Avaliação do Perfil Socioeconômico e dos Fatores - PPGBAIP
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS AVALIAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO E DOS FATORES DE RISCO ÀS INFECÇÕES POR CHLAMYDIA TRACHOMATIS E TREPONEMA PALLIDUM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES RESIDENTES NA MESORREGIÃO DO MARAJÓ, PARÁ, BRASIL. EDILSON COELHO SAMPAIO BELÉM-PARÁ 2015 EDILSON COELHO SAMPAIO AVALIAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO E DOS FATORES DE RISCO ÀS INFECÇÕES POR CHLAMYDIA TRACHOMATIS E TREPONEMA PALLIDUM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES RESIDENTES NA MESORREGIÃO DO MARAJÓ, PARÁ, BRASIL. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto. BELÉM-PARÁ 2015 EDILSON COELHO SAMPAIO AVALIAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO E DOS FATORES DE RISCO ÀS INFECÇÕES POR CHLAMYDIA TRACHOMATIS E TREPONEMA PALLIDUM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES RESIDENTES NA MESORREGIÃO DO MARAJÓ, PARÁ, BRASIL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto. Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Banca examinadora: Prof. Dr. Adriano Penha Furtado Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Prof. Dr. José Ricardo Santos Vieira Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Profa. Dra. Rosimar Neris Martins Feitosa Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Profa. Dra. Karla Tereza Silva Ribeiro (suplente) Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Belém, 29 de Maio de 2015 Ao meu filho, Miguel, a melhor parte de mim. AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus, pelo dom da vida e por ter me concedido força e sabedoria ao longo desse trajeto. Agradeço aos meus pais, Edilson e Lene, por serem a minha base em todas as caminhadas nessa vida e por terem possibilitado as melhores condições para que eu alcançasse essa vitória. Agradeço a minha esposa, Luane Mota, pelo companheirismo e pela paciência e ao meu filho, Miguel, motivo maior para que eu busque sempre desafiar meus limites e ter condições de lhe dar sempre o melhor. Agradeço a todas as pessoas que estiveram ao meu lado para a realização deste trabalho, em especial aos meus queridos amigos que fiz ainda na graduação na Universidade do Estado do Pará, Laiana Soeiro, Anne Lima, Bruno Poltronieri e Manuela Rocha. Aos amigos que conquistei nestes dois anos de mestrado, da área de concentração em epidemiologia e controle de agentes infecciosos e parasitários do biênio 2013/2014, em especial, Samires França, Cintia Aben-Athar e Renata Lopes, que dividiram comigo as felicidades, angústias e medos da pós-graduação. Ao meu orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto, por ter me proporcionado ensinamentos valiosos, pela paciência e por todo o apoio. Além de agradecer também ao Prof. Dr. Ricardo Ishak, por ter plantado a semente da epidemiologia na minha formação e permitido fazer parte das vivências no Laboratório de Virologia. A professora Rosimar Neris Feitosa, por todas as contribuições valiosas, desde a Qualificação do projeto de Mestrado até a defesa da dissertação, possibilitando o melhor desenvolvimento do trabalho. Agradeço também à Profa. Sandra Lima, que também foi fundamental para a produção deste trabalho, dando-me subsídios para elaboração do método, análise estatística e resultados, com muita paciência, proporcionando ensinamentos essenciais para o estudo. Aos colegas do Laboratório de Virologia, por estarem sempre dispostos em dividir um pouco do seu tempo, ajudando-me nas rotinas do laboratório, em especial Barbara Brasil, Samara Gomes e Mike Santos. Ao PPG-BAIP/ICB/UFPA e seus professores, técnicos administrativos, e todos os demais funcionários que tornam a rotina mais agradável e ensinam todo dia através do amor pelo que fazem. Agradeço também ao Ministério da Saúde, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPQ, e a Fundação Amazônia Paraense de Amparo a Pesquisa – FAPESPA pelo financiamento do Projeto “Marcadores Epidemiológicos em saúde no Arquipélago do Marajó/2009”, do qual o presente estudo foi oriundo. A todos que direta ou indiretamente ajudaram-me nesta caminhada, o meu muito obrigado! SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................................. ABSTRACT......................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1.1 CHLAMYDIA TRACHOMATIS...................................................................................... 1.1.1 Histórico...................................................................................................................... 1.1.2 Classificação, Características Estruturais e Morfológicas..................................... 1.1.3 Ciclo de Desenvolvimento e Características Genômicas......................................... 1.1.4 Aspectos Clínicos das Infecções por Chlamydia trachomatis.................................. 1.1.5 Epidemiologia das infecções por C. trachomatis...................................................... 1.1.6 Diagnóstico Laboratorial de C. trachomatis............................................................. 1.1.7 Medidas de Prevenção e Controle para Infecção por C. trachomatis.................... 1.2 TREPONEMA PALLIDUM SUBESPÉCIE PALLIDUM.............................................. 1.2.1 Histórico...................................................................................................................... 1.2.2 Classificação................................................................................................................ 1.2.3 Características Estruturais e Morfológicas............................................................. 1.2.4 Ciclo de Desenvolvimento.......................................................................................... 1.2.5 Características Genômicas........................................................................................ 1.2.6 Aspectos Clínicos das Infecções por T. pallidum..................................................... 1.2.6.1 Sífilis Primária......................................................................................................... 1.2.6.2 Sífilis Secundária..................................................................................................... 1.2.6.3 Sífilis Latente........................................................................................................... 1.2.6.4 Sífilis Terciária........................................................................................................ 1.2.6.5 Sífilis Congênita...................................................................................................... 1.2.7 Epidemiologia das infecções por T. pallidum........................................................... 1.2.8 Diagnóstico Laboratorial de T. pallidum.................................................................. 1.2.8.1 Testes Não Treponêmicos....................................................................................... 1.2.8.2 Testes Treponêmicos............................................................................................... 1.2.9 Medidas de Prevenção e Controle para infecção por T. pallidum......................... 1.3 OBJETIVOS.................................................................................................................... 1.3.1 Objetivo Geral............................................................................................................ 1.3.2 Objetivos Específicos.................................................................................................. 2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................. 2.1 TIPO DE ESTUDO......................................................................................................... 2.2 LOCAL DA PESQUISA................................................................................................ 2.3 OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS E INFORMAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS.......... 2.4 ASPECTOS ÉTICOS...................................................................................................... 2.5 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO............................................................... 2.6 OBTENÇÃO DE DADOS SOROLÓGICOS............................................................... 2.6.1 Ensaio Imunoenzimático (ELISA) para Chlamydia................................................ 2.6.2 Imunofluorescência indireta (IFI) para Chlamydia................................................ 6 7 8 8 8 9 11 12 13 15 16 17 17 18 18 20 20 21 21 22 23 23 24 25 26 26 27 28 30 30 30 31 31 31 32 32 33 33 33 34 2.6.3 Ensaio Imunoenzimático para Sífilis........................................................................ 34 2.6.4 Reaginina Plasmática Rápida (RPR)....................................................................... 35 2.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................................ 3 RESULTADOS................................................................................................................ 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA............................................ 35 36 36 3.2 SOROPREVALÊNCIA DE CHLAMYDIA TRACHOMATIS E TREPONEMA PALLIDUM........................................................................................................................... 3.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE SOROPREVALÊNCIA DE CHLAMYDIA TRACHOMATIS E INDICADORES SOCIOECONÔMICOS...................................................................... 3.4 ASSOCIAÇÃO ENTRE SOROPREVALÊNCIA DE CHLAMYDIA TRACHOMATIS E VARIAVÉIS DE RISCO PARA INFECÇÃO................................................................ 3.4.1 Soroprevalência de Chlamydia trachomatis, comportamento sexual e gravidez... 3.5 ASSOCIAÇÃO ENTRE SOROPREVALÊNCIA PARA TREPONEMA PALLIDUM E OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS................................................................. 4 DISCUSSÃO..................................................................................................................... 5 CONCLUSÃO................................................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. APÊNDICE A...................................................................................................................... APÊNDICE B...................................................................................................................... APÊNDICE C...................................................................................................................... 37 38 40 40 42 44 48 49 61 65 66 6 RESUMO As bactérias do gênero Chlamydia estão associadas à diversas doenças, como cegueira, infecções genitais e pneumonia, bem como as bactérias do gênero Treponema, especificamente a espécie Treponema pallidum, que são diretamente responsáveis pelos casos de sífilis. Existem poucos dados sobre como a Chlamydia trachomatis e o T. pallidum afetam as populações localizadas no Arquipélago do Marajó, Pará, Brasil. Este estudo objetivou determinar a prevalência das infecções por C. trachomatis e T. pallidum em crianças e adolescentes residentes nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel, no Arquipelágo do Marajó, Pará, Brasil, buscando uma possível correlação entre o nível socioeconômico e o risco da infecção pelos agentes investigados. O estudo incluiu 848 indivíduos na faixa etária de 0 a 18 anos, dos quais amostras de sangue e dados epidemiológicos foram coletados no período de setembro 2012 a abril de 2013. A detecção de anticorpos das classes IgG e IgM anti-Chlamydia foi realizada empregando-se o ensaio imunoenzimático (ELISA) e através de Imunofluorescencia Indireta (IFI), respectivamente. Para detecção de anticorpos anti-Treponema foi utilizado um teste treponêmico (ELISA) e as amostras positivas foram submetidas a um teste não treponêmico (RPR). A prevalência geral de anticorpos anti-Chlamydia foi de 10,1%. e a prevalência de anticorpos contra Treponema pallidum foi de 1 %, considerada baixa. A única associação significativa com a soroprevalência de Chlamydia trachomatis encontrou-se no município de Anajás e estava relacionada a variável início da vida sexual (p=0,0276). A infecção por Treponema apresentou maior frequência em indivíduos do gênero feminino (n=6), na faixa etária entre 13 a 18 anos (n=4) (p= 0,0279) e com renda familiar abaixo de três salários mínimos (n=4). A Soroprevalência de Chlamydia trachomatis foi maior que a soroprevalência de Treponema pallidum nas populações estudadas. A C. trachomatis esta em circulação nos municípios estudados, com exceção do município de São Sebastião da Boa Vista. Os indivíduos do gênero feminino, entre 13 a 18 anos, com renda familiar abaixo de três salários mínimos estão mais suscetíveis a infecção por Chlamydia e Treponema. Palavras-chave: Nível socioeconômico, Chlamydia trachomatis, Treponema pallidum, Epidemiologia. 