MORAIS, Claudeilson S. de.

Transcrição

MORAIS, Claudeilson S. de.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CAMPUS SERRA DA CAPIVARA
CARACTERIZAÇÃO
DAS
PRÁTICAS
FUNERÁRIAS
DOS
SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS TOCA DO SERROTE DA BASTIANA E TOCA DO
BARRIGUDO, NA ÁREA ARQUEOLÓGICA SERRA DA CAPIVARA - PI
Claudeilson Santos de Morais
Orientadora: Profª. Drª. Daniela Cisneiros
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC
(TCC 2009/05)
Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial
São Raimundo Nonato - PI
2009
Claudeilson Santos de Morais
CARACTERIZAÇÃO
DAS
PRÁTICAS
FUNERÁRIAS
DOS
SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS TOCA DO SERROTE DA BASTIANA E TOCA DO
BARRIGUDO, NA ÁREA ARQUEOLÓGICA SERRA DA CAPIVARA - PI
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC
(TCC 2009/05)
Trabalho apresentado para obtenção do grau
de Bacharel em Arqueologia e Preservação
Patrimonial, na Universidade Federal do Vale
do São Francisco.
Orientadora: Professora Drª Daniela Cisneiros
São Raimundo Nonato – PI
2009
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para a finalidade de estudo e de pesquisa, desde que a
fonte seja citada.
São Raimundo Nonato, 17 de fevereiro de 2009.
CLAUDEILSON SANTOS DE MORAIS
[email protected]
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sistema Integrado de Bibliotecas - UNIVASF
C827c
Morais, Claudeilson Santos de.
Caracterização das práticas funerárias dos sítios arqueológicos
Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo na Área
Arqueológica Serra da Capivara - PI / Claudeilson Santos de Morais. –
São Raimundo Nonato, 2009.
v, 59 f. : il. ; 29 cm.
Trabalho apresentado à Universidade Federal do Vale do São
Francisco - UNIVASF, Campus Serra da Capivara para graduação em
Arqueologia e Preservação Patrimonial, 2009.
Orientador: Daniela Cisneiros Silva
Banca examinadora: Maria Fátima Barbosa, Janaína Carla dos
Santos, Daniela Cisneiros Silva
Bibliografia
1. Arqueologia - Piauí. 2. Práticas Funerárias 3. Enterramentos. I.
Título. II. São Raimundo Nonato - Colegiado de Arqueologia e
Preservação Patrimonial.
CDD 930.108122
Ao meu avô Cícero e a
minha tia Marinalva pelo afeto e
pelo forte incentivo aos caminhos
que escolhi.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha familia, em especial, minha tia Margareth e a minha irmã Janaína,
por tudo que representam para mim.
À Solange e a Celso, que são minha segunda familia, sou eternamente grato pela
solidariedade e pelo apoio durante esses anos que nos conhecemos.
À professora Fátima Barbosa, que foi a pessoa que mais me ajudou durante todos
esses anos de graduação, assim como, também, pela sua imensa fraternidade.
À professora Daniela Cisneiros por ter sido a primeira pessoa que ajudou no curso.
À Dra. Niède Guidon pela sua carta de recomendação.
Ao professor Guilherme Medeiros pelas sábias palavras. Aos professores Celito e
Fabiano pela acessibilidade e pelo respeito. Às professoras Elisabeth e Gisele pelo
acolhimento.
À Vera Lúcia pelos momentos de descontração, pela sua ajuda a encontrar uma
moradia e pela amizade.
À Ana Clélia pelas suas correspondências, pelos seus conselhos e pelo seu senso
puro de humanidade.
A minha amiga Isabela, que conheci em Sergipe, por ser tão agradável, pela sua
grande ajuda e incondicional incentivo as minhas apostas.
Ao amigo Dirceu pela sua valiosa amizade e pelas horas de discontração.
À Rosa Céli por ser gentil e acolhedora. À Ivete, e a Riquelma pelos momentos na
cantina. Às meninas da Center Copy, Jordânia, Fabiana e Mércia pela solidariedade e
gentileza. À Iva, por ser justa e paciente. A Paulinho, Angélica,Vanicleide, Deusilene,
Vanessa, Sidney, Selma e Flávio. À Simone Santana pela ajuda na pesquisa de laboratório.
Aos colegas da turma de 2004: Aliane, Auremília, Carolina, Carlos Henrique,
Cléber, Crisvanete, Elídio, Emília, Flávio, Gênesis, Gilson, Ilca, João Vítor, Karol, Leonel
(em memória), Luana, Luciano, Melquisedeck, Nívia, Priscila, Rachel (Weisz), Rômulo,
Roberto, Shirlene, Tainã, e especialmente Ledja e Luzia. E das turmas posteriores,
principalmente: Jaionara, Joyce, Jackson, Rafael, Tâmara, Cleilton, Andréia M., Andréia R.,
Adriana, Pâmara, Luíza, Leidiana, Camila, Diógenes, Reuber, Jouran, Orestes, Geane,
Simone, Sâmara, Bernardo e Elen.
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo realizar a caracterização das práticas funerárias dos
enterramentos dos sítios arqueológicos Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo
situados na sub-área cárstica 3, na Área Arqueológica Serra da Capivara - PI, através de uma
abordagem teórico-metodológica. A metodologia empregada consiste na aplicação de
variáveis de análise que envolvem a estrutura da cova, o mobiliário fúnebre e o tratamento do
corpo. Também foram utilizadas como variáveis os dados relativos a identificação do
esqueleto (sexo e faixa etária) e a cronologia. A abordagem teórica utilizada possibilitou a
ambientação do estudo de caso aos conceitos formulados sobre as práticas funerárias em um
contexto global, principalmente no que concerne aos grupos pré-históricos.
Palavras-chave: Enterramento; Pré-história; Parque Nacional Serra da Capivara.
RÉSUMÉ
Cette étude avait pour but d'effectuer la caractérisation des pratiques funéraires de
l'enfouissement de sites archéologiques Toca do Serrote da Bastiana et Toca do Barrigudo,
situé dans la sous-zone karstic 3, Domaine archéologique Serra da Capivara - PI, par le biais
d'une approche théorique et méthodologique. La méthodologie utilisée est l'application de
l'analyse des variables qui concernent la structure de la tombe, les obsèques de meubles et de
traitement du corps. Les variables ont également été utilisées comme données d'identification
du squelette (sexe et âge) et la chronologie. L'approche utilisée a permis à l'ambiance d'une
étude de cas sur les pratiques funéraires des concepts élaborés dans un contexte mondial,
notamment en termes de groupes préhistoriques.
Enterrement; Préhistoire; P. N. Serra da Capivara.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
RESUMO
RÉSUMÉ
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09
CAPÍTULO I: ÁREA DE PESQUISA – A ÁREA CÁRSTICA.........................................10
1.1 Depressão Periférica do São Francisco..........................................................................10
1.2 Cuesta................................................................................................................................10
1.3 Relevo da área de cárstica...............................................................................................12
1 . 4 Dados paleoambientais do Parque Nacional Serra da Capivara................................18
CAPÍTULO II: APORTES TEÓRICO-METODOLÓGICOS...........................................20
2.1 Histórico dos estudos sobre sepultamentos humanos em Arqueologia........................20
2.2 Estudos sobre sepultamentos humanos em Arqueologia: teoria e conceitos...............22
2 . 3 Estudo das práticas funerárias no Brasil........................................................................27
2.4 Metodologia.......................................................................................................................29
2 . 4 . 1 Mobiliário fúnebre................................................................................................30
2 . 4 . 2 Tratamento do corpo.............................................................................................30
2 . 4 . 3 Estrutura da cova. .................................................................................................31
2 . 4 . 4 Corpo.....................................................................................................................31
2.4.5 Cronologias..............................................................................................................32
CAPÍTULO III: DESCRIÇÃO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS.................................33
3 . 1 Toca do Serrote da Bastiana............................................................................................33
3 . 1 Toca do Barrigudo............................................................................................................40
CAPÍTULO IV: CARACTERIZAÇÃO DAS PRÁTICAS FUNERÁRIAS......................47
4 . 1 Mobiliário fúnebre............................................................................................................47
4 . 2 Tratamento do corpo........................................................................................................48
4 . 3 Estrutura da cova ............................................................................................................50
4 . 4 Corpo.................................................................................................................................50
4 . 5 Cronologias.......................................................................................................................52
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................55
ANEXOS
INTRODUÇÃO
Este trabalho partiu do estudo de dois sítios arqueológicos, Toca do Serrote da
Bastiana e Toca do Barrigudo, localizados na área cárstica no entorno do Parque Nacional
Serra da Capivara.
O objetivo geral desse trabalho é fazer uma caracterização das práticas funerárias dos
sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo.
O objetivo específico é a identificação de semelhanças e diferenças nos
enterramentos desses sítios.
A escolha desses sítios se justifica por: estarem inseridos em uma unidade
topográfica denominada de Serrote da Bastiana, que conta com diversas evidências de cultura
pré-histórica, dentre as quais, os enterramentos humanos. Os sítios desse serrote foram
escavados pela arqueóloga Eliany Salaroli La Salvia em 2002 e seus dados disponibilizados
na Fundação Museu do Homem Americano - FUMDHAM.
A metodologia empregada foi apoiada, principalmente, em três variáveis de análise
aplicadas aos dados dos enterramentos: estrutura da cova, mobiliário fúnebre e tratamento do
corpo. A metodologia foi baseada na Arqueologia da Morte e teve como suporte conceitos
desenvolvidos nos estudos de ritual funerário. Dentre os quais, o conceito de que se refere ao
valor simbólico que existe em cada atributo dos sepultamentos, inerente também à ideia de
ritual funerário como prática conservativa.
Este trabalho foi elaborado em 4 capítulos:
O capítulo I – Área de pesquisa/a área cárstica - aborda a área onde estão
localizados os sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo, com o objetivo
evidenciar os aspectos geomorfológicos e paleoambientais;
O capítulo II – Aportes teórico-metodológicos - trata a questão teórica,
estabelecendo um histórico dos estudos sobre enterramentos, apresenta conceitos relacionados
à morte, os estudos das práticas funerárias no Brasil e os aportes metodológicos aplicados;
O capítulo III – Descrição dos sítios arqueológicos - descreve os sítios abrangendo
desde as informações geográficas até os dados referentes à prática funerária;
O capítulo IV – Caracterização dos enterramentos humanos do Serrote da
Bastiana – reune os dados oriundos das variáveis operacionais com o intuito de destacar as
características que marcaram os enterramentos e que possibilitaram reconhecer semelhanças e
diferenças.
CAPÍTULO I: ÁREA DE PESQUISA - A ÁREA CÁRSTICA
Antes de descrever o relevo onde estão localizados os sítios arqueológicos que são
objetos dessa pesquisa é preciso fazer uma caracterização do meio físico da Área
Arqueológica Serra da Capivara1.
A Área Arqueológica Serra da Capivara está localizada no contato entre dois
domínios geológicos: a Faixa de Dobramentos Riacho do Pontal, parte ocidental da Província
