Ensaio - Contribuicoes de Follett - cooperacao v4
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Ensaio - Contribuicoes de Follett - cooperacao v4
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Flávio da Cunha Nerva Ensaio: Qual a contribuição de Mary Parcker Follett ao tema Cooperação com ênfase ao gerenciamento de serviços? Trabalho apresentado aos Profs.dr. Cláudio Reis Gonçalo e Achyles Barcelos da Costa pertinente à disciplina de Evolução da Administração e Contextos Sócio-Econômicos do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em 3 de julho de 2005. São Leopoldo 2005. 2 Introdução Mary Parker Follett (1868-1933) foi uma visionária que estava a frente de seu tempo, segundo Kanter (prefácio de Follett, 1997); uma voz diferente, para Gilligan (Follett, 1997). Dizia em sua época que “o mundo precisa hoje é de uma mentalidade cooperativa”, referenciando que a “competição ‘acirrada’ está começando a sair da moda” e que, “a cooperação entre elas [empresas] está vindo a ocupar um espaço cada vez maior”, apesar da concorrência (FOLLET, 1997, p. 249). Sabe-se que, no contexto atual, o tema cooperação está em debate, sempre à luz de uma alternativa possível para conviver e sobreviver à competição e à concorrência. Segundo Jarillo (1988, p. 31), “os relacionamentos cooperativos de uma firma podem ser a fonte de sua força competitiva”. Redes de cooperação em ambientes competitivos são destacada por Antunes, et. al. (2004, p. 182) como sendo “uma resposta estratégica para elevar a capacidade inovativa das empresas”. Este ensaio visa expor as contribuições de Mary Follett sobre o tema Cooperação com foco nas instituições que prestam serviços, demonstrando qual era o seu pensamento e o que ela tem a nos dizer hoje. Objetiva-se, em suma, identificar alguns dos principais elementos articuladores que convergem ou derivam em torno da cooperação, considerada como questão central no desenvolvimento das relações internas e externas das organizações, ou seja, entre indivíduos, grupos e organizações. A palavra cooperação, segundo o próprio Aurélio, origina-se do [Do lat. cooperatione.] que é o “ato ou efeito de cooperar”, que por sua vez, é “operar, ou obrar, simultaneamente”, “participar”, “colaborar”, etc. Da ecologia, ainda no Aurélio, seria a “associação entre duas espécies que, embora dispensável, traz vantagens para ambas”. Esses conceitos explicitam a cooperação como uma ação ativa de disponibilidade, aproximação, envolvimento, relacionamento em busca de interesses comuns. Tudo isso se dá em um ambiente em que a capacidade de adaptação e flexibilidade é essencial. Nesse sentido, a abordagem de Follett (1997), por ser integrativa, entrelaça as idéias sobre indivíduo, grupo, sociedade, relação, conflito, poder, liderança, coordenação e outras questões que orbitam o gerenciamento. Numa perspectiva de prestação de serviços, em que o fator humano é o grande diferencial, o espírito cooperativo e a abordagem dinâmica e efetiva desses conteúdos é 3 essencial para o desenvolvimento das relações e dos alicerces que sustentam as instituições de serviços. Contexto dos Serviços As instituições de serviços caracterizam-se, normalmente, pela intangibilidade do valor ofertado e percebido durante o processo de interação com o usuário final, ou seja, “algo que é experimentado, mas não pode ser tocado ou preservado”, segundo Lovelock (2001, p. 17). O significado desse momento, chamado na literatura especializada de “hora da verdade” ou “momento da verdade”, foi tomado emprestado, da tourada, por Normam (1978, apud Lovelock, 2001, p. 64): “Um ponto na entrega do serviço em que os clientes interagem com funcionários ou equipamento de auto-atendimento e cujo resultado pode afetar as percepções da qualidade do serviço”. A qualidade do serviço depende do