a base social das relações de gênero: explicando o ciúme
Transcrição
a base social das relações de gênero: explicando o ciúme
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL A BASE SOCIAL DAS RELAÇÕES DE GÊNERO: EXPLICANDO O CIÚME ROMÂNTICO ATRAVÉS DO SEXISMO AMBIVALENTE E DOS VALORES HUMANOS BÁSICOS Dissertação de Mestrado Raquel Pereira Belo João Pessoa, Fevereiro de 2003 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL A BASE SOCIAL DAS RELAÇÕES DE GÊNERO: EXPLICANDO O CIÚME ROMÂNTICO ATRAVÉS DO SEXISMO AMBIVALENTE E DOS VALORES HUMANOS BÁSICOS Raquel Pereira Belo Orientador: Jorge da Silva Raymundo Co-Orientador: Valdiney Veloso Gouveia Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Social João Pessoa, Fevereiro de 2003. iii Raquel Pereira Belo A BASE SOCIAL DAS RELAÇÕES DE GÊNERO: EXPLICANDO O CIÚME ROMÂNTICO ATRAVÉS DO SEXISMO AMBIVALENTE E DOS VALORES HUMANOS BÁSICOS Prof. Dr. Profª. Drª. Prof. Dr. Prof. Dr. iv PENSAMENTO v DEDICATÓRIA vi AGRADECIMENTOS vii RESUMO Muitas foram as mudanças ocorridas com relação à mulher nas últimas décadas, com capacidade de influenciar a construção do estereótipo feminino e a forma como a mulher é encarada nos relacionamentos interpessoais. Diante deste quadro atual, a presente dissertação tem como objetivo explicar o ciúme romântico, uma forma de relacionamento interpessoal, a partir do sexismo ambivalente e dos valores humanos. A fim de operacionalizar tal objetivo, três foram as teorias utilizadas. Primeiramente, a teoria do sexismo ambivalente (Glick & Fiske, 1996) caracteriza o sexismo como um conjunto de estereótipos que avaliam de forma cognitiva, afetiva e atitudinal os papéis apropriados aos indivíduos, em função de seu sexo, expressando-se de forma ambivalente. A ambivalência diz respeito a uma construção simultânea de duas ideologias: a sexista hostil, que expressa intolerância em relação à mulher que ocupa papéis de poder, e a sexista benévola, expressada através de atitudes aparentemente positivas, nas quais a mulher é tida como frágil, necessitando de atenção. A segunda teoria foi a de White e Mullen (1989), através da qual o ciúme romântico faz-se presente na dinâmica da atração interpessoal quando ocorre a sensação iminente de perda do parceiro. O ciúme romântico, neste caso, é o resultado de ameaças à auto-estima e/ou à existência ou qualidade da relação, em decorrência da percepção de uma atração real ou potencial entre o parceiro e um rival. Finalmente, a tipologia dos valores humanos básicos (Gouveia, 1998) foi a terceira teoria considerada. Ela descreve que os valores são categorias de orientação adotadas por atores sociais, baseadas nas necessidades humanas e pré-condições para satisfazê-las. Participaram do estudo 301 pessoas, sendo 54,2% mulheres, da população geral de João Pessoa, com idades variando entre 18 e 72 anos, que responderam ao Inventário de Sexismo Ambivalente (Glick & Fiske, 1996), em sua versão adaptada para o Brasil (Formiga & cols., 2002), à Escala de Ciúme Romântico (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994), reduzida para 28 itens, ao Questionário dos Valores Básicos (Gouveia, 1998) e a um conjunto de perguntas sócio-demográficas. Os resultados encontrados corroboraram algumas das hipóteses formuladas, evidenciando a importância das concepções sexistas ambivalentes, bem como dos valores humanos básicos de função psicossocial normativa, para se compreender o ciúme romântico, sugerindo a existência de um apego dos participantes aos padrões culturais tradicionais. Além disto, foi encontrado um equilíbrio entre os gêneros com relação ao sexismo benévolo e uma predominância de aceitação do sexismo hostil entre os homens, levando a pensar que ainda nos dias atuais se faz presente um preconceito flagrante para com as mulheres. Concluindo, estabeleceu-se um modelo explicativo preliminar para compreender o ciúme romântico, com ênfase nos valores e no sexismo ambivalente. Algumas implicações práticas deste modelo foram sugeridas. Palavras-chave: Sexismo Ambivalente, Ciúme Romântico, Valores Humanos ABSTRACT 9 ÍNDICE LISTA DE FIGURAS....................................................................................................X LISTA DE TABELAS..................................................................................................XI Introdução..................................................................................................................12 1 - Situação da Mulher no Contexto Social: Breve Relato Histórico e Atualidade..................................................................................................................15 2 – Sexismo...............................................................................................................24 2.1.Sexismo: Uma Forma de Estereótipo Feminino..............................................24 2.2.Sexismo Hostil e Sexismo Benévolo................................................................29 3 – Ciúme Romântico...............................................................................................39 3.1. Definição e Principais Características.............................................................39 3.2. Elementos Constitutivos........................................................................41 3.2.1. Elementos Primários...........................................................................41 3.2.2. Reações Emocionais...........................................................................42 3.2.3. Elementos Secundários......................................................................42 3.2.4.Esforços de Enfrentamento.................................................................43 3.3. Principais Variáveis Relacionadas ao Ciúme Romântico.............................44 3.4. O Estudo do Ciúme e Ênfase no EU................................................................46 3.5. Aspectos Estruturais do Ciúme Romântico...................................................47 3.6. Construções Relacionais e Forma de Expressão..........................................48 3.7. Outras tentativas de Definições.......................................................................50 3.8. Diferenças entre Gêneros.................................................................................51 3.9. Considerações Finais.......................................................................................55 4 – Valores................................................................................................................59 4.1. Introdução....................................................................................................59 4.2.Tipologia dos Valores Humanos Básicos..................................................69 II – Método................................................................................................................80 1 – Delineamento e Hipóteses......................................................................80 2 – Amostra....................................................................................................83 3 – Instrumentos............................................................................................85 10 4 – Procedimento...........................................................................................88 5 – Análise dos Dados...................................................................................89 III – Resultados..........................................................................................................90 1 – Parâmetros psicométricos da medida de Ciúme Romântico..............90 2 - Concepções Sexistas Ambivalentes, intensidade de Ciúme Romântico e Valores Humanos Básicos.........................................................................93 VI – Discussão...........................................................................................................98 4.2. Comprovação do Modelo Teórico....................................................................98 4.2.1. Sexismo Ambivalente e Valores Humanos Básicos.........................98 4.2.2. Sexismo Ambivalente e Ciúme Romântico......................................104 4.2.3. Ciúme Romântico e Valores Humanos Básicos..............................106 4.3. O Sexismo Ambivalente e o Gênero..............................................................108 V – Conclusão.........................................................................................................110 5.1. Medidas Utilizadas...........................................................................................110 5.2. Principais Resultados......................................................................................111 5.3. Aplicabilidade do Estudo................................................................................113 5.4. Pesquisas Futuras...........................................................................................114 VI - Referências.......................................................................................................116 Anexos.....................................................................................................................122 Anexo 1 – Escala de Ciúme Romântico – versão masculina (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994)...........................................................................................................123 Anexo 2 – Escala de Ciúme Romântico – versão feminina (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994)...........................................................................................................124 Anexo 3 – Inventário de Sexismo Ambivalente (Glick &Fiske, 1996)......................125 Anexo 4 – Questionário dos Valores Básicos (Gouveia, 1998)...............................126 Anexo 5 – Questionário sócio-demográfico.........................................................127 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Tipos de Valores Instrumentais e Terminais em Rokeach (Gouveia, 1998)...........................................................................................................................61 Figura 2. Estrutura Bidimensional dos Tipos Motivacionais (adaptado de Schwartz, 1992)...........................................................................................................................66 Figura 3. Inter-relações entre Ciúme Romântico, Sexismo Ambivalente e Valores Humanos Básicos.......................................................................................................78 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Caracterização da Amostra........................................................................84 Tabela 2. Estrutura fatorial da Escala de Ciúme Romântico......................................92 Tabela 3. Correlação entre Valores Humanos, Sexismos Hostil e Benévolo e Ciúme Romântico...................................................................................................................94 Tabela 4. - Comparação entre Homens e Mulheres e as Dimensões do Sexismo Ambivalente................................................................................................................96 13 I.- Introdução A estrutura social, em decorrência de sua dinâmica, permite aos indivíduos que dela fazem parte, uma constante interação geradora de vários tipos de fenômenos. Um destes fenômenos, bastante visível e presente nas mais diversas culturas, além de resistente ao tempo, é a caracterização da mulher, construída a partir de concepções elaboradas de forma generalizada e estabelecida como imutável no processo de socialização dos indivíduos. Glick e Fiske (1996), ao teorizarem este fenômeno como sexismo, pontuam que ele se estrutura seguindo duas formas de expressão que, apesar de diferentes, não são mutuamente excludentes: a benevolente e a hostil. A primeira defende uma constante necessidade de proteção e sustento às mulheres, por serem elas consideradas puras e fracas. A segunda legitima os homens como os únicos capazes de exercer o controle social, econômico e político das instituições sociais, em função das mulheres serem vistas como inferiores, tendo capacidade de exercerem apenas os papéis de esposa, mãe e objeto romântico. Esta concepção sexista, construída ao longo do tempo, a respeito dos papéis que cabem a homens e mulheres, pode possuir dentro da dinâmica social a capacidade de influenciar outros fenômenos, como, por exemplo, o ciúme romântico. Segundo Ramos, Yazawa e Salazar (1994), o ciúme romântico pode ser definido como um desejo frustrado de interação humana frente a uma ameaça percebida por parte de um rival real ou imaginário, com o objetivo de eliminar os riscos da perda do amor. Não se descarta, neste âmbito, que estas orientações sociais se fundamentem 14 em princípios mais gerais, que guiam a vida das pessoas, como podem ser os valores humanos. Em decorrência destas observações, o objetivo do presente estudo consiste em averiguar se o sentimento de ciúme, nas relações heterossexuais, pode ser influenciado pelos estereótipos construídos em relação à mulher. Pretende-se igualmente verificar em que medida as concepções sexistas e o ciúme romântico, dentro de uma relação amorosa, são pautados pelos valores humanos adotados pelos participantes. A presente dissertação encontra-se dividida em duas partes. A primeira parte é constituída por quatro capítulos teóricos. No primeiro capítulo, apresenta-se um levantamento histórico sobre a situação da mulher em diversos contextos culturais, buscando fundamentalmente fazer referência às caracterizações ao seu respeito que sofreram transformações e aquelas que permanecem inalteradas. No segundo capítulo, são apresentados a teoria e os principais estudos realizados na área do sexismo ambivalente. O terceiro capítulo faz referência às principais definições, assim como a algumas reflexões a respeito do ciúme romântico. O quarto capítulo caracteriza a teoria dos valores básicos, que é considerada neste estudo. A segunda parte desta dissertação discorre sobre o método utilizado para a realização da pesquisa empírica, seguido dos resultados que foram encontrados. Finalmente, são apresentadas as discussões construídas em função destes resultados e do marco teórico, assim como são delineadas as perspectivas para estudos futuros e as possíveis contribuições desta dissertação para o contexto social em que se insere. 15 Capítulo 1 16 1.- Situação da Mulher no Contexto Social: Breve Relato Histórico e Atualidade O patriarcalismo, uma forma de expressão do absolutismo masculino, é uma das estruturas sobre as quais se assentam as sociedades contemporâneas e demonstra, na maioria delas, a capacidade de influenciar relacionamentos interpessoais (Castells, 2000). É um sistema que garante a supremacia social aos homens, concedendo-lhes o controle das instituições econômicas, legais e políticas, com poder estrutural como grupo dominante, delegando às mulheres uma educação voltada predominantemente para a problemática doméstica, responsabilizando-as pelo cuidado da casa, dos filhos e pela satisfação sexual do marido, em decorrência de serem consideradas como intelectualmente menos dotadas. Tal contexto ocasiona uma socialização na qual a representação da masculinidade é associada à responsabilidade pelo sustento da família, enquanto a feminilidade está associada à submissão e responsabilidade pelo lar e pela prole (Ferreira, 2000). A ideologia que suporta este sistema é resultante de uma construção cultural que, de acordo com Heiborn (1999), tem a capacidade de conduzir as construções ideológicas/institucionais tanto na época atual como, provavelmente, em direção a novos horizontes, que serão engendrados buscando primordialmente demonstrar as mulheres como um grupo inferior. Tal construção possui um dinamismo tão articulado e uma força progressiva tão constante que acaba parecendo aos indivíduos uma construção universal e natural. Entretanto, partindo-se de uma visão antropológica, observa-se que toda esta construção é o resultado de um sistema de significação que pode ser chamado de “cultura ocidental moderna”, com a capacidade de moldar a percepção dos sujeitos para aceitarem os fenômenos que 17 ocorrem à sua volta e nas culturas externas através de uma perspectiva única tida como universal. As conseqüências deste tipo de construção cultural aparecem, de forma visível, nas questões relativas à sexualidade. É inegável que a instituição da sexualidade possui um papel fundamental e uma grande influência dentro da organização social. Geralmente, observa-se uma tentativa de explicar o fenômeno da sexualidade em relação à família, ao parentesco, ao casamento e ao desejo, vinculando-a a construtos biológicos, políticos e morais. Em um sentido mais subjetivo, considera-se a sexualidade como constitutiva da identidade individual e social, através de um modelo calcado na atribuição de papéis sociais e de características psicológicas aos dois sexos, em função de suas diferenças biológicas e da forma como participam do processo reprodutivo. Tal construção resulta em representações permanentes e responsáveis por concepções e discursos contribuintes para a desigualdade existente entre homens e mulheres, sendo capaz de demonstrar que as diferenças instituídas entre os sexos variam conforme o tempo e espaço, em função do contexto sócio-cultural no qual os indivíduos estão inseridos. Neste âmbito, torna-se claro que a cultura é responsável não apenas pela orientação sexual e escolha dos parceiros, realizadas pelos indivíduos, mas também pela categorização dos gêneros, com capacidade de modelar, orientar e esculpir os desejos e modos de viver a sexualidade. A história demonstra que, nas mais diversas culturas, as mulheres sempre foram vistas dentro de contextos que acentuam sua passividade e submissão, com conseqüentes punições quando elas desafiam as normas estabelecidas pelo sistema patriarcal, sendo até mesmo 18 consideradas “anormais” quando se demonstram diferentes destas normas (Engel, 1997). No final do século XIX, com o objetivo da quebra do patriarcalismo responsável pela situação de discriminação, surgiram várias organizações que inauguraram novas oportunidades e ocupações de ordem educativa para as mulheres. O surgimento dessas organizações foi seguido pelas constantes tentativas das mulheres, alicerçadas em um espírito libertário, de obterem condições de igualdade através do movimento feminista, no início do século XX. O feminismo surgiu como um movimento político, originado de uma filosofia universal que considera a existência de uma opressão específica a todas as mulheres. Expressase através de ideologias, políticas e culturas, objetivando questionar as relações de poder, a opressão e a exploração de grupos de pessoas sobre outras, e propõe a partir daí uma transformação social, política e ideológica da sociedade (Teles, 1999). Tal movimento procura ainda demonstrar a capacidade da mulher de ir além da aceitação de permanecer alienada e desintegrada do mundo e da realidade (Neotti, 1973). Em sua essência, este sistema ideológico tenta demonstrar que o valor das mulheres não consiste apenas em bases biológicas, mas que existe uma experiência feminina comum, responsável por sua orientação moral distinta (Freedman, 1990). Nesta perspectiva, torna-se válido mencionar o estudo de Possati (2000), que demonstra o quanto ainda se faz presente, na atualidade, a crença equivocada de que o acúmulo de papéis (somando-se as atividades do lar às atividades externas) interfere negativamente na saúde e no bem-estar psicológico da mulher. Contando com uma amostra de 132 mulheres mães, moradoras no Estado da Paraíba, e com trabalho remunerado externo ao lar, a autora observou que o acúmulo de papéis não 19 ocasiona necessariamente sobrecarga e prejuízo ao bem-estar, mas que, ao contrário do que normalmente se acredita, tal acúmulo é capaz de ocasionar níveis elevados de bem-estar entre as mulheres que possuem um trabalho remunerado, em contraste com os níveis mais baixos encontrados para as mulheres que não trabalham nestas condições. Pensar a sexualidade requer ponderação e equilíbrio. Reduzir a sexualidade à natureza representa um ato tão precipitado quanto considerar sua diferença apenas como resultado de uma construção histórica, segundo Agacinski (1999). Para este autor, é fundamental levar em conta que, se por um lado, a diferença natural entre os sexos é real, por outro, considerar apenas esta naturalidade torna-se insignificante, uma vez que ela só tem sentido quando interpretada no contexto em que está inserida. Por este ponto de vista, a natureza fornece a diferença, mas a leitura de tal diferença é construída e organizada socialmente por cada cultura. Além disso, a diferença entre os gêneros estrutura universalmente as sociedades, com os valores e os conteúdos atribuídos a esta diferença sendo culturalmente variáveis. É neste contexto que se observa o quanto a diferença entre os sexos, apesar de construída, adquiriu, praticamente em todas as partes do mundo, o sentido de uma hierarquia (com o masculino aparecendo em um nível superior ao feminino), refletida através da associação do poder e controle social do trabalho à masculinidade e capaz de tornar os homens detentores do poder ao qual as mulheres estão subordinadas (Lima, 2002). Esta diferença construída busca, acima de tudo, demonstrar que os sexos jamais merecem igual valor. 