Ação e Movimento 2006 - Faculdade Montenegro
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Ação e Movimento 2006 - Faculdade Montenegro
ação ISSN 1806-9436 & movimento educação física e desportos • vol. 3 • nº 1 • janeiro/fevereiro 2006 ação & movimento - Volume 3 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 FISIOLOGIA • VO2max de atletas veteranos • Efeitos do treinamento resistido para terceira idade • Tempo de reação e atividade física VOLEIBOL • Análise do jogo Brasil x Itália nos Jogos Olímpicos 2004 FILOSOFIA • A contribuição de Aristóteles para a Educação Física www.atlanticaeditora.com.br Capa_v3n1_FIM.indd 1 20/4/2006 14:42:42 ação ISSN 1806-9436 & movimento educação física e desportos • vol. 3 • nº 2 • março/abril 2006 ação & movimento - Volume 3 - Número 2 - março/abril de 2006 FISIOLOGIA • Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada NATAÇÃO • Avaliação de nadadores masters competitivos GINÁSTICA • Flexibilidade e ginástica olímpica • Efeitos do treinamento de ginástica localizada e hidroginástica EDUCAÇÃO • Relações de gênero nas aulas de Educação Física www.atlanticaeditora.com.br Capa_v3n2_FIM.indd 1 10/8/2006 17:28:22 educação física e desportos Índice Volume 3 número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 EDITORIAL Intencionalidade pedagógica, Luiz Alberto Batista ........................................................................... 3 ARTIGO ORIGINAL VO2max de atletas veteranos. Estudo comparativo entre especialistas de orientação, corrida de fundo e sedentários, José Augusto Rodrigues dos Santos, Domingos José Lopes da Silva, Filipe Marques ................................................................................. 4 Validação do PIMCQ (parent-initiated motivational climate questionnaire) para a lingua portuguesa, Cláudia Goulart, Hiram Valdés ................................................................ 10 Análise de saltos e rally no confronto entre Brasil e Itália nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, Marcelo de Castro Haiachi, José Fernandes Filho ........................... 16 Cenários e práticas da psicomotricidade, Atos Prinz Falkenbach, Fernando Edi Chaves, Vanessa Nascimento Flores, Dileni Penna Nunes ................................................ 21 REVISÃO Efeitos do treinamento resistido para terceira idade, Bruno Gonzaga Teodoro, Pedro Vieira Sarmet Moreira, Nathália Maria Resende, Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, Foued Salmen Espindola, ......................................................... 27 ATUALIZAÇÃO Tempo de reação e atividade física, Daniel das Virgens Chagas, Luiz Alberto Batista ............................... 32 Uma breve reflexão sobre a ética de Aristóteles e sua contribuição para a Educação Física, Rafael da Silva Mattos, Ana Luiza Paulino ............................................................ 43 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ....................................................................................... 47 EVENTOS ....................................................................................................................... 49 Acao_v3n1.indb 1 20/4/2006 11:25:43 2 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) ISSN 1806-9436 educação física e desportos Editor Luiz Alberto Batista (UERJ) [email protected] Conselho editorial Guilherme Pacheco (UGF) Adroaldo Cezar Araújo Gaya (UFRGS) Heron Beresford (UERJ, UCB) Alberto Reinaldo Reppold Filho (UFRGS) Jefferson Retondar (UERJ) Alex Itaborahy (INUAF-Loulé – Portugal) João Ricardo Moderno (UERJ) Ana Maria Medeiros de Abreu Faro Jorge Olimpio Bento (Universidade de Coimbra – Portugal) (Universidade do Porto – Portugal) Antônio Carlos Stringhini Guimarães (UFRGS) José Manuel da Costa Soares Antonio Teixeira Marques (Universidade do Porto – Portugal) (Universidade do Porto – Portugal) José Silvio de Oliveira Barbosa (UERJ) Artur Manuel Romão Pereira Marco Antonio Guimarães da Silva (UFRRJ) (Universidade de Coimbra – Portugal) Paulo Coelho de Araújo Astrogildo Vianna (UERJ) (Universidade de Coimbra – Portugal) Carlos Adelar Abaide Balbinotti (UFRGS) Paulo Farinati (UERJ) Fernanda Barroso Beltrão (UFRJ, UCB) Ricardo Demétrio de Souza Petersen (UFRGS) Francisco Sobral (Universidade de Coimbra – Portugal) Ricardo Vélez Rodrigues (UFMG) Genni Togun (UERJ) Vernon Furtado de Silva (UERJ, UCB) Guilherme Locks Guimarães (UERJ) Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo A. 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Acao_v3n1.indb 2 20/4/2006 11:27:08 3 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) EDITORIAL Intencionalidade pedagógica Luiz Alberto Batista Editor científico Dentre as variáveis com as quais o professor de Educação Física tem que lidar, no decurso de sua atuação educativa, o movimento corporal ocupa lugar de destaque, sendo que nossa relação com ele se estabelece de diferentes maneiras. Em alguns momentos o tomamos como meio, em outros, como fim e ainda, não raramente, como meio e fim. Constitui, portanto, procedimento corriqueiro em nossa prática profissional, fazermos com que as pessoas realizem movimentos corporais específicos, com a perspectiva de que venham a obter desenvolvimentos corporais e orgânicos diversos. Procedimento este, que dado a natureza educacional inerente à nossa profissão, aqui classificaremos de cinesiopedagógico. A escolha pela opção de utilizarmos o movimento corporal como estratégia de intervenção se deve, provavelmente, ao fato de conhecermos abundantes evidências, tanto empíricas quanto científicas, de que as condutas motoras, em certa medida, possuem a capacidade de estimular processos adaptativos diversos no ser humano, desde aqueles de natureza fisiológica até os psicológicos e sociológicos. Já não temos dúvidas, por exemplo, de que uma pessoa saudável e sedentária, ao exercitar-se motoricamente, vencendo, certo número de vezes, uma carga resistiva significativa para ela, por um período de tempo suficiente, terá grande probabilidade de apresentar, ao final do processo, alterações positivas no status da atividade funcional dos músculos trabalhados. Um resultado específico, determinado por um movimento corporal específico, realizado segundo uma organização também específica. Não obstante reconhecermos o poder de estimulação imanente às condutas motoras, freqüentemente nos questionamos sobre o quanto conhecemos acerca dos Acao_v3n1.indb 3 movimentos corporais que utilizamos como exercícios. Note-se que a dúvida não é relativa ao processo e sim à conformação do movimento. Diferentes campos do conhecimento científico têm nos possibilitado criticar os exercícios físicos, questionando a qualidade dos movimentos corporais utilizados, a qual, em alguns casos, é avaliada em função da relação entre a especificidade dos movimentos e os objetivos pretendidos. Infelizmente é fácil constatar que, até o presente momento, alguns poucos foram avaliados. A relevância deste tema esta no fato de que estas são dúvidas intimamente relacionadas com a efetivação de nossa intencionalidade pedagógica, ou seja, ao caráter da consciência de nossos procedimentos de ensino tender para aquilo que realmente perspectivamos como resultado de sua utilização. Diante disto e dado à carga de responsabilidade técnico-profissional que repousa sobre os ombros de um professor de Educação Física, é importante mantermonos preocupados em eliminar, em todos os níveis de nossa prática pedagógica, a casualidade. Para que isto aconteça é preciso que coloquemos em cheque, e cobremos, diligente e criticamente, de nós mesmos as razões que nos levam a escolher um determinado conjunto de movimento para utilizá-lo como exercício físico. Iniciamos, portanto, este ano de publicações convidando a todos, autores e leitores, ao exercício de um contínuo e permanente exame de nossas ações pedagógicas, de forma a tentarmos compreender acontecimentos passados e orientarmos futuras decisões e ações. Tal tipo de ação, temos certeza, tem o mérito de contribuir para a dinamização de um processo, caracterizado por uma prática cinesiopedagógica conduzida sob a cobertura de uma constante, e rigorosa, intencionalidade pedagógica. 20/4/2006 11:27:08 4 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) ARTIGO ORIGINAL VO2max de atletas veteranos. Estudo comparativo entre especialistas de orientação, corrida de fundo e sedentários VO2max of Masters Athletes. Comparative study among orienteers, long distance runners and sedentary subjects José Augusto Rodrigues dos Santos*, Domingos José Lopes da Silva**, Filipe Marques, M.Sc.*** *Professor Associado da FCDEF-UP, **Professor Auxiliar da FCDEF-UP, ***Ciência do Desporto Resumo Sendo a corrida de orientação uma modalidade praticada ao ar livre e predominantemente aeróbia, decidimos comparar o consumo máximo de oxigénio (VO2max), a potência máxima aeróbia (vVO2max) e a frequência cardíaca máxima de prova (FCmáx), de praticantes de corrida de orientação (CO) com corredores de estrada (CE) e sedentários (SE). A amostra foi formada por 27 sujeitos (CO = 11; CE = 9; SE = 7), com idades compreendidas entre os 50 a 55 anos. Todos os sujeitos realizaram um teste laboratorial em tapete rolante, realizando uma prova de esforço máximo até à exaustão. Foram analisados os seguintes indicadores: VO2max (L.min-1), VO2max (ml.kg-1.min-1), vVO2max, quociente respiratório (QR) e a frequência cardíaca (FC). Também foram estudados o tempo máximo de prova e a distância percorrida. Verificamos que os CO e CE apresentam valores significativamente diferentes (p < 0,001), e mais favoráveis do que os SE, em relação a todos os indicadores estudados com excepção do QR e FCmáx. O grupo CO também se diferencia do grupo CE apresentando valores significativamente inferiores (p < 0,05) de VO2max relativo, vVO2max, distância percorrida e tempo de prova. Concluímos que os CO apresentam um perfil aeróbio ajustado às exigências aeróbias da competição, mas no entanto inferior aos CE. Pensamos que as razões das diferenças verificadas se prendem quer com a especificidade adaptativa quer com as diferenças verificadas ao nível do treino. Outros estudos são necessários para confirmar esta asserção. Palavras-chave: veteranos, corrida de orientação, corrida de fundo, VO2max, vVO2max, FCmáx. Artigo recebido em 09 de março de 2006; aceito em 13 de março de 2006. Endereço para correspondência: José Augusto Rodrigues dos Santos, Rua Plácido Costa, 91, 4200-450 Porto, Portugal, Tel: (22.5074700)E-mail: [email protected] Acao_v3n1.indb 4 20/4/2006 11:27:09 5 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Abstract Competitive orienteering is an outdoor sportive modality appealing, predominantly, to aerobic capacity. So, we decide to compare the maximum oxygen consumption (VO2max), maximum aerobic power (vVO2max) and the maximum cardiac frequency of test (FCmáx), of orienteers (CO) with long distance runners (CE) and sedentary (SE). The sample was formed by 27 subjects (CO=11; CE=9; SE=7), whose ages varying between 50 and 55 years. The subjects underwent a treadmill test till exhaustion. The following indicators had been analyzed: VO2max (L.min-1), VO2max (ml.kg-1.min-1), vVO2max, respiratory quotient (QR) and the cardiac frequency (FC). The maximum time of test and the distance covered were also studied. We verified that CO e CE present better and significantly different (p<0.001) values than SE in relation to all the indicators studied with exception of QR and FCmáx. The CO aerobic profile is worst than CE, presenting significantly lower values (p<0.05) of relative VO2max, vVO2max, distance covered and test time. We conclude that the CO present an aerobic profile adjusted to the aerobic requirements of the competition, but however lower than CE. We think that the differences between the two groups derived from the specificity of the adaptations of each modality and different levels of training. Other studies are necessary to confirm this assertion. Key-words: masters, orienteering, long distance running, VO2max, vVO2max, maximum heart rate. Acao_v3n1.indb 5 Introdução Material e métodos O aumento da esperança de vida e da população idosa é uma das características das sociedades ocidentais hodiernas. Tal facto faz emergir novos problemas sociais e biológicos, entre os quais se salienta a promoção da qualidade de vida incontornavelmente ligada à saúde. Saúde mental, afectiva e fisiológica expressa esta pela eficácia funcional dos vários sistemas orgânicos. O aumento e/ou manutenção da funcionalidade corporal está ligada, como vários estudos confirmam, à taxa de actividade física. Os efeitos positivos do exercício físico no idoso reflectem-se a vários níveis, entre os quais se salientam: melhoria das funções respiratória, cardíaca e vascular, controlo ponderal, aumento da tolerância à glucose, melhoria do perfil lipidémico, melhoria da mobilidade, aumento da resistência osteo-articular que se reflectem positivamente nas expressões afectivas e psicológicas do idoso [1-5]. As perdas funcionais induzidas pelo envelhecimento, normalmente acentuadas pelo sedentarismo do idoso, podem ser atenuadas pela prática regular de exercícios físicos reduzindo as taxas de morbilidade e mortalidade. A capacidade aeróbia é um parâmetro físico que declina com a idade a partir dos 30 anos [6,7], declínio esse que pode ser combatido pela prática de actividades de endurance entre as quais se salienta a corrida de orientação, que se caracteriza por aliar o esforço físico a uma componente mental de decisão que é fundamental [8]. Com este estudo, tivemos como objectivo a avaliação da capacidade aeróbia de corredores veteranos de orientação, comparando-as com veteranos especialistas de corridas de duração e com sujeitos sedentários. A amostra foi constituída por 27 sujeitos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 50 e os 55 anos. A participação foi voluntária e as normas de consentimento obedeceram às directrizes internacionalmente estabelecidas. Foram formados três grupos: sedentários (SE), n = 7; corredores de fundo de estrada (CE), n = 9; corredores de orientação pedestre (CO), n = 11. Todos os sujeitos do grupo SE foram submetidos, numa clínica médica, ao Exame Médico-Desportivo, homologado pelo Instituto do Desporto de Portugal. Realizaram análises à urina, radiografia torácica e electrocardiograma. Todos ficaram aptos, embora um deles apresentasse bronquite asmática derivada do tabagismo, mas sem constrangimento médico para o estudo. Os sujeitos do grupo CE foram recrutados através do Inatel de Coimbra, tendo em conta, por um lado, a idade e a participação destes em provas de fundo de âmbito regional e/ou nacional, e por outro, por uma questão de conveniência logística e financeira. Os sujeitos do grupo CO foram seleccionados de acordo com a classificação individual no primeiro terço do ranking nacional de corrida de orientação pedestre da Federação Portuguesa de Orientação. Os procedimentos pré-teste foram os recomendados por Heyward [9]: • Equipamento desportivo: calções, t-shirt, meias e sapatilhas de corrida confortáveis, material de higiene; • Reforçar a ingestão de líquidos 24 horas antes; • Diminuir ou abster-se de: fumar, ingerir bebidas alcoólicas e cafeína, pelo menos três horas antes do teste; • Evitar a actividade física intensa no dia anterior; • Repousar adequadamente na noite anterior (6 a 8 horas). 20/4/2006 11:27:09 6 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Registaram-se algumas informações complementares relativas aos anos de treino, dias de treino/semana e quilómetros/semana. Avaliação da frequência cardíaca • Foi determinada por cárdio-frequencímetro da marca Polar modelo S810TM. Avaliação da capacidade aeróbia Procedimentos estatísticos No sentido de haver uma maior correspondência entre a actividade física específica dos desportistas e o teste a realizar, optamos pela avaliação da capacidade aeróbia em tapete rolante. Para tal, utilizámos o modelo HP Cosmos – Quasar, segundo uma adaptação do protocolo de Rodrigues dos Santos [10], no qual os sujeitos realizam um teste máximo progressivo e contínuo, com uma inclinação estabilizada de 2%, a partir da velocidade inicial de 6 km/hora e com um incremento de carga (2 km/hora) em cada 2 minutos, respeitando os critérios de alcance do VO2max para adultos não idosos. Os parâmetros respiratórios foram recolhidos através do analisador de gases Metamax – Cortex da Biophysik Gmbh, e analisados num computador PC HP vectra 5/1000 . Analisámos os seguintes indicadores respiratórios: • Consumo máximo de oxigénio: absoluto (L.min-1) e relativo (ml.kg-1.min-1); • Velocidade correspondente ao patamar do consumo máximo de oxigénio (vVO2max); • Quociente respiratório (QR). Foram utilizadas as medidas descritivas básicas: média (ξ), desvio-padrão (DP). O teste de ShapiroWilk foi utilizado para análise do perfil de normalidade das distribuições. A One-Way Anova, com post-hoc de LSD (least significant difference) ou de Tamhane’s T2, consoante as variâncias homogéneas ou não-homogéneas (analisadas pelo teste de Levene statistics), respectivamente, para as comparações múltiplas inter-grupos, nas variáveis com distribuição normal. O teste t de medidas independentes para apurar as diferenças entre os grupos de praticantes de CO vs CE, nas variáveis onde apenas se observou a participação destes grupos. A medição da intensidade das associações entre variáveis foi efectuada pelo coeficiente de correlação produto-momento de Pearson ou de Spearman (r), nas variáveis com distribuição normal ou não-normal, respectivamente. O nível de significância estatístico foi mantido em 5% (p ≤ 0,05). Todos os cálculos foram efectuados no programa estatístico SPSS 12.0. Resultados Tabela I – Dados relativos aos sujeitos da amostra: biométricos, desportivos e fisiológicos. Sedentários Variáveis Idade (anos) Peso (kg) Estatura (cm) Anos de treino Treinos/sem Km/sem Duração prova (min) Dist. percorrida (m) VO2max (L.min-1) VO2max (ml.kg-1.min-1) vVO2max QR FCmáx prova (bpm) ξ 52,3 79,3 167,9 4,3 549,2 2,84 35,66 9,4 1,08 174 DP 1,8 13,8 3,1 1,1 180,4 0,41 4,72 1,5 0,04 7,5 Da análise do quadro 1 salienta-se a similitude das idades entre todos os grupos. Em relação ao peso corporal, os SE são os que registam o valor médio mais elevado e os CE o mais baixo. Parte da diferença ponderal entre CE e CO Acao_v3n1.indb 6 Corrida de Estrada ξ DP 51,3 1,7 64,3 8,0 165,4 6,7 21,7 10,3 4,6 1,1 48,7 16,7 10,7 1,3 1932,4 338,1 3,93 0,43 61,39 4,95 15,8 1,2 1,05 0,06 169 8,4 Corrida de Orientação ξ DP 51,0 1,4 73,5 12,8 171,9 5,8 15,9 13,7 2,8 1,1 20,9 12,3 9,0 2,4 1519,4 530,8 3,86 0,66 53,58 12,55 14,0 2,7 1,08 0,05 176 12,6 pode radicar nos superiores valores de estatura dos CO. Os CE apresentam valores superiores aos CO no que concerne aos anos de prática, ao número de treinos/semana, aos km/ semana, à duração da prova e à distância percorrida. 20/4/2006 11:27:09 7 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Ao nível da capacidade aeróbia, os CE apresentam os mais elevados valores médios do VO2max absoluto (L.min-1) e relativo (ml.kg-1.min-1.), bem como a vVO2max. Por sua vez, os valores mais reduzidos são registados pelo grupo dos SE. Relativamente ao QR, os atletas de CE apresentam o valor médio mais baixo, sendo equilibrados os registos de SE e praticantes de CO. Tabela II – Comparação inter-grupos. Comparação inter-grupos (p) SE vs CE SE vs CO CE vs CO Tempo de prova <0,001 <0,001 0,043 Distância percorrida <0,001 <0,001 0,032 Vo2max (L.min-1) 0,001 <0,001 0,784 Vo2max (ml.kg-1.min-1)<0,001 <0,001 0,046 vVO2max <0,001 <0,001 0,049 Quociente Respiratório 0,287 0,769 0,136 FCmáx (bpm) 0,347 0,636 0,125 Anos de treino 0,29 Treinos/semana 0,004 Km/semana <0,001 O grupo SE diferencia-se dos outros dois em todos os indicadores com excepção do QR e a FCmáx. Os grupos Co e CE diferenciam-se, entre si, pelos indicadores de performance, pelo VO2max relativo e pelo perfil de treino. Discussão A corrida de orientação exige uma boa capacidade aeróbia, não só para cumprir com eficácia as exigências físicas da prova mas, também, para manter uma situação de despertar mental essencial para correctas leitura do mapa, atenuando os efeitos deletérios da fadiga quanto à capacidade de decisão. Os estudos fisiológicos referentes aos especialistas de corrida de orientação são escassos. Em relação a atletas de elite encontramos um estudo [11]; em relação a atletas veteranos não encontramos nenhum. O VO2max dos CO do presente estudo é muito inferior ao encontrado por Rolf et al. [11], o que se poderá justificar quer pela diferença de nível das amostras, pelo efeito deletério da idade no potencial máximo aeróbio ou por condicionantes de índole genética. Esgotada a capacidade de comparar a nossa amostra de CO com outras amostras idênticas, resta-nos a possibilidade de compulsar os valores dos CO, com os valores dos CE e dos SE deste estudo, bem como com atletas veteranos de corrida de outros estudos. Uma constatação óbvia e sobejamente corroborada prende-se com as diferenças significativas (p < 0,001) verificadas, neste estudo, entre o grupo SE e o grupo CO em relação ao VO2max. A inactividade, acentuada pela idade, reduz a massa mitocondrial muscular, a capilarização e a eficácia das trocas de oxigénio [12] reduzindo de forma clara o VO2max. O Quociente Respiratório (QR), que é idêntico em todos os sujeitos quando se atinge um patamar de esforço máximo, e a FCmáx, mais sensível à idade que ao nível de treino, não apresentam diferenças estatisticamente significativas entre SE e CO. Os indicadores ergonómicos (distância percorrida e vVO2max) e fisiológicos (VO2max) relacionados com a prova de esforço apresentam diferenças significativas (p < 0,001) entre estes dois grupos. O quadro 3 compulsa os CO com grupos de corrida de fundo, deste e de outros estudos. Tabela III – Valores médios e desvio-padrão de praticantes de corrida de orientação e de atletismo de fundo deste e doutros estudos, quanto a algumas variáveis biométricas, do treino e fisiológicas. Variáveis Idade (anos) Peso (kg) Estatura (cm) Anos de treino Km.sem-1 FCmax VO2max (L.min-1) VO2max (ml.kg-1.min-1) CO* CE* n=11 51,0 ± 1,4 73,5 ± 12,8 171,9 ± 5,8 15,9 ± 13,7 20,9 ± 12,3 176 ± 12,6 3,86 ± 0,66 53,6 ± 12,6 n= 9 51,3 ± 1,7 64,3 ± 8,0 165,4 ± 6,7 21,7 ± 10,3 48,7 ± 16,7 169 ± 8,4 3,93 ± 0,43 61,4 ± 5,0 Atletismo Fundo [12] n= 34 56,5 ± 10,2 73,7 ± 9,2 176,3 ± 6,7 >5 >15 – 3,78 ± 0,70 50,4 ± 9,2 Atletismo Fundo [14] n= 34 53,9 ± 0,5 75,4 ± 1,2 178,3 ± 0,3 14,4 ± 1,5 56,2 ± 5,2 170,7 ± 2,1 4,00 ± 0,09 53,4 ± 1,4 Atletismo Fundo [15] n= 19 54,2 ± 0,8 76,0 ± 1,8 – 19,6 ± 1,7 54,7 ± 7,7 – 3,99 ± 0,14 53,2 ± 1,7 * presente estudo Acao_v3n1.indb 7 20/4/2006 11:27:10 8 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Comparando os CO com os CE deste estudo, verificamos diferenças com significado estatístico (p < 0,05) em relação ao VO2max relativo à vVO2max, ao tempo de prova e à distância percorrida. A melhor capacidade aeróbia dos CE em relação aos CO, quer em termos ergonómicos quer em termos fisiológicos, poderá estar relacionada com o volume de treino que também diferencia significativamente os dois grupos (p = 0,004 para o factor treinos/semana e p < 0.001 para os km/semana). Também será de aceitar a hipótese de que o perfil de treino mais intenso dos CE em relação aos CO poderá induzir as diferenças verificadas, já que a importância da orientação atenua a importância da corrida na consecução da performance [16]. O VO2max dos CO é semelhante aos valores encontrados em outros estudos referentes a especialistas de meio-fundo do atletismo [14,15,13], o que pode significar duas coisas: (i) acção deletéria da idade na função aeróbia, já que os sujeitos dos estudos referidos são ligeiramente mais idosos que os CO, ou (ii) diferentes níveis de rendimento. Pensamos que esta segunda hipótese é mais lógica, já que os CO treinam menos quilometragem por semana e as adaptações induzidas pela modalidade estão condicionadas pelos aspectos decisórios fraccionando o esforço competitivo. Reforçando a nossa posição, alguns estudos encontram, em sujeitos com idade avançada, elevados níveis de capacidade aeróbia induzidos e mantidos pelo treino [17,18]. Embora, segundo os critérios estabelecidos por Morrow et al. [19] os valores de VO2max relativo dos CO deste estudo sejam considerados excelentes, tal ficar-se-á a dever mais à qualidade fisiológica relativa destes atletas que ao nível de treino, já que é moderada (r = 0,58) a correlação encontrada entre os quilómetros de treino por semana e o VO2max. Os valores médios do quociente respiratório (QR= 1.08) dos CO são inferiores aos encontrados por Wiswell et al. [20] (QR = 1,12) e Hawkins et al. [14] (QR = 1,10). As razões das diferenças podem radicar nos protocolos utilizados ou no menor empenho dos sujeitos da nossa amostra. Em sujeitos sedentários com mais de 60 anos, Aitken & Thompson [21] encontraram QR ao VO2max de 1,06, mas em sujeitos treinados em endurance esse ratio subia para 1,11. Como a nossa amostra de CE também atingiu um valor médio relativamente baixo (QR = 1,05) quer-nos parecer que as diferenças verificadas se prendem com o tipo de protocolo utilizado, eventualmente indutor de claudicação muscular que impossibilitou o patamar de esforço máximo, como comprovamos em alguns sujeitos em estudo que realizamos [10]. A frequência cardíaca aumenta linearmente durante o exercício em função da intensidade [10]. À mesma intensidade relativa de trabalho a FC parece estar mais Acao_v3n1.indb 8 dependente da idade que do nível de treino [22], embora em especialistas de CO, a FC média de prova de sujeitos com idade superior a 45 anos parece não ser diferente da encontrada para atletas mais jovens [23], o que se poderá ficar a dever ao carácter intervalado do esforço típico da CO ou a eventuais diferenças de qualidade performativa. Embora, em relação à FCmáx de prova não se verifiquem diferenças com significado estatístico entre os três grupos da nossa amostra, os resultados tendencialmente apontam para uma redução da FCmáx nos CE, eventualmente induzida pelo treino sistemático de endurance que se reflecte na redução da densidade dos receptores beta-adrenérgicos atenuando a responsividade simpática [24]. Tal facto, também foi comprovado pelo estudo de Rodrigues dos Santos [25] o que coloca em causa o consenso geral de que a FCmáx está pouco condicionada pelo nível de treino. A idade promove o declínio do controle parassimpático que pode ser atenuado pelo exercício regular de endurance. Pensamos que a melhoria do controle parassimpático induzida pelo exercício prolongado e responsável pela bradicardia de repouso pode, também, ter um efeito positivo no esforço máximo atenuando a descarga adrenérgica e atenuando o stresse provocado pelo esforço máximo, reduzindo a FCmáx. Esta hipótese necessita de estudos mais aprofundados já que em octogenários muito fragilizados a melhoria da função aeróbia estava ligada ao aumento da frequência cardíaca durante o esforço máximo [26]. Pensamos que o treino dos CO tem uma menor participação anaeróbia que o treino dos CE, o que está de acordo com o perfil competitivo de cada uma das modalidades. Enquanto na CO a frequência cardíaca média é de 88.7% da FCmáx, nas corridas de estrada e corta-mato esse valor sobe para 93.1 a 95% [27]. Se esta caracterização é indutora de um menor stresse cardíaco em esforço máximo é algo que não podemos dizer com segurança, embora possamos levantar essa hipótese. Conclusão Podemos concluir que os nossos especialistas de corrida de orientação apresentam um perfil aeróbio ajustado ao perfil competitivo da modalidade, significativamente superior a sujeitos sedentários, mas inferior ao de sujeitos praticantes de corrida. Pensamos que tais diferenças radicam quer da especificidade adaptativa quer do menor nível de treino dos atletas de CO. No entanto, a exiguidade da amostra não nos permite ser muito assertivos quanto ao comportamento dos vários indicadores fisiológicos por nós estudados. 20/4/2006 11:27:10 9 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Referências 1. GOLDBERG, A. P.; BUSBY-WHITEHEAD, M. J.; KATZEL, L. I.; KRAUSS, R. M.; LUMPKIN, M.; HAGBERG, J. M. Cardiovascular fitness, body composition, and lipoprotein lipid metabolism in older men. 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Br J Sports Med, v. 32, n. 1, p. 34-38, 1998. 20/4/2006 11:27:11 10 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) ARTIGO ORIGINAL Validação do PIMCQ (parent-initiated motivational climate questionnaire) para a língua portuguesa Parent initiated motivational climate questionnaire, the validity into brazilian portuguese language Cláudia Goulart*, Hiram Valdés ** *Professora e membro da Rede CENESP da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, **Psicólogo, Pesquisador Associado da Faculdade de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Resumo O objetivo deste estudo é apresentar a validação do instrumento PIMCQ (parent-initiated sports questionnaire), elaborado por Duda, White & Hart e adaptado para a língua portuguesa. Trata-se de um instrumento que avalia a percepção dos atletas em relação ao clima motivacional de seu pai e mãe em relação a sua ação como atleta de esporte competitivo. A versão inicial parte de 14 itens que foram adaptados de três escalas do teste de Papaioannou – Learning and Performance-Oriented Physical Education Climate Questionnaire (LAPOPECQ) –, em que as variáveis são: promoção do aprendizado pelo professor, preocupação dos estudantes em errar na execução da tarefa, resultado da orientação para objetivo sem a utilização de esforço. Como trabalhamos com duas variáveis, seguindo a teoria de clima motivacional, as variáveis promoção do aprendizado se refere à variável orientação para a tarefa; as variáveis preocupação e orientação para objetivo sem a utilização de esforço de orientação para o ego. Estes itens são utilizados com referência aos pais dos jogadores e as mesmas perguntas em relação à mãe. Nenhum estudo de utilização deste teste no Brasil foi encontrado. Participou do estudo um total de 226 atletas da cidade do Rio de Janeiro e Distrito Federal que participam de campeonatos de federações e confederações dos esportes: voleibol, judô, natação, handebol, basquetebol, tênis de mesa, futebol e atletismo. A análise dos dados foi realizada utilizando o programa SPSS 10.0 para Windows. Os instrumentos foram analisados na forma de dois questionários: um referente ao clima motivacional dos pais e outro referente ao clima motivacional das mães. Os resultados demonstram que nos dois instrumentos a matriz preenche os requisitos mínimos de fatorabilidade. Palavras-chave: clima motivacional, orientação para o aprendizado, clima de preocupação. Artigo recebido em 20 de março de 2006; aceito em 5 de abril de 2006. Endereço para correspondência: Cláudia Goulart, SQN 206 bloco F apto 104 , 70844-060, Brasília DF, [email protected] Acao_v3n1.indb 10 20/4/2006 11:27:11 11 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Abstract The purpose of this study is the validation of PIMCQ (parent-initiated climate questionnaire) adaptation for the Portuguese Language. The development of the initial version of the PIMCQ, 14 items were adapted from three scales of the Learning and Performance-Oriented Physical Education Climate Questionnaire (LAPOPECQ) (i.e., Teacher’s Promotion of Learning, Students’ Worries About Mistakes, Outcome Orientation Without Effort; Papaioannou) and written with reference to fathers, and the same to mothers. One factor (Learning-Oriented Climate) reflected a task-involving situational goal structure, and two factors (Worry Conductive Climate and Success Without Effort) reflected an ego-involving structure. Not any study of the using of this test in Brazil was found only its application by White, Duda and Hart. In addition, not any analysis of the validation of this instrument was found, only its means and standard deviations. This study was applied in Rio de Janeiro city and Distrito Federal to 226 athletes who play in federations and confederations championships of volleyball, handball, basketball, table tennis, soccer, running and swimming. The data’s analysis was made using the SPSS 10.0 program for windows. The instrument was analyzed as two questionnaires: one referring to father’s motivational climate and another referring to the mother’s motivational climate. Exploratory factor analysis showed (principal components followed by orthogonal rotation which method used was varimax) that the matrix predominate the requisites minimum of factorability. Key-words: motivational climate, learning-oriented climate, worry conductive climate. Introdução O primeiro ponto a ser analisado dentro desta pesquisa será a importância do meio ambiente familiar em que o atleta está inserido e como ocorre esta influência dos pais na sua escolha de orientação para objetivo, sendo ela para a tarefa ou para o ego. Com isso descrevemos alguns pesquisadores que afirmam a importância da influência, do ambiente social e dos pais em relação à orientação para objetivo de seus filhos e a necessidade de mais pesquisas serem realizadas nesta área. Sendo assim, Nicholls [1,2] afirma que: “as diferenças individuais na orientação para objetivo estão na disposição de experiências sociais dentro de um contexto; as interações sociais têm significativa participação na escolha da orientação para objetivo onde outros influenciarão no clima motivacional, como por exemplo: colegas, técnicos e família e, baseado nestas interações, o indivíduo terá uma tendência para se orientar para seus objetivos”. Locke [3] acrescenta, “os motivos das orientações para o objetivo são realizados num conceito de organização de um ambiente”. Além disso, outro autor Cratty [4] afirma que: ‘acentuadas discrepâncias familiares, desde a mais tenra idade, tendem a modelar as energias infantis’. Cratty citando Rosen e D’Andrade (1959) acrescenta ‘que a forma como os pais estimulam ou restringem as crianças podem conduzir a atitudes que visam ao sucesso’. Ames [5], afirma que a orientação parte do princípio de que o ambiente esportivo influencia diretamente nas ações dos jogadores, e estas ações são motivadas pelos técnicos, pais, torcida, mídia e amigos. O ambiente em que o jogador está inserido poderá ser motivado para eles se superarem tecnicamente ou para vencerem a qualquer custo. Com relação a esta linha de investigação, Carole Ames, tem enfatizado a influência das estruturas de re- Acao_v3n1.indb 11 compensa sobre as diferentes orientações para objetivo, no esporte. Ela propõe três estruturas de recompensa: uma estrutura denominada competitiva, na qual o fato de uns ganharem, a recompensa implicará que outros a percam; uma estrutura cooperativa, a qual implica que, para ganhar uma recompensa todos deverão cooperar para isto e, conseqüentemente, todos ganharão a recompensa; e uma estrutura individualista que supõe que o ganho da recompensa é individual, tendo o jogador que atingir um objetivo, numa partida individualmente, sem depender dos seus companheiros de equipe, mesmo se tratando de um esporte coletivo. Clima competitivo existe em esportes de competição quando ganhar é o critério de sucesso, mas auto-superação através da orientação para a tarefa pode ser também o clima motivacional dos jogadores quando autosuperar-se é o critério do sucesso. O clima motivacional dos jogadores pode ser orientado para a tarefa ou para o ego, e isto será definido basicamente por técnicos e pais [6,7]. Para Roberts, mais pesquisas na área dos esportes deveriam ser realizadas, para saber como as interações sociais influenciam jogadores nas suas escolhas de orientações para objetivo: sejam elas competitivas ou para auto-superação, ou seja, sejam elas para o ego ou para a tarefa. Pesquisadores concluíram em seus estudos que jogadores orientados para o ego são carentes de conceito de justiça e honestidade, tanto quanto não se preocupam com o bem-estar do seu oponente. Com isto, podem ter atitudes intencionais de agressividade para com eles, violam as regras do jogo e cometem trapaças, caso seja necessário para atingir seu objetivo: a vitória a qualquer custo. Por outro lado, orientação para a tarefa, os jogadores são orientados para a auto-superação, para o conceito de honestidade, com meta para aprendizado, meta para o domínio, envolvimento com tarefas e estrutura de recompensa cooperativa [6]. 20/4/2006 11:27:12 12 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Estaremos analisando com este trabalho, qual o clima motivacional em que os atletas estão sendo influenciados em seu contexto familiar, no caso, a influência de seu pai e de sua mãe, se estão orientando o seu filho para a alta competitividade, orientação para o ego, ou orientando para a auto-superação, orientação para a tarefa. Metodologia A amostra incluiu 220 sujeitos, sendo estes atletas da cidade do Rio de Janeiro e Distrito Federal que participam de campeonatos de federações e confederações dos esportes: voleibol, judô, natação, handebol, basquetebol, tênis de mesa, futebol e atletismo. A versão inicial parte de 14 itens que foram adaptados de três escalas do teste de Papaioannou [8] Learning and Performance-Oriented Physical Education Climate Questionnaire (LAPOPECQ), que são: promoção do aprendizado pelo professor, preocupação dos estudantes em errar na execução da tarefa, resultado da orientação para objetivo sem a utilização de esforço. Estes itens são utilizados com referência aos pais dos jogadores, sendo que 14 itens se referem a perguntas em relação ao pai e as mesmas 14 perguntas em relação à mãe. Estas perguntas são referenciadas a 3 fatores: orientação para o aprendizado (com 5 itens), clima de preocupação (com 5 itens) e sucesso sem esforço (com 4 itens). O fator orientação para o aprendizado está relacionado com a orientação para a tarefa, os fatores clima de preocupação e sucesso sem esforço, à orientação para o ego [9]. A pontuação utilizada é a escala 5-pontos Likert, a partir de concordo totalmente (1) até descordo totalmente (5). A tradução foi realizada através de dois profissionais da área da educação física, formados em inglês e posteriormente a isso, tradutores de inglês realizaram o translation back, ou seja, a tradução para o inglês do instrumento já traduzido anteriormente para o português, com o objetivo de validar a tradução. Este processo não mostrou nenhuma diferença na tradução. Quadro 2 – Tradução do original PIMCQ (parent-initiated motivacional climate questionnaire) Eu sinto que minha mãe/pai ... 1. Fica satisfeita(o) quando eu melhoro por meio de muito treino. 2. Fica satisfeita(o) quando eu aprendo algo novo. 3. Presta atenção se eu estou aperfeiçoando minhas técnicas. 4. Vê os erros como parte de um aprendizado. 5. Valoriza meu aprendizado antes de me ensinar algo novo. 6. Se preocupa com meus fracassos. 7. Se preocupa com meus fracassos porque isso é algo negativo. 8. Me faz sentir medo de cometer erros. 9. Se sente mal quando eu não consigo fazer tão bem quanto os outros. 10. Se preocupa comigo, fazendo coisas nas quais não sou bom. 11. Fica satisfeita(o) quando consigo algo sem grande esforço. 12. Fica satisfeita(o) quando eu venço sem grande esforço. 13. Acredita que eu deveria conseguir muito sem grande esforço. 14. Pensa ser importante para mim, ganhar sem precisar me esforçar muito. A validação envolveu a fatorabilidade da matriz de correlações e o método de rotação ortogonal dos fatores utilizados foi o Varimax. Os resultados foram discutidos tendo como foco as implicações do estudo de teorias motivacionais e suas implicações nas orientações para objetivos destes jovens atletas. Análise e discussão dos resultados PIMCQ aplicado aos pais As análises sobre a fatorabilidade da Matriz de Correlações e números de fatores apresentaram os seguintes índices para o PIMCQ referente aos pais: Acao_v3n1.indb 12 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 • KMO de 0,767, considerado como moderado, acima de 0,70; • Teste de Bartlett de Esfericidade com índice de 1007,447 e significância 0,00, qualificado como significante; • Eigenvalues maiores que 1 indicam 3 fatores, no caso utilizamos 2, sem alterar a amostra; • Segundo o critério de 3% da variância explicada, temos na amostra um total de 40,1%; • Scree Plot aponta no máximo 3 fatores, no caso utilizamos 2. Como mostram os dados apresentados anteriormente, a matriz preenche os requisitos mínimos de fatorabilidade. O alpha de Cronbach atingiu o índice 20/4/2006 11:27:12 13 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) de 0,85 (fator 1) e 0,76 (fator 2) satisfatório, ou seja, acima de 0,70. O método de rotação ortogonal dos dois fatores utilizado foi o Varimax. O ponto de corte para inclusão no fator foram cargas fatoriais acima de 0,30. Portanto, foram extraídos dois fatores para o instrumento, o item 7 e o item 10, por terem cargas acima de 0,30 em relação aos dois fatores. Ou seja, foi compreendido por alguns atletas que se tratava de orientação para o ego e por outros, orientação para a tarefa. Sendo que no caso, estes itens referem-se no instrumento à orientação para o ego como pode ser visto na Tabela I. Rotated Factor Matrix Tabela I – Matriz Pattern da escala PIMCQ dos pais. • Segundo o critério de 3% da variância explicada, teríamos 31,9% neste instrumento, qualificado como satisfatório; • Scree Plot aponta no máximo 3 fatores. Os dados apresentados anteriormente, validam a matriz, pois preenche os requisitos mínimos de fatorabilidade. O alpha Cronbach atingiu no fator 1 o índice de 0,79, satisfatório, mas no fator 2 atingiu um índice abaixo de 0,70 (0,69 no caso), que não é o mais satisfatório, mas está muito próximo do valor necessário. O método de rotação ortogonal utilizado foi o Varimax. O ponto de corte para inclusão no fator foram cargas fatoriais acima de 0,30. Abaixo desse índice, os itens foram retirados, no caso os itens 10 e 14, que estão relacionados com o clima de sucesso sem esforço, orientação para o ego como pode ser visto na Tabela II. Rotated Factor Matrix Variáveis pai pai pai pai pai pai pai pai pai pai pai pai pai pai Alfa Variância explicada Fator 1 ,748 ,794 ,711 ,483 ,689 ,659 ,325 ,301 0,85 22,6 2 ,396 ,527 ,448 ,352 ,627 ,619 ,620 ,643 0,76 17,5 Comunalidades Extração ,569 ,646 ,512 ,291 ,483 ,456 ,263 ,278 ,202 ,215 ,418 ,383 ,420 ,487 Total= 40,1 PIMCQ aplicado às mães As análises sobre a fatorabilidade da Matriz de Correlações e números de fatores apresentaram os seguintes índices para o PIMCQ referente às mães: • KMO de 0,739, considerável como moderado; • Teste de Bartlett de Esfericidade com índice de 691,353, com significância 0,00, qualificado como significante; • Eigenvalues maiores que 1 indicam 3 fatores, no caso utilizamos 2 sem alterar a amostra; Acao_v3n1.indb 13 Tabela II – Matriz Pattern da escala do PIMCQ das mães. Variáveis mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe mãe alfa VariâncIa explicada Fator 1 ,710 ,789 ,653 ,506 ,518 ,590 0,79 18,6 ,411 ,639 ,510 Comunalidades Extração* ,512 ,624 ,478 ,309 ,271 ,372 ,253 ,419 ,260 ,438 ,519 ,608 ,217 ,279 ,389 0,69 13,3 Total = 31,9 2 Interpretação dos componentes Os itens que representam os componentes de orientação para a tarefa e orientação para o ego, tanto no instrumento aplicado aos pais quanto às mães estão presentes nos Quadros 3, 4 e 5 que estão a seguir: 20/4/2006 11:27:13 14 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Quadro 3 – Itens que representam o clima de aprendizagem e orientação para tarefa dos pais e das mães no PIMCQ. Eu sinto que meu pai ... Eu sinto que minha mãe ... 1. Fica satisfeito(a) quando eu melhoro após um grande esforço 2. Fica satisfeito(a) quando eu aprendo algo novo 3. Presta atenção se eu estou melhorando tecnicamente 4. Acredita que as falhas fazem parte da aprendizagem 5. Valoriza a minha aprendizagem de algo, antes de me ensinar outra Este fator descrito anteriormente, segundo as autoras Duda, White e Hart [10] está relacionado ao clima de orientação para a aprendizagem, que corresponde a orientação para a tarefa. Os resultados apresentaram que tanto no instrumento referente às mães, como no instrumento referente aos pais, todos os itens foram validados, com carga acima de 0,30 no fator 1. Ou seja, foi compreendido pelos atletas como sendo itens referentes à orientação para a tarefa. Quadro 4 – Itens que representam o clima de preocupação e orientação para o ego dos pais e das mães no PIMCQ. Eu sinto que meu pai ... Eu sinto que minha mãe ... 6. Se preocupa com as minhas falhas 7. Se preocupa com as minhas falhas pois tê-las é negativo 8. Faz com que eu tenha medo de cometer erros 9. Sente-se mal quando eu não realizo algo tão bem quanto os outros 10. Se preocupa com a minha performance quando eu não as executo bem Este fator descrito acima, segundo as autoras [10], refere-se ao clima de preocupação que o pai ou mãe exerce sobre o filho e está relacionado com a orientação para o ego. O item 6 apresentou carga acima de 0,30 referente à orientação para a tarefa e não para o ego, como foi proposto pelas autoras – se preocupa com as minhas falhas – tanto no instrumento aplicado aos pais, quanto no aplicado às mães. Ou seja, para estes atletas a preocupação é vista como uma orientação para a tarefa e não para o ego como é visto pelos norte-americanos. Os itens 7 e 10 ficaram com carga abaixo de 0,30 no instrumento referente às mães: se preocupa com minhas falhas, pois tê-las é negativo (item 7); se preocupa com a minha performance quando eu não as executo muito bem (item 10). No questionário referente aos pais, o item 10 apresentou carga acima de 0,30 tanto para a orientação para a tarefa quanto para o ego. Quadro 5 – Itens que representam o clima sucesso sem esforço e orientação para o ego dos pais e das mães no PIMCQ. Eu sinto que meu pai ... Eu sinto que minha mãe ... 