circulo virtuoso da interação positiva desses momentos, segundo Téboul (1999, p. 148): + Funcionários Cliente Satisfeitos Satisfeito Compreensão e atenção cooperativo + Figura 1 : O circulo virtuoso da intera ç ão positiva Observa-se a importância da atitude positiva dos funcionários determinada, segundo Téboul (1999), por três fatores: a motivação, as competências e o clima. O desenvolvimento do trabalho em equipe e a cooperação têm um impacto positivo no fator clima, segundo o autor. Heskett et. al. (1994) apresentam A Cadeia Serviços-Lucro (figura 2), a qual se caracteriza a conexão entre a lealdade, a fidelidade, a satisfação dos funcionários e a qualidade do apoio interno com a lealdade de clientes e, em última instância, com o lucro da firma. 4 Crescimento das Crescimento receitas das receitas Retenção de de Retenç ão funcionários funcionários Qualidade Qualidade de de servi ç os serviços internos do ValorValor do serviço Servi ço externo externo Satisfação de de Satisfaç ão funcionários funcionários Satisfação de Satisfação clientes de clientes Lealdade de Lealdade clientes de clientes Produtividade de Produtividade funcionários de funcionários Lucratividade Lucratividade Figura 2 – A Cadeia Serviço -Lucro Por fim, Albrecht (2000, p. 68) reforça a importância de um ambiente de trabalho com qualidade de vida, afirmando que “o modo pelo qual seus funcionários se sentem é o modo pelo qual os seus clientes irão se sentir”. Relação Falar de cooperação é falar de relação, o princípio de integrar interesses. A relação é construída e dependente da experiência progressiva, que se dá na realidade, na atividade mútua, na relação, segundo Follett (1997). “A essência da verdade sobre a integração é a conexão entre a relação de duas atividades, sua influência interativa e os valores assim criados” Follett (1997, p. 37). ` O comportamento é uma relação dessas duas atividades sujeito e objeto, um agindo sobre o outro. É no processo comportamental que aparece o entrelaçamento de estímulo e resposta, um processo auto-suficiente. “A parte mais valiosa desse ensinamento é o fato de que o arco reflexo é a trajetória dos estímulos recebidos em conseqüência de uma atividade do indivíduo. Assim, a experiência nos é dada como coerência autocriadora” (FOLLETT, 1997, p. 43). Essa experiência se dá no encontro, “não há um resultado do processo, mas apenas um momento no processo”, de acordo com Follett (1997, p. 42). Follet (1997, p. 52) apresenta três princípios fundamentais sobre situações sociais: (1) Que a minha resposta não é um ambiente rígido, estático, mas a um ambiente em mutação; (2) Há um ambiente que está mudando por causa da atividade entre mim e ele; (3) Que a função pode ser continuamente modificada por ela mesma. 5 Outro conceito reportado pela autora é o da Função como atividade da relação; é a situação em desenvolvimento; a operação, não o que resulta, é um relacionamento recíproco de mão dupla (Follett, 1997). De acordo com os pensamentos de Follett (1997, p. 60), o “propósito é sempre o aparecimento do unificar”, é, enfim, “o Um que envolve Muitos”. Ao considerar o comportamento como uma função do ambiente, os pontos importantes a ter-se em mente, para Follett (1997, p. 66), são: (1) O comportamento é condicionado tanto interna quanto externamente; (2) O comportamento é uma função do entrelaçamento entre a atividade do organismo e a atividade do ambiente, isto é, a resposta é a uma relação; (3) Através dessa atividade de entrelaçamento, indivíduo e situação, cada um deles, está se criando novamente; (4) Assim, novamente se relacionando; e (5) Assim, dando-nos a situação em evolução. Desta forma, Follet (1997) deixa uma contribuição às Ciências Sociais, sugerindo que a resposta circular nos faz pensar em nossos problemas em termos do processo e