20 Além disto, o significado assumido pela sexualidade, nos diversos contextos sociais, depende das relações afetivas entre homens e mulheres. Tais relações resultam da diferença, ao mesmo tempo natural, artificial e política, existente entre homens e mulheres, levando cada sociedade, em cada época, a oferecer uma versão particular da diferença universal entre os sexos. Nesse processo, a idéia de diferença, talvez melhor expressada pelas condições reais de desigualdade, aparece como a única constante. Atualmente, apesar de já ter sofrido bastantes modificações, de uma forma geral o estereótipo da mulher continua resistindo ao tempo e às culturas. Através das pesquisas realizadas na área dos estereótipos de gênero (Borgida, Locksley & Brekke, 1981), por exemplo, observa-se uma avaliação quase permanente para ambos os sexos. Isto é, o gênero masculino aparece normalmente como assertivo, ativo, objetivo, racional e competente, em contraste com o modelo da típica mulher, tida como mais passiva, emotiva, submissa, compassiva e irracional. Resultados como estes refletem um tipo de concepção generalizada, construída dentro do contexto social e caracterizada, pelos estudiosos da área, como estereótipo. Freedman, Carlsmith e Sears (1970) defendem que tal construção, tanto no nível grupal quanto individual, leva o percebedor a agir, em relação ao objeto em questão, em função de conhecimentos prévios (construídos socialmente) a respeito do grupo do qual o indivíduo faz parte. Entretanto, estruturar a percepção de um indivíduo a partir de seu grupo ou do grupo a partir do indivíduo, é um caminho que pouco tem a ver com o processo perceptivo, uma vez que, neste caso, o percebedor torna-se influenciado por suas motivações afetivas que o levam, na maioria das 21 vezes, a construir idéias sem qualquer semelhança com as características reais dos indivíduos. O achado mais comum entre as pesquisas sobre estereótipos de gênero é a associação de emoções específicas a homens e mulheres. Sentimentos como tristeza e felicidade são normalmente associados às mulheres, enquanto que a raiva e o orgulho são freqüentemente associados aos homens. Techio (1999), por exemplo, objetivando estudar o papel dos fatores cognitivos e de certos indicadores culturais no conhecimento social das emoções, além de conhecer se as avaliações das emoções, no que diz respeito às causas, à intensidade e importância são influenciadas pelo gênero do sujeito, observou que existem algumas diferenças significativas na avaliação dos comportamentos masculino e feminino. Através de uma amostra de 214 universitários (105 homens e 109 mulheres), ficou evidenciado que se espera das mulheres expressões caracterizadas como sensíveis, ao mesmo tempo em que dos homens são esperadas formas assertivas de expressão da emoção. Este resultado sugere que as diferentes atribuições dirigidas para homens e mulheres não podem ser explicadas apenas em função das diferenças originadas na constituição do sexo, mas fundamentalmente em função das normas sociais e culturais. Resultados semelhantes foram encontrados por Lima (2002), que com o objetivo de verificar de que maneira a mudança na configuração dos estereótipos poderia estar ligada às mudanças na adesão à participação do homem em tarefas domésticas, observou que as características estereotípicas assinaladas como tradicionalmente masculinas foram a agressividade, a força e a lógica, ao mesmo 22 tempo em que para as mulheres foram atribuídas a sensibilidade, a beleza e a instabilidade. A partir de sua amostra composta por 585 pessoas (55,5% do sexo feminino) residentes na cidade de Recife e com idades variando entre 14 e 85 anos, ficou claro mais uma vez que, em diversos contextos sociais, as mulheres são vistas como mais propensas a vivenciar intensamente emoções que as caracterizam como frágeis e sensíveis, ao contrário dos homens, nos quais tal vivência aparece como comprometedora da masculinidade. Buscando conhecer um pouco mais sobre estas proposições, Freedman, Carlsmith e Sears (1970) estruturaram um estudo que teve como objetivo principal examinar até que ponto os estereótipos a respeito das emoções de gênero podem ser influenciados pela natureza dos contextos interpessoais e de realização. Especificamente, para cada tipo de emoção foram previstos três caminhos de interação: o objetivo do gênero, o tipo de reação às emoções e a natureza do contexto no qual o evento ocorreu. Um total de 33 mulheres e 44 homens, com idades variando de 18 a 25 anos (M = 19,25), responderam aos instrumentos aplicados em ambos os contextos (interpessoal e de realização). De forma geral, os resultados demonstraram que as emoções de alegria e tristeza, expressadas no contexto interpessoal, foram consideradas características das mulheres, ao mesmo tempo em que, também no contexto interpessoal, o “mascaramento” destas emoções foi tido como um comportamento característico dos homens. Isto sugere, mais uma vez, a existência de uma concepção social comum que inter-relaciona o tipo de emoção ao gênero e ao contexto social. 23 Diante desta realidade, pode-se concluir que, apesar de todas as conquistas obtidas pelas mulheres, no sentido de alcançarem igualdade de direitos, tanto no âmbito teórico como no terreno prático, tais conquistas ainda aparecem como insuficientes em relação aos objetivos desejados. A maior dificuldade, inerente à interiorização de tais propostas, pode ser atribuída, sobretudo, à interiorização “universal” das concepções defensoras de idéias como a da indiscutível superioridade masculina e a das mulheres como mais calorosas, maternais e compreensivas (ao contrário dos homens, que são independentes, ambiciosos e competitivos), constituindo um grupo com menores capacidades intelectuais. 24 Capítulo 2 25 2. -Sexismo 2.1. - Sexismo: Uma Forma de Estereótipo Feminino O processo de formação de impressão, que constitui um conjunto de avaliações afetivas, morais e instrumentais, elaboradas a respeito de uma pessoa, possui a capacidade de orientar o percebedor em suas relações com o meio social (Camino, 1996). Na maioria dos casos, entretanto, por se constituir a partir de uma única característica social da pessoa percebida, a construção pode resultar em uma concepção equivocada. Tal processo, conceituado como estereótipo, representa generalizações a respeito dos indivíduos em função destes pertencerem a algum grupo ou alguma categoria social, sem levar em conta suas características individuais. Com base nestas observações, a presente dissertação tem como meta analisar uma forma de estereótipo, relativamente aceita por ambos os sexos e refletida através de uma ideologia preconceituosa voltada para a mulher. A idéia, por exemplo, de que a mulher deve ficar dentro de casa, por ser o sexo mais frágil e a divulgação de crenças que defendem ser ela incompetente para as tarefas que dizem respeito às áreas econômica, jurídica e política, refletem uma forma de pensamento estereotipada. Tais concepções, que delegam à mulher papéis socialmente limitados, são conceituadas por Glick e Fiske (1996) como sexismo ambivalente, e refletem mais uma das formas de preconceito existentes dentro do contexto social, guiado por idéias como as de que as mulheres, apesar de puras e frágeis, buscam controlar os homens através de seus atributos sexuais. 26 A ambivalência referente ao sexismo diz respeito à existência de uma construção simultânea de duas ideologias voltadas para a mulher: uma de cunho benévolo e outra de cunho hostil. Os dois tipos de sexismo, hostil e benévolo, são produtos da estrutura relacional entre os sexos e expressados através de idéias como as de que os homens são tipicamente constituídos de mais poder que as mulheres; que homens e mulheres são freqüentemente diferenciados em termos de papel social; e que as relações entre homens e mulheres são condicionadas apenas pela reprodução sexual (Glick & Fiske, 2001b). O poder estrutural masculino, o patriarcalismo, possui implicações fundamentais para o conteúdo ideológico hostil e benévolo. Tal sistema, apesar de não ser universal, é adotado atualmente em diversas culturas, sendo refletido através do domínio masculino prevalente na ocupação de cargos com alto status nas áreas de negócios, governo e instituições religiosas. Portanto, as diferenças de poder existentes entre os sexos, demonstram claramente a interiorização da ideologia ambivalente, em conseqüência do estabelecimento ideológico de que o gênero masculino é superior ao feminino. Neste contexto, Glick e Fiske (1996) propõem que a ideologia sexista constitui uma construção refletora de tal pensamento (o patriarcalista), existente em diversas culturas e responsável pelas diferenças de poder entre os sexos nos contextos sócio-cultural (legitimando os papéis e as relações convencionais entre os gêneros) e individual (os homens representando o poder dentro da relação amorosa). Esta ideologia pode se expressar tanto através de um sexismo interpessoal, que representa as atitudes e condutas negativas dos homens voltadas para as mulheres nas relações interpessoais, como de um sexismo 27 institucional, isto é, práticas de exclusão promovidas por entidades, organizações e comunidades que impõem às mulheres certas barreiras, impedindo-as de ter as mesmas oportunidades que os homens em situações de trabalho. Ashmore (1994, citado por Glick, Diebold, Bailey-Werner & Zhu, 1997), em suas análises a respeito do sexismo, defende a existência de uma prática inerente, característica dos homens sexistas: a constante categorização das mulheres através de estereótipos, utilizados como um guia na elaboração do trato e das respostas que lhes serão dadas. Glick, Diebold, Bailey-Werner e Zhu (1997) conduziram dois estudos que, de forma geral, foram capazes de demonstrar o quanto as ideologias sexistas hostil e benévola podem ser conciliadas pelos indivíduos sem gerar conflitos cognitivos. Com a hipótese de que os homens sexistas ambivalentes, quando comparados com os não-sexistas, tenderiam a classificar as mulheres em sub-grupos polarizados, isto é, “as que merecem ser colocadas em um pedestal” e “as que eles colocariam em uma “sarjeta”, foram elaborados dois estudos. No primeiro, foi observado se os homens sexistas ambivalentes, em comparação com os não-sexistas, categorizariam espontaneamente as mulheres em subtipos com avaliações polarizadas. No segundo, se analisou o quanto o sexismo hostil e o sexismo benévolo estariam relacionados com as avaliações masculinas em subtipos específicos de mulheres, nas dimensões mais comuns com que os homens costumam classificá-las: mulheres tradicionais e não-tradicionais. Os resultados do primeiro estudo demonstraram que o sexismo ambivalente ocasionou uma maior polarização dos subtipos femininos nas avaliações masculinas. O segundo estudo revelou que o sexismo hostil levou a uma 28 avaliação menos favorável das mulheres que ocupam papéis não-tradicionais (mulheres com carreira profissional), enquanto o sexismo benévolo ocasionou sentimentos favoráveis às mulheres exercendo um papel tradicional (donas de casa). Outra demonstração da existência desta ideologia pode ser observada através do estudo de Ferreira (2001), referente ao ambiente de trabalho. A autora partiu do pressuposto de que, ainda hoje, os homens constituem maioria em ocupações de liderança, com maior poder e prestígio no contexto organizacional (com salários mais altos que os das mulheres, apesar de estarem ocupando os mesmos cargos). Os resultados mostraram que, no ambiente estudado, o sexismo se expressou a partir de atitudes diretas ou indiretas, refletidas através de comentários pejorativos (“Acho que você estaria melhor pilotando um fogão”); impedimentos a determinados recursos, como tarefas que poderiam permitir o crescimento profissional, viagens ou treinamentos; piadas pornográficas e assédio sexual; além de atitudes diretas ou indiretas de oposição dos colegas, gerentes e/ou supervisores. Esta situação acabou acarretando às mulheres um isolamento social, uma insatisfação com o ambiente de trabalho e um constante estresse, ocasionado pela necessidade de apresentar bom desempenho em ambiente adverso. Buscando ampliar o conhecimento da relação do sexismo ambivalente com outras variáveis, e partindo da constatação dos altos índices de violência doméstica sofrida pelas mulheres, por parte do companheiro, em países como Canadá, Estados Unidos e Brasil, Ferreira, Barros e Souza (2001) realizaram um estudo com o objetivo de conhecer o poder preditivo do sexismo hostil, do sexismo benévolo, do sexo e da idade nas atitudes a respeito da violência doméstica contra a mulher. Para 29 a realização do estudo, fez-se uso da Escala de Atitude sobre a Violência Doméstica contra a Mulher e do Inventário de Sexismo Ambivalente, aplicando-os a uma amostra brasileira de 394 sujeitos (182 homens e 212 mulheres). Realizando uma comparação entre as respostas de homens e mulheres, os resultados demonstraram que, enquanto as mulheres se apresentaram favoráveis ao combate à violência, os homens apresentaram atitudes favoráveis à aceitação da violência doméstica, justificando tal violência como resultado dos comportamentos femininos. Além disto, foi também encontrada uma correlação positiva e significativa entre a violência doméstica e o sexismo ambivalente, demonstrando ser o sexismo hostil um forte preditor da violência doméstica. A partir destas observações, pode-se concluir que o sexismo é um exemplo de construção estereotípica e preconceituosa, uma vez que diz respeito a um conjunto de concepções e julgamentos generalizados a respeito de um grupo, com base em informações bastante pobres e limitadas, legitimando a crença de que todos os membros deste grupo possuem características e atributos semelhantes e proporcionando o surgimento de atitudes para com o grupo em questão. Nesta perspectiva, vale salientar que não apenas o sexismo hostil é responsável por esta discriminação, mas que o sexismo benévolo, de forma subjetiva, também promove a desqualificação do gênero feminino. Embora as ideologias hostil e benévola sejam diferentes em sua forma de apresentação, funcionam conjuntamente no contexto cultural como um conjunto de crenças refletoras de um sistema de recompensa e punição que estimula a aceitação da diferença de poder existente entre os sexos. 30 2.2. - Sexismo Hostil e Sexismo Benévolo O sexismo ambivalente representa um reflexo da hostilidade voltada para a mulher, sem negligenciar um aspecto significante: os sentimentos subjetivamente positivos que freqüentemente acompanham a antipatia sexista. Esses sentimentos “positivos” caracterizam as concepções sexistas benévolas, que se expressam através de atitudes de admiração e proteção e, na maioria das vezes, não são consideradas como uma forma de discriminação contra a mulher. Tais concepções são complementadas por uma considerável saliência das concepções sexistas hostis, estruturadas a partir de uma visão competitiva, que caracteriza as mulheres como controladoras dos homens através da sexualidade ou da ideologia feminista. Estas concepções refletem a permanência do sistema patriarcalista, demonstrando o quanto, em diferentes períodos de tempo, as mulheres foram e ainda têm sido restringidas a papéis sociais com menos status (tarefas domésticas e cuidados com as crianças) que os papéis dos homens (administração de assuntos científicos, políticos e de poder), nos mais diversos contextos sociais e culturais (Glick & Fiske, 1996). Por ser uma forma de preconceito que se apresenta através de comportamentos de proteção e afeição às mulheres, o sexismo benévolo aparece como um “desafio” às afirmações que relacionam a antipatia ao preconceito. Isto é, se se toma como certa a definição de Allport (1954) a respeito de preconceito, na qual se admite que o preconceito é uma forma de antipatia ou hostilidade dirigida a grupos ou a membros específicos desses grupos, o sexismo benévolo não poderá ser concebido como preconceito (por não se apresentar hostilmente, as mulheres 31 sentem dificuldades em resistir ao cavalheirismo expressado pelos homens). Entretanto, se se considera que o preconceito tem como meta primordial colocar o seu objeto em desvantagem, pode-se afirmar que, mesmo se apresentando de forma sutil, o sexismo benévolo é também uma forma de preconceito, que faz uso de um caminho favorecedor às mulheres a fim de propagar a idéia de que o poder dos homens é usado como forma de assegurar proteção para elas. Com base nesta definição de Allport, Ferreira (2000) tenta demonstrar o quanto o sexismo benévolo representa uma forma de preconceito. Partindo da definição de que o preconceito é constituído por três componentes, cognitivo, afetivo e comportamental, pode-se observar que o sexismo benévolo possui suas formas de expressão estruturadas neste modelo: crenças e representações a respeito dos atributos negativos que caracterizam as mulheres (componente cognitivo), sentimentos e avaliações negativas dirigidas às mulheres (componente afetivo) e tendência à prática de atos hostis e persecutórios dirigidos às mulheres (componente comportamental). A ambivalência sentida para com as mulheres não necessariamente apresenta com exclusividade uma ideologia adversária. Na verdade, o que ocorre é uma simultaneidade dos sentimentos ambivalentes, expressos através de estereótipos favoráveis e desfavoráveis, demonstrando serem complementares e guardando entre si uma correlação positiva. Independentemente das formas de expressão, ambos os sentimentos possuem o mesmo impulso primário: o desejo de dominar o gênero feminino. Juntas, as ideologias hostil e benévola constituem uma ideologia de ordem superior, representativa do sistema de recompensa e punição, gratificando as mulheres que incorporam os papéis convencionais de gênero (inferior e incapaz de 32 realizar atividades de âmbito intelectual) e punindo as que desafiam seu status quo, já determinado pela sociedade. Tal sistema busca, primordialmente, incentivar as mulheres a permanecerem em seus papéis convencionais, estabelecidos em função do gênero (Glick & Fiske, 2001a). Diante destas constatações, pode-se supor que, talvez pelo afeto e proteção provenientes das concepções sexistas benévolas, as mulheres se apresentam aceitando mais facilmente tal ideologia, em detrimento das concepções sexistas hostis. O sexismo benévolo, acima de tudo, possui a capacidade de reduzir a resistência feminina ao sistema patriarcalista, uma vez, que sendo subjetivamente favorável à caracterização da mulher, garante o poder masculino, com a tolerância das mulheres ao comportamento sexista. Assim, enquanto o domínio masculino perpetua o sexismo hostil, a dependência feminina favorece o sexismo benévolo. Apesar de resistirem às concepções sexistas hostis, as mulheres, em seu processo de socialização, mesmo encontrando-se no grupo objeto do preconceito, acabam sendo receptoras culturais das crenças originadas da motivação masculina, que as levam a interiorizar a ideologia sexista hostil. Pode-se dizer que tal interiorização faz com que as mulheres, apesar de rejeitarem esta ideologia, apresentam-se em alguns momentos como perpetuadoras da mesma, ou seja, é fácil observar que muitas mulheres, por exemplo, não encaram outras como competentes para ocupar cargos de liderança. Glick e Fliske (1996) caracterizam, como idéia central de sua teoria, que ambas as formas de sexismo se encontram estruturadas sobre três tipos de expressão, definidores de um conjunto de crenças nas quais a ambivalência para 33 com a mulher é inerente, a saber: paternalismo, diferenciação de gênero e heterossexualidade. O paternalismo, concebido como a forma de proceder de um pai para com suas crianças, pode ser expresso tanto através de um paternalismo dominante como de um paternalismo protetor. O paternalismo dominante representa a face hostil da ideologia sexista, na qual os homens representam a figura de autoridade e dominação. Tal face, por ser defensora da crença de que o homem deve ter mais poder que a mulher, objetiva o domínio sobre o gênero feminino e se expressa nos contextos públicos (por exemplo, a discriminação constante às mulheres em seus ambientes de trabalho) e nos contextos privados (a certeza de que os homens, na intimidade sexual, devem tomar as decisões mais importantes para o casal). O paternalismo protetor, por outro lado, propaga a idéia de que as mulheres, por serem frágeis, devem ser protegidas pelos homens. Nos contextos público e privado, tal paternalismo se expressa através de idéias como as de que “as mulheres devem ser socorridas primeiro que os homens em situação de emergência” e “o homem deve ser o provedor e protetor da família”, respectivamente. Apesar da variação entre as culturas, na sua forma de encarar os papéis ocupados por homens e mulheres, a diferenciação de gênero representa um dos mais fortes e antigos tipos de identidade grupal. Tal diferenciação também possui duas formas de expressão, construídas em função da hostilidade e da benevolência para com a mulher. A diferenciação de gênero competitiva, representante da ideologia hostil, realiza constantes comparações entre os sexos na busca de elevar a auto-estima masculina e demonstrar que as mulheres são inferiores na dimensão da 34 competência. Entretanto, objetivando caracterizar as mulheres como capazes de exercer papéis complementares aos dos homens, o gênero feminino recebe socialmente alguns estereótipos favoráveis, associados às atividades domésticas e aos cuidados com as crianças. A diferenciação de gênero complementar propõe a idéia de que, enquanto os homens se concentram em sua carreira, as mulheres devem trabalhar em casa, desempenhando os papéis de “objeto” romântico, esposa e mãe. Finalmente, com a capacidade de criar uma das mais fortes relações entre homens e mulheres na intimidade, a heterossexualidade representa a terceira forma de expressão do sexismo ambivalente. A hostilidade sexual resulta da crença de que a sexualidade das mulheres representa um perigo para os homens, uma vez que os homens se sentem vulneráveis às mulheres em suas relações íntimas. Por outro lado, em função da capacidade das relações românticas inspirarem paixão, devoção e idealização, ambos os sexos buscam a intimidade heterossexual com o parceiro, a fim de alcançarem a verdadeira felicidade da vida. Com o objetivo principal de distinguir ambos os tipos de sexismo, foi elaborado o Ambivalent Sexism Inventory – ASI (Glick & Fiske, 1996), composto por 22 itens, igualmente subdivididos nas dimensões de sexismo hostil e sexismo benévolo. As afirmações apresentadas no ASI estão estruturadas em função de situações características das relações de gênero. As proposições do sexismo benévolo legitimam, de forma sutil, o poder dos homens. Em contraste, as afirmações sexistas hostis justificam o poder dos homens através de uma antipatia sexista, na qual as mulheres são percebidas como fazendo uso da sensualidade e da ideologia feminista 35 para controlar o gênero masculino. Ambos os grupos de itens apresentam-se fortemente correlacionados, através das três sub-dimensões mencionadas pela teoria, para cada ideologia sexista (hostil e benévola, respectivamente): paternalismo dominante e paternalismo protetor, diferenciação de gênero competitiva e complementar, hostilidade sexual e intimidade heterossexual. Finalmente, vale salientar que as análises estatísticas indicam que os sexismos hostil e benévolo compreendem ideologias significativas e coerentes não somente nos Estados Unidos (onde foram inicialmente estudados), mas também em um considerável número de outros países (Glick & cols., 2000). A partir da aplicação realizada em 19 países, entre os quais figurava o Brasil, em uma amostra de 15000 homens e mulheres, Glick e cols. (2000) reconhecem que, embora seja prematuro afirmar a universalidade dos sexismos hostil e benévolo, na maioria dos países constituintes do estudo apresentou-se uma reprodução da ideologia sexista ambivalente. Isto foi notado, principalmente, no que se refere à tendência das mulheres, em comparação com os homens, de rejeitarem as concepções sexistas hostis e aceitarem as sexistas benévolas. Além disso, houve a associação das concepções sexistas benévolas aos estereótipos positivos para com a mulher e das sexistas hostis aos estereótipos negativos. De forma geral, pode-se observar também que, nos países mais sexistas hostis, foram encontradas baixas correlações entre as concepções hostis e benévolas. Tal resultado sugere que os indivíduos sexistas hostis se apresentam mais fechados a aceitarem as concepções sexistas benévolas, ao mesmo tempo em que os sexistas benévolos são mais 36 flexíveis a rejeitarem as concepções sexistas hostis e a encararem as concepções sexistas benévolas tão sexistas quanto as hostis. Com relação às mulheres, estes autores observaram que, em todos os países estudados, estas foram mais resistentes às concepções sexistas hostis do que às benévolas, como uma provável forma de auto-defesa quando a cultura do país apresenta altos níveis de sexismo. Vale salientar ainda que, quando se comparam as concepções masculinas e femininas, encontra-se uma correlação sistemática e inversa: quando as concepções sexistas hostis masculinas atingem altas pontuações, as mulheres apresentam uma forte tendência a aceitar as concepções sexistas benévolas, uma vez que, de acordo com este sistema, elas recebem proteção, admiração e afeição dos homens. Glick e Fiske (1996), por exemplo, com uma amostra de 2250 sujeitos, distribuída por seis estudos, observaram que, de forma geral, enquanto os homens demonstraram atitudes ambivalentes para com as mulheres, estas apresentaram uma menor ambivalência por mostrarem uma maior aceitação da ideologia sexista benévola. A pesquisa realizada por Formiga, Gouveia, Maia e Santos (2002), com 200 estudantes de Psicologia de João Pessoa, com idades variando entre 20 e 56 anos, objetivando a adaptação do Ambivalent Sexism Inventory para o Brasil, encontrou resultados semelhantes. O estudo demonstrou a existência de uma correlação entre o sexismo e o gênero: os homens apresentaram maior sexismo hostil e as mulheres maior sexismo benévolo; o que de certa forma confirma os resultados encontrados em estudos anteriores em outros países. 