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universidade do estado da bahia
departamento de educação campus ii/alagoinhas
colegiado de letras
mestrado em crítica cultural
curso de extensão formação de gestores e produtores culturais
vozes da periferia
letras de rappers de alagoinhas como literatura marginal
Alagoinhas
Maio de 2010
universidade do estado da bahia - uneb
lourisvaldo valentim da silva
reitor
josé cláudio rocha
pró-reitor de pesquisa e pós-graduação
adriana marmori
pró-reitora de extensão
antônio gregório benfica marinho
diretor do departamento de educação do campus ii
adilson correia
coordenador do colegiado de letras
osmar moreira
coordenador do programa de pós-graduação em crítica cultural
wilton oliveira
mestrando em crítica cultural
mc osmar
aluno do curso de extensão gestão e produção cultural
ficha catalográfica
letras de rap de alagoinhas como literatura marginal/ orgs. osmar moreira
e wilton oliveira. alagoinhas: fábrica de letras/usina de produção do crítica
cultural, maio de 2005 (1º exemplar das edições populares.
produção mensal
1.
2.
letras e linguística, crítica cultural – universidade do estado da bahia.
título
CDU: 807
índice
autor: mc mamah autor: mc mamah e pinho mc/ grupo: artilharia verbal
autor: mc mamah e churrasco
autor: mano ed+ autores: sinal e mano ed+
autor: mc osmar
autor: lino mc e mc osmar
autor: lino mc
autor: sinal
apresentação 1: wilton oliveira
apresentação 2: osmar moreira
07
14
16
19
45
52
78
80
81
110
111
1
sujeito do gueto
autor: mc mamah
sujeito do gueto não pode ter preconceito
sujeito do gueto é com a humildade e respeito
no gueto eu mim criei e tenho muito orgulho
pode acreditar é o melhor lugar do mundo
eu vivo nesse gueto com a paz sem preconceito
e sempre procurei ser um rapaz direito
a realidade das cidades e dos bairros
não é tão bela principalmente dentro da favela
as minas se perdendo os manos se acabando
cada dia que passa é o perigo dominando
a treita tá formada pra quem fala mal desse gueto
pode acreditar eu sou preto do gueto
sujeito do gueto não pode ter preconceito
sujeito do gueto é com a humildade e respeito
com a humildade e respeito eu te peço a união
as palavras são mandadas do fundo do coração
pra que roubar então o negócio é estudar o respeito
na quebrada com certeza eu vou botar
sujeito do gueto não pode ter preconceito
sujeito do gueto é com a humildade e respeito
7
2
cidade violenta
autor: mc mamah
minha cidade tá violenta e as coisas tão sem sentido
os dias vão passando e só aumenta o perigo
é jovem se matando, pivete que tá no vício
a droga dominando a quebrada e os conhecidos
eu não quero acreditar que isso está acontecendo
pivete de 12,14 e 15 estão morrendo
iludidos dá pra ver, com crime, arma e droga
e a sociedade com sentimento de revolta
o perigo é constante conheça a realidade
atos de covardia aqui rola à vontade
porra eu não aguento, com tanta calamidade
os manos se matando às margens da sociedade
meu deus eu não aguento
com tanto sofrimento
os manos no perigo e alguns estão morrendo
poxa é isso mesmo é um grande pesadelo
os manos se acabando e sua mãe no desespero
escuto o pauta livre e não me sinto à vontade
com marcos aragão narrando a calamidade
tanta desigualdade que rola na cidade
alguns estão morrendo por falta de honestidade
já tá confirmado que o barato aqui é louco
que os manos hoje em dia andam com a corda no pescoço
mano faz um esforço e tenta mudar
porque você errando só faz o sistema se alegrar
8
tu para pra pensar, e pensa no futuro
lembra de tua mãe que te trouxe pra esse mundo
tu sabes que sua mãe com certeza não queria
que tu vacilasse e tivesse essa vida
vida de malandro, vida de viciado
só puxando o cano e fazendo atos errados
o fato é verídico pode acreditar
eu moro no barreiro e vejo o bicho pegar
morreu mano neblina, morreu mano bochecha
mataram um mano meu que deus com ele esteja
salve o mano lula eu tenho ele na cabeça
e no coração ele era um cara firmeza
que só deixou tristeza, aqui no nosso bairro
covardemente assassinado, mataram o cara errado
que deus com ele esteja e a deus seja louvado
que todos os pecados se exterminem aqui na terra
que o homem pare e pense
e não promova mais a guerra
eu vejo a hipocrisia se instalando na cidade
os manos vêm e matam pra ficar atrás das grades
viver sem liberdade e sem piedade
inhambupe teve um caso que chocou nossa cidade
caso de magia mano veja que treta
quarenta facadas depois de morto estuprado
tinha apenas 9 anos morreu pelo filho do diabo
o homem maltrata e desafia a lei de cristo
no final dos tempos esse daí tá fudido
vai ser esquecido
perdido na miséria
9
os manos vão colher tudo que plantaram na terra
olha que fita, atirou no próprio espelho
é isso que eles querem que vocês criem um pesadelo
e treta todo instante estilo bang bang
as ruas da cidade estão manchadas de sangue
3
nóia,
autor: mc mamah
parte 2
tem jovem que pela droga sua vida foi marcada
algumas já estão perdidas, outras desestruturadas
a droga te destrói, te joga pro fim do túnel
suja o seu nome com titulo de vagabundo
ela não escolhe as pessoas que quer pegar
ou homem, mulher qualquer um que queira usar
pra entrar é muito fácil, o difícil é pra sair
e se não for forte, tu só sai no fim
no mundo existem muitos tipos de drogas
algumas desconhecidas, outras já são famosas
tem o álcool. a pedra, o pó e a maconha
essas são as drogas que te deixam na vergonha
você não tem respeito, não tem dignidade
em estrutura de pessoa se torna um covarde
cuidado irmão e preste atenção
se a droga te pegar ela te leva pro caixão
10
o álcool irmão é a pior de todas
você bebe numa boa e tá liberado
quando for perceber você já tá estragado
tem a overdose ou a cirrose
elas só se contentam quando virem a sua morte
a pedra também um negócio ruim
mas de alguma forma ela te seduz
você vira safado, não é mais considerado
tu rouba, sufoca, encomenda sua cova
de alguma forma a pedra te sufoca
o pó eu nem te falo, é droga pra senado
é droga pra prefeito, juiz e delegado
e o pobre que se envolver já era virou finado
a maconha irmão te deixa alucinado
queima seus neurônios e você fica endoidado
então presta atenção
e diga não às drogas
seja um cidadão e respeite sua senhora.
11
4
afrodescendentes
autor: mc mamah
minha postura é de perifa, represento alagoinhas
sou negro, sou bonito tenho orgulho da minha vida
e pra falar, representar o povo dessa cidade é
em cima do palco que tenho muita liberdade
respeite as mulheres e saibam que são capazes
de representar o gueto e fazer muito mais
com atitude e respeito, com responsa no peito
eu carrego uma missão de pregar a união
deus é que me guia e através da minha
rima representa a perifa de calça e de bombeta
de cabelo entrançado sempre preocupado com os
manos que estão do lado, as minas se perdendo
envolvidas com veneno, os manos vão sofrendo
cada dia vão morrendo, mas isso vai acabar que pra
isso eu vou lutar, representado o gueto e a minha periferia
refrão
pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os pretos nunca
se iludem
pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os guetos nunca
se iludem
o gueto no poder, isso é imaginário é só pra tu saber
12
que isso parte dos otários, tem mano que é racista e só
faz patifaria, não aposta na fé, não passa de mané
tem mano que é tirado a um revolucionário
mas pode ter certeza não passa de um pelo saco
otários vacilões, não passam de um racista, é bom
tu respeitar o povo da perifa, é confusão no território se
você mexer em mim, preto periférico, denominado mc.
pros manos que não acredita, eu vou até o fim,
na missão, no compromisso de pregar a paz aqui
tem preto que é sangue bom, não posso agravar
a todos, mas tem mano que vacila se liga faz um esforço
tem mina que se vende sujando a sua alma
não se dar respeito e da moral pra os babacas
refrão
pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os pretos nunca
se iludem
pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os guetos nunca
se iludem
as nossas atitudes não são iguais as dos brancos
mas o microfone eu represento o meu nome
eu sei que não é fácil pra representar o gueto
mais quando subo no palco pode crê eu estremeço
sem precisar ralar em baixo pra você ficar ligado
quando eu pego o microfone você fica incomodado
se ligou com a presença desse preto de perifa?
é só pra tu saber que eu me encontro na bahia
13
quem desacreditou, eu sou do interior agreste nordestino
no rap sou um terror mostro que tenho responsa
quer saber não quero fama também não quero ganância
e aquele que tem desandar tenho muito respeito
pelo meu povo do gueto a minha luta é pra acabar
com preconceito mas não depende só de mim
pra completar essa missão convido o meu povo que
vive nesse mundão pra vim lutar comigo contra a
violência e racismo, eu sei que a perifa passa por
grande perigo em cima da batida a gente vai representando
rimando e falando pra você não esquecer que eu sou do
interior e tenho muito proceder
refrão
pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os pretos nunca
se iludem
pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os guetos nunca
se iludem
(pra diferencia as nossas atitude e pra você sabe que os guetos nunca se
iludem)
14
5
bala na cabeça
autor: mc mamah e pinho mc/ grupo: artilharia verbal
já vi mano matar já vi mano morrer
vencer o pinote pra poder sobreviver
a realidade é dura e crua dentro da favela
e o mano que vacila vai pra debaixo da terra
minha quebrada é violenta é bom os manos se ligar
quando a polícia chega é com ordem pra matar
já morreu inocente tubarão poucos que devem
mataram mano edy com menos de dezessete
pivete sangue bom e muito considerado
foi morto por engano fizeram trabalho errado
aqui o bicho e é na cara dura só existem dois caminhos
é a cadeia ou sepultura a malandragem tá perdendo
pra porra da burguesia todo dia eu vejo um pobre
dentro da delegacia passando dificuldade esculachado
pela mídia que só vê a versão contada pela polícia
mídia sensacionalista cheia de patifaria faz tudo pra
se vender aos porcos da burguesia é bala na cabeça
pra quem desacredita são poucas opções e não tem
como opinar a realidade é pesada e eu não uso
maquiagem o povo se incomoda por que eu
passo a verdade.
rf. é bala na cabeça é arma na cintura esse é o cotidiano a realidade é dura
e crua
15
pra quem desacredita essa é a lei da rua, mano se tu vacilas pra sepultura
(bis)
lá na rua tá é foda e essas coisas me incomodam exterminar a juventude
por causa das drogas é maconha pó e crack foram os fardinhas esse mata
à vontade morre inocente morre alemão pra vira noticia no se liga bocas,
eu vejo a mãe chorando por causa do barreiro tá em luto mano se liga no
perigo para de vacilar e mantenha sua postura você sempre soube que a
realidade é dura e crua aposenta o seu ferro congela o seu dedo esquece
a vida louca e não entra em desespero é idéia positiva elevando sua autoestima esse é o procede da família artilharia a polícia burguesia esse estão
no bicho, por isso eu te apresento a face do inimigo que vai ser alvejado
com apenas trinta tiros artilharia verbal então é isso sou gângster rap da
família fbs superei sua estatística pivete articulado no rap bem nervoso
pode acreditar sou da família bicho solto honro minha família e meus
amigos e quando o dia nascer nem tudo esta perdido
refrão
é bala na cabeça é arma na cintura esse é o cotidiano a realidade é dura
e crua
pra quem desacredita essa é a lei da rua, mano se tu vacilas pra sepultura
(bis)
é dia a dia violento e o clima está sangrento o artilharia tá ligado que
povo tá no veneno a sociedade esta manchada com raiva por dentro
quem tá na vida do crime só caminha quanto o vento muita gente está
morrendo pessoa destemperada algumas estão se escondendo muitas
estão traumatizada por causa da violência que tomou conta da quebrada
refrão
16
é bala na cabeça é arma na cintura esse é o cotidiano a realidade é dura
e crua
pra quem desacredita essa é a lei da rua, mano se tu vacilas pra sepultura
(bis)
6
alvejaram o barreiro
autor: mc mamah e churrasco
periferia é o alvo do sistema e disse que lá só bandido só tem problema
que o movimento do trafico é um absurdo, que o 21 é escola de
vagabundo
de ponta a ponta na cidade que eu moro é só patifaria, de noite ou de dia
é bom se livrar das covardias, que deram dois tiros na cabeça do pivete
ali
na fábrica por causa de um passarinho, o que piada a salvação foi que o
pivete não capotou está na área, de novo foi no inferno e voltou e
perguntou ao
diabo por que aquilo tudo e ele te respondeu por que já tá no fim mundo
e na irmã dulce que não tem nada de santo quem tem sua ferramenta
chega atirando
matando pivete até por causa de menino ligeiro perdeu a vida e tal
e na moral vou chegando e me esquivando vida do crime é sem sucesso
fulano
é cemitério pra quem tira de bandido você que agrada o sistema se liga
no perigo cheirando matando roubando correndo alto risco e o sistema
só que ver a nossa infelicidade periferia é o alvo se jogar cumpadre
e no barreiro pra ver a cara da pobreza pivete matando roubando pra ter
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certeza
e pra completar agora vou te eu sou mano mamah e não vou te incentivar
se lembra
ainda daquela história que o mano jobe foi morto na sua porta no mundo
da malandragem
seja sempre esperto pra que no outro dia não vá parar no cemitério
bagulho na 28 uma gomeração e um cara quase morto um tiro na coluna
ficou aleijado
fica na paz de deus mano marcos e que jesus já ta por vim e o diabo já tá
aqui
e trouxe a polícia pra matar e pra mentir e pra tirar uma onda com o
pessoal do gueto
do gueto do barreiro perto da fazenda é uma cisterna aberta e par de mães
que lamenta
de seu filho perdido no mundo da ilusão se liga meu irmão que esse é
mundo do cão
alvejaram o barreiro pela frente e pela costa ninguém se importa ninguém
se importa
na calada da madruga um barulho me assusta não sei se é a samu
ou se é a viatura só sei que a mente pesa e eu não sei pensa mais nada
e eu sei se vacila os mãos brancas vêm e matam aqui é só mancada os
manos
estão perdidos hoje na periferia o que domina é o vicio, o vício de mata
de fuma e vacila
ei mano segura a onda que o sistema se agrada com essas patifarias que
acontecem na
na cidade por isso que os jovens estão perdendo a liberdade porra pare e
18
pensa
e ver se tu acerta nós temos que honrar o nome da favela
alvejaram o barreiro pela frente e pelas costas ninguém se importa
ninguém se importa
é sobrou pra mim tem que prevê o fim, e todo mundo sabe que esse fim
não
feliz mundo da malandragem só trás mau meu cumpadre escuta essa
letra
que aqui só tem verdade os manos atrás das grades pedindo por piedade
passando sofrimento e uma grande crueldade, isso é liberdade responde
minha pergunta para de dar brecha e mantém sua postura para que
depois não par na viatura pois acredite pode acreditar a nossa
liberdade não foi feita pra comprar
alvejaram o barreiro pela frente e pelas costas ninguém se importa
ninguém se importa
7
o mendigo
autor: mano ed+
caminhando na estrada sozinho
em plena madrugada, sentindo muito frio
nem um sinal de gente no meio do caminho
tava bastante mal de estômago vazio
19
só tinha o cobertor e um pedaço de papelão
meu santo protetor um livro velho na mão
a fome aliviou ‘’quando achei’’ a metade do pão
que ainda tive de dividir com o meu cão
pensando no tempo precioso que desperdicei
mundo pecaminoso, eu me entreguei ‘’falhei”
pois não pensei em chegar onde cheguei
de tudo que perdi, foi só o que conquistei
sou um pobre coitado desprezado à deriva
um zé ninguém sem espectativas ‘’meu’’
carregando mágoas amargas, marcas e feridas
perguntando a deus o que vale essa vida
crise a penar
o mendigo por falta de abrigo
o mendigo total, dificuldade sim
o mendigo não tem nem um valor
o mendigo passa necessidade
vestindo tralhas, choramingando migalhas no ponto
pedindo esmola pior que um cão sem dono
as drogas servem como sedativo em caso de abondono
faz um ano que não corto o cabelo nem tomo banho
não passo de um fracassado jogado na sargeta
o miserável que bebe água da valeta
imprestável e quem ninguém respeita
pobre coitado, cato fruta podre na feira
aquele que cheira mal e causa medo às pessoas
a patroa no sinal aperta logo a bolsa
20
às vazes penso em roubar uma loja de roupa
mas minhas chances sempre foram tão poucas
acho que devo me internar ni algum albergue
quem sabe lá “eu me regenere”
recupere minha dignidade como era
sem me humilhar pra tirar a barriga da miséria
um vagabundo sem ter onde cair morto
um porco imundo no fundo do poço
atolado até o pescoço, largado ao desgosto
lava meu rosto com a água do esgoto
um delinquente vivendo ao relento, passando fome
sem lenço sem documento, indigente sem nome
caminhando contra o vento, pobre homem
a tanto tempo durmo em baixo da ponte
triste a chorar
o mendigo, estado decadente
o mendigo, perdeu a liberdade enfim
o mendigo, carente de amor
o mendigo, só quer uma caridade
escorado na calçada com a garrafa de cachaça
cheio de ressaca, a mente fraca
no meio da praça, a consciência pesada
e a pleiboisada dando risada da minha desgraça
me servia como incentivo os seus conselhos
cada capítulo, versículo, eu não esqueço
21
mas o egoísmo me fez esbanjar dinheiro
me tornei um mendigo sem rumo nem paradeiro
cansado de ver o mendigo na lata de lixo
quando passo pelo ponto coletivo
almejando um amparo, um abrigo
eu imagino se isso fosse comigo
será que estou pagando meus pecados ainda vivo?
pois no passado cometi um grave delito
mas por acaso não estou arrependido
faria tudo de novo, se isso fosse preciso
nesse momento eu preciso falar com jesus cristo
fazer uma prece, uma oração por meus irmãos aflitos
ó pai de toda essa nação, olhai por seus filhos
nos livrai da maldição, afaste-nos do perigo
que o poder dessa canção chegue no nosso ouvido
se isso é som de ladrão, estou absorvido
a diferenciação vem do alternativo
daí então sou apenas um individuo
lutando por reparação nesse sistema falido
se depender da oposição, um falecido
de coração estou na missão, seguindo o compromisso
aí sangue bom, preste atenção no que eu digo
22
8
informe
autor: mano ed+
a maconha é droga sim, mas
não é mais droga que a droga do alnafabetismo
não é mais droga que a droga da falta de atendimento médico
não é mais droga que a droga do preconceito
+
não é mais droga que a droga da fome
+
não é mais droga que a droga do racismo
+
não é mais droga que a droga da superlotação nas penitenciárias
+
não é mais droga que a droga do muro de berlim
;
não é mais droga que a droga da corrupção
+
não é mais droga que a droga do desemprego
+
não é mais droga que a droga da obra do metrô parada em salvador
não é mais droga que a droga do o aumento no índice de mortalidade da
juventude brasileira anualmente
não é mais droga que a droga da falta de saneamento básico
/
não é mais droga que a droga do f.m.i.