11. Fica satisfeito(a) quando eu tenho êxito sem ter precisado me esforçar muito 12. Fica satisfeito(a) quando eu ganho sem ter me esforçado 13. Acredita que eu deveria chegar ao sucesso sem precisar me esforçar muito 14. Pensa ser importante para mim, ganhar sem precisar me esforçar Este fator descrito anteriormente, segundo as autoras [10] refere-se ao clima de sucesso sem esforço que corresponde à orientação para o ego. Os resultados mostraram que o item 14, apresentou carga no questionário referente aos pais com carga acima de 0,30 tanto na orientação para a tarefa, quanto na orientação para o ego: pensa ser importante para mim, ganhar sem precisar Acao_v3n1.indb 14 me esforçar. É interessante, pois alguns atletas vêem que esta afirmativa, em relação aos seus pais poderá orientálos duas direções diferenciadas. Além disso, este item apresentou carga abaixo de 0,30 no instrumento referente às mães dos atletas. Abaixo, descrevemos as variáveis dependentes de jovens atletas brasileiros, seguido dos atletas norte-americanos. 20/4/2006 11:27:13 15 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Variáveis dependentes e suas respectivas médias e desvio-padrão: Tabela III – Estatísticas descritivas das variáveis dependentes de jovens atletas brasileiros [11]. Variáveis Tarefa mãe Ego mãe Tarefa pai Ego pai Tarefa pais Ego pais Casos Válidos n 216 215 201 200 218 217 197 Média 2,0477 3,3070 3,9960 2,8014 2,9593 3,0686 dv ,6489 ,7774 ,6969 ,6350 ,4351 ,3650 Tabela IV – Estatísticas descritivas das variáveis dependentes de jovens atletas norte-americanos [10]. Variáveis n Tarefa pais 210 Ego pais (preocupação) 210 Ego pais (sucesso sem esforço) 210 Média 3,81 2,29 dv - 2,15 - Neste instrumento optamos em analisar os resultados do pai e da mãe separadamente. Entendemos que uma análise de como o pai está orientado o seu filho em separado da mãe, nos fornecerá uma noção melhor das diferenças nesta orientação. Além disso, analisamos posteriormente, como seria esta orientação em conjunto quando pai e mãe pensam na orientação para objetivo de seus filhos. Também optamos por seguir os conceitos da teoria motivacional da orientação pra objetivo que define a orientação para objetivo, como orientação para a tarefa e para o ego. Portanto, seguimos a própria orientação das autoras que definem a orientação para o aprendizado como orientação para a tarefa e orientação para a preocupação e sucesso sem esforço como orientação para o ego. Conclusão Analisando os resultados do PIMCQ aplicado aos jovens desportistas brasileiros e aplicado aos jovens desportistas norte-americanos, concluiu-se que na orientação para a tarefa dos pais brasileiros (somente o pai – 3,99 – Tabela III), apresentaram a maior média desta orientação. Sendo que, quando está em conjunto com a mãe, esta variável apresentase abaixo (2,95 – Tabela III) da média norte-americana (3,81 – Tabela IV). Em se tratando da orientação para o ego, as médias brasileiras superam as médias norte-americanas (ver tabelas III e IV). Concluímos também que as mães brasileiras apresentaram uma média acima do ponto médio da gradação da escala (3,30) e abaixo do ponto médio da escala Acao_v3n1.indb 15 na orientação para a tarefa (2,04). Como estas médias não caracterizam as mães brasileiras, por terem sido realizadas em apenas duas cidades, trata-se apenas do resultado de algumas destas mães, pois para saber este resultado, um outro estudo deveria ser realizado. Em relação ao instrumento aplicado às mães, os itens: 6, 10 e 14 não foram validados. O item 6 por estar com carga na orientação para o ego e não para a tarefa, como foi definido no instrumento original; e os itens 10 e 14 por não apresentarem carga satisfatória, isto é, abaixo de 0,30. Em relação ao instrumento aplicado aos pais, os itens: 6, 7 e 10, não foram validados. O item 6 por estar com carga na orientação para o ego e não para a tarefa, como foi definido no instrumento original; e os itens 7 e 10 por terem carga tanto na orientação para o ego, quanto na orientação para o ego. Sendo a primeira vez que se realiza a validação deste instrumento no Brasil, acreditamos que, modificações na tradução deverão ser realizadas para que todos os itens possam futuramente ser validados. Referências 1. NICHOLLS, J. G. The competitive ethos and democratic education. Cambridge: Harvard University Press, 1989. 2. NICHOLLS, J. G. The general and the specific in the development and expression of achievement motivation. In: G. Roberts (Ed.) Motivation in sport and exercise. Champaign: Human Kinetics, 1992. p. 31-56. 3. LOCKE, E. A. Toward a theory of task motivation and incentives. Organ Behav Hum Perform, v. 3, n. 1, p.157-89, 1968. 4. CRATTY, B. – Psicologia no Esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1983. 5. AMES, C. Competitive, cooperative, and individualistic goal structures: A cognitive-motivational analyses. In: R. Ames & C. Ames (Eds.). Research on motivation in education: Student motivation. New York: Academic Press, 1984. p. 177-208. 6. ROBERTS, G. Motivation in sport and exercise. Champaign: Human Kinetics, 1992. 7. VEALEY, R. Coaching for the inner edge. Morgantown: Fitness Information Technology, 2005. 8. PAPAIOANNOU, A. Development of a questionnaire to measure achievement orientations in physical education. Res Q Exerc Sport, v. 65, n. 1, p.11-20, 1994. 9. DUDA, J. L. (Ed.) Advances in sport and exercise psychology measurement. Morgantown: Fitness Information Technology, 1988. 10. WHITE, S. A.; DUDA, J. L.; HART, S. An exploratory examination of the parent-initiated motivational climate questionnaire. Percept Mot Skills, v. 75, n. 3, p. 875-80, 1992. 11. GOULART, C. Orientação para objetivo e clima motivacional dos jovens desportistas brasileiros. Brasília, 2001. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília. 20/4/2006 11:27:13 16 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) ARTIGO ORIGINAL Análise de saltos e rally no confronto entre Brasil e Itália nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 Analysis of jumps and rally in the confrontation between Brazil and Italy in Athens Olympic games Marcelo de Castro Haiachi, M.Sc.*, José Fernandes Filho, D.Sc.** * Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH – UCB / RJ, Treinador das equipes de base do Fluminense Football Club RJ, **Educação Física pelo Instituto de Investigação Científica de Cultura Física e Esportes da Rússia – IICCFER (Rússia), Professor da EEFD – Universidade Federal do Rio de Janeiro, PROCIMH – UCB / RJ Resumo O objetivo deste estudo foi identificar a quantidade de saltos e o tempo de duração dos rallies no duelo entre as duas melhores equipes das Olimpíadas de Atenas 2004. Foi desenvolvida uma estatística descritiva de tipologia de levantamento de dados tendo como objeto de estudo a seleção brasileira masculina de voleibol nos dois confrontos com a seleção italiana (classificatória e final). A média de saltos encontrada em cada jogo foi de 225 ações de salto, sendo o bloqueio o fundamento com maior percentual (36% e 39%). O tempo médio de rally variou muito de uma partida para outra apresentando valores de 0,59 segundos (mínimo) e de 32,84 segundos (máximo). Já o tempo médio de ação ficou em 4,95 segundos com um tempo de intervalo de 25,85 segundos. Estes resultados descrevem a necessidade de treinamentos com o máximo de velocidade e intensidade baseando em indicadores qualitativos e não quantitativos priorizando a melhor amplitude, técnica e eficiência reduzindo a ocorrência de lesões. Palavras-chave: voleibol, saltos, rally. Abstract The purpose of this study was to identify the quantity of jumps and the duration time of the rallies in the confrontation between the two best teams in Athens Olympic Games, 2004. Descriptive statistics with data survey typology has been applied, in order to observe the Volleyball Male Brazilian Team in both games against Italian Team (classificatory and final). In each game, the mean of jumps observed was 225 jump actions, with block being the element of greater percentage (36 e 39%). Rally’s mean time has suffered large variation from one match to another, presenting values from 0,59 seconds (minimum) to 32,84 seconds (maximum). Action mean time was 4,95 seconds, with an interval time of 25,85 seconds. These findings describe the necessity of maximum velocity and maximum intensity trainings based upon qualitative indicators, not quantitative ones, priorizing better amplitudes, technique and efficiency as well as reducing injuries occurrence. Key-words: volleyball, jumps, rally. Artigo recebido em 10 de março de 2006; aceito em 3 de abril de 2006. Endereço para correspondência: Marcelo de Castro Haiachi, Rua Perseverança 57 apto. 304, Riachuelo, 20961-030 Rio de Janeiro RJ, Tel: 2581-4184, E-mail: [email protected] Acao_v3n1.indb 16 20/4/2006 11:27:14 17 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Introdução O voleibol possui várias escolas que segundo Bizzocchi [1] apresentam características bem peculiares. A soviética caracteriza-se pela força, a Tcheca pela técnica, a Asiática pela velocidade e agilidade, a Americana pela especialização das funções e a Brasileira pela versatilidade e força ofensiva dos seus jogadores. Em Jogos Olímpicos (JO), evento esportivo mais importante no calendário internacional, a URSS, atual Rússia, apresenta-se como a maior vencedora, com 3 medalhas de ouro, 3 de prata e 2 de bronze, seguida do Brasil com 2 medalhas de ouro e 1 de prata e dos Estados Unidos com 2 medalhas de ouro e 1 de bronze nestes 44 anos de Olimpíadas1. A tradicional seleção Italiana dominou o voleibol na década de 1990, sendo considerada a melhor equipe do século XX2, mas sempre apresentou dificuldade nesta competição. Após as medalha olímpicas conquistadas pelo Brasil 1984 (prata) e 1992 (ouro), o voleibol brasileiro passa a figurar no cenário internacional como uma das grandes potências no voleibol [2]. O duelo entre estas duas escolas foi marcado pela hegemonia da seleção italiana sobre a brasileira, fato este que fez com que os italianos minimizassem a conquista brasileira em 1992, já que as duas seleções não se cruzaram. Em Atenas 2004, surge a grande oportunidade do confronto entre as duas seleções que personificam o melhor do voleibol na atualidade. A seleção italiana com características de especialização das funções dos seus jogadores contra a seleção brasileira com a versatilidade e a variação ofensiva dos seus jogadores. Lembramos que as duas seleções nunca se encontraram em JO até Atenas 2004. Métodos Foi realizado um estudo descritivo de tipologia de levantamento de dados usando como objeto de estudo a seleção brasileira adulta masculina de voleibol em duas partidas contra a seleção italiana nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004. O 1º jogo foi na fase classificatória enquanto o 2º aconteceu na final. Os itens analisados foram: a quantidade de saltos por set, por jogo, por posição de jogo, por fundamento, o tempo de bola em jogo e o tempo de ação e intervalo durante a partida. Os jogos foram filmados em vídeo para facilitar a coleta dos dados, que consistia em registrar o número de saltos e a duração de cada rally. Os dados foram tratados através de uma estatística descritiva utilizando os valores de tendência central e derivados além e uma escala de freqüência. O programa estatístico adotado para a tabulação dos dados foi o Microsoft Excel XP, baseando-se na planilha de controle de saltos elaborada por Haiachi [3-5]. Resultados Foram encontrados os seguintes resultados: Tabela I – Quantidade de saltos. Jogo 1º 2º Total média dp cv 1º Set 108 134 242 121 18,38 15% 2º Set 117 153 270 135 25,46 19% 3º Set 135 123 258 129 8,49 7% 4º Set 120 152 272 136 22,63 17% 5º Set 195 195 TT 675 562 1237 619 79,90 13% média 225 225 dp 34,92 14,57 cv 16% 6% Tabela II – Total de saltos por fundamento. Jogo 1º 2º 1 2 Acao_v3n1.indb 17 Saque 118 17% 99 18% Levantamento 112 17% 90 16% Ataque 199 29% 153 27% Bloqueio 246 36% 220 39% TT 675 100% 562 100% O voleibol iniciou sua participação em Olimpíadas a partir da Olimpíada de Tókio no Japão em 1964 [1,2]. Os resultados de todos as edições dos JO com seus respectivos vencedores estão disponíveis em: <http://www.volei.org. br/newcbv/seleções/resultados.asp>, acessado em 22 de agosto de 2005. A FIVB elegeu a seleção italiana como a melhor equipe do século XX pela série de conquistas obtidas: três títulos mundiais, dois títulos europeus e cinco liga mundial [1]. 20/4/2006 11:27:14 18 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Tabela III – Total de saltos por posição de jogo. Jogo 1º Levantador 158 23% 116 21% 2º Oposto 94 14% 72 13% Ponta 168 25% 161 29% Meio 249 37% 206 37% Líbero 6 1% 7 1% TT 675 100% 562 100% Tabela IV – Tempo de bola em jogo*. Jogo 1º 1º Set 171,82 2º Set 189,84 3º Set 220,93 4º Set 221,24 5º Set 343,20 TT 1147,03 2º 15,34 total média* Dp Cv média** 217,14 243,08 209,95 250,17 - 920,34 388,96 194,48 32,05 16% 3,24 432,92 216,46 37,65 17% 3,61 430,88 215,44 7,76 4% 3,59 471,41 235,71 20,46 9% 3,93 5,72 2067,37 1033,69 160,29 16% Total 12840 419 2067,37 9,90 51,70 média 6420 209,5 1033,69 4,95 25,85 Mediana 221 média 230 cv 29% dp 19,54 média ** 19,12 cv 8% * tempo em segundos. ** tempo em minutos. Tabela V – Tempo de ação x Tempo de intervalo*. Jogo duração da partida total de rallies tempo de bola em jogo tempo de ação tempo de intervalo tempo máximo de rally tempo mínimo de rally 1º 7020 237 1147,03 4,84 24,78 30,25 0,66 2º 5820 182 920,34 5,06 26,92 32,84 0,59 dp 848,53 38,89 160,29 0,15 1,51 cv 13% 19% 16% 3% 6% *tempo em segundos. Discussão Inicialmente, os dados apresentaram uma diferença em relação à quantidade de saltos, já que na partida classificatória foram disputados cinco (05) sets e na partida final apenas quatro (04) sets (tabela I). Percentualmente a diferença de ações de salto entre o 1º e o 2º jogo foi de 17%, valor este que pode ser considerado baixo, já que a diferença de 113 ações de saltos, quando comparada com outros estudos, Haiachi et. al. [3,4], mostram uma grande proximidade entre as médias de ações de salto em equipes que disputaram a final da Superliga – BRA (114 ações de salto) e do campeonato Italiano (106 ações de salto). Os valores são bem próximos, a diferença é que em um jogo estão relacionados os melhores jogadores de um país enquanto no outro estão os melhores jogadores de diferentes países. Art_3_Marcelo.indd 18 O estudo comprova dados anteriores de Haiachi et. al [5] e Esper [6] que mostram o bloqueio como fundamento responsável pelo maior número de ações de salto (tabela II) e os atacantes de meio como os jogadores que efetuam o maior número de ações de salto (tabela III). A força explosiva (força rápida) ganha uma grande importância no treinamento já que está diretamente associada à capacidade neuromuscular de recrutar o máximo de unidades motoras com a máxima velocidade e intensidade [7-10]. Focamos nosso estudo na freqüência dos saltos e não na intensidade dos mesmos. Vários fatores influenciam nas ações de salto como o adversário, a situação da partida, a importância da partida, a motivação, a torcida, o clima, o treinamento, a quantidade de sets jogados dentre outros. Estes fatores intrínsecos e extrínsecos podem prejudicar o rendimento do atleta e conseqüentemente da equipe. 25/4/2006 13:21:52 19 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) O tempo de bola em jogo pode ser caracterizado como o tempo em que a bola permanece no “alto”, ou seja, o tempo de duração de um rally. Este nome apareceu devido à mudança ocorrida na regra, em 1998, que modificou o sistema de pontuação do jogo de sistema de vantagem para sistema de pontos corridos (rally point system) [2,11]. Diferente da quantidade de saltos, o tempo de bola em jogo variou muito de uma partida para outra. A utilização da mediana no 1º jogo confirma esta afirmação (tabela IV). Por apresentar valores entre 0,59 segundos (mínimo) e 32,84 segundos (máximo) de ação, chegase à conclusão que a disputa por cada ponto deverá ser curta, intensa e intercalada com períodos de repouso [12]. Segundo Platonov [13] e Verkhoshanski [14], para atividades de duração máxima entre 6 a 10 segundos, utilizam-se predominantemente o sistema energético anaeróbico alático, creatina-fosfato. Para Bompa [15] o tempo de atividade máxima varia entre 8 a 10 segundos. A predominância do sistema anaeróbico para o voleibol pode ser confirmada na tabela V que mostra o tempo de ação e intervalo, além dos valores máximos e mínimos de duração de rally. Estes dados são muito importantes para o aprimoramento do voleibol, principalmente com relação ao tempo de atividade utilizada durante as sessões de treinamento. O estudo apresenta um tempo médio de ação de 4,95 segundos com um tempo de intervalo de 25,85 segundos. Estes dados mostram uma revolução da modalidade já que em estudos como o de Stanganélli [12] apud Kunstlinger et al. [16], apenas 10% dos rallies duravam 10 segundos apresentando um tempo de 9 segundos de atividade máxima com 12 segundos de intervalo. Seguindo a mesma linha, o autor apud Viitasalo et al. apresenta um tempo de 7,6 segundos de atividade com 14,1 segundos de intervalo. A diminuição do tempo de ação deve-se a modificação no sistema de pontuação do jogo, enquanto que o aumento no tempo de intervalo deve-se ao fato do estudo observar como tempo de intervalo todas as interrupções regulamentares do set: tempo técnico, tempo de descanso e o tempo decorrido das substituições. Durante este tempo de intervalo (25,85), segundo Künstlinger et al. [16], ocorre o restabelecimento oxidativo da fonte energética (ATP) utilizada em ações anteriores. Segundo Bompa [15] após 30 segundos ocorre 70% da restauração dos fosfagênios. Pode-se dizer então que a recuperação no voleibol acontece de forma ativa, já que o jogo é caracterizado por ações intensas e de curta duração seguidas por pausas ou movimentos menos intensos possibilitando a recuperação [17]. Art_3_Marcelo.indd 19 Conclusão Vários estudos estão sendo feitos atualmente, no intuito de aprimorar cada vez mais o treinamento do voleibol. Estes estudos têm relação direta com a mudança promovida na regra do jogo (1998). Com o sistema de pontuação com vantagem, o jogo era mais lento e prolongado, hoje com o sistema de pontos corridos o jogo ganha mais dinâmica por reduzir o tempo de bola em jogo. Assim, cada ação dever ser feita com o máximo de intensidade e velocidade no intuito de superar a equipe adversária. Apesar da necessidade da utilização de várias qualidades físicas em uma partida de voleibol, o estudo comprova a importância da força explosiva já que pela quantidade média de ações de salto (225), deixa claro a necessidade por um treinamento específico para que os jogadores suportem o alto volume de saltos, que pode se elevar com o aumento do número de sets jogados ou com o aumento do tempo de bola em jogo. A utilização do tempo de ação e de intervalo é de extrema importância para a periodização do treinamento, já que sabendo que o tempo médio de duração de cada rally varia de 5 a 35 segundos, não devendo submeter atletas a treinamentos prolongados e extenuantes com altos níveis de intensidade. Se para cada jogada é necessária a máxima velocidade e intensidade a prescrição do treinamento deve ser baseada em indicadores qualitativos e não quantitativos, ou seja, o volume de treinamento prioriza o movimento com melhor amplitude, técnica e eficiência. Na busca pela qualidade do movimento, a intensidade e a quantidade de ações de salto podem elevar o risco de lesões no treinamento, fato este que o estudo procura amenizar através da percepção do tempo de ação em jogos de alto rendimento. Recomendamos mais estudos para formação de massa crítica procurando aprimorar cada vez mais o treinamento do voleibol, baseando o estudo em competições estaduais, nacionais e internacionais em diferentes estágios da competição fase classificatória e fase final; com jogos na regra antiga e em equipes femininas. Referências 1. BIZZOCCHI, C. O voleibol de alto nível: da iniciação à competição. 2. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2004. 2. KOCH, R. Tie-Break: a saga dourada do vôlei masculino do Brasil. Porto Alegre: Dora Luzzatto, 2005. 3. HAIACHI, M. C.; ALVES, J. L. P.; GONÇALVES, S. S.; LUCERO, F.; FERNANDES FILHO, J. Estudo quantitativo dos saltos em uma partida da superliga masculina de voleibol. In: 10ª Jornada de Educación Física del Mercosur 2005. Córdoba: Fiep Argentina, 2005a. 25/4/2006 13:21:55 20 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) 4. HAIACHI, M. C.; ALVES, J. L. P.; GONÇALVES, S. S.; LUCERO, F.; FERNANDES FILHO, J. Estudo quantitativo dos saltos em uma partida do campeonato italiano de voleibol. In: 10ª Jornada de Educación Física del Mercosur 2005. Córdoba: Fiep Argentina, 2005b. 5. HAIACHI, M. C.; ALVES, J. L. P.; FERNANDES FILHO, J. Análise quantitativa das ações de salto na fase final da Liga Mundial 2005. Córdoba: Fiep Argentina, no prelo, 2005c. 6. ESPER, A. Cantidad y tipos de saltos que realizan las jugadoras de voleibol en un partido. Revista Digital de Educación Física y Deportes. Buenos Aires, v. 8, n. 58, 2003. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd58/ saltos.htm. Acesso em: 01 ago 2005. 7. BARBANTI, V.J. Formação de esportistas. 1. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2005. 8. PAULO, A.C. Como otimizar o salto do seu jogador: pliometria. Revista do Vôlei, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 34-35, 2004. 9. SEBASTIANI, E.M.; GONZÁLEZ, C.A. Cualidades físicas. 1. ed. Barcelona: INDE Publicaciones, 2000. 10. WEINECK, J. Treinamento ideal:instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas Acao_v3n1.indb 20 de treinamento infantil e juvenil. 9. ed. São Paulo: Manole, 1999. 11. GUIMARÃES, G. L. e MATTA, P. E. H. Uma história comentada da transformação do voleibol: do jogo ao desporto espetáculo. Revista de Educação Física, Rio de Janeiro, n. 128, p. 79-88, 2004. 12. STANGANÉLLI, L.C.R. Aeróbico ou anaeróbico? as características fisiológicas do voleibol. Revista Vôlei Técnico, Rio de Janeiro, v. 2, n. 5, p. 21-32, 1995. 13. PLATONOV, V. N. Teoria geral do treinamento desportivo olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2004. 14. VERKHOSHANSKI, Y. V. Treinamento desportivo: teoria e metodologia. Porto Alegre: ARTMED, 2001. 15. BOMPA, T. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2002. 16. KUNSTLINGER, U.; LUDWIG, H. G.; STEGEMANN, J. Metabolic changes during volleyball matches. Int J Sports Med, v. 8, n. 5, 315-322, 1987. 17. SMITH, D. 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A idéia surge a partir da problematização inicial que dá destaque à psicomotricidade como uma área multifacetada, subsidiada por diversas áreas do conhecimento, bem como pluralizada pela ação de profissionais com formações diversas. Os objetivos do estudo buscam caracterizar: a) os locais em que a prática da psicomotricidade é desenvolvida; b) formação inicial e continuada dos psicomotricistas; c) fundamentos teóricos do psicomotricista; e d) páginas eletrônicas dedicadas à área da psicomotricidade. A metodologia do estudo fez uso de entrevistas e de questionários utilizados com os participantes da investigação, assim como análise de documentos. A coleta de informações permitiu constatar que as áreas nucleares são educativas e terapêuticas. O universo de áreas que atuam com a psicomotricidade, bem como sua caracterização interdisciplinar de atuar permite o uso da psicomotricidade como um recurso para ações do profissional da saúde e da educação. Palavras-chave: psicomotricidade, formação profissional, Educação Física. Abstract This paper is dedicated to the study of psychomotricity and its characterization in data collected in Porto Alegre city. Psychomotricity is considered as a multifaceted area, what can be attested by different areas of knowledge and by the performance of several professionals. This study has sought to characterize: a) places where psychomotricity is used; b) initial and continuous formation of people who work as psychomotricists; c) psychomotricity theoretical background; and d) websites dedicated to psychomotricity. The data are composed by interviews and questionnaires, some documents were also analyzed. The results allowed us to identify that the main fields to the psychomotricists are therapeutical and educational. The universe of areas that work with psychomotricity, as well its multidisciplinar action permits the use of psychomotricity as a resource to the professionals of health and education. Key-words: psychomotricity, professional formation, Physical Education. Artigo recebido em 30 de novembro de 2005; aceito em 9 de março de 2006. Endereço para correspondência: Atos Prinz Falkenbach, Rua Cristiano Grün, 205/404, 95900-000 Lajeado RS, Tel: (51) 3714-4754 [email protected] Acao_v3n1.indb 21 20/4/2006 11:27:16 22 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Introdução O presente estudo se dedica ao tema da psicomotricidade e a sua caracterização no cenário da cidade de Porto Alegre. A idéia surge a partir da problematização inicial que dá destaque a psicomotricidade como uma área multifacetada, subsidiada por diversas áreas do conhecimento, bem como pluralizada pela ação de profissionais oriundos de formações diversas, estabelece-se uma busca no sentido caracterizar a prática da psicomotricidade em Porto Alegre. Os aspectos escolhidos para serem investigados são: a) locais em que a prática da psicomotricidade é desenvolvida e sua respectiva temporalidade; b) formação inicial e continuada dos psicomotricistas; c) o tempo de prática do psicomotricista na área; c) fundamentos teóricos do psicomotricista; d) corrente da psicomotricidade que é praticada; e e) páginas eletrônicas dedicadas à área da psicomotricidade. O estudo utiliza instrumentos para a coleta de informações como as entrevistas e os questionários com os participantes da investigação, bem como a análise de documentos. Para o desenvolvimento do estudo é necessário a busca e a identificação prévia dos diversos locais em que há uma prática psicomotora regular, tanto ao atendimento não-formal como formal (escolas de educação básica) na cidade de Porto Alegre. Justificativa Com a finalidade de justificar o desenvolvimento do estudo sobre as práticas da psicomotricidade é importante compreender o histórico da atividade da psicomotricidade, isto é, de onde se origina e em que perspectivas evolui. Outro aspecto a ser destacado trata da diversidade desta área. Uma vez que não há cursos de formação inicial específicos nessa área no estado do Rio Grande do Sul. O MEC registra apenas um Curso de Psicomotricidade reconhecido em território nacional, trata-se da Faculdade de Ciências da Saúde e Sociais – FACIS do Rio de Janeiro. A curiosidade fica por conta do título do referido curso que habilita um licenciado em Psicomotricidade. Os profissionais que atuam com a psicomotricidade são oriundos de cursos diversos. Nesse sentido a justificativa vai percorrer dois aspectos relacionados entre si: a) o histórico da psicomotricidade; e b) a pluralização da área. O termo psicomotricidade originou-se na França, no final do século XIX e no início do século XX [1]. A história da psicomotricidade se origina nos estudos de neuropsiquiatria infantil do médico Ernest Dupré. Tal histórico permite compreender as bases biomédicas e racionalistas sobre a análise do movimento humano. Significa dizer que a psicomotricidade fundamentou-se inicialmente no Acao_v3n1.indb 22 dualismo cartesiano, tratando o ser humano de forma fragmentada. Identificou que o corpo é um segmento externo que não pensa, e que a alma, não participa de nada daquilo que pertence ao corpo. Posteriormente passou-se a considerá-lo em sua totalidade, isto é, o corpo começa a ser visto como uma unidade que expressa sentimentos e emoções que movem suas ações [2]. Os antecessores do campo psicomotor são a ginástica terapêutica e a psicodinamia. A ginástica terapêutica descreve sistemas de exercícios e técnicas de ginástica com o objetivo de obter e atingir a harmonia do espírito e do corpo. Outro antecessor do campo psicomotor é a Psicodinamia que se opõe à educação física militarizada e propõe uma educação pelo movimento [3]. Outro marco na história da psicomotricidade é os estudos de Edouard Guilmain em 1935. Este médico inicia um novo método que chama de Reeducação Psicomotora, consistindo na aplicação de baterias de testes psicomotores para a avaliação do perfil da criança. Estabelece-se, então, um exame psicomotor padrão e um programa de sessões de acordo com as características dos distúrbios motores que o indivíduo apresenta, orientando as modalidades de intervenção do psicomotricista. A psicomotricidade recebeu influências diversas como os autores: J. Bergès, R. Diatkine, B. Jolivet, C. Launay e S. Lebovici que definem a psicomotricidade como “uma motricidade em relação” [3]. Esta concepção começa a delimitar uma diferença na postura do psicomotricista em relação às bases racionalistas. A relação afetiva e emocional da postura terapêutica inicia a dar os primeiros contornos da vertente da terapia psicomotora. Os psicomotricistas, agora preocupados com a vida emotiva de seus pacientes, começam a visitar os autores da psicanálise, como S. Freud, M. Klein, D. Winnicott, W. Reich, P. Schilder, J. Lacan, M. Manoni, F. Dolto e Samí Ali [3]. O histórico apresentado permite compreender a diversidade de conceitos e de realidades da prática psicomotora. Este fato em si é o que favorece a pluralização dos profissionais da área da Psicomotricidade. Nesse sentido algumas indagações são pertinentes como: Qual a formação dos profissionais que atuam com a psicomotricidade? Que histórico possuem com a área? Em que locais a prática da psicomotricidade é desenvolvida? Quais as vertentes psicomotoras que fundamentam a prática do psicomotricista? Que autores são estudados? Como o psicomotricista dá continuidade a sua formação, ou seja, como se mantém qualificado? Qual a clientela que faz parte da ação da psicomotricidade e em que vertentes ela se situa? Este grupo de questionamentos é oriundo desta pluralização identificada na área. Buscar a literatura da área da psicomotricidade é se deparar com uma infini- 20/4/2006 11:27:16 23 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) dade de títulos originários de diferentes estudos e concepções. A organização dos questionamentos permite a formulação de um problema que busca investigar como se caracteriza a prática da psicomotricidade na cidade de Porto Alegre, que locais, que profissionais, que formação e que fundamentos caracteriza? Argumentação teórica Com o intuito de facilitar a compreensão das características das principais vertentes da psicomotricidade, destacamos: a) finalidade: o propósito da prática; b) área do conhecimento; e c) autores de base. Iniciamos com a vertente denominada Reeducação Psicomotora que se destina a crianças que apresentam déficit em seu funcionamento motor [4]. A finalidade é ajudar a criança em reaprender determinadas funções motoras. Para isso, avalia-se o perfil psicomotor da criança, utilizando métodos que consistem na aplicação de baterias de testes psicomotores [5]. Após o diagnóstico, a criança é submetida a um programa de sessões que tem como objetivo suprir as dificuldades aparentes [1]. Esta abordagem tem como base estudos da neuropsiquiatria infantil. Com abordagem centrada no desenvolvimento motor e entende o ser humano como um corpo instrumental, isto é, uma “máquina de movimento”, que, caso não estiver funcionando, deve ser reparada [6]. A principal mudança na evolução da reeducação psicomotora está na compreensão do corpo como uma unidade e cujo movimento possui significado. Com isso a postura do reeducador frente à criança toma outra direção: ele passa a entendê-la como um ser de expressividade psicomotora. Sua relação com a criança passa a ser de empatia, de escuta, de interação e de ajustamento constante [7]. Outro aspecto importante que é citado nesta nova fase da reeducação psicomotora é que a formação do reeducador é composta por uma trilogia efetuada simultaneamente: a formação pessoal, a formação teórica e a formação prática. Ambas completam-se e enriquecem-se umas às outras [7]. A formação pessoal tem como objetivo melhorar a disponibilidade corporal do adulto a partir de vivências corporais. Mobiliza as áreas da afetividade, da sexualidade e dos “fantasmas”, proporcionando mudanças de atitude e de tomadas de consciência. A formação teórica surge da necessidade que o psicomotricista tem em justificar, analisar e refletir sobre as principais teorias que baseiam seus procedimentos. E a formação prática oportuniza a vivência concreta de seus estudos com as crianças [7]. A evolução que a reeducação psicomotora passou foi o primeiro passo de uma trajetória que a psicomotricidade ainda percorre, isto é, o desenvolvimento de Acao_v3n1.indb 23 uma abordagem cada vez mais preocupada com o ser humano em sua totalidade inserido em um contexto sócio-cultural. A vertente chamada de terapia psicomotora é um desdobramento da vertente da reeducação psicomotora. Originou-se da compreensão de que o movimento é linguagem e, portanto, expressa os sentimentos, emoções, desejos e demandas do ser humano. É destinada às crianças “normais” e com necessidades especiais que apresentam dificuldades de comunicação, de expressão corporal e de vivência simbólica [1]. A terapia psicomotora centra o seu olhar a partir da comunicação e da expressão do corpo, no intercâmbio e no vínculo corporal, na relação corporal entre a pessoa do terapeuta e a criança em diálogo de empatia tônica [6]. A vertente denominada educação psicomotora surge embalada pela dinâmica evolução das vertentes reeducativa e terapêutica. Ocupa os espaços educativos com grupos de crianças. Os psicomotricistas perceberam que esta vertente poderia se constituir no processo inicial da educação da criança, justamente por compreender o período da infância como aquele que constitui e alicerça as bases emocionais e afetivas do ser humano. As bases educativas empreendidas pela educação psicomotora são as mais diversas, porém apresentamos duas concepções contemporâneas que ilustram o desdobramento que se seguiu nesta vertente. De um lado há explicações de que a educação psicomotora é formadora de uma base indispensável a toda criança, assegura o desenvolvimento funcional [8], de outro lado há compreensões de que a educação psicomotora como o meio lúdico-educativo para a criança expressar-se por intermédio do jogo, do exercício e da comunicação entre crianças por intermédio da expressividade motriz [1]. A educação psicomotora atualmente se divide em dois eixos: a psicomotricidade funcional e a psicomotricidade relacional. O aspecto que diferencia as duas práticas, é elucidado a partir do ponto fundamental da passagem da psicomotricidade funcional à relacional que é a utilização do jogo (brincar da criança) como elemento pedagógico [1]. A psicomotricidade funcional compreende o desenvolvimento psicomotriz a partir de bases teóricas de neuroanatomia funcional. Tal fundamento se situa na concepção de que o processo de desenvolvimento humano é decorrente dos processos de maturação. Sustenta os diagnósticos do perfil psicomotriz e a prescrição de exercícios para sanar possíveis descompassos do desenvolvimento motriz. A estratégia pedagógica baseia-se na repetição de exercícios funcionais, criados e classificados constituindo as famílias de exercícios para as finalidades de equilíbrios estáticos e dinâmicos, de flexibilidade, agilidade, destreza e outras funções psicomotoras [1]. 20/4/2006 11:27:16 24 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Obras clássicas da psicomotricidade explicam que a organização espaço-gráfica, necessária para a aquisição da leitura e da escrita, necessitava da prévia organização do espaço de modo geral e inicialmente corporal, com isso determinam como objeto de sua prática, crianças com algum grau de dificuldade de aprendizagem, traçando o perfil psicomotor da criança para, depois, apresentar tabelas de exercícios com o objetivo de sanar os problemas [9]. São contemporâneos os autores que estudam e aplicam a psicomotricidade funcional, tais como: Le Boulch, Picq, Vayer, Costallat, Velasco e outros. Este eixo da educação psicomotora é seguido por professores de Educação Física, mas o desenvolvimento dessa prática se assemelha muito a forma tradicional de uma aula de ginástica. Na origem da psicomotricidade relacional sua abordagem se fundamentou particularmente nos aspectos psicanalíticos da relação do adulto com a criança. Tal fundamento se baseia na relação primária, da mãe com a criança, temática tão bem explorada pelos psicanalistas Winnicott, Dolto, Mahler, Klein, Spitz para citar aqueles que a influenciaram [3]. A psicomotricidade relacional utiliza-se da ação do brincar como elemento motivador para provocar a exteriorização corporal da criança, pois entende que a ação de brincar impulsiona processos de desenvolvimento e de aprendizagem. Essas estratégias de intervenções pedagógicas criam, também, condições favoráveis para a construção de um vocabulário psicomotor amplo e diversificado e servem como meio de melhora das relações da criança com o adulto, com os iguais, com os objetos e consigo mesma [1]. Metodologia do estudo Com a finalidade de iniciar o desenvolvimento do estudo foi necessário realizar um levantamento dos possíveis locais em que há a prática da psicomotricidade realizada de forma sistemática e regular, o que significa identificar a história e a periodicidade desta prática. Os participantes do estudo foram profissionais ligados à área da psicomotricidade, que utilizam as distintas vertentes da prática psicomotora com uma clientela regular. Pelo motivo de constituir parte integrante do estudo, o projeto de pesquisa não pode nominar os locais que serão investigados. Tal ação faz parte do processo do estudo que primou por identificar os diferentes contextos em que a prática se desenvolve. O processo de coleta das informações se desenvolveu em dois momentos distintos e inter- relacionados que foram: a) a identificação dos locais em que há o desenvolvimento regular da prática psicomotora; e b) Acao_v3n1.indb 24 aplicação dos instrumentos para a coleta de informações dos objetivos propostos. Foram utilizados os seguintes procedimentos para a primeira etapa do estudo que foi a identificação dos locais e dos participantes: • buscas eletrônicas a partir de palavras-chaves na internet; • contato com as escolas da rede de ensino particular e pública; • contato com as instituições de ensino superior. As buscas em páginas eletrônicas da internet e os contatos mantidos com estas instituições possibilitaram enriquecer o cerco sobre o conhecimento e identificação dos locais das práticas regulares da psicomotricidade. Com base na identificação de locais da prática organizamos contatos com profissionais que atuam com a psicomotricidade. Para essa finalidade foram desenvolvidas entrevistas semi-estruturadas, com perguntas abertas que facilitaram o desenvolvimento do conteúdo dos participantes. A partir da coleta das informações procedemos ao desenvolvimento da tarefa de triangulação, prática que possibilita aos investigadores organizar as informações, confrontar as distintas origens, bem como as possibilidades para análises e interpretações que permitiram categorizar unidades de análise. Resultados A prática da psicomotricidade é desenvolvida em cenários diversos como atividades em Escolas nos níveis de ensino da Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, bem como na Educação Especial (APAEs) e, também, em clínicas multidisciplinares, bem como atendimentos individuais a partir de contatos particulares para desenvolvimento de práticas em domicílio. A prática da psicomotricidade na escola é desenvolvida em aulas de educação física, nas aulas de Pedagogia Anos Iniciais e em Educação Especial. Com as crianças na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental a prática segue os pressupostos pedagógicos da prática psicomotriz educativa [1]. É como relata um participante da pesquisa: “A sessão é dividida em três momentos: a entrada, onde as crianças falam como estão se sentindo naquele momento, as brincadeiras, e um momento final, onde elas salientam o que gostaram de fazer e como se sentem” (Ent. n3 em 07/07/2005). Nas escolas investigadas há um momento inicial da aula de psicomotricidade onde a professora explica para as crianças o que irão fazer no desenvolvimento da aula, mas não há um momento final, as crianças são liberadas para brincar livremente. Aspecto que favorece 20/4/2006 11:27:17 25 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) entender que se trata da psicomotricidade educativa. A prática psicomotriz educativa possui os três momentos: rito de entrada, momento de brincar e rito de saída. As rotinas auxiliam no desenvolvimento da organização mental da criança [1]. Outro nível de ensino que a psicomotricidade aparece como prática educativa na escola é nas aulas de Educação Física do Ensino Médio, com os adolescentes, tanto meninos como meninas. A sua ação é desenvolvida como prática corporal para os adolescentes. Trata-se da formação pessoa do psicomoticista que envolve uma infinidade de vivências corporais. O professor entrevistado comenta: “Ministro aulas de educação física para os primeiros anos do ensino médio. Com eles faço uma aula, a cada quinze dias, de formação pessoal. No início foi meio complicado, por motivos de dificuldades dos alunos em se adaptarem à prática, hoje está fluindo bem melhor. Com a prática da formação pessoal, a turma está mais integrada, eles mesmos relatam isso em seus memoriais descritivos, começam a falar com colegas que antes não falavam” (Ent. n11 em 16/09/2005). A formação pessoal é uma terceira via de formação do psicomotricista [7]. A prática viabiliza o autoconhecimento pessoal pela via corporal. Em uma investigação anterior tivemos o privilégio de investigar a prática da Biodança como recurso pedagógico para as aulas de educação física no Ensino Médio [10]. A psicomotricidade como prática educativa localizada nas escolas não desenvolve ações com crianças com necessidades especiais, essa prática está localizada nas clínicas multidisciplinares. Podemos entender que a ação educativa também da psicomotricidade segue o modelo de segregação e de não inclusão de crianças com necessidades especiais na ação pedagógica. A ação da psicomotricidade com as crianças com necessidades especiais é desenvolvida nas escolas de educação especial. As APAEs são as instituições citadas pelos entrevistados em que a psicomotricidade é desenvolvida com grupos com menor número de participantes ou mesmo individualizado. A professora entrevistada comenta: “Trabalho sem rotinas pré-estabelecidas. Não sigo rotinas terapêuticas. Procuro atender o interesse da criança. Proponho, mas não direciono. O atendimento é individual. Tenho objetivos a serem perseguidos, mas não olho os resultados e sim o processo. Atendo crianças de bebês até a terceira idade” (Ent. n6 em 10/08/2005). Os profissionais que atuam com a Psicomotricidade possuem formação inicial na área da saúde e fazem curso de especialização Lato Sensu na área da psicomotricidade. A formação inicial do psicomotricista está em coerência com a ação pedagógica da psicomotricidade: o fisiotera- Acao_v3n1.indb 25 peuta utiliza com fins reeducativos; o professor de educação física com a finalidade de ampliação do repertório de movimentos; o pedagogo com fins educacionais e de aprendizagem dos conteúdos básicos da leitura, escrita e cálculo; o terapeuta ocupacional com fins sociais e de reabilitação do indivíduo. Os professores investigados mantêm sua atualização com leituras da área da psicomotricidade e destacam referenciais como: a história da psicomotricidade e suas abordagens teóricas, vertentes psicomotoras e escolas de formação [1,3]; bases psicanalíticas, psicopedagógicas e antropológicas da psicomotricidade [11-13]; a reeducação psicomotora, a clínica psicomotora e a educação psicomotora [7,6,14 e 1] e a relação teoria e prática no processo formativo [15]. Apesar da diversidade de opções de leituras na área da psicomotricidade, pudemos perceber que os professores entrevistados citam com significativa freqüência os livros da trilogia “Aprendizagem e desenvolvimento infantil” do Professor Aírton Negrine. Os psicomotricistas entrevistados possuem uma média que varia de três anos a vinte e dois anos de atividade na área da psicomotricidade. A evolução pedagógica dos entrevistados na prática que desempenham com a psicomotricidade é um consenso entre os participantes da pesquisa. Uma professora descreve: “Meu crescimento pessoal e profissional com a psicomotricidade é constante. Estou sempre estudando os casos que atendo em orientação pedagógica. A psicomotricidade é uma área ampla e me permitiu relacionar esse conhecimento para colaborar nas dificuldades das crianças dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental que faço atendimentos” (Ent. n10 em 10/09/2005). A prática da psicomotricidade e os seus estudos permitem aos professores em suas diversas áreas um conhecimento que os faz compreender o processo de aprendizagem e de desenvolvimento em sua totalidade. O movimento é compreendido como uma totalidade o que permite visualizar e entender a subjetividade do movimento da criança. Os professores entrevistados destacam aspectos que são potenciados em suas práticas utilizando a psicomotricidade como: a valorização da estima pessoal da criança por intermédio do brincar; o despertar as potencialidades e as descobertas pessoais da criança por intermédio do corpo e movimento; o favorecimento das relações da criança com os colegas do grupo e os diferentes materiais. O processo contínuo de qualificação dos professores e suas leituras diversificadas na área da psicomotricidade permitem reconhecer esse profissional com competências interdisciplinares em sua ação pedagógica. Trata-se de uma ampliação da idéia tradicional da psicomotricidade 20/4/2006 11:27:17 26 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) vinculada ao movimento funcional, isto é, o desenvolvimento das funções do movimento. O psicomotricista reconhece a totalidade do ser humano e busca práticas que possibilitam esse reconhecimento. Finalmente podemos descrever acerca das buscas realizadas sobre as páginas eletrônicas na internet. As páginas eletrônicas – sites – encontrados com auxílio de buscadores tradicionais na rede da web, que abordam o tema da psicomotricidade em Porto Alegre são escassas e de difícil identificação. A busca direta pela palavra-chave “psicomotricidade” não permite sequer a identificação de uma página voltada para esse tema. Há páginas que citam a psicomotricidade como recurso pedagógico para práticas educativas e outros com abordagens terapêuticas. Não foi identificado nenhum site da cidade de Porto Alegre voltado para o tema específico da psicomotricidade. Conclusões O percurso percorrido pelo estudo procurou responder algumas questões de investigação acerca da abrangência da área e sua caracterização como: qual a formação dos profissionais que atuam com a psicomotricidade? Que histórico possuem com a área? Em que locais a prática da psicomotricidade é desenvolvida? Quais as vertentes psicomotoras que fundamentam a prática do psicomotricista? Que autores são estudados? Como o psicomotricista dá continuidade a sua formação, ou seja, como se mantém qualificado? Qual a clientela que faz parte da ação da psicomotricidade e em que vertentes ela se situa? O processo refletido com base nos resultados permite compreender a abrangência da área da psicomotricidade. Esta abrangência está relacionada à formação dos profissionais e a sua atuação profissional. O profissional da saúde ainda é o que mais procura a área da psicomotricidade para qualificar sua ação pedagógica ou terapêutica. É fato que há profissionais de outras áreas como das ciências jurídicas e ainda das ciências sociais que realizam cursos de especialização em psicocomotricidade, mas são situações pontuais. Os profissionais que atuam com a psicomotricidade são fundamentalmente os professores de educação física, pedagogos, orientadores educacionais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Pudemos perceber que se trata de uma ampliação da formação inicial. Tal característica permite perceber o processo de atuação com características de um profissional que reúne conhecimentos de áreas como a psicologia, psicanálise, fisiologia, anatomia, antropologia, pedagogia, filosofia e áreas afins. Nessa perspectiva estamos diante de Acao_v3n1.indb 26 um profissional que compreende o movimento humano em sua totalidade. Finalmente pudemos constatar que a característica predominante do profissional que atua com a psicomotricidade também é a clareza do espaço que atua, ou seja, possui discernimento para entender como vai atuar na escola com práticas educativas e como vai atuar nas clínicas com características terapêuticas. Tal aspecto possibilita uma atuação que auxilia a definir os espaços e as competências do psicomotricista. Referências 1. NEGRINE, A. O corpo na educação infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2002. 