37 Com o objetivo de verificar a estrutura fatorial do referido inventário em amostras brasileiras, bem como as inter-relações entre seus fatores e as diferenças de gênero manifestas na concordância a tais fatores, Ferreira (2000) aplicou o Inventário de Sexismo Ambivalente a uma amostra de 540 estudantes universitários, com idades de 17 a 28 anos (média = 21,83), igualmente distribuídos entre homens e mulheres. Os resultados demonstraram que com relação ao sexismo benévolo não foi encontrada diferença entre os dois sexos, entretanto, com relação sexismo hostil, pode-se observar uma diferença acentuada, com os homens apresentando resultados significativamente mais altos do que as mulheres (homens, M = 41,76; mulheres, M = 30,77; t = 13,13; p < 0,000). Além destas diferenças entre os gêneros, os resultados também apresentaram boas características psicométricas, no que diz respeito à identificação das atitudes sexistas hostis e benévolas do Inventário de Sexismo Ambivalente. Ou seja, a estrutura bi-dimensional obtida com a análise fatorial da versão brasileira do Inventário reproduziu integralmente as duas formas de sexismo – hostil e benévola – reveladas no estudo original da escala. Portanto, os índices psicométricos obtidos atestam que este é um instrumento válido para a mensuração das concepções hostis e benévolas. Finalmente, também foi possível observar que os sexismos benévolo e hostil são ideologias válidas transculturalmente, uma vez que os resultados brasileiros mostraram grande convergência com aqueles oriundos de amostras diversificadas norte-americanas, mexicanas, chilenas, coreanas e alemães (Ferreira, 2000). 38 Antes de passar ao próximo capítulo, faz-se necessário justificar a suposta relação entre o sexismo ambivalente e as atitudes de ciúme romântico, proposta no início desta dissertação. A hipótese desta relação resulta da pretensa dominação do homem sobre a mulher, característica das concepções sexistas. Estas idéias, não importando a forma como se expressem, têm sempre como meta final mostrar superioridade e controle sobre as mulheres, que são vistas freqüentemente como um grupo social inferior. O ciúme romântico, por ser um sentimento que diz respeito às intenções de um parceiro para com a outra pessoa, dentro de um relacionamento amoroso, pode ser influenciado pelas concepções sexistas que os homens têm a respeito das mulheres. A partir destas suposições, buscar-se-á observar se as concepções construídas a respeito dos papéis que cabem às mulheres, dentro da dinâmica social, são capazes de influenciar o ciúme romântico, considerado como um sentimento próprio das relações amorosas. 39 Capítulo 3 40 3. – Ciúme Romântico Tendo como característica principal o processo de comparação com outros indivíduos, o ciúme diz respeito a um dos fenômenos produzidos nas relações interpessoais. Tal processo possui a capacidade de acarretar conseqüências cognitivas e afetivas à auto-estima, refletidas principalmente através de ansiedade, falta de ânimo e uma constante avaliação dos outros em função da comparação. De acordo com Salovey e Rodin (1984), existem dois tipos de ciúme: o ciúme de comparação social, que é caracterizado pelo desejo de superioridade, quando se realiza a comparação, e o ciúme de relação social, resultado de um desejo por exclusividade na relação. Quando esta relação é caracterizada como romântica, uma forma específica do ciúme emerge, como conseqüência da certeza ou suspeita de que a relação está ameaçada: o ciúme romântico. 3.1.- Definição e Principais Características Para White (1981a), o ciúme romântico diz respeito a um campo mais complexo das relações interpessoais, constituindo não apenas uma simples emoção, construída na tentativa de enfrentar a ameaça de um rival, mas sim um conglomerado capaz de inter-relacionar processos emocionais, cognitivos e comportamentais. A partir de tal observação, o referido autor conceitua o ciúme romântico como um “complexo de pensamentos, sentimentos e ações que seguem as ameaças da auto-estima e/ou ameaças da existência ou qualidade da relação, quando estas ameaças são geradas pela percepção de uma atração real ou potencial entre o parceiro e um (talvez imaginário) rival” (p. 296). Além disto, por 41 dizer respeito aos pensamentos, sentimentos e ações do indivíduo, em relação a ele mesmo e ao contexto cultural no qual está inserido, a forma de expressão do ciúme poderá diferir de pessoa para pessoa e de situação para situação. Nesta definição, podem ser encontradas ao menos oito características importantes: 1) O ciúme como um complexo de pensamentos, emoções e ações – o complexo com sentido de um construto composto de partes interrelacionadas; 2) A existência de dois sentimentos caracterizadores de tal complexo – de forma inerente à vivência do ciúme, podem emergir os sentimentos de perda e ameaça, tanto à auto-estima como à relação romântica; 3) As sensações de perda e ameaça resultando de duas percepções distintas – percepção de uma relação rival real ou imaginária; 4) A percepção tendo origem em duas situações – a percepção da relação rival podendo resultar de uma nova relação real ou do início de uma relação potencial, a qual envolve o parceiro; 5) O tipo de percepção – a percepção das relações rivais imaginárias e a percepção das relações rivais reais; 6) A existência de duas formas de sentir a ameaça do ciúme – a ameaça sentida pela pessoa que vivencia o ciúme pode ser quanto à auto-estima ou quanto à relação romântica construída com o parceiro; 7) As conseqüências acarretadas por uma relação rival – uma relação rival ao relacionamento é capaz de ameaçar ou danificar a qualidade da relação. Não necessariamente esta pode chegar ao fim, mas pode passar a ser composta por 42 menos confiança, menos suporte emocional e perda da sensação de singularidade e de que se é uma pessoa especial; 8) Sentido do termo “romântico” – o termo romântico abarcando não apenas o amor apaixonado, mas também o de companheirismo. A partir desta descrição, na qual o ciúme é concebido como um complexo de emoções, pensamentos, sentimentos e comportamentos, oriundos de uma situação específica, White e Mullen (1989) assumem que tal complexo pode até mesmo ser caracterizado como um padrão. Entretanto, salientam estes autores, existe uma flexibilidade inerente à forma de expressão do ciúme romântico, fazendo com que o indivíduo, no decorrer de seu relacionamento, expresse seu ciúme de diferentes maneiras. Tal flexibilidade demonstra que, apesar do ciúme representar uma construção padronizada, seus elementos constitutivos (emoção, pensamento e comportamento), no que diz respeito à sua forma de expressão, não seguem moldes pré-estabelecidos. 3.2.- Elementos Constitutivos White e Mullen (1989) defendem a existência de uma estrutura multidimensional inerente aos elementos constitutivos do ciúme romântico. Para os autores, o ciúme romântico possui elementos primários, as reações emocionais, os elementos secundários e os esforços de enfrentamento. 43 3.2.1.- Elementos Primários Os elementos primários dizem respeito às emoções sentidas no momento da vivência do ciúme romântico. Para White e Mullen (1989) existem três tipos de situações capazes de estimular estas emoções: (1) o julgamento a respeito de uma relação rival imaginária, sem a crença de que esta relação realmente exista; (2) as avaliações suscitadas sobre a existência ou não-existência de uma relação rival; e (3) os graus de ameaça e medo resultantes da relação rival real ou potencial. 3.2.2.- Reações Emocionais Com relação à expressão das reações emocionais suscitadas na experimentação do ciúme, White e Mullen (1989) postulam a existência de duas fases inerentes a tal processo: a forma de responder ao medo de uma possível relação rival e a forma de responder à ameaça rival já existente. Vale salientar que a qualidade das respostas emocionais emitidas pelos sujeitos pode ser influenciada tanto por fatores situacionais como por ações pessoais e culturais, inerentes à reação do ciúme. 3.2.3.- Elementos Secundários As avaliações secundárias não apenas contribuem para as avaliações realizadas pelos indivíduos ameaçados, mas são também capazes de habilitá-los para elaborar esforços de enfrentamento, assim como para avaliar os resultados obtidos a partir destes esforços. Para White e Mullen (1989), existem quatro 44 processos inerentes às avaliações secundárias: (1) os motivos que levam à avaliação; (2) a comparação social com o rival; (3) as avaliações alternativas; e (4) a sensação de perda após a avaliação. 3.2.4.- Esforços de Enfrentamento Buscando fundamentalmente uma alteração na situação de ameaça, o indivíduo que se sente ameaçado elabora constantemente maneiras que levem à sua redução. White e Mullen (1989) identificaram oito tipos principais de enfrentamento para a ameaça sentida: (1) intenção de melhorar a relação – nesta situação, o indivíduo ameaçado tenta tornar a relação mais atrativa para o parceiro do que é a relação rival; (2) interferir na relação rival – através da interferência, o parceiro ameaçado busca tornar a relação rival menos atrativa; (3) exigir maiores provas de confiança do parceiro – através de tais exigências, espera-se construir “formalidades” (por exemplo, o casamento), a fim de fortalecer a relação; (4) denegrir o parceiro e/ou o rival – através da diminuição do parceiro, o indivíduo ameaçado espera reduzir a ameaça de sua auto-estima. Denegrindo a relação rival, espera-se reduzir a ameaça de perda da relação; (5) desenvolvimento de alternativas – através do desenvolvimento de novas alternativas para a relação, procura-se alcançar recursos que garantam tornar mais desejosa a interação dentro do relacionamento; (6) recusar e/ou evitar o parceiro – através da recusa, o parceiro ameaçado busca uma nova forma de conduzir a relação que possa diminuir a ameaça; (7) realizar constantemente auto-avaliações – através de mudanças pessoais, busca-se tornar melhores as relações percebidas como ameaçadoras; e (8) apoio – o indivíduo 45 ameaçado busca manter a relação através de expressões de apoio ao parceiro romântico. 3.3.- Principais Variáveis Relacionadas ao Ciúme Romântico Apesar das constantes tentativas de definir o ciúme romântico, White (1981b) constatou que são encontradas poucas referências na literatura especializada da área a respeito da relação entre o ciúme e outras variáveis. Diante de tal observação, o referido autor selecionou um conjunto de variáveis possivelmente relacionadas ao ciúme romântico: (1) auto-estima – a possibilidade da auto-avaliação do indivíduo ser influenciada pela sua relação com o parceiro amoroso; (2) auto-estima dependente – quando a auto-avaliação do indivíduo é influenciada pela avaliação do parceiro ao ponto deste se sentir desestruturado diante da possibilidade de perdê-lo; (3) dependência da relação – quando pensar na atração do parceiro por um rival se torna ameaçador ao bem estar do indivíduo; (4) percepção da dependência do parceiro – quando o indivíduo acredita que a relação é bastante recompensadora para o parceiro. Tal certeza o torna menos vigilante a respeito das indicações de que o parceiro está atraído por outra relação; (5) exclusividade – quando o ciúme é suscitado em decorrência da concorrência com um rival; (6) inadequação com o parceiro – quando o indivíduo se sente inadequado ao parceiro, tornando-se mais propenso a acreditar na existência de uma relação entre ele e um rival; (7) romantismo – na perspectiva do “romantismo”, o ciúme representa o sinal do amor; (8) papel tradicional dos sexos – esta perspectiva considera a atração feminina por outro indivíduo bastante ameaçadora, uma vez que a atração feminina é concebida 46 como estando associada a um “amor real”, enquanto que a masculina é vista como resultado do “apetite sexual” masculino; e (9) ordem de nascimento – nesta perspectiva, sugere-se que o primeiro indivíduo a nascer, por ser mais ciumento, torna-se mais dependente e sensível às críticas daqueles que são por eles amados. A partir da elaboração de uma hipotética relação entre o ciúme e as variáveis acima apresentadas, White (1981b), utilizando escalas desenvolvidas especialmente para a realização deste estudo, observou que, de forma geral, o ciúme masculino relacionou-se de forma positiva com as variáveis papel tradicional dos sexos e autoestima-dependente, além de relacionar-se de forma negativa com a auto-estima. O ciúme feminino, por outro lado, apareceu relacionado positivamente à variável dependência na relação. Diante de tais resultados, pode-se sugerir que, enquanto os homens guiam-se por concepções tradicionais estabelecidas socialmente nas suas construções relacionais (refletidas no presente estudo por uma pontuação significativa com relação às variáveis auto-estima, auto-estima dependente e papel tradicional dos sexos), as mulheres se preocupam de forma mais direta com a relação propriamente dita e com os sentimentos a ela relacionados. Objetivando apresentar uma possível estruturação teórica capaz de analisar o ciúme romântico, Pines e Friedman (1998) enquadraram as definições para o ciúme romântico em duas diferentes perspectivas: a sócio-cultural e a evolutiva. De acordo com a visão sócio-cultural, o ciúme romântico se caracterizaria como um fenômeno cultural, determinado por forças e normas sociais capazes de distinguir, para homens e mulheres, as respostas apropriadas para cada tipo de situação. Nessa perspectiva, o ciúme romântico pode ser definido como uma reação à ameaça percebida em uma 47 relação valorizada, enquanto que para a visão evolutiva, o ciúme romântico consiste em uma resposta inata e universal, formada por diferentes forças evolutivas. 3.4.- O Estudo do Ciúme e a Ênfase no EU Dentre as variáveis mais extensamente estudadas como relacionadas ao ciúme romântico, a auto-estima aparece como a mais freqüente. White e Mullen (1989) evidenciam a existência de uma preocupação em estruturar mais especificamente os sentimentos próprios da relação romântica e sua inter-relação com a auto-estima, sendo buscadas explicações para os significados concernentes à satisfação das experiências relacionais e à natureza do valor do eu, respectivamente. No que concerne ao estudo das relações humanas, foram estabelecidas duas dimensões inter-relacionais dominantes: 1) as relações de poder que envolvem dependência, interdependência, domínio e poder, construídas dentro da relação romântica; e 2) as relações referentes aos aspectos afetivos da relação (conhecida comumente como relação de “amor e ódio”). Quanto ao valor do eu, diz respeito a um conjunto de significados representativos da dimensão interpessoal e das experiências relacionais íntimas, com capacidade de prover significados a respeito do indivíduo. Diante de tal estrutura, dois aspectos se fazem relevantes na abstração dos significados da relação romântica: a auto-estima, conceituada como o grau de análise do eu e o auto-conceito, caracterizado como os conteúdos de conhecimento organizados a respeito do eu. 48 Teoricamente, auto-estima e auto-conceito representam conceitos distintos. De acordo com esta perspectiva, a ameaça à auto-estima ocorre quando o indivíduo, em função de suas experiências, passa a valorizar as características do eu com menos valor do que anteriormente estas eram valorizadas. Por outro lado, a ameaça experienciada pelo auto-conceito representa um auto-conhecimento incompleto, capaz de acarretar reações aversivas nas relações interpessoais, decorrentes da insegurança sentida com relação ao futuro. De acordo com White, o ciúme romântico possui a capacidade de ocasionar ameaça e até mesmo diminuição da auto-estima, gerando, conseqüentemente, danos ao auto-conceito: quanto mais ameaçadoras são as informações a respeito de uma relação rival, mais intensos são os desafios ameaçadores vivenciados pelo eu. Vale salientar, entretanto, que as ameaças à auto-estima não são sempre equivalentes às ameaças ao auto-conceito. Saber, por exemplo, que o parceiro está romanticamente atraído por outra pessoa, é, pode-se dizer, a informação mais ameaçadora obtida ou inferida por um determinado indivíduo, com capacidade de sinalizar a desvalorização de tal indivíduo quanto a aspectos centrais do eu, a partir de uma dolorosa comparação, mas não necessariamente com a mesma capacidade de ameaçar também seus conteúdos organizados de conhecimento. 3.5.- Aspectos Estruturais do Ciúme Romântico Segundo White e Mullen (1989), quando no momento da padronização estrutural a respeito do ciúme, faz-se necessário conhecer e compreender os seguintes aspectos a ele relativos: (1) os padrões rotulados como ciúme - partindo-se 49 do pressuposto de que o indivíduo representa um subsistema de um sistema maior e mais complexo, que são as relações românticas, que por sua vez representam subsistemas de uma ordem superior composta pela família, pelo trabalho e pelas amizades, pode-se dizer que os rótulos construídos a respeito do ciúme constituem produtos culturais, influenciando a cultura e sendo, ao mesmo tempo, por ela influenciados; e (2) as propriedades do sistema construídas na vivência do ciúme - o sistema estrutural do ciúme, constituído por pensamentos, comportamentos e sentimentos relacionados à sua experimentação, constitui um todo complexo, no qual são interrelacionados as vivências de quem se sente ameaçado (estratégias de competição e sentimentos de depressão e inferioridade) e a confiança sentida por quem é amado. 3.6.- Construções Relacionais e Forma de Expressão White e Mullen (1989), através de seu modelo teórico, preocuparam-se também em delimitar as possíveis formas de expressão do ciúme romântico. Neste aspecto, o modelo sugere a existência de uma característica multifacetada inerente à expressão da ameaça sentida tanto pela auto-estima como pela relação romântica. Este aspecto multifacetado se reflete a partir de cinco formas de construções relacionais, que dizem respeito ao que é ameaçado ou perdido, à natureza da proteção contra a ameaça, à natureza do significado de recuperação da perda e à probabilidade de sucesso da relação rival. As estruturas são as seguintes: 1) Investimentos e Recompensas. Partindo do pressuposto de que quanto mais valorizada é a relação romântica maior é a tentativa em mantê-la e maior a vigilância 50 às ameaças com fortes reações emocionais à perda ou ameaça da perda, observase que também são intensos os investimentos, como tempo e energia, em busca do desenvolvimento e permanência da relação. Tais investimentos demonstram que são capazes de refletir o objetivo de manter a relação e que a sua permanência, neste contexto, pode ser considerada como a recompensa mais desejada; 2) Saliência e Avaliação das Dimensões do Auto-Conceito. Admitindo-se que os conhecimentos referentes ao auto-conceito são influenciados diretamente pelas relações românticas, pode-se compreender porque suas saliências e suas avaliações dimensionais são também influenciadas pelas avaliações a respeito do indivíduo, realizadas pelo parceiro. Em função da intimidade das relações românticas, as observações feitas a respeito de uma determinada pessoa, por seu parceiro amoroso, recebem normalmente mais credibilidade quando comparadas às observações de outras pessoas; 3) Segurança na Relação Investimento-Recompensa. White e Mullen (1989) partem do conceito de vulnerabilidade, caracterizada como a ação de equilibrar os elementos que as pessoas buscam manter, com os recursos que elas têm disponíveis para tal manutenção. Com base nisto, os autores sustentam que os parceiros amorosos desenvolvem constantemente arranjos preventivos e minimizadores da perda de seus investimentos, objetivando o aumento dos recursos que os façam menos vulneráveis; 4) Segurança da Auto-Estima e do Auto-Conceito. Para White e Mullen (1989), a competição entre determinado indivíduo e seu rival, na relação romântica, possui a capacidade de fazê-lo experimentar uma desvalorização correspondente aos 51 aspectos centrais do eu (a desvalorização da auto-estima), acarretando implicações nas incorretas concepções do auto-conceito; 5) Capacitação para a Observação da Existência de uma Relação Rival Real ou Potencial. Este aspecto diz respeito aos fatores que capacitam o percebedor à observação da existência de uma relação rival real ou potencial. 