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REVISTA
AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007
Sumário
6 |Capa
Controle e Redução
de Perdas
do Ribeirão
28|Várzea
Parelheiros
de
33| Programa
reabilitação
de redes de água
17| ENTREVISTA
Ernani Ciríaco de Miranda: “Os níveis de
perdas no Brasil ainda são elevados”
23| PONTO DE VISTA
A situação atual das perdas no Japão
por Masahiro Shimomura
26| PERDAS DE ÁGUA E
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Reduzir perdas - o meio ambiente e a
sociedade agradecem
por Sônia Nogueira
39| ARTIGOS TÉCNICOS
BIODIVERSIDADE
Mecanismos de desenvolvimento
limpo e créditos de carbonos
38| MEIO AMBIENTE
Desenvolvimento
sustentável para o país
46| RESPONSABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL
O TEMPO DO RIO TIETÊ
Um rio de contrastes e múltiplos usos
48| CYBER CAFÉ
Site Domínio Público
49| RESENHA
Livro: Big Bang
50| HOMENAGEM
Um profissional realizado que nunca
esqueceu a Sabesp
REVISTA
Editorial
A ÁGUA DO AMANHÃ
Ao contrário do que se acreditava num passado
não muito distante, o mundo está aos poucos
tomando conhecimento de que a água é um
recurso limitado. É fundamental que o homem
amplie as medidas estratégicas no sentido de
preservá-la, garantindo para as gerações futuras o acesso a esse bem tão precioso. As decisões devem ocorrer em caráter de urgência,
para evitar que as medidas corretivas no futuro
não sejam ainda mais radicais. O desperdício generalizado parte das
residências, com a torneira pingando, até as cidades, independente
do porte, com vazamentos em adutoras, encanamentos, empresas e
fraudes na captação de água. Cada setor do governo e da sociedade
têm sua parcela de responsabilidade.
Aparentes ou reais, os níveis de perda de água no Brasil ainda são
altíssimos e representam um grande desafio para o setor de saneamento, principalmente devido a dimensão continental do País. Nossa reportagem especial de capa discute a necessidade da redução
imediata das perdas de água, através de equipamentos e sistemas,
e mostra as medidas que já estão sendo tomadas no sentido de reduzir os limites atuais para padrões cada vez menores, a exemplo do
que aconteceu em países como o Japão, situação também retratada
nessa edição da Revista Saneas.
O assunto ganha especial importância no momento em que o Governo divulgou, no dia 14 de setembro, os resultados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios 2005/2006 (PNAD/IBGE), que
aponta o crescimento da rede de água, de 82,3% em 2005 para
83,2% em 2006. O percentual de domicílios com rede de esgoto
também aumentou, de 69,7% para 70,6%, no mesmo período. E os
números devem continuar a subir, sinalizando a necessidade de aumentar também os cuidados com a preservação da água para que
ela chegue, com qualidade e em quantidade suficiente aos lares de
todo Brasil.
Você vai saber mais sobre o assunto na matéria sobre Controle de
Perdas, em entrevista com Ernani Ciríaco de Miranda, Coordenador
do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), além
dos Pontos de Vista de Masahiro Shimomura e Sônia Nogueira. Também conhecerá temas como o Programa de Reabilitação de Redes
de Água, conduzido pela Unidade de Negócio Centro da Sabesp; os
Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono; o
trabalho para redução da concentração de constituintes típicos de
efluentes sanitários na várzea do Ribeirão Parelheiros; a importância
e os avanços na despoluição do Rio Tietê, entre outros assuntos de
interesse. E assim cumprimos a missão de sempre proporcionar aos
nossos leitores, as principais novidades e atualizações tecnológicas
em saneamento e meio ambiente. Por isso, você já sabe: pensou em
saneamento, pensou na Revista Saneas.
Boa leitura!
Walter Antonio Orsatti
Presidente
* Impresso em papel reciclado
AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007
Saneas é uma publicação técnica bimestral da
Associação dos Engenheiros da Sabesp
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente - Walter Antonio Orsatti
Vice-Presidente - Gilberto Alves Martins
1º Secretário - Ivan Norberto Borghi
2ª Secretária - Cecília Takahashi Votta
1º Tesoureiro - Hiroshi Letsugu
2º Tesoureiro - Emiliano Stanislau de Mendonça
DIRETORIA ADJUNTA
Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes- Zito José Cardoso
Diretor de Pólos - José Carlos Vilela
Diretora Social - Magali Scarpelini
Diretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro
CONSELHO DELIBERATIVO
Amauri Pollachi, Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos
Vilela, José Márcio Carioca, Júlio César Villagra, Luciomar
dos Santos Werneck, Luis Américo Magri, Luiz Henrique
Peres, Nélson César Menetti, Osvaldo Ribeiro Júnior,
Ovanir Marchenta Filho, Renato Hochgreb Frazão, Reynaldo
Eduardo Young Ribeiro, Sérgio Eduardo Nadur, Yazid Naked
CONSELHO FISCAL
Ivo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile
e Nizar Qbar
Pólos da Região Metropolitana de São Paulo
Coordenador - Nélson César Menetti
Costa Carvalho e Centro - Célia Maria Machado Ambrósio
Leste - Luciomar dos Santos Werneck
Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira
Oeste - Evandro Nunes de Oliveira
Ponte Pequena - Aram Kemechian
Pólos AESABESP Regionais
Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho
Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior
Franca - Helieder Rosa Zanelli
Itapetininga - Valter Katsume Hiraichi
Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio
Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho
CONSELHO EDITORIAL
Luiz Henrique Peres (Coordenador)
Viviana Marli de Aquino Borges
Carlos Alberto de Carvalho
José Marcio Carioca
Célia Maria Machado Ambrósio
FUNDO EDITORIAL
Jairo Tardelli, Antonio Pereto, José Antonio de Oliveira,
Milton Tsutiya, Sonia M. Nogueira e Silva, Eliana Kitahara
e Franscisca Adalgisa da Silva
JORNALISTA RESPONSÁVEL
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CAPA
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A LUTA
PARA
COMBATER
AS PERDAS
DE ÁGUA
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VICENTE DE AQUINO
A
s perdas de água (diferença entre os volumes
produzidos ou entregues aos sistemas e os
volumes consumidos de forma autorizada)
ocorrem em todos os sistemas de abastecimento e
refletem a eficiência operacional e as condições da
infra-estrutura. Classificam-se em perdas reais (físicas), quando a água é perdida antes de chegar aos
consumidores, principalmente devido a vazamentos
nos diversos componentes dos sistemas de abastecimento, e em perdas aparentes (comerciais), quando a água é consumida de forma “não-autorizada”,
principalmente devido à submedição causada pela
imprecisão nos hidrômetros dos clientes, irregularidades (fraudes) e furto de água em hidrantes.
As proporções entre esses dois tipos de perdas e
suas causas variam de sistema para sistema, exigindo ensaios de campo e a adoção de várias hipóteses
para se chegar a uma partição entre os dois tipos de
perdas. As avaliações mais recentes têm levado a
uma porcentagem maior de perdas reais em relação
às perdas aparentes.
A IWA - International Water Association, propôs
uma Matriz de Balanço Hídrico para os sistemas de
abastecimento de água, que procura uniformizar os
conceitos e os entendimentos sobre perdas de água
em todo o mundo, conforme mostrado na tabela na
próxima página.
Há ainda uma grande discussão acerca dos indicadores de perdas, especialmente no que diz respeito
à comparabilidade entre sistemas de abastecimento
de água distintos. O indicador clássico (percentual
em relação ao volume produzido ou disponibilizado) tem sido preterido em favor de outros que possam retratar melhor a situação existente, tais como
o indicador de perdas “litros por ligação de água por
dia” ou o “índice de vazamentos da infra-estrutura”,
adimensional, que leva em conta fatores relativos às
condições das tubulações e às pressões reinantes no
sistema (este último indicador é para perdas reais).
Não existe “perda zero” em sistemas de abastecimento de água. Podem ser definidos dois limites
referenciais para as perdas:
• Limite Técnico: aquele possível de se chegar utilizando todas as técnicas, tecnologias e recursos disponíveis no momento (perdas inevitáveis);
• Limite Econômico: nível de perdas em que o custo para recuperar um determinado volume supera
o custo de produção e distribuição desse volume;
geralmente este limite é atingido antes do limite
técnico.
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 05
CAPA
Divulgação
Julian Thornton, das forças-tarefa da IWA e da
AWWA (American Water Works Association)
Tais limites são conceituais e de
difícil determinação prática, e variam, especialmente o econômico, de local para local.
As principais ações para redução
das perdas reais são o gerenciamento de pressões (quanto menores e mais estáveis, melhor),
o controle ativo de vazamentos
(localizar rapidamente os novos
vazamentos não-visíveis, através do monitoramento da vazão
mínima noturna e de métodos
acústicos de pesquisa), a agilidade e a qualidade do reparo dos
vazamentos e o gerenciamento
da infra-estrutura (priorização
de trechos para renovação das
tubulações, principalmente dos
ramais de água, onde ocorre
a maioria dos vazamentos). Já
para a redução das perdas aparentes, as principais ações são o
gerenciamento da hidrometria
(otimização das trocas e dimensionamento dos hidrômetros,
principalmente dos maiores
consumidores) e o combate a
irregularidades (como fraudes e
ligações clandestinas).
O desenvolvimento de medidas de natureza preventiva de
controle de perdas nas fases de
projeto e construção do sistema
envolve a necessidade de passos
iniciais de organização anteriores à operação. As medidas devem contemplar, dentre outras:
a boa concepção do sistema de
abastecimento de água, considerando os dispositivos de controle
operacional do processo, a qua-
06 Saneas
lidade adequada dos materiais
e da instalação das tubulações,
equipamentos e demais dispositivos utilizados, a implantação
dos mecanismos de controle
operacional (medidores e outros), a elaboração de cadastros
e a execução de testes pré-operacionais de ajuste do sistema.
A macromedição, ou seja, a medição dos grandes volumes de
água que entram no sistema (ou
mesmo aqueles que saem), deve
ser bem estudada, implantada e
acompanhada, pois os números
dela resultantes serão as referências para todas as análises posteriores, não só para a questão das
avaliações de perdas, mas também para a definição de vários
parâmetros de projeto e operação dos sistemas de água.
PESQUISA INTERNACIONAL
Para o consultor Julian Thornton,
inglês, formado em Engenharia
Mecânica e Civil, e desde 1996
residindo no Brasil, o trabalho de
campo é o principal: “Eu sempre
me considerei uma pessoa mais
prática. Que gosta de trabalhar
e resolver os problemas cotidiaDivulgação
Setembro/Outubro de 2007
nos”, afirma. Julian faz parte das
forças-tarefa da IWA e da AWWA
(American Water Works Association): “Eu sou o líder da equipe
do controle de pressão”.
Julian fala sobre a contribuição
da IWA no tocante a um entendimento global uniforme sobre
as questões ligadas às perdas
reais: “A IWA propôs uma padronização para avaliar perdas reais
e também aparentes. Antes havia vários indicadores, não eram
padronizados, eram variáveis,
soltos, as pessoas queriam comparar maçã com laranja e não tinha como comparar. A IWA trouxe um indicador que padronizou
a medição em vários países. Eu
particularmente não conheço
países que não tenham aceito os
indicadores da IWA. Existem países que ainda estão estudando,
mas eu não sei de nenhum que
disse ‘eu não vou usar’. Posso citar alguns países que utilizam
a metodologia da IWA: Estados
Unidos, Canadá, Malta, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul,
Alemanha, Itália e Brasil, entre
outros”, afirmou.
Sobre a questão de as perdas
aparentes não terem avançado
tanto quanto as perdas reais na
IWA, Julian diz que o assunto tem
mais de uma resposta: “Primeiro
precisamos dizer que a IWA tem
uma equipe para tratar das perdas aparentes. Tem muita gente
que pensa que IWA não se preocupa com isso, mas nós estamos
estudando e pesquisando o assunto. Acontece que o processo
de desagregar as perdas aparentes é bem mais complexo. Nós
podemos ter falhas de cadastro,
fraudes ou mesmo submedição.
Já as análises dos componentes
das perdas reais são mais visíveis.
Podemos ter uma precisão muito
grande no sistema nesse campo.
Mas as coisas estão mudando.
Malta e Chipre, por exemplo, estão muito adiantados em relação
às perdas aparentes”, explica.
O consultor não tem nenhuma
dúvida em afirmar que é muito
importante fazer um diagnóstico
de todos os componentes e desagregar o que é perda aparente
do que é perda real: “Temos que
achar as peças que criam problemas e depois atacar de forma eficiente. Quando se está tentando
reduzir perdas, é necessária uma
gestão contínua. Ela é mais importante do que a técnica em si.
Se você não faz uma gestão continuada, você não vai conseguir
diminuir as perdas de forma sustentável. A gente pode aplicar
uma ferramenta nova, que dê resultados naquele momento, mas
se não houver gestão, as perdas
voltam a aparecer”, esclarece.
SISTEMAS COMPLEXOS E DE
GRANDES DIMENSÕES
Um dos maiores desafios em um
sistema grande, segundo Julian,
é a compartimentação do sistema: “O segredo para conseguir
medir com precisão é desagregar
a rede de distribuição de água,
gerenciar um sistema grande
em partes pequenas. A Inglaterra conseguiu diminuir as perdas
reais em cinco anos. Mas lá são
50 milhões de pessoas, toda Inglaterra significa três cidades de
Divulgação
Eric Cerqueira Carozzi, Superintendente de Desenvolvimento Operacional da Diretoria de Tecnologia,
Empreendimentos e Meio
Ambiente da Sabesp
São Paulo. É importante fazer
um diagnóstico financeiro para
saber em quanto tempo nós
conseguiremos chegar naquilo
que pretendemos. Mas um sistema grande é complexo, pois se
o dinheiro acaba no meio desse
prazo, a gente acaba perdendo o
que já ganhou. Então é necessário saber se vai haver um investimento continuado para se determinar prazos”.
“Eu gosto de citar bons exemplos
da metodologia IWA. Em perdas
aparentes, um grande exemplo
disso é a cidade da Filadélfia, nos
Estados Unidos. Eles trocaram
todos os hidrômetros e fizeram
uma grande campanha contra
as fraudes. Como resultado, conseguiram reduzir bastante o volume das perdas aparentes. Halifax, no Canadá, também é outro
grande exemplo. Isso é o sucesso
de uma gestão de um grande sistema dividido em vários pequenos. Chipre, um pequeno país,
mas que tem muitos problemas
de recursos hídricos, conseguiu
reduzir muito as perdas reais e
aparentes”, diz Julian.
Sobre as referências mundiais no
controle das perdas de água, Julian diz que a Inglaterra e o Japão
são exemplos bem acabados:
“Eles controlam bem os dois tipos
de perda. Se uma empresa está
com controle de fluxo de caixa e
Setembro/Outubro de 2007
precisa fazer dinheiro, controlar a
perda aparente é mais importante. Por outro lado, a empresa que
vende água precisa ter o produto. Se ela está com pouca oferta,
controlar a perda real é mais importante. Sem água ela deixa de
ser uma empresa”, afirma.
Ele diz que tanto os ingleses
quanto os japoneses trabalham
muito com o controle de pressão: “Ao diminuir a pressão em
determinados horários, você
acaba diminuindo também os
vazamentos”, conclui Julian.
PERDAS OCORREM EM TODOS
OS SISTEMAS
Para o engenheiro Eric Cerqueira Carozzi, Superintendente de
Desenvolvimento Operacional
da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp, as perdas ocorrem
em todos os sistemas de abastecimento. “Para um eficiente
combate às perdas, é necessário
conhecer o tipo de perda predominante em cada sistema e as
respectivas causas. A partir desse
diagnóstico é possível priorizar e
investir em ações de modo a se
otimizar a aplicação dos recursos. Nos sistemas de maior porte,
que demandam maior esforço
para reduzir as perdas, é fundamental sua divisão em setores de
abastecimento menores, que viabilizem uma gestão eficaz da sua
operação. Outro aspecto fundamental do combate às perdas é a
necessidade de conscientização
e comprometimento de todos os
envolvidos, além de estratégias
de longo prazo, com continuidade de recursos, associados a cuidados especiais quanto à qualidade dos materiais aplicados e
ao treinamento das equipes de
manutenção e de instalação da
infra-estrutura”, explica.
Eric ressalta que o Programa de
Redução de Perdas é um programa estratégico na Sabesp, com
metas ambiciosas e que exigirá
recursos para a sua implementação: “Realmente o programa de
redução de perdas é fundamen-
Saneas 07
CAPA
tal para a Sabesp, pois além de
possibilitar a redução de custos
operacionais e de manutenção,
permite adiar investimentos na
ampliação da produção, que têm
custos cada vez mais elevados,
principalmente em municípios
com pouca disponibilidade hídrica”.
Quanto ao programa de perdas da Sabesp, diz Eric que “já
estamos trabalhando na elaboração do programa corporativo, através da uniformização
de critérios e ações nas duas diretorias operacionais (Diretoria
Metropolitana e Diretoria de Sistemas Regionais) e da consolidação dos seus planos existentes. A
partir desse plano, buscaremos
viabilizar os recursos necessários
para atingir as metas definidas.
Também acompanharemos a
evolução e os resultados obtidos
no Contrato de Performance (no
qual a contratada tem compromisso e é remunerada em função
da redução de perda obtida), em
andamento num projeto-piloto
na Região Metropolitana de São
Paulo, para avaliar esse novo modelo de contratação.
Mas não basta elaborar planos
e viabilizar recursos. É preciso
acompanhar a realização das
ações e os resultados obtidos, e
para isso desenvolveremos um
sistema que integre as informações das duas diretorias, o que
é um grande desafio devido às
muitas diferenças de características e de sistemas de informações
utilizadas em cada uma delas”,
diz.
Sobre as dificuldades de planejar as ações de perdas, Eric ressalta que “ainda não possuímos
um modelo preciso que permita
projetar as metas de perdas em
função das ações e recursos previstos nos planos. É preciso melhorar a qualidade destas informações e registrar os históricos
das ações e seus resultados, a fim
de aperfeiçoar continuamente
esse modelo, de modo a aprimorar os planejamentos futuros.
De qualquer forma, para otimizar a aplicação dos recursos,
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08 Saneas
PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO
Eric acredita que elaborar programas de cooperação é uma
forma eficaz de capacitação e
troca de experiências para a gestão das perdas: “No trato com o
problema das perdas de água,
a Sabesp segue a linha de ação
proposta pela IWA. Dessa forma,
as unidades de controle de perdas da Sabesp, principalmente
na Diretoria Metropolitana, têm
mantido um contato muito próximo com os especialistas ligados à IWA. Quanto aos acordos
de cooperação técnica, a Sabesp
assinou, no início deste ano, um
acordo com o governo do Japão,
através da sua Agência de Cooperação Internacional (JICA), que
tem como objetivo a transferência de conhecimento e de tecnologia, adquiridos pelos técnicos
japoneses durante mais de 50
anos. O Japão é uma referência
mundial em controle de perdas
e possui sistemas tão grandes e
complexos como os da Sabesp,
com índices de perdas excepcionais, abaixo de 8%, principalmente quando considerados índices
acima de 30%, como ocorre em
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25
% Perdas Reais
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2000
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2006
2007
que são escassos, é fundamental
ter o diagnóstico dos tipos e causas das perdas em cada sistema,
a partir do qual se possam priorizar as ações mais eficientes e
eficazes”.
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Japão
Tóquio
Kobe
Nagoya
Viena
Redução de perdas ao redor do mundo
Setembro/Outubro de 2007
Divulgação
Vazamento
alguns sistemas operados pela
Sabesp” (Leia mais no Ponto de
Vista, a partir da página 23).
ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICA
Outro assunto do qual Eric gosta
de falar diz respeito às inovações
tecnológicas disponíveis no mercado e que possuem aplicação
imediata na redução de perdas:
“Como eu já disse, a Sabesp
mantém estreita relação com os
especialistas da IWA que, à parte
do trabalho realizado no Japão, é
a entidade de ponta, em âmbito
mundial, quando se fala em controle de perdas. Desse modo, em
termos tecnológicos, a Sabesp
tem se mantido atualizada e em
um bom patamar, quando comparada às empresas de abastecimento de água dos países mais
desenvolvidos”.
Como inovações tecnológicas
que teriam aplicação imediata,
Eric cita o sistema de detecção de
vazamentos em tubulações de
grande porte (adutoras e anéis
primários), conhecido como Sistema SAHARA. Esse sistema foi
desenvolvido na Inglaterra pelo
Water Research Center (WRC)
e “é o único sistema conhecido que se demonstrou
extremamente
eficaz
para a detecção desse
tipo de vazamento.
A Sabesp já manteve contato com o
representante do
sistema para as
Américas, mas,
no momento,
seus altos custos inviabilizam testes de campo em algum de nossos sistemas de abastecimento,
que seria o primeiro passo para
adoção dessa nova tecnologia”.
Um grande desafio tecnológico
para a Sabesp, segundo Eric, é
“a redução da submedição dos
hidrômetros dos clientes, efeito
potencializado pela existência,
especialmente no Brasil, de caixas d’água nos imóveis, o que
reduz as vazões nas ligações e
amplia a submedição nos hidrômetros”.
Outra questão importante é a
qualidade dos materiais das tubulações enterradas. A Sabesp
já utiliza como padrão, há vários
anos, tubos de polietileno para
a execução dos ramais de água.