Estrutural da Borborema, e a Bacia Sedimentar do Parnaíba.
Associada à Faixa de Dobramentos Riacho do Pontal está a Depressão Periférica do
São Francisco e associada à Bacia Sedimentar do Parnaíba está a cuesta.
1.1 Depressão Periférica do São Francisco
A morfologia principal dessa área é o pedimento, conceituado por Guerra e Guerra
(2003) como formação que aparece nos países de clima árido quente ou semi-árido, cujo
material é trazido pelos rios que fazem um lençol à semelhança da montanha. O material é
transportado mais para baixo, dando origem a uma planície de aluviões.
O pedimento da Área Arqueológica Serra da Capivara, descrito por Pellerin (1984
apud SANTOS, 2007), é uma vasta área de erosão, localizada no sopé da cuesta, muito plana,
intensamente dissecada, e se inclina suavemente, a partir dos bordos da cuesta de arenito,
rumo à calha central do rio Piauí. No setor sul ocorre o gnaisse ora como numerosos
inselbergs isolados, ou dispostos em maciços. No seu setor norte onde afloram micaxistos, é
mais aplainada, ocorrendo inselbergs, isolados de granito intrusivo e os serrotes de calcário.
1.2 Cuesta
Segundo Guerra e Guerra (2003) cuesta é o relevo dissimétrico constituído por uma
sucessão de camadas com diferentes resistências ao desgaste e que se inclinam numa direção,
formando um declive suave no reverso e um corte abrupto na chamada frente de cuesta. É o
tipo de relevo predominante nas bacias sedimentares.
Entende-se por área arqueológica uma divisão geográfica que compartilhe das mesmas condições ecológicas e
nas quais está delimitada de sítios pré-históricos (MARTIN, 1999).
1
Figura 1: Quadro geomorfológico do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: www.fumdham.org.br
12
A cuesta e os planaltos areníticos da área arqueológica Serra da Capivara foram
descritos e identificados por Pellerin (1984 apud SANTOS, 2007) como duas unidades
geomorfológicas.
Os planaltos areníticos localizados a oeste do Parque Nacional Serra da Capivara são
chapadas do reverso da cuesta, de relevo regular, de baixa declividade e baixa dissecação. No
planalto encontram-se vales orientados no sentido N-S, com fundos planos, profundamente
encaixados.
A cuesta é dupla, com tabuleiro intermediário, seus dois alinhamentos distam entre si de
3 km a 7 km. A frente da cuesta exibe canyons (localmente chamados de boqueirões) de entalhe
profundo e muito dendriformes, dominados diretamente por paredões de morfologia ruiniformearredondada.
1.3 Relevo da área cárstica
Os sítios estudados nessa pesquisa estão localizados na Depressão Periférica do São
Francisco, na unidade geomorfológica denominada de pedimento, onde se concentram os abrigos
cársticos com evidências de enterramentos humanos.
As rochas que afloram nessa área são datadas do Pré-cambriano, são rochas ígneas,
como os granitos, e rochas metamórficas, como o micaxisto, gnaisse e calcário. (LA SALVIA,
2006).
Santos (2007) afirma que nessa unidade ocorre um conjunto de leques aluviais arenosos
e cascalhosos, oriundos de fragmentos desagregados por intemperismo físico e químico das
rochas da Bacia Sedimentar do Parnaíba e transportados por processos gravitacionais e aluviais.
Nos arredores dos serrotes de calcário o preenchimento de suas cavidades
geomorfológicas é feito não somente pelo material proveniente da Bacia Sedimentar, mas
também da desagregação do calcário e seu posterior transporte. Essas cavidades podem ser,
dentre outras, lapiás, que são caneluras que entalham a superfície das rochas, próprio das rochas
solúveis, e cavernas, que correspondem a cavidades de formas variadas que aparecem mais
frequentemente nas rochas calcárias ou em arenitos de cimento calcário, realizadas pela
dissolução do carbonato de cálcio, pela erosão mecânica e pela pressão hidrostática (GUERRA e
GUERRA, 2003).
13
Os maciços calcários da área cárstica do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara
estão situados no pedimento, em forma de morros e serrotes residuais.
O carste é conceituado pelo relevo específico e pela circulação subterrânea:
Deve-se mesmo excluir do carste todas as rochas que não permitam a circulação
subterrânea, embora possam apresentar certas formas de dissolução. Observa-se,
por conseguinte, que o fator litológico é o fator inicial e fundamental. As formas
cársticas são muito bem desenvolvidas nos calcários puros e dispostos em
camadas espessas. (GUERRA e GUERRA, 2003, p.114).
O relevo cárstico é composto por feições superficiais do terreno resultantes de processos
de dissolução, subterrâneos e superficiais. A dissolução, predominantemente química, e a erosão
mecânica de rochas calcárias, somadas ao crescimento da porosidade secundária, com o tempo
configuram feições geomorfológicas específicas. Como por exemplo: lapiás; ressurgências, que
são fontes de água que aparecem em terrenos calcários ou antigos cursos de água que ressurgem;
sumidouros, o mesmo que chaminés, depressões onde pode existir circulação subterrânea;
dolinas, depressões de forma acentuadamente circular, afunilada, com larguras e profundidades
variadas, que aparecem nos terrenos calcários; uvalas, depressões maiores que as dolinas,
resultantes da coalescência de várias dolinas; poljés, grandes depressões de fundo plano, em
terreno calcário, estendendo-se, às vezes por dezenas de quilômetros, configurando uma planície
cárstica; e grutas ou cavernas (GUERRA e GUERRA, 2003).
As zonas cársticas ainda caracterizam-se como um carste residual, formado por morros
pequenos que abrigam inúmeras cavidades. Proeminentemente, a paisagem cárstica apresenta
depressões fechadas (dolinas, uvalas e poljês), lapiás nos cumes e nas vertentes calcárias,
cavernas e abismos nas vertentes (drenagem subterrânea); e ainda cobertura vegetal nula ou
escassa além da ausência de circulação superficial nas zonas altas. Para isso, a origem e o
desenvolvimento do carste dependem de fatores de natureza litológica, climática, estrutural e
tectônica (LA SALVIA, 2006).
Existe nesse tipo de ambiente rochoso um sistema de juntas e diáclases, variando de
acordo com o comportamento da infiltração das águas, dentre outros fatores, que modelam as
dimensões e as formas das grutas, que configuram desde simples fendas até galerias, salões e
abismos. Esse sistema tem como base o desgaste da rocha carbonática ao longo do tempo (LA
SALVIA, 2006).
14
O desenvolvimento morfológico do carste está sujeito a uma seqüência de fenômenos
repetitivos, compreendidos em períodos com diversas fases de evolução. As características da
paisagem cárstica variam de acordo com a região, mormente, devido às condições do clima (LA
SALVIA, 2006).
Segundo Santos (2007) nos depósitos de preenchimento da caverna Toca de Cima dos
Pilão se verifica três litologias, argilo arenosa, cascalhosa e tufo calcário (três níveis). Os tufos
calcários, segundo Pedley (1990 apud SANTOS, 2007), são resultantes de climas temperados
amenos e úmidos.
Uma área cárstica funciona basicamente de acordo com a oferta de água local, sendo
necessária a existência de cursos de água com intercalação dos segmentos de superfície por
subterrâneos. Uma prova disso é a existência de drenagem próxima a Toca de Cima dos Pilão,
que Santos (2007) afirma ser uma provável alimentação da rede subterrânea da caverna, o que se
configuraria um microclima, ideal para a precipitação do calcário. E se integrando a esse
microclima, o tufo calcário que seria a resposta de um fenômeno local, que não foi datado, mas
sabe que é mais recente que 76000 anos, pois abaixo do calcário se verificou uma unidade
formada por argila e areia, cujo topo refere-se aquela data. Ainda de acordo com Santos (2007),
essa constatação de umidade deve ser unicamente relacionada à Toca de Cima dos Pilão, não
podendo de forma alguma ser generalizada para o Parque Nacional Serra da Capivara e
circunvizinhanças.
Os serrotes calcários residuais apresentam superfície geralmente desnuda (fig.2),
comportando pequenas cavidades em razão da compartimentação tectônica e segmentação de
maciços (GUÉRIN, et al., 1999).
15
Figura 2: Imagem de um serrote residual: sítios arqueológicos Toca do Barrigudo e Toca do Serrote da Bastiana,
área do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara.
A topografia cárstica apesar de possuir dimensões reduzidas em relação à cuesta se
revelou uma fonte fundamental para a pesquisa científica desenvolvida pela FUMDHAM, por ter
apresentado além dos vestígios arqueológicos e paleontológicos, informações paleoclimáticas e
forte relação com os demais sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara.
Os sítios arqueológicos que apresentaram uma maior variedade de vestígios préhistóricos na área de pesquisa do Parque Nacional Serra da Capivara estão em abrigos e grutas,
distribuídos ao longo dos maciços calcários. Em relação à morfologia, de acordo com Arnaud
(1982), os sítios arqueológicos da área cárstica são ao mesmo tempo sítio do tipo abrigo e sítio do
tipo serrote.
Os maciços calcários não apresentam uma unidade continuada na paisagem do
pedimento, são morros e serrotes calcários intercalados por terrenos planos. Para Rodet (1992
16
apud LA SALVIA, 2006), tratam-se de dois maciços calcários: o primeiro está entre a cuesta e a
rodovia federal BR-020, do povoado Sítio do Garrincho até a cidade de Coronel José Dias, sob a
forma de um alinhamento regular de um conjunto de morros; o segundo está a leste do primeiro,
entre Coronel José Dias e a uma localidade chamada de Borda, onde existe um conjunto de
morros elevados discretamente sobre o pedimento (LA SALVIA, 2006).
Nesse contexto geomorfológico estão situados os sítios arqueo-paleontológicos, em
diferentes serrotes e morros. Os principais morros e serrotes calcários apresentam 35 sítios.
1. Serrote do Sansão:Toca do Sumidouro do Sansão, Toca do Boi do Serrote do Sansão,
Sumidouro da Gameleira, Serrote do Zezinho, Roça do Hernandes, Toca do Canto do Arame,
Toca da Rancharia da Dona Vitória, Toca dos Pilão, e Toca de Cima dos Pilão.
2.Serrote do Antonião: Toca da Janela da Barra do Antonião, Toca dos Crentes da
Caieira do Adão, Toca da Caieira do Olímpio e Toca do Serrote da Barra.
3. Serrote do Antero: Toca do Serrote do Antero e Toca dos Cacos.
4. Serrote da Bastiana: Toca da Coroa do Frade, Toca do Serrote da Bastiana, Toca do
Barrigudo e Toca dos Espeleotemas Caídos.
5. Serrote do Artur: Toca do Serrote do Artur, Toca do lado do Serrote do Artur, Toca
dos Cacos e Abrigo do Serrote do Artur.
6. Morro do Garrincho: Toca do Gordo do Garrincho, Toca da Santa, Toca da Cacimba
do Agdo, Toca do Lado da Cacimba do Agdo, Oficina Lítica 0009/00, Toca da Grande da
Negrinha e Toca da Negrinha.
7. Serrote do Tenente Luís: Lagoa do Aldemar, Toca do Serrote do Tenente Luís, Toca
do Serrote do Luís e Toca Pequena do Serrote do Tenente Luís.
8. Serrote das Moendas: Sítio Toca do Serrote das Moendas.
La Salvia (2006) trabalhou com a classificação das sub-áreas (fig.3) dos maciços
calcários do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, proposta por Rodet (1992). Onde os
morros e serrotes estão distribuídos em quatro sub-áreas: 1. Garrincho; 2. Sansão-Pilão; 3. Borda;
4. Casa Nova.
17
Figura 3: Sub-áreas cársticas do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: modificada de Rodet
(1992).
Os enterramentos humanos se situam no Serrote calcário da Bastiana, que por sua vez se
localiza na sub-área cárstica 3 (fig.3), chamada de Borda. O Serrote da Bastiana apresenta dois
sítios arqueológicos onde foram evidenciados esqueletos humanos: Sítio Toca do Barrigudo e
Sítio Toca do Serrote da Bastiana.
Esses sítios arqueológicos em época de chuvas apresentam abundante circulação de
água, por fazerem parte da ressurgência do Serrote do Antonião (LA SALVIA, 2006).
18
1.4 Dados Paleontológicos do Parque Nacional Serra da Capivara
