ABRIL – 2013 LEMBRANÇAS DO MEU URSINHO DE PELÚCIA A

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ABRIL – 2013 LEMBRANÇAS DO MEU URSINHO DE PELÚCIA A
ABRIL – 2013
LEMBRANÇAS DO MEU URSINHO DE PELÚCIA
*por Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva
Psicóloga CRP 06/111120
A cena clássica de uma criança pequena
segurando
um
ursinho
de
pelúcia
possivelmente nos remete a uma lembrança
familiar e comum. Acredito que todos já se
depararam com alguma criança segurando
firmemente seu objeto afetivo, podendo ser um
paninho próximo ao nariz/boca ou mesmo uma
boneca
ou
chamados
ursinho.
de
Tais
objetos
elementos
ou
são
fenômenos
transicionais³.
O objeto ou fenômeno transicional é o primeiro agente externo que a
criança toma posse e que exerce a função de ligar o mundo externo e interno
infantil². Logo após o nascimento, o seio materno ocupa esse lugar entre a
criança e a mãe, mas quando esta não se encontra presente, o seio também
não está. Por esse motivo, o elemento transicional carrega a marca de poder
ser controlado pela criança, de forma que a mesma recorre a ele sempre que
tiver vontade.
Nesse sentido, a partir dos quatro a oito meses de idade, em média, a
criança cria algo para representar a mãe quando esta se ausenta. Com o
objeto transicional, o infante consegue temporariamente dar conta dos
sentimentos
internos,
angústia,
medo
e
ansiedade,
conquistando
gradativamente avanços no sentido de suportar as falhas normais da vida. Por
meio dele, a criança conquista a capacidade de enfrentar dificuldades como um
treino para a vivência em sociedade.
O rol dos objetos e fenômenos transicionais é bastante amplo, e depende
da criatividade de cada um para inventar aquilo que melhor lhe represente a
figura materna. Por esse viés, encontra-se o comportamento de chupar o dedo,
o cantarolar do bebê, cheirar um pedaço de pano, fronha, lençol e padrões de
comportamentos (maneirismos). Ressalta-se que os pais sabem o valor desses
elementos para os filhos, por isso procuram levar os objetos em viagens e
quando a criança dorme fora de casa. Isso é positivo, porque mantêm a criança
confiante quando está em um ambiente desconhecido ou em uma situação
estranha¹. Há aqueles que não precisam de algo externo para além da mãe e
se desenvolvem da mesma forma que os outros.
O infante geralmente é quem nomeia
o instrumento transicional pelos resquícios
das palavras utilizadas pelos adultos,
podendo modificar seu objeto com o
passar do tempo, devendo essa mudança
ser natural e não forçada por outrem. Uma
criança
saudável
psiquicamente
não
esquece o objeto ou fenômeno transicional, mas este é abandonado em
determinado momento da vida, ou então, deslocado para algo de acordo com a
idade do sujeito. Esse deslocamento pode avançar para a capacidade criativa,
para o brincar, para os interesses artísticos e religiosos³.
Vale destacar que os pais e cuidadores devem respeitar o momento de
cada criança em desfrutar dessa fase, oferecendo respaldo para que os
pequenos possam fazer uso de suas capacidades criativas e do fantasiar,
desenvolvendo artifícios para conseguir lidar com a separação momentânea
dos pais quando estes, por exemplo, estão trabalhando e deixam a criança na
escola. Sem que percebamos, os resquícios dos objetos e fenômenos
transicionais nos acompanham por toda a vida (o jeito de dormir, o cantarolar
para se acalmar, o mexer nos cabelos), mostrando que a complexidade do
afeto não se restringe aos primeiros anos de vida¹. Contudo, o esperado é que
a partir dos dois anos de idade a criança comece a se interessar pelas
atividades sociais e deixe paulatinamente a fase do “ursinho”.
Fontes consultadas
¹ Klass, P. (2013, 11 de março). A Firm Grasp on Comfort. The New York
Times. Recuperado em 26 de março, 2013, de
http://well.blogs.nytimes.com/2013/03/11/a-firm-grasp-on-comfort/
² Moura, J. (2008). Winnicott - Principais Conceitos. Recuperado em 22 de
Abril, 2013, de http://artigos.psicologado.com/abordagens/psicanalise/winnicottprincipais-conceitos
³ Winnicott, D. W. (1975). Objetos Transicionais e Fenômenos Transicionais. In
D. W. Winnicott, O Brincar e a Realidade (pp. 10-47). Rio de Janeiro: Imago.
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* Cláudia Yaísa - Psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Especialização em Psicanálise pelo Núcleo de Educação Continuada do Paraná
(NECPAR), Aluna Especial do Mestrado em Psicologia Clínica pela Universidade de
São Paulo (USP-2012).
E-mail: [email protected]
Site: http://claudia-yaisa.webnode.com

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