Agir - Tradição e inovação andam juntas
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Agir - Tradição e inovação andam juntas
[editorial] “É POSSÍVEL DESCOBRIR MAIS SOBRE UMA PESSOA NUMA HORA DE BRINCADEIRA DO QUE NUM ANO DE CONVERSA.” Platão D A sabedoria popular também diz que o livro alimenta a alma iz a sabedoria popular que brincando falamos grandes verdades. Numa simples brincadeira podemos mostrar o que somos, como pensamos e reagimos em determinadas situações. Podemos ser afáveis ou agressivos, perspicazes ou ingênuos. Sem contar que brincar pode ser bem divertido, principalmente se o autor da brincadeira for ninguém menos que o bem-humorado João Ubaldo Ribeiro, um dos grandes nomes da nossa literatura. É ele, com uma divertida entrevista, aliás, feita por ele mesmo, quem abre esta edição do Chamois & Notícias, que vem pra lá de diversificada. E como brincadeira não é coisa só de criança, damos seqüência com o brincalhão Saci-Pererê, a Mula-sem-cabeça e outros personagens do folclore brasileiro que marcaram presença no imaginário infantil e até hoje fazem parte das lembranças de milhares de adultos como Paulo Roberto Pires, diretor da editora Agir, que mantém no seu catálogo clássicos da literatura infantil como “O pequeno príncipe”, sucesso desde o seu lançamento, na década de 60 até os dias de hoje. Esta edição também vem com Guimarães Rosa, que neste ano de 2008 comemoramos o seu centenário de nascimento. Ao nosso caboclo universal, prestamos uma justa homenagem, relembrando fatos que marcaram sua vida. A sabedoria popular também diz que o livro alimenta a alma. E, em pleno século XXI, cerca de 30 mil profissionais movimentam o mercado de livros porta a porta, contribuindo para a disseminação da cultura em lugares onde as grandes livrarias ainda não marcam presença. Quem faz isso também são os nossos gráficos, que, há 200 anos, trabalham 24 horas por dia e por suas mãos passam diariamente milhões e milhões de impressos, entre eles, uma infinidade de livros. E, nesta edição, também prestamos nossa homenagem a eles, afinal, o mercado editorial não existiria se eles não dessem sua contribuição. Pelas mãos dos gráficos passou também o mais recente livro do escritor Paulo Coelho, “O vencedor está só”, impresso em papel Chamois e tiragem inicial de 200 mil exemplares, apenas uma semana após o seu lançamento, o livro já era considerado um sucesso de vendas. Para novos escritores e para quem quer saber tudo e mais um pouco sobre o mercado, a dica é o “Guia do profissional do livro”. É prático, objetivo e eficiente. Nele, todas as informações úteis em um único lugar. “Leia e Exista”, artigo de Cosmo Juvela sobre a importância da leitura para o crescimento e exercício da cidadania. E, como um bom ano de comemorações, 2008 também é considerado o Ano Internacional do Planeta Terra e, através da poesia de Vital Farias, apresentamos a “Saga da Amazônia”. Por fim, um assunto que foi polêmica, gerou discussões e já está perto de um final feliz. Para nós, brasileiros, em 2009 entrará em vigor a nova ortografia, que será adotada por todos os países de língua portuguesa e que favorecerá um intercâmbio comercial no setor de livros entre os países deste idioma. E, como livro é o tema que nos motiva a cada edição, apresentamos aqui alguns lançamentos da “20ª Bienal Internacional do Livro”, todos impressos em papel Chamois. Vale conferir! Aos nossos leitores uma boa leitura e até a próxima edição! CHAMOIS & NOTÍCIAS 3 [perfil] JOÃO UBALDO RIBEIRO O ENTREVISTADO T “A entrevista” odo mundo sabe que ele é baiano, tem imenso orgulho da sua origem, é um dos maiores romancistas brasileiros e com sua obra conquistou visibilidade internacional. Todo mundo sabe também que sua irreverência tornou-se quase que uma marca registrada. Quem conhece João Ubaldo Ribeiro, também sabe que, com sua fala mansa, não é de meias palavras. Fala o que pensa, afinal como ele mesmo costuma dizer, não está comprometido com ninguém. Por sua obra, recentemente foi laureado com o Prêmio Camões 2008, o mais importante reconhecimento a autores da língua portuguesa. Que este reconhecimento é mais que merecido, também não é novidade. O que também não é novidade é a sua falta de tempo. Está sempre ocupado, comprometido com seu trabalho e com uma infinidade de e-mails que recebe diariamente. Uma entrevista com ele não é fácil, isso todo mundo também sabe. Mas entre seus textos, há uma entrevista e esta, escrita por ele mesmo. Descontraída como o escritor, não há nenhum segredo a descobrir, mas sem dúvida nenhuma, vale conferir! Foto: Berenice Batella Ribeiro “Juro a vocês que não é falsa modéstia, mas não compreendo por que querem tanto me entrevistar. Nunca tive muita coisa a dizer que não houvesse posto em livros ou jornais e agora estou absolutamente seguro de que já disse tudo. São sempre as mesmas perguntas. A moça (geralmente é uma moça e alimento a suspeita de que, no futuro, não haverá mais jornalistos, só jornalistas) senta aqui, pergunta se pode