O demolidor de candidatos
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O demolidor de candidatos
'J01det ieMPMeMealelift)¢ 1{¢-. + 1 r ? A ` O demolidor d e candidatos Paine l DeciYo de Ulysses Phi fnt.* drab psvo•I d Ulm nldrrlrM • ralepb, me.m, á Ilsl•er VoYpb Srprtl e .VS) d Cavrb . A.6b Iláe•nre á P.M e• sgl Pa, ma e sá•durm .•1166dD . bm.■ Jifertnl dr w.• ' amm l =be. Avlblb Rrilb IPIm 6 dderáru.bCmL. ¢ Pessimismo de Plinio 0 ápUd Plivio d Amid. S•mpb iPTSPI pmiu um rmWl p o rsWWO d voiveb ác•WrMKa o.rv mura mfornu •pr46 . "V•mm• lr o V11e vuvm nvemo• : ¢¢ Sa1án 1 mm Pl moveb • wglidd. do •o pdlm", tiw. i pore SOCioIOQiWsd4.nre d dlmdr o pivc4 rolam• opera mmm em vm. eodr Pr 11do Crdmo PIIDP SP) um11 aviem um erpmmio Whom ror•i.vud.i..¢gl e }a pmuae ¢ ! um gdelenyddem roprned ~ o dlvdimmp mlmweq.ev m Declinaram Avim d Rabno P• . 51CMea lande per Pub !1•M pee s possuo doppm poll?•, rwv b o amprs/b Aen,0 S.fl .n e Pd•rd RsM• Amrvá. pmlánie d R•6•á V•brsdSlo •Pub . Agilidade Au erl JWO s web.. 6 dine p.m, o•lem . 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Invicto no ringue da política, ele já enfrentou vários, indiferente ao tamanho, peso ou categoria de cada um : candidatos eleitorais (sua preferência), a caciques partidários, a burocratas de carreira, candidatos a manchete de jornal ou a simples demagogos. O golpe decisivo não muda nunca, já que agora não foi preciso mais do que a notícia direta, seca, curta, grossa, apartidária, honesta, desinteressada e objetiva para prostrar na Iona do descrédito quem se aventurou a desafiar a bandeira do jornalismo independente que ele abraçou há 14 anos e, pelo visto, ndo vai 92 desabraçar nunca . Boris Casoy é seu nome e seu aparecimento deve-se à unido de um casal de judeus russos, Isaac e Raiza, que imigraram para o Brasil em 28 e o concebera m em 40. Assim, Boris veio à luz em fevereiro de 41 e pouco depois foi condenado por uma cruel poliomielite, que o impedi u de andar até os 9 anos . Venceu-a espetacularmente, da mesma forma que ndo s e abateu com o empobrecimento repentin o do pai . Forçado a trabalhar prematura mente aos 15 anos, tentou e conseguiu, imagine!, uma vaga de locutor na antig a Rádio Piratininga, levado por uma inexplicável devoção ao veiculo . Passou por muitos deles, foi assessor de imprensa de secretário de Estado, prefeito e ministro , até que o destino o apresentou num dia de 71 ao sr. Otávio Frias, capo do Grupo Fo - lhas . O empresário literalmente se encantou . Três anos depois, lá estava Boris como editor de Política do matutino, se m nunca ter trabalhado em jornal antes . Fo i editor-chefe, editor-responsável, cansou, parou, voltou e hoje é editor do Painel, a coluna política mais lida de Sao Paulo, e um dos principais repórteres politicos do Pais. Entrevistá-lo, junto com Manoe l Canabarro e Paulo Markun, foi um agradável exercício dialético . Ele assimila muito bem qualquer provocação, e procur a maliciosamente o clinch verbal quando se sente acuado, para, em seguida, deixar grogue o interlocutor com rápidas e contundentes opinióes, a característica mais marcante de seu estilo . DANTE MATTIUSSI IMPRENSA - MAIO DE 1988 Paine l Imprensa - Em 1985, no debate d a TV Globo com os candidatos a pre- feito de São Paulo, você fez uma per gunta ao candidato do PT, Eduard o Suplicy, e uma outra ao candidato d o PMDB, Fernando Henrique Cardoso, então favorito nas pesquisas, qu e causaram enorme repercussão e abalaram definitivamente a candidatur a deles . Nós gostaríamos de começar essa entrevista com as mesmas perguntas : Quanto custa um pãozinho ? Você acredita em Deus ? Boris - Eu acredito em Deus . E não sei quanto custa um pãozinho . Também não bato no peito dizendo que sou um representante da periferia e que eu conheço profundamente o s problemas do povo . Não so u demagogo . Imprensa - Até que ponto, com es sa história do pãozinho e de Deus, re citada em todas as ocasiões nas quai