7 ABSTRACT Bacteria of the genus Chlamydia are associated with several diseases, such as blindness, genital infections, and pneumonia as well as bacteria of the genus Treponema, specifically Treponema pallidum species which are directly responsible for syphilis cases. There are few data about how Chlamydia trachomatis and T. pallidum affect the populations located in the Archipelago of Marajó, Para, Brazil. This study aimed to determine the prevalence of infections with C. trachomatis and T. pallidum among children and adolescents in the municipalities of Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista and Portel, in the Archipelago of Marajo, Para, Brazil, promoting the correlation between socioeconomic status and the risk of infection by the investigated agents. The study included 848 individuals aged 0-18 years, of which blood samples and epidemiological data were collected between 2012 and 2013. The antibodies of the IgG and IgM anti-Chlamydia was carried out using the enzyme-linked immunosorbant assay (ELISA) and through indirect immunofluorescence (IIF), respectively. For detection of anti-T. pallidum we used a treponemal test (ELISA) and positive samples were submitted to a non-treponemal test (RPR). The overall prevalence of anti-Chlamydia antibodies was 10.1%. and the prevalence of antibodies to Treponema pallidum (1%) was considered low. The only significant association with the prevalence of Chlamydia trachomatis is in Anajás municipality and is related to variable onset of sexual activity (p = 0.0276). The women (n = 6), aged between 13-18 years (n = 4) (p = 0, 0279) and with family income below three minimum wages (n = 4) showed a higher frequency of infection with Treponema. The seroprevalence of Chlamydia trachomatis was higher than the prevalence of Treponema pallidum in the studied populations. C. trachomatis is in circulation in the cities studied, with the exception of São Sebastião da Boa Vista. The female subjects, between 1318 years with family income below three minimum wages are more susceptible to infection by Chlamydia and Treponema. Keywords: Socioeconomic Epidemiology. status, Chlamydia trachomatis, Treponema pallidum, 8 1 INTRODUÇÃO 1.1 CHLAMYDIA TRACHOMATIS 1.1.1 Histórico Existem relatos de infecções oculares causadas por Chlamydia trachomatis desde o antigo Egito. Papiros datados de 1500 a.C descreviam uma doença nos olhos com características exudativas e cicatrizantes (Wilfert & Gutman, 1986). Esta infecção ocular, denominada tracoma, é reconhecida por milênios como causa de cegueira, sendo a mais antiga referência associada com a infecção por C. trachomatis (Schachter, 1990; Solomon et al., 2004). Há também registros vagos de uma oftalmia egípcia, com casos associados ao tracoma, que acometeram soldados franceses, turcos e britânicos durante as campanhas ao Egito, no período de 1798 a 1802 e, posteriormente, no ano de 1807 (Meyerhof, 1932). Com as guerras e as grandes migrações, o tracoma foi levado para o restante da Europa, onde se tornou endêmico, sendo então disseminado para o continente americano devido o processo de colonização. Na segunda metade do século XIX e início do século XX, o tracoma estava amplamente espalhado em todo o mundo (Wilfert & Gutman, 1986). A epidemiologia da C. trachomatis foi descrita décadas antes do isolamento dessa bactéria. Halberstaedter e Prowasek em 1907 visualizaram, pela primeira vez, as inclusões intracitoplasmáticas e, entre os anos de 1909 a 1911, descreveram o mesmo padrão citológico em infecções oculares não gonocócicas e em secreções do trato genital de mães que geraram crianças infectadas (Vaz et al., 1999). Até o final da década de 1960, a Chlamydia trachomatis e a Chlamydia psittaci já tinham sido identificadas. Outra espécie do gênero Chlamydia, a Chlamydia pneumoniae, foi isolada pela primeira vez em 1965 a partir de secreções da conjuntiva e amostras de tecidos de uma criança de Taiwan que participava de uma triagem para vacina contra o tracoma (Kuo et al., 1986). Em 1971, o micro-organismo foi observado e, quando analisada a morfologia das inclusões, percebeu-se maior semelhança com a C. psittaci do que com a C. trachomatis. O papel deste novo agente infeccioso como um patógeno humano ainda não havia sido definido até 1983, quando o primeiro isolado respiratório foi obtido em Seattle, Washington, de um estudante universitário que apresentava um quadro de faringite (Grayston et al., 1986). 9 Esta cepa de C. psittaci, até então denominada TWAR, recebeu esta designação no laboratório de onde foram obtidos os primeiros isolados de conjuntiva e respiratórios. Em 1989, a cepa TWAR foi então estabelecida como uma terceira espécie, a C. pneumoniae (Grayston et al., 1989). A doença foi introduzida no Brasil a partir do século XVIII, no Nordeste, onde se estabeleceram os primeiros focos de tracoma no país, sendo o mais famoso o foco do Cariri, no sul do Ceará. Os focos de São Paulo e Rio Grande do Sul, que surgiram com o aumento da imigração europeia para esses dois estados a partir da segunda metade do século XIX, também contribuíram para a disseminação da doença no país. A expansão da fronteira agrícola em direção ao oeste foi fator determinante para que o tracoma se espalhasse em praticamente todo o Brasil (Brasil, 2005). 1.1.2 Classificação, Características Estruturais e Morfológicas As Chlamydias são um grupo de bactérias intracelulares obrigatórias separadas em sua própria ordem, Chlamydiales, com uma família, Chlamydiaceae, com base no seu ciclo de crescimento original que as distinguem de todos os outros micro-organismos (Schachter, 1990). Estas bactérias pertencem ao gênero, denominado Chlamydia com quatro espécies: Chlamydia trachomatis, Chlamydia pneumoniae, Chlamydia psittaci e Chlamydia pecorum (Fukushi & Hirai, 1993). A C. trachomatis e a C. pneumoniae são patógenos predominantemente humanos, embora possam infectar outros mamíferos (Miyairi et al., 2010). Já a C. psittaci, além de causar doenças em humanos, é capaz de infectar vários hospedeiros vertebrados e a espécie C. pecorum infecta, principalmente, aves e mamíferos (Thomas et al., 1997; Miyairi et al., 2010). As bactérias do gênero Chlamydia são células procariotas, Gram-negativas e imóveis (Dimitrakov, 2002). Devido ao seu tamanho pequeno e, também, por serem classificados como parasitas intracelulares obrigatórios (Moulder, 1966), foram consideradas como agentes virais por Prowazek et al. em 1907, denominando-as como “vírus grandes” (apud Schachter & Caldwell, 1980). No entanto, as clamídias diferem dos vírus por possuírem DNA e RNA, sintetizarem suas próprias proteínas e serem sensíveis a antibióticos (Wyrick et al., 2000). Apesar das clamídias produzirem proteínas, estas possuem capacidade anabolizante limitada, sendo dependentes da célula hospedeira para a produção de compostos energéticos, como o 10 trifosfato de guanosina (GTP) e trifosfato de adenosina (ATP) (Hatch et al.,1986; Barnes,1989). A espécie C. trachomatis está dividida em 15 sorotipos, agrupados em três biótipos com base em diferenças biológicas. Os sorotipos da Chlamydia podem ser classificados de acordo com as diferentes apresentações clínicas, a saber: os sorotipos A, B, Ba e C estão associados ao tracoma endêmico; L1, L2, L3 ao Linfogranuloma Venéreo (LGV) e os sorotipos D, E, F, G, H, I, J, K estão ligados as infecções genitais e em neonatos (Barnes, 1989; Black, 1997). Alguns sorotipos de C. trachomatis envolvidos na manifestação do tracoma foram identificados como portadores de uma mutação do tipo “frameshift” (mudança de matriz de leitura) no lócus codificador das enzimas envolvidas na síntese do triptofano. Estas cepas mutantes são incapazes de sintetizar o triptofano a partir do indol exógeno. Este achado deu início a uma sequência de diferenças nas habilidades de biossíntese entre os sorotipos de C. trachomatis (Caldwell et al., 2003). Quanto às características estruturais e morfológicas, as Chlamydias possuem duas membranas, sendo uma externa com dupla camada e outra membrana citoplasmática (Friis, 1972). A parede celular é semelhante a das bactérias Gram-negativas, mas não possuem peptideoglicano (Caldwell et al., 1981). A interação entre as ligações dissulfídicas e a proteína principal de membrana externa (MOMP) é responsável em parte pela manutenção da integridade da membrana externa (Hatch et al., 1986). As bactérias do gênero Chlamydia possuem ribossomos procarióticos e sintetizam suas próprias proteínas, ácidos nucléicos e lipídios, sendo susceptíveis a certos antibióticos, além de apresentarem um ciclo celular característico que as diferenciam de todos os outros microorganismos (Moulder, 1966). A MOMP corresponde a 60% do peso total da membrana. Embora, a MOMP desempenhe uma importante função estrutural, também faz parte da estrutura antigênica da Chlamydia, já que é o principal antígeno de superfície exposto, sendo espécie e sorotipoespecífico, ou seja, é a proteína responsável pela diferença entre os sorotipos de clamídia, por isso, são utilizadas na sorotipagem (Caldwell, et al., 1981; Hatch et al., 1986; Stephens et al., 1987). O lipopolissacarídeo (LPS) é outro antígeno importante presente neste complexo, sendo gênero-específico (Caldwell et al., 1981; Solomon et al., 2004) 11 1.1.3 Ciclo de Desenvolvimento e Características Genômicas A Chlamydia possui ciclo de desenvolvimento bifásico e replicação dentro de vacúolos na célula hospedeira, formando inclusões citoplasmáticas características (Barnes, 1989). A replicação apresenta um ciclo multimórfico e sem sincronismo de desenvolvimento. Dentro deste ciclo ocorrem duas formas distintas, são elas: os corpos elementares (CE) e os corpos reticulares (CR) (Hall, 1997). O CE é maior em tamanho e mais rico em RNA e é considerado a forma metabólica e infecciosa da clamídia (Seadi et al., 2002). A entrada em células hospedeiras é dividida em adesão e internalização (Moulder, 1991). A adesão do CE à célula do hospedeiro inicia a infecção pela Chlamydia, através da interação com componentes proteináceos da célula (Hybiske & Stephens, 2007a) (Figura 1). Kleba et al. (2002) demonstraram que a fibronectina é o mediador desse processo de adesão. Hybiske & Stephens (2007a) demostraram que no mecanismo de internalização dos CE a participação de vias específicas, como o envolvimento de clatrina, podem também envolver outros componentes celulares. Na internalização, não há fusão lisossomal, ocorrendo um mecanismo semelhante à endocitose, permitindo que o corpúsculo elementar se estabeleça na inclusão. Figura 1- Ciclo de Desenvolvimento da C. trachomatis. 