usar o gravador, eu digo que sim e ela, como todo bom repórter, procura logo desvendar um segredo guardado a sete chaves: João Ubaldo Ribeiro 4 CHAMOIS & NOTÍCIAS - Você é baiano, não é? - Não, sou javanês - fico com vontade de responder, mas digo que sim, sou baiano. - E mora no Rio, não é? - Não - fico com vontade de responder. - Esta, como você sabe, é minha casa, isto aqui é meu gabinete de trabalho, mas na verdade eu moro em Cochabamba. Mas respondo que moro no Rio, sim. - Há quanto tempo? Respondo que há dez, doze ou vinte anos, conforme o dia. - E, além de escrever, você exerce alguma outra atividade? - Exerço. Minha principal atividade, aliás, não é escrever, é dar entrevistas. - Ha-ha, você é sempre bem-humorado assim? - Eu não estou de bom humor. - Ha-ha-ha, imagine se estivesse. Esta é ótima, acho que vou abrir a entrevista com ela. ‘Ele faz piada o tempo todo e garante que está de mau humor.’ - Eu não estou fazendo piada. Eu estou de mau humor. - Tudo bem, vou fingir que acredito. Quantos anos você tem, se incomoda em dizer? - Me incomodo porque não tenho mais 39, mas digo. Tenho 59. - 59? Eu pensava que era bem mais do que isso. - Eu também penso, mas são 59 mesmo. De vez em quando eu dou uma olhada na carteira de identidade, para me certificar. - Ha-ha-ha, ho-ho-ho! Genial, essa, você é mesmo um...um pândego. - Eu não sou um pândego. - Melhorou minha abertura: ‘Ele faz piada o tempo todo, mas diz que não é um pândego.’ Bem, mas vamos ao que interessa, é uma entrevista curta. - O Senhor seja louvado. - Ha-ha, esta foi boa também, mas vamos mesmo logo ao que interessa. Você ainda fuma? - Não, isto aqui fumegando em minha mão é um pirulito. - Ha-ha-ha-ha! Ho-ho-ho-ho! Um pirulito! Mas você disse que tinha deixado de fumar, não disse? - Disse, mas voltei. - E voltou por quê? - Por estupidez. - Ho-ho-ho-ho! Assim eu não vou conseguir terminar a entrevista. Um acadêmico, um imortal das letras, se dizendo estúpido! - Sem comentários. - Sem comentários o quê? - Nada, é que eu sempre quis dizer isso numa entrevista, acho chique. - Ha-ha-ha-ha-ha, você vai me matar de rir. - Infelizmente não. - Ho-ho-ho-ho! Ha-ha-ha-ha! Infelizmente não, não é? - É, porque de riso você não vai morrer mesmo e não creio que conseguisse estrangulá-la com facilidade, acabava tendo um enfarte. - Você sofre do coração, não é? - Mais ou menos. Tenho fibrilação atrial. - Tem o quê? - Deixa pra lá. Não, não tenho nada no coração. - Bem, isso não estava na pauta mesmo. Você parou de beber, não parou? os Lançament hamois em papel C - Não. - Mas você disse que parou de beber. - Parei de beber como bebia antes. Hoje só bebo ocasionalmente. - Isso é um furo. Todo mundo acha que você parou de beber. - Não sei por quê. Eu não fico escondido atrás da cortina quando bebo. - Houve alguma vez em que você ficou atrás da cortina para beber? - Não, só pendurado na sacada do edifício, é mais garantido. - Ha-ha-ha-ha! Não brinque, é mesmo? - É, é. - Alguma palavra para os alcoólatras do Brasil? - Nem para os alcoólatras nem para ninguém. - Mas nada, nada mesmo? - Talvez ‘evitem uísque paraguaio’. - Ho-ho-ho-ho! Esta terminou sendo a entrevista mais engraçada que eu já fiz, por causa do seu bom humor. - Eu não estou de bom humor. - Ha-ha-ha-ha! Eu... Chega, não agüento mais! - Que bom, porque eu também não. - A entrevista ficou ótima. E bem informativa, nossos leitores vão saber tudo o que têm de curiosidade sobre você. - Tenho certeza. Me procure no próximo mês, que vou ter ainda mais novidades. Sem minhas opiniões, este país está perdido. - Ha-ha-ha-ha! Ho-ho-ho-ho!” u Por que meu vizinho ficou rico e eu não?: pare de reclamar e faça seu plano para enriquecer Robert Shemin Tradução: Eliana Bussinger 256 páginas Campus-Elsevier Chamois Fine Dunas 75g Momentos críticos Michael Useem 304 páginas Campus-Elsevier Chamois Fine Dunas 75g Um admirável mundo bom Ricardo Orestes Forni 192 páginas EME Chamois Bulk Dunas 90g O aprendiz Joseph Delaney Tradução: Lia Wyler 224 páginas Bertrand Brasil Chamois Fine Dunas 80g O último refúgio templário I. Bigg Tradução: Ernani Sso 448 páginas Bertrand Brasil Chamois Fine Dunas 80g Psiu, dê uma espiadinha. O que suas coisas revelam sobre você Sam Gosling 248 páginas Campus-Elsevier Chamois Fine Dunas 75g Restos Mario Araújo 192 páginas Editora EME Chamois Fine Dunas 80g Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite Fal Azevedo 204 páginas Rocco Chamois Fine Dunas 70g CHAMOIS & NOTÍCIAS 5 [folclore] EM CADA CONTO, UM ENCANTO EM CADA HISTÓRIA DO FOLCLORE, UM ESPANTO! D iz a lenda que toda floresta é habitada por seres mágicos. Alguns são humanos, outros são animais, mas o que todos têm em comum é exercer uma função muito importante na natureza ou nos ensinar uma lição. Há quem diga também que entrar na floresta durante o dia é mais seguro, isso não se aplica se a floresta for habitada pelo Curupira. Um barulho estranho no mato ou um vento muito forte passando pode significar que ele está por perto. Os poucos