MPECM_ Dissertação de Mestrado_ Patrícia Bastos Leonor_2013
Transcrição
MPECM_ Dissertação de Mestrado_ Patrícia Bastos Leonor_2013
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA PATRÍCIA BASTOS LEONOR ENSINO POR INVESTIGAÇÃO NOS ANOS INICIAIS: ANÁLISE DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE CIÊNCIAS SOBRE SERES VIVOS NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA Vitória 2013 PATRÍCIA BASTOS LEONOR ENSINO POR INVESTIGAÇÃO NOS ANOS INICIAIS: ANÁLISE DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE CIÊNCIAS SOBRE SERES VIVOS NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática do Instituto Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemática. Orientador: Dr. D.Sc. Sidnei Quezada Meireles Leite. Coorientador: Dr.ª D.Sc. Manuella Villar Amado. Vitória 2013 (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo) L585e Leonor, Patrícia Bastos. Ensino por investigação nos anos iniciais: análise de sequências didáticas de ciências sobre seres vivos na perspectiva da alfabetização científica / Patrícia Bastos Leonor. – 2013. 190 f. : il. ; 30 cm Orientador: Sidnei Quezada Meireles Leite. Coorientador: Manuella Villar Amado. Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática. 1. Didática. 2. Matemática - Estudo e ensino. 3. Ensino fundamental. I. Leite, Sidnei Quezada Meireles. II. Amado, Manuella Villar. III. Instituto Federal do Espírito Santo. IV. Título. CDD: 373.3 Ao Deus da minha vida; aos meus amados pais, Nehemias e Rosicler, por sempre estarem do meu lado; à minha filha querida, meu sol, minha inspiração, Amanda; à minha irmã Brenda, minha companheira; a todos os monitores do Projeto Pequenos Cientistas de todos os tempos, parceiros de luta e defesa do ensino de Ciências nos anos iniciais. AGRADECIMENTOS A Deus, por transformar sonhos em realidade e batalhas em vitórias, por ser presente em minha vida e por ser a garantia fiel da concretização deste projeto. Aos meus pais, que são meus exemplos de vida e minha estrutura, que não permitiram que eu vacilasse diante das dificuldades. À minha filha, Amanda, por suportar e entender minhas ausências durante a produção e por ser minha incentivadora, minha companheira. À minha irmã Brenda, porque, além de ser minha amiga e me incentivar, me socorria nos momentos difíceis. Sem a ajuda dela, eu não teria concluído esta jornada. Ao meu orientador, professor Sidnei Quezada Meireles Leite, pela competência com que me orientou na trajetória deste trabalho de pesquisa. Instigar, desequilibrar, mostrar uma nova forma de ver é lapidar e forjar passo a passo o crescimento acadêmico e profissional do educando. À minha orientadora Manuella Villar Amado, pelo zelo, dedicação e amizade. Ademais, por me mostrar um caminho na hora mais necessária, estruturando e organizando detalhes que passariam despercebidos sem o seu desvelo. Agradeço a sensibilidade de motivar e encorajar. À Lucia Bichi, por sua amizade constante e pelo fortalecimento. Saber que ela estava por perto foi muito encorajador. Que o nosso Deus a recompense pelo amor que ela me dispensou! À Rosângela Loyola, pelo tempo dedicado a me ajudar nesta pesquisa e pela sua amizade. A ela minha gratidão. Aos professores do Educimat, por compartilharem conhecimentos, valores e o caminho das pedras. Ao pedagogo Alessandro Poleto, por sua atenção, auxílio e disponibilidade, sempre pronto a ajudar. A todos os colegas do programa Educimat, pelos momentos de estudos partilhados, pelas palavras de incentivo e encorajamento. À Renata, por ser sempre amiga e um modelo. À Helania Mara, pela amizade, pelo encorajamento, por ser um espelho de engajamento, e pela humildade, por ser parceira nas produções dos artigos em Ensino de Ciências. Ao meu grupo de quase todos os trabalhos: Gustavo, Nádia, Edson e Renata. Creio que Deus escolheu as pessoas certas para dividir comigo esta caminhada. Muito obrigada! A Leo Salvalaio, por me atender todas as vezes que precisei. À direção da EMEF Suzete Cuendet e à equipe técnico-pedagógica, por terem apoiado este projeto. A todos os amigos dessa escola tão querida, que me incentivaram e torceram por mim. Às professoras dos primeiros anos, Lúcia, Selma e Devondete Valezca, pelo privilégio de ter participado do dia a dia de suas salas de aula e aprendido com elas. Minha admiração pela competência e amor pelo trabalho de alfabetização infantil que desenvolvem. À minha querida amiga Tânia Vargas, que sempre acreditou no meu trabalho e me fez crer que, um dia, o mestrado se realizaria na minha vida. Também sou grata por sempre me apontar qualidades e as realizações na minha vida profissional. Ao estagiário Juliano, que me auxiliou durante as licenças da professora regente. Em minha opinião, ele já está pronto para comandar a própria sala da aula. Às crianças dos primeiros anos, por me mostrarem que vale a pena continuar lutando pelo ensino de ciências nos anos iniciais, porque, além de tudo, ele pode ser divertido. A alegria, inocência e curiosidade de vocês foram a mola mestra que me alavancou até o final deste percurso. A elas, todo meu carinho. Aos amigos professores de Artes Sirleny e Rogério, pelo apoio, sempre solidários, sem os quais não haveria jogo da horta. À bibliotecária Francisca e à professora Dilce, pela disponibilidade e carinho, ao possibilitarem a confecção das fantasias e do cenário para o teatro das crianças. Às merendeiras da escola, pela paciência em todas as vezes que as importunei com meus experimentos. Em especial, à Lena, pelas oficinas de pão caseiro. Aos monitores do projeto Pequenos Cientistas do ano letivo 2012, Amanda, Daniel, Débora, Edmilson, Herivelton, Igor, Isabella, Isla, José Avelino, Ludmila, Natalia, que foram fundamentais para a realização do projeto. Desejo que se tornem médicos, biólogos marinhos, advogados e tudo aquilo que sonharem. Para mim, eles são a prova viva de que o aluno da escola pública é muito capaz, empreendedor, criativo, crítico, protagonista de sua história. Amo-os todos! À Patrícia Carara, que neste ano participou como pesquisadora, mas continua sendo a nossa monitora do coração, apoiando-nos sempre. A todos os meus familiares e amigos, pelo estímulo e pelas orações em prol deste sonho. A todos aqueles que deixei de mencionar e que, de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse até aqui. Por fim, nas palavras do salmista: “Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres [...]. Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126, 3.5). O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção. A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. (Paulo Freire) RESUMO O objetivo desta pesquisa foi estudar os aspectos pedagógicos e epistemológicos de duas sequências didáticas, aplicadas no primeiro ano do ensino fundamental de uma Escola Pública do Município de Vitória, no Estado do Espírito Santo, envolvendo crianças com idade entre 6 e 7 anos. Duas sequências didáticas sobre o tema seres vivos, “Pequeninos seres vivos” e “Vim ver a vida”, foram estruturadas segundo o modelo metodológico dos Três Momentos Pedagógicos (TMP) de Demétrio Delizoicov, José André Angotti e Marta Maria Pernambuco. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, teórico-empírica, produzida a partir de observações, questionários semiestruturados, entrevistas e análise de documentos oficiais, além de estudos realizados em artigos e livros da área de Ensino de Ciências e Matemática. Os aspectos pedagógicos foram analisados tomando-se como referência Anna Maria Pessoa de Carvalho, Hilário Fracalanza, Leonir Lorenzetti, Jean D. Harlam e Mary S. Rivkim e Jean-Pierre Astolfi. A análise epistemológica foi realizada à luz da teoria sociointeracionista de Lev Vygotsky. Os aspectos sociofilosóficos foram analisados com base no pressuposto da alfabetização científica, referenciado por Lúcia Helena Sasseron e Anna Maria Pessoa de Carvalho. Como produto final desta investigação, foi elaborado um Guia Didático de Ciências e um livro paradidático intitulado “Curuquerê, as aventuras da lagarta da couve”. O estudo revelou que é possível estimular alfabetização científica no primeiro ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental, usando sequencias didáticas de Ciências. Palavras-chave: Ensino de Ciências. Anos iniciais do Ensino Fundamental. Ensino por investigação. Alfabetização científica. ABSTRACT The aim of the research was to study the epistemological and pedagogical aspects of two sequences applied in the initial years of primary school in a public school in the Vitória city, Espírito Santo state, involving children aged 6 and 7 years. Two didactic sequences on the subject living beings, "Little ones living beings" and "I came to see life", were structured according to the methodological model of Three Pedagogical Moments (TMP) by Demetrius Delizoicov, José André Angotti and Marta Maria Pernambuco. This was a qualitative research, theoretical and empirical, derived from observations, semi-structured questionnaires, interviews and official documents, and studies in books and articles in the Science Education area. The pedagogical aspects were analyzed based on the assumption of the Anna Maria Pessoa de Carvalho, Hilario Fracalanza, Leonir Lorenzetti, Jean D. Harlam, Mary S. Rivkim and Jean-Pierre Astolfi. The epistemological analysis was carried out in the light of sociointeractionist theory of Lev Vygotsky. Sociofilosofics aspects were analyzed on the basis of scientific literacy, referenced by Lucia Helena Sasseron and Anna Maria Carvalho Person. As a final product of this research, we designed a Science Didactic Guide and a paradicdatic book titled "Leafworm, the adventures of cabbage caterpillar". The study revealed that it is possible to estimulate scientific literacy in the first year of the initial years of elementary school, using didactic sequences of Sciences. Keywords: Science education. Early years primary education. Teaching by research. Scientific literacy. LISTA DE SIGLAS AC – Alfabetização Científica CTS – Ciência, Tecnologia, Sociedade CTSA – Ciência, Tecnologia, Sociedade, Ambiente EDUCIMAT - Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental IFES – Instituto Federal do Espírito Santo MO – Micro-organismos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PPC – Projeto Pequenos Cientistas SD – Sequência Didática TMP – Três Momentos Pedagógicos LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Abordagem integradora do ensino de Ciências ...................................... 33 Figura 2 – Fotografia da Escola Municipal de Ensino Fundamental Suzete Cuendet ................................................................................................................................. 66 Figura 3 – Matéria do jornal “A Tribuna” sobre o projeto de Ciências ...................... 70 Figura 4 – Matéria da “Revista Escola” sobre a Horta Educativa ............................ 72 Figura 5 – Diagrama de execução das sequências didáticas em um fluxo de reflexãoação ......................................................................................................................... 79 Figura 6 – Diagrama conceitual da SD “Pequeninos seres vivos” ............................ 91 Figura 7 – Diagrama conceitual da SD de Ciências “Vim ver a vida” ....................... 94 Figura 8 – Mapa conceitual da SD “Pequeninos seres vivos” .................................. 95 Figura 9 – Contação de história do livro Binho no laboratório de ciências ............... 97 Figura 10 – Imagem de gota d’água ao microscópio ótico ....................................... 98 Figura 11 – Registro do caderno sobre a história e esquema da visualização de micro-organismos .................................................................................................... 99 Figura 12 – Meio de cultura com resultado positivo para material proveniente da boca e do caderno: colônias de fungos e bactérias ............................................... 102 Figura 13 – Registro no caderno: esquema dos meios de cultura e identificação de micro-organismos e monitor com resultados dos meios de cultura ........................ 103 Figura 14 – O Fantoche Cláudio Todo Errado em debate com a pesquisadora .... 107 Figura 15 – Resultados do experimento do mingau/copinho 1 .............................. 110 Figura 16 – Fotografia de microscopia óptica de leveduras Saccharomyce cerevisiae ............................................................................................................................... 118 Figura 17 – Oficina de pão caseiro ........................................................................ 119 Figura 18 – Resultado do experimento da fermentação das leveduras ................. 122 Figura 19 – Registro e esquema do caderno dos alunos sobre o experimento...... 122 Figura 20 – Aluno representa as leveduras e o experimento da fermentação ....... 123 Figura 21 – A Fazenda Rico Caipira ..................................................................... 125 Figura 22 – Registros sobre a visita técnica .......................................................... 128 Figura 23 – Mapa conceitual da SD “Vim ver a vida” ............................................. 132 Figura 24 – Alunos investigando a presença de seres vivos na horta educativa .. 134 Figura 25 – Experimento com as mudas de plantas .............................................. 139 Figura 26 – Jogo “A trilha da horta” ........................................................................ 143 Figura 27 – Crianças jogando ................................................................................ 144 Figura 28 – Aluna representa a metamorfose da lagarta da couve dentro do casulo ............................................................................................................................... 148 Figura 29 – Algumas etapas do ciclo de vida da lagarta da couve......................... 150 Figura 30 – Apresentação do teatro da lagarta ...................................................... 152 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Trechos do depoimento de um dos gestores educacionais da Escola estudada sobre o Projeto Educacional Pequeno Cientista, desenvolvido de 2003 a 2012 ......................................................................................................................... 70 Quadro 2 – Trechos do depoimento de dois monitores da escola estudada sobre o Projeto Educacional Pequenos Cientistas desenvolvido de 2003 a 2012 ................ 73 Quadro 3 – Trechos do depoimento de uma das pedagogas da escola estudada sobre o Projeto Educacional Pequenos Cientistas, desenvolvido de 2003 a 2012 74 Quadro 4 – Objetivos do ensino de Ciências do Ciclo Inicial de Aprendizagem ...... 83 Quadro 5 – Esquematização da sequência didática de Ciências para debater microorganismos. .............................................................................................................. 89 Quadro 6 – Esquematização da sequência didática de Ciências para debater a Horta Educativa.................................................................................................................. 92 Quadro 7 – Análise das categorias de alfabetização científica da atividade 2 ....... 104 Quadro 8 – Análise das categorias de indicadores de alfabetização científica da atividade 3 .............................................................................................................. 115 Quadro 9 – Análise das categorias de indicadores de alfabetização científica da atividade 4 .............................................................................................................. 124 Quadro 10 – Resultados dos experimentos da atividade 2 .................................... 138 Quadro 11 – Análise dos indicadores de alfabetização científica atividade 2 ........ 141 Quadro 12 – Recortes das falas dos alunos durante o jogo ................................... 145 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18 2 FUNDAMENTOS ................................................................................................... 26 2.1 ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS .................................................... 26 2.2 ENSINO POR INVESTIGAÇÃO NOS ANOS INICIAIS ....................................... 34 2.3 ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS ............................. 39 2.4 TEORIA SÓCIO-HISTÓRICA DE LEV VYGOTSKY ........................................... 49 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 54 3.1 O ESTUDO.......................................................................................................... 54 3.2 LOCAL DA PESQUISA ....................................................................................... 55 3.3 SUJEITOS ........................................................................................................... 55 3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS ....................................................................... 59 3.5 CATEGORIAS DA PESQUISA ............................................................................ 60 3.6 LIMITES DA PESQUISA ..................................................................................... 62 3.7 PRODUTO FINAL ............................................................................................... 62 4 O CONTEXTO DA ESCOLA MUNICIPAL ESTUDADA ........................................ 64 4.1 UM BREVE HISTÓRICO DA ESCOLA ............................................................... 64 4.2 O CONTEXTO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NA ESCOLA .................................. 68 5 AS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS REALIZADAS NO ENSINO FUNDAMENTAL .... 75 5.1 ANÁLISE PEDAGÓGICA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE CIÊNCIAS – “PEQUENINOS SERES VIVOS” ......................................................................... 87 5.2 ANÁLISE PEDAGÓGICA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE CIÊNCIAS – “VIM VER A VIDA”....................................................................................................... 92 6 ALGUMAS QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DA SD PEQUENINOS SERES VIVOS .................................................................................................................... 95 7 ALGUMAS QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA “VIM VER A VIDA” ....................................................................................................... 131 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 155 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 161 APÊNDICES ........................................................................................................... 167 APÊNDICE A........................................................................................................... 168 Conteúdos de Ciências do Ciclo Inicial de Aprendizagem de Vitória ...................... 168 APÊNDICE B........................................................................................................... 173 Roteiro de Entrevista ............................................................................................... 173 APÊNDICE C .......................................................................................................... 175 Questionário dos alunos .......................................................................................... 175 APÊNDICE D .......................................................................................................... 177 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Pais e Responsáveis ................... 177 APÊNDICE E........................................................................................................... 178 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Professores .................................. 178 APÊNDICE F ........................................................................................................... 179 Sequência Didática 1 .............................................................................................. 179 APÊNDICE G .......................................................................................................... 183 Sequência Didática 2 .............................................................................................. 183 APÊNDICE H .......................................................................................................... 187 Autorização do gestor da EMEF Suzete Cuendet ................................................... 187 APÊNDICE I ............................................................................................................ 188 Produção acadêmica realizada ao longo da pesquisa ............................................ 188 18 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa diz respeito às reflexões sobre a minha prática docente de 19 anos lecionando Ciências no Ensino Fundamental. Porém, é relevante afirmar que anteriormente a essa trajetória profissional, o interesse pelas Ciências emergiu na formação inicial, em uma turma de graduação em licenciatura em Ciências Biológicas constituída de pessoas focadas em um ensino de qualidade, que buscavam norteadores que pudessem favorecer novas formas de ensinar Ciências. Desse modo, acredito que minha formação acadêmica contribuiu com o traçado desta jornada até aqui, pois a maioria já lecionava e sua postura era de compromisso, ética no exercício da profissão. Saí da universidade levantando a bandeira de um ensino não biologizado, mas que se pautasse na interdisciplinaridade. Naquela época, já estava constatado que, na maioria das escolas, o ensino de Ciências é fragmentado, compartimentalizado, contemplando apenas as Ciências Biológicas e excluindo a Física, a Química e as Geociências, afastando-se também do contexto social dos alunos. Assim, buscava desenvolver um ensino de Ciências que abarcasse a experimentação e que promovesse a aquisição do conhecimento científico não somente por meio do livro didático, mas também de visitas e aulas de campo. No entanto, vivenciei naquele momento um choque de realidade em relação à carreira de magistério, marcada pela decepção com a infraestrutura das escolas, a falta de apoio da gestão na implementação de metodologias específicas para o ensino de Ciências e também a reação dos próprios colegas mais antigos que questionavam essas práticas vistas por eles como “invenção de moda”, explicitando suas dificuldades em compreender e acompanhar os avanços históricos da área. A minha aprovação para o quadro efetivo de servidores da Secretaria Municipal de Educação de Vitória trouxe melhores perspectivas, como formação regular, salários em dia, melhorias estruturais, contudo o quadro não era muito diferente do praticado 19 na Rede Estadual de Ensino da época. Havia uma diversidade estrutural das escolas. Algumas eram bem equipadas, e outras não possuíam sequer um espaço para a realização de atividades diferenciais. A opção de muitos professores era utilizar o que comumente se chamava de “cafofo pedagógico”, um lugar para acomodar materiais com a finalidade de assegurar as práticas, sem condição para que as aulas ocorressem conforme o planejado, mas era a possibilidade daquele momento. Durante essas práticas, algumas questões me chamaram a atenção, como a inabilidade dos alunos, a falta de segurança para expressar ideias e hipóteses, a dificuldade para adquirir e manusear materiais e equipamentos, mesmo que fossem de origem alternativa. Desse modo, entendi que havia necessidade de iniciá-los nessas práticas, de forma gradativa, e ainda negociar e convencer a gestão da importância dessas atividades, no sentido de buscar apoio e investimento financeiro. Também considerei que a formação científica desses alunos deveria ocorrer desde o início da escolarização. Durante um período de remoção, escolhi outra escola, e a mudança proporcionada por esse movimento configurou-se em oportunidade para desenvolver um trabalho mais significativo, porque a nova instituição dispunha, desde o projeto inicial, de um espaço para implantação de um laboratório de Ciências. A equipe técnica pedagógica compreendeu a importância ou a possibilidade de estender a utilização desse laboratório aos anos iniciais, o que foi feito por meio da institucionalização de um projeto denominado Pequenos Cientistas, incluso no plano de ação desde 2003. Um dos motivos da proposição do projeto acima descrito foi acreditar que a adoção de uma concepção de ensino diferenciada desde os anos iniciais acarretaria mudanças nas posturas dos alunos mais velhos, que demonstravam insegurança para argumentar, para empreender esforços mentais e físicos na construção de engenhocas simples, o que para mim demonstrava deficiências em sua formação. 20 Sendo assim, esta pesquisa é fruto da minha experiência de nove anos em um laboratório privilegiado, no contexto da rede de ensino na qual trabalho. Essa oportunidade trouxe demandas como conhecer o universo infantil, seus professores (profissionais geralmente graduados em Pedagogia) e pesquisar as práticas experimentais que poderiam ser adaptadas para cada faixa etária. A partir das relações estabelecidas no processo de ensino, percebemos que as crianças nos surpreendem com a sua curiosidade, motivação e com o desejo constante de descoberta, pelo diferente. Harlam e Rivkim (2002) apontam que a compreensão do ambiente, por meio da interação com ele, é uma ação natural das crianças e, quando lhes oferecemos experiências instigantes, alimentamos sua capacidade natural e humana de conhecer. Se fizermos isso com sensibilidade em relação aos seus interesses, sua natureza e suas necessidades, envolveremos o componente afetivo poderoso do conhecimento e da aprendizagem (HARLAN ; RIVKIN, 2002). Inicialmente, as aulas propostas para as crianças se constituíam de diversas vivências de caráter lúdico e “mágico”. Supunha que, por se tratar de crianças, os experimentos deveriam ser estimulantes com mudanças de cor, estalos, vidrarias diversas. As próprias professoras regentes que acompanhavam os alunos demonstravam certa frustração, utilizavam material alternativo, como garrafa PET, rolhas, barbante, etc. Apesar dessa motivação, as práticas que eu conduzia eram empiristas e verificacionistas. Ainda traduziam uma visão de neutralidade e de verdade científica quando utilizadas para comprovar teorias. Mesmo que o discurso fosse diferente, o método científico ainda era a receita de fazer Ciência na escola e os experimentos executados tinham a perspectiva de comprovar ou refutar as hipóteses que os alunos levantavam. 21 Por meio de pesquisas, conheci projetos, como o ABC na Educação Científica-Mão na Massa,1 pelos quais me apropriei dos pressupostos investigativos, mas percebi que seriam necessários aportes teóricos e epistemológicos para melhor conduzir essas atividades e entender as relações e as contribuições para a construção do conhecimento científico. O ensino de Ciências hoje tem, como principal objetivo, a promoção da alfabetização científica dos educandos, buscando a formação de indivíduos habilitados a tomar decisões responsáveis em frente às questões controversas deste mundo tecnológico que nos cerca. Eles devem ser capazes, ainda, de ler este mundo de modo crítico e reflexivo, analisando as relações entre Ciência e Sociedade, bem como levantando soluções para os problemas daí advindos (CHASSOT, 2003; CARVALHO, 2010). Em consonância com essas ideias, cito os Parâmetros Curriculares Nacionais que apontam que um dos objetivos do ensino de Ciências Naturais deve ser “[...] mostrar a ciência como conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e as suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduo" (BRASIL, 1997, p. 23). Destacam ainda que: A apropriação de seus conceitos e procedimentos pode contribuir para o questionamento do que se vê e ouve, para a ampliação das explicações acerca dos fenômenos da natureza, para a compreensão e valorização dos modos de intervir na natureza e de utilizar seus recursos, para a compreensão dos recursos tecnológicos que realizam essas mediações, para a reflexão sobre questões éticas implícitas nas relações entre Ciência, Sociedade e Tecnologia (BRASIL, 1997, p. 23-24). Essas questões me instigaram, fato que me levou ao curso de mestrado profissional, com a intenção de encontrar diretrizes para compreender conceitos como a alfabetização científica, o ensino por investigação, o movimento CTSA e novos instrumentos metodológicos. Foi a partir desse percurso que minha atenção se voltou para as turmas de seis anos durante uma atividade experimental sobre o 1 O programa ABC na Educação Científica – Mão na Massa aborda, de forma diferenciada, o ensino de Ciências nos anos iniciais, por meio de uma metodologia investigativa e indagadora. Recebeu influências do Programa Americano de Alfabetização Científica “Hands-On,” que foi adaptado na França como “La Main à la Pâte”. Começou a ser divulgado no Brasil pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) desde 2001. 22 ar, em que identifiquei que os sinceros esforços empreendidos para a resolução do problema proposto eram feitos com seriedade e também que os argumentos eram baseados nas concepções prévias que as crianças já traziam consigo, construídas por meio das interações sociais cotidianas. Esses argumentos expressavam lógica e coerência com as vivências infantis no meio familiar e na vida em sociedade. Percebi que, mediante o diálogo, construíamos, juntos, o conhecimento. Existe uma preocupação/argumentação de que as crianças, principalmente as mais novas, às quais dedicamos este trabalho, não estariam preparadas para formar conceitos científicos complexos acerca dos fenômenos naturais. Todavia, Carvalho (2010, p. 13), destaca que “[...] a escola deve trabalhar com a ideia de que a Ciência é provisória, de que é continuamente reconstruída [e que, sendo assim], também nossos alunos irão evoluir e reconstruir novos significados para os fenômenos estudados.” Para essa autora, durante o desenvolvimento escolar, os significados “provisórios” deverão ser reorganizados, adquirindo-se novos significados, estruturados em leis e teorias científicas. Concordando com essa autora sobre a evolução na construção e reconstrução dos conhecimentos científicos, proponho pesquisar esses sujeitos na concepção de que, apesar da pouca idade e do contexto socioeconômico, encontramos reais possibilidades de uma educação científica crítica. Pretendi, com a execução da pesquisa, desenvolver atividades investigativas nos anos iniciais articuladas com atividades integradoras de aprendizagem vinculadas à ludicidade e ao afeto. Busco com essa prática a promoção da alfabetização científica que forme não somente futuros cidadãos responsáveis, mas educandos que, apesar da tenra idade, aprendam a ler o mundo que os cerca. Neste relatório, descrevo alguns questionamentos decorrentes das experiências profissionais vividas no ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que são: 23 Quais são as metodologias desenvolvidas na sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental da escola pesquisada? É possível produzir ensino de Ciências a partir de uma sequência didática que trata conteúdos científicos articulados com a realidade dos alunos, nos anos iniciais? É possível produzir aprendizagem de Ciências de forma integradora e interdisciplinar, nesse contexto? A aplicação de uma sequência didática na perspectiva do ensino investigativo promove a alfabetização científica dos alunos? É possível a construção do conhecimento científico no primeiro ano? Desse modo, entendendo que o ensino por investigação se constitui numa proposta metodológica importante para o ensino de Ciências, o problema desta pesquisa é: de que modo o ensino de Ciências por investigação favorece a alfabetização científica no primeiro ano do Ensino Fundamental? A hipótese deste trabalho é que o ensino por investigação contribui para a formação de um indivíduo crítico, autônomo, habilitado para a tomada de decisões em questões relacionadas com a Ciência e Tecnologia que incidam diretamente sobre sua vida cotidiana. Logo, a presente pesquisa teve como objetivo geral desenvolver e investigar a aplicação de sequências didáticas de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com vistas à alfabetização científica, analisando os aspectos pedagógicos e epistemológicos na perspectiva do ensino investigativo, à luz da teoria sócio-histórica de Lev Vygotsky. Nesse contexto, os objetivos específicos foram os seguintes: a) investigar o contexto do ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental na escola pesquisada; b) elaborar sequências didáticas sobre o tema seres vivos no primeiro ano do Ensino Fundamental sob os pressupostos de um ensino investigativo, visando à alfabetização científica; 24 c) investigar os aspectos pedagógicos das sequências didáticas sobre o tema seres vivos no primeiro ano do Ensino Fundamental; d) analisar o processo de construção do conhecimento científico a partir da metodologia do Ensino por Investigação nos anos iniciais; e) investigar as possibilidades da promoção da alfabetização científica no primeiro ano do Ensino Fundamental. Nesse contexto, para melhor compreensão deste trabalho, procurei organizar os capítulos a serem abordados da seguinte maneira: o segundo capítulo deste texto apresenta a fundamentação teórica produzida a partir de um levantamento bibliográfico, tendo como principal foco os estudos sobre o ensino de Ciências nos anos iniciais, abordando trabalhos de autores como Hilário Fracalanza, Laiura Fumagali, Harlan e Rivkim, Astolfi e colaboradores. Este capítulo trata também da Alfabetização científica nos anos iniciais, com base em Leonir Lorenzetti, Attico Chassot e Antônio Cachapuz. Sobre o ensino por investigação, apoio-me em Ana Maria Pessoa de Carvalho, Lúcia Helena Sasserom, Rogerio Nigro e Maria Cristina campos. A teoria sociointeracionista, elencada para nortear as análises epistemológicas deste trabalho, é também contemplada nesta seção. O terceiro capítulo é destinado à apresentação do procedimento metodológico utilizado no desenvolvimento da pesquisa de mestrado, com a apresentação da proposta do produto final. O quarto capítulo mostra uma descrição sobre a contextualização da EMEF pesquisada, abordando um breve histórico, a realidade escolar e o contexto do ensino de Ciências nessa instituição. O quinto capítulo traz a descrição das duas sequências didáticas aplicadas e suas relações com os temas transversais e com a interdisciplinaridade nos anos iniciais. 25 O sexto e o sétimo capítulos abordam os aspectos pedagógicos e epistemológicos das sequências didáticas investigadas, abarcando seu desenvolvimento e a aquisição dos conhecimentos científicos pelos alunos. O oitavo capítulo assinala o encerramento desta pesquisa com as considerações finais, apontando também sugestões para futuras pesquisas na área do ensino de Ciências nos anos iniciais. 26 2 FUNDAMENTOS 2.1 ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS As crianças exigem o conhecimento das ciências naturais porque vivem num mundo no qual ocorre uma enorme quantidade de fenômenos naturais para os quais a própria criança deseja encontrar uma explicação; um meio no qual todos estamos cercados de uma infinidade de produtos da ciência e da tecnologia que a própria criança usa diariamente e sobre os quais se faz inúmeras perguntas; um mundo no qual os meios de informação social a bombardeiam com notícias e conhecimentos, alguns dos quais não são realmente científicos, sendo a maioria supostamente científicos, mas de qualquer forma contendo dados e problemas que amiúde a preocupam e angustiam (VÁSQUEZ apud FUMAGALLI, 1998, p. 17-18). Até a década de 1960, ministravam-se aulas de Ciências Naturais somente nas duas últimas séries do antigo curso ginasial. Anteriormente a esse período, não há registro de uma preocupação efetiva com o ensino de Ciências nos anos iniciais. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n.º 4024, em 1961, a participação das Ciências no currículo escolar foi ampliada, passando a configurar desde o primeiro ano do Ginasial. A obrigatoriedade dessa disciplina para as oito séries do Primeiro Grau, porém, só foi garantida a partir de 1971, pela Lei n.º 5.692. Dessa forma, entendemos o ensino de Ciências obrigatório para crianças a partir da década de 60. O ensino de Ciências nos anos iniciais começou a ser discutido na década de 80 no cenário brasileiro, intensificando-se desde então e explicitando sua importância no contexto da educação científica das crianças. Essas pesquisas versam sobre as metodologias utilizadas em sala de aula, como a prática ou não da experimentação, sobre o livro didático e ainda sobre a formação dos professores unidocentes. Apresentam um ensino de Ciências memorístico, livresco, acrítico, a-histórico, pautado na transmissão de conteúdos e desconectado do mundo científico e tecnológico que nos cerca e das práticas sociais (FRACALANZA, 1986; FRIZZO; MARIM, 1998; LORENZETTI, 2001; ZANOM; FREITAS, 2007). Concordamos então com Fracalanza (1986, p. 8), quando afirma que, na maioria das escolas, “[...] o ensino de ciências não trabalha com a identificação, o reconhecimento e a 27 compreensão do mundo físico e do mundo dos seres vivos, não faz relação entre o dia a dia da criança e a ciência que se estuda”. Apesar dos trabalhos científicos desenvolvidos nessa área e do avançar das discussões no meio acadêmico, no dia a dia da sala de aula, é comum assistirmos às mesmas práticas de décadas anteriores. “Tradicionalmente, as ciências têm sido ensinadas como uma coleção de fatos, descrições de fenômenos e enunciados de teorias para decorar. Enfatizam-se muitos conceitos, verdadeiras ‘joias de cultura inútil’, que pouco contribuirão para a vida do aluno na sociedade” (LORENZETTI, 2001, p. 20). Além do que já foi exposto, deparamo-nos com a prevalência das disciplinas Português e Matemática em detrimento das demais áreas do conhecimento, principalmente nos primeiros anos, turma que escolhemos para desenvolver este trabalho. O ensino de Ciências ocupa um lugar residual ou até mesmo incidental nos primeiros e segundos anos (FUMAGALI, 1998). Entendemos ser pertinente a discussão sobre a concepção de Ciência que está impregnada nos currículos e nas práticas escolares cotidianas. Estudos realizados ao longo dos anos apontam que ainda persiste a visão de uma Ciência neutra, pura, infalível, ou seja, visões positivistas e reducionistas, nas quais o método científico ainda é balizador das atividades pedagógicas em ensino de Ciências, de modo geral (KRASILCHIK, 2004; SANTOS, 2007; CARVALHO, 2010). Segundo Bricia (2013), persiste a noção individualista elitista e linear da Ciência. Essa visão distorcida colabora em grande parte para a rejeição dos alunos e dos cidadãos a essa área do conhecimento. Para Tomas Kuhn (1962), o desenvolvimento científico não acontece linearmente, mas por rupturas com modelos anteriores. Assim, a descontinuidade ocorre com as revoluções, havendo uma continuidade durante a denominada Ciência normal. 