 1988.
3. MAGLISCHO, E. Nadando ainda mais rápido. 1. ed. São
Paulo: Manole, 1999.
4. BOMPA, T. O. Teoria e metodologia do treinamento. 1. ed.
São Paulo: Phorte, 2002.
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5. TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento
desportivo. 3. ed. São Paulo: Ibrasa, 1984.
6. MAZZA, J. C. Actualización de los efectos fisiológicos de
la natación. Resúmenes del III Simposio Internacional de
Actualización en Ciencias Aplicadas al Deporte, Rosario,
v. 1, n. 1, p. 465-468, 1994.
7. ERICHSEN, O.; COSTA, M. Natação: Desenvolvimento
da “performance” Synopsis: Revista do Departamento de
Educação Física da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, v. 4,1993.
8. NEGRÃO, C. E. Os mini-campeões. Cad. Pesq, São Paulo,
n. 34, p.29-33,1980.
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Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 ref. bibliográficas.
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o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária
do texto.
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São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Educação Física, que têm por objeto resumir, analisar,
avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em
revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se
o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais
sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
Acao Mov_.indb 102
técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas
de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos que representan dados descritivos de um ou mais
casos explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação
de sexo, idade.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas
as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito,
etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel
e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser
editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo
ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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1. Normas gerais
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da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com
as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão
e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
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O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio
em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa
e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português e inglês.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular
e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade
pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a
análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser
cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação
exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não
justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo
de pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
para os estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo.
Acao Mov_.indb 103
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental devem ser inseridos
no final do artigo, antes das referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo ABNT .
As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais
arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor
do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto,
local da edição, dois pontos, editora, vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplos:
Livro:
MAY, M. The facial nerve. New-York:Thieme, 1986.
Capítulo ou parte de livro:
PHILLIPS, S. J. Hypertension and Stroke. In: LARAGH J.
H., (Ed.). Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2. ed. New-York: Raven press, 1995. p. 465-78.
Artigos - Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalho, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de vírgula, número do volume, número do fascículo,
páginas inicial e final, data e ponto. Não utilizar maiúsculas ou
itálicos. Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando
mais de 6, colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
ALMEIDA, C.; MONTEIRO, M. Descrição de duas novas
espécies (Homoptera). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v.
9, n. 1/2, p. 55-62, mar./jun. 1992.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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ação & movimento - março/abril 2006;3(2)
CALENDÁRIO DE EVENTOS
AGOSTO
9 a 12 de agosto
2° Congresso Internacional de
Educação Física da FIEP/PB
João Pessoa, PB
Informações: (83) 9989-4392
E-mail: [email protected]
SETEMBRO
1 a 9 de setembro
2° Meeting de Treinamento
Personalizado
São Paulo, SP
Informações: (11) 5505-7197
E-mail: [email protected]
6 a 9 de setembro
XI Congresso de Ciências do
Desporto e Educação Física dos
Países de Língua Portuguesa.
Escola de Educação Física e Esporte da USP e Serviço Social do
Comércio de SP
Informações: www.usp.br/eef/xipalops
7 a 10 de setembro
7º Congresso Internacional de
Atividades Física e Saúde
Itaúna, MG
Informações: 37 9103-1584
E-mail: [email protected]
Acao Mov_.indb 104
21 a 23 de setembro
II Congresso SMERJ - Sociedade
de Medicina do Esporte do Estado
do Rio de Janeiro
Windsor Barra Hotel e Convenções
Rio de Janeiro, RJ
OUTUBRO
17 a 22 de Outubro
II CONIEF - Congresso
Internacional de Ed. Física
PUC, Porto Alegre, RS
Informações: 51-91162893
E-mail: [email protected]
18 a 22 de outubro
1º Congresso Carioca de Educação
Física - FIEP-RJ
Rio de Janeiro, RJ
Informações: 21 7894-5551
E-mail: [email protected]
26 a 28 de outubro
Encontro A.A.A.R.L. de Medicina
Esportiva
Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo
Informações: www.encontroaaarl.
com.br
NOVEMBRO
11 a 15 de novembro
CONAFF - Congresso Nacional de
Atividades Físicas e Fisioterapia
Fortaleza, CE
Informações: (85) 9609-4476
E-mail: [email protected]
24 a 26 de novembro
I Congresso Internacional de Fisioterapia e Terapia Manual
Hotel Glória, Rio de Janeiro, RJ
Informações: (21)3087-4653
DEZEMBRO
7 a 9 de dezembro
Simpósio Nordestino de Atividade
Física & Saúde
UFPB, Cidade Universitária, campus I
João Pessoa, PB
Informações: 3216-7695
E-mail: simposionordestino@gmail.
com
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