que conseguiram vê-lo dizem que é um jovem índio, com cabelos vermelhos e pés virados pra trás, para despistar quem quiser segui-lo. Alguns dizem que ele está sempre montado em um porco selvagem, mas outros dizem que esta é a pelagem dele mesmo. Ele cuida dos animais da floresta, protegendo contra a devastação e a caça de animais. Ainda assim ele é muito temido e quem não levar uma oferenda ao Curupira antes de entrar na mata, corre o risco de ficar perdido para sempre. Como se isso não bastasse ainda há a possibilidade de cair em alguma travessura do SaciPererê. Aquele negrinho de uma perna só, sempre com seu gorrinho vermelho na cabeça e um cachimbo na boca. Ele é um grande bagunceiro, some com objetos, dá nó em crina de cavalo e se diverte com a confusão, mas também é um grande protetor das matas e um profundo conhecedor de suas ervas e propriedades medicinais. Quem na mata se ferir, com certeza iria querer se encontrar com o Saci. Mas aos homens e meninos, um alerta em especial: todo final de tarde, vindo de sua casa no fundo do rio, surge Iara, com seu canto hipnotizante. Uma bela figura metade mulher, metade peixe com cabelos longos e loiros, que atrai para a sua direção um homem diferente a cada dia, sempre à procura de um companheiro. É difícil um homem que resista a sua beleza e que não acabe se atirando na água e morrendo afogado antes mesmo de alcançá-la. Então, apesar de todas essas figuras ainda é possível andar na mata? Sim, desde que não seja noite. É na escuridão que rasteja p pelo chão o Boitatá, uma cobra de fogo que não enxerga nada de dia, mas enxerga tud tudo durante a noite. Na verdade, Boitatá era uma cobra normal da espécie boiguaçu que, q após uma inundação, passou a com comer os olhos dos animais mortos para não morrer de fome. De tantos olh olhos brilhantes que ela comeu transf transformou-se em um monstro incand candescente que assusta quem passa pela mata durante a noite. Sua m missão é proteger a mata dos incêndios. Apesar da aparência horrível, o Boitatá é uma serpente inofensiva, mas pode ser confundido com a Mula-sem-cabeça. A Mula já foi um dia uma mulher que apaixonou-se por um padre e foi amaldiçoada, transformando-se todas as noites de quinta para sexta-feira. Ela percorre sete povoados e ataca quem ela encontrar pelo caminho, comendo seus olhos, unhas e dedos. Quem já a viu costuma dizer que apesar do nome ela tem cabeça sim, mas como lança fogo pelo nariz e pela boca, sua cabeça fica toda coberta por fumaça. Para que a maldição seja quebrada é preciso que um homem corajoso arranque os freios de dentro de sua boca, façanha que até hoje ninguém conseguiu realizar. E essas são apenas algumas estórias, ainda nda há muitas outras contadas por aí. Podem odem parecer pura invenção, mas ainda há quem acredite nelas. Na verdade, não faz muita diferença, pois como diz a lenda: “Era uma vez...”. ”. [mercado] AGIR TRADIÇÃO E INOVAÇÃO ANDAM JUNTAS o diretor da editora, Paulo Roberto Pires, o mercado está bastante aquecido, competitivo e diversificado. Muito bom para os leitores que tem à sua disposição uma gama de títulos e ofertas. Prova disso é o mais recente livro do escritor Paulo Coelho, “O vencedor está só”, sucesso absoluto, já na sua primeira semana de lançamento. Segundo Paulo Roberto Pires, o maior desafio da editora hoje é crescer e diversificar. “Estamos preparando uma linha de livros de negócios e uma linha de livros de saúde e bem-estar. Mas, continuaremos trabalhando nas frentes de literatura, assim como em livros comerciais”, diz o diretor. “Este ano foi de muitas mudanças, incorporamos a Desiderata, que é uma pequena editora do Rio, especializada em humor, que trouxe trabalhos importantes como Millôr Fernandes. A partir disso estamos abrindo uma nova frente da Desiderata, ligada à Agir e também ao nosso projeto de livros de bolso, os “Pocket Ouro”. O otimismo de Pires não é gratuito. Ele é resultado de um trabalho sério que vem sendo desenvolvido com a participação de uma equipe que acredita que é possível melhorar a cada dia. Isto tem sido feito e o reflexo pode ser confirmado pelas conquistas da editora. O mercado editorial também tem respondido positivamente. Nos últimos anos tem apontado índices de crescimento bastante satisfatórios. O leitor, por sua vez, tem qualidade e variedade à sua disposição, e, no que depender da Agir, terá ainda mais conteúdo. “Para a Agir, 2008 tem sido um ano muito bom e já esperamos por 2009 com grandes perspectivas”, finaliza Pires. u Foto: Orlando Aguiar T radição em conteúdo e qualidade. Há mais de sete décadas, a Editora Agir assumiu este propósito com o mercado editorial brasileiro e até hoje segue firme no seu compromisso. Mas onde tem tradição, também tem evolução, crescimento e mudanças. E para a editora não tem sido diferente. Os últimos anos foram marcados por grandes mudanças. Em 2002 foi adquirida pelo Grupo Ediouro, o segundo maior grupo editorial brasileiro. Da aquisição, mudanças gráficas e editoriais. O logotipo da empresa