não de quadros; que a resposta é sempre a uma relação. “A concepção do comportamento circular lança intensa luz sobre o conflito, pois agora percebo que nunca consigo lutar com você, estou sempre lutando com você mais eu” [grifo do autor] Follett (1997, p. 86-87) Conflito Entender e saber lidar com o conflito, de uma forma produtiva, é uma das contribuições mais importante que Follett (1997) aporta da psicologia para o desenvolvimento da teoria administrativa. O desenvolvimento e fortalecimento da cooperação, em seus momentos cruciais, têm em seu caminho o conflito. O primeiro entendimento é que conflito significa diferença, não sendo bom, nem ruim. Essa diferença pode ser uma diferença de interesses, idéias, opiniões. O importante é: “Uma vez que o conflito – diferença – se encontra no mundo e que não podemos evitá-lo, deveríamos, penso eu, utilizá-lo. Em vez de condená-lo, deveríamos fazer com que trabalhasse para nós” Follett (1997, p. 71). Follett (1997, p. 21) complementa que a “essência do processo social não é a semelhança”, mas a “harmonização das diferenças através da interpenetração”, e que, “o medo da diferença é o medo da própria vida”. 6 Segundo Follett (1997) existem três métodos para lidar com o conflito: dominação, conciliação e integração. O método da dominação ou força, como o próprio nome diz, é vitória de um lado sobre o outro. Está relacionada à coerção e à violência a fim de obter o resultado desejável. Já no método da conciliação, cada parte cede um pouco. Envolve negociação entre as partes na busca por um acordo mútuo. Por fim, há o método da integração quando dois desejos são integrados, ou seja, uma solução foi encontrada, ambos ocuparam um espaço. É um método mais participativo e democrático. A Integração é “a maneira pela qual podemos lidar mais produtivamente com o conflito, com a diferença” Follett (1997, p. 77). A autora propõe um modelo prático que seria a base da integração. O primeiro passo é explicitar as diferenças, é revelar o conflito, pois, como poderemos integrar nossas diferenças se não sabemos quais são? O segundo passo é tomar as exigências de ambos os lados, procurando dividi-las em suas partes: é o método de “dividir os todos” que precede a decisão empresarial. “O comportamento circular, enquanto base da integração, nos fornece a chave para o conflito construtivo” (FOLLETT, 1997, p. 7787). Os principais obstáculos à integração são: lutar e atacar; apreciar a dominação; quando a questão é excessivamente teorizada; a linguagem utilizada; a influência indevida dos líderes e a falta de treinamento para a integração, ensinando a arte do pensamento cooperativo. “É necessário simplesmente um respeito tão grande pelo seu próprio ponto de vista como pelo dos outros”, afirma Follett (1997, p. 90). Integração A integração oferece panoramas muito melhores para uma solução de longo prazo, pois promove apoio, compreensão e a experiência de aprendizagem de todos os grupos envolvidos, segundo comentários de Child a partir das idéias de Follett (1997, p. 98). Nesse momento do ensaio, dar-se-á à integração outras facetas do pensamento de Follett que entrelaçam o tema cooperação. Follett valoriza os aspectos não formais da vida organizacional, especialmente o que ela chamava Lei da Situação, isto é, a autoridade baseada no conhecimento e na 7 experiência das pessoas, apropriada às circunstâncias do momento (CARAVANTES, 2005, p. 77). O poder ainda não pode ser definido como bom ou ruim. Follett (1997, p. 105) define poder “como a habilidade para fazer com que as coisas aconteçam ser um agente causal, iniciar uma mudança”. Faz-se, assim, a relação do “impulso do poder” com a satisfação de “estar vivo”. Já o Controle é definido “como o poder exercido enquanto meio para um fim específico”; e a “autoridade pode ser definida