Algumas feições geomorfológicas favorecem a concentração e deposição de vestígios
arqueológicos e paleontológicos. Os abrigos sob rocha e as grutas são exemplos dessas feições,
que ofereceram condições ideais para a ocupação humana. As chaminés, que significam o mesmo
que sumidouros, são depressões onde pode existir circulação subterrânea (GUERRA e GUERRA,
2003) as fendas e as dolinas representam verdadeiras armadilhas naturais, para onde seguem os
vestígios arqueológicos e os vestígios paleontológicos (LA SALVIA, 2006).
A maior importância dos maciços calcários da Área Arqueológica Serra da Capivara
consiste no fato de oferecerem condições de preservação de elementos do passado, seja
arqueológico, geomorfológico, ou paleoambiental. Dentre as condições de preservação, a
principal é a do solo alcalino, presente nos maciços calcários. A alcalinidade do solo permite a
conservação e preservação da matéria orgânica (LA SALVIA, 2006).
A preservação dos dados pretéritos revela um paleoambiente diferenciado do ambiente
que existe hoje. As fontes de água são o principal fator para o estabelecimento das comunidades
em um determinado lugar. Sendo assim, é legítimo pensar que a região tinha outra configuração
ambiental na pré-história, tendo em vista a abundância dos vestígios arqueológicos e
paleontológicos (GUIDON et al., 2002).
Dessa forma, somente quando estudos mais detalhados forem realizados será possível
estabelecer o paleoambiente dessa região. De acordo com Guérin et al. (1999, p.131 ) é preciso
ser realizado:
(...) o estudo sedimentológico dos depósitos químicos e físicos e
estabelecimento de suas cronologias, estudo microestratigráfico, análise
antracológica, palinológica e malacológica, além das relações bioestratigráficas,
biogeográficas e biocronológicas, espera-se poder ter uma melhor compreensão
do contexto paleoambiental de uma região culturalmente rica e diversificada.
Alguns sítios escavados da área cárstica apresentaram, ao mesmo tempo, vestígios
arqueológicos e vestígios paleontológicos: Sumidouro do Sansão, Abrigo do Serrote do Artur,
Toca do Gordo do Garrincho, Toca do Serrote das Moendas, Toca do Serrote do Tenente Luís,
Toca do Barrigudo, e ainda os sítios Toca de Cima dos Pilão e Toca da Janela da Barra do
19
Antonião que além de terem apresentado várias espécies da megafauna ainda foram evidenciados
esqueletos humanos.
No sítio Toca de Cima dos Pilão foram datados em 2290 +/- 60 anos B.P. fragmentos de
carvão que estavam próximos a ossos humanos. Entretanto, a datação mais recuada para este sítio
chega a 10390±80 B.P, obtida para o nível 2/base do salão La Rotonde, e associada a material
lítico (LUZ, 1989).
Foram identificados dois salões nessa caverna, denominados de La Rotonde e Da
Teresinha. No salão Da Teresinha, foram encontrados ossos de diferentes espécies da megafauna,
distribuídos em sete níveis de concentração (LUZ, 1989). Dentre as quais: Pampatherium
humboldt, Glyptodon clavipes, Smilodon populator, Eremotherium lundi e Hippidion
bonaerensis (GUÉRIN, 1996).
O sítio paleontológico mais importante do domínio cárstico é a Toca da Janela da Barra
do Antonião, devido à quantidade e à diversidade de vestígios. Os vestígios são referentes a
mamíferos (micro-mamíferos), aves e répteis, além das evidências humanas, que implicam nas
marcas de uso em ossos, nos registros gráficos e no material lítico associado aos ossos da
megafauna. A similaridade do material deste sítio com o material dos outros sítios cársticos
possibilita inferir sobre a contemporaneidade da ocupação dos abrigos. No sítio Toca da Janela da
Barra do Antonião foi evidenciado um esqueleto humano com a datação mais recuada da área
cárstica para esse tipo de vestígio, 9850 anos B.P. Porém, esse esqueleto não configurava um
enterramento (GUERÍN et al.,1999).
20
CAPÍTULO II: APORTES TÉORICO-METODOLÓGICOS
A procura por uma revisão dos antecedentes teóricos é importante antes de se discutir
conceitos relacionados ao ritual funerário, dentro dos aportes da Arqueologia.
2.1 Histórico dos estudos sobre sepultamentos humanos em Arqueologia
Até a primeira metade do século XX, os estudos sobre sepultamentos em Arqueologia se
restringiam à classificação de objetos funerários em tipos e categorias produzidos a partir das
descrições para se identificar as culturas e o estabelecimento de linhas cronológicas evolutivas.
Esse período na Arqueologia foi denominado de histórico‐ classificatório.
A investigação das práticas funerárias servia para identificar culturas. A existência de
práticas diferenciadas era indício de contato cultural ou transmissão intercultural. Existia a ideia
de “Centro”, que correspondiam aos locais com uma única prática, e de “Periferias”, locais que
apresentavam práticas diversas (CISNEIROS, 2003).
Childe (1957) trabalhava nessa perspectiva, identificando as culturas com as tipologias
dos sepultamentos. O autor também verificava características culturais sob a abordagem marxista,
que primam pela relevância dos elementos econômicos, do processo histórico, da
representatividade da cultura material (evidência de classes) e pela interação entre atividade
humana e os materiais (trabalho).
Childe (1957) salienta que, inerente às questões sócio-econômicas, o ritual funerário
carrega consigo valores simbólicos, os objetos do mobiliário fúnebre estariam relacionados aos
formadores da ideologia dominante, como legitimadores de poder. O autor acredita que a carga
simbólica dos rituais funerários assegurava a manutenção de um modelo, atribuindo uma natureza
conservativa às práticas funerárias.
Na década de 1960, a Arqueologia foi marcada pelo surgimento da corrente teórica
denominada de Nova Arqueologia. No que correspondia ao estudo das práticas funerárias, o
objetivo da Nova Arqueologia era o entendimento dessas práticas dentro do grupo cultural. O que
correspondia a um modelo de sistemas processuais onde as partes estariam interligadas com um
21
todo. As ações envolvendo o homem, os artefatos e o meio natural eram as conexões das partes
(BAHN; RENFREW, 2007).
A riqueza do mobiliário fúnebre é entendida como indicativo de status, possibilitando a
reconstituição da estrutura social a partir da identificação das diferenças entre a estrutura dos
enterramentos. A deposição do morto, a composição da cova e os objetos associados passam a ser
vistos como mecanismo para identidade social (CISNEIROS, 2003).
Dentro do contexto da Nova Arqueologia surgiu a Arqueologia da Morte com
preocupações específicas voltadas para questões e discussões teórico-metodológicas envolvendo
os vestígios das práticas funerárias. O principal objetivo dessa vertente teórica é o de
compreender a integração dos ritos funerários com as relações existentes dentro do grupo social.
Para Cisneiros (2003) a Arqueologia da Morte é um campo de investigação centrado no
estudo e interpretação dos sepultamentos, a partir da delimitação de quatro grandes áreas: área
funerária (demarcação dos cemitérios), tumba (forma, orientação, investigação de energia
empregada em sua construção e número de indivíduos sepultados), corpo (tratamento, disposição,
antropologia física, paleopatologia, ADN e paleodemografia) e acompanhamentos (classe,
quantidade, origem, valor, riqueza e disposição microespacial).
Assim como aconteceu com a Nova Arqueologia que construiu como base de seus
aportes teórico-metodológicos as críticas ao modelo anterior, o Histórico-culturalismo, a
Arqueologia Pós-processualista, que começou a surgir na década 1980, passou por esse processo,
uma reação ao modelo anterior, dessa vez ao processualismo da Nova Arqueologia.
A arqueologia Pós-Processual se utiliza de aportes teóricos da História e da Arqueologia
Marxista, principalmente as abordagens que enfatizavam os valores simbólicos. O PósProcessualismo buscava o contexto histórico que integrasse com as particularidades dos grupos
humanos e os processos sociais. Segundo Cisneiros (2003) a visão Pós-processualista verifica
cada manifestação cultural como resultado de uma história peculiar, configurando uma identidade
própria.
O caráter abrangente da Arqueologia Pós‐ Processual tomou as práticas funerárias como
mais uma parte do complexo social, passíveis de fornecerem informações que, somados a outros
dados poderiam formar um leque de compreensão mais completo da sociedade. Os atributos
passam por uma nova valorização, como o mobiliário fúnebre, que passa a ser considerado pelo
seu significado; e as relações entre status social e riqueza são estudadas a partir de uma dimensão
22
mais ampla (CISNEIROS, 2003), além da ideia de que o grau de elaboração dos sepultamentos
refletia exatamente a posição sócio-econômica do indivíduo.
A partir da década de 1990, as discussões teóricas se tornaram menos constantes em
relação às práticas funerárias, que continuaram a serem discutidas sob as abordagens do
Processualismo ou do Pós‐ processualismo (RIBEIRO, 2007).
2.2 Estudos sobre sepultamentos humanos em Arqueologia: teoria e conceitos
A morte acontece nas mais diversas situações, pode-se perder a vida em desastres
naturais (terremoto), em acontecimentos sociais (guerra, sacrifício), ou por causa de uma doença
ou acidente; se pode até nascer sem vida. A morte atinge qualquer indivíduo, seja qual for a
espécie, suas causas e tratamentos variam de acordo com a diversidade ou interação social. O ser
humano convive com a morte no seu cotidiano desde o nascimento. A morte é abstraída e
ritualizada pelo homem da forma como seu povo a concebe.
Ao longo da história humana, independentemente da região ou da sociedade, é possível
afirmar que:
O homem sempre se preocupou com seus mortos e o ritual funerário, seja ele
simples deposição do corpo numa cova ou cerimônia complexa, acompanha a
sociedade humana desde os albores da pré-história. (MARTIN, 1999,
p.311-312).
O ritual funerário pode ser definido como um padrão de comportamento utilizado em
contexto de morte para criar e manter o senso de conexão de um sistema social (CISNEIROS,
2003).
Essa extensa trajetória possibilita afirmar que existiram múltiplos destinos para os
mortos. Os cadáveres poderiam ter sido desde alimento para carnívoros, para indivíduos de sua
própria espécie (canibalismo ou antropofagia), até mesmo para seu próprio grupo cultural
(endocanibalismo).
Existem dois conceitos gerais para a prática de acomodação dos mortos: sepultamento e
enterramento. O termo sepultamento ou inumação refere-se à prática de ocultar o corpo abaixo do
23
nível do solo ou acima do nível do solo, realizado sob monte de terra, madeira, ossos de pedra
(SILVA, 2005) ou dentro de urnas funerárias não enterradas. Enterramento é um termo restrito,
que se refere somente à acomodação do morto abaixo do nível do solo.
Os enterramentos podem ainda, ser primários ou secundários, da mesma forma que os
sepultamentos. Os enterramentos primários correspondem ao primeiro ritual, quando há o
acondicionamento ou a deposição do corpo em cova. Os enterramentos secundários
correspondem a um segundo tratamento do corpo, desta vez constituído apenas pelos ossos,
quando o esqueleto é retirado do ambiente onde foi previamente acomodado e transportado para
outro espaço. O enterramento pode ser individual, referente às ossadas de apenas um indivíduo,
ou coletivo, com as ossadas de vários indivíduos. A conexão anatômica é ausente; porém já foi
observada em alguns grupos uma deposição organizada dos ossos em enterramento secundário
(CISNEIROS, 2003).
Pode-se existir ainda como prática funerária a cremação - queima parcial do corpo, a
incineração - queima total do corpo e a antropofagia.
A realização dos enterramentos pode ser de forma direta ou indireta. O enterramento
direto se dá quando é aberta uma cavidade na terra para receber o corpo sem nenhum