+
não é mais droga que a droga da injustiça
+
não é mais droga que a droga do planalto central
+
não é mais droga que a droga da casa branca +
não é mais droga que a droga da defensoria pública
+
não é mais droga que a droga do salário mínimo
+
não é mais droga que a droga da poluição nas megalópoles e metrópoles
/
não é mais droga que a droga do desvio de verbas
+
não é mais droga que a droga da exclusão
+
23
não é mais droga que a droga do governo aproveitador
+
não é mais droga que a droga da falta de oportunidade
+
não é mais droga que a droga do aumento do salário dos deputados
estaduais
+
não é mais droga que a droga da seca no sertão sem água potável
+
não é mais droga que a droga do trabalho infantil
não é mais droga que a droga da exploração de menores
não é mais droga que a droga do buraco na estrada
+
não é mais droga que a droga da traição
]
não é mais droga que a droga do abandono
]
não é mais droga que a droga da inveja
]
não é mais droga que a droga do lixão do rio tietê
/
não é mais droga que a droga da prepotência
+
não é mais droga que a droga do aquecimento global
/
não é mais droga que a droga da ambição
]
não é mais droga que a droga do alto preço dos medicamentos nas
farmácias e drogarias
+
não é mais droga que a droga da pobreza
]
não é mais droga que a droga do desmatamento florestal
/
não é mais droga que a droga da caça proibida das espécies em extinção
/
não é mais droga que a droga do crime
+
não é mais droga que a droga da discriminação
]
não é mais droga que a droga do álcool, que destrói famílias
não é mais droga que a droga da cocaína, que entope suas veias
não é mais droga que a droga do crack que suga sua alma
não é mais droga que a droga da sousa cruz
não é mais droga que a droga do clus clã
+
não é mais droga que a droga da mutação genética
24
não é mais droga que a droga do egoísmo
]
não é mais droga que a droga da apologia maldosa
+
não é mais droga que a droga do policial infrator
+
não é mais droga que a droga da situação precária nas favelas
não é mais droga que a droga do político opressor
+
não é mais droga que a droga da qualidade de vida da população
periférica
+
não é mais droga que a droga do machismo idiota
não é mais droga que a droga da violência doméstica
não é mais droga que a droga do dinheiro sujo
+
não é mais droga que a droga da agressão contra mulheres
não é mais droga que a droga do nazismo
;
não é mais droga que a droga da ilusão
+
não é mais droga que a droga do autoritarismo supremo
+
não é mais droga que a droga da guerra mundial
;
não é mais droga que a droga do absolutismo
]
não é mais droga que a droga da fabricação de armas
;
não é mais droga que a droga do colarinho branco
não é mais droga que a droga da miséria
+
não é mais droga que a droga do desrespeito
+
não é mais droga que a droga da quadrilha organizada
não é mais droga que a droga do desespero
+
não é mais droga que a droga da falsidade de iscariotes
não é mais droga que a droga do jogo de azar
+
não é mais droga que a droga da falsa abolição
+
não é mais droga que a droga do sistema que aliena
não é mais droga que a droga da mentira
]
não é mais droga que a droga do homem bomba nos aeroportos
internacionais
;
+
25
não é mais droga que a droga da rinha de animais
não é mais droga que a droga do conflito entre gangues rivais
+
não é mais droga que a droga da pedofilia
]
não é mais droga que a droga do imposto e juros altos
+
não é mais droga que a droga da propina ilegal
+
não é mais droga que a droga do agrotóxico nos alimentos
não é mais droga que a droga da faixa de gaza ;
não é mais droga que a droga do excesso de fermento no pão
não é mais droga que a droga da incompetência da lei
+
não é mais droga que a droga do subdesenvolvimento sul-americano
não é mais droga que a droga da desigualdade social e racial
+
não é mais droga que a droga do grupo de extermínio em alagoinhas-ba
+
não é mais droga que a droga da gripe suína estrangeira
/...
não é mais droga que a droga do t.r.e.
+
não é mais droga que a droga da dengue que preocupa a vigilância
comunitária .../
não é mais droga que a droga do demagogo que se passa por pedagogo
+
não é mais droga que a droga da farsa de candidatos para a eleição
+
não é mais droga que a droga do aborto
não é mais droga que a droga da mídia que manipula as informação no
intuito noticias só para aumentar a audiência no ibope +
não é mais droga que a droga do suborno
não é mais droga que a droga da série-novela “malhação”
+
não é mais droga que a droga do pai que não assume paternidade
não é mais droga que a droga da covardia que sofreu o índio pataxó
+
26
não é mais droga que a droga do abuso de crianças
não é mais droga que a droga da mãe que maltrata seu filho não é mais droga que a droga do protocolo
+
não é mais droga que a droga da maldade do ser humano
+
não é mais droga que a droga do terrorismo ;
não é mais droga que a droga da burocracia
+
9
amizade sem dor
autor : mano ed+
traiçoeiros canalhas nomes que fazem jus a tua raça
traem a sua pátria por ouro por prata
cospem na própria cruz traidores de jesus
sua máscara cairá onde não haverá luz
mala suja já não tem o que perder atrasa o lado
essa é pra você que tá colando em banca de safado
acostumado a pagar pra os caras de outra área
não leve a mal mas não sou fã de canalha
fica vacilando com os manos da quebrada
na primeira oportunidade vão fazer sua carcaça
vc não me engana já sei da tua fama
pode ter a certeza que eu não dou mais confiança
enquanto você tem todo mundo trata bem
e do contrário o que fazem te deixam ao desdém
chega tão contente vem logo abrindo os dentes
e o se eu fosse inocente se sente até o presidente
27
te convida para festa só pra o que não presta
é numa dessas que você leva um tiro na testa
chama de parceiro é seu companheiro
é melhor ficar ligeiro que ele quer é te levar pra o cheiro
sempre que eu passo ele me pede um cigarro
quando eu não tenho ele diz que sou safado
diz ser irmão de fé acredite se quiser
quando vou comprar cerveja
e ele queixa sua mulher
o valor de uma amizade
não se estima em quilates
não se divide em partes não há dinheiro que pague
troca uma ideia positiva sem maldade no olhar
tá pro que der e vier sempre que precisar
saber chegar cumprimentar é isso fundamental
um aperto de mão sem querer ser nem coisa e tal
alguém que possa confiar contar pra qualquer hora
sem qui qui qui ca ca ca nem jogar conversa fora
amizade não deixa brecha
sem deslizes comédia despeita inveja
o judas morreu não teve o que deixar
deixou a falsidade pra o covarde se matar
28
10
a vida ñ é sorvete com lorê
autor: mano ed + existe tanto sacrifício pra viver
e fica tão difícil de entender
por isso que eu insisto em te dizer
a vida ñ é sorvete com lorê
nesse momento eu preciso de um ombro amigo
pra que eu possa desabafar tudo o que sinto
alguém que compreenda bem os meus motivos
de ñ viver como refém do iníquo
desde o inicio hoje nada parecido
uma pá de camaradas desaparecidos
um indício quantos foram mortos e feridos
foi difícil pra você perder um ente querido
vou lutar sobreviver preciso de uma chance
como posso ser feliz
sem oportunidade aqui
sem lar
assim pra me regenerar
livre a sonhar
ter estabilidade ser alguém de verdade
29
11
esse é meu brasil
autor: mano ed+ esse é meu brasil pátria mãe gentil puta que pariu esse povo varonil no
céu de anil geração 2000
do curto pavio carrego o meu fuzil esse é meu brasil estamos passando
mal mais é fevereiro vamos pular carnaval
o resto do ano inteiro até mesmo no natal entra e sai janeiro continua tudo
igual
superlotação nas penitenciarias 10% da população carcerária ação
desnecessária com a situação precária no mundão 10$ a diária só
deslealdade no país da impunidade os gravatas respondem em liberdade
escondem a verdade trancada a 7 chaves quando deveriam esta atrás das
grades mas
na prepotência ñ existe penitência pra incompetência nunca haverá
sentença ou você pensa que terá uma recompensa
dos malas sujas uma pá de sanguessugas com dinheiro entocado em
cuecas e sungas usa a cédula pra limpar a bunda com desvio de verbas e
renda publica
na lama caça-níqueis mensalão gautamas com muita grana e conta no
bahamas agente atribui fidúcia você retribui felonia
responda essa pergunta calúnia de pouca vergonha desde quando meu
país deixou de ser colônia? brasil
esse é meu brasil um lugar sombrio tem que ser viril com o sentimento
brio no relento frio terreno baldio do seio vazio eu fico a ver navio repara
meu perfil uma moeda tio no cenário vadio muito boca de funil
esse é meu brasil fome desemprego sou mais um sem nome na lista dos
30
herdeiros ñ tenho dinheiro mas sei me virar só que tem brasileiro que fica
ao deus dará
ñ fui marinheiro que remou contra maré ñ costumo falhar eu vou andar
com fé pra o que der e vier
estou de cabeça erguida de orelha em pé pronto pra qualquer briga zé
doar as armas é dar a cara a tapa sei que deus ñ me deu asas mas nem
mãos atadas brasil 500 anos de uma história mal contada
o chão todo manchado do sangue derramado de nossos ancestrais
antepassado afro-descendentes de escravos hoje favelados alvo do
sistema bravo como a resistência de um aço ñ veio a sucumbi
é sempre bem lembrado malcom x e zumbi a todos os irmãos uma medalha
de honra ao mérito as guerras acabaram mas os soldados são eternos
quem viver verá pra contar os netos informação da nossa cultura tradição
raça e religião
passado sofrido presente mal vivido pra um futuro promissor ñ será
esquecido
esse é meu brasil vida desafio de caetano e gil que ñ se baniu pacato e
ardil no tempo do vinil o templo do sangril 21 de abril um dia doentil ba
sp rio sem tapete macio ninguém sabe nem viu ñ posso dar um pio
esse é meu brasil ordem e progresso faço meu protesto em processo no
congresso
como se fosse et disfarçado por homens de preto e se elege um candidato
que era pra estar preso
a nossa gente a procura de um bom emprego é mais difícil de achar do
que agulha no palheiro
o contribuinte a beneficiar ele logo se encarrega de arrecadar enquanto
essa merda exalar
com certeza haverá miséria em todo lugar da américa na áfrica europa
ásia a raça humana
31
espécie ameaçada ñ fiz facudade cresci na dificuldade peguei carrinho de
mão desde o 10 anos de idade ñ tive oportunidade vítima da sociedade
que fechou as portas e abriu as grades agora jogou a chave fora me deu
as costas e foi-se embora
o mundo dá voltas a vida é uma escola de provas e reprovas universidade
é cota deus escreve certo por linhas tortas
ensinar e dar nota a quem precisa ida sem volta porta de saída a ponte de
chegada é o ponto de partida no grid de largada ñ tem primeiro da fila
sou um delinquente plebeu fui indigente que viveu o decadente e o apogeu
infelizmente deu no que deu converso com o ego faço o elo do meu eu
o candidato prometeu e no governo ñ cumpriu eis o resultado desse meu
brasil.
12
quem vai me julgar
autor: mano ed+
paz contra todas as injustiças, quem vai me julgar?
pai criador, autor da vida vem me libertar
cada palavra que escrevo em meus versos
é uma parábola que vaga pelo o universo
informando a direção do lado certo
e transmitindo a paz, em forma de manifesto
falando de amor, ódio, paz e guerra
do bem e do mal, do céu e a terra
o que divide a burguesia da favela
32
um corpo esquartejado jogado na cisterna
de onde vim as coisas também são assim
e o que faz você tão diferente de mim?
é que eu não pedi ou escolhi ser assim
por isso me tornei um cara tão ruim
apenas um moleque de família plebe
com passagens no albergue cheguei aos 27
sempre fui taxado um vagabundo pivete
mas meu deus não me ensinou a ser tão rebelde
sei que meus erros resultam nos seus acertos
e meus defeitos te fazem tão perfeito
esse é o efeito, eu sei que mereço
do mesmo jeito obrigado agradeço
o crime se alastra como avalanche
e avassala tudo e todos feito o tsunami
o crime que derrama lágrimas de sangue
e dar a volta ao mundo tipo uma roda gigante
o crime organizado por máfias e gangues
contracenando estrelas e coadjuvantes
o crime que trás resultados agravantes
nas estatísticas um dado alarmante
o crime que acelera igual motor de arranque
que favorece a classe dominante
o crime que agora não é como antes
e hoje a lua não é mais dos amantes
quem vai me julgar?
33
13
um momento de reflexão
autor: mano ed+
um momento de reflexão
uma palavra de amparo, afeto, compaixão
sei quanto é difícil realizar uma façanha
mas sei que você é capaz de mover montanhas
num ato generoso, nobre, solidário
estou vulnerável voluntariado
dessa lição, sou um eterno aprendiz
agora sim já sei cortar o mal pela raiz
busque seus ideais, atinja sua meta
quando deus fecha uma porta abre uma enorme janela
que regras foram feitas para serem quebradas
e leis decretadas para serem violadas, alteradas
enquanto o mundo se arrumava eu já estava pronto
correndo atrás dos sonhos
agora sinto que só me resta esperar pra ouvir
pelo toque do gongo
disposição, atitude, aptidão na saúde
mas trago estigmas da vicissitude
vamos valorizar nossas opiniões
fazemos escolhas erradas por excesso de opções
eu sei existem possibilidades
nessas proporções a toda probabilidade
verifique-se, certifique-se, qualifique-se de quê?
de ilusão também se vive
não esqueça cada cabeça tem seu mundo
34
mas é só um mundo pra todas as cabeças
não fico oprimido quero correr o risco
me dedicar pra alcançar os meus objetivos
que isso pra mim é um sonho real
não preciso ver a escada, só o primeiro degrau
que pra deus é melhor ir num velório do que num banquete
é quando se sente que ninguém vai ficar pra semente
realmente escreve
a gente só aprende a dar valor as coisas depois que a perde
então você percebe que é dando que se recebe
nada acontece por acaso, tudo tem seu tempo exato
até mesmo quando uma folha seca cai do galho
pode ter a certeza que já estava premeditado
14
real pesadelo
autor: mano ed+
escute meu conselho sem me ver como espelho
antes de dormir me ajoelho e faço apelo
eu nunca vivi um sonho, só pesadelo
nesse minuto eu me encontro em estado de desespero
na descida da ladeira faltou o freio
entrei na contramão e uma carreta me acertou em cheio
numa fração de segundos meu mundo desabou
eu vendo tudo nublado, sentindo muita dor
meu corpo ficou dormente, quase inconsciente
ouvindo “tantas” vozes daquela multidão de gente
35
fui parar na uti, estava desacordado
fraturei uma costela e o fêmur quebrado
tive que amputar a perna quase desenganado
os médicos disseram que o caso é delicado
no quarto do hospital, parecia tão real
estava “correndo” risco de ter um derrame cerebral
não acredito de isso ter acontecido “comigo”
hoje eu estou vivo sobre efeito de sedativos
respirando com ajuda de aparelho
incapacitado de ir sozinho ao banheiro
nas necessidades básicas do dia-a-dia
todo paralisado, chapado de anestesia
onde foi que eu errei é tão grave o meu pecado?