Quanto à utilização do polietileno em redes de distribuição de
água, Eric diz que “observamos
uma tendência de sua aplicação
em diversos países europeus. No
Brasil, algumas operadoras como
o DMAE - Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto
Alegre e a empresa Águas de Limeira já adotam o polietileno nas
novas redes. A Sabesp aplicou o
polietileno nas redes de alguns
poucos sistemas, mas, por falta
de certos cuidados, acabou tendo más experiências. O polietileno apresenta diversas vantagens
em relação às tubulações em ferro ou PVC, tais como a redução
do número de juntas (soldagem
por fusão), que são potenciais
pontos de vazamentos, a facilidade na execução das redes e
a exigência de uma menor largura de escavação. Além disso,
onde há necessidade de renovação das redes e praticamente
é inviável a sua instalação com
abertura de vala (região central
de São Paulo, por exemplo), o
polietileno tem a vantagem adicional de possibilitar a execução
através de método não-destrutivo. Por outro lado, o polietileno
Adutoras podem
conter vazamentos
Crédito: Odair M. Faria
Setembro/Outubro de 2007
Saneas
Divulgação
CAPA
O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli,
Superintendente da Unidade de Negócio
Leste da Sabesp (UN-ML)
exige cuidados com o controle de qualidade dos materiais,
equipamentos mais sofisticados
e estruturação da manutenção e
mão-de-obra treinada e previsão
de peças de reposição. Mas esses cuidados também devem ser
observados para os demais materiais. Além disto, para se garantir bons resultados, pela falta de
normas brasileiras, foram desenvolvidas NTS – Normas Técnicas
Sabesp, que especificam desde
os materiais até sua aplicação e
manutenção. Assim, já estamos
em condição de iniciar uma aplicação em maior escala. Como em
toda mudança, há resistência em
utilizar um novo material, mas
acho que o polietileno é uma
boa solução para aplicação nas
redes de água, desde que tomados os devidos cuidados, e sua
aplicação deve ser avaliada e testada em maior escala na Sabesp”,
finaliza.
BAIXA RENDA
O engenheiro civil Dante Ragazzi
Pauli, atual Superintendente da
Unidade de Negócio Leste da Sabesp (UN-ML), acredita que um
dos seus maiores desafios é o de
combater perdas em uma região
vasta, complexa e de baixa renda como é essa área da Região
Metropolitana de São Paulo: “A
10 Saneas
UN-ML atende oito municípios
(Salesópolis, Biritiba-Mirim, Arujá,
Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba e parte da
Zona Leste do Município de São
Paulo), com mais de 752 mil ligações de água e mais de 3 milhões
de pessoas. A incansável preocupação com o uso sustentável da
água, fator essencial para garantir a disponibilidade para as futuras gerações e a sustentabilidade
do negócio, vêm aprimorando
o Programa de Controle de Perdas”, diz.
Ele explica que um dos pontoschave para que esse controle
atinja um grau de excelência
está justamente no planejamento: “O ponto de partida é a realização de nosso planejamento
plurianual, em que avaliamos
quais as principais ações e conseqüentes recursos necessários
para curto, médio e longo prazo. Assim, a redução de perdas
tem sido realizada de forma
mais eficaz e com retornos mais
efetivos. Podemos citar algumas
práticas: em 2004 foram implementadas as Ações Integradas
de Combate às Perdas nos setores de abastecimento, voltadas
ao combate de perdas reais e
aparentes, envolvendo todos os
departamentos da UN-ML. Todos
focados num só objetivo. Vale citar também a postura inovadora
da UN-ML, que implementou o
Método de Análise e Soluções
de Problemas para Perdas –
MASPP”, afirma.
Esse novo método, segundo
Dante, possibilitou a mudança
de conceitos: “O de Volume Disponibilizado (VD = compra de
água da área de produção) e o de
Volume Utilizado (VU = venda de
água aos clientes). Atualmente
todos os empregados da Sabesp
falam em redução das perdas e
sabem o significado do VD e VU.
Hoje, a cultura está tão bem disseminada que o problema de redução das perdas de água é responsabilidade de todas as áreas
da UN-ML, e não mais apenas da
Divisão de Controle de Perdas.
Setembro/Outubro de 2007
A gestão de controle de perdas
enquadra-se totalmente na melhoria da qualidade da operação
dos sistemas de abastecimento
de água, na conseqüente melhoria dos serviços prestados e na
busca da excelência a cada ano.
Em 2006, como parte das ações
de melhoria do Programa de
Perdas, as atividades de Pesquisa Acústica de Vazamento foram
descentralizadas para os Pólos
de Manutenção, bem como a
leitura e acompanhamento do
funcionamento das Válvulas Redutoras de Pressão (VRP) dentro
de sua área de atuação. Em 2007
foram criadas metas de VD e VU,
com responsáveis pelo setor de
abastecimento, o que melhora
o acompanhamento e a análise,
tendo como foco principal os resultados planejados. No mesmo
ano foi expandido o trabalho em
alças de controle/distritos pitométricos, que visam diminuir as
vastas extensões de rede nos
setores de abastecimento, propiciando uma melhor atuação de
nossas equipes”, explica de forma direta.
Fazer com que uma população
carente e sem acesso à cultura entenda a atual realidade do
problema das perdas de água é
também um fator determinante
para ele: “A população na área
de nossa atuação é formada por
grandes núcleos carentes, condomínios populares, ocupações
desordenadas e irregulares, inclusive em áreas de proteção
de mananciais. A UN-ML possui
o Programa de Participação Comunitária - PPC, em que técnicos
comunitários lotados nos nossos
Escritórios Regionais asseguram
maior proximidade e agilidade
na identificação e atendimento às demandas e necessidades
das comunidades. Para as áreas de favela e caráter social, os
técnicos comunitários verificam,
visitam e acompanham as necessidades dos clientes, realizam
levantamento socioeconômico
propondo uma tarifa diferenciada ou condição de parcelamento
Crédito: Odair M. Faria
vencida; localização de vazamentos com métodos
de pesquisa acústica; conserto de vazamento com
equipes de mão-de-obra própria; otimização das
VRPs; testes de FCI (fator de condição da infra-estrutura); participação, em 100% do município, dos
técnicos em atendimento comercial externo (TACE),
que ajudaram na identificação de fraudes e na caracterização da área. A aplicação dos conhecimentos obtidos com o MASPP foi de grande importância”, explica.
Desperdício de água e consumo
incorreto intensificam as perdas
dentro de seu nível econômico. Fortalecem a disseminação do Programa do Uso Racional da Água,
mostrando para a comunidade o uso adequado, a
fim de evitar o desperdício e, conseqüentemente,
pagamento pelo consumo utilizado incorretamente.
O programa “Eu vi um vazamento”, iniciado em 2004,
é um sucesso e tornou-se prática com o envolvimento e comprometimento de todos. Cada funcionário
é um fiscal de perdas, apontando vazamentos nos
locais onde atua, reside e trafega, abrangendo assim
toda a área da UN-ML. O programa “Ligação Irregular: isso não é legal” foi uma campanha de incentivo
criada em 2006, cujo objetivo também é incentivar
os empregados a informar sobre possíveis fraudes
na região, bem como contribuir para a redução das
perdas de água. A criação do Time de Desenvolvimento Tecnológico tem ajudado na busca de tecnologias modernas, sempre levando em conta a aplicabilidade pela mão-de-obra própria e contratada.
Enfrentar esse desafio, junto com os funcionários
de nossa unidade, tem sido muito gratificante, pois
sabemos que nossa área é vasta e de baixa renda.
Entretanto, a garra e a dedicação dos colaboradores
têm nos levado a resultados muito animadores. O
melhor exemplo é o envolvimento e participação do
chamado “chão de fábrica”. Afinal de contas, são eles
que vão a campo diariamente e resolvem a maioria
dos problemas, além de serem o elo com nossos
clientes”, diz.
Dante explica as ações realizadas que resultaram
na excelente redução das perdas ocorrida em
Salesópolis: “O Município de Salesópolis tem população de cerca de 16.500 habitantes, e é o município onde nasce o Rio Tietê. A redução de perdas
para menos de 100 litros/ligação/dia foi o grande
desafio colocado para todas as equipes envolvidas
no projeto. O ponto de partida para o resultado de
Salesópolis (76 litros/ligação/dia) foi a adoção de
um coordenador de projeto que, juntamente com
os colaboradores envolvidos, planejou, direcionou
e acompanhou as seguintes ações: substituição de
todos os hidrômetros que estavam com validade
PEQUENOS SETORES
Para Dante, a criação de microssetores em
Salesópolis possibilitou identificar as vazões noturnas de cada área, para acompanhar qualquer desvio
e direcionar as ações de forma mais rápida e proativa: ”Para evitar que as perdas voltem a índices altos,
as equipes de engenharia e de manutenção acompanham diariamente as vazões mínimas noturnas e a
produção diária para que, observado qualquer valor
fora das faixas de controle estabelecidas, providências sejam tomadas imediatamente. Com todas as
ações realizadas, há alguns meses concluímos que a
produção de água pode parar seis horas por dia sem
comprometer a qualidade e o abastecimento da
água do município. Aumentar o número de áreas de
controle é uma forma de estender os conhecimentos obtidos em Salesópolis e em outros projetos que
também são desenvolvidos na UN Leste. Gostaria de
citar, novamente, que o envolvimento das pessoas
é fator de fundamental importância no combate às
perdas”, enfatiza.
Nesse sentido, Dante fala que a aplicação da ferramenta MASPP na UN-ML foi o foco de conscientização para o controle de perdas. “O MASPP permitiu
conhecer a fundo alguns dos principais processos
da UN-ML, ou seja, operação e manutenção do sistema de água e comercialização. Seu êxito só foi
possível graças à formação de times multidepartamentais compostos por pessoas das áreas operacional, de manutenção, financeira, de recursos
humanos, qualidade e comunicação, além da equipe da Divisão de Perdas.” Foram essas equipes que
planejaram, desenvolveram e executaram os padrões: “Tais equipes tiveram direcionamento para
o planejamento, desenvolvimento e execução de
padrões de trabalho e instruções de todos os serviços que envolvessem as perdas de água. Durante o
período de desenvolvimento da metodologia e sua
aplicação, foram adotados três setores de abastecimento como pilotos (Itaquera, Jardim Popular e
Salesópolis), antes da completa implantação na UNML. Nesse período foram propostas ações de melhoria nos setores e controle dos processos, através de
ferramentas da Qualidade que pudessem interferir
diretamente nos indicadores da unidade. O foco do
trabalho foi voltado a reduzir o Volume Distribuído –
VD - e aumentar o Volume Utilizado – VU, com me-
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 11
Divulgação
CAPA
Luiz Paulo de Almeida Neto,
Superintendente da Unidade de Negócio
Baixo Tietê e Grande (UN-RT)
tas correspondendo a cada processo. A metodologia propiciou
melhorias nos controles dos
processos principais do negócio,
gerando benefícios diretos a todos os níveis da organização, do
profissional que executa sua atividade com o procedimento correto, otimizado e padronizado,
passando pelos níveis gerenciais
que podem otimizar equipes de
trabalho com absoluto domínio
das características do seu negócio ou mercado, até a alta administração, para a tomada de decisão baseada em fatos e melhor
detalhamento dos planejamentos empresariais”, explicou. “A
continuidade se dá sempre através da utilização da ferramenta
PDCA (Plan, Do, Check, Action) e
de auditorias regularmente executadas. Benchmarkings e o envolvimento de um número cada
vez maior de colaboradores, fazem com que, freqüentemente,
novas ferramentas e tecnologias sejam inseridas na execução das atividades. Os sistemas
SCORPION, SAMA, controle de
VRPs e vazões mínimas noturnas,
acompanhamento dos serviços
de geofonamento, estabelecimento de metas e responsáveis
por setor de abastecimento são
alguns exemplos. Além disso, os
controles têm sido aprimorados
constantemente pelas equipes
operacionais e gerenciais, de forma a analisar as ações de causa
e efeito e os ganhos que cada
uma teve. Hoje temos metas de
VD e VU, acompanhadas diariamente, que possibilitam direcionamento de recursos e decisões
para evitar eventuais acréscimos nos volumes de perdas. Os
treinamentos efetuados com a
participação de nossa área de
Recursos Humanos, juntamente
com nossas equipes de Comunicação e Qualidade, empenhadas
na disseminação das boas práticas, garantem a continuidade e
aprimoramento do aprendizado
obtido na época de aplicação da
ferramenta MASPP, assim como
a otimização das tarefas a serem
executadas”, fala com segurança
de quem domina o assunto.
A rotina diária do trabalho é um
dos principais fatores que demonstram a continuidade das
ações e dos aprimoramentos dos
trabalhos desenvolvidos para a
redução contínua de perdas da
unidade: ”Resumindo: a busca
constante de novas tecnologias,
trabalho por processos e forte
envolvimento e participação de
nossos colaboradores garantirão
a continuidade dos trabalhos iniciados quando da implementação do MASPP”, finalizou Dante.
MOTIVAÇÃO, ENVOLVIMENTO E
TECNOLOGIA
O Engenheiro Civil Luiz Paulo de
Almeida Neto, Superintendente
da Unidade de Negócio Baixo
Tietê e Grande (UN-RT), que tem
sede na cidade de Lins e opera
83 municípios, acredita que a
motivação e o envolvimento das
pessoas nos trabalhos operacionais dos sistemas de distribuição
de água são fundamentais para
resultar em baixos índices de
perdas: “Nós aqui na UN-RT, para
termos sucesso no combate a
perdas, precisamos desenvolver
nossa atuação em 83 municípios.
Desta forma, envolver pessoas
no projeto é imprescindível, pois
o Gestor de Perdas da Unidade
não consegue fiscalizar presencialmente nem 10% das equipes
atuantes. Assim, alcançar objetivos no programa é primeiramente convencer todos os gerentes
operacionais e demais funcionários de que o programa é indispensável. Hoje, 100% do nosso
volume produzido é medido
com equipamentos eletromagnéticos interligados a sistemas
informatizados e 70% de todo
volume distribuído é medido e
transmitido on-line a computadores que possibilitam o gerenciamento das perdas. Por isso,
trabalhar com profissionais qua-
Crédito: Odair M. Faria
Divulgação
Irregularidades (fraudes) e hidrômetros modificados
12 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
Divulgação
Lina Cabral Adani,
Gerente de Controle de
Perdas e Sistemas na empresa de
saneamento de Campinas (SANASA)
lificados é obrigatório”, esclarece. Ele coloca a motivação como
um dos principais fatores para
os bons resultados obtidos no
combate às perdas na região de
Lins: “Em primeiro lugar, sempre,
equipes motivadas e comprometidas em obter resultados; em segundo, muita transpiração, mais
do que inspiração, pois combater perdas envolve um trabalho
que precisa ter rotina diária,
pesquisar e retirar vazamentos,
aferir vazões mínimas noturnas,
trocar hidrômetros, ou seja, é um
‘arroz com feijão’ que precisa ser
feito todos os dias; em terceiro,
persistência, pois muitas vezes
você desenvolve várias ações e
não obtém resultados, mas persistindo você descobre a causa,
parte para a ação correta e resolve o problema. Exemplo: na
cidade de Monte Alto, desenvolvemos ações como substituição
de hidrômetros, troca de ramais
e redes, mas as perdas só caíram significativamente quando
resolvemos instalar válvulas redutoras de pressão; em quarto,
a tecnologia, que a cada dia traz
soluções. Aqui, medir vazões mínimas noturnas na distribuição
dos reservatórios e controla-las
on-line nos computadores trouxe um grande avanço na redução de perdas reais”.
Luiz Paulo cita esse controle online de perdas como o que proporcionou um dos melhores resultados registrados na sua área
de atuação: “Temos muitos sistemas com perdas reais inferiores
a 90 litros/ramal/dia. Trabalhamos com mão-de-obra própria
nas equipes de engenharia,
pitometria, e trabalhamos com
tercerizados nas pesquisas de
vazamentos e instalação de macromedidores”, finaliza.
EM CAMPINAS
Lina Cabral Adani, engenheira civil e, nos últimos 13 anos, Gerente de Controle de Perdas e Sistemas na empresa de saneamento
de Campinas (SANASA), lista uma
série de ações importantes que
foram implementadas pela SANASA e que deram resultados expressivos na redução de perdas,
tanto reais quanto aparentes:
“Foram muitas as ações para agilizar o controle de perdas, mas eu
destaco a implantação de novos
critérios para dimensionamento
de hidrômetros, a realização de
manutenção Preditiva e Preventiva de hidrômetros, a utilização
de hidrômetros velocimétricos
ø ¾”, Qn 0,75 m³/h, a utilização
de hidrômetros velocimétricos
classe C nas ligações com ø ≥ 1”
e as ligações de água (60%) no
padrão com caixa de proteção
lacrada, instaladas nos muros
dos imóveis”, afirma. Ela também
destaca as Estruturas Redutoras de Pressão, com a instalação
maciça e formação de equipes
qualificadas para o monitoramento e manutenção, monitoramento permanente de pressões
em pontos críticos, para controle
efetivo dos volumes de entrada
de água nos setores de abastecimento, através de válvulas de
controle (normalmente redutoras de pressão) e/ou bombas
com inversores de freqüência.
Lina ainda esclarece que a sustentabilidade do programa de
redução de perdas requer ações
implantadas paralelamente, de
forma contínua e permanente:
“Micromedição, macromedição,
sistemas informatizados em
tempo real (telemetria e telecomando) e banco de dados his-
Setembro/Outubro de 2007
tóricos (CPD), cadastro técnico e
geoprocessamento, setorização
(isolamento de áreas), controle/
redução de pressões, manutenção e controle do tempo para
eliminar o vazamento em tubulações, controle de nível com
recuperação de vazamento em
reservatórios e unidades operacionais, detecção e conserto de
vazamentos não-visíveis, substituição de redes e ramais fadigados, ensaio de estanqueidade
para recebimento de redes novas, teste de recebimento de redes novas e pesquisa e detecção
para eliminação de fraudes”.
Além disso, Lina defende uma
gestão do sistema distribuidor,
que possibilite a detecção dos
problemas e a execução das ações corretivas/preventivas/preditivas no menor tempo e custo, bem como o treinamento
constante dos funcionários envolvidos (formação acadêmica,
cursos, palestras, eventos, visitas
técnicas etc.).
Lina esclarece que a preocupação da empresa com o sistema
de macromedição é permanente: “A SANASA possui uma polítiDivulgação
Macromedidor
Pesquisa de vazamentos
Saneas 13
CAPA
Divulgação
Edevar Luvizotto Junior, professor da
Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp,
no Departamento de Recursos Hídricos
ca de macromedição permanente de todos os volumes de água
bruta captados, tratados, aduzidos, armazenados e distribuídos.
Também são contemplados os
setores de medição (distritos pitométricos), já atingindo quase
sua totalidade. A macromedição
é obrigatória para todas as novas
obras”.
Os equipamentos utilizados são
de última geração, dos tipos
eletromagnético e ultrassônico,
selecionados adequadamente
para cada finalidade, sendo também utilizados para setores de
medição os do tipo Woltmann,
por não necessitarem de energia
elétrica e pelo custo menor.
A confiabilidade dos volumes
apurados envolve a especificação técnica criteriosa na fase de
aquisição, o projeto, a instalação
e a manutenção, adequada ao
equipamento e ao grau de importância do ponto de medição
monitorado. Mensalmente são
avaliados os dados apurados e só
depois divulgados; nesta fase o
macromedidor é diagnosticado
e, se necessário, conferido através de outro medidor portátil,
podendo ser substituído. “Para as
medições mais importantes, que
são volumes produzidos, possuímos redundância nas medições
e podemos garantir a confiabilidade dos mesmos”, garante Lina.
GESTÃO DO PROGRAMA DE
REDUÇÃO DE PERDAS
Ela faz questão de explicar como
é a gestão do Programa de Re-
14 Saneas
dução de Perdas na SANASA: “O
Programa de Redução de Perdas tem gestão centralizada na
Gerência de Controle de Perdas
e Sistemas, na Diretoria Técnica,
e as ações descentralizadas que
permeiam pelas demais áreas:
Comercial, Financeira, Administrativa, Recursos Humanos. Isso
só foi possível com a integração
das atividades e a união dos
funcionários, que proporcionaram um programa sustentável e
com resultados relevantes para
garantia do atendimento das demandas atuais, mesmo em épocas críticas de estiagem e uma
população de mais de 1.000.000
de habitantes.”
A Gerência de Controle de Perdas e Sistemas possui dotação
orçamentária aprovada anualmente e conta com as parcelas
das demais gerências quanto às
ações voltadas à redução de perdas: “Pelo Planejamento Estratégico, o Programa de Redução de
Perdas, baseado no diagnóstico
dos setores, visa o atendimento
das demandas atuais e futuras,
a redução do custo operacional
e o equilíbrio financeiro do produto água.”
Lina explica também qual o “índice econômico de perdas” de
Campinas: “O índice de perdas na
distribuição em 2006 foi 25,8%.
Esse valor garantiu a demanda
requerida até no período de estiagem, permitiu o crescimento
demográfico como também o
crescimento econômico do município, sem restrição da quantidade e qualidade da água, além
de atender à outorga DAEE: Departamento de Águas e Energia
Elétrica. O procedimento que
vem sendo adotado prevê a redução das perdas para no máximo 25,8% nos setores em que se
verificam valores maiores, desde
que o investimento financeiro
se torne viável quanto à relação
custo x benefício e tempo de retorno”
Para finalizar, Lina aponta: “A gestão das perdas tem por objetivo
alcançar o índice de perdas que
Setembro/Outubro de 2007
proporcione o equilíbrio financeiro do produto água, para se
tornar auto-sustentável mesmo
com adoção de tarifas subsidiadas nas categorias Ligações Coletiva e Social; esse valor para 2006
seria de 21,7%, já alcançado em
vários setores de medição”.
VISÃO DA UNIVERSIDADE
Edevar Luvizotto Junior, engenheiro civil e professor da Faculdade de Engenharia Civil da
Unicamp, no Departamento de
Recursos Hídricos, é responsável
pelos Laboratórios de Hidrotrônica e Hidráulica Computacional
da FEC-Unicamp e uma autoridade para falar sobre as linhas
de pesquisa que estão sendo desenvolvidas na Unicamp com relação às perdas reais e aparentes
em sistemas de abastecimento
de água. E fala com prazer sobre
aquilo que mais gosta de fazer:
“Tenho na Unicamp uma linha de
investigação chamada de Controle e Gestão Operacional de
Sistemas de Abastecimento de
Água, na qual investigo o tema
das perdas e outros relacionados
ao abastecimento de água. No
caso particular das perdas, tenho
dedicado maior atenção às perdas reais, em particular, investigando modelos que auxiliem na
detecção de vazamentos. Não
penso nestes modelos como
substitutos para as técnicas usuais de detecção por ruídos (geofones, correlacionadores, etc),
mas como um aliado, guiando
as campanhas de campo, dando
pistas sobre locais de vazamento. Como se sabe, as técnicas
usuais são morosas, uma vez que
o sistema de distribuição tem
que ser efetivamente percorrido.