como controle outorgado” (FOLLETT, 1997, p. 105) O poder não se concede, é o desabrochar da experiência, resultante das situações reais e não integrante do processo ou externo a ele. Follett (1997) distingue dois tipos de poder: Poder-Sobre é o poder de alguma pessoa ou grupo sobre alguma outra pessoa ou grupo. O Poder-Com é desenvolvido conjuntamente, um poder compartilhado, não coercitivo. A passagem do Poder-Sobre para o Poder-Com se dá pela influência cooperativa. A divisão de uma função pode servir para desenvolver mais poder e não dividir poder. Segundo o pensamento de Follett (1997, p. 121), o objetivo da coordenação deveria ser: “o desenvolvimento de um todo funcional. Penso que podemos aprender que um poder que se desenvolve conjuntamente significa a possibilidade de criar novos valores, um processo completamente diferente deste que é estéril – o equilíbrio. Essa é a missão elevada das relações humanas esclarecidas”. A coordenação desenvolve-se observando quatro princípios: (1) Coordenação como a relação recíproca de todos os fatores numa situação; (2) Coordenação através do contato direto das pessoas responsáveis envolvidas; (3) Coordenação nos estágios iniciais; e (4) Coordenação como um processo contínuo. Em seus estudos sobre O Dar Ordens, Follett (1997) indica a necessidade da despersonalização da questão, ou seja, dever-se-ia reunir todos os envolvidos num estudo de situação, verificar o que exige essa situação, descobrir a lei da situação e obedecê-la, em que o foco fica na exigência da situação e não na pessoa. Dessa forma, “a autoridade é um processo”, surge da interação de tudo, do trabalho de um ajustado pelo do outro e vice-versa, na visão de Follett (1997, p. 161). 8 Suas idéias sobre Poder-Com, dar ordens, controle, autoridade, liderança clarificam e dão consistência ao que se chama de empowerment. Liderança, para Follett (1997), é a habilidade de organizar todas as forças de uma empresa, levando-as a servir a um propósito comum. O líder deve ver a situação como um todo, fazer as inter-relações de todas as partes, vê-la em evolução, em desenvolvimento. A tarefa do líder é perceber a hora da passagem de uma situação significativa a outra, aprendendo o domínio desse momento. Diante de todo o exposto, a integração envolve “invenção, a descoberta do terceiro caminho” (FOLLETT, 1997, p. 201). Desta forma existem três coisas que irão ajudar a unificar uma empresa – uma compreensão da integração como método de solucionar diferenças, algum sistema de multifuncionalidade e um senso comum de responsabilidade. A responsabilidade coletiva não é uma questão de somar, mas de entrelaçar. Por fim, Follett (1997) faz uma reflexão do significado da palavra serviço. Essa reflexão passa, necessariamente, pela conscientização de que “nosso trabalho em si deve ser nosso maior serviço para a comunidade” e chega à palavra Função – “um homem de negócios deveria pensar a respeito do seu trabalho como sendo uma das funções necessárias à sociedade” (1997, p. 287). “O amor pelo trabalho, o prazer do artesão e do artista pelo trabalho bem-feito. (...) algumas pessoas têm sua imaginação estimulada pela idéia de serviço; outras, pelos excelentes padrões de realização; que estes normalmente caminham juntos; e que nenhuma ocupação pode fazer um apelo mais valioso à imaginação (...) do que o gerenciamento de empresa” (FOLLET, 1997, p. 289). Contextualização teórico A abordagem da obra de Follett, revelando o conflito, diferencia-a de seus contemporâneos, como Mayo, que tinha aversão ao conflito, bem como os teóricos clássicos que viam a resolução do conflito pelo método da força em vez da integração dos interesses de ambas as partes. Alguns autores a inserem dentro da escola clássica, como Caravantes (2005), inferindo sobre a importância que Follett