1- Adesão do CE na célula do hospedeiro; 2- CE interagindo com componentes proteináceos da célula do hospedeiro; 3Formação do CR; 4- Inicio da formação do CE; 5 – Lise da célula do hospedeiro e liberação de CE no meio extracelular; 6- Forma infecciosa no meio extracelular. (Adaptado de Seadi et al., 2002). A reorganização do espaço CE e diferenciação para CR, que se inicia com a perda da infectividade e síntese de proteínas, é seguida pela redução das ligações dissulfídicas e captação de ATP da célula do hospedeiro (Moulder, 1991). O CR aumenta de volume, o 12 nucleóide que antes era denso, apresenta alterações tornando-se difuso e fibrilar. O CR no interior da inclusão sofre divisão binária, por volta de 12 horas após a entrada da bactéria, e durante esse processo são observadas formas intermediárias, até a completa transformação em CE, dentro de 24 a 72 horas (Friis, 1972; Hybiske & Stephens, 2007b). O término do ciclo de desenvolvimento varia de acordo com a espécie e sorotipo de clamídia (Moulder, 1991). Quanto as características genômicas, o genoma da C. trachomatis é formado por um cromossomo circular com 1.042.519 de pares de base - bp (58,7% de A-T) e um plasmídeo com 7493 pb. O genoma das Chlamydias codifica para aproximadamente 875 proteínas, das quais setenta são exclusivas da espécie C. trachomatis (Stephens et al., 1998). O primeiro gene a ser analisado foi o gene codificador da Proteína de Membrana Externa Principal – MOMP que foi designado omp1. Em 1986, Stephens et al. sequenciaram o gene a partir de uma cepa de Chlamydia trachomatis sorotipo L2, e em seguida clonaram e inseriram o gene em um bacteriófago λ de Escherichia coli (Stephens, et al., 1986). 1.1.4 Aspectos Clínicos das infecções por Chlamydia trachomatis A espécie C. trachomatis é o agente causador de doenças do trato urogenital, do linfogranuloma venéreo, do tracoma, da conjuntivite de inclusão e de pneumonia no recémnascido. O maior impacto da infecção por Chlamydia ocorre no sistema reprodutivo das mulheres (Seadi et al., 2002). O tracoma é considerado uma doença ligada diretamente à pobreza. Ele se dissemina em populações remotas, marginalizadas ou que vivem em áreas periféricas. A distribuição da doença em zonas endêmicas é heterogênea, ou seja, algumas comunidades são muito afetadas, enquanto outras, com fatores de risco aparentemente semelhantes, a exemplo da falta de acesso à água e saneamento, não o são (Solomon et al., 2004). Clinicamente, o tracoma pode ser classificado em período ativo ou crônico. A forma ativa da doença é caracterizada pela presença de conjuntivite folicular, hipertrofia papilar e infiltrado inflamatório difuso. Os sintomas associados ao quadro clínico são lacrimejamento, sensação de corpo estranho, hiperemia conjuntival, secreção purulenta e fotofobia (Wright & Taylor, 2005). Nos casos de infecção leve, o processo inflamatório pode regredir espontaneamente. Já nos casos de infecções intensas, ocorre a formação de pequenos pontos cicatriciais na 13 conjuntiva, que aumentam em quantidade e extensão na ocorrência de infecções repetitivas (Brasil, 2005; Burton, 2007). Na doença crônica observa-se a inflamação conjuntival recorrente com cicatrizações que levam a formação de várias cicatrizes lineares ou estreladas com áreas de fibrose espessas e distorcidas (Burton, 2007). Outra doença fortemente associada à espécie C. trachomatis são as infecções neonatais, segundo Schachter et al. (1986) e O’Hara (1993), uma das infecções mais comuns em recém-nascidos é a oftalmia neonatal. Aproximadamente dois terços das crianças nascidas por parto normal de mulheres com infecção genital por C. trachomatis desenvolvem a doença, sendo que as manifestações clínicas começam a surgir, após 5 a 12 dias de incubação, as secreções da conjuntiva tornam-se progressivamente purulentas, surgem cicatrizes, vascularizações da córnea e conjuntivite de inclusão crônica. Já o linfogranuloma venéreo (LGV) é uma doença sexualmente transmissível (DST) causada pelos sorotipos L1, L2 ou L3 da bactéria C. trachomatis (Mabey & Peeling, 2002; Collins et al., 2006). O LGV pode se tornar crônico, quando não tratado, e provocar obstrução linfática por fibrose causando elefantíase genital em ambos os sexos (Mabey & Peeling, 2002; Gupta et al., 2006). 1.1.5 Epidemiologia das infecções por C. trachomatis A C. trachomatis é uma bactéria que possui formas bem definidas de transmissão e a via sexual é provavelmente a mais comum delas, o que a torna uma das mais importantes infecções sexualmente transmissíveis - IST (Ishak & Ishak, 2001). Conforme Benzaken et al., (2008), a infecção por Chlamydia trachomatis (CT) é a IST bacteriana de maior prevalência no mundo desenvolvido e, possivelmente, também o seja em países em desenvolvimento. Em 1999, foi estimada em 92 milhões a incidência global anual de novas infecções por C. trachomatis em adultos, das quais 9,5 milhões correspondiam a América Latina e ao Caribe (WHO, 2001). Nos Estados Unidos da América, a infecção por C. trachomatis é a doença de notificação obrigatória mais comumente notificada e a IST de maior prevalência desde o ano de 1994 (Benzaken et al., 2008). 14 Apesar das infecções causadas por C. trachomatis serem bem definidas nos países industrializados, a frequência dessas infecções na maioria dos países em desenvolvimento é desconhecida (Ishak et al., 1988), por isso, habitualmente, os programas nacionais trabalham com estimativas obtidas de outros países e regiões do mundo, providas, fundamentalmente, pela Organização Mundial da Saúde (Benzaken et al., 2008). No Brasil, a triagem para C. trachomatis não é oferecida rotineiramente, e o registro da infecção não é de notificação compulsória (Lima et al., 2007). Dessa forma, apenas através de estudos isolados como o de Ishak et al. (1988) é possível visualizar a frequência de infecção por C. trachomatis em algumas regiões do Brasil e do mundo. Nesta pesquisa foi demonstrado que, entre as populações brasileiras, a prevalência de anticorpos para Chlamydia foi maior em Serra Norte (76,2%) do que nas populações de Belém (53,6%) e nos Índios Xicrins (51,3%). Além disso, anticorpos antiChlamydia foram detectados em 54% e 66% na Inglaterra e em 56% e 68% em Portugal, em pacientes do sexo feminino que frequentavam clínicas de pré-natal e de infertilidade, respectivamente. A partir desses resultados foi possível mostrar uma alta exposição das populações testadas à C. trachomatis, principalmente do grupo de baixo nível socioeconômico de Serra Norte (Brasil), sendo a evidência de infecção da mesma ordem no países pesquisados. Um grupo de pesquisadores realizou um estudo de base populacional em mulheres residentes em uma vila popular da cidade de Porto Alegre (RS), que revelou uma baixa prevalência de infecção por C. trachomatis, da ordem de 0,59%. O mesmo grupo, no entanto, pesquisando 79 pacientes masculinos de uma clínica de DST, obteve positividade para C. trachomatis em 41,9% dos casos (Ramos et al., 2002; 2003). No estudo de Benzaken et al. (2008), foi realizada uma pesquisa de corte seccional com 1.762 indivíduos (1.007 mulheres e 755 homens) divididos em grupos de baixo risco (598 gestantes e 600 homens trabalhadores de indústrias) e de alta vulnerabilidade (409 mulheres e 155 homens em clínica de DST), na cidade de Manaus, estado do Amazonas, no qual constatou-se que a taxa de prevalência em mulheres (11,1%; p = 0,000001) foi significativamente maior do que nos homens (2,8%) e as maiores prevalências correspondia aos adolescentes (14,8%), sendo os principais fatores associados à infecção o incremento no número de parceiros e ter parceiro com corrimento uretral. O grupo demográfico mais frequentemente acometido pela infecção por clamídia é o de mulheres sexualmente ativas com menos de 20 anos. A prevalência nestes grupos excede 15 os 10%, podendo chegar a 40% em clínicas de DST que atendem adolescentes. Acredita-se que a base biológica para esta associação seja diferenças anatômicas na cérvice uterina de mulheres jovens, o que favorece a exposição ao agente. Outros fatores demográficos incluem, status de solteiro, etnia negra e baixa condição socioeconômica. O grande número de parceiros sexuais, um novo parceiro sexual, o não uso de preservativo e a infecção gonocócica concomitante também são fatores consistentes na associação com a infecção por clamídia (Black, 1997). A prevalência de casos diagnosticados de infertilidade tubária por C. trachomatis pode estar associada à tendência ocidental feminina de postergar a gravidez. Assim há um espaço de tempo considerável entre a doença inflamatória aguda primária e a busca por serviços médicos por dificuldades em engravidar (Mardh, 2004). A prevalência da infecção por C. trachomatis varia de 4 a 10% em homens assintomáticos e de 15% a 20% em pacientes masculinos de clínicas de DST. A infecção em neonatos ocorre como resultado da exposição perinatal, acometendo 65% dos recém-nascidos durante o parto vaginal (Black, 1997). O maior desafio no controle da infecção por clamídia está no fato de que 70% a 80% das mulheres e até 50% dos homens que estão infectados, não apresentam nenhum sintoma. Isto resulta em grandes reservatórios de indivíduos infectados, passíveis de transmitir a infecção para os seus parceiros sexuais. Contribui para isso o fato de a imunidade desenvolvida com a infecção ser apenas parcialmente protetora, sendo a recorrência muito comum (Black, 1997). Na região Norte, constatou-se através de estudos soroepidemiológicos que a infecção por clamídia é comum em diferentes grupos populacionais urbanos e não-urbanos. Na população de Serra Norte a prevalência de anticorpos IgG foi de 76, 2%, na cidade de Belém foi de 53,6% e 48,6% em populações indígenas da Amazônia brasileira (Ishak et al.,1988; Ishak & Ishak, 2001). 1.1.6 Diagnóstico Laboratorial de C. trachomatis Entre os testes laboratoriais disponíveis para a detecção direta da clamídia estão a cultura, a imunofluorescência direta (DFA), o ensaio imunoenzimático (EIA), a sonda de DNA e as técnicas de amplificação de ácidos nucléicos que apresentam maior sensibilidade. Há ainda testes de diagnóstico indireto através da pesquisa de anticorpos (Seadi et al., 2002). 16 Morré et al., (2002) compararam o uso de ensaios de EIA com o uso de peptídeos para a detecção de anticorpos com ensaios de microimunofluorescência (MIF) e encontraram resultados similares à técnica de MIF, indicando que o EIA pode ser uma boa alternativa para detecção de anticorpos para C. trachomatis, com a vantagem de serem menos laboriosos e com menor custo. Para a detecção de anticorpos contra C. trachomatis através de EIA, os seguintes parâmetros podem ser verificados: a presença de anticorpos da classe IgA e/ou IgM ou então altos títulos de IgG são indicativos de infecção recente (Michelon et al., 2005); entretanto, anticorpos IgM são frequentemente indetectáveis quando a infecção é recorrente, como relatado por Seadi et al. (2002). Alguns estudos demonstram o uso de detecções de anticorpos contra hsp60 e hsp10 (heat shock proteins), já que estes anticorpos são relatados em pacientes com doença inflamatória pélvica e gestações ectópicas causadas por clamídia. Também demonstram que a presença de anticorpos contra hsp60 é um fator preditivo para oclusão tubárea independente da presença de outros anticorpos anti-Chlamydia (Persson et al., 1999). Outro método que pode ser utilizado é o uso da reação em cadeia da polimerase, detectando o DNA da bactéria. Este método é comparado com a cultura celular, método padrão-ouro e extremamente específico. As técnicas de detecção de ácidos nucléicos por biologia molecular têm boa sensibilidade e boa especificidade (Vazques et al., 2008). 