Além do mais, exigem equipes
altamente qualificadas e podem
produzir transtornos indesejáveis no trânsito”, afirma.
Após fazer o pós-doutorado na
Escola Politécnica de Valência,
Espanha, Edevar retornou ao
Brasil com o esboço do modelo
de detecção de fugas. “Um dos
meus alunos de mestrado se in-
teressou pelo tema e fez vários
testes de validação do modelo,
apresentados em sua dissertação
de mestrado. Um aluno de doutorado desenvolveu um modelo
de calibração de redes baseado
na técnica. Também empregou
situações hipotéticas para validação do modelo. Uma dissertação
de mestrado foi desenvolvida
por outro orientado. Ele aplicou
o modelo a um setor de abastecimento de um sistema real,
obtendo resultados satisfatórios.
Tenho uma aluna que concluiu
o mestrado com o desenvolvimento teórico de um modelo de
detecção de fugas por pulso de
alta freqüência e que continua a
investigação, agora prática, em
seu doutorado. Além destas produções específicas sobre o tema
das fugas, trabalho em minha
linha de investigação com modelos de simulação em regime
transitório, modelos de auditoria
energética de estações elevatórias e modelos de qualidade de
água”, explica.
Edevar fala que as dissertações
e teses defendidas na Unicamp
estão disponíveis em sua biblioteca: “Na atualidade todas as
dissertações e teses estão sendo convertidas para o formato
eletrônico e disponibilizadas via
internet. Basta entrar no site da
Unicamp (www.unicamp.br) e
procurar pela biblioteca, onde
será obtida a forma de acesso ao
acervo digital”.
QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES E CALIBRAÇÃO
Continuando sua explicação,
Edevar fala sobre os dados para
a aplicação do modelo de simulação-otimização na gestão de
perda de água em regime permanente e transitório: “Como
todo o modelo de simulação
dessa natureza, parte-se de informações cadastrais como:
comprimento, diâmetro, extensão, material, idade e estado
das tubulações. É importante o
conhecimento das interligações
e de informações topográficas
destas interligações (localização
em planta e cotas de nível), além
da localização e quantificação
dos pontos de consumo (e estatística da variação temporal).
São necessários dados dos componentes do sistema, tais como
as características operacionais
de bombas, válvulas e reservatórios, além das regras de operação, caso a modelação ocorra em
período extensivo ou em regime
transitório. A partir do levantamento de dados passa-se à etapa de calibração/detecção. Esta
etapa é precedida pelo que se
chama de definição da matriz de
sensibilidade do sistema, basica-
mente a determinação das melhores localizações dos sensores
de pressão e vazão e do número
adequado destes sensores para
a varredura de uma determinada área (isto é feito através de
modelação). Definido o número, a localização e instalados os
sensores, estes irão fornecer as
informações de carga e vazão
que o modelo deverá reproduzir. Isto só será atingido com a
calibração do modelo e com a
localização dos pontos de vazamento. Quanto maior a quantidade de informações obtidas
dos sensores melhor será guiado
o modelo de busca. A idéia de se
Fonte: SNIS, 2005
Fontes:
- Waterloss, 2005;
- Tokyo
Waterworks Bureau;
- Saitama City
Waterworks Bureau;
- Waterworks and Sewarage
Bureau of Nagoya City
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 15
CAPA
aplicar a técnica em regime transitório, ou em período extensivo, é acompanhar a evolução temporal
das medidas nos sensores, conseguindo assim um
conjunto de informações com um menor conjunto
de sensores. A técnica que tenho empregado nessa
etapa, em que se busca que o simulador represente
os resultados de campo, é baseada no Multi-Simplex
(chamo de Nelder-Mead em homenagem aos seus
pioneiros), algoritmos genéticos ou num híbrido
destes algoritmos”, explica.
APLICAÇÃO
Em tese tudo tem que estar em perfeito funcionamento, mas a aplicação em casos reais esbarra na
dificuldade de obtenção das informações corretas
para a modelação e na cooperação dos serviços de
saneamento para a aplicação do modelo.
“O teste que fizemos com o modelo foi um sucesso. Ele foi aplicado a um setor de abastecimento da
cidade de Jundiaí, que tinha rede em tubos de PVC
recentemente instalada, parque de hidrômetros novos, de característica predominantemente residencial e com índice de perdas baixíssimo. Com cadastro confiável e informação de medição adequada, foi
feita uma campanha noturna (já que aplicamos um
modelo de regime permanente) com três dataloggers medindo pressão e um medidor de vazão para
a fuga que foi criada no setor. Essa fuga foi detectada com sucesso. A questão sobre se há viabilidade
para a aplicação da técnica é bastante interessante
e de certa forma é um exercício de previsão de futuro. Quando apresentei este modelo na Espanha, em
2002, fui convidado pelo coordenador de projetos
de um organismo de planejamento suíço a trabalhar
no desenvolvimento de um sistema de detecção de
fugas com eles (por motivos acadêmicos não pude
ir). O fato é que o projeto piloto na cidade de Martigny, envolvia uma empresa que estava desenvolvendo um sensor que media vazão, pressão e ruído
num mesmo corpo (estavam com problemas com a
medição de ruídos), um provedor de Internet a cabo,
a empresa de saneamento e o instituto de pesquisa (com pesquisadores de toda a Europa). Eles me
forneceram uma senha de acesso e, por dois meses,
tive informações on-line de todo o sistema, além de
mapas georreferenciados da rede, justamente como
está disponível a cada cidadão daquela cidade. Isso
pode parecer um sonho, mas é uma realidade. Viabilidade há, se houver o desejo e se essa for a prioridade. Num pais com deficiências em saneamento
básico como o nosso, tudo deve ser feito com muito
planejamento”, fala.
DESENVOLVIMENTOS
Edevar explica que a Unicamp tem desenvolvido novos trabalhos em relação ao programa de controle
de perdas em sistemas de abastecimento público
16 Saneas
de água. “Atualmente oriento um trabalho de doutorado que pretende detectar fugas em tubulações
através de pulsos pressão de alta freqüência e baixa
intensidade (que poderão ser aplicados em adutoras ou redes). Os resultados teóricos foram surpreendentes e a expectativa é de que possa substituir os
correlacionadores acústicos na detecção de fugas.
A dificuldade está no desenvolvimento do dispositivo para produção desses pulsos de alta freqüência,
para que possam ser instalados sem produzir interferências significativas no sistema. As análises dos
pulsos de alta freqüência são em regime transitório
e toda a teoria já foi desenvolvida como dissertação
de mestrado”.
“Em particular não tenho trabalhado com perdas
em reservatórios e em estações elevatórias. No caso
de estações elevatórias, desenvolvemos um modelo
para aplicação em estações com bombas de rotações variáveis visando a otimização operacional (níveis de pressão) e a redução de custos (tese de doutoramento recentemente defendida)”, relata Edevar.
LABORATÓRIO DE HIDROTRÔNICA
Edevar explica que procura orientar seus alunos para
o foco da modelagem: ”Por vocação pessoal trabalho com a modelagem e oriento meus alunos dentro desta linha. Entretanto, acredito que a formação
do engenheiro que trabalha com o tema das perdas
ou com os problemas relacionados com o abastecimento em geral deva ser melhorada. Em 2002, em
conjunto com outros dois colegas, que não estão
mais comigo, concluímos o que chamamos de Laboratório de Hidrotrônica. Neste laboratório, dispomos
de 1500 m de tubulação em polietileno e cobre (por
facilidade da configuração em espiral), que podem
ser configurados a partir de trechos de 100 m, em
diversas topologias de rede. Nos nós de conexão estão instalados sensores de pressão. O módulo possui
dois medidores de vazão, duas bombas que permitem configuração em série ou paralelo, um vaso de
pressão, três válvulas automáticas de controle e 15
manuais, e uma bomba dotada de inversor de freqüência. Tudo isso na forma semelhante a um protoboard empregado para testes de circuitos eletrônicos. O sistema é controlado por um sistema Scada
que faz a operação dos equipamentos (bombas, válvulas, inversor e compressor que alimenta o vaso de
pressão) e a aquisição de dados (vazão e pressão). O
laboratório foi a forma que encontramos de colocar
nossos alunos em contato com as tecnologias empregadas nas mais modernas empresas de abastecimento de água, além de fornecer comprovação aos
nossos modelos. É importante o aluno observar na
prática que determinadas manobras por eles provocadas levam o sistema a esforços extremos, que podem ser os protagonistas de rupturas em tubulações
e juntas”, conclui.
Setembro/Outubro de 2007
ENTREVISTA
Fotos Ernani Ciríaco: Divulgação
“Os níveis de perdas
no Brasil ainda
são elevados”
Ernani Ciríaco de Miranda, Engenheiro Civil,
Mestre em Tecnologia Ambiental e recursos
hídricos pela Universidade de Brasília, tem 20
anos de formação e experiência profissional em
saneamento básico, com atuação na área de
consultoria em projetos de sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário
por dez anos em empresas como Belba Engenheiros Consultores, Leme Engenharia e Engesolo Engenharia.
Diretor Técnico da Emasa - Empresa Municipal de Água e Saneamento de Itabuna/BA, no
período de 1993 a 1996. Membro da equipe
técnica do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS) desde 1997, atuando
como Coordenador do Programa desde 2003. O
PMSS é um Programa da Secretaria Nacional
de Saneamento Ambiental do Ministério das
Cidades.
Para se determinar o volume perdido nos sistemas de abastecimento de água, o volume macromedido é a referência principal. Como está o
índice de macromedição na maioria das companhias de saneamento brasileiras? Quando é medido, pode-se dizer que é bem medido?
Ernani - São referências principais os volumes macro e também os micromedidos. No Brasil há exemplos de diversas situações: níveis de macromedição
elevados, médios e baixos, com uma precisão que
pode ser boa, média e baixa nos três casos. A grande
heterogeneidade que existe na prestação dos serviços de abastecimento de água no Brasil, seja em
função do porte dos prestadores e seus sistemas,
seja em função do nível de evolução técnico-operacional e institucional, dificulta a adoção de valores
médios em uma análise desta natureza. No entanto,
há um senso comum, sobretudo entre profissionais
de maior experiência, de que infelizmente é maior a
quantidade de casos de baixa macromedição e também de baixo nível de precisão.
O SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, administrado pela Secretaria Nacional de
Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, no
âmbito do Programa de Modernização do Setor Saneamento PMSS, publica anualmente informa-
ções sobre a prestação de serviços de abastecimento
de água e esgotamento sanitário, desde o ano base
de 1995. Segundo a última atualização, com dados
do ano base de 2005, o índice médio de macromedição no Brasil é de 77% do volume de água produzido. Neste mesmo ano foram muitos os prestadores
de serviços cujos dados informados resultaram em
100% de macromedição e muitos também resultaram em 0,00%.
Outro fator importante a considerar é que no caso
das companhias estaduais, que operam quase 4.000
municípios com água, o indicador médio de cada
uma pode não refletir a realidade dos municípios
operados, pois havendo bom nível de macromedição nos municípios maiores, estes impactam positivamente o indicador médio, podendo não refletir a
realidade dos municípios menores.
E o índice de hidrometração, como se encontra
hoje no Brasil? Os intervalos de troca são regulares? Há avaliações de submedição média? Há
disparidades regionais significativas no índice
de hidrometração ou na gestão do parque de hidrômetros?
Ernani - No caso da hidrometração, a situação é similar. Cabe, no entanto, esclarecer que os conceitos
para indicador de hidrometração e indicador de
micromedição são diferentes. Enquanto o primeiro
reflete a quantidade de ligações de água que têm
hidrômetro, o segundo reflete o volume de água
consumido que é medido. Um alto índice de hidrometração pode não corresponder a um também
elevado índice de micromedição, pois podem existir hidrômetros que não estão com funcionamento
regular. Segundo o SNIS 2005, enquanto o índice
médio de hidrometração no Brasil é de 88%, o de
micromeção é de 47%, em ambos também variando
de 0,00 a 100% para os prestadores de serviços da
amostra em todo o Brasil. O problema da submedição é grave no país, sobretudo em decorrência do
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 17
ENTREVISTA
Fotos: Divulgação Sabesp
uso disseminado de caixas d’água e pelo padrão de
hidrômetros adotados (no maioria dos casos, de classe B). Nos EUA e países da Europa não são utilizadas
caixas d’água. Também cabe dizer que no mercado
há hidrômetros de classe superior que permitem
trabalhar com baixos níveis de submedição, mas o
custo destes hidrômetros é ainda elevado para os
padrões brasileiros. O SNIS não possui dados que
permitam calcular o nível de submedição. Sabe-se,
no entanto, pelo conhecimento da realidade do país
que os níveis são altos, podendo chegar em muitos
casos a mais de 30% do volume consumido.
Qual a visão do Ministério das Cidades/PMSS
sobre o problema de perdas nas companhias
de saneamento brasileiras, tanto as estaduais
quanto as municipais? Qual é o valor médio brasileiro, segundo os dados que vocês dispõem no
SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento? Comparando com outros países
em desenvolvimento, como estamos? Há metas
estabelecidas, ou sugeridas, pelo Ministério das
Cidades?
Ernani - O Ministério das Cidades entende que os
níveis de perdas no Brasil são muito elevados e há
bastante espaço para melhoria. Uma estimativa simplificada do que representam as perdas de águas
nos sistemas brasileiros, em termos financeiros, indica que elas correspondem a cerca de R$ 2,5 bilhões/
ano. Ora, se o país precisa de R$ 10 bilhões/ano, nos
próximos 20 anos, para alcançar a universalização
dos serviços de água e esgotos, então o valor das
perdas é muito alto e representa um enorme prejuízo para a economia brasileira. Infelizmente a sociedade brasileira sequer tem condições de avaliar a
gravidade deste fato, pois a regulação praticamente
inexiste, muito menos o controle social. Penso que
o problema somente será equacionado quando
adquirir dimensão nacional e estiver ao alcance da
compreensão da sociedade brasileira.
Segundo o SNIS 2005, a média nacional do índice
de perdas de faturamento é de 39%, com médias
regionais de 59% no Norte (maior valor médio) e de
18 Saneas
30,9% no Sudeste (menor valor médio). Nos serviços
municipais, em 2005, os valores médios nacionais
são um pouco maiores que nas cias. estaduais, ou
seja, 39,9% para os primeiros e 38,7% para as segundas. No estado de São Paulo a média é de 35,5%, enquanto que a média da SABESP é de 34,2%. O menor
valor médio de cia. estadual é da COPASA/MG, igual
a 22,9%. Nos serviços municipais, retirando os valores abaixo de 10%, que podem estar inconsistentes,
o menor índice é do município de Colorado/PR, exatamente igual a 10%.
Especialistas do setor costumam estabelecer como
bons índices de perdas de faturamento no Brasil,
valores da ordem de 20 a 25%. O Ministério não
tem metas estabelecidas, mesmo porque não tem
competência para tal. As metas de desempenho,
em qualquer área da prestação dos serviços de saneamento, devem ser estabelecidas pelo titular
dos serviços, definidas nos respectivos planos de
saneamento e registradas nos contratos de prestação, sejam de concessão ou de programa. O Ministério das Cidades estipula, entretanto, nos Acordos
de Melhoria de Desempenho (AMDs), instrumento
obrigatório de acompanhamento do desempenho
dos prestadores de serviços que utilizam recursos
federais, metas de melhoria nos índices de perdas
de água. Além disso, estabelece a seguinte classificação para os índices de perdas de faturamento: nível
A: <= 25%; nível B: entre 25 e 40%; nível C: >= 40%.
A questão dos indicadores de perdas foi muito
discutida recentemente no mundo todo, suscitada pela IWA (International Water Association).
Como essa discussão foi absorvida pelo Ministério das Cidades no acompanhamento dos números nacionais? Enfim, é possível padronizar em
todo o mundo, e no Brasil, o entendimento do
que são perdas em sistemas de abastecimento
de água?
Ernani - Acredito que se possa obter uma padronização mais confiável em todo o mundo no caso de
indicadores avançados, que levem em conta fatores
de homogeinização tais como a escala (quantidade
de ligações e a extensão de redes e ramais) e a pressão de operação das redes, bem como considerem
a avaliação das perdas reais separadas das perdas
aparentes. Para indicadores de nível básico (como
o índice de perdas de faturamento, em percentual,
largamente utilizado no Brasil e no mundo) ou de
nível intermediário (volume perdido por ligação, por
exemplo, que vem sendo mais utilizado), creio que a
padronização é mais difícil, merecendo muita cautela na comparação de desempenho, devido a fatores
como: diferentes conceitos e critérios de contabilização e de faturamento da água, existência ou não
de contabilização individual no caso de prédios com
duas ou mais moradias, posição do hidrômetro em
Setembro/Outubro de 2007
relação à divisa frontal do lote,
uso ou não de caixas d’água domiciliares, diferentes conceitos
do que sejam perdas reais e aparentes, dentre outros fatores.
O SNIS vem promovendo uma
padronização de indicadores de
desempenho para serviços de
água e esgotos que é anterior
ao Manual da IWA, já que o Glossário de Termos e Fórmulas do
SNIS foi publicado pela primeira
vez em 1996 e, desde então, vem
sendo publicado regularmente
todo ano, sempre com alguma
revisão ou atualização. Por sua
vez, o PNCDA - Programa Nacional de Combate ao Desperdício
de Água, também da Secretaria
Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, possui um Documento Técnico de Apoio com proposta de
padronização de indicadores de
perdas. Há também publicações
e estudos acadêmicos no Brasil,
sobre o tema. Entretanto, o nível de profundidade com que
o tema das perdas de água tem
sido tratado pela IWA é hoje in-
dutor dos técnicos do setor no
que diz respeito à avaliação de
desempenho neste campo. Assim, o Ministério das Cidades
apóia a idéia e pode liderar, via
PMSS, uma grande discussão no
país visando a padronização dos
indicadores, que tenha por referência as experiências nacionais
e os estudos da IWA.
Está suficientemente clara a
diferença de conceitos entre
“águas não-faturadas” e “perdas” nas companhias de saneamento do Brasil? Os conceitos
da IWA estão sendo adotados
pelo Ministério das Cidades?
Ernani - Creio que os conceitos
citados não estão suficientemente claros para a maioria dos
técnicos e dirigentes do setor saneamento no Brasil, e nem para
a população, imprensa, meio
acadêmico, e responsáveis pelas
políticas públicas do setor saneamento nos níveis federal, estaduais e municipais. É preciso avançar muito ainda na compreensão
e consolidação de conceitos mais
Setembro/Outubro de 2007
atuais e modernos. O Ministério
das Cidades, tanto no SNIS quanto no AMD, supracitados, adota
conceitos similares aos da IWA,
com alguma adaptação para a
realidade brasileira, limitados aos
indicadores de nível básico, haja
vista que sua atuação é nacional
e deve procurar o maior alcance
possível, fato que só é possível
com esses indicadores de nível
básico.
Quais as maiores dificuldades
enfrentadas pelo Ministério
das Cidades na coleta dos dados e informações sobre perdas para compor o relatório do
SNIS?
Ernani - As maiores dificuldades
referem-se à falta de informações atualizadas e consistidas regularmente na rotina operacional dos prestadores de serviços,
sobretudo separadas para cada
município operado. Embora os
prestadores de serviços venham
adquirindo com o tempo uma
expressiva melhoria na qualidade das informações fornecidas
Saneas
ENTREVISTA
ao SNIS, cabendo registrar que
esta melhoria é decorrência natural da série histórica de dados,
que já possui 11 anos, cabe registrar também como dificuldade a
existência ainda de muitos casos
de inconsistência nos dados, sejam de prestadores de serviços
regionais (companhias estaduais), sejam microrregionais ou locais. Este fator é uma conseqüência natural da raiz dos problemas
de desempenho dos serviços de
água do país, qual seja, a qualidade insatisfatória da gestão dos
serviços.
Em que medida os números do
SNIS contribuem para se ter um
diagnóstico dos problemas de
perdas no país? O que é possível melhorar para o aperfeiçoamento desse diagnóstico?
Ernani - Os dados do SNIS são o
que há de melhor para se avaliar a evolução histórica, o nível
de desempenho, os principais
problemas e as perspectivas de
avanço dos serviços de água e
esgotos no Brasil, incluindo relativos ao tema perdas de água.
São poucos os países do mundo
que têm um sistema tão robusto,
com a qualidade e a estabilidade
do SNIS. É possível realizar análises do interesse dos diversos
agentes com atuação no setor
saneamento brasileiro: os próprios prestadores de serviços,
auto-avaliando a sua performance e evolução histórica e se comparando com a amostra presente
no sistema; os dirigentes do poder executivo, donos dos prestadores de serviços, que podem
se utilizar dos dados para avaliar
resultados; a imprensa e a sociedade organizada que podem
acessar a base de dados e verificar o comportamento do setor;
os agentes reguladores que têm
no SNIS uma boa referência para
as suas atividades regulatórias e
de fiscalização; os governos federal, estaduais e municipais que
20 Saneas
podem também se apropriar dos
dados para a formulação de políticas e programas de governo.