28 Compartilhamos da visão de conhecimento científico de Kuhn, que considera a Ciência como um produto coletivo, desenvolvido de maneira não linear. Esses aspectos têm sido bastante utilizados na formulação de alternativas para o ensino de Ciências Naturais. Essa concepção enfatiza que o conhecimento não é acabado e pronto, mas sim contínuo e historicamente produzido num contexto social. A Ciência, nessa perspectiva, desconstrói a visão de neutralidade e imparcialidade de seus resultados e inferências. Entendemos, então, que se torna urgente e necessária a transformação no ensino de Ciências e o primeiro passo é o rompimento com as práticas tradicionais, tendo como foco atividades centradas na participação ativa da criança no processo de ensino e aprendizagem, em oposição à transmissão passiva de conhecimentos. Dessa forma concordamos com Frizzo e Marim (1989), quando afirmam que, para transformar a realidade do ensino de Ciências, é necessário que este tenha como objetivo a ação da criança e a sua participação ativa com desafiadoras atividades de aprendizagem. Depreendem, então, a necessidade de desenvolver um ensino autocrítico, o que implica, necessariamente, educar para conhecer com autonomia (SASSERON, 2008). Apesar de alguns autores afirmarem não ser mais necessário discutir a relevância e as possibilidades de ensinar Ciências às crianças, nossa experiência profissional revela a importância de apontar alguns aspectos sobre a questão. Primeiramente, desejamos explicitar que se trata de um direito dos alunos e um dever da escola cumprir o que está preconizado nos documentos norteadores do currículo para os primeiros anos do Ensino Fundamental, não se tratando de uma escolha. Concordamos com Laura Fumagali (1998), para quem o aluno deve ser contemplado como sujeito social de sua própria história, e não ensinar Ciências nos 29 anos iniciais, utilizando-se do argumento de que as crianças não possuem capacidades intelectuais, é uma forma de discriminá-las como sujeitos sociais. Cada vez que escuto que as crianças pequenas não podem aprender ciências, entendo que essa afirmação comporta não somente a incompreensão das características psicológicas do pensamento infantil, mas também a desvalorização da criança como sujeito social. Nesse sentido, parece que é esquecido que as crianças não são somente ‘o futuro’ e sim que são ‘hoje’ sujeitos integrantes do corpo social e que, portanto, têm o mesmo direito que os adultos de apropriar-se da cultura elaborada pelo conjunto da sociedade para utilizá-la na explicação e na transformação do mundo que a cerca. E apropriar-se da cultura elaborada é apropriar-se também do conhecimento científico, já que este é uma parte constitutiva dessa cultura (FUMAGALI, 1998, p. 15). Esta discussão, então, perpassa pelo que entendemos por cidadania, uma vez que acreditamos estar participando da formação de cidadãos de hoje e não de um futuro próximo. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais também apontam na mesma direção, quando nos atentam para o fato de que [...] o estudante não é só cidadão do futuro, mas já é cidadão hoje, e, nesse sentido, conhecer Ciência é ampliar a sua possibilidade presente de participação social e desenvolvimento mental, para assim viabilizar sua capacidade plena de exercício da cidadania (BRASIL, 1997a, p. 23). Acerca da importância da inserção dos conhecimentos científicos desde a escolarização básica, Harlem (1989) apresenta três argumentos que merecem nossa atenção: a) as crianças constroem ideias sobre o mundo que as rodeia, independentemente de estarem estudando ou não Ciências na escola. As ideias por elas desenvolvidas não apresentam um enfoque científico de exploração do mundo e podem, inclusive, tornarem-se obstáculos à aprendizagem em Ciências nos graus subsequentes de sua escolarização; b) a construção de conceitos e o desenvolvimento do conhecimento não são independentes do desenvolvimento de habilidades intelectuais. Portanto, é difícil ensinar um “enfoque científico”, se não forem fornecidas às crianças melhores oportunidades para processar e assimilar as informações obtidas; 30 c) se as crianças, na escola, não entrarem em contato com a experiência sistemática da atividade científica, elas irão desenvolver posturas ditadas por outras esferas sociais, que poderão repercutir por toda a sua vida. Em consonância com esses pressupostos, Lorenzetti (2001), em sua dissertação intitulada “Alfabetização científica nas séries iniciais”, considerando que a Ciência e a Tecnologia desempenham um papel muito importante na escola elementar, cita que, em 1983, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elencou algumas justificativas para a inclusão desses temas nos currículos escolares: a) as Ciências podem ajudar as crianças a pensar de maneira lógica sobre os fatos cotidianos e a resolver problemas práticos simples; b) as Ciências e suas aplicações tecnológicas podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas. As Ciências e a Tecnologia são atividades socialmente úteis que esperamos sejam familiares às crianças. Dado que o mundo tende a orientar-se cada vez mais num sentido científico e tecnológico, é importante que os futuros cidadãos se preparem para viver nele; c) as Ciências podem promover o desenvolvimento intelectual das crianças; d) as Ciências podem ajudar positivamente as crianças em outras áreas, especialmente em linguagem e matemática; e) numerosas crianças de muitos países deixam de estudar ao terminar a escola primária, sendo esta a única oportunidade de que dispõem para explorar seu ambiente de um modo lógico e sistemático; f) as Ciências nas escolas primárias podem ser realmente divertidas. Em nosso entendimento, o ensino de Ciências nos anos iniciais traz demandas específicas para a presente discussão, uma vez que estamos falando sobre ensinar Ciências para crianças de seis anos de idade, com características peculiares e especificidades relativas a essa fase de seu desenvolvimento. 31 Nesse contexto, cabe ao professor acreditar na capacidade da criança, ter bom referencial teórico, desencadeador e observador das atividades, desafiando-a para que aprenda de modo lúdico, levando-a à investigação. A metodologia proposta desenvolve habilidades fundamentais para o crescimento e a vivência de valores básicos para a vida em sociedade: socialização, justiça social, participação e interação. Frizzo e Marim (1989) entendem que é possível a extrapolação do conhecimento científico para outras áreas, pois, no momento em que a criança é desafiada a observar, começa a olhar o meio que a cerca com espírito crítico e investigativo. Ocorre, então, um enriquecimento de todas as atividades a serem operacionalizadas nas demais áreas. Fracalanza, Amaral e Gouveia (1997) ressaltam que a criança não é um adulto em miniatura; ela tem características próprias no modo de sentir, perceber e pensar a realidade, características especiais fisiológicas e psicológicas. Os autores afirmam que é frequente esperarmos das crianças comportamento e reação próprios do mundo adulto ou, então, simplificamos demais as coisas para que sejam acessíveis a elas. Essas estratégias levam a um sucesso aparente ou superficial por conta da cópia do nosso modelo mental por parte da criança e não a verdadeira compreensão e incorporação. Dentro dessas premissas, há o entendimento de que aulas tradicionais, pautadas somente na transmissão de conteúdos, não contribuirão de maneira efetiva nesse processo. Astolfi e colaboradores (2002) pontuam que, na aula dialogada, a participação dos alunos é ativa, mas cada um deles reconstrói o discurso magistral a partir de seu próprio mapa cognitivo, e aquilo que o professor interpreta como aquisição de conhecimento pode não passar de uma adaptação às situações, partilhando palavras e não os sentidos (ASTOLFI et al., 2002, p. 51). Para esses autores, a instauração de um verdadeiro diálogo pressupõe a explicitação, a argumentação dos pontos de vista em presença dos interlocutores, a clarificação das questões científicas que são colocadas, a apresentação dos conflitos cognitivos presentes na sala de aula e a procura coletiva de um mais novo e mais satisfatório sistema de explicação. 32 Os autores supracitados também versam sobre a importância da problematização dos conceitos ensinados em Ciências como estratégia de ensino, pontuando que um problema não é a mesma coisa que uma interrogação imediata, a partir de um fato de observação, nem uma transcrição dos interesses espontâneos àquilo que nos agrada ou as motivações pessoais. O problema deve ser construído com a turma durante uma atividade, uma vez que uma atividade científica não significa apenas resolver problemas, mas consiste, antes de tudo, em aprender a colocá-los; trata-se de formular um problema em si mesmo com um objetivo de procurar uma solução para ele, solução esta que não é de ordem concreta e material como a resolução de uma dificuldade, mas de ordem intelectual, uma espécie de enigma a ser elucidado. Essas pontuações convergem para o ensino por investigação, conforme discorreremos a seguir. Nesta pesquisa, também nos apoiaremos em Harlan e Rivkim (2002), no que tange à didática das Ciências Naturais para crianças. Encontramos, nesses autores ênfase à relação entre as descobertas e a autoestima da criança, entre as sensações de domínio do recém-aprendido e o desejo de conhecer mais. Os autores ressaltam que eventos com significado emocional ficam por muito mais tempo retidos na memória, se comparados com acontecimentos de menor importância. A inter-relação entre pensamento e emoção tem importância fundamental na aprendizagem. Os sentimentos são despertados pelos pensamentos e estes, influenciados por aqueles. As experiências científicas contribuem nesse sentido, uma vez que favorecem a crença em nossa capacidade para lidar com problemas com base em nossa competência pessoal. Harlam e Rivkim (2002) sugerem, então, que se ofereçam desafios de aprendizagem na escola que permitam à criança estabelecer com eles um confronto, um medir forças, uma vez que tentar vencê-los auxilia na modelagem da autoestima do indivíduo. Para tanto, esses autores propõem uma abordagem integrada da aprendizagem que agrega atividades físicas, sensoriais e emocionais a todo o processo e estimula tanto o pensamento intuitivo quanto o racional. 33 Os autores trazem em seu livro sugestões de atividades que se constituem em uma variedade de extensões enriquecedoras aos tópicos científicos desenvolvidos. Essas atividades estariam relacionadas com o raciocínio lógico-matemático, a musicalidade, a literatura, as artes visuais e cênicas, o pensamento criativo, os sentidos, as saídas de campo e, por fim, com movimentos criativos de relaxamento e codificação física. Essas atividades integradoras foram postuladas por esses autores tomando a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner como referência, conforme nos apresenta a Figura 1. Figura 1 – Abordagem integradora do ensino de Ciências Fonte: Harlam e Rivkim (2002, p. 29). Para esses autores, quando integramos experiências científicas com as outras áreas do currículo, ajudamos as crianças a aumentar seu desempenho mental, por meio da formação de vias neuronais mais sofisticadas que permitem o aumento da retenção dos conceitos, que ocorre mediante a variedade de conexões e relações 34 entre diferentes estilos de absorção e aplicação de informações (HARLAM; RIVKIM, 2002, p. 28). Finalizando, entendemos que as considerações tecidas pelos autores sobre o ensino de Ciências são convergentes, na medida em que contribuem para se pensar a natureza da criança quando ensinamos Ciências por meio da descoberta. Na investigação, no lúdico, proporcionamos um meio de integrar até mesmo aqueles alunos resistentes, desestimulados, à margem do processo educativo. Nesse contexto de inclusão, enfatizam que toda criança pode aprender Ciências, independente da condição social, econômica, raça ou gênero, devendo a sala de aula se constituir num espaço de ensino e aprendizagem articulado com a diversidade. 2.2 ENSINO POR INVESTIGAÇÃO NOS ANOS INICIAIS Uma atividade de investigação deve partir de uma situação problematizadora e levar o aluno a refletir, discutir, explicar, relatar, enfim, levá-lo a produzir seu próprio conhecimento por meio da interação entre o pensar, o sentir e o fazer. Nessa perspectiva, a aprendizagem de procedimentos e atitudes se torna, dentro do processo de aprendizagem, tão importante quanto a aprendizagem de conceitos e/ou conteúdos (AZEVEDO, 2004). O ensino por investigação é uma metodologia pedagógica do ensino de Ciências caracterizada por atividades problematizadas, não necessariamente experimentais, que levam ao percurso de um ciclo investigativo com vistas à resolução do problema proposto. Sobre o ensino por investigação, Zômprero e Laburú (2011), no artigo “Atividades investigativas no ensino de ciências: aspectos históricos e diferentes abordagens”, trazem-nos uma revisão literária que aborda a construção dessa tendência pedagógica. O ensino por investigação é conhecido pelo termo 35 “inquiry”, que admite diferentes conceituações, como aprendizagem por projetos, questionamentos, resolução de problemas, dentre outras. No final do século XIX, surgiu o Movimento Progressista, que defendia o ensino centrado na atividade, aliando teoria e prática, tendo o aluno como participante ativo de seu processo de aprendizagem. É relevante afirmar que o filósofo e pedagogo John Dewey foi o precursor dessas teorias. Entretanto, a descrição de suas ideias não faz parte de nosso objeto de discussão. Seu nome tem sido associado à aprendizagem por projetos e por resolução de problemas. Em 1950, os cientistas, educadores e líderes industriais argumentaram que o ensino de Ciências tinha perdido o seu rigor acadêmico e não estava possibilitando o desenvolvimento intelectual dos alunos. Essa preocupação com a educação científica, nos Estados Unidos, culminou com o lançamento do satélite Sputinik pelos russos. Por isso, a educação científica foi outra vez voltada para o rigor acadêmico do século XIX. A ênfase, novamente, encontrava-se nos processos de Ciências e habilidades individuais, como: observar, classificar, inferir e controlar variáveis. Segundo Zômpero e Laburú (2011), muitas críticas foram apontadas para o ensino por descoberta voltado à formação de cientistas. Devido a tal situação, tanto no Brasil como nos demais países, começaram a ganhar força, nos anos finais da década de 1970, as ideais construtivistas. Surge, nesse período, o Movimento das Concepções Alternativas, o qual tinha como principal objeto de estudo as ideias dos alunos sobre os fenômenos naturais, pelo fato de que essas concepções interferem no processo de aprendizagem. Ainda na década de 1970, com os agravos causados ao meio ambiente, o ensino de Ciências passou a novamente ter a preocupação de propor uma educação que levasse em conta os aspectos sociais relativos ao desenvolvimento científico e 36 tecnológico. Essa abordagem iniciou-se na Grã-Bretanha e desenvolveu-se até a década de 1980. Nessa perspectiva, as atividades investigativas eram utilizadas como orientação para ajudar os estudantes a pesquisar problemas sociais, como o aquecimento global, a poluição, dentre outros. Sendo assim, o objetivo da educação científica era o entendimento dos conteúdos, dos valores culturais, da tomada de decisões relativas ao cotidiano e à resolução de problemas. No final dos anos 1980, foi elaborado um documento nos Estados Unidos intitulado “Science For All Americans”. Nesse documento, os autores recomendavam que o ensino de Ciências fosse coerente com a natureza da investigação científica. Os estudantes, então, teriam que aprender determinados procedimentos, como: observar, anotar, manipular, descrever, fazer perguntas e tentar encontrar respostas. Posteriormente, em 1996, houve a publicação de outro documento, intitulado “National Science Education Standards”, em que são propostas algumas orientações para a alfabetização científica, reconhecendo também a importância do ensino por investigação (BARROW, 2006, apud ZÔMPERO; LABURÚ, 2011). No Brasil, a abordagem do ensino envolvendo atividades de investigação começa a ser discutida com a implementação e divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). No entanto, percebemos que o ensino de Ciências por investigação no Brasil ainda não está bem estabelecido. O ensino por investigação hoje não pretende formar cientistas, nem segue as etapas de um rigoroso método científico; mas busca formar indivíduos capazes de argumentar, de levantar hipóteses e analisar dados relacionando-os com a sua realidade. Essa metodologia constitui-se numa excelente estratégia de aprendizagem de conceitos, estabelecimento de relações de causa e efeito, realização de trabalho colaborativo e favorece o desenvolvimento do poder de argumentação dos estudantes e uma visão mais autêntica do que é fazer ciência (CAPECHI; CARVALHO, 2006; LOCATELLI; CARVALHO, 2007; PEREIRA, 2011). 37 Para que uma atividade seja considerada efetivamente investigativa, os autores pesquisados estabelecem alguns critérios a serem observados. Nessas atividades, as etapas pelas quais os alunos passam para a construção de um conhecimento são tão importantes como o próprio conhecimento que se quer ensinar, ou seja, processo e produto são igualmente valorizados. Nessa concepção, é necessário que um problema ou uma situação-problema seja levantada pelos alunos ou pelo professor. Esse problema é uma questão aberta para a qual os alunos não têm uma solução imediata que será respondida por meio de investigações literárias, ou experimentais. Nesse sentido, o tema problematizado deve ser do interesse dos alunos e ter conexão com a sua realidade e com as práticas sociais nas quais ele está inserido. Guedes (2010), em sua dissertação de mestrado, intitulada “Experimentação no ensino de ciências: atividades problematizadas e interações dialógicas”, transcreve três definições de problema: a) é uma situação de dúvida, um estado de tensão psicológica capaz de estimular a curiosidade, o pensamento reflexivo e provocar a ação em busca de uma solução ou atitude de trabalho; b) pode ser uma tarefa completa, cuja ação depende da busca para obter novos conhecimentos ou ressignificação de conceitos; e c) é uma atividade na qual o aluno deve buscar recursos, ativar esquemas e tomar decisões de forma reflexiva (MACEDO, 2002; HENNING, 1994; SILVA; NUNES, 2006, apud GUEDES, 2010). Dessa forma entendemos que a formulação do problema é, então, de suma importância na construção de uma atividade investigativa que traga verdadeiras e significativas contribuições aos fazeres cotidianos da vida escolar. Além do problema proposto, outras ações devem ser contempladas nessa concepção de ensino: como emissão de hipóteses, planejamento para a realização do processo investigativo, interpretação das novas informações e a sua posterior comunicação. A emissão/formulação de hipóteses possibilita a identificação dos conhecimentos prévios dos alunos. A busca por informações pode ser realizada tanto por meio dos 38 experimentos, como em bibliografia que possa ser consultada para resolução do problema proposto na atividade. A comunicação dos estudos feitos pelos alunos para os demais colegas de sala é um momento de grande importância na comunicação do conhecimento, tal como ocorre na Ciência. Dessa forma os alunos desempenham um papel intelectual mais ativo durante as aulas (ZÔMPERO; LABURÚ, 2011). Na abordagem sugerida por Gil Perez e Castro (1996), essas atividades devem compreender as seguintes características: apresentar aos alunos situações problemáticas abertas, em um nível de dificuldade adequado à zona de desenvolvimento potencial dos educandos; favorecer a reflexão dos alunos sobre a relevância das situações-problema apresentadas; emitir hipótese como atividade indispensável à investigação científica; elaborar um planejamento da atividade experimental; contemplar as implicações CTS do estudo realizado; proporcionar momentos para a comunicação do debate das atividades desenvolvidas; potencializar a dimensão coletiva do trabalho científico. Além das características que foram expostas, Bybee (2006), citado por Carvalho (2011), valoriza: o engajamento dos estudantes na atividade; a priorização de evidências; a formulação de explicações para as evidências; a articulação das explicações com o conhecimento científico; e a comunicação e justificação das explicações. Essas abordagens explicitam que a aprendizagem de procedimentos e atitudes se torna tão importante quanto a aprendizagem de conceitos ou do conteúdo (AZEVEDO, 2006). Dentre as contribuições da inserção do ensino investigativo como metodologia, entendemos que as situações-problema vivenciadas pelos alunos possibilitam a elaboração de explicações por meio de argumentos discutidos coletivamente numa interação dialógica aluno-aluno e aluno-professor (FREIRE, 2000). Ao mesmo tempo em que há a inadequação da exigência de que crianças pequenas percorram todo um ciclo investigativo, Campos e Nigro (1999) também colocam que não 39 realizar um trabalho investigativo que supere a superficialidade seria insuficiente para o ensino de Ciências nesse contexto. Então propõem que o objetivo maior dessa prática de ensino para as crianças seja a observação dos problemas em redor, favorecendo a realização de previsões e tentativas de explicar os fenômenos cotidianos, entendendo que as demais habilidades pretendidas se desenvolverão à medida em que esses sujeitos avancem em sua vida acadêmica. 2.3 ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS Parece que se fará Alfabetização Científica quando o ensino de ciências contribuir para a compreensão de conhecimentos, procedimentos e valores que permitam aos estudantes tomar decisões e perceber tanto as muitas utilidades da ciência e suas aplicações na melhoria da qualidade de vida, quanto as limitações e consequências negativas de seu desenvolvimento (CHASSOT ,2004, p. 99). Nos dias atuais, o avanço das Ciências e da Tecnologia criou novas demandas para o ensino de Ciências, como a necessidade de reflexão sobre suas relações com a sociedade e com o meio ambiente nas dimensões política, econômica, histórica, ética e jurídica. Sendo assim, “A nossa responsabilidade maior no ensinar Ciência é procurar que nossos alunos e alunas se transformem, com o ensino que fazemos, em homens e mulheres mais críticos” (CHASSOT, 2011, p. 55). Nesse sentido, alfabetização científica remete ao ensino preocupado com a formação cidadã dos alunos para ação e atuação em sociedade. Seu objetivo seria a promoção de capacidades e competências dos estudantes capaz de permitir-lhes a participação democrática nas tomadas de decisões que influenciarão suas vidas em sociedade. Chassot (2011, p. 37) define Ciência como a linguagem para facilitar nossa leitura de mundo. Essa linguagem é uma construção humana, logo mutável e falível, e a alfabetização científica, então, é o conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo em que vivem. Sendo assim, seria desejável que os alfabetizados cientificamente não apenas tivessem essa leitura de mundo facilitada mas entendessem as necessidades de transformá-lo, e transformá-lo para melhor. Para esse autor, a alfabetização 40 científica deve ser contemplada desde o Ensino Fundamental por meio de novas exigências na seleção de conteúdos. A alfabetização científica visa à instituição de um ensino de ciências voltado para a formação da cidadania, que precisa ser socialmente contextualizado, destacando o papel social da Ciência e suas interações multidisciplinares com os aspectos sociais políticos, históricos e éticos, diferentemente do modismo do ensino cotidiano que reproduz uma concepção de Ciência pura e neutra. Em consonância com essas premissas, Lorenzetti e Delizoicov (2001) definem a alfabetização científica como um processo pelo qual a linguagem das Ciências Naturais adquire significado, constituindo-se um meio para o indivíduo ampliar o seu universo de conhecimento, a sua cultura, como cidadão inserido na sociedade. A alfabetização científica apresenta-se hoje como um termo difuso e de complexa conceituação, uma terminologia que abarca variantes etimológicas, o que não impede convergências em seus objetivos educacionais ao redor do mundo. Lorenzeti (2001) nos esclarece que, no termo “Scientifc Literacy”, traduzido do inglês para o português, “literacy” é traduzido como “alfabetização”, no Brasil e em Portugal. Ele destaca que a tradução correta do termo deveria ser “alfabetismo” e não alfabetização, mas utiliza “alfabetização científica” por julgar a alfabetização uma atividade vitalícia. A alfabetização científica é um processo que tornará o indivíduo alfabetizado cientificamente nos assuntos que envolvem a Ciência e a Tecnologia, ultrapassando a mera reprodução de conceitos científicos, destituídos de significados, de sentidos e de aplicabilidade. Apesar da pluralidade semântica que envolve o termo, alfabetização científica visa ao planejamento do ensino para a construção de benefícios práticos para as pessoas, a sociedade e o meio ambiente, pela construção de uma consciência mais crítica em relação ao mundo que a cerca (SASSEROM, 2008). As pesquisas realizadas nos informam que o primeiro a utilizar a expressão scientifc literacy foi Paul Hurd em seu livro “Science literacy: its meaning for American 41 Schools”, de 1958, e ainda no artigo muito citado “New minds for a changimg world”, de 1998. Para Hurd (1998), a alfabetização científica envolve a produção e utilização da Ciência na vida do homem, provocando mudanças revolucionárias na Ciência com dimensões na democracia, no progresso social e nas necessidades de adaptação do ser humano. As características de uma pessoa cientificamente instruída não são ensinadas diretamente, mas estão embutidas no currículo escolar, em que os alunos são chamados a solucionar problemas, a realizar investigações, a desenvolver projetos em laboratório de apoio e experiências de campo. Essas atividades são compreendidas como preparação para o exercício da cidadania. Hurd (1998) lista 25 características que constituiriam uma pessoa alfabetizada cientificamente, dentre as quais, elencamos dez com as quais nos propusemos a estabelecer relações com este trabalho: a) reconhecer que quase todos os fatos da vida são influenciados pela Ciência e Tecnologia; saber que a Ciência nos contextos sociais tem dimensões políticas, judiciais e éticas; b) entender como a pesquisa científica é feita e como os resultados são validados; c) usar os conhecimentos científicos em situações apropriadas, tomando decisões para sua vida e para a sociedade, fazendo julgamentos e solucionando problemas; d) reconhecer riscos, lacunas, limites e probabilidades na tomada de decisões envolvendo o conhecimento da ciência e da tecnologia; e) reconhecer que conceitos, leis e teorias científicas não são rígidos, mas que possuem uma qualidade orgânica, crescem e se desenvolvem. Logo, o que é ensinado hoje pode não ter o mesmo significado no futuro; f) saber que problemas científicos, em contextos pessoal e social, podem obter mais que uma resposta certa, especialmente problemas que envolvam ações éticas, judiciais e políticas; g) reconhecer que a economia global é amplamente influenciada pelos avanços nas Ciências e nas Tecnologias; h) distinguir evidência de propaganda, fatos de ficção, consciência de absurdo e conhecimento de opinião; 42 i) reconhecer que scientific literacy é um processo para adquirir, analisar, sintetizar, codificar, avaliar e utilizar progressos em Ciência e Tecnologia nos contextos social e humano; j) reconhecer que os problemas envolvendo ciência e sociedade são geralmente resolvidos por ações colaborativas ao invés de ações individuais. Percebemos que para esse autor, o sujeito alfabetizado cientificamente possui conhecimentos necessários para a participação nas questões sociais relativas às Ciências. Ele compreende as teorias mais gerais da Ciência e apresenta habilidades para usar o conhecimento científico na solução de problemas. Para Benjamim Shen (1975, p. 265), citado por Sasserom (2007), a alfabetização científica “[...] pode abranger muitas coisas, desde saber como preparar uma refeição nutritiva, até saber apreciar as leis da física”. Ele propõe a popularização do conhecimento científico para que o cidadão possa utilizá-la na sua vida cotidiana. Sendo assim, os meios de comunicação e, principalmente, as escolas, podem contribuir consubstancialmente para que a população tenha um melhor entendimento público da Ciência. Esse autor distingue três dimensões de alfabetização científica que diferem entre si quanto aos seus objetivos, ao público considerado, ao seu formato e aos seus meios de disseminação. Essas três dimensões de alfabetização científica são denominadas “prática”, “cívica” e “cultural”. A “alfabetização científica prática” é aquela que contribui para a melhoria da qualidade de vida, tornando o indivíduo apto a resolver, de forma imediata, problemas básicos que afetam a sua existência. Está relacionada com as necessidades humanas mais básicas, como alimentação, saúde e habitação. Uma pessoa com conhecimentos mínimos sobre esses assuntos pode tomar suas decisões de forma consciente, mudando seus hábitos, preservando a sua saúde e exigindo condições dignas para a sua vida e a dos demais seres humanos. A “alfabetização científica cultural” diz respeito a saber sobre Ciência, como uma construção da humanidade, de forma mais aprofundada. É o caso de profissionais não pertencentes à área científica, que passam a 43 interessar-se por um dado assunto (Engenharia Genética, por exemplo) e, então, começam a ler, pensar e assinar revistas específicas para aprimorar seu conhecimento. Já a “alfabetização científica cívica” seria a que habilita o cidadão a tomar decisões mais bem informadas e a participar mais intensamente no processo democrático de uma sociedade crescentemente tecnológica. Rodger Bybee (1995), citado por Sasserom e Carvalho (2008), admite as dimensões funcional, conceitual, procedimental e multidimensional como processos de incorporação de conhecimento científico em sala de aula, que ocorreriam de acordo com uma evolução gradual. A “alfabetização científica funcional” tem por objetivo o desenvolvimento de conceitos e a aquisição de um vocabulário relacionado com a Ciência e a Tecnologia. A alfabetização científica conceitual e procedimental seria a habilidade dos estudantes em perceber as relações existentes entre as informações e as vivências adquiridas por uma comunidade e o estabelecimento de ideias conceituais, ou seja, espera-se que esses estudantes possuam conhecimentos sobre os processos e ações que fazem das Ciências um modo peculiar de se construir conhecimento sobre o mundo. A alfabetização científica multidimensional se expressa quando os estudantes dominam o vocabulário das Ciências e o utilizam de maneira adequada, compreendem como a Ciência constrói conhecimento dos fenômenos naturais e, por meio do estabelecimento dessas relações, percebem e analisam criticamente o papel das Ciências e das Tecnologias em sua vida. Essa “alfabetização científica multidimensional” é alcançada quando os indivíduos são capazes de adquirir e explicar conhecimentos, além de aplicá-los na solução de problemas do dia a dia. Fourez (1994) nos atenta que a promoção de uma cultura científica e tecnológica é um fator de inserção dos cidadãos em sociedade atual. Para ele, o ensino tomou uma dimensão de transmissão dogmática de conceitos e teorias sem espaço para discussões para entender como a Ciência e seus significados são construídos. 44 Nesse contexto, ele cita uma proposição do NSTA, associação de professores de ciências estadunidenses, sobre o que seria uma pessoa educada cientificamente: a) utiliza conceitos, integra valores, sabe tomar decisões responsáveis no dia a dia; b) compreende que a sociedade exerce controle sobre as Ciências e as Tecnologias, bem como as ciências e as tecnologias refletem a sociedade; c) entende que a sociedade exerce controle sobre as Ciências e as Tecnologias por meio do viés das subvenções que a elas concede; d) reconhece também os limites da utilidade das Ciências e das Tecnologias para o progresso do bem-estar humano; e) conhece os principais conceitos, hipóteses e teorias científicos e é capaz de aplicá-los; f) aprecia as Ciências e as Tecnologias pela estimulação intelectual que elas suscitam; g) compreende que a produção dos saberes científicos depende, ao mesmo tempo, de processos de pesquisas e de conceitos teóricos; h) faz a distinção entre os resultados científicos e a opinião pessoal; i) reconhece a origem da ciência e compreende que o saber científico é provisório e está sujeito a mudanças a depender do acúmulo de resultados; j) compreende as aplicações das Tecnologias e as decisões implicadas nessas utilizações; k) possui suficientes saber e experiência para apreciar o valor da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico; l) extrai da formação científica uma visão de mundo mais rica e interessante; m) conhece as fontes válidas de informação científica e tecnológica e recorre a elas diante de situações de tomada de decisões; n) tem uma certa compreensão da maneira como as Ciências e as Tecnologias foram produzidas ao longo da História. No Brasil, a preocupação com a educação científica foi mais tardia que em outros países, uma vez que passou a ser incorporada nos currículos efetivamente nos anos 1930 e daí começou um processo de busca de sua inovação (SANTOS, 2007). 