s se fala do resultado eleitoral daquel a eleição, você acha que agiu correta mente ao fazer aquelas perguntas ? Boris - Não sei se agi corretamente . Tenho certeza absoluta de que ag i jornalisticamente . A pergunta de Deus tinha dois fundamentos, produto de duas vertentes : uma era, de certa maneira, perscrutar a posição ideológica do Fernando Henrique, que n a minha opinião escamoteava durante a campanha . Ele não se definia ideologicamente com clareza . Outra era m as acusações que vinham de setores li gados ao candidato Jânio Quadros , de que Fernando Henrique era ateu e comunista . Acho que era uma pergunta esclarecedora . Não sabia que i a dar no que deu . Era uma pergunt a importante, embora fora do s padrões . Não acho que atingiu a intimidade dele, mas apenas o campo da s crenças e do pensamento . Há dias, a revista francesa Le Point fez a mesma pergunta ao Chirac e ao Mitterrand . Imprensa - Você conseguiu as respostas que queria com aquelas perguntas, isto é, você conseguiu o perfi l ideológico do Fernando Henrique ? Boris - Não, ele não respondeu . Ele se perdeu . A resposta não daria o per fil ideológico completo, apenas u m pequeno traço . Mas importante n o Brasil . . . Imprensa - Como você se defin e ideologicamente ? Boris - E difícil definir alguém com precisão . Me considero um libeIMPRENSA - MAIO DE 1988 O jornalism o "Jornalismo é informação. Eu não faç o jornalismo para mudar a sociedade . " As pergunta s A justiça "Minhas perguntas estão mais para o bar d a esquina do que para a Academia ou o Cebrap . " "Eu procuro me comporta r seguindo uma cois a que não existe chamada justiça." ral . Dizem que sou de direita, ma s não me considero um homem de direita . Não me identifico com os clichês da direita, nem em nível internacional . Longe disso . Acredito na iniciati va privada, sou contra a socializaçã o dos meios de produção . Sou pela li berdade total do ser humano, pela li berdade de expressão e contra a censura . Não gosto do radicalismo da direita . E não gosto do radicalismo d e esquerda . Muitas vezes sou identificado com a direita porque tive uma vid a de política estudantil vista como d e direita e que me marcou muito . Ma s os fatos, a minha vida profissional confirmam que sou liberal . Eu me considero um liberal . listas . Mas havia um grau acentuad o de neurose, e não era possível . As coi sas que eu tinha na cabeça eram mui to maiores . E comecei a ter problemas de estafa . Aí eu saí . Não agüentei . Saí do cargo e do jornal e fique i seis meses como diretor da Escola d e Comunicação da FAAP (Faculdad e Armando Alvares Penteado) . Até se r convidado para voltar . Imprensa - Você foi convidado a assumir a editoria de Política na Folha de S . Paulo em 1974, trazendo co mo experiência apenas o fato de ter sido repórter e locutor de rádio e assessor de Imprensa . Você se considerava preparado para o cargo ? Boris - Quando fui convidado par a editor de política, sim ; quando foi para editor-chefe, tenho dúvidas . Imprensa - Como foi sua experiên cia ao assumir pela primeira vez o cargo de editor-chefe da Folha de S . Paulo ? Boris - Ser editor-chefe de um jornal como a Folha é ser administrado r do caos . Eu não estava psicologicamente preparado para isso . Eu queri a as coisas muito certas, funcionand o muito rápido e com seres humano s sofisticados, como são os bons jorna- Imprensa - Como era o seu relacionamento com o Claudio Abramo, ex diretor da Folha de S . Paulo, já fale cido, uma vez que vocês pensava m absolutamente diferente ? Boris - Nós pensávamos absolutamente igual na concepção do jornal . Era um relacionamento fraternal . Tanto que nós nunca brigamos . A gente se dava bem, embora ideologicamente opostos . Havia identificações de caráter . Pelo menos, ele dizia isso . Imprensa - Como você analisa o afastamento do Claudio Abramo d a direção da Folha de S. Paulo, em 1977 ? Boris - Não vou falar do afasta mento do Claudio, vou