2. FALKENBACH, A. P. A educação física escolar: uma experiência como professor. Lajeado: UNIVATES, 2002. 3. LE CAMUS, J. O corpo em discussão: da reeducação psicomotora às terapias de mediação corporal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. 4. AUCOUTURIER, B.; LAPIERRE, A. Bruno: La educación psicomotriz como terapia. Barcelona: Editorial Médica y Técnica, 1977. 5. PICQ, L.; VAYER, P. Educação psicomotora e retardo mental: aplicação aos diferentes tipos de inadaptação. 4. ed. São Paulo: Manole, 1985. 6. LEVIN, E. A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. Petrópolis: Vozes, 1995. 7. AUCOUTURIER, B.; DARRAULT, I.; EMPINET, J.L. A prática psicomotora: reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. 8. LE BOULCH, J. A educação pelo movimento: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. 9. AUCOUTURIER, B.; LAPIERRE, A. Os contrastes: e a descoberta das noções fundamentais. São Paulo: Manole, 1985. 10. FALKENBACH, A. P.; BRAUCH, M. Práticas corporais na educação física escolar: a biodança nas aulas do ensino médio. Rev. bras. ciênc. mov, v. 5, n. 9, p. 14-20, 2003. 11. WINNICOTT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Ímago, 1975. 12. WALLON, H. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. 13. VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 14. LAPIERRE, A.; LAPIERRE, A. O adulto diante da criança de 0 a 3 anos. Curitiba: CIAR, 2002. 15. NEGRINE, A. Terapias corporais: a formação pessoal do adulto. Porto Alegre: Edita, 1998. 20/4/2006 11:27:18 27 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) REVISÃO Efeitos do treinamento resistido para terceira idade Effects of resisted training in elderly people Bruno Gonzaga Teodoro*, Pedro Vieira Sarmet Moreira*, Nathália Maria Resende*, Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, M.Sc.**, Foued Salmen Espindola, D. Sc.*** *Acadêmicos da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia, **Universidade Católica de Brasília/DF, Aluno do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia /MG, *** Prof. Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia /MG. Resumo O envelhecimento normal é um processo pelo qual há uma diminuição gradativa das capacidades dos vários sistemas orgânicos, o que limita a capacidade funcional dos indivíduos da terceira idade. O crescimento relevante dessas pessoas tem chamado a atenção de pesquisadores sobre a questão da melhoria da capacidade de execução das tarefas da vida diária. O treinamento resistido tem sido indicado para melhoria dessas capacidades e apresenta um efeito benéfico na saúde de tal população. A perda das massas óssea (osteopenia e osteoporose) e muscular (sarcopenia), assim como da força e potência muscular, todas comuns à terceira idade, podem ser atenuadas ou até mesmo revertidas com a prática regular dos exercícios resistidos, provocando assim uma velhice mais ativa e saudável. Palavras-chave: envelhecimento, capacidade funcional, terceira idade, exercício resistido. Abstract Regular aging is a process in which there is a gradual reduction in the capacities of several organic systems, which limits the functional capacity of elderly people. The relevant growth of these people has getting the attention of researchers, concerning the improvement of the capacity of performing daily tasks. The resisted training has been indicated to improve such capacities and shows a beneficial effect to their health. The loss of bone mass (osteopenia and osteoporosis) and muscular mass (sarcopenia), as well as the loss of the strength and muscular power, all common at the elderly age, may be softened or even revested with the regular practice of resisted exercises, resulting then in a more active and healthier oldness. Key-words: aging, functional capacity, elderly age, resisted exercise. Artigo recebido em 09 de março de 2006; aceito em 15 de março de 2006. Endereço para correspondência: Bruno Gonzaga Teodoro, Rua Professora Maria Alves Castilho nº 991, Bairro Sta Mônica, 38408260 Uberlândia MG, E-mail: [email protected] Acao_v3n1.indb 27 20/4/2006 11:27:18 28 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Introdução O envelhecimento é um processo pelo qual todos os indivíduos e organismos passam e é caracterizado pela diminuição gradativa das capacidades dos vários sistemas orgânicos em conseguir realizar suas funções de maneira eficaz [1]. Estas alterações ocorrem em ritmo e momentos diferentes [2]. Assim, é possível encontrar idade cronológica (extensão do tempo na qual o indivíduo tem existido) e idade biológica (caracterizada pelos estágios de envelhecimento biológico) [3]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem o seguinte sistema de classificação de idade cronológica: meia idade (45-59 anos), idoso (6074 anos), velho (75-90anos) e muito velho (acima de 90 anos). O envelhecimento biológico normal está associado com um declínio da capacidade funcional dos sistemas neuromuscular e neuroendócrino [4] e, isso leva a algumas implicações funcionais que podem levar o idoso à perda de autonomia e uma conseqüente dependência de parentes e amigos [5]. Porém, esta dependência está mais ligada à inatividade física do que as próprias mudanças ocasionadas pelo envelhecimento [6]. O aumento da expectativa de vida e o crescimento relevante da população idosa [7] chamaram a atenção de pesquisadores para a questão das melhorias das capacidades funcionais dos idosos. Para o American College of Sport Medicine (ACMS) [7], a participação em programas de atividade física regular provoca um número de respostas favoráveis que contribuem para um envelhecimento saudável, por isso a procura dos idosos por atividade física tem aumentado de maneira significativa, inclusive a participação deles em programas de treinamento de força [8]. Por isso, nesta revisão, daremos enfoque na influência benéfica do treinamento resistido em idosos. Osteopenia, osteoporose associadas com o envelhecimento A osteopenia, perda de massa óssea (densidade mineral óssea entre os desvio padrões -1,5 e -2,5 da média de adultos jovens) e osteoporose, perda acentuada de massa óssea (densidade mineral óssea abaixo de 2,5 do desvio padrão da média de adultos jovens) são importantes fatores para as quedas e fraturas em pessoas idosas [9]. A lenta, mas progressiva perda de osso com a idade tem sido ligada à inatividade física e a fatores genéticos, hormonais, nutricionais e, mecânicos [10]. O treinamento de força tem um efeito positivo na saúde óssea em homens e mulheres mais velhos [11,12]. Um estudo realizado demonstrou que, em mulheres mais velhas (54,5 +/- 3,3), a densidade mineral óssea da coluna lombar (L2 e L4), do fêmur (colo e quadril total) e radio Acao_v3n1.indb 28 ultra-distal do ante-braço teve um aumento significativo em relação à mulheres da mesma idade sedentárias [13]. Em um outro estudo, houve aumento significativo da massa óssea (1,96%) em idosos (60-83 anos) praticantes de exercícios resistidos de alta intensidade [14]. Além disso, esse tipo de treinamento pode também reduzir o risco de fraturas por osteoporose, incrementando o equilíbrio, massa muscular e nível global de atividade física [9]. Um estudo comprovou que exercícios resistidos progressivos podem trazer uma melhor função física após uma fratura do fêmur [15]. Esses exercícios se mostraram de melhor eficácia na recuperação pós-cirúrgica de fraturas do que eletroestimulação e fisioterapia tradicional em idosos de 60-85 anos [16]. Existe ainda um outro estudo comprovando que este treinamento juntamente com o de agilidade, reduz o risco de quedas em mulheres idosas (75-85anos) com pouca massa óssea [17]. Sarcopenia e o envelhecimento Sarcopenia é definido como a perda de massa muscular [9] que é visível a partir dos 25 anos [18], em que há uma perda progressiva da massa muscular, que decresce aproximadamente 50% entre as idades de 20 e 90 anos [19]. Essa perda representa o resultado combinado de processos neuromotores progressivos e de uma queda no nível diário de sobrecarga muscular [20] e, ela ocorre no tamanho ou número de fibras, especialmente as do tipo IIb (rápidas), levando à diminuição na capacidade de um músculo gerar potência [11, 21, 22]. Apesar de algumas evidências contrárias, os exercícios resistidos parecem ter um efeito benéfico no ganho e/ou manutenção de massa muscular do idoso. A participação regular em um programa de treinamento de força parece ter profundos efeitos anabólicos em populações mais velhas [23, 24, 25]. A tomografia computadorizada e a biopsia muscular mostraram evidências de hipertrofia muscular em homens mais velhos que participaram de programas de treinamento de força de alta intensidade. [25]. Em um estudo feito com idosos (60-72 anos) de 12 semanas de treinamento resistido houve significativa hipertrofia [26]. Segundo Poter & Vandervoort houve aumento das áreas de fibras musculares tipo I e tipo II de 14% a 62% em idosos após treinamento de força [8]. Estudos recentes mostram também comprovações do ganho de massa na terceira idade, segundo Borst [27] o treinamento resistido é o modo mais efetivo de ganhar massa muscular em populações mais velhas. Um estudo feito em homens de 65 a 80 anos com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Coronariana) durante 12 semanas de treinamento resistido de alta intensidade mostrou uma melhora significativa (4% da área de secção transversal) 20/4/2006 11:27:18 29 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) no tamanho do músculo quadríceps [28]. Outro estudo mostrou, que treinamentos resistidos de alta e moderada intensidades com 12 semanas de duração em participantes iniciantes (60-74anos) obteve melhoras na massa muscular, sendo que os de alta intensidade obtiveram melhores resultados [29]. Existe ainda, mais um estudo em que se diz que com o treino resistido obtém-se considerável hipertrofia e reversão das alterações da arquitetura muscular provocada pelo envelhecimento [30]. Toda sarcopenia induzida aumenta a taxa de fraturas e quedas, ambas levam à hospitalização que traz uma sarcopenia novamente [31], ou seja, o desuso da musculatura nos idosos, provoca uma atrofia muscular o que deixa o idoso mais propício à quedas e conseqüentes fraturas, o que pode levá-lo a uma hospitalização que deixara sua musculatura com um novo desuso. Provando assim, a importância da prática de exercícios resistidos, que evitariam a repetição sucessiva deste ciclo. Perda de força muscular associada com a velhice A força é um fator importante para a capacidade funcional (capacidade de realizar atividades diárias de forma independente). Sob condições normais, falando do desempenho de força, esta apresenta seu pico entre 20 e 30 anos, a partir daí diminui lentamente nas próximas duas décadas [22] A força muscular diminui 3% e 5% ao ano depois dos 60 anos em homens e mulheres respectivamente [32]. Essa perda é de aproximadamente 15% por década durante a sexta e sétima década e, depois aproximadamente 30% [32]. A perda de força é maior em membros inferiores do que em membros superiores [22]. Essa perda faz com que realização das atividades diárias se torne mais difícil e aumente, desta forma, o risco de quedas e conseqüentes fraturas [33] e, os principais fatores que contribuem com a fraqueza muscular são: alterações músculo-esquelética da senilidade, acúmulo de doenças crônicas, medicamentos necessários para o tratamento de doenças, alterações do sistema nervoso, redução das secreções hormonais, desnutrição e, atrofia muscular por desuso [34]. É sabido que o treinamento resistido aumenta a força muscular em adultos mais velhos. Fiatarone e colaboradores [24] mostraram que até mesmo indivíduos acima de 90 anos podem conseguir ganhos de força com treinamento resistido de 8 semanas [32]. Em um outro estudo, realizado durante 12 meses, mulheres idosas tiveram um ganho de força durante todo o período de treinamento [35]. Estudos recentes mostram com riqueza de dados essas comprovações. Um estudo feito por Marin et al. [1], verificou-se que com o simples acréscimo de caneleiras de 1Kg nos membros inferiores e superiores em 10 semanas Acao_v3n1.indb 29 de treinamento em 93 mulheres de 50 a 79 anos, houve um aumento de 23,7% na força muscular dos membros inferiores e 9,8% dos membros superiores. Outro estudo mostrou ganho de força de 14% na extensão isocinética do joelho com 12 semanas de treinamento resistido em homens (65 a 80anos) com DPOC [28]. Suetta [16], mostrou um aumento ainda maior (24%) na força de contração máxima isométrica em idosos de 60 a 85anos. Um estudo mais abrangente mostrou ganhos de força durante todo período (24 meses) de treinamento resistido de intensidade moderada em 13 homens e 41 mulheres idosas [36]. E finalmente, há um estudo que fala sobre ganho de força nas mais variadas intensidades de treinamento resistido [37]. A perda de potência muscular associada com a velhice Potência muscular é definido como a capacidade que o músculo possui de exercer força no menor intervalo de tempo possível [11]. Com o avanço progressivo da idade, há, como já citamos, uma perda das fibras musculares mais rápidas (tipo II) [11] e também uma diminuição da atividade miosina ATPase [32] . Esses dois fatores proporcionam uma base bioquímica estrutural para perda muscular de força [6] e potência no envelhecimento. Isso pode ser um dos principais fatores que contribuem para perda das capacidades funcionais e dos mecanismos de segurança relacionado à prevenção de lesões devido à queda em idosos [16,32]. Os efeitos básicos nos componentes elásticos contráteis no músculo podem ser afetados pela idade e podem afetar o desempenho da potência [32]. Além disso, com o envelhecimento, capacidade de produzir força muscular explosiva (potência), cai mais drasticamente do que a força muscular máxima [38,39]. Foi estimado que a capacidade de potência em membros inferiores podem ser perdidas em uma proporção de 3,5% ao ano a partir de 65 até 84 anos [40]. Evidências recentes mostraram ganhos de potência em exercícios resistidos, como em um estudo de 12 semanas deste treinamento onde houve um ganho de 19% na potência de extensão da perna em idosos 65 a 80 anos, com COPD [28]. Outro estudo feito com 18 idosos (75 a 94 anos) mostrou melhora na potência média excêntrica (44%) e concêntrica (66%) em 10 semanas de treinamento resistido [41]. Existe também, um estudo com 16 idosos (acima de 70 anos), que mostrou melhora de 40% em média, na potência muscular com 24 semanas de treinamento [42]. E ainda, um estudo feito com mulheres idosas (61 a 75 anos) mostrou melhora na potência da extensão das pernas nas velocidades média (3.14rad/s) e alta (5.24rad/s) em 12 semanas de treinamento de força [43]. 20/4/2006 11:27:19 30 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Dessa forma, o treinamento de potência em idosos pode ser mais importante do que o próprio treinamento de força, pelo fato de atividades diárias tais como, velocidade da caminhada, subir escadas, levantar-se de cadeiras, exigem um certo grau de potência muscular [32]. Conclusão A deterioração normal da função fisiológica com a idade pode atenuar ou reverter com a prática regular de exercícios resistidos, pois ele melhora a capacidade de movimento funcional em adultos mais velhos [44], melhorando até a capacidade de caminhar [45]. Esses exercícios melhoram a força, potência muscular e reduzem a dificuldade de executar as tarefas diárias em idosos [46]. É possível encontrar profundo efeito sobre a independência funcional de idosos com a idade superior a 100 anos que se submetem ao treinamento resistido [47]. Além disso, resultam em uma melhora da flexibilidade, da agilidade, e fatores neurais [47] e ainda levam à diminuição das lesões causadas por quedas e possui um efeito benéfico na postura geral [47], tendo também efeito positivo na saúde do tendão [48] e no aumento de massa muscular e densidade mineral óssea [11]. O treinamento resistido melhora, ainda, a capacidade muscular submáxima (resistência muscular) em idosos [8]. Por esses motivos, para que se atenue as conseqüências do processo de envelhecimento e garantir uma vida independente na terceira idade, é imprescindível que os idosos possuam uma vida ativa com participação em um programa regular do treinamento de força, assegurando a capacidade funcional para a realização de atividades do cotidiano, ocupacionais e recreativas. Referências 1. MARIN, R. 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Um tempo de reação prolongado pode comprometer totalmente a ação do sujeito caso a tarefa motora exija dele uma resposta imediata ao estímulo que lhe foi apresentado. Qualquer fator que prejudique ou beneficie a velocidade de processamento da informação, ainda que em milésimos de segundo, pode ser determinante desempenho da tarefa motora. O objetivo do presente estudo foi realizar uma compilação de dados que reportem a relação entre exercício e tempo de reação. Foi realizada uma busca por computadores e uma busca manual dos documentos que abordassem este tema. O material gnosiológico foi submetido a uma análise exploratória estruturada com base na proposta de Batista (2001). Os achados indicam que, apesar da concentração de estudos nesta linha, o efeito crônico da atividade física sobre o tempo de reação ainda não está bem definido, tampouco o efeito agudo do exercício sobre o mesmo. Há uma escassez de estudos que investiguem o efeito agudo do exercício no tempo de reação, bem como uma carência de pesquisas longitudinais entre exercício e tempo de reação. Palavras-chave: exercício, velocidade de reação, efeito crônico, efeito agudo. Abstract Reaction time is a measurable important component of our sensory motor integration to performance different tasks, as sports, as professionals or diary life activities. A prolonged reaction time may damage completely the subject action if the task requires him an immediate answer to stimulus that it has been introduced. Anything comes to damage or to improve the information processing speed, although being short time, may be determinant on motor task performance. The purpose of this study was to realize a compilation of data that have reported exercise and reaction time relationship. A search through computers was done and a manual search for documents related to this theme. Knowledge material was submitted to exploratory analysis based on Batista proposal (2001). The findings show that, although the concentration of researches on this line, the chronic physical activity effect on reaction time is not well established yet, neither the acute exercise effect on it. There is a limited researches that have investigated the acute exercise effect on reaction time, as well as limited longitudinal researches between exercise and reaction time too. Key-words: exercise, reaction speed, chronic effect, acute effect. Artigo recebido em 10 de abril de 2006; aceito em 12 de abril de 2006. Endereço para correspondência: Daniel das Virgens Chagas, Laboratório de Biomecânica, Instituto de Educação Física e Desportos, Pavilhão João Lyra Filho, bloco F, sala 8122, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã – 20550-900 Rio de Janeiro – RJ. Acao_v3n1.indb 32 20/4/2006 11:27:21 33 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Acao_v3n1.indb 33 Introdução Terminologia A velocidade de reação é um fator importante em diversas tarefas motoras, em especial naquelas em que é necessário reagir prontamente a um evento ou estímulo. É sabido que nas saídas de provas de velocidade, qualquer atraso adicional pode comprometer o resultado total do atleta, visto que a disputa se dá por milésimos de segundo. Do mesmo modo, o goleiro no futebol, para realizar sua defesa com sucesso, deve reagir o mais rápido possível quando a bola muda repentinamente de trajetória ao se aproximar da meta. Ambos os exemplos confirmam, ainda que sucintamente, a importância da velocidade de reação nas tarefas motoras presentes em atividades esportivas. Assim como nas atividades esportivas, o tempo de reação também é um componente mensurável de nossa integração sensório-motora para o desempenho de atividades da vida diária, seja para evitar uma queda, agarrar um objeto ou dirigir um automóvel. Qualquer atraso adicional, ocorrido nas distintas situações acima citadas, pode comprometer totalmente a ação motora do sujeito, por muitas vezes inviabilizando a eficácia da resposta. No caso da atividade física, suspeitamos que ainda se busca acumular evidências que corroborem ou refutem a hipótese de que o exercício acarreta benefícios para a velocidade de processamento da informação, pois que ainda não se tem bem estabelecida a relação entre exercício e tempo de reação. Nesta relação entre atividade física e velocidade de reação, o status do tempo de reação logo após a prática de um exercício físico rigoroso, aparece como uma variável importante. Ao que parece um atraso adicional, induzido pela prática de atividade física, pode comprometer o desempenho de tarefas motoras que dependem desse mecanismo e que venham a ser realizadas imediatamente após o término da prática, como por exemplo, aquelas que se apresentam quando da condução de um veículo. Diante disto, o conhecimento sobre o comportamento do tempo de reação imediatamente após a atividade física parece ser tema relevante, sendo necessário identificarmos de que forma, com que abrangência e profundidade ele vem sendo tratado pela literatura pertinente. Sendo assim, este estudo foi realizado com o objetivo de promover a compilação de dados que reportem a relação entre atividade física e tempo de reação, como forma de estimarmos o estado da arte no que tange as investigações sobre o efeito crônico e agudo do exercício no tempo de reação das pessoas. Para Marteniuk [1], o tempo de reação é definido como o atraso ocorrido entre a apresentação de algum evento ou estímulo a um indivíduo e a iniciação do movimento. Harrow [2] define tempo de reação como sendo o tempo que decorre entre o início de um estímulo e o início da resposta ao mesmo. Para Schmidt [3], tempo de reação é o intervalo de tempo ocorrido entre um estímulo não-antecipado, e repentinamente apresentado, e o início da resposta. Segundo Magill [4], tempo de reação é o intervalo de tempo entre o disparo de um sinal (estímulo) e o início de uma resposta de movimento. Classificações do tempo de reação Em situações mais simples de reação, como na largada de 100 metros rasos em uma prova de atletismo, geralmente os indivíduos apresentam menores valores no tempo de reação. Tais situações de reação são caracterizadas como tempo de reação simples, o qual, segundo Schmidt [3], é o intervalo de tempo que decorre da apresentação de um estímulo não-antecipado ao início da resposta. A largada de uma prova de velocidade no atletismo e na natação são exemplos de situações de tempo de reação simples. A opção de estímulo é única (sinal sonoro de largada) e os atletas já sabem qual movimento fazer. Existem, também, situações em que há mais de uma alternativa e, portanto, mais de uma opção de resposta. Tais situações são classificadas como tempo de reação de escolha. Segundo Schmidt [3], tempo de reação de escolha é o intervalo de tempo entre a apresentação de um dos vários estímulos possíveis e o começo, não-antecipado, de uma das várias respostas possíveis. Como ilustração de situações de tempo de reação de escolha, temos o tempo que um goleiro de futsal leva para identificar o estímulo (chute), selecionar a resposta (defesa do chute) e programar a resposta (programar a defesa) e, assim, iniciar o movimento de resposta. No exemplo citado, existe mais de uma possibilidade de direção do chute, logo, mais de um estímulo possível. Conseqüentemente, existe mais de uma opção de resposta. Assim pode ser caracterizado o tempo de reação de escolha. Tempo de reação é o intervalo de tempo entre um estímulo não-antecipado e o início da resposta. Diferente, portanto, de tempo de movimento, que se refere ao tempo que o indivíduo leva para executar o movimento completo. Tempo de movimento é o intervalo de tempo entre o início da resposta (movimento) e o seu fim [4]. Logo, o tempo de movimento começa quando o tempo de reação termina. 20/4/2006 11:27:21 34 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Recepção do estímulo O estímulo pode ser qualquer tipo de energia dissipada no meio ambiente. Os receptores sensoriais detectam a energia, caso esta tenha intensidade suficiente para sensibilizá-los, e a transformam em potenciais bioelétricos, que são alterações lentas da voltagem da membrana que podem ser transformadas posteriormente em potenciais de ação, a unidade digital de código do sistema nervoso [5]. “A função primordial dos sistemas sensoriais é realizar a tradução da informação contida nos estímulos ambientais para a linguagem do sistema nervoso” [5]. Os receptores sensoriais convertem energia de uma forma em outra por meio de um processo conhecido como transdução [6]. Segundo Bear, Connors e Paradiso [7], transdução (do latim transducere, que significa “conduzir de um lugar para o outro”) é o processo pelo qual um estímulo ambiental causa uma resposta elétrica em um receptor sensorial. “A tradução da energia incidente em potenciais receptores é chamada transdução, e a conversão análogo-digital destes para potencial de ação é denominada codificação” [5]. Os receptores sensoriais são específicos na detecção do estímulo, isto é, são discriminatórios quanto à natureza dos estímulos. Eles podem ser mecanorreceptores (energia mecânica), termorreceptores (energia térmica), fotorreceptores (energia luminosa), quimiorreceptores (energia química) e nociceptores, que detectam a dor, através de mecanorreceptores, termorreceptores e quimiorreceptores [8-10, 5, 7]. Na maior parte dos casos, em estudos sobre tempo de reação, as fontes de estímulo são visuais ou sonoras. O disparo do tiro na largada das provas de atletismo e natação, uma nota musical, o disparo de uma buzina, o apito de um professor ou de um árbitro, e muitos outros possíveis exemplos, são tipos de estímulos sonoros. Figuras, luzes e ações mecânicas humanas podem ser utilizadas como fontes de estímulo visual. O tempo de reação é mais curto quando são apresentados estímulos sonoros do que quando são apresentados estímulos visuais devido às diferenças neuroanatômicas no fluxo do processo que serão explanadas mais à frente. Entretanto, existem outras fontes de estímulo que nossos receptores sensoriais são capazes de captar, dentre as quais, as principais são: temperatura, tato, dor, propriocepção, olfato e gustação, além de outros sistemas de detecção química [5,7-10]. O estudo sobre os sentidos pode ser dividido, metodologicamente, em 4 partes: • Os sentidos do corpo (somestesia): o tato, a termossensibilidade, a propriocepção e a dor; • O sistema auditivo; • O sistema visual; • Os sentidos químicos (olfatório, gustatório e outros sistemas de detecção química, como a detecção de substâncias irritantes e poluentes nas mucosas faciais). Tabela I – Os sistemas sensoriais humanos e seus receptores. Modalidade Visão Audição Submodalidade Todas Todas Tato Sensibilidade térmica Dor Somestesia Propriocepção Olfato Paladar Todas Todas Estímulo específico Luz Vibrações mecânicas do ar Estímulos mecânicos Calor e frio Órgão Receptor Olho Ouvido _ _ Tipo Funcional Fotorreceptores Mecanoceptores auditivos Mecanoceptores Termoceptores Estímulos mecânicos, tér- _ micos e químicos intensos Nociceptores Movimentos e posição estática do corpo Substâncias químicas Substâncias químicas _ Mecanoceptores Nariz Boca Quimioceptores Quimioceptores Fonte [5] Cada divisão sensorial apresentada possui uma área correspondente no sistema nervoso central. O lobo parietal agrupa funções de sensibilidade corporal, o lobo temporal representa a audição e o lobo occipital concentra as funções relacionadas à visão [9,10,5]. O olfato está representado pelo bulbo olfatório e pelo Art_6_Daniel.indd 34 córtex piriforme. Os quimiorreceptores gustatórios e fibras aferentes de três nervos cranianos se conectam ao núcleo do trato solitário, no tronco encefálico, onde será distribuída a informação (gustatória) para o tálamo e o córtex, ou para regiões de controle da digestão e outras funções orgânicas [5]. 25/4/2006 14:28:03 35 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Freqüentemente, tanto em situações desportivas quanto em atividades da vida diária, as pessoas efetuam uma reação motora a partir de um estímulo apresentado. Em uma aula de Educação Física, os alunos são orientados a correr o mais rápido possível após o disparo do apito. No handebol, o goleiro tem que reagir rapidamente após o “chute” do jogador adversário. No ônibus, quando o motorista freia repentinamente o veículo, os passageiros também têm que reagir o mais rápido possível, segurando em algum apoio fixo que os cercam, para evitar uma queda. Tais situações descritas são exemplos da relação estímulo-resposta. O fluxo do processo O tempo que um indivíduo leva para reagir está relacionado com a preparação do movimento. Segundo Marteniuk [1], quando um indivíduo apresenta uma habilidade perceptiva-motora, há numerosas operações do sistema nervoso central que precedem o movimento. Para Enoka [6], a preparação envolve a conversão de uma idéia para a apropriada força e padrão da atividade muscular necessária para um movimento desejado. Magill [4] salienta que “o movimento planejado não ocorre instantaneamente”. Em situações desportivas, como na resposta a uma jogada do tenista que ataca, na resposta de um defensor contra um driblador e tantos outros momentos, é necessária uma preparação do movimento antes da execução. De maneira semelhante, a preparação do movimento ocorre nas atividades da vida diária, quando uma dona de casa reage para pegar um copo que caiu da prateleira ou quando o indivíduo reage a uma situação inesperada emergente no trânsito. A preparação do movimento ocorre antes do movimento propriamente dito. É enviada uma ordem a partir do córtex cerebral, em cuja região estão representadas as funções neurais e psíquicas mais complexas [5], chegando, através de neurônios motores, à musculatura que vai promover o movimento. Portanto, para todos os movimentos corporais conscientes, existe a fase de preparação do movimento [1,9,3-6,11] diferente do que acontece com os movimentos reflexos. Os movimentos corporais mais simples são os reflexos, pois esses não atingem nossa consciência. A partir de um estímulo sensorial, o sinal se propaga pelos neurônios aferentes até chegar à medula ou ao tronco encefálico, de onde é emitido o sinal de resposta [5], não alcançando, portanto, nossa consciência. O reflexo de retirada, quando encostamos em algo muito quente, é um bom exemplo desse mecanismo. Logo, o movimento construído conscientemente (como acontece no tempo de reação) é bem diferente do movimento involuntário (como acontece no movimento reflexo). Acao_v3n1.indb 35 É importante considerarmos que, em algumas vezes, o indivíduo antecipa o disparo do estímulo, ou seja, inicia seu movimento antes mesmo que o sinal seja dissipado. No contexto desportivo, é comum acontecer esse tipo de antecipação. No futebol, por exemplo, quando o goleiro inicia seu movimento de defesa antes que seu adversário chute a bola, ele está fazendo uma antecipação. Portanto, quando o indivíduo antecipa o estímulo ele não está reagindo ao mesmo. Os pesquisadores costumam adotar medidas para evitar que a antecipação falseie os resultados. Uma delas é a explicação categórica do protocolo, através da qual fica nítida a importância de não se iniciar o movimento antes que o estímulo seja disparado. Outra medida também utilizada por alguns pesquisadores é a determinação de um limite inferior para os valores do tempo de reação. Audiffren, Brisswalter, Bosquet e Brandet [12], por exemplo, determinaram 130 milisegundos (ms) como o valor mínimo para o tempo de reação simples no experimento. Valores para o tempo de reação abaixo dessa marca são considerados como antecipação para esses autores. Weineck [13] afirma que mesmo para a situação mais simples de reação (tempo de reação simples) não é possível obter um tempo inferior a 100 ms, o que vai de encontro à determinação de Audiffren, Brisswalter, Bosquet e Brandet [12] na pesquisa supracitada. Desconsiderando a antecipação, para que haja uma resposta motora, no contexto do tempo de reação, um estímulo é apresentado anteriormente à mesma. A partir desse estímulo começa a ocorrer o processamento da informação em nosso sistema de controle motor, cujo primeiro estágio é a identificação do estímulo [3,11]. Quando o estímulo é visual, a conversão das ondas luminosas em impulsos neuronais é realizada na retina e, então, conduzida ao cérebro [13]. “A informação visual codificada pelo sistema visual percorre vias paralelas da retina ao tálamo e deste ao córtex, especializados no processamento de aspectos visuais da cena visual” [5]. Quando o estímulo é sonoro ele percorre as vias do sistema auditivo, através dos receptores sensoriais localizados na cóclea (órgão receptor do sistema auditivo), que transmitem a informação sonora traduzida para neurônios de segunda ordem, encarregados de realizar a codificação. Esses neurônios constituem o nervo auditivo, que é um dos componentes do oitavo nervo craniano. Daí em diante a informação auditiva entrará no sistema nervoso central, passando através de sucessivas sinapses, por uma série de núcleos, até chegar ao córtex cerebral [5]. Os autores são unânimes ao afirmarem que o tempo de reação acústico é mais rápido do que o tempo de reação ótico. Esse fato acontece em função das diferenças anatômicas previamente mencionadas. Portanto, em situações que envolvam movimento corporal consciente, como na reação motora de um indi- 20/4/2006 11:27:22 36 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) víduo após um estímulo lhe ser apresentado, é necessário um tempo de preparação para o mesmo. Logo, o atraso que o indivíduo tem para iniciar uma resposta, depois de apresentado o estímulo, está vinculado ao tempo que o indivíduo leva para preparar o movimento. Schmidt [3] relaciona essa fase preparatória, no contexto do tempo de reação, ao processamento da informação, e o classifica nas seguintes fases: identificação do estímulo – seleção da resposta – programação da resposta. Para Marteniuk [1], o tempo de reação inclui o tempo demorado: a) para o estímulo ativar um receptor sensorial; b) para o sinal resultante (através da transdução) chegar ao cérebro; c) para o sinal ser processado pelo cérebro; e d) para um comando ser enviado do cérebro para algum músculo ou grupo de músculos. Portanto, antes que se inicie o movimento de reação, o nosso esquema de controle motor primeiro identifica o estímulo, depois seleciona a resposta e programa o movimento. Segundo Weineck [13], a velocidade de reação é determinada pela rapidez de análise da situação, pelo processamento das informações obtidas e execução de uma ação motora adequada. Os efeitos da treinabilidade Segundo Schmidt [3], a quantidade de prática é um dos principais fatores que afetam o tempo de reação de escolha. À medida que se aumenta a quantidade de prática, a velocidade de reação se altera de maneira diretamente proporcional. Portanto, para um dado número de alternativas estímulo-resposta, o tempo de reação diminui com a prática [3,4,11,13,14]. A compatibilidade estímulo-resposta, que geralmente é definida como o grau com que o estímulo e sua resposta resultante são conectados de uma maneira natural [11], também pode ser influenciado pela treinabilidade. O efeito da treinabilidade em situações de baixa compatibilidade estímulo-resposta foi corroborado por alguns autores [3,11], os quais concluem que o efeito da baixa compatibilidade (ou incompatibilidade) estímulo-resposta, no tempo de reação, pode ser reduzido praticando a condição incompatível, até que a reação se torne comparável ao de uma situação compatível nãopraticada. Nessa ocasião, ao que parece, a treinabilidade diminui o tempo de reação devido ao processamento mais rápido no estágio de seleção da resposta [11]. Schmidt [3] considera que, acima de tudo, a prática reduz a progressão do aumento no tempo de reação, à medida que o número de alternativas estímulo-resposta aumenta. Isso significa que existe somente um pequeno efeito da prática sobre o tempo de reação simples, mas efeitos bastante grandes da prática sobre o tempo de reação de escolha, especialmente quando o número de Acao_v3n1.indb 36 alternativas estímulo-resposta é grande ou a compatibilidade estímulo-resposta é baixa [3,13]. O desportista mais experiente tem maior capacidade em responder as informações que chegam até ele (input) do que o novato [1]. Schmidt e Wrisberg [11], também afirmam que os indivíduos mais experientes têm mais habilidade para tratar as informações que chegam até eles que indivíduos menos experientes. Isso significa que, durante a prática esportiva, os indivíduos mais experientes utilizam sua organização de conhecimento específico da tarefa para extrair a informação que mais contribui para uma resposta rápida e precisa para cada tipo de situação [15,11]. Segundo Marteniuk [1], para determinar a eficiência, tão bem quanto a capacidade, da transmissão de informação de um indivíduo, o grau de correspondência entre input (estímulo, informação) e output (resposta motora) deve ser determinado. Logo, um jogador de defesa com dez anos de prática de futebol, apresenta um menor tempo de reação, em uma situação de jogo, do que um jogador de defesa iniciante. Além de apresentar um tempo de reação reduzido, a vivência do indivíduo na atividade, ou seja, sua experiência, segundo Meinel et al. [15] e Weineck [13], permite que ele realize com mais facilidade e qualidade a antecipação. Fatores intervenientes no tempo de reação Existem diversos fatores que influem no tempo de reação de um indivíduo. O álcool, por exemplo, é um deles. Maylor, Rabbitt, James, Kerr [14] constataram que doses moderadas de álcool (0.8 e 1.0 ml/kg peso corporal) prejudicam a performance de uma variedade de respostas de processamento da informação. Além de valores de tempo de reação aumentados, o número de erros aumentou com a presença do álcool. Krull, Smith, Sinha e Parksons [16] constataram aumentos nos tempos de reação de indivíduos sob efeito da ingestão de álcool e da privação de sono (por um período de 30 horas). A temperatura muscular também parece ter um efeito sobre o tempo de reação. Weineck [13] relata que o trabalho prévio de aquecimento muscular aumenta a freqüência de estimulação e a velocidade de condução nervosa a partir do sistema nervoso central. Assim como o álcool, a privação de sono e a temperatura muscular, o meio ambiente também parece interferir no tempo de reação. Millot, Brand e Morand [17] apontam uma diminuição significativa no tempo de reação em ambiente sob a condição de odores, comparada com ambiente sem essa condição. Friedmann e Haber [18] relataram um aumento no tempo de reação com a inclusão de íons negativos no ambiente. Além destes fatores, podemos destacar ainda outros que influenciam diretamente o tempo de reação. Segue 20/4/2006 11:27:23 37 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) adiante uma síntese de alguns dos fatores que influenciam o tempo de reação: Tabela II – Fatores que influenciam o tempo de reação. Nº de opções de resposta Quanto maior forem as possibilidades de estímulo, maior será o tempo de reação. Compatibilidade estímulo-resposta Quanto menor for a compatibilidade estímulo-resposta, maior será o tempo de reação. Previsibilidade da opção de resposta estar correta À medida que aumenta a previsibilidade de uma das possíveis opções, o tempo de reação diminui. Regularidade do período prévio Caso o período que anteceda o disparo do estímulo seja constante, entre 2 e 4 segundos, o tempo de reação será menor do que em outras situações de período prévio. Complexidade do movimento Quanto mais complexo for o movimento, maior será o tempo de reação. Estado de treinamento Indivíduos sedentários apresentam um maior tempo de reação do que indivíduos ativos, praticantes de alguma atividade física. Experiência do praticante Quanto mais experiente o praticante, em especial o desportista, menor será seu tempo de reação. Precisão do movimento Quanto mais preciso for o movimento, maior será o tempo de reação. Disparo de diferentes sinais dentro de um Se o indivíduo tiver que responder a dois estímulos diferentes, em determinado espaço de tempo um intervalo de tempo de 40 a 150 ms entre um