45 Krasilchik (1980) informa que a ênfase curricular no ensino de ciências no Brasil sofreu transformações de acordo com o contexto sócio-histórico. O processo teve início com a atualização curricular e depois com a produção de kits de experimentação na década de 50, a tradução de projetos americanos e a criação de centros de ensino de Ciências na década de 60, culminando com o início da produção de materiais por brasileiros na década de 70. A partir dessa data, começou efetivamente a pesquisa na área de ensino em Ciências no Brasil. No final da década de 50, o lançamento do Sputinik, primeiro satélite artificial, levou à elaboração de currículos, ou projetos curriculares com ênfase na vivência do método científico, visando a desenvolver nos jovens o espírito científico. O agravamento dos problemas ambientais no final da década de 70 fez surgir a preocupação com uma educação científica que levasse em conta os aspectos sociais relacionados com o modelo de desenvolvimento científico e tecnológico. Sendo assim, continha uma perspectiva notadamente ambientalista. A partir de então, começam-se a inserir questões relativas à Ciência-Tecnologia-Sociedade nos currículos. No que diz respeito aos anos iniciais, Lorenzetti (2000), em sua dissertação “Alfabetização científica no contexto das séries inicias”, propõe uma alfabetização científica que se preocupe com os conhecimentos científicos e sua respectiva abordagem. Veiculada nos primeiros anos do Ensino Fundamental, deve se constituir em um aliado para que o aluno possa ler e compreender o seu universo. Pensar e transformar o mundo que nos rodeia tem como pressuposto conhecer os aportes científicos, tecnológicos, assim como a realidade social e política. Esse autor sugere atividades possíveis de serem desenvolvidas nesse contexto, como: o uso sistemático da literatura infantil, da música, do teatro e de vídeos 46 educativos; exploração didática de artigos e demais seções da revista “Ciência hoje das Crianças”, articulando-os com aulas práticas; visitas a museus, zoológicos, indústrias, estações de tratamento de água e demais órgãos públicos; organização e participação em saídas a campo e feiras de Ciências; uso do computador e da Internet no ambiente escolar (LORENZETTI, 2000). Sobre as possiblidades de promoção da alfabetização científica às diversas faixas etárias dos educandos, adaptando-se o ensino ao seu desenvolvimento intelectual, Sasserom e Carvalho (2008) citam o trabalho de Jay Lemke, publicado em 2006: “Investigar para el Futuro de la Educación Científica: Nuevas Formas de Aprender, Nuevas Formas de Vivir”. Nele, o autor demonstra a preocupação em tornar o estudo das Ciências mais prazeroso e adequado às habilidades e anseios de cada faixa etária. Assim, ele propõe objetivos diferentes para cada idade, dentre os quais, ressaltamos: para as crianças pequenas, apreciar e valorizar o mundo natural, potencializadas pela compreensão, mas sem abandonar o mistério, a curiosidade e o surpreendente. Para as crianças de idade intermediária: desenvolver uma curiosidade mais específica sobre como funcionam as tecnologias e o mundo natural, como desenvolver e criar objetos e como cuidar deles e promover um conhecimento básico da saúde humana (LEMKE, 2006, apud CARVALHO; SASSEROM, 2008). Lemke (2006) ainda enfatiza que o ensino de Ciências não deve almejar somente a formação de futuros cientistas, precisa também possibilitar que todos os estudantes tomem decisões pessoais ou políticas inteligentes sobre questões médicas ou tecnológicas. Diante do exposto, entendemos a necessidade de renovação nos currículos de Ciências Naturais. Muitos países têm efetivado essa proposta mediante a inserção do eixo CTS, que traz à luz as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, buscando a reflexão acerca das influências desses elementos na vida do cidadão. O movimento CTS teve seu início nas décadas de 60 e 70, com o crescimento científico e tecnológico. Conforme nos explica Mezalira (2008), trouxe para a vida social uma nova perspectiva de mais-valia no trabalho pela automação imposta e consequências negativas decorrentes do modo de produção e dos resíduos 47 resultantes do processo tecnológico adotado. As publicações das obras “A Estrutura das Revoluções Científicas”, do físico e historiador da Ciência Thomas Kuhn, e “Silent Spring”, da bióloga Rachel Carson, ambas de 1962, contribuíram para ampliar estas discussões. Até então, imperava a crença no caráter exclusivamente benéfico da Ciência e da Tecnologia. Uma avaliação do emprego dos conhecimentos científicos e tecnológicos nas guerras, a consequente degradação ambiental e o questionamento da qualidade de vida da sociedade industrializada trouxeram discussões ainda mais críticas. Esse movimento social, na sua forma mais ampla, repercutiu no âmbito educacional, em termos de objetivos e inovações no campo curricular. Conforme nos apontam Auler e Bazzo (2001), houve necessidade de discutir mais profundamente a evolução do desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia, uma vez que deixam marcas na vida cotidiana das pessoas, provocando os sujeitos a mudarem seu modo de pensar e agir. Para Auler e Bazzo (2001), um dos objetivos centrais do movimento CTS consistiu em colocar a tomada de decisões, em relação à CT, num outro plano, reivindicando a participação de mais atores sociais e menos decisões tecnocráticas. As demandas ambientais oriundas dos avanços científicos e tecnológicos apontam na direção de estratégias que contemplem ações de cunho mais sustentáveis. A inclusão da letra A ao termo CTS visa a evidenciar a importância da articulação dessas discussões com as implicações ambientais. Sendo assim, passamos a configurar as relações Ciência-Tecnologia-SociedadeAmbiente, como movimento CTSA. As interações do movimento CTSA devem estar centradas no conteúdo de ensino, em temas de relevância social, para o desenvolvimento das percepções de tomada de decisão, para a realização de uma leitura crítica do mundo (SANTOS; MORTIMER, 2002). Essa leitura crítica deve subsidiar as tomadas de decisão, associando o desenvolvimento tecnológico e científico a uma postura ética e atitudes mais sustentáveis. Reforzar esta convergencia del movimiento CTSA y de la Educación Ambiental em las tareas de investigación e innovación educativa, para formar uma ciudadania susceptible de contribuir a la toma de decisiones 48 fundamntadas em torno a La problemática socioambiental, constituye em nuestra opinión uno de lo retos fundamentales para el logro de un futuro 2 sostenible (VILCHES; PÉREZ; PRAIA, 2011, p. 205). Os pesquisadores da linha CTSA identificam três objetivos gerais nessa perspectiva de ensino: a) aquisição de conhecimentos; b) utilização de habilidades; c) desenvolvimento de valores. Dentre os conhecimentos e as habilidades a serem desenvolvidos, destacam-se a autoestima, a comunicação escrita e oral, o pensamento lógico e racional para solucionar problemas, o aprendizado cooperativo, a responsabilidade social, o exercício da cidadania, a flexibilidade cognitiva e o interesse em atuar em questões sociais. Os valores pretendidos estão vinculados aos interesses coletivos, como os de solidariedade, de fraternidade, de respeito ao próximo e de generosidade. O livro “A necessária renovação do ensino de ciências” (CACHAPUZ et al., 2011) retrata a necessária mudança, ponderando alguns itens fundamentais para uma proposta de renovação do ensino de Ciências, almejando a formação de uma nova geração de pesquisadores e docentes. Assim, o livro aborda: a necessidade de educação científica para todos os cidadãos; a alfabetização científica para tomada de decisões; as visões deformadas da Ciência e da Tecnologia encontradas no cotidiano educacional; e as mudanças em relação às atividades de ensino, enfocando o papel do docente e dos discentes, sobretudo a formação dos professores. Além disso, Cachapuz, Praia e Jorge (2004) afirmam que é necessário que os professores acreditem que a mudança é possível no ensino de Ciências. Para uma renovação do ensino de ciências precisamos não só de uma renovação epistemológica dos professores, mas que essa venha acompanhada por uma renovação didática [...] é também necessário um novo posicionamento do professor em suas classes para que os alunos sintam uma sólida coerência entre o falar e fazer (CACHAPUZ et al., 2011, p.10). 2 Reforçar essa convergência do Movimento CTSA e educação ambiental nas tarefas de investigação em educação e inovação educativa para formar uma cidadania suscetível de contribuir para a tomada de decisões fundamentadas sobre a problemática socioambiental constitui, em nossa opinião, um dos desafios fundamentais para se alcançar um futuro sustentável. 49 Podemos concluir que a educação científica e tecnológica, nessas premissas, visa a formar o indivíduo de modo contextualizado com a realidade na qual ele está inserido, habilitando-o não só na dimensão conceitual, mas também nas instâncias social e política, salvaguardando os interesses humanos de justiça e igualdade e, hoje, de sustentabilidade. Transpomos essas premissas para a discussão desta pesquisa nos anos iniciais, entendendo que a promoção da alfabetização científica deve ser concebida desde a escolarização básica. 2.4 TEORIA SÓCIO-HISTÓRICA DE LEV VYGOTSKY As pesquisas pautadas nos pressupostos da perspectiva sócio-histórica do desenvolvimento possibilitaram um novo olhar para os processos de elaboração de conceitos científicos na sala de aula (OLIVEIRA, 2010). Uma das contribuições de grande importância relaciona-se com a concepção do processo de conhecimento como produção simbólica e material que se estabelece na dinâmica das interações entre as pessoas. Nesse processo interativo, a atividade cognitiva vai sendo constituída por meio do outro e por meio da linguagem (MACHADO; MOURA, 1995). Discutimos, a seguir, alguns aspectos da teoria sócio-histórica de Lev Vygotsky que se articulam com as atividades educativas propostas neste trabalho e que forneceram subsídios para nossas ações. Vygotsky concebe que o desenvolvimento humano ocorre na convergência de fatores internos, biológicos e genéticos, com os fatores externos, sociais e culturais. Sua teoria está apoiada no materialismo histórico dialético de onde extrai elementos fundamentais para analisar a formação social da mente. O objetivo central da teoria sócio-histórica é “[...] caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formaram ao longo da história humana e como se desenvolveram 50 durante a vida do indivíduo” (VYGOTSKY, 2000, p. 21). Para tal, Vygotsky dedicouse ao estudo da gênese social das funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores, que são os modos de funcionamento psicológicos mais “sofisticados”, como a capacidade de planejamento, memória voluntária, imaginação, pensamento abstrato, dentre outros. Tais funções representam um salto evolutivo no desenvolvimento, uma vez que possibilitam ao indivíduo a capacidade de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas, bem como fazer previsões (REGO, 2002). Essas funções não são inatas, ao contrário, estabelecem-se por meio das relações do indivíduo em seu contexto histórico e se desenvolvem por meio de processos de internalização das formas culturais do pensamento. Para Vygotsky (1984), existem ferramentas que fazem a mediação entre o homem e o mundo num movimento em que ambos são transformados. Tais ferramentas são denominadas instrumentos e signos. Um instrumento amplia as possibilidades de atuação humana na natureza, uma vez que possui a função de “[...] servir como condutor da influência humana sobre o objeto da atividade [...]; constitui um meio pelo qual a atividade humana externa é dirigida para o controle e o domínio da natureza” (VYGOTSKY, 1984, p. 62). Já os signos são instrumentos psicológicos, orientados para o próprio indivíduo, dirigindo-se ao controle das ações psicológicas, como meio auxiliar para lembrar, comparar, relatar ou escolher. Dentre os sistemas simbólicos investigados, a linguagem ocupa um lugar de destaque. Para o autor, a linguagem exerce duas funções básicas: permitir o intercâmbio social e promover o desenvolvimento generalizante, pelo qual é possível analisar, abstrair e generalizar, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos e situações em uma mesma categoria conceitual. A relação entre pensamento e linguagem é estabelecida à medida que ocorre a inserção da criança em seu meio cultural, originando modos mais sofisticados de funcionamento psicológico (REGO, 2002). Vygotsky (1984, p. 44) ressalta que “[...] o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, isto é, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência sociocultural da 51 criança”. Além disso, é por meio das palavras que o pensamento passa a existir. A aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas, quando organizada, ativa diversos processos mentais que sem ela não ocorreriam. Vygotsky (1984) propõe a existência de dois níveis de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento real ou efetivo e o nível de desenvolvimento potencial. O primeiro compreende as funções mentais que já se estabeleceram na criança, ciclos de desenvolvimento concluídos, aquilo que ela é capaz de fazer de forma independente. O segundo representa a capacidade de desempenhar tarefas mediante a ajuda de outras pessoas, isto é, funções que estão em vias de desenvolvimento. Define, então, a zona de desenvolvimento proximal como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar por meio da solução independente de problemas; e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1984). Cabe destacar que a zona de desenvolvimento proximal é um domínio psicológico em constante transformação: o que uma criança é capaz de fazer hoje com a ajuda de alguém, ela conseguirá fazer sozinha amanhã. Esse conceito evidencia a importância dos adultos e dos companheiros mais experientes na mobilização dos processos de desenvolvimento dos membros imaturos da cultura. Vygotsky investiga também a formação dos conceitos e os distingue em dois grupos: os conceitos cotidianos ou espontâneos, que são aqueles desenvolvidos no decorrer das vivências práticas das crianças e interações imediatas; e os conceitos científicos, que são adquiridos por meio do ensino sistematicamente organizado. Segundo Vygotsky (2000, p. 93), os conceitos científicos e cotidianos se desenvolvem em direções opostas: “[...] o desenvolvimento dos conceitos espontâneos é ascendente, enquanto que o desenvolvimento dos conceitos científicos é descendente, para um nível mais elementar e concreto”. Ou seja, a criança utiliza inicialmente os conceitos cotidianos antes de compreendê-los de 52 forma consciente, de ser capaz de defini-los e poder operar com eles à vontade. Por sua vez, os conceitos científicos, que inicialmente são usados de forma não espontânea e dentro de um nível de complexidade lógica, podem evoluir para um nível no qual a criança poderá operá-los com o mesmo domínio e familiaridade que tem dos conceitos cotidianos (GASPAR; MONTEIRO, 2005). Para Oliveira (1992), embora Vygotsky tenha se preocupado em investigar processos internos relacionados com a aquisição, organização e uso do conhecimento, a dimensão afetiva do comportamento humano e sua relação com o desenvolvimento do pensamento também estão presentes em sua obra. De fato, Vygotsky critica a separação, como objeto de estudo, entre os aspectos intelectuais e os afetivos. Considera uma das principais deficiências da Psicologia tradicional conceber o pensamento como um processo dissociado da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. Assim, propõe a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem e se inter-relacionam: são as necessidades e impulsos de uma pessoa que direcionam seus pensamentos, ao mesmo tempo em que são seus pensamentos que impulsionam seu comportamento e sua atividade (VYGOTSKY, 2000). Com base nas contribuições de Vygotsky, as atividades experimentais investigativas por meio das sequências didáticas podem ser consideradas, nesse contexto, como ocasiões de estimulação intelectual dos alunos na sua ZDP, que ultrapassa as suas possibilidades conceituais no momento mas que, apesar disso, lhes é acessível, graças à mediação do professor, do grupo e das suas atividades. O pensamento formal não surge quando estão a dormir, mas pode ser estimulado por atividades exigentes, mas acessíveis, por meio do esforço coletivo e individual. Experimentação então, é: “[...] o conjunto das atividades onde dominam a observação qualitativa ou quantificada por mediações, bem como a concepção e a realização de experiências, com o conjunto dos traços gráficos que as acompanha” (ASTOFI et al., 2002, p.130). 53 A perspectiva sociointeracionista concebe o papel do professor relacionado com a mediação do conhecimento. É sua função atuar na zona de desenvolvimento proximal, promovendo avanços que não ocorreriam espontaneamente. Nesse sentido, os procedimentos regulares que ocorrem na escola – demonstração, assistência, fornecimento de pistas, instruções – são fundamentais na promoção de um ensino capaz de promover o desenvolvimento. Nas aulas experimentais, é essencial que os alunos sejam desafiados a pensar sobre os fenômenos observados e tentar relacioná-los com os conceitos que já conhecem e fazem parte de seu nível de desenvolvimento real, para que possam avançar no processo de aprendizagem de novos conceitos (OLIVEIRA, 2010). Para Oliveira (2010), a atividade investigativa, apesar da complexidade e do tempo que costuma demandar, pode ser considerada, na perspectiva de Vygotsky, uma tarefa desafiadora, que faz novas exigências ao estudante, estimulando seu intelecto a evoluir para níveis mais elevados. Isso não acontece de forma isolada, uma vez que as interações sociais são importantes na constituição do indivíduo que internaliza os conceitos culturalmente compartilhados e desenvolve suas funções psicológicas tipicamente humanas. A aprendizagem é mais eficaz com a ajuda do outro. Diante do entendimento de que o aluno não é um receptor passivo do conhecimento transmitido pelo professor e de que o conhecimento é constantemente reconstruído tanto no plano coletivo quanto no individual, na concepção sociointeracionista de ensino, faz-se necessário que as aulas experimentais sejam concebidas como um espaço para as interações sociais, onde o conhecimento é constantemente (re)construído. 54 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 O ESTUDO Trata-se de uma pesquisa qualitativa, teórico-empírica, do tipo estudo de caso, apoiada em observações realizadas pela pesquisadora, entrevistas e questionários aplicados ao longo da pesquisa, e análise de livros e artigos científicos da área de ensino de Ciências e Matemática. O desenvolvimento metodológico do trabalho foi realizado com base em Ludke e André (1986). Segundo Ludke e André (1986), a pesquisa qualitativa pode assumir várias formas, destacando-se, principalmente, a pesquisa etnográfica e o estudo de caso. Ambas vêm ganhando muita aceitação e credibilidade na área da educação, mais precisamente para investigar questões relacionadas com a escola. Um estudo de caso, segundo as autoras, possui as seguintes características: a) visa à descoberta; b) enfatiza a interpretação em contexto; c) retrata a realidade de forma completa e profunda; d) usa uma variedade de fontes de informação; e) permite generalizações naturalistas; f) procura representar as diferentes perspectivas presentes numa situação social; g) utiliza uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa. Essas autoras afirmam que o interesse do estudo de caso incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que, posteriormente, fiquem evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações. Elas acrescentam ainda que devemos escolher esse tipo de estudo quando quisermos pesquisar algo singular, que tenha um valor em si mesmo. A preocupação desse tipo de pesquisa é retratar a complexidade de uma situação particular, focalizando o problema em seu aspecto total. As duas sequências didáticas foram planejadas com base nos Três Momentos Pedagógicos (TMP) propostos por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002): problematização (Momento 1); organização do conhecimento (Momento 2); e aplicação do conhecimento (Momento 3). Essas sequências foram validadas por 55 meio da avaliação por pares, professores e pesquisadores e, ainda, pela sua aplicação no contexto educacional. A análise pedagógica dos dados foi realizada segundo os pressupostos de um ensino por investigação e de alfabetização científica elencados com base no trabalho de Sasserom e Carvalho (2008). Definimos alguns critérios para analisar o método de ensino, considerando como base as seguintes categorias: compreensão do problema, hipóteses, previsão, explicação, raciocínio lógico e prática social. Com relação aos aspectos epistemológicos, foi analisada a aprendizagem dos conteúdos com base na teoria sociointeracionista de Vygotsky, abordando a mediação, interação social e a zona de desenvolvimento proximal. 3.2 LOCAL DA PESQUISA A pesquisa foi realizada na EMEF Suzete Cuendet situada na Rua Otto Ramos, número 69, Maruípe, Vitória Espírito Santo. É mantida pelo Poder Público municipal e administrada pela Secretaria Municipal de Educação. No quarto capítulo, apresentaremos o contexto da escola em questão. 3.3 SUJEITOS Os sujeitos da pesquisa são alunos de três turmas de primeiro ano do Ensino Fundamental, turnos matutino e vespertino e suas professoras. Os sujeitos envolvidos tiveram a sua identidade preservada, não sendo divulgada nenhuma informação que possibilite a identificação deles. As informações fornecidas e dados coletados foram utilizados somente para a realização da pesquisa. Conta com autorização do diretor dessa instituição de ensino, anuência da equipe técnico- 56 pedagógica, assinatura dos responsáveis dos alunos do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a autorização do uso do depoimento oral, a cessão de direitos sobre o depoimento oral segundo as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa do Ifes. Os dados coletados na escola foram empregados exclusivamente na pesquisa, que não foi submetida à plataforma Brasil, para ser encaminhada ao Comitê de Ética e Pesquisa do Ifes, uma vez que o Comitê ficou fechado em 2012 por motivos institucionais. Dessa forma, procurou-se obedecer a todos os procedimentos de controle de dados, a fim de não ter nenhum problema ético e legal. Os sujeitos envolvidos foram previamente informados sobre a pesquisa e que eles poderiam desistir de sua participação em qualquer momento, não sofrendo nenhum tipo de dano moral ou econômico. Para o sigilo da identidade dos sujeitos, os alunos foram denominados por números. As turmas investigadas foram os primeiros anos denominados A, B e C da referida escola. Os alunos do 1.º ano A estavam matriculados no turno matutino, com 25 alunos – 13 meninos e 12 meninas. Oito deles liam fluentemente, dez liam com mediação, cinco estavam no início do processo e dois ainda não liam. Eram interessados e seus cadernos eram muito organizados, com letras bastante caprichadas. A professora do 1.º ano A é graduada em Letras, com pós-graduação em Estudos Linguísticos, atuando em outra escola como professora de Português. Ela também possui o magistério, tem 22 anos de serviço, treze são nessa escola. Os primeiros anos B e C frequentavam o turno vespertino. A turma B possuía 13 meninos, 11 meninas. Dezoito deles estavam lendo, três com mediação e três ainda não liam. Os alunos eram falantes, muito participativos, produziam muitos textos coletivos e contavam com o auxílio de um estagiário. A sala também possuía ar refrigerado. Esse espaço anteriormente foi um laboratório de cartografia. A professora é graduada em Pedagogia, com especialização em Educação Especial, e atua há 22 anos no Magistério. 57 A turma C possuía 22 alunos frequentes: treze meninos e nove meninas; sete lendo correntemente, seis com mediação e nove ainda não liam. Os alunos eram um pouco dispersos e os meninos, indisciplinados. Além disso, essa turma era faltosa. A sala é a mesma do 1.º ano A. A professora é graduada em Pedagogia e possui seis anos de Magistério. O primeiro ano C nos trouxe uma situação inusitada, que foi a presença de uma mãe que insistia em acompanhar a filha na sala de aula, de forma que nos acompanhou até o final da primeira sequência didática. As professoras relataram que, durante o Curso de Pedagogia, 60 horas foram destinadas ao ensino de Ciências, numa disciplina denominada Didática das Ciências Naturais. A Universidade Federal do Espírito Santo mantém esse mesmo programa até os dias atuais. Diante dessa formação, as professoras colocaram que estão sempre pesquisando em livros e sites sobre temas relacionados com Ciência para implementar suas aulas. Elas não confirmaram um quadro de insegurança para ministrar essa disciplina. Pelos documentos oficiais que regem a implementação do Ensino Fundamental de nove anos, esses alunos estão inseridos num ciclo de três anos, e aqueles que ainda não adquiriram a leitura e a escrita seguirão para os anos seguintes e continuarão no processo de alfabetização. No que diz respeito aos alunos, as crianças de seis anos, desde 2010, estão inseridas no Ensino Fundamental de nove anos. No município de Vitória, Espírito Santo, foi implementado o ciclo inicial de aprendizagem de três anos, dentre outras ações para que esses sujeitos fossem adequadamente recebidos nesse contexto. A justificativa para a sua implementação reside, entre outras questões, em atender às necessidades dos indivíduos colocados à margem do processo educativo baseado na seriação, tendo como resultado a evasão escolar e altos índices de reprovação. Assim, o Ciclo Inicial de Aprendizagem, proposto pela Secretaria Municipal de Educação de Vitória/ES, definido na Resolução nº. 07/2008 do Conselho Municipal de Educação de Vitória, como parte integrante do Ensino Fundamental de Nove Anos de duração, é defendido sob o argumento do respeito aos ritmos processos e percursos de aprendizagem das crianças, 58 da eliminação da cultura, da repetência instalada na escola, da preservação da autoestima das crianças e da melhor organização do tempo espaço escolar (VITÓRIA, 2011). Ainda de acordo com esse documento, a ampliação do Ensino Fundamental começou a ser discutida no Brasil nos anos 90 e só teve início, em algumas regiões, a partir dos anos 2000. Conforme o Ministério da Educação, o Brasil tinha até 2010 para implementar o Ensino de Nove Anos, o que se tornou meta progressiva da Educação Nacional, com base na Lei n.º 10.172 de 9 de janeiro de 2001; meta 2 – propõe a inclusão das crianças de seis anos de idade, que visa a: a) assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade; assegurar a todas as crianças um tempo mais longo no convívio escolar, mais oportunidade de aprender e um ensino de qualidade; oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória. A legislação que regulamenta o Ensino Fundamental de nove anos está descrita abaixo: a) Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 208; b) Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – admite a matrícula no Ensino Fundamental de nove anos, a iniciar-se aos seis anos de idade; c) Lei n.º 10.172, de 9 de janeiro de 2001, estabelece o Ensino Fundamental de nove anos como meta da educação nacional; d) Lei n.º 11.114, de 16 de maio de 2005, altera a LDB e torna obrigatória a matrícula das crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental. e) Lei n.º 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, altera a LDB e amplia o Ensino Fundamental para nove anos de duração, com a matrícula de crianças de seis anos de idade. Também estabelece prazo de implantação pelos sistemas até 2010. Segundo as orientações legais e normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), a data de ingresso das crianças no Ensino Fundamental de nove anos é a partir dos seis anos de idade, completos ou a completar até a data de corte, que é estabelecida pelo sistema municipal de ensino. No caso de Vitória, a criança deverá ter seis anos completos ou a completar até 1.º de março, conforme o 59 art. 59 da RESOLUÇÃO do COMEV n.º 07/200. Os documentos norteadores da inserção da criança de seis anos de idade apontam que uma nova estrutura de organização curricular aconteça na esfera do Ensino Fundamental, como a (res)significação da concepção de: [...] criança/infância, currículo, avaliação, planejamento, ensino/aprendizagem, conhecimento, mediação pedagógica, tempos espaços de aprendizagem, linguagem, alfabetização. Portanto não se trata de transferir para o trabalho pedagógico com as crianças de seis anos os conhecimentos e atividades da primeira série, nem de repetir conhecimentos trabalhados nas turmas de pré da Educação Infantil de seis anos, mas de retomar essas concepções considerando a criança como sujeito sócio-histórico [...] (VITÓRIA, 2011, p. 10). A inclusão desses sujeitos no Ensino fundamental traz novas demandas, como a necessidade de instalação de mobiliário adequado, espaços para brincar e considerações de ordem pedagógica. Nesse contexto, o ensino de Ciências é revisitado bem como as possibilidades da oferta de aulas experimentais aos primeiros anos na escola pesquisada. 3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS Foram realizadas observações, análise de documentos oficiais, leituras de artigos e livros da área de Ensino de Ciências e Matemática e a aplicação de entrevista e questionário com os sujeitos envolvidos para levantamento das percepções sobre o ensino de Ciências nos anos iniciais. Foram analisadas também as percepções dos sujeitos ao longo da aplicação das sequências didáticas, buscando identificar indícios da alfabetização científica. Essas categorias foram escolhidas para dar clareza na organização e análise dos conteúdos tendo como referência principal Bardin (2011). As entrevistas foram analisadas e transcritas de forma fiel, buscando entender o discurso real por meio das ideias centrais ou das ancoragens. As anotações geradas a partir das observações e da análise de documentos oficiais foram 60 realizadas com base nas recomendações de Bardin (2011). A autora define a análise documental como “[...] uma operação ou um conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original” (BARDIN, 2011, p. 51). Já a análise de conteúdo: “[...] leva em consideração as significações (conteúdo) eventualmente a sua forma e a distribuição desses conteúdos e formas [...] a análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça” (BARDIN, 2011, p. 49-50). Os sujeitos envolvidos foram previamente informados sobre a pesquisa. Foi esclarecido que eles poderiam desistir de sua participação em qualquer momento, não sofrendo nenhum tipo de dano moral ou econômico. 3.5 CATEGORIAS DA PESQUISA Por meio da definição de categorias nas análises dos dados é que o pesquisador consegue atingir os objetivos do trabalho buscando responder às perguntas do problema de pesquisa. Segundo Bardin A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso das análises de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos (2011, p. 247, grifo nosso). As categorias escolhidas para análise foram inferidas de reflexões sobre os paradigmas educacionais, bem como das reflexões sobre a alfabetização científica e o ensino por investigação. Essas categorias foram percebidas como um o instrumento metodológico da dialética para estudar os fenômenos da natureza e da sociedade que, conforme Bardin (2011), serve de elemento para interpretar o real, indicando, ao mesmo tempo, uma estratégia política. Na presente pesquisa, foram 61 incorporadas as seguintes abordagens para melhor organizar as ideias e completar as discussões: a) o contexto do ensino de Ciências nos anos iniciais na Escola de Ensino Fundamental de Vitória/ES; b) a aplicação da metodologia do ensino por investigação nos anos iniciais do Ensino Fundamental e a sua articulação com o processo de aprendizagem do conhecimento científico nesse contexto; c) as possibilidades de promoção da alfabetização científica a partir da prática investigativa realizada nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na análise do processo de intervenção, utilizamos os pressupostos de Sasserom e Carvallho (2008), para quem a curiosidade, a perspicácia e a sagacidade próprias das crianças são como motores de propulsão para as diversas e diferentes formas de buscar resolver problemas e explicá-los aos demais. Somadas essas características às atividades de Ciências verdadeiramente estimulantes, os alunos deverão fazer uso de diferentes indicadores em cada situação, conforme a tarefa com a qual estejam envolvidos. As autoras organizaram os indicadores em três grupos. Cada um desses grupos representa um bloco de ações que são colocadas em prática quando há um problema a ser resolvido. O primeiro bloco diz respeito aos dados e à sua seriação, organização e classificação. O segundo bloco trata da estruturação do pensamento que molda as afirmações feitas e as falas promulgadas durante as aulas de Ciências. São dois os indicadores deste grupo: o raciocínio lógico e o raciocínio proporcional. Por fim, no outro grupo, concentram-se os indicadores ligados mais diretamente à procura do entendimento da situação analisada, indicadores de alfabetização científica, a saber: a) compreensão do problema; b) levantamento e teste hipóteses; c) justificativa; d) previsão; e) explicação; f) seriação de dados; g) organização dos dados; h) classificação de dados; i) raciocínio lógico; j) raciocínio proporcional; e k) prática social. Em relação às transcrições, no corpo do texto da análise, reproduzimos os episódios selecionados e os apresentamos na forma de tabelas. Cada uma dessas tabelas é composta por duas colunas: a primeira delas mostra os indicadores da AC que encontramos em um turno ou episódio; a segunda coluna traz a transcrição das falas, gestos e ações correspondentes ao turno ou episódios. 62 De acordo com esta proposta, pretendemos, então, realizar uma análise da qualidade das argumentações das crianças, dos indicadores da AC, aos quais integramos as categorias compreensão do problema, que busca verificar a compreensão da situação analisada, e prática social que pretende observar se os alunos realizaram associações dos conhecimentos científicos apreendidos com a vida cotidiana por meio de uma reflexão crítica da realidade. 3.6 LIMITES DA PESQUISA A pesquisa se limitou ao estudo das sequências didáticas sobre os seres vivos nos primeiros anos do Ensino Fundamental em uma Escola Municipal de Vitória, Espírito Santo, tendo como principais eixos o ensino investigativo e a alfabetização científica articulados com a teoria sócio-histórica. Dessa forma, não se constitui a nossa pesquisa em proposta para analisar, investigar detalhadamente as relações da formação de professores dos anos iniciais, nem as interações entre os alunos e os monitores voluntários que dela participaram, embora compreendamos sua importância para o contexto analisado. 3.7 PRODUTO FINAL O ensino por investigação constitui uma importante metodologia para o ensino e aprendizagem das Ciências Naturais não somente no contexto do Ensino Fundamental, mas em todos os níveis de ensino. As sequências didáticas representam um instrumento significativo a ser utilizado para estruturar os laços entre a teoria e as práticas desenvolvidas em sala de aula, trazendo contribuições pedagógicas importantes. Essas questões assumem, portanto, um caráter de relevância, quando inseridas nos anos iniciais, nos quais entendemos que devam ser lançados os alicerces para a promoção da alfabetização científica. 63 Sendo assim, pensamos em construir um documento que possa servir como um elemento norteador das práticas docentes de Ciências. Esse documento é um guia eletrônico, que ficará disponível no IFES – Campus Vitória – para professores e pesquisadores interessados em um método diferenciado para trabalhar o Ensino de Ciências com seus alunos. Esse guia eletrônico foi construído, formatado e editorado, e terá ainda um ISBN retirado pela Editora IFES e será colocado em um banco de dados que está sendo construído. É constituído da descrição das atividades desenvolvidas na sequência didática “Pequeninos seres vivos”, seus objetivos, a duração das aulas, a condução do desenvolvimento e os materiais necessários para sua realização. Uma vez que esta pesquisa foi realizada com crianças de seis anos, que estão iniciando no maravilhoso mundo das letras, produzimos um livro paradidático que narra a vida da lagarta da couve na Horta Educativa, intitulado “Curuquerê, as aventuras da lagarta da couve”, voltado para esse público. Dessa forma, estaremos contribuindo para a aquisição dos saberes científicos e também incentivando a leitura e a escrita, uma vez que este livro foi produzido a partir da escrita e ilustrações dos alunos. 64 4 O CONTEXTO DA ESCOLA MUNICIPAL ESTUDADA 4.1 UM BREVE HISTÓRICO DA ESCOLA A EMEF “Suzete Cuendet” iniciou seu funcionamento, como Grupo Escolar de Maruípe, pelo Decreto n.º 10.966, publicado no Diário Oficial de 30 de novembro de 1939. Foi por meio da Portaria n.º 1.629, de 27 de novembro de 1981, que o Grupo Escolar de Maruípe passou as ser denominado Escola de 1.º Grau Professora Suzete Cuendet. Segundo o Plano de Ação da Escola Suzete Cuendet (Vitória, 2012), patrona do Grupo de Maruípe, município da Capital, nasceu em Vitória, no ano de 1900, e faleceu no dia 22 de novembro de 1925. Era filha do relojoeiro francês Eduardo Cuendet e de Francisca de Freitas Cuendet. Estudou e completou seus estudos na Escola Normal, trabalhando logo depois na Escola Isolanda Jerônimo Monteiro, anexa à Escola Normal Pedro II. Dedicou-se intensamente ao estudo da língua francesa a qual falava e escrevia corretamente. Tinha ideias elevadas e imaginação riquíssima, apesar de sua pouca idade. Tinha espírito singular e era inteligente e elegante no trato com as pessoas e coisas. Professora abnegada e incansável que conquistava sempre a amizade de todas as crianças, Suzete Cuendet registrou sua marca na história da educação do município de Vitória e deixou uma lacuna no magistério do Espírito santo. Seus restos mortais encontram-se, juntamente com os de sua única irmã, Sidonie, no cemitério do Santíssimo Sacramento, em Santo Antônio. Seu nome dado a um estabelecimento de ensino de nossa Capital é a perpetuação de sua lembrança, uma lembrança tão grata daquela que se dedicou à educação da infância. Diante do cenário exposto, gostaríamos de ressaltar que a EMEF pesquisada é uma instituição que apresenta um espaço privilegiado em termos de área, estrutura, laboratórios e projetos. Neste momento de sua história, está buscando parcerias e 65 uma maior aproximação com a comunidade de forma a produzir mudanças que reflitam diretamente na qualidade do ensino ofertado. A Resolução SEME/Vitória n.º 94/84, publicada no Diário Oficial de 6 de outubro de 1984, aprova plano de extensão do atendimento de 5.ª a 8.ª séries convalidando todos os atos escolares praticados com referência a essas séries. Pelo convênio n.º 021/98, publicado no Diário Oficial de 7 de abril de 1998, celebrado entre o Estado do Espírito Santo e a Prefeitura Municipal de Vitória, é realizada a municipalização do ensino por meio da ação cooperativa entre Estado e Município. A Portaria de n.º 3.429, de 30 de junho de 1998, transfere a Escola “Suzete Cuendet” da rede estadual para a rede municipal de ensino de Vitória. A EMEF “Suzete Cuendet” funciona em três turnos, atendendo às crianças e adolescentes no curso regular do Ensino Fundamental nos turnos matutino e vespertino, e com a Educação de Jovens e Adultos, no noturno (EJA). Nos finais de semana, desenvolve o Projeto Escola Aberta. Esta unidade de Ensino é apresentada na Figura 2. 66 Figura 2 – Fotografia da Escola Municipal de Ensino Fundamental Suzete Cuendet Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, dez. 2012. Atualmente, o bairro Maruípe possui 3.911 habitantes e ocupa um território de 0,33 km². O bairro é atendido pelo CMEI Nelcy da Silva Braga, localizado em São Cristóvão, atendendo 394 crianças. Tem duas EMEFs e oferece ensino noturno a 311 jovens. Possui duas praças: uma com brinquedos e outra com campo de bocha. O bairro é atendido por 19 linhas de ônibus municipal. O bairro tem sua representação nos órgãos da administração pública, devidamente constituída por uma Associação de Moradores atuante, que tem administrado diversos projetos voltados para a comunidade, especialmente a carente, assim como aos idosos. A sede da Associação de Moradores abriga a 4.ª Companhia da Polícia Militar. Esta unidade de ensino apresentada, conforme Figura 1, possui 13 salas de aula, sala de professores, secretaria, sala de direção, sala de educação especial, sala do 67 projeto de tempo integral duas salas de coordenação, quadra de esportes, biblioteca, laboratórios de Ciências e de informática, cozinha, refeitório, horta educativa. A escola funciona em três turnos, com 13 turmas no matutino, 12 turmas no vespertino e seis turmas no turno noturno, em um total de 33 turmas e 929 alunos. O Programa Educação em Tempo Integral atende a 80 crianças, 40 do turno matutino e 40 do turno vespertino. Para atender a essas crianças, o programa conta com um profissional de 40 horas, um de 30 horas e dois estagiários de 20 horas. De acordo com os registros dos dados socioeconômicos que constam no Plano de Ação dessa Escola, a classe social a que pertence a maioria dos alunos se encontra nas classes D e E (segundo o IBGE). Sessenta por cento possuem renda de um a dois salários mínimos. Existem aqueles que se encontram na faixa de miséria, morando, inclusive, em abrigos municipais. Esses dados nos apresentam ainda que 9% dos pais dos alunos possuem nível superior de ensino e que 32% tem o ensino médio incompleto. Dos pais, 4% não estudaram, porém cerca de 90% afirmam saber ler e escrever. Um fato interessante é que um número significativo desses sujeitos se declara pardo, mas, em sua maioria, são negros. Essa situação recorrente motivou a criação de um projeto denominado “Axé Dum Dum”, que visa a promover a valorização do afrodescendente e sua cultura. Poucos (8%) foram os que se declararam negros. Dos entrevistados, a maioria disse que possui casa própria, TV, computador e internet e 72% afirmaram não usufruir nenhum benefício social. Sessenta e seis por cento não possuem carro. Quanto à religião, estão divididos entre católicos e evangélicos. O ano letivo de 2013 foi marcado por uma mudança de gestão ocorrida de uma forma turbulenta. A nova gestão está buscando a implantação de uma administração mais democrática e transparente, no que tange à captação e utilização de recursos financeiros. No âmbito pedagógico, o Projeto PolíticoPedagógico da escola, que ainda se encontrava em sua versão preliminar, começa a ser traçado. Além disso, mediante uma avaliação criteriosa das dificuldades, anseios e demandas dos anos anteriores, uma equipe formada, voluntariamente, vem buscando parcerias para a criação de um colegiado com a participação de 68 pais, alunos, professores e funcionários, além da formação de uma rede colaborativa constituída por grupos de trabalhos, a saber: GT de Segurança (Conselho Tutelar, Guarda Municipal, Polícia Militar), GT Saúde Coletiva (Unidade de Saúde de Maruípe e Ufes), GT Ações Pedagógicas. A Universidade Federal do Espírito Santo participa com o projeto “Entre Comunidades”. Essas ações foram constituídas com a intenção de somar esforços na implantação de uma gestão democrática, com a participação de todos, fortalecimento da estrutura pedagógica e administrativa da escola e também para buscar soluções para questões que estão se tornando corriqueiras, como violência escolar e baixos índices de rendimento, dentre outros. Existe um Conselho de Escola que delibera junto com o diretor desde questões financeiras a pedagógicas, de forma a garantir a participação democrática de todos os segmentos da comunidade escolar. 