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REVISTA AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007 Sumário 6 |Capa Controle e Redução de Perdas do Ribeirão 28|Várzea Parelheiros de 33| Programa reabilitação de redes de água 17| ENTREVISTA Ernani Ciríaco de Miranda: “Os níveis de perdas no Brasil ainda são elevados” 23| PONTO DE VISTA A situação atual das perdas no Japão por Masahiro Shimomura 26| PERDAS DE ÁGUA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Reduzir perdas - o meio ambiente e a sociedade agradecem por Sônia Nogueira 39| ARTIGOS TÉCNICOS BIODIVERSIDADE Mecanismos de desenvolvimento limpo e créditos de carbonos 38| MEIO AMBIENTE Desenvolvimento sustentável para o país 46| RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL O TEMPO DO RIO TIETÊ Um rio de contrastes e múltiplos usos 48| CYBER CAFÉ Site Domínio Público 49| RESENHA Livro: Big Bang 50| HOMENAGEM Um profissional realizado que nunca esqueceu a Sabesp REVISTA Editorial A ÁGUA DO AMANHÃ Ao contrário do que se acreditava num passado não muito distante, o mundo está aos poucos tomando conhecimento de que a água é um recurso limitado. É fundamental que o homem amplie as medidas estratégicas no sentido de preservá-la, garantindo para as gerações futuras o acesso a esse bem tão precioso. As decisões devem ocorrer em caráter de urgência, para evitar que as medidas corretivas no futuro não sejam ainda mais radicais. O desperdício generalizado parte das residências, com a torneira pingando, até as cidades, independente do porte, com vazamentos em adutoras, encanamentos, empresas e fraudes na captação de água. Cada setor do governo e da sociedade têm sua parcela de responsabilidade. Aparentes ou reais, os níveis de perda de água no Brasil ainda são altíssimos e representam um grande desafio para o setor de saneamento, principalmente devido a dimensão continental do País. Nossa reportagem especial de capa discute a necessidade da redução imediata das perdas de água, através de equipamentos e sistemas, e mostra as medidas que já estão sendo tomadas no sentido de reduzir os limites atuais para padrões cada vez menores, a exemplo do que aconteceu em países como o Japão, situação também retratada nessa edição da Revista Saneas. O assunto ganha especial importância no momento em que o Governo divulgou, no dia 14 de setembro, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005/2006 (PNAD/IBGE), que aponta o crescimento da rede de água, de 82,3% em 2005 para 83,2% em 2006. O percentual de domicílios com rede de esgoto também aumentou, de 69,7% para 70,6%, no mesmo período. E os números devem continuar a subir, sinalizando a necessidade de aumentar também os cuidados com a preservação da água para que ela chegue, com qualidade e em quantidade suficiente aos lares de todo Brasil. Você vai saber mais sobre o assunto na matéria sobre Controle de Perdas, em entrevista com Ernani Ciríaco de Miranda, Coordenador do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), além dos Pontos de Vista de Masahiro Shimomura e Sônia Nogueira. Também conhecerá temas como o Programa de Reabilitação de Redes de Água, conduzido pela Unidade de Negócio Centro da Sabesp; os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono; o trabalho para redução da concentração de constituintes típicos de efluentes sanitários na várzea do Ribeirão Parelheiros; a importância e os avanços na despoluição do Rio Tietê, entre outros assuntos de interesse. E assim cumprimos a missão de sempre proporcionar aos nossos leitores, as principais novidades e atualizações tecnológicas em saneamento e meio ambiente. Por isso, você já sabe: pensou em saneamento, pensou na Revista Saneas. Boa leitura! Walter Antonio Orsatti Presidente * Impresso em papel reciclado AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007 Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp DIRETORIA EXECUTIVA Presidente - Walter Antonio Orsatti Vice-Presidente - Gilberto Alves Martins 1º Secretário - Ivan Norberto Borghi 2ª Secretária - Cecília Takahashi Votta 1º Tesoureiro - Hiroshi Letsugu 2º Tesoureiro - Emiliano Stanislau de Mendonça DIRETORIA ADJUNTA Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs Diretor de Esportes- Zito José Cardoso Diretor de Pólos - José Carlos Vilela Diretora Social - Magali Scarpelini Diretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro CONSELHO DELIBERATIVO Amauri Pollachi, Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela, José Márcio Carioca, Júlio César Villagra, Luciomar dos Santos Werneck, Luis Américo Magri, Luiz Henrique Peres, Nélson César Menetti, Osvaldo Ribeiro Júnior, Ovanir Marchenta Filho, Renato Hochgreb Frazão, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sérgio Eduardo Nadur, Yazid Naked CONSELHO FISCAL Ivo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile e Nizar Qbar Pólos da Região Metropolitana de São Paulo Coordenador - Nélson César Menetti Costa Carvalho e Centro - Célia Maria Machado Ambrósio Leste - Luciomar dos Santos Werneck Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira Oeste - Evandro Nunes de Oliveira Ponte Pequena - Aram Kemechian Pólos AESABESP Regionais Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior Franca - Helieder Rosa Zanelli Itapetininga - Valter Katsume Hiraichi Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho CONSELHO EDITORIAL Luiz Henrique Peres (Coordenador) Viviana Marli de Aquino Borges Carlos Alberto de Carvalho José Marcio Carioca Célia Maria Machado Ambrósio FUNDO EDITORIAL Jairo Tardelli, Antonio Pereto, José Antonio de Oliveira, Milton Tsutiya, Sonia M. Nogueira e Silva, Eliana Kitahara e Franscisca Adalgisa da Silva JORNALISTA RESPONSÁVEL João B. Moura - MTB 38741 PROJETO VISUAL GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA L3ppm - publicidade, propaganda e marketing Ltda [email protected] www.L3ppm.com.br IMPRESSÃO E ACABAMENTO Gráfica IPSIS www.ipsis.com.br Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1642 - casa 1 - Bela Vista 01327-002 - São Paulo - SP Fone (11) 3284 6420 - 3263 0484 Fax (11) 3141 90 41 [email protected] www.aesabesp.com.br CAPA Cr éd A LUTA PARA COMBATER AS PERDAS DE ÁGUA ito :O da ir M .F ar ia VICENTE DE AQUINO A s perdas de água (diferença entre os volumes produzidos ou entregues aos sistemas e os volumes consumidos de forma autorizada) ocorrem em todos os sistemas de abastecimento e refletem a eficiência operacional e as condições da infra-estrutura. Classificam-se em perdas reais (físicas), quando a água é perdida antes de chegar aos consumidores, principalmente devido a vazamentos nos diversos componentes dos sistemas de abastecimento, e em perdas aparentes (comerciais), quando a água é consumida de forma “não-autorizada”, principalmente devido à submedição causada pela imprecisão nos hidrômetros dos clientes, irregularidades (fraudes) e furto de água em hidrantes. As proporções entre esses dois tipos de perdas e suas causas variam de sistema para sistema, exigindo ensaios de campo e a adoção de várias hipóteses para se chegar a uma partição entre os dois tipos de perdas. As avaliações mais recentes têm levado a uma porcentagem maior de perdas reais em relação às perdas aparentes. A IWA - International Water Association, propôs uma Matriz de Balanço Hídrico para os sistemas de abastecimento de água, que procura uniformizar os conceitos e os entendimentos sobre perdas de água em todo o mundo, conforme mostrado na tabela na próxima página. Há ainda uma grande discussão acerca dos indicadores de perdas, especialmente no que diz respeito à comparabilidade entre sistemas de abastecimento de água distintos. O indicador clássico (percentual em relação ao volume produzido ou disponibilizado) tem sido preterido em favor de outros que possam retratar melhor a situação existente, tais como o indicador de perdas “litros por ligação de água por dia” ou o “índice de vazamentos da infra-estrutura”, adimensional, que leva em conta fatores relativos às condições das tubulações e às pressões reinantes no sistema (este último indicador é para perdas reais). Não existe “perda zero” em sistemas de abastecimento de água. Podem ser definidos dois limites referenciais para as perdas: • Limite Técnico: aquele possível de se chegar utilizando todas as técnicas, tecnologias e recursos disponíveis no momento (perdas inevitáveis); • Limite Econômico: nível de perdas em que o custo para recuperar um determinado volume supera o custo de produção e distribuição desse volume; geralmente este limite é atingido antes do limite técnico. Setembro/Outubro de 2007 Saneas 05 CAPA Divulgação Julian Thornton, das forças-tarefa da IWA e da AWWA (American Water Works Association) Tais limites são conceituais e de difícil determinação prática, e variam, especialmente o econômico, de local para local. As principais ações para redução das perdas reais são o gerenciamento de pressões (quanto menores e mais estáveis, melhor), o controle ativo de vazamentos (localizar rapidamente os novos vazamentos não-visíveis, através do monitoramento da vazão mínima noturna e de métodos acústicos de pesquisa), a agilidade e a qualidade do reparo dos vazamentos e o gerenciamento da infra-estrutura (priorização de trechos para renovação das tubulações, principalmente dos ramais de água, onde ocorre a maioria dos vazamentos). Já para a redução das perdas aparentes, as principais ações são o gerenciamento da hidrometria (otimização das trocas e dimensionamento dos hidrômetros, principalmente dos maiores consumidores) e o combate a irregularidades (como fraudes e ligações clandestinas). O desenvolvimento de medidas de natureza preventiva de controle de perdas nas fases de projeto e construção do sistema envolve a necessidade de passos iniciais de organização anteriores à operação. As medidas devem contemplar, dentre outras: a boa concepção do sistema de abastecimento de água, considerando os dispositivos de controle operacional do processo, a qua- 06 Saneas lidade adequada dos materiais e da instalação das tubulações, equipamentos e demais dispositivos utilizados, a implantação dos mecanismos de controle operacional (medidores e outros), a elaboração de cadastros e a execução de testes pré-operacionais de ajuste do sistema. A macromedição, ou seja, a medição dos grandes volumes de água que entram no sistema (ou mesmo aqueles que saem), deve ser bem estudada, implantada e acompanhada, pois os números dela resultantes serão as referências para todas as análises posteriores, não só para a questão das avaliações de perdas, mas também para a definição de vários parâmetros de projeto e operação dos sistemas de água. PESQUISA INTERNACIONAL Para o consultor Julian Thornton, inglês, formado em Engenharia Mecânica e Civil, e desde 1996 residindo no Brasil, o trabalho de campo é o principal: “Eu sempre me considerei uma pessoa mais prática. Que gosta de trabalhar e resolver os problemas cotidiaDivulgação Setembro/Outubro de 2007 nos”, afirma. Julian faz parte das forças-tarefa da IWA e da AWWA (American Water Works Association): “Eu sou o líder da equipe do controle de pressão”. Julian fala sobre a contribuição da IWA no tocante a um entendimento global uniforme sobre as questões ligadas às perdas reais: “A IWA propôs uma padronização para avaliar perdas reais e também aparentes. Antes havia vários indicadores, não eram padronizados, eram variáveis, soltos, as pessoas queriam comparar maçã com laranja e não tinha como comparar. A IWA trouxe um indicador que padronizou a medição em vários países. Eu particularmente não conheço países que não tenham aceito os indicadores da IWA. Existem países que ainda estão estudando, mas eu não sei de nenhum que disse ‘eu não vou usar’. Posso citar alguns países que utilizam a metodologia da IWA: Estados Unidos, Canadá, Malta, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Alemanha, Itália e Brasil, entre outros”, afirmou. Sobre a questão de as perdas aparentes não terem avançado tanto quanto as perdas reais na IWA, Julian diz que o assunto tem mais de uma resposta: “Primeiro precisamos dizer que a IWA tem uma equipe para tratar das perdas aparentes. Tem muita gente que pensa que IWA não se preocupa com isso, mas nós estamos estudando e pesquisando o assunto. Acontece que o processo de desagregar as perdas aparentes é bem mais complexo. Nós podemos ter falhas de cadastro, fraudes ou mesmo submedição. Já as análises dos componentes das perdas reais são mais visíveis. Podemos ter uma precisão muito grande no sistema nesse campo. Mas as coisas estão mudando. Malta e Chipre, por exemplo, estão muito adiantados em relação às perdas aparentes”, explica. O consultor não tem nenhuma dúvida em afirmar que é muito importante fazer um diagnóstico de todos os componentes e desagregar o que é perda aparente do que é perda real: “Temos que achar as peças que criam problemas e depois atacar de forma eficiente. Quando se está tentando reduzir perdas, é necessária uma gestão contínua. Ela é mais importante do que a técnica em si. Se você não faz uma gestão continuada, você não vai conseguir diminuir as perdas de forma sustentável. A gente pode aplicar uma ferramenta nova, que dê resultados naquele momento, mas se não houver gestão, as perdas voltam a aparecer”, esclarece. SISTEMAS COMPLEXOS E DE GRANDES DIMENSÕES Um dos maiores desafios em um sistema grande, segundo Julian, é a compartimentação do sistema: “O segredo para conseguir medir com precisão é desagregar a rede de distribuição de água, gerenciar um sistema grande em partes pequenas. A Inglaterra conseguiu diminuir as perdas reais em cinco anos. Mas lá são 50 milhões de pessoas, toda Inglaterra significa três cidades de Divulgação Eric Cerqueira Carozzi, Superintendente de Desenvolvimento Operacional da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp São Paulo. É importante fazer um diagnóstico financeiro para saber em quanto tempo nós conseguiremos chegar naquilo que pretendemos. Mas um sistema grande é complexo, pois se o dinheiro acaba no meio desse prazo, a gente acaba perdendo o que já ganhou. Então é necessário saber se vai haver um investimento continuado para se determinar prazos”. “Eu gosto de citar bons exemplos da metodologia IWA. Em perdas aparentes, um grande exemplo disso é a cidade da Filadélfia, nos Estados Unidos. Eles trocaram todos os hidrômetros e fizeram uma grande campanha contra as fraudes. Como resultado, conseguiram reduzir bastante o volume das perdas aparentes. Halifax, no Canadá, também é outro grande exemplo. Isso é o sucesso de uma gestão de um grande sistema dividido em vários pequenos. Chipre, um pequeno país, mas que tem muitos problemas de recursos hídricos, conseguiu reduzir muito as perdas reais e aparentes”, diz Julian. Sobre as referências mundiais no controle das perdas de água, Julian diz que a Inglaterra e o Japão são exemplos bem acabados: “Eles controlam bem os dois tipos de perda. Se uma empresa está com controle de fluxo de caixa e Setembro/Outubro de 2007 precisa fazer dinheiro, controlar a perda aparente é mais importante. Por outro lado, a empresa que vende água precisa ter o produto. Se ela está com pouca oferta, controlar a perda real é mais importante. Sem água ela deixa de ser uma empresa”, afirma. Ele diz que tanto os ingleses quanto os japoneses trabalham muito com o controle de pressão: “Ao diminuir a pressão em determinados horários, você acaba diminuindo também os vazamentos”, conclui Julian. PERDAS OCORREM EM TODOS OS SISTEMAS Para o engenheiro Eric Cerqueira Carozzi, Superintendente de Desenvolvimento Operacional da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp, as perdas ocorrem em todos os sistemas de abastecimento. “Para um eficiente combate às perdas, é necessário conhecer o tipo de perda predominante em cada sistema e as respectivas causas. A partir desse diagnóstico é possível priorizar e investir em ações de modo a se otimizar a aplicação dos recursos. Nos sistemas de maior porte, que demandam maior esforço para reduzir as perdas, é fundamental sua divisão em setores de abastecimento menores, que viabilizem uma gestão eficaz da sua operação. Outro aspecto fundamental do combate às perdas é a necessidade de conscientização e comprometimento de todos os envolvidos, além de estratégias de longo prazo, com continuidade de recursos, associados a cuidados especiais quanto à qualidade dos materiais aplicados e ao treinamento das equipes de manutenção e de instalação da infra-estrutura”, explica. Eric ressalta que o Programa de Redução de Perdas é um programa estratégico na Sabesp, com metas ambiciosas e que exigirá recursos para a sua implementação: “Realmente o programa de redução de perdas é fundamen- Saneas 07 CAPA tal para a Sabesp, pois além de possibilitar a redução de custos operacionais e de manutenção, permite adiar investimentos na ampliação da produção, que têm custos cada vez mais elevados, principalmente em municípios com pouca disponibilidade hídrica”. Quanto ao programa de perdas da Sabesp, diz Eric que “já estamos trabalhando na elaboração do programa corporativo, através da uniformização de critérios e ações nas duas diretorias operacionais (Diretoria Metropolitana e Diretoria de Sistemas Regionais) e da consolidação dos seus planos existentes. A partir desse plano, buscaremos viabilizar os recursos necessários para atingir as metas definidas. Também acompanharemos a evolução e os resultados obtidos no Contrato de Performance (no qual a contratada tem compromisso e é remunerada em função da redução de perda obtida), em andamento num projeto-piloto na Região Metropolitana de São Paulo, para avaliar esse novo modelo de contratação. Mas não basta elaborar planos e viabilizar recursos. É preciso acompanhar a realização das ações e os resultados obtidos, e para isso desenvolveremos um sistema que integre as informações das duas diretorias, o que é um grande desafio devido às muitas diferenças de características e de sistemas de informações utilizadas em cada uma delas”, diz. Sobre as dificuldades de planejar as ações de perdas, Eric ressalta que “ainda não possuímos um modelo preciso que permita projetar as metas de perdas em função das ações e recursos previstos nos planos. É preciso melhorar a qualidade destas informações e registrar os históricos das ações e seus resultados, a fim de aperfeiçoar continuamente esse modelo, de modo a aprimorar os planejamentos futuros. De qualquer forma, para otimizar a aplicação dos recursos, Divulgação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 Viena Japão Tóquio Kobe Nagoya M 22 15,92 20 18,96 20 20,46 20 14,99 30 20 18,91 30 22 18,29 30 22 21,66 29,6 22 13,56 28,3 21 14,86 29,6 20,5 14,48 28,9 19,5 14,18 31,2 19 14,81 29,4 18,5 14,27 27,9 18 14,14 27,8 17,8 14,04 27,7 17,6 13,96 27,1 17,4 13,93 25 26,8 17,2 13,59 26,5 17 12,9 26,4 16,8 12,7 26,4 16,6 12,42 24,9 15,8 12,33 23 24,3 15,7 12,48 20,8 15,6 12,01 18,5 20,2 15,5 11,90 17,5 20,5 15,4 11,82 16,5 19 15,3 11,48 16 15 17,2 15,2 11,15 15,5 15,5 15,1 10,83 14 13,4 14,8 10,50 13 12,7 14,5 14,7 9,55 13,75 14,5 14 14,7 9,27 13 17,5 14,7 13,5 13,3 8,48 13,25 13,3 13 12,8 8,08 14,5 12,9 12,5 12 7,77 14,75 11,7 12 11,5 7,49 15 10,9 11,5 11,1 6,88 16,5 9,9 10,3 11 10,7 6,70 16 10 10,5 10,1 6,49 18,75 9,9 10 9,8 6,23 21 8,1 9,6 15,8 5,42 22 7,3 9,3 12,3 5,36 21,75 9,5 5,8 8,9 10 5,19 16,1 6 8,4 9,6 5,13 14,9 8 5 8 9,1 5,02 15,25 4,5 7,6 8,9 4,80 15,55 4,3 7,1 8,7 4,54 15,4 5,5 6,4 8,3 4,50 15,4 6,6 5,4 8 15,55 6,9 4,7 8 16,1 6,8 4,4 7,9 17,45 17,4 16,25 15,8 08 Saneas PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO Eric acredita que elaborar programas de cooperação é uma forma eficaz de capacitação e troca de experiências para a gestão das perdas: “No trato com o problema das perdas de água, a Sabesp segue a linha de ação proposta pela IWA. Dessa forma, as unidades de controle de perdas da Sabesp, principalmente na Diretoria Metropolitana, têm mantido um contato muito próximo com os especialistas ligados à IWA. Quanto aos acordos de cooperação técnica, a Sabesp assinou, no início deste ano, um acordo com o governo do Japão, através da sua Agência de Cooperação Internacional (JICA), que tem como objetivo a transferência de conhecimento e de tecnologia, adquiridos pelos técnicos japoneses durante mais de 50 anos. O Japão é uma referência mundial em controle de perdas e possui sistemas tão grandes e complexos como os da Sabesp, com índices de perdas excepcionais, abaixo de 8%, principalmente quando considerados índices acima de 30%, como ocorre em 35 30 25 % Perdas Reais 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 que são escassos, é fundamental ter o diagnóstico dos tipos e causas das perdas em cada sistema, a partir do qual se possam priorizar as ações mais eficientes e eficazes”. 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 Japão Tóquio Kobe Nagoya Viena Redução de perdas ao redor do mundo Setembro/Outubro de 2007 Divulgação Vazamento alguns sistemas operados pela Sabesp” (Leia mais no Ponto de Vista, a partir da página 23). ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICA Outro assunto do qual Eric gosta de falar diz respeito às inovações tecnológicas disponíveis no mercado e que possuem aplicação imediata na redução de perdas: “Como eu já disse, a Sabesp mantém estreita relação com os especialistas da IWA que, à parte do trabalho realizado no Japão, é a entidade de ponta, em âmbito mundial, quando se fala em controle de perdas. Desse modo, em termos tecnológicos, a Sabesp tem se mantido atualizada e em um bom patamar, quando comparada às empresas de abastecimento de água dos países mais desenvolvidos”. Como inovações tecnológicas que teriam aplicação imediata, Eric cita o sistema de detecção de vazamentos em tubulações de grande porte (adutoras e anéis primários), conhecido como Sistema SAHARA. Esse sistema foi desenvolvido na Inglaterra pelo Water Research Center (WRC) e “é o único sistema conhecido que se demonstrou extremamente eficaz para a detecção desse tipo de vazamento. A Sabesp já manteve contato com o representante do sistema para as Américas, mas, no momento, seus altos custos inviabilizam testes de campo em algum de nossos sistemas de abastecimento, que seria o primeiro passo para adoção dessa nova tecnologia”. Um grande desafio tecnológico para a Sabesp, segundo Eric, é “a redução da submedição dos hidrômetros dos clientes, efeito potencializado pela existência, especialmente no Brasil, de caixas d’água nos imóveis, o que reduz as vazões nas ligações e amplia a submedição nos hidrômetros”. Outra questão importante é a qualidade dos materiais das tubulações enterradas. A Sabesp já utiliza como padrão, há vários anos, tubos de polietileno para a execução dos ramais de água. Quanto à utilização do polietileno em redes de distribuição de água, Eric diz que “observamos uma tendência de sua aplicação em diversos países europeus. No Brasil, algumas operadoras como o DMAE - Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre e a empresa Águas de Limeira já adotam o polietileno nas novas redes. A Sabesp aplicou o polietileno nas redes de alguns poucos sistemas, mas, por falta de certos cuidados, acabou tendo más experiências. O polietileno apresenta diversas vantagens em relação às tubulações em ferro ou PVC, tais como a redução do número de juntas (soldagem por fusão), que são potenciais pontos de vazamentos, a facilidade na execução das redes e a exigência de uma menor largura de escavação. Além disso, onde há necessidade de renovação das redes e praticamente é inviável a sua instalação com abertura de vala (região central de São Paulo, por exemplo), o polietileno tem a vantagem adicional de possibilitar a execução através de método não-destrutivo. Por outro lado, o polietileno Adutoras podem conter vazamentos Crédito: Odair M. Faria Setembro/Outubro de 2007 Saneas Divulgação CAPA O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli, Superintendente da Unidade de Negócio Leste da Sabesp (UN-ML) exige cuidados com o controle de qualidade dos materiais, equipamentos mais sofisticados e estruturação da manutenção e mão-de-obra treinada e previsão de peças de reposição. Mas esses cuidados também devem ser observados para os demais materiais. Além disto, para se garantir bons resultados, pela falta de normas brasileiras, foram desenvolvidas NTS – Normas Técnicas Sabesp, que especificam desde os materiais até sua aplicação e manutenção. Assim, já estamos em condição de iniciar uma aplicação em maior escala. Como em toda mudança, há resistência em utilizar um novo material, mas acho que o polietileno é uma boa solução para aplicação nas redes de água, desde que tomados os devidos cuidados, e sua aplicação deve ser avaliada e testada em maior escala na Sabesp”, finaliza. BAIXA RENDA O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli, atual Superintendente da Unidade de Negócio Leste da Sabesp (UN-ML), acredita que um dos seus maiores desafios é o de combater perdas em uma região vasta, complexa e de baixa renda como é essa área da Região Metropolitana de São Paulo: “A 10 Saneas UN-ML atende oito municípios (Salesópolis, Biritiba-Mirim, Arujá, Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba e parte da Zona Leste do Município de São Paulo), com mais de 752 mil ligações de água e mais de 3 milhões de pessoas. A incansável preocupação com o uso sustentável da água, fator essencial para garantir a disponibilidade para as futuras gerações e a sustentabilidade do negócio, vêm aprimorando o Programa de Controle de Perdas”, diz. Ele explica que um dos pontoschave para que esse controle atinja um grau de excelência está justamente no planejamento: “O ponto de partida é a realização de nosso planejamento plurianual, em que avaliamos quais as principais ações e conseqüentes recursos necessários para curto, médio e longo prazo. Assim, a redução de perdas tem sido realizada de forma mais eficaz e com retornos mais efetivos. Podemos citar algumas práticas: em 2004 foram implementadas as Ações Integradas de Combate às Perdas nos setores de abastecimento, voltadas ao combate de perdas reais e aparentes, envolvendo todos os departamentos da UN-ML. Todos focados num só objetivo. Vale citar também a postura inovadora da UN-ML, que implementou o Método de Análise e Soluções de Problemas para Perdas – MASPP”, afirma. Esse novo método, segundo Dante, possibilitou a mudança de conceitos: “O de Volume Disponibilizado (VD = compra de água da área de produção) e o de Volume Utilizado (VU = venda de água aos clientes). Atualmente todos os empregados da Sabesp falam em redução das perdas e sabem o significado do VD e VU. Hoje, a cultura está tão bem disseminada que o problema de redução das perdas de água é responsabilidade de todas as áreas da UN-ML, e não mais apenas da Divisão de Controle de Perdas. Setembro/Outubro de 2007 A gestão de controle de perdas enquadra-se totalmente na melhoria da qualidade da operação dos sistemas de abastecimento de água, na conseqüente melhoria dos serviços prestados e na busca da excelência a cada ano. Em 2006, como parte das ações de melhoria do Programa de Perdas, as atividades de Pesquisa Acústica de Vazamento foram descentralizadas para os Pólos de Manutenção, bem como a leitura e acompanhamento do funcionamento das Válvulas Redutoras de Pressão (VRP) dentro de sua área de atuação. Em 2007 foram criadas metas de VD e VU, com responsáveis pelo setor de abastecimento, o que melhora o acompanhamento e a análise, tendo como foco principal os resultados planejados. No mesmo ano foi expandido o trabalho em alças de controle/distritos pitométricos, que visam diminuir as vastas extensões de rede nos setores de abastecimento, propiciando uma melhor atuação de nossas equipes”, explica de forma direta. Fazer com que uma população carente e sem acesso à cultura entenda a atual realidade do problema das perdas de água é também um fator determinante para ele: “A população na área de nossa atuação é formada por grandes núcleos carentes, condomínios populares, ocupações desordenadas e irregulares, inclusive em áreas de proteção de mananciais. A UN-ML possui o Programa de Participação Comunitária - PPC, em que técnicos comunitários lotados nos nossos Escritórios Regionais asseguram maior proximidade e agilidade na identificação e atendimento às demandas e necessidades das comunidades. Para as áreas de favela e caráter social, os técnicos comunitários verificam, visitam e acompanham as necessidades dos clientes, realizam levantamento socioeconômico propondo uma tarifa diferenciada ou condição de parcelamento Crédito: Odair M. Faria vencida; localização de vazamentos com métodos de pesquisa acústica; conserto de vazamento com equipes de mão-de-obra própria; otimização das VRPs; testes de FCI (fator de condição da infra-estrutura); participação, em 100% do município, dos técnicos em atendimento comercial externo (TACE), que ajudaram na identificação de fraudes e na caracterização da área. A aplicação dos conhecimentos obtidos com o MASPP foi de grande importância”, explica. Desperdício de água e consumo incorreto intensificam as perdas dentro de seu nível econômico. Fortalecem a disseminação do Programa do Uso Racional da Água, mostrando para a comunidade o uso adequado, a fim de evitar o desperdício e, conseqüentemente, pagamento pelo consumo utilizado incorretamente. O programa “Eu vi um vazamento”, iniciado em 2004, é um sucesso e tornou-se prática com o envolvimento e comprometimento de todos. Cada funcionário é um fiscal de perdas, apontando vazamentos nos locais onde atua, reside e trafega, abrangendo assim toda a área da UN-ML. O programa “Ligação Irregular: isso não é legal” foi uma campanha de incentivo criada em 2006, cujo objetivo também é incentivar os empregados a informar sobre possíveis fraudes na região, bem como contribuir para a redução das perdas de água. A criação do Time de Desenvolvimento Tecnológico tem ajudado na busca de tecnologias modernas, sempre levando em conta a aplicabilidade pela mão-de-obra própria e contratada. Enfrentar esse desafio, junto com os funcionários de nossa unidade, tem sido muito gratificante, pois sabemos que nossa área é vasta e de baixa renda. Entretanto, a garra e a dedicação dos colaboradores têm nos levado a resultados muito animadores. O melhor exemplo é o envolvimento e participação do chamado “chão de fábrica”. Afinal de contas, são eles que vão a campo diariamente e resolvem a maioria dos problemas, além de serem o elo com nossos clientes”, diz. Dante explica as ações realizadas que resultaram na excelente redução das perdas ocorrida em Salesópolis: “O Município de Salesópolis tem população de cerca de 16.500 habitantes, e é o município onde nasce o Rio Tietê. A redução de perdas para menos de 100 litros/ligação/dia foi o grande desafio colocado para todas as equipes envolvidas no projeto. O ponto de partida para o resultado de Salesópolis (76 litros/ligação/dia) foi a adoção de um coordenador de projeto que, juntamente com os colaboradores envolvidos, planejou, direcionou e acompanhou as seguintes ações: substituição de todos os hidrômetros que estavam com validade PEQUENOS SETORES Para Dante, a criação de microssetores em Salesópolis possibilitou identificar as vazões noturnas de cada área, para acompanhar qualquer desvio e direcionar as ações de forma mais rápida e proativa: ”Para evitar que as perdas voltem a índices altos, as equipes de engenharia e de manutenção acompanham diariamente as vazões mínimas noturnas e a produção diária para que, observado qualquer valor fora das faixas de controle estabelecidas, providências sejam tomadas imediatamente. Com todas as ações realizadas, há alguns meses concluímos que a produção de água pode parar seis horas por dia sem comprometer a qualidade e o abastecimento da água do município. Aumentar o número de áreas de controle é uma forma de estender os conhecimentos obtidos em Salesópolis e em outros projetos que também são desenvolvidos na UN Leste. Gostaria de citar, novamente, que o envolvimento das pessoas é fator de fundamental importância no combate às perdas”, enfatiza. Nesse sentido, Dante fala que a aplicação da ferramenta MASPP na UN-ML foi o foco de conscientização para o controle de perdas. “O MASPP permitiu conhecer a fundo alguns dos principais processos da UN-ML, ou seja, operação e manutenção do sistema de água e comercialização. Seu êxito só foi possível graças à formação de times multidepartamentais compostos por pessoas das áreas operacional, de manutenção, financeira, de recursos humanos, qualidade e comunicação, além da equipe da Divisão de Perdas.” Foram essas equipes que planejaram, desenvolveram e executaram os padrões: “Tais equipes tiveram direcionamento para o planejamento, desenvolvimento e execução de padrões de trabalho e instruções de todos os serviços que envolvessem as perdas de água. Durante o período de desenvolvimento da metodologia e sua aplicação, foram adotados três setores de abastecimento como pilotos (Itaquera, Jardim Popular e Salesópolis), antes da completa implantação na UNML. Nesse período foram propostas ações de melhoria nos setores e controle dos processos, através de ferramentas da Qualidade que pudessem interferir diretamente nos indicadores da unidade. O foco do trabalho foi voltado a reduzir o Volume Distribuído – VD - e aumentar o Volume Utilizado – VU, com me- Setembro/Outubro de 2007 Saneas 11 Divulgação CAPA Luiz Paulo de Almeida Neto, Superintendente da Unidade de Negócio Baixo Tietê e Grande (UN-RT) tas correspondendo a cada processo. A metodologia propiciou melhorias nos controles dos processos principais do negócio, gerando benefícios diretos a todos os níveis da organização, do profissional que executa sua atividade com o procedimento correto, otimizado e padronizado, passando pelos níveis gerenciais que podem otimizar equipes de trabalho com absoluto domínio das características do seu negócio ou mercado, até a alta administração, para a tomada de decisão baseada em fatos e melhor detalhamento dos planejamentos empresariais”, explicou. “A continuidade se dá sempre através da utilização da ferramenta PDCA (Plan, Do, Check, Action) e de auditorias regularmente executadas. Benchmarkings e o envolvimento de um número cada vez maior de colaboradores, fazem com que, freqüentemente, novas ferramentas e tecnologias sejam inseridas na execução das atividades. Os sistemas SCORPION, SAMA, controle de VRPs e vazões mínimas noturnas, acompanhamento dos serviços de geofonamento, estabelecimento de metas e responsáveis por setor de abastecimento são alguns exemplos. Além disso, os controles têm sido aprimorados constantemente pelas equipes operacionais e gerenciais, de forma a analisar as ações de causa e efeito e os ganhos que cada uma teve. Hoje temos metas de VD e VU, acompanhadas diariamente, que possibilitam direcionamento de recursos e decisões para evitar eventuais acréscimos nos volumes de perdas. Os treinamentos efetuados com a participação de nossa área de Recursos Humanos, juntamente com nossas equipes de Comunicação e Qualidade, empenhadas na disseminação das boas práticas, garantem a continuidade e aprimoramento do aprendizado obtido na época de aplicação da ferramenta MASPP, assim como a otimização das tarefas a serem executadas”, fala com segurança de quem domina o assunto. A rotina diária do trabalho é um dos principais fatores que demonstram a continuidade das ações e dos aprimoramentos dos trabalhos desenvolvidos para a redução contínua de perdas da unidade: ”Resumindo: a busca constante de novas tecnologias, trabalho por processos e forte envolvimento e participação de nossos colaboradores garantirão a continuidade dos trabalhos iniciados quando da implementação do MASPP”, finalizou Dante. MOTIVAÇÃO, ENVOLVIMENTO E TECNOLOGIA O Engenheiro Civil Luiz Paulo de Almeida Neto, Superintendente da Unidade de Negócio Baixo Tietê e Grande (UN-RT), que tem sede na cidade de Lins e opera 83 municípios, acredita que a motivação e o envolvimento das pessoas nos trabalhos operacionais dos sistemas de distribuição de água são fundamentais para resultar em baixos índices de perdas: “Nós aqui na UN-RT, para termos sucesso no combate a perdas, precisamos desenvolver nossa atuação em 83 municípios. Desta forma, envolver pessoas no projeto é imprescindível, pois o Gestor de Perdas da Unidade não consegue fiscalizar presencialmente nem 10% das equipes atuantes. Assim, alcançar objetivos no programa é primeiramente convencer todos os gerentes operacionais e demais funcionários de que o programa é indispensável. Hoje, 100% do nosso volume produzido é medido com equipamentos eletromagnéticos interligados a sistemas informatizados e 70% de todo volume distribuído é medido e transmitido on-line a computadores que possibilitam o gerenciamento das perdas. Por isso, trabalhar com profissionais qua- Crédito: Odair M. Faria Divulgação Irregularidades (fraudes) e hidrômetros modificados 12 Saneas Setembro/Outubro de 2007 Divulgação Lina Cabral Adani, Gerente de Controle de Perdas e Sistemas na empresa de saneamento de Campinas (SANASA) lificados é obrigatório”, esclarece. Ele coloca a motivação como um dos principais fatores para os bons resultados obtidos no combate às perdas na região de Lins: “Em primeiro lugar, sempre, equipes motivadas e comprometidas em obter resultados; em segundo, muita transpiração, mais do que inspiração, pois combater perdas envolve um trabalho que precisa ter rotina diária, pesquisar e retirar vazamentos, aferir vazões mínimas noturnas, trocar hidrômetros, ou seja, é um ‘arroz com feijão’ que precisa ser feito todos os dias; em terceiro, persistência, pois muitas vezes você desenvolve várias ações e não obtém resultados, mas persistindo você descobre a causa, parte para a ação correta e resolve o problema. Exemplo: na cidade de Monte Alto, desenvolvemos ações como substituição de hidrômetros, troca de ramais e redes, mas as perdas só caíram significativamente quando resolvemos instalar válvulas redutoras de pressão; em quarto, a tecnologia, que a cada dia traz soluções. Aqui, medir vazões mínimas noturnas na distribuição dos reservatórios e controla-las on-line nos computadores trouxe um grande avanço na redução de perdas reais”. Luiz Paulo cita esse controle online de perdas como o que proporcionou um dos melhores resultados registrados na sua área de atuação: “Temos muitos sistemas com perdas reais inferiores a 90 litros/ramal/dia. Trabalhamos com mão-de-obra própria nas equipes de engenharia, pitometria, e trabalhamos com tercerizados nas pesquisas de vazamentos e instalação de macromedidores”, finaliza. EM CAMPINAS Lina Cabral Adani, engenheira civil e, nos últimos 13 anos, Gerente de Controle de Perdas e Sistemas na empresa de saneamento de Campinas (SANASA), lista uma série de ações importantes que foram implementadas pela SANASA e que deram resultados expressivos na redução de perdas, tanto reais quanto aparentes: “Foram muitas as ações para agilizar o controle de perdas, mas eu destaco a implantação de novos critérios para dimensionamento de hidrômetros, a realização de manutenção Preditiva e Preventiva de hidrômetros, a utilização de hidrômetros velocimétricos ø ¾”, Qn 0,75 m³/h, a utilização de hidrômetros velocimétricos classe C nas ligações com ø ≥ 1” e as ligações de água (60%) no padrão com caixa de proteção lacrada, instaladas nos muros dos imóveis”, afirma. Ela também destaca as Estruturas Redutoras de Pressão, com a instalação maciça e formação de equipes qualificadas para o monitoramento e manutenção, monitoramento permanente de pressões em pontos críticos, para controle efetivo dos volumes de entrada de água nos setores de abastecimento, através de válvulas de controle (normalmente redutoras de pressão) e/ou bombas com inversores de freqüência. Lina ainda esclarece que a sustentabilidade do programa de redução de perdas requer ações implantadas paralelamente, de forma contínua e permanente: “Micromedição, macromedição, sistemas informatizados em tempo real (telemetria e telecomando) e banco de dados his- Setembro/Outubro de 2007 tóricos (CPD), cadastro técnico e geoprocessamento, setorização (isolamento de áreas), controle/ redução de pressões, manutenção e controle do tempo para eliminar o vazamento em tubulações, controle de nível com recuperação de vazamento em reservatórios e unidades operacionais, detecção e conserto de vazamentos não-visíveis, substituição de redes e ramais fadigados, ensaio de estanqueidade para recebimento de redes novas, teste de recebimento de redes novas e pesquisa e detecção para eliminação de fraudes”. Além disso, Lina defende uma gestão do sistema distribuidor, que possibilite a detecção dos problemas e a execução das ações corretivas/preventivas/preditivas no menor tempo e custo, bem como o treinamento constante dos funcionários envolvidos (formação acadêmica, cursos, palestras, eventos, visitas técnicas etc.). Lina esclarece que a preocupação da empresa com o sistema de macromedição é permanente: “A SANASA possui uma polítiDivulgação Macromedidor Pesquisa de vazamentos Saneas 13 CAPA Divulgação Edevar Luvizotto Junior, professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, no Departamento de Recursos Hídricos ca de macromedição permanente de todos os volumes de água bruta captados, tratados, aduzidos, armazenados e distribuídos. Também são contemplados os setores de medição (distritos pitométricos), já atingindo quase sua totalidade. A macromedição é obrigatória para todas as novas obras”. Os equipamentos utilizados são de última geração, dos tipos eletromagnético e ultrassônico, selecionados adequadamente para cada finalidade, sendo também utilizados para setores de medição os do tipo Woltmann, por não necessitarem de energia elétrica e pelo custo menor. A confiabilidade dos volumes apurados envolve a especificação técnica criteriosa na fase de aquisição, o projeto, a instalação e a manutenção, adequada ao equipamento e ao grau de importância do ponto de medição monitorado. Mensalmente são avaliados os dados apurados e só depois divulgados; nesta fase o macromedidor é diagnosticado e, se necessário, conferido através de outro medidor portátil, podendo ser substituído. “Para as medições mais importantes, que são volumes produzidos, possuímos redundância nas medições e podemos garantir a confiabilidade dos mesmos”, garante Lina. GESTÃO DO PROGRAMA DE REDUÇÃO DE PERDAS Ela faz questão de explicar como é a gestão do Programa de Re- 14 Saneas dução de Perdas na SANASA: “O Programa de Redução de Perdas tem gestão centralizada na Gerência de Controle de Perdas e Sistemas, na Diretoria Técnica, e as ações descentralizadas que permeiam pelas demais áreas: Comercial, Financeira, Administrativa, Recursos Humanos. Isso só foi possível com a integração das atividades e a união dos funcionários, que proporcionaram um programa sustentável e com resultados relevantes para garantia do atendimento das demandas atuais, mesmo em épocas críticas de estiagem e uma população de mais de 1.000.000 de habitantes.” A Gerência de Controle de Perdas e Sistemas possui dotação orçamentária aprovada anualmente e conta com as parcelas das demais gerências quanto às ações voltadas à redução de perdas: “Pelo Planejamento Estratégico, o Programa de Redução de Perdas, baseado no diagnóstico dos setores, visa o atendimento das demandas atuais e futuras, a redução do custo operacional e o equilíbrio financeiro do produto água.” Lina explica também qual o “índice econômico de perdas” de Campinas: “O índice de perdas na distribuição em 2006 foi 25,8%. Esse valor garantiu a demanda requerida até no período de estiagem, permitiu o crescimento demográfico como também o crescimento econômico do município, sem restrição da quantidade e qualidade da água, além de atender à outorga DAEE: Departamento de Águas e Energia Elétrica. O procedimento que vem sendo adotado prevê a redução das perdas para no máximo 25,8% nos setores em que se verificam valores maiores, desde que o investimento financeiro se torne viável quanto à relação custo x benefício e tempo de retorno” Para finalizar, Lina aponta: “A gestão das perdas tem por objetivo alcançar o índice de perdas que Setembro/Outubro de 2007 proporcione o equilíbrio financeiro do produto água, para se tornar auto-sustentável mesmo com