se eu morrer hoje não sei se serei perdoado
o paraíso esta perto mais o inferno tá do lado
tome cuidado, fique esperto se escolher o caminho errado
nunca se sabe o que pode acontecer
fatalidade na verdade só deus pra te dizer
eu só queria sair, curtir e tira onda
rasguei folheto de igreja até perdi a conta
“agora” entre a vida e a morte estou aqui em coma
a minha sorte é que a maca era a cama
jamais pensei que fosse viver esse pesadelo
de manhã cedo acordei com muito medo
antes de sair, testei o freio do carro primeiro
mas mesmo assim eu preferi ir de camelo
um mal pressentimento eu sem entender porquê
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e leve impressão que algo iria acontecer
tomei a decisão definitiva de esquecer
me distrai um pouco conversando com o renê
o tempo foi passando enquanto contava o caso
quando olhei para o relógio estava super atrasado
então disse até logo e corri pra meu trabalho
bom funcionário, no itinerário cumpre “seu” horário
foi tudo “tão” de repente um aviso pra gente
por isso quando for atravessar a rua pare e pense
na primeira ladeira em que desci rapidamente
até parece brincadeira mais bati com a carreta de frente
15
fazer você feliz
autor: mano ed+
se não eu que vai fazer você feliz
então não chore mais por mim
nem fique tão triste assim
todo princípio tem um fim
as coisas não são como sempre quis
quando precisar eu estarei aqui
à disposição pra dividir minha atenção
ouvir você falar coisas que vem do coração
dar minha opinião, um conselho de irmão
compartilhar momentos bons
cantarmos juntos a canção
37
que possa tocar seu coração
transbordar de emoção é a maior satisfação
seu nome corre solto
na boca do povo
sua vida está em jogo
ninguém bota a mão no fogo
mais sujo que porco
no fundo do poço
jogado no esgoto
a imagem do desgosto
dentro dum calabouço
eles querem seu pescoço
com ódio até o osso
aqui se faz e paga
te prepara pra o troco
se acha o bicho solto
e diz que é o louco
abra o olho
separe o trigo do joio
tomara que a sua família lhe dê apoio
recomece sua vida de novo
e dê a volta por cima como um todo
lembre dos outros que deram inspiração e fôlego
num momento perigoso, nesse mundo pecaminoso,
é muito tenebroso a verdade é pra poucos
ouro de tolo, é tanto demagogo que se passa por pedagogo
mais não sobe o morro, uma fatia do bolo
enquanto cê assiste as novelas da rede globo
38
16
amizade
autor: mano ed+
sem dor, o valor de uma amizade
não se estima em quilates
nem ao menos se divide em várias partes, não há nada que pague
trocar uma ideia positiva, sem maldade no olhar
tá pro que der e vier, sempre que precisar
sabe chegar, cumprimentar é fundamental
um aperto de mão sem querer ser nem coisa e tal
alguém que possa confiar, contar pra qualquer hora
sem qui, qui, qui, cacacá, nem jogar conversa fora
aliado de verdade não deixa brecha
sem deslizes, comédia, despeita, inveja
o judas morreu, não teve o que deixar
deixou a falsidade pra o covarde se matar
enquanto você tem todo mundo trata bem
e do contrário o que fazem te deixam ao desdém
chega tão contente, vem logo abrindo os dentes
e se eu fosse inocente se sente até o presidente
te convida para festa, só pra o que não presta
é em uma dessas que você leva um tiro na testa
chama de parceiro, é seu companheiro
é melhor ficar ligeiro que ele quer é te levar pra o cheiro
sempre que eu passo me pede um cigarro
39
quando eu não tenho ele diz que sou safado
diz ser meu irmão de fé, acredite se quiser
basta piscar os olhos e ele quêxa sua mulher
judas morreu, não teve o que deixar
deixou a falsidade pro covarde se matar
traiçoeiros, canalhas, nomes que fazem jus a tua raça
traem a sua pátria por ouro, por prata
cospem na própria cruz, traidores de jesus
sua máscara cairá onde não haverá luz
mala suja já não tem o que perder atrasa lado
essa é pra você que tá colando em banca de safado
acostumado a “pagar pau” pra os caras de outra área
não leve a mal, mas não sou fã de canalha
fica vacilando com os manos da quebrada
na primeira oportunidade vão fazer sua carcaça
você não me engana, já sei da tua fama
pode ter a certeza que eu não dou mais confiança
pisou no ninho de cobra, cavou a própria cova
seu nome corre solto
na boca do povo
sua vida esta em jogo
ninguém bota a mão no fogo
mais sujo que porco
no fundo do posso
jogado no esgoto
a imagem do desgosto
40
dentro dum calabouço
eles querem seu pescoço
com ódio até o osso
aqui se faz e paga
te prepara pra o troco
se acha o bicho solto
e diz que é o louco
abra o olho
separe o trigo do joio
tomara que a sua família lhe dê apoio
recomece sua vida de novo
e dê a volta por cima como um todo
lembre dos outros que deram inspiração e fôlego
num momento perigoso, nesse mundo pecaminoso
é muito tenebroso a verdade é pra poucos
ouro de tolo, é tanto demagogo que se passa por pedagogo
mas não sobe o morro, uma fatia do bolo
enquanto cê assiste as novelas da rede globo
um pássaro um dia me contou
que não cantava por amor
pois sua historia é tão triste
não conhecia o canto lírico
sua jornada foi sozinho
não mais seguia o seu destino
suas penas era teu ninho
nem parecia um passarinho
41
disse-me naquela manhã
ele fazia alguns anos
que não revia o teu amor
tudo por causa de um engano
viu-lhe cantando com alguém
a canção chamava meu bem
desencantada ela chorou
sendo enganada ela vôo
vôo além das nuvens
à procura de outro amor
vôo sem endereço e
não tem cura a minha dor
vôo sem mais ninguém
mesmo assim não foi sozinha
levou meu coração
e deixou a minha vida e vôo
vôo sem explicação
vôo sem porém
voo sem a razão
e essa canção
se chama meu bem
e essa canção que eu fiz
se chama meu bem-te-vi.
42
17
da periferia
autor: mano ed+
à periferia, exijo mais respeito
luto por meus direitos, derrubando preconceitos
eu não sou perfeito, todos têm os seus defeitos
entre erros e acertos, vezes ganho vezes perco
não me envergonho de ser negro, do contrário sou mesmo
bato forte no peito por ser verdadeiro
guerreiro jamais fica com pé atrás
igual o tal do leva e traz que só fala por trás
ele é mais contagioso do que o vírus antraz
assassinos sociais, sagaz, perspicaz
ah tanto faz se ambos são iguais
assassinos sociais nas principais capitais
a notícia em cartaz, nas revistas, nos jornais
“somos” taxados marginais pelos policiais
pra minha própria segurança, me deixe em paz
eles querem meu sangue “alma”, mas não vão ter jamais
se é pra ser verdadeiro
sei que o preconceito
não é só do branco para o negro
existe muita falta de respeito
entre nós mesmos
brasileiros
43
somos todos herdeiros
desce sangue vermelho
anseio e creio
quero justiça
contra pedofilia às ninfas
exploração nas mãos
de contrabandistas
me diga qual é mais bonita
a galega ou índia?
a brasileira
ou a gringa?
me diga
pilotos homicidas
entre mototaxistas
pais de família
que arriscam suas vidas
pelo pão de cada dia
vítimas da covardia
no cotidiano suicida
de alagoinhas
é assim
e você sabe como é
sempre tem um, dois
pra testar a sua fé
qual que vai ficar de pé
seja o que deus quiser
44
não banco a de mané
tô pro que der e já é.
18
lobo da meia noite
autor: mano ed+
versos de um louco que confundiu o sábio
sou aquele que deu certo fazendo o errado
o lobo da meia noite que urra solitário
pra a lua e as nuvens escuras do céu nublado
na madrugada fria os meus olhos viram brasa
a brisa neblinada da minha boca sai fumaça
fico por de trás da moita ou em cima monte
esperando uma vítima, observo de longe
“uma vontade insaciável farejando sangue”
técnica antiga que absolvi de um monge
com as garras afiadas e os dentes cortantes
enquanto você repara as minhas orelhas grandes
sou carnívoro, selvagem e tenho muita fome
protagonista de histórias, cartilhas, contos
e há quem diga nas lendas que eu me transformo em monstro
meu canto é tenebroso e te amedronta
deve ter ouvido falar no amigo da onça
me introduziram nas revistas em quadrinhos
da chapeuzinho vermelho e os três porquinhos
não costumo subestimar os meus inimigos
mas só que dessa vez me expuseram ao ridículo
45
nada vem de graça, nem pão, nem a cachaça
quero ser o caçador, ando cansado de ser caça
19
o sangue ferve
autores: sinal e mano ed+
a lua não é mais dos amantes
como antes, quando sentava na praça
até de madrugada sem correr o risco
de sacarem armas ou a policia te encher de tapa
na frente da namorada ...
e você? não poder fazer absolutamente nada
a não ser baixar a cabeça e ir pra casa
“muquiado”, sistema imunológico baqueado
com o psicológico abalado
metabólico pesado
seu histórico pisoteado
é lógico, fato consumado
viveu no tempo dos antepassados
com o relógio sentido anti-horário
eu tô ligado, que ninguém aqui é otário
vingança é um prato que se come frio
mas se chegar atrasado pode encontrar vazio
o que ele fez contigo fez a vários manos
a muito tempo sua batata está cozinhando
46
o sangue ferve, o nervo a flor da pele
40º de febre, a pressão sobe
o santo desce, a mente aquece
a todo vapor, que é pra suprir meu calor
guardei junto com a dor, eu me chamo terror
a fúria me adotou, o ódio me batizou
jhow o crime foi quem me criou
os trapaceiros, os traiçoeiros, os carniceiros.
e do lugar que eu vim as coisas não eram diferentes
particular, saber chegar, ser sempre condizente
analisam o mundo vulgaridades imprudentes
que causam tumulto aos de índole decente
sobrevivente dessa humilde gente
se não confia em deus? pra que você quer ser crente
a imagem nos causa uma ilusão aparente
pra reformar, pra degradar o surto evidente
pra sossegar e te falar aquilo que se sente
sou só mais um dos que veem o mundo de forma rente
ao subúrbio, a capela, a mistura, a nigéria
sem mente, sem tela, com luta, sem vela
abusa e usa, não seja comédia
maluco desfrutar de sua conduta pobre e singela
mamão com açúcar, a mesma moeda, fases de miséria
honesto, protesto, pefem, manifesto, ausência
rumo ao regresso certo, errado
parece até que lidamos com tiranossauros
irracionais em vários estados, saber chegar até sentir o tato
47
o protesto me faz calmo e às vezes sou ameaçado
mordido, perdido , instigo, pareço unido com o culto
converso com o risco preciso dar um sumiço aos fajutos
vestidos, comícios, indícios, sintomas, diplomas de adultos
e vícios que distanciam a inveja em um segundo
esse é o nosso mundo, o mundo dos vagabundos
e eu respiro fundo
as armas e os escudos
a guerra do presente, passado, o futuro obscuro
porque o sangue ferve eu tô de luto
busco, mudo...
revolucionários revoltados com o sistema
só os couros de ratos no ar roubando a cena
jogando à vera pra ganhar e saber perder
programado pra matar, preparado pra morrer
revolucionários revoltados com o sistema
sou mais um favelado digno de pena
que leva a vida guerrilhando pra sobreviver
programado pra matar, preparado pra morrer
vim falar da situação precária na favela
qualidade de vida da população periférica
agressão contra mulheres, violência doméstica
se multiplicando feito mutação genética
miséria que gera e genera a guerra mundial
o homem bomba no aeroporto internacional
estão fazendo do nosso país a faixa de gaza
é necessário construir mais fábricas de armas
48
fornecendo quadrilhas e as facções organizadas
com a superlotação nas penitenciárias
os mais fortes ficam assistindo de graça
de camarote, rindo da nossa desgraça
aumenta o salário de deputados estaduais
e também os conflitos entre as gangs rivais
bastante parecido com rinha de animais
que corre risco de extinção nas caças ilegais
fazem queimadas, desmatamento florestal
a terra ameaçada pelo aquecimento global
poluição nas megalópoles e nas metrópoles
o lixão do rio tietê se espalha quando chove
a mídia manipula a notícia pra ganhar ibope
sobre trabalho infantil, exploração de menores
a gente sofre, se sacode tipo um cão sem dono
a droga serve como sedativo em caso de abandono
falo do álcool que já destruiu inúmeras famílias
acompanhado pelo crack e a cocaína
devia proibir a milionária souza cruz
poderia reduzir até a fila do sus
espero ansiosamente a volta de jesus
é nossa luz que nos conduz, vem me fazer jus
o pobre se vira como pode nessa vida ingrata
e ainda querem que sejamos democratas
nos denominamos democratas
um pingo de consideração a pátria amada
o principal ladrão está por trás da gravata
o desprezo, o desespero, o desrespeito, o desemprego
49
e sempre quem fala mais alto e por ultimo é o dinheiro
a corda só arrebenta do lado mais fraco primeiro
nem todo mundo aguenta não ter pai nem ser herdeiro
e a turma de manda chuva do colarinho branco
não tem culpa do subdesenvolvimento sul-americano
como pode haver tanta maldade no coração do ser humano?
na falsidade covarde, os irmãos tão se matando
tanta desigualdade social, preconceito racial
desde a falsa abolição desse brasil colonial
proclamação foi farsa desde pedro álvares cabral
mais um descendente natural de portugal
na década da queda do muro de berlim
2010 começa com a tragédia no haiti
vou de mal a ruim com o que esta por vim
às vezes penso que isso nunca vai ter fim
20
a gente resiste
autores: sinal e mc ed+
dificuldades são comuns na vida de qualquer um
nunca se sabe e na verdade eu sou só mais um
que por deslizes passou momentos infelizes
na crise me mantive forte, permaneci firme
poucos tiveram a sorte de superação que tive
deixar a prostituição, me afastar do crime
existem diversas versões, situações incríveis
50
devido às descriminações, decepções horríveis
atravessando gerações, contradições terríveis
e a maioria dos irmãos se dizem destemíveis
jogam suas vidas fora “em vão”, histórias sem limites
as mães que choram suas lágrimas são tão tristes
que tanto reza e ora só pra ver o filho livre
do caminho das drogas que até agora aflige
o destino se cumpriu
no espinho da flor
quando a pétala caiu
sucumbiu o amor
o destino se cumpriu
quem sentiu a dor
quando a lágrima caiu
sucumbiu o amor
pelo o amor de deus dai-me um pouco de paz
foram tempos difíceis
uma cena triste
sofri crises demais
mas agente resiste
nunca que desiste
eu vou correr atrás.
só quem sentiu a dor
sabe quanto lhe faltou
51
tudo aquilo que passou
o que deixou pra quem ficou
o que sobrou nada restou
quanto pagou qual o valor
que te custou se desgastou
de vendedor a devedor
embebedou se embriagou
“embaralhou e embrulhou”
que estuprou se estrepou
extrapolou e atropelou
se atribulou e tripulou
não trabalhou atrapalhou
trapaceou, ultrapassou
e tropeçou no tráfego
se atracou no tráfico
com uma garrafa de cachaça
escornado, estirado, “travado”, jogado na calçada
um viciado em química, largado na esquina
“noite passada” o excomungado estuprou a própria filha.
eu aproveito bem porque são raros os momentos
que posso caminhar, observar, ser, estar atento
irmãos que morrem se envolvem, comovem e vão pra dentro
de túmulos, tumbas, meu ar alguns minutos prendo
nesse intervalo deparo em meio a perdas pretendo
tento me equilibrar e viver nesse segmento
sinto que deus me olha e exige que o talento
52
seja expulso pois calado não se consegue prêmio
situações que surgem dificultando o aumento
e se ilude com o salário ok pro sustento
fim de semana frequento lugares longe do centro
desafiando a morte que vai sussurrando lento
peguei conselhos, desejos, misturei eles primeiro
esqueci estes pretextos, alguns deles trazem medo
deixar caído o queixo, exterminar os defeitos
pro inimigo é um fardo a paz em estado perfeito
procuro saber, não consigo entender
por que viro heroi só depois morrer
procuro no rap a razão pra viver
difícil é ganhar e é tão fácil perder
21
barriga
autor: mc osmar
hoje eu tava me lembrando de quando eu era criança, lembrava da minha
infância aqui na minha quebrada.
lembranças de um camarada que agia por instinto e tinha sangue nos
olhos com o quais via seu destino.
na escola era mau aluno, na rua era mau menino.
aonde agente chegava alguém logo se saia porque ele xingava, espancava,
ele roubava e batia.
quatorze anos de idade era barriga “o ladrão”.
53
lembrava a primeira vez que entrou num camburão e ele contava sorrindo
o que apanhou na prisão.
sempre entrava e saia por ser ainda menor e a cada vez que voltava seu
ódio era maior.
não respeitava ninguém, ele comia nada, e gente estranha de fora não
passava na baixada.
sua fama corria longe mais sujo que a água do esgoto, no sofrimento da
mãe, que chorava de desgosto, por ver o filho perdido tão jovem já sem
futuro, que só vivia na rua aprontando mil absurdos.
era meu melhor amigo, meu protetor e companheiro e eu ainda menino
seu ouvidor e conselheiro.
ele sempre falava pra mim da sua consideração e que gostava mais de
mim do que dos seus próprios irmãos.
agente vivia junto e sempre colava nas festas e sempre alguém dizia
“esses pivete num presta!”
eu era discriminado apenas por ser seu amigo e alguma braba, sujeira
sempre rolava comigo.
porque para todo mundo ele era um delinqüente mais eu percebi que
comigo ele era diferente. talvez até uma boa pessoa só que um sonhador
decadente.
que quanto a realidade não suportava o presente e ver seus pais trabalhando
e nada indo pra frente.
e mesmo com tanto esforço em casa, a coisa era pouca e quando a gente
saia eu que lhe emprestava minhas roupas.
quase sempre sem dinheiro, sempre sem perspectiva.
foi esse tipo de coisa que fodeu a sua vida.
vários anos se passaram e ficou a recordação daquele tempo de festa, loló
, cachaça e sambão.
ele não esta mais com a gente, mas eu espero que esteja tranquilo e
54
agradeço a deus em nome dos que estão vivos.
que deus lhes dê nova chance de recomeçar sua vida, que nós oramos por
ele dessa baixada sofrida, que cicatriza as feridas em cada sincero aperto
de mão.
relatos da trajetória de barriga “o ladrão”.
22
coração suburbano
autor: mc osmar
fruto da quebrada, coração suburbano, na rua uma mente bolada, em casa
uma coroa orando.
um fruto dessas áreas de alma lavada no gueto, aos canalhas uma salva
de bala.
justiça e paz aos guerreiros.
em cada quebrada da minha cidade, em cada pedra de crack, em homicídio
esquecido eu vejo um rosto sem identidade.
atrocidades, o gambé, em seu ato covarde, segue viajem o serial killer
do gueto.
adolf hitler ressuscita em solo brasileiro espalhando medo e sentando o
dedo sem dó, promoveu mais um enterro e só. não deu em nada porque
aqui a justiça é cega, surda e muda como uma prostituta elitizada.
eu não sei de nada.
nem quem rouba, quem usa, quem passa, quem trapaceia, quem segue o
discípulo aquele que beijou o rosto de jesus cristo na noite da santa ceia.
mas é pelo sangue que trago nas veias, pelo “corre” de uma vida inteira
e mais pelo sofrimento dos meus pais ao longo da vida, em nome da paz
55
que não se pede, mas que se pratica. com justiça.
ou mesmo por amor as causas perdidas.
pelo brilho de inocência nos olhos da tia na fila de espera do bolsa família,
na dignidade de um pai de família que foi perdida. um homem sem nome,
sem referências, sem onde buscar a sobrevivência e já não esconde a
tristeza que dá pra vê no olhar lacrimejado, o tempo é implacável faz o
homem chorar.
ilhado em seus pensamentos adulterados e o seu sistema nervoso abalado,
é quando ele passa a oferecer perigo e eu do meu lado já trago os estragos
da noite comigo. o gosto amargo do escarro após o beijo amigo.
o coração dilacerado de um homem traído nas conseqüências desastrosa
do capitalismo. mas tudo isso fortaleceu o amor em cristo, todo poder que
me faltava estava em mim e eu só não tinha visto.
e hoje em versos de improviso, com ritmo e poesia e o poder do espírito
fluindo em cima das batidas.
encontrei algo que me identifica, uma cultura que estrutura a minha
autoestima.
porque enquanto as minhas rimas eram alvo de piada na roda dos falsos
amigos, motivo de gargalhadas, botei minha cara a tapas e todas as cartas
no jogo.
levei topada após topada e passo a passo, pouco á pouco, foi pra confundir
o sábio que deus usou do louco.
porque eu sou fruto da quebrada, coração suburbano, na rua uma mente
bolada, em casa uma coroa orando
fruto dessas áreas de alma lavada do gueto, aos canalhas uma salva de
balas.
justiça e paz aos guerreiros.