3.7.- Outras Tentativas de Definições Assim como White e Mullen (1989), outros autores têm atualmente demonstrado interesse pelo tema. Tal interesse é refletido através da elaboração de diferentes definições para o ciúme romântico. Hansen (1983), por exemplo, o define como uma reação de proteção em face de uma ameaça percebida, em uma relação de afeto valorizada. A partir de seus estudos, o autor sustenta que o ciúme é vivenciado em maior intensidade pelas pessoas que se sentem inseguras nos seus relacionamentos amorosos, em contraste com aquelas que vivenciam grande satisfação. Tentando responder à questão sobre o que constitui o ciúme romântico, Pfeiffer e Wong (1989) buscaram conhecer os seus elementos constituintes, ressaltando as diferenças existentes entre a teoria de White e a teoria por eles construída. Os autores argumentam que, embora concordem com White que o ciúme romântico constitui uma reação emocional multidimensional, envolvendo pensamentos, sentimentos e comportamentos reproduzidos, esta concordância não acontece em relação a quatro pontos. Primeiramente, para White, o ciúme surge sempre após uma ameaça percebida, enquanto que Pfeiffer e Wong aceitam que o 52 ciúme pode ser sentido mesmo na ausência desta ameaça (por exemplo, no caso de um ex-marido que sente ciúme do parceiro atual de sua ex-esposa). Em segundo lugar, White enfatiza o ciúme como resultante de uma avaliação a uma situação atual, enquanto Pfeiffer e Wong dão ênfase a uma suspeita permanente do sujeito, concernente à infidelidade do parceiro. Como terceira diferença encontrada, White concebe o ciúme como uma estratégia cognitiva e comportamental, enquanto Pfeiffer e Wong conceituam o ciúme romântico como uma medida de proteção ao se imaginar uma relação rival. Finalmente, White encara o ciúme como um processo seqüencial da cognição para a emoção, enquanto que Pfeiffer e Wong defendem a existência de um modelo paralelo, no qual cognição e emoção ocorrem simultaneamente. 3.8.- Diferenças entre Gêneros Pines e Friedman (1998) objetivaram conhecer as reações dos sujeitos caso descobrissem que seu parceiro estava interessado por outra pessoa. Previamente, foi elaborado um modelo constituído por cinco formas de expressão do ciúme romântico: nível - intensidade e freqüência; desencadeamento - emocional vs. ameaça sexual; experiência - dor e tristeza vs. raiva; focalização - ameaça para a relação vs. ameaça para a auto-estima; e tipo de respostas - manutenção da relação vs. manutenção do ego. A focalização principal do estudo consistiu em identificar as condições dentro das quais homens e mulheres diferem em suas reações referentes às cinco formas de expressão do ciúme descritas. Apesar das diferentes amostras, diferentes métodos de pesquisa e diferentes instrumentos utilizados, os resultados 53 demonstraram que, embora não tenham sido encontradas diferenças concernentes ao nível de ciúme, foram claras as diferenças de gênero com relação aos objetivos, foco, experiência, expressão e reações frente aos eventos causadores de ciúme. Isso demonstra, mais uma vez, que as diferenças entre homens e mulheres, com relação ao ciúme, não concernem à intensidade, mas sim à forma como ambos os gêneros (talvez em função das diferenças estabelecidas socialmente) vivenciam este sentimento. White e Mullen (1989) observaram que são várias as diferenças de gênero encontradas nas pesquisas a respeito do ciúme e, de forma geral, tais diferenças são relevantes para a compreensão da influência dos fatores culturais, biológicos e relacionais na experimentação do ciúme romântico. As principais diferenças encontradas foram as seguintes: 1) Intensidade De acordo com a maioria das pesquisas realizadas na área, os resultados não demonstram diferenças entre os gêneros com relação ao nível de ciúme autoobservado; 2) Focalização da Ameaça: Ameaça Sexual vs. Ameaça Relacional Observa-se, através tanto da área clínica como da área social, que os homens se mostram mais centrados nos aspectos sexuais da relação, enquanto que nas mulheres esta atenção aparece focalizada no medo da perda da relação e na qualidade emocional da relação rival (Bringle & Buunk, 1985; White, 1981). A maioria das pesquisas demonstra que os homens se sentem mais ameaçados pelos aspectos sexuais da relação rival, o que faz com que se preocupem constantemente 54 com os aspectos sexuais da sua própria relação. Por outro lado, as mulheres, diante da ameaça sentida, dispensam maior atenção ao tempo e à atenção dedicados ao parceiro, preocupando-se fundamentalmente com o grau de atração percebida entre o seu parceiro e a rival; 3) Avaliações Secundárias No que diz respeito às relações secundárias, as mulheres se apresentam mais preocupadas sobre os motivos de seus parceiros para procurarem relacionamentos externos (atribuindo a necessidade sexual como motivo para tal procura). Para os homens, entretanto, sua procura externa é resultado de uma necessidade de atenção vivida na relação; 4) Emoções Enquanto as mulheres, diante da sensação de ciúme, apresentam-se mais propensas a se tornarem ansiosas, confusas, depressivas, deprimidas e temerosas, os homens apresentam sentimentos como cólera e raiva; 5) Esforços de Enfrentamento Além de mais voltadas para conhecer as possíveis relações dos parceiros, as mulheres também aparecem como mais propensas a resolver os problemas relacionais, expressando suas emoções. Por outro lado, os homens demonstram tendência a se comportarem com mais dominação e agressividade. Buscando conhecer as diferenças de gênero na forma de vivenciar o ciúme dentro da relação, Melamed (1991) investigou as formas de expressão de ciúme mais comuns para homens e mulheres. De forma geral, os resultados demonstraram que os homens tendem a reagir com raiva, utilizando tal sentimento como motivo 55 para a separação, uma vez que encaram a experiência do ciúme como uma ameaça sexual. No caso das mulheres, foi possível observar que a vivência do ciúme as torna freqüentemente deprimidas, e que tal sentimento ocasiona a demonstração do medo de perder a relação romântica, com tentativas de aperfeiçoamento. Além disto, as mulheres tendem a se tornar mais ciumentas quando acontece da relação estar em perigo, enquanto que os homens demonstram mais ciúme quando sentem sua auto-estima ameaçada. Finalmente, para ambos os sexos foi possível perceber que o ciúme é vivenciado em maior intensidade pelos parceiros mais envolvidos no relacionamento amoroso. A partir destes resultados, pode-se observar, mais uma vez, que o que existe por parte dos homens é uma tentativa constante de manutenção da sua auto-estima, ao contrário das mulheres, que demonstram um maior esforço para a permanência de sua relação. White e Mullen (1989) observaram a existência de várias definições de ciúme, partindo das áreas clínicas e acadêmicas. Entretanto, apesar da considerável variedade, constataram a presença constante de quatro temas causais: ameaça à auto-estima, reação de ameaça à relação romântica, resultante de possessão, exclusividade e rivalidade e o ciúme como resultado de um objetivo instintivo. Estes temas são sumarizados a seguir: 1) Ameaça à Auto-Estima A elaboração da relação entre a auto-estima e o ciúme é permanente, como já foi sugerido previamente. Tais elaborações apresentam a auto-estima tanto como causa do ciúme quanto como resultado de uma mistura de emoções mediadoras da relação entre a ameaça e o comportamento; 56 2) Ameaça à Relação O medo da perda do parceiro é também um aspecto presente nas mais variadas definições, sem um critério claro do que significa a perda completa da relação e a perda de sua qualidade; 3) Ênfase na Exclusividade, Possessão e Rivalidade Nas mais diferentes definições, a possessão, a exclusividade e a rivalidade são relatadas em relação a como a pessoa se sente e se comporta diante do ciúme, além de constituir uma reação à forma de perceber tal ameaça; 4) Reações Instintivas Para algumas abordagens teóricas, o sentimento de ameaça à auto-estima constitui um fenômeno instintivo, em decorrência do ciúme ser uma reação sexual, instintiva e natural. 3.9.- Considerações Finais Nas várias tentativas de definição, o ciúme tem sido visto como ameaça para a auto-estima, manifestação da perda de monopólio do amor, reação à violação das normas prioritárias para a relação, projeção da incapacidade de impulsos homo e heterossexuais, ou ainda como uma manifestação simbólica da perda de uma relação valorizada. Vale lembrar que as ameaças desencadeadoras de ciúme podem ser reais ou imaginárias. Ramos, Yazawa e Salazar (1994) concluem que, apesar de serem várias as definições a respeito do ciúme romântico, a maioria é perpassada pela idéia de três elementos comuns: (1) uma reação frente a uma ameaça 57 percebida; (2) que parte de um rival real ou imaginário; e (3) que tem como objetivo eliminar os riscos da perda do amor. Pode-se dizer que, assim como acontece com as concepções construídas a respeito da mulher, o ciúme recebe forte influência do contexto no qual está inserido. As evidências encontradas demonstram uma interação entre as construções culturais dos papéis de gênero e as formas de vivência do ciúme romântico, o que sugere mais uma vez a possível ligação existente entre este sentimento e as construções estereotípicas a respeito da mulher. Os dados das diversas pesquisas mostram que as concepções são construídas culturalmente, como as que sustentam que a mulher é mais sensível e frágil ao vivenciar as relações de ordem sentimental. As evidências empíricas também demonstram que os homens fazem uso do ciúme como motivo para findar seus relacionamentos, por não aceitarem experienciá-los. Neste caso, as preocupações dos homens aparecem voltadas muito mais para a sua imagem social e a sua auto-estima do que para a relação. Tais constatações podem ser interpretadas com base na convicção de que ainda hoje homens e mulheres “recebem” e aceitam socialmente já prontos os papéis que por eles devem ser representados. Esta aceitação de papéis instituídos talvez possa ser compreendida em função da interiorização das concepções sexistas divulgadas socialmente, nas quais os homens são vistos como fortes protetores e as mulheres como criaturas frágeis que devem ser protegidas, além de conformadas com os papéis recebidos, sem ter poder de desafiá-los. Os aspectos relacionais do ciúme são complexos e freqüentemente contraditórios, com dificuldades nas construções conceituais. Finalmente, apesar da 58 sua importância na área dos relacionamentos interpessoais, e mesmo diante da construção de algumas teorias importantes ao seu respeito (como a de White, por exemplo), observa-se que o ciúme romântico é normalmente citado pelos estudiosos da área como um fenômeno ainda em processo de conhecimento e definição. 59 Capítulo 4 60 4.- Valores 4.1.- Introdução Os valores humanos constituem uma estrutura bastante complexa. Algumas demonstrações desta complexidade estão nas diversas tentativas de delimitar seus parâmetros, construir definições e elaborar teorias a seu respeito, além da ampla variedade de atributos como prazer, sofrimento e obrigações morais aos quais os valores se encontram relacionados (Gouveia, 1998). Ao final da década de 60, após consideráveis tentativas de definição e contextualização dentro da Psicologia, tanto no campo da Personalidade como da Psicologia Social, os valores passaram a ter uma considerável relevância na Psicologia Social Cognitiva, através de Rokeach (1973), que nesta época, por haver demonstrado grande dedicação e interesse pelo tema, destacou-se como um dos maiores estudiosos da área. Para Rokeach, os valores representam o resultado da cultura, da sociedade e da personalidade, com a capacidade de determinar atitudes e condutas. Diante de tal observação, o autor propõe que: “o valor é uma crença duradoura de um modo específico ou um estado final de existência, que é pessoal ou socialmente preferível a um oposto ou contrário modo de conduta ou estado final de existência. Um sistema de valores é uma organização duradoura de crenças referentes a modos de conduta ou estados finais de existência ao longo de um contínuo de relativa importância” (Rokeach, 1973, p.5). A fim de esclarecer tal definição, Rokeach (1973) elabora a seguinte lista de características dos valores: 61 1) O valor é duradouro – nesta perspectiva, é proposto que, caso os valores fossem completamente estáveis para os indivíduos, seria impossível o processamento das mudanças individuais e sociais; por outro lado, se os valores fossem completamente instáveis, seria impossível ser construída uma continuidade valorativa humana pessoal e social. A partir desta observação, Rokeach sugere que a adoção de determinados valores requer um constante equilíbrio entre concebê-los como absolutos e desejar integrá-los a novos valores, caso a situação assim exija; 2) O valor é uma crença – partindo do pressuposto de que as crenças são inferências construídas a respeito dos estados fundamentais de observação, Rokeach propõe três tipos de crenças: descritivas ou existenciais – crenças capazes de ser julgadas como verdadeiras ou falsas; avaliativas - crenças nas quais seu objeto pode ser julgado como bom ou ruim; e prescritivas – crenças que possibilitam o julgamento das ações em desejáveis ou indesejáveis. A partir desta definição, este autor caracteriza os valores como uma crença prescritiva, por ser a relação valorindivíduo, uma relação de preferência. Além disso, tanto os valores como as crenças possuem, em sua constituição, componentes cognitivos, afetivos e comportamentais. Tal característica possibilita aos valores constituírem uma cognição sobre o desejável, com influências afetivas que conduzem o indivíduo à ação; 3) Os valores se referem a um modo de conduta ou estado final de existência – em função da sua atuação, os valores podem representar modos de conduta – valores instrumentais, que focalizam condutas inter ou intrapessoais; e estados finais de existência – valores terminais, que dizem respeito aos valores morais e de competência. Ambos os sistemas de valores, apesar de separados, são 62 estruturalmente interconectados: os valores relacionados aos modos de conduta são instrumentais, ao alcance de valores representantes dos estados finais de existência. Uma melhor compreensão desta elaboração pode ser observada na Figura 1: Tipos de Valores Terminais Finais (estados finais de existência) (modos de conduta) Pessoais De competência Centrados na própria pessoa, de foco intrapessoal Sua transgressão provoca vergonha, de foco intrapessoal Sociais Morais Centrados na sociedade, de foco interpessoal Sua transgressão provoca culpa, de foco interpessoal Figura 1. – Tipos de valores instrumentais e terminais em Rokeach (Gouveia, 1998) 4) Os valores representam preferências – os valores têm como subjacente, em sua construção, a característica fundamental de representar o desejável; 5) Os valores representam a concepção de alguma coisa pessoal ou socialmente preferível – os valores são versáteis em sua interiorização por parte do indivíduo: sua aplicabilidade transita com facilidade da aceitação pessoal ao compartilhamento social. Podem ser aplicados, com igual intensidade: ao indivíduo e ao grupo do qual este indivíduo faz parte; apenas ao grupo, mas não ao indivíduo; apenas ao 63 indivíduo, mas não ao grupo; mais ao grupo do que ao indivíduo; e, ainda, mais ao indivíduo do que ao grupo. Além de construir uma definição para os valores, tentando demonstrar a importância deste fenômeno no contexto social, Rokeach se preocupou em delimitar e distinguir os valores de outros fenômenos sociais. Segundo este autor, tal preocupação se faz necessária, uma vez que os valores são estruturas complexas que, por estarem relacionadas aos padrões de comportamento em diversas condições e de várias formas, apresentando-se como planos gerais para resolução de conflitos e tomadas de decisão, acabam muitas vezes sendo confundidos com fenômenos como atitudes, normas sociais, necessidades, traços de personalidade e interesses. A partir destas observações, Rokeach (1973) estabeleceu cinco pressupostos básicos para os valores: (1) o número total de valores que uma pessoa possui é relativamente pequeno; (2) independentemente da cultura, todas as pessoas possuem os mesmos valores, variando apenas o grau de importância que se atribui a cada um deles; (3) os valores se encontram organizados em um sistema; (4) a explicação deste sistema pode variar de acordo com a cultura, a sociedade e a personalidade; e (5) as conseqüências manifestas dos valores constituem fenômenos considerados pelos cientistas sociais como merecedores de estudos. Rokeach (1973) apresenta ainda a funcionalidade como uma característica própria dos valores. Os valores, por serem padrões de conduta, têm inerente em sua estrutura a capacidade de posicionar o indivíduo diante de princípios sociais e diante 64 dos demais indivíduos, possibilitando-o avaliar, julgar e censurar a si mesmo e aos outros. Neste contexto, o autor aponta seis funções básicas inerentes aos valores: 1) Os valores como critérios – os valores constituem critérios regentes da conduta humana em situações diversas como, por exemplo, tomar posição diante uma questão social, persuadir e influenciar os demais ou ainda realizar avaliações e julgamentos tanto para si como para os demais; 2) Os valores como planos gerais para a resolução de conflito e a tomada de decisão – neste aspecto, os valores são concebidos como um conjunto de regras aprendidas, que servem para solucionar conflitos e tomar decisões; 3) Função motivacional – os valores são constituídos por uma base motivacional que, através dos modos de conduta, conduz o indivíduo à realização das metas finais desejadas; 4) Função adaptativa – observa-se que a maioria dos valores (tanto os instrumentais quanto os terminais) tem claramente uma capacidade adaptativa; 5) Função egodefensiva – pode-se ver que os valores, não importando se instrumentais ou terminais, representam conceitos construídos culturalmente, com a finalidade de manter uma constante harmonia social; 6) Função de conhecimento e auto-realização – de forma geral, os valores possuem, em sua estrutura, uma busca constante de significado e uma necessidade de compreensão, objetivando o conhecimento do que se tem ao redor. Diante de tais construções, observa-se que, para Rokeach, os valores constituem um conjunto de crenças normativas, afetivas e cognitivas, através das quais é possível prescrever modos de conduta e estados finais de existência, 65 representando as normas culturais socialmente aprendidas e condicionadas por aspectos situacionais. Tomando como parâmetro teórico a teoria de Rokeach, Schwartz iniciou seus estudos na mesma área (Schwartz & Bilsky, 1987). Inicialmente, Schwartz (2001) observou que, apesar das dificuldades encontradas por diversos pesquisadores na tentativa de definição dos valores, cinco características se fazem presentes em tais definições: 1) uma crença, 2) que pertence a fins desejáveis ou a formas de comportamentos, 3) que transcendem as situações específicas, 4) que guiam a seleção ou avaliação de comportamentos, pessoas e sucessos e 5) que se ordena por sua importância relativa a outros valores, para formar um sistema de prioridades valorativas. Mais especificamente, Schwartz (2001) defende que os valores são caracterizados como metas desejáveis e trans-situacionais que variam de importância e servem como princípios na vida de uma pessoa ou de uma entidade social. Subjacente à definição dos valores como metas, o referido autor observa que tal construto serve aos interesses de alguma entidade social, podem motivar a ação, funcionam como critérios para julgar e justificar tal ação e são adquiridos tanto através da socialização pelos valores dos grupos dominantes como através da experiência pessoal de aprendizagem. A partir desta teorização, este autor propõe uma nova definição para os valores, reunindo considerações comuns acerca do tema e estruturada em três requisitos universais: (1) as necessidades do organismo (enquanto organismo biológico); (2) as necessidades de interação social coordenada; e (3) as necessidades de manter as demandas sociais. 