foi redesenhado e a Editora Agir começou a desenvolver um forte trabalho no mercado, conquistando seu espaço na linha de frente entre as editoras mais competitivas do setor. Do tradicional catálogo, que inclui os lançamentos originais de “O pequeno príncipe”, o “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, toda a prosa de Nelson Rodrigues, a obra completa de Mário de Andrade, Sérgio Porto e de Caio Fernando Abreu, a editora está investindo fortemente em novos talentos, conseguindo assim um equilíbrio entre a tradição e a inovação literária. Para Paulo Roberto Pires s Lançamento hamois em papel C A soma dos dias Isabel Allende Tradução: Ernani Sso 378 páginas Bertrand Brasil Chamois Fine Dunas 80g Sobreviventes do holandês voador Brian Jacques Tradução: Beatriz Horta 294 páginas Bertrand Brasil Chamois Fine Dunas 80g Trade marketing: teoria e prática para gerenciar os canais de distribuição Neusa Santos, Francisco Serralvo e Rodrigo Motta 200 páginas Campus-Elsevier Chamois Fine Dunas 90g As confissões de um homem invisível Alexandre Plosk 392 páginas Bertrand Brasil Chamois Fine Dunas 80g CHAMOIS & NOTÍCIAS 7 [homenagem] JOÃO GUIMARÃES ROSA O CABOCLO UNIVERSAL C onsiderado um gênio para os críticos literários e um pesadelo para estudantes brasileiros. Em quase 60 anos de vida, foi médico, soldado, embaixador, pai, marido e brilhante escritor. Quando morreu estava para ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, fazia parte da Academia Brasileira de Letras e havia conquistado três prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, o Carmen Dolores Barbosa, de São Paulo e o Paula Brito, do Rio de Janeiro. Nascido e criado no meio rural de Minas Gerais, foram a terra, os costumes, pessoas e acontecimentos do cotidiano que o inspiraram. Era visto sempre carregando um bloco de anotações onde colecionava terminologias, ditos e falas do povo, que distribui pelas histórias que passou a escrever. Primeiro arriscando-se em concursos literários e vencendo todos, sendo que o volume 8 CHAMOIS & NOTÍCIAS intitulado Contos, vencedor do último concurso, resultou, em 1946, no livro “Sagarana”. A obra lhe rendeu o reconhecimento como um dos mais importantes livros surgidos no Brasil contemporâneo. Especialmente por transpor a linguagem rica e pitoresca do povo, registrando regionalismos que jamais foram escritos na literatura brasileira e apresentando a paisagem mineira em toda a sua beleza selvagem, da vida das fazendas, aos vaqueiros e criadores de gado. A superstição também era traço marcante de sua personalidade, juntamente com uma descomunal sensibilidade que juntas o fizeram protelar por quatro anos a posse do assento na Academia Brasileira de Letras. Não apenas Guimarães Rosa sabia que não agüentaria a emoção deste dia, como também tinha certeza que morreria assim que aceitasse o posto. Seu pressentimento tornou-se verdadeiro e o autor veio a falecer quatro dias depois da cerimônia. O lado supersticioso também possuía um fundamento vindo de uma experiência que viveu quando morava na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo suas palavras, no meio da noite, sentiu uma vontade irresistível de sair para comprar ci- garros. Quando voltou, encontrou a casa totalmente destruída por um bombardeio. A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Estudava também o espírito e o mecanismo de outras línguas. Dizia que assim fazia por gosto, divertimento e distração e ao final de sua vida conhecia o português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e um pouco de russo. Lia sueco, holandês, latim e grego (mas com o auxílio do dicionário), entendia também alguns dialetos alemães e chegou a estudar a gramática do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês e ainda bisbilhotou um pouco a respeito de outras. Talvez por isso Guimarães Rosa demonstrava tanta intimidade com nosso idioma e seus diferentes regionalismos. Os contos e romances do autor, Dicionário de neologismos de Guimarães Rosa Nonada – coisa sem importância Arreleque – asas abertas em forma de leque Suspirância – suspiros repetidos Enxadachim – designar um trabalhador do campo que luta para sobreviver. A palavra é formada por enxada e espadachim Imitaricar – arremedar, fazer trejeitos imitativos Fluifim – pequenino, gracioso e se compõe da junção de fluir e fino Velvo – uma das várias palavras criadas com base em outros idiomas. É uma adaptação do inglês velvet, que quer dizer veludo. Embriagatinhar – origina-se da fusão de embriagado e gatinhar para indicar qualquer um que esteja engatinhando de tão bêbado Fonte: O Léxico de Guimarães Rosa, de Nilce Sant'Anna Martins (Edusp; 568 páginas) na primeira impressão, parecem inacessíveis, mas ao mesmo tempo envolvem o leitor, principalmente através da linguagem poética e uma construção estética consciente do som e ritmo da palavra. Misturava também com maestria conceitos e pes- A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida soas, como o doutor e o jagunço de “Grande sertão: veredas”, além da cultura popular do sertão e da erudita. Mas o que o torna imortal e extremamente cativante é a força e atualidade de seus textos. Assim como as grandes mentes da humanidade, como Leonardo da Vinci e suas técnicas revolucionárias ou a beleza estética de Dante Alighieri, a atemporalidade de João Guimarães Rosa recai na consistência com que trabalha com as palavras, conseguindo envolver dos mais cultos ao mais simples vaqueiro do sertão mineiro e transpõe até as barreiras geográficas do Brasil, rumo ao mundo afora. u [negócio] VENDA DE LIVROS PORTA A PORTA MOVIMENTAM A ECONOMIA E LEVAM CULTURA A REGIÕES CARENTES DO PAÍS H oje em dia temos grandes livrarias, sempre uma próxima de casa para atender nossas necessidades. Se não quiser sair de casa, a internet também oferece todas as facilidades. Mas ainda há grandes regiões aonde isso não existe e, muitas vezes o leitor não vai até o livro, mas o livro vai até o público. Como? Através de uma simpática figura que bate porta a porta, carregada de pilhas de livros debaixo do braço. É o vendedor de livros. Por todo o país circulam cerca de 30 mil profissionais que visam não somente as vendas, mas também disseminar cultura e educação através da leitura. De acordo com dados da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), há mais de 30 editoras es- pecializadas no ramo e juntas comercializam cerca de 35 milhões de livros por ano. Na matemática simples, esses números somam 500 milhões de reais. É uma concorrência e tanto para as tradicionais livrarias, praticamente, 15 em cada 100 exemplares vendidos. Esta prática, além de prover mais empregos, colabora para o aumento do hábito da leitura, tão importante para enriquecer o vocabulário, estimular novas idéias e ajudar a conhecer melhor o mundo. Mais do que vender um livro, esses mascates, como são chamados os vendedores, distribuem também sonhos. A prova disso é que entre os livros mais requisitados estão os clássicos contos de fada infantis e, atualmente, os livros religiosos. E o futuro desse negócio parece ser do tipo “felizes para sempre”, pois a estimativa é que com o atual universo de cerca de 500 empresas atuantes no mercado editorial no segmento de venda direta, entre atacadistas, distribuidores e crediaristas, o número de vendedores possa chegar a 400 mil. Para Luís Antônio Torelli, presidente da ABDL, “o livro e a leitura devem se transformar, de fato, em pólos disseminadores de humanismo para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da sociedade”. Pode parecer pouco, mas, alguns livros têm muito a adicionar a um país com uma das distribuições de renda mais injustas do mundo e o que se espera é que ele consiga manter sua propriedade transformadora e trazer em suas futuras páginas histórias de um Brasil melhor. CHAMOIS & NOTÍCIAS 9 [indústria gráfica] os Lançament hamois em papel C Uma breve história dos tratores em ucraniano Marina Lewicka Tradução: Marina Slade 322 páginas Bertrand Brasil Chamois Fine Dunas 80g Victor Hugo na arena política Ricardo Orestes Forni Tradução: Jorge Bastos 144 páginas Difel Chamois Fine Dunas 80g A nova era da inovação C.K. Prahalad e M.S. Krishnan Tradução: Afonso Celso da Cunha Serra 252 páginas Campus-Elsevier Chamois Fine Dunas 75g A promessa da política Hannah Arendt Tradução: Pedro Jorgensen Jr. 288 páginas Difel Chamois Fine Dunas 80g Superando a ansiedade Eulália Bueno 224 páginas EME Chamois Fine Dunas 75g 10 CHAMOIS & NOTÍCIAS IMPRESSÃO, A MELHOR SEMPRE! A s 24 horas do dia já não são suficientes para este mercado. Nos sete dias da semana, nove entre cada dez palavras têm o mesmo sentido: manda para a gráfica! Impressão, impressão, impressão... Se o resultado é satisfatório, ótimo, manda para o acabamento. Caso contrário, volta para a impressão. Ela tem que estar impecável. Por ela, espera um cliente ávido por qualidade. Ele quer ser surpreendido. Em algum lugar do outro lado do país, lá está ela, incessante e incansável palavra a ecoar: impressão. Leitores não esperam! Para eles, o que está por trás daquele pedaço de papel repleto de informações não faz muita diferença. Habituados com o seu informativo diário, eles não vêem apenas um pedaço de papel impresso, ali estão as principais notícias do mundo. Na farmácia, no supermercado, nas ruas, em todos os lugares, impossível não se deparar com impressos de todos os tamanhos, formas e finalidades. Perseguição? Não, evolução! De quem é a culpa? Dos gráficos! Mais que culpados, são os grandes responsáveis pela democratização da informação. A história da indústria gráfica no mundo começou na Europa, lá pelo século 15, quando o alemão Johannes Gutenberg imprimiu pela primeira vez um livro (a Bíblia), com tipos móveis, mas no Brasil deu-se início com a chegada da Família Real. Em 1808 D. João VI trouxe o primeiro equipamento tipográfico para o país. Assim, há exatos 200 anos, a primeira gráfica brasileira começava a funcionar. E, se os gráficos são os grandes responsáveis pela