1.1.7 Medidas de Prevenção e Controle para infecção por C. trachomatis A eficácia da prevenção e o tratamento das doenças sexualmente transmissíveis podem ser atingidos através da utilização de uma combinação de respostas. Serviços de prevenção e tratamento de pessoas com doenças sexualmente transmissíveis devem ser expandidos e abranger um conjunto de ações de saúde pública, que inclui os seguintes elementos: Promoção de comportamentos sexuais mais seguros e o estímulo ao rastreamento periódico de possíveis problemas a saúde, o que inclui idas frequentes às consultas médicas (WHO, 2007). Além disso, faz-se necessária a introdução de atividades de prevenção e assistência em todos os programas de cuidados primários a saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva e programas de controle HIV/AIDS, bem como o desenvolvimento de programas eficazes integrados e de baixo custo para o combate das IST, HIV/AIDS e controle da tuberculose, como tem sido documentado em vários países (WHO, 2007). 17 Em relação às infecções por C. trachomatis, os pacientes devem ser orientados para o uso de preservativos até completarem o seu tratamento. Também se deve lembrar que o tratamento do parceiro sexual é essencial para diminuir o risco de reinfecção do paciente (Paavonen & Krause, 1999). Já o tratamento medicamentoso recomendado com antibiótico é a tetraciclina ocular tópica, além de azitromicina oral em dose única (WHO, 2006). No geral, as estratégias para prevenção e controle das IST causadas por C. trachomatis incluem a promoção de comportamentos sexuais saudáveis, uso correto de preservativos, notificação de parceiros e serviços de saúde eficazes e acessíveis para tratar estas infecções (WHO, 2007). 1.2 TREPONEMA PALLIDUM SUBESPÉCIE PALLIDUM 1.2.1 Histórico A sífilis é uma doença infecciosa crônica que afeta há séculos a humanidade (Avelleira & Bottino, 2006). Em séculos passados, descrições bíblicas sugeriram ser uma doença associada a outras já existentes tanto na África quanto na China, sendo que na Europa as suas manifestações não foram reconhecidas até ao final do século XV (Baughn & Musher, 2005). Ainda no final do século XV, sua rápida disseminação por todo o continente europeu transformou-a em uma das principais pragas mundiais. Devido a riqueza do acometimento da pele e das mucosas associou essa doença fortemente à dermatologia (Avelleira & Bottino, 2006). Duas teorias foram elaboradas na tentativa de explicar a origem da sífilis. Na primeira, chamada de colombiana, a sífilis seria endêmica no Novo Mundo e teria sido introduzida na Europa pelos marinheiros espanhóis que haviam participado da descoberta da América (Rothschild, 2005). Uma segunda hipótese de origem, denominada pré-colombiana, descreve a sífilis como proveniente de mutações e de adaptações sofridas por espécies de treponemas endêmicos, similar a bouba, que já existia na África (Baughn & Musher, 2005). Em 1905, Schaudinn e Hoffmann identificaram o agente etiológico da sífilis, demostrando a presença de espiroquetas no fluído de lesões de sífilis secundárias, coradas pelo Giemsa (Schaudinn e Hoffman apud Singh & Romanowski, 1999). Em 1906, os primeiros testes sorológicos para sífilis foram desenvolvidos. E em 1943, após o emprego de diversas terapias, foi realizado com sucesso o primeiro tratamento para 18 sífilis administrando a penicilina em pacientes infectados, sendo desde então este o medicamento usado como droga de escolha no tratamento da doença (Singh & Romanowski, 1999). 1.2.2 Classificação O agente etiológico da sífilis, Treponema pallidum subspespécie pallidum, é uma bactéria da ordem Spirochaetales, família Spirochaetaceae, pertencente a um grupo de bactérias filogeneticamente antigo (Noordhoek et al., 1989), inclui três gêneros que transmitem doença ao homem: Treponema, Leptospira e Borrelia (Blanco et al., 1997; Liu et al., 2001; Jun et al., 2008). O gênero Treponema possui duas espécies, que são: Treponema carateum, agente causador da pinta, e o Treponema pallidum, constituído de três subespécies: Treponema pallidum subsp. pallidum, causador da sífilis venérea; Treponema pallidum subsp. pertenue, causador da bouba e Treponema pallidum subsp. endemicum, causador da sífilis endêmica ou Bejel (Noordhoek et al., 1989). Quanto aos aspectos morfológicos e genéticos, as espécies do gênero Treponema são semelhantes, muito embora as manifestações clínicas das infecções causadas sejam diferentes (Miao & Fieldsteel, 1980). 1.2.3 Características Estruturais e Morfológicas O T. pallidum é uma bactéria espiralada, com cerca de 6 a 12 voltas regularmente espaçadas, delgada (0,1 a 0,2 μm de espessura) e com aproximadamente 6 a 20 μm de comprimento. Este micro-organismo exibe motilidade ativa proporcionada pelos flagelos periplasmáticos, que iniciam na extremidade distal, enrolam-se ao longo de seu eixo longitudinal e facilitam a invasão tecidual em virtude dos movimentos de rotação e flexão por eles produzidos (Figura 2) (Avelar & Pereira, 2008). 19 Figura 2- Estrutura da bactéria Treponema pallidum. Na fotografia de T. pallidum, pode-se observar a sua forma espiral, bem como as membranas internas e externas (Adaptado de Science Photo Library). O estudo ultramicroscópico de T. pallidum subsp. pallidum permite definir na constituição deste micro-organismo uma membrana interna ou citoplasmática que rodeia o corpo celular e uma membrana externa protetora. Entre uma membrana e outra, encontra-se um espaço periplasmático com uma pequena camada de peptidoglicano e os órgãos de locomoção ou flagelos. A forma espiralada deve-se a presença, no espaço periplasmático, dos flagelos que se enrolam em volta do corpo celular. Estas estruturas são responsáveis por originar movimento helicoidal típico desse microrganismo, promovendo, também, a sua progressão em meio com viscosidade aumentada (Radolf et al. 1995; Rodrigo & Silva, 2003; Lafond & Lukehart, 2006). A membrana externa de T. pallidum reveste a superfície da célula deste microorganismo e serve de barreira protetora relativamente ao meio que o envolve (Jun et al., 2008). É uma estrutura que difere das bactérias de coloração Gram-negativa (Hazlett et al., 2005) pela carência de lipossacarídeos (LPS) (Becker et al., 1994; Deka et al., 2002; Brinkman et al., 2008; Salazar et al., 2007). Por outro lado, a membrana citoplasmática é a estrutura que envolve o citoplasma, sendo composta por numerosas lipoproteínas (Blanco et al., 1997; Cha et al., 2004) e por proteínas de ligação à penicilina (PBP). Possui também glicolípidos, cardiolipina, principal antígeno que resulta na produção dos anticorpos pesquisados pelos testes sorológicos não treponêmicos. Apesar da presença desses elementos, a antigenicidade é pobre devido à arquitetura estrutural, observando-se pouca reatividade dos anticorpos contra as diversas proteínas (Deka et al., 2002). A bactéria que causa a sífilis não é cultivável continuamente in vitro, devido a grandes limitações na sua capacidade metabólica e tem baixa resistência ao meio ambiente, podendo ser destruída com facilidade pela ação do calor, falta de umidade, desinfetantes, água clorada, sabão ou, simplesmente, por ficar exposto ao ambiente (fora do seu habitat) por mais de 26 horas (Norris, 1982). Portanto, a maioria das informações obtidas a respeito deste patógeno é 20 derivada de modelos animais, principalmente através da infecção em coelhos (Fitzgerald, 1981). 1.2.4 Ciclo de Desenvolvimento O treponema penetra no organismo do hospedeiro através de pequenas abrasões decorrentes da relação sexual (Fitzgerald, 1981; Lukehart et al., 1992). A invasão dessa bactéria no organismo é facilitada por sua estrutura em forma de espiral e também pela sua vigorosa motilidade (Thomas et al., 1988). Em seguida, o treponema fica depositado na camada subendotelial, no qual permanece em um período de incubação que varia de 10 a 90 dias. Após isso ele se prolifera no local, dando origem ao cancro duro, uma ulceração proveniente de uma pápula eritematosa. Na circulação, o T. pallidum se multiplica, o que favorece a disseminação do agente por todo o organismo do hospedeiro, tornando a doença sistêmica (Fitzgerald, 1981; Lukehart et al., 1992). A invasão resulta em uma infecção bacteriana disseminada com vários estágios, desde a lesão eritematosa endurecida, até o estabelecimento da infecção crônica (Fieldsteel et al., 1981; Cameron et al., 2004). Nas células endoteliais, o T. pallidum induz a expressão das moléculas de adesão, que promovem aderência e saída de leucócitos dos vasos sanguíneos para os tecidos infectados e estão presentes nas lesões da sífilis primária, embora a infiltração seja curta (Riley et al., 1994). A produção de imunoglobulinas circulantes ocorre durante as fases recentes de infecção. Entretanto, a imunidade humoral não confere proteção contra a doença e a imunidade celular é mais tardia, permitindo a proliferação do T. pallidum e sua sobrevivência por longos períodos (Fitzgerald, 1981; Avelleira & Bottino, 2006). 1.2.5 Características Genômicas O T. pallidum tem um genoma pequeno (1,3 Mb) com limitada capacidade metabólica. A sequência completa do seu genoma foi publicada em 1998, sendo então verificado que o DNA genômico é composto por um único cromossoma circular com 1.138.006 pares de base 21 (bp) que contém 1.041 sequências de codificação " Open Reading Frames " (ORFs) (Peeling & Hook, 2006). O T. pallidum subespécie pallidum, tal como outros micro-organismos, possui no seu genoma genes que realizam funções essenciais à sua sobrevivência, tais como a replicação do DNA, a transcrição, a tradução do ácido ribonucléico (RNA), a eliminação do efeito tóxico do oxigênio através da enzima oxidase nicotinamida adesine dinucleotide (NADH) (Ul et al., 2006). A produção de energia sob a forma de adenosina trifosfato (ATP) depende da única via de glicólise (Deka et al., 2004; Lafond & Lukehart, 2006). Os mecanismos biosintéticos necessários para a síntese da maioria dos nutrientes estão ausentes no T. pallidum, retirando-os do hospedeiro por meio de proteínas de transporte (Norris & Weinstock, 2000). 1.2.6 Aspectos Clínicos das Infecções por T. pallidum A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica crônica, causada pela espiroqueta Treponema pallidum, subespécie pallidum, caracterizada por períodos sintomáticos alternados por longos períodos de latência (Larsen et al., 1995). A sífilis pode ser classificada, de acordo com a forma de transmissão, em adquirida, quando a transmissão é feita através de contato de soluções de continuidade entre o sangue do indivíduo doente e o indivíduo sadio, principalmente pelo contato sexual, e em congênita, quando a transmissão ocorre da mãe infectada para o filho via placentária (Avelleira & Bottino, 2006). A sífilis quando não tratada torna-se uma doença crônica, que progride através de múltiplos estágios, com variação nas manifestações clínicas (Stamm & Parrish, 1994; Hazlett et al., 2005; Handtrack et al., 2008; Castro et al., 2009), classificadas como: sífilis primária, secundária, latente e terciária (Stamm & Parrish, 1994). 