O aperfeiçoamento do SNIS e
seus diagnósticos, sempre gradual e contínuo, é um dos princípios
do Sistema. Creio que a melhoria
mais importante, que se está buscando alcançar na atualização do
SNIS do ano base 2006, cuja fase
de coleta dos dados está sendo
finalizada, diz respeito à obtenção dos dados desagregados de
todos os municípios atendidos
pelos prestadores de serviços
presentes na amostra. Também
é fundamental a institucionalização do sistema de informações
nos termos da lei de saneamento
11.445/2007. Especificamente,
em relação à questão das perdas
de água creio que se deva promover um processo de discussão
em todo o país, já citada anteriormente, para promover um
melhor entendimento, a máxima
padronização e um passo a mais
nos indicadores de nível intermediário e talvez avançado.
A expansão desordenada das
cidades e a existência de grandes áreas de favelas são problemas para a gestão operacional dos sistemas de abastecimento de água nos grandes
municípios brasileiros e regiões metropolitanas. Como
isso impacta nas perdas?
Ernani - O problema impacta
nas perdas na medida em que o
prestador de serviços, por fatores
sobre os quais não tem controle,
deixa de aplicar as melhores técnicas de controle operacional
nestas áreas, contribuindo para
o aumento das perdas.
A solução seria trabalhar de forma integrada e articulada todas
as atividades que compõem a
gestão dos serviços, quais sejam o planejamento, a regulação e fiscalização, a prestação
dos serviços e o controle social.
Destaco como fundamental a
Setembro/Outubro de 2007
importância dos planos para
contribuir no equacionamento
deste problema. Cabe também
chamar a atenção para o risco
dos prestadores de serviços se
acomodarem ou até mesmo fazerem uso desta situação para
justificar perdas elevadas, acima
das aceitáveis. Portanto, trata-se
de uma situação real, que acontece em muitas cidades brasileiras, que deve ser considerada na
avaliação das perdas, mas que
deve ser tratada com técnicas
e metodologias que permitam
um controle operacional mínimo
aceitável.
A impressão que dá é que todo
mundo sabe o que fazer para
combater as perdas, tanto reais quanto aparentes. Mas todo
mundo faz bem feito (como)?
Persegue-se efetivamente o
resultado de longo prazo, ou
seja, combatem-se as causas
primárias das perdas, identificadas após um diagnóstico
criterioso? Em que medida há
um exagerado nível de enxugar gelo no combate às perdas
no Brasil?
Ernani - Talvez esta devesse ser a
primeira pergunta. Do ponto de
vista técnico e tecnológico, os
prestadores de serviços sabem
o que fazer. Há casos em que
são necessárias algumas atualizações e avanços, mas que se
conseguem com facilidade neste
campo. A raiz do problema, como
já citei antes, está na gestão integrada dos serviços. É preciso que
o prestador de serviços avance na gestão, em muitos casos
precisa mesmo aprender a fazer
a gestão, que torne o gerenciamento das perdas uma atividade
de rotina, sustentável, e não uma
ação esporádica, que se faz de
vez em quando, em campanhas
ou programas específicos.
O problema não é somente de
engenharia, mas também de recursos humanos, de comunica-
ção, de contabilidade, de controles financeiros, de planejamento,
de mobilização social, de educação e cultura, enfim de todas as
áreas e agentes.
Além disso, é também um grave
problema da economia nacional,
que a sociedade brasileira não
sabe a dimensão e por isso não
consegue perceber a gravidade.
Só quando tratado desta forma é
que haverá uma solução definitiva e sustentável.
No Ministério das Cidades há
projetos de capacitação dos
técnicos da área de saneamento para a questão das perdas?
Ernani - Em parceria com o
Procel/Eletrobrás e a ABES, fizemos uma extensiva programação
de capacitação para o gerenciamento das perdas de água nos
anos de 2005 e 2006, com mais de
30 cursos realizados. Também o
PNCDA possui uma linha específica para capacitação nesta área,
que no momento está concentrada à capacitação em distância,
realizada neste ano em parceria
com o IBAM, com cerca de 500
técnicos inscritos. Este curso será
feito também no próximo ano.
O PMSS desenvolve atualmente
o Projeto Com+Água, em dez
municípios brasileiros, três operados por cia. estadual e sete por
serviços municipais, que aplica
uma metodologia inovadora no
gerenciamento integrado das
perdas, que além de técnicas e
tecnologias atuais e modernas,
possui um forte componente
na área de mobilização social e
comunicação. Trata-se do desenvolvimento de uma metodologia
com enorme capacidade de replicação em sistemas brasileiros.
A essência do Projeto é exatamente a capacitação dos técnicos e dirigentes, seja em cursos
de sala de aula, seja no próprio
desenvolvimento das atividades
tiva é que, com a consolidação da
ReCESA, a mesma atue na certificação de profissionais em saneamento. Detalhes sobre a ReCESA
e a extensa grade de cursos podem ser vistos no site do PMSS:
www.cidades.pmss.gov.br.
“O problema não é
somente de
engenharia, mas
também de
recursos humanos,
de comunicação,
de contabilidade,
de controles
financeiros, de
planejamento, de
mobilização
social, de educação
e cultura, enfim,
de todas as áreas e
agentes”
do Projeto, a chamada capacitação em processo.
Além disso, o Ministério das Cidades criou e está implementando em parceria com diversos
ministérios e órgãos do governo
federal, universidades, entidades
do setor, instituições da sociedade brasileira, prestadores de serviços, Sistema S, etc., a ReCESA Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental, a mais inovadora
experiência em capacitação do
setor saneamento que reúne a
inteligência no setor a serviço da
capacitação de técnicos e profissionais do setor. Diversos cursos
já estão em andamento, inclusive
no tema do gerenciamento das
perdas de água. Nossa expecta-
Setembro/Outubro de 2007
Que avanços tecnológicos (materiais, equipamentos, processos) já disponíveis você considera os mais importantes para
um eficaz combate às perdas?
Ernani - Creio que do ponto de
vista dos materiais e equipamentos, o que há de mais importante são aqueles que facilitam e
imprimem qualidade aos controles operacionais, por meio de
telemetria, automações, pesquisas de vazamentos, controle de
pressão com comando automático, sistemas computacionais
sofisticados de mais fácil acesso,
dentre outros.
É importante destacar, no entanto, que os mais importantes
avanços dizem respeito aos processos, sobretudo em metodologias também de fácil acesso,
para balanço hídrico, softwares
de modelagem hidráulica, sistemas de informações georreferenciadas, dentre outros. Penso
também que, com os resultados
que se vislumbram, o Projeto
Com+Água representará um
marco na gestão das perdas de
água, trazendo para o setor uma
metodologia de gerenciamento
integrado fundamental à sustentabilidade das ações.
Existe algum instrumento legal
ou normativo do Ministério das
Cidades exigindo, solicitando
ou induzindo a implantação
de um programa contínuo de
perdas pelas empresas de saneamento do Brasil, especialmente em áreas com déficits
de recursos hídricos? Como
Saneas 21
ENTREVISTA
você avalia a Lei 11.445/2007 a
respeito desse tema?
Ernani - Como citado anteriormente um dos instrumentos é o
AMD, obrigatório para todos os
prestadores de serviços que utilizam recursos do Governo federal para investimentos. Também,
dentre os critérios para seleção
de projetos do Saneamento
para Todos (programa de investimentos com recursos do FGTS),
alguns deles estabelecem que,
para patamares elevados de perdas, não são aceitáveis projetos
de ampliação da produção de
água, ou seja, primeiro é preciso
reduzir perdas para depois aumentar o volume de água que se
retira dos corpos hídricos.
Os manuais dos programas de
investimentos também estimulam a apresentação de projetos
de desenvolvimento institucional e operacional, havendo um
componente específico no Programa Saneamento para Todos
para ações de redução e controle
de perdas. O Ministério das Cidades possui também o PMSS, um
Programa de assistência técnica
voltado para a estruturação da
gestão e a revitalização de prestadores de serviços, com forte
atuação em projetos de gerenciamento integrado das perdas
de água.
A lei de saneamento 11.445/2007
estabelece a obrigatoriedade de
planos, de instrumentos e de instância regulatória e de fiscalização, bem como o controle social
dos serviços de saneamento. Tais
instrumentos são fundamentais
para a melhoria da gestão, com
conseqüente impacto positivo
direto nas perdas de água. A
lei também estabelece que os
serviços devem ter assegurada
a sustentabilidade técnica e econômico-financeira, situação esta
somente possível com um bom
nível de desempenho no gerenciamento das perdas.
Há outras linhas de financiamento federais para perdas,
que não as tradicionais da Caixa Econômica Federal?
Ernani - Os programas de investimentos do Governo Federal
para o setor saneamento estão
inseridos no PAC - Programa de
Aceleração do Crescimento, que
para o setor saneamento prevê
R$ 40 bilhões de investimentos
nos próximos 4 anos.
Os recursos são oriundos do Orçamento Geral da União (não
onerosos) e de financiamento
com recursos do FGTS (via CAIXA)
ou do FAT (via BNDES). Em todos
os componentes do PAC/Saneamento os beneficiários -governos de estados e de municípios
ou prestadores de serviços- podem apresentar projetos para a
melhoria do gerenciamento das
perdas de água.
>>>CARTAS
>>Recebemos e agradecemos pelo envio da
publicação “Revista Saneas “, de excelente
qualidade gráfica e editorial.
Ressaltamos ainda, que é de grande valia para
o acervo da Biblioteca do IESAM ser receptora
de tão valiosa publicação.
Clarice Silva Neta - Bibliotecária
IESAM - Instituto de Estudos Superiores da
Amazônia
SIBIESAM - Sistema de Informação e
Biblioteca
www.iesam-pa.edu.br
22 Saneas
Você poderia citar experiências bem sucedidas de municípios ou companhias de saneamento no combate às perdas
no Brasil?
Ernani - Duas experiências que
podem ser destacadas são as
do município de Campinas (da
empresa municipal Sanasa) e do
estado de Minas Gerais (da companhia estadual Copasa).
Alguma questão adicional sobre o tema que você gostaria
de trazer para essa entrevista?
Ernani - Gostaria de acrescentar a
importância de se integrar projetos de gerenciamento das perdas
de água com aqueles relativos à
eficientização energética em sistemas de abastecimento de água.
São ações de melhoria da gestão
que se complementam, ou seja,
ações de redução de perdas de
água têm forte impacto no uso
eficiente de energia elétrica, e
ações para a melhoria do uso de
energia elétrica podem impactar
positivamente na redução das
perdas de água.
Neste sentido, o Ministério das
Cidades, por meio da Secretaria
Nacional de Saneamento Ambiental e via PMSS, desenvolve
parceria com o Ministério das
Minas e Energia, por meio da Eletrobrás e via Procel, voltada para
ações integradas nestas duas
áreas.
>>Caros editores,
Compartilho com vocês o entusiasmo com o
lançamento da nova Revista Saneas. O que já
era bom conseguiu ficar ainda melhor, fazendo
um jornalismo engajado, informativo, responsável e em sintonia com os anseios e desafios
do setor de saneamento básico em São Paulo
e no Brasil. Desejo a todos sucesso nesta nova
empreitada e vida longa.
Um abraço,
Arnaldo Jardim
Deputado Federal (PPS-SP)
Engenheiro Civil (Poli/USP)
Setembro/Outubro de 2007
PONTO DE VISTA
A SITUAÇÃO ATUAL
DAS PERDAS NO JAPÃO
MASAHIRO SHIMOMURA1
N
o Japão, especialmente nas zonas urbanas
onde se observa a escassez de água por
causa da concentração da população, a importância de planejar o uso eficiente e racional dos
recursos hídricos limitados vem sendo amplamente
reconhecida entre a população em geral.
Em 1964, poucos meses antes da realização dos Jogos Olímpicos, a cidade de Tóquio, capital do Japão,
enfrentou a ocorrência de uma seca sem precedentes, a ponto de se temer pela realização do evento.
A chegada de um tufão de grande porte encheu os
açudes da região e resolveu o problema, quase por
milagre. Foi desde então que o Japão começou a se
preocupar com o aproveitamento eficiente e racional da água, que é um recurso natural limitado.
Assim, sob a diretriz básica traçada em nível nacional
para o aproveitamento eficiente dos recursos hídricos, os órgãos e companhias regionais (províncias e
seus municípios) de abastecimento de água se mobilizaram para, sob a responsabilidade em respectiva área de jurisdição, promover ações para reduzir
desperdícios de água, causados principalmente
pelo vazamento. Essas atividades continuam sendo
implementadas até os dias de hoje.
Por outro lado, graças a campanhas agressivas de divulgação e esclarecimento das entidades mantenedoras, nacionais e municipais, dos negócios ligados
ao serviço de abastecimento de água, as fabricantes
e fornecedoras de instalações ou dispositivos para
abastecimento de água se empenharam em desenvolver mecanismos e produtos que economizam
água. Ao mesmo tempo, o próprio povo percebeu a
importância dos recursos hídricos e, sabendo que a
água é um recurso limitado, passou a tomar iniciativas para economizá-la. Como resultado dessas medidas abrangentes para uso eficiente da água, o ín-
dice de perdas de água (NRW – “Non Revenue Water”
ou água não-rentável, ou ainda, consumo de água
não ligada à receita) que na década de 1950 registrava cerca de 30%, hoje apresenta uma média, em
nível nacional, de menos de 10%. De modo especial,
as companhias de abastecimento de água das zonas
urbanas, que têm demandas vultosas de água, apresentam cerca de 5% no índice de NRW. Por exemplo,
a Companhia Metropolitana de Abastecimento de
Água de Tóquio registrou o índice anual de 5,8% de
perdas de água em relação ao volume produzido, no
período entre abril de 2005 e março de 2006.
POLÍTICA BÁSICA DE CONTROLE DAS PERDAS DE
ÁGUA
Assegurar a reserva de água através da redução
do volume de perdas
A redução dos volumes de perdas de água é uma
medida que gera o efeito idêntico ao de explorar
uma nova fonte de água, mas com maior eficiência
e em curto prazo, além de constituir a medida que
mais se preocupa com o meio ambiente, uma vez
que ela não sobrecarrega o ambiente.
Sendo assim, os índices em si devem refletir o volume, e as medidas para redução de perdas de água
devem estar ligadas diretamente à redução dos desperdícios de água, colocadas em prática de modo
eficiente e com resultados concretos.
Conhecimento Exato da Situação e Adoção de
Medidas Adequadas para
cada Estágio
As medidas contra perdas
de água devem ser tomadas depois de se obter a noção exata da situação, com
1
Atualmente residindo no Brasil desde julho de 2007, é Engenheiro Civil do Departamento de Sistemas
de Abastecimento de Água da Cidade de Saitama e Consultor da Jica no Japão. Líder da equipe da Jica
no Projeto de Cooperação Técnica: “Desenvolvimento de Capacitação para o Controle de Perdas de Água
na Sabesp (2007-2010)”.
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 23
PONTO DE VISTA
os dados precisos sobre os tipos de perda, volume,
causas, características etc., a fim de permitir a adoção de medidas adequadas para cada situação, com
causas e características próprias, de modo a reduzir
eficientemente o volume da perda de água.
Sendo assim, é importante compreender que, mesmo que se trate de perdas de água parecidas, as medidas a serem tomadas, para serem eficientes, podem variar de acordo com a área, volume, ou então
com as causas ou características de cada caso.
zido e volume de consumo):
- Ajuste dos macromedidores e realização periódica
de inspeção/vistoria dos mesmos.
- Renovação planejada dos hidrômetros (no Japão,
a Lei de Pesos e Medidas obriga a renovação a cada
8 anos);
Correção e ajuste da pressão (padronização da
pressão de água entre áreas e uniformização da
pressão durante 24 horas):
- Redução da pressão nas áreas com alta pressão.
O Objetivo Final do Controle de Perdas de Água
é o Perfeito Conhecimento do Volume de VazaDetecção eficiente dos locais de vazamento e remento e de sua Redução
paros rápidos:
As perdas de água podem ser classificadas, de modo
- Adoção de medidas adequadas ao estágio em tergeral, em perdas por vazamento e perdas por outras
mos de volume do vazamento.
causas que não sejam o vazamento. Destas duas caVazamento em grandes volumes: medidas contra
tegorias, do ponto de vista técnivazamento na superfície com a
co, a mais difícil de lidar é a perda
mobilização de mão-de-obra.
“Sendo assim, é
por vazamento. Com relação a
Vazamento em pequeno voluoutras perdas (consumo de água
me: levantamento e pesquisa
importante
não ligado à receita) que devem
planejados de vazamentos não
compreender que,
ser reduzidas, ou seja, em termos
visíveis. Tomada de providências:
mesmo que se
práticos, aquelas causadas pela
comunicação do vazamento e retrate de perdas de
não-sensibilidade dos hidrômeparo realizado no mesmo dia.
tros e por fraudes e furtos, as meágua parecidas, as
didas devem ser tomadas no âmAdequação das Redes e Ramais:
medidas a serem
bito de identificação mais precisa
- Controle dos reparos de vazatomadas, para
dos volumes de perdas através do
mentos através da renovação da
serem eficientes,
ajuste ou correção das medições
rede e do desligamento eficiente
podem variar de
(e medidores) e das obras de adedas redes clandestinas (de furto de
quação e correção das redes de
água);
acordo com a
abastecimento de água.
- Solução dos problemas de difeárea, volume, ou
Por outro lado, no que tange à
renças de pressões elevadas, denentão com as
existência de áreas de ocupação
tro de um mesmo setor, devido
causas ou
habitacional irregular (“favelas”),
às condições topográficas partia questão também encerra seu
culares, através de ressetorização
características de
aspecto político, o que torna ime/ou troca/adequação de trechos
cada caso”
portante acertar os passos com as
de tubulações;
medidas políticas.
- Redução do volume de perdas de
O que se deve fazer no mínimo, entretanto, é o leágua causadas pela não-sensibilidade dos hidrômevantamento da situação para ter a noção do volume
tros, por meio da manutenção da pressão adequada
exato dessa perda através das obras de instalação
durante 24 horas;
de tubulações especiais específicas, inclusive para
- Troca de ramais deteriorados ou com vazamentos
poder monitorar (controlar) o volume de perdas de
freqüentes, incluindo a troca da rede secundária
água.
alimentadora desses ramais, se necessário, dependendo da condição da rede e da freqüência de surgiDIRETRIZES PARA CONTROLAR PERDAS DE ÁGUA
mento de vazamentos.
As diretrizes para adoção de medidas concretas para
redução de perdas de água são descritas a seguir.
MEDIDAS PARA CONTROLE DE VAZAMENTOS
Essas diretrizes devem ser adotadas conforme o
Para seguir eficientemente as 4 diretrizes acima desestágio de cada tipo de perdas de água, para
critas, serão consideradas 3 áreas de medidas para
dar continuidade com o desdobramento adequado:
efetivar o combate a perdas de água.
De modo especial, as contramedidas imediatas na
Correção do método de medição (volume produocorrência são importantes, não somente na detec-
24 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
ção do vazamento, mas também
no sentido de ter a noção do volume de perdas e de tomar providências concretas para sanar o
problema.
Medidas Básicas
- Obter a noção precisa dos itens
e do volume de perdas de água
através da melhoria na acuidade
da análise do volume produzido;
- Elaboração do mapa de distribuição das redes e ramais para
servir de base e referência para
adoção das medidas e controle
das perdas de água.
Contramedidas Imediatas
- Realização das buscas de vazamentos que estão ocorrendo: ter
ao menos a noção do volume de
perdas e realizar, na medida do
possível, os reparos para redução
das perdas de água.
- Medidas Preventivas
Finalmente, através das obras de
adequação das redes, procurar
otimizar o serviço de abastecimento e os trabalhos de controle
das perdas de água.
Com base nos pontos de vista
acima expostos, pretendemos
dar o apoio necessário à SABESP
na consecução do presente projeto de cooperação técnica.
O controle de perdas de água
constitui o próprio trabalho de
manutenção e administração
de uma companhia de abastecimento de água, o que significa que todos os funcionários
devem unir-se para sua perfeita
realização. Esperamos que cada
funcionário da SABESP, independentemente de trabalhar ou não
na Área Piloto, de ser engenheiro,
técnico-operador ou funcionário
administrativo, venha a se envolver com corpo e alma e participar
ativamente do presente Projeto,
considerando-o como se fosse o
seu próprio projeto.
Software gerencia uso da água
O conselho mundial de negócios para o desenvolvimento sustentável (WBCSD), lançou em agosto, em Estocolmo, capital da Suécia,
um software que gerencia o uso da água. A interface permite que
as organizações mapeiem o uso e apontem os riscos relativos a
operações globais e a cadeia de suprimento.
Os usuários poderão responder perguntas como:
- Quantos locais estão em áreas com escassez de água?
- Como serão no futuro?
- Quantos empregados vivem em países que não têm acesso a
água e sistemas sanitários adequados?
- Quantos fornecedores estão em áreas com escassez de água?
O novo software também realiza a comparação do uso de água
com informações acerca de sua disponibilidade e de sistemas sanitários, tanto tratando-se do país ou lençóis freáticos; calcula consumo e eficiência; estabelece riscos relacionados à água e cria indicadores, inventários e performance métricas. Segundo especialistas
do meio, o processo é de fácil gerenciamento.
Para os interessados, o WBCSD disponibiliza o software para
download no endereço:
http://www.wbcsd.org/web/watertool.htm
Setembro/Outubro de 2007
Saneas
PONTO DE VISTA
PERDAS DE ÁGUA E
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Reduzir Perdas - o Meio Ambiente
e a Sociedade Agradecem
SÔNIA NOGUEIRA1
A
dificuldade de acesso à água faz com que
muitas operadoras de serviço de saneamento
(água e esgoto) transportem água a longas
distâncias e utilizem intensamente o bombeamento, que geralmente implicam em altos custos operacionais. As empresas de saneamento que operam
em grandes capitais, como é o caso do município de
São Paulo, vêm enfrentando grandes desafios para
manter a população abastecida com água em quantidade e qualidade adequadas.