56
23
descendente do cangaço
autor: mc osmar
descendente atual do cangaço, à frente da revolução no sertão, tô na
marcha dos injustiçados.
guerrilheiro dos versos sou ágil, nordestino que nem virgulino, também
tenho o sexto sentido aguçado.
eu ando aperreado é com cabra safado e com os descasos do governo.
com extinto vingativo contido em cada cangaceiro contra o coronel
fazendeiro, o perseguidor dos coiteiro era o algoz tão frio quanto vil e
atroz, dava a voz para os seus pistoleiros.
o que apavora o pobre sertanejo castiga o sertão brasileiro, o qual mais
árido e seco era impossível e o êxodo rural é um mal que nos parece
imprescindível.
por esse solo improdutivo, por esse povo subnutrido que sem um conto
réis investidos nessa terra.
pra arar a areia calva das pedras e encarar de uma vez as mazelas que
assola o nortista e tenta sanar as sequelas da vida sofrida na catinga.
onde o que se planta já não vinga.
o que dificulta a vida é a lavoura perdida na falta de chuva e a mutilação
na plantação de cana-de-açúcar, na luta o agregado.
do humilde lavrador que honrou o pai que já assassinado após viver
aprisionado ao roçado, na escravidão do alugado, com o gado morrendo
de sede no pasto, o estado impõe cada vez mais impostos.
impiedosos se apossaram de tudo que é nosso.
nossos esforços, sangue, suor e lágrimas e quantos de nós foram mortos
e tiveram suas cabeças decepadas, arrancadas dos corpos?
57
em foco o terror genuíno, um bando de macacos na espreita de virgulino.
soldados comandados pelo coronel josé rufino.
assassino, caçador de cangaceiro, temido e destemido no nordeste
brasileiro. é o braço forte do governo que oprime o pobre sertanejo o
qual julgado sem direito a ser ouvido, escravizados por baixos salários e
pelo analfabetismo.
- mas lá na grota dos angicos, as margens do riacho do ouro fino onde
atacaram virgulino de surpresa. assassinaram o homem e eternizaram a
lenda que se perpetua como um revolucionário inquestionável da nossa
cultura de resistência.
do povo nordestino sofredor, ele é nossa maior referência, imagem e
semelhança.
reação violenta promovida pela perda da esperança.
e pelo modo de escasso que a justiça foi feita no aço.
aos herdeiros da revolução, nós somos a nova geração do cangaço.
-seu rifle atirava cantando num compasso assustador, um grito se
espalhava e gargalhava do próprio horror.
libertador, o governador do sertão autointitulado, de parabelo na mão em
defesa do flagelado.
matou centenas de soldados, tenentes, sargentos e delegados.
em quatro estados estabeleceu um império, o seu reinado.
procurado vivo ou morto, incessantemente caçado e nunca cansado do
jogo.
na mente a dor do passado é o que mantém o bom ladrão disposto.
malicioso, organizava a guerrilha, juntava os cabras e desbravava a
caatinga.
Aterrorizava as organizações agrárias que explorava e enriquecia em
quanto escravizava, e exterminava todo aquele que questionava.
Assim não pode falar nada!
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- mas enquanto a faca não sair toda vermelha, manchada de sangue em
nome de gente indefesa.
meu povo peleja, padece, esmorece, anseia na mesma sede de justiça que
não se sacia.
em quanto as garras da cobiça dilaceram gerações inteiras.
pelo modo de vida escasso que a justiça foi feita no aço.
aos herdeiros da revolução, nós somos a nova geração do cangaço.
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inclassificáveis
autor: mc osmar
aqui todos somos afrodescendentes de quilombos.
sararás, crioulos, sábios e tolos, urbanos, caboclos, cafuzos, seres
humanos confusos.
mestiços, nós somos todos índios.
latino americano, pardo, mameluco, albino.
sou pataxó, tupinambá, xocororó, sou carajá, cararu, caeté, sou carijó.
debaixo do mesmo sol, num país tropical entre a caatinga e o litoral.
nós somos todos negros.
nós somos virgulinos, cangaceiros, todos nós brasileiros somos
guerreiros que tantas vezes covardes.
nós somos inclassificáveis.
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25
manifestividade
autor: mc osmar
pelo amor de cartola e suas cordas.
são de aço os versos e prosas mas as rosas não falam, acorda.
abra seus olhos agora que você vai vê mais sufoco que glória.
como a faca da fome que corta.
como a corda da noite que enforca, mais cada qual traz seu mundo nas
costas.
e aquele que sofre mais forte se torna.
- você concorda comigo ou discorda?
- aprova a idéia ou reprova?
- acata e adere ou esnoba?
- desacredita ou aposta todas as fichas?
na era robótica ninguém tá aqui pra comer pilha.
e como nenhum de nós é uma ilha.
de pastinha a bambaataa , do meu bom mestre bimba a zapata.
roda de capoeira nas praças, a conscientização das massas, a queima das
fardas, a queda do muro das farsas.
observem essas marcas.
elas vêm de um tempo que o tempo não apaga.
arranque essa máscara e encara tua cara de cara, prossegue na ativa ou a
ferida não sara e a pergunta não cala.
mais vale seu corpo ou sua alma nessa fauna?
nessa selva de homens primatas, com suas armas de fogo nas patas,
matando uns aos outros por ouro, por prata ou mesmo por nada?
na partilha de suas migalhas na falta das refeições diárias.
execuções sumárias.
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mas a justiça divina não para.
e o que deus uniu irmão o homem não separa.
então se prepara que eu não boto a minha cara a tapa nem cabeça a
prêmio.
conheço a causa e o efeito da parada e na virada do milênio.
só to roubando seu oxigênio.
falando pra essa gente bamba afrobrasileira.
manifestividade é samba, hip hop e capoeira.
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minha flor
autor: mc osmar
se a vida é bem mais louca que aquilo que a gente pensa seus planos
alterados
frustrações e desavenças deus quer que você vença, que lute
e se supere, que não se entregue à dor, levante e não se desespere
pois quem com o ferro fere, corta a carne sangra a alma.
deseja a própria morte não tem paz, não isso calma
as águas correm calmas pra chegar ao paraíso
mas tensas e apressadas pra te lançar ao abismo à luz do sol
ao tempo seu corpo a luz da lua
a cruz que no calvário pingou sangue trouxe chuva
a culpa não foi e deus sabe bem disso na ponta da espada
e você contra o precipício, me mostre o sacrifício a ser usado nessa hora
o amor e a coragem, o sucesso e a vitória
feliz ao dizer glória como tudo que ficou
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passou, virou história, comemore o que ganhou
não chore mais minha flor, eu quero ver seu sorriso aliviar sua dor
te levar pro paraíso
as promessas são banais e saem da boca pra fora
mas vem do coração declarações e verso e prosa
se eu pudesse agora levar você
te resgatar do medo e o sofrimento da um fim
a o ver você sorrir, eu ergo meu troféu ao ver você
feliz, livre do amargo do féu
pois me sinto no céu, nas nuvens com você
me sinto no passado como um filme em dvd
cd ou md, ouvir palavras doces
fluindo dos seus lábios como a lua flui na noite
as flores desabrocham no jardim da nossa casa
arquitetando o belo enquanto o perfume que exalam
a pele tatuada é a imagem que engana
na dor que é causada pelo amante do drama
dama da minha cama, vem busca o que é seu
que sua felicidade te espera ao lado meu.
pra quem se corrompeu, pra quem pregou
o ódio, pra quem derrama sangue pra poder subi no pódio
pra quem não vê o obvio, pra quem promove a guerra
pros vermes emprestáveis, que só fazem o mal na terra
então vê se me erra sua seta de traíra que eu não
vou dá espaço pra você na minha vida
pois se qualquer ferida aberta um dia cura
se fecha e cicatriza, pois o amor ninguém segura
se a vida é bem, mas dura pra algum e outros não.
vamos olhar pra frente, caminhar e da às mãos.
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notícias no ar
autor: mc osmar
da galeria c, dp jardim petrolar, verdades, inverdades, pilantragens no
ar.
vim pra representar uma pá de encarcerado sem grana pra fiança ou a
confiança de um advogado.
alguém acende um cigarro e liga o rádio pra ouvir e nas celas do outro
lado observar o diabo sorrir .
a maioria ali já desprovida de fé e regendo as leis do homem que impõe
o gambé.
uma pá de mulher de mano e mães de família, nem todos tem alguém
pra vê em dia de visita.
em baixo do sol a fila, a fúria, a indignação, mas um fato é notícia de
policia e ladrão;
aqui o jornalismo é um mecanismo de contradição, divulga a violência
como nível de informação e tem na exploração a certeza de ibope, com
as lentes focalizando a dor do povo pobre e milhares se comovem com
a força da notícia, mas poucos compreendem a verdadeira intenção da
mídia, que ilude e ludibria com a cultura de consumo e aponta a como
causa morte a cocaína, o crack e o fumo.
sentado ao fundo de uma cela fechada, com os olhos profundos e a
comida estragada.
seria uma piada se não fosse trágico. quanto eles dizem que um detento
custa pro estado?
é embaçado.
e o status quem tem é justamente a sociedade que não recupera
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ninguém.
e eu vou além pois eu sei que aqui nada anda bem e o sangue que
derrama nos lembra jerusalém.
na bala que mata sem olhar a quem, aquele que vem pedir que lhe
socorra como as vítimas fatais dos ancestrais de sodoma e gomorra.
mulheres virando cachorras, tem homem virando putão, as meninas
viram piriguetes e assim abrange o leque da prostituição.
a instituição falida faz jus ao cenário e reflete a decadência do sistema
penitenciário e no noticiário o destaque do dia, é o numero de corpos no
iml da delegacia.
no dia-a-dia, notícias no ar, do complexo regional jardim petrolar.
ouçam as notícias no ar.
2ª intervenção:
divulgando mais um da lista de corpos no chão, no livro de registro de
óbito do dantas bião. se tem noção pelo estrago aparente, cada perfuração
prova que era mais um delinquente.
os inocentes não são como eram antes, agora são bandidos, agressivos,
meliantes, drogados, traficantes, prováveis homicidas, bandidos,
assaltantes, militantes terroristas.
se o ninja tá na ativa, ora mãe que deus ajuda e protege a 16, da irmã
dulce até a chatuba.
aqueles que passam a chuva à noite, embaixo das marquises, meu povo
que vive na luta e o país atravessando crises.
novas diretrizes, planos de governo, mas todos se omitem quando o
assunto é o desemprego. uma pá de mano preso é o objetivo do sistema.
preto e branco pobre é um revolver nas mãos do sistema.
de volta à cena pra reconstituição, a lei gera problema e dificulta a
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regeneração.
a constituição prever nos seus artigos direito a ter direitos, mas só vejo
aqui crime e castigo.
meu povo aflito, ferido e enganado à beira do abismo entre deus e o
diabo, no meio do fogo cruzado, num jogo de cartas marcadas, mais de
cento e cinquenta mil famílias estão desabrigadas.
revendo as marcas, as balas e os cortes, sobrevivendo ao tiro na
reintegração de posse.
o desfalque e o malote, a glock e rifle fall, o avião de luxo e a suíte
presidencial.
o criminal, central parlamentar, e o congressista brasileiro é programado
pra matar.
ouçam notícias no ar...
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o coração suburbano não para
autor: mc osmar
cai mais uma noite sobre o céu da babilônia.
acendem se as luzes, surgem as suas lendas urbanas.
é cada forma de vida estranha em suas façanhas.
salve se quem tiver fé que essa realidade é insana.
almas em chamas voltando a guerra do fogo.
triste cidade cujo deus pesa a mão sobre o povo.
de tanto desgosto que despertou sua ira do sábio ao louco, da boca do
santo à profecia que já se cumpria em corpos mutilados e assassinos com
suas armas frias.
a geração que sangrava e sorria entregue a orgias e pensamentos
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libidinosos maldosos que um dia deram início a essa sangria em nossas
ruas.
há algo que ofusca nossa vista quando brilha a lua.
enquanto a grande prostituta impera, cria contendas e disputas entre os
homens da terra.
nesse nosso tempo, o tormento é a pedra e os espíritos de trevas.
produzindo drogas sintéticas distribuindo e destruindo a juventude
periférica em escala numérica.
américa latina.
sobre o hemisfério, os mistérios dessas nuvens cinzas.
como são cinzas as marcas de uma guerra fria.
como são frias as mãos ágeis de um homicida.
como sofria a mãe que chorava e pedia e ninguém ouvia e mesmo se
alguém ouvisse não ajudaria.
não é por judiaria é a lei que rege os nossos dias e os nossos dias tem
noites cada vez mais frias.
a cada noite tem mais covardias.
e como já dizia a profecia: deixa os herdeiros de babilônia seguirem sua
sina.
porque essa é minha cara e até que a babilônia caia o coração suburbano
não para.
pelo amor à quebrada, pelo orgulho de ser baixada que o coração
suburbano não para.
eu peço paz para as quebradas.
todas as honras ao gueto e ao orgulho de ser baixada.
mais um de pele tatuada.
e mente revolucionária identificada nas trilhas sonoras.
nos meus olhos vermelhos o mesmo desejo de melhoras.
eu quero as provas, justiça as famílias das vítimas da fonte nova.
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eu vou a forra que é pra tranquilizar quem se apavora.
ta o maior barril de pólvora pronto pra explodir.
mas tem que acreditar na nova aurora que ainda vai surgir e nos dias
melhores que ão de vir pra nós, que não estamos sós.
resistindo ao calor de tantos sois.
aos cortes do chicote do algoz.
ao acordar sem vinho, sem pão e sem voz, sob os cuidados de alguém
atroz.
corre em minhas veias o sangue velho dos avós.
- e vós sabe o que faz?
se quanto mais eu luto se faz luto pela paz.
disse ed+.
raul disse: destino é a gente que faz e se quem faz o destino é a gente isso
na mente de quem for capaz.
então escolha o seu caminho ó rapaz.
por que essa é minha cara e até que a babilônia caia o coração suburbano
não para.
pelo amor à quebrada e pelo orgulho de ser baixada que o coração
suburbano não para.
em quanto a molecada de quebrada queima um piti, o filho do deputado
aposentado sonha com os prédios de wall street, com um arranha céu em
Manhattan e mansões em maimi beach.
deixou pra nós todas as pragas do apocalipse e suas sequelas, com a
policia exterminando a juventude da favela e esse jogo é a vera .
por que essa é minha cara e até que a babilônia caia o coração suburbano
não para.
pelo amor à quebrada, pelo orgulho de ser baixada que o coração
suburbano não para.
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o herói tem medo
autor: mc osmar
todo heroi tem um medo, todo guerreiro tem receio, todo bom trovador
guarda um verso em segredo.
todo covarde já teve oportunidade de expor seus anseios, todo
homem sábio sabe ouvir conselhos e acredita que ainda existe o amor
verdadeiro.
após os bombardeios, depois do foguete e o morteiro.
se a paz ainda habita os mosteiros, se a vítima ainda tem vida mesmo
amarrada no cativeiro, naquele que ainda respira mesmo através de
aparelhos.
no povo pobre que sofre alheio a própria sorte, em meio a dois mil
homens nus no carandiru gritando “viva o choque”.
em todo caso sobrevivem os fortes, os que não se rendem por malotes,
pois sua alma não tem preço nem mesmo na mira da glock engatilhada.
é tipo “operação navalha” cortando carne de canalha.
meu verso inflama.
de uma vertente poética pernambucana me fiz homem, eu que cheguei
menino aqui nessas terras baianas.
as tuas danças iludem e o povo se engana.
A mesma amante, mãe, amiga que tantas vezes tirana.
- ó baiana! expõe teu sorriso que eu quero guardar na lembrança e
apagar a imagem das crianças nos faróis que, entre tantas outras, traz à
tona o medo do herói, o que não é mais segredo.
pois todo mundo sabe que a verdade é que heroi tem medo.
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o lamento do rato
autor: mc osmar
eu vim de baixo como um rato se esquivando das garras do gato, me
camuflando dos homens que me olham do alto.
alguns me temem, outros repugnam e ambos me querem esmagado.
por isso sou rápido, tático, que cadeia alimentar tô no cardápio do meu
predador. em sua caçada incessante ao roedor.
eu que já driblei cobras venenosas. Pequeno, mas habilidoso, cheio de
manhas e dobras.
- quando a mulher se apavora e sobe na cadeira, alarma o homem sádico
que já arma uma ratoeira, comentando do cara que vende chumbinho na
feira.
entre mil gatos, os boatos é que não chego á segunda-feira.
vou roendo trapos, me malocando entre farrapos, buracos, lixeiras.
dos telhados ao subsolo.
posso roer arquivos, livros, compromissos, protocolos.
em gêneros alimentícios, se estão expostos quando chove, minha urina
espalha leptospirose, que quando contamina, a maioria dos casos,
terminam em morte.
mais eu tenho sorte, convivo em meu ninho, num lixo aonde crio os meus
filhotes, o que não são raros.
transitamos entre protozoários, parasitas, baratas, ácaros. em restos de
comida revirados, resíduos de todos os tipos compõe o cenário onde me
escondo.
malandro mesmo é o camundongo.
tá nas mansões, nos porões, nos escombros, na surdina.
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minha maior ameaça é felina, em seguida as aves de rapina, o raticida e
as armadilhas com queijo no chão da cozinha.
minimalista, roí as cordas de um equilibrista, entrei nas calças de um
bebo até que um dia segui o flautista.
e numa madrugada fria, morri de frio.
o inferno intenso na escassez de alimento, meu prato vazio.
só mais um rato contaminado e vadio vagava pela casa escura.
onde circulava o calunga, nem as baratas sentiram falta depois da
chuva.
e a mulher histérica já não surta por minha culpa.
a todos os meus filhos no ninho do lixo eu peço desculpas.
deixo a homem sádico uma suplica.
aos gatos que me caçaram minha repulsa.
sei que não tenho direito a sepultura, flores ou velas,nem nome pra uma
sentinela. ninguém de luto.
fui tão sorrateiro, tão pequeno pra esse imenso mundo.
passei despercebido. mas mesmo como rato o fato é que um dia estive
vivo.
posso não contar em livros, nem nos anais da história. em nenhum dos
arquivos ruídos, nenhuma memória ou textos literários.
nunca fui aceito pelo homem, se quer tolerado.
usou mil gatos, chumbinho, ratoeira, todo o aparato.
mas como eu disse: malandro mesmo é o rato.
só não driblei a fome, o frio e o cansaço.
assim a noite me levou nos braços e silenciou meu grunhido.
a morte cumpriu seu trabalho e já tem outro rato pra roer seus livros.