1.2.6.1 Sífilis Primária O período de incubação varia entre 10 a 90 dias, antes do desenvolvimento do cancro da sífilis primária, que se manifesta como uma úlcera, geralmente acompanhada de linfoadenopatia regional. A úlcera, na maioria das vezes, é única, não dolorosa e possui a base 22 endurecida recoberta por um exsudato seroso claro (Rompalo et al., 2001; French et al., 2009). A úlcera libera ao toque um líquido claro altamente infeccioso. O cancro, com mais ou menos 0,5 a 1,0 cm de diâmetro (Rodrigo & Silva, 2003), afeta geralmente os órgãos genitais externos, mas também pode aparecer em outros locais, tais como: ânus, reto, lábios, língua, garganta, colo uterino, dedos ou, raramente, em outras partes do corpo (Becker et al., 1994). A este estágio, segue-se um período de incubação que dura em média de 3 a 4 semanas pós-infecção, no qual não há nenhuma ocorrência de manifestação clínica ou apenas a presença de uma hipertermia ligeira (Rodrigo & Silva, 2003; Lewis & Young, 2006). 1.2.6.2 Sífilis Secundária Os indivíduos com lesões primárias não tratadas podem, após algumas semanas ou meses, desenvolver doença sistêmica, evoluindo para a fase secundária. Esta se caracteriza por uma erupção na pele, altamente variável, podendo ser confundida com qualquer outra doença dermatológica como psoríase, pitiríase rósea e exantema viral (Handtrack et al., 2008; Bissessor & Chen, 2009). As lesões secundárias são em forma de pápulas, de cor rosada, e surgem no tronco, membros, palmas das mãos e plantas dos pés (Brar et al., 2007). A sífilis secundária se desenvolve entre 3 a 6 semanas depois do aparecimento do cancro (French et al., 2009). Contudo, verificou-se que em 25% dos casos de sífilis secundária, a lesão primária ainda estava presente. A linfoadenopatia generalizada, usualmente não dolorosa, envolve toda a estrutura linfática, como resultado da passagem do treponema (Hourihan et al., 2004; Baughn & Musher, 2005). Embora o espectro de manifestações clínicas não tenha mudado substancialmente, o clínico deve manter um índice elevado de suspeita e efetuar a confirmação pelos testes sorológicos (Aggarwal et al., 2005; Ul et al., 2006; Brar et al., 2007; Bissessor & Chen, 2009; Heymans et al., 2010). 23 1.2.6.3 Sífilis Latente Mesmo sem tratamento, o doente infectado pode se recuperar dos sintomas dos estágios primário e secundário, e a infecção entra numa fase assintomática, sendo apenas evidenciada pela reatividade dos testes sorológicos (Goh, 2005). A fase de latência da espiroqueta, compreendida entre a treponemia e a proliferação no interior dos órgãos, não é bem compreendida. Este período é caracterizado pela ausência total de sinais ou sintomas que pode durar de um a trinta anos e, após este período, os patógenos se reativam e se multiplicam em órgãos específicos, provocando uma hipersensibilidade mediada por célula, a qual lesa os tecidos (Singh & Romanowski, 1999). O período de latência pode ser subdividido em sífilis latente precoce e sífilis latente tardia. Quando a evolução da doença é inferior a um ano, este período classifica-se como latente precoce, enquanto que após um ano de evolução a sífilis latente é classificada como tardia (Singh & Romanowski, 1999). 1.2.6.4 Sífilis Terciária A Sífilis Terciária é a última e mais severa fase da sífilis. Esta é caracterizada por uma reativação dos treponemas e invasão de órgãos e tecidos específicos, podendo provocar alterações tegumentares (goma sifilítica) e atingir o sistema cardiovascular e o sistema nervoso central (SNC) (Aarestrup & Vieira, 1999). Os sintomas desse estágio surgem, tardiamente, cerca de 20 a 40 anos após a infecção inicial (Lafond & Lukehart, 2006), com exceção dos doentes infectados com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), nos quais a evolução natural da sífilis pode ser mais rápida, resultando no aparecimento mais precoce da neurossífilis (Zetola et al., 2007). Os treponemas podem invadir qualquer órgão, incluindo o sistema cardiovascular, neurológico e ósseo; originando, nas estruturas de suporte, o aparecimento de infiltrado ou destruição, com formação de lesões granulomatosas ou úlceras (Baughn & Musher, 2005; Goh, 2005). Kassutto & Doweiko (2004) descreveram um caso de neurossífilis em um indivíduo portador do HIV, com 35 anos de idade, no qual ocorreu a rápida progressão da sífilis primária para a neurossífilis, com a presença de títulos elevados de anticorpos não treponêmico, confirmando que a sífilis pode ter seu curso alterado em indivíduos portadores 24 do HIV, apresentando uma história natural da doença diferente daquela observada em indivíduos HIV-negativo. Os efeitos mais graves de sífilis não tratada são os que envolvem o sistema nervoso central e periférico (Lafond & Lukehart, 2006) e a sífilis cardiovascular. Este é caracterizado pelo desenvolvimento de insuficiência da válvula aórtica, com aneurisma da aorta, originando dor torácica, insuficiência cardíaca, dispnéia e possível morte (Brown & Frank, 2003; Goh, 2005; Lafond & Lukehart, 2006). 1.2.6.5 Sífilis Congênita A sífilis congênita resulta da transmissão de T. pallidum da mulher grávida para o feto, através da placenta, ou por contato com as lesões infecciosas durante o parto. A transmissão vertical ocorre mais frequentemente durante a sífilis primária ou secundária, o que implica dizer que quanto mais precoce for a infecção da mãe, maior probabilidade há da transmissão para o filho. O risco de transmissão transplacentária diminui após 4 anos de infecção, mesmo quando não tratada (Lafond & Lukehart, 2006). Tal como a doença sifilítica adquirida do adulto, a sífilis congênita é geralmente subdividida em fases: a precoce, na qual as manifestações aparecem nos primeiros dois anos de vida, e a tardia, após este período. As manifestações precoces podem estar presentes próximo ao nascimento, ou se tornarem evidentes nesse período, ou ainda, da segunda à décima semana pós-parto, sendo a lesão da mucosa nasal o sintoma mais comumente observado, com rinorréia purulenta por vezes com sangue, resultante de elevada espiroquetemia (Lafond & Lukehart, 2006). A sífilis congênita é mais severa quanto mais recente for a infecção materna. A taxa de transmissão vertical em mulheres não tratadas é de 70% a 100% na sífilis primária, 40% na sífilis latente recente e de 10% na sífilis latente tardia (Singh & Romanowski, 1999). Harter & Kurt (1975) demonstraram a presença de T. pallidum tanto em placentas quanto em fetos de 9 a 10 semanas de gestação, contradizendo a teoria anteriormente proposta de que as células de Langhans atuam até o quinto mês de gestação como barreira protetora contra a infecção fetal por T.pallidum. Ainda, segundo Harter & Kurt (1975), o fato de não existir nas biópsias dos fetos de 9 a 10 semanas, sinais de resposta infamatória ou lesão tecidual no local onde foram encontrados os treponemas, justifica o fato de que as manifestações clínicas só apareçam no 25 terceiro trimestre na forma de abortamento, nascimentos prematuros ou nascimentos seguidos de morte. Quando não se manifesta com essas características, a infecção congênita pode permanecer latente, vindo a se expressar durante a infância ou mesmo na vida adulta. As manifestações perinatais ocorrem principalmente na forma de lesões bolhosas, ricas em treponemas, na palma das mãos, planta dos pés, ao redor da boca e do ânus. Os sintomas da sífilis congênita tardia incluem tíbia em sabre, ceratite intersticial, dentes de Hutchinson, surdez e comprometimento de fígado e pulmão (Baughn, 1989; Larsen & Zenker, 1990; Bromberg et al.,1993; Genest et al., 1996). 1.2.7 Epidemiologia das infecções por T. pallidum A sífilis é uma infecção com distribuição mundial, atingindo, sobretudo, a população sexualmente ativa. Apesar da existência de antibioticoterapia acessível com alta eficácia para o tratamento desta infecção, continua a ser um grande problema para as autoridades sanitárias (Cruz et al., 2010). Dados de prevalência nos trópicos têm mostrado que a sífilis é a segunda ou terceira causa de úlcera genital, atrás somente do cancro mole e/ou herpes genital, sendo possível este dado subestimar os casos desta doença, pois o cancro sifilítico é indolor, não causando incômodo e, consequentemente, não é detectado (Avelleira & Bottino, 2006). São registrados, aproximadamente, 12 milhões de novos casos de sífilis por ano, sendo que a maioria deles está distribuída nas seguintes regiões: 4 milhões na África Subsaariana e no Sul e Sudeste da Ásia, 3 milhões na América do Sul e Caribe, 370 mil no Oriente Médio e Norte da África, 240 mil na Ásia Oriental e Pacífico, 100 mil na América do Norte, 140 mil na Europa Ocidental, 100 mil na Europa Oriental e Ásia Central e 10 mil na Austrália e Nova Zelândia (WHO, 2001; OMS, 2008). A infecção pode ser adquirida através de relações sexuais (vaginal, oral ou anal) e/ou por transmissão vertical (da mulher grávida para o feto) (Goh, 2005; Lafond & Lukehart, 2006; Lee & Kinghorn, 2008; Lewis & Young, 2006) e, ocasionalmente, por transfusão com sangue contaminado, embora com menor probabilidade por este ser testado antes de ser transfundido (Goh, 2005). 26 Na França, a sífilis ressurgiu a partir do ano de 2000, sendo que em 2004 foram identificados 06 casos de sífilis congênita em crianças menores de um ano, todos recém nascidos (RN) de mães diagnosticadas com sífilis (Nicolay et al., 2008). Em 2007, nos Estados Unidos, o número de casos notificados de sífilis primária e secundária foi de 11. 466, no qual foi verificado aumento de 17,5% em relação a 2006 (CDC, 2008). Hernández-Girón et al., (1998) verificaram, através de um estudo realizado no México, que a prevalência de infecção em um grupo de mulheres profissionais do sexo correspondia a 6,4 %. No Brasil, no período compreendido entre 1995 e 1997, foram notificados em todo o país 2.344 casos, sendo estes dados epidemiológicos disponíveis relativos a casos notificados de sífilis congênita. Desses casos, cerca de 61% correspondiam à região Sudeste, 17% à região Nordeste, 3% à região Norte, 17% à região Centro-Oeste e 2% à região Sul (MS, 1997). Os dados de 1997 mostraram aumento no número de notificações nas regiões Norte e Nordeste em relação a 1995 e 1996, respectivamente 8% e 37% do total de casos (MS, 1997). Já em 2003, foram notificados 843.300 casos de sífilis (Brasil, 2005). No estado do Pará, um estudo realizado na população de Belém revelou a prevalência de 4,39% para o teste VDRL (teste não-treponêmico clássico) e 15,79% para o teste ELISA. Além disso, após análise dos dados epidemiológicos, verificou-se associação da infecção com a relação sexual sem preservativo e com múltiplos parceiros (Vallinoto et al., 2003). 1.2.8 Diagnóstico Laboratorial de T. pallidum Os testes para diagnóstico da sífilis são classificados em testes treponêmicos e nãotreponêmicos (Ratnam, 2005). 1.2.8.1 Testes Não Treponêmicos Todos os testes não treponêmicos pesquisam anticorpos de tipo imunoglobulinas G e M (IgG/IgM), formados pelo hospedeiro em resposta ao material fosfolipídico liberado pelas células destruídas, sobretudo nas fases precoces da infecção, assim como contra a cardiolipina e substâncias semelhantes a proteínas, componentes estruturais liberados pelas treponemas. 27 Os testes não treponêmicos mais usados são: o Venereal Disease Research Laboratory (VDRL) e o Rapid Plasma Reagin (RPR), que utilizam como antígeno uma solução alcoólica de colesterol, cardiolipina e lecitina (Radolf et al., 1999; Castro et al., 2003, Goh, 2005). O VDRL é um teste de microfloculação que necessita de microscópio óptico para a leitura do teste. Uma solução alcoólica, contendo uma mistura de cardiolipina, lecitina e colesterol, é usada como antígeno, que deve ser preparada antes do inicio do teste para pesquisa de anticorpos anti-cardiolipina, que ocorrem como uma consequência da sífilis ou de outras doenças em que ocorram danos aos tecidos. É necessário que se realize a inativação do soro através do aquecimento das amostras (Larsen et al., 1995; Ratnam, 2005). Para realizar o VDRL, inicialmente, um teste qualitativo é realizado, colocando o soro não diluído e uma gota do antígeno; a leitura é feita imediatamente após a rotação. O teste quantitativo é realizado de maneira comparável ao teste qualitativo, exceto que as diluições seriadas da amostra devem ser preparadas em solução salina (Larsen et al., 1995). Este teste é usado para o diagnóstico e para o acompanhamento do curso da doença durante e após o tratamento da sífilis (Gutierrez-Galhardo et al., 2005). Já o RPR é considerado uma variação do VDRL, realizada em um cartão de látex que contém círculos de aproximadamente 18 mm, onde é feito o teste com a adição da suspensão colesterol/cardiolipina/lecitina e não sendo necessária a utilização de microscópio e inativação do soro (Wicher et al., 1999). 