democratização da informação, creditamos a eles também o mérito para a evolução e o crescimento do Brasil. Hoje, o mercado gráfico brasileiro é composto por 19.550 empresas, que juntas empregam um contingente de cerca de duzentas mil pessoas. A receita de vendas do setor em 2007 foi de R$ 17 bilhões. Sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) é de 0,82% e no PIB industrial, de 3,78%. Em apenas duzentos anos, pouco tempo se comparado a países europeus, a nossa indústria gráfica evoluiu tecnologicamente, conquistou seu espaço e hoje ocupa lugar de destaque entre as melhores do mundo. Aos nossos gráficos que vivem todos os dias ouvindo, falando e produzindo o que fazem de melhor, a nossa homenagem e que todos tenham sempre a melhor impressão. u [leitura em destaque] “O VENCEDOR ESTÁ SÓ” O MAIS NOVO SUCESSO DE PAULO COELHO A pós onze livros bem-sucedidos que o levaram ao patamar de escritor vivo mais vendido no mundo, Paulo Coelho lança seu 12º romance em meio a muitas expectativas. Com duzentas mil cópias já nas livrarias, é a primeira vez que o esoterismo não é abordado na trama. A história trata de um serial killer determinado a reconquistar o amor de sua ex-esposa, que o abandonou por um estilista. O serial e milionário russo Igor Dalev planeja cinco assassinatos em 24 horas, durante a realização do famoso Festival de Cannes. Apesar de aparentar ser apenas um romance policial, “O vencedor está só” é um retrato impiedoso das elites que, da moda à política, definem os rumos do mundo em que vivemos, pondo em cena diretores, produtores, estilistas, modelos, atores consagrados e candidatas ao estrelato. Todos os personagens e conversas de bastidores são 80% verdadeiras, garante o autor, fruto de sua própria convivência neste meio. “Acho que, para quem não está no mundo da moda, este livro é uma surpresa”, conta o autor. Além das surpresas, Coelho também causa, obviamente, muita polêmica ao descrever friamente esse ambiente, e ele admite que adora isso, principalmente ao mostrar como vive a “superclasse” e como as pessoas estão dispostas a tudo para serem famosas e influentes, mesmo que tudo isso não passe apenas de aparências. Para o autor, esta superclasse é sinônimo de poder, mas nem sempre de felicidade: “O livro toca muito no tema de como a massa é, de alguma maneira, facilmente guiada e dirigida. E a primeira coisa que você experimenta como líder, como vencedor, como uma pessoa que chegou a algum lugar, é essa profunda solidão”, explica Coelho. Com esta mistura de experiências reais, violência e glamour, mais uma vez, Paulo Coelho não decepciona e soma ao sucesso de “O vencedor está só” as ótimas críticas de sua biografia, escrita pelo jornalista Fernando Morais, “O Mago”. Coroando sua boa fase estão também as produções cinematográficas de três de suas obras, “Veronika decide morrer”, que já está em fase de edição, enquanto “O Alquimista” e “Onze Minutos” serão filmados ainda esse ano. u O vencedor está só Paulo Coelho Editora Agir 400 páginas Papel Chamois Fine Dunas 70g GUIA DO PROFISSIONAL DO LIVRO TEM TUDO E MAIS UM POUCO É quase uma Bíblia para o autor independente. Recheado de dicas e informações, este guia é uma ferramenta e tanto para quem está dando os primeiros passos no mercado editorial. Das questões burocráticas, como a Lei de Direitos Autorais, às informações técnicas, como tipo de papel, gramatura etc, a obra tem como objetivo fundamentar o profissional deste mercado, possibilitando, principalmente, ao autor independente ferramentas e informações úteis e pertinentes para o seu dia-a-dia. Vale conferir! Guia do profissional do livro Maria Esther Mendes Perfetti e João Scortecci Editora Viena 253 páginas CHAMOIS & NOTÍCIAS 11 [artigo] LEIA E EXISTA! “A pessoa humana deve ser tratada sempre como fim e nunca como meio.” Immanuel Kant C om a eventual possibilidade de ser considerado repetitivo, mas com forte aval do respeitado jornalista Joelmir Betting, a quem se atribui a frase “o que é óbvio deve ser repetido”, e que adoto com a maior tranqüilidade, volto à velha discussão do tema que prega absoluta necessidade de leitura do jovem, versus horas desperdiçadas em frente da TV e com prática de certos jogos eletrônicos. Desta vez a inspiração vem dos tristes resultados do recente Exame Nacional do Ensino Médio, exaustivamente divulgado pela imprensa, onde se destilaram respostas que se constituem em verdadeiras barbaridades como: “Raios ultra-violentas”, “A concentização é um fato esperançoso para o territorio mundial”, “A natureza foi discuberta pelos homens a 500 anos atrás” e outras tristes evidências de que, efetivamente, não estamos preparando bem quem vai comandar este país no futuro. Em face das terríveis respostas, algumas hilariantes, o clichê é inevitável: seria cômico se não fosse trágico. Além das óbvias ilações que se tiram dos textos, como absoluta falta de conhecimento geral das matérias e dos erros comuns de construção e grafia, há que se lamentar, principalmente, as conclusões a que