Problemas, como o crescimento e adensamento
populacional, somado a perda da qualidade dos
mananciais ou da rejeição de fontes existentes, resultam em problemas quase irreversíveis ao atendimento com água potável nos grandes centros urbanos, levando ao uso intenso das reservas existentes
de água. Os custos de projetos e obras para captação
de águas superficiais ou para a exploração de águas
subterrâneas, incluindo transferências e transposição de outras bacias para satisfazer as necessidades
em curto, médio e longos prazos são onerosos, especialmente nas metrópoles.
A gestão eficiente dos recursos hídricos é fator essencial para o desenvolvimento sustentável das cidades, pois a água e as economias local, regional e
global estão diretamente relacionadas, uma vez que
o desenvolvimento econômico, a produção agrícola
e todas as atividades humanas dependem da disponibilidade adequada de água e do acesso. A escassez de água impede o desenvolvimento econômico
e social, além de limitar alternativas econômicas.
Muitos fatores contribuem para a escassez deste
precioso liquido; contaminação de rios, lagos, represas, poluição difusa, enchentes, aquecimento global,
desmatamento e resíduos sólidos, produzindo impactos econômicos em razão da perda de atividade
promovida pelos usos dos recursos hídricos. Além
desses aspectos fundamentais na gestão das águas,
deve-se considerar o valor econômico total dos “serviços” proporcionados pelos ecossistemas aquáticos
e os custos das perdas nos sistemas de produção e
distribuição.
A gestão das águas será mais eficiente à medida
que instrumentos econômicos, como cobrança
pelo uso da água e o princípio do poluidor/pagador, forem definitivamente implementados e
praticados. Conservando a água de boa qualidade, buscando alternativas, mantendo o abastecimento, são ampliadas as perspectivas econômicas
e as alternativas para o desenvolvimento local e
regional. Águas despoluídas revitalizam as economias local, regional, nacional e internacional. As
empresas e os consumidores devem administrar o
uso da água de modo responsável para assegurar o
desenvolvimento sustentável. As concessionárias e
prestadoras de serviços que atuam no saneamento
e meio ambiente devem ter como meta prioritária o “Programa de Controle e Redução de Perdas
de Águas“, envolvendo ações e articulações inter e
intra-institucional com vários segmentos e implantando medidas preventivas, corretivas, preditivas
e de conservação, bem como a adequada previsão
de recursos financeiros e logísticos, no sentido de
incorporá-lo como um programa estratégico no rol
dos seus serviços.
O treinamento do corpo técnico (engenheiros e
operacionais) é de suma importância, além de outros recursos para conseguir um alto nível de eficiência operacional; sabemos que o combate às perdas
é custoso e deve ser feito
com muita racionalidade,
e com bons diagnósticos
e medição contínua dos
resultados.
O desenvolvimento do setor de recursos hídricos no
1
Engenheira Civil, formada pela Universidade Federal do Pará em 1972, Lato Sensu em Engenharia
Hidráulica - Escola Politécnica da USP – São Paulo. Trabalhou de jan/1976 a nov/1976 no IEA/USP - Instituto de Energia Atômica, como pesquisadora docente nuclear, e na Companhia de Saneamento Básico
de São Paulo - Sabesp, de 1976 a 2004. Atuou na área operacional, planejamento, projetos básicos e
executivos de sistema de distribuição de água, coleta de esgoto e de estações de tratamento. Coordenadora do Uso Racional da Água – PURA, de 1996 a 2004. Atualmente Consultora.
26 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
Brasil apresenta grandes desafios,
que exigem um planejamento
adequado das ações, de acordo
com o princípio do desenvolvimento sustentável. Portanto,
a criação e implementação de
Agências Reguladoras no setor
de saneamento vem ao encontro, permitindo mecanismo de
fiscalização com objetivo de cobrar medidas e implementações
de projetos, programas, obras e
resultados das empresas.
Essas medidas permitirão a conservação dos recursos hídricos
disponíveis, postergando a construção ou ampliação de sistemas
de abastecimento de água, a expansão dos níveis de cobertura
e, eventualmente, a redução dos
valores tarifários praticados.
No que concerne à infra-estrutura dos sistemas, é recomendado
que as empresas concessionárias de serviços desenvolvam
estudos no sentido de utilizar
tecnologias modernas em seus
sistemas de tratamento e distribuição de água implementando
programas de redução de perdas,
que contemplem a instalação de
infra-estrutura de redes e ramais
de boa qualidade, tendo em vista
que na grande maioria dos municípios, como em algumas regiões, as redes encontram-se em
situação precária, valendo citar o
exemplo da Região Metropolitana de São Paulo, que possui redes
com mais de 50 anos de idade e
encanamentos de ferro fundido.
Uma das maneiras para a redução das causas primárias dos vazamentos seria a reabilitação de
trechos comprometidos, buscan-
do sempre desenvolver novos
materiais e métodos de instalação, como o polietileno com juntas soldadas.
Quanto à medição de água, é importante investir e adotar melhorias tecnológicas, hidrômetros,
que hoje apresentam um nível
elevado de submedição, principalmente pelo fato de existirem
caixas d’água – lembrando que
uma medição precisa é fator de
economia de água para o usuário, e uma aliada na luta contra as
fraudes. O planejamento das atividades das instituições estaduais
e municipais de saneamento torna-se necessário e deve buscar a
integração com os planos de gestão das bacias hidrográficas correspondentes, bem como com a
política de proteção ambiental,
permitindo a evolução do conceito de saneamento básico para
o de saneamento ambiental.
O valor da água como bem
comum, econômico e finito,
ainda não foi bem entendido pela maioria da população
brasileira, sendo imprescindível,
para isso, que se intensifiquem
ações de educação ambiental,
que sozinhas podem não ser
suficientes para evitar agressões ao meio ambiente, mas em
conjunto com ações civis públicas
ou individuais, seriam utilizadas
como um grande, senão o maior,
instrumento para recuperação e
preservação do meio ambiente.
Todos devemos, de forma individual ou coletiva, lutar pela preservação da água, seja em pequenas
ações, como explicações sobre
o desperdício e perdas ao repre-
Setembro/Outubro de 2007
sentante de um condomínio, seja
através de grandes ações junto
aos governantes ou ao Poder
Judiciário. Não é necessário impedir o progresso econômico do
mundo para que haja a proteção
ao meio ambiente, só é preciso a
conscientização do homem para
o desenvolvimento sustentável.
Acredita-se que exista atualmente um empenho maior dos
governos para o financiamento de recursos para projetos e
obras no que tange ao setor de
saneamento e meio ambiente.
Depois de um longo vazio institucional no setor, foi criado em
2003 pelo Governo Federal, o
Ministério das Cidades, e em sua
estrutura a Secretaria Nacional
do Saneamento Ambiental, com
competência, entre outras ações,
de financiamento de projetos e
obras, avaliação, implementação
e estabelecimento de diretrizes
para a área de saneamento. Neste bojo, foram criadas políticas de
incentivo à redução das perdas,
com padronização capacitação, e
orientação em nível nacional.
As concessionárias e companhias
que atuam como empresa socioambiental, moderna e competitiva no mercado consumidor,
devem dar o exemplo, com o
comprometimento desde a alta
administração até a base, com
relação a atitudes e medidas para
conservação, controle de perdas
e economia de água, começando
pelas suas próprias edificações,
cada um tendo consciência do
seu papel e importância nessa
luta permanente, que não tem
fim.
Saneas 27
ARTIGO TÉCNICO
VÁRZEA DO RIBEIRÃO
PARELHEIROS
Desempenho na
redução de
concentrações de
constituintes
típicos de
efluentes sanitários
Fotos e gráficos: Divulgação
Figura 1 - Várzea do Ribeirão Parelheiros
verificando-se, ao fundo, a represa de Guarapiranga
A
Bacia do Guarapiranga ocupa vasta extensão
com área aproximada de 630 km², situandose em território dos municípios de São Paulo,
Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, Cotia, São
Lourenço e Juquitiba. Originalmente construída
e utilizada para a geração de energia elétrica, em
1927 passou a ser utilizada como fonte de abastecimento público, sendo responsável hoje pelo abastecimento de 18,8 % da Região Metropolitana de
São Paulo.
Ocupações desordenadas e irregulares da área do
manancial a partir da década de 60 acarretaram
problemas ambientais crescentes, notoriamente
na qualidade da água. Ainda a necessidade de ampliação da oferta d’água para atender a demanda
na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), principalmente na Região Sul da cidade, levou a uma
série de obras que visaram a regularização do abastecimento de água na RMSP. O Sistema Produtor
Taquacetuba - Guarapiranga foi destacado como
uma das obras prioritárias e tratou do aporte de
até 4,0 m³/s de água para o Reservatório Guarapiranga, através da captação e transposição de água
do braço do Taquacetuba na represa Billings, obje-
ALMIR APARECIDO DE SOUZA ANDRADE 1
tivando a melhoria da capacidade de regularização
do nível da represa do Guarapiranga e, conseqüentemente, a diminuição dos riscos de abastecimento nos períodos de grande estiagem, assim como
a possibilidade de incrementação da captação de
água para tratamento em 2 m³/s. Em setembro de
2000 foi iniciada a transferência de água da represa Billings (braço do Taquacetuba) para a represa
do Guarapiranga. O sistema Taquacetuba é composto por um par de estações de bombeamento
de água, sendo a primária uma estação elevatória
flutuante composta por cinco bombas submersíveis e a secundária uma estação elevatória convencional instalada em terra com cinco bombas
centrífugas horizontais, 13,9 km de adutora sendo
8,3 km de transferência por gravidade com 80 m de
diferença de cota entre o ponto mais alto da linha de
adução e o sistema de dissipação de energia, terminando em um canal de
afluência à várzea do
Ribeirão Parelheiros.
O Ribeirão Parelheiros
aflui para a represa do
Guarapiranga forman-
Químico, Especialista em Engenharia de Saneamento Básico pela FSP – USP, Mestre em Ciências da
Engenharia Ambiental pela EESC – USP, Doutorando em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola
Politécnica - USP. Trabalha na Sabesp, atuando no Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos.
e-mail: [email protected], [email protected]
1
28 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
Figura 2 - Vista do canal de recepção de água da Billings
do a várzea (Figura 1) que leva seu nome, ocupando
aproximadamente 93 hectares e tendo ainda como
contribuinte significativo o Córrego Itaim, ambos
(Ribeirão e Córrego) com considerável degradação
hídrica, decorrente de grande aporte de esgotos domésticos.
O regime hidrodinâmico desta várzea deve ter sofrido severas alterações com sua utilização a partir de
agosto de 2000, como área receptora da transposição de águas da Represa Billings (Figura 2).
O canal de recepção da água transposta localiza-se
paralelo a afluência do Córrego Itaim e a aproximadamente 2000 metros a montante do reservatório.
Podem ser facilmente observados pontos de grande
alteração antrópica que envolvem desde atividades
já extintas de mineração, movimentação de terra
para fins agrícolas, de lazer (futebol de várzea), invasões imobiliárias clandestinas.
A vegetação predominante na várzea é composta
por Panicum Rivulare (capim-santa-fé) e Typha Angustifolia (taboa), com cobertura estimada em torno
de 50% e 20%, respectivamente.
Pode-se afirmar que esta não é uma várzea natural
uma vez que, originalmente a várzea situava-se na
afluência do ribeirão Parelheiros ao Rio Guarapiranga, mudando sua posição a partir do enchimento da
represa. Até então esta região era um típico fundo
de vale onde, apesar das cheias provocadas nos períodos de chuva, não possuía o típico ciclo biogeoquímico de áreas de várzea. Com o passar do tempo,
essa várzea deslocada passou a adquirir características naturais através do desenvolvimento e fixação
de fauna e flora primária, típica destes sistemas ecológicos, porém com retrocesso a sua formação, causado pela antropização intensa em sua periferia.
As áreas alagadas ou várzeas, comumente tratadas usando-se o termo do idioma inglês “Wetland”,
podem ser naturais, induzidas ou construídas.
As Wetlands naturais têm importantes funções
dentro dos ecossistemas onde estão inseridas, entre as quais se destacam: a capacidade de regulari-
EMEC BRASIL comemora a conquista do Troféu AESabesp
“Inovação Tecnológica”
Com 10 anos de atuação no mercado, atendendo o setor de saneamento básico e segmentos industriais,
química e petroquímica, e energia, a EMEC BRASIL vive um momento muito positivo. Sua marca,
já bem sedimentada, alcançou ainda uma maior visibilidade ao ganhar, na Fenasan 2007, o troféu
AESabesp, na categoria “Inovação Tecnológica”, através dos votos dos próprios visitantes da Feira.
A empresa comemora seu desempenho nesse que é um dos mais importantes eventos do segmento de
saneamento ambiental: “Entendemos que nossa participação em 2007, como nos anos anteriores, foi
extremamente positiva. Porém, nessa edição, pudemos apresentar um novo equipamento que atua no
combate da proliferação de algas por ultrassom. A apresentação do produto criou expectativa e interesse junto aos visitantes, que nos deram o seu voto para ganharmos esse troféu AESabesp, na categoria
“Inovação Tecnológica”.
O equipamento apresentado na feira pode ser utilizado em diversas aplicações, tais como: Lagoas, Filtros de Estações de Tratamento, Torres de Resfriamento, Piscinas, Lagos de Peixes, Lagos de Irrigação,
Controle de Biofilme e Grandes Reservatórios; proporcionando melhora na qualidade da água, evitando o uso de produtos químicos agressivos ao meio ambiente e utilizando baixo consumo de energia,
sendo ainda inofensivo para as outras formas de vida. “A premiação motiva-nos a continuar buscando
novos desenvolvimentos através de atuação própria ou com parceiros que tenham os mesmos objetivos
da EMEC BRASIL”. A relação de atendimento entre a EMEC BRASIL e o corpo técnico de profissionais da Sabesp está num grau de envolvimento bastante satisfatório e tem se fortalecido ao longo dos
anos. Na condição de fornecedora, a Empresa procura atender às necessidades do cliente, no tocante à
aplicação dos produtos, ao desenvolvimento de novas necessidades, além do oferecimento de prazos
de entrega ágeis, estoque de peças de reposição e preço justo.
Te/Fax (11) 4356-1130
e-mail: [email protected]
Setembro/Outubro de 2007
www.emecbrasil.com.br
Saneas
ARTIGO TÉCNICO
Figura 3 - Valores acumulados mensais e média por
período da variável pluviometria da bacia, referentes
aos períodos de junho a setembro (meses secos) e de
outubro/03 a março/04 (meses chuvosos).
Figura 4 - Valores médios da variável fósforo total da
entrada (GU213) e saída (GU107) da várzea, referentes
aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos)
e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)
Figura 5 - Valores médios da variável nitrogênio total
da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos
de junho a setembro/03 (meses secos) e de
outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)
30 Saneas
zação dos fluxos de água, amortecendo os picos de
enchentes; a capacidade de modificar e controlar
a qualidade das águas; sua importância na função
de reprodução e alimentação da fauna aquática,
incluindo os peixes; a proteção à biodiversidade
como área de refúgio da fauna terrestre e controle
da erosão, evitando o assoreamento dos rios (Salati,
2000). As principais propriedades que tornam estas
áreas importantes para o controle de poluentes e
contaminantes em corpos d’água são: alta produtividade de vegetação; grande capacidade de absorção dos sedimentos; altas taxas de oxidação pela microflora associada à biomassa das plantas e grande
capacidade de reter nutrientes, poluentes e contaminantes (Salati, 2000).
Os processos físicos, químicos e biológicos, isto é, o
ciclo biogeoquímico, que ocorrem nesses ecossistemas e que são responsáveis pela alteração da qualidade das águas, variam grandemente de acordo
com o regime hidrológico, geologia, fatores climáticos e bióticos. As Wetlands construídas diferem das
naturais por proporcionarem o controle do regime
hidrológico e ainda pela possibilidade de composição do substrato utilizado, uma vez que pode este
ser projetado para otimização do sistema (Salati,
2000).
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados apresentados são provenientes do
cálculo de valores médios, máximos e mínimos do
banco de dados de qualidade de água do monitoramento realizado pela Sabesp, no período de junho
de 2003 a marco de 2004, da várzea do Parelheiros,
agrupados em período seco (junho, julho, agosto e
setembro de 2003) e chuvoso (outubro, novembro
e dezembro de 2003, janeiro, fevereiro e março de
2004). Os dados pluviométricos (figura 3) definem
perfeitamente o período seco e chuvoso. Os meses
de outubro e novembro de 2005 podem ser ainda
observados como meses de transição entre os períodos seco e chuvoso, porém destacam-se dos meses
secos uma vez que a precipitação acumulada é em
média três vezes superior as do período seco.
Os aumentos das concentrações de fósforo total e
nitrogênio total (figuras 4 e 5) durante os períodos
estudados devem ser parcialmente originados a
partir da deficiência de afastamento de efluentes
sanitários oriundos de ocupações irregulares na região. Porém, os incrementos destas concentrações
durante o período chuvoso podem ser decorrentes
da carga difusa proveniente das chuvas, que neste
período lavam os campos utilizados para a agricultura, o que não ocorre no período seco, pois este é
marcado por baixa pluviosidade.
Quanto a variável coliformes totais (figura 6), o incremento durante o período chuvoso pode também
ser atribuído a carga difusa oriunda das chuvas.
Setembro/Outubro de 2007
Figuras 6 e 7 - Valores médios da variável coliformes totais da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de
junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)
Já em relação a variável coliformes fecais (figura 7),
foram verificadas na saída da várzea concentrações
superiores no período seco em relação ao chuvoso,
o que reforça a tese de deficiência do sistema de coleta e afastamento de efluentes sanitários, uma vez
que os períodos de estiagem exercem menor influência quanto ao potencial de diluição da concentração de compostos poluentes e contaminantes,
ou seja, provavelmente a contribuição à várzea de
coliformes fecais seja regular ao longo dos períodos
seco e chuvoso, porém a ação das chuvas e as conse-
qüentes cheias dos corpos d’água exercem um papel significativo como diluentes deste variável.
A remoção de turbidez (figura 8), que ocorreu em
todos os períodos estudados, pode ser explicada
pela capacidade destes sistemas quanto ao amortecimento das águas de afluência que elevam as taxas
de sedimentação de partículas em suspensão. Ainda
há a possibilidade da retenção de partículas por aderência ao sistema radicular de macrófitas. Durante o
período chuvoso foi verificada uma remoção superior a do período seco. Possivelmente, a velocidade
Setembro/Outubro de 2007
Saneas
ARTIGO TÉCNICO
Figura 8 - Valores médios da variável turbidez da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a
setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04
(meses chuvosos)
ções dessas variáveis sofreram incrementos desde a
entrada até a saída da várzea.
Para que os problemas provenientes das substâncias originárias a partir de fontes antrópicas em
águas destinadas para o abastecimento possam ser
solucionados ou, pelo menos minimizados, é fundamental que os mesmos sejam estudados de modo
a permitir que as suas causas possam ser identificadas e, conseqüentemente, hajam condições de
serem definidas as melhores alternativas técnicas
para a sua solução. O aprofundamento dos estudos
de desempenho da várzea depende da implantação
de uma rede de monitoramento qualitativo e quantitativo de contribuições difusas, que proporcionará
a realização de balanços de massa.
A implantação de rede coletora de esgotos sanitários nas áreas não atendidas por este serviço deve
contribuir significativamente quanto ao aumento de
desempenho da várzea.
A coibição do aumento de ocupações irregulares
na bacia do Ribeirão Parelheiros deve ser um fator
de primeira ordem de preocupação das instituições
competentes à fiscalização de uso e ocupação do
solo.
Referências Bibliográficas
Figura 9 - Valores médios da variável DQD da entrada
e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a
setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04
(meses chuvosos)
de escoamento em áreas alagadas durante o período chuvoso é maior que a do período seco, o que
levaria a taxas de sedimentação menores. Porém,
a dinâmica de crescimento das plantas no período
chuvoso deve atingir seu auge por corresponder às
estações da primavera e verão, o que reforça a tese
de retenção de partículas por aderência ao sistema
radicular das plantas da várzea.
A redução de DQO (figura 9) promovida pela várzea
deve ser decorrente da grande capacidade biótica
das áreas alagadas em degradar matéria orgânica,
seja pela ação de microorganismos, seja por adsorção radicular de macrófitas.
CONCLUSÕES
Os resultados de fósforo total, nitrogênio total e
coliformes, nos permitem afirmar que houve contribuição significativa de fontes difusas na várzea, nos
períodos seco e chuvoso, uma vez que as concentra-
32 Saneas
- Andrade, A.S.A. Análise da eficiência da várzea
do Ribeirão Parelheiros na melhoria de qualidade das águas que afluem à represa do Guarapiranga, São Paulo. Dissertação (Mestrado) - Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos, 2005.
- Andrade, A.S.A., Filho. S.F.S., Fernandes, A.N.,
Kairala, A.M., Aplicação de Carvão Ativado em Pó
(CAP) na Remoção de Gosto e Odor em Águas de
Abastecimento. IX Simpósio Luso-Brasileiro de
Engenharia Sanitária. Porto Seguro, Bahia, 2000.
- Chorus, I. & Bartram, J. (Editors). Toxic cyanobacteria in water: a guide to their public health
consequences, monitoring and management. E.
Who. & F. Spom, 1999. 416 p.
- Harbel, R., Perther, R., Laber, J. Wetland Systems
for Water Pollution Control. Wat Sci. Techn. 35 Proceeding of the IAWQ. 5 rd International Conference on the Use of C W in Water Pollution Control
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- Manfrinato, E. S. “Avaliação do Método Edafofitopedológico para o Tratamento Preliminar de
Águas”. Piracicaba-SP, 98 p. Dissertação (Mestrado). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. 1989.
- Salati, E. Estudo de Wetlands (Áreas Alagadas)
Naturais e Construídas para Proteção e Recuperação dos Recursos Hídricos. São Carlos, SP. 2000.
46 p.
- Tundisi, J. G. Limnologia e Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos. Ciência & Ambiente
v. 21, p. 10-20, 2000.