falar da parte que eu vi . Eu estava de férias em Ara xá, quando recebi um telefonema . Era o Otávio Frias, o pai : "Boris, e u estou tendo alguns problemas e gostaria de conversar com você . Dá para você vir com certa rapidez?" . Eram cinco horas da tarde, mais ou menos . Eu disse tudo bem, eu janto, pego o meu carro e vou . Lá pelas nove d a manhã de amanhã eu estou aí . Mas 93 ele disse não : "Estou mandando um avião" . Aí concluí que o negócio er a totalmente grave . Cheguei na Folh a às oito e pouco da noite . Entrei na sa la do Frias . Ele, o Claudio Abramo, o Ruy Lopes, o Alberto Dines estavam lá, com umas caras muito particulares . Assim que entrei, o Frias me puxou para uma sala ao lado e disse : "Olha, eu fui ameaçado, o jornal está correndo um perigo muito grande , nós vamos fazer modificações e eu gostaria que você assumisse o carg o de editor-chefe temporariamente . Salva o jornal . Você precisa assumir , ó eu te peço" . Eu fiquei perplexo . E disse : "Olha, se você precisa, eu acei - '< to, mas antes quero conversar com o Claudio" . Aí o Frias me contou que recebeu uma ameaça grave do general Hugo de Abreu, então chefe da Casa "Eu acho o Sarney u m Militar, um telefonema violento, e soube através de pessoas amigas qu e democrata consciente . havia se desencadeado no govern o E essa justiça não lh e um processo que visava de algum a tem sido feita . " maneira comprometer ou punir o jornal . E o Frias se sentia em risco . Ele e a família dele . Eu fiquei muito emoImprensa - Você publicaria a mescionado . Fui conversar com o Clauma coluna hoje ? dio, e ele disse : "Olha, meu caro, asBoris - Tranqüilamente . Não é na suma . Você tem que assumir" . Aí , da ofensiva . Bem, no dia seguinte à aceitei . prisão do Diaféria, a Folha publico u o espaço da coluna em branco, e aí Imprensa - Gostaria que você explihouve o telefonema do Hugo d e casse com detalhes o motivo dessa cri Abreu para o Frias . . . se governo-Folha de S. Paulo . Boris - O caso todo foi deflagrad o Imprensa - O que levou o Frias a por causa de uma crônica do Lourenescolher você para tomar conta d o ço Diaféria publicada na Semana d a jornal, ou seja, a achar que, você n a Pátria . Uma coluna ingênua, que ele direção, a Folha de S. Paulo estaria mostrou antes para várias pessoas n a segura ? redação . Reportava-se à notícia de Bons - Essa é a pergunta que voc ê um sargento do Exército que havia s e tem que fazer ao Frias . Mas eu ach o atirado em um poço de ariranhas n o que o Frias sabia que eu era um hoZoológico de Brasília, para salvar u m mem com bom relacionamento em to menino que havia caído lá . O Diafédas as áreas, coisa que o Claudio nã o ria fazia uma comparação entre a estinha, nem na área militar nem na go tátua do Duque de Caxias, que fic a vernamental . Não fui sua primeir a na praça Princesa Isabel, aqui em Sã o opção . Ele pensou no Alexandr e Paulo, e o sargento, dizendo que a esGambirásio, que não pôde assumi r pada da estátua estava "enferrujad a por ser brasileiro naturalizado . no coração do povo", que mijava ao s pés da estátua, que não tinha mai s Imprensa - Qual era a opinião d o respeito pela estátua . Quando a coluClaudio Abramo sobre este episódio? na foi publicada, o general Silvio FroBoris - O Cláudio achava que houta, então ministro do Exército, acho u ve um complô do regime militar par a o texto ofensivo, decretou a prisão d o derrubá-lo . Ele morreu pensando isLourenço Diaféria e causou toda a so . crise . Na verdade, o general Frota er a candidato à Presidência da República e estava interessado na conturbação . Imprensa - Faça uma comparação Então, o Silvio Frota desencadeo u entre a redação da Folha de S . Paulo uma tempestade e faturou a defesa d a daquele tempo, composta de grandes honra do Exército . e experientes jornalistas, e a Folha d e hoje, composta na maioria por jornaImprensa - Você acha que a colun a listas jovens . era ofensiva ao Exército ? Boris - Eu