é o fim dos meus tormentos, meus conflitos, meu ruído chato.
meus pequenos sentimentos reprimidos, meu saco.
de tanto descontentamento que esse é lamento do rato.
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o pesadelo
autor: mc osmar
agora é nós.
eu represento o pesadelo dos boy.
desagrado aos leitores da playboy. sou tarja preta imprimindo a revolta
de um pantera negra.
o manifesto zapatista, a essência de um repentista e a origem
cangaçeira.
eu trago o calor humano das feiras na minha alma nordestina.
a vitória do meu povo aos olhos da madame racista.
filha de uma sociedade nazista deturpada, herdeira de uma cultura
fascista maquiada.
patrícios patrocinando desgraças, visando lucros, vidas vão sendo
ceifadas pelo seu dinheiro sujo.
no seu subconsciente noturno, eu sou perturbador.
no seu dia a dia obscuro, o olho do observador.
pro conspirador, eu sou a dor de cabeça constante.
mais do que cantor, sou um revolucionário atuante, amante das causas
perdidas.
um mc que tem a veia punk e amor a mãe periferia.
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o rap
autor: mc osmar
eu sou o som que vem das ruas, a realidade dura e crua do gueto com arte
e entretenimento.
a voz de uma cultura em movimento e o negro lamento.
sou abdias nascimento.
eu invadi os centros, mas nasci na periferia.
eu vim do sofrimento com ritmo e poesia.
eu vim na luz de um novo rebento de um ventre livre, meus ancestrais
foram presos e minha geração em crises desencaminha.
assim como caminha a humanidade de esquina em esquina.
sou injeção de adrenalina, uma dose elevada de autoestima, o
verdadeiro dom da rima.
o embate, o combate, o nocaute, liberação de endorfina.
sou táticas de guerrilha e as armas pra revolução, as palavras de ordem
que lideram a manifestação.
tô no discurso e na ação, na luta por reparação.
eu sou chamado de som de ladrão e tenho cara de mal.
meu texto prega conscientização de forma criminal.
a libertação mental dos meus irmãos e o apoio incondicional pra
redenção dos humildes.
sou inimigo da televisão e sua programação medíocre.
eu sou a força do irmão que salvou do crime, a salvação do pivete que
livrou do piti.
eu sou sampler, o scretch e o beat.
já estou em trilhas sonoras de filmes.
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em jingles comerciais, em novelas, em campanhas eleitorais, em
desfiles nas passarelas do são paulo fashion week.
mas eu sou favela em cada célula do corpo.
na dor do meu parceiro morto.
tô estampado no seu rosto, eu to exposto nas suas sequelas.
eu sou despertar da consciência periférica, a ciência estratégica.
sou planos e esquemas de guerra.
tô no combate sem dá trégua até que o inimigo beije a lona, assim como
a platéia ansiosa espera.
eu sou o som de uma nova era, uma nova ordem, um novo grito.
um novo conceito, outros meios menos primitivos de nos mantermos
vivos e atuantes.
longe dos presídios, sem treta, polícia e traficante, em seus modos
operantes.
sem vestígios ou indícios de algoz entorpecido.
sou aquilo que lhe mantém ativo.
como um vulcão em erupção, meu efeito é nocivo.
reativo como um soldado que ,tão cansado de ser oprimido, atira no seu
capitão e rasga as suas fardas.
adere a rebelião e segue e passeata.
faz protesto e manifestação junto aos irmãos na caminhada.
e quem tem o cheiro da quebrada impregnado em sua pele.
eu sou parte de você e ainda que você me negue.
eu sou o rap.
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pai
autor: mc osmar
pai, olha teu filho. esse que, já deu tanto vacilo contigo, te pede abrigo.
um consolo, um amparo, um auxilio.
receber o amor de pai pra filho, o que não foi possível nessa difícil
infância. difícil e quase perdida.
eu era criança e não entendia
só assistia meu pai gastar o pouco que ganhava e minha mãe chorava
depressiva.
anoitecia, amanhecia, aquilo me entristecia e eu me revoltava.
saía de manhã e só voltava de noite pra casa.
ninguém ligava, com tanto problema pra se pensar ninguém se
preocupava.
e eu me tornava uma criança desenfreada, sem ter educação em casa, a
escola falha sem orientação adequada.
sobra o instinto de sobrevivência, as frustrações da adolescência, espaços
pra más influências.
difícil é corrigir as conseqüências depois do estrago e se arrepender
depois de ter erguido o braço.
ter ofendido, agredido, amaldiçoado com tanta veemência.
com tanto ódio, magoa, inconsequência, tanta arrogância, santa ignorância.
nossa quanta violência!
pai,
desculpa não respeitar sua luta, perdoe as palavras sujas e meus passos
errados.
queria tanto poder compensá-lo por esse fardo que o senhor carrega nessa
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batalha diária, sem trégua, nesse trabalho intenso sem férias.
nesse mundo de feras onde o senhor sobrevive.
hoje eu entendo os seus deslizes e as minhas implicâncias geravam
conflitos e deixavam todos aflitos, apáticos.
um jovem problemático. esse era eu no momento traumático.
sempre escapando por pouco de um final trágico.
pai,
desculpa não respeitar sua luta e perdoe as palavras sujas, meus passos
errados.
pai,
olha teu filho. que esse, que já deu tanto vacilo contigo, te pede abrigo,
um consolo, um amparo, um auxilio.
34
sem massagem
autor: mc osmar
sem massagem aqui é a tocha acesa do morrão que fumega nas bases.
liberdade e um salve aos irmãos atrás das grades.
vi vários na necessidade cair na tentação pela fome, por nome ou por
crack, virar ladrão.
ser a decepção pra mais uma senhora de origem humilde e tradição
religiosa.
cheia de esperanças, ela ora pra deus e chora pelos seus filhos aflitos no
mundão lá fora.
quem sabe agora não tá causando náusea num perito e estendido em área
de desova.
mais um subempregado do crime, da droga.
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o que menos conhece das regras é o que mais joga.
o detentor do recurso explora a mão-de-obra, o modo de vida e a perspectiva
remota de uma geração inteira esquecida, entorpecida e morta.
a quem importa? a quem interessa?
quem exporta as armas que fabricam guerras?
quem ri do incêndio na favela e humilha a empregada doméstica? que
nem se aproxima da zona periférica?
atrás dos muros seguros por cercas elétricas, micro câmeras digitais,
portões automáticos, abismos sociais, resultados trágicos.
tendências marginais, nossos desejos diluindo e os nossos sonhos ficando
pra trás.
mas quem não queria viver numa casa com piscina, carros na garagem,
acesso à alta tecnologia, planos de saúde e sobrenome que influencia.
pra quê?
pra quem só quer comida suprindo a panela vazia e ter o pão de cada dia
como uma realidade.
sem massagem
explode pelos becos da cidade a violência, olha a carência.
vejo crianças cumprindo sentenças, se assim não fosse.
um moleque de treze no doze, um cinco cinco aos quinze, um sete um aos
catorze, um cinco sete dos dezesseis aos dezessete, dois oito oito, cento
e vinte e um e antes de completar os dezoito.
e o pedagogo?
fica sem noção!
enquanto o demagogo arruma um jeito de tirar proveito da situação.
é mau a redução da maior idade penal no brasil, que desde quando cabral
invadiu que ele explorou, exterminou e divulgou que descobriu.
sem massagem, aqui é tocha acesa do morrão que fumega nas bases,
liberdade e um salve aos irmãos atrás das grades na humildade.
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sem massagem, explode pelos becos da cidade a violência, olha a
carência.
eu só peço paz, justiça e liberdade, pois aqui a vida é sem massagem,
comunidade.
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talibã nordestino
autor: mc osmar
por esse interior baiano, talibã nordestino, com o peso da vida de um
homem sobre os ombros de um menino subnutrido.
em 2010, depois de cristo, guerra fria.
e o campo de batalha cheira a morte, a álcool e a cocaína, a sangue, a óleo
diesel e a gasolina, a esgoto, a ser humano morto e a nicotina.
e pelas encruzilhadas da vida o mesmo perigo na gargalhada do lobo
vestido em pele de amigo e armando o laço.
eles querem a medida dos meus versos e a força dos meus braços.
querem me iludir com o sucesso, induzindo ao fracasso.
querem minha alma, meu corpo, meus estilhaços, meu coração em
pedaços.
e em fragmentos sugar até ultima gota de pensamento.
querem desonrar meu nome, desmerecer meu talento.
mas ainda assim mantenho a efetividade pela comunidade de onde
venho.
por ela são as atividades que desempenho, pela saúde mental dos
pequenos, com eles convivo e aprendo um pouco mais a cada dia.
preparei meu terreno pelas ruas da santa maria.
sempre pedindo: “ó deus ilumina a baixada, concedei-nos graças e livra
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essa molecada das garras da morte. tornai-nos fortes, fazei da minha voz
como uma bomba que explode. me dá disposição pra eu continuar nos
“corre” e poder sobreviver do hip hop .
dos pobres para os pobres, pelos pobres e com os pobres.”
com a mente sã e a alma nobre.
viver livre da língua do x9, do goe, da rondesp, da choque e dos porões
do doi-codi contemporâneo.
dos fins de semanas sangrentos e o desalento de outra mãe chorando.
por esse interior baiano, talibã nordestino e um terror cotidiano
alimentando o sensacionalismo.
nazifacismo nas cordas bambas do capitalismo desequilibrado.
e desse povo heróico, nenhum brado.
entre os nossos, vários estão neuróticos, lombrados... e tentar contê-los
é arriscado.
pra quem tá na condição desfavorável, em posição vulnerável, aonde a
vida é um produto inflamável, perigoso mas manuseável, manipulável.
carterizado, adulterado, nada maleável e aqui, do lado miserável, ninguém
aguenta mais crimes fúteis e banais.
qualificados, culposos, dolosos, passionais
a cada episódio, mais ódio, cenas brutais, que as famílias não agüentam
mais. seus filhos pródigos, protótipos de marginais.
patrocinam seus próprios funerais e tantos velórios.
momentos decisivos onde o genocídio é notório.
nesse nosso território, tantas periferias, olhos lacrimejados, relatos da
guerrilha.
de onde a prostituta cega abre as pernas e se negocia, cheia de uma vida
tão vazia, nessas madrugadas frias, seu destino.
por esse interior baiano, talibã nordestino.
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36
contraste
autores: lino mc e mc osmar
favela, senado, sujeira em ambos os lados.
lino mc nas batidas, pegando seguro e rimando pesado.
na favela matam com fuzil e no senado matam com caneta.
no Brasil, o bicho tá pegando, a chapa tá esquentando e a coisa tá preta.
no contraste entre a enchente e a seca, que o senado não da solução, nem
cheia que inunda a cidade nem na seca que devora o sertão.
lá na favela o crime da o pão para aquele que não tem opção e tem que
sustentar a mãe, a esposa, o filho, a filha, a irmã e o irmão.
sem falar na prostituição que lá também é meio de sobrevivência.
meninas de doze e de treze, umas por precisão, outras por influência.
e você sangue bom, o que pensa?
dos dois lados é cara ou coroa?
considere-me dentro do jogo, eu não brinco com fogo e nem rimo atoa.
no senado a coisa tá boa, roubo após roubo, e quase ninguém vê, só com
o tempo que a bomba explode e sai no jornal o lance do dossiê.
lá na baixada, tá duro de vê os esgotos expostos nas ruas, com as vítimas
da dengue hemorrágica ou não, a morte continua.
os doentes aguardam nas ruas pois os hospitais estão superlotados,
faltam leitos e medicamentos e a culpa é de quem?
diz ai.
do senado.
depois de oito anos seguidos de roubos e mais roubos no nosso país, o
povo desmembrado elege outro ludibriador, trapaceiro infeliz que a um
tempo atrás já criou raiz. saiu, deu um tempo e agora quer voltar.
79
para concluir, seu dever é só roubar e matar, roubar e matar.
a justiça não vê nem escuta a mãe que perdeu o seu filho inocente,
enquanto os assassinos do índio galdino saem impunemente.
fizemos um operário presidente, intervimos.
e todos os compromissos assumidos foram esquecidos. sumiram no
infinito de dinheiro ilícito, cargos políticos, encargos, privilégios de um
clero maldito.
tratando meu povo a pão e circo, lixo e carnaval, polícia, bandidos,
milícios organizando o seu arsenal para um cotidiano mortal, veneno
letal.
autorizam o genocídio direto lá do planalto central.
lá no morro se ouve o bum-cleck-pá, mas de lá também sai muita gente
bonita.
modelo, atriz, ator, jogador de futebol, rappers, vários artistas.
isso me deixa bastante otimista e também eleva minha autoestima. sei que
não sou um compositor, mas eu pego a caneta e o papel e faço rimas.
nas quebradas, os manos e as minas, de fé, consciente vem junto com a
gente.
caminhando e cantando e seguindo a canção, firme e forte batendo de
frente.
para fazer um brasil diferente. a diferença é você quem faz.
então seja esperto, corra pelo certo, do bem fique perto e não olhe pra
traz.
80
37
pra onde vai? (o louco)
autor: lino mc
eí, pra onde vai todo largado assim tão louco, antecipando seu fim?
pare e pense a um tempo atrás como você era.
cheio de saúde, bem vestido, junto com a galera.
festas, curtições, muita mulher gostosa.
preta, branca, linda, feia, fria ou fogosa.
roupa só da moda, de grife, marca quente, lupa, boné, boot, anéis,
pulseiras, relógios, correntes.
veja então de trás pra cá a modificação de quem curtiu a realidade e hoje
vive a ilusão.
o tempo está passando, seu olhar se ofuscando e os amigos,
automaticamente, lhe abandonando.
se desfez do que tinha em jogos e apostas de rinha, entrou em decadência
usando pedra, maconha e farinha.
o mundo girou, você ficou tonto e caiu nas drogas e na marginalidade, o
que te sucumbiu.
ei, pra onde vai todo largado assim tão louco, antecipando seu fim?
é triste, é doloroso rapaz, te vê assim tão louco e tão largado antecipando
seu fim.
inanição, debilidade por falta de alimento, não tem mais apetite, pois as
drogas é o seu sustento.
tormento é o que tem de mais na sua cabeça, o pó, o crack e o fumo faz
com que você padeça e entristeça a você e a sua família.
faz com que se esqueça até da sua própria filha, que está firme e forte,
bem, aos cuidados da avó, que sofre ao vê-lo sujismundo, digno de dó.
81
cabelo e barba grande, a uma rapa sem fazer, todo troco que pega é pra
jogar, fumar, cheirar e beber.
pra onde vai você metamorfose ambulante?
com a química comendo a sua carne a todo instante.
se tornou meliante, ou seja, malandro, patife, sem saúde, sem felicidade,
sem marcas de grife.
só uma forte gripe, início de pneumonia, noites perdidas, organismo
fraco, madrugadas frias.
sinta o irônico contraste da sua história que hoje com certeza é mais
sofrimento que glória.
38
as coisas que vejo
autor: sinal
pra mim já é normal conversar disso
se eu não descrever, meu mundo fica fictício
paralelo a isso, vejo aquilo
homens enquadrando antigos amigos
inveja, maconha causaram aquilo
então eles buscam desvios
mas tudo acaba sempre levando eles pro mesmo caminho
sei amigos, não, não são amigos
colocam a arma na sua mão
mas é você quem dá os tiros
e hoje tiros, não são só tiros
envolvem processos de escravidão
de sangue e de suspiros
quem tá comigo é o delírio
82
quando a arma perfura o coração
só sobram histórias e artigos
indefinidos
uma mãe, um filho, ok sem filho
ouvem latidos, um som de um grito, um rugido
a vida vale mais do que tipo relógio
carros, jóias, ou qualquer mecanismo, e eu falo disto
naquela mesma cidade
temos outras vidas
e algo interessante intensifica o clima
além de rimas, um homem se aproxima
chapéu de couro seguro na mão
sinto de aço e proteção
crucifíxo de prata e cordão
onde passa chama a atenção
boa conversa, ele sabe por as ideias em linhas
então, buscando os bons versos, ele pergaminha
os pensamentos, pessoas, as desavenças e brigas
tem os que morrem à toa
tem os que deixam famílias
experiências que soam
decepções antigas,
conhece o amor, sabe que não é tentativa
então não regue uma flor porque se for feri-la
espinhos causam a dor de uma flor erguida
pessoas encontram a dor e passam a distribuí-la
nós somos os ratos e os corações as armadilhas
causando estardalhaços e doenças contínuas
83
então, tentando a vitória, nos buscamos em histórias
e eu lembro daquela frase: toda honra e toda glória
capítulos escritos, lembranças da memória
pras pessoas que ficam lembrem
das que foram embora
os heróis de outra hora
raramente são lembrados
houve aquele que foi crucificado no passado
eram tido como loucos
mas hoje são lembrados
pensamentos complexos, constantemente censurados
investidas, protestos sempre
serão contestados, mas depois vem o progresso
mesmo que contrariado
a vinda do sucesso? um bem imensurável
não há luta sem regresso
recuar não é ser fraco
se almeja alguma coisa, faça o simples: vá pegá-lo
nada é impossível
apague as dores do passado
o futuro é agora, vamos olhe o outro lado
porque o primeiro passo, tão incerto, já foi dado
84
39
as horas vão chegar
autor: sinal
parte 1
o mar batendo na porta, eu olho pela janela
como sempre só sapato e chinela velha
comendo lixo e sempre bebendo
cabelos batendo no ombro, pretendo
cortar eles. fazer a barba tá vendo?
eles passam por mim, finjo que não entendo
peço dinheiro, 2 reais no dia sem aumento
tô sem esposa e filhos, vizinho eu tô devendo
por isso mudo em tempos, tenho um livro e relembro
de antigas histórias. os que venceram, o que me torna
inferior a você mesmo agora! embora
era pequeno e achei uma vitrola. comecei a mexer
chega a cabeça doer, curtição, no lixão
acho fruta e pão, cenoura frango e até munição
antes era suposto, agora é nervoso
e o seu cachorro come melhor que 6 mendigos
só no horário do almoço
eu corro pra ver se sobra um pouco
mas sempre manda voltar mais tarde.
por isso moro em uma casa sem laje
onde posso olhar o céu
e se chover, tomo banho. é só tirar o chapéu
se virar terminando a bebida
85
chega uma dor bem temida
na ponta da barriga.
disseram que se eu não parasse morreria
mas eu desejo a morte todo dia.
talvez. será melhor que essa vida.
uma vida ridícula, né?