estímulo e outro, o tempo de reação motora ao segundo estímulo será maior do que se o mesmo estímulo tivesse sido apresentado sozinho. Atenção A atenção focada no sinal proporciona um tempo de reação menor do que a atenção focada no movimento. Prática A prática diminui o tempo de reação. Álcool Doses de álcool em torno de 1g por kg de peso corporal já são sufi cientes para que o indivíduo tenha um tempo de reação motora mais lento. Tempo de reação sob uma perspectiva holística Considerando o tempo de reação apenas como o intervalo de tempo compreendido entre o disparo de um estímulo e o início de uma resposta motora, já seria de grande importância para as pesquisas e a sociedade. No entanto, quando tratamos desse assunto, não devemos nos restringir meramente ao seu termo conceitual, pois há um complexo cognitivo que sustenta a discussão. Quando analisamos as etapas compreendidas para que o movimento voluntário se inicie, deparamo-nos com os sistemas nervosos central e periférico. Após a liberação do estímulo, estamos sujeitos à recepção do mesmo através de nossos receptores sensoriais, que fazem parte do sistema nervoso periférico. A partir disso, podem ser iniciadas diversas discussões sobre nossas sensações corporais. Nem tudo que é sentido é percebido, mas tudo que é percebido foi sentido [5]. Logo, nota-se que o estímulo pode atingir nossos receptores sensoriais sem alcançar nossa consciência. A intensidade do estímulo pode, portanto, ser outra fonte de discussão. A quantidade de Acao_v3n1.indb 37 informação (estímulos) pode, também, sustentar estudos e pesquisas na área de controle motor, em assuntos como tempo de reação, atenção, aprendizagem motora e outros temas e áreas de conhecimento. Quando analisamos a percepção do estímulo e a programação da resposta no tempo de reação, estamos discutindo aspectos do sistema nervoso central. Logo, a relevância de pesquisas que abordem o tempo de reação é muito mais importante do que possa parecer à primeira vista. Ao se analisar a percepção dos estímulos, necessária para o desencadeamento da resposta motora, podemos deflagrar discussões sobre movimentos reflexos, propriocepção, cinestesia e outros. A atividade física e o tempo de reação Histórico na atividade física Baylor e Spirduso [19] pesquisaram sobre a influência do nível de aptidão física em mulheres idosas, considerando a regularidade da atividade aeróbia sobre 20/4/2006 11:27:23 38 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) os componentes do tempo de reação. Os achados deste estudo revelam que o nível de aptidão física, neste grupo, é um importante fator a ser considerado, pois influencia a velocidade de suas reações simples e discriminatórias positivamente. Em um outro estudo, Fourth e Salmoni [20] encontraram correlações significativas entre potência aeróbia e tempo de reação, mas somente no grupo mais velho de sua amostra (10-11 anos, 17-18 anos, 23-24 anos). Clarkson-Smith e Hartley [21] investigaram a relação entre o exercício físico e as habilidades cognitivas em 62 idosos. Indivíduos ativos fisicamente e sedentários foram testados na pesquisa, cujo escopo possuía o tempo de reação como uma das medidas do teste de habilidades cognitivas. O grupo fisicamente ativo apresentou menores valores no tempo de reação do que o grupo sedentário. Posteriormente, novamente Clarkson-Smith e Hartley [22] apresentaram evidências de que o exercício contribui para o desempenho cognitivo. Desta vez, os estudiosos exploraram uma amostra de 300 sujeitos, homens e mulheres, com a idade entre 55 a 91 anos. Os sujeitos fisicamente ativos apresentaram, mais uma vez, os menores valores no tempo de reação. Recentemente, Hatta, Nishihira, Kim, Kaneda, Kida, Kamijo, Sasahara e Haga [23] e Tsang e Hui-Chan [24] ao realizarem estudos comparando o tempo de reação de idosos que se exercitam regularmente e idosos sedentários, constataram que o primeiro grupo apresentou um tempo de reação mais curto que o segundo. Efeito crônico da atividade física Blumenthal e Madden [25] investigaram o efeito do exercício sobre o desempenho da memória, onde o tempo de reação foi medido na tarefa. Dois grupos foram submetidos a um programa de exercícios, sendo que um grupo (13 homens) se exercitou com corridas leves (jogging) e o outro (13 homens) se exercitou com treinamento de força, ambos durante 12 semanas, 3 vezes ao dia. Nenhum dos grupos apresentou melhora significativa na tarefa de reação em função do treinamento com exercícios. Logo, embora tenham ocorrido mudanças na aptidão física após 12 semanas de treinamento, alterações de magnitude correspondentes não ocorreram na velocidade de reação dos sujeitos. Em outra pesquisa, Madden, Blumenthal, Allen e Emery [26] constataram que o aumento da aptidão aeróbia não melhorou o tempo de reação de idosos, após um período de treinamento de 16 semanas. Os autores sugerem que mudanças na capacidade cognitiva relatadas ao exercício, em idosos, são devido a períodos extensos de exercício ou quando comparadas diferenças entre sujeitos fisicamente ativos e sedentários. Panton, Graves, Pollock, Hagberg e Chen [27] pesquisaram sobre o efeito do treinamento aeróbio e do Acao_v3n1.indb 38 treinamento contra-resistência no tempo de reação fracionado e na velocidade de movimento em idosos. Seus achados indicam que seis meses de treinamento de força ou de treinamento aeróbio não induziram mudanças significativas no tempo de reação ou velocidade de movimento neste grupo. Similarmente, Sothmann, Hart e Horn [28] investigaram o efeito de um curto período de treinamento aeróbio (16 semanas) no comportamento do processamento central em homens de meia-idade. Não foram encontradas diferenças significativas no tempo de reação de escolha (pré-motor e motor). Posteriormente, Paillard, Sablayrolles, Costes-Salon, Lafont, Dupui and Rivièrev [29], estudaram o efeito de um programa de marcha nas habilidades perceptivo-motoras em idosos ativos e saudáveis. Nove sujeitos tiveram 12 semanas de treinamento de marcha: uma vez por dia, cinco vezes por semana, com a intensidade de treinamento no limiar anaeróbico. Mensurações diretas das habilidades perceptivo-motoras (tempo de reação, ajuste postural, destreza motora) dos sujeitos foram apresentadas antes e imediatamente após o programa de treinamento. Os achados desse estudo indicam que não há diferença significativa para as habilidades medidas após 12 semanas de treinamento aeróbio para este grupo. Recentemente, Harada, Okagawa e Kubota [30] e Marigold, Eng, Dawnson, Inglis, Harris e Gylfadottir [31] ao investigarem a relação entre exercício e desempenho neuromotor, constataram que o tempo de reação permaneceu inalterado após 12 e 4 semanas de treinamento, respectivamente. Do mesmo modo, Whitehurst [32] constatou que o tempo de reação permanece inalterado em mulheres idosas após 8 semanas de treinamento aeróbio na bicicleta estacionária, com uma freqüência de 3 sessões por semana e duração de 35 a 40 minutos por sessão. Segundo o autor, “contrário a alguns outros estudos, os dados indicam que o tempo de reação pode ser independente do treinamento aeróbio em mulheres idosas saudáveis”. Efeito agudo da atividade física Kroll [33] investigou o efeito do exercício isotônico fatigante sobre o tempo de reação simples e o tempo de reflexo, em estudantes universitários, na própria musculatura exercitada. Não ocorreram alterações significativas nos componentes do tempo de reação fracionado, mas o tempo total de reflexo e o tempo motor aumentaram linearmente após cada etapa do exercício isotônico. O autor sugere que possa existir um processo compensatório do sistema nervoso central no qual o desempenho volitivo (tempo de reação) permanece não afetado, embora tenha ocorrido significativa perda de força e aumentado o tempo de reflexo. 20/4/2006 11:27:23 39 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Brisswalter, Arcelin, Audiffren e Delignières [34] pesquisaram sobre a influência do exercício físico no tempo de reação simples. Dois grupos de 10 sujeitos (estudantes com atividade física irregular e corredores de meia distância) foram testados. Os sujeitos foram testados enquanto pedalavam (20%, 40%, 60% e 80% do VO2 máx.) e imediatamente após o exercício. Durante o exercício, houve uma diminuição no desempenho cognitivo em ambos os grupos, porém imediatamente após a atividade não houve o mesmo efeito da atividade no tempo de reação. Em um outro estudo conduzido por Audiffren, Brisswalter, Brandet e Bosquet [12] verificou-se o comportamento do tempo de reação simples durante o exercício sob diferentes intensidades de trabalho. O tempo de reação simples durante o exercício foi mais alto do que no repouso, porém não variou significativamente de acordo com alterações nas cargas de trabalho. Posteriormente, Arcelin e Brisswalter [35] tornaram a mensurar o tempo de reação durante a atividade física. Os sujeitos foram submetidos a 10 minutos de exercício em um cicloergômetro, a 60% do VO2 máx. Não foram encontradas diferenças significativas no tempo de reação, cuja medida foi realizada no terceiro minuto de atividade. Os autores sugerem que se quantifique mais apuradamente as diferenças intraindividuais na medida do tempo de reação para a interpretação de mudanças no funcionamento cognitivo durante o exercício. Ernwein e Keller [36], pesquisaram sobre o comportamento do tempo de reação antes, durante e após a atividade física, em desportistas. O tempo de reação de escolha foi mensurado durante 90 minutos, com intervalo de 10 minutos entre cada medida. A partir do trigésimo minuto, os sujeitos iniciaram a atividade física (ciclismo estacionário, a 50% ou 80% do consumo máximo de oxigênio) e se exercitaram até o sexagésimo minuto. O tempo de reação dos sujeitos se degradou, isto é, aumentou durante os primeiros 10 minutos de atividade. A partir desse ponto, o tempo de reação se estabilizou, ou seja, não continuou aumentando de maneira significativa até o final do exercício. Dez minutos após o término do exercício, quando então foi medido novamente, o tempo de reação reassumiu os valores pré-exercício. Os autores constataram também que há um maior atraso no processamento central a 80% do VO2 máximo. Similarmente, Collardeau, Brisswalter e Audiffren [37] também detectaram uma degradação no tempo de reação apenas nos primeiros minutos da atividade. A seguir, a síntese de alguns dos estudos analisados neste trabalho. Tabela III – Análise dos estudos. Art_6_Daniel.indd 39 Autor Problema Sujeitos Hatta et al. [23] Efeito do exercício moderado habitual no processamento da resposta em idosos 40 sujeitos Marigold et al. [31] Relação entre exercício 61 idosos vítimas de e desempenho neuro- AVC motor Tsang et al. [24] Efeitos do exercício na sensibilidade articular e equilíbrio em idosos: Tai Chi vs Golf 47 idosos Procedimento e delineamento Comparação do tempo de reação entre idosos que se exercitam regularmente (n=20) e idosos inativos (n=20) Participantes foram randomicamente designados para um grupo de agilidade (n=30) ou alongamento e levantamento de pesos (n=31); os sujeitos foram avaliados antes, imediatamente após e 1 mês depois da intervenção das atividades Comparação entre os grupos: Tai Chi (n=12), Golf (n=11), controle (n=12) e universitários (n=12) Descobertas O tempo de reação foi mais rápido no grupo ativo do que no grupo inativo. O grupo de exercícios com pesos e alongamento não apresentou melhoras significativas no tempo de reação Os praticantes de Tai Chi e Golf tiveram um tempo de reação mais rápido do que os idosos do grupo controle. 25/4/2006 14:28:07 40 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Harada, Okagawa e Efeito da corrida no Kubota desempenho do lobo [30] frontal Paillard, Sablayrolles, Costes-Salon, Lafont, Dupui e Rivièrev [29] Sothmann, Hart e Horn [28] Whitehurst [32] 12 semanas, 30 minutos, 2.6 vezes/semana; grupo de corrida (n=7) e grupo controle (n=7) 12 semanas de marcha, 5x/semana A resposta ao teste de reação permaneceu inalterada após o treinamento 24 homens 16 semanas 14 idosas 8 semanas 49 idosos 6 meses de treino (17) aeróbio e de força (20 sujeitos) 300 sujeitos (55 a 91 anos) Classificação dos sujeitos de acordo com seus diferentes relatos na prática de atividade física Classificação dos sujeitos em ativos e sedentários Sem diferenças significativas no tempo de reação (escolha) Não houve diferença significativa no tempo de reação pré e pós-treino 6 meses de treinamento aeróbio ou de força não provocaram melhorias no tempo de reação Exercício contribui para desempenho cognitivo: sujeitos ativos apresentaram menores valores no tempo de reação Grupo fisicamente ativo apresentou menor tempo de reação que o grupo sedentário O aumento na aptidão aeróbia não aumentou a velocidade de reação dos sujeitos Nenhum dos grupos apresentou melhora significativa no tempo de reação em função do treinamento com exercícios Correlação positiva, mas somente no grupo mais velho da amostra (23-24 anos) O treinamento aeróbio não teve impacto no desempenho motor (tempo de reação de escolha) 14 sujeitos Efeito de um programa 9 idosos de treinamento nas habilidades perceptivomotoras Panton, Graves, Pollock, Hagberg e Chen [27] Clarkson-Smith e Kartley [21] Efeito do treinamento aeróbio no processamento central Efeito do exercício aeróbio no tempo de reação Influência do treinamento aeróbio e de força no tempo de reação Relação entre exercício e desempenho cognitivo Clarkson-Smith e Hartley [22] Relação entre exercício 124 idosos e habilidades cognitivas Blumenthal e Madden [25] Influência do exercício no desempenho cognitivo 26 homens 16 semanas de treino aeróbio Madden, Blumenthal, Allen e Emery [26] Influência do exercício no desempenho cognitivo 26 homens 12 semanas, 3x/dia; corridas leves (13 sujeitos) e treinamento com pesos (13 sujeitos) Fourth e Salmoni [20] 30 sujeitos Correlação entre potência aeróbia e tempo de reação 3 grupos de diferentes faixas etárias: 10-11; 17-18; 23-24 anos Normand, Kerr e Mètivier [38] Relação entre exercício, envelhecimento e desempenho motor 3 meses de treinamento aeróbio (12 sujeitos) 24 sujeitos (57 a 74 anos) Afinal, em que a atividade física influencia o tempo de reação? Centros de pesquisa de várias partes do mundo vêm desenvolvendo estudos acerca desse tema. Entretanto, conforme bibliografia examinada, a literatura Art_6_Daniel.indd 40 Sem alterações significativas na velocidade de reação ainda não está bem definida em alguns pontos do assunto. Ora pesquisadores ratificam o efeito benéfico da atividade física sobre o tempo de reação, ora o desmistificam. Esta controvérsia fomenta as discussões sobre o efeito crônico da atividade física sobre o tempo de reação. Afinal, o exercício provoca, a médio e longo 25/4/2006 14:28:07 41 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) prazo, aumento na velocidade de processamento da informação ou não? Insistentemente são levantados estudos para verificar o efeito crônico do exercício sobre o tempo de reação. Como se pode observar, vários trabalhos aqui examinados realizaram pesquisas nas quais os sujeitos foram submetidos a dois, quatro ou seis meses de treinamento físico, seja de exercício aeróbio, contra-resistência ou ambos. As investigações realizadas com esse intervalo de tempo não apresentaram evidências de que a atividade física pode render benefícios para a velocidade de reação. Entrementes, outros estudos também analisados neste trabalho apresentaram evidências de que a atividade física exerce uma influência positiva sobre o tempo de reação motora. À primeira vista, os achados podem parecer conflitantes, tanto que Whitehurst [32] considera que, “contrário a alguns estudos”, o tempo de reação pode ser independente do treinamento com exercícios. Esse autor se refere aos estudos que encontraram correlação positiva entre atividade física e velocidade de processamento da informação, relatando o benefício da prática de exercícios sobre o tempo de reação. Ao que parece, o ponto crucial causador da divergência é a quantidade de tempo necessária para a atividade física render melhorias ao tempo de reação. Os autores que relacionaram a aptidão física em idosos ao tempo de reação não realizaram testes pré e pós-treino [19, 20, 38]. Através de seus protocolos, esses pesquisadores avaliaram o nível de atividade física dos sujeitos e os mais ativos apresentaram um menor tempo de reação do que os menos ativos. Esses dados nos indicam que os grupos estudados mantêm essa regularidade na aptidão física ao longo dos anos, não apenas durante um período de 8 semanas ou 6 meses, por exemplo. Essa discussão vai de encontro aos estudos de Normand, Kerr e Mètivier [38] e Madden, Blumenthal, Allen e Emery [26]. Em revisão de literatura, Normand, Kerr e Mètivier [38] constataram que os trabalhos envolvendo idosos que estiveram fisicamente ativos a maior parte de suas vidas apresentaram tempos de reação significativamente mais rápidos do que seus congêneres inativos. Madden, Blumenthal, Allen e Emery [26], consideraram que mudanças na capacidade cognitiva relatadas ao exercício, em idosos, são devido a períodos extensos de exercício ou quando comparadas diferenças entre sujeitos fisicamente ativos e sedentários. Talvez por essa divergência de achados e conclusões, as pesquisas sobre tempo de reação e exercício não têm seguido novos horizontes. Estudos longitudinais poderiam ser conduzidos com o objetivo de verificar após quanto tempo um programa de exercícios renderia benefícios ao tempo de reação, pois ainda não se sabe qual o intervalo de tempo de exercitação física necessária para se obter benefícios no tempo de reação, caso estes ocorram. Acao_v3n1.indb 41 Um outro ponto importante que merece destaque é a escassez de estudos sobre o efeito agudo da atividade física no tempo de reação. Por conta disso, não se sabe quais conseqüências o exercício físico pode trazer para a velocidade de processamento da informação imediatamente após a sua prática. Em outras palavras, ainda não se tem bem definido o comportamento do tempo de reação logo após a prática da atividade física. Conclusão Com base na compilação de dados realizada neste estudo, é possível perceber que há uma carência de investigações longitudinais acerca do efeito crônico da atividade física sobre o tempo de reação. Verifica-se que os objetos de estudo neste ramo do conhecimento têm se repetido ao longo dos anos, sem ainda alcançar uma consistência de discurso adequada para a exploração de novos horizontes de descobertas. Nota-se, também, a existência de um desequilíbrio quantitativo na produção acerca do tempo de reação e exercício, no qual o efeito crônico da atividade física sobre o tempo de reação tem sido objeto de estudo mais explorado do que o efeito agudo do exercício na velocidade de processamento da informação. Isto é devido, provavelmente, ao fato de existir uma carência de trabalhos que investiguem o comportamento do tempo de reação imediatamente após a prática de exercícios vigorosos. Diante deste quadro, sugerimos, para futuras pesquisas, que sejam realizados estudos longitudinais que investiguem o efeito crônico do exercício sobre o tempo de reação. Deste modo, evidências sobre a relação entre essa variáveis, serão acumuladas, propiciando uma melhor compreensão do fenômeno em causa. Referências 1. MARTENIUK, R. Information processing in motor skills. Ohio: Holt, Rinehart and Winston, 1976. 2. HARROW, A. 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Defendendo o ensino ético fundamentado no respeito mútuo, na justiça, no diálogo e na solidariedade, ressalta-se a relevância desta disciplina para a formação dos professores. A ética junto à educação se torna elemento central da ação sociopolítica em favor de atitudes de tolerância e respeito às diferenças existentes no meio educacional e profissional. Palavras-chave: ética, educação física, formação profissional. Abstract This paper intends to discourse on the ethics in the school and in the teachers’ of Physical Education formation in Aristotle’s perspective. For so much it will be discussed, shortly, the ethics concept and his relevance for the teachers’ of Physical Education pedagogic practice. Defending the ethical teaching based in the mutual respect, in the justice, in the dialogue and in the solidarity, the relevance of this subject is emphasized for the teachers’ formation. The ethics close to the education becomes central element of the sociopolitical action in favor of attitudes of tolerance and respect to the existent differences in the education and professional way. Key-words: ethical, physical education, professional formation. Artigo recebido em 09 de março de 2006; aceito em 13 de março de 2006. Endereço para correspondência: Rafael da Silva Mattos, Rua Pouso Alto 441, Jacarepaguá, 22735-220 Rio de Janeiro RJ, Tel: 21-33921224, E-mail: [email protected] Acao_v3n1.indb 43 20/4/2006 11:27:26 44 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) Introdução Aristóteles (384-322 a.C) nasceu na cidade de Estagira, ao norte da Grécia. Ao se dirigir para Atenas, tornou-se discípulo de Platão, tendo permanecido cerca de 20 anos na Academia. Mais tarde fundou sua própria escola, o Liceu, no ginásio de Apolo Lício, onde dava aulas nos jardins da escola enquanto passeava. Como filho de um médico, Aristóteles possuía um estilo científico rigoroso, era um detetive epistemológico. Toda sua filosofia parte de uma perspectiva crítica de Platão. Para Platão, mestre de Aristóteles, as coisas concretas eram simples aparências, sombras da verdadeira realidade do mundo das Idéias. Vivemos no mundo que nos engana, que é limitado pelos nossos sentidos. Platão sempre quis encontrar o belo e imutável em meio a todas as mudanças que ocorrem em nosso cotidiano. Dessa forma, ele chegou ao seu conceito de Mundo das Idéias. Ele considerava as idéias mais reais do que os próprios fenômenos concretos da natureza [1]. Aristóteles critica os pensamentos de Platão e desenvolve uma teoria realista, distante dos idealismos de seu mestre. Para Aristóteles as coisas deveriam ser explicadas a partir delas mesmas, e não a partir do mundo ilusório das Idéias. Considerava Platão um prisioneiro de uma visão mítico-espiritual de mundo e confundia aquilo que é concreto e verdadeiro com a idéia abstrata e transcendente. Para Aristóteles, não fazia sentido entender o mundo a partir da ascese platônica, na qual o homem busca a verdade, a luz, a libertação. Constrói-se então uma nova visão de mundo a partir de um homem que deseja o conhecimento racional, distante do idealismo platônico. O homem que buscava a libertação, agora busca o conhecimento, a ciência, as causas, o entendimento das coisas pelas próprias coisas. Não há mais parteiros de almas, muito menos idéias de outro mundo, mas sim um conhecimento sensível, uma empiria, e conseqüentemente a capacidade de superação do que foi apreendido pelos sentidos, com a organização do conhecimento armazenado na memória. O homem passa a ser construtor das coisas novas a partir daquelas informações armazenadas na memória e, não do mundo das Idéias. Aristóteles entendia a Filosofia como a ciência das últimas causas. Pensar é descobrir o porquê das causas [2]. Ao explicar o ser, Aristóteles utiliza os conceitos de matéria e forma. A matéria seria a pura passividade, contendo as virtualidades da forma em potência. Enquanto a forma, seria a essência comum aos indivíduos, pela qual cada um é o que é. Baseado nesses conceitos, ele explica o devir (movimento), na medida em que todo ser tende a atualizar a forma que tem em si como potência, tendendo a atingir a perfeição que lhe é própria e o fim a que se Acao_v3n1.indb 44 destina. Essa reflexão sobre o devir nos leva a distinção entre as causas existentes para os diversos seres [3]. A pedagogia de Aristóteles leva em consideração este devir, o fato de o homem estar em constante movimento. A educação tem como finalidade ajudar o homem a alcançar a plenitude e a realização do ser, a atualizar as forças que tem em potência. A educação pretende levar o homem a tornar-se o que deve ser: deve levar o homem a sua possibilidade extrema, a excelência ( ). Esta é a realização máxima da possibilidade que todas as coisas têm para executar determinado trabalho [4]. Para entender o que o homem deve ser, é necessário explorar o campo da ética. O fim de toda relação ética para Aristóteles é a felicidade ( ). O homem feliz desenvolve suas faculdades físicas, morais e intelectuais. A partir da idéia que a razão é o que distingue o homem dos outros seres, Aristóteles concebe que o bem supremo, a felicidade, tem de estar ligada à capacidade humana de pensar. Tudo que existe tem uma finalidade, e a excelência (ou em inglês o termo goodness, que denomina a qualidade de algo bom) é a plena realização dessa função. Na concepção aristotélica, uma árvore “virtuosa”, digamos, é aquela que faz boa sombra e produz bons frutos, uma faca “virtuosa”, aquela que corta bem, etc. E a felicidade humana está ligada ao desenvolvimento e ao bom uso da razão, e isso só é possível através da educação, da formação do caráter, sendo essa não um fim, mas condição indispensável para se alcançar a felicidade [5-7]. A questão central das preocupações éticas é a justiça entendida como inspirada nos valores de igualdade, visto que as reflexões sobre as diversas condutas humanas devem ser partes dos conteúdos escolares. A ética nas escolas traz a possibilidade da reflexão filosófica contínua sobre a moral. Beresford [8] nos alerta para a diferença entre a ética e a moral. A palavra moral é relacionada aos costumes, valores e normas de conduta específicas de uma determinada sociedade ou cultura, enquanto a ética leva em consideração o agir humano, do seu ponto de vista valorativo e normativo. Castilho e Kalil [9] afirmam que a ética é um termo genérico para várias formas de se entender e analisar a vida moral, enquanto a moralidade é uma teoria sobre o certo e o errado. O termo moralidade se refere ao conjunto de convenções sociais sobre o comportamento humano certo ou errado, convenções tão largamente partilhadas que formam um consenso comum. Uma teoria ética bem desenvolvida é aquela que em seu interior proporciona a reflexão sobre a aceitabilidade das ações e a avaliação do caráter moral da ação. Assim sendo, a moral corresponde ao conjunto de normas e condutas que uma determinada comunidade, 20/4/2006 11:27:26 45 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) num determinado tempo e circunstância assume como válidas. Já a ética, estaria relacionada com uma reflexão teórica acerca da moral. Para Aranha [1] a finalidade da educação aristotélica é o bem moral, no qual consiste a felicidade. Não basta adquirir idéias morais, mas é necessário reparti-las e vivenciá-las em sociedade. A questão central das preocupações éticas é a justiça entendida como inspirada nos valores de igualdade, visto que as reflexões sobre as diversas condutas humanas devem ser parte dos conteúdos escolares. A ética nas escolas traz a possibilidade da reflexão filosófica contínua sobre a moral. A Ética Aristotélica e a Educação Física A ética é uma ciência prática que se constitui de um saber que tem por objeto a ação, enquanto a metafísica e a filosofia são ciências teóricas, que não criam seus objetos, mas apenas os contemplam. Toda escolha, que se diz ética, tende para algum bem, por isso que um bem é aquilo a que todas as coisas tendem. Como todas as atividades humanas tendem para um bem, a ética, inicialmente, tem o objetivo de preparar o indivíduo para viver o bem junto com os outros na pólis grega. Nesse sentido, o professor de educação física deve ser capaz de compreender o cotidiano escolar como um espaço público, democrático e solidário, onde os alunos precisam aprender a viver para um bem em sociedade [10,11]. Lastória [12] afirma que a ética de Aristóteles deixará de ser vista como uma ontologia do Bem, como afirmava Platão, mas adquirindo o estatuto de disciplina própria que possui um fim. O fim a que todas as coisas tendem é sempre o bem. É esse bem que procuramos nos professores de Educação Física e pode-se perceber que a formação universitária e pós-universitária é responsável por manter acesa essa busca pelo bem. Aristóteles elabora seus conceitos tentando compreender uma finalidade última e a encontra ao estudar política. Se a ética pertence à política, esta última deve possuir alguma coisa que o homem deseja. Aristóteles responde a essa problemática explicando o desejo de felicidade da alma. A felicidade é considerada o fim último da experiência humana. Vivemos para sermos felizes. A ética deve determinar a essência do fim a ser alcançado, a essência do agente e das ações, assim como os meios para realizá-las. Tais ações humanas não são como as ações dos animais e da natureza, pois estes seguem as exigências impostas pela sua matéria e por sua forma. Eles possuem sempre os mesmos efeitos, as mesmas causas, as mesmas circunstâncias. Em qualquer lugar do mundo o passarinho joão-de-barro fará suas casas da mesma forma, da mesma forma que os esquilos continuarão a construir suas barragens sem concreto e cimento. No entanto, as Acao_v3n1.indb 45 ações humanas decorrem de escolhas voluntárias entre diversas alternativas, de forma que o antagonismo das ações se faz presente a todo momento [10,11]. Para Oliveira [13,14] a formação moral e ética do aluno, futuro cidadão, só pode ser concebida a partir da tolerância em relação às diferenças do outro. Toda ação ética consistiria em não fazer ao outro aquilo que não gostaríamos que fizessem a nós. Sendo assim, a reflexão ética é caracterizada pelo eterno pensar e pela construção de formas valorativas do outro. É na escola que os professores de Educação Física devem exercer seu comportamento ético se querem ensinar Ética a alguém. Aristóteles [5,6] afirma que a virtude humana que provém da alma é também uma felicidade da alma. Esta virtude se concretiza nas relações com os outros homens, na medida em que tornamos nossas atitudes justas e injustas, certas e corretas. É através dos atos que praticamos que percebemos o que nós somos. Em virtude disto, precisamos prestar atenção em nossas escolhas e não avaliar prematuramente nossos próprios julgamentos. Através das práticas de atos justos, o homem se torna um ser justo e pelas práticas corretas ele se torna correto. As virtudes só podem ser aprendidas na prática, na medida em que vivemos de forma correta e tornamos a realidade humana uma experiência de respeito mútuo e solidariedade. A construção ética na escola e na trajetória profissional docente deve ser vista como um processo inacabado que carece de reflexões profundas no plano teórico e medidas genuínas no plano prático [15,16]. Para Lastória [12] a educação aristotélica consiste na formação dos indivíduos desde a infância. Tal formação é necessária para a o desenvolvimento do caráter dos indivíduos, que quando adulto, terão ação relevante na política da pólis grega. Tanto a família como a escola se completam para educar o indivíduo, a fim de possibilitar a convergência de seus atos para idéias de felicidade. O Código de Ética do Profissional de Educação Física (disponível em www.confef.org.br) veio assumir uma postura de referências aos deveres e direitos do Profissional de Educação Física. O que se tem observado ao longo destes anos é que a atuação pedagógica dos profissionais de Educação Física tem se comprometido com a preservação da saúde dos alunos e com as responsabilidades sociais e legais da profissão. Na sua competência profissional, o professor ganhou um grande instrumento que legitima e protege suas ações profissionais. Conclusões Segundo Rodrigues [17], a formação humana resulta de um ato intencional de transformar uma criatura biológica em um novo ser, um ser pensante, um ser que desenvolve cultura. Nesse sentido, a Educação é a forma 20/4/2006 11:27:27 46 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) de ajustar os indivíduos à vida social, compreendendo a possibilidade do educando de acionar os seus meios intelectuais e fazer uso de suas potencialidades. A Educação permite que cada indivíduo conduza seu próprio caminho durante a vida. Enquanto o ser humano não se constituir num ser completo, ele necessitará da Educação. Na medida em que compreendemos o sujeito como um ente inacabado, em construção contínua, a Educação sempre se fará necessária. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental [18] afirmam que a escola, ao transmitir o conhecimento cultural e histórico acumulado pela sociedade, vai ao encontro das questões éticas. As relações sociais que ocorrem na escola são pautadas em valores morais que orientam o agir do professor diante do aluno. Cabe ao professor desenvolver o diálogo respeitoso com os demais profissionais da área de educação que estão inseridos no meio escolar. Para Mussak [19] a ética é condição indispensável sempre que se pensa em construir um ambiente profissional. Os interesses individuais devem ser sempre respeitados, desde que não ameacem os interesses coletivos. Nesse sentido, não há razão para atribuirmos graus quantitativos e qualitativos de ética, pois ou o profissional é ético ou não é. Não é possível ser ético demais ou pouco ético. Através do comportamento ético cotidiano estabelecemos nossa conduta ética de vida. Esse comportamento diário dignifica o ser humano, organizando-o e tornando possível o convívio em sociedade. A ética com sua base na justiça aperfeiçoa a competência dos profissionais de Educação Física. A educação ética como processo de formação humana coopera para a constituição da identidade dos educandos como sujeitos histórico-sociais e aprimora a capacidade de entendimento e aceitação das diferenças existentes em qualquer meio social. A ação do educador não poderá ser executada de qualquer jeito, como se toda e qualquer forma fosse suficiente para que ela possa ser realizada. Ela só será bem realizada se houver um compromisso político e ético que a direcione. Através de um comportamento ético o professor de Educação Física será capaz de julgar com mais equidade as ações promovidas por seus alunos e pelos próprios colegas de profissão. Acao_v3n1.indb 46 Referências 1. ARANHA, M. L. A. 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Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: No máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: No máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 ref. bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Educação Física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas Acao_v3n1.indb 47 técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos que representan dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Preparação do original 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). 20/4/2006 11:27:28 48 ação & movimento - janeiro/fevereiro 2006;3(1) O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Acao_v3n1.indb 48 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental devem ser inseridos no final do artigo, antes das referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo ABNT . As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: MAY, M. The facial nerve. New-York:Thieme, 1986. Capítulo ou parte de livro: PHILLIPS, S. J. Hypertension and Stroke. In: LARAGH J. H., (Ed.). Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2. ed. New-York: Raven press, 1995. p. 465-78. Artigos - Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalho, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de vírgula, número do volume, número do fascículo, páginas inicial e final, data e ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: ALMEIDA, C.; MONTEIRO, M. Descrição de duas novas espécies (Homoptera). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v. 9, n. 1/2, p. 55-62, mar./jun. 1992. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] 20/4/2006 11:27:28 educação física e desportos Índice Volume 3 número 2 - março/abril de 2006 EDITORIAL Ensinar esportes, Luiz Alberto Batista ......................................................................................... 51 ARTIGO ORIGINAL As relações de gênero nas aulas de Educação Física na Educação Infantil em duas realidades socioeconômicas, Simone Carillo Martins, Elaine Romero, Luiz Alberto Batista ............................................................................................ 52 Avaliação antropométrica de crianças praticantes de atividades físicas de um clube de São Paulo, Carolina Borges Duarte, Fernanda Dias de Souza, Márcia de Araújo Leite Nacif ..................................................................................................... 59 Efeitos do treinamento de ginástica localizada e hidroginástica nos níveis de força e no VO2 de praticantes de academia, Simone de Assumpção Belém, Ana Cristina Lopes y Glória Barreto, Roberto de Carvalho Pável, Jefferson da Silva Novaes ......................... 64 Avaliação antropométrica e qualitativa da ingestão alimentar de nadadores masters competitivos, Fernanda Andrade Patara, Danielle Lopes Russo, Luciana Rossi ............................. 70 Índice geral de flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica não-competitiva, Raquel Petry, Elirez Silva, Úrsula Müller, Diego Wink Esteves ............................................................ 75 Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada de ambos os sexos em diferentes velocidades, Sebastião Iberes Lopes Melo, Juliane de Oliveira, Raquel Pinheiro Gomes, Mário César Andrade, Roberta Pires ............................................................ 80 Treinamento com pesos para iniciantes: comparação de esforço entre três modelos de treinamento, Ricardo Yukio Asano ......................................................................................... 87 COMUNICAÇÃO BREVE Subsídios para propostas de treinamento em natação para crianças em fase puberal, Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro ............................................................................................. 94 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ..................................................................................... 102 EVENTOS ..................................................................................................................... 104 Acao Mov_.indb 49 10/8/2006 16:27:08 50 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) ISSN 1806-9436 educação física e desportos Editor Luiz Alberto Batista (UERJ) [email protected] Conselho editorial Guilherme Pacheco (UGF) Adroaldo Cezar Araújo Gaya (UFRGS) Heron Beresford (UERJ, UCB) Alberto Reinaldo Reppold Filho (UFRGS) Jefferson Retondar (UERJ) Alex Itaborahy (INUAF-Loulé – Portugal) João Ricardo Moderno (UERJ) Ana Maria Medeiros de Abreu Faro Jorge Olimpio Bento (Universidade de Coimbra – Portugal) (Universidade do Porto – Portugal) Antônio Carlos Stringhini Guimarães (UFRGS) José Manuel da Costa Soares Antonio Teixeira Marques (Universidade do Porto – Portugal) (Universidade do Porto – Portugal) José Silvio de Oliveira Barbosa (UERJ) Artur Manuel Romão Pereira Marco Antonio Guimarães da Silva (UFRRJ) (Universidade de Coimbra – Portugal) Paulo Coelho de Araújo Astrogildo Vianna (UERJ) (Universidade de Coimbra – Portugal) Carlos Adelar Abaide Balbinotti (UFRGS) Paulo Farinati (UERJ) Fernanda Barroso Beltrão (UFRJ, UCB) Ricardo Demétrio de Souza Petersen (UFRGS) Francisco Sobral (Universidade de Coimbra – Portugal) Ricardo Vélez Rodrigues (UFMG) Genni Togun (UERJ) Vernon Furtado de Silva (UERJ, UCB) Guilherme Locks Guimarães (UERJ) Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo A. Shalon Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3362-2097 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Assinaturas 6 números ao ano: Brasil - 1 ano: R$ 165,00 América Latina - 1 ano: US$ 165,00 Europa - 1 ano: € 165,00 Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Atendimento ao assinante Edilaine Silva [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Nutrição Brasil e Neurociências. I.P. (Infor mação publicitária): As infor mações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Acao Mov_.indb Sec1:50 10/8/2006 16:27:27 51 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) EDITORIAL Ensinar esportes Luiz Alberto Batista Editor científico Um amigo perguntou-me se valeria a pena colocar o filho dele para aprender um determinado esporte com uma pessoa que foi um atleta campeão e internacionalmente reconhecido. Eu lhe respondi com outra pergunta: “Se acometido por uma moléstia você se sujeitaria a ser tratado por alguém que, reconhecidamente, por anos padeceu de idêntico problema de saúde e conseguiu sobrepujá-lo?”. Ele, sem hesitar, respondeu-me que não. Continuei a provocá-lo argumentando que o ex-paciente poderia lhe dar informações importantes, tais como: que médicos procurar, que sensações foram sentidas no decorrer dos tratamentos e que clínicas reúnem as melhores condições tecnológicas e de pessoal. Ele, novamente sem pestanejar, contra-argumentou que somente isto não bastava, que não entregaria os cuidados de sua saúde a alguém que não estivesse devidamente preparado. Ai então eu lhe respondi que a mesma certeza que ele denotou ao apresentar uma negativa à minha questão eu possuía para apresentar a negativa em relação à pergunta inicialmente feita por ele. O ato de ensinar uma modalidade esportiva implica na posse de conhecimentos que ultrapassam a esfera Acao Mov_.indb Sec1:51 da vivência, principalmente quando ele está voltado à crianças e jovens, os quais ainda se encontram em franco processo de maturação, crescimento. Podemos cobrar este tipo de competência de um professor de Educação Física, de qualquer outro não. Atletas, principalmente os campeões, têm sua importância. Eles são mitos, atraem pessoas para a prática de atividades e podem passar bons exemplos. Muitas funções, no contexto esportivo, podem ser assumidas por eles, porém o ato competente de ensinar demanda formação específica, a qual ele precisa também adquirir se quiser exercê-lo. Exigir competência, neste caso, não consiste em um mero resguardo de mercado de trabalho. Muito mais que isto, diz respeito a garantir integridades e o bom desenvolvimento de pessoas. Por outro lado é preciso que o professor de Educação Física faça, efetivamente, uso dos conhecimentos técnicos científicos adquiridos durante sua formação, para que, quando da comparação de sua práxis pedagógica com a de leigos, fique evidente a importância da competência manifesta. Isto, com certeza, lhe será cobrado. Por assim dizer, tanto no que tange aos bônus quanto aos ônus, a Cézar o que é de Cézar. 10/8/2006 16:27:28 52 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) ARTIGO ORIGINAL As relações de gênero nas aulas de Educação Física na Educação Infantil em duas realidades socioeconômicas Gender relations on Physical Education in Elementary Education Classes in two different social-levels Simone Carillo Martins, M.Sc.*, Elaine Romero, D.Sc.**, Luiz Alberto Batista, D.Sc.