4.2 O CONTEXTO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NA ESCOLA Em 2003, exatamente no mês de setembro, iniciou-se um projeto por meio de extensão de carga horária, voltado para as atividades experimentais para os anos iniciais no laboratório de Ciências. Nos meses que antecederam esse projeto, foram empreendidos recursos financeiros para a estruturação do espaço, adquirindo-se equipamentos, vidrarias, reagentes e modelos anatômicos. O interesse advindo de uma experiência anterior nos levou a propor a oferta de aulas experimentais aos anos iniciais. Essa proposta demandou aprovação da Gerência de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação. Com a aprovação da proposta, iniciamos com 12 horas semanais no turno matutino para desenvolver o Projeto Pequenos Cientistas, a partir daqui, PPC. Esse projeto previa a formação de monitores voluntários das 5.ª séries do turno vespertino, que atuariam como mediadores, buscando-se que, ao longo do tempo, desenvolvessem autonomia, criatividade e a participação crítica e reflexiva. O 69 caminho percorrido da implantação até a instituição efetiva do PPC na escola, hoje incluso no Projeto Político-Pedagógico, foi marcado por muitas lutas de cunho estrutural, metodológico e epistemológico. Até o ano de 2005, o laboratório de Ciências não estava adequadamente estruturado: ainda utilizávamos carteiras comuns de sala de aula e as mesas do refeitório. Discutimos com a pedagoga sobre as possibilidades de solicitação de um financiamento à empresa Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), que estava justamente implantando o projeto Horta Educativa nas escolas por meio de um Programa de Comunicação Ambiental. Feitos os orçamentos, encaminhamos o pedido e fomos contemplados com a quantia de dez mil reais para a compra dos bancos, quatro mesas de MDF, estante móvel para TV, vídeo, mapas e microscópio, além dos armários da bancada. Ao final do ano letivo de 2005, inauguramos o novo espaço com a presença da secretária de Educação, Marlene Carraro, e o então secretário de Ciência e Tecnologia, e também com músicos da Igreja Cristã Maranata. Ressaltamos que, nesse ano em questão, o PPC não aconteceu devido a entraves com a Secretaria de Educação. A escola seguiu adquirindo materiais de reposição para o laboratório de forma esporádica, devido ao custo. Além disso, mudanças de gestão e rotatividade da equipe técnica têm dificultado a manutenção do laboratório e do PPC em seus moldes originais. Esse projeto escolar foi divulgado no jornal “A Tribuna” do Estado do Espírito Santo, na matéria “Boas práticas”, do dia 3 de outubro de 2010 (Figura 3). 70 Figura 3 – Matéria do Jornal “A Tribuna” sobre o projeto de Ciências Fonte: Arquivo da pesquisadora. A equipe pedagógica da escola avaliou o ensino de Ciências por meio das atividades previstas no projeto, conforme o Quadro 1. Quadro 1 – Trechos do depoimento de um dos gestores educacionais da Escola estudada sobre o Projeto Educacional Pequeno Cientista, desenvolvido de 2003 a 2012 “Existem duas formas de avaliar o ensino de Ciências nesta EMEF: na ausência das aulas do laboratório e na inclusão destas. O ensino ministrado nas salas de aula se processa de forma tradicional, passivo [...]. O professor é um transmissor de conhecimento [...]. Entretanto, com a implantação deste projeto (PPC), o ensino de Ciências se transformou, abrindo espaço para um novo olhar para esta disciplina na escola”. Fonte: Arquivo da pesquisadora. Quanto à Horta Educativa, sua implantação ocorreu em 2005, mediante formação de 11 profissionais. Incluía desde técnicas de cultivo a ações pedagógicas de educação ambiental. A horta é um sistema ecológico que permite o desenvolvimento de atividades educativas pelas quais podemos questionar posturas e escolhas da sociedade atual que se afastou da natureza, dos bichos, das plantas, 71 da terra. Algumas aulas do PPC eram desenvolvidas nesse espaço, que se constituía numa extensão do laboratório de Ciências. Ela mesma era um laboratório vivo. Nesse espaço, a problematização brota do chão como as mudas dos cultivares; sempre há novas descobertas a serem empreendidas envolvendo não somente a alimentação saudável, mas também os seres vivos e suas estreitas relações com o meio abiótico e as variáveis água, luz, calor, nutrientes, etc. A horta permitiu que trabalhássemos dentro de uma perspectiva interdisciplinar, porém, ao longo do tempo, a demanda da sua manutenção foi elegendo desertores. A área de Ciências, no entanto, persistiu em conservar o projeto. Nos anos iniciais, a interdisciplinaridade foi mantida, uma vez que os professores unidocentes conseguem transitar pelas áreas do conhecimento de uma forma menos fragmentada que os professores especialistas separados e hierarquizados pelas disciplinas do currículo no fazer escolar. O Ensino Fundamental de nove anos e a necessidade de oferecer um ambiente mais lúdico às crianças levantaram a possibilidade da construção de um “parquinho” na escola, mas infelizmente a área selecionada foi o espaço da horta educativa, decisão esta que foi executada sem a anuência da comunidade escolar, explicitando a ausência de uma clareza dos fazeres pedagógicos que acontecem na escola e do que realmente é uma gestão participativa e democrática. Dessa forma, a horta foi “transferida” para um espaço muito menor, feio, sem as condições adequadas para seu desenvolvimento, descartando as possibilidades de manutenção de um minhocário, como anteriormente. Além disso, existe uma cerca que faz do lugar a própria expressão do entendimento equivocado de sua existência: o projeto de alguém, um projeto de Ciências, sem que se buscasse racionalizar sobre a sua importância na construção dos sabres científicos dos educandos e a promoção de várias competências procedimentais e atitudinais além do desenvolvimento dos sujeitos de forma holística. 72 Até a presente data, o parquinho não foi construído e pensa-se em tornar aquele espaço em brinquedoteca. O chão foi cimentado e, onde havia o verde da vida, hoje tem um revestimento pintado de verde. Informamos que as atividades do Projeto Horta dessa unidade escolar foram divulgadas na “Revista Escola”, em agosto de 2010 (Figura 4). Figura 4 – Matéria da Revista Escola sobre a horta educativa Fonte: Arquivo da pesquisadora. 73 Não poderíamos excluir os monitores do Projeto Pequenos Cientistas, como atores dessas práticas pedagógicas, desta narração. Eles representam a prova da capacidade dos nossos educandos e da formação crítica advinda da prática da monitoria, que instiga a motivação, a autonomia, o protagonismo, evidenciados em vários eventos de luta ou de socialização. Eles são selecionados por seu interesse pelas Ciências e pela identificação de habilidades não aproveitadas no cotidiano escolar. Ao completarem o Ensino Fundamental mandam notícias de suas vidas acadêmica e profissional que expressam que a maioria tem seguido carreiras científicas. Atualmente, temos ex-monitores na Universidade, alguns por meio do sistema de cotas e outros na rede particular com bolsa integral nos Cursos de Engenharia Elétrica, Ciências Biológicas, Engenharia Química, Pedagogia; no Ensino Médio, na área de Meio Ambiente. Apresentamos abaixo recortes dos depoimentos de alguns desses sujeitos, conforme o Quadro 2. A atual gestão dessa unidade de ensino e sua equipe pedagógica avaliaram esses projetos e propuseram para o ano letivo de 2013 metas que contemplam sua continuidade e expansão (Quadro 3). Quadro 2 – Trechos do depoimento de dois monitores da escola estudada sobre o Projeto Educacional Pequenos Cientistas desenvolvido de 2003 a 2012 “É como se fôssemos aprendizes e sábios. Nós não só ensinamos como aprendemos com os alunos, professores etc. Nós ajudamos os alunos, incentivando-os para que no futuro possam ser um monitor”. “Ser monitor é: aprender e ensinar ao mesmo tempo... Vale a pena acordar mais cedo porque aprender nunca é demais e nos traz uma sensação muito boa. Com o PPC eu me sinto parte da escola e assim eu devo defender, participar e cuidar dela”. Fonte: Arquivo da pesquisadora. 74 Quadro 3 – Trechos do depoimento de uma das pedagogas da escola estudada sobre o Projeto Educacional Pequenos Cientistas, desenvolvido de 2003 a 2012 “As atividades do laboratório e os projetos nele desenvolvidos proporcionam um olhar ao processo educacional e na própria escola, por enriquecer e inovar o ensino de Ciências e melhorar a autoestima dos alunos, ao iniciá-los no mundo das Ciências”. Acerca da inserção dos anos iniciais neste projeto, a pedagoga ressalta que: “[...] nos anos inicias do ensino básico, as crianças são curiosas, estão formando hábitos saudáveis de convivência e de vida, ampliando conhecimentos sobre o mundo que as cerca, considerando de fundamental importância a vivência de aulas experimentais [...]. Tornar o ensino participativo, prazeroso e desafiador é prioridade para o processo de alfabetização, e a disciplina de Ciências pode contribuir de forma criativa e rica neste contexto, criando competências, formando indivíduos colaborativos, cidadãos, autônomos, com maiores perspectivas de sucesso no mundo de hoje”. Fonte: Arquivo da pesquisadora. 75 5 AS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS REALIZADAS NO ENSINO FUNDAMENTAL A sequência didática é um termo que define um procedimento encadeado de passos, ou etapas ligadas entre si para tornar mais eficiente o processo de ensino e aprendizagem. Para Zabala (1998), uma sequência didática é uma proposta metodológica determinada pela série ordenada e articulada de atividades que formam as unidades didáticas que possuem um princípio e um fim, conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos. Já para Pais (2002), uma sequência didática é constituída por certo número de aulas planejadas e analisadas previamente com a finalidade de observar situações de aprendizagem, envolvendo os conceitos previstos na pesquisa didática. Entendemos que o ensino de Ciências Naturais no nível Fundamental enfrenta diversas dificuldades e que ministrar as Ciências de forma contextualizada, relacionando o saber científico com a vivência e o cotidiano dos alunos, pode ser uma alternativa importante na motivação desses sujeitos, possibilitando uma postura ativa na construção de sua própria aprendizagem. Dessa forma, concordamos com Guimarães e Giordam (2011, p. 1) quando afirmam que [...] a Sequência Didática (SD) elaborada e aplicada em uma perspectiva sociocultural pode se apresentar como uma opção eficiente que, dentre outras, visa minimizar as tensões de um ensino descontextualizado e da ação desconexa das áreas de ensino no ambiente escolar. Lauxen, Wirzbick e Zanon (2007) apontam que a SD pode também desempenhar papel de agente integrador entre as diferentes disciplinas, podendo-se tornar importante mecanismo de socialização dos conhecimentos na escola, na comunidade escolar e na comunidade do entorno da escola. As sequências didáticas desta pesquisa foram construídas com base no modelo proposto por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), constituindo-se em três momentos pedagógicos: problematização, organização do conhecimento e 76 aplicação do conhecimento, que se opõem à prática tradicional memorística do ensino. Segundo esses autores, a problematização intenciona que os alunos sejam desafiados a expor seus conhecimentos prévios e reflexões sobre a temática, permitindo que eles sintam a necessidade de aquisição do conhecimento para enfrentar o problema. A problematização poderá ocorrer pelo menos em dois sentidos. De um lado, pode ser que o aluno já tenha noções sobre as questões colocadas, fruto da sua aprendizagem anterior, na escola ou fora dela[...]. A discussão problematizada pode permitir que essas concepções apareçam. De outro lado, a problematização poderá permitir que o aluno sinta necessidade de adquirir outros conhecimentos que ainda não detém; ou seja, coloca-se para ele um problema para ser resolvido. Eis por que as questões e situações devem ser problematizadas (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002, p. 201). A organização do conhecimento se dá pela seleção e organização dos conhecimentos necessários para a compreensão dos temas e da problematização inicial, o que pode acontecer por meio de atividades diversas. O segundo momento pedagógico é: [...] o estudo sistemático do conteúdo programático com o qual a "estrutura profunda" da codificação pode ser apreendida. É o momento de análise dos fatos procurando superar a visão sincrética e eminentemente descritiva, até então exposta. O questionamento que o professor passa a fazer, dá-se em observações sistemáticas do meio e/ou em experimentos relacionados diretamente com os fenômenos e é dirigido para a compreensão do processo de transformação envolvido (DELIZOICOV, 1982, p. 150). Já a aplicação do conhecimento pretende “[...] capacitar os alunos ao emprego dos conhecimentos, no intuito de formá-los para que articulem constante e rotineiramente, a conceituação científica com situações reais” (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002, p. 202). Na ‘Aplicação do Conhecimento’ podemos também ampliar o quadro das informações adquiridas ou ainda abranger conteúdo distinto da situação original (abstraída do cotidiano do aluno), mas decorrente da própria aplicação do conhecimento. É particularmente importante considerar esta função da ‘Aplicação do Conhecimento’; é ela que, ampliando o conteúdo programático, extrapola-o para uma esfera que transcende o cotidiano do aluno (DELIZOICOV, 1982, p. 150). 77 Muenchen (2010) nos informa que esta dinâmica didático-pedagógica fundamentada pela perspectiva de uma abordagem temática, conhecida como os “Três momentos pedagógicos” (3MP), que promove a transposição da concepção de educação de Paulo Freire para o espaço da educação formal, passa a ser disseminada com a publicação, ao final dos anos 1980, dos livros “Metodologia do Ensino de Ciências” (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1994) e “Física” (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1992). Esses livros, então, passaram a ser bibliografia em editais de concursos públicos para o magistério e bibliografia dos cursos de licenciatura e pósgraduação e também na organização das práticas docentes de sala de aula. Em sua dissertação, “A disseminação dos três momentos pedagógicos: um estudo sobre práticas docentes na região de Santa Maria/RS”, Cristiane Muenchen constatou que as obras estão permeadas por uma concepção educacional progressista, que considera a dialogicidade e a problematização do conhecimento em que o educando, ao invés de passivo e acrítico, e o educador, ao invés de “dono” e “prescritor” de verdades, são sujeitos críticos, históricos e transformadores do mundo vivido. Os três momentos, portanto, foram originalmente propostos como desdobramento da educação problematizadora aplicada à construção de um currículo de educação científica. Atualmente a problematização é utilizada na introdução de tópicos de Ciências já considerados significativos para os estudantes, independentemente de ter sido realizada a investigação temática nos moldes propostos por Freire. A estruturação das SDs se deu com base em Guimarães e Giordan (2011), compondo-se dos seguintes elementos: título, público-alvo, problematização, objetivos gerais, objetivos específicos, conteúdos, dinâmicas, avaliação, referências e bibliografia utilizada. Para esses autores, o título o deve ser tanto atrativo como também precisa refletir o conteúdo e as intenções formativas. O público-alvo deve ser bem definido pois as SDs não são universais, não há um método definitivo válido em qualquer situação. Já a problematização é o agente que une e sustenta a relação sistêmica da sequência didática, portanto a argumentação sobre o problema é o que ancora a 78 SD, por meio de questões sociais e científicas que justifiquem o tema e também que problematizem os conceitos que serão abordados. Os objetivos propostos devem ser passíveis de serem atingidos por uma metodologia, sendo refletidos nos conteúdos e na avaliação, uma das formas de se verificar se foram efetivamente alcançados. Quanto aos conteúdos, Giordan e Guimarães (2011) salientam que, mesmo que estejam organizados de forma disciplinar, é possível estabelecer relações interdisciplinares e transdisciplinares com os demais componentes curriculares. As dinâmicas dizem respeito às metodologias de ensino por meio das quais se estabelecerão as situações de aprendizagem salientando que a diversidade de dinâmicas deve estar associada fielmente à estrutura e ao contexto social que a escola-alvo ofereça. A avaliação precisa ser condizente com os objetivos e com os conteúdos previstos na sequência didática. Continuando, o item referências se relaciona com as obras, livros, textos, vídeos etc. que efetivamente são utilizados no desenvolvimento das aulas propostas. Na bibliografia, devem ser apresentados os trabalhos que foram utilizados na elaboração da SD ou que servem como material de apoio e estudo ao professor que vai aplicar tal sequência didática. O percurso pedagógico de aplicação das sequências didáticas foi de reflexão sobre a prática, da qual a avaliação do desenvolvimento das atividades propostas promovia reflexões e o refazer, o reestruturar, observando-se as considerações das professoras, em uma proposta de construção colaborativa e cooperativa. Em sua experiência, como alfabetizadoras, as professoras nos auxiliaram na proposição de tarefas e escrita dos relatórios, bem como na escolha dos conteúdos. Por meio da problematização, os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema foram diagnosticados e, a partir desse ponto, inserimos aulas de caráter experimental e investigativo, mas também expositivas e dialogadas, buscando interagir com esses sujeitos e analisar o nível das argumentações feitas por eles. Percebemos que, em determinados momentos, principalmente, no início deste trabalho, uma revisão estruturada dos conceitos estudados na aula anterior foi necessária. De qualquer forma, optamos por sempre iniciar nossas aulas com uma pergunta associada à problematização geral da SD, instigando e mantendo o interesse e a curiosidade. A 79 Figura 5 apresenta uma síntese esquemática da pesquisa com suas etapas constituintes. Figura 5 – Diagrama da execução das sequências didáticas em um fluxo de reflexão-ação APRENDIZAGEM - TRANSFORMAÇÕES DE PENSAMENTO - CATEGORIAS DE ALFABETIZAÇÃO - APREENSÃO DA LINGUAGEM CIENTÍFICA Aplicação do Aulas conhecimento - Revisão - Atividades de avaliação JOGO, TEATRO, VISITA TECNICA. TEORIA PLANEJAMENTO - Avaliação - Reflexão - Ação Aulas - Revisão - Problema ou pergunta - Ensino investigativo - Organização TEORIA Organização do conhecimento PLANEJAMENTO - Avaliação - Reflexão - Ação Aulas TEORIA PLANEJAMENTO - Avaliação - Reflexão - Ação - Revisão - Problema ou pergunta - Ensino investigativo - Organização Aulas - Problema ou pergunta - Ensino investigativo Problematização CONHECIMENTOS PRÉVIOS Fonte: Adaptado de Schroeder e Dallabona, 2012. 80 Guimarães, Giordam e Massi (2011), em seus estudos sobre SD em ensino de Ciências, apresentam-nos uma linha de pesquisa sobre SD que investiga a perspectiva de ensino-investigativo e as ações que favorecem a aprendizagem. Sendo assim, as investigações constituem o foco central do processo educativo, e o papel da SD é ser instrumento metodológico para que os objetivos educacionais sejam alcançados. Dentro dessas premissas, a utilização de SD no ensino de Ciências Naturais pode proporcionar momento para que os alunos trabalhem e discutam temas científicos, utilizando ferramentas culturais próprias da comunidade científica, a experimentação e a pesquisa. Para a composição das SDs, consultamos livros didáticos de Ciências dos anos iniciais, artigos e publicações da área de ensino de Ciências e Matemática, os cadernos de planejamento do Projeto Pequenos Cientistas, as revistas “Ciência Hoje das Crianças” e “Escola” e também os referenciais desta pesquisa, como Carvalho (2010) e Campos e Nigro (1999), dos quais extraímos esta sequência para as aulas investigativas: apresentação de um problema, levantamento de hipóteses em grupos monitorados, execução de uma atividade investigativa, experimental ou de busca bibliográfica, análise dos dados e discussão dos resultados durante os quais pretendíamos realizar contextualizações com a atualidade e com o cotidiano dos alunos, registro escrito no caderno e comunicação oral no coletivo da turma. Ressaltamos que as SDs aplicadas não contemplaram somente os conteúdos conceituais, mas também os atitudinais, os procedimentais, buscando contribuir para a formação integral dos alunos. Acerca dos registros escritos, esclarecemos que, na maioria das vezes, optamos pelo texto coletivo, principalmente na Turma C, em que grande parte dos alunos ainda não havia adquirido as competências da leitura e da escrita. Dessa forma evitamos constranger esses sujeitos. O tema “Seres Vivos” foi selecionado para este trabalho devido à sua relevância e também porque as professoras já estavam desenvolvendo atividades referentes a 81 ele, quando do início da pesquisa, na forma de projeto. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais dos anos iniciais, o assunto está inserido no eixo temático “Ambiente”, que [...] busca promover a ampliação do conhecimento sobre a diversidade da vida nos ambientes naturais ou transformados pelo ser humano, estuda a dinâmica da natureza e como a vida se processa em diferentes espaços e tempos. Tendo em vista uma reconstrução crítica da relação homem/natureza, contrapõe-se à crença do ser humano como senhor da natureza, a ela externo e alheio a seu destino, aprofundando o conhecimento conjunto das relações homem/natureza (BRASIL, 1998, p. 42). Pretendemos seguir essas premissas e desenvolver atividades que abarquem o tema de uma forma que permita a visão do homem integrado e conectado ao meio ambiente e às demais formas de vida, distanciando-nos do antropocentrismo. Como os micro-organismos representam um conteúdo complexo, por isso mesmo muitas vezes não abordado, decidimos desenvolver uma sequência didática, intitulada “Pequeninos seres vivos”, pela qual abordaríamos questões relacionadas com a higiene, a saúde e o meio ambiente. A revitalização da Horta Educativa na escola despertou o interesse de alguns desses alunos que manifestaram o desejo de visitar e conhecer o espaço. Aproveitamos para dar seguimento à temática, uma vez que entendemos a horta como um pequeno ecossistema que permite acompanhar o desenvolvimento não somente das plantas, mas também de outros seres vivos que passam a habitá-la. Outra questão importante foi observar se, para esses sujeitos, as plantas se enquadrariam na classificação/categoria de seres vivos. Para isso, desenvolvemos outra sequência didática, denominada “Vim ver a vida”. Uma horta educativa na escola proporciona oportunidade de trabalhar conteúdos para além da alimentação saudável. Por se tratar de um laboratório vivo e de um microecossistema, importantes questões relacionadas com os seres vivos podem ser discutidas, como interações do meio biótico e abiótico, relações tróficas, ciclo de vida, diversidade biológica, além do estudo do solo. 82 Sobre a horta na escola, concordando com a afirmativa anterior, Kaufman e Serafini (1998) destacam sua importância como um eixo organizador, que permite estudar e integrar sistematicamente ciclos, dinâmica de fenômenos naturais e relações entre os elementos que compõem o sistema, além de possibilitar o tratamento de problemas reais que se originam, desenvolvem e reformulam naturalmente. Os conteúdos trabalhados nas sequências didáticas estão associados aos conteúdos e objetivos da proposta do Ciclo Inicial de Aprendizagem do Município de Vitória/ES, do qual extraímos para a realização das atividades com os primeiros anos: 83 Quadro 4 – Objetivos do ensino de Ciências do Ciclo Inicial de Aprendizagem 1 – Vida e ambiente Conhecimentos Valorização da Biodiversidade Ecossistema Dependência dos seres vivos, em relação ao ar, água, solo e temperatura. Seres vivos – ciclo de vida, micro-organismos: bactérias, fungos e vírus Cadeia alimentar (produtores, consumidores e decompositores) e comparação entre os diversos habitat e as formas de vida Relações interespecíficas (parasitismo, competição, herbívora, predação, mutualismo) e relações intraespecíficas (sociedade, colônia), extinção das espécies Animais – formas de alimentação dos animais (herbívoros, carnívoros, detritívoros e onívoros), animais vertebrados e invertebrados, comparação entre os diversos habitat e os animais que habitam Vegetais – estrutura e funções das partes da planta, nutrição, reprodução, interdependência entre as plantas e outros seres vivos.. Solo –preservação e utilização de agrotóxicos 2 – Ser humano e Saúde Conhecimentos Alimentação saudável e conservação dos alimentos Relações existentes entre a saúde e fatores ambientais e socioeconômicos Higiene e hábitos saudáveis: cuidados com o corpo, importância do sono, das atividades físicas e da alimentação saudável Fatores de risco à saúde presentes no meio em que vive, as formas de combatê-lo e / ou evitá-los. Relação entre a falta de higiene pessoal e ambiental e a aquisição de doenças por contágio de vermes e micro-organismos Fonte: Arquivo da pesquisadora. Objetivos Compreender as relações dos seres vivos entre si e destes com os demais componentes do ambiente como aspecto relevante para a manutenção do equilíbrio e da vida no planeta Reconhecer as causas e consequências da redução da biodiversidade no mundo, região e Estado e como as ações humanas podem potencializar ou minimizar esse processo Estabelecer comparações entre os modos com que os diferentes seres vivos, no espaço e no tempo, realizam as funções de alimentação, sustentação, locomoção e reprodução, em relações às condições do ambiente em que vivem Compreender que os animais são seres vivos e possuem diferentes características que garantem sua sobrevivência nos diversos habitat Compreender que os vegetais possuem diferentes características que garantem a sua sobrevivência, os diversos habitat onde são encontrados e sua importância no equilíbrio do planeta e no cotidiano Objetivos Estabelecer relações entre saúde do corpo e a existência de defesas naturais (sistema imunológico) e estimuladas (vacinas) Compreender que a saúde é produzida nas relações com o meio físico, econômico, sociocultural, identificando fatores de risco à saúde pessoal e coletiva presentes no meio em que vive Reconhecer a alimentação, a higiene pessoal e ambiental, os vínculos afetivos, a inserção social, o lazer e repouso adequado como promotores da saúde humana Compreender a necessidade de hábitos de prática de exercícios para a manutenção da saúde física e mental Conhecer os recursos da comunidade voltados para a promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como os serviços ligados a ela 84 No que diz respeito ao ensino de Ciências, o documento ressalta o envolvimento das crianças na objetivação desses estudos nos diferentes tempos e espaços de aprendizagem, e também o papel e a contribuição desses conhecimentos para a leitura, compreensão e possibilidades de mudanças no espaço em que vivemos. A contribuição da área de ciências naturais possibilita à criança uma visão mais complexa dos fenômenos naturais, permitindo ampliar percepção de mundo, aguçando sua curiosidade, em contraposição à ideia de conhecimento acabado e fragmentado, no qual o homem é pensado fora do meio em que vive. Os fenômenos precisam ser pensados em conjunto, não apenas em sua dimensão natural, mas nas dimensões políticas, sociais, culturais e econômicas. Nesse sentido, o aprendizado de ciências deverá instigar a curiosidade, a crítica, a constituição de respostas e o ensino e a aprendizagem a partir das reflexões e buscas de respostas próprias da dimensão humana fundamentados em intensos e permanentes processos de interlocuções. Dessa forma há que se dar a devida importância e respeito necessários aos saberes e fazeres originários da realidade sociocultural das crianças (VITÓRIA, 2011, p. 29). Os conteúdos curriculares propostos por este documento foram distribuídos em eixos temáticos em consonância com as diretrizes curriculares de Ciências Naturais do município de Vitória/ES: a) Vida e Ambiente b) Ser Humano e Saúde c) Terra e Universo d) Matéria e Energia. Percebemos, na análise dos temas e de seus objetivos, uma proposta de articulação com a realidade das crianças e com o contexto socioeconômico. As diretrizes apontam em direção ao discurso CTSA, quando citam a inclusão de aspectos sociocientíficos como estratégia de encorajar as crianças a relacionar suas experiências escolares em Ciências com problemas sociais, culturais, políticos e econômicos presentes em seu cotidiano. A diversificação de metodologias (vivências, visitas a centros de ciências, jogos, problematização, dramatização, música, dança, desenho, pintura, produção de 85 textos) é sugerida como estratégia de rompimento com o ensino de Ciências pautado apenas na memorização de conceitos e na experimentação. Os conteúdos de Ciências naturais previstos nessas diretrizes curriculares constam dos apêndices deste trabalho. Para a realização desta pesquisa, acompanhamos as turmas do mês de junho a dezembro. Inicialmente, as aulas eram de 50 minutos e, posteriormente, passaram a ser geminadas. Além da aplicação das sequências didáticas, investigamos o desdobramento das atividades subsequentes por parte das professoras, como produção de texto, articulação com outras disciplinas, revisão e fixação de conteúdos. As aulas investigativas aconteceram nos moldes do PPC, com auxílio de monitores voluntários do sexto ano e com a presença e participação das professoras regentes e seus estagiários. Antes de desenvolver as atividades referentes as duas sequências didáticas, utilizamos duas aulas para que os alunos se familiarizassem com o laboratório de Ciências, que ainda não conheciam, e também para que realizássemos contratos didáticos e especificássemos normas de segurança. Além disso, essas aulas iniciais constituíram-se em uma introdução ao estudo investigativo de fenômenos naturais. O objetivo foi desmistificar um laboratório de Ciências da sua condição hermética, austera, para uma concepção mais lúdica, uma vez que, nesse espaço, seriam recebidos pequenos sujeitos de seis anos de idade. A partir de então, o laboratório se transforma em cenário de investigações científicas, jogos, brincadeiras e teatro, numa tentativa de unir os aspectos afetivos e lúdicos no processo de ensino dos conteúdos científicos. As atividades diversas, que integraram leitura de histórias, exibição de vídeos, aplicação de jogos e apresentação de teatro, tornaram o ensino de Ciências mais lúdico para as crianças. A produção escrita e a oral colaboraram com o desenvolvimento dessas habilidades segundo apontam as professoras: 86 “[...] eles estão produzindo mais textos escritos, reproduzem os conhecimentos aprendidos”. Acerca das contribuições das aulas de Ciências realizadas por meio deste projeto, apontam: “Os alunos ficaram muito mais curiosos e interessados”. “Tornaram-se mais críticos, adquirindo uma postura questionadora e reflexiva”. “O projeto teve pontos positivos, como: crianças pensantes, questionadoras, produtoras do seu conhecimento, investigadoras e lamento que nem todos se engajem no processo”. “[...] aguça a curiosidade dos alunos, a observação, desenvolve a criatividade e se torna muito mais atrativa as aulas e com melhor rendimento” “[...] permite vivenciar; Ciência se torna prazeroso e motiva os alunos a aprender. [...] è primordial no primeiro ano no qual estou atuando”, pois como meus alunos dizem: ‘Vamos estudar a natureza quando, professora?’. Utilizo as aulas de Ciências para alfabetizar. Os experimentos, a visita, a horta, os jogos educativos, aumentam o interesse dos alunos em aprender a ler e a escrever, fazer os registros de tudo o que observam”. Para essas professoras, a importância da alfabetização científica reside no fato de que as crianças aprendam desde cedo sobre a vida, os elementos da natureza, os experimentos científicos, a higienização e o respeito ao meio ambiente. Os alunos responderam a um questionário, no qual apontam a aprovação das aulas experimentais e indicam a visita técnica, juntamente com os experimentos, como as atividades das quais mais gostaram. Afirmam que gostariam que esse projeto se estendesse para o próximo ano letivo e que aprender Ciências é muito importante. A partir desse ponto, será apresentada a descrição das sequências didáticas aplicadas durante o ano de 2012. Ressaltamos, porém, que, nos capítulos 5 e 6, está a análise sobre os aspectos pedagógicos e epistemológicos de cada sequência didática, que consta, em sua íntegra, dos apêndices deste relatório. Para a execução pormenorizada dessas análises, optamos por elencar as atividades que consideramos mais significativas, uma vez que este trabalho de pesquisa contempla 87 duas sequências didáticas compostas por 12 e 16 aulas. Dessa forma se estenderia exarcebadamente e a leitura se tornaria enfadonha. Mas gostaríamos de deixar registrado que as aulas aqui não analisadas constam do nosso diário de bordo e também se constituíram em vivências ricas e ímpares para o processo ensinoaprendizagem de Ciências nos anos iniciais. 5.1 ANÁLISE PEDAGÓGICA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE CIÊNCIAS – “PEQUENINOS SERES VIVOS” A necessidade de abordar temas relacionados com a higiene e a saúde deve-se ao fato de que a maioria dos alunos das escola municipais são oriundos das classes sociais mais baixas, e até onde tomamos conhecimento, desprovidos de saneamento básico, moradia digna e alimentação adequada. Por vezes, comparecem às aulas em situação que configuram a afirmativa. Alguns alunos participam de um programa de educação integral passando a alimentar-se e banhar-se na escola. Muitos desconheciam o que é ter materiais particulares para esses fins, como toalha, creme, escova dental, etc. Sendo assim, a realidade vivida, demanda um olhar sensível a essas questões, bem como associá-las à promoção de saúde preventiva e desenvolvimento de uma cidadania mais crítica. Segundo os PCNs, a educação para a saúde e prevenção de doenças é um processo que deveria transcorrer transversalmente no currículo escolar para garantir que as disciplinas do Ensino Fundamental abordem e desenvolvam a temática, atendendo a uma demanda social emergente (BRASIL, 1998). Corroborando essas afirmativas, o jornal “A Gazeta”, do Estado do Espírito Santo, divulgou em uma matéria do dia 24 de setembro de 2011, dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) que apontam que, no Espírito Santo, 4.625 moradias não têm banheiro nem esgotamento sanitário. Somente na Região Metropolitana da Grande Vitória, composta de sete municípios, 1.090 imóveis têm o mesmo perfil. Confirmando um estado de pobreza extrema, no Espírito Santo, 12.741 imóveis servem-se de água de poço ou nascente na Região 88 Metropolitana. Outros 585 não dispõem de energia elétrica e coleta domiciliar, feita pelos caminhões, a serviço das Prefeituras. As pessoas entrevistadas afirmam utilizar o “matinho” e tomar banho de “caneca”.3 De acordo com Pelczar (1996), a Microbiologia (do grego: mikros /“pequeno”, bios /“vida” e logos /“ciência”) é o estudo dos organismos microscópicos e de suas atividades. Preocupa-se com a forma, a estrutura, a reprodução, a fisiologia, o metabolismo e a identificação dos seres microscópicos. Inclui o estudo da sua distribuição natural, suas relações recíprocas e com outros seres vivos, seus efeitos benéficos e prejudiciais sobre os homens e as alterações físicas e químicas que provocam em seu meio ambiente.Em sua maior parte, a Microbiologia trata de organismos microscópicos unicelulares. Neles, todos os processos vitais são realizados em uma única célula. Independentemente da complexidade de um organismo, a célula é, na realidade, a unidade básica da vida. Os microrganismos são frequentemente lembrados pelas doenças que causam, porém a grande maioria não é patogênica e realiza alterações no ambiente que são essenciais para a manutenção da vida na Terra. A sequência didática intitulada “Pequeninos seres vivos” teve por objetivo proporcionar uma discussão sobre os micro-organismos, hábitos de higiene e saúde em geral, reconhecendo-os como seres vivos que exercem um importante papel no meio ambiente, na economia e na qualidade de vida, ou seja, em nosso cotidiano. Esta sequência foi planejada seguindo os três momentos pedagógicos conforme está apresentado no Quadro 5. 3 Fonte: “Eles vivem sem banheiro” – reportagem de Cláudia Feliz, 24-09-2011. Disponível em: <http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/09/noticias/a_gazeta/dia_a_dia/972802-excluidoseles-vivem-sem-banheiro.html>. Acesso em: 1 mar. 2013. 