Setembro/Outubro de 2007
ARTIGO TÉCNICO
PROGRAMA DE REABILITAÇÃO
DE REDES DE ÁGUA
A Experiência da Unidade
de Negócio Centro da Sabesp
ANDERSON DE MELO MARTINS1 | MARTA REGINA INOUE2 | ROBERTO ABRANCHES3
O
“Programa de Reabilitação de Redes e Adutoras da Unidade de Negócio Centro - MC”
tem por objetivo colocar em prática ações
que buscam uma melhoria operacional do sistema
de distribuição de água da Unidade de Negócio, em
atendimento às metas previstas no planejamento
operacional da unidade. São realizadas avaliações
periódicas de indicadores por Setor de Abastecimento, como, por exemplo, o número de reclamações da qualidade da água, número de vazamentos,
índice de perdas, intermitência no abastecimento,
bem como avaliação do estado estrutural das redes.
A metodologia do programa de reabilitação1 de redes pode ser aplicada a outras unidades ou empresas de saneamento, que procuram, em seu planejamento operacional, incorporar planos e ações para
melhor identificar, reparar e monitorar os impactos
ambientais decorrentes da operação do sistema de
distribuição e conseqüente envelhecimento, muitas
vezes precoce, das redes do sistema de distribuição
de água.
As etapas previstas no programa são: planejamento, estudo e aplicação de técnicas de reabilitação,
investigação de áreas críticas e avaliação de resultados pós-obra; concomitantemente às atividades,
procura-se investigar as causas da origem da formação dos tubérculos e incrustação das redes de ferro
fundido ao longo dos anos.
HISTÓRICO
Pelo que se tem notícia, desde o início dos anos 80
a empresa vem investindo no desenvolvimento de
tecnologias para reabilitação das redes de distribuição e adutoras. Numa perspectiva estruturada para
este fim, a Unidade de Negócio Centro implementou o Programa de Reabilitação de Redes no início
de 2006, com o propósito de estabelecer uma metodologia que procurava viabilizar tecnicamente os
recursos empregados, visando aperfeiçoar a capacidade de suporte hidráulico das redes de distribuição, reduzir as perdas no sistema e, principalmente,
melhorar a qualidade da água distribuída.
Uma equipe de trabalho multidisciplinar foi estruturada para identificar os setores alvos, objeto de
incrustação das redes abastecimento de ferro fundido, investigar suas causas e priorizar as áreas críticas
para execução de obras de reabilitação. A equipe é
formada por representantes da Divisão de Controle Sanitário (MCEC), Divisão de Controle de Perdas
(MCEP), Divisão de Operação de Água (MCEA), Setor
de Cadastro Técnico (MCED.2) e representantes das
áreas de Planejamento (MCI) e de Serviços e Pólos
de Manutenção (MCC).
A corrosão e a incrustação das redes de ferro fundido causam:
• aumento da perda de carga e diminuição da vazão
aduzida;
• problemas sanitários decorrentes, por exemplo,
a liberação para a água de metais constituintes da
tubulação;
• problemas organolépticos, originados da alteração da cor e do sabor da água;
• problemas econômicos, advindos, dentre outros,
da necessidade de troca das tubulações, aumento do número de intervenções para manutenção
e acréscimo do consumo de energia elétrica, para
superar a perda de carga adicional causada pelas
incrustações e pelo aumento da rugosidade das tubulações. (HELLER, 2006).
Engenheiro Civil, 2Engenheira Química, 3Tecnólogo em Obras Hidráulicas
1
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 33
Fotos, Ilustrações e Tabelas: Divulgação
ARTIGO TÉCNICO
METODOLOGIA
Fundamentado tecnicamente num estudo publicado pela Water Research Centre – WRC, “Planning
the Reabilitation of Water Distribution Systems”2, e
34 Saneas
adaptando-o às restrições e recursos disponíveis da
empresa, foi composta uma equipe de trabalho onde
foram chamados representantes das áreas de engenharia e operacionais, como o Controle Sanitário
(MCEC), Divisão de Operação Água Centro (MCEA),
Divisão de Perdas (MCEP), Cadastro (MCED.2), Planejamento (MCI) e Pólos de Manutenção (MCC).
Juntos desde março de 2006, a equipe foi consolidada e, desde então, o trabalho e a estruturação do
programa vêm se desenvolvendo. Inicialmente uma
estrutura preliminar do programa foi apresentada
ao grupo, e após algumas reuniões foram definidas
as etapas do projeto que constituíram a metodologia do programa, chegando-se a fluxogramas específicos para representação das etapas e desenvolvimento do projeto.
Conforme o andamento das ações, a metodologia
foi amplamente discutida até chegar-se à formatação de dois fluxogramas que basicamente mostram
as fases do projeto proposto, um primeiro fluxo que
contempla a primeira etapa do programa: planejamento, investigação, mapeamento e elaboração de
pacotes técnicos para implantação das obras, e outro fluxo detalhado que contempla a fase de avaliação de resultados, como apresentado no fluxograma
(1a. e 2a. etapa).
Setembro/Outubro de 2007
Dentre as ações propostas, a fase de planejamento,
investigação e diagnóstico para implementação do
programa foi realizada, restando por último, a priorização dos Setores de Abastecimento (setores mais
críticos objeto das obras).
Para tanto, a equipe definiu pesos para a ponderação
e classificação dos setores, vinculando a reabilitação
das redes ao tipo de problema apresentado:
• Qualidade de Água – Peso 3;
• Falta D’água e Pouca Pressão – Peso 2;
• Vazamentos – Peso 1.
Depois de multiplicar os pesos pelos pontos atribuídos ao setor devido ao maior número de ocorrências, chegou-se ao Mapa de Setores Prioritários, (Tabela 1, abaixo) para destino dos recursos ao longo
do ano.
No período de 2006 foram destinados recursos e investimentos para obras de melhoria do sistema de
distribuição, onde passamos a avaliar os benefícios e
resultados com base em alguns parâmetros de qualidade e eficiência hidráulica das redes e em função
das técnicas de reabilitação empregadas.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO
A SABESP utiliza largamente o ferro fundido no sistema de abastecimento da Região Metropolitana de
São Paulo - RMSP, em adutoras, subadutoras, redes
de distribuição primárias e secundárias. As linhas de
ferro fundido aplicadas no período anterior à década de 70 não contavam com revestimento interno.
Esses condutos apresentam, hoje, incrustações e
deposições que comprometem a eficiência dessas
linhas em aspectos hidráulicos e sanitários.
A degradação das condições internas das tubulações provoca não só uma maior dissipação de energia pela resistência ao escoamento (perda de carga),
com reflexos diretos no atendimento à demanda em
função das menores vazões aduzidas e ocorrência
de vazamentos, mas também são detectados aumentos na concentração de resíduos insolúveis na
água devido ao desprendimento de tubérculos. Os
resíduos provocam um aspecto visual desagradável
pelo aumento da cor acima dos padrões permitidos,
alteração do sabor, manchas em tecidos e louça sa-
SETORES PRIORITÁRIOS PARA OBRAS DE REABILITAÇÃO POR SETOR DE ABASTECIMENTO - 2007
Setor
Cambuci
Consolação
Jabaquara MC
Sumaré
Perdizes
Vila Romana
Vila Mariana
Paulista
Jd. América
Lapa
Sacomã
Cursino
Sapopemba
Vila Alpina
Brooklin MC
Vila Formosa
Pinheiros
Deriv. Sacomã
Carrão
Deriv. Brás
Ipiranga
Mooca MC
Cid. Tiradentes MC
Deriv. 3ª Divisão
Jd. S. Pedro
São Mateus MC
Vila do Encontro MC
Casa Verde MC
Jd. Da Conquista
Qualidade da Água
Peso 3
5,00
15,00
5,00
15,00
5,00
15,00
5,00
15,00
5,00
15,00
4,00
12,00
5,00
15,00
4,00
12,00
3,00
9,00
5,00
15,00
5,00
15,00
5,00
15,00
5,00
15,00
5,00
15,00
3,00
9,00
4,00
12,00
4,00
12,00
3,00
9,00
3,00
9,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
1,00
3,00
Vazamentos
Peso 1
4,00
4,00
4,00
4,00
2,00
2,00
4,00
4,00
4,00
4,00
4,00
4,00
5,00
5,00
3,00
3,00
4,00
4,00
3,00
3,00
2,00
2,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
5,00
5,00
2,00
2,00
4,00
4,00
3,00
3,00
5,00
5,00
3,00
3,00
4,00
4,00
3,00
3,00
5,00
5,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
2,00
1,00
1,00
1,00
1,00
Falta d'água
Peso 2
5,00
10,00
5,00
10,00
5,00
10,00
4,00
8,00
4,00
8,00
5,00
10,00
3,00
6,00
4,00
8,00
5,00
10,00
2,00
4,00
2,00
4,00
2,00
4,00
2,00
4,00
2,00
4,00
3,00
6,00
2,00
4,00
1,00
2,00
2,00
4,00
1,00
2,00
4,00
8,00
2,00
4,00
2,00
4,00
1,00
2,00
1,00
2,00
1,00
2,00
1,00
2,00
1,00
2,00
1,00
2,00
1,00
2,00
LEGENDA
Qualidade da Água - Peso 3
5 pontos
4 pontos
3 pontos
2 pontos
1 ponto
Falta d'água - Peso 2
5 pontos
4 pontos
3 pontos
2 pontos
1 ponto
Vazamentos - Peso 1
5 pontos
4 pontos
3 pontos
2 pontos
1 ponto
Fevereiro / 2007
Total
Setor
29,00
29,00
27,00
27,00
27,00
26,00
26,00
23,00
23,00
22,00
21,00
20,00
20,00
20,00
20,00
18,00
18,00
16,00
16,00
14,00
11,00
10,00
10,00
7,00
7,00
7,00
7,00
6,00
6,00
Cambuci
Consolação
Jabaquara MC
Sumaré
Perdizes
Vila Romana
Vila Mariana
Paulista
Jd. América
Lapa
Sacomã
Cursino
Sapopemba
Vila Alpina
Brooklin MC
Vila Formosa
Pinheiros
Deriv. Sacomã
Carrão
Deriv. Brás
Ipiranga
Mooca MC
Cid. Tiradentes MC
Deriv. 3ª Divisão
Jd. S. Pedro
São Mateus MC
Vila do Encontro MC
Casa Verde MC
Jd. Da Conquista
Prioridade:
1 (30 a 25 pontos)
2 (24 a 20 pontos)
3 (< de 20 pontos)
Tabela 1: Setores Prioritários 2007
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 35
ARTIGO TÉCNICO
nitária, obrigando freqüentes limpezas de reservatórios e filtros de hidrômetros.
Este fenômeno, conhecido como “água amarela”, impõe como forma de controle, descargas constantes
nos locais atingidos até a obtenção da qualidade
usual.
As técnicas de reabilitação empregadas vão desde
medidas convencionais (assentamento com abertura de valas) como as não-convencionais, que permitem a intervenção nas infra-estruturas enterradas
sem abertura de valas, ou abertura de valas pontuais,
minimizando assim os custos sociais e transtornos à
população urbana (métodos não-destrutivos).
As técnicas utilizadas para reabilitação das redes da
Unidade de Negócio Centro são:
recuperar as redes de distribuição são a limpeza e
revestimento com argamassa acrílica ou limpeza e
revestimento com resina epoxídica.
Novas tecnologias
Durante o desenvolvimento do programa de reabilitação também são identificados os treinamentos necessários, em face das novas tecnologias empregadas, necessidade de benchmarking3,
identificação dos problemas e prováveis soluções
das questões em função da técnica empregada, disseminação, ou seja, o repasse das informações para
aquisição de conhecimento e aprendizado da força
de trabalho.
Prevê-se também a avaliação de resultados e depoimentos dos integrantes da equipe para análise
crítica do programa por parte da alta direção da empresa.
Substituição de Redes – Método Não-Destrutivo
O serviço de substituição de rede por método nãodestrutivo é constituído por um conjunto de equipamentos e ferramentas projetadas para romper as
AVALIAÇÃO DE RESULTADOS
redes existentes que apresentam problemas estruOs serviços executados pela Unidade de Negócio
turais ou de insuficiência hidráulica, quer seja por
Centro têm se justificado pelo maior número de represença de incrustações ou comprometimento das
clamações da qualidade da água e baixa pressão nas
paredes, ou pela necessidade aumento de sua caparedes de distribuição.
cidade de transporte.
Após a estruturação do
Portanto, a substituição de Fonte: Curso Abratt/USP, 2005
programa, a determinaredes é empregada quanção do índice de perdas
do as paredes dos tubos se
por setor e a retirada de
encontram comprometidas
amostras para avaliação
estruturalmente e não mais
da condição estrutural das
se prestam à veiculação híredes passaram sistematidrica, ocasionando muitas
camente a fazer parte das
perdas no sistema.
avaliações.
Geralmente são aplicadas
A avaliação de resultados
técnicas de substituição utise dá pela medição postelizando processos de rom- Figura A: Esquema do Método “Pipe Bursting”
rior às obras e constatação
pimento da tubulação exisde permanência ou queda
tente, como o Pipe Bursting. A reabilitação da rede
dos índices anteriormente observados.
se dá por inserção com destruição, ou seja, consiste
A seguir mostramos as obras de reabilitação de rena técnica de arrebentar a tubulação existente pelo
des realizadas e em andamento, no período de 2004
uso de uma força radial de dentro da tubulação.
a 2006, na Unidade de Negócio Centro, Tabela 2:
Os fragmentos são comprimidos para o exterior e
uma nova tubulação é puxada atrás da cavidade
Qualidade da Água
formada pelo equipamento de fragmentação conPara os setores analisados, constatou-se uma queda
forme, por exemplo, mostrado no esquema ao lado,
do número de reclamações da qualidade da água,
Figura A.
Gráfico 1, e redução do volume perdido de água em
descargas para lavagem das redes, Gráfico 2.
Limpeza e Revestimento de Redes
Quando não há comprometimento estrutural das
Pressão de Abastecimento
paredes da tubulação, apenas se encontram inConstatou-se um aumento de pressão de abastecrustadas internamente, as técnicas utilizadas para
cimento após a realização de serviço de limpeza e
36 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
revestimento da tubulação, gráficos 3 e 4.
Estado Estrutural das Redes
Um item importante a ser avaliado é o estado das redes de distribuição, onde podemos avaliar
em que condições estruturais as
redes se encontram. As sondagens para retirada de amostras e
avaliação são realizadas antes e
depois dos serviços a serem executados.
Tabela 2: Obras de Reabilitação de Redes da Unidade de Negócio Centro – (2004-2006)
Fonte dos gráficos: MCEC/2006
Consumo Micromedido
Utilizando a ferramenta Signos:
Sistema de Informações Geográficas no Saneamento do cadastro técnico da Sabesp, outro
item a ser avaliado é o aumento
da capacidade de veiculação hídrica ou o aumento do consumo
micromedido após a realização dos serviços. Segundo de-
Gráfico 2: Redução do volume de descarga
de lavagem de redes (até Junho/2006)
Gráfico 1: Queda do número de reclamações
da qualidade da água (até Junho/2006)
Gráfico 3: As pressões de abastecimento (mca) antes da execução
dos serviços de limpeza e revestimento da tubulação
Gráfico 4: Aumento da pressão de abastecimento (mca) no mesmo
endereço, após a execução dos serviços de limpeza e revestimento
da tubulação, realizados em novembro de 2006
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 37
ARTIGO TÉCNICO
Na sequência: Retirada de amostra de rede,
corte da tubulação, retirada da amostra e
inspeção da fiscalização.
No destaque, análise do antes e depois dos
serviços.
monstrado no relatório da Figura
1, houve aumento de 726 m³ do
consumo micromedido de 2005
para 2006 na Rua Tajá, após a
conclusão dos serviços de reabilitação da rede de abastecimento local.
CONCLUSÃO
Quanto às reclamações dos consumidores, à qualidade da água,
às pressões nas redes de distribuição e ao índice de vazamentos, obtivemos bons resultados
após os serviços de substituição, limpeza e revestimento da
rede.
Um programa amplo de reabilitação de redes de distribuição
demanda um plano de ação
específico para sua implementação, o qual prevê um trabalho
multidisciplinar de planejamento, investigação, aplicação de
técnicas viáveis, medição e avaliação de resultados.
Figura 1: Relatório dos consumos micromedidos
antes e depois da obra
38 Saneas
Nota dos autores
Entende-se por “reabilitar” uma rede de abastecimento ações
que promovam uma intervenção física resultando uma melhora
das condições operacionais da mesma.
2
“Planning the Reabilitation of Water Distribution Systems”, Water
Research Centre – WRC, obra disponível para consulta na Biblioteca Sabesp, gentilmente traduzida e cedida pelo Engº Guaraci L.
Sarzedas / Superintendência de Planejamento e Desenvolvimento da Metropolitana - MP - Sabesp (tradução livre e sem fins lucrativos).
1
Referências Bibliográficas
- BRILHANTE, O. M.(coord.). Gestão e avaliação de risco em saúde
ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999.
- HELLER, L. & PÁDULA . L. (orgs). Abastecimento de água para
consumo humano – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
- VENTURINI, M A A G – Metodologia de Análise e Decisão Multicriterial para a Reabilitação de Sistemas de Abastecimento de Água
– São Paulo: Unicamp, 2003.
- JACOBI P, coord. Problemas ambientais e qualidade de vida na
cidade de São Paulo: percepções, práticas, e atitudes dos moradores. São Paulo: CEDEC; 1994.
- EVINS, C.; STEPHENSON, G.; WARREN, I.C.; WILLIAMS, S.M.
Planning the reabilitation of water distribution systems. Wiltshire:
WRC - Water Research Centre, 1989.
- RIBEIRO, R. & VARGAS H. C. Novos Instrumentos de Gestão Ambiental Urbana. São Paulo: Edusp, 2001.
<+> Colaboração:
- Amarildo Miguel - Tecnólogo em Edifícios
- Genival Abdias de Carvalho - Tecnólogo em Edifícios
- Hilton Alexandre de Oliveira - Tecnólogo em Obras Hidráulicas,
- Márcio Luiz Rocha de Paula Fernandes - Bacharel em Química
- Maria Silvia Polisaitis Ramos Oliveira - Engenheiro Civil
- Ricardo Chinaglia - Tecnólogo em Movimento de Terra e
Pavimentação
- Sandro Waiteman Peretto - Tecnólogo em Processamento de
Dados.
Setembro/Outubro de 2007
ARTIGO TÉCNICO
BIODIVERSIDADE
Mecanismos de
Desenvolvimento
Limpo e Créditos de Carbono
ILVA MARTINS NERY1
A
questão ambiental vem se agravando quotidianamente e as previsões são assustadoras,
como a que anuncia a falta de água no Planeta para o ano de 20251 .
O jornalista João Paulo Charleaux2 publicou uma
matéria sob o título: “Água na fervura – guerras pela
água já acontecem” – na qual descreve a situação da
água em diversos países.
São Paulo, “carro-chefe” do país, também não tem
situação confortável, pois, há muito vem importando água do sul de Minas, mormente das bacias do
Jaguari, Piracicaba, Campinas, Jundiaí, entre outras.
A represa Billings e a Guarapiranga sofrem processo
de degradação ambiental por causa da ocupação
desordenada das áreas de mananciais, e o Sistema
Cantareira está caminhando no mesmo sentido.
Urge que o Poder Público fique em alerta total, para
impedir mais esse crescimento desordenado que,
por certo, causará graves transtornos sociais.
No Brasil, várias regiões metropolitanas como São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul, entre outras, sofrem com seus rios poluídos e
áreas degradadas.
Os recursos hídricos, de modo geral, estão poluídos.
Nossa atmosfera exala gases produzidos pelas indústrias químicas e pela queima de combustíveis fósseis. Com os olhos voltados para citados problemas,
procuramos focar a Biodiversidade do país, concei-
tuando-a e destacando seu papel de vanguarda no
cenário nacional.
Sendo o Brasil um dos maiores detentores de Biodiversidade do mundo, procuramos lembrar que a
responsabilidade da comunidade na fiscalização das
áreas de restrição ambiental é primordial, pois a cobiça dessa riqueza tem levado à prática da biopirataria por parte dos alienígenas.
No tema “Biodiversidade - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono” – verificamos
que, além das áreas de restrição de valor inestimável
para o clima e para as águas, ela dá ensejo a vários
projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, estimulando o seqüestro de carbono, que visa
ser mais uma commodity no Mercado da Bolsa de
Valores.
Durante o desenvolvimento do presente texto, procuramos envidar esforços para demonstrar que a
exploração dos recursos naturais, como vem sendo feita, causa prejuízos irreversíveis, pois devasta
as florestas, seca mananciais, destrói a flora nativa,
empeçonha a fauna, exaspera o clima, dá ensejo à
erosão e à desertificação, e contribui sobremaneira
para expansão dos gases
do efeito estufa. Segundo
os especialistas, precisamos reverter essa situação
com urgência.
Advogada, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Ciências Ambientais
e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Direito
Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Mestranda em Direitos
Difusos e Coletivos na Universidade Metropolitana de Santos.
E-mail: [email protected]
1
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 39
ARTIGO TÉCNICO
IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE E RESERVA LEGAL, PARA AS ÁGUAS
E PARA O CLIMA, E SEU VALOR ECONÔMICO, EM
FACE DO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO
LIMPO
O Brasil adotou o respeito à função social da propriedade e ao ambiente ecologicamente equilibrado, por tal motivo deve intervir o Poder Público nas
hipóteses de desobediência, quando trata de desapropriação, parcelamento ou edificação compulsórios e imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo, e a proibição
de condutas lesivas ao meio ambiente, sob pena de
sanções penais, administrativos e civis, (arts. 182 § 3º
e 4º, incisos I e II e § 3º do 225 da CF).