não posso fazer um a Bons - Não . Absolutamente não . comparação porque a comparação é Sarney (I) 96 Paine l Sarney (II ) "O que falta ao president e é ousadia. De vez em quando dar um soco na mesa. . . " Sarney (III) "Sempre que eu ligo o Sarney atende . Ele sabe que quando e u ligo é porque é sério. " cruel . O fato é que a redação de hoj e é do Otávio (Otávio Frias Filho) . É diferente . Ele investiu em gente que tem potencial de evolução . Gente nova, sem vícios . Se a idéia der cert o com essa juventude, potencialment e muito interessante, eles serão muit o provavelmente melhores do que noss a geração . Eu acredito que dê certo . O problema hoje é a inexperiência . Mas eles vestem a camisa da Folha muito mais . Imprensa - A Folha de S . Paulo é um jornal melhor do que O Estado d e S . Paulo ? Boris - É um jornal melhor . Imprensa - Por quê ? Boris - Porque a Folha tem subido muito e o Estado tem caído . Eu acho que a Folha é mais moderna . A Folh a tem algumas virtudes em relação a o Estado muito fortes, por ser um jornal mais aberto, que admite outra s opiniões . Eu respeito o Estado, ele é um grande jornal, mas neste instant e a Folha é melhor . Tanto melhor que o Estado está trocando de direção, está mexendo no jornal . O problema é qu e o Estado não ousa, o jornal não ousa graficamente, não ousa na reporta gem . Ele se acomodou no topo da li derança . Manteve o mesmo jornal . O mundo mudou, e o Estado não mu dou . Não mudou graficamente, a s matérias são muito vinculadas à parte editorial . Imprensa -'Qual a comparação qu e você faz entre o Otávio Frias pai e o filho ? IMPRENSA - MAIO DE 1988 Boris - São muito inteligentes . Sã o duas inteligências fora do comum , absolutamente fora do comum . Uma inteligência voltada para o empreendimento, que é a do pai . Um home m corajoso, criativo e ousado . E outr a voltada para o intelecto. Painel Imprensa - Qual dos dois é mai s jornalista ? Boris - Claro que é o Otávio pai , embora ele negue que seja . Ele é e nã o sabe . O pai é muito mais jornalista . E o melhor jornalista que eu conheço . Ele acopla sua visão jornalística à d e empresário . Um empresário corajos o e ousado . O Frias é um homem de 7 6 anos que se renova diariamente . Imprensa - O Otávio filho seria u m tipo de jornalista mais . . . Boris - Ele, acima de jornalista, é intelectual . Mas é um grande jornalista . Vive na Folha desde criança ; Ao s 15 anos já escrevia editoriais . E u m profissional brilhante . Imprensa - Você foi assessor d e prefeito, de ministro . Você chegou a subornar algum jornalista ? Boris - Nunca . Nunca subornei . Imprensa - Mas você teve conheci mento de casos de suborno a jornalistas . . . Boris - Tive . Mas já como editorresponsável da Folha e não como assessor . Não adianta perguntar, poi s não vou citar nomes . O que gostari a de dizer é que condeno um tipo de comportamento como, por exemplo , o do jornalista político que é funcionário público . Isso eu não chamari a de corrupção, eu chamaria de um jornalista não-correto . Imprensa - Você já recebeu algum a tentativa de suborno ? Boris - Já, quando era assessor do prefeito Figueiredo Ferraz . Com o jornalista da Folha, nunca . Foram duas vezes : a primeira, de um empresário que veio pedir que eu fiscalizas se junto com o prefeito uma concorrência pública . Só que, na hora de s e despedir, ele me chamou de lado e disse : "Os seus 1 0 07o estão garantido s se eu ganhar" . A outra foi de um diretor de um órgão de imprensa qu e precisava vender propaganda e fico u muito admirado quando eu recusei . Disse que eu era "careta" . Acho que sou "careta" mesmo . Imprensa - Você acredita nos políticos ? Boris - Em alguns, eu tento . Gost o de crer, mas desconfio muito . Tenh o uma grande desconfiança . Então, pri .99 Os político s "O político mais difíci l de me atender é o doutor Ulysses . Até o Brizola me atende . " Os telefones A precisão "Tenho duas caderneta s completas com o s