66 Em função destes três requisitos universais, Schwartz observou a possibilidade de derivar dez tipos motivacionais de valores: autodireção, estimulação, hedonismo, realização, poder, segurança, conformidade, tradição, benevolência e universalismo. Tais tipos motivacionais se encontram organizados de modo circular, a partir de quatro dimensões: (1) abertura à mudança – composta pelos tipos motivacionais estimulação e auto-direção; (2) conservação - constituída pelos tipos motivacionais segurança, conformidade e tradição; (3) autopromoção – que diz respeito aos tipos motivacionais poder, realização e hedonismo; e (4) autotranscendência – formada pelos tipos motivacionais universalismo e benevolência. A partir da delimitação destes dez tipos motivacionais, Schwartz (2001) buscou identificar um conjunto de relações dinâmicas entre tais tipos motivacionais, os valores específicos e outras variáveis, tendo subjacente que a identificação das relações das ações empregadas na realização de cada valor tem conseqüências psicológicas, práticas e sociais que podem entrar em conflito ou serem compatíveis com a realização de outros tipos de valores. Por exemplo: abertura à mudança mantém uma estrutura contrária à conservação, assim como a autopromoção encontra-se em um pólo oposto à auto-transcendência. Tal estruturação pode ser observada na Figura 2: 67 AUTO-TRANSCENDÊNCIA Benevolência Tradição Autodireção Conformidade Estimulação Segurança CONSERVAÇÃO ABERTURA À MUDANÇA Universalismo Hedonismo Realização Poder AUTO-PROMOÇÃO Figura 2. – Estrutura Bidimensional dos Tipos Motivacionais (adaptado de Schwartz, 1992). Vale salientar que, embora exista diferença entre os tipos de valores, estes formam um contínuo de motivações relacionadas, assim organizados: a) Poder e realização – enfatizam a superioridade e a estima social; b) Logro e hedonismo – centram-se na satisfação pessoal; c) Hedonismo e estimulação – implicam o desejo de despertar o afetivo; d) Estimulação e autodireção – compartilham o interesse pela novidade e maestria; 68 e) Autodireção e universalismo – confiança na própria capacidade e conforto com a diversidade da existência; f) Universalismo e benevolência – preocupam-se com o bem-estar dos demais e em transcender os interesses egoístas; g) Benevolência e conformismo – propagam o comportamento normativo que promovem as relações; h) Benevolência e tradição – estimulam a devoção ao próprio grupo; i) Conformismo e tradição – implicam a subordinação do eu a favor das expectativas sociais impostas; j) Tradição e segurança – preservam os acordos sociais existentes, a fim de dar segurança à vida; k) Conformismo e segurança – estimulam a proteção à ordem e à harmonia nas relações; l) Segurança e poder – referentes à tendência de evitar o medo diante do controle das relações e dos recursos. Finalmente, Schwartz sintetiza os valores como conceitos ou crenças capazes de expressar estados finais de existência ou comportamentos desejáveis, que transcendem as situações específicas, guiam a seleção e a avaliação de comportamentos e eventos, sendo classificados por sua importância relativa. Desta maneira, a adoção de determinados valores é capaz de indicar interesses de ordem individual – que atendem aos propósitos imediatos da própria pessoa; de ordem coletiva – que cumprem prioritariamente aos anseios do grupo; e ainda de ordem mista – que atendem tanto aos objetivos do grupo quanto aos do indivíduo. Schwartz 69 defende ainda a existência tanto de compatibilidade como de conflito entre os valores individuais e coletivos. Posteriormente, guiado por uma perspectiva sociológica, Inglehart (1991) se dedicou ao estudo dos valores em função das questões sociais que enfatizam a qualidade de vida. Em suas análises, Inglehart focalizou os aspectos ligados ao materialismo e pós-materialismo, buscando uma identificação para estas estruturas. Mais especificamente, Inglehart observou o quanto, em função das constantes mudanças valorativas capazes de transformar a política e as normas sociais, se está passando gradualmente da priorização dos valores materialistas à priorização dos valores pós-materialistas. Tal mudança pode ser vista através das transformações na atenção dos indivíduos, voltada atualmente para novos temas políticos e novos movimentos sociais, demonstrando que o pós-materialismo é um processo amplo capaz de transformar as ideologias religiosas, sexuais e culturais na sociedade ocidental. Diante das mudanças de valores observadas, Inglehart (1991) elabora duas hipóteses fundamentais aos seus estudos e resultantes de descobrimentos recentes: 1) Hipótese da escassez – nesta hipótese, considera-se que as prioridades do indivíduo refletem o meio ambiente sócio-econômico, concedendo mais valor às coisas relativamente escassas; 2) Hipótese da socialização – em função do desajuste temporal, uma vez que os valores básicos próprios refletem, em sua maioria, as condições prevalentes durante os anos anteriores à maturidade, a relação entre o meio ambiente sócio-econômico e as prioridades valorativas não é de ajuste imediato. 70 A partir destas hipóteses, Inglehart tem a possibilidade de construir uma série de previsões hipotéticas concernentes à mudança dos valores, uma vez que a hipótese da escassez possibilita compreender que a prosperidade leva à difusão de valores pós-materialistas, ao mesmo tempo que a hipótese da socialização esclarece que as mudanças ocorridas com os valores resultam de um processo gradual e não de uma mudança imediata. Como antes indicado, existem diferentes modelos teóricos sobre os valores. Em lugar de se opor, estes modelos muitas vezes são complementares. Por exemplo, Rokeach (1973) sintetizou estudos prévios sobre os valores, propondo um modelo de medida inovador para a época; Schwartz (2001) aprimorou seu modelo, buscando uma explicação mais sofisticada para a estrutura dos valores. Ambos compartilham a ênfase no nível individual dos valores. Neste caso, a contribuição de Inglehart (1991) é destacável, fazendo referência aos valores em um contexto cultural. Apesar destes três modelos merecerem atenção, na presente dissertação se optou por uma teoria mais parcimoniosa, que indica um conjunto de 24 valores, subdivididos em seis funções psicossociais. Deste modo, faz-se necessário descrever este marco de referência. 4.2.- Tipologia dos Valores Humanos Básicos Tomando por base as principais teorias até então conhecidas sobre os valores humanos dentro da Psicologia Social, Gouveia (1998) propõe uma tipologia dos valores em um nível individual de análise, apresentando evidências empíricas em relação à adequação estrutural dos valores básicos, à especificidade de alguns 71 valores por ele observados e à convergência de outros com o modelo proposto por Schwartz. Seu modelo tem origem na suposição de uma relação entre os valores e as necessidades humanas, proposta anteriormente por Maslow. De acordo com Maslow (1954/1970), as necessidades humanas representam as carências do organismo nos níveis fisiológico, psicológico e social, encontrandose inseridas em cinco pressupostos fundamentais: 1) são relativamente universais; 2) são neutras ou positivas; 3) obedecem a uma hierarquia; 4) o homem caminha em direção à auto-realização; e 5) a pessoa é um todo integrado e organizado. Partindo do pressuposto de que os valores são modos de orientação disponíveis aos indivíduos e adotados de acordo com o contexto sócio-cultural de cada um, Maslow buscou em sua obra demonstrar a interação existente entre os valores e as necessidades. Não obstante, seus argumentos e resultados de pesquisa não prosperaram, sendo este autor mais conhecido por suas contribuições no campo dos motivos do que dos valores. Gouveia (1998) não assumiu completamente os pressupostos de Maslow, mas somente à referência a sua lista de necessidades, aceitando que o homem é um ser benévolo, apresentando unicamente necessidades positivas. Seguindo esta orientação, Gouveia definiu os valores como categorias de orientação, consideradas desejáveis, baseadas nas necessidades humanas e nas pré-condições para satisfazê-las, adotadas por atores sociais, podendo variar sua magnitude e seus elementos constitutivos. Este autor explica as partes constituintes da sua definição da seguinte maneira: 72 1) Categorias de orientação - componentes que permitem a delimitação dos valores a partir de um conceito próprio, possibilitando concebê-los como construtos latentes passíveis de operacionalização, uma vez que, apesar destes não existirem em nenhum lugar específico, sua presença se faz sentir tanto na conduta como na cultura humana; 2) Consideradas como desejáveis - este aspecto implica a capacidade dos valores serem corretos e justificáveis, do ponto de vista moral e racional, no que diz respeito tanto a um desejo pessoal como a uma orientação socialmente desejável. Tal capacidade os faz ser reconhecidos como componentes de desejabilidade social, contribuindo para as correlações positivas entre eles; 3) Baseados nas necessidades humanas e nas pré-condições para satisfazê-las - as pré-condições correspondem aos valores que impedem o desenvolvimento dos interesses pessoais, em função de condutas socialmente reprováveis, caso coloquem em risco a harmonia social. Nesta perspectiva, os valores são concebidos como elementos de socialização e não apenas como resultados estritos da escassez. Ou seja, não se dá importância simplesmente ao que não se tem, mas ao que, sendo reconhecido como fundamental na vida, se deseja ou se receia perder; 4) Adotadas por atores sociais - através de uma argumentação moral e/ou racional, os valores são capazes de justificar o caráter desejável ou preferível do valor assumido diante de outras pessoas, sendo percebidos como uma construção pessoal adotada por cada pessoa individualmente e orientada por forças sociais; 5) Podendo variar intra e interculturalmente – este aspecto, que diz respeito à diferença de intensidade na aderência aos valores por parte das pessoas, demonstra 73 que, mesmo quando os valores são relativamente homogêneos dentro das culturas, sua magnitude de importância varia de indivíduo para indivíduo. Tomando ainda como referencial a teoria das necessidades de Maslow, Gouveia (1998) propõe a existência de 24 valores, conceituados como básicos, os quais são sumariamente descritos a seguir: 1) Sobrevivência – representa as necessidades mais básicas, cuja privação duradoura resultaria como letal. Caracteriza pessoas que vivem em culturas nas quais é presente um contexto de escassez ou que não dispõem dos recursos econômicos básicos; 2) Sexual – diz respeito às necessidades fisiológicas de sexo, compreendendo um padrão de orientação para jovens e pessoas que são ou foram privadas desse estímulo, sendo geralmente tratado como um elemento ou fator dos valores morais ou religiosos; 3) Prazer – necessidade que o organismo tem de satisfação, entendida em termos amplos; 4) Estimulação – representa as necessidades fisiológicas de movimento, variedade e novidade de estímulos, colocando a ênfase em estar sempre ativo e ocupado; 5) Emoção – necessidades fisiológicas de ter excitação e buscar experiências arriscadas; 6) Estabilidade Pessoal – representa parcialmente a necessidade de segurança, acentuando ter uma vida organizada e planejada; 7) Saúde – representa, também, segurança de forma mais ampla, uma vez que preza por não estar doente; 74 8) Religiosidade – independentemente do preconceito religioso, este valor reconhece a existência de um ser superior, através do qual se busca a certeza das coisas e a harmonia suficiente para uma vida tranqüila; 9) Apoio Social – diz respeito à manutenção dos padrões sociais que asseguram a possibilidade de viver diariamente buscando estabilidade; 10) Ordem Social – compreende a orientação para a manutenção dos padrões sociais que asseguram a possibilidade de viver buscando diariamente a estabilidade no seu contexto; 11) Afetividade – representa as necessidades de amor e afiliação em uma esfera mais íntima da vida social, refletindo o desejo por amizades íntimas, relações familiares, carinhos, afetos, prazeres e tristezas; 12) Convivência – centrada na dimensão pessoa-grupo, objetiva uma esfera mais íntima da vida social; 13) Êxito – representa a necessidade de estima, através da praticidade e do alcance de metas; 14) Prestígio – enfatiza a importância atribuída ao contexto social, no sentido de ser reconhecido publicamente e não apenas de ser aceito pelos demais; 15) Poder – reflete um valor de característica pouco social, uma vez que as pessoas que o adotam não têm a noção de um poder socialmente constituído; 16) Maturidade – diz respeito à necessidade de auto-realização, através da autosatisfação e realização como ser humano, transcendendo a pessoa ou o grupo específico; 75 17) Autodireção – representa a pré-condição de liberdade para satisfazer as necessidades, com o reconhecimento da auto-suficiência; 18) Privacidade – representa a primazia da liberdade, que se reflete através da busca de um espaço privado, não significando que o indivíduo nega ou menospreza os demais, mas sim que reconhece os benefícios de ter seu próprio espaço; 19) Justiça Social – partindo da concepção de que cada indivíduo merece os mesmos direitos e deveres que garantam uma vida social digna, este valor representa a pré-condição de justiça ou igualdade de condições para todos os indivíduos, para satisfazerem suas necessidades; 20) Honestidade – representa o compromisso das pessoas frente às demais, permitindo a manutenção de um contexto adequado para as relações interpessoais; 21) Tradição – diz respeito à idéia de respeitar os padrões morais seculares que favoreçam a harmonia no âmbito social; 22) Obediência – destaca a importância de cumprir os deveres e obrigações do dia a dia, respeitar os pais e os mais velhos; 23) Conhecimento – representa as necessidades cognitivas de caráter extra-social, não compreendendo apenas o interesse de obter benefícios pessoais; 24) Beleza – representa a necessidade de estética, com uma orientação global, sem um interesse muito delimitado apenas aos benefícios, buscando o gosto pelo belo como um meio para o transcendental e não apenas para a apreciação de um objeto ou pessoa. De acordo com a terminologia de Gouveia (1998), os 24 valores apresentados podem ser caracterizados como valores terminais (Rokeach, 1973), uma vez que 76 expressam um fim em si mesmos, apresentando-se como um fim desejável (ao contrário dos valores instrumentais, que representam modos de conduta utilizados como meios de se alcançar o desejável). Além disto, tais valores se apresentam estruturados em um sistema valorativo, constituído por três critérios de orientação, os quais as pessoas adotam em menor ou maior medida como princípios-guia em suas vidas. Estes critérios e suas respectivas funções psicossociais são descritos a seguir: Valores Pessoais - os indivíduos que assumem estes valores normalmente mantêm relações pessoais contratuais, procurando obter vantagens e lucros, priorizando seus próprios interesses. Os valores desta orientação, indicados a seguir entre parênteses, são agrupados em duas funções psicossociais: Valores de Experimentação: dizem respeito à descoberta e apreciação de novos estímulos, ao enfrentamento de situações arriscadas e à procura de satisfação sexual (emoção, estimulação, prazer e sexual); Valores de Realização: além da experimentação de novos estímulos, o homem também tem o desejo constante de auto-cumprimento e um sentimento de ser importante e poderoso ao ponto de possuir identidade e espaço próprios (autodireção, êxito, poder, prestígio e privacidade); Valores Centrais – indicam o caráter central ou adjacente dos valores, sendo compatíveis com os valores pessoais e sociais, com interesses mistos, isto é, individuais e coletivos. Subdividem-se em: Valores de Existência: a estes valores, o que interessa primordialmente é garantir a própria existência orgânica, com ênfase na existência do indivíduo e não na individualidade pessoal. Esta característica faz com que não sejam 77 compatíveis com os valores pessoais e sociais, levando-os a ser importantes para os indivíduos em ambiente de escassez econômica sem colocar em risco a harmonia social (estabilidade pessoal, saúde e sobrevivência); Valores Supra-Pessoais: estes valores descrevem alguém maduro, com preocupações menos materiais, não sendo limitados a características descritivas ou específicas para iniciar uma relação ou promover benefícios. Neste contexto, os indivíduos tentam atingir seus objetivos independentemente do grupo ou condição social, enfatizando a importância de todas as pessoas e não apenas a das que compõem o próprio grupo (beleza, conhecimento, justiça social e maturidade); Valores Sociais – os indivíduos que assumem estes valores se apresentam direcionados aos outros, comportam-se como alguém que gosta de ser considerado, que deseja ser aceito e integrado no grupo de pertença, mantendo a harmonia entre os atores sociais em um contexto específico. Este critério de orientação é constituído pelos seguintes grupos de valores: Valores Normativos: os indivíduos que se identificam com este grupo de valores geralmente enfatizam a vida social, a estabilidade do grupo e o respeito aos símbolos e padrões culturais que prevalecem durante anos (obediência, ordem social, religiosidade e tradição); Valores Interacionais: aqui; a focalização do indivíduo aparece voltada para o destino comum e a complacência, com o interesse consistindo em ser amado e ter uma amizade verdadeira, com uma vida social ativa (afetividade, apoio social, convivência e honestidade). 78 A partir desta teoria, buscar-se-á analisar as relações entre os valores básicos, o ciúme romântico e o sexismo ambivalente. Um pouco desta relação pode ser observada no estudo realizado por Formiga, Santos, Gouveia, Júnior e Jesus (2000), ao menos no que se refere à relação entre os valores humanos e seus critérios de orientação e as dimensões hostil e benévola do sexismo ambivalente. Utilizando o Inventário de Sexismo Ambivalente e o Questionário de Valores Básicos, em uma amostra de 200 graduandos, de ambos os sexos, de um curso de psicologia, os resultados demonstraram que as concepções sexistas benévolas se correlacionam diretamente com os critérios de orientação valorativa de existência e normativa, ao mesmo tempo em que as concepções sexistas hostis se correlacionaram diretamente com os critérios de orientação experimentação e realização. Observou-se, também, que o critério de orientação valorativa normativo é o que melhor explica as concepções sexistas benévolas, assim como o critério de orientação valorativa realização explica as concepções sexistas hostis. Em resumo, este estudo constitui um ponto de partida, mas não aborda diretamente as questões aqui tratadas. Como foi possível evidenciar no decorrer deste texto, são ainda escassos os estudos sobre a relação do ciúme romântico com o sexismo e os valores humanos. Com base no referencial teórico antes apresentado, é possível traçar um modelo causal desta presumível relação, que deverá ser objeto de comprovação empírica. Este modelo é delineado na Figura 3: 79 Valores de Realização Sexismo Hostil Ciúme Romântico Sexismo Benévolo Valores Interacionais Valores Normativos Valores Sociais Figura 3. Inter-relações entre Ciúme Romântico, Sexismo Ambivalente e Valores Humanos Básicos Diante do apresentado anteriormente, o objetivo principal da presente dissertação foi conhecer em que medida as concepções sexistas ambivalentes e os valores humanos básicos explicam o ciúme romântico na população geral da cidade de João Pessoa, PB. Especificamente, pretendeu-se: (1) conhecer o padrão de 80 correlações das medidas de ciúme romântico com as de sexismo hostil e benévolo e os critérios de orientação valorativa; (2) comprovar em que medida os critérios de orientação valorativa e os sexismos hostil e benévolo se correlacionam entre si; e (3) saber em que medida os homens e as mulheres apresentam pontuações diferentes nas medidas de sexismo hostil e benévolo. 81 II.- Método 1 – Delineamento e Hipóteses O presente estudo é de tipo correlacional, contando com medidas de natureza ex post facto. Em função dos objetivos antes descritos, foram formuladas seis hipóteses principais, descritas a seguir: Hipótese 1. A concepção sexista hostil apresentará correlação positiva com a função psicossocial de realização; Hipótese 2. A concepção sexista benévola apresentará correlação positiva com a função psicossocial interacional; Hipótese 3. O ciúme romântico se correlacionará positivamente com ambas as concepções sexistas ambivalentes (hostil e benévola); Hipótese 4. O ciúme romântico se correlacionará positivamente com a função psicossocial normativa; Hipótese 5. Os homens apresentarão maior pontuação na concepção sexista hostil do que as mulheres; Hipótese 6. As mulheres apresentarão uma pontuação na concepção sexista benévola similar a dos homens. Em relação às duas primeiras hipóteses, considera-se o modelo teórico dos valores humanos básicos. A primeira estabelece que, em razão do pressuposto de que a função psicossocial de realização abarca valores representativos do sentimento de ser importante e poderoso, adotados por indivíduos que buscam identidade e espaço próprios, é provável que este conjunto de valores se 82 correlacione diretamente com o sexismo hostil. Estima-se que aqueles que se pautam por este tipo de sexismo busquem seu espaço próprio através de um preconceito flagrante contra a mulher, expressado por meio de atitudes que a fazem inferior no contexto social. Além disto, por ser uma das funções psicossociais dos valores de orientação pessoal, tal função é normalmente adotada por indivíduos que priorizam seus próprios interesses, o que constitui também um comportamento característico daqueles descritos como sexistas hostis. A segunda hipótese sugere uma correlação direta entre o sexismo benévolo e a função psicossocial de interação, sendo resultado da aparente compatibilidade de objetivos existentes entre ambas as variáveis. A função psicossocial de interação é constituída pelos valores de orientação social, que têm como foco principal a direção para estar com os outros. Os valores interacionais focalizam a complacência, assumindo o interesse em ser amado e apreciando, além de levar uma vida social ativa. Todas estas características parecem guardar relação com as atitudes sexistas benévolas, que expressam seu preconceito para com as mulheres através de complacência e de atitudes subjetivamente positivas que preservam a vida social ativa e o bem-estar social. A terceira hipótese, coerente com a literatura consultada, antecipa a existência de uma correlação direta e significativa entre o sexismo ambivalente e o ciúme. Não obstante, assume-se uma diferença referente à intensidade da correlação destes construtos, em razão dos subtipos de sexismo. O sexismo hostil, apesar de se correlacionar de forma direta e significativa com o ciúme romântico, talvez por ser uma forma flagrante de preconceito, que se faz bastante grosseira em seu modo de 83 expressão, é provável que apresente uma correlação com o ciúme romântico de forma menos intensa à comparada com a do sexismo benévolo. Isso sugere pensar que, apesar das concepções sexistas hostis serem adotadas socialmente ainda com peso considerável, talvez em função de todas as conquistas realizadas pelas mulheres em prol da igualdade de direitos, os sexistas hostis terminem não expressando suas atitudes de forma mais aberta. O sexismo benévolo, por outro lado, possui uma forma de expressão mais aceitável socialmente, correlacionando-se mais diretamente com o ciúme romântico. A quarta hipótese relaciona o ciúme romântico com os valores normativos. Espera-se que as pessoas ciumentas sejam guiadas por padrões tradicionais dentro da sociedade, respeitando os papéis convencionais que cabem aos relacionamentos heterossexuais. Socialmente, as regras sociais determinam, ao menos para o contexto brasileiro, uma relação de convívio formada por duas pessoas do sexo oposto, sendo qualquer possibilidade de interferência desta relação uma ameaça à ordem social vigente. Portanto, aqueles que dão importância aos valores normativos esperariam ver cumpridas as regras sociais, sendo mais afetados com a ameaça a uma eventual ruptura com o seu consorte. As duas últimas hipóteses se referem à relação do sexismo ambivalente com o gênero. A quinta hipótese estabeleceu que os homens, em comparação às mulheres, apresentarão uma maior pontuação na medida de sexismo hostil, uma vez que esta é uma forma flagrante de expressão do sexismo ambivalente, o que parece ser mais rejeitado pelas mulheres, as quais tenderiam a evitá-lo. A sexta hipótese indica que as mulheres, em função da proteção e cuidados recebidos, tenderão a 84 aceitar mais facilmente as concepções sexistas benévolas, passando a ter pontuações equiparáveis aos homens nesta medida de sexismo. 