deu à análise detalhada dos ambientes de trabalho e à coordenação de tarefas. Outros, como Motta (2004), inseriu-a na escola de Relações Humanas, a qual coloca o ser humano como Homo Social (em contraposição ao Homo Economicus), condicionado pelo sistema 9 social e pela biologia, que possui necessidades de afiliação – grupos informais, que tinha um comportamento complexo e necessidades de afetividade e sociabilidade. Pelas palavras de Parker (Follett, 1997, p. 301), mais uma vez Follett continua surpreendendo e extrapolando uma única abordagem com suas contribuições: “encontrei a coerência que integrava os grandes trabalhos de outros pioneiros e dos profetas do antigo e do novo testamento”, referenciando-se à passagem da escola do Taylorismo e das Relações Humanas. Desta forma, na abordagem do tema cooperação com o enfoque em gerenciamento de serviços, segundo suas próprias palavras, a unidade se encontra além dos indivíduos: “Nós só encontramos o verdadeiro homem, através da organização grupal. As potencialidades do indivíduo continuam como potencialidades, até que sejam renegadas pela vida em grupo” Follett (The New State, 1920). Conclusões Esse ensaio aborda uma parte da grande obra de Mary Follett no campo do gerenciamento, como o próprio Peter Drucker (introdução, Follett, 1997, p.2) comenta: “ela havia tocado cada acorde solitário do que hoje constitui a sinfonia do gerenciamento”, deixando a “verdade revelada” exposta. Parker, ao abordar a visão de Follett (1997, p. 309) afirma que “é difícil analisála em partes, pode ser compreendida apenas enquanto um todo – em suas palavras, a idéia saudável”, que não faz mal a saúde. As contribuições de Follett sobre cooperação vão além do entrelaçamento de algumas questões essenciais do gerenciamento de serviços. Porém, à propósito desse ensaio, cabe entrelaçar algumas. Follett, ao olhar a cooperação e o gerenciamento em serviços, abordá-los-ia como um sistema integrativo, cooperativo, que tem, em sua essência, a necessidade de desenvolver relacionamentos verdadeiros, leais, entre todos os atores envolvidos. Para fortalecer essa relação, em que a centralidade está na pessoa, é necessário integrar, saber conviver com as diferenças, resolver os problemas pelo método integrativo, considerar o Poder-Com que surge no processo, na interação, no momento presente, na lei da situação, no “aqui e agora”. Assim, o sucesso do gerenciamento de serviços reside em obter êxito na relação, que tem no Momento da Verdade ou Hora da Verdade sua maior percepção de valor. Na teoria da administração de serviços, o conceito de Momento da Verdade é uma das 10 pedras fundamentais. Esse episódio ou evento é o tempo no qual o cliente/usuário entra em contato com algum aspecto da organização e tira uma impressão do serviço. Nota-se que a hora da verdade não é positiva, nem negativa em si mesma: o que conta é o resultado do que aí ocorre (Albrecht, 2000). É um momento de relação, um processo evolutivo, com todos seus múltiplos aspectos interpenetrados abordados por Follett (1997), conforme figura 3. Ambiente interno (cliente interno ) Ambiente externo (cliente final ) Cooperação Crescimento das Crescimento receitas das receitas Retenção dede Retenç ão funcionários funcionários Qualidade Qualidade de de servi ços serviços internos do ValorValor do serviço Serviço externo externo Satisfação de de Satisfaç ão funcionários funcionários Satisfação Satisfaçdeão clientes de clientes Produtividade de Produtividade funcionários de funcioná rios Momentos da verdade interno Relação Conflito Poder-Com Integraçao Lei da situação Lealdade de Lealdade clientes de clientes Lucratividade Lucratividade Momentos da verdade Figura 3 –Fonte: autor Adpatada da A Cadeia Serviço -Lucro Destaca-se, nesse contexto, o papel do(s) funcionário(s), ao trazer