telefones de quase todos os políticos . " "Eu sei quanto a Imprensa pode estigmatizar alguém. Eu senti isso na carne . E não esqueço . meiro suspeito de todos . Depois, começo a procurar virtudes . leitor . Por exemplo : Brasília, que é uma cidade pequena, tem muito disso . E perigosa a aproximação . Imprensa - Você recebe telefonemas de políticos querendo usá-lo ou usar a sua coluna para mandar algu m tipo de recado ? Boris - Recebo . Muita gente . H á vários tipos de informantes do "Painel" : o sujeito que quer passar coisa s dele e, porque é esperto, passa a dos outros também, porque ele acha qu e ganha a minha graça transmitind o outras informações ; o informant e compulsivo, que você não sabe po r que ele passa informações ; o funcionário público que passa tudo, um tip o que é muito comum ; o anônimo, que deve sentir um prazer imenso em ve r o chefe dele, corrupto, se arrebenta r no jornal . Eu tenho um informante , por exemplo, na área da Justiça, um a pessoa muito distinta, que me telefona sempre e que eu não sei quem é , mas que me dá informações muit o precisas . Até hoje todas foram verdadeiras . Isso porque eu checo tudo . Tenho muito medo de ser usado . Estabeleci um método que é o seguinte : quando o sujeito me usa com uma mentira, denuncio a fonte, deixo d e lado o compromisso com a preservação de fonte . Imprensa - Como você se relaciona com os políticos ? Boris - Mantenho uma distância e uma proximidade respeitosa dos polí ticos . Não me dou a intimidades . E u acho que a promiscuidade entre o jornalista e o político é danosa para o Imprensa - Qual é o político que você admira ? Boris - Todos! . . . Falando sério : hoje em dia não tenho grandes admirações . Eu tenho grandes interrogações . Imprensa - Qual a sua impressã o sobre o doutor Ulysses Guimarães ? Boris - Um grande político, u m grande articulador, um esplêndid o negociador, um homem inteligente . O País deve a ele parte de seu avanç o político . Mas ele não resiste a uma fisiologiazinha . Ele tem um lado antigo do PSD do qual ele não conseguiu s e libertar . E essa coisa do PSD, que é a pequena nomeação, o pequeno apadrinhamento, a conciliação permanente . Se o doutor Ulysses ainda con seguir superar isso, será muito bo m para o País . Eu não posso pedir par a as pessoas serem perfeitas . Imprensa - O Antônio Carlos Magalhães? Boris - Um político da antiga Bahia : cruel e eficiente . Um bom operador . Faz misérias na Constituinte . E o "carcereiro moral" da Nova República . Imprensa - Qual é o político moderno da Nova República ? Boris - Muitos . Posso citar o Afi f Domingos, o José Serra, o Almi r Pazzianotto, o Lula, o presidente d a UDR, Ronaldo Caiado, o José Ge IMPRENSA - MAIO DE 198 8 noíno, Fernando Henrique, Cláudio Lembo, Setúbal, Antonio Ermírio , todos com virtudes e defeitos . Imprensa - Em qual ministro você encontra mais dificuldades para tira r informações ? Boris - Ulysses Guimarães . Não é ministro . E superministro . E a "prima-dona " da República . A coluna (I) Imprensa - Você acredita que Orestes Quércia vai se tornar president e da República? Boris - Eu acho que nós corremos o risco . "Eu não faço o Paine l sozinho . O Emanuel Nery é meu auxiliar e toda a redação ajuda . " Imprensa - Qual a sua opinião sobre ele ? Boris - Um político extremament e esperto, corajoso, prático, não a o gosto dos intelectuais . Competente . Até tenho surpresas administrativas agradáveis com ele . Não é um polític o que faz política moderna, usa métodos antigos . Mas está dando certo . Ele consegue reunir apoios importantes . Falando sério : nesse momento é um forte candidato a presidente, trabalha 24 horas para isso . "Quem é atingido pel a Imprensa acha que o problem a é ideológico . Mas normalmente é incompetência . " Imprensa - E o Jânio Quadros ? Boris - O Jânio é um político anti go, candidato à Presidência da República que rema de costas para o objetivo . Um populista de direita, como o