adoção de tarifas subsidiadas nas categorias Ligações Coletiva e Social; esse valor para 2006 seria de 21,7%, já alcançado em vários setores de medição”. VISÃO DA UNIVERSIDADE Edevar Luvizotto Junior, engenheiro civil e professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, no Departamento de Recursos Hídricos, é responsável pelos Laboratórios de Hidrotrônica e Hidráulica Computacional da FEC-Unicamp e uma autoridade para falar sobre as linhas de pesquisa que estão sendo desenvolvidas na Unicamp com relação às perdas reais e aparentes em sistemas de abastecimento de água. E fala com prazer sobre aquilo que mais gosta de fazer: “Tenho na Unicamp uma linha de investigação chamada de Controle e Gestão Operacional de Sistemas de Abastecimento de Água, na qual investigo o tema das perdas e outros relacionados ao abastecimento de água. No caso particular das perdas, tenho dedicado maior atenção às perdas reais, em particular, investigando modelos que auxiliem na detecção de vazamentos. Não penso nestes modelos como substitutos para as técnicas usuais de detecção por ruídos (geofones, correlacionadores, etc), mas como um aliado, guiando as campanhas de campo, dando pistas sobre locais de vazamento. Como se sabe, as técnicas usuais são morosas, uma vez que o sistema de distribuição tem que ser efetivamente percorrido. Além do mais, exigem equipes altamente qualificadas e podem produzir transtornos indesejáveis no trânsito”, afirma. Após fazer o pós-doutorado na Escola Politécnica de Valência, Espanha, Edevar retornou ao Brasil com o esboço do modelo de detecção de fugas. “Um dos meus alunos de mestrado se in- teressou pelo tema e fez vários testes de validação do modelo, apresentados em sua dissertação de mestrado. Um aluno de doutorado desenvolveu um modelo de calibração de redes baseado na técnica. Também empregou situações hipotéticas para validação do modelo. Uma dissertação de mestrado foi desenvolvida por outro orientado. Ele aplicou o modelo a um setor de abastecimento de um sistema real, obtendo resultados satisfatórios. Tenho uma aluna que concluiu o mestrado com o desenvolvimento teórico de um modelo de detecção de fugas por pulso de alta freqüência e que continua a investigação, agora prática, em seu doutorado. Além destas produções específicas sobre o tema das fugas, trabalho em minha linha de investigação com modelos de simulação em regime transitório, modelos de auditoria energética de estações elevatórias e modelos de qualidade de água”, explica. Edevar fala que as dissertações e teses defendidas na Unicamp estão disponíveis em sua biblioteca: “Na atualidade todas as dissertações e teses estão sendo convertidas para o formato eletrônico e disponibilizadas via internet. Basta entrar no site da Unicamp (www.unicamp.br) e procurar pela biblioteca, onde será obtida a forma de acesso ao acervo digital”. QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES E CALIBRAÇÃO Continuando sua explicação, Edevar fala sobre os dados para a aplicação do modelo de simulação-otimização na gestão de perda de água em regime permanente e transitório: “Como todo o modelo de simulação dessa natureza, parte-se de informações cadastrais como: comprimento, diâmetro, extensão, material, idade e estado das tubulações. É importante o conhecimento das interligações e de informações topográficas destas interligações (localização em planta e cotas de nível), além da localização e quantificação dos pontos de consumo (e estatística da variação temporal). São necessários dados dos componentes do sistema, tais como as características operacionais de bombas, válvulas e reservatórios, além das regras de operação, caso a modelação ocorra em período extensivo ou em regime transitório. A partir do levantamento de dados passa-se à etapa de calibração/detecção. Esta etapa é precedida pelo que se chama de definição da matriz de sensibilidade do sistema, basica- mente a determinação das melhores localizações dos sensores de pressão e vazão e do número adequado destes sensores para a varredura de uma determinada área (isto é feito através de modelação). Definido o número, a localização e instalados os sensores, estes irão fornecer as informações de carga e vazão que o modelo deverá reproduzir. Isto só será atingido com a calibração do modelo e com a localização dos pontos de vazamento. Quanto maior a quantidade de informações obtidas dos sensores melhor será guiado o modelo de busca. A idéia de se Fonte: SNIS, 2005 Fontes: - Waterloss, 2005; - Tokyo Waterworks Bureau; - Saitama City Waterworks Bureau; - Waterworks and Sewarage Bureau of Nagoya City Setembro/Outubro de 2007 Saneas 15 CAPA aplicar a técnica em regime transitório, ou em período extensivo, é acompanhar a evolução temporal das medidas nos sensores, conseguindo assim um conjunto de informações com um menor conjunto de sensores. A técnica que tenho empregado nessa etapa, em que se busca que o simulador represente os resultados de campo, é baseada no Multi-Simplex (chamo de Nelder-Mead em homenagem aos seus pioneiros), algoritmos genéticos ou num híbrido destes algoritmos”, explica. APLICAÇÃO Em tese tudo tem que estar em perfeito funcionamento, mas a aplicação em casos reais esbarra na dificuldade de obtenção das informações corretas para a modelação e na cooperação dos serviços de saneamento para a aplicação do modelo. “O teste que fizemos com o modelo foi um sucesso. Ele foi aplicado a um setor de abastecimento da cidade de Jundiaí, que tinha rede em tubos de PVC recentemente instalada, parque de hidrômetros novos, de característica predominantemente residencial e com índice de perdas baixíssimo. Com cadastro confiável e informação de medição adequada, foi feita uma campanha noturna (já que aplicamos um modelo de regime permanente) com três dataloggers medindo pressão e um medidor de vazão para a fuga que foi criada no setor. Essa fuga foi detectada com sucesso. A questão sobre se há viabilidade para a aplicação da técnica é bastante interessante e de certa forma é um exercício de previsão de futuro. Quando apresentei este modelo na Espanha, em 2002, fui convidado pelo coordenador de projetos de um organismo de planejamento suíço a trabalhar no desenvolvimento de um sistema de detecção de fugas com eles (por motivos acadêmicos não pude ir). O fato é que o projeto piloto na cidade de Martigny, envolvia uma empresa que estava desenvolvendo um sensor que media vazão, pressão e ruído num mesmo corpo (estavam com problemas com a medição de ruídos), um provedor de Internet a cabo, a empresa de saneamento e o instituto de pesquisa (com pesquisadores de toda a Europa). Eles me forneceram uma senha de acesso e, por dois meses, tive informações on-line de todo o sistema, além de mapas georreferenciados da rede, justamente como está disponível a cada cidadão daquela cidade. Isso pode parecer um sonho, mas é uma realidade. Viabilidade há, se houver o desejo e se essa for a prioridade. Num pais com deficiências em saneamento básico como o nosso, tudo deve ser feito com muito planejamento”, fala. DESENVOLVIMENTOS Edevar explica que a Unicamp tem desenvolvido novos trabalhos em relação ao programa de controle de perdas em sistemas de abastecimento público 16 Saneas de água. “Atualmente oriento um trabalho de doutorado que pretende detectar fugas em tubulações através de pulsos pressão de alta freqüência e baixa intensidade (que poderão ser aplicados em adutoras ou redes). Os resultados teóricos foram surpreendentes e a expectativa é de que possa substituir os correlacionadores acústicos na detecção de fugas. A dificuldade está no desenvolvimento do dispositivo para produção desses pulsos de alta freqüência, para que possam ser instalados sem produzir interferências significativas no sistema. As análises dos pulsos de alta freqüência são em regime transitório e toda a teoria já foi desenvolvida como dissertação de mestrado”. “Em particular não tenho trabalhado com perdas em reservatórios e em estações elevatórias. No caso de estações elevatórias, desenvolvemos um modelo para aplicação em estações com bombas de rotações variáveis visando a otimização operacional (níveis de pressão) e a redução de custos (tese de doutoramento recentemente defendida)”, relata Edevar. LABORATÓRIO DE HIDROTRÔNICA Edevar explica que procura orientar seus alunos para o foco da modelagem: ”Por vocação pessoal trabalho com a modelagem e oriento meus alunos dentro desta linha. Entretanto, acredito que a formação do engenheiro que trabalha com o tema das perdas ou com os problemas relacionados com o abastecimento em geral deva ser melhorada. Em 2002, em conjunto com outros dois colegas, que não estão mais comigo, concluímos o que chamamos de Laboratório de Hidrotrônica. Neste laboratório, dispomos de 1500 m de tubulação em polietileno e cobre (por facilidade da configuração em espiral), que podem ser configurados a partir de trechos de 100 m, em diversas topologias de rede. Nos nós de conexão estão instalados sensores de pressão. O módulo possui dois medidores de vazão, duas bombas que permitem configuração em série ou paralelo, um vaso de pressão, três válvulas automáticas de controle e 15 manuais, e uma bomba dotada de inversor de freqüência. Tudo isso na forma semelhante a um protoboard empregado para testes de circuitos eletrônicos. O sistema é controlado por um sistema Scada que faz a operação dos equipamentos (bombas, válvulas, inversor e compressor que alimenta o vaso de pressão) e a aquisição de dados (vazão e pressão). O laboratório foi a forma que encontramos de colocar nossos alunos em contato com as tecnologias empregadas nas mais modernas empresas de abastecimento de água, além de fornecer comprovação aos nossos modelos. É importante o aluno observar na prática que determinadas manobras por eles provocadas levam o sistema a esforços extremos, que podem ser os protagonistas de rupturas em tubulações e juntas”, conclui. Setembro/Outubro de 2007 ENTREVISTA Fotos Ernani Ciríaco: Divulgação “Os níveis de perdas no Brasil ainda são elevados” Ernani Ciríaco de Miranda, Engenheiro Civil, Mestre em Tecnologia Ambiental e recursos hídricos pela Universidade de Brasília, tem 20 anos de formação e experiência profissional em saneamento básico, com atuação na área de consultoria em projetos de sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário por dez anos em empresas como Belba Engenheiros Consultores, Leme Engenharia e Engesolo Engenharia. Diretor Técnico da Emasa - Empresa Municipal de Água e Saneamento de Itabuna/BA, no período de 1993 a 1996. Membro da equipe técnica do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS) desde 1997, atuando como Coordenador do Programa desde 2003. O PMSS é um Programa da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. Para se determinar o volume perdido nos sistemas de abastecimento de água, o volume macromedido é a referência principal. Como está o índice de macromedição na maioria das companhias de saneamento brasileiras? Quando é medido, pode-se dizer que é bem medido? Ernani - São referências principais os volumes macro e também os micromedidos. No Brasil há exemplos de diversas situações: níveis de macromedição elevados, médios e baixos, com uma precisão que pode ser boa, média e baixa nos três casos. A grande heterogeneidade que existe na prestação dos serviços de abastecimento de água no Brasil, seja em função do porte dos prestadores e seus sistemas, seja em função do nível de evolução técnico-operacional e institucional, dificulta a adoção de valores médios em uma análise desta natureza. No entanto, há um senso comum, sobretudo entre profissionais de maior experiência, de que infelizmente é maior a quantidade de casos de baixa macromedição e também de baixo nível de precisão. O SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, administrado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, no âmbito do Programa de Modernização do Setor Saneamento PMSS, publica anualmente informa- ções sobre a prestação de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, desde o ano base de 1995. Segundo a última atualização, com dados do ano base de 2005, o índice médio de macromedição no Brasil é de 77% do volume de água produzido. Neste mesmo ano foram muitos os prestadores de serviços cujos dados informados resultaram em 100% de macromedição e muitos também resultaram em 0,00%. Outro fator importante a considerar é que no caso das companhias estaduais, que operam quase 4.000 municípios com água, o indicador médio de cada uma pode não refletir a realidade dos municípios operados, pois havendo bom nível de macromedição nos municípios maiores, estes impactam positivamente o indicador médio, podendo não refletir a realidade dos municípios menores. E o índice de hidrometração, como se encontra hoje no Brasil? Os intervalos de troca são regulares? Há avaliações de submedição média? Há disparidades regionais significativas no índice de hidrometração ou na gestão do parque de hidrômetros? Ernani - No caso da hidrometração, a situação é similar. Cabe, no entanto, esclarecer que os conceitos para indicador de hidrometração e indicador de micromedição são diferentes. Enquanto o primeiro reflete a quantidade de ligações de água que têm hidrômetro, o segundo reflete o volume de água consumido que é medido. Um alto índice de hidrometração pode não corresponder a um também elevado índice de micromedição, pois podem existir hidrômetros que não estão com funcionamento regular. Segundo o SNIS 2005, enquanto o índice médio de hidrometração no Brasil é de 88%, o de micromeção é de 47%, em ambos também variando de 0,00 a 100% para os prestadores de serviços da amostra em todo o Brasil. O problema da submedição é grave no país, sobretudo em decorrência do Setembro/Outubro de 2007 Saneas 17 ENTREVISTA Fotos: Divulgação Sabesp uso disseminado de caixas d’água e pelo padrão de hidrômetros adotados (no maioria dos casos, de classe B). Nos EUA e países da Europa não são utilizadas caixas d’água. Também cabe dizer que no mercado há hidrômetros de classe superior que permitem trabalhar com baixos níveis de submedição, mas o custo destes hidrômetros é ainda elevado para os padrões brasileiros. O SNIS não possui dados que permitam calcular o nível de submedição. Sabe-se, no entanto, pelo conhecimento da realidade do país que os níveis são altos, podendo chegar em muitos casos a mais de 30% do volume consumido. Qual a visão do Ministério das Cidades/PMSS sobre o problema de perdas nas companhias de saneamento brasileiras, tanto as estaduais quanto as municipais? Qual é o valor médio brasileiro, segundo os dados que vocês dispõem no SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento? Comparando com outros países em desenvolvimento, como estamos? Há metas estabelecidas, ou sugeridas, pelo Ministério das Cidades? Ernani - O Ministério das Cidades entende que os níveis de perdas no Brasil são muito elevados e há bastante espaço para melhoria. Uma estimativa simplificada do que representam as perdas de águas nos sistemas brasileiros, em termos financeiros, indica que elas correspondem a cerca de R$ 2,5 bilhões/ ano. Ora, se o país precisa de R$ 10 bilhões/ano, nos próximos 20 anos, para alcançar a universalização dos serviços de água e esgotos, então o valor das perdas é muito alto e representa um enorme prejuízo para a economia brasileira. Infelizmente a sociedade brasileira sequer tem condições de avaliar a gravidade deste fato, pois a regulação praticamente inexiste, muito menos o controle social. Penso que o problema somente será equacionado quando adquirir dimensão nacional e estiver ao alcance da compreensão da sociedade brasileira. Segundo o SNIS 2005, a média nacional do índice de perdas de faturamento é de 39%, com médias regionais de 59% no Norte (maior valor médio) e de 18 Saneas 30,9% no Sudeste (menor valor médio). Nos serviços municipais, em 2005, os valores médios nacionais são um pouco maiores que nas cias. estaduais, ou seja, 39,9% para os primeiros e 38,7% para as segundas. No estado de São Paulo a média é de 35,5%, enquanto que a média da SABESP é de 34,2%. O menor valor médio de cia. estadual é da COPASA/MG, igual a 22,9%. Nos serviços municipais, retirando os valores abaixo de 10%, que podem estar inconsistentes, o menor índice é do município de Colorado/PR, exatamente igual a 10%. Especialistas do setor costumam estabelecer como bons índices de perdas de faturamento no Brasil, valores da ordem de 20 a 25%. O Ministério não tem metas estabelecidas, mesmo porque não tem competência para tal. As metas de desempenho, em qualquer área da prestação dos serviços de saneamento, devem ser estabelecidas pelo titular dos serviços, definidas nos respectivos planos de saneamento e registradas nos contratos de prestação, sejam de concessão ou de programa. O Ministério das Cidades estipula, entretanto, nos Acordos de Melhoria de Desempenho (AMDs), instrumento obrigatório de acompanhamento do desempenho dos prestadores de serviços que utilizam recursos federais, metas de melhoria nos índices de perdas de água. Além disso, estabelece a seguinte classificação para os índices de perdas de faturamento: nível A: <= 25%; nível B: entre 25 e 40%; nível C: >= 40%. A questão dos indicadores de perdas foi muito discutida recentemente no mundo todo, suscitada pela IWA (International Water Association). Como essa discussão foi absorvida pelo Ministério das Cidades no acompanhamento dos números nacionais? Enfim, é possível padronizar em todo o mundo, e no Brasil, o entendimento do que são perdas em sistemas de abastecimento de água? Ernani - Acredito que se possa obter uma padronização mais confiável em todo o mundo no caso de indicadores avançados, que levem em conta fatores de homogeinização tais como a escala (quantidade de ligações e a extensão de redes e ramais) e a pressão de operação das redes, bem como considerem a avaliação das perdas reais separadas das perdas aparentes. Para indicadores de nível básico (como o índice de perdas de faturamento, em percentual, largamente utilizado no Brasil e no mundo) ou de nível intermediário (volume perdido por ligação, por exemplo, que vem sendo mais utilizado), creio que a padronização é mais difícil, merecendo muita cautela na comparação de desempenho, devido a fatores como: diferentes conceitos e critérios de contabilização e de faturamento da água, existência ou não de contabilização individual no caso de prédios com duas ou mais moradias, posição do hidrômetro em Setembro/Outubro de 2007 relação à divisa frontal do lote, uso ou não de caixas d’água domiciliares, diferentes conceitos do que sejam perdas reais e aparentes, dentre outros fatores. O SNIS vem promovendo uma padronização de indicadores de desempenho para serviços de água e esgotos que é anterior ao Manual da IWA, já que o Glossário de Termos e Fórmulas do SNIS foi publicado pela primeira vez em 1996 e, desde então, vem sendo publicado regularmente todo ano, sempre com alguma revisão ou atualização. Por sua vez, o PNCDA - Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, também da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, possui um Documento Técnico de Apoio com proposta de padronização de indicadores de perdas. Há também publicações e estudos acadêmicos no Brasil, sobre o tema. Entretanto, o nível de profundidade com que o tema das perdas de água tem sido tratado pela IWA é hoje in- dutor dos técnicos do setor no que diz respeito à avaliação de desempenho neste campo. Assim, o Ministério das Cidades apóia a idéia e pode liderar, via PMSS, uma grande discussão no país visando a padronização dos indicadores, que tenha por referência as experiências nacionais e os estudos da IWA. Está suficientemente clara a diferença de conceitos entre “águas não-faturadas” e “perdas” nas companhias de saneamento do Brasil? Os conceitos da IWA estão sendo adotados pelo Ministério das Cidades? Ernani - Creio que os conceitos citados não estão suficientemente claros para a maioria dos técnicos e dirigentes do setor saneamento no Brasil, e nem para a população, imprensa, meio acadêmico, e responsáveis pelas políticas públicas do setor saneamento nos níveis federal, estaduais e municipais. É preciso avançar muito ainda na compreensão e consolidação de conceitos mais Setembro/Outubro de 2007 atuais e modernos. O Ministério das Cidades, tanto no SNIS quanto no AMD, supracitados, adota conceitos similares aos da IWA, com alguma adaptação para a realidade brasileira, limitados aos indicadores de nível básico, haja vista que sua atuação é nacional e deve procurar o maior alcance possível, fato que só é possível com esses indicadores de nível básico. Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelo Ministério das Cidades na coleta dos dados e informações sobre perdas para compor o relatório do SNIS? Ernani - As maiores dificuldades referem-se à falta de informações atualizadas e consistidas regularmente na rotina operacional dos prestadores de serviços, sobretudo separadas para cada município operado. Embora os prestadores de serviços venham adquirindo com o tempo uma expressiva melhoria na qualidade das informações fornecidas Saneas ENTREVISTA ao SNIS, cabendo registrar que esta melhoria é decorrência natural da série histórica de dados, que já possui 11 anos, cabe registrar também como dificuldade a existência ainda de muitos casos de inconsistência nos dados, sejam de prestadores de serviços regionais (companhias estaduais), sejam microrregionais ou locais. Este fator é uma conseqüência natural da raiz dos problemas de desempenho dos serviços de água do país, qual seja, a qualidade insatisfatória da gestão dos serviços. Em que medida os números do SNIS contribuem para se ter um diagnóstico dos problemas de perdas no país? O que é possível melhorar para o aperfeiçoamento desse diagnóstico? Ernani - Os dados do SNIS são o que há de melhor para se avaliar a evolução histórica, o nível de desempenho, os principais problemas e as perspectivas de avanço dos serviços de água e esgotos no Brasil, incluindo relativos ao tema perdas de água. São poucos os países do mundo que têm um sistema tão robusto, com a qualidade e a estabilidade do SNIS. É possível realizar análises do interesse dos diversos agentes com atuação no setor saneamento brasileiro: os próprios prestadores de serviços, auto-avaliando a sua performance e evolução histórica e se comparando com a amostra presente no sistema; os dirigentes do poder executivo, donos dos prestadores de serviços, que podem se utilizar dos dados para avaliar resultados; a imprensa e a sociedade organizada que podem acessar a base de dados e verificar o comportamento do setor; os agentes reguladores que têm no SNIS uma boa referência para as suas atividades regulatórias e de fiscalização; os governos federal, estaduais e municipais que 20 Saneas podem também se apropriar dos dados para a formulação de políticas e programas de governo. O aperfeiçoamento do SNIS e seus diagnósticos, sempre gradual e contínuo, é um dos princípios do Sistema. Creio que a melhoria mais importante, que se está buscando alcançar na atualização do SNIS do ano base 2006, cuja fase de coleta dos dados está sendo finalizada, diz respeito à obtenção dos dados desagregados de todos os municípios atendidos pelos prestadores de serviços presentes na amostra. Também é fundamental a institucionalização do sistema de informações nos termos da lei de saneamento 11.445/2007. Especificamente, em relação à questão das perdas de água creio que se deva promover um processo de discussão em todo o país, já citada anteriormente, para promover um melhor entendimento, a máxima padronização e um passo a mais nos indicadores de nível intermediário e talvez avançado. A expansão desordenada das cidades e a existência de grandes áreas de favelas são problemas para a gestão operacional dos sistemas de abastecimento de água nos grandes municípios brasileiros e regiões metropolitanas. Como isso impacta nas perdas? Ernani - O problema impacta nas perdas na medida em que o prestador de serviços, por fatores sobre os quais não tem controle, deixa de aplicar as melhores técnicas de controle operacional nestas áreas, contribuindo para o aumento das perdas. A solução seria trabalhar de forma integrada e articulada todas as atividades que compõem a gestão dos serviços, quais sejam o planejamento, a regulação e fiscalização, a prestação dos serviços e o controle social. Destaco como fundamental a Setembro/Outubro de 2007 importância dos planos para contribuir no equacionamento deste problema. Cabe também chamar a atenção para o risco dos prestadores de serviços se acomodarem ou até mesmo fazerem uso desta situação para justificar perdas elevadas, acima das aceitáveis. Portanto, trata-se de uma situação real, que acontece em muitas cidades brasileiras, que deve ser considerada na avaliação das perdas, mas que deve ser tratada com técnicas e metodologias que permitam um controle operacional mínimo aceitável. A impressão que dá é que todo mundo sabe o que fazer para combater as perdas, tanto reais quanto aparentes. Mas todo mundo faz bem feito (como)? Persegue-se efetivamente o resultado de longo prazo, ou seja, combatem-se as causas primárias das perdas, identificadas após um diagnóstico criterioso? Em que medida há um exagerado nível de enxugar gelo no combate às perdas no Brasil? Ernani - Talvez esta devesse ser a primeira pergunta. Do ponto de vista técnico e tecnológico, os prestadores de serviços sabem o que fazer. Há casos em que são necessárias algumas atualizações e avanços, mas que se conseguem com facilidade neste campo. A raiz do problema, como já citei antes, está na gestão integrada dos serviços. É preciso que o prestador de serviços avance na gestão, em muitos casos precisa mesmo aprender a fazer a gestão, que torne o gerenciamento das perdas uma atividade de rotina, sustentável, e não uma ação esporádica, que se faz de vez em quando, em campanhas ou programas específicos. O problema não é somente de engenharia, mas também de recursos humanos, de comunica- ção, de contabilidade, de controles financeiros, de planejamento, de mobilização social, de educação e cultura, enfim de todas as áreas e agentes. Além disso, é também um grave problema da economia nacional, que a sociedade brasileira não sabe a dimensão e por isso não consegue perceber a gravidade. Só quando tratado desta forma é que haverá uma solução definitiva e sustentável. No Ministério das Cidades há projetos de capacitação dos técnicos da área de saneamento para a questão das perdas? Ernani - Em parceria com o Procel/Eletrobrás e a ABES, fizemos uma extensiva programação de capacitação para o gerenciamento das perdas de água nos anos de 2005 e 2006, com mais de 30 cursos realizados. Também o PNCDA possui uma linha específica para capacitação nesta área, que no momento está concentrada à capacitação em distância, realizada neste ano em parceria com o IBAM, com cerca de 500 técnicos inscritos. Este curso será feito também no próximo ano. O PMSS desenvolve atualmente o Projeto Com+Água, em dez municípios brasileiros, três operados por cia. estadual e sete por serviços municipais, que aplica uma metodologia inovadora no gerenciamento integrado das perdas, que além de técnicas e tecnologias atuais e modernas, possui um forte componente na área de mobilização social e comunicação. Trata-se do desenvolvimento de uma metodologia com enorme capacidade de replicação em sistemas brasileiros. A essência do Projeto é exatamente a capacitação dos técnicos e dirigentes, seja em cursos de sala de aula, seja no próprio desenvolvimento das atividades tiva é que, com a consolidação da ReCESA, a mesma atue na certificação de profissionais em saneamento. Detalhes sobre a ReCESA e a extensa grade de cursos podem ser vistos no site do PMSS: www.cidades.pmss.gov.br. “O problema não é somente de engenharia, mas também de recursos humanos, de comunicação, de contabilidade, de controles financeiros, de planejamento, de mobilização social, de educação e cultura, enfim, de todas as áreas e agentes” do Projeto, a chamada capacitação em processo. Além disso, o Ministério das Cidades criou e está implementando em parceria com diversos ministérios e órgãos do governo federal, universidades, entidades do setor, instituições da sociedade brasileira, prestadores de serviços, Sistema S, etc., a ReCESA Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental, a mais inovadora experiência em capacitação do setor saneamento que reúne a inteligência no setor a serviço da capacitação de técnicos e profissionais do setor. Diversos cursos já estão em andamento, inclusive no tema do gerenciamento das perdas de água. Nossa expecta- Setembro/Outubro de 2007 Que avanços tecnológicos (materiais, equipamentos, processos) já disponíveis você considera os mais importantes para um eficaz combate às perdas? Ernani - Creio que do ponto de vista dos materiais e equipamentos, o que há de mais importante são aqueles que facilitam e imprimem qualidade aos controles operacionais, por meio de telemetria, automações, pesquisas de vazamentos, controle de pressão com comando automático, sistemas computacionais sofisticados de mais fácil acesso, dentre outros. É importante destacar, no entanto, que os mais importantes avanços dizem respeito aos processos, sobretudo em metodologias também de fácil acesso, para balanço hídrico, softwares de modelagem hidráulica, sistemas de informações georreferenciadas, dentre outros. Penso também que, com os resultados que se vislumbram, o Projeto Com+Água representará um marco na gestão das perdas de água, trazendo para o setor uma metodologia de gerenciamento integrado fundamental à sustentabilidade das ações. Existe algum instrumento legal ou normativo do Ministério das Cidades exigindo, solicitando ou induzindo a implantação de um programa contínuo de perdas pelas empresas de saneamento do Brasil, especialmente em áreas com déficits de recursos hídricos? Como Saneas 21 ENTREVISTA você avalia a Lei 11.445/2007 a respeito desse tema? Ernani - Como citado anteriormente um dos instrumentos é o AMD, obrigatório para todos os prestadores de serviços que utilizam recursos do Governo federal para investimentos. Também, dentre os critérios para seleção de projetos do Saneamento para Todos (programa de investimentos com recursos do FGTS), alguns deles estabelecem que, para patamares elevados de perdas, não são aceitáveis projetos de ampliação da produção de água, ou seja, primeiro é preciso reduzir perdas para depois aumentar o volume de água que se retira dos corpos hídricos. Os manuais dos programas de investimentos também estimulam a apresentação de projetos de desenvolvimento institucional e operacional, havendo um componente específico no Programa Saneamento para Todos para ações de redução e controle de perdas. O Ministério das Cidades possui também o PMSS, um Programa de assistência técnica voltado para a estruturação da gestão e a revitalização de prestadores de serviços, com forte atuação em projetos de gerenciamento integrado das perdas de água. A lei de saneamento 11.445/2007 estabelece a obrigatoriedade de planos, de instrumentos e de instância regulatória e de fiscalização, bem como o controle social dos serviços de saneamento. Tais instrumentos são fundamentais para a melhoria da gestão, com conseqüente impacto positivo direto nas perdas de água. A lei também estabelece que os serviços devem ter assegurada a sustentabilidade técnica e econômico-financeira, situação esta somente possível com um bom nível de desempenho no gerenciamento das perdas. Há outras linhas de financiamento federais para perdas, que não as tradicionais da Caixa Econômica Federal? Ernani - Os programas de investimentos do Governo Federal para o setor saneamento estão inseridos no PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, que para o setor saneamento prevê R$ 40 bilhões de investimentos nos próximos 4 anos. Os recursos são oriundos do Orçamento Geral da União (não onerosos) e de financiamento com recursos do FGTS (via CAIXA) ou do FAT (via BNDES). Em todos os componentes do PAC/Saneamento os beneficiários -governos de estados e de municípios ou prestadores de serviços- podem apresentar projetos para a melhoria do gerenciamento das perdas de água. >>>CARTAS >>Recebemos e agradecemos pelo envio da publicação “Revista Saneas “, de excelente qualidade gráfica e editorial. Ressaltamos ainda, que é de grande valia para o acervo da Biblioteca do IESAM ser receptora de tão valiosa publicação. Clarice Silva Neta - Bibliotecária IESAM - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia SIBIESAM - Sistema de Informação e Biblioteca www.iesam-pa.edu.br 22 Saneas Você poderia citar experiências bem sucedidas de municípios ou companhias de saneamento no combate às perdas no Brasil? Ernani - Duas experiências que podem ser destacadas são as do município de Campinas (da empresa municipal Sanasa) e do estado de Minas Gerais (da companhia estadual Copasa). Alguma questão adicional sobre o tema que você gostaria de trazer para essa entrevista? Ernani - Gostaria de acrescentar a importância de se integrar projetos de gerenciamento das perdas de água com aqueles relativos à eficientização energética em sistemas de abastecimento de água. São ações de melhoria da gestão que se complementam, ou seja, ações de redução de perdas de água têm forte impacto no uso eficiente de energia elétrica, e ações para a melhoria do uso de energia elétrica podem impactar positivamente na redução das perdas de água. Neste sentido, o Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental e via PMSS, desenvolve parceria com o Ministério das Minas e Energia, por meio da Eletrobrás e via Procel, voltada para ações integradas nestas duas áreas. >>Caros editores, Compartilho com vocês o entusiasmo com o lançamento da nova Revista Saneas. O que já era bom conseguiu ficar ainda melhor, fazendo um jornalismo engajado, informativo, responsável e em sintonia com os anseios e desafios do setor de saneamento básico em São Paulo e no Brasil. Desejo a todos sucesso nesta nova empreitada e vida longa. Um abraço, Arnaldo Jardim Deputado Federal (PPS-SP) Engenheiro Civil (Poli/USP) Setembro/Outubro de 2007 PONTO DE VISTA A SITUAÇÃO ATUAL DAS PERDAS NO JAPÃO MASAHIRO SHIMOMURA1 N o Japão, especialmente nas zonas urbanas onde se observa a escassez de água por causa da concentração da população, a importância de planejar o uso eficiente e racional dos recursos hídricos limitados vem sendo amplamente reconhecida entre a população em geral. Em 1964, poucos meses antes da realização dos Jogos Olímpicos, a cidade de Tóquio, capital do Japão, enfrentou a ocorrência de uma seca sem precedentes, a ponto de se temer pela realização do evento. A chegada de um tufão de grande porte encheu os açudes da região e resolveu o problema, quase por milagre. Foi desde então que o Japão começou a se preocupar com o aproveitamento eficiente e racional da água, que é um recurso natural limitado. Assim, sob a diretriz básica traçada em nível nacional para o aproveitamento eficiente dos recursos hídricos, os órgãos e companhias regionais (províncias e seus municípios) de abastecimento de água se mobilizaram para, sob a responsabilidade em respectiva área de jurisdição, promover ações para reduzir desperdícios de água, causados principalmente pelo vazamento. Essas atividades continuam sendo implementadas até os dias de hoje. Por outro lado, graças a campanhas agressivas de divulgação e esclarecimento das entidades mantenedoras, nacionais e municipais, dos negócios ligados ao serviço de abastecimento de água, as fabricantes e fornecedoras de instalações ou dispositivos para abastecimento de água se empenharam em desenvolver mecanismos e produtos que economizam água. Ao mesmo tempo, o próprio povo percebeu a importância dos recursos hídricos e, sabendo que a água é um recurso limitado, passou a tomar iniciativas para economizá-la. Como resultado dessas medidas abrangentes para uso eficiente da água, o ín- dice de perdas de água (NRW – “Non Revenue Water” ou água não-rentável, ou ainda, consumo de água não ligada à receita) que na década de 1950 registrava cerca de 30%, hoje apresenta uma média, em nível nacional, de menos de 10%. De modo especial, as companhias de abastecimento de água das zonas urbanas, que têm demandas vultosas de água, apresentam cerca de 5% no índice de NRW. Por exemplo, a Companhia Metropolitana de Abastecimento de Água de Tóquio registrou o índice anual de 5,8% de perdas de água em relação ao volume produzido, no período entre abril de 2005 e março de 2006. POLÍTICA BÁSICA DE CONTROLE DAS PERDAS DE ÁGUA Assegurar a reserva de água através da redução do volume de perdas A redução dos volumes de perdas de água é uma medida que gera o efeito idêntico ao de explorar uma nova fonte de água, mas com maior eficiência e em curto prazo, além de constituir a medida que mais se preocupa com o meio ambiente, uma vez que ela não sobrecarrega o ambiente. Sendo assim, os índices em si devem refletir o volume, e as medidas para redução de perdas de água devem estar ligadas diretamente à redução dos desperdícios de água, colocadas em prática de modo eficiente e com resultados concretos. Conhecimento Exato da Situação e Adoção de Medidas Adequadas para cada Estágio As medidas contra perdas de água devem ser tomadas depois de se obter a noção exata da situação, com 1 Atualmente residindo no Brasil desde julho de 2007, é Engenheiro Civil do Departamento de Sistemas de Abastecimento de Água da Cidade de Saitama e Consultor da Jica no Japão. Líder da equipe da Jica no Projeto de Cooperação Técnica: “Desenvolvimento de Capacitação para o Controle de Perdas de Água na Sabesp (2007-2010)”. Setembro/Outubro de 2007 Saneas 23 PONTO DE VISTA os dados precisos sobre os tipos de perda, volume, causas, características etc., a fim de permitir a adoção de medidas adequadas para cada situação, com causas e características próprias, de modo a reduzir eficientemente o volume da perda de água. Sendo assim, é importante compreender que, mesmo que se trate de perdas de água parecidas, as medidas a serem tomadas, para serem eficientes, podem variar de acordo com a área, volume, ou então com as causas ou características de cada caso. zido e volume de consumo): - Ajuste dos macromedidores e realização periódica de inspeção/vistoria dos mesmos. - Renovação planejada dos hidrômetros (no Japão, a Lei de Pesos e Medidas obriga a renovação a cada 8 anos); Correção e ajuste da pressão (padronização da pressão de água entre áreas e uniformização da pressão durante 24 horas): - Redução da pressão nas áreas com alta pressão. O Objetivo Final do Controle de Perdas de Água é o Perfeito Conhecimento do Volume de VazaDetecção eficiente dos locais de vazamento e remento e de sua Redução paros rápidos: As perdas de água podem ser classificadas, de modo - Adoção de medidas adequadas ao estágio em tergeral, em perdas por vazamento e perdas por outras mos de volume do vazamento. causas que não sejam o vazamento. Destas duas caVazamento em grandes volumes: medidas contra tegorias, do ponto de vista técnivazamento na superfície com a co, a mais difícil de lidar é a perda mobilização de mão-de-obra. “Sendo assim, é por vazamento. Com relação a Vazamento em pequeno voluoutras perdas (consumo de água me: levantamento e pesquisa importante não ligado à receita) que devem planejados de vazamentos não compreender que, ser reduzidas, ou seja, em termos visíveis. Tomada de providências: mesmo que se práticos, aquelas causadas pela comunicação do vazamento e retrate de perdas de não-sensibilidade dos hidrômeparo realizado no mesmo dia. tros e por fraudes e furtos, as meágua parecidas, as didas devem ser tomadas no âmAdequação das Redes e Ramais: medidas a serem bito de identificação mais precisa - Controle dos reparos de vazatomadas, para dos volumes de perdas através do mentos através da renovação da serem eficientes, ajuste ou correção das medições rede e do desligamento eficiente podem variar de (e medidores) e das obras de adedas redes clandestinas (de furto de quação e correção das redes de água); acordo com a abastecimento de água. - Solução dos problemas de difeárea, volume, ou Por outro lado, no que tange à renças de pressões elevadas, denentão com as existência de áreas de ocupação tro de um mesmo setor, devido causas ou habitacional irregular (“favelas”), às condições topográficas partia questão também encerra seu culares, através de ressetorização características de aspecto político, o que torna ime/ou troca/adequação de trechos cada caso” portante acertar os passos com as de tubulações; medidas políticas. - Redução do volume de perdas de O que se deve fazer no mínimo, entretanto, é o leágua causadas pela não-sensibilidade dos hidrômevantamento da situação para ter a noção do volume tros, por meio da manutenção da pressão adequada exato dessa perda através das obras de instalação durante 24 horas; de tubulações especiais específicas, inclusive para - Troca de ramais deteriorados ou com vazamentos poder monitorar (controlar) o volume de perdas de freqüentes, incluindo a troca da rede secundária água. alimentadora desses ramais, se necessário, dependendo da condição da rede e da freqüência de surgiDIRETRIZES PARA CONTROLAR PERDAS DE ÁGUA mento de vazamentos. As diretrizes para adoção de medidas concretas para redução de perdas de água são descritas a seguir. MEDIDAS PARA CONTROLE DE VAZAMENTOS Essas diretrizes devem ser adotadas conforme o Para seguir eficientemente as 4 diretrizes acima desestágio de cada tipo de perdas de água, para critas, serão consideradas 3 áreas de medidas para dar continuidade com o desdobramento adequado: efetivar o combate a perdas de água. De modo especial, as contramedidas imediatas na Correção do método de medição (volume produocorrência são importantes, não somente na detec- 24 Saneas Setembro/Outubro de 2007 ção do vazamento, mas também no sentido de ter a noção do volume de perdas e de tomar providências concretas para sanar o problema. Medidas Básicas - Obter a noção precisa dos itens e do volume de perdas de água através da melhoria na acuidade da análise do volume produzido; - Elaboração do mapa de distribuição das redes e ramais para servir de base e referência para adoção das medidas e controle das perdas de água. Contramedidas Imediatas - Realização das buscas de vazamentos que estão ocorrendo: ter ao menos a noção do volume de perdas e realizar, na medida do possível, os reparos para redução das perdas de água. - Medidas Preventivas Finalmente, através das obras de adequação das redes, procurar otimizar o serviço de abastecimento e os trabalhos de controle das perdas de água. Com base nos pontos de vista acima expostos, pretendemos dar o apoio necessário à SABESP na consecução do presente projeto de cooperação técnica. O controle de perdas de água constitui o próprio trabalho de manutenção e administração de uma companhia de abastecimento de água, o que significa que todos os funcionários devem unir-se para sua perfeita realização. Esperamos que cada funcionário da SABESP, independentemente de trabalhar ou não na Área Piloto, de ser engenheiro, técnico-operador ou funcionário administrativo, venha a se envolver com corpo e alma e participar ativamente do presente Projeto, considerando-o como se fosse o seu próprio projeto. Software gerencia uso da água O conselho mundial de negócios para o desenvolvimento sustentável (WBCSD), lançou em agosto, em Estocolmo, capital da Suécia, um software que gerencia o uso da água. A interface permite que as organizações mapeiem o uso e apontem os riscos relativos a operações globais e a cadeia de suprimento. Os usuários poderão responder perguntas como: - Quantos locais estão em áreas com escassez de água? - Como serão no futuro? - Quantos empregados vivem em países que não têm acesso a água e sistemas sanitários adequados? - Quantos fornecedores estão em áreas com escassez de água? O novo software também realiza a comparação do uso de água com informações acerca de sua disponibilidade e de sistemas sanitários, tanto tratando-se do país ou lençóis freáticos; calcula consumo e eficiência; estabelece riscos relacionados à água e cria indicadores, inventários e performance métricas. Segundo