enfardamento. E no enterramento indireto o corpo é acondicionado em um invólucro, constituído
de uma esteira ou uma urna cerâmica, antes de ir para a cova (CISNEIROS, 2003).
Segundo Morin (1997, p.33) um dos motivos para a preocupação com o corpo morto é o
horror da decomposição, solucionado muitas vezes com a cremação, ou incineração, e o
endocanibalismo, acelerando o processo desintegração antes de chegar ao grau de putrefação. Ou
ainda, retardando a desintegração e evitando a decomposição do corpo através do embalsamento.
O autor sugere que “o horror não é o cadáver em putrefação, e sim o cadáver em putrefação do
semelhante, e é a impureza deste cadáver que é contagiosa”.
A preocupação com o morto envolve uma série de elementos, desde sua disposição em
um espaço a ele reservado até o material que acompanhará o corpo, denominado de material
associado ou mobiliário fúnebre, que significa os objetos de uso pessoal, ritual ou votivo,
depositados intencionalmente (SOUZA, 1997).
Os tipos de artefatos que compõem o mobiliário fúnebre nos sepultamentos podem ser
conseqüências de diferenças sociais, como afirma Binford (1971). A tipologia dos artefatos
24
sugere em muitos casos o status social do morto, que significa posição sócio-econômica dentro
do grupo social.
Dessa forma, o tipo de material e o nível de complexidade da confecção do artefato que
acompanha o morto podem indicar existência de hierarquia. A função de um determinado artefato
não segue necessariamente sua aparência (BAHN, 1997), um exemplo, é a presença de pontas de
flecha em mobiliários fúnebres, nada indica que tenham sido confeccionadas para a caça ou
pesca, esse material pode ter apenas a utilidade para a prática ritual. Da mesma maneira se pode
pensar sobre a complexidade de confecção e tipo de material da peça arqueológica, onde a
função, talvez, resida na demonstração que o indivíduo tinha em vida.
Para BAHN (1997) os materiais raros são indicadores de poder e os túmulos que contém
objetos destes materiais podem ser interpretados como sendo de pessoas ricas ou de elevado
status dentro do grupo cultural, servindo parar evidenciar a hierarquia social. O autor salienta que
tais artefatos tem valor, acima de tudo, cultural e que sua utilização estaria sujeita aos costumes
da sociedade.
O status social do indivíduo pode ser identificado, além do Mobiliário fúnebre, pelo
processo de tratamento dado ao corpo e pela estrutura da cova funerária. O grau de elaboração do
enterramento seria um indício do status social (BINFORD, 1971).
Nesse sentido, as análises arqueológicas procuram a reconstrução das camadas através
do status do morto, onde o valor dos objetos, o tratamento dedicado ao corpo, assim como, a
energia despendida para a realização do sepultamento estão vinculados a posição social do morto
no grupo (RIBEIRO, 2007).
O termo status social somente se aplica aos trabalhos onde haja a possibilidade de
identificar diferenças no tratamento do corpo e tipos de vestígios entre as sepulturas. Uma vez
que se não houver distintos tratamentos nos sepultamentos de um determinado cemitério, pouco
se pode dizer sobre o status social de cada indivíduo.
O termo status social também é específico no que concerne aos atributos dos indivíduos,
não alcança outros elementos além da posição sócio-econômica. Um termo mais apropriado para
o estudo dos atributos dos indivíduos seria o termo persona social, formulado por RadicliffeBrown (1933). Segundo esse autor persona social é um conjunto de papéis desempenhado pelo
indivíduo.
25
O conceito de persona social do morto proporciona a identificação de diferenciados
tipos de vestígios funerários relacionados diretamente com diferenças sexuais, etárias e de status
social (RIBEIRO, 2007). Segundo Binford (1971) a quantidade de relações referentes à persona
social do morto está diretamente ligada ao tratamento dado ao corpo.
Interessa para Binford (1971) a relação entre a complexidade do ritual funerário e a
organização social. O que para Martin (1999, p. 311) é perfeitamente viável, “ainda que esse
ponto de vista tenha sido contestado por outros autores, não há dúvida que, em linhas gerais, a
hierarquia e a categoria social do indivíduo refletem-se no seu sepultamento”.
Tainter (1978 apud RIBEIRO, 2007) salienta que há explicações que levam em conta
componente energético como um dos elementos que envolvem a prática funerária, a organização
social e o status social do morto, a partir da medida do gasto de energia. Quanto maior o gasto de
energia maior é o status social do morto. Dessa forma, pode-se entender a cremação também
como uma atividade de alto gasto de energia, refletido uma posição elevada do indivíduo no
grupo.
Para Tainter (1978 apud RIBEIRO, 2007) o gasto de energia, tida como variável de
interpretação, responde a algumas questões arqueológicas, como por exemplo, a ausência do
Mobiliário fúnebre que corresponderá ao status social. A ausência de atributos funerários seria
um indicativo de sociedade igualitária.
Os componentes funerários evidenciam um investimento de energia para a elaboração do
ritual. A preparação de uma cova e de um corpo, a escolha de um lugar para a deposição do
morto, a aquisição e o preparo de alimentos e o fabrico de instrumentos e objetos voltados para o
ritual configuram uma indicação do gasto de energia. “O corpo em si contém infinitesimais dados
indicadores das relações homem/meio ambiente, homem/sociedade/cultura e homem/homem”
(SILVA, 2005).
Bernardi (1978 apud SILVA, 2005, p. 66) acredita que “uma cerimônia funerária,
vinculada ao indivíduo, seu meio social e natural e ao tempo, constitui uma atividade da vida
social que induz a manutenção e a continuidade estrutural da sociedade”. Dessa forma, é
fundamental que se analise o ambiente natural, o território, a forma como é utilizado visando à
alimentação (pesca, caça coleta), a matéria-prima dos artefatos e as formas de habitação para se
fazer correlação com as práticas funerárias. Para esse autor, em organizações sociais que abriga
26
culturas de pesca, caça e de coleta, as práticas funerárias expressam traços dos métodos e
instrumentos de trabalho empregados na pesca, na caça e coleta.
Sendo assim, pode dizer que as práticas funerárias não podem ser estudadas como
fenômeno isolado, pois estas estão associadas a uma estrutura social criadora de seus mecanismos
de atuação e tentativas de perpetuação étnica (CISNEIROS, 2003).
Os rituais funerários são tipos de práticas sociais referentes à ação humana dos vivos
sobre os mortos, das atitudes das sociedades dos vivos entorno do morto. O corpo e o seu
tratamento refletem um poder simbólico que media a representação da passagem entre a vida e a
morte, processo onde se legitima e reafirma suas heranças posições sociais, Barret (1999 apud
SILVA, 2005).
Nesse poder simbólico se insere uma perspectiva íntima às relações entre o grupo
cultural e os mortos. Essa perspectiva é a ideologia. Hodder (1986) afirma que a ideologia
significa o elo entre a organização social e o que aparece no sepultamento. Significados culturais
e simbólicos são utilizados como estratégias de poder e estratégia de controle. A ideologia
envolve todos os aspectos da sociedade, incluindo necessariamente as ritualidades de
sepultamento e as relações sociais de produção.
Para que se consiga observar o caráter simbólico dos elementos é necessário ter uma
quantidade significativa de dados. Todavia, é importante que não se deixe ter como possibilidade
mesmo quando não existam muitas informações.
Uma característica que pode ser observada com mais segurança entre os povos, de
diferentes períodos e regiões, é a capacidade de manutenção da prática funerária. As cerimônias
funerárias exigem uma ritualidade complexa, mais indissociável a identidade do grupo do
qualquer outro elemento, porque envolve ao mesmo tempo o indivíduo, a família e a comunidade.
Childe (1957) verifica que as características culturais representam traços remanescentes
das mudanças, sendo a resistência a variável que permitiria identificar a singularidade. Para o
autor, as práticas de sepultamento são o traço cultural que mais apresenta resistência.
Pode-se dizer que a prática funerária é um ritual conservativo em todas as gerações de
populações humanas.
O homem é também tradicionalmente conservador no culto aos seus mortos e a
mudança das culturas reflete-se mais lentamente nos rituais e nos costumes
funerários do que na evolução da vida cotidiana. (MARTIN, 1999, p. 311-312).
27
Compreende-se, nesse trabalho, a prática funerária como ritual conservativo, que
representa um traço cultural pouco sujeito às mudanças sociais, uma vez que depende de
modificações profundas, envolvendo a visão da sociedade e da família sobre um semelhante
morto e as simbologias resultantes dessa percepção.
2.4 Estudo das práticas funerárias no Brasil
A pesquisa sobre as práticas funerárias no Brasil se baseou na documentação
arqueológica e nas fontes etnológicas e etnográficas obtidas a partir da observação das tradições
indígenas. E ainda na documentação de cronistas e viajantes.
Os relatos dos primeiros viajantes e aventureiros que percorriam o Brasil e faziam a
descrição da paisagem, da fauna, da flora e dos costumes dos nativos, com a intenção de conhecer
melhor os territórios ultramarinos e suas potencialidades, propiciaram a documentação sobre a
existência de um ritual que não deixa vestígios no registro arqueológico, o canibalismo e o
endocanibalismo (CISNEIROS, 2003).
Entretanto, não se deve deixar de considerar pertinente a questão da correlação temporal,
uma vez que as informações etnográficas carregam distorções decorrentes das distâncias
cronológicas e diferenças culturais.
Martin (1999, p.325) salienta o conservadorismo funerário na Pré-história, certas
práticas funerárias registradas pela etnografia, de certo, representam tradições milenares. “Vários
rituais funerários indígenas continuaram sendo praticados pelos índios, mesmo depois da
colonização portuguesa e do seu aldeamento em missões”.
Através da tradição oral soube-se que os Pankararu enterravam os mortos em abrigos e
tinham o hábito de acender fogueiras, se utilizando do lugar de acordo com a necessidade,
independente de quantas vezes fosse. O que coincide com os vestígios arqueológicos encontrados
na Gruta do Padre. “Numa referência de J. de Lery, os Tupinambá colocavam uma cuia sobre o
rosto do morto e acendiam uma fogueira, fato que encontramos no cemitério do Justino, com os
restos de fogueira ritual usada durante a cerimônia” (Martin, 1999, p.326).
28
Existem procedimentos funerários que podem esconder o conjunto do ritual,
principalmente aqueles que envolvem o fogo. Em muitas escavações arqueológicas foram
evidenciadas fogueiras associadas a sepultamentos. Não necessariamente as fogueiras poderiam
ter sido acesas somente para queimar o corpo, também poderia ocorrer que o ritual funerário não
exigisse cremação ou incineração.
Em relação ao nordeste brasileiro, os estudos arqueológicos ficaram concentrados em
sítios às margens do rio São Francisco e na faixa litorânea. No entanto, poucos sítios
arqueológicos apresentaram evidências de práticas funerárias (CISNEIROS, 2003).
Os sítios arqueológicos Gruta do Padre, Furna do Estrago, Pedra do Alexandre e o Sítio
do Justino forneceram uma base para a arqueologia das práticas funerárias. As escavações nestas
necrópoles revelaram diferenças no ritual de enterramento em longos períodos cronológicos.
Atualmente, as pesquisas arqueológicas no Nordeste preocupam-se com as áreas
de atuação dos grupos pré-históricos, ultrapassando os limites do sítio e
expandido a compreensão do espaço utilizado pelo homem pré-histórico. Esse
espaço ou área arqueológica vem sendo trabalhado de forma sincrônica e
diacrônica, a fim de possibilitar maiores inferências sobre os grupos culturais