*** *Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco RJ, Colégio Cidade, ** Universidade de São Paulo, Laboratório de Estudos de Gênero e Motricidade Humana – UFRJ, ***Coordenador do Laboratório de Biomecânica do IEFD/UERJ Resumo O objetivo foi identificar como se manifesta o processo de construção do gênero nas aulas de Educação Física Infantil. A metodologia foi de cunho fenomenológico com caráter etnográfico. Participaram 44 crianças de ambos os sexos de 5 a 7 anos, cursando a Classe de Alfabetização, de duas escolas distintas da Zona Sul do Rio de Janeiro. Os instrumentos foram a observação, o diário de campo e uma entrevista estruturada. Foi também alvo de investigação, o professor de Educação Física de cada escola. Os dados reportaram-se à análise de discurso e apontaram que as crianças apresentavam comportamentos generificados, entretanto mais acentuadamente entre os alunos da escola particular. Esse aspecto foi evidenciado pela constatação de: a) maior resistência em participar das aulas mistas; b) domínio dos meninos no espaço escolar; c) desprezo às meninas; d) atividades sexualmente estereotipadas. Concluímos que a prática pedagógica diferenciada dos dois professores foi o provável gerador das diferenças encontradas. Palavras-chave: gênero, educação física, educação infantil, escola. Abstract The major goal of this study was to identify how gender affected progress in Physical Education. The methodology used was the phenomenological paradigm of ethnologic character. For this study, 19 children of both sexes were chosen, between the ages of 5 to 7 years old, half from a public school and the other half from a private school. Both samples came from the south zone of Rio de Janeiro. We used as tools, the observation, the field diary and structured interview. The data concerning the speech analysis indicates that the children already showed generic behavior according to sex. However, the students of private school did reveal the strongest elements of difference between boys and girls. These aspects were perceived through a) the resistance of these students to Artigo recebido em 28 de março de 2006; aceito em 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Simone Carillo Martins, Av. Afonso Arinos de Melo Franco, 191/402, 22631-455 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 9856-5997, E-mail:[email protected] Acao Mov_.indb 52 10/8/2006 16:27:28 53 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) participating in mixed classes, b) by the masculine control by the boys of the school’s space, c) disdain of boys toward the feminine group, d) stereotyped activities regarding the sex!. We have concluded that the distinct pedagogic practice of the two Physical Education teachers was the generator of the discovered differences. Key-words: gender, physical education, elementary school. Introdução Na história da humanidade, observa-se a tendência geral de ver e explicar o ser humano como sendo composto de duas partes deferentes e separadas: o corpo (material) e a mente ou alma (espiritual, consciente). Manuel Sergio [1] cita Platão e Descartes como importantes filósofos que reforçaram a idéia dualista corpo-mente, que predominou durante séculos no pensamento ocidental. Na idade Média, a Igreja adapta os fundamentos racionais do pensamento de Platão à teologia cristã. O corpo é sinal de pecado e degradação, devendo ser controlado por meio de jejum, da abstinência, das flagelações. Foucault [2] escreve que um corpo dócil pode ser submetido, utilizado, transformado e aperfeiçoado. Assim sendo, mais fácil de ser dominado. Essa dominação ocorreu através de vários processos. Os primeiros foram impostos pela violência física, pois o corpo representava a decadência e a irracionalidade do espírito. A partir do Renascimento e Idade Moderna começa a se transformar a concepção de corpo: o componente religioso deixa de ser o elemento preponderante, e a natureza física e biológica do corpo humano passa a ser objeto da ciência. Na atualidade, questionamos: qual o uso que fazemos desse corpo? Cabe a nós, profissionais que trabalhamos com o movimento humano, escolher que enfoque daremos ao corpo. Seria um corpo a serviço da estética, da saúde, da produção, de recordes? Articulando os pressupostos da Ciência da Motricidade Humana (CMH) com as idéias expostas vemos que esses vêm ao encontro dos anseios desse Homem do novo milênio. Nesse sentido, Manuel Sergio [1] afirma que: “o homem é a complexidade, no meu pensar: em movimento incessante à transcendência”. Para Beresford [3] o objetivo da CMH seria um corpo que engloba toda a sua complexidade: sentimentos, pensamentos, sociedade, cultura, distanciando-se assim, do reducionismo biológico. No entanto, pelo fato de vivermos em uma sociedade sexista marcada por padrões segregacionistas, a motricidade humana, por meio de suas condutas motoras, tem se manifestado de modo desigual pelos dois sexos. O corpo feminino é formado a partir de uma construção cultural, social e histórica diferente da construção Acao Mov_.indb 53 do corpo masculino; portanto, são construções generificadas. Scott [4] esclarece que o termo “gênero” torna-se uma forma de indicar “construções culturais” – a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. A expressão recomenda um distanciamento das categorias homem/mulher determinadas por características biológicas, e enfatizava o aspecto relacional das definições normativas das feminilidades e masculinidades. Além dos papéis sociais, identificamos também as relações de poder entre os sexos. Esse poder foi exercido pelos homens em diferentes organizações sociais: no mercado de trabalho, na educação, no sistema político e finalmente nas relações familiares. Para Kunz [5], desde o seu nascimento meninos e meninas são educados de maneiras diferentes de acordo com padrões estereotipados. Essas diferenças emergem em várias características do indivíduo, entre as quais, os modelos de comunicação (diferenciadas formas de expressão mímica e gestual, como a expressão da alegria, tristeza etc.); o pertencimento a grupos; os objetos de uso cultural (diferentes brinquedos, diferentes acessórios e cuidados corporais); jogos e funções sociais, como a profissão e as brincadeiras; capacidades e habilidades diferenciadas. Apesar de significativas conquistas, por um lado, a maioria das meninas ainda é educada para ser mãe e dona de casa, e, por conta do mito da feminilidade, dela são exigidos comportamentos como passividade, elegância, sensibilidade e meiguice. Por outro, os meninos têm mais liberdade para brincar, seus jogos são mais ricos em relação ao aspecto motor, jogam bola, sobem em árvores etc. Deles, não lhes é exigida contribuição significativa no trabalho doméstico, e, conseqüentemente, ficam com mais tempo livre para suas brincadeiras [6-11]. Sobre o assunto, Brougère [12] ressalta que existe uma adequação cultural do brinquedo em relação ao sexo da criança, sendo que o universo do brinquedo feminino privilegia o espaço familiar da casa, enquanto o do masculino, o espaço externo, com brincadeiras ao ar livre. Essas experiências diferenciadas propiciam a construção do corpo generificado [6-13-14], em um processo que inicia na família e chega ao espaço escolar. Na escola e nas aulas de Educação Física esse tipo de vivência reducionista é reproduzida, e isso fica claro quando percebemos alguns detalhes aparentemente sem 10/8/2006 16:27:29 54 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) importância; a divisão de espaço para as brincadeiras, por exemplo, resultando em uma maior área para os meninos, enquanto as meninas ficam restritas a espaços menores. Tecendo uma crítica sobre essa situação, Louro [15] ressalta que: “A escola delimita espaços. Servindo-se de símbolos e códigos, ela afirma o que cada um pode (ou que não pode) fazer, ela separa e institui. Informa o lugar dos pequenos e dos grandes, dos meninos e das meninas”. A autora, com esse importante dado, remete-nos às relações de poder existentes no espaço escolar. Essas assertivas foram confirmadas em pesquisas realizadas no âmbito escolar. Verbena [16] constatou entre alunos da 7a e 8a séries, que o sexo feminino se sente e se vê sem privilégios frente à prática esportiva durante as aulas de Educação Física. Dutra [10] trabalhando com crianças de 3a e 4a séries verificou que no entender das mesmas ainda há preconceitos quanto às meninas jogarem futebol, ou seja, ocuparem um espaço maior, o mesmo acontecendo em relação aos meninos – participarem de brinquedos e brincadeiras considerado próprio para as meninas – em um espaço físico menor. Entendemos que esse modelo de comportamento segregacionista ainda é encontrado nas escolas evidenciado na conduta dos professores de Educação Física, que não possuem uma visão igualitária de seus alunos. Esse ponto de vista encontra apoio em Romero [6] que, ao estudar estereótipos masculinos e femininos em professores de Educação Física, concluiu que esses demonstravam atitudes e idéias discriminatórias segundo o sexo de seus alunos, gerando um reforço de padrões motores diferenciados e prejudiciais tanto aos meninos quanto às meninas. Apesar destes resultados remontarem aos anos noventa, tudo indica que na virada do século a situação permanece. Duarte [9] observou que os professores continuam separando a classe segundo o sexo dos alunos, e os objetivos almejados ainda centram-se no rendimento e na competição; como conseqüência as meninas com menor habilidade revelaram sentirem-se discriminadas. Lopes [17] assinala que as distinções de identidade que atravessam as pessoas podem fazê-las similares de algumas maneiras – no que se refere à sexualidade, por exemplo – e diferentes em outras – no que se refere ao gênero e à classe social, por exemplo. Sendo assim, torna-se imperioso a reflexão sobre gênero, corpo e relações de poder em diferentes realidades socioeconômicas. Trilhando por esse caminho, buscamos identificar como se manifesta o processo de construção do gênero durante as aulas de Educação Física Infantil, em uma escola de gestão pública e uma escola de gestão particular, averiguando como as crianças aceitam e vivenciam as atividades físicas diferenciadas para meninos e meninas propostas pelo professor (a) de Educação Acao Mov_.indb 54 Física, e, finalmente buscando identificar como classe social se intercruza com gênero nas aulas de Educação Física dessas crianças. Material e método Empregamos uma metodologia inserida no paradigma fenomenológico, que vê o objeto de estudo de uma maneira interpretativa, naturalista, ou seja, o fenômeno no seu ambiente natural. Os participantes foram crianças cursando a Educação Infantil, de ambos os sexos, com aproximadamente 6 anos de idade, matriculados na Classe de Alfabetização (CA) de uma escola de gestão particular (19 alunos) e de uma escola de gestão municipal (25 alunos),situadas na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Observamos também os professores de Educação Física de cada escola em questão, uma vez que mediante suas práticas, as crianças executariam as atividades por eles propostas. A escolha por escolas de gestões e realidades distintas teve como finalidade observar possíveis diferenças no que tange às relações de gênero em classes sociais diferentes. O estudo seguiu as normas da Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde [18], e de posse das autorizações devidamente assinadas (TCLE) pelos responsáveis passamos à fase de coleta dos dados. As observações ocorreram durante as aulas de Educação Física e o recreio; essas foram registradas no diário de campo. Posteriormente, em um segundo momento, aplicamos uma entrevista estruturada em 10 alunos da escola particular e 9 da escola pública, totalizando 19 crianças entrevistadas, cujos dados reportaram-se à Análise de Discurso de Orlandi [19]. Resultados e discussão Debruçadas nas respostas obtidas, e servindo-nos das observações, pudemos identificar quatro categorias nos discursos produzidos pelas crianças. Aulas mistas. O que querem as crianças? Percebemos que os alunos da escola particular apresentavam mais resistência a este tipo de aulas, pois, quando indagados se gostavam de fazer aulas de Educação Física com o sexo oposto, a maioria respondeu “mais ou menos”. Por outro lado, na escola pública a maioria dos alunos respondeu que “sim”, ou seja, eles gostam de fazer aula de Educação Física mista.Os exemplos desta realidade ilustram nossa interpretação: “isso eu odeio, porque é chato, é feminino.” (menino); “mais ou menos, eu não gosto de menina.” (menino). 10/8/2006 16:27:29 55 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Na seqüência da análise, quando perguntamos se na aula de Educação Física eles preferiam brincar no grupo formado por colegas do mesmo sexo ou do sexo oposto, das dezenove crianças entrevistadas, dezoito responderam que preferem ficar no grupo do mesmo sexo. Somente uma menina da escola de gestão particular respondeu diferente dos demais dizendo: “ah, não importa, né, é jogo, às vezes ele (o professor) mistura, às vezes sou um pouco dos meninos, às vezes sou das meninas, a brincadeira que a gente joga mais é meninos e meninas.” (menina, escola particular). As observações realizadas também nos levam para esse caminho. Nas aulas da escola pública em nenhum momento meninos ou meninas reclamaram das atividades propostas e realizadas. Os meninos brincaram de roda, cantaram e pularam corda. Às vezes percebíamos algum constrangimento, mas nunca a recusa. Em contra partida, nas aulas da escola particular, várias vezes as meninas, durante o jogo de futebol, encostavam-se na parede recusando-se a jogar. Elas sempre eram a minoria nos times, e eram vistas como intrusas em um jogo de meninos. Relações de poder Foucault [2] sublinha a importância de observarmos com um olhar mais atento a normalização cotidiana, continuada, naturalizada, como formas de repetir e reforçar as relações de poder entre os sexos. No caso da presente pesquisa, uma das maneiras de relação de poder demonstrada pelos meninos foi o visível desrespeito por tudo que está relacionado ao mundo feminino. Lopes [17] atribui esse desprezo pelo mundo feminino a uma etapa da construção da masculinidade, ou seja, os meninos procuram expelir a feminilidade de dentro deles mesmos com a finalidade de validar a sua masculinidade, que é construída por meio de um processo permanente de embates e confirmação. Essa idéia ganha consistência nas falas dos respondentes do sexo masculino, ambos da escola particular: “isso eu odeio, porque é feminino [risadas].”, “sei lá, ficam brincando de bonequinha, sei lá [risada].”. Durante a observação, presenciamos um momento em que a masculinidade de dois alunos estava sendo avaliada. Em uma competição de cabo-de-guerra, uma equipe masculina perdeu a disputa e os integrantes não se conformaram com a derrota. Num primeiro momento, acusaram o professor de ter beneficiado o outro time; depois de muita discussão finalmente, ofereceram R$ 1.000,00 ao mestre se ganhassem uma segunda chance. A divisão do espaço escolar O espaço físico e a restrição à sua utilização foi uma subcategoria identificada, que mais uma reforça o poder Acao Mov_.indb 55 exercido pelos meninos. Nas duas realidades pesquisadas, pudemos averiguar que os espaços escolares são ocupados obedecendo a regras não-oficiais, mas de difícil transposição. Meninos e meninas sabem exatamente onde podem brincar na hora do recreio. Conforme aponta Louro [15] a escola distribui os espaços entre os pequenos e os grandes; entre os meninos e meninas. Os resultados aqui encontrados indicam que os maiores espaços ficam “naturalmente” designados aos meninos, que os usam para brincadeiras como piques e futebol, como denunciam duas meninas das diferentes realidades escolares: “Eles sempre jogam bola.” (escola particular), “[...] às vezes a gente vai brincar lá na quadra, mas não tem ninguém, só tem gente jogando futebol.” (escola pública). As meninas ficam restritas a pequenos espaços, ou porque não enfrentam os meninos ou porque, como aponta a literatura, suas brincadeiras são mais calmas e acontecem no espaço familiar da casa [10-12,16]. As observações permitiram-nos verificar que, durante as brincadeiras não-conduzidas, as meninas ficam agrupadas em seus pequenos “redutos” e, mesmo assim, eventualmente são interrompidas pelos meninos, que exigem mais espaço. Durante as aulas de Educação Física, essa dominação do espaço físico pelos meninos é mais sutil. Nos dois ambientes escolares, vimos que as aulas acontecem com todas as crianças ocupando o mesmo espaço. Mas, na escola de gestão particular, em que as meninas são minoria, percebemos que em algumas ocasiões as meninas ficaram prejudicadas, pois enquanto os meninos se apoderam da maior parte do espaço físico, as meninas ficam restritas aos cantos do pátio. Atividades estereotipadas Outra categoria que emergiu no discurso dos informantes, sendo reforçada pelas observações, foi a atividade física estereotipada. Há uma diferença na escolha de brincadeiras e jogos quando falamos em Educação Física e recreio. Desta categoria surgiram indicadores que apontaram para duas subcategorias: atividade dirigida e atividade espontânea. Atividade dirigida Ao questionarmos sobre as preferências por brincadeiras nas aulas de Educação Física, sete crianças da escola de gestão particular responderam que gostam de brincar de pique, brincadeira esta que, segundo Passini [8] e Dutra [10], é considerada pelo senso comum adequada para ambos os sexos. Somente um menino respondeu futebol, que, de acordo com a autora, é, ainda nos dias 10/8/2006 16:27:30 56 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) de hoje, considerada uma brincadeira mais indicada para o sexo masculino. Na escola de gestão pública, seis crianças também escolheram brincadeiras próprias aos dois sexos, duas responderam não ter predileção por nenhuma brincadeira e um dos meninos respondeu que gosta de pular corda nas aulas de Educação Física. Esse modelo de conduta é chamado por Louro [15] como “cruzamento de fronteiras”, ou seja, situações em que as fronteiras ou os limites entre os gêneros são atravessados, pois pular corda é culturalmente uma atividade controlada pelas meninas. Observamos que durante as aulas de Educação Física ainda existe alguma resistência por parte dos alunos em participar de atividades que esses consideram apropriadas para o sexo oposto. Este dado nos conduz a uma reflexão direcionada à prática pedagógica, no que diz respeito grande prejuízo motor que modelos de condutas estereotipados podem causar às crianças. Culturalmente, por meio de padrões sexistas, algumas vezes nossos meninos são limitados à prática de um único esporte - neste caso o futebol. Com essa restrição perdem ambos, porque não experimentam novas vivências motoras. Atividades espontâneas Perguntamos do que brincavam meninos e meninas no recreio (atividade espontânea), e nesse momento, foram identificadas quase que na totalidade das respostas as brincadeiras generificadas, nas quais um sexo não brinca com o outro: “Brincadeira de agarrar e de futebol, a gente fica trocando adesivo.” (menina – escola particular). Estes dados nos permitem inferir que, no recreio, quando a criança tem o poder de escolha, meninos e meninas fazem opções generificadas a partir de modelos sociais vigentes. No recreio já está estabelecido o local em que cada criança pode brincar, qualquer “cruzamento de fronteiras” torna-se difícil. As brincadeiras escolhidas por meninos e meninas, na hora do recreio, obedecem ao senso comum, o que encontra respaldo nos estudos de Toscano, Passini, Dutra e Spinelli [7,8,10,11], quando apontam que luta e futebol ainda aparecem como brincadeiras apropriadas para o sexo masculino, ao passo que boneca e casinha, são para o sexo feminino. As observações centradas na figura do professor de Educação Física denotam sua participação e interferência pedagógica nas relações de gênero, ou seja, o seu papel na edificação dessas relações. Quando falamos sobre transformação, transposição e quebra de estereótipos dentro da escola, temos que destacar o importante papel que o professor de Educação Física pode desempenhar como agente transformador. No presente estudo, o olhar atento aos dois professores de Educação Física, em cada uma das realidades estudadas, Acao Mov_.indb 56 instigou-nos a melhor avaliar a influência que cada um deles exerce sobre seus alunos. Nosso olhar sobre o professor da escola de gestão pública estudada O professor de Educação Física da escola pública, observado em quatro meses, denotou uma visão mais igualitária de seus alunos. Em nenhum momento durante as aulas ele separou meninos e meninas em grupos distintos; ao contrário, procurava sempre formar duplas ou grupos mistos. Suas aulas eram direcionadas para toda a turma, e não o observamos destacar um ou mais alunos para serem capitães de jogos e brincadeiras. Percebemos também que ele pouco usava da competição entre as crianças. Os exercícios constituíam-se sempre de brincadeiras sem um vencedor. Sobre o aspecto afetivo, apresentava-se sempre muito carinhoso com as crianças; começava e terminava as aulas cantando canções infantis, ou então finalizava conversando com as crianças sobre o fim de semana ou sobre as férias. Esse perfil de professor pode ser a explicação de os alunos da escola pública aceitarem melhor as aulas mistas e não manifestarem desrespeito ao sexo feminino. Nosso olhar sobre o professor da escola de gestão particular estudada Durante as observações das aulas de Educação Física da escola de gestão particular, pudemos apurar um perfil completamente diferente do profissional da escola pública. Em quase todos os momentos da aula, os meninos e as meninas eram separados para as brincadeiras e jogos. As aulas eram extremamente competitivas e sempre eram escolhidos capitães para comandar o grupo. Toda vez que eram realizadas competições individuais tais como corrida, saltos e arremessos, os meninos competiam entre si, o mesmo acontecendo com as meninas, havendo assim um campeão masculino e uma campeã feminina. Esse comportamento sexista e tecnicista pode ser um dos motivos que fizeram com que os alunos da escola particular apresentassem maior resistência à participação das aulas de Educação Física com o sexo oposto. Olhando esse pequeno núcleo em que foi centrado este estudo, podemos inferir que ainda hoje existem professores de Educação Física como os encontrados na pesquisa de Romero [6]. A conformidade com a “naturalidade” parece ser o maior obstáculo para as mudanças de conduta, pois isso implica disposição e capacidade para interferirmos nos jogos de poder. 10/8/2006 16:27:30 57 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Os professores aprendem esse modelo de conduta no Ensino Superior, e o repetem posteriormente em toda a sua vida docente, reforçando estereótipos adquiridos e dando continuidade a dicotomias sexuais. Avançando na análise dos dados, destacamos outra categoria, que diz respeito à experiência corporal generificada. A experiência corporal generificada A literatura apontou que vários modelos de corpos foram construídos ao longo da história da humanidade. Em diferentes épocas definiu-se o modelo corpóreo dos indivíduos de acordo com os valores, as exigências e os interesses de projetos elaborados pela classe dominante. Nesse processo, homens e mulheres formaram e sofreram o processo de generificação. O senso comum aceitava melhor quando um menino apresentava-se violento, rebelde e indisciplinado. Nos dias de hoje, apesar de alguma evolução, ainda encontramos corpos sendo moldados de acordo com padrões sexistas apropriados para um e outro sexo. Neste estudo pudemos captar esse procedimento diferenciado entre meninos e meninas: o corpo feminino é educado para que seus movimentos sejam contidos; aos meninos é permitida uma atitude violenta e agressiva, às vezes entendida como processo de construção da masculinidade. Mediante as observações, notamos que os meninos, na sua maioria, estavam sempre empurrando, chutando, batendo uns nos outros. Presenciamos algumas meninas tendo a mesma conduta, mas esse fato era raro. Tanto na escola pública quanto na particular, percebemos que a brincadeira de luta faz parte da rotina dos meninos, como relatou uma das meninas:“eles brincam de guerra.” (escola particular). Nas respostas das crianças encontramos apoio à idéia de que as meninas se apresentam mais dóceis, delicadas e disciplinadas, o que foi observado também por um dos participantes da escola pública: “[...] elas são comportadas, boazinhas, emprestam as coisas pros outros.” Os resultados estão de acordo com a literatura estudada [6-13-14]. Conclusões Nossa intenção foi identificar como se manifesta o processo de construção do gênero durante as aulas de Educação Física na Educação Infantil, em uma escola de gestão pública e em uma escola de gestão particular. Assim sendo, identificamos elementos generificados que traduziram e clarificaram o processo de construção do gênero nas escolas pesquisadas. Partindo das Acao Mov_.indb 57 observações das aulas de Educação Física e durante o recreio, e com base na análise do discurso das crianças entrevistadas, pudemos constatar que as relações de gênero apareceram de maneiras diferentes nas duas realidades estudadas. Os dados desvelaram que os alunos da escola particular apresentaram maior resistência em participar das aulas de Educação Física com os colegas do sexo oposto. Quanto às relações de poder entre os sexos, pudemos constatar que as crianças da escola particular apresentaram uma postura mais estereotipada. Este dado foi confirmado quando presenciamos a restrição do espaço escolar e o desrespeito ao grupo feminino por parte dos meninos. Comparando nosso estudo com pesquisas anteriores como as de Toscano, Duarte e Verbena [7,9,16], constatamos um avanço, pois durante as aulas de Educação Física todas as atividades propostas pelos professores eram dirigidas e realizadas por meninos e meninas no mesmo tempo e espaço. Nas aulas da escola particular, pudemos presenciar que a postura do professor de Educação Física era introduzir conteúdos que privilegiassem o desempenho físico, o que despertava mais desmotivação das crianças que não se enquadravam no padrão motor desejado. Assim, independente do sexo, algumas crianças se recusavam a participar de tais atividades, pois eram rejeitadas pelos colegas. Pudemos inferir que, mesmo com a forte influência do meio em relação às atividades físicas, quando as crianças são levadas obrigatoriamente a brincarem juntas, como acontece nas aulas de Educação Física, elas acabam por participar de brincadeiras consideradas adequadas para ambos os sexos. Esse dado tem estreita relação com o perfil diferenciado dos dois professores de Educação Física, que seguramente contribuíram para as diferenças encontradas. O professor da escola particular separava as crianças por sexo, estimulava a competição e direcionava as atividades para atender os anseios dos meninos. Vale destacar mais uma vez o grande papel do professor de Educação Física como agente de transformação social, com a incumbência de desmistificar as diferenças e não hierarquizar os alunos segundo o sexo biológico. O professor deve permitir que ocorram situações de conflito nas aulas de Educação Física, para que as crianças percebam que são diferentes; mas que essa diferença não dê origem à discriminação. Os dados aqui revelados sinalizam para a importância de se discutir o gênero em direção a uma educação conjunta a serviço de um corpo que pensa e constrói sua motricidade, um homem/mulher que transcende! 10/8/2006 16:27:31 58 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Referências 1. SERGIO, M. Um corte epistemológico: da educação física à motricidade humana. Lisboa: Instituto Piaget, 1999. 2. FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987. 3. BERESFORD, H. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco. In: BELTRÃO, F. (Ed.). Produção em ciência da motricidade humana. Rio de Janeiro: Shape,1999. p. 35-47. 4. SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p.7199,1995. 5. 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Campinas: Pontes, 2003. 10/8/2006 16:27:32 59 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) ARTIGO ORIGINAL Avaliação antropométrica de crianças praticantes de atividades físicas de um clube de São Paulo Anthropometric assessment of children performing physical activities in a club of São Paulo Carolina Borges Duarte*, Fernanda Dias de Souza*, Marcia de Araujo Leite Nacif** *Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, ** Docente do Centro Universitário São Camilo – Supervisora do Estágio em Instituições Diferenciadas – ATTENDE ESPORTES - São Paulo Resumo Objetivo: O estudo teve por objetivo realizar a avaliação antropométrica de crianças de 3 a 10 anos praticantes de atividade física de uma Escola de Esportes de um clube de São Paulo. Métodos: Realizou-se a avaliação de peso, estatura, circunferência do braço, dobra cutânea biciptal, triciptal e subescapular. O índice de massa corporal foi avaliado de acordo com as curvas propostas pelo NCHS e a porcentagem de gordura (crianças maiores de 7 anos) foi calculada pela equação de Slaughter et al. e classificação de Deuremberg et al., respectivamente. Resultados: Observou-se que 58,1% das crianças estavam eutróficas e 62% com a porcentagem de gordura adequada. Conclusão: Como foram encontrados alguns casos de excesso de peso e gordura corporal, enfatiza-se a necessidade de um diagnóstico nutricional mais aprofundado e implantação de um programa de educação nutricional para as crianças. Palavras-chave: avaliação antropométrica, crianças, atividade física. Abstract Objective: To carry out an anthropometric assessment of children from 3 to 10 years old performing physical activity in a School of Sports of a club of São Paulo. Methods: It was made the assessment of weight, stature, arm circumference, bicipital, tricipital and subscapular skinfolds. The body mass index was evaluated according to NCHS standards and the fat percentage (children over 7 years old) was calculated by Slaughter et al. equations and Deuremberg et al. classification, respectively. Results: It was observed that 58,1% of children were eutrophics and 62% with adequate fat percentage. Conclusion: As it was found some cases of excess of weight and fat mass, it is need a deeper nutritional diagnosis and implantation of a nutritional education program for the children. Key-words: anthropometric assessment, children, physical activity. Artigo recebido em 13 de abril de 2006; aceito em 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Carolina Borges Duarte, R. Resedá, 249, Jd das Flores, 06120-150 Osasco SP, Tel: 3683-7052/7416-8505, E.mail: [email protected] Acao Mov_.indb 59 10/8/2006 16:27:32 60 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Introdução A participação da criança em atividades esportivas é parte importante do processo de crescimento e desenvolvimento. Além de prevenção de diversas enfermidades, tais como obesidade, diabetes, hipertensão, o exercício físico também oferece à criança a oportunidade para o lazer, a integração social e o desenvolvimento de aptidões que levam a uma maior auto-estima e confiança [1]. Estudos mostram que a prática de atividade física pelas crianças está relacionada com a de seus pais, ou seja, quando os pais são praticantes de atividade física, as crianças apresentam índice de atividade 5,8 vezes maior do que aquelas filhas de pais inativos, demonstrando a grande influência que os pais tem no estilo de vida dos filhos [2]. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) citados por Chaves e Camargo [3], já apontam para uma prevalência de 27% de obesidade infantil nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos nos últimos 5 anos, representando um problema de Saúde Pública. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (1998) citado por Paiva [4] informa que, dos 35 milhões de adolescentes brasileiros (10-19 anos), 30% encontra-se com obesidade. Movidos por esses dados, especialistas da área da saúde apresentaram uma proposta ao Ministério da Educação, Cultura e Desporto, para aumentar o tempo das aulas semanais de educação física e reavaliar os lanches vendidos nas escolas, que são à base de refrigerantes e frituras [2]. Paiva [5], alerta o interesse dos jovens sobre a preferência desenfreada pelo computador, videogame, controle remoto, automóvel e telefone sem fio, criando uma geração de sedentários. O tempo utilizado pelas crianças e adolescentes na frente da televisão é o principal fator de aumento da quantidade de gordura corporal [2]. Uma das principais preocupações durante a infância e a adolescência é garantir que o crescimento e o desenvolvimento esperados sejam alcançados. O treinamento físico regular, ou mesmo o envolvimento em atividades físicas relativamente moderadas do dia-a-dia, junto a outras variáveis ambientais, influi para obtenção do padrão de crescimento geneticamente determinado [6-7]. Uma das formas de avaliar o crescimento e desenvolvimento de crianças é por meio da antropometria. A antropometria é um método dinâmico, universalmente aplicável, não invasivo e de baixo custo, através do qual pode-se avaliar a saúde e a nutrição de um indivíduo ou de um grupo populacional, prevendo o desempenho desse grupo, refletindo em boas condições de saúde e nutrição dessa população [8]. A avaliação antropométrica ocupa-se das dimensões e proporções corporais do homem e envolve a avaliação Acao Mov_.indb 60 do peso, estatura, dobras cutâneas, circunferências, perímetros e segmentos [9]. Assim, o presente estudo teve por objetivo realizar a avaliação antropométrica de crianças de 3 a 10 anos praticantes de atividade física de uma Escola de Esportes de um clube de São Paulo. Materiais e métodos Foi realizado um estudo transversal em um clube particular do município de São Paulo no período de fevereiro a março de 2006. Foi avaliada uma amostra composta por 84 crianças, com idade entre 3 e 10 anos, 49 do sexo masculino e 35 do sexo feminino, que praticavam atividade física (jogos diversos) duas vezes por semana em uma Escola de Esportes de um clube de São Paulo. Foi realizada uma avaliação antropométrica, em que foram coletados os dados de peso (Kg), estatura (cm), circunferência do braço (cm), dobra cutânea tricipital (mm), dobra cutânea bicipital (mm) e dobra cutânea subescapular (mm). Os avaliados foram pesados sem sapatos, com o uniforme de ginástica (camiseta e shorts), sem nada nos bolsos, em balança eletrônica de marca Filizola. Foi verificada a estatura através de uma fita inelástica da marca Lufkin, afixada a uma tábua de madeira reta, lisa sem saliências; permanecendo os avaliados em posição reta, com os pés juntos e cabeça posicionada em um ângulo de 90º com o pescoço. As dobras cutâneas foram medidas com plicômetro da marca Cescorf e a circunferência do braço foi medida com uma fita métrica inelástica da mesma marca, sempre do lado direito do corpo seguindo os padrões de Lohman et al. [10]. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado através da fórmula peso corporal (kg)/estatura2(m). Neste estudo foram estabelecidos como pontos de corte para determinação de eutrofia valores de IMC > p5 e < p85, sobrepeso valores de IMC ≥ percentil 85 e < percentil 95. Por outro lado, valores de IMC ≥ percentil 95 foram utilizados como indicadores de obesidade. Como padrão de referência foram adotadas as curvas de crescimento do National Center for Health Statistics (NCHS) [11], revisadas recentemente (http://www.cdc. gov/growthcharts), de acordo com o sexo e a idade. O percentual de gordura (% gordura) foi calculado a partir das equações propostas por Slaughter et al. [12] para as crianças maiores de 7 anos e avaliado de acordo com a referência de Deuremberg et al. [13]. Os dados coletados foram analisados segundo as medidas de tendência central (média, desvio padrão), com o auxílio do programa Excel MS Office. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo por meio do documento COEP 047/05. 10/8/2006 16:27:33 61 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Resultados Foram avaliadas 84 crianças, sendo 49 (58,3%) do sexo masculino e 35 (41,7%) do sexo feminino. A média de idade encontrada entre as crianças foi de 5,1 anos, sendo 4,7 anos nos meninos e 5,1 anos nas meninas. A Tabela I mostra detalhadamente os resultados obtidos na avaliação antropométrica realizada com as crianças. Tabela I - Distribuição das medidas antropométricas das crianças de um clube do município de São Paulo. São Paulo, 2006. Masculino (49) Feminino (35) Peso (Kg) 21,8 + 5,6 22,7 + 7,2 Estatura (cm) 113,1 + 9,6 114,1 + 11,9 IMC (Kg/m2) 16,8 + 2,0 17,0 + 2,4 Circunferência braço (cm) 18,0 + 2,1 18,3 + 2,7 Biceps (mm) 5,0 + 1,4 5,1 + 1,5 Triceps (mm) 9,7 + 2,4 9,9 + 2,7 Subescapular (mm) 5,3 + 2,8 5,7 + 3,5 % Gord slaughter* 17,5 + 6,4 19,6 + 6,5 * Para crianças maiores de 7 anos Média + desvio-padrão A Figura 1 mostra a classificação do estado nutricional das crianças pelo IMC. Verificou-se a predominância do estado nutricional de eutrofia (IMC ≥ p5 e < p85 da curva do NCHS) em ambos os sexos. No sexo masculino verificou-se 59,2% (n = 29) de eutróficos e no sexo feminino 60,0% (n = 21). Observou-se que de acordo com o NCHS a maioria das crianças do sexo feminino se concentrou entre os percentis p50-p75 e entre os percentis p25-p50 no sexo masculino. Figura 1 - Classificação do estado nutricional pelo IMC, das crianças de um clube do município de São Paulo. São Paulo, 2006. Acao Mov_.indb 61 Verificou-se também uma certa porcentagem de crianças com risco de excesso de peso, no sexo masculino (22,4%, n = 11) e (16,3%, n = 8) e no sexo feminino (22,9%, n = 8) e (14,3%, n = 5), respectivamente. Tabela II - Distribuição das crianças maiores de 7 anos segundo a porcentagem de gordura. São Paulo, 2006. Classificação % Gordura Deurenberg Masculino N % Excessivamente baixa 0 0,0 Baixa 1 14,3 Adequada 5 71,4 Moderadamente alta 0 0,0 Alta 1 14,3 Excessivamente alta 0 0,0 Total 7 100,0 Feminino N % 0 0,0 0 0,0 3 50,0 2 33,3 1 16,7 0 0,0 6 100,0 A Tabela II mostra a distribuição das crianças maiores de 7 anos segundo a porcentagem de gordura. Observou-se que a maioria das crianças estava com a porcentagem de gordura adequada segundo classificação de Deuremberg et al. [13]. No sexo feminino verificou-se duas crianças com a porcentagem de gordura moderadamente alta e uma com estes valores elevados. No sexo masculino, apenas uma criança estava com alta porcentagem de gordura. Discussão O peso e a estatura são as duas medidas mais comumente usadas para a avaliação antropométrica de crianças. O peso corporal é uma medida de massa corporal, composta de tecidos de variações independentes. A estatura é uma mensuração linear da distância do chão, ou superfície de apoio, até o topo do crânio [14]. O cálculo indireto da composição corporal, por meio da mensuração da gordura subcutânea das dobras cutâneas, é o método mais utilizado em pesquisas devido a sua praticidade. A base lógica para mensuração das dobras cutâneas, reside no fato de existir uma relação entre a gordura localizada nos depósitos diretamente debaixo da pele e tanto a gordura interna quanto a densidade corporal [15-16]. Dados da Tabela II mostram que a maioria das crianças estudadas, de ambos os sexos (62%), apresentara porcentagem de gordura adequada, porém algumas crianças foram classificadas de acordo com Deuremberg et al. [13] como tendo porcentagem de gordura moderadamente alta e alta. 10/8/2006 16:27:33 62 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Estes indicadores de adiposidade, bem como as taxas de prevalência de obesidade, como o avançar da idade, tanto em meninos quanto em meninas, sugerem que esse comportamento possa ainda ser mais agravado na adolescência e na idade adulta. Esse fato fortalece a hipótese de que um adolescente obeso possa ser identificado ainda na infância [17]. Segundo resultados visualizados na Figura 1, podese observar que a maioria das crianças estudadas de ambos os sexos foi classificada como eutróficas em relação ao IMC, segundo referência proposta pelo NCHS [11]. No entanto, verificou-se 16,3 % de excesso de peso, no sexo masculino e 14,3 % no sexo feminino. Dados semelhantes aos do presente estudo foram encontrados na pesquisa de Ronque [17] ao analisar o estado nutricional de 511 escolares do município de Londrina (PR). Verificou-se que a prevalência de obesidade em meninos e meninas foi de 17,5% e 9,3% respectivamente. De acordo com o estudo de Silva et al. [18] a prevalência de sobrepeso e obesidade é mais comum nos indivíduos de melhor condição socioeconômica, concentrando-se na infância e diminuindo à medida que ocorre aumento da faixa etária. Observa-se que mesmo nas crianças que praticam atividade física, encontrou-se valores relacionados ao excesso de peso. Estudos indicam que atualmente crianças apresentam maior quantidade de gordura corporal do que os seus pares de gerações passadas. Este fato pode estar associado a inúmeras causas, dentre as quais se destaca o aumento do balanço energético e hábitos alimentares inadequados [18]. Conclusão Os resultados deste estudo mostram que a maioria das crianças tinha valores de normalidade quanto ao IMC e porcentagem de gordura. Todavia vale ressaltar que foram encontrados alguns casos de sobrepeso e excesso de peso nas crianças avaliadas, embora fossem praticantes de atividade física. Em virtude disso enfatiza-se a necessidade de implementação de programas de reeducação alimentar e de prática de atividade física relacionados à promoção da saúde nesta faixa etária. Referências 1. NASCIMENTO, D. Características antropométricas e bioquímicas de atletas infanto-juvenis pertencentes ao projeto social “Criança feliz no tênis, feliz na escola”. Revista Nutrição em Pauta, v. 12, n. 67, p. 44, 2004. 2. PAIVA, M. F. N. D. B. Avaliação antropométrica: Estudo comparativo do crescimento de crianças praticantes e não Acao Mov_.indb 62 praticantes de ginástica olímpica. Florianópolis, 2001. Dissertação (Mestrado) da Universidade Federal de Santa Catarina. 3. CHAVES, C.; CAMARGO, K. 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Sendo assim, este estudo objetivou comparar os níveis de força e de VO2 entre mulheres não atletas praticantes de Ginástica Localizada e Hidroginástica. A amostra foi composta por 34 mulheres voluntárias, praticantes de ginástica localizada (GL n = 17) e hidroginástica (GH n = 17) com idades entre 46,29 ± 4,67 e 49,53 ± 4,69 anos respectivamente, em academias da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Os sujeitos deveriam estar em treinamento a não menos que seis meses e não poderiam praticar os dois tipos de atividade simultaneamente. Foram utilizados os testes de dinamometria lombar e de membros superiores (mão) para a mensuração da força, além do teste em cicloergômetro com análise direta de gases para a mensuração do VO2. Os resultados obtidos na dinamometria lombar e de membros superiores apresentaram valores médios maiores no grupo GL. Em relação aos resultados obtidos no teste de VO2, o grupo GH apresentou valores médios superiores. No entanto, em ambos os testes, os valores não foram estatisticamente significativos. Os dados sugerem que programas de treinamento em ginástica localizada e hidroginástica parecem apresentar efeitos semelhantes sobre a força e a resistência aeróbica. Palavras-chave: ginástica localizada, hidroginástica, força, resistência aeróbica. Artigo recebido em 29 de junho de 2006; aceito em 03 de julho de 2006. Endereço para correspondência: Luiz Alberto Batista, Laboratório de Biomêcanica, Instituto de Educação Física e Desportos, Pavilhão João Lyra Filho, bloco F, sala 8122, Rua Francisco Xavier, 524, Maracanã – 20550-900 Rio de Janeiro RJ Acao Mov_.indb 64 10/8/2006 16:27:35 65 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Abstract This study aims to verify the effects of workout and aquatic gymnastic training in muscle strength and VO2 levels of those who practice gym at a fitness center. A 34 adult women sample was studied, being 17 of them who practiced workout (GL) and 17 who practiced aquatic gym (GH). They aged between 46,29 ± 4,67 and 49,53 ± 4,69 respectively, all of them located in the east zone of the Rio de Janeiro city. The participants had to be in, at least, six months of training and also should not be training both activities simultaneously. The instruments used for the muscle strength measure were hand dynamometer and lumbar dynamometer. The VO2 was determined by use of a cycle ergometer exercise protocol. The results indicate that the medium values for hand dynamometer and lumbar dynamometer were higher for the workout group, while for VO2 the medium values were related higher for the aquatic gym group. However, even though the differences existed, those were not statistically significant. The results were taken as providing evidence for the notion that both, workout and aquatic gymnastic programs can promote similar effects in muscle strength and aerobic resistance. Key-words: workout, aquatic gymnastic, strength, aerobic resistance. Introdução A aptidão física e a qualidade de vida dos indivíduos têm sido uma das grandes questões do mundo contemporâneo. Os índices de boa saúde e boa qualidade de vida envolvem o controle dos parâmetros de aptidão física como condicionamento cardiopulmonar, flexibilidade, percentual de gordura corporal, força e resistência muscular localizada [1-3]. Força é a quantidade de força que um músculo ou que um grupo muscular consegue gerar. Seu treinamento melhora o desempenho tanto do atleta profissional como o amador, quando aumenta o volume muscular (hipertrofia) e a densidade mineral óssea, além de influenciar positivamente na manutenção do metabolismo basal ajudando a controlar o peso corporal do indivíduo e na manutenção da saúde integral tanto na juventude quanto em idades mais avançadas [4-6]. Resistência aeróbica (VO2) é a capacidade de absorver, em um ritmo rápido, o oxigênio dos pulmões e transportá-lo na maior quantidade possível por unidade de tempo, até chegar aos grupos musculares envolvidos na atividade física em execução, assegurando as trocas gasosas e nível celular. Cada pessoa tem uma possibilidade máxima de aproveitar o oxigênio, sendo esta uma capacidade genética, habitualmente não aproveitada ao máximo, mas que o treinamento contribui para o alcance do seu limite [5,7-9]. A busca por um estilo de vida mais saudável e por um corpo mais bonito tem levado uma grande parcela da sociedade a procurar as academias de ginástica. Nelas se recebe orientações a respeito do condicionamento físico e da prática sistemática das atividades físicas [1]. Dentre as atividades praticadas nas academias estão a Ginástica Localizada, caracterizada por uma atividade gímnica composta preferencialmente por exercícios localizados – analíticos [10], e a Hidroginástica, que tem como definição uma atividade física espontânea e cons- Acao Mov_.indb 65 ciente executada na água, aproveitando suas qualidades e propriedades, visando complementar e aperfeiçoar o homem em todas as suas dimensões [11]. No entanto, a idéia que se tem é a de que exercícios dentro d’água não promoveriam a resistência necessária para o desenvolvimento da força muscular devido à carência de equipamentos apropriados e a dificuldade na determinação da sobrecarga, dentre outras variáveis [1215]. Além disso, pouco se sabe sobre o desenvolvimento da resistência aeróbica na prática da ginástica localizada. Devido aos seus exercícios mais localizados, tende-se a concluir que esta qualidade física pouco se desenvolve com este treinamento [16]. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar os efeitos do treinamento da ginástica localizada e da hidroginástica nos níveis de força e de VO2 em praticantes de academia do sexo feminino com idades entre 40 e 55 anos. Material e métodos O estudo, do tipo descritivo, selecionou 34 mulheres voluntárias praticantes de atividades em academias da cidade do Rio de Janeiro, sendo n = 17 de ginástica localizada (GL = 46,29 ± 4,67 anos) e n = 17 de hidroginástica (GH = 49,53 ± 4,69 anos). Para o desenvolvimento dessa investigação, utilizou-se como critério de inclusão a prática regular nas atividades por, no mínimo, seis meses, não podendo os sujeitos estarem praticando os dois tipos de atividade simultaneamente ou qualquer outra atividade que envolvesse o desenvolvimento da força e/ou da resistência aeróbica. Foi realizada uma anamnese onde foram verificadas as variáveis idade, estatura e IMC, como também o tipo de atividade e o tempo de prática nesta atividade. Foi utilizada uma balança da marca Filizola (Brasil), com precisão de 100 gramas, para aferir a massa corporal. Para a obtenção dos valores de força de lombar 10/8/2006 16:27:35 66 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) foi utilizado um dinamômetro da marca Cardiomed e adotado o protocolo descrito por Carnaval [17]. Para a obtenção dos valores de força de membros superiores (preensão palmar) foi utilizado um dinamômetro da marca Takei Scientific Instruments CO e também adotado o mesmo protocolo descrito acima. Para verificar a resistência aeróbica (VO2), foi realizado um teste submáximo em bicicleta ergométrica da marca Technogym Eletromagnética, e analisador de gases modelo VO2000 para a medida direta do VO2. O procedimento estatístico foi realizado por meio de análise descritiva com: média, mediana, desvio-padrão, erro-padrão e coeficiente de variação. As variáveis qualitativas foram analisadas pela análise de freqüência. A análise inferencial foi feita pelo teste de normalidade de Shapiro-Wilk (SW) tendo por hipóteses: H0: A variável i aproxima-se da Distribuição Normal. H1: A variável i não se aproxima da Distribuição Normal. ∀i ∈ I = {Idade; Variáveis Antropométricas, Somatotipo} Através do teste t-Student independente determinou-se a diferença entre as médias das variáveis de- pendentes nos grupos de Hidroginástica e de Ginástica Localizada. O estudo admitiu o nível de significância α = 0,05, portanto a rejeição de H0 se deu sempre que p-valor < α. Resultados A amostra foi constituída por trinta e quatro (n = 34) indivíduos divididos em dois grupos, um praticante de Hidroginástica (GH n = 17) e outro praticante de ginástica localizada (GL n = 17). Na Tabela I estão os resultados descritivos referentes às variáveis: idade, estatura; IMC; RCQ, além da verificação da Normalidade dos grupos através do teste de Shapiro-Wilk do grupo de Hidroginástica (GH). Os resultados mostram que as variáveis apresentaram uma baixa dispersão (CV < 25%) tendo a media como a melhor medida de tendência central. Observa-se que o grupo apresentou proximidade com a Distribuição Normal em relação às variáveis analisadas (p-valor > 0,05). Tabela I - Estatística descritiva do GH (n = 17). Variáveis Idade Estatura IMC RCQ x/s 49,53 ± 4,69 161,58 ± 4,43 25,35 ± 3,09 0,76 ± 0,05 Md 49,00 162,00 24,80 0,77 CV 9,47 2,74 12,19 6,33 ε 1,14 1,08 0,75 0,01 SW 0.92 0,95 0,91 0,96 p-valor 0,18 0,51 0,11 0,70 x = média; s = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; ε = erro padrão; IMC = Índice de Massa Corporal; RCQ = Relação Cintura Quadril;p-<0,05. Na Tabela II estão os resultados descritivos referentes às variáveis: idade, estatura e variáveis da composição corporal, além da verificação da Normalidade dos grupos através do teste de Shapiro-Wilk do grupo de Ginástica Localizada (GL). Os resultados mostram que todas as variáveis apresentaram uma baixa dispersão (CV < 25%) tendo a média como a melhor medida de tendência central. Observa-se que o grupo apresentou proximidade com a Distribuição Normal em relação às variáveis analisadas (p-valor >0,05). Tabela II - Estatística descritiva do GL (n = 17). Variáveis Idade Estatura IMC RCQ x/s 46,29 ± 4,67 160,47 ± 4,97 22,74 ± 1,87 0,76 ± 0,05 Md 45,00 160,60 22,50 0,77 CV 10,10 3,10 8,23 6,33 ε 1,13 1,21 0,45 0,01 SW 0.90 0,91 0,94 0,91 p-valor 0,07 0,10 0,33 0,10 x = média; s = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; ε = erro padrão; MASSSA C. massa corporal; PGORDO = peso gordo; PMAGRO = peso magro; %G = percentual de gordura; IMC = Índice de Massa Corporal ; RCQ = Relação Cintura Quadril. No gráfico 1 observam-se os valores médios das variáveis de composição corporal nos grupos de hidroginástica e ginástica localizada. Neste, constata-se que Acao Mov_.indb 66 as médias da variável massa corporal foram similares (66,26 ± 8,83; 58,08 ± 5,98 kg). As demais variáveis, peso gordo (22,07 ± 6,03; 15,33 ± 4,08); peso magro 10/8/2006 16:27:36 67 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) (44,42 ± 4,90; 42,74 ± 4,00) e percentual de gordura (32,63 ± 4,91; 26,16 ± 5,29) também apresentaram valores médios próximos nos grupos hidroginástica e ginástica localizada respectivamente. Gráfico 3 - Resultado do teste de dinamometria. Gráfico 1 - Composição corporal. Análise inferencial No gráfico 2 verificam-se as médias da variável do estudo consumo de oxigênio (VO2) e, então constata-se que a mesma apresentou valores (37,00 ± 4,86 e 36,88 ± 4,99) próximos nos grupos GH e GL, respectivamente. A partir destes dados, verificou-se que os grupos foram classificados como bem acima da média, segundo os padrões internacionais [3]. Gráfico 2 - Resultado do teste VO2. No gráfico 4 estão os resultados da estatística inferencial relativa ao teste t-Student independente, realizado entre as variáveis consumo de oxigênio (VO2), dinamometria lombar (DL) e dinamometria do braço direito e braço esquerdo, respectivamente (DBRD e DBRE) nos grupos GL e GH. A partir dos valores expostos abaixo, nota-se que em nenhuma das variáveis analisadas no estudo os grupos apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05). Gráfico 4 - Resultado Teste-t. Discussão No gráfico 3 verificam-se as médias das variáveis relativas à dinamometria. Neste, verifica-se que no teste de dinamometria Lombar o GL (63,99 ± 17,50) demonstrou um valor médio ligeiramente superior ao grupo GH (57,74 ± 16,39). Quanto ao teste de Dinamometria de Membros Superiores os escores para os grupos GL e GH foram (BD = 27,75 ± 4,75; 28,09 ± 4,38; BE = 26,42 ± 5,62; 25,91 ± 5,62), respectivamente, sendo os mesmos bem próximos. Acao Mov_.indb 67 A hipótese do estudo era que haveria diferença significativa nas variáveis dependentes estabelecidas nesta pesquisa. Contudo, a partir da comparação entre os grupos GH e GL a hipótese nula foi aceita. Portanto, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos quanto ao consumo de oxigênio e quanto à força de membros superiores ou lombar. Malta e Dantas [18] verificaram o efeito de ginástica localizada sobre o consumo de oxigênio, encontrando valores médios de 14,73 ml.kg.min-1 (0,95 l.min-1); 12,54 ml.kg.min-1 (0,81 l.min-1); 8,56ml.kg.min-1 (0,55 l.min-1), e 14,82 ml.kg.min-1 (0,96 l.min-1) para as aulas 10/8/2006 16:27:36 68 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Localizada Lente (LL), Localizada Convencional (LC), tipo Body Pump (BP) e Localizada Rápida (LR), respectivamente. No entanto, encontrou valor de 34,80 ml.kg. min-1 para o consumo máximo relativo de oxigênio. Constata-se que o resultado no grupo GL da presente pesquisa foi superior, mas não estatisticamente significativo. A partir dessa comparação, pode-se sugerir, portanto, que a ginástica localizada, independente da metodologia utilizada nas aulas, é facilitadora do desenvolvimento da resistência aeróbica no momento em que promove um consumo de oxigênio considerado bom para os padrões internacionais [2,3]. Scartoni et al. [19] ao verificarem a influencia dos diversos tipos de estratégia utilizada nas aulas de hidroginástica nos parâmetros fisiológicos do praticante, encontraram na variável VO2 valores médios de 1,22 ± 0,32 (l.min-1); 1,24 ± 0,76 (l.min-1) e 1,02 ± 0,41 (l.min-1) para as aulas HA, HI e GA respectivamente. Em valores absolutos de VO2, a atual pesquisa verificou 2,15 l.min-1 para o grupo GL e 2,45 l.min-1 para o GH, constatando, então, valores superiores no estudo atual. Metodologias diferentes na mensuração do consumo de oxigênio poderiam explicar tal fato. Nagashima et al. [20] ao compararem indivíduos realizando exercícios máximos em cicloergômetro dentro e fora d’água, encontraram diferenças estatisticamente significativas no VO2 entre os grupos de fora d’água (35ml.kg.min-1) e de dentro d’água (36ml.kg.min-1). Tais valores se aproximam aos da pesquisa atual. No entanto, apesar de resultados parecidos, no presente estudo não apresentam diferenças estatisticamente significativas. Poderíamos, então, sugerir que este fato possa ser explicado devido ao tipo de atividades comparadas, já que no estudo atual as atividades são acíclicas. Takeshima et al. [21] verificaram os efeitos dos exercícios executados dentro d’água sobre o consumo de oxigênio. Em relação ao grupo controle, o grupo treinado obteve valores de VO2 12% superiores nos pós-testes, chegando ao valor de 1,3 l.min-1, constatando haver diferença estatisticamente significativa, o que nos leva a concluir que tais exercícios promovem o desenvolvimento da resistência aeróbica. Alves et al. [8] verificaram a influência da hidroginástica na aptidão física relacionada à saúde de idosos mensurando a variável resistência aeróbica através de caminhada durante seis minutos e constatando ganhos entre 10 e 40%. Os resultados da atual pesquisa corroboram com estes estudos quando mostram que atividades dentro d’água permitem ganhos no consumo de oxigênio. Fernandes e col.[22] compararam o efeito do treinamento de ginástica localizada e musculação nos níveis de força máxima de membros inferiores, superiores e lombar de adultos não atletas. Os resultados do teste Acao Mov_.indb 68 de dinamometria de membros superiores para os braços direito e esquerdo foram (25,12 ± 6,15 kg e 24,71 ± 5,20 kg, respectivamente). Estes foram inferiores aos encontrados para ambos os grupos do atual estudo, o que permite inferir que os exercícios propostos nas aulas de hidroginástica foram tão eficientes quanto as atividades de ginástica localizada e musculação para o desenvolvimento da qualidade física força de lombar e de membros superiores. Novaes e col. [23] em seu estudo sobre a comparação dos efeitos da ginástica localizada na zona alvo de treinamento de forma contínua e intervalada encontrou valores para a dinamometria de mão de 93,6 ± 13,4 kg e 98,7 ± 12,8 kg para os métodos contínuo e intervalado respectivamente. Percebe-se que tais valores estão muito acima dos valores encontrados nesta pesquisa. No entanto, o perfil de sua amostra explica diferença tão exacerbada, já que esta foi constituída de militares homens com idade média de 20.4 anos. Takeshima et al. [21] verificaram os efeitos dos exercícios resistidos executados dentro d’água sobre a força muscular. Em relação ao grupo controle, o grupo treinado obteve valores superiores nos pós-testes, constatando haver diferença estatisticamente significativa. Os autores sugerem que tais exercícios promovem o desenvolvimento da força muscular. Muller et al. [24,25] em seu estudo sobre a treinabilidade da força muscular em idosas praticantes de hidroginástica constatou, através de teste de 1RM, haver aumentos de 10,89% da força máxima dinâmica em relação ao pré-teste. Neste estudo, os autores verificaram valores de 16,52 ± 2,97 kg para o pré-teste e 18,32 ± 3,15 kg para o pós-teste. Puhlmann et al. [26] compararam a força muscular nos flexores horizontais de ombros em idosas praticantes de hidroginástica e em idosas praticantes de outras atividades (caminhada e ginástica). Os valores médios encontrados nos testes de 1RM foram 25,05 ± 2,79kg e 17,85 ± 5,04kg para os grupos de hidroginástica e outras atividades respectivamente. Embora os testes de força aplicados tenham sido diferentes dos usados no presente trabalho, todos os estudos mostram que, independente da metodologia proposta, ocorre uma melhoria significativa nos níveis de força. Conclusão Considerando as limitações do estudo, entre as quais destaca-se a não realização de um tratamento experimental, os resultados sugerem que a prática regular de ginástica localizada e de hidroginástica exerceu uma influência semelhante nos níveis de VO2 e de força de membros superiores e de lombar nos grupos estudados. Observa-se, também, que ao contrário do que se espera- 10/8/2006 16:27:37 69 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) va, é possível a promoção do desenvolvimento da força muscular através da prática da hidroginástica assim como a promoção do desenvolvimento da resistência aeróbica através da prática da ginástica localizada, uma vez que os grupos apresentaram valores médios superiores aos padrões internacionais. No entanto, se faz recomendável novos estudos investigando novas populações com faixas etárias e gênero diferenciados do atual, no intuito de comparar resultados, considerando todas as variáveis. Referências 1. ALLSEN, P. E.; HARRISON, J. M; VANCE, B. Exercício e qualidade de vida – uma abordagem personalizada. São Paulo: Manole, 2001. 2. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual de pesquisa das diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 3. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 4. BARBANTI, V.J. Dicionário de Educação Física e do esporte. São Paulo: Manole, 1994. 5. TUBINO, M. J. G.; MOREIRA, S. B. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003. 6. FLECK, S. J.; FIGUEIRA JR., A. Treinamento de força para fitness e saúde. São Paulo: Phorte, 2003. 7. 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Rev. bras. med. esporte, v. 8, n. 5, 200 p, 2002. 10/8/2006 16:27:38 70 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) ARTIGO ORIGINAL Avaliação antropométrica e qualitativa da ingestão alimentar de nadadores masters competitivos Anthropometric and qualitative assessment of the food intake of competitive swimmers masters Fernanda Andrade Patara*, Danielle Lopes Russo, Luciana Rossi, M.Sc.** *ATTENDE Esporte do Centro Universitário São Camilo, **Nutrição Experimental FCF-USP, Professora do Curso de Graduação em Nutrição Esportiva, de Pós Graduação em Nutrição Clínica e Supervisora do estágio em Nutrição Esportiva do Centro Universitário São Camilo Resumo Introdução: O objetivo foi analisar variáveis antropométricas e avaliar qualitativamente a ingestão alimentar de nadadores masters competitivos de um clube de São Paulo. Materiais e métodos: Foram estudados 19 nadadores com idade entre 20 e 75 anos (média de 41,5 ± 15,2). Juntamente com as medidas antropométricas (dobras cutâneas e circunferências corporais) e cálculo do percentual de gordura por Faulkner (1968) foi realizado o recordatório de 24 horas e a avaliação do conhecimento nutricional. Resultados: As variáveis antropométricas mostraram-se superiores quando comparadas a estudo anterior realizado nesta mesma população em atletas brasileiros. A análise qualitativa da ingestão alimentar apresentou alimentos como, carne bovina e frango, leite, hortaliças, banana e cereais em geral como os mais consumidos. Em relação às refeições, as mais realizadas foram café da manhã, almoço e jantar, apresentando a última uma pior qualidade nutricional e menor varialibilidade dos alimentos. Conclusão: Conclui-se que esta é uma população que necessita de um maior acompanhamento nutricional através de programas de orientação para melhora na qualidade da alimentação com o objetivo de aumentar o rendimento e conseqüentemente a qualidade de vida. Palavras-chave: natação, recomendações, antropometria, nutrição, percentual de gordura. Abstract Introduction: We aimed to analyze anthropometric variables and evaluate qualitatively the food ingestion of competitive masters swimmers of a club at São Paulo. Materials and methods: 19 swimmers with age between 20 and 75 years (mean 41.5 ± 15.2) have been studied. Together with the anthropometric measures (skinfold thickness and body circumferences) and calculation of the body fat percentage by Faulkner (1968) it was carried out the 24-hours recall and the evaluation of the nutritional knowledge. Results: The Artigo recebido em 4 de maio de 2006; aceito em 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Profa. Luciana Rossi, ATTENDE Esporte – Centro Universitário São Camilo, R. Raul Pompéia 144, Bairro Pompéia, 05025 – 010 São Paulo SP, Tel: (11) 3861-3449, E-mail: [email protected] Acao Mov_.indb 70 10/8/2006 16:27:39 71 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) anthropometric variables revealed superior when compared with the previous study carried out in this same population of Brazilian athletes. The qualitative analysis of the food intake presented foods as, red meat and chicken, milk, vegetables, banana and cereals as the most consumed. In relation to meals, the most consumed were breakfast, lunch and supper, with the last one presenting the lowest nutritional quality and lesser variability of foods. Conclusion: One concludes that this is a population that needs a better nutritional follow-up through programs of orientation in order to improve feeding quality aiming at increasing performance and consequently in life quality. Key-words: swimming, recommendations, anthropometry, nutrition, body fat percentage. Introdução O homem aprendeu a sustentar-se sobre a água por instinto e observando o comportamento dos animais, por isso podemos concluir que a natação é tão antiga quanto o homem. Hoje a natação é um dos esportes mais interessantes das competições olímpicas e tem tal valor que é utilizada até como tratamento terapêutico [1]. No Brasil o esporte teve início no século passado, com provas realizadas em rios e hoje possui atletas que representam o país em competições nacionais e mundiais. Por ter se tornado um esporte tão praticado e com volumes de treinos cada vez maiores, notou-se a importância de uma maior atenção a esses atletas, ao que se refere aos hábitos alimentares, rendimento esportivo e as condições físicas em que estes se encontram [2]. Em relação aos nadadores muito se tem divulgado sobre as necessidades nutricionais aumentadas devido a grande energia que o nadador dispende para manter a flutuação e vencer as forças de atrito corporal, eficiência mecânica e captação global de oxigênio [3,4]. Mas é importante conhecer um pouco mais sobre esses atletas, o que consomem e o seu perfil antropométrico a fim de atingir a meta de uma orientação nutricional personalizada visando o rendimento esportivo [5]. A falta de atenção à alimentação pode interferir no rendimento gerando fadiga durante uma competição [6] e o que é mais grave, causar problemas à saúde. A alimentação deve ser equilibrada e diversificada, contendo todos os grupos alimentares [7]. O presente trabalho tem como objetivo analisar as variáveis antropométricas e avaliar qualitativamente a ingestão alimentar de nadadores da equipe master de um clube da região metropolitana de São Paulo, com a intenção de verificar as principais necessidades e desenvolver/orientar futuros programas de orientação e reeducação alimentar para esta população específica. Materiais e métodos População: o estudo foi realizado com 19 atletas do sexo masculino, idades entre 20 e 75 anos, Acao Mov_.indb 71 integrantes da equipe master de natação de um clube da região metropolitana de São Paulo. Estes estavam divididos entre as três equipes que treinam no período da manhã e com treinos de duração de uma hora e meia. Medidas antropométricas: o peso foi obtido com balança digital da marca Tanita (TBF – 515), com divisões de 100 gramas. A altura foi registrada através de um antropômetro, com divisões em centímetros. Para a realização do registro das circunferências foi utilizada fita métrica inelástica, tipo fiber glass, com divisões em centímetros, sendo registradas as circunferências de punho (CP), braço (CB), cintura (CC), abdômen (CAb), quadril (CQ) e coxa (CCx). Também foram obtidas 5 pregas cutâneas, tríceps (PCT), bíceps (PCB), subescapular (PCSE), suprailíaca (PCSI) e abdominal (PCA), utilizando o compasso Lange. Foi avaliado o lado direito do corpo, em triplicata, registrando o valor médio. As medidas foram obtidas segundo Petroski [8]. Percentual de gordura: determinou-se o percentual de gordura, através da equação de Faulkner (1968): 5,793 + 0,153 x Σ (PCT, PCB, PCSE, PCSI, PCA). Avaliação nutricional: para o estudo dietético foi realizado o recordatório de 24 horas e uma lista de questões que abordavam assuntos como: número de refeições, tipo de preparações, horário e local das refeições e ausência de algum grupo alimentar. Ambos foram preenchidos pelo próprio atleta após instrução dos pesquisadores. Finalmente todos os nadadores estudados receberam no dia de sua avaliação um questionário do conhecimento nutricional. Resultados Os dados coletados referentes às variações antropométricas podem ser observados na tabela I, onde os valores obtidos são comparados com o estudo de Soares et al. [9] que analisou nadadores de ambos os sexos filiados a clubes de São Paulo e Rio de Janeiro. 10/8/2006 16:27:39 72 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Tabela I - Comparação das variáveis antropométricas avaliadas em nadadores do sexo masculino pertencentes à equipe master de um clube. São Paulo. Variáveis Presente estudo Antropométricas Altura (cm) 179,2 ± 10,0 Peso (kg) 83,7 ± 9,0 Idade (anos) 41,5 ± 15,2 PCB (mm) 9,3 ± 3,9 PCT (mm) 14,8 ± 5,1 PCSE (mm) 17,3 ± 5,7 PCSI (mm) 22,1 ± 6,6 PCA (mm) 23,3 ± 7,6 % gordura 15,7 ± 4,7 CB (cm) 34,0 ± 2,4 CCx (cm) 59,8 ± 4,1 CP (cm) 17,7 ±1,04 CC (cm) 90,1 ± 8,2 CAb (cm) 98,8 ± 8,8 CQ (cm) 93,8 ± 7,3 Soares et al., 1994 181,1 ± 5,3 74,0 ± 5,4 --------3,8 ± ,07 6,8 ± 2,0 9,3 ± 2,1 7,4 ± 2,0 9,8 ± 3,5 10,9 ± 1,3 33,0 ± 1,6 36,7 ± 1,7 --------------------------------- PCB = prega cutânea bicipital, PCT = prega cutânea tricipital, PCSE = prega cutânea subescapular, PCSI = prega cutânea suprailíaca, PCA = prega cutânea abdominal, CB = circunferência de braquial, CCx = circunferência de coxa, CP = circunferência de punho, CC = circunferência de cintura, CAb = circunferência de abdomem, CQ = circunferência de quadril. Comparando os dados obtidos no presente estudo com o estudo de Soares et al. [9], observou-se que os valores das variáveis antropométricas no que diz respeito às pregas, foram todos superiores, exceto ao que se diz respeito à altura, pois se obteve como média neste estudo de 179,2 ± 10 cm em contraposição a altura obtida no estudo de comparação que foi de 181,1 ± 5,3 cm. Quanto ao percentual de gordura (equação), encontramos valores maiores do que os do estudo de comparação (15,7 + 4,7% versus 10,9 + 1,3%). As circunferências mostraram uma concordância (CB) e uma discrepância (CCx) em relação ao estudo comparativo. As outras medidas que estão apresentadas na tabela I são para fins de registro, uma vez que dados comparativos nacionais não foram encontrados. Fazendo a análise qualitativa da alimentação dos nadadores obteve-se que entre os grupos de alimentos a carne bovina e a de frango eram as que estavam mais presentes na alimentação dessa população. O leite como o alimento mais prevalente dentre as opções do grupo de leite e derivados. No que diz respeito às hortaliças, as folhosas foram citadas como as mais consumidas. Das frutas a banana juntamente com o mamão. No grupo dos cereais houve uma maior variação dentre as opções consumidas, sendo o arroz e o pão mais citados. No grupo dos doces, o chocolate se mostrou como preferência e em relação às bebidas o café preto. Podemos analisar de forma mais clara a preferência dos nadadores observando a tabela II. Tabela II - Alimentos mais prevalentes na alimentação diária de nadadores do sexo masculino. São Paulo. Grupos Carnes Leite e produtos lácteos Ovos Hortaliças Leguminosas Frutas Cereais Gorduras Doces Líquidos Tipos em ordem de preferência Bovina, frango e peixe Leite, requeijão, queijo branco, iogurte natural, tipo polenguinho Galinha Alface lisa, alface crespa, rúcula e almeirão, cenoura, beterraba, abobrinha e berinjela. Feijão Banana, mamão, laranja, maçã, melancia, manga, pêra e mexerica. Arroz, pão de forma, pão de queijo, pão francês, macarrão com molho de tomate, pão integral, bolacha de água e sal, batata frita, torradas, granola e barra de cereal. Manteiga, margarina e azeite Chocolate, sorvete, goiabada, adoçante, açúcar refinado. Café preto puro, sucos de frutas naturais, chás claros, água Ao analisar a preferência quanto ao tipo de preparação (Gráfico I) dos nadadores, observou-se que mais da metade, ou seja, 55,5% têm mais comumente os grelhados sendo referidos como uma boa opção por ser mais saudável e ter menor quantidade de gordura. Acao Mov_.indb 72 Quanto ao tipo de refeições diária, 100% dos nadadores referiram que fazem o almoço e jantar; 94,7% faziam o café da manhã; 47,4% o lanche da tarde e 21,1% faziam o lanche da manhã e ceia (Gráfico II). 10/8/2006 16:27:40 73 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Gráfico I - Preferência alimentar quanto ao tipo de preparação dos nadadores master. Gráfico II - Principais refeições realizadas pelos nadadores master. Discussão Pudemos observar que há grande diferença nas medidas de dobras cutâneas e percentual de gordura, sendo que os nadadores do presente estudo apresentam valores maiores do que uma mesma amostra realizada com nadadores de São Paulo e Rio de Janeiro. Um fato que poderia explicar tal discrepância seria a diferença de idade entre nossos nadadores (41,5 + 15,2 anos) contra > 18 anos do outro estudo. A equação de Faulkner foi desenvolvida a partir de uma amostra de nadadores competitivos americanos [10] e sua validação para a população brasileira ainda não foi realizada. Para determinação mais precisa do percentual de gordura, uma validação destas equações (método duplamente indireto), com um método indireto (pesagem hidrostática), se faz necessária. O estudo dietético, visando a avaliação qualitativa da ingestão alimentar utilizou o recordatório de 24 horas sendo a principal crítica para este método a de que o dado de um único dia não representa o consumo dietético habitual desse indivíduo [9]. Por isso utilizou-se Acao Mov_.indb 73 paralelamente o questionário do conhecimento alimentar, como um instrumento complementar para a análise dietética. Obtivemos como resultado que a maioria desses nadadores fazem de 3 a 4 refeições diárias, permanecendo assim tempos prolongados em jejum. Analisando este fato com o horário dos treinos, que se concentram na parte da manhã e na hora do almoço, observamos que por não fazerem o lanche da manhã não haveria a reposição adequada do que foi despendido durante o treino. A ingestão adequada de nutrientes se faz necessária não somente antes como também após treino, pois independente da faixa etária há um grande gasto energético total envolvido nesta modalidade [11]. A meta dietética busca promover energia adequada e carboidratos para manter a glicose sangüínea e repor o glicogênio muscular, assegurando uma recuperação rápida [12,13]. As refeições principais são realizadas pela maioria dos atletas, porém nem sempre contém todos os grupos alimentares de forma a manter uma boa qualidade na alimentação. O jantar é uma das refeições que sofrem maior prejuízo na questão de qualidade e variedade de alimentos. Durante a coleta dos dados, muitos dos nadadores referiram que o jantar diversas vezes é substituído por lanches e que a falta de tempo e o cansaço acabam prejudicando na qualidade desta refeição. Mesmo se tratando de nadadores master competitivos, estes possuem outras profissões que ocupam o seu dia e que muitas vezes, pela escassez de tempo, os fazem abrir mão de uma alimentação balanceada. O que é um grande erro uma vez que como destacamos, se trata de nadadores competitivos. Ainda, segundo mostrou uma das questões do formulário de avaliação do conhecimento nutricional, apenas 3, ou seja, 15,8% dos 19 nadadores estudados acertaram que o carboidrato é menos energético que os lipídeos. Comparando esses dados com observações feitas pelos atletas durante a coleta de dados, como “os carboidratos não devem ser consumidos à noite”, e ainda artigos que relatam uma baixa ingestão de carboidratos na dieta dos atletas como um todo [13,14], constatamos que o mito em relação a esse macronutriente se faz presente também entre os nadadores, prejudicando ainda mais uma adequação nutricional. Ao final deste estudo percebeu-se que ainda há um longo caminho a ser percorrido com essa população específica, tanto em termos de conhecimento nutricional como de mitos alimentares. A continuidade das pesquisas é extremamente importante a fim de realizar orientação nutricional cada vez mais específica para esse tipo de esporte, enfatizado que uma dieta balanceada pode fornecer os nutrientes necessários, dispensando a suplementação, para uma vida saudável e melhorara no rendimento durante treinos e competições. 10/8/2006 16:27:40 74 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Referências 1. THOMAS, D. G. Natação – etapas para o sucesso. 2. ed. São Paulo: Manole, 1999. 2. LUKASKI, H. C.; SIDERS, W.A.; HOVERSON, B.S.; GALLANGHER, S.K. Iron, copper, magnesium and zinc status as predictors of swimming performance. Int J Sports Med, v. 17, n. 7, p. 535-40, 1996. 3. MCARDLE, W. D et al. Fisiologia do exercício – energia, nutrição e desempenho humano. 4. ed. Rio de Janeiro, 1998. 4. TRAPPE. T. A.; GASTALDELLI, A.; JOZSI A. C.; TROUP J. P.; WOLFE, R. R. Energy expenditure of swimmers during high volume training. Med Sci Sports, v. 29, n. 7, p.950-54, 1997. 5. ROSSI, L. Nutrição e atividade física: o binômio do século. Revista Nutrição Profissional, v. 1, n. 6, p. 25-30, 2005. 6. ROSSI, L.; TIRAPEGUI, J. Aspectos atuais sobre exercício, fadiga e nutrição. Rev. paul. educ. fís, v.13, n.1, p.67-82, 1999. 7. JÚNIOR, J. R. G. Suplementos nutricionais na atividade física: indispensáveis ou um excesso necessário? Nutrição em Pauta, v. 8, n.44, p.49-52, 2000. Acao Mov_.indb 74 8. PETROSKI, E. L. Antropometria: técnicas e padronizações. 2. ed. São Paulo: Pallotti, 2003. 9. SOARES E.A. et al. Estudo antropométrico e dietético de nadadores competitivos de áreas metropolitanas da região sudeste do Brasil. Rev. saúde pública, v. 28, n. 1, p.9-19, 1994. 10. ROSSI, L.; TIRAPEGUI, J. Comparação dos métodos de bioimpedância e equação de Faulkner para avaliação da composição corporal em desportistas. Rev. bras. ciênc. Farm, v. 37, n. 2, p.137-142, 2001. 11. AL ASSAL, K.; ALGODOAL, L.C.; PETRI, K.C.; ROSSI. L. Estudo antropométrico e nutricional de nadadores jovens competitivos. Revista Nutrição Brasil, v.3, n.4, p.219-224, 2004. 12. BERTOLUCCI, P. Nutrição, hidratação e suplementação do atleta: um desafio atual. Nutrição em pauta, v. 10, n. 54, p.9-18, 2002. 13. ROSSI, L.; TIRAPEGUI, J. Avaliação nutricional de atletas de karatê. Revista APEF, v. 14, n. 1, p.40-9, 1999. 14. VAN ERP-BAART, A. M.; SARIS, W.R.; BINKHORST R.A.; VOS J.A.; ELVERS J.W. Nationwide survey on nutritional habits in elite athletes. Int J Sports Med, v.10, S.1, p.S3-S10, 1989. 10/8/2006 16:27:41 75 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) ARTIGO ORIGINAL Índice geral de flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica não-competitiva The general index of flexibility in non-competitive olympic gymnastics’ children Raquel Petry*, Elirez Silva, D.Sc.**, Úrsula Müller, M.Sc.***, Diego Wink Esteves**** *Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Esportiva, Ciências do Movimento Humano/Biomecânica, Universidade do Estado de Santa Catarina Florianópolis/SC, **Fisioterapeuta, Professor de Educação Física, Diretor da Graduação e Pós-Graduação do Departamento de Fisioterapia; Coordenador do Laboratório de Pesquisas em Fisioterapia, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro RJ, ***Professora de Educação Física, Docente da Disciplina de Ginástica Olímpica e Coordenadora do Projeto de Ginástica Olímpica - Universidade de Santa Cruz do Sul/RS,****Acadêmico de Educação Física e integrante do Projeto de Ginástica Olímpica, - Universidade de Santa Cruz do Sul – RS) Resumo Este estudo tem como objetivo verificar o Índice Geral de Flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica nãocompetitiva no início e ao final de nove meses de treinamento. Participaram deste estudo, 27 crianças, de ambos os sexos, com idade entre 9 e 12 anos, integrantes do Projeto de Extensão de Ginástica Olímpica da UNISC. A flexibilidade foi avaliada pelo Flexiteste. Após nove meses de treinamento, o Índice Geral de Flexibilidade aumentou significativamente de 44,2 ± 8,9 para 49,1 ± 6,5 pontos (t= -4,19; p= 0,000). Concluiu-se que o grau de flexibilidade das crianças que praticaram ginástica olímpica não-competitiva apresentou um aumento significativo após nove meses de treinamento. Palavras-chave: Flexiteste, amplitude de movimento, atividade física. Abstract The purpose of this study is to verify the General Index of Flexibility in non-competitive olympic gymnastics’ children at the beginning and end of nine months of training. Twenty-seven children members of the UNISC’s Olympic Gymnastics Project, of both sexes, between nine and 12 years old, participated in this study. The flexibility was evaluated by the Flexitest. The General Index of Flexibility, after nine months of training, increased significantly from 44,2 ± 8,9 to 49,1 ± 6,5 points (t= -4,19; p= 0,000). We conclude that non-competitive olympic gymnastics’ children show a significantly increase in flexibility after nine months of training. Key-words: Flexitest, range of motion, physical activity. Artigo recebido em 27 de junho de 2006; aceito em 26 de julho de 2006. Endereço para correspondência: Raquel Petry, Rua Deputado Antônio Edu Vieira, 376/ apto 502, Pantanal, Florianópolis/SC, Tel: (48)3322-3447, E-mail: [email protected] Acao Mov_.indb 75 10/8/2006 16:27:41 76 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Introdução A Ginástica Olímpica (GO) é um dos esportes olímpicos mais populares, devido à beleza e complexidade dos exercícios que são realizados [1]. Este esporte proporciona aos seus praticantes um trabalho corporal completo, com o desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento de capacidades físicas que podem contribuir para o desenvolvimento equilibrado dos sistemas muscular e nervoso, bem como para a manutenção da eficiência fisiológica [2]. Vários autores apontam a flexibilidade como uma habilidade física imprescindível para a prática de Ginástica Olímpica, devido à característica dos movimentos realizados pelos ginastas [1,3-5]. A importância da flexibilidade no cotidiano de treinamentos de Ginástica Olímpica torna sua mensuração quase que indispensável [1-3,5,6]. O Flexiteste tem sido sugerido por alguns autores [6-8,10-12] como um meio eficiente de quantificar e graduar a flexibilidade dos indivíduos, sejam eles atletas ou não [5-12]. Este estudo tem como objetivo verificar o Índice Geral de Flexibilidade em crianças praticantes de ginástica olímpica não-competitiva no início e ao final de nove meses de treinamento. da Universidade (de março a dezembro). Os treinamentos ocorreram no período matutino no ginásio pedagógico da Universidade, duas vezes na semana, com duração de duas horas cada aula. Foram realizados os exercícios básicos para a iniciação no esporte, como: espacat (flexão associada à extensão do quadril); ponte (hiperextensão da coluna vertebral com os pés e as mãos apoiados no solo); vela (apoio estático do corpo no solo sobre a coluna cervical e os membros superiores em extensão); estrela (passagem ativa do corpo pelo plano frontal com apoio das mãos no chão e impulso dos pés); parada de mão (apoio estático do corpo sobre as mãos no chão); equilíbrios (elevação e sustentação de um membro inferior em flexão, abdução ou extensão do quadril); saltos (estendido: corpo em extensão e elevação dos membros superiores; grupado: flexão dos joelhos e quadril acima de 90°; afastado: abdução do quadril e extensão dos joelhos; carpado: abdução e flexão de quadril, com joelhos estendidos e flexão de tronco sobre membros inferiores; ½ pirueta: rotação de 180° do corpo no eixo longitudinal; pirueta: rotação de 360° do corpo no eixo longitudinal). O Projeto funcionou na modalidade de escolinha e, por isso, as aulas não apresentaram um caráter de treinamento desportivo propriamente dito. Método Flexibilidade Sujeitos A medida da flexibilidade foi realizada no Ginásio Pedagógico da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, antes da aula, no início e final do período de treinamento, em março e dezembro de 2004. Para medir o grau de flexibilidade das crianças, foi utilizado o Flexiteste. O Flexiteste foi aplicado individualmente a cada criança sem nenhum tipo de aquecimento ou preparação prévia. Foi determinado previamente que o lado testado seria o lado direito, independente de este ser ou não o lado dominante. O Flexiteste foi realizado passivamente em 20 movimentos articulares, distribuídos em sete articulações: tornozelo (plantiflexão e dorsiflexão), joelho (flexão e extensão), quadril (flexão, extensão, adução e abdução), tronco (flexão, extensão e flexão lateral), ombro (adução escapular extensão+adução escapular, extensão, rotação lateral e rotação medial), cotovelo (flexão e extensão) e punho (flexão e extensão). Todas as medidas foram realizadas pelo mesmo avaliador, o qual não usou força muscular para conduzir o segmento ou conseguir maior alcance de movimento da criança que foi testada. O segmento foi conduzido lentamente, a partir da posição inicial até o ponto onde houve indicação de dor por parte da criança ou grande Participaram do estudo 27 crianças, de ambos os sexos, com idade entre 9 e 12 anos, praticantes de ginástica olímpica não-competitiva, integrantes do Projeto de Extensão de Ginástica Olímpica da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Foram incluídas no estudo as crianças que praticaram ativamente ginástica olímpica não-competitiva no Projeto da Universidade durante todo ano letivo de 2004 (de março a dezembro) e que nunca praticaram este esporte com fins competitivos. As crianças que não se enquadraram nestas exigências foram excluídas e não fizeram parte deste estudo. O estudo obedeceu à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (aprovado por Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos). Os pais das crianças tiveram conhecimento do estudo e colaboraram voluntariamente, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido. Ginástica olímpica não-competitiva A prática de ginástica olímpica oferecida pelo Projeto da UNISC foi realizada durante o ano letivo de 2004 Acao Mov_.indb 76 10/8/2006 16:27:42 77 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) restrição mecânica ao movimento. Foi neste ângulo articular que o avaliador cessou o movimento e a posição final alcançada foi comparada ao mapa de referência do Flexiteste (Figura 1). Cada um dos 20 movimentos foi classificado de zero a quatro, de acordo com a posição final alcançada pelo movimento articular, sendo: zero (muito fraco); um (fraco); dois (médio); três (bom) e quatro (excelente). A partir da quantificação de cada articulação testada, foi realizado o somatório total dos graus, a fim de obter um índice geral de flexibilidade da criança. Este índice variou de zero a 80, sendo: menor que 20 (muito fraco); 20-30 (fraco); 31-40 (médio -); 41-50 (médio+), 51-60 (boa) e maior que 60 (excelente). Figura 1 - Mapa de avaliação do Flexiteste. Fonte: Carvalho, Paula e Nóbrega [10] Acao Mov_.indb 77 10/8/2006 16:27:43 78 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Análise dos dados Resultados Os valores de flexibilidade foram analisados pela estatística teste “t” pareado para o nível de significância de 0,05. O teste pertencia ao pacote estatístico Primer of Biostatistics 4.0, Stanton A Glantz, McGraw Hill, 1996. O grupo de crianças avaliadas tinha 11,07 ± 3,32 anos de idade e estava participando do projeto há 17,30 ± 4,15 meses. Tabela I - Índice de flexibilidade total e por região anatômica de crianças antes e depois de nove meses de prática de ginástica olímpica não-competitiva. Região anatômica Membros inferiores Membros superiores Tronco t 17,7 ± 4,0 19,1 ± 3,8 Ginástica olímpica não-competitiva p Antes 19,8 ± 2,8 -3,25 19,7 ± 3,3 -1,99 Depois 0,003 0,057 8,6 ± 2,3 9,7 ± 1,6 -3,05 0,005 44,2 ± 8,9 49,1 ± 6,5 -4,19 0,000 Total Discussão O Índice Geral de Flexibilidade das crianças praticantes de ginástica olímpica não-competitiva teve um incremento de aproximadamente cinco pontos durante nove meses de treinamento (para t = -4,19 e p = 0,000). A flexibilidade mensurada estaticamente (como realizada pelo Flexiteste) pode não estabelecer com exatidão as necessidades das habilidades atléticas dinâmicas [6-8]. Porém, este tipo de mensuração possibilita boa correlação interindividual por independer dos efeitos do treino e da coordenação, possibilitando, assim, uma visão geral das condições de flexibilidade do indivíduo [6-8]. A confiabilidade do Flexiteste foi determinada anteriormente, obtendo-se coeficiente de correlação intraclasse médios de 0,94 e 0,89 para a confiabilidade intra e inter-observadores, respectivamente, onde coeficientes de correlação intraclasse superiores a 0,75 são considerados excelentes índices de fidedignidade [13-14]. A tendência central para cada um dos testes realizados nas articulações determinadas é o valor dois [9,12]. Isto sugere que o Índice Geral de Flexibilidade esperado seja 40 (médio-) [9]. Todavia, o Índice Geral de Flexibilidade apresentado pelas crianças nas avaliações ficou classificado em médio+ (44,2 ± 8,9 em março e 49,1 ± 6,5 em dezembro). Embora a flexibilidade tenda a diminuir com a idade, a perda parece ser minimizada naqueles indivíduos que permanecem ativos [5,15-18]. Durante a infância e início da adolescência é esperada uma redução da flexibilidade devido a um período de crescimento rápido e estruturas ainda imaturas estarem sofrendo constante Acao Mov_.indb 78 processo de modelagem [5,9,15]. Entretanto, um programa de intervenção planejada, objetivando um aumento na flexibilidade nesta fase pode melhorar a amplitude de movimento (ADM) e minimizar ou anular essa tendência fisiológica de redução da flexibilidade [5,6,16,17]. As crianças que participaram do estudo tinham 11,07 ± 32 anos de idade. Mesmo estando em pleno período de crescimento e conseqüente redução fisiológica da flexibilidade, apresentaram, após nove meses de treinamento de ginástica olímpica, um aumento significativo no Índice Geral de Flexibilidade (Tabela I). Pode-se observar ainda (Tabela I) que as regiões anatômicas mais estimuladas com a prática deste esporte (membros inferiores e tronco) tiveram um aumento maior. Isto se deve, em parte, ao tipo de treinamento realizado nas turmas de iniciação, enfatizando exercícios com os membros inferiores (espacat, equilíbrios, saltos, etc.) e o tronco (ponte, exercícios com o tronco grupado e carpado, etc) [1,19]. Esta tendência fisiológica de redução da flexibilidade com o avanço da idade, mostra a importância dos exercícios físicos como meio de manutenção desta habilidade física [2,6,14,21]. Atividades que enfatizam o trabalho da flexibilidade, como a ginástica olímpica, podem trazer resultados ainda mais significativos [2,4,16,17,22]. Alguns autores [1,14,19] afirmam, ainda, que a prática da Ginástica Olímpica durante a infância podem trazer vários benefícios para a criança, como: desenvolvimento de força, resistência, agilidade, além de ganhos no domínio motor e cognitivo [1,2,19,20]. Este trabalho apresentou como limitação a confiabilidade do Flexiteste como instrumento de medida da flexibilidade, bem como a falta de um grupo controle, 10/8/2006 16:27:45 79 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) composto por crianças que não praticavam ginástica olímpica. Apesar de um aumento evidente no Índice Geral de Flexibilidade nas crianças praticantes de ginástica olímpica, a falta de um grupo controle não nos permite afirmar que este aumento seja exclusivamente pela prática deste esporte. Em virtude disto, sugere-se que este teste seja aplicado também em crianças que praticam outros esportes que não enfatizem o treino da flexibilidade bem como em crianças que não praticam nenhum esporte ativamente. Conclusão Da análise dos resultados obtidos, concluiu-se que houve um aumento significativo no Índice Geral de Flexibilidade das crianças, após um período de nove meses de treinamento de ginástica olímpica não-competitiva. Referências 1. DEL VIGNA, E. Iniciando-se no mundo da ginástica olímpica. Disponível em: <http://www.ginasticas.com> Acesso em: 04 fev. 2006. 