1.2.8.2 Testes Treponêmicos Os testes treponêmicos são utilizados como testes confirmatórios para sífilis (Larsen et al., 1995). A detecção direta do agente pode ser feita por três métodos. No primeiro, conhecido como inoculação animal ou teste de infecciosidade em coelhos (RIT – Rabbit Infectivity Tests), há a inoculação intradérmica ou intracelular de material supostamente infectado com T. pallidum no animal. Entre 7 a 14 dias após a inoculação espera-se que o animal desenvolva uma orquite; caso isso não aconteça, coleta-se sangue periodicamente para execução de testes sorológicos (Larsen & Zenker, 1990; Singh, 1999). A segunda técnica de detecção direta desta bactéria é denominada pesquisa de treponema em campo escuro. Constitui-se na pesquisa do agente por microscopia óptica com um condensador de campo escuro, que permite visualizar treponemas móveis no exsudato 28 obtido do cancro duro ou de lesões do período secundário (Larsen & Zenker, 1990; Belda, 1993; Flichman, 1995). Esta é a técnica de escolha para o diagnóstico da sífilis, quando existe lesão, por ser de baixo custo, que permite a identificação da doença na sua fase precoce, e por apresentar a possibilidade de se diferenciar treponemas saprofíticos de T. pallidum (Benenson, 1997). Alternativamente, pode-se pesquisar o agente da sífilis em exudato de cancro duro ou mesmo em outras lesões exudativas infectadas, com o auxílio da técnica de imunofluorescência direta. Essa metodologia utiliza anticorpos monoclonais anti-Treponema pallidum marcados com substância fluorescente, permitindo a visualização da bactéria em microscópio de fluorescência. Apesar de muito sensível, essa pesquisa tem sua especificidade dependente da qualidade do anticorpo monoclonal e seu uso é limitado pelo alto custo operacional (Larsen, 1990, 1998). Em relação aos métodos de biologia molecular existentes, a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) é a que tem sido mais utilizada para o diagnóstico laboratorial da doença infecciosa. Essa técnica consiste na síntese de um fragmento especifico de DNA através de ciclos sucessivos de repetição, resultando na multiplicação exponencial a que ela se refere até que haja quantidade suficiente de produto amplificado acumulado, podendo, dessa forma, ser detectado. Neste sentido, uma única molécula de DNA pode originar cerca de um bilhão de cópias após 30 ciclos de replicação exponencial, tornando assim este ensaio altamente sensível (Castro et al., 2009; Heymans et al., 2010). 1.2.9 Medidas de Prevenção e Controle para infecção por T. pallidum O contato com as lesões contagiantes (cancro duro e lesões secundárias) pelos órgãos genitais é responsável por 95% dos casos de sífilis. O objetivo do controle da sífilis é a interrupção da cadeia de transmissão e a prevenção de novos casos (Avelleira & Bottino, 2006). Segundo Avelleira & Bottino, (2006), evitar a transmissão da doença consiste na detecção e no tratamento precoce e adequado do paciente e do parceiro, ou parceiros. Na detecção de casos, a introdução do teste rápido em parceiros de pacientes ou de gestantes poderá ser muito importante. O tratamento adequado consiste no emprego da penicilina como primeira escolha e nas doses adequadas. Em situações especiais, como aumento localizado do número de casos, o tratamento profilático poderá ser avaliado. 29 A prevenção e controle da sífilis congênita incluem estratégias, como o aumento do acesso e a melhoria da qualidade de serviços de saúde para mães e RN, detecção e tratamento das mulheres grávidas e seus parceiros (OMS, 2008). O medicamento de escolha para o tratamento da sífilis é a penicilina. Em casos de hipersensibilidade à penicilina, as alternativas podem incluir a tetraciclina ou doxiciclina, eritromicina ou azitromicina e ceftriaxona (Deka et al., 2002; Cha et al., 2004; Goh, 2005). Vale ressaltar que, assim como outras IST, as estratégias para prevenção e controle da sífilis incluem a promoção de comportamentos sexuais saudáveis, uso de preservativos, notificação de parceiros, serviços de saúde acessíveis (WHO, 2007) e a triagem sorológica contínua do sangue de hemocentros (Singh & Romanowski, 1999). 30 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral O presente estudo teve como objetivo determinar a prevalência das infecções por C. trachomatis e T. pallidum em crianças e adolescentes residentes nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel, na Mesorregião do Marajó, investigando a correlação entre indicadores socioeconômicos e o risco da infecção pelos agentes. 1.3.2 Objetivos Específicos - Descrever as características socioeconômicas das populações avaliadas; - Descrever a soroprevalência das infecções por C. trachomatis e T. pallidum nas populações estudadas; - Investigar a ocorrência de associações entre os indicadores socioeconômicos e o risco de infecção pelos agentes investigados. 31 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo do tipo descritivo, transversal com abordagem quantitativa. 2.2 LOCAL DA PESQUISA A pesquisa foi realizada no Arquipélago do Marajó, localizado no Estado do Pará, Brasil, no período de Setembro de 2012 a Abril de 2013. Dentre os 16 municípios que compõem o arquipélago, quatro Unidades Municipais, Anajás, Chaves, Portel e São Sebastião da Boa Vista, foram selecionadas para pesquisa devido à baixa disponibilidade de informações epidemiológicas sobre infecção por Chlamydia trachomatis e Treponema pallidum. No Quadro 1 são apresentadas as características geográficas dos municípios selecionados. Quadro 1: Informações geográficas dos municípios de Anajás, Chaves, Portel e São Sebastião da Boa Vista, Marajó-Pará. Município Área Localização População Chaves 13.085,30 km² Latitude:00o 10’00’’ 20.506 hab. Longitude:49º59’ 18’’ Anajás 6.990,90 km² Latitude:00o 59’21’’ 27.386 hab. Longitude:49º56’ 24’’ São Sebastião da Boa Vista 1.569,90 km² Portel 25.385,10 km² Latitude:01º 43’05’’ 21.874 hab. Longitude: 49º31’45’’ Latitude:01º 55’45’’ Longitude:50º 49’15’’ Fonte: BRASIL, 2010; PARÁ, 2008. 48.945 hab. 32 2.3 OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS E INFORMAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS A coleta de amostras de sangue (5mL) foi realizada por meio de sistema de coleta a vácuo em tubos contendo como anti-coagulante Ácido Etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e as informações socioeconômicas e comportamentais foram coletadas por meio de análise do questionário epidemiológico simplificado (APÊNDICE A). A coleta de amostras, de acordo com o gênero e a idade, obedeceu ao perfil populacional existente em cada área de estudo. Os padrões que foram utilizados para cada localidade consideraram a população urbana e habitantes por domicílio. O total das amostras coletadas obedeceu, em princípio, os cálculos de amostragem usando o programa BioEstat 5.0, usando-se o cálculo do tamanho amostral para proporções, com poder de teste 0,90 e nível alfa de 0,05. Quando considerada a participação de cada município no total da população a ser investigada, a distribuição ficou da seguinte forma: Chaves (n=180); Anajás (n=149); SSBV (n=156) e Portel (n=363), somando um total de 848 indivíduos investigados. 2.4 ASPECTOS ÉTICOS Todos os participantes do estudado foram devidamente esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa e a importância de sua participação através da leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APÊNDICE B) acompanhados dos responsáveis legais que responderam o questionário epidemiológico e assinaram o termo de consentimento. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará sob o número de protocolo 0003.0.324.000-10, seguindo os preceitos da Declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg, respeitadas as normas de pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde (Res. CNS 196/96) (APÊNDICE C). 33 2.5 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Foram adotados os seguintes critérios para inclusão dos indivíduos: a) Crianças de 0 a 12 anos; b) Adolescentes de 13 a 18 anos e c) Residentes nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel. Foram excluídos os indivíduos que não obedecerem a esses critérios, a saber: a) Pessoas com idade superior a 18 anos; e b) Indivíduos que não residem nos municípios selecionados. 2.6 OBTENÇÃO DE DADOS SOROLÓGICOS Os dados sorológicos foram obtidos a partir de um banco de dados sorológico do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, resultados do produto final do Projeto “Marcadores Epidemiológicos em saúde no Arquipélago do Marajó/2009”, financiado pela Fundação Amazônia de Amparo e Estudos e Pesquisas do Pará (FAPESPA) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPQ). A abordagem sorológica consistiu em testes de triagem dos indivíduos para a detecção de anticorpos contra os agentes bacterianos do presente estudo. Para pesquisa de anticorpos anti-Chlamydia trachomatis, foram utilizados as técnicas de Ensaio Imunoenzimático (ELISA) e de Imunofluorescência Indireta (IFI). Para a detecção do Treponema pallidum, as amostras foram submetidas à técnica Reaginina Plasmática Rápida (RPR) e ELISA. 2.6.1 Ensaio Imunoenzimático (ELISA) para Chlamydia Para pesquisa de C. trachomatis, foi utilizado o teste imunoenzimático – C. trachomatis IgG (NovaTec Immundiagnostica GmbH Technologie & Waldpark Dietzenbach, Alemanha), que detecta anticorpos contra o gênero Chlamydia. A microplaca foi sensibilizada com antígenos constituídos por corpos elementares. As amostras de plasma foram adicionadas à placa sensibilizada com os antígenos. Os anticorpos IgG presentes nas amostras ligam-se aos antígenos de C. trachomatis que estão no interior da microplaca, formando imunocomplexos antígeno-anticorpo 34 específico. Então, foi feita a lavagem, com a solução tampão, para retirar o excesso do plasma. 2.6.2 Imunofluorescência indireta (IFI) para Chlamydia A pesquisa de anticorpos IgG específicos para Chlamydia, foi realizada utilizando lâminas comerciais (BioMerieux) sensibilizadas com antígeno de Chlamydia trachomatis, cepa L2, que apresenta antígenos comuns aos demais sorotipos de C. trachomatis, assim como C. pneumoniae e C. psittaci. Alíquotas de 20 µL de soro ou plasma, previamente diluídas a 1:32 em solução salina tamponada (PBS), foram depositadas sobre as lâminas contendo os antígenos. As lâminas, então, foram incubadas a 37° C, em câmara úmida, durante 45 minutos e após esse período foram lavadas, em PBS, por três vezes, e em seguida lavadas em água destilada, durante 1 minuto. Após a lavagem, foi realizada a adição de um soro conjugado, com atividade específica anti-IgG acrescido com isotiocianato de fluoresceína (FITC), que emitirá fluorescência em caso de reação positiva. Em seguida, as lâminas foram incubadas novamente à 37° C em câmara úmida, por 45 minutos e, sequencialmente, submetidas a um novo ciclo de lavagens. Por fim, as lâminas foram acrescidas de glicerina tamponada – pH 9.0 - para leitura do teste, em microscópico de imunofluorescência, utilizando objetiva de 100x (Zeiss, modelo Axiophot). Todas as amostras positivas foram diluídas de forma seriada e testadas até a diluição 1:512, com fator de diluição igual a 2. 