2 – Amostra O presente estudo contou com a participação de 301 pessoas da população geral da cidade de João Pessoa, sendo 163 mulheres (54,2%) e 138 homens (45,8%), com idades compreendidas entre 18 e 72 anos (M = 29,5; DP = 11,58), e engajados em um relacionamento romântico heterossexual com pelo menos três meses de duração. Embora a média de meses de relacionamento tenha sido consideravelmente alta (M = 81,6; DP = 116,36), devido principalmente ao grande número de meses de relacionamento encontrado entre as pessoas casadas, a moda desta variável ficou em 4 meses. Uma descrição mais detalhada das demais características sócio-demográficas desta amostra pode ser observada na Tabela 1: 85 Tabela 1. Caracterização da Amostra (n = 301) Variáveis Níveis f % Religião Católica Sem religião Evangélica Outra 171 63 40 27 56,8 20,9 13,3 9,0 Estado Civil Solteiro Casado/Convivente Separado / Viúvo 160 124 17 53,2 41,2 5,6 Não Casado Atualmente Namorado fixo Namorado ocasional Noivo 110 39 28 62,1 22,1 15,8 Vive atualmente Pais Cônjuge/Companheiro Sozinho Parentes ou Amigos Outro 135 107 16 22 21 44,9 35,5 5,3 7,3 7,0 Estuda Sim Não 168 133 55,8 44,2 Escolaridade 1º Grau 2º Grau 3º Grau Outro(analfabeto) 37 102 161 1 12,3 33,9 53,5 0,3 Trabalha Sim Não 168 133 55,8 44,2 Classe SócioEconômica Média Alta Baixa 110 104 87 36,5 34,6 28,9 De acordo com a Tabela 1, a maioria dos participantes indicou ser católica (56,8%) e solteira (53,2%). Entre os que não se encontravam casados ou mantinham um relacionamento afetivo estável, a maioria tinha um namoro fixo (62,1%). A 86 maioria indicou viver atualmente com seus pais (44,9%), estudar (55,8%), cursar ou ter cursado o 3º Grau (53,5%) e trabalhar (55,5%). Em relação à classe sócio-econômica, a coleta de dados foi realizada em diferentes bairros de João Pessoa, a fim de conseguir uma maior representatividade da amostra em termos desta variável. Foi seguido o mapeamento proposto por Lopes de Andrade (2001). Este apresenta a seguinte classificação: classe baixa (renda familiar média não superior a R$ 1.000,00), correspondendo aos bairros Alto do Mateus, Bairro das Indústrias, Geisel, Mandacaru e Mangabeira; classe média (renda familiar média entre R$ 1.001,00 e 3.000,00), reunindo os bairros Alto Roger, Bancários, Castelo Branco, Centro, Cidade Universitária, Cristo, Cruz das Armas, Jaguaribe, Rangel e Tambiá; e classe alta (renda familiar média acima de R$ 3.001,00), representada pelos bairros que compreendem a Av. Epitácio Pessoa, Bairro dos Estados, Cabo Branco, Expedicionários, Manaíra, Tambaú e Tambauzinho. Portanto, houve uma distribuição relativamente equilibrada entre as classes baixa, média e alta. Como é possível ver na Tabela 1, a amostra foi dividida, aproximadamente, em terços, com um ligeiro predomínio de participantes da classe média (36%). 3 – Instrumentos Aplicaram-se três instrumentos aos participantes deste estudo, os quais são descritos a seguir: Inventário de Sexismo Ambivalente – ISA (ver Anexo 3). Este instrumento é composto por 22 itens, respondidos em uma escala de cinco pontos, tipo Likert, 87 com os seguintes extremos: 1 = Discordo Totalmente e 5 = Concordo Totalmente. Tais itens avaliam os estereótipos assumidos pelos gêneros masculino e feminino, em função de duas dimensões do sexismo: hostil e benévolo. Cada uma destas dimensões possui formas próprias de expressão de sexismo para com a mulher: no caso do sexismo hostil, envolve o paternalismo dominante (por exemplo, As mulheres tentam ganhar poder controlando os homens), a diferenciação do gênero (por exemplo, As mulheres se ofendem muito facilmente) e a heterossexualidade (por exemplo, Existem muitas mulheres que, para chamar a atenção de um homem, primeiro se insinuam sensualmente e depois rejeitam seus avanços ou cantadas). No caso do sexismo benévolo, também são apresentados itens aos três tipos de ideologia: paternalismo protetor (por exemplo, Em caso de grandes ou pequenos acidentes, as mulheres devem ser resgatadas antes que os homens), diferenciação de gênero complementar (por exemplo, Muitas mulheres se caracterizam por uma pureza que poucos homens possuem) e intimidade heterossexual (por exemplo, Todo homem deve ter uma mulher a quem amar). Este instrumento foi elaborado originalmente em língua inglesa por Glick e Fiske (1996), tendo sido adaptado ao contexto brasileiro por Formiga, Gouveia, Maia e Santos (2002). Escala de Ciúme Romântico (ver Anexos 1 e 2). Elaborada por Ramos, Yazawa e Salazar (1994), tomou-se como critério situações triangulares geradoras de ciúme, envolvendo o(a) parceiro(a) do sexo oposto. Este critério foi seguido por três outros: evitar o uso do termo ciumento, não perguntar o quão ciumento é o indivíduo, e a criação a partir de situações hipotéticas. A partir destas orientações, 88 foram redigidos 59 itens, sendo a metade elaborada em sentido negativo (por exemplo, Não tem nada de mal ele freqüentar a casa de uma antiga namorada), e a outra metade em sentido positivo (por exemplo, É perfeitamente normal ele conversar longamente com uma amiga). Esta escala contava com uma versão para o sexo masculino e outra para o feminino. Os itens foram estruturados para serem respondidos numa escala do tipo Likert, com 5 pontos, em que 1 = Discordo Totalmente e 5 = Concordo Totalmente. No presente estudo, a referida escala foi utilizada em uma versão reduzida, composta por 28 itens, selecionados em função das 14 cargas fatoriais negativas e das 14 cargas fatoriais positivas mais altas. Estes 28 itens estão distribuídos através de três fatores: Não-ameaça (13 itens, por exemplo, Não tem nada de mal ele ir a uma festa sozinho), Exclusão (11 itens, por exemplo, Causa-lhe incômodo ele se arrumar demais para sair sem você) e Interferência (4 itens, por exemplo, É indecente uma mulher se aproximar e conversar com ele). O fator Não-ameaça representa o sentimento de não se sentir ameaçado ou perturbado com a presença de uma terceira pessoa, considerando natural e aceitável esta situação. O fator Exclusão diz respeito à fragilidade do relacionamento a partir do enfraquecimento do vínculo que une o casal, refletido através do distanciamento do parceiro. O fator Interferência se refere à interferência direta e explícita de um terceiro, à intromissão de um rival na relação, sendo esta intromissão capaz de causar forte ira no parceiro ciumento. Questionário dos Valores Básicos (ver Anexo 4). Esta medida foi composta por 24 itens, tendo sido sugerida por Gouveia (1998). Cada um dos itens é constituído por valores específicos e apresentam-se estruturados com duas frases 89 que explicitam seu conteúdo. Por exemplo, justiça social (Lutar por menor diferença entre ricos e pobres; permitir que cada indivíduo seja tratado como alguém valioso); afetividade (Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; ter alguém para compartilhar seus êxitos e fracassos). Utilizando uma escala de sete pontos, com os extremos 1 = Totalmente não Importante e 7 = Extremamente Importante, o respondente indica o grau de importância que cada um destes valores tem como um princípio-guia em sua vida. Além disso, ao final desta etapa o respondente é solicitado a indicar quais dos 24 itens para ele o mais e o menos importante de todos, que receberão os valores 8 e 0, respectivamente. Maia (2000) apresenta provas da adequação psicométrica desta medida. Além destas medidas, elaborou-se uma lista com perguntas de natureza sócio-demográfica, a exemplo do sexo, idade e escolaridade dos participantes. 4 – Procedimento Os questionários foram aplicados em moradores da cidade de João PessoaPB, através de visitas às suas casas e de abordagens em lugares públicos, como ruas, shoppings e praias. Durante a abordagem, era perguntado a cada pessoa se gostaria de participar de uma pesquisa realizada pelo Mestrado de Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba. Caso a pessoa aceitasse, era garantido o sigilo às respostas dadas. Também era explicado que não existiam respostas certas ou erradas, e que apenas deveria apresentar o máximo de sinceridade, sendo necessários, em média, 25 minutos para responder a todo o questionário. 90 5 – Análise dos dados A tabulação e análise dos dados foi realizada através do pacote estatístico SPSS para Windows, versão 9. Além dos cálculos referentes aos Componentes Principais, à Principal Axis Factoring – PAF, adotando uma rotação Oblimin e calculando o respectivo Alfa de Cronbach dos fatores, foram também realizados os cálculos relacionados às estatísticas descritivas (média, desvio padrão e freqüências). Em seguida, através deste mesmo pacote estatístico, foram computadas as correlações de Pearson e o teste t de Student. 91 III. – Resultados Os resultados da presente dissertação se estruturam em dois grandes blocos. No primeiro, é avaliada a adequação psicométrica da medida de ciúme romântico, uma vez que se propõe aqui uma versão abreviada da escala, composta por 28 dos 59 itens que compunham a versão original. No segundo, são testadas as hipóteses previamente elaboradas. 1 - Parâmetros Psicométricos da Medida de Ciúme Romântico Inicialmente, decidiu-se realizar a mesma análise utilizada pelos autores da versão original, no processo de validação do instrumento, isto é, a análise Fatorial dos Eixos Principais (PAF), com rotação Oblimim, uma vez que seria teoricamente coerente esperar fatores correlacionados entre si. Foram três os fatores encontrados - Não ameaça, Interferência e Exclusão -, a partir da determinação do engevalue mínimo de 1,5 para que seja considerada a existência de um fator. Entretanto, com este procedimento foram encontrados alguns problemas. No fator I, resultaram 16 itens, com cargas fatoriais acima de 0,30, com alguns deles (itens 3 e 7) não fazendo parte do fator de origem. O fator II ficou composto por nove itens, com cargas fatoriais acima de 0,30, com um destes (o item 15) também não fazendo parte do fator de origem. Finalmente, o fator III terminou composto por três itens (13, 4 e 20), que não faziam parte deste fator nas análises realizadas originalmente por Ramos, Yazawa e Salazar (1994). Em função destes problemas, decidiu-se extrair apenas dois fatores, através de uma PAF com rotação Oblimin. A fim de conhecer os parâmetros psicométricos da Escala de Ciúme Romântico, 92 inicialmente se verificou a viabilidade de realizar uma análise fatorial, tendo sido obtidos os seguintes índices: KMO = 0,86 e Teste de Esfericidade de Bartlett, ² = 1869,93; p < 0,001. Estes dados sugerem a adequação de se efetuar tal análise. A partir desta análise, encontraram-se dois fatores, com eigenvalues (valores próprios) iguais ou superiores a 1,0, explicando conjuntamente 23,7% da variância total. Vale ressaltar que, seguindo procedimento utilizado inicialmente pelos autores do instrumento original, as respostas dos homens e das mulheres foram tratadas como um mesmo banco de dados, visto que os itens eram exatamente os mesmos, mudando apenas o sujeito ou alguma expressão, quando a frase exigia. Os resultados correspondentes a estas análises podem ser vistos na Tabela 2: 93 Tabela 2. Estrutura Fatorial da Escala de Ciúme Romântico ITENS FATORES Não-ameaça Exclusão 02. Não tem nada de mal ela ir a festa sozinha 12. É perfeitamente normal ela conversar longamente com um amigo 11. Pouco importa ela receber presentes de um amigo 18. Não tem nada de demais seus amigos freqüentarem a casa dela 03. É perfeitamente normal ela elogiar um amigo seu 08. É natural ela ter muitos amigos 17. É aceitável ela fazer elogios a outro homem na sua frente 25. É natural ela ouvir músicas na casa de um amigo 27. É tolerável ela ficar de papo com alguém 10. Não tem nada de mal ela freqüentar a casa de um antigo namorado 14. Não há problema ela preferir passear com amigos à ficar com você 01. Não há problema a fotografia de outro homem na carteira dela 07. Ligar para ela e uma voz masculina não-familiar atender lhe causa raiva 24. É aceitável ela sonhar com outro 09. É aceitável ela aparecer com um perfume estranho na camisa 06. É indecente um homem se aproximar e conversar com ela 13. Causa-lhe desconforto os objetos de uma outra paixão ocupar 04. Encontrá-la com outro em um barzinho o deixa chateado 21. É muito chato encontrar números de telefones de homens na agenda dela 19. Você fica furioso quando ela dança com um amigo seu em uma festa 22. Causa-lhe incômodo ela se arrumar demais para sair sem você 23. Encontrar um isqueiro no bolso dela, sem ela fumar, o deixa indignado 28. Ela trabalhar em um ambiente com muitos homens lhe incomoda 16. Provoca irritação amigos falarem dela com entusiasmo 26. É indecente ela dar olhadas para outros homens em uma festa 15. Ela ficar trancada no quarto com uma amiga lhe causa desconfiança 05. Fica furioso quando ela conversa com um amigo que acha bonito 20. Causa-lhe incômodo ela parar de demonstrar sentimentos Engenvalue Variância explicada Número de itens Alfa de Cronbach 0,70* 0,65* 0,62* 0,60* 0,60* 0,54* 0,50* 0,47* 0,45* 0,42* 0,42* 0,42* 0,41* 0,40* 0,38* -0,27 -0,23 -0,22 0,03 0,03 -0,07 0,02 0,07 0,14 -0,09 0,10 0,23 0,12 5,33 19,05 15 0,79 0,14 0,04 -0,07 -0,07 -0,08 -0,03 0,09 -0,01 0,08 0,07 0,01 0,03 0,03 0,02 0,04 0,19 0,03 0,12 0,64* 0,56* 0,56* 0,52* 0,45* 0,42* 0,36* 0,30* 0,30* 0,18* 1,31 4,68 9 0,73 Notas: * Carga fatorial satisfatória igual ou superior a |0,30| De acordo com a Tabela 2, o primeiro fator pode ser denominado de Nãoameaça. Este fator reuniu 15 itens, com cargas fatoriais acima de |0,30|. A maior 94 carga fatorial correspondeu ao item 2 (Não tem nada de mal ela ir a festa sozinha; 0,70) e a menor ao 9 (É aceitável ela aparecer com perfume estranho na camisa; 0,38). Este fator apresentou um valor próprio de 5,33, explicando cerca de 19% da variância total. Sua consistência interna, Alfa de Cronbach, foi de 0,79. O segundo fator, com valor próprio de 1,31, explicando 4,68% da variância total, pode ser denominado de exclusão, tendo reunido 9 itens. A menor e maior cargas fatoriais corresponderam aos itens 5 (Fica furioso quando ela conversa com um amigo bonito; 0,30) e 21 (É chato encontrar números de telefones de homem na sua bolsa; 0,64), respectivamente. Seu Alfa de Cronbach foi de 0,73. Os dois fatores de ciúme romântico se correlacionaram direta e significativamente entre si (r = 0,42, p < 0,001). Neste sentido, considerou-se a possibilidade de tratar com uma pontuação total de ciúme, reunindo os 24 itens que compuseram os dois fatores antes descritos. Esta pontuação será considerada aqui em análises subseqüentes. 2 – Concepções sexistas ambivalentes, intensidade de ciúme romântico e valores humanos básicos Considerando o objetivo principal da presente dissertação, isto é, analisar a relação entre os valores humanos básicos, o sexismo ambivalente e o ciúme romântico, foram formuladas as três primeiras hipóteses. A propósito, efetuaramse cálculos de correlação r de Pearson, cujos resultados são apresentados na Tabela 3: 95 Tabela 3. Correlação entre Valores Humanos, Sexismos Hostil e Benévolo e Ciúme VALORES SOCIAIS Normativo Obediência Religiosidade Ordem Social Tradição Interação Afetividade Convivência Apoio social Honestidade CENTRAIS Existência Estabilidade Pessoal Sobrevivência Saúde Supra-Pessoais Maturidade Justiça-Social Conhecimento Beleza PESSOAIS Realização Prestígio Êxito Poder Privacidade Autodireção Experimentação Estimulação Prazer Sexual Emoção Sexismo Hostil Sexismo Benévolo SEXISMO Hostil 0,08 0,07 0,15** 0,00 0,04 0,04 0,06 0,02 0,01 0,05 0,08 0,01 0,03 0,06 0,02 -0,01 -0,00 -0,00 0,02 0,08 -0,06 0,08 0,09 0,07 0,08 0,10* 0,06 -0,10* 0,03 0,00 0,03 0,08 -0,02 Benévolo 0,38*** 0,36*** 0,30*** 0,28*** 0,17** 0,19*** 0,30*** 0,23*** 0,19*** 0,17** 0,17** 0,20*** 0,29*** 0,32*** 0,25*** 0,09 0,07 0,15** 0,14** -0,02 -0,04 0,13** 0,17*** 0,16** 0,16** 0,08 0,06 -0,06 0,03 0,09 0,05 0,05 -0,07 Ciúme 0,20*** 0,23*** 0,21*** 0,19*** 0,13* 0,09 0,10* 0,15** 0,02 0,07 0,03 0,10* 0,22*** 0,22*** 0,14** 0,13* -0,02 0,07 0,03 0,03 -0,09 0,08 0,14** 0,17** 0,11* 0,06 0,05 -0,07 -0,02 0,07 0,07 -0,08 -0,09 0,17** 0,36*** Notas: * p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001 (teste unicaudal; eliminação pairwise de itens em branco). 96 A primeira hipótese estabeleceu que a concepção sexista hostil apresentaria correlação positiva com o critério de orientação valorativa pessoal, cuja função psicossocial foi de realização. Como é possível observar na Tabela 3, esta hipótese não pôde ser corroborada (r = 0,09, p > 0,05). Unicamente o valor poder, entre aqueles que cumprem esta função, correlacionou-se com o sexismo hostil no sentido e com a magnitude esperada (r = 0,10, p < 0,05). A segunda hipótese sugeria que o sexismo benévolo estaria direta e significativamente correlacionado com os valores interacionais. Isto foi exatamente o que ocorreu (r = 0,30, p < 0,001). Entre os valores desta função psicossocial, destacaram-se, principalmente, afetividade (r = 0,23, p < 0,001) e convivência (r = 0,19, p < 0,001). Os outros dois, apoio social e honestidade, apresentaram igualmente uma correlação de 0,17 (p < 0,01 para ambos). Portanto, corrobora-se plenamente esta hipótese. A terceira hipótese propôs que o ciúme romântico se correlacionaria positivamente com as concepções sexistas hostil (r = 0,17, p < 0,01) e benévola (r = 0,36, p < 0,001), o que pôde ser perfeitamente corroborado. Assumir uma concepção sexista ambivalente implica apresentar maior magnitude de ciúme romântico. A quarta hipótese previa que o ciúme romântico se correlacionaria positivamente com a função psicossocial normativa, o que ocorreu (r = 0,23, p < 0,001), com apenas um dos valores, tradição, não se correlacionando significativamente com o ciúme romântico (p < 0,09, p > 0,05). 97 Tomando como base os estudos prévios realizados na área, foram elaboradas as duas últimas hipóteses. Para a sua comprovação, realizaram-se testes t de Student, a um nível de significância de p < 0,05, comparando-se os grupos de homens e mulheres. Os resultados são apresentados na Tabela 4: Tabela 4. Comparação entre Homens e Mulheres e as Dimensões do Sexismo Ambivalente Gênero Homem _________ Sexismo Ambivalente M DP Mulher _________ M DP Estatísticas __________ t gl p Hostil 36,9 6,50 32,7 6,04 5,75 298 0,001 Benévolo 38,9 7,26 37,6 7,76 1,47 299 0,14 A hipótese 5 estabeleceu que a pontuação em sexismo hostil seria maior para os homens (M = 36,9; DP = 6,50) quando comparados com as mulheres (M = 32,7; DP = 6,04), o que pôde ser corroborado, t (298) = 5,75, p < 0,001. Da mesma forma, a hipótese 6, que estabelecia que não haveria diferença em termos da pontuação na medida de sexismo benévolo entre homens (M = 38,9; DP = 7,26) e mulheres (M = 37,6; DP = 7,76), foi corroborada, t (299) = 1,47, p > 0,05. Finalmente, embora não tenha sido formulada nenhuma hipótese a respeito, as pontuações de homens e mulheres foram comparadas em relação às duas subescalas de sexismo. Tratando com os dados da Tabela 4, observa-se uma pontuação estatisticamente superior no sexismo benévolo, quando comparado com o 98 hostil, tanto no grupo de homens [t(136) = 2,78, p < 0,01] como no de mulheres [t(162) = 7,77, p < 0,001]. Em resumo, pode-se observar, através dos resultados, a importância dos valores e das dimensões do sexismo ambivalente para compreender o ciúme romântico. Além disso, ficou evidenciada a predominância do sexismo benévolo na amostra pesquisada, embora com uma ênfase diferenciada no sexismo hostil por parte dos homens, demonstrando, ainda nos dias atuais, a existência de preconceito flagrante para com as mulheres. 99 IV. Discussão A presente dissertação procurou explicar o ciúme romântico a partir da sua relação com o sexismo ambivalente e com os valores humanos básicos. Esta relação será aqui considerada à luz do modelo teórico que fundamentou a elaboração das hipóteses, bem como de pesquisas previamente realizadas. 4.1. Comprovação do Modelo Teórico 4.1.1. Sexismo Ambivalente e Valores Humanos Básicos As duas primeiras hipóteses desta dissertação fazem referência à correlação entre as concepções sexistas ambivalentes e os valores humanos. Para cada uma das concepções sexistas, formulou-se uma hipótese específica que a relacionava com determinada função psicossocial dos valores. A seguir, são apresentados os fundamentos destas hipóteses e a provável explicação dos resultados obtidos. As Concepções Sexistas Hostis e a Função Psicossocial de Realização De acordo com os resultados, pode-se observar que a hipótese 1 não foi corroborada. Esta hipótese propôs a existência de correlação entre a concepção sexista hostil e a função psicossocial de realização. As concepções sexistas hostis constituem um dos pólos de expressão do sexismo ambivalente. Conforme já dito anteriormente, o sexismo ambivalente diz respeito a um conjunto de avaliações negativas e atos discriminatórios dirigidos à mulher, em função de sua condição de gênero (Ferreira, 2000), refletindo uma forma de estereótipo construída, aceita e perpetuada por ambos os sexos no contexto 100 social. O sexismo hostil representa a expressão flagrante deste preconceito contra a mulher, constituindo uma visão competitiva dos gêneros, na qual as mulheres são percebidas como objetivando o controle dos homens através da sexualidade ou da ideologia feminista (Glick & Fiske, 1996). Partindo da clássica definição de preconceito construída por Allport (1954), pode-se definir o sexismo hostil como uma antipatia contra a mulher, expressada no contexto social através da supremacia e da dominação masculinas (características do sistema patriarcalista), dirigindo-se tanto às mulheres que desafiam e lutam contra o poder masculino como às que procuram controlar os homens. O sexismo hostil possui, desta forma, a capacidade de reforçar os papéis sociais determinados aos gêneros e aos estereótipos associados a tais papéis (Ferreira, 2000). A função psicossocial de realização expressa uma orientação pessoal que se caracteriza pelo foco intrapessoal (Gouveia, 1998). Tal focalização pode ser observada através das prioridades estabelecidas pelos indivíduos que assumem estes valores, isto é, normalmente procurando obter vantagens e/ou lucros, priorizando seus próprios interesses. Neste contexto, esta função psicossocial diz respeito ao sentimento de ser importante e poderoso, representando um indivíduo com identidade e espaço próprios. Em razão desta estrutura, foi hipotetizada uma relação entre esta função e o sexismo hostil, uma vez que este pólo da ambivalência sexista é perpassado também pelo desejo masculino de obter lucros e vantagens sobre as mulheres, priorizando seus próprios interesses. Entretanto, ao contrário do esperado, apenas poder, dentre os outros valores (autodireção, êxito, prestígio e privacidade), se correlacionou positivamente com o sexismo hostil. 