[refrão ]
as horas vão chegar
me preparo em um poço, tento me acostumar
eu vou seguir, vou sentir, vou partir com fé.
parte 2
ultimamente eu venho pensando em várias coisas
é como minha cabeça virasse o mar depois se reduzisse a uma poça
de água. sim sem nenhuma força
eu tô parado, só sentindo o vento
sentado no precipício pendendo
ó deus que força é essa que esta me obtendo?
sobre a pedra ouço uma voz me chamando de longe
vejo as nuvens se formarem no horizonte
distante
e eu só calculando
porque a briga causa sequela mano
porque só jesus deu a vida dele enquanto
continuamos brigando
nos machucando
e nos matando e a morte tá triplicando
86
só tô pondo em prática o meu plano
mesmo alguns deles não estando
fechando os olhos me sinto pronto
a voz aumenta e me assombro
desde aquela discussão eu não me encontro
vista escura e tonto toda vez que te afronto
me sinto o final da frase, o ponto
nessa etapa, nesse som, nesse pranto
na melodia continuamos, até aonde vamos...
eu só tô dissertando!
e sendo pobre, eu continuo falando.
[refrão ]
as horas vão chegar
me preparo em um poço, tento me acostumar
eu vou seguir, vou sentir, vou partir com fé
as horas vão chegar
40
bahia para todos
autor: sinal
parte 1
vou te falar como tudo começou, apelidado de sinal
em busca do que sou? fui criado pelo vô, a dor me adotou
pra ser escravo do amor, quem me viu e não me amou
87
na certa me odiou, claro que eu sou ator
na dúvida eu sei que vou arriscar com fé
eu tô dando rolé
sou paz e o que cê quiser
às 6 eu já tô de pé
esquema rolando e zé
olhando pra ver o que é
na bahia é assim: muitos mandam aqui porque tem dim dim
patricinha tá afim. ela me viu, eu sei que sim.
com preconceito olha pra mim
fala o que c quer de mim
mando minha idéia, como se diz
tô sem dinheiro, eu sou assim
uma sandália e um short jeans
já respiro esperando ouvir
o que a morte fala pra mim
que a sorte chega no fim
o sinal o que você quer de mim ?
parar de andar ou fica ai?
então quebrando o som da história
aqui só rola axé que rapper você tem na memória
eu sou sinal, não precisa gravar o nome
vejo miséria no barreiro e no centro roubo chega feito tsunami
os velhos tentam se informar, ouvindo um programa matinal
que nem pensam em julgar! será que aquilo é verdadeiro?
ou é só mais um golpe do nosso governo?
nordeste é a pior região do país
pra vencermos por aqui tem que se unir
88
se vencer é agir, de fato eu sou feliz
mas olha só, quem diz que o importante é ser feliz
nunca viu o que eu vi, nem sentiu o que eu senti
drogas nem quero ouvi. amor distante e sabe que
moramos praticamente no meio do nada
sem oportunidade de emprego
ninguém e mágico ou fada. crianças sujas pelas ruas
bahia estado, em cartas não é belo não e lindo como mostram alguns
jornais
é sim vem pra bahia comer acarajé
passando pelo pelourinho, toma um tiro zé mané
o gueto é sujo e a noite grita
se a classe media é pobre, as drogas ela agita
os pobres são paupérrimos
os paupérrimos são vilões?
na escola se aprende tudo de ruim não é só na rua não
existe muita gente boa e política não. querem
esse é um estado suicida em que as pessoas se ferem,
aderem, compram e revende
consciência tá tomada, troca, mata, rouba, usa entende
tem gente que se engana com o sorriso no meu rosto
atrás dessa inocência mora um homem bem nervoso
que luta sempre por meio do rap
pede o fim do que nunca vai acabar. mas o sonho segue,
o sonho segue.
[refrão]
89
vejo tanta coisa errada. o que será que me partiu?
alagoinhas, bahia, brasil.
vejo gente condenada a ser ninguém que já me viu
festa, cachaça e a fome a 1000.
parte 2
a fome deixa um rastro e laços com a pobreza
por mais que seja bela eu não vejo a natureza.
bahia que tanto falam, é tão linda e então!?
rola é o contrário, história de corrupção.
o estado começou com voto de cabresto
um saco de cimento vira voto, elege prefeito.
conjuração baiana está sendo desonrada
paulo solto, acm , pfl, barca furada
no carnaval todo mundo esquece tudo
tem carro com som alto, tem trio. é outro mundo.
turista pra comprar quer o que ele pode!
ouvindo o pagodão, o moleque se sacode
se embala com o som envolvente do chiclete
pouco sabe que é fachada, ali perto têm os pivetes
contrastando com o circuito, com fome, sem o que comer
pulando no barulho, então me diz porque
uns tem direito a casa e moradia?
uns tem direito a computador, moto, carro? eu quero a minha,
mas só tenho noite fria, e uma imensa fila no sus...
essa é a bahia piedade meu senhor jesus!
agrego tudo, e pouco são os que analisam os fatos.
dinheiro, os porcos roubam o povo, favela inapto
90
só o bebe inato espaca de tudo isso (trecho confuso)
mais o rap denuncia , rap é compromisso
41
decepções
autor: sinal
não, não tenha medo de sonhar
o melhor da vida é acreditar
me conte o segredo que te faz assim
tão especial você é pra mim
a gente aprende a viver com decepções
deus tem um caderno cheio de lições
com tarefas descritas pelas emoções
ao decorrer da vida vem as correções
e com ações ocorridas vem reflexões
que nos fazem presos de composições
mantida em segredo pelos vilões
e isso faz de nós mesmos os ladrões,
criamos personagens para armações
conquistar garotas e badalações
mas o corpo ficam velhos pra essas diversões
a austeridade saiu pelos portões
e o pecado permanece com as aflições
apontando como solução as conversões
mas ele ainda sabe que tem soluções
em sua casa, cansado de alucinações
91
deixa o quadro, o giz, se deixa nos colchões
e começam a vir na mente aberrações
com o som único e sutil dos acordeões
dos amigos lembranças, admirações
construções incríveis, as demolições
por favor ele pede o fim dessas questões
sempre foi o pivô de definições
hoje alvo de rap, jingles e canções
e quando olha os brancos, paredões
sente a vontade de isolar-se com negações
e sua alma tenta negociações
pra trazer ele de volta mas assombrações
atormentam o pobre as comparações
sempre vem a tona indagações
e ele tenta resolver com funções
lágrimas caem, buscam terminações
não, não tenha medo de sonhar
o melhor da vida é acreditar
me conte o segredo que te faz assim
tão especial você é pra mim
o mundo é muito belo
pra se suicidar,
antes de você ir, eu quero te contar
te dou dois motivos pra não se matar
e o gatilho dessa arma apertar
pessoas, se você for, vão chorar
só deus tem o direito da vida tirar
92
me fale o segredo que fez te magoar
palavras são feitas para recitar
escolhemos se devemos nelas acreditar
deixe de agonia, existem e há
maneiras possíveis de se contornar
uma base, uma melodia, pra se acalmar
livros e sabedorias pra nos explicar
as dúvidas que por via vem nos machucar
são pra resolvê-las e atravessar
momentos difíceis não se afogar
procurar um novo emprego para trabalhar
tentar negócio pra tentar mudar
é claro que é preciso estudar
nada vem fácil no desenrolar
o crime e as drogas não vão compensar
crianças têm pra alimentar
nos olhos dos seus filhos o brilho da lua
vida promissora que depende da sua
experiência sempre teve pra mim dar
e agora fica aí nas atitudes estúpidas
sem querer comer, só faz se julgar
diz que foi enganado pela falácia
era defensor melhor da inteligência
mas eu uso da minha eloquência
pra te tirar do transe da evidência
quem não tem inventa
93
42
faça tudo que você quiser fazer
autor: sinal
não voltar atrás, afinal já aconteceu.
fugiu daquela paz e o que mais se perdeu
perdi você...
faça tudo que você quiser fazer
minha mãe revirando minha mochila, meu quarto
faça tudo que você quiser fazer
eu escondia diversas letras no armário
faça tudo que você quiser fazer
bonés e roupas de rap foram rasgados
faça tudo que você quiser fazer
mas o pensamento não pode ser censurado
um amigo me perguntou se vale a pena
todas essas brigas, que nos tiram a paciência
enchendo a cabeça de problemas e de cachaça...
peço clemência, falei com um padre e ele disse
que a violência,vem de muito antes
tempos e as lendas.
existiam pra que o homem temesse a pena
sacrifício, forcas e bruxas
eram sentenças
94
19 anos jovem?
mas com vivência, simpatizante de grupos organizados
quem pensa que a 7 palmos não vai ficar, aparenta
uma infantilidade incrível, ostenta.
temos vergonha de falar de suicídio
se eu amar uma pessoa, eu digo
porque eu posso ir embora amigo
mas não se espante por isso
amanheço o dia, bases esguicho
parece que minha caneta tem um feitiço
mãe , por que me julgas por isso?
conheci pessoas por meio do rap com vício
e gleuber me ajudou a entender isso e eu fico
abismado com o preconceito, mas medito.
a má pessoa pode estar em seu recinto
minha privacidade sendo invadida. eu preciso
de um tempo longe
para descansar, elaborar minhas rimas,
em outro lugar
faça tudo que você quiser fazer
porque um dia o morto pode ser você
não voltar atrás
afinal, já aconteceu
fugiu aquela paz e o que mais se perdeu
perdi você...
perdi você e tudo
só me ficou a magoa
95
43
índios
autor: sinal
continuo a fingir pra mim mesmo que estou tão bem
nesses dias em que as nuvens estão turvas e a procela vem
vou atrás da realidade, eu não busco mais ninguém
me apego ao que mais amo nessa vida, saiba que porém
a tarde, o sol vem, e eu não vou mais está aqui
com medo... de desejos .. e anseios busco um meio
parte 1
um homem chegou e foi logo me dizendo,
outra conversa, uma língua eu não entendo
fiquei muito assustado. era castigo? anhangá era perigoso e vingativo
olhou e me chamou de índio
vestes no corpo, quase todos pareciam esculpidos
trouxe presentes, nos encheram de feitiço
a tribo reclamou estávamos todos em perigo
navegações ao mar trouxeram incentivo
inimigo de um abrigo, nos deixou com sentidos
aguçados, pronto pra atacar,
bicho do mato a hora é essa, não podemos errar
desbravadores nos bateram como escravos
lágrimas descem, sou guerreiro nato
e os parceiros também partiram pra cima
96
a tribo dos tupis revida logo sinta
a energia que me alucina
um envoltório todo de palavras
viva... sabendo que vai morrer sem nada
as armas atirando, conhecemos zoadas
que doíam no peito ou onde pegava
o sangue jorrava, isso nos machucava
arcos e flechas preparados para a batalha
venenos que matavam, lanças foram arremessadas
nao tinha como resistir ao fogo, jogamos a toalha
depois de 2 minutos, todos ficaram quietos
alguns fugiram, eu, um dos mais espertos,
queria saber o que era aquele mundo novo
eles tentaram falar, mas eu não promovo
toda essa violência contra o meu povo
ofereceram apitos, espelhos e osso
que tínhamos pendurado no nariz e no pescoço
eles pareciam achar graça. que louco partes íntimas mostradas
pinturas que expressavam o amor pela tribo e pela terra pairava
uma trégua perigosa. eles perguntavam e não obtinham resposta
queriam ouro, madeira e terra boa pra plantar
nós nos entendemos quando o assunto é trabalhar
não sabia que roubo estava nos planos
depois chegaram deles tantos
monte pascoal, cabral, álvares, pedro, milhas
de pau brasil começaram a ser extorquidas
e os franceses também logo chegaram
portugueses ficaram com medo entretanto calados
97
disseram que a cruz simbolizava o pranto
desembarcaram os católicos apostólicos romanos
eles o chamavam de jesuítas
e agora nós éramos catequistas
novas coisas ensinadas à vista
e as nossas estavam erradas, bem quistas
e nos ensinou a ler uma coisa chamada bíblia
trabalhávamos caindo na armadilha política, cultura capitalista
isso só é o começo. os latrocidas
tinham armas, espadas, facas amoladas
logo estava a farra declarada, a alegria, bebidas, o vinho
bebi um pouco não aguentei, cuspi no caminho
prefiro comer avati e beber cauim
tupã por favor não me deixe sozinho aqui
e...
índios braventos cruzaram o continente
andando destemidos, sangue nos dentes
pajé salve meu povo, ouça com clamor
se és santo por que ele trancafiou?
rochas eram cavadas. não nos perguntaram se podiam fazer isso
só nos chamaram de índios
[refrão]
quem são? quais vão? feriram-me
pra onde vão? se são sim
se vão faze isso de mim quais vão explorar até o fim
essa luta não depende de mim
98
44
j.o.g.a.dor
autor: sinal
já tô cansado de ser jogador
qual foi o ser mais belo que deus criou?
pessoas passam pela minha frente
mandando que siga
delas eu ouço as que são queridas
e aonde foram aquelas perdidas?
fez da história uma guia iludida
pra mulçumano, morte é o começo da vida
a inquietude logo me alucina
eu fui deixado de fato e a rima
me faz ficar bem perto e desliga
toda a cidade, transito e brigas
uma fazenda, uma praia, uma ilha
me faz achar e contornar feridas
reformular e acertar em cima
dos que duvidam que existe ainda
coisas inexplicáveis, fé e firma!
eu vou pra onde a música quiser me levar
eu vou contar histórias em outro lugar
eu vou prestar atenção mais em cada olhar
já tô, já tô cansado de tudo isso, de jogar.
ninguém vai me ajudar a superar
99
esse mal que há em mim
eu quero ver anoitecer, alvorecer
mas conflitos ocorrem..
ocorrem quando a gente tá com medo
ou nos momentos felizes primeiro
lembre -se de aproveitar todos os dias
e você pensa nas delegacias?
os malfeitores que governam estados
gerenciando contas de trabalho
os que aparecem na tv fardados, justificando
a incerteza de seus atos ...
eu vou pra onde a música quiser me levar
eu vou contar histórias em outro lugar
eu vou prestar atenção mais em cada olhar
já tô, já tô cansado de tudo isso, de jogar.
a escuridão que toma conta da caverna
fica escura e eu aguardo, fico só
na sentinela, na esperança que algo possa acontecer
quando se torna racional é mais difícil viver
criar, obter, ao menos dizer
eu quero esquecer
eu quero correr
mas quando penso, começo a enfraquecer
o organismo rejeita como se fosse converter
um viciado a torná-lo o que era antes
a gente joga, mano, a todo instante
100
muitos na vida almejam ser só triunfantes
na minha história, quero ser coadjuvante
a muito tempo na vida me tornei amante
disserto poesias, interpreto figurantes...
na vida, ando construindo várias pontes.
vou pro caminho que me leva aonde...
eu vou pra onde a música quiser me levar
eu vou contar histórias em outro lugar
eu vou prestar atenção mais em cada olhar
já tô, já tô cansado de tudo isso, de jogar.
45
máquina do tempo
autor: sinal
naquele fim de semana, algo me acordou cedo
foi como um impulso da cama
e eu levantei ligeiro
antes de ir ao banheiro
dei uma olhada no espelho
e a imagem do espelho
era um envelope vermelho
escrito em preto, logo em cima do cesto
e eu pensei, indaguei, quem foi que colocou isso no cesto?
ao abrir o envelope, li e tive medo.
tinha minhas iniciais e os meus segredos
101
minha letra em tamanho e tom perfeito
marcando um encontro na rua do meio
olhei feio, minha mente começou a rodar
que merda é essa?
que brincadeira estúpida!
tomei banho e sai antes do horário marcado
chegando lá, me deparo com meu eu em estado pesado
ele tava triste e eu espantado, depois ele sorriu
e eu abismado
[refrão]
vai como o sol brilhar forte - eu vim na máquina do tempo
sinto um imenso desejo - pra te livrar do sofrimento
o futuro foi sempre um mistério - princípio do equipamento
onde nós cometemos os erros - sou como o sol e como o vento
que brincadeira é essa?
você é meu irmão? ele balançou a cabeça disse que não
nem queria ser seu irmão a gente nunca gostou de ter irmão
sempre quis ver sozinho, televisão.
então explica cara, que bagaceira é essa?
cê me manda um bilhete e ainda com essas conversas
mas você sabe mano que tudo isso é verdade, pode parar de falar
e de pensar bobagem.
até entendo o porque de você estar assustado
mas vou tentar explicar, então fica calado, brabo.
é o seguinte: eu vim do futuro.
o meu amigo construiu uma máquina e eu vim.
102
haa.. isso é um absurdo!
olha eu aqui cara, por que não acreditar?
é melhor você rir sim, se não quiser chorar
quer uma prova? tá cometendo as mesmas atitudes estúpidas de antes?
tá fumando, cheirando? isso não é mais relevante.
[refrão]
vai como o sol brilhar forte - eu vim na máquina do tempo
sinto um imenso desejo - pra te livrar do sofrimento
o futuro foi sempre um mistério - princípio do equipamento
onde nós cometemos os erros - sou como o sol e como o vento
olha pra mim, olha nos meus olhos nesse instante
mais adiante, você vai perder um órgão, um braço e muito sangue
num acidente chocante,
querendo se mostrar de carro, seu pateta. errante.
seu cachorro ainda tá vivo, mas ele morre mês que vem
comete suicídio e não é delírio
ele não teve mais carinho e você não mais tempo
ele ficou sozinho, sua vida é só lamento
namorou 100 mulheres e não casou com nenhuma
pera aí. até agora só foram 10.
é cara mas a gente muda
e aquela morena do cabelo encaracolado, que você disse que não queria
mais
parecia que tava errado, hum vou te contar um fato
parece que a gente tá condenado. essa mania que a gente tem de sempre
voltar e relembra do passado.
103
mas os momentos são tão raros, e é por isso que eu te falo.