Assim sendo, o Poder Público age de forma preventiva, ou seja, planeja e cria áreas verdes, com o
objetivo de assegurar a proteção e conservação
ambiental, quando cria as Áreas de Preservação
Permanente (APP), que segundo o Código Florestal
(Lei nº 4771/1965 art. 2º), protege as margens dos
recursos hídricos, como rios, lagoas, córregos, além
de topos de morros, encostas etc. O Código Florestal, ao longo do tempo, foi sofrendo alterações, sendo complementado pelas Resoluções do CONAMA
(entre elas as R. C. nºs 302 e 303, de 20 de março
de 20023), e outros instrumentos, para a realização
de um ambiente ecologicamente equilibrado, a
partir da ordenação territorial, como uma espécie
de limitação administrativa.
Neste contexto, o Parecer4 apresentado pela Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Sustentável em
Milão, e acolhido pelo Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico (SBSTA), em inglês,
da lavra das advogadas especialistas em Direito Ambiental, Lucila F.de Lima e Flávia Frangetto, dentro
do tema Crédito de Carbono, abordou assunto relativo aos Proprietários de terras de áreas protegidas,
observando que eles podem lucrar com projetos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL.
As autoras apresentam uma analogia das Reservas
Legais, com as Áreas de Preservação Permanente5:
“A Reserva Florestal Legal é uma porcentagem de
cada propriedade, onde está vetado o corte raso,
exatamente porque é locacional e quantitativamente variável, demanda averbação. Não se trata, parece
evidente, de modalidade de preservação, como é o
caso da APP, mas de conservação, posto que admissível o uso direto, desde que com manejo.”
Das APPs já tratamos alhures; assim, tendo em vista
40 Saneas
a importância dessas áreas protegidas, veio a lume
a Lei Federal nº 9.605/1998, mais conhecida como
Lei de Crimes Ambientais. É importante lembrar que
toda vez que o usuário desses espaços protegidos
infringir o Código Florestal e outras leis esparsas, poderá ser incriminado nos âmbitos penal, civil e administrativo (art. 225, § 3º 6).
O estudo de Lima e Fragetto7 aponta que a utilização do MDL em atividades florestais apresenta potencial de viabilizar a recomposição de áreas objeto
de proteção obrigatória que estejam degradadas ou
com sua função social prejudicada8, incentivando
seus proprietários a adotarem esse novo instrumento que pode ter um viés econômico, e, ao mesmo
tempo, ajuda a amenizar o clima.
DADOS DO RELATÓRIO DO PAINEL
INTERGOVERNAMENTAL DE MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
Matérias sobre mudanças climáticas são publicadas
na mídia diariamente, mas o Relatório9 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC, o
mais respeitado documento sobre o tema no mundo, demonstra claramente que o aquecimento atual
é praticado por um estilo de vida iniciado na Revolução Industrial e ainda praticado pelos 6,5 bilhões de
habitantes. E por tal “estilo de vida” deve ser entendido o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento
em larga escala.
A concentração dos três principais gases-estufa dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido
nítrico (N2) – vem crescendo constantemente e degradando a qualidade ambiental do planeta. Em virtude disso, há previsão de que os oceanos subirão,
ameaçando ilhas e cidades costeiras e que de 10 a
20% da floresta Amazônica será dizimada, virando
cerrado.
Diante da situação caótica do clima, diversos países vêm promovendo eventos em busca de soluções; entre eles, podemos citar o Seminário realizado em 24 de março de 2004 pela Secretaria de
Meio Ambiente10 de São Paulo, sob tema: “Créditos
de carbono contribuindo para a solução da gestão
de resíduos sólidos”, do qual participaram diversos
representantes dos governos federal, estadual e
municipal, organizações não-governamentais e empresários do setor de resíduos sólidos. Nesse evento
foram dados como exemplos os projetos brasileiros
aprovados para a redução das emissões de gás metano em aterros, ou seja, o aterro “Veja” em Salvador,
Setembro/Outubro de 2007
na Bahia, e o aterro “Nova Gerar” de Nova Iguaçu, no
Rio de Janeiro, os quais constituem a base metodológica para empreendimentos similares. Em outro
evento promovido pelo SENAC11, foram discutidas
as oportunidades para que pequenos projetos possam também reduzir a emissão de gás carbônico.
Segundo estudiosos do assunto, o Brasil é líder em
projetos para a venda de créditos de carbono, sendo
esta uma atividade econômica com grande potencial a ser explorado12.
É de conhecimento geral que apesar de o Brasil ser
um país em desenvolvimento, com grandes desigualdades sociais, também é detentor da maior biodiversidade ou diversidade do mundo, que segundo
Édis Milaré13 é a variedade de indivíduos, comunidades, populações, espécies e ecossistemas existentes
em uma determinada região.
E de olho nessa riqueza, surgiu a biopirataria,14 que
para seu controle, depende de vontade governamental, a ser manifestada através de políticas públicas, como por exemplo, o Projeto de Lei n°306 de
1995, proposto pela então Senadora Marina Silva15,
e enviado para a Câmara dos Deputados, ainda
aguardando votação.
CONCLUSÃO
Tendo em vista todas as colocações apresentadas
no curso deste texto, notamos que razão assiste aos
mestres Fiorillo e Diaféria16 quando apontam “a necessidade de uma maior conscientização do que venha a ser a dignidade da pessoa humana, qualidade
de vida e sua salubridade, em face do desenvolvimento
econômico crescente e de todo o regramento jurídico
já existente para dar suporte à manutenção da Biodiversidade do planeta e, principalmente, para a preservação humana”.
Sendo as Áreas de Preservação Permanente (APP) e
Reservas Legais imprescindíveis para a preservação
e conservação dos recursos naturais, entre elas, a
água, fundamental para a sobrevivência do planeta,
cabendo a cada cidadão a vigilância, e a fiscalização
por parte do Estado. Citadas medidas são de rigor,
nos termos do art. 22517, caput, da Lei Maior. Por
outro lado, as áreas protegidas vêm dando ensejo
a grande quantidade de projetos de Mecanismo de
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Setembro/Outubro de 2007
Saneas
ARTIGO TÉCNICO
Desenvolvimento Limpo (MDL), de imenso valor
instrumental para a realização de redução dos
Gases de Efeito Estufa – (GEE), tão importante
para amenizar o clima.
Caso não sejam priorizados instrumentos para
amenizar o clima, como a redução de gases do
efeito estufa, a diminuição do uso de combustíveis fósseis e a devida importância das áreas de
restrição, a tendência será cada vez mais a elevação do aquecimento da Terra e mais freqüentes
serão as inundações, o desmatamento, o assoreamento dos recursos hídricos, as queimadas, a falta de alimentos e de água, sendo certo que esta
última será causa de futuras guerras mundiais,
segundo os mais pessimistas18.
Sobre a importância da Educação, e para arrematar este texto, deixamos registradas as sábias palavras da Profª Maria Cecília Focesi Peliocione19:
“Valores éticos tais como a equidade, a solidariedade, e a
justiça social devem ser usados a serviço de opções conscientes. Um dos principais papéis da Educação é então,
incrementar a capacidade das pessoas de transformar
suas idéias sobre a sociedade, em realidades funcionais
imprescindíveis para que a humanidade possa então modificar sua trajetória e melhorar sua qualidade de vida.”
Referências Bibliografias:
- CHARLEAUX, João Paulo. Água na fervura –
guerras pela água já acontecem. Revista Caros
Amigos, editora Casa Amarela, janeiro de 2002.
http//www.meioambientecarbono.adv/pdf/parecer_
valor.pdf, acesso em 19/3/2007.
- LIMA Lucila Fernandes, e FRANGETTO, Flávia Witkowski. “Parecer jurídico apresentado pela Sociedade
Brasileira de Desenvolvimento Sustentável em Milão
e acolhido pela SBSTA”, site: Jornal da Tarde. “Aquecimento Global”, de 3/2/2007, pp. 7-A-8-A.
h t t p : / / w w w. a m b i e n t e . s p . g o v. b r / d e s t a q u e /
2004´marco/24worshop.htm acesso em 22/3/2005.
Jornal da Tarde. – “JT Cidadão:Créditos de carbônico:
como obter?” , de 2/6/07, p.15-A.
- MILLIARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina,
prática, jurisprudência, glossário. São Paulo. Ed.
Revista dos Tribuanis, 2000, p.662
- SILVA, Marina. Publicação do Gabinete da Senadora,
Brasília, 2002. Disponível em http://www.amazonlink.
org/biopirataria/biopirataria_faq.htm
- FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito
ambiental brasileiro. São Paulo, Max Limonad, 1999.
PELICIONI, Maria Cecília Focesi. “As interrelações entre
a educação, saúde e meio ambiente”. Biológico. São
Paulo.v.n.2.p.75-78, jul/dez,1999
Caros Amigos, janeiro 2002, p.35 –“O governo do Egito, por exemplo, disse com todas as letras que, se a Etiópia retirar mais uma gota
de água do rio Nilo, o ato seria interpretado como uma declaração de guerra. Leve-se em conta que 80 por cento desse rio vêm da
Etiópia e tem-se um cenário de barril de pólvora na região. (...) Só na África, são onze os países que têm dificuldades com a água.
No Oriente Médio, são nove. A situação também é desconfortável no México, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos.”
2
idem
3
Resolução CONAMA n. 302 – dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios
artificiais e o regime de uso do entorno. A Resolução CONAMA n. 303, dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.
4
www.meioambientecarbono.adv.br/pdf/parecer_valor.pdf
5
“Considerando as diferenças de ambas, elas apresentam-se convergentes, ante o fato de representarem a vinculação do território a
uma margem regrada de padrões de uso da terra e respectivos recursos ambientais por força de qualidades ambientais próprias (por
exemplo, formas de vegetação destinadas a atenuar a erosão das terras; função de fixar as dunas conforme a listagem do art. 3º do
Código Florestal)... Nesse sentido, encontramos os conceitos a APP e de Reserva Legal, na Medida Provisória 2166-67 de 24 de agosto
de 2001(anexo IV)”.
6
Art. 225 da CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” § 3º do ar. 225: “As condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”
7
www.meioambientecarbono.adv.br/pdf/parecer_valor.pdf
8
Afirmam que o retorno financeiro proveniente da geração de créditos de carbono, na figura do Certificado de Emissão Reduzida (CER)
vem como exploração econômica indireta: o objeto imediato (retorno direto) é a conformação com a redução de GEE para a mitigação
do aquecimento global e incremento do desenvolvimento sustentável.
9
Jornal da Tarde de 3/2/2007. “Aquecimento Global”, pp. 7-A-8-A
10
http://www.ambiente.sp.gov.br/destaque/2004’maco/24_worshop.htm Acesso em 22/3/2005
11
Jornal da Tarde – “JT Cidadão . 15-A: Créditos de Carbono: como obter?” , 2/6/2007
12
Idem. Atualmente, o Brasil é o país com a maior quantidade de projetos de MDL – o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em análise no Banco Mundial, visando à venda de créditos de carbono. Dados do Banco Mundial relativos aos anos de 2002 e 2003 revelam
que a América Latina é responsável por 60% das vendas mundiais já negociadas. E nesse mesmo período, pelo lado dos compradores,
os destaques são a Holanda, responsável por 30% das aquisições, e o Japão, que já responde por 23%.
13
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente:doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais, 2000, p.662.
14
“Biopirataria consiste no ato de aceder a ou transferir recurso genético (animal ou vegetal) e/ou conhecimento tradicional associado
à Biodiversidade, sem a expressa autorização do Estado de onde fora extraído o recurso ou da comunidade tradicional que desenvolveu e manteve determinado conhecimento ao longo dos tempos (prática esta que infringe as disposições vinculantes da Convenção
das Organizações das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica).”- disponível: http://www.amazonlink.org/biopirataria_faq.htm
15
SILVA, Marina. Publicação do Gabinete da Senadora, Brasília.2002.
16
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São
Paulo, Editora Max Limonad, 1999.
17
Artigo já descrito.
18
CHAREAUX, João Paulo. Op. cit.
19
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, “As interrelações entre educação, saúde e meio ambiente”. São Paulo,
Biológico, V. 2.p.78, jul/dez.1999.
1
42 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
MEIO AMBIENTE
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
PARA O PAÍS
FERNANDO ALMEIDA1
H
á dez anos, um grupo de líderes empresariais
com visão de futuro fundou o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável. Nascia, em março de 1997, uma instituição revolucionária no Brasil, a primeira a trabalhar
de forma integrada e articulada, com as três dimensões da sustentabilidade – a econômica, a social e
a ambiental. O CEBDS é uma coalizão de grandes
empresas instaladas em nosso país e faz parte da
rede de 50 conselhos nacionais do WBCSD, o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável. O CEBDS representa hoje 50 dos mais
expressivos grupos empresariais brasileiros, com
representação em todos os segmentos: de bens de
consumo a construção civil, passando pelo sistema
financeiro e os setores de metalurgia, siderurgia, petróleo e prestação de serviços. Esses grupos geram
mais de 600 mil empregos diretos e são responsáveis por mais de 40% do PIB nacional.
A fundação do CEBDS faz parte de um contexto histórico, que tem origem no movimento ambientalista
mundial no início dos anos 70 e ganha forma e conteúdo a partir da publicação do Relatório Brundtland,
documento lançado em 1987 e que apresentou para
o mundo a expressão “desenvolvimento sustentável”. O relatório recebeu este nome em homenagem
à então primeira-ministra da Noruega Gro Harlem
Brundtland, grande líder do país que hospedou os
21 membros de uma comissão nomeada pela ONU
para estudar e propor uma agenda global com objetivos bem definidos: capacitar a humanidade para
enfrentar os principais problemas ambientais do
planeta e assegurar o progresso humano sem comprometer os recursos para as futuras gerações. Por
indicação dos membros da Comissão Brundtland,
foi realizada no Rio de Janeiro, cinco anos mais tarde, a II Conferência Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficaria conhecida como
Rio-92. Foi um marco do início da mobilização dos
empresários, mesmo considerando que, naquela
época, as empresas eram os principais alvos de críticas dos ambientalistas.
Na Rio-92, que reuniu 170 chefes de Estado, o líder
empresarial suíço Stephan Schmidheiny deu a partida para o envolvimento do setor na implementação
do desenvolvimento sustentável. Fez um discurso
solitário e ouvido com desconfiança por expressiva parcela dos participantes. Mas marcou a posição
que iria prevalecer nos anos seguintes, a de que as
empresas são parte fundamental e imprescindível
do novo modelo de desenvolvimento concebido
cinco anos antes em Estocolmo.
Como resultado prático da Rio-92, foram elaboradas
as grandes convenções globais, como a do clima e
da biodiversidade, que passariam a nortear, hoje
de forma mais expressiva, as políticas de desenvolvimento. A partir daquela conferência novos conceitos surgiram e foram aperfeiçoados, como ecoeficiência, responsabilidade social e tantos outros,
todos convergindo para a compreensão definitiva
de que a sobrevivência das futuras gerações - e do
próprio mercado econômico - só será assegurada
com a adoção de mecanismos capazes de conciliar
produção de bens e serviços com a preservação dos
recursos naturais e do bem-estar social. Até então,
a preocupação com a perenidade dos recursos naturais restringia-se às ONGs ambientalistas, a uma
elite do meio acadêmico e, isoladamente, a alguns
representantes do meio político, representados
pelos chamados partidos “verdes”. O discurso de Schmidheiny
ganhou força e a elite
do setor empresarial
passou a se organizar.
Esse processo deu ori-
Engenheiro, presidente executivo do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), professor da UFRJ e autor do livro “Os Desafios da Sustentabilidade: Uma Ruptura
Urgente”.
1
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 43
MEIO AMBIENTE
gem ao WBCSD e, conseqüentemente, aos conselhos nacionais.
Hoje, é incontestável a evolução
de representativa parcela das
empresas no contexto da sustentabilidade, embora ainda estejamos muito distante do nível de
adesão satisfatório. A redefinição
do modelo de gestão empresarial tem sido motivada por razões
éticas e pragmáticas. Os líderes empresariais alinhados com
esse contexto perceberam que
a sustentabilidade representa a
sobrevivência de sua atividade
econômica, transforma desafios
em novas oportunidades de negócios e amplia os ativos intangíveis de sua empresa.
Em 2002, em Johanesburgo, na
África do Sul, realizou-se a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. Além de
avaliar o que aconteceu de mais
significativo nos dez anos anteriores (de positivo e de negativo), este encontro registrou dois
acontecimentos que merecem
destaque. Um deles foi a assinatura de um documento, no qual
as nações comprometeram-se a
cumprir metas ambientais e sociais, como também as propostas
contidas nas convenções globais
elaboradas dez anos antes. O outro destaque deve ser creditado
à presença do setor empresarial.
Ao contrário do que acontecera
na Rio-92, as empresas tiveram
uma participação marcante na
reunião de Johanesburgo. Nesta conferência da África do Sul,
o CEBDS, fundado cinco anos
antes, já fazia parte como ativo
protagonista da história. O Conselho teve participação decisiva
na mobilização do setor empresarial brasileiro naquele evento
internacional.
Outros fatos de grande relevância aconteceram em seguida,
como a divulgação, em março
de 2005, do relatório Millennium
Ecosystem Assessment (Avaliação Sistêmica do Milênio), estudo
44 Saneas
realizado com suporte da ONU,
WBCSD, Nasa, e em parceria com
outras instituições empresariais,
acadêmicas e da sociedade civil
de todo o mundo. Desenvolvido
por 1.360 cientistas de 95 países
e supervisionado por um Conselho Executivo, do qual tive a
honra de fazer parte, o relatório
constatou, cientificamente, que
hoje 60% dos serviços dos ecossistemas do planeta – tais como
água doce, pesca, regulação do
solo e do clima – registram alto
grau de degradação ou são usados de forma insustentável. E
traz uma advertência: este processo nocivo tende a agravar-se
nos próximos 50 anos, colocando em risco a sobrevivência das
futuras gerações.
“Os líderes
empresariais
alinhados com esse
contexto
perceberam que a
sustentabilidade
representa a
sobrevivência de sua
atividade
econômica”
Mais recentemente, no início de
2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) divulgou a primeira parte
de seu relatório, no qual ficou
cientificamente comprovada a
tese de que o aquecimento global é decorrente da ação do homem e não de um fenômeno natural. O IPCC revelou ainda que,
ao contrário da tese defendida
por algumas correntes, as inovações tecnológicas, isoladamente,
não serão capazes de reverter a
curva ascendente da elevação da
temperatura do planeta.
Uma década – dentro de uma
escala de tempo - nos permite
refletir com mais precisão onde
Setembro/Outubro de 2007
chegamos e aonde vamos. Nesses dez anos, obtivemos provas
contundentes de que o modelo
de desenvolvimento tradicional
(predador, excludente e insustentável) é inviável sob todos os
aspectos. Os recentes relatórios
científicos citados acima explicam as razões das freqüentes e
intensas reações da natureza e o
acirramento dos conflitos sociais.
Contudo, não podemos negar
que o entendimento e a aceitação em relação ao tema são cada
vez maiores.
Há dez anos, não havia sequer
qualquer tipo de aproximação
com a questão da responsabilidade social, salvo raras exceções e, assim mesmo, com o viés
filantrópico e assistencialista.
Temas como clima, água e biodiversidade eram incipientes e
desacreditados. Houve significativas mudanças positivas: os
grupos empresariais do país hoje
buscam conduzir seus negócios
na direção da sustentabilidade;
instituições que originalmente
abordavam apenas a questão social ou se limitavam a trabalhar
na área ambiental migram para
o desenvolvimento sustentável;
os temas centrais conquistam
finalmente o merecido espaço
na mídia. Como representante
das empresas, o CEBDS tem desempenhado papel fundamental
nesse processo de entendimento, aprofundando o diálogo com
seus interlocutores e democratizando o conhecimento. Além do
envolvimento crescente do setor empresarial nesse processo,
o trabalho do Conselho exerce
forte influência sobre outros setores chaves da sociedade, como
governos, ONGs, universidades.
Por intermédio de suas câmaras
técnicas e pela interface com o
WBCSD, o CEBDS tem cumprido
com sucesso sua missão de facilitador, provedor, defensor, comunicador e catalisador, abrindo
espaço para uma nova visão so-
bre o papel da empresa na sociedade e capacitando
seus gestores. Atualmente, são sete as câmaras técnicas: Água; Biodiversidade e Biotecnologia, Educação para a Sustentabilidade, Energia e Mudança do
Clima, Finanças Sustentáveis, Legislação Ambiental
e Responsabilidade Corporativa. Agora, estamos em
vias de montar a Câmara Técnica de Construção Sustentável. As câmaras têm coordenação de um técnico do CEBDS e são presididas por representantes
das empresas associadas. Essa capacitação técnica
vem abrindo espaço para o CEBDS ter acesso, como
representante do setor empresarial, em importantes
órgãos institucionais, tais como Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21
(CPDS), Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), Comitê Gestor de Produção Mais Limpa,
Comissão Organizadora da II Conferência Nacional
de Meio Ambiente, Fórum de Competitividade de
Biotecnologia, delegações brasileiras nas reuniões
da Conferência das Partes de Mudanças Climáticas
e de Biodiversidade.
Hoje, já há o reconhecimento de que a mobilização
do setor empresarial será decisiva para transformar
a potencialidade brasileira em diferentes campos –
energia, biodiversidade, recursos hídricos - em desenvolvimento econômico, com inclusão social e
uso racional e sustentável dos recursos naturais.
Estamos, agora, diante de novos desafios. Ao mesmo
tempo em que consolidamos a posição das empresas de visão em alto estágio de reputação, precisamos continuar olhando para o futuro.
Há muito o que fazer. Não podemos perder a perspectiva do senso de urgência. Devemos ter clareza, por exemplo, sobre as dicotomias com as quais
ainda convivemos: a empresa que mais faturou no
mundo em 2006 é considerada o ícone do capitalismo selvagem, financiando movimentos a favor da
manutenção da emissão de gases de efeito estufa.
Fatos como estes explicam em parte por que ainda
não chegamos a resultados que modifiquem a tendência de degradação.