2.6.3 Ensaio Imunoenzimático para Sífilis Para pesquisa de anticorpos IgG anti-Treponema pallidum foi utilizado o teste imunoenzimático ELISA - CaptiaTM Syphilis G (Trinity Biotech, Inc. Ireland) - para detecção qualitativa de anticorpos IgG anti-Treponema pallidum em amostras de plasma. O teste foi executado segundo a especificação dada pelo fabricante. As amostras entraram em contato com placas sensibilizadas com antígenos de Treponema pallidum, formando complexos antígeno-anticorpo específicos, e então, foi adicionado um conjugado que corresponde a anticorpos monoclonais anti-IgG humana 35 biotinilados unidos com estreptavidina e horse radish peroxidase (HRP) para sinalizar a soropositividade. O conjugado se ligou somente aos anticorpos específicos. A leitura do teste foi realizada através de leitor de microplacas e medirá a absorbância de cada amostra. 2.6.4 Reaginina Plasmática Rápida (RPR) As amostras de plasma que apresentaram reação positiva para o T. pallidum no teste de ELISA foram testadas pelo RPR (RPR Brás, Laborclin, Paraná, Brasil), com realização do teste qualitativo seguido do quantitativo. Para realizar a etapa qualitativa, inicialmente as amostras foram testadas puras e em uma diluição a 1:10. Em uma escavação da placa de Kline foi adicionada a amostra e uma gota (aproximadamente 50 mL) da solução antigênica (cardiolipina-lecitina-colesterol) presente no Kit. A placa foi colocada em um agitador de placas mecânico (Vórtex – Ts 2000a VDRL Shaker) e submetida à agitação de 180 ± 2 rpm, durante 4 minutos, sendo em seguida levadas para análise em microscópio óptico convencional (Microscópio Óptico, Olimpus BX41, Brasil), foram utilizados os controles positivo e negativo. As amostras consideradas reagentes apresentaram a formação de grumos. 2.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os estudos de associação de indicadores socioeconômicos da população estudada e o risco de infecção por Chlamydia trachomatis e Treponema pallidum foram obtidos por meio da Analise Bivariada, utilizando Teste Exato de Fisher. Os cálculos foram efetuados usando o programa BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2008), sendo considerado nível de significância p≤0,05. As informações foram armazenadas em um banco de dados para preenchimento de todas as informações colhidas de qualquer natureza por meio do programa Epi info 7, no qual foram feitos os procedimentos comuns e análise de epidemiologia descritiva. 36 3 RESULTADOS 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA No presente estudo, algumas perguntas do questionário não foram respondidas por alguns indivíduos, não sendo consideradas para o calculo estatístico. A análise dos questionários mostrou que 42,8% (363/848) dos indivíduos pertenciam ao gênero masculino e 57,2% (485/848) ao gênero feminino. A Tabela 1 apresenta a distribuição das variáveis socioeconômicas de acordo com cada um dos municípios de origem. A faixa etária dos indivíduos do estudo estava compreendida entre 0 e 18 anos, com média de idade de 10,5 anos. A maioria dos participantes (75,1%) pertencia à faixa etária de 0 a 12 anos. A renda familiar variou de menos de um salário mínimo até seis salários. A renda foi distribuída em menos de três salários e entre quatro e seis salários para fins de cálculo estatístico. A maioria dos participantes (73,5%) possuia menos de três salários mínimos, enquanto que 23,8% destes não informaram a renda e 1,5% não sabia responder (Tabela 1). Em relação ao município de origem (Tabela 1), 17,6% dos participantes são provenientes de Anajás (149/848), 21,2% moram no município de Chaves (180/848), 18,4% eram oriundo de São Sebastião da Boa vista e a maioria dos participantes (42,8%) encontra-se no município de Portel (363/848). 37 Tabela 1 - Dados Socioeconômicos da população do estudo de acordo com os municípios de origem, no Arquipélago do Marajó, ano de 2013. Variáveis Anajás Chaves São S. da Boa Vista Portel Total n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) Masculino 63 (42,3) 63 (35,0) 66 (42,3) 171 (47,1) 363 (42,8) Feminino 86 (57,7) 117 (75,0) 90 (57,7) 192 (52,9) 485 (57,2) Total 149 (17,6) 180 (21,2) 156 (18,4) 363 (42,8) 848 (100,0) 0 a 12 110 (73,8) 130 (72,2) 129 (82,7) 268 (73,8) 637 (75,1) 13 a 18 39 (26,2) 50 (27,8) 27 (17,3) 95 (26,2) 211 (24,9) <3 76 (51,0) 143 (79,5) 103 (66,0) 301 (83,0) 623 (73,5) 4a6 00 (00,0) 02 (1,1) 00 (00,0) 08 (02,2) 10 (1,2) NS* 08 (5,4) 02 (1,1) 00 (00,0) 03 (0,8) 13 (1,5) SI** 65 (43,6) 33 (18,3) 53 (34,0) 51 (14,0) 202 (23,8) Gênero Faixa Etária (anos) Renda Familiar *Não sabe **Sem informação 3.2 SOROPREVALÊNCIA DA CHLAMYDIA TRACHOMATIS E TREPONEMA PALLIDUM Foram examinadas 848 amostras de plasma, destas 81 foram positivas para anticorpos anti-clamydia, correspondendo a 10,3% do total (Tabela 2). O município de Anajás apresentou maior prevalência de chlamydia 12,4% com 17 soropositivos em 149 testados e Chaves a menor (8,8%) com 12 soropositivos em 180 testados. Vale ressaltar que em relação a soropositividade foram consideradas os casos de detecção de anticorpos IgG e IgM para infecções por Chlamydia, sendo que os indivíduos que apresentaram anticorpos IgG positivos foram selecionados para a detecção de IgM, através de teste de amostragem. Os municípios de Anajás e Chaves apresentaram dois indivíduos com IgG e IgM positivos (n=2), o município de Portel apresentou três indivíduos nesta condição (n=3) e não houve casos positivos no município de São Sebastião da Boa Vista. 38 Em relação aos anticorpos para Treponema, apenas 7 amostras foram positivas (1,0%), sendo que o município de Portel apresentou a maior prevalência 1,7% (5 casos), enquanto que no município de Chaves não houve registro (Tabela 2). Tabela 2 – Soroprevalência de Chlamydia trachomatis e Treponema pallidum de acordo como município de origem, no Arquipélago do Marajó, ano 2013. Infecção Anajás Chaves São S. da Boa Vista Portel Total (%) Anti-Chlamydia Positivo 17 12 18 34 81 (10,3) Negativo 120 124 151 313 708 (89,7) Prevalência (%) 12,4 8,8 10,6 9,8 10,3 Positivo 1 0 1 5 7 (1,0) Negativo 110 115 150 293 668 (99,0) Prevalência (%) 0,9 0,0 0,7 1,7 1,0 Anti-Treponema 3.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE SOROPREVALÊNCIA DE CHLAMYDIA TRACHOMATIS E INDICADORES SOCIOECONÔMICOS No que se refere à prevalência de Chlamydia trachomatis associada aos indicadores socioeconômicos, observa-se que houve resultados significativos para a variável faixa etária, principalmente compreendida entre 13 a 18 anos (28,2%) no município de Anajás (p=0,0010) (Tabela 3) e a variável gênero no município de Portel (p=0,0459), com número maior de casos em indivíduos do gênero feminino (12,6%) (Tabela 3). As demais variáveis socioeconômicas não apresentaram associação significativa com a infecção por Chlamydia. 39 Tabela 3 – Associação entre soroprevalência de Chlamydia trachomatis e indicadores socioeconômicos de acordo como município de origem, no Arquipélago do Marajó, ano 2013. Variáveis Anajás Chaves São S. da Boa Vista Portel Soropositividade* (%) Soropositividade* (%) Soropositividade* (%) Soropositividade* (%) Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Masculino 04 (7,1) 52 (92,8) 05 (8,6) 53 (91,4) 03 (5,3) 53 (94,6) 10 (6,2) 151 (93,8) Feminino 13 (16,0) 68 (83,9) 15 (13,5) 96 (86,5) 07 (8,7) 73 (91,2) 23 (12,6) 159 (87,4) Gênero p-valor 0,1866 0,4552 0,5243 0,0459 Faixa Etária (anos) 0 a 12 06 (06,1) 92 (93,9) 13 (10,8) 107 (89,2) 06 (5,4) 105 (94,6) 21 (13,6) 133 (86,4) 13 a 18 11 (28,2) 28 (71,8) 05 (14,7) 29 (85,3) 04 (16,0) 21 (84,0) 13 (14,0) 80 (86,0) p-valor 0,0010 0,3495 0,0862 1,0000 Renda Familiar <3 09 (12,3) 64 (87,7) 15 (11,1) 120 (88,9) 10 (10,6) 84 (89,4) 30 (10,4) 259 (89,6) 4a6 00 (00,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 02 (100,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 08 (100,0) SI** 08 (12,5) 56 (87,5) 03 (10,0) 27 (90,0) 00 (00,0) 42 (100,0) 03 (5,5) 51 (94,4) p-valor 1,0000 1,0000 * Detecção de anticorpos IgG e/ou IgM para infecção por Chlamydia. ** Sem Informação. 1,0000 0,6104 40 3.4 ASSOCIAÇÃO ENTRE SOROPREVALÊNCIA DE CHLAMYDIA TRACHOMATIS E VARIAVEIS DE RISCO PARA INFECÇÃO 3.4.1 Soroprevalência de Chlamydia trachomatis, comportamento sexual e gravidez Na Tabela 4, incluiu-se apenas os indivíduos sexualmente ativos, observa-se que a única associação significativa com a soroprevalência de Chlamydia trachomatis encontra-se no município de Anajás e está relacionada à variável início da vida sexual (p=0,0276), no qual nota-se que os indivíduos que iniciaram a vida sexual entre os 16 e 20 anos (80%) apresentaram a maior frequência para infecção por Chlamydia. 41 Tabela 4 – Associação entre a soroprevalência de infecção por Chlamydia trachomatis, com o comportamento sexual e a gravidez no Arquipélago do Marajó, ano 2013. Variáveis Vida sexual ativa Chaves São S. da Boa Vista Portel Soropositividade (%) Soropositividade (%) Soropositividade (%) Sim Não Sim Não Sim Sim 06 (35,3) 11 (70,6) 04 (19,0) 17 (80,9) 03 (33,3) Não 04 (22,2) 14 (77,8) 04 (7,5) 49 (92,4) 00 (00,0) p-valor Inicio da vida sexual Anajás Soropositividade (%) 0,4705 06 (66,7) 05 (13,1) 33 (86,8) 06 (100,0) 09 (10,7) 75 (89,3) 0,2286 0,7615 10 (83,3) 04 (26,7) 11 (73,3) 03 (60,0) 02 (40,0) 04 (13,8) 25 (86,2) 16 a 20 anos 04 (80,0) 01 (20,0) 00 (00,0) 06 (100,0) 00 (00,0) 04 (100,0) 01 (11,1) 08 (88,8) 0,0276 0,2807 0,1667 1,0000 Sim 05 (40,0) 05 (60,0) 01 (08,3) 11 (91,7) 02 (40,0) 03 (60,0) 02 (11,1) 16 (88,9) Não 01 (14,3) 06 (85,7) 03 (33,3) 06 (66,7) 01 (25,0) 03 (75,0) 03 (17,6) 14 (82,3) 0,3043 0,2722 1,0000 0,6581 Sim 04 (50,0) 04 (50,0) 04 (26,7) 11 (73,3) 01 (14,3) 06 (85,7) 04 (15,4) 22 (84,6) Não 02 (18,2) 09 (81,8) 00 (00,0) 06 (100,0) 02 (100,0) 00 (00,0) 01 (11,1) 08 (88,9) p-valor Gravidez Não 02 (16,7) p-valor Parceiro fixo Sim 10 a 15 anos p-valor Uso de preservativo 0,2121 Não 0,3189 0,2807 0,0833 1,0000 Sim 00 (00,0) 00 (00,0) 01 (50,0) 01 (50,0) 00 (00,0) 02 (100,0) 02 (28,6) 05 (71,4) Não 00 (00,0) 01 (100.0) 00 (00,0) 03 (100,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 10 (100,0) p-valor 1,0000 0,4000 1,0000 0,1544 42 3.5 ASSOCIAÇÃO ENTRE SOROPREVALÊNCIA PARA TREPONEMA PALLIDUM E OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS No que diz respeito à associação entre soroprevalência de Treponema pallidum e os indicadores socioeconômicos, levando em consideração os quatro municípios, observa-se que foram registrados 7 casos soropositivos em relação a 848 testados, sendo verificado o maior número de casos no município de Portel (n=5) e nenhum caso no município de São Sebastião da Boa Vista (n=0) (Tabela 6). Os indivíduos do gênero feminino (n=6), na faixa etária entre 13 a 18 anos (n=4) e com renda familiar abaixo de três salários mínimos (n=4) apresentaram maior frequência de infecção por Treponema (Tabela 6), sendo que a relação entre a faixa etária e a infecção por Treponema foi significativa (p= 0,0279). 