101 Embora não tenha sido encontrada uma explicação convincente para a não corroboração da hipótese 1, uma especulação pode ser realizada em termos da composição da amostra. Nesta pesquisa, não foram diferenciadas as amostras de homens e mulheres; é possível que, se apenas os homens respondessem à medida de sexismo, o padrão de correlação entre as duas variáveis em pauta tivesse se confirmado. Este aspecto não tinha sido levado em conta quando foi pensado este estudo, mas deve merecer atenção em pesquisas futuras. No caso do valor poder, ele é definido como: Ter poder para influenciar os outros e controlar decisões; ser o chefe de uma equipe. Neste sentido, representa um valor pouco social, uma vez que o indivíduo que o adota tende a se sentir legitimamente constituído de um poder que não é estruturado socialmente. Ou seja, trata-se de um poder de ordem individual, representado, neste caso, pelo simples fato de pertencer ao gênero masculino, explicando, portanto, a correlação do poder com o sexismo hostil. Concepções Sexistas Benévolas e a Função Psicossocial Interacional A hipótese 2 foi corroborada, uma vez que se encontrou uma correlação direta e significativa entre a concepção sexista benévola e a função psicossocial de interação. Localizando-se no pólo contrário ao do sexismo hostil, o sexismo benévolo possui uma característica bastante singular, isto é, a capacidade de não aparentar clara e diretamente uma forma de preconceito. De acordo com Glick e Fiske (1996), a forma de expressão característica do sexismo benévolo até mesmo ocasionou 102 dúvidas em sua teorização. Partindo-se do pressuposto de que o sexismo benévolo não se apresenta através da antipatia inerente ao preconceito, surgiu a questão: será que tal estrutura realmente poderia ser considerada uma forma de preconceito? Entretanto, tais autores puderam observar que mesmo de forma sutil (através da idéia de que os homens usam seu poder como forma de assegurar proteção às mulheres), o sexismo benévolo objetiva colocar as mulheres em situação de desvantagem no contexto social (Glick & Fiske, 1996). Na verdade, o sexismo benévolo constitui um conjunto de atitudes voltadas para a mulher, que são sexistas em termos da visão estereotipada que se tem deste grupo, apesar da forma subjetivamente positiva com que se apresenta em relação aos sentimentos e comportamentos. Assim, como pontua Ferreira (2000), o sexismo benévolo constitui um conjunto de sentimentos e condutas positivas em relação à mulher, concebida como objeto romântico merecedor de reverência e proteção. Tais sentimentos e condutas são motivados pela ideologia de que as mulheres, em função de sua estrutura biológica feminina referente à reprodução, são as únicas capazes (o que as torna responsáveis) pela atividade social de cuidar da casa e dos filhos. A função psicossocial interacional, ao lado da normativa, constitui a orientação valorativa social. Tal orientação corresponde aos valores assumidos pelos indivíduos que desejam ser considerados, aceitos e integrados no grupo de pertença, objetivando um nível essencial de harmonia entre os atores sociais em um determinado contexto, uma vez que está direcionada a estar com os outros (Formiga, 2002). A partir de tal característica, foi elaborada a segunda hipótese, a qual sugere 103 uma correlação positiva entre o sexismo benévolo e a função psicossocial interacional. Esta hipótese foi elaborada partindo do pressuposto de que os sexistas benévolos, apesar de terem como objetivo final o domínio do gênero feminino, buscam alcançar seus objetivos através de comportamentos com um nível essencial de harmonia entre os atores sociais e se direcionando a estar com os outros. Mais especificamente, a função psicossocial interacional é normalmente assumida por indivíduos que possuem interesse de serem amados, apreciando uma vida social ativa composta de amizades verdadeiras. Os resultados demonstraram uma correlação direta e significativa com todos os valores: afetividade, apoio social, convivência e honestidade. A seguir, baseada em Gouveia (1998), é apresentada uma breve descrição destes valores. O valor afetividade expressa ter uma relação de afeto profunda e duradoura, ter alguém para compartilhar seus êxitos e fracassos, correspondendo a um campo mais íntimo da esfera social. Este campo representa a necessidade de amor e afiliação que tem origem nas amizades íntimas e nas relações familiares, nas quais são vivenciados afetos, prazeres e tristezas. A correlação com o sexismo benévolo pode ser explicada pela afetividade desenvolvida na relação entre os sexos, partindo dos homens e sendo recebida pelas mulheres. O valor apoio social é descrito por itens como: Obter ajuda quando a necessite e sentir que não está só no mundo, representando a necessidade de segurança no sentido de encontrar apoio no contexto social no qual está o indivíduo está inserido, sem que necessariamente exista uma relação íntima. A correlação significativa e positiva entre este valor e o sexismo benévolo sugere um desejo de interação entre 104 os gêneros nas relações sociais. Provavelmente, isto acontece mais por parte das mulheres, uma vez que, quando da aceitação dos limites estabelecidos socialmente pelos homens, vivenciam segurança, obtendo ajuda quando a necessitam. Convivência compreende um valor que é definido por itens como: Conviver diariamente com os vizinhos; fazer parte de algum grupo, como: social, religioso, esportivo, entre outros, tendo um sentido socializador. Este valor se centra na dimensão pessoa-grupo, refletindo ações como fazer parte de grupos pessoais e conviver com os vizinhos. Sua correlação com o sexismo benévolo pode ser explicada pela busca de uma convivência harmoniosa entre os sexos nos diversos contextos sociais. É como se os homens, mesmo buscando a dominação sobre as mulheres, apresentassem tal dominação investida de um contexto socializador que é tranqüilamente aceito pelo sexo oposto. Honestidade é o último valor da função psicossocial interacional, estando operacionalizado por itens, como: Agir responsavelmente quando dá sua palavra; ser honesto e honrado. Tem seu foco principal no compromisso do indivíduo frente aos demais, permitindo que se mantenha um contexto adequado para as relações interpessoais. Tal valor representa as pré-condições de honestidade e responsabilidade para satisfazer as necessidades. Sua correlação positiva com o sexismo benévolo se pode dizer que é resultado do desejo de alcançar um adequado relacionamento interpessoal, através do compromisso entre os gêneros, com atitudes que privilegiam e priorizam as necessidades femininas diante das masculinas. 105 4.1.2. Sexismo Ambivalente e Ciúme Romântico Fazendo referência à correlação entre as concepções sexistas ambivalentes e o ciúme romântico, foi elaborada a terceira hipótese da presente dissertação: O ciúme romântico se correlacionará positivamente com ambas as concepções sexistas ambivalentes. De acordo com os resultados para o sexismo hostil (r = 0,17, p < 0,01) e para o sexismo benévolo (r = 0,36, p < 0,001), pode-se observar que tal hipótese foi corroborada, uma vez que se encontrou uma correlação direta entre ambas as concepções sexistas ambivalentes e o ciúme romântico. O ciúme é definido por White (1981a) como um “complexo de pensamentos, sentimentos, e ações que seguem as ameaças da auto-estima e/ou ameaças da existência ou qualidade da relação, quando estas ameaças são geradas pela percepção de uma atração real ou potencial entre o parceiro e um (talvez imaginário) rival” (p. 296). Este autor, em sua revisão dos estudos que relacionam o ciúme com outras variáveis, observou uma correlação inversa deste construto com auto-estima, e direta com dependência, exclusividade, sensação de inadequação e papel tradicional dos sexos (ver também Pines & Friedman, 1998; White & Mullen, 1989). Levando-se em conta as principais variáveis relacionadas com o ciúme, podese dizer que a correlação direta e significativa entre o sexismo hostil e o ciúme romântico é produto da sociedade patriarcalista, que propaga a soberania masculina. Em diversas culturas (inclusive a brasileira), tal soberania acaba por estabelecer, no contexto social, crenças relacionadas ao gênero que influenciam o relacionamento amoroso. Estas crenças, na verdade, são responsáveis pelo estereótipo feminino relacionado à fragilidade e sensibilidade, com a mulher expressando suas emoções 106 mais abertamente através de melancolia e depressão, ao contrário dos homens que expressam seus sentimentos através da raiva. Além disto, o sistema patriarcalista é também responsável pela construção da ideologia que defende as mulheres como menos capacitadas para as tomadas de decisão, ocasionando, na maioria dos casos, o predomínio do poder masculino dentro do relacionamento amoroso. Os resultados, portanto, demonstram que todo este complexo ideológico apresenta-se na amostra entrevistada, que correlacionou positivamente as concepções sexistas hostis com o ciúme romântico. Fazendo uso da mesma lógica contextual, apresentada com relação ao sexismo hostil, no que concerne ao sexismo benévolo, considerou-se como primordial o dado de que tanto os homens como as mulheres apresentaram pontuações significativas no que diz respeito ao ciúme romântico. Tais pontuações sugerem que a correlação direta e significativa entre o sexismo benévolo e o ciúme romântico pode ser um resultado da forma como homens e mulheres se relacionam. O ciúme romântico representa um complexo emocional que aflora fundamentalmente a auto-estima e a ameaça. Sua correlação com o sexismo benévolo leva a pensar que existe entre homens e mulheres uma troca, na qual os homens expressam seu ciúme romântico através de atitudes de proteção e cuidado, atitudes estas que são facilmente aceitas pelas mulheres, por terem a capacidade de fazê-las se sentir como se estivessem obtendo vantagens neste tipo de construção relacional. 107 4.1.3. Ciúme Romântico e Valores Humanos Básicos A última hipótese correlacional desta dissertação, a hipótese 4, faz referência à correlação entre o ciúme romântico e os valores humanos. Especificamente, estabelece o seguinte: O ciúme romântico se correlacionará positivamente com a função psicossocial normativa. A presente hipótese pôde ser corroborada, uma vez que os resultados demonstraram correlações positivas entre estes dois construtos. A função psicossocial normativa é constituída pelos seguintes valores: Obediência. Compreende uma ênfase em cumprir seus deveres e obrigações do dia a dia e respeitar aos seus pais e aos mais velhos. Representa a conduta do indivíduo que assume um papel social e se conforma à hierarquia tradicionalmente imposta. Este valor destaca a importância de cumprir os deveres e obrigações do dia a dia e respeitar aos pais e aos mais velhos. Portanto, sua correlação com o ciúme romântico reforça uma tendência, por parte dos sujeitos, de obediência aos padrões construídos socialmente. Religiosidade. Dois itens, que podem ajudar a descrever este valor são: Crer em Deus como o salvador da humanidade e cumprir a vontade de Deus. Este valor independe de preceito religioso, dizendo respeito ao reconhecimento de um ser superior através do qual se busca a certeza das coisas e a harmonia para uma vida tranqüila. Partindo do pressuposto de que a fidelidade em uma relação amorosa faz parte dos preceitos religiosos ensinados durante o processo de socialização em uma sociedade de base católica, como a brasileira, esta condição pode servir para a compreensão da correlação encontrada. Encontrar uma correlação positiva entre o ciúme romântico e o valor religiosidade sugere uma tendência dos sujeitos, que 108 adotam tal valor como princípio-guia em sua vida, exortando-os a aceitarem os preceitos divinos de respeito e fidelidade ao outro. Ordem Social. Este valor é descrito pelos seguintes itens: Viver em um país ordenado e estruturado e ter um governo estável e eficaz. Expressa uma busca de estabilidade do contexto no qual se está inserido, o que pode ser conseguido através da manutenção dos padrões sociais que assegurem uma vida diária tranqüila. Sua correlação com o ciúme romântico sugere a fidelidade à relação amorosa como uma busca à manutenção dos padrões sociais. Portanto, de acordo com o antes indicado, os valores da função psicossocial normativa cumprem uma orientação social. De acordo com Gouveia (1998), uma vez que os valores sociais possuem um foco interpessoal dizendo respeito à direção para estar com os outros, os indivíduos que assumem tais valores tendem a se comportar como indivíduos que buscam ser considerados, aceitos e integrados no grupo de pertença, mantendo a harmonia entre os atores sociais no contexto ao qual estão inseridos. Esta função é constituída por valores que enfatizam a vida social e a estabilidade grupal. Além disto, existe uma apreciação constante da ordem associada ao respeito a símbolos e padrões culturais prevalentes durante anos (Formiga, 2002). Diante destas características, pode-se dizer que a correlação positiva e direta com o Ciúme Romântico é o resultado de uma interiorização de padrões culturais convencionais, que se reflete através da concepção de que a relação romântica deve ser uma relação vivenciada com exclusividade entre duas pessoas, sem a presença de uma terceira. 109 4.2. O Sexismo Ambivalente e o Gênero As duas últimas hipóteses desta dissertação fazem referência à comparação entre homens e mulheres em relação à aceitação das concepções sexistas hostis e benévolas. As pesquisas realizadas nesta área, desde 1996, quando a teoria foi construída, demonstram uma maior tendência das mulheres (em função do afeto recebido) a aceitarem o sexismo benévolo e a rejeitarem o sexismo hostil. Os homens, entretanto, têm demonstrado uma maior tendência a aceitarem ambas as concepções sexistas ambivalentes (Glick & cols., 2000). Diante deste panorama, foram elaboradas as seguintes hipóteses: os homens apresentarão maior pontuação na concepção sexista hostil do que as mulheres; e as mulheres apresentarão uma pontuação na concepção sexista benévola similar à dos homens. Através dos resultados obtidos, foi possível observar que ambas as hipóteses foram corroboradas, isto é, os homens pessoenses realmente se apresentaram mais sexistas hostis que as mulheres; e a pontuação masculina não diferiu estatisticamente da feminina em termos do sexismo benévolo. Tal resultado sugere, portanto, que, embora a mulher paraibana não encare como legítimo o sexismo hostil, parece aceitar de bom grado o sexismo benévolo. Isso reforça a sutileza deste tipo de sexismo, muito mais eficaz como forma de discriminar e propagar a discriminação das mulheres, inclusive por elas mesmas. O sexismo hostil, como forma flagrante de sexismo, apenas encontra respaldo entre os homens, especificamente os participantes do presente estudo, que compartilham crenças, estilos de vida e ideologias de uma sociedade coletivista como a paraibana (Gouveia, 1998). 110 V. Conclusão Embora a presente dissertação ofereça algumas contribuições para compreender a relação entre o ciúme romântico, os valores e o sexismo ambivalente, não se descartam possíveis limitações. Especificamente, a amostra, embora apresente o aspecto positivo de contar com pessoas da população geral, pode conter alguns vieses. Por exemplo, o número de homens foi relativamente pequeno (n = 138), sendo considerados indistintamente em conjunto com a amostra de mulheres (n = 163) no momento de avaliar a relação destas três variáveis. Apesar deste aspecto, os resultados encontrados são bastante coerentes com os presentes na literatura, sugerindo a pertinência da presente pesquisa. 5.1. Medidas Utilizadas Foram três as medidas utilizadas na presente dissertação: o Inventário de Sexismo Ambivalente (Glick & Fiske, 1996), a Escala de Ciúme Romântico (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994) e o Questionário dos Valores Básicos (Gouveia, 1998). Destes, apenas a Escala de Ciúme Romântico necessitou de uma nova validação para ser utilizada. A versão original da Escala de Ciúme Romântico possui 59 itens, distribuídos entre os fatores Não-ameaça, Exclusão e Interferência. Para a realização do presente estudo, utilizou-se uma nova versão, composta de 28 itens, selecionados a partir das 14 cargas negativas e as 14 maiores cargas positivas, e distribuídos entre os três fatores Não-ameaça (13 itens), Exclusão (11 itens) e Interferência (04 itens). Não obstante, as análises estatísticas efetuadas sugeriram que esta medida poderia 111 ser perfeitamente reduzida a 24 itens, que podem avaliar a dimensão ciúme romântico com parâmetros psicométricos aceitáveis. Portanto, apesar de não ter sido o objetivo principal desta dissertação, oferece-se aqui uma nova estrutura do ciúme romântico, que poderá ser útil em estudos futuros. 5.2. Principais Resultados Apesar da lacuna encontrada na literatura relativa aos estudos na área do ciúme romântico, bem como da relação deste construto com as variáveis sexismo ambivalente e valores humanos, os resultados demonstraram a importância destes últimos na compreensão das dimensões do ciúme romântico. Tais resultados corroboraram a maioria das hipóteses elaboradas, entre elas as que se referiam à correlação positiva entre o ciúme romântico e ambas as concepções sexistas ambivalentes, bem como a uma maior interiorização, por parte dos homens, das concepções sexistas hostis. Neste contexto, pode-se ressaltar alguns dos principais achados desta dissertação: A predominância do sexismo benévolo entre os participantes da pesquisa, sugerindo uma facilitação na interiorização das concepções sexistas. A evidência de uma interiorização significativa da dimensão de ciúme romântico por parte dos indivíduos sexistas ambivalentes, principalmente aqueles que se pautam pelo sexismo benévolo; A demonstração de um apego aos valores de função psicossocial normativa por parte dos indivíduos que pontuaram significativamente nas concepções do ciúme romântico, indicando uma prioridade concedida às tradições, à ordem 112 social e à obediência aos padrões estabelecidos no contexto social, por parte dos indivíduos que adotam tal comportamento; Um apego diferenciado dos participantes à ideologia sexista ambivalente. Este apego se expressou de uma forma diferente entre os distintos pólos de tal ideologia (pólo hostil e pólo benévolo), uma vez que o sexismo hostil, além de apresentar uma baixa correlação com o ciúme romântico, correlacionou-se apenas com os valores obediência e poder. Diante destes resultados, pode-se dizer que os participantes deste estudo demonstraram uma ideologia sexista ambivalente, que pode ser descrita como reveladora da cultura nordestina. Isto decorre de que, apesar de homens e mulheres terem se apresentado como sexistas ambivalentes, a concepção sexista hostil apareceu prioritariamente, como uma ideologia masculina. Demonstraram, ainda, quanto está presente no Nordeste, e mais especificamente em João Pessoa, a fundamentação patriarcalista definida por Falci (1997). Este autor acentua que, em sociedades com esta orientação, se comprova uma estratificação bem delimitada entre homens e mulheres, ricos e pobres, escravos e senhores, mas tendo sempre o homem em primeiro lugar, não importando a que grupo social se esteja fazendo referência. O sexismo pode ser inerente ao perfil axiológico das pessoas entrevistadas, que se mostraram como adotando prioritariamente princípios-guia que destacam as funções psicossociais normativa, interacional e existência. Em resumo, estes resultados contribuem para demonstrar que, apesar de todas as mudanças ocorridas no contexto social, referentes ao preconceito contra a mulher, mudanças estas resultantes das conquistas realizadas pelas próprias 113 mulheres em busca de direitos iguais, de acordo com o apresentado, parece existir ainda um apego à ideologia, estabelecida socialmente, que busca caracterizar as mulheres como menos capacitadas que os homens devendo, portanto, aceitar suas decisões. 5.3. Aplicabilidade do Estudo Embora o objetivo primordial desta pesquisa diz respeito à apreensão teórica sobre as relações entre o ciúme romântico, as concepções sexistas ambivalentes e os valores humanos, é possível sua aplicabilidade relacionada a assessorar ações que visem promover o respeito à mulher. Ficou comprovada aqui, a importância do sexismo ambivalente, assim como dos valores humanos, mais especificamente daqueles que formam as funções psicossociais normativa, interacional e existência, para o conhecimento do ciúme romântico. Diante do exposto, bem como da comprovação de um apego por parte dos respondentes às concepções sexistas ambivalentes, e dos homens às concepções sexistas hostis, pode-se propor, a partir dos resultados, intervenções que auxiliem a redução da exclusão feminina. Primordialmente, procurar-se-á definir estratégias de construção de uma nova visão da mulher, intervindo na sociedade, através dos agentes socializadores, no sentido de tornar claras as práticas que têm produzido sua discriminação, pautada geralmente por ações sexistas, hostis em alguns casos, mas predominantemente benévolas. Esta forma sutil de discriminar precisa ficar evidente, pois do contrário se estará reproduzindo o sexismo como um favor à mulher. 