especialistas do meio, o processo é de fácil gerenciamento. Para os interessados, o WBCSD disponibiliza o software para download no endereço: http://www.wbcsd.org/web/watertool.htm Setembro/Outubro de 2007 Saneas PONTO DE VISTA PERDAS DE ÁGUA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Reduzir Perdas - o Meio Ambiente e a Sociedade Agradecem SÔNIA NOGUEIRA1 A dificuldade de acesso à água faz com que muitas operadoras de serviço de saneamento (água e esgoto) transportem água a longas distâncias e utilizem intensamente o bombeamento, que geralmente implicam em altos custos operacionais. As empresas de saneamento que operam em grandes capitais, como é o caso do município de São Paulo, vêm enfrentando grandes desafios para manter a população abastecida com água em quantidade e qualidade adequadas. Problemas, como o crescimento e adensamento populacional, somado a perda da qualidade dos mananciais ou da rejeição de fontes existentes, resultam em problemas quase irreversíveis ao atendimento com água potável nos grandes centros urbanos, levando ao uso intenso das reservas existentes de água. Os custos de projetos e obras para captação de águas superficiais ou para a exploração de águas subterrâneas, incluindo transferências e transposição de outras bacias para satisfazer as necessidades em curto, médio e longos prazos são onerosos, especialmente nas metrópoles. A gestão eficiente dos recursos hídricos é fator essencial para o desenvolvimento sustentável das cidades, pois a água e as economias local, regional e global estão diretamente relacionadas, uma vez que o desenvolvimento econômico, a produção agrícola e todas as atividades humanas dependem da disponibilidade adequada de água e do acesso. A escassez de água impede o desenvolvimento econômico e social, além de limitar alternativas econômicas. Muitos fatores contribuem para a escassez deste precioso liquido; contaminação de rios, lagos, represas, poluição difusa, enchentes, aquecimento global, desmatamento e resíduos sólidos, produzindo impactos econômicos em razão da perda de atividade promovida pelos usos dos recursos hídricos. Além desses aspectos fundamentais na gestão das águas, deve-se considerar o valor econômico total dos “serviços” proporcionados pelos ecossistemas aquáticos e os custos das perdas nos sistemas de produção e distribuição. A gestão das águas será mais eficiente à medida que instrumentos econômicos, como cobrança pelo uso da água e o princípio do poluidor/pagador, forem definitivamente implementados e praticados. Conservando a água de boa qualidade, buscando alternativas, mantendo o abastecimento, são ampliadas as perspectivas econômicas e as alternativas para o desenvolvimento local e regional. Águas despoluídas revitalizam as economias local, regional, nacional e internacional. As empresas e os consumidores devem administrar o uso da água de modo responsável para assegurar o desenvolvimento sustentável. As concessionárias e prestadoras de serviços que atuam no saneamento e meio ambiente devem ter como meta prioritária o “Programa de Controle e Redução de Perdas de Águas“, envolvendo ações e articulações inter e intra-institucional com vários segmentos e implantando medidas preventivas, corretivas, preditivas e de conservação, bem como a adequada previsão de recursos financeiros e logísticos, no sentido de incorporá-lo como um programa estratégico no rol dos seus serviços. O treinamento do corpo técnico (engenheiros e operacionais) é de suma importância, além de outros recursos para conseguir um alto nível de eficiência operacional; sabemos que o combate às perdas é custoso e deve ser feito com muita racionalidade, e com bons diagnósticos e medição contínua dos resultados. O desenvolvimento do setor de recursos hídricos no 1 Engenheira Civil, formada pela Universidade Federal do Pará em 1972, Lato Sensu em Engenharia Hidráulica - Escola Politécnica da USP – São Paulo. Trabalhou de jan/1976 a nov/1976 no IEA/USP - Instituto de Energia Atômica, como pesquisadora docente nuclear, e na Companhia de Saneamento Básico de São Paulo - Sabesp, de 1976 a 2004. Atuou na área operacional, planejamento, projetos básicos e executivos de sistema de distribuição de água, coleta de esgoto e de estações de tratamento. Coordenadora do Uso Racional da Água – PURA, de 1996 a 2004. Atualmente Consultora. 26 Saneas Setembro/Outubro de 2007 Brasil apresenta grandes desafios, que exigem um planejamento adequado das ações, de acordo com o princípio do desenvolvimento sustentável. Portanto, a criação e implementação de Agências Reguladoras no setor de saneamento vem ao encontro, permitindo mecanismo de fiscalização com objetivo de cobrar medidas e implementações de projetos, programas, obras e resultados das empresas. Essas medidas permitirão a conservação dos recursos hídricos disponíveis, postergando a construção ou ampliação de sistemas de abastecimento de água, a expansão dos níveis de cobertura e, eventualmente, a redução dos valores tarifários praticados. No que concerne à infra-estrutura dos sistemas, é recomendado que as empresas concessionárias de serviços desenvolvam estudos no sentido de utilizar tecnologias modernas em seus sistemas de tratamento e distribuição de água implementando programas de redução de perdas, que contemplem a instalação de infra-estrutura de redes e ramais de boa qualidade, tendo em vista que na grande maioria dos municípios, como em algumas regiões, as redes encontram-se em situação precária, valendo citar o exemplo da Região Metropolitana de São Paulo, que possui redes com mais de 50 anos de idade e encanamentos de ferro fundido. Uma das maneiras para a redução das causas primárias dos vazamentos seria a reabilitação de trechos comprometidos, buscan- do sempre desenvolver novos materiais e métodos de instalação, como o polietileno com juntas soldadas. Quanto à medição de água, é importante investir e adotar melhorias tecnológicas, hidrômetros, que hoje apresentam um nível elevado de submedição, principalmente pelo fato de existirem caixas d’água – lembrando que uma medição precisa é fator de economia de água para o usuário, e uma aliada na luta contra as fraudes. O planejamento das atividades das instituições estaduais e municipais de saneamento torna-se necessário e deve buscar a integração com os planos de gestão das bacias hidrográficas correspondentes, bem como com a política de proteção ambiental, permitindo a evolução do conceito de saneamento básico para o de saneamento ambiental. O valor da água como bem comum, econômico e finito, ainda não foi bem entendido pela maioria da população brasileira, sendo imprescindível, para isso, que se intensifiquem ações de educação ambiental, que sozinhas podem não ser suficientes para evitar agressões ao meio ambiente, mas em conjunto com ações civis públicas ou individuais, seriam utilizadas como um grande, senão o maior, instrumento para recuperação e preservação do meio ambiente. Todos devemos, de forma individual ou coletiva, lutar pela preservação da água, seja em pequenas ações, como explicações sobre o desperdício e perdas ao repre- Setembro/Outubro de 2007 sentante de um condomínio, seja através de grandes ações junto aos governantes ou ao Poder Judiciário. Não é necessário impedir o progresso econômico do mundo para que haja a proteção ao meio ambiente, só é preciso a conscientização do homem para o desenvolvimento sustentável. Acredita-se que exista atualmente um empenho maior dos governos para o financiamento de recursos para projetos e obras no que tange ao setor de saneamento e meio ambiente. Depois de um longo vazio institucional no setor, foi criado em 2003 pelo Governo Federal, o Ministério das Cidades, e em sua estrutura a Secretaria Nacional do Saneamento Ambiental, com competência, entre outras ações, de financiamento de projetos e obras, avaliação, implementação e estabelecimento de diretrizes para a área de saneamento. Neste bojo, foram criadas políticas de incentivo à redução das perdas, com padronização capacitação, e orientação em nível nacional. As concessionárias e companhias que atuam como empresa socioambiental, moderna e competitiva no mercado consumidor, devem dar o exemplo, com o comprometimento desde a alta administração até a base, com relação a atitudes e medidas para conservação, controle de perdas e economia de água, começando pelas suas próprias edificações, cada um tendo consciência do seu papel e importância nessa luta permanente, que não tem fim. Saneas 27 ARTIGO TÉCNICO VÁRZEA DO RIBEIRÃO PARELHEIROS Desempenho na redução de concentrações de constituintes típicos de efluentes sanitários Fotos e gráficos: Divulgação Figura 1 - Várzea do Ribeirão Parelheiros verificando-se, ao fundo, a represa de Guarapiranga A Bacia do Guarapiranga ocupa vasta extensão com área aproximada de 630 km², situandose em território dos municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, Cotia, São Lourenço e Juquitiba. Originalmente construída e utilizada para a geração de energia elétrica, em 1927 passou a ser utilizada como fonte de abastecimento público, sendo responsável hoje pelo abastecimento de 18,8 % da Região Metropolitana de São Paulo. Ocupações desordenadas e irregulares da área do manancial a partir da década de 60 acarretaram problemas ambientais crescentes, notoriamente na qualidade da água. Ainda a necessidade de ampliação da oferta d’água para atender a demanda na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), principalmente na Região Sul da cidade, levou a uma série de obras que visaram a regularização do abastecimento de água na RMSP. O Sistema Produtor Taquacetuba - Guarapiranga foi destacado como uma das obras prioritárias e tratou do aporte de até 4,0 m³/s de água para o Reservatório Guarapiranga, através da captação e transposição de água do braço do Taquacetuba na represa Billings, obje- ALMIR APARECIDO DE SOUZA ANDRADE 1 tivando a melhoria da capacidade de regularização do nível da represa do Guarapiranga e, conseqüentemente, a diminuição dos riscos de abastecimento nos períodos de grande estiagem, assim como a possibilidade de incrementação da captação de água para tratamento em 2 m³/s. Em setembro de 2000 foi iniciada a transferência de água da represa Billings (braço do Taquacetuba) para a represa do Guarapiranga. O sistema Taquacetuba é composto por um par de estações de bombeamento de água, sendo a primária uma estação elevatória flutuante composta por cinco bombas submersíveis e a secundária uma estação elevatória convencional instalada em terra com cinco bombas centrífugas horizontais, 13,9 km de adutora sendo 8,3 km de transferência por gravidade com 80 m de diferença de cota entre o ponto mais alto da linha de adução e o sistema de dissipação de energia, terminando em um canal de afluência à várzea do Ribeirão Parelheiros. O Ribeirão Parelheiros aflui para a represa do Guarapiranga forman- Químico, Especialista em Engenharia de Saneamento Básico pela FSP – USP, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental pela EESC – USP, Doutorando em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica - USP. Trabalha na Sabesp, atuando no Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos. e-mail: [email protected], [email protected] 1 28 Saneas Setembro/Outubro de 2007 Figura 2 - Vista do canal de recepção de água da Billings do a várzea (Figura 1) que leva seu nome, ocupando aproximadamente 93 hectares e tendo ainda como contribuinte significativo o Córrego Itaim, ambos (Ribeirão e Córrego) com considerável degradação hídrica, decorrente de grande aporte de esgotos domésticos. O regime hidrodinâmico desta várzea deve ter sofrido severas alterações com sua utilização a partir de agosto de 2000, como área receptora da transposição de águas da Represa Billings (Figura 2). O canal de recepção da água transposta localiza-se paralelo a afluência do Córrego Itaim e a aproximadamente 2000 metros a montante do reservatório. Podem ser facilmente observados pontos de grande alteração antrópica que envolvem desde atividades já extintas de mineração, movimentação de terra para fins agrícolas, de lazer (futebol de várzea), invasões imobiliárias clandestinas. A vegetação predominante na várzea é composta por Panicum Rivulare (capim-santa-fé) e Typha Angustifolia (taboa), com cobertura estimada em torno de 50% e 20%, respectivamente. Pode-se afirmar que esta não é uma várzea natural uma vez que, originalmente a várzea situava-se na afluência do ribeirão Parelheiros ao Rio Guarapiranga, mudando sua posição a partir do enchimento da represa. Até então esta região era um típico fundo de vale onde, apesar das cheias provocadas nos períodos de chuva, não possuía o típico ciclo biogeoquímico de áreas de várzea. Com o passar do tempo, essa várzea deslocada passou a adquirir características naturais através do desenvolvimento e fixação de fauna e flora primária, típica destes sistemas ecológicos, porém com retrocesso a sua formação, causado pela antropização intensa em sua periferia. As áreas alagadas ou várzeas, comumente tratadas usando-se o termo do idioma inglês “Wetland”, podem ser naturais, induzidas ou construídas. As Wetlands naturais têm importantes funções dentro dos ecossistemas onde estão inseridas, entre as quais se destacam: a capacidade de regulari- EMEC BRASIL comemora a conquista do Troféu AESabesp “Inovação Tecnológica” Com 10 anos de atuação no mercado, atendendo o setor de saneamento básico e segmentos industriais, química e petroquímica, e energia, a EMEC BRASIL vive um momento muito positivo. Sua marca, já bem sedimentada, alcançou ainda uma maior visibilidade ao ganhar, na Fenasan 2007, o troféu AESabesp, na categoria “Inovação Tecnológica”, através dos votos dos próprios visitantes da Feira. A empresa comemora seu desempenho nesse que é um dos mais importantes eventos do segmento de saneamento ambiental: “Entendemos que nossa participação em 2007, como nos anos anteriores, foi extremamente positiva. Porém, nessa edição, pudemos apresentar um novo equipamento que atua no combate da proliferação de algas por ultrassom. A apresentação do produto criou expectativa e interesse junto aos visitantes, que nos deram o seu voto para ganharmos esse troféu AESabesp, na categoria “Inovação Tecnológica”. O equipamento apresentado na feira pode ser utilizado em diversas aplicações, tais como: Lagoas, Filtros de Estações de Tratamento, Torres de Resfriamento, Piscinas, Lagos de Peixes, Lagos de Irrigação, Controle de Biofilme e Grandes Reservatórios; proporcionando melhora na qualidade da água, evitando o uso de produtos químicos agressivos ao meio ambiente e utilizando baixo consumo de energia, sendo ainda inofensivo para as outras formas de vida. “A premiação motiva-nos a continuar buscando novos desenvolvimentos através de atuação própria ou com parceiros que tenham os mesmos objetivos da EMEC BRASIL”. A relação de atendimento entre a EMEC BRASIL e o corpo técnico de profissionais da Sabesp está num grau de envolvimento bastante satisfatório e tem se fortalecido ao longo dos anos. Na condição de fornecedora, a Empresa procura atender às necessidades do cliente, no tocante à aplicação dos produtos, ao desenvolvimento de novas necessidades, além do oferecimento de prazos de entrega ágeis, estoque de peças de reposição e preço justo. Te/Fax (11) 4356-1130 e-mail: [email protected] Setembro/Outubro de 2007 www.emecbrasil.com.br Saneas ARTIGO TÉCNICO Figura 3 - Valores acumulados mensais e média por período da variável pluviometria da bacia, referentes aos períodos de junho a setembro (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos). Figura 4 - Valores médios da variável fósforo total da entrada (GU213) e saída (GU107) da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos) Figura 5 - Valores médios da variável nitrogênio total da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos) 30 Saneas zação dos fluxos de água, amortecendo os picos de enchentes; a capacidade de modificar e controlar a qualidade das águas; sua importância na função de reprodução e alimentação da fauna aquática, incluindo os peixes; a proteção à biodiversidade como área de refúgio da fauna terrestre e controle da erosão, evitando o assoreamento dos rios (Salati, 2000). As principais propriedades que tornam estas áreas importantes para o controle de poluentes e contaminantes em corpos d’água são: alta produtividade de vegetação; grande capacidade de absorção dos sedimentos; altas taxas de oxidação pela microflora associada à biomassa das plantas e grande capacidade de reter nutrientes, poluentes e contaminantes (Salati, 2000). Os processos físicos, químicos e biológicos, isto é, o ciclo biogeoquímico, que ocorrem nesses ecossistemas e que são responsáveis pela alteração da qualidade das águas, variam grandemente de acordo com o regime hidrológico, geologia, fatores climáticos e bióticos. As Wetlands construídas diferem das naturais por proporcionarem o controle do regime hidrológico e ainda pela possibilidade de composição do substrato utilizado, uma vez que pode este ser projetado para otimização do sistema (Salati, 2000). ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados apresentados são provenientes do cálculo de valores médios, máximos e mínimos do banco de dados de qualidade de água do monitoramento realizado pela Sabesp, no período de junho de 2003 a marco de 2004, da várzea do Parelheiros, agrupados em período seco (junho, julho, agosto e setembro de 2003) e chuvoso (outubro, novembro e dezembro de 2003, janeiro, fevereiro e março de 2004). Os dados pluviométricos (figura 3) definem perfeitamente o período seco e chuvoso. Os meses de outubro e novembro de 2005 podem ser ainda observados como meses de transição entre os períodos seco e chuvoso, porém destacam-se dos meses secos uma vez que a precipitação acumulada é em média três vezes superior as do período seco. Os aumentos das concentrações de fósforo total e nitrogênio total (figuras 4 e 5) durante os períodos estudados devem ser parcialmente originados a partir da deficiência de afastamento de efluentes sanitários oriundos de ocupações irregulares na região. Porém, os incrementos destas concentrações durante o período chuvoso podem ser decorrentes da carga difusa proveniente das chuvas, que neste período lavam os campos utilizados para a agricultura, o que não ocorre no período seco, pois este é marcado por baixa pluviosidade. Quanto a variável coliformes totais (figura 6), o incremento durante o período chuvoso pode também ser atribuído a carga difusa oriunda das chuvas. Setembro/Outubro de 2007 Figuras 6 e 7 - Valores médios da variável coliformes totais da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos) Já em relação a variável coliformes fecais (figura 7), foram verificadas na saída da várzea concentrações superiores no período seco em relação ao chuvoso, o que reforça a tese de deficiência do sistema de coleta e afastamento de efluentes sanitários, uma vez que os períodos de estiagem exercem menor influência quanto ao potencial de diluição da concentração de compostos poluentes e contaminantes, ou seja, provavelmente a contribuição à várzea de coliformes fecais seja regular ao longo dos períodos seco e chuvoso, porém a ação das chuvas e as conse- qüentes cheias dos corpos d’água exercem um papel significativo como diluentes deste variável. A remoção de turbidez (figura 8), que ocorreu em todos os períodos estudados, pode ser explicada pela capacidade destes sistemas quanto ao amortecimento das águas de afluência que elevam as taxas de sedimentação de partículas em suspensão. Ainda há a possibilidade da retenção de partículas por aderência ao sistema radicular de macrófitas. Durante o período chuvoso foi verificada uma remoção superior a do período seco. Possivelmente, a velocidade Setembro/Outubro de 2007 Saneas ARTIGO TÉCNICO Figura 8 - Valores médios da variável turbidez da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos) ções dessas variáveis sofreram incrementos desde a entrada até a saída da várzea. Para que os problemas provenientes das substâncias originárias a partir de fontes antrópicas em águas destinadas para o abastecimento possam ser solucionados ou, pelo menos minimizados, é fundamental que os mesmos sejam estudados de modo a permitir que as suas causas possam ser identificadas e, conseqüentemente, hajam condições de serem definidas as melhores alternativas técnicas para a sua solução. O aprofundamento dos estudos de desempenho da várzea depende da implantação de uma rede de monitoramento qualitativo e quantitativo de contribuições difusas, que proporcionará a realização de balanços de massa. A implantação de rede coletora de esgotos sanitários nas áreas não atendidas por este serviço deve contribuir significativamente quanto ao aumento de desempenho da várzea. A coibição do aumento de ocupações irregulares na bacia do Ribeirão Parelheiros deve ser um fator de primeira ordem de preocupação das instituições competentes à fiscalização de uso e ocupação do solo. Referências Bibliográficas Figura 9 - Valores médios da variável DQD da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos) de escoamento em áreas alagadas durante o período chuvoso é maior que a do período seco, o que levaria a taxas de sedimentação menores. Porém, a dinâmica de crescimento das plantas no período chuvoso deve atingir seu auge por corresponder às estações da primavera e verão, o que reforça a tese de retenção de partículas por aderência ao sistema radicular das plantas da várzea. A redução de DQO (figura 9) promovida pela várzea deve ser decorrente da grande capacidade biótica das áreas alagadas em degradar matéria orgânica, seja pela ação de microorganismos, seja por adsorção radicular de macrófitas. CONCLUSÕES Os resultados de fósforo total, nitrogênio total e coliformes, nos permitem afirmar que houve contribuição significativa de fontes difusas na várzea, nos períodos seco e chuvoso, uma vez que as concentra- 32 Saneas - Andrade, A.S.A. Análise da eficiência da várzea do Ribeirão Parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga, São Paulo. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005. - Andrade, A.S.A., Filho. S.F.S., Fernandes, A.N., Kairala, A.M., Aplicação de Carvão Ativado em Pó (CAP) na Remoção de Gosto e Odor em Águas de Abastecimento. IX Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária. Porto Seguro, Bahia, 2000. - Chorus, I. & Bartram, J. (Editors). Toxic cyanobacteria in water: a guide to their public health consequences, monitoring and management. E. Who. & F. Spom, 1999. 416 p. - Harbel, R., Perther, R., Laber, J. Wetland Systems for Water Pollution Control. Wat Sci. Techn. 35 Proceeding of the IAWQ. 5 rd International Conference on the Use of C W in Water Pollution Control (1996) (ed. COOPER, P. – 1997) – Vienna, Austria. - Manfrinato, E. S. “Avaliação do Método Edafofitopedológico para o Tratamento Preliminar de Águas”. Piracicaba-SP, 98 p. Dissertação (Mestrado). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. 1989. - Salati, E. Estudo de Wetlands (Áreas Alagadas) Naturais e Construídas para Proteção e Recuperação dos Recursos Hídricos. São Carlos, SP. 2000. 46 p. - Tundisi, J. G. Limnologia e Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos. Ciência & Ambiente v. 21, p. 10-20, 2000. Setembro/Outubro de 2007 ARTIGO TÉCNICO PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE REDES DE ÁGUA A Experiência da Unidade de Negócio Centro da Sabesp ANDERSON DE MELO MARTINS1 | MARTA REGINA INOUE2 | ROBERTO ABRANCHES3 O “Programa de Reabilitação de Redes e Adutoras da Unidade de Negócio Centro - MC” tem por objetivo colocar em prática ações que buscam uma melhoria operacional do sistema de distribuição de água da Unidade de Negócio, em atendimento às metas previstas no planejamento operacional da unidade. São realizadas avaliações periódicas de indicadores por Setor de Abastecimento, como, por exemplo, o número de reclamações da qualidade da água, número de vazamentos, índice de perdas, intermitência no abastecimento, bem como avaliação do estado estrutural das redes. A metodologia do programa de reabilitação1 de redes pode ser aplicada a outras unidades ou empresas de saneamento, que procuram, em seu planejamento operacional, incorporar planos e ações para melhor identificar, reparar e monitorar os impactos ambientais decorrentes da operação do sistema de distribuição e conseqüente envelhecimento, muitas vezes precoce, das redes do sistema de distribuição de água. As etapas previstas no programa são: planejamento, estudo e aplicação de técnicas de reabilitação, investigação de áreas críticas e avaliação de resultados pós-obra; concomitantemente às atividades, procura-se investigar as causas da origem da formação dos tubérculos e incrustação das redes de ferro fundido ao longo dos anos. HISTÓRICO Pelo que se tem notícia, desde o início dos anos 80 a empresa vem investindo no desenvolvimento de tecnologias para reabilitação das redes de distribuição e adutoras. Numa perspectiva estruturada para este fim, a Unidade de Negócio Centro implementou o Programa de Reabilitação de Redes no início de 2006, com o propósito de estabelecer uma metodologia que procurava viabilizar tecnicamente os recursos empregados, visando aperfeiçoar a capacidade de suporte hidráulico das redes de distribuição, reduzir as perdas no sistema e, principalmente, melhorar a qualidade da água distribuída. Uma equipe de trabalho multidisciplinar foi estruturada para identificar os setores alvos, objeto de incrustação das redes abastecimento de ferro fundido, investigar suas causas e priorizar as áreas críticas para execução de obras de reabilitação. A equipe é formada por representantes da Divisão de Controle Sanitário (MCEC), Divisão de Controle de Perdas (MCEP), Divisão de Operação de Água (MCEA), Setor de Cadastro Técnico (MCED.2) e representantes das áreas de Planejamento (MCI) e de Serviços e Pólos de Manutenção (MCC). A corrosão e a incrustação das redes de ferro fundido causam: • aumento da perda de carga e diminuição da vazão aduzida; • problemas sanitários decorrentes, por exemplo, a liberação para a água de metais constituintes da tubulação; • problemas organolépticos, originados da alteração da cor e do sabor da água; • problemas econômicos, advindos, dentre outros, da necessidade de troca das tubulações, aumento do número de intervenções para manutenção e acréscimo do consumo de energia elétrica, para superar a perda de carga adicional causada pelas incrustações e pelo aumento da rugosidade das tubulações. (HELLER, 2006). Engenheiro Civil, 2Engenheira Química, 3Tecnólogo em Obras Hidráulicas 1 Setembro/Outubro de 2007 Saneas 33 Fotos, Ilustrações e Tabelas: Divulgação ARTIGO TÉCNICO METODOLOGIA Fundamentado tecnicamente num estudo publicado pela Water Research Centre – WRC, “Planning the Reabilitation of Water Distribution Systems”2, e 34 Saneas adaptando-o às restrições e recursos disponíveis da empresa, foi composta uma equipe de trabalho onde foram chamados representantes das áreas de engenharia e operacionais, como o Controle Sanitário (MCEC), Divisão de Operação Água Centro (MCEA), Divisão de Perdas (MCEP), Cadastro (MCED.2), Planejamento (MCI) e Pólos de Manutenção (MCC). Juntos desde março de 2006, a equipe foi consolidada e, desde então, o trabalho e a estruturação do programa vêm se desenvolvendo. Inicialmente uma estrutura preliminar do programa foi apresentada ao grupo, e após algumas reuniões foram definidas as etapas do projeto que constituíram a metodologia do programa, chegando-se a fluxogramas específicos para representação das etapas e desenvolvimento do projeto. Conforme o andamento das ações, a metodologia foi amplamente discutida até chegar-se à formatação de dois fluxogramas que basicamente mostram as fases do projeto proposto, um primeiro fluxo que contempla a primeira etapa do programa: planejamento, investigação, mapeamento e elaboração de pacotes técnicos para implantação das obras, e outro fluxo detalhado que contempla a fase de avaliação de resultados, como apresentado no fluxograma (1a. e 2a. etapa). Setembro/Outubro de 2007 Dentre as ações propostas, a fase de planejamento, investigação e diagnóstico para implementação do programa foi realizada, restando por último, a priorização dos Setores de Abastecimento (setores mais críticos objeto das obras). Para tanto, a equipe definiu pesos para a ponderação e classificação dos setores, vinculando a reabilitação das redes ao tipo de problema apresentado: • Qualidade de Água – Peso 3; • Falta D’água e Pouca Pressão – Peso 2; • Vazamentos – Peso 1. Depois de multiplicar os pesos pelos pontos atribuídos ao setor devido ao maior número de ocorrências, chegou-se ao Mapa de Setores Prioritários, (Tabela 1, abaixo) para destino dos recursos ao longo do ano. No período de 2006 foram destinados recursos e investimentos para obras de melhoria do sistema de distribuição, onde passamos a avaliar os benefícios e resultados com base em alguns parâmetros de qualidade e eficiência hidráulica das redes e em função das técnicas de reabilitação empregadas. TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO A SABESP utiliza largamente o ferro fundido no sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP, em adutoras, subadutoras, redes de distribuição primárias e secundárias. As linhas de ferro fundido aplicadas no período anterior à década de 70 não contavam com revestimento interno. Esses condutos apresentam, hoje, incrustações e deposições que comprometem a eficiência dessas linhas em aspectos hidráulicos e sanitários. A degradação das condições internas das tubulações provoca não só uma maior dissipação de energia pela resistência ao escoamento (perda de carga), com reflexos diretos no atendimento à demanda em função das menores vazões aduzidas e ocorrência de vazamentos, mas também são detectados aumentos na concentração de resíduos insolúveis na água devido ao desprendimento de tubérculos. Os resíduos provocam um aspecto visual desagradável pelo aumento da cor acima dos padrões permitidos, alteração do sabor, manchas em tecidos e louça sa- SETORES PRIORITÁRIOS PARA OBRAS DE REABILITAÇÃO POR SETOR DE ABASTECIMENTO - 2007 Setor Cambuci Consolação Jabaquara MC Sumaré Perdizes Vila Romana Vila Mariana Paulista Jd. América Lapa Sacomã Cursino Sapopemba Vila Alpina Brooklin MC Vila Formosa Pinheiros Deriv. Sacomã Carrão Deriv. Brás Ipiranga Mooca MC Cid. Tiradentes MC Deriv. 3ª Divisão Jd. S. Pedro São Mateus MC Vila do Encontro MC Casa Verde MC Jd. Da Conquista Qualidade da Água Peso 3 5,00 15,00 5,00 15,00 5,00 15,00 5,00 15,00 5,00 15,00 4,00 12,00 5,00 15,00 4,00 12,00 3,00 9,00 5,00 15,00 5,00 15,00 5,00 15,00 5,00 15,00 5,00 15,00 3,00 9,00 4,00 12,00 4,00 12,00 3,00 9,00 3,00 9,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 3,00 Vazamentos Peso 1 4,00 4,00 4,00 4,00 2,00 2,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 5,00 5,00 3,00 3,00 4,00 4,00 3,00 3,00 2,00 2,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 5,00 5,00 2,00 2,00 4,00 4,00 3,00 3,00 5,00 5,00 3,00 3,00 4,00 4,00 3,00 3,00 5,00 5,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Falta d'água Peso 2 5,00 10,00 5,00 10,00 5,00 10,00 4,00 8,00 4,00 8,00 5,00 10,00 3,00 6,00 4,00 8,00 5,00 10,00 2,00 4,00 2,00 4,00 2,00 4,00 2,00 4,00 2,00 4,00 3,00 6,00 2,00 4,00 1,00 2,00 2,00 4,00 1,00 2,00 4,00 8,00 2,00 4,00 2,00 4,00 1,00 2,00 1,00 2,00 1,00 2,00 1,00 2,00 1,00 2,00 1,00 2,00 1,00 2,00 LEGENDA Qualidade da Água - Peso 3 5 pontos 4 pontos 3 pontos 2 pontos 1 ponto Falta d'água - Peso 2 5 pontos 4 pontos 3 pontos 2 pontos 1 ponto Vazamentos - Peso 1 5 pontos 4 pontos 3 pontos 2 pontos 1 ponto Fevereiro / 2007 Total Setor 29,00 29,00 27,00 27,00 27,00 26,00 26,00 23,00 23,00 22,00 21,00 20,00 20,00 20,00 20,00 18,00 18,00 16,00 16,00 14,00 11,00 10,00 10,00 7,00 7,00 7,00 7,00 6,00 6,00 Cambuci Consolação Jabaquara MC Sumaré Perdizes Vila Romana Vila Mariana Paulista Jd. América Lapa Sacomã Cursino Sapopemba Vila Alpina Brooklin MC Vila Formosa Pinheiros Deriv. Sacomã Carrão Deriv. Brás Ipiranga Mooca MC Cid. Tiradentes MC Deriv. 3ª Divisão Jd. S. Pedro São Mateus MC Vila do Encontro MC Casa Verde MC Jd. Da Conquista Prioridade: 1 (30 a 25 pontos) 2 (24 a 20 pontos) 3 (< de 20 pontos) Tabela 1: Setores Prioritários 2007 Setembro/Outubro de 2007 Saneas 35 ARTIGO TÉCNICO nitária, obrigando freqüentes limpezas de reservatórios e filtros de hidrômetros. Este fenômeno, conhecido como “água amarela”, impõe como forma de controle, descargas constantes nos locais atingidos até a obtenção da qualidade usual. As técnicas de reabilitação empregadas vão desde medidas convencionais (assentamento com abertura de valas) como as não-convencionais, que permitem a intervenção nas infra-estruturas enterradas sem abertura de valas, ou abertura de valas pontuais, minimizando assim os custos sociais e transtornos à população urbana (métodos não-destrutivos). As técnicas utilizadas para reabilitação das redes da Unidade de Negócio Centro são: recuperar as redes de distribuição são a limpeza e revestimento com argamassa acrílica ou limpeza e revestimento com resina epoxídica. Novas tecnologias Durante o desenvolvimento do programa de reabilitação também são identificados os treinamentos necessários, em face das novas tecnologias empregadas, necessidade de benchmarking3, identificação dos problemas e prováveis soluções das questões em função da técnica empregada, disseminação, ou seja, o repasse das informações para aquisição de conhecimento e aprendizado da força de trabalho. Prevê-se também a avaliação de resultados e depoimentos dos integrantes da equipe para análise crítica do programa por parte da alta direção da empresa. Substituição de Redes – Método Não-Destrutivo O serviço de substituição de rede por método nãodestrutivo é constituído por um conjunto de equipamentos e ferramentas projetadas para romper as AVALIAÇÃO DE RESULTADOS redes existentes que apresentam problemas estruOs serviços executados pela Unidade de Negócio turais ou de insuficiência hidráulica, quer seja por Centro têm se justificado pelo maior número de represença de incrustações ou comprometimento das clamações da qualidade da água e baixa pressão nas paredes, ou pela necessidade aumento de sua caparedes de distribuição. cidade de transporte. Após a estruturação do Portanto, a substituição de Fonte: Curso Abratt/USP, 2005 programa, a determinaredes é empregada quanção do índice de perdas do as paredes dos tubos se por setor e a retirada de encontram comprometidas amostras para avaliação estruturalmente e não mais da condição estrutural das se prestam à veiculação híredes passaram sistematidrica, ocasionando muitas camente a fazer parte das perdas no sistema. avaliações. Geralmente são aplicadas A avaliação de resultados técnicas de substituição utise dá pela medição postelizando processos de rom- Figura A: Esquema do Método “Pipe Bursting” rior às obras e constatação pimento da tubulação exisde permanência ou queda tente, como o Pipe Bursting. A reabilitação da rede dos índices anteriormente observados. se dá por inserção com destruição, ou seja, consiste A seguir mostramos as obras de reabilitação de rena técnica de arrebentar a tubulação existente pelo des realizadas e em andamento, no período de 2004 uso de uma força radial de dentro da tubulação. a 2006, na Unidade de Negócio Centro, Tabela 2: Os fragmentos são comprimidos para o exterior e uma nova tubulação é puxada atrás da cavidade Qualidade da Água formada pelo equipamento de fragmentação conPara os setores analisados, constatou-se uma queda forme, por exemplo, mostrado no esquema ao lado, do número de reclamações da qualidade da água, Figura A. Gráfico 1, e redução do volume perdido de água em descargas para lavagem das redes, Gráfico 2. Limpeza e Revestimento de Redes Quando não há comprometimento estrutural das Pressão de Abastecimento paredes da tubulação, apenas se encontram inConstatou-se um aumento de pressão de abastecrustadas internamente, as técnicas utilizadas para cimento após a realização de serviço de limpeza e 36 Saneas Setembro/Outubro de 2007 revestimento da tubulação, gráficos 3 e 4. Estado Estrutural das Redes Um item importante a ser avaliado é o estado das redes de distribuição, onde podemos avaliar em que condições estruturais as redes se encontram. As sondagens para retirada de amostras e avaliação são realizadas antes e depois dos serviços a serem executados. Tabela 2: Obras de Reabilitação de Redes da Unidade de Negócio Centro – (2004-2006) Fonte dos gráficos: MCEC/2006 Consumo Micromedido Utilizando a ferramenta Signos: Sistema de Informações Geográficas no Saneamento do cadastro técnico da Sabesp, outro item a ser avaliado é o aumento da capacidade de veiculação hídrica ou o aumento do consumo micromedido após a realização dos serviços. Segundo de- Gráfico 2: Redução do volume de descarga de lavagem de redes (até Junho/2006) Gráfico 1: Queda do número de reclamações da qualidade da água (até Junho/2006) Gráfico 3: As pressões de abastecimento (mca) antes da execução dos serviços de limpeza e revestimento da tubulação Gráfico 4: Aumento da pressão de abastecimento (mca) no mesmo endereço, após a execução dos serviços de limpeza e revestimento da tubulação, realizados em novembro de 2006 Setembro/Outubro de 2007 Saneas 37 ARTIGO TÉCNICO Na sequência: Retirada de amostra de rede, corte da tubulação, retirada da amostra e inspeção da fiscalização. No destaque, análise do antes e depois dos serviços. monstrado no relatório da Figura 1, houve aumento de 726 m³ do consumo micromedido de 2005 para 2006 na Rua Tajá, após a conclusão dos serviços de reabilitação da rede de abastecimento local. CONCLUSÃO Quanto às reclamações dos consumidores, à qualidade da água, às pressões nas redes de distribuição e ao índice de vazamentos, obtivemos bons resultados após os serviços de substituição, limpeza e revestimento da rede. Um programa amplo de reabilitação de redes de distribuição demanda um plano de ação específico para sua implementação, o qual prevê um trabalho multidisciplinar de planejamento, investigação, aplicação de técnicas viáveis, medição e avaliação de resultados. Figura 1: Relatório dos consumos micromedidos antes e depois da obra 38 Saneas Nota dos autores Entende-se por “reabilitar” uma rede de abastecimento ações que promovam uma intervenção física resultando uma melhora das condições operacionais da mesma. 2 “Planning the Reabilitation of Water Distribution Systems”, Water Research Centre – WRC, obra disponível para consulta na Biblioteca Sabesp, gentilmente traduzida e cedida pelo Engº Guaraci L. Sarzedas / Superintendência de Planejamento e Desenvolvimento da Metropolitana - MP - Sabesp (tradução livre e sem fins lucrativos). 1 Referências Bibliográficas - BRILHANTE, O. M.(coord.). Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. - HELLER, L. & PÁDULA . L. (orgs). Abastecimento de água para consumo humano – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. - VENTURINI, M A A G – Metodologia de Análise e Decisão Multicriterial para a Reabilitação de Sistemas de Abastecimento de Água – São Paulo: Unicamp, 2003. - JACOBI P, coord. Problemas ambientais e qualidade de vida na cidade de São Paulo: percepções, práticas, e atitudes dos moradores. São Paulo: CEDEC; 1994. - EVINS, C.; STEPHENSON, G.; WARREN, I.C.; WILLIAMS, S.M. Planning the reabilitation of water distribution systems. Wiltshire: WRC - Water Research Centre, 1989. - RIBEIRO, R. & VARGAS H. C. Novos Instrumentos de Gestão Ambiental Urbana. São Paulo: Edusp, 2001. <+> Colaboração: - Amarildo Miguel - Tecnólogo em Edifícios - Genival Abdias de Carvalho - Tecnólogo em Edifícios - Hilton Alexandre de Oliveira - Tecnólogo em Obras Hidráulicas, - Márcio Luiz Rocha de Paula Fernandes - Bacharel em Química - Maria Silvia Polisaitis Ramos Oliveira - Engenheiro Civil - Ricardo Chinaglia - Tecnólogo em Movimento de Terra e Pavimentação - Sandro Waiteman Peretto - Tecnólogo em Processamento de Dados. Setembro/Outubro de 2007 ARTIGO TÉCNICO BIODIVERSIDADE Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono ILVA MARTINS NERY1 A questão ambiental vem se agravando quotidianamente e as previsões são assustadoras, como a que anuncia a falta de água no Planeta para o ano de 20251 . O jornalista João Paulo Charleaux2 publicou uma matéria sob o título: “Água na fervura – guerras pela água já acontecem” – na qual descreve a situação da água em diversos países. São Paulo, “carro-chefe” do país, também não tem situação confortável, pois, há muito vem importando água do sul de Minas, mormente das bacias do Jaguari, Piracicaba, Campinas, Jundiaí, entre outras. A represa Billings e a Guarapiranga sofrem processo de degradação ambiental por causa da ocupação desordenada das áreas de mananciais, e o Sistema Cantareira está caminhando no mesmo sentido. Urge que o Poder Público fique em alerta total, para impedir mais esse crescimento desordenado que, por certo, causará graves transtornos sociais. No Brasil, várias regiões metropolitanas como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, entre outras, sofrem com seus rios poluídos e áreas degradadas. Os recursos hídricos, de modo geral, estão poluídos. Nossa atmosfera exala gases produzidos pelas indústrias químicas e pela queima de combustíveis fósseis. Com os olhos voltados para citados problemas, procuramos focar a Biodiversidade do país, concei- tuando-a e destacando seu papel de vanguarda no cenário nacional. Sendo o Brasil um dos maiores detentores de Biodiversidade do mundo, procuramos lembrar que a responsabilidade da comunidade na fiscalização das áreas de restrição ambiental é primordial, pois a cobiça dessa riqueza tem levado à prática da biopirataria por parte dos alienígenas. No tema “Biodiversidade - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono” – verificamos que, além das áreas de restrição de valor inestimável para o clima e para as águas, ela dá ensejo a vários projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, estimulando o seqüestro de carbono, que visa ser mais uma commodity no Mercado da Bolsa de Valores. Durante o desenvolvimento do presente texto, procuramos envidar esforços para demonstrar que a exploração dos recursos naturais, como vem sendo feita, causa prejuízos irreversíveis, pois devasta as florestas, seca mananciais, destrói a flora nativa, empeçonha a fauna, exaspera o clima, dá ensejo à erosão e à desertificação, e contribui sobremaneira para expansão dos gases do efeito estufa. Segundo os especialistas, precisamos reverter essa situação com urgência. Advogada, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Direito Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Mestranda em Direitos Difusos e Coletivos na Universidade Metropolitana de Santos. E-mail: [email protected] 1 Setembro/Outubro de 2007 Saneas 39 ARTIGO TÉCNICO IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA LEGAL, PARA AS ÁGUAS E PARA O CLIMA, E SEU VALOR ECONÔMICO, EM FACE DO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO O Brasil adotou o respeito à função social da propriedade e ao ambiente ecologicamente equilibrado, por tal motivo deve intervir o Poder Público nas hipóteses de desobediência, quando trata de desapropriação, parcelamento ou edificação compulsórios e imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo, e a proibição de condutas lesivas ao meio ambiente, sob pena de sanções penais, administrativos e civis, (arts. 182 § 3º e 4º, incisos I e II e § 3º do 225 da CF). Assim sendo, o Poder Público age de forma preventiva, ou seja, planeja e cria áreas verdes, com o objetivo de assegurar a proteção e conservação ambiental, quando cria as Áreas de Preservação Permanente (APP), que segundo o Código Florestal (Lei nº 4771/1965 art. 2º), protege as margens dos recursos hídricos, como rios, lagoas, córregos, além de topos de morros, encostas etc. O Código Florestal, ao longo do tempo, foi sofrendo alterações, sendo complementado pelas Resoluções do CONAMA (entre elas as R. C. nºs 302 e 303, de 20 de março de 20023), e outros instrumentos, para a realização de um ambiente ecologicamente equilibrado, a partir da ordenação territorial, como uma espécie de limitação