os professores encarregados das correções chegaram, segundo as quais falta aos alunos raciocínio e concatenação. Assim, se 12 CHAMOIS & NOTÍCIAS mostram não só pouco habilitados para escrever um texto, como também, o que é pior, para pensar. Ora, na vida e na ciência não existe efeito sem causa. Assim sendo, quais seriam as razões que impedem nossos estudantes de se expressar bem e de mostrar conhecimento das matérias que estudam em, pelo menos, razoável português? Seria o nosso sol tropical que cozinha seus jovens cérebros? Talvez a miscigenação de raças que tanto nos caracteriza? Ou a culpa deve recair sobre os livros e as escolas? Nada disso, e nem o destino, pois muito já se disse do talento, da criatividade e da versatilidade do nosso povo. A miscigenação é sadia e o sol é bem-vindo. Temos bons livros e boas escolas. Dizem que os neurônios são os músculos do cérebro; se não são exercitados e desenvolvidos, como todo os músculos, se atrofiam. A verdade é que qualquer pessoa razoavelmente bem informada e com real vontade de ver as coisas deve observar que os mais sensíveis jornalistas, redatores, educadores, psicólogos, têm recheado páginas de jornais e de revistas, nacionais e internacionais, apontando o baixo nível dos programas de TV, alguns jogos de vídeo-games e de enlatados do cinema industrial como a causa da alienação da população, principalmente dos menos preparados. A população em geral, e principalmente, o jovem está sendo vítima de uma overdose de TV com programas dirigidos por pessoas simpáticas, de rostos bonitos e sorrisos envolventes, que adentram os lares sem proposta alguma a não ser a de vampirizar os neurônios das pessoas, expondo, entre outras coisas a intimidade de desocupados, os desentendimentos de casais desajustados, que se expõem ao ridículo por míseros cachês e pegadinhas pré-fabricadas, não raro estreladas por “artistas” seminuas. Não há como negar que esse passatempo atrai, principalmente, o desavisado, vítima da lei do menor esforço, porque provoca as sensações mais fáceis de estimular, como a do riso, do sexo, do ridículo, do medo, do escárnio, etc. Dessa forma se diverte sem pensar, espreguiçando-se. Indefeso, o telespectador de vítima torna-se cúmplice do processo, já que passa a alimentá-lo, com o IBOPE à espreita, pois o que se objetiva é o consumidor e não o cidadão. Além do mais, é evidente que está se formando uma sociedade de fofoqueiros teveguiados que segue hipnotizada pelo vídeo e agora (são os dividendos) por inúmeras revistas especializadas em expor a vida de falsos ícones, que fazem rir quando riem, chorar quando choram e parir quando parem. É a valorização da pieguice em detrimento da sensibilidade. Está havendo supervalorização do físico em detrimento do intelecto e do espírito. Ninguém quer “malhar” os neurônios! A televisão, que afinal é uma concessão do Governo, se não tem o objetivo e a função de educar, igualmente não tem o direito de invadir os lares com overdose de vulgaridades, que se repete em todos os canais. Seria de toda a forma um poderoso canal para a conscientização do jovem de que vivemos numa economia globalizada com a competição cada vez mais acirrada no mundo todo, e quem não se preparar vai ficar à margem do processo. Dessa forma, como se esperar do jovem conhecimento, lucidez, desembaraço, articulação, se ele não está sendo preparado para isso? Por outro lado, se não existe uma escola que ensina a pensar e a escrever, existe uma prática que treina qualquer pessoa para isso: a leitura. A leitura além de um instrumento de aproximação do saber, proporciona a descoberta de multifacetadas visões do mundo e desenvolve o potencial imaginário do leitor, aguçando seu senso crítico, localizando-o no tempo e no espaço, quando, via conscientização, adquire o direito de se indignar e assim colaborar com a evolução da sociedade. É necessário conscientizar o jovem de que a vida é feita de tempo e que este deve ser usado para ser vivido intensamente, também pelo estudo, pela leitura, pelos jogos de inte- ligência como o xadrez, por exemplo. Quem desperdiça seu precioso tempo vivendo a vida dos outros, que espertamente estão arrumando suas “carreiras”, está matando sua própria vida e perdendo a oportunidade de crescer. Vale, para encerrar lembrar o pensamento da escritora Ethel Richardson: O mais delicado e sensível dos instrumentos é a mente da criança. Cosmo Juvela Editor, diretor da Editora Meca, fundador e primeiro presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro. [poesia] SAGA DA AMAZÔNIA Vital Farias E ra uma vez na Amazônia a mais bonita floresta mata verde, céu azul, a mais imensa floresta no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas e os rios puxando as águas Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir era: fauna, flora, frutos e flores Toda mata tem caipora para a mata vigiar veio caipora de fora para a mata definhar e trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira e trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar: se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar? depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar Mas o dragão continua a floresta devorar e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar? corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura No lugar que havia mata, hoje há perseguição grileiro mata posseiro só pra lhe roubar seu chão castanheiro, seringueiro já viraram até peão afora os que já morreram como ave-de-arribação Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova gente enterrada no chão: Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro roubou seu lugar Foi então que um violeiro chegando na região ficou tão penalizado que escreveu essa canção e talvez, desesperado com tanta devastação pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa dentro do seu coração Aqui termina essa história para gente de valor pra gente que tem memória, muita crença, muito amor pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta era uma vez uma floresta na Linha do Equador... SAGA DA AMAZONIA,foi publicada em 1981 e gravada pela Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, em 1982. Vital Farias, é bacharel em música, pela faculdade do Rio de Janeiro, violeiro, poeta, compositor e cantador dos sertões. CHAMOIS & NOTÍCIAS 13 [acontece] NOVA ORTOGRAFIA ENTRA EM VIGOR EM 2009 O OBJETIVO É DESCOMPLICAR A mplamente discutida e criticada, mas enfim finalizada. Essa é a “novela” da reforma ortográfica da língua portuguesa que vem desde 1990 e deveria ser adotada pelos países da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa, composta por Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste) até 1994. Burocracia e entraves políticos atrasaram os planos durante 10 anos e por isso o Brasil tomou a dianteira, ratificando o acordo no Congresso Nacional em 2004. A partir disso, intelectuais e principalmente o meio acadêmico criticam duramente a reforma, classificando-a como superficial e ineficiente. Em Portugal, a principal manifestação partiu de escritores e poetas que reclamavam que as novas regras atendiam somente a interesses brasileiros. Mesmo assim, as alterações assumem caráter definitivo em até seis anos para os portugueses. Já no Brasil começam mais cedo, a partir de 2009 e, segundo determinação do Ministério da Educação (MEC), os livros didáticos utilizados nas primeiras cinco séries do Ensino Fundamental devem ser editados já com a nova ortografia em 2010. Em 2011 seria a vez dos livros de 6ª a 9ª série e em 2012 dos livros de Ensino Médio. Para o presidente da Abrale (Associação Brasileira dos Autores dos Livros Educativos) José de Nicola, a pressa e o ime- s Lançamento m ha ois em papel C diatismo é que conturbam a situação e não as mudanças em si. A proposta das editoras é que os primeiros livros estejam editados em 2012, atrasando o cronograma oficial que previa a obrigatoriedade das novas regras a partir de 1º de janeiro de 2013. Mas, apesar da correria, as notícias são boas para o mercado editorial brasileiro. A unificação ortográfica deve favorecer o intercâmbio comercial no setor de livros entre os países de língua portuguesa. A expectativa é de redução nos custos de adaptação de obras. Porém, esta abertura deve se encaixar mais para o segmento de livros técnicos e de literatura, os livros didáticos ficariam um pouco mais restritos por causa da questão da semântica regional. Mudanças climáticas : desafios e oportunidades empresariais John Woody, Andrew Hoffman Tradução: Ana Beatriz Rodrigues 152 páginas Campus-Elsevier Chamois Bulk Dunas 90g Túneis Roderick Gordon e Brian Williams Tradução: Ryta Vinagre 480 páginas Rocco Chamois Fine Dunas 70g 14 CHAMOIS & NOTÍCIAS As novas regras As mudança s mais signifi cativas altera tuação de al m a acengumas palav ra s, como as p nas com dito aroxítongos abertos “ei” e “oi” e abertos prece ditongos didos de “i” e “u”, extin também o u guem so do trema e o acento ci em paroxíton rc u n flexo as com duplo s “e” ou “o” mas verbais, em forcomo “vôo” , e sistematiz ção do hífen a a utiliza. No Brasil, as alterações aproximadam atingem ente 0,5% d as palavras. mais países, Nos deque adotam a ortografia gal, o percen d e Portutual é de 1,6 %. O objetivo de tudo isso seri a proporcion visibilidade ao ar maior idioma, o sé timo mais fa planeta com lado no 230 milhões d e p es so maioria no B as, sendo a rasil. Isso con tribuiria para mação no ce sua afirnário internac ional, princip em entidades al mente como a ONU . Outros envo nas mudança lvidos s que costum am ser muit citados são o pouco os alunos e professores. feitos em es Em testes colas particu lares de São Curitiba o re Pa u lo e sultado foi sa tisfatório e, adaptação d após a os docentes, os alunos dem ram mais faci o nstralidade em ap render. Econopower – como uma nova geração de economistas está transformando o mundo Mark Skousen 288 páginas Campus-Elsevier Chamois Fine Dunas 75g
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