2. RODNELL, P. Ginástica acrobática para desenvolver o físico. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. 3. GINÁSTICAS. Ginástica Olímpica. Disponível em:<http:// www.ginasticas.com> Acesso em: 04 fev. 2006. 4. YORGES, M. C. A presença da flexibilidade na Ginástica Geral. In: II Fórum Internacional de Ginástica geral, 5., 2003. Anais... Campinas, 2003. p.5. 5. ALTER, M. J. A ciência da flexibilidade. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2001. 6. GHORAYEB, N.; BARROS, T. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu, 1999. 7. ARAÚJO, CGS. 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ARAÚJO, C.G.S.; ARAÚJO, D.S.M.S. Flexiteste: utilização inapropriada de versões condensadas. Rev. bras. ciênc. esporte, v. 10, n.5, 2004. 15. PORTER, M.; VANDERVOORT, A.; LEXELL, J. Aging of human muscle: structure, function and adaptability. Scand J Med Sci Sports, v. 5, p. 129-42, 1995. 16. ROGERS, M.; EVANS, W. Changes in skeletal muscle with aging: effects of exercise training. Exerc Sport Sci Rev, v. 21, p. 65-102, 1993. 17. VISSER, M.; PLUIJIM, S. M.; STEL, V.S. Physical activity as a determinant of change in mobility performance: the longitudinal aging study Amsterdam. J Am Geriatr Soc, v. 50, p. 1774-81, 2002. 18. DALEY, M.; SPINKS, W. Exercise, mobility and aging. Sports Med, v. 29, p. 1-12, 2000. 19. BERNABÉ, K.C.O.A. Os benefícios da prática da ginástica olímpica para crianças de 7 a 10 anos. Disponível em: <http://www.uel.br/cef/SGO2314htm> Acesso em: 10 mar.2006. 20. ALMEIDA, C. 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Sc.*, Juliane de Oliveira**, Raquel Pinheiro Gomes**, Mário César Andrade***, Roberta Pires**** *Professor do Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), **Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ***Coordenador do Laboratório de Biomecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ****Educadora Físca formada pelo Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Resumo O objetivo desta pesquisa foi comparar as características dinâmicas e espaços-temporais em praticantes de caminhada, considerando gênero e velocidade. Participaram deste estudo 49 sujeitos, de ambos os sexos (46,94% mulheres e 53,06% homens), com idade média de 28,32 (± 10,63) anos, tempo médio de prática de 28,11 (± 30,32) meses e freqüência média de prática semanal de 3,39 vezes por semana. O dados foram coletados em uma esteira ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, nas velocidades de 4 Km/h, 5Km/h e 6 Km/h. Os resultados apontaram diferenças significantes (p < 0,05) nas características cinéticas da marcha entre homens e mulheres nas variáveis TRP, CP, CAD e TDA. As variáveis PPF, SPF, TAP, TRP, CP e CAD sofreram aumento significativo de seus valores médios em pelo menos um dos ingressos de velocidade. O oposto ocorreu com as variáveis TDA e TAS, que reduziram seus valores médios. Palavras-chave: biomecânica, marcha, gênero, velocidade. Abstract The purpose of this research was to compare the dynamic and space-storms characteristics of walking practitioners gait considering gender and speed. Have participated of this study 49 subjects, of both sexes (46.94% women and 53.06% men), with average age of 28.32 (± 10.63) years, medium time of practice of 28.11 (± 30.32) months and practice frequency weekly average of 3.39 times a week. The data was collected in a ergometric mat Kistler Gaitway model 9810SI, at speeds of 4 Km/h, 5Km/h and 6 Km/h. The results pointed significant differences (p ≤ 0,05) in the kinetics characteristics of the gait among men and women in Artigo recebido em 11 de julho de 2006; aceito em 26 de julho de 2006. Endereço para correspondência: Sebastião Iberes Lopes Melo, Laboratório de Biomecânica CEFID-UDESC, Rua Pascoal Simone, nº 149, Coqueiros 88080-350 Florianópolis SC, Tel: (48) 32449451, E-mail: [email protected]/julifisioterapia@ gmail.com Acao Mov_.indb 80 10/8/2006 16:27:46 81 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) the TRP, CP, CAD and TDA variables. The PPF, SPF, TAP, TRP, CP and CAD variables had suffered significant increase from its medium values at least one of the speed tickets. The opposite happened with TDA and TAS variables, that they had its medium values reduced. Key-words: biomechanics, gait, gender, speed. Introdução A caminhada é uma atividade fisica popular de baixo custo e fácil acessibilidade, o que a torna uma alternativa para o controle do peso corporal e manutenção da saúde, comumente praticada por ambos os sexos em diferentes faixas etárias. Entretanto, apesar dos indiscutíveis benefícios promovidos por essa modalidade de exercício físico, a prática inadequada pode levar a prejuízo de diversos sistemas, inclusive no aparelho locomotor. Especula-se que as diferenças nas estruturas corporais entre os gêneros possam influenciar nas características biomecânicas da marcha. Neste sentido, o estudo de Kerrigan; Todd & Croce [1] encontrou uma maior cadência e comprimento de passada normalizada em mulheres. Chui & Wang e Waters & Mulroy [2,3] acrescentam que a velocidade da marcha dos homens é maior que das mulheres. Ferber, McClay & Williams [4] afirmam que as mulheres possuem uma alta velocidade angular e aumento da rotação interna do quadril durante a marcha. Cho, Park & Kwon [5] atribuem as diferenças do padrão da marcha entre os gêneros a fatores anatômicos e hábitos. Chui & Wang [2] sugerem que algumas características intrínsecas como alinhamento esquelético, força muscular e parâmetros antropométricos podem contribuir para as diferenças da performance da marcha entre os gêneros. No entanto, a influência destas variáveis nas características biomecânicas do movimento humano e as diferenças das características cinéticas da marcha entre homens e mulheres praticantes de caminhada têm sido pouco investigadas. Para a análise destas características utiliza-se a descrição quantitativa de diferentes aspectos mecânicos da marcha que estão ligadas às forças que causam o movimento observado e seu papel no fenômeno analisado [6]. As variáveis cinéticas incluem parâmetros como a força de reação do solo, a força transmitida através das articulações, a potência transferida entre os segmentos corporais e a energia mecânica dos segmentos [6], estas variáveis são diferentes nos indivíduos, seja pelas características físicas, individualidade na maneira de caminhar ou de acordo com a velocidade da execução do movimento, entretanto, existem certas características que permitem uma padronização [7]. Diante do que foi exposto, esse estudo tem como objetivo geral avaliar as Acao Mov_.indb 81 características dinâmicas e espaços-temporais da marcha de praticantes de caminhada considerando o gênero e a velocidade e, como objetivos específicos, comparar as características dinâmicas e espaços-temporais da marcha entre homens e mulheres nas velocidades de 4km/h, 5 km/h e 6 km/h e comparar estas características entre as diferentes velocidades. Materiais e métodos Participaram deste estudo descritivo do tipo exploratório, 49 sujeitos praticantes de caminhada, de ambos os sexos (49,94% mulheres e 53,06% de homens), com média de idade de 28,32 (±10,63) anos, tempo médio de prática de 28,11 (±30,32) meses e freqüência semanal média de 3,39 vezes por semana. As médias de estatura e massa corporal encontradas foram de respectivamente, 1,62 m e 58,2 Kg para as mulheres e 1,74 m e 72,7 Kg para os homens. Os indivíduos foram selecionados pelo processo casual sistemático, através de abordagem direta e por apresentarem os critérios para inclusão: praticantes de caminhada de forma regular (indivíduo que realiza a caminhada na forma de atividade física por pelo menos duas vezes por semana e no mínimo de três meses) e idade igual ou superior a 20 anos. Após aprovação pelo Comitê de Ética de Pesquisa do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), iniciou-se a coleta de dados, onde se utilizou como instrumentos de medida: a) Questionário auto aplicável, padronizado, com índices de confiabilidade: clareza 0,927, validade 0,934 e fidedignidade 0,86, contendo 16 questões relacionadas ao gênero, idade, dados referentes à prática de caminhada e campos para o preenchimento das medidas antropométricas. b)Esteira ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, com duas plataformas de forças com sensores de carga de cristais piezoelétricos acoplada à sua base. c) Balança da marca Filizola com precisão de 100 gramas. d) Estadiômetro de madeira com escala de medida de 0,1 cm. Para a aquisição dos dados adotaram-se os seguintes procedimentos: a) Aplicação do questionário; b) Pesagem dos sujeitos na balança e obtenção da estatura para o cálculo do IMC; c) Pesagem em uma das plataformas do equipamento com aquisição de 2 segundos, para posterior normalização dos dados pelo peso corporal; d) Instrução dos sujeitos sobre o correto posicionamento na esteira durante todo o 10/8/2006 16:27:46 82 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) teste, bem como do funcionamento da mesma; e) Tempo referente à adaptação dos indivíduos ao equipamento, caminhando em velocidade confortável; f ) Aquisição dos dados nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h, sendo que o sujeito permanecia em cada velocidade por dois minutos. O tempo de aquisição foi de 12 segundos a uma freqüência de amostragem de 600 Hz. O processamento dos dados foi realizado no programa GAITWAY MD for WINDOWS versão 1.08. Foram selecionados como parâmetros da análise da marcha as variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força (PPF), Segundo Pico de Força (SPF), Taxa de Aceitação do Peso (TAP) e Taxa de Retirada do Peso (TRP) e, as variáveis espaços-temporais: Comprimento do Passo (CP), Cadência (CAD), Tempo de Duplo Apoio (TDA) e Tempo de Apoio Simples (TAS). Para tratamento na caracterização dos dados utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e coeficiente de variação); para comparar as características das variáveis, entre homens e mulheres, nas diferentes ve- locidades utilizou-se o teste “t” de Student. Para comparar o comportamento das variáveis com o incremento da velocidade utilizou-se análise de variância ANOVA oneway, e para detectar em quais passagens de velocidades houve diferenças utilizou o teste post hoc de Tukey. Em todas as comparações adotou-se p ≤ 0,05. Resultados Os resultados estão apresentados segundo os objetivos específicos do trabalho. Na Tabela I, estão dispostos os resultados da comparação das características dinâmicas e espaços-temporais da marcha entre homens e mulheres nas velocidades de 4Km/h, 5 Km/h e 6 Km/h. Os resultados da comparação das variáveis dinâmicas e espaços-temporais da marcha para os três grupos (sexo masculino (M), sexo feminino (F) e ambos os sexos (A)) entre as diferentes passagens de velocidade estão dispostos na Tabela II. Tabela I - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaços-temporais entre homens e mulheres nas velocidades de 4 km/h, 5km/h e 6km/h. VAR PPF F SPF F TAP F TRP F CP F CAD F TDA F TAS F S M 1.08 M 1.07 M 6.78 M 4.96 M 0.61 M 108.40 M 0.27 M 0.40 4 km/h X 1.08 9.82 1.05 3.86 7.05 16.23 6.29 16.78 0.65 6.39 103.83 5.04 0.30 11.01 0.41 10.28 CV % 4.60 3.77 13.75 16.05 5.63 4.27 14.47 7.54 P 0.526 1.11 0.179 1,11 0.359 10.09 0.000* 6.03 0.002* 0.70 0.002* 117,73 0.019* 0.22 0.515 0.39 5 km /h X 1.12 5.83 1.10 4.64 9.26 32.77 7.49 18.15 0,74 5.49 112,88 4.95 0.25 9.38 0,41 4.91 CV % 4.65 7.46 13.04 13.28 3.63 3.78 14.24 12.75 6 km /h P X 0.284 1.20 1.22 6.12 0.927 1.14 1.15 7.64 0.238 13.33 15.54 40.64 0.000* 8.46 6.85 18.97 0.000* 0.82 0.78 5.98 0.001* 120.41 126.69 5.49 0.000* 0.22 0.18 12.09 0,149 0.38 0.38 7.06 CV% 9.63 P 0.498 5.06 0.490 15.32 0.212 15.13 0.000* 3.80 0.001* 3.21 0.000* 14.33 0,000* 4.43 0.619 * Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos. Analisando a Tabela I, constataram-se diferenças estatisticamente significativas entre algumas características dinâmicas da marcha de homens e mulheres. A variável cinética Taxa de Retirada do Peso e as variáveis espaços-temporais, Comprimento do Passo e Tempo de Duplo Apoio foram significantemente maior para o sexo masculino nas três velocidades. A variável espaço- Acao Mov_.indb 82 temporal Cadência foi significativamente maior para as mulheres nas três velocidades. A variável Primeiro Pico de Força apresentou o mesmo valor médio entre os sexos na velocidade de 4 km/h. Com valores não significativos, o valor médio desta variável foi maior na velocidade de 5 km/h para os homens e na velocidade de 6km/h nas mulheres. 10/8/2006 16:27:47 83 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) A variável Segundo Pico de Força foi maior no sexo masculino nas três velocidades, entretanto, estas diferenças não foram estatisticamente significativas. A variável Tempo de Apoio Simples, de forma não significativa, foram maiores para os homens nas velocidades de 4 km/h e 6 km/h, entretanto, seus valores médios foram iguais em ambos os sexos na velocidade de 6 km/h. A Variável Taxa de Aceitação de Peso apresentou valores médios maiores no sexo masculino na velocidade de 4 km/h, entretanto, com o aumento da velocidade, as mulheres apresentaram valores médios maiores. Estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Prosseguindo com a análise dos resultados da tabela I, constatou-se que o coeficiente de variação das variáveis Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força, Comprimento do Passo e Cadência mostraram-se homogêneos (CV% < 10%) em todas as velocidades em ambos os sexos. O Tempo de Duplo Apoio e Taxa Retirada do Peso apresentaram média variabilidade (11< CV% < 20). A variável Taxa de Aceitação de Peso de modo geral mostraram média variabilidade, entretanto, apresentou-se bastante heterogênea (CV% >30) nas velocidades de 5 km/h e 6 km/h no sexo feminino. Na continuidade do estudo, fez-se a comparação de diferentes variáveis dinâmicas e espaço-temporais entre as velocidades de 4km/h, 5km/h e 6km/h, conforme apresentadas na tabela II, a seguir. Tabela II - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaços-temporais entre as diferentes velocidades. VAR PPF SPF TAP TRP CP CAD TODA TAS Sexo M F A M F A M F A M F A M F A M F A M F A M F A X 4km/h 1.06 1.07 1.06 1.05 1.07 1.06 7.05 6.78 6.92 6.29 4.96 5.67 0.65 0.61 0.63 103.8 108.4 105.9 0.30 0.27 0.29 0.41 0.40 0.41 X 5km/h 1.12 1.11 1.11 1.10 1.11 1.10 9.26 10.09 9.65 7.49 6.03 6.81 0.74 0.70 0.72 112.8 117.3 115.1 0.25 0.22 0.24 0.40 0.39 0.40 X 6km/h 1.20 1.22 1.21 1.14 1.15 1.14 12.18 15.55 13.76 8.46 6.85 7.70 0.82 0.78 0.80 120.4 126.6 123.3 0.22 0.18 0.20 0.38 0.38 0.38 P (P1) 0.016* 0.273 0.005* 0.008* 0.097 0.000* 0.000* 0.023* 0.000* 0.000* 0.004* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.837 0.166 0.253 P (P2) 0.001* 0.000* 0.000* 0.171 0.054 0.008* 0.000* 0.000* 0.000* 0.006* 0.036* 0.002* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.002* 0.000* 0.000* 0.071 0.653 0.056 P (P3) 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.000* 0.017* 0.022* 0.000* * Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos. P1 – Passagem de 4km/h para 5km/h; P2 – Passagem de 5km/h para 6km/h; P3 – Passagem de 4km/h para 6km/h. Através dos resultados apresentados na Tabela II, identificou-se que a velocidade produziu alterações significativas para os níveis pré-estabelecidos em todas as variáveis analisadas. Para verificar em que passagens de velocidade ocorreram estas diferenças, aplicou-se a análise de post-hoc de Acao Mov_.indb 83 Tukey, onde se constatou: a) Nas variáveis Taxa de Aceitação do Peso, Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo, Cadência e Tempo de Duplo Apoio houve diferenças significativas nas três passagens de velocidade no grupo dos homens, das mulheres e de ambos os sexos; b) Na variável Primeiro Pico de Força identificou-se 10/8/2006 16:27:47 84 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) diferença significativa em quase todas as passagens de velocidade, com exceção do grupo feminino na passagem de 4km/h para 5km/h; c) Na variável Segundo Pico de Força observou-se diferença significativa nas três passagens de velocidade quando considerado o grupo misto. Porém, não houve diferença significativa para o sexo masculino na passagem de 5 km/h para 6 km/h e para o sexo feminino nas passagens de 4 km/h para 5 km/h e 5 km/h para 6 km/h; d) No Tempo de Apoio Simples ocorreram diferenças significativas para os três grupos apenas na passagem de 4 km/h para 6km/h. Discussão No que se refere à comparação dos valores das diferentes variáveis analisadas entre homens e mulheres, de um modo geral, os homens apresentaram maiores valores nas variáveis Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo, Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples, enquanto que as mulheres apresentaram maiores valores de Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Cadência. A ausência de diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres nas variáveis Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força e Taxa de Aceitação do Peso, em todas as velocidades analisadas, aponta que homens e mulheres responderam ao teste aplicado de forma semelhante, possivelmente pelo fato de que a velocidade foi controlada e induzida pela esteira. Na variável Taxa de Retirada do Peso, observa-se que os homens apresentam maiores valores, fato que pode ser justificado pelo predomínio de massa magra no sexo masculino. Segundo Fernandes [8], a diferença hormonal é a justificativa mais evidente da diferença de força muscular em homens e mulheres, visto que a testosterona tem características anabólicas e androgênicas. Além disso, Viel [9] afirma que os músculos glúteos e isquiotibiais estão fortemente ligados à fase de pré-oscilação dos membros inferiores durante a marcha. Uma vez que esta fase tem ligação direta com a força dos músculos extensores, e conseqüentemente, com uma maior força de impulsão, justifica-se o fato dos homens apresentarem maiores médias para esta variável. O Comprimento do Passo na velocidade de 4km/h apresentou maiores valores para os homens, mostrando-se semelhante aos valores encontrados por Alencar, Pereira & Holanda [10], com 0,65 m para os homens e 0,62 m para as mulheres em uma velocidade habitual de aproximadamente 4km/h. Cho, Park & Kwon [5] também encontraram valores menores de comprimento de passo nas mulheres. Entretanto, estes dados vão de encontro com o estudo de Ferber, McClay & Willians [4] que encontraram um aumento do comprimento do Acao Mov_.indb 84 passo nas mulheres e atribui este aumento a necessidade de manter a velocidade da marcha pré-determinada. Além da variável Comprimento do Passo, o Tempo de Duplo Apoio apresentou valores maiores para o sexo masculino, o que pode ser explicado pela existência de diferenças antropométricas relacionadas ao comprimento dos membros inferiores entre homens e mulheres. A variável Cadência apresentou-se significativamente diferente entre homens e mulheres, sendo maior para o sexo feminino nas três velocidades analisadas. Estes resultados concordam com os obtidos por Tommy, [11]; Alencar, Pereira & Holanda [10]; Cho, Park, Know [5] que também encontraram valores de Cadência maior para este grupo. Tal fenômeno pode indicar uma forma de compensação de alguns fatores antropométricos. As características da marcha são dependentes de múltiplos fatores como o limite mecânico imposto pelo comprimento dos membros inferiores, massa corporal, momento da inércia e o nível de carga tolerado pelo sistema músculo esquelético [12]. Sacco [13] acrescenta ainda, que os fatores extrínsecos são determinantes para as características da marcha. Para este autor, características antropométricas, tais como estatura do indivíduo e comprimento dos membros inferiores, correlacionam e influenciam parâmetros desta tarefa motora. Em adição, Lima [14] destaca que o passo é uma característica individual, estando relacionada com as dimensões corpóreas, principalmente com o comprimento dos membros inferiores e a capacidade de alongamento dos músculos. Em relação ao coeficiente de variação este é definido como o desvio-padrão expresso em porcentagem de média, é a medida mais utilizada para medir a instabilidade relativa de variável, considera-se que quanto menor o CV, maior será a homogeneidade dos dados. Melo [15] considerou valores do CV% até 10% como de baixa variabilidade, de 11 a 20% como de média variabilidade, de 21 a 30% como de alta variabilidade e maior que 30% como de variabilidade muito alta. De forma geral, os coeficientes de variação mostraram-se homogêneos, entretanto, as variavéis Tempo de Duplo Apoio, Taxa Retirada de Peso e Taxa de Aceitação do Peso apresentaram-se com média variabilidade, Melo et al. [7] em um estudo sobre as características da marcha, relacionaram, a elevação nos índices de heterogeneidade ao piso móvel da esteira. A variável Taxa de Aceitação de Peso apresentou-se com alta variabilidade no sexo feminino nas velocidades de 5 km/h e 6km/h. Vários estudos utilizam esta variável como medida de estabilidade e equilíbrio [16,6], entretanto, não possuímos dados para aprofundar esta relação. Analisando o comportamento das variáveis cinéticas da marcha, sob influência do incremento da velocidade, observou-se um aumento para os valores 10/8/2006 16:27:48 85 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) médios das variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Taxa de Retirada do Peso; e variáveis espaciais: Comprimento do Passo e Cadência. Entretanto, as variáveis temporais Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples tiveram redução dos seus valores. Pode-se dizer que os valores das variáveis dinâmicas sofreram um aumento obedecendo a 2ª Lei de Newton, a qual estabelece que a resultante das forças aplicadas a um ponto material é igual ao produto de sua massa pela aceleração adquirida. Desta forma, a aceleração é diretamente proporcional à força aplicada. O comportamento da variável Primeiro Pico de Força que aumentou com o incremento da velocidade, é semelhante aos resultados apresentados por Melo et al. [7] que verificaram um aumento dos valores desta variável, também nas passagens de velocidade de 4km/h para 5km/ h, 5km/h para 6km/h e de 4km/h para 6km/h, indicando que os praticantes de caminhada enfatizam a utilização do calcanhar na fase de apoio. Estes resultados também concordam com os apresentados por Simon apud Sacco [13] o qual afirma que os picos de força variam de 0,5 a 1,5 vezes o peso corporal, além de ter relação direta com a velocidade do movimento. Observou-se ainda que, na passagem de 4km/h para 5km/h, não houve diferença estatisticamente significava na variável Primeiro Pico de Força para o grupo feminino. Para a variável Segundo Pico de Força, os resultados vão de encontro aos apresentados por Melo et al. [7] e White [17], que registraram a diminuição dos valores desta variável linearmente com o aumento da velocidade. Contudo, o grupo masculino não indicou diferença estatisticamente significativa na passagem de 5km/h para 6km/h e o grupo feminino nas passagens de 4km/h para 5km/h e 5km/h para 6km/h. Admite-se que tal resultado possa ser obtido por uma maior capacidade de adaptação apresentada por estes grupos. A Taxa de Aceitação de Peso é um indicador de uma série de características relacionadas ao recebimento da carga pelos membros inferiores. Costa, Duarte e Amadio [18] afirmam que a força de reação do solo não é medida direta de sobrecarga, mas apenas um indicador de níveis de solicitação mecânica externa. Hennig [19], por sua vez, relaciona a acomodação do peso como o choque do impacto e afirma que esta é influenciada pela velocidade. Com o incremento da velocidade, há um aumento dos valores médios dos picos de força, e simultaneamente, uma redução do tempo para atingir estes picos. A variável Taxa de Retirada do Peso pode ser definida como a fase final de impulsão dos pés no solo, que é dada principalmente pela força dos músculos extensores do tornozelo. Sendo o impulso diretamente proporcional a força aplicada [20], pode-se dizer que a TRP é Acao Mov_.indb 85 igualmente proporcional à mesma força. Desta forma, justifica-se o comportamento desta variável quando influenciada pela velocidade, uma vez que a força aumenta para a aceleração. Os resultados encontrados para a variável Cadência, que teve seus valores aumentados, e para as variáveis Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples que sofreram uma redução de seus valores médios, concordam com Murray apud Brunieira [21]. O autor afirma que o incremento da velocidade produz o aumento dos valores de CAD e a redução dos valores de TDA e TAS. Contudo, apesar da diminuição dos valores médios da variável TAS, com o incremento da velocidade, estas diferenças só foram estatisticamente significativas, em nosso estudo, das três passagens analisadas, somente a de 4Km/h para 6Km/h. Sendo assim, tanto a variável Taxa de Aceitação do Peso, quanto a variável Taxa de Retirada do Peso aumentaram com o incremento da velocidade, na tentativa de cumprir as solicitações do aumento da cadência, induzidas pelo piso móvel. E por fim, identificou-se um aumento estatisticamente significativo dos valores médios da variável Comprimento do Passo. Este fenômeno é explicado por Andrade, Melo, Ávila & Kraeski [22] que afirmam que o comprimento do passo deve apresentar um comportamento contrário ao apresentado na cadência, a fim de ajustar a freqüência de passos à velocidade induzida. Desta forma, o comportamento normal para esta variável, quando submetida a um incremento de velocidade, é aumentar sua amplitude na tentativa de acompanhar o ritmo imposto pela esteira. Conclusão Diante dos resultados apresentados e com base no referencial teórico consultado, concluiu-se que: a) Homens e mulheres demonstram diferenças em algumas características da marcha, sendo que as variáveis Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo e Tempo de Duplo Apoio apresentaram diferenças nas três velocidades; Primeiro Pico de Força na velocidade de 5km/h; Taxa de Aceitação do Peso a 4km/h e Tempo de Apoio Simples nas velocidades de 4km/h e 5km/h maiores para os homens. b) As variáveis Segundo Pico de Força e Cadência foram maiores para as mulheres nas três velocidades, enquanto que a variável Primeiro Pico de Força foi maior apenas na velocidade de 6Km/h e a Taxa de Aceitação do Peso foi maior nas velocidades de 5Km/h e 6Km/h. c) As variáveis Primeiro Pico de Força e Tempo de Apoio Simples apresentaram valores semelhantes para homens e mulheres, respectivamente, nas velocidades de 4Km/h e 6Km/h. d) As variáveis dinâmicas Primeiro 10/8/2006 16:27:48 86 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Pico de Força, Segundo Pico de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Taxa de Retirada do Peso e as variáveis espaçotemporal Comprimento do Passo e Cadência sofreram aumento significativo de sua magnitude em pelo menos uma das passagens de velocidade, indicando que estas variáveis estão diretamente relacionas ao fator velocidade; e) Variáveis temporais como Tempo de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples tiveram seus valores reduzidos significativamente em pelo menos uma das passagens de velocidade, sugerindo relação inversamente proporcional a este fator; g) Em síntese, existem algumas diferenças no padrão da marcha de homens e mulheres, porém não muito discrepantes. Além disso, o aumento da velocidade influencia o comportamento de variáveis dinâmicas e espaço-temporal da marcha de indivíduos sadios, ora aumentado, ora diminuindo seus valores médios. Referências 1. KERRIGAN, D. C.; TODD, M. K.; CROCE, U. D. Gender differences in joint biomechanics during walking: normative study in young adults. Am. J. Phys. Med. Rehabil, v. 77, n. 1, p. 2-7, 1998. 2. CHIU, M.C.; WANG, M. J. The effect of gait speed and gender on perceived exertion, muscle activity, joint motion of lower extremity, ground reaction force and heart rate during normal walking. Gait & Posture, June 28, 2006. 3. WATERS, R.L.; MULROY, S. The energy expenditure of normal and pathologic gait. Gait Posture, v. 9, n.3, p. 207-31, 1999. 4. FERBER, R.; MCCLAY, D. I.; WILLIAMS, D. S. Gender differences in lower extremity mechanics during running. Clin Biomech, v. 18, p. 350-7, 2003. 5. CHO, S. H.; PARK, J. M.; KWON, O. Y. 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Análise cinemática da marcha em adultos normais, de ambos os sexos na faixa etária de 20 a 40 anos, recrutados na região de influência da UFPB. Anais do IX Congresso Brasileiro de Biomecânica, Gramado, 2001. 11. TOMMY, O.; KARSZENIA, A.; ÖBERG, K. Basic gait parameters: reference data for normal subjects, 10-79 years of age. J Rehabil Res Dev, v. 30, n. 2, p. 210-33, 1993. 12. ABERNETHY, B.; HANNA, A.; PLOOY, A. The attentional demands of preferred and non-preferred gait patterns. Gait and Posture, v. 15, p. 256-65, 2002. 13. SACCO, I. C. N. Biomecânica da marcha humana: análise do andar normal e aplicações clínicas. Apostila didática, 2001. 14. LIMA, T. F. Caminhadas – Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Sprint, 1998. 15. MELO, S.I.L. Um sistema para determinação do coeficiente de atrito (u) entre calçados esportivos e pisos usando o plano inclinado. 1995. 221f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Curso de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal de Santa Maria. 16. TONON, S. C.; AVILA, A. O. V. Alterações nos parâmetros da marcha em amputados de membros inferiores no intervalo de três anos. Anais IX Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2001. 17. WHITE, S. C et al. Relation of vertical ground reaction forces to walking speeds. Gait and Posture v. 4, p. 167-08, 1996. 18. COSTA, P. H. L.; DUARTE, M.; AMADIO, A.C. Análise da força reação do solo e da atividade muscular em crianças durante o andar no plano e o subir em descer escadas. Anais do VII Congresso Brasileiro de Biomecânica, Campinas, 1997. 19. HENNIG, E. M. Gait analysis and the biomechanics of human locomotion. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, Florianópolis,1999. 20. SCHAUM, D.; MERWE, V. D, WILLEM. C. Física geral. Rio de Janeiro: Mac-Graw-Hill do Brasil, 1979. 21. BRUNIERA, C. A.V. Análise biomecânica da locomoção humana: andar e correr. Treinamento Desportivo, v. 3, n. 3, p. 54-61, 1998. 22. ANDRADE, M. C.; MELO, S. I. L.; AVILA, A. O. V.; KRAESKI, M H. Análise biomecânica da marcha atlética e caminhar em diferentes velocidades. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, Florianópolis, 1999. 10/8/2006 16:27:49 87 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) ARTIGO ORIGINAL Treinamento com pesos para iniciantes: comparação de esforço entre três modelos de treinamento Weight training for beginners: comparison of strength between three training models Ricardo Yukio Asano Professor de Educação Física – ESEF-Jundiaí, Pós-graduação em fisiologia do exercício – FMU e Mestrado em Educação Física – Performance Humana – UNIMEP, atualmente Coordenador do curso de Educação Física da UNIRG-TO Resumo O treinamento com pesos é comumente utilizado em programas de atividade física. Pesquisas relatam efeitos positivos na saúde e performance de praticantes nesse treinamento. Porém em iniciantes no programa ocorrem algumas alterações fisiológicas muitas vezes drásticas em seu organismo. O American College of Sports Medicine (ACSM) publicou diretrizes para o treinamento direcionado a alunos iniciantes no programa. As variáveis intensidade, volume, recuperação, velocidade de contração muscular, seqüência dos exercícios, ordem dos exercícios e utilização de pesos livres ou máquinas de musculação foram relatadas em protocolos visando treinamento de força, hipertrofia e resistência muscular localizada. O presente estudo objetivou a determinação do esforço realizado pelo iniciante nos três modelos de treinamento do ACSM. Participaram do estudo dez indivíduos sedentários. Utilizou-se para determinação do esforço: freqüência cardíaca, percepção subjetiva do esforço, concentração de lactato e atividade de creatina kinase. Houve aumento significativo na atividade de creatina kinase (564 ± 145 U.I), lactato plasmático (5,7 ± 0,8 mmol. l) e freqüência cardíaca (123,7 ± 4,5 bpm) no protocolo de hipertrofia, quando comparado com os protocolos de força e RML (p < 0,05). Os resultados sugerem que o protocolo de hipertrofia parece ser o mais estressante para o aluno iniciante em programa de treinamento com peso em relação a microlesão muscular e esforço quando comparado com protocolo de força e resistência muscular localizada do ACSM. Palavras-chave: iniciantes, microlesão, lactato, treinamento de força. Abstract Weight training is very common in physical activity programs. Researches report positive effects in health and performance of practitioners. However, beginners of weight training program suffer some physiological alterations in their body, the majority drastic. The American College of Sports Medicine (ACSM) published guidelines for beginner’s weight training program. The variable Artigo recebido em 16 de maio de 2006; aceito em 01 de agosto de 2006. Endereço para correspondência: Ricardo Yukio Asano, UNIRG – Campus II, AV. Rio de Janeiro, Setor Central, Gurupi TO, Tel: (63) 3612-7626, (63) 8411-3887, E-mail: [email protected] Acao Mov_.indb 87 10/8/2006 16:27:50 88 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) intensity, volume, recovery, speed of muscular contraction, sequence of exercises, and order of the exercises during workout and use of free weights or muscle machines were reported in protocols aiming at training strength, hypertrophy and located muscular resistance. The present study aims at determinating strength carried out by the beginner in the three training models of ACSM. The study was composed by ten sedentary individuals. To determinate strength it was used: heart rate, subjective perception of strength, lactate concentration and activity of creatine kinase. There has been a significant increase in the creatine kinase activity (564 ± 145 U.I), lactate (5.7 ± 0.8 mmol.l) and heart rate (123,7 ± 4,5 bpm) in the hypertrophy protocol, when compared with the protocols of strength and RML (p < 0,05). The results suggest that the hypertrophy protocol seems to be stressful for the beginners in a weight training program in relation to a muscle microinjury and effort when compared with strength protocol and located muscular resistance of the ACSM. Key-words: beginners, microinjury, lactate, strength training. Introdução O treinamento com pesos tornou-se uma das formas mais conhecidas de exercício para o condicionamento de atletas e não-atletas. O termo treinamento com pesos, normalmente refere-se ao treinamento que utiliza pesos livres ou equipamentos com peso. O exercício com sobrecarga tornou-se popular nos últimos 70 anos, no entanto, estima-se que esportes utilizando força possam ter surgido há cerca de 1800 anos. As investigações científicas do treinamento com pesos não evoluíram até o trabalho de Delore e Watkins em 1948, após a Segunda guerra mundial. Esses autores demonstraram a importância do exercício de força progressivo, no aumento da força e hipertrofia muscular para a reabilitação de militares. Desde os anos de 1950 e 1960, o treinamento de força é um tópico de interesse científico [1]. Sabe-se que o treinamento com pesos aumenta o tamanho e a massa do músculo esquelético. O aumento do diâmetro de fibras musculares existentes ocorre com a adição de novas miofibrilas e proteínas sarcoplasmáticas dentro dessas fibras [2].O aumento no tamanho do músculo em resposta ao treinamento com pesos foi observado em estudos realizados em animais e seres humanos. Esse aumento dos músculos em atletas treinados em força tem sido atribuído à hipertrofia das fibras musculares já existentes [3]. Um ótimo programa de treinamento com pesos deve seguir algumas especificações, tais como o estado inicial de aptidão física e saúde do individuo, o seu objetivo principal e limitações com a prática do treinamento. É muito importante ter conhecimento dos efeitos agudos de protocolos de treinamento com pesos, para a implantação dos modelos ao decorrer do programa de treinamento [4]. Além disso, a combinação das variáveis do treinamento com pesos como; a escolha dos exercícios, a ordem de execução, o volume, a intensidade, os intervalos entre as séries e a freqüência dos exercícios, podem causar diferentes efeitos no organismo [5]. Efeitos agudos Acao Mov_.indb 88 como aumento da concentração de lactato sanguíneo, microlesão muscular, alteração na glicemia, alteração da pressão arterial são comuns em iniciantes em programas de treinamento com pesos [3,6,7,8]. O American College Sports Medicine (ACSM) publicou, em fevereiro de 2002, diretrizes para treinamento com pesos de protocolos utilizados comumente nos programas de musculação para alunos iniciantes no treinamento com pesos. No artigo foram publicados modelos de treinamento para resistência muscular localizada, diretrizes para hipertrofia e diretrizes para treinamento visando aumento da força muscular. Esse artigo publicado na revista Medicine and Science in Sports and Exercise por Kraemer et al. [1], relatou que, para se atingir uma meta específica (força, hipertrofia, resistência, potência, entre outros.) com o treinamento com pesos, é necessário seguir o tipo de protocolo ideal para alcançar as adaptações esperadas. As características de um ótimo programa de treinamento com pesos incluem o uso de contrações musculares concêntricas e excêntricas e realização de exercícios que recrutem simples e múltiplas articulações. É recomendado que, na seqüência dos exercícios se utilize primeiro exercícios de múltiplas articulações e depois exercícios de articulações simples, grandes grupos musculares antes dos pequenos grupos musculares e exercícios de alta intensidade antes dos exercícios de baixa intensidade. Para treinamento de força muscular para alunos iniciantes é recomendado que cargas correspondentes de oito a doze repetições máximas sejam utilizadas. Recomenda-se para alunos intermediários e avançados a utilização de cargas de um a doze repetições máximas, nas fases de periodização do treinamento, com eventual ênfase para uma a seis repetições máximas e período de recuperação de três minutos entre uma série e outra com velocidades de contração moderada (um a dois segundos de duração da contração concêntrica e um a dois minutos contração excêntricas). Alunos iniciantes devem treinar 10/8/2006 16:27:50 89 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) de dois a três dias por semana e quatro a cinco dias para alunos intermediários e avançados. As recomendações para treinamento de hipertrofia muscular para escolha dos tipos e freqüência dos exercícios são similares ao treinamento de força. A sobrecarga para esse treinamento corresponde uma a doze repetições máximas com ênfase entre seis a doze repetições, usando um a dois minutos de recuperação e velocidades moderadas de contração. Alto volume de treinamento e múltiplas séries são recomendados para maximizar hipertrofia. Para o treinamento de resistência muscular localizada recomendam-se cargas leves a moderadas entre 40 e 60% de uma repetição máxima realizadas com alto volume, acima de 15 repetições e períodos curtos de recuperação, menor que 90 segundos. Na interpretação e utilização dessas diretrizes nos programas de treinamento com pesos, devem levar em consideração os objetivos específicos dos alunos assim como sua aptidão física e o estado de treinamento. A utilização apropriada das variáveis do exercício com pesos (escolha de resistência, seleção e ordem dos exercícios, número de séries e repetições, extensão do período de repouso), capacitam alunos a adquirir altos níveis de aptidão muscular. Características de aptidão física incluem força muscular, potência, hipertrofia e resistência muscular localizada. Outras variáveis como velocidade, equilíbrio, coordenação, habilidade em saltos, flexibilidade e outros testes de performance motora podem também ser positivamente acentuadas pelo treinamento de força [1]. Uma das mais respeitadas comunidades cientificas que produzem conhecimento na área da Educação Física e Medicina Esportiva é o ACSM. Essa entidade publica diretrizes a serem seguidas por alunos iniciantes, intermediários e avançados para a realização de programas de treinamento com pesos, por isso profissionais da Educação Física responsáveis pela elaboração de programas de treinamentos com pesos as têm como princípios básicos. As diretrizes do ACSM são sustentadas por pesquisa recentes e fidedignas, podendo ser tomadas como referências e ponto de partida para futuros estudos sobre o assunto. A elaboração das sessões de treino constitui uma análise minuciosa, o qual prevê perspectivas possíveis a curto, médio e longo prazo. Além da elaboração do treino visando um objetivo específico a médio e longo prazo, necessita-se preservar a integridade do aluno, principalmente os iniciantes no programa de treinamento com pesos, no que diz respeito aos efeitos agudos do treino. Uma sessão de treinamento com pesos causa efeitos, em certos momentos até drásticos, em muitos sistemas fisiológicos de um indivíduo iniciante ao treinamento com pesos, como, por exemplo, alterações neuromusculares, endócrinos, hemodinâmicos, imunológicos, mobilização Acao Mov_.indb 89 de substratos, produção de energia, cardiorespiratório, cardiovascular entre outros sistemas. O foco do estudo é gerar conhecimento sobre os modelos de treinamento com pesos sugeridos pela ACSM em relação ao esforço despendido pelos iniciantes, em uma comparação entre os três modelos citados (força, hipertrofia e RML). O conhecimento dos efeitos do esforço em diferentes protocolos de treinamento com pesos se torna fundamental para planejamento, elaboração e aplicação do programa de treinamento, principalmente na população de iniciantes sedentários. Materiais e métodos Este estudo se caracteriza como ensaio experimental, para obtenção das respostas agudas de esforço de uma sessão de treinamento com pesos em três modelos de treinamento com pesos para iniciantes. Utilizamos determinação da freqüência cardíaca, percepção subjetiva de esforço, concentração de lactato, e atividade de creatina kinase, em adultos saudáveis destreinados, objetivando determinar e comparar esforço e respostas fisiológicas agudas, entre os protocolos de treinamento recomendados para alunos iniciantes em programa de treinamento com pesos. Selecionamos dez homens, saudáveis, com idade 24,5 ± 8 anos, peso 70,4 ± 8,1kg, estatura 171,2 ± 5,1cm, índice de massa corpórea (IMC) 23,9 ± 1,9, porcentagem de gordura 15,3±3,6%. A seleção dos sujeitos incluiu indivíduos normotensos, não-diabéticos, não-atletas e que não praticaram nenhum treinamento físico regular nos últimos doze meses. Todos os sujeitos foram informados dos procedimentos e riscos do estudo, assinando um termo de consentimento aceitando por livre e espontânea vontade realizar o processo experimental. Os aparelhos de musculação utilizados foram da marca Righetto High Tech. 1ª fase - Protocolo de RML Antes de iniciar o protocolo de RML, os sujeitos passaram por uma bateria de testes, que foram classificados como amostra de controle. Os sujeitos foram instruídos a ficar na posição sentada durante três minutos. Após esse tempo, foram determinadas a freqüência cardíaca por freqüencímetro da marca Polar Favor e a concentração de lactato através da perfuração do dedo indicador da mão direita utilizando uma lanceta. Após a perfuração, coletou-se sangue do plasma por uma tira teste posicionada dentro do aparelho portátil lactímetro para determinação da concentração de lactato plasmático. A análise da concentração do lactato foi realizada pelo lactímetro Accusport Accutrend. E 10/8/2006 16:27:51 90 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) finalizando as coletas iniciais, ainda na mesma posição sentada foi coletada 5 ml de sangue através do tubo Vacutainer, em tubos BD Vacutainer (K3 EDTA 5ml), da veia basílica, as amostras foram congeladas em local com temperatura de -20º, para análise posterior. A coleta de sangue foi realizada por especialista em enfermagem devidamente autorizada para coleta de sangue humano. Para todas as coletas evasivas foram tomadas as devidas precauções e condutas de higiene e infecções orientadas por especialista em coleta de sangue. Todos os materiais utilizados nessas coletas eram de natureza descartável e foram eliminados em recipientes próprios. O protocolo de RML consistia em realização de contrações musculares concêntricas e excêntricas a 60% de 1 RM, três séries de quinze repetições, com um minuto de recuperação entre as séries e velocidades moderadas de contração muscular, a seleção e ordem dos exercícios foram de grandes grupos musculares antes dos pequenos grupos e exercícios de múltiplas articulações antes dos exercícios de articulações simples como recomendado pelo ACSM, para treinamento de RML para iniciantes. A seguir, está descrita a ficha de treino do protocolo de RML que foi realizado pelo grupo experimental. Ficha de treino de protocolo RML Os sujeitos realizaram os exercícios do protocolo de RML a 60% de 1-RM, três séries de quinze repetições, velocidade de contração moderada, recuperação de um minuto entre as séries. Tabela I - Ficha de treino para exercícios do protocolo de RML Máquina Descrição do movimento 1 Supino vertical Sentado em banco com apoio para as costas, cotovelos flexionados, realizando flexão dos ombros e extensão do tríceps no plano horizontal. 