administrativa. Neste contexto, o Parecer4 apresentado pela Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Sustentável em Milão, e acolhido pelo Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico (SBSTA), em inglês, da lavra das advogadas especialistas em Direito Ambiental, Lucila F.de Lima e Flávia Frangetto, dentro do tema Crédito de Carbono, abordou assunto relativo aos Proprietários de terras de áreas protegidas, observando que eles podem lucrar com projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL. As autoras apresentam uma analogia das Reservas Legais, com as Áreas de Preservação Permanente5: “A Reserva Florestal Legal é uma porcentagem de cada propriedade, onde está vetado o corte raso, exatamente porque é locacional e quantitativamente variável, demanda averbação. Não se trata, parece evidente, de modalidade de preservação, como é o caso da APP, mas de conservação, posto que admissível o uso direto, desde que com manejo.” Das APPs já tratamos alhures; assim, tendo em vista 40 Saneas a importância dessas áreas protegidas, veio a lume a Lei Federal nº 9.605/1998, mais conhecida como Lei de Crimes Ambientais. É importante lembrar que toda vez que o usuário desses espaços protegidos infringir o Código Florestal e outras leis esparsas, poderá ser incriminado nos âmbitos penal, civil e administrativo (art. 225, § 3º 6). O estudo de Lima e Fragetto7 aponta que a utilização do MDL em atividades florestais apresenta potencial de viabilizar a recomposição de áreas objeto de proteção obrigatória que estejam degradadas ou com sua função social prejudicada8, incentivando seus proprietários a adotarem esse novo instrumento que pode ter um viés econômico, e, ao mesmo tempo, ajuda a amenizar o clima. DADOS DO RELATÓRIO DO PAINEL INTERGOVERNAMENTAL DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS Matérias sobre mudanças climáticas são publicadas na mídia diariamente, mas o Relatório9 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC, o mais respeitado documento sobre o tema no mundo, demonstra claramente que o aquecimento atual é praticado por um estilo de vida iniciado na Revolução Industrial e ainda praticado pelos 6,5 bilhões de habitantes. E por tal “estilo de vida” deve ser entendido o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento em larga escala. A concentração dos três principais gases-estufa dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nítrico (N2) – vem crescendo constantemente e degradando a qualidade ambiental do planeta. Em virtude disso, há previsão de que os oceanos subirão, ameaçando ilhas e cidades costeiras e que de 10 a 20% da floresta Amazônica será dizimada, virando cerrado. Diante da situação caótica do clima, diversos países vêm promovendo eventos em busca de soluções; entre eles, podemos citar o Seminário realizado em 24 de março de 2004 pela Secretaria de Meio Ambiente10 de São Paulo, sob tema: “Créditos de carbono contribuindo para a solução da gestão de resíduos sólidos”, do qual participaram diversos representantes dos governos federal, estadual e municipal, organizações não-governamentais e empresários do setor de resíduos sólidos. Nesse evento foram dados como exemplos os projetos brasileiros aprovados para a redução das emissões de gás metano em aterros, ou seja, o aterro “Veja” em Salvador, Setembro/Outubro de 2007 na Bahia, e o aterro “Nova Gerar” de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, os quais constituem a base metodológica para empreendimentos similares. Em outro evento promovido pelo SENAC11, foram discutidas as oportunidades para que pequenos projetos possam também reduzir a emissão de gás carbônico. Segundo estudiosos do assunto, o Brasil é líder em projetos para a venda de créditos de carbono, sendo esta uma atividade econômica com grande potencial a ser explorado12. É de conhecimento geral que apesar de o Brasil ser um país em desenvolvimento, com grandes desigualdades sociais, também é detentor da maior biodiversidade ou diversidade do mundo, que segundo Édis Milaré13 é a variedade de indivíduos, comunidades, populações, espécies e ecossistemas existentes em uma determinada região. E de olho nessa riqueza, surgiu a biopirataria,14 que para seu controle, depende de vontade governamental, a ser manifestada através de políticas públicas, como por exemplo, o Projeto de Lei n°306 de 1995, proposto pela então Senadora Marina Silva15, e enviado para a Câmara dos Deputados, ainda aguardando votação. CONCLUSÃO Tendo em vista todas as colocações apresentadas no curso deste texto, notamos que razão assiste aos mestres Fiorillo e Diaféria16 quando apontam “a necessidade de uma maior conscientização do que venha a ser a dignidade da pessoa humana, qualidade de vida e sua salubridade, em face do desenvolvimento econômico crescente e de todo o regramento jurídico já existente para dar suporte à manutenção da Biodiversidade do planeta e, principalmente, para a preservação humana”. Sendo as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais imprescindíveis para a preservação e conservação dos recursos naturais, entre elas, a água, fundamental para a sobrevivência do planeta, cabendo a cada cidadão a vigilância, e a fiscalização por parte do Estado. Citadas medidas são de rigor, nos termos do art. 22517, caput, da Lei Maior. Por outro lado, as áreas protegidas vêm dando ensejo a grande quantidade de projetos de Mecanismo de Tecnologia e Meio Ambiente Distribuidor Tencate-Geotube A Allonda convida você a pensar no Futuro O Geotube® é uma solução ambiental para desidratação de lodos e sedimentos contaminados. Benefícios da tecnologia Geotube® Alto volume de contenção. Desidratação eficiente e baixo custo de implantação e operação. Pequenos e grandes sistemas. Processos contínuos e emergenciais. Não requer equipamento especial. Allonda Geossintéticos Ambientais Ltda. Fone: (+55 11) 5501-9201 www.allonda.com email: [email protected] Setembro/Outubro de 2007 Saneas ARTIGO TÉCNICO Desenvolvimento Limpo (MDL), de imenso valor instrumental para a realização de redução dos Gases de Efeito Estufa – (GEE), tão importante para amenizar o clima. Caso não sejam priorizados instrumentos para amenizar o clima, como a redução de gases do efeito estufa, a diminuição do uso de combustíveis fósseis e a devida importância das áreas de restrição, a tendência será cada vez mais a elevação do aquecimento da Terra e mais freqüentes serão as inundações, o desmatamento, o assoreamento dos recursos hídricos, as queimadas, a falta de alimentos e de água, sendo certo que esta última será causa de futuras guerras mundiais, segundo os mais pessimistas18. Sobre a importância da Educação, e para arrematar este texto, deixamos registradas as sábias palavras da Profª Maria Cecília Focesi Peliocione19: “Valores éticos tais como a equidade, a solidariedade, e a justiça social devem ser usados a serviço de opções conscientes. Um dos principais papéis da Educação é então, incrementar a capacidade das pessoas de transformar suas idéias sobre a sociedade, em realidades funcionais imprescindíveis para que a humanidade possa então modificar sua trajetória e melhorar sua qualidade de vida.” Referências Bibliografias: - CHARLEAUX, João Paulo. Água na fervura – guerras pela água já acontecem. Revista Caros Amigos, editora Casa Amarela, janeiro de 2002. http//www.meioambientecarbono.adv/pdf/parecer_ valor.pdf, acesso em 19/3/2007. - LIMA Lucila Fernandes, e FRANGETTO, Flávia Witkowski. “Parecer jurídico apresentado pela Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Sustentável em Milão e acolhido pela SBSTA”, site: Jornal da Tarde. “Aquecimento Global”, de 3/2/2007, pp. 7-A-8-A. h t t p : / / w w w. a m b i e n t e . s p . g o v. b r / d e s t a q u e / 2004´marco/24worshop.htm acesso em 22/3/2005. Jornal da Tarde. – “JT Cidadão:Créditos de carbônico: como obter?” , de 2/6/07, p.15-A. - MILLIARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo. Ed. Revista dos Tribuanis, 2000, p.662 - SILVA, Marina. Publicação do Gabinete da Senadora, Brasília, 2002. Disponível em http://www.amazonlink. org/biopirataria/biopirataria_faq.htm - FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo, Max Limonad, 1999. PELICIONI, Maria Cecília Focesi. “As interrelações entre a educação, saúde e meio ambiente”. Biológico. São Paulo.v.n.2.p.75-78, jul/dez,1999 Caros Amigos, janeiro 2002, p.35 –“O governo do Egito, por exemplo, disse com todas as letras que, se a Etiópia retirar mais uma gota de água do rio Nilo, o ato seria interpretado como uma declaração de guerra. Leve-se em conta que 80 por cento desse rio vêm da Etiópia e tem-se um cenário de barril de pólvora na região. (...) Só na África, são onze os países que têm dificuldades com a água. No Oriente Médio, são nove. A situação também é desconfortável no México, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos.” 2 idem 3 Resolução CONAMA n. 302 – dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. A Resolução CONAMA n. 303, dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. 4 www.meioambientecarbono.adv.br/pdf/parecer_valor.pdf 5 “Considerando as diferenças de ambas, elas apresentam-se convergentes, ante o fato de representarem a vinculação do território a uma margem regrada de padrões de uso da terra e respectivos recursos ambientais por força de qualidades ambientais próprias (por exemplo, formas de vegetação destinadas a atenuar a erosão das terras; função de fixar as dunas conforme a listagem do art. 3º do Código Florestal)... Nesse sentido, encontramos os conceitos a APP e de Reserva Legal, na Medida Provisória 2166-67 de 24 de agosto de 2001(anexo IV)”. 6 Art. 225 da CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” § 3º do ar. 225: “As condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” 7 www.meioambientecarbono.adv.br/pdf/parecer_valor.pdf 8 Afirmam que o retorno financeiro proveniente da geração de créditos de carbono, na figura do Certificado de Emissão Reduzida (CER) vem como exploração econômica indireta: o objeto imediato (retorno direto) é a conformação com a redução de GEE para a mitigação do aquecimento global e incremento do desenvolvimento sustentável. 9 Jornal da Tarde de 3/2/2007. “Aquecimento Global”, pp. 7-A-8-A 10 http://www.ambiente.sp.gov.br/destaque/2004’maco/24_worshop.htm Acesso em 22/3/2005 11 Jornal da Tarde – “JT Cidadão . 15-A: Créditos de Carbono: como obter?” , 2/6/2007 12 Idem. Atualmente, o Brasil é o país com a maior quantidade de projetos de MDL – o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em análise no Banco Mundial, visando à venda de créditos de carbono. Dados do Banco Mundial relativos aos anos de 2002 e 2003 revelam que a América Latina é responsável por 60% das vendas mundiais já negociadas. E nesse mesmo período, pelo lado dos compradores, os destaques são a Holanda, responsável por 30% das aquisições, e o Japão, que já responde por 23%. 13 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente:doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais, 2000, p.662. 14 “Biopirataria consiste no ato de aceder a ou transferir recurso genético (animal ou vegetal) e/ou conhecimento tradicional associado à Biodiversidade, sem a expressa autorização do Estado de onde fora extraído o recurso ou da comunidade tradicional que desenvolveu e manteve determinado conhecimento ao longo dos tempos (prática esta que infringe as disposições vinculantes da Convenção das Organizações das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica).”- disponível: http://www.amazonlink.org/biopirataria_faq.htm 15 SILVA, Marina. Publicação do Gabinete da Senadora, Brasília.2002. 16 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo, Editora Max Limonad, 1999. 17 Artigo já descrito. 18 CHAREAUX, João Paulo. Op. cit. 19 Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, “As interrelações entre educação, saúde e meio ambiente”. São Paulo, Biológico, V. 2.p.78, jul/dez.1999. 1 42 Saneas Setembro/Outubro de 2007 MEIO AMBIENTE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA O PAÍS FERNANDO ALMEIDA1 H á dez anos, um grupo de líderes empresariais com visão de futuro fundou o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Nascia, em março de 1997, uma instituição revolucionária no Brasil, a primeira a trabalhar de forma integrada e articulada, com as três dimensões da sustentabilidade – a econômica, a social e a ambiental. O CEBDS é uma coalizão de grandes empresas instaladas em nosso país e faz parte da rede de 50 conselhos nacionais do WBCSD, o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. O CEBDS representa hoje 50 dos mais expressivos grupos empresariais brasileiros, com representação em todos os segmentos: de bens de consumo a construção civil, passando pelo sistema financeiro e os setores de metalurgia, siderurgia, petróleo e prestação de serviços. Esses grupos geram mais de 600 mil empregos diretos e são responsáveis por mais de 40% do PIB nacional. A fundação do CEBDS faz parte de um contexto histórico, que tem origem no movimento ambientalista mundial no início dos anos 70 e ganha forma e conteúdo a partir da publicação do Relatório Brundtland, documento lançado em 1987 e que apresentou para o mundo a expressão “desenvolvimento sustentável”. O relatório recebeu este nome em homenagem à então primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, grande líder do país que hospedou os 21 membros de uma comissão nomeada pela ONU para estudar e propor uma agenda global com objetivos bem definidos: capacitar a humanidade para enfrentar os principais problemas ambientais do planeta e assegurar o progresso humano sem comprometer os recursos para as futuras gerações. Por indicação dos membros da Comissão Brundtland, foi realizada no Rio de Janeiro, cinco anos mais tarde, a II Conferência Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficaria conhecida como Rio-92. Foi um marco do início da mobilização dos empresários, mesmo considerando que, naquela época, as empresas eram os principais alvos de críticas dos ambientalistas. Na Rio-92, que reuniu 170 chefes de Estado, o líder empresarial suíço Stephan Schmidheiny deu a partida para o envolvimento do setor na implementação do desenvolvimento sustentável. Fez um discurso solitário e ouvido com desconfiança por expressiva parcela dos participantes. Mas marcou a posição que iria prevalecer nos anos seguintes, a de que as empresas são parte fundamental e imprescindível do novo modelo de desenvolvimento concebido cinco anos antes em Estocolmo. Como resultado prático da Rio-92, foram elaboradas as grandes convenções globais, como a do clima e da biodiversidade, que passariam a nortear, hoje de forma mais expressiva, as políticas de desenvolvimento. A partir daquela conferência novos conceitos surgiram e foram aperfeiçoados, como ecoeficiência, responsabilidade social e tantos outros, todos convergindo para a compreensão definitiva de que a sobrevivência das futuras gerações - e do próprio mercado econômico - só será assegurada com a adoção de mecanismos capazes de conciliar produção de bens e serviços com a preservação dos recursos naturais e do bem-estar social. Até então, a preocupação com a perenidade dos recursos naturais restringia-se às ONGs ambientalistas, a uma elite do meio acadêmico e, isoladamente, a alguns representantes do meio político, representados pelos chamados partidos “verdes”. O discurso de Schmidheiny ganhou força e a elite do setor empresarial passou a se organizar. Esse processo deu ori- Engenheiro, presidente executivo do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), professor da UFRJ e autor do livro “Os Desafios da Sustentabilidade: Uma Ruptura Urgente”. 1 Setembro/Outubro de 2007 Saneas 43 MEIO AMBIENTE gem ao WBCSD e, conseqüentemente, aos conselhos nacionais. Hoje, é incontestável a evolução de representativa parcela das empresas no contexto da sustentabilidade, embora ainda estejamos muito distante do nível de adesão satisfatório. A redefinição do modelo de gestão empresarial tem sido motivada por razões éticas e pragmáticas. Os líderes empresariais alinhados com esse contexto perceberam que a sustentabilidade representa a sobrevivência de sua atividade econômica, transforma desafios em novas oportunidades de negócios e amplia os ativos intangíveis de sua empresa. Em 2002, em Johanesburgo, na África do Sul, realizou-se a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. Além de avaliar o que aconteceu de mais significativo nos dez anos anteriores (de positivo e de negativo), este encontro registrou dois acontecimentos que merecem destaque. Um deles foi a assinatura de um documento, no qual as nações comprometeram-se a cumprir metas ambientais e sociais, como também as propostas contidas nas convenções globais elaboradas dez anos antes. O outro destaque deve ser creditado à presença do setor empresarial. Ao contrário do que acontecera na Rio-92, as empresas tiveram uma participação marcante na reunião de Johanesburgo. Nesta conferência da África do Sul, o CEBDS, fundado cinco anos antes, já fazia parte como ativo protagonista da história. O Conselho teve participação decisiva na mobilização do setor empresarial brasileiro naquele evento internacional. Outros fatos de grande relevância aconteceram em seguida, como a divulgação, em março de 2005, do relatório Millennium Ecosystem Assessment (Avaliação Sistêmica do Milênio), estudo 44 Saneas realizado com suporte da ONU, WBCSD, Nasa, e em parceria com outras instituições empresariais, acadêmicas e da sociedade civil de todo o mundo. Desenvolvido por 1.360 cientistas de 95 países e supervisionado por um Conselho Executivo, do qual tive a honra de fazer parte, o relatório constatou, cientificamente, que hoje 60% dos serviços dos ecossistemas do planeta – tais como água doce, pesca, regulação do solo e do clima – registram alto grau de degradação ou são usados de forma insustentável. E traz uma advertência: este processo nocivo tende a agravar-se nos próximos 50 anos, colocando em risco a sobrevivência das futuras gerações. “Os líderes empresariais alinhados com esse contexto perceberam que a sustentabilidade representa a sobrevivência de sua atividade econômica” Mais recentemente, no início de 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou a primeira parte de seu relatório, no qual ficou cientificamente comprovada a tese de que o aquecimento global é decorrente da ação do homem e não de um fenômeno natural. O IPCC revelou ainda que, ao contrário da tese defendida por algumas correntes, as inovações tecnológicas, isoladamente, não serão capazes de reverter a curva ascendente da elevação da temperatura do planeta. Uma década – dentro de uma escala de tempo - nos permite refletir com mais precisão onde Setembro/Outubro de 2007 chegamos e aonde vamos. Nesses dez anos, obtivemos provas contundentes de que o modelo de desenvolvimento tradicional (predador, excludente e insustentável) é inviável sob todos os aspectos. Os recentes relatórios científicos citados acima explicam as razões das freqüentes e intensas reações da natureza e o acirramento dos conflitos sociais. Contudo, não podemos negar que o entendimento e a aceitação em relação ao tema são cada vez maiores. Há dez anos, não havia sequer qualquer tipo de aproximação com a questão da responsabilidade social, salvo raras exceções e, assim mesmo, com o viés filantrópico e assistencialista. Temas como clima, água e biodiversidade eram incipientes e desacreditados. Houve significativas mudanças positivas: os grupos empresariais do país hoje buscam conduzir seus negócios na direção da sustentabilidade; instituições que originalmente abordavam apenas a questão social ou se limitavam a trabalhar na área ambiental migram para o desenvolvimento sustentável; os temas centrais conquistam finalmente o merecido espaço na mídia. Como representante das empresas, o CEBDS tem desempenhado papel fundamental nesse processo de entendimento, aprofundando o diálogo com seus interlocutores e democratizando o conhecimento. Além do envolvimento crescente do setor empresarial nesse processo, o trabalho do Conselho exerce forte influência sobre outros setores chaves da sociedade, como governos, ONGs, universidades. Por intermédio de suas câmaras técnicas e pela interface com o WBCSD, o CEBDS tem cumprido com sucesso sua missão de facilitador, provedor, defensor, comunicador e catalisador, abrindo espaço para uma nova visão so- bre o papel da empresa na sociedade e capacitando seus gestores. Atualmente, são sete as câmaras técnicas: Água; Biodiversidade e Biotecnologia, Educação para a Sustentabilidade, Energia e Mudança do Clima, Finanças Sustentáveis, Legislação Ambiental e Responsabilidade Corporativa. Agora, estamos em vias de montar a Câmara Técnica de Construção Sustentável. As câmaras têm coordenação de um técnico do CEBDS e são presididas por representantes das empresas associadas. Essa capacitação técnica vem abrindo espaço para o CEBDS ter acesso, como representante do setor empresarial, em importantes órgãos institucionais, tais como Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), Comitê Gestor de Produção Mais Limpa, Comissão Organizadora da II Conferência Nacional de Meio Ambiente, Fórum de Competitividade de Biotecnologia, delegações brasileiras nas reuniões da Conferência das Partes de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade. Hoje, já há o reconhecimento de que a mobilização do setor empresarial será decisiva para transformar a potencialidade brasileira em diferentes campos – energia, biodiversidade, recursos hídricos - em desenvolvimento econômico, com inclusão social e uso racional e sustentável dos recursos naturais. Estamos, agora, diante de novos desafios. Ao mesmo tempo em que consolidamos a posição das empresas de visão em alto estágio de reputação, precisamos continuar olhando para o futuro. Há muito o que fazer. Não podemos perder a perspectiva do senso de urgência. Devemos ter clareza, por exemplo, sobre as dicotomias com as quais ainda convivemos: a empresa que mais faturou no mundo em 2006 é considerada o ícone do capitalismo selvagem, financiando movimentos a favor da