43 Tabela 6 – Associação entre a soroprevalência de infecção por Treponema pallidum e os indicadores socioeconômicos, de acordo com o município de origem, no Arquipélago do Marajó, ano 2013. Variáveis Anajás Chaves São S. da Boa Vista Portel Anticorpos totais (%) Anticorpos totais (%) Anticorpos totais (%) Anticorpos totais (%) Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Masculino 00 (00,0) 46 (100,0) 00 (00,0) 49 (100,0) 00 (00,0) 44 (100,0) 01 (0,7) 136 (99,3) Feminino 01 (1,5) 64 (98,5) 01 (1,0) 101 (99,0) 00 (00,0) 71 (100,0) 04 (2,5) 154 (97,5) Gênero p-valor 1,0000 1,0000 1,0000 0,3771 Faixa Etária (anos) 0 a 12 01 (1,4) 71 (98,6) 01 (1,0) 101 (99,0) 00 (00,0) 89 (100,0) 01 (0,4) 209 (99,5) 13 a 18 00 (00,0) 38 (100,0) 00 (00,0) 49 (100,0) 00 (00,0) 26 (100,0) 04 (4,5) 84 (95,4) p-valor 1,0000 1,0000 1,0000 0,0279 Renda Familiar <3 01 (00,0) 62 (100,0) 01 (00,0) 122 (100,0) 00 (00,0) 81 (100,0) 04 (1,6) 4a6 00 (00,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 02 (100,0) 00 (00,0) 00 (00,0) 00 (0,0) p-valor 1,0000 1,0000 1,0000 243 (98,4) 08 (100,0) 1,0000 44 4 DISCUSSÃO No presente estudo a prevalência de anticorpos para Chlamydia trachomatis foi de 10,3%. Este achado de positividade para Chlamydia corrobora o estudo realizado na cidade de Libreville (Gabão), no Continente Africano, onde verificou-se no ano de 2009 que as pessoas com idade inferior a 18 anos, apresentavam prevalência de 9% para Chlamydia, com evidente queda na prevalência a partir dos anos subsequentes de 2010 e 2011 (Siawaya, 2014). A prevalência de Chlamydia geralmente apresenta-se elevada, como mostra o estudo realizado nas Ilhas do Pacífico em mulheres grávidas (26,1%), sendo que esta prevalência variou de acordo com o país, com a menor taxa ocorrendo nas Ilhas Salomão (7,3%) e taxa média na Samoa (40,7%) (Cliffe et al., 2008). Os resultados do presente trabalho corroboram os estudos em populações jovens, vulneráveis realizados no Brasil e no México, onde a prevalência de infecção por Chlamydia foi de 8,0%, e 8,9%, respectivamente (Gutierrez et al., 2006; Miranda et al., 2004). No entanto, foi menor que a encontrada em populações urbanas, do município de Belém (64,2%) (Almeida, 2009). Acredita-se que a proximidade do resultado de soroprevalência de Chlamydia do presente estudo com o observado em outras populações vulneráveis em detrimento da soroprevalência em populações urbanas esteja ligada aos casos subnotificados em municípios que se encontram afastados de regiões metropolitanas, pois os serviços de saúde geralmente apresentam-se pouco efetivos para a obtenção de diagnóstico e tratamento precoce. Isto, também, é verificado nos casos de indivíduos com infecção por Treponema. A associação entre a infecção de C. trachomatis e os indicadores socioeconômicos feitas no presente estudo apontou para uma maior prevalência de Chlamydia em indivíduos do gênero feminino no município de Portel e que se encontram entre 13 a 18 anos, como o verificado no município de Anajás. Estes achados assemelham-se aos resultados descritos por Dielissen et al. (2013), que realizaram um levantamento de base populacional de vinte e cinco estudos sobre a prevalência de Chlamydia, sendo que em nove estudos, a prevalência foi mais elevada em mulheres do que nos homens, variando de 0,1% a 12,1% nas mulheres e de 1,1% 45 a 10,6% nos homens. Além disso, a maior prevalência de clamídia ocorreu predominantemente em grupos etários mais jovens (<25 anos). Choroszy-Król (2012), afirma que entre os fatores de risco para a infecção por C. trachomatis inclui-se: (i) a idade da mulher jovem (20 a 25 anos), (ii) ter relações sexuais com múltiplos parceiros, (iii) um parceiro com sintomas de uretrite não gonocócica, (iv) testes de diagnósticos invasivos dentro do trato reprodutivo, (v) testes diagnósticos invasivos, (vi) contracepção intra-uterina, (vii) inseminação artificial e (viii) baixo nível socioeconômico. Um estudo realizado por Marcone et al. (2013) em Roma (Itália) revelou que indivíduos que se encontravam na faixa etária de 15 a 19 anos, do gênero feminino, apresentavam prevalência de 10,8% para Chlamydia (p=0,0002). O presente trabalho, também, corrobora um estudo realizado na cidade de Nova Orleans nos Estados Unidos da América por Nsuami et al. (2013), com estudantes do ensino médio no período de 1996 a 2005, que apresentou dados referentes às tendências de positividade para clamídia entre estes adolescentes. Foi possível determinar que a positividade média para clamídia é de 7,0% (IC 95% 6,6-7,4) em meninos e de 13,1% (IC95% 12,6-13,7) em meninas (P <0,001). Vale ressaltar que nos Estados Unidos, as mulheres jovens têm as maiores taxas de infecção por Chlamydia (Gibson et al., 2014). A prevalência de C. trachomatis em associação com o comportamento sexual dos indivíduos examinados, revelou que apenas os indivíduos que iniciaram a vida sexual na faixa etária entre 16 e 20 anos apresentaram significância na associação com a prevalência da infecção. Vale ressaltar que 75,1% dos indivíduos que fizeram parte do estudo não eram sexualmente ativos, pois estavam concentradas na faixa etária de 0 a 12 anos. A incidência de doenças sexualmente transmissíveis entre adolescentes vem aumentando em todo o mundo, sendo que as mulheres jovens são as mais acometidas pela infecção genital (Machado et al., 2012). Um estudo realizado na cidade de Salvador, Brasil, com 100 adolescentes do gênero feminino, sexualmente ativas, na faixa etária de 10 a 19, mostrou que não houve diferenças estatisticamente significativas na idade da primeira relação sexual, no número de parceiros sexuais, e na frequência do uso do preservativo entre adolescentes infectados e não infectados. 46 Porém a prevalência da infecção por Chlamydia trachomatis entre adolescentes de Salvador foi a mais alta no Brasil, perfazendo 31% (Machado et al., 2012). A divergência entre o resultado do presente estudo e o de Reilly et al. (2007), pode decorrer da diferença dos métodos empregados em cada estudo. Levando em consideração que no presente estudo não houve, por exemplo, coleta de vetores mecânicos como a mosca sinantrópica e que, também, a informação da presença de animais domésticos não foi suficiente para determinar a associação entre esta variável e a soroprevalência da infecção. No presente estudo, também, foi descrita a ocorrência de T. pallidum na população dos municípios selecionados, com exceção do município de São Sebastião da Boa Vista, sendo detectada baixa prevalência de infecção. Este achado corrobora a pesquisa de Hoekstra et al. (2006) que detectou um valor semelhante (1,5%) de prevalência de infecção por treponema em mulheres grávidas na Nicarágua. Diferentemente do achado apresentado no estudo de Conde-González et al. (2007) no México, onde a soroprevalência para o T. pallidum foi de 3,1% em adultos. Acredita-se que a baixa prevalência deste agente deve-se a faixa etária da população examinada estar compreendida, em sua maioria, entre 0 a 12 anos (75,1%). Porém, verificouse significância na relação entre indivíduos na faixa etária de 13 a 18 anos e a infecção por Treponema no município de Portel. Por outro lado, prevalências superiores foram detectadas em portadores de HIV-1 na cidade de Belém, Pará, Brasil (34,9%), o que sinaliza para a ocorrência deste agente em centros urbanos, principalmente, nos casos de coinfecção com outras IST’s (Almeida, 2009). O presente estudo, também, mostra que a ocorrência de infeção por treponema foi maior nos indivíduos do gênero feminino e este achado é preocupante por causa dos casos de sífilis congênita. Já nos indivíduos do gênero masculino, mesmo a infecção afetando um pequeno número, isto pode ter um grande impacto sobre a saúde de grande parte da população, principalmente por conta de comportamentos sexuais de risco, como o não uso de preservativos e possuir múltiplos parceiros. As complicações de IST tem um profundo impacto sobre a vida sexual e reprodutiva e afetam desproporcionalmente as mulheres, especialmente em locais com poucos recursos (Gottlieb et al., 2013), como os municípios selecionados para o presente estudo. 47 Casos confirmados de sífilis durante a gravidez resultam em 305.000 mortes fetais e neonatais por ano. Infecções por Chlamydia são causas importantes de doença inflamatória pélvica, gravidez ectópica e infertilidade feminina (Gottlieb et al., 2013). O presente estudo confirma a presença de C. trachomatis e T. pallidum nas populações estudadas e estabelece as soroprevalências para ambos os agentes, de acordo com os municípios, inferiores às encontradas em estudos anteriores, em outras populações no Brasil e no mundo. Os resultados mostram que a C. trachomatis e o T. pallidum são mais frequentes nas mulheres jovens. Acredita-se que a baixa prevalência deve-se pela faixa etária dos indivíduos examinados no estudo, refletindo no tamanho da amostra. Este estudo sinaliza para uma resposta urgente das autoridades de saúde pública, pois estas bactérias podem causar doenças graves, porém, possuem tratamento específico, quando diagnosticadas adequadamente e precocemente. 48 5 CONCLUSÃO - A Soroprevalência de Chlamydia trachomatis foi maior que a soroprevalência de Treponema pallidum nas populações estudadas; - A C. trachomatis e o T. pallidum estão em circulação nos municípios estudados, com exceção do município de São Sebastião da Boa Vista em relação a chlamydia; - Os indivíduos do gênero feminino, entre 13 a 18 anos, com renda familiar abaixo de três salários mínimos estão mais suscetíveis a infecção por Chlamydia e Treponema; - As mulheres jovens, que iniciaram a vida sexual entre 16 e 20 anos, com baixa renda familiar, estão mais suscetíveis a infecção por Chlamydia trachomatis. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AARESTRUP, F.M., VIEIRA, B.J. Oral manifestation of tertiary syphilis: case report. 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O objetivo da pesquisa é o de aumentar o conhecimento vigente acerca das condições de saúde nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel, referentes a saúde da criança, doenças transmissíveis, alimentação e nutrição, saúde reprodutiva, práticas tradicionais de costumes terapêuticos, a influência do meio ambiente na saúde, doenças crônicas (câncer cervical e outras neoplasias e medidas de atenção à saúde. 5. Durante a pesquisa o paciente deverá responder a um questionário, fornecerá uma amosta de sangue para exames diversos de laboratório e de uma amostra de fezes. 6. Essa pesquisa não oferece riscos; as práticas são de uso rotineiro e apenas uma pequena quantidade de sangue (10mL) será coletada para a detecção de anticorpos, marcadores genéticos e exames bioquímicos de rotina. 7. Na colheita de material biológico serão utilizados materiais esterilizados descartáveis, como agulhas, seringas, que não oferecem risco para o sujeito da pesquisa. 8. Ninguém é obrigado a participar da pesquisa, assim como poderá deixar a pesquisa no momento que quiser, pois não haverá prejuízo pessoal por esta causa. 9. Não haverá nenhum tipo de despesas para participação da pesquisa, assim como não haverá nenhuma forma de pagamento para participação. 10. O grande benefício desta pesquisa para todos os que participam, ou não, é propiciar a apresentação de resultados que poderão ser utilizados para a melhoria das condições de vida humana, nos municípios alvo e expandidos para a larga extensão territorial do Marajó. 11. A participação na pesquisa é sigilosa, isto significa que, somente os pesquisadores ficarão sabendo de sua participação. Os dados utilizados na pesquisa terão uso exclusivo neste trabalho, sem a identificação individual do participante. _______________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro que li as informações acima sobre a pesquisa, que me sinto perfeitamente esclarecido(a) acerca do conteúdo da mesma, assim como seus riscos e benefícios. Declaro ainda que, por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa cooperando com a coleta de material para exame. Belém, ____ / _____ / _____ Prontuário:______________ ___________________________ Assinatura do participante Protocolo: Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Laboratório de Virologia, Fone: (91) 3201-7587 e-mail: [email protected] 66 APÊNDICE C
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