que habitaram essa região em tempos remotos. (CISNEIROS, 2003, p.42).
Na Área Arqueológica Serra da Capivara foram escavados 24 sítios arqueológicos. Dos
quais, 16 sítios apresentaram vestígios de prática funerária (anexos, tab.7). Desses 16 sítios, 7
estão na área cárstica do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara (anexos, tab.8): Toca de
Cima dos Pilão, Toca do Serrote da Bastiana; Toca do Barrigudo, Toca do Serrote do Tenente
Luís, Toca do Serrote das Moendas, Toca da Santa, Toca dos Crentes da Caieira do Adão.
Cisneiros (2003, p.36), estudando as práticas funerárias das populações pré-históricas no
nordeste brasileiro, procurou atingir o composto material e trabalhá-lo com o objetivo da segregar
elementos que possibilitem fornecer padronizações. Entretanto salienta que:
(...) para tanto ainda se faz necessário nos estudos sobre práticas funerárias no
Nordeste do Brasil, reunir exaustivamente uma grande quantidade de dados não
apenas sobre aspectos materiais das práticas funerárias mas também, aspectos
contextuais onde estas foram desenvolvidas.
29
2.4 Metodologia
Nesse trabalho, os dados referentes aos sítios arqueológicos foram obtidos através de
dois tipos de fontes: publicação e laboratório.
Uma questão importante na análise dos enterramentos é a escolha das variáveis
operacionais a serem trabalhadas. Para este trabalho, procurou-se selecionar dados que primeiro
possibilitassem o reconhecimento do sítio a ser estudado (tipo de sítio e localização).
Essas informações permitem a compreensão e favorecem a observação, se existir, de
algum tipo de influência dessas características no enterramento.
Posteriormente foram estabelecidos critérios para o estudo da unidade funerária,
utilizou-se três classes principais para essa unidade (fig.4): Estrutura da cova, Mobiliário fúnebre
e Tratamento do corpo.
Foram também utilizados como variáveis a cronologia e os dados relativos à
identificação do esqueleto (sexo e faixa etária).
Figura 4: Fluxograma com as variáveis metodológicas trabalhadas.
30
Os dados resultantes das variáveis operacionais aplicadas ao Sítio Toca do Serrote da
Bastiana serão comparados com as informações das variáveis referentes ao Sítio Toca do
Barrigudo para verificar níveis de semelhanças entre os enterramentos, baseando-se, para tanto,
na ideia de que as comunidades humanas preservam suas práticas funerárias melhor do que outro
tipo de atividade (RIBEIRO, 2007).
2.4.1 Mobiliário Fúnebre
O mobiliário fúnebre representa o acompanhamento do corpo, todos os vestígios que
acompanharam o morto: adornos2; artefatos3; e fogueiras. Nessa variável se analisa a tipologia do
material e a freqüência dos vestígios. O objetivo também é a identificação da existência ou
ausência de peças arqueológicas que diferenciem os enterramentos.
Nessa categoria se pode encontrar e definir melhor as marcas ou interferências
individuais ou coletivas junto aos enterramentos (CISNEIROS, 2003).
Os dados provenientes do estudo do mobiliário fúnebre e do tratamento do corpo, como
variáveis de análise, proposta para esse trabalho, podem indicar o investimento de energia gasto
no enterramento do morto, assim como as relações do homem na sociedade e o relacionamento
de gerações humanas com o meio ambiente (SILVA, 2005), permitindo a identificação da
importância do indivíduo e o reconhecimento de semelhanças e diferenças entre os enterramentos
dos sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo, possibilitando com isso, observar a
existência de padrões de enterramento.
2.4.2 Tratamento do corpo
Nesta variável procura-se verificar os tipos de enterramento (primário ou secundário,
acomodação do corpo (acomodação do crânio e disposição do esqueleto) e quantidade de
indivíduos por cova.
2
3
Entende-se por adorno todo artefato, de qualquer origem, que tenha finalidade de ornamentar (SOUZA, 1997).
Entende-se por artefato todo e qualquer objeto produzido pelo homem (SOUZA, 1997).
31
Acredita-se que a deposição do corpo dentro da cova funerária sofre variação em grupos
culturais diferentes ou até mesmo dentro do mesmo grupo. De certa forma, podem indicar
comportamentos diários efetuados pelo próprio grupo cultural (CINEIROS, 2003). Todavia, isso
não que dizer que não possamos fazer correlações entre os enterramentos nessa categoria, porque
até mesmo as pequenas variações dentro grupo cultural se revelam parte do conservadorismo do
ritual funerário.
Para Cisneiros (2003) a disposição do corpo na cova funerária possibilita promover
inferências sobre a orientação da aldeia e a importância de pontos cardeais para o grupo.
2.3.1
Estrutura da cova
Uma evidência arqueológica importante nos estudos de enterramentos é a cova
funerária. O conceito de cova funerária está ligado diretamente a sua função, que consiste em ser
uma cavidade reservada ao morto abaixo da superfície, cuja delimitação pode ter sido realizada
através de blocos ou pode não estar evidente.
Nesta pesquisa serão estudadas dentro da variável relacionada à cova: profundidade e
morfologia. Essa variável de análise permite conhecer um possível padrão de estrutura de cova
funerária nos enterramentos.
2.3.4 Corpo
Neste trabalho os dados da Antropologia Física não foram aprofundados, visto que o
interesse maior era o conhecimento da prática funerária e a inter-relação entre os elementos dos
enterramentos e não nas características físicas e patológicas dos esqueletos.
Portanto, para este trabalho foi utilizado apenas a descrição de sexo e faixa etária, que
são pontos de divisão dentro de qualquer estrutura social, sendo passíveis de deixar marcas nos
enterramentos.
32
2.3.5 Cronologias
Essa variável tem a preocupação de obter uma visão diacrônica do objeto de pesquisa,
procurando identificar os períodos em que os enterramentos foram realizados, com o intuito de
verificar se correspondem à mesma época e correlacioná-los num conjunto onde também estão as
outras informações que respondem pelo aspecto sincrônico, obtidas através das outras variáveis.
33
CAPÍTULO III: DESCRIÇÃO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
Os Sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo estão localizados em um
mesmo serrote calcário (Serrote da Bastiana), na sub-área cárstica 3 – Borda, no entorno do
Parque Nacional Serra da Capivara, município de Coronel José Dias - PI.
Os abrigos da Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo tem a abertura na
direção norte-nordeste e altitude de 395 m. Esses abrigos rochosos fazem parte da ressurgência
do Serrote do Antonião, como foi mencionado no capítulo 1. Sendo assim, a questão da
interpretação arqueológica se torna mais difícil devido às possíveis alterações que envolvem a
circulação de água em tempos chuvosos.
A campanha de escavação desses sítios arqueológicos aconteceu em 2002, promovida
pela FUMDHAM. Os sítios foram escavados pela arqueóloga Eliany Salaroli La Salvia.
Em cada sítio arqueológico foram evidenciados 4 esqueletos humanos em covas
funerárias. E em nenhum dos esqueletos havia colágeno suficiente para se realizar datação
radiocarbônica (14C).
3.1 Sítio Toca do Serrote da Bastiana
O sítio Toca do Serrote da Bastiana (fig.5) se localiza nas coordenadas UTM 784416W e
9025749N, fuso 33. O sítio corresponde a um abrigo sob rocha com dimensões reduzidas de
aproximadamente 5,5m de profundidade por 4,5m de largura e 5,5 m de altura.
As datações que existem para o sítio foram obtidas a partir de fragmentos de carvão que
estavam próximos ao Esqueleto 2. A datação desses fragmentos de carvão corresponde a 1297 +/
40 anos B.P.
Todos as informações a seguir, referentes ao Sítio Toca do Serrote da Bastiana, foram
baseadas em La Salvia(2006).
34
Figura 5: Abrigo rochoso do Sítio Toca do Serrote da Bastiana. Área do entorno do Parque Nacional Serra da
Capivara. Fonte: arquivos da Fumdham
O abrigo apresenta grafismos rupestres característicos de quatro tipos de tradições
rupestres. As pinturas são classificadas como da Tradição Nordeste, devido à presença de figuras
reconhecíveis e algumas informações de cenas envolvendo antropomorfos (fig.6) e Tradição
35
Agreste, pela existência de uma figura comumente conhecida como “Bonecão”, além das
pinturas, gravuras também compõem o painel rupestre, classificadas como Itacoatiaras.
Sedimento
calcificado
1 (1A e 1B)
3
Área de vestígios
Base do
sedimento
calcificado
2
Área escavável
Legenda
Enterramentos
Linha de Chuva
Blocos de calcário
Figura 6: Antropomorfos da Tradição Nordeste.
Fonte: arquivos da Fumdham.
Figura 7: Distribuição dos esqueletos no sítio Toca
do Serrote da Bastiana.. Fonte: modificada de
La Salvia (2006).
No sítio Toca do Serrote da Bastiana foram evidenciados quatro esqueletos humanos
(fig.7), que se encontravam arranjados como enterramento ritual pré-histórico. Os Esqueletos 1A,
2 e 3 eram enterramentos primários enquanto o Esqueleto 1B não foi possível definir.
O Esqueleto 1, referente a um enterramento primário, se encontrava em uma cova em
decúbito lateral esquerdo (fig.8). Nesse enterramento, assim como nos demais enterramentos do
sítio, não foi possível verificar a morfologia e a profundidade da cova, devido à incapacidade de
se delimitar as estruturas em locais com a estratigrafia revolvida.
Acompanhava o esqueleto (tab.1) uma peça lítica acima do crânio, que trata-se de uma
ponta de projétil de sílex (fig. 9). Além desse artefato de sílex existiam lascas do mesmo material,
também próximas ao crânio.
36
Figura 8: Esqueleto 1, disposto em decúbito lateral esquerdo. Toca do Serrote da Bastiana.
Escavação em campo. Fonte: arquivos da Fumdham.
Figura 9: Ponta de projétil de sílex, Esqueleto 1. Toca do Serrote da Bastiana.
37
Tabela 1: Dados referentes ao Mobiliário fúnebre.
Enterramento
Sítio Toca do Serrote da Bastiana
Mobiliário fúnebre
Ferramentas
líticas
Ponta de
Lesma
Outras
projétil
Esqueleto 1A
Vestígio cerâmico
Adornos
Fogueiras
ferramentas
1 –sílex
0
Lascas
0
0
0
= 1A?
= 1A?
= 1A?
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
(com o Esq.
1B)
Esqueleto 1B
(com o Esq. 1
A)
Esqueleto 2
Esqueleto 3
Os restos ósseos que se encontravam no que foi nomeado Esqueleto 1 pertenciam a dois
indivíduos. O que na verdade mais condiz com o termo Enterramento 1, pela obviedade de
existirem dois esqueletos, haviam ossos duplicados, e a distinção entre indivíduos foi possível
devido a robustez e idade que correspondiam os ossos.
Os ossos do Esqueleto 1A correspondem a uma jovem na faixa etária de 15 a 18 anos. O
sexo feminino foi determinado pela morfologia da mandíbula e pela forma grácil do esqueleto, a
estimativa da idade foi realizada a partir do estágio da evolução dentária (fig.10).
A articulação do Esqueleto 1A sugere que a jovem foi enterrada com um corpo
flexionado sobre o lado esquerdo, com cotovelos flexionados e mãos sob a cabeça (tab.2) e que a
desorganização e a fragmentação ocorreram depois da fossilização.
O Esqueleto 1B corresponde a um indivíduo adulto, cuja idade no momento da morte era
de aproximadamente 40 anos, do sexo masculino, em virtude da robustez dos ossos. Ambos os
esqueletos do Enterramento 1(1A e 1B) eram revestidos por calcita da rocha calcária do abrigo, o
que favoreceu a fossilização dos ossos.
38
Figura 10: Arcada dentária do Esqueleto 1A do Sítio Toca do Serrote da Bastiana. Fonte: arquivos da Fumdham.
Tabela 2: Dados referentes ao Tratamento do corpo.
Enterramento
Sítio Toca do Serrote da Bastiana
Tratamento do corpo
Tipo de enterramento
Primário
Esqueleto 1A
Secundário
Acomodação do crânio
Direto/
Placa de
Apoiado
indireto
calcário
sobre
as
Disposição do corpo
Quantidade
de
Decúbito
Decúbito
Decúbito
Lateral
Lateral
Dorsal
direito
-
esquerdo
X
-
2
esqueletos
X
-
direto
-
mãos
X
-
?
direto
-
-
-
-
-
2
X
X
-
direto
direto
X
-
-
X
X
-
1
1
(com o Esq.
1B)
Esqueleto 1B
(com o Esq.
1A)
Esqueleto 2