89 Quadro 5 – Esquematização da sequência didática de Ciências para debater microorganismos Etapas da Sequência Problematização Aulas Aulas 1 e 2 Organização do Conhecimento Aulas de 4 a 10 Aplicação do Conhecimento Aulas de 11 a 12 Atividades -Contação de história -Observação de micro-organismos ao microscópio -O que são os microrganismos -Ubiquidade dos microrganismos -Tipos de micro-organismos e doenças causadas por eles -Segurança alimentar -Higiene e saúde -Vacinas - A dengue -As leveduras e a fermentação -Os lactobacilos e o iogurte - A decomposição - Visita á fazenda Rico Caipira -Relatórios -Jogo da higiene Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Os conteúdos trabalhados estão articulados com os eixos temáticos que constituem os PCN de Ciências Naturais para os anos iniciais do Ensino Fundamental e também com as Diretrizes Curriculares Municipais, relacionando temas, como Higiene, Saúde, Qualidade de Vida, Tecnologia e Sociedade, quando inserem os micro-organismos na discussão acerca da melhoria da qualidade de vida, avanços na prevenção de doenças, saneamento básico, segurança alimentar, e quando induzem ao questionamento da situação dos sujeitos nesse contexto. Apontamos também conexões com os temas transversais Trabalho e Consumo, Ética, Pluralidade Cultural, Saúde e Meio Ambiente. É o que nos mostra o diagrama conceitual da Figura 6. Como exemplo da relação dessa SD com os temas transversais, podemos inferir que hábitos de higiene, saúde, segurança alimentar e limpeza dos ambientes perpassam a Pluralidade Cultural quando observamos a diversidade dos fazeres domésticos dos cidadãos relativos a essa temática, baseados muitas vezes em saberes populares, cotidianos. Sabemos que práticas higiênicas realmente relevantes deixam de ser aplicadas, e outras são efetuadas de maneira equivocada. Dessa forma, os conhecimentos científicos adquiridos na sistematização dos conteúdos oferecidos por meio pela escolarização entram em conflito com os conhecimentos prévios dos sujeitos, oferecendo a reflexão crítica de suas práticas e mudanças atitudinais relevantes para a qualidade de vida. 90 Os temas transversais Ética, Trabalho e Consumo, Saúde e Recursos Tecnológicos são abarcados quando permitimos as discussões acerca da produção de medicamentos, vacinas e alimentos por meio da utilização dos micro-organismos. 91 Figura 6 – Diagrama conceitual da SD de Ciências – “Pequeninos seres vivos” Fonte: Autoria da pesquisadora. 92 5.2 ANÁLISE PEDAGÓGICA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE CIÊNCIAS – “VIM VER A VIDA” A sequência didática “Vim Ver a Vida” teve como objetivo proporcionar uma discussão sobre os seres vivos em geral, favorecer o conhecimento de uma Horta Educativa e dos seres vivos que circunstancialmente lá habitem, permitir o conhecimento de alguns cultivares e sua importância nutricional, além de proporcionar vivências lúdicas e sensoriais, como tocar a terra, plantar, regar, cuidar. Essa sequência foi planejada seguindo os três momentos pedagógicos conforme demonstramos no Quadro 6. Quadro 6 – Esquematização da sequência didática de Ciências para debater a Horta Educativa Etapa da Sequência Problematização Organização do conhecimento Aulas Aula 1 Aulas de 2 a 14 Aplicação do conhecimento Aulas 15 e 16 Atividade Visita monitorada á Horta Educativa da escola -As plantas são seres vivos -Vídeo “Microcosmo” -Animais da horta/vertebrados -O ciclo da lagarta da couve -A germinação e o ciclo de vida das plantas -Partes das plantas -A fotossíntese -Cadeia alimentar -Cuidados com as plantas e o solo - Agricultura orgânica - Relação dos fatores bióticos e abióticos -Jogo interativo na informática - Jogo: trilha da horta - Mostra cultural com: livro da lagarta da couve, mudas, teatro “Vida de lagarta” Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Os conteúdos dessa sequência didática também estão articulados com as temáticas dos norteadores legais consultados para o primeiro ano. Apontamos possíveis conexões com os temas transversais Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo. É o que nos mostra o diagrama conceitual apresentado na Figura 7. Sabemos que as hortaliças possuem um período sazonal específico para o plantio e requerem condições de luminosidade própria. Essas considerações permitem avançar nos conteúdos do tema transversal Terra e 93 Universo, quando discutimos sobre as estações do ano e sobre a importância do Sol para o planeta Terra. Buscamos instigar os alunos a ver os seres vivos, o homem e o meio abiótico em uma estreita relação na teia alimentar, conforme o mapa conceitual da Figura 8. Como exemplo da relação dessa SD com os temas transversais, podemos inferir que, ao tratarmos das técnicas de semeadura, plantio, cuidados com o solo, referentes ao item recursos tecnológicos, permitirmos a troca de saberes científicos e populares, uma vez que estratégias de cultivo de jardinagem e hortaliças são do domínio da população. Estaríamos, então, no território do tema transversal Pluralidade Cultural. É pertinente, nos dias atuais, o debate sobre a utilização dos agroquímicos, e os produtos ditos orgânicos vêm ganhando cada vez maior número de adeptos dentre os consumidores. Esta discussão perpassa os temas transversais Ética, Saúde e Trabalho e Consumo. 94 Figura 7 – Diagrama conceitual da SD de Ciências “Vim ver a vida” Fonte: Autoria da pesquisadora. 95 6 ALGUMAS QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DA SD PEQUENINOS SERES VIVOS Elencamos cinco atividades desta sequência didática, para uma análise pedagógica e epistemilógica, que passaremos a descrever a seguir. A Figura 8 nos mostra o mapa conceitual do desenvolvimento desta SD e da aprendizagem dos alunos. Figura 8 – Mapa conceitual da SD “Pequeninos seres vivos” Fonte: Autoria da pesquisadora. 96 ATIVIDADE 1 – CONHECENDO OS MICRO-ORGANISMOS As aulas relacionadas com essa atividade são referentes ao primeiro momento pedagógico (DELIZOICOV; AGOTTI; PERNAMBUCO, 2012), à problematização. Seu objetivo foi levantar os conhecimentos prévios sobre micro-organismos, higiene e doenças causadas por eles, por meio da contação de história do livro “Binho”, de Magna Diniz Matos. As questões elaboradas foram: quais micróbios conhecemos? Os micróbios são iguais ao Binho? Por que devemos adotar hábitos saudáveis de higiene? O que acontece se um micro-organismo invadir o nosso corpo? Onde vivem os micro-organismos? As crianças de seis anos chegam ao Ensino Fundamental com algumas noções de higiene e mencionam os micróbios como causadores de doenças, porém desconhecem essas doenças, os grupos desses micro-organismos, sua aparência e inclusão na categoria Seres Vivos. Para algumas estes seres são “bichinhos” e, devido à estimulação da mídia em comerciais de sabonetes e sabão em pó, são “germes”. A maioria cita como doenças causadas por micro-organismos dor de cabeça, dor de barriga, dor de ouvido etc., ou seja, os sintomas das doenças. Binho conta a trajetória de um “micróbio” que procura um lugar para morar e acaba encontrando Neca, um menino sem hábitos de higiene. A partir dessa etapa, a professora problematiza, por meio da técnica tempestade de ideias, “O que acontece se Binho conseguir uma barriga para morar, a de Neca?”. Como evitar o contágio com esses micro-organismos? Todos os micro-organismos se parecem com Binho, com cabelos esvoaçantes e um grande sorriso? É realmente possível ver um micro-organismo? Que doenças conhecemos passíveis de contágio da mesma forma que Neca? Os alunos são instigados a se posicionar, considerando que o problema identificado no livro é que as crianças continuem a história. Justificamos a utilização desse livro na presente pesquisa por se tratar de um título com vários exemplares à disposição na biblioteca da escola, permitindo aos alunos sua leitura posterior. Os livros utilizados e indicados nessa SD foram bastante solicitados pelos alunos conforme relato da bibliotecária, de forma que, pela aula de 97 Ciências, estamos fomentando a leitura nas turmas envolvidas, o que é muito importante no contexto da alfabetização. A utilização de livros de literatura infantil, que tenham alguma relação com a Ciência, pode ser uma das formas de desenvolver a alfabetização e a alfabetização científica. Incentivar a leitura de livros infanto-juvenis sobre assuntos relacionados às ciências naturais, mesmo que não sejam sobre os temas tratados diretamente em sala de aula, é uma prática que amplia os repertórios de conhecimentos da criança, tendo reflexos em sua aprendizagem (BRASIL, 1997a, p. 124). Figura 9 – Contação de história do livro Binho no laboratório de ciências Fonte: Arquivo da pesquisadora. Após a contação de história, conforme a Figura 9, propusemos a visualização de uma gota d’água ao microscópio óptico para investigarmos a presença de microorganismos. Esse microscópio estava adaptado a uma câmera e a uma TV, 98 facilitando a observação de todos os presentes ao mesmo tempo. Geralmente, os micro-organismos estão associados à sujeira e não ao ambiente natural como um todo, por isso é importante a prática experimental de análise de uma gota de água de poças, da terra dos canteiros e até mesmo de um laguinho, se houver por perto, ao microscópio (Figura 10). Quanto à utilização do microscópio, antes da observação, é interessante conversar com os alunos sobre a história e o funcionamento desse aparelho de forma sucinta. Sempre é válido mostrar como um fio de cabelo se apresenta no campo para que eles entendam a capacidade do microscópio em ampliar imagens, inclusive daquilo que não vemos a olho nu. Figura 10 – Imagem de uma gota de água ao microscópio óptico Fonte: Arquivo da pesquisadora. Após a observação, os alunos escreveram um relatório coletivo ou individual. É importante o registro por meio de desenhos ou esquemas (Figura 11). 99 Figura 11 – Registro do caderno sobre a história e esquema da visualização de micro-organismos Fonte: Arquivo da pesquisadora. Nota: A: Laboratório de Ciências. Onde vivem os micróbios? Na sujeira, no lixo, na mão suja. Binho é um micróbio. Ele que quer morar em uma barriga. B: Microrganismos- Livro: Binho. Binho é um micróbio. Ele queria morar ... (uma barriga). Os alunos demonstraram grande interesse e motivação durante a observação dos seres vivos que surgiam “correndo” ou flutuando na tela da TV. Solicitavam que fossemos atrás deles quando desapareciam do campo. Essa atividade despertou a curiosidade desses sujeitos, que se sentiram, então, instigados a prosseguir nas investigações sobre o mundo dos micro-organismos. “Sem a curiosidade que nos torna seres em permanente disponibilidade à indagação, seres da pergunta-bemfeita ou mal fundada, não importa, não haveria a atividade gnosiológica, expressão concreta da nossa possibilidade de conhecer” (FREIRE,1995, p. 76). No início das atividades, os alunos relacionam MICRO-ORGANISMOS à sujeira e à falta de higiene, conforme apresentamos no recorte abaixo: - “Micróbios são bichinhos que vivem na sujeira.” - “Eles causam dor de barriga, dor de cabeça, diarreia, vômito e furúnculo.” - “Os micróbios são mesmo iguais ao Binho.” 100 Por meio dessa atividade, os alunos compreendem que, em uma gota d’água, existem milhões de micro-organismos e assimilam o papel do microscópio como instrumento que possibilita a ampliação das imagens permitindo a visualização desses seres. Essa relação traz em si a inserção dos temas CTSA nessa SD, quando explicita as contribuições dos recursos tecnológicos para a nossa vida cotidiana e para a Ciência. Consideramos, por meio da análise das interações ocorridas em sala de aula, que a atividade 1 alcançou seus objetivos de instigar a curiosidades dos alunos, explicitar suas concepções prévias e estabelecer conexões com o seu cotidiano. Muitos alunos se reconheceram nas atitudes do personagem principal e passaram a refletir sobre sua conduta em relação aos hábitos de higiene. ATIVIDADE 2 – ONDE ENCONTRAMOS OS MICRO-ORGANISMOS? Após uma revisão dos conteúdos desenvolvidos na última aula, realizamos os seguintes questionamentos aos alunos: em quais locais da escola é possível encontrar micro-organismos? E em que locais não é possível encontrá-los? Solicitamos que os alunos registrassem as hipóteses levantadas. A maioria deles continua associando os micro-organismos á sujeira. Quando perguntamos se eles não habitam em outros ambientes, responderam: “Na água”. Entendemos que estão fazendo uma associação com o experimento de visualização da gota d’água ao microscópio. O objetivo desta atividade foi promover uma iniciação ao ensino investigativo, enunciando um problema para os alunos, concedendo-lhes a oportunidade de levantar e testar suas hipóteses de forma autônoma. Após o levantamento das hipóteses, os alunos foram divididos em grupos para coleta de material. Os locais escolhidos por eles foram: caderno, mesa, banheiro, chão, mão, lixeira (que estão presentes na história do Binho); sugerimos moedas, maçaneta e ouvido. 101 Esclarecemos que nas placas de Petri existe um material nutritivo (meio de cultura) que permitirá o crescimento dos micro-organismos; na estufa eles foram submetidos a uma temperatura ideal para o seu desenvolvimento. A coleta de secreções, como saliva, esfregaço de língua e dentes, pode ser obtida pela participação de alunos voluntários anônimos, ou na presença de toda a turma, tomando-se o cuidado de, no caso de resultado positivo, deixar claro que o mesmo fato ocorreria com qualquer pessoa que doasse o material, evitando-se assim comentários sobre o doador. Os alunos escolheram locais em que as condições de higiene são baixas e também relacionadas com a história contada, como banheiro, lixeira e chão. As mãos também foram citadas, mas ouvido, maçanetas e moedas constituem importantes itens de investigação. A indicação da carteira escolar e do caderno foi surpreendente e contestada por alguns colegas, pois geralmente imaginamos que a limpeza da escola transcorre de forma eficaz e que os nossos materiais escolares estão isentos dessa preocupação. Os meios de cultura foram colocados na estufa, à temperatura de 25 oC a 30oC por 24h. Ao final desse período, as crianças puderam observar o crescimento de colônias de fungos e bactérias. Esse experimento permite compreender que, para o seu desenvolvimento, os micro-organismos necessitam de condições adequadas de temperatura, umidade e nutrientes que foram fornecidos nas placas de Petri e estufa. Os fenômenos biológicos exigem tempo na maioria das vezes e o resultado desse experimento decorre em uma média de três dias, não sendo, portanto, possível a descoberta e análise dos resultados na mesma aula ou na mesma semana. O fator tempo é importante, quando investigamos os fenômenos biológicos, diferentemente dos físicos e químicos que permitem resultados imediatos, em sua maioria. Identificamos o crescimento de colônias de fungos e bactérias nos meios de cultura das mãos, maçanetas, chão, lixeira, terra, capa de cadernos etc., conforme nos mostra a Figura 12. A placa controle que permanece fechada não apresenta 102 crescimento. Esses dados indicam que os micro-organismos estão em toda a parte, inclusive no ar. Figura 12 – Meio de cultura com resultado positivo para material proveniente da boca e do caderno: colônias de fungos e bactérias Fonte: Arquivo da pesquisadora. Os registros e desenhos nos cadernos foram produzidos após a análise do experimento, e as crianças explicaram o que aprenderam com a prática realizada, provocando uma relação crítica com o cotidiano (Figura 13). Aqui percebemos que as crianças compreenderam o problema que foi investigar onde, na Escola, poderíamos encontrar micro-organismos. Propuseram locais alternativos para sua localização, ou seja, levantaram hipóteses, realizaram previsões, ancoradas em seus conhecimentos anteriores, como sujeira, e também nos conhecimentos apreendidos na história contada. Durante a observação, os alunos demonstraram dificuldade em associar as colônias aos micro-organismos: Tia, porque ele não está se mexendo?. Inferimos, então, que os conceitos espontâneos, generalistas, constituem-se em obstáculos epistemológicos conforme nos alerta Bachelard (1996), para quem esses obstáculos dificultam a emergência de valores racionais; são os conhecimentos subjetivos, essencialmente do foro afetivo, que entravam o conhecimento objetivo. Esses conhecimentos dizem respeito a aspectos intuitivos, imediatos e sensíveis e 103 também a experiências iniciais e a conhecimentos gerais. Para as crianças, todos os seres vivos se locomovem, se movimentam e também são indivíduos particulares, únicos. A ideia de colônia, grupos de seres vivos interdependentes, contraria os seus conhecimentos prévios. Figura 13 – Registro no caderno: esquema dos meios de cultura e identificação de micro-organismos e monitor com resultados dos meios de cultura Fonte: Arquivo da pesquisadora. Transcrição: “Nasceram... (ilegível) monte de bichinhos. Fungos brancos. Bactérias.” Esse experimento permite associar que, quanto menos “higiênico”, menos “limpo” o local da coleta, maior o crescimento de colônias de micro-organismos patogênicos nas placas, favorecendo o desenvolvimento do raciocínio proporcional, embora permita também desmontar a relação micro-organismo/sujeira, uma vez que eles estão presentes no corpo humano também e nem sempre causando doenças. Outro aspecto importante verificado foi a associação ao cotidiano, quando as crianças procuram mudar suas condutas de colocar dedos e objetos na boca, andar descalços etc. Essa associação e reflexão evidenciam a aprendizagem dos conhecimentos científicos. Um exemplo dessa contextualização é o caso de uma turminha de 1.º ano que foi questionar as assistentes de serviços gerais sobre a limpeza da sala de aula e de um dos bebedouros da escola em que estudam, 104 devido a presença de um nematelminto na amostra de água coletada, observado ao microscópio. Disso resultou que as servidoras nos procuraram para esclarecimentos e acabaram em uma aula sobre saúde e segurança pessoal, uma vez que é comum que elas descartem a ideia de usar luvas e botas impermeáveis durante o serviço. Como essa aula era uma atividade experimental investigativa, apresentamos os resultados iniciais no quadro a seguir, onde realizamos uma análise preliminar das categorias de alfabetização científica baseadas em Sasserom e Carvalho (2008): Quadro 7 – Análise das categorias de alfabetização científica da atividade 2 Itens Episódios e recortes de falas Compreensão do problema Propõem adequadamente locais para investigação Levantamento e teste de hipóteses Locais de investigação separados em grupos: locais de “baixa higienização” e “material escolar” Previsão “Na mesa e no caderno não tem micro-organismos” Justificativa “Na mesa e no caderno não tem micro-organismos porque estão limpos” Explicação “Os micro-organismos estão em todo lugar” Seriação de dados “No chão, na lixeira, no banheiro” “Na mesa e no caderno!” Organização de dados “Fungos e bactérias” “Todo lugar” “Deu micróbio” Classificação de dados “Fungos e bactérias” “Todo lugar” Raciocínio lógico “Que tem que limpar a escola” Raciocínio proporcional Quando entendem que, quanto pior as condições sanitárias do local, maior é o crescimento de microorganismos patogênicos Prática social Quando confrontam as ASGs (assistentes de serviços gerais) Que tem que limpar a escola Fonte:Elaborado pela autora. Transcrevemos, a seguir, um recorte da aula referente a essa atividade: 105 “P: Na aula de hoje vamos investigar em quais locais da escola é possível encontrar microorganismos. Onde será? A: Na sujeira. A: No chão, na lixeira. A: No banheiro. A: No caderno e na mesa. A: Ah, não. Tá limpo, a tia acabou de limpar. A: Caderno? P: Vamos analisar o caderno e a mesa também. Será interessante. E as mãos? Vamos investigar as mãos? Turma: Sim! [coro] P: Será que na boca tem micro-organismos? Turma: Sim! [coro] P: E no ouvido? Silêncio. P: Como eu sempre vejo vocês com moedas nas mãos, brincando com elas, vou sugerir moedas também. Estão de acordo? Turma: Sim!” A análise desse episódio permite inferir que, ao levantar possíveis locais para a execução do teste, as crianças se utilizam da seriação de dados na argumentação ancorada em seus conhecimentos prévios associados à história contada. Transcrevemos um recorte da aula referente a essa atividade, após a observação dos resultados: (1)P: Muito bem, crianças. Em quais locais da escola identificamos o crescimento de microorganismos? Em quais plaquinhas o crescimento deu positivo? (2)A1: No chão, na lixeira, no banheiro... (3)A2: Na mesa e no caderno! [interrompe]. (4)P: E as plaquinhas das mãos? (5)A3: Deu micróbio! (6)P: Só nestas? E as outras? (7)A1: Moeda, maçaneta e ouvido. (8)P: Por que será que nesses lugares o resultado foi positivo? (9) Turma: O lugar é sujo, tem micróbios [vários alunos ao mesmo tempo]. 106 (10)A4: O caderno também. (11)P: E quais são estes micro-organismos que identificamos? (12) Turma: Fungos e bactérias![em coro] (13)P: E o que nós aprendemos, então? (14)A1: Que tem que limpar a escola. (15)P: E as mãos? (16)A6: Lavar as mãos. (17)P: Os micro-organismos também estão na mesa, na carteira, no caderno, na boca e no ouvido...Estão em... (18) Turma: ...Todo lugar [em coro]. A análise dessa transcrição permite identificar a utilização da seriação, organização e classificação dos dados do resultado do experimento. Nos primeiros experimentos, foi importante analisar e organizar os dados de forma coletiva, promovendo o confronto entre os saberes cotidianos e os científicos, entre as hipóteses e os resultados. Entendemos que, quando aplicam os termos fungos e bactérias, estão utilizando a classificação, uma vez que estes seres ascendem da condição de micróbio e bichinho para a categoria de micro-organismos específicos. Além desses indicadores estão presentes os raciocínios lógico e proporcional, justificativa, explicação; a prática social surge quando concluem que a limpeza do espaço escolar deve ser mais eficaz e questionam as serventes. Conforme vimos em Shen (1975), essa é a “alfabetização científica prática”, aquela que contribui para a melhoria da qualidade de vida, tornando o indivíduo apto a resolver, de forma imediata, problemas básicos que afetam a sua vida. ATIVIDADE 3 – ESTRAGANDO O MINGAU O dia a dia do cidadão hoje é muito corrido. Temos pressa para tudo. Muitas vezes ouvimos educandos afirmar que seus responsáveis saem para o trabalho e deixam que o preparo dos alimentos fique por responsabilidade desses menores, ou já deixam a comida preparada sobre o fogão. É comum que nos abordem sobre manchas leitosas e malcheirosas nos alimentos, sobre o bolor no pão e prazos de validade vencidos. Dessa forma, essa atividade propõe a discussão de relações entre micro-organismos, alimentos e doenças e promove o conhecimento sobre a 107 conservação dos alimentos em nossas casas. Um personagem, Cláudio Todo Errado (TE), na verdade um fantoche, provoca e instiga as crianças num diálogo desenvolvido com a professora, em que ele deixa claro que não possui hábitos saudáveis de vida. Dentre eles, em sua casa, a comida fica fora da geladeira porque todos têm horários diferentes e não têm tempo de esquentar, não tomam banho com frequência, não bebem água filtrada, não lavam as mãos e não cortam as unhas. As crianças devem aplicar os conhecimentos para compartilhar o que aprenderam com o personagem apresentado na Figura 14. Figura 14 – O Fantoche Cláudio Todo Errado em debate com a pesquisadora Fonte: Arquivo pessoal da autora. Segue abaixo um trecho selecionado desta etapa: (27) TE: “Por que eu tenho que fazer estas coisas aí que vocês estão falando?” (28)A1: “Senão você pode pegar um micróbio”. (29)A 2: “São os FUNGOS e BACTÉRIAS” [nomeiam; agora, os MO começam a ser identificados]. 108 (30) TE: “Isso é conversa para boi dormir, não acredita nessa professora, não”. MO não existe. Eu nem estou vendo eles”. (31)A3: ”Mas eles são reais”. (32)P: “Como nós vimos os micro-organismos?” (33)A1: “Com a lente [deve estar se referindo á lupa de mão]”. (34)A3: “Que lente, nada!”. (35)A4: “Micoscóspio!” [sic] (36)A 2: “Telescópio!”. (37)A3: - MICROSCÓPIO! Identificamos nesse trecho a interação das crianças com o fantoche. Para contestálo, em suas argumentações, elas se valeram dos indicadores de AC, além da aplicação da linguagem científica, quando nomeiam o aparelho responsável pela observação desses pequenos seres, o microscópio. Torna-se aparente a importância da utilização dos instrumentos científicos no desnudar de esferas invisíveis aos nossos olhos, como o microscópio e o próprio telescópio. Quando o aluno afirma que os MO são reais, explicita a sua existência oculta de nós por suas dimensões, mas que a ele foi possível verificar e comprovar durante as aulas. Durante a apresentação do fantoche, houve intensa interação entre o personagem e as crianças, estabelecendo-se um diálogo em que elas transmitem para ele o que aprenderam. A comunicação é um fator importante da prática científica para a socialização do conhecimento científico na retificação, assimilação e internalização dos conteúdos apreendidos. O teatro de fantoches é uma atividade lúdica, ou seja, é um tipo de atividade que: facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para a saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento (GOMES et al., 2006, p. 12). Isso se torna relevante, pois, segundo Vygotsky (2003, p. 110), “[...] qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia”, a partir da qual irá contribuir na construção dos significados. 109 No artigo “Teatro de fantoches no ensino de ciências para a compreensão de conteúdos ecológicos”, Silva e Piassi (2011) afirmam que essa metodologia desperta o interesse das crianças por Ciências, auxilia o aprendizado conceitual, facilita a abordagem de temas sociais e culturais conexos com a Ciência, entre outros estímulos. Mesmo sabendo que se tratava de um fantoche, elas respondiam a ele como se fosse mesmo outra criança da sala de aula. Ficam um pouco desgostosas quando ele vai embora: – “Ô bonequinho! Aparece!” Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, o teatro é apontado como uma manifestação espontânea da criança, assumindo feições e funções diversas, sem perder o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre ela e o meio ambiente. Esse documento destaca ainda que o teatro não é um processo de interação simbólica individual, mas uma atividade coletiva (LORENZETTI, 2000). Ao participar de atividades teatrais, o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsável, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opiniões, respeitando as diferentes manifestações, com a finalidade de organizar a expressão de um grupo (BRASIL, 1997b, p. 83). Passamos a discutir se os hábitos da família de Cláudio Todo Errado eram saudáveis e o que deveríamos propor a ele para melhorar suas condições de vida. Os hábitos de higiene e saúde analisados reaparecem. Nesse contexto, perguntamos aos alunos: “Mas, e quanto aos alimentos? Como devemos proceder?”. Para discutir a questão da conservação dos alimentos, o experimento do mingau demonstra a importância da aplicação de regras básicas de segurança alimentar em nossas casas. Após preparo do mingau, ele é disposto em copinhos numerados da seguinte forma: 1- fora da geladeira e aberto; 2- fora da geladeira e tampado; 3- 110 dentro da geladeira; 4- fora da geladeira com vinagre; e 5- fora da geladeira com óleo. Questionamos, então, às crianças: “Qual deles vai estragar primeiro?”. Pedimos que registrassem suas hipóteses no caderno. A maioria afirmou que era o copinho de número um, mas não souberam explicar o porquê. O fato de colocarmos vinagre e óleo nos copinhos causou estranheza. Para alguns já estava estragando. Talvez tenham feito associação com o sabor. Essa atividade também requer, como a anterior, uma média de três dias para obtenção dos resultados e se constitui como uma alternativa à experiência anterior para quando não se tiver acesso aos materiais citados e a um laboratório de Ciências equipado. A Figura 15 nos apresenta um dos resultados desse experimento. Figura 15 – Resultados do experimento do mingau/copinho 1 Fonte: Arquivo da pesquisadora. A análise dos resultados permite inferir que os alimentos acondicionados na geladeira têm o tempo de validade estendido; aqueles que foram tampados formaram uma barreira isolante do ar e assim o mingau demorou a estragar; da mesma forma, o óleo cria uma película isolante impedindo a penetração dos microorganismos decompositores, e o vinagre é um conservante pela sua acidez. É importante ressaltar a diferença entre o sabor do mingau que recebeu vinagre ficar 111 alterado e a decomposição/deterioração, pois as crianças costumam achar que a adição do vinagre estraga o mingau. Os micro-organismos encontraram condições favoráveis para sua proliferação, como umidade, substrato nutritivo e temperatura adequada, nos copinhos que estragaram. A observação de “pontinhos negros ou esverdeados”, que seriam colônias de fungos do tipo bolores, causa certa confusão conceitual, pois as crianças associam essa imagem ao próprio micro-organismo, então explicamos que cada pontinho é, na verdade, uma colônia de fungos ou bactérias. Também salientamos que bactérias não são vistas ao microscópio óptico, senão como minúsculos pontos e que para isso seria necessário um microscópio eletrônico. Elas também questionam: “Estão vivos ou mortos?”; Por que eles não se mexem?”. Nesse trecho identificamos novamente a dificuldade de associação das colônias a seres vivos, uma vez que há falta de visibilidade de movimento. Segundo nos atenta Bachelard (1938, p. 18), a “[...] derrubada dos obstáculos já acumulados pela vida ‘cotidiana’ não é tarefa fácil para escola”. Sua proposta é que procuremos mudar a cultura experimental — da experimentação espontânea para a científica — para que os alunos possam (re)construir seus conhecimentos. Entendemos que a proposta do ensino por investigação, já nos anos iniciais, represente a iniciação desses sujeitos nesse novo paradigma. Um aluno fez a correspondência entre a presença dos micro-organismos no ar e o isolamento dos copinhos de números 2 e 4, devido à cobertura de papel filme e óleo. Ou seja, ele entendeu que os micro-organismos estão presentes também no ar. Para chegar a esse entendimento, o aluno demonstrou o emprego de raciocínio lógico e um nível de argumentação baseado em justificativas coerentes. Aproveitamos para estabelecer a ubiquidade desses seres vivos. Segue a transcrição da análise dos resultados: (67)P: Quem lembra do experimento da aula anterior? Eram cinco copinhos... (68)A 1: O primeiro ficou fora; o segundo ficou dentro... da geladeira; e o terceiro fora e tampado; e o quatro tinha uns negócio... óleo, vinagre. 112 (69)P: Isso! E a maioria de vocês disse que o copinho de número um é que ia estragar primeiro. Foi isso o que aconteceu? (70)A 1: Sim. (71)P: Qual é a aparência dele? (72)A1: Tem manchinhas. (73)P: Estas manchinhas, como os monitores explicaram, são fungos decompositores que estão se alimentando do mingau e transformaram sua aparência, cheiro e sabor. Agora não dá mais para comer, está impróprio para consumo. Estragou. Vamos anotar os resultados [...]. (74)P: Olha aqui, pessoal... O que ficou dentro da geladeira tem manchinhas? Estragou? (75) A: Não [CORO]. (76)P: No óleo estragou? (77)A: Sim [CORO]. (78)P: No vinagre? A: Sim [CORO]. (79)P: Não. No óleo e no vinagre ficou feio, DEVE TER UM GOSTO ALTERADO, RUIM, mas não estragou, não deu fungo... observem bem. (80)A2: Ele fica grudado no óleo. Aqui percebemos que a palavra estragou tem diferentes significados nessa aula. No contexto do experimento seria o crescimento de micro-organismos decompositores, mas, para algumas crianças, a alteração da cor, do cheiro e provavelmente do sabor pelos produtos em questão também foi considerada como estragar. (94)P: E o mingau da geladeira, estava bom para comer? (95)A1: Tá bom. Na geladeira os MO estão congelados. (96)A2: Eles têm medo do frio! Esclareço que eles ficam paradões, diminuem suas atividades, mas, a essa altura, com o passar dos dias, não era aconselhável o consumo do produto. (97)P: Vocês sabiam que até os alimentos da geladeira têm um prazo para ser consumidos? (98)P: E o copinho que ficou de fora, mas tampado? Tinha fungo também? As opiniões se dividem. (99)P: Estava começando a crescer... É importante tampar os alimentos? 113 (100)A: Não [CORO]. (101)P: É sim. Se eu tampar os MO do ar não entram. Antes do Todo Errado chegar este coleguinha disse que eles vem do ar... E o correto é acondicionar e conservar estes alimentos cozidos na geladeira, não só tampá-los. [...] (106)P: E o copinho número um? (107)A3: Estragou, mesmo! Os alunos identificam o mau cheiro e o aspecto externo, onde se instalou o bolor. (108)P: O copinho que estava com óleo deixou os MO grudados, o óleo forma uma barreira, contra eles; já o do vinagre não estragou, porque os MO não gostam de nada ácido ou azedo, eles morrem [Fazemos relação com as técnicas de conservação dos alimentos em geral]. [...] Solicitamos às crianças que fizéssemos juntos os registros do experimento: (115)P: Vamos fazer um “X” no copinho que estragou. Qual foi? (116)A1-O um. (117)A2: O cinco também. (118)P: O cinco não estragou, não deu bolor, apenas ficou da cor avermelhada do vinagre e o gosto provavelmente não está bom... mas não estragou. Vamos desenhar. Qual MO apareceu? (119)A4: Fungo. (120)P: Vamos escrever FUNGOS. Como se escreve?[soletram]. (121)P: O que vamos desenhar, então dentro, do copinho número um? (122)A5: Mofo, bolor. (123)P: Está bom para comer? (124)A: Não![CORO]. (125)P: O que nos aprendemos com a experiência do mingau? Os que sabem escrever escrevam sozinhos, os que não sabem, vamos fazer juntos. (126)A1: Não pode deixar estragar; não pode comer porque está com bactéria. Os monitores e estagiários permanecem nas mesas de trabalho auxiliando a redação. 114 Nesta fase da execução da SD, percebemos o início da apropriação dos termos científicos pelas crianças, quando utilizam micro-organismos, fungos, bactérias, por exemplo. Para Lemke (1997), a transformação da linguagem cotidiana para a linguagem científica tem um papel importante na construção de conceitos: [...] ao ensinar ciência, ou qualquer matéria, não queremos que os alunos simplesmente repitam as palavras como papagaios. Queremos que sejam capazes de construir significados essenciais com suas próprias palavras [...] mas estas devem expressar os mesmos significados essenciais que hão de ser cientificamente aceitáveis (LEMKE, 1997, p. 105). Para alguns alunos do primeiro ano B, o papel do vinagre e do óleo não ficou muito claro desta vez. Então assumimos uma forma posterior de fixação. Além disso, nas primeiras aulas desse projeto, eles eram um pouco dispersos, e o tempo de concentração e atenção menor do que ficou evidenciado nas aulas seguintes. Abaixo, expomos texto coletivo construído com os alunos dos primeiros anos B e C: “NÃO DEVEMOS COMER COMIDA ESTRAGADA. PODE TER BACTÉRIA. DEVEMOS GUARDAR OS ALIMENTOS NA GELADEIRA. NA GELADEIRA, OS MICRO-ORGANISMOS FICAM PARADINHOS, GELADINHOS E ASSIM A COMIDA DEMORA A ESTRAGAR”. “NÃO PODE ABRIR E FECHAR A GELADEIRA TODA HORA”. Esse texto demonstra uma associação dos conhecimentos científicos à vida cotidiana, promovendo mudanças de hábitos de vida de forma racional e refletida, que é o que almejamos alcançar gradativamente com o ensino de Ciências pautado na investigação e na alfabetização científica. Evidenciamos, durante essa atividade, momentos de interação entre os alunos, professores e monitores, em um ambiente que favoreceu a dialogicidade e a construção de argumentações. No contexto dos primeiros anos, tanto a escrita quanto a oralidade demandam atenção especial. Para Carvalho (2013), o entendimento do conceito de interação mediada pela utilização de artefatos sociais e culturalmente construídos, no contexto da teoria vigotskiana, traz para o ensino de Ciências a necessidade de prestarmos atenção ao desenvolvimento da linguagem em sala de aula, não só como artefato facilitador da interação entre professor e 115 aluno, mas também como agente transformador da mente dos alunos. Cabe ao professor, então, construir atividades de ensino que representem, conforme Vygotsky (1984), os problemas, os assuntos, as informações e os valores culturais dos próprios conteúdos com os quais estamos trabalhando em sala de aula. A interação social pode ser medida pelos aspectos da comunicação no ambiente escolar, proporcionando a imersão dos alunos na temática estudada. Apresentamos, no Quadro 9, algumas considerações da análise das categorias de alfabetização científica referentes a essa atividade. Quadro 8 – Análise das categorias de indicadores de alfabetização científica da atividade 3 Itens Episódios e recortes de falas Compreensão do problema Entenderam que o mingau, cedo ou tarde, se estragaria; em alguns locais mais cedo, em outros mais tarde Levantamento hipóteses e teste de A maioria estabelece o copinho n.º 1, outros, o de n.