a similaridade com o Poder-com: os funcionários é que são os administradores nesses momentos; estão gerindo as horas da verdade. Basicamente, trata-se do gerenciamento de conflito construtivo e da resposta circular. Dessa forma, verifica-se que é possível utilizar os mecanismos de integração para obter êxito no gerenciamento de serviços. Para que os momentos da verdade aconteçam com o usuário/cliente final, é necessária a ocorrência de uma série de relações internas (serviços internos) na organização, ou seja, prestar serviço aos que prestam serviços (cliente interno). Através da cooperação e integração nesses momentos, procura-se desobstruir as fronteiras internas e fortalecer as relações. O círculo virtuoso, de Téboul (1999), bem como a cadeia de serviços-lucros, desenvolvida por Heskett et. Al. (1994), constituem uma visão integrada do gerenciamento de serviços e, para melhor entendê-la, devemos considerar os serviços internos/cliente interno, abordados acima. Nota-se que os momentos da verdade passam a ser refletidos no todo da organização e de suas relações, sejam elas internas ou externas. Observa-se que não há uma relação linear de causa e efeito, e sim uma interconexão dos construtos em um ambiente dinâmico. 11 O sucesso do gerenciamento de serviços através da obtenção de resultado eficaz nas situações de conflito reside na forma de obter êxito na cooperação de indivíduos, grupos e organizações. Conclui-se que a humanidade dos conceitos de Mary Follett sobre gerenciamento integrado como cooperação, relação, poder, conflito, integração, coordenação são princípios básicos e válidos a serem utilizados na gestão efetiva de serviços. Nesse ambiente, as pessoas constituem seu elemento central e a entrega de valor tem um alto grau de intangibilidade. Follett (1997, p. 23) deixa um desafio: “descubra a solução integrativa”. Por fim, esse ensaio buscou abordar alguns conceitos importantes da obra de Follett. O tema pode ser aprofundado, trazendo à tona outros aspectos relevantes para o gerenciamento de serviços à luz das idéias de Mary Parcker Follett. Por fim, um último pensamento sobre cooperação e serviços: “A responsabilidade coletiva não é algo que você consegue somando todas as diferentes responsabilidades. A responsabilidade coletiva não é uma questão de somar, mas de entrelaçar. Uma questão de modificação recíproca provocada pelo entrelaçamento. Não é uma questão de agregação, mas de integração” Follett (1997, p. 222). 12 Referências Bibliográficas ALBRECHT, Karl. Revolução nos Serviços. São Paulo: ed. Pioneira, 2000. ANTUNES, J. V., BALESTRO, Moisés V., LOPES, Marcelo C., PELLEGRIN, Ivan. A Experiência da Rede PETRO-RS: uma Estratégia para o Desenvolvimento das Capacidades Dinâmicas. CARAVANTES, Geraldo R. Administração: teorias e processos. São Paulo: Ed. Pearson Prentice Hall, 2005. FOLLETT, Mary P. Profeta do gerenciamento. Rio de Janeiro: ed. Qualitymark, 1997. FOLLETT, Mary P. Community is a Process. Philosophical Review, Vol. XXVIII, 1919, pp. 576-88. FOLLETT, Mary P. The New State: Group Organization, The Solution of Popular Government. Londres: Longmans, 1920, p. 6. HESKETT, L. James; JONES, Thomas O., LOVEMAN, Gary, SASSER, W. Earl; SCHLESINGER, Leonard A. Putting the Service-Profit Chain to Work. HBR – Harvard Business Reneiw, 1994. JARILLO, J. Carlos. On Strategic Networks. Strategic Management Journal, v. 9, p. 31-41, 1988 LOVELOCK, Christopher e WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: ed. Saraiva, 2001). MOTTA, Fernando Cláudio Prestes. Teoria geral da administração: uma introdução. São Paulo: Pioneira, 2004. TÉBOUL, James. A Era dos Serviços. Rio de Janeiro: ed. Qaulitymark, 1999. ZEITHAML, Valarie A.; BITNER, Mary Jô. Marketing de services: a empresa com foco no cliente. Porto Alegre: ed. Bookman, 2003.