Esqueleto 3
Próximo ao Esqueleto 1 e à linha de chuva foi encontrado outro esqueleto, menor do que
o primeiro, o Esqueleto 2.
39
Esse esqueleto pertencia a uma criança que estava entre 2,5 e 3,5 anos na época da
morte. A idade foi reconhecida pela medida da tíbia esquerda.
Material lítico, malacológico e de microfauna estavam presentes entre blocos próximos
ao Esqueleto 2, sem haver a certeza de comporem um mobiliário fúnebre.
O Esqueleto 3 também pertence a uma criança e apresentava indicadores da faixa etária
entre 9 e 11 anos de idade (tab. 3), fazendo parte de um enterramento primário, tendo em vista o
arranjo dos ossos que estava com a anatomia normalmente articulada. Esse esqueleto se
encontrava em decúbito lateral, com o crânio apoiado em cima de uma placa calcária, cujo
encaixe ao longo dos anos proporcionou um esmagamento na porção lateral e sua mão direita
estava disposta entre as pernas. O Esqueleto 3 foi escavado no sítio até a decapagem 4, e depois
levado, assim como os outros esqueletos, para continuar a escavação no laboratório.
Tabela 3: Dados bioantropológicos dos esqueletos.
Sítio Toca do Serrote da Bastiana
Enterramento
Sexo
Faixa etária
Esq. 1A
Feminino
15 – 18 anos
Estado de conservação dos ossos
Fragmentado e Fossilizado
Esq. 1B
40 anos
Fragmentado e fossilizado
-
Recoberto por calcita
Masculino
Datação
-
Observações
Recoberto por calcita
Esq. 2
-----------
2,5 – 3,5 anos
Fragmentado e fossilizado
-
2 dentes correspondentes a 8-9 anos
Esq. 3
-------------
ou 8 – 9 anos
9 – 11 anos
Fragmentado
-
Deformação lateral craniana; todos
os ossos estavam presentes;
Dentição completa (sem 3ºmolar)
Parte dos materiais encontrados na área classificada como área dos vestígios, onde se
encontraram os três enterramentos, pode ter sido carreado por torrentes d´água, responsáveis
também por falanges, carpos e metacarpos estarem espalhados no limite da cova funerária. Fora
da área dos enterramentos foram encontrados ainda vestígios líticos, cerâmicos, malacológicos e
de microfauna.
40
3.2 Sítio Toca do Barrigudo
A poucos metros do Sítio Toca do Serrote da Bastiana se localiza o Sítio Toca do
Barrigudo (fig.11), nas coordenadas UTM 784137 N e 9025716 W, fuso 33.
As dimensões desse segundo sítio são bem maiores do que as dimensões do Sítio Toca
do Serrote da Bastiana.
Figura 11: Sítio Toca do Barrigudo. Área do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: arquivos
da Fumdham
Quanto aos grafismos rupestres, nesse sítio existem apenas algumas pinturas de
grafismos puros, e apenas de cor preta, diferentemente do Sítio Toca do Serrote da Bastiana que
apresenta uma variedade tanto nas cores quanto nas formas (LA SALVIA, 2006).
41
Em relação às datações desse sítio foram realizadas através de fragmentos de carvões e
sedimento com carvões, pelo método do radiocarbônico (14C). O grupo de fragmentos de carvão
que revelou data mais recuada corresponde a 7060 +/- 50 anos B.P. O sedimento com carvões
apresentou datação de 5320 +/-60 anos B.P.
O primeiro esqueleto desse sítio (fig.12 e fig.13) estava protegido por duas placas
calcárias, uma sobre a outra e ainda outra placa estava por baixo. O arranjamento alterado dos
ossos evidenciou a sua condição de enterramento secundário. Ossos longos, como os fêmures e
dos membros superiores estavam cruzados sobre o crânio.
Da mesma que no Sítio Toca do Serrote da Bastiana, nesse enterramento e nos outros
enterramentos do Sítio Toca do Barrigudo, não se observou a estrutura da cova funerária em
virtude da estratigrafia revolvida.
Figura 12: Esqueleto 1, Toca do Barrigudo. Escavação em laboratório. Fonte: arquivos da Fumdham.
42
Figura 13: Desenho do Esqueleto 1, Toca do Barrigudo.
Escavação em laboratório. Fonte: La Salvia (2006)
No Enterramento 1 foram evidenciadas peças líticas que integravam o Mobiliário
fúnebre (tab.4), dentre as quais, três ferramentas: uma lesma de quartzo, uma lasca retocada
plano-convexa de sílex (fig.14) e um instrumento de calcedônia (LA SALVIA, 2006).
Figura 14: Lasca retocada plano-convexa, Esqueleto 1. Toca do Barrigudo.
43
Tabela 4: Dados referentes ao Mobiliário fúnebre.
Enterramento
Sítio Toca do Barrigudo
Mobiliário fúnebre
Ferramentas
líticas
Ponta de projétil Lesma
Vestígio cerâmico
Adornos
Fogueiras
Outras
ferramentas
Esqueleto
1 -quartzito
1-quartzo
1 lasca retocada
1(duplo com o
plano convexa
Esq. 3)
1 ferramenta de
Esqueleto 2
Esqueleto
0
0
0
0
= 1?
0
= 1?
calcedônia
0
=1?
0
0
0
0
0
0
?
?
?
0
0
0
3(duplo com o
Esq. 1)
Esqueleto 4
Antes que se retirasse o esqueleto, na última decapagem de campo anterior a escavação
de laboratório, foi evidenciada uma ponta de projétil e vestígios ósseos da megafauna (LA
SALVIA, 2006). Essa ponta de projétil (fig.15) é de quartzito e possui um dos lados plano,
parecendo um raspador, na extremidade oposta à ponta existe uma superfície trabalhada se
assemelhando a um pedúnculo.
Na mesma trincheira em que estava o Esqueleto 1 ainda foram evidenciadas dezenas de
vestígios líticos, a maioria de quartzo e quartzito, poucos de calcedônia ou sílex (LA SALVIA,
2006). Entretanto, aparentemente, não faziam parte do Mobiliário fúnebre, uma vez que não
estavam exatamente dentro das covas funerárias.
O Esqueleto 1 do Sítio Toca do Barrigudo foi o enterramento em que mais se evidenciou
ferramentas líticas retocadas, levando-se em conta também os enterramentos do Sítio Toca do
Serrote da Bastiana.
44
Figura 15: Ponta de projétil de quartzito, Esqueleto 1. Toca do Barrigudo.
A análise bioantropológica (tab.5) do Esqueleto 1, realizada através do desgaste
dentário, informa que é um adulto, de aproximadamente 40 anos. E que pela robustez sugere-se
que seja um esqueleto pertencente a um indivíduo do sexo masculino. Quanto à altura não foi
possível determinar de nenhum dos esqueletos do sítio, pela razão de estarem em situação
fragmentária Essa situação corrobora com a hipótese da freqüente passagem de água no local, já
que alguns ossos foram encontrados lixiviados, apresentando um pó branco (LA SALVIA, 2006).
Próximo ao Esqueleto 2 foram encontrados ossos de animais pré-históricos, tais como o
Teyassu pecari (caititu) e os ossos dérmicos de uma preguiça-gigante Catonix cuvieri (LA
SALVIA, 2006).
No sítio Toca do Barrigudo já haviam sido catalogados ossos das espécies da megafuna:
Scelidodon piauiense, Mazama sp., Palaeolama sp., Dasyponidae div, Macrauchenia cf.
patachonica e ossos da microfauna (roedores).
45
Tabela 5: Dados referentes ao Tratamento do corpo.
Enterramento
Sítio Toca do Barrigudo
Tratamento do corpo
Tipo de enterramento
Primário
Secundário
Acomodação do crânio
Direto/
Placa de
Apoiado
indireto
calcário
sobre
as
mãos
Esqueleto
-
X
direto
2 Sobre e 1
direto
esqueleto
Sobre o
1(com o Esq.
3)
Esqueleto 2
-
Disposição do corpo
Quantidade
Decúbito
Decúbito
Decúbito
Lateral
Lateral
Dorsal
direito
-
esquerdo
-
de
esqueletos
-
2
sob o
-
?
-
-
-
-
1
esqueleto e no
Esqueleto
-
?
direto
entorno
=1 ?
-
-
-
-
2
3(com o Esq.1)
Esqueleto 4
-
?
direto
-
-
-
-
-
1
Os ossos do Esqueleto 2 apresentavam desgaste acelerado em decorrência da umidade
no solo. Assim como o primeiro esqueleto encontrado nesse sítio, o segundo também estava sob
uma placa de calcário (LA SALVIA, 2006).
Esse esqueleto corresponde a uma criança, com idade entre 3 e 5 anos,
aproximadamente. Não foi possível inferir desse esqueleto uma patologia ou trauma que tivesse
causado a morte, da mesma forma que não se pode inferir sobre os demais esqueletos dos sítios
do Serrote da Bastiana (LA SALVIA, 2006).
As informações da pesquisa bioantropológica ainda constataram que os vestígios ósseos
encontrados do Esqueleto 1 eram pertencentes a dois indivíduos. Do segundo indivíduo desse
enterramento, chamado de Esqueleto 3, se sabe apenas que pertencia a um adulto e que possuía
ossos robustos e que seu crânio estava fragmentado, parecendo ter passado por algum tipo de
esmagamento. Como o Esqueleto 1 estava com os ossos sistematicamente arranjados é possível
que o Esqueleto 3, cujo os ossos estavam espalhados irregularmente, seja também um
enterramento secundário.
Havia um quarto enterramento, em um setor chamado de “Toquinha”, cujas informações
são escassas. Pelas informações obtidas no laboratório (tab.6), dentre os poucos fragmentos
ósseos que restaram desse esqueleto se pode verificar: a mandíbula direita, uma patela, falanges e
46
ainda um fêmur e outros fragmentos de ossos longos. Pelo tamanho dos ossos, de certo não
pertenciam a uma criança, é provável que sejam de um jovem ou de um adulto.
Tabela 6 – Dados bioantropológicos dos esqueletos.
Sítio Toca do Barrigudo
Enterramento Sexo
Esq. 1
Masculino
Faixa etária
40 anos
Estado de conservação dos ossos
Fragmentado e incompleto;
Datação
-
Observações
Ossos quebrados recentemente – lixiviação
Conservação ruim
Esq. 2
--------------
3 - 5 anos
Fragmentado e Conservação ruim
-
-Esq.3
?
Crânio comprimido lateralmente;
Todos os dentes presentes
Adulto –
Fragmentado e incompleto;
faixa?
Conservação ruim
-
Crânio fragmentado, processo de
esmagamento;
Ossos robustos
Esq.4
?
Jovem/adulto
Fragmentado e incompleto;
– faixa?
Conservação ruim
-
Uma mandíbula e ossos de membros
47
CAPÍTULO IV: CARACTERIZAÇÃO DAS PRÁTICAS FUNERÁRIAS
A interpretação dos enterramentos dos sítios arqueológicos é dependente de uma série de
informações, que devem ser sistematizadas através de uma aplicação teórico-metodológica. Um
quadro com categorias permite mapear ou segregar as características essenciais das práticas
funerárias.
A partir dos aportes teórico-metodológicos pode-se classificar se em um determinado
cemitério existia segregação por hierarquia ou se as diferenças nos enterramentos são referentes
somente às características físico-biológicas. Dessa maneira pode-se chegar a uma idéia da
organização social responsável pelos enterramentos.
A interpretação arqueológica em relação a qualquer variável operacional utilizada nestes
sítios é de elevada dificuldade, devido à interferência de fatores externos. A água, por exemplo, é
um dos agentes que causam distorção no conjunto arqueológico da área cárstica, carreando os
vestígios para camadas diferentes.
Nos Sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo é freqüente a percolação de
água, uma vez que o sistema cárstico favorece a circulação de água, como foi explicado no
capítulo 1. A água seria responsável pelo desgaste de alguns ossos, entre eles o Esqueleto 2 do
Sítio Toca do Barrigudo.
Outro exemplo são as várias lascas de sílex que foram encontradas juntas da área
exposta do crânio do Esqueleto 1 do Sítio Toca do Serrote da Bastiana, parecendo fazer parte do
mobiliário fúnebre do enterramento. La Salvia (2006) não descarta a possibilidade das lascas
terem sido trazidas por alguma torrente de água, fenômeno que aconteceria desde 7000 B.P.
4.1 Mobiliário fúnebre
A primeira observação que pode ser realizada nos sítios é que não havia indícios de
fogueiras, adornos e vestígios cerâmicos no mobiliário fúnebre. Entretanto havia outro tipo de
material muito recorrente nos sítios, o material orgânico, representado por fragmentos de
microfauna e ossos de megafauna, muito próximos, na maioria das vezes, dos enterramentos
48
humanos. É o tipo de vestígio que requer uma análise mais aprofundada para afirmar que se
configurava parte do mobiliário fúnebre.
O mobiliário fúnebre nos dois sítios era composto apenas por vestígios líticos, de
quartzo, quartzito, sílex e calcedônia. As peças líticas do mobiliário fúnebre são retocadas, a
princípio aparentam ter outra função, não relacionada com ritual funerário. Como é caso das
pontas de projétil (em ambos os sítios), da lesma de quartzo e da lasca retocada plano-convexa de
sílex (Sítio Toca do Barrigudo).
Pode-se dizer que em termos de mobiliário fúnebre existe, de fato, semelhanças entre os
sítios. Que consistem em:

Apenas em um enterramento de cada sítio foram encontradas ferramentas líticas;

Existia ponta de projétil em um determinado enterramento de cada sítio;

A ausência de fogueiras, adornos, cerâmica ou de qualquer outro tipo de vestígio que
não seja material lítico em quaisquer dos enterramentos.
4.2 Tratamento do corpo
A maioria dos esqueletos encontrados são enterramentos Não indentificados (N.I),
porém, todos os enterramentos primários (fig.16) identificados são do Sítio Toca do Serrote da
Bastiana
Na área do Parque Nacional Serra da Capivara, os enterramentos encontrados são, em
maior número, enterramentos primários. Os esqueletos estão articulados e dispostos em decúbito
lateral, em abaixo ou envolvido de sedimento com cinzas e ou fragmentos de carvão associados
(LA SALVIA, 2006).
Enquanto pouco se pode informar sobre a variável de Tratamento do corpo no Sítio Toca
do Barrigudo, devido às condições de fragmentação de 3 dos 4 esqueletos, no Sítio Toca do
Serrote da Bastiana foram verificados quatro enterramentos, dos quais pelo menos 3 são
primários. O único não definido é o Esqueleto 1B, uma vez que ossos estavam espalhados. Como
os outros enterramentos são primários, pode ser que esse enterramento também seja primário,
desde que algum agente natural ou antrópico o tenha removido da posição inicial.
49
Figura 16: Gráfico com os tipos de enterramentos nos sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca
do Barrigudo.
Em relação ao acondicionamento do corpo, tanto enterramento secundário quanto
primário, nenhum enterramento é indireto, são todos realizados diretamente em cova funerária.
No que concerne a acomodação do corpo, percebe-se que a disposição do corpo em parte
dos enterramentos não está identificada (fig.17) ou é secundário, a outra parte, de certo se pode
observar que os esqueletos estavam em posição de decúbito lateral esquerdo. Estes esqueletos
orientados em decúbito lateral esquerdo pertencem somente a Toca do Serrote da Bastiana, na
Toca do Barrigudo não foi possível entender o posicionamento do corpo, apenas o Esqueletos 1
que foi reconhecido como secundário.
Na variável de acomodação do corpo ainda se notou a disposição da cabeça, verificado
em três enterramentos. Em um destes o crânio estava disposto sobre uma placa calcária.
Cabe salientar que as placas calcárias estavam presentes em 50% dos enterramentos, seja
acomodando somente o crânio, seja protegendo todo o esqueleto.
Na maioria das covas funerárias existia apenas um esqueleto (fig.18), entretanto não é
correto dizer que a minoria, que tinha dois esqueletos, era enterramento composto, devido o
aspecto revolvido que estavam os vestígios e o sedimento.
50
Figura 17: Gráfico com disposição do corpo em relação ao número total de esqueletos,
incluindo o enterramento secundário.
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
2 esqueletos
Individual
Figura 18: Gráfico com número de covas com enterramentos individuais e com dois
esqueletos.
Em suma, apesar do acelerado estado de fragmentação dos ossos prejudicar essa
variável, pois não se pode ter um quadro completo dos indivíduos, pode-se sintetizar do
tratamento do corpo nas covas funerárias dos sítios:

A utilização de placas de calcário na metade dos enterramentos, em especial o
tratamento dispensado ao Esqueleto 1 Sítio Toca do Barrigudo;
51

Em dois dos enterramentos do Sítio Toca do Serrote da Bastiana houve a
preocupação de acomodar a cabeça sobre uma placa de calcário ou sobre as mãos
enquanto no Sítio Toca do Barrigudo o crânio do Esqueleto 1 foi acomodado por
baixo de ossos longos;

Todos os esqueletos do Sitio Toca do Serrote da Bastiana são primários e foram
dispostos em decúbito lateral esquerdo, exceto pelo Esqueleto 1B, que é secundário;

Os enterramentos que possuíam mobiliário fúnebre apresentaram preocupação com a
acomodação do crânio;