º 5 Previsão “Os copinhos de nº 1 e 5 vão se estragar primeiro; nº 1 porque está destapado e fora da geladeira e o nº 5 porque foi coberto pelo vinagre” Justificativa “Na geladeira os micro-organismos ficam paradinhos, geladinhos, e a comida demora a estragar” “Os micro-organismos estão no ar e estragaram o mingau” “Tá bom! Na geladeira os MO estão congelados” Explicação “Na geladeira os micro-organismos ficam paradinhos, geladinhos, e a comida demora a estragar” “Os micro-organismos estão no ar e estragaram o mingau” Tá bom! Na geladeira os MO estão congelados Seriação de dados “O primeiro ficou fora; o segundo ficou dentro... da geladeira; e o terceiro fora e tampado; e o quatro tinha uns negócio... óleo, vinagre” “Tem manchinhas” Organização de dados “Tem manchinhas” Classificação de dados “São fungos!” Raciocínio lógico “Na geladeira os micro-organismos ficam paradinhos, geladinhos, e a comida demora a estragar” “Os micro-organismos estão no ar e estragaram o mingau” “Não devemos comer comida estragada; pode ter bactérias” Raciocínio proporcional “Na geladeira os micro-organismos ficam geladinhos, e a comida demora a estragar” Prática social Trecho do texto coletivo: “Não devemos comer comida estragada; pode ter bactérias” “Não podemos abrir e fechar a geladeira toda hora” Fonte: Arquivo da autora. paradinhos, 116 Mediante essa análise, percebemos que a atividade realizada proporcionou vivência de cunho científico, oportunidade de levantar e testar hipóteses, promoveu conflitos pedagógicos, pois algumas práticas rotineiras de conservação de alimentos nos lares dos educandos foram contestadas. Identificamos um ambiente acolhedor, onde as crianças puderam emitir suas opiniões livremente, sem constrangimentos. O experimento do mingau, porém, trouxe algumas dificuldades cognitivas quanto à palavra estragou e à questão do óleo e do vinagre como conservantes alimentares. Os alunos, em suas argumentações, valeram-se dos indicadores de AC: seriação, organização e classificação de dados, previsão, justificativa, raciocínio lógico e proporcional. Na organização dos dados, eles identificaram o odor e a aparência do mingau azedo, por meio da percepção e da observação. Quanto à prática social, consideramos muito ricas as associações com a realidade, com o cotidiano desses sujeitos. O desafio dessa atividade foi mediar trabalho dos grupos e seus monitores. Havia muita gente falando junto em determinados momentos, mas foi um trabalho profícuo e rico. Optamos pelo registro coletivo da aula, estabelecendo comparações com as hipóteses e previsões levantadas na aula anterior, organizando as ideias e promovendo uma discussão sobre como representar, por meio de esquemas, o experimento realizado. Entendemos que desenvolvemos, assim, um percurso investigativo, para o qual a problematização é de extrema relevância. Para Capechi (2013), a problematização no ensino de Ciências visa a construir um cenário (contexto) favorável à exploração de situações de uma perspectiva científica, corroborando as ideias de Bachelard (1997), para quem o conhecimento científico se origina da busca de solução para problema: “Para um espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma questão. Se não houve questão, não pode haver conhecimento científico. Nada ocorre por si mesmo. Nada é dado. Tudo é construído” (BACHELARD, 1977, p. 148, apud DELIZOICOV, 2001). 117 ATIVIDADE 4 – AS LEVEDURAS E O PÃO CASEIRO Para iniciar esta atividade, montamos uma mesa de interesse com pães, queijos, iogurtes e vinagre. Questionamos as crianças sobre a relação entre os produtos expostos na mesa e o tema estudado. As associações efetuadas por elas foram relativas à higiene e à segurança alimentar, do tipo: “Se o iogurte ficar fora da geladeira, vai estragar e não pode comer”; “Se não lavar as mãos, não pode comer o pão”, “Se não tampar o queijo, passa barata e contamina”. Prosseguindo, continuamos os questionamentos: Todo micro-organismo é patogênico? É causador de doenças? Não realizam outras atividades importantes? Informamos que os produtos expostos são produzidos a partir da ação de microorganismos. Propusemos, para essa atividade, duas práticas investigativas sobre os microrganismos na produção de pães, a saber: a) investigação das leveduras; e b) a fermentação e a produção do pão. Estas foram as perguntas desencadeadoras das ações investigativas: Como fazemos pão? Quais são os ingredientes? Para que servem cada ingrediente? O que é fermento biológico? Por que ele é utilizado? EXPERIMENTO A Os alunos foram divididos em grupos de quatro. Em cada mesa, havia um vidro de relógio contendo fermento biológico para que elas o manipulassem, cheirassem etc. Eles analisaram o rótulo da embalagem do fermento biológico onde aparece o nome das leveduras, com o auxílio dos monitores de Ciências. Observação das leveduras ao microscópio Diluímos um pouquinho de fermento biológico em água e dispomos uma gota dessa mistura na lâmina para observação ao microscópio ótico. Solicitamos aos alunos que realizassem esquemas das imagens observadas. As imagens desses seres vivos (Figura 16) não foram tão impactantes quanto às dos micro-organismos identificados na gota d’água, pois, para os alunos, o movimento é um fator relevante. 118 Figura 16 – Fotografia de microscopia óptica de leveduras Saccharomyce cerevisiae Fonte: Blog Leveduras nossas amigas… Disponível no endereço eletrônico: <http://elementosqf.wordpress.com/2007/11/17/leveduras-nossas-amigas.>. Acesso em: 13 nov. 2012. Oficina de pão caseiro Esta oficina foi ministrada pela merendeira da escola, a senhora Lena, conforme nos apresenta a Figura 17. Os alunos participaram de forma interativa, seja imitando os movimentos da oficineira, seja manipulando pequenos pedaços da massa. Eles também gostaram de marcar o ritmo da sova com palmas e batendo nas mesas. Uma vez que o processo de fabrico de pão envolve reações químicas, transformação de substâncias, as crianças puderam observar que a aparência dos ingredientes muda à medida que a massa vai se formando. A cozinha é um laboratório onde vários processos físicos e químicos acontecem e esse espaço deve ser explorado sempre que necessário desde que não prejudique a rotina e os compromissos dos profissionais desse setor. A fermentação da massa é observada devido ao crescimento ou aumento de volume. A clássica bolinha imersa dentro d’água indica a hora de dar forma aos pães. Questionamos as crianças: Por que a bolinha subiu? Qual é o papel das 119 leveduras neste caso? Essas questões foram desvendadas na aula seguinte, após a degustação do pão caseiro. Os alunos registraram a receita trabalhada e produziram um texto coletivo. As professoras também sugeriram que realizassem esquemas explicativos que descrevessem o processo, o que foi interessante por reforçar a utilização de outras formas de linguagem na produção científica. Segundo Astolfi e colaboradores (1998, p. 147). [...] é impossível considerar as atividades científicas independentemente das produções realizadas pelos alunos por ocasião dessas atividades. Efetivamente, a escrita tem uma importância crucial na aprendizagem das ciências [...] não há verdadeira ciência sem traços escritos ou gráficos, que estabilizam as observações, as experimentações, as medições. Também não há formação intelectual digna desse nome sem as fases de retorno às ações — e a si próprias — permitidas pelo arquivamento. Para Carvalho (2013, p. 13), esta etapa de escrever e desenhar se constitui na sistematização individual do conhecimento. O diálogo é importante para “[...] gerar, clarificar, compartilhar e distribuir ideias entre os alunos, o uso da escrita se apresenta como instrumento de aprendizagem que realça a construção pessoal do conhecimento”. A Figura 17 apresenta o momento da oficina e os pães sendo assados. Figura 17 – Oficina de pão caseiro Fonte: Arquivo da pesquisadora. 120 EXPERIMENTO B A fermentação das leveduras Após a oficina dos pães caseiros e degustação, propusemos aos alunos que investigássemos qual o papel das leveduras na produção desse alimento: qual é o papel desempenhado pelas leveduras na massa do pão? Por que colocamos fermento biológico na massa? Os alunos foram divididos em grupos de quatro. Dispusemos uma mistura de água morna, açúcar e trigo em balões de vidro nos quais fixamos bexigas de borracha. Um aluno sugeriu que colocássemos também água fria. Dessa forma, havia um balão com água morna e outro com água gelada em cada mesa. Isso demonstra a interação e o exercício de levantar hipóteses. Optamos apenas por utilizar duas variáveis desse experimento clássico no estudo fermentação, água morna/água gelada, devido à faixa etária dos sujeitos que estão sendo iniciados na prática investigativa. Quando questionados sobre o que iria acontecer, um aluno respondeu: “Vai soprar. A bolinha vai soprar”. Em alguns minutos, o balão onde a mistura foi diluída em água morna começa a inflar. Lembramos aos alunos o fato de termos utilizado leite morno na receita. Transcrevemos, a seguir, um trecho do episódio referente a essa atividade: (195)P: Por que esse fenômeno acontece mais rápido com água morna? Por que o balão infla? (196)A1: Porque as leveduras trabalham melhor no quentinho. (197)A2: Elas gostam de quente. (198)A1: Na água fria, demorou a encher. (199)A3: O trabalho delas é fermentação! (200)P: Isso mesmo! Que lindo! Fermentação? O que é isso mesmo? (201)A3: Elas soltam gás carbônico. (202)A4: Elas soltam gases! [risadas] 121 [...] (212)P: Mas o que isto tem a ver com o pão? Por que a mãe de vocês coloca o fermento biológico, com micro-organismos que liberam gás carbônico para fazer pão? (213)A5: Eu sei! A massa vai esticando, assim... Vai subindo... [faz gestos com as mãos] o gás faz a massa esticar. Cabe aqui o comentário de que, durante as observações da pesquisadora, o Aluno 5 estava “marcado” para acompanhamento de sua progressão, uma vez que foi considerado disperso e suas argumentações desconexas. Foi gratificante ouvi-lo e identificar que estava realizando a organização dos dados, chegando a uma conclusão e emitindo a solução correta para o problema. Astolfi e colaboradores (1998) apontam que sujeitos defrontados com a resolução de um problema podem apresentar progressos intelectuais significativos, quando se encontram em situação de conflito quanto às respostas contrastadas e ao mesmo tempo em situação de cooperação quanto à necessidade de se ajustarem para construírem uma resposta comum. Dessa forma, um ambiente de interação e discussão é significativo para a construção do conhecimento científico. As práticas experimentais apresentadas nessas atividades contribuem para a iniciação ao raciocínio lógico, ao levantamento de hipóteses, à dedução, à formulação de problemas, ou seja, para a formação do espírito científico. Assim, entendemos que o ensino de Ciências deve ser visto como “[...] uma alavanca preciosa para o desenvolvimento da passagem à abstração, das capacidades de raciocínio e de antecipação, favorecendo o acesso a novas operações mentais” (ASTOLFI et al., 1998, p. 103). Durante a fermentação do pão, os açúcares são transformados em álcool e essa reação química libera gás carbônico (CO2). É exatamente esse gás que enche a bolinha e faz a massa do pão crescer. Observamos isso pelos pequenos buraquinhos que se apresentam no pão já pronto. Explicamos aos alunos que a bolinha de massa flutuou na água após certo tempo, em decorrência de sua 122 fermentação, porque teve a sua densidade diminuída pela adição de gás carbônico à massa (Figura 18). Após a conferência dos resultados, os alunos, como de costume, realizam os registros nos cadernos, na forma de textos e esquemas, conforme as Figuras 19 e 20. Figura 18 – Resultado do experimento da fermentação das leveduras Fonte: Arquivo da pesquisadora. Obs.: Os balões estão cheios devido à liberação de gás carbônico durante o processo. Figura 19 – Registro e esquema do caderno dos alunos sobre o experimento Fonte: Arquivo da pesquisadora. 123 Na Figura A, o pão cresce por causa da levedura que é um fungo do “bem”. Ele solta gás carbônico que faz a massa do pão crescer. A massa deve ficar em lugar quente. Figura 20 – Aluno representa as leveduras e o experimento da fermentação Fonte: Arquivo da pesquisadora. Essas considerações permitem afirmar que os objetivos dessas aulas se cumpriram no sentido de promover o diálogo, de ouvir os saberes populares e a eles integrar o conhecimento científico, promovendo a progressão do desenvolvimento mental dos alunos. A partir daqui, as crianças já demonstram mais concentração, maior destreza na manipulação de materiais (somente o que fosse seguro no contexto) e ainda habilidade de testar variáveis outras que não tinham sido propostas. Quanto aos indicadores de AC, conforme o Quadro 9, conseguimos identificá-los, assumindo que a classificação de dados pode ocorrer não somente pela utilização do conceito, mas pela aplicação do termo científico para um fenômeno antes desconhecido. 124 Quadro 9 – Análise das categorias de indicadores de alfabetização científica da atividade 4 Itens Compreensão do problema Levantamento e teste de hipóteses Previsão Justificativa Explicação Seriação de dados Classificação de dados Organização de dados Raciocínio lógico Raciocínio proporcional Prática social Episódios e recortes de falas Quando sugerem outra variável para análise da fermentação: água fria “Vai soprar. A bolinha vai soprar” Quando sugerem outra variável para análise: água fria “Vai soprar. A bolinha vai soprar” “Porque as leveduras trabalham melhor no quentinho” “Eu Sei! A massa vai esticando, assim... Vai subindo... [faz gestos com as mãos] O gás faz a massa esticar” “O trabalho delas é fermentação!” “Na água fria, demorou a encher” “Eu Sei! A massa vai esticando, assim... Vai subindo... [faz gestos com a mão]” “Porque as leveduras trabalham melhor no quentinho. Na água fria, demorou a encher” “Se o iogurte ficar fora da geladeira, vai estragar e não pode comer”; “Se não lavar as mãos, não pode comer o pão”, “Se não tampar o queijo, passa barata e contamina” [Entendendo que está mais ligada às aulas anteriores] Quando se propõem a fazer a receita em casa, entendendo ser o pão um importante alimento em nossa dieta Fonte: Elaborado pela autora. ATIVIDADE 5 – AULA DE CAMPO: VISITA À FAZENDA RICO CAIPIRA As visitas a espaços não formais de educação representam momentos importantes para a construção do conhecimento de forma interativa, prazerosa, em que os alunos têm a oportunidade de estabelecer conexões entre os saberes da sala de aula e o mundo que os cerca. Dessa forma, a visita à Fazenda Rico Caipira teve por objetivo promover vivências de atividades típicas do meio rural, ainda desconhecidas de alguns alunos, favorecer o contato com grupos de seres vivos, como os vertebrados mamíferos e aves, e observar as etapas da produção de iogurte e de outros laticínios de forma industrial. Nesse contexto, pretendemos apresentar às crianças um pouco deste mundo tecnológico instigando a reflexão sobre a ação do homem que intervém, transforma e se utiliza da natureza, dentro da perspectiva CTSA. 125 Figura 21 – Fazenda Rico Caipira Fonte: Arquivo da pesquisadora. A Fazenda Rico Caipira é uma empresa capixaba no ramo de produtos lácteos há 40 anos que se encarrega de todas as etapas do processo, desde a elaboração de técnicas intensivas de pasto, manejo especial na criação do gado, até a produção do leite, dos produtos e também a distribuição até a prateleira para o consumidor final. Além disso, promove o agroturismo em Barra do Jucu, Vila Velha/ES. A visita é monitorada por um dos funcionários do local, começando pela alimentação de animais, como avestruz, cabritinhos e pôneis. Os alunos conhecem todas as etapas da criação do gado leiteiro e da adubação orgânica do capim. A chorumeira é o local onde o esterco é depositado para curtir. Os professores podem interromper a palestra e interagir complementando as informações, revisando e reforçando conteúdos já trabalhados, como o caso da decomposição do esterco, que é realizada pela ação de fungos e bactérias. Podemos esclarecer que o esterco é utilizado também na adubação de hortaliças, frutas, plantas ornamentais, ou seja, de qualquer tipo de vegetal. Nosso enfoque maior é a produção do iogurte e suas etapas, como: a) seleção do leite em relação à acidez, presença de micro-organismos patogênicos, teor de 126 gordura etc.; b) adição de substâncias, como leite em pó – no Brasil é proibida a adição de espessantes; c) pré-aquecimento a 50ºC a 60ºC para homogeneização; d) separação da gordura para fabrico de manteiga; e) pasteurização, cujo principal objetivo é a destruição de organismos patogênicos; f) resfriamento para inoculação do fermento; g) inoculação de 2% de cultura em tanques de aço inoxidável com agitador; h) fermentação; i) resfriamento e distribuição. Durante a explicação dos processos citados, os alunos também presenciam a higienização realizada pelos funcionários para adentrar nos espaços de produção e manipular os materiais. Podemos, então, questioná-los sobre a necessidade desses procedimentos. Infelizmente, muitos alunos ficaram de fora por falta de autorização dos responsáveis; por não entenderem as condições de pagamento; ou por não terem o bilhete assinado. Uma das professoras entrou de licença médica nesse dia. Os temas trabalhados foram interessantes, como reprodução, vertebrados, cadeia alimentar, adubação orgânica, no contexto da produção do capim, reciclagem, além da produção de derivados de leite. Apesar disso, consideramos que o discurso do monitor era permeado por uma visão antropocêntrica da natureza, uma vez que aparecem informações do tipo “A vaquinha me dá o leite, o couro, o chifre, o esterco...” Esses detalhes são discutidos com os alunos. A concepção antropocêntrica é caracterizada quando a razão de ser do meio ambiente é considerada como a serviço do homem e de sua existência. Lorenzetti (2001) aponta os benefícios das visitas aos espaços não formais na promoção da alfabetização científica nos anos iniciais: Através das saídas a campo, os alunos estarão realizando observações diretas, contribuindo para a alfabetização científica, pelo fato de o aluno vivenciar na prática os conhecimentos estudados. Os alunos acabam 127 utilizando todos os sentidos e não apenas a observação visual. ‘Além disso, o contato com ambientes, seres vivos, áreas em construção, máquinas em funcionamento, possibilita observações de tamanho, formas, comportamentos e outros aspectos dinâmicos, dificilmente proporcionados pelas observações indiretas’ (BRASIL, 1997a, p. 122). Essas atividades permitem que os alunos compartilhem experiências e a aprendizagem se intensifica pela interação entre os indivíduos e desses com a exposição de informações e vivências proporcionadas. Essa interação compartilhada tem um papel fundamental para a aprendizagem nesses locais. Gaspar e Hamburguer (1998) utilizam a teoria de Vygotsky para compreender o processo de ensino-aprendizagem nesses espaços, entendendo que o convívio social é um facilitador para que o indivíduo possa construir sua maneira de ver o mundo. Percebemos que as crianças não ficaram sempre ao nosso lado, mas interagiram com os monitores e os demais funcionários da fazenda, fazendo perguntas e compartilhando informações. Os alunos descrevem suas impressões sobre a visita em um texto coletivo e por desenhos. A produção de um mural com as etapas da visitação pode ser realizada de forma a socializar a experiência vivida, conforme a Figura 22. A seguir, trecho da interação dos alunos com o monitor da fazenda (M): M: “E o pneu, vocês sabem quanto tempo leva para se decompor?” A1: “O pneu não pode ficar de qualquer jeito porque se não acumula água e traz a dengue.” [...] M: “Agora vamos colocar fermento lácteo que faz a fermentação do leite e transformar esta mistura em iogurte”. Essa fala os causou certo espanto na equipe que nos conduzia. A2: “São lactobacilos!”. Durante essa conversa com o guia da fazenda, identificamos que a aluna se valeu, em sua argumentação, da organização de dados, explicação, justificativa e raciocínio lógico. 128 Figura 22 – Registros sobre a visita técnica Fonte: Arquivo da pesquisadora. Transcrição do texto da figura: Após o lanche, fomos conhecer como se faz iogurte. Em seguida, brincar no parquinho e na tirolesa. Cansados e alegres vinhemos [sic] para casa. Visita à fazenda. Fomos visitar a fazenda Rico Caipira. Ao chegarmos vimos avestruz, as cabras, (ilegível). Com milho alimentamos eles [sic]. Depois vistamos as vacas (ilegível). Ficamos com fome e fomos lanchar [...]. Aproveitamos todas as oportunidades para fazer revisões e estabelecer conexões entre o que estamos trabalhando e a visita técnica. Durante a explicação sobre as normas de segurança e higiene, solicitamos aos alunos que explicassem a utilização de luvas, botas, touca e protetores para os pés na unidade de fabricação do iogurte: A5: Ela estava lá fora, entra com o pé sujo e contamina o iogurte. A6: Tem que lavar as mãos por causa dos microrganismos. Já nesse episódio, os alunos apresentaram a explicação e a justificativa, demonstrando entendimento sobre a aplicação das normas de segurança alimentar. Questionamos também a necessidade de se retirar o ar da embalagem de queijo, e eles associaram à presença dos micro-organismos no ar. As atividades desenvolvidas permitem-lhes conhecer os micro-organismos, compreendendo-os 129 como seres vivos importantes no meio ambiente, em que desenvolvem diversas atividades e também sua função econômica. As visitas técnicas são práticas comuns nos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas não são frequentes, devido à dificuldade de transporte, pagamento de taxas e questões de segurança. Para sua realização no município de Vitória é necessária a aprovação do Conselho de Escola e da Secretaria Municipal de Educação. Além disso, devem ficar explícitos os objetivos educacionais dessa prática pedagógica e as ações que serão desenvolvidas subsequentemente, para que não se configure apenas em um passeio. Concluindo as considerações epistemológicas acerca da primeira sequência, percebemos que alguns alunos repetiram as práticas aprendidas em suas casas, o que configura a multiplicação de saberes e também, pela análise dos registros e relatos orais, identificamos a aprendizagem dos conteúdos trabalhados. O tema mostrou-se pertinente porque uma parcela significativa desses alunos é destituída de condições mínimas de higiene e saneamento básico, conforme já exposto, existindo relatórios na coordenação da escola de casos em que os alunos não possuem banheiro com privada, nem chuveiro em suas casas. Outros ainda coletam alimentos das lixeiras ou recolhem latinhas de alumínio para que assim possam conseguir alimento. Fica, então, evidente o papel da escola, não só em oferecer condições mais dignas de vida no período letivo e de propor alternativas para sanar algumas situações, mas também em trazer reflexões sobre a qualidade de vida do cidadão e prepará-lo para questionar e modificar sua situação em frente às possibilidades que hoje a Ciência e a Tecnologia nos oferecem nesse contexto. Foi válido também o fato de a escola custear a viagem da maioria dos alunos que, de outra forma, jamais participariam de uma vivência como essa. Sendo assim, entendemos que a visita ao espaço não formal cumpriu também um papel social na vida dessas crianças. Isso pode ser identificado nos textos coletivos produzidos na 130 volta, em que aparecem os termos: “[...] felizes da vida voltamos para casa;” “Cansados e alegres voltamos para casa”, “Alegres voltamos para escola”. A análise dessa SD permite, ainda, afirmar que as atividades experimentais propuseram um ciclo investigativo. Os saberes apreendidos levaram a discussões pertinentes ao contexto escolar e familiar referente à temática exposta. Sobre isso, Chassot (2011) nos diz que devemos visar a instituição de um Ensino de Ciência para a formação da cidadania, evidenciando que ele precisa ser socialmente contextualizado, destacando o papel social de Ciência e suas interações multidisciplinares com os aspectos sociais políticos, históricos e éticos, diferentemente do modismo do ensino cotidiano que reproduz uma concepção de Ciência pura e neutra. Para ele, “A cidadania só pode ser exercida plenamente se o cidadão ou cidadã tiver acesso ao conhecimento (e isto não significa apenas informações) e aos educadores cabe então fazer esta Educação” (p. 74). 131 7 ALGUMAS QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA “VIM VER A VIDA” Esta sequência didática, como a anterior, teve por objetivo estudar os seres vivos e suas relações com o meio ambiente e com o homem. Porém, tratando-se de um contexto como a Horta Educativa, pudemos ampliar nossas pretensões ao proporcionar vivências de interação com a terra, com os animais, com a qualidade de vida, com pressupostos de sustentabilidade. Assim, acreditamos em seu potencial de contribuição de cidadãos que estejam habilitados a questionar sua situação de vida, de participar de decisões que a ela digam respeito e de propor soluções para a construção de um mundo melhor, que é o que se pretende com práticas de ensino de Ciências que visem à alfabetização científica dos alunos (CHASSOT, 2005). Sendo assim, elencamos cinco atividades para apresentação de uma análise pedagógica e epistemológica dos resultados desta sequência didática, cujo mapa conceitual é apresentado na Figura 23. 132 Figura 23 – Mapa conceitual da SD “Vim ver a Vida” Fonte: Autoria da pesquisadora. 133 ATIVIDADE 1 – VISITA Á HORTA EDUCATIVA O objetivo desta atividade foi promover uma vivência no ambiente da horta escolar e proceder com uma investigação sobre os seres vivos possíveis de serem encontrados nesse espaço. A questão problematizadora deu-se da seguinte forma: Vocês são bons investigadores? Será que podem atuar como cientistas e investigar quais são os seres vivos ou vestígios de seres vivos que estão na horta? Diante desse desafio e munidos de lupas, os alunos foram encaminhados para esta atividade com muita motivação e determinação. Explicamos que vestígios poderiam ser ovos, pegadas, mordidas e até mesmo fezes. São pistas. (12)A1: Eeeca!!! (13)A 2: Podemos procurar o mosquito da dengue? (14)P: Sim e também coisas erradas que estiverem lá em relação à dengue. Todas as três turmas apresentaram-se motivadas e empolgadas com a investigação. Eles solicitavam a presença das professoras e da professora investigadora sempre que encontravam algum “bichinho”. Percebemos que se sentiram valorizados, importantes, e essa autonomia em passear pelos canteiros, procurar e observar seres vivos foi relevante para a autoestima desses sujeitos. Astolfi e colaboradores (2002, p. 25) nos atentam para as relações entre as experiências científicas e o sentimento de eficácia das crianças: “As experiências científicas possuem potencial especial para construir um poderoso senso de eficácia: a crença em nossa capacidade para lidar com problemas, baseadas em nossa competência pessoal”. Para eles, essa crença, tendo-se iniciando na infância, certamente se desenvolverá ao longo da vida. Sendo assim, sugerem que “[...] se ofereçam desafios de aprendizagem, na escola, que permitam à criança estabelecer com eles um confronto, um medir forças, uma vez que tentar vencê-los auxilia na modelagem do senso de autoestima do indivíduo” (p. 25). 134 Nossa experiência anterior com o Projeto Horta desenvolvido em outro espaço denuncia a escassez de pequenos invertebrados, a má qualidade do solo, a profundidade inadequada dos canteiros, que são muito rasos. Foi extremamente difícil encontrar uma minhoca, no entanto, anteriormente, havia um minhocário alojado estrategicamente embaixo de uma mangueira, que oferecia sombra e frescor. Mas felizmente, apesar de estarmos em meio urbano e não muito adequado a essa prática, os alunos encontraram minhoca, joaninha, caracol, pulgões, ovos de borboletas, fezes de lagartas, mosquitinhos e lagartas. Além disso, esse espaço é visitado por pássaros, bem-te-vis e, principalmente, por borboletas, além de cães e gatos, infelizmente. Os alunos fizeram a coleta dos animais para análise no laboratório e confecção de desenhos (Figura 24). Figura 24 – Alunos investigando a presença de seres vivos na horta educativa Fonte: Arquivo da pesquisadora. Apesar de termos couve, alface, cebolinha, almeirão, salsa, quiabo, tomate, plantas medicinais, na hora de listar os seres vivos encontrados, nenhuma turma citou as plantas da primeira vez. Foi necessário repetir a pergunta “Quais seres vivos 135 encontramos na horta? Está faltando algum na nossa lista?” “Vou repetir de novo.” Uma turma precisou de um incentivo do tipo “O que temos em uma horta?”. Cinco alunos afirmaram que as plantas não são seres vivos. Os alunos que disseram que as plantas são seres vivos basearam-se nas seguintes características: a) Elas bebem água. b) Elas nascem, crescem e morrem. c) A professora falou que sim. d) Elas tomam sol. e) Se cortar elas morrem. f) Elas respiram. g) Elas produzem ar. h) Elas podem pegar comida. i) Se a gente molha ela [sic], vai beber e fica melhor. j) Elas dão frotos [sic]; não: FRUTAS. Ao levantar essas hipóteses para o trabalho científico, os alunos estão também aplicando os seguintes indicadores de AC: hipótese, seriação e justificativa; no caso da fala: “Se a gente molha, ela vai beber e fica melhor”, o aluno inclui a previsão e a explicação. Essa primeira aula de problematização, apresentada na Figura 24, revelou a disposição das crianças em investigar, resolver problemas, sair do esquema metodológico diário. Elas demonstraram interesse e empenho ao procurar os vestígios de seres vivos. Sobre a pergunta se tem micro-organismos ali, responderam: a) Na terra b) Tem na água 136 c) Água parada! d) Uma aluna disse: “Na terra e em qualquer lugar!” A identificação da presença dos micro-organismos na horta, seja parasitando plantas seja participando da decomposição e da ciclagem de nutrientes, e ainda, no solo, evidencia que os seres vivos e o meio estão entrelaçados por estreitas relações. Com referência às plantas, percebemos que a maioria dos alunos as considera seres vivos, mas, na listagem do resultado da investigação, elas não constavam; foi necessária a mediação. As justificativas da inclusão dos vegetais na categoria VIVOS nortearam as atividades posteriores. Após a realização dessa atividade, exibimos o filme “Microcosmo”,4 que retrata o microambiente de um bosque europeu e detalha a vida diária de pequenos seres vivos, como insetos, caracol, joaninhas e pulgões, suas relações com predadores e o meio ambiente, a luta pela sobrevivência, a reprodução e a morte. As crianças foram solicitadas a desenhar as imagens de que mais gostaram e a relacionar as imagens do filme com a Horta Educativa, que também se constitui em um rico microecossistema. ATIVIDADE 2 – INVESTIGANDO AS PLANTAS Esta atividade diz respeito ao segundo momento pedagógico. Dentro das premissas do ensino por investigação, solicitamos que as crianças propusessem experimentos que visassem a investigar a condição das plantas como seres vivos ou não. Os alunos foram instigados da seguinte forma: como vamos fazer para confirmar se as plantas são ou não são seres vivos? Podemos realizar algum tipo de experimento com elas? Pensamos que seria mais difícil, que teríamos que intervir e propor pessoalmente algumas sugestões, porém as crianças traçaram investigações verossímeis. 4 O filme Microcosmo (Le peuple de l’herbe), dos diretores Claude Nuridsany e Marie Pèrennnoué, de 1996, é original da França, do gênero documentário, produzido com duração de 80 minutos, distribuído pela Versátil Home Vídeo. 137 Os alunos partiram das características de seres vivos das plantas e pediram: a) Coloca água. b) Corta a raiz (A questão da alimentação das plantas parece ainda desconhecida e alguns alunos associaram a ingesta de água a absorção de materiais pela raiz). c) Bota no sol. d) Bota no frio. Um detalhe desse experimento está registrado na Figura 25. Apresentamos abaixo um recorte das discussões que encaminharam a proposição dos experimentos investigativos: Um aluno diz que as plantas nascem e morrem. Então questiono: (43)P: “Tá, mas como provar que nascem e morrem?”. (44)A1: “Plantando”. (45)P: “Ah! Mas isso já fizemos com o feijão... será que nasceu?”. (46)A1: “Nasceu” [a professora regente corrige: germinou.]. (47)P: “Que mais podemos fazer?” (48)A2: “Produzem néctar?”. (49)P: “Todos os seres vivos produzem néctar? Tem que ser algo que todo ser vivo faz ...” (50)A2: “É para as abelhas?”. (51)A1: “Elas crescem”. (52)P: “Isso já resolvemos”. (53)A3: “Elas morrem”. (54)P: “Como faz para ela morrer então?”. (55)A3: “Corta a raiz”. Por meio desse levantamento, identificamos que as crianças não conheciam a fotossíntese, não assimilaram bem o papel do adubo e se apoiaram na fala da professora em um critério de classificação dos seres vivos que é o ciclo de vida. Também relacionaram o desenvolvimento das plantas com conhecimentos prévios e vivências domésticas relativas ao Sol e à água. Elas demonstraram ser capazes de estabelecer uma investigação coerente. Entendemos que o corte da raiz remete à 138 amputação de um órgão vital ou à alimentação. As falas nos deram a entender que elas associam a alimentação a uma característica própria dos seres vivos. A análise do trecho transcrito permite inferir que os educandos se valeram da hipótese, da seriação, do raciocínio lógico e da explicação. Quando o aluno solicita o corte da raiz, é por considerá-la um órgão vital e, logicamente, sem ela, a planta deve morrer; então ele se vale do raciocínio lógico em sua argumentação. Os experimentos constaram das seguintes montagens: teste 1 – mudas que receberam água outras, não; teste 2 – mudas expostas ao sol e outras, dentro do armário, no escuro; teste 3 – mudas que receberam adubo e outras, não; teste 4 – mudas que tiveram a raiz seccionada e outras, não. As hipóteses levantadas pelos alunos foram: sem água, no escuro, sem adubo e sem raiz as plantas morreriam. O Quadro 10 e a Figura 25 mostram os resultados desses experimentos: Quadro 10 – Resultados dos experimentos da atividade 2 Montagens Com água Sem água Com adubo Sem adubo No sol No escuro No quente No frio Com raiz Sem raiz Fonte: Elaborado pela autora. Resultados Sobreviveu (“Está bem”) Morreu Sobreviveu (“Está mais forte”) Sobreviveu Sobreviveu Murchou, ficou amarelada (“Está morrendo”) Sobreviveu Sobreviveu (“Mas não está bem; murchou”) Sobreviveu (“Está bem”) Sobreviveu (“Murchou”; depois se regenerou) 139 Figura 25 – Experimento com as mudas de plantas Fonte: Arquivo da pesquisadora. Por meio dessas atividades, os alunos foram confrontados em suas concepções prévias que, em parte, foram confirmadas, porém as justificativas eram insuficientes ou ineficientes para explicar de forma adequada e convincentemente os fenômenos estudados. Alguns consideraram o fato de as folhas das plantas que ficaram no escuro ficarem amareladas, um dado que demonstra a importância do sol para o desenvolvimento das plantas, mas não associaram à fotossíntese ou nutrição. Uma das justificativas foi: “Caso que ela tava no escuro e lá no escuro não tem como brilhar”. No caso das mudas sem raiz, o esperado era que morressem devido à falta de alimentação e de água. No primeiro dia após o teste, ela murchou, mas depois persistiu. Explicamos que a plantinha deu um jeito de se virar, de tentar sobreviver, pois os seres vivos tentam sobreviver a todo custo. O conceito de regeneração foi então introduzido. Pergunto: E sem água? Ao que eles respondem: “Sem água não dá para se virar”. Por meio da intervenção dialogada e de noções de nutrição, fotossíntese, regeneração e adaptação, os alunos concluem que os vegetais são seres vivos. Para Oliveira (2010), engajar-se na resolução de um problema dado, seja na escola, seja fora dela, não significa fazê-lo isoladamente, pois as interações sociais são o 140 elemento-chave da teoria sócio-histórica. Segundo Vygotsky (2001, p. 329), a criança pode fazer muito mais com a ajuda do outro do que o faria isoladamente. Afirmamos que em colaboração a criança sempre pode fazer mais do que sozinha. [...] Em colaboração, a criança se revela mais forte e mais inteligente que trabalhando sozinha, projeta-se ao nível das dificuldades intelectuais que ela resolve, mas sempre existe uma distância rigorosamente determinada por lei, que condiciona a divergência entre a sua inteligência ocupada no trabalho que ela realiza sozinha e a sua inteligência no trabalho em colaboração. [...] A possibilidade maior ou menor de que a criança passe do que sabe para o que sabe fazer em colaboração é o sintoma mais sensível que caracteriza a dinâmica do desenvolvimento e o êxito da criança. Tal possibilidade coincide perfeitamente com sua zona de desenvolvimento imediato. O papel do professor, no contexto do ensino investigativo, de acordo com Campos e Nigro (1999), é incentivar os alunos a formular hipóteses explicativas, auxiliar na elaboração das hipóteses e do experimento, possibilitar a efetiva comprovação experimental das hipóteses dos alunos, colaborar nas discussões e propor atividades em que o aluno perceba claramente o que e por que vai fazer e as relações com o que já foi feito. Esses autores ainda afirmam que “[...] no decorrer do ciclo investigativo as fronteiras do saber são alteradas e consequentemente aspectos da realidade que sequer imaginávamos podem agora ser pensados e coisas que a respeito das quais não ocorriam indagações passam a ser objetos de novas investigações” (p. 157). Esse fato pode ser observado quando, ao final dessa atividade, os alunos levantaram outras questões de seu interesse, como: O feijão é macho ou fêmea? Como é que o Sol faz parte da alimentação das plantas? Todos os animais da horta botam ovos? Apresentamos, no Quadro 11, algumas considerações da análise das categorias de alfabetização científica referentes a essa atividade. 