Brizola é um populista da esquerda . Um grande ator, sabe que está interpretando e morre de rir de todos nós . Neste País ele é a única pessoa que está exercendo mesmo a autoridade, e ele sabe disso . E a grande vantagem dele : tem a noção do poder e de autoridade . Exerce a autoridade . As pessoas acham que ser democrata é deixar as coisas à vontade, ao deus-dará , muitas pessoas pensam que a democracia só nos dá direitos . E não implica deveres . O Jânio procura mostra r que ele é autoritário . Realmente, nó s corremos o risco de ele aparecer par a esse monte de desabrigados como a salvação .Ele é a imagem de um pai, que tem autoridade, que acaricia e pune . E o que uma sociedade burrament e hierarquizada como a nossa sempr e quer . Imprensa - Por que você tem certeza que Jânio Quadros é candidato à Presidência da República? Boris - Porque ele se comporta co mo candidato à Presidência da República, à maneira dele : remando d e costas para o objetivo . E só analisar os sinais que vêm de sua assessoria . Se não der, se não houver espaço, el e não será candidato . Mas o quadr o atual, com essa grande ascensão d o Brizola, que é um populista de esquerda, é favorável ao Jânio, pois pode indicar, para um determinado grupo da sociedade que tem horror a o Brizola, que ele é um homem que, co mo populista de direita, pode enfrentar o doutor Brizola . Imprensa - Você disse que tem um caso interessante para contar sobre ele . . . Boris - É, eu fiquei sozinho com el e e disse : "Presidente, isso de o senho r toda hora empregar a expressã o "chefe da Nação" quando se refer e ao Sarney é uma coisa estranha . Sarney não é chefe de Nação, é o chef e de governo, chefe do Estado . Chefe da Nação é uma coisa fascista, auto 100 A incompetênci a tária, uma coisa dos tempos de Getúlio' . E o Jânio me perguntou : "Po r acaso o jornalista Casoy vê algum a coisa de autoritário em mim?" Eu vejo, respondi . E ele completou : "Pois acertou " . Imprensa - O que você tem contra Brizola ? Boris - Eu não votaria no Brizola . Mas ele sempre tem todo o espaç o possível, normal, comigo na Folha . Eu, pessoalmente, simplesmente nã o votaria no Brizola, mas nunca o discriminei . Não concordo com os métodos dele . É um populista . E o populismo só leva o País ao passado . Imprensa - Qual sua opinião sobr e os atuais partidos políticos brasileiros ? Boris - Acho que não são democrá- "A alma do Painel em Brasilia é o Leleco (Harold o Cerqueira Lima), meu irmão gêmeo de pensamento . " ticos porque não existe democraci a interna nos partidos . Em cada parti do há um cacique . Há um cacique e m Ribeirão Preto, um em São Paulo etc . E o cacique que escolhe os candidatos a vereador na Capital ; outro, os candidatos a deputado . E ninguém chia . Quem são os delegados dos grande s partidos? A Folha mostrou : são geralmente funcionários públicos, qu e dependem do cacique . Isso aconteci a no PDS, acontece agora no PMDB . Um dos problemas graves deste nosso sistema que eu nem sei se pode se r chamado de democracia é a questã o da democracia partidária . Não existe . E democracia partidária é tabu . Ninguém quer falar sobre ela . Imprensa - Você tem habilidade em imitar vozes de muitas pessoas, principalmente políticos . Você já enganou muita gente ao telefone imitand o vozes de políticos famosos, não é ? Boris - Eu sou uma pessoa que não afoga mágoas no álcool . Afogo minhas mágoas brincando e fico conten te de transmitir alegria e receber alegria dos outros . Me divirto, me consi dero extrovertido e, às vezes, me seguro para me comportar . As vezes , faço uma frase de efeito e acabo perdendo uma amizade . Não resisto . Mas eu descobri uma nova função não vou entrar em detalhes - da minha qualidade de imitador : é profissional, é jornalística . . . Eu não dig o que enganei muita gente com minha s imitações . Mas já conversei com gen te grande, imitando políticos, e trouxe bons resultados . . . X IMPRENSA - MAIO DE 198 8