[refrão]
vai como o sol brilhar forte - eu vim na máquina do tempo
sinto um imenso desejo - pra te livrar do sofrimento
o futuro foi sempre um mistério - princípio do equipamento
onde nós cometemos os erros - sou como o sol e como o vento
meu tempo tá acabando e eu tenho que ir
você escolhe se vai recuar ou progredir
veja em mim o que você se tornou
regando esse futuro de tantas outras chances que nos dá o mundo
só um segundo, sua vida é tão importante
tanto que vim do futuro pra te salvar nesse instante
eu bem sei os conflitos que existem mais avante
nada é distante pra um jovem que faz dos sonhos infantes
siga em frente e sempre cante
porque a música é a raiz do mais belo horizonte
a gente nunca gostou de sangue
mas vamos se alegrar quando nosso filho nascer do nosso próprio
sangue
e quando pensar que tudo está acabado, não reclame
há sempre uma luz no fim do túnel distante
tente agarrá-la, pegá-la, mas não desista, ame
porque eu te prometo uma coisa:
nada será como antes, depois dessa vida mudada
nada será como antes, vida resgatada...
nada será como antes
104
46
melhoridade
autor: sinal
ela passou um momento muito difícil
hoje, 70 anos, precisa de um incentivo
bem mais que os anos, éramos apenas amigos
muito calados no banco da escola , ela lia seu livro
eu sei que o tempo passa , e as nuvens vão recuar
o brilho do sol entoa alegria no seu olhar
mas sei que muitos planos fazem eu te procurar
e os desentendimentos apenas vem atrapalharam
e podem nos separar, então distanciar.
consequentemente, acho que nunca vou voltar
enrolar o seu cabelo com minha mão na sua nuca ...
deixar a sua roupa cair de maneira estúpida
fazer você sorrir e perder as estribeiras.
e tudo não passa apenas da nossa brincadeira
mas só que tenho a certeza
você é minha maneira que eu encontrei pra ser feliz a vida inteira
a minha musa perfeita, deixa eu te corrigir
pra sempre é uma incerteza...
relíquia rara mais bela,
a vida vaga, passa e a gente fica entre paredes e telhas
veja só que perda... nós perdemos
e só restou tristeza, vem.
acho que se pudesse voltar, faria de outra maneira
105
47
ostra negra
autor: sinal
parte 1
situação semelhante acontece com as ostras
passou-se muito tempo, ela se mantém uma moça
guardando seus segredos, sabe falar como poucas
controla o desespero, seu sorriso espanta nuvens foscas
nubladas, em folhas que são contadas, regadas
nascidas em jarros, fora no jardim da casa
marca, momento certo, faz de louco quem necessita
conversar, amá-la
aguarda o cara, pra saber cortejá-la e levá-la
ao ápice, a sua escala, caminhar na sua estrada
de curvas bem recatadas,voz meiga de amor me fala
já que sua cidade é pequena e sua pasta
diária tinha escrito palavras
pra um cara que dizia que por ela morria e matava
em algum lugar sincero, ele sempre a buscava
cores desorganizadas, naves, carroça, andadas
prazerosas, divino é ser feliz sem ter nada
parte 2
por um momento eu pensei sim em ter te perdido
o meu orgulho é bem forte , sei que sou convencido
106
talvez um cara falado, que acham que aquilo é isso
ouviram e disseram, você soube de um amigo
porque não dá a chance e descobre por si mesmo
o meu íntimo, o não discreto concreto
também rebelde honesto que te adora e faz certo
sabe apertar o botão que te deixa uma mulher
transformada. eu aperto!!
a prova, eu te entrego
mapeio meu nome na sua coxa
começo com s, tiro suas vestes
te abano com o leque
o calor, te canto um rap
a única que consegue
me fazer falar manso. percebe?
por sorte tive uma febre
você veio como a neve
em pleno sol de nordeste
deu conselho, promete não dizer o que não deve
não fazer o que me pede
esquecer, se foi se perde
desampare, vale, sempre blefe.
107
48
outubro, sol e mar
autor: sinal
parte 1
eu queria uma chance pra me explicar,
é mais fácil se perder e também julgar
o lado forte vai prevalecer. então o que há?
se você age pra fortalecer ou para se vingar
na escuridão você gira e não sai do lugar
velhas lembranças fazem os olhos derramar
lágrimas vão cair, depois evaporar
faz um favor, senta aqui, vamos conversar
esqueça o tempo, é hora de prolongar
os meus problemas, preciso desabafar
sei que existem coisas que não preciso te contar
que você não é padre, mesmo assim eu vou me confessar
fazer o que se eu tentei mudar?
a verdade é que a vontade foi menor
do que é preciso para se executar,
o que está na pauta
consegui a vaga
extrai do meu peito toda essa mágoa...
preciso minha consciência mudar, porque eu não fui capaz
porque eu não fui atrás
quando se chega a esse nível a gente insiste mais
108
e já não se satisfaz...
[refrão]
fazer o que se minha história eu tentei mudar
as atitudes na vida? eu não queria errar.
parar o tempo, um segundo só para te falar
tantos segredos, outubros, teremos o sol e o mar
parte 2
o segredo é um só,
ensinar o meu filho, um cadarço, um nó
a jogar futebol numa tarde de sol
ou então pescar com vara e anzol
tomar uma fresca na frente de casa, no rol
ensinar a empinar pipa sem cerol
fazia tempo que eu não andava só
vamos lá almoçar na casa da vó
você sabe, a comida dela é a melhor
e que ela gosta de carinho
mas se é um sonho, você acaba sozinho
sem gosto, sem sol, sem filho
só lembranças dos caminhos
se pudesse começar de novo, sem prejuízo
sem está com o pé no precipício
a gente erra e se arrepende disso
e só então pensa em jesus cristo
e no inferno busca o paraíso
109
nada é eterno, ouça meu aviso
se é sincero e louco do juízo
me desespero, sinto-me contido
se é errado, sempre é mal visto
e no quadro de desaparecidos
que estão com o coração ferido
eu te acho e passo a ser seu amigo
minha alma ferve e é esquisito
muitos anos longe desse mundo submisso
mundo este, que gira rumo ao abismo
te encontrar me faz querer não está sozinho
depositar os sonhos, fazermos um ninho
recuperar a beleza, ter o seu carinho
[refrão]
fazer o que se minha história eu tentei mudar
as atitudes na vida? eu não queria errar.
parar o tempo, um segundo só para te falar
tantos segredos, outubros, teremos o sol e o mar
parte 3
o que foi melhor pra mim?
a melhor resposta foi apenas insistir
nunca tive bons exemplos pra seguir
minha mãe vai se orgulhar do que eu fiz
eles passam a pensar no que diz
respeito a bloquear, intervir
fui convidado a palestrar sobre mim
110
o governo perguntou se eu quero me unir
depois de ter “eu”, tive amigos presos pela policia, por serem leigos
de informação
pelo limite
imposto por eles mesmos
professores, flores, pouca educação
extermínio matando ,mandando pro mundo da ilusão
eu acho que a opressão não faz sorrir
e se as mudanças ocorreram eu acho que..
eu era um bom rapaz..
49
porque sorriu pra mim?
autor: sinal
pareolhescute
introdução
é o seguinte
ele conheceu ela na rua mesmo, sabe
e ai começaram a se falar
ele queria o namoro e ela não podia por causa do pai
depois de muita insistência, ele conseguiu
ele não amava ela... apenas iludiu a figura
depois ele queria o sexo e ela nada de ceder
até que depois de um tempo insistindo ele finalmente consegue
111
só que o rapaz estava tão incerto da sua certeza que acabou sendo mais
uma vítima
da estatística vê só
a história é real e foi mais ou menos assim:
foi na manhã de terça feira
você estava cheia, me entende huh!
de vida alheia
uma calça azul, uma camisa branca, os cabelos pretos e uma cara de
criança.
levando outra criança que eu não sei de quem é
jeito meigo, flor aberta, me parece ter fé
na balança que mede a justiça, ficou seria como é
responsável sem curtir, no mistério e até
riu das minhas brincadeiras, 2 vidas e quem é? mão amiga,
companheira, de quem sabe o que quer
e como eu não sei, ficou um clima estranho
como uma ponta de um sonho sem dor, mas só um sonho
e ela afronta todos que querem embaçar
sabe dos seus direitos e em primeiro lugar
não depende do pai pra criar a criança
faz questão de agir com ignorância
existem vários pais que reprimem as filhas
e as filhas que não tem pais, geram feridas
encardidas de sangue, ódio e rancor
na esperança de serem tratadas pelo amor
que iludiu ela, dizia que amava. papo de garanhão
topa qualquer parada, na calada da noite
de tarde ou dia, vários filhos são feitos
112
e morrem várias crias, ironia não é um fato
o cálculo brasileiro me parece exato
engraçado até como pode acontecer
você prefere ir dentro e deixar acontecer
diz que tem talento e que é melhor pra você
muitos tentam ser o centro e deixam transparecer
mais na hora da atitude, preferem correr
abrir o gás ou dar remédio pra morrer
calma aí cara, você ta um pouco confuso
com tanta informação, isso é absurdo
veja só, outras vidas tem de ser planejadas
sei que eu não fui, mas isso não diz nada
vamos tentar ir na consciência, no século 21
ocultaram a paciência cadê bum!
mas passado conta que ela sempre foi assim
teve um filho o menina por que sorriu pra mim?
bebida, esquecimento, fica zonzo
mas no pagode ninguém da desconto
existe a lei de que ninguém é de ninguém
encontrar pessoa certa é tão difícil quanto nota de 100
ave maria. esquece do compromisso
vamos pra orgia trepar e fazer filho
mas vê só, a vida é um dilema
será que se eu curtir vale a pena?
curtir sim, mas com responsabilidade
pra que vai entregar o ouro e cair e depois, cair na veracidade
o papo chato, sem muita enrolação
113
qual é que se quer ta me dando mole?
meto logo a mão!
aí já penso que era naquilo
então pega a camisinha e mete o gatilho
pra não dar mole e fazer uma mais nas estatísticas
se almeja a ascensão então vai lá, conquista
porque as vezes é difícil entender
digo no som o que é pra ser dito a você
se ajo em vão, talvez amor não sinta porque
a curtição tomou conta de você
nascer em vão? o que é vida pra você?
e segue o tom, reflexão é bom fazer
a “miaçao” só depende do ser
quando cair a crença do sistema e saber
meu som que arrasta os maloqueiros
quem tem ideia pra trocar, num se vende por dinheiro
e acende o isqueiro e o ciclo continua
morte, aborto, pariu a carne crua lágrimas, jesus chora e na lua
vive uma menina que flutua
perdeu infância e virgindade
acordou pra viver a vida aos 13 anos de idade.
maldade, pena e discórdias
esses são os sentimentos que tenho uma pá de hé o (?) seguinte ora
um bom lugar, o sabotagem já dizia
eu juro que quero mudar, mas num faz verão uma só andorinha
114
eu não sou santo, meus olhos podem até ver
quando e porque usar o famoso proceder
eu executo os pensamentos que adquiro ao ler
na oração, peço a deus pra ter
sabedoria porque vou chegar e dizer
e a tensão, tremedeira é foda pra esconder
eu sou capaz e só assim vai vou poder num treme não jão! vamos obter!
50
pra finalizar
autor: sinal
então parceiro
o tempo passa, cada vez me desconheço
sertão dando lugar a fábricas de copiar panfletos.
o cara que era cabra,criava gado de raça
vendeu a terra por migalha, hoje mal tem uma barraca
devendo, nome na praça
garruncha, pexeira, faca.
ter um pouco ou não ter nada.
não se venda , nada paga!
ter terra, plantar , vizinhos, imagem congela
congrega do lado da roça, na pobre capela
se é quente (era) ,envolvente (bela)
maria bonita, ventre (dela)
embuchada,15 cartuchos menina
foi se lá( tragédia)
115
a quinta esquina coberta
tida como periférica
do méxico pra baixo, não existe mais america
veja o ponto alto , nasce fraco, com sequela
dar a volta sem as pernas, ajoelha-se
eterna busca pela emoção que vence, aquece, descongela
parâmetros, preconceitos que insistem nessa merda
em dizer que no nordeste só tem gosto pra comida
bebida, intriga, o brasil é penta ou libra
esterlina, a origem, a bahia, a funai
hoje apenas obriga, o que deveria ser por amor
são as leis que ditam
e no peito o rancor, e a tv desligam
a diferença do sabor, carne seca ou sadia?
comercial e dinheiro
mas o porco é a gente cria
51
profanamento
autor: sinal
parte 1
resolvi deixar minhas coisas e dar uma volta...
ir bem lá no lugar aonde o vento sopra
relaxar pra pensar um pouco na vida,
quantos manos já se foram? cadê minha família?
segue o clima... segue a rima..
116
pensando no espaço, que fica escasso quando algo me corta o clima
pessoas, olfatos, palhaços ricaços
bagaços ,mulheres e brigas
buscando salário, lutando, compasso e fé pra que consiga
eu vi muitos cansados, mas nunca exaustos deitados na rodovia
roleta rodando, cartas apostando, moedas jogando e tinha
malucos falando que deus era santo e que viria um dia
amigos entanto viajam mais cedo e não aproveitam a vida
então... eu canto, eu rezo, eu choro, imploro
não menosprezo a deus e apolo
oposto, avesso e suasório
sofrer com a dor, provisório
parte 2
eu luto pelo que acredito e não duvide disso
fui mais sincero do que você tenha visto
ouvi sobre passos e atitudes de cristo
rasguei aquela página escrita, destino.
eu vou tentando ser esperto,
eu faço apelo a quem não está por perto
os meus ouvidos ouvem o que não é certo
juro por deus que fui honesto
sei que na vida a gente tem que escolher
saber começar, fazer por onde crescer
morrer não é morrer,
nos perdemos em sonhos
e nem a metade nós queremos fazer
resolvi esquecer e escrever o porquê
117
momentos que só te dão prazer
pessoas fazem mal e eu quero me conter
o que valeu a pena é o que eu busco trazer
52
quinto andar
autor: sinal
parte 1
só pra relaxar
olho as vezes pra baixo, sei que estou no andar
sétimo, oitavo, a noção me faz falar e calcular
diferentes vidas e escalas diferentes
quem morre cedo na vida, os cara o esvazia pente
quem é rap sente não precisa ser vidente
pra provar que sou presente
um salve ao onipotente
dos mistérios, o segredo subtendido do ventre
imaculado, o menino nasce e tem que ser valente
porque o pobre ensaia a luta se for cego, tente
enxergar essa disputa do capital, que a mente
articula as desculpas pra matar parentes
e se tentar esquivar a chapa fica quente
sabedoria pesa quilates, raiva me faz ranger dentes
o emprego, o estudo ,tento ser independente
mesmo que aconteça 1 ou outro big bang
movimento social, o rap bate de frente
118
[refrão]
amigo, preste atenção no que eu vou dizer
várias pessoas na rua olham pra você
seu modo de agir me faz subtender
você não vai sobreviver...
parte 2
muda de fase, muda de verso
o que te faz pensar que eu não escrevo letras de protesto?
meu rap é adverso, contesto e não perverso
porque eu não vejo nexo em mostrar o tal regresso
que acontece na quebrada daqui ou na do méxico
tudo é igual pros valentes, ficam só mérito
quero viver pra ver outras coisas do hemisfério
libero toda a adrenalina e eu me apego
nos ensinamentos eclesiásticos que eu prego
um simples jogo de palavras, então as reverso
será que eu peco? se eu falar sozinho escuto ecos.
ajuda quando surge .recebe logo o veto
sendo afogada num mar e o corpo submerso
se a gente se unir, derrotamos o império
de taxas alfandegária,s preços altos, comércio
essa emoção de lidar, de lutar, eu sinto perto
que o meu fim vai chegar, mas fiz o certo
parte 3
119
pequenos homens lutaram contra grandes impérios
pensando direito, pequenos eram os impérios
a história negra, indiana, mulçumana. eu peço
que não esqueçam o eterno mandela, o nelson,
cristo, gandhi, x, guevara zumbi e o luter king
pra mim suas histórias sempre vão servir
nunca para distrair, aplico-as pra evoluir
mesmo que tomem meus bens, nunca vão subtrair
o conhecimento e os fatos que eu vi, que eu assisti
assassinatos que o governo ousam em desferir
por que me tomas mulher? revolução se faz aqui
sem algo pra servir, um ideal pra seguir, inibir
prometa que ninguém vai te coibir
o maior inimigo esta dentro de ti
o seu impacto nem é preciso discutir
poeira do universo pra onde você quer ir?
se a base falha, mesmo assim eu não consigo parar
o que deve ser visto não é meu modo de andar,
mas sim de pensar como eu vou me expressar
contra o conceito de pessoas que só vão apontar
se o erro que eu causo causa batalhas
mas eu vejo que o desejo de muitos é se libertar
da oposição. uns fazem greve
enquanto no rap eles criticam e tentam levantar teses
do tipo mamona, eucalipto, cacto, espinhos
moral da história: sempre termino pensando sozinho.