2 Fly máquina Deitado sobre banco horizontal segurando uma barra na altura do peitoral, cotovelos flexionados, mãos em pronação, realizando extensão do tríceps e flexão dos ombros no plano vertical, elevando uma barra com pesos. 3 Pulley Sentado, braços estendidos, segurando uma barra presa a uma roldana, acima da cabeça, realizando flexão do cotovelo e flexão dos ombros no plano vertical. 4 Voador Sentado em bando com apoio nas costas, braços na posição horizontal, realizando flexão dos ombros no plano horizontal. 5 Hack horizontal Deitado em banco horizontal, pés apoiados em uma plataforma, realizando extensão do joelho e quadril no plano horizontal. 6 Flexão de perna Deitado em decúbito ventral realizando flexão do joelho no. 7 Extensão de perna Sentado em banco com apoio nas costas realizando extensão do joelho. 8 Panturrilha máquina Sentado realizando extensão do tornozelo. 9 Máquina bíceps Sentado, axila apoiada realizando flexão do cotovelo. 10 Máquina tríceps Sentado, braços apoiados na posição horizontal na altura dos ombros, realizando extensão do cotovelo. Logo após o último exercício da ficha de treino, os sujeitos foram levados para a sala de avaliação, onde realizamos minuciosamente os mesmos procedimentos das mensurações nas coletas de amostras em estado de repouso. Ao final do treino, acrescentamos mais uma mensuração: a percepção subjetiva do esforço (escala de Borg). Período de intervalo entre as fases de coleta Após o término do protocolo e coletas do treino de RML, os sujeitos do grupo experimental foram instruídos a não praticar nenhum exercício físico regular, de qualquer natureza no período de duas semanas (período de intervalo entre uma fase de coleta e outra). Acao Mov_.indb 90 2ª fase - Treinamento para hipertrofia O protocolo de hipertrofia consistia em realização de contrações musculares concêntricas e excêntricas a 70% de 1-RM, três séries de 12 repetições, com um minuto e trinta segundos de recuperação entre as séries e velocidades moderadas de contração muscular, a seleção e ordem dos exercícios foram de grandes grupos musculares antes dos pequenos grupos e exercícios de múltiplas articulações antes dos exercícios de articulações simples como recomendado pelo ACSM, para treinamento de hipertrofia para iniciantes. A seleção e a ordem dos exercícios do treino para hipertrofia seguiu rigorosamente os mesmos do treino de RML. - Coleta de amostras no protocolo de hipertrofia 10/8/2006 16:27:51 91 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Os mesmos procedimentos de coleta de amostras realizados no protocolo de RML foram repetidos no protocolo de hipertrofia. Período de intervalo entre a 2ª e 3ª fase de coleta Assim como no intervalo entre a 1ª e 2ª fase, neste intervalo os sujeitos do grupo experimental foram instruídos a não praticar nenhum exercício físico regular, de qualquer natureza, no período de duas semanas (período de intervalo entre uma fase de coleta e outra). 3ª fase - Treinamento de força O protocolo de força consistia em realização de contrações musculares concêntricas e excêntricas a 75% de 1-RM, três séries de 8 repetições, com dois minutos e trinta segundos de recuperação entre as séries a velocidades moderadas de contração muscular, a seleção e ordem dos exercícios foram de grandes grupos musculares antes dos pequenos grupos e exercícios de múltiplas articulações antes dos exercícios de articulações simples como recomendado pelo ACSM, para treinamento de força para iniciantes. A seleção e a ordem dos exercícios do treino para força seguiram rigorosamente o mesmo do treino de RML e hipertrofia. Coleta de amostras no protocolo de força Os mesmos procedimentos de coleta de amostras realizados no protocolo de RML e hipertrofia, também foram repetidos no protocolo de força. Análise das amostras coletadas As determinações de freqüência cardíaca (Polar Favor), lactato (Accusport Accutrend) e esforço subjetivo (escala de Borg) foram analisados por equipamentos portáteis que analisaram a amostra no mesmo local e hora da coleta. Já a análise da atividade de creatina kinase (Bio Diagnóstica, CK-MB NAC), o sangue coletado (5 ml) pelas especialistas em enfermagem, foi centrifugado, coletado o soro e congelado em local com temperatura a - 20º, para análise posterior. riormente realizou-se análise de variância ANOVA com teste F e verificou-se a diferença significativa p < 0,05. A comparação da medias dos variantes independentes foi realizada através do Teste de comparação de medias LSD (mínima significativa) de Fisher. Resultado e discussões Constatou-se que o protocolo de hipertrofia é mais estressante ao organismo de sujeitos destreinados em relação aos protocolos de força e RML, nas variáveis: freqüência cardíaca, concentração de lactato plasmático e atividade da creatina Kinase Na variável percepção subjetiva de esforço, os resultados apontam protocolo de baixo volume e alta intensidade (força), como menor esforço subjetivo que alto volume e baixa intensidade (RML) e moderada intensidade e moderado volume (hipertrofia). O protocolo de hipertrofia causou maior microlesão no tecido muscular esquelético em relação aos protocolos de RML e força (Figura 1). A alta intensidade do protocolo de hipertrofia apresentou-se com maior probabilidade de provocar microlesão do que alto volume (protocolo de RML), uma das hipóteses seria a necessidade da utilização de fibras inativas no esforço diário do sujeito destreinado. Porém, alta Figura 1 - concentração creatina quinase, de sujeitos destreinados em treinamento com pesos, determinada logo após o último exercício dos protocolos de RML, hipertrofia e força recomendados pelo American College Sport Medicine para alunos iniciantes no treinamento com pesos. Os resultados estão expressos como média ± desvio padrão, (n = 10), utilizando o nível de significância de p < 0,05, em comparação entre os protocolos. Plano analítico e técnica estatística Para a análise das variáveis dependentes (freqüência, pressão arterial, percepção de esforço, glicemia, lactato e creatina quinase) e comparação de resultados entre as variáveis independentes (força, hipertrofia e RML) utilizou-se do método estatístico ANOVA. Com significância das comparações múltiplas realizadas através do teste LSD de Fisher ao nível de 5% de significância. Primeiramente foi verificada a homogeneidade das variâncias através do teste Levene (p = 0,118). Poste- Acao Mov_.indb 91 # - diferença significativa (p < 0,05), entre o protocolo e repouso. * - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de hipertrofia e protocolo força. ∆ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de hipertrofia e protocolo de RML.. [ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de força e protocolo de RML. 10/8/2006 16:27:52 92 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) intensidade de exercício parece não ser a única variável a provocar lesão no tecido esquelético, já que a intensidade do protocolo de força utilizado em nosso trabalho foi maior que o protocolo de hipertrofia (força 75% de 1-RM e hipertrofia 70% de 1-RM) e o protocolo de hipertrofia demonstrou aumento significativo da atividade da creatina kinase em relação ao protocolo de força. Sendo assim, parece que intensidade moderada para alta, conjugado com volume moderado (protocolo de hipertrofia), causa maior lesão que alta intensidade e baixo volume (protocolo de força) e alto volume e baixa intensidade (protocolo de RML). Almeida [9] comparou, em dois protocolos, os efeitos da uma sessão de treinamento com pesos em sujeitos destreinados. Um grupo realizou o protocolo de múltiplas-séries, que consistia em três séries com carga de 15-RM, com dois minutos de intervalo entre as séries, em oito exercícios com pesos. O segundo grupo executou os mesmos exercícios que o primeiro, mas diferenciou-se pelo fato de utilizar o treinamento na forma de circuito, onde as séries de exercícios de cada grupo muscular foram alternadas por grupos musculares diferentes, e os intervalos entre as séries foram de trinta segundos. O autor determinou nível de microlesão utilizando atividade de creatina quinase após 24, 48 e 72 horas após esforço. Os valores para múltipla-série foram de 371 ± 597,50, 800 ± 609,10 e 1300 ± 631,40 respectivamente. E 190 ± 248,35, 219 ± 495,85 e 145 ± 631 no protocolo em forma de circuito. O autor concluiu que para alunos iniciantes em treinamento com pesos, recomenda-se aumentar o volume do esforço em vez da intensidade, evitando assim lesão excessiva do tecido muscular esquelético. Segundo Verkochansky [10], a atividade muscular intensa está vinculada ao acúmulo de substratos metabólicos, não oxidados totalmente no organismo, em particular do lactato e ácido pirúvico que influenciam negativamente a contração do músculo, provocando a fadiga muscular. Em pessoas destreinadas, à medida que aumenta o esforço, a concentração do lactato no sangue varia pouco até esforços de 50 a 60% do volume de oxigênio máximo (VO²max), em seguida eleva-se bruscamente. O protocolo de hipertrofia utilizado em nosso estudo apresentou elevada concentração de lactato plasmático após o esforço. A elevação do lactato plasmático do protocolo de hipertrofia mostrou-se significantemente elevado quando comparado com os protocolos de força e RML (Figura 2). Já quando comparamos os protocolos de força e RML, não encontramos diferença significativa. Certamente as variáveis intensidade (70%), volume (10 repetições) e período de recuperação (1’30’’) conjugadas, representam elevado esforço para sujeitos destreinados. Acao Mov_.indb 92 Figura 2 - Concentração de lactato plasmático, em milimol por litros (mmol/l -¹), de sujeitos destreinados em treinamento com pesos, determinada logo após o último exercício dos protocolos de RML, hipertrofia e força recomendados pelo American College Sport Medicine para alunos iniciantes no treinamento com pesos. Os resultados estão expressos como, média ± desvio padrão, (n = 10), utilizando o nível de significância de p < 0,05, em comparação entre os protocolos. # - diferença significativa (p < 0,05), entre o protocolo e repouso. * - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de hipertrofia e protocolo força. ∆ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de hipertrofia e protocolo de RML.. [ - diferença significativa (p < 0,05), entre protocolo de força e protocolo de RML. De acordo, Frey [11] relata que exercícios de alta intensidade elevam mais a concentração de lactato em relação ao alto volume de treinamento. Os resultados do presente estudo mostraram que, em uma população de homens destreinados, iniciando um treinamento com pesos, o protocolo de hipertrofia recomendado pelo ACSM parece ser o que causa maior impacto ao organismo, quando comparado com protocolo de força ou RML. Principalmente em relação à microlesão do tecido esquelético e concentração de lactato plasmático. Conclusões Comparando os resultados obtidos nas variáveis freqüência cardíaca, creatina kinase, lactato e percepção de esforço subjetivo, entre os modelos testados, constatou-se que o protocolo de hipertrofia parece ser o que mais causa alterações drásticas ao organismo do aluno iniciante em programa de treinamento com peso, em comparação com protocolos de força e RML. Conclui-se que o esforço produzido no protocolo de hipertrofia recomendado pelo ACSM é mais estressante ao organismo do iniciante em treinamento com pesos quando comparado com os valores de esforço de RML e força. 10/8/2006 16:27:52 93 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Referências 1. KRAEMER, W. J.; ADAMS K.; CAFARELLI, E.; DUDLEY. G.A.; DOOLY, C.; FEIGENBAUN, M.S. et al. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Science Sports Exerc, v. 34, n. 2, p.364-80. 2. MCARDLE,W. D.; KATCH, F. I. E KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. 3. POWERS, S.K.; HOWLEY, E.T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação do condicionamento e desempenho. São Paulo: Manole, 2000. 4. DESCHENES, M.R .; KRAEMER W.J. Performance and physiologic adaptations to resistance training. Am J Phys Med Rehabil, v. 81, n. 11, S3-16, 2002. 5. CAMPOS G. E.; LUECKE T. J.; WENDELN H. K.; TOMA K, HAGERMAN F.C.; MURRAY T.F et al. Muscular adaptations in response to three different resistance-training regimens: specificity of repetition maximum training zones. Eur J Appl Physiol, v. 88, n.1-2, p.50-60, 2002. Acao Mov_.indb 93 6. GHORAYEB, N.; BARROS NETO, T. L. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu, 1999. 7. BRUN J.F.; DUMORTIER M.; FEDOU, C.; MERCIER J. Exercise hypoglycemia in nondiabetic subjects. Diabetes Metab, v. 27, n. 2, p. 92-106, 2001. 8. CLARKSON, P. M.; NOSAKA, K.; BRAUN, B. Muscle function after exercise-induced muscle damage and rapid adaptation. Med Sci Sports Exerc, v. 24, n. 5. p. 512-20, 1992. 9. ALMEIDA, E. Creatina quinase e dor muscular tardia na musculação: estudo experimental em adultos jovens com o circuit weight training e o multiple set system. Campinas: UNICAMP, 1999. 10. VERKHOSHANSKY, I. V. Preparação de força especial: modalidades esportivas cíclicas. Rio de Janeiro: Grupo palestra esporte, 1995. 11. FREY, G. C.; BYRNES W. C., MARZEO R. S. Factors influencing excess postexercise oxygen consumption in trained and untrained women. Metabolism, v. 42, n. 7, p. 822-28, 1993. 10/8/2006 16:27:53 94 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) COMUNICAÇÃO BREVE Subsídios para propostas de treinamento em natação para crianças em fase puberal Subsidies for swimming training sessions for children at puberty Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro Professor de Educação Física, Universidade Federal do Paraná; Fisioterapeuta, Universidade Tuiuti do Paraná; Especialista em Traumato Ortopédica Funcional, Coffito Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar uma pesquisa bibliográfica baseada em trabalhos científicos de alguns autores da área do treinamento desportivo, que foi realizada com a finalidade de subsidiar, técnica e cientificamente, propostas de treinamentos em natação para crianças em fase puberal. Em seqüência, apresenta inicialmente as características das crianças em fase puberal, as conseqüências do treinamento, e os princípios do treinamento desportivo. A seguir relata o treinamento enfocando aspectos como resistência geral, efeitos fisiológicos, sistemas aeróbicos, treinamento de força durante a puberdade e treinamento de velocidade. Finaliza apresentando um planejamento das sessões de treino diário, metragem diária e semanal adaptada às crianças em fase puberal junto com os sistemas fisiológicos do treinamento de natação. Concluindo-se que o treinamento para crianças em fase puberal possui estrutura própria e está baseado em princípios científicos relacionados ao crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Palavras-chave: treinamento, natação, puberal. Abstract The aim of this study is to present a bibliographical research based on the scientific studies pertaining to sport, aiming at subsidizing both technically and scientifically swimming training sessions for children at puberty. The study is divided into three parts. The first one presents the characteristics of pubescent children, the consequences of training, and the principles of sporting training. The second one analyzes training focusing on aspects such as general resistance, physiological effects, aerobic systems, strength training during puberty and speed training. And the last part presents a plan for daily training sessions, daily and weekly length adapted to pubescent children together with the physiological systems of swimming training. In conclusion we are able to say that pubescent-children training has its own structure which is based on scientific principles related to the growth and development of the individual. Key-words: training, swimming, puberty. Artigo recebido em 02 de junho de 2006; aceito em 25 de julho de 2006. Endereço para correspondência: Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro, Rua Alferes Angelo Sampaio, 1715/09, Batel, 80420-160 Curitiba PR, E-mail: [email protected] Acao Mov_.indb 94 10/8/2006 16:27:54 95 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Introdução Material e métodos Considerando a escassez de propostas de treinamento em natação para crianças em fase puberal, 11-12 anos meninos e 12-13 anos meninas, que se preocupem com um desenvolvimento integral e harmonioso, este trabalho pretende subsidiar uma programação sistematizada para nadadores petiz II 11 anos, infantil 12 anos e juvenil 13 e 14 anos, baseada nos princípios científicos do treinamento desportivo e nas características fisiológicas e próprias desta fase. Esta proposta encontra sua justificativa quando procura enfatizar um treinamento para crianças em fase puberal, que sirva de base para futuras performances. A falta de embasamento científico em pontos importantes no desenvolvimento de treinamentos em natação para crianças em fase puberal tem originado ausência de propostas de treinamentos, o que conseqüentemente acarreta a operacionalização de uma “práxis” inadequada, baseada em treinos utilizados para adultos. Isto origina um trabalho de alta intensidade, anaeróbico lático, incompatível às crianças, ocasionando seqüelas diversificadas e levando ao abandono da prática da natação.Com base nos princípios do treinamento desportivo, sugere-se conteúdos para um planejamento do desporto natação voltado às crianças em fase puberal, atendendo suas características, respeitando suas possibilidades, não agredindo seus organismos e ferindo sua integridade como ser humano. Pretende-se também citar os princípios do treinamento desportivo, adaptando-os e compatibilizando-os às crianças em fase puberal, especificando as características de desenvolvimento das crianças nesta fase. Segundo Fiorese “começar cedo no esporte, não significa especialização precoce” [1]. Argumentações citadas anteriormente não invalidam a prática de atividade física para crianças; ao contrário, ela é importantíssima desde que praticada adequadamente. A partir da constatação da importância de propostas de treinamento em natação para crianças em fase puberal, sistematizada, para um trabalho específico para cada faixa etária, observa-se o grande significado do assunto e, para tanto, sentiu-se a necessidade de investigar bibliograficamente o tema através de referências teórico-científicas em revistas e em obras inéditas, livros, trabalhos e documentos não publicados e artigos. Revisão de literatura A atividade física quando realizada adequadamente de forma compatível com a possibilidade e necessidade fisiológica exigida nos estágios de crescimento e desenvolvimento físico é extremamente importante. Considerando que tudo tem seu momento certo, implica a necessidade de um planejamento adequado para que não ocorram graves conseqüências fisiológicas, psicológicas gerando o abandono do desporto. Segundo Weineck [2], as características das crianças em fase puberal estão qualificadas como ‘’A segunda mutação morfológica”, começando aos 11-12 anos nas meninas e nos meninos aos 12-13 anos tendo a duração de um ano em cada um. Nessa fase surgem algumas modificações como aparição da sexualidade, desaparecimento das estruturas infantis, marcantes mudanças nas proporções do crescimento anual – até 10 cm na altura e no peso de 9,5 Kg –, instabilidade psíquica pela instabilidade hormonal [2]. Estas suposições exigem correspondente ajuste do treinamento na primeira e segunda fase da puberdade melhorando prioritariamente as qualidades físicas como a capacidade de coordenação. No quadro I podemos observar os desenvolvimento das qualidades motoras na fase puberal. Quadro I- Desenvolvimento das qualidades motoras na fase puberal. Fase Característica Adolescência Pré-Puberal (10 a 12-14 anos) Fase de melhor aprendizagem. Interesse pela atividade desportiva. Adolescência Puberal (12-14 a 14-16 anos) Adolescência Pós-Puberal (14-16 a 18-20 anos) Desenvolvimento das Qualidades Motoras Modalidades Esportivas Indicadas Os jovens dominam bem a flexibi- A iniciação esportiva especializada lidade e o ritmo. Desenvolvimen- é bem recebida. to da força e da velocidade em Deve haver avaliação de evolução regime de resistência. orgânico-funcional. Fase de reestruturação Os exercícios de força e resistên- Ginástica Esporte em geral. das habilidades e capaci- cia têm plena aplicação. dades motoras. Desenvolvimento neuro-psicomotor é completo. Fase de estabilização, da Praticamente não há nenhuma Algumas modalidades desportivas individualização acentu- limitação para prática intensa no se adaptam melhor ao organismo ada e da diferenciação esporte. jovem. específica dos sexos. Observar seu biótipo. Fonte: Fiorese [1] Acao Mov_.indb 95 10/8/2006 16:27:54 96 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Segundo Weineck [2], algumas modificações morfológicas estruturais acarretam algumas modificações na parte motora desta fase do crescimento, algumas dentre outras estão citadas no quadro II. Quadro II Conseqüências do treinamento 01 O forte aumento da altura e peso que algumas vezes produz uma deteriorização da relação força-peso, determina freqüentemente uma diminuição das coordenações especializadas; 02 A precisão de controle de gesto deixa a desejar, e os movimentos bruscos são típicos nesta idade; 03 A fase puberal representa a idade de máxima capacidade e treinamento e dos determinantes da condição física. Fonte: Weineck [2] Estudos feitos por Maglischo [3] com nadadores, faixa etária entre 11 e 12 anos (fase puberal), que participam de treinamentos cinco dias por semana, tendo a duração de 1 a 2 horas por dia, sugerem que as atividades destes nadadores devem “ assemelhar-se” muito aos nadadores adultos, porém mais breve e com menor metragem, dando ênfase em tentativas para vencer desafios. Os treinadores devem ver a competição não como conquistas, mas como concretização de esforços. O treinamento fora da água com elásticos, banco de natação e calistenia são de grande valia. Já na faixa dos 13 e 14 anos o treinamento deve dar um salto quantitativo, tudo que foi trabalhado na faixa de 11 e 12 anos será feito com maior intensidade. O volume e intensidade de treino devem ser semelhantes aos nadadores adultos, mas com o número de séries menor por semana, deve ter duração de 2 a 2 ½ horas por série tendo a oportunidade de nadar seis dias por semana, sendo sugerido que atletas “fora de série” possam treinar com os adultos. Segundo Bompa [4], esta fase é conhecida como fase da formação atlética que vai dos 11 aos 14 anos. Algumas diretrizes específicas para os programas de treinamento são indicadas: execução de exercícios específicos de um esporte e de outros para um enriquecimento motor, elevar progressivamente o volume e a intensidade de treinamento, exercícios que introduzam bases de tática e estratégia, exercícios para a melhora da flexibilidade, coordenação e equilíbrio, evitar colocar atletas em situações potencialmente humilhantes, introduzir exercícios de força geral para desenvolvimento de tronco, membros inferiores, coluna lombar e abdome, uso de materiais como medicine ball, tubos de borracha, puxadores e pesos de mão, treinamento de força com pesos com cargas baixas e um alto número de repetições auxiliará no desenvolvimento da força. O desenvolvimento da capacidade aeróbica deve continuar sendo desenvolvido, introduzir um treinamento anaeróbio moderado para a adaptação do treinamento de alta intensidade, introduzir exercícios para melhorar a concentração e treinamento mental. Estas indicações de Bompa [4] não se adaptam a outros Acao Mov_.indb 96 autores que separam as fases do crescimento em duas, especificando o treinamento das fases de crescimento, o autor cita como a fase puberal como formação atlética que vai dos 11 aos 14 anos. Para uma programação eficaz do treinamento para crianças em fase puberal, Tubino [5] cita os princípios do treinamento desportivo como ponto de partida a serem respeitados para uma programação eficiente. Estes princípios são o da individualidade biológica, respeitando o ser humano individualmente e especificando o seu treinamento, pois as pessoas não são iguais entre si; o princípio da continuidade que tem como objetivo não permitir as interrupções durante o período de treinamento, para que nadadores não percam etapas importantes na formação atlética; o princípio da sobrecarga que nesta fase é de vital importância pelo fato de ter dois objetivos que são da sobrecarga em volume e intensidade – é muito importante dar atenção a este princípio para esta fase, pois estudos científicos prescrevem para esta faixa etária mais volume de treino que intensidade sendo mais quantidade que qualidade. A utilização deste principio necessita um tempo em horas dependendo do esforço para uma recuperação fisiológica, conforme citado na tabela I. Tabela I - Sistemas fisiológicos e seus intervalos de recuperação. Sistemas Regenerativo Sub-Aeróbico Super Aeróbico VO² Máximo Velocidade Recuperação 36 horas 24/48 horas Fonte: Mazza [6] Para a programação dos mesociclos para crianças na fase puberal nas cargas aeróbicas, segundo Tubino [5] poderemos utilizar volumes ondulares citados no gráfico I. Neste gráfico as cargas nas metragens, quer dizer no volume de treinamento, devem ser aumentadas 10/8/2006 16:27:55 97 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) na terceira semana do mês, dividindo o mesociclo em quatro semanas, com elevação da distância nadada a cada mesociclo. Segundo Erichsen e Costa [7], a tabela II nos mostra um planejamento para a formação de base, treinamento de base e treinamento de elite que ajusta-se a fase puberal. Grafico I Tabela II - Formação de base, planejamento de base e treinamento de elite para crianças em fase puberal. Formação de Base Treinamento de Base Treinamento de Elite Fem. 7 a 10 anos Fem. 9 a 13 anos Fem. 13 em diante Masc. 7 a 11 anos Masc. 10 a 16 anos Masc. 15 em diante Velocistas Meio fundo Fundo Técnicas de Nado 50% 20-10% 10% 10% 10% Sistema Aeróbico 45% 50-35% 40% 55% 70% Sistema Anaeróbico Lático - 10-30% 30% 20% 10% Sistema Anaeróbico Alático 5% 15-10% 15% 10% 5% Força - 5-15% 15% 5% 5% Fonte: Costa [7] Com relação ao princípio do volume e intensidade em pesquisas feitas por Tubino [5], observou-se melhora do treinamento em meio fundistas, constatando o autor da pesquisa que o aumento da capacidade dos atletas investigados devia-se a maiores quantidades de trabalho e também ao aumento substancial na intensidade do estímulo de treinamento, de acordo com o gráfico abaixo que relaciona o volume e a intensidade como deve ser programada nas atividades na temporada especificamente para fase puberal. Acao Mov_.indb 97 Gráfico II - Relação entre volume e intensidade para a temporada de treinamento nas crianças em fase puberal. 10/8/2006 16:27:55 98 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Tubino [5] cita, em seus estudos, que em um período específico e de competição os atletas apresentam melhores resultados quando direcionam os treinos principalmente para capacidades anaeróbicas Láticas e Aláticas, que é uma forma de intensificação da preparação, mas afirmações do treinamento anaeróbico lático não são compatíveis às crianças em fase puberal e sim, para adultos; já o treinamento anaeróbico alático deve ser trabalhado nesta fase de crescimento. No princípio da adaptação, o programa de treinamento em natação, para crianças em fase puberal, deve ser cauteloso, principalmente na fase básica por ser a fase que haverá uma melhora na resistência geral. A planificação das sessões de treinamentos dependem do estado físico em que se encontram os atletas. É importante estabelecer que será a fase de adaptação que levará as melhores formas de treinamento a serem impostas. Para um planejamento de acordo com a faixa etária puberal, Maglischo [3] planeja, conforme citado na tabela IV, a metragem diária e semanal adaptada para a criança em fase puberal. Tabela IV - Metragem diária e semanal adaptada para a criança na fase puberal Grupo Etário (11 – 12) (13 – 14) Novatos Experientes Diário Semanal Diário Semanal 1.000 – 2.000 2.000 – 4.000 5.000 – 10.000 10.000 – 20.000 4.500 – 5.000 6.000 – 12.000 20.000 – 25.000 30.000 – 50.000 Fonte: Maglischo [3] Resistência geral Força Fiorese [1] define como resistência “a capacidade de efetuar durante um longo tempo uma atividade qualquer sem reduzir sua eficácia’’. Ou por outro lado, Negrão [8] cita que o treinamento de resistência geral na criança, em fase puberal, provoca acentuado aumento da capacidade aeróbica máxima que não tem proporções iguais em fases no crescimento, proporcionando sobrecargas maiores nos treinamentos futuros. É importante também em termos preventivos na fase puberal treinamentos com pouco acumulo de ácido lático que permite a liberação de cateocolaminas – hormônio liberado da glândula supra renal –, pois sabe-se que este aspecto em resposta ao stress emocional é um dos fatores de risco de distúrbios coronarianos provocando vasoconstricção da circulação coronariana. A vasoconstricção do sistema vascular solicita um aumento da força de contração da musculatura cardíaca, para que o sangue possa vencer a resistência vascular periférica aumentada pela liberação das cateocolaminas. Fiorese [1], comenta que normalmente as crianças são resistentes, deve-se deixar que elas mesmas marquem seu ritmo, pratiquem uma espécie de treinamento com intervalos, alternando o esforço e o descanso, por exemplo; correr, parar e voltar a correr. Weineck [2] por sua vez com relação ao treinamento de resistência geral na 1ª e 2ª fase da puberdade, considera que o treinamento máximo se dá nas crianças principalmente nos períodos de aceleração do crescimento [2]. Fiorese divide a resistência em: • Aeróbica • Anaeróbica A autora supra mencionada define que a força é uma das mais importantes qualidades de que dispõem o organismo humano. O seu inadequado desenvolvimento tornará impossível a formação dos hábitos motores. A força é a qualidade que permite ao músculo ou grupo de músculos vencer uma resistência ao movimento do qual ele é o agente motor. Segundo Rocha citado por Fiorese [1], alguns fatores influenciam no desenvolvimento da força sem os quais não haverá o aprimoramento desejado: • Sistema nervoso • Sexo • Raça • Tipos de fibras (vermelhas ou brancas) • Freqüência das sessões de treinamento. Gaya et al. citados por Fiorese [1] afirmam que exercícios cujos pesos são “adequados” as possibilidades do organismo influem, favoravelmente, na constituição física e melhoram a capacidade dos órgãos e sistemas do organismo jovem. Estes autores são de opinião que a retenção do crescimento não é conseqüência dos exercícios com peso; é importante saber a correspondência das cargas utilizadas com a possibilidade da idade, mais do que saber em que idade começar o trabalho com pesos. Afirmam que não se aplicam exercícios de força em termos máximos, quer na carga ou na intensidade antes da formação plena do esqueleto, ou seja, antes dos dezessete anos. Por esta razão, na fase puberal será preciso desenvolver uma musculatura robusta, com a recomendação expressa de não sobrecarregar a coluna vertebral. Acao Mov_.indb 98 10/8/2006 16:27:56 99 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Resistência anaeróbica Fiorese relata que a resistência anaeróbica é definida como a qualidade física que permite um atleta sustentar o maior tempo possível uma atividade física em uma situação em débito de oxigênio. Algumas investigações, em jovens Romenos, não atletas, do sexo masculino e feminino, com aplicação de um teste anaeróbico chegou as seguintes conclusões: • A capacidade Anaeróbica em jovens do sexo masculino aumenta continuamente até os dezoito anos e depois permanece próxima dos valores alcançados até os vinte e um anos; • A relação entre a resistência anaeróbica e o peso corporal nos homens é significativa até os quatorze anos. A explicação encontrada para o crescimento da resistência anaeróbica nos homens até os dezesseis anos e nas mulheres até os quatorze anos está fundamentada no desenvolvimento da massa muscular; • Não existem diferenças significativas do desenvolvimento natural anaeróbico, entre os sexos, até os doze anos. Após esta idade as mulheres apresentam um percentual menor que os homens da mesma idade. • No que diz respeito ao treinamento anaeróbico lático os valores em m/mol, citados na tabela fisiológica devem considerar a individualidade biológica de cada atleta. Velocidade A mesma autora define a velocidade como uma qualidade física particular do músculo e das coordenações neuro-musculares que permite a execução rápida de gestos que em seu encadeamento constituem uma só e mesma ação, de uma intensidade máxima e de duração breve ou muito breve. Além disso, define velocidade como a qualidade corporal que permite desenvolver uma ação em um tempo mínimo. Para este autora, parte dessa qualidade se deve ao dom natural, individual e hereditário, porém a outra parte pode-se adquirir com o treinamento. Comenta que há condições particularmente favoráveis para a formação de velocidade, na infância e na adolescência. Alguns autores deduzem que, na faixa de oito a onze anos, a formação de velocidade deve ser procedida, sobretudo através da qualidade da educação corporal, que deve levar a um aumento da freqüência de movimentos. Dos doze até os quinze anos, as capacidades de velocidade deverão ser formadas, em sua maior parte por meio de exercícios de esforço da velocidade e de força. No treinamento da velocidade, durante o final da puberdade, os tempos de reação alcançam valores idênticos aos tempos dos adultos, e a freqüência dos movimentos que será modificada posteriormente terá seu alcance máximo Acao Mov_.indb 99 dos 13 aos 15 anos, segundo dados relatados por Weineck [2]. Segundo estudos de alguns autores, o treinamento de velocidade é de grande importância nesta faixa etária puberal, o desenvolvimento dos sistemas anaeróbicos Aláticos que melhoram a parte neuromuscular e a velocidade, com esforços que chegam de 10 a 15 segundos em alta intensidade chegando a 100% da capacidade de rendimento de cada atleta, não acumula altas taxas de ácido lático no sangue e no músculo, isto é, um dos fatores que indica o desenvolvimento desta atividade na fase de crescimento onde a criança se encontra. Treinamento Aeróbico específico por áreas funcionais Desde o ano de 1986, o Dr. Juan Carlos Mazza [6], que estuda a fisiologia da natação através de um grupo de estudo, vem insistindo em diferenciar as atividades aeróbicas pelas áreas funcionais identificando-as por uma nomenclatura específica diferenciada por outros autores. Treinamento funcional regenerativo São treinamentos de 20’ a 30’ de duração, de intensidade baixa de 60 a 80% em natação e 35 a 50% do volume de treino, utilizados no aquecimento e na volta a calma. A função específica é remover o ácido lático residual e ativar o sistema aeróbico e Cardiorespiratório, para a execução do treinamento. Treinamento funcional sub-aeróbico São treinamentos de 50’ a 60’ de duração, 30% da sessão de treinamento de fundo, com uma intensidade moderadamente baixa com 2-3 mmol/l de lactato; de 77 a 82% em intensidade de treino e 45 a 60% do volume do treino. A função específica do treinamento é gerar mais velocidade de remoção de ácido lático residual acumulado. É uma atividade que protege o gasto de glicogênio, mantém a base aeróbica, aumenta a taxa de síntese de glicogênio favorecendo a supercompensação, permite treinar mais volumes de treinos; os treinamentos podem ser contínuos ou intervalados de velocidade constante com pausas nos treinos de pequena duração. Treinamento funcional super aeróbico (limiar anaeróbico) São treinamentos de duração de 30’ a 40’ sendo trabalho mais pausa, com intensidade moderada com acúmulo de 4-7 mmol/l de ácido lático, sendo 80 a 85% em intensidade e 55 a 75% em volume de treino O efeito 10/8/2006 16:27:56 100 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) fisiológico é o aumento dos mecanismos de produção e remoção de ácido lático em estado de equilíbrio metabólico de treinamento (steady-state do ácido lático). Este tipo de treinamento é essencial para treinos de meio fundo e fundo, e é imprescindível para os processos de recuperação pós-competições e pós-treinamentos para garantir a remoção de acido lático nas pausas ativas nos trabalhos de alta intensidade, esta atividade é a única que permite a conservação da qualidade do treinamento. Aumenta a capacidade aeróbica, elevando o estado de equilíbrio entre o aeróbico e o anaeróbico. Os treinamentos devem ser intervalados com velocidades constantes com pausas de duração moderadas com intervalos de 45’’ a 1’30’’ para permitir forçar a remoção e garantir a velocidade moderadamente elevada, que estimule um fluxo de produção e remoção em equilíbrio. Treinamento funcional de consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) São treinos de duração de 15’ a 25’, sendo trabalho mais intervalo com uma intensidade máxima para estimular o VO2 e acúmulo de ácido lático que vai de 7 a 10 mmol/l com 83% a 90% de intensidade de treinamento e de 75% a 85% do volume de treino, cujos benefícios são estimular a máxima absorção de oxigênio a nível mitocondrial, fortalecer os mecanismos cardiorrespiratórios centrais e periféricos de transporte e difusão de gases, acrescentar o número e densidade das mitocôndrias, aumentando a velocidade enzimática do ciclo de Krebs e a cadeia respiratória. Treinamentos devem ser exclusivamente intervalados com velocidades constantes, com intervalos curtos com duração de 1’ a 3’ . Treinamento de velocidade de aceleração e lançada • Incrementa a velocidade de ruptura e liberação de energia a partir do ATP; • Estímula a ressíntese de ATP-CP Conclusão A natação com crianças assume proporções cada vez maiores, papel de inegável importância na tarefa da Educação Física e do Desporto. Reconhecido este fato, procurou-se incrementar estudos para o enriquecimento técnico dos treinadores que atuam na área, em especial às em fase puberal. Neste trabalho intencionou-se reunir um conjunto de elementos visando favorecer o desenvolvimento adequado da natação para crianças em fase puberal, para evitar problemas futuros e possíveis seqüelas, e incentivar o desporto da natação, além de difundir aspectos técnicos científicos. Espera-se realmente que esta pesquisa sirva de base para um trabalho adequado em natação infantil e permita uma prática específica para crianças, compatível às suas idades e possibilidades físicas. Concluiu-se que a prática dos sistemas anaeróbicos láticos para crianças em fase puberal não são compatíveis no planejamento do volume e intensidade de treinamento. Deve-se trabalhar e levar em conta o nível de experiência de cada nadador. Por este motivo, fez-se necessário um planejamento teórico-prático através de uma tabela fisiológica padronizada, em estudos feitos por fisiologistas desportivos para uso nas atividades diárias de treinamentos para fase puberal compatível com a faixa etária em que se encontram estas crianças. Sistemas fisiológicos do treinamento em natação adaptado a crianças na fase puberal Tabela reelaborada com adaptação dos conteúdos extraídos dos autores (Mazza [ 6] e Maglischo [ 3 ]). Nível de Duração do Ácido Combustível esforço Lático Gordura, Regenerativo (0-2) Ácido Lático 15’- 30’ Residual Gordura, Sub-Aeróbico (2-4) Ácido Lático 45’- 1h 15’ Residual Glicogênio, 25’- 45’ Super Aeróbico (4-6) Gordura Glicogênio, 12’- 20’ VO2 Máximo (6-9) Gordura Velocidade (0-2) A.T.P. 10`` 15`` Aceleração Sistemas Velocidade Lançada Acao Mov_.indb 100 (0-3) A.T.P. 10`` 15`` % de volume Recuperação Estímulos Intervalos Intensidade do de Treina(hrs) por Semana na Série Treinamento mento Abaixo do Sub17 – 20% Aeróbico 6 – 8 hrs (8 – 12) contínuo 90 – 95% 70 – 75% 50% 12 hrs (4-6) 10”-15”20” 85 – 90% 75 – 80% 18 – 20% 24 hrs (3-5) 30”- 45” 85 – 95% 5 – 7% 36 hrs (2-3) 1’- 1’ 30” 99 – 100% 2 – 3% 24 – 48 hrs (2-3) 98 – 100% 2 – 3% 24 – 48 hrs (2-3) 1’- 1’ 30” micro Micro1’2 Macro 4’- 5’ 10/8/2006 16:27:57 101 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Referências 1. FIORESE, L. Os efeitos do treinamento precoce em crianças e adolescentes. Revista da Fundação do Esporte e Turismo do Paraná, Curitiba, v.10, n. 2, p. 23-31, 1989. 2. WEINECK, J. Entrenamiento óptimo. Barcelona: Hispano Europea, 1988. 3. MAGLISCHO, E. Nadando ainda mais rápido. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999. 4. BOMPA, T. O. Teoria e metodologia do treinamento. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2002. Acao Mov_.indb 101 5. TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 3. ed. São Paulo: Ibrasa, 1984. 6. MAZZA, J. C. Actualización de los efectos fisiológicos de la natación. Resúmenes del III Simposio Internacional de Actualización en Ciencias Aplicadas al Deporte, Rosario, v. 1, n. 1, p. 465-468, 1994. 7. ERICHSEN, O.; COSTA, M. Natação: Desenvolvimento da “performance” Synopsis: Revista do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, v. 4,1993. 8. NEGRÃO, C. E. Os mini-campeões. Cad. Pesq, São Paulo, n. 34, p.29-33,1980. 10/8/2006 16:27:58 102 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) Normas de publicação ação & movimento A revista ação & movimento é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Educação Física. Os artigos publicados na ação & movimento poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista ação & movimento assume o “estilo ABNT” (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: No máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: No máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 ref. bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Educação Física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas Acao Mov_.indb 102 técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos que representan dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Preparação do original 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). 10/8/2006 16:27:58 103 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Acao Mov_.indb 103 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental devem ser inseridos no final do artigo, antes das referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo ABNT . As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: MAY, M. The facial nerve. New-York:Thieme, 1986. Capítulo ou parte de livro: PHILLIPS, S. J. Hypertension and Stroke. In: LARAGH J. H., (Ed.). Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2. ed. New-York: Raven press, 1995. p. 465-78. Artigos - Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalho, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de vírgula, número do volume, número do fascículo, páginas inicial e final, data e ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: ALMEIDA, C.; MONTEIRO, M. Descrição de duas novas espécies (Homoptera). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v. 9, n. 1/2, p. 55-62, mar./jun. 1992. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] 10/8/2006 16:27:59 104 ação & movimento - março/abril 2006;3(2) CALENDÁRIO DE EVENTOS AGOSTO 9 a 12 de agosto 2° Congresso Internacional de Educação Física da FIEP/PB João Pessoa, PB Informações: (83) 9989-4392 E-mail: [email protected] SETEMBRO 1 a 9 de setembro 2° Meeting de Treinamento Personalizado São Paulo, SP Informações: (11) 5505-7197 E-mail: [email protected] 6 a 9 de setembro XI Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa. Escola de Educação Física e Esporte da USP e Serviço Social do Comércio de SP Informações: www.usp.br/eef/xipalops 7 a 10 de setembro 7º Congresso Internacional de Atividades Física e Saúde Itaúna, MG Informações: 37 9103-1584 E-mail: [email protected] Acao Mov_.indb 104 21 a 23 de setembro II Congresso SMERJ - Sociedade de Medicina do Esporte do Estado do Rio de Janeiro Windsor Barra Hotel e Convenções Rio de Janeiro, RJ OUTUBRO 17 a 22 de Outubro II CONIEF - Congresso Internacional de Ed. Física PUC, Porto Alegre, RS Informações: 51-91162893 E-mail: [email protected] 18 a 22 de outubro 1º Congresso Carioca de Educação Física - FIEP-RJ Rio de Janeiro, RJ Informações: 21 7894-5551 E-mail: [email protected] 26 a 28 de outubro Encontro A.A.A.R.L. de Medicina Esportiva Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Informações: www.encontroaaarl. com.br NOVEMBRO 11 a 15 de novembro CONAFF - Congresso Nacional de Atividades Físicas e Fisioterapia Fortaleza, CE Informações: (85) 9609-4476 E-mail: [email protected] 24 a 26 de novembro I Congresso Internacional de Fisioterapia e Terapia Manual Hotel Glória, Rio de Janeiro, RJ Informações: (21)3087-4653 DEZEMBRO 7 a 9 de dezembro Simpósio Nordestino de Atividade Física & Saúde UFPB, Cidade Universitária, campus I João Pessoa, PB Informações: 3216-7695 E-mail: simposionordestino@gmail. com 10/8/2006 16:27:59