141 Quadro 11 – Análise dos indicadores de alfabetização científica da atividade 2 Itens Compreensão do problema Levantamento e teste de hipóteses Previsão Explicação Justificativa Seriação de dados Classificação de dados Organização de dados Raciocínio lógico Raciocínio proporcional Prática social Episódios e recortes de falas Propõem testes baseados nos conhecimentos sobre os seres vivos e as plantas Criam experimentos coerentes com suas hipóteses; se a planta “suga” água e alimentos pela raiz, se cortar a raiz, ele vai morrer “As mudas que ficaram no escuro vão morrer” “Caso que ela tava no escuro e lá no escuro, não tem como brilhar” [o Sol] “Se cortar a raiz, ele morre, porque a raiz suga água e alimento” “Se cortar a raiz, ele morre, porque a raiz suga água e alimento” “A que ficou no escuro, murchou. A que ficou sem água, estava morrendo.” “As mudas que ficaram no escuro vão morrer” “Sem água, não dá para se virar” “Se cortar a raiz ele morre, porque a raiz suga água e alimento” Caso que ela tava no escuro, e lá no escuro, não tem como brilhar” [o Sol] Se cortar a raiz ele morre, porque a raiz suga água e alimento” Advertem os monitores sobre a importância de regar as mudas da horta Fonte: Elaborado pela autora. ATIVIDADE 3 – JOGO “TRILHA DA HORTA” As propostas pedagógicas nos anos iniciais também devem estar aliadas à ludicidade, uma vez que estamos lidando com uma faixa etária de características peculiares em que a imaginação, a curiosidade e a fantasia são reconhecidamente importantes. Sendo assim, o jogo e a brincadeira são apontados como recursos didáticos significativos nesse contexto. O jogo pedagógico ou didático é aquele que tem como objetivo proporcionar determinadas aprendizagens, contendo aspecto lúdico e é utilizado para atingir determinados objetivos pedagógicos. É uma alternativa para se melhorar o desempenho dos estudantes em alguns conteúdos de difícil aprendizagem. Nessa perspectiva, o jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático 142 específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de informações (KISHIMOTO, 1998). Este jogo de tabuleiro consiste em uma trilha dividida em casas. Cada qual composta pela sequência numérica das casas, por um texto que deve ser lido e a ação proposta realizada, ou por um ícone que corresponde à realização de perguntas. Após jogar o dado, o aluno jogador deve movimentar o pino contando o número de segmentos correspondentes ao número obtido no dado. Será o vencedor do jogo o aluno que primeiro atingir o fim da trilha. O jogo possui uma trilha da Horta Educativa (Figura 26) com uma foto de fundo do desenho infantil de uma horta. Uma versão maior, de chão, foi confeccionada de forma que as crianças fossem os peões/pinos. O objetivo primeiro da aplicação desse jogo foi avaliar a aprendizagem dos alunos acerca dos conteúdos trabalhados na sequência didática desenvolvida no terceiro trimestre, a saber: seres vivos, agricultura orgânica, cultivo e manejo da horta, controle de pragas. Segundo, pretendíamos reforçar alguns conceitos e introduzir outros, facilitando a apropriação dos conhecimentos e despertando o interesse pela aquisição de uma postura sustentável e de respeito a todas as formas de vida e, logicamente, na promoção da qualidade de vida. 143 Figura 26 – Jogo “A trilha da horta” Fonte: Arquivo da pesquisadora. Esse jogo pode ser jogado por, no mínimo, dois alunos e, no máximo, quatro. É composto por um dado de seis faces e 31 espaços numerados, alguns deles contendo textos com orientações e três ícones de perguntas que devem ser respondidas pelos jogadores ou por representantes de sua equipe. Cada vez que o jogador parar em uma dessas casas que possuem essas informações, pode avançar certo número de casas ou retroceder também. Atitudes ou eventos positivos levam ao avanço de casas, como: “Regar as plantas no horário certo; Usar sabão de coco para espantar pulgões”. Atitudes ou eventos negativos ocasionam o retrocesso, como: “Você usou inseticida; ou Pisaram nos canteiros”. Eventos que demandam tempo, como semeadura e germinação, significam ficar uma rodada sem jogar. Perguntas respondidas acarretam em avanço e as não respondidas implicam ficar uma rodada sem jogar. O texto foi redigido de forma simples e com letra em caixa-alta para facilitar a leitura dos alunos. Foi ilustrado com imagens associadas para permitir a compreensão daqueles que porventura ainda não soubessem ler. 144 Para a aplicação do jogo “Trilha da horta”, os alunos foram divididos em dois grupos: meninas e meninos para facilitar a identificação dos seus componentes. De cada equipe, dois representantes foram selecionados. Esses representantes seriam os peões do jogo. Um aluno monitor de Ciências joga o dado. A professora pesquisadora explicou detalhadamente as regras do jogo e, posteriormente, autorizou o início da atividade. Um aluno monitor de Ciências joga o dado. Cada equipe jogou em média três rodadas (Figura 27). Figura 27 – Crianças jogando Fonte: Arquivo da pesquisadora. Após jogarem com a versão de chão, as crianças foram conduzidas ao laboratório onde formaram quatro mesas e jogaram mais livremente por três rodadas, auxiliadas pelos monitores. Desde o início, percebemos uma atitude diferenciada por parte dos alunos que ficaram encantados com o material e com a possibilidade de participar de uma atividade mais prazerosa de ensino. O fato de serem eles mesmos os peões do jogo foi motivador e a competição entre equipes contou com uma torcida empolgada e participante, que auxiliava a contar as casas e a ler as instruções. 145 Quadro 12 – Recortes das falas dos alunos durante o jogo (256)A1: “Seis? Fala sério...” [risos] (257)A2: “Cinco! Caraca!”... (258)P: “Pisaram no canteiro.” (259)A3: Iiiiii!” Fonte: Elaborado pela autora. A princípio, pensamos em dispor as crianças em suas carteiras, uma vez que o jogo foi realizado em suas próprias salas de aula que são bastante espaçosas, porém elas se dispuseram em círculos diante do tabuleiro de forma a não perder nem um movimento do jogo. Identificamos a timidez de alguns alunos para responder às perguntas, mas os colegas foram solidários e auxiliaram nas discussões. Cada criança deveria tentar ler o texto referente à sua posição no jogo e os monitores não poderiam auxiliar na contagem das casas logo de imediato. É importante que a criança perceba a progressão numérica das casas, identificando os números antecessores e sucessores. Quanto ao desenvolvimento da atividade em si, transcrevemos a fala de um aluno monitor da 5.ª série que auxilia no desenvolvimento desse projeto de pesquisa: Aluno monitor - “Professora, estas aulas legais assim, eles gostam mais, participam mais.” Durante a aplicação do jogo na versão de mesa, também observamos o interesse diferenciado e uma organização maior que em outras aulas. Transcrevemos, no quadro a seguir, um episódio de discussão de conceitos e fenômenos estudados: (275)A5: [lendo] “U-sou ve-ne-no.” (276)P: “Por que você voltou uma casa?”. (277)A5: “Não pode ser porque a planta vai ficar morta.” (278)A6: “E o veneno vai para barriga da pessoa.” 146 (279)P: “Por que não podemos usar inseticida?” (280)A7: “Porque intoxica.” (281)A8: “Passa mal.” Analisando o trecho transcrito, identificamos os seguintes indicadores de AC: explicação, justificativa e organização dos dados. A justificativa e a explicação estão presentes, quando associam inseticida à toxicidade e ao mal-estar causado no organismo humano. O controle biológico de pragas foi trabalhado durante as aulas práticas na horta, uma vez que um dos seus objetivos na escola é promover uma visão sustentável e a busca de alternativas que proporcionem o bem-estar da humanidade, trazendo saúde e a preservação do meio ambiente. Para Krasilchik e Marandino (2007), o trabalho do professor deve levar à crescente participação dos alunos em questões que afetam o seu modo de vida e que demandam a contribuição de diferentes capacidades para análise e tomada de decisões. Acerca da Educação Ambiental, concordamos com Reigota (1998), quando afirma que ela aponta propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos. Os anos iniciais do Ensino Fundamental representam um período propício para o trabalho com Educação Ambiental, pois é nessa fase que se formam os conceitos, quando podemos investir na formação de cidadãos conscientes e responsáveis e, mais que isso, multiplicadores de ideias de preservação e conservação ambiental. No trecho transcrito a seguir, discutimos a importância do fator tempo para os fenômenos biológicos que, ao contrário de alguns fenômenos químicos e físicos, não são observados instantaneamente. Por meio da Horta Educativa, as crianças podem acompanhar o ciclo de vida de diversos seres vivos e compreender as transformações pelas quais eles passam durante seu desenvolvimento. 147 (289)A 9: [lendo] “... a-guar-de a ger-mi-na-ção.” (280)P: “Por quê”? (281)A 9:“Para a planta crescer.” A aplicação do jogo didático é relevante nesse contexto, por permitir que os sujeitos aprendizes interajam num movimento de socialização, mediação e solidariedade, em que o medo de errar está erradicado e as possibilidades de aprendizagem são potencializadas pela problematização, pelo desafio e também pela afetividade. Esse jogo permite que se trabalhem não somente os conteúdos conceituais, mas também valores e atitudes procedimentos, quando questiona as escolhas humanas por tecnologias, como agrotóxicos, adubação química, monoculturas e outras, e também quando aponta alternativas mais sustentáveis de vida. ATIVIDADE 4 – INVESTIGANDO O CICLO DE VIDA DA LAGARTA DA COUVE A investigação do ciclo de vida da lagarta da couve aconteceu de forma paralela na execução desta SD. Os alunos já haviam iniciado um estudo sobre as borboletas quando esta pesquisa começou, porém os esforços das professoras em acompanhar o ciclo de vida desses insetos não foram bem-sucedidos. A lagarta da couve é um espécime que não demanda cuidados excessivos ou complexos e a presença da horta na escola facilitou a implementação dessa atividade. As folhas de couve contendo ovos da borboleta P. brasica foram coletadas durante as visitas à Horta Educativa. As questões problematizadoras foram: de quem são estes ovos? Como a borboleta vira lagarta? O que é metamorfose? Os alunos desenvolveram pesquisa na biblioteca, quando realizamos leitura de clássicos da literatura infantil. Ressaltamos a reação das crianças diante do áudio “A primavera da lagarta”, de Ruth Rocha, que consta do CD “Mil pássaros”. Elas estranharam o fato de somente ouvir e não ver imagens. Riram muito da entonação das vozes dos personagens e interagiram com a história da lagarta perseguida 148 pelos outros animais por comer muito. Dessa forma, entendemos que estimulamos o desenvolvimento auditivo desses sujeitos e também sua imaginação. Além dos conhecimentos científicos, a história permitiu a discussão sobre temas, como a tolerância e o respeito à diversidade. Cada etapa do ciclo da lagarta da couve foi devidamente registrada por fotos (Figura 29) e as crianças foram desafiadas a escrever um livro que narrasse a vida desse ser vivo. Após uns sete dias, os ovos eclodem e lagartinhas transparentes começam a devorar os pés de couve. Foi possível identificar o rápido crescimento das lagartas e a formação do casulo. A borboleta passa por transformações bioquímicas e rompe o casulo num período de 11 a 15 dias. Aconteceram episódios em que os alunos puderam assistir a esse momento emocionante. Em uma turma, um aluno comentou: (54)A1: “Tá nascendo! Tá nascendo!”. (55)P: “Nascendo? Então antes, a lagarta estava morta? O que esta acontecendo aqui?”. (56)A2: “Metamorfose. Ela era lagarta e agora é borboleta e está saindo do casulo.” O desenho da Figura 28 traz uma representação daquilo que a aluna autora imagina que aconteceu dentro do casulo, progressivamente, até identificarmos uma pequenina borboleta no casulo final. Figura 28 – Aluna representa a metamorfose da lagarta da couve dentro do casulo Fonte: Arquivo da pesquisadora. 149 O que acontece no interior do casulo é motivo de intensa curiosidade. Lá, grande parte do corpo da lagarta é atacada pelo mesmo tipo de substância ácida da digestão, e os tecidos vão sendo destruídos de dentro para fora em um processo chamado de histólise. Algumas células antigas são do tipo indiferenciado. Isso significa que são como as células-tronco, que podem se transformar em qualquer tipo de célula e se tornam partes importantes da futura borboleta. Para isso, passam por um processo bioquímico chamado de histogênese, construindo ininterruptamente um novo coração, novos músculos e sistema digestório.5 Vale ressaltar que, para que estas observações fossem plenamente possíveis, além dos espécimes que ficaram no laboratório de Ciências, os alunos monitores e a pesquisadora levaram exemplares de ovos e lagartas para suas casas a fim de garantir a alimentação de lagartas e borboletas nos fins de semana, respeitando o cumprimento do ciclo de vida. As borboletas foram mantidas em cativeiro até o cruzamento, período em que foram alimentadas por meio de chumaços de algodão embebidos em solução de mel e água. Após a postura, foram libertas na horta. Com essa prática, as crianças acompanharam todo um ciclo de vida (Figura 29), incluindo a morte de alguns exemplares que não se adaptaram ao local onde estavam sendo tratados. Finalizando esta investigação, um jogo interativo foi elaborado pelo mediador do laboratório de informática e pela professora da Turma B, em que a alfabetização, a linguagem, as habilidades básicas em informática e o ensino de Ciências foram integrados em uma fase interdisciplinar. 5 Disponível em: <http://diariodebiologia.com/2010/05/o-que-acontece-dentro-do-casulo-daborboleta>. Acesso em: 1 jun. 2013. 150 Essa atividade reforçou a noção de respeito a toda forma de vida que já vinha sendo trabalhada pelas regentes, uma vez que, mesmo entendendo que a lagarta da couve é uma praga da horta, as crianças recusaram todo artifício empregado para exterminá-las, que não fosse a coleta, manutenção de cuidados no viveiro e posterior soltura. Sabemos perfeitamente que, para garantir a colheita de couve, devemos expulsar as pragas invasoras, mas o conceito de ser vivo obteve maior importância que o de praga para esses alunos. Figura 29 – Algumas etapas do ciclo de vida da lagarta da couve Fonte: Arquivo da pesquisadora. 151 ATIVIDADE 5 – TEATRO VIDA DE LAGARTA Além do jogo pedagógico, o teatro foi uma das metodologias alternativas que utilizamos nesta sequência, no terceiro MP. Concordamos com Krasilchik e Marandino (2004, p. 30) quando abordam a complexidade de ensinar Ciências em frente aos avanços científicos e tecnológicos atuais. A complexidade e a qualidade de conhecimento produzido socialmente trazem desafios enormes para a sua compreensão. Na educação escolar, a seleção entre os saberes e os materiais culturais tem por meta torná-los efetivamente transmissíveis e assimiláveis. As metodologias alternativas no ensino de Ciências promovem uma ruptura com as práticas tradicionais que por vezes não têm dado conta de estabelecer uma aprendizagem eficaz. Das alternativas didáticas propostas para o Ensino de Ciências, pode-se utilizar o teatro. Salles e Kovaliczen (2007, p.108) mencionam: “Com o teatro é possível estimular o interesse científico e o artístico do aluno de uma forma concreta”. Para Machado e Matos (2012), em se tratando do teatro como recurso para qualificar o ensino e a aprendizagem, este pode efetivar a compreensão de mensagens educativas, proporcionando a reflexão e apropriação de ideias por parte dos participantes. “É uma atividade artística que permite ao aluno expressar-se explorando todas as formas de comunicações humanas” (DOLCI, 2006, p. 44). Dentro dessas premissas, solicitamos aos alunos e monitores de Ciências que escrevessem textos sobre o que vivenciaram com a investigação do ciclo da lagarta da couve, Ascia monuste orseis, e, por meio de recortes, elaboramos um roteiro de uma peça teatral, “Vida de lagarta” (Figura 30), o que possibilitou a expressão linguística, oral, cênica, além da vivência reflexiva da condição de cada ser vivo em particular. O texto foi francamente adaptado da história “A primavera da lagarta”, da autora brasileira renomada Ruth Rocha. Houve a inserção da Horta Educativa e da 152 dengue no contexto, abarcando, assim, as temáticas desenvolvidas ao longo desta SD. Os objetivos para o ensino de Ciências foram cumpridos, uma vez que se fez possível, por meio da inclusão do roteiro da peça teatral, trabalhar os conceitos da biodiversidade, características anatômicas, classificação dos seres vivos, metamorfose, entre outros. As crianças puderam imaginar-se no lugar da couve, que não tem recursos para espantar os seus predadores, ou da formiga, e sua relação de competição com os pulgões pelo alimento, por exemplo. Além disso, o aspecto cinestésico-corporal foi contemplado quando elas imitaram os movimentos desses seres vivos, ou imaginaram métodos para defesa, predação, para encenar a metamorfose da lagarta. Figura 30 – Apresentação do teatro da lagarta 153 Fonte: Arquivo da pesquisadora. O teatro foi apresentado para a comunidade escolar durante a mostra cultural e novamente na reunião de finalização do ano letivo para os pais dos alunos, o que se constitui em uma forma lúdica de comunicação científica dos saberes por eles apreendidos durante as aulas. A análise epistemológica desta SD permite afirmar que as atividades experimentais se configuraram de cunho investigativo quando buscamos a solução de problemas como: existem seres vivos na horta? As plantas são seres vivos? O que tem na semente que leva à germinação e ao surgimento de uma nova planta? Os alunos nos surpreenderam durante a formulação de hipóteses e sugestões de experimentos. A princípio, pensávamos ter que propor diretamente essas atividades. A motivação e a participação mantiveram-se constante ao longo da execução desta sequência didática. Um dos pontos altos deste projeto foi o acompanhamento do ciclo de vida da lagarta da couve, por meio do qual os alunos observaram o processo de metamorfose e inferiram a noção de que todo ser vivo merece permanecer em seu habitat, tendo direito à vida. Os jogos pedagógicos permitiram que novos conhecimentos fossem articulados aos que já haviam sido 154 trabalhados nesse período e explicitaram que o caráter lúdico deve ser contemplado nas práticas educativas do ensino de Ciências nos anos iniciais. Dessa forma, entendemos que esta sequência didática fomentou uma visão integradora do homem e do meio ambiente, possibilitando a construção de uma postura sustentável dos sujeitos em frente às demandas ambientais globais da atualidade. As atividades propostas encontraram-se na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, dentro da perspectiva de Vygotsky, uma vez que cada tipo de atividade, com suas respectivas e gradativas dificuldades, contribuiu para o desenvolvimento intelectual dos estudantes, provocando avanços na aprendizagem. As aulas experimentais foram coerentes com o nível de desenvolvimento das crianças, considerando seus conhecimentos prévios, avançando para o nível de desenvolvimento potencial, por meio da mediação dos monitores e professores, além da interação com os próprios colegas que se encontravam em um estágio mais avançado. Entendemos que investigações, dentro do que os alunos já sabiam ou muito além de suas possibilidades cognitivas atuais, seriam infrutíferas e decepcionantes. Em algumas aulas, consideramos pertinente, nas duas sequências, realizar aulas expositivas dialogadas que abarcassem os temas estudados, promovendo revisão e consolidação dos saberes adquiridos até então, relacionando-os de forma mais integrada, por exemplo, o mosquito da dengue visto na primeira SD também é um inseto, passa por metamorfose e pode ser encontrado na horta, se não forem tomados os devidos cuidados. 155 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados e discussões apresentadas ao longo do texto, foi possível tecer considerações finais articuladas com algumas questões levantadas na introdução desta dissertação. Assim, para efeito de organização do texto, foi apresentada a pergunta e, em seguida, um texto explicativo, buscando responder às inquietações apresentadas. Com relação ao método de ensino aplicado ao primeiro ano do Ensino Fundamental, é possível produzir ensino de Ciências, a partir de uma sequência didática que trata conteúdos científicos, articulado com a realidade dos alunos? A aplicação das atividades concernentes às sequências didáticas das quais trata este trabalho, permitiu identificar a participação diferenciada de alunos e professores e a troca interativa de saberes por meio do diálogo mediado pelas intervenções da professora pesquisadora no processo. Essas ações acarretaram significativas contribuições pedagógicas no contexto escolar dos anos iniciais da Escola de Ensino Fundamental, onde percebemos, no início da pesquisa, uma prevalência de práticas tradicionais, transmissivas e livrescas. Porém, ressaltamos que a referida escola oferece condições para a implementação de um ensino de Ciências pautado nas bases que discutimos no presente texto, pela disposição dos docentes e da equipe técnico-pedagógica em assumir novos paradigmas educacionais que visem à melhoria da qualidade do ensino oferecido às crianças. Salientamos que os alunos dessa instituição estão inseridos em uma comunidade escolar que valoriza a infância e a noção de que crianças são sujeitos pensantes e portadores de muitas habilidades. Vale explicitar que, em conjunto, a equipe sabe em prol de quem trabalha: pelos excluídos, pelos menos favorecidos oriundos de lares desfeitos, assombrados pelas drogas, pelo álcool e pela violência doméstica, que compõem uma parte significativa da clientela desta escola. É muito importante e satisfatório saber que esses sujeitos têm acesso ao conhecimento científico e que poderão, dentro das premissas da alfabetização 156 científica contempladas no ensino de Ciências, se tornar cidadãos atuantes, capazes de reescrever a sua história. Quanto às questões pedagógicas analisadas, apontamos que a aplicação de sequências didáticas de Ciências desenvolvidas nos moldes dos TMP, que contemplaram temas socioambientais integrados aos interesses dos alunos, constituiu-se em uma rica vivência em termos de ensino e aprendizagem dos conteúdos científicos. Houve problematização, contextualização e promoção de reflexões críticas da realidade dos sujeitos alunos. Com relação à intervenção aplicada na sala de aula no primeiro ano do Ensino Fundamental, é possível produzir aprendizagem (aspectos epistemológicos) de Ciências, de forma integradora e interdisciplinar? A condução das sequências didáticas efetuada sob uma perspectiva de reflexãoação permitiu o refazer, o reconstruir dos fazeres e a adaptação plena ao nível de desenvolvimento dos educandos. Salientamos, também, que as conexões estabelecidas com os temas transversais atenderam às premissas de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, afastando-se de uma lógica unicamente linear dos conceitos trabalhados. As atividades pedagógicas promoveram o ensino de Ciências de forma integradora, de acordo com o trabalho de Harlam e Rivkim (2002), estimulando o desenvolvimento cinestésico, sensorial, lógico-matemático, linguístico, musical, cênico, dentre outros. Ou seja, contemplamos a formação integral dos alunos durante as aulas de Ciências, explicitando as possibilidades de as aulas serem conduzidas sob essa ótica. Como discutido no início deste trabalho, Ciências é uma disciplina do currículo dos anos iniciais e deve ser garantido aos educandos o direito de discutir, analisar e investigar o contexto do mundo natural que o cerca. A priorização da leitura e da escrita nessa faixa etária impede que conceitos importantes e do interesse dos alunos sejam trabalhados. O ideal é que as disciplinas sejam ministradas de forma integrada e as Ciências ofereçam espaço 157 para o desenvolvimento motor, da oralidade, da escrita, por meio de registros e relatórios, da linguagem imagética, por desenhos e esquemas, por exemplo. Para que isso se concretize, é necessário o completo envolvimento do professor, não somente acompanhando, mas participando das aulas e dando-lhes seguimento por meio de atividades de fixação ou de revisão, ou mesmo prosseguindo com os conteúdos e os abordando em outras disciplinas. Do contrário, os conceitos se perdem isolados em atividades desconexas do contexto escolar geral. As turmas em que se deu esse tipo de acompanhamento apresentaram melhores argumentações, produções mais significativas e aprendizagem efetiva dos conteúdos. A aplicação da sequência didática planejada se constituirá em uma proposta de ensino investigativo? Essas práticas promovem a alfabetização cientifica dos alunos? Acerca dos aspectos epistemológicos, acreditamos que os princípios do ensino por investigação fizeram-se presentes, pois as atividades executadas apresentaram as características necessárias para compor um ciclo investigativo, que, conforme Campos e Nigro (1999) são: superar as evidências do senso comum, introduzir formas de pensamento mais rigorosas críticas e criativas, favorecer a imaginação de novas possibilidades a título de hipótese e estimular a comparação de diferentes hipóteses em situações controladas. Com atividades conduzidas dentro dessas premissas, os alunos se tornarão cada vez mais capazes de construir conhecimentos mais próximos do conhecimento científico e dos fazeres próprios da cultura científica. Da mesma forma, por meio da análise dos nossos resultados, entendemos ser possível a aprendizagem dos conteúdos científicos no primeiro ano do Ensino Fundamental. Assim, concordamos com Moraes e Carvalho (2012), quando citam pesquisas como as de Puche-Navarro (2000, 2003) e Morales e Bustamante (2000), que discutem as dimensões científicas da cognição infantil até os seis anos, apontando que essas crianças apresentam o domínio de ferramentas científicas, como: inferência, planejamento, classificação, experimentação e hipóteses. Elas sugerem, então, que a fronteira estabelecida aos sete anos precisa ser revista, pois as crianças menores evidenciam capacidades cognitivas variadas e são capazes de aprender conceitos científicos. 158 Harlan e Rivkim (2002) orientam para que se observem crianças pequenas como indivíduos que pensam. Para eles, as mentes das crianças não são páginas em branco à espera de algo a ser escrito, ou uma argila pronta para ser modelada por professores habilidosos e preocupados. Em oposição à tradicional transmissão de conteúdos, buscamos, a todo o momento, valorizar a participação dos alunos, suas hipóteses e argumentações, acreditando que a comunicação em sala de aula promove o desenvolvimento das funções mentais superiores, conforme a teoria sociointeracionista. Sob a perspectiva dessa teoria, a importância das atividades investigativas deve-se ao fato de colocar os alunos como sujeitos ativos nas várias etapas de resolução de um problema que envolva um processo experimental, conforme Oliveira (2010). Para ela, a trajetória do desenvolvimento se dá de fora para dentro, sempre definida pela cultura, por isso situações e práticas sociais que propiciem o aprendizado de forma interativa e mediatizada são importantes no desenvolvimento do indivíduo. A afirmativa de Vygotsky de que as crianças aprendem melhor em colaboração do que sozinhas traz sérias implicações na maneira como as atividades experimentais são desenvolvidas nas escolas. Uma delas é a visão do papel do professor como o outro mais capaz, como o mediador do conhecimento, atuando na zona de desenvolvimento proximal, promovendo avanços que não ocorreriam espontaneamente. Isso se dá mediante demonstração, assistência, fornecimento de pistas e instruções que são fundamentais na promoção de um ensino capaz de estimular o desenvolvimento. Identificamos, assim, que os alunos foram desafiados a pensar sobre os fenômenos observados e a tentar relacioná-los com os conceitos que já conhecem e que fazem parte de seu nível de desenvolvimento real, avançando no processo de aprendizagem de novos conceitos. Nesse sentido, as aulas experimentais investigativas foram concebidas como um espaço de interações sociais, e não transmissão-recepção, uma vez que, segundo Vygotsky (1984), o conhecimento é constantemente reconstruído tanto no plano coletivo quanto no individual e o indivíduo é um sujeito ativo que internaliza os processos interpessoais 159 fornecidos pela cultura, não na forma de absorção passiva, mas de transformação em um processo intrapessoal. As questões filosóficas abarcadas nas sequências didáticas pesquisadas referemse à Alfabetização Científica e ao Movimento CTSA. Cachapuz e colaboradores (2011) discorrem sobre a importância de se estudar os conhecimentos científicos e tecnológicos vinculados ao contexto social, econômico, histórico e político. Eles nos alertam para que essa educação científica pretendida esteja disponível a todos os cidadãos, para que o poder de tomada de decisões não fique restrito a uma minoria. Assim, para que isso se realize, defendemos que a educação científica aconteça desde o início da escolarização básica, instigando e desafiando os alunos, promovendo a construção progressiva das argumentações que nos habilitam para as tomadas de decisões. Dessa forma, acreditamos ser de suma importância analisar a inserção da temática CTSA no ensino de Ciências, em termos da reflexão sobre o perfil do cidadão que queremos formar, considerando os conteúdos e as abordagens que serão realizadas. Concordamos com Santos e Mortimer (2000), quando afirmam que é fundamental ter definido o tipo de cidadão que a educação ajuda a formar (capitalista, consumista, individualista ou preocupado com questões ambientais) e o modelo de tecnologia desejada (clássica, ecodesequilibrada ou de desenvolvimento sustentável), bem como o modelo de decisão que está intimamente vinculado à participação dos estudantes. As sequências didáticas sobre os seres vivos desenvolvidas no contexto dos primeiros anos buscaram, portanto, iniciar os alunos nessa perspectiva de ensino, o que contribuiu para o desenvolvimento de posturas e ideais sustentáveis por parte desses sujeitos, além do exercício da criticidade e do questionamento. Observamos isso com relação às inquietações quanto aos canteiros vazios que acumulavam água, às condições higiênicas da escola e à valorização de hábitos mais saudáveis de vida como um todo. Para Chassot (2011, p. 55), “A nossa responsabilidade maior no ensinar Ciência é procurar que nossos alunos e alunas se transformem, com o ensino que fazemos, em homens e mulheres mais críticos”. Os diálogos agrupados, segundo as categorias de indicadores da alfabetização científica, de acordo com 160 Sasserom e Carvalho (2011) permitiram a identificação do raciocínio lógico, do entendimento dos problemas identificados, do levantamento de hipóteses, da criação de experimentos para testar hipóteses, da explicação, da justificativa, da análise dos dados e da contextualização com a prática social, dentro de um entendimento de que esses alunos estão sendo iniciados nessa nova cultura de fazer científico. Como sugestão para próximos trabalhos, indicamos alguns temas importantes que foram recorrentes durante a pesquisa: estudar as contribuições da Horta Educativa para o ensino de Ciências nos anos iniciais, evidenciando os aspectos epistemológicos da interdisciplinaridade existentes entre as diversas áreas do conhecimento; estudar sistematicamente a formação da argumentação e suas relações com a alfabetização científica nos primeiros anos, fomentando um enriquecimento dessas discussões; e investigar o ensino de Ciências e suas relações com as metodologias alternativas e com a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner. Finalizando nossas considerações, este trabalho de pesquisa revela possibilidades de contribuir para a melhoria do ensino de Ciências oferecido às crianças dos anos iniciais, no entendimento de que esses alunos são sujeitos capazes, inteligentes, cidadãos em formação, que têm direito ao acesso e ao conhecimento das produções humanas realizadas até o presente século e também independentemente da condição social, raça ou gênero, eles podem ser inseridos em um processo gradativo de construção do espírito científico. 161 REFERÊNCIAS ASTOLFI, Jean-Pierre; PETERFALVI, Brigitte; VÉRIN, Anne. Como as crianças aprendem as ciências. Lisboa: Horizontes Pedagógicos, 1998. AULER, Décio; BAZZO, Walter Antonio. Reflexões para a implementação do movimento CTS no contexto educacional brasileiro. Ciência e Educação, v. 7, n. 1, p. 1-13, 2001. AZEVEDO, Maria Cristina P. Stella de. Ensino por investigação: problematizando as atividades em sala de aula. In: CARVALHO, Anna Maria Pessoa de (Org.). Ensino de ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Cengage Learning, 2009. BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuições para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1996. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil? 2. ed. São Paulo: Ática, 2007. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: Ministério da Educação, 1998. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Disponível em:<URL:http://www.mec.gov.br.>. Acesso em: 3 jan. 2013. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997a. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997b. CACHAPUZ, António et al. A necessária renovação do ensino de ciências. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011. CAMPOS, M. C. C.; NIGRO, R. G. Didática de ciências: o ensino-aprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 1999. CAPECHI, Maria Candida Varone de Morais; CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Argumentação em uma aula de conhecimento físico com crianças na faixa de oito a dez anos. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 5, n. 3, 2000. CARVALHO, Anna Maria Pessoa; GIL-PÉREZ, Daniel. Formação de professores de ciências: tendências e inovações. São Paulo: Cortez, 2001. CARVALHO, Anna Maria Pessoa. Critérios estruturantes para o ensino de ciências. In: CARVALHO, Anna Maria Pessoa (Org.). Ensino de ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 162 CARVALHO, Anna Maria Pessoa de et al. Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 2010. CARVALHO, Anna Maria Pessoa de; SASSERON, Lúcia Helena. Construindo a argumentação na sala de aula: a presença do ciclo argumentação na sala de aula: a presença do ciclo argumentativo, os indicadores de alfabetização científica e o padrão de Toulmen. Ciência e Educação, v. 17, n. 1, p. 97-114, 2011. CHASSOT, Áttico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: Ed. Ijuí, 2011. CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, ANPEd, n. 26, p. 89-100, 2003. CHASSOT, Attico. Ensino de ciências no começo da segunda metade do século da tecnologia. In: LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Currículo de ciências em debate. Campinas: Papirus, 2004. DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. DOLCI, L. N. O teatro na escola é uma necessidade no quotidiano do aluno. 2005. Disponível em: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp Acesso em: 29 jul. 2013. FOUREZ, Gérard. Alphabétisation scientifique et technique. Bruxelles: Belgium, 1994. FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências. São Paulo: Edunesp, 1995. FRACALANZA; Hilário; AMARAL, Ivan Amorosino do; GOUVEIA; Mariley Simões Flória. O ensino de ciências no primeiro grau. São Paulo: Atual, 1986. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 24. ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002. FRIZZO, Marisa Nunes; MARIN, Eulália Beschorner. O ensino de ciências nas séries iniciais. Ijuí: Editora Unijuí, 1989. FUMAGALI, Laura. O ensino de ciências naturais no nível fundamental de educação formal: argumentos a seu favor. In: WEISSMANN, Hilda (Org.). Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões, Porto Alegre: ArtMed, 1998. GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Tradução de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed, 1995. 163 GASPAR, Alberto; HAMBURGUER, Ernst Wolfgang. Museus e centros de ciências: conceituações e propostas de um referencial teórico. In: NARDI, Roberto (Org.). Pesquisas em ensino de física. São Paulo: Estruturas, 1998. p.105-125. GASPAR, A.; MONTEIRO, J. C. C. Atividades experimentais de demonstração em sala de aula: uma análise segundo o referencial da teoria de Vygotsky. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 10, n. 2, p. 227-254, ago. 2005. GIL PEREZ, Daniel; VALDES CASTRO, Pablo. La orientación de las practices de laboratorio como invetigagación: un ejemplo ilustrativo. Enseñanza de las ciencias, v.14, n. 2, 1996. GIORDAN, Marcelo; GUIMARÃES, Yara A.F.; MASSIL, Luciana. Uma análise das abordagens investigativas de trabalhos sobre as sequências didáticas: tendências no ensino de ciências. Trabalho apresentado no VIII ENPEC-Encontro Nacional de Pesquisas em Educação em Ciências, Campinas, 2011. GUEDES, Suzana de Souza. Experimentação no ensino de ciências: atividades problematizadas e interações dialógicas. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Brasília, DF, 2010. HARLAM, Jean P.; RIVKIM, Mary S. Ciências na educação infantil: uma abordagem integrada. Tradução de Regina Garcez. 7. ed . Porto Alegre: Artmed, 2002. HARLEN, W. Enseñanza y aprendizaje de las ciencias. 2. ed., Madrid: Morata, 1994. HURD, Paul DeHart, Scientific literacy: new mind for a changing world. Science & Education, Stanford, USA, n. 82, p. 407-416, 1998. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998. KRASILCHIC, Myrian. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. 197 p. KRASILCHIK, Myrian. Inovações no ensino das ciências. In: GARCIA, Walter. Inovação Educacional no Brasil. São Paulo: Cortez, 1980. KRASILCHIK, Myrian; MARANDINO, Martha. Ensino de ciências e cidadania. São Paulo: Moderna, 2004. LAUXEN, Marla T. C.; WIRZBICKI, Sandra M.; ZANON, Lenir B.O desenvolvimento de currículo de ciências naturais no ensino médio numa abordagem contextual e interdisciplinar. Trabalho apresentado no VI ENPEC- 164 Encontro Nacional de Pesquisas em Educação, Florianópolis, SC 2007. http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/vienpec/CR2/p991.pdf LOCATELLI, Rogério José; CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Uma análise do raciocínio utilizado pelos alunos ao resolverem problemas os propostos nas atividades de conhecimento físico. Revista Brasileira de pesquisa em Educação em Ciências, v. 7, p.1-18, 2007. LORENZETTI, Leonir; DELIZOICOV, Demétrio. Alfabetização científica no contexto das Séries Iniciais. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, p. 117, 2001. LORENZETTI, Leonir. Alfabetização Científica no contexto das séries iniciais. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2000. LUDKE, Menga; ANDRE, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MACHADO, Andréa; MOURA, André Luís Alves. Concepções sobre o papel da linguagem no processo de elaboração conceitual em química. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 2, p. 27-30, nov. 1995. MARANDINO, Martha. A prática de ensino nas licenciaturas e a pesquisa em ensino de ciências: questões atuais. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 168-193, 2003. MEZALIRA, Sandra Mara. Enfoque CTS no ensino de ciências naturais a partir de publicações em eventos científicos no Brasil. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí/ RS, 2008. MORAES; Tatiana Schneider Vieira de; CARVALHO, Anna Maria Pessoa. O desafio de ensinar ciências para crianças pequenas: uma proposta de alfabetização científica e desenvolvimento de ferramentas de argumentação. Trabalho apresentado no VIII EMPEC - Encontro Nacional de Pesquisas em Educação em Ciências, Campinas, 2011. http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R1094-1.pdf MORALES, O. O.; BUSTAMANTE, L. G. Habilidades para la comprensión e el razonamiento científico en el niño: una revisión bibliográfica. In: PUCHE– NAVARRO, R. (Org.). Formación de herramientas científicas en el niño pequeño. Bogotá: Arango Editores, 2000. p.141-182. OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Sammus, 1992, p. 23-24. OLIVEIRA, Jane Raquel Silva de. A perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e suas relações com a prática de experimentação no ensino de química. Alexandria, v. 3, n. 3, p. 25-45, nov. 2010. 