Assim como na natureza, existem os dilemas institucionais. Ambos, como tudo o que acontece na vida
real, estão intimamente relacionados. Os dilemas da
natureza ganharam, a partir de agora, grande espaço na mídia. O aquecimento global tem efeito avassalador em qualquer ecossistema e passou a fazer
parte da agenda de prioridades. Paradoxalmente, as
conseqüências nefastas deste fenômeno provocado
pela ação do homem facilitarão o entendimento de
que a atividade econômica, a perenidade dos recursos naturais e as políticas sociais não podem ser tratadas de forma fragmentada.
Institucionalmente, vejo a questão da liderança
como o maior desafio: ainda não apareceu um líder,
um estadista capaz de conduzir a humanidade na di-
reção da sustentabilidade, tal como aconteceu nos
movimentos pacifistas e contra o racismo num passado recente. A complexidade e transversalidade do
tema dificultam o discurso unificado. Numa relação
de causa e efeito, não temos massa crítica de líderes,
seja na sociedade civil, seja no governo, seja no setor
privado. Estamos cada vez mais convencidos de que
a chave para a necessária e urgente formação de lideranças está na democratização e aprofundamento
do conhecimento e na nossa capacidade de tornar
rotina a prática de compartilhar experiências, envolvendo sempre os principais setores da sociedade –
empresas, governos e entidades civis.
A formação de líderes da sustentabilidade – seja no
âmbito das empresas, das instituições governamentais ou da sociedade civil – tem sido, nos últimos
anos, uma das principais estratégias do CEBDS. Em
2005, realizamos o 1º Congresso Ibero-Americano
sobre Desenvolvimento Sustentável, o Sustentável2005, reunindo mais de mil participantes na Marina
Glória, no Rio de Janeiro. Foi uma experiência inédita no país. No ano seguinte, realizamos o Ciclo de
Debates Sustentável-2006, no qual empresários e
executivos do país tiveram oportunidade de discutir
sustentabilidade com os maiores especialistas brasileiros e internacionais. Estes dois eventos explicam
o sucesso absoluto do 2° Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável e a Feira de
Sustentabilidade, promovido em maio de 2007 no
Parque Ibirapuera, em São Paulo. Durante três dias,
o Sustentável-2007 atraiu 3.300 participantes para
o Congresso e aproximadamente 20 mil visitantes
para a exposição montada na Marquise do Ibirapuera. A estratégia terá continuidade. Em 2008, realizaremos um novo ciclo de debates com participação
de empresários e especialistas, em várias capitais do
Brasil. E em 2009, estaremos novamente reunidos
no 3º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável. Nesses dois próximos eventos, a
tendência é que sejam realizados em outras capitais
do país, fora do eixo Rio-São Paulo. Há uma crescente mobilização de empresas, ONGs, universidades e
demais entidades da sociedade civil organizada em
torno da sustentabilidade.
Já conhecemos o caminho. Precisamos agora estar
atentos para o senso de urgência e optar pela melhor maneira de imprimir as mudanças. Se formos
capazes de estabelecer relações transparentes entre
as instituições – empresas, governos e sociedade
civil organizada – e pôr em prática um modelo de
desenvolvimento que atenda de forma equilibrada
e sustentável as demandas econômica, social e ambiental, estaremos comemorando, daqui a dez anos,
a estabilização da perda de biodiversidade, do aquecimento global e a reversão do quadro de pobreza
ainda presente em nosso país e em várias regiões do
planeta.
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 45
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
O TEMPO DO RIO TIETÊ
Um rio de contrastes e múltiplos usos
WANDERLEY DA SILVA PAGANINI1
O
rio Tietê, parte integrante da vida dos paulistas, tem uma história de contrastes, de
múltiplas faces, de múltiplos usos.
Ao iniciar este texto trazia em mente a imagem do
futuro, do tempo que será necessário para que o
Tietê possa “ressuscitar” no trecho em que atravessa
a cidade de São Paulo e seus arredores: tempo, investimentos, recursos diversos, ligações de esgotos,
coleta de esgotos, tratamento de esgotos, industrialização, crescimento urbano, controle da poluição, nos tantos equacionamentos necessários para
devolver a vida ao rio.
Foram muitos os investimentos realizados até agora. No Programa de Despoluição do Rio Tietê, conhecido como “Projeto Tietê”, criado em 1992, já foram investidos recursos que somaram R$ 1,1 bilhão
até 1998, com outros R$ 400 milhões previstos para
investimento no período compreendido entre 1998
até o final de 2007. A população da cidade “tropeça”
diariamente nas obras da despoluição. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
colocou em operação três novas estações de tratamento de esgotos no ano de 1996, e passados 15
anos desde o histórico ano de 1992, quando a cidade finalmente despertou e decidiu olhar para o seu
rio e tentar mudar seu destino, ainda encontramos
nos jornais manchetes anunciando “Retrocesso no
Tietê”. Passado o impacto inicial, vem à cabeça a
imagem do tempo demandado até que finalmente se promova a completa recuperação do rio. Buscando respostas, analisando a história do Tietê para
encontrar as explicações, a única idéia que surge é
a do “tempo passado”. É preciso recontar aos paulis-
tanos a história do Tietê, e também lhes mostrar as
outras faces do rio e tudo que ele representou e ainda representa para o desenvolvimento de São Paulo
e do país. É preciso que se conheça também, a sua
outra realidade, vivenciada pela população do interior de São Paulo, especialmente após a represa da
Barra Bonita, onde o rio está vivo e em nada se assemelhando com as águas lentas que cortam a cidade
de São Paulo transportando entulho. No interior, o
Tietê é fonte de lazer e alimento, e sua participação
no cotidiano das pessoas é altamente benéfica.
Para poluir, basta um ato. Por outro lado, a despoluição não ocorre da mesma forma, necessitando de
inúmeras ações integradas para acontecer, podendo ser definida como um processo longo e complexo, que exige controle social, mudança de postura
e uma nova cultura frente à utilização dos recursos
hídricos. A participação efetiva da sociedade neste
processo é fundamental para se atingir os resultados esperados. Para tanto, é preciso envolvimento.
E esse breve tempo dedicado a estudar a história
do Tietê, já foi suficiente para uma grande comoção, e revendo os fatos, onde a história do Tietê se
confunde com a própria história de São Paulo e de
sua gente, a bandeira que se levanta é a de que “não
podemos esmorecer”.
Por meio do Tietê, bandeirantes desbravaram terras em busca de riquezas, colonizaram o interior
e transportaram pessoas
e mercadorias, transformando o rio em uma estrada fluvial. O Tietê serviu
ainda de cenário para o
Engenheiro Civil e Sanitarista, Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo - USP, Superintendente de Gestão Ambiental da Diretoria de Tecnologia,
Empreendimentos e Meio Ambiente da SABESP. Professor Associado da Faculdade de Saúde Pública USP. Em 2007 defendeu sua tese de livre-docência intitulada: “A identidade de um rio de contrastes: o
Tietê e seus múltiplos usos”
1
46 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
e parte de Barra Bonita, Índices
de Qualidade de Água Bruta para
Fins de Abastecimento Público IAP como ótimo, e bom para as
demais represas do Tietê.
Pode-se afirmar ainda, que a seqüência de ambientes lênticos
e semi-lóticos formados pelas
grandes represas situadas em
seu curso após a Região Metropolitana (Barra Bonita, Bariri,
Ibitinga, Promissão, Nova Avanhandava e Três Irmãos), auxilia
no processo de autodepuração
e proporciona a gradativa melhoria da qualidade das águas.
Os novos ecossistemas gerados
a partir desses grandes lagos, associados às crescentes iniciativas
relacionadas ao tratamento de
esgotos, ao processo natural de
autodepuração proporcionado
pela exposição de seus espelhos
d’água e pela simbiose entre algas e bactérias, bem como pelas
quedas d’água e corredeiras existentes logo após a Região Metropolitana de São Paulo, acarretam
uma melhoria na qualidade da
água do Tietê, possibilitando
múltiplos usos a partir da região
do município de Anhembi, no reservatório da Barra Bonita.
Há que se ressaltar também, o
incremento das iniciativas voltadas à conscientização da população e a articulação dos poderes
públicos e privados, promovidos
pelos Comitês de Bacias Hidrográficas e o importante papel da
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB),
para o monitoramento e controle da qualidade das águas.
Não bastam os investimentos em
obras civis direcionados ao tratamento dos esgotos sanitários. Há
um longo caminho a ser percorrido até que se resgate a vida do
Tietê. A educação ambiental e a
conscientização da sociedade,
também são fundamentais para
a melhoria ambiental.
É chegado o tempo de “abraçar”
o rio. E levará tempo para que
ele se recupere e tenha vida novamente na cidade de São Paulo.
Mas ainda que seja longo “o tempo do rio”, maior é o nosso, até
que se aprenda um novo modo
de vida. É preciso aprender a
exercer o direito de utilização
dos recursos naturais de maneira sustentável, defendendo-os
e preservando-os, para que seja
possível a sobrevivência das gerações futuras. Leva tempo: “o
tempo do rio”, mas não vamos
esmorecer.
Crédito: Divulgação
desenvolvimento de inúmeras
cidades ao longo de seu eixo
que aproveitam suas águas de
múltiplas formas, e inserido no
contexto urbano, foi moldado,
no que se assemelha a uma seqüência de grandes lagos, para
gerar energia elétrica, sendo
também adaptado às necessidades da navegação, da agricultura
e do turismo.
Se considerarmos o crescimento populacional e a expansão
no número de indústrias experimentado pela Bacia do Tietê nos
últimos anos, é possível afirmar
que as condições do rio hoje
estariam muito piores caso não
tivessem sido adotadas as medidas sanitárias e ambientais para
recuperação do Tietê na Região
Metropolitana de São Paulo, no
decorrer da década de 1990.
Analisando-se os dados históricos disponibilizados pela agência ambiental, são evidentes os
sinais de melhoria da qualidade
das águas rio. No primeiro Plano
Estadual de Recursos Hídricos do
Estado de São Paulo elaborado
em 1990, verifica-se que as represas formadas pelos barramentos
do Tietê, apresentavam bons Índices de Qualidade das Águas –
IQA, denotando que as águas
eram de boa qualidade, porém
com tendência a piorar. Já o Relatório de Situação dos Recursos
Hídricos do Estado de São Paulo, elaborado no Plano Estadual
de Recursos Hídricos de 2002,
com dados de 2000, apresentou
o lago de Três Irmãos com IQA
ótimo e tendência indefinida, e
os demais com IQA bom, com
tendência indefinida. O relatório
de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo edição de 2005, apresenta para
Três Irmãos, Nova Avanhandava
Rio Tietê na cidade de Sabino, próximo à barragem de Promissão:
Atividades de lazer propiciadas pela melhoria na qualidade das águas
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 47
CYBER CAFÉ
Site Domínio Público
FRANCISCA ADALGISA1
Divulgação
O
“portal Domínio Público”, lançado em
novembro de 2004, propõe o compartilhamento de forma equânime, colocando
à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - a Internet - uma biblioteca
virtual onde é possível baixar de graça, arquivos
com músicas inteiras, livros na íntegra, imagens,
fotos, documentários, programas da TV Escola,
entre outros. Inicialmente, quando o site foi lançado havia lá cerca de 500 obras, hoje, no entanto,
já conta com mais de 2.105 obras, que são de
domínio público, ou tem autorização legal para
divulgação. O endereço eletrônico é :
www.dominiopublico.gov.br.
O portal foi desenvolvido em software livre e tem
à disposição um farto material literário, com obras
inteiras digitalizadas que podem ser baixadas (fazer
download) ou lidas na tela do micro.
Entre as obras de brasileiros como Machado de
Assis, é possível encontrar “A Semana” digitalizado
pela Universidade da Amazônia, ou “A Mão e a Luva”
proveniente da Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, um programa da Universidade de São Paulo,
ambas instituições parceiras do portal. Se o leitor for
amante da literatura mundial, também é possível
encontrar obras de importantes escritores, como o
1
português Eça de Queiroz ou o dramaturgo Inglês
William Shakespeare. Entre outros livros é possível
ler, do primeiro mencionado “A Cidade e as Serras”,
“A Relíquia“, “O Crime do Padre Amaro” e o “O Primo
Basílio”. Já de Shakespeare, traduzidos para o bom
português é possível ler “A Comédia dos Erros”, “A
Megera Domada”, “Mcbeth”, entre outros títulos.
Para quem tem criança em fase escolar, o portal também disponibiliza vídeos e literatura infantil, além
de textos sobre Belas Artes, Ciências Exatas e Sociais,
Direito, partituras, textos de referência ou sobre religião, além de um incrível pacote de vídeos em domínio público de documentários, passeios virtuais e
programas da TV Escola.
Os amantes da boa música podem baixar em MP3
músicas eruditas de Francisco Mignone e Heitor
Villa-Lobos, e mais de 20 títulos de músicas contemporâneas em inglês, inclusive Oslodum 2004, do DJ
Dolores, ou My Fair Lady, de David Byrne, além de
jazz ou pop-rock.
O Portal Domínio Público tem diversas parceiras, contribuem com o projeto: a Biblioteca Digital da Fundação
Biblioteca
Nacional
da
ebooksBrasil, Núcleo de Pesquisa em Informática; Literatura e Lingüística da Universidade Federal de Santa
Catarina; Project Gutemberg
e Phoenix-Library of Índia,
Lês Classiques dês Sciences
Sociales e World Book
Library, entre outras instituições.
<+> Para Saber Mais:
Portal Domínio Público
Revista a Rede
http//www.arede.inf.br
Socióloga e Analista de Sistemas de Saneamento da Sabesp
48 Saneas
Setembro/Outubro de 2007
RESENHA
Divulgação
Big Bang
Simon Singh
Editora Record, 2006
LUIZ CARLOS HELOU1
U
ma boa dica de leitura é o livro do físico e
produtor de Ciência da BBC, Simon Singh,
lançado pela Editora Record em 2006.
O autor trata de maneira bastante didática a história
da ciência, partindo das antigas crenças do período
neolítico, até a sofisticação da mecânica quântica, de
forma que o leigo ou o cientista, uma vez envolvidos
na leitura, se apaixonem pelo tema. Nosso universo é povoado por mais de cem bilhões de galáxias,
cada qual contendo aproximadamente 100 bilhões
de estrelas, onde em pelo menos um planeta que
órbita uma dessas estrelas, a vida evoluiu.
O modelo do Big Bang nos fornece uma explicação
matemática e elegante para a origem de tudo que
vemos no céu noturno, o que transforma esse modelo numa das maiores realizações do espírito e do
intelecto humano. Esse modelo que tem uma história bastante recente, com menos de um século de
vida, só foi possível ser elaborado, porque se apoiou
no conhecimento acumulado da astronomia dos séculos anteriores.
Singh nos leva a um passeio pela história da astronomia. É particularmente interessante a maneira
de como os antigos povos determinaram o raio do
nosso planeta. Essa odisséia tem início com o grego Erastótenes (276 A.C.), que através da sombra
de uma vareta medida em duas cidades diferentes,
no mesmo horário e da distância conhecida entre
elas (Siena e Alexandria, no Egito), determinou com
precisão de menos de 5% o raio da Terra. O mesmo
Erastótenes ainda determinou a distância da Terra
ao Sol e da Terra à Lua, através de simples geometria
Euclidiana.
Mesmo com retrocesso que a Igreja causou nos séculos seguintes, pelo “controle da sabedoria”, personagens apaixonantes como Galileu, Copérnico e
1
Kepler não perderam o fio da história, e o conhecimento pôde seguir até nós.
Dando um salto para frente na história, Singh nos
mostra como o astrônomo americano Edwin Huble
desmente Einstein e mostra que nosso Universo
está em expansão. A teoria cosmológica de Einstein
apresentava uma matemática que mostrava que o
Universo estaria em expansão e Einstein acreditava
que o Universo fosse estático, por isso, ele introduziu
uma constante nas equações para que o Universo
permanecesse imóvel. Se ele não tivesse feito isso,
teria chegado com pelo menos 20 anos de antecedência, às mesmas conclusões de Huble, sem nunca
precisar por os olhos em um telescópio.
Do início até o fim do livro, Singh, constrói uma narrativa bem humorada, pontuada por histórias curiosas. O próprio termo Big Bang, ou grande explosão,
foi uma ironia cunhada por um astrônomo adepto
da estaticidade do Universo, com o propósito de
desqualificar o trabalho dos outros cientistas que
investigavam o momento da criação. Mas foi esse
termo que “pegou” .
Em resumo, é o tipo do livro que vale a pena ser lido.
É uma pena que não tivesse sido escrito em meus
tempos de escola.
Engenheiro, atualmente trabalha na TOD - Departamento de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
Setembro/Outubro de 2007
Saneas 49
HOMENAGEM
Um profissional realizado
que nunca esqueceu a Sabesp
VICENTE DE AQUINO
Divulgação
S
idnei
Colombo
Martini é o que se
pode chamar de
profissional completo e
realizado. Aos 60 anos,
ele é Engenheiro Eletricista, formado na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, em
1970, onde fez carreira
acadêmica.
Mestre em 1975, doutor
em 1982 e livre-docente
em 1992, em Engenharia
Elétrica, além de professor titular (2002) pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Ele preside, desde 1999, a Transmissão Paulista (CTEEP) Companhia de Transmissão de Energia Elétrica
Paulista, que responde pelo sistema de transmissão
de energia elétrica no Estado de São Paulo. E para
finalizar é Professor Titular do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo desde
2002.
Um profissional com tantos requisitos poderia ser
frio e impessoal. Mas não é o que acontece com Sidnei Colombo Martini. Principalmente ao falar de cinco anos de sua vida (1979 a 1984), quando trabalhou
na Sabesp.
“Minha querida Sabesp. Quanta saudade daquele
tempo. E pensar que entrei na empresa quase por
acaso. Em 1979, fui fazer uma visita ao diretor de
operação da região metropolitana de São Paulo. Fui
apresentar uma proposta de monitoração das represas na região norte. Era um sistema de supervisão
para evitar acidentes. Estava presente um assistente técnico (Carlos Botelho Berenhauser) e recebi um
convite para trabalhar na empresa”, diz.
Sidnei entrou no SCOA (Sistema de Controle Operacional de Abastecimento de Água Tratada da Região
Metropolitana de São Paulo): “De 1979 a 1981 fui o
responsável pelo detalhamento do projeto, escolha
dos equipamentos e sistema de operação. Foi nessa
50 Saneas
época que surgiu o CCO (Centro de Controle Operacional). Foi construído até um prédio (na Costa de
Carvalho) para abrigar essa unidade. Sua implantação demorou cerca de dois anos e foi um trabalho
de pesquisa muito árduo”, fala.
O atual presidente da CTEEP explica que além
dos equipamentos em mais de uma centena de
reservatórios, havia estações de bombeamento
responsáveis por levar a água até as torres: “Nos
reservatórios foram instalados computadores que
se comunicavam em tempo real com o CCO. Eram
medidos o volume, a vazão e a abertura das válvulas. O CCO digeria as informações e as colocava em
vídeos onde, até hoje, ficam os controladores”.
Sidnei não se esquece dos amigos que o ajudaram
em toda essa empreitada: “Não poderia deixar de
citar Jonas Novaes, Amir Gabriel Chadi, José Augusto Faria, Paulo Massato e Luiz Antonio Tombasco, a
quem acabei substituindo como chefe de Departamento de Controle de Operação. Fiquei até 1984
nessa função. É um tempo do qual não consigo realmente me esquecer. Ali nós fazíamos a macromedição e os estudos de engenharia para a liberação de
água em novos condomínios e loteamentos. Também havia a capturação de esgoto para os interceptores que levavam para a estação de tratamento de
Barueri. Era a chamada Operação Caça Esgoto”.
Para ele, essa foi uma fase em que a Sabesp estava
investindo em novas tecnologias: “Eram engenheiros civis e hidráulicos que foram buscar nas universidades, na computação, uma tecnologia pioneira
no Brasil e na América do Sul. Foi uma fase áurea.
De muita pesquisa, trabalho e conquistas. Nós desenvolvemos um Centro de Controle Operacional
que foi um exemplo e serviu de padrão para todo
o país”, explica.
O SCOA (Sistema de Controle Operacional de Abastecimento de Água Tratada da Região Metropolitana de São Paulo) foi tão importante para a vida de
Sidnei que serviu como sua tese de doutorado: “Ele
é até hoje uma referência internacional pelo porte
da região metropolitana de São Paulo. Um sistema
complexo que serve de base para estudos internacionais”, finaliza.
Setembro/Outubro de 2007
Entrega do Troféu AESabesp
Anunciada pelo nosso diretor técnico, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, na solenidade de
encerramento do XVIII Encontro Técnico da AESabesp- Fenasan , a entrega do Troféu AESabesp,
em 2007, contemplou 11 premiações, de acordo com os votos dos próprios participantes da
Feira.
Nossos parabéns aos vencedores que se destacaram na Fenasan-2007, extensivo a todos os
demais expositores, pelo alto nível de apresentação, contribuindo para uma difícil decisão, em
meio a tanta qualidade trazida por todos.
Categoria “Melhor Stand”
ABS Indústria de Bombas Centrífugas Ltda.
Bugatti Brasil Válvulas Ltda.
Kemira/ Kemwater Brasil S.A.
Danfoss do Brasil Indústria e Comércio Ltda.
Emec Brasil Sistemas de Tratamento de Água
Ltda.
Higra Industrial Ltda.
Incontrol S/A
Lamon Produtos Ltda
Categoria “Inovação Tecnológica”
Categoria “Atendimento Técnico”
Hexis Científica S/A.
Destaque AESABESP
Deferência Especial AESABESP
Ilha Sindesam (Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos
para Saneamento Básico e Ambiental), formada pelas empresas
Abimaq, Aquamec, Centroprojekt do Brasil, Degrémont, Mizumo,
Pieralisi, Prominas e WAM). O seu presidente Gilson Cassini Afonso
exibe o troféu conquistado.
Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
Os diretores Marcelo Salles Holanda de Freitas (Meio Ambiente e
Tecnologia) e Umberto Cidade Semeghini (Sistemas Regionais).

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