Todos os enterramentos, seja secundário ou primário, são diretos, ou seja, são
realizados em covas funerárias sem enfardamento.
4.3 Estrutura da cova
Nesta pesquisa não foi possível saber as delimitações das covas funerárias,
principalmente devido à perturbação estratigráfica ocorrida nos sítios cársticos. As estruturas das
covas ficaram comprometidas após períodos ocasionais de circulação da água.
4.4 Corpo
Os esqueletos enterrados nos dois sítios pertenciam a crianças e a indivíduos jovens ou
adultos. Somente foi verificado o sexo dos indivíduos jovens e adultos.
No Sítio Toca do Serrote da Bastiana foram encontrados esqueletos de 2 crianças, que
estavam em decúbito lateral esquerdo, com tratamento primário e não tinham acompanhamento
funerário, aparentemente. No Sítio Toca do Barrigudo somente foi encontrada uma criança sem
um tratamento de corpo que possa ser reconhecido e sem mobiliário fúnebre.
Nos enterramentos da Toca do Serrote da Bastiana existia em uma cova funerária um
adulto e uma jovem, enquanto que as crianças eram enterradas separadamente. Da mesma forma,
na Toca do Barrigudo a única criança que existia constituía um enterramento individual e havia
uma cova composta por 2 adultos, embora não se saiba a faixa etária certa nem o sexo de um dos
indivíduos (Esqueleto 1). Nesses enterramentos com 2 indivíduos, pelo menos 1 estava na faixa
dos 40 anos.
52
Na Toca do Serrote da Bastiana e na Toca do Barrigudo o Mobiliário fúnebre, que
somente foi encontrado nos Enterramentos 1, parece distinguir adultos de crianças. Essa
afirmação não está totalmente correta por não se saber muito sobre o Esqueleto 4 da Toca do
Barrigudo, do qual só pode reconhecer que os ossos não pertenciam a uma criança.
Em relação à disposição e tratamento do corpo pode- se dizer que os adultos foram
depositados na cova funerária em posição secundária enquanto o único que não foi secundário a
um jovem na faixa de 15 a 18 anos. Talvez o tratamento diferencial desse jovem seja referente ao
sexo, por se tratar de ser o único indivíduo feminino ou ainda, o mais provável, devido à idade
que o aproxima das crianças. As crianças e a jovem 1A foram enterrados em posição primária em
decúbito lateral esquerdo.
As características principais foram verificadas:

As crianças não eram enterradas com acompanhamento funerário;

O mobiliário fúnebre correspondia somente aos adultos;

As crianças eram enterradas em decúbito lateral esquerdo.
4.5 Cronologias
Uma problemática em ambos os sítios arqueológicos do Serrote da Bastiana é a questão
da cronologia dos enterramentos, o que de certa forma reforça o cuidado em reconhecer
semelhanças e diferenças nos atributos de tratamento do corpo e de mobiliário fúnebre, até
mesmo pelo simples fato da proximidade espacial dos sítios.
Não se conseguiu datar nenhum dos ossos humanos pelo método radiocarbônico(14C) por
não haver colágeno suficiente. As datações que foram realizadas não possibilitam inferir
cronologias diretamente para os enterramentos.
As datações que existem para os sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo
não podem serem utilizadas neste trabalho por dois motivos: primeiro, os fragmentos de carvão
não estão associados aos esqueletos; segundo, os vestígios datados estão isolados, não existem
outros do mesmo material, o que leva a pensar que poderiam ter sido carreados. No momento não
existe nenhuma maneira de se estabelecer uma diacronia para os sítios.
53
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a análise metodológica das variáveis operacionais, pode-se afirmar que
existem muitas semelhanças entre os enterramentos dos sítios Toca do Serrote da Bastiana e Toca
do Barrigudo, apesar do número reduzido de informações. As similitudes aparecem em todas as
variáveis, incluindo a recorrência da presença e da ausência de atributos referentes aos
esqueletos.
Pode-se classificar os dados provenientes da segregação metodológica em dois tipos de
características: gerais e específicas. Essas características são resultantes da análise de três
variáveis operacionais: Mobiliário fúnebre, Tratamento do corpo e Corpo.
As características gerais abrangem as informações dos dois sítios (Toca do Serrote da
Bastiana e Toca do Barrigudo), no que concernem as semelhanças que existem na questão do
Mobiliário fúnebre e nas atribuições por características biológicas dos esqueletos:

Somente se evidenciou ferramentas líticas em duas covas funerárias, 1 cova em cada
sítio;

Foram evidenciadas pontas de projétil, 1 em cada sítio;

O mobiliário fúnebre era composto unicamente por vestígios líticos; completa
ausência de qualquer outro tipo de vestígio (fogueira, cerâmica, adorno);

Não existia mobiliário fúnebre no enterramento de crianças.
As características específicas incluem os dados referentes a alguns enterramentos dos
dois sítios ou às informações majoritárias em um dos sítios:

Todos os esqueletos do Sítio Toca do Serrote da Bastiana são enterramentos
primários, exceto o Esqueleto 1, que não tem definição;

A utilização das placas de calcário tinha o objetivo de proteger o corpo ou acomodar
o crânio;

A acomodação do crânio foi realizada sobre uma placa de calcário, sobre as mãos e
sob ossos longos.
54
A ausência de cronologia desses enterramentos direciona a interpretação arqueológica
para uma maior ênfase da prática funerária como ritual conservativo, apoiada pelas características
gerais e específicas de uma mesma abertura rochosa do compartimento topográfico (Serrote da
Bastiana).
O número reduzido de dados limitou, nesta pesquisa, fazer inferências referentes ao
status social ou a persona social do indivíduo de maneira mais conclusiva. O que, talvez, se pode
pensar é em uma configuração essencialmente familiar das práticas funerárias nos sítios Toca do
Serrote da Bastiana e Toca do Barrigudo, devido às claras diferenças de tratamento funerário
(mobiliário e tratamento do corpo) por características físicas e consequentemente sem ligações às
questões de hierarquia e poder.
Da mesma forma, não foi possível reconhecer com segurança algum padrão de
enterramento para esses sítios. Entretanto, a exposição dos dados possibilitou fazer uma
caracterização dos sítios, passível de ser um ponto inicial para posteriormente, com o acúmulo de
informações de outros sítios, se consiga verificar os padrões de práticas funerárias dos grupos
humanos que se estabeleceram na região da Área Arqueológica Serra da Capivara.
55
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futuro? ). São Paulo: Paulo´s comunicação e artes gráficas, 2001. 366p.
TRIGGER, Bruce. História do Pensamento Arqueológico. São Paulo: Odysseus, 2004. 477p.
58
ANEXOS
Tabela 7 – Lista de sítios arqueológicos onde foram evidenciados ossos humanos na Área Arqueológica Serra da Capivara.
datações + antigas
Sítio Arqueológico
Cód. Local
UTM L
UTM N
Altitude Tipo de sítio Pintura
Gravura Tipo de enterramento
p/esqueletos
1. Toca do Paraguaio
1
PNSC
776238
9028069
516m
Abrigo
sim
não
cova
2. Sitio do Meio
22
Serra Talhada
770050
9023206
392m
Abrigo
sim
sim
-
3. Toca da Extrema II
33
Serra Branca
752048
9047691
389m
Abrigo
sim
sim
-
4. Toca da Arapuá do Congo
37
Serra Branca
752408
9043277
426m
Abrigo
sim
não
cova
5. Toca do Gongo ou Jorge
82
Serra do Congo
771699
9042616
434m
Abrigo
sim
não
ambos os tipos
6. Toca dos Coqueiros ou Raimundo Velho
90
Serra Talhada
768076
9022106
391m
Abrigo
sim
não
cova
7. Toca do Serrote das Moendas
113
Lagoa Pré-cambriana
785233
9025186
387m
Abrigo
sim
sim
cova
8. Toca do Caldeirão da Cerca do Elias
125
Serra Talhada
768190
9021459
429m
Abrigo
sim
não
-
9. Toca do Máximo da Baixa Verde
178
Serra do Tapuio
347m
Abrigo
não
não
-
10. Toca da Janela da Barra do Antonião
184
Serrote do Antonião
784194
9026010
397m
Abrigo
sim
não
-
Zazá,: 9.850 anos b.p.
11. Toca de Cima dos Pilão
188
Serrote do Sansão
768717
9019346
386m
Abrigo
sim
não
cova
2.290 +/- 60 BP
12. Toca do Gordo do Garrincho
200
Morro do Garrincho
763010
9012610
431m
Abrigo
não
não
-
13. Toca do Serrote da Bastiana
231
Serrote da Bastiana
784416
9025749
419m
Abrigo
sim
não
cova
14. Toca do Mel
327
Bom Jesus
808179
9058058
411m
15. São Brás
329
São Brás
721682
8998995
16. Cana Brava
336
Jurema
722285
8993014
17. Toca da Baixa dos Caboclos
411
Gervásio Pires
821141
18. Toca do Barrigudo
444
Serrote da Bastiana
19. Toca da Santa
482
Morro do Garrincho
20. Baixão do Saco
536
21. Toca do Serrote do Tenente Luís
22. Neli do Fósforo
23. Toca da Serra do Bojo I
24. Toca dos Crentes
Sem enterramentos
Enterramentos
8.640 b.p.;7000 anos b.p.
2.090 anos b.p.
9.970.anos b.p.
Abrigo
não
não
cova
a céu aberto
não
não
urna
800 anos b.p.
414m
a céu aberto
não
não
urna
840 anos b.p.
9065356
430m
Abrigo
sim
não
ambos os tipos
360 anos b.p.
784137
9025716
419m
Abrigo
sim
não
cova
763324
9012144
Abrigo
não
não
cova
Fazenda Saco
787756
9031260
Abrigo
não
não
-
643
Serrotes
783909
9024947
Abrigo
não
não
ambos os tipos
805
Jurema
709125
8965318
503
Abrigo
não
não
-
Serra do Bojo
799037
9034783
532m
Abrigo
sim
não
cova
Serrote do Antonião
784392
9025911
403
Abrigo
sim
não
cova
9
195
354m
980 anos b.p.
59
Tabela 8 – Lista de sítios arqueológicos onde foram evidenciados esqueletos humanos na área cárstica no entorno do Parque Nacional Serra da
Capivara.
Sítio Arqueológico
1. Toca de Cima dos Pilão
2.Toca do Serrote da Bastiana
3.Toca do Barrigudo
4.Toca do Serrote do Tenente Luís
5.Toca do Serrote das Moendas
6.Toca da Santa
7.Toca da Janela da Barra do Antonião
8.Toca dos Crentes da Caieira.do Adão
Esqueleto s/ enterramento
Enterramento
UTM L
768717
784416
784137
783909
785233
763324
784194
784392
UTM N
9019346
9025749
9025716
9024947
9025186
9012144
9026010
9025911
Localização
Serrote do Sansão
Serrote da Bastiana
Serrote da Bastiana
Serrotes
Lagoa Pré Cambriana
Morro do Garrincho
Serrote do Antonião
Serrote do Antonião
Pintura Gravura Altitude
sim
não
386m
sim
não
395m
sim
não
419m
não
não
sim
sim
387m
não
não
sim
não
397m
sim
não
403
Cova
sim
sim
sim
sim
sim
sim
sim
Urna
não
não
não
sim
não
não
não
Datações dos esqueletos
Sep 1: 2.290 +/- 60 B.P.
980 anos B.P.
Zazá: 9.850 anos B.P
-

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