114 Em resumo, pode-se dizer que a contribuição desta pesquisa, além de estar vinculada a um progresso teórico a respeito do assunto, tem também uma ligação com a realidade social, através de sua capacidade de suscitar discussões condutoras à percepção do quanto a mulher sofre os efeitos do patriarcalismo, tão presente no Nordeste brasileiro, que a conceitua como inferior e impede a sua autonomia nos mais diversos contextos sociais. 5.4. Pesquisas Futuras Em função de uma certa falta de pesquisas realizadas na área do ciúme romântico, relacionando-o inclusive com outras variáveis, pesquisas futuras poderão possibilitar uma maior clareza a respeito das relações entre o sexismo, o ciúme romântico e os valores humanos. Neste aspecto, o estudo de Formiga, Santos, Gouveia, Júnior e Jesus (2000), por exemplo, já demonstrou um pouco da relação entre sexismo ambivalente e os valores humanos, tendo apresentado resultados que são muito consistentes com os aqui descritos. No presente estudo, estas duas variáveis se mostraram relevantes para explicar o ciúme romântico. Caberia, não obstante, incluir novas variáveis que permitissem definir um modelo causal que servisse de explicação para o ciúme, comprovando-se o peso que cada uma dessas variáveis teria. Por exemplo, embora não tenha sido encontrado nenhum estudo no Brasil que a considerasse, se poderia averiguar a suposta relação direta entre o ciúme romântico e o papel tradicional dos sexos e inversa com a auto-estima (White, 1981b). Seria interessante, neste caso, compor uma amostra apenas masculina, procurando definir com maior clareza o padrão de correlação entre estas variáveis. 115 Outra possibilidade seria a replicação da presente pesquisa com uma amostra de sujeitos distribuídos igualitariamente em diferentes faixas etárias, o que permitiria conhecer até que ponto a interiorização das concepções sexistas, o ciúme romântico e a adoção dos valores humanos que os promovem têm sofrido influência das gerações. 116 VI.- Referências Agacinski, S. (1999). Política dos sexos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Allport (1954). The nature of prejudice. Reading, MA: Addison-Wesley. Borgida, E., Locksley, A. & Brekke, N. (1981). Social stereotypes and judgment. Em N. Cantor & J. F. Kihlstrom (Org.), Personality, cognition and social interaction (pp. 153-162). New Jersey: Lawrence Erlbaum. Bringle, R. G. & Buunk, B. (1985). Jealousy and social Behavior. Review of Personality and Social Psychology, 6, 241-264. Camino, L. (1996). Conhecimento do outro e a construção da realidade social: Uma análise da percepção e da cognição social (Série monografias em Psicologia Social). João Pessoa: Editora Universitária. Castells, M. (2000). O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra. Clanton, G. & Smith, L. G. (1977). Jealousy. Englewood Cliffs, New Jersey: PrenticeHall. Engel, M. (1997). Psiquiatria e Feminilidade. Em M. D. Priore & P. Bassanezi (Orgs.), História das mulheres no Brasil (pp.323-361). São Paulo: Editora Contexto. Falci, M. K. (1997). Mulheres do sertão Nordestino. Em M. D. Priori & *** Bassanezi (Orgs.), História das Mulheres no Brasil (pp. 323-361). São Paulo, Editora Contexto. Ferreira, M. C. (2000). Sexismo hostil e benevolente: Interrelações e diferenças de gênero. Trabalho apresentado na XXX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, Brasília, 26 a 29 de Outubro. 117 Ferreira, M. C. (2001). Sexismo ambivalente: uma alternativa para o estudo das relações de gênero no contexto organizacional. Trabalho apresentado no III Congresso Norte-Nordeste de Psicologia, Salvador, BA. Ferreira, M.C., Barros, N. S. & Souza, M. A. (2001). Creencias y atitudes sobre la violência doméstica contra la mujer: Un estudio exploratorio em muestras brasileñas. Trabalho apresentado no XXVIII Congresso Interamericano de Psicologia, Santiago, Chile. Formiga, N. S. (2002). Condutas anti-sociais e delitivas: Uma explicação baseada nos valores humanos. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Formiga, N. S., Gouveia, V.,V., Maia, L. & Santos, M., N., (2002). Inventário de Sexismo Ambivalente: Sua adaptação e relação com o gênero. Psicologia em estudo, 7, 103-111. Formiga, N. S., Santos, M. N., Gouveia, V. V., Coelho Júnior, L. de L. & Jesus, G. R. de (2000). Prioridades valorativas e sexismo ambivalente: Considerações sobre as dimensões hostil e benévola. Trabalho apresentado na XXX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, Brasília, 26 a 29 de Outubro. Freedman, E. B. (1990).Theoretical perspectives on sexual diferences: na overview. Em: D. L. Rhode (Org.), Theoretical perspectives on sexual diference (pp. 257261). New Haven, London: Yale University Press. Fredman, J. L., Carlsmith, J. M. & Sears, D. O. (1970). Psicologia social. São Paulo: Cultrix. 118 Glick, P., Diebold, J., Bailey-Werner, B. & Zhu, L. (1997). The two faces of Adam: Ambivalent sexism and polarized attitudes toward women. Society for Personality and Social Psychology, 23, 1323-1334. Glick, P. & Fiske, S. T. (1996). The Ambivalent Sexism Inventory: Differentiating hostile and benevolent sexism. Journal of Personality and Social Psychology, 70, 491-512. Glick, P., Fiske, S. T., Mladinic, A., Saiz, J.L., Abrams, D., Masser, B., Adetoun, B., Osagie, J.E., Akande, A., Alao, A., Brunner, A., Willemsen, T. M., Chipeta, K., Dardenne, B, Dijksterhuis, A., Wigboldus, D., Eckes, T., Six-Materna, I., Exposito, F., Moya, M., Foddy, M., Kim, H., Lameiras, M., Sotelo, M. J., Mucchi-Faina, A., Romani, M., Sakalli, N., Udegbe, B., Yamamoto, M. Ui, M., Ferreira, M. C. & López, W. L. (2000). Beyond prejudice as simple antipathy: Hostile and benevolent sexism across cultures. Journal of Personality and Social Psychology, 79, 763-775. Glick, P. & Fiske, S. T. (2001a). Ambivalent sexism. Advances in Experimental Social Psychology, 33, 115-188. Glick, P. & Fiske, S. T. (2001b). An ambivalent alliance: Hostile and benevolent sexism a complementary justifications of gender inequality. American Psychologist, 56, 109-118. Gouveia, V. V. (1998). La naturaleza de los valores descriptores del individualismo y del colectivismo: Una comparación intra e intercultural. Tese de Doutorado. Faculdade de Psicologia, Universidade Complutense de Madri, Espanha. 119 Gouveia, V. V. (2003). A natureza motivacional dos valores humanos: Evidências acerca de uma nova tipologia. Manuscrito aceito para publicação. Hansen, G. L. (1983). Marital satisfaction and jealousy among men. Psychological Reports,52, 363-366. Heilborn, M. L. (1999). Sexualidade: Olhar das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. Inglehart, R. (1991). El cambio cultural en las sociedades industriales avanzadas. Madri: Centro de Investigações Sociológicas / Siglo XXI Editores. Lima, R. D. M. de (2002). Uma visão do homem: Um estudo de gênero e estereótipos. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Lopes de Andrade, M. W. C. (2001). A dimensão valorativa do sentido da vida. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Maia, L.M. (2000). Prioridades valorativas e desenvolvimento moral: Considerações acerca de uma teoria dos valores humanos. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Maslow, A. H. (1954/1970). Motivacion and personality. Nova York: Harper & Row Publishers. Melamed, T. (1991). Individual differences in romantic jealousy: The moderating effect of relationship characteristics. European Journal of Social Psychology, 21, 455-461. 120 Neotti, A. (1973). A mulher no mundo em conflito. Ponta Grossa: Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Pfeiffer, S. M. & Wong, P. T. P. (1989). Multidimensional jealousy. Journal of Social and Personal Relationships, 6, 181-196. Pines, A. M. & Friedman, A. (1998). Gender differences in romantic jealousy. Journal of Social Psychology, 138, 54-71. Possati, I. C. (2000). Multiplicidade de papéis da mulher e os seus efeitos para o bem-estar. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Ramos, A. L. M., Yazawa, S. A. K. & Salazar, A. F. (1994). Desenvolvimento de uma escala de ciúme romântico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 10, 439-451. Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York: The Free Press. Salovey, P. & Rodin, J. (1984). Some antecedents and consequences of socialcomparison jealousy. Journal of Personality and Social Psychology, 47, 780-792. Schwartz, S. H. & Bilsky, W. (1987). Toward a universal psychological structure of humanian values. Journal of Personality and Social Psychology, 53, 550-562. Schwartz, S. H. (1992). Universals in the content and structure of values: Theoretical advanced and empirical tests in 20 countries. Em M. Zanna (Org.), Advanced in experimental social psychology, vol.25 (pp. 1-65). Orlando, FL: Academic Press. Schwartz, S. H. (2001). Existen aspectos universales en la estructura y el contenido de los valores humanos? Em M. Ros & V. V. Gouveia (Org.) Psicologia social de los valores humanos: Desarrollos teóricos, metodológicos y aplicados (pp. 53-77). Madri: Editorial Biblioteca Nueva. 121 Techio, E. M. (1999). Conhecimento social das emoções: Um estudo em termo de fatores cognitivos e culturais. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Teles, M. A. de A. (1999). Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense. White, G. L. (1981a). A model of romantic jealousy. Motivation and Emotion, 5, 295310. White, G. L. (1981b). Some correlates of romantic jealousy. Journal of Personality, 49, 129-147. White, G. L. & Mullen, P. E. (1989). Jealousy: Theory, research, and clinical strategies. New York, London: Guilford Press. 122 ANEXOS 123 ANEXO 1 INSTRUÇÕES. A seguir você encontrará uma lista com 28 afirmações com as quais poderá ou não estar de acordo. Pedimos-lhe, por favor, que indique ao lado de cada uma o seu grau de acordo ou desacordo, segundo a escala de resposta descrita a seguir: 1 = Discordo Totalmente 2 = Discordo 3 = Indeciso 4 = Concordo 5 = Concordo Totalmente Esclarecermos que não existem respostas certas ou erradas; interessa unicamente conhecer sua opinião. A propósito, saiba que sua participação deverá ser voluntária, sendo suas respostas tratadas de modo estatístico, sem que seja nosso propósito identificá-lo. 01. ____ Não há problema algum em encontrar uma fotografia de outro homem na carteira dela. 02. ____ Não tem nada de mal ela ir a festa sozinha. 03. ____ É perfeitamente normal ela elogiar um amigo seu. 04. ____ Encontrá-la com outro em um barzinho o deixa chateado. 05. ____ Fica furioso quando ela conversa com um amigo que acha bonito. 06. ____ É indecente um homem se aproximar e conversar com ela. 07. ____ Você ligar para ela e uma voz masculina não-familiar atender, lhe causa raiva. 08. ____ É natural ela ter muitos amigos. 09. ____ É aceitável ela aparecer com um perfume estranho na camisa. 10. ____ Não tem nada de mal ela freqüentar a casa de um antigo namorado. 11. ____ Pouco importa, ela receber presentes de um amigo. 12. ____ É perfeitamente normal ela conversar longamente com um amigo. 13. ____ Causa-lhe desconforto ver que os objetos de uma antiga paixão dela ocupam mais espaço do que os seus. 14. ____ Não há nada de errado preferir fazer um passeio com os amigos a ficar com você. 15. ____ Ela ficar trancada no quarto com uma amiga lhe causa desconfiança. 16. ____ Provoca irritação amigos falarem dela com entusiasmo. 17. ____ É aceitável ela fazer elogios a outro homem na sua frente. 18. ____ Não tem nada demais seus amigos freqüentarem a casa dela. 19. ____ Você fica furioso se ela começa a dançar com um amigo seu numa festa. 20. ____ Causa-lhe incômodo ela parar de demonstrar seus sentimentos. 21. ____ É muito chato encontrar um grande número de telefones de homens na agenda dela. 22. ____ Causa-lhe incômodo ela se arrumar demais para sair sem você. 23. ____ Encontrar um isqueiro no bolso dela, sendo que ela não fuma, o deixa indignado 24. ____ É aceitável ela sonhar com outro. 25. ____ É natural ela passar algumas horas ouvindo músicas na casa de um amigo. 26. ____ É indecente ela dar olhadas para outros homens em uma festa. 27. ____ É tolerável ela ficar de papo com alguém. 28. ____ Ela trabalhar num ambiente onde há predominância de homens lhe incomoda. 124 ANEXO 2 INSTRUÇÕES. A seguir você encontrará uma lista com 28 afirmações com as quais poderá ou não estar de acordo. Pedimos-lhe, por favor, que indique ao lado de cada uma o seu grau de acordo ou desacordo, segundo a escala de resposta descrita a seguir: 1 = Discordo Totalmente 2 = Discordo 3 = Indeciso 4 = Concordo 5 = Concordo Totalmente Esclarecermos que não existem respostas certas ou erradas; interessa unicamente conhecer sua opinião. A propósito, saiba que sua participação deverá ser voluntária, sendo suas respostas tratadas de modo estatístico, sem que seja nosso propósito identificá-lo. 01. ____ Não há problema algum em encontrar uma fotografia de outra mulher na carteira dele. 02. ____ Não tem nada de mal ele ir a festa sozinho. 03. ____ É perfeitamente normal ele elogiar uma amiga sua. 04. ____ Encontrá-lo com outra em um barzinho a deixa chateada. 05. ____ Fica furiosa quando ele conversa com uma amiga que acha bonita. 06. ____ É indecente uma mulher se aproximar e conversar com ele. 07. ____ Você ligar para ele e uma voz feminina não-familiar atender, lhe causa raiva. 08. ____ É natural ele ter muitas amigas. 09. ____ É aceitável ele aparecer com um perfume estranho na camisa. 10. ____ Não tem nada de mal ele freqüentar a casa de uma antiga namorada. 11. ____ Pouco importa ele receber presentes de uma amiga. 12. ____ É perfeitamente normal ele conversar longamente com uma amiga. 13. ____ Causa-lhe desconforto ver que os objetos de uma antiga paixão dele ocupam mais espaço do que os seus. 14. ____ Não há nada de errado preferir fazer um passeio com as amigas a ficar com você. 15. ____ Ele ficar trancado no quarto com um amigo lhe causa desconfiança. 16. ____ Provoca irritação amigas falarem dele com entusiasmo. 17. ____ É aceitável ele fazer elogios à outra mulher na sua frente. 18. ____ Não tem nada demais suas amigas freqüentarem a casa dele. 19. ____ Você fica furiosa se ele começa a dançar com uma amiga sua numa festa. 20. ____ Causa-lhe incômodo ele parar de demonstrar seus sentimentos. 21. ____ É muito chato encontrar um grande número de telefones de mulheres na agenda dele. 22. ____ Causa-lhe incômodo ele se arrumar demais para sair sem você. 23. ____ Encontrar um isqueiro no bolso dele, sendo que ele não fuma, a deixa indignada. 24. ____ É aceitável ele sonhar com outra. 25. ____ É natural ele passar algumas horas ouvindo músicas na casa de uma amiga. 26. ____ É indecente ele dar olhadas para outras mulheres em uma festa 27. ____ É tolerável ele ficar de papo com alguém. 28. ____ Ele trabalhar num ambiente onde há predominância de mulheres lhe incomoda. 125 ANEXO 3 INSTRUÇÕES. A seguir você encontrará uma série de frases sobre os homens e as mulheres e suas relações mútuas na sociedade contemporânea. Por favor, indique em que medida você concorda ou discorda com cada uma delas, utilizando a seguinte escala de resposta: 1 = Discordo Totalmente 2 = Discordo 3 = Indeciso 4 = Concordo 5 = Concordo Totalmente Esclarecemos que não existem respostas certas ou erradas; interessa unicamente conhecer sua opinião. A propósito, saiba que sua participação deverá ser voluntária, sendo suas respostas tratadas de modo estatístico, sem que seja nosso propósito identificá-lo. 01. ____ Ainda que um homem tenha muito êxito em sua vida, não poderá sentir-se completo a menos que tenha o amor de uma mulher. 02. ____ Com o pretexto da igualdade, muitas mulheres buscam privilégios especiais, como condições de trabalho que as favoreçam. 03. ____ Em caso de grandes ou pequenos acidentes, as mulheres devem ser resgatadas antes que os homens. 04. ____ A maioria das mulheres interpreta os comentários ou brincadeiras inocentes como sexistas, isto é, como expressões preconceituosas ou discriminatórias contra elas. 05. ____ As mulheres se ofendem muito facilmente. 06. ____ As pessoas não podem ser verdadeiramente felizes em suas vidas a menos que tenham uma outra pessoa do sexo oposto. (Ex.: para o homem, uma mulher, e vice-versa). 07. ____ Na verdade, o que as mulheres feministas pretendem é que a mulher tenha mais poder que o homem. 08. ____ Muitas mulheres se caracterizam por uma pureza que poucos homens possuem. 09. ____ As mulheres devem ser queridas e protegidas pelos homens. 10. ____ A maioria das mulheres não dá valor completamente a tudo o que os homens fazem por ela 11. ____ As mulheres tentam ganhar poder controlando os homens. 12. ____ Todo homem deve ter uma mulher a quem amar. 13. ____ O homem está incompleto sem a mulher. 14. ____ As mulheres exageram os problemas que têm no trabalho. 15. ____ Uma vez que uma mulher consiga que o homem se comprometa com ela, geralmente, ela tenta controlá-lo. 16. ____ Quando as mulheres são vencidas pelos homens numa disputa justa, geralmente elas se queixam de haver sido “roubadas” ou discriminadas. 17. ____ Uma boa mulher deveria ser posta em um pedestal pelo homem. 18.____ Existem muitas mulheres que, para chamar a atenção de um homem, primeiro se insinuam sensualmente e depois rejeitam seus avanços ou ‘cantadas’. 19. ____As mulheres, em comparação com os homens, tendem a ter uma maior sensibilidade moral. 20. ____Os homens deveriam estar dispostos a sacrificar seu próprio bem-estar a fim de dar segurança econômica e social às mulheres. 21. ____As mulheres feministas estão fazendo exigências completamente irracionais aos homens. 22. ____ As mulheres, em comparação com os homens, mostram um sentido mais refinado para a cultura e o bom gosto. 126 ANEXO 4 QUESTIONÁRIO DOS VALORES BÁSICOS – QVB INSTRUÇÕES. Por favor, leia atentamente a lista de valores descritos a seguir, considerando seu conteúdo. Utilizando a escala de resposta abaixo, indique com um número ao lado de cada valor o grau de importância que este tem como um princípio que guia sua vida. 1 Totalmente não Importante 2 Não Importante 3 Pouco Importante 4 5 Mais ou Importante menos Importante 6 Muito Importante 7 Extremament e Importante 01.____JUSTIÇA SOCIAL. Lutar por menor diferença entre ricos e pobres; permitir que cada indivíduo seja tratado como alguém valioso. 02.____SEXUAL. Ter relações sexuais; obter prazer sexual. 03.____ÊXITO. Obter o que se propõe; ser eficiente em tudo que faz. 04.____APOIO SOCIAL. Obter ajuda quando a necessite; sentir que não está só no mundo. 05.____HONESTIDADE. Agir responsavelmente quando dá sua palavra; ser honesto e honrado. 06.____CONHECIMENTO. Procurar notícias atualizadas sobre assuntos pouco conhecidos; tentar descobrir coisas novas sobre o mundo. 07.____EMOÇÃO. Desfrutar desafiando o perigo; buscar aventuras. 08.____PODER. Ter poder para influenciar os outros e controlar decisões; ser o chefe de uma equipe. 09.____AFETIVIDADE. Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; ter alguém para compartilhar seus êxitos e fracassos. 10.____RELIGIOSIDADE. Crer em Deus como o salvador da humanidade; cumprir a vontade de Deus. 11.____AUTODIREÇÃO. Sentir-se livre para vestir-se como queira; estar livre para se mover, ir e vir sem impedimentos. 12.____ORDEM SOCIAL. Viver em um país ordenado e estruturado; ter um governo estável e eficaz. 13.____SAÚDE. Preocupar-se com sua saúde antes de ficar doente; não estar enfermo. 14.____PRAZER. Desfrutar da vida; satisfazer todos os seus desejos. 15.____PRESTÍGIO. Saber que muita gente lhe conhece e admira; quando velho receber uma homenagem por suas contribuições. 16.____OBEDIÊNCIA. Cumprir seus deveres e obrigações do dia a dia; respeitar aos seus pais e aos mais velhos. 17.____ESTABILIDADE PESSOAL. Ter certeza de que amanhã terá tudo o que tem hoje; ter uma vida organizada e planificada. 18.____ESTIMULAÇÃO. Fazer coisas que lhe permitam estar ocupado, em movimento; participar em tantas atividades como seja possível. 19.____CONVIVÊNCIA. Conviver diariamente com os vizinhos; fazer parte de algum grupo, como: social, religioso, esportivo, entre outros. 20.____BELEZA. Ser capaz de apreciar o melhor da arte, música e literatura; ir a museus ou exposições onde possa ver coisas belas. 21.____TRADIÇÃO. Seguir as normas sociais do seu país; respeitar as tradições da sua sociedade. 22.____SOBREVIVÊNCIA. Ter água, comida e poder dormir bem todos os dias; viver em um lugar com abundância de alimentos. 23.____MATURIDADE. Sentir que conseguiu alcançar seus objetivos na vida; desenvolver todas as suas capacidades. 24.____PRIVACIDADE. Ter uma vida privada sem que os assuntos ou as pessoas da comunidade interfiram; ter sua própria moradia e receber nela só a quem deseja. Para finalizar, reconsidere a lista de valores acima. Escreva o nome de um único valor que você pensa que é o MAIS IMPORTANTE como um princípio-guia na sua vida: _______________. Embora todos possam ser importantes, qual julga ser o MENOS IMPORTANTE DE TODOS: __________________. 127 ANEXO 5 INSTRUÇÕES. Finalmente, gostaríamos que você fornecesse alguns dados a seu respeito. Não será necessário que você se identifique, apenas pedimos que responda com total sinceridade a todas as perguntas. 1) Qual a sua idade?_____ anos 2) Qual o seu sexo? p Masculino p Feminino 3) Qual a sua religião? (ponha um zero se não tem religião):____________________________________ 4) Qual o seu estado civil? (marque): p Casado(a)/Convivente p Solteiro(a) p Viúvo p Separado / Divorciado p Outro:____________ 5) Se você não estiver casado, atualmente você está: p Sem relacionamento p Com Namorado(a) Ocasional p Namorando Fixo p Noivo(a) 6) Se você está mantendo algum tipo de relacionamento, ele existe a quanto tempo? (expresse em números)_____________ meses 7) Com quem você vive atualmente? p Pais p Cônjuge/Companheiro(a) p Amigos p Parentes p Sozinho(a) p Outros (escreva aqui): _______________ 8) Qual a sua opção sexual? p Heterossexual p Bissexual 9) Você estuda? p Não p Homossexual p Outra (escreva qual): ___________ p Sim 10) Qual o seu grau de educação escolar? p 1º grau incompleto p 1º grau completo p 2º grau incompleto p 2º grau completo p 3ºgrau incompleto p 3º grau completo p Outro________________ 11) Você está trabalhando atualmente? p Não p Sim 12) Em comparação com as pessoas de seu país (Brasil), você acredita que faz parte da classe (circule): 1 Baixa 2 3 4 5 6 Média 7 8 9 10 Alta