165 PAIS, Luiz Carlos. Didática da matemática: Uma análise da influência francesa. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,2002. PELCZAR JÚNIOR, J.M.; CHAN, E.S.C.; KRIEG, N.R. Microbiologia: conceitos e aplicativos. 2. ed. São Paulo: Makron Books,1996.v. 1. PEREIRA, Marta Máximo. Ufa!! Que calor é esse?! Rio 40º C: Uma proposta para o ensinados conceitos de calor e temperatura no ensino médio. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Física, Rio de Janeiro, 2010. PUCHE-NAVARRO, Rebeca. Formación de herramientas científicas en el niño pequeño. Bogotá: Arango Editores, 2000. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 14. ed. Petrópolis, RS: Vozes, 2005. REIGOTA, Marcos. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (Org.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. SALLES, G.; KOVALICZN, R. O mundo das ciências no espaço da sala de aula: o ensino como um processo de aproximação. In: NADAL, B. G. (Org.). Práticas pedagógicas nos anos iniciais: concepção e ação. Ponta Grossa: Ed. Vepg, 2007. SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; MORTIMER, Eduardo Fleury. Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem C-T-S (Ciência Tecnologia Sociedade) no contexto da educação brasileira. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte/ MG, v. 2, n. 2, p. 0123, 2000. SANTOS, Wildson Pereira. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Revista Brasileira de Educação, v. 12, n. 36, set/dez, 2007. SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, A. M. P. de. Almejando a alfabetização científica no ensino fundamental: a proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino de Ciências, v.13, n. 3, p.333-352, 2008. SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, Anna Maria Pessoa. Alfabetização científica no ensino fundamental: estrutura e indicações deste processo em sala de aula. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade de São Paulo, Faculdade de São Paulo, São Paulo. SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, Anna Maria Pessoa. Alfabetização científica: uma revisão bibliográfica. Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011. 166 SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, Anna Maria Pessoa. Almejando a alfabetização científica no ensino fundamental: a proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino de Ciências, v.13, n. 3, p. 333352, 2008. SCHROEDER, Edson; DALLABONA,Kátia Gerardi. O ensino de ciências nos anos iniciais: a construção do conhecimento científico partir de uma sequência didática. Trabalho apresentado no III Sinect – Simpósio nacional de Ciência e Tecnologia. Ponta Grossa, 2012. VILCHES, Amparo; PÉREZ, Daniel Gil; PRAIA, João. Educación por un futuro sostenible. In: SANTOS, Widson Luiz Pereira dos Santos; AULER, Décio (Org.). CTS e educação científica: desafios, tendências e resultados de pesquisas. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011. VITÓRIA, Secretaria Municipal de Educação. Ciclo inicial de aprendizagem: reorganização dos tempos espaços de aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental. Vitória, 2011. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Vygotsky VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1984. VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,2000. WEISSMANN, Hilda. Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões. Porto Alegre: Artmed,1998. ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Tradução de Ernani F. da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 1998. ZANON, Dulcimere AP Volante; FREITAS, Denise. A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental: ações que favorecem a sua aprendizagem. Ciências e Cognição, v. 10, p. 93-103, 2007. ZÔMPERO, Andreia Freitas; LABURÚ, Carlos Eduardo. Atividades investigativas no ensino de ciências: aspectos históricos e diferentes abordagens. Revista Ensaio, v. 13, n. 3, p. 67-80, se./dez., 2011. 167 APÊNDICES 168 APÊNDICE A – CONTEÚDOS APRENDIZAGEM DE VITÓRIA DE CIÊNCIAS DO CICLO INICIAL DE CONHECIMENTOS DE CIÊNCIAS NATURAIS EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL O ESPAÇOTEMPO EM QUE VIVEMOS 1 Vida e ambiente Conhecimentos Objetivos Valorização da biodiversidade Relacionar a ampla biodiversidade com a Ecossistema diversidade de povos e grupos humanos Dependência dos seres vivos, em relação que constituem a população brasileira, ao ar, água, solo e temperatura associando-os ao processo de Seres vivos – ciclo de vida, micro- miscigenação da população em questão organismos e vírus, cadeia alimentar Compreender as relações dos seres vivos (produtores, consumidores e entre si e destes com os demais decompositores) e comparação entre os componentes do ambiente como aspecto diversos habitat e as formas de vida relevante para a manutenção do equilíbrio Relações interespecíficas (parasitismo, e da vida no planeta competição, herbívora, predação, Reconhecer as causas e consequências mutualismo) e relações intraespecíficas da redução da biodiversidade no mundo, (sociedade, colônia), extinção das região e estado e como as ações espécies humanas podem potencializar ou Degradação ambiental nos diversos locais minimizar este processo do planeta e a relação com a diminuição Estabelecer comparações entre os modos da biodiversidade com que os diferentes seres vivos, no Animais – formas de alimentação dos espaço e no tempo, realizam as funções animais (herbívoros, carnívoros, de alimentação, sustentação, locomoção e detritívoros e onívoros), animais reprodução, em relação às condições do vertebrados e invertebrados, comparação ambiente em que vivem entre os diversos habitat e os animais que Compreender que os animais são seres habitam vivos e possuem diferentes características Vegetais: estrutura e funções das partes que garantem sua sobrevivência nos da planta, nutrição, reprodução, diversos habitat interdependência entre as plantas e outros Compreender que os vegetais possuem seres vivos diferentes características que garantem a Ar – composição, propriedades, formação sua sobrevivência, os diversos habitat dos ventos, poluição atmosférica e a onde são encontrados e sua importância relação com a qualidade de vida da no equilíbrio do planeta e no cotidiano população Compreender a existência do ar, suas 169 Solo – composição do solo, importância e propriedades e sua importância para a ocupação do solo no ambiente urbano e manutenção da vida em nosso planeta. rural e formas de degradação do solo nos Compreender o efeito estufa como diversos ambientes (erosão, processo natural para a manutenção da desertificação, ocupação desordenada, vida na Terra, bem como as perda da fertilidade, utilização de consequências que a interferência agrotóxico) humana causa nesse processo Água – composição, propriedades, ciclo Compreender a importância da água para da água na natureza, estados físicos da o equilíbrio do planeta Terra, assim como água, poluição da água para a sobrevivência e a saúde dos seres Saneamento básico (drenagem pluvial, vivos coleta de lixo, tratamento de água e Reconhecer o saneamento básico como tratamento de esgoto) técnica que contribui para a qualidade de Efeito estufa vida e a preservação do meio ambiente Consumo consciente Reconhecer as principais formas de Produção e destinação dos resíduos poluição e outras agressões ao meio sólidos (lixões, aterros sanitários, ambiente, especialmente da região que a compostagem e usinas de reciclagem) escola está localizada Compreender maneiras para a redução do lixo pelo consumo consciente (repensar, reduzir, reutilizar e reciclar), reconhecendo modos adequados para sua disposição em casa e na escola 2 Ser humano e saúde Conhecimentos Objetivos Relações de gênero na sociedade Reconhecer relações de gênero, de etnia, Identidade racial em relação à origem de afetividade, de sexualidade, étnica da família do estudante. considerando aspectos biológicos, Sexualidade culturais, socioeconômicos e Corpo humano educacionais para valorizar e respeitar as Características gerais do corpo humano e diferenças individuais em contraposição a ciclo de vida da espécie humana (bebê, qualquer forma de discriminação e criança, adolescente, juventude, adultez e desvalorização velhice) Reconhecer o corpo humano como um Célula todo integrado e complexo, em que Transformações químicas e físicas diferentes aparelhos e sistemas realizam existentes no corpo humano funções específicas interagindo para a Sistema reprodutor manutenção desse todo e respondem 170 Sistema digestório conjuntamente a estímulos do ambiente Nutrientes (carboidratos, lipídios, Compreender que as células são menores proteínas, vitaminas, sais mineirais, água) unidades que formam o corpo humano Alimentação saudável: os alimentos como Reconhecer as transformações que fonte de energia, funções dos alimentos ocorrem no corpo humano durante as (construtores, reguladores e energéticos), diferentes etapas da vida humana origem e tipos de alimentos, bons hábitos Comparar os principais órgãos e funções alimentares, alimentos naturais e do aparelho reprodutor masculino e industrializados e conservação dos feminino, relacionando o seu alimentos amadurecimento com as mudanças Sistema respiratório ocorridas no corpo e no comportamento Sistema circulatório de meninos e meninas durante a Sistema excretor puberdade e respeitando as diferenças Conceito de saúde individuais. Relações existentes entre a saúde e Compreender a nutrição como conjunto de fatores ambientais e socioeconômicos transformações, (digestão, absorção e Higiene e hábitos saudáveis: cuidados eliminação) sofridas pelos alimentos no com o corpo, importância do sono, das corpo humano como forma de obtenção atividades físicas e da alimentação de nutrientes para o funcionamento e saudável crescimento do corpo Fatores de risco à saúde presentes no Conhecer os principais grupos de meio em que vive as formas de combatê- nutrientes que compõem os diferentes lo e /ou evitá-los alimentos e as implicações para a nossa Relação entre a falta de higiene pessoal e saúde e qualidade de vida ambiental e a aquisição de doenças por Reconhecer os diversos aspectos culturais contágio de vermes e micro-organismos que influenciam a alimentação em nosso país Compreender a respiração e o papel dos diversos órgãos e estruturas, analisando sua relação com a produção de energia e a qualidade de vida Reconhecer a importância da circulação sanguínea no transporte de nutrientes, gases e anticorpos Estabelecer relações entre saúde do corpo e a existência de defesas naturais (sistema imunológico) e estimuladas (vacinas) Compreender a excreção, discutindo o papel do suor e de seus órgãos e 171 estruturas para o equilíbrio químico do corpo e seu papel na vida do homem Compreender que a saúde é produzida nas relações com meio físico, econômico, sociocultural, identificando fatores de risco à saúde pessoal e coletiva presentes no meio em que vive Reconhecer a alimentação, a higiene pessoal e ambiental, os vínculos afetivos, a inserção social, o lazer e repouso adequado como promotores da saúde humana Compreender a necessidade de hábitos de prática de exercícios para a manutenção da saúde física e mental. Conhecer os recursos da comunidade voltados para a promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como os serviços ligados a ela 3 Terra e Universo Conhecimentos Objetivos Teorias para a origem do universo Reconhecer as teorias que tentam explicar Universo a origem do universo, o pensamento e as Sistema solar crenças do homem em diversos Sol – importância do sol para a momentos da história da humanidade manutenção da vida, diferentes posições Compreender os movimentos visíveis de do Sol durante o dia e sua relação como o corpos celestes no horizonte e seu papel tamanho das sombras na orientação espaço-temporal hoje e no Planetas passado da humanidade Relação Sol-Terra-Lua Reconhecer o Sol, os planetas e seus Terra satélites como constituintes do sistema Movimento de rotação e translação solar, e, por conseguinte, da Via Láctea. Relação entre os movimentos da Terra e o Reconhecer a importância do sol como comportamento dos seres vivos fonte de luz natural da Terra e a sua Lua importância na manutenção do equilíbrio Fases da lua do planeta Identificar os dois movimentos simultâneos 172 Eclipse solar e lunar realizados pela Terra: rotação e translação e suas influências em nossa sociedade (calendário, estações do ano e dias/ noites) Compreender que as características da Terra e o seu equilíbrio são decorrentes da integração dinâmica de diferentes aspectos (biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais) Relacionar os diferentes hábitos e comportamentos dos seres vivos e os períodos dia/ noite e estações do ano Reconhecer os ciclos da Lua (suas fases e movimentos) o eclipse lunar e solar, entendendo que decorrem na posição relativa da Terra, da Lua e do Sol 173 APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA. ROTEIRO DE ENTREVISTA Olhar dos Professores Projeto: ALFABETIZAÇÂO CIENTÍFICA NOS ANOS INICIAIS Pesquisadora: Patrícia Bastos Leonor Orientador: Prof. Dr. Sidnei Quezada Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Mauella Villar Amado Objetivo: Levantar as percepções das professoras das séries iniciais quanto à sua formação, dificuldades e anseios em relação ao ensino de Ciências. Investigar suas considerações sobre a pertinência ou não da oferta de aulas práticas experimentais para as crianças. Importante: Os dados fornecidos durante a entrevista são somente para a pesquisa. Nenhum dado pessoal será divulgado. A identidade da pessoa será codificada e mantida em sigilo. As entrevistas serão gravadas. 1) Pergunta 1. Dados pessoais e profissionais. Nome, profissão, formação (bacharel ou licenciatura). Cargo e tempo em que está no cargo. 2) Pergunta 2. Conte rapidamente a sua experiência profissional e sua vivência aqui nesta instituição de ensino. 3) Pergunta 3. Relate os desafios de lecionar Ciências nas séries iniciais. 4) Pergunta 4. Você se considera habilitado (a), em termos de formação, para ministrar estas aulas? 5) Pergunta 5. E a sua opinião, as aulas experimentais podem contribuir para uma aprendizagem significativa dos conceitos científicos? 6) Pergunta 6. Você percebe alguma evolução no desempenho acadêmico de seus alunos depois das aulas experimentais? 174 7) Pergunta 7. Quais são os entraves estruturais e epistemológicos que impedem a implementação de novas metodologias de ensino nos anos iniciais? 8) Pergunta 8. Quantas aulas de Ciências estão previstas na matriz curricular desta escola? 9) Pergunta 9. Quanto tempo de seu planejamento é destinado ao ensino de Ciências? Justifique. 10) Pergunta 10. Qual a importância do ensino de Ciências nos anos iniciais para você? 11) Pergunta 11. Em sua formação acadêmica, qual foi a carga horária destinada ao ensino de Ciências? 175 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DOS ALUNOS QUESTIONÁRIO DOS ALUNOS ROTEIRO NOME_______________________________________________ TURMA______________ Para responder a este questionário os alunos dos primeiros anos deverão assinalar um X na carinha correspondente aos seus sentimentos/percepções ou a sua avaliação. Gostou/avaliado positivamente Mais ou menos/ não foi expressivo Não gostou/avaliado negativamente 1. O que você achou/considerou das aulas de ciências desenvolvidas pela professora Patrícia e seus monitores ? 2. Cite algumas coisas importantes/ relevantes que você aprendeu. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________ 3. De qual aula você mais gostou? Observação de micro-organismos Estragando o mingau As plaquinhas de cultura de micro-organismos As leveduras e o pão caseiro Os lactobacilos e o iogurte caseiro Visita à Fazenda Rico Caipira A Horta Educativa Investigação dos seres vivos da horta A germinação da semente 176 Os experimentos de investigação sobre a vida das plantas A cadeia alimentar de massinha 4. De qual atividade você gostou mais: Fantoche Cláudio Todo Errado Horta educativa Jogo dos anticorpos Contação de histórias Experimentos Aulas no laboratório de informática O jogo da trilha da horta O jogo da higiene 5. Como você avalia a atuação dos monitores? 6. Para você, aprender Ciências é importante? 177 APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PAIS E RESPONSÁVEIS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ASSINATURA DO VOLUNTÁRIO PARTICIPANTE - Pais e Responsáveis AUTORIZAÇÃO PARA ENTREVISTA E DIVULGAÇÃO DE IMAGEM PARA OS PAIS E RESPONSÁVEIS DOS ALUNOS DA EMEF SUZETE CUENDET TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS PAIS E/OU RESPONSÁVEIS Eu,______________________________________________, portador da carteira de identidade de n.º ________________________________, autorizo a professora Patrícia Bastos Leonor, pesquisadora do programa Educimat, Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática, Ifes, Campus Vitória, cujo trabalho se intitula: “ENSINO DE POR INVESTIGAÇÃO NOS ANOS INICIAIS: ANÁLISE DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA”, a realizar entrevista gravada em vídeo ou áudio e utilizar imagens de meu filho(a) ___________________________________________________________________ _________________________, do 1.º ano____ da EMEF Suzete Cuendet. Declaro estar ciente de que se trata de uma pesquisa sobre a importância das aulas práticas experimentais e lúdicas (prazerosas, divertidas) de Ciências nos anos iniciais para a formação acadêmica dos alunos e que o material citado será divulgado apenas com fins científicos, na área de Ciência e ensino, não havendo identificação, nem exposição de conteúdos particulares que ofereçam riscos ou prejuízos ao (à) aluno(a). O material levantado por esta pesquisa ficará em poder da pesquisadora, em envelope lacrado, pelo período de cinco (5) anos. Fui informado de que, a qualquer momento, poderei desistir da participação do meu filho (a) neste trabalho. A pesquisadora em questão poderá ser encontrada na escola no turno matutino, e às segundas-feiras, no vespertino, e ainda nos telefones: (27) 3339-6814 (residencial) e (27) 9246-7317 (celular), além do [email protected] para quaisquer esclarecimentos. Vitória,_____de ___________________ de 2012. Assinatura do pai e/ou responsável: endereço de e-mail: 178 APÊNDICE E – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSORES Idade: ____________ R.G. ________________ Eu, __________________________________, Idade: _____abaixo assinado, declaro ter pleno conhecimento do que se segue: 1) Fui informado, de forma clara e objetiva, a respeito dessa investigação, um trabalho de dissertação de mestrado com o título “ENSINO DE POR INVESTIGAÇÃO NOS ANOS INICIAIS: ANÁLISE DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA”; 2) Sei que, nesta pesquisa, serão realizadas observações das minhas aulas, entrevistas, fotografias e, que poderão ser solicitados materiais, como planos de aula, planos de cursos e registros de atividades realizadas em sala de aula; 3) Poderei saber, por meio desta pesquisa, como foram “tratados” os dados que dizem respeito à minha pessoa; 4) Sei que o pesquisador manterá, em caráter confidencial, todas as respostas que comprometam a minha privacidade; 5) Caso queira, poderei receber informações atualizadas durante o estudo, ainda que isso possa afetar a minha vontade em continuar dele participando; 6) Essas informações poderão ser obtidas por meio de contato com a Pesquisadora Patrícia Bastos Leonor, mestranda do Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Educimat, Ifes, Campus Vitória; 7) Foi-me esclarecido que o resultado da pesquisa somente será divulgado como objetivo científico, mantendo a minha identidade em sigilo; 8) Quaisquer outras informações adicionais que julgar importantes para a compreensão do desenvolvimento da pesquisa e saber sobre minha participação poderão ser obtidas com a pesquisadora Patrícia Bastos Leonor; 9) Recebo a garantia de um contato em longo prazo com a pesquisadora, caso seja necessário, por meio do número de telefone e e-mail de Patrícia Bastos Leonor, (27)9246-7317 (celular) e email: [email protected]. Declaro, ainda, que recebi cópia do presente Termo de Consentimento. Vitória, ____ de __________ de 2012. Pesquisador: Patrícia Bastos Leonor Sujeito participante da pesquisa:________________________________________ Testemunhas: ._____________________________________________________ 179 APÊNDICE F – SEQUÊNCIA DIDÁTICA 1 Sequência Didática 1 (SD) Título PEQUENINOS SERES VIVOS Público- Alvo Os 1.º anos do turno vespertino da Escola Municipal de Ensino Fundamental Suzete Cuendet, localizada na Rua Otto ramos, n.º 69, Maruípe, Vitória, Espírito Santo Problematização Os alunos de seis anos de idade chegam ao Ensino Fundamental com algumas noções de higiene e de “micróbios” ou “germes” que estão sempre associados à sujeira .Mas que seres vivos são esses? Qual a sua aparência? Onde podemos encontrá-los? São todos patogênicos? Que doenças transmitem? Como podemos nos prevenir? Quais papéis eles desempenham no ambiente? Objetivos Gerais -Proporcionar discussão sobre os microrganismos, hábitos de higiene e saúde em gera. -Favorecer o conhecimento dos micro-organismos e seu habitat, sua importância no ambiente, na saúde, na economia -Oportunizar o conhecimento de pelo menos uma doença causada por cada grupo de micro-organismos e os métodos de prevenção Conteúdos e Métodos Aula 1 2 Objetivos Específicos Conteúdos Dinâmicas -Levantar os conhecimentos prévios sobre higiene, microrganismos e doenças -Conhecer alguns microorganismos por meio de microscopia ótica/de luz -Hábitos de higiene -Os microrganismos e doenças relacionadas com a falta de hábitos de higiene -Seres microscópicos e o microscópio -Problematização: contação de história, do livro “Binho”, de Magna Diniz Matos Questões: Quais micróbios conhecemos? Os micróbios são iguais ao Binho? Por que devemos adotar hábitos de higiene? O que acontece se um microorganismo invadir o nosso corpo? Onde vivem os micro-organismos ? -Experimento-teste: microscopia de uma gota de água suja -Esquemas/desenhos -Elaboração de relatórios texto coletivo com a professora regente -Rever conteúdos da -O habitat e aparência dos -Conversa com os alunos sobre a aula anterior/promover microrganismos aula anterior/revisão da história, dos discussão coletiva sobre hábitos de higiene discutidos, dos a aprendizagem da aula micro-organismos observados e sua anterior aparência, o que aprenderam -Analisar mais amostras -Levantar com os alunos os locais de água/terra onde é possível encontrar micro-Investigar as organismos -Experimento: possibilidades de Cultura de micro-organismos Divisão existência de microdos alunos em quatro grupos para 180 organismos no ambiente escolar/investigar onde vivem os microorganismos -Promover reflexão e fixação sobre a aprendizagem da aquisição de hábitos de higiene e microorganismos -Analisar o crescimento de culturas de fungos e bactérias, coletados na privada, no lixo, no caderno, na mesa, nas mãos, na boca, no ouvido, em moedas, maçaneta. Entender a ubiquidade dos microorganismos e refletir sobre a higienização do ambiente escolar 3 -Conhecer os três pilares da saúde: higiene, boa alimentação e atividades físicas -Conhecer os grupos de micro-organismos e reconhecendo que não são todos iguais -Conhecer algumas doenças causadas por eles e os métodos de prevenção relacionados 4 5 coleta, semeadura em placas de petri com meio de cultura Ágar nutriente As culturas serão mantidas em estufa programada para 26ºC -Relatórios. -Onde vivem os microorganismos -Condições para crescimento/desenvolvimento -. Exibição do vídeo “Ratinho de micro-organismos tomando banho” Castelo Rá-tim-bum e da música “ Lavar as mãos” de -Os fungos e as bactérias Arnaldo Antunes e discussão dos -Importância da limpeza itens sobre higiene posteriormente adequada dos ambientes -Análise e discussão dos resultados onde vivemos das culturas realizadas na aula anterior -Produção de desenhos/esquemas -Escrita coletiva dos nomes/palavras dos micro-organismos observados: FUNGOS/BACTÉRIAS -Os vírus /dengue -As bactérias/lactobacilos -Os fungos/micoses e mofos -Os protozoários/ paramécio; -Métodos de prevenção -Explanação por meio de apresentação em slides dos principais grupos de microorganismos e algumas doenças; métodos de prevenção (tomar banho, tomar água filtrada, limpar a casa, não andar descalço, tomar vacina etc.) -Montagem do experimento do mingau. Qual dos copinhos de mingau vai estragar primeiro? Registrar as hipóteses no caderno por meio de desenhos -Teatro 6 - Estabelecer relações entre micro-organismos , alimentos e doenças _Entender as formas de conservação dos alimentos -Conhecer a intoxicação alimentar -Discutir a conservação dos alimentos em nossas casas -Técnicas de conservação dos alimentos. -Receita de mingau de fantoche, com o personagem “Cláudio Todo Errado”.Enfoque: água de torneira, comida estragada, banho etc. As crianças devem aplicar os conhecimentos para explicar a importância dos hábitos de higiene para o personagem -Análise dos resultados do experimento do mingau/copinho 1 fora da geladeira; 2 dentro da geladeira; 3 fechado e fora da geladeira; 4 com vinagre; 5 com óleo -Degustação de mingau 181 -Escrita da receita do mingau -Desenhos e relatórios 7 8 e 9 10 -Entender o princípio e a importância da vacinação -As vacinas. -Principais doenças prevenidas por vacinação -Conhecer microorganismos de importância econômica para o homem -Conhecer as leveduras -Entender processo artesanal de fabrico de pão e suas relações com o processo de fermentação -A importância econômica dos fungos e das bactérias -As leveduras e a fermentação. -Receita de pão caseiro -Entender / conhecer a fermentação do pão -Relacionar as leveduras com o crescimento /fermentação -A fermentação leveduras e -Contação de história do livro “Papai o que é vacina?” Mendes Cardoso Jogo dos anticorpos de Leonardo -Montar uma mesa de interesse com pães, queijos e iogurtes e pedir que os alunos associem os produtos ao tema estudado Questões:Todo micro-organismos é patogênico? Como fazemos pão? Quais são os ingredientes? Para que servem cada ingrediente? O que é fermento biológico? -Visualização das leveduras ao microscópio -Oficina de pão caseiro: Observação desde a mistura, sova, crescimento, receita as -Experimento-teste: A fermentação alcoólica/os balões e a mistura de trigo, açúcar, fermento, água morna e gelada. Observação da liberação de gás carbônico. Questões: Por que o pão cresce?Por que a bolinha sobe? Qual é o papel das leveduras neste processo? -Análise e discussão dos resultados. -Relatórios -Esquemas 11 -Conhecer os -Os lactobacilos e sua lactobacilos importância -Conhecer a -A alimentação saudável fermentação láctea -Receita do iogurte caseiro -Promover a aquisição de uma alimentação saudável Oficina de iogurte caseiro, através da qual os alunos observarão a fermentação láctea.Eles também decidirão como dar sabor ao iogurte: mel, suco artificial em pó, polpa de frutas congeladas etc. -Degustação de iogurte já pronto -Escrita da receita -Relatórios 182 12 e 13 -Conhecer a produção de leite, do gado leiteiro, produção de iogurte e queijo -Conhecer a produção orgânica de alimentos -Conhecer a adubação orgânica _Participar de vivências típicas do meio rural -Entender as relações entre tecnologia, manipulação de seres vivos e produção de alimentos -Produção de laticínios industrializados. -Fauna e flora local. -A zona rural. -Aplicação do conhecimento: Visita à fazenda Rico Caipira em Barra do Jucu - Discussão coletiva sobre a vivência e aprendizagens decorrentes -Produção de relatórios e desenhos Avaliação Análise da produção textual, desenhos esquemas e relatos orais dos alunos Referencial Bibliográfico Livros didáticos de ciências dos anos iniciais, livros paradidáticos sobre o tema higiene e saúde Bibliografia consultada Livros didáticos dos anos iniciais, jornais, revista ciência hoje das crianças 183 APÊNDICE G – SEQUÊNCIA DIDÁTICA 2 Sequência Didática 2 (SD) Título A HORTA EDUCATIVA: VIM VER A VIDA Público-Alvo Os 1º anos do turno vespertino da Escola Municipal de Ensino Fundamental Suzete Cuendet, localizada na Rua Otto ramos, nº 69, Maruípe, Vitória, Espírito Santo Problematização Após conhecer alguns tipos de micro-organismos e outros seres vivos anteriormente à pesquisa, pela observação da Horta Educativa podemos discutir a presença de pequenos animais e dos vegetais. Quais seres vivos encontramos aqui? Existem micro-organismos? Se existem, qual a sua importância neste lugar? E as plantas, são seres vivos? Que tipo de plantas são cultivadas numa horta? Objetivos Gerais: -Proporcionar discussão sobre os seres vivos em geral -Conhecer o que eles já sabem sobre os seres vivos e suas características -Compreender os objetivos de uma Horta Educativa -Conhecer os seres vivos que circunstancialmente aparecem na horta -Conhecer alguns cultivares e sua importância nutricional: alface, tomate, cebolinha, couve, almeirão -Proporcionar vivência sensorial como toque da terra, plantio, regar, cuidar etc. Conhecer as interações dos seres vivos entre si e com o meio: predatismo, parasitismo e competição -Compreender a cadeia alimentar: relações tróficas -Reconhecer as plantas como seres vivos -Conhecer as partes das plantas e suas características principais (fanerógamas) Conteúdos e Métodos Aula 1 2e3 Objetivos Específicos Conteúdos Dinâmicas -Discutir/levantar as -Os seres vivos e suas PROBLEMATIZAÇÃO: -“Vocês são bons investigadores?”. características dos seres características vivos Os alunos deverão procurar seres -Levantar o que os alunos vivos ou vestígios de seres vivos em entendem por seres vivos e visita monitorada à Horta Educativa, se enquadram os vegetais em grupos. As crianças estarão nesta categoria munidas de lupas -Entender a importância da -Na volta ao laboratório, deverão horta educativa realizar registros/esquemas Questões: Quais seres vivos -Investigar os seres vivos encontramos ali? Do que eles encontrados e induzir a uma necessitam para viver? Existem classificação, análise da morfologia micro-organismos ali? Que papel desempenham? -Estímulo sensorial e experimento descritivo, contato com a terra, textura e forma das folhas -Conhecer/fixar o ciclo de vida das lagartas da couve -Entender a metamorfose como uma parte do ciclo da _ O ciclo de vida da -ORGANIZAÇÃO DO lagarta da couve CONHECIMENTO -Aula expositiva dialogada por meio 184 de slides: O ciclo da lagarta da couve -Áudio “A primavera da lagarta” e a música “A borboleta e a lagarta” do grupo Palavra cantada -Relatórios e discutir sobre os livrinhos que serão produzidos vida de outros animais -Relacionar uma história da literatura com os conteúdos científicos -Estimular a audição e a imaginação 4e5 6 -Conhecer os invertebrados e alguns de seus representantes - Observar e conhecer os pequenos seres vivos da horta ou de um jardim, um micro ecossistema -Compreender a importância desses pequenos seres na cadeia alimentar/no meio ambiente Os invertebrados: insetos, anelídeos, moluscos -A biodiversidade -As relações entre seres vivos entre si e com o meio ambiente -Fatores bióticos e abióticos -Investigar de forma mais criteriosa/técnica os seres vivos encontrados: morfologia, grupo etc. -Promover desenvolvimento da oralidade - Desenvolver esquemas descritivos dos animais Os invertebrados: insetos, anelídeos, moluscos: habitat, corpo, locomoção, alimentação, reprodução e características especiais -Formigas, caracóis, joaninhas, pulgões - Investigar os conhecimentos sobre o ciclo de vida das plantas e suas características como seres vivos -A morfologia/características das plantas -Cuidados com o solo e com os cultivares -As características das plantas como seres vivos -Analisar os resultados dos experimentos da aula anterior -Identificar as plantas na categoria de seres vivos -A nutrição das plantas -A fotossíntese e o papel -Análise e discussão dos resultados do Sol dos experimentos em suas -O papel da raiz variáveis: água, luz, adubo, -A regeneração presença ou ausência de raiz -Produção de registros escritos 7 8 - Exibição do filme Microcosmo. -Esquemas/desenhos dos episódios que consideraram mais interessantes. -Análise de fichas/descritivas explicativas sobre joaninhas, pulgões, minhocas, formigas e caracol por grupos; após leitura e explanação dos monitores, cada grupo socializará os conhecimentos adquiridos e exporá seus esquemas/desenhos para a classe -Visita à horta para exercer cuidados Questões: Como essas plantas chegaram aqui? Como é o corpo das plantas? Qual a função de cada parte? As plantas são seres vivos? As crianças elaborarão os experimentos que levarão à resolução dos problemas levantados. Registrar e dar prosseguimento por meio da execução dos experimentos propostos 185 -Investigar as sementes -Investigar o processo de germinação -A semente - As partes/o corpo das plantas -Técnicas de semeadura -Análise das sementes: As sementes são iguais? Analisar cor, tamanho, textura -Semeadura de couve/alface/tomate, feijão e milho na horta O que acontece com a semente embaixo da terra? Experimento de germinação de feijão, couve, alface, com água e sem água. Comparar a germinação no copinho e embaixo da terra Registros escritos e produção de esquemas -Condições para germinação -A polinização - A importância da água -A importância da luz Duas atividades alternadas: -Análise dos resultados do experimento da aula anterior Quem germinou? Por quê? A quais conclusões chegamos? - Aula na horta educativa em grupos monitorados: -O que há de novo? Observar pragas, desenvolvimento de mudas etc. Podem regar e escarificar. Explorar a presença de flores e insetos associados Estímulo sensorial e experimento descritivo, contato com a terra, textura e forma das folhas 9 10 Identificar/reconhecer/analisar os resultados dos experimentos propostos. -Analisar a germinação das sementes -Exercer cuidados com as hortaliças -Associar a presença dos Insetos à polinização -Entender que as plantas precisam de água, do solo e da luz solar para viver 11 12 -Conhecer a cadeia alimentar -A cadeia alimentar -Montar a cadeia alimentar da horta: Ex.: couve, lagarta, vespa, bem-te-vi -Entender que os seres vivos estão relacionados entre si no meio - Conhecer a importância da -A raiz raiz para as plantas -A solubilidade da água -Compreender a importância da água para os vegetais e a propriedade envolvida: solubilidade -Agricultura orgânica -Controle de pragas 13 -Montar cadeias alimentares da horta com massinha de modelar em grupos -Realização de experimento investigativo sobre a solubilidade da água e sua relação com a nutrição das plantas -Agricultura orgânica -Controle de pragas -Os agrotóxicos -Alternativas sustentáveis -Visita à horta para cuidar das mudas e plantas adultas, retirando de cultivo pragas, adubando 186 14 _Aplicar o jogo trilha da horta -Avaliar os conhecimentos adquiridos sobre a horta educativa durante sua execução Expor e divulgar os conhecimentos aprendidos 15 -A horta educativa: os vegetais, a agricultura orgânica, cuidados com os cultivares e com o -Aplicação do jogo da trilha da horta solo Os vegetais e seu ciclo de vida e características gerais -MOSTRA CULTURAL: Livrinho da lagarta da couve Apresentação do teatro vida de lagarta Distribuição de mudas e sementes 187 APÊNDICE H – AUTORIZAÇÃO DO GESTOR DA EMEF SUZETE CUENDET 188 APÊNDICE I – PRODUÇÃO ACADÊMICA REALIZADA AO LONGO DA PESQUISA Trabalhos completos publicados em anais de congressos GRIPPA, Helania Mara; LEONOR, Patrícia Bastos; AMADO, Manuella Villar; LEITE, Sidnei Quezada Meireles. Uma proposta de sequência didática para contextualizar o tema Bioética no ensino fundamental dentro de uma perspectiva CTSA. In: IV Encontro Ibero-Americano de Pesquisa em Ensino de Ciências. Porto Alegre, 2012. p. 1-12. MULINE, Leonardo Salvalaio; LEONOR, Patrícia Bastos; GOMES, Adriane Gonçalves; CAMPOS, Carlos Rodrigues Pires; GRIPPA, Helania Mara; LEITE, Sidnei Quezada Meireles. O conceito de biotecnologia nos livros didáticos de ciências no ensino fundamental das séries fundamentais. In: IV Encontro IberoAmericano de Pesquisa em Ensino de Ciências. Porto Alegre, 2012. p. 1-12. LEONOR, Patrícia Bastos; GRIPPA, Helania Mara; AMADO, Manuella Villar; LEITE, Sidnei Quezada Meireles. Uma prova de amor: o uso do cinema como proposta pedagógica para contextualizar o ensino de genética no ensino fundamental. In: III Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, 2012, Ponta Grossa. III Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia. p. 1-10. LEONOR, Patrícia Bastos; GRIPPA, Helania Mara; AMADO, Manuella Villar; LEITE, Sidnei Quezada Meireles. Revolução genômica: uma sequência didática para contextualizar o ensino de genética no ensino fundamental dentro de uma perspectiva CTSA. In: I JECIM Jornada Científica de Educação em Ciências e Matemática, 2012, Vitória. JECIM. Vitória: IFES, 2012. LEONOR, Patrícia Bastos; LEITE, Sidnei Quezada Meireles. Sequência didática para debater o tema solo e horta nos anos iniciais do ensino fundamental: uma 189 abordagem sociocultural. In: I JECIM Jornada Científica de Educação em Ciências e Matemática, 2012, Vitória. JECIM. Vitória: IFES, 2012. Resumos publicados em anais de congressos LEONOR, Patrícia Bastos. Análise das práticas pedagógicas realizadas na sala de aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental no município de Vitória do ES. In: I SECIM Seminário de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática, 2011, Vitória. SECIM. Vitória: IFES, 2011. Participação em eventos, congressos, exposições, feiras e palestras LEONOR, Patrícia Bastos. Minicurso com o tema Aspectos metodológicos na pesquisa em ensino de ciências. In: III Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, 2012, Ponta Grossa. III Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, 2012. p. 1-9. Participação em eventos técnico-científicos: Semana Científica de Ciências e Tecnologia- SEDU (convidada- avaliadora de trabalhos), 2012. II SECIM - Seminário de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática. Vitória. 2012. (Seminário). III Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia. Ponta Grossa. 2012. (Simpósio). IV Encontro Ibero-Americano de Pesquisa em Ensino de Ciências. Porto Alegre. 2012. (Encontro). 190 I JECIM Jornada Científica de Educação em Ciências e Matemática. Vitória. 2012. (Outra). I SECIM- Seminário de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática. Vitória. 2011. (Seminário).