120
53
semana de vida
autor: sinal
parte 1
segunda-feira começa o dia de maneira
conturbada. domingo apreciou a noite inteira,
esperanças, espera, chega a terça feira
de que maneira fazer você entender que na mesma hora
o futuro começa agora! e os minutos não voltam
aquele não te aprova , não desista, porque o sim
se conquista através de ações, batalhas nas vidas
sabe as coisas que você se identifica?
com quantas letras se constrói quarta-feira à vista
o tempo tá passando e esquece dos outros dias
o ambiente é curto e o papo é sério admita
ele resolve ligar pra uma amiga
pra contar um pouco sobre as intrigas
os problemas que atormentam, não minta
ela fala pra ele calmamente: diga
qual é o seu sufoco. isso são armadilhas
a quinta-feira chega quando o telefone desliga
se deita na cama, seu nome ele chama
de deus reclama uma dor na garganta
a muito tempo uma mulher não o encanta
e sua voz parece que sair mais feroz
um pedido que o tempo seja mais veloz
121
várias dúvidas ao respirar, seu pulmão dói
alicerce na terra, esforço se constrói
quem planta colhe, quem não planta destrói
que quem não faz nada, não recebe salário
pra que achar que eu sou mais um errado
do rap ou favelado. percebe isso? é um fato.
na sexta ele decide estudar, procurar um trabalho
barba na cara, emprego ele vai se safar
alma lavada , poucos conseguem diferenciar
emprego de sorte, emprego de azar
[refrão]
essa é a vida , cheia de injustiças
quem cobra treta não olha, quem ora o terço tem fibra
essa é a vida, cheia de injustiças
tentando achar o caminho com a mente na guerrilha
parte 2
eu rimo um vínculo de sonhos
ou escrevo uns textos
pra falar sobre lições, sempre arrumo um pretexto
as coisas que você pensa primeiro
se o assunto muda, eu inverto
fazendo voltar direto pro começo
se fechar a porta, eu sei que eu mereço
pelo menos um dia inteiro com a caneta bem no meio
122
do papel, observando eu leio
tentando mudar a mente de caras que são alheios
um dia um velho me falou que o medo
era uma forma de expulsar seus desejos
o desenho, características, contextos
que fazem do seu sonho pesadelo
e a voz que manda carta diz: escute.
talvez um dia sua consciência mude
ou o noticiário faça com que o pão permute
que é de revolução que o mundo precisa. então ajude.
estude, lute , busque, mude. pra que um dia você desfrute
do seu suor, da experiência, mesmo que se assuste
se o rap não toca na rádio
aumenta bem o volume
denúncia social
manos de atitude
tem nada a ver com mágico e truque
guerreiro é real, simplesmente não se ilude
[refrão]
essa é a vida , cheia de injustiças
quem cobra treta não olha, quem ora o terço tem fibra
essa é a vida, cheia de injustiças
tentando achar o caminho com a mente na guerrilha
123
54
vaqueiro
autor: sinal
o gado chora, logo vê a falta , pasto
presença que falta, mas o cheiro fica, seu laço quem guardara?
banco marrom, celeira velha, quase quebrada,
a bota, espora seu filho foi pegar, espingarda velha
despertando na sua terra uma agonia terrível
que brotara depois do ato de covardes
de gostos e maldades, senhores, sem boa vontade, coronéis sem piedade
dando tiro por alto em todas as partes
mas tem valente por aqui também oxente vai.
maltrata gente inocente pra tu vez rapaz
a gente trata bem mas se vacila pra traz.
temos ideias, plantam em terras aqui não mais
foi muita opressão e agora quero ficar em paz
tomar uma xícara de café, um fubá, meu pai
se foi a muito tempo vaqueiro de fama andais
no alegrete no relento, contra a chuva , sofrimento
e mesmo errado, controverso, certo foi o seu sustento
agradeço por ter a chance de estar dizendo
laça o gado, atravessa boiada por muito tempo
depois foi trabalhar bem longe da terra, no centro
saber amarrar corda, a força que da na espora
cavalo anda, o boi segue, se vacilar vai embora
toca berrante, com glória,o som do sertão tem história
a mais difícil das danças, quando a morena balança, acomoda
124
a sua cabeça no meu ombro e logo embola...
as palavras pedindo que leve de volta pra casa
pra falar com seu pai que nunca ia deixar acontecer nada
porque pobre com rico, só fugindo, com minhas andadas..
queimadas, barreiras, passando por feira, mata de são joão
camaçari, cansados, até que esteja
unidos pelo padre naquela pobre igreja
humilde festa, mas de enorme grandeza ,vaqueiro!
55
vender dvd
autor: sinal
o sol bate na cabeça logo na ida
trabalhar de manhã cedo, penso na vinda
deixei minha mãe e meus irmãos em casa
peguei mochila nas costas
autônomo sem farda
vendendo filmes sobre incas , astecas e maias
a sua cultura interessa, o que o dinheiro não paga
depois da venda, um sorriso
e se preocupa um pouco
até quando fazer isso?
mais um ano de molho
sem tempo pra escola, mas ele tira de nota
aprendizado nas ruas, aonde ouve histórias
e vê a morte de lado
depois que vira a notícia
125
desafia o medo, não deve nada a polícia
esteja sempre acima do perigo que o arrisca
a vida tem seus atalhos,
você os identifica,
antes da festa do dia, teve dor de barriga
e quando seu pai ligou, mataram gente em cima
e ele só raciocina, sabe que deus tá junto
a relaxada perfeita depois de estar sujo
sentir a fresca depois do esgotamento
chupar uma laranja
depois voltar pro centro
e dá duro na ajuda das contas lá em casa
sabe do pouco que ganha, mas é isso ou nada
então busque as memórias e pense em triunfos
os oriundos, os loucos são os que arriscam tudo
vender dvd é proibido
piratiar cd, é proibido
pro rapa prender, é proibido
autonomismo, eu sou “autonomismo”
vender dvd é proibido
piratiar cd, é proibido
pro rapa prender, é proibido
autonomismo,ou autoritarismo
dados estatísticas, caneta rabisca
o rapa e a polícia reais que valem vida
cds de artistas, perdas de milhões arrecadados pro sistema
126
pirataria é o trabalho de centenas
então pense em todas as coisas que te fizeram feliz
naquela tarde com chuva ou pra curar a cicatriz
pra algumas doenças, o filme é o melhor remédio
tem de humor que eu tolero, medieval, eu prospero
roupas de marcas trocadas e tênis copiados
o sonho de um rolex? tudo se acha em são paulo
pobre não acha caro, rico não acha barato
educação nas escolas e números são divulgados
industrias perdem muito, mas o povo tem que comer!
essa é minha vida e vendo dvd
especialistas que pensam que o lucro é o mais importante
deixam os legados marcados e os momentos marcantes
o picolé da kibom
ou aquele sem nome
comerciante informal, faz com que você consome
barreiras de vendas rompem, produtos que são de longe
fazem a ponte com a fonte, um salve aos comerciantes
vender dvd é proibido
piratiar cd, é proibido
pro rapa prender, é proibido
autonomismo, ou autoritarismo
dados estatísticas, caneta rabisca
o rapa e a policia reais que valem vida
cds de artistas, perdas de milhões arrecadados pro sistema
pirataria é o trabalho de centenas
127
19 de fevereiro de 98
lei 9610 chega no jogo
artigo 5, proibido a reprodução
a cópia de uma ou várias obras sem a intenção
pra conseguir minimizar o problema,
trabalhadores , salários que movimentam centenas
o leite ninho na mesa e também o de gado
o feijão, as despesas, todo gás
o cuidado , respeite as palavras que estão na bíblia
mas hoje uma puta guarda a armadilha
e poucos sabem que a informação é gratuita
que a compra de dvd pirata e não busca
o intuito de lucro, desfigura a ação
não é ato ilícito. não, eu não crucifixo.
esqueça de tudo que se pensa e concorde
sistemas operacionais que apenas rodem , roubem
cópias de windows também são piratiados
o homem que os inventou foi roubado
pessoas inteiras que sofrem desse veneno
original ou pirata? faça seu julgamento.
128
56
motor
autor: sinal
justiça de pobre, vingança, nordeste é nobre
sertão encobre, homem quente que veio do norte
e se não for azar? se reza pela ma sorte
a solidão entre as paredes, concreto escorre
sangue. quem morre, acontece sempre, nos comove .
tenta abrir a porta, destino, cadeado forte
a chave desliza da sua mão. então aumenta o toque
força contrária torna a dizer .faz com que volte
mas você pode mudar, tentar mesmo que corte
a sua energia renascerá porque o toque
é de paixão e luz, a vida engrenagem se move
57
virei a página
autor: sinal
parte 1
virei a página, caiu uma lágrima
sem mais se vá e na
fotografia, poeira na estante via
você abraçando, sorrindo, a manhã caia
o sol entrava pela porta, luz que percorria
129
lembrei do dia que ajuda você pedia
pra sair deste caminho que faz a cabeça pirar
a mente rodar, filhos roubar, armas engatilhar
pro vicio alimentar, revolta composta
1kg , um tapa, uma amostra
se enforca na própria corda
não solta, sufoca, acabou. e agora?
já esperava isso, a esperança, o sacrifício
a gente espera em cristo. fazemos jus por isso?
alguns estão perdidos, outros são destemidos
tocam o terror na quebrada, deitado na calçada
enrolado no jornal de notícias falsas
você foi achado assim... com a cabeça arrancada
um desrespeito pra nossa mãe
que deus a tenha dona nalva
[refrão]
eu passo o tempo ouvindo sua voz
eu tento fazer você esquecer o que dói
tormento, o frio ventania frente move
é lento, a sua alma quer chegar mais perto
dizendo
parte 2
um pouco assustado, olhos arregalados
lembranças distancia do que considerou que era passado
período longo, conturbado, cinza, preto, pardo
130
parado, foi achado algo esquematizado
e no quintal não tem paredes, tudo era mato
entre as correntes, vertentes que nos ameaçaram
só resta ao povo carente, que amarga. acataram
as casas sujas e não limpas, tipo joão de barro
mas o humano não voa pelos céus como um pássaro
os pensamentos perdoam, aliviando o impacto
antes que digam que foram, dei um apertado abraço
não sabendo que era o penúltimo
e o ritmo vai, porque no último você sabe que as lágrimas caem
nos encontraremos em tempos iguais
a sua morte em sonhos, lembro dos seus ideiais
deus me mandou os sinais
58
você
autor: sinal
parte 1
você apareceu pra mim quando tudo tava acabado
e pensar que o amor pra mim era coisa do passado.
mais uma vez me provaram que eu estava errado
de pensar que encontrei coisas pra lutar,
isso é um fato e paguei caro pra custar,
pra perceber.
que o que mais eu precisei era estar junto de você
e saiba que ainda continuam na minha mente
131
aqueles momentos brilhantes que me fizeram tão contentes,
mesmo que tente, que alguém me ouse a dizer
que seria feliz sem ser com você.
mas tente saber que dor
é o que se sente
quando se é rejeitado por um grande amor.
mas, sabe? eu sigo em frente
porque na minha mente alguns fatos me condenam
e as pessoas que eu fiz sofrer rezam pra me ver no veneno.
entendo, e sei que tento às vezes me conservar,
e pensar que já dei tudo pra um dia estar, deixa pra lá.
só não perdi a esperança porque olho a estrela
nos dias mais nublados em que não posso vê-la,
mas respiro e sei que ela está ali
igualzinha a esperança de resgatar aquele mano que me ouve.
amanhece o dia e novos sonhos eu vou buscar,
imagina quantos manos pensam em qual caminho trilhar.
e deus resolve apontar o dedo pros escolhidos.
você também é um deles ,não me diga que não sabe disso, o
sol se põe e ainda não tô arrumado
e quem não tem dinheiro pra comprar um par de sapatos?
imagina você aí cara nessa realidade.
de saber o que sente um pobre de verdade.
[refrão]
então eu vou te levar
esquece as coisas do passado, deixa rolar
o coração bate sem parar
132
na esperança de um dia poder te encontrar
pra dizer: obrigado a ti,
me tirou do caminho errado, agora eu posso curtir
porque assim que é,
você me ajudou, agora eu estou de pé
parte 2
e quando a madrugada vem e meus pensamentos me dominam
aliás, eu domino eles, são uma constante adrenalina e segue o clima
eu tô pensando num fato que aconteceu
quando um mano meu se aborreceu,
resolvi perguntar: mano o que tava acontecendo?
ele pediu dinheiro então amigo vai vendo
disse que iria até o supermercado
que tem coisas pra pagar, que o dinheiro não tá fácil
e quando chegou lá e pela porta passou
o maldito segurança embaçou
disse que ele era um cara suspeito
que naquele recinto não entrava negro
porque a vida não te fez feliz
ajude seu irmão, preste atenção no que diz
respeito a probabilidade de homens presos pela cor
aprisionados por maldade, envolvidos pelo ódio nas veias, não tem mai
sangue vermelho
é a popularidade se tornando desespero
dos olhos da pele que mudou esse país
que me ouça lá em cima o finado zumbi
pobre país em desenvolvimento
133
aids, dengue, saúde indo pelo encanamento
o tres oitão. me pergunte o que o sistema fez
faço o sinal da cruz e canto outra vez.
[refrão]
então eu vou te levar
esquece as cosias do passado, deixa rolar
o coração bate sem parar
na esperança de um dia poder te encontrar
pra dizer obrigado a ti,
me tirou do caminho errado, agora eu posso curtir
porque assim que é,
você me ajudou, agora eu estou de pé
59
retroceder
autor: sinal
pareolhescute
não quero me precipitar ao dizer
não sou o primeiro humano tentando entender
talvez eu deixe minha emoção transparecer
porque aprendi que assim que as coisas devem ser
por mais dura e árdua que seja a nossa vida
agradeço primeiro a deus depois a minha família
família não só amigos e parentes
família é tudo aquilo que apóia a gente
134
ironicamente me sinto obrigado
a fazer o que a sociedade me pede e digo
obrigado, calado, mesmo as vezes errado
meus ombros ficam tensos e eu estou cansado e farto
da falta de cultura e hipocrisia
das filas de previdência a condições de moradia
empresas a falência, demissões de funcionários
marginalizam o rap devido a o vocabulário
mas falsos são aqueles medíocres e levianos
que usam do rap. trocam denúncia a encanto
portanto sigo e canto, abordo o meu plano
voltando a o começo, caso estiver errando
eu fecho os meus olhos, aperto eles bem forte
e me vem a sensação de está com a morte
eu tenho um tipo de resposta pra cada pergunta
mesmo sabendo que deus as respostas oculta
será que um dia o mundo não ira ter pobreza?
enquanto o dia não chega, o revolver traz maneiras
é três oitão na cintura e na cabeça besteira
o idh nunca flui e não é brincadeira
a morte ajuda a diminuir população mundial
psicanálise tenta explicar o porquê do mal
é mau com u. mal com l ou malcom x
de todos esses mals só o gog veio ao nordeste
diante do crime, poucos conseguem retroceder
matam e tem a cara mostrada na tv
ironizada , julgada e mal investigada
na china, crime sempre é bala
135
corrupção ligada ao subúrbio e o trafico
as drogas são como um jogo carteado
um dia você perde e outro dia pensa que ganha
as vezes acumula, as vezes perde grana
e quando é muita grana, pode parar em cana
e ai, cadê o dinheiro pra pagar a fiança?
tenta ligar pra aquele truta, ainda tem esperança
mas aquele mesmo truta pede vingança
aquele mesmo mano que você considerou
te passou a perna, te roubou no jogo!
ministério público, descola um advogado
ele chega pra conversar, diz que você tá condenado
às vezes tem a impressão que as coisas não vão bem na sua vida?
valorize cada dia mais a sua familia!
cabeça erguida, elabore o plano
execute, dispute, não sofra enganos
porque no mundo insano prevalece sua vontade
piedade é pros fracos, me baseio nestes fatos
a cada dia um emprego tá mais caro
meu avô sempre dizia: aí emprego não é trabalho
por isso assalto os assuntos que me interessam
busco nos livros as respostas do universo
se é infinito, incerto, infertil?
meus sonhos são as raízes dos meus versos
enquanto eu puder escrever, farei protesto
pra aqueles que consomem nosso congresso
eu não sou o primeiro, mas farei o certo
pra não ver mais inocentes irem pro cemitério.
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apresentação 1
wilton oliveira (mestrando do pós-crítica/dedc ii, uneb)
a questão que transversalizou o processo de revisão dos textos presentes
neste livro foi a de como dar um tratamento próprio a textos escritos ao rap
sem investir contra as dinâmicas próprias dessa linguagem? se essa era a
nossa maior preocupação é por afirmar a teatralidade e a intempestividade
inerentes a esse gênero musical, com seus gestos e rimas quase sempre
improvisados.
após mais ou menos trinta dias de (re)leituras, tal questão fora resolvida
à medida que percebemos que o rap, quando ganha a materialidade do
texto escrito, um pouco que exige sua própria sintaxe, suas próprias
regras gramaticais. nesse caso, durante o processo de tratamento das
letras, entendemos que nosso trabalho era mais o de deixar-se submeter
às regras propostas pela batida, pelo ritmo e pelas pausas que emergiam
dos textos da rapaziada do petrolar e outros bairros, menos o de moldálas indiscriminadamente às regras gramaticais.
nas rimas de mc mamah, de mc osmar, de mano ed+, mc lino e mc sinal,
percebemos o que há de mais potente de uma arte marginal. em todos os
autores notamos uma tremenda consciência política: falam sempre de
uma coletividade, de uma coletividade que transita pelas ruas dos bairros
esquecidos de alagoinhas, pelos corredores dos hospitais e pelas celas das
prisões da cidade. vemos se articular, por essas rimas, os traços de uma
periferia que se por um lado sofre com as mazelas do capitalismo tardio,
por outro se fazem existir através de uma maquinaria de resistência ao
fetiche burguês, com suas formas de encantamento, e pela afirmação e
construção de um povo revolucionário que não existe mais ou não existe
ainda!
137
apresentação 2
osmar moreira (coordenador do mestrado em crítica cultural/
dedc ii, uneb)
este livreto (mais pela precariedade técnica, menos pelo conceito de
livro com seu número de páginas) intitulado vozes da periferia: letras
de rappers de alagoinhas como literatura marginal, quando pensando
também a partir de seu recital (eu o acompanhei no dia 08 de maio num
ponto estético-cultural – um bar e lan house, no bairro pedro braga), é um
acontecimento dos mais radicais que presenciei/vivencie em alagoinhas.
acontecimento radical em vários sentidos: uma desenvoltura performática
extraordinária dos autores, antes acostumados a cantar e de repente foram
desafiados a recitar, sem acompanhamento musica; o impacto da letra
“limpa” nos transeuntes que passavam, no público que assistiam ao
espetáculo; a rede de sentidos que o evento proliferou do barlanhouse
aos contatos nacionais me internacionais mantidos pelos autores, com
notícias do evento. acrescentamos ainda a essa radicalidade a cartografia
social que as letras descrevem e problematizam: drogados, assassinados,
personalidades de um mundo cão e cruel coexistindo com rappers
criativos, com poetas intempestivos, utilizando uma outra artilharia, a
artilharia verbal como um modo de sobreviver.
a principal lição desse livro é que é possível extrair da barbárie a que
está submetida as periferias do mundo contemporâneo, rural ou urbano,
elementos para uma obra de arte que, além de não sucumbir ao canto
terminal a que está exposta uma juventude inteira, deve servir de modelo
e paradigma para uma série de poetas que a pesar de melhores e/ou todos
os recursos ainda continuam cantando o sistema que julgam criticar.
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parabéns mc’s, agora também poetas, vocês simplesmente parecem
retornar do exílio a que foram forçados a milênios pela república de platão.
nessa cidade arruinada por maus poetas, filósofos, políticos e sacerdotes,
vocês são os únicos que ainda podem cantar a esperança, aqui e agora,
mas sem horizonte de espera, e por uma questão de vida ou morte. eis a
radicalidade do verbo em carne viva!
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