manutenção da emissão de gases de efeito estufa. Fatos como estes explicam em parte por que ainda não chegamos a resultados que modifiquem a tendência de degradação. Assim como na natureza, existem os dilemas institucionais. Ambos, como tudo o que acontece na vida real, estão intimamente relacionados. Os dilemas da natureza ganharam, a partir de agora, grande espaço na mídia. O aquecimento global tem efeito avassalador em qualquer ecossistema e passou a fazer parte da agenda de prioridades. Paradoxalmente, as conseqüências nefastas deste fenômeno provocado pela ação do homem facilitarão o entendimento de que a atividade econômica, a perenidade dos recursos naturais e as políticas sociais não podem ser tratadas de forma fragmentada. Institucionalmente, vejo a questão da liderança como o maior desafio: ainda não apareceu um líder, um estadista capaz de conduzir a humanidade na di- reção da sustentabilidade, tal como aconteceu nos movimentos pacifistas e contra o racismo num passado recente. A complexidade e transversalidade do tema dificultam o discurso unificado. Numa relação de causa e efeito, não temos massa crítica de líderes, seja na sociedade civil, seja no governo, seja no setor privado. Estamos cada vez mais convencidos de que a chave para a necessária e urgente formação de lideranças está na democratização e aprofundamento do conhecimento e na nossa capacidade de tornar rotina a prática de compartilhar experiências, envolvendo sempre os principais setores da sociedade – empresas, governos e entidades civis. A formação de líderes da sustentabilidade – seja no âmbito das empresas, das instituições governamentais ou da sociedade civil – tem sido, nos últimos anos, uma das principais estratégias do CEBDS. Em 2005, realizamos o 1º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável, o Sustentável2005, reunindo mais de mil participantes na Marina Glória, no Rio de Janeiro. Foi uma experiência inédita no país. No ano seguinte, realizamos o Ciclo de Debates Sustentável-2006, no qual empresários e executivos do país tiveram oportunidade de discutir sustentabilidade com os maiores especialistas brasileiros e internacionais. Estes dois eventos explicam o sucesso absoluto do 2° Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável e a Feira de Sustentabilidade, promovido em maio de 2007 no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Durante três dias, o Sustentável-2007 atraiu 3.300 participantes para o Congresso e aproximadamente 20 mil visitantes para a exposição montada na Marquise do Ibirapuera. A estratégia terá continuidade. Em 2008, realizaremos um novo ciclo de debates com participação de empresários e especialistas, em várias capitais do Brasil. E em 2009, estaremos novamente reunidos no 3º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável. Nesses dois próximos eventos, a tendência é que sejam realizados em outras capitais do país, fora do eixo Rio-São Paulo. Há uma crescente mobilização de empresas, ONGs, universidades e demais entidades da sociedade civil organizada em torno da sustentabilidade. Já conhecemos o caminho. Precisamos agora estar atentos para o senso de urgência e optar pela melhor maneira de imprimir as mudanças. Se formos capazes de estabelecer relações transparentes entre as instituições – empresas, governos e sociedade civil organizada – e pôr em prática um modelo de desenvolvimento que atenda de forma equilibrada e sustentável as demandas econômica, social e ambiental, estaremos comemorando, daqui a dez anos, a estabilização da perda de biodiversidade, do aquecimento global e a reversão do quadro de pobreza ainda presente em nosso país e em várias regiões do planeta. Setembro/Outubro de 2007 Saneas 45 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL O TEMPO DO RIO TIETÊ Um rio de contrastes e múltiplos usos WANDERLEY DA SILVA PAGANINI1 O rio Tietê, parte integrante da vida dos paulistas, tem uma história de contrastes, de múltiplas faces, de múltiplos usos. Ao iniciar este texto trazia em mente a imagem do futuro, do tempo que será necessário para que o Tietê possa “ressuscitar” no trecho em que atravessa a cidade de São Paulo e seus arredores: tempo, investimentos, recursos diversos, ligações de esgotos, coleta de esgotos, tratamento de esgotos, industrialização, crescimento urbano, controle da poluição, nos tantos equacionamentos necessários para devolver a vida ao rio. Foram muitos os investimentos realizados até agora. No Programa de Despoluição do Rio Tietê, conhecido como “Projeto Tietê”, criado em 1992, já foram investidos recursos que somaram R$ 1,1 bilhão até 1998, com outros R$ 400 milhões previstos para investimento no período compreendido entre 1998 até o final de 2007. A população da cidade “tropeça” diariamente nas obras da despoluição. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo colocou em operação três novas estações de tratamento de esgotos no ano de 1996, e passados 15 anos desde o histórico ano de 1992, quando a cidade finalmente despertou e decidiu olhar para o seu rio e tentar mudar seu destino, ainda encontramos nos jornais manchetes anunciando “Retrocesso no Tietê”. Passado o impacto inicial, vem à cabeça a imagem do tempo demandado até que finalmente se promova a completa recuperação do rio. Buscando respostas, analisando a história do Tietê para encontrar as explicações, a única idéia que surge é a do “tempo passado”. É preciso recontar aos paulis- tanos a história do Tietê, e também lhes mostrar as outras faces do rio e tudo que ele representou e ainda representa para o desenvolvimento de São Paulo e do país. É preciso que se conheça também, a sua outra realidade, vivenciada pela população do interior de São Paulo, especialmente após a represa da Barra Bonita, onde o rio está vivo e em nada se assemelhando com as águas lentas que cortam a cidade de São Paulo transportando entulho. No interior, o Tietê é fonte de lazer e alimento, e sua participação no cotidiano das pessoas é altamente benéfica. Para poluir, basta um ato. Por outro lado, a despoluição não ocorre da mesma forma, necessitando de inúmeras ações integradas para acontecer, podendo ser definida como um processo longo e complexo, que exige controle social, mudança de postura e uma nova cultura frente à utilização dos recursos hídricos. A participação efetiva da sociedade neste processo é fundamental para se atingir os resultados esperados. Para tanto, é preciso envolvimento. E esse breve tempo dedicado a estudar a história do Tietê, já foi suficiente para uma grande comoção, e revendo os fatos, onde a história do Tietê se confunde com a própria história de São Paulo e de sua gente, a bandeira que se levanta é a de que “não podemos esmorecer”. Por meio do Tietê, bandeirantes desbravaram terras em busca de riquezas, colonizaram o interior e transportaram pessoas e mercadorias, transformando o rio em uma estrada fluvial. O Tietê serviu ainda de cenário para o Engenheiro Civil e Sanitarista, Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP, Superintendente de Gestão Ambiental da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da SABESP. Professor Associado da Faculdade de Saúde Pública USP. Em 2007 defendeu sua tese de livre-docência intitulada: “A identidade de um rio de contrastes: o Tietê e seus múltiplos usos” 1 46 Saneas Setembro/Outubro de 2007 e parte de Barra Bonita, Índices de Qualidade de Água Bruta para Fins de Abastecimento Público IAP como ótimo, e bom para as demais represas do Tietê. Pode-se afirmar ainda, que a seqüência de ambientes lênticos e semi-lóticos formados pelas grandes represas situadas em seu curso após a Região Metropolitana (Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão, Nova Avanhandava e Três Irmãos), auxilia no processo de autodepuração e proporciona a gradativa melhoria da qualidade das águas. Os novos ecossistemas gerados a partir desses grandes lagos, associados às crescentes iniciativas relacionadas ao tratamento de esgotos, ao processo natural de autodepuração proporcionado pela exposição de seus espelhos d’água e pela simbiose entre algas e bactérias, bem como pelas quedas d’água e corredeiras existentes logo após a Região Metropolitana de São Paulo, acarretam uma melhoria na qualidade da água do Tietê, possibilitando múltiplos usos a partir da região do município de Anhembi, no reservatório da Barra Bonita. Há que se ressaltar também, o incremento das iniciativas voltadas à conscientização da população e a articulação dos poderes públicos e privados, promovidos pelos Comitês de Bacias Hidrográficas e o importante papel da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), para o monitoramento e controle da qualidade das águas. Não bastam os investimentos em obras civis direcionados ao tratamento dos esgotos sanitários. Há um longo caminho a ser percorrido até que se resgate a vida do Tietê. A educação ambiental e a conscientização da sociedade, também são fundamentais para a melhoria ambiental. É chegado o tempo de “abraçar” o rio. E levará tempo para que ele se recupere e tenha vida novamente na cidade de São Paulo. Mas ainda que seja longo “o tempo do rio”, maior é o nosso, até que se aprenda um novo modo de vida. É preciso aprender a exercer o direito de utilização dos recursos naturais de maneira sustentável, defendendo-os e preservando-os, para que seja possível a sobrevivência das gerações futuras. Leva tempo: “o tempo do rio”, mas não vamos esmorecer. Crédito: Divulgação desenvolvimento de inúmeras cidades ao longo de seu eixo que aproveitam suas águas de múltiplas formas, e inserido no contexto urbano, foi moldado, no que se assemelha a uma seqüência de grandes lagos, para gerar energia elétrica, sendo também adaptado às necessidades da navegação, da agricultura e do turismo. Se considerarmos o crescimento populacional e a expansão no número de indústrias experimentado pela Bacia do Tietê nos últimos anos, é possível afirmar que as condições do rio hoje estariam muito piores caso não tivessem sido adotadas as medidas sanitárias e ambientais para recuperação do Tietê na Região Metropolitana de São Paulo, no decorrer da década de 1990. Analisando-se os dados históricos disponibilizados pela agência ambiental, são evidentes os sinais de melhoria da qualidade das águas rio. No primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo elaborado em 1990, verifica-se que as represas formadas pelos barramentos do Tietê, apresentavam bons Índices de Qualidade das Águas – IQA, denotando que as águas eram de boa qualidade, porém com tendência a piorar. Já o Relatório de Situação dos Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, elaborado no Plano Estadual de Recursos Hídricos de 2002, com dados de 2000, apresentou o lago de Três Irmãos com IQA ótimo e tendência indefinida, e os demais com IQA bom, com tendência indefinida. O relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo edição de 2005, apresenta para Três Irmãos, Nova Avanhandava Rio Tietê na cidade de Sabino, próximo à barragem de Promissão: Atividades de lazer propiciadas pela melhoria na qualidade das águas Setembro/Outubro de 2007 Saneas 47 CYBER CAFÉ Site Domínio Público FRANCISCA ADALGISA1 Divulgação O “portal Domínio Público”, lançado em novembro de 2004, propõe o compartilhamento de forma equânime, colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - a Internet - uma biblioteca virtual onde é possível baixar de graça, arquivos com músicas inteiras, livros na íntegra, imagens, fotos, documentários, programas da TV Escola, entre outros. Inicialmente, quando o site foi lançado havia lá cerca de 500 obras, hoje, no entanto, já conta com mais de 2.105 obras, que são de domínio público, ou tem autorização legal para divulgação. O endereço eletrônico é : www.dominiopublico.gov.br. O portal foi desenvolvido em software livre e tem à disposição um farto material literário, com obras inteiras digitalizadas que podem ser baixadas (fazer download) ou lidas na tela do micro. Entre as obras de brasileiros como Machado de Assis, é possível encontrar “A Semana” digitalizado pela Universidade da Amazônia, ou “A Mão e a Luva” proveniente da Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, um programa da Universidade de São Paulo, ambas instituições parceiras do portal. Se o leitor for amante da literatura mundial, também é possível encontrar obras de importantes escritores, como o 1 português Eça de Queiroz ou o dramaturgo Inglês William Shakespeare. Entre outros livros é possível ler, do primeiro mencionado “A Cidade e as Serras”, “A Relíquia“, “O Crime do Padre Amaro” e o “O Primo Basílio”. Já de Shakespeare, traduzidos para o bom português é possível ler “A Comédia dos Erros”, “A Megera Domada”, “Mcbeth”, entre outros títulos. Para quem tem criança em fase escolar, o portal também disponibiliza vídeos e literatura infantil, além de textos sobre Belas Artes, Ciências Exatas e Sociais, Direito, partituras, textos de referência ou sobre religião, além de um incrível pacote de vídeos em domínio público de documentários, passeios virtuais e programas da TV Escola. Os amantes da boa música podem baixar em MP3 músicas eruditas de Francisco Mignone e Heitor Villa-Lobos, e mais de 20 títulos de músicas contemporâneas em inglês, inclusive Oslodum 2004, do DJ Dolores, ou My Fair Lady, de David Byrne, além de jazz ou pop-rock. O Portal Domínio Público tem diversas parceiras, contribuem com o projeto: a Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional da ebooksBrasil, Núcleo de Pesquisa em Informática; Literatura e Lingüística da Universidade Federal de Santa Catarina; Project Gutemberg e Phoenix-Library of Índia, Lês Classiques dês Sciences Sociales e World Book Library, entre outras instituições. <+> Para Saber Mais: Portal Domínio Público Revista a Rede http//www.arede.inf.br Socióloga e Analista de Sistemas de Saneamento da Sabesp 48 Saneas Setembro/Outubro de 2007 RESENHA Divulgação Big Bang Simon Singh Editora Record, 2006 LUIZ CARLOS HELOU1 U ma boa dica de leitura é o livro do físico e produtor de Ciência da BBC, Simon Singh, lançado pela Editora Record em 2006. O autor trata de maneira bastante didática a história da ciência, partindo das antigas crenças do período neolítico, até a sofisticação da mecânica quântica, de forma que o leigo ou o cientista, uma vez envolvidos na leitura, se apaixonem pelo tema. Nosso universo é povoado por mais de cem bilhões de galáxias, cada qual contendo aproximadamente 100 bilhões de estrelas, onde em pelo menos um planeta que órbita uma dessas estrelas, a vida evoluiu. O modelo do Big Bang nos fornece uma explicação matemática e elegante para a origem de tudo que vemos no céu noturno, o que transforma esse modelo numa das maiores realizações do espírito e do intelecto humano. Esse modelo que tem uma história bastante recente, com menos de um século de vida, só foi possível ser elaborado, porque se apoiou no conhecimento acumulado da astronomia dos séculos anteriores. Singh nos leva a um passeio pela história da astronomia. É particularmente interessante a maneira de como os antigos povos determinaram o raio do nosso planeta. Essa odisséia tem início com o grego Erastótenes (276 A.C.), que através da sombra de uma vareta medida em duas cidades diferentes, no mesmo horário e da distância conhecida entre elas (Siena e Alexandria, no Egito), determinou com precisão de menos de 5% o raio da Terra. O mesmo Erastótenes ainda determinou a distância da Terra ao Sol e da Terra à Lua, através de simples geometria Euclidiana. Mesmo com retrocesso que a Igreja causou nos séculos seguintes, pelo “controle da sabedoria”, personagens apaixonantes como Galileu, Copérnico e 1 Kepler não perderam o fio da história, e o conhecimento pôde seguir até nós. Dando um salto para frente na história, Singh nos mostra como o astrônomo americano Edwin Huble desmente Einstein e mostra que nosso Universo está em expansão. A teoria cosmológica de Einstein apresentava uma matemática que mostrava que o Universo estaria em expansão e Einstein acreditava que o Universo fosse estático, por isso, ele introduziu uma constante nas equações para que o Universo permanecesse imóvel. Se ele não tivesse feito isso, teria chegado com pelo menos 20 anos de antecedência, às mesmas conclusões de Huble, sem nunca precisar por os olhos em um telescópio. Do início até o fim do livro, Singh, constrói uma narrativa bem humorada, pontuada por histórias curiosas. O próprio termo Big Bang, ou grande explosão, foi uma ironia cunhada por um astrônomo adepto da estaticidade do Universo, com o propósito de desqualificar o trabalho dos outros cientistas que investigavam o momento da criação. Mas foi esse termo que “pegou” . Em resumo, é o tipo do livro que vale a pena ser lido. É uma pena que não tivesse sido escrito em meus tempos de escola. Engenheiro, atualmente trabalha na TOD - Departamento de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Setembro/Outubro de 2007 Saneas 49 HOMENAGEM Um profissional realizado que nunca esqueceu a Sabesp VICENTE DE AQUINO Divulgação S idnei Colombo Martini é o que se pode chamar de profissional completo e realizado. Aos 60 anos, ele é Engenheiro Eletricista, formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1970, onde fez carreira acadêmica. Mestre em 1975, doutor em 1982 e livre-docente em 1992, em Engenharia Elétrica, além de professor titular (2002) pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Ele preside, desde 1999, a Transmissão Paulista (CTEEP) Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, que responde pelo sistema de transmissão de energia elétrica no Estado de São Paulo. E para finalizar é Professor Titular do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo desde 2002. Um profissional com tantos requisitos poderia ser frio e impessoal. Mas não é o que acontece com Sidnei Colombo Martini. Principalmente ao falar de cinco anos de sua vida (1979 a 1984), quando trabalhou na Sabesp. “Minha querida Sabesp. Quanta saudade daquele tempo. E pensar que entrei na empresa quase por acaso. Em 1979, fui fazer uma visita ao diretor de operação da região metropolitana de São Paulo. Fui apresentar uma proposta de monitoração das represas na região norte. Era um sistema de supervisão para evitar acidentes. Estava presente um assistente técnico (Carlos Botelho Berenhauser) e recebi um convite para trabalhar na empresa”, diz. Sidnei entrou no SCOA (Sistema de Controle Operacional de Abastecimento de Água Tratada da Região Metropolitana de São Paulo): “De 1979 a 1981 fui o responsável pelo detalhamento do projeto, escolha dos equipamentos e sistema de operação. Foi nessa 50 Saneas época que surgiu o CCO (Centro de Controle Operacional). Foi construído até um prédio (na Costa de Carvalho) para abrigar essa unidade. Sua implantação demorou cerca de dois anos e foi um trabalho de pesquisa muito árduo”, fala. O atual presidente da CTEEP explica que além dos equipamentos em mais de uma centena de reservatórios, havia estações de bombeamento responsáveis por levar a água até as torres: “Nos reservatórios foram instalados computadores que se comunicavam em tempo real com o CCO. Eram medidos o volume, a vazão e a abertura das válvulas. O CCO digeria as informações e as colocava em vídeos onde, até hoje, ficam os controladores”. Sidnei não se esquece dos amigos que o ajudaram em toda essa empreitada: “Não poderia deixar de citar Jonas Novaes, Amir Gabriel Chadi, José Augusto Faria, Paulo Massato e Luiz Antonio Tombasco, a quem acabei substituindo como chefe de Departamento de Controle de Operação. Fiquei até 1984 nessa função. É um tempo do qual não consigo realmente me esquecer. Ali nós fazíamos a macromedição e os estudos de engenharia para a liberação de água em novos condomínios e loteamentos. Também havia a capturação de esgoto para os interceptores que levavam para a estação de tratamento de Barueri. Era a chamada Operação Caça Esgoto”. Para ele, essa foi uma fase em que a Sabesp estava investindo em novas tecnologias: “Eram engenheiros civis e hidráulicos que foram buscar nas universidades, na computação, uma tecnologia pioneira no Brasil e na América do Sul. Foi uma fase áurea. De muita pesquisa, trabalho e conquistas. Nós desenvolvemos um Centro de Controle Operacional que foi um exemplo e serviu de padrão para todo o país”, explica. O SCOA (Sistema de Controle Operacional de Abastecimento de Água Tratada da Região Metropolitana de São Paulo) foi tão importante para a vida de Sidnei que serviu como sua tese de doutorado: “Ele é até hoje uma referência internacional pelo porte da região metropolitana de São Paulo. Um sistema complexo que serve de base para estudos internacionais”, finaliza. Setembro/Outubro de 2007 Entrega do Troféu AESabesp Anunciada pelo nosso diretor técnico, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, na solenidade de encerramento do XVIII Encontro Técnico da AESabesp- Fenasan , a entrega do Troféu AESabesp, em 2007, contemplou 11 premiações, de acordo com os votos dos próprios participantes da Feira. Nossos parabéns aos vencedores que se destacaram na Fenasan-2007, extensivo a todos os demais expositores, pelo alto nível de apresentação, contribuindo para uma difícil decisão, em meio a tanta qualidade trazida por todos. Categoria “Melhor Stand” ABS Indústria de Bombas Centrífugas Ltda. Bugatti Brasil Válvulas Ltda. Kemira/ Kemwater Brasil S.A. Danfoss do Brasil Indústria e Comércio Ltda. Emec Brasil Sistemas de Tratamento de Água Ltda. Higra Industrial Ltda. Incontrol S/A Lamon Produtos Ltda Categoria “Inovação Tecnológica” Categoria “Atendimento Técnico” Hexis Científica S/A. Destaque AESABESP Deferência Especial AESABESP Ilha Sindesam (Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental), formada pelas empresas Abimaq, Aquamec, Centroprojekt do Brasil, Degrémont, Mizumo, Pieralisi, Prominas e WAM). O seu presidente Gilson Cassini Afonso exibe o troféu conquistado. Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Os diretores Marcelo Salles Holanda de